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TÍTULO II - DOS CRIMES CONTRA O

PATRIMÔNIO

CAPÍTULO I - DO FURTO

ARTIGO 155 À 156


TÍTULO II- DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I- DO FURTO-ARTIGO-155
 FURTO
• Furto é a subtração de coisa alheia móvel com fim de assenhoramento
definitivo (art. 155, caput, CP). O estatuto penal, na espécie, protege dois
bens jurídicos: a posse, abrangendo a detenção, e a propriedade.
• É necessário, no entanto, que a posse seja legítima. Assim, se um ladrão
furta outro ladrão, haverá furto, mas, o sujeito passivo do segundo fato será
o dono da coisa.
• Não podem ser objeto de furto: as coisas de ninguém, que nunca tiveram
dono (res nullius); a coisa que já pertenceu a alguém, mas foi abandonada (res
delericta); a coisa de uso comum que, embora de uso de todos, como a luz ou
o calor do sol, o ar, a água do mar e dos rios, não pode ser objeto de
ocupação em sua totalidade ou in natura (res commune omnium).
• Porém, a coisa perdida (res desperdicta) pode ser objeto, não de furto, mas, de
apropriação de coisa achada – art. 169, p. único, II, do CP.
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CAPÍTULO I- DO FURTO-ARTIGO-155

 Sujeito ativo e sujeito passivo

• Sujeito ativo do crime de furto pode ser qualquer pessoa, salvo o


proprietário. Não existe furto de coisa própria, enquadrado no art. 155 do
CP.
• O legislador fala em coisa alheia móvel. Assim, o fato praticado pelo
próprio proprietário pode vir a enquadrar-se na descrição típica do art. 346
do CP, desde que preenchidos os requisitos exigidos para tanto.
• Sujeito passivo é a pessoa física ou jurídica, titular da posse, incluindo a
detenção, ou a propriedade.
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CAPÍTULO I- DO FURTO-ARTIGO-155

 Conduta
• A conduta é apoderar-se o agente, subtrair para si ou para
outrem coisa alheia móvel.
• A coisa alheia móvel deve ser economicamente apreciável, de
modo que o ser humano não poderá ser objeto do crime de furto.
• O cadáver, via de regra, também não poderá ser objeto material de
furto, salvo se este cadáver pertencer a alguém.
• No caso de uma pessoa ser dopada e ter removido os seus órgãos,
tecidos e partes do corpo, ou mesmo partes do cadáver, não haverá
crime de furto do rim, por exemplo, e sim um crime do art. 14 da
Lei de Transplantes de Órgãos (Lei 9.434/97).
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CAPÍTULO I- DO FURTO-ARTIGO-155
 Consumação e tentativa
• Quanto ao momento consumativo do crime de furto tem-se
quatro teorias:
• 1ª) Contrectacio: segundo esta teoria, a consumação se dá pelo
simples contato entre o agente e a coisa alheia. Se tocou, já
consumou.
• 2ª) Apprehensio (amotio): a consumação ocorre no momento
em que a coisa subtraída passa para o poder do agente,
ainda que por breve espaço de tempo, mesmo que o sujeito
seja logo perseguido pela polícia ou pela vítima. Quando se
diz que a coisa passou para o poder do agente, isso significa que
houve a inversão da posse. Por isso, ela é também conhecida
como teoria da inversão da posse. Vale ressaltar que, para
esta corrente, o. furto se consuma mesmo que o agente não
fique com a posse mansa e pacífica.
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 Consumação e tentativa
• 3ª) Ablatio: a consumação ocorre quando a coisa, além de
apreendida, é transportada de um lugar para outro.
• 4ª) Ilatio: a consumação só ocorre quando a coisa é levada ao
local desejado pelo ladrão para tê-la a salvo.

