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Apontamentos do Processo Civil II

(Ação Executiva)

1.Conceito e fins da ação executiva

1.1. Delimitação

No esquema do direito processual civil existe duas espécies fundamentais de


ações: a ação declarativa e a ação executiva (art.º 4.º n.º 1).

A primeira pode ainda ser de simples apreciação, de condenação ou constitutiva


(n.º2 do art.º 4.º).

Diferentemente da ação declarativa que visa apenas o reconhecimento de um


direito a uma prestação e a condenação do réu no cumprimento dessa prestação (al. b.
do n.º 2 do art.º 4.º), a ação executiva tem por finalidade a reparação efetiva de um
direito violado. Com ação executiva passa-se da declaração concreta da norma jurídica
para a sua atuação prática, mediante o desencadear do mecanismo de garantia – o
emprego, efectivo ou potencial, da força por parte dum órgão do Estado, dotado de ius
imperium.

O que se pretende com esta ação executiva é, efetivamente, providenciar pela


reparação material coativa do direito do exequente.

Perante a falta de cooperação e a indiferença do devedor no comprimento da


decisão judicial e/ou de uma outra obrigação com força executiva e a proibição de
justiça privada (art. 1.º, n.º 2), a ordem jurídica concede ao credor a possibilidade de
obter a satisfação efetiva do seu direito através de uma ação executiva (art. 4.º n.º 3
CPC). Esta ação enquadra-se na garantia do acesso aos tribunais para a defesa dos
direitos e interesses legítimos (art. 22.º n.º1 CRCV).

A execução pode ser entendida num sentido próprio, como sendo a realização coativa
de uma prestação; e numa acepção ampla ou imprópria, a execução é a atividade
correspondente à produção de quaisquer efeitos jurídicos.

Quais são os direitos reparáveis através da ação executiva e como tem lugar essa
reparação?

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1.2. Tipos

Conforme resulta do art.º 49.º, n.º 2, existem três tipos de ação executiva:

 Para pagamento de quantia certa;

 Para entrega de coisa certa; e

 Para prestação de facto (positivo ou negativo).

Na ação executiva para pagamento de quantia certa, um credor (o exequente)


pretende obter o cumprimento duma obrigação pecuniária através da execução do
património do devedor (executado) – art.º 817.º do C.C. Consiste geralmente na
apreensão pelo tribunal dos bens deste (executado) que forem considerados suficientes
para cobrir a importância da dívida e das custas, tem lugar, normalmente, a venda
desses bens a fim de, com o preço obtido, se proceder o pagamento.

Neste caso o exequente obtém o mesmo resultado que com a realização da


prestação que, segundo o título executivo, lhe é divida.

Na ação executiva para entrega da coisa certa, o exequente, titular do direito à


prestação duma coisa determinada, pretende que o tribunal apreenda essa coisa ao
devedor (executado) e seguidamente lha entregue – art.º 827.º do C.C.

Se porém a coisa não for encontrada o exequente procederá à liquidação do seu


valor e do prejuízo resultante da falta da entrega, penhorando-se e vendendo-se bens do
executado para pagamento da quantia liquidada – art.º 802.º (conversão da execução).

Neste caso o exequente obterá um resultado idêntico ao da realização da própria


prestação que, segundo o título, lhe é devida ou um seu equivalente.

A entrega da coisa certa pode ter como objecto:

 Uma obrigação – por exemplo, por escritura pública, o proprietário obriga-se


a, mediante retribuição, proporcionar o gozo temporário de uma coisa a
outrem, que, para obter a entrega, propõe uma ação executiva; ou,

 Um direito real – por exemplo, numa ação de reivindicação o possuidor ou o


detentor é condenado a entregar a coisa reivindicada ao proprietário e este
pede a execução da sentença.

Na ação executiva para prestação de facto, pode acontecer o seguinte.

 Se a prestação do facto for fungível, o exequente pode requerer que ele seja
prestado por outrem à custa do devedor – art.º 828.º do C. C., sendo, neste caso,

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apreendido e vendidos os bens deste que forem necessários ao pagamento do
custo da prestação;

 Tratando de uma prestação de facto infungível, o exequente já só pode pretender


a apreensão e venda de bens do devedor suficientes para o indemnizar do dano
sofrido com o incumprimento – art.º 804.º do C. C.

No caso de a violação consistir na omissão (prestação de um facto negativo), o


exequente consoante aos casos, pedirá a demolição da obra que porventura tenha
sido efetuada pelo devedor, à custa deste, assim como a indemnização
compensatória – arts. 829.º C. C. e 812..

Neste tipo de processo o exequente pode obter o mesmo resultado que obteria
com a realização, ainda que por terceiro, da prestação que, segundo o título, lhe
é devida1ou um seu equivalente.

1.3. Função

Pode concluir da análise dos tipos da ação executiva o seguinte:

1. A realização duma prestação, que na maior parte das vezes tem caráter
obrigacional – primária ou de indemnização. Pode porém, essa prestação
abarcar os direitos reais, ou seja, uma prestação de natureza real a efetuar
a favor do seu titular – exemplo pretensão de reivindicação ou a
pretensão de demolição ou de indemnização.

2. Visa reparar um direito violado – art.º 4.º n.º 3. Exemplo o exequente, o


autor, que tenha obtido a condenação do réu a abster-se de certa conduta
violadora dum seu direito ou a cumprir uma obrigação ainda não vencida
só poderá propor a ação de execução depois de consumada a violação ou
de ser tornado exigível a obrigação.

3. Obter o resultado idêntico ao da realização da própria prestação. Através


da ação executiva, o exequente obtem quer por meio direto (apreensão e
entrega da coisa ou quantia devida; prestação de fato devido por
terceiro), quer por meio indireto (apreensão e venda de bens do devedor e
subsequente pagamento), ou, em sua substituição, um valor equivalente
do património do devedor (execução equivalente – cfr. art.º 817.º do
C.C.).

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Segundo Galvão da Silva, as prestações de facto negativo são, por natureza, obrigações infungíveis; mas
a obrigação de demolir, construída com a violação, é uma obrigação de prestação de facto fungível (cfr.
Lebre de Freitas, José, A ação Executiva, 4.ª edição, Coimbra editora, 2004, p. 11, n.º 12.

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4. O tipo de ação executiva é sempre determinado em face do título
executivo (por este se determina o fim da execução – art.º49.º, n.º1):
consoante deste consta uma obrigação pecuniária, uma obrigação de
prestação de coisa ou uma obrigação de prestação de facto, assim se
utiliza um ou outro dos três tipos de ação, ainda que por este se visa obter
não a prestação, mas o seu equivalente.

5. A satisfação do credor na ação executiva é obtida mediante substituição


do tribunal ao devedor. Uma vez que este não efetuou voluntariamente a
prestação devida, ou, por exemplo, não procedeu a demolição da obra
que não podia ter efetuado, o tribunal procede à apreensão de bens para,
em substituição do devedor, pagar ao credor, ou para conseguir meios
que permitam custear a prestação, por terceiros em vez do devedor, do
facto por este devido – função jurisdicional.

1.4. Normas Substantiva e normas Processuais.

O direito processual como vimos é um direito instrumental, formal ou adjetivo,


por isso o processo executivo visa um resultado de direito substantivo: a satisfação do
direito do exequente. Com vista a articular com eventuais direitos de terceiros sobre os
bens apreendidos no âmbito de uma ação executiva importa o estabelecimento de
normas que são também do direito substantivo, designadamente, as normas dos arts.
819.º a 826.º do C. C.

Ao direito substantivo cabe-lhe ainda a prévia definição dos regimes de


responsabilidade patrimonial e de sujeição (sujeitabilidade) à execução dos bens objeto
de garantia real e de obrigação de prestação de coisa determinada (exemplo as normas
delimitadoras de penhora são normas do direito substantivo, ainda quando consagrados
no CPC), bem como do (regime) da exequibilidade intrínseca da pretensão – Cfr. as
normas gerais dos arts. 817.º, 818.º, 827 e 829.º, 400.º, n.º2, 548.º e 777.º, n.ºs 2 e 3 do
C. C.).

1.5. Acertamento e a execução

A declaração ao acertamento (pôr certo) - de um direito ou de outra situação


jurídica; dum facto -, que é o ponto de chegada da ação declarativa, constitui, na ação
executiva, o ponto de partida, ou seja, a ação executiva parte do acertamento.
Embora o processo executivo é autónomo do processo declarativo podemos com
isto concluir que este processo se coordena com o processo declarativo no ponto de
vista funcional, sempre que por ele é precedido – de uma sentença. Quando os títulos
executivos não se fundam numa sentença cessa então esta coordenação.
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Em qualquer dos casos o processo executivo visa a satisfação do direito de uma
das partes contra a outra e, por isso, deve assentar nos princípios de igualdade de armas
– art.º 5.º e do contraditório – art.º 3.º, n.º 1 e 3.
O princípio de igualdade de armas, exigindo o equilíbrio entre as partes na
apresentação das respetivas teses, na perspetiva dos meios processuais de que para o
efeito dispõem, implica a identidade dos direitos processuais das partes e a sua sujeição
a ónus e cominações idênticos, sempre que a sua posição no processo é equiparável, e
um jogo de compensações gerador do equilíbrio global do processo, quando a
desigualdade objetiva intrínseca de certas posições processuais, leve a atribuir a uma
parte meios processuais particulares não atribuíveis à outra.
O princípio do contraditório, que não se deve confundir com o direito de defesa
– art.º 3.º n.º1 e 3, não só implica que o mesmo jogo de ataque e resposta em que
consistem a ação e a defesa deve ser observado ao longo de todo o processo, de tal
modo que qualquer posição tomada por uma parte deve ser comunicada à contraparte
para que esta possa responder, mas também que as partes deve ser fornecida, ao longo
do processo, a efetiva ligação com o objeto da causa e em qualquer fase do processo se
pressinta serem potencialmente relevantes para a decisão.
Ambos estes princípios, como vimos, é uma manifestação do princípio geral da
igualdade das partes, que implica a paridade simétrica das suas posições em face do
tribunal, são hoje tidos como fundamentais, diretamente decorrentes do direito
constitucional de acesso à justiça e como tal de absoluta observância no processo civil
de tipo contencioso.
Pelo facto de no processo executivo estar apenas em causa a atuação dum direito
subjetivo pré-definido leva a que o executado não goze da paridade de posição com o
exequente, e que a sua participação no processo se circunscreva no âmbito da
substituição dos bens penhorados ou de eventual indicação dos bens a penhorar, da
audição sobre a modalidade da venda e o valor-base dos bens a vender e o controlo da
regularidade ou ilegalidade dos atos do processo e que o seu direito à contradição seja
fundamentalmente assegurado posteriormente, ou seja, através da possibilidade da
oposição aos atos executivos (maxime oposição a penhora) já praticados ou através da
oposição à execução, que constitui uma ação declarativa estruturalmente autónoma
relativamente ao processo executivo.
A igualdade das partes no processo executivo é meramente formal.
Sempre que no processo executivo surge questões ou incidentes que pressupõe a
declaração ou não de um direito, estas têm natureza declarativa – incidente declarativo,
por isso deve ser estruturado autonomamente, embora funcionalmente subordinados ao
processo executivo – correm por apensos, nestes casos, se recuperam os princípios de
igualdade de armas e do contraditório as suas amplitudes integrais (cfr. Lebre de Freitas,
ob. cit. p. 21 a 23).

1.6. O Juiz e a Secretaria da Execução

Na ação executiva ao juiz cabe a direção de todo o processo executivo, em


paralelismo com o que acontece na ação declarativa, aplicando-se o art.º 7.º n.º1 sem
especiais restrições: cumpre-lhe providenciar pelo andamento do processo, ordenando
as diligências que se revelarem necessárias para o efeito, removendo os obstáculos que
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se oponham ao andamento regular da causa, ou recusando o que for impertinente ou
meramente dilatório. É ao juiz quem cabe proferir os despachos tais como: o despacho
de citação; o despacho ordenatório da penhora; o despacho ordenatório da venda; o
despacho ordenatório do pagamento; a sentença de extinção, etc.
A secretaria compete: receber o requerimento de execução verificar se estão
preenchidos todos os pressupostos e fazer a sua entrega ao juízo.
No Juízo proceder-se-á o registo no livro de entrada, caso esse registo não se
fizer pelos meios eletronicos, como se de uma ação declarativa fosse, seguindo-se a
respetiva autuação, com uma particularidade de que as partes são agora identificadas
como “exequente” e como “executado” e é apensado na ação principal, se o título for
uma sentença.
Estão sujeitos a distribuição, nos tribunais onde haja mais do que um juizo cível,
as ações executivas que tenham por base títulos executivos extrajudiciais.
As ações executivas são distribuídas conforme determina os arts. 200.º segs.

2. Pressupostos da ação executiva

2.1. Pressupostos específicos

Para que possa haver realização coativa de uma prestação devida (ou do seu
equivalente) é necessário preencher dois requisitos ou condições, dos quais depende a
exequibilidade do direito à prestação:

a) O dever de prestar deve constar dum título: o título executivo. É um


pressuposto de caráter formal, que extrinsecamente condiciona a
exequibilidade do direito, porque lhe confere o grau de certeza que o
sistema reputa suficiente para a admissibilidade da ação executiva.
b) A prestação deve mostrar-se certa, exigível e líquida. Certeza,
exigibilidade e liquidez são pressupostos de caráter material, que
intrinsecamente condicionam a exequibilidade do direito, na medida em
que sem eles não é admissível a satisfação coativa da pretensão (são
apreciadas no decurso da ação).
Quanto à certeza, à exigibilidade e à liquidez da prestação, embora sejam,
também, pressupostos da ação, são qualificadas de condições da ação executiva,
enquanto caraterísticas conformadoras do conteúdo duma relação jurídica de direito
material.
Porém, a certeza, a exigibilidade e a liquidez, só constituem pressupostos
autónomos da ação executiva quando não resultam do título executivo - art.º 674.º.
Trata-se de uma exigência de complemento do título executivo quando, as
mesmas não constem do título executivo, constitui pressupostos processuais.
Quanto à liquidez, pressupõe que se o título executivo for uma sentença judicial
condenatória, esta só constitui título executivo após a liquidação da obrigação
pecuniária que não dependa de mero cálculo aritmético, a qual tem lugar no próprio
processo declarativo – art.º 678.º.

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Como pressupostos processuais, o título executivo e a verificação da certeza,
da exigibilidade e da liquidez da obrigação exequenda são requisitos de
admissibilidade da ação executiva, sem as quais não tem lugar as providências
executivas. Ou seja, são as condições necessárias para que o tribunal possa decidir
favoravelmente.
O título executivo é um pressuposto processual e é a condição necessária e
suficiente da ação executiva.

2.2. Pressupostos Gerais

Os pressupostos gerais da ação executiva são, nomeadamente, a competência do


tribunal, a personalidade e a capacidade judiciária das partes, a sua representação ou
assistência quando incapazes, o patrocínio judiciário quando obrigatório, a
legitimidades das partes. Quanto ao interesse em agir, este pressuposto na ação
executiva, está garantido do direito do exequente.
Os restantes pressupostos processuais aplicam-se nos mesmos termos do
processo declarativo. Os que na ação executiva apresentam especialidades próprias são:
 A competência do tribunal;
 A legitimidade das partes;
 O patrocínio judiciário;
 Os pressupostos no caso de pluralidade de sujeitos da ação;
 Os pressupostos no caso de cumulação de pedidos.

3. O Título Executivo

3.1. Noção

O título executivo constitui a base da execução, por ele se determina «o fim e os


limites da ação executiva» - art.º 49.º n.º1, ou seja, o tipo da ação e o seu objeto (quando
haja dúvida acerca do tipo ou sobre o objeto da obrigação titulada, o título não é
exequível e o credor tem de recorrer previamente a uma ação declarativa de condenação
ou de simples apreciação), assim como a legitimidade ativa e passiva para ela – art.º
59.º, e, sem prejuízo de poder que ser complementado – arts. 675.º a 676.º), em face
dele se verificando se a obrigação é certa, liquida e exigível ( art.º 674.º).

3.2. Espécies

O art.º 50.º n.º1 enumera, nas suas alíneas, quatro espécies de título executivo:
sentença condenatória; documento exarados ou autenticado por notário, escrito
particular assinado pelo devedor; título executivo por força de disposição especial.

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3.3. A sentença condenatória

As sentenças (ou acórdãos) que constituem títulos executivos são:

 As de condenação;
 As decisões de condenação em custas;
 As decisões que condena em prestação de alimentos;
 As decisões que obrigam o arrendatário à entrega da coisa locada
(despejo);
 Decisões que condenam o réu à pagar uma indemnização ao ofendido no
âmbito dos processos crimes;
 Decisões que condenam o Estado em indemnização por ato de gestão
pública, ilícito ou lícito.

Já não constitui título executivo às sentenças de mérito proferidas em ações de


simples apreciação, porque o tribunal apenas apreciou a existência de um direito ou de
um facto e nada acrescenta quanto a essa existência, a não ser o seu reconhecimento
judicial. Pela sentença o réu não é condenado no cumprimento duma obrigação pré-
existente, nem sequer constituído em nova obrigação a cumprir.

Para que a sentença seja exequível, é necessário que tenha transitado em


julgado, ou seja, insusceptível de recurso ordinário ou de reclamação – art.º 580.º, salvo
se contra ela tiver sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo – art.º 51.º,
n.º1., nos termos previstos no n.º1 do art.º 602.º - recurso de apelação, e 636.º - recurso
de revista.

Ora, se tiver sido instaurada execução na pendência de recurso com efeito


meramente devolutivo, essa execução, por natureza provisória, sofrerá as consequências
da decisão que a causa venha a ter nas instâncias superiores.

Assim, quando a causa vier a ser definitivamente julgada, a decisão proferida


terá o efeito:

 De extinguir a execução, se for totalmente revogatória da decisão


exequenda, absolvendo o réu (executado);
 De a modificar, se apenas em parte revogar a decisão que, por sua vez, seja
objeto de recurso para um tribunal superior, a execução.

Se pelo tribunal de recurso vier proferir uma decisão que, por sua vez, seja
objeto de recurso para um tribunal superior, a execução:

 Suspender-se-á (suspensão de instância) ou modificar-se-á, consoante a


decisão da 2ª instância for total ou parcialmente revogatória da anterior, se
ao novo recurso for também atribuído efeito meramente devolutivo;

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 Prosseguirá tal como foi instaurada e só poderá ser extinta ou modificada
com a decisão definitiva, se, pelo contrário, for atribuído ao recurso efeito
suspensivo, o qual se traduz em suspender a execução da decisão intermédia
proferida - art. 51.º n.º2.

A acção executiva proposta na pendência do recurso pode também ser suspensa


a pedido do executado que preste caução, destinada a garantir o dano que, no caso de
confirmação da decisão recorrida, o exequente sofra em consequência da demora da
execução – art.º 51.º, n.º4, em expressa equiparação desta situação à do executado que
se tenha oposto à execução.

Não havendo lugar a esta suspensão e prosseguindo a execução, não é admitido


pagamento, enquanto a sentença estiver pendente de recurso, sem prévia prestação, pelo
credor (exequente ou reclamante) de caução – art.º 51.º, n.º3.

Qualquer destas cauções é prestada nos termos gerais do art.º 623.º do C. Civ.

Proferida a condenação genérica, nos termos do n.º 2 do art.º 572.º e não


dependendo a liquidação da obrigação pecuniária de simples cálculo aritmético, o
tribunal condene no que se liquidar em execução da sentença.

O requerente, neste caso, especifica no requerimento inicial da execução os


valores que considere compreendidos na prestação devida e concluirá por um pedido
líquido – art.º 678.º, n.º1. 347.º e 348.º (incidente de liquidação – incidente porque é
uma ação declarativa enxertada na ação executiva).

Requerida a execução da parte líquida, a liquidação da outra parte (ilíquida) na


pendência da execução é deduzida por apenso e, se este subir em recurso, juntar-se-lhe
certidão do título executivo e também dos articulados, quando a execução se funda em
sentença – art.º 682.º, n.º2.

A mesma situação se aplica aos casos da obrigação que só parcialmente seja


exigível – art.º 682.º, n.º 3.

De igualmente existe a imposição de obrigação de liquidação em caso da


obrigação de entrega duma universalidade (pedido genérico) – art.º 682.º, n.º2. e 347.º
(trata-se de um incidente de liquidação).

