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ANA GABRIELA BORGES DE OLIVEIRA GARCIA

ARTHUR MACHADO RIBEIRO

SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO


Justiça ou vingança?

UBERLÂNDIA
2023
ANA GABRIELA BORGES DE OLIVEIRA GARCIA
ARTHUR MACHADO RIBEIRO

SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO


Justiça ou vingança?

Projeto de Pesquisa de Iniciação Científica


Voluntária (PIVIC) a ser realizada na
Faculdade de Direito Professor Jacy de
Assis, Universidade Federal de Uberlândia.

UBERLÂNDIA
2023
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................01

TEMA, JUSTIFICATIVA E CONTEXTUALIZAÇÃO .........................................02

METODOLOGIA........................................................................................................03

CRONOGRAMA ........................................................................................................04

REFERÊNCIAS...........................................................................................................05
1. INTRODUÇÃO

Atualmente, o caos do sistema prisional brasileiro tem tomado grande


visibilidade nacional, sendo fonte de intensos debates e discussões ao decorrer dos anos
e acontecimentos, por exemplo o massacre de Carandiru, iniciado principalmente por
gangues rivais, que teve como consequência a morte de 111 detentos e 110 em estado
grave no total de 2.706 encarcerados dentro de apenas um dos complexos. Como um
reflexo das políticas e práticas adotadas, surge uma pergunta fundamental: o sistema
realmente busca por justiça ou pode-se pensar em uma forma de vingança? Embora o
objetivo original do sistema carcerário seja a ressocialização e a garantia da segurança
pública, pode-se questionar se o atual modelo é efetivo na promoção da justiça ou se,
em vez disso, ele acaba se tornando um mecanismo de vingança.
No Brasil, a população carcerária tem crescido exponencialmente, é de
conhecimento que as condições dentro das prisões frequentemente são precárias, com
superlotação, falta de higiene, violência, doenças e violações dos direitos humanos.
Nesse contexto, algumas vozes argumentam que o sistema está mais preocupado em
punir do que em reabilitar e reintegrar os indivíduos na sociedade.
A abordagem punitiva do sistema carcerário muitas vezes se manifesta por meio
de sentenças longas e o uso excessivo de prisões preventivas, resultando em um alto
número de pessoas encarceradas. No entanto, essa abordagem levanta questões sobre a
eficácia da punição como meio de prevenir a reincidência e promover a reintegração
social. Enquanto a justiça busca equilibrar a punição pelo crime com a oportunidade de
recuperação e reintegração social, a vingança pode ser entendida como um desejo de
causar dor e sofrimento ao infrator.
Por outro lado, existem esforços em andamento para reformar o sistema
carcerário brasileiro, buscando uma abordagem mais centrada na ressocialização.
Projetos de lei, programas de educação, trabalho e assistência psicossocial têm sido
implementados em algumas unidades prisionais, visando proporcionar aos detentos uma
oportunidade de reintegração e uma segunda chance na sociedade.
Ao analisar o sistema carcerário brasileiro, é essencial considerar diferentes
perspectivas e ponderar se a atual ênfase na punição está de fato promovendo a justiça
ou alimentando um ciclo de punição infinita. A discussão sobre como equilibrar a
responsabilização por crimes e a oportunidade de reabilitação é fundamental para
construir um sistema que efetivamente contribua para a segurança pública e a justiça
social.
Nesta análise, exploraremos os obstáculos e as controvérsias do sistema
carcerário brasileiro, buscando entender se a ênfase na punição é realmente compatível
com os objetivos de justiça e ressocialização e como é um tema que transcende a esfera
jurídica, envolvendo questões éticas, sociais e políticas. Através dessa análise,
poderemos refletir sobre possíveis soluções e abordagens alternativas que possam
resultar em um sistema mais equitativo e eficaz.

2. TEMA, JUSTIFICATIVA E CONTEXTUALIZAÇÃO

A reflexão acerca do sistema carcerário brasileiro e a busca pelo questionamento


“justiça ou vingança”, é de urgente e extrema importância. Ainda hoje, o Brasil é o 3º
país com maior população carcerária do mundo, sendo em torno de quase 700.000
indivíduos presos. Assim nasce o questionamento: será que o sistema realmente busca a
justiça ou podemos considerá-lo uma forma de vingança?
As situações dos encarcerados entra em questão no âmbito da natureza humana,
se as situações as quais são submetidos durante a pena, realmente colaboram para a
ressocialização social do indivíduo na sociedade. Dessa forma, o Estado é o responsável
por combater os crimes, promovendo o isolamento do criminoso por meio da prisão,
privando-o de sua liberdade e, consequentemente, eliminando-o como uma ameaça à
sociedade. Foucault se posiciona da seguinte forma:

