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Direito Penal III

Professor: Gilberto Jorge


Rio Branco-AC, 2023/1
Título II – DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Conceito: É o complexo de bens ou interesses de valor econômico em relação de


pertinência com uma pessoa. (Nelson Hungria)
Não obstante o Direito Civil já disponha acerca do patrimônio alheio, o Direito Penal
teve como escopo reforçar a tutela do patrimônio de outrem, pois muitas vezes a sanção
civil não é suficiente para prevenir e repreender a prática de ilícitos civis patrimoniais – *
Anotação: Direito civil e penal protege o bem jurídico e patrimônio. Proteção conferida,
proteção não somente a propriedade mas também a posse ou detentor legitimo da coisa.
Proteção conferida: A maioria da doutrina entende que a proteção agasalha a
propriedade, a posse, e a detenção legítima de coisa móvel.
Capítulo I – DO FURTO
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (Somente há furto em coisa alheia
móvel, em imóvel não há como furta , a coisa deverá ser de natureza móvel).
A conduta caracterizadora do delito é a de subtrair, ou seja, apoderar-se o agente
para si ou para outrem de coisa alheia móvel, tirando-a de quem detém, diminuindo
consequentemente o patrimônio da vítima.
O objeto material do crime é a coisa alheia móvel.
Coisa alheia: É aquela que não pertence àquele que pratica a subtração, é elemento
normativo do tipo.
A subtração de coisa própria, reputando-a alheia, não configura furto, mas crime
impossível, em face da impropriedade absoluta do objeto material.
Não há furto quando se tratar de res nullius (coisas que nunca tiveram dono).
Ainda a res delicta (coisas abandonadas). Quanto a res desperdicta (coisas
perdidas) o Código Penal contempla um crime específico previsto no artigo 169,
“apropriação de coisa achada”.
Móvel: É aquilo que pode ser transportado de um lugar para outro. Embora a lei
civil trate aeronaves e embarcações como se fossem imóveis quanto às formalidades para
transferência da propriedade, esses são bens móveis, consequentemente podem ser
furtados.
Semoventes constituem espécie do gênero coisa móvel, inclusive prevê o Código
Penal, forma qualificada do crime de furto de semoventes no § 6º, do artigo 155.
Questões doutrinárias importantes:
Furto de uso: É indispensável que a subtração seja efetuada com ânimo definitivo,
sendo necessária à intenção de não devolver o bem. Na hipótese em que o agente retira o
bem da esfera de disponibilidade da vítima apenas para o seu uso transitório, passageiro, e
depois o devolve no mesmo estado e local em que se encontrava, não há que se falar em
realização da conduta tipificada no art. 155 do CP.
Furto famélico: É aquele cometido por quem se encontra em situação de
extrema miserabilidade, penúria, necessitando de alimento para saciar a sua
fome e/ou de sua família. O furto é típico, mas não ilícito (estado de
necessidade).
§ 1º Furto noturno: Causa de aumento da pena (1/3). A majorante funda-
se no maior perigo a que é exposto o bem jurídico em virtude da diminuição da
vigilância e dos meios de defesa daqueles que se encontram recolhidos a noite
para repouso.
Não basta que se passe durante o período noturno, é exigível que as
pessoas estejam recolhidas. Não há critério fixo para a conceituação dessa causa
de aumento da pena.
Quanto a aplicabilidade da aludida causa de aumento prevalece o
entendimento nos Tribunais Superiores, em especial no STJ, no sentido que:
“(...) COMPATIBILIDADE ENTRE A FORMA QUALIFICADA DO CRIME DE
FURTO E A CAUSA DE AUMENTO DO § 1º DO ART. 155, DO CP. WRIT NÃO
CONHECIDO. (...)
5. Conforme o entendimento consolidado no Resp 1.193.194/MG,
submetido ao rito dos recursos repetitivos, o privilégio do art. 155, § 2º,
do Código Penal é compatível com as qualificadoras objetivas do crime de
furto. Por consectário, a jurisprudência desta Corte, seguindo tal linha de
raciocínio, passou a entender ser o aumento relativo ao furto noturno
compatível com a figura do furto qualificado. Precedentes. (HC
391.007/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
22/08/2017, DJe 30/08/2017)
§ 2º Furto Privilegiado: Trata-se da possibilidade do juiz quando da prolação da
sentença proceder pela concessão de benefícios ao autor do ilícito.
O privilégio possui dois requisitos para sua configuração:
a) Primariedade do réu: Primário é o não reincidente, ainda que tenha no
passado várias condenações (RF 257/274). Existe corrente minoritária que entende
ser aquele que no momento da sentença, não ostenta qualquer condenação
irrecorrível pretérita (RTJ 71/840).
b) Coisa furtada de pequeno valor: É aquela que não ultrapassa o valor do
salário mínimo vigente a época do crime.
Presentes os requisitos, é direito subjetivo do réu que o juiz reduza a sua
pena.
Consequências do privilégio (de acordo com a previsão legal o juiz tem três
opções):
a) Substituir a pena de reclusão por detenção;
b) Diminuir a pena privativa de liberdade de 1/3 a 2/3;
c) Aplicar apenas a pena de multa.
Princípio da insignificância ou bagatela: o direito penal, em conformidade com
o princípio da dignidade humana, não pode constituir instrumento de dominação
política ou submissão cega ao poder estatal, ou seja, não deve criminalizar
comportamentos que produzem lesões insignificantes a bens jurídicos tutelados.
Tal princípio foi desenvolvido por Claus Roxin, segundo o qual as lesões
insignificantes deveriam ser excluídas do Direito Penal.
Possui natureza jurídica de causa de exclusão da tipicidade (material) da
conduta.
