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CADERNO DE TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

BREVES APONTAMENTOS:

• Tivemos 2 CC, sendo um deles o atual que é de 1966.


• O nosso CC atual, teve maioritariamente influência alemã.

INTRODUÇÃO

DIREITO PÚBLICO VS DIREITO PRIVADO

Quanto ao Direito Público…


• Diz respeito às relações estabelecidas entre os particulares e o
Estado/outros entes públicos.
• São dominantes os interesses públicos.
• Funda-se em relações de autoridade, disparidade e
heteronímia (aparecendo como um 3º que resolve o conflito).

Quanto ao Direito Privado…


• Refere-se às relações entre os particulares.
• Fundadas na igualdade jurídica, liberdade e autonomia.
• Prossegue tendencialmente o interesse privado.

Quais os seus critérios distintivos?

1. Teoria dos interesses


• Serão normas de Direito Público, as normas que tutelam ou
prosseguem o interesse público.
• Serão normas de Direito Privado aquelas que visam
satisfazer interesses privados.

Crítica: Todo o Dieito (público ou privado) visa prosseguir interesses


públicos e privados ao mesmo tempo.
Por exemplo a Administração Pública (266º CRP) ou 2 particulares a
celebrar um contrato de imóvel e têm de fazer a escritura pública
(875º CC).
2. Critério da posição de supra-ordenação e infra-ordenação
• O D Público disciplina as relações entre entidades que estão
numa posição de supremacia com outra que estão na
posição se subordinação.
• O D Privado regula as relações em que os sujeitos estão
numa posição de paridade.

Crítica: O D Público também pode corresponder a relações em que


ambos os sujeitos se encontram numa posição de paridade, bem
como o D Privado também pode corresponder a relações de
supremacia e subordinação.
Exemplo: 1878º, nº2 CC e 1152º CC

3. Critério dos sujeitos (qualificação dos sujeitos)


• O D Público é constituído por normas que estruturam o
Estado ou outros entes Públicos dotados de autoridade, e
essas normas acabam por regular as relações entre entes
cheios de ius imperii ou com os particulares.

Exemplo: Expropriações (62º, nº2 CRP).

• O D Privado regula as relações entre particulares, ou entre


particulares e o Estado que se apresenta como um particular
despido de ius imperii.

Mas qual o interesse prático desta distinção?


• Interesse na ordem científica na sistematização e no lógico
agrupamento de normas jurídicas.
O Direito é todo um sistema, mas há normas que se inserem mais
numa determinada área do que noutra.

• Interesse na própria aplicação do direito.


A que tribunal recorro?
Direito Civil como direito privado comum

1. Direito Privado Comum/Geral


• Direito Civil
Este, tutela os interesses dos homens em relações com outros
homens nos vários planos de vida onde ocorrem tais relações,
estatuindo as normas a respeitar numa perspetiva da autonomia da
pessoa. A fim ao cabo, disciplina a vida comum dos cidadãos-

2. Direito Privado especial


• Direito Comercial
Disciplina os atos de comércio, sejam ou não comerciantes as
pessoas que neles intervêm.

• Direito do Trabalho
Disciplina diretamente o trabalho subordinado, prestado a outem.

TEORIA GERAL DO ORDENAMENTO JURÍDICO

Fontes do direito civil português

O Direito Civil Português pode surgir de 3 formas. Aliás, surge


maioritariamente através de uma delas, mas as outras também
acabam por influenciar.

1. Formas de surgimento de normas jurídicas civis


a) Lei – Fonte imediata – Artigo 1º CC
CRP, que refere todo e qualquer tipo de norma
b) Normas Corporativas – Fonte imediata – 1ºCC
Para a maioria da doutrina estas compõem uma vertente já
ultrapassada do Estado Novo e, portanto, não deviam estar
expressas no CC. Outros ainda a consideram fonte de direito (ver
slide).

c) Assentos – Fonte mediata – 2ºCC


Já foram revogados. Mas estes, eram um recurso tradicional utilizado
quando havia um conflito entre duas normas e tinham de perceber
qual delas aplicar. Para além de vincularem o caso concreto
vinculavam ainda o futuro.

d) Usos – Fonte mediata – 3ºCC


Apesar de os usos vigorarem no nosso ordenamento jurídico não
podemos dizer que estes façam parte do Direito Consuetudinário
porque esse não é fonte de Direito Civil.
Os usos são práticas sociais que não têm de estar convertidas em
lei, mas que são essenciais para certos efeitos.
Exemplos: 218º, 234º, 1122º e 1155º CC

e) Equidade – Fonte mediata – 4ºCC


Deriva dos tribunais. É a justiça do caso concreto.

2. Diplomas fundamentais do Direito Civil português


a) CRP
Artigos como o 13º, 24º, 36º, 55º, 61º e 62º da CRP, quando
surgiram alteraram alguns pareceres que o CC tinha a esse
respeito. Ou seja, o CC teve de se adaptar às alterações que
apareciam na CRP.
b) Direito Internacional e da EU
Esse, ao entrar no nosso ordenamento jurídico também causa
alterações no nosso CC.

c) O próprio CC

d) Legislação avulsa

e) Diplomas complementares

3. Normas aplicáveis às relações de D civil, fazendo com que haja uma


relação e aproximação do D civil ao d constitucional
• As normas constitucionais, nomeadamente as que reconhecem
os direitos fundamentais, também se impõem no domínio das
relações entre os particulares.

• Desta forma, são protegidos nas relações jurídicas privadas os


seguintes princípios:

a) O respeito pelos direitos fundamentais


Artigo 41º, 37º, 47º, 24º e 25º da CRP

b) Princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei, proibindo-


se o privilégio, benefícios ou prejuízos em razão da
ascendência, língua, raça, …
Artigo 13º CRP

c) Direito de constituir família e contrair casamento


Artigo 36º CRP
d) Reconhecimento da constituição e garantia da proteção da
família atual
Artigo 67º CRP

É importante referir que a tutela destes valores no domínio privado


opera mediante meios de proteção próprios deste ramo do Direito:
• Nulidade da cláusula que viole tais direitos (280ºCC).
• Direito de indemnização por violação de um direito de
personalidade (70º e ss CC).

A aplicação das normas constitucionais no domínio privado faz-se:

• Através das normas de direito privado que reproduzem o seu


conteúdo.
Artigo 72º CC + 26º CRP

• Através de cláusulas gerais e conceitos indeterminados cujo


conteúdo é integrado por valores constitucionalmente
consagrados.
Artigo 280º CC

• Quando não exista cláusula geral ou conceito indeterminado,


pode excecionalmente aplicar-se diretamente uma norma
constitucional reconhecedora de um direito fundamental.

Para além disso, não podemos deixar de referir que às vezes os


princípios fundamentais do Direito Civil podem estar por cima dos
princípios constitucionais.
O código civil de 1966

Sistema externo e características do tipo de formulações utilizados

O nosso CC, teve influência alemã como já sabemos e é o 2º que


vigora no nosso ordenamento jurídico.

Assim, este divide-se em 5 partes seguindo o sistema germânico ou


plano de Savigny:
I. Parte Geral
II. Direito das Obrigações
III. Direito das Coisas
IV. Direito da Família
V. Direito das Sucessões

É importante dizer que este plano é diferente daquele que tivemos no


nosso 1º CC, que era o plano francês ou plano de Gaio que dividia o
CC em apenas 3 partes (Pessoas, Coisas e Ações ou modos de
adquirir.

Quanto ao tipo de formulações (estrutura que se adota para criar


normas jurídicas). Existem 3 tipos, o nosso é o tipo de formulação de
conceitos gerais-abstratos (embora tenha influência mista).
• Tipo de formulação casuístico
Este, não se usa pois não é viável. Basicamente formula normas
jurídicas muito detalhadas (descrevem todas as situações possíveis),
não dando aos juízes a manobra de interpretar a lei.

• Tipo de formulação de conceitos gerais-abstratos


Sofre influencia alemã e provém da doutrina.
Esta, parte da premissa que diz que o Direito nunca vai conseguir
prever todas as situações e detalhar isso mesmo e por isso, definem-
se conceitos gerais e abstratos que podem servir para diversas
situações dando margem aos juízes para os interpretarem e
aplicarem no caso concreto.
Assim, a lei adapta-se aos tempos e acaba por ganhar os detalhes
que antes não tinha, quando ocorrem as situações.

• Tipo de formulação de simples diretivas


Parte do pressuposto que é impossível prever tudo, mas limita-se
apenas a dar diretivas gerais aos juízes e eles a partir daí decidiam
o que fazer.

O nosso CC, como já referi, adota um tipo misto sendo o principal o tipo
de formulações de conceitos gerais-abstratos. Este, depois é
temperado com cláusulas gerais (conceitos feitos pela doutrina que
tipificam determinados comportamentos) e com conceitos
indeterminados (expressões gerais que dão margem ao juiz para ele
apreciar o caso concreto – exemplo: só no caso concreto é que
percebemos a gravidade de uma situação.).

