Você está na página 1de 10

Prof.

Saymer Souza

CÓDIGO PENAL - 8 objeto de furto como a água e luz. A coisa


CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO abandonada (rês derelicta) e a coisa de
ninguém (rês nullius) não podem ser objeto
O que são crimes contra o patrimônio? Esses material de furto, pois não são coisas alheias.
crimes são caracterizados pela subtração, Se o agente pensou que se tratava de coisa
destruição, danificação, apropriação indevida ou abandonada e dela se apoderou haverá erro
obtenção ilícita de benefícios em relação a bens de tipo que excluirá o dolo.
materiais. Esses crimes visam a obtenção de Quanto a cadáver, se a subtração for com
benefícios econômicos indevidos às custas de intuito de lucro haverá caso de furto, caso
outras pessoas ou causar prejuízo material. contrário, o crime será de subtração de
cadáver, previsto no art. 211 do CP. Quem
Furto subtrair cadáver de faculdade de medicina com
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, o fim de retirar o ouro existente na arcada
coisa alheia móvel: dentaria incorrerá em crime de furto.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e 5. Objeto Jurídico: Tutela-se a posse e a
multa. propriedade.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o 6. Tipo objetivo
crime é praticado durante o repouso noturno. Subtrair significa retirar, pegar coisa alheia
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de móvel, ou seja, qualquer objeto ou substância
pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode corpórea que tenha valor econômico e que
substituir a pena de reclusão pela de detenção, possa ser removida, destacada ou deslocada
diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar de um lugar para o outro.
somente a pena de multa. Coisa alheia para os juristas não é só a
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia pertencente a outrem, mas também a que se
elétrica ou qualquer outra que tenha valor acha legitimamente na posse de terceiro.
econômico. O tipo exige o ânimo do agente em
Furto qualificado assenhorar-se da coisa alheia. Doutrina e
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, jurisprudência admitem o furto cometido por
e multa, se o crime é cometido: ladrão contra outro ladrão, reconhecendo,
I - com destruição ou rompimento de obstáculo contudo, como sujeito passivo, o proprietário
à subtração da coisa; original da coisa.
II - com abuso de confiança, ou mediante 7. Tipo Subjetivo
fraude, escalada ou destreza; O tipo requer dois elementos subjetivos: o
III - com emprego de chave falsa; primeiro dolo do agente é genérico, a vontade
IV - mediante concurso de duas ou mais livre e consciente de subtrair coisa alheia
pessoas. móvel. O segundo exige uma finalidade
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 especial, o dolo específico, o fim de
(oito) anos, se a subtração for de veículo assenhorar-se da coisa em definitivo, contido
automotor que venha a ser transportado para na expressão "para si ou para outrem" (animus
outro Estado ou para o exterior. (Incluído pela furandi)
Lei nº 9.426, de 1996) O furto de uso, ou seja, a fruição da coisa
momentaneamente sem efetivo prejuízo ao
1. Classificação Doutrinária ofendido, com restituição da coisa no estado
Crime comum, material, doloso, de dano, de em que antes se encontrava não é
forma livre, comissivo em regra, instantâneo ou contemplado pela norma penal em estudo. O
permanente, unissubjetivo, plurrisubsistente, furto de uso somente será reconhecido se não
não transeunte e admite tentativa. Entendemos era exigível outra conduta do agente a não ser
exequível o cometimento de furto por omissão. sacrificar direito alheio, como subtrair o veículo
2. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, salvo o da vítima para socorrer o filho ao hospital, por
proprietário ou possuidor da coisa. exemplo.
3. Sujeito Passivo: É a pessoa física ou jurídica Será excluído o dolo e, consequentemente, o
que detenha a posse ou propriedade da coisa. fato será considerado atípico se o agente
4. Objeto Material subtrair coisa alheia pensando ser própria (erro
A conduta criminosa recai sobre a coisa alheia de tipo).
móvel, que são considerados os animais, É pacifico na jurisprudência o reconhecimento
aeronaves, os navios, os títulos de crédito, os do estado de necessidade em caso de furto
talões de cheques, os frutos, as árvores, etc. O famélico. É imperativo que a conduta do
furto de gado é conhecido como abigeato. As agente se realize com o único objetivo de
coisas de uso comum também podem ser saciar a fome, num estado de extrema penúria,
Prof. Saymer Souza

