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APOIO E REALIZAÇÃO
APRESENTAÇÃO
Resumo: Vivemos em uma sociedade múltipla e rica em diversidade. No entanto, uma parte da
população contribui para que ainda exista o racismo em nossa sociedade. Assim, é primordial que a
escola como agente formadora sirva de ponte para erradicar esse preconceito da sociedade. Neste
sentido, o nosso objetivo geral é apresentar uma proposta pedagógica a respeito da temática racismo
para turmas do 2° ano do ensino fundamental. E almejando conseguir nosso propósito, utilizamos
como apoio teórico, os autores: Jorge (2016), Leonel (2015), Cavalleiro (2001), Lima (1981), entre
outros. No que se refere a metodologia, nossa pesquisa tem abordagem qualitativa, e é de caráter
descritivo-interpretativo. A partir da construção da proposta de aula, constatamos que esse estudo
contribui para disseminação e reflexão da temática racismo sendo trabalhada no âmbito escolar, de
modo que também contribuirá para a criação de aulas e projetos educativos para trabalhar nas
instituições.
Introdução
1
Graduado em Letras Português pela UEPB e Pós-graduando em Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa,
Literatura e Artes pela FAVENI. E-mail: jgomesfrancisco@hotmail.com.
2
Graduada em Letras Português pela UEPB e pós-graduada em Linguística Aplicada à Educação pela FAVENI.
E-mail: lygiasangela10@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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a educação como fator primordial ao combate do racismo; c) Contribuir para a construção de
um olhar mais respeitoso, objetivando diminuir o racismo no espaço escolar, e,
consequentemente, em outros espaços sociais.
Justificando-se, portanto, concebemos a escola não só como promotora de habilidades
de leitura e escrita, mas, também, enquanto formadora de sujeitos críticos-reflexivos e
humanizados, capazes de estabelecerem relações pessoais e sociais com outros sujeitos
respeitando as suas características étnico-raciais e qualquer outra condição.
No que se refere à metodologia, este trabalho é de natureza qualitativa, a qual
“defende o estudo do homem, levando em conta que o ser humano não é passivo, mas sim que
interpreta o mundo em que vive continuamente” (GUERRA, 2014, p. 10). Já no que tange ao
caráter, optamos pelo descritivo e interpretativo, posto que “procura entender, interpretar
fenômenos sociais inseridos em um contexto” (BORTONI-RICARDO, 2008, p. 34).
Ademais, lançamos uma proposta pedagógica direcionada a turmas do 2⁰ ano do ensino
fundamental.
Para o embasamento teórico, recorremos aos pressupostos de: Oliveira (2012), Leonel
(2015), Cavalleiro (2001), Jorge (2016), entre outros estudos que colaboraram de forma
significativa com o desenvolvimento dessa pesquisa, o alcance dos objetivos e a construção
de reflexões, bem como da proposta pedagógica aqui pensada e apresentada.
Pensando no leitor e visando uma melhor organização, este presente artigo está
dividido em as seguintes partes complementares: em primeiro momento, apresentamos os
elementos introdutórios e, posteriormente, discutimos brevemente alguns fatos histórico-
sociais do racismo. Logo após, pontuamos a educação enquanto porta para a desconstrução de
práticas racistas na sociedade.
Dando continuidades apresentamos uma proposta pedagógica direcionada a turmas do
2⁰ ano do ensino fundamental, a qual tem como temática central a desconstrução do racismo e
a construção identitária racial. Por fim, apresentamos algumas considerações acerca da
pesquisa, bem como as referências utilizadas durante toda a construção textual.
Essas atitudes veladas, diante das intervenções legislativas, passaram a ser uma
realidade muito presente no Brasil, provocando muitas sequelas identitárias aos sujeitos que
têm suas particularidades infligidas socialmente, afetando tanto na coletividade de pensar e
agir, quanto nas condições materiais e de trabalho do povo afro-brasileiro. Isso se dá pelo fato
de empresas e cidadãos agirem de forma negativa, colocando o negro na posição de servidão,
e de incapacidade de pensar, agir, construir.
Em seu estudo, Jorge (2016, p. 94) afirma que a prática do racismo também se faz
presente na escola, pois nesse espaço essa temática acaba “ausente das discussões em sala de
aula [...]”. Ou seja, são poucos os momentos em que as instituições de ensino promovem, de
modo sistematizado, práticas educativas que visam contribuir para a construção do letramento
racial. Nesse sentido, é importante que as escolas promovam práticas pedagógicas afirmativas
às diversas raças e culturas.
[...] o tema do racismo precisa ser estimulado pela escola num ambiente de
descontração e respeito, pois com as dinâmicas adequadas essa clientela
escolar adquire autoconfiança para expressar seu conhecimento e a sua
consciência sobre o racismo e o que ele representa para suas jovens
existências (JORGE, 2016, 97).
À luz dessa perspectiva, Abramowicz e Oliveira (2012) pontua que a escola, apesar de
reunir as diversidades culturais e raciais, a desigualdade e a discriminação influenciam na
evasão por parte dos alunos negros. Assim, compreende-se que a escola não é somente um
espaço que forma cidadãos, mas que pode ser, também, um ambiente provocador de danos à
construção identitária de uma criança quando intervenções não são promovidas pelas
instituições educacionais.
Outrossim, os órgãos responsáveis pela educação (secretarias) também pecam ao não
fornecerem formações continuadas aos profissionais, bem como materiais que facilitem o
trabalho do educador, pois “Os professores têm direito a uma formação adequada para tratar
das questões raciais, adquirindo conhecimentos, como uma forma de combater o racismo”
(LEONEL, 2015, p. 14). Dessa forma, ao obter formações continuadas sobre o assunto,
estarão munidos de conhecimentos para repassar para seus alunos.
Isso posto, apesar de considerarmos o Brasil composto pela diversidade racial, é
notório que as instituições, enquanto formadoras, ainda, não estão preparadas para lidar com
essa realidade sociocultural. Assim, “o silêncio que envolve a questão racial nas diversas
instituições sociais favorece que se entenda a diferença como desigualdade, como desvio,
como anormalidade” (ABRAMOWICZ; OLIVEIRA, 2012, p. 56).
A proposta é pautada na busca pela valorização da diversidade das pessoas, bem como
o acesso ao conhecimento sobre o racismo, para que os alunos sejam porta-voz do respeito às
diferenças sociais. Durante as etapas que apresentaremos neste capítulo, iremos discutir a
respeito das diferenças de significados dos seguintes termos: preconceito, discriminação e
racismo. Além disso, promoveremos uma dinâmica, e apresentação de vídeo para desenvolver
essa temática.
Sugerimos o 2° ano do ensino fundamental como público alvo dessa proposta, visto
que é a fase inicial do ensino fundamental, e as crianças precisam ter conhecimento sobre esse
assunto para que possam ser agentes da causa do antirracismo, assim, estaremos contribuindo
para construirmos uma sociedade melhor.
● 1 ° Etapa
Neste primeiro passo, o docente pedirá que os alunos formem um círculo para realizar
uma roda de conversa, de modo que se sintam próximos uns dos outros. Assim, no primeiro
momento, é primordial que o professor questione sobre o que os alunos entendem a respeito
dos seguintes termos:
● Preconceito
● 2° Etapa
Neste passo, o professor falará a respeito do livro intitulado “a menina bonita do laço
de fita” da autora Ana Maria Machado, e se tiver acesso a obra poderá levá-lo para realizar a
contação da história da menina do laço de fita, mas pensando nos docentes que não tem a obra
em mãos, sugerimos a exibição do vídeo intitulado “A menina bonita do laço de fita – Dia da
consciência negra”, que está disponível no YouTube.
A obra infantil promove a representatividade para crianças que são negras, além disso,
contribui para que reflitamos sobre o racismo. Nesse sentido, a personagem principal é negra
e toda narrativa gira em torno de sua personagem. De modo que, a autora proporciona uma
leitura leve e didática, narrando uma história onde um coelhinho branco e de olhos verdes
tenta a todo custo torna-se negro igual a menina do laço de fita.
Além disso, para a realização da segunda etapa, o professor necessitará de um
Datashow, notebook e ter acesso a plataforma de vídeo. Assim, esses recursos contribuirão
para a apresentação da historinha.
Figura 1 – Tela do vídeo A menina do laço de fita
Nesse sentido, entendemos a importância de usar esse recurso dentro da sala de aula,
ainda mais se tratando de turma de crianças. Pois, requer ludicidade na aula, e o vídeo tem
função muito atrativa para as pessoas, especialmente, esse que sugerimos (anteriormente),
notamos o quão bem desenvolvido foi para que desperte um olhar atencioso de quem vê-lo.
Todavia, após a exibição do vídeo, é primordial que o docente busque saber as
opiniões dos alunos acerca da história, explorando sobre o assunto que foi abordado no vídeo
e associando ao que foi falado durante a aula. Assim, é indispensável que o professor conduza
essa discussão de modo significativo para os alunos, para que todas as dúvidas sejam sanadas.
Referências
BRASIL. Declaração Universal dos Direitos Humanos. In: Direitos Humanos: atos
internacionais e normas correlatas. 4a ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições
Técnicas, 2013, p. 20-23. Disponível em:
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/508144/000992124.pdf>. Acesso em:
03 jun. 2022.
GUERRA, Elaine Linhares de Assis. Manual de pesquisa qualitativa. Belo Horizonte: Grupo
Ănima Educação, 2014.
LEONEL, Tânia Cristina. Formação dos professores para trabalhar as relações raciais na
educação infantil. Revista Científica Semana Acadêmica. Fortaleza, ano MMXV, nº. 000076,
2015. Disponível em: <https://semanaacademica.org.br/artigo/formacao-dos-professores-para-
trabalhar-relacoes-raciais-na-educacao-infantil>. Acesso em: 07 jul. 2022.
MACHADO, Ana Maria. Menina Bonita de Laço de Fita. São Paulo: Ática, 2008.
MONTALVÃO, Ana Luiza Braga; FARIA, Margareth Regina Gomes Veríssimo de. Racismo
no Brasil: uma revisão sistemática da última década, 2020. Disponível em:
<http://repositorio.aee.edu.br/jspui/handle/aee/11259>. Acesso em: 07 maios 2022.
Resumo: Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a literatura como instrumento para a formação
de uma sociedade mais humanista. A fim de responder a problemática de como o texto literário pode
contribuir para uma educação antirracista, o presente trabalho tem como objetivo principal refletir
sobre o potencial da literatura infantojuvenil afro-brasileira como recurso pedagógico para a efetivação
da Lei nº 10.639/03 e para a prática de uma educação antirracista. Os aportes teóricos utilizados
foram: Evaristo (2007), Gomes (2001) e Munanga (1988). Esta pesquisa caracteriza-se como uma
pesquisa qualitativa, mais especificamente de cunho temático e bibliográfico. Os procedimentos
metodológicos consistem na reflexão crítica sobre o potencial de livros infantojuvenis afro-brasileiros
para a construção da identidade das crianças negras e para o trabalho com a representatividade e a
ancestralidade negra, com o intuito de despertar o sentimento de pertencimento das crianças negras e
conscientizar as crianças não-negras para que revejam valores racistas. Em seguida, trago como
resultados a indicação de obras infantojuvenis que atendem a essa demanda. Por fim, aponto os
principais desafios que dificultam o trabalho na sala de aula com essa literatura e trago sugestões para
a resolução dos mesmos, concluindo que a leitura dessas obras contribui para formar cidadãos
antirracistas.
Considerações iniciais
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a relevância e o potencial do uso
da literatura infantojuvenil afro-brasileira como um dos recursos pedagógicos para a
efetivação da Lei nº 10.639/03 e para construção de uma educação antirracista que colabore
na formação de uma sociedade mais justa e igualitária, numa perspectiva de descolonialidade.
De início, serão apresentados argumentos embasados em referenciais teóricos que
confirmam que a literatura, além de ser um direito, é também um instrumento a ser utilizado
no contexto da sala de aula para a efetivação da Lei 10.639/03 e para a formação de uma
sociedade mais humanista. Em seguida, trarei a indicação de obras de literatura infantojuvenil
1
Mestranda do Mestrado Interdisciplinar em História e Letras – MIHL/Universidade Estadual do Ceará –
UECE/ Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central - FECLESC, Linha de pesquisa Estudos em
Ensino e Linguagens. E-mail: prucina.bezerra@aluno.uece.br.
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afro-brasileira que, por desvelarem o universo africano e afro-brasileiro por meio da tessitura
de protagonistas negras, contribuem para a construção da identidade das crianças negras e
para o trabalho com a representatividade e ancestralidade negras.
E por fim, serão apontados os principais desafios que têm dificultado o trabalho na
sala de aula com a literatura infantojuvenil afro-brasileira, seguidos de sugestões para a
resolução dos mesmos.
Por conseguinte, uma das formas que pode auxiliar a orientar os referidos profissionais
da educação na seleção de obras literárias, é partir da perspectiva dos seguintes aspectos: a)
identidade; b) representatividade negra e c) ancestralidade, uma vez que abordar tais aspectos
é uma forma de garantir que as crianças negras se sintam valorizadas, pois eles podem se
configurar como pontos de partida para desenvolver sentimentos de identificação, referência e
de pertencimento dessas crianças, bem como possibilitarem a conscientização das crianças
brancas para que revejam valores racistas que lhes foram transmitidos pela família e pela
sociedade.
Outra dificuldade encontrada para o trabalho com a diversidade étnico-racial por meio
do texto literário é a falta ou insuficiência de livros de literatura infantojuvenil afro-brasileira
nas escolas.
Dessa forma, para a efetivação da Lei nº 10.639/03 e para a execução de práticas
pedagógicas antirracistas é necessário habilitar os professores. Assim, as Universidades
devem se comprometer a preparar os professores para a educação das relações étnico-raciais,
Diante disso, é urgente que na formação docente, tanto inicial quanto continuada,
sejam ampliadas as discussões sobre as relações étnico-raciais, a fim de refletir sobre as
vantagens e privilégios dos brancos numa sociedade marcada historicamente pela
desigualdade racial. Assim, de acordo com Ferreira (2014), há a necessidade de abordar a
temática da branquitude nos cursos de formação de professores:
Conclusão
Referências
ALMEIDA, Gercilga de. Bruna e a Galinha D'Angola. Ilustrações de Valeria Saraiva. Rio de
Janeiro: Editora Pallas, 2009.
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BENTO, Maria Aparecida. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, Iray;
BENTO, Maria Aparecida. (orgs). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e
branqueamento no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 25-58.
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos (5. ed.).
Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2011. p. 171-193.
FERREIRA, Aparecida de Jesus. Teoria racial crítica e letramento racial crítico: Narrativas e
contranarrativas de identidade racial de professores de línguas. Revista da ABPN. v. 6, n. 14.
jul. – out. 2014, p. 236-263. Disponível em:
https://abpnrevista.org.br/index.php/site/article/view/141. Acesso em: 24 jun. 2021.
GOMES, Nilma Lino. Betina. Ilustrações de Denise Nascimento. Belo Horizonte: Mazza,
2009.
LIMA, Heloisa Pires. Histórias da Preta. Ilustrações de Laurabeatriz.3. ed. São Paulo:
Companhia das letrinhas, 1998.
LIMA, Heloisa Pires. O espelho dourado. Ilustrações de Taisa Borges. São Paulo: Editora
Peirópolis, 2003.
MUNANGA, Kabengele. Negritude: usos e sentidos. São Paulo: Editora Ática, 1986.
NEVES, Cleiton Ricardo das; ALMEIDA, Amélia Cardoso de. A escrita literária pós-colonial
como uma perspectiva de descolonização cultural. Revista de Letras Dom Alberto, v. 1, p. 62-
72, 2013.
OLIVEIRA, Kiusam de. O mundo no Black Power de Tayó. Ilustrações de Taisa Borges. São
Paulo: Editora Peirópolis, 2013.
ROSA, Sonia. Maracatu. Ilustrações de Rosinha Campos. Rio de Janeiro: Editora Pallas,
2006.
ROSA, Sonia. Os tesouros de Monifa. Ilustrações de Rosinha. São Paulo: Editora Brinque-
Book, 2009.
ROSA, Sonia. Zum Zum Zumbiiiiiii. Ilustrações de Simone Matias. Rio de Janeiro: Editora
Pallas, 2016.
RÚBIA, Sinara. Alafiá, a princesa guerreira. Ilustrações de Valéria Felipe. Rio de Janeiro:
Nia Produções Literárias, 2019.
Resumo: Conceição Evaristo é uma escritora brasileira que publicou poesias, romances, contos e
ensaios. Os textos de Evaristo abordam a dor de ser mulher, de ser negra, em uma sociedade machista
e racista, assim como também traz a resistência e a esperança de dias melhores. Na coletânea de contos
Insubmissas lágrimas de mulheres, publicada em 2011, a autora traz contos com nomes de mulheres,
cujas narrativas possuem grande força, fortes sentimentos e relevam um retrato da realidade de muitas
mulheres na nossa sociedade. Nessa obra, diversas violências contra o corpo feminino negro se
evidenciam, representando a realidade social vivenciada por muitas mulheres em um mundo que,
mesmo com o avanço e as transformações em seus direitos, ainda sofrem diversas formas de opressão
ocasionadas por fatores interseccionais como raça, classe e gênero. Tendo isso em vista, este artigo
tem como objetivo analisar como a escritora Conceição Evaristo representa a violência contra as
mulheres em três contos: “Shirley Paixão”, “Natalina Soledade” e “Aramides Florença”. Para tanto,
esta pesquisa se pautou nos estudos de Munanga (2006), Bourdieu (2007), Oliveira (2016), entre
outros.
Palavras-chave: Literatura de autoria feminina negra. Conceição Evaristo. Violência contra a mulher.
1
Graduando de História – Unespar/campus de Campo Mourão. Bolsista Capes do programa de Iniciação
Cientifica. E-mail: yuri_juan3@hotmail.com.
2
Doutora em Letras, área de concentração: Estudos Literários - UEM. E-mail: mikardosoo@gmail.com.
3
Doutora em Letras (UEM). Docente adjunta do colegiado de Letras e do Programa de Pós Graduação em
Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD) da Unespar/campus de Campo Mourão. E-mail:
wilma.coqueiro@ies.unespar.edu.br.
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Considerações iniciais: a violência contra a mulher
É notório a luta empenhada das mulheres pelo direito de escrita e pela oportunidade de
visibilidade. Isso porque até o século XIX poucas eram as que tinham direito e condições para
estudar, escrever e publicar. E aquelas que conseguiam, geralmente utilizavam pseudônimos
para ocultar a autoria. Virgínia Wolf (1985), escritora britânica, em um ensaio publicado em
1929, aponta que a dificuldade da escrita de mulheres se deve, de maneira geral, à falta de
dinheiro e, também, de um “teto todo seu4”.
A dificuldade para a apropriação do espaço intelectual pelas mulheres dialoga com o
construto patriarcalista que submeteu às mulheres ao lugar de submissão. Esse sistema
colocava o homem como o dominante da mulher, sendo ele quem decidia seus papeis em
sociedade, seu casamento, sua vida. Aos homens eram dados atributos positivos, enquanto às
mulheres dava-se os negativos, o que manifestava as desigualdades culturais e históricas que
existem, ainda hoje, entre mulheres e homens.
Embora, contemporaneamente, esse sistema não perdure devido às lutas das mulheres,
dos movimentos feministas e das conquistas delas, ainda existem no imaginário social
resquícios patriarcalistas, que instaurou no construto social a mentalidade de que a mulher foi
feita para servir ao homem, e também que elas são menores que eles. O processo histórico
disso tudo naturalizou e consolidou os papeis de gênero que definem o lugar social de homem
e mulher: a esta é atribuída a submissão e a fragilidade, e àquele o poder e a força. E isso
também respalda muitas das violências que as mulheres sofrem.
A violência de gênero é entendida como uma ruptura da integridade da vítima, seja ela
de qualquer forma: psíquica, moral, sexual e/ou física. Embora a maioria das pessoas pensem
que a violência é somente a física, Pierre Bourdieu discute a violência simbólica, em seu livro
4
A obra Um teto todo seu, publicada em 1929, foi baseada em palestras proferidas por Virginia Woolf nas
faculdades de Newham e Girton, destinadas a um público feminino, em 1928. Na obra, um clássico da primeira
onda feminista, Virgínia analisa as condições sociais da mulher que incidem na escrita literária. Para ela, a falta
de recursos financeiros e de um lugar para escrever refletem substancialmente na escassez de obras publicadas
por mulheres até o início do século XX.
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A dominação masculina (1998), que elucida as relações de dominações que não se referem a
coerção física entre as pessoas, mas sim aquelas que causam danos psicológicos e morais.
Ambas as violências, físicas e simbólicas, vêm aumentando consideravelmente em
nosso país. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou dados em 2017 que mostram
que a cada onze minutos uma pessoa é estuprada no Brasil. Enquanto que a violência
doméstica, segundo a Procuradoria Especial da Mulher, em 2019, teve um aumento de 284%
de casos, em uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa DataSenado, junto do
Observatório da Mulher contra a Violência.
Agora considerando a condição da mulher negra, que é vítima tanto do seu gênero
quanto de raça e classe social, podemos compreender brevemente sua situação aqui no Brasil
pela fala de Luana Maria de Lima Oliveira, que, no site Blogueiras Feministas (2016, n.p),
afirma que “É difícil ser pessoa negra numa sociedade racista, é difícil ser mulher numa
sociedade machista. É quase impossível ser mulher negra num mundo de trabalho machista e
racista”. A fala de Oliveira representa a realidade da condição da mulher negra no Brasil.
Essa situação também pode ser observada no relatório organizado pela Ong Crioula,
que aponta a fria realidade em forma de números. Segundo o relatório, é observável que o
número de feminicídio de mulheres negras se elevou em 54% em uma década, diminuindo o
das mulheres brancas em 9,3%. Isso revela que a realidade das relações raciais trata a
democracia racial como uma camuflagem da crueldade vivida pelas mulheres negras. Elas
vivem em um mundo que, mesmo com o avanço e transformações nos direitos das mulheres,
ainda sofrem “dupla discriminação: ser mulher em uma sociedade machista, e ser negra numa
sociedade racista” (MUNANGA, 2006, p. 133).
Desse modo, muitas mulheres escritoras têm questionado as violências sofridas pelo
corpo feminino. Por exemplo, as escritoras de literatura têm representado personagens
femininas que sofrem diversas violências, denunciando uma realidade social e, também,
mostrando a força dessas mulheres. Por isso, este artigo tem como objetivo analisar como a
escritora Conceição Evaristo representa a violência contra as mulheres em três contos:
Conceição Evaristo é uma escritora brasileira que nasceu em Belo Horizonte. Ela
cursou Letras, se formou mestre em literatura brasileira e publicou poesias, romances, contos
e ensaios. Em sua dissertação de mestrado, Evaristo traz o termo escrevivência, que se refere
à produção de texto da vivência da própria pessoa. Os textos de Evaristo abordam a dor de ser
mulher, de ser negra, em uma sociedade machista e racista, assim como também representa a
resistência e a esperança de dias melhores.
Na coletânea de contos Insubmissas lágrimas de mulheres, a autora traz contos com
nomes de mulheres, cujas narrativas possuem grande força, fortes sentimentos e relevam um
retrato da realidade de muitas mulheres na nossa sociedade. No primeiro conto, “Aramides
Florença”, acompanhamos uma história que se inicia com uma narradora que chega na casa da
protagonista, responsável por contar parte do texto em terceira pessoa. Já a personagem que
leva o nome do conto, Aramides, assume a narrativa quando expressa sobre a violência
sofrida.
No início do conto, o enredo aborda o momento que a narradora e a protagonista se
encontram. Aramides está acompanhada do seu filho, enquanto que a narradora percebe a
felicidade da criança por estar longe do pai: “teria a criança tão novinha [...] rejubilado
também com a partida do pai? Só a mãe, a mulher sozinha, lhe bastava?” (EVARISTO, 2011,
p. 12). Percebemos, também, que a amamentação estreita os laços entre mãe e filho, algo que
antes não existia, isto é, a ausência de afetividade entre mãe e filho era provocada porquanto
“havia a figura do pai por perto” (EVARISTO, 2011, p. 12).
O conto continua mostrando o que aconteceu antes de o bebê nascer: um casal feliz
durante o namoro, com boa condição financeira, e ambos decidem preparar um lugar para
morarem juntos. Quando a mulher engravida de forma planejada, o marido reage com
Esse trecho denuncia a violência que muitas crianças sofrem na própria casa, por
aqueles que deveriam protegê-las, e, assim como no conto anterior, Evaristo coloca em cena,
novamente, a realidade de inúmeras crianças no mundo. Contudo, nesse caso, Shirley reage à
violência do marido e com uma barra de ferro o acerta: “Quando vi, o animal caiu estatelado
no chão” (EVARISTO, 2011, p. 30). Nesse momento, a cena desperta em Shirley lembranças
Considerações finais
BRANT, Jóice. Violência simbólica: uma reflexão acerca do Habitus docente. Lajeado:
Univates, 2014.
WOOLF, Virgínia. Um teto todo seu. Tradução Vera Ribeiro. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985.
Resumo: Este ensaio busca enfatizar a relevância do poeta Candiero no que concerne à literatura
afro-paranaense. Através do conceito de campo de Bourdieu (1983), partimos da premissa de que nada
contra a corrente do espaço social já estabelecido e reafirmado por autores brancos dentro do sistema
literário do Paraná. A construção do ser negro tem sido pautada em vários estudos, entre os quais
podemos citar Peles negras máscaras brancas (FANON, 2008) e Negritude: usos e sentidos
(MUNANGA, 1988). Ao longo de nossa reflexão, identificamos se e de que maneira Candiero pode,
através de sua escrita, furar a bolha da invisibilidade negra em um processo de coragem e de
conhecimento, conforme nossa análise da poesia “Batuques e Fandangos” (CANDIERO, 2013). Nos
resultados finais, destacamos a forma em que Candiero resgata a memória do negro paranaense
associada à sua experiência de vida, misturando a voz do eu-lírico com a voz do autor por trás dele.
Considerações iniciais
1
Graduada em História e Sociologia. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História da UNICENTRO
(Campus de Irati). E-mail: msr_historia@yahoo.com.br.
2
Doutor em Letras. Professor adjunto no Departamento de Letras da UNICENTRO (Campus de Irati). E-mail:
davisg@unicentro.br.
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branca (assim como acontece nos outros dois estados do Sul), o campo literário acabou por
muito tempo sendo reforço e reflexo desse estereótipo. Ainda que exista um esforço crescente
para alterar esse quadro, a verdade é que o reconhecimento e a representatividade de autores
negros ainda encontram percalços e dificuldades no estado.
Na memória histórica do Paraná e da cultura paranaense, seu registro fixado, repetido
e, muitas vezes, romantizado, lembra a imigração dos europeus e dos japoneses. Nesse
sentido, é importante refletir sobre o que está por trás dessa história oficial e as possíveis
razões de ela ser evocada com tanta frequência. Podemos citar, por exemplo, as festas típicas
ou festivais promovidos pelos municípios para celebrar ucranianos, poloneses, italianos,
alemães etc. Sem desmerecer os esforços para mostrar o papel exercido por essas imigrações e
a participação dos brancos na construção do estado paranaense, é inegável que a presença do
negro segue sendo ignorada ou, no máximo, vista e tratada por uma ótica generalista.
Os agentes que integram os campos não “nascem” nas posições que ocupam, sejam
elas centrais ou periféricas. Por isso, também é importante voltar nosso olhar para a trajetória
pessoal do autor que é nosso objeto de análise de modo a compreender sua posição no campo,
suas posições ético/políticas e os efeitos de sua obra. Assim, para analisar a questão do que é
ser negro, nos pautamos nos trabalhos de Franz Fanon (2008) e Kabengele Munanga (1988),
entre outros autores, de modo a estruturar essa temática como uma construção social. Mais
especificamente, analisamos nesse ensaio o poema “Batuques e Fandangos” (CANDIERO,
2013), presente na Revista AfroCuritiba, cujos versos podem ser considerados uma forma de
resistência e visibilidade do sujeito negro em terras paranaenses.
Nossa hipótese, nessa pesquisa, é a de que ainda persiste nos estudos universitários
paranaenses uma certa obsessão em tratar de elementos históricos ligados à cultura europeia,
em detrimento das contribuições culturais de matriz afrodescendente. Em 1960, o ex-
governador Bento Munhoz da Rocha Neto escreve um prefácio para uma prestigiosa coleção
3
Disponível em: https://twitter.com/rafaelgreca/status/1421077609018953728. Acesso em 03 de ago. 2022.
4
As Guerras de Palmares, Guerras do Brasil (Netflix, 2018).
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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escravidão era branda e, associada a ela, a suposição profundamente equivocada de que em
alguma região do país só existem brancos. O estudo Paraná Negro (GOMES JÚNIOR et al.,
2008), constata, a existência de 23% de negros e afrodescendentes atualmente no estado, que
também comporta noventa comunidades remanescentes de quilombo – trinta e seis das quais
são certificadas pela Fundação Cultural Palmares. A mancha loira do Brasil, portanto, só pode
ter sido descolorida. Ainda que o estado siga sendo considerado branco, europeu os dados
coletados pelos pesquisadores (GOMES JÚNIOR et al., 2008, p. 15) permitiram que, além do
Paraná ser reconhecido “[...] como de expressiva população negra, se descobrisse com uma
geografia na qual a existência de Comunidades Negras Tradicionais, de Comunidades
Remanescentes de Quilombos e de ‘Terras de Preto’ tivesse a dimensão que se constatou”.
5
Essa expressão é utilizada aqui para expressar os grupos de escritores mais reconhecidos, dentro do campo
literário paranaense, e não expressa um juízo de valor.
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histórica sobre o estado do Paraná que normalmente desconsidera o papel do negro. Como
sugere Dalton Aparecido Felipe (2018, p. 165) a memória negra “[...] não sumiu ou se
apagou, mas ficou residindo em espaços ou lugares de memórias, tradições e em espaços das
culturas não oficiais, esperando o momento que houvesse uma redistribuição das cartas
políticas ou de que o jogo da memória coletiva se reconfigurasse”.
As posições nos campos não são eternas e/ou imutáveis. Coerente com sua luta
simbólica no interior dos mesmos, elas estão sempre sujeitas a mudanças. Essas mudanças
podem advir de reconfigurações no interior dos campos ou de fatores externos a eles, de
ordem econômica, social, política etc. Nesse sentido, cumpre um importante papel a lei
10.639/20036, pois, a partir de uma decisão política, os autores negros puderam aumentar o
seu capital simbólico – com publicações e reconhecimento – e disputar por espaços menos
periféricos dentro do campo literário. O progressivo reconhecimento do poeta Zelador
Cultural Candiero, inclusive, pode estar associado a essa “redistribuição das cartas políticas”
(FELIPE, 2018, p. 165).
Nesse sentido, é necessário ressaltar a importância de lembrar não apenas de Helena
Kolody, Dalton Trevisan, Paulo Leminski, entre outros autores consagrados no campo
literário paranaense. Além deles, devemos lembrar, por exemplo, da poetisa negra Laura
Santos, da década de 50: “Dona de uma linguagem sensível [...], a ‘pérola negra’, como ficou
conhecida, fez uma poesia com alta carga erótica, elucidando o corpo como objeto da sua
própria linguagem” (ROCHA, 2021 s.p.). Além dela, também temos Maria Nicolas: “[...]
professora, escritora, poetisa, historiadora, contista, dramaturga, teatróloga, novelista,
biógrafa, pesquisadora e pintora, e uma amante de Curitiba” (RIBEIRO, VIEIRA, 2020, s.p).
Nicolas é a autora de livros como: Almas das ruas (1977), Porque me orgulho de minha
gente (1936) e Cem anos de vida parlamentar (1954). Ademais, o Paraná é também terra de
Emiliano Perneta, poeta simbolista, e, enfim, de Zelador Cultural Candiero, um negro de
origem humilde, “narrador” benjaminiano que experiencia a dupla dominação, de classe e de
6
Incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-
Brasileira”, além de instituir, no calendário escolar, o dia 20 de novembro (morte de Zumbi dos Palmares) como
“Dia da Consciência Negra”.
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raça/etnia. Sobre ele, Santos (2018, p. 9) afirma que “[...] como negro empoderado utiliza a
arte da palavra, a poesia, para conscientizar e instrumentalizar seus irmãos para a luta, para a
resistência com palavras, atitudes e ações contra a inviabilização imposta por um racismo
cordial”.
Frantz Fanon (2008, p. 15) sugere que “[...] os negros são construídos como negros”.
Parafraseando Simone de Beauvoir “não se nasce mulher, torna-se mulher”, isto é: “ser
mulher”, e “ser negro” são construções sociais. Nesse sentido, José D’ Assunção Barros
(2009, p.11), escreve:
Essa construção social foi elaborada com a ideia de uma superioridade branca,
enquanto o negro “torna-se, então, sinônimo de ser primitivo, inferior, dotado de uma
mentalidade pré-lógica” (MUNANGA,1988, p. 7). Sua condição de ser humano lhe foi tirada,
negada e “por mais dolorosa que possa ser esta constatação, somos obrigados a fazê-la: para o
negro, há apenas um destino. E ele é branco (FANON, 2008, p. 28). Tudo o que remete à
existência negra, seja sua cultura, sua religião, suas origens, é transformado de maneira
negativa. Para Munanga (1988, p. 7), “a desvalorização e a alienação do negro estende-se a
tudo aquilo que toca a ele: o continente, os países, as instituições, o corpo, a mente, a língua, a
música, a arte etc.” Essa ideia chega para o negro como negação de si e de tudo que
A Língua, que é nutrida por sensações, paixões e sonhos, aquela pela qual se
exprime a ternura e os espantos, a que contém, enfim, a maior carga afetiva,
é precisamente a menos valorizada. A língua do colonizado não possui
dignidade nenhuma no país e nos concertos dos povos. Se o negro quiser
obter uma colocação, conquistar um lugar, existir na cidade e no mundo,
deve, primeiramente, dominar a estranha, de seus senhores.