Princípios Fundamentais do Direito Civil Português (9)

1. O reconhecimento da pessoa e dos direitos de personalidade


• O ser humano é a figura principal de todo o direito.
• O artigo 1º da CRP, afirma a “dignidade da pessoa humana”
como base da soberania de um Estado.
• O artigo 6º da DUDH prescreve que “todos os indivíduos têm
direito ao reconhecimento em todos os lugares da sua
personalidade”.
• Artigo 60º CC.

O facto de toda a pessoa ter personalidade ou ser sujeito de direito,


implica que toda e qualquer pessoa seja sujeito de direitos.
Direito esses que incidem sobre os vários modos de ser, quer
físicos ou morais, da sua personalidade e a que chamamos: Direitos
de Personalidade.

Os Direitos de personalidade são:


• Irrenunciáveis.
• Mas, podem ser objeto de limitações voluntárias (81ºCC).

Falemos ainda que o direito vai tutelar (proteger) os diversos modos


de ser físicos e morais da personalidade, de modo que a violação
desses direitos possa constituir:
• Ilícito criminal
• Ilícito civil
E assim sendo, neste caso, o lesado tem o direito de ser
indemnizado pelo infrator (70º, nº2, 1ª parte do CC) e 70º, nº2, 2ª
parte).

2. Princípio da autonomia privada e o princípio da liberdade contratual

O princípio da autonomia da vontade traduz-se no poder que é


reconhecido aos particulares de auto regularem os seus interesses,
a sua esfera jurídica e o conjunto das relações jurídicas de que é
titular (405º CC, 26º, nº1 e 61º da CRP).

A autonomia privada exercita-se através:


• Celebração de negócios jurídicos.*
• No poder de livre exercício dos seus direitos ou de gozo dos
seus bens pelos particulares, ou seja, na realização de
direitos subjetivos (D de propriedade).
É importante referir que a autonomia privada já está no domínio do
Direito Civil que assume a função de modelação e disciplina positiva
da vida social e não na função de proteção e defesa de direitos já
constituídos (responsabilidade civil).

Como referi acima os negócios jurídicos, podemos dizer que os


mesmos se dividem em 2:
• Negócios jurídicos unilaterais
Pressupõem-se que há apenas a manifestação de 1 das partes (no
direito das sucessões – o testamento, por exemplo).

• Negócios jurídicos bilaterais ou contratos


Ambas as partes estão envolvidas e por norma há uma proposta e
uma aceitação.

Desta forma, ao falarmos de contratos/negócios jurídicos podemos


mencionar o princípio da liberdade contratual, que é uma
consequência da autonomia privada, sendo a forma mais visível do
exercício desta.
Como o próprio nome refere, este princípio reporta-se aos contratos
considerados fonte de obrigações, tendo a autonomia privada a
pela extensão.
Nos negócios jurídicos unilaterais, a autonomia privada é mais
restrita.

Analisemos agora o artigo 405º CC que nos diz que existem 3 tipos de
liberdade contratual:
• Liberdade de Celebração dos Contratos
Esta, tem algumas restrições:
- Necessidade de autorização (1682º CC + 1682º a)
- Proibição de x ou y celebrarem um contrato (irmãos não se podem
casar).
- Renovação do contrato imposta a um dos contraentes.

• Liberdade de escolha do parceiro contratual


Interpretação extensiva do artigo. Liberdade de se pode escolher a
contraparte. Tem restrições como o direito de preferência.

• Liberdade de modelação do conteúdo contratual


Também contém restrições:
- “Limites da lei” (280º, 282º, 762º, nº2 do CC)
- Contratos normativos (Contratos de Trabalho)
- Normas imperativas
- Cláusulas contratuais gerais
______________________________________________________

Por falar em cláusulas contratuais gerais, como devemos calcular, são


diferentes das cláusulas gerais de que falamos anteriormente.
Estas cláusulas gerais contratuais referem-se aos contratos de
adesão, ou seja, a figura que tem um maior poder económico (por
exemplo a MEO) formula unilateralmente as cláusulas negociais e
apresenta-as à outra parte (um particular, no caso) que se limita a
aderir às mesmas sem a possibilidade de alterar o seu conteúdo ou
de as rejeitar.
Assim sendo, vemos que estas apresentam uma restrição ao
princípio da liberdade contratual.
Estas cláusulas existem por necessidades de racionalização,
planeamento e eficácia da atividade de uma empresa, …
Ainda sobre o Princípio da Liberdade Contratual…

O domínio principal da aplicação do princípio da liberdade


contratual são os contratos obrigacionais (negócios bilaterais).
a) Contratos obrigacionais
Contratos cuja eficácia constitutiva, modificativa ou extintiva situa-se
no domínio das obrigações em sentido técnico ou direitos de
crédito. Dá-se a liberdade dos sujeitos de fazerem o que “querem”.
Caracteriza-se pela ampla liberdade de conclusão ou celebração
dos contratos, são reduzidas as limitações quanto ao seu conteúdo,
e quando não existirem limitações as partes têm a liberdade de
produzir os efeitos obrigacionais que lhes aprouver.

b) Contratos com eficácia real – ERGA OMNES


Contratos constitutivos, modificativos ou extintivos de direito reais.
Contratos que se manifestam automaticamente em todas as
pessoas (Direito de Propriedade). Estes contratos estão
subordinamos ao principio da tipicidade.
Aqui existe a liberdade de celebração de contratos, mas há uma
forte restrição à liberdade de fixação do conteúdo contratual (1306º
nº1 CC + 62º CRP).

c) Contratos familiares
São contratos com eficácia no domínio das relações de família onde
há liberdade de concluir ou não o contrato (as pessoas podem
casar com quem quiserem, adoção …), não há liberdade de fixação
do conteúdo contratual nestes contratos (não podem alterar o seu
conteúdo), mas existe a liberdade de modelação do conteúdo
contratual nos negócios familiares patrimoniais (heranças,
administração de certos bens, …) embora limitada!
d) Contratos sucessórios
Destinam-se a regular a sucessão por morte de uma pessoa.

3. Princípio da boa fé (bona fides)

Este, é um princípio de Direito Natural e pode exprimir-se pelo


mandamento que: cada um fique vinculado à boa fé da palavra
dada, a confiança não deve ser frustrada nem abusada e cada
pessoa deve comportar-se como é de esperar de uma pessoa
honrada. Basicamente reforça a importância da ética no Direito.
Acaba por estar inteiramente ligado com o princípio da autonomia
privada.

Existem 2 tipos de boa fé:


• A boa fé objetiva: remete para os princípios ou regras que
dizem simplesmente o modo de atuação da boa fé (3º nº1,
227º,236º,239º,334º, … CC).

• Boa fé subjetiva: remete para o estado de ignorância


(inocência) do sujeito (1648º CC).
Este desconhecimento pode ser:
- Mero desconhecimento ou ignorância de certos factos (119º nº3,
243º nº2 (quando as pessoas pensam que estão a celebrar um
contrato e celebram outro pois foi alterado alguma coisa no
mesmo), 1260º nº1).

- Desconhecimento sem culpa ou ignorância desculpável (291º nº3


e 1648º nº1).

- Consciência de determinados factos (612º nº2 CC) quando pratica


a má fé.
4. O princípio da Confiança

Princípio segundo o qual se deve revelar juridicamente o


comportamento de alguém que, por ação ou omissão cria noutra
pessoa fundadas e legítimas expectativas. Está inteiramente ligado
com o princípio da boa fé.
Quem o faz, pode ter o dever de indemnizar o lesado pelas
expectativas que criou.
A confiança que depositamos nas outras pessoas merece
efetivamente tutela jurídica. Pois se confiamos na outra pessoa para
celebrar um contrato, essa não a deve frustrar. E se o fizer, o Direito
vê-se na obrigação de proteger o lesado. Se assim não fosse, existia
uma insegurança na vida jurídica.
Assim, a tutela da confiança no Direito Civil Português faz-se de duas
formas:
• Através de disposições legais especificas (1871 nº1 al d) e
1970º) – regras/normas jurídicas estabelecidas como punição
para quem as quebrar.

• Através de institutos gerais que surgem associados à regra


objetiva da boa fé (atribuição especial de efeitos específicos) –
125º e 126º CC – a proteção da confiança é feita a titulo
acessório.
5. A responsabilidade civil

A responsabilidade civil é o princípio que obriga à reparação dos


danos causados (obrigação de indemnização).
Essa indemnização pode ser feita:
• Reparação natural ou em espécie (483º e 562º CC)
• Reparação em dinheiro ou por equivalente (483º e 566º CC)
- Danos patrimoniais (563º) – para efeitos de cálculo temos de ter em
conta:
Dano Emergente (564º) – computador que se estraga – próprio
computador
Lucro cessante (564º) – computador que se estragou – perde-
se a ferramenta de trabalho essencial (futuro)
- Danos não patrimoniais (496º) – tipo uma compensação porque o
dano causado não dá para apagar

A responsabilidade civil tem 3 modalidades:

• Responsabilidade pré-contratual – 227º


Decorre da violação culposa da boa-fé nos preliminares ou na
formação de contratos. Não há ainda o negócio jurídico mas estão
nessa via.