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 Qual a teoria adotada pelos tribunais superiores (STF e STJ) ?
 A teoria da APPREHENSIO (AMOTIO), segundo a qual
se considera consumado o delito de furto quando, cessada a
clandestinidade, o agente detenha a posse de fato sobre o
bem, ainda que seja possível à vítima retomá-lo, por ato seu
ou de terceiro, em virtude de perseguição imediata.
 Consuma-se o crime de FURTO com a posse de fato da
res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo e
seguida de perseguição do agente, sendo prescindível a
posse mansa e pacífica ou desvigiada.
 STJ. 3ª Seção. REsp 1.524.450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info 572)

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• Tentativa:
• O furto, como crime material, admite com segurança a figura
tentada. Sempre que a atividade executória seja interrompida por
causas estranhas a vontade do agente, configura-se a tentativa.
• Ocorre a tentativa, por exemplo, na situação em que a vítima
percebe que está sendo furtada pelo “batedor de carteira” e o
prende, antes que o mesmo consiga retirar o objeto da esfera de
vigilância do proprietário.
• Em alguns casos é preciso ter muita atenção, pois, poderá ser
hipótese de crime impossível (art. 17 do CP) e não de tentativa.
• Suponha que um indivíduo coloque a mão no bolso de outrem,
visando subtrair-lhe a carteira, mas, a suposta vítima, naquele dia, não
estava portando o referido objeto. Nesse caso não haverá tentativa,
mas, crime impossível por absoluta impropriedade do objeto. Porém,
se a vítima havia colocado a carteira em outro bolso, haverá tentativa,
pois, na verdade, o bem jurídico correu risco.
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• Súmula 567 do STJ: Sistema de vigilância realizado por
monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no
interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna
impossível a configuração do crime de furto.
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 Furto de uso
• Furto de uso é a subtração de coisa infungível para fim
de uso momentâneo e pronta restituição.
• O agente tem a intenção somente de usar o bem.
• Não constitui crime em face do Código Penal vigente.
Isso decorre da exigência típica de o fato ser praticado
pelo sujeito “para si ou para outrem”, o que
demonstra a necessidade de que a conduta tenha a
finalidade de assenhoramento definitivo.
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• É preciso observar, no entanto, que a coisa deve ser restituída
integralmente, isto é, intacta em si mesma e em seus acessórios,
no próprio local em que fora subtraída.
• Assim, o abandono da coisa é ato possessório incompatível com
a ação de quem pretendia apenas usar.
• Além disso, se o autor do furto de uso for apanhado antes de
devolver a coisa ao proprietário, haverá de provar sua intenção
de, apenas, usar a res.
• Obs.: a subtração de veículo com intenção de utilizá-lo em fuga
por bandidos não configura furto de uso, pois, é certo que não
há, nesse caso, intenção de devolver o objeto ao proprietário.
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 Furto famélico ou necessitado
• Furto famélico é aquele praticado com a intenção de saciar a fome
do agente.
• Rogério Greco entende que, em caso de furto famélico (ou
necessitado), configura-se o estado de necessidade (art. 24 do CP),
causa legal de exclusão da ilicitude.
• Para o renomado mestre, pode acontecer que, em virtude de sérias
dificuldades econômicas pelas quais passa o agente, a sua situação
seja tão insuportável a ponto de praticar uma infração penal para
que possa sobreviver.
• No estado de necessidade existem dois bens jurídicos em
confronto que estão, da mesma forma protegidos pelo
ordenamento jurídico.
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• No caso concreto deve haver uma ponderação desses bens para,
através do princípio da razoabilidade, manter um deles em
prejuízo do outro.
• No furto famélico há dois bens em confronto: de um lado, a
sobrevivência (vida) do agente e de outro, o patrimônio do
sujeito passivo, ambos protegidos pelo ordenamento jurídico.
• Nesse confronto, é razoável que a vida prevaleça sobre o
patrimônio, podendo o agente, nesse caso, erigir a mencionada
causa de justificação.
• Porém, é preciso uma análise bastante minuciosa para, em cada
caso concreto, aferir o verdadeiro grau de miserabilidade do
agente, bem como a impossibilidade de que viesse a conseguir o
alimento para saciar sua fome através de outros meios.
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• Para estar presente o furto famélico, é necessário o
preenchimento dos seguintes requisitos:
• fato praticado para matar a fome
• fato seja o único e derradeiro recurso do agente
• a coisa subtraída seja capaz de, diretamente, contornar a
situação emergencial
• insuficiência de recursos adquiridos pelo agente com o
trabalho, ou ainda a impossibilidade de trabalhar
• Não se poderá furtar alguma coisa para vender e comprar algo
para comer.
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 Furto noturno
• O § 1º, do art. 155 do CP determina o aumento da pena “se o crime é
praticado durante o repouso noturno”.
• Repouso noturno é o período da noite em que as pessoas se recolhem
para descansar. Não há critério fixo para conceituação dessa majorante.
Depende do caso concreto, a ser decidido pelo juiz.
• Assim, pode variar no tempo e no espaço. Ex.: em grandes centros
urbanos, o repouso noturno, certamente começa mais tarde do que na
zona rural; em ocasiões festivas, como carnaval, o repouso noturno
também sofrerá variação.
• O STJ entende que é possível a incidência da majorante do repouso
noturno, ainda que o furto seja qualificado.
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• Furto – causa de aumento de pena – repouso noturno –


