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Para
Outros
Modos
de Viver Diversidade, Cultura e
Literatura dos Povos do Campo,
Afrodescendentes e Indígenas
PARA OUTROS MODOS DE VIVER:
DIVERSIDADE, CULTURA E LITERATURA DOS POVOS DO CAMPO,
AFRODESCENDENTES E INDÍGENAS
© 2021 Copyright by Cintya Kelly Barroso Oliveira, Maria Bernardete Alves
Feitosa, Maria de Lourdes Vicente da Silva e Sarah Maria Forte Diogo
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Para Outros
Modos de Viver:
Diversidade, Cultura e Literatura dos Povos do
Campo, Afrodescendentes e Indígenas
Fortaleza | CE
2021
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO • 7
As organizadoras
PREFÁCIO • 9
Suene Honorato
I Diversidade e Crítica
ANÁLISE DA VIOLÊNCIA NA OBRA OLHOS D’ÁGUA, DE CONCEIÇÃO
EVARISTO • 17
Carla Lorhaine da Silva
Sarah Maria Forte Diogo
APRESENTAÇÃO
E
ntregamos ao público o livro Para outros
modos de viver: Diversidade, Cultura e Li-
teratura dos povos do campo, afrodescen-
dentes e indígenas. Os trabalhos que o compõem são
escritos de professores e pesquisadores da educação
básica e do ensino superior, que dialogam suas práticas
intelectuais, profissionais e/ou de pertencimento com
a cultura camponesa, indígena, afrodescendente, assim
como com os sujeitos etnorreferenciados.
Os artigos de análise, as produções literárias e os
relatos de experiência estão voltados, sobretudo, à Cul-
tura e à Literatura. A obra está dividida em três seções,
a saber: Diversidade e Crítica; Diversidade e Literatu-
ra; Diversidade e Escola. Os trabalhos abrigam-se sob
essas três partes e conversam entre si no que diz res-
peito à assumpção da Diversidade enquanto elemento
norteador. Enfatizamos o termo Diversidade proposi-
talmente para reafirmar nosso posicionamento a favor
da necessidade de nos apropriarmos e colocarmos em
prática a percepção de que existimos num mundo bas-
tante heterogêneo. Toda essa Diversidade é substrato à
Crítica, à Literatura e à Escola, espaços de contestação
e de construção de outros modos de viver e conviver.
As organizadoras
APRESENTAÇÃO
9
PREFÁCIO
N
o relato de experiência “A arte de lavrar pa-
lavras”, presente nesta coletânea, Alcides
Alves da Silva e João Antoniel da Silva Pin-
to dizem que as místicas realizadas na escola Florestan
Fernandes traziam “algumas denúncias e anúncios”. A
mesma expressão foi usada numa reunião nacional de
preparação das JURAs (Jornadas Universitárias em de-
fesa da Reforma Agrária) de 2021, também para pensar
a mística. Tenho me apegado a essa expressão, pois ela
sintetiza algo de que precisamos: nosso tempo convo-
ca, juntas, a contundência da denúncia e a esperança
do anúncio. Denúncia sem anúncio talvez amplie feri-
das; anúncio sem denúncia talvez apague “a história da
vida”. Nossas lutas se inscrevem no duplo horizonte da
denúncia-anúncio, que evoca uma diversidade de tem-
pos (passado, presente, futuro), espaços (cidade, cam-
po, assentamento, terra indígena, quilombo) e línguas
(português, nheengatu, tupi, Libras). Nossas místicas
nos congraçam em torno da ressignificação da vida, na
sua potente multiplicidade.
PREFÁCIO
10
SUENE HONORATO
11
PREFÁCIO
12
SUENE HONORATO
13
PREFÁCIO
14
Suene Honorato1
SUENE HONORATO
I
Diversidade
e Crítica
17
Introdução
P
arte da literatura contemporânea brasileira
tem como projeto político-ideológico dar voz
àqueles que muitas vezes foram silenciados
por anos de exclusão contínua do centro, configurando-
-se como espaços marginais. Essas populações sofrem
diversas formas de violências e uma delas é o proces-
so de invisibilização, que se torna concreto na literatura,
por exemplo, quando não vemos narrativas que abor-
dem questões de raça e gênero a partir do olhar daquele
que, em geral, é visto de forma negativa e subalternizada.
Este artigo nasce da inquietação que os contos da escri-
tora Conceição Evaristo suscitaram durante o projeto de
iniciação científica intitulado “Configurações da violência
na literatura brasileira contemporânea”, desenvolvido du-
rante 2019, sob orientação da profa.Dra. Sarah Maria Forte
Diogo. Neste projeto, fomos instigados a ler Axilas e outras
histórias indecorosas, de Rubem Fonseca; Olhos d’água,
de Conceição Evaristo; e Gogmagog, de Patrícia Melo.