Para Barros (2009, p. 209) “seja nas Américas ou na África, a construção da ideia de
‘negro’ tem [...] uma história, na verdade muitas histórias – e aqui poderemos falar
metaforicamente em uma ‘construção social da cor’”. Apesar de toda a negatividade
construída em torno do que é ser negro, em qualquer parte do mundo onde tenha existido a
exploração do homem pelo homem, colocando o outro na condição de escravo, seja pela
justificativa geográfica, religiosa ou cientifica, o negro resistiu e assumiu sua negritude.
“Desde que era impossível livrar-me de um complexo inato, decidi me afirmar como Negro.
Uma vez que o outro hesitava em me reconhecer, só havia uma solução: fazer-me conhecer”
(FANON, 2008 p. 108). Afinal, “[...] identificar-se como negro (afirmar esta diferença) faz
parte de um gesto de libertação (de luta contra a desigualdade) ” (BARROS, 2009, p. 209).
Nesse esforço, a literatura assume papel decisivo. De acordo com Machado (2021, p.
27), por “reinventar a linguagem e reinventar os modos de interpretação da realidade [a
literatura] se tornará uma das bases para a construção e propagação de culturas em afro-
Ativista da causa negra, em seu blog7, o poeta que configura nosso objeto de análise é
apresentado da seguinte maneira: “o Candiero é Capoeira, Batuqueiro, idealizador do Centro
Cultural Humaitá8, atua como um ‘griô9 contemporâneo,’ contador das histórias da presença
negra em Curitiba, na Linha Preta Curitiba”. Estudante de Ciências Políticas, Candiero
também é músico e escritor, membro da Feira do Poeta e do Centro de Letras do Paraná e
proprietário da Editora Humaitá. Candiero também atua como Conselheiro Municipal e
Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e no Conselho Nacional de Políticas
Culturais, representando o Setorial de Culturas Afro-brasileiras no Conselho Pleno. Além
disso, o Centro Cultural Humaita já recebeu diversos prêmios e homenagens10 como:
7
Disponível em: https://sites.google.com/view/blog-do-candiero-biografia/biografia-candiero?authuser=1.
Acesso em: 03 de ago. 022.
8
O Centro Cultural Humaita é uma entidade sem fins lucrativos que atua desde 2006 para a valorização e
visibilidade da arte e da cultura afro em Curitiba e no Paraná. O Centro Cultural Humaita está registrado sob
CNPJ 2.499.427/0001-65 e possui Utilidade Pública Municipal e Estadual. Disponível em:
https://informativocentroculturalhumaita.wordpress.com/centroculturalhumaita/. Acesso em: 30 de ago. 2021.
9
Contadores de histórias de algumas tradições culturais africanas.
10
Informações disponíveis no site: Prêmios e títulos recebidos. Disponível em:
https://informativocentroculturalhumaita.wordpress.com/premios-e-titulos-recebidos/. Acesso em: 24 de jan.
2022.
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Cultura e Divulgação, da Câmara Municipal de Curitiba; Prêmio Juventude
Viva, do Ministério da Justiça; Prêmio Papa João Paulo II, da Câmara
Municipal de Curitiba; Conselheiros Municipais de Políticas para a Infância
e a Adolescência; Associação Literária Lapeana. (2015)
11
O termo paranista pode ser entendido não apenas como uma referência ao estado do Paraná, mas também
como referência a um movimento cultural/político, desenvolvido a partir das décadas de 1920/30 aqui no estado.
A intenção era construir uma identidade regional para o Paraná, tornado província em 1853 e ainda bastante
ligado ao estado de São Paulo, especialmente em sua parte norte. Contribuíram artistas, escultores, poetas,
intelectuais embora não tivesse “ ... a consistência de um manifesto, de uma escola ou de uma estruturação
teórica ou acadêmica”. Ver: https://docs.ufpr.br/~coorhis/kimvasco/paranismo.html.
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Ativista do movimento e guardião da memória do povo negro no estado do Paraná,
Candiero já concedeu diversas entrevistas, como: no Programa “Meu Paraná”, apresentado
pelo canal RPC, no dia 20/12/2014; à Rádio CBN Curitiba, no dia 20/11/20; e para a Rádio
Notícias, do canal Paraná Educativa, ligada a Secretaria da Comunicação Social, em 13 de
janeiro de 2020. No trabalho de conclusão de curso de Larisse Oliveira, intitulado Linha
Preta: análise sobre o roteiro negro e a invisibilidade curitibana (2018), ele explica todo
processo desde a gênese até a materialidade da “Linha Preta Curitiba”. Essa pesquisa acabou
virando um livro, lançado em 2021 pelo Editorial Casa. De acordo com Santos (2018, p. 171),
Segundo Natalia Apolonia Belino Bonfim da Silva (s.d., p. 25), “a poesia de Candiero
é de uma riqueza histórica imensa. Linguagem metafórica, dialógica, poeta, antepassados,
ancestralidade, conhecimentos científicos, tradições, cultura, povos africanos, resistência,
escravidão, lutas etc.”. Assim, toda sua trajetória de luta, de resistência, de militância, de
visibilidade afroparanaense talvez se traduza em sua própria poesia.
Batuques e Fandangos
Tendo sido sem proveito as providências policiais até agora dadas, para se
extirparem os batuques, que sem mais razão que a corrupção dos costumes,
se têm arraigado neste Povo, e que dão azo à perpetração de muitos delitos
que resultam da promiscuidade de ambos os sexos da classe imoral de
escravos, e libertos, que não fazem tais ajuntamentos senão dar pasto à
devassidão e a desordem da crápula, com ofensa manifesta da moral pública,
e tranquilidade dos Povos por isso provém – artigo primeiro – Que nenhum
indivíduo deste Município faça nem consinta fazer-se em sua Casa dentro
desta Vila, suas Freguesias, Capelas e seus subúrbios, ajuntamento para
batuques, sem prévia licença por escrito do respectivo Juiz de Paz (...) inda
em tais casos especificando em suas licenças, que os donos da casa em que
tais ajuntamentos tiverem lugar não consintam ai escravos de ambos os
sexos [...] (PARANÁ, 1993, p. 32)
Na sequência, temos a exaltação: “a tradição vibra pulsa... vinga”, que logo faz uma
referência à “Miguel, Rei Congo”, importante guardião da congada da Lapa12. Coroado Rei
junto de seu irmão, o embaixador Ney Manoel Ferreira, Mestre Miguel Ferreira, foi herdeiro
de uma tradição iniciada pelo seu bisavô, primeiro guardião do livro que descreve todo o
ritual da Congada. A própria história de como o livro chegou aos Campos Gerais é tão
folclórica quanto a narrativa apresentada pela Congada – e envolve um misterioso gaúcho que
teria a missão de espalhar o ritual no Sul do Brasil e encontrou na Lapa e na Família Ferreira
os receptáculos ideais para estabelecer a tradição. Cumprindo também papel auxiliar no
catolicismo popular, de acordo com Santos (2006, p. 4), “os Congos ou Congadas são
folguedos que comumente aparecem na forma de préstitos (cortejos), onde os participantes,
cantando e dançando, em festas religiosas ou profanas, homenageiam, de forma especial, São
Benedito”.
Com influências ibéricas no que diz respeito à religiosidade, a Congada reúne
elementos das tradições tribais de Angola e do Congo. Como explana Silva (2008, p. 12),
“esse fenômeno cultural é conhecido como sincretismo religioso: entidades dos cultos
africanos eram identificadas aos santos do catolicismo, Nossa Senhora do Rosário, São
Benedito e Santa Ifigênia”. O eu lírico ressalta, nos versos seguintes, que ela não está mais
proibida, “que já tá tudo legalizado” (CANDIERO, 2013, p. 26). As práticas culturais antes
12
Disponível em: https://www.comunicacao.pr.gov.br/Noticia/Morre-o-Mestre-Miguel-Ferreira-Rei-da-
Congada-da-Lapa-Ferreira. Acesso em: 05 de out. 2021.
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negadas, criminalizadas podem agora ser remendadas, costuradas, lembrando o apagamento
do negro no estado paranaense, que “quase matou nossa cultura” (CANDIERO, 2013, p. 32).
Em seguida, o eu lírico também vai fazer referência a outros nomes de destaque, como
a Dona Mide e o Mestre Inami, com o fandango. Cremildes Ferreira Bahr, mais conhecida
como Dona Mide é uma guardiã, há mais de cinquenta e um anos, da fandangueira, e se
orgulha de ter criado, há trinta e dois anos, o grupo de fandango “Meu Paraná”. Sobre ele,
“[...] entre as glórias consta ter feito uma turnê pela Europa nos anos 1990 e tido sede na
Bélgica” (FERNANDES, 2019, s.p.). Esse é o grupo de fandango que aparece na poesia, no
verso trinta e quatro: “Ahhh.... / Meu Paraná” (CANDIERO, 2013, p. 21). Acerca de Dona
Mide, para Fernandes (2019, s.p) “qualquer pesquisador que se aventure a contar a vida dos
negros no Paraná vai bater na porta dessa digníssima senhora”.
Na sequência, o poema diz que: “A Dona Mide também vou avisar / Pra ela preparar
os tamancos / O botar o barreado pra cozinhar / O fandango não é mais crime / E sim
patrimônio da cultura popular” (CANDIERO, 2013, p. 21). Neste momento, o eu lírico cita
uma parte da vestimenta, para quem dança o fandango: “os tamancos”, isso pois as batidas no
chão seguem o ritmo da música. Os tamancos são feitos da árvore de laranjeira, madeira
resistente e que não quebra na hora da sapateada. Ademais, o trecho também ressalta que o
fandango não é mais crime e sim cultura popular; e que o poder público há de conversar “e o
dialogo com os mestr@s / o governo tem que melhorar” (CANDIERO 2013, p. 21). Do verso
quarenta e dois até o quarenta e seis o eu lírico explica que: “Mestre Inami / Suas pesquisas
não foram em vão / Graças aos seus estudos / Todos saberão / Que o povo do Paraná produz
sabedoria” (CANDIERO 2013, p. 21).
Considerações finais
Referências
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Companhia das Letras, 1996.
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Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. 4 v.
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RANDO, José Augusto Gemba (org.). Fandango de Mutirão. Curitiba: Gráfica Mileart, 2003:
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ROCHA, Claudecir de Oliveira. Laura Santos e a arte do incontrolável desejo. Disponível em:
https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Laura-Santos-e-arte-do-incontrolavel-desejo#.
Acesso em: 02 de out. de 2021.
SANTOS, Romilda Oliveira Santos. Zelador Candiero, a poesia como forma de resistência. X
COPENE (congresso Brasileiro de Personalidades Negros) (Re) Existência Intelectual Negra
e Ancestral. 18 anos de enfrentamento. 12 a 17 de outubro 2018. Uberlândia-MG. Disponível
em:
https://www.copene2018.eventos.dype.com.br/resources/anais/8/1529549248_ARQUIVO_Z
ELADORCANDIEROARTIGO.pdf. Acesso em: 09 de set. de 2021.
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RAGGIO, Ana Zaiczuk, BLEY, Regina Bergamaschi, TRAUCZYNSKI, Silvia Cristina.
Abordagem histórica sobre a população negra no Estado do Paraná. V.2, Curitiba: SEJU,
2018.
SILVA, Wagner Aparecida da. Viva rei, viva rainha, viva também seu capitão. A família do
congado em Conselheiro Lafaiete MG. 2008. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós
Graduação em Educação, Arte e História da Cultura, Universidade Presbiteriana Mackenzie,
São Paulo, 2008.
Resumo: Este artigo apresenta uma análise da série dramática A Vida e a História de Madam C.J.
Walker, com base nos estudos de Stuart Hall (2008, 2016, 2020) e Bell Hooks (2018, 2019), sobre a
identidade da mulher negra, colorismo, feminismo negro e sexismo. A obra retrata a vida de Sarah
Breedlove, que ficou milionária através do comércio de produtos para cabelos negros femininos. Neste
trabalho, buscou-se compreender, por meio da produção audiovisual, do contexto histórico e dos
encadeamentos abordados na construção teórica, as implicações que o patriarcado e o racismo,
trouxeram à vida da personagem principal, e como esta buscou superá-las se colocando como
resistência e assumindo o lugar de protagonismo de sua própria narrativa.
Palavras-chave: A Vida e a História de Madam C.J. Walker. Identidade. Racismo. Cabelo Crespo.
Considerações iniciais
A série dramática A Vida e a História de Madam C.J. Walker é uma produção original
da plataforma de streaming Netflix que estreou em 2020, e conta a história da primeira mulher
americana a se tornar milionária de forma independente nos Estados Unidos. Sarah
Breedlove, filha de escravos, nascida após a abolição da escravidão nos Estados Unidos, ficou
conhecida como Madam C.J. Walker, devido ao nome de seu segundo marido, Charles Joseph
Walker, C.J., e construiu um império próspero através de produtos destinados aos cabelos
negros femininos.
A série será analisada a julgar pelo período em que é retratada, o período pós abolição
nos Estados Unidos, momento em que Sarah, assim como os outros negros, buscava ter uma
vida comum, porém ainda enfrentava inúmeros obstáculos para conquistar seu espaço, pois os
1
Engenheira Civil. Mestranda do Programa de Pós-graduação Sociedade e Desenvolvimento, Unespar Campus
de Campo Mourão – PR, E-mail: raema.eng@gmail.com.
2
Doutora em Estudos Literários (UEM). Docente adjunta do colegiado de Letras e do Programa de Pós
Graduação em Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD) da UNESPAR/campus de Campo Mourão. E-mail:
wilma.coqueiro@ies.unespar.edu.br.
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trabalhos que aceitavam negros ainda estavam relacionados ao trabalho braçal e do campo ou
com cuidados domésticos. A obra aborda, além da identidade da mulher negra, o racismo, o
colorismo, o feminismo negro e o sexismo, visto que Sarah enfrentou diversas adversidades
dentro da própria comunidade negra para se alicerçar como empresária por ser mulher e negra
retinta.
Nesse artigo, propomos, então, a partir de estudos teóricos de Stuart Hall (2008, 2016,
2020) e de Bell Hooks (2018, 2019), refletir sobre a representação identitária da mulher negra,
a partir da trajetória da protagonista da série, Sarah e sua luta pela representatividade da
mulher negra em uma sociedade extremamente racista.
Após a abolição da escravidão nos Estados Unidos, apesar da liberdade, os negros não
encontravam oportunidade de trabalho digno, e Sarah Breedlove, a Madam C.J. Walker, inicia
a série quando trabalhava lavando roupa para várias famílias, ganhando poucos centavos, que
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as vezes não pagavam nem suas despesas, e quando, por tantas dificuldades, seus cabelos
começam a cair, ela é abandonada por seu primeiro marido, Davis, ficando devastada. É
quando aparece Addie Munroe, uma negra de pele clara, que oferece seu novo produto
capilar, que faz com que os cabelos de Sarah cresçam novamente, assim como a sua
autoconfiança, levando-a a conhecer seu segundo marido C.J.
O produto faz tão bem à Sarah, que pede a Addie para se tornar uma de suas
vendedoras, pois sabe tudo sobre o produto; porém, seu pedido é negado. Sarah argumenta
que as vendedoras de Addie, que são mestiças, não trazem um retrato fiel de como o produto
funciona, pois os cabelos delas não são frutos do produto e sim do estupro de suas mães.
Contudo, Addie não aceita, dizendo que mesmo sabendo que é impossível, as mulheres negras
querem ser como ela, ou seja, por ter cabelos ondulados e pele clara, é muito próxima ao
padrão branco. Para Addie, Sarah estava destinada a continuar apenas como lavadora, pois a
imagem de uma negra retinta não poderia ser associada ao seu produto.
Essa recusa de Addie aborda o colorismo que, segundo Santana (2022), é uma das
faces do racismo e se manifesta pela obsessão pelo embranquecimento, pois a cor da pele é
sinônimo de poder, visto que quanto mais perto da tonalidade branca a cor do indivíduo, mais
aceito ele será. Consequentemente, quanto mais pigmentada for, maior será a sua exclusão.
Isso não significa que os negros de pele clara não sofrem racismo, porém conserva os
privilégios desses indivíduos e evita que pessoas negras se reconheçam como tais.
Dependendo da cor da pele ou de outros traços como a textura e cor do cabelo, o tamanho dos
lábios e nariz, o sujeito sofre maior ou menos preconceito e possibilidade de ascensão social.
Hall retrata que a identidade do sujeito pós-moderno “é definida historicamente, e não
biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades
que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente” (HALL, 2020, p.8); portanto, essa é a
identidade que melhor se adequa ao colorismo, às características que fazer ou não uma pessoa
ser negra.
O processo de embranquecimento da população negra foi muito incentivado pela
políticas eugenistas, para enaltecer a superioridade branca e, assim, definir os espaços que
Uma vez que nossa sociedade continua sendo primordialmente uma cultura
‘cristã’, multidões de pessoas continuam acreditando que Deus ordenou que
mulheres fossem, subordinadas aos homens no ambiente doméstico. Ainda
que multidões de mulheres tenham entrado no mercado de trabalho, ainda
que várias mulheres sejam chefes e arrimo de família, a noção da vida
doméstica que ainda domina o imaginário da nação é a de que a lógica da
dominação, masculina está intacta, seja o homem presente em casa ou não
(hooks, 2018, p. 18).
Sarah, então, é procurada por um agente funerário, o homem mais rico da cidade e que
fazia parte do grupo de investidores, porém, ao visitá-lo sozinha, porque diz que ninguém
representa a sua empresa tanto quanto ela, ela sofre uma tentativa de estupro, e é convencida a
não conversar sobre o assunto com seu marido. Esse assédio sofrido por ela, que somente
receberia apoio financeiro se mantivesse relações sexuais com ele, reforça que o patriarcado
vê as mulheres, em especial as negras devido à interseccionalidade de fatores como raça,
gênero e classe social, como objeto e moeda de troca, sendo reduzidas ao objetivo de
satisfazer os desejos masculinos, e como seres frágeis, inferiores, que precisam ser postas em
seu lugar de mulher.
Ainda com tantos obstáculos pelo simples fato de ser mulher, ela decide procurar
ajuda do negro mais famoso dos Estados Unidos na época, o primeiro a entrar na casa branca,
Booker T. Washington. Para isso, ela planeja encontrá-lo na Conferência Nacional de Negros
3 A letra minúscula do nome "bell hooks" tem o objetivo de dar enfoque à sua escrita e não à sua pessoa, não
ficando aprisionada a uma identidade especificamente, mas estando em constante movimento.
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nos Negócios, assim com o apoio dele, conseguiria outros investidores. Isso se deve à
perspectiva conceituada por Hall (2016), em que indivíduos que fazem parte de uma
comunidade, partilham dos mesmos componentes para dar sentido às representações:
Sarah é desencorajada a comparecer ao evento por seu marido, que diz que ela não
será ouvida, visto que as esposas apenas iam no evento para socializar na cozinha com outras
mulheres. Uma vez mais, é perceptível o lugar que ocupam homem e mulher, visto que elas
estão sempre subordinadas a eles no ambiente doméstico: eles com liberdade de fazer o que
desejar, enquanto a mulher deveria se acondicionar em uma posição inferior. Nesse caso,
Sarah, sendo mulher negra, é mais oprimida, pois, segundo hooks (2019), as mulheres estão
na base da pirâmide ocupacional e seu status social é inferior ao de qualquer outro grupo, ou
por outra, do homem e mulher brancos, e do homem negro, carregando consigo a carga da
opressão sexista, racista e de classe.
Sarah não se intimida e comparece à convenção; contudo, ela não consegue espaço
para falar com os homens; então, decide procurar a esposa de Booker T. Washington para que
esta o convença a apoiá-la. Esse pedido é prontamente negado, visto que Margaret
Washington faz questão de não se envolver nos negócios de seu marido, pois diz que ela tem
o seu negócio e ele o dele, reforçando que a mulher deve ocupar apenas o lugar de
subordinada ao homem.
Com tantas tentativas frustradas de contato com Washington, Sarah decide invadir o
palco de uma conferência em que ele está palestrando, para discursar sobre a geração de
empregos para negros, especialmente para mulheres, que, apesar de serem estudadas, políticas
O sexismo é mais uma vez abordado na série, principalmente pelo fato de o homem
negro sofrer opressão pelo racismo, e isso refletir na sua relação com as mulheres, em que é
necessário que ele se coloque eu um papel superior às elas, visto que ocupa um lugar inferior
aos brancos de ambos os gêneros. A mulher negra, então, se torna mais oprimida ainda, tanto
pela raça quanto pelo gênero. Entretanto, muitas delas ainda não entendiam a necessidade de
entender sobre a realidade que viviam, e o que deveria ser mudado.
Referências
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Mane Davis, Eric Oberland, Lena Cordina. Estados Unidos: Netflix, 2020. 3h10min, son.,
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HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Apicuri, 2016. 259 p.
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HOOKS, Bell. Teoria feminista: da margem ao centro. Tradução Rainer Patriota. São Paulo:
Perspectiva, 2019.
PEDROSO, Hillary Marnieri da Rosa Identidade de dentro pra fora: análise de relatos no
canal da youtuber Camilla de Lucas que falam sobre transição capilar. 2021. 97f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharel em Comunicação Social - Habilitação em Publicidade e
Propaganda) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2021.
Resumo: Pensar o lugar que hoje se encontra a mulher quilombola pelo viés da sociedade, é um tanto
quanto problemático, ao compreender que ser mulher, negra e quilombola traz o fardo de não ser
pertencente, no entanto, essas vozes reivindicam seu lugar por direito. Este trabalho tem como
objetivo dar voz àquelas que sempre tiveram voz, porém, poucos souberam ouvir, o silenciamento de
suas vozes faz parte do processo de apagamento das raízes afrodescendentes. Por se tratar de um
estudo bibliográfico, será utilizado como aporte teórico o livro Quilombolas do Tocantins: palavras e
olhares (2016), desenvolvido pela Defensoria Pública do Estado do Tocantins – DPETO e Mulheres
quilombolas: territórios de existências negras femininas, organizado por Selma Dealdina. Como
resultado, foi possível observar a necessidade de olhar mais sensível, mas que esteja alinhado a
necessidade que as mulheres quilombolas têm de que suas vozes possam ecoar por entre os muros
desta sociedade tão excludente.
Introdução
A obra de que tratamos neste trabalho é um livro em formato e-book produzido por
poetas quilombolas de diversas regiões do Estado do Tocantins como a Comunidade
Malhadinha, em Brejinho de Nazaré: Comunidade Povoado Prata, em São Félix do Tocantins;
Comunidade Lajeado, em Dianópolis; Comunidade Chapada da Natividade, na Chapada da
Natividade; Comunidade Prachata, em Esperantina; Comunidade Cocalinho, em Santa Fé do
Araguaia; Comunidade Carrapiché, em Esperantina; Comunidade Curralinho do Portal, em
Brejinho de Nazaré; e Comunidade Córrego Fundo, em Brejinho de Nazaré.
A construção do livro Quilombolas do Tocantins: palavras e olhares, não está
vinculada apenas à percepção individualizada de uma comunidade remanescente, mas busca,
coletivamente, trazer para sua narrativa o olhar das diversas comunidades negras do Estado.
Essas comunidades estão a lutar por seu lugar de direito e por manter viva suas histórias e
1
Mestre em Ensino de Língua e Literatura pela UFNT/PPGL. Docente da Educação Básica. E-mail:
patriciapkm@hotmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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tradições e deixar que o legado de seu povo permaneça resguardado no interior de seu
território e tenham a possibilidade de transmitir para todos aqueles que buscam olhar sem
cobiça ou destruição, que estão dispostos a conhecer e desfrutar de vivências, histórias e
saberes ancestrais, porém com respeito e sensibilidade.
Vimos que compreender um poema, por vezes, pode significar numa complexa
atividade, uma vez que interpretar sabiamente o pensamento de outrem não se torna uma
tarefa simples. No entanto, buscamos uma análise de alguns poemas quilombolas escritos por
mulheres quilombolas, por meio das reflexões de intelectuais negras para o corpo das análises,
possibilitando uma união de saberes. A partir da análise desses poemas, indo de encontro com
um olhar mais sensível, com a possibilidade de trazer a essência da resistência dos quilombos,
será possível uma melhor abordagem para o ensino da poesia quilombola.
As poesias aqui apresentadas fazem parte de um livro digital produzido em 2016, pela
DPAGRA – Defensoria Pública Agrária do Estado do Tocantins, no Concurso Cultural “Ser
Quilombola”, organizado por Pedro Alexandre Conceição Aires Gonçalves e Rose Dayanne
Santana Nogueira. O livro é composto por 17 poemas, escritos por membros das 12
comunidades quilombolas do Tocantins. Para a proposta deste trabalho, utilizaremos apenas
os poemas de autoria das mulheres quilombolas, como Amária de Sousa, Débora Lima e
Maria Aparecida de Sousa (2020) que explicam que: “Quando se fala em quilombo, pouco é
dito sobre as Mulheres Quilombolas, apesar de a maior parte dos quilombos ser liderada por
elas” (LIMA; SOUSA; SOUSA, 2020, p. 91). Não são grandes intelectuais ou renomadas
escritoras, mas possuem a força que vem da certeza de saber quem são, de onde vieram e para
onde estão indo. São mulheres que devem ser consideradas intelectuais de grande sabedoria,
pois, seus saberes ensinam muito mais do que muitos livros, tornam-se intelectuais pela
transgressão em falar.
Quando a gente anda por este Brasil afora e conhece os movimentos regionais, uma
coisa se evidencia com maior clareza: a presença crescente, e muitas vezes
majoritária do mulherio. E, ainda mais, dá pra perceber que as lideranças desses
movimentos, em muitos casos, é dela, mulher negra. O que não é de espantar, pois
enquanto setor mais explorado e oprimido, e consciente disso, ela vê muitas coisas
do sistema não só na sua estratégia de exploração dos trabalhadores, mas enquanto
organização racista e sexista (GONZALES, 2018, p. 115).
Quando Lélia Gonzalez (2018) fala da liderança da mulher negra, ela vai de encontro
ao papel que as mulheres quilombolas exercem dentro do quilombo e transmitem nas suas
escritas. E são responsáveis pela contrariedade do que a sociedade determina como uma
escrita de peso, pois são mulheres que lutam por seus espaços, territórios e pela sonhada
oportunidade de serem enxergadas com dignidade, respeito e afeto. Elas, dentro da escrita,
vestem-se de coragem, estão dispostas a lutar em favor de uma mudança social, cultural e
política:
Essas experiências comuns resultantes do lugar social que ocupam impedem que a
população negra acesse certos espaços. É aí que entendemos que é possível falar de
lugar de fala a partir do feminist standpoint: não poder acessar certos espaços
acarreta a não existência de produções e epistemologias desses grupos nesses
espaços; não poder estar de forma justa nas universidades, meios de comunicação,
política institucional, por exemplo, impossibilita que as vozes dos indivíduos desses
grupos sejam catalogadas, ouvidas, inclusive, até em relação a quem tem mais
acesso à internet. O falar não se restringe ao ato de emitir palavras, mas a poder
existir (RIBEIRO, 2019, p. 64).
A partir disso, iniciemos, com o poema de Dayana Rodrigues (2016) que faz parte da
Comunidade Malhadinha, em Brejinho de Nazaré, o poema “Meu Quilombo”: Fonte:
Quilombolas do Tocantins: palavras e olhares
Na escolinha da comunidade
Li livros que contam estórias
De palácios, reis e rainhas
De poesias de amor
Li até a canção do exílio
Que o poeta escreveu,
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá.
Poeta não conhece o meu quilombo
2
Na psiquiatria e na psicanálise, o termo narcisismo mostra a condição mórbida de um indivíduo que tem
interesse exagerado pelo seu próprio corpo.
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Atentando para isso, que a proposta aqui inserida, servirá para um novo olhar diante de
alguns estereótipos que ainda estão vinculados à população negra. Retornando a Fanon
(2008), que trata sobre o “esquema epidérmico racial” e como isso o afetava, porém, ele
percebe: “desde que era impossível livrar-me de um complexo inato, decidi me afirmar como
Negro. Uma vez que o outro hesitava em me reconhecer, só havia uma solução: fazer-me
conhecer” (FANON, 2008, p. 108). Ao trazer para o centro da discussão os poemas de
mulheres que não estão colocadas como prioridade no meio acadêmico ou na sociedade,
possibilitamos uma quebra de paradigmas, além de demonstrar que o quilombo pode falar por
si próprio, pois suas vozes têm o poder que precisam para quebrar todos os estereótipos e
muitas Mulheres Quilombolas se farão conhecer por meio da poesia.
Gabriela Pereira Silva (2016) da Comunidade Prachata, em Esperantina, revela-nos no
poema “Ser Quilombola”:
Poema composto por treze versos, com três estrofes, onde os versos soltos se unem
para contar a história do eu-lírico, que traz a construção de sua família, alicerçado as tradições
de seus antepassados. Pensar que, se hoje existem as comunidades quilombolas, é por muitos
que lutaram no passado, que tiveram que fugir da morte ou enfrentá-la e acabaram por
unirem-se nos quilombos. É desse povo que se precisa falar.
Da herança deixada para todo o povo quilombola em transmitir o que foi realizado por
eles. Quando Silva (2016) enfatiza que por causa dos seus antepassados e que hoje é uma
jovem quilombola, ela demonstra o orgulho que sente por ser herdeira de suas tradições e por
saber que são também suas as responsabilidades em continuar contando as histórias de sua
comunidade.
O quilombo remete à união, ao coletivo, a pensar num todo, nas histórias que se
entrelaçam para formar a completude que existe nas relações entre as pessoas que ali habitam.
Ao escutar as histórias que se passaram antes, que podem começar a se entender como
participantes daquela comunidade quilombola, se perceber como mais um responsável por
guardar os tesouros que são as tradições e as memórias, e saber carregar as marcar que
permanecem das histórias.
Questionamentos precisam ser realizados. Onde está a poesia que conta a respeito da
luta do negro. Que retira do quilombo o peso de ser apenas o lugar de refúgio de negros
fujões. Porque os livros só contam da beleza que o branco diz que é bela. Onde está escrito a
história de Maria Aranha, Dandara, Anastácia, Aqualtune, Tereza de Benguela e como foram
essenciais na luta pela liberdade de seu povo. Por essa razão, o “Poeta não conhece o meu
quilombo”. Construir um caminho que conduza a passagem de vozes vindas dos quilombos
para a educação é uma das propostas aqui defendidas, pois entender que, muitas vezes, essas
vozes não são consideradas e, por esse motivo, não estão nos ensinamentos escolares sobre
poesia. Evaristo (2017), em um trecho de seu poema “Do velho ao jovem”, diz:
Tudo aquilo que não é contado nas linhas dos livros (esses, que podem vir a queimar-
se ou ser esquecido pelo tempo), encontra-se na memória e na sabedoria de nossos velhos. E,
mesmo que venham a deixar-nos, seus registros permanecerão vivos e sendo transmitidos às
novas gerações. É valorizar a “Mulher cantando no pilão”, “O doce de buriti”, a “fé e
tradição” que muito existe no quilombo, ou a “folia e festa de São João”, ou “Domingas
rezadeira”; é ter a sensibilidade de reconhecer que, a partir da simplicidade dos
acontecimentos, que encontramos a grandeza dos gestos e afetos. Uma poesia que privilegia o
leitor, pois possibilita ir a lugares muitas vezes não habitados ou esquecidos da memória e
deixa conhecer as comunidades quilombolas a partir de dentro para fora.
A quebra do preconceito faz parte de um processo de resistência que há muito tempo
as comunidades quilombolas necessitam enfrentar, mas, por vezes, encontram-se sozinhas
nesta batalha. Ana Maria Martins Queiroz (2012) aponta que “os processos de constituição
dos territórios quilombolas revelam a busca, por parte dos povos negros, por uma cidadania
que jamais foi possível para esse grupo étnico-racial” (QUEIROZ, 2012, p. 98). A
importância do território é fundamental para a continuação das manifestações da cultura
quilombola, que “ao buscar o reconhecimento como território quilombola, o negro está, de
certa maneira, tentando encontrar meios que lhe permita reconstituir sua história a partir de si
mesmo” (QUEIROZ, 2012, p. 99-100). Não como algo estanque, mas que se modifica
conforme as identidades de seus habitantes. Ter um território demarcado e protegido reforça o
pertencimento identitário e cultural dos quilombolas. Como Selma Dealdina (2020) diz:
A educação pode não ser a solução de todos os problemas sociais, mas é o ponto de
início para a compreensão da forma como somos vistos pelo mundo. A Lei 10.639/03,
possibilitou o início de mudanças, principalmente, aquelas voltadas para a educação com
relação a inserção do quilombola nas escolas, nas universidades e nos materiais didáticos que
tratem sobre a história e cultura afro-brasileira, mas ainda existe uma longa batalha para que
essas comunidades tenham a oportunidade de usufruir de uma educação de qualidade. E um
dos objetivos para o reconhecimento do território quilombola é exatamente pela possibilidade
em ter uma escola na comunidade voltada para seus anseios sociais, culturais, históricos etc.
O contato do quilombola, com o mundo de fora do quilombo pode ser arriscado,
levando em consideração que há o olhar para o “novo”, o afastamento de suas raízes e uma
ligação com a cultura do “outro”. Tudo isso pode causar a negação de sua identidade
quilombola. Quando o quilombola está em sua comunidade, há um acolhimento, pois todos
lutam igualmente e buscam manter viva a história de seu povo, mas, a partir do momento que
ele sai, muitas vezes, é conduzido a esquecer da sua luta, o que ocasiona o apagamento da
história do quilombo, pois os jovens são os responsáveis por perpetuá-la. Não estamos
O poema está composto por nove versos e quatro estrofes, em versos soltos. Nogueira
(2016) externa primorosamente o quanto é essencial defender seus princípios, afirmar-se
identitáriamente em qualquer lugar, “porque o rosto de um é reflexo do outro, o corpo de um é
reflexo do outro e cada um o reflexo de todos os corpos” (NASCIMENTO, 1989). O espírito
da coletividade rege o quilombo, assim como o significado de “ubuntu”, palavra africana que
revela que “eu sou porque nós somos”, ou seja, no quilombo não existe apenas o “eu”, mas o
“nós”. Então, onde quer que se esteja, o quilombo estará presente, “quilombo é o espaço que
ocupamos. Quilombo somos nós.” (NASCIMENTO, 2021, p. 162).
