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LÍNGUAS, ARTES E
COSMOLOGIAS INDÍGENAS
Dossiê
Narrativas originárias: línguas, artes e cosmologias indígenas
Organização
Anny Carneiro Santos
Carla Lucilene Uhlmann
Elizabete Costa Suzart
Kárpio Márcio de Siqueira
Renata Lourenço dos Santos
Telma Cruz Costa
Fábrica de Letras
Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural (Pós-Crítica)
Departamento de Línguística, Literatura e Artes do Campus II da
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Dossiê
Narrativas originárias: línguas, artes e cosmologias indígenas
Organização
Anny Carneiro Santos
Carla Lucilene Uhlmann
Elizabete Costa Suzart
Kárpio Márcio de Siqueira
Renata Lourenço dos Santos
Telma Cruz Costa
Bases Indexadoras
© 2023 by Editora Fábrica de Letras
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus II
Departamento de Linguística, Literatura e Artes (DLLARTES)
Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural (Pós-Crítica)
Rodovia Alagoinhas/Salvador BR 110, Km 3 – CEP: 48.040-210 Alagoinhas – BA
Telefone: (75) 3163-3515
Ficha Catalográfica
Grau Zero – Revista de Crítica Cultural, do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural, da Universidade
do Estado da Bahia, Alagoinhas: Fábrica de Letras, v. 11, n. 1, jan./jun. 2023.
Semestral
ISSN 2318-7085 online
Os trabalhos publicados pela revista Grau Zero são distribuídos sob os termos da licença
Creative Commons CC BY-SA (Atribuição – Compartilha Igual) 4.0 Internacional.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB)
Dossiê: Narrativas originárias: línguas, artes e cosmologias indígenas. Grau Zero: Revista de Crítica Cultural.
Revista do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural, Alagoinhas, v. 11, n. 1. 2023. ISSN 2318-7085 on-line.
Conselho Editorial:
Anna Paula Vencato (UNESP),
Arlete Assumpção Monteiro (PUC-SP)
Carla Moreira Barbosa (UFF)
Christina Bielinski Ramalho (UFS)
Dulciene Anjos de Andrade e Silva (UNEB)
Edil Silva Costa (UNEB)
Frank Nilton Marcon (UFS)
Juciele Pereira Dias (UFF)
Lauro José Siqueira Baldini (UNICAMP)
Lucília Maria Sousa Romão (USP)
Marcelo Alario Ennes (UFS)
Maria de Fátima Berenice da Cruz
Marilda Rosa Galvão Checcucci Gonçalves da Silva (UFMA)
Marildo Nercolini (UFF) Mauren Pavão Przybylski (UNAM, MX)
Maurício Beck (UFF)
Patrícia Kátia da Costa Pina (UNEB)
Paulo César Souza Garcia (UNEB)
Sônia Maria dos Santos Marques (UNIOESTE)
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
Narrativas originárias: línguas, artes e cosmologias indígenas
Anny Carneiro Santos, Carla Lucilene Uhlmann, Elizabete Costa Suzart,
11
Kárpio Márcio de Siqueira, Renata Lourenço dos Santos e Telma Cruz Costa
ARTIGOS
ENTREVISTAS
__________________________
APRESENTAÇÃO
de sua escrita, uma reflexão crítica e sensata sobre questões que há muito
tempo negligenciam o pensamento indígena e a contribuição intelectual
dos povos indígenas na sociedade contemporânea.
O dossiê encerra com uma entrevista conduzida pela professora e
pesquisadora Telma Cruz Costa a ativista indígena e professora Rosilene
Tuxá, em um diálogo em que se discute suas memórias ancestrais, desta-
cando a importância dos caminhos percorridos em sua jornada, enfrentan-
do desafios e construindo relações significativas. Rosilene ressalta a resili-
ência e a luta de seu povo, os Tuxá, no nordeste da Bahia, evidenciando o
compromisso não apenas com sua comunidade, mas também com outros
povos indígenas. Rosilene também chama a atenção para a relevância da
retomada da terra do povo Tuxá em Rodelas/BA, destacando o fortaleci-
mento da ancestralidade e da cultura. Ao abordar sua trajetória profissional
e sua atuação no Ministério da Educação, ela destaca a importância das
políticas para a Educação Escolar Indígena, incluindo o acesso e perma-
nência de estudantes indígenas na universidade, fortalecimento de cursos
interculturais e formação continuada de professores. Avaliando o cenário
sociopolítico, ela destaca os desafios enfrentados nos últimos seis anos e
a necessidade contínua de lutar pela preservação dos direitos dos povos
originários. Finalmente, Rosilene compartilha suas expectativas para sua
atuação no MEC, enfatizando a construção de relações federativas e a im-
portância dos cursos interculturais para a consolidação de currículos espe-
cíficos nas escolas indígenas.