Enquanto pesquisadores em formação, seleciona-
mos a obra Olhos d’água, lido durante o projeto, pois
foi o que mais nos chamou a atenção pelo intenso atra-
vessamento de opressões que as personagens femininas
sofrem. Em Olhos d’água, observamos que as persona-
gens negras são focalizadas não somente como vítimas,
Violências
Duzu-querença
O conto Duzu-Querença mostra a vida de uma
mulher que desde cedo foi exposta ao sofrimento, dei-
xada em uma casa de família ainda quando criança,
com a esperança de que ali teria uma vida melhor e,
gradativamente, se inseria no universo da prostituição,
marcado pela violência e pela miséria. Observemos este
trecho:
Quando Duzu chegou pela primeira vez à cida-
de, ela era menina, bem pequena. [...] O pai de
Duzu tinha nos atos a marca da esperança. [...]
Na cidade havia senhoras que empregavam me-
ninas. Ela podia trabalhar e estudar. [...] Um dia
sua filha seria pessoa de muito saber. [...] Duzu
ficou na casa da tal senhora por muitos anos. Era
uma casa grande de muitos quartos. [...] Gostava
de ficar olhando para os rostos delas. Elas passa-
vam muitas coisas no rosto e na boca (EVARISTO,
2016, p. 32).
Era obrigada a fazer serviços domésticos, para que
assim pudesse ter uma moradia e o que comer “Ajudava
na lavagem e na passagem de roupa. Era ela também
que fazia a limpeza dos quartos” (Idem, p. 32). No início
Considerações finais
Referências
LITERATURA E DECOLONIALIDADE:
A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
Linhas iniciais
E
ste trabalho se propõe a trazer uma análise
dos poemas da escritora cearense Jarid Arra-
es numa perspectiva que se alicerça nos es-
tudos pós-coloniais. Foram escolhidos versos da autora
para serem lidos sob uma abordagem insurgente, opos-
ta aos silenciamentos impostos pela hegemonia colo-
nial da cultura aos atores sociais subalternizados. Para
esse olhar analítico-teórico, utilizamos os estudos de
Quijano (2005, 2007), Walsh (2001); Delcastagné (2012).
Em seus poemas, Jarid Arraes opta por uma abor-
dagem política diante da escrita versificada e traz ques-
tões sobre racismo, machismo, saúde mental, abuso in-
fantil, misoginia, identidade racial, em resumo, trata de
feiuras humanas.
Antonio Candido, em um de seus escritos mais
visitados sobre literatura, afirma que não há equilíbrio
social sem literatura e a considera um direito e elemen-
to indispensável à humanização. Nas palavras do autor,
“ela não corrompe nem edifica, portanto; mas trazendo
livremente em si o que chamamos o bem e o que cha-
mamos o mal, humaniza em sentido profundo, porque
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A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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Linhas de teoria
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A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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aprendi
naquele dia
a morte é relativa
aos olhos
prada
de quem vê
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A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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1439 lugares
e eu era a única negra
[eu quebro]
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o primeiro ato
é o roubo
quero escrever coisas outras
pássaros vaginas janelas o clima
as lentes o detergente
roubaram de mim
de você desse lápis
desse teclado
a escrita da poesia qualquer
enquanto o cérebro
escurta o circuito
a medicação tropeça
enquanto sou como todas
as outras poetas
fui roubada
quero sofrer como todos
os loucos
e das palavras que surtam
peneirar
a estética
mas se atente
ao movimento
dos furtos clássicos
históricos e afinados
entre todas essas que versam
um papel me foi restado
quantas negras eu questiono
o que escrevem
essas negras
o primeiro ato
é sempre um trato
assinei esse papel
de única e exceção
e agora minhas frases
são fronteiriças
e beatriz eu só queria
escrever sobre as paredes
os olhares e as cadeiras
os baralhos os abismos
1439 lugares
e eu era a única negra
eu deveria estar feliz
porque ocupei esse espaço
montei essa ocupação
solitária
de uma bandeira
parda
[eu quebrei
em mil pedaços]
eu deveria estar feliz
mas beatriz eu só queria
escolher uma poesia
beatriz eu só queria
como todas as poetas
as negras também
surtam
mas o primeiro
ato
é sempre uma
pergunta
onde estão as
negras
onde estão
as negras
[onde estão as negras]
Os versos iniciais do poema fazem referência à
cantata Carmina Burana e a voz do poema é a única ne-
gra no ambiente clássico, reconhecidamente canônico
e historicamente negado à poeta de identidade margi-
nalizada. Os versos reclamam o direito a uma escrita so-
LITERATURA E DECOLONIALIDADE:
A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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cinto de couro
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A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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eu sei
minha menina
enxergo esse nó
mas não posso desatá-lo
sou também o fruto do pai
da mãe ao chão
da mãe que vestiu calças
foi porta afora
ser figurativa
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A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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e apertam botões
que começam guerras
internas
por muitas e muitas
gerações
há um dia em que a mulher
pergunta a si mesma
pergunta para outra
mulher
e as perguntas pairam
flutuam
sobre a cabeça
as perguntas incomodam
e vazam como excremento
de aves de árvores de céu
nesse dia a mulher procura
a resposta
por que de que adianta
se há mãos que fazem dançar
as cordas
e os pequenos membros
do corpo vivem em sacolejo
o ventre morre em liminares
gestações que formam mãos
de homens
e a partir do ventre
as mãos nutridas pela mulher
saem na direção do mundo
de tudo que é externo
de tudo que é global
antropológico
fágico
e social
e a mulher nesse dia pergunta
para outra mulher
para o espelho
de que isso tudo
adianta
LITERATURA E DECOLONIALIDADE:
A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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Referências
ARRAES, J. Jarid Arraes, a “jovem mulher do sertão”
que faz literatura retirante. [Entrevista concedida
a] Joana Oliveira. El País, Brasil, 2019. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/16/cultu-
ra/1563309707_729625.html. Acesso em: 28 fev. 2021.
