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CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO JUDAS – CAMPUS UNIMONTE

GISLENE RANDOLI

A INEFICÁCIA DA RESSOCIALIZAÇÃO DO CONDENADO NO SISTEMA


PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

Santos
2022

1
GISLENE RANDOLI

A INEFICÁCIA DA RESSOCIALIZAÇÃO DO CONDENADO NO SISTEMA


PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

Artigo científico apresentado ao curso de


Direito, da Faculdade São Judas, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Bacharel(a).

Orientador: Prof. Me Adriano Soler

Santos
2022

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GISLENE RANDOLI

A INEFICÁCIA DA RESSOCIALIZAÇÃO DO CONDENADO NO SISTEMA


PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

RESULTADO: ____________________ NOTA: ______________

Santos, _______ de ______________ de __________.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________
Prof. Dr./ Me./ Esp.

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DEDICATÓRIA

Só de pensar em tudo e em tantas pessoas que temos a


agradecer, fico emocionada.
Primeiramente, agradeço a Deus pela minha existência, por
interceder em minha vida com seus propósitos e por colocar
tantas pessoas maravilhosas em meu caminho.
Ao meu pai, agradeço por todo amor e confiança, pelos
incentivos e investimentos em minha educação, e por me guiar
ao longo da vida mostrando um caminho de honestidade e
valores, agradeço por sempre acreditar em minha capacidade e
por se orgulhar tão intensamente de minhas conquistas.
Agradeço muito também a Lucicrea, minha madrasta, que com
tanto amor e dedicação cuidou de mim e da minha filha ao
longo desses anos, sempre esteve ao meu lado me apoiando e
me ajudando em tudo, obrigada por tudo.
Por fim, aos demais familiares e amigos, e a todos que
estiveram ao meu lado e que de alguma forma contribuíram
positivamente durante esses cinco anos de graduação e/ou
durante a construção desta monografia, o meu MUITO
OBRIGADA!
SUMÁRIO

RESUMO

INTRODUÇÃO

1. DAS PENAS------------------------------------------------------------------------------------- 10
2. CONCEITO DE PENA--------------------------------------------------------------------------10
3. FINALIDADE DA PENA -----------------------------------------------------------------------11

3.1 TEORIA ABSOLUTA OU DA RETRIBUIÇÃO-------------------------------------11

3.2 TEORIA RELATIVA, FINALISTA, UTILITÁRIA OU DA PREVENÇÃO----12

3.3 TEORIA MISTA, ECLÉTICA, INTERMEDIÁRIA OU CONCILIATÓRIA-----13

4. ESPÉCIES DE PENA----------------------------------------------------------------------------13

5. DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE----------------------------------------------------12

5.1 TIPOS DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE-----------------------------------14

5.2 REGIMES PRISIONAIS------------------------------------------------------------------14

6. A FALÊNCIA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO-------------------------16

CONSIDERAÇÕES FINAIS------------------------------------------------------------------------20

REFERÊNCIAS----------------------------------------------------------------------------------------22

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A INEFICÁCIA DA RESSOCIALIZAÇÃO DO CONDENADO NO SISTEMA
PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

RESUMO

A pesquisa tem como objetivo abordar o instituto jurídico da


pena e sua real função dentro da sociedade, abordando desde os primórdios
aos tempos atuais, as suas mudanças quanto ao entendimento de pena e seu
significado. Utilizando do autor José Geraldo da Silva, e muitos outros
doutrinadores do direito, para finalmente desmistificar a ressocialização e como
sua ineficácia reflete diretamente no âmbito social.

Palavras-chave: Direito Penal; Ineficácia; Pena.

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INTRODUÇÃO

Os princípios constitucionais que regem a Execução Penal, de acordo


com Nucci (2011), não se desvinculam dos princípios que regem o Direito Penal nem o
Direito Processual Penal.

Apesar de tratar-se de ciência autônoma com princípios próprios, na


Execução Penal não se pode deixar de observar os direitos e garantias individuais. Dentre
eles aplica-se o princípio da dignidade da pessoa humana que é um princípio regente,
base e meta do Estado Democrático de Direito, regulador do mínimo existencial para a
sobrevivência apropriada, a ser garantido a todo ser humano, bem como o elemento
propulsor da respeitabilidade e da autoestima do indivíduo nas relações sociais.