residência desabitada
• "IV - A causa especial de aumento de pena do furto cometido durante
o repouso noturno pode se configurar mesmo quando o crime é
cometido em estabelecimento comercial ou residência desabitada,
sendo indiferente o fato de a vítima estar, ou não, efetivamente
repousando. Precedentes do Superior Tribunal de
Justiça." HC 501.072/SC
• Furto – causa de aumento da pena – repouso noturno –
estabelecimento comercial vazio
• "1. O Superior Tribunal de Justiça tem-se manifestado no sentido da
incidência da majorante prevista no art. 155, § 1º, do Código Penal,
mesmo na hipótese de furto praticado durante o repouso noturno em
estabelecimento comercial vazio." AgRg no AREsp 1.248.218/PR
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• O fundamento dessa causa de aumento de pena reside na
circunstância da maior facilidade de que pode obter o sujeito
quando pratica o furto em altas horas da noite.
• Para alguns autores, fundamenta-se também no fato de que o
indivíduo que pratica o furto durante a noite revela maior
periculosidade, argumento com o qual não concorda Cezar Roberto
Bitencourt, para quem, o quotidiano urbano tem demonstrado a
enorme quantidade de crimes contra o patrimônio praticados
durante o dia.
• Há entendimento, também, no sentido de que os moradores não
precisam estar no local e, mesmo que estejam, não precisam,
necessariamente, estar repousando para que se configure a
majorante. Cezar Roberto Bitencourt faz uma interpretação restritiva
do dispositivo, entendendo ser necessário que os moradores estejam
presentes e repousando.
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• Furto noturno qualificado
• A causa de aumento de pena prevista no § 1° do art. 155 do CP
(repouso noturno) é aplicável tanto na forma simples (caput)
quanto na forma qualificada (§ 4°) do delito de furto.
• O STJ considerou que o § 2º do art. 155 poderia ser aplicado não
apenas para o caput, mas também as hipóteses do § 4º do art. 155
(EREsp 842.425-RS). Isso significa que a posição topográfica do
§ 1º (vem antes do § 4º) não é fator que impede a sua aplicação
para as situações de furto qualificado (§ 4º). STJ. 6ª Turma. HC 306.450-SP,
Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2014 (Info 554)
• Ex.: Se João e Pedro, durante a madrugada, invadem a residência da
vítima enquanto esta dormia, e de lá subtraem a televisão, eles irão ter
praticado furto qualificado (Art. 155, §2º, IV). Além disso, na 3ª fase da
dosimetria da pena, ao analisar as causas de aumento, o juiz irá aumentar
a pena em 1/3 pelo fato de o crime ter sido cometido durante o repouso
noturno, conforme prevê o § 1º.
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 Furto privilegiado
• § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa
furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de
detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a
pena de multa
• Para Cezar Roberto Bitencourt, não é correta a terminologia “furto
privilegiado”, pois, para que exista a figura privilegiada, para o referido
autor, é preciso que haja nova escala penal com cominação de sanção
inferior àquela prevista para a figura simples (é o contrário da
qualificadora). Damásio de Jesus não vê problema em adotar a
terminologia “furto privilegiado”.
• O “privilégio” pode incidir tanto sobre o crime consumado, quanto
sobre o tantado e exige dois requisitos:
• a) que o criminoso seja primário;
• b) que a coisa seja de pequeno valor.
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• Criminoso primário, segundo Damásio de Jesus, é o não-reincidente e,
em tal categoria incluem-se tanto os que nunca sofreram condenação
irrecorrível, quanto os que já foram condenados irrecorrivelmente há
mais de cinco anos, na forma do art. 64, I, do CP; enquanto isso, Cezar
Roberto Bitencourt considera primário somente aquele que nunca sofreu
qualquer condenação irrecorrível.
• Quanto ao valor que se pode considerar pequeno, a jurisprudência
vencedora em nossos tribunais entende como teto o salário mínimo
vigente ao tempo da prática do crime. Isso não significa que, no caso
concreto, não possa o juiz deixar de aplicar a “privilegiadora” ainda que
o valor da res furtiva seja inferior a um salário mínimo.