A sentença proferida por tribunal estrangeiro

As sentenças estrangeiras, só podem servir de base à execução depois de


revistas e confirmadas pelo tribunal cabo-verdiano competente – tribunais de 2ª
instância, salvo o que se achar estabelecido em tratados e convenções - art. 53.º n.º 1 e
915.º.
Este regime é aplicável às decisões dos tribunais arbitrais. Porém a revisão é
regulada por lei especial – art.º 914.º, n.º3.
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A confirmação tem lugar quando se verifiquem os requisitos enunciados no art.º
916.º.
Estabelece-se assim um controlo prévio da exequibilidade das sentenças
estrangeiras, o que se compreende atendendo a que a atribuição de exequibilidade a uma
decisão constitui, em princípio, uma reserva de competência de cada Estado.

Despachos judiciais e decisões arbitrais

Os despachos judiciais e decisões arbitrais (art.º 52.º) são equiparados as


sentenças referidas n.º 1 al. a) do art.º 50.º. quando proferidas no estrangeiros estão
sujeitas ao regime dos art.ºs dos art.º 914.º e segs, ou seja, a confirmação pelo tribunal
cabo-verdiano competente (art. 915.º), salvo se tratar de revisão de decisão arbitral
estrangeira que é regulada pela lei de arbitragem.

Como exemplo de despachos condenatórios exequíveis, temos os que imponham


multas às partes ou a testemunhas, condenam em indemnizações ou fixem honorários de
peritos, depositários, etc. Cabem neste rol as decisões que ordenam providências
cautelares que não sejam executadas, por medida de tipo executivo especificamente
prevista, nos próprios autos do procedimento cautelar – art.º 359.º - garantia penal.

As decisões proferidas pelo tribunal arbitral são exequíveis nos mesmos termos
em que o são as decisões dos tribunais comuns.

As sentenças homologatórias

São exemplos de sentenças homologatórias a transacção ou confissão do pedido


– 273.º e sentença homologatória da partilha, art.º 1009.º, n.º1.
Estas decisões são tidas como títulos executivos parajudiciais ou impróprios por
não procederam de uma decisão judicial mas de uma auto-composição do litígio.
Em confronto com as sentenças em que o juiz decide o litígio entre as partes,
mediante a aplicação do direito (substantivo) ao caso que lhe é presente, as sentenças
homologatórias caracterizam-se por o juiz se limitar a sancionar a composição dos
interesses em litígio pelas próprias partes, limitando-se a verificar a sua validade
enquanto negócio jurídico

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3.4. O documento exarado ou autenticado por notário

Os documentos exarados por notário (art.º 54.º CPC) são documentos


definidos no Código Notarial e aí designados por documentos “autênticos”, ou seja, “os
documentos exarados pelo notário nos respetivos livros, ou em instrumentos avulsos, e
os certificados, certidões e outros documentos análogos por ele expedidos”. Exemplo: o
testamento, a escritura pública.
Por seu turno, os documentos autenticados (art.º 54.º) são os documentos
particulares confirmados pelas partes perante o notário, excluídos, portanto, os que
tenham simples reconhecimento notarial de letra assinatura ou só assinatura. Exemplo:
testamento cerrado.
Os documentos autênticos ou autenticados apenas são título executivo quando se
prove, por documento passado em conformidade com as cláusulas deles constantes ou,
sendo aqueles omissos, revestidos de força executiva própria, que alguma prestação for
realizada para conclusão do negócio ou que alguma obrigação foi constituída na
sequência da previsão das partes – art.º 54.º.

3.5. O escrito particular assinado pelo devedor

Os documentos particulares que se encontrem assinados pelo devedor de


montante superior à alçada do tribunal da comarca, com excepção dos extratos de
fatura, faturas conferidas, letras, livranças e cheques, só constituem títulos executivos se
for reconhecida por notário, e preencher os pressupostos enunciados no art.º 55.º .

3.6.O título executivo por força de disposição especial

Alguns títulos cuja força executiva resulta da disposição especial da lei – art.º
50.º, n.º1, al. d) formam-se no decurso dum processo.
Assim no processo de prestações de contas, quando o réu as apresente e delas
resulte um saldo a favor do autor, pode este requerer que o réu seja notificado para
pagar a importância do saldo, sob pena de lhe ser instaurado processo executivo – art.º
872.º, n.º4. Aqui o título executivo são as próprias contas apresentadas.
Também, constituem título executivo especial: títulos de cobrança de tributos,
coimas, dívidas determinadas por ato administrativo, etc.
A este tipo de títulos emitidos por repartições do Estado, de Autarquias Locais
ou de outras determinadas pessoas colectivas públicas e tendo por conteúdo créditos
próprios, tem sido dada a designação de títulos administrativos ou de formação
administrativa.

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3.7. Natureza e função do título executivo

O Título é um documento

O título executivo é um documento (escrito ou acto jurídico se for uma sentença)


do qual resulta a exequibilidade de uma pretensão e, portanto, a possibilidade da
realização coactiva da correspondente prestação através de uma ação executiva. Esse
título incorpora o direito de execução, ou seja, o direito do credor executar o património
do devedor ou de um terceiro para obter a satisfação efetiva do seu direito à prestação.

O título executivo é, em princípio, o documento original, mas também pode ser


translado (cópia) de uma sentença condenatória – um acto jurídico.
A exequibilidade (viabilidade) de um título é aferida pela lei vigente à data da
propositura da ação executiva. Portanto, ainda que o documento não possua força
executiva no momento em que é elaborado, a execução torna-se admissível se essa
eficácia lhe for atribuída por lei posterior.
Quanto aos reflexos das modificações relativas à eficácia executiva de um
documento nas execuções pendentes, vale o princípio de aplicação imediata da lei nova,
sempre que esta venha conceder exequibilidade a um documento que anteriormente a
não possuía.

Características gerais

a) Tipicidade

As partes não podem atribuir força executiva a um documento ao qual não


concede eficácia do título executivo e também não podem retirar essa força a um
documento que a lei qualifica como título executivo. Isso significa que os títulos
executivos são, sem possibilidade de quaisquer excepções criadas ex voluntate (de
acordo com a vontade), aqueles que são indicados como tal pela lei (art. 50.º) e que, por
isso, a sua enumeração legal está submetida a uma regra da tipicidade.

b) Suficiência

Sempre que a obrigação que consta do título seja certa, exigível e líquida, isto é
suficiente, relativamente às caraterísticas dessa obrigação, para possibilitar a execução.
O título executivo só não é suficiente se a obrigação nele referida não for certa, exigível
e líquida, casos em que a execução se deve iniciar pelas diligências destinadas a
satisfazer esses requisitos (v. art.º 674.º CPC).
Efetivamente, a causa de pedir não preenche a mesma função no processo
declarativo e no processo executivo.
Na ação declarativa, a causa de pedir cumpre uma dupla função como elemento
de individualização da situação alegada pelo autor e de delimitação dos factos que vão
servir de base à apreciação da procedência da ação.

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Na ação executiva, pelo contrário, não está em discussão a existência da
obrigação exequenda, pelo que a causa de pedir só serve para individualizar essa mesma
obrigação.

c) Autonomia

A exequibilidade do título é independente da exequibilidade da pretensão ou,


numa formulação negativa, a inexequibilidade do título é autónoma da inexequibilidade
da pretensão. A inexequibilidade do título executivo (art.º 688.º al. a) CPC) decorre do
não preenchimento dos requisitos para que um documento possa desempenhar essa
função específica; a inexequibilidade da pretensão (art.º 688.º al. h), 1ª parte CPC)
baseia-se em qualquer facto impeditivo, modificativo ou extintivo do dever de prestar.

3.8. Consequências da falta de apresentação do título executivo

Pressuposto formal da ação executiva, o título (ou uma cópia autênticada) deve,
em regra, acompanhar o requerimento inicial, sob pena de a mesma ser objeto de
indeferimento liminar ou de oposição nos termos dos art.º 684.º, 688.º e 690.º.

4. Certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação

4.1. Conceito

Como vimos a existência de um título é um dos pressupostos da execução.


Também, a ação executiva pressupõe o incumprimento da obrigação. Mas este
incumprimento tem que se tornar certa, exigível ou líquida sem o que a execução não
pode prosseguir art.º 674.º.

4.2. Regime: certeza e exigibilidade

Certeza da obrigação

A obrigação exequenda é certa, quando a respetiva prestação se encontra


determinada ou individualizada.
Do título executivo deve constar uma obrigação de prestar determinada ou, pelo
menos, determinável através dos elementos por ele fornecidos.
Não é certa aquela em que a determinação (ou escolha) da prestação, entre uma
pluralidade, está por fazer – art.º 400.º C. Civ. Exemplo, nos casos de obrigação
alternativa – art.º 543.º C. Civ. e obrigação genérica de espécie indeterminada – art.º
539.º, todos do C. Civ.
A impossibilidade de determinar o conteúdo da prestação exequenda, porque ela
é referida na decisão judicial ou no documento negocial de forma que não é possível
concretizar o seu objeto, invalida o eventual negócio art.º 280.º n.º 1 C. Civ. e impede
qualquer execução.
13
Exigibilidade da obrigação

A prestação é exigível quando se encontra vencida ou o seu vencimento


depende, de acordo com estipulação expressa ou com a norma geral supletiva do art.º
777.º, n.º1 (determinação do prazo) do C. Civ., de simples interpelação do ao devedor.
Não é exigível quando, não tendo ocorrido o vencimento, este não está
dependente de mera interpelação. É o caso por exemplo:
 Tratando-se de uma obrigação de prazo certo, este ainda não decorreu –
v. art.º 779.º C. Civ;
 O prazo é incerto e a fixar pelo tribunal – v. art.º 777.º, n.º 2 C. Civ.;
 A constituição da obrigação sujeita a condição suspensiva que ainda não
se verificou – v. arts 270.º do C. Civ. e 676.º, n.º1.
 Em caso de sinalagma, o credor não satisfaz a contraprestação – v. art.º
428.º do C. Civ.
Neste último caso, a lei processual equipara a falta de realização ou oferta da
prestação a efetuar pelo exequente às situações de pura inexigibilidade – art.º 676.º,
n.º1.
O conceito de exigibilidade não se confunde com o de vencimento, nem com o
de mora do devedor.
A obrigação pura cujo devedor não tenha sido ainda interpelado não está vencida
e, no entanto, a prestação é exigível – art.º 777.º, n.º 1 do C. Civ.
Por outro lado, pode a prestação ser exigível e a obrigação estar vencida e, no
entanto, não haver mora do devedor: basta que tenha ocorrido mora do credor, por este
não ter aceitado a prestação ou não ter realizado os atos necessários ao cumprimento –
art.º 813.º do C. Civ., quer se trate de obrigação pura em que já tenha sido feita a
interpelação (ou a oferta da prestação pelo devedor), quer a obrigação a prazo em que
este já tenha decorrido.

4.3. Liquidez da obrigação

As obrigações ilíquidas são aquelas cuja quantidade não está determinada.


A iliquidez recai, normalmente, sobre obrigações pecuniárias (como por
exemplo, a indemnização devida por um facto ilícito), mas também pode referir-se a
uma prestação de dare (como por exemplo, a entrega de uma quantidade, ainda
indeterminada de cereal).
A obrigação ilíquida pode ser: uma obrigação genérica ou um pedido genérico –
ilíquido.

Condições gerais para se tornar uma obrigação líquida

As obrigações ilíquidas podem ser realizadas nos termos do art.º 678.º, porque
não se pode executar o património antes de determinar a quantia devida ou solicitar a
entrega de uma coisa antes de saber a quantidade que deve ser prestada.
Assim, tem de ser liquidada a condenação em quantia ilíquida - arts. 432.º, n.º1
al. b) e n.º 2, 572.º, n.º2 CPC, bem como a obrigação em quantia ilíquida que se

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encontra constituída ou reconhecida num título executivo negocial - art.º 50.º n.º1 al. c)
CPC.
A liquidação tem por base os elementos fornecidos pelo título, não sendo
possível quantificar aquilo que, por exemplo, não se tiver apurado na anterior ação
declarativa.
Exceptuam-se, dois casos em que é admissível a execução de obrigações
ilíquidas:
a) As obrigações de juros - art. 677.º n.º2 CPC;
b) As obrigações para entrega de uma universalidade de facto ou de direito.

Condições específicas

Quando a liquidação dependa de simples cálculo aritmético – ou seja, quando a


prestação possa ser quantificada através de uma mera operação aritmética –, ela deve ser
realizada pelo próprio exequente no requerimento inicial - art.º 677.º n.º 1 CPC.
Se a liquidação não puder ser realizada por simples cálculo aritmético – ou seja,
se houver que apurar determinados factos indispensáveis à quantificação da obrigação
exequenda –, ela deve ser efetuada, em princípio, num incidente que decorre perante o
tribunal da execução - art.º 678.º n.º1 CPC.
Para obter a liquidação, o exequente deve especificar no requerimento inicial os
valores que considera compreendidos na prestação devida e concluir por um pedido
líquido - art.º 678.º CPC.
O executado – estipula o art.º 678.º, n.º2 CPC – é citado para contestar, dentro
do prazo fixado para a dedução de embargos - arts. 688.º e 745.º CPC, com a explícita
advertência da cominação relativa à falta de contestação - art.º 679.º n.º1 CPC e dos
ónus de cumular a oposição à liquidação com a eventual dedução de embargos - art.º
680.º n.º1 CPC.
Consequências da não liquidação de obrigação: se não for requerida a liquidação
de obrigação ilíquida, deve o juiz (v. art. 685.º), nos mesmos termos e condições em que
nos casos de incerteza ou inexigibilidade, proferir despacho de aperfeiçoamento e só no
caso de a petição não ser consequentemente aperfeiçoada vir indeferi-la, podendo, se
não o fizer, haver a oposição a execução (v. art. 687.º).

Pressupostos processuais especiais

Na ação executiva, os pressupostos processuais condicionam a admissibilidade


da realização da prestação.
Diferentemente do que sucede na acção declarativa – na qual os pressupostos
processuais são suficientes para proferir uma decisão de mérito –, na ação executiva
esses pressupostos não se destinam a tornar admissível qualquer decisão sobre o mérito,
antes condicionam a admissibilidade das medidas coactivas necessárias à realização da
prestação.
A liquidação pode ser feita: Pelo tribunal – art.º 678.º, pelo exequente – art.º
677.º e por árbitros – art.º 681.º CPC.

15
5. Competência do Tribunal

5.1. Competência em razão da matéria

A competência material determina se a acção executiva pode ser instaurada num


tribunal comum – civil e, em caso afirmativo, pode ainda ser necessário aferir qual o
tribunal de competência especializada que é competente.
Quanto à competência material para a execução das decisões dos tribunais
Comuns, a regra é a coincidência entre a competência para a acção declarativa e a
executiva. Assim, quando a competência para a acção declarativa couber a um tribunal
da primeira instância de competência especializada, esse mesmo tribunal é competente
para a execução das respectivas decisões; o mesmo vale para os tribunais de
competência genérica.

5.2. Competência em razão da hierarquia

Apenas os tribunais da primeira instância possuem competência executiva em


função da hierarquia, isto é, nenhum tribunal superior tem competência para promover
qualquer execução.
Assim, para as execuções baseadas nas decisões proferidas por tribunal cabo-
verdiano é competente o tribunal de primeira instância em que a causa foi julgada – art.º
86.º n.º1
Para as execuções que têm como título executivo as decisões proferidas por
tribunais superiores, a execução é promovida, também, no tribunal de primeira instância
do domicílio do executado, salvo o caso previsto no art.º 85.º, conforme disposto no n.º
1 do art.º 87.º. Nestes casos, a execução corre por apenso onde a decisão tiver sido
proferida ou no traslado, que para o efeito baixam ao tribunal de primeira instância (v.
n.º 2 do art.º 87.º).
A execução baseada em sentença estrangeira corre por apenso ao processo de
revisão ou no respectivo traslado, que, para esse efeito, a requerimento do exequente,
baixam ao tribunal de primeira instância que for competente – art.º 91.º.
A execução por custas, multas e indemnizações derivadas de condenação em
tribunais de 1.ª instancia ou tribunais superiores corre, igualmente, no tribunal de 1ª
instância em que o processo foi instaurado (v. art.º 88.º e 89.º)

5.3. Competência em razão do valor

Independentemente do valor a ação executiva é proposta no tribunal de primeira


instância de competência genérica ou, nas Comarcas onde haja juízo criminal e juizo
cível, no juízo cível.

5.4. Competência em razão do território

16
A competência territorial em matéria de execução é aferida em função do título
executivo que for utilizado pelo exequente.
Para a determinação daquela competência importa distinguir, antes de mais, se o
título é uma sentença condenatória ou se é baseado noutro título.
Quanto às decisões condenatórias há, ainda, que diferenciar consoante se trate de
sentenças nacionais ou estrangeiras.
A determinação da competência territorial é determinada da seguinte forma:
a. Para as sentenças nacionais, a regra é a coincidência entre a competência
declarativa e a executiva, pelo que é territorialmente competente o
tribunal da primeira instância em que a acção foi julgada, ou se for
proferida pelo um tribunal superior é competente para a acção o tribunal
do domicílio do executado – v. art.ºs 86.º e 87.º;
b. No caso de execução por custas, multas e indemnizações, a mesma é
instaurada por apenso ao processo no qual haja feito a notificação da
respectiva conta ou liquidação – art.º 88.º n.º1, ou no tribunal da primeira
instância em que o processo foi instaurado – art.º 89.º n.º1, mas se o
executado for um funcionário de um tribunal superior a acção é proposto
na comarca sede do tribunal a que o funcionário pertencer – art.º 89.º
n.º2;
c. Se a execução se fundar no cumprimento de uma obrigação é competente
o tribunal do lugar onde a obrigação deve ser cumprida – n.º 1 do art.º
90.º;
d. Se a execução for para entrega de coisa certa ou por dívida com garantia
real são, respectivamente, competentes, o tribunal do lugar onde a coisa
se encontre ou o da situação dos bens onerados – n.º2, do art.º 90.º;
e. Se a execução haja de ser instaurada no tribunal do domicílio do
executado e este não tenha domicílio em Cabo Verde, mas aqui tenha
bens, é competente para a execução o tribunal da situação desses bens –
90.º n.º3.
f. Se a execução se fundar em sentença estrangeira corre por apenso no
tribunal de primeira instância que for competente (v. art.º 91.º)
g. No caso das decisões proferidas por árbitros em arbitragem que tenha
decorrido no território cabo-verdiano, é competente o tribunal de primeira
instância do lugar da arbitragem – n.º 2 do art.º 86.º.

5.5. Competência Internacional

A competência executiva internacional dos tribunais cabo-verdianos pressupõe


uma conexão relevante da ação executiva com a ordem jurídica cabo-verdiana, deve ser
aferida nos termos do art.º 66.º, porque os tribunais nacionais não podem nem devem
ser competentes para toda e qualquer execução.
A necessidade desta conexão é uma consequência do princípio da territorialidade
ao qual estão submetidas as medidas através das quais se obtém a realização coativa da
prestação exequenda: segundo esse princípio, cada Estado possui o monopólio das
medidas coativas efetuadas no seu território.
Por este motivo, o fator de conexão relevante para a aferição da competência
executiva internacional dos tribunais cabo-verdianos não pode deixar de ser
17
circunstância de as medidas necessárias à realização coativa da prestação poder ocorrer
em território cabo-verdiana.

