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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI

APOSTILA
DIREITO PENAL E SEGURANÇA
PÚBLICA

ESPÍRITO SANTO

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DIREITO PENAL E SEGURANÇA
PÚBLICA

Texto de: Dra. Maria da Penha Meirelles Almeida Costa

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1. O surgimento do processo

Nos primórdios de nossa civilização, o homem, à míngua de outro meio de


comunicação, bradava para expressar seus sentimentos e desejos. Com o passar do
tempo, diante da sua multiplicação, o ser humano buscou meios para melhor se
comunicar. Encontrou, então a linguagem para satisfazer o seu desejo.

A fala para o homem foi de suma importância, mas ele continuou se desenvolvendo e
procurou também aperfeiçoar os meios para solucionar seus conflitos de interesse.
Na verdade, ele criou o processo em decorrência de uma necessidade imperiosa de
um instrumento que pudesse dar amparo ao sentimento de justiça natural possuído
por todo ser humano. Evidentemente foi um processo demorado, em razão da
inexistência de um costume preexistente.

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A partir de sua criação, ao longo dos séculos, muitas teorias contribuíram para o seu
desenvolvimento, aperfeiçoando-o até chegar ao que é hoje.

O homem é um ser social por excelência e, portanto, não vive senão em sociedade,
até para proteger o seu próprio grupo. Assim, o seu instinto gregário deu origem à
sociedade e, com ele, surgem os conflitos de interesse. É importante ressaltar que,
quando o conflito de interesse pertence a uma única pessoa, é fácil de ser resolvido,
posto que ela terá de sacrificar o menos importante em detrimento do mais importante
para ela naquele momento. Entretanto, quando existe o conflito de interesses de
pessoas diversas, estes devem ser resolvidos pela sociedade dos homens, a fim de
manter a paz social. Só para relembrar, pensando em termos de sociedade e a sua
consequente subsistência, seria impossível que cada qual fizesse justiça pelas
próprias mãos, visando solucionar o conflito. Por estas razões, podemos afirmar que
o Estado é soberano e cabe a ele dirimir tais controvérsias, agindo de forma neutra e
imparcial, solucionando cada pretensão que um impõe ao outro.

2. Jus puniendi e jus persequendi

O Estado recebe das pessoas delegação para agir em nome da vítima, que assim se
libera da vingança privada. Somente o Estado pode punir, exercendo a titularidade
do jus puniendi, o direito de impor sanções. Obviamente, esse direito é praticado
observando certos procedimentos, a fim de garantir total lisura na apuração da
conduta do infrator. Também, é da titularidade do Estado o jus persequendi, ou seja,
direito à persecução mediante instauração do devido processo legal.

Na verdade, este poder do Estado nada mais é do que um poder/dever, uma vez que,
encarregado de aplicar a Justiça, não detém discricionariedade que lhe permita optar
entre promover a ação penal e deixar de fazê-lo. Assim, praticado o crime, o Estado
tem a obrigação de propor a ação penal, salvo a hipótese de ação penal, onde a opção
cabe ao particular.

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Já o jus persequendi é um direito subjetivo do Estado exercido pelo Ministério Público,
encarregado de postular, perante o Estado-Juiz, a condenação do infrator. O
Promotor de Justiça é o dominus litis, mas, no entanto, está subordinado a
normatividade processual, não podendo agir de acordo com sua exclusiva vontade ou
predileções.

3. Distinção entre direito penal e processo penal

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O direito penal é a substância. O direito processual penal é o instrumento que coloca


a substância a atuar.

Assim, para que o direito seja colocado em movimento, há necessidade de uma


violação de uma norma prevista como típica, um poder encarregado de aplicar a lei
penal e, por consequência, um método consistente no processo, que representa uma
série de atos coordenados.

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O objetivo maior do processo penal é à busca da verdade real, diferente do processo
civil que tem por objetivo a busca da verdade formal, ou seja, a verdade contida nos
autos.

4. Nullum crimen, nulla poena sine praevia lege

Muito embora cabe ao Estado o exercício do jus puniendi, existem princípios


constitucionais que o limita, como a impossibilidade de prosperar uma acusação sobre
um crime sem lei prévia que o defina, apresentando-se como atípico e, portanto,
desprovido de qualquer sanção.

Desta forma, nenhuma ação humana, ainda que pareça imoral ou contrária aos
interesses coletivos, se não estiver prevista em lei escrita e anterior a sua execução,
pode constituir-se delito em sentido lato.

5. Nulla poena sine judicio

O presente brocardo consagra o princípio da instrumentabilidade do processo penal.


É a imposição do devido processo legal para se chegar a uma condenação. No
entanto, é importante ressaltar que tal conceito foi mitigado com a edição da Lei n.
9.099/95, haja vista a possibilidade de transação.

Em outras palavras, o processo penal é uma ferramenta necessária à aplicação da lei


penal. Como sucessão de atos disciplinados pelo direito, o processo se interpõe
necessariamente entre o delito e a sanção, constituindo-se no único meio de
descoberta da verdade real.

6. Diferença entre processo e procedimento


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O processo é o instrumento através do qual se aplica o direito material;

O procedimento é o modus operandi, é a maneira de proceder dentro do processo.

É a exteriorização do processo mediante a série de atos que o constituem.

II - RELAÇÕES DO PROCESSO PENAL COM AS DEMAIS CIÊNCIAS

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Dentre as ciências auxiliares de maior conexão com o direito processual penal, podem
ser mencionadas a política criminal, a criminologia, a medicina legal, a psiquiatria
forense e a polícia científica.

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1. Política Criminal

É a política criminal que fornece o critério para apreciação do valor da norma vigente
e propõe o modelo de norma a vigorar. O processo criminal não pode se afastar do
modelo de política criminal adotado. Este se reflete no processo e é inegável a relação
existente entre ambos, pois não basta apenas impor as sanções, mas saber como
aplicar a pena eficazmente, a fim de se obter os seus efeitos preventivos e
repressivos.

2. Criminologia

Criminologia é a ciência que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da


vítima e do controle social do comportamento delitivo, procura fornecer uma
informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do
crime - contemplado este como problema individual e como problema social -
fornecendo programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção
positiva no homem delinquente.

3. Medicina legal

Há uma ligação muito próxima entre o direito processual e a medicina legal. Esta
fornecerá parâmetros para se aferir a imputabilidade do réu sobre o qual pairar
dúvidas quanto à sanidade mental. Apurará os vestígios dos delitos e suas sequelas

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nas vítimas. É importante ressaltar que o resultado final do processo está vinculado
à qualidade de determinada perícia, daí sua inequívoca relevância para o processo.

