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Saymer Souza
não podendo esperar mais, por ser a situação resultado se produza, só responde pelos atos
insuportável e que somente por meio do ato já praticados.
ilícito consiga resolver o problema de falta de
alimentação. Arrependimento posterior
8. Consumação Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou
Ocorre no momento em que o agente tem a grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou
posse tranquila da coisa, ainda que por pouco restituída a coisa, até o recebimento da
tempo. Consuma-se quando a coisa sai da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
esfera de disponibilidade e de proteção da agente, a pena será reduzida de um a dois
vítima e ingressa na disponibilidade do sujeito terços.
ativo. O arrependimento posterior é uma causa
Para a jurisprudência do STF, para a especial de diminuição de pena e só tem
consumação dos crimes de furto e de roubo aplicação nos crimes materiais, pois seu
basta a posse do bem em poder do agente, reconhecimento se verifica com a reparação do
independentemente de vigilância da vítima ou dano ou a restituição da coisa. O indivíduo que,
posse tranquila, de modo que a fuga logo após voluntariamente, decorrido de alguns dias após
o furto caracteriza a inversão da posse, e o o furto de um veículo, arrepende-se e
furto está consumado mesmo havendo comunica à vítima o local onde o mesmo se
perseguição imediata e consequente retomada encontra será beneficiado por esta entidade
do objeto (teoria do amotio). criminal.
Sendo crime instantâneo, a consumação se 11. Repouso Noturno
verifica no exato instante em que o delito é É o período em que as pessoas descansam de
cometido. O crime também restará consumado acordo com os costumes de cada região do
quando a coisa estiver ocultada, mesmo País, a vítima encontra-se mais vulnerável e
encontrando-se perto da vítima. por isso a pena será aumentada de um terço.
9. Tentativa Doutrina e jurisprudência são pacíficas ao
Crime material, exigindo assim o resultado admitirem sua aplicação apenas ao furto
naturalístico, a tentativa é perfeitamente simples.
admissível na hipótese de o agente não 12. Furto de Pequeno Valor e Criminoso
conseguir subtrair a coisa por circunstâncias Primário
alheias à sua vontade. Também caracteriza a Se o criminoso é primário e é de pequeno valor
tentativa na hipótese de ser perseguido pela a coisa furtada o juiz pode substituir a pena de
polícia e preso logo após a subtração, pois a reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a
coisa não saiu da esfera de proteção e dois terços ou aplicar somente a pena de
disponibilidade da vítima. multa. Primário é o sujeito que não é
10. Furto e a desistência voluntária, reincidente, isto é, aquele que mesmo
arrependimento eficaz, arrependimento cometendo outros crimes ainda não foi
posterior e crime impossível definitivamente condenando. Pequeno valor é
Diferentemente da tentativa em que a não aquele em que a coisa furtada não ultrapassa o
consumação ocorre por circunstâncias alheias valor equivalente ao salário mínimo vigente à
à vontade do agente, na desistência voluntária época do fato criminoso.
e no arrependimento eficaz (art. 15), a 13. O Privilégio e o Furto Qualificado
execução é interrompida pela própria vontade Segundo reiterada jurisprudência do STJ, não
do agente (medo, remorso, baixa qualidade do se aplica ao crime de furto qualificado o
objeto material, dor de barriga). Ocorre beneficio previsto no parágrafo 2º do
desistência voluntária, por exemplo, se A art. 155 do CP, uma vez que a existência da
ingressa na residência de B, mas por qualquer qualificadora inibe a aplicação do privilégio,
motivo, desde que voluntário, desiste de não obstante a primariedade e o pequeno valor
prosseguir e foge sem nada levar. Responde ou pequeno prejuízo, em razão da flagrante
por invasão de domicílio. Arrependimento é incompatibilidade.
considerado eficaz se A subtrai um livro de B e 14. Furto de Energia Elétrica
antes de ter sua posse tranquila devolve o Equipara-se a coisa móvel a energia elétrica ou
objeto. Sua conduta foi de encontro com à qualquer outra que tenha valor econômico.