O princípio da dignidade da pessoa humana deve ser rigorosamente


observado no Estado Democrático de Direito, exteriorizando-se na Execução Penal pelo
princípio da humanidade da pena, que é adotado pela Constituição, em seu artigo 5º,
inciso XLVII, diz que não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
termos do art. 84, XIX (Competência do Presidente da República para declarar guerra); e
que não existem penas de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, pena de banimento e
penas cruéis.

A Constituição da República também estabelece outras regras que regem


a Execução Penal, quais sejam: artigo 5º, inciso XLVIII, “a pena será cumprida em
estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do
apenado”; artigo 5º inciso, XLIX, “é assegurado aos presos o respeito à integridade física
e moral”, e art.5º, inc. L, “às presidiárias serão asseguradas condições para que possam
permanecer com seus filhos durante o período de amamentação”.

No Código Penal, em seu artigo 38, no tópico “Direitos do preso”, também


observa essa garantia constitucional ao dispor que: “O preso conserva todos os direitos
não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à
sua integridade física e moral”. Contudo, de acordo com Azevedo (2012) observa-se
também que o sistema prisional brasileiro é ineficaz, sendo os presídios meros
aglomerados de presos e havendo a necessidade hercúlea de ressocialização dos
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apenados. Dessa forma, urge a necessidade de meios aos quais a ressocialização do
preso seja realizada.

1. DAS PENAS

Na sociedade em que vivemos o direito penal é uma fonte que regula a


convivência harmônica entre os cidadãos, além disto, o direito nasce de acordo com as
necessidades de um determinado povo, variando de acordo com o contexto histórico,
social e cultural. Para Fernando Capez, em sua obra Curso de direito penal (2011, p.19)
“A missão do Direito Penal é proteger os valores fundamentais para a subsistência do
corpo social, tais como a vida, a saúde, a liberdade, a prosperidade, etc., denominados
bens jurídicos”

A evolução do direito segue de mãos dadas com a sociedade, pois um


necessita do outro, surgindo as necessidades fundamentais que os indivíduos
necessitam, para que seus direitos concebidos por lei sejam protegidos. Garantindo o
mínimo para a sua sobrevivência, e a dignidade da pessoa humana.

O judiciário tem seu papel como mediador, buscando o direito, igualdade


e a paz social do indivíduo, pois, cada um deles possuem um conjunto de características
físicas e comportamentais exclusivas, tornando os singulares e ao mesmo tempo
imprescritíveis.

O estado faz jus das normas jurídicas para representar as ações lesivas
aos bens jurídicos por ele tutelados e o meio de ação de que se vale o Direito Penal é a
pena, em que já se viu a necessidade de existência da justiça, penalizando o autor da
conduta punível a uma sanção compatível com a gravidade do dano causado por ele.

2. CONCEITO DE PENA

A pena é tão antiga quanto a própria humanidade, desde os primórdios da


existência humana o homem conta com um senso de justiça, fazendo valer seus direitos
de acordo com a lei vigente. Nos dias de hoje somos regulados por leis positivadas em
um ordenamento jurídico, mas isto foi resultado de uma grande e constante evolução.

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O Direito emana das necessidades do seu povo, moldando-se dentro do
contexto histórico, cultural e social de um determinado tempo e lugar, sua evolução está
intimamente ligada a própria evolução da humanidade. De acordo com o desenvolvimento
da sociedade o direito vem a progredir junto, pois necessita-se de que ambos caminham
juntos para que assim não exista irregularidades.

A pena primitivamente utilizada como vingança, castigo, retribuição a


conduta tida como ofensa, mal, abandona o caráter simplório punitivo e passa a ganhar
uma nova roupagem na atualidade, tendo como uma de suas características a retribuição
da ofensa, mas com a devida equivalência ao mal imposto, visando ainda a prevenção e a
ressocialização do infrator.

De acordo com o autor Heraclito Antônio Mossi, em sua obra Curso de


Processo Penal (1998, p.78) A pena é a ferramenta da qual o Estado se vale para
resguardar a ordem pública, garantindo os direitos essenciais ao convívio harmonioso.