[...] a reforma propriamente dita, tal como ela se formula nas teorias
do direito ou que se esquematiza nos projetos, é a retomada política ou
filosófica dessa estratégia, com seus objetivos primeiros: fazer da
punição e da repressão das ilegalidades uma função regular, extensiva
à sociedade; não punir menos, mas punir melhor; punir talvez com
uma severidade atenuada, mas para punir com mais universalidade e
necessidade; inserir mais profundamente no corpo social o poder de
punir. (FOUCAULT, 2011, p. 79)
Da forma que Ottoboni afirma que: ‘O delinquente é condenado e preso por
imposição da sociedade, ao passo que recuperá-lo é um imperativo de ordem moral, do
qual ninguém deve se escusar.’. Mostrando a importância da ressocialização e como a
prisão existe por um castigo por atos e não para castigar por si só e a sociedade só se
sentirá segura quando o indivíduo for devidamente recuperado.
O Estado, enquanto persistir em ignorar que é indispensável cumprir sua
obrigação no que diz respeito à recuperação do condenado deixará a sociedade
desprotegida. Como é sabido, nossas prisões são verdadeiras escolas de violência e
criminalidade. (OTTOBONI, 2001, p. 20)
É nítido como os presídios se tornaram grandes depósitos de pessoas, com uma
superlotação que ignora totalmente os requisitos básicos da natureza humana. As
necessidades primárias, como saúde, higiene e alimentação, são totalmente
negligenciados e isso só retarda o processo de trazer novamente o preso de volta a
sociedade. Segundo Rafael Damasceno de Assis em seu livro ‘As prisões e o direito
penitenciário no Brasil’ de 2007 ressalta:

O sistema penal e, consequentemente o sistema prisional não obstante


sejam apresentados como sendo de natureza igualitária, visando
atingir indistintamente as pessoas em função de suas condutas, têm na
verdade um caráter eminentemente seletivo, estando estatística e
estruturalmente direcionado às camadas menos favorecidas da
sociedade. (DAMASCENO, 2007, online)

Além de Júlio Fabbrini Mirabette

A falência de nosso sistema carcerário tem sido apontada,


acertadamente, como uma das maiores mazelas do modelo repressivo
brasileiro, que, hipocritamente, envia condenados para penitenciárias,
com a apregoada finalidade de reabilitá-lo ao convívio social, mas já
sabendo que, ao retornar à sociedade, esse indivíduo estará mais
despreparado, desambientado, insensível e, provavelmente, com maior
desenvoltura para a prática de outros crimes, até mais violentos em
relação ao que o conduziu ao cárcere. (MIRABETTE, 2008, p. 89)

Mirabette sustenta a ideia de que um ambiente pacífico promove uma maior


confiança entre administradores e detentos, resultando em um trabalho mais produtivo.
Porém, é nítido que isso não ocorre e a convivência ruim e as condições precárias
acabam transformando algumas pequenas penas em prisões perpétuas. De acordo com a
Lei de Execução Penal n° 7.210/198412 em seu art. 10 dispõe:
art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado,
objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em
sociedade. Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.

Isso só reforça como o Estado tem papel fundamental na ressocialização adequada e


como essa dificuldade de execução mostra como existe uma busca pelos sistemas de
poder em fazer uma limpa social de indivíduos marginalizados e mantê-los num sistema
de ‘Vigiar e Punir’. Aos poucos, vão se criando respostas para o questionamento inicial:
justiça ou vingança?
Nesse viés, percebe-se que não há instrumentos de reabilitação significativos e
eficazes no sistema prisional brasileiro, apenas o encarceramento que, por mais
repugnante que pareça, é uma escola de crimes, que ao inserir um ser humano em
devida situação, rodeado de facções criminosas que dominam o sistema, se vê a
necessidade de estar inserido em uma para sobreviver dentro de tal barbaridade.