Não existe vitória sem luta e o povo quilombola sempre lutou e acreditou que um dia
venceria, mesmo em batalhas injustas. Ser descendente daqueles que enfrentaram chicotes,
grilhões, capitães do mato, tumbeiros, mostra que é através do sangue que predomina a
herança genética da resistência. Como bem diz Paulo Freire, o quilombo é primeiramente um
Essa afirmação racial e cultural está descrita nos versos de Rosâna Pereira de Souza
(2016), da Comunidade Cocalinho, em Santa Fé do Araguaia, em seu poema “Ser
Quilombola”, descreve a alegria de suas origens:
Há uma forte simbologia nos versos desse poema, que remete a um lugar de
aconchego, de cuidado, de sabedoria, de simplicidade e do sagrado. Está poeta transporta o
leitor para o colo da avó, para as histórias contadas na infância, para os remédios caseiros,
para as rezas que são herança dos povos africanos e permanecem vivas no dia a dia. Os negros
escravizados foram retirados de sua terra e colocados num lugar que não desejavam, e isso
nos faz refletir sobre o processo de plantar, de como essas pessoas foram plantadas numa terra
ruim, mas, mesmo assim, souberam florescer e dar frutos.
Compreender que não necessitam de muito, de grandes riquezas, para enxergar a
grandeza de singelos momentos, o ato de iluminar para ouvir sobre o brilho que existe na voz
dos “doutores” do quilombo. Esses versos despertam os cinco sentidos, “visão, audição,
paladar, olfato e tato”, ao trazem as memórias sensoriais, contribuem para o despertar da
conscientização e da preservação de tais conhecimentos e emoções.
Ainda, o poema deixa ver que respeitar a terra que lhes dá o sustento e que habitam,
faz parte dos maiores ensinamentos do quilombo, pois “as comunidades quilombolas assume
formas próprias de organização, que remontam a uma ancestralidade de povos africanos (...)
Os povos tradicionais têm insistido e resistido. Na sua luta pela terra têm preservado
suas culturas, seus direitos e seus territórios. Ao mesmo tempo que o conhecimento
tradicional aspira à simplicidade e à generalidade, há nele uma sabedoria profunda
atenta ao detalhe e à singularidade de cada experiência. [...] essas formas de cultivo
geram uma produção diversificada, garantindo às famílias uma alimentação saudável
e uma renda importante proveniente de comercialização e troca, fomentando a
economia solidária (ALMEIDA, 2020, p. 154).
Ora, na medida em que nós negros estamos na lata de lixo da sociedade brasileira,
pois assim o determina a lógica da dominação [...] E o risco que assumimos aqui é o
do ato de falar com todas as implicações. Exatamente porque temos sido falados,
infantilizados (infans, é aquele que não tem fala própria, é a criança que se fala na
terceira pessoa, porque falada pelos adultos), que neste trabalho assumimos nossa
própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa (GONZALEZ, 1984, p. 225).
Conclusão
Quando bell hooks pontua sobre a necessidade das mulheres negras em falar, ela está
empenhada em contribuir para uma mudança de perspectiva, tendo em vista que o caminho da
Como constatado por bell hooks (1995), resistir é um dos principais caminhos para as
mulheres negras, assim como nos dizem e fazem Lélia Gonzales, Conceição Evaristo, Djamila
Ribeiro, Angela Davis, Grada Kilomba, entre tantas outras intelectuais que estão inseridas
neste trabalho. Como as protagonistas poetas quilombolas, elas utilizam-se da resistência para
escrever, para falar de seu lugar e do espaço que lhes pertence como moradia, mas
principalmente, como lugar de existência. Ainda refletindo sobre o silenciamento das
mulheres negras, bell hooks (2019), evidencia que:
Hoje, quando reflito sobre os silêncios, as vozes que não são ouvidas, as vozes
daqueles indivíduos feridos e/ou oprimidos que não falam ou escrevem, contemplo
os atos de perseguição, tortura — o terrorismo que subjuga, que torna a criatividade
impossível. Escrevo estas palavras para serem testemunhas da primazia da luta de
resistência em qualquer situação de dominação (mesmo dentro da vida familiar); da
força e do poder que emergem da resistência constante e da profunda convicção de
que essas forças podem ser curativas, podem nos proteger da desumanização e do
desespero (HOOKS, 2019, p. 32, grifo nosso).
Referências
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução Renato da Silveira. Salvador:
EDUFBA, 2008.
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97
FREIRE, Paulo. Ensinar, aprendendo. O Comunitário. Campinas, v. 6, n. 38, mar. de 1994, p.
6-9.
GONZALEZ, Lélia. Lélia Gonzalez: primavera para as rosas negras. São Paulo: UCPA Edi-
tora, 2018.
HOOKS, bell. Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra. Tradução de Cátia
Bocaiuva Maringolo. São Paulo: Elefante, 2019. 380 p.
RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. 112p.
SANTOS, Andreia Nazareno dos. Mulher quilombola em primeira pessoa. In: Mulher
quilombola: territórios de existências negras femininas. (org.) Selma dos Santos Dealdina.
São Paulo: Sueli Carneiro: Jandaíra, 2020. 168 p.
Resumo: O presente artigo busca abordar a WebQuest como problematizadora das questões de
gênero e raça na formação docente e é oriundo do recorte de uma pesquisa de iniciação científica que
objetivou analisar como as tecnologias digitais, e de modo específico a WebQuest (WQ) enquanto
ferramenta educacional, podem contribuir para a formação inicial e continuada de estudantes, no que
se refere às discussões de direitos humanos. Para tanto, problematizamos como e de que maneira a
WQ enquanto ferramenta educacional pode contribuir para a formação inicial e continuada de
estudantes no que se refere às discussões de gênero, raça e direitos humanos? A metodologia utilizada
no desenvolvimento pode ser denominada como o Estudo de Caso, articulada à pesquisa bibliográfica,
de forma a alcançar o aprofundamento e a ampliação dos pressupostos teóricos de autorias que
discutem a temática e objeto de estudo, para o que foi necessário realizar um mapeamento de textos
que tratassem dos temas direitos humanos, gênero, e novas tecnologias de forma conjunta. Assim
partindo destas teorizações, realizamos a análise de seis WQ, produzidas por estudantes do Terceiro
Ano de Pedagogia na disciplina de Educação em Direitos Humanos. Apresentamos, neste artigo, uma
síntese de duas WQ que abordam a temática do direito das pessoas negras, e direito das mulheres.
Desse modo, foi possível concluir o uso da metodologia WQ como uma estratégia possível e válida
para a abordagem de gênero, raça e direitos humanos dentro das práticas pedagógicas.
1
Graduanda em Pedagogia na Universidade Estadual do Paraná- Campus de Campo Mourão. Projeto de
Iniciação Científica, Fundação Araucária. E-mail: brunaagostinis22@gmail.com.
2
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, PR. Docente do Colegiado de
Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD),
Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus de Campo Mourão. E-mail:
fabiane.freire@unespar.edu.br.
3
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, PR. Docente do Colegiado de
Pedagogia, Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus de Campo Mourão,. E-mail:
suzana.morgado@unespar.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
99
(Audre Lorde)
Introdução
Desse modo é notável a relevância da WQ, por ser uma metodologia que estimula a
pesquisa, o pensamento crítico, o desenvolvimento da formação docente, a produção de
material e a construção de conhecimento por parte dos alunos (PIMENTEL, 2015).
Diante dessas considerações, as análises das WQ que realizamos, que abordavam
temáticas como Direito das mulheres, das pessoas negras, crianças, indígenas, idosos e a
população LGBTQIA+, contribuíram para compreendermos que a implementação da
educação para novas tecnologias ou tecnologias digitais voltada a uma Educação em Direitos
Humanos pode ser um material profícuo para as discussões de temas contemporâneos como
gênero e diversidade e um dos caminhos para assegurar uma formação crítica e criativa em
cursos de formação inicial e continuada.
Assim, constatamos nas WQ a possibilidade de uma organização e mediação didática
para o acesso a conteúdo sistematizado, com sugestões de literaturas e práticas educativas
sobre direitos humanos e que podem ser expandidos a outros conteúdos, mediante a
intencionalidade dos/as proponentes. Com isso, buscamos apresentar uma síntese de duas WQ
que abordam a temática de gênero e raça, a fim de elucidar a possibilidade da utilização da
WQ no âmbito educacional de formação inicial e continuada.
A WQ enegrecer
Fonte: https://sites.google.com/view/enegrecer/in%C3%ADcio?authuser=0
Nesse contexto, Louro (1997) elucida que é possível pensar as identidades de gênero
de modo semelhante: elas também estão continuamente se construindo e se transformando.
Em suas relações sociais, perpassada por diferentes discursos, símbolos, representações e
práticas, os sujeitos vão se construindo como masculinos ou femininos, arranjando e
desarranjando seus lugares sociais, suas disposições, suas formas de ser e de estar no mundo.
Essas construções e esses arranjos são sempre transitórios, transformando-se não apenas ao
longo do tempo, historicamente, como também se transformando na articulação com as
histórias pessoais, as identidades sexuais, étnicas, de raça, de classe (LOURO, 1997).
Tratar gênero e raça, atualmente articulado a tecnologia, pode ser considerado como
fundamental, visto que, as tecnologias circundam e está presente em todos os meios na
sociedade, assim como a internet, sendo um meio rápido de consumir e produzir conteúdo. Ou
seja, conciliar a tecnologia de forma que contribua na formação de professores, tratando de
assuntos necessários e relevantes, possibilitará uma formação de professores, com olhares
voltados a equidade, justiça, liberdade e direitos, consequentemente, será refletido na escola,
contribuindo para que os discursos preconceituosos e conservadores não ganhem forças, não
sejam produzidos, e disseminados.
Entende-se a importância de “Educar em direitos humanos e para que as relações de
gênero sejam equitativas é um processo lento, constante, que deve permanecer por toda a vida
dos seres humanos.” (MACIEL, 2016, p.141). Desse modo, pode-se concluir que o objetivo
de tratar sobre direitos humanos, e principalmente no contexto de direito das mulheres e das
pessoas negras, o intuito surge como forma de tornar toda e qualquer relação justa assim
como Maciel destaca:
No sentido de destacar estudos que foram e vem sendo realizados por autores/as
acerca desta temática, a presente pesquisa evidencia, assim como Candau (2012), que a luta
pelos direitos humanos tem estado protagonizada pela busca da afirmação do reconhecimento
das diferenças e as condições de igualdade entre todos os seres humanos.
Considerações finais
BATISTA, Ingrit Yasmin Oliveira da Silva, FRANÇA, Fabiane Freire, FELIPE, Delton
Aparecido. Representações de crianças sobre a população negra: contação de histórias em
uma escola municipal do estado do Paraná. Revista da Associação Brasileira de
Pesquisadores/as Negros/as, v. 10, p. 335-354, 2018.
DODGE, B. Webquest: uma técnica para aprendizagem na rede internet. The Distance
Educator, V.1, nº 2, 1995.
FRANÇA, Fabiane Freire; COSTA Maria Luisa Furlan; SANTOS, Renata Oliveira dos. As
novas tecnologias de informação e comunicação no contexto educacional das políticas
públicas: possibilidades de luta e resistência. Educação Temática Digital. Ed. 3, v. 21, p.
645-661.
2019.
GOMES, Nilma Lino. Educação, raça e gênero: relações imersas na alteridade. Cadernos
Pagu, [S. l.], n. 6/7, p. 67–82, 2010. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1862. Acesso em: 11
jul. 2022.
LOURO, Guacira. Corpo, escola e identidade. Educação & Realidade, Porto Alegre, v.
25(2):59-76, 'jul./dez. 2000.
OLIVEIRA, Rosa Maria Rodrigues de. Gênero, diversidade sexual e direitos humanos. In:
RIFIOTIS, Theophilos; RODRIGUES, Tiago Hyra. Educação em direitos humanos: discursos
críticos e temas contemporâneos. Florianópolis: UFSC, p.199-220, 2011.
ROSSI, Jean Pablo Guimarães; FRANÇA, Fabiane Freire. “Gênero e diversidade na escola”:
uma proposta de WebQuest como subsídio para discussões de gênero no espaço escolar.
Educa Online, v. 14, n. 3, p. 50-80, set/dez. 2020.
Resumo Neste artigo propomos uma análise a respeito da violência presente no conto intitulado
“Maria”, que integra a obra Olhos D'água, publicada originalmente em 2014, pela escritora Conceição
Evaristo, a partir dos estudos sobre a interseccionalidade de raça, gênero e classe. O conto narra a
trajetória da personagem feminina negra Maria, uma empregada doméstica e mãe solo, que enfrentava
diversas dificuldades para cuidar dos filhos. Nesse sentido, a narrativa versa acerca das várias
opressões que Maria vivencia, até o ponto em que é “linchada” dentro de um ônibus, sofrendo de uma
cruel violência por ser mulher pobre e negra. Para isso, buscamos nos pautar no aporte teórico dos
Estudos Culturais e da Crítica feminista, de autores/as como, entre outros, Cuti (2010), Brah e Phoenix
(2017), Melo e Thomé (2018), Gonzales (2018, 2020), Akotirene (2020), Silva (2019) e Ribeiro
(2018, 2019).
1
Mestranda do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD). Graduada
em Letras Português/Inglês pela Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). E-mail:
danielicassiasantos@gmail.com.
2
Doutora em Letras/área de concentração em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Maringá, PR. Docente adjunta do colegiado de Letras e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar
Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD), Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus de Campo
Mourão. E-mail: wilma.coqueiro@ies.unespar.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
114
na violência em relação à figura Femina negra. Porém, antes de discutirmos o surgimento do
feminismo interseccional, iremos apresentar, de forma breve, um pouco do movimento
feminista em âmbito geral e, em seguida, adentraremos nas reflexões acerca do conto
denominado “Maria”, que integra a coletânea Olhos D’ água (2014), da escritora negra
Conceição Evaristo.
Ao longo dos séculos, as mulheres foram caracterizadas como inferiores e proibidas de
atuarem na sociedade de forma efetiva. Dessa maneira, a elas foram negados direitos
fundamentais, além de os grandes papéis de chefia, e de participação na vida social,
econômica e política; porém, a partir de muitos embates e lutas, as mulheres têm conseguido
galgar espaços nas relações de poder, tudo isso, graças aos movimentos feministas embasados
em teorias que fundamentam e discutem as dominações patriarcais e as condições de
submissão impostas a essa categoria.
De acordo com Silva (2019), o termo feminismo trata-se de uma luta política,
intelectual e filosófica que busca desconstruir com os "padrões sociais” que reproduzem os
ciclos de opressões que cerceiam a figura feminina de vivenciar a sua liberdade de escolha e
os direitos humanos. Frente a isso, podemos destacar alguns marcos históricos que
contribuíram para fomentar as reivindicações feministas; cabe frisar que cada acontecimento
ou “cada onda feminista tem suas particularidades — bem como mulheres protagonistas de
cada um desses momentos — assim como apresentavam demandas principais distintas”
(SILVA, 2019, p.6).
Para Silva (2019), a “primeira onda” feminista relaciona-se com o Movimento
Sufragista, que ocorreu entre a transição do século XIX para o século XX, nos Estados Unidos
e no Reino Unido. A pauta que marcou esse período foi a luta por direitos civis e políticos, já
consolidados aos homens. A “segunda onda”, para a autora, surgiu na década de 1950, após a
publicação do livro O segundo sexo, de Simone de Beauvoir. É nessa fase que temos a
distinção entre os conceitos de “gênero” (passa a ser relacionado com as convenções sociais,
históricas e culturais) e “sexo” (passa a ser oriundo da biologia). Em relação à “terceira onda”
do feminismo, Silva (2019) afirma que após as transformações da Guerra Fria, nas décadas de
Além disso, o padrão colonial ora elege as mulheres negras como dirigentes
do tráfico de drogas, ora homicidas de companheiros violentos, quando não,
pactuam as coações impostas por filhos e maridos encarcerados para que
mulheres negras transportam drogas até o sistema prisional, uma faceta
hedionda punitivista das mulheres negras (AKOTIRENE, 2019, p. 55).
[...] havia tido festa na casa da patroa. Ela levava para casa os restos. O osso
do pernil e as frutas que tinham enfeitado a mesa. Ganhara as frutas e
gorjetas. O osso, a patroa iam jogar fora [...] É. Ela teve mais dois filhos,
mas não tinha ninguém também. Ficava, apenas de vez em quando, com um
ou outro homem (EVARISTO, 2014, p. 39-40).
Por conseguinte, Ribeiro (2019) promove uma exímia reflexão acerca da definição da
expressão “lugar de fala”, ou seja, “de que ponto as pessoas partem para pensar e existir no
mundo, de acordo com as suas experiências em comum” (RIBEIRO, 2019, p. 14). Em outras
palavras, cada pessoa constrói o seu discurso a partir das ideologias que permeiam o grupo
social ao qual pertence. Diante disso, consoante à fala de Djamila Ribeiro, Monteiro e
Mercher (2020) postulam que compreender o “lugar de fala” de onde as pessoas partem,
significa tornar visível a luta desses indivíduos, além de possibilitar a erradicação dos
universalismos. Com efeito, para eles, o feminismo interseccional seria um caminho possível
para isso. Desse modo, são pertinentes as considerações de Cuti4 (2010) de que a literatura
apresenta uma função relevante para combater o racismo, pois quando é produzida por autores
“negro-brasileiros”, possui a visão de indivíduos que passaram por situações discriminatórias
e racistas, o que possibilita um relato mais fidedigno dessa realidade, contribuindo para um
movimento de resistência.
Ao lermos o conto, podemos identificar como a questão de gênero perpassa a obra, ou
seja, a protagonista questiona-se acerca do modo de vida masculino, desprovido de tantas
responsabilidades “entendidas” como unicamente femininas, por exemplo, a de educar os
4
Pseudônimo de Luiz silva, dramaturgo, crítico literário e também criado dos “Cadernos Negros”.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
123
filhos, tal qual podemos observar no seguinte trecho: “E veja só, homens também! Homens
também? Eles haveriam de ter outra vida. Como eles tudo haveria de ser diferente”
(EVARISTO, 2014, p. 40). Todavia, mesmo apresentando uma perspectiva feminista em sua
obra, Conceição Evaristo não deixa de humanizar seus personagens masculinos, pois
compreende que eles também são assolados pelos fatores de classe e raça, como acontece
como o ex-companheiro de Maria que, apesar de cometer crimes, detinha carinho pelo filho,
como podemos observar no excerto: “Ele estava dizendo de dor, de prazer, de alegria, de
filho, de vida, de morte, de despedida” (EVARISTO, 2014, p. 41). A respeito dessa
peculiaridade da literatura negra, Cuti, em sua obra Literatura negro-brasileira (2010),
ressalta a importância da construção de personagens negros “complexos” e humanizados, sem
a necessidade de ponderarem entre os polos do bem ou do mal, já que essa dicotomia só
minimiza a profundidade de suas relações sociais.
A escritora Conceição Evaristo utiliza em suas obras uma linguagem poética e ao
mesmo tempo coloquial. A primeira, é possível de ser observada, por meio, das metáforas e
repetições presentes no conto, como no fragmento: “faca a laser corta até a vida”; frase que
aparece cerca de três vezes, e antecipa o final trágico da protagonista. Outro exemplo de sua
linguagem poetizada pode ser identificado na junção de palavras, criando-se assim um
vocábulo, por exemplo, na expressão: “buraco-saudade”. Já a segunda, marcada pela
linguagem oral, representa os falantes que vivem à margem da sociedade, em favelas e
barracos; ao realizar esse movimento, Conceição não os desprestigia, mas traz à tona o
protagonismo desse grupo social. Podemos observar alguns resquícios da oralidade no trecho
a seguir, na medida em que há o uso excessivo de pontos finais para marcar pausas, o recurso
estilístico nos proporciona uma maior dramaticidade da cena descrita:
Maria estava com muito medo. Não dos assaltantes. Não da morte. Sim da
vida. Tinha três filhos. O mais velho, com onze anos, era filho daquele
homem que estava ali na frente com uma arma na mão. [...] O medo da vida
em Maria ia aumentando. Meu Deus, como seria a vida dos filhos?
(EVARISTO, 2014, p. 41).
foi quando uma voz acordou a coragem dos demais. Alguém gritou que
aquela puta safada lá da frente conhecia os assaltantes. Maria se assustou.
Ela não conhecia assaltante algum. Conhecia o pai de seu primeiro filho.
Conhecia o homem que tinha sido dela e que ela ainda amava tanto. Ouviu
uma voz: Negra safada, vai ver, ver que estava de coleio com os dois. [...]
Mentira, eu não fui e não sei por quê. Maria olhou na direção de onde vinha
a voz e viu um rapazinho negro e magro, com feições de menino que
relembravam vagamente o seu filho (EVARISTO, 2014, p. 41-42, grifos da
autora).
A personagem Maria sofreu uma maior retaliação, por ser uma mulher negra e pobre,
moradora de uma periferia urbana. Assim, podemos inferir o peso desses fatores sobre a
protagonista, por meio da caracterização que os outros passageiros do ônibus fazem dela, isto
é, a chamam de forma pejorativa de “negra safada”. Dessa maneira, “o preconceito racial e de
gênero são preponderantes para a avaliação prévia de alguém” (CUTI, 2010, p. 24); destarte, a
partir do dizer de Cuti, podemos observar a relevância de se romper com esses estereótipos
ligados às questões raciais, sociais e de gênero, ao passo de que causam danos nocivos para
com as suas vítimas, como ocorre com Maria que é brutalmente morta por esse julgamento
superficial, cruel e injusto.
A violência sofrida por Maria, como ocorre com tantas mulheres negras e pobres reais
das periferias urbanas, nos mostra como a sociedade tende a acusar e a marginalizar um
determinado grupo social, a fim de tornar legítimos atos brutais e animalescos. A morte da
protagonista, que é “linchada”, ou seja, agredida até o último suspiro, nos evoca a trajetória de
muitas mulheres negras que são assassinadas por motivos banais, apenas por serem associadas
a um imaginário construído pelo patriarcado: de que mulheres não podem serem livres e
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125
detentoras de algum poder. De fato, podemos perceber isso, por meio dos adjetivos de carga
negativa que são dirigidos à personagem como: “safada”, “puta” e “atrevida”. O discurso
masculino utiliza-se dessa justificativa para legitimar a agressão sofrida pela protagonista,
como no trecho: “Olha só, a negra ainda é atrevida'', disse o homem, lascando um tapa no
rosto da mulher” (EVARISTO, 2014, p. 42, grifos da autora). Podemos observar em alguns
excertos do conto a presença da técnica narrativa denominada fluxo de consciência, isto é,
quando não conseguimos separar as falas de alguns personagens, pois encontram-se
mescladas. No trecho a seguir, há momentos em que não conseguimos diferenciar o discurso
do narrador e da personagem. Como podemos observar no fragmento a seguir:
[...] Aquela puta, aquela negra safada estava com os ladrões! O dono da voz
levantou e se encaminhou em direção à Maria. A mulher teve medo e raiva.
Que merda! Não conhecia assaltante algum. Não devia satisfação a ninguém.
Olha só, a negra ainda é atrevida, disse o homem, lascando um tapa no
rosto da mulher. Alguém gritou: Lincha! Lincha! Lincha!... Uns passageiros
desceram e outros voaram em direção à Maria. O motorista tinha parado o
ônibus para defender a passageira. [...] Lincha! Lincha! Lincha! Maria punha
sangue pela boca, pelo nariz e pelos ouvidos. A sacola havia arrebentado e
as frutas rolavam pelo chão. Será que os meninos iriam gostar de
melão? Estavam todos armados com facas a laser que cortam até a vida.
Quando o ônibus esvaziou, quando chegou a polícia, o corpo da mulher
estava todo dilacerado, todo pisoteado (EVARISTO, 2014, p. 42, grifos da
autora).
A única pessoa que tentou ajudar a mulher foi o motorista do ônibus, posto que o
restante dos passageiros gritava para que ela fosse “linchada”, ou a ignorava. A partir desse
ponto, podemos inferir a presença do racismo estrutural e da omissão das práticas racistas,
falseando a sua existência na sociedade. Diante disso, a personagem feminina foi vítima da
violência a partir de fatores que interseccionam classe, gênero e raça. Desse modo, o conceito
de interseccionalidade, discutido anteriormente, está intrinsecamente ligado à reflexão acerca
da trajetória trágica da personagem no conto, visto que a protagonista não pertencia à elite,
pois era uma empregada doméstica; tratava-se de uma mulher e, em virtude disso, recebe
Considerações Finais
Em síntese, cabe-nos frisar que o feminismo interseccional não pode ser concebido
fora do âmago do feminismo negro, pois, como observamos ao longo desse artigo, trata-se de
uma perspectiva que nasce atrelada às lutas feministas e antirracistas. Nesse sentido, parece
necessário compreender toda a trajetória dos movimentos feministas e seus desdobramentos
para, então, tentarmos traçar uma conceituação adequada para as relações de
interseccionalidade, que se constroem nos recortes de complexidade.
O racismo estrutural trata-se de uma mazela que perpassa as sociedades latino-
americanas pós-modernas, ao ponto de gerar consequências nocivas a um grupo social como,
por exemplo, a desumanização desses indivíduos, privados de "ocupar" certos espaços e
submetidos a inúmeras opressões e violências como, por exemplo, o que acontece com a
personagem Maria, que foi privada de ocupar o espaço de um coletivo, sendo abruptamente
morta. Nesse sentido, podemos destacar a figura feminina negra que sofre triplamente com os
vários tipos de violência e submissão, já que sofre o peso das confluências da
interseccionalidade de raça, gênero e classe.
Na seara ficcional da literatura negro-brasileira, a escritora Conceição Evaristo, ao
tecer uma narrativa que retrata a realidade dessas mulheres, representadas pela protagonista
do conto, nos apresenta a necessidade de buscarmos mecanismos para desarraigar os diversos
tipos de violência e práticas excludentes. Frente a isso, Conceição destaca em suas obras as
lutas do Movimento Negro, já que pertence a esse grupo; por isso, ao traçar personagens
mulheres e negras, a autora realiza um discurso político, pois traz ao centro da representação
literária, a produção cultural feita por pessoas negras, e fomenta a literatura “negro-
brasileira”, assim denominada por Cuti.
Referências
BRAH, Avtar; PHOENIX, Ann. Não sou uma mulher? Revisitando a interseccionalidade.
Tradução de Cláudia Santos Mayer e Matias Corbett Garcez. In: BRANDÃO, Izabel. et al.
Traduções da Cultura: perspectivas críticas feministas (1970-2010). Florianópolis: Edufal;
Editora da UFSC, 2017.
CUTI, Literatura negro-brasileira: consciência em debate. São Paulo: Selo Negro, 2010.
FIGUEIREDO, Eurídice. Por uma crítica feminista. Porto Alegre: Editora Zouk, 2020.
MELO, Hildete Pereira de; THOMÉ, Débora. Mulheres, poder e feminismos. In: Mulheres e
poder: histórias, ideias e indicadores. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018. p.17-34.
RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras,
2018.
Resumo: O fim do colonialismo não representou o fim das relações de poder discriminatórias. A
literatura pós-colonial, nesse aspecto, promove questionamentos e discussões a respeito da
problemática ao redor dos sujeitos envolvidos no processo de colonização ou afetados por suas
consequências A literatura africana, como um todo, passa a ser direcionada para a questão da
descolonização, como, por exemplo, Hibisco roxo, publicado em 2003, por Chimamanda Ngozi
Adichie. A história recente da Nigéria está intimamente relacionada à trama ficcional dessa narrativa,
em relação à instabilidade política do período Pós-Colonial, com seus golpes de estado e guerras civis,
assim como aos conflitos e às tensões culturais e sociais, decorrentes dos processos de colonização
europeia. Dessa forma, a colonização africana, bem como os problemas resultantes das relações entre
o poder colonial e o outro colonizado, tornaram-se temas constantes nos romances africanos, visto que
esse fator provocou um trauma nas sociedades africanas. O presente trabalho tem a intenção, então, de
compreender de que forma Adichie representa, através da memória, uma sociedade nigeriana
contemporânea traumatizada perante tantas violências causadas pelos processos coloniais europeus.
Introdução
1
Doutoranda pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Programa de Pós-graduação em Letras
(UNIOESTE). Bolsista produtividade CAPES. Integrante dos grupos de pesquisa GEPEDIC e Diálogos
literários. E-mail: maiarasegatoletras@gmail.com.
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Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana, nascida em Enugu, em 1977,
num momento em que a Nigéria passava por fortes problemas políticos, decorrentes da
própria Guerra de Biafra (1967-1970), um movimento que tentava separar a parte sudeste do
restante do país e que deixou entre 1 e 3 milhões de mortos. A autora acabou se mudando para
os Estados Unidos, aos 19 anos, quando recebeu uma bolsa de estudos, para estudar
Comunicação e Ciências Políticas. Em seu primeiro livro, Hibisco Roxo, publicado em 2003 e
lançado no Brasil em 2011 pela editora Companhia das Letras, Adichie conta a história de
uma família nigeriana bem sucedida, mas permeada de conflitos, a partir dos quais são
apresentadas questões inerentes à(s) cultura(s) da Nigéria, bem como problemáticas
ocasionadas pelo processo de colonização britânica ocorrido no país. A história se passa,
basicamente, nas cidades de Enegu e Nsukka, no período Pós-República de Biafra2, onde
Kambili, personagem central e pertencente a uma família da etnia Igbo, mostra dois mundos
completamente opostos dentro do contexto nigeriano: um deles, o de sua casa, fortemente
religioso, segundo os preceitos catolicistas europeus; o outro, o da casa de sua tia Ifeoma e de
seus primos, marcado pela hibridização das culturas.
A princípio, o modo com que a narradora, Kambili, vê a si e vê o outro é totalmente
conformado aos pressupostos imperialistas ensinados pelo pai, Eugene, pois este assimila a
cultura europeia e a utiliza como um meio de garantir sua própria condição de superior. Essa
“outremização”, conforme Spivak, (1994), trata-se dos meios que os colonizadores criaram
para conferir aos colonizados o status de objeto, no qual eles são desqualificados,
subalternizados e marginalizados. É conveniente notar que, apesar dessa distinção binária do
sujeito colonizador e colonizado, na qual cultura e pensamentos europeus são superiores aos
de qualquer cultura não-europeia, é uma invenção dos próprios europeus: “O negro, como
colonizado, é criação da Europa. Antes de ter contato com o branco, o colonizado/o negro não
2
De acordo com Falola e Heaton (2008), quando a Nigéria conquistou a independência em 1960, o país estava
dividido em vários níveis. Três grandes grupos étnicos compunham o território nigeriano: os Hausa-Fulani no
norte, os Yoruba no sudoeste, e os Igbo no sudeste. Assim, o clima de instabilidade permanecia, pois muitos
povos temiam ser dominados por outros. A identidade regional era muito mais forte do que a identidade
nacional. Foi essa tensão e instabilidade que desencadearam dois anos e meio de guerra civil entre 1967 e 1970,
na qual a região sudeste tentou separar-se da Nigéria para estabelecer o Estado soberano de Biafra.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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se sentia inferior a nenhuma outra raça. Toda a crise identitária surge da negação dos valores
humanos e culturais imposta pela colonização” (FIGUEIREDO, 1998, p. 64).
Com efeito, a literatura de caráter pós-colonial3, a partir de escritores oriundos das ex-
colônias, passa a retratar as condições dos indivíduos dessas comunidades. Esses textos giram
em torno da dominação ideológica que, durante longo período, criou os paradigmas da
inferioridade africana, assumindo a tarefa de corrigir as distorções históricas e culturais acerca
da África. Desse modo, essa literatura pretende valorizar o local, resgatando valores como
língua e cultura. Aspecto esse que é também o “fazer” da nova nação que tenta emergir das
“cinzas” do colonialismo.
O vocábulo pós-colonialismo, então, nos sugere aquilo que vem depois do
colonialismo. Podemos supor, a partir dessa concepção, que o colonialismo teve um fim
enquanto relação de dominação. Sabemos, porém, que o fim do colonialismo não representou
o fim das relações de poder discriminatórias. Como afirma Stuart Hall,
3 Ao nos referirmos a essas literaturas como “pós-coloniais”, buscamos explicitar a sua existência como
consequência da experiência colonial, conferindo à terminologia uma postura crítica e reflexível.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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suas influências, como um fenômeno mundial e, em menor grau, como um fenômeno
localizado”.
Thomas Bonnici (2006) afirma que a literatura pós-colonial ocorre quando há duas
estratégias: a retomada da posição nacionalista, trazendo o que antes era marginal para o
centro do debate; e o questionamento da visão eurocêntrica, desafiando o contexto binário
utilizado pela política colonial. Nesse processo, busca-se em especial a “descolonização
cultural”.
A literatura pós-colonial, que é a expressão desse Outro criado pela imaginação
europeia, caracteriza-se pelo resgate das tradições locais, seja na forma de narrar, que
privilegia a oralidade, seja no conteúdo, quando se resgatam costumes e histórias através do
olhar daquele que nasceu e viveu nos países antes dominados. Ao mesmo tempo, a literatura
pós-colonial busca questionar o cânone europeu, marcando o fim da hegemonia literária,
notadamente após a década de 1960.
A literatura produzida por Adichie é fundamental para compreender a estratégia do
imperialismo e sua sustentação através da política de silenciamento do colonizador, que
ocorre, sobretudo, por meio da religião e da língua. Podemos considerar, também, que em
certa medida, os conflitos abordados no romance tanto são do contexto geral da Nigéria, como
da própria vivência da autora. Portanto, há uma relação entre narrativa, história e memória.