Requisitos para sua aplicação de acordo com o STF:
a) mínima ofensividade da conduta;
b) ausência de periculosidade social da ação;
c) o reduzido grau de reprovabilidade; e,
d) Inexpressividade da lesão jurídica provocada.
HABEAS CORPUS Nº 476.295 - AC (2018/0284994-4)
RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO ACRE
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO ACRE - GILBERTO JORGE FERREIRA
DA SILVA - AC001864.
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ACRE
PACIENTE : J. V. A.
EMENTA HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA E ABSOLVIÇÃO. 8 LATAS DE MANTEIGA DE 500G. REINCIDÊNCIA. NÃO
INFLUÊNCIA, NO CASO. EXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL.
Ordem concedida a fim de reconhecer a ausência de tipicidade material da conduta
imputada ao paciente na Ação Penal n. 0500483-10.2016.8.01.0001, da 3ª Vara Criminal
da Comarca de Rio Branco/AC, determinando, por consequência, a absolvição do réu.
§ 3º Cláusula de equiparação (Furto de energia):
No sobredito parágrafo o legislador equipara à coisa móvel a energia elétrica e outras
forma de energia que tenham valor econômico (térmica, nuclear, genética, etc...).
Furto de Sinal de TV: De acordo com o STF (2ª Turma), contrariando entendimento do
STJ, pacífico, não constitui crime, pois não pode ser considerada como energia, considerá-la
como implicaria em analogia in malam parte. No entanto, o STJ recentemente decidiu pela
não configuração de crime, sob o mesmo fundamento. (CC 173 968/SP)
§ 4º Furto Qualificado:
O legislador previu neste parágrafo uma das modalidades mais gravosa do crime de
furto, e elencou em quatro incisos as circunstâncias que o configuram:
I. com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II. com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III. com emprego de chave falsa;
IV. mediante concurso de duas ou mais pessoas.
I. A qualificadora pressupõe que o obstáculo seja danificado, causando
assim duplo prejuízo à vítima.
O art. 171 do CPP, exige a perícia no obstáculo para comprovação dos danos
nele deixados.
Existem entendimentos que a qualificadora em análise somente se configura
quando o obstáculo não é parte integrante do bem subtraído.
II. Abuso de confiança, fraude, escalada, destreza.
Abuso de confiança: a qualificadora em análise possui dos requisitos:
a) vítima por alguma razão deposite especial (grande) confiança em alguém
(ex.: grandes amigos, primos, irmãos, namorados, noivos etc).
b) agente se aproveite de alguma facilidade decorrente da relação de
confiança para realizar o ato de subtração.
Fraude: é qualquer artimanha utilizada pelo agente para facilitar ou
viabilizar a subtração.
Ex.: Fraude empregada para desviar a atenção da vítima e possibilitar
que o comparsa se apodere de alguns bens.
Ex: Criar uma página falsa de banco na internet para obter o número da
conta e a senha de alguém e depois fazer saques ou transferências não
autorizadas.
Escalada: constitui o ato de ingressar no local em que o furto será
realizado por uma via de acesso anormal.
Ex: pular um muro ou um portão, entrar pelo telhado ou pela varanda de
uma casa ou sacada de um prédio ou até mesmo escavando um túnel.
Destreza: é a habilidade que permite ao agente subtrair objetos que a
vítima traz consigo sem que ela perceba.
EX: batedor de carteiras.
III. Com emprego de chave falsa.
Considera-se chave falsa:
a) a cópia feita clandestinamente.
b) qualquer instrumento capaz de abrir a fechadura que não seja a chave
verdadeira. Estão aqui abrangidos instrumentos que têm outra finalidade específica
(ex.: chave de fenda e grampo de cabelo) e, principalmente, os instrumentos que os
próprios ladrões confeccionam para servir como chave falsa e que são conhecidos como
MIXA.
IV. Mediante concurso de pessoas:
Se o crime é praticado mediante concurso de duas ou mais pessoas.
É possível que o juiz condene uma só pessoa e aplique a qualificadora, desde que
haja prova do envolvimento de outra pessoa que por alguma razão não pode ser punida
(ex.: menor de idade, não identificado, isento de pena por ser filho da vítima etc).
Do furto qualificado privilegiado

O Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 511, assim redigida:


 ”É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º. do
art. 155 do CP nos casos de furto qualificado, se estiverem presentes a
primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for
de ordem objetiva”.
Imperioso ressaltar, que já havia quando da edição da súmula uma
tendência jurisprudencial a acatar o furto privilegiado – qualificado, de
modo que o STJ, com a Súmula 511, uniformizou a jurisprudência,
adotando praticamente a mesma solução doutrinária já corrente quanto
ao caso do homicídio.
FURTO QUALIFICADO PELO EMPREGO DE EXPLOSIVO OU DE ARTEFATO
ANÁLOGO QUE CAUSE PERIGO COMUM (Lei nº 13.654/18)
§ 4º-A. A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Crime
hediondo: art. 1º, IX, da Lei nº 8.072/90, redação dada pela Lei 13.964/19)
O objetivo da nova disposição é de punir com mais rigor os furtos realizados em
caixas eletrônicos localizados em agências bancárias ou em estabelecimentos
comerciais.
Isso porque tem sido cada vez mais comum que grupos criminosos, durante a
noite, explodam caixas eletrônicos para dali retirar o dinheiro depositado.
Dessa forma, o objetivo da lei foi o de, em tese, punir mais severamente o réu.
O entendimento que prevalecia era o de que o agente respondia por furto
qualificado pelo rompimento de obstáculo à subtração da coisa, nos termos do art. 155,
§ 4º do CP em concurso formal impróprio com o crime de explosão majorada (art. 251,
§ 2º do CP).
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o
furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou
informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação
de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do
resultado gravoso:
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é
praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional;
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra
idoso ou vulnerável.
