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EXERCÍCIOS SOBRE OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS

1) Indique os fundamentos legais e os desdobramentos do princípio da


legalidade.
R: Sem sombra de dúvidas o princípio da legalidade é inspirado nas ideias
Iluministas e constitui norma fundamental de direito penal, com gabarito
constitucional, nos regimes democráticos liberais instaurados a partir de fins do
século XVIII.

O Estado Democrático Liberal atualmente vem sendo substituído por um Estado de


matiz Democrático, mas, de índole social. Sendo que esse último ao contrário de seu
antecessor, exerce uma função ativa, sendo o poder eminentemente participativo,
com múltiplas funções e atividades.

A própria visão do homem tomou novos patamares. O ‘’individuo’’ iluminista foi


substituído pela ‘’pessoa’’ que não somente possui direitos, mas também, deveres
com a sociedade de modo geral.

Existem também, as exceções ao postulado da legalidade dos delitos e das penas.


Como é o caso da Constituição Portuguesa de 1976 que embora prevendo no inciso
I do mesmo artigo, o postulado da legalidade, dispõe que não fica impedida a
punição, nos limites da lei interna, da ação ou omissão que ‘’no momento de sua
prática seja considerada criminosa segundo os princípios gerais do direito
internacional comumente reconhecidos’’.

Vale recordar que a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, que prevê como
fonte eventual do direito penal ‘’os princípios gerais do direito reconhecidos pelas
nações civilizadas. ‘’

Tanto o princípio da legalidade dos delitos e das penas, e as exigências do Estado


Social são compatíveis, pois os ditos Estados democráticos sociais tem
compromisso com os valores pregados pelo pensamento iluminista, principalmente
com a liberdade. Enquanto o postulado da legalidade penal basta o legislador saber
traduzir em leis precisas os valores e interesses substanciais.

No Brasil devido a tradição constitucional, bem como o texto vigente, consagram a


liberdade como direito inviolável. E pode-se dizer que não há crime e não há pena
sem lei ‘’prévia, atual e certa’’.
2) O que significa o postulado da reserva legal?
R: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação
legal;

O Art. 5, inc. XXXIX da Constituição Federal de 88, é uma das formas mais claras de
mostrar em ‘’ação’’ o postulado da reserva legal, pois, principalmente com as teorias
contratualistas, mais específico na época do Iluminismo, fazendo do Estado um
instrumento de garantias de direitos e obrigações do homem com o dever de limitar o
poder do próprio Estado é que se pode chegar ao raciocínio que não é ilícito se a lei não
proíbe.

E nisso tudo incluísse a Reserva Legal, que garante que somente a lei, e anteriormente
ao fato, pode estabelecer que este constitui delito, e a pena a ele aplicável.

3) Qual é o significado da taxatividade?


R: Também chamada de determinação taxativa é que as leis sejam as mais claras
possíveis para que não haja interpretações distanciadas e totalmente diferentes do que o
legislador tentou passar.

Essa é uma questão muito da hermenêutica, pois do que vale a anterioridade da lei, se a
mesma não possuí clareza e objetividade, é necessário a ver esses adjetivos para que se
possa reduzir o coeficiente de variabilidade subjetiva na aplicação da lei, para que não
se tenha juízes ‘’legislando e aplicando’’ a lei a seu bel-prazer.

É necessário que o destinatário das normas penais tenha das leis uma noção clara e
inequívoca. No entanto, o postulado da determinação taxativa tem índole política, na
tentativa de proteger o cidadão do arbitro judiciário.

‘‘um fato só pode ser castigado se a punibilidade estiver legalmente determinada por lei
antes de seu cometimento. ‘’

Autores como J. Baumann escreve que o delito deve estar determinado na lei, enquanto
J. Wessels, sustenta que o alcance e o âmbito da aplicação das leis penais deve ser
suficientemente reconhecíveis.
4) Explique o que se entende por irretroatividade da lei penal? A lei penal
pode retroagir para alcançar algum fato passado? Justifique.
R: Claramente uma herança da legalidade dos delitos e das penas sendo um
complemento lógico da Reserva Legal.