• Responsabilidade contratual – 801º, 802º, 804º e ss


Decorre da violação de um direito de crédito. A fim ao cabo é a
violação que resulta da violação de um contrato ou negócio unilateral,
por não cumprimento, cumprimento defeituoso ou cumprimento fora
do tempo de um negócio jurídico.
A lei presume que o devedor é que tem culpa (798º).
Exemplo: Alguém devia pagar a prestação e não pagou. Alguém que
pagou fora do tempo.
• Responsabilidade extracontratual – não há negócio
Resulta da violação de um dever de um dever geral de abstenção,
contraposto a um direito absoluto/direito real/direito de
personalidade.
Exemplo: Quando se viola o direito de propriedade de alguém.
É aqui justamente que vale o regime especial do artigo 483º CC.
Neste âmbito o lesado tem de provar a culpa do lesante (487º CC –
não podemos culpar alguém sem provas).

É importante referir que dentro da responsabilidade extracontratual


existem várias submodalidades:

I. Responsabilidade subjetiva ou Responsabilidade por factos


ilícitos:
Pressupostos/Requesitos:
- Facto voluntário (ninguém tem culpa sem querer)
- Facto ilícito (há exceções no artigo 336º e ss – tem de ser contrário
à lei)
- Facto culposo (dolo - alguém agiu com intenção de fazer mal e
negligencia – alguém agiu com uma determinada conduta e estão a
criar uma fonte de perigo)
- Dano (tem de haver um dano)
- Nexo de causalidade (conduta que o agente tomou e o seu
resultado)

II. Responsabilidade objetiva ou Responsabilidade pelos Riscos –


499º
Corresponde a situações em que o homem atua, pensando apenas
em si próprio, agindo para si e ao mesmo tempo potencia o
surgimento de riscos para os restantes homens. Ou seja, são
atividades lícitas, mas geram risco para si e para os outros.
A responsabilidade pelo risco está prevista quanto a:
• Responsabilidade do Estado e demais pessoas coletivas
públicas (501º CC)
• Danos causados por animais (502ºCC) – o nosso cão morde
alguém.
• Acidentes causados por veículos de circulação terrestre
(503ºCC).
• Danos causados por instalações de energia elétrica ou gás
(509ºCC).
• Acidentes de trabalho.
• Danos causados no ambiente.

III. Responsabilidade por factos lícitos


Não é que a atividade em si seja arriscada, há a provocação de um
dano na mesma, mas dá-se prioridade às causas de exclusão (sendo
o lesado indemnizado na mesma). Quanto estamos perante uma
situação de vida ou de morte, e cometemos um dano podemos
recorrer à causa de exclusão de Estado de Necessidade.

Este tipo de responsabilidade está presente:


• Estado de Necessidade (339º).
• Passagem forçada momentânea (invadir a propriedade de
alguém para ir retirar o seu enxame de abelhas de lá – 1322º).
• Escavações.

Artigos chave:
483º + 566º
A indemnização
sai do bolso da
pessoa.

6. A concessão da personalidade jurídica às pessoas coletivas

Todas as pessoas singulares são titulares de direitos, e a sua


personalidade jurídica assenta numa vertente mais orgânica.
As pessoas coletivas são coletividades de pessoas ou complexos
patrimoniais organizados para a prossecução de um fim comum, às
quais a ordem jurídica atribui a suscetibilidade de serem titulares de
diretos e obrigações – NÃO SÃO SUJEITOS DE RELAÇÕES
JURÍDICAS. Ou seja, as pessoas coletivas também são vistas
como pessoas jurídicas no plano do Direito, de modo que se possa
proteger os interesses dessas pessoas/organizações.
O nosso CC reconhece 3 tipos de pessoas coletivas (157º e ss):
• Associações (não têm um fim económico).
• Sociedades (grupo de pessoas e bens que procuram um fim
económico).
• Fundações (autonomia que se cria a partir de uma massa de
bens.
Em suma, a concessão de personalidade jurídica às pessoas
coletivas traduz-se num mecanismo jurídico que permite maior
eficiência (proteção) na realização dos interesses coletivos que as
mesmas prosseguem.
7. A propriedade privada

Dimensão económica básica: satisfazer necessidades


No domínio do direito: liberdade + propriedade (direitos naturais e
imprescindíveis) – há um dever geral de abstenção neste domínio
IUS UTENDI FRUENDI ET ABUTENDI: Direito de usar, dispor e
abusar – 1305ºCC

Impõe-se ao Direito, regular segundo certos valores, os poderes dos


homens sobre as coisas e o conteúdo das suas relações com essas
coisas. O objeto do direito de propriedade não é sobre as coisas mas
também sobre os animais.
Características do direito de propriedade no nosso sistema jurídico:
• O direito de propriedade privada está reconhecido nos artigos
62º nº1 e no 61º da CRP (sentido amplo) – há que respeitar a
nossa pirâmide hierárquica.
• Pode existir a expropriação por utilidade pública, mediante o
pagamento da justa indemnização.
• Está ainda consagrado no artigo 1305º + 1305º a) do CC a
definição de direito privado em sentido estrito.

Notas caracterizadoras da propriedade: (importante)


• Os poderes do proprietário são indeterminados sendo apenas
restringidos por disposições legais (exemplo: 334º CC).
• Este direito é dotado de uma certa elasticidade – porque é
ilimitado à partida, mas em alguns casos, os direitos reais vão-
se impor sobre este direito.
Exemplos: Um Sr. que tem um apartamento e o arrenda, ele tem o
direito de propriedade na mesma mas fica mais limitado pois está lá
um inquilino.
Se o sujeito for proprietário a x terreno, e cede o direito de superfície
a outra pessoa para ela plantar algo. O terreno continua a ser seu,
mas o que vem à superfície fica a ser da outra pessoa que plantou.
• É um direito perpétuo que não pode extinguir-se pelo não uso,
o único limite é o artigo 88º da CRP.

Formas especiais de propriedade:


• Compropriedade (1403º e ss) – surge quando temos 2 ou mais
sujeitos que são ambos titulares do mesmo direito de
propriedade.
• Propriedade horizontal (1414º e ss) – é cada vez mais comum,
em apenas um edifício haver várias frações de propriedade. O
1º andar é de x, o 2º andar é de y.

Tipos de direitos reais da propriedade privada:


• Direitos reais de gozo – Conferem ao seu titular o poder de
utilização total ou parcial de uma coisa, e por vezes o poder de
aquele se apropriar dos seus frutos.
- Propriedade (direito real ilimitado - 1302º) que entra em confronto
com os direitos reais limitados
- Usufruto (1439º- poço), uso (1484º) e habitação (que limita o direito
de propriedade original)
- Superfície (1524º)
- Servidões (1543º)

• Direitos reais de garantia – conferem ao titular (credor) o poder


de obter o pagamento do seu crédito, pelo valor de uma coisa
ou dos seus frutos face aos outros credores (se um credor tiver
o direito real de garantia, fica numa posição privilegiada perante
outros credores).
- Penhor (666º)
- Hipoteca (686º)
- Privilégio creditórios (733º)
- Direito de retenção (754º)
- Consignação de rendimentos (656º)
• Direitos reais de aquisição – conferem ao seu titular o poder de
se apropriar da coisa ou adquiri-la.
- Direito real de preferência (1091º, 1380º, 1381º, 1409º, 1410º,
1423º, 1535º, 1555º e 2130º CC) – é um direito que coloca (o credor
por exemplo) novamente numa posição privilegiada.

8. A família

O direito da família é um ramo muito essencial e tradicional, existindo


já desde o direito romano.
Características do Direito da Família:
• Grande parte das normas do Direito da Família têm caráter
normativo/imperativo.
• Este ramo do direito é influenciado pelas estruturas
económicas, políticas, sociais e religiosas.

A tutela deste ramo do direito é feita através de princípios


constitucionais:
• Direito à celebração do casamento que é reconhecido a todos
(67º, nº1 e 36º nº1).
• Direito de constituir família sem a celebração de casamento
(36º nº1 e 4).
• Igualdade dos cônjuges nas relações entre si e dos
progenitores na relação com os filhos (36º nº3).
• Não discriminação dos filhos nascidos no e fora do casamento
(1586º)
• 13º CRP

Fontes das relações familiares (1576º)


• Casamento
• Parentesco
• Afinidade
• Adoção
9. O fenómeno sucessório

A sucessão é o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade


das relações patrimoniais do falecido (de cuius) devolvendo-se os
bens que lhe pertenciam (2024º).
A sucessão pode ser/dá-se por 2 vias:
• Legal
- Legitimária: atribui a certos familiares (do falecido) o direito a uma
parte da herança sem o falecido limitar esse direito (2157º CC) –
versa apenas sobre a matéria da quota indisponível e logo, as
normas da lei são imperativas.

- Legítima: tem lugar quando o autor da herança não dispôs


validamente de toda a herança ou de parte da quota disponível.
Nesse caso a lei estabelece vários grupos de sucessíveis, para
serem chamados à herança (2133º CC) – normas supletivas.

• Voluntária
- Testamentária: resulta do testamento através do qual o falecido
dispões de todos os seus bens ou parte deles (2179º nº1) – versa
apenas sobre a quota disponível. Se não se celebrar testamento, o
legislador encaminha para a sucessão legítima.

- Contratual: funda-se num contrato feito em vida pelo futuro falecido.