Ambas previsões são oriundas de recentes alterações no Código Penal,
decorrentes da entrada em vigor da Lei 14.155, de 27 de maio de 2021.
§ 5º Furto de veículo automotor.
Trata-se de circunstância qualificadora que incide quando a subtração for
de veículo automotor que venha a ser levado para outro Estado ou país.
A redação do dispositivo condiciona a incidência dessa qualificadora ao
sucesso do agente em transpor a divisa ou a fronteira em poder do veículo.
§ 6º Furto de semoventes domesticáveis de produção.
A Lei nº 13.330/16 acrescentou ao § 6º, do artigo 155 do Código Penal a
incidência de uma nova qualificadora para o crime de furto.
Dessa forma se o agente subtrai o semovente domesticável de produção
(ex: boi, galinha, porco, cabra, etc), ele responderá pela previsão contida no
mencionado dispositivo.
Abigeato é o nome dado pela doutrina para o furto de gado.
FURTO QUALIFICADO EM CASO DE SUBTRAÇÃO DE SUBSTÂNCIA EXPLOSIVA
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou também o § 7º ao art. 155 do Código Penal
prevendo outra circunstância qualificadora para o crime de furto.
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a
subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
Substância explosiva “é aquela capaz de provocar detonação, estrondo, em
razão da decomposição química associada ao violento deslocamento de gases.”
(MASSON, Cleber. Código Penal comentado. São Paulo: Método, 2014, p. 685).
Nessa hipótese o sujeito ativo do crime é punido por furtar uma substância
explosiva ou acessório que, conjunta ou isoladamente, possibilite sua fabricação,
montagem ou emprego. Ex: sujeito que furta uma banana de dinamite.
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime comum.
Sujeito passivo: O proprietário, possuidor ou detentor.
Objeto jurídico: Proteção do patrimônio de outrem.
Da consumação: Quatro são as teorias que explicam a consumação do crime de
furto, a seguir:
Contrectatio: a consumação se dá pelo simples contato entre o agente e a coisa
alheia;
Amotio: se consuma quando a coisa passa para o poder do agente, é a adotada
pelo Brasil, inclusive admitida pelo STF.
Ablatio: a consumação ocorre quando a coisa, além de apreendida, é transportada
de um lugar para o outro;
Illatio: exige que a coisa seja levada ao local desejado pelo ladrão para tê-la a salvo.
Da tentativa: Perfeitamente possível por se tratar de crime material e
plurissubsitente.
Estabelecimentos comerciais vigiados eletronicamente tornam o crime de furto
impossível?
Súmula 567: Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico
ou por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial,
por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto. (Súmula
567, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 24/02/2016, DJe 29/02/2016).
Art. 156. Furto de coisa comum.
Cuida-se de crime próprio apenas o condômino, coerdeiro ou sócio podem ser
sujeitos ativos.
Condomínio existe quando o bem pertence a mais de uma pessoa;
Herança é uma universalidade de bens, cujo domínio e posse se transferem aos
herdeiros.
Sociedade: consiste na reunião de duas ou mais pessoas para a realização de
objetivos comuns.
§ 1º Somente se procede mediante representação.
É crime de ação penal pública condicionada a representação.
§ 2º. Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo o valor não
exceda a quota do agente.
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime próprio.
Sujeito passivo: O condômino, coerdeiro e sócio.
Objeto jurídico: A propriedade e a posse da coisa comum.
Da consumação: Ocorre com a posse tranquila do bem.
Capítulo II – DO ROUBO E DA EXTORSÃO

Este capítulo centra-se em duas figuras típicas: o roubo e a extorsão, sendo que
entre elas, há em comum o fato de o desfalque patrimonial ter sido perpetrado
mediante violência ou grave ameaça a pessoa.
Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
O roubo é um crime complexo, porque atenta contra mais de um bem jurídico
protegido, ou seja, o patrimônio e a integridade corporal ou a liberdade individual.
Portanto, é um crime pluriofensivo, pois atinge mais de um bem jurídico
tutelado.
MEIOS EXECUTÓRIOS:
a) Grave ameaça;
b) Violência física;
c) Qualquer outro meio que reduza à impossibilidade de resistência da
vítima.
Protege-se no crime de roubo a inviolabilidade do patrimônio, mas também é
objeto de proteção a liberdade, a integridade física, bem como a vida (latrocínio).
O Código Penal prevê o roubo próprio e impróprio.
Roubo próprio: O constrangimento à vítima, mediante grave ameaça ou
violência (própria ou imprópria) à pessoa, é empregado no início ou
simultaneamente à subtração da coisa alheia móvel, ou seja, antes ou durante a
retirada do bem. (caput, do artigo 157).
Roubo impróprio: O agente logo após subtraída a coisa, emprega
violência ou grave ameaça a pessoa, a fim de assegurar a impunidade do
crime ou a detenção da coisa para si ou para outrem. (§ 1º, do art. 157 do
CP).
O princípio da insignificância é incompatível com o roubo.
Não é admissível a aplicação do privilégio do furto, previsto no
artigo 155, § 2º, ao crime de roubo.
O Roubo de uso configura crime (STJ. 5ª Turma. Resp 1.323.275-
GO, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 24/4/2014).
CAUSAS DE AUMENTO: (majorantes, art. 157,§ 2° do CP)
I. Revogado pela Lei nº 13.654/18.
O art. 157, § 2º, I, previa o seguinte:
§ 2º A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
O aumento se justificava por “haver maior risco à integridade física e à vida do
ofendido e de outras pessoas e pela facilitação na execução do crime” (MASSON,
Cleber. ob. cit., p. 644). 
O que era ser considerado “arma” para os fins do art. 157, § 2º, I, do CP?