4. Psiquiatria forense

A intervenção da psiquiatria na criminologia forense deriva de norma expressa do


Código Penal, o art. 26 e seu parágrafo único.

Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.

Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em


virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Na verdade, observamos que a sociedade separou a criminalidade da loucura, depois


de tê-las confundido por um longo período. Dessa diferenciação nasceu a perícia
psiquiátrica. O perito psiquiatra desempenha papel de extremo significado na
aplicação da justiça criminal.

III - RELAÇÃO DO PROCESSO PENAL COM O DIREITO CONSTITUCIONAL

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A Constituição é fundamento de validade de toda a normatividade, pois, em relação
às suas normas, as demais são inferiores.

É no texto constitucional que se encontra o maior número de preceitos relevantes para


o processo criminal, bastando mencionar vários incisos do art. 5º, voltados à tutela da
liberdade, consagradores do processo como instrumento para a realização da Justiça.
Senão vejamos, o artigo e os seus respectivos incisos:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta


Constituição;

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em


virtude de lei;

III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou


degradante;

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da


indenização por dano material, moral ou à imagem;

VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o


livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos
locais de culta e a suas liturgias;

VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas


entidades civis e militares de internação coletiva;

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VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em
lei;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,


assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem


consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou
para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,


de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal;

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as


qualificações profissionais que a lei estabelecer;

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da


fonte, quando necessário ao exercício profissional;

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo


qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com
seus bens;

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao


público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra
reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido
prévio aviso à autoridade competente;

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XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter
paramilitar;

XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem


de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas


atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o
trânsito em julgado;

XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm


legitimidade para representar seus filiados, judicial ou extrajudicialmente;

XXII - é garantido o direito de propriedade;

XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

XXIV-a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade


ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização
em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;

XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar


de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se
houver dano;

XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes
de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu
desenvolvimento;

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização publicação ou


reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei
fixar;

XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:

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a. a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da
imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;

b. o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem


ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas
representações sindicais e associativas;

XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário


para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade
das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em
vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico do País;

XXX - é garantido o direito à herança;

XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será resguardada


pela lei brasileira, em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que
não lhes seja mais favorável à lei pessoal do de cujus;

XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxa:

a. o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra


ilegalidade ou abuso de poder;

b.a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e


esclarecimento de situações de interesse pessoal;

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a


direito;

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato perfeito e a coisa julgada;

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XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;

XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:

a.a plenitude de defesa;

b.o sigilo das votações;

c.a soberania dos veredictos;

d.a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades


fundamentais;

XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à


pena de reclusão, nos termos da lei;

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia


a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo
e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitem;

XVIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados,


civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação


de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;

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XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará entre outras, as
seguintes:

a.privação ou restrição da liberdade;

b.perda de bens;

c.multa;

d.prestação social alternativa;

e. suspensão ou interdição de direitos;

XLVII - não haverá penas:

a.de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

b.de caráter perpétuo;

c.de trabalhos forçados;

d.de banimento;

e. cruéis;

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a


natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer


com seus filhos durante o período de amamentação;

LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime


comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de


opinião;

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LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em


geral são assegurado o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes;

LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença


penal condenatória;

LVIII - o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal,


salvo nas hipóteses previstas em lei;

LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal;

LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a


defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem judicial escrita
e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados


imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele
indicada;

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer


calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou
por seu interrogatório policial;

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LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do
depositário infiel;

LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar


ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e


certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a. partido político com representação no Congresso Nacional;

b. organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente


constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
interesses de seus membros ou associados;

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma


regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;

LXXII - conceder-se-á habeas data:

a. para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do


impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;

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b. para retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ao lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e
do ônus da sucumbência;

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos;

LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que
ficar preso além do tempo fixado na sentença;

LXXVI - são gratuitos para os reconhecimentos pobres, na forma da lei:

a. o registro civil de nascimento;

b. a certidão de óbito;

LXXVII - são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da


lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.

Parágrafo 1º. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm


aplicação imediata.

Parágrafo 2º. Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem


outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Assim, só para exemplificar, observamos os seguintes incisos:

III - protege a pessoa de tratamento desumano ou degradante;

XXXVII - veda o juízo de exceção;

XXXVIII - reconhece a instituição do júri;

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XXIX - princípio da reserva legal;

XL - princípio da retroatividade da lei benigna;

LIV – princípio do devido processo legal;

LV – princípio do contraditório e ampla defesa;

LVII – princípio da presunção de inocência;

LX – princípio da publicidade.

Ainda importam - e são fundamentais para o processo criminal - os incisos LII, LIII,
LVI, LVIII, LIX, LXI, LXII, LXIII, LXIV, LXV, LXVI, LXVII e LXVIII, os quais podem ser
analisados, detalhadamente, no tópico relativo ao artigo 5º da CF.

IV - EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em território


brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional.
Vigora o princípio da absoluta territorialidade, ou seja, aos processos e julgamentos
realizados no território brasileiro, aplica-se à lei processual penal nacional. Justifica-
se por ser a função jurisdicional a manifestação de uma parcela da soberania nacional,
podendo ser exercida apenas nos limites do respectivo território.

A territorialidade vem consagrada no art. 1º do Código de Processo Penal:

Art. 1º. O processo penal reger-se-á, em todo território brasileiro, por este
Código, ressalvados:

I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;

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II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros
de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade
(Constituição, arts. 86, 89, parágrafo 2º, e 100);

III - os processos da competência da Justiça Militar;

IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, nº


17);

V - os processos por crimes de imprensa;

Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos


nos ns. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de
modo diverso.

As ressalvas mencionadas neste artigo não são, como podem parecer, exceções à
territorialidade da lei processual penal brasileira, mas apenas à territorialidade do
Código de Processo Penal. Impõem, tendo em vista as peculiaridades do direito, a
aplicação de outras normas processuais positivas na Constituição Federal e em leis
extravagantes, v.g., nos casos de crimes de militares, eleitorais, falimentares, de
entorpecentes, nas contravenções do jogo do bicho, nas infrações de menor potencial
ofensivo etc. O inciso I contempla verdadeiras hipóteses excludentes da jurisdição
criminal brasileira, isto é, os crimes serão apreciados por tribunais estrangeiros
segundo suas próprias regras processuais, v.g., casos de imunidade diplomáticas, de
crimes cometidos por estrangeiros a bordo de embarcações públicas estrangeiras em
águas territoriais e espaço aéreas brasileiro etc.