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• Por exemplo: o furto de uma bicicleta no valor de R$ 150,00
tendo como vítima um indivíduo que tenha renda de um salário
mínimo, não poderá ser considerado de pequeno valor
• Por isso, ainda que a coisa seja recuperada e a vítima não sofra
qualquer prejuízo, o valor deve ser considerado ao tempo da
subtração para que se possa ou não aplicar a “privilegiadora”.
Isso não impede que, recuperando a vítima o bem furtado,
desde que por vontade do agente, seja a este aplicada a
atenuante genérica do art. 65, III, b do CP

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Súmula 511-STJ:
É possível o reconhecimento do privilégio previsto no §
2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto
qualificado, se estiverem presentes a primariedade do
agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de
ordem objetiva.
É possível o furto qualificado-privilegiado. Por exemplo, se o furto
foi cometido pelo rompimento de obstáculo (qualificadora objetiva)
e a coisa é de pequeno valor, sendo o agente primário, haverá esta
hipótese.
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A rigor, todas as qualificadoras do furto são objetivas (todas
relacionadas aos meios e modos de execução do delito).

Todavia, o STJ entende que no abuso de confiança, por ter


natureza subjetiva, não caberia o furto qualificado privilegiado
nesta hipótese.

Há algumas decisões entendendo que o emprego de fraude também


teria natureza subjetiva, mas isso não é pacífico.
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 Furto de energia – cláusula de equiparação
• A energia é tida como bem móvel, segundo o Código Civil (art. 83, I),
assim, pode ser objeto do delito de furto. De acordo com o § 3º, do art.
155 do CP, equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra
que tenha valor econômico.
• O Código está se referindo a outras formas de energia, além da elétrica,
como a genética, a mecânica, a térmica e a radioatividade.
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 Furto de energia – cláusula de equiparação
• Assim, não só a energia elétrica, mas qualquer outra energia que tenha
valor econômico é equiparada a coisa móvel para fins de furto (ex.:
energia genética, na subtração de sêmen de animal).
• Mas, o sinal de TV a cabo pode ser equiparado a energia para esses fins e,
portanto, a subtração poderia configurar furto?
• Para o STF, não. Trata-se de fato atípico (HC 97261). O STF entende que
SINAL não é a mesma coisa que ENERGIA, e não se pode fazer
analogia in malam partem.
• Além disso, a conduta não pode configurar o crime do art. 35 da Lei
8977/95: Art. 35. Constitui ilícito penal a interceptação ou a recepção não
autorizada dos sinais de TV a Cabo.
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 Furto de energia – cláusula de equiparação
• Como se vê, apesar de o referido artigo mencionar que tal conduta
configura crime, não prevê pena, logo, não há como aplicar o referido
tipo, por ausência de preceito penal secundário (pena).
• No STJ, há julgados no sentido de que seria equiparado a energia e,
portanto, seria crime de furto (RHC 30847/RJ). Todavia, em julgado
recente, a Sexta Turma, curvando-se ao entendimento do STF, entendeu
não configurar o crime de furto (REsp 1838056/RJ, DJe 25/06/2020).
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 Furto de energia – cláusula de equiparação
• Se a subtração ocorre após o medidor, o agente necessita fraudar a
empresa fornecedora, induzindo-a a erro, causando-lhe prejuízo em
proveito próprio, haja vista que a referida empresa acredita que a energia
está sendo fornecida corretamente, configurando-se estelionato e não o
furto
FURTO DE ENERGIA ESTELIONATO
Praticado mediante ligação clandestina. Praticado mediante alteração do medidor de
energia.
Agente não está autorizado a consumir Agente está autorizado (contratualmente) a
energia consumir energia elétrica, porém adultera o
quanto gastou.
Pena: reclusão de 01 a 04 anos e multa. Pena: reclusão de 01 a 05 anos
Ação penal pública incondicionada Ação penal pública condicionada à
representação
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 Furto qualificado
• O art. 155, § 4º, do CP, define o crime de furto qualificado.
• A primeira qualificadora diz respeito ao furto cometido “com
destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da
coisa”.
• Destruir significa subverter, desfazer o obstáculo. Romper quer
dizer abrir brecha.
• A violência deve ser empregada contra obstáculo e não contra o
objeto do furto, pois, nesse caso, não incidirá a qualificadora.
Além disso, exige-se que seja empregada antes, durante ou depois
de tirado o objeto, mas, sempre antes da consumação do
delito.
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• De observar que a violência contra obstáculo que seja acessório normal
e necessário para o uso da coisa, não qualifica o furto.
• Assim, o indivíduo que, por exemplo, quebra o vidro lateral do veículo
para furtá-lo, não incide na qualificadora do art. 155, § 4º, I, do CP.
• Porém, se seu objetivo for o de furtar algo que esteja dentro do veículo
e, para isso quebre o vidro, haverá furto qualificado.