Embora Adichie não tenha vivido pessoalmente a guerra, este é seu legado e falar a esse
respeito constitui uma espécie de compromisso da autora, como ela própria declara em uma
de suas entrevistas:
4
Para Le Goff (1990), os campos científicos que estudam a memória atualmente, como a biologia, a psicologia,
a neurofisiologia, a psicofisiologia e a psiquiatria, podem contribuir para a compreensão das características e dos
problemas da memória social e histórica. Em contrapartida, os próprios estudos desenvolvidos por essas variadas
ciências têm levado os pesquisadores à necessidade de aproximar a memória do campo das ciências humanas, na
medida em que os resultados das pesquisas empíricas evidenciam uma relação intrínseca da memória com
“resultados de sistemas dinâmicos de organização” (LE GOFF, 1990, p. 421).
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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autoritários foram eventos potencialmente traumáticos. Existem atualmente, vários relatos
sobre estes eventos, de como eles interferiram e interferem negativamente nas vidas
individuais e coletivas. Corroborando com este autor, Seligmann-Silva (2008, p. 67) afirma:
Desde muito cedo em sua carreira, Adichie se preocupou com o tema que constitui
uma das principais questões que mobilizam a política e a literatura nigerianas: a guerra civil.
Isso pode ser explicado, a partir de Seligmann-Silva (2008, p. 67): “A imaginação é chamada
como arma que deve vir em auxílio do simbólico para enfrentar o buraco negro do real do
trauma. O trauma encontra na imaginação um meio para sua narração”. Apesar da
reorganização geográfica da Nigéria após a guerra civil, a presença de Biafra permanece
como algo recorrente nas preocupações sociais do país e na literatura ali produzida desde os
anos 1970.
Desenvolvimento
Mama não voltou para casa naquela noite, e Jaja e eu jantamos sozinhos. Não
falamos sobre ela. Em vez disso, falamos sobre os três homens que haviam sido
executados em praça pública dois dias antes, por tráfico de drogas. Jaja ouvira
alguns meninos falando sobre isso na escola. A notícia passara na televisão. Os
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homens haviam sido amarrados a postes, e seus corpos continuaram tremendo
mesmo quando as balas não estavam mais entrando neles (ADICHIE, 2003, p.
39-40).
Com o fim de tornar ainda mais dramática essa passagem, a narradora enfatiza como a
violência fora banalizada, servindo de espetáculo para a população, inclusive por intermédio
dos meios de comunicação de massa
Somam-se a esses registros de violência física as cenas em que são destacadas a
condição de miséria de boa parte da população nigeriana, sendo exemplo a passagem a seguir:
Os olhos de Mama estavam sem expressão, como os olhos daquele loucos que
vagueiam pelos lixões que há na beira das estradas da cidade, arrastando bolsas
de lona imundas e rasgadas com os fragmentos de suas vidas guardados dentro
(ADICHIE, 2003, p. 41).
Eu me perguntei quando Papa faria um horário para o bebê, meu novo irmão, se
ele faria assim que o bebê nascesse ou esperaria até ele ter uns dois ou três anos.
Papa gostava de ordem. Isso ficava patente nos próprios horários, na forma
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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meticulosa como ele desenhava as linhas, em tinta negra, cortadas
horizontalmente a cada dia, separando a hora de estudar da hora da sesta, a da
sesta da hora de ficar com a família, a de ficar com a família da hora das
refeições, a das refeições da hora de rezar, a de rezar da hora de dormir. Papa
revisava nossos horários com freqüência. Na época das aulas, tínhamos mais
tempo para estudar e menos para a sesta, mesmo nos fins de semana (ADICHIE,
2003, p. 30).
Para impor sua dominação, o personagem age com agressão física, psicológica e
religiosa, tornando sua família artificial, com sentimentos mecânicos, sobressaindo o medo e
o silêncio:
Papa se sentava todas as vezes no banco da frente para assistir à missa, na ponta
que dá para a nave, com Mama, Jaja e eu junto dele. Era o primeiro a receber a
comunhão. A maioria das pessoas não se ajoelhava para receber a hóstia no altar
de mármore, perto do qual fica a estátua loura em tamanho real da Virgem
Maria. Mas Papa, sim. Ele fechava os olhos e os apertava com tanta força que
suas feições se contorciam numa careta, e ele esticava a língua o máximo que
podia (ADICHIE, 2003, p. 9-10).
Quando Jaja tinha dez anos, ele errara duas perguntas em sua prova de
catecismo e não fora o primeiro da turma de primeira comunhão. Papa o levou
até o andar de cima da casa e trancou a porta. Jaja, aos prantos, saiu segurando a
mão esquerda com a mão direita, e Papa levou-o ao Hospital St. Agnes
(ADICHIE, 2003, p. 156-157).
A violência física e psicológica sofrida por Kambili, por Mama e por Jaja é justificada
pela religiosidade. A violência é justificada pelo silenciamento imposto pelo colonialismo,
assim como o etnocídio pode ser justificado pelo cristianismo.
Pancadas pesadas e rápidas na porta talhada à mão do quarto dos meus pais.
Imaginei que a porta estava emperrada e que Papa estivesse tentando abri-la. Se
imaginasse aquilo sem parar, talvez virasse verdade. Eu me sentei, fechei os
olhos e comecei a contar. Contar fazia o tempo passar um pouco mais rápido,
fazia com que não fosse tão ruim. Às vezes, acabava antes de eu chegar ao
número vinte. Eu já estava no dezenove quando o som parou. Ouvi a porta se
abrindo. Os passos de Papa na escada pareceram mais pesados, mais
desajeitados do que o normal. Saí do quarto no mesmo segundo que Jaja saiu do
dele. Ficamos no corredor, vendo Papa descer. Mama estava jogada sobre seu
ombro como os sacos de juta cheios de arroz que os empregados da fábrica dele
compravam aos montes na fronteira com Benin.
[...]- Tem sangue no chão – disse Jaja. - Vou pegar a escova no banheiro.
[...]Mama não voltou para casa naquela noite, e Jaja e eu jantamos sozinhos.
(ADICHIE, 2003, p. 39)
Não gosto de mandar vocês à casa de um pagão, mas Deus vai protegê-los -
disse Papa. [...] Papa-Nnukwu jamais pisara ali, pois quando Papa decretara que
não permitiria pagãos em sua propriedade, não abrira exceção nem para o
próprio pai (ADICHIE, 2003, p. 69-70).
Ao contrário de sua repulsa pelo próprio pai, não permitindo nenhuma relação com o
mesmo, Eugene exalta o sogro, que, como ele, submeteu-se à cultura estrangeira: “– Quando
[seu avô materno] se tornou um intérprete, sabem quantas pessoas ajudou a converter? Ora,
ele converteu pessoalmente quase toda a população de Abba! Fazia as coisas do jeito certo, do
jeito que os brancos fazem, não como nosso povo faz agora!” (ADICHIE, 2003, p. 75).
O fenômeno da linguagem também é um elemento indispensável para a colonização de
um povo. A política de silenciamento da cultura do colonizado instaura um complexo de
inferioridade, tendo o negro que assumir a língua do colonizador para se aproximar da
branquitude:
Papa quase nunca falava em igbo e, embora Jaja e eu usássemos a língua com
Mama quando estávamos em casa, ele não gostava que o fizéssemos em público.
Precisávamos ser civilizados em público, ele nos dizia; precisávamos falar em
inglês. A irmã de Papa, tia Ifeoma, disse um dia que Papa era muito colonizado
(ADICHIE, 2003, p. 20).
Referências
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Hibisco Roxo. São Paulo: Editora Companhia das Letras,
2011.
BONNICI, T. “Teoria e crítica pós-colonialistas”. In: BONNICI, Thomas & ZOLIN, Lúcia
Osana (orgs.). Teoria Literária: Abordagens históricas e tendências contemporâneas. 3.ed.
Maringá: Eduem, 2009.
GINZBURG, Jaime. Autoritarismo e Literatura: a História como trauma. In: Vidya Revista
Eletrônica - v. 19, n. 33, Janeiro/Junho, 2000; p.43-52.
HALL, S. Da Diáspora: identidade e mediações culturais. Org. Liv Sovik. Tradução Adelaine
La Guardia Resende. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
LE GOFF, Jacques. História e memória. tradução Bernardo Leitão ... [et al.]. Campinas, SP,
Editora da UNICAMP, 1990.
SAID, E. Cultura e imperialismo. Tradução Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das
letras, 2011.
Introdução
1
Psicóloga. Discente no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD) -
Universidade Estadual do Paraná (Unespar), campus de Campo Mourão. E-mail: anysielski@gmail.com.
2
Doutor em História. Professor do Colegiado de História e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar
Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD) - Universidade Estadual do Paraná, campus de Campo Mourão. E-
mail: fred.maciel@ies.unespar.edu.br.
3
Doutora em Educação. Professora do Colegiado de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação
Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD) - Universidade Estadual do Paraná, campus de Campo
Mourão. E-mail: fabiane.freire@ies.unespar.edu.br.
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quanto a pandemia e o isolamento social afetaram a saúde mental de brasileiros. A dificuldade
no acesso aos tratamentos de saúde adequados faz com que seja imprescindível que
instituições de Ensino Superior ofereçam atendimento psicológico de qualidade a estudantes
que, em muitos casos, não terão outro tipo de ajuda ou acolhimento psicoterapêutico.
Os direitos à Saúde Mental devem ser garantidos por parte do Estado, embora na
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) não conste especificamente a temática
psicológica. Ainda assim, é possível interpretar alguns artigos como garantidores de direitos à
saúde mental. Elenca-se como exemplo o Artigo 25º, em que consta acerca de toda pessoa ter
direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar,
principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e
ainda quanto aos serviços sociais necessários (ONU, 1948).
A Constituição Federal de 1988 explica acerca de direitos sociais no Artigo 6º, sendo
eles: educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança,
previdência social, proteção à maternidade, à infância e assistência aos desamparados. A
Organização Mundial da Saúde criou o Livro de Recursos da OMS sobre Saúde Mental,
Direitos Humanos e Legislação que objetiva fornecer subsídios à criação de políticas públicas
relacionadas à saúde mental e direitos humanos, e enfatiza que “de acordo com os objetivos
da Carta das Nações Unidas (ONU) e acordos internacionais, uma base fundamental para a
legislação de saúde mental são os direitos humanos” (OMS, 2005).
Porém, uma das maiores dificuldades no acesso aos direitos fundamentais dos seres
humanos diz respeito a preconceitos com raça e classe social. Vivemos em um país com uma
ampla diversidade cultural e desigualdade social. A diversidade humana gera diferença entre
pessoas, coisas e culturas, ocasionando muitos problemas sociais como preconceitos, conflitos
sociais e desigualdades. A desigualdade social e a diversidade cultural, apesar de serem
conceitos distintos, desempenham ampla relação entre seus termos, pois quanto maior for a
diversidade cultural, maior será a desigualdade social, pensando em preconceitos providos da
diferença a qual trata a diversidade cultural.
Materiais e métodos
Resultados e Discussão
Considerações finais
Referências
CASSINS, Ana Maria [et al.]. Manual de psicologia escolar - educacional. Curitiba: Gráfica
e Editora unificado, 2007.
ONU - Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Disponível em: <https://www.ohchr.org/en/human-rights/universal-
declaration/translations/portuguese?LangID=por>. Acesso em: 26 set. 2022.
OMS – Organização Mundial da Saúde. Livro de Recursos da OMS Sobre Saúde Mental,
Direitos Humanos e Legislação. Suécia: Michelle Funk, 2005. 257 páginas. Disponível em:
<https://www.who.int/mental_health/policy/Livroderecursosrevisao_FINAL.pdf>. Acesso
em: 26 set. 2022.
PRADO, Margareth Simone Marques. Psicologia da educação. Cruz das Almas, BA: SEAD-
UFRB, 2017.
Introdução
Esse trabalho discute por meio da análise literária a fragmentação da identidade dos
sujeitos negros infanto-juvenis, em contos de Conceição Evaristo. A literatura sobre esses
indivíduos sempre esteve às margens da literatura canônica, neste sentido, se fazem
necessárias pesquisas e estudos para que melhor se entenda as consequências da colonização e
quais os motivos para que estes sujeitos ainda permaneçam às margens da sociedade.
A questão que permeia esse estudo indaga se a condição socioeconômica afeta a
construção ou fragmenta as identidades destes sujeitos? Sob tal perspectiva, a literatura de
Evaristo elucida, didaticamente, por meio de sua ‘escrevivência’, as bem-sucedidas estratégias
de racismo e exclusão que outremizam e assolam o povo negro.
1
Graduando em Letras Português e Inglês na Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail:
ra108378@uem.br.
2
Professora da Pós-Graduação em Letras (PLE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail:
eafalves@uem.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
152
Para além desta premissa, outro intuito desse trabalho é apontar o Brasil neoliberal na
literatura de Evaristo e reforçar sobre a desigualdade socioeconômica maximizada por essa
política, que prejudica mais aqueles que estão às margens da sociedade. Em linhas gerais,
analisa-se se houve tão somente esboço ou reação de resistência por parte dos protagonistas
dos contos, os quais compõem o corpus literário dessa análise: Zaíta, Di Lixão e Lumbiá, dos
contos “Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos”, “Di Lixão” e “Lumbiá”. Presentes no livro
Olhos d’água, de Conceição Evaristo (2016).
Zaíta é uma criança com ares de doçura, mistério e sofrimento, que morre assassinada
por uma bala perdida ao sair à procura de uma figurinha de álbum nas redondezas de sua
comunidade. Di Lixão é um adolescente morador de rua que morre invisivelmente com uma
infecção, próximo a várias pessoas que fazem o trajeto diário aos seus ofícios. E Lumbiá é um
garoto que vende amendoim, chicletes e flores pelas ruas e que acaba morrendo atropelado
durante a semana de Natal. As narrativas escolhidas para essa análise tratam-se de retratos dos
sujeitos negros no Brasil descrito por Conceição Evaristo.
Poetisa, contista e ensaísta, Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte, em 1946.
Na década de 1970, ela migrou para o Rio de Janeiro, onde se graduou em Letras pela UFRJ e
atuou como professora da rede pública de ensino da capital fluminense. Graduou-se mestre
em Literatura Brasileira pela PUC-Rio e doutora em Literatura Comparada pela UFF. Ativa
nos movimentos de valorização da cultura negra no Brasil, estreou na literatura na década de
1990, publicando contos e poemas nos Cadernos negros3. Tendo publicado obras
individualmente e integrado diversas participações em antologias, no ano de 2015 recebeu o
Prêmio Jabuti de Literatura pelo livro de contos Olhos d’água (2016). As suas obras também
vêm sendo publicadas e estudadas no Brasil e no exterior, como na Alemanha, Inglaterra e
nos Estados Unidos, tendo sido objeto de diversos estudos acadêmico-científicos.
Esta pesquisa caracteriza-se como bibliográfica e qualitativa utilizando-se das
discussões de Bonnici (1998) sobre a teoria e a literatura pós-colonial, os estudos de
3
Uma série de literatura afro-brasileira iniciada em 1978, em São Paulo, por um grupo de poetas e ficcionistas.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
153
identidade de Hall (2006), a análise sobre o negro na literatura infantil brasileira de Gouvêa
(2005), dentre outros.
4
Disponível em: < https://www.theguardian.com/politics/2013/apr/08/margaret-thatcher-quotes> Acesso em: 18
jul. 2022.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
157
conforme aponta Hall (2006, p. 7), “uma ancoragem estável no mundo social”. A sua
identidade tende a ser fragmentada desde a sua infância e o seu meio e modo de vida o levam
à violência e à pobreza. É, portanto, o que será observado na análise dos contos escolhidos
para a realização desse estudo.
A bonequinha destruída
Zaíta é uma criança que vive em uma comunidade periférica, entre a truculência
policial e violência do tráfico, ou seja, uma infância em uma zona de guerra. Ela mora com a
mãe Benícia, a irmã gêmea Naíta e dois irmãos mais velhos, um que está no exército e o outro
que já “traçava o seu caminho pelos becos do morro” (EVARISTO, 2015, p. 39). A mãe vive
cansada e sem paciência, pois trabalha demais para poder alimentar a família. É uma mulher
que não tem tempo para cuidar de si, de ter lazer, diversão. Aqui, percebe-se uma das formas
como o neoliberalismo opera: ele suga toda a força de trabalho e paga pouco, ao mesmo
tempo, em que exclui os sujeitos mais pobres de terem acesso ao lazer. As preocupações e
irritações dessa mãe são o pequeno barraco, a vida pobre, os filhos e, principalmente, o
segundo menino. O pai das gêmeas, durante os anos que morou junto deles, nunca trouxe o
bolso cheio, apesar de trabalhar muito também. E onde está o pai dos meninos? Trabalhando e
“gastando seu pouco tempo de vida” (EVARISTO, 2015, p. 39), provavelmente, como um
servente de pedreiro.
Benícia ainda divide o pouco que consegue com sua irmã, que também tem filhos
pequenos e um marido que ganha pouco. Contudo, ela quer trabalhar ainda mais para
aumentar seu ganho, “ia arranjar trabalho para os finais de semana” (EVARISTO, 2015, p.
39). Nessa labuta diária, os filhos sofrem um desamparo familiar, sendo as consequências
mais graves para o segundo filho e para Zaíta. O segundo filho, entre a exclusão social e o
desejo de uma vida melhor, é cooptado para o tráfico local. O rapaz deseja uma vida que
“valesse a pena” e uma “vida farta, um caminho menos árduo e o bolso não vazio”
5 Antecipações no tempo, que permitem a anteposição, no plano do discurso, de um fato ou situação que só
aparecerá mais tarde no plano da diegese. Corresponde ao que, em linguagem cinematográfica, é chamado
flashforward.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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privações? Se as leis já promulgadas não os alcançam? Toda essa exclusão faz com que
estejam à margem e fragmentadas.
Lumbiá e o Deus-menino
Conclusão
Como exposto e discutido, os sujeitos retratados por Evaristo são pessoas negras,
marginalizadas, invisíveis e com suas identidades fragmentadas, ou seja, são crianças e jovens
negros que não são abarcadas plenamente (ou de nenhuma forma) pelos direitos garantidos
pelo ECA e pelas políticas públicas sociais. A situação desses protagonistas piora, haja vista a
instalação e evolução da doutrina neoliberal assumida nas últimas décadas.
Zaíta morre em meio à guerra do tráfico e do Estado, Di Lixão morre invisivelmente
embaixo de uma marquise e Lumbiá é morto por atropelamento. Nenhum deles teve a chance
de se tornarem adultos e construírem suas identidades. A pouca identidade que adquiriram na
vida não foi centrada, pois nenhum deles pertenciam a um modelo familiar sólido, com
moradia digna, alimentação adequada, saúde, educação ou lazer.
As políticas sociais, econômico-financeiras neoliberais impostas são mais pesadas e
letais com esses sujeitos. Resultantes da escravidão, eles estão à margem de uma sociedade na
qual só participam como produtores da riqueza que não possuem. Zaíta é filha de uma
empregada doméstica que mal consegue alimentar os filhos. A menina não tem sequer
brinquedos para brincar em sua tenra infância, morrendo vítima da violência tão comum nas
favelas brasileiras. Di Lixão é um adolescente órfão sem teto que está doente e não tem
assistência de saúde. O garoto morre doente e invisível aos olhos do poder público. Lumbiá é
vítima do trabalho infantil e, apesar de trabalhar arduamente, não pode adentrar alguns
Referências
BONNICI, Thomas. ZOLIN, Lúcia Osana (org.). Teoria literária: abordagens históricas e
tendências contemporâneas. 3ª ed. ampl. e rev. UEM/ Maringá: Eduem, 2009.
CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura infantil. Col. Primeiros passos 163. ed. dig. São
Paulo: Brasiliense, 2010.
CADERNOS NEGROS. Literafro, 2020. Cadernos negros 38: tradição viva. Disponível em:
<http://www.letras.ufmg.br/literafro/verAutor.asp?id=42>. Acesso em: 18 Jul. 2022.
EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. 1ª ed. Rio de Janeiro, Pallas: Fundação Biblioteca
Nacional, 2016.
GOUVÊA, Maria Cristina Soares de. Imagens do negro na literatura infantil brasileira:
análise historiográfica. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n.1, p. 77-89, jan./abr. 2005.
________.O espetáculo das raças. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
THE GUARDIAN. The Guardian, 2013. Margaret Thatcher: a life in quotes. Disponível em:
<https://www.theguardian.com/politics/2013/apr/08/margaret-thatcher-quotes>. Acesso em:
18 Jul. 2022.
Resumo: Uma característica do movimento dos slams (campeonatos de poesia falada) brasileiros é a
ligação entre as histórias contadas através da poesia, os saberes e as pessoas que os produzem de
forma localizada. No percurso de investigações, verificou-se que a autoria é uma peça importante para
a compreender a construção identitária que as poetas do slam fazem via representação literária,
principalmente quando elas versam sobre si em seus textos. Assim, este artigo propõe uma leitura do
poema “A menina que nasceu sem cor”, da slammer Midria, buscando compreender o processo de
construção da autoria a partir da escolha e do uso de determinados recursos linguísticos para se
representar. O poema tematiza questões sobre a colonialidade, dentre elas, o colorismo e as formas de
racismo aplicadas às mulheres negras de pele clara. Ele é lido a partir da seleção de alguns trechos em
que ocorre intertextualidade, a fim de identificar quais os procedimentos utilizados pela poeta para
selecionar e inserir em seu poema outros textos e autores. Percebe-se que a colagem, a citação, a
ironia, a metonímia, a inserção de fatos pessoais e a escolha do gênero textual são alguns dos
procedimentos utilizados pela poeta para a construção de sua autoria que é tecida por uma teia de
vozes.
1
Mestra em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá. Doutoranda em Estudos Literários pela
Universidade Estadual de Londrina. Bolsista de Doutorado pelo CNPq. E-mail: erica.paivarosa@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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A CRECHE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ANTIRRACISTAS:
CAMINHOS POSSÍVEIS
Aline Ap. S. de Carvalho Veiga1
Vanessa Figueiredo Bonfante2
Marta Regina Paulo da Silva3
Resumo: A discussão a que nos propomos neste trabalho surge da necessidade de construirmos
outras realidades educacionais que tenham em seu escopo as relações raciais como premissa nas
práticas pedagógicas desde a creche. O presente texto caracteriza-se como um relato de experiência
formativa realizada com professores e professoras da primeiríssima infância na construção de
estratégias para uma educação infantil decolonial. Defendemos que esse percurso deve ter seu início
na construção do Projeto Político Pedagógico, sendo este o documento orientador dos fazeres da
instituição, constitutivo de sua identidade e que estabelece o percurso profissional docente. A partir
dele, somos convocadas a refletir sobre nossas concepções de criança, infância e educação,
reafirmando nossa responsabilidade política, ética e estética enquanto educadores(as) das infâncias,
principalmente no que concerne aos espaços públicos. Entendemos que nestes lugares, onde ocorre
esse encontro de diferentes docentes e perspectivas, é preciso pensar sobre essas concepções, pois elas
direcionam nosso trabalho junto aos meninos e às meninas que, inseridos(as) neste contexto social,
trazem consigo diversidade étnica, racial, de gênero, etária e de classe social. Tendo em vista que os
efeitos negativos dos estereótipos e dos preconceitos presentes na sociedade atingem bebês e crianças
bem pequenas e negros(as), contribuindo para uma formação deficitária e a construção de uma
imagem negativa de si e de seu grupo de pertencimento, a creche, enquanto espaço formal de
educação, tem a responsabilidade de romper com este ciclo de discriminação, preconceito e
inferiorização destas crianças, que são postas à margem de nossa sociedade. Nesta perspectiva,
compreendemos a formação continuada e, consequentemente, as práticas pedagógicas resultantes
destas reflexões como estratégias para consolidarmos uma educação antirracista. Trata-se, portanto, de
ressignificar as experiências corriqueiras para que se tornem ações específicas que incluam a todos e
todas no cotidiano da educação infantil. Diante disso, como implementar práticas pedagógicas
antirracistas possibilitando uma imagem positiva de si? Para tanto, temos nos Valores Civilizatórios
1
Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Educação da Universidade Municipal de São Caetano do
Sul. Professora de Ensino Fundamental e Educação Infantil na Prefeitura Municipal de Santo André, atuando
como Assistente Pedagógica. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Infâncias, Diversidade e Educação –
GEPIDE (PPGE/USCS). E-mail: alinec540@gmail.com.
2
Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Educação da Universidade Municipal de São Caetano do
Sul. Professora de Ensino Fundamental e Educação Infantil na Prefeitura Municipal de Santo André, atuando
como Diretora de unidade escolar. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Infâncias, Diversidade e Educação
– GEPIDE (PPGE/USCS). E-mail: vanessafigueiredobonfante@gmail.com.
3
Doutora em Educação. Docente-Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Municipal de São Caetano do Sul. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa Infâncias, Diversidade e Educação –
GEPIDE (PPGE/USCS). Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa Paulo Freire (PPGE/USCS). E-mail:
martarps@uol.com.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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Afro-brasileiros, apresentados por Azoilda Loretto Trindade, caminhos possíveis a serem percorridos,
orientando os fazeres docentes. Estes valores perpassam pelo cotidiano da educação infantil
dialogando com as diferentes linguagens, como: brinquedos e brincadeiras, a música, a literatura, a
dança e a ornamentação desses espaços, evidenciando a importância da representatividade da cultura
africana e considerando a criança negra nos processos educativos, rompendo, portanto, com o
silenciamento do racismo na infância. Para esse fim, reconhecemos a creche como um espaço
privilegiado para a vivência e compreensão de práticas que tenham como significado estes valores
civilizatórios, a saber: a circularidade, a ancestralidade, a corporeidade, a musicalidade, a ludicidade, a
oralidade e o axé, enquanto energia vital, na efetivação de uma educação infantil que se apresente
como existente e resistente, considerando a criança negra nas ações pedagógicas.
Resumo: Este texto se volta às relações étnico-raciais presentes no livro Através do Brasil (1910), de
Olavo Bilac e Manoel Bomfim. Trata-se de um romance que foi destinado às escolas primárias
daquele período, cuja narrativa versa sobre dois meninos brancos e ricos, Alfredo e Carlos, que viajam
pelo Brasil à procura do pai desaparecido. Nessa empreitada, os irmãos topam com diferentes povos,
dentre eles, sertanejos e negros. São contatos travados apenas pela excepcionalidade em que vivem os
garotos, como nos afirma Lajolo (1982), que discute que se trata de vínculos patronais. Os rapazes,
mesmo que muito jovens, são tratados com superioridade e como os cuidadores dos segmentos menos
visíveis da sociedade, dentre eles, o negro. Segundo Lajolo (1982), na literatura infantil brasileira, há
muitos exemplos em que negros são alvos da piedade dos brancos e entendemos que Através do Brasil
(1910) também conta com um desses casos. Nosso objetivo, assim, é analisar as relações que os
protagonistas empreendem com as personagens negras na obra; para isso, apoiamo-nos em autores
vários que versam sobre o negro na literatura. Trata-se, portanto, de uma pesquisa bibliográfica, visto
que, para alcançarmos o intuito a que nos propomos, precisamos valermo-nos da análise de
bibliografia. Acreditamos que o livro pretendeu despertar a identificação com os protagonistas, isso
porque o texto literário foi escrito para alunos brancos e ricos que seriam a nova classe dirigente; o
intuito consistia em munir os discentes de virtudes e valores para que pudessem, futuramente, cuidar
da população.
1
Graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Cursa Mestrado em Letras pela
mesma instituição. É bolsista da Capes. Atualmente, trabalha como professor na Secretaria de Estado da
Educação do Paraná. E-mail: evilasiojunior98@hotmail.com.
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171
A FACA QUE CORTA A LÍNGUA E MARCA A ANCESTRALIDADE:
OBJETO, AGÊNCIA E RELIGIOSIDADE EM TORTO ARADO DE
ITAMAR VIEIRA JUNIOR
Douglas Santana Ariston Sacramento1
Resumo: O escritor soteropolitano Itamar Vieira Júnior (2019) escreveu o fenômeno literário Torto
Arado, vencedor do Prêmio Jabuti (2020) e do Prêmio Oceanos (2020). A obra retrata a história de
duas irmãs, Bibiana e Belonisia, desde a infância – quando um grave acidente marca a vida das duas:
uma faca de prata corta a língua de uma delas, deixando-a sem voz, e tornando a outra irmã intérprete
da primeira – até a fase adulta – quando casadas percebem-se atreladas com questões sociais e
religiosas relacionadas à posse de terras pós-abolição no interior da Bahia. Por conseguinte, nota-se
que a religiosidade do Candomblé de Jarê, mais conhecido com candomblé de caboclo, é uma
recorrência na história, especialmente porque o pai das meninas, Zeca Chapéu Grande, é um líder
religioso que serve toda a comunidade. Assim, a proposta deste trabalho versa sobre a faca de prata
que aparece no início do livro, a qual é retomada por meio de flashbacks durante a narrativa e que
marca um ponto crucial para a compreensão da religiosidade representada na obra. Esse objeto é
carregado de ancestralidade, pois é permeado de uma herança ancestral e de um agenciamento –
características importantes dentro da religiosidade de matriz africana no Brasil. Uma faca não é apenas
uma faca, é também um objeto ritual. Para isso, utilizarei (GELL, 2020; BANAGGIA, 2015; LODY,
2006; GODELIER; 2017; LUZ; 2017) como referencial teórico.
Palavra-chave: Agência. Itamar Vieira Júnior. Objeto. Religiosidade. Torto Arado.
1
Doutorando em Estudos Étnicos e Africanos pelo Pós-Afro/UFBA. Mestre em Literatura e Cultura pelo
PPGLitCult/UFBA. Graduado em Licenciatura e Bacharelado em Língua Estrangeira Moderna – Inglês, pela
UFBA. Graduando em Bacharelado em Antropologia, pela UFBA. Bolsista CAPES. E-mail:
douglas.ariston.18@gmail.com.
Resumo: A presente comunicação tem por objetivo discutir o espaço da exclusão dentro do romance
Solitária, de Eliana Alves Cruz. A narrativa pode ser vista dentro de uma dialética do espaço dos
poderosos e dos excluídos. O quartinho de empregada, por ser um espaço de exclusão, frequentado
apenas pelas personagens negras do romance replica o racismo estrutural da sociedade brasileira.
Mabel e sua mãe Eunice têm acesso ao ambiente dos ricos pela porta dos fundos do apartamento,
podendo circular pelo espaço privilegiado como serviçais da elite branca enquanto limpam os quartos,
servem a mesa ou ficam de babá dos filhos dos patrões. Fora deste tempo, é reservado a elas o
minúsculo espaço do quartinho, marcando geograficamente o espaço que cada membro ocupa na
sociedade. Assim, o espaço do apartamento, no romance, é uma réplica da sociedade racista brasileira,
sendo uma herança da antiga estrutura de casa grande e senzala atualizada nos novos espaços
habitados pelos ricos, o que garante que os negros continuem excluídos no micro espaço do
apartamento. No romance, o quartinho de empregada é relatado como uma solitária, um espaço de
condenação àqueles que nasceram com a pele negra. Tanto que o romance é narrado a partir de três
pontos de vista: o de Mabel, a menina que é condenada a viver sua infância no quartinho, o de Eunice
que é a empregada do apartamento e da solitária, quando o quartinho ganha vida e narra a parte final
da história. No entanto, este romance de Eliana Alves Cruz é uma narrativa de esperança, que
denuncia os inúmeros casos de trabalho semiescravo a que milhares de mulheres negras no Brasil
foram condenadas. É um romance da esperança porque Mabel e Eunice conseguem escapar, mesmo
com traumas, do espaço de dominação e submissão que o quartinho de empregada lhes impunha. A
história de Eunice e Mabel serve de exemplo de um Brasil racista e escravocrata que foi aperfeiçoando
suas práticas exploratórias, na tentativa da elite branca manter seu poderio vindo da época da
escravidão. O romance de Eliane Alvez Cruz é um grito por liberdade, que ousa romper com as
paredes das inúmeras solitárias que ainda existem pelos apartamentos ricos de todo o Brasil. Portanto,
este é um romance narrado a partir do espaço dos excluídos, que sob a aparência de pertencer ao
espaço das famílias ricas, serviram de celas que condenaram inúmeras mulheres negras e seus filhos a
continuar servindo à elite branca e escravocrata do Brasil.
1
Doutor em Letras. Docente do Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias da UEM – Universidade
Estadual de Maringá. E-mail:wrcandido@uem.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
173
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NEGRA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Neusa Maria Soares Zukoski1
Resumo: O livro O pequeno príncipe preto para pequenos é uma história infantil de autoria de
Rodrigo França, também autor do livro O pequeno príncipe preto que é uma versão destinada ao
público juvenil, com mais componentes na trama. A obra literária O pequeno príncipe preto para
pequenos foi escolhida para ser trabalhada com a turma de maternal dois na qual sou regente, que
abrange alunos na faixa etária de 2 a 3 anos, na educação infantil do município de Umuarama, com o
intuito de usar uma história infantil que vá além do tradicional, retomando a ancestralidade africana,
enfatizando a importância da construção do amor próprio de uma maneira que traga significado para
as crianças. A história possui correlação com o clássico literário infantil O pequeno príncipe de autoria
de Antoine de Saint-Exupéry, visto que, na história o pequeno príncipe preto também vive sozinho em
um planeta com uma árvore, a Baobá. Esse é um ponto de divergência significativo entre as obras
correlacionadas, no clássico a Baobá é tida como uma erva daninha que deve ser eliminada para não
destruir o planeta do pequeno príncipe, já na obra de França, a mesma árvore é representada com o
protagonismo digno de sua importância em várias culturas africanas, a Baobá é símbolo de
ancestralidade e fonte de conhecimento para o pequeno príncipe preto. No decorrer do livro, o
pequeno príncipe preto viaja por outros planetas, conhecendo pessoas e plantando sementes da Baobá,
evidenciando uma criança negra como protagonista da história, que descreve suas características
físicas com alegria e empolgação, mencionando a cor da sua pele, o seu cabelo, seu nariz e seu sorriso
de maneira lúdica e positiva, reforçando a autoestima, denotando a beleza da pluralidade cultural,
rompendo desde a educação infantil o estigma de cultura universal. A partir da história, os estudantes
do maternal dois folhearam o livro, fizeram perguntas e comentários, principalmente sobre o pequeno
príncipe preto e a baobá, com auxílio do espelho as crianças observaram suas características físicas e
também dos demais colegas de sala, com a ajuda das crianças elaboramos um painel com imagens da
Baobá e com fotos das crianças enaltecendo a beleza da diversidade da turma. A pesquisa para este
trabalho esteve embasado nos autores Magnani (2001), Rodrigues, Müge e Vieira (2022) e na Lei
Federal 10.639/03 objetivando um ensino antirracista, que construa uma identidade com amor próprio
e protagonismo.