Expressa ela a exigência da atualidade da lei, impondo que a mesma só alcança os fatos
cometidos depois do início de sua vigência, não incidindo sobre os fatos anteriores.

A irretroatividade da lei penal, além de assegurar exigências racionais de certeza do


direito ‘’dá ao cidadão a segurança, ante as mudanças de valorações do legislador, de
não ser punido, ou de não ser punido mais severamente por fatos que no momento de
sua comissão, não eram apenados, ou eram de forma mais branda. ‘’

Art. 5, inc. XL da Constituição Federal de 88.

‘’A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. ‘’

Isso importa que sempre que a lei penal retroage quando em favor do réu ainda quando
haja sentença com trânsito em julgado.

Deve-se observar as exceções das chamadas lei excepcionais e temporárias, as primeiras


contidas e previstas no Código Penal Militar, que devido a uma guerra passam a ter
vigência, dado o fim da guerra elas perdem a eficácia mas continuam vigentes, caso
volte a ter uma nova guerra elas passam a ter eficácia novamente. Enquanto as leis
temporárias diferem-se, pois, uma vez decorrido o prazo para sua vigência não só
perdem a eficácia, como também deixam de vigorar. Em verdade, deixam de existir.
5) O que é informado no princípio da culpabilidade? Aponte o seu
fundamento e trace um paralelo entre a responsabilidade penal objetiva e
subjetiva.

R: Antes de responder o que é o princípio da culpabilidade, é bom deixar claro que ele
não está diretamente presente na constituição, mas sim de maneira implícita, pois é uma
forma de derivado do princípio da dignidade humana. Deixando de fora quaisquer
hipóteses penais de responsabilidade objetiva.

 Responsabilidade penal objetiva: é a responsabilidade advinda da prática de


um ilícito ou de uma violação ao direito de outra pessoa, mas que, para ser
provada e questionada, independe da aferição de culpa ou dolo.
 Responsabilidade penal subjetiva: Que houve a intenção. Esta intenção é
exatamente a subjetividade. A responsabilidade subjetiva é aquela que depende
da existência de dolo ou culpa por parte do agente delituoso.

E isso fica ainda mais claro no Código Penal (Decreto Lei nº 2848\40), que influenciado
pelas ideias e teorias do século XIX consagram a responsabilidade subjetiva.

Art. 18 - Diz-se o crime

Crime doloso

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

Crime culposo

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como
crime, senão quando o pratica dolosamente

O Estado é possuidor de ius puniendi (direito de punir) e por muito tempo as punições
eram fundadas somente na existência de um resultado, sem levar em consideração a real
responsabilidade do agente, mas com o princípio da culpabilidade subjetiva,
especialmente após o século XIX, conseguiu-se de certa maneira limitar o poder de
punir estatal.
6) Conceitue o princípio da intervenção mínima e explique os princípios que
dele derivam:

R: Através do princípio da legalidade se impõem limites ao arbítrio judicial, para que


ele não julgue a seu bel-prazer e para evitar uma legislação inadequada a injusta
restringir, e mesmo, se possível, eliminar o arbítrio do legislador.

Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) em seu artigo 8º:

‘’A lei deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias’’ ...

Princípio vinculado ao pensamento iluminista que pretendeu reduzir a legislação em


geral, e especialmente a penal, a ‘’poucas, claras e simples leis’’.

Com isso surge o princípio da necessidade ou da intervenção mínima, pois relaciona-se,


assim, com a ideia de dignidade penal do bem jurídico. Portanto, o Direito Penal só
deve ser utilizado quando exatamente necessário, devendo ser subsidiário e
fragmentário.

Intervenção mínima, pois, o Direito Penal só deve preocupar-se com os bens mais
importantes e necessários a vida em sociedade, as perturbações mais leves do
ordenamento jurídico são objeto de outros ramos do direito.