O objetivo da pena é a sanção imposta pelo Estado “jus puniendi”,


privando-os de bens jurídicos, através da ação penal, ao criminoso, cuja finalidade é a
retribuição ao delito perpetrado e a prevenção a possíveis novos delitos, sendo reflexos
das infrações penais cometidas por todo e qualquer cidadão. A Pena é o resultado ou a
consequência imposta a todo e qualquer cidadão que comete uma infração penal.

3. FINALIDADE DA PENA

O objetivo da pena é sancionar o infrator do delito criminoso, muitas das


vezes o Estado e a sociedade utilizam como a prevenção de um ato ilícito penal,
almejando reduzir e prevenir novas infrações penais.

De acordo com a finalidade da pena, existem três correntes doutrinarias,


são elas: teoria absoluta ou da retribuição, teoria relativa, finalista, utilitária ou da
prevenção e teoria mista, eclética, intermediária ou conciliatória.

3.1 Teoria Absoluta ou da Retribuição

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Na teoria absoluta ou da retribuição a finalidade da pena é punir aquele
que viola a ordem jurídica vigente, com um castigo condigno ao mal gerado por sua
conduta, finalidade da pena é punir o autor de uma infração penal. A pena á a retribuição
do mal injusto, praticado pelo criminoso, pelo mal justo previsto no ordenamento jurídico.

De acordo com o entendimento do autor Claus Roxin, (1997, p. 81-82) em


sua obra Teoria dos Fins da Pena, a teoria da retribuição não encontra o sentido da pena
na perspectiva de algum fim socialmente útil, senão em que mediante a imposição de um
mal merecidamente se retribui, equilibra e espia a culpabilidade do autor pelo fato
cometido.

Corroborando Cezar Roberto Bitencourt (1993, p. 102), Através da


imposição da pena absoluta, não é possível imaginar nenhum outro fim que não seja
único e exclusivamente o de realizar justiça. A pena é um fim em si mesmo. Com a
aplicação da pena, consegue-se a realização da justiça, que exige, frente a um mal
causado, um castigo que compense tal mal e retribua, ao mesmo tempo, o seu autor.
Castiga-se quia peccatum est, isto é, porque delinquiu, o que equivale dizer que a pena é
simplesmente a consequência jurídica do delito praticado.

Por esta teoria, a pena tem sua função meramente retributiva, ou seja, é
utilizada como um castigo para aquele que cometeu um ato ilícito.

3.2 Teoria Relativa, Finalista, Utilitária ou da Prevenção

A teoria Relativa, tem a sua pena como um ato prático e imediato,


para que assim possam prevenir o crime, atuando como um instrumento de prevenção,
visando inibir a ação delituosa, para que o infrator seja driblado em transgredir a lei, ou
seja, violar a lei.

A pena de caráter preventivo geral se baseia na intimidação de todas as


pessoas que compõem a sociedade, através de sanções aplicadas ao infrator. Contudo,
sabe-se que a sanção é utilizada para coibir a delinquência social.

Para Bitencourt (2011, p.108) a prevenção geral se dá em duas etapas, a


primeira é a intimidação ou utilização do medo e a outra é a ponderação da racionalidade

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do homem. Essa teoria valeu-se dessas ideias fundamentais para não cair no terror e no
totalitarismo absoluto. Teve, necessariamente, de reconhecer, por um lado, a capacidade
racional absolutamente livre do homem – que é uma ficção como livre-arbítrio, e por outro
lado, um Estado absolutamente racional em seus objetivos, que também é uma ficção.

É através da imputação da pena que o Estado assegura ao seu corpo


social um sentimento de tranquilidade e segurança, uma vez que, antes de cometer o
ilícito o agente pensara na punição que sofrerá.

3.3 Teoria Mista, Eclética, intermediária ou Conciliatória

A presente teoria objetiva reeducar o infrator para que, ao retornar ao


convívio social seja um cidadão distinto e consciente de suas obrigações legais, obstando
o cometimento de novos delitos. Surgiu da combinação de diferentes aspectos das teorias
retributivas e preventivas da pena.

Na teoria mista a pena atende a duas finalidades a de punir o infrator e ao


mesmo tempo de o desestimular a novas práticas criminosas, tendo uma característica de
dupla punibilidade, sendo elas punição e a prevenção.

De acordo com o artigo 59, caput, do Código Penal, preconiza que a pena
apresenta natureza mista, ou seja, é retributiva e preventiva.

