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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Material atualizado com as Leis 13.654/2018,


13.964/2019 (“pacote anticrime”),
e 14.155/2021 (de 27/05/2021)

Prof. Everton Luiz Zanella


Furto – art. 155, CP
• Elementos
- Subtrair (tomar; apoderar-se);
- Para si ou para outrem (para o furtador ou para terceiro);
- Coisa alheia móvel.
- Imóvel não pode ser subtraído (impossibilidade física).
- Coisa: incluem-se os animais.
- Obs.: semoventes de produção: há qualificadora: art. 155, § 6º
(parágrafo acrescido pela Lei 13.330/16).
- Subtração pode ser via fraude eletrônica: há qualificadora: art.
155, § 4º (parágrafo acrescido pela Lei 14.155/2021).
- Alheia: de outro. Não é alheia o que for coisa abandonada.
- A coisa perdida é objeto do art. 169, II, do CP (apropriação de coisa
achada).
Furto – art. 155, CP
(observar as alterações da Lei 13.654 de 23/04/2018)

• Furto do caput = furto simples.


- Pena: reclusão de 1 a 4 anos, e multa

• Elementares do caput valem para qualquer furto


(incluindo o privilegiado e o qualificado).

• O furto será simples por exclusão: quando não tiver


nenhuma qualificadora, nem privilégio.

• Crime comum: qualquer um pode praticar.


Furto – art. 155, CP
- Consumação
• No tocante ao momento consumativo (ou da efetivação da
subtração), temos quatro correntes:

• a) “Teoria da concretatio”: a consumação ocorre quando houver


um simples contato entre o agente e a coisa alheia móvel,
sendo irrelevante a inversão da posse ou o deslocamento da
coisa.

• b) “Teoria da amotio” (ou “apprehensio”): o furto consuma-se


quando a coisa subtraída sai da disponibilidade da vítima e
passa para o poder do agente (inversão da posse), ainda que
por um breve e curto momento, independentemente do
deslocamento ou da posse tranquila da coisa.
Furto – art. 155, CP
• c) “Teoria da ablatio”: a consumação dá-se quando o agente,
depois de apoderar-se do bem, consegue deslocá-lo de lugar,
sendo prescindível a posse tranquila.

• d) “Teoria da ilatio”: exige-se, para a consumação, que a posse do


furtador, após o deslocamento da coisa, seja absolutamente
tranquila.

• As duas correntes com maior aceitação são a da “ilatio” (adotada por


autores clássicos como Hungria e Fragoso) e a “amotio”, que hoje é
majoritária na Doutrina e é adotada atualmente tanto pelo
Supremo Tribunal Federal como pelo Superior Tribunal de
Justiça.

- Obs.: existência de sistema de vigilância em estabelecimento


comercial NÃO torna o furto crime impossível: Súmula 567 do STJ.
“Furto noturno” (art. 155, § 1º)
• Causa de aumento de pena (1/3): furto praticado durante o repouso
noturno (causa de aumento = 3ª fase de dosimetria da pena).

• Período de descanso das pessoas (repouso) + elemento temporal


(noite ou madrugada).

• Obs.: Repouso dependerá da análise do local e do caso concreto.

• Jurisprudência: agente aproveita-se da maior facilidade.

• Para alguns juristas, trata-se necessariamente de furto em moradia


habitada. Para a maioria, contudo, pode ser em moradia
desabitada, porque o repouso não é necessariamente da vítima,
mas de uma coletividade (STJ admite a causa de aumento para
furto de veículo parado na via pública).
“Furto noturno” (art. 155, § 1º)
- Polêmica: Aplicável somente ao furto simples ou também ao qualificado?

- 1ª posição: Somente se aplica ao simples porque: 1) disposição dos parágrafos


(qualificado vem depois do repouso noturno na estrutura do tipo); 2) furto qualificado já
tem uma pena própria, mais grave.
- Doutrina majoritária

- Há uma decisão recente do STJ: 3ª Seção, Tema 1.087, RESP 1.888.756,


25/02/2022.3
- 2ª posição: aplica-se também ao qualificado (há diversas decisões do próprio STJ
neste sentido (ex.: HC 306.450-SP), além de tribunais de justiça do país. O argumento
é o de que não há incompatibilidade da causa de aumento com as qualificadoras
(uma não exclui a outra; são fixadas em momentos distintos da pena) e o tipo deve ser
harmônico, independentemente da posição dos parágrafos.
- Entendemos que é a melhor posição: causa de aumento é compatível com as
qualificadoras e com o privilégio.
Furto privilegiado - § 2º
• Requisitos cumulativos:
- Primariedade = não-reincidência.
e (+)
- Pequeno valor da coisa = critério objetivo = 1 salário mínimo
(Jurisprudência).

• Aplicação ao furto qualificado?

• Questão pacificada pelo STJ: Súmula 511: incide sobre o furto


qualificado, desde que o réu seja primário, a coisa de pequeno
valor e as qualificadoras sejam de natureza objetiva.
• Só não é objetiva, ao que nos parece, o abuso de confiança.
Furto privilegiado - § 2º
• Consequências: Juiz tem uma das possibilidades:
- Substituir a pena de reclusão pela de detenção (pouco efeito prático);
- Diminuir a pena de 1/3 até 2/3;
- Aplicar somente a pena de multa.

- Não confundir furto privilegiado (crime) com:

- “furto famélico” (no qual há exclusão da ilicitude = estado de necessidade).

- “furto de bagatela” (no qual há atipicidade material);

- Bagatela = insignificância = valor muito pequeno e irrelevante para a vítima,


de forma que não haveria afronta ao bem jurídico e o direito penal não
precisaria ser aplicado (ultima ratio).
- STF: entende que há furto de bagatela quando houver, cumulativamente: a
mínima ofensividade da conduta; a ausência de periculosidade social da
ação; o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e a
inexpressividade da lesão jurídica.
Furto de energia - § 3º
• Equipara-se a coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que
tenha valor econômico.

• Qualquer outra = ex.: térmica, sonora, mecânica.

• Furto de sinal de TV à cabo é furto de energia?


- Há duas posições:
- Não, porque não é energia, já que não se esgota. Além disso, não
há redução patrimonial de outrem (STF, Greco e Bittencourt).
- Sim, pois é outra forma de energia em seu conceito técnico: há
propagação de ondas eletromagnéticas (STJ e TJ/SP, Mirabete e
Nucci).
• Pode haver qualificadora da fraude (veremos a seguir).
Furto qualificado - §§ 4º, 4º-A, 4º-B, 5º, 6º e 7º
• § 4º: Pena: 2 a 8 anos de reclusão + multa.

• Hipóteses qualificadoras do § 4º:


Dobra a pena do caput
I) Destruição ou rompimento de obstáculo.
- Obstáculo é aquilo que impede ou dificulta a subtração da coisa. Ex.:
portas, janelas, grades, cadeados, cofres, etc.
Cachorro pode ser um obstáculo
- Há alguns julgados (equivocados a nosso ver) que afastam a qualificadora se
o dano for do próprio objeto (ex.: quebrar vidro do carro, para furtá-lo).

II) Abuso de confiança, fraude, escalada, destreza.


- Ab. confiança: vínculo de lealdade (ex.: emprego);
- Fraude: meio enganoso para iludir a vigilância e conseguir subtrair
(difere do estelionato – veremos adiante);
- Escalada: qualquer acesso anormal (subir; cavar túnel);
- Destreza: habilidade especial em subtrair; vítima não percebe (“punga”).
Furto qualificado - § 4º
III) Emprego de chave falsa.

- Com ou sem forma de chave.

- Pode ser a “chave micha” (também chamada de “gazua” ou “chave


mestra”, que é uma ferramenta que imita uma chave e é hábil a abrir
fechaduras), chave clonada, grampo, arame, etc.