Considera-se praticado em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou cujo


resultado, no todo ou em parte, ocorreu em território nacional. Considera-se como
extensão do território nacional, para efeitos penais, as embarcações e aeronaves
públicas ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, e as

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embarcações e aeronaves particulares que se acharem em espaço aéreo ou marítimo
brasileiro, ou em alto-mar ou espaço aéreo correspondente.

A lei penal aplica-se aos crimes cometidos fora do território nacional que estejam
sujeitos à lei penal nacional. É a chamada extraterritorialidade da Lei penal. Contudo,
é preciso que se frise: a lei processual brasileira só vale dentro dos limites territoriais
nacionais. Se o processo tiver tramitação no estrangeiro, aplicar-se-á a lei do país em
que os atos processuais forem praticados.

A legislação processual brasileira também se aplica aos atos referentes às relações


jurisdicionais com autoridades estrangeiras que devem ser praticados em nosso país,
tais como o cumprimento de rogatória etc.

V - EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO

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Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade
dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

Percebe-se, desde logo, que o legislador pátrio adotou o princípio da aplicação


imediata das normas processuais, sem efeito retroativo, uma vez que, se tivesse, a
retroatividade anularia os atos anteriores, o que não ocorre.

Dessa forma, sem a sua retroatividade, os atos processuais realizados sob a égide
da lei anterior são considerados válidos e as normas processuais têm aplicação
imediata, regulando o desenrolar do processo.

Todavia, embora a lei processual não seja retroativa, há que se atentar quanto às
normas jurídicas que possuem natureza mista, ou seja, serem dotadas de natureza
processual e material, concomitantemente, atribuindo-lhe, assim, efeito retroativo ao
dispositivo que for mais favorável ao réu.

VI - PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

1. Verdade real

No processo penal, o juiz tem o dever de investigar como os fatos se passaram na


realidade, não se conformando com a verdade formal constante dos autos, como
acontece no processo civil. Desse modo, se o juiz não estiver ainda convencido da
autoria, ou necessitar de outras provas, poderá requisitá-las para esclarecer eventuais
dúvidas sobre pontos relevantes. No processo penal, o juiz não representa mero
espectador, mas deverá esgotar todos os meios para satisfazer o princípio maior do
processo penal que é à busca da verdade real.

2. Legalidade (art. 28, do CPP)

Os órgãos incumbidos da persecução penal não podem possuir poderes


discricionários para apreciar a conveniência ou oportunidade da instauração do
processo ou do inquérito.

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Assim, a autoridade policial, nos crimes de ação pública, tem o dever de determinar a
instauração do inquérito policial, e o órgão do Ministério Público é obrigado a
apresentar a respectiva denúncia, desde que o fato seja delituoso.

3. Oficiosidade

Os órgãos incumbidos da persecução penal devem proceder ex officio, não devendo


aguardar provocação, ressalvados os casos de ação penal privada e ação penal
pública condicionada à representação do ofendido. (CPP, artigo 5º §§ 4º e 5º, e
artigo 24).

4. Autoritariedade

Os órgãos investigantes e processantes devem ser autoridades públicas (delegado


de polícia e promotor ou procurador de justiça). Exceção a esta regra é a ação penal
privada.

5. Indisponibilidade (CPP, arts. 17, 42 e 576)

- A autoridade policial não pode determinar o arquivamento do inquérito policial


(CPP, art. 17).

- O Ministério Público não pode desistir da ação penal pública, nem do recurso
interposto (CPP, arts. 42 e 576).

6. Princípio do juiz natural (CF, art. 5º, incisos XXXVII e LIII).

A Constituição Federal proíbe a criação de tribunais de exceção, e, ligado à proibição


dos tribunais de exceção está o princípio do juiz natural ao expressar “Ninguém será
processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”.

Não se devem confundir as justiças especiais com os chamados tribunais de exceção.


As justiças especiais são as previstas na própria Constituição para o julgamento de
determinadas causas, como a Justiça Eleitoral, a Justiça do Trabalho e a Justiça
Militar. A proibição dos juízes de exceção refere-se à eventual criação de órgão
específico para a decisão civil ou penal de determinados casos, fora da estrutura do
Poder Judiciário. Os tribunais de exceção normalmente são instituídos em período
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revolucionário, para o julgamento de fatos políticos, e estão afastados pelo texto
constitucional.

7. Publicidade (CPP, art. 792 e CF, arts. 5º, LX, e 93, IX, parte final).

Em regra, os atos processuais são públicos e as audiências são franqueadas ao


público em geral (CPP, art. 792). Contudo, segundo o parágrafo 1º do art. supra, “se
da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar
escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou tribunal,
câmara ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério
Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de
pessoas que possam estar presentes”.

8. Contraditório e ampla defesa (CF, art. 5º, LV).

O réu deve conhecer a acusação que se lhe imputa para poder contrariá-la, ou, ainda,
dela se defender, posto que nenhum acusado será processado ou julgado sem
defensor constituído ou nomeado, evitando possa ser condenado sem ser ouvido.

Por isso, é essencial que o acusador, ao formular a denúncia ou queixa-crime, narre


claramente os fatos que está a imputar ao futuro réu, a fim de que este tenha pleno
conhecimento da acusação, podendo elaborar sua defesa e produzir provas, sob pena
de inépcia da inicial.

9. Iniciativa das partes (“ne procedat judex ex officio”) - (CF, art. 5º, LIX e art.
129, I, e CPP, arts. 29 e 30).

O juiz depende da provocação da parte. Cabe ao Ministério Público promover


privativamente a ação penal pública e ao ofendido, a ação penal privada.

Se o juiz der início a uma ação penal ele perderá sua imparcialidade.

23
10. Ne eat judex ultra petita partium (arts. 383 e 384 do CPP).

http://www.fenapef.org.br/fenapef/imagem/noticia/121003_justica.jpg

24
O juiz deve pronunciar-se sobre aquilo que lhe foi pedido. O que efetivamente vincula
o juiz criminal, definindo a extensão do provimento jurisdicional, são os fatos
submetidos à sua apreciação. Se o promotor, na denúncia, imputa ao réu um crime
de furto, e, ao final, apura-se que o crime cometido foi o de estupro, não pode o juiz
proferir condenação, ainda que o outro crime esteja caracterizado.