Palavras-chave: O pequeno príncipe preto para pequenos. Educação infantil. Educação antirracista.
Resumo: A insistência do uso quase que exclusivo de literaturas ditas canônicas em sala de aula,
ainda que nos ensinos inicias, gera, em parte, desinteresse por parte dos alunos, já que eles nãos e
veem refletidos no que leem. Neste sentido, este trabalho pretende discutir sobre a importância da
inserção de uma literatura de representatividade nos ambientes escolares levando em consideração os
múltiplos sujeitos multiculturais que estão envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Assim, o
objetivo é analisar o livro A menina que abraça o vento (2017), de Fernanda Paraguassu, buscando
mostrar a realidade e a importância de se levar esse tipo de temática para a sala de aula,
principalmente nos primeiros anos do ensino fundamental, já que é nesse período que as crianças
estão consolidando os seus pensamentos e opiniões a respeito do outro . Por meio de uma
pesquisa bibliográfica, as discussões são baseadas em Gouvea (2005), que aborda de maneira
mais detalhada sobre a imagem do negro na literatura infantil, Bonnici (2011), que discute questões
relevantes sobre o multiculturalismo, Thomas (2016), que trata a respeito da representatividade da
literatura infantil, fazendo um panorama da diversidade voltada para essa área, e outros. Os
resultados mostram, a partir da análise do livro, que a inclusão de uma literatura de
representatividade traz aspectos positivos e significativos para a educação das crianças nos
estabelecimentos de ensino.
1
Professora na Prefeitura Municipal de Boa Vista, Roraima. Licenciada em Letras Língua Francesa pela
Universidade Federal de Roraima. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Letras (PLE), pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: machadojorge2918@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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A MULHER NEGRA E OS LETRAMENTOS DE REEXISTÊNCIA:
MANIFESTAÇÕES IDENTITÁRIAS NO MST-BA
Larisse Oliveira Araújo1
1
Graduanda em Licenciatura Plena em Pedagogia, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - Campus
Jequié. E-mail: larisseoliveiraa@gmail.com /pesquisadepreta@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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A POESIA DE NOÉMIA DE SOUSA: MEMÓRIAS,
ANCESTRALIDADES E RESISTÊNCIA
Meire Oliveira Silva 1
Resumo: Carolina Noémia Abranches de Sousa é o nome da poeta Noémia de Sousa, conhecida
como a mãe dos poetas moçambicanos. Nascida em 1926, passa a escrever sob o pseudônimo de Vera
Micaia, a fim de burlar as perseguições do sistema colonial português, entre os anos de 1940-1950,
quando Moçambique vive os desmandos que culminariam nos movimentos de guerrilhas anticoloniais.
A censura acomete a sua obra reunida no volume Sangue negro, cujos poemas foram escritos entre
1948 e 1951. Seus temas são imbuídos pelas temáticas das injustiças e explorações que vitimaram o
povo moçambicano. Justamente pelo caráter de enfrentamento e luta, seus poemas fizeram-na ser
presa e exilada em Portugal. Entretanto, confirma-se sua marca entre as maiores vozes das literaturas
africanas de língua portuguesa (CHAVES, 2005). A força e a atualidade de sua poesia são o objeto
deste estudo que pretende realizar um exame dos dialogismos históricos e sociais engendrados aos
temas, versos e caráter polifônico cujas denúncias interseccionais (AKOTIRENE, 2018), que
desnudam a formação das sociedades africanas, especialmente, em relação ao ser-mulher. Justifica-se
tal estudo pelo fato de que a obra de Noémia de Sousa antecipa pautas anticoloniais, atreladas às lutas
e à atemporalidade de sua poética. Sendo assim, a metodologia consiste na análise dos poemas em
consonância à averiguação de seu caráter histórico e social, em uma perspectiva interdisciplinar. Os
diálogos com outras poéticas e vozes da literatura africana e brasileira, como José Craveirinha e Jorge
Amado, norteiam as escolhas interdiscursivas e intertextuais desenvolvidas pela poeta em uma escrita
que ressoa na contemporaneidade.
1Doutora e Mestra em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo (USP). E-mail: meireoliveirasilva79@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
177
A REALIDADE-FICÇÃO DO RACISMO NA OBRA
AUTOBIOGRÁFICA HE VISTO LA NOCHE
Daniela Sofía Navarro Hernández1
Resumo: Esta pesquisa busca discutir e estabelecer possíveis relações entre o conceito de pós-
autonomia na literatura na obra autobiográfica He Visto la noche, de Manuel Zapata Olivella, a partir
dos postulados de Josefina Ludmer, Aqui América Latina: uma especulação (2010), e na obra
Indicionário do contemporâneo (Andrade et. al., 2018), a fim de compreender como a pós-autonomia
da literatura se apresenta na realidade-ficção das histórias de viagens de Zapata Olivella a partir do
racismo, suas caraterísticas, os deslocamentos do autor e as interseccionalidades entre raça, gênero e
nível sociocultural. Além disso, busca-se uma análise do contexto narrado para debater sobre os
espaços e as transformações contemporâneas à luz da música, da literatura e da formação como jovem
escritor latino-americano. Apresentará uma aproximação à análise socio crítica da obra e uma
interpretação do documentário Manuel Zapata Olivella, abridor de caminhos, como base nas reflexões
de escritores colombianos sobre a vida e obra de Zapata, como legado para as letras colombianas e
latino-americanas para conhecer olhares do racismo durante o século XX. Com a intenção de
fortalecer os processos de ensino-aprendizagem da educação afrodiaspórica, a obra literária em estudo
aborda um corpus epistemológico para a identificação das falências existentes na atualidade que
impedem a integração dentro e fora da sala de aula.
1
Mestranda em Literatura Comparada, PPGLC - UNILA. Universidade Federal da Integração Latino-
Americana. Bolsista pós graduação Stricto Sensu pelo Acordo CAPES/Fundação Araucária. E-mail:
dsn.hernandez.2021@aluno.unila.edu.br.
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178
A REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA NEGRA EM
CONTOS DE ITAMAR VIEIRA JÚNIOR
Cleia da Rocha1
Resumo: Esse trabalho busca refletir sobre a representação de mulheres negras em um conjunto de
contos de Itamar Vieira Junior, presentes nas coletâneas Dias (2012), Doramar ou a odisseia (2021),
do próprio autor, e em Contos de axé (2021), organizado por Marcelo Moutinho. Buscar-se-á
apresentar como se constrói, por meio da figuração das personagens femininas, aspectos da identidade
etnicorracial e de gênero que se relacionam com as construções histórico-culturais efetivadas ao longo
de nossa formação como país e como sociedade. Os contos selecionados são cinco ao todo: Oxum,
Alma, Mar(fé), Doramar ou a odisseia e Iroko - A devoção sagrada de uma semente. Na análise
dessas narrativas tratar-se-á de aspectos relativos às vivências afetivas e religiosas das personagens
bem como da reflexão sobre o retorno à ancestralidade, permeados pela discussão de questões sociais
relevantes como a escravidão e o colonialismo e suas consequências: a imigração, e a intolerância
religiosa. Para efetivar essa proposição analítica, o conceito de diáspora, como metáfora de perda da
identidade cultural (negra), será empregado.
1Doutora em Letras (UFPR). Atua como professora de Português na Educação Básica do estado do Paraná. E-
mail: cleiar1983@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
179
A REPRESENTAÇÃO DE EMERENCIANA CARDOSO NEVES NA
OBRA ÁGUA PRO MORRO (1944) NA CIDADE DE CURITIBA
PARANÁ
Heloísa Maria Santos Lovato1
1
Licencianda em Artes Visuais pela UNESPAR, Campus de Curitiba II, FAP – Faculdade de Artes do Paraná e
Artista Residente no Ateliê de Escultura pelo ICAC – Instituto Curitiba de Arte e Cultura. E-mail:
helolovato@hotmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
180
A RESISTÊNCIA FEMININA NEGRA EM CIDADÃ DE SEGUNDA
CLASSE, DE BUCHI EMECHETA
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise interpretativa do romance
Cidadão de segunda classe publicado em 1974 pela escritora nigeriana Buchi Emecheta. Com foco na
protagonista, buscaremos apresentar seus movimentos de resistência, abarcando desde sua infância até
a vida adulta, aproximando sua trajetória do conceito de subjetivação feminina proposto por Touraine
na obra O mundo das mulheres (2010). Ao longo da infância, observamos o florescimento do processo
de subjetivação de Adah, por meio da construção de uma visão crítica e a sua luta para ter acesso a
direitos básicos, como a educação e a própria sobrevivência. Já a vida adulta lhe reserva diversos
mecanismos de opressão, desde a simbólica até a física, vivenciada dentro do matrimônio. Retomando
seu processo de (re)construção subjetiva, ela passa pela resistência mental que a auxilia a desanuviar
sua ótica idealizada a respeito do casamento e a impele a busca pela independência psicológica da
figura e da família do marido. Avançando em sua trajetória ela se apropria da violência física, em uma
resposta de revide ao esposo. A combinação dos mecanismos de resistência a direciona para o desejo
de controle sobre o próprio corpo, sendo a escrita o principal mecanismo para cumprir a subjetivação
feminina, dado que enquanto escreve seu romance Dote de esposa a protagonista (re)constrói-se por
meio das palavras. O desfecho de sua trajetória, com o abandono do marido sinaliza para uma
estruturação psicológica substantiva, que a permite seguir sua vida com os filhos, colocando-se como
centro de sua existência e retomando seu protagonismo. Para isso, utilizar-nos-emos dos pressupostos
teóricos da Crítica Feminista Negra, dos Estudos Pós-Coloniais e Identitários, com pesquisadores/as
como Bauman (2005); Bonnici (2005, 2007, 2009a, 2009b); Carneiro (2019); Figueiredo (2019);
Memmi (2007); Rago (2014); Touraine (2010), entre outros/as.
1 Doutoranda e Mestra em Letras: Estudos Literário pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. E-mail:
anazukoski@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
181
A RESISTÊNCIA PELA LITERATURA NEGRO-BRASILEIRA NO
POEMA “CAVALO DOS ANCESTRAIS”, DE CARLOS DE
ASSUMPÇÃO
Bruna Augusta Marques1
Pedro Henrique Braz2
1
Graduada em Artes Visuais. Mestranda em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá. Bolsista
CAPES/ DS. E-mail: pg403687@uem.br.
2
Graduado em Letras. Mestrando em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá. Bolsista
CAPES/ DS. E-mail: pedro.braz@hotmail.com.
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182
A RUPTURA DA IDENTIDADE DOMINANTE NO FILME DE
ANIMAÇÃO HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO
Sasuke Ribeiro de Almeida1
Rafael Tonet Maccagnan2
Resumo: O tema desta pesquisa está voltado para as questões de igualdade racial e social, pois
mesmo com o desenvolvimento de pesquisas e movimentos que abordam e priorizam os direitos
humanos, principalmente em questões raciais e igualdade social, nos deparamos com uma sociedade
que ainda enfrenta paradigmas no que se refere a identidade da minoria, tanto em questões de gênero
quanto racial. Para tanto, objetivamos analisar os aspectos identitários étnico-raciais por meio do filme
de animação Homem-Aranha no Aranhaverso, dirigido por Peter Ramsey, Bob Persichetti, Rodney
Rothman, roteiro de Phil Lord e Rodney Rothman. A referida animação foi baseada nos quadrinhos do
personagem Miles Morales da Marvel Comics, contou com a produção da Columbia Pictures e Sony
Pictures Animation associado com a Marvel Entertainment com a sua distribuição pela Sony Pictures
Releasing em 2018. A presente pesquisa está em seu processo inicial, justifica-se que daremos
continuidade com os resultados vindouros, até o presente momento o que obtivemos por meio da nossa
metodologia de análise do filme em questão, tomamos conhecimento da importância dessa criação por
destacar aspectos raciais e a ruptura da identidade que domina, pois o protagonista é interpretado por
Miles Morales, um jovem negro que mora no Brooklyn que,se torna o mais novo Homem-Aranha, não
somente pela postura de super-herói, mas também pelos aspectos sociais e culturais que o filme
retrata, tanto no local em que o personagem mora e a sua mudança de escola, retratando valores
diversificados e a visibilidade da identidade afrodescendente. Também contamos com apoio
bibliográfico para sustentação da nossa pesquisa, com o respaldo em Vanoye (2006), Cunha (2017)
entre outros(as).
1
Bacharel em Geografia - UNESPAR. Especialista em Estudos Literários -UNESPAR. Graduando em Letras
Língua Portuguesa e Espanhol - IBRA/FABRAS. Escritor/quadrinista, Prof. de Literatura ENCCEJA no Canal
Conquiste seus Sonhos (youtube).E-mail: planetsasuke0@gmail.com.
2
Formado em história pela UEM, Pedagogia pela UNESPAR – Campus de Campo Mourão e aluno do Programa
de Mestrado em História Pública da UNESPAR - Campus de Campo Mourão. E-mail:
rafaeltonet123@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
183
A SUBVERSÃO DA CISHETERONORMATIVIDADE EM FELIX PARA
SEMPRE, DE KACEN CALLENDER
Gabriel Silva de Mello1
Resumo: A presente comunicação visa apresentar uma análise interpretativa do texto Felix para
sempre (2021), de Kacen Callender, com o intento de elucidar o movimento de disrupção da
cisheteronormatividade ao longo da existência e vivências do protagonista transgênero, negro e queer
do texto literário. A construção da identidade de gênero e o lócus social ocupado pelo protagonista,
Felix, tensionam e subvertem o determinismo naturalista que embasa o destino biológico dos gêneros
e que dita os seus papéis no seio de uma sociedade cisheteronormativa. Desse modo, a análise aborda
as vivências sociais de Felix, ancorando-as em três eixos: familiar, afetivo e escolar. No eixo familiar,
discute-se sobre a construção da família monoparental e as relações que a tangenciam, juntamente com
a construção da identidade de gênero do protagonista a partir da manipulação da testosterona e da
escolha de seu novo nome. Quanto ao eixo afetivo, reflete-se sobre os processos de abjeção e
fetichização dos corpos trans como molas propulsoras da solidão das identidades transmasculinas. Por
último, já no eixo escolar, revela-se a escola como um lócus de normalização, reprodução e reiteração
de inúmeras violências simbólicas infligidas sobre os corpos trans. A metodologia consiste na leitura e
análise de Felix para sempre, de Kacen Callender, pelo viés dos Estudos de Gênero de autores/as,
cujas obras versam sobre identidade, Teoria Queer e diferença, como Paul Preciado (2020), Berenice
Bento (2008), Richard Miskolci (2017), entre outros/as. Os resultados revelam que o seio familiar,
embora rico em afetos, também possui muitos conflitos, ao passo que o corpo trans de Felix demonstra
abrigar uma identidade construída a partir de travessias, estas constituídas de muitas lutas, resistência,
rejeição e solidão. Já a escola, ao promover a normalização da cisheteronormatividade, revela-se como
um ambiente de reprodução de transfobias.
1
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Letras (PLE) pela Universidade Estadual de Maringá (UEM)
na área de Estudos Literários. E-mail: gabkorakas@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA SOB A JUSTIFICATIVA RELIGIOSA NO
ROMANCE HIBISCO ROXO, DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE
Douglas Fernando Blanco1
Adriana Delmira Mendes Polato2
Wilma dos Santos Coqueiro3
Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar a violência contra mulher no ambiente doméstico, tendo
como plano de fundo o escopo da religiosidade, contexto este que perpassa o romance de Hibisco
Roxo, publicado pela escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, em 2003. Por meio de uma
tessitura narrativa densa, constata-se que a violência exposta na obra é patrimonial, moral e física.
Tendo isso em vista, fundamentamos a reflexão no conceito de violência física dispendido por Brasil
(2006), a qual está prevista no artigo 7º, em seu inciso I, que se caracteriza como toda aquela em que o
agressor despende uma força e causa algum tipo de dano à integridade do corpo ou à saúde da mulher.
No romance, o “Papa”, assimilado à cultura e à religião branca de matriz europeia, pune severamente
os filhos e a esposa, por manterem as tradições africanas que resistem naquele local. Desse modo, os
atos de violência são variados, de água quente nos pés até a agressão com um missal. Na obra, aqueles
que sofrem a agressão se acostumam com o fato e, por conformismo, acham que merecem toda
crueldade que lhes é imposta. Com efeito, os personagens acabam se tornando invisíveis pela
religiosidade do patriarca e pela desapropriação cultural. A condição financeira e a filantropia
transformaram “Papa” em um herói local, e isso corrobora com a perpetuação da submissão religiosa e
patrimonial. Assim, para a família e para a comunidade, o pai era intocável. Para a reflexão acerca dos
diversos tipos de violência na obra, o trabalho se respalda nos conceitos de violência doméstica, entre
eles, o descrito por Santos (2019), e em relação à violência de gênero, embasa-se em Bandeira (2014)
e Saffioti (2015). Ademais, sobre o feminismo negro e as novas formas de socialização e justiça
social, assentaremos as discussões a partir dos estudos de Hooks (2018).
1
Graduado em Filosofia. Aluno regular do Programa de Pós-Graduação Sociedade e
Desenvolvimento(PPGSeD), da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/ campus Campo Mourão. E-
mail: douglasfbl@hotmail.com.
2
Orientadora. Doutora em Letras/área de concentração em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual de
Maringá (UEM). Docente do Curso de Graduação em Letras e do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e
Desenvolvimento (PPGSeD) da UNESPAR/campus de Campo Mourão. E-mail: ampolato@gmail.com.
3
Coorientadora. Doutora em Letras/área de concentração em Estudos Literários pela Universidade Estadual de
Maringá (UEM). Docente do Curso de Graduação em Letras e do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e
Desenvolvimento (PPGSeD) da UNESPAR/campus de Campo Mourão. E-mail:
wilma.coqueiro@ies.unespar.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
185
ARTISTAS MULHERES: PROBLEMATIZANDO AS AUSÊNCIAS E
PRESENÇAS NA PRODUÇÃO DA HISTÓRIA DA ARTE EM
CURITIBA (SÉCULO XX)
Layla Roberta de Oliveira Herzer1
Nicoly Rechenmacher da Rosa2
Claudia Priori3
Resumo: Ao longo dos séculos, a posição ocupada pelas mulheres em diferentes sociedades foi
inferiorizada, colocando-as em condição de submissão, silenciamento e apagamento histórico. No
campo artístico, foram invisibilizadas diante da figura de artistas homens e, por muito tempo, vistas
apenas como musas inspiradoras, e não como artistas, e sua arte foi considerada como “amadora”. E
quando se trata da presença e produção de artistas mulheres negras, a invisibilidade é ainda maior,
uma vez que o papel de sujeitas históricas lhes foi negado historicamente. A partir disso, nossa
pesquisa se propõe à investigação de mulheres artistas do século XX, atuantes no estado do Paraná,
priorizando pintoras, escultoras, gravuristas e/ou desenhistas, e o recorte temporal delimita nomes
diversos no desenvolvimento da arte Moderna e Contemporânea. A destarte, vale destacar que as obras
das artistas são um dos focos de nossa pesquisa, além das temáticas abordadas nas obras, as trajetórias
de vida e atuação, levando em consideração a questão étnico-racial e posição social das mulheres. No
entanto, para essa comunicação, nosso objetivo é discutir a presença e produção de mulheres artistas,
especialmente na cidade de Curitiba e que fizeram parte da história da arte local, mas por vezes não
tiveram espaço no cenário público, e nesse propósito, abordar também a ausência ou pouca presença
de mulheres artistas negras. Portanto, objetivamos problematizar essas questões e apresentar
produções de artistas negras contemporâneas que têm atuado no cenário artístico da cidade, para além
do recorte temporal da pesquisa. Nossa abordagem está baseada na história das mulheres, na história
das artes visuais e nos estudos de gênero.
1
Graduanda do Curso de Licenciatura em Artes Visuais na Universidade Estadual do Paraná, Campus de
Curitiba II, FAP - Faculdade de Artes do Paraná. Bolsista pelo Programa de Pesquisa Básica e Aplicada,
modalidade Iniciação Científica da Fundação Araucária. E-mail: laylaherzerartist@gmail.com.
2
Graduanda do Curso de Licenciatura em Artes Visuais na Universidade Estadual do Paraná, Campus Curitiba
II, FAP - Faculdade de artes do Paraná. Bolsista pelo Programa de Pesquisa Básica e Aplicada, modalidade
Iniciação Científica da Fundação Araucária. E-mail: nicolyrdarosa@gmail.com.
3
Professora Associada no Curso de Licenciatura em Artes Visuais na Universidade Estadual do Paraná, Campus
de Curitiba II, FAP - Faculdade de Artes do Paraná. Coordenadora e Orientadora no projeto de pesquisa
financiado pelo Programa de Pesquisa Básica e Aplicada, modalidade Iniciação Científica da Fundação
Araucária. E-mail: claudia.priori@unespar.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
186
AS DUAS MARIAS: UMA PROPOSTA DE DIÁLOGO, ENTRE
CONCEIÇÃO EVARISTO E ELZA SOARES, A RESPEITO DA
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NEGRA, NO BRASIL
Luíza Bahr Calazans1
Resumo: Essa pesquisa propõe uma análise literária do conto Maria, de Conceição Evaristo, em
diálogo com a música Maria da Vila Matilde, cantada por Elza Soares e composta por Douglas
Germano. O objetivo da análise é o de pôr em evidência a questão da violência contra a mulher negra,
no Brasil, através dos elementos que emergem desse diálogo. Trata-se de duas mulheres negras que
dão voz às respectivas personagens chamadas Maria. Pretendemos destacar os elementos literários,
presentes nas duas narrativas, que, de modo complementar, denunciam a situação de vulnerabilidade,
estabelecida pelo racismo, pela qual passam tantas Marias brasileiras. Para estabelecer a base teórica
da análise dos elementos literários do conto e da letra da música, recorremos às teorias literárias de
Norman Friedman e Umberto Eco. Entretanto, o conceito que articula o diálogo proposto é o de
escrevivência, desenvolvido por Conceição Evaristo. Ainda que Elza Soares não seja a autora da
música, esperamos mostrar que o conceito de escrevivência pode ser ampliado para a interpretação, na
medida em que a intérprete empresta sua voz, como mulher negra, para a narrativa. Entretanto, a
escrevivência presente na autoria de Conceição Evaristo parece diferir daquela da interpretação,
justamente por prescindir do esforço interpretativo, já que a própria escrita do texto oferece tal
perspectiva. No que diz respeito ao tema comum das narrativas, que emerge desse diálogo – a
violência contra a mulher negra, no Brasil – pretendemos evocar aspectos centrais das obras de Frantz
Fanon e Lélia Gonzalez.
1
Graduanda em Letras – Francês, na UFPR (Universidade Federal do Paraná). E-mail:
luizabcalazans@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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AS LAVADEIRAS: RELAÇÕES DE TRABALHO EM ÁGUA DE
BARRELA, DE ELIANA ALVES CRUZ
Yuri Juan de Oliveira1
Wilma dos Santos Coqueiro2
Mirian Cardoso da Silva3
Resumo: A existência das mulheres negras sempre foi marcada pela história da escravidão e pelos
limites estruturais de raça e de gênero, os quais cerceiam e dificultam a tomada de autonomia e
protagonismo. Relegadas a atividades consideradas menores, essas mulheres utilizavam o cotidiano
como forma de resistência e de luta contra o sistema opressor. Um exemplo dessas são as lavadeiras,
que é uma das formas de trabalho historicamente delegadas às mulheres negras. A presente
comunicação pretende, portanto, analisar a representação da força de trabalho das lavadeiras, no
romance Água de Barrela, publicado em 2016, por Eliane Alves Cruz, jornalista negra descendente de
africanos escravizados. Como a própria autora revela em entrevistas, a escrita da obra, a partir de
pesquisas acadêmicas da história familiar, é uma forma de cura das feridas ocasionadas pelo racismo
que sofreu na infância. Com efeito, o romance, que retrata várias gerações de mulheres da família da
autora, aborda a diáspora forçada ao Brasil de Akin Shagokunle e sua cunhada grávida Ewà Oluwa.
Após a chegada ao Brasil, já escravizada em uma fazenda baiana, Ewà dá luz a Anolina, sendo ela a
primeira mulher de uma nova geração de lavadeiras. Com esse trabalho, essas mulheres trazem a
utilização da mistura de cinzas da madeira para limpar as roupas dos patrões, de forma que o branco
das vestes era objetivado pelas próprias lavadeiras. Para a realização desta pesquisa interdisciplinar
que aborda a intrínseca relação entre literatura e história, nos pautamos, entre outros, nos estudos de
Gilberto Freyre (2006), que trata da exploração de ex-escravizados em Casa Grande & Senzala,
publicado originalmente em 1933, indo do abuso físico ao psicológico; de Johanna Meyer (2016)
sobre o ofício das lavadeiras e de Bell Hooks (2018) e Karla Akotirene (2019), que discutem a luta da
mulher negra por espaço e representação.
Palavras-chave: Romance de autoria feminina. Eliane Alves Cruz. Mulheres Negras. Lavadeiras.
1
Graduando de História - Unespar, campus de Campo Mourão. Bolsista Capes do programa de Iniciação
Cientifica. E-mail: yuri_juan3@hotmail.com.
2
Doutora em Letras, área de concentração em Estudos Literários (UEM). Docente adjunta do colegiado de
Letras e do Programa de Pós Graduação em Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD) da UNESPAR/campus de
Campo Mourão. E-mail: wilma.coqueiro@ies.unespar.edu.br.
3
Doutora em Letras, área de concentração em Estudos Literários (UEM). E-mail: mikardosoo@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
188
CAMADAS DE RESISTÊNCIA EM 15 DIAS, DE VICTOR MARTINS:
UMA LEITURA SOBRE A PERCEPÇÃO DO ‘EU’ EM BUSCA DA
IDENTIDADE
Gustavo Moreira Rocha1
Fernanda Garcia Cassiano2
Resumo: Esta pesquisa analisa o modo pelo qual os conceitos de corpos abjetos, de Butler (2016),
Teoria Queer, de Miskolci (2012), e identidades pós-modernas, de Hall (2006), são capazes de propor
uma leitura de 15 dias (2017), de Vitor Martins, e reafirmar a importância de literaturas LGBTQIAP+
como formas de resistência em sociedades ocidentais. Resistir possui camadas e não se define apenas
pelo ato de se opor a algo ou alguém, como conceituado por Ashcroft (2001). Felipe, um jovem gordo
e gay de 17 anos, vê seu mundo desabar quando, no início de suas férias, momento em que ele
pretende se isolar em seu quarto para fugir do bullying sofrido na escola, descobre que seu vizinho,
Caio, ficará em sua casa durante os 15 dias de recesso estudantil e, a partir disto, um sentimento que
antes estava adormecido volta para o assombrar. Neste tempo da narrativa, há a redescoberta desta
interseccionalidade entre o ser gordo e o ser gay, um processo da percepção do ‘eu’ para o mundo, por
meio de reflexões causadas pela dor da rejeição deste corpo excluído. A identidade queer, tema
principal deste trabalho, é o estranho que incomoda, e cumpre seu papel de definir o indefinível, ao
levar a personagem principal em sua própria jornada do herói. A metodologia, de caráter qualitativo,
interpreta as questões sociais e históricas que permeiam o texto de Martins, dessa forma, a análise é
pautada nas reflexões e comparações dos valores hegemônicos de uma sociedade, supostamente,
padrão. Espera-se obter, por meios dos estudos teóricos aqui citados, uma compreensão das facetas
identitárias de um garoto gay e gordo e os impactos que esse corpo causa ao ocupar espaços.
1
Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Letras (PLE), da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Graduado em Letras Português/Inglês e Literaturas Correspondentes pela mesma instituição. E-mail:
gustamr@outlook.com.
2
Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Letras (PLE), da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Graduada em Letras Português e Literaturas Correspondentes pela mesma instituição. Professora de língua
portuguesa na Escola Estadual Brasilio Itibere. E-mail: fernandagarcia.c@hotmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
189
CAROLINA DE JESUS: OS ESFORÇOS FÍSICOS E MENTAIS DA
POPULAÇÃO NEGRA PARA SOBREVIVER NO BRASIL
Milena Silvério Ferreira1
Resumo: O Brasil foi e é um dos países mais racistas do mundo, isso sempre foi muito evidenciado
pelas leis, cultura e arte. A sobrevivência dessas populações passa por muita resistência e resiliência,
uma experiência limite para a saúde mental e física dessas pessoas. A obra “O quarto de despejo:
Diário de uma favelada” da grande autora Carolina Maria de Jesus mostra esse cotidiano triste e
penoso, onde as pessoas negras recebiam poucas oportunidades naquela sociedade brasileira, algo que
ainda acontece na atualidade. Carolina expôs a dura realidade de uma pessoa negra que vivia na favela
(sustentando seus filhos) não tendo chances de estudar durante a infância e adolescência, tendo então
que recolher materiais recicláveis para sustentar a sua família, uma profissão sofrida. Nessa obra é
possível perceber as consequências dessa sociedade extremamente discriminatória, uma delas, talvez a
mais difícil de conviver: a fome, uma dor física, mas que afeta a mentalidade de quem passa
profundamente. Desse jeito essa pesquisa busca mostrar essa realidade, (a fome e as dificuldades
rotineiras) que desgasta a população negra, afetando-as mentalmente pois sempre devem estar lutando
e defendendo os seus direitos já conquistados, pois no Brasil, um país que possui uma dívida histórica
com essa população, esses direitos são sempre colocados em cheque, e por isso essa luta é contínua e
desgastante visto as suas condições sociais, uma verdadeira luta pela sobrevivência.
1
Pós- graduada (especialista). E-mail: misilverio99@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
190
CAROLINA MARIA DE JESUS: MEMÓRIA, RESISTÊNCIA E A
ESCRITA DE SI
Gabrieli Almeida da Silva Peron1
Resumo: O presente trabalho tem como escopo analisar a memória como resistência e a escrita de si
na obra Quarto de Despejo: Diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, publicado em 1960.
A partir de Quarto de Despejo: Diário de uma favelada (2020) pensar-se-á a escrita como ferramenta
de resistência e a memória que a constituí como um ser humano que existe apesar das singularidades
da vida e que utiliza a escrita para documentar a própria obra, assim, o passado é resgatado e
ressignificado a partir do presente, pois Carolina Maria de Jesus resiste à fome, ao abandono,
silenciamento e ao apagamento social, escrever é um ato político e a autora o faz com maestria.
Carolina Maria de Jesus se constituí como sujeito a partir da escrita de si, porque abnega o lugar que a
sociedade coloca a mulher negra e pobre. O arcabouço teórico baseia-se em Grada Kilomba (2020),
Angela Davis ( 2016), Maurice Halbwachs (1990) e Philippe Lejeune (2008). Portanto, o estudo visa
contribuir com a riqueza de diálogos proposto pelo simpósio e a divulgação científica.
1
Mestranda. Professora no ensino privado. E-mail:gabrielialmeidaaaa@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
191
CASO SIMONE ANDRÉ DINIZ: RACISMO INSTITUCIONAL
Thiago Rodolfo Pires1
Resumo: O presente trabalho tem por escopo a análise do Caso Simone André Diniz à luz do Sistema
Regional da Organização dos Estados Americanos (OEA) de Proteção de Direitos Humanos,
notadamente a decisão proferida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), no ano
de 2006, em desfavor do Brasil. Trata-se de um caso emblemático sobre racismo institucional levado
até à CIDH ante a perpetuação dessa chaga social no âmbito de instituições públicas republicanas da
Delegacia de Polícia (DEPOL), do Ministério Público (MP) e do Tribunal de Justiça (TJ), que se
quedaram inertes face à grave situação de discriminação racial vivenciada pela pretensa trabalhadora
Simone André Diniz. Na oportunidade, Simone se candidatou a um emprego de doméstica e deixou de
ser contratada, por ser negra, já que dentre os requisitos para ocupação do cargo constava “preferência
branca”. A metodologia adotada consiste na análise sócio-jurídico-histórica envolta ao fenômeno
excludente concebido de limitação do acesso das mulheres negras ao mercado de trabalho, por motivo
estritamente racial. Nesse viés, buscar-se-á analisar o teor das 12 (doze) recomendações expedidas ao
Estado brasileiro pela CIDH em cotejo com a realidade social contemporânea, sobretudo no viés do
racismo institucional perpetrado. O trabalho pautar-se-á nos pressupostos teóricos sobre o racismo
institucional enquanto prática deletéria ainda existente e que é perpetuada reiteradamente no âmbito
das relações sociais. Além disso, abordar-se-á o entendimento manifestado pela CIDH, sob a ótica dos
normativos internacionais e legislações pátrias afetas à proteção dos direitos humanos e fundamentais,
bem como dos princípios pro persona, da dignidade da pessoa humana, da igualdade em sua acepção
material e da não-discriminação.