A TÍTULO DE EXEMPLO

Nesse viés, pode-se estabelecer um comparativo entre o sistema carcerário


brasileiro com o sistema carcerário norueguês. A prisão brasileira é frequentemente
problematizada devido as condições insalubres, falta de recursos básicos, superlotação
carcerária entre outros. Nesse sentido, a violência também se torna um fator de extrema
preocupação, diversos conflitos, tanto entre os guardas e os detentos como entre os
próprios detentos, já que as prisões brasileiras são caracterizadas pela formação de
facções criminosas.
Além disso, a escassez de programas eficazes de reabilitação e reintegração gera
a problemática de ressocialização, consequentemente contribuindo para um alto índice
de reincidência criminal.
Por outro lado, o sistema carcerário norueguês adota uma abordagem de
reabilitação e preparação para os detentos na vida em sociedade. As prisões norueguesas
são projetadas com semelhança a vida em sociedade, as celas são individuais, áreas de
trabalho e profissionalização, áreas com ambientes coletivos, preocupação com a
educação e com o trabalho vocacional, entre outras diversas formas de convivência com
a compatibilidade em sociedade.
Dessa forma, o sistema carcerário norueguês garante as condições sejam
humanas e respeitem os direitos básicos dos detentos. Portanto, o objetivo do sistema
carcerário da Noruega é a redução do índice de reincidência criminal, e os resultados
são encorajadores. Além disso, a Noruega tem um dos menores índices de
encarceramento na Europa, priorizando penas alternativas.
Ligando tal método comparativo com o estudo do livro “A República de Platão”,
o estudo da justiça abordando uma trindade de aspectos fundamentais. O primeiro
destes aspectos sustenta que a justiça habita em cada indivíduo agir de acordo com sua
natureza e função no corpo social. Essa função é estabelecida pela virtude, sendo a
justiça considerada como a virtude principal que coordena as demais funções e virtudes
em prol do bem comum. O segundo aspecto estabelece que a função e a virtude também
se encontram presentes na alma, assim como na cidade.
No exterior dos presídios, a sociedade continua aplaudindo o culto ao
encarceramento, onde qualquer transgressão, mesmo as de menor gravidade, deve ser
punida com prisão, resultando em um aumento no número de pessoas e fortalecendo
cada vez mais as organizações criminosas com novos recrutas.
Portanto, é necessário compreender a presença da justiça na alma humana. Já o
terceiro aspecto aprofunda a relação entre função e virtude tanto na cidade quanto na
alma, no contexto educativo. Dessa forma, se a razão governa a alma, o governante
aprende a administrar a cidade por meio da contemplação da ideia do Bem, buscando o
bem-estar coletivo.
Após o entendimento e exemplificação de como funciona o sistema carcerário
norueguês comparado com a sistema prisional brasileiro, percebe-se a necessidade de
inserir penas restritivas de direito para crimes que estejam categorizados como menor
potencial ofensivo ou sem violência. Além disso, vê-se necessário significativos e
eficazes programas de reabilitação e ressocialização no sistema prisional brasileiro.

3. METODOLOGIA

Inicialmente, procuramos estabelecer um tema de muita necessidade para


discussão e buscamos estabelecer novas óticas sobre o determinado assunto.
Entendemos como o sistema carcerário brasileiro tem sua existência em um modelo de
sistema muito complexo e pouco enxergado pelas literaturas atuais. Além disso,
buscamos compreender a problemática existente dentro do modelo citado, já que,
percebe-se a necessidade de uma visão aprofundada sobre o tipo de reabilitação social
existe. Chegamos então a problemática central, o sistema carcerário é uma base para a
ressocialização ou um método de vingança para os presos?
A primeira questão deste projeto é demonstrar e exemplificar como é o atual
modelo carcerário brasileiro e a importância de seus objetivos para a sociedade, além de
comparar com os sistemas de outros países e, como os índices de ressocialização é
muito menor em países que não focam nesse objetivo. Além de que, todos os detentos,
tratados como seres inferiores, retornam à sociedade exatamente como foram tratados:
como animais.
Nesse viés, analisamos todos os problemas e as negligencias presentes no
sistema carcerário brasileiro e analisamos se realmente é um sistema de ressocialização
para os detentos, e como citado no projeto, no sistema atual há grande dificuldade de
tais detentos voltarem à sociedade sem que haja reincidência carcerária

4. CRONOGRAMA

Organização 25 a 27 de 28 a 30 de 2 a 5 de 6 a 10 de 11 a 20 de
de ideias e maio de maio de junho de junho de junho de
tema 2023 2023 2023 2023 2023
Roteiro de X X
trabalho
Pesquisa X
bibliográfica

Leitura de X X
textos
Revisão da X X
redação do
trabalho
Entrega do X
trabalho
5. REFERÊNCIAS

ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sistema penal máximo x cidadania mínima:
Códigos da violência na era da globalização. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2003.

ASSIS, Rafael Damasceno de. As prisões e o direito penitenciário no Brasil,


2007.Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3482/Asprisoes-e-
odireito-penitenciário-no-Brasil>. Acesso em: 12 de junho. 2013.

BRASIL. Código Penal (1940). Código penal. 12 ed. São Paulo: Ridel, 2012

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Editora


Vozes, 1987.

GOMES, Luiz Flávio. Noruega como modelo de reabilitação de criminosos.


Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/noruega-como-modelo-de-
reabilitacao-de-criminosos/121932086#:~:text=A%20pris%C3%A3o
%20%C3%A9%20constru%C3%ADda%20em,Cada%20bloco%20tem%20sua
%20cozinha

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução penal. 11. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas,
2008.

OTTOBONI, Mário. Ninguém é irrecuperável: APAC, a revolução do sistema


penitenciário. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Cidade Nova, 2001.

PLATÃO. A República, Tradução e notas de Maria Helena da Rocha Pereira, 16ª


edição, Fundação Calouste Gulbenkian, 2021.

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