IV) Mediante concurso de duas ou mais pessoas.

- Concurso: coutoria ou participação (art. 29 do CP).

- Há ajuste prévio (liame subjetivo) entre as pessoas.

- conta-se inimputáveis ou pessoas não identificadas.


Furto qualificado - § 4º-A
• § acrescentado pela Lei n.º 13.654/2018

• A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver


emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

• Tal como no § 4º, há qualificadora pela forma de execução do furto.

• O emprego de explosivo sempre foi considerado como um meio para


se romper ou destruir obstáculo (§ 4º, I). Continua sendo, mas desde
abril de 2018 há uma qualificadora específica.

• Crime hediondo: art. 1º, IX, Lei 8072/90 (incluído pela Lei
13.964/2019).
• É a única modalidade de furto hediondo.

• O furto qualificado absorverá o crime de explosão (art. 251 do CP), pois o


“perigo comum” faz parte da qualificadora: crime pluriofensivo.
Furto qualificado - § 4º-B – “Furto eletrônico”
(inserido pela Lei 14.155/2021)
• A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o
furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico
ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou
sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de
programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.
Tem q ser financeiro
• Motivo da qualificadora: tecnologia tornou as pessoas mais vulneráveis a
serem vítimas de fraudes, em especial na internet.
• Conduta já configurava crime de furto mediante fraude, mas agora há uma
qualificadora específica, mais grave.
• Para Rogério Sanches, dispositivo eletrônico ou informático é o aparelho
com capacidade de armazenar e processar automaticamente informações ou
programas, como computador, notebook, tablet ou smartphone.
• Ex.: furtador consegue acessar contra bancária da vítima por meio do
computador e de lá subtrai quantia, que desvia para uma conta bancária
própria.
§ 4º-C: causa de aumento do furto eletrônico
(inserido pela Lei 14.155/2021)
• A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do
resultado gravoso:
I. aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é
praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
território nacional;
II. aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra
idoso ou vulnerável.

• 1ª majorante: servidor em outro país. Aumenta-se em razão da


dificuldade maior para a investigação.

• 2ª majorante: vítima mais exposta.


• Idoso = maior de 60 anos (Lei 10.741/2003)
• Vulnerável: conceito legal do art. 217-A do CP.

• Obs.: “considerada a relevância do resultado gravoso”: Consoante


exposição de motivos da norma, quanto maior o prejuízo à vítima maior
deve ser o aumento.
Furto qualificado - § 5º
• § 5º: Subtração de veículo automotor que venha a ser levado a
outro Estado ou para o exterior.

• pena é de 3 a 8 anos de reclusão (sem previsão de multa).

• § 5º acrescido pela Lei 9.426/96.

• Se agente tentar atravessar divisa ou fronteira e não conseguir


por circunstâncias alheias à sua vontade: haverá furto simples,
pois já consumada a subtração (agente já está com a posse do
bem), porém a condição que qualifica o crime não ocorreu.
Furto qualificado - § 6º
• A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos (sem previsão de
multa) se a subtração for de semovente domesticável de
produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração.

• § acrescentado pela Lei n.º 13.330, de 02/08/2016.

• Semovente domesticável de produção = como regra é o gado bovino


(“abigeato”), mas pode ser suíno, galináceo etc.

• Lei também acrescentou a receptação do semovente domesticável


de produção: art. 180-A, CP (veremos adiante).

• Obs.: "ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração"


= acontece na prática: não exclui o crime de maus tratos contra
animais (bens jurídicos diferentes: há concurso de infrações).
Furto qualificado - § 7º
• § acrescentado pela Lei n.º 13.654/2018

• A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa,


se a subtração for de substâncias explosivas ou de
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.

• Tal como os §§ 5º e 6º, trata-se de qualificadora pelo objeto


material do furto (ou seja, sobre aquilo que é subtraído).

• Ideia do legislador é punir com maior rigor a subtração de artefatos


explosivos ou destinados a montar explosivos (pólvora, por exemplo),
evitando-se, assim, futuros crimes de perigo comum.
Generalidades do furto (155 e §§)
• Ação penal pública incondicionada (regra geral do artigo 100 do CP).

• Salvo nas hipóteses dos § 4º-A, § 4º-B e § 7º (cujas penas mínimas


são de 4 anos), no crime de furto cabe o acordo de não persecução
penal (ANPP) entre o MP e o agente.
• Já era previsto na Resolução 181/17-CNMP. É Lei desde jan/2020:
recente artigo 28-A do CPP (redação da Lei n.º 13964/19).
• Requisitos: não ser caso de arquivamento + confissão + crime sem
violência ou grave ameaça + pena mínima inferior a 4 anos +
suficiência da reprovação do fato.
• Condições: agente deverá reparar o dano + renunciar ao
produto/proveito do crime + prestar serviço comunitário ou pagar
prestação pecuniária.
• Pressupostos: primariedade + ausência de ANPP nos últimos 5 anos.
• Réu acompanhado de defensor.
• Juiz homologa.
Roubo – art. 157, CP
(observar as alterações da Lei 13.654 de 23/04/2018 e da Lei 13.964 de 24/12/2019)

• Mesmos elementos do caput do art. 155 + :

- Violência (física);

- ou grave ameaça (“violência psicológica”);

- ou redução da possibilidade de resistência da vítima (alguns


chamam de "violência imprópria"). Ex.: sonífero, sedação, etc.

• Caput = roubo simples próprio.


- pena: reclusão de 4 a 10 anos, e multa.
Roubo próprio – art. 157, caput, CP
• Consumação do roubo próprio: quando o agente se apodera
da coisa (simples retirada da esfera de disponibilidade da
vítima) mediante uso de violência/grave ameaça, não havendo
necessidade de posse tranquila (STF, Bittencourt, Nucci).

• Aplica-se a teoria da amotio (posição majoritária).

• STJ, Súmula 582: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da


posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça,
ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao
agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse
mansa e pacífica ou desvigiada.

• Tentativa de roubo próprio é possível: agente usa de violência ou grave


ameaça, mas não consegue se apoderar da coisa.
Roubo (simples) impróprio - § 1º
• Violência ou grave ameaça empregadas logo depois da subtração,
para garantir a impunidade do crime ou a detenção da coisa (para si ou
para terceiro).
• No roubo próprio a violência ou grave ameaça é meio para executar a subtração;
no impróprio a intenção inicial era de furto, mas no curso da execução o agente
acaba por empregar violência ou grave ameaça (há progressão de dolo).

• Consumação: com o emprego da violência ou grave ameaça.

• Tentativa no roubo impróprio: 2 posições:


- Impossível (Damásio), pois a aplicação da viol./g.am. já consuma o
crime;
- possível, quando o agente é detido tentando agredir/ameaçar (Mirabete).

• Se o agente não consegue subtrair e na fuga usar de violência ou


grave ameaça: tentativa de furto + crime contra a pessoa.
Roubo circunstanciado - § 2º
• Obs.: Não é qualificado. Há causas de aumento de pena: majoração de 1/3 até ½
na 3ª fase de dosimetria da pena.

Redação alterada pela Lei 13.654/2018 e alterada, novamente, pela Lei


13.964/2019.