Ao juiz existe a obrigatoriedade de atender à culpabilidade, aos


antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do
crime,

A teoria mista, portanto, tem caráter retributivo e preventivo, busca


responder com equidade a ofensa do agressor e ao mesmo tempo prevenir novas ações
criminosas através da reeducação.

4. ESPÉCIES DE PENA

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Conforme o artigo 32, do Código Penal brasileiro, as espécies de penas
são: as privativas de liberdade, as restritivas de direitos e multa.

Referente as penas privativas de liberdade aplicadas a prática de crimes,


existem duas vertentes, a reclusão e a detenção.

Já as penas restritivas de direitos são divididas em prestação pecuniária, perda


de bens e valores, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, interdição
temporária de direitos e limitação de fim de semana.

A multa é uma pena de natureza pecuniária, que de acordo com o artigo


49 do Código Penal, consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na
sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360
(trezentos e sessenta) dias-multa.

5. DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

No contexto histórico-social a execução pública do condenado era uma


forma exemplar de castigar, estes eram submetidos a condições degradantes e
humilhantes durante seu período de confinamento até a execução da pena. A pena
privativa de liberdade, portanto, surgiu da necessidade da preservação da dignidade da
pessoa humana. Com o amadurecimento do modo de pensar da sociedade conveniou-se
que o próprio confinamento, outrora, utilizado apenas como instrumento de evitar a fuga
do condenado, tratava-se também de uma maneira de punir, uma vez que, cercear o
direito de liberdade do indivíduo que era retirado do convívio social.

A pena privativa de liberdade é conhecida como uma medida de ordem


legal, aplicável ao infrator, consistindo na perda de sua liberdade física de locomoção e
que se efetiva mediante seu internamento em estabelecimento prisional.

5.1 TIPOS DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

O Código Penal, em seu artigo 33 prevê dois tipos de pena privativa de


liberdade: reclusão e detenção. Já a Lei de Contravenções Penais imputa ao contraventor
a pena de prisão simples. Constituindo-se como uma forma severa de punição, as penas

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privativas de liberdade podem ser de reclusão, detenção ou prisão simples, variando,
principalmente, o grau de institucionalização do indivíduo.

A pena de reclusão pode ser executada inicialmente em qualquer regime


de prisão, seja ele fechado, semiaberto e aberto. Constitui a mais árdua das penas e é
destinada aos crimes mais gravosos. Já a detenção é utilizada nos crimes de menor
ofensividade e deve obrigatoriamente iniciar em regime semiaberto ou aberto, o que não
obsta posterior conversão ao regime fechado.

A principal diferença entre as penas de reclusão e detenção consiste no


tipo de regime, sendo que a reclusão poderá ser cumprida em regime fechado,
semiaberto e aberto. Já a pena de detenção deverá ser cumprida em regime semiaberto e
aberto.

Conforme preconiza o Código Penal brasileiro em seu artigo 33: “A pena


de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção
em regime semiaberto ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.

A pena de prisão simples encontra-se prevista no artigo 5º do Decreto Lei


3688/41, Lei de Contravenções Penais, estabelece em seu artigo 6º que está pena deverá
ser cumprida sem rigor penitenciário em estabelecimento especial ou seção especial de
prisão comum, em regime semiaberto ou aberto. O referido artigo em seu para 1º fixa que
seu condenado ficará sem separado dos condenados à pena de reclusão ou de detenção.

5.2 REGIMES PRISIONAIS

A Lei de Execução Penal junto com o Código Penal Brasileiro,


compreendem três tipos de regimes, são eles: Aberto, Fechado e o Semiaberto. O regime
prisional é a maneira pela qual pode-se ocorrer a execução de pena de privativa de
liberdade.

A única autoridade que determina qual regime o condenado irá cumprir é


o Juiz, no momento da decisão da sentença, prevendo também o tempo em que irá
permanecer no regime, desde que, compatível proporcionalmente com a infração
cometida.

No regime fechado a pena é executada em estabelecimento de


segurança máxima ou média, denominados de penitenciária. É o mais rigoroso regime de

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cumprimento de pena, podendo ter fixação inicial ou por regressão de acordo com a
gravidade infração penal.

