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CURSO DE DIREITO
ENCARCERAMENTO BRASILEIRO:
UMA QUESTÃO DE HUMANIDADE
CARIACICA-ES
2021
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ENCARCERAMENTO BRASILEIRO:
UMA QUESTÃO DE HUMANIDADE
CARIACICA-ES
2021
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 3
2 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A RESSOCIALIZACÃO.............................4
3 PROBLEMAS ENFRENTADOS DENTRO DO SISTEMA PRISIONAL......................5
4 REINTEGRAÇÃO SOCIAL.........................................................................................5
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................5
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................5
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1 Introdução
Este artigo tem por objetivo identificar as razões e as motivações que fazem o réu
primário a cometer novos crimes após sua vivência dentro da prisão, assunto esse que
tem suscitado vários debates em razão de que a falência do sistema prisional brasileiro
representa um dos mais graves problemas sociais da atualidade. Teoricamente, a
finalidade das penas privativas de liberdade é a reintegração social dos egressos,
controle e prevenção da criminalidade.
A falta de política pública e o descaso é algo recorrente no que diz respeito ao processo
de reincidência e ressocialização do indivíduo no espaço onde vive. Para possibilitar a
ressocialização, ou seja, o convívio em sociedade após o cárcere dos presos é
necessário colocar em prática as normas existentes no ordenamento jurídico.
A solução para que a ressocialização se efetive é uma política carcerária que garanta
dignidade e humanização ao preso em todos os sentidos e que, principalmente seja
significativa para a construção do sujeito reincido na sociedade.
Por outro lado, mesmo reincidente, o réu tem direito a uma pena que cumpra a função
de prevenção especial positiva de forma que apesente métodos como à APAC. Mas o
que é um réu reincidente de acordo com o Código Penal? Segundo o Artigo 63 do
Código Penal, “verifica-se à reincidência quando o agente comete novo crime, depois
de transitar em julgado à sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha condenado
por crime anterior”.
Os projetos como a APAC e outros, lutam e fazem sua parte, porém quando estas
pessoas saem de lá até tendo uma profissão, além de malvistos pela sociedade,
quando vão à procura de serviço os empregadores em sua maioria pedem atestado de
bons antecedentes, e de imediato ficam receosos de oferecer o serviço, tirando a
chance desse cidadão de arrumar um emprego e ser novamente inserido no mercado
de trabalho.
disponível pelo Estado para proteger a sociedade de indivíduos que, pela prática
infrações, possam colocar em risco o equilíbrio e a segurança da vida em comunidade.
Entretanto, a realidade que tem sido denunciada é de que a prisão cumpre finalidades
incompatíveis com as propostas de reintegração social do infrator e de controle da
criminalidade.
violência, higiene e alimentação aos presos, fatores que contribuem para a decadência
do sistema prisional brasileiro. Afinal, a desestruturação ocasiona o descrédito da
prevenção e da reabilitação do condenado, ante um ambiente, cujo fatores culminaram
para que chegasse a um cenário precário.
A Lei de Execução Penal, por exemplo, estabelece, em seu art. 88, que o cumprimento
de pena segregatória se dê em cela individual com área mínima de 6 metros
quadrados, o que, como é sabido por tudo o que é amplamente divulgado pela
imprensa, não ocorre nas penitenciárias nacionais.
Além disso, o art. 85 da LEP prevê que deve haver compatibilidade entre a estrutura
física do presídio e a sua capacidade de lotação, entretanto, a superlotação tem como
efeito imediato não só a violação das normas da LEP, mas também, de princípios
constitucionais.
É difícil falar em ressocialização dos presos, quando o sistema prisional não oferece as
condições para a aplicação do que está estabelecido no artigo 83 da LEP que prevê, “o
estabelecimento penal, conforme a sua natureza, deverá contar em suas dependências
com áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e
prática esportiva”. (OLIVEIRA, 2007)
1
Então, se observa que na prática não são todos os estabelecimentos penais que
cumprem os referidos dispositivos legais, consequentemente, impossibilitando a
ressocialização dos apenados.
4 REINTEGRAÇÃO SOCIAL
No que diz respeito ao trabalho do preso, a pesquisa oficial, realizada em abril de 2006,
indica que apenas 33,16 % da população carcerária paulista exercem algum trabalho
na prisão. Mais uma vez, observa-se um hiato entre teoria e prática penitenciária. A Lei
de Execuções Penais estabelece, no artigo 41, inciso II, que constitui um direito do
preso a atribuição de trabalho e sua remuneração. O artigo 32 dispõe que as atividades
atribuídas aos apenados devem considerar suas habilidades pessoais, suas condições
físicas e as oportunidades oferecidas pelo mercado para quando recuperar sua
liberdade.
