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(Ação Executiva)
1.1. Delimitação
A execução pode ser entendida num sentido próprio, como sendo a realização coativa
de uma prestação; e numa acepção ampla ou imprópria, a execução é a atividade
correspondente à produção de quaisquer efeitos jurídicos.
Quais são os direitos reparáveis através da ação executiva e como tem lugar essa
reparação?
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1.2. Tipos
Conforme resulta do art.º 49.º, n.º 2, existem três tipos de ação executiva:
Se a prestação do facto for fungível, o exequente pode requerer que ele seja
prestado por outrem à custa do devedor – art.º 828.º do C. C., sendo, neste caso,
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apreendido e vendidos os bens deste que forem necessários ao pagamento do
custo da prestação;
Neste tipo de processo o exequente pode obter o mesmo resultado que obteria
com a realização, ainda que por terceiro, da prestação que, segundo o título, lhe
é devida1ou um seu equivalente.
1.3. Função
1. A realização duma prestação, que na maior parte das vezes tem caráter
obrigacional – primária ou de indemnização. Pode porém, essa prestação
abarcar os direitos reais, ou seja, uma prestação de natureza real a efetuar
a favor do seu titular – exemplo pretensão de reivindicação ou a
pretensão de demolição ou de indemnização.
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Segundo Galvão da Silva, as prestações de facto negativo são, por natureza, obrigações infungíveis; mas
a obrigação de demolir, construída com a violação, é uma obrigação de prestação de facto fungível (cfr.
Lebre de Freitas, José, A ação Executiva, 4.ª edição, Coimbra editora, 2004, p. 11, n.º 12.
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4. O tipo de ação executiva é sempre determinado em face do título
executivo (por este se determina o fim da execução – art.º49.º, n.º1):
consoante deste consta uma obrigação pecuniária, uma obrigação de
prestação de coisa ou uma obrigação de prestação de facto, assim se
utiliza um ou outro dos três tipos de ação, ainda que por este se visa obter
não a prestação, mas o seu equivalente.
Para que possa haver realização coativa de uma prestação devida (ou do seu
equivalente) é necessário preencher dois requisitos ou condições, dos quais depende a
exequibilidade do direito à prestação:
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Como pressupostos processuais, o título executivo e a verificação da certeza,
da exigibilidade e da liquidez da obrigação exequenda são requisitos de
admissibilidade da ação executiva, sem as quais não tem lugar as providências
executivas. Ou seja, são as condições necessárias para que o tribunal possa decidir
favoravelmente.
O título executivo é um pressuposto processual e é a condição necessária e
suficiente da ação executiva.
3. O Título Executivo
3.1. Noção
3.2. Espécies
O art.º 50.º n.º1 enumera, nas suas alíneas, quatro espécies de título executivo:
sentença condenatória; documento exarados ou autenticado por notário, escrito
particular assinado pelo devedor; título executivo por força de disposição especial.
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3.3. A sentença condenatória
As de condenação;
As decisões de condenação em custas;
As decisões que condena em prestação de alimentos;
As decisões que obrigam o arrendatário à entrega da coisa locada
(despejo);
Decisões que condenam o réu à pagar uma indemnização ao ofendido no
âmbito dos processos crimes;
Decisões que condenam o Estado em indemnização por ato de gestão
pública, ilícito ou lícito.
Se pelo tribunal de recurso vier proferir uma decisão que, por sua vez, seja
objeto de recurso para um tribunal superior, a execução:
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Prosseguirá tal como foi instaurada e só poderá ser extinta ou modificada
com a decisão definitiva, se, pelo contrário, for atribuído ao recurso efeito
suspensivo, o qual se traduz em suspender a execução da decisão intermédia
proferida - art. 51.º n.º2.
Qualquer destas cauções é prestada nos termos gerais do art.º 623.º do C. Civ.
As decisões proferidas pelo tribunal arbitral são exequíveis nos mesmos termos
em que o são as decisões dos tribunais comuns.
As sentenças homologatórias
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3.4. O documento exarado ou autenticado por notário
Alguns títulos cuja força executiva resulta da disposição especial da lei – art.º
50.º, n.º1, al. d) formam-se no decurso dum processo.
Assim no processo de prestações de contas, quando o réu as apresente e delas
resulte um saldo a favor do autor, pode este requerer que o réu seja notificado para
pagar a importância do saldo, sob pena de lhe ser instaurado processo executivo – art.º
872.º, n.º4. Aqui o título executivo são as próprias contas apresentadas.
Também, constituem título executivo especial: títulos de cobrança de tributos,
coimas, dívidas determinadas por ato administrativo, etc.
A este tipo de títulos emitidos por repartições do Estado, de Autarquias Locais
ou de outras determinadas pessoas colectivas públicas e tendo por conteúdo créditos
próprios, tem sido dada a designação de títulos administrativos ou de formação
administrativa.
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3.7. Natureza e função do título executivo
O Título é um documento
Características gerais
a) Tipicidade
b) Suficiência
Sempre que a obrigação que consta do título seja certa, exigível e líquida, isto é
suficiente, relativamente às caraterísticas dessa obrigação, para possibilitar a execução.
O título executivo só não é suficiente se a obrigação nele referida não for certa, exigível
e líquida, casos em que a execução se deve iniciar pelas diligências destinadas a
satisfazer esses requisitos (v. art.º 674.º CPC).
Efetivamente, a causa de pedir não preenche a mesma função no processo
declarativo e no processo executivo.
Na ação declarativa, a causa de pedir cumpre uma dupla função como elemento
de individualização da situação alegada pelo autor e de delimitação dos factos que vão
servir de base à apreciação da procedência da ação.
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Na ação executiva, pelo contrário, não está em discussão a existência da
obrigação exequenda, pelo que a causa de pedir só serve para individualizar essa mesma
obrigação.
c) Autonomia
Pressuposto formal da ação executiva, o título (ou uma cópia autênticada) deve,
em regra, acompanhar o requerimento inicial, sob pena de a mesma ser objeto de
indeferimento liminar ou de oposição nos termos dos art.º 684.º, 688.º e 690.º.
4.1. Conceito
Certeza da obrigação
As obrigações ilíquidas podem ser realizadas nos termos do art.º 678.º, porque
não se pode executar o património antes de determinar a quantia devida ou solicitar a
entrega de uma coisa antes de saber a quantidade que deve ser prestada.
