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Direito Penal

Crimes contra o Patrimônio


Furto
Prof°: Thiago Aquino
Direito Penal – Parte Especial

FURTO

Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Trata-se de delito que tutela o patrimônio e a propriedade de coisa móvel.


Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo deste crime. O objeto material deste crime
é a coisa alheia e móvel. Além disso, só se admite a modalidade dolosa do crime.

Outro ponto de destaque diz respeito ao fato de que o sujeito ativo deve ter a
intenção de não devolver a coisa à vítima. Hipoteticamente, se a subtração se der
apenas para uso momentâneo, com a restituição da res logo em seguida, ao que
se denomina FURTO DE USO, estaremos diante de atipicidade da conduta.

E o FURTO FAMÉLICO (furto para alimentação)? Neste caso, reconhece-se a


excludente do estado de necessidade (art. 24, CP), desde que preenchidos os
requisitos. Para a consumação do delito, embora existam correntes diversas, os
Tribunais Superiores encamparam a Teoria da amotio ou apprehensio, que
estabelece a consumação no momento em que a inversão da posse – mesmo
que em um pequeno espaço de tempo ou por meio de posse mansa e pacífica. A
presença de sistema de vigilância ou de seguranças em estabelecimentos não
torna o crime impossível.

Nesse sentido foi editada a Súmula nº 567 do STJ, que estabelece “Sistema de
vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de
segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna
impossível a configuração do crime de furto”.

Causa de aumento de pena

§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o


repouso noturno.

No § 1º do art. 155 verifica-se uma causa de aumento causada pelo repouso


noturno. A expressão sublinhada é que gera controvérsia para conceituação –
eis que temos dispositivos em leis distintas com considerações que não
convergem.

De qualquer forma, a orientação a ser adotada deve levar em conta o casuísmo,


entendendo como repouso noturno aquele momento em que,
presumidamente, a vítima encontra-se repousando.

O STJ admitiu a aplicação da causa de aumento em caso de furto praticado


contra estabelecimento comercial ou residência desabitada, em razão da
maior vulnerabilidade do patrimônio.

Além disso, admite-se a cumulação da causa de aumento com as formas


qualificadas do delito e a aplicação do privilégio do § 2º à forma qualificada.

FURTO PRIVILEGIADO

§ 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada,


o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuíla de um
a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

A benesse instituída visa proteger os autores primários e que subtraem coisa de


valor insignificante. Assim, para sua configuração, temos duas situações:
a) primariedade do agente;
b) coisa de pequeno valor (aquela que não ultrapassa um salário mínimo).

Tema também controverso na doutrina é a possibilidade de se reconhecer o


privilégio no caso de furto qualificado. Seria o chamado furto híbrido. O STJ
considera possível, especialmente se a qualificadora for de natureza objetiva,
conforme o enunciado 511 da Súmula de sua jurisprudência:
“É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP
nos casos de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do
agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.”

CLÁUSULA DE EQUIPARAÇÃO
§ 3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que
tenha valor econômico.

O § 3º do art. 155 traz bens móveis por equiparação, qual seja, a energia elétrica
ou qualquer outra com valor econômico (elétrica, radioativa, térmica etc.).

Acerca do sinal de TV a cabo:

O STF julgou pela atipicidade da conduta, tendo em vista que, diferentemente


da energia, que é um recurso findável, o sinal de TV a cabo não se esgota, nem
diminui.
Contudo, o STJ já entendeu em sentido contrário.

Outro ponto de enfoque, que não merece ser confundido, diz respeito ao agente
que altera (frauda) o medidor de energia para que o mesmo perca a perfeita
funcionalidade e demonstre um resultado menor do consumo – esta
conduta é tratada como estelionato, e não furto.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO:
01) José, réu primário, após subtrair para si, durante o repouso noturno,
mediante rompimento de obstáculo, um botijão de gás avaliado em R$ 50,00
do interior de uma residência habitada, foi preso em flagrante delito.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item subsecutivo,
com base na jurisprudência dominante dos tribunais superiores a respeito
desse tema.
Na tipificação do crime praticado por José, admite-se o reconhecimento da
figura do furto privilegiado.