Entregamos esse dossiê feito por muitos corpos, vozes e mentes, e
desejamos uma leitura instigante e inspiradora.
the literacy practices required in the university environment. The data that
based the description and reflection on the subject was obtained through
interviews with four students from each group. The analysis of the content
of their speeches shows that, in addition to being speakers of their mother
tongues, they are fluent in Portuguese, but show difficulties when interacting
with academic Portuguese. Despite this, they are driven, resilient and active:
they adopt several alternatives to stay at the university and point out actions
that the institution could adopt to improve their communicative interaction.
Keywords: Portuguese indigenous. Academic Portuguese. Affirmative lin-
guistic agenda at the university. Munduruku and Wai Wai graduates.
Palavras iniciais
3. A FBI foi implantada em 2017, desde então vem sendo trabalhada como alternativa para dis-
cutir a construção de novos paradigmas de ensino, em diálogo com os povos indígenas e em
defesa dos seus direitos. Para mais informações, ver Colares e Carneiro (2021).
Os Munduruku
5. A língua Munduruku integra, juntamente com a língua Kuruaya (em processo de extinção), a
família linguística Munduruku, um dos ramos do tronco Tupi (RODRIGUES, 1986). Atualmente,
é falada apenas pelos Munduruku do Alto Tapajós e por poucas pessoas da região do Médio
Tapajós. Nas comunidades do baixo curso do rio Tapajós, embora haja algumas experiências de
retomada dessa língua, ela ainda não é falada como meio de comunicação. Na Terra Indígena
Kwatá-Laranjal (Amazonas), é falada somente por poucos idosos.
Os Wai Wai
6. A língua Wai Wai integra, juntamente com 21 línguas irmãs, a família linguística isolada Karib
(RODRIGUES, 1986). Essas línguas são faladas por cerca de 38 mil pessoas, situadas nos estados
do Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Pará, sendo que o maior número de falantes se
encontra no Amazonas. Os membros desse coletivo, geralmente, são falantes de mais de uma
língua da família Karib - Wai Wai, Hixkaryana, Xerew, Katuéna, outras - no entanto, há predomi-
nância da língua Wai Wai, que funciona como língua geral no cotidiano das comunidades.
7. Esse português é constituído das diversas variedades faladas (e escritas) pelos indígenas do
Brasil, com particularidades típicas desses povos, geralmente influenciadas por padrões fonéti-
co-fonológicos, morfossintáticos e discursivos de suas línguas. Pelo limite de espaço, neste texto,
não será possível apresentar exemplos.
Situação
Participantes Idade Sexo Línguas9 Curso/Instituto
Acadêmica
8. Nesse modelo “o letramento ocorre por meio da linguagem sem contexto, do discurso autôno-
mo e do pensamento analítico” (STREET, 1995, p. 154).
9. Lê-se: MK = língua Munduruku; PT = língua Portuguesa; WW = língua Wai Wai; HX = língua
Hixkaryana; KW = língua Katwena; ING = língua Inglesa.
anos, nasceu na aldeia Mapuera. Fala quatro línguas: Wai Wai, Hixkaryana,
Português e Inglês. Migrou com a família para a cidade de Oriximiná. Em
2017, iniciou o curso de Letras.
3M “Eu me sinto mais à vontade [para falar] fora da UFOPA porque [na academia] fico
pensando no que as pessoas vão me dizer, caso eu fale alguma palavra errada.”
“Eu não tinha dificuldade para conversar em português, por exemplo, na padaria,
1W
nas compras no comércio, mas na universidade eu tinha muita, principalmente, para
explicar o que os textos diziam.”
“Eu tinha dificuldade para falar na universidade. Para apresentar seminário e explicar
2W
texto.”