Assim, tem de ser liquidada a condenação em quantia ilíquida - arts. 432.º, n.º1
al. b) e n.º 2, 572.º, n.º2 CPC, bem como a obrigação em quantia ilíquida que se
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encontra constituída ou reconhecida num título executivo negocial - art.º 50.º n.º1 al. c)
CPC.
A liquidação tem por base os elementos fornecidos pelo título, não sendo
possível quantificar aquilo que, por exemplo, não se tiver apurado na anterior ação
declarativa.
Exceptuam-se, dois casos em que é admissível a execução de obrigações
ilíquidas:
a) As obrigações de juros - art. 677.º n.º2 CPC;
b) As obrigações para entrega de uma universalidade de facto ou de direito.
Condições específicas
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5. Competência do Tribunal
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A competência territorial em matéria de execução é aferida em função do título
executivo que for utilizado pelo exequente.
Para a determinação daquela competência importa distinguir, antes de mais, se o
título é uma sentença condenatória ou se é baseado noutro título.
Quanto às decisões condenatórias há, ainda, que diferenciar consoante se trate de
sentenças nacionais ou estrangeiras.
A determinação da competência territorial é determinada da seguinte forma:
a. Para as sentenças nacionais, a regra é a coincidência entre a competência
declarativa e a executiva, pelo que é territorialmente competente o
tribunal da primeira instância em que a acção foi julgada, ou se for
proferida pelo um tribunal superior é competente para a acção o tribunal
do domicílio do executado – v. art.ºs 86.º e 87.º;
b. No caso de execução por custas, multas e indemnizações, a mesma é
instaurada por apenso ao processo no qual haja feito a notificação da
respectiva conta ou liquidação – art.º 88.º n.º1, ou no tribunal da primeira
instância em que o processo foi instaurado – art.º 89.º n.º1, mas se o
executado for um funcionário de um tribunal superior a acção é proposto
na comarca sede do tribunal a que o funcionário pertencer – art.º 89.º
n.º2;
c. Se a execução se fundar no cumprimento de uma obrigação é competente
o tribunal do lugar onde a obrigação deve ser cumprida – n.º 1 do art.º
90.º;
d. Se a execução for para entrega de coisa certa ou por dívida com garantia
real são, respectivamente, competentes, o tribunal do lugar onde a coisa
se encontre ou o da situação dos bens onerados – n.º2, do art.º 90.º;
e. Se a execução haja de ser instaurada no tribunal do domicílio do
executado e este não tenha domicílio em Cabo Verde, mas aqui tenha
bens, é competente para a execução o tribunal da situação desses bens –
90.º n.º3.
f. Se a execução se fundar em sentença estrangeira corre por apenso no
tribunal de primeira instância que for competente (v. art.º 91.º)
g. No caso das decisões proferidas por árbitros em arbitragem que tenha
decorrido no território cabo-verdiano, é competente o tribunal de primeira
instância do lugar da arbitragem – n.º 2 do art.º 86.º.
Competência convencional
Modalidades de incompetência
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sendo que as mesmas (incompetência) podem ser arguida pelo executado no prazo
fixado para a oposição (v. art.º 103.º)
Incompetência absoluta
Incompetência relativa
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d) Quando a execução tiver sido movida apenas contra terceiro e se reconhecer
a insuficiência dos bens do onerado com garantia real, pode o exequente
requerer, neste processo, o prosseguimento da ação executiva contra o devedor,
que é chamado para a completa satisfação do crédito exequendo – v. art.º 60.º,
n.º3.
Pode acontecer que a garantia real dum crédito incida sobre bens de terceiro, ou
porque já assim tenha sido constituída ou porque foi constituída em data anterior
à propositura da acção executiva.
Nota - sobre os bens de terceiros só podem ser objeto de execução em dois casos:
1. Quando sobre eles incide um direito real constituído para garantia do crédito
exequendo, e,
2. Quando tenha sido julgada procedente impugnação pauliana2 de que resulte para
o terceiro a obrigação de restituição dos bens ao credor (julgada procedente a
impugnação, o credor tem o direito à restituição dos bens na medida do seu
interesse, podendo executá-los no património do obrigado à restituição e praticar
os actos de conservação da garantia patrimonial autorizados por lei – art.º 616.º
n.º 1 C. Civ. – adquirente de má-fé).
Quando os bens dados como garantia pertençam a terceiros, o exequente que
queira fazer valer a garantia na execução tem opção entre:
i) A propositura da execução contra o terceiro e, mais tarde, se os bens forem
insuficientes, o chamamento do devedor; ou,
ii) A propositura da execução, desde logo, contra o terceiro e o devedor, em
litisconsórcio voluntário.
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V. art.º 615.º do C. Civ, segundo o qual “Os atos que envolvam diminuição da garantia patrimonial do
crédito e não sejam de natureza pessoal podem ser impugnados pelo credor, se concorrerem as
circunstâncias seguintes: a) ser o crédito anterior ao ato ou, sendo posterior, ter sido o ato realizado
dolosamente com o fim de fim de impedir a satisfação do direito do futuro credor; b) Resultar do ato a
impossibilidade, para o credor, de obter a satisfação integral do seu crédito, ou agravamento dessa
impossibilidade”.
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por qualquer das partes quando haja lugar a litisconsórcio próprio, voluntário ou
necessário (art.º 297.º), e pelo autor quando haja lugar a litisconsórcio voluntário
subsidiário (art.º 32.º, n.º2 e art.º 297.º, n.º2). A sentença que vier a ser proferida
constituirá caso julgado perante o chamado não interveniente, por imposição do
art.º 292.º n.º2. sendo voluntário o litisconsórcio, a sentença condenatória não se
pronuncia sobre a situação jurídica do chamado quando contra ele não tenha sido
deduzido pelo autor um pedido diverso do deduzido contra o réu inicial (como
acontece no caso de solidariedade passiva) e então, embora ele não figure no
título, a acção executiva pode contra ele ser movida por força do art.º 61.º do
CPC.
O Ministério Público
7. Patrocínio Judiciário
8.1. O litisconsórcio
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penhorado, só são convertíveis em partes principais na execução quando acionado o
mecanismo do art.º 794.º n.º2).