ARRAES, J. Intitulada ‘Lady Gaga do Cariri’, Jarid Arra-
es mistura fantasia e realismo. [Entrevista concedida
a] Nahima Maciel. Correio Braziliense. 2019. D
isponível
em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/no-
ticia/diversao-e-arte/2019/07/13/interna_diversao_
arte,7 70488/lady-gaga-do-cariri-jarid-arraes.shtml.
Acesso em: 28 fev. 2021.
ARRAES, J. Mulheres que escrevem entrevista Jarid Ar-
raes. [Entrevista concedida a] Taís Bravo. Mulheres que
Escrevem. Disponível em: https://medium.com/mulhe�-
res-que-escrevem/mulheres-que-escrevem-entrevista-
-jarid-arraes-1183a073b30f. Acesso em: 28 fev. 2021.
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LITERATURA E DECOLONIALIDADE:
A RECUSA DO SILÊNCIO NOS POEMAS DE JARID ARRAES
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Introdução
E
mbora seja um lugar comum declarar, nunca
será demais insistir que, quanto mais genial
uma obra literária, mais ela tem a oferecer, no
que concerne às possibilidades de estudo. É o caso de
Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Em suas páginas, res-
salta-se a figura do camponês, plasmada em uma famí-
lia de retirantes. Suponho que o lugar do campesinato,
na obra mencionada, reveste-se de importância, e, ao
mesmo tempo, exige uma reconstituição mais direta.
Trata-se de tema já explorado pela crítica, mas, a meu
ver, de maneira insuficiente.
Neste artigo, em grandes linhas, pretendo levar a
cabo esse reequacionamento, examinando o lugar da
figura do camponês/camponesa em Vidas Secas, o úl-
timo dos quatros romances publicados pelo autor nos
anos 1930.
Reconstituir o mundo social do campesino implica
recobrá-lo na complexidade de sua prática, de seus mo-
vimentos e de sua linguagem. É precisamente isso que
faz Ramos num de seus trabalhos mais memoráveis. À
luz do livro designado, cogito analisar o mundo e o ima-
ginário do camponês do semiárido, tomando a criação
literária como ponto de apoio necessário a essa emprei-
tada, considerando sempre que o sentido de um texto
nunca se restringe aos limites dados pelo seu autor.
Considerações finais
Referências
T
halita Rebouças, Paula Pimenta ou Bruna
Vieira são nomes de autoras que facilmente
encontramos nas estantes das livrarias, pu-
blicadas por editoras de grande porte, entrevistadas na
televisão e que costumam lotar auditórios de eventos li-
terários. O nicho delas é o de literatura juvenil, que vem
crescendo exponencialmente no mercado editorial. Já
autoras como Solaine Chioro, Olívia Pilar e Giulia Santa-
na, do mesmo nicho, não são tão conhecidas no meio,
embora conquistem o espaço literário com autopubli-
cações digitais.
Essas últimas três autoras fizeram parte do corpus
da pesquisa de iniciação científica intitulada Mapea-
mento de autoras negras na literatura juvenil brasilei-
ra, realizada no Centro Federal de Educação Tecnológi-
ca de Minas Gerais (CEFET-MG), com bolsa do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). Iniciada em agosto de 2019, com duração até
julho de 2020, teve por objetivo localizar autoras negras
que produzem literatura juvenil e descobrir quais edito-
ras trabalham com essas publicações.
Tal pesquisa nasceu no bojo das consequências
de uma campanha que ganhou força nas redes sociais.
À guisa de conclusão
Referências
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hoje: políticas e perfis da juventude brasileira. Cadernos
Adenauer VXI. n.1, 2015.
