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PROFESSORA: Luciana Silva Reis

DISCIPLINA: Metodologia e Epistemologia Jurídica


DUPLA: Ana Gabriela Borges de Oliveira Garcia(12221DIR239)
Arthur Machado Ribeiro(12221DIR222)
ENSAIO ACADÊMICO – A pesquisa jurídica entre dogmática e zetética: as diferenças
entre as abordagens e os desafios contemporâneos
TEXTOS: Introdução ao estudo do direito, Tércio Sampaio
Apontamentos sobre a pesquisa de direito no Brasil, Marcelo Nobre

Abordagem contemporânea dos conceitos zetética e dogmática


no estudo do Direito.

A pesquisa jurídica é uma atividade fundamental para o desenvolvimento e


aprimoramento do direito como ciência. Duas abordagens comuns na pesquisa jurídica
são a dogmática e a zetética. Embora essas abordagens tenham objetivos semelhantes,
elas diferem significativamente em seus métodos e técnicas. Este ensaio tem como
objetivo explorar as diferenças entre as abordagens dogmática e zetética na pesquisa
jurídica e discutir os desafios contemporâneos enfrentados pelos pesquisadores
jurídicos.

A abordagem dogmática na pesquisa jurídica é baseada em um estudo


sistemático da lei, com foco na interpretação de textos legais e na aplicação de
princípios jurídicos estabelecidos. Essa abordagem tem como objetivo desenvolver uma
compreensão clara e coerente das leis e das normas jurídicas existentes. Os
pesquisadores jurídicos que seguem essa abordagem geralmente trabalham com fontes
jurídicas autorizadas, como a lei, a jurisprudência e a doutrina, e procuram aplicar essas
fontes de maneira consistente. Outro fator importante a ser ressaltado é o princípio da
inegabilidade, descrito e fundamentado pelo sociólogo alemão, Luhmann, apontado
como um dos principais autores das teorias sociais do séc. XX, em tal principio, sua
característica implica um registro em que ao jurista compete o estudo estrito do direito
dentro dos marcos da ordem vigente (Ferraz, Jr. 1996:48).
Pregando que a principal função estipulada para os sistemas sociais seria a de
diminuir a complexidade do mundo de tal maneira que ela possa ser entendida pelas
pessoas na linguagem da teoria dos sistemas. Isso, a meu ver, remete diretamente nas
questões dogmática da fundamentação do direito em si e em suas leis, reforço a
importância e o caráter essencial desta ideia de Luhmann com sua teoria sistêmica pois
é extremamente essencial que os dogmas gerados dentro das leis fiquem claro para a
sociedade para ter um convívio pleno.

A abordagem zetética na pesquisa jurídica é baseada em um estudo crítico da lei,


com foco na análise de problemas e questões jurídicas em uma perspectiva mais ampla.
Os pesquisadores jurídicos que seguem essa abordagem geralmente procuram
compreender as causas e as consequências das leis e das normas jurídicas existentes e
questionar a validade e a eficácia dessas normas. A abordagem zetética valoriza o
diálogo e o debate crítico, incentivando os juristas a dialogarem e terem uma opinião
crítica sobre as validades das normas vigentes. Por exemplo, no texto do autor Tércio
Sampaio Ferraz Junior, ele cita o problema de Deus na Filosofia e na Teologia,
questionando-se sua existência a partir de um enfoque zetético e afirma que nesses
termos, seu questionamento é infinito. Já em um questionamento dogmático, parte da
existência de Deus como uma premissa inatacável, ou seja, seu questionamento é finito.

Ambas as abordagens enfrentam desafios contemporâneos na pesquisa jurídica.