A jurisprudência possuía uma interpretação ampla sobre o tema.
Assim, poderiam ser incluídos no conceito de arma:
- a arma de fogo;
- a arma branca (considerada arma imprópria), como faca, facão, canivete;
- e quaisquer outros “artefatos” capazes de causar dano à integridade física do ser
humano ou de coisas, como por exemplo uma garrafa de vidro quebrada, um garfo, um
espeto de churrasco, uma chave de fenda etc.
II. Concurso de duas ou mais pessoas:
Ao contrário do furto onde sobredita causa qualifica o crime, no roubo majora a
pena.
Súmula 442 do STJ: "É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo
concurso de agentes, a majorante do roubo".
Prevalece o entendimento que os partícipes, os inimputáveis e agentes não
identificados também são computados.
III. Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância:
É imprescindível que a vítima esteja prestando serviço para alguém. Quando a vítima
está transportando seus próprios valores, não há que se falar na incidência da causa de
aumento, pois não haverá serviços de transportes.
Prevalece o entendimento que abrange qualquer tipo de valor (caminhão
transportando carne; bebidas; cigarros; eletrodomésticos).
IV. Subtração de veículo automotor:
Ao contrário do furto, onde essa circunstância qualifica o delito, no roubo
trata-se de majorante.
V. Se o agente mantem a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade:
(Crime hediondo: art. 1º, II, “a”, da Lei nº 8.072/90, redação dada pela Lei
13.964/19)
Na hipótese a privação da liberdade da vítima, é um meio necessário para o
sucesso da detenção da coisa ou para impunidade do crime (garantir a fuga).
A privação não é prolongada. Dura o tempo necessário para o sucesso da
empreitada.
Ex: Assalto a casa, coloco todos os moradores no banheiro, subtraio
pertences e vou embora.
VI. Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que,
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego .
Nessa hipótese o agente, mediante violência ou grave ameaça, subtrai
substância explosiva ou acessório que, conjunta ou isoladamente, possibilite
a sua fabricação, montagem ou emprego.
Ex: Agente que, mediante violência ou grave ameaça, subtrai uma
banana de dinamite.
  VII – se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de
arma branca (Lei nº 13.964/19);
Com o advento da Lei 13.964/19, objetiva o legislador reparar um
equívoco oriundo da legislação anterior (Lei 13.654/18) que suprimiu aludida
causa de aumento.
Com o advento da Lei 13.964/19, buscou-se a correção da alteração
legislativa anterior, incluindo-se mais uma majorante, a do emprego de arma
branca.
Nesse contexto surge a indagação quanto a possibilidade da utilização
também de armas impróprias para fins de incidência da referida causa de
aumento.
A escassa doutrina acerca da matéria entende que somente é aplicável a
causa de aumento de pena no caso de emprego de arma branca, ou seja, de
objetos fabricados para utilização como arma, como um punhal ou canivete, ou,
pelo menos, que tenham lâmina ou superfície cortante, como uma faca de cozinha.
Desta feita, é necessário aguardar as decisões proferidas acerca do tema
pelo Judiciário.
Antes da Lei 13.654/18 Após as alterações da Lei 13.654/18 Após as alterações da Lei 13.964/19

§ 2º A pena aumenta-se de um § 2º A pena aumenta-se de um § 2º A pena aumenta-se de um


terço até a metade: terço até a metade: terço até a metade:
I. Se a violência ou ameaça é I. (revogado) VII. se a violência ou grave ameaça
exercida com emprego de arma é exercida com emprego de arma
branca;
   Do aumento da pena de um terço a metade:
Para proceder ao aumento, é necessário que o magistrado
apresente fundamentação com base nas circunstâncias do caso concreto.
Não pode o juiz utilizar como critério apenas o número de causas
de aumento existentes. Isso porque o critério para elevação da pena em
função das causas de aumento no crime de roubo não é matemático,
mas subjetivo, de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, o qual solidificou tal entendimento com a edição de súmula, a
seguir:
Súmula 443 do STJ: “O aumento na terceira fase de aplicação da
pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação
concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação
do número de majorantes.”
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Lei nº 13.654/18).
I – Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
(Princípio da continuidade normativa típica).
É Crime hediondo: art. 1º, II, “b”, da Lei nº 8.072/90, redação dada pela Lei
13.964/19.
II – Se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
No que concerne ao inciso I, para que ocorra roubo circunstanciado é necessário
que a arma seja de fogo.
Quanto ao inciso II, para que se caracterize sobredita causa de aumento da pena
é necessário o preenchimento de dois requisitos:
I. O roubo resultou em destruição ou rompimento de obstáculo;
II. Essa destruição ou rompimento foi causado pelo fato de o agente ter
utilizado explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum.
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso
restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019, Crime hediondo: art. 1º, II, “b”, da Lei nº 8.072/90, redação dada pela Lei
13.964/19).
A pena do caput, de reclusão, de quatro a dez anos, e multa, deve ser aplicada em dobro, ou
seja, passa a ser de 8 a 20 anos de reclusão, se houver emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido, bem como é crime hediondo.
Cuida-se de norma penal em branco, de modo a depender da definição dada atualmente
pelo Decreto 9.847/2019, que regulamenta a Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento).
Do concurso de causas de aumento
Na hipótese de crime de roubo onde incida a causa de aumento relativa ao uso de arma de
fogo (art. 157, § 2º-A, I) e também alguma majorante do § 2º do art 157, a solução apresentada é a
seguinte:
Art. 68, parágrafo único, do CP. No concurso de causas de aumento ou de diminuição
previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição,
prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.