Convém não confundir o litisconsorte (parte principal) e a da parte acessória ou
auxiliar - art.º 309.º.
8.2. A coligação
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9. Formas do processo executivo
Como vimos já o processo executivo quanto ao tipo pode ser: execução para
pagamento da quantia certa; execução para entrega de coisa certa; execução para
prestação de facto – art.º 49.º, n.º2.
Cada um destes tipos de ação pode seguir uma forma de processo comum ou
uma forma de processo especial.
Segundo o art.º 426.º, n.º1, o processo comum de execução segue forma única
nos termos do presente diploma.
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CAPÍTULO II
10. DELIMITAÇÃO
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Também é dispensada a citaao prévia do executado quando na execução fundada em título não judicial o exequente
reqeuira e comprove o receio de extravio de bens ou o desconhecimento deles – n.º 3 do art.º 683.º.
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Se caso o requerimento executivo não for indeferido o juiz determina a penhora
dos bens do executado e a sua subsequente citação, conforme as situações previstas no
art.º 683.º, para, no prazo de dez dias, deduzir oposição à execução, pagar ou impugnar
a penhora.
A citação é comutada por uma notificação, se o executado já tiver sido citado, no
âmbito das diligências destinadas a tornar a obrigação certa, exigível e líquida - art.
683.º, n.º3, 1ª parte com remissão para os arts. 673.º a 682.º.
Se o exequente requer e comprovar o receio do extravio de bens ou o
desconhecimento do paradeiro deles a citação é dispensada quando a execução é
fundada em título não judicial, art. 683.º, n.º4.
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Neste caso os fundamentos podem ser diversos e assentarem por exemplo, quando ocorra ilicitude da
causa negocial e o tribunal não tenha indeferido a petição inicial – art.º 690.º, n.º2, ou quando o executado
ponha em causa a autoria do título negocial particular cuja assinatura não esteja presencialmente
reconhecida – arts. 374.º, n.º2 e 375.º do C. Civ..
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Efeito do recebimento dos embargos
Tramitação
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Recursos
O recurso a interpor da sentença que decide a oposição à execução quer seja uma
oposição meramente formal (ex.: despacho que admite ou rejeite o embargo) quer seja
de mérito, o recurso a interpor é de apelação, art.º 601.º, ou de revista, art.º 634.º.
No caso de o embargo ter sido recusado, o recurso que se interpuser do despacho
sobe imediatamente e subirá nos próprios autos do embargo nos termos do n.º1, al. a) do
art.º 601.º - A. Já o recurso do despacho que admite o embargo tem subida diferida, ou
seja, só sobe quando o processo do embargo estiver findo conforme disposto no n.º1, do
art.º 602.º
O prazo para interposição do recurso é de 30 dias, contados da notificação da
decisão de acordo com o n.º1 do art.º 595.º.
13. PENHORA
13.1. Noção
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Cfr. LEBRE DE FREITAS, ob. cit., p. 205-206
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Como vimos, no estudo do Direito das Obrigações, a garantia geral das
obrigações é constituída por todos os bens que integram o património do devedor, ou
seja, caso o devedor não cumprir a obrigação a que está adstrita, o seu património fica
sujeito à execução para satisfação do direito do credor a uma prestação pecuniária (e
não só), nisto consiste o princípio da responsabilidade patrimonial.
Contudo quando se põe a questão do objeto possível de penhora há que atender
as limitações e condicionalismos da responsabilidade patrimonial, os quais estão
articulados com os arts. 697.º a 700.º com os arts. 601.º - garantia geral das obrigações –
principio geral, C. Civ. e 818.º - execução de bens de terceiros - C. Civ., assim como da
sua aproximação dos arts. 702.º a 705.º, 710.º e 60.º, n.º2, podem retirar-se os seguintes
princípios gerais:
Todos os bens que constituem o património do devedor, principal ou
subsidiário, podem ser objeto da penhora, à excepção dos bens inalienáveis e
de outros que a lei declare impenhoráveis.
Os bens de terceiro (pessoa diversa do devedor) só podem ser objeto de
execução em dois casos:
o i) quando sobre eles incida direito real constituído para garantia do
crédito exequendo;
o ii) quando tinha sido julgada procedente impugnação pauliana de que
resulte para terceiro a obrigação de restituição dos bens do credor
(cfr. art.º 616, n.º1 C. Civ.).
Deve ser atendido os desvios resultantes da existência de patrimónios
autónomos, da constituição de garantias reais sobre bens próprios do devedor
e da articulação de responsabilidades entre o devedor principal e devedor
subsidiário, desvios estes que, na maior parte dos casos, se exprimem em
diferentes regimes de penhorabilidade subsidiária.
Nunca podem ser penhorados senão bens do executado seja este o devedor
principal, um devedor subsidiário ou um terceiro. Esta regra não tem
excepção6.
Há bens que segundo a lei estão objetivamente indisponíveis. Estes bens, nos
termos do art.º 698.º, são impenhoráveis, nomedamente:
a) Os bens do direito privado que são inalienáveis – art.º 698.º, n.º1 al. a),
designadamente, o direito a alimentos - art.º 1940.º C. Civ., o direito de
uso e habitação - art.º 1468.º C. Civ., o direito à sucessão de pessoa viva
- art.º 1956.º C. Civ., etc.
b) Os bens do domínio público – art.º 698.º, n.º1, al. g)
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Cfr., idem, p. 208-209
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1)
As normas de indisponibilidade subjetiva atuam eliminando ou restringindo os
poderes de disposição do sujeito sobre os bens próprios:
a. Quando o poder de disposição do sujeito é atribuído a um não titular do direito,
quer para o exercício dum direito próprio da pessoa a quem é atribuído, com fim
de garantia (exemplo, o direito do credor pignoratício a vender a coisa recebida
em penhor – art.º 675.º, n.º1 do C. Civ), quer para realização do interesse do
respectivo titular, incapaz de o exercer (exemplo, é o caso do representante legal
do incapaz, privado do poder de disposição dos seus direitos).
b. Quando o titular para dispor do direito tem que ter uma autorização ou
consentimento alheio (exemplo, no caso de assistência do inabilitado – art.º
158.º, nº1 C. Civ.), ou por consideração da pessoa que terá de autorizar, ou
consentir o ato dispositivo (exemplo, é o caso do consentimento do cônjuge -
art.º 1648.º, n.º1, ou da sociedade para a cessão da quota ou parte social art.ºs
992.º, n.º1 C. Civ. e art.º 298.º, n.º 3 do CEC.