10. Sobre esse tema é oportuno sugerir também a fala de Crislaine Tapuia no Fórum Bilinguismo
Indígena no Brasil, organizado por Elizabete Suzart, da Universidade Estadual da Bahia (UNEB),
em junho de 2022. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7mg5HreeCfg&t=8s.
11. Há muitos equívocos que alimentam preconceitos e levam ao questionamento da identidade
indígena. Um deles é partir da noção de cultura como um fenômeno estático, desconsiderando
as mudanças socioculturais que ocorrem em todas as sociedades, principalmente, naquelas que
têm contato com povos diversos como os indígenas.
2W “Sim, muita. Tinha palavra difícil e teoria “Pedia ajuda aos meus colega e me
também.” esforçava muito para entender.”
“Sim, eu tenho dificuldade de ler os arti- “Eu costumo usar mais a internet,
gos de praticamente todas as disciplinas. porque, quando eu pergunto dos
O que complica mais é a dificuldade de colegas, eles demoram responder ou
2M
descobrir o assunto (...). Todo texto que a não explicam muito bem. É mais rápido
gente lê, aparecem palavras que eu não pesquisar na internet.”
conheço, palavras técnicas, aí fica muito
difícil de entender.”
“Eu consigo ler português. Minha dificul- “Para entender, eu fazia um pouco de
dade era mais para entender [o] conteúdo. tudo. Perguntava pra meus colegas,
1W
Piorava quando os textos não eram de olhava na internet, perguntava para
linguagem boa e quando eram muito professores.”
grandes (...)”
Você tinha/tem dificuldade para escre- Se sim, o que você fazia/faz para
ver os trabalhos acadêmicos? conseguir elaborar os trabalhos?
“Tenho sim, principalmente, na parte que “Eu vou pro dicionário virtual procurar
3M
não pode repetir as mesmas palavras, em os sinônimos de palavra e fazer a troca
todos os parágrafos.” para que ela não se repita muito.”
12. Esse contato ocorre quando falantes bilíngues (ou plurilíngues) interagem de maneira próxi-
ma e pode haver influências entre as línguas.
13. Ação afirmativa é definida no Estatuto da Igualdade Racial como “programas e medidas es-
peciais adotadas pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais
e para a promoção de oportunidades” (Lei n° 12.288/2010, Art. Io, inciso VI, p. 1). Ação afirmativa
linguística é uma demanda apresentada pelos acadêmicos indígenas que não têm o português
como primeira língua, com vistas à igualdade de oportunidades.
O que você acha que a universidade poderia fazer para facilitar a comunicação
Participante
de vocês em português?
“Acho que continuar com a monitoria Ceanama. Na verdade, melhorar essa monitoria
e preparar mais monitores indígenas para ajudar os parentes. Também contratar
1M
tradutor falante da nossa língua e elaborar material didático com explicação mais
acessível das teorias mais complicadas e de livros que só existe em língua estrangei-
ra. Isso ia ajudar não só nós, mas outros também.”
“Eu acho que ia ajudar se tivesse professores indígenas na universidade (...). Eles iam
explicar o assunto na nossa língua também (...). Só que, na minha opinião, isso é difícil
2M
acontecer na universidade, porque os professores devem estudar primeiro pra dar
aulas. Eles precisam entender os assuntos primeiro. Então, é difícil encontrar pessoas
querendo fazer isso.”
“Acho que pode criar debates entre nós (...). Realizar testes para verificar nosso
entendimento sobre as disciplinas. Também, criar laboratório de linguagem e
3M comunicação para leitura de textos com os indígenas, mas todos os outros acadêmi-
cos [não indígenas] que precisasse também poderia frequentar, porque muitas difi-
culdades que nós enfrentamos, eles enfrentam também. Desse jeito, o conhecimento
fica sendo compartilhado com todos.”
“Acho que poderia ter monitores Wai Wai já formados na Ufopa para ajudar os
estudantes Wai Wai a entender a universidade e os trabalhos. Eu mesmo sou muito
procurado para orientar eles nos trabalhos. Como eu já passei por isso, explico tudo.