Esta sucessão contratual é em regra proibida. Mas, é válido apenas
em convenções antenupciais (1701º 3 2028º CC).
Teoria Geral da Relação jurídica
Teoria geral do direito subjetivo

Sentidos da expressão relação jurídica (6)

• Sentido amplo: é toda a relação da vida social relevante para o


direito, ou seja, que produz efeitos jurídicos.

• Sentido estrito: é toda a relação da vida social que é regulada


pelo Direito de modo que a uma pessoa é portadora de um
direito subjetivo e a outra pessoa o dever de sujeição.

• Relação jurídica abstrata: expressão com referência a um


modelo ou esquema contido na lei (negócio jurídico de compra
e venda).

• Relação jurídica concreta: expressão com referência a uma


relação jurídica existente (entre pessoas determinadas sobre
um objeto determinado – já se tem em mente os sujeitos e o
objeto em concreto).

• Relação jurídica simples ou singular: ocorrem muito


raramente no Direito Civil, e representa a forma mais básica de
todas em que um sujeito apenas goza de 1 só direito, há 1 só
obrigação em jogo. Funciona quase que unilateralmente (228º
al a e 230º nº1).
Exemplo: Uma pessoa põe um anúncio para vender animais, a
proposta é válida por 1 semana. Se alguém vir o anúncio e responde
a dizer que quer comprar o cão. Aqui, celebra-se uma relação jurídica
simples pois um sujeito exerce um direito que lhe cabe, sem a outra
parte fazer nada.
• Relações jurídicas complexas ou múltiplas: comporta um
conjunto de direitos subjetivos e deveres*/sujeições que se
relacionam entre si por qualquer aspeto.
Exemplo: A e B celebram um contrato de compra de um livro.
- *Deveres principais
- *Deveres acessórios – são obrigações necessárias e são a
consequência de um dever principal (proteger o livro com todo o
cuidado)
- *Deveres laterais – ocorrem simultaneamente/em paralelo com os
deveres principais (às vezes correspondem a deveres de boa-fé)
- *Deveres potestativos

(Ver página 78 do manual) + Ver apontamentos mais à frente

A relação jurídica (estrutura)


Um direito subjetivo propriamente dito traduz-se no poder de
exigir ou pretender de outro individuo um determinado
comportamento, positivo ou negativo. à partida a outra parte fica com
o dever jurídico de contraparte de facere ou non facere.
Dentro dos direitos subjetivos existem:
• Direitos de crédito (direitos relativos) – os deveres jurídicos
impõem-se sobre determinadas pessoas (pagar x coisa).

• Direitos reais e direitos de personalidade (direitos absolutos) –


em que a contraparte tem o dever geral de abstenção (x pessoa
tem um direito absoluto e todos os outros têm o dever de
abstenção perante esse direito).
Exemplo: Direito de propriedade/Direito ao nome
Atenção: os poderes-deveres/poderes funcionais nem as faculdades
são direitas subjetivos.

Quanto aos direitos potestativos, estes correspondem aos poderes


jurídicos que por um ato de livre vontade ou integrado numa decisão
judicial pode-se produzir efeitos jurídicos que se contrapõem
necessariamente a outra parte. Estes podem ser:
• Constitutivos
• Modificativos (1794º)
• Extintivos (1773º)
A fim ao cabo, determinada pessoa é titular de um direito (direito ao
divórcio) e esse direito vai interferir na esfera jurídica de outra
parte/pessoa.

É importante termos em conta que estes 2 a limites quanto aos


direitos subjetivos em geral. E, dessa forma temos em conta os
artigos 334º e 335º do CC. Essa forma de podermos interferir na
esfera jurídica de outro ou do outro ter o dever geral de abstenção
também tem os seus limites pois não podemos fazer tudo o que
queremos (334º).
Pode ainda dar-se a situação em que dois sujeitos têm exatamente
os mesmos direitos e por isso têm de chegar a um acordo (335º nº1).
Relação jurídica simples vs relação jurídica complexa

A relação simples ou singular comporta somente o direito subjetivo


propriamente dito atribuído uma pessoa em que o respetivo dever
jurídico cai sobre outra pessoa (dever de prestar – no direito de
crédito) ou o direito potestativo e a correspondente sujeição (direito
de exigir – nos direitos de crédito).

A relação jurídica complexa ou múltipla comporta um conjunto de


direitos subjetivos e deveres*/sujeições que se relacionam entre si
por um qualquer aspeto (por exemplo se derivarem do mesmo facto
jurídico – mesmo contrato).

*
• Deveres principais

• Deveres acessórios ou de conduta são obrigações necessárias


e são a consequência de um dever principal (proteger o livro
com todo o cuidado)

• Deveres laterais ocorrem simultaneamente/em paralelo com os


deveres principais (às vezes correspondem a deveres de boa-
fé)

• Direitos potestativos

• Ónus (necessidade de adotarmos uma determinada conduta a


fim de realizarmos um interesse próprio – não é uma obrigação,
é um encargo – pode praticar ou não o ato)

• Expectativas (traduzem-se nas situações que ainda estão a


decorrer (ativas) onde se tem em vista a aquisição de um certo
direito onde já ocorreu uma parte da constituição desse direito).
Elementos da relação jurídica

I. Sujeito
II. Objeto (Coimbra VS Lisboa)
III. Facto jurídico
IV.Garantia
Exemplo: As pessoas A e B decidem comprar um livro. Os sujeitos
são A e B, o objeto é o livro (ou os direitos à volta do livro), o facto
jurídico (874º) é o contrato de compra e venda e a garantia é a
faculdade que ambos têm de recorrer a tribunal.

Personalidade, capacidade de gozo e capacidade de exercício de direitos

Os sujeitos de direitos são seres suscetíveis de serem titulares de


direitos e obrigações.
Por isso, a personalidade jurídica traduz-se na aptidão para ser titular
autónomo e ser sujeito de relações jurídicas. - QUALIDADE
• Pessoas singulares: decorre do direito ao respeito e da
dignidade que se deve reconhecer a todas as pessoas.

• Pessoas coletivas: corresponde a um mecanismo jurídico que


permite a realização dos fins coletivos.

A personalidade jurídica projeta-se em 2 grandes capacidades:


A capacidade de gozo de direitos é a medida de direitos e
vinculações que a pessoa é suscetível de ser titular (67º). –
TITULARIDADE – Podem ser substituídos por um representante.
Diferentemente, a capacidade de exercício de direitos é a medida dos
direitos e das vinculações que a pessoa pode exercer por si, pessoal
e livremente/autonomamente (capacidade para agir). – EXERCÍCIO
– Não carecem de assistência nem de acompanhamento legal.
Exemplo: Os menores têm quase plena capacidade de gozo de
direitos, mas tem a sua capacidade de exercícios muito limitada-130º.
O problema dos direitos sem sujeito

Podem surgir situações em que numa relação jurídica, falte o sujeito


ativo ou o sujeito passivo, sem a relação se extinguir.
É no fundo uma situação em que falta um dos sujeitos para que
possa existir uma relação jurídica.
Exemplo: Um avô, que refere no testamento que quer deixar x bens
a um neto que um dia irá nascer. Aqui, ainda não há/existe o outro
sujeito (neto ainda não nasceu).

Três posições doutrinais:


1. Há autores que defendem esta figura de direitos sem sujeitos.

2. Mas, há outros que não admitem tal possibilidade e


consideram, que se tratam de estados de vinculações de
certos bens, em vista do surgimento futuro de uma pessoa
com direito sobre eles – Manuel de Andrade – só se devem
chamar relações jurídicas aquelas em que os sujeitos que a
compõem existem mesmo.

3. Outros, ainda admitem a existência de direitos sem sujeito


apenas provisoriamente enquanto a relação está imperfeita ou
o sujeito está transitoriamente indeterminado.
Começo e fim da personalidade (das pessoas singulares)

• Começo da personalidade jurídica


As pessoas singulares adquirem personalidade jurídica a partir do
momento do nascimento completo e com vida (66º, nº1 CC).

• Condição jurídica dos nascituros (questões que surgem na


doutrina)
- Há personalidade jurídica pré-natal?
Quanto aos nascituros concebidos ou não concebidos (consepturo),
o legislador civilista veio estabelecer as seguintes previsões:
 952º
 2033º, nº 1 e 2
 1878º, nº1
 1847º
 1854º
 1855º
 496º, nº2
Mas estes direitos dependem claro, do nascimento do nascituro
completo e com vida (66º, nº2).

• Termo da personalidade jurídica (fim)


A personalidade jurídica cessa com a morte (68º, nº1), sendo esta a
morte cerebral.
Surge, no artigo 71º um direito especial que os direitos de
personalidade prevalecem mesmo depois da morte.
Apontamentos doutrinais sobre o início* e fim da personalidade
*
1º questão: quando ocorre o nascimento “completo”?
• Há estudiosos que defendem que o nascimento completo
ocorre quando se separa o corpo da criança do da mãe quando
se corta o cordão umbilical (mais correto).
• Outros, consideram que o nascimento completo dá-se quando
a mãe expulsa ou se extrai por completo o bebé do seu corpo
e que após esta, a criança respire ou manifeste qualquer outros
sinais de vida.