não podendo esperar mais, por ser a situação resultado se produza, só responde pelos atos
insuportável e que somente por meio do ato já praticados.
ilícito consiga resolver o problema de falta de
alimentação. Arrependimento posterior
8. Consumação Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou
Ocorre no momento em que o agente tem a grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou
posse tranquila da coisa, ainda que por pouco restituída a coisa, até o recebimento da
tempo. Consuma-se quando a coisa sai da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
esfera de disponibilidade e de proteção da agente, a pena será reduzida de um a dois
vítima e ingressa na disponibilidade do sujeito terços.
ativo. O arrependimento posterior é uma causa
Para a jurisprudência do STF, para a especial de diminuição de pena e só tem
consumação dos crimes de furto e de roubo aplicação nos crimes materiais, pois seu
basta a posse do bem em poder do agente, reconhecimento se verifica com a reparação do
independentemente de vigilância da vítima ou dano ou a restituição da coisa. O indivíduo que,
posse tranquila, de modo que a fuga logo após voluntariamente, decorrido de alguns dias após
o furto caracteriza a inversão da posse, e o o furto de um veículo, arrepende-se e
furto está consumado mesmo havendo comunica à vítima o local onde o mesmo se
perseguição imediata e consequente retomada encontra será beneficiado por esta entidade
do objeto (teoria do amotio). criminal.
Sendo crime instantâneo, a consumação se 11. Repouso Noturno
verifica no exato instante em que o delito é É o período em que as pessoas descansam de
cometido. O crime também restará consumado acordo com os costumes de cada região do
quando a coisa estiver ocultada, mesmo País, a vítima encontra-se mais vulnerável e
encontrando-se perto da vítima. por isso a pena será aumentada de um terço.
9. Tentativa Doutrina e jurisprudência são pacíficas ao
Crime material, exigindo assim o resultado admitirem sua aplicação apenas ao furto
naturalístico, a tentativa é perfeitamente simples.
admissível na hipótese de o agente não 12. Furto de Pequeno Valor e Criminoso
conseguir subtrair a coisa por circunstâncias Primário
alheias à sua vontade. Também caracteriza a Se o criminoso é primário e é de pequeno valor
tentativa na hipótese de ser perseguido pela a coisa furtada o juiz pode substituir a pena de
polícia e preso logo após a subtração, pois a reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a
coisa não saiu da esfera de proteção e dois terços ou aplicar somente a pena de
disponibilidade da vítima. multa. Primário é o sujeito que não é
10. Furto e a desistência voluntária, reincidente, isto é, aquele que mesmo
arrependimento eficaz, arrependimento cometendo outros crimes ainda não foi
posterior e crime impossível definitivamente condenando. Pequeno valor é
Diferentemente da tentativa em que a não aquele em que a coisa furtada não ultrapassa o
consumação ocorre por circunstâncias alheias valor equivalente ao salário mínimo vigente à
à vontade do agente, na desistência voluntária época do fato criminoso.
e no arrependimento eficaz (art. 15), a 13. O Privilégio e o Furto Qualificado
execução é interrompida pela própria vontade Segundo reiterada jurisprudência do STJ, não
do agente (medo, remorso, baixa qualidade do se aplica ao crime de furto qualificado o
objeto material, dor de barriga). Ocorre beneficio previsto no parágrafo 2º do
desistência voluntária, por exemplo, se A art. 155 do CP, uma vez que a existência da
ingressa na residência de B, mas por qualquer qualificadora inibe a aplicação do privilégio,
motivo, desde que voluntário, desiste de não obstante a primariedade e o pequeno valor
prosseguir e foge sem nada levar. Responde ou pequeno prejuízo, em razão da flagrante
por invasão de domicílio. Arrependimento é incompatibilidade.
considerado eficaz se A subtrai um livro de B e 14. Furto de Energia Elétrica
antes de ter sua posse tranquila devolve o Equipara-se a coisa móvel a energia elétrica ou
objeto. Sua conduta foi de encontro com à qualquer outra que tenha valor econômico.
continuidade do processo de execução de uma Captar energia antes de sua passagem pelo
típica iniciada. aparelho medidor configura o delito,
Desistência voluntária e arrependimento considerado permanente, possibilitando, assim,
eficaz a prisão em flagrante do agente enquanto
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste perdurar seu efeito. Se o agente, porém,
de prosseguir na execução ou impede que o alegrar o relógio de luz e passar a pagar
Prof. Saymer Souza

metade da energia elétrica consumida, o crime abrir fechadura ou dispositivo análogo. Se a