1
Mestrando Interdisciplinar do Programa Sociedade e Desenvolvimento, da UNESPAR/campus de Campo
Mourão. E-mail: thiagopires@hotmail.com.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
192
COMO SE DIZ O INDIZÍVEL: CONSIDERAÇÕES SOBRE
DISCRIMINAÇÃO E INTERSECCIONALIDADE NO ROMANCE
LÍRICO A PALAVRA QUE RESTA (2021), DE STÊNIO GARDEL
Natacha dos Santos Esteves1
1
Mestranda em Estudos Literários pela Universidade Estadual do Paraná – UEM. E-mail:
natachaestevescm@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
193
CONTRA O MEMORICÍDIO, PODE A MULHER AFRO-BRASILEIRA
FALAR: CAROLINA MARIA DE JESUS E STELA DO PATROCÍNIO
EM DIÁLOGO
Fernanda de Andrade2
Resumo: A memória, como um poder negociado pelos grupos, implica que o esquecimento constitui
uma face da invisibilidade e do emudecimento dos seres excluídos da sociedade, deliberadamente
apagados ou não pensados, cujas vozes e perspectivas foram soterradas pelo principal suporte da
memória que é a escrita, de acordo com Aleida Assmann (2011). Trata-se do que pode ser mensurado
diante do monopólio eurocêntrico, classista e falocêntrico, seja da historiografia oficial, seja do cânone
literário. Convida-se aqui a indagar que as obras de Carolina Maria de Jesus e de Stela do Patrocínio
auxiliam na jornada de preenchimento dos vazios memorialísticos tencionando a inclusão de temas
que falam de si, ao passo que ainda ressoam as memórias coletivas em seus caminhos pelo século XX,
desafiando as representações hegemônicas e a marginalização. Com efeito, este estudo empreende o
diálogo crítico entre Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960) e Reino dos bichos e dos
animais é o meu nome (2001), das respectivas autoras, analisando-os enquanto ricos arquivos das
protagonistas afro-brasileiras, ao armazenar os seus rastros pelas palavras, em meio às sistemáticas
tentativas de aniquilação objetiva e subjetiva, na favela e no hospício. De Carolina, descoberta pelo
jornalista Audálio Dantas por seus cadernos, segue-se os vestígios em sua resistência autoral, como
mãe solteira de três filhos, catadora de papel e no fio da navalha com a fome e a miséria. Já com Stella
do Patrocínio, diagnosticada com esquizofrenia, rastreia-se a poesia insubmissa e híbrida legada pela
sobrevivente da internação manicomial, durante quase toda a vida, e cuja fala foi transcrita e
organizada por Viviane Mosé (2001) em livro. Para tanto, conta-se com um aparato teórico
multidisciplinar subsidiado por Jacques Le Goff (1990), Maurice Halbwachs (1990), Aleida Assmann
(2011) e Ecléa Bosi (2003), para pensar a memória nesses termos. Lélia Gonzalez (1984), Djamila
Ribeiro (2017) e Grada Kilomba (2019), entre outras estudiosas, comparecem para esclarecer a
experiência de ser mulher negra e da matriz de dominação imbricada, bem como Michel Foucault
(1995) é convocado para a leitura da violência psiquiátrica. Não se perde de vista, por fim, as
especificidades dos gêneros autobiográficos, ancorando-se nos subsídios de Philippe Lejeune (2008),
para chegar ao saldo da importância de tais vozes comunais em manter viva, resistentemente, a linha
de transmissão da memória, do direito a ela, à equidade e à justiça: o lugar de fala como lugar do
testemunho e de luta pela memória.
2
Mestrado em Letras. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual de
Maringá. E-mail: fmetamorfose@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
194
CORDEL INDÍGENA E RELAÇÕES INTERSECCIONAIS DE PODER:
UMA LEITURA DE CORAÇÃO NA ALDEIA, PÉS NO MUNDO
Marcia Geralda de Almeida1
Géssica Francielle Nunes de Paula2
Resumo: Este estudo tem o objetivo de apresentar uma leitura do cordel intitulado Coração na
aldeia, pés no mundo, de autoria da primeira cordelista indígena brasileira, Auritha Tabajara. Trata-se
de um estudo bibliográfico, interpretativo e de base qualitativa, pautado na teoria da
interseccionalidade. A partir da interseccionalidade, a análise mobiliza também o conceito de domínio
cultural, estrutural, disciplinar e interpessoal de poder, a fim de evidenciar de que maneira as
categorias classe, gênero, etnia, religião, nacionalidade e etc. são entrelaçadas como mecanismos de
sustentação e reprodução das relações de poder e dominação na sociedade, especificamente no que
concerne à mulher originária. A interseccionalidade rejeita a compreensão dos sujeitos como um todo
homogêneo para evidenciar como estes são situados no meio social de maneiras distintas, de acordo
com o contexto e com as diferentes categorias nas quais estão/são inseridos. No cordel Coração na
aldeia, pés no mundo, é possível perceber essas categorias sendo acionadas e entrelaçadas em toda
narrativa, de modo que a análise do texto se divide em três momentos, nos quais diferentes relações
interseccionais de poder interferem na vida da personagem do cordel. Este texto apresenta o primeiro
momento da análise que corresponde à infância da personagem, tendo em vista que desde seu
nascimento as relações interseccionais de poder estão presentes em sua vida, impondo e determinando
a crença, a noção de feminilidade, o apagamento linguístico e até mesmo a imposição do nome da
personagem, por meio do registro civil que nega o direito ao nome de origem indígena e lhe impõe um
nome proveniente da língua latina. Essas ações violam o corpo indígena e projetam a formação de uma
identidade fragmentada e adoecida pelos traumas de uma situação de opressão e imposições
imperialistas desde a invasão do território nomeado Brasil. Por meio das categorias religião,
nacionalidade, gênero, raça, classe e etnia, percebe-se o funcionamento do domínio estrutural e
cultural de poder, entretanto a literatura de cordel de Auritha Tabajara mostra resistência e rejeita essas
imposições a partir de um texto cheio de ironia e bom humor.
1
Graduada em Letras Português/Inglês. Mestre em Estudos Literários. Doutoranda do Programa de Pós-
Graduação da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: marcialmeida57@gmail.com.
2
Graduada em Letras Português. Universidade Estadual de Maringá. Especialista em Gestão Escolar Indígena.
Atua como docente na Escola Estadual Indígena Yvy Porã. E-mail: gehnunes1991@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
195
CORPO NEGRO EM MOVIMENTO: O QUESTIONAMENTO DA
NOÇÃO DE LIBERDADE NO ROAD NOVEL SING, UNBURIED, SING
Mirian Cardoso da Silva1
Resumo: Jesmyn Ward é uma proeminente escritora norte-americana que publicou Salvage the bonés
(2011), Men we reaped (2013) e o romance Sing, unburied, sing (2017), uma narrativa do realismo
mágico ambientada no Mississippi rural, pós-Katrina e objeto desta comunicação. Esta obra é um road
novel que coloca em cena uma família na estrada, com uma mãe, a amiga, o marido e seus filhos, e
ressignifica as formas tradicionais do gênero ao estabelecer como temática a questão racial. A
narrativa inicia na manhã do aniversário de treze anos de Jojo, um menino negro que assiste o avô no
processo de matar e esfolar uma das cabras da família. Nesse mesmo dia, seu pai, que estava preso, é
solto da cadeia e a mãe resolve buscá-lo, levando os filhos em uma jornada em família pelas estradas.
A cidade é Bois Sauvage, um local fictício situado no Mississippi, onde vive uma sociedade injusta,
racista e atormentada por vícios, miséria e desespero. A viagem tem um destino, a Penitenciária
Estadual do Mississippi, Porchman Farm. Ao longo da jornada, a narrativa desenvolve personagens
que foram presos literalmente, e, ao mesmo tempo, aqueles que vivem em uma prisão metafórica,
encarcerados nos conceitos sociais de raça, classe, vício e passado, isto é, presos às barreiras sociais
que limitam a vida. Todos eles em um vértice confuso no qual a mãe se perde no vício, o avô esconde
e sofre as ações de seu passado, Richie deseja ter voz e Jojo busca um caminho até sua própria
identidade em estradas racistas e traumáticas. Esse mote central da viagem coloca em cena a noção de
liberdade nas estradas, a qual é negada no romance conforme as personagens avançam, e é
questionada por meio do mal estar constante delas dentro do automóvel. O/A leitor/a é conduzido/a a
acompanhar essa família assombrada e a se deparar com encontros que desestabilizam, questionam,
confrontam e reforçam que a liberdade da estrada não é para todos, já que muitos vivenciam os
preconceitos e as injustiças. Desse modo, a presente comunicação tem como objetivo perscrutar como
ocorre a ressignificação da noção de liberdade nas estradas pela perspectiva de personagens negros no
romance de Ward. Para tanto, a proposta se pauta nos estudos de Seixo (1998), Gilmore (2007), Totten
(2015), Smith (2011), entre outros/as.
1
Doutora em Letras, área de concentração: Estudos Literários - UEM. E-mail: mikardosoo@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
196
DE AMAS DE LEITE À BABÁS: A PERPETUAÇÃO DA GERAÇÃO DE
INVISIBILIDADES DE MULHERES EMPREGADAS DOMÉSTICAS
NEGRAS NO PERÍODO PANDÊMICO
Gabriel Francisco Cabrera de Sá1
Resumo: O Brasil e o mundo vivenciam uma das maiores pandemias, ocasionada pelo vírus SARS-
CoV-2, causando efeitos drásticos e irreversíveis. Ao passo que o Brasil, um país colonizado e com
raízes escravocratas não tenha hoje a escravidão realizada no período colonial e imperial como forma
lícita de mão de obra, há de se considerar a modernização da escravidão realizada, disfarçada e
rotulada com novas justificativas. Como observado na foto sobre a ama de leite Mônica, o serviço
doméstico revela traços e problemáticas de raça, classe e gênero, ainda com raízes da escravidão.
Nesse sentido, estatísticas confirmaram, em 2015, 88,7% das/os trabalhadoras/es domésticas/os entre
10 e 17 anos no Brasil eram meninas e 71% eram negras/os (OIT, 2016). Além disso, pelo mesmo ano,
com base nos dados levantados, empregadas/os negras/os correspondiam ao total de 4.059,869,
enquanto empregadas/os brancas/os correspondiam a 2.215,723, totalizando 6.275.592 (IPEA, ONU
Mulheres e MJC, 2015). O período pandêmico evidenciou uma geração marcada pela invisibilidade,
ressaltando problemas complexos vivenciados em nossa sociedade, em especial o serviço doméstico
no Brasil. A partir de fotografias e prints das redes sociais, a análise do trabalho doméstico no país, em
sua maioria realizado por mulheres negras, na atualidade pandêmica, respalda-se nos aportes teóricos
dos Estudos Culturais, em especial em obras de autoras como Angela Davis (2016), Preta Rara (2019)
e Sandra Sofia Machado Koutsoukos (2007). As empregadas domésticas ainda são objetos de
exaltação e demonstração do poder aquisitivo, assim como se sentir em servidão, submissas aos seus
patrões. A pandemia escancarou situações de mulheres negras, empregadas, vítimas do racismo,
exemplos como o caso da primeira vítima de pandemia no Brasil ser uma empregada doméstica negra,
assim como a morte trágica de Miguel Otávio Santana da Silva, deixado sozinho no elevador pela
patroa de Mirtes Renata, no Recife (PE) enquanto sua mãe passeava com o cachorro da família, nesse
sentido, vítimas de uma construção racista estrutural, que emerge da própria estrutura social, permeada
por relações políticas, econômicas, jurídicas e familiares.
1
Mestrando. Universidade Estadual do Paraná. Bolsista por Demanda Social - Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior. E-mail: gadesa234@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
197
DESCORTINANDO HISTÓRIAS NÃO CONTADAS: AFRICANOS E
AFRODESCENDENTES NAS HISTÓRIA DA ARTE OCIDENTAL
Ana Maria Rufino Gillies1
Resumo: A discussão aqui proposta faz parte de um estudo mais amplo sobre o mesmo tema na
história das artes visuais no Brasil. As pesquisas tem levado à constatação do volume considerável de
pinturas que evidenciam a presença de figuras negras na sociedade e nas artes visuais na Europa. São
obras que chegam ao nosso conhecimento paulatinamente, fruto de intensa busca, e vão descortinando
resultados surpreendentes. Se no Brasil contemporâneo, a invisibilização de negros e negras na
história hegemônica das artes visuais tem sido problematizada por Renata Felinto, Rosana Paulino,
Alexandre Bispo, entre outros, na Inglaterra, artistas e pesquisadores como Professors Olivette Oteele
e Lubaina Hamid, o artista e teatrólogo Paterson Joseph e o escritor Ekow Eshun estão provocando o
envolvimento dos grandes espaços expositivos na exibição de obras e de discussões que tratam de
produções de consagrados nomes como JMWTurner, com a tela Slave Ship a inúmeros outros mais ou
menos conhecidos no Brasil. Essas ações assertivas envolvem outros sujeitos além dos mencionados,
como a norte-americana Doutora Denise Murrell, curadora associada de arte dos séculos XIX e XX no
Metropolitan Museum of Art, em Nova York, e autores e autoras que tem escrito sobre
decolonialidade, interseccionalidade e do conceito de Atlântico Negro. O que se objetiva com esta
proposta é dar continuidade à publicização dessas iniciativas que, congregadas às nossas, buscam
promover uma positivação da representação e da existência de negros e negras na história, também por
meio de uma história da arte mais democrática e inclusiva
1
Doutora em História pela UFPR. Professora Associada do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da
Faculdade de Artes do Paraná-FAP, campus II de Curitiba da UNESPAR. Professora do Programa de Pós-
Graduação em História, Linha de Pesquisa Espaços de Práticas e Relações de Poder da UNICENTRO. E-mail:
rufinogillies@gmail.com, ana.gillies@unespar.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
198
DEVOLVER A ELES ESTE GRANDE SUSTO: A(S) ESCRITA(S)
DRAMATÚRGICA(S) NEGRA(S) ENQUANTO ROTA(S) DE FUGA E
UTOPIA ANTE AO CARREGO COLONIAL
Carlos Alberto Mendonça Filho1
Resumo: A partir do diálogo entrecruzado com as/os autoras/es Leda Martins (1995), Achille
Mbembe (2018) e Grada Kilomba (2019), este trabalho tem como objetivo analisar os processos de
escrita e recepção de textos dramatúrgicos escritos por pessoas negras, identificando suas
singularidades, fugas e utopias ante à luta contra a colonialidade. Para tanto, além de realizar uma gira
epistêmica acerca da produção do discurso dito negro e suas especificidades, da dominação do
conhecimento através da escrita e dos processos de tornar-se sujeito através da emancipação existe no
processo de escrever nossas próprias narrativas, realizo uma análise relacional e crítica das estratégias
de escrita do dramaturgo paulistano Jhonny Salaberg em sua Trilogia da Fuga, que reúne os textos
dramatúrgicos “Buraquinhos ou o vento é inimigo do picumã” (2018), “Mato Cheio” (2019) e “Parto
Pavilhão” (2021). Jhonny Salaberg nos apresenta, em suas três dramaturgias-fuga, narrativas em que
suas personagens principais, que são negras, se veem em situações de partida forçada que são,
necessariamente, resultados de algum tipo de processo de violência onde a posição individual (micro)
está totalmente imbricada na do coletivo (macro), desvelando acontecimentos constantemente
banalizados pela sociedade como um todo, sintomas e consequências diretas das injustiças, dos
preconceitos e dos estigmas. Somos convocadas/os, enquanto agentes do pensamento e da
transformação, a tomar algum tipo de posicionamento, a dar um passo a mais do que somente a catarse
presente na identificação poética e/ou narrativa que é desenvolvida ao longo dos textos. Somos
convidadas/os à escuta, mas também à ação, já que os acontecimentos das três peças estão longe de
existirem somente no campo ficcional
1
Titulação. Atuação profissional ou acadêmica e instituição. Se bolsista, indicar o tipo de bolsa e a agência de
Fomento. E-mail: carloscanarim1@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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“É A HISTÓRIA FALANDO POR MEIO DELES”: A VIOLENTA
RESPOSTA DO COLONIZADO EM DESONRA (1999), DE J. M.
COETZEE
Ana Maria Soares Zukoski1
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise interpretativa a respeito dos
aspectos pós-coloniais presentes na obra Disgrace (1999) traduzida no Brasil como Desonra publicada
pelo autor sul-africano J. M. Coetzee. O escritor nos apresenta um romance pós-colonial diferenciado,
uma vez que o narrador, mesmo sendo heretodiegético, focaliza a visão de David Lurie. É a partir
dessa visão que temos acesso aos acontecimentos, e nos é perceptível o choque que o colonizador
sente ao perceber a resposta do colonizado. O romance que tem por espaço predominante o interior da
África do Sul se passa logo após o apartheid. Os protagonistas, David e Lucy, além de brancos vieram
da Europa, metaforizando os colonizadores e sofrendo a resposta que a colonização desencadeou.
Nossa análise dedicar-se-á a evidenciar as consequências provocadas pelo processo colonial, como o
ódio dos nativos pelos europeus, ainda que não tenham sido essas pessoas especificamente que tenham
causado os horrores coloniais. Com o viés pós-colonial, o romance em questão nos possibilita acessar
o outro lado da história, omitida pelo discurso oficial. O trabalho está alicerçado nos pressupostos
teóricos da Crítica Pós-colonial com pesquisadores/as como Bhabha (1998); Bonnici (2000, 2005,
2011); Reis (1992); Ribeiro (2010); Said (1990) entre outros/as.
1
Doutoranda e Mestra em Letras: Estudos Literário pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. E-mail:
anazukoski@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
200
ENTRE-LAÇOS DE SABERES: REFLEXÕES SOBRE O DIÁLOGO
ENTRE A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E A TEMÁTICA DA
CULTURA AFRO-BRASILEIRA
Jessica Caroline de Oliveira1
Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir parcialmente os fundamentos teóricos das práticas de
extensão universitária intituladas “Negro: sinônimo de cultura”, vinculadas ao projeto “História,
Cultura e Identidades”, realizado pela turma do 3º ano do curso de História da Universidade Estadual
do Paraná, campus de União Vitória, em 2021. Organizado por meio de rodas de conversas, a ação
extensionista aqui discutida contou com o anseio de integrar a esfera acadêmica e a esfera da
comunidade a fim de fomentar o diálogo acerca de temáticas que visam (re)significar, positivar e
colocar em prática os vieses da interação entre ensino, pesquisa e extensão com os motes da Lei
10.639/03, cujo entendimento é visibilizar e democratizar a troca de saberes por meio de atividades
que promovam a interação, trocas de experiências e leituras de mundo. Como resultados, pode-se citar
os impactos formativos, científicos e educacional, tanto por parte do grupo executor quanto da
comunidade participante, afinal, de forma verticalizada, os debates realizados ansiaram a promoção do
diálogo e das trocas mútuas de conhecimento. Para o aporte teórico, utilizou-se de autores como Freire
(2012), Santos (2013) e Fernandes et al (2013), entre outros.
1
Licenciada em História pela Universidade Estadual do Paraná, campus de União da Vitória. Possui
Especialização em Cultura Afro-brasileira pela Universidade Cândido Mendes e em História, Arte e Cultura pela
Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde também possui Mestrado em História, Cultura e Identidades.
Atualmente, é aluna de doutorado em História, Poder e Práticas Socais na Universidade Estadual do Oeste do
Paraná, campus Marechal Cândido Rondon. E-mail: jexxy_kahroll@hotmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
201
FIGURAÇÕES DO EROTISMO EM “FIGUEIRA-BRAVA”, DE MARIA
LÚCIA ALVIM, EM COMPARAÇÃO À “EU FALO”, DE CRISTIANE
SOBRAL
Jean Cleber Marcondes Lourenço1
Sandro Adriano da Silva2
Resumo: O erotismo na poesia de autoria feminina busca, geralmente, colocar em evidência uma
discursividade em torno do corpo feminino e do desejo. Na obra Terra Negra (2017), de Cristiane
Sobral, esses dois elementos operam como elemento revelador de um erotismo feminino e negro. Já a
obra Batendo pasto (2020), de Mária Lúcia Alvim, o erotismo projeta-se fundamentalmente por meio
do recurso estilístico da metáfora bucólica e natural. Considerando essas duas perspectivas, esta
comunicação objetiva apresentar uma análise dos poemas “Figueira brava”, de Maria Lúcia Alvim, e
“Eu falo”, de Cristiane Sobral, que compõe as obras acima, a fim de identificar e comparar os recursos
poéticos e as figurações dessas duas manifestações eróticas e poéticas. Tomaremos, como
fundamentação, as afirmações de Paz (1994) sobre a vivência poética estar tão visceralmente próxima
à vivência sexual, de sua dor e seu prazer, de que os dois fenômenos - o lírico e o erótico- na verdade
constituem apenas formas diferentes de uma mesma expressão. Levaremos em conta, também, as três
acepções de erotismo defendidas por Bataille (2013), a saber, o erotismo dos corpos, o erotismo dos
corações, e o erotismo sagrado. A diferença nas escolhas estilísticas e figurativas entre os poemas, o
tratamento dado ao tema remetem, de forma especial, a noções como autoria feminina, identidade, às
relações entre literatura e erotismo, bem como colocam em evidência o lugar dessas duas vozes
poéticas na atualidade.
Palavras-chave: Poesia brasileira contemporânea. Cristiane Sobral. Mária Lúcia Alvim. Erotismo.
1
Graduando. Estudante do curso de Letras UNESPAR/Campo Mourão. Bolsista pela fundação araucária a nível
de Iniciação Científica. jeancleber600@gmail.com.
2
Mestre. Professor de Literatura Brasileira e Introdução aos Estudos Literários (Unespar). E-mail:
sandro.silva@ies.unespar.edu.br
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
202
HISTÓRIA E ANCESTRALIDADE: A IDENTIDADE DA MULHER
INDÍGENA NA OBRA EU SOU MACUXI E OUTRAS HISTÓRIAS, DE
JULIE DORRICO
Alexia Fernanda Alves Godoi1
Resumo: Analisar a construção da identidade da mulher indígena na obra Eu sou macuxi e outras
histórias, de Julie Dorrico, é o objetivo geral do presente trabalho. O texto de Dorrico foi publicado
pela primeira vez em 2019 e traz, em seu interior, narrativas – que mesclam estruturas em verso e em
prosa - que recuperam elementos culturais indígenas. Deste modo, como objetivos específicos, esta
pesquisa procurou perscrutar a forma como a história oficial, contada pela cultura ocidental, é
questionada dentro do texto literário, bem como investigar a presença e as marcas da ancestralidade, a
fim de compreender como elas são fundamentais para a construção da identidade do sujeito indígena.
Além disso, intencionou-se averiguar a maneira pela qual a identidade da mulher indígena, inscrita na
obra, é construída e atravessada por todas essas questões culturais. A partir das discussões realizadas,
dentre os principais resultados encontrados, pode-se destacar a importância da Literatura produzida
pelos povos originários, principalmente por mulheres indígenas, para (re) contar e contestar a história
contada pelo viés eurocêntrico a respeito desses povos; como também para resgatar e reafirmar
elementos culturais e identitários que foram perdidos por conta do colonialismo. Trata-se, portanto, de
um trabalho de cunho qualitativo e bibliográfico, cujo aporte teórico utilizado baseia-se nas discussões
sobre Interseccionalidade de Brah e Phoenix (2017) e Carla Akotirene (2018), do feminismo indígena
de Oliveira (2018) e Potiguara (2018), e das discussões sobre literatura indígena de Thiél (2012), entre
outros.
1
Graduada em Letras. Mestranda em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá. Bolsista
CAPES/DS. E-mail: pg403707@uem.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
203
HISTÓRIA E MEMÓRIA FRENTE AS REPERCUSSÕES MIDIÁTICAS
ATUAIS NAS LACUNAS DE REPRESENTATIVIDADE PRETAS
FEMININAS
Tatiana Larisa Moyano1
1
Mestranda do Programa de Pós Graduação em História Pública (PPGHP) da UNESPAR/campus de Campo
Mourão. Advogada e professora no município de Campo Mourão. E-mail: tatimoyano5@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
204
INTERSECCIONALIDADES DA DIÁSPORA: SILENCIAMENTO EM
OS CASAMENTEIROS, DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE
Fernanda Favaro Bortoletto1
Geniane Diamante Ferreira Ferreira2
Resumo: A experiência migratória é responsável por deslocar indivíduos e os forçar a conviver com
pessoas, locais e todos os elementos culturais que não são de sua cultura materna. O que é observado
na maioria das situações é o silenciamento das vozes desses indivíduos em relação a suas crenças,
tradições, hábitos e modos de ser nesse processo de imigração, principalmente no que tange às
mulheres. A literatura, com o seu caráter de representar a realidade, une histórias verdadeiras com a
ficção para abordar essas temáticas e dar visibilidade às pessoas na condição minorizada. Um exemplo
de obra literária com este tema é o conto Os Casamenteiros (2020), de Chimamanda Ngozi Adichie,
que narra a história de Chinaza, uma mulher nigeriana cujos tios organizaram seu casamento de forma
arranjada com Ofodile, um médico nigeriano que habitava nos Estados Unidos. Com a união, ela se
muda para lá e passa a viver uma série de censuras pelo seu modo de agir e falar por parte de seu
próprio marido, uma das únicas pessoas com quem tem contato. Pensando no seu enredo, o objetivo
deste estudo é refletir sobre o silenciamento da personagem Chinaza, do conto Os Casamenteiros
(2020), de Chimamanda Ngozi Adichie. As discussões apontam para uma análise das
interseccionalidades de raça, gênero, classe social e condição de imigração que atravessam a
personagem e a colocam em posição de silenciamento na sociedade. Além disso, discute-se de que
maneira o marido da protagonista cumpre o papel de dominador, mesmo estando similarmente em
posição de marginalização por ser imigrante e negro. Por fim, observa-se a capacidade da obra literária
utilizar-se de uma personagem para representar milhares de mulheres imigrantes e racialmente
marcadas, que enfrentam desafios em um país culturalmente e socialmente diferente de seus países de
origem.
1
Mestranda em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Bolsista CAPES/DS. E-mail:
ffbortoletto@hotmail.com.
2
Doutora em Estudos Literários. Professora da UEM - Universidade Estadual de Maringá. E-mail:
gdfferreira@uol.com.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
205
LITERATURA AFRO-INFANTIL, IDENTIDADE E
REPRESENTATIVIDADE
Maria Karolyne Reis Santana1
1
Mestranda em Literatura Comparada pela UFC. Licenciada em Filosofia – UFS. Licenciada em Letras Inglês –
UNESA. E-mail: maria.karolyne1@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
206
LITERATURA DE CORDEL DE AUTORIA FEMININA: POR UMA
CARTOGRAFIA DE MEMÓRIAS NO CORDEL DE LUÍSA MAHIN
Bruna Augusta Marques1
Pedro Henrique Braz2
Resumo: O presente trabalho pretende pensar a literatura de cordel de autoria negra feminina como
um dispositivo de resistência na criação e construção de identidades no contexto contemporâneo.
Estabelecemos como corpus de análise o cordel sobre Luíza Mahin, presente na coletânea Heroínas
negras brasileiras em 15 cordéis (2021), de Jarid Arraes, para discutir como a construção dessa
narrativa, quase em forma de biografia, possibilita a ressignificação e criação de outras subjetividades
e trajetórias sobre corpos-identidades de mulheres negras na nossa história. Sendo assim, a autora
constrói uma cartografia de memórias ancestrais sobre a vida dessas mulheres, e ao mesmo tempo que
cria espaços de representação no campo literário ela também provê um olhar questionador sobre a
historiografia brasileira, no que se refere ao silenciamento das identidades dessas mulheres em nossa
sociedade. Como subsídio teórico, trilhamos junto ao feminismo negro em diálogo com a literatura
crítica feminista a partir de autoras como bell hooks (2019), Djamila Ribeiro (2018) e Lélia Gonzales
(2020), além de pensar uma nova trajetória do cordel contemporâneo junto a Francisca Santos (2016) e
Bruna Lucena (2009) para indagar quais são os movimentos de contestação que mulheres como
autoras e protagonistas no cordel estão criando.
Palavras-chave: Identidade. Feminismo negro. Literatura de cordel de autoria feminina. Jarid Arraes.
1
Graduada em Artes Visuais. Mestranda em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá. Bolsista
CAPES/ DS. E-mail: pg403687@uem.br.
2
Graduado em Letras. Mestrando em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá. Bolsista
CAPES/ DS. E-mail: pedro.braz@hotmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
207
LUTA FEMINISTA DE ELZA SOARES: DENÚNCIAS EM MARIA DA
VILA MATILDE
Raiane de Jesus Santos1
Maria Karolyne Reis Santana2
Resumo: A luta feminista no contexto geral tem evidenciado resultados significativos na quebra de
paradigmas patriarcais subjacentes ou não desde seu surgimento na década de 1960, permitindo que
novas formas de expressões sejam visualizadas e consideradas. O movimento feminista é um ato
político e social com objetivo de desconstruir conceitos e pensamentos patriarcais que construíram a
sociedade e permeiam até o presente momento, é, também, um ato de ressignificação de como a
mulher sempre foi vista perante a sociedade, bem como o ato de desmistificar a submissão que as
mulheres sempre estiveram imersas. Sendo um dos grandes nomes da Música Popular Brasileira, Elza
Soares ganhou notoriedade nos âmbitos nacional e internacional, contudo, o que poucos sabem é que a
mulher do fim do mundo já foi vítima de diversas violências, sendo marcada sobretudo, pela violência
doméstica. Nesse sentido, a presente proposta orbita em torno de abordagens teóricas focais dentro de
dimensões sociais como a luta feminista de mulheres negras atrelada ao universo artístico, bem como
fornecer um aporte teórico juntamente com narrativas vivenciadas dentro de perspectivas práticas no
cotidiano das mulheres, especificamente as vivências de mulheres negras. Segue sendo objetivo,
também, demonstrar a importância do politizar o universo artístico. Desse modo, Elza Soares conecta
o aporte teórico o qual apresentamos à importância de denunciar as diversas formas de violência em
que mulheres estão sujeitas constantemente, evidenciando, ainda, a importância da interseccionalidade
dentro das mais diversas discussões. A experiência de Elza Soares em ter sido agredida por seu
próprio companheiro, posteriormente dando vida a uma de suas canções mais conhecidas – Maria da
Vila Matilde, surge como um alerta para que sua experiência não venha a ser experienciada por outras
mulheres. Outras necessidades na época, fizeram com que Elza não denunciasse seu agressor, contudo,
em uma das entrevistas concedidas pela artista, a mesma revela o arrependimento de tal decisão, e é
dentro dessa perspectiva que sua arte busca potencializar vozes silenciadas, reforçando a importância
de que mulheres conheçam seus direitos e se posicionem.
1
Licenciada em Ciências Sociais pela UFS. Mestranda em Sociologia (PPGS/UFS). E-mail:
raianexdjs@gmail.com.
2
Licenciada em Português Inglês pela UNESA e em Filosofia pela UFS. Mestranda em Literatura Comparada
(PPGL/UFC). E-mail: maria.karolyne1@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
208
MEMÓRIA E CORPO EM VAGA CARNE, DE GRACE PASSÔ
Ricardo Augusto de Lima1
Resumo: Parece-me que falar sobre corpo na literatura afro-brasileira é falar, necessariamente, de
memória e de performance. Aproximo esses campos e termos para enfatizar desde já o caráter
performático dessa escrita, escrevivências por natureza, não apenas na literatura em prosa e verso, mas
também no que diz respeito à literatura dramática afro-brasileira. Neste caso, uma vez ausente a voz
narrativa, a relação imediata com o corpo-memória daria ao conceito outros contornos, já que o corpo
está presente, corpo negro presente, corpo de mulher negra presente, performando, dançando,
cantando, narrando sua história, suas histórias, as histórias de tantas outras silenciadas, discurso por si
só polifônico, múltiplo, e que, unificado no objeto estético, evoca a natureza política desse falar. Meu
objetivo aqui é propor uma chave de leitura para o espetáculo teatral Vaga carne, de Grace Passô, de
2016, a partir do conceito de escrevivência e outros que discutem memória, corpo e subalternidade nas
representações da mulher negra na literatura brasileira contemporânea. Minha hipótese é que o corpo
que fala emite um discurso que se encaixa no referido termo, uma vez que soma em si as
características essenciais a ele, partindo de um eu da experiência, mas anexando a si outras vozes
anteriores ou não a si. Tem-se, portanto, um monólogo polifônico, conceito que aqui emprego para
limitar a estrutura textual analisada, visto ser uma a enunciadora do texto, a performer cênica, embora
sejam múltiplas as vozes que corroboram na construção do discurso, seja pela memória, seja pela
alteridade. Por outro, enquanto sentido, o texto literário, corpo de mulher, desdobra-se: embora vaga, a
carne existe, o corpo existe, a voz. As vozes existem. Existem e são agora protagonistas de suas
histórias, autoras de seus próprios relatos. Mesmo vago o corpo, resta a voz. As vozes.
1
Doutor. Professor adjunto do Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias, Universidade Estadual de
Maringá. E-mail: ralima@uem.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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MEMÓRIA E RESISTÊNCIA EM A COR DA TERNURA
Vilma da Silva Araujo1
Resumo: Este trabalho faz uma reflexão sobre a memória como forma de resistência, que garante a
comunidade negra o rompimento do silêncio pontuado pela subjugação e subserviência advindas da
escravização. Sob este viés analisaremos a obra A cor da ternura (1998), da escritora brasileira Geni
Guimarães. O discurso de alguns personagens, apresentado por meio de um enredo memorialístico,
como a partir de suas vivências, surgem ações de combate e resistência à discriminação e à opressão
por parte da sociedade dominante. A narrativa desenvolve a voz daqueles que viveram situações de
extremo desrespeito e por meio dos relatos das histórias de Nhá Rosária, temos informações da sua
própria história, uma mulher que desconhecia a sua própria idade. A representação de uma memória
que mesmo não sendo vivida pela personagem Geni e pelos outros que ouviam a história, pode ser
considera como sua, pois nossas lembranças funcionam como uma espécie de testemunho, pois elas
podem ser reavivadas por outros que tenham participado conosco daquele momento ou que
compactuem da mesma identidade. Nesse sentido, as lembranças de outrem podem surgir para que
possamos reavivar nossas lembranças de fatos que tenhamos participado e por algum motivo
esquecemos, ou ainda para ratificar uma memória coletiva. O tempo vivido pela personagem
protagonista não é o da época da escravidão propriamente dita, mas compartilha dessa memória, pois
além de ouvir dos seus antepassados as experiências marcantes desse período, também sofre as suas
consequências. Neste artigo utilizamos como aporte teórico os estudos de Halbwachs (1990); Ecléia
Bosi (2006), entre outros teóricos.