§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:


I – Se a violência é exercida com emprego de arma (revogado pela Lei 13.654/2018).
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior (acrescentado pela Lei 9.4826/96);
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade
(acrescentado pela Lei 9.4826/96);
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego (acrescentado pela
Lei 13.654/2018).
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Roubo circunstanciado - § 2º
Termo “emprego de arma”: revogação pela Lei n.º 13.654/2018.
• Primeira observação: A Lei 13.654/2018 (de 24/4/18) NÃO excluiu a arma
de fogo. Muito pelo contrário: Ela passou a ser causa de aumento ainda
maior, previsto expressamente no § 2º-A, I, CP (aumento de 2/3).
• Porém, a Lei 13.654/2018 excluiu a causa de aumento do emprego da
chamada arma branca (imprópria), como faca, tesoura, canivete, pedaço
de pau, espeto, caco de vidro, etc.
• São instrumentos que não foram fabricados com finalidade bélica, mas
que têm potencial lesivo concreto e podem ser utilizados para praticar
violência ou grave ameaça.
• Neste ponto, a lei penal de 2018 foi mais favorável ao réu e por isso
retroagiu em benefício de inúmeros condenados e processados por roubo
com arma branca.
• Em 23 de janeiro de 2020 (entrada em vigor da Lei 13.964/2020), a causa
de aumento do roubo com emprego de arma branca foi
restabelecida: inciso VII acrescentado ao § 2º.
Roubo circunstanciado - § 2º
II) Concurso de duas ou mais pessoas;

III) Vítima está em serviço de transporte de valores (ex.: carro-


forte, transporte de carga);

IV) Subtração de veículo automotor que venha a ser


transportado para outro Estado ou exterior;

V) Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua


liberdade.
- Obs.: é a restrição durante a subtração, para permiti-la. Se
passar disto: concurso de crimes com o sequestro ou cárcere
privado (art. 148 do CP).
- Não confundir com o art. 158, §3º (veremos adiante).
Roubo circunstanciado - § 2º
• VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.
• Inc. VI acrescentado pela Lei 13.654/2018.

• VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego


de arma branca.
Inc. VII acrescentado pela Lei nº 13.964/2019.

• Súmula 443, STJ: Majoração da pena do roubo


circunstanciado deve ser fundamentada. Não basta indicar a
quantidade de majorantes.
Roubo circunstanciado - § 2º-A
§ acrescentado pela Lei 13.654/2018: Aumento de 2/3 de pena

I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de


fogo
• “emprego”: para alguns deve-se efetivamente usar (Bittencourt); para outros
basta portar ostensivamente (LR Prado).

• Polêmica: emprego de arma de brinquedo (simulacro) gera o


aumento?
- 1) Para Hungria, caracteriza a majorante, devido ao seu poder de
intimação igual ao da arma verdadeira (vítima não sabe que é simulacro).
- 2) Para a posição hoje majoritária: não caracteriza a majorante, por dois
argumentos: a arma de brinquedo não tem potencial lesivo no caso
concreto, pois não efetua disparo, tal como a arma de verdade (princípio
da ofensividade); Lei refere-se a “arma”, não se incluindo (princípio da
estrita legalidade).
- Posição do STJ era a primeira (1), mas hoje está superada após
cancelamento da Súmula 174 (do STJ). Prevalece no STJ a 2ª posição.
Roubo circunstanciado - § 2º-A
§ acrescentado pela Lei 13.654/2018: Aumento de 2/3 de pena

• E se a arma for de verdade, mas estiver desmuniciada ou não funcionar


(apresenta defeito e não efetua disparos)?
• Neste caso, surgem 3 posições:

• 1) Configura hipótese de aumento, pois tem poder de intimidação (vítima


não sabe se arma está ou não carregada; se funciona ou não) – Nelson
Hungria.

• 2) Não caracteriza a majorante, pois não tem potencial lesivo no caso


concreto, pois não efetua disparo (princípio da ofensividade) – defendida
por Mirabete e Delmanto. É a posição hoje majoritária no STJ.

• 3) Caracteriza o aumento, porque é arma (estrita legalidade) e a


inidoneidade é meramente acidental (potencial lesivo existe
abstratamente) – Fragoso, Damásio, Paulo José da Costa Jr.
• Cleber Masson: arma desmuniciada configura aumento, pois a
ineficácia é relativa (pode ser municiada a qualquer momento). Porém,
se for arma com defeito, completamente ineficaz, não se aplica a
majorante.
Roubo circunstanciado - § 2º-A e § 2º-B
§ 2º-A (...)
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego
de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
§ 2º-A acrescentado pela Lei 13.654/2018: Aumento de 2/3 de pena

§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de


arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a
pena prevista no caput deste artigo (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

- Pena dobrada: é causa de aumento (tal como o § 2º e 2º-A),


aplicando-se na 3ª fase de dosimetria.

- Arma de fogo de uso restrito e proibido: definidas por decreto


presidencial – o mais atual é o Decreto 11.615 de 11/07/2023.
- Restrito: Como regra, são as de uso exclusivo das Forças Armadas e
Polícias. Ex.: fuzil, metralhadora.
- Proibido: armas dissimuladas.
Roubo com mais de uma causa de aumento
• o Juiz não pode ignorar causas de aumento. Todas as circunstâncias legais
presentes devem ser sopesadas na dosimetria da pena.

• Se elas forem do § 2º (atualmente tem seis causas de aumento – II a VII), o Juiz


aumenta entre 1/3 até ½, fundamentando, conforme Súmula 443 do STJ.

• Mas sendo de parágrafos distintos, há duas alternativas:


• 1ª: usar ambas as causas de aumento, uma sobre a outra: primeiro a mais
grave (ex.: § 2ºB) e, sobre ela, a menos grave (ex.: do § 2º, II), ambas na 3ª fase
de dosimetria;
• 2ª): utilizar a causa que mais aumenta, tendo como fundamento o art. 68,
parágrafo único, do CP. A outra circunstância deve ser sopesada na análise da 1ª
fase da dosimetria da pena (art. 59 do CP, porquanto há maior reprovabilidade
da conduta, ou seja, maior culpabilidade, circunstância desfavorável do crime).

• A posição majoritária, contudo, é de que o Juiz pode optar entre as duas


alternativas, já que o art. 68 do CP utiliza a expressão “PODE”. Neste sentido, a
jurisprudência prevalente, havendo precedentes do STF.
Qualificadoras - § 3º
• § com redação modificada pela Lei 13.654/2018

“Se da violência resulta”:

I - lesão corporal grave (ou gravíssima): reclusão de 7 a 18 anos +


multa.

II - morte: reclusão de 20 a 30 anos + multa = LATROCÍNIO.

- Lesão grave ou morte podem ser fruto de culpa (crime preterdoloso)


ou dolo (doutrina majoritária).
- Posicionamento minoritário: só a título de culpa (dolo na morte seria roubo +
homicídio). Há incoerência neste raciocínio, devido à pena (culpa na morte
poderia acarretar em pena maior do que o dolo na morte, pois a pena do
latrocínio é superior ao somatório da pena do roubo com o crime de
homicídio).
Latrocínio
• Súmula 603, STF: latrocínio não é de competência do
Tribunal do Júri (não está no rol dos crime contra a
vida).

• Súmula 610, STF: Latrocínio consuma-se com a


morte, independentemente da subtração.
- Roubo + morte = latrocínio consumado
- Tentativa de roubo + tentativa de morte = tentativa de
latrocínio
- Roubo + tentativa de morte = tentativa de latrocínio
- Tentativa de roubo + morte = latrocínio consumado
Latrocínio
• Não há latrocínio:
- quando a morte advir de grave ameaça (lei diz “violência”);
- quando houver morte do comparsa (violência tem que ser
para consumar o crime, logo, tem que ser contra a vítima
patrimonial ou 3º que interferir na ação).

• Pluralidade de mortes:
- Para doutrina majoritária, há crime único de latrocínio
(intenção era subtração): Bittencourt, Nucci;
- Entendemos haver concurso formal impróprio (desígnios
autônomos quanto à morte). Neste sentido há decisões do
STJ.
Hediondez
• Lei 8072/90 (crimes hediondos), com a redação dada pela Lei
13.964/2019:

• Art. 1º: são hediondos os seguintes crimes, consumados ou


tentados:
• II - roubo:
• a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º,
inciso V);
• b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A,
inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito
(art. 157, § 2º-B);
• c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, §
3º).

