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WJUR0250_v4.

Tutela penal dos bens jurídicos


individuais
Crimes contra o Patrimônio
Furto: consumação e implicações legais

Bloco 1
Christiano Gonzaga
Furto: art. 155, CP.
Consumação do crime. STF e STJ aplicam a
corrente da amotio ou apprehensio, necessitando
apenas que a coisa subtraída passe para o poder
do agente, mesmo que num curto espaço de
tempo, independentemente da posse mansa e
pacífica do bem. É quando o proprietário perde a
possibilidade de contato material com a coisa.
Exemplo: empregada que subtrai joia da patroa,
tirando do cofre e colocando em outro local da
casa para depois sair com a peça da residência
(RHC 119611/MG, STF).
Furto: art. 155, CP.
Subtração de sinal de TV a cabo. Furto (equiparável
à energia elétrica), estelionato (fraude) ou fato
atípico (vedação de analogia in malam partem)?
Atualmente, o STF colocou um ponto final na matéria
e entendeu que o fato não se encaixa no art. 155,
parágrafo 3o, CP, por ser vedada a analogia in malam
partem, restando atípica a figura. Informativo 623.
Furto: art. 155, CP.
Estelionato e furto de energia elétrica. Mudança de
posicionamento do STJ. Nesse caso, a jurisprudência já se
inclinou no sentido de configurar crime de estelionato
quando o agente altera o medidor de energia elétrica para
pagar um consumo menor do que o efetivamente consumido.
Há um artifício. Chama-se tal prática de gato. A conduta de
alterar o medidor de energia para que não marque
corretamente o consumo, caracteriza o crime de estelionato,
concluiu a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
AREsp 1418119/STJ.
Furto: art. 155, CP.
Fraude e estelionato. No furto com fraude, o agente
retira o bem do poder da vítima sem que perceba,
como no caso em que a pessoa se fantasia de
entregador de pizza e aproveita o ensejo para subtrair
vários bens existentes na casa da vítima. O STJ entende
ser furto com fraude os golpes feitos pela Internet, em
que o agente consegue, por meio de programas de
computadores (comumente feito por hackers), subtrair
quantias das contas de correntistas. Todavia, cuidado
com a novidade legal a ser vista no próximo slide.
Furto: art. 155, CP.
Novidade legal (Lei n. 14.155/21): furto cometido por
meio de dispositivo eletrônico ou informático.
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de quatro a oito anos, e multa, se o furto
mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou
informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a
violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa
malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do
resultado gravoso:
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado
mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional;
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra
idoso ou vulnerável.
Crimes contra o Patrimônio
Roubo: consumação e implicações legais

Bloco 2
Christiano Gonzaga
Roubo: art. 157, CP
Violência no roubo. Própria e imprópria.
Aquela é a violência propriamente dita, em
que o agente usa da força ou qualquer outro
meio real de incutir medo na pessoa (arma de
fogo, faca, canivete). A imprópria consiste em
qualquer outro meio não violento, mas que
seja suficiente para retirar a capacidade de
resistência da vítima, como hipnoses,
alucinógenos e outras drogas.
Roubo: art. 157, CP
Espécies de roubo. O roubo próprio está previsto no caput, pois
violência ou grave ameaça é exercida antes da subtração do bem. Roubo
impróprio a violência ou grave ameaça é exercida após a subtração do
bem, mas para assegurar a impunidade ou detenção da coisa. Exemplo:
depois de furtada uma coisa, o agente depara com um policial, que
percebe algo de suspeito e, então, usa de violência e agride o policial
para assegurar a detenção da coisa. Outro exemplo é quando o agente
do furto viu que perdeu a sua identidade e volta ao local do crime,
encontrando com terceiro que está com o documento em mãos, usando
de violência contra ele para pegar a identidade e assegurar a
impunidade do crime. Trata-se de um simples crime de furto inicial, que
termina como crime de roubo, em virtude de ser usada a violência ou
grave ameaça ao final.
Roubo: art. 157, CP
Novidade jurisprudencial: não se reconheceu como fato
típico a figura do passageiro que não paga a dívida da corrida
com o taxista e, ao contrário, ainda desfere um golpe contra
ele, com o fim de não pagar a corrida. No caso, trata-se
apenas de uma eventual lesão corporal, mas não de crime de
roubo. Informativo 658/STJ.
Crimes contra o Patrimônio
Extorsão: consumação e implicações legais

Bloco 3
Christiano Gonzaga
Extorsão: art. 158 e 159, CP
Há também violência ou grave ameaça, assim
como no roubo, mas na extorsão a própria vítima
entrega a vantagem indevida, sendo
imprescindível sua participação, o que já não
ocorre no roubo, em que a conduta da vítima é
dispensável, podendo o agente subtrair a coisa.
Exemplo: obrigar a vítima a preencher um cheque
em nome do autor; obrigar a vítima a fazer uma
depósito bancário sob pena de ser morta.
Extorsão: art. 158 e 159, CP
Consumação- Súmula 96, STJ, crime se consuma
independentemente da obtenção da vantagem
ilícita. Crime formal.