*2º questão: deve continuar a negar-se a personalidade jurídica aos


nascituros?
• Surgem várias questões doutrinais sobre este aspeto e
devemos é guiar-nos pela resposta que nos dá a jurisprudência
pois o artigo 24º da CRP reconhece todos os seres humanos o
direito à vida. Depois, existem técnicas modernas de ecografia
que permitem afirmar a existência de vida intrauterina, devido
ainda à criminalização do aborto, …

3ª questão: presunção de comoriência (68º, nº2)


• Quando certo efeito jurídico depender da sobrevivência de uma
a outra pessoa, presume-se em caso de dúvida, que uma e
outra faleceram ao mesmo tempo.
• Ocorrem nas situações em que não é preciso detetar o
momento da morte dos indivíduos, ou seja, em situações limite
(exemplo: quando há um acidente rodoviário e acabam por
morrer ambos os sujeitos).
• Nestes casos, não se verifica entre os sujeitos qualquer tipo de
transmissão que de herança ou legado.
4ª questão: desaparecimento da pessoa (68º, nº3)
• Se o cadáver da pessoa não for encontrado ou reconhecido a
lei considera que a morte se deu no momento do
desaparecimento se deu em circunstâncias que não permitam
duvidar dela. Atenção que não devemos confundir esta, com a
morte presumida ou ausência em que as circunstâncias
permitem duvidar a morta da pessoa.

5ª questão: como fica a situação jurídica do cadáver? (202º, nº2)


• Após a morte, a personalidade jurídica das pessoas singulares
cessa e por isso o corpo passa a ser uma coisa, ainda uma
coisa que se trate extra comercium.
• Mas, há exceções em que os indivíduos podem querer que o
seu corpo ainda seja utlizado (fins de investigação, órgãos, …).
Já que falamos sobre personalidade jurídica, falemos um pouco
sobre os direitos de personalidade…

Direitos de personalidade
(Remissão para os princípios fundamentais do direito civil)
Os direitos de personalidade correspondem a um conjunto de direitos
subjetivos que incidem sobre a própria pessoa ou sobre alguns
fundamentais modos de ser físicos ou morais dessa personalidade.
Todas as pessoas humanas são titulares destes direitos desde o
momento do nascimento.
Podemos dizer que estes direitos (poderes jurídicos) são bastantes
íntimos à pessoa singular – direito à vida, direito ao nome, …

Estes direitos estão protegidos e consagrados legalmente:


• Na CRP (18º, 24º e ss) – vinculam as entidades públicas e
privadas, tendo uma força especial
• No CC (70º e ss)
• No CP (131º e ss, 143º e ss, 180º e ss)

Características dos direitos de personalidade:


• Absolutos

• Gerais – todos os sujeitos jurídicos podem gozar destes


direitos.

• Extrapatrimoniais ou pessoais – eles na sua natureza não


têm um valor pecuniário base – nós não dizemos que o meu
nome vale x milhares de euros (apenas em caso de
“compensações” – com a violação do direito ao nome).

• Irrenunciáveis ou indisponíveis – têm a sua essência no ser


humano e as pessoas não podem abdicar destes direitos.
• Inalienáveis ou intransmissíveis – por terem um elo tão forte
com o seu titular, não podem ser transmitidos de pessoa para
pessoa. Um direito de propriedade é transmissível, mas o
direito ao nome não se transfere.

• Da sua lesão podem resultar danos patrimoniais e danos não


patrimoniais.

Tutela dos direitos de personalidade:


• Reações do direito criminal
• Reações do direito civil (70º nº2, 483º e 496º)
Quem violar os direitos de personalidade pode pagar quer
criminalmente, quer acartando com responsabilidade civil por
exemplo.
Aqui interessa-nos a reação do direito civil e no artigo 70º nº2 está
presente a tutela cautelar, que previne que se criem danos ou que
esses se agravem.
Exemplos:
Um livro que foi escrito acerca do caso de Meddie. O livro acabou por
ser retirado do mercado e isto foi uma medida cautelar.
Se alguém difamar X no jornal local. Quem escreveu o artigo é
processado, mas enquanto essa ação não acontecer pode-se
requerer de imediato uma medida cautelar como a publicação de um
artigo a desmentir tudo.
Os direitos de personalidade podem ser…

• Direito geral de personalidade (70º nº1)

O direito geral de personalidade tem como objeto a personalidade


humana em todas as suas manifestações. São “conceitos gerais” que
se ligam com todos os seres humanos de modo geral.
 Direito à vida (24º)
 Direito à integridade física (25º nº1)
 Direito à saúde, ao repouso, à tranquilidade, ao sono
e à qualidade de vida (25º nº1 + 64º + 66º)
 Direito à inviolabilidade moral (25º nº1)
 Direito à honra (26º)
 Direito à liberdade (27º, 37º, 38º, 41º, 42º, …)
Não há nenhuma “lei” ou regra especial que se aplique a este regime
geral dos direitos de personalidade.

• Direitos especiais de personalidade (72º e ss)


 Direito ao nome (72º CC)
 Direito ao pseudónimo (74º)
 Direito à imagem (79º)
 Direito á reserva sobre a intimidade da vida privada
(80º)
 Direito a escritos confidenciais (76º e 77º)

Ainda sobre os direitos de personalidade… aqui o consentimento


do lesado tem muita importância quando falamos dos limites
destes direitos (81º nº1 + 280º nº2 + 286º), de intervenções
cirúrgicas, o caso dos transplantes e os modos de consentir
(217º). Por exemplo, se formos fazer uma cirurgia que não é
urgente, sem o nosso consentimento foi-nos violado um direito de
personalidade e por isso, devemos de ter atenção.
Tutela dos direitos de personalidade para além da morte

Se a personalidade jurídica cessa com a morte como é que


tutelamos a personalidade jurídica e os direitos de
personalidade após a morte (71º)?
Existem várias teorias que respondem à questão de esta tutela ser
uma exceção à regra de que essa personalidade jurídica cessa com
a morte.
• Antunes Varela e Pires de Lima: referem que consagra uma
exceção à regra, pelo que há personalidade jurídica post
mortem.
• A maior parte de todos os outros estudiosos dizem que este
não é uma exceção à regra pois o legislador quis proteger e
tutelar os familiares do defunto.

Surgindo aqui a questão se as pessoas referidas no nº2 do argo


70º têm direito à indemnização?
• A maioria da doutrina diz que sim. Caso haja um dano com o
defunto os familiares têm o direito a essa indemnização.
• J. Oliveira Ascensão diz que não. Que só aquele que é titular
do direito que está a ser violado é que pode ser indemnizado.
Como neste caso não está vivo, o caso termina aí.
Para esta questão temos de verificar a resposta que a jurisprudência
nos dá.
Voltemos a falar da personalidade jurídica, e dentro desta falamos de
uma das grandes dimensões…

Incapacidade de gozo de direitos


Incapacidade de gozo absoluta

Noção: Se falta a aptidão para ser titular de direitos e de estar adstrito


a vinculações, estamos perante uma incapacidade de gozo de
direitos. É a falta de título jurídico para se fazer parte de uma relação
jurídica.
Regra: por inerência ao conceito de personalidade, todas as pessoas
podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas (67º).
Exceções:
• Incapacidades nupciais (1601º e 1602º) – todas as pessoas
podem contrair casamento exceto aquelas em que a lei não p
permite.
• Incapacidades de testar (2189º)
• Incapacidade para perfilhar (1850º)
• Incapacidades dos menores (1913º nº2)
Quando um dos sujeitos intervenientes num negócio jurídico sofre de
uma incapacidade negocial de gozo, sendo esse negócio nulo. Essa
nulidade é insuprível. (1631º al a) e 1861º).

Incapacidade de gozo relativa/indisponibilidade relativa

Domínio das doações. São obstáculos que surgem, quando os


sujeitos da relação jurídica são demasiado próximos.
Não se trata de uma incapacidade absoluta, pois a restrição não
resulta de uma qualidade do disponente em si. Na verdade, há uma
restrição do poder de disposição em certa direção.
• 953º e 2194º
• 953º e 2192º
• 953º e 2196º
Ilegitimidade

Cabe no domínio da compra e venda.


Trata-se da proibição que existe entre 2 sujeitos que têm uma relação
de proximidade.
• 877º
• 579º e 876º
• 1714º nº2 e 1765º
• 261º
______________________________________________________

Incapacidade de exercício de direitos


Noção: se a aptidão para atuar juridicamente, exercendo direitos e
cumprindo deveres, adquirindo direitos ou assumindo vinculações,
por si, pessoal e livremente faltar, estamos perante uma
incapacidade de exercício de direitos.
Regra: todas as pessoas têm capacidade de exercício de direitos, tal
decorre do facto de, em princípio, quando se atinge os 18 anos de
idade ou se verifica a emancipação se adquirir plena capacidade de
exercício de direitos (arts. 130º e 133º)

Exceções:
1. Menoridade (123.º e ss.)
2. Maior Acompanhado (138.º e ss.)
3. Casamento (1678.º e 1682.º e ss.)
4. Situação do insolvente (CIRE);
5. Incapacidade natural acidental (257.º) – Mota Pinto entende
que é vício da vontade

Quando um dos sujeitos intervenientes no negócio sofre de uma


incapacidade negocial de exercício, esse negócio que celebrou é
anulável, e a anulabilidade é suprível, por meio de:
a) Representação legal
b) Assistência
1. Menoridade

O artigo 122º do CC explicita muito bem quem são os seres humanos


considerados menores – É menor quem ainda não tiver completado
18 anos de idade.
Regra geral: o menor carece de incapacidade de exercício de direitos
(123º + 131º).
Exceções (o menor tem capacidade de exercício):
• Praticar os atos plasmados no artigo 127º.
• Contrair validamente o casamento (1601º e 1604º).
• Fazer testamentos, quando emancipados (2189º).
• Perfilhar quando tiverem mais de 16 anos (1850º).