A abordagem dogmática é criticada por não levar em consideração a evolução social,
cultural e política, e por não considerar as limitações práticas da aplicação da lei. A
abordagem zetética, por outro lado, é criticada por não fornecer uma base clara e
consistente para a aplicação da lei e por não levar em conta a importância da
estabilidade e da previsibilidade na lei. Pesquisadores consideram múltiplas
perspectivas e soluções possíveis. Além disso, a pesquisa jurídica enfrenta desafios no
contexto de uma sociedade em constante mudança. É importante ressaltar que desde os
tempos históricos nos quais a perspectiva de direito já estava vigente, a sociedade se
manteve em evolução, tais normas devem acompanhar e se adaptarem à evolução social
contemporânea.

Novos problemas e questões jurídicas estão surgindo com o avanço da


tecnologia, a globalização e a evolução das relações sociais. Isso requer que os
pesquisadores jurídicos adotem novas abordagens e técnicas para abordar essas questões
complexas. a pesquisa jurídica é uma atividade complexa que requer abordagens
diferentes para abordar problemas e questões jurídicas. A abordagem dogmática e a
abordagem zetética têm suas vantagens e desvantagens, e a escolha da abordagem
depende do objetivo da pesquisa e do problema a ser resolvido. David Luban nos
apresenta a controvérsia em torno da indicação do juiz Robert Bork para a Suprema
Corte norte-americana por Ronald Reagan, em 1987.

Bork era conhecido por suas críticas ao direito à privacidade e aos direitos civis,
o que gerou uma intensa campanha pública contra sua indicação. A discussão sobre a
relação entre prática profissional e teoria jurídicas se desenvolve a partir do relato de
George Priest, que defendeu a nomeação de Bork para a Suprema Corte, mas ao mesmo
tempo, colocou-se contra a renovação de seu contrato em Yale. Priest afirmou que os
trabalhos acadêmicos de Bork defendiam posições extremadas, mas que isso não tinha
relação com sua atividade como magistrado, pois um magistrado deve ser moderado e
respeitar a autoridade da jurisprudência.

Luban comenta que a posição de Priest levanta uma questão importante sobre o
papel da teoria jurídica na prática profissional do direito. Ele argumenta que o problema
não está na falta de preparação dos alunos dos cursos de direito para o mercado de
trabalho, mas sim nos padrões pouco exigentes desse mercado. As escolas de direito no
Brasil, em geral, fazem uma mistura de prática, teoria e ensino jurídicos, o que resulta
em um mercado de trabalho pouco exigente.

Além disso, a prática profissional do direito no Brasil tem um enfoque muito


dogmático, no sentido de que os pareceres jurídicos recolhem apenas o material que é
favorável à tese a ser defendida, sem procurar um padrão de racionalidade e
inteligibilidade no conjunto do material disponível. Luban propõe ampliar o conceito de
dogmática para incorporar outros pontos de vista, como sociologia, história,
antropologia, filosofia ou ciência política, de modo que se tornem momentos
constitutivos da investigação dogmática.

Assim, a dogmática é um corpo de doutrinas e teorias que tem sua função básica
em ensinar, mas é importante distinguir entre doutrina e dogmática para garantir a
distinção entre técnica jurídica e ciência do direito. A arquitetônica jurídica depende do
modo como colocamos os problemas, mas esse modo está associado ao ensino, ao
docere. A ciência do direito é doutrina sistematizada e dogmática, com um estatuto
tecnológico e uma função social, que tornam a prática profissional do direito uma
atividade jurisdicional no sentido amplo.

Dessa forma, tanto a zetética (que é) quanto a dogmática (como deve ser) têm
importância na contemporaneidade. A zetética é importante porque a sociedade está em
constante evolução, e novas questões surgem a todo momento, permite uma abordagem
crítica e adaptativa ao direito, de forma que as leis possam acompanhar as mudanças na
sociedade. Enquanto a dogmática é importante porque fornece uma base sólida para a
aplicação da lei. Com uma base sólida, é possível garantir a coerência e a
previsibilidade das decisões judiciais, o que é essencial para a segurança jurídica.
Ambas as abordagens são essenciais para garantir a justiça e a equidade no sistema
jurídico.

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