• OBS: antes da recente mudança legislativa, só era hediondo o latrocínio


(resultado morte).
Hediondez
• Consequências legais de ser hediondo:

- Regime inicial fechado (STF já flexibilizou a norma);

- Progressão com tempo maior (40%, 50% ou 70% da pena, a


depender do resultado e da reincidência – vide art. 112 da Lei de
Execuções Penais, alterada pela Lei 13.964/19).

- Livramento condicional com 2/3 da pena, sendo vedado, contudo, se


agente for reincidente em crime hediondo ou se houver resultado
morte (latrocínio).

- Crime inafiançável (art. 5º, XLIII, CF, e art. 323, CPP).

- Prisão temporária: 30 + 30 dias (nos demais roubos: 5 + 5 dias).


Extorsão – art. 158, CP
• Elementos:
- Constranger alguém (forçar, coagir, obrigar);
- Mediante violência ou grave ameaça;
- A fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa;
- Com o intuito de obter vantagem econômica para si ou para outrem (aqui
diferencia-se do constrangimento ilegal – art. 146 do CP, cuja finalidade é
restringir somente a liberdade).
• Pena: 4 a 10 anos, e multa.

• Consumação: Súmula 96 do STJ: com o constrangimento,


independentemente da obtenção da vantagem (crime formal).

• Diferença da extorsão para o roubo: neste último há subtração; já na


extorsão é necessária a colaboração da vítima.

• Diferença para a concussão (art. 316, CP): Neste último exige-se vantagem
indevida aproveitando-se da função pública, mas não há violência ou grave
ameaça.
Causas de aumento (§ 1º) e qualificadoras (§ 2º)
• Causas de aumento de pena = 1/3 até ½ (§ 1º):

- Emprego de arma
- Aqui não houve alteração pela Lei 13.654/2018 ou Lei 13.964/19. Incide o
aumento de 1/3 até 1/2 se usada arma de fogo ou arma branca.

- Crime cometido por duas ou mais pessoas (concurso de agentes).

• Se da violência resulta lesão corporal grave (ou gravíssima): reclusão


de 7 a 18 anos + multa (§ 2º do art. 158 reporta-se ao § 3º do art. 157).

• Se da violência resulta morte: reclusão de 20 a 30 anos + multa (§ 2º


do art. 158 reporta-se ao § 3º do art. 157).
Qualificadora: “Sequestro relâmpago” (art. 158, § 3º, CP)

• § 3º incluído pela Lei 11.923/09: quando ocorre a restrição da


liberdade da vítima, sendo esta condição necessária para a
obtenção da vantagem: reclusão de 6 a 12 anos e multa.

• Se essa conduta resultar lesão grave: aplica-se o § 2º do art.


159: pena de 16 a 24 anos;

• Se resultar morte: aplica-se o § 3º do art. 159: pena de 24 a


30 anos.
Qualificadora e causas de aumento
- Art. 1º da Lei 8072/90 (LCH): Configura crime hediondo:
- III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima,
ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º) (Redação
dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
• Portanto, hoje é crime hediondo qualquer extorsão com
restrição da liberdade.

INFORMATIVO STJ 590 de 2016 do STJ:


• “Em extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima,
sendo essa condição necessária para a obtenção da vantagem
econômica (art. 158, § 3º, do CP), é possível a incidência da causa
de aumento prevista no § 1º do art. 158 do CP (crime cometido por
duas ou mais pessoas ou com emprego de arma)”.
Extorsão mediante sequestro – art. 159, CP
• Elementos:

- Sequestrar pessoa;

- Com a finalidade de obter para si ou para outrem vantagem


econômica como condição ou preço do resgate.

• Pena: reclusão de 8 a 15 anos.

• Consumação: com o sequestro da vítima (supressão de sua


liberdade).

- Exigência ou pagamento do resgate: mero exaurimento.

- Basta a intenção de vantagem (Jurisprudência pacífica).


Extorsão mediante sequestro – art. 159, CP
- Crime permanente: consumação prolonga-se no tempo.
Consequências:

- Flagrante a qualquer momento enquanto vítima estiver


sequestrada;

- Início da prescrição: art. 111, III, CP;

- Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime


continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.

• É crime hediondo, em qualquer de suas formas.


Qualificadoras
• § 1º: pena de reclusão de 12 a 20 anos, quando:

- Sequestro dura mais de 24h;

- Sequestrado menor de 18 anos ou maior de 60 anos;

- Crime cometido por associação criminosa (definição do art. 288 do


CP – alteração do nomen juris pela Lei 12.850/13).

- Dúvida neste ponto: há concurso com o crime do art. 288 do CP? Há duas
posições:
- 1ª: qualificadora absorve o crime do art. 288 do CP (prevalece na
Doutrina);
- 2ª: há crimes autônomos, pois bem jurídicos são diferentes e consumação
ocorre em momentos distintos (neste sentido, Cleber Masson; havendo,
também, julgados do STJ).
Qualificadoras
• § 2º: pena de reclusão de 16 a 24 anos quando o fato resultar
lesão corporal de natureza grave.

• § 3º: pena de reclusão de 24 a 30 anos quando o fato resultar


morte (do sequestrado, da vítima patrimonial ou de terceiro
envolvido).

• Artigo da Lei não diz “se da violência resultar” (como no art.


157, § 3º), mas “quando o fato resultar” = logo, a lesão ou
morte podem, em tese, advir da grave ameaça.

• Morte pode ser a título de dolo ou culpa.


Colaboração premiada - § 4º (incluído pela Lei 9.269/96)
• Redução de pena para o agente que noticiar o crime à autoridade.

• Pressuposto para aplicação: crime praticado em concurso de


pessoas.

• Requisitos:
- Delação à autoridade (Delegado ou Promotor, conforme Lei
12.850/13);
- + Facilitação da libertação da vítima (Jurisprudência: com a
integridade preservada).

- Consequência: redução de 1/3 a 2/3 da pena.

• Procedimento para colaboração: Lei 12.850/13, artigos 3-A e


seguintes.
Dano (art. 163, CP)
• Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.

• O legislador protege a propriedade de coisas móveis e imóveis.

• Destruir = eliminar, extinguir a coisa. Ex.: queimar.

• Inutilizar = tornar a coisa imprestável, inútil para o fim a que se


destina. Ex.: tirar o som de um rádio.

• Deteriorar = estragar, causar uma modificação para pior. Ex.: jogar


tinta num quadro artístico, num sofá.

• Obs.: não existe o núcleo “danificar”. Este é o gênero, sendo


espécies os 3 núcleos do tipo.

• Pena: detenção de 1 a 6 meses, ou multa. Obs.: Lei n.º 9099/95.


Dano (art. 163, CP)
• O delito pode ser praticado mediante ação ou omissão, se
havia o dever jurídico de agir (ex.: empregado que deixa de
regar a plantação, causando a destruição da horta).

• S.A.: qualquer pessoa, salvo o proprietário da coisa.

• S.P.: O proprietário da coisa.

• Consumação: com a ocorrência do dano, em qualquer uma


de suas formas (resultado naturalístico) = crime material.
- Admite-se a tentativa

• É crime subsidiário, pois funciona como elementar (ex.:


incêndio) ou qualificadora (ex.: furto) de vários outros delitos.
Dano (art. 163, CP)
• El. Subj. : é o dolo de causar dano à propriedade alheia.

- Hungria e Celso Delmanto entendem que é necessário o chamado


"dolo específico", ou seja, é necessário que o agente tenha
vontade de causar prejuízo à vítima. É a posição do STJ.