2)
3)
O art.º 602 do C. Civ., estabelece que, por convenção entre o credor e o devedor,
se limite a responsabilidade do devedor a alguns do seus bens e, por maioria de razão,
que determinados bens do devedor sejam excluídos da sujeição à execução pela dívida
contraída. Mas a limitação não pode ir ao ponto de suprimir a exequibilidade do crédito,
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porque, caso fosse, corresponderia a uma renúncia ao direito de ação executiva que é
inadmissível.
O art.º 603.º do C. Civ., possibilita que, por doação ou testamento, se
convencione que os bens transmitidos não responderão pelas dívidas do beneficiário já
existentes à data, salvo se a natureza dos bens obrigar a registo e a penhora for registada
antes do registo da cláusula.
O art.º 831.º C. Civ. prevê a cessão de bens aos credores para estes os alienarem
e, com o produto da alienação, satisfazerem os seus créditos. Os credores que não
participam na cessão poderão penhorar os bens cedidos, enquanto a alienação não tiver
lugar. Mas já assim não é relativamente aos credores cessionários e aos posteriores à
cessão, pelo que os bens cedidos são por eles impenhoráveis, v. art.º 833.º C. Civ.
Quando só podem ser penhorados certos bens depois de outros bens, ou outro
património, se terem revelado insuficientes para a realização do fim da execução,
estamos perante o regime de penhorabilidade subsidiária
A penhorabilidade subsidiária pode resultar:
a) Da separação entre o património comum dos cônjuges e património próprio de
cada um deles, nos regimes de comunhão geral e comunhão de adquiridos;
b) Quando por negócio ou por lei, há um devedor principal, ou um património
coletivo que responde em primeiro lugar, e um devedor subsidiário com benefício da
excussão prévia.
c) Quando há bens de devedor especialmente afetos ao cumprimento da
obrigação – exemplo, nos casos em que haja garantia real.
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14. FASE DE PENHORA
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Nos termos do art.º 711.º, o direito de nomeação de bens à penhora é devolvido
ao exequente, independentemente de despacho, nos seguintes casos:
a) Quando o executado não nomeie dentro do prazo legal;
b) Quando não forem encontrados alguns dos bens nomeados.
14.3.1 Formas
Quanto à forma a lei faz a destrinça entre penhora de bens imóveis, art.º 714.º e
segs; penhora de bens móveis, art.º 726.º e segs., e penhora de direitos, art.º 735.º e segs.
A penhora de bens imóveis é feita nos termos do disposto no art.º 714.º, n.º 2 do
C.P.C.
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Do despacho que ordene a penhora será indicado um louvado que fixará o valor
das verbas. O louvado não presta juramento, v. nº2 do art 727º.
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Aplicação subsidiária das disposições relativas à penhora de imóveis (art.º
734.º)
Quando o objeto da penhora recair sobre bens móveis sujeito a registos, aplica-
se, quanto a eles, subsidiariamente, às disposições relativas à penhora de imóveis.
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b) O quinhão numa universalidade de direito (herança, meação de bens do
casal, etc) de que trata, tal como o direito de quota em coisa comum –
art- 703º;
c) O direito real de habitação periódica ou outro direito real menor que não
acarreta posse efetiva e exclusiva do seu objecto;
d) A quota em sociedade civil ou comercial – Neste ultimo é feito a
notificação à sociedade. Nos restantes casos, tratando-se de bens não
sujeitos a registo, é feito a notificação ao administrador dos bens, se
houver, e a terceiros titulares ou contitulares dos restantes direitos
implicados, e a penhora considera-se feita à data da 1ª notificação.
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potestativo7 e direito real sobre coisa incorpórea, não podemos falar em posse, isto por
força do disposto no atigo 1251.º do C. Civ., segundo o qual “ Posse é o poder que se
manifesta quando alguém actua por forma correspondente ao exercício do direito de
propriedade ou de outro direito real”, mas continua a verificar-se a transferência dos
poderes de gozo que integram o direito do executado para o tribunal.
Incidindo a penhora sobre um direito de crédito, deixa de verificar a figura de
depositário, mas a secretaria fica com o poder de receber e provisoriamente reter a
prestação principal, assim como as prestações acessórias do crédito, quando este é
pecuniário, v. art.º 739.º, n.º 1, 1ª parte. O recebimento e a retenção da prestação
creditícia, principal ou acessória, representam o exercício de poderes de gozo do credor
(deixando o executado de poder praticar qualquer ato de exercício do seu direito,
ressalvando o regime dos atos dispostivos).
Com a penhora o executado perde os poderes de gozo que integram o seu direito,
contudo não perde o poder dele dispor, ou seja, continua o executado com o poder de
praticar, mesmo após a penhora, atos de disposição ou oneração.
Contudo esses atos de disposição ou oneração, após a penhora, deixam de ter
eficácia plena, por serem inoponíveis à execução.
Por não se tratar de atos nulos, mas sim de atos relativamente ineficazes, os
mesmos readquirirão plena eficácia no caso de a penhora vir a ser levantada. Pelo
contrário, se da execução resultar a transmissão do direito do executado, o direito de
terceiro que tiver contratado com o exequente caduca, transferindo-se, contudo, esse
direito, por sub-rogação8 objetiva, para o produto da venda (v. art.º 824.º do C. Civ.).
Exemplo: A, executado, vende o prédio x, após a penhora, a B; B adquire o direito de
propriedade sobre o prédio x, mas este direito é inoponível à execução; se a penhora for
levantada, B poderá exercer plenamente o direito que adquiriu; mas se o prédio x for
vendido na execução, o direito de B caduca; neste caso, se do produto da venda algo
restar após o pagamento do exequente e dos restantes credores (e ainda do tribunal,
pelas custas do processo; como veremos, este é o primeiro pagamento a efetuar), B
poderá ainda exercer, fora do processo executivo, o seu direito de propriedade sobre
esse remanescente; se nada restar, a B só caberão direitos em sede obrigacional. Estando
em causa um direito de crédito, a sua cessão ou penhor é ineficaz.9
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São os direitos que se caraterizam por o seu titular os exercer por sua livre vontade, desencadeando
determinados efeitos na esfera jurídica de outrem independentemente da vontade deste. Exemplo: o
inquilino tem o direito potestativo de denunciar o arrendamento, findo o prazo: a este direito não
corresponde um dever do senhorio, mas tão-somente um estado de sujeição (v. Ana Prata, Dic. Jurídico,
4.ª ed. Pág. 438).