5.6. Competência Convencional e o regime da incompetência relativa

Competência convencional

Os pactos de jurisdição que regulam a competência internacional dos tribunais


cabo-verdianos estão previstos no art.º 95.º e 96.º
A coincidência entre a competência territorial e a internacional, bem como a
aferição da competência internacional pelos critérios do domicilio do executado e da
situação dos bens penhoráveis não deixam muito espaço para os pactos atributivos de
jurisdição, pois que dificilmente se concebe uma situação em que os tribunais cabo-
verdianos não sejam legalmente competentes, mas em que a execução apresente uma
conexão com a ordem jurídica cabo-verdiana que justifique, tal como previsto no art.º
95º, n.º 3, que exige que sejam observados cumulativamente os requisitos nas alíneas a)
a d) do dito preceito, ou seja, ser aceite pela lei do tribunal designado; correspopnder a
um interesse sério das partes, ou de uma delas; não respeitar a questões relativas a
direitos indisponíveis ou da competência exclusiva dos tribunais de Cabo Verde; e,
ainda, deve o acordo satisfazer os de aos requisitos de forma do contrato, fonte da
obrigação, contanto que seja escrito, e deve designar as questões a que se refere e o
tribunal que fica sendo competente – v. o n.º 2 do art.º 96.º
O pacto ao mesmo tempo privativo da jurisdição dos tribunais cabo-verdianos e
atributivo de competência a um tribunal estrangeiro vale, neste último, para efeitos de
revisão e confirmação e não para desaforamento da questão proposta diretamente nos
nossos tribunais.
O “interesse sério” a que se refere o art. 95.º n.º3 al. b) deve ser entendido em
termos semelhantes ao “interesse digno de protecção legal” estatuído no art. 398º n.º 2
C. Civ., ou seja, como interesse atendível, embora sem conteúdo económico, que não
corresponda a um mero capricho ou seja estranho ao direito, nem atinja a equidade, a
boa fé contratual ou os bons costumes.
Os pactos de competência – competência convencional - se destinam a regular
a competência territorial para a acção executiva - art. 96.º n.º1. Dada a excepção
constante no n.º1 in fine deste artigo, esses pactos, ainda que restritos à competência
territorial, não são admissíveis, pois estão sujeitos ao regime de arguição oficiosa da
incompetência em razão do território ou do valor pelo tribunal:
 Quanto às execuções baseadas em decisões proferidas pelos tribunais
cabo-verdianas – art.º 104.º n.º1 e 86.º n.º1;
 Quando a execução se baseia num título extrajudicial e visa a entrega de
coisa certa ou o pagamento de uma quantia certa assegurada por uma
garantia real – artºs. 104.º, n.º1 e 90º n.º2.

Modalidades de incompetência

Dado ao facto de os tribunais arbitrais não possuírem competência executória, as


únicas modalidades de incompetência que são possíveis na acção executiva são a
incompetência absoluta - art. 97.º e a incompetência relativa previsto no art. 102.º.,

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sendo que as mesmas (incompetência) podem ser arguida pelo executado no prazo
fixado para a oposição (v. art.º 103.º)

Incompetência absoluta

A incompetência absoluta resulta da violação das regras da competência


material, hierárquica e internacional legal – v. art. 97.º.
Essa incompetência consiste numa excepção dilatória – v. art.ºs. 453º, n.º 1 al.
g); de conhecimento oficioso – art.º. 454.º mas insusceptível de sanação, o que justifica
que o tribunal deva indeferir liminarmente o requerimento executivo – art.ºs. 684.º al.
b).

Incompetência relativa

A incompetência relativa decorre da violação da competência que é aferida pelo


valor da causa, pela forma do processo aplicável ou pela divisão judicial do território,
bem como da violação da competência convencional - art.º. 102.º a 104.º. Quanto à sua
apreciação, importa distinguir os acasos em que a incompetência relativa é de
conhecimento oficioso daqueles em que isso não é admissível.

6. Legitimidade das partes

6.1. Quem é parte

Na ação executiva tem legitimidade como exequente e executado,


respetivamente, quem no título afigure como credor e como devedor – art.º 59.º.
Esta regra consente, quanto à legitimidade passiva, um desvio (no caso de
execução por dívida provida de garantia real) e excepção (por alargamento a terceiros
abrangidos pela eficácia do caso julgado).
Há, além disso, que considerar a legitimidade específica do Ministério Público
para a acção executiva.
Adaptação do regime-regra:
A regra geral da legitimidade para a acção executiva carece de ser adaptada nos
casos de:
a) Quando tenha havido sucessão no direito ou na obrigação, deve a execução
correr entre os sucessores das pessoas que no título figuram como credor ou
devedor da obrigação exequenda. No próprio requerimento para a execução
deduz o exequente os factos constitutivos da sucessão – art.º 60.º, n.º1.
b) Fundando a execução em título ao portador, de que o cheque é um exemplo,
a regra geral tem, obviamente, de ser adaptada no que se refere à legitimidade
ativa. Não constando o nome do credor do título executivo, a execução é
promovida pelo portador, art.º 59.º, n.º2.
c) A execução por dívida provida de garantia real pode seguir diretamente
contra o possuidor dos bens onerados e, se estes não chegarem, pode a ação
executiva prosseguir no mesmo processo contra o devedor, para completa
liquidação do crédito insatisfeito – art.º 60.º, n.º2.

19
d) Quando a execução tiver sido movida apenas contra terceiro e se reconhecer
a insuficiência dos bens do onerado com garantia real, pode o exequente
requerer, neste processo, o prosseguimento da ação executiva contra o devedor,
que é chamado para a completa satisfação do crédito exequendo – v. art.º 60.º,
n.º3.
Pode acontecer que a garantia real dum crédito incida sobre bens de terceiro, ou
porque já assim tenha sido constituída ou porque foi constituída em data anterior
à propositura da acção executiva.

Nota - sobre os bens de terceiros só podem ser objeto de execução em dois casos:
1. Quando sobre eles incide um direito real constituído para garantia do crédito
exequendo, e,
2. Quando tenha sido julgada procedente impugnação pauliana2 de que resulte para
o terceiro a obrigação de restituição dos bens ao credor (julgada procedente a
impugnação, o credor tem o direito à restituição dos bens na medida do seu
interesse, podendo executá-los no património do obrigado à restituição e praticar
os actos de conservação da garantia patrimonial autorizados por lei – art.º 616.º
n.º 1 C. Civ. – adquirente de má-fé).
Quando os bens dados como garantia pertençam a terceiros, o exequente que
queira fazer valer a garantia na execução tem opção entre:
i) A propositura da execução contra o terceiro e, mais tarde, se os bens forem
insuficientes, o chamamento do devedor; ou,
ii) A propositura da execução, desde logo, contra o terceiro e o devedor, em
litisconsórcio voluntário.

e) Pertencendo os bens onerados ao devedor, mas estando eles na posse de


terceiro, pode este ser desde logo demandado juntamente com o devedor – art.º
60.º, n.º4.
f) Se o título executivo for uma sentença condenatória, a propositura da acção
executiva contra o proprietário que sobre os seus bens haja constituído a garantia
real pressupõe que contra ele tenha sido também proposta a acção de
condenação e que nesta tenha sido declarada a existência da garantia – art.ºs
635.º, n.º1, 667.º, n.º2 e 717.º, n.º 2, todos do C. Civ.
g) Quando o título executivo é uma sentença, a legitimidade passiva para a acção
executiva é alargada às pessoas que, não tendo sido por ela condenadas, são
porém abrangidas pelo caso julgado -art.º 61.º do CPC. Exemplo, o detentor da
coisa cuja entrega for objecto da acção executiva não deixa de estar sujeita à
execução, como terceiro titular de um interesse subordinado ao do executado.
Neste caso, para integração da previsão do referido art.º 61.º do CPC, os casos
de chamamento à intervenção principal de terceiro titular de situação susceptível
de gerar litisconsórcio voluntário passivo, nos termos do art.º 27.º, n.º2, que não
intervém na causa. O chamamento a intervenção principal pode ser requerido

2
V. art.º 615.º do C. Civ, segundo o qual “Os atos que envolvam diminuição da garantia patrimonial do
crédito e não sejam de natureza pessoal podem ser impugnados pelo credor, se concorrerem as
circunstâncias seguintes: a) ser o crédito anterior ao ato ou, sendo posterior, ter sido o ato realizado
dolosamente com o fim de fim de impedir a satisfação do direito do futuro credor; b) Resultar do ato a
impossibilidade, para o credor, de obter a satisfação integral do seu crédito, ou agravamento dessa
impossibilidade”.

20
por qualquer das partes quando haja lugar a litisconsórcio próprio, voluntário ou
necessário (art.º 297.º), e pelo autor quando haja lugar a litisconsórcio voluntário
subsidiário (art.º 32.º, n.º2 e art.º 297.º, n.º2). A sentença que vier a ser proferida
constituirá caso julgado perante o chamado não interveniente, por imposição do
art.º 292.º n.º2. sendo voluntário o litisconsórcio, a sentença condenatória não se
pronuncia sobre a situação jurídica do chamado quando contra ele não tenha sido
deduzido pelo autor um pedido diverso do deduzido contra o réu inicial (como
acontece no caso de solidariedade passiva) e então, embora ele não figure no
título, a acção executiva pode contra ele ser movida por força do art.º 61.º do
CPC.

O Ministério Público

O Ministério Público compete promover a execução por custas e multas


impostas em qualquer processo – art.º 63.º.
Além desta legitimidade específica do Ministério Público para a ação executiva,
conservam aplicação as normas que, em geral, regulam a sua legitimidade processual –
arts. 17.º a 19.º.

6.2. Consequências da ilegitimidade das partes

A ilegitimidade constitui uma excepção dilatória de conhecimento oficioso –


arts. 453.º al. c) e 454.º. Sendo assim cabe ao juiz, quando se verifique, seja insanável e
haja lugar a despacho liminar, indeferir liminarmente a petição inicial art.º 684.º al. b).;
mas, sendo sanável, cabe-lhe proferir despacho de aperfeiçoamento – arts.º 7.º, n.º3 e
685.º e, seguidamente, só se não for sanada indeferir o requerimento executivo – art.º
686.º, 1ª parte.
Quando seja citado, não obstante haver uma ilegitimidade insanável, ainda que
não manifesta, o executado tem a possibilidade de se opor à execução por embargos –
art.º 688.º al. c), quanto à execução da sentença.

7. Patrocínio Judiciário

Na ação executiva a lei é menos exigente do que na ação declarativa quanto ao


patrocínio judiciário.
Em regra, só nas ações em que cujo valor exceda a alçada da Relação, é
obrigatória a constituição de advogado em processo executivo – art.º 35.º, n.º1, al. a).
Nos outros casos, ainda que não seja obrigatório, pode intervir advogados,
advogados estagiários e solicitadores (v. o dito art.º 35.º).

8. Pluralidade de sujeitos e pluralidade de pedidos

8.1. O litisconsórcio

Quando vários autores formulem contra um só réu um pedido único –


litisconsórcio activo, quer um autor formule contra vários réus pedido único –
21
litisconsórcio passivo, quer um pedido único seja formulado por vários autores contra
vários réus – litisconsórcio simultaneamente activo e passivo, são-lhes aplicáveis as
mesmas normas que o regem no processo declarativo, sem que o facto de constar do
título uma pluralidade de devedores, ou um terceiro com património sujeito à execução
para além do devedor, implique, só por si, a necessária propositura da ação executiva
contra todos os obrigados ou sujeitos à execução.
Há litisconsócio voluntário quando o pedido tenha sido deduzido por vários
autores ou contra vários réus. Esta situação pode resultar de uma obrigação conjunta –
art.º 27.º n.º1, como solidária art.º 517.º C. Civ, e a garantia por bens de terceiros - arts.
641.º, n.º1, 667.º, n.º2 e 717.º n.º 1 todos do C. Civ., assim como, do lado ativo, a
obrigação indivisível com pluralidade de credores – art.º 538.º, n.º1 do C. Civ., e nas
relações reais que lhe são equiparadas – arts. 1283.º, 1385.º, n.º2 e 2006.º, n.º1 todos do
C. Civ.
Há, também, litisconsórcio necessário quando a lei ou o negócio jurídico ou a
própria natureza da prestação a efetuar imponha a intervenção de todos os interessados
na relação controvertida. Os casos em que esta imposição surge são, na ação executiva,
muito mais raros do que na ação declarativa e, por isso, já foi defendida, por Alberto
dos Reis, a inexistência de litisconsórcio necessário em sede de execução (v. art.º 28.º).
Há, porém, alguns casos em que se verifique o litisconsórcio passivo quando, na
execução para entrega de coisa certa, esta pertença a vários (exemplos: arts. 1385.º, n.º1,
1384.º e 2019.º n.º 1 do C. Civ.), e quando, na execução para prestação de facto, a
obrigação incumba a vários também há litisconsórcio necessário passivo (exemplo uma
obra de arte coletiva em que não é possível exigir de uma só parte); na execução para o
pagamento de quantia certa, pode o negócio jurídico ou a lei (exemplo art.º 2019.º, n.º1
do C. Civ.) exigir a intervenção de todos os interessados.

Litisconsórcio sucessivo: pode ter lugar quanto a pessoas com a legitimidade


para a ação executiva. Para tal o exequente terá que chamar a intervir na ação
determinada pessoa para assegurar a legitimidade duma parte, nos termos do art.º 245.º.

No âmbito do litisconsórcio voluntário o exequente pode nos seguintes casos:


a) Quando o exequente demande apenas o proprietário dos bens onerados, tem a
possibildade de, mais tarde, demandar o devedor, se os bens que garantem o
cumprimento da obrigação vieram a revelar-se insuficientes – art.º 60.º, n.º2;
b) Instaurada a execução apenas contra o devedor subsidiário, que invoque o
benefício da excussão prévia, o exequente pode demandar o devedor principal – art.º
705.º, nº2;
c) Instaurada a execução contra o devedor obrigado no título e citado o cônjuge,
a requerimento do exequente ou do executado, para declarar se aceita a
comunicabilidade da dívida, constitui-se ele como executado se a aceitar ou nada
declarar, no prazo fixado na lei – art.º 702.º, n.º 1.
d) O cônjuge do executado é equiparado a este, quando admitido na ação
executiva passa a ser parte principal – art.º 747.º, 1. al. a).
e) Quanto aos credores reclamantes, ficam, uma vez citados, com alguns poderes
processuais que cabem ao exequente e, por outro lado, a falta da sua citação, tal como a
do cônjuge do executado, tem, embora limitadamente, o mesmo efeito que a falta de
citação do réu – art.º 747.º n.º3, o que permite considerá-los como parte (admitidos, não
para satisfazer o seu direito de crédito, mas para garantir a desoneração do bem

22
penhorado, só são convertíveis em partes principais na execução quando acionado o
mecanismo do art.º 794.º n.º2).
Convém não confundir o litisconsorte (parte principal) e a da parte acessória ou
auxiliar - art.º 309.º.

8.2. A coligação

Por força do art.º 62.º a coligação é admitida em processo executivo quando


cumulativamente se verifiquem os seguintes pressupostos:
a) Quando as execuções tenham por fim o pagamento de quantia certa e não se
verifiquem as excepções previstas no número 1 do art.º 57.º;
b) As várias obrigações devem ser líquidas ou liquidáveis por simples cálculo
aritmético – art.º 62.º, n.º2;
c) O tribunal deve ser competente internacionalmente e em razão da matéria e da
hierarquia para apreciação de todos os pedidos – art.º 57.º, n.º 1, al. a.

8.3. Consequências da falta de litisconsórcio, quando necessário, e da


coligação ilegal

Havendo lugar a litisconsórcio necessário, a falta de qualquer dos litisconsortes é


fundamento de ilegitimidade da parte – art.º 28.º, n.º1. No despacho liminar, quando o
houver, o juiz deve convidar o exequente a requerer a intervenção principal do terceiro
– arts. 7.º, n.º3 e 684.º, al. b).
O vício porém pode ser corrigido pelo exequente nos termos do art.º 685.º e
437.º
Quer os casos de preterição de litisconsórcio necessário, quer os de coligação
ilegal, o executado pode opor-se à execução, art.º 687.º

8.4. A cumulação simples de pedidos

A coligação constitui uma cumulação de pedidos. Mas pode também o


exequente cumular pedidos contra o mesmo executado (ou contra os mesmos
executados litisconsortes).
É inicial quando tem lugar logo no ato de propositura da ação executiva.
É sucessiva quando, na pendência duma execução já instaurada, o exequente
deduz, no mesmo processo, novo pedido executivo.
São pressupostos da cumulação os seguintes:
a) Quando o pedido seja o pagamento de quantia certa e não se verifiquem as
excepções previstas no art.º 57.º, n.º1., ou seja, quando as exigências executivas acabam
por ser apenas as deste tipo de ação. A cumulação torna-se possível a partir da
conversão.
As consequências da cumulação indevida são as mesmas para os casos de
coligação ilegal, ou seja, é motivo para indeferimento limiar quando o juiz convida o
exequente para corrigir os vícios e este não os corrige – art.º 7.º, n.º3, e 684.º, al. b).

23
9. Formas do processo executivo

9.1. O tipo e a forma do processo

Como vimos já o processo executivo quanto ao tipo pode ser: execução para
pagamento da quantia certa; execução para entrega de coisa certa; execução para
prestação de facto – art.º 49.º, n.º2.
Cada um destes tipos de ação pode seguir uma forma de processo comum ou
uma forma de processo especial.
Segundo o art.º 426.º, n.º1, o processo comum de execução segue forma única
nos termos do presente diploma.

9.2. Âmbito das formas processuais

No âmbito do processo executivo os processos especiais são muito mais raros do


que nos processos declarativos, devendo considerar-se duas categorias:
A primeira é constituída por processos exclusivamente executivos. É o caso por
exemplo das ações de execuções de alimentos – art.º 936.º a 939.º.
A segunda categoria é constituída por processos mistos, que têm a
particularidade de a uma primeira fase declarativa se seguir uma fase executiva. É o
caso do processo de despejo de prédio - art.º 846.º e segs. e o de investidura em cargos
sociais - art.º 1104.º.

9.3. Direito supletivo

O processo de execução comum para pagamento de quantia certa vem regulado


nos arts. 683.º a 796.º, o que tem por fim a entrega da coisa certa nos arts. 799.º a 802.º
e o que visa a prestação de facto nos arts. 804.º a 813.º.
Supletivamente, aplicam-se:
 À execução para entrega da coisa certa e à prestação de facto seguem, as
disposições aplicáveis à execução para pagamento de quantia certa – n.º 3 do
art.º 426.º;
 Aos processos especiais, as disposições reguladoras do processo comum
– art.º 427.º, n.º1.
 Ao processo executivo na falta de disposição especial rege-se pelas
disposições do processo ordinário declaratório que mostrem compatíveis com
aquele processo – art.º 426.º, n.º2, in fine.

24
CAPÍTULO II

O PROCESSO DE EXECUÇÃO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

10. DELIMITAÇÃO

O processo executivo para pagamento da quantia certa é delimitado aos títulos


executivos dos quais conste uma obrigação pecuniária. O que se pretende com o
processo é o cumprimento forçado de uma obrigação desta natureza, podendo ela
resultar diretamente de um negócio jurídico (exemplo, A obriga-se a pagar B certa
quantia, e este a exige em ação executiva), ou de uma indemnização resultante de um
facto ilícito (exemplo, o enriquecimento sem causa e a gestão de negócios), ou ainda do
não cumprimento de um negócio jurídico pelo qual se tenham constituído obrigações
não pecuniárias (exemplo, o não cumprimento de um contrato promessa de compra e
venda em que o promitente vendedor não cumpriu e o promitente comprador exigiu a
restituição em dobro do sinal entregue, após que executa a sentença obtida).
Também, pode ser convertido em processo de execução para pagamento de
quantia certa os processos de execução para a entrega da coisa certa - art.º 802.º e
prestação de factos – art.º 805.º, visando ao pagamento de uma indemnização ao
exequente. Também, no caso de não haver conversão nos processos de execução para
entrega de facto, o devedor é executado pela quantia necessária ao custeamento da
prestação de facto a efectuar por outrem – art.º 806.º.
A obrigação pecuniária reveste normalmente a natureza de obrigação de
quantidade, cujo objecto é um certo valor expresso em moeda que tenha curso legal em
Cabo Verde - art. 550º C. Civ (princípio nominalistica).
Quanto às outras duas modalidades que pode assumir obrigação de moeda
específica e obrigação em moeda curso legal apenas no estrangeiro a primeira dá
sempre lugar à execução para pagamento de quantia certa, mesmo que falte ou tenha
curso legal a moeda estipulada – art.ºs 552.º, 555.º e 556.º C. Civ., enquanto a segunda
se executa através do processo para a entrega de coisa certa (cfr. Lebre de Freitas, ob.
cit. p. 155 e 156).