 Subsidiariedade: Os direitos Penais só intervêm em abstrato quando os demais


ramos do ordenamento jurídico se mostrarem ineficazes na tutela do bem
jurídico. Se para o restabelecimento da ordem jurídica violada forem
suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser
empregadas e não as penais.
 Fragmentariedade: Significa que este ramo da ciência jurídica protege tão-
somente valores imprescindíveis para a sociedade. Não se pode utilizar o
Direito Penal como instrumento de tutela de todos os bens jurídicos. O Direito
Penal limita-se a castigar as ações mais graves praticadas contra os bens
jurídicos mais importantes, decorrendo daí o seu caráter fragmentário, uma vez
que se ocupa somente de uma parte dos bens jurídicos protegidos pela ordem
jurídica.
7) Quais são as consequências do uso abusivo da pena e do Direito Penal?
R: Primeiramente enfatiza-se o fato que os tribunais ficariam sobrecarregados,
retardando a administração da justiça punitiva. Segundamente é o agravamento
das finanças públicas sobrem quem recai o encargo da manutenção dessa ingente
massa de condenados.

 Hipertrofia Penal – Reinhart Franck, em artigo aparecido em 1898, salienta que


o uso da pena tem sido abusivo, e por isso, perdeu parte de seu crédito e
portanto, de sua força intimidadora, já que o corpo social deixa de reagir do
mesmo modo que o organismo humano e não reage mais a um remédio
administrado abusivamente.

No século passado houve um enorme alargamento das leis penais pelo fato de ter sido
entendido que a criminalização de toda e qualquer conduta indesejável representaria a
melhor e mais fácil solução para enfrentar os problemas de uma sociedade complexa e
interdependente em contínua expansão.

 Deflação Penal – Na Itália começou em 1967 onde algumas leis determinaram


a transformação de pequenos delitos em infrações administrativas.
Despenalizando assim praticamente todos os ilícitos penais em que se previa a
aplicação de pena pecuniária. E isso foi de grande importância, pois
estabeleceu critérios que devem orientar o legislado para que elabore tipos
penais, sendo esses seguindo princípios como o da proporção e da
necessidade.

É necessário que o fato que se pretende criminalizar atinja a valores fundamentais,


valores básicos do convívio social e que a ofensa a esses valores, a esses bens jurídicos,
seja de efetiva e real gravidade. E por outro lado, é indispensável que não haja outro
meio, no ordenamento jurídico capaz de prevenir e reprimir tais fatos com a mesma
eficácia da sanção penal.

O requisito de merecimento da pena se mede pela relevância do bem agredido e pela


gravidade da ofensa, que legitima o uso da sanção penal pelo Estado.

 Critério da proporcionalidade e o da necessidade – O legislado tem que ter


consciência que ele tem o direito a intervenção mínima.
8) Explique o princípio da Humanidade: Há pena de morte no Brasil? Indique os
fundamentos jurídicos:
R: O princípio da humanidade consiste no reconhecimento do condenado como pessoa
humana. Baseado em duas ideias iluministas, a primeira é a exigência de direitos
inerentes a condição humana, e ao contraste, a elaboração jurídica do Estado como se
tivesse origem em um contrato, no qual, ao constituir-se o Estado, os direitos humanos
seriam respeitados e assegurados.

Fazendo menção até mesmo ao princípio da intervenção mínima, com leis sérias que
se limitam somente ao necessário, e sem penas degradantes.

Sobre a pena de morte no Brasil: Constituição Federal de 1988.


Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos
forçados; d) de banimento; e) cruéis;
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de
amamentação;

Como se pode perceber, existe pena de morte no brasil, mas, somente no caso de
guerra declarada. A constituição Federal vigente alinhou-se com a tendência
fortemente majoritária das legislações contemporâneas no sentido de banir a pena em
causa do elenco das sanções penais.

No Brasil, a pena de morte estava prevista no Código Criminal do império de 1830.


Mas, após a execução errônea do fazendeiro Mota Coqueiro, o Imperador Dom Pedro
II passou sistematicamente a comutar as penas de morte em galés perpétua.

