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DO DIREITO ROMANO ATÉ A REVOLUÇÃO FRANCESA: DIVISÃO DO DIREITO EM CIVIL E

PENAL.
Na antiga Roma, o direito estava dividido em dois campos: Civil e Penal. A delimitação das
matérias do campo civil era feita por exclusão, era Direito Civil aquilo que não era penal, incluído:
Administrativo, Trabalho, Processual, Tributário, inclusive relações que envolviam o Estado.
Revolução Francesa: Divisão do direito em público e privado.
Com a Revolução Francesa o direito foi dividido entre público e privado, porque Napoleão
percebeu a necessidade de recompensar os interesses da burguesia que era privado. Em 1804,
foi editado o Code de France (código napoleônico), que consagrou a propriedade privada: Pacta
sunt servanda; regido pelo liberalismo econômico. O código consagrou a supremacia do interesse
público sobre o interesse privado (proletário X público). Não havendo interesse público irá
prevalecer o interesse privado (Autonomia será plena).

Constituição Federal e o Direito Civil


A primeira manifestação de Direito Civil foi com a Cont. de 1824, que previa a elaboração de um
código civil e penal. Porem, foi somente em 1855 que Teixeira de Freitas que elaborou o ‘Esboço
do Código Civil’. O mesmo foi finalizado em 1862 e apresentou à Comissão revisora.
Teixeira acabou renunciando à tarefa, devolveu o dinheiro recebido e o Esboço não se converteu
em projeto de lei, que acabou sendo aproveitado pela Argentina.
Em 1899, Clóvis Beviláqua em 6 seis meses apresentou um projeto, que foi levado ao congresso,
sendo aprovado somente em 1916.

A neutralidade e indiferença das constituições brasileiras em relação ao direito Civil.


Quando a CC/16 entrou em vigor, o direito civil desejava que toda e qualquer disciplina estivesse
no código, por isso que a constituição não tinha artigos a esse respeito, e era restrita as matérias
de direito público. Por isso a constituição da época se chamava: Carta Política e o código Civil
de Constituição do direito Civil.
O CC/16 se manteve ileso por 6 constituições.
Constitucionalização do Direito Civil.
Em 1988, abandonando a neutralidade e a indiferença dos textos que a antecedem, oriundo do
pós-guerra, de constitucionalização do direito civil, também chamado de Direito civil
constitucional. Perceba-se que a CF/88 “chama para si” a responsabilidade de cuidar do direito
público e privado. É um movimento migratório, eis que o centro de sistema do Direito Civil migrou
da Norma Codificada para que a CF, passando tanto a CC todas as normas esparsas de direito
privado a se submeter à regência da Constituição.
TÁBUA AXIOLÓGICA
A nova constituição estava em colisão com o CC/16, visto que trazia valores mais humanísticos e
menos patrimoniais. A constituição se preocupa com o ser, e a CC/16 se preocupa com o ter. A
CC/16 era egoísta, patriarcal e autoritária. Enquanto a CF tem a chamada tábua axiológica de
valores:
 Dignidade da pessoa humana;
 Solidariedade social e erradicação da pobreza;
 Liberdade;
 Igualdade substancial.
Com isso o Código Civil é (re)humanizado, há a valorização da pessoa humana.

Nada impede, que a Constitucionalização e a publicização estejam presentes na mesma relação


jurídicas, a exemplo do que ocorre no direito do Consumidor. Agora a divisão entre o público e o
privado é muito mais acadêmica do que prática.
D.C. mínimo
Intervenção mínima do Estado nas relações privadas, está baseada na autonomia de contratar,
de se relacionar. Assim, apenas quando necessário o Estado intervirá, exemplo: há liberdade
para testar, mas deve ser respeitado o limite da legítima. No art. 14 do CC prevê que o titular
pode escolher o destino do seu corpo pós morte, mas desde que seja gratuito, com finalidade
altruística e cientifica.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo
ou em parte, para depois da morte.

Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

CÓDIGO CIVIL DE 2002 E OS SEUS PARADIGMAS


Criou-se o Novo Código Civil, em novos valores: Socialidade, Eticidade e operabilidade.
►Socialidade:
Preocupa-se coma a impactação coletiva no exercício de direitos, ou seja, de que forma o
exercício de um direito, pelo seu titular, irá impactar sobre a coletividade. TODOS os institutos do
direito devem cumprir uma função social. Nenhum exercício de direitos deve prejudicar a
coletividade.
Art. 421.  A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. (Redação dada
pela Lei nº 13.874, de 2019)

Art. 1.228. § 1  o  O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido
em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e
artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.
Surge 2 novos conceitos:
 Terceiro ofensor
 Terceiro ofendido.
Isso ocorre já que um terceiro pode prejudicar uma relação jurídica alheia, bem como possa ter
prejudicado por tal relação.

► Eticidade
Interpretação do Direito Civil de maneira ética, ou seja, no exercício de um direito o titular deverá
respeitar certos limites, nem tudo é possível.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé.
OBS: Eticidade (ética mínima nas relações) não se confunde com moralidade (conteúdo
subjetivo).
A Teoria do Adimplemento Substancial (substancial performance ou inadimplento mínimo), à luz
do princípio da boa-fé, não se considera razoável resolver a obrigação quando a prestação, posto
não adimplida de forma perfeita, tenha sido substancialmente atendida.
►Operabilidade
Concretude. Interpretação das normas de Direito Civil deve ser feita de maneira simples, todos os
direitos garantidos no código Civil devem ser facilmente compreendidos, o titular deve-se evitar
entender com facilidade quais são os direitos, o sistema deve ser facilmente operável deve-se
evitar expressões difíceis, conceitos complexos.
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos
a que aludem os arts. 205 e 206.
Preocupado com uma maior efetividade na aplicação de suas normas, o legislador do CC/02
abandona o preciosismo gramatical do CC/16. Afasta-se das conceituações estéreis para
trabalhar com modelos abertos e mutáveis, de modo que o direito mão dique mais no campo das
abstrações, mas seja executado com praticidade e efetividade. Deixa-se de trabalhar com o
critério da subsunção, em que o caso concreto tinha de se adequar inteiramente à norma.

PESSOA NATURAL.

1. Conceitos iniciais.
Importante consignar que, no plano do Direito Civil, não se deve utilizar a expressão “pessoa
física” ou “homem” (CC/16), mas sim pessoa natural ou pessoa humana (art. 1º, III, CF).

1.1 CAPACIDADE DE DIREITO OU DE GOZO


O art. 1º do CC consagra a capacidade de direito ou de gozo, conferida a TODAS as pessoas,
sem distinção.
Art. 1  o  Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Segundo Orlando Gomes, a capacidade de direito (todos têm) confunde-se com a noção de
personalidade, porque toda pessoa é capaz de direitos. De acordo com o autor, não há diferença
fundamental entre capacidade de direito e personalidade, são faces da mesma moeda.

1.2 Capacidade de fato ou de exercício.


Consiste na capacidade de exercer direitos, há pessoas (incapazes - arts. 3º e 4 º do CC) que
não possuem.
Em regra, a capacidade de direito pressupõe a capacidade de fato.

1.3 Legitimação
Capacidade especial para determinado alto ou negócio jurídico. De acordo com Calmon de
Passos, é a pertinência subjetiva para a prática de determina ato, ou seja, mesmo capaz, uma
pessoa pode estar impedida de praticar determinado ato. Neste coso, falta-lhe legitimidade. A
legitimidade está ligada a prática de um ato especifico ao passo que a capacidade possui
um significado genérico. Já entende que a legitimação é uma forma especifica de
capacidade para determinados atos da vida civil. A legitimação é um ‘plus’ que se
agrega à capacidade em determinadas situações.
EX: é o caso de 2 irmãos, de sexo diferente que mesmo capazes, não podem se casar
entre si (art. 1521, IV CC). O tutor não poderá adquirir bens móveis ou imóveis do tutelado
(art. 1749, I, CC). A venda de imóveis, no regime de comunhão de bens, precisa da
outorga conjugal.