O encarceramento se dá por conta dá pelo regime dos sistemas de


progressão de regime e os de não progressão. No Brasil, por ser um país democrático de
direito, utiliza-se o regime de progressão, tendo interesse na educação, desenvolvimento
profissional e a ressocialização dos condenados.

Cabe ressaltar que “o pressuposto para ingresso no regime aberto é a


aceitação pelo condenado do seu programa e das condições impostas pelo Juiz” (CAPEZ,
2007, p. 89). No regime semiaberto o reeducando encontra-se a um passo de sua
liberdade, gradativamente conquistada, sendo que caso cometa crime doloso ou não
cumpra com alguma condição fixada poderá regredir no regime. O regime aberto é
voltado ao condenado em delitos leves ou para os que progrediram de outro regime,
conforme o Código Penal, artigo 36.

6. A FALÊNCIA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

As Leis são tão antigas quanto a própria existência da humanidade, faz


parte da natureza do ser humano viver em grupo, mesmo nas eras mais primitivas o
homem agrupava-se com seus semelhantes por uma questão de sobrevivência. Mas toda
convivência traz consigo a divergência, somos seres únicos, singulares, pensamos e
agimos de maneiras iguais ou similares, às vezes totalmente conflitantes e é neste
contexto que surge a necessidade da criação de mecanismos que regulam a vida no
coletivo.

As leis emanam do povo, de suas necessidades, variando de acordo com


o tempo, com a cultura de cada sociedade. Sua evolução é constante, pois o homem não
é um ser inerte, diuturnamente busca aprimorar o meio em que vive e diante de uma lide
hoje se tem a possibilidade de provocar o mundo jurídico no intuito que este encontre a
melhor solução para restabelecer a ordem.

Todo o ser humano possui liberdade de escolha e ação, desde que sua
conduta não transgrida uma ordem legal tipificada no ordenamento jurídico, que foi
positivada justamente para coibir condutas nocivas para a vida humana, para a
convivência harmônica e pacífica em sociedade.

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A pena, tem como seu mecanismo vigente, evitar que os bens jurídicos
tutelados sejam violados, através da pena o Estado busca inibir e evitar a reincidência de
condutas que ferem a ideia de convivência harmônica. “O Direito Penal enquanto
ordenador da sociedade deve transmitir tranquilidade social, evitando a prática de
infrações e reprimindo as praticadas.

No prêmio da civilização a pena imputada para quem atentasse contra as


normas da moral e dos bons costumes era exercida de maneira desumana. A pena que
possuía caráter meramente vingativo, evoluiu passando a ensejar prevenção, sendo
fixada com o intuito de desmotivar a prática da ação delituosa, bem como sua
reincidência. Muito se galgou na evolução da execução da pena, com destaque ao infrator
que atualmente também é objeto de tutela jurídica, e apesar de ter determinados direitos
restringidos, tem resguardado pela Constituição Federal bens vitais inalienáveis, tais
como a dignidade da pessoa humana, motivo pelo qual se faz necessário que o
ordenamento jurídico fique em consonância com as mudanças da sociedade e da
humanidade.

O atual cenário político e social brasileiro gera instabilidade e


insegurança. Vivemos uma crise alarmante e crescente, onde infelizmente o Estado não
consegue propiciar a seu povo o sentimento de segurança, de ordem pública. O número
da população carcerária aumenta de maneira assustadora, de modo que nos remete a
seguinte reflexão: “o atual sistema penitenciário brasileiro tem cumprido com sua função
basilar?”. As penas privativas de liberdade que deveriam inibir, desmotivar ações
criminosas não apresentam a eficácia esperada.

O sistema penitenciário brasileiro a tempos vem dando sinais de ruína,


seu total colapso é uma tragédia anunciada. A priori a principal problemática consiste no
considerável aumento da delinquência, os valores fundantes de nossa sociedade estão
sendo deturpados, hoje a ideia de impunidade atrai cada vez mais seguidores para o
mundo do crime.

A pena é um mal necessário, uma sociedade sem leis e por consequência


sem sanções seria apenas um emaranhado de pessoas entregues ao caos de sua própria
conveniência. A vida em sociedade exige organização, o que é questionável é a execução
da pena pois é insuficiente em seu caráter educativo, ressocializador. A aplicação da
pena privativa de liberdade deveria acontecer de maneira bilateral: punindo o infrator ao

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limitar sua liberdade, mas principalmente o reeducando para o convívio social, durante
seu confinamento.