• Cuida-se de circunstância de caráter objetivo e, por isso,


comunicável em caso de concurso de agentes, desde que
haja ingressado na esfera de conhecimento dos
participantes.
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• A segunda qualificadora é o abuso de confiança. Trata-se de
circunstância subjetiva do tipo (STJ, doutrina majoritária).
• Assim, é necessário que o sujeito tenha consciência de que está
praticando o fato com abuso de confiança. Exige-se dois requisitos:
• 1) que o sujeito abuse da confiança nele depositada pelo ofendido;
• 2) que a coisa esteja na esfera de disponibilidade do sujeito ativo em
face dessa confiança.
• Essa qualificadora exige um especial vínculo de lealdade ou fidelidade
entre o agente e a vítima. Além disso, é necessário que a relação de
confiança tenha sido a causa necessária da prática delituosa.
• Ex.: empregado que comete furto se utilizando da confiança que o
patrão tem nele.
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• A fraude também qualifica o furto. Trata-se de um meio enganoso capaz
de iludir a vigilância do ofendido e permitir maior facilidade na subtração
do objeto material.
• Ex.: sujeito que se fantasia de funcionário da operadora de internet para
penetrar na residência da vítima e subtrair-lhe os bens.
• A escalada também qualifica o furto. Significa assaltar com uso de
escadas, subir em algum lugar. Tecnicamente, é o acesso a um lugar por
meio anormal de uso, como, por exemplo, entrar pelo telhado, saltar o
muro etc.
• A destreza é a habilidade capaz de fazer com que a vítima não perceba a
subtração. É o que faz o chamado “batedor de carteira”.
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• No caso de furto qualificado pela destreza, se o agente, antes da
consumação é apanhado pela vítima ou por terceiro, uma corrente entende
que haverá tentativa de furto simples, pois, se o agente foi pego é porque
não houve destreza; já outra corrente entende que haverá tentativa de furto
qualificado pela destreza, pois, o meio empregado pelo agente é o que
qualifica o delito, independentemente da ausência da destreza.

• Majoritariamente entende-se que, se o agente é apanhado pela vítima,


haverá tentativa de furto simples, mas, se for apanhado por terceiro, haverá
tentativa de furto qualificado pela destreza, pois, a qualificadora deve ser
analisada sob o aspecto da vítima e não de terceiro.

• O emprego de chave falsa também qualifica o crime de furto. Chave


falsa é todo o instrumento, com ou sem forma de chave, destinado a abrir
fechadura. Se a chave é encontrada na fechadura, não há furto qualificado,
mas simples.
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• Também não incide a qualificadora no caso de cópia da chave,
pois, o tipo exige a elementar falsa e, cópia da chave não é chave
falsa. Nesse caso pode haver a qualificadora da fraude, por exemplo,
mas não a de chave falsa.