11. Devido processo legal (CF, art. 5º, LIV).

Consiste em assegurar à pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de


seus bens, sem a garantia de um processo desenvolvido na forma que estabelece a
lei. (CF, art. 5º, LIV).

12. Presunção de inocência (CF, art. 5º, LVII).

Nossa Constituição Federal consagra o princípio de que ninguém será considerado


culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Porém, convém
lembrar a Súmula 9 do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual a prisão
processual não viola o princípio do estado de inocência.

Entretanto, o art. 594 do nosso diploma processual impõe que o réu não poderá apelar
sem recolher-se à prisão, ou prestar fiança, salvo se for primário e de bons
antecedentes, assim reconhecido na sentença penal condenatória, ou condenado por
crime que se livre solto.

Nesse sentido, há muita discussão doutrinária a respeito de flagrante


inconstitucionalidade.

13. Favor rei (CF, art. 5º, XL e CPP, art. 617).

A dúvida sempre beneficia o acusado. Se houver duas interpretações, deve-se optar


pela mais benéfica; na dúvida, absolve-se o réu, por insuficiência de provas; só a

25
defesa possui certos recursos, como o protesto por novo júri e os embargos
infringentes; só cabe ação rescisória penal em favor do réu (revisão criminal).

14. Inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos

(CF, art. 5º, LVI).

Todas as provas obtidas por meios ilícitos são inadmissíveis no processo, visto
constituírem espécie de provas chamadas vedadas (CF, art.5º, LVI).

São consideradas provas vedadas àquelas produzidas em contrariedade a uma


norma legal específica, podendo ser imposta por norma de direito processual ou
material. Conforme a natureza, pode a prova vedada ser descrita como ilícita ou
ilegítima, sendo, em qualquer hipótese, proibidas pela Constituição.

São consideradas provas ilícitas, aquelas produzidas com violação às regras de direito
material, onde são praticados ilícitos de ordem penal, civil ou administrativa.

Exemplos:

diligência de busca e apreensão sem prévia autorização judicial ou durante o


período noturno;

confissão obtida mediante prática de tortura;

interceptação telefônica sem autorização judicial (violação de sigilo telefônico);

interceptação de cartas particulares (violação de correspondência).

Já as provas ilegítimas são aquelas produzidas com violação às regras de natureza


meramente processual.
26
Exemplos:

exibição de documento em plenário do Júri com desobediência ao disposto no artigo


475 do CPP;

juntada de documentos na fase de alegações finais (art.406 do CPP);

depoimento prestado com violação à regra proibitiva do art.207 CPP.

Entretanto, alguns autores como Fernando Capez e Vicente Greco, entendem que
desprezar, sempre, toda e qualquer prova ilícita não é conduta juridicamente correta,
tendo em vista que, em determinadas situações, a importância do bem jurídico
envolvido no processo e a ser alcançado com a obtenção irregular da prova levará os
tribunais a aceitá-las. Leve-se em consideração uma prova obtida por meio ilícito
que, entretanto, levará à absolvição de um inocente. Entendem estes autores que o
interesse que se quer defender é muito mais relevante do que a intimidade que se
deseja preservar. Acreditam que o juiz poderá admitir uma prova ilícita ou sua
derivação a fim de evitar um mal maior.

Podemos resumir que o direito à liberdade e à segurança, à proteção da vida, do


patrimônio, consequentemente, não podem ser levados como regra e ser restringidos
pela prevalência do direito à intimidade e pelo princípio da proibição das demais
provas ilícitas.

Outros autores como Grinover, Scarance e Magalhães esclarecem ser praticamente


unânime o entendimento que admite possa ser utilizada, no processo penal, a prova
favorável ao acusado, ainda que colhida com infringência aos direitos fundamentais
seus ou de terceiros.

27
Embora pacífica a aplicação do princípio da proporcionalidade somente pro reo, o
STJ, em julgado recente, admitiu a incidência pro societate, aceitando que, dentro de
princípios lógicos, é perfeitamente viável a aceitação da prova obtida mediante
interceptação telefônica.

No entanto, oportuno ressaltar que, legalmente, em consonância com o que dispõe a


Lei n. 9.296, de 24 de julho de 1996, a interceptação de comunicações telefônicas de
qualquer natureza não será admitida, salvo por ordem judicial e sob segredo de
Justiça, sob pena de constituir-se em crime capitulado no artigo 10 da referida Lei.

VII - AÇÃO PENAL

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Hr

1. Conceito

O direito de ação é o direito subjetivo público de pleitear ao Poder Judiciário uma


decisão sobre uma pretensão.

Desde o momento em que o Estado instituiu a proibição da justiça privada, foi


outorgado aos cidadãos o direito de recorrer a órgão estatais para a solução de seus
conflitos de interesses.

2. Espécies de ação penal no direito brasileiro

No processo penal é corrente a divisão subjetiva das ações, isto é, em função da


qualidade do sujeito que detém a sua titularidade.

Diante disto, levando-se em conta o sujeito que a promove, a ação penal pode ser
pública ou privada.

Ação penal pública: quando promovida pelo Ministério Público, e constitui regra do
nosso Direito.

Ação penal privada: quando promovida pelo particular. É privada, porque entendeu
o Estado que certas infrações penais afetam muito mais o interesse particular que o
social e, sem abrir mão do direito de punir, que irrefragavelmente lhe pertence como
uma das expressões mais características da sua soberania, transferiu ao particular o
direito de ação penal.

Por outro lado, a ação penal pública pode ser condicionada ou incondicionada.

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Ação penal pública incondicionada: quando o seu exercício não depende de
manifestação da vontade de quem quer que seja. Exemplo: homicídio.

Ação penal pública condicionada: quando a propositura da ação penal depende de


uma manifestação de vontade. Essa manifestação de vontade se cristaliza num ato
que se chama representação ou requisição.

Seja condicionada, seja incondicionada, a ação penal inicia-se por um ato


processual - a denúncia, que é apresentada pelo representante do Ministério Público.
Tratando-se de ação penal privada, a sua peça inicial é denominada queixa-crime.

A ação penal privada apresenta-se sob três modalidades:

a) ação penal privada, ou propriamente dita: que somente pode ser exercida pela
vítima ou por quem legalmente a represente e, no caso de morte, por qualquer uma
das pessoas citadas no art. 31;

b) ação penal privada subsidiária da pública: que é aquela iniciada por meio de
queixa, quando embora se trate de crime de ação pública, o Promotor não haja
oferecido denúncia no prazo legal (art. 29 do CPP);

c) ação privada personalíssima: aquela cujo exercício cabe apenas ao ofendido.