- Noronha e Damásio, contudo, entendem que basta o dolo genérico


de destruir, inutilizar ou deteriorar, independentemente de sua
vontade de causar prejuízo. É a posição do STF.

- A questão torna-se importante quando cuidamos do dano


(qualificado) verificado na fuga do preso que destrói a cela ou
danifica as dependências do estabelecimento penal. Para aqueles
que entendem que se exige o dolo especifico, não haveria crime de
dano. Para a corrente contrária, há.
Dano qualificado (art. 163, p. único, CP)
Qualificadoras: pena de detenção de 6 meses a 3 anos e multa, se
o crime é cometido:

• I - Com violência à pessoa ou grave ameaça (empregada contra o


proprietário ou 3º).
- Crime pluriofensivo. Há violência ou grave ameaça para assegurar a
danificação. Ex.: agente empurra a vítima, para poder danificar um quadro; ou
enquanto danifica ameaça a vítima se ela tentar impedir.
- Obs.: legislador estabelece o concurso material com a pena
correspondente à violência. O crime de ameaça fica absorvido.

• II - Com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o


fato não constitui crime mais grave (subsidiariedade expressa).
- o crime mais grave aqui é qualquer um dos que afetem a incolumidade
pública (causam perigo comum), mais especificamente os dos artigos 250 e
251 do CP (incêndio e explosão).
- Substância inflamável = permite o alastramento rápido do fogo (ex.: gasolina);
substância explosiva (ex.: dinamite).
Dano qualificado (art. 163, p. único, CP)
Qualificadoras: pena de detenção de 6 meses a 3 anos e multa, se o
crime é cometido:

• III – Dano contra o patrimônio público: contra o patrimônio da União,


de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação
pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos (Redação dada pela Lei nº
13.531, de 2017)

• IV - Por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a


vítima.
- motivo egoístico é o que visa a futuro proveito
econômico ou moral. Ex.: destruição do trabalho do
concorrente para evitar a competição.
- Prejuízo considerável deve ser aferido conforme as
posses do ofendido.
Ação penal no crime de dano (art. 167, CP)

• Privada quando o sujeito comete:


• o fato típico fundamental ("caput");
• quando age por motivo egoístico ou com prejuízo
considerável para a vitima (parágrafo único, IV).

• Pública Incondicionada: nos demais crimes:


• Incisos I, II e III.
Dano (art. 163, CP)

Princípio da especialidade: Lei 9.605/98, artigos 62 e seguintes:


“crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural”

• Destaca-se:

• “Pichação” = art. 65 da Lei 9605/98 (pena de 3 meses a 1 ano +


multa).

• Destruir, inutilizar ou deteriorar bem tombado, arquivo, biblioteca,


museu etc. (pena de reclusão de 1 a 3 anos + multa)

• Crimes da Lei 9605/98 são especiais em relação ao art. 163 do CP e


revogam tacitamente os artigos 65 e 66 do CP.
Apropriação indébita (art. 168 do CP)

• “Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou


a detenção. Pena: reclusão de um a quatro anos, e multa”.

• Objeto material é a coisa alheia móvel.

• Apropriar-se: inverter a posse ou detenção, fazer sua coisa de


outrem, comportar-se como proprietário.

• posse: art. 1196 do CC: exercício de algum dos poderes da


propriedade, em virtude de um direito real ou pessoal. Ex.:
locatário, usufrutuário, mandatário.

• detenção: art. 1198 do CC: conservação da posse em nome do


proprietário/possuidor, o qual passa ordens ou instruções ao
detentor. Ex.: caseiro, funcionário de estabelecimento comercial.
Apropriação indébita (art. 168 do CP)

• Observações:

• O agente recebe a posse ou detenção de forma lícita (vítima


transfere a posse/detenção de maneira legítima, sem estar
enganada), mas, em momento posterior, ele não restitui a
coisa ou então passa a agir como se dono fosse (p. ex.: vende,
consome, altera, oculta, etc.).

• Se houver uma fraude prévia para a entrega da coisa (vítima


induzida ou mantida em erro pelo agente), haverá estelionato.

• Só há apropriação indébita se a posse for desvigiada (relação


de confiança).
• Se o bem estiver sob vigilância do proprietário, há subtração,
portanto, furto.
Apropriação indébita (art. 168 do CP)
• S.A.: qualquer pessoa.
• Se for funcionário público, em razão de sua função, comete peculato
(art. 312 do CP) – delito especial.

• S.P.: é o titular do direito patrimonial. É quem sofre o


prejuízo.

• Elemento subjetivo é o dolo: vontade, ânimo de se


apropriar de forma definitivo.
• Não existe a modalidade culposa, por falta de previsão legal.
• Não existe fraude precedente. Se existir, haverá estelionato.
Apropriação indébita (art. 168 do CP)
• Consumação: crime é material. Consuma-se quando o agente transforma
a posse ou detenção sobre o objeto em domínio (inversão de ânimo), isto
é, quando passa a agir como se dono fosse.
• Conforme a forma de consumação, surgem duas modalidades de
apropriação:

• i) propriamente dita: consuma-se com o ato de disposição da coisa.


Agente vende, doa, loca o objeto que está em sua posse ou detenção
(conduta comissiva).

• ii) negativa de restituição: consuma-se com a recusa na devolução do


objeto (conduta omissiva). Depois de vencido o prazo, agente não
devolve a coisa.
• Se não houver prazo previamente definido: este passa a valer a partir de uma
notificação ou interpelação da vítima, ainda que informal – art. 397, §ú, CC (basta a
demonstração da vontade de reaver o bem, constituindo o devedor em mora).

• Tentativa: Somente se admite na modalidade “propriamente dita”, já que a


conduta é comissiva. Na “negativa de restituição” não é possível, pois a
conduta é omissiva - ou não venceu o prazo (ou não houve interpelação pela
vítima), ou isto já ocorreu e o delito estará consumado.
Causas de aumento de pena na apropriação indébita (art. 168, §
1º, do CP)
• Formas
- simples: 168, caput, CP
- majorada: 168, § 1º, CP. Pena é aumentada de um terço.
- OBS: Não é qualificadora, embora alguns chamem de “apropriação
qualificada”.

• Inciso I: quando houver “depósito necessário”


- O depósito necessário é definido nos art. 647 e 649 do CC. Poder ser:
• Depósito decorrente de alguma situação de calamidade, como incêndio,
inundação, naufrágio ou saque (“depósito miserável”) – agente se
aproveita da fragilidade da vítima;
• depósito de bagagens em hospedarias (ex.: hotéis ou pousadas que retém
bagagem de hóspedes).
• OBS: quando há depósito por força de lei (“depósito legal” – espécie de
depósito necessário no CC), este é atribuído funcionário público, de
carreira ou por equiparação (ex.: pátio que guarda veículo apreendidos pela
Justiça), de forma que há peculato (art. 312, CP).
Causas de aumento de pena na apropriação indébita (art. 168, § 1º,
do CP)
• Inciso II: qualidade pessoal do agente
* tutor: aquele que exerce a tutela, regendo o menor e seus bens;
* curador: aquele que exerce a curatela, regendo pessoa maior incapaz e seus
bens;
* síndico: pessoa que administra a massa falida (atual “administrador judicial”);
* inventariante: administra o espólio (bens deixados pelo falecido) até a partilha;
* testamenteiro: cumpre as disposições de última vontade do falecido;
* depositário judicial: pessoa nomeada em Juízo para a guarda de objetos
apreendidos até a decisão final do processo.