1.4 Legitimidade
É a capacidade processual, isto é, capacidade especifica para o processo, conforme
disposto no art. 17 do CPC/15.
Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.

A própria lei utiliza as expressões “legitimidade” e “legitimação” como sinônimas. Exemplo:

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas
e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação LEGITIMIDADE para requerer a medida
prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto
grau.

1.5. PERSONALIDADE
A personalidade civil da pessoa inicia-se a partir do nascimento com vida, mas a lei protege,
desde a concepção, os direitos do nascituro.
Art. 2  o  A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.
“Nascer com vida” significa operar-se o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório do recém-
nascido, independentemente da forma humana e de tempo mínimo de sobrevida em respeito ao
principio da dignidade da pessoa humana. CC Espanhol: “somente se reputará nascido o feto que
tiver figura humana a um tempo de sobreviva de 24hrs*- no Brasil tal disposição seria impossível
em face do princípio acima citado.
MP/SP: “Consiga separar-se por inteiro oi parcialmente só ventre materno respirando, mediante
parto natural ou intervenção cirúrgica, pouco importando que o cordão umbilical seja rompido, que
seja viável ou não, que não tenha necessariamente a forma humana”.
“Nascituro” é aquele que foi concebido, mas ainda não nasceu.
Personalidade jurídica: aptidão genérica para ser titular de direitos e obrigações no campo
civil; a personalidade civil da pessoa: Começa do nascimento com visa, mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Direitos no nascituro: direito à vida, direito de receber doação e herança como o direito de lhe
ser nomeado curador de seus interesses.

2.1. Teorias explicativas do nascimento


Ao se referir ao nascituro (aquele que ainda, embora concebido, não nasceu), reconhece direitos
em seu favor. Ora, se o nascituro é dotado de direitos não deveria também ser considerado uma
pessoa? A doutrina diverge a este respeito construído três teorias fundamentais: Natalista,
Concepcionista e a Teoria.

2.1.1. Hipótese Natalista


Silvio Rodrigues, Caio Mário, Eduardo Espínola, Vicente Ráo, Venosa.
Afirma que a personalidade só seria adquirida a partir só nascimento com vida, de maneira que p
nascituro não seria considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito. TERIA
CLÁSSICA.

2.1.2. Teoria da Personalidade Condicionada


WB Monteiro, Serpa Lopes e Arnaldo Rizzado.
O nascituro só é considerado pessoa SE nascer com vida, o nascituro possui direitos sob
condição suspensiva. Vale dizer, ao ser concebido, já pode titularizar alguns direitos
(extrapatrimoniais), como o direito à vida, mas só adquire completa personalidade, quando
implementa a condição do seu nascimento com vida.

2.1.3. Teoria Concepcionista


Silmara Chinelato, Teixeira de Freitas, Maria Helenas Diniz, Giselda Hironaka, Pablo Stolze e
Rodolfo Pamplona, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald.
O Nascituro seria considerado pessoa desde a concepção, inclusive para efeitos patrimoniais,
razão pela qual seria titular de direito e não de mera expectativa. Se ele nasce com vida, este
nascimento retroage seus efeitos à concepção.
A teoria “Personalidade Formar”, citada por MHD, afirma que o nascituro na vida intrauterina tem
personalidade jurídica formal, no que atina a direitos personalíssimos e aos de personalidade,
passando a ter personalidade jurídica maternal, alcançando os direitos patrimoniais, que
permaneciam em estado potencial, somente com o nascimento com vida. Nascer com vida,
adquire personalidade jurídica material, mas se tal não ocorrer, nenhum direito patrimonial
terá. Independentemente o nascituro tem proteção. O legislador aparentemente abraça a teoria
natalista por ser mais prática, mas sofre forte e inequívoca influencia da teoria Concepcionista,
pôr o sistema jurídico reconhece ao nascituro diversos direitos como pessoa.

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