3. As condições da ação

30
São requisitos que subordinam o exercício do direito de ação. Para se poder exigir,
no caso concreto, a prestação jurisdicional, faz-se necessário, antes de tudo, o
preenchimento de certas condições, que se denominam condições de procedibilidade.
São de duas ordens:

3.1. condições genéricas: exigidas sempre, pouco importando o tipo de ação


penal (se pública ou privada).

3.2. condições específicas: exigidas num ou noutro caso, e, quando necessário,


a lei penal ou processual consigna a exigência.

As genéricas são três:

a) possibilidade jurídica do pedido:

Significa que o Estado tem possibilidade, em tese, de obter a condenação do


réu, motivo pelo qual é indispensável que a imputação diga respeito a um fato
considerado criminoso. Demanda-se, assim, que a imputação diga respeito a
um fato típico, antijurídico e culpável. Em sendo o fato praticado atípico, não há
infração; não havendo infração, não pode haver pretensão punitiva e, não
havendo pretensão punitiva, não pode ser exercida a ação penal, devendo ser
rejeitada a peça acusatória.

b) legitimidade de parte:

Somente a parte legítima é que pode promover a ação penal. Assim, apenas
o titular do bem ou interesse lesionado é que pode exercer a ação penal.

O Estado é que detém o direito de punir, sendo, portanto, o titular desse direito,
apenas ele é que poderá exercer a ação penal. Todavia, em determinados
casos, poucos, aliás, sem abrir mão do seu direito de punir, o Estado transfere

31
ao particular o jus persequendi in judicio, isto é, o direito de agir e de acusar -
são os casos de ação penal privada. Nestes casos, o particular é parte legítima
para requerer que se instaure o processo.

Assim, se por acaso, num crime de ação privada, o Promotor oferece a


denúncia, deve o juiz rejeitá-la, sob o fundamento de que quem a promoveu
não era parte legítima.

c) interesse de agir: representa o interesse de obter do Estado-Juiz a tutela


jurisdicional, desde que presente o trinômio: necessidade, utilidade e
adequação. Na falta de um destes elementos, é inútil a provocação da tutela
jurisdicional, porque se apresenta não apta a produzir a correção da violação
do direito arguido na inicial.

Exemplo: quando já estiver extinta a punibilidade do acusado.

As específicas são:

a) representação do ofendido e requisição do Ministro da Justiça;

b) entrada do agente no território nacional;

c) autorização do legislativo para instauração de processo contra


Presidente e Governadores, por crimes comuns;

d) trânsito em julgada da sentença que, por motivo de erro ou impedimento,


anule o casamento, no crime de induzimento a erro essencial ou
ocultamento do impedimento.

32
Obs: A partir da Lei 11.719/2008 revogou-se o art. 43 e o seu conteúdo foi
transferido, com alterações, para o art. 395 do CPP, todavia, quanto às
condições genéricas da ação, vários doutrinadores continuam a sustentar
serem as três já indicadas, ou seja, possibilidade jurídica do pedido, interesse de
agir e legitimidade de parte.

4. Ação penal pública incondicionada:

Titularidade e Princípios

4.1. Titularidade

Exclusiva do Ministério Público, com uma única exceção: no caso de inércia


demonstrada pelo órgão público, é admitida ação penal privada subsidiária, proposta
pelo ofendido ou seu representante legal.

4.2. Princípio da obrigatoriedade

Identificada à hipótese de atuação, não pode o Ministério Público recusar-se a dar


início à ação penal.

Devendo denunciar e deixando de fazê-lo, o promotor poderá estar cometendo crime


de prevaricação.

Atualmente, o princípio sofre inegável mitigação com a regra do art. 98, I, da


Constituição Federal, que possibilita a transação penal entre Ministério Público e o
autor do fato, nas infrações penais de menor potencial ofensivo. A possibilidade de
transação está regulamentada pelo art. 76 da Lei 9.099/95, substituindo nestas
infrações penais, o princípio da obrigatoriedade pelo da discricionariedade regrada.

4.3. Princípio da indisponibilidade

33
Oferecida à ação penal, o Ministério Público dela não pode desistir (CP, art. 42).

Tal princípio não vigora no caso das infrações regidas pela Lei n. 9.099/95, cujo art.
89, concede ao Ministério Público a possibilidade de preenchidos os requisitos legais,
propor ao acusado, após o oferecimento da denúncia, a suspensão condicional do
processo, por prazo de dois a quatro anos, cuja fluência acarretará a extinção da
punibilidade do agente (art. 89). É, sem dúvida, um ato de disposição da ação penal.

4.4. Princípio da oficialidade

Os órgãos encarregados da persecução penal são oficiais, isto é, públicos.

4.5. Princípio da autoritariedade

Corolário do princípio da oficialidade. São autoridades públicas os encarregados da


persecução penal extra e in judicio (respectivamente, autoridade policial e membro do
Ministério Público).

4.6. Princípio da oficiosidade

Os encarregados da persecução penal devem agir de ofício, independentemente de


provocação, salvo nas hipóteses em que a ação pública for condicionada à
representação ou à requisição do ministro da justiça.

4.7. Princípio da indivisibilidade

Também aplicável à ação penal privada (CPP, art. 48). A ação penal pública deve
abranger todos aqueles que cometeram a infração, não podendo o Ministério Público
escolher, dentre os indiciados, quais serão processados.

4.8. Princípio da intranscendência

A ação penal só pode ser proposta contra a pessoa a quem se imputa a prática do
delito, é personalíssima.

34
5. Ação penal pública condicionada

É aquela cujo exercício se subordina a uma condição. Essa condição tanto pode ser
a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal
(representação), como também a requisição do Ministro da Justiça. Entretanto, a
ação continua sendo pública, exclusiva do Ministério Público, que só pode dar início
se a vítima ou seu representante legal o autorizarem, por meio de uma manifestação
de vontade. Todavia, uma vez iniciada a ação penal, o Ministério Público a assume
incondicionalmente, a qual passa a ser informada pelo princípio da indisponibilidade,
sendo irrelevante qualquer tentativa de retratação.

5.1. Crimes cuja ação depende de representação da vítima ou de seu


representante legal.