será de estelionato. verdadeira chave encontra-se na fechadura
A ligação clandestina para a utilização de TV haverá o furto simples, pois "porta fechada com
por assinatura, conhecida como "gato", para chave na fechadura é porta aberta", mas se for
nós, não pode se equiparada a furto de energia conseguida ardilosamente para o cometimento
elétrica. O fato é ilícito, mas não chega a ser do delito, como, por exemplo, subtraí-la da
típico. A conduta deve ser apurada na esfera bolsa da vítima para depois adentrar sua
cível. A energia elétrica quando subtraída residência, qualificadora será fraude.
depois e armazenada, causa perda patrimonial, IV - mediante concurso de duas ou mais
diferentemente do sinal de TV a cabo, em que pessoas.
sua utilização não gera dano, isto é, não há A norma busca impedir a somatória de forças
perda de energia de valor econômico, mas para o cometimento do crime, enfraquecendo,
ausência de ganho por parte da empresa. assim, a resistência do ofendido. Basta que
15. Furto Qualificado apenas um dos agentes seja culpável. Desse
A pena é de reclusão de dois a oito anos, e modo, nada impede para a sua configuração a
multa, se o crime é cometido: participação de inimputáveis.
I - com destruição ou rompimento de 16. Furto e o Concurso de Crimes: Ao furto nos
obstáculo à subtração da coisa; demais crimes contra o patrimônio aplicam-se
A violência aqui é empregada contra obstáculo as regras do concurso material, formal e do
que está impedindo a subtração da coisa. crime continuado.
II - com abuso de confiança, ou mediante 17. Parágrafo 5º do art. 155
fraude, escalada ou destreza; § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos,
Abuso de confiança é a quebra da fidelidade, se a subtração for de veículo automotor que
do vínculo de amizade existente entre algumas venha a ser transportado para outro Estado ou
pessoas. Emerge de uma condição particular para o exterior.
de lealdade. É preciso gozar absolutamente de Requer o tipo penal o elemento subjetivo
confiança para incidir na qualificadora. especial (dolo específico), ou seja, deve o
Fraude é o ardil na prática do crime, o engodo, agente ter consciência de que está
a mentira, o embuste, utilizados para facilitar a ultrapassando os limites de um Estado ou país
subtração da coisa. A conduta do agente nesta com o objeto material. É necessário, portanto,
espécie de furto é no sentido de subtrair os para a consumação do delito, que o veículo
bens da vítima iludindo-a momentaneamente, o tenha transportado as fronteiras do Estado ou
delito é cometido sempre sobre a vigilância da do território nacional.
vítima. A qualificadora também se aplica O crime de subtração de veículo que venha a
quando a vítima não tem capacidade de ser transportado para outro Estado ou para o
entender o caráter ilícito do fato, como o exterior só se consuma após o seu
doente mental ou uma criança. exaurimento.
Difere do estelionato, pois neste a vítima é 18. Concurso de Qualificadoras
enganada, seu consentimento é viciado pelo Incidindo duas ou mais qualificadoras no furto
erro. A própria vítima faz a entrega da o entendimento prevalente é de que apenas
vantagem ilícita ao agente. O sujeito, mediante uma será aplicada, servindo aos demais como
fraude, cria no espírito da vítima um sentimento agravantes genéricas. Há, todavia, quem
distorcido da realidade. No furto com fraude entenda que a pluralidade de qualificadoras
haverá sempre subtração como a ladra interfere na dosagem da pena como
profissional que se finge de doméstica para circunstância judicial.
furtar a casa que se empregou.
Escalada é a qualificadora que se caracteriza FURTO DE COISA COMUM
pelo ingresso no local pretendido por via Art. 156. Subtrair o condômino, coerdeiro ou
anormal demandando um esforço incomum do sócio, para si ou para outrem, a quem
agente para vencer o obstáculo existente, legitimamente a detém, a coisa comum:
como numa residência subindo uma árvore ou Pena - detenção, de seis meses a dois anos,
um muro alto, ou ainda escavando um túnel ou multa.
etc. § 1º - Somente se procede mediante
Destreza é a habilidade manual do agente, por representação.
exemplo, o batedor de carteira. § 2º - Não é punível a subtração de coisa
III - com emprego de chave falsa; comum fungível, cujo valor não excede a quota
Considera-se chave falsa todo e qualquer a que tem direito o agente.
instrumento, com ou sem forma de chave como 1. Classificação Doutrinária
a gazua, moca, alfinete, arame etc. Capaz de
Prof. Saymer Souza