O termo/fim desta incapacidade (129º) dá-se quando os menores


atingem a maioridade ou são emancipados (por via do casamento).

Efeitos da incapacidade:
• Anulabilidade – os negócios praticados pelo menor são
anuláveis – 125º nº1 e 287º).
• Legitimidade e prazos – 125º nº1
• Sanação – 125º nº2 e 288º
“Exceção à exceção”: Temos ainda presente Dolo do menor (126º) –
proíbe-se de ser o próprio menor a invocar a anulabilidade. A doutrina
por vezes defende que os tutores legais (pais dos menores) também
ficam proibidos de invocar esta anulabilidade.

Suprimento da incapacidade dos menores – representação legal


(124º)
• Responsabilidades parentais – 1877º e ss – os pais
representam onde e quando necessário
• Tutela (subsidiariamente) – quem representa o menor é o tutor
– 1921º e ss
• Administração de bens – 1922º e 1967º
2. Regime jurídico do maior acompanhado

Anteriormente tínhamos o regime da interdição (138º) e da


inabilitação (152º). Estes regimes eram aplicáveis a maiores.

Causas da interdição (causa muito grave que incapacitam o titular de


reger a sua pessoas e bens):
• Situações de anomalia psíquica.
• Surdez-mudez.
• Cegueira.

Causas da inabilitação (menos grave):


• Anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira.
• Abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes.
______________________________________________________
Hoje em dia, estes regimes já não se verificam, pois, a Lei nº 49/2018
veio criar o Regime Jurídico do Maior Acompanhado que era um
regime mais flexível que dava o poder ao juiz a possibilidade de
analisar cada caso concreto.

Quem pode beneficiar das medidas?


• O maior (142º).
• Que por razões de saúde, deficiência ou pelo seu
comportamento.
• Se encontre impossibilitado de exercer plena, pessoal e
conscientemente os seus direitos ou de cumprir os seus
deveres (cabem também pessoas idosas).
Quem tem legitimidade para requerer estas medidas (141º)?
O próprio, bem como o cônjuge, o unido de facto ou qualquer parente
sucessível – desde que autorizados pelo requerente.
A quem compete a escolha e a decisão (145º)?
• O Tribunal decide, ouvindo primeiro o beneficiário. O próprio
tribunal define as medidas adequadas a cada situação.

Quem pode ser o acompanhante (143º)?


• É escolhido pelo acompanhado ou pelo seu representante
legal.
• Na falta de escolha, consultamos o artigo 143º nº2, seguindo o
critério de quem melhor salvaguarde o interesse imperioso do
beneficiário.

Âmbito e conteúdo do acompanhamento (145º):


• Pode implicar a assistência e nos casos-limite a representação
legal.
• O tribunal pode cometer ao acompanhante algum dos regimes
especificados no nº2.

Direitos pessoais e negócios da vida corrente (147º)


Em princípio, os negócios banais, da vida corrente são livremente
concretizados pelo acompanhado. Normalmente não precisa de
autorização ou de acompanhante para os realizar. Este regime
respeita a autonomia do maior acompanhado.

Valor dos atos do acompanhado sem suprimento (154º)


• Após o registo do acompanhamento – são anuláveis.
• Depois de anunciado o início do processo – anuláveis caso
prejudiquem o acompanhado e se derem após a decisão
judicial
• Antes do anúncio do inicio do processo – regime da
incapacidade acidental.
Este regime jurídico pode terminar ou ser modificado (149º + 155º).

______________________________________________________

3. Incapacidades (ilegitimidades) conjugais

Regra geral: cada um dos cônjuges administra os seus bens próprios


(1678º, nº1) e ambos administram, em conjunto, os bens comuns
(1678º, nº3 2º parte).
BENS PRÓPRIOS VS BENS COMUNS
• Bens próprios – cada um dos cônjuges tem a administração dos
bens próprios do outro cônjuge.
- Bens por eles exclusivamente utilizados como instrumento de
trabalho;
- Se este se encontrar impossibilitado de exercer administração.
- Se este lhe conferir por mandato esse poder.

• Bens comuns
- Cada um dos cônjuges tem administração dos elementos referidos
no artigo 1678º, nº2.

As ilegitimidades conjugais resultam da inexistência do


consentimento de ambos os cônjuges (1682º, 1682º A, 1682ºB e
1683º):
a) Requer-se o consentimento de ambos em qualquer regime
de bens para determinados atos.
o Alienação ou oneração de móveis (próprios ou comuns)
que sejam utlizados pelos 2 em casa ou como
instrumento de trabalho.

o Alienação ou oneração de móveis próprios ou comuns


sobre os quais um deles (que possui os bens) não tem
poder de administração.
o Todos os negócios que estejam ligados à morada de
família.

b) Nos regimes da comunhão de bens ou comunhão de


aquiridos
o Quando se pretende alienar ou onerar o arrendamento ou
constituição de direitos de gozo sobre imóveis próprios
ou comuns.
o Alienar ou onerar a locação do estabelecimento
comercial próprio ou comum.
o Repugnarão de heranças ou legados
______________________________________________________
REGRA:
SEMPRE QUE HÁ A POSSIBILIDADE DE ENFRAQUECIMENTO
DO PATRIMÓNIO É NECESSÁRIO O CONSENTIMENTO DE
AMBOS OS CONJUGES. SEMPRE QUE NÃO HOUVER
CONSENTIMENTO EXISTE UMA ILEGITIMIDADE.
______________________________________________________
O único modo de suprimir esta ilegitimidade é a concessão do próprio
consentimento.

Sanções da ilegitimidade conjugal:


• Genericamente, é anulabilidade (1687º) para os bens comuns.
• Sobre a alienação ou oneração dos bens próprios do outro
cônjuge o legislador remete para o regime de venda de bens
alheios sendo a sanção a nulidade.

Para falar acerca do regime da ausência, precisamos de conhecer alguns


conceitos essenciais:
• Legitimidade – reconhece-se a existência de uma ligação
entre a pessoa e o direito que se quer exercer. A legitimidade
é uma posição que se deve ter para com os outros, ao exercer
de forma legitima o direito que lhe pertence.
Claro que há situações de desvios desta regra: como por exemplo
a legitimidade indireta em que um titular transfere esse direito para
outra pessoa (pode ainda resultar da lei).
A sanção para ações que contrariem este conceito é a nulidade.

• Estado Civil – o estado civil é apenas o do estatuto


matrimonial. Embora este termo possa surgiu com significados
mais abrangentes.

• Esfera jurídica – é a teia de juridicidade de cada sujeito. É o


conjunto de direitos e obrigações dos quais os sujeitos jurídicos
são titulares.
A esfera jurídica divide-se em 2 por vezes:
- Esfera jurídica pessoal (direitos de personalidade, … ).
- Esfera jurídica patrimonial (património de cada sujeito).

• Domicílio – é a sede jurídica da pessoa/lugar onde as pessoas


estão sediadas.
- Geral (82º).
- Especial (profissional 83º,eletivo 84º e legal 85º e ss…)
Posto esta abordagem de conceitos… falemos de outra exceção à
capacidade de exercício de direitos…

4. Estatuto jurídico da ausência

 Curadoria provisória – presume-se que irá retornar

Segundo o artigo 98º e ss, para chegarmos à conclusão de que uma


pessoa está ausente, são necessários alguns requisitos:

• Desaparecimento de uma pessoa sem que dela haja notícias.


• Necessidade de prover à administração dos bens do ausente.
• Por este não ter deixado representante legal que o queira ou
que o possa representar.
• Requeridas ao Tribunal pelo MP ou por qualquer interessado
(91º).

 Curadoria definitiva (99º e ss)

Requisitos:

• Ter os requisitos da curadoria provisória.


• Tenham decorrido:
o 2 anos sem saber do ausente, se não deixou
representante legal ou procurador.
o 5 anos sem saber do ausente, se deixou representante
legal ou procurador.
 Morte presumida (114º e ss)

Requisitos:

• Requisitos da ausência (desaparecimento, sem notícias,


património a administrar).
• Tenham decorrido:
o 10 anos sobre a data das últimas notícias do ausente.
o 5 anos se, entretanto, o ausente completar 80 anos de
idade.