Faço isso de graça, mas poderia ter monitores fazendo isso. E o ideal é o Wai Wai
mesmo porque vai entender melhor. Acho que a Ufopa devia também contratar Wai
Wai já formado para trabalhar como tradutores e acompanhantes dos Wai Wai na
universidade. Poderia ser por instituto, por causa da área dos cursos. Essa pessoa ia
ajudar em várias coisas, por exemplo, em reunião com colegiado e outras reuniões
que precisa tomar decisão, pra explicar bem a discussão para os estudantes Wai
1W Wai. Também trabalhar como mediador entre professores e Wai Wai que tiverem
com mais dificuldades. Essa pessoa também poderia ser tradutor [simultâneo] em
casos de apresentação de seminário e defesa de TCC se fosse mais fácil pro Wai Wai
fazer a apresentação na nossa língua. Outra coisa também, acho que devia ter aulas
só para os indígenas nos casos que o conteúdo for mais complicado. Aí o tradutor
tinha que participar pra dizer a explicação em Wai Wai pra ajudar na compreensão.
Isso seria só algumas vezes pra colocar os Wai Wai no assunto. O curso precisa ficar
acompanhando e verificar o que é mais difícil e já se preparar... Porque é muito ruim
não entender nada. Desanima a gente.”
“Acho que os professores devia fazer uns encontros só com os alunos bilíngues para
2W
conversar com eles sobre os assuntos das aulas... Perguntar se estão entendendo, se
aproximar e explicar de jeito mais fácil.”
“(...) na Ufopa, já fazem alguma coisa para os estudantes indígenas. (...) Cada indígena
tem os seus monitores, tem o monitor de matemática, de química, de português.
Qualquer dúvida que os indígenas têm, eles procuram esses monitores. Como eu, ano
passado, eu tinha minha monitora e ela me ajudava muito. Quando eu tinha alguma
dificuldade, eu perguntava pra ela. Se eu fosse fazer algum trabalho, a gente se
encontrava na universidade... A primeira coisa que ela fazia era colocar eu pra ler o
texto. (...) E ela me perguntava se eu entendi alguma coisa. Aí eu falava a parte que
3W
eu tinha entendido e a parte que não entendi, então ela me falava o que significava,
o que o texto estava querendo dizer. Hoje, eu procuro ajuda dos monitores, na Saúde
Coletiva tem monitores. Eu não sei como tá sendo para os outros indígenas, mas se
eles estão com dificuldades de mexer no computador ou formatar trabalho ou como
fazer resenha, eles têm que procurar a coordenação do curso deles pra falar que
estão precisando de monitores. Como eu fiz a FBI14, aprendi (...) um pouco de cada
coisa. Sei mexer no computador, formatar trabalho no formato ABNT, fazer resenha,
citação... Eu tenho uma apostila (...) qualquer coisa eu olho lá.”
“Acho que aula de reforço específico para tratar sobre os textos das disciplinas ia
4W ajudar muito a melhorar nossa comunicação com os professores. Às vezes, parece
que não somos interessados, mas não é isso... Ficamos desanimados por não acompa-
nhar as discussões das aulas.”
14. Quando esse aluno cursou a Formação Básica Indígena, participou de projetos de inclusão
digital e tecnológica, além de oficinas/cursos que estimulavam a autonomia acadêmica com
orientações práticas sobre a realização de trabalhos acadêmicos.
15. Essa palavra faz parte da língua Nheengatu e significa “meu/minha parente”, mas adquire
também o sentido de meu/minha amigo (a). É a designação de um programa de Monitoria Aca-
dêmica da UFOPA que tem a finalidade de auxiliar estudantes, público-alvo da Política de ação
afirmativa dessa universidade, como indígenas e quilombolas.
16. Vale informar que há, na Ufopa, uma experiência parecida com essa sugestão, a qual pode ser
conhecida no texto de Nunes et al. (2021).
Palavras finais
17. Conforme perspectiva crítica cujo problema central não é a diversidade étnico cultural, mas
a diferença construída como padrão de poder colonial, propondo a descolonização social pela
construção de outros mundos, sem subjugação e subalternização de povos (WALSH, 2012).
que (i) não dominam a linguagem técnica, formal - o que também dificulta
o entendimento das explicações -, (ii) não entendem18 bem os textos para
explicá-los ou (ii) temem sofrer preconceito linguístico. Quanto à escrita,
encontram dificuldades para elaborar os gêneros textuais tradicionalmente
solicitados como trabalho de aproveitamento ( resumo, resenha, fichamen-
to, artigo etc.), não pela elaboração em si mesma, mas porque ela depende
do entendimento das aulas e dos conteúdos dos textos trabalhados, o que,
em alguns casos, não ocorre e, em outros, ocorre apenas parcialmente.