ROUBO QUALIFICADO: (QUALIFICADORAS § 3º, I e II, art. 157 do CP)
§ 3º Se da violência resulta: ( Lei nº 13.654/18)
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito)
anos, e multa; (Lei nº 13.654/18)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e
multa.
A lei nova alterou a redação do § 3º, do artigo 157 do Código Penal,
sobrevindo duas mudanças.
I. A redação fora melhorada dividindo os tipos penais em incisos
diferentes.
II. Aumento da pena do roubo qualificado pela lesão grave para 7 a 18
anos.
Inciso I. A primeira hipótese pressupõe que a violência empregada pelo
ladrão provoque lesão grave sem que tenha havido dolo de matar, porque neste
último caso o crime seria o de tentativa de latrocínio.
Inciso II. Conforme previsão legal a tipificação do latrocínio quando a morte é
uma decorrência da VIOLÊNCIA empregada durante e em razão do roubo. Quando
alguém rouba apenas usando de grave ameaça e esta provoca a morte da vítima, o
agente responde por roubo simples em concurso formal com homicídio culposo.
Ambas disposições são consideradas hediondas em conformidade com o
previsto no art. 1º, II, “c”, da Lei nº 8.072/90, redação dada pela Lei 13.964/19).
Por sua vez, quando o agente emprega violência durante o roubo e esta
provoca a morte da vítima existe latrocínio, quer tenha havido dolo, quer tenha
havido culpa em relação ao resultado morte.
De acordo com a súmula 603 do STF, o latrocínio é sempre julgado pelo juízo
singular, ainda que a morte seja dolosa.
Súmula 603 do STF: “A competência para o processo e julgamento de
latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri.”
Trata-se crime complexo, porque afeta mais de um bem jurídico: patrimônio e
vida.
SOLUÇÕES:
São possíveis quatro situações:
I. Subtração e morte tentadas: latrocínio tentado.
II. Subtração e morte consumadas: latrocínio consumado.
III. Subtração tentada e morte consumada: latrocínio consumado.
Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se
consuma, ainda que não realize o agente a subtração da vítima”.
IV. subtração consumada e morte tentada: latrocínio tentado.
Entendeu-se que o próprio tipo legal vinculou a consumação do latrocínio ao
evento morte.
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime comum.
Sujeito passivo: O proprietário, possuidor ou detentor.
Objeto jurídico: Proteção do patrimônio de outrem.
Da consumação: No roubo próprio o crime se consuma com a
subtração do bem mediante violência ou grave ameaça. No roubo impróprio a
consumação se verifica com o emprego da violência ou grave ameaça.
DA EXTORSÃO
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito
de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se
faça ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
O crime de extorsão consiste em constranger alguém, mediante violência contra a
pessoa ou grave ameaça e com o intuito de obter indevida vantagem econômica a fazer,
deixar de fazer ou tolerar que se faça algo.
É crime complexo, pois também atenta contra mais de um bem jurídico protegido, no
caso o patrimônio, a integridade física, a liberdade e a vida.
ELEMENTARES:
a) Fazer algo (ex.: entregar dinheiro);
b) Deixar de fazer algo (ex.: não cobrar uma dívida);
c) Tolerar que se faça algo (ex.: permitir o uso de imóvel sem cobrar por isso).
A extorsão em muito se assemelha ao roubo, no entanto as diferenças existentes são facilmente
perceptíveis:
1. Roubo: Subtração;
Extorsão: Constrangimento.
2. No roubo o agente atua sem participação da vítima;
Na extorsão o ofendido colabora ativamente com o autor da infração penal.
Causas de aumento da pena (aumento da pena de 1/3 a 1/2):
§ 1º.
a) Crime cometido por duas ou mais pessoas;
b) Emprego de arma.
Formas qualificadas ( remissivas ao § 3º, do artigo 157 do CP)
§ 2º.
a) Ocorrência de lesão corporal grave;
b) Morte.
§ 3º Sequestro relâmpago.
Qualifica o crime quando cometido mediante a restrição da liberdade da
vítima, e essa condição é necessária, para a obtenção da vantagem econômica. Se
resulta lesão grave ou morte (aplicam-se as penas dos § 2º e 3º, do art. 157 do CP)
Em conformidade com a Lei dos Crimes Hediondos, a extorsão é crime
hediondo nas modalidades previstas nos artigos: 158, § 3º, e 159, caput, § 1º; 2º;
3º; de acordo com o art. 1º, III e IV, da Lei nº 8.072/90).
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime comum.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa.
Objeto jurídico: A inviolabilidade patrimonial e a pessoa.
Da consumação: Com emprego da violência ou grave ameaça, independente
de obtenção de vantagem indevida. É crime formal (Súmula 96 do STJ).
Da extorsão mediante sequestro
Art. 159. Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: 
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. 
Cuida-se de modalidade do crime de extorsão, no entanto este trata da
privação da liberdade da vítima tendo por fim a obtenção da vantagem, como
condição ou preço do resgate.
Em verdade, trata-se de crime complexo, formado pela fusão de dois
crimes: sequestro ou cárcere privado + extorsão, tutela-se a inviolabilidade
patrimonial e a liberdade de locomoção, além da integridade física, diante da
previsão das formas qualificadas pelo resultado lesão corporal grave ou morte.
É crime hediondo em todas as suas formas de acordo com previsão contida
no artigo 1º, IV, da Lei nº 8.072/90.
De acordo com o texto legal, o crime se consuma no momento do sequestro, ou seja,
no momento em que a vítima é capturada. O recebimento do resgate pelos bandidos é mero
exaurimento do delito, que constitui crime formal. É crime permanente, possibilitando a
prisão em flagrante enquanto a vítima não tiver sido libertada.
A vantagem visada pelo autor do ilícito dever ser de natureza patrimonial.
FORMAS QUALIFICADAS
§ 1º .