• Inciso III: em razão de ofício, emprego ou profissão


* Ofício: atividade consistente em arte mecânica ou manual. Ex: sapateiro,
ourives.
* Emprego: ocupação em que há relação de subordinação a um patrão. Ex.:
empregada doméstica, operário, balconista, etc. Jurisprudência Majoritária exige
relação de confiança.
* Profissão: atividade intelectual. Ex: advogado, contador, etc.
Apropriação indébita – questões finais
• Apropriação contra idoso
- Lei 10.741/03, art. 102 – delito específico, se a vítima é maior de 60 anos.
- Falha: traz a mesma pena, mas não prevê causas de aumento. É delito
específico para aquele que se apropria de pensão, rendimentos e bens do
idoso.

7.3) Privilegiada

• Está prevista no art. 170 do CP, que remete ao art. 155, § 2º.
- Requisitos:
• primariedade (não-reincidência);
• coisa de pequeno valor (até um salário mínimo).

Consequências:
• redução da pena de um terço a dois terços; (ou)
• substituição da reclusão pela detenção; (ou)
• aplicação isolada da pena de multa.
Estelionato
• “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita em
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,
mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio
fraudulento.

• Pena: reclusão de 1 a 5 anos, e multa.

• Bem jurídico: patrimônio.


Sujeitos e elementos
• S.A. : qualquer pessoa.
• SP: é a pessoa enganada; é o que sofre o prejuízo patrimonial.
• Nada impede, contudo, que sejam dois os sujeitos passivos, o enganado e
o que sofre o prejuízo patrimonial (neste caso, pode ser a pessoa jurídica).

• Elemento subjetivo: dolo genérico de obter vantagem indevida.

• Elementares do tipo:
• Fraude
• Indução ou manutenção de alguém em erro
• Obtenção de vantagem ilícita
• Em prejuízo alheio.
Fraude
• O tipo penal fala em artifício, ardil ou qualquer outro meio
fraudulento.

• Artifício: É o engodo empregado por intermédio de aparato


material. É a astuta transformação da verdade, gerando percepção
de falsa aparência material, exterior. Ex.: “bilhete premiado”, disfarce.

• Ardil: É a conversa enganosa. Não tem natureza material, mas sim


intelectual.

• Qualquer outro meio fraudulento: aqui temos mais uma caso de


interpretação analógica aplicada pelo CP. Fórmula genérica.

• Essa fraude deve ser apta a enganar a vítima.


Erro
• Erro é a falsa percepção da realidade. É a
manifestação viciada da vontade.

• No estelionato, erro é o efeito do meio fraudulento.


•É ele que vai permitir a vantagem ilícita e o
consequente prejuízo à vítima.

• Podem ocorrer duas hipóteses:


• A vítima é induzida a erro pela conduta fraudulenta do agente (dolo
anterior à ação).
• A vítima é mantida em erro pela conduta fraudulenta do sujeito: aqui
o sujeito passivo já incidiu em erro espontâneo, o qual é apenas
mantido pela fraude empregada pelo agente (dolo simultâneo à
ação).
Vantagem ilícita e prejuízo alheio
• Exige-se o duplo resultado para a consumação: vantagem
ilícita + prejuízo da vítima.
• Tentativa: é admissível, como no caso em que o agente engana a
vítima, mas, por circunstâncias alheias à sua vontade, não
consegue o proveito patrimonial.

• A vantagem ilícita do agente corresponde ao prejuízo patrimonial


sofrido pela vítima e geralmente ocorrem simultaneamente (mas pode
haver uma breve diferença temporal).

• Reparação do dano, restituição da coisa ou apreensão do objeto


material: não excluem o delito.
• Podem funcionar como causa de redução da pena (art. 16 -
arrependimento posterior); atenuante genérica (art. 65, III, "b"); ou
circunstância judicial (art. 59).
Privilégio (art. 171, § 1º, CP)
• Requisitos: Primariedade + pequeno valor do
prejuízo.

• Consequência: o Juiz pode aplicar a pena de


acordo como disposto no art. 155, § 2º.

• Pequeno valor do prejuízo: prevalece o critério


objetivo = um salário mínimo.

• Nos casos de tentativa, deve-se levar em conta o


prejuízo que o sujeito pretendia causar à vítima.
Modalidades especiais de estelionato
• Estão previstas no § 2º do art. 171.

• São seis modalidades, que veremos a seguir (incisos I a


VI).

• Cada uma delas possui uma fraude específica que a


torna especial em relação à figura básica (caput), que é
genérica e residual.

• Pena é a mesma do caput.


Disposição de Coisa Alheia como Própria
• É a conduta daquele que vende, permuta (troca), dá em
pagamento, em locação ou em garantia (penhor,
hipoteca) coisa alheia como própria.

• Para a consumação do delito é desnecessária a tradição


(se a coisa for móvel) ou a transcrição (se a coisa for
imóvel).
• Basta apenas o recebimento do preço.
• Na locação, o crime se consuma com o recebimento
dos alugueres.
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
• É a conduta daquele que vende, permuta, dá em pagamento ou em
garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou
imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em
prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias.

• A diferença é que aqui a coisa é própria, porém onerada. A fraude


consiste em silenciar o gravame.

• Inalienabilidade: Pode ser a legal (prevista em Lei), convencional


(contrato) e testamentária.

• Ônus: obrigação imposta por lei ou cláusula contratual.

• Coisa litigiosa: é a coisa objeto de ação judicial.

• “Imóvel que prometeu vender a terceiro”: crime é vender silenciando


sobre a promessa de venda (parcelada) anterior.
Defraudação de Penhor
• É a conduta daquele que defrauda (age com fraude), mediante alienação não
consentida pelo credor ou por outro modo (ex.: destruição da coisa, consumo,
etc.), a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado.

• Temos, aqui, um contrato de penhor (de garantia de débito): Devedor, como


garantia de sua dívida, empenha (dá em garantia de pagamento) um objeto, mas
fica na posse dele. Ex.: Devedor dá uma lavoura em garantia, mas permanece
com ela para dali tirar seu sustento. Então, ele vende sem consentimento do
credor.

• S.A é o devedor do contrato de penhor; S.P é o credor (pignoratício).

• O tipo exige alienação “não consentida pelo credor” (elemento normativo do tipo).
Se o credor consentir, não há crime.

• Consumação: duplo resultado: disposição da coisa + obtenção de vantagem. A


fraude é a venda não consentida, enganando o credor (que tem no bem a garantia
de seu crédito).
Fraude na entrega de coisa
• É a conduta daquele que, estando juridicamente obrigado a entregar alguma coisa
a alguém, defrauda-a, ou seja, adultera-a dolosamente.

• O tipo exige uma relação jurídica obrigacional entre o sujeito ativo e passivo
(“coisa que deve entregar a alguém”).

• A ação incide sobre a substância (ex.: entregar bijuteria no lugar de joia);


qualidade (ex.: carne de segunda ao invés de carne de primeira); ou quantidade
(quantia menor do que a avençada).

• Consumação: no momento da tradição, no instante em que a coisa é entregue ao


sujeito passivo.

• Obs.: Especialidade: Art. 7º, IX, Lei 8.137/90: vender, ter em depósito, expor à
venda ou entregar matéria-prima ou mercadoria em condições impróprias ao
consumo.
• Art. 18, § 6º, CDC: são impróprios para o consumo os produtos deteriorados, alterados,
adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde,
perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação,
distribuição ou apresentação.
• Se o contrato é de consumo: Lei 8.137; se não é: aplica-se o CP.
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro

• É a conduta do sujeito que destrói ou oculta coisa


própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava
as consequências da lesão ou doença, com o intuito
de haver (obter) indenização ou valor de seguro.

• S.A: o segurado.
• S.P: o segurador.
• Pressuposto: haver contrato de seguro vigente.

• Trata-se de crime formal (“com o intuito de”), não


sendo necessária a obtenção da indevida vantagem
econômica.
• Difere dos demais estelionatos.
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro

• A conduta pode ser:

• Destruir ou ocultar: o sujeito destrói ou oculta coisa própria.


