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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE DIREITO
DISCIPLINA: PAD-3–Introdução à Retórica e Argumentação Jurídicas
PROFESSORA: Claudia Roesler.
ALUNO:Ricardo Lacerda Mat. 180130218

No primeiro vídeo da terceira unidade, a Professora Cláudia Roesler inicia com a


distinção entre precursores e contemporâneos do campo da argumentação, ressaltando
pressupostos básicos dos precursores como a ideia de que o a racionalidade não pode ser
limitada à racionalidade teórica e que o raciocínio jurídico seria distinto do raciocínio
dedutivo, assim, seus interesses seriam a investigação do discurso jurídico e suas
manifestações.
Assim, faz a discussão dos precursores como Viehweg, Parelman e Tyteca e
Toulmin, estudados no início do curso, cujas teorias precisam ser atualizadas na
contemporaneidade, apesar da relevância de seus conceitos. Em seguida, faz a a
apresentação entre as “teorias standard” e as “teorias retóricas”.
Segundo Roesler, As Teorias da Argumentação Contemporâneas (Tsaj) surgem
no final da década de 70, com autores como Alexy e MacCormick, que se destinam à
compreensão da racionalidade da decisão judicial, principalmente. As teorias
denominadas standard possuem alguns pontos em comum, como a distinção entre o
contexto de descoberta e o contexto da justificação.
No contexto moderno, são todas as motivações sociológicas e psicológicas
(motivos), inclusive inconscientes, que o juiz pode ter na sua decisão. No contexto de
justificação, aparecerão todos os aspectos discursivos que enunciar sua decisão
(fundamentos e razão).
Em seguida, analisa a perspectiva dos casos difíceis vs casos fáceis. Roeseler
fala que essa distinção é importante tendo em vista que a maneira de justificação desses
casos é de forma diferente, mesmo que haja uma ideia de “resposta adequada”,
conforme a teoria de Dworkin. Também ressalta a contraposição analisar vs avaliar, pois
estas teorias pretendem orientar os praticantes no caminho de uma melhor
argumentação, e, consequentemente leva-se a modelos de análise ou de avaliação, de
acordo com a complexidade da decisão.
A professora apresenta ainda os pressupostos da TSAJ, em um cenário de pós-
positivismo, ou seja, além da perspectiva de normas hierarquizadas, na qual o direito é
entendido como prática social, possível de avaliação da racionalidade. Ela ressalta a
importância da racionalidade como elemento importante da prática jurídica, constituída
por regras procedimentais e finalidades.
Por outro lado, aduz que nas Teorias Retóricas consideram o Direito como
prática social, mas não há unidade entre os autores em relação do debate positivistas e
realistas. Outrossim, os aspectos simbólicos são disputados constantemente, conforme a
teoria da “teia de aranha”, que afirma que os juristas constroem as “teias discursivas” do
Direito. A racionalidade, nessa corrente, é apenas um dos critérios para análise.
Posteriormente, cita Manuel Atienza e argumenta sobre o que se faz quando
ocorre analise de uma decisão a partir dos pressupostos das teorias standard da
argumentação. Segundo ela, o contexto de justificativa da decisão judicial depende de
uma boa decisão a partir de premissas, em razões, suficientemente sólidas e que
persuade o auditório que obedece a certas condições. Não é uma mera descrição, mas
um modo de avaliar a racionalidade das decisões.
Para tanto, Roesler ressalta a importância dos modelos de análise para revelar a
estrutura argumentativa usada no discurso, como se fossem “retratos” para demonstrar
como se sustentam a justificação da fundamentação. Recorda ainda o esquema circular
de Toulmin e o esquema de Atienza.
Dessa forma, a professora apresenta critérios de avaliação da decisão para
decidir se ela é correta ou incorreta com base nos seguintes critérios: a) universalidade
da premissa; b) coerência da interpretação; c) adequação das consequências jurídicas, e;
d) moralidade. Nesse último critério, destaca o problema da moralidade predominante,
que sempre estão presentes em casos difíceis, tendo em vista que a justificativa não
pode se guiar por uma moralidade predominante.
Em relação às teorias retóricas, Roesler apresenta análise a partir dessas
perspectivas, cujo objetivo é compreender e descrever os mecanismos de persuasão
utilizados no discurso em análise. Aponta os indicatores do ethos, pathos e logos,
conforme seus desenvolvimentos desde a Antiguidade. Aponta como ex. o modelo
sismógrafo de Katharina von Schilieffen, e a Análise Empírico-Retórica do Discurso de
Isaac Reis.
Por fim, ressalta os limites das decisões judiciais, com base na ideia de que o
autor não possui controle da argumentação que produz, pois ele não pode interferir no
processo de replicação pelos seguidores/ouvintes. Assim, alerta que o objetivo não é
compreender a intenção do decisor, mas sim, deve considerar a cultura jurídica e a sua
relação com o discurso jurídico.
Também aponta que a metodologia é um limite, na medida em que depende das
possibilidades e do uso das teorias retóricas e das teorias standard.

FICHAMENTO

TEXTO:
ROESLER, Claudia. A análise da argumentação judicial em perspectiva crítica: o
que fazemos quando analisamos decisões judiciais? In: ROESLER, Claudia;
HARTMANN, Fabiano; REIS, Isaac (Orgs.) Retórica e argumentação jurídica: modelos
em análise. Curitiba: Alteridade, 2018, p. 21-44.