ADICHIE, C. O perigo da história única. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2019.
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de mulheres negras – Brasil, Século XXI. Cuaderno 107:
Cuadernos del Centro de Estudios en Diseño y Comuni-
cación [Ensayos]. Buenos Aires: Universidad de Palermo,
año 23, n. 107, 2020.
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ponível em: <https://solainechioro.com.br/sobre-diver-
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DALCASTAGNÈ, R. Literatura brasileira contemporânea:
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GOMES, N. L. Corpo e cabelo como símbolos da identi-
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udesc.br/Arquivos/Artigos_textos_sociologia/Negra.
pdf> Acesso: 20 out. 2020.
C
erta vez, um rapaz conhecido por Colôra
convidou um amigo para irem fazer uma
pescaria de traíras nas lagoas próximas da
Oleria (lagoa muito conhecida por nós Tremembé, que
fica entre as aldeias de Panan e Mangue Alto).
Para essa pescaria, eles usavam uma armadilha
chamada de aboias e colocavam nelas caçotes como is-
cas, durante à noite, e de manhã cedinho só iam despes-
car. Se combinaram e lá se foram os dois. Ao chegarem
numa certa altura do caminho, num baixio que tinha
um morro de areia fina e branca, mesmo distante ainda,
perceberam que vinha descendo na carreira um bicho
grande, preto e cabeludo. Nesse instante, Colôra falou
para seu amigo: – Sai do meio que lá vem um bicho cor-
rendo para se encontrar com nós! Nisso, os dois se afas-
taram mais que depressa para os lados do caminho e
nesse momento pressentiram só o vento do bicho, que
numa velocidade imensa já passava entre eles e ia em-
bora. Mesmo o tal bicho passando velozmente, Colôra
conseguiu reconhecer seu rosto, que era de um tio dele
conhecido por Antônio Pissirica, sobre quem as pessoas
comentavam que virava lobisomem. Apesar de ele sa-
ber que era seu próprio tio, Colôra se assombrou com
seu amigo, deixaram a pescaria pra lá, correram até em
casa e contaram que nas suas vidas nunca tinham visto
coisa tão feia e que isto só podia ser o tal do lobisomem.
O córrego misterioso
A tranquilidade de um lobisomem
A visagem da mangueira
Um lobisomem desencantado
não dava tempo nem de fugir pelo mato que tinha pe-
los lados do caminho. Assim, lutaram por um bom tem-
po até que Cláudio não conseguia mais nem pular, só
rodava de um lado para o outro, de tão cansado que
já estava tentando se defender daquela fera horrenda.
Nesse momento, o rapaz lembrou da sua faca e, mes-
mo em meio àquela luta, valeu-se de São Francisco e
conseguiu pegar a faca e enrolar o lenço nela. O bicho
novamente pulou para atacar e Cláudio simplesmente
esperou o animal direcionando a faca no rumo que o bi-
cho vinha. Nesse instante, contou que só sentiu o peso
do monstro espetado na sua faca. Naquele momento, o
lobisomem deu uma espécie de grito e caiu ao lado do
caminho, quase dentro do mato. O rapaz, mesmo muito
cansado, imediatamente dirigiu-se até lá para ver o que
realmente havia acontecido. Ao chegar onde o monstro
caiu, deparou-se com um homem em sua forma nor-
mal e não mais com um bicho. Para sua maior surpresa,
reconheceu que era seu vizinho. Nesse momento, o ho-
mem desvirado de lobisomem pediu que Cláudio não
lhe matasse. Mesmo com a raiva que estava sentindo,
Cláudio o respeitou, deixando-o lá caído, gemendo, e
foi embora.
Até então, Cláudio contou que nunca tinha sen-
tindo tanto medo, mas quando deixou o homem ali ca-
ído e seguiu para casa, sentiu um medo tão grande, que
não sabe como conseguiu chegar. Disse que só bateu
na porta de casa e não teve coragem de falar. Seus pais
abriram, botaram-no para dentro e, com muito tempo
foi que ele falou, contando-lhes o que tinha acontecido.
Com poucos dias, correu uma notícia de que seu
vizinho estava doente, com um ferimento próximo das
costelas. O mesmo contava pra quem ia lhe visitar que,
A teimosia de um rapaz
As artimanhas do Caipora
Árvores mal-assombradas
É em Maracanaú
Na serra Pitaguary
Que se passam as histórias
Que passo a contar aqui.
Histórias de assombrar
Em plantas que são nativas
Envolvendo encantados
E também pessoas vivas.
E o pé de oiticica
Que atrai assombração
Perto dele se vê coisas
Que não tem explicação.
Eram 4 ou 3 crianças
Entre 7 e 10 de idade
Passando na oiticica
Na maior ingenuidade.