1) Perigo de contágio venéreo (CP, art. 130, § 2º);

2) crime contra a honra de funcionário público, em razão de suas funções (art. 141, II,
c/c o art. 145, parágrafo único);

3) ameaça (art. 147, parágrafo único);

4) violação de correspondência (art. 151, § 4º);

5) correspondência comercial (art. 152, parágrafo único);


35
6) furto de coisa comum (art. 156, § 1º);

7) tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de transporte, sem


ter recursos para o pagamento (art. 176, parágrafo único);

5.2. Natureza jurídica da representação

A representação é a manifestação de vontade do ofendido ou do seu representante


legal, no sentido de autorizar o desencadeamento da persecução penal em juízo.
Trata-se de condição objetiva de procedibilidade. É condição específica da ação
penal pública. Na ausência desta não se pode dar início a persecução penal.

5.3. Prazo

O prazo para exercer o direito de representação é de 06 (seis) meses, a contar do dia


em que o ofendido ou seu representante legal vier a saber quem é o autor do crime.

5.4. Forma

A representação não tem forma especial. O Código de Processo Penal, todavia,


estabelece alguns preceitos a seu respeito (art. 39, caput e §§ 1º e 2º), mas a falta de
um ou de outro não será, em geral, bastante para invalidá-la. Óbvio que a ausência
de narração do fato a tornará inócua.

A representação pode ser dirigida ao juiz, ao representante do Ministério Público ou à


autoridade policial (cf. art. 39, caput, do CPP).

Feita a representação contra apenas um suspeito, está se estenderá aos demais,


autorizando o Ministério Público a propor a ação em face de todos, em atenção ao
princípio da indivisibilidade.

5.5. Irretratabilidade

36
A representação é irretratável após o oferecimento da denúncia (CPP, art. 25). A
retratação só pode ser feita antes de oferecer a denúncia, pela mesma pessoa que
representou.

5.6. Não vinculação

A representação não obriga o Ministério Público a oferecer a denúncia, devendo este


analisar se é ou não caso de propor ação penal, podendo concluir pela sua
instauração, pelo arquivamento do inquérito, ou pelo retorno dos autos à polícia, para
novas diligências. Ainda, não está vinculado à definição jurídica do fato estabelecida
na representação.

6. Ação penal privada:


Conceito, fundamento e princípios.

É aquela em que o Estado, titular exclusivo do direito de punir, transfere a legitimidade


para a propositura da ação penal à vítima ou a seu representante legal. A distinção
básica que se faz entre ação penal privada e ação penal pública reside na legitimidade
(CF, art. 129, I). Apenas por razões de política criminal é que ele outorga ao particular
o direito de ação.

6.1. Fundamento

Evitar que o streptus judici (escândalo do processo), provoque no ofendido um mal


maior do que a impunidade do criminoso, caso não proposta à ação penal.

6.2. Titular

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O ofendido ou seu representante legal (CP, art. 100, § 2º; CPP, art. 30). Na técnica
do Código, o autor denomina-se querelante e o réu querelado. Se o ofendido for menor
de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante
legal, o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado para o
ato (art. 33 do CPP).

6.3. Princípio da oportunidade ou conveniência

O ofendido tem a faculdade de propor ou não a ação de acordo com a sua


conveniência, ao contrário da ação penal pública, informada que é pelo princípio da
legalidade, sendo o qual não é dado ao seu titular, quando da sua propositura,
ponderar qualquer critério de oportunidade e conveniência. Diante disto, se a
autoridade se deparar com uma situação de flagrante delito de ação privada, ela só
poderá prender o agente se houver expressa autorização do particular (CPP, art. 5º,
§ 5º).

6.4.Princípio da disponibilidade

Na ação privada, a decisão de prosseguir ou não, até o final, é do ofendido. O


particular é o exclusivo titular dessa ação, porque o Estado assim o desejou e, por
isso, lhe é dada a prerrogativa de exercê-la ou não, conforme suas conveniências.
Ainda, é possível, até o trânsito em julgado da sentença condenatória, dispor por meio
do perdão ou da perempção (CPP, art.51 e 60, respectivamente).

6.5. Princípio da indivisibilidade

Segundo o artigo 48 do CPP, o ofendido pode escolher entre propor ou não a ação.
Não pode, porém, escolher dentre os ofensores qual irá processar. Ou processa

38
todos, ou não processa nenhum. O Ministério Público não pode aditar a queixa para
nela incluir os outros ofensores, porque estaria invadindo a legitimação do ofendido.

6.6. Princípio da intranscendência

Significa que a ação penal só pode ser proposta em face do autor e do partícipe da
infração penal, não podendo se estender a quaisquer outras pessoas.

6.7. Espécies de ação penal privada

6.7.1. Exclusivamente privada ou propriamente dita

Pode ser proposta pelo ofendido se maior de dezoito anos e capaz; por seu
representante legal, se o ofendido for menor de 16; pelo representante legal ou pelo
ofendido, se ele for maior de 16 e menor de 18 anos (CPP, art.34); ou no caso de
morte do ofendido, ou declaração de ausência, pelo seu cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão (CPP, art.31).

6.7.2. Ação privada personalíssima

Sua titularidade é atribuída única e exclusivamente ao ofendido, sendo o seu exercício


vedado até mesmo ao seu representante legal, inexistindo, ainda, sucessão por morte
ou ausência. Há entre nós apenas dois casos dessa ação penal:
Ex: crime de induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento. (CP,
art.236, parágrafo único).

Observação: No caso de ofendido incapaz, seja em razão da idade ou de


enfermidade mental, a queixa não poderá ser exercida, posto que há incapacidade
para estar em juízo e impossibilidade do direito ser manejado por representante legal
ou por curador.

39
6.7.3. Subsidiária da pública

Proposta nos crimes de ação pública, condicionada ou incondicionada, quando o


Ministério Público deixar de fazê-lo no prazo legal. É a única exceção prevista à regra
da titularidade exclusiva do Ministério Público sobre a ação penal pública.

7. Crimes de ação penal privada no Código Penal

7.1. calúnia, difamação e injúria (arts.138, 139 e 140), salvo as restrições do art.145;

7.2. alteração de limites, usurpação de águas e esbulho possessório, quando não


houver violência e a propriedade for privada (art.161, § 1º, I e II);

7.3. dano, mesmo quando cometido por motivo egoístico ou com prejuízo
considerável para a vítima (art.163, “ caput ”, parágrafo único, IV);

7.4. introdução ou abandono de animais em propriedade alheia (art.164 c/c art.167)

7.5. fraude à execução (art.179 e parágrafo único);

7.6. violação de direito autoral, usurpação de nome ou pseudônimo alheio, salvo


quando praticado em prejuízo de entidades de direito (arts.184 caput e 186);

7.7. induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento para fins


matrimoniais (art.236 e seus parágrafos);

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7.8. o exercício arbitrário das próprias razões, desde que praticado sem violência
(art.345, parágrafo único).