Crime próprio, de dano, material, não 11. Ação Penal


transeunte, instantâneo, comissivo ou omissão O crime é de ação pública condicionada.
impróprio, unissubjetivo, plurissubsistente, de Somente se procede mediante representação
forma livre e admite tentativa. do ofendido. Infração de menor potencial
2. Sujeito Ativo: É somente o condômino, ofensivo sujeita as normas da Lei
coerdeiro ou sócio. Trata-se de crime próprio nº 9.099/1995.
que se comunica em caso de concurso de
pessoas. ROUBO
3. Sujeito Passivo: Pode ser o condômino, o Art. 157.
coerdeiro, o sócio, ou ainda um terceiro quem Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para
detém legitimamente a coisa outrem, mediante grave ameaça ou violência a
4. Objeto Material: pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer
A conduta recai sobre a coisa subtraída. É o meio, reduzido à impossibilidade de
que incide, por exemplo, o proprietário de um resistência:
apartamento que subtrai da área comum de um Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
prédio um relógio de parede. § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo
5. Objeto Jurídico: Tutela-se a propriedade ou depois de subtraída a coisa, emprega violência
a posse legítima. contra pessoa ou grave ameaça, a fim de
6. Tipo Objetivo assegurar a impunidade do crime ou a
A conduta consiste em subtrair, que tem o detenção da coisa para si ou para terceiro.
significado de retirar, pegar coisa comum de § 2º - A pena aumenta-se de um terço até
quem legitimamente a detém, isto é, a coisa metade:
que pertence não apenas ao agente, mas I - se a violência ou ameaça é exercida com
também a outras pessoas. Condômino é o emprego de arma;
proprietário que divide o domínio da mesma II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
coisa com outras pessoas. Herdeiro é o III - se a vítima está em serviço de transporte
sucessor que concorre a uma herança de valores e o agente conhece tal
(patrimônio falecido que transmite aos circunstância.
herdeiros) deixada pelo de cujus. Sócio é o IV - se a subtração for de veículo automotor
membro de uma sociedade (reunião de duas que venha a ser transportado para outro
ou mais pessoas que mediante contrato se Estado ou para o exterior;
obriga, a combinar seus esforços ou bens para V - se o agente mantém a vítima em seu poder,
a consecução de fins comuns). restringindo sua liberdade.
7. Tipo Subjetivo § 3º - Se da violência resulta lesão corporal
É o elemento específico do tipo, dolo grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze
específico dos clássicos, consubstanciado na anos, além de multa; se resulta morte, a
expressão para si ou para outrem, qual seja, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo
finalidade de assenhoraremos da coisa da multa.
comum. 1. Classificação Doutrinária
8. Consumação Crime comum, material, instantâneo, de forma
Ocorre quando a coisa comum sai da esfera de livre, de dano, unissubjetivo, comissivo ou
proteção do sujeito passivo. Passa o agente a omissivo impróprio, plurissubsistente,
ter posse tranquila da coisa comum, ainda que complexo e admite tentativa.
por pouco tempo. 2. Sujeito Ativo: Qualquer pessoa.
9. Tentativa 3. Sujeito Passivo
Quando a coisa comum não sai da esfera de Pode ser qualquer pessoa, mas sendo crime
disponibilidade do ofendido por circunstâncias que tem tutelados vários objetos jurídicos,
alheias à vontade do condômino, herdeiro ou nada impede o surgimento de dois ou mais
sócio. ofendidos, como ocorre, por exemplo, com
10. Coisa Fungível aquele que sofre violência e o outro que tem o
Não é punível a subtração de coisa fungível, bem subtraído durante a ação criminosa.
cujo valor não excede a quota que tem direito o Em regra, porém, sujeito passivo é o titular do
agente, coisa fungível é aquela que pode ser direito da propriedade ou da posse.
substituída por outra da mesma espécie, 4. Objeto Material: A conduta criminosa recai
qualidade e quantidade. Trata-se de causa sobre a pessoa e coisa alheia móvel.
excludente de ilicitude. Por outro lado, haverá o 5. Objeto Jurídico
delito em estudo se a coisa foi infungível, qual A lei tutela o patrimônio (posse e propriedade),
seja, a que não por ser substituída por outra. a vida, a integridade física, a saúde e a
liberdade pessoal, daí ser considerado crime
Prof. Saymer Souza

complexo em que são conjugados emprego de posse tranquila da coisa, ainda que por pouco
violência ou ameaça e a subtração patrimonial. tempo ou quando a coisa subtraída sai da
6. Tipo Objetivo esfera de proteção, de disponibilidade da
O tipo refere-se à subtração de coisa móvel vítima. Também se diz consumado o delito
alheia, mas é acrescido pelo emprego de quando a vítima não recupera os objetos
violência, grave ameaça ou qualquer outro subtraídos, mesmo em casos de prisão em
meio que reduza a possibilidade de resistência flagrante. Restará consumado ainda quando a
da vítima. vítima permanece dominada pelo autor do
roubo no interior do veículo, perdendo a
A violência pode ser: disponibilidade do bem.
Na jurisprudência, porém, tem-se entendido
A) física (vis absoluta) que compreende as como consumado o delito quando ocorre a
vias de fato, lesão corporal leve, grave ou subtração dos bens da vítima, mediante
morte (essas duas últimas qualificam o delito); violência ou grave ameaça, ainda que, em
B) moral (vis compulsiva) que se constata em seguida, o próprio ofendido detenha o agente e
atemorizar ou amedrontar a vítima com recupere a res.
ameaças, gestos ou simulações, como a de 9. Tentativa
portar arma, por exemplo. A ameaça pode ser No roubo próprio o entendimento é pacífico no
dirigida à vítima ou a terceiro; sentido de sua admissibilidade. Ocorre quando
C) imprópria é a que reduz a capacidade de o agente após o emprego de violência ou grave
resistir, como a superioridade física do agente, ameaça não consegue efetivar a subtração da
colocar droga na bebida da vítima, jogar areia coisa por circunstâncias alheias à sua vontade
nos seus olhos, hipnotizá-la, induzi-la a ingerir nem tem a posse tranquila da coisa, ainda que
bebida alcoólica até a embriaguez etc. por breve tempo.
O roubo difere do furto qualificado pelo
rompimento de obstáculo porque neste a 10. Roubo impróprio
violência é exercida contra a coisa, naquele, É aquele em que o agente logo depois de
contra a pessoa. Em outras palavras, roubo subtraída a coisa emprega violência contra a
nada mais é que um furto cometido com pessoa ou grave ameaça a fim de assegurar a
violência ou grave ameaça contra a pessoa. impunidade do crime ou a detenção da coisa
Objetos que estão presos ao corpo como para si ou para terceiro.
brinco, corrente, relógio, pulseira etc., e que No roubo próprio a violência ou grave ameaça
são arrancados pelo ladrão caracterizam o é praticada antes ou durante a subtração da
roubo. Quando soltos como boné, óculos, coisa. No impróprio ela é cometida logo depois
bolsa, celular etc., o crime é de furto. de subtraída a coisa para assegurar a
Não se aplica no furto o princípio da impunidade do crime ou a detenção da coisa.
insignificância, haja vista que a conduta do Na hipótese de o agente ser surpreendido pela
agente revela maior periculosidade e atinge vítima em sua residência e abandonar o objeto
não apenas o patrimônio do ofendido, mas material empregando violência para a fuga, o
também a sua integridade física, sua saúde e crime a ser reconhecido é o de tentativa de
até sua vida em caso de latrocínio. furto em concurso material com lesão corporal.
Institutos como o crime impossível, o roubo de 11. Tentativa de roubo impróprio
uso, o pequeno valor da coisa, o estado de Entendemos não ser possível a tentativa de
necessidade etc., que podem ser admitidos no roubo impróprio. Ou o agente emprega a
furto não o são no roubo por tutelar outros bem violência ou a grave ameaça, logo depois de
jurídicos e não apenas o patrimônio do subtraída a coisa e o crime se consuma, ou
ofendido. não subtrai a coisa, mas emprega violência
7. Tipo Subjetivo para fugir e, então, o crime será de tentativa de
O tipo requer dolo duplo: o primeiro, genérico, furto em concurso material de lesão corporal.
consistente na vontade livre e consciente de E outra partem deve-se reconhecer o furto e
subtrair coisa móvel alheia mediante violência não o roubo impróprio na ação do agente que
ou grave ameaça; o segundo, elemento após a subtração se desvencilha do ofendido
subjetivo especial do tipo, exige que a que o agarra, sem contudo, ameaçá-lo ou
subtração seja para o agente ou para terceiro. agredi-lo e foge com a res.
É o dolo específico dos clássicos contido na
expressão "para si ou para outrem". 12. Causas de aumento de pena
8. Consumação do roubo impróprio I - se a violência ou ameaça é exercida com
Predomina na doutrina o entendimento de que emprego de arma;
o crime consuma-se quando o agente tem a
Prof. Saymer Souza