E o pé de marizeira
Outra planta assombrada
Havia só uma delas
Na redondeza citada.
Já no pé de mulungu
O povo via a caipora
É a última historinha
Que eu contarei agora.
E do pé de mulungu
Ele não pode escapar
Por mais que o evitasse
Foi lá que foi acampar.
O terceiro desistiu
Ao ouvir esses relatos
Sabia que argumentos
Não havia contra os fatos.
O índio reconhecido
tem na lei os seus direitos,
mas antes de desfrutá-los
luta contra os preconceitos.
O índio desaldeado
já é hoje a maioria
mas nunca deixa de ser
um membro da etnia.
Convidamos artesãos,
filhos da comunidade,
chamamos os cidadãos
de toda e qualquer idade.
Para os Pitaguary,
é um dia especial,
índio e não-índio aqui
numa feira cultural.
A alma do roçado
Esta é uma história
de Socorro e Zezim
uma história verdadeira
que aconteceu assim:
Socorro trabalhadora
tendo em mãos seu bornal
foi apanhar o feijão
no meio do milharal…
De repente um estalo
surgiu no meio do nada,
ela, muito corajosa,
só ficou arrepiada…
E o barulho ficou
cada vez mais esquisito,
de repente ela soltou
um enorme e agudo grito…
Socorro ia gritando:
– Aqui não volto por nada
você que fique aí
com sua alma penada…
E ainda no caminho
naquele grande sufoco
pensou ela: “Pode ser
macaco quebrando coco…”
O assunto esfriou
e ela voltou ao roçado,
pois queria descobrir
o que tinha lhe assustado…
Estando no mesmo lugar,
novamente aconteceu,
como estava curiosa
nem um pouco estremeceu…
Coitada da maniçoba,
inocente em seu lugar,
foi confundida com alma
comedora de aruá...
Cientistas anunciam
sempre secas para a gente,
nada disso é importante
para quem em Deus é crente.
A pobre da marizeira,
com fama de assombrosa,
anuncia o inverno
ficando toda chorosa.
E a formiga de roça,
rival do agricultor,
trabalhando enfileirada
é inverno, sim, senhor¹
surgem os redemoinhos,
não se sabe se é saci.
só se tem uma certeza:
vem inverno por aí.
Carnaúba carregada,
frutinhas para todo lado,
é sinal de inverno bom
e agricultor animado.
Se o olho da carnaúba
crescer mais que o normal
quem planta logo se alegra
pois vê que é um bom sinal.
O povo Pitaguary
acredita nos sinais
esses foram alguns deles,
mas existem muito mais…
Histórias do Ceará
Muitos anos de história
tem o nosso Ceará.
Muitas coisas ocultadas
que ninguém pode falar.
O usurpador de terra,
Não estando satisfeito
tentou acabar com os índios
para o crime ser perfeito.
O Pitaguary se orgulha
de fazer o que tem feito
divulga sua cultura
e combate o preconceito.
O índio do Ceará
luta em agradecimento
a todos que resistiram,
enfrentando o sofrimento.
PARTE I
(Teresinha Pereira da Silva – Teka Potyguara)
III Aba pé
Aba pé, aba supé
Momopé ambi asy
Tupã sy kunhã kuné música Tupy antigo
Kuruymi kaá awacy
V Katuara
Katuara aba esé, momopé eré pitá
Ne’enga abanhenga, yby aba ka’á
Ka’atinga katemá, ybyassu katu aba
Katinga tabatinga, ore katu aba
VI Morubixaba
Morubixaba eté, kunhã porang
Aba Nhé enga kurumim,
Aba katemá, aba katemá,
Aba katema Aba nhe enga Tupã sí. Tupy antigo
Aba katemá, aba katemá,
Aba katema Aba nhe enga kurumim
VII Cacique
Muitos caciques, mulheres bonitas, falando
Línguas indígenas, e kurumim.
Indígenas na região da mata
Deus na região da mata
X Kuaracy korá
Kuaracy corá, tupancy jacairá,
abáté Abaeté,kamiranga tupancy – Bis
Icaraí yacy tupancy,Mantiqueira
Acopiara aiuaba ybyassu – Bis
XII Potygatapuia
eu sou tapuia,
sou gavião,
sou tabajara ,
sou potiguara
eu sou potygatapuia – Bis
Sou liderança
sou caçador,
sou rezador
sou professor
eu sou índio lutador – Bis
Sou potiguara,
sou do sertão,
sou caceteiro ,
sou valentão,
comedor de camarão – Bis
PARTE II
(Francisco Jardel dos Anjos da Silva – Jardel
Potyguara)
I Araruna
Nheengari araruna ka’a
Sesá nheengar bis
Umbari araruna eré sabiá
Paranaê Hê Hê Hê
Paranaê Hê Hê Hê
Ara kunhã itanahê
V Kunhã potygara
Yepe ara sesá indé
Mira potyguara kunhã sé
Auasu inde iandé Hêê
Yepe apigawa Né awa
Xé puranga té Resika iké
Minha companheira
Amo Você, Nós
IX Igara
Ara igara iasi He hêê
Iatanauê He hêê
A ara igara de ibirakutá
Ara igara iasi He hêê
Iatanauê He hêê
A ara iagara de ibirakutá
X A Canoa
Um dia a canoa
viu a lua de lua
dia de canoa
a canoa feita da arvore
XI Caipora
Deitado na rendawa quando eu vi
Alguém me chamar era um caboquinho
Que veio me avisar, proteja a natureza
que o kariwa vai atacar
(Glossário)
Kariwa: homem branco, fazendeiro, posseiro.