• A última qualificadora do § 4º, diz respeito ao concurso de duas ou


mais pessoas na realização do furto.

• Exige-se, no mínimo, a concorrência de duas pessoas, sendo


irrelevante que uma delas seja inimputável.

• Damásio de Jesus entende que não é imprescindível a presença física


dos concorrentes no local do delito.
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• Cezar Roberto Bitencourt, ao contrário, entende que, apesar de o
concurso de pessoas previsto no art. 29 do CP não exigir a
presença física de todos os delinquentes no local do crime, para
que incida a qualificadora do furto cometido mediante concurso
de duas ou mais pessoas, é necessário que todas estejam presentes
no local (adota o conceito restritivo de autor).

• Com a Lei n. 13.654/2018 foram introduzidas ao art. 155, as


qualificadoras do § 4º-A e § 7º:
• § 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se
houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause
perigo comum
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• Ademais, a Lei 13.964/19 modificou a relação dos crimes
patrimoniais considerados hediondos. Dentre as
modificações, o crime de furto qualificado pelo emprego
de explosivo ou artefato análogo que cause perigo
comum passou a ser considerado crime hediondo, na
forma do art. 1º, IX da Lei 8072/90.
• Curiosamente, o roubo majorado pelo emprego de explosivo
não foi incluído no rol dos crimes hediondos.
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• § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a


subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que,
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem
ou emprego.
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• § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração
for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior.
• Não basta a mera intenção de transportar o veículo, devendo
haver, de fato, a transposição de fronteiras. Caso o agente
não consiga transportar o veículo para outra Unidade da
Federação não haverá incidência da qualificadora
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• § 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco)
anos se a subtração for de semovente domesticável de
produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local
da subtração.
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 Distinção entre furto e demais crimes


• Em algumas situações, torna-se extremamente difícil fazer a
diferenciação entre o furto e delitos como apropriação indébita,
roubo, estelionato, exercício arbitrário das próprias razões etc.
• Por isso, doutrina e jurisprudência passaram a adotar certos
critérios conforme veremos a seguir:
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 Furto x Apropriação indébita

• Na apropriação indébita, inicialmente, o agente tem a posse ou a


detenção lícita e desvigiada do bem e, depois, resolve ficar com a
coisa para si (ex.: pega emprestada, sem intenção de ficar com a
coisa para si inicialmente, mas, depois, muda de ideia e resolve
não mais devolvê-la ao legítimo dono, passando a agir como tal);
• Ao passo que, no furto, não há posse por parte do sujeito ativo,
podendo, no caso de furto qualificado pela fraude, existir até a
detenção, porém, vigiada.
• Ou seja, o agente subtrai a coisa que, até o momento da
subtração, encontra-se sob a vigilância do proprietário, possuidor
ou detentor.
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 Furto mediante fraude x Estelionato

• No estelionato, o agente, desde o início, tem o dolo de iludir a vítima.


É o chamado dolo ab initio.
• É diferente da apropriação indébita, pois, nesta, o agente, a princípio
não tem intenção de ficar com o bem (dolo ab initio), mas resolve
fazer isso num segundo momento;
• Diferencia-se, também, do furto, pois, no estelionato é a própria
vítima, induzida ou mantida em erro pelo agente, que entrega a este o
bem. O agente não precisa subtraí-la como acontece no delito de
furto.
TÍTULO II- DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I- DO FURTO-ARTIGO-155
 Furto mediante fraude x Estelionato
• No furto o agente emprega o expediente fraudulento para
enganar a vítima, de forma a fazê-la se distrair, relaxar na
vigilância sobre seus bens e, assim, facilitar a subtração.
• Ex.: José se faz passar por um representante comercial e
assim se apresenta em uma loja. Bem vestido e cheiroso, José
entrega um catálogo à funcionária e pede que ela chame a
gerente, para que possam conversar sobre os produtos que
ele diz vender. Quando a funcionária sai para chamar a
gerente, José pega alguns produtos da loja e foge.
• No estelionato o agente emprega a fraude para que a vítima,
uma vez enganada, entregue a ele voluntariamente a
vantagem econômica indevida pretendida pelo infrator.
TÍTULO II- DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I- DO FURTO-ARTIGO-155
 Furto mediante fraude x Estelionato
.