Certo ( ) Errado ( )

02) Em 18/2/2011, às 21 horas, na cidade X, João, que planejara detalhadamente


toda a empreitada criminosa, Pedro, Jerônimo e Paulo, de forma livre e
consciente, em unidade de desígnios com o adolescente José, que já havia
sido processado por atos infracionais, decidiram subtrair para o grupo uma
geladeira, um fogão, um botijão de gás e um micro-ondas, pertencentes a
Lúcia, que não estava em casa naquele momento. Enquanto João e Pedro
permaneceram na rua, dando cobertura à ação criminosa, Paulo, Jerônimo e
José entraram na residência, tendo pulado um pequeno muro e utilizado
grampos para abrir a porta da casa. Antes da subtração dos bens, Jerônimo,
arrependido, evadiu-se do local e chamou a polícia. Ainda assim, Paulo e José
se apossaram de todos os bens referidos e fugiram antes da chegada da
polícia. Dias depois, o grupo foi preso, mas os bens não foram encontrados.
Na delegacia, verificou-se que João, Pedro e Paulo já haviam sido condenados
anteriormente pelo crime de estelionato, mas a sentença não havia
transitado em julgado e que Jerônimo tinha sido condenado, em sentença
transitada em julgado, por contravenção penal.

Com base na situação hipotética apresentada, julgue os item:


O fato de o crime ter sido praticado durante o repouso noturno não implicará
aumento de pena, uma vez que a vítima não estava repousando em sua
residência no momento da ação criminosa.

Certo ( ) Errado ( )

03) Considerando as seguintes alternativas, assinale a correta.

a) Quanto ao crime de extorsão mediante sequestro, é correto afirmar que a pena


é aumentada quando o sequestro supera, no mínimo, 48 horas.
b) O emprego de arma não aumenta a pena no delito de extorsão.
c) O crime de furto ocorre quando o agente subtrai, para si ou para outrem, coisa
alheia móvel, equiparando-se à coisa móvel, à energia elétrica ou a qualquer
outra que tenha valor econômico.
d) A coisa abandonada pode ser objeto material do crime de furto.
e) De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, considera-se consumado o
roubo apenas se o bem, objeto do delito, sai da esfera de vigilância da vítima.

04) A subtração, para si ou para outrem, de energia elétrica não constitui


crime de furto, por ausência de previsão legal expressa.
Certo ( ) Errado ( )

05) Carlos foi denunciado pelo crime de furto, por ter subtraído uma máquina
fotográfica de Alberto, avaliada em R$ 80,00.
Nessa situação, no momento da prolação da sentença, o juiz, mesmo tendo
constatado que Carlos tinha contra si outros três inquéritos policiais para a
apuração de furtos por ele praticados, poderá reconhecer a presença do furto
privilegiado ou furto mínimo, substituindo a pena de reclusão por detenção,
aplicando redução de pena ou aplicando somente a pena de multa.

Certo ( ) Errado ( )

GABARITO:
01) C
02) E
03) C
04) E
05) C
Direito Penal
Crimes contra o Patrimônio
Furto qualificado
Prof°: Thiago Aquino
Direito Penal – Parte Especial

FURTO QUALIFICADO

a) Destruição ou Rompimento de Obstáculo (I):

Trata-se da degradação, arrombamento, rompimento, demolição, destruição


total ou parcial de quaisquer objetos ou construções (cadeados, cofres, correntes,
muro, teto, janela, portas etc.), que dificultem a subtração da coisa visada pelo
agente.

O rompimento aqui mencionado, apto a qualificar o furto, deve ser exterior à


coisa subtraída. Nesse contexto, se o agente quebra o vidro para subtrair o próprio
veículo, não haverá incidência da qualificadora. Contudo, se ocorrer a quebra do
vidro para subtrair um bem interno (ex.: aparelho de som), haverá a incidência da
qualificadora.

Outro ponto de destaque é que, embora o STJ já tenha reconhecido a aplicação


do princípio da insignificância ao furto praticado mediante rompimento de
obstáculo, a jurisprudência da corte é firme no sentido de que a escalada, o
arrombamento, o rompimento de obstáculo, o concurso de agentes – ou quando
o paciente é reincidente ou possuidor de maus antecedentes –, a reprovabilidade
do comportamento está demonstrada, afastando a aplicação do princípio da
insignificância.

b) Abuso de Confiança (II):

É uma circunstância subjetiva, reveladora de maior periculosidade do agente,


que se aproveita de uma relação de confiança nele depositada. É importante
frisar que esta qualificadora exige um especial vínculo de lealdade, não sendo
considerada pela mera relação de emprego ou hospitalidade.

Em resumo, o sujeito ativo tem acesso à coisa em razão da confiança nele


depositada.

Portanto, se qualquer pessoa também pudesse praticar o fato, mesmo que com
a relação de confiança, a qualificadora deverá ser afastada.

O STJ considera inviável e incompatível o princípio da insignificância com o


abuso de confiança.