Caipora: ser da natureza, que protege a mata
Rendawa: Aldeia, comunidade
Caboquinho: ser encantado das matas
Introdução
E
ste artigo é uma sistematização de experiên-
cias práticas vivenciadas no chão da Escola de
Ensino Médio do Campo Florestan Fernan-
des, no Assentamento Santana, em Monsenhor Tabosa/
CE. Este trabalho discorre sobre o ensino de literatu-
ra sob uma perspectiva crítica e emancipadora, fazen-
do interface com a ideologia política e pedagógica da
escola ocupada pelo Movimento dos Sem Terra – MST,
que tem sua essência fincada na crítica à sociedade ca-
pitalista e à escola a serviço do capital, vislumbrando
a construção emancipada, tendo a escola como lócus
de contribuição para construção de conhecimentos que
colaborem nessa direção.
A literatura se coloca nesse contexto como uma
importante ferramenta pedagógica de formar crianças e
jovens leitores e leitoras e semear o gosto pelos livros e
pelo estudo nas Escolas do Campo, colaborando, assim,
com a formação do sujeito e o fortalecimento da cultu-
ra camponesa.
O artigo explicita a forma de trabalho, na esco-
la, com a literatura produzida ao longo do tempo pelo
povo, nesse território de resistência, seus costumes e
suas artes. Essa literatura é considerada no processo
O povo camponês
É gente de fibra e valor,
Muitos podem até não ver
A luta de quem nunca se cansou.
Veja só minha gente
Na chuva e sol quente
A força de um trabalhador.
Justificativa do projeto
Objetivo Geral
Específicos
Metodologia
Resultados esperados
Métodos avaliativos
Considerações Finais
Referências
Introdução
A
educação é um direito universal e como tal,
deve ser garantido pelo Estado para todos. A
Declaração Universal dos Direitos Humanos
traz em seu artigo XXVI a obrigatoriedade da educação
primária e gratuita. Apesar desse tratado ter sido pro-
posto e promulgado há mais setenta anos, em muitos
países, ainda existe um imenso caminho para a efetiva-
ção desse direito, especialmente na área de educação
especial, que mesmo com alguns avanços, ainda não
consegue atender a todos.
A educação constitui elemento fundamental para
a efetivação do processo de inclusão social, podendo
contribuir para a formação de um cidadão ativo e enga-
jado nas lutas por seus direitos. Pode-se ponderar que o
conhecimento favorece o surgimento de uma socieda-
de mais justa e inclusiva, na qual as pessoas aceitem as
diferenças em seus mais variados aspectos.
A Literatura é um instrumento importante, que
pode ser utilizado em práticas educativas, sendo capaz
de abrir mentes e envolvê-las ao ponto de adquirirem
conhecimentos com potencial inovador e transfor-
mador da sociedade. Nesse sentido, o professor dessa
área precisa se amparar na ideia de preparar seus dis-
Metodologia
De acordo com Podranov (2013), metodologia
consiste em um processo que examina, descreve e ava-
lia métodos e técnicas adotadas para investigar deter-
minado objeto de estudo. Através dela, procedimentos
são adotados com a intenção de reunir informações a
respeito de um assunto e produzir conhecimento.
Assim, a presente pesquisa é de natureza qualita-
tiva, pois analisa a relevância da literatura e do processo
educacional para a inclusão social. Significados e visões
de mundo são analisados em uma perspectiva diver-
sificada. A metodologia que orienta este estudo é de
Considerações Finais
O presente trabalho ressalta a importância da uti-
lização de instrumentos educacionais para a implemen-
tação da inclusão social e educacional, dando ênfase
à Literatura como ferramenta norteadora para educa-
dores cada vez mais comprometidos com essa causa.
Nesse sentido, a leitura pode funcionar como mediado-
ra entre os diversos saberes, sendo um elo importante
para a inclusão.