• A destruição abrange coisas móveis ou imóveis.
• A ocultação, à evidência, abraça apenas as coisas móveis.

• Lesar o próprio corpo ou a saúde: o sujeito se autolesiona


(sozinho ou com a ajuda de terceiro.)
• 3º responde por estelionato + lesão corporal, em concurso de
crimes.

• Agravar as consequências de lesão ou doença: aqui o sujeito


já tem a lesão ou a doença e aumenta suas consequências,
visando a uma maior indenização.
Fraude no pagamento por meio de cheque
• É a conduta de emitir cheque sem suficiente provisão de fundos
em poder do sacado, ou de frustrar-lhe o pagamento.

• O delito pode ser cometido por intermédio de duas condutas:


• Emitir cheque sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado:
emitir significa colocar o cheque em circulação.
• Não basta o preenchimento do cheque; é necessário que ele entre em
circulação, ou seja, que ele seja efetivamente usado para pagamento.

• Frustrar o seu pagamento: Nessa hipótese o cheque tem fundos,


mas o emissor frustra o seu pagamento. Essa frustração pode ser
por:
• retirada de fundos: antes de o sujeito passivo descontar o cheque, o
agente retira o dinheiro.
• contraordem de pagamento: antes de o sujeito passivo descontar o
cheque, o agente, sem justa causa, dá ao banco ordem para que não
seja pago (é a sustação).
Fraude no pagamento por meio de cheque
• É delito material. Consuma-se no momento em que o estabelecimento
sacado (banco) nega pagamento ao cheque, impondo o prejuízo à vítima.
• Tentativa: é admitida. Ex.1: a vítima percebe que não tem fundos e não aceita o cheque;
ex.2: o sujeito é surpreendido no banco no momento em que tenta retirar as provisões.

• É necessário o dolo de obter vantagem em prejuízo alheio, ou seja, que o


agente saiba que não tem fundos e que está enganando a vítima.
• só persiste o crime se houver fraude (Súmula 246 do STF).

• Ressarcimento do prejuízo: em qualquer crime (regra geral), não afasta a


tipicidade. Se for realizado antes do recebimento da denúncia, configura
arrependimento posterior (art. 16 do CP).
• Porém, no estelionato na modalidade emissão de cheques sem fundos, o
STF tem o entendimento de que o pagamento do cheque antes do
recebimento da denúncia dá ensejo a uma falta de justa causa para a
ação penal, uma vez ausente o prejuízo e a intenção de fraudar (Súmula
554): questão de política criminal.
• Obs.: embora a súmula seja anterior à reforma penal de 1984 (a qual
criou o arrependimento posterior), o STF manteve sua vigência.
Estelionato qualificado - § 2º-A – “Estelionato eletrônico”
(inserido pela Lei 14.155/2021)
• A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a
fraude é cometida com a utilização de informações fornecidas pela
vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais,
contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento,
ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.

• Motivo da qualificadora: tecnologia tornou as pessoas mais vulneráveis a


serem vítimas de fraudes, em especial na internet.
• Conduta já configurava crime de estelionato, mas agora há uma qualificadora
específica.

• Redes sociais: Instagram, Facebook, WhatsApp etc.


• Contatos telefônicos: ex.: interlocutor simula ser do banco, p.ex. e pede a
senha do cartão.
• Envio de e-mail. Ex.: como se fosse de um órgão público ou empresa.
• Outro meio fraudulento = fórmula genérica. Ex.: site falso de uma empresa,
na qual a vítima insere dados do cartão para fazer compra.
§ 2º-B: causa de aumento do estelionato eletrônico
(inserido pela Lei 14.155/2021)

• A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a


relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um
terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante
a utilização de servidor mantido fora do território
nacional.

• Majorante: servidor em outro país. Aumenta-se em razão


da dificuldade maior para a investigação.

• Obs.: “considerada a relevância do resultado


gravoso”: Consoante exposição de motivos da norma,
quanto maior o prejuízo à vítima maior deve ser o
aumento.
Causas de aumento do estelionato (em geral)
• Art. 171, § 3º: causa de aumento de um terço, quando o
crime for cometido em detrimento de:

• entidade de direito público (Adm. Pública direta ou


indireta);

• instituto de economia popular (ex.: cooperativas);

• instituto de assistência social ou beneficência (filantropia,


caridade).
Causas de aumento do estelionato (em geral)
• Art. 171, § 4º: alterado pela Lei 14.155/2021

• Estelionato contra idoso ou vulnerável


A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido
contra idoso ou vulnerável, considerada a relevância do resultado
gravoso.
• Idoso: maior de 60 anos (Lei 10.741/2003).

• Vulnerável: conceito do art. 217-A do CP.

• Observação: § 4º foi inserido pela Lei 13.228/2015 (que previa que a


pena se aplicava em dobro se o estelionato tivesse o idoso como
vítima) e foi alterado pela Lei 14.155/2021.
• Em relação ao idoso, a nova Lei é novatio legis in mellius.
Representação
• Inserção do § 5º pela Lei 13.964/2019.

• Ação penal condicionada à representação

• Salvo se o crime for contra:


• Administração Pública Direta ou indireta
• Criança ou adolescente
• Pessoa com deficiência mental
• Maior de 70 anos de idade
• Incapaz
Representação
• Dúvida: O disposto no § 5º retroage para processos em andamento (casos
com denúncia recebida antes da mudança legislativa)?

• 2 posições:

• 1ª: sim, pois embora se trate de alteração em matéria de condição de


procedibilidade, há efeitos penais, pois a ausência de representação gera a
extinção da punibilidade.
• Concordamos com esse entendimento e pensamos que a vítima deve ser
chamada a representar no curso do processo.
• Foi adotada recentemente pela 2ºT do SFT (HC 180.421, Rel. Min. Edson
Fachin, j. 22/06/2021) – v. Informativo 1.023.

• 2ª: não, pois quando a denúncia foi recebida, a ação era incondicionada,
estando o ato jurídico perfeito e acabado.
• Neste sentido, há precedentes do STJ (Ex.: HC 573.093, Rel. Reynaldo
Soares da Fonseca, j. 15/04/2020) e da 1ªT do STF (HC 187.341, Rel. Min.
Alexandre de Morais, j. 13/10/2020).
Receptação (art. 180 do CP)
• “Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito
próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou
influir para que terceiro, de boa fé, a adquira, receba ou oculte.”
• Pena: reclusão de 1 a 4 anos, e multa.

• Exige-se a prática de crime antecedente.

• Deve ser crime, não pode ser contravenção.

• Não precisa ser crime patrimonial. Pode ser, por exemplo, contra a administração
pública.

• Não se exige que o autor do crime anterior seja punido (ele pode ser isento de pena,
nos termos do art. 181 do CP), ou não ser identificado. É o que define o art. 180, § 4º.

• Produto de ato infracional: Para Fragoso é fato atípico (estrita legalidade). Para
Noronha, há receptação.
Sujeitos e objeto
• Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, salvo o autor, coautor
ou partícipe do crime antecedente.

• Proprietário pode ser sujeito ativo?


• Apesar de o tipo não falar em coisa alheia, é difícil a aplicação porque
pessoa teria prejuízo. Ex.: “A” compra um bem que lhe fora furtado dias
antes.

• Sujeito passivo: é a vítima do crime antecedente.