Além disso, esta causa é a única que não se compatibiliza com o privilégio
descrito no art. 155, § 2º, tendo em vista que ambos possuem natureza subjetiva,
o que destoa do contido na Súmula nº 5111 do STJ.

c) Fraude (II):
Meio enganoso, capaz de iludir a vigilância do ofendido e permitir maior
facilidade na subtração pelo agente.

d) Escalada (II):
Uso de via anormal para que o agente ingresse no local onde se encontra a coisa
pretendida.
A confecção de um túnel para acesso pode ser classificada como escalada, a
partir de uma interpretação extensiva.

e) Destreza (II):
Trata-se do indivíduo que aplica técnicas sorrateiras, físicas ou manuais, de
maneira que o agente pratica o fato sem que a vítima perceba. A jurisprudência
condiciona a aplicação desta qualificadora à vítima trazer o bem junto ao corpo,
pressuposto lógico para se avaliar a habilidade.

e) Chave falsa (III):


Trata-se de todo instrumento com ou sem forma de chave, destinado a abrir
fechaduras. A ligação direta não foi prevista em lei, razão pela qual não se pode
equiparála à chave falsa ou ao rompimento de obstáculo. Registre-se, porém, que
existem decisões (posicionamento minoritário) considerando a ligação direta
como qualificadora mediante rompimento de obstáculo.

f) Concurso de pessoas (IV):


Basta a participação de mais de uma pessoa, ainda que a outra seja inimputável,
para configurar a qualificadora.
Vale recordar a Súmula nº 442 do STJ, que veta a aplicação da majorante do
concurso de agentes prevista para o crime de roubo.

g) Emprego de explosivo (§4º-A):


Conduta que pune de maneira mais gravosa aqueles que, por exemplo,
explodem caixas eletrônicos, uma vez que esta explosão pode gerar perigo
comum, em razão da ingerência dos agentes sobre os produtos.
Registre-se que o furto mediante uso de substância explosiva migrou à condição
de crime hediondo.

h) Furto de veículo automotor (§5º):


Aqui, o furto será qualificado se o veículo for transportado para outro estado ou
para o exterior.

i) Furto de animal (§6º):


É a figura denominada abigeato. Esse tipo qualificado é destinado à análise da
subtração de animais vivos.
Todavia, para que se enquadre nesta hipótese, é preciso que o animal seja
domesticável e destinado à reprodução.

j) Furto de substância explosiva (§7º):


Pune-se com maior rigor a subtração do explosivo ou de acessórios,
independentemente de sua utilização.
Difere da hipótese do §4º-A, tendo em vista que, lá, ocorre o emprego da
substância explosiva como meio para acessar o patrimônio. A hipótese do §7º
consiste em praticar o furto da própria substância explosiva.

AÇÃO PENAL
No furto, a ação penal é pública incondicionada, ressalvadas as observações do
art. 182 do CP, que serão abordadas em bloco específico.

Art. 182. Somente se procede mediante representação, se o crime


previsto neste título é cometido em prejuízo:
I – do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II – de irmão, legítimo ou ilegítimo; III – de tio ou sobrinho, com quem o agente
coabita.

FURTO DE COISA COMUM


Art. 156. Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem,
a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação.
§ 2º Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não
excede a quota a que tem direito o agente.

A conduta recai sobre objeto comum (e não alheio) a várias pessoas. Este crime é
próprio, pois só pode ser praticado pelo condômino. A ação penal para este delito
é condicionada à representação da vítima ou do representante legal. Além disso,
não haverá a punição para a hipótese de existir subtração de coisa substituível
cujo valor não exceda a quota parte (fração ideal) a que o agente tenha direito

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO:
01) Para subtrair um automóvel, “X”, de forma violenta, danificou a sua porta.
Nesse caso, “X” deverá responder apenas pelo crime de furto, em razão do
princípio da consunção.
Certo ( ) Errado ( )

02)Quem utiliza uma tesoura para fazer girar e abrir, sem danificar, a
fechadura da porta de um veículo que ato contínuo subtrai para si, comete
crime de furto:

a) qualificado pela fraude.


b) simples.
c) qualificado pela destreza.
d) qualificado pelo rompimento de obstáculo.
e) qualificado pelo emprego de chave falsa.

03) Aquele que subtrai, para si ou para outrem, coisa alheia móvel, com abuso
de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza, pratica o crime de:

a) roubo.
b) furto simples.
c) estelionato.
d) furto qualificado.
e) apropriação indébita.

04) É furto qualificado mediante fraude, o ato cometido por meio de


dispositivo eletrônico, com violação de mecanismo de segurança.

Certo ( ) Errado ( )

05) Subtrair o condômino a quem legitimamente a detém, a coisa comum


somente se procede mediante representação.

Certo ( ) Errado ( )

GABARITO:
01) C
02) E
03) D
04) C
05) C

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