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Sub-rogação, previsto nos termos dos art.ºs 589.º e sesg. Do C. Civ, significa substituição. Trata de
uma modalidade de pagamento, em que um terceiro, que não o próprio devedor, efetua o pagamento da
obrigação. Nesse caso, a obrigação não se extingue, mas somente tem o seu credor originário substituído,
passando automaticamente a este terceiro - sub-rogado - todas as garantias e direitos do primeiro. O
devedor, que antes pagaria ao originário (antigo credor), deverá realizar o pagamento ao sub-rogado (que
pagou ao credor originário), sem prejuízo algum para si. Exemplo: O Bento devia ao André 2.000 contos.
Carlos, com o consentimento do Bento, paga a obrigação ao André, passando a ocupar o lugar deste como
credor daquele (do Bento).
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V. in Lebre de Freitas, José, Acção executiva, depois da reforma, 4.ª edição, p. 266 e segs.
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14.5.4. A constituição de preferência a favor do exequente.
O nosso ordenamento jurídico faculta quatro meios para reagir contra a penhora
ilegal:
Oposição por simples requerimento;
Incidente de oposição à penhora;
Embargos de terceiro;
Ação de reivindicação.
Os dois primeiros meios de oposição a penhora têm lugar no próprio processo de
execução, sendo que o segundo (incidente de oposição à penhora) corre por apenso, e os
dois últimos constituem ações declarativas (também processados por apenso à
execução), constituindo estes um meio mais específico de reação contra a ilegalidade do
ato, que não seja apenas a da penhora mas, também, a de qualquer diligência judicial de
apreensão ou entrega de bens.
O ato da penhora é objetivamente ilegal (impenhorabilidade objetiva) se tiver
sido penhorado bens que não deviam ser penhorados, em absolutos, ou não deviam ser
penhorados naquelas circunstâncias, ou sem excussão de todos os outros, ou para aquela
dívida. Já é subjetivamente ilegal se o ato da penhora incidir sobre bens que não são do
executado (impenhorabilidade subjetiva).
O incidente de oposição à penhora trata da penhorabilidade objetiva, já os
restantes meios supra citados são usados para reagir face à penhorabilidade subjetiva.
41
Nos outros casos, o incidente está sujeito ao disposto nos art. 275º e 277º,
segundo o n.º 2 do art. 746º, conjugado com as regras do art. 693º nº 3 e 4, devidamente
adaptados, em tudo quanto não esteja especialmente regulado no citado art.º 746º.
Com o requerimento de oposição, deve ser logo oferecidos os meios de prova e,
se a decisão a proferir admitir recurso ordinário, o mesmo deve ser feita de acordo com
o disposto nos art.º 275º e 277º.
Há despacho liminar, indeferindo o juiz a oposição quando , tendo sido deduzida
fora de prazo, não se fundar em causa de impenhorabilidade objetiva ou for
manifestamente improcedente, nos termos do n.º 1 do art. 692º.
Se os embargos forem recebidos, o exequente pode responder no prazo de 10
dias, após a notificação, conforme previsto no n.º 2 do art.º 692.º.
A execução é suspensa, na sequência da admissão da oposição e limitadamente
aos bens em causa, se o executado prestar caução, conforme estatuído no nº 3 art 746º
O incidente corre por apenso, conforme previsto no n.º 1 do art.º 692º.
10
O direito da execução só incidirá sobre bens de terceiros quando estejam vinculados à garantia do
crédito, ou quando sejam objeto de ato praticado em prejuízo do credor, que este haja procedentemente
impugnado.
42
Se a penhora incidir sobre bens próprios a mesma não pode subsistir, uma vez
que, mesmo quando esses bens respondam pela dívida segundo o direito substantivo,
não possam ser apreendidos sem que o seu proprietário fosse executado.
Tratando-se de bens comuns, o cônjuge do executado não pode embargar
quando tenha sido citado nos termos do n.º 1 do art.º 702.º e o executado não tenha bens
próprios.
Os embargos de terceiros, sendo incidentes de oposição da instância executiva,
constituem, como se disse supra, uma tramitação declarativa dependente do processo
executivo e que corre por apenso a este (v. n.º 1 do art.º 322.º).
O prazo para deduzir embargos de terceiros é de 30 dias subsequentes à penhora,
ou posterior ao conhecimento desta pelo embargante (v. n.º 2 do art.º 322.º), podendo,
contudo, ser deduzida antes da penhora depois do despacho que a ordena (v. art.º 328.º)
mas nunca depois da venda ou adjudicação dos bens (v. n.º 2 do art.º 322.º).
Os embargos devem ser deduzidos contra o exequente e o executado, nos termos
do n.º do art.º 326.º.
Os mesmos seguem, nas suas tramitações, duas fazes: a fase introdutória e a fase
contraditória.
Na fase introdutória, cuja finalidade é a emissão de um juízo de admissibilidade
pelo tribunal, o embargante deve, na petição inicial, oferecer prova sumária dos factos
em que funda a sua pretensão, nos termos do n.º 2 do art.º 322.º, bem como da data em
que teve conhecimento da penhora, se sobre ela já tiverem decorrido trinta dias.
Proferido o despacho liminar, entra na fase da produção da prova, seguida de
recebimento ou rejeição dos embargos (v. art.º 324.º e 325.º).
A fase contraditória principia com a notificação dos embargados para contestar,
com aplicação subsidiária das disposições do processo declaratório comum, segundo o
disposto no n.º 1 do art.º 326.º
Após o despacho de recebimento dos embargos, o processo de execução fica
suspenso quanto aos bens a que os embargos digam respeito, bem como a restituição
provisória da posse, se o embargante tiver requerido (art.º 325.º) e, se estes tiverem sido
deduzidos antes da penhora, esta não chegará a realizar-se até a decisão final, sem
prejuízo da fixação de caução (v. n.º 2 do art.º 328.º).