11. FASE INICIAL

11.1. Requerimento inicial e tramitação complementar

A ação executiva para pagamento da quantia certa principia com a apresentação


do requerimento inicial - requerimento executivo, nos termos do art.º 683.º n.º1, cujo
conteúdo deve ser devidamente adaptado o disposto no art.º 428.º.
Tratando-se de execução fundada em sentença requerer a penhora dos bens do
executado e a sua posterior notificação depois da penhora, para no prazo de dez dias
25
contestar a liquidação, deduzir oposição à execução, pagar ou impugnar a penhora –
art.º 683.º, n.º1.
Se se tratar de execução fundada em outros títulos o exequente requer que o réu
seja citado para no prazo referido no número anterior, contestar a liquidação, deduzir
oposição à execução, pagar ou nomear bens à penhora – art.º 683.º, n.º2.
Na execução com dispensa de prévia citação do executado3, deve o exequente
proceder à indicação de bens sobre os quais a penhora há-de recair, devendo fornecer
todos os elementos que definam a situação jurídica dos bens, identificando,
designadamente, os ónus e encargos que sobre eles incidem, por força do n.º5 do art.º
683.º com remissão para o art. 709.º.
Recebendo o requerimento inicial, seguem-se, como na ação declarativa, a
distribuição – nos tribunais onde haja mais do que um juio cível - (salvo se correndo a
execução por apenso ao processo declarativo em que foi proferida a decisão exequenda)
e a autuação, bem como as eventuais diligências necessárias, caso a obrigação
exequenda não seja certa, exigível e liquida em face do título executivo, a satisfazer os
requisitos da obrigação exequenda previstos nos art.ºs 675.º a 682.º.
Tratando de uma obrigação alternativa e pertencendo a escolha da prestação ao
devedor, este é notificado para declarar por qual das prestações opta, dentro do prazo
fixado pelo tribunal. Caso não faça, dentro do prazo proposto, a escolha é feita pelo
credor – art.º 675.º e 548º C. Civ.

11.2. Despacho liminar

O requerimento executivo, segundo o disposto no art.º 684.º, pode ser


indeferido liminarmente pelo juiz quando:
a) Seja manifesta a falta ou insuficiência do título,
b) Ocorram excepções dilatórias insupríveis que ao juiz cumpra
oficiosamente conhecer ou,
c) Fundando-se a execução em título negocial, seja manifesta a sua
improcedência, em consequência de, face aos elementos dos autos, ser
evidente a existências de factos impeditivos ou extintivos da obrigação
exequenda que ao juiz seja licito conhecer.

 Despacho de aperfeiçoamento do requerimento do exequente (art.


685.º)

Se o requerimento executivo padecer de algumas irregularidades suscetíveis de


sanação, antes de ordenar a penhora e a subsequente notificação do executado ou a sua
citação para os termos da execução, o juiz convida o exequente a supri-las, aplicando-se
com as necessárias adaptações o disposto no artigo 437.º.

11.3. Despacho de ordenação da penhora, seguida de notificação ou


citação (art. 686.º)

3
Também é dispensada a citaao prévia do executado quando na execução fundada em título não judicial o exequente
reqeuira e comprove o receio de extravio de bens ou o desconhecimento deles – n.º 3 do art.º 683.º.

26
Se caso o requerimento executivo não for indeferido o juiz determina a penhora
dos bens do executado e a sua subsequente citação, conforme as situações previstas no
art.º 683.º, para, no prazo de dez dias, deduzir oposição à execução, pagar ou impugnar
a penhora.
A citação é comutada por uma notificação, se o executado já tiver sido citado, no
âmbito das diligências destinadas a tornar a obrigação certa, exigível e líquida - art.
683.º, n.º3, 1ª parte com remissão para os arts. 673.º a 682.º.
Se o exequente requer e comprovar o receio do extravio de bens ou o
desconhecimento do paradeiro deles a citação é dispensada quando a execução é
fundada em título não judicial, art. 683.º, n.º4.

11.4. Oposição à execução através de embargos (art. 687.º)

O executado pode opor-se à execução, por meio de embrago, no prazo de dez


dias, a contar da notificação ou da citação, sejam estas efetuadas antes ou depois da
penhora.
A oposição do executado visa a extinção da execução, mediante o
reconhecimento da atual inexistência do direito exequendo ou da falta dum pressuposto,
específico ou geral, da ação executiva (cfr. Lebre de Freitas, ob. cit. p. 171).
No mesmo requerimento pode cumular oposição à execução e à penhora quando
o executado não tenha sido citado previamente – n.º 2 do art.º 687.º.
Sendo a matéria de oposição superveniente o prazo para a oposição começa a
correr a partir do dia em que ocorra o respetivo facto ou que o oponente dele tenha
conhecimento – art.º 683.º, n.º3.
Se tratar de vários executados os mesmos não beneficiam do disposto no n.º 4 do
art.º 446.º, ou seja, a oposição de todos ou de cada um deles já não pode ser oferecida
até ao termo do prazo que começa a ocorrer em último lugar – art.º 687.º, n.º4.
Os embargos têm fundamentos diversos conforme o título executivo que seja
utilizado pelo exequente, designadamente: oposição à execução baseada em sentença –
art. 688.º; oposição baseada em decisão arbitral – art. 689.º, e oposição à execução
baseada noutro título, art. 690.º4.
A oposição segue a tramitação do processo declarativo incidental que corre por
apenso à própria execução (art. 692.º n.º1). Uma vez que a ação executiva não admite
qualquer articulado de resposta do executado e que a eventual oposição desta parte não
se insere na tramitação normal daquela ação.
Por outro lado, o executado pode, nos embargos, invocar não só os vícios ou
irregularidades de caráter processual que haja ocorrido, mas ainda os meios substantivos
(exemplo, a prescrição ou a compensação que não tenha invocado antes da ação
executiva: arts. 303.º e 848.º, n.º 1 do C. Civ) oponíveis ao crédito do exequente que
podem ser diversos consoante a natureza e a força probatória do título exequenda (arts.
688.º al. h) e 690.º n.º 1 e 2).

4
Neste caso os fundamentos podem ser diversos e assentarem por exemplo, quando ocorra ilicitude da
causa negocial e o tribunal não tenha indeferido a petição inicial – art.º 690.º, n.º2, ou quando o executado
ponha em causa a autoria do título negocial particular cuja assinatura não esteja presencialmente
reconhecida – arts. 374.º, n.º2 e 375.º do C. Civ..

27
Efeito do recebimento dos embargos

Deduzida a oposição à execução, havendo à citação prévia do executado, a


execução só é suspensa se o embargante (executado) prestar caução – art.º 693.º, n.º1.
Quando a execução se funde em documento particular e o executado
(embargante) alegar a não genuinidade da assinatura e juntar documento que constitua
princípio da prova, pode o juiz, ouvido o exequente (embargado) suspender a execução,
se convencer da séria probabilidade de a assinatura não ser do devedor. – art.º 693.º,
n.º2.
Quando não haja citação prévia, a dedução da oposição, depois da penhora,
suspende o processo de execução: o exequente está já garantido, pelo que o
prosseguimento da execução aguardará a decisão da oposição. Mas, o exequente pode,
em qualquer altura, pedir o reforço ou substituição da penhora - – art.º 693.º, n.º3.
Depois de prestada a caução, a execução prossegue se o processo de embargos
estiver parado durante mais de trinta dias, por negligência do embargante em promover
os seus autos – art.º 693.º, n.º6.
Se o embargo abarcar só uma parte da execução, esta prossegue na parte não
embargada, mesmo que o embargante tenha prestado caução – art.º 693.º, n.º5.
A suspensão da execução depois de os credores terem sido citados não abrange o
apenso destinado à verificação e graduação de créditos – art.º 693.º, n.º4.

Tramitação

Como vimos a oposição à execução constitui uma verdadeira ação declarativa,


que corre por apenso ao processo de execução.
Inicia-se ela com uma petição inicial, que terá de ser articula nos termos do art.º
144.º, n.º2.
Uma vez autuada, depois de pago o preparo inicial, art.º 61º do Código de Custas
Judiciais (se não for pago dá-se cumprimento ao disposto no art.º 66.º do C.C.J.), o
processo é concluso ao juiz para proferir:
i) O despacho liminar – art.º 692.º, nº.1:
a) Se forem intentados fora de prazo;
b) Se for invocado fundamento para além dos admitidos pelos art.ºs 688.º a
690.º;
c) Se for manifesta a improcedência da oposição do executado.
Também, é fundamento para indeferimento liminar se ocorrer no processo de
oposição, excepção dilatória insuprível de que o juiz cumpre conhecer ex oficio
– v. art. 454.º conjugado com os 452.º. e 453.º.
ii) O despacho de citação, sendo que o exequente é notificado para contestar no
prazo de dez dias, sem mais articulados – art.º 692.º, n.º2.
Não contestando o exequente, consideram-se admitidos os factos alegados na
petição de oposição, aplicando-se o disposto no n.º1 do art.º 444.º e 445.º, mas,
diferentemente do que acontece na ação declarativa, o exequente que não conteste já
assumiu a posição de vir a juízo, propondo ação executiva, não são dados como
provados os factos da petição de oposição que estejam em oposição com os
expressamente alegados no requerimento inicial da execução – art.º 692.º, n.º3.
Terminada a fase de articulados, aplicam-se os termos subsequentes do processo
ordinário declarativo na forma abreviada conforme preceituado no n.º 2 do art.º 425.º

28
Recursos

O recurso a interpor da sentença que decide a oposição à execução quer seja uma
oposição meramente formal (ex.: despacho que admite ou rejeite o embargo) quer seja
de mérito, o recurso a interpor é de apelação, art.º 601.º, ou de revista, art.º 634.º.
No caso de o embargo ter sido recusado, o recurso que se interpuser do despacho
sobe imediatamente e subirá nos próprios autos do embargo nos termos do n.º1, al. a) do
art.º 601.º - A. Já o recurso do despacho que admite o embargo tem subida diferida, ou
seja, só sobe quando o processo do embargo estiver findo conforme disposto no n.º1, do
art.º 602.º
O prazo para interposição do recurso é de 30 dias, contados da notificação da
decisão de acordo com o n.º1 do art.º 595.º.

11.5. Responsabilidade do exequente

Quando a penhora tem lugar sem a citação prévia do executado e a oposição à


execução é julgada procedente, o exequente responde, pelos danos causados àquele
culposamente e incorre em multa até 5% do valor da execução, sem prejuízo da
responsabilidade criminal que possa haver – art.º 695.º.
Esta responsabilidade, liberta dos requisitos da má-fé processual – art.º 420.º,
não tem lugar quando o executado haja sido previamente citado, tendo assim ocasião de
se defender.

13. PENHORA
13.1. Noção

A penhora consiste na apreensão judicial de bens do executado para


satisfazer o direito do exequente (e os credores com garantia real sobre os bens
penhorados que venham a reclamar o pagamento dos seus créditos na execução) através
da transmissão de direitos do executado para aquele, diretamente, ou um terceiro,
seguida, neste caso, de pagamento da dívida exequenda.
A penhora é o ato judicial fundamental do processo de execução para
pagamento de quantia certa, (o ato executivo por excelência) aquele em que é
manifesto o exercício do poder coercitivo do tribunal: perante uma situação de
incumprimento, o tribunal priva o executado do pleno exercício dos seus poderes sobre
um bem que, sem deixar de pertencer ao executado, fica a partir de então
especificamente sujeito à finalidade última de satisfação do crédito exequente, a atingir
através da disposição do direito do executado nas fases subsequentes da execução5.

13.2. Princípios Gerais

5
Cfr. LEBRE DE FREITAS, ob. cit., p. 205-206
29
Como vimos, no estudo do Direito das Obrigações, a garantia geral das
obrigações é constituída por todos os bens que integram o património do devedor, ou
seja, caso o devedor não cumprir a obrigação a que está adstrita, o seu património fica
sujeito à execução para satisfação do direito do credor a uma prestação pecuniária (e
não só), nisto consiste o princípio da responsabilidade patrimonial.
Contudo quando se põe a questão do objeto possível de penhora há que atender
as limitações e condicionalismos da responsabilidade patrimonial, os quais estão
articulados com os arts. 697.º a 700.º com os arts. 601.º - garantia geral das obrigações –
principio geral, C. Civ. e 818.º - execução de bens de terceiros - C. Civ., assim como da
sua aproximação dos arts. 702.º a 705.º, 710.º e 60.º, n.º2, podem retirar-se os seguintes
princípios gerais:
 Todos os bens que constituem o património do devedor, principal ou
subsidiário, podem ser objeto da penhora, à excepção dos bens inalienáveis e
de outros que a lei declare impenhoráveis.
 Os bens de terceiro (pessoa diversa do devedor) só podem ser objeto de
execução em dois casos:
o i) quando sobre eles incida direito real constituído para garantia do
crédito exequendo;
o ii) quando tinha sido julgada procedente impugnação pauliana de que
resulte para terceiro a obrigação de restituição dos bens do credor
(cfr. art.º 616, n.º1 C. Civ.).
 Deve ser atendido os desvios resultantes da existência de patrimónios
autónomos, da constituição de garantias reais sobre bens próprios do devedor
e da articulação de responsabilidades entre o devedor principal e devedor
subsidiário, desvios estes que, na maior parte dos casos, se exprimem em
diferentes regimes de penhorabilidade subsidiária.
 Nunca podem ser penhorados senão bens do executado seja este o devedor
principal, um devedor subsidiário ou um terceiro. Esta regra não tem
excepção6.

13.3. Penhora e Disponibilidade Substantiva

13.3.1 Bens absolutos ou totalmente impenhoráveis

Há bens que segundo a lei estão objetivamente indisponíveis. Estes bens, nos
termos do art.º 698.º, são impenhoráveis, nomedamente:
a) Os bens do direito privado que são inalienáveis – art.º 698.º, n.º1 al. a),
designadamente, o direito a alimentos - art.º 1940.º C. Civ., o direito de
uso e habitação - art.º 1468.º C. Civ., o direito à sucessão de pessoa viva
- art.º 1956.º C. Civ., etc.
b) Os bens do domínio público – art.º 698.º, n.º1, al. g)

13.3.2. Indisponibilidade subjetiva

Os regimes de indisponibilidade subjetiva geram, em regras, regimes de


impenhorabilidade:

6
Cfr., idem, p. 208-209
30
1)
As normas de indisponibilidade subjetiva atuam eliminando ou restringindo os
poderes de disposição do sujeito sobre os bens próprios:
a. Quando o poder de disposição do sujeito é atribuído a um não titular do direito,
quer para o exercício dum direito próprio da pessoa a quem é atribuído, com fim
de garantia (exemplo, o direito do credor pignoratício a vender a coisa recebida
em penhor – art.º 675.º, n.º1 do C. Civ), quer para realização do interesse do
respectivo titular, incapaz de o exercer (exemplo, é o caso do representante legal
do incapaz, privado do poder de disposição dos seus direitos).
b. Quando o titular para dispor do direito tem que ter uma autorização ou
consentimento alheio (exemplo, no caso de assistência do inabilitado – art.º
158.º, nº1 C. Civ.), ou por consideração da pessoa que terá de autorizar, ou
consentir o ato dispositivo (exemplo, é o caso do consentimento do cônjuge -
art.º 1648.º, n.º1, ou da sociedade para a cessão da quota ou parte social art.ºs
992.º, n.º1 C. Civ. e art.º 298.º, n.º 3 do CEC.

2)

a. Quando a atribuição do poder de disposição visa um fim de garantia, a pessoa a


quem ele é atribuído tem o direito a ser paga antes do exequente, se o bem for
penhorado antes de exercido o direito que justifica a atribuição – art.º 666.º do
C. Civ.;
b. Quando, ao contrário, a atribuição do poder de disposição é feita no interesse do
titular direito, a regularidade da penhora é assegurada mediante o mecanismo da
representação deste no próprio processo executivo – v. art.º 12.º, n.º1(incapazes).

3)

a. Há casos em que a limitação é extrínseca ao direito em causa. É o caso do


casamento, que atua do exterior sobre certas situações jurídicas próprias de cada
um dos cônjuges, adquiridas quer na sua vigência, quer antes dele. Assim na
vigência do regime de comunhão geral de bens ou comunhão de adquiridos, os
bens imóveis e o estabelecimento comercial próprios de um dos cônjuges
possam ser penhorados sem o consentimento conjugal – art.º 1652.º do C. Civ.,
não obstante só poderem ser alienados com o consentimento do outro cônjuge –
art.º1639.º, n.º1 do C. Civ. e este ter, se não o tiver dado, o direito de anular o
ato praticado – art.º 1643.º, n.º1 do C. Civ.
b. Noutros casos trata-se de limitação intrínseca do direito fora ou dentro dum
esquema de cumprimento contratual.

13.3.3. Impenhorabilidade Convencional

O art.º 602 do C. Civ., estabelece que, por convenção entre o credor e o devedor,
se limite a responsabilidade do devedor a alguns do seus bens e, por maioria de razão,
que determinados bens do devedor sejam excluídos da sujeição à execução pela dívida
contraída. Mas a limitação não pode ir ao ponto de suprimir a exequibilidade do crédito,
31
porque, caso fosse, corresponderia a uma renúncia ao direito de ação executiva que é
inadmissível.
O art.º 603.º do C. Civ., possibilita que, por doação ou testamento, se
convencione que os bens transmitidos não responderão pelas dívidas do beneficiário já
existentes à data, salvo se a natureza dos bens obrigar a registo e a penhora for registada
antes do registo da cláusula.
O art.º 831.º C. Civ. prevê a cessão de bens aos credores para estes os alienarem
e, com o produto da alienação, satisfazerem os seus créditos. Os credores que não
participam na cessão poderão penhorar os bens cedidos, enquanto a alienação não tiver
lugar. Mas já assim não é relativamente aos credores cessionários e aos posteriores à
cessão, pelo que os bens cedidos são por eles impenhoráveis, v. art.º 833.º C. Civ.

13.3.4. Impenhorabilidade Diretamente resultante da Lei

Por razões de interesses gerais, de interesses vitais do executado – aqueles bens


que asseguram ao seu agregado familiar um mínimo de condições de vida: bens
imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se encontrem na residência
permanente do executado – al. d) do art.º 698.º; os genéros necessários ao seu sustento e
sua família, durante três meses – al. e) do art.º 698.º; os instrumentos indispensáveis à
sua integridade física, al. f) do art.º 698.º - ou de interesses de terceiro – exemplo o
disposto no art.º 1181.º, C. Civ. -, o sistema jurídico entende deverem-se sobrepor aos
credores exequente.
A lei, nestes casos, classifica esta impenhorabilidade de absoluta, relativa ou
parcial.
São absolutamente impenhoráveis os bens dispostos no art.º 698.º
São relativamente ou parcialmente impenhoráveis os bens dispostos no art.º
699.º

13.3.5. Penhorabilidade Subsidiaria

Quando só podem ser penhorados certos bens depois de outros bens, ou outro
património, se terem revelado insuficientes para a realização do fim da execução,
estamos perante o regime de penhorabilidade subsidiária
A penhorabilidade subsidiária pode resultar:
a) Da separação entre o património comum dos cônjuges e património próprio de
cada um deles, nos regimes de comunhão geral e comunhão de adquiridos;
b) Quando por negócio ou por lei, há um devedor principal, ou um património
coletivo que responde em primeiro lugar, e um devedor subsidiário com benefício da
excussão prévia.
c) Quando há bens de devedor especialmente afetos ao cumprimento da
obrigação – exemplo, nos casos em que haja garantia real.

O regime de responsabilidade comum e responsabilidade própria dos cônjuges


estão expressos nos art.º 1679.º a 1695.º do C. Civ. e dívidas comuns art.º 1647.º e a
1653.º do C. Civ.

32
14. FASE DE PENHORA

14.1. Indicação dos Bens

No requerimento executivo, é dada indicação dos bens do executado que o


exequente conheça.
Por força do art.º 709.º o á vinculado a proceder a indicação dos bens sobre os
quais a penhora ha de recair, devendo fornecer todos os elementos que definam a
situação jurídica dos bens, identificando, designadamente, os ónus e encargos que sobre
eles incidam.
Quando o exequente, justificadamente alegue sérias dificuldades na identificação
ou localização dos bens penhoráveis do executado, incumbe ao juiz determinar as
diligências necessárias – art.º 713.º.