Apesar de todos os desafios, são resilientes, resistentes, positivos e
buscam atender às práticas de letramento exigidas na universidade, ado-
tando todas as estratégias que estão ao seu alcance, como: pergunta aos
colegas, pergunta aos professores, auxílio de monitores, pesquisa na inter-
net, uso de aplicativos digitais, videoaulas e outros.
Quanto às estratégias que poderiam ser adotadas como ações afir-
mativas linguísticas a fim de melhorar sua interação comunicativa e inclu-
são, apontam: encontros ou oferta de componente curricular específico
para estudantes indígenas nos casos de conteúdos que eles considerarem
complexos; monitores indígenas; contratação de tradutores indígenas (já
formados); criação de laboratórios voltados para leitura e discussão de tex-
tos; elaboração de material didático com explicações teóricas em lingua-
gem acessível e clara; elaboração de material didático em português com
conteúdo de livros escritos em língua estrangeira e ações que estimulem a
permanência dos estudantes indígenas no ensino superior.
Para nós, esse trabalho foi uma experiência muito enriquecedora e
uma oportunidade ímpar de escuta. Foi especial ouvir e conhecer um pou-
co do universo dos Munduruku e dos Wai Wai, o que, certamente, contri-
buiu de forma significativa para nossa formação acadêmica e humana. Os
relatos e as conversas, para além do que foi apresentado aqui, deixaram o
sentimento de que os estudantes indígenas precisam de espaços de escu-
ta, de valorização e, de fato, de ações práticas que contemplem a diversida-
de de povos presentes na universidade, pois o que vemos ainda se limita à
visão monocultural e monolinguística.
18. Nota-se que o não entendimento não ocorre apenas pela ausência de conhecimentos linguís-
ticos em si, mas também pela ausência de outros saberes, seja da cultura ocidental e/ou teóricos.
Referências
AMADO, R. S. O Português étnico dos povos Timbira. São Paulo: PAPIA, 2015, p. 103-
119.
[Documentário]
1. Mestre em Ensino e Relações Étnico-Raciais pela UFSB. Especialista em Educação Escolar In-
dígena pela Faculdade Alfamérica. Graduado em Pedagogia pela Faculdade de Ensino Regional
Alternativa (FERA). Especializando em Gênero, Raça, Etnia e Sexualidade pela Universidade do
Estado da Bahia (UNEB). Endereço eletrônico: maiconrodriguesdossantos1992@gmail.com.
culture through specific public tender for culture teachers, as well as promo-
ting more continuing education for teachers who work with indigenous lan-
guage and culture.
Keywords: Indigenous Language. Patxôhã. Culture Teacher.
Introdução
No cotidiano, o povo Pataxó usa o português, que, hoje, é a sua primeira lín-
gua; entretanto, através do processo de retomada da língua originária, que
começou em 1998, os Pataxó se fortalecem e estão reaprendendo, novamente,
resultado de um movimento coletivo de mobilização pela valorização da sua
cultura e pela afirmação de sua identidade ‘pataxó’ (BOMFIM, 2017, p. 304).
2. O autor deste trabalho também atua como diretor escolar no Colégio Estadual Indígena de
Corumbauzinho.
A língua indígena vem para as pessoas (1) no fazer cultural, (2) com o senti-
mento da força ancestral, e na (3) interação com a natureza. Essas três ideias
devem ser consideradas na organização de atividades de retomada cultural
da língua, em quaisquer contextos, inclusive na escola (SILVA, 2019, p. 6).
P1 - Com certeza, assim como temos o professor específico só para língua estran-
geira, temos que ter um olhar maior só para o Patxôhã também.
P2 - Sim, porque pode trabalhar de forma igualitária de acordo com o desenvol-
vimento das turmas e não com conteúdo e assuntos de forma aleatória.