Se no final os embargos forem julgados procedentes, a penhora se tiver sido
efetuada, é levantada, sendo que a sentença de mérito constitui, nos termos gerais, caso
julgado quanto à existência e titularidade do direito invocado (v. art.º 327,º), ou seja:
a) Se os embargos se basearem em direito de fundo do terceiro, ficará assente a
existência ou inexistências deste direito;
b) Se a causa se mantiver no âmbito da posse, ficará assente que o terceiro era ou
não possuidor do bem penhorado à data da penhora;
c) Se for invocado em reconvenção o direito de propriedade (ou outro direito
real de gozo) do executado, ficará assente que este é ou não o proprietário do bem
penhorado, ou titular do direito real menor invocado.
43
É um processo autónomo relativamente ao processo executivo e que, como
resulta do disposto na al. d) do n.º 1 do art.º 783.º, pode conduzir a anulação, a todo o
tempo, da venda que neste (processo executivo) for efetuada.
A ação da reivindicação pode, contudo, ter efeitos na ação executiva se a mesma
for proposta antes da entrega dos bens móveis ao adquirente e do levantamento do
produto da venda pelos credores, nos termos do art.º 785.º, ou se o reivindicante tiver
protestado pela reivindicação antes de efetuada a venda, sendo que, neste caso, a entrega
dos bens móveis ao comprador só se fará depois de o adquirente prestar caução
destinada a garantir o direito do reivindicante, visto o disposto no n.º 1 do art.º 784.º.
Pode o proprietário usar, alternativamente, o meio dos embargos de terceiro ou o
da ação de reivindicação.
No caso de a penhora incidir sobre o bem sujeito a registo o terceiro
reivindicante fica sujeito às limitações decorrentes das regras próprias do registo. Neste
caso, registadas a penhora e a venda subsequente em processo executivo, o exequente e
o adquirente do direito penhorado, que estejam de boa-fé (ou seja, que desconheciam a
existência do direito de terceiro ou a inexistência do direito do executado), gozam da
proteção do registo, se este for anterior ao registo da ação de reivindicação, ou se o
direito do reivindicante se fundar na nulidade ou anulação do negócio jurídico pelo qual
o executado adquiriu o direito penhorado e a ação da reivindicação não for registada nos
três anos posteriores a conclusão do negócio, de acordo com o disposto no art.º291.º do
C. Civ.
15.1. Convocações
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Nesse sentido, seguimos de perto Lebre de Freitas, ob. Cit. pág. 303 a 325.
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No caso de ser a primeira vez que as pessoas supra referidas são chamadas para
intervir no processo, as suas convocações fazem-se sob a forma de citação (vc. n.º 1 do
art.º 207.º).
Consequência da falta de citação: a falta ou nulidade da citação dos credores
tem o mesmo efeito que a falta ou nulidade da citação do réu (v. art.º 747.º, n.º 3
conjugado com os art.ºs 174.º a 176.º), mas com restrições quanto à anulação derivada
dos atos posteriores, ou seja, não importa a anulação das vendas, adjudicadas, remissões
ou pagamento já efectuados, dos quais o exequente não era o único beneficiário. Apenas
confere à pessoa que devia ter sido citado, o direito a uma indemnização por parte do
exequente pelos danos que haja sofrido, conforme disposto no nº 3, 2.ª parte, do art-
747º.
Lugar da citação: os credores com garantia real são citados no domicílio que
conste do registo, excepto se tiver outro domicilio conhecido; os outros são citados
editalmente – v. nº 2 artº 747º.
Segundo a nossa lei processual civil, só são convocados os credores que gozam
de garantia real sobre o bem penhorado (n.º 1 al. b) do art.º 747.º e n.º 1 do art.º 748.)).
Visto que a penhora será, normalmente, seguida da transmissão dos direitos do
executado, livres de todos os direitos reais de garantia que os limitam (v. n.º 2 do art.º
824.º do C. Civ.), esta delimitação do âmbito do concurso dos credores tem por
finalidade facultar a estes a possibilidade de intervirem no processo, não só para
fazerem valer os seus direitos de créditos e obterem o pagamento, mas, também, para
fazerem valer os seus direitos de garantias sobre os bens penhorados.
Dessa intervenção dos credores pode advir três consequências:
a) O credor reclamante só pode receber pelo valor dos bens penhorados sobre
os quais tem a garantia, nos termos do n.º 2 do art.º 752.º, e se esse valor não
chegar para o pagamento integral do seu crédito, querendo, pode mover outra
execução, onde nomeará outros bens do devedor à penhora.
b) Não se verificando a caducidade do direito real de garantia, por não ter
havido transmissão do bem onerado na ação executiva, nos termos do n.º 2
do art.º 824.º do C. Civ., o direito do credor não tem de ser atendido na
execução (exemplo: ocorrendo, antes da transmissão dos bens, a consignação
de rendimentos (v. n.º 1 do art. 758.º); pagamento voluntário das custas e da
dívida exequenda (v. n.º 1 do art. 790.º e n.º 2 do art.º 791.º); extinção da
obrigação exequenda por causa diferente do pagamento, designadamente,
perdão, compensação, novação, etc., (v. n.º 3 art.º 790.º e n.º 2, 2.ª parte, do
art.º 791.º); desistência da instância, pelo exequente, desde que antes da
transmissão dos bens (v. n.º 1 do art.º 792.º); revogação da sentença
exequenda em instância de recurso ou procedência da oposição à execução,
estando em causa apenas o direito do exequente, em ambos os casos sempre
com a anulação da transmissão eventualmente realizada (v. al. a) do n.º 1 do
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art.º 783.º), salvo se credor reclamante requerer, até o transito da sentença
que declare extinta a execução, desde que o seu crédito esteja vencido e
tenha sido graduado para pagamento pelo produto de bens penhorados que
não chegaram entretanto a ser vendidos, o prosseguimento da execução para
o pagamento do seu crédito (v. n.º 2 do art.º 794.º), isto no âmbito do
principio da economia processual.
c) Os poderes processuais do credor reclamante, além dos que respeitam a
verificação e graduação do seu crédito, cingem-se nos limites do seu direito
de crédito de garantia, ou seja, só pode impugnar os créditos que tenham
legalmente garantia sobre os bens que especialmente garante os seus
créditos, por força do disposto nos art.ºs 749.º, n.º 3, 754.º, n.º 1, 773.º, n.º 2
e 3, 767.º, n.º 1, 765.º, n.º 1 e 767.º, n.º 4 e 780.º, n.º 1.