14.2. Como se faz a nomeação

Não carecem de nomeação os bens onerados pertencentes ao devedor que


constituem garantia real da obrigação exequenda. Neste caso a penhora começa,
independentemente da nomeação, pelos bens a que se refere a garantia e só pode recair
sobre outros quando se reconheça a insuficiência deles para se conseguir o fim da
execução – art.º 710.º;
Cabe ao executado proceder a nomeação dos bens à penhora, a qual deve ser
feita da seguinte forma:
a) Na nomeação dos bens a penhorar, estes, tanto quanto possível, devem ser
identificados, e tratando de bens imóveis deve ser nomeado logo o depositário – art.
712.º;
b) A nomeação pelo executado é feita por termo, que é lavrado
independentemente do despacho. Se for o exequente a fazer a nomeação esta é
concluída através de requerimento – art. 712.º, n.º2;
c) Se a nomeação disser respeito a prédios, o nomeante (executado ou
exequente) indicada a sua denominação, situação e confrontações, e o número de
descrição se estiverem descritos no registo predial; Tratando de bens móveis, deve-se,
sempre que possível, fazer a especificação dos mesmos e designar o lugar onde os
mesmos se encontram – art.º 712.º, n.º 2 e 3;
d) Se a nomeação recair sobre créditos, é necessário declarar a identidade do
devedor, o montante, e, se possível, a natureza e a origem da dívida, o título de que
consta e a data do seu vencimento – art.º 712.º, n.º5.
e) Se se tratar de bens indivisos, deve ser indicado o gestor e os comproprietários
dos mesmos e, também, a quota-parte que neles cabe ao executa.do (v. n.º 6 do art.º
712.º)

Situação em que é o exequente que cabe proceder a nomeação de bens

33
Nos termos do art.º 711.º, o direito de nomeação de bens à penhora é devolvido
ao exequente, independentemente de despacho, nos seguintes casos:
a) Quando o executado não nomeie dentro do prazo legal;
b) Quando não forem encontrados alguns dos bens nomeados.

Porém o direito de nomeação de bens a penhora é devolvido ao exequente, com


ou sem despacho, nos casos seguintes: a) Quando o executado não nomeie dentro do
prazo legal ou não forem encontrados alguns dos bens nomeados ( al. a) e b) do n.º 1 do
art.º 711.º); b) feita a penhora, por nomeação do executado ou do exequente, este pode
ainda nomear outros bens, se os bens penhorados forem ou resultarem insuficientes ou
se esses bens não forem livres e desem desisbaraçados e o executas do tenha outros que
o sejam, ou quando sejam recebidos embargos de terceiro contra a penhora, ou, ainda,
quando o exequente desista da penhora (v. n.º 2 do art.º 709.º).

A penhora atribui ao exequente uma preferência no pagamento atraves do


produtdo da venda dos bens penhorados sobre qualquer outro credor que não tenha
garantia real anterior sobre esses bens (v. n.º 1 do art.º 822.º do C. Civ.).
Tratando-se de dívida com garantia real que onere bens pertencentes ao devedor
executado, a penhora começa, independentemente de nomeação, por esses bens (art.º
710.º do C.P.C), porquanto o exequente faz valer, na execução pendente a preferência
resultant dessa garantia (v.art.º 604.º, n.º 2 do C. Civ.).

14.3. O Ato da Penhora

14.3.1 Formas

Quanto à forma a lei faz a destrinça entre penhora de bens imóveis, art.º 714.º e
segs; penhora de bens móveis, art.º 726.º e segs., e penhora de direitos, art.º 735.º e segs.
A penhora de bens imóveis é feita nos termos do disposto no art.º 714.º, n.º 2 do
C.P.C.

14.3.2 Penhora de Bens imóveis


Depois da apresentação do requerimento de nomeação de bens à penhora pelo
executado ou pelo exequente ou a nomeação por termo realizada pelo executado, v. arts.
709.º, 711º e 712.º, a penhora dos bens imóveis são ordenados por despacho do tribunal,
conforme disposto no art. 714º, n.º1.
O despacho que ordena a penhora deve ser notificado ao executado, salvo se
tratar de execução fundada na sentença ou se o juiz entender que a sua imediata
notificação é suscetível de pôr em causa a eficácia da diligência, v. n.º 1 do art.º 714.º.
Essa notificação deve ser acompanhada de cópia do requerimento de nomeação de bens
à penhora, quando o requerimento de nomeação da penhora não tenha sido apresentado
pelo executado.
A penhora de imóveis é feita mediante termo no processo, pelo qual os bens se
consideram entregues ao depositário, v. art. 714º, n.º 2, 1ª parte.
O termo deve ser assinado pelo depositário ou por testemunhas quando ele não
possa assinar, devendo identificar o exequente e o executado, conforme estatuído no
34
Código do Registo Predial, e indicar a quantia pela qual é movida a execução e bem
assim os números da descrição que os bens tenham no registo predial, ou, sendo
omissos, os elementos necessários para a sua identificação e efetivação do registo, v. n.º
2 do art. 714.º, 2ª parte.
A penhora de bens imóveis deve ser registada, pelo que a secretaria,
oficiosamente, deve extrair certidão do termo da penhora que será entregue ao
exequente para o efeito, v. n.º 4 do art. 714.º .
Após a efetivação do registo, ao processo deve ser junto o certificado de registo
e a certidão dos ónus que incidam sobre os bens abrangidos pela penhora, de acordo
com o disposto no n.º 3 do art. 714.º
Esta junção dos documentos supra referidos destina-se à citação dos credores
com garantia real sobre os bens penhorados, conforme disposto no n.º 1, al. b) do art.
747.º, para que estes possam reclamar o respetivo crédito na execução, de acordo com o
n.º 1 do art. 748.º
Havendo dúvidas de que o valor indicado na nomeação a penhora seja inferior
ao valor venal do imóvel, o juiz pode, oficiosamente ou a requerimento de qualquer dos
interessados, mandar proceder à avaliação do bem (v. nesse sentido o art.º 715.º)
O depositário, na ausência de Portaria do Governo onde consta o rol de pessoas
que possam ser nomeados depositários, pode ser, com anuência do exequente, o
executado, o seu cônjuge ou algum seu parente ou afim, na linha reta ou no segundo
grau da linha colateral (v. art.º 716.º).
Quando o depositário encontra dificuldade em tomar conta dos bens ou tiver
dúvidas sobre os objetos do depósito, pode solicitar que um oficial de justiça do tribunal
da causa se desloque ao local da situação dos prédios, para lhe fazer a entrega efetiva
desses bens. Estando fechadas as portas ou havendo resistência, o oficial de justiça
requisita auxílio da força pública, as portas são arrombadas na presença da autoridade e
de duas testemunha, devendo ser lavrado auto da ocorrência. Quando se trata de casa
habitada ou numa das suas dependências, a diligência só pode ser feita durante o dia e
com as limitações estatuídas no CPC para a execução da coisa certa recaída sobre
imóvel (v. art.º 717.º)

14.4. Penhora Dos Bens Móveis


14.4.1 Modo de efetuar
A penhora dos bens móveis far-se-á em conformidade com o disposto no art.º
726º e ss.
Quanto aos bens móveis sujeitos a registo, a penhora destes far-se-á conforme
disposto no art. 734º, que manda aplicar subsidiariamente as regras da penhora dos bens
imóveis (art. 714º e ss)
O depositário dos bens será a administração do depósito público ou louvado -
nº1 in fini, art. 726º.
Incumbe ao escrivão dos autos, na ausência de Portaria do membro do Governo
responsável pela área da Justiça, efetuar a remoção do bem para o local apropriado e a
assumir a função de depositário (v. n.º 2 do citado artigo).
São depositados em estabelecimento bancário oficialmente encarregado dos
depósitos das custas judiciais, o dinheiro, papéis de crédito, pedras e metais preciosos
apreendidos (v. n.º 3 do supra citado artigo).

35
Do despacho que ordene a penhora será indicado um louvado que fixará o valor
das verbas. O louvado não presta juramento, v. nº2 do art 727º.

No Auto da penhora deve constar (v. art.º 727º):


• A data e hora da deligência (Penhora)
• Os bens penhorados serão relacionados por verbas numeradas e deve ser
indicado o valor de cada verba.
• Se a penhora não for concluída em um só dia, faz-se imposição de selos nas
portas das casas em que se encontrem os bens, tomam-se as providências
necessárias à sua guarda, até o prosseguimento do ato no 1º dia útil.
• O auto da penhora é assinado pelo louvado e pelo depositário ou, quando este
não puder assinar, por duas testemunhas.

Ocorrências anormais na execução da penhora – art 728º

Se o executado, ou seu representante, se recusar a abrir quaisquer portas ou


imóveis, ou se a casa estivar deserta e as portas e móveis se encontrarem fechados,
observa-se o disposto no art. 717º, ou seja, o oficial de Justiça requisita o auxílio da
força pública, as portas são arrombadas na presença da autoridade e de duas
testemunhas, devendo ser lavrado auto da ocorrência, conforme estatuído no nº 2 art.
717º.
Havendo suspeita, por parte do funcionário de Justiça, da sonegação, deve o
mesmo providenciar no sentido de as coisas serem apresentadas, advertindo a pessoa da
responsabilidade em que incorre com o facto de ocultação.

Bens nomeados à penhora que se encontram arrestados – art.724º

Havendo bens arrestados nomeados à penhora, estes serão, por despacho,


convertido em penhora, despacho esse que mandará fazer no registo predial o respetivo
averbamento - art. 724º.

Venda antecipada de bens – art 729º

Os bens penhorados sujeitos a deterioriação ou depreciação, a requerimento do


exequente ou do executado ou do depositário, podem ser objetos de venda antecipada.
Serão ouvidas ambas as partes ou aquela que não for o requerente, excepto se a
urgência da venda exigir uma decisão imediata.
Excepto a venda que deve ser feita na bolsa de capitais ou que por lei devem os
bens ser entregues a determinadas entidades, a venda é feita pelo depositário nos termos
da venda por negociação particular.

Dever de apresentação dos bens pelo depositário – art- 733º

O depositário, sob pena de os seus bens serem arrestados, tem o dever de


apresentar, quando lhe for ordenado, os bens que tenham recebido.
Se o depositário entregar os bens ou efetuar o pagamento acrescido do depósito
da quantia de custas e despesas, o arresto é levantado.

36
Aplicação subsidiária das disposições relativas à penhora de imóveis (art.º
734.º)
Quando o objeto da penhora recair sobre bens móveis sujeito a registos, aplica-
se, quanto a eles, subsidiariamente, às disposições relativas à penhora de imóveis.

14.4.2 Penhora de Direitos


14.4.2.1 Direitos de créditos

A penhora de direitos não sujeitos a registo faz-se por notificação do devedor de


que o crédito fica à ordem tribunal (escrivão do respetivo processo) de execução, art.
735º nº1.
O devedor, após a notificação, deve no prazo estabelecido, efetuar os seguintes
atos:
a) Impugnar a existência do crédito (art. 737º nº1), caso em que, se o exequente
mantiver a penhora, o crédito possa a ser considerado litigioso – art.º 737º
nº3.
b) Invocar a excepção de não cumprimento da obrigação recíproca – art.º 738º
n.º1, podendo seguir-se, por apenso, uma execução acessória para exigir a
prestação ao executado, se este confirmar a declaração, o que constituirá
titulo executivo – art.º 738º nº 2 e 4, e passando o crédito a ser considerado
litigioso, se o executado impugnar a declaração e o exequente mantiver a
penhora – art.º 738º n.º 3.
c) Reconhecer a existência do crédito (art.º 735º nº2) com o que ele fica
imediatamente assente no âmbito do processo executivo, podendo ser como
tal adjudicado ou vendido – art 739º nº2 e servindo o ato de reconhecimento
de base à formação de um título executivo em que se pode fundar uma
execução contra terceiro devedor (que não pague, por depósito e efetuado à
ordem do tribunal – art 739º nº1), por meio de substituição processual (do
executado pelo exequente, mas constituindo título executivo a declaração do
reconhecimento do devedor) ou por ação de adquirente (mediante a
atribuição de exequibilidade ao título de aquisição do crédito) e por apenso
ao processo executivo – art 739º nº3.
d) Fazer outra declaração sobre o crédito penhorado que interessa à execução –
art- 735º nº2.
e) Nada fazer, entende-se que o devedor reconhece a existência da obrigação,
pelo que fica sujeito ao disposto na nomeação do crédito à penhora – art-
735º nº3
Constituído o crédito no direito a depósito em instituição bancária ou
equiparada, há que atender as especialidades do art.º 741º (penhora de depósitos
bancários).

14.4.2.2 A Penhora do Direito de bens indivisos art. 743º e 701º

São considerados bens indivisos:


a) O Direito de quota em coisa comum (compropriedade ou outra
contitularidade de direitos reais);

37
b) O quinhão numa universalidade de direito (herança, meação de bens do
casal, etc) de que trata, tal como o direito de quota em coisa comum –
art- 703º;
c) O direito real de habitação periódica ou outro direito real menor que não
acarreta posse efetiva e exclusiva do seu objecto;
d) A quota em sociedade civil ou comercial – Neste ultimo é feito a
notificação à sociedade. Nos restantes casos, tratando-se de bens não
sujeitos a registo, é feito a notificação ao administrador dos bens, se
houver, e a terceiros titulares ou contitulares dos restantes direitos
implicados, e a penhora considera-se feita à data da 1ª notificação.

Tratando-se de direito sujeito a registo, a secretaria, oficiosamente, extrai


certidão do termo da penhora, que entrega ao exequente, com vista à realização do
registo da penhora – art.º 744º, com remissão para o art. 714º nº4.
Os notificados podem contestar a existência do direito penhorado ou fazer,
acerca dele, outras declarações – art 743º nº2.
O silêncio, não tem, neste caso, qualquer efeito cominatório, ele não impede,
designadamente, a dedução de embargos de terceiros.

14.5. Função e efeitos da penhora


14.5.1. Função da Penhora
A penhora é o ato fundamental do processo executivo e traduz-se na apreensão
judicial de bens que constituem objeto de direitos do executado para o exequente ser
pago por eles.
São os seguintes efeitos jurídicos que decorram do conceito e da função da
penhora:
 A transferência dos poderes de gozo que integram o direito do executado
para o tribunal;
 A ineficácia dos atos dispositivos do direito subsequentes;
 A constituição de preferência a favor do exequente.

14.5.2. A transferência dos poderes de gozo que integram o direito


do executado para o tribunal

Com a transferência dos poderes de gozo decorrentes da penhora, o executado


perde os poderes de gozo sobre os bens que incidem a penhora, os quais passam para o
tribunal, que, em regra, os exercerá através de um depositário.
Incidindo a penhora sobre objeto corpóreo dum direito real (exemplo penhora de
um bem imóvel, móvel ou quota de um bem indeviso), a transferência dos poderes de
gozo importa uma transferência da posse. Ou seja, cessa a posse do executado e começa
uma nova posse exercida pelo tribunal. A posse do bem penhorado passa a ser exercida
por um depositário.
No caso de a penhora recair sobre um direito de crédito, direito real de
aquisição, direito a quinhão numa universalidade, direito a quota em sociedade, direito

38
potestativo7 e direito real sobre coisa incorpórea, não podemos falar em posse, isto por
força do disposto no atigo 1251.º do C. Civ., segundo o qual “ Posse é o poder que se
manifesta quando alguém actua por forma correspondente ao exercício do direito de
propriedade ou de outro direito real”, mas continua a verificar-se a transferência dos
poderes de gozo que integram o direito do executado para o tribunal.
Incidindo a penhora sobre um direito de crédito, deixa de verificar a figura de
depositário, mas a secretaria fica com o poder de receber e provisoriamente reter a
prestação principal, assim como as prestações acessórias do crédito, quando este é
pecuniário, v. art.º 739.º, n.º 1, 1ª parte. O recebimento e a retenção da prestação
creditícia, principal ou acessória, representam o exercício de poderes de gozo do credor
(deixando o executado de poder praticar qualquer ato de exercício do seu direito,
ressalvando o regime dos atos dispostivos).

14.5.3. A ineficácia dos atos dispositivos do direito


subsequentes

Com a penhora o executado perde os poderes de gozo que integram o seu direito,
contudo não perde o poder dele dispor, ou seja, continua o executado com o poder de
praticar, mesmo após a penhora, atos de disposição ou oneração.
Contudo esses atos de disposição ou oneração, após a penhora, deixam de ter
eficácia plena, por serem inoponíveis à execução.
Por não se tratar de atos nulos, mas sim de atos relativamente ineficazes, os
mesmos readquirirão plena eficácia no caso de a penhora vir a ser levantada. Pelo
contrário, se da execução resultar a transmissão do direito do executado, o direito de
terceiro que tiver contratado com o exequente caduca, transferindo-se, contudo, esse
direito, por sub-rogação8 objetiva, para o produto da venda (v. art.º 824.º do C. Civ.).
Exemplo: A, executado, vende o prédio x, após a penhora, a B; B adquire o direito de
propriedade sobre o prédio x, mas este direito é inoponível à execução; se a penhora for
levantada, B poderá exercer plenamente o direito que adquiriu; mas se o prédio x for
vendido na execução, o direito de B caduca; neste caso, se do produto da venda algo
restar após o pagamento do exequente e dos restantes credores (e ainda do tribunal,
pelas custas do processo; como veremos, este é o primeiro pagamento a efetuar), B
poderá ainda exercer, fora do processo executivo, o seu direito de propriedade sobre
esse remanescente; se nada restar, a B só caberão direitos em sede obrigacional. Estando
em causa um direito de crédito, a sua cessão ou penhor é ineficaz.9

7
São os direitos que se caraterizam por o seu titular os exercer por sua livre vontade, desencadeando
determinados efeitos na esfera jurídica de outrem independentemente da vontade deste. Exemplo: o
inquilino tem o direito potestativo de denunciar o arrendamento, findo o prazo: a este direito não
corresponde um dever do senhorio, mas tão-somente um estado de sujeição (v. Ana Prata, Dic. Jurídico,
4.ª ed. Pág. 438).
8
Sub-rogação, previsto nos termos dos art.ºs 589.º e sesg. Do C. Civ, significa substituição. Trata de
uma modalidade de pagamento, em que um terceiro, que não o próprio devedor, efetua o pagamento da
obrigação. Nesse caso, a obrigação não se extingue, mas somente tem o seu credor originário substituído,
passando automaticamente a este terceiro - sub-rogado - todas as garantias e direitos do primeiro. O
devedor, que antes pagaria ao originário (antigo credor), deverá realizar o pagamento ao sub-rogado (que
pagou ao credor originário), sem prejuízo algum para si. Exemplo: O Bento devia ao André 2.000 contos.
Carlos, com o consentimento do Bento, paga a obrigação ao André, passando a ocupar o lugar deste como
credor daquele (do Bento).
9
V. in Lebre de Freitas, José, Acção executiva, depois da reforma, 4.ª edição, p. 266 e segs.
39
14.5.4. A constituição de preferência a favor do exequente.

A penhora, devido a função que lhe é própria, envolve a constituição de um


direito real de garantia a favor do exequente.
Este direito confere ao exequente preferência ou prevalência sobre outro credor
que não tenha garantia real anterior, ou seja, o exequente fica com o direito de ser pago
com preferência sobre os demais credores que não tenham essa garantia (v. art.º 822.º,
n.º 1 do C. Civ.).
Quando, a pedido do exequente, tenha sido arrestado previamente os bens do
executado, a anterioridade da penhora reporta-se à data do arresto e, respeitando a bens
sujeitos a registo, à data da efetivação deste.

14.6. Oposição À Penhora

14.6.1 Meios de oposição

O nosso ordenamento jurídico faculta quatro meios para reagir contra a penhora
ilegal:
 Oposição por simples requerimento;
 Incidente de oposição à penhora;
 Embargos de terceiro;
 Ação de reivindicação.
Os dois primeiros meios de oposição a penhora têm lugar no próprio processo de
execução, sendo que o segundo (incidente de oposição à penhora) corre por apenso, e os
dois últimos constituem ações declarativas (também processados por apenso à
execução), constituindo estes um meio mais específico de reação contra a ilegalidade do
ato, que não seja apenas a da penhora mas, também, a de qualquer diligência judicial de
apreensão ou entrega de bens.
O ato da penhora é objetivamente ilegal (impenhorabilidade objetiva) se tiver
sido penhorado bens que não deviam ser penhorados, em absolutos, ou não deviam ser
penhorados naquelas circunstâncias, ou sem excussão de todos os outros, ou para aquela
dívida. Já é subjetivamente ilegal se o ato da penhora incidir sobre bens que não são do
executado (impenhorabilidade subjetiva).
O incidente de oposição à penhora trata da penhorabilidade objetiva, já os
restantes meios supra citados são usados para reagir face à penhorabilidade subjetiva.