Pena: 12 a 20 anos.
a) Se o sequestro dura mais de 24h;
b) Se a vítima tem menos de 18 ou é maior de 60 anos;
c) Se o crime for cometido por quadrilha ou bando.
§ 2º
Pena: 16 a 24 anos.
Ocorrência do resultado lesão corporal grave.
§ 3º
Pena: 24 a 30 anos.
Ocorrência do resultado morte.
DELAÇÃO EFICAZ.
§ 4º. Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de
um a dois terços.
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime comum.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa.
Objeto jurídico: Inviolabilidade patrimonial e pessoal.
Da consumação: Com a privação da liberdade da pessoa independente da obtenção
da vantagem (crime formal).
Da extorsão indireta.
Art. 160. Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de
alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou
contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Como bem menciona Fernando Capez, “destina-se este dispositivo a coibir torpes e
opressivos expediente a que recorrem os agentes para garantir-se contra o risco do
dinheiro mutuado. São bem conhecidos esses recurso como o de induzir o necessitado
cliente a assinar um contrato simulado de deposito ou forjar no título de dívida a firma de
algum parente abastado, de modo que, não resgatada a dívida no vencimento ficará o
mutuário sob a pressão da ameaça de um processo por apropriação indébita ou falsidade”.
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime comum.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa, geralmente o devedor.
Objeto jurídico: Inviolabilidade patrimonial e pessoal.
Da consumação: Crime formal, se consuma com a mera exigência .
CAP. III. DA USURPAÇÃO
As normas contidas neste capítulo em sua maioria tem como objetivo a proteção
da propriedade imóvel, ao contrário dos delitos de furto, roubo e extorsão, cuja a
proteção abarca a propriedade móvel.
A usurpação é um ataque à propriedade imóvel pela via do desapossamento. Luiz
Régis Prado.
Art. 161. Alteração de limites.
Cuida-se de crime contra o patrimônio onde se objetiva a proteção da propriedade
e posse da coisa alheia móvel.
As ações que o caracterizam são: suprimir e deslocar.
Objeto do crime: supressão ou deslocamento de marco, tapume ou outro sinal
indicativo de linha divisória.
§ 1º. Condutas equiparadas:
Art. 161, I. Usurpação de águas.
O bem jurídico protegido também é a posse e a propriedade
imobiliária, com ênfase para garantir a livre utilização, proveito e gozo das
águas por seu titular.
Importa destacar que até mesmo o proprietário pode praticar aludido
crime.
Art. 161, II. Esbulho possessório
É a invasão, ou seja, a penetração no terreno ou edifício alheio, com
emprego de violência física ou moral, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas.
São ilícitos de competência dos Juizados Especiais Criminais. A ação
penal é de natureza pública incondicionada.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta
cominada.
Ocorrência de concurso material de crimes se da violência empregada se
configurar qualquer dos delitos contra a pessoa.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência,
somente se procede mediante queixa.
Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, determina
o § 3º que a ação penal será privada.
Art. 162. Supressão ou alteração de marcas em animais.
Na norma supra a tutela penal recai sobre a propriedade de semovente,
considerados como aqueles suscetíveis de movimento próprio. A proteção do
animal não é o bem jurídico protegido, mas unicamente o meio de proteger a
propriedade do gado ou rebanho.
CAP. IV. DO DANO
Art. 163. Dano.
O artigo em tela cuida propriamente do dano físico, ou seja, daquele que recai
diretamente sobre a coisa, causando nesta, modificação de ordem material.
Apesar de ser um crime contra o patrimônio, o fim de obtenção de vantagem
econômica não constitui seu elemento essencial, nada impedindo, contudo sua
presença.
As ações que o caracterizam são: destruir, deteriorar e inutilizar.
Formas qualificadas. Parágrafo único:
a) Com violência a pessoa ou grave ameaça;
b) Uso de substância inflamável ou explosiva;
c) Dano contra o patrimônio da União, do Estado, do Município e da
Empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista;
d) Por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a
vítima.
Nesta modalidade é de ação penal privada.
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime comum.
Sujeito passivo: Proprietário, possuidor e detentor.
Objeto jurídico: Inviolabilidade patrimonial e pessoal.
Da consumação: Consuma-se com o efetivo dano.
Art. 164. Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia.
Objetiva a inviolabilidade da posse e da propriedade do bem móvel contra a ação
danosa dos animais que nele são introduzidos, os quais destroem as plantações ou
vegetações, cercas e etc.
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime comum.
Sujeito passivo: Proprietário e o legítimo possuidor.
Objeto jurídico: Tutela-se propriedade e a posse imóvel, especial contra danos
causados por animais.
Da consumação: Consuma-se com o efetivo dano.
Art. 165. Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico.
Tacitamente revogado pelo art. 62, I, da Lei nº 9.605/98.
Art. 166. Alteração de local especialmente protegido.
Tacitamente revogado pelo art. 63, da Lei nº 9.605/98.
Da ação penal.
Art. 167. Nos casos do art. 163, IV, do seu parágrafo e do art. 164,
somente se procede mediante queixa.
Nas demais situações é crime de ação penal pública incondicionada.

CAP. V. DA APRORIAÇÃO INDÉBITA


Art. 168. Da apropriação indébita.
A ação incriminada é apropriar-se de coisa alheia móvel, de tem a posse ou
a detenção. Nesse caso o verbo apropriar tem o significado de tomar para si,
fazer sua coisa alheia.
Na apropriação indébita a coisa não é subtraída ou ardilosamente captada,
pois já estava no legítimo e desvigiado poder de disponibilidade física do agente.
Ex.: Representante comercial que detém os bens para a venda fora da
esfera de vigilância do proprietário e vem a se apossar destes;
É crime material, em se tratando de bem público configura o crime de
peculato apropriação (art. 312, caput, 1ª parte, do CP).