O fundamento da agravante reside no maior 14. Qualificadoras do roubo


perigo que o emprego da arma envolve motivo Se a violência resulta lesão corporal grave, a
pelo qual é indispensável que o instrumento pena é de reclusão, de 7 a 15 anos, além de
usado pelo agente (arma própria ou imprópria), multa; se resulta morte, a reclusão é de 20 a
tenha idoneidade para ofender a incolumidade 30 anos, sem prejuízo de multa. Trata-se de
física. crime considerado qualificado pelo resultado
Com o cancelamento da Súmula 174 do STJ em que as lesões graves ou morte podem advir
que autorizava o aumento de pena quando o de dolo ou culpa.
agente utilizava arma de brinquedo para O tipo fala em violência que deve ser entendida
cometer o crime, esta conduta passou a ser como física e não moral, logo se a vítima num
considerada uma grave ameaça relacionada ao roubo, mediante grave ameaça, vier a morrer
roubo simples. em virtude de uma parada cardíaca, o crime
II - se há o concurso de duas ou mais será de roubo em concurso material com
pessoas; homicídio e não de latrocínio.
A doutrina prevalente assevera que não há 15. Homicídio consumado e roubo
necessidade de estarem todos os agentes consumado: Haverá latrocínio.
presentes no local do crime, basta haver o 16. Homicídio tentado e roubo tentado: Haverá
concurso de duas ou mais pessoas. tentativa de latrocínio.
III - se a vítima está em serviço de 17. Tentativa de homicídio e roubo
transporte de valores e o agente conhece tal consumado: Haverá tentativa de latrocínio.
circunstância. 18. Homicídio consumado e roubo tentado
A norma tutela aqueles que transportam Haverá latrocínio. Doutrina e jurisprudência
valores. Qualquer tipo de valor como ouro, têm considerado consumado o latrocínio
dinheiro, pedras preciosas etc. O agente deve quando ocorre a morte da vítima, ainda que o
saber que a vítima está a transportar valores, agente não tenha logrado apossar-se da coisa
dolo direto, portanto. que pretendia subtrair.
IV - se a subtração for de veículo automotor 19. Roubo com pluralidade de vítimas.
que venha a ser transportado para outro Doutrina e jurisprudência são unanimes em
Estado ou para o exterior; reconhecer o concurso formal quando o delito
Para a consumação do delito é necessário que é cometido contra várias vítimas num mesmo
o veículo seja levado para outro Estado ou contexto. Assim, lesionou o patrimônio de duas
país, não havendo, assim, possibilidade de vítimas, aplica-se o concurso formal.
ocorrer tentativa. Ou leva e ingressa com o De outra parte, quando o agente mediante
veículo em outro Estado ou país e o crime está mais de uma ação ou omissão, praticar vários
consumado, ou não ingressa e o crime será de roubos (crimes considerados da mesma
furto ou roubo conforme a circunstância. espécie) e pelas condições de tempo (nao
V - se o agente mantém a vítima em seu pode ultrapassar 30 dias), lugar (devem ser
poder, restringindo sua liberdade. próximos), maneira de execução (modus
objeto do agente, após o emprego da violência operandi) e outras semelhantes, devem os
ou grave ameaça, é manter a vítima em seu subsequentes ser havidos como continuação
poder e assim facilitar a subtração. A restrição do primeiro, poderá se reconhecer o crime
de liberdade da vítima deve ser por tempo continuado. Isto é uma ficção jurídica, pois há
razoável, suficiente para que o agente uma pluralidade de delitos, mãos legislador
consuma o delito sem ser descoberto pela presume que eles constituem um só crime,
polícia. apenas para efeito de sanção penal. Nesses
13. Pluralidade de causas de aumento de pena casos, aplica-se a regra do art. 71, ou seja,
Muito comum na prática a incidência de mais dependendo das circunstâncias jurídicas, a
de uma majorante no roubo. Diverge a doutrina pena de um só dos crimes poderá ser
quanto à aplicação da pena. A primeira aumentada até o triplo.
corrente entende que o juiz aplicará apenas
uma majorante e a outra funcionará como EXTORSÃO
circunstância judicial na fixação da pena-base. Art. 158.
A segunda assevera que o número de Constranger alguém, mediante violência ou
majorantes deve ser proporcional ao número grave ameaça, e com o intuito de obter para si
de causas presentes. Duas ou mais permitem ou para outrem indevida vantagem econômica,
ao juiz aumento a pena de dois quintos até a a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer
metade. alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Prof. Saymer Souza