O cenário de estudo para esta pesquisa, a Esco-
la Quilombola Luzia Maria da Conceição, demonstra o
quanto a Literatura é determinante para incluir os alu-
nos no processo educativo, estes com necessidades
educacionais ou não. Esse recurso, como instrumento
de inclusão social, possibilita a realização de diversas
atividades que trabalham a sensibilidade do aluno, tor-
nando-o crítico e curioso em relação ao mundo. Como
instrumento de inclusão educacional, cria estratégias
pedagógicas que viabilizam o ensino e a aprendizagem
de alunos com dificuldades educacionais.
Espera-se com este estudo incentivar produções
acadêmicas e pesquisas que estejam preocupadas em
trabalhar a Literatura como uma área do conhecimento,
repleta de possibilidades quanto aos processos de in-
clusão social e educacional.
Referências
Introdução
E
ste texto tem por objetivo mostrar a relação
existente entre linguagem e sociedade a par-
tir do Torém (Ritual Sagrado), na comunidade
de Varjota do Aldeamento Tremembé de Almofala-CE.
Para tanto, nos baseamos, principalmente, nos estudos
sobre o fenômeno da variação linguística de Alkimim
(2005), Monteiro (2000) e Tarallo (1997), bem como nos
trabalhos de Seraine (1955) sobre a cultura Tremembé.
Percebemos que muitas palavras que são expressas
na comunidade Tremembé, por meio do ritual Torém, se
configuram em um leva-e-traz. Ou seja, um processo de
ida e volta das forças e poderes que os Tremembé têm,
remetendo a um campo circular de forças entre os indi-
víduos, bem como a um linguajar próprio da comunida-
de indígena Tremembé de Almofala. Representa ainda a
língua indígena resistente desse povo e o modo como o
Torém está ligado ao campo circular do cotidiano des-
ses índios. Ocorre também com o intuito de demonstrar
a ligação entre os Tremembé e a natureza, numa pers-
pectiva de linguagem e representatividade em forma de
manifesto de escrita e variedades dessa língua.
O aspecto linguístico específico da comunidade
Tremembé do Aldeamento de Almofala se caracteriza por
diversos fatores, sendo manifestado em diversas formas,
Guaxuré
Ô Jandê
“Ô jandê recôguirá
Guraripi napurana
Ai ô manguê
Ô jandê recôguirá
Guraripi napurana
Ai ô manguê
Ai ô manguirá
Ô manguirá
Ai ô manguirá
Ô manguirá
Ô manguirá
Ô manguirá
Ô manguirá
Ô manguiráá.4
“ Pegaropê, pegaropê
Vei xegaca da merunga
Da merunga sarecê
Xegaca da merunga
Da merunga sarecê.
Pegaroê, pegaropê
Pegaropê, pegaropê
Vei xegaca da merunga
Da merunga sarecê
Xegaca da merunga
Da merunga sarecê
Pegaropê, pegaropê
Pegaropê, pegaropê
Vei xegaca da merunga
Da merunga sarecê
Xegaca da merunga
Da merunga sarecê
Pegaropê, pegaropê...”5
Considerações Finais
Referências
Introdução
A
lei 10.639/03 torna obrigatório o ensino de
História e Cultura Afro-Brasileira nos ensi-
nos fundamental e médio nas escolas bra-
sileiras, orientando que estabelecimentos de ensinos
públicos e particulares incluam, em seus programas,
temas como “História da África e dos Africanos, a luta
dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o ne-
gro na formação da sociedade nacional, resgatando a
contribuição do povo negro nas áreas social, econômica
e política pertinentes à História do Brasil”. A legislação
norteia, ainda, que, a literatura seja uma das disciplinas
que dê um especial destaque a essa proposta curricular.
Além dessa regulamentação, a Base Nacional Co-
mum Curricular, doravante BNCC, ao contextualizar as
habilidades do campo artístico-literário a serem desen-
volvidas pelos estudantes do ensino médio ao longo de
sua escolarização, afirma:
No Ensino Médio, devem ser introduzidas para
fruição e conhecimento, ao lado da literatura
africana, afro-brasileira1, indígena e da literatura
contemporânea, obras da tradição literária brasi-
leira e de língua portuguesa, de um modo mais
1 Grifo nosso.
Algumas considerações
Referências
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eletivas. Fortaleza: SEDUC, 2018. Disponível em: https://
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JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo – diário de
uma favelada. São Paulo: Francisco Alves, 1960.
RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. São
Paulo: Companhia das Letras, 2019.
S
e me dissessem anteriormente que eu seria
escritora, eu não acreditaria. Sempre gostei
de ouvir histórias. Filha da professora do pri-
mário, Francisca Pereira, era comum ler e ouvir histórias,
a “Coleção o Disquinho”, na interpretação de Silvio San-
tos, anos 80. Minha mãe sempre comprava coleções de
livros. Hoje, aos 45 anos de idade, lembro de cor dessas
histórias, que geralmente envolviam cantos:
Eu tenho cá meu bigodes, e deles eu cuido bem,
não me importo com os fios do rabo de nin-
guém”, “fiando, fiando não para de fiar, trabalho
fiando na roca de fiar, a velha costureira trabalha
sossegada, a noite inteira na roca encantada, “Cai,
cai, zás trás, cai direito meu rapaz, salve ele que
chegou e que não se esborrachou, vivo! Vivo!”