14.6.1.1 Oposição por simples requerimento

A lei concede a possibilidade de se fazer, perante o juiz, oposição à penhora de


uma coisa móvel encontrada em poder do executado, mediante simples requerimento
acompanhado de prova documental inequívoca de que ela pertence a terceiros. Como
exemplo temos a citar o caso de um bem móvel pertencer a um terceiro ou a este e o
executado em regime de compropriedade ou, ainda, se se tratar de bem comum do casal,
etc.
40
Esse meio de oposição à penhora não está expressamente consignado na lei,
contudo quer o exequente quer executado pode usá-lo, na falta de outro meio de
impugnação de penhorabilidade do bem apreendido ou a apreender, para suscitar
perante o juiz a questão de impenhorabilidade, devendo, para o efeito, carrear para o
processo os elementos indispensáveis à sua verificação e oferecendo a prova para tanto
necessária. O juiz, ouvida a contraparte e examinada a contraprova por esta apresentada,
decidirá em conformidade.

14.6.1.2 Incidente de oposição à penhora

Tendo sido penhorado bens pertencente ao executado (e do seu cônjuge) –


penhorabilidade objetiva – pode este opor-se através do incidente de oposição à penhora
nos termos do n.º 1 do art.º 745.º.
Segundo a dita norma existem três situações em que o executado pode fundar à
oposição à penhora, designadamente:
a) Inadmissibilidade de penhora dos bens (do executado) concretamente
apreendidos;
b) Penhora de bens (do executado) que só subsidiariamente respondem pela
dívida exequenda; e
c) Incidência da penhora sobre bens (do executado) que, não respondendo nos
termos do direito aplicável (direito substantivo) pela dívida exequenda, não
deviam ter sido atingidos pela diligência.
Quanto a al b), tratando-se de caso de responsabilidade subsidiária, o executado
pode opor-se à penhora de bens seus que só deviam responder na falta de outros
(igualmente seus ou de outro património). Se gozar de benefício de excussão prévia e o
tiver invocado, constituirá fundamento de oposição o facto de não terem sido
previamente penhorados e vendidos os bens do património do principal responsável.
Se não gozar de benefício de excussão prévia, a oposição basera-se-á no facto de
não terem sido previamente penhorado os bens, seus ou alheios, que respondiam em
primeiro lugar ou de não ter verificado a sua insuficiência para a satisfação dos créditos
a satisfazer por força deles; fundando-se a oposição na existência de patrimónios
separados, deve o executado indicar logo os bens penhoráveis que tenha em seu poder e
se integrem no património autónomo e que respondam pela divida exequenda – nº 2 art.
745º.
Respeitante aos casos das al. a) e c), visam cobrir todos os outros casos de bens
objetivamente impenhoráveis.
Enquanto a al. c) reporta às causas de impenhorabilidade, especificada ou
derivada dum regime de indisponibilidade objetiva, resultantes do direito substantivo. Já
a al a) visa às causas de impenhorabilidade enunciadas na lei processual, derivam delas
situações de impenhorabilidade absoluta, relativa e parcial (art. 698º, 699º e ss).
Para se opor a penhora, o executado dispõe do prazo de 20 dias, a contar da
notificação, conforme disposto no n.º 1, al. a) do art. 746º, mas, não tendo havido
citação prévia, o prazo de oposição é de 10 dias, conforme preceituado na al b) do nº1
do citado art 746º, contados da data da notificação ou citação da penhora.
Se o executado previamente citado opor a execução, a oposição à penhora é com
esta oposição cumulada, seguindo-se nos termos da ação de oposição à execução o
disposto no nº2 art 687º.

41
Nos outros casos, o incidente está sujeito ao disposto nos art. 275º e 277º,
segundo o n.º 2 do art. 746º, conjugado com as regras do art. 693º nº 3 e 4, devidamente
adaptados, em tudo quanto não esteja especialmente regulado no citado art.º 746º.
Com o requerimento de oposição, deve ser logo oferecidos os meios de prova e,
se a decisão a proferir admitir recurso ordinário, o mesmo deve ser feita de acordo com
o disposto nos art.º 275º e 277º.
Há despacho liminar, indeferindo o juiz a oposição quando , tendo sido deduzida
fora de prazo, não se fundar em causa de impenhorabilidade objetiva ou for
manifestamente improcedente, nos termos do n.º 1 do art. 692º.
Se os embargos forem recebidos, o exequente pode responder no prazo de 10
dias, após a notificação, conforme previsto no n.º 2 do art.º 692.º.
A execução é suspensa, na sequência da admissão da oposição e limitadamente
aos bens em causa, se o executado prestar caução, conforme estatuído no nº 3 art 746º
O incidente corre por apenso, conforme previsto no n.º 1 do art.º 692º.

14.6.1.3 Embargos de Terceiro

É sabido que à penhora só estão sujeitos bens do executado e, também, os bens


deste que estejam em poder de terceiro10 (v. art.º 697.º e 707.º e art.º 817.º C. Civ.).
Os embargos de terceiro são os meios específicos de oposição à penhora que a
lei põe ao alcance de um terceiro relativamente à execução. O nosso legislador baseia o
direito de oposição na situação de posse de terceiro, fundada para tanto na presunção da
titularidade do direito real correspondente à posse em nome próprio (v. art.º 1251.º do
C. Civ.).
Os embargos de terceiro, à semelhança dos embargos do executado, constituem
uma ação declarativa estruturalmente não integrada no processo executivo, mas que
corre por apenso a este, na qual a questão da propriedade do executado pode ser
levantada na contestação, a fim de ilidir a presunção, a título de excepção ou de
reconvenção, podendo, neste último caso, ser, ainda, levantada a questão da propriedade
do terceiro, em ampliação do pedido, na réplica.
Quando os embargos de terceiro são fundados apenas na posse – do embargante
ou de terceiro em nome do qual ele possui -, a legitimidade ativa baseia-se numa
presunção de propriedade – ou de outro direito real de gozo – que, como tal, pode ser
ilidida, possibilitando o art.º326.º, n.º 2 quer o exequente, quer ao executado, a alegação
e a prova de que o direito de fundo – seja o direito de propriedade, seja outro direito real
de gozo – pertence a este. Provada a alegação, os embargos serão julgados
improcedentes.
No caso de o terceiro ser o cônjuge do executado, o art.º 321.º permite-lhe a
dedução de embargos para a defesa dos seus direitos relativos aos bens próprios bem
como dos bens comuns que indevidamente hajam sido atingidos pela penhora.
Ao cônjuge embargante cabe-lhe provar a natureza – própria ou comum – dos
bens penhorados.

10
O direito da execução só incidirá sobre bens de terceiros quando estejam vinculados à garantia do
crédito, ou quando sejam objeto de ato praticado em prejuízo do credor, que este haja procedentemente
impugnado.

42
Se a penhora incidir sobre bens próprios a mesma não pode subsistir, uma vez
que, mesmo quando esses bens respondam pela dívida segundo o direito substantivo,
não possam ser apreendidos sem que o seu proprietário fosse executado.
Tratando-se de bens comuns, o cônjuge do executado não pode embargar
quando tenha sido citado nos termos do n.º 1 do art.º 702.º e o executado não tenha bens
próprios.
Os embargos de terceiros, sendo incidentes de oposição da instância executiva,
constituem, como se disse supra, uma tramitação declarativa dependente do processo
executivo e que corre por apenso a este (v. n.º 1 do art.º 322.º).
O prazo para deduzir embargos de terceiros é de 30 dias subsequentes à penhora,
ou posterior ao conhecimento desta pelo embargante (v. n.º 2 do art.º 322.º), podendo,
contudo, ser deduzida antes da penhora depois do despacho que a ordena (v. art.º 328.º)
mas nunca depois da venda ou adjudicação dos bens (v. n.º 2 do art.º 322.º).
Os embargos devem ser deduzidos contra o exequente e o executado, nos termos
do n.º do art.º 326.º.
Os mesmos seguem, nas suas tramitações, duas fazes: a fase introdutória e a fase
contraditória.
Na fase introdutória, cuja finalidade é a emissão de um juízo de admissibilidade
pelo tribunal, o embargante deve, na petição inicial, oferecer prova sumária dos factos
em que funda a sua pretensão, nos termos do n.º 2 do art.º 322.º, bem como da data em
que teve conhecimento da penhora, se sobre ela já tiverem decorrido trinta dias.
Proferido o despacho liminar, entra na fase da produção da prova, seguida de
recebimento ou rejeição dos embargos (v. art.º 324.º e 325.º).
A fase contraditória principia com a notificação dos embargados para contestar,
com aplicação subsidiária das disposições do processo declaratório comum, segundo o
disposto no n.º 1 do art.º 326.º
Após o despacho de recebimento dos embargos, o processo de execução fica
suspenso quanto aos bens a que os embargos digam respeito, bem como a restituição
provisória da posse, se o embargante tiver requerido (art.º 325.º) e, se estes tiverem sido
deduzidos antes da penhora, esta não chegará a realizar-se até a decisão final, sem
prejuízo da fixação de caução (v. n.º 2 do art.º 328.º).
Se no final os embargos forem julgados procedentes, a penhora se tiver sido
efetuada, é levantada, sendo que a sentença de mérito constitui, nos termos gerais, caso
julgado quanto à existência e titularidade do direito invocado (v. art.º 327,º), ou seja:
a) Se os embargos se basearem em direito de fundo do terceiro, ficará assente a
existência ou inexistências deste direito;
b) Se a causa se mantiver no âmbito da posse, ficará assente que o terceiro era ou
não possuidor do bem penhorado à data da penhora;
c) Se for invocado em reconvenção o direito de propriedade (ou outro direito
real de gozo) do executado, ficará assente que este é ou não o proprietário do bem
penhorado, ou titular do direito real menor invocado.

14.6.1.4 Ação de Reivindicação

A ação de reivindicação tem a natureza do processo declarativo comum e está ao


alcance do proprietário, ou titular de outro direito menor, cujo direito tenha sido
ofendido pela penhora.

43
É um processo autónomo relativamente ao processo executivo e que, como
resulta do disposto na al. d) do n.º 1 do art.º 783.º, pode conduzir a anulação, a todo o
tempo, da venda que neste (processo executivo) for efetuada.
A ação da reivindicação pode, contudo, ter efeitos na ação executiva se a mesma
for proposta antes da entrega dos bens móveis ao adquirente e do levantamento do
produto da venda pelos credores, nos termos do art.º 785.º, ou se o reivindicante tiver
protestado pela reivindicação antes de efetuada a venda, sendo que, neste caso, a entrega
dos bens móveis ao comprador só se fará depois de o adquirente prestar caução
destinada a garantir o direito do reivindicante, visto o disposto no n.º 1 do art.º 784.º.
Pode o proprietário usar, alternativamente, o meio dos embargos de terceiro ou o
da ação de reivindicação.
No caso de a penhora incidir sobre o bem sujeito a registo o terceiro
reivindicante fica sujeito às limitações decorrentes das regras próprias do registo. Neste
caso, registadas a penhora e a venda subsequente em processo executivo, o exequente e
o adquirente do direito penhorado, que estejam de boa-fé (ou seja, que desconheciam a
existência do direito de terceiro ou a inexistência do direito do executado), gozam da
proteção do registo, se este for anterior ao registo da ação de reivindicação, ou se o
direito do reivindicante se fundar na nulidade ou anulação do negócio jurídico pelo qual
o executado adquiriu o direito penhorado e a ação da reivindicação não for registada nos
três anos posteriores a conclusão do negócio, de acordo com o disposto no art.º291.º do
C. Civ.

15. CONVOCAÇÃO DOS CREDORES E VERIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS11

15.1. Convocações

Feita a penhora, são citados para a execução, os credores do executado e, em


certos casos, o seu cônjuge.
A convocação dos credores e do cônjuge visa, além do exequente e do
executado, dar-lhes a possibilidade de intervenção na ação executiva.
A convocação dos credores, só abrange, aqueles que tenham garantia real
relativamente aos bens penhorados, (v. al. b) do n.º 1 art.º 747.º).
O cônjuge do executado é convocado, nos seguintes casos (v. al. a) do n.º 1 do
art.º 747):
a) Para contestar a penhora quando esta tenha recaído sobre bens imóveis que
não possa alienar livremente (que depende do consentimento de ambos os cônjuges);
b) Se o exequente requerer a sua citação, com vista a salvaguardar os seus
interesses nos bens sujeitos a meação (nº 1 al a) do art. 747º).
Essas pessoas convocadas, como vimos supra, ao intervirem no processo,
passam a desempenhar, ao lado do exequente ao do executado, a função de parte
acessória ou principal.

11
Nesse sentido, seguimos de perto Lebre de Freitas, ob. Cit. pág. 303 a 325.

44
No caso de ser a primeira vez que as pessoas supra referidas são chamadas para
intervir no processo, as suas convocações fazem-se sob a forma de citação (vc. n.º 1 do
art.º 207.º).
Consequência da falta de citação: a falta ou nulidade da citação dos credores
tem o mesmo efeito que a falta ou nulidade da citação do réu (v. art.º 747.º, n.º 3
conjugado com os art.ºs 174.º a 176.º), mas com restrições quanto à anulação derivada
dos atos posteriores, ou seja, não importa a anulação das vendas, adjudicadas, remissões
ou pagamento já efectuados, dos quais o exequente não era o único beneficiário. Apenas
confere à pessoa que devia ter sido citado, o direito a uma indemnização por parte do
exequente pelos danos que haja sofrido, conforme disposto no nº 3, 2.ª parte, do art-
747º.
Lugar da citação: os credores com garantia real são citados no domicílio que
conste do registo, excepto se tiver outro domicilio conhecido; os outros são citados
editalmente – v. nº 2 artº 747º.

15.1.1 Dos credores

Segundo a nossa lei processual civil, só são convocados os credores que gozam
de garantia real sobre o bem penhorado (n.º 1 al. b) do art.º 747.º e n.º 1 do art.º 748.)).
Visto que a penhora será, normalmente, seguida da transmissão dos direitos do
executado, livres de todos os direitos reais de garantia que os limitam (v. n.º 2 do art.º
824.º do C. Civ.), esta delimitação do âmbito do concurso dos credores tem por
finalidade facultar a estes a possibilidade de intervirem no processo, não só para
fazerem valer os seus direitos de créditos e obterem o pagamento, mas, também, para
fazerem valer os seus direitos de garantias sobre os bens penhorados.
Dessa intervenção dos credores pode advir três consequências:
a) O credor reclamante só pode receber pelo valor dos bens penhorados sobre
os quais tem a garantia, nos termos do n.º 2 do art.º 752.º, e se esse valor não
chegar para o pagamento integral do seu crédito, querendo, pode mover outra
execução, onde nomeará outros bens do devedor à penhora.
b) Não se verificando a caducidade do direito real de garantia, por não ter
havido transmissão do bem onerado na ação executiva, nos termos do n.º 2
do art.º 824.º do C. Civ., o direito do credor não tem de ser atendido na
execução (exemplo: ocorrendo, antes da transmissão dos bens, a consignação
de rendimentos (v. n.º 1 do art. 758.º); pagamento voluntário das custas e da
dívida exequenda (v. n.º 1 do art. 790.º e n.º 2 do art.º 791.º); extinção da
obrigação exequenda por causa diferente do pagamento, designadamente,
perdão, compensação, novação, etc., (v. n.º 3 art.º 790.º e n.º 2, 2.ª parte, do
art.º 791.º); desistência da instância, pelo exequente, desde que antes da
transmissão dos bens (v. n.º 1 do art.º 792.º); revogação da sentença
exequenda em instância de recurso ou procedência da oposição à execução,
estando em causa apenas o direito do exequente, em ambos os casos sempre
com a anulação da transmissão eventualmente realizada (v. al. a) do n.º 1 do
45
art.º 783.º), salvo se credor reclamante requerer, até o transito da sentença
que declare extinta a execução, desde que o seu crédito esteja vencido e
tenha sido graduado para pagamento pelo produto de bens penhorados que
não chegaram entretanto a ser vendidos, o prosseguimento da execução para
o pagamento do seu crédito (v. n.º 2 do art.º 794.º), isto no âmbito do
principio da economia processual.
c) Os poderes processuais do credor reclamante, além dos que respeitam a
verificação e graduação do seu crédito, cingem-se nos limites do seu direito
de crédito de garantia, ou seja, só pode impugnar os créditos que tenham
legalmente garantia sobre os bens que especialmente garante os seus
créditos, por força do disposto nos art.ºs 749.º, n.º 3, 754.º, n.º 1, 773.º, n.º 2
e 3, 767.º, n.º 1, 765.º, n.º 1 e 767.º, n.º 4 e 780.º, n.º 1.

15.1.2. Do Cônjuge do Executado

É convocado o cônjuge do executado nos casos seguintes (v. al. a) do art.º


747.º):
 Quando a penhora tenha recaído sobre bens imóveis que não possa alienar
livremente; ou
 Quando a penhora tenha recaído sobre bem comum do casal e o exequente tenha
requerido a sua citação.
Entre os bens que só podem ser alienados por ambos os cônjuges comportam os
imóveis comuns adquiridos pelos cônjuges na constância do matrimónio, salvo os
exceptuados por lei (v. art.º 1682.º do C. Civ).
Na ação executiva para entrega da coisa certa baseada no direito de propriedade do
exequente impõe o art.º 29.º, n.º 2, tal como decorre da ação declarativa, em
consonância com o regime substantivo, a propositura contra ambos os cônjuges das
ações que possa resultar a perda ou oneração de bens que só por ambos possam ser
alienados ou perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos.
A citação do cônjuge do executado, na ação executiva para pagamento de quantia
certa, visa garantir-lhes a possibilidade de intervir na ação executiva para defender o seu
direito sobre os bens comuns do casal ou sobre bens que o executado não pode alienar
livremente.
Quer num ou noutro caso, o cônjuge do executado é convocado para, nos termos do
art.º 747.º, n.º 1 al. a) e 748.º n.º 2:
a. Deduzir o incidente de oposição à penhora (art.º 745.º, n.º 1);
b. Impugnar créditos reclamados (art.º 749.º, n.º 2);
c. Pronunciar-se sobre o objeto, a forma e as condições de alienação dos bens,
nos mesmos termos em que tal é consentido ao executado (arts. 765.º, n.º 1,
767.º, n.º 1, 773.º, 776.º, n.º 2);
d. Impugnar irregularidades que se cometam quanto à alienação dos bens
(art.ºs 767.º, nº 3 e 774.º, n.º 1);
e. Opor-se a execução.
A oposição do cônjuge à execução e à penhora deve ter lugar no prazo de 10
dias a contar da notificação da penhora (v. art.º 746.º, n.º 1 al. b).

46
15.2. Como se procede a reclamação de credores – art- 748º

Aos credores com garantia real são permitidos reclamar, pelo produto dos bens
penhorados, o pagamento dos respetivos créditos – art.º 748º nº 1.
O credor que esteja da posse de um título exequível pode, no prazo de 10 dias,
após a citação, fazer a sua reclamação, mesmo que o seu crédito não se acha vencido –
nº 2 do art. 748º.
Porém, no caso de a obrigação ser incerta ou iliquida, a mesma deve ser
liquidada nos termos do art. 677º (liquidação pelo exequente) por força do nº 2 do art.
748º
As reclamações, sendo um incidente processual, são autuadas num único apenso
ao processo executivo – nº3 do art. 748º. Podendo a primeira reclamação ser autuada
(processo próprio) e as restantes juntas.
Findo o prazo para a dedução da reclamação dos créditos (10 dias), são os autos
conclusos ao juiz para proferir o despacho admitindo ou rejeitando liminarmente as
reclamações – nº 1 do art. 749º.

15.2.1. Impugnação Dos Créditos Reclamados

O Exequente e o executado podem impugnar as reclamações deduzidas no prazo


de 8 dias a contar da notificação do despacho que as haja admitido, nos termos do nº 2
art 749º.
A dita impugnação pode basear-se em qualquer excepção peremptória, ou seja,
pode fundar-se em qualquer das causas que extingam ou modificam a obrigação ou que
impedem a sua existência; salvo se tratar de crédito que tenha sido reconhecido por
sentença em que os fundamentos para a impugnação só podem basear-se nalguns
fundamentos de oposição à execução baseada em sentença judicial ou em sentença do
tribunal arbitral, na parte em que for aplicáveis (exemplo nulidade da sentença) – nº4 do
art 749º.
Se caso o exequente ou o executado não impugnar as reclamações de crédito,
terá como cominação, a confissão dos factos articulados nas reclamações, por força do
disposto no nº 2 do art. 450º - pois trata-se dum processo com efeito cominátorio pleno.