A sociedade exige do preso uma nova e otimizada conduta, em


contrapartida lhe oferece apenas condições calamitosas e um cenário de total desrespeito
e abando pelo ser humano encarcerado. O preso vive em condições degradantes, e
infelizmente o consenso é que está ótimo, “oras trata-se de um infrator, por que o tratar
bem”? Por se tratar de um ser humano, que futuramente voltará a participar ativamente da
sociedade, de maneira positiva ou negativa. Esperamos que o preso saia ressocializado,
mas não disponibilizamos condições para que isto de fato aconteça.

O colapso instaurado no sistema carcerário é inegável, o ambiente


disponibilizado para que em tese ocorra uma reeducação, uma reabilitação para o
convívio saudável com seus semelhantes, apresenta reflexos contrários, pois, gera uma
série de distúrbios físicos, psicológicos e morais no preso.

É de extrema importância, que as penas acompanhem as novas


tendências, no entanto há de se discordar em parte, já que as penas positivadas no
ordenamento jurídico brasileiro resguardam e tutelam o preso em amplitude, entretanto
não atingem sua finalidade pois vivemos outra realidade não condizente a estabelecida
em lei.

Por lei todo reeducando deveria ter acesso à Educação, este na verdade
deveria ser requisito obrigatório, sem educação como este cidadão poderá se
profissionalizar. É dever do sistema propiciar cursos profissionalizantes, para que ao
reingressar ao convívio possa exercer uma atividade laboral lícita.

O reeducando ao cometer o ilícito penal já mostra descontrole emocional


e ao ter seu direito de liberdade restringido e ser confinado seu psicológico passa por um
turbilhão de emoções negativas. Deveria fazer parte de sua rotina o acompanhamento
com um profissional da área, para que de maneira gradativa sua mente se tornasse
saudável.

A respeito da saúde física do detento assegurada em lei, mas longe de


ser uma realidade. O detento vive em condições precárias e insalubres, ambiente que
favorece a contração de diversas doenças. Sua integridade física e sexual é
diuturnamente ameaçada, não há um controle eficaz que coíba tais tipos de agressão,
que na maioria das vezes nem é relatada.

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O detento é condicionado as atividades criminosas, e se porventura
recusar é reprimido e até mesmo tem ceifada sua vida. A prisão que deveria ressocializar
virou uma escola para o crime. Celas superlotadas imputam a estes um desgaste físico,
psicológico e moral.

O fim da violência, das infrações penais, principalmente no atual contexto


é uma utopia, entretanto é indubitável a reforma do Sistema Penitenciário Brasileiro, é
imprescindível para o bem de nossa nação está reestruturação oferecendo ao cidadão
infrator da lei a possibilidade verdadeira de reeducação, de mudar sua realidade social,
corroborando consequentemente de maneira indescritível e única para toda a sociedade.

Cabe destacar:

[…] Presente quadro de violação massiva e persistente de direitos


fundamentais, decorrente de falhas estruturais e falência de políticas
públicas e cuja modificação depende de medidas abrangentes de
natureza normativa, administrativa e orçamentária, deve o sistema
penitenciário nacional ser caracterizado como ‘estado de coisas
inconstitucional (ADPF 347 MC, Rel. Min. Marco Aurélio. j. em
09/09/2015).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa de conclusão de curso foi elaborada utilizando-se de uma


ordem cronológica, com intuito de desmistificar quais os fatos geradores da ineficácia da
ressocialização no sistema prisional brasileiro. Buscando assim decifrar o conceito de
pena e como este foi se moldando com a evolução do homem médio, até a criação das
sociedades.

O instituto da pena se faz presente na vida do homem antes mesmo da


formação de sociedades organizadas, de modo que o homem médio utilizava do instituto
como modo de represália, ou seja, seu instinto natural quanto a um mal que lhe ocorra.

Nos primórdios das sociedades o instituto foi se moldando conforme o


entendimento atual do homem quanto a vida em grupos sociais, passando de uma
vingança privada para a vingança divina, está embasada diretamente pela religião,
advindo a punição da “ira” dos seres supremos, ou seja, deuses que eram enaltecidos na
época.