Quando se dá o regresso do ausente (119º) esse regresso gera


efeitos tanta na esfera pessoal como na esfera patrimonial.
Pessoas coletivas

Sociedades, fundações e associações


 As pessoas coletivas (157ºCC – classificações legais) são
organizações constituídas por uma coletividade de pessoas ou
por uma massa de bens;
 Dirigidos à realização de interesses comuns, normalmente de
caráter duradouro;
 E às quais a ordem jurídica atribui personalidade jurídica,
tornando-se centros autónomas de direitos e obrigações.

Elementos caracterizadores da pessoa coletiva:

I. Elementos internos – a sua organização

a) Substrato (elemento material) – conjunto de elementos da


realidade extrajurídica (fora do mundo do direito), que dá peso
terreno à pessoa coletiva; que lhe dá existência no mundo
exterior.

- Elemento pessoal – grupo de recursos humanos

- Elemento patrimonial (fundações) – massa de bens que possuem

- (Elemento teleológico) – finalidade/missão das pessoas coletivas


(280º CC)

- Elemento organizatório – órgãos representativos, executivos, … é


uma estrutura organizada… como funciona…
b) Reconhecimento – é o elemento de direito que leva à
qualidade de direito de sujeito (homologar os elementos como
uma nova pessoa coletiva – a pessoa coletiva acaba por
nascer aqui; também acaba por haver o controlo do substrato).

- Normativo (deriva da lei)

- Condicionado (norma jurídica de caracter geral que faz


exigências)

- Incondicionado (não tem exigências)

- Por concessão

II. Elementos externos – como se projeta para fora

a) Fim da pessoa coletiva – atividade que ela irá desempenhar


b) Objeto da pessoa coletiva – aquilo que está materializado no
mundo do direito ou seja, o ato de constituição ou o contrato
das sociedades…

Classificações (doutrinais) das pessoas coletivas:

• Pessoas coletivas quanto à nacionalidade (159º + 33ºCC)

Qual é o ordenamento jurídico que deve tutelar a pessoa coletiva?

Para classificarmos a pessoa coletiva quanto a este aspeto, temos


em conta o lugar onde esta está sediada (a sua sede).
• Pessoas coletivas públicas e privadas

São de direito publico as pessoas coletivas que disfrutam de ius


imperii (como por exemplo, as entidades estaduais). São de direito
privado todas as outras.

• Pessoas coletivas quanto ao fim

Segue o critério dos interesses prosseguidos.

a) Fim egoísta (associados procuram obter interesse para a


própria pessoa coletiva) ou fim altruísta (quando o interesse
vem de fora/pessoas exteriores).

b) Fim económico (interesses monetários) ou fim ideal


(prossecução de interesses não económicos).

c) Fim económico lucrativo (quando visam obter lucro) ou fim


não lucrativo (se não visam obter lucro).

Sociedades

Uma sociedade (980ºCC) é uma associação de duas ou mais


pessoas que põem em comum os bens e serviços necessários ao
exercício de uma atividade económica que não seja de mera fruição
e com vista a obtenção de lucros a repartir pelos sócios.
Elementos do contrato de sociedade:

• Elemento pessoal – pluralidade de sócios


• Elemento patrimonial – participação com bens/serviços
• Elemento teleológico – obtenção de lucros
• Elemento finalístico – exercício de uma atividade económica
que não seja de mera fruição.

Tipos de sociedades comerciais

• Civis
o Simples (reguladas pelo CC).
o De tipo ou forma comercial (adotam um dos tipos
comerciais, mas têm objeto civil (ver código das SC).

• Comerciais
o Têm objeto comercial (prática de atos de comércio)
▪ Sociedades em nome coletivo
▪ Sociedades por quotas
▪ Sociedades anónimas
▪ Sociedades em comandita simples
▪ Sociedades em comandita por ações
Há três fases para podermos falar do percurso das pessoas coletivas,
mas falamos apenas em 2: a constituição e extinção.

Na constituição falamos sobre o substrato, o reconhecimento e o


registo.

Constituição das pessoas coletivas

 Organização do substrato (organização das pessoas ou dos


bens)
• Associações (167º, 168º, 158 nº1 e 158ºA)
o Ato de constituição/menções obrigatórias/estatutos –
lanças as bases especificando os bens ou serviços com
que os associados concorrem para o património social, a
denominação, o fim e a sede da pessoa coletiva, a forma
do seu funcionamento e a sua duração. Os estatutos
especificam ainda mais, por exemplo, o funcionamento
da pessoa coletiva. A legalidade deve ser verificada pelo
notário.

Não esquecer que esta devem cumprir os requisitos do artigo 280º.

o Quanto à “Associação na Hora” 8(Lei nº40/2007, de 24


de agosto), é um regime especial que permite
agilizar/facilitar a criação de uma associação, no caso.
Em termos de segurança jurídica será mais defeituoso
(pois é um processo online).
• Sociedade civis simples (157º)
o Acaba por se aplicar as mesmas normas que as
associações (todos os requisitos do artigo 167º + 280º).
o Contrato de sociedade (980º+981º) – há que respeitar
esta forma especifica dos diversos elementos,
nomeadamente os seus bens. Ou seja, além de todos os
elementos dos artigos 167º e 280º ainda há que ver com
detalhe se os requisitos obrigatórios estão presentes ou
não. Se não, o contrato é declarado nulo.

• Fundações
o Dotação (é o 1º momento para o nascimento) – atribuição
de bens àquela pessoa coletiva pública.
o Ato de instituição/ estatutos (185º e 186º) – tem que se
identificar os bens que constituem o elemento
patrimonial, para que o dinheiro vai servir, qual a sede, …
As fundações têm que ter sempre um fim social.

Este ato de instituição pode ocorrer (em vida ou em morte):

• ato entre vivos (185º nº2 e 3) – segue o rumo/requisitos normais


das outras pessoas coletivas públicas (167º + 280º). Os
herdeiros não podem levantar objeções quanto ao ato de
instituição da fundação, pois esta foi constituída em vida (do
fundador).
• ato mortis causa (2204º a 2206º e 1311º a 1315º) – vai ter de
respeitar todos os requisitos que o testamento exige

o Estatuto (186 nº2 e 187º)


 Reconhecimento (a partir daqui a pessoa coletiva passa a ter
personalidade jurídica).
• Associações
o O ato constitutivo e estatutos devem constar de escritura
pública (168º nº1).
o Obtenção do Certificado de Admissibilidade e Cartão
provisório (RNPC – Registo Nacional de Pessoas
Coletivas).
o Publicidade (168º nº2).
o Comunicações (Finanças, Segurança Social, …)
o “Associação na hora” (exceção).

• Sociedades civis simples


o 157º - já não é o ato de constituição, mas sim o contrato
de sociedade que tem de ser por escritura pública.

Por comparação, as sociedades comercias nascem verdadeiramente


quando há um registo.

• Fundações
o Reconhecimento por concessão (158º, nº2) –
competência da atividade administrativa, tendo em conta
o juízo de oportunidade.
o 185º nº2 e 186º nº2.
o O reconhecimento só pode ser dado quando (188º):
▪ Fundação tiver fim de interesse social.
▪ Bens apresentados forem suficientes para a
prossecução do seu fim
▪ Se os estatutos não apresentarem
desconformidade com a lei.

 Registo
• Associações
o No FCPC (Ficheiro Central de Pessoas Coletivas – é uma
base de dados onde se organiza todas as infirmações
sobre as pessoas coletivas públicas) não constitutivo.

• Sociedades civis simples


o No FCPC (Ficheiro Central de Pessoas Coletivas) não
constitutivo.

• Fundações
o No FCPC (Ficheiro Central de Pessoas Coletivas) não
constitutivo

Estas 3, não precisam de registo para nascer, basta a escritura


pública. Por outro lado, as sociedades comerciais e as sociedades
civis que adotam forma comercial só nascem depois do registo.
Extinção das pessoas coletivas

• Aspetos comuns a todas as pessoas coletivas:


o Dissolução – resulta da vontade dos associados/sócios
o Liquidação – se no ato de constituição a pessoa coletiva
dura até x data, ou se o fim social já tiver realizado, ou se
o tribunal assim o decidir.
o Sucessão – pode ainda existir o ativo (bens da pc) e
então os sócios decidem no ato de instituição ou no
contrato de sociedade para onde/quem esses bens vão;
ou até podem decidir no fim.

• Extinção das associações: 182º + 184º + 166º

• Extinção das sociedades civis simples: 1007º + 1015º a 1018º

• Extinção das fundações: 192º + 193º + 194º + 166º


Capacidade de gozo das pessoas coletivas

• Delimitação positiva (160º, nº1) – o que podem fazer

- Princípio da especialidade do fim.

- A capacidade jurídica da pessoa coletiva abrange os direitos e


obrigações que sejam necessários ou convenientes à prossecução
dos seus fins.

o As pessoas coletivas de fim desinteressado ou egoístico


ideal não estão de todo incapacitadas para realizar atos
de natureza lucrativa de modo a obter recursos para a
prossecução dos seus fins.
o Quanto às doações, as pessoas coletivas podem receber
essas mesmo (2033º nº2). Para fazer doações, aqui já
depende (160º nº1 + 294º) MAS, devemos ter em conta
que os prémios dados aos empregados, as bolsas de
estudos podem ser consideradas exceções.