15.2.2. Resposta do Reclamante, Sentença e Graduação de


Créditos

O Reclamante pode responder a impugnação do exequente ou executado no


prazo de 10 dias seguintes ao termo do prazo fixado para as impugnações (réplica).
Trata-se no fundo de um direito à resposta que a lei confere ao credor (reclamante) – v.
1ª Parte do art.º 750º.
Neste caso o credor deve estar atento, podendo informar-se na secretaria se o seu
crédito foi ou não impugnado. Mas a secretaria tem o dever de notificar oficiosamente
as partes nos termos do nº 3 do art 208º.

47
Havendo resposta do reclamante à impugnação e se necessária a produção de
prova, seguir-se-á os autos (reclamação de crédito), sem mais articulados, a forma de
processo ordinário da declaração na forma ordinária.
Havendo impugnação do crédito, o juiz proferirá despacho saneador-sentença
ou, não havendo fase de instrução, a sentença com graduação de créditos a que haja
lugar.
Não verificando impugnação de qualquer crédito, será logo proferido a sentença
que reconheça o crédito reclamado, com a respetiva graduação de créditos a que haja
lugar, nos termos do art.º 750º, in fine.

15.2.3. Credor Sem Título Executivo

O credor que não tenha título executivo exequível, pode, no prazo de 10 dias (v.
art.º 748.º, n.º 2, requer que a graduação dos créditos, relativamente aos bens abrangidos
pela sua garantia, aguarde a obtenção do título. No caso de o executado reconhecer a
existência do crédito ou nada diga e não esteja pendente ação declarativa para respetiva
apreciação, considera-se formado o título executivo e reclamado o crédito nos termos do
requerimento do credor, sem prejuízo de o exequente e os restantes credores o impugnar
(v. art. 750.º A, n.º 1 a 3).
Negando o executado a existência do crédito, o credor obtém na ação própria
(ação declarativa), sentença exequível que declare a sua existência ou inexistência,
sendo que configurem como réus nessa ação o exequente e os credores. Deve o
requerente a provocar a intervenção principal destes, nos termos dos art.ºs 292.º e 297 a
301.º, quando a ação esteja pendentes à data do requerimento (art.º 750.º A, n.º 4 e 5).
O requerimento concede ao requerente a possibilidade de exercer no processo os
mesmos direitos que competem ao credor cuja reclamação tenha sido admitido, mas já
não obsta a que à venda ou adjudicação dos bens, nem à verificação dos créditos
reclamados (v. n.º 6 do art.º 750.º A).
O requerimento está sujeito a caducidade se:
i) o executado negou a existência do crédito e o requerente não juntar nos autos
certidão que comprove ter proposta uma ação própria, no prazo de 20 dias;
ii) o exequente provar que a ação para declarar a existência desse crédito for
julgada improcedente ou que esteve parada durante trinta dias por negligência do
autor depois de ter dado entrada em juizo do referido requerimento;
iii) não for apresentada, dentro de quinze dias, certidão da decisão transitada em
julgado (v. n.º 7 do dito artigo).

15.2.4. Insuficiencia do Património do Devedor

Provando o credor que o património do executado é insuficiente para os


pagamentos, pode o mesmo requer a suspensa da execução, desde que prove que contra
o executado foi requerida a falência ou insolvência (v. art.º 750.º B).
O credor, ao requer a suspensão da execução, pretende impedir que nela se
façam os pagamentos, pois, requerida a falência ou insolvência do executado, o
concurso de credores é universal, ou seja, decretada a falência, cessa a preferência

48
concedida pela penhora, pelo qualquer credor comum do falido pode, querendo,
reclamar o pagamento do seu crédito.

15.2.5. Pluralidade de Execuções Sobre os Mesmos Bens

Havendo várias execuções sobre os mesmos bens, a execução em que a penhora


tiver sido posterior é sustada, mas o exequente desta pode reclamar o respetivo crédito
no processo em que a penhora seja mais antiga. Havendo registo da penhora a
antiguidade é determinada pelo registo (v. n.º 1 do art.º 750.º C)
O prazo para reclamar é de 10 dias, se o reclamante tiver sido citado, deve
reclamar, porém, no prazo é de 15 dias posterior à notificação do despacho de sustação
da execução. Admitida a reclamação, ficam suspensas os efeitos da graduação de
créditos já fixada dando lugar a nova sentença de graduação, na qual se inclui o crédito
do reclamante (v. n.º 2 do art.º 750.º C).
As custas da execução sustada são graduadas a par do crédito que lhe deu
origem, mas para tal o reclamante deve, até à liquidação final, juntar ao processo
certidão que o seu montante e de que a execução não seguiu noutros bens (v. n.º 4 do
referido artigo).

15.2.6. Como se Procede a Graduação de Crédito

Verificados a existência de créditos reclamados, o juiz procede a graduação dos


mesmos, ou seja hierarquiza-os segundo a ordem pela qual devem ser satisfeitos,
incluindo o crédito do exequente, segundo os termos do direito substantivo.
Havendo concurso a regra é a seguinte:
 Sobre a mesma coisa móvel, prevalece o direito real de garantia que mais
cedo tiver sido constituido, com exceção do disposto no art.º 746º do C. Civ,
que gradua em primeiro lugar os previlégios por despesas de justiça
(estabelecidos no nº 1 do art. 738º do C.Civ) e salvo o disposto no privilégio
mobiliario geral, que é graduado em último lugar, nos termos dos art.ºs 749º
e 750º do C. Civ.
 Sobre a mesma coisa imóvel, o privilégio imobiliário é graduado em
primeiro lugar, seguido do direito da sentença – art.º 759º. C. Civ, a seguir a
hipoteca e de consignação de rendimentos, prevalecendo entre estas duas
ultima a que for registado em primeiro lugar – art.º 751º do C. Civ. e 759º, nº
2 C. Civ.
 Sobre vários privilégios creditórios, a ordem de preferência e, em regra, a
dos art. 745º do C. Civ a 748º do C. Civ, mas há leis avulsas, nomeadamente,
no ambito do direito fiscal e para-fiscal (Previdência Social, por exemplo),
que estabelecem o lugar em que são graduados determinados previlégios.
 Crédito do exequente, se for apenas garantido pela penhora, será graduado
depois destes créditos (salvo se esteja sujeito a registo, o registo da penhora
lhes seja anterior) mas antes dos credores que, por segunda penhora, arresto
ou hipoteca judicial, constituam garantia real posteriormente à penhora. Se o

49
exequente tiver direito real de garantia, deve atender-se à natureza e a data da
constituição desta.
Quando o exequente propõe a ação nem sequer se conhece o credor priveligiado,
este, no decurso da ação, é conhecido podendo, por vezes ser o único a ser pago pelo
produto da venda dos bens penhorados, enquanto o exequente não consegue achar no
património do devedor bens que lhe permitam a satisfação do seu crédito.
A posição defendida por Lebre de Freitas é a de que se trata de uma verdadeira
injustiça, esta situação, e consubstância numa violação fundamental de acesso à justiça e
do princípio da confiança, uma vez que possibilite a retirada ao exequente do título
juridicional assegurada pela ação executiva e altere, por forma transparente, a base em
que assenta a contituição das garantias especiais, razão pela qual alguns privilégios
creditórios gerais foram já declarados inconstitucionais, com força obrigatória geral (v.
acórdãos do Tribunal Constitucional português n.º 362/2002 e 363/2002, de 16/10).
Embora a ação de verificação e graduação de créditos não ofereça ao devedor
garantias idênticas ou equiparáveis às da ação declarativa comum, trata-se contudo, de
um verdadeiro processo declarativo de estrutura autónoma, que funciona na
dependência do precesso executivo.
Por isso, nesta ação vigora o efeito cominatório pleno, salvo se o executado, que
não tenha sido pessoalmente notificado do despacho que admitir as reclamações, tenha
sido citado editalmente para a execução (cfr. al e) do art. 445º)
Assim, haverá reconhecimento do crédito não impugnado caso o executado
tenha sido devidamente citado para o efeito e não reagir parcialmente nos termos dos
art.º 443º e 444º.

16. A VENDA EXECUTIVA

16.1. Modalidades

A execução segue, findo o prazo para as reclamações de créditos, sem prejuízo


de correr paralelamente o apenso de verificação e graduação (v. n.º 1 do art.º 752.º).
Há então lugar, regra geral, a venda dos bens penhorados para, com o produto
resultante dessa venda, se fazer o pagamento da obrigação exequenda e das verificadas
no apenso de verificação e graduação de crédito.
A venda dos bens penhorados pode efetuar-se por via judicial e extrajudicial (v.
n.º 1, do art.º 761.º).
A venda Judicial é feita por meio de proposta em carta fechada (v. n.º 1 do art.º
762.º).
Já a venda extrajudicial pode ser feita pelas modalidades seguintes (v. n.º 2 do
art.º 762.º):
a) Venda em bolsas de capitais de mercadorias;
b) Venda direta a entidades que tenham direito a adquirir determinados bens;
c) Venda por negociação particular;
d) Venda em estabelecimento de leilão.

50
16.2. Como se determina a modalidade da venda

Segundo o disposto no n.º 3 do art.º 761.º, a modalidade da venda e o valor dos


bens penhorados é determinada pelo juiz, depois de este ouvir o exequente, o executado
e os credores com garantia real sobre os bens a vender.
O Juiz pode, havendo discordância quanto aos valores dos bens indicados pelos
interessados, a requerimento destes ou oficiosamente, mandar fazer à avaliação dos bens
(v. n.º 3, in fine, do art.º 761.º, conjugado com o art.º 715.º).

16.3. Venda Judicial

A venda judicial só ocorre se não for possível realizar a venda extrajudicial.


Nessa modalidade de venda, como se disse supra, realiza através de proposta em
carta fechada, devendo ser seguido as seguintes formalidades:
 Tratando-se da venda de um bem imóvel, o valor a enunciar é igual a 70% do
valor de base do bem, após a sua avaliação (v. art.º 768.º);
 São publicados editais e anúncios para a venda judicial (v. art.º 769.º);
 O depositário é obrigado a mostrar os bens a quem pretende examiná-los, entre o
momento da publicação e o da venda (art.º 770.º);
 São notificados os preferentes na alienação dos bens (art.º 771.º);
 A abertura das propostas é feita na presença do juiz, podendo assistir esse ato o
executado, o exequente, os reclamantes de créditos com garantia sobre os bens a
vender e os proponentes (art.º 772.º, n.º 1);
 O executado, o exequente e os credores presentes deliberam sobre as propostas
apresentadas, salvo se nenhum estiver presente, considera-se aceite a proposta de
maior preço (v. art.º 772.º, n.º 1);
 Os titulares de direito de preferência presentes são interpelados para declararem
se o querem exercer, abrindo-se, se necessário, licitação entre eles (v. art.º 775.º,
n.º 1 e 2);
 Pretendendo os preferentes exercerem o seu direito devem depositar logo a
totalidade do preço (art.º 775.º, n.º 3);
 O depósito do preço da venda é feito pelo proponente no prazo de 15 dias após a
notificação em estabelecimento bancário oficialmente encarregado dos depósitos
e custas judiciais (art.º 776.º, n.º 1). Não efetuando o proponente o deposito do
preço dentro do dito prazo, o mesmo fica sujeito a procedimento criminal,
devendo o juiz, neste caso, determinar que a venda fica sem efeito e que os bens
voltem a ser vendidos pela forma mais considerada conveniente, não sendo o
proponente remisso admitido a adquiri-los novamente e ficando responsável pela
diferença do preço e pelas despesas a que der causa (v. 776.º, n.º 2).
 Feito o depósito e cumpridas as obrigações fiscais inerentes a transmissão (IVA
ou SISA), é entregue ao adquirente o título de transmissão (art.º 778).

16.4. Venda Extrajudicial

A venda extrajudicial é a modalidade que, em regra, deve ser adoptada.

51
Conforme o disposto supra (16.2.) a venda extrajudicial pode ser feita por uma
das seguintes formas: a) venda em bolsas de capitais de mercadorias; b) venda direta a
entidades que tenham direito a adquirir determinados bens; c) venda por negociação
particular, e, d) venda em estabelecimento de leilão.
Venda em bolsa de capitais
Os títulos de créditos com cotação nas bolsas de capitais são vendidos nessas
bolsas. São vendidos nas bolsas de mercadorias na Comarca de execução se tais
mercadorias foram cotadas nessas bolsas (v. art.º 763.º, n.º 1 e 2).
Venda direta
A venda direta é usada sempre que, por força da lei, havendo bens, estes tenham
que ser entregues diretamente a entidades que tenham direito a adquirir determinados
bens (v. art.º 764.º)
Venda por negociação particular
A venda dos bens penhorados pode ser feita por negociação particular por
despacho do juiz se:
a) Considerar existir vantagens nessa modalidade e a mesma seja requerida quer
pelo executado ou algum credor preferente e ouvido os demais interessados (v. art.º
765.º, n.º 1);
b) Tratar de bens móveis de reduzido valor ou quando haja urgência na
realização da venda (v. al. a) do n.º 2 do art.º 765.º);
c) Frustrar a venda judicial e o mesmo (o Juiz) não optar pela venda em
estabelecimento de leilão (v. al. b) do n.º 2 do art.º 765.º).
No referido despacho que ordene a venda por negociação particular é designada
a pessoa que fica encarregue de a afetuar a venda e o preço mínimo a que o bem pode
ser vendido (v.º n.º 1 do art.º 766.º).
A pessoa indicada exercerá, com a emissão da certidão do despacho, a função de
mandatário (v. n.º 2 do art.º 766.º).
Tratando-se de um bem imóvel, é designado um mediador que conste da lista da
Direção Geral do Património do Estado, para exercer a função de mandatário supra
referido (v. n.º 3 do art.º 766.º).
O comprador, antes de ser lavrado o instrumento da venda, deve efetuar o
depósito do preço em estabelecimento bancário encarregue dos depósitos das custas
judiciais (n.º 4 do art.º 766.º).
Deve constar do ato da venda declaração de que encontre pendente de recurso a
sentença que executa e ou embargos de executado (v. n.º 5 do art. 766.º).

Venda em estabelecimento de leilão


Havendo no País estabelecimento de leilão, a requerimento do executado e dos
credores que representam a maioria dos créditos com garantia sobre os bens a vender,
estes são vendidos neste estabelecimento (v. n.º 1, art.º 767.º).
A venda é feita pelo pessoal do estabelecimento, sendo o preço líquido
depositado, pelo gerente, em estabelecimento bancário oficialmente encarregue dos
depósitos das custas judiciais, à ordem do tribunal, devendo ser junto nos autos, no
prazo de cinco dias após a venda, o comprovativo do deposito, sob pena de o
depositário incorrer em sanções (v. n.º 2, art.º 767.º)

52
Quaisquer dos intervenientes (credores, executado e licitantes) podem reclamar
das irregularidades ocorridas no ato de leilão, devendo o juiz antes de decidir sobre tais
reclamações examinar ou mandar examinar a escrituração do estabelecimento, ouvir o
pessoal afeto a este estabelecimento, inquerir testemunhas realizar outras diligências
que achar pertinentes (v. n.º 3 do art.º 767.º)
Provado que as irregularidades viciaram o resultado final da licitação o leilão é
anulado e o dono do estabelecimento condenado a repor o que tiver embolsado, ficando,
ainda, sujeito a indemnizar pelos danos que tenha causado (v. n.º 4, do art.º 767.º)
Caso o leilão for anulado, outro estabelecimento será designado para repetir o
leilão ou, não havendo outro estabelecimento, procede-se à venda judicial ou por
negociação particular (v. n.º 5 do art.º 767.º).

17. O PAGAMENTO

O pagamento se traduz no ato essencial da ação executiva.

17.1 Modos de efectuar pagamento

O exequente pode ser pago por um dos seguintes modos (art.º 751.º, n.º 1):
a) pela entrega de dinheiro;
b) pela adjudicação dos bens penhorados;
c) pela consignação judicial dos seus rendimentos;
d) pelo produto da respetiva venda.
Havendo convenção das partes, o pagamento pode ser efetuado em prestação da
dívida exequenda, devendo ser acautelados os direitos dos demais credores cujas
reclamações tenham sido admitidas (art.º 751º, n.º 2). Perante a falta de pagamento
duma prestação (art.º 781.º do C. Civ.) pode logo o exequente requerer o
prosseguimento da execução.
Assim, depois de ter sido proferido o despacho de admissão liminar de créditos
reclamados (v. art. 750º), são iniciadas, no processo de execução, as deligências
tendentes ao pagamento (art.º 752º).
Qualquer credor, cujo crédito reclamado tenha sido admitido, só pode ser pago
na execução pelos bens sobre que tiver garantias e conforme a graduação do seu crédito
(nº 2 do art.º 752º).

17.1.1. Pagamento por entrega de dinheiro

Há entrega de dinheiro quando a penhora tenha recaído sobre moeda corrente ou


sobre crédito em dinheiro cuja importância foi depositada, o exequente ou qualquer
credor que deve preferi-lo é pago do seu crédito pelo dinheiro existente (art.º 753º).

17.1.2. Adjudicação – art.º 754º

Havendo bens suficientes para o pagamento do crédito, pode o exequente


requerer que os mesmos, salvo se tenham que ser vendidos nas bolsas de capitais ou
hajam de ser entregues a determinadas pessoas ou entidades, lhe sejam adjudicados.
53
Pode, igualmente, qualquer credor reclamante, desde que o seu crédito haja sido
reconhecido e graduado por sentença de graduação de créditos, requerer a adjudicação
dos bens sobre os quais haja sido proferida sentença de graduação de créditos. Exemplo,
A, credor com garantia real, que haja reclamado o seu crédito, pode requerer que os
bens suficientes ao pagamnto do seu crédito lhe sejam adjudicados. Caso não tenha
reclamado não pode requerer a adjudicação dos bens.
Na adjudicação o requerente (exequente ou credor) deve indicar o preço que
oferece, sendo que este não pode ser inferior ao valor a anunciar para a venda em carta
fechada (art.º 754º, n.º 2).
Se o pedido for posterior ao anúncio da venda judicial, esta não se susta (não é
parada), e o pedido só pode ser atendido quando não haja licitantes ou concorrentes que
ofereçam preço superior (art.º 754º, n.º 3).
O Pedido de adjudicação está sujeito a publicidade, a qual deve ser feita através
de editais e anúncios (artº. 755º, n.º 1). Para a aberura das propostas de preço superior
ao oferecido pelo requerente, o juiz profere despacho que designe dia e hora para o
efeito, devendo ser notificado desse despacho o executado e aqueles que podiam
requerer a adjudicação e bem assim aos titulares de qualquer direito de preferência na
alienação dos bens (art.º 755º, n.º 2).
Gozam do direito de preferência na alienação, nomeadamente, o comproprietário
(art.º 1389º do C. Civ.), os arrendatários nos prédios arrendados para comércio ou
industria (art.º 1114.º, n.º 1), os sócios das sociedades por quotas, tratando de quotas
dessa sociedade, o locatário comercial ou industrial, ou de arrendamento para o
exercício de profissão liberal, o senhorio no trespasse comercial ou industrial, etc.
(Nota: no regime de propriedade horizontal os proprietários, não gozam de preferência
sobre uma fração dos prédios – art.º 403º do C. Civ).
A adjudicação é feita nos seguintes termos (art.º 756.º):
a) Se no dia e hora marcada não aparecer nenhuma proposta e ninguém se
apresentar a exercer o direito de preferência, aceita-se o preço oferecido
pelo requerente.
b) Existindo proposta de maior preço deve-se observar o disposto quanto a
abertura e a deliberação das propostas ou venda judicial.
c) Caso o requerimento da adjudicação tiver sido feita após ter sido
anunciada a venda judicial e a esta não houver concorrentes ou licitantes,
os bens se adjudicam ao requerente (cf. art.º 756º).
O Requerente a quem os bens foram adjudicados é logo notificado para
depositar a quantia excedente ao seu crédito e as custas, (v. art.º 757º, que remeta para
os art.º 776 e segs), bem como para assinar o auto de adjudicação em dia e hora
designados.
Se a djudicação se efetuar antes da graduação de crédito, verificar-se-á o
disposto no nº 2 do art.º 780º.,segundo o qual “… o exequente não é obrigado a
depositar mais que a parte excedente à quantia exequenda e o credor só é obrigado a
depositar o excedente ao montante do crédito que tiver reclamado sobre os bens
adquiridos; neste caso se os bens adquiridos forem imóveis ficam hipotecados a parte
do preço não depositada, consignando-se a garantia no auto de transmissão, que não
pode ser registada sem ele; se forem de outra natureza, não são entregues ao
adquirente sem que este preste caução correspondente ao seu valor”.
Não tendo o adquirente a quantia que deixou de depositar, havendo graduação de
crédito, é notificado para fazer o respetivo depósito dentro de 8 dias, sob pena de ser

54
executado nos termos do art.º 776º, começando a execução pelos próprios bens
adquiridos ou pela caução – nº 3 do art.º 780º.