1
Doutoranda em Letras – Estudos Literários. Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail:
vilmaaraujomga@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
210
METODOLOGIAS ATIVAS DE APRENDIZAGEM NO ENSINO DE
LITERATURA: UMA PROPOSTA AFROCENTRADA
Bianca Ribeiro Messias Santana1
Helisa Vieira Magalhães2
Joelma da Silva Barata3
Resumo: O presente trabalho reflete sobre o uso das metodologias ativas de aprendizagem no ensino
de literatura do Ensino Médio. A proposta é refletir como as abordagens pedagógicas inovadoras,
afrocentradas, antirracistas e decoloniais podem modificar os paradigmas tradicionais educacionais e
as relações entre docentes e estudantes. Um dos objetivos principais foi promover a leitura e fruição
do gênero literário, de autoria negra e feminina, através do engajamento dos discentes com o uso de
diferentes abordagens teóricas e metodológicas. Para tanto, foram utilizadas diferentes abordagens de
metodologias ativas de aprendizagem, como a Rotação por Estações, tendo como objetivo o
desenvolvimento da autonomia dos discentes no seu processo de conhecimento. As pedagogias contra-
hegemônicas tiveram papel basilar na construção das sequências didáticas. Os resultados obtidos
foram os exercícios de diferentes habilidades emocionais, cognitivas, permeando a escuta sensível e os
diálogos horizontais que promoveram debates sobre temas importantes para a formação cidadã e
emancipatória. As possibilidades de interpretação do texto literário foram ampliadas gerando o
exercício de diferentes práticas, como o exercício da oralidade e escrita criativa através da valorização
de um gênero artístico literário popular chamado Slam.
1
Graduanda em Letras - Língua Portuguesa, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Goiás/Campus Goiânia . E-mail: biancaribeiro050502@gmail.com.
2
Cientista Social (UFG), Graduanda em Letras - Língua Portuguesa, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Goiás/Campus Goiânia. E-mail: helisa.magalhaes@estudantes.ifg.edu.br.
3
Graduanda em Letras - Língua Portuguesa, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Goiás/Campus Goiânia. Bolsista PIBICTI pelo CNPq, E-mail: joelmasbarata@gmail.com.
Resumo: O presente estudo tem por objetivo investigar a Necropolítica e o Biopoder no romance
“Úrsula” e no conto “A Escrava”, de Maria Firmina dos Reis, concentrando a análise nas personagens
Susana e Joana. Observaremos as questões socioculturais da mulher negra e a denúncia de Firmina,
demonstrada na representação do africano sequestrado pelos colonizadores, em um período de teorias
de “superioridades raciais” e preconceito, no século XIX. Recorreremos ao pensamento de Michel
Foucault, que caracteriza o conceito de “biopoder” sob um viés eurocêntrico de dominação dos corpos,
de Archille Mbembe, que a partir do conceito de “necropolítica” discute as relações entre o racismo
contemporâneo e a política de morte, e à obra de Lélia Gonzalez que fala sobre a marginalização das
mulheres negras enquanto sujeitos históricos ocasionados pela pobreza, falta de oportunidade e
educação. Essas adversidades, que são os desafios de toda a população negra, em específico da
feminina, devem ser atribuídas às construções ideológicas causadas pela condição colonial. Nesse
sentido, podemos afirmar que Maria Firmina dos Reis se posta como uma mulher ativa em sua época,
e disponível na luta contra a hegemonia e prepotência do pensamento do colonizador, construindo
personagens que são verdadeiras porta-vozes das mulheres negras no Brasil durante o século XIX.
4 Acadêmico do curso Letras – Português e Espanhol da Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR campus
União da Vitória. E-mail: lucasdamsbertoli@gmail.com.
5 Doutor em Teoria Literária pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professor de Literatura
Resumo: No cinema, há uma série de figuras míticas e heroínas celebradas, a exemplo da mártir
francesa Joana D’Arc, da icônica Cleópatra de olhos azuis vivenciada por Elizabeth Taylor, da Mulher
Maravilha e as estrelas da bandeira americana no look, a Capitã Marvel e sua cabeleira dourada, entre
outras cujo biotipo é centrado na hegemonia branca, alheio aos traços, à história e às lutas da mulher
negra e das mulheres dos povos indígenas. Contudo, subvertendo o sistema, eis que resurgem as
soberanas africanas, reafirmando o modelo das líderes do passado. Esse é o caso de Nzinga Mbandi
(1582-1663), mais conhecida como a Rainha Ginga, uma das rainhas de maior poder de seu século.
Não por acaso tenha ficado à frente do poderio angolano até os setenta e três. Ginga, a Rainha
guerreira. Este estudo traz à luz o longa Njinga, Rainha de Angola, de Sérgio Graciano, lançado nos
cinemas angolanos em 2013. O objetivo é desenvolver o olhar direcionado ao épico cinematográfico,
de caráter nacionalista, porém que ultrapassa barreiras quando se comunica com outras ex-colônias
portuguesas, a exemplo do Brasil, cujos antepassados bantus que aqui aportaram no século XVII são
herdeiros de nação da Ngola Mbandi.
1
Professora Doutora do Departamento de Teorias Linguísticas e Literárias (DTL) da Universidade Estadual de
Maringá, e do Programa de Pós-Graduação em Letras (PLE), da UEM. E-mail: mafranceschini@uem.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
213
NUANCES DA TEORIA QUEER NA LITERATURA JUVENIL:
CONSIDERAÇÕES SOBRE O ROMANCE FELIX PARA SEMPRE
(2021), DE KACEN CALLENDER
Natacha dos Santos Esteves1
Resumo: O presente estudo almeja refletir sobre a presença da Teoria Queer, em especial no que
tange à temática da abjeção e da identidade, no romance juvenil estadunidense Felix para sempre
(2021), escrito por Kacen Callender. Para tanto, a análise é embasada em obras teóricas oriundas dos
Estudos Culturais, privilegiando a Teoria Queer e a Interseccionalidade. Por tratar-se de um livro
juvenil, considerações sobre essa esfera literária também serão apresentadas, visto que ainda persiste
um olhar estigmatizante e preconceituoso direcionado a esse tipo de produção literária. Visando as
delimitações espaciais, viu-se a necessidade de estabelecer recortes analíticos e, consequentemente,
algumas temáticas serão abordadas de forma breve, tais como: negritude e defasagem econômica de
negros localizados nos Estados Unidos. Assim, no primeiro momento, a já mencionada temática da
abjeção será apresentada. Na parte final, serão abordadas a identidade e duas formas de resistência
perante a condição de abjeção. Em termos de resultados, o trabalho compreende a necessidade da
aplicação da Teoria Queer em ambiente juvenil, principalmente nos meios de maior fluxo de sujeitos
que são, socialmente, direcionados a abjeção.
1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Letras (PLE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-
mail: natachaestevescm@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
214
O ABUSO FÍSICO E PSICOLOGICO DE MULHERES QUE SOFREM
VIOLÊNCIA EM TORTO ARADO, DE ITAMAR VIEIRA JUNIOR
Douglas Fernando Blanco1
Wilma dos Santos Coqueiro2
Adriana Delmira Mendes Polato3
Resumo: A Literatura negro-brasileira, termo defendido por Cuti (2010), invisibilizada por séculos
de escravidão, tem alcançado considerável projeção a partir das décadas finais do século XX,
mostrando grande vitalidade nessas primeiras décadas do século XXI. Nesse sentido, o romance Torto
arado, de autoria do baiano Itamar Vieira Junior, premiado e publicado originalmente pela editora
portuguesa Leya, foi lançado no Brasil em 2019, pela Todavia, e angariou os principais prêmios
literários de 2020: Prêmio Jabuti e Prêmio Oceanos. Ambientado em uma fazenda no sertão da
Chapada Diamantina, a obra traz como protagonistas as irmãs Bibiana e Belonísia. Ainda na infância,
após um acidente doméstico em que uma das protagonistas perde a língua (Belonísia), a outra se torna
a sua voz (Bibiana), e as duas se unem ainda mais. Com efeito, a obra apresenta expressividade do
feminino, pois é dividida em três partes, que são narradas por mulheres: a primeira, “Fio do Corte”, é
narrada por Bibiana; a segunda, intitulada “Torto arado”, traz a perspectiva de Belonísia e é o objeto
de estudo de nosso trabalho, pois é nela que observamos as violências sofridas por mulheres, entre elas
a decorrente da relação abusiva entre Tobias e a protagonista deste capítulo; por fim, a terceira parte,
denominada de “Rio do Sangue”, traz uma espécie de consciência social, posto que é narrada por uma
entidade encantada chamada Santa Rita Pescadeira. Nessa parte final, vemos o desenrolar das lutas do
primeiro capitulo e a explicação de a faca, que cortara a língua de uma das protagonistas, estar na mala
de Donana, avó de ambas. Para a reflexão e acerca da violência perpetrada contra Belonísia na obra,
que é ocasionada por fatores que intersectam classe social, raça e gênero, embasamos em estudos
acerca do feminismo negro interseccional, tais como: Hooks (2018), Hollanda (2019) e Ribeiro
(2019).
1
Graduado em Sociologia. Aluno regular do Programa de Pós-Graduação Sociedade e
Desenvolvimento(PPGSeD), da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/ campus Campo Mourão. E-
mail: douglasfbl@hotmail.com.
2
Coorientadora. Doutora em Letras/área de concentração em Estudos Literários pela Universidade Estadual de
Maringá (UEM). Docente do Curso de Graduação em Letras e do Programa de Pós Graduação em Sociedade e
Desenvolvimento (PPGSeD) da UNESPAR/campus de Campo Mourão. E-mail:
wilma.coqueiro@ies.unespar.edu.br.
3
Orientadora. Doutora em Letras/área de concentração em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual de
Maringá (UEM). Docente do Curso de Graduação em Letras e do Programa de Pós Graduação em Sociedade e
Desenvolvimento (PPGSeD) da UNESPAR/campus de Campo Mourão. E-mail: ampolato@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
215
O CABELO E SUAS RAÍZES NA CONSTRUÇÃO DA AUTOESTIMA E
IDENTIDADE DA CRIANÇA NEGRA
Dhéssica Caroline Fogaça1
1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Letras (PLE), da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e
graduada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/Campus Campo
Mourão. E-mail: carolfogaca7@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
216
O PRÍNCIPE NEGRO NA LITERATURA INFANTIL: A
DESCONSTRUÇÃO DO ESTEREÓTIPO
Érica Fernandes Alves1
Elizandra Fernandes Alves2
Nelci Alves Coelho Silvestre3
Resumo: O interesse deste trabalho está voltado à narrativa O Pequeno Príncipe Preto (2020), de
Rodrigo França, que retoma fatos relevantes à cultura afro-brasileira. O Príncipe Preto é um menino
que vive em um minúsculo planeta com a árvore Baobá, oriunda da África, trazendo uma origem não
só para a planta como também para o menino. A narrativa fala sobre amizade, ancestralidade, bem
como das atribuições físicas deste príncipe que se aceita e se valoriza. O objetivo dessa comunicação é
refletir sobre a construção da identidade da criança negra, tanto no texto verbal quanto imagético,
tendo em vista a estrutura dos príncipes que são apresentados aos jovens meninos em formação. Ao
contar a história de um príncipe, o inconsciente é capaz de retomar de forma automática às histórias
ouvidas, lidas e assistidas quando crianças, independente da caracterização do príncipe, pois a
idealização do príncipe alto, loiro, bonito, charmoso e rico é uma constante. A narrativa de França
apresenta toda a beleza do pequeno príncipe preto, ressaltando suas características, valorizando seus
antepassados, suas origens e a alegria que encontra no seu próprio corpo. A metodologia de
investigação baseia-se em textos teóricos que discutem as identidades desenvolvidas por Stuart Hall e
publicadas em Identidades Culturais na Pós-modernidade (2006), e questões sobre raça e racismo
desenvolvidas em Racismo e anti-racismo na educação: repensando nossa escola, organizada por
Eliane Cavalleiro (2001), Pele Negra Máscaras Brancas, de Frantz Fanon (2008) e outros. Os
resultados da pesquisa mostram que a formação identitária da criança é muito importante na
desconstrução dos estereótipos, uma vez que o príncipe apresentado na narrativa não é aquele que
enaltece o castelo onde vive, que precisa salvar a moça descrita como frágil e indefesa. Essa narrativa
voltada à infância faz-se necessária para entendemos o quanto a apresentação deste príncipe
empoderado, que conhece suas origens, seus antepassados, sua história, pode contribuir nas primeiras
relações entre a criança e o mundo adulto.
1
Professora Doutora da Universidade Estadual de Maringá - UEM. E-mail: efalves@uem.br.
2
Professora Doutora da Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO. E-mail: ealves@unicentro.br.
3
Professora Doutora da Universidade Estadual de Maringá - UEM. E-mail: nacsilvestre@uem.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
217
“OS HOMENS-ANJOS OU QUASE-ANJOS”: RACISMO, HOMOFOBIA
E MISOGINIA NA FORMAÇÃO DE PADRES E SEMINARISTAS NO
BRASIL
Jean Pablo Guimarães Rossi1
Eliane Rose Maio2
1
Psicólogo. Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UEM; Professor da UNESPAR/CM.
Bolsista CAPES. E-mail: psijeanpablo@gmail.com.
2
Pós-doutora e Doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
(UNESP/ Araraquara). Graduada em Psicologia. Professora do Programa de Pós-graduação em Educação
(Mestrado/Doutorado) junto à Universidade Estadual de Maringá (UEM). Coordenadora do Núcleo de Estudos e
Pesquisas em Diversidade Sexual (NUDISEX/ CNPq). E-mail: elianerosemaio@yahoo.com.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
218
ÓLEO E GAROA: A DISTOPIA NA LITERATURA UNDERGROUND
PRESENTE NA ADAPTAÇÃO DO RAP PARA O CONTO
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar o processo de adaptação de uma música de rap
para o conto, inovação literária desenvolvida pelo Universo 75, coletivo de atividade comunitária,
formação racial e produção artística organizado por educadores sociais no Recôncavo da Bahia,
necessariamente em Cachoeira/BA. Doravante, a pesquisa discorre acerca do conto e música intitulada
“Óleo e Garoa” (2022/2018), respectivamente, do Mc, escritor e professor Aganju Dref. A
importância deste estudo se justifica pela compreensão de que o processo artístico negro na diáspora
africana é diverso e tem multimodalidades e multifuncionalidades, elementares mecanismos para o
processo de letramento racial crítico (FERREIRA, 2015). Com isso em vista, a problemática deste
artigo se assenta na questão: quais impactos sociais e literários surge no processo de adaptação de um
rap para um conto? O presente estudo de caráter qualitativo resgata o conceito de literatura
underground mediante um estudo analítico e bibliográfico sob uma escrevivência distópica. Por meio
da pesquisa, observamos como a literatura negra utiliza o Pretuguês (GONZALES, 1988) como
tecnologia de comunicação e letramento na diáspora africana, sobretudo por meio da arte literária,
denunciando um genocídio em curso especificamente nos interiores baianos ao passo que também
explora uma nova ótica politizada para as cidades históricas como Cachoeira/BA.
1
Especialista. Mestrando em Letras: Linguagens e Representações na Universidade Estadual de Santa Cruz
(UESC). Bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (FAPESB/BA). E-mail:
blackoutsavio@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
219
PELAS TRAVESSIAS DA HISTÓRIA DA ÁFRICA E DA CULTURA
AFRO-BRASILEIRA NA ESCOLA: EXPERENCIANDO DIDÁTICAS
EM PROJETOS ANTIRRACISTAS
Daniela Paula de Lima Nunes Malta1
Auda Maria de Souza Godoy2
1
Doutoranda em Letras pelo Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco
(PPGL-UFPE). E-mail: malta_daniela@yahoo.om.br.
2
Especialista em Ensino de História. Atua como docente de História nos anos finais do Ensino Fundamental da
Rede Municipal de Serra Talhada (SEST-PE). E-mail: audsouza@hotmail.com .
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
220
POEMAS DE RECORDAÇÃO E OUTROS MOVIMENTOS, DE
CONCEIÇÃO EVARISTO: DIALOGISMOS EM RESISTÊNCIA ENTRE
A LITERATURA AFRO-BRASILEIRA E A SOCIEDADE
Meire Oliveira Silva1
Resumo: Poemas de recordação e outros movimentos (2008), de Conceição Evaristo, configuram sua
obra de estreia na literatura. Consiste na reunião de textos poéticos voltados às ancestralidades e
subjetividades de mulheres negras em resistência e luta por seus direitos, a partir do reconhecimento
de origens identitárias em contínuos movimentos diante dos abusos e violências interseccionais, de
raízes étnicas, de gênero, classe social etc. (AKOTIRENE, 2018). As tensões históricas da sociedade
brasileira desnudam lacunas de uma formação ancorada em desigualdades desferidas, sobretudo contra
as mulheres. Os poemas do referido volume operam, nesse sentido, alusão às dores de mulheres, mães
e famílias cujos aspectos da formação da cultura brasileira (GONZALEZ, 1984) relegam os
descendentes de povos africanos aqui escravizados à subalternidade (SPIVAK, 2014). Assim,
objetiva-se averiguar como as narrativas familiares que perfazem os poemas podem apontar
possibilidades de compreensão das forças limitadoras e silenciadoras dos movimentos de
protagonismo de mulheres-mães como símbolos da força vital e criadora da terra, também explorada e
violada (FANON, 2005) pelo jugo escravocrata e colonial. Justificam-se essas análises pela relevância
dos poemas, em oralidade e memórias, que se expandem em busca da coletividade que afronta as
explorações. Sendo assim, pretende-se realizar uma análise literária e interdisciplinar que contemple
abordagens e epistemologias cujos reflexos histórico-sociais, imbricados às questões interseccionais,
estão presentes em contradições advindas de colonização e escravização como problemáticas ainda
não superadas.
1
Doutora e Mestra em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo (USP). E-mail: meireoliveirasilva79@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
221
POEMAS ESPARSOS [1982-2020], DE MIRIAM ALVES: ALGUNS
TEMAS
Sandro Adriano da Silva1
Resumo: Miriam Alves (1952) integrou o coletivo Quilombhoje Literatura, que criou o Cadernos
Negros, publicação na qual estreou como escritora, em 1982, no número 5, intitulado Axé – antologia
Contemporânea de poesia negra brasileira. Momentos de busca (1983) e Estrelas nos dedos (1985)
(poesia); Bará: na trilha do vento (2015) (romance) e Maréia (2019), além das coletâneas de contos
Mulher mat(r)iz (2011) e Juntar pedaços (2021) compõem sua poesia publicada até o momento. Sua
obra vem reclamando um olhar mais atento do campo literário (BOURDIEU, 1996), o que inclui a
crítica acadêmica, o mercado editorial e a ampliação do público ledor, como resposta aos mecanismos
de apagamento que sofreu, a reboque da exclusão histórica do silenciamento da literatura de autoria
negro-brasileira (CUTI, 2010). Silenciamento que seria ainda maior, não fossem as iniciativas
individuais da escritora em buscar a disseminação de sua obra em diferentes formatos, como as
publicações coletivas, antologias, revistas, entre outros meios. À altura de quarenta anos de criação
poética e ficcional, Miriam Alves publica Poemas reunidos (2022), reunindo quase a totalidade de sua
poesia, incluindo poemas assinados com o pseudônimo que usava na década de 1980, Zula Gibi. Esta
comunicação lança um sobrevoo sobre alguns de seus temas e estéticas mais recorrentes e
emblemáticas na seção Poemas esparsos [1982-2020]. Da enunciação lírica desse conjunto de quase
uma centena poemas emerge uma concepção de poesia que assume diferentes matizes da
subjetividade, dentre eles, destacam-se o erótico, o social, o político, atravessados (ou, antes,
perfomatizados) por uma assinatura negra, feminina e periférica. O exercício de interseccionalidade
temática e discursiva em torno das demandas de sua condição étnico-racial, de gênero e de classe
colocam em cena todo um imaginário sobre a ancestralidade negra (OLIVEIRA, 2012) e suas redes de
afeto, ao mesmo tempo em que problematizam, pela via da resistência e do engajamento político (e
poético) o racismo estrutural (ALMEIDA, 2018).
1
Mestre. Professor de Literatura Brasileira e Introdução aos Estudos Literários (Unespar). E-mail:
sandro.silva@ies.unespar.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
222
RACISMO E OUTREMIZAÇÃO EM HOMEM NA ESTRADA (1993), DE
RACIONAIS MC’S
Geniane Diamante F. Ferreira1
Resumo: As artes em geral têm, há muito, dado abertura às mais diversas vozes presentes na
sociedade. Por ser um meio de expressão sem muitas amarras, as pessoas lançam mão desta estratégia
para exprimir ideias, sentimentos, fazer denúncias e assim por diante. As artes que compreendem o
uso da palavra demonstram isso de forma flagrante. Assim, a literatura bem como as canções merecem
um olhar atento quando do estudo da sociedade real, fora dos livros que, muitas vezes, incorrem no
“perigo de uma história única”, nas palavras de Adichie (2009). Desta forma, essa pesquisa propõe
debater sobre a visão das margens pelos marginalizados, invertendo o ponto de vista do mainstream
mais comumente aceito e divulgado. Para tanto, como corpus, foi selecionada a canção Homem na
Estrada, do grupo de rap paulistano, Racionais Mc’s, composta por um dos integrantes da banda, a
saber, Mano Brown, lançada em 1993 no álbum Raio X do Brasil. A canção, eleita como a melhor do
ano de 1994 pela Associação Paulista de Críticos de Arte, tem aproximadamente nove minutos e
constitui-se como uma narrativa acerca da vida de um homem negro, ex-presidiário, morador de uma
favela, tentando olhar para o futuro com alguma esperança enquanto sobrevive entre as agruras do
presente e más lembranças do passado. A presente proposta pretende debater essa visão periférica,
como já mencionado, usando como fundamentação teórica conceitos de racismo e outremização a
partir dos estudos de Schwarcz (1993), Sollors (1995), Appiah (1995), Dijk (2005), Said (2007),
Todorov (2010), entre outros. Os resultados mostram que essa história supostamente única – a do
homem na estrada – é, na verdade, representativa de milhares de sujeitos negros e periféricos, fazendo
com que esse texto se constitua como um retrato real da sociedade brasileira. Deste modo, ele
denuncia (sub)vivências de uma maioria minorizada, mas que aqui ganha voz.
1
Doutora em Letras, professora de Literatura do Curso de Letras e de Pós-graduação em Letras na Universidade
Estadual de Maringá – UEM. E-mail: gdfferreira@uol.com.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
223
RAP E INTERSECCIONALIDADE A PARTIR DO GRUPO QUEBRADA
QUEER
Bruna Patricia Szezerepa Floriano1
Kevin Silva Santos Conceição2
Resumo: O rap brasileiro, que se desenvolveu em meados de 1986 com a junção do hip-hop e do
funk, refletia acerca do cotidiano da periferia, sobre causas raciais e opressoras, questões essas que
ainda estão presentes na nossa sociedade atual. A cypher Quebrada Queer nos traz todo o
posicionamento histórico do rap, porém acrescenta as pautas de grupos e identidades que, muitas
vezes, foram apagadas desse espaço, como é o caso da comunidade LGBTQIAPN+. Tendo em vista,
a falta de um grupo – apesar de sempre ter havido pessoas LGBTQIAPN+ no rap, Quebrada Queer
surge como o primeiro grupo (cypher) – que os represente, em virtude do rap ser marjoritariamente
liderado por homens negros cis e héteros. Assim, a primeira cypher do mundo – integrada por pessoas
periféricas, negras e da comunidade LGBTQIAPN+ – traz versos sobre racismo, homofobia,
transfobia e a importância de se impor sendo preto, periférico, gay e trans. Tendo isso em vista, neste
trabalho, pretendemos fazer uma breve análise do cenário identitário do rap nacional, a partir do grupo
Quebrada Queer, que atualmente traz novas pautas e a visibilidade de novas identidades, além de
refletir sobre as diversas intersecções de raça, gênero, classe e sexualidade. Com vistas a análise de
algumas músicas produzidas pelo grupo, além de elementos estéticos como vestimentas e trajes,
utilizaremos os conceitos de interseccionalidade trabalhado por Karla Akotirene, na obra
Interseccionalidade (2019), o conceito de identidade cultural pós-moderna de Stuart Hall, apresentado
na obra Identidade Cultural na Pós-modernidade (1992), além de referências de análise do rap
nacional, como Acauam Silvério de Oliveira (2015).
1
Acadêmica do curso de História da Universidade Estadual do Paraná, campus de Campo Mourão. E-mail:
delta0351@gmail.com.
2
Professor do colegiado de História da Universidade Estadual do Paraná, campus de Campo Mourão. Email:
prof.kevcon@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
224
RELAÇÕES RACIAIS NOS LIVROS DIDÁTICOS DA ÁREA DE
LINGUAGEM E SUAS TECNOLOGIAS
Aparecido Vasconcelos de Souza1
Tânia Mara Pacífico2
Resumo: Este artigo discorre sobre as relações raciais nos livros didáticos da área de Linguagem e
suas Tecnologias. Temos o objetivo realizar uma análise crítica do discurso a partir da metodologia de
Hermenêutica da Profundidade, desenvolvida por John B. Thompson (1985) para compreender de que
modo a ideologia e a cultura de massa mantem as relações dominantes de poder e de opressão.
Queremos verificar se as narrativas históricas e literárias, as imagens artísticas e as fotografias
contribuem ou não para criação de imagens positivas das culturas de matriz afro-brasileira, africana e
para superação do racismo no cotidiano escolar. Em 2021 os livros didáticos da Área de Linguagens e
Suas Tecnologias para o Novo Ensino Médio da Editora Saraiva foram distribuídos em todas as
escolas do Estado do Paraná por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). 2021. Trata-
se de uma pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico, que utilizará a análise de discurso e das
estratégias ideológicas de racialização, tendo por base a obra de John B. Thompson, os estudos de
Paulo Vinicius da Baptista da Silva sobre relações raciais em livros didáticos, as pesquisas do NEAB-
UFPR sobre discurso, as definições legais do artigo 26-A da LDB (modificado pela Lei nº 10.639/03 e
alterado pela Lei nº 11.645/08), o Parecer nº 03/2004 e a Resolução nº 01/2004 do CNE. Em uma
análise preliminar, verificou-se nas orientações da BNCC que os livros distribuídos não levam em
consideração a diversidade étnica e cultural do estado, pois universalizaram o discurso sobre
identidade, linguagem, tecnologias e mercado de trabalho. Em linhas gerais, a análise das formas
simbólicas presentes nos livros revela que o sujeito branco aparece como representante natural da
humanidade; já personagens negros são estigmatizados, associados à pobreza, e o racismo aparece
mascarado pelo mito da democracia racial.
1
Titulação. Mestre em Teoria Literária pela UNIANDRADE e professor da disciplina de Artes do Estado do
Paraná. E-mail: cidomarchetaria@gmail.com.
2
Titulação. Tânia Mara Pacífico, Mestre em Educação pela UFPR e Pedagoga do ensino público do Estado do
Paraná. E-mail: tmpacifico@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
225
REPRESENTAÇÕES DE QUILOMBOS E QUILOMBOLAS NA
LITERATURA INFANTIL E JUVENIL BRASILEIRA: FORMAÇÃO DE
LEITORES LITERÁRIOS NO ENSINO FUNDAMENTAL EM ESCOLAS
INSERIDAS EM QUILOMBOS
Resumo: Nesta comunicação, propomos expor, de modo geral, algumas considerações sobre uma
pesquisa em andamento no Profletras, voltada à formação do leitor literário, por meio de narrativas
híbridas de história e ficção, presentes em nossa literatura infantil e juvenil brasileira. Essas
ressignificam os quilombos e os quilombolas e são, em nossa proposta, amalgamadas com outras
textualidades que possibilitam uma formação leitora integral ao sujeito (BNCC, 2017). Nossa prática
de leitura está exposta em um viés propositivo na pesquisa mencionada e essa se fundamenta no uso
de “Oficinas literárias temáticas” (ZUCKI, 2015) em conjunção com outras artes. O público-alvo da
proposta, prevista na pesquisa, são, em especial, alunos do Ensino Fundamental de escolas inseridas
em quilombos. Nesse sentido, verificamos que as leituras realizadas no espaço escolar, muitas vezes,
privilegiam os contos de fada, as fábulas, etc., e apresentam, aos estudantes quilombolas,
representações de mundo que estão muito distantes de sua história e de suas raízes. Frente a essa
problemática surge nossa questão de pesquisa: Como os professores de Língua Portuguesa de escolas
em quilombos podem, por meio do trabalho com o texto literário – mais especificamente com as
narrativas híbridas de história e ficção –, proporcionar a seus alunos um encontro com as
ressignificações de quilombos e quilombolas na literatura, em práticas de leituras voltadas à formação
do leitor literário? Desse modo, objetivamos proporcionar aos docentes e discentes um outro olhar
sobre aquilo que foi, do que hoje é e do que pode vir a ser esse espaço histórico-social do quilombo e
do quilombola. Fundamentamos nossas reflexões sobre os aspectos referentes à formação do leitor
literário no Ensino Fundamental em Lajolo (1993), para os aspectos referentes à literatura híbrida de
história e ficção em Fleck (2017) e, para a organização das “Oficina literária temática”, em Zucki,
(2015), entre outros. Como principais resultados desta pesquisa, temos, em primeira instância, uma
listagem de obras da temática da representação ficcional de quilombos e quilombolas na Literatura
Infantil e Juvenil Brasileira. Isso nos possibilita afirmar que uma educação voltada para os saberes de
uma cultura local, que respeite os valores dessa comunidade – como ocorrer com os quilombolas
brasileiros –, fortalece o interesse dos alunos, em especial daqueles que estudam em escolas inseridas
1
Mestrando em Letras – Profletras – pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Especialista
em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura pela FAEL e em Língua Portuguesa pela UEMA.
Graduado em Letras Português/Inglês e Respectivas Literaturas pela CEUMA. E-mail: duarte1312@gmail.com.
2
Pós-doutor em Literatura Comparada e Tradução pela Universidade de Vigo-UVigo-Espanha, com Bolsa da
CAPES. Professor de Literaturas Hispânicas e Cultura Hispânica na graduação em Letras da UNIOESTE,
campus de Cascavel-PR. E-mail: chicofleck@yahoo.com.br.
3
Pós-doutorando no Programa de Pós-graduação em Letras da UEMA (Bolsista CAPES/BRASIL) e Doutor em
Letras pela UVIGO/Espanha em cotutela de tese com a UNIOESTE/Brasil. E-mail: cristianjlopez2@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
226
em quilombos, a participar nas atividades de leitura literárias porque essas lhes dizem respeito.
Apresentamos, também, por meio da elaboração de Módulos de uma “Oficina literária temática”, aos
profissionais de Língua Portuguesa uma metodologia de abordagem à leitura literária na escola pela
qual os alunos aprendem a ler de forma a criar laços com o passado histórico e social de suas
comunidades e que, ao mesmo tempo, desperta o interessem deles pelos conteúdos ministrados,
associando esses a uma ressignificação de sua realidade histórico-social e identitária.
1
Graduada em Letras pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. E-mail: jessicarochaf2008@gmail.com
2
Graduada em Letras pela Universidade Estadual de Maringá – UEM.
3
Professora Doutora do DLM e PLE/UEM. E-mail: eafalves@uem.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
228
RESIGNIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO CONTINUADA ATRAVÉS DE
ESTUDOS VOLTADOS PARA A ÁREA DE CIÊNCIAS DAS
RELIGIÕES INCENTIVAM A INCLUSÃO
Joana d’Arc Araújo Silva1
Resumo: Vários temas relacionados a área de Ciências das Religiões tem estado presentes nas
discussões sociais visto que é preciso valorizar o direito preconizado e normatizado através de
convenções, tratados e legislações. O objetivo do trabalho, fruto da pesquisa do mestrado é contribuir
na reflexão para as futuras práticas de Formação Continuada do professor, propiciando informações
para despertar o interesse para leitura de texto da área das Ciências das Religiões, incentivando-os a
construir um currículo escolar que resgate valores e atitudes para eliminar o preconceito e a
discriminação. A pesquisa bibliográfica, considerou as três etapas da leitura analítica para descrever e
analisar a literatura específica, referendada pelas disciplinas do Curso de Gestão de Políticas Públicas
com foco em Raça e Gênero/UFOP/MG e do Curso de Mestrado de Ciências das Religiões/FUV/ES.
Ambos cursos enfatizaram a educação para a diversidade e suas várias facetas. Através do construto
teórico de pesquisadores renomados, foram selecionadas obras que discutem ou se aproximam do
tema. Existe uma literatura ampla em relação aos assuntos, permitindo realizar uma abordagem de
cunho interdisciplinar, enfatizando a temática da diversidade e suas várias facetas, referendando que,
numa perspectiva futurista, o estabelecimento de ensino da era contemporânea precisa encontrar o
caminho para perceber que novas áreas estão obtendo destaque em seus estudos. Aqui, enfatiza-se a
área de Ciências das Religiões, que busca compreender as relações internas dos grupos religiosos que
estudam o fenômeno religioso de forma plural e interdisciplinar, porque formação continuada na área
de Ciências das Religiões, com foco em relações étnico-raciais ressignificam práticas pedagógicas.
1
Doutoranda e Mestre em Ciências das Religiões/Faculdade Unida de Vitória/ES. Graduação em
Pedagogia/ICMG. Especialização em Gestão de Políticas Publica/UFOP/MG. Pedagoga. E-mail:
sirana66@yahoo.com.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
229
RESISTÊNCIA E DECOLONIALIDADE DE GÊNERO NA NARRATIVA
FÍLMICA “LA TETA ASUSTADA”
Paula Vanalli1
Fabiane Freire França2
Wilma dos Santos Coqueiro3
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD), linha de
pesquisa 1 “Formação humana, processos socioculturais e instituições”. Psicóloga da Política de Assistência
Social de Campo Mourão-PR. E-mail: paulavanalli33@gmail.com.