• Delimitação negativa (160º nº2) – não podem celebrar


o Vedadas por lei (expressamente previsto na lei):
▪ 1484º
▪ 2182º
▪ 1443º

o Inseparáveis da personalidade singular: negócios que


são típicos das pessoas humanas.
▪ Relações familiares.
▪ A maior parte dos direitos de personalidade.
Responsabilidade civil das pessoas coletivas (capacidade de ex de direitos)

 Responsabilidade contratual – As pessoas coletivas


respondem pelos factos dos seus órgãos (163º), agentes ou
mandatários (1157º) que produzam o incumprimento de uma
obrigação (165º ------ 800º CC).

 Responsabilidade extracontratual – Quem emprega


determinadas pessoas para vantagem própria deve suportar os
riscos da sua atividade (165º (998º para das Sociedades) -----
500º CC.

Pressupostos:

• Sobre o órgão, agente ou mandatário recaia igualmente a obrigação de


indemnizar (para além daquele que o encarregou) – 500º nº1 ------ 483º
CC.
• Que o ato danoso tenha sido praticado pelo órgão, agente ou mandatário
no exercício da sua função.
• Ao lado da pessoa coletiva pública fica igualmente adstrito à obrigação de
indemnizar o órgão, agente ou mandatário (500º nº2) – trata-se de uma
obrigação solidária (497º nº1).
• A pessoa coletiva pública que tiver satisfeito a indemnização ao lesado
tem o direito de regresso (500º nº3) contra o órgão, agente ou mandatário
pedindo-lhe o reembolso daquilo que foi pago desde que este tenho culpa
(+ 497º nº2).
• O órgão, agente ou mandatário, desde que tenha satisfeito a
indemnização à vítima pode exercer a ação de regresso contra a pessoa
coletiva se não houver culpa no plano das relações internas.
Elementos da relação jurídica:

• Sujeito.
• Objeto.
• Facto jurídico.
• Garantia.

Ao longo destas últimas aulas falámos sobre um dos elementos da


relação jurídica: o sujeito. Chegou assim a altura de avançarmos.

Objeto (mediato) da relação jurídica


Nota terminológica sobre o objeto da r.j:

• Escola de Coimbra
o Defende que o objeto é o “quid” (aquilo) sobre quem
incidem os poderes do titular ativo da relação jurídica.
o Fala ainda sobre o binómio poder-dever (conteúdo da
relação jurídica.
• Escola de Lisboa:
o Objeto mediato - Defende que o objeto é o “quid” sobre
quem incidem os poderes do titular ativo da relação
jurídica.
o Objeto imediato – binómio poder-dever.

Exemplo: Temos um sujeito, o objeto imediato (direito de


propriedade) e o objeto mediato (que é a coisa, o telemóvel por
exemplo).
O que pode ser objeto de uma relação jurídica?

O artigo 202º do CC estabelece uma posição de igualdade entre


coisa e o objeto da relação jurídica. Porém, nem tudo o que poderá
ser objeto de relação jurídica é uma coisa.

 Pessoas: Casos de poderes-deveres ou poderes funcionais


(podemos enquadrar estes no âmbito das responsabilidades
parentais – 1878º + 1881º + 1885º… + 1935º - confere domínio,
mas também confere um dever).

 Prestações: O objeto corresponde ao ato/conduta humana,


nos direitos de crédito (397º) – se eu compro o livro a prestação
vai ser a entrega e o pagamento do livre; se falamos de um
contrato de arrendamento a prestação vai ser por um lado o
usufruto da coisa e por outro, o recebimento do valor).

o Prestação positiva – conduta consubstancia-se numa


ação (ex. pagar a renda).
o Prestação negativa – caracteriza-se por ser uma
omissão/obrigação de não fazer (ex. 1038º al d)
o Prestação instantânea – quando o comportamento se
esgota num só momento (pagamento de um preço).
o Prestação duradoura – prestação que se traduz numa
conduta duradoura (ex. pagamento de uma renda).
o Prestação de facto.
o Prestação de coisa (ex. emprestar a coleção de selos).
 Coisas materiais ou corpóreas: São coisas/animais que
podem ser objeto de direito de propriedade (1302º).

 Coisas incorpóreas: Direitos de autor e propriedade industrial


– incidem sobre a atividade espiritual e intelectual do homem.

(Ver os diplomas no moodle).

 Direitos subjetivos: Direitos sobre direitos (ex. penhor de


direitos; hipoteca (direito real de garantia – 679º e ss) de um
usufruto (direito real de gozo – 688º n1 al e)).

 A própria pessoa: Direitos de personalidade – incidem sobre


os distintos modos de ser físicos e morais da pessoa.

Mas o que é realmente uma coisa (202º e ss)?

• Coisa é tudo aquilo que, não sendo pessoa ou animal (201º B),
tenha utilidade, individualidade e seja suscetível de
apropriação.
o Utilidade ou aptidão para satisfazer necessidades
humanas.
o Individualidade, existência autónoma ou separada – um
tijolo é uma coisa, todos os tijolos que compõem uma
casa já não é uma coisa.
o Suscetibilidade de apropriação – não são coisas os bens
que escapam ao domínio do homem (como as estrelas)
ou que são aproveitados por todos os homens (luz solar).
Se assim é, não têm que:

• Ter natureza material (eletricidade).


• Ser permutável (não tem de ter valor de troca).
• Ser efetivamente apropriados 8coisas abandonadas).

Estão fora do comércio jurídico todas as coisas referidas no artigo


202º nº2.

Classificações de coisas – VER DOCUMENTO.

 Coisas corpóreas e incorpóreas


 Coisas no comércio e fora do comércio (202º nº2)
 Coisas imóveis (204º) ou móveis (205º)

 Coisas simples e complexas; compostas (206º) e coletivas


o São simples as coisas que não podem distinguir.se em
mais de uma coisa (chávena).
o São coisas compostas as coisas que se integram na sua
unidade uma pluralidade de coisas.
o Coisas coletivas – são aquelas que têm um tratamento
jurídico unitário como coisas sem que, as coisas que
integram deixem de ser autonomamente tratadas como
coisas (rebanho/biblioteca - universalidade de facto ou
herança – universalidade de direito).

 Coisas fungíveis (207º) e infungíveis


 Coisas consumíveis (208º) e não consumíveis
 Coisas divisíveis (209º) e indivisíveis
 Coisas presentes e coisas futuras (211º)
 Coisas principais e acessórias (210º)
 Coisas frutíferas (212º) e infrutíferas
 Benfeitorias (216º)

Facto jurídico (Negócio jurídico)


Se eu convido a Ana para ir ao cinema, este facto não produz qualquer efeito jurídico,
logo é um facto ajurídico ou material.

Facto jurídico é todo o ato humano ou acontecimento natural que


produz efeitos jurídicos*.

• *Constitutivos – caso se constitua uma relação jurídica antes


inexistente na ordem jurídica (1318º e ss + 1277º e ss).
• Transmissivos – sempre que uma relação já existente na ordem
jurídica transita de uma esfera jurídica para outra (compra e
venda, doação, …).
• Modificativos – a entidade relação é a mesma, mas há
mudança da parte do sujeito ou do objeto.
o Modificação subjetiva – A celebra o contrato com um
construtor. Entretanto encontrou outra casa e cede a sua
posição para B, que iria comprar aquela casa.
o Modificação objetiva – Moratórias (prorrogação do prazo
para cumprimento).
• Extintivos – dá-se o desaparecimento da relação jurídica.
o Extinção subjetiva – Comemos a maçã e extingue-se o
direito de propriedade. //Assim que o A entrega a coisa
ao B, o contrato extingue-se.
o Extinção objetiva.
Os factos jurídicos podem ser:

 Factos jurídicos involuntários ou naturais

A vontade não interfere na produção de efeitos jurídicos.

o A vizinhança: temos direitos e deveres, e não é algo em


que pensamos.
o Nascimento: ganhamos a personalidade jurídica.
o Morte: cessa a personalidade, extinguem-se os direitos
pessoas, direitos patrimoniais transmitem-se.

 Factos jurídicos voluntários ou atos jurídicos

Resultam da vontade da pessoa.

o Ato lícito – é conforme a ordem jurídica e por ela


consentido.
o Ato ilícito – é aquele que não esta em conformidade com
a lei e que importa uma sanção para o seu autor
(homicídio).
o Negócios jurídicos – são factos voluntários, cujo núcleo
essencial é integrado por uma ou mais declarações de
vontade, a que o ordenamento jurídico atribui efeitos
jurídicos concordantes com o conteúdo das vontades das
partes, tal como este é objetivamente (de fora)
apercebido (o que eu exteriorizo, não o que eu penso).
• Compra e venda.
o Atos jurídicos stricto sensu – são factos voluntários cujos
efeitos se produzem mesmo que não tenham sido
previstos ou queridos pelos seus autores, mesmo que a
maior parte das vezes haja concordância nesses efeitos.
▪ Quase negócios jurídicos – traduzem-se na
exteriorização de uma vontade.
• Interpelação do devedor (805º).
• 464º e ss
▪ Operação jurídica – quando se realiza um
determinado elemento material, a lei desencadeia
determinados efeitos jurídicos.
• 1324º
• Ocupação de coisas móveis ou animais
(1318º)
• Criação literária.

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