Na prática, não é o que acontece. Em tese, o trabalho deveria ser um item importante
no processo de recuperação do infrator. Entretanto, a prisão opera na contramão dos
objetivos sociais a que foi destinada. Os percentuais apontados pelas estatísticas de
2004, realizada pela FUNAP, Fundação Nacional de Amparo ao Preso, são reveladores
desta realidade. Da população carcerária do Estado de São Paulo, considerada
naquele período, 42% não trabalhavam. Dos que trabalhavam, a metade era
remunerada com a importância de R$20,00 por mês. Apenas 5% recebiam salários
entre R$81,00 e R$120,00.
A educação oferecida dentro dos presídios não viabiliza projetos futuros. As condições
em que as aulas são ministradas desestimulam tanto os professores quanto a
comunidade carcerária: o material didático é escasso e os locais, improvisados. Além
de não oferecer uma estrutura para ambos. Um dos principais fatores do alto nível de
criminalidade é o desemprego e deste, um mercado de trabalho cada vez mais
exigente. Por esta razão, aqueles que não tiveram acesso à cultura e à educação
adequadas são condenados à exclusão.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se, ante a realidade do sistema prisional brasileiro que o tratamento dos presos
é totalmente indigno, uma vez que não são tratados como pessoas detentoras de
direitos e deveres, garantidos pela Constituição. Sendo que a Constituição declara que
a dignidade da pessoa humana é um fundamento do Estado democrático de direito
brasileiro. Além de que o Estado deve permanecer em função de todos os cidadãos
brasileiros. A vista disso é inconstitucional violar o princípio da dignidade da pessoa
humana. Enfatizando ainda, que se quer ocorrer o cumprimento legal dos direitos e
garantias resguardadas ao preso.
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É importante destacar que o Objetivo da Lei de Execução Penal é fazer com que o
criminoso cumpra sua pena e que ao cumprir não venha cometer outro delito. Por isso,
o intuito de ressocialização para que o indivíduo tenha uma nova chance de
permanecer na sociedade, porém fazer com que ele não seja reincidente, ou seja, não
venha a praticar nenhuma ilicitude novamente.
Outro grande problema é a superlotação carcerária, tendo em vista, que muitos presos
convivem em uma cela que não supre o número de presos, tampouco segue o devido
cumprimento legal estabelecido na Lei de Execução Penal. Ambiente esse, onde o mais
forte prevalece sobre o mais fraco, gerando muito abalo físico e moral, além da falta de
privacidade, presença de doença, sujeira e estresse, local este que a lei prevê total
subsídio ao preso. Um verdadeiro reflexo desumano que se depara na sociedade
quando o preso estiver inserido nela.
A extinção do cárcere não se apresenta como uma solução que possa trazer resultados
práticos imediatos, até porque a sociedade atual não comporta a abolição do sistema
penitenciário. Não se espera zerar os índices de reincidência e de criminalidade. Mas é
possível vislumbrar instrumentos capazes de minimizar os efeitos negativos da prisão e
de garantir um mínimo de segurança ao meio social. Entre sociólogos e juristas, várias
propostas são discutidas. Entre elas, há o entendimento geral de que diminuir a
superlotação carcerária é uma das mais urgentes medidas necessárias para amenizar
os sintomas. Entretanto, não basta criar estabelecimentos penais.
É necessário reservar a prisão apenas para os casos em que não haja outra forma
punitiva viável, evitando-se que os estabelecimentos penais se transformem em meros
depósitos de mazelas sociais. Além disso, os estudiosos do assunto entendem ser
necessário e urgente aprimorar os mecanismos de acompanhamento da execução da
pena, haja vista que há casos em que, mesmo cumprido o tempo de prisão imposta, o
apenado continua encarcerado por absoluta falta de controle do estabelecimento penal,
carência de vagas no regime semiaberto ou por morosidade da Vara de Execuções.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TJRN - Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. APAC tem reincidência quatro
vezes menor que regime comum no RN. Conselho Nacional de Justiça CNJ, 2017.
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ITO, Marina. Revista Consultor Jurídico - Conjur. Função do Direito Penal é limitar o
poder punitivo. 2009. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2009-jul-05/entrevista-eugenio-raul-zaffaroni-ministro-
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Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/44783/o-direito-penal-do-inimigo-de-gunther-
jakobs>. Acesso em 14 de setembro de 2021.
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