continuidade do processo de execução de uma Captar energia antes de sua passagem pelo
típica iniciada. aparelho medidor configura o delito,
Desistência voluntária e arrependimento considerado permanente, possibilitando, assim,
eficaz a prisão em flagrante do agente enquanto
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste perdurar seu efeito. Se o agente, porém,
de prosseguir na execução ou impede que o alegrar o relógio de luz e passar a pagar
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complexo em que são conjugados emprego de posse tranquila da coisa, ainda que por pouco
violência ou ameaça e a subtração patrimonial. tempo ou quando a coisa subtraída sai da
6. Tipo Objetivo esfera de proteção, de disponibilidade da
O tipo refere-se à subtração de coisa móvel vítima. Também se diz consumado o delito
alheia, mas é acrescido pelo emprego de quando a vítima não recupera os objetos
violência, grave ameaça ou qualquer outro subtraídos, mesmo em casos de prisão em
meio que reduza a possibilidade de resistência flagrante. Restará consumado ainda quando a
da vítima. vítima permanece dominada pelo autor do
roubo no interior do veículo, perdendo a
A violência pode ser: disponibilidade do bem.
Na jurisprudência, porém, tem-se entendido
A) física (vis absoluta) que compreende as como consumado o delito quando ocorre a
vias de fato, lesão corporal leve, grave ou subtração dos bens da vítima, mediante
morte (essas duas últimas qualificam o delito); violência ou grave ameaça, ainda que, em
B) moral (vis compulsiva) que se constata em seguida, o próprio ofendido detenha o agente e
atemorizar ou amedrontar a vítima com recupere a res.
ameaças, gestos ou simulações, como a de 9. Tentativa
portar arma, por exemplo. A ameaça pode ser No roubo próprio o entendimento é pacífico no
dirigida à vítima ou a terceiro; sentido de sua admissibilidade. Ocorre quando
C) imprópria é a que reduz a capacidade de o agente após o emprego de violência ou grave
resistir, como a superioridade física do agente, ameaça não consegue efetivar a subtração da
colocar droga na bebida da vítima, jogar areia coisa por circunstâncias alheias à sua vontade
nos seus olhos, hipnotizá-la, induzi-la a ingerir nem tem a posse tranquila da coisa, ainda que
bebida alcoólica até a embriaguez etc. por breve tempo.
O roubo difere do furto qualificado pelo
rompimento de obstáculo porque neste a 10. Roubo impróprio
violência é exercida contra a coisa, naquele, É aquele em que o agente logo depois de
contra a pessoa. Em outras palavras, roubo subtraída a coisa emprega violência contra a
nada mais é que um furto cometido com pessoa ou grave ameaça a fim de assegurar a
violência ou grave ameaça contra a pessoa. impunidade do crime ou a detenção da coisa
Objetos que estão presos ao corpo como para si ou para terceiro.
brinco, corrente, relógio, pulseira etc., e que No roubo próprio a violência ou grave ameaça
são arrancados pelo ladrão caracterizam o é praticada antes ou durante a subtração da
roubo. Quando soltos como boné, óculos, coisa. No impróprio ela é cometida logo depois
bolsa, celular etc., o crime é de furto. de subtraída a coisa para assegurar a
Não se aplica no furto o princípio da impunidade do crime ou a detenção da coisa.
insignificância, haja vista que a conduta do Na hipótese de o agente ser surpreendido pela
agente revela maior periculosidade e atinge vítima em sua residência e abandonar o objeto
não apenas o patrimônio do ofendido, mas material empregando violência para a fuga, o
também a sua integridade física, sua saúde e crime a ser reconhecido é o de tentativa de
até sua vida em caso de latrocínio. furto em concurso material com lesão corporal.
Institutos como o crime impossível, o roubo de 11. Tentativa de roubo impróprio
uso, o pequeno valor da coisa, o estado de Entendemos não ser possível a tentativa de
necessidade etc., que podem ser admitidos no roubo impróprio. Ou o agente emprega a
furto não o são no roubo por tutelar outros bem violência ou a grave ameaça, logo depois de
jurídicos e não apenas o patrimônio do subtraída a coisa e o crime se consuma, ou
ofendido. não subtrai a coisa, mas emprega violência
7. Tipo Subjetivo para fugir e, então, o crime será de tentativa de
O tipo requer dolo duplo: o primeiro, genérico, furto em concurso material de lesão corporal.
consistente na vontade livre e consciente de E outra partem deve-se reconhecer o furto e
subtrair coisa móvel alheia mediante violência não o roubo impróprio na ação do agente que
ou grave ameaça; o segundo, elemento após a subtração se desvencilha do ofendido
subjetivo especial do tipo, exige que a que o agarra, sem contudo, ameaçá-lo ou
subtração seja para o agente ou para terceiro. agredi-lo e foge com a res.