Sequestro relâmpago: art. 158, parágrafo 3º, CP.

Novidade: A situação do chamado disque-sequestro


configura crime de extorsão, e não crime de
estelionato.
Extorsão: art. 158 e 159, CP

Art. 159, CP e o instituto da delação premiada: causa


de diminuição de pena. Cuidado para não confundir
com as possibilidades da Lei n. 12.850/13, art. 4º.
Crimes contra o Patrimônio
Apropriação indébita previdenciária:
implicações legais e jurisprudência

Bloco 4
Christiano Gonzaga
Apropriação indébita previdenciária: art. 168-A, CP
Condição de procedibilidade. Para o início da
persecução penal, é necessário que tenha ocorrido a
constituição definitiva do crédito tributário, na mesma
linha de pensamento dos crimes de sonegação fiscal,
em que o lançamento definitivo é uma exigência já
sumulada de forma vinculante. No caso em tela, os
Tribunais Superiores já entenderam que a constituição
do crédito tributário é indispensável para a persecução
penal (Inq 2537 AgR/GO, STF e Informativo 370, STJ).
Apropriação indébita previdenciária: art. 168-A, CP
Princípio da insignificância: em recente julgado
(informativo 641), o STF entendeu que não mais se
aplica tal princípio aos casos de apropriação indébita,
pois aquele valor mínimo que a Receita usa para acionar
alguém, só é válido para crimes de sonegação fiscal
(falta de pagamento de tributo), enquanto que o tipo
em tela é uma simples espécie de apropriação indébita.
Apropriação indébita previdenciária: art. 168-A, CP
Extinção da punibilidade. O parágrafo 2o do art. 168-A,
CP, afirma que o pagamento das contribuições
apropriadas extingue a punibilidade se for feito antes do
início da ação fiscal.
Todavia, a Lei n. 10.684/03, art.9º, parágrafo 2º, afirma
que o pagamento ou o parcelamento feito a qualquer
tempo extingue a punibilidade (Informativos 354 e
365, STJ), sendo mais benéfica tal disposição que a do
Código Penal.
Estelionato (fraude eletrônica): art. 171, parágrafo 2º-A, CP
Novidade legal (Lei n. 14.155/21): Fraude eletrônica.
Art. 171:
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de quatro a oito anos, e multa,
se a fraude é cometida com a utilização de informações
fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro, por
meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de
correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo.
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a
relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um
terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a
utilização de servidor mantido fora do território nacional.
Teoria em Prática
Bloco 5
Rafael Fernandes Souza Dantas
Reflita sobre a seguinte situação

Imaginemos a hipotética situação em que duas pessoas praticam crimes de


roubo, em situações bastante similares quanto às vítimas, todas adultas e sem
vulnerabilidades, como idade avançada ou outras fragilidades. Ocorre que um
dos roubadores se valeu, para a grave ameaça, de uma faca de cozinha, com
uma lâmina afiada de 30 cm de comprimento. Já o outro utilizou, também
para a grave ameaça, um revólver de calibre 22 (considerado fraco), com
apenas um projétil no tambor.
Indaga-se: qual dessas situações enseja maior risco à vítima? Segundo o
Código Penal, qual deles merece uma pena maior?
Norte para a resolução – Código Penal

Art. 157: caput.


§ 2º, VII.
§ 2º, I.
§ 2º-B.

Diferentes armas, diferentes


roubos!
Dica do Professor
Bloco 6
Rafael Fernandes Souza Dantas
Dica do Professor Figura 7 – Capa do filme

Filme: Assalto ao Banco Central

Direção: Marcos Paulo

Lançamento: 2011

Houve furto ou roubo?

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/
Assalto_ao_Banco_Central. Acesso em: 6 ago. 2020.
Referências
GONZAGA, C. Apostila de Direito Penal (partes geral e especial).
Disponível em: ww.estudotop.com.br/direitopenal. Acesso em: 29 jun.
2021.
GRECO, R. Curso de Direito Penal: parte especial. Niterói: Lumen Juris,
2021.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Disponível em:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Inicio. Acesso em: 29 jun. 2021.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/.
Acesso em: 29 jun. 2021.
Bons estudos!

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