Porém, novamente foi se moldando, até a criação do Estado, figura


soberana, detentor do mais alto poder dentro da sociedade e apenas este teria o poder de
sanção perante os membros da sociedade, assim ficando incumbida a ele a decisão
quanto a pena que seria cominada ao indivíduo que praticasse algum ato criminoso.

Assim, a pena possuía não apenas uma função de represália, mas sim
uma forma de controle social pelo ente estatal, desta ideia resultou uma série de teorias
ao tema, passando da teoria absoluta, pautada única e exclusivamente na demonstração
de soberania do Estado, para a teoria relativa que buscava não apenas a punição, mas

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sim a prevenção, ou seja, buscava através de atividades sociais reeducar aqueles que se
encontravam presos, para que assim não voltasse a delinquir. Porém, ambas as teorias
possuíam pontos negativos, assim foi necessário a elaboração de uma nova teoria, está
chamada de Teoria Mista, buscando a junção dos pontos positivos de cada teoria e de
mesma forma excluindo os pontos negativos.

No Brasil foi adotado o Sistema Progressivo, porém com ressalvas devido


ao contexto interno do país. No ano de 1984, foi criada a Lei de Execução Penal, Nº
7.210, popularmente conhecida no âmbito jurídico como (LEP), nela estão descritos todos
os direitos e deveres do Estado e dos indivíduos nessa relação jurídica da execução
penal, deixando de forma expressa que é dever do Estado a manter o mínimo necessário
para garantia da dignidade de seus presos, com observância de uma série de princípios
que

deveram ser utilizados desde o início da demanda jurisdicional como o princípio do devido
processo legal, proporcionalidade, transcendência, até o fim da demanda que se dá com
o cumprimento da pena, devendo o Estado resguardar pela integridade física, dos seus
tutelados.

Como descrito acima dois grandes pilares baseiam a finalidade da pena


no sistema prisional brasileiro, sendo eles a punição e a ressocialização, porém para que
a ressocialização seja atingida é necessário que o Estado aplique medidas capazes de
mudar a estrutura psicológica do preso, demonstrando ao mesmo que é possível a vida
fora do mundo do crime. Porém devido à clara falta de preparo Estatal ocorre atualmente
em nosso sistema prisional a ineficácia direta da ressocialização, uma vez que não há
aplicação correta daquilo que está expresso em nossa legislação de execução penal, nem
mesmo sendo garantido aos presos os princípios inerentes a pessoa humana expressos
em nossa constituição federal. Com base nas pesquisas elaboradas se torna impossível
vislumbrar um real interesse do Estado na ressocialização do preso, uma vez que é de
senso comum que quando se vive em condições completamente desumanas, sem
higiene, saúde, cultura e alimentação básica de qualidade se tornando impossível
conquistar a ressocialização, muitos chegam a denominar o sistema prisional brasileiro
como depósitos de seres humanos.

O Brasil atualmente mais aprende do que solta, assim como medida de


amenizar o sistema prisional e desafogá-lo o Estado deveria rever os casos concretos,
analisando se realmente se faz necessário o envio desses indivíduos as unidades

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prisionais, aplicando aos mesmos medidas alternativas de pena. Uma vez que não se faz
possível a aplicação de medidas alternativas de aplicação da pena, o Estado deve
conceder aos presos uma existência digna, sistema de baixo custo como educação,
alimentação, saúde, cultura e lazer são de extrema importância para que seja atendida a
ressocialização da pena, bem como atividades laborativas com fundo de dar a estes
indivíduos uma oportunidade no mercado de trabalho quando retornarem ao âmbito
social, assim conquistando uma vida digna. Diante ao exposto no decorrer desta
pesquisa, concluo que a ineficácia da ressocialização no Sistema Prisional brasileiro
indubitavelmente é de responsabilidade do Estado, devido à falta de competência do
mesmo para mantê-lo.

REFERÊNCIAS

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sociologia do direito penal. Tradução Juarez Cirino dos Santos. 3. ed. Rio de Janeiro:
Revan, 1999.

BARROS, Flávio Monteiro de. Direito Penal- Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2006

BITTENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão. Causas e Alternativas. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.

BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva,
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CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal – parte geral. 11. ed. São Paulo: Saraiva. 2007.

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DAMÁSIO, de Jesus. Direito Penal Parte Geral. 33. ed. Saraiva, 2013.

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24
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