8. Prazo

O prazo para o ofendido ou seu representante legal exercer o direito de queixa é de


06 (seis) meses, contado do dia que vierem, a saber, quem foi o autor do crime (CPP,
art.38), com a possibilidade de haver exceções:

Lei de Imprensa - o prazo é de 03 meses, contado a partir da data do fato;

Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento - 06 meses, contados


a partir do trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento,
anule o casamento;

Crimes de ação privada contra a propriedade material que deixar vestígios,


sempre que for requerida a prova pericial – 30 dias, contados da homologação do
Laudo Pericial.

O prazo para propor a ação penal privada é decadencial, conforme regra do artigo
10 do CP, computando-se o dia do começo e excluindo-se o dia final.

No caso de ofendido menor de 18 anos, o prazo da decadência só começa a ser


contado do dia em que ele completar essa idade, e não no dia em que ele tomou
conhecimento da autoria.

Tratando-se de ação penal privada subsidiária, o prazo será de 06 meses a contar do


encerramento do prazo para o Ministério Público oferecer denúncia.

Observação: Lembre-se de que o pedido de instauração de inquérito não


interrompe o prazo decadencial.

41
MODELOS EM AÇÃO PENAL

MODELO Nº 01

(Modelo de Denúncia)

EXMO.SR.DR.JUÍZ DE DIREITO DESTA 1ª VARA

O Promotor de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições, vem, perante
V.Exa., oferecer denúncia contra Basílio Carapuça, qualificado as fls.18 dos inclusos
autos de inquérito policial, pelo seguinte fato :

1) Consta dos referidos autos que, no dia 27 de fevereiro do ano em curso, por
volta das 20:00 horas, nesta cidade, à altura do prédio n.20 da Rua Bento Gonçalves,
o denunciado agrediu e lesionou Pedro Bernardino.

2) Na verdade, dias antes dos fatos, o denunciado soubera que a vítima ficara
desgostosa com o serviço mecânico prestado ao seu veículo na Oficina " Tudo OK ",

42
de propriedade do denunciado, e, por isto, dissera que não pagaria o pretenso
conserto.

3) No dia, local e hora já citados, o denunciado encontrou-se casualmente com a


vítima e lhe perguntou se era verdade que não iria pagar os serviços que lhe foram
prestados e, ante a resposta afirmativa da vítima, que, inclusive, adiantou que assim
procedia porquanto seu veículo saíra da oficina do denunciado com os mesmos
defeitos mecânicos, o denunciado irritou-se e, segurando a vítima pelo braço, disse-
lhe : " Você já me pagou e tenho até de lhe dar o troco " e, ato contínuo, vibrou-lhe
um murro à altura da região orbitária direita, produzindo-lhes lesões graves descritas
no laudo de fls.03. Em seguida, deixando a vítima estendida no solo, dalí se retirou.

4) Assim, estando ele incurso nas penas do art.129 § 1º, do CP, combinado com
o art.61, II, primeira figura do mesmo estatuto, requer, após o recebimento e autuação
desta denúncia, seja o réu citado para o interrogatório e, enfim se ver processado até
final julgamento, nos termos do art.593 do CPP, notificando-se a vítima e as
testemunhas do rol abaixo para virem depor em juízo, em dia e hora a serem
designados, sob as cominações legais.

Rio de Janeiro, 14 de julho de 1990

Gilmar Augusto Teixeira

Promotor de Justiça

Rol :

1º) Pedro Bernardino (Vítima), qualificado as fls.4;


43
2º) Manoel Ricardo, qualificado as fls.08;

3º) Pedro dos Santos (funcionário municipal), qual.fls.10;

4º) Manoel José (Militar), qualif.a fls.15.

modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa


tourinho Fº - 1997.

MODELO Nº 02

(Modelo de despacho do Juiz recebendo a denúncia)

" Recebo a denúncia. Designo o dia ____, as ____ horas para o interrogatório.
Cite-se. Notifique-se o Dr.Promotor de Justiça. Defiro as diligências solicitadas pelo
MP (Ministério Público) (arts.394 e 399). (Data e Assinatura)"

Modelos extraídos do livro ‘Prática de Processo Penal ‘- Fernando da Costa


tourinho Fº - 1997.

44
MODELO Nº 03

(Modelo de devolução dos autos à Polícia para novas diligências)

MM.Juiz :

A digna autoridade policial instaurou o presente inquérito para apurar um crime de


furto. Constatou-se, fartamente, a materialidade do fato. Apurou-se, também, que o
seu autor, por sinal foragido, fora um empregado da vítima. Embora o Doutor
Delegado de Polícia deixasse de proceder à qualificação direta do indiciado, e isto por
razões óbvias, não havia motivos que o impedissem de proceder à sua qualificação
indireta. Sabe-se, apenas, que o indiciado se chama Pedro. Evidente que a
Promotoria não pode ofertar denúncia contra o indiciado, pois deixaria em sobressalto
todos os cidadãos com o prenome Pedro... Ademais, o art.41 do CPP dispõe que a
denúncia ou a queixa deve conter a qualificação do réu ou esclarecimentos pelos
quais se possa identificá-lo, e isto por razões que dispensam comentários.

A denúncia deve ser oferecida contra o genuíno autor da infração, e, assim, tal ato
processual não pode ser praticado quando não se conhece a pessoa a quem deva
ser atribuído tal qualidade. Certo que ele está foragido. Nada impede que a digna
autoridade policial colha, junto à vítima, a sua qualificação. O indiciado já trabalhou
para a vítima. É possível que ela ainda possua, nos seus arquivos, os dados
qualificativos do indiciado. Se a diligência for infrutífera, poderá o Doutor Delegado,

45
com os meios ao seu alcance, envidar esforços no sentido de trazer para os autos tais
elementos. Se de todo for impossível, restará à Promotoria requerer o arquivamento
dos referidos autos.

Ante o exposto, requer a Promotoria sejam os autos devolvidos à Delegacia de origem


para os fins acima expostos.