Causas de aumento da pena (1/3):
I. Depósito necessário (art. 647 do CC);
É aquele atribuído no desempenho de função legal ou na ocorrência de
calamidades, ou, ainda, de acordo com o art. 649 do CC, no caso de depósito por
equiparação.
II. Condição de tutor, curador, síndico, inventariante, testamenteiro ou
depositário judicial;
III. Em razão de ofício, emprego ou profissão;
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Qualquer pessoa física, diversa do proprietário que tenha a
posse ou a detenção de coisa lícita de coisa alheia móvel
Sujeito passivo: Proprietário, e excepcionalmente, o mero possuidor.
Objeto jurídico: A posse e a propriedade da coisa alheia móvel.
Da consumação: No momento em que o sujeito inverte a posse ou a
detenção com o animo de apropriar-se.
Art. 169. Apropriação havida por erro, caso fortuito ou força da
natureza.
Erro: É a falsa percepção da realidade.
Ex.: Pagamento feito a “A”, sendo “B”, o credor.
Caso fortuito: É o efeito produzido por uma causa estranha.
Ex: Animal passar para outra propriedade.
Força da natureza: É o efeito produzido por uma causa estranha.
Ex.: Vento.
Apropriação de tesouro
I. Quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em
parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio;
Apropriação de coisa achada
II. Quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou
parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de
entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias.
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime comum.
Sujeito passivo: O titular da coisa desviada ou perdida por
erro, caso fortuito ou força da natureza.
Objeto jurídico: Patrimônio de outrem.
Da consumação: No momento em que se apropria da coisa
alheia móvel.
Art. 170. Aplica-se a apropriação indébita o privilégio do §
2º, do artigo 155 do Código Penal.
CAP. VI. DO ESTELIONATO E DE OUTRAS FRAUDES
Objetiva o capítulo a proteção ao patrimônio atingido pela prática de atos
enganosos pelo agente.
Art. 171. Estelionato.
Trata-se de crime em que, em vez da violência ou grave ameaça, o agente
emprega um estratagema para induzir em erro à vítima, levando-a a ter uma
errônea percepção dos fatos, ou para mantê-la em erro, utilizando-se de manobras
para impedir que ela perceba o equívoco que labora.
Pune-se aquele que, por meio de astúcia e esperteza, engodo, despoja a
vítima de seu patrimônio.
Elementos:
1) Fraude;
2) Vantagem ilícita;
3) Prejuízo alheio.
Estelionato acompanhado pelo ato de falsificação de documento:
STJ (responde por ambos os crimes em concurso material)
STF (dois crimes em concurso formal, uma conduta dividida em dois
atos)
O crime de falso absorve o estelionato, se o documento for público, já
que a pena de falso é mais severa (princípio da absorção).
§1º. Forma privilegiada (artigo 155, § 2º, do CP);
§ 2º. Disposição de coisa alheia como própria.
I. Ex.: Vender um imóvel que não lhe pertence;
II. Ex.: Vender um veículo, alegando não possuir dívida, quando este é alienado a uma instituição financeira.
III. Ex.: Vender gado que era objeto de penhor;
IV. Ex.: Vender um objeto como se fosse novo;
V. Exs.: Ater fogo em um imóvel; praticar autolesão.
VI. Deve haver fraude (Súmula 246 STF), cheque pós-datado crime, pois é mera garantia de crédito.
Fraude eletrônica
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de
informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou
envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. 
(Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso, aumenta-se de
1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território
nacional.     (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
             § 3º. Causa de aumento da pena (entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência
social ou beneficência.
§ 4º. Aplica-se a pena em dobro se o crime é cometido contra idoso .
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
I – a Administração Pública, direta ou indireta;
II – criança ou adolescente;
III – pessoa com deficiência mental; ou
IV – maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.
O parágrafo supra decorre da inovação legislativa oriunda da Lei 13.964/19, e
aplica ao estelionato e a todas as modalidades equiparadas (como a defraudação de
penhor). Traz o dispositivo hipóteses em que a ação penal passa a ser pública
incondicionada.
A regra é a ação penal pública condicionada à representação. A ação penal
passa a ser incondicionada se o delito for praticado contra a Administração Pública,
direta ou indireta; contra criança ou adolescente; contra pessoa com deficiência
mental; contra maior de 70 (setenta) anos de idade ou contra incapaz.
 
Elementos do tipo:
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, física ou jurídica.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa, física ou jurídica.
Objeto jurídico: Tutela a inviolabilidade do patrimônio.
Da consumação: É crime de duplo resultado, ou seja, obtenção de vantagem ilícita e
prejuízo alheio.
Art. 172. Duplicata simulada.
A conduta incriminada consiste na emissão, pelo agente, de fatura, duplicata ou nota
de venda simulada.
É crime de mera conduta.
Parágrafo único. Consiste na punição a aqueles que fraudam os Livros de Registro e
Duplicatas das empresas que vendem através da emissão de duplicatas.
Art. 173. Abuso de incapazes.
A ação incriminada consiste em abusar de menor, alienado ou débil mental, visando
proveito próprio ou alheio, induzindo-os a prática de ato suscetível de produzir efeitos
jurídicos e atentatórios ao patrimônio dos incapazes.
Exs.: Pai de incapaz que realiza ato em prejuízo do próprio filho; Débil mental que
outorga procuração para a venda de seus bens.
Art. 174. Induzimento a especulação.
A ação incriminada consiste no agente abusar da vítima, que se encontra nas
condições estabelecidas no tipo, induzindo-a prática de jogo ou aposta, ou à especulação com
títulos e mercadorias saber ser tal operação ruinosa.