§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais formal, a consumação ocorre


pessoas, ou com emprego de arma, aumenta- independentemente do resultado. Basta ser
se a pena de um terço até metade. idôneo ao constrangimento imposto à vítima,
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante sendo irrelevante a enfeitava obtenção da
violência o disposto no § 3º do artigo anterior. vantagem econômica indevida.
§ 3o Se o crime é cometido mediante a O comportamento da vítima nesse caso é
restrição da liberdade da vítima, e essa fundamental para a consumação do delito. É a
condição é necessária para a obtenção da indispensabilidade da conduta do sujeito
vantagem econômica, a pena é de reclusão, de passivo para a consumação do crime, se o
6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se constrangimento for sério, idôneo o suficiente
resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam- para ensejar a ação ou omissão da vítima em
se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, detrimento do seu patrimônio, perfaz-se o tipo
respectivamente. (Incluído pela Lei nº 11.923, penal do art. 168 do CP.
de 2009) Da outra parte, se entendido como crime
material, a consumação se dará com obtenção
1. Classificação doutrinária de indevida vantagem econômica. Seguimos
Crime comum, formal ou material, de forma esse entendimento, para nós o crime de
livre, instantâneo, unissubjetivo, extorsão é material consumando-se com a
plurissubsistente, comissivo, doloso, de dano, efetiva obtenção indevida vantagem
complexo e admite tentativa. econômica.
9. Tentativa
2. Sujeito ativo: Qualquer pessoa Admite-se quer considerando o crime formal ou
material. Surge quando a vítima mesmo
3. Sujeito passivo constrangida, mediante violência ou grave
Qualquer pessoa. É possível a existência de ameaça, não realiza a condita por
dois sujeitos passivos ao mesmo tempo; o que circunstâncias alheias à vontade do agente. A
sofre a lesão patrimonial e o que sofre o vítima, então não se intimida, vence o medo e
constrangimento. A pessoa jurídica tambem denuncia o fato a polícia.
pode ser sujeito passivo do crime. A tentativa, portanto, ocorrerá quando
4. Objeto material: A condita delitiva recai praticada a violência ou grave ameaça com o
sobre a pessoa humana e a coisa móvel ou intuito de obter vantagem econômica indevida
imóvel. e a vítima não cumpre o exigido pelo agente.
5. Objeto jurídico 10. Diferença entre extorsão e roubo
Tutela-se não apenas a inviolabilidade do Para os clássicos a distinção infalível é a de
patrimônio, mas também a vida, a liberdade que no roubo o agente toma a coisa por sim
pessoal e a integridade física e psíquica da mesmo; na extorsão faz com que lhe seja
pessoa humana. entregue. Embora a extorsão se assemelhe ao
6. Tipo objetivo roubo em face da pena, dos meios de
A conduta consiste em constranger (obrigar, execução, da natureza e da objetividade
forcar, coagir), mediante violência (física: vias jurídica, com ele não se confunde. Ademais,
de fato ou lesão corporal) ou grave ameaça não são considerados crimes da mesma
(moral: intimidação idônea explicita ou explicita espécie. No roubo o agente subtrai a coisa e
que incute medo no ofendido) com o objetivo na extorsão a vítima é quem lhe entrega; no
de obter para si ou para outrem indevida roubam o comportamento da vítima não é
(injusta, ilícita) vantagem econômica (qualquer imprescindível para a sua realização (nao é
vantagem seja de coisa móvel ou imóvel). necessário que colabore com o agente); na
Haverá constrangimento ilegal se a vantagem extorsão, ele é fundamental (há a necessidade
não for econômica e exercício arbitrário das de colaboração da vítima); no roubo o mal é
próprias razoes se a vantagem for devida. iminente; na extorsão o roubo é futuro.
7. Tipo subjetivo
O tipo é composto de dolo duplo: o primeiro 11. Causas de aumento de pena.
constituído pela vontade livre e consciente de Se o crime é cometido por duas ou mais
constranger alguém mediante violência ou pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-
grave ameaça, dolo genérico; o segundo exige se a pena de um terço até a metade. Há
o elemento subjetivo do tipo específico na necessidade das duas pessoas estarem
expressão "com intuito de". presentes no local dos fatos para incidir na
8. Consumação majorante, assim como o emprego efetivo da
Discute-se na doutrina se o crime de extorsão arma quando da realização do delito.
é formal ou material. Para os que o consideram
Prof. Saymer Souza