Bauru, 17 de julho de 1990

Antônio Munir Rafidi

Promotor de Justiça

Modelos extraídos do livro ‘Prática de Processo Penal ‘- Fernando da Costa


tourinho Fº - 1997.

46
MODELO Nº 04

(Modelo de pedido de arquivamento)

MM.Juiz :

Instaurou-se o presente inquérito, registrado sob o n.29/88, contra Pedro Pedrão,


porquanto este, no dia 2-2-1988, por volta das 14:30 horas, dirigindo o seu automóvel
Opala, chapa DV-1114, descendo a Rua 13 de maio, ao atingir a confluência com a
Av.Rodrigues Alves, convergiu à direita, com o objetivo de ir à Av.das Nações.
Naquele instante, trafegava pela referida avenida Rodrigues Alves o Monza dirigido
por José. Houve o choque entre os dois veículos e o motorista do Monza saiu
lesionado. Instaurou-se o inquérito, porquanto pareceu à digna Autoridade Policial,
pelas primeiras informações colhidas, houvesse sido o motorista do Opala o causador
do acidente. Na verdade, após perícia e ouvida de testemunhas que presenciaram o
fato, foi o motorista do Monza quem, imprudentemente desrespeitou o semáforo,
levando o seu conduzido a colidir contra o para-lama esquerdo do Opala. Na
verdade, o causador do acidente foi o motorista do Monza. Por outro lado, somente
ele saiu ferido. Como se trata de autolesão, o fato não pode ser erigido à categoria
de crime. Contudo, houve a contravenção definida no art.34 da Lei das
Contravenções. Ele dirigiu o seu veículo pela Av.Rodrigues Alves, pondo em perigo
a segurança alheia. De observar-se, entretanto, que o fato ocorreu no dia 2-2-1988,
há mais de um ano. Quando do fato, José tinha apenas 20 anos de idade. Ora, a
pena cominada àquela contravenção é de quinze dias a três meses. Sendo a pena
máxima inferior a um ano, a prescrição ocorre em dois anos (art.109, VI do CP); como
ele, à época do fato, era menor de 21 anos, o prazo prescricional é reduzido de metade
(art.115 do CP); assim, está extinta a punibilidade, pelo que, uma vez reconhecida,
deve o presente inquérito ser arquivado.

Bauru, 28-6-1990

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Maria Helena Côrtes Pinheiro

Promotora de Justiça

Modelos extraídos do livro ‘Prática de Processo Penal ‘- Fernando da Costa


tourinho Fº - 1997.

MODELO Nº 05

(Modelo de despacho do Juíz recebendo o pedido de arquivamento)

" Acolho integralmente o pedido de arquivamento, nos termos formulados pelo


Dr.Promotor de Justiça. Arquivem-se estes autos, registrados sob o n.87/88. Deste
despacho, recorro " ex ofício " para o Eg.Tribunal de Alçada Criminal. Subam os
autos. (data e assinatura)".

Modelos extraídos do livro ‘ Prática de Processo Penal ‘ - Fernando da Costa


tourinho Fº - 1997.

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MODELO Nº 06

(Modelo de Queixa)

Exmo.Sr.Dr.Juiz de Direito desta Comarca

Basílio Costa, brasileiro, casado, lavrador, residente e domiciliado nesta cidade, na


rua Tupinambá n.10, por seu procurador infrafirmado, vem, perante V.Exa., oferecer
queixa contra Ricardo Pantaleão, brasileiro, solteiro, lavrador, residente e domiciliado
nesta cidade, na Rua Andradina n.15, pelo seguinte fato:

1º) Consta dos inclusos autos de inquérito policial que, no dia 27 de fevereiro
último, por volta das 17:00 horas, o querelado, que possui um sítio contíguo ao do
querelante, neste município, sem assentimento do querelante ou de quem de direito,
abriu a porteira situada na divisa das duas propriedades e introduziu dois cavalos seus
no sítio do querelante.

2º) Apurou-se, no inquérito, que, dias antes, o querelado adquirira aquelas duas
alimárias e soltou-as em seu sítio, junto às outras de sua propriedade, em vez de
prendê-los no curral ou tomar outra providência, limitou-se a abrir a porteira e
introduzi-los no sítio do querelante.

3º) Pelo laudo de fls.10, vê-se que os referidos animais estragaram parte da
plantação de milho e feijão do sítio do querelante, estimando os peritos que os
prejuízos orçaram em R$ 100.000,00 (Cem mil reais).

4º) Ante o exposto, tendo o querelado infringido o disposto no art.164 do CP, requer
a V.Exa. que, recebida e autuada esta, seja o querelado citado para o interrogatório
e, enfim, para se ver processar até final julgamento, quando, então, deverá ser

49
condenado, observando-se o disposto no art.539 do CPP, notificando-se as
testemunhas do rol abaixo para virem depor em juízo, em dia e hora a serem
designados, sob as cominações legais.

Nestes termos,

P.deferimento.

Bauru, 17 de julho de 1990.

pp.Miriam Badra Freitas e Silva

Advogada - OAB/SP__________

Rol :

1º Pedro Maria, qualif.fls.09;

2º Manoel Faria, qualif.fls.1 vº;

3º Ricardo Calafate, qualif.fls.17;

4º Maria dos Santos, qualif.fls.15.

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Modelos extraídos do livro ‘Prática de Processo Penal ‘- Fernando da Costa
tourinho Fº - 1997.

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BIBLIOGRAFIA

. CAPEZ, FERNANDO. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997.

. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. Dec.Lei nº 3.689 de 03-10-1941, São Paulo:


Saraiva, 1998.

. DELMANTO, ROBERTO. Código Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 1991.

. CONSTITUIÇÃO FEDERAL. São Paulo: Saraiva, 1998.

. FRANCO, ALBERTO SILVA, e outros. Leis Penais Especiais. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1995.

. GRECO Fº, VICENTE. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997.

. MARQUES, JOSÉ FREDERICO. Elementos de Direito Processual Penal. V.4, São


Paulo: Bookseller, 1997

. NORONHA, E.MAGALHÃES. Curso de Direito Processual Penal. São Paulo:


Saraiva, 1997.

52
. TOURINHO Fº, FERNANDO DA COSTA, Prática de Processo Penal. São Paulo:
Saraiva, 1997.

. XAVIER DE AQUINO, JOSE CARLOS & NALINI, JOSÉ RENATO. Manual de


Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1997.

. NUCCI, Guilherme de Souza,Manual de Processo Penale Execução Penal. 5 [ed.


São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.

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