O texto de Cláudia Roesler apresenta uma discussão metodológica de duas


correntes da teoria da argumentação jurídica. O objetivo é apresentar o renascimento da
retórica e argumentação no séc. XX, a partir da contraposição entre a teoria da
argumentação jurídica standard e da teoria retórica.
Uma das dificuldades do tema é decorrente da amplitude do conceito de
expressões como racionalidade, comunicação e persuasão que servem como pano de
fundo para o debate teórico (2018, p. 22).
Entretanto, as dimensões racionais do discurso são elementos que fundam a
dialética e a retórica e permitem a investigação sobre os discursos práticos e teóricos.
Para estabelecer a base comum do entendimento para essa discussão a autora define as
Teorias da Argumentação Jurídica como “(...) o conjunto compreendido pela visão
standard e pela visão retórica”. (ibid., p. 23)
Em seguida, Roesler discute o ponto de partida da argumentação jurídica, no
qual identifica que todo aquele que argumenta opera dentro de um contexto de formas
aceitas como corretas (idem).
Em relação à argumentação jurídica, afirma que o objetivo é convencer aos
jurisdicionados que a decisão é correta em sentido jurídico e moral, eventualmente.
Assim, para a autora, a argumentação judicial é limitada dentro dos parâmetros do
ordenamento jurídico e deve oferecer a melhor resposta possível. (idem)
Dessa forma, a autora compreende a argumentação judicial como um “jogo de
luz e sombra” que depende da capacidade dos intérpretes de manter e inovar em suas
decisões, dentro de uma cultura jurídica. Roesler destaca que a forma de argumentação
jurídica não é discutida explicitamente, mas sempre é revelada a partir da cultura
jurídica decorrente da prática e dos processos de socialização, principalmente
desenvolvidos dentro de limites “internos. (ibid., p. 24)
Na terceira seção, Roesler resgata o surgimento das teorias da argumentação na
contemporaneidade, destacando as obras de Theodor Viehweg,Chaün Perelman e Lucie
Olbrechts-Tyteca e Stephen Toulmin. Destaca que a obra de Viehweg, por meio da
releitura da retórica de Aristóteles e Cícero, é a que mais se dedica à argumentação
jurídica, sobretudo, no aspecto fundamental da centralidade da ideia de que não existe
verdades necessárias no campo da política e da ética, cuja segurança de sua
racionalidade se encontra na retórica, na tópica e na dialéstica. (ibid., p. 26)
Assim, para compreender a forma de raciocinar no Direito, a autora resgata a
ideia de verossimilhança na obra de Viehweg, cujo intuito é responder um problema de
forma satisfatória. Nesse contexto, o Direito é uma práxis que se compõe da interação
entre o Legislador, o juiz e a doutrina (ibid., p. 27).
Posteriormente, destaca as obras de Alexy e MacCormick, na década de 70,
como base do surgimento da teoria de argumentação standard. Essas teorias abirdam
diferentes aspectos da argumentação jurídica, bem como propõem modelos de análise e
de avaliação da argumentação em casos concretos, mostrando padrões decisórios e
justificando-os racionalmente. (ibid., p. 28)
Afirma que a distinção entre casos difíceis e fáceis ocorre pois nos primeiro caso
exige uma técnica argumentativa mais complexa, enquanto o segundo se desenvolve por
meio de instrumentos conhecidos e comuns.
A autora classifica as teorias standard como discursivas e procedimentais, com
enfoque na definição de parâmetros racionais para definir determinada decisão. (ibid., p.
30). Assim, essa perspectiva, de acordo com Roeselr, pressupõe o Direito como uma
prática social que é construída por sujeitos sociais, orientados por valores morais e
políticos, diferentemente do que defendem visões normativistas do positivismo.
Nesse sentido, conforme a autora, a racionalidade não é o elemento mais central
da análise da argumentação jurídica, mas sim a descrição de como ocorre a prática
social jurídica, por meio da construção de instrumentos de análise dos discursos
jurídicos. (ibid., p. 33). Assim, as teorias standard se afastam das teorias retóricas, por
não aceitar um ideal discurso ético comum.
Além disso, por ter uma análise externa do discurso jurídico, permite que seja
construída uma teoria mais crítica do discurso, com base no ceticismo e na descrição
dos fatos, aproximando-se do realismo jurídico.
Na última seção, a autora aponta limites e possibilidades das decisões judiciais.
Aduz que um dos limites presentes nos autores das teorias standard e da retórica não
analisam especificamente o modo como decisões judiciais são tomadas, mas sim como
estruturas argumentativas surgem no discurso jurídico. Nesse contexto, a pesquisa pode
ser dividida entre teorias retóricas e teorias standard, de acordo com os objetivos
previstos, pois as primeiras foca nos elementos persuasivos do discurso, enquanto as
segundas analisa a formação das premissas do discurso, cada um com seus limites.
O segundo limite apontado pela autora é a necessidade de separar a intenção do
autor da decisão e a fundamentação de sua decisão, tendo em vista que o que interessa
para análise são os fundamentos da decisão e sua relação com a cultura jurídica. Desse
modo, deve-se “(...) respeitar a independência do texto do teto da decisão judicial e não
tentar retirar dele, por uma atribuição externa, uma leitura das intenções do decisor.”
(ibid., p. 39).
Por fim, Roesler ressalta que os modelos de análise da teoria standard servem
para indicar os processos de justificação e identificam as premissas utilizadas no esforço
da motivação judicial. Por outro lado, a ênfase retórica indica como são usados os
recursos para convencer auditório.

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