46
15.2. Como se procede a reclamação de credores – art- 748º
Aos credores com garantia real são permitidos reclamar, pelo produto dos bens
penhorados, o pagamento dos respetivos créditos – art.º 748º nº 1.
O credor que esteja da posse de um título exequível pode, no prazo de 10 dias,
após a citação, fazer a sua reclamação, mesmo que o seu crédito não se acha vencido –
nº 2 do art. 748º.
Porém, no caso de a obrigação ser incerta ou iliquida, a mesma deve ser
liquidada nos termos do art. 677º (liquidação pelo exequente) por força do nº 2 do art.
748º
As reclamações, sendo um incidente processual, são autuadas num único apenso
ao processo executivo – nº3 do art. 748º. Podendo a primeira reclamação ser autuada
(processo próprio) e as restantes juntas.
Findo o prazo para a dedução da reclamação dos créditos (10 dias), são os autos
conclusos ao juiz para proferir o despacho admitindo ou rejeitando liminarmente as
reclamações – nº 1 do art. 749º.
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Havendo resposta do reclamante à impugnação e se necessária a produção de
prova, seguir-se-á os autos (reclamação de crédito), sem mais articulados, a forma de
processo ordinário da declaração na forma ordinária.
Havendo impugnação do crédito, o juiz proferirá despacho saneador-sentença
ou, não havendo fase de instrução, a sentença com graduação de créditos a que haja
lugar.
Não verificando impugnação de qualquer crédito, será logo proferido a sentença
que reconheça o crédito reclamado, com a respetiva graduação de créditos a que haja
lugar, nos termos do art.º 750º, in fine.
O credor que não tenha título executivo exequível, pode, no prazo de 10 dias (v.
art.º 748.º, n.º 2, requer que a graduação dos créditos, relativamente aos bens abrangidos
pela sua garantia, aguarde a obtenção do título. No caso de o executado reconhecer a
existência do crédito ou nada diga e não esteja pendente ação declarativa para respetiva
apreciação, considera-se formado o título executivo e reclamado o crédito nos termos do
requerimento do credor, sem prejuízo de o exequente e os restantes credores o impugnar
(v. art. 750.º A, n.º 1 a 3).
Negando o executado a existência do crédito, o credor obtém na ação própria
(ação declarativa), sentença exequível que declare a sua existência ou inexistência,
sendo que configurem como réus nessa ação o exequente e os credores. Deve o
requerente a provocar a intervenção principal destes, nos termos dos art.ºs 292.º e 297 a
301.º, quando a ação esteja pendentes à data do requerimento (art.º 750.º A, n.º 4 e 5).
O requerimento concede ao requerente a possibilidade de exercer no processo os
mesmos direitos que competem ao credor cuja reclamação tenha sido admitido, mas já
não obsta a que à venda ou adjudicação dos bens, nem à verificação dos créditos
reclamados (v. n.º 6 do art.º 750.º A).
O requerimento está sujeito a caducidade se:
i) o executado negou a existência do crédito e o requerente não juntar nos autos
certidão que comprove ter proposta uma ação própria, no prazo de 20 dias;
ii) o exequente provar que a ação para declarar a existência desse crédito for
julgada improcedente ou que esteve parada durante trinta dias por negligência do
autor depois de ter dado entrada em juizo do referido requerimento;
iii) não for apresentada, dentro de quinze dias, certidão da decisão transitada em
julgado (v. n.º 7 do dito artigo).
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concedida pela penhora, pelo qualquer credor comum do falido pode, querendo,
reclamar o pagamento do seu crédito.
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exequente tiver direito real de garantia, deve atender-se à natureza e a data da
constituição desta.
Quando o exequente propõe a ação nem sequer se conhece o credor priveligiado,
este, no decurso da ação, é conhecido podendo, por vezes ser o único a ser pago pelo
produto da venda dos bens penhorados, enquanto o exequente não consegue achar no
património do devedor bens que lhe permitam a satisfação do seu crédito.
A posição defendida por Lebre de Freitas é a de que se trata de uma verdadeira
injustiça, esta situação, e consubstância numa violação fundamental de acesso à justiça e
do princípio da confiança, uma vez que possibilite a retirada ao exequente do título
juridicional assegurada pela ação executiva e altere, por forma transparente, a base em
que assenta a contituição das garantias especiais, razão pela qual alguns privilégios
creditórios gerais foram já declarados inconstitucionais, com força obrigatória geral (v.
acórdãos do Tribunal Constitucional português n.º 362/2002 e 363/2002, de 16/10).
Embora a ação de verificação e graduação de créditos não ofereça ao devedor
garantias idênticas ou equiparáveis às da ação declarativa comum, trata-se contudo, de
um verdadeiro processo declarativo de estrutura autónoma, que funciona na
dependência do precesso executivo.
Por isso, nesta ação vigora o efeito cominatório pleno, salvo se o executado, que
não tenha sido pessoalmente notificado do despacho que admitir as reclamações, tenha
sido citado editalmente para a execução (cfr. al e) do art. 445º)
Assim, haverá reconhecimento do crédito não impugnado caso o executado
tenha sido devidamente citado para o efeito e não reagir parcialmente nos termos dos
art.º 443º e 444º.
16.1. Modalidades
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16.2. Como se determina a modalidade da venda
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Conforme o disposto supra (16.2.) a venda extrajudicial pode ser feita por uma
das seguintes formas: a) venda em bolsas de capitais de mercadorias; b) venda direta a
entidades que tenham direito a adquirir determinados bens; c) venda por negociação
particular, e, d) venda em estabelecimento de leilão.
Venda em bolsa de capitais
Os títulos de créditos com cotação nas bolsas de capitais são vendidos nessas
bolsas. São vendidos nas bolsas de mercadorias na Comarca de execução se tais
mercadorias foram cotadas nessas bolsas (v. art.º 763.º, n.º 1 e 2).