(DA GAMA, 1960).
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Memórias Ancestrais
D
Pois dura o ano inteiro
Alivio as minhas dores
Em Bm F#m
Com o som dos meus tambores nas memórias
ancestrais
D
O coco e o milho estão tão presentes
Em Bm
Quanto o Padre Cícero em nossas mentes
Repete Refrão 4x
Após a contação de histórias e toda a vivência es-
tabelecida com músicas, brincadeiras, memórias
e análises afroancestrais, os participantes produ-
zem poemas, cantos e narrativas, revelando a po-
tência essencial da reconexão.
Figura 9
Figura 10
Figura 11
(In)Conclusões
Referências
DA GAMA, Garrido, Lazão. A estrada. Cidade Negra, 1998.
Coleção o Disquinho, 1960. Disponível em: https://ca� -
tracalivre.com.br/criatividade/nostalgia-historias-da-
-colecao-disquinho-estao-disponiveis-no-youtube/.
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Acesso em: 23 jan. 2021.
SOBRE OS AUTORES
SOBRE OS AUTORES
224
SOBRE OS AUTORES
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SOBRE OS AUTORES
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SOBRE OS AUTORES
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SOBRE OS AUTORES
Cintya Kelly Barroso Oliveira Maria de Lourdes Vicente da Silva
Doutora em Edu- Doutoranda em
cação Brasileira Educação Bra-
(UFC), mestre sileira (UFC),
em Letras (UFC), mestre em De-
especialista n’O senvolvimento e
Ensino de Litera- Meio Ambiente
tura (UECE), gra- (UFC), graduada
duada em Letras em Licenciatura
(UFC), professora da rede pública de Plena em Pedagogia (UFPA), mem-
ensino do estado do Ceará e atuou bro do Setor de Educação e Gêne-
em políticas públicas relacionadas à ro do MST e professora do Instituto
Educação Escolar Indígena e Educa- Federal do Ceará – Campus Crateús.
ção do Campo. Tem experiência na área de Educa-
ção, com ênfase em Educação do
Maria Bernardete Alves Feitosa Campo, questão agrária, gênero, fe-
Indígena Pita- minismo e ambiente.
guary, mestre em
Planejamento e Sarah Maria Forte Diogo
Políticas Públi- Doutora em Es-
cas (UECE), gra- tudos Literários
duada em Letras (UFMG), mestre
(UFC), especia- em Literatura
lista em Língua Brasileira (UFC),
Portuguesa e Literatura Brasileira professora de
(UECE) e em Gestão da Avaliação literaturas em
Pública (Universidade Federal de língua portugue-
Juiz de Fora – UFJF), professora indí- sa do curso de Letras da Faculdade
gena e coordenadora escolar Indíge- de Filosofia Dom Aureliano Matos
na da Escola Indígena Itá-Ara. (FAFIDAM) – Universidade Estadual
do Ceará (UECE) e coordenado-
ra do Grupo de Estudos em Lite-
ratura Afro-Brasileira pela mesma
Instituição.
E
ste conjunto de textos, ao convocar olhares di-
versos em torno de “culturas e literaturas”, va-
loriza a produção de saberes em diálogo. A
pesquisa acadêmica sobre a literatura de autoras e
autores brasileiros (que integram ou não o cânone),
a literatura produzida em escolas do campo ou ter-
ritórios indígenas e os relatos de experiência a par-
tir de projetos pessoais e coletivos conversam entre
si. Apresentam um universo de possibilidades para
lermos literatura com o compromisso de repensar e
construir um futuro igualitário para todas e todos.
Suene Honorato
O
s artigos de análise, as produções literárias
e os relatos de experiência estão voltados,
sobretudo, à Cultura e à Literatura. A obra
está dividida em três seções, a saber: Diversidade e
Crítica; Diversidade e Literatura; Diversidade e Esco-
la. Os trabalhos abrigam-se sob essas três partes e
conversam entre si no que diz respeito à assumpção
da Diversidade enquanto elemento norteador. Enfa-
tizamos o termo Diversidade propositalmente para
reafirmar nosso posicionamento a favor da necessi-
dade de nos apropriarmos, e colocarmos em prática,
a percepção de que existimos num mundo bastante
heterogêneo. Toda essa Diversidade é substrato à Crí-
tica, à Literatura e à Escola, espaços de contestação e
de construção de outros modos de viver e conviver.
As organizadoras