No caso de ocorrer morte ou lesão corporal arrebatá-la, com o fim de obter vantagem de
grave, o fato de o coautor não haver disparado natureza econômica ou patrimonial. A posição
a arma, não afasta a sua responsabilidade pela dominante da doutrina crê a vantagem
extorsão qualificada. econômica deve ser indevida, pois do contrário
haveria sequestro em concurso formal com
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO exercício arbitrário das próprias razoes.
(SEQUESTRO RELÂMPAGO) 7. Tipo subjetivo
Art. 159. Seqüestrar pessoa com o fim de O tipo requer além do dolo genérico, definido
obter, para si ou para outrem, qualquer como a vontade livre e consciente de
vantagem, como condição ou preço do resgate: seqüestrar pessoa, o elemento específico do
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. tipo, o denominado dolo específico, contido na
§ 1º Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e expressão "com o fim de obter para si ou para
quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 outrem", qualquer vantagem como condição ou
(dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou preço do resgate.
se o crime é cometido por bando ou quadrilha. 8. Consumação
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. Por tratar-se de crime formal, consuma-se com
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de o sequestro independentemente da vantagem
natureza grave: patrimonial, isto é, a consumação opera-se no
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro momento em que ocorre a privação da
anos. liberdade da vítima independentemente do
§ 3º - Se resulta a morte: efetivo recebimento do resgate. Suprimida a
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. liberdade de locomoção da vítima por um
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o período relevante, além do intuito de obter, por
concorrente que o denunciar à autoridade, esse meio, qualquer vantagem econômica, o
facilitando a libertação do sequestrado, terá crime está consumado.
sua pena reduzida de um a dois terços. Na jurisprudência predominante o
1. Classificação doutrinaria entendimento de que o crime se configura
Crime comum, doloso, formal, permanente, de mesmo quando os criminosos não conseguem
dano, plurisubsistente, de forma livre, obter o resgate e ainda que não tenham tido
comissivo, não transeunte, unissubjetivo, tempo pedi-lo.
hediondo e admite tentativa. 9. Tentativa
2. Sujeito ativo Possível somente se o item criminis for
Qualquer pessoa. Sujeito ativo do crime é todo interrompido no início da execução do delito
aquele que pratica qualquer conduta por circunstâncias alheias à vontade do
necessária para a obtenção do resultado agente, bem como se comprovar a real
almejado durante o período consumativo do intenção dos delinquentes, qual seja, a de
crime, exemplo, o vigia do cativeiro, o sequestrar com a finalidade de obter vantagem
mensageiro, o seqüestrador, o mentor do como condição ou preço do resgate.
plano. Assim, pode-se reconhecer, na prática, a
3. Sujeito passivo extorsão mediante sequestro tentada nos
Qualquer pessoa, consignando que, na maioria seguintes casos:
das vezes, figuram no polo passivo o A) Prisão em flagrante;
sequestrado e quem sofre a lesão patrimônios, B) Fuga dos sequestradores quando
geralmente membro da família. A pessoa interceptados pela polícia;
jurídica pode ser sujeito passivo quando C) Conseguir a vítima desvencilhar-se do
compelida a pagar o valor do resgate. sequestrador.
10. Extorsão mediante sequestro qualificada
4. Objeto material Se o sequestro dura mais de 24h, se o
A conduta criminosa recai sobre a pessoa sequestrado é menor de 18 e maior que 60
humana privada de liberdade bem como aquele anos, ou se o crime é cometido por bando ou
que tem diminuído o seu patrimônio. quadrilha a pena será de reclusão de 12 a 20
5. Objeto jurídico anos. Quanto maior o tempo em que a vítima
Tutela-se, pelo rigor falena cominada, não estiver em poder do criminoso, maior será o
apenas o patrimônio e a liberdade de dano à saúde e integridade física.
locomoção do ofendido, mas também a sua Quanto ao crime cometido por bando ou
vida e a integridade física. quadrilha, entende-se como a reunião
6. Tipo objetivo permanente de mais de três pessoas para
A conduta gira em torno de sequestrar pessoa, cometer e não uma reunião ocasional para
isto é, privá-la de liberdade de locomoção, cometer o sequestro.
Prof. Saymer Souza