Venda direta
A venda direta é usada sempre que, por força da lei, havendo bens, estes tenham
que ser entregues diretamente a entidades que tenham direito a adquirir determinados
bens (v. art.º 764.º)
Venda por negociação particular
A venda dos bens penhorados pode ser feita por negociação particular por
despacho do juiz se:
a) Considerar existir vantagens nessa modalidade e a mesma seja requerida quer
pelo executado ou algum credor preferente e ouvido os demais interessados (v. art.º
765.º, n.º 1);
b) Tratar de bens móveis de reduzido valor ou quando haja urgência na
realização da venda (v. al. a) do n.º 2 do art.º 765.º);
c) Frustrar a venda judicial e o mesmo (o Juiz) não optar pela venda em
estabelecimento de leilão (v. al. b) do n.º 2 do art.º 765.º).
No referido despacho que ordene a venda por negociação particular é designada
a pessoa que fica encarregue de a afetuar a venda e o preço mínimo a que o bem pode
ser vendido (v.º n.º 1 do art.º 766.º).
A pessoa indicada exercerá, com a emissão da certidão do despacho, a função de
mandatário (v. n.º 2 do art.º 766.º).
Tratando-se de um bem imóvel, é designado um mediador que conste da lista da
Direção Geral do Património do Estado, para exercer a função de mandatário supra
referido (v. n.º 3 do art.º 766.º).
O comprador, antes de ser lavrado o instrumento da venda, deve efetuar o
depósito do preço em estabelecimento bancário encarregue dos depósitos das custas
judiciais (n.º 4 do art.º 766.º).
Deve constar do ato da venda declaração de que encontre pendente de recurso a
sentença que executa e ou embargos de executado (v. n.º 5 do art. 766.º).
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Quaisquer dos intervenientes (credores, executado e licitantes) podem reclamar
das irregularidades ocorridas no ato de leilão, devendo o juiz antes de decidir sobre tais
reclamações examinar ou mandar examinar a escrituração do estabelecimento, ouvir o
pessoal afeto a este estabelecimento, inquerir testemunhas realizar outras diligências
que achar pertinentes (v. n.º 3 do art.º 767.º)
Provado que as irregularidades viciaram o resultado final da licitação o leilão é
anulado e o dono do estabelecimento condenado a repor o que tiver embolsado, ficando,
ainda, sujeito a indemnizar pelos danos que tenha causado (v. n.º 4, do art.º 767.º)
Caso o leilão for anulado, outro estabelecimento será designado para repetir o
leilão ou, não havendo outro estabelecimento, procede-se à venda judicial ou por
negociação particular (v. n.º 5 do art.º 767.º).
17. O PAGAMENTO
O exequente pode ser pago por um dos seguintes modos (art.º 751.º, n.º 1):
a) pela entrega de dinheiro;
b) pela adjudicação dos bens penhorados;
c) pela consignação judicial dos seus rendimentos;
d) pelo produto da respetiva venda.
Havendo convenção das partes, o pagamento pode ser efetuado em prestação da
dívida exequenda, devendo ser acautelados os direitos dos demais credores cujas
reclamações tenham sido admitidas (art.º 751º, n.º 2). Perante a falta de pagamento
duma prestação (art.º 781.º do C. Civ.) pode logo o exequente requerer o
prosseguimento da execução.
Assim, depois de ter sido proferido o despacho de admissão liminar de créditos
reclamados (v. art. 750º), são iniciadas, no processo de execução, as deligências
tendentes ao pagamento (art.º 752º).
Qualquer credor, cujo crédito reclamado tenha sido admitido, só pode ser pago
na execução pelos bens sobre que tiver garantias e conforme a graduação do seu crédito
(nº 2 do art.º 752º).
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executado nos termos do art.º 776º, começando a execução pelos próprios bens
adquiridos ou pela caução – nº 3 do art.º 780º.
Segundo o disposto no art.º 794.º a extinção da execução não obsta a que a ação
se renove no mesmo processo, nos casos seguintes:
a) Se o título tenha sido sucessivo para pagamento das prestações que se vençam
posteriormente (n.º1 do dito artigo);
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b) Se tenha havido graduação de crédito vencido para ser pago pelo produto de
bens penhorados que não chegaram a ser vendidos, nem adjudicados, o credor
reclamante pode requerer, até o trânsito em julgado da sentença que declare
extinta a execução, o seguimento da execução para pagamento do seu crédito
(n.º 2, do citado artigo). Admitido o requerimento, a execução renova somente
sobre os bens em que tenham sido graduados o crédito do requerente, assumindo
este, no processo, a posição de exequente (v. n.º3 do dito artigo).
Com a renovação da execução, não se repetem as citações e tudo o que tiver sido
processado, relativamente aos bens em que prossegue a execução, será aproveitado,
devendo, contudo, ser notificados do requerimento os outros credores graduados e o
executado (v. n.º 4 do art.º 794.º).
A execução para entrega da coisa certa segue o regime especial previsto nos
art.ºs 799.º a 802.º e, subsidiariamente, as disposições do art.º 677.º, 683.º, n.º 1, 685.º,
686.º, 688.º, 689.º e 690.º
Como se disse supra (v. ponto 1.2, p. 2), na ação executiva para entrega da
coisa certa, o exequente, titular do direito à prestação duma coisa determinada,
pretende que o tribunal apreenda essa coisa ao devedor (executado) e seguidamente lha
entregue – art.º 827.º do C.C.
Se porém a coisa não for encontrada o exequente procederá à liquidação do seu
valor e do prejuízo resultante da falta da entrega, penhorando-se e vendendo-se bens do
executado para pagamento da quantia liquidada – art.º 802.º (conversão da execução).
Neste caso o exequente obterá um resultado idêntico ao da realização da própria
prestação que, segundo o título, lhe é devida ou um seu equivalente.
A entrega da coisa certa pode ter como objeto:
Uma obrigação – por exemplo, por escritura pública, o proprietário obriga-se
a, mediante retribuição, proporcionar o gozo temporário de uma coisa a
outrem, que, para obter a entrega, propõe uma ação executiva; ou,
Um direito real – por exemplo, numa ação de reivindicação o possuidor ou o
detentor é condenado a entregar a coisa reivindicada ao proprietário e este
pede a execução da sentença.
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Neste tipo de processo o exequente pode obter o mesmo resultado que obteria
com a realização, ainda que por terceiro, da prestação que, segundo o título, lhe é devida
ou um seu equivalente.
21.2. Execução por custas – art.º 105.º, n.º 3, 106.º, n.º 1, 107.º a 112.º
do C.C.J.
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INDICE
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