17.1.3. Consignação de rendimentos – art.º 758º a 760º.

A consignação de rendimentos é condicionada pela natureza do objeto de


penhora, pois só pode ter lugar quando esteja em causa um bem imóvel ou móvel
sujeito a registo.
O Requerente pode solicitar que lhe sejam consignados os rendimentos
respetivos dos referidos bens enquanto estes não forem vendidos para o pagamento do
seu crédito (v. nº 1 do art.º 758º).
O Executado deve ser ouvido sobre o pedido, caso não haja, por parte deste,
oposição a consignação é deferida nº 2 art.º 758º.
Mesmo antes de ser convocados os credores, a citação destes é dispensada, salvo
se o pedido do requerente for indeferido – art.º 758º nº3.
O processamento da consignação de rendimentos deve ser feito em observância
com o disposto nos art.º 759º e 760º.
De acordo com o disposto no art. 656º, nº 1, do C. Civ., a consignação de
rendimentos traduz-se na afetação, com eficácia real, dos rendimentos dos bens
penhorados ao pagamento do crédito do exequente, na totalidade deste ou no
remanescente que esteja por pagar.
Sendo assim, uma vez efetuados e pagas as custas da execução, esta é julgada
extinta, levantando-se as penhoras que incidem sobre outros bens (art.º 760º nº 1) e
mantendo-se a penhora sobre os bens cujos rendimentos foram consignados, no seu
efeito de assegurar a preferência a favor do exequente (art.º 760º nº 3).
Esta preferência, segundo Lebre de Freitas (v. ob. Cit. pág. 353), virá,
designadamente, a interessar ao exequente no caso de venda judicial do bem penhorado,
ou em outra execução: se esta for movida por credor que não tenha direito real de
garantia constituindo em data anterior à penhora, o consignatário será pago antes dele;
do mesmo modo, será pago antes dos credores reclamados que tenha garantia real
posterior.

18. EXTINÇÃO E ANULAÇÃO DA EXECUÇÃO (art.º 790.º a 795.º)

18.1.Cessação pelo pagamento voluntário – art.º 790.º e 791.º

A execução pode ser cessada em qualquer estado do processo pelo pagamento da


dívida e das custas efetuado pelo executado ou qualquer outra pessoa.
Para o efeito deve o interessado pedir verbalmente na secretaria guias para o
depósito da parte líquida ou líquidada do crédito do exequente, que não tenha sido)
extinta (solvida) pelo produto da venda ou adjudicação de bens.
Ao requerimento de cessação da execução pelo pagamento voluntário deve ser
junto o comprovativo do depósito, sendo estes os requisitos exiidos gpara que o juiz
possa decretar a suspensão da execução e ordenar a liquidação requerida.
Caso o requerente juntar nos autos documento que comprove a quitação, perdão
ou renuncia por do exequente ou outro título extintivo da obrigação exequenda é
55
ordenada, sem necessidade de depósito preliminar, a suspensão da execução e a
liquidação da responsabilidade do executado.
No caso de o requerimento de cessação da execução for feito antes da venda ou
adjudicação dos bens, o requerente liquidará somente as custas e que do exequente n.º 1
do art.º 791.º). Se os bens tiverem sido vendidos ou adjudicados, a liquidação deve
abarcar também os créditos reclamados para serem pagos pelo produto desses bens, de
acordo com a graduação de crédito e até onde chegar (alcançar) o produto obtido,
exceto se o requerente provar a extinção de algum desses créditos, caso em que este não
deve ser considerado (1ª, parte, do n.º 2, do citado artigo).
Se não tiver sido feita a graduação dos créditos reclamados os quais devem ser
objetos de liquidação, a execução prossegue apenas nessa parte (verificação e graduação
dos creditos) e só após far-se-á a liquidação (v. 2.ª parte, do n.º2, do referido artigo).
Na liquidação, além do que faltar dos créditos, deve incluir as custas dos
levantamentos a fazer pelos titulares dos créditos liquidados. Deve ser notificado da
liquidação o exequente, os credores interessados, o executado e o requerente, se este for
pessoa diversa, para se pronunciarem, nos termos da lei, dessa decisão (v. n.º 3 do dito
artigo).
Conformando o requerente com a liquidação, o mesmo deve depositar o saldo
que for liquidado. Caso contrário, o mesmo é condenado nas custas a que deu causa,
para além de a execução prosseguir, não podendo esta tornar a ser suspensa sem que
seja feito o depósito prévio da quantia liquidada, deduzido o produto das vendas ou
adjudicações, efetuados posteriormente, e os créditos cuja extinção se prove por
documento. Após o depósito efetuar-se-á nova liquidação do acrescido (cf. n.º 4, do
mesmo artigo).

18.2. Desistência do exequente – art.º 792.º

O exequente pode, a qualquer momento, extinguir, por desistência, a execução.


Contudo, esta desistência carece do consentimento do embargante, se estiver pendentes
embargos do executado.
A desistência da execução não susta, porém, o pagamento aos credores, cujos
créditos tenham sidos verificados e graduados, se tiverem sido vendidos ou adjudicados
bens cujos produtos tenham sido graduados aos credores.

18.3. Extinção da execução – art.º 793.º

Considera-se extinta a execução logo que se efetue o depósito da quantia


liquidada, segundo o dispostos no artigo 791.º, ou após ao pagamento das custas, quer
seja pela desistência da execução quer seja quer pelo pagamento coercivo da obrigação
exequenda. Deve ser notificado o executado, o exequente e, se tiverem sido graduados
os créditos, os credores.

18.4. Renovação da execução extinta – art.º 794.º

Segundo o disposto no art.º 794.º a extinção da execução não obsta a que a ação
se renove no mesmo processo, nos casos seguintes:
a) Se o título tenha sido sucessivo para pagamento das prestações que se vençam
posteriormente (n.º1 do dito artigo);
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b) Se tenha havido graduação de crédito vencido para ser pago pelo produto de
bens penhorados que não chegaram a ser vendidos, nem adjudicados, o credor
reclamante pode requerer, até o trânsito em julgado da sentença que declare
extinta a execução, o seguimento da execução para pagamento do seu crédito
(n.º 2, do citado artigo). Admitido o requerimento, a execução renova somente
sobre os bens em que tenham sido graduados o crédito do requerente, assumindo
este, no processo, a posição de exequente (v. n.º3 do dito artigo).
Com a renovação da execução, não se repetem as citações e tudo o que tiver sido
processado, relativamente aos bens em que prossegue a execução, será aproveitado,
devendo, contudo, ser notificados do requerimento os outros credores graduados e o
executado (v. n.º 4 do art.º 794.º).

18.5. Anulação da execução por falta ou nulidade de citação do


executado – art.º 795.º

A execução está sujeita a anulação ou nulidade. Assim, ocorrendo a falta de


citação do executado ou havendo fundamento para declarar a nulidade da citação, o
executado pode, a todo tempo, requerer nos próprios autos anulação da execução, com
os seguintes fundamentos (v. n.º 1 do supracitado artigo):
a) Se a execução correr à revelia do executado e este não tiver sido citado quando o
deva ser;
b) Se houver fundamento para declarar a nulidade da citação.
Admitido o requerimento, ficam sustados todos os termos da execução, conhece-
se logo da reclamação e, se esta for julgada procedente, anula-se tudo o que no processo
se tenha praticado (v. n.º 2 do dito artigo)
A reclamação é admitida a todo o tempo, ou seja, ela pode ser feita mesmo
depois de finda a execução. Contudo, se a partir da venda tiver decorrido já o tempo
necessário para a usucapião o executado fica apenas com o direito de exigir do
exequente, no caso de dolo ou de má-fé deste, a indemnização do prejuízo sofrido, se
esse direito não tiver prescrito entretanto (v. n.º 3 do citado artigo)

19. RECURSOS – art.º 796.º

No processo executivo estão sujeitos a recursos de apelação a sentença final e do


despacho saneador que conhecer o objeto da liquidação, dos embargos de executado ou
que graduar os créditos (verificado o disposto no art.º 587.º), ou, ainda, dos despachos
interlocutórios, (v. n.º 1 e 2 do art.º 796.º).
O prazo de interposição do recurso é, salvo o disposto no n.º 3 e 5 do art.º 796.º
que estipula o prazo de 15 dias, de 30 dias (v. art.º 595.º, n.º1).
Tratando-se de decisões interlocutórias, o recurso não tem subida imediata,
ficando a aguardar pelo recurso que venha a ser interposto da decisão final, ou, não
havendo recurso da decisão final, deve o recurso ser interposto no prazo de 15 dias a
contar da notificação que julga extinta a execução, segundo o n.º 2 do art.º 793.º (v. n.ºs
4 e 5 do art.º 796.º).
As decisões proferidas nos tribunais de 2.ª instância (tribunais de relação) cabem
recursos de revistas, nos termos do n.º 6 do art.º 796.º
57
20. OUTROS PROCESSOS DA EXECUÇÃO

20.1. Execução para entrega da coisa certa – art.º 799.º a 802.º

A execução para entrega da coisa certa segue o regime especial previsto nos
art.ºs 799.º a 802.º e, subsidiariamente, as disposições do art.º 677.º, 683.º, n.º 1, 685.º,
686.º, 688.º, 689.º e 690.º
Como se disse supra (v. ponto 1.2, p. 2), na ação executiva para entrega da
coisa certa, o exequente, titular do direito à prestação duma coisa determinada,
pretende que o tribunal apreenda essa coisa ao devedor (executado) e seguidamente lha
entregue – art.º 827.º do C.C.
Se porém a coisa não for encontrada o exequente procederá à liquidação do seu
valor e do prejuízo resultante da falta da entrega, penhorando-se e vendendo-se bens do
executado para pagamento da quantia liquidada – art.º 802.º (conversão da execução).
Neste caso o exequente obterá um resultado idêntico ao da realização da própria
prestação que, segundo o título, lhe é devida ou um seu equivalente.
A entrega da coisa certa pode ter como objeto:
 Uma obrigação – por exemplo, por escritura pública, o proprietário obriga-se
a, mediante retribuição, proporcionar o gozo temporário de uma coisa a
outrem, que, para obter a entrega, propõe uma ação executiva; ou,
 Um direito real – por exemplo, numa ação de reivindicação o possuidor ou o
detentor é condenado a entregar a coisa reivindicada ao proprietário e este
pede a execução da sentença.

20.2. Execução para prestação de facto – art.º 804.º a 813.º

A execução para prestação de facto aplica-se o regime especial previsto nos


art.ºs 804.º a 813.º e, subsidiariamente, o disposto nos art.ºs 747.º e segs, 688.º e segs. e
802.º.
Neste tipo de ação executiva, (como se disse supra, v. ponto 1.2., pgs. 2 e 3)
pode ocorrer o seguinte.
 Se a prestação do facto for fungível, o exequente pode requerer que ele seja
prestado por outrem à custa do devedor – art.º 828.º do C. C., sendo, neste caso,
apreendido e vendidos os bens deste que forem necessários ao pagamento do
custo da prestação;
 Tratando de uma prestação de facto infungível, o exequente já só pode pretender
a apreensão e venda de bens do devedor suficientes para o indemnizar do dano
sofrido com o incumprimento – art.º 804.º do C. C.
No caso de a violação consistir na omissão (prestação de um facto negativo), o
exequente consoante aos casos, pedirá a demolição da obra que porventura tenha sido
efetuada pelo devedor, à custa deste, assim como a indemnização compensatória – arts.
829.º C. C. e 812.

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Neste tipo de processo o exequente pode obter o mesmo resultado que obteria
com a realização, ainda que por terceiro, da prestação que, segundo o título, lhe é devida
ou um seu equivalente.

21. PROCESSOS EXECUTIVOS ESPECIAIS

21.1. Execução por Alimentos – art.º 936.º a 939.º


A execução por alimentos segue o regime especial dos art.ºs 936.º a 939.º
conjugado com as disposições previstas para a execução para pagamento da quantia
certa (v. n.º 1 do art.º 936.º).

21.2. Execução por custas – art.º 105.º, n.º 3, 106.º, n.º 1, 107.º a 112.º
do C.C.J.

A execução por custas, multas e indemnizações referidas no art.º 420.º e segs,


segue o regime especial previsto nos art.ºs 105 a 112.º do Código das Custas Judiciais.
A execução é instaurada por apenso ao processo em que tem lugar a notificação,
autuando-se o requerimento de nomeação de bens à penhora e observando-se os demais
termos da execução por quantia certa baseada em sentença, sendo de 5 dias o prazo para
o executado deduzir oposição, depois de realizada a penhora (n.º 1 do art.º 106.º do
C.C.J.).

21.3. Execução de Despejo – 846.º a 851.º

A execução de despejo, sendo um processo de execução especial, aplica-se as


disposições especiais dos art.ºs 846.º a 851.º.

21.4. Investidura em cargos sociais – 1104.º

A execução da de decisão de investidura em cargos sociais segue os termos


previstos no art.º 1104.º

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INDICE

3.4. O documento exarado ou autenticado por notário ............................................... 11


3.5. O escrito particular assinado pelo devedor .......................................................... 11
3.6.O título executivo por força de disposição especial ............................................. 11
3.7. Natureza e função do título executivo ................................................................. 12
3.8. Consequências da falta de apresentação do título executivo ............................... 13
4. Certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação ........................................................... 13
4.1. Conceito ............................................................................................................... 13
4.2. Regime: certeza e exigibilidade ........................................................................... 13
4.3. Liquidez da obrigação .......................................................................................... 14
5. Competência do Tribunal ........................................................................................... 16
5.1. Competência em razão da matéria ....................................................................... 16
5.2. Competência em razão da hierarquia ................................................................... 16
5.3. Competência em razão do valor ........................................................................... 16
5.4. Competência em razão do território ..................................................................... 16
5.5. Competência Internacional .................................................................................. 17
5.6. Competência Convencional e o regime da incompetência relativa ..................... 18
6. Legitimidade das partes .............................................................................................. 19
6.1. Quem é parte ........................................................................................................ 19
6.2. Consequências da ilegitimidade das partes .......................................................... 21
7. Patrocínio Judiciário ............................................................................................... 21
8. Pluralidade de sujeitos e pluralidade de pedidos ........................................................ 21
8.1. O litisconsórcio .................................................................................................... 21
8.2. A coligação .......................................................................................................... 23
8.3. Consequências da falta de litisconsórcio, quando necessário, e da coligação ilegal
.................................................................................................................................... 23
8.4. A cumulação simples de pedidos ......................................................................... 23
9. Formas do processo executivo ................................................................................ 24
9.1. O tipo e a forma do processo ............................................................................... 24
9.2. Âmbito das formas processuais ........................................................................... 24
9.3. Direito supletivo .................................................................................................. 24
CAPÍTULO II ................................................................................................................. 25
O PROCESSO DE EXECUÇÃO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA ..... 25
10. DELIMITAÇÃO ................................................................................................... 25
11. FASE INICIAL ..................................................................................................... 25
11.1. Requerimento inicial e tramitação complementar ............................................. 25
11.2. Despacho liminar ............................................................................................... 26
11.3. Despacho de ordenação da penhora, seguida de notificação ou citação (art.
686.º) ........................................................................................................................... 26
11.4. Oposição à execução através de embargos (art. 687.º) ...................................... 27
Efeito do recebimento dos embargos .......................................................................... 28
11.5. Responsabilidade do exequente ......................................................................... 29
13. PENHORA............................................................................................................ 29
13.1. Noção ................................................................................................................. 29
13.2. Princípios Gerais ................................................................................................ 29
13.3. Penhora e Disponibilidade Substantiva ............................................................. 30
13.3.1 Bens absolutos ou totalmente impenhoráveis .................................................. 30
13.3.2. Indisponibilidade subjetiva ............................................................................. 30
60
13.3.3. Impenhorabilidade Convencional ................................................................... 31
13.3.4. Impenhorabilidade Diretamente resultante da Lei .......................................... 32
13.3.5. Penhorabilidade Subsidiaria ........................................................................... 32
14. FASE DE PENHORA .......................................................................................... 33
14.1. Indicação dos Bens ............................................................................................ 33
14.2. Como se faz a nomeação ................................................................................... 33
14.3. O Ato da Penhora ............................................................................................... 34
14.3.1 Formas ............................................................................................................. 34
14.3.2 Penhora de Bens imóveis ................................................................................. 34
14.4. Penhora Dos Bens Móveis ................................................................................. 35
14.4.1 Modo de efetuar ............................................................................................... 35
14.4.2 Penhora de Direitos .......................................................................................... 37
14.4.2.1 Direitos de créditos ....................................................................................... 37
14.4.2.2 A Penhora do Direito de bens indivisos art. 743º e 701º .............................. 37
14.5. Função e efeitos da penhora............................................................................... 38
14.5.1. Função da Penhora .......................................................................................... 38
14.5.2. A transferência dos poderes de gozo que integram o direito do executado para
o tribunal ..................................................................................................................... 38
14.5.3. A ineficácia dos atos dispositivos do direito subsequentes ............................ 39
14.5.4. A constituição de preferência a favor do exequente. ...................................... 40
14.6. Oposição À Penhora .......................................................................................... 40
14.6.1 Meios de oposição ........................................................................................... 40
14.6.1.1 Oposição por simples requerimento ............................................................. 40
14.6.1.2 Incidente de oposição à penhora ................................................................... 41
14.6.1.3 Embargos de Terceiro ................................................................................... 42
14.6.1.4 Ação de Reivindicação ................................................................................. 43
15. CONVOCAÇÃO DOS CREDORES E VERIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS ...... 44
15.1. Convocações ...................................................................................................... 44
15.1.1 Dos credores .................................................................................................... 45
15.1.2. Do Cônjuge do Executado .............................................................................. 46
15.2. Como se procede a reclamação de credores – art- 748º ..................................... 47
15.2.1. Impugnação Dos Créditos Reclamados .......................................................... 47
15.2.2. Resposta do Reclamante, Sentença e Graduação de Créditos ........................ 47
15.2.3. Credor Sem Título Executivo ......................................................................... 48
15.2.4. Insuficiencia do Património do Devedor ........................................................ 48
15.2.5. Pluralidade de Execuções Sobre os Mesmos Bens ......................................... 49
15.2.6. Como se Procede a Graduação de Crédito ...................................................... 49
16. A VENDA EXECUTIVA ..................................................................................... 50
16.1. Modalidades ....................................................................................................... 50
16.2. Como se determina a modalidade da venda ....................................................... 51
16.3. Venda Judicial.................................................................................................... 51
16.4. Venda Extrajudicial ........................................................................................... 51
17. O PAGAMENTO ................................................................................................. 53
17.1 Modos de efectuar pagamento ............................................................................ 53
17.1.1. Pagamento por entrega de dinheiro ................................................................ 53
17.1.2. Adjudicação – art.º 754º.................................................................................. 53
17.1.3. Consignação de rendimentos – art.º 758º a 760º............................................. 55
18. EXTINÇÃO E ANULAÇÃO DA EXECUÇÃO (art.º 790.º a 795.º) .................. 55
18.1.Cessação pelo pagamento voluntário – art.º 790.º e 791.º .................................. 55
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18.2. Desistência do exequente – art.º 792.º ............................................................... 56
18.3. Extinção da execução – art.º 793.º ..................................................................... 56
18.4. Renovação da execução extinta – art.º 794.º ..................................................... 56
18.5. Anulação da execução por falta ou nulidade de citação do executado – art.º
795.º ............................................................................................................................ 57
19. RECURSOS – art.º 796.º ...................................................................................... 57
20. OUTROS PROCESSOS DA EXECUÇÃO ......................................................... 58
20.1. Execução para entrega da coisa certa – art.º 799.º a 802.º ................................. 58
20.2. Execução para prestação de facto – art.º 804.º a 813.º ...................................... 58
21. PROCESSOS EXECUTIVOS ESPECIAIS ......................................................... 59
21.1. Execução por Alimentos – art.º 936.º a 939.º .................................................... 59
21.2. Execução por custas – art.º 105.º, n.º 3, 106.º, n.º 1, 107.º a 112.º do C.C.J. .... 59
21.3. Execução de Despejo – 846.º a 851.º ................................................................. 59
21.4. Investidura em cargos sociais – 1104.º .............................................................. 59

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