Ex.: José, se fazendo passar por funcionário da UNICEF (com


uniforme e tudo!), solicita doações a pessoas na rua. Dona Maria,
enganada, doa R$ 50,00 ao trambiqueiro.

Apesar de ambos serem crimes patrimoniais sem violência ou grave


ameaça à pessoa, a pena prevista para o estelionato é menor (reclusão
de 01 a 05 anos e multa) em relação à pena do furto qualificado pela
fraude (reclusão de 02 a 08 anos e multa).
Vale frisar que em ambos os casos é cabível a aplicação do privilégio,
previsto no art. 155, §2º do CP, desde que primário o agente e de
pequeno valor a coisa furtada (ou de pequeno valor o prejuízo, no
caso de estelionato).
TÍTULO II- DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I- DO FURTO-ARTIGO-155
 Furto x Exercício arbitrário das próprias razões

• A diferenciação entre furto e exercício arbitrário das próprias razões está


no chamado elemento subjetivo do agente, isto é, no furto, o sujeito ativo
tem o dolo de subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem, não
havendo nenhum especial fim de agir, basta a vontade de assenhoramento
definitivo do bem.

• No exercício arbitrário das próprias razões, o agente subtrai a coisa com o


objetivo de satisfazer alguma pretensão que tenha em relação à vítima.

• Não há simplesmente o dolo de subtrair a coisa, mas, subtrair a coisa para


satisfazer pretensão, em alguns casos, até legítima, com o objetivo de
“fazer justiça pelas próprias mãos”.
TÍTULO II- DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I- DO FURTO-ARTIGO-155
• Ex.: Tício, na qualidade de locador, celebra contrato de locação com
Mévio, locatário. Após vários meses sem receber os valores
correspondentes ao aluguel, Tício resolve entrar no imóvel locado
durante a ausência de Mévio e retira vários eletrodomésticos (TV,
aparelho de CD, DVD etc.), com o objetivo de aliená-los para satisfazer
a pretensão relativa aos aluguéis em atraso. Neste caso comete o delito
tipificado no art. 345 do CP e não no art. 155 do mesmo Código.

 Furto x Roubo
• A diferenciação entre furto e roubo reside, unicamente, na presença da violência
(própria ou imprópria) ou grave ameaça neste último.
• Os demais elementos serão idênticos nos dois delitos, ou seja, o agente, tanto no
furto quanto no roubo, subtrai coisa alheia móvel, para si ou para outrem, porém,
no roubo, a subtração ocorre mediante violência ou grave ameaça.

TÍTULO II- DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I- DO FURTO DE COISA COMUM-ARTIGO-156
 Furto de coisa comum
• Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para
outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
• Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
• § 1º - Somente se procede mediante representação.
• § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor
não excede a quota a que tem direito o agente
TÍTULO II- DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I- DO FURTO DE COISA COMUM-ARTIGO-156
 Furto de coisa comum
• Nos termos do art. 156 do CP, constitui furto de coisa comum o fato de
“subtrair o condômino, o co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a
quem legitimamente a detém, a coisa comum”.

• O fundamento da incriminação reside em que o sujeito ativo, seja


condômino, co-herdeiro ou sócio, que tira a coisa comum de quem
legitimamente a detém, não subtrai só a coisa própria, mas também a
parte pertencente a terceiro. Trata-se de crime próprio.
• Sujeito ativo só pode ser o condômino, co-herdeiro ou sócio.

• Em relação a este último, a sociedade pode ter personalidade jurídica ou


não (ser apenas sociedade de fato).
• Sujeito passivo é quem detém legitimamente a coisa.
TÍTULO II- DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
CAPÍTULO I- DO FURTO DE COISA COMUM-ARTIGO-156

• Não é punível o crime quando o agente tira parte da coisa comum,


fungível (que pode ser substituída por outra de mesma espécie,
qualidade e quantidade), cujo valor não excede a quota a que tem
direito.

• Assim, se a coisa for infungível, haverá delito, ainda que o agente


subtraia coisa de valor inferior à sua cota. Da mesma forma, mesmo
que a coisa seja fungível, se seu valor extrapolar a cota do sujeito
ativo, haverá crime.

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