2
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá, PR. Docente do Colegiado de
Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD),
Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus de Campo Mourão. E-mail:
fabianefreire@unespar.edu.br.
3
Doutora em Letras/área de concentração em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Maringá, PR. Docente adjunta do colegiado de Letras e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar
Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD), Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus de Campo
Mourão. E-mail: wilma.coqueiro@ies.unespar.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
230
SUBVERSÃO E SEXUALIDADE: UMA LEITURA DE SULA (1973), DE
TONI MORRISON
Ana Maria Soares Zukoski1
André Eduardo Tardivo2
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma análise interpretativa do romance Sula,
publicado em 1973 pela escritora estadunidense Toni Morrison. Primeira escritora negra a conquistar o
Nobel de Literatura, Morrison é conhecida por sua extensa produção literária que figura no cenário
internacional, com obras relevantes como Beloved e The Bluest Eye. Tencionando trazer à baila um
romance menos conhecido, focalizaremos em Sula a análise da personagem principal que nomeia a
obra, buscando demonstrar como essa mulher negra empreende mecanismos de subversão à lógica
patriarcal e racista que permeia a sociedade. A protagonista vale-se da resistência psicológica para
gozar da liberdade mental. Outro mecanismo de resistência encontrado é a sexualidade, por meio da
qual ela empreende sua (re)construção subjetiva, fortalecendo suas decisões e blindando-a das
influências sociais. O fato de não se comportar da forma esperada pela óptica social, Sula é
caracterizada com contornos de crueldade, contudo é preciso levar em consideração que a sua
construção levanta diversas questões no que tange a condição da mulher negra livre, permitindo que
os/as leitores/as conheçam sua trajetória e construam uma nova visão sobre ela, compreendendo que
suas atitudes refletem a luta de uma mulher negra que busca a liberdade em suas heterogêneas facetas.
O trabalho será assentado nos pressupostos teóricos do Feminismo Negro e da Literatura Negra, com
pesquisadores/as como Bonnici (2007, 2009); Campos (1992); Morrison (2021); Telles (1992);
Touraine (2010), entre outros/as.
Palavras-chave: Representação feminina negra. Literatura de autoria feminina negra. Sula. Toni
Morrison.
1
Doutoranda e Mestra em Letras: Estudos Literário pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. E-mail:
anazukoski@gmail.com.
2
Doutorando e Mestre em Letras: Estudos Literário pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. E-mail:
tardivo.andre@gmail.com.
1
Graduada em Letras- Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Campina Grande
mjayline318@gmail.com.
2
Graduada em Letras- Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Campina Grande
karintya.bsf@hotmail.com.
3
Graduanda em História pela Universidade Federal de Campina Grande
raurislandia.santos@estudante.ufcg.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
232
TEMPESTADE, O PROTAGONISMO DA HEROÍNA NEGRA NAS HQs
DE X-MEN DA MARVEL COMICS
Sasuke Ribeiro de Almeida1
Resumo: O tema desta pesquisa está voltado para a representação da mulher negra como protagonista
Super-heroína nos quadrinhos. Buscamos compreender como tem ocorrido a visibilidade da mulher
negra, e o seu lugar de fala e o processo da construção identitária, pois os protagonistas nos
quadrinhos anteriormente eram voltados na sua grande maioria para os super-heróis com estereótipos
relativamente masculinos, brancos, com físicos musculosos dotados de superpoderes, e as personagens
femininas geralmente eram vistas como moças indefesas, ou desempenhando o papel de coadjuvante.
Neste sentido esta pesquisa tem por objetivo, por meio do olhar analítico-reflexivo, compreendermos
como tem ocorrido o processo identitário da mulher negra como protagonista nas HQs de X-Men e a
representação de estereótipos. Especificamente analisaremos a personagem Tempestade Ororo
Munroe e sua trajetória nas HQs de X-Men da Marvel Comics, bem como a valorização da cultura
Africana de sua origem e aspectos socioculturais da personagem. O procedimento metodológico
utilizado nesta pesquisa está sendo por meio de um levantamento das principais HQs de X-Men do
Universo Marvel Comics que destacam a heroína Tempestade, dando início com a Giant-Size X-Men
n° 1 maio de 1975, que foi reconhecida como a primeira aparição da personagem, em seguida a HQ
solo Tempestade (Storm) dos X-Men de (2014), e posteriormente uma das mais atuais intitulada
Carrascos Marauders de (2019), para que possamos analisar o seu percurso como Heroína negra e o
desenvolvimento da narrativa. Constando também o levantamento teórico bibliográfico de artigos
científicos e livros que abordam o tema proposto pela pesquisa. Por tanto a pesquisa terá respaldo
teórico em Hall (2006), Dalcastagné (2012), Abranches (2007), Wense (2015), Quiangala (2017),
Dalbeto; Oliveira (2016) entre outros(as). Destacamos a priori os principais resultados alcançados, no
que nos possibilitou compreendermos a origem da criação da personagem Tempestade, que foi criada
pelo roteirista Len Wein e pelo desenhista Dave Cockrum, a princípio Cockrum havia idealizado para
um personagem que controla o tempo, em seus conceitos seria um personagem masculino. Houve a
mudança, quando observaram que a grande maioria das personagens femininas, estavam atreladas com
habilidades de felinas, assim criaram uma personagem diferente com poderes de alto nível e de origem
Africana. Sobre a personagem Ororo Munroe, ela é filha de uma princesa tribal do Quênia da África
Oriental, espécie mutante nível ômega, sua ocupação é rainha de Wakanda. Em virtude que a pesquisa
está em seu processo inicial, doravante estaremos dando seguimento para cumprir com os objetivos
propostos.
1
Bacharel em Geografia - UNESPAR. Especialista em Estudos Literários -UNESPAR. Graduando em Letras
Língua Portuguesa e Espanhol - IBRA/FABRAS. Escritor/quadrinista, Prof. de Literatura ENCCEJA no Canal
Conquiste seus Sonhos (youtube). planetsasuke0@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
233
THE FOUNDING MOTHER: UMA INTRODUÇÃO À PHILLIS
WHEATLEY, A ESCRAVIZADA QUE PUBLICOU UM LIVRO
Adrian Clarindo1
Resumo: Lançamos aqui uma introdução à obra e à figura de Phillis Wheatley (1753-1784), primeira
mulher escravizada a ter um livro publicado nos Estados Unidos da América, trazendo como
argumento uma discussão acerca da crítica sobre a autora e as possibilidades de interpretação e de
tradução de seus versos. Atemo-nos a questões de silenciamentos impostos, discursos possíveis à
época e situação da obra de 1773, que tem por nome completo Poems on Various Subjects, Religious
and Moral by Phillis Wheatley, Negro Servant to Mr. John Wheatley, of Boston, in New England.
Phillis Wheatley é tida muitas vezes como aquela que teve a chance de ser ouvida, mas não disse o
suficiente, não denunciou o bastante a condição da escravidão, além de ter mantido uma visão
eurocêntrica, e até mesmo que sofreu da síndrome de Uncle Tom. Novas biografias e novos estudos
sobre a poeta nos trazem mais luz sobre sua vida e abrem possibilidades de exegese para certa ironia e
a escapes poéticos que Wheatley usou para criticar e criar reflexão sobre as próprias circunstâncias.
Notamos que o suposto silêncio de Phillis é diferente. É falado. É colocado como ruído numa questão
bakhtiniana: Bakhtin (2003) clama que há vários gêneros de discurso e lançamos mão deles
dependendo da ordem do momento. Se assim o fazemos, silenciamos certos discursos quando usamos
de outro. Aí existe o silêncio falado que tanto se apregoa em grupos subalternos. A não fala do
oprimido nem sempre é a falta de voz, mas, sim, muita voz: só não se fala o que quer dizer. Como o
canto dos pássaros engaiolados que podem muito esconder um lamento, Phillis Wheatley parece ter
usado de sua poesia para ironizar e criticar, de forma velada, algo que leituras atentas e buscas através
de sua biografia podem desvelar.
1
Doutorando em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês (USP). E-mail: adrianclarindo@usp.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
234
UM OLHAR PARA O RACISMO NA ESCOLA: SILENCIAMENTO E
MANUTENÇÃO DO RACISMO ESTRUTURAL
Francielle Carvalho da Mota1
Mirielly Ferraça2
Resumo: O presente trabalho tem como objeto analisar notícias (publicadas nos sites O Globo, G1 e
Portal Rap Mais) referentes a um episódio de racismo acometido a uma criança de cinco anos. Caso
ocorrido em escola particular na cidade de São Paulo no dia 16 de setembro de 2022, fato repercutido
na mídia dias após o ocorrido. A análise desse conjunto de notícias permite também refletir sobre as
ausências que constituem a prática educacional, como o fato de não sermos apresentados, desde o
início de nosso percurso escolar, a autoras e a autores negros, além da falta de representações mais
diversas que extrapolem e não restrinjam a população negra ao período de escravização. Ainda que
tenhamos ações afirmativas de “inclusão”, a grande maioria da população negra brasileira é alvo
constante e diário de preconceito racial, dando-se, muitas vezes, de forma escancarada e naturalizada,
com seu início ainda prematuro nas escolas, tendo crianças como partida desse racismo estrutural.
Como referencial teórico, parte-se da obra Pequeno Manual Antirracista, publicada em 2019, escrita
por Djamila Ribeiro, que permite discutir sobre a importância de um posicionamento antirracista nas
escolas, incluindo nesse debate sujeitos brancos. Lélia Gonzalez também figura como autora
fundamental para compreender o funcionamento do racismo no Brasil. Bethania Mariani, autora
pertencente à Análise do Discurso, contribui para refletir sobre o funcionamento do discurso
jornalístico. Essas autoras permitem, portanto, compreender como o racismo estrutural afeta de forma
significativa o crescimento pessoal dos sujeitos, seu impacto na formação escolar de crianças e
adolescentes e na construção da sociedade. Na busca por caminhos possíveis, espera-se que com esta
pesquisa possamos trazer reflexões importantes para a promoção de uma educação antirracista num
país que foi um dos últimos a abolir a escravatura, e que permanece promovendo exclusão, violência e
silenciamentos.
1
Graduação. Graduanda de Letras na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste- campus Cascavel).
E-mail: francielle.mota@unioeste.br.
2
Doutora. Docente do curso de Letras na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste- campus
Cascavel). E-mail: mirielly.ferraca@unioeste.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
235
UM QUILOMBO NO LEBLON (2011): LEITURAS DE NARRATIVAS
HÍBRIDAS JUVENIS NA FORMAÇÃO LEITORA DA EDUCAÇÃO
BÁSICA COMO VIAS DA DECOLONIALIDADE
Rosângela Margarete Scopel da Silva 1
Carla Cristiane Saldanha Fant 2
Resumo: O presente trabalho propõe uma análise da narrativa juvenil Um Quilombo no Leblon
(2011), de Luciana Sandroni, enquanto produção literária híbrida de história e ficção voltada à
ressignificação do passado pelas vias da arte literária, adequando-se às características do denominado
romance histórico contemporâneo de mediação. Tal proposta objetiva demonstrar, tendo como recorte
o contexto da escravidão, como a literatura juvenil, principalmente a produção contemporânea, acresce
representatividade às classes marginalizadas, muitas vezes apagadas dos registros históricos oficiais e
tratadas pejorativamente como minorias. Levando em conta as considerações de Candido (1995), para
quem a fabulação é um direito, buscamos mostrar o papel da literatura na formação leitora junto aos
professores da Educação Básica. Neste processo de leitura literária, destacam-se obras juvenis híbridas
voltadas ao contexto do Brasil Império, mais especificamente aquelas que se referem à resistência
negra, às fugas para os quilombos, de modo a destacar figuras invisibilizadas pela historiografia
tradicional, dando foco às vozes ex(cêntricas), a partir de uma perspectiva vista de baixo. Respaldamo-
nos, nesta análise, em teóricos que problematizam sobre a necessidade de descolonização do
pensamento pelas vias da decolonialidade, como Pallermo (2018), Candido (1995), Fleck (2017),
Lopez e Santos (2021), Luft (2010), Sharpe (1992) e Weinberg (2004). Os resultados demonstram que
muitas narrativas ficcionais juvenis contemporâneas corroboram as reflexões sobre a não neutralidade
de discursos, os quais circulam e expressam o jogo de poder com relação à hegemonia europeia, à
colonização e ao sistema escravista, apontados por Fleck (2017) como inerentes ao romance histórico
contemporâneo de mediação. Tais elementos podem, assim, apontar para vias de descolonização na
formação leitora da Educação Básica.
1
Doutoranda em Letras pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOESTE, Campus Cascavel.
Docente do Colégio Estadual Doze de Novembro, Realeza-PR. E-mail: rosangela.margarete@hotmail.com.br.
2 Doutoranda em Letras pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, UNIOESTE, Campus Cascavel.
Resumo: A arte tem a capacidade de nos fazer experienciar e sentir aquilo que nossa realidade muitas
vezes não permite. Através dela é possível entrar em contato com vivências diferentes e encarar
contextos histórico-sociais que divergem do que os leitores/telespectadores experienciam no mundo
real, e isso não seria possível de outra forma senão por meio dela. Fundamentada nos pressupostos de
Bahri (2013), Davis (1989) e hooks (2000), a presente pesquisa tem como principal objetivo refletir
sobre como as personagens femininas são retratadas no romance de Colson Whitehead, The
Underground Railroad: Os Caminhos para a Liberdade (2016), que se passa em meados do século
XIX, antes da guerra pelos direitos civis nos Estados Unidos. O enredo da obra gira em torno da
história de fuga da personagem Cora de uma plantação no estado da Geórgia e que é perseguida por
um implacável caçador de escravos. Ao migrar por seis estados norte-americanos, a personagem passa
por locais que aparentemente são tolerantes, mas que na verdade estão interessados na esterilização
das mulheres negras para o embranquecimento da população e em outros tipos de experimentos com
corpos negros. Locais nos quais o racismo é elevado à máxima potência e brancos são enforcados por
ajudar negros, lugares que a fazem perceber que não possui controle sobre sua própria história. Cora
também sofre as consequências da fuga de sua mãe, Mabel, que supostamente a abandonou quando
criança, e nunca foi capturada. A análise foi realizada sob o viés feminista pós-colonial, considerando
como todo o contexto histórico-social em que as personagens estão inseridas e a intersecção entre raça,
classe e gênero, interferem na construção de suas narrativas que nem mesmo as tem como agentes. O
resultado da análise mostra como o feminismo e o pós-colonialismo são vertentes de estudos que não
podem se desprender uma da outra. Ademais, mostra como as histórias de mulheres, que se passam no
século XIX, fazem paralelos com os dias de hoje, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, visto que
são países que perpetuaram e de certa forma ainda perpetuam, econômica e culturalmente, a exclusão
do sujeito negro.
1
Mestranda em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. E-mail:
larabatista137@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
237
“UMA EXPERIÊNCIA PRIVADA”: REALIDADES DIVERSAS X
SORORIDADE
Neusa Maria Soares Zukoski1
Resumo: O conto “Uma experiência privada”, faz parte de uma coletânea de contos do livro No seu
pescoço, de autoria de Chimamanda Ngozi Adichie, autora nigeriana e feminista autodeclarada. A
história revela o abismo cultural, social, histórico e religioso entre as protagonistas da história, que se
conhecem em meio a uma onda de violência de natureza religiosa e juntas se refugiam em um local
relativamente seguro até que o perigo cesse. O momento compartilhado entre as duas delineia uma
relação que, naturalmente em outro contexto, não aconteceria. Chika uma mulher aparentemente mais
jovem, rica, cristã igbo, estudante de medicina, em visita a Kano pela primeira vez a convite de sua tia,
enquanto estava no mercado ouviu o tumultuo causado pela onda de violência dos muçulmanos hausa
contra os cristãos igbos. Uma muçulmana hausa ajudou-a, guiando até uma loja abandonada para que
esperassem ali até o conflito passar. A mulher mãe de cinco filhos, mais velha, pobre e vendedora de
cebolas compartilha momentos de diálogos íntimos com Chika, que em diversos momentos se
questiona sobre o conhecimento, as condições históricas e sobre a vida de sua companheira. Adichie
delimita com delicadeza o diálogo entre as duas mulheres, evidenciando a distância social e histórica
entre dois importantes povos nigerianos, assim como a união de duas mulheres, preocupadas com seus
familiares: Chika com sua irmã Nnedi e a mulher com sua filha mais velha Halima.
Inconscientemente, ao saber que Chika é estudante de medicina, a mulher confiou sua vulnerabilidade
solicitando ajuda ao mamilo que ardia devido à amamentação de seu filho mais novo, coisa que era
novidade para a mesma, pois não aconteceu na amamentação de seus outros quatro filhos. Quando
Chika fere sua perna em uma tentativa frustrada de voltar ao mercado procurar por Nnedi, retornando
a loja abandonada, a mulher a ajuda, estancando o sangramento com seu lenço, símbolo religioso
muçulmano. O resultado desta experiência privada é evidenciado por Adichie com o questionamento
de Chika ao noticiário que descreve os mulçumanos hausa do norte como historicamente agressivos
com os cristãos igbos. Embasando a análise das protagonistas, utilizei Azevedo (1987) e Oliveira
(2020) para evidenciar como a sororidade as uniu e ultrapassou a distância social, histórica e religiosa
diante o perigo eminente, demonstrando com sutileza como os conflitos e as opressões as afetavam de
maneiras distintas.
1
Mestrando em Letras: Ciência da Literatura pelo Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da
UFRJ. Bolsista Mestrado FAPERJ Nota 10. E-mail: arturvinicius@letras.ufrj.br.
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A IMPORTÂNCIA DO FEMINISMO NEGRO PARA A
1DESCONSTRUÇÃO DO RACISMO ESTRUTURAL
Resumo: Entre 2006 e 2014, a população feminina nos presídios aumentou em 567,4%, ao passo que
a média de aumento da população masculina foi de 220% no mesmo período. Sendo a quinta maior
população de mulheres encarceradas do mundo, ficando atrás apenas de Estados Unidos (205.400
mulheres presas), China (103.766), Rússia (53.304) e Tailândia (44.751), 50% dessa população têm
entre 18 e 29 anos e 67% são negras, ou seja, duas em cada três mulheres presas são negras. E quando
olhamos os índices de violência contra mulheres negras, dados do 15º Anuário Brasileiro de Segurança
Pública apontam que duas em cada três vítimas de feminicídio em 2020 são mulheres negras, o que
representa 61,8% das mortes. Conforme aponta Vilma Reis (2005), “nas narrativas da casa grande, as
mulheres negras são originárias de famílias desorganizadas, anômicas, separadas entre integradas e
desintegradas, estando todas essas definições numa referência das famílias brancas e, por
consequência, as famílias negras são discursivamente apresentadas como produtoras de futuras
gerações de delinquentes”. O racismo estrutural afeta diretamente as mulheres negras, e por isso é
importante traçar essa relação, bem como a importância de se discutir machismo e racismo, na
perspectiva de que um não existe sem outro. Logo, enquanto mulheres negras não forem representadas
nessa discussão, o racismo estrutural jamais acabará.
1
Graduado em História pela Unespar/Campus de Campo Mourão. E-mail:
lucas.lima.26@estudante.unespar.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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ABAYOMI - ANCESTRALIDADE E REPRESENTATIVIDADE NEGRA
Resumo: Temos o intuito de unir o conhecimento da história negra apagada e embranquecida numa
única finalidade: o empoderamento da identidade negra para resistência e ativismo. Uma das suas
relevâncias é atender a Lei 10.639/03, alterada pela Lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira e Africana em todas as escolas públicas e particulares do ensino
fundamental até o ensino médio. Percebe-se que o cabelo crespo é um dos argumentos usados para
retirar o negro do lugar da beleza e que o fato de a sociedade brasileira insistir tanto em negar aos
negros e às negras o direito de serem vistos como belos expressa, na realidade, o quanto esse grupo e
sua expressão estética possuem um lugar de destaque na nossa constituição histórica e cultural. O
negro é o ponto de referência para a construção da alteridade em nossa sociedade, sendo referência
também para a construção da identidade do branco. Juntamente com o indígena, o negro concretiza a
nossa sociedade, a nossa cultura, as nossas relações sociais, políticas e econômicas. Tendo isso em
vista, nessa oficina, em um primeiro momento, aborda-se dados de Ancestralidade Negra, representada
na resistência de mulheres negras em navios negreiros, na história da resistência negra brasileira e na
valorização da estética na sociedade americana posterior ao Movimento Estadunidense dos Panteras
Negras e como esta refletiu no Brasil em meados da década de 70. Também, dá-se relevância à
representatividade nas diversas mídias existentes como desenhos, super-heróis etc e, por fim, é
realizada a confecção da Boneca Abayomi, gerando um objeto concreto feito pelos participantes da
atividade.
1
Graduada em Química Licenciatura e Bacharel com Atribuições Tecnológicas e graduanda de Engenharia
Ambiental pela UTFPR - Campo Mourão. E-mail: tatipsique@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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ANCESTRALIDADE E IDENTIDADE NEGRA NA LITERATURA
INFANTOJUVENIL AFROFEMININA: O
AUTORRECONHECIMENTO EM AS TRANÇAS DE BINTOU (2004)
Dhéssica Caroline Fogaça1
Thais Martins do Nascimento2
Resumo: A literatura, dentre muitas outras funções, atua como forma de o ser humano se reconhecer
no mundo, revelando sua individualidade, dores e alegrias, além de sua cultura e sua história,
proporcionando, assim, de maneira sutil e despretensiosa a identificação pessoal de cada leitor com o
que ele lê. Nesse sentido, a literatura infantojuvenil, destinada ao público jovem, pode ser usada como
uma forma de educação no contexto escolar, de maneira que as crianças e os adolescentes, sobretudo
negros, se reconheçam no mundo por meio da literatura, formando e compreendendo sua própria
identidade. Partindo disso, no contexto de validação das culturas de origem africanas e afro-brasileiras,
apagadas por séculos de escravidão e silenciamentos da história oficial e da literatura canônica, esta
oficina objetiva, por meio da obra infantojuvenil As Tranças de Bintou (2004), de Sylviane Anna
Diouf, abordar as questões de raça/etnia, pertencimento cultural e identidade negra, que são
simbolicamente tratadas pela autora, de modo a estabelecer conexões entre a afro-ancestralidade e a
importância do cabelo como ponto de autorreconhecimento, empoderamento e subjetivação do negro.
Para isso, em um primeiro momento, faremos uma leitura da obra tematizada nas ilustrações que o
próprio livro apresenta e discutiremos as temáticas centrais de etnia, cabelo, família e autoestima, de
forma que os estudantes possam falar suas impressões acerca da obra e os respectivos assuntos em
torno dela. Buscando reiterar a importância das representações de etnia, cabelo e ancestralidade, como
formas de afirmação da identidade afro, será exibido o curta-metragem ganhador do Oscar de 2019,
Amor ao cabelo (2019), de Matthew A. Cherry, para sintetizar as discussões através de um recurso
imagético e sonoro.
1
Mestranda em Letras/Área de concentração em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá
(UEM) e graduada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR –/campus
de Campo Mourão. E-mail: carolfogaca7@gmail.com.
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD) pela Universidade
Estadual do Paraná – UNESPAR –/campus de Campo Mourão e graduada em Letras Português e Inglês pela
mesma instituição. Bolsista de mestrado pela Capes. E-mail: thais.martins.nascimento1997@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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ENTENDENDO O SISTEMA PENAL PARA CONSOLIDAÇÃO DO
RACISMO ESTRUTURAL NO BRASIL
Eduarda Nunes de Oliveira1
Lucas Alexandre de Lima2
Resumo: A superlotação das unidades prisionais no Brasil é um tópico muito abordado por diversos
pesquisadores, posto que é notório que o Brasil é um dos países que mais encarcera no mundo, sendo a
terceira maior população carcerária no mundo. Com efeito, 70% dessa população é negra segundo o
sistema de Informações Penitenciárias. O Sistema de Justiça Criminal tem profunda conexão com o
racismo, pois o funcionamento de suas engrenagens é perpassado por essa estrutura de opressão, tendo
em vista o aparato reordenado para garantir a manutenção do racismo e, portanto, das desigualdades
baseadas na hierarquização racial. Logo, além da privação de liberdade, ser encarcerado significa a
negação de uma série de direitos e uma situação de aprofundamento de vulnerabilidades. Tanto o
cárcere quanto o pós-encarceramento significam a morte social desses indivíduos negros e negras que,
dificilmente, por conta do estigma social, terão restituído o seu status, já maculado pela opressão racial
em todos os campos da vida, de cidadania ou possibilidade de alcançá-la. Segundo Borges (2019) essa
é uma das instituições mais fundamentais no processo de genocídio contra a população negra em curso
no país. Tendo em vista essas considerações, essa oficina tem por objetivo discutir esse sistema de
forma a entender esse processo de dominação seletiva praticada pelo Estado através de políticas
públicas e alterações legislativas para a repressão e punição de condutas criminosas, fazendo a seleção
do método punitivo de acordo com o autor do delito, concluindo, assim, que a prisão é utilizada como
um sistema de dominação de classes, em especial da população negra.
1
Eduarda Nunes de Oliveira, bacharela em Direito pelo Centro Universitário Integrado de Campo Mourão. E-
mail: eduardanunesdeoliveira@outlook.com.
2
Graduando em História pela Universidade Estadual do Paraná campus Campo Mourão, membro do Grupo de
Estudo e Pesquisa em Educação, Diversidade e Cultura – GEPEDIC. E-mail:
lucas.lima.26@estudante.unespar.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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O CONTO AFROFEMININO EM SALA DE AULA: O
PROTAGONISMO DE CONCEIÇÃO EVARISTO E CRISTIANE
SOBRAL
Natacha dos Santos Esteves1
Wilma dos Santos Coqueiro2
Resumo: A presente oficina literária, a ser ministrada em formato presencial, objetiva apresentar o
protagonismo feminino negro em obras afrocentradas, mostrando como as vivências das personagens
de Conceição Evaristo e Cristiane Sobral são tangenciadas pela interseccionalidade, destacando a
violência física e discursiva que sofrem e a discriminação a nível racial e de gênero. Para tanto, dois
contos, um de cada autora, serão trabalhados com os alunos, sendo eles: Maria (2020), de Conceição
Evaristo e O tapete voador, de Cristiane Sobral. De forma geral, no conto Maria, temos uma
personagem afro-brasileira, que trabalha como emprega doméstica e sobrevive de forma escassa. O
conto destaca a violência ao qual essa mulher é submetida, sendo completamente desumanizada pela
sociedade. Em O tapete voador, somo apresentados a uma jovem negra chamada Bárbara que se
recusa a não se ver enquanto uma mulher negra. Aconselhada a performar dentro da branquitude, a
personagem decide romper com status quo que ditava qual era o destino dos negros. Assim, a
abordagem da oficina consistirá em uma leitura interpretativa, destacando aspectos formais e
conteudísticos dos contos, dando ênfase no fato de que, mesmo aparentando ser narrativas tão
diferentes, os contos mantêm uma forte relação intertextual.
1
Mestranda em Estudos Literários na Universidade Estadual de Maringá - UEM. E-mail:
natachaestevescm@gmail.com.
2
Doutora em Estudos Literários. Docente adjunta do colegiado de Letras e do Programa de Pós Graduação em
Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD) da UNESPAR/campus de Campo Mourão. E-mail:
wilma.coqueiro@ies.unespar.edu.br.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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O RAP EM SALA DE AULA - RACIONAIS MC’s E IDENTIDADE
NEGRA
Resumo: Esta oficina terá o objetivo de desenvolver junto aos educandos da educação básica a
compreensão de identidades culturais negras através da música, mais especificamente o rap. Para isso,
faremos a escuta e análise de diversas músicas do álbum “Sobrevivendo no Inferno”, do grupo
Racionais MC’s. Esse grupo musical, sem dúvidas, pode ser considerado o maior grupo de rap do
Brasil. Foi responsável por mudanças significativas na estrutura musical brasileira, que perpassou,
principalmente, a construção de uma representação contra-hegemônica do homem negro. Este
movimento, realizado por Mano Brown, KL Jay, Ice Blue e Edi Rock, impactou imensamente a forma
como o homem negro vê a si mesmo, possibilitando uma análise complexa para além da simples
polaridade binária entre vítima da sociedade e de criminoso natural. Através da discussão da obra do
grupo, esperamos auxiliar os/as alunos/as a compreenderem suas próprias identidades e,
principalmente, a contribuição da cultura e da História afro-brasileira para a construção de nossa
sociedade e das nossas diversas subjetividades, na perspectiva da Lei 10.639 de 2003.
1 Doutorando em História Cultural na Universidade Estadual de Maringá e mestre em História Política pela
Universidade Estadual de Maringá. Professor Colaborador na Unespar/Campus de Campo Mourão. E-mail:
prof.kevcon@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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PANORAMAS E DISCUSSÕES SOBRE A LITERATURA ESCRITA
POR MULHERES NEGRAS
Ana Maria Soares Zukoski1
André Eduardo Tardivo2
Resumo: A presente oficina tem por objetivo apresentar um panorama acerca da produção literária de
autoria feminina negra, buscando promover discussões e reflexões sobre a escrita de mulheres negras.
A escolha por esse recorte é motivada pela dupla marginalização que acompanha as trajetórias das
autoras negras, marcadas negativamente pelo gênero e também pela raça, fato que dificulta a inserção
de suas produções na seara literária. É necessário, portanto, lançar luzes em suas produções, a fim de
buscar resgatar essas vozes silenciadas e relegadas ao limbo literário, além de promover debates
quanto as qualidades estéticas e literárias que essas produções possuem. Quanto aos procedimentos
metodológicos, a oficina será ministrada de forma remota/online e dividida em duas etapas. A
primeira, de cunho mais teórico, contará com uma apresentação de um breve panorama acerca da
produção feminina negra nas mais diversificadas searas literárias. Já a segunda etapa, abarcará uma
reunião de textos e excertos de obras literárias de autoria feminina negra, a partir dos quais serão
realizadas discussões e análises interpretativas, focalizando as principais temáticas relacionadas à
condição feminina negra. A oficina abrigará os/as interessados/as em literaturas de maiorias
minorizadas com foco na literatura de autoria feminina negra, feminismo negro e interseccional, entre
outras questões que orbitem essas problemáticas.
1
Doutoranda e Mestra em Letras: Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. E-mail:
anazukoski@gmail.com.
2
Doutorando e Mestre em Letras: Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. E-mail:
tardivo.andre@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
247
REPRESENTAÇÕES DO QUEER NEGRO NA LITERATURA: VOZES
INTERSECCIONAIS
Resumo: Esta oficina almeja apresentar algumas representações e considerações acerca do queer
negro na literatura, evidenciando e analisando a interseccionalidade que permeia e constitui o sujeito
queer negro. Com efeito, busca-se propiciar uma maior visibilidade a esse grupo que, conforme afirma
Richard Miskolci (2017), é o abjeto do movimento LGBTQIA+ e das sociedades em suas totalidades.
Na contemporaneidade, dado os esforços dos Estudos Culturais e da Crítica Feminista Negra desde a
década de 1960, muitas narrativas proeminentes desse grupo vêm sendo [re]descobertas e muitas têm
conquistado espaço no mercado editorial, seja ele infanto-juvenil e/ou adulto. Em vista da emergência
em romper com a condição de objeta da literatura queer negra, nesta oficina serão analisadas duas
narrativas queer com protagonistas negros, mostrando como as opressões de raça, classe e gênero
interlaçam-se e intensificam o processo de aceitação desses personagens, bem como a inserção desses
indivíduos na sociedade à qual pertencem. No que tange ao procedimento metodológico, a oficina será
via remota/online, na plataforma Google Meet. Ela será dividida em duas partes, visto que serão
trabalhadas duas obras literárias. A oficina se destina para todos/as que desejam conhecer/estudar a
Literatura de autoria negra contemporânea, cuja narrativa apresenta questões oriundas da Teoria Queer
e da Interseccionalidade.
1
Mestranda. Universidade Estadual de Maringá – UEM. E-mail: natachaestevescm@gmail.com.
2
Mestranda. Universidade Estadual de Maringá – UEM. E-mail: ffbortoletto@hotmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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TURBANTE - ANCESTRALIDADE, EMPODERAMENTO E BELEZA
DA MULHER NEGRA
Tatiana da Silva Gonçalves1
Resumo: De acordo com o Censo do IBGE de 2010, o Brasil possui a maior população negra fora do
continente africano. Dos séculos XVI ao XIX, esse processo se deu por meio da escravização de
mulheres e homens negros de países africanos, sendo estimado que mais de 3 milhões de africanos e
africanas vieram para o Brasil após serem escravizados, sequestrados, separados de suas famílias e de
suas raízes e, assim, enfrentaram um processo de apagamento, colonização de ideias e de suas
histórias. A população negra boicotou o programa de dizimação do Estado. Em 2014, mais da metade
da população se declarou negra ou parda, representando 53,6% da população brasileira (IBGE, 2016).
O ensino do uso do turbante vem a valorizar esse passado que por muito tentaram apagar e colonizar, e
a criação de atividades escolares como oficinas, traz, aos participantes, um entendimento da relevância
do turbante, sua simbologia, seus valores e, sobretudo, a quebra de preconceitos relacionados às
religiões de matrizes africanas ainda presentes em nossa sociedade atual. Na oficina a negritude é
exaltada e democratizada onde são apresentados episódios de embranquecimento decorridos na
história brasileira e a importância de superá-los enquanto sociedade. Buscamos também atender a Lei
10.639/03 alterada pela Lei 11.645/08 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana em todas as escolas públicas e particulares do ensino fundamental até o ensino
médio. Um negro intelectual é definido por Munanga (1988), como antes recusado socialmente que
encontra como alternativa a retomada de si deixando assim de ser considerado inferior e aceitando sua
herança sócio-cultural chamada de negritude.
1
Graduada em Química Licenciatura e Bacharel com Atribuições Tecnológicas e graduanda de Engenharia
Ambiental pela UTFPR - Campo Mourão. E-mail: tatipsique@gmail.com.
Anais do Seminário Afro [R]existência, v 3. Unespar/campus de Campo Mourão – 17 a 19 de novembro de 2022
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