Predomina na doutrina e jurisprudência o EXTORSÃO INDIRETA


entendimento de que se o crime for praticado Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de
por mais de três pessoas que se reuniram dívida, abusando da situação de alguém,
especificamente para tal desiderato, sem documento que pode dar causa a
associarem-se de forma estável e permanente, procedimento criminal contra a vítima ou contra
haverá concurso de pessoas, não incidindo a terceiro:
qualificadora. Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
11. Extorsão mediante sequestro com lesão 1. Classificação doutrinária
corporal grave Crime comum, doloso, de dano, formal (exigir)
Se o fato resulta lesão corporal de natureza e material (receber), instantâneo, comissivo, de
grave a pena será de reclusão de 16 a 24 forma vinculada, unissubjetivo, unissubsistente
anos; se resulta a morte a pena será de (exigir) ou plurissubsistente (receber) e admite
reclusão de 24 a 30 anos. Observa-se de tentativa.
imediato a diferença deste delito com o de 2. Sujeito ativo
roubo qualificado pelo resultado. No Qualquer pessoa.
art. 157 do CP a lei diz: "se da violência 3. Sujeito passivo
resultar lesão grave ou morte"; logo, num roubo Qualquer pessoa. Em regra é o devedor que
em que vítima cardíaca diante de uma ameaça entrega o documento ao extorcionário e que
vem a falecer, haverá roubo em concurso pode lhe dar causa a um procedimento
material com homicídio e não latrocínio. O tipo criminal. Nada impede, todavia, o surgimento
exige o emprego da violência. Na extorsão de dois sujeitos passivos: o que entrega o
mediante sequestro a lei menciona: "se dos ato documento e aquele contra quem pode ser
resultar lesão grave ou morte", pouco iniciado o processo.
importando para qualificar o delito que a lesão 4. Objeto material
grave seja culposa ou dolosa.. Evidentemente, A conduta recai sobre o documento que pode
se a lesão grave ou morte resultar de caso dar causa a um procedimento criminal contra o
fortuito ou força maior, o resultado agravados devedor, como a confissão de um crime, a
não poderá ser imputado ao agente. falsificação de um título de crédito, uma
A qualificadora somente atinge o sequestrado duplicata fria etc.
e não terceira pessoa. 5. Objeto jurídico
12. Extorsão mediante sequestro e tortura Tutela-se o patrimônio e a liberdade individual
Entendemos que os institutos possuem do ofendido.
objetividades jurídicas distintas e autônomas. 6. Tipo objetivo
Na extorsão são mediante sequestro ofende-se A conduta consiste em exigir (obrigar, ordenar)
o patrimônio, a liberdade de ir e vir e a vida. Na ou receber (aceitar) um documento que pode
tortura atinge-se a dignidade humana, dar causa a procedimento criminal contra a
consubstanciada na integridade física e mental. vítima ou terceiro. É abusar da situação
Cm efeito, a nosso, juízo, nada impede o daquele que necessita urgentemente de auxílio
reconhecimento do concurso material de financeiro. Necessário para a configuração do
infrações. delito que o documento exigido ou recebido
13. Delação premiada pelo agente, que pode ser público ou particular,
O benefício somente se aplica quando o crime se preste a instauração de inquérito policial
for cometido em concurso de pessoas, contra o ofendido. Não se exige a instauração
devendo o acusado fornecer às autoridades do procedimento criminal, basta que o
elementos capazes de facilitar a resolução do documento em poder do credor seja
crime. Causa obrigatória de diminuição de potencialmente apto a iniciar o processo.
pena se preenchidos os requisitos 7. Tipo subjetivo
estabelecidos pelo parágrafo 4º do art. 159, O tipo requer não apenas o dolo genérico,
qual seja, denúncia à autoridade (juiz, vontade livre e consciente de exigir ou receber
delegado ou promotor) feita por um dos como garantia de dívida determinado
concorrentes, e esta facilitar a libertação da documento, mas também o dolo específico
vítima. Faz-se mister salientar que, se não constituído pela finalidade de abusar da aflitiva
houver a libertação do seqüestrado, mesmo situação de alguém. É o que a doutrina de
havendo delação do coautor, não haverá denomina dolo de aproveitamento.
diminuição de pena. 8. Consumação
Não se confunde com a confissão espontânea, Na ação de exigir, crime formal, a consumação
pois nesta o agente garante confessa sua ocorre com a simples exigência do documento
participação no crime, sem incriminar outrem. pelo extorcionário. A iniciativa aqui é do
agente, na conduta de receber, crime material,
Prof. Saymer Souza

a consumação ocorre com o efetivo


recebimento do documento. Nesse caso a
iniciativas provém da vítima.
9. Tentativa
Na modalidade exigir, entendemos não ser
possível sua configuração, embora uma
parcela da doutrina a admita com o sovado
exemplo, também oferecido nos crimes contra
a honra, de a exigência ser reduzida por
escrito, mas não chegar ao conhecimento do
ofendido. Na de receber, no entanto, é
perfeitamente possível, podendo o iter
criminis ser interrompido por circunstâncias
alheias à vontade do agente.

Você também pode gostar