• Objeto Material: Só os bens móveis podem ser objeto de


receptação. Essa é a posição adotada pelo STF, que entendeu
que receptação significa dar esconderijo, impossível no caso da
coisa imóvel.
Modalidades
1) Receptação Dolosa Simples: Pode ser:

• 1.1) Própria: é a do 180 "caput" ,1ª parte: adquirir, receber,


transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,
coisa que sabe ser produto de crime.
• Aquisição: obter a coisa a título de domínio.
• Recebimento: obter a coisa sem o domínio (ex. depósito, uso, penhor
etc.).
• Transportar: levar de um lugar para outro.
• Conduzir: dirigir o veículo produto de crime.
• Ocultação: esconder

• Trata-se de delito material, que se consuma com a aquisição,


recebimento, transporte, condução ou ocultação, admitindo a
tentativa.
Modalidades
• 1.2) Dolosa Simples Imprópria: é a conduta da 2ª parte do
caput: sujeito que influi para que terceiro, de boa fé, adquira,
receba ou oculte coisa produto de crime.

• Pune-se aqui a simples influência para que terceiro de boa fé


adquira, receba ou oculte coisa produto de crime.
• Esse terceiro deve estar de boa-fé. Se agir com má-fé, será
receptador próprio, enquanto que o influenciador será partícipe desse
delito, ou seja, da receptação própria.

• Trata-se de delito formal, não sendo necessário que o sujeito


influído receba, oculte ou adquira a coisa, bastando a mera
influência do autor do fato.
• Assim, o delito se consuma com a simples conduta de influir (núcleo).
• Não admite a tentativa. Ou o sujeito influi e o delito estará consumado,
ou não influi e não haverá delito.
Elemento subjetivo
• Na receptação simples, não se admite o dolo eventual; só o
direto.
• O tipo prevê, expressamente, as condutas de receber, adquirir
ou ocultar coisa que sabe ser produto de crime.

• Se o sujeito tinha dúvidas quanto à procedência, responderá


por receptação culposa.
• Essa situação é peculiar da receptação simples, que não se
repete na qualificada (a qual admite dolo eventual - veremos
adiante).
Modalidades
• 2) Receptação dolosa qualificada
• § 1º: Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar,
montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em
proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
coisa que deve saber ser produto de crime.
• Pena: reclusão de 3 a 8 anos, e multa.

• Aqui, o crime é próprio, pois só pode ser praticado por quem está no exercício
de comércio ou atividade industrial.
• Admite, entretanto, participação de 3º.

• Legislador utilizou a expressão “deve saber ser produto de crime”,


admitindo-se pois o dolo eventual.

 No § 2º estabeleceu o legislador que se equipara à atividade comercial, para


efeito do § 1º, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino,
inclusive o exercício em residência.
Modalidades
3) Receptação culposa (§ 3º)

• “Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção


entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve
presumir-se obtida por meio criminoso”.

• O elemento psicológico na receptação culposa consiste na vontade


consciente de adquirir ou receber a coisa e na culpa em descuidar
do conhecimento preciso de sua proveniência, ou seja, na
imprudência, negligência ou imperícia, relacionadas ao
desconhecimento da origem da coisa (geralmente é negligência).

• O núcleo do tipo prevê os verbos adquirir e receber, não fazendo


menção à ocultação, transporte e condução, condutas em tese
reveladoras de dolo.
Receptação culposa
• O elemento normativo do tipo é a culpa, revelada por três indícios. Nos
3 casos, o sujeito não sabe que a coisa é produto de crime, entretanto,
em face dos indícios reveladores da procedência ilícita do objeto, não
deveria recebê-lo ou adquiri-lo. São eles:

• a) Natureza da Coisa. Coisa, por sua essência, tem relação com


condutas suspeitas. Ex: comprar faróis de automóvel, cabos de
telefonia.

• b) Desproporção entre o valor da coisa e o preço: há desproporção.


Ex.: comprar joia a preço vil.

• c) Pela condição da pessoa que oferece o objeto material. Ex.:


idade de quem vende; conhecida condição de furtador.
Perdão e privilégio
• Perdão judicial: No caso de receptação culposa, pode o Juiz deixar de
aplicar a pena.
• Pressuposto único: agente ser primário.

4) Receptação privilegiada
• No caso de receptação dolosa, aplica-se o privilégio do art. 155, § 2º, ou seja, se o
criminoso for primário e de pequeno valor a coisa, o Juiz pode substituir a reclusão
pela detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a multa.
• Posição majoritária é a de que se aplica também para a
modalidade qualificada, já que o legislador não diferenciou.
• Há posicionamento minoritário de que há incompatibilidade.
Causa de aumento de pena
• Art. 180, § 6º:

• § 6o Tratando-se de bens do patrimônio da União, de


Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia,
fundação pública, empresa pública, sociedade de
economia mista ou empresa concessionária de serviços
públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput
deste artigo (Redação dada pela Lei nº 13.531, de 2017)

• Note-se que o legislador não previu a causa de aumento para o §


1º, mas só para o caput.
“Receptação de animal”
• Art. 180-A: Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter
em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de
comercialização, semovente domesticável de produção, ainda
que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser
produto de crime:
• Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

• É a receptação de animais destinados à produção, como o


gado bovino, suíno, galináceos etc.

• Artigo acrescentado pela Lei 13.330 de 02/08/2016 (lei


também criou o “furto de abigeato” – espécie de furto
qualificado).
Escusas absolutas e relativas
• Estão nos artigos 181 a 183, ou seja, nas disposições gerais dos crimes contra
o patrimônio.

ESCUSAS ABSOLUTAS (ART. 181)
• Causas de isenção de pena cabíveis aos crimes patrimoniais, em razão de
qualidade especial da vítima.

• Art. 181: É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste
título, em prejuízo:

I) cônjuge, na constância da sociedade conjugal;


- Aplica-se ainda que haja separação de fato.
- Aplica-se por extensão à união estável (art. 226, § 3º, CF)

II) ascendente ou descendente.


• Não há limitação, desde que em linha reta.

• Objetivo é manter a harmonia familiar.


ESCUSA RELATIVA (ART. 182, CP)

• Imunidade relativa. Não há isenção de pena, mas


condição de procedibilidade: exige-se representação da
vítima, quando o crime é cometido em prejuízo de:

- cônjuge “desquitado” ou “separado”.


- Hoje: divórcio ou separação judicial;

- irmão;

- tio ou sobrinho com quem o agente coabite.


Inaplicabilidade das escusas (art. 183, CP)

• Artigos 181 e 182 NÃO se aplicam:

- Aos crimes que tenham emprego de violência ou grave ameaça;

- Ao estranho (ao núcleo familiar) que participa do crime;

- Se a vítima tem 60 (sessenta) anos ou mais.

• Lei 11.340/06 determina, em seu art. 7˚, inciso IV, c.c. art. 5˚, que a
subtração, retenção ou destruição do patrimônio constitui violência
doméstica e/ou familiar contra a mulher.

• Dúvida: Este dispositivo altera de alguma forma as imunidades absolutas


ou parciais previstas nos artigos 181 e 182 do CP quando o delito
patrimonial for praticado contra a esposa, ou companheira (ou ex-esposa,
ex-companheira)?
Escusas X Lei Maria da Penha
• 2 posicionamentos sobre o assunto.

• 1º) MARIA BERENICE DIAS: não se aplicam as imunidades absoluta ou relativa


quando há violência doméstica contra a mulher (Lei especial acrescentou a
violência patrimonial).

• 2º) ROGÉRIO SANCHES CUNHA: A Lei Maria da Penha em nada alterou a


aplicação dos dispositivos previstos nos referidos artigos do CP. porque não foi
esta a intenção do legislador (se fosse, teria sido ele expresso, como o foi no
Estatuto do Idoso) – é a posição do STJ.
• Outro argumento é o de que as escusas persistem, mas, fundamentalmente,
porque, quando o CP refere-se a violência, refere-se somente à física (como
faz em todo o título afeto aos crimes contra o patrimônio); e não a qualquer
outra.

• Pensamos, contudo, que é importante verificar se, no caso concreto, há


um cenário de violência contra a mulher: se houver, a escusa deve ser
afastada.

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