Hoje, todas as relações humanas disciplinadas pelo direito penal devem estar
presididas pelo princípio da humanidade.
9) Qual é o significado dos princípios da pessoalidade e individualização das
penas?
R: Princípio da pessoalidade – é princípio passivo do direito penal das nações
civilizadas que a pena pode atingir apenas o sentenciado. Nenhuma pena passará da
pessoa do delinquente.

Tal princípio está previsto no art. 5º , XLV , da Constituição Federal , que assim dispõe:
"nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o
dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido".

Ou seja, ninguém pode ser punido por fato alheio. O filho não responde pelo delito do
pai, a esposa não responde pelo delito do marido etc.

A legislação vem prevendo a criação de instituições aptas a prestar assistência a família


do sentenciado.

Lei de execução penal, artigo 22, XVI – Orientar e amparar, quando necessário, a
família do internado e da vítima.

Individualização das penas – A constituição de 1988 no inciso XLVI do artigo 5° prevê


que a ‘’lei regulará a individualização da pena’’. Garante aos indivíduos no momento
de uma condenação em um processo penal que a sua pena seja individualizada, isto é,
levando em conta as peculiaridades aplicadas para cada caso em concreto.
10) Explique as fases de individualização da pena.
O processo de individualização da pena se desenvolve em três momentos
complementares: o legislativo, o judicial e o executivo ou administrativo.

Na primeira etapa através da lei, - que fixa para cada tipo penal uma ou mais penas
proporcionais a importância do bem tutelado e a gravidade da ofensa.

Todavia a lei penal não se limita as previsões normativas mencionadas, mas, também,
fixa regras que vão permitir as ulteriores individualizações. Assim ao estabelecer as
regras que o juiz deve obedecer para chegar, em cada caso, considerando suas
peculiaridades, a fixação da pena definitiva e concreta.

O segundo momento é o da individualização judiciaria. Onde o juiz vai fixar qual das
penas é aplicável, se previstas alternativamente, e acertar o seu quantitativo entre o
máximo e o mínimo fixado para o tipo realizado, e inclusive determinar o modo de sua
execução.

No código vigente as regras básicas que presidem a individualização judiciária se


encontram no artigo 59 da nova parte geral do Código Penal.

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme
seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Critérios especiais da pena de multa

O juiz de certa maneira esta preso aos parâmetros que a lei estabelece, dentro deles o
juiz pode fazer suas opções, para chegar a uma aplicação justa da lei penal.

Aplicada a sanção penal pela individualização judiciária, a mesma vai ser efetivamente
concretizada com sua execução. Nesse momento que a sanção penal ‘’começa’’
verdadeiramente a atuar sore o delinquente, que se mostrou insensível a ameaça
contida na cominação (proibição legal).

Esta fase da individualização da pena tem sido chamada de individualização


administrativa. Outros preferem chamar de individualização executória.

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do
apenado;

Relevante, todavia no tratamento penitenciário em que consiste a individualização da


sanção penal são os objetivos que com ela pretendem alcançar. Por finalidade
principal da sanção penal o seu aspecto de ressocialização. Levando em consideração
também o princípio da proporcionalidade e também sendo atuante o subjetivismo
criminológico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

https://fernandoadvg.jusbrasil.com.br/artigos/
242543075/principio-da-culpabilidade-e-a-
responsabilidade-penal-subjetiva

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
Del2848compilado.htm

https://wagnerfrancesco.jusbrasil.com.br/artigos/
324495951/qual-a-diferenca-entre-
responsabilidade-subjetiva-e-objetiva

https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1437844/o-
que-se-entende-por-principio-da-intervencao-
minima

https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1329433/o-
que-se-entende-pelo-principio-da-personalidade-
da-pena
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

EXERCÍCIOS SOBRE OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS

Disciplina: Direito Penal I


Professor: André Luis Barcellos Zinn
Acadêmico: Alexandre Debona Dall’ Alba (170809)

Passo Fundo, abril de 2018

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