É o dolo específico dos clássicos contido na
expressão "para si ou para outrem". 12. Causas de aumento de pena
8. Consumação do roubo impróprio I - se a violência ou ameaça é exercida com
Predomina na doutrina o entendimento de que emprego de arma;
o crime consuma-se quando o agente tem a
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No caso de ocorrer morte ou lesão corporal arrebatá-la, com o fim de obter vantagem de
grave, o fato de o coautor não haver disparado natureza econômica ou patrimonial. A posição
a arma, não afasta a sua responsabilidade pela dominante da doutrina crê a vantagem
extorsão qualificada. econômica deve ser indevida, pois do contrário
haveria sequestro em concurso formal com
EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO exercício arbitrário das próprias razoes.
(SEQUESTRO RELÂMPAGO) 7. Tipo subjetivo
Art. 159. Seqüestrar pessoa com o fim de O tipo requer além do dolo genérico, definido
obter, para si ou para outrem, qualquer como a vontade livre e consciente de
vantagem, como condição ou preço do resgate: seqüestrar pessoa, o elemento específico do
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. tipo, o denominado dolo específico, contido na
§ 1º Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e expressão "com o fim de obter para si ou para
quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 outrem", qualquer vantagem como condição ou
(dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou preço do resgate.
se o crime é cometido por bando ou quadrilha. 8. Consumação
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. Por tratar-se de crime formal, consuma-se com
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de o sequestro independentemente da vantagem
natureza grave: patrimonial, isto é, a consumação opera-se no
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro momento em que ocorre a privação da
anos. liberdade da vítima independentemente do
§ 3º - Se resulta a morte: efetivo recebimento do resgate. Suprimida a
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. liberdade de locomoção da vítima por um
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o período relevante, além do intuito de obter, por
concorrente que o denunciar à autoridade, esse meio, qualquer vantagem econômica, o
facilitando a libertação do sequestrado, terá crime está consumado.
sua pena reduzida de um a dois terços. Na jurisprudência predominante o
1. Classificação doutrinaria entendimento de que o crime se configura
Crime comum, doloso, formal, permanente, de mesmo quando os criminosos não conseguem
dano, plurisubsistente, de forma livre, obter o resgate e ainda que não tenham tido
comissivo, não transeunte, unissubjetivo, tempo pedi-lo.
hediondo e admite tentativa. 9. Tentativa
2. Sujeito ativo Possível somente se o item criminis for
Qualquer pessoa. Sujeito ativo do crime é todo interrompido no início da execução do delito
aquele que pratica qualquer conduta por circunstâncias alheias à vontade do
necessária para a obtenção do resultado agente, bem como se comprovar a real
almejado durante o período consumativo do intenção dos delinquentes, qual seja, a de
crime, exemplo, o vigia do cativeiro, o sequestrar com a finalidade de obter vantagem
mensageiro, o seqüestrador, o mentor do como condição ou preço do resgate.
plano. Assim, pode-se reconhecer, na prática, a
3. Sujeito passivo extorsão mediante sequestro tentada nos
Qualquer pessoa, consignando que, na maioria seguintes casos:
das vezes, figuram no polo passivo o A) Prisão em flagrante;
sequestrado e quem sofre a lesão patrimônios, B) Fuga dos sequestradores quando
geralmente membro da família. A pessoa interceptados pela polícia;
jurídica pode ser sujeito passivo quando C) Conseguir a vítima desvencilhar-se do
compelida a pagar o valor do resgate. sequestrador.
10. Extorsão mediante sequestro qualificada
4. Objeto material Se o sequestro dura mais de 24h, se o
A conduta criminosa recai sobre a pessoa sequestrado é menor de 18 e maior que 60
humana privada de liberdade bem como aquele anos, ou se o crime é cometido por bando ou
que tem diminuído o seu patrimônio. quadrilha a pena será de reclusão de 12 a 20
5. Objeto jurídico anos. Quanto maior o tempo em que a vítima
Tutela-se, pelo rigor falena cominada, não estiver em poder do criminoso, maior será o
apenas o patrimônio e a liberdade de dano à saúde e integridade física.
locomoção do ofendido, mas também a sua Quanto ao crime cometido por bando ou
vida e a integridade física. quadrilha, entende-se como a reunião
6. Tipo objetivo permanente de mais de três pessoas para
A conduta gira em torno de sequestrar pessoa, cometer e não uma reunião ocasional para
isto é, privá-la de liberdade de locomoção, cometer o sequestro.
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