Ex.: Agente orienta a um simples comerciante que invista todo o seu capital em
ações de uma empresa que sabe está em processo de falência.
Art. 175. Fraude no comércio.
Existe posicionamento doutrinário que o tipo fora revogado com o advento do Código
de Defesa do Consumidor e da Lei de Crimes contra a ordem tributária.
Art. 176. Outras fraudes.
Objetiva-se a proteção ao patrimônio daquele que se dedica à atividade de
oferta de bebidas, alimentos, alojamentos ou meios de transporte, contra a ação
fraudulenta do indivíduo que, sem dispor dos meios necessários para coibir os
custos, usufruí de tais serviços.
Ações:
a) Tomar refeição;
b) Alojar-se em hotel;
c) Utilização de meio de transporte;
Parágrafo único:
É crime de ação penal pública condicionada a representação; o juiz pode
deixar de aplicar a pena (perdão judicial), conforme as circunstâncias em que se
derem os fatos.
Art. 179. Fraude à execução.
A conduta incriminada consiste em fraudar a execução obstaculizando,
desta forma, a execução da sentença judicial ou de títulos executivos
extrajudiciais.
Ex.: O agente nomeado depositário, dá mau destino aos bens
penhorados.
CAP. VII. DA RECEPTAÇÃO
Art. 180. Receptação.
A norma incriminada reprime a conduta consistente em adquirir, receber,
transportar, conduzir, ou ocultar em proveito próprio ou alheio coisa que sabe
ser produto de crime, ou influir para que terceiro de boa-fé a adquira receba ou
oculte.
O tipo possui duas modalidades:
Própria: Consiste no agente praticar qualquer um dos verbos descritos no tipo penal
sabendo que o objeto é produto do crime.
Imprópria: Consiste no agente influir para que terceiro de boa-fé adquira produto que
saiba ser oriunda da prática de delito anterior.
§ 1º. Forma qualificada
Trata-se de crime próprio em razão de que somente pode ser praticado por aquele
que desempenha atividade industrial ou comercial.
§ 2º Equiparação a atividade comercial
Equipara à atividade comercial, para efeito de parágrafo anterior, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.
§ 3º Receptação culposa
Consiste na conduta daquele que adquirir coisa que por sua natureza, desproporção
entre o valor e o preço, condição de quem a oferece. São circunstâncias não cumulativas que
fazem presumir a qualidade espúria da coisa.
§ 4º Autonomia da receptação
É imprescindível a ocorrência de crime anterior, havendo, portanto uma
acessoriedade objetiva entre ambas as infrações. Contudo, não obstante essa
acessoriedade no âmbito material, há plena autonomia no plano processual, de
forma que ação penal no crime de receptação independe da apuração de crime
anterior, bastando à prova de sua existência.
§ 5º Receptação privilegiada
Consiste no mesmo privilégio concedido no crime de furto (art. 155, § 2º, do
CP).
§ 6º Receptação qualificada
Menciona que em se tratando de bens instalações da União, Estado e
Município, e demais concessionárias do serviço público a pena prevista no caput
aplica-se em dobro.
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime comum.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa.
Objeto jurídico: Patrimônio de outrem.
Da consumação: No momento em que pratica qualquer dos
comportamentos previstos no tipo penal.
Art. 180-A. Receptação de animal.
O delito supra foi introduzido pelo legislador com o advento da Lei nº
13.330/2016.
O tipo é punido com reclusão de 2 a 5 anos, infração penal de maior
potencial ofensivo, não admitindo qualquer das medidas despenalizadores da Lei
9.099/95, salvo se tentado, caso em que será possível o beneplácito da suspensão
condicional do processo.
A objetividade jurídica é, evidentemente, o patrimônio, com ênfase na produção ou
comercialização de semoventes domesticáveis de produção, diante do crescente número
de furtos e roubos cometidos em áreas rurais, o que consequentemente fomenta a
receptação (e outros bens).
De acordo com Rogério Sanches não é aconselhável que se crie tipo penal
específico simplesmente em razão da natureza do objeto receptado. São, afinal, diversos
os produtos que, por inúmeras razões, passam a figurar entre os alvos preferidos de
criminosos. Especialmente nas grandes cidades, é altíssimo o número de furtos e roubos
de automóveis.
ELEMENTOS DO TIPO
Sujeito ativo: Crime comum.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa.
Objeto jurídico: Patrimônio de outrem.
Da consumação: No momento em que pratica qualquer dos comportamentos
previstos no tipo penal.
DAS ESCUSAS ABSOLUTÓRIAS
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste
título, em prejuízo: 
I. Do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II. De ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja
civil ou natural.
Visando à manutenção da harmonia em família, prevê duas causas pessoais de
isenção de pena, Trata-se de imunidade absoluta, pois estabelece que quem comete
qualquer um dos crimes contra o patrimônio, em prejuízo do cônjuge, na constância da
sociedade conjugal ou de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou
ilegítimo, civil ou natural
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto
neste título é cometido em prejuízo:         
I. Do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II. De irmão, legítimo ou ilegítimo;
III. De tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Trata-se de imunidade relativa, pois apesar de ser o fato punível, a ação penal
é condicionada a representação do ofendido ou do seu representante legal. Assim o
Ministério Público depende dessa condição de procedibilidade para o oferecimento
da denúncia.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I. Se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego
de grave ameaça ou violência à pessoa;
II. Ao estranho que participa do crime.
III. Se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos.
Tal dispositivo exclui a imunidade e o privilégio, somente beneficiando com a
escusa absolutória e a imunidade relativa dos artigos 181 e 182 do Código Penal,
respectivamente, aqueles que cometem crimes patrimoniais sem violência física ou
moral contra a pessoa, ao estranho que participa do crime e ao idoso.

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