P3 - Na minha opinião, sim. Mesmo que todos nós somos professores indígenas,
mas ainda vejo a necessidade de ter um professor específico para estar traba-
lhando a cultura; porque, tendo um professor de cultura, o foco dele só será a
cultura, não vai ter outras disciplinas para acarretar tanto ele. Com isso, ele irá
conseguir se dedicar apenas para a cultura. E até porque, mesmo que somos to-
dos professores indígenas, mas há muitas coisas ainda que não temos prática e
nem habilidade de fazermos, como por exemplo, a pintura corporal. Nem todo
professor sabe fazer pintura indígena, não é porque eu sou uma professora in-
dígena, que eu devo saber fazer uma pintura indígena. Tudo vai pelo dom da
pessoa: há pessoas que tem muita habilidade de fazer pintura, outras não.
Plano de ação
Datas comemorativas
Considerações Finais
ções continuadas para professores que atuam com a língua e com a cultura
indígena, em parceria com as instituições/universidades e grupos de pes-
quisa da língua indígena, pois “[...] a formação do professor indígena tem
papel fundamental diante de uma mudança na prática da escola indígena
e da comunidade como um todo, diante da posição que ocupa na comuni-
dade” (BERNARDI; DELIZOICOV; CEICCO, 2020, p. 16).
Referências
BERNARDI, Lucí D. S.; DELIZOICOV, Nadir C.; CEICCO, Bruna L. O professor da escola in-
dígena contemporânea: reflexões sobre processos formativos e pesquisas no estado
de Santa Catarina. Revista Pedagógica, Chapecó, v. 22, p. 1-19, 2020.
KAYAPÓ, Edson. A diversidade sociocultural dos povos indígenas no Brasil: o que a es-
cola tem a ver com isso? In: SESC Departamento Nacional Culturas indígenas, di-
versidade e educação. Rio de Janeiro: Sesc, Departamento Nacional, 2019. p. 56-80.
KNAPP, Cássio. Um ensaio sobre os usos e apropriações da cultura escrita pelos indí-
genas nas Reduções Jesuítico-Guarani. In: SAMPAIO, Paula F.; CAVALCANTE, Thiago
Leandro V. Povos Indígenas, Gênero e Violências: histórias marginais [recurso ele-
trônico]. Porto Alegre: Editora Fi, 2020. p. 28-45.
PORTO, Helânia T.; BONIN, Jiani A. A educação indígena Pataxó: entre distopias e uto-
pias. Tellus, Campo Grande, v. 20, n. 41, p. 101-128, Janeiro/Abril 2020. Acesso em:
26 Março 2023.
Laura Castro1
Abstract: Art, paper and drawing, books and writing, keep their stigmatizing
place in our colonial history. However, can one think of the writings and books
of artists, masters, and indigenous thinkers as allies in the struggle for terri-
tory, in the struggle for life? This article intends to discuss this reflection based
on the writings and songs of native people’s masters, as well as on the writin-
gs of contemporary indigenous artists. It aims to converge ways of thinking
about these writings with native and Afro-diasporic thinkers in order to fore-
see different worlds and alphabets, which point to other ethics and policies
for books and writing. The article goes through the works, speeches, and poe-
tic propositions of Davi Kopenawa, Joseca Yanomami, Denilson Baniwa, Jaider
Esbell, Daiara Tukano, Gustavo Caboco, Lucilene Wapichana, Bernaldina José
Pedro, Zabelê Pataxó, Ane Kethleen Pataxó, and Uýra Sodoma to think about
the cosmopoetics of indigenous books and writing.
Keywords: Indigenous peoples. Book. Indigenous poetics. Contemporary in-
digenous art.
1. Professora no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC), Pro-
grama de Pós-graduação em Artes Visuais (PPGAV) | Mestrado Profissional em Artes (ProfArtes),
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Endereço eletrônico: lauracastro@ufba.br.
pletamente devastada, nunca mais vai nascer outra” (Idem, ibidem). O livro
foi feito, por isso, dentre sua vasta vocação e ensinamentos, para dizer que
é preciso defender a floresta porque ela está sendo atacada sobretudo pelo
garimpo. E os xamãs seguem segurando o céu, que já caiu uma vez e está
cheio de buracos.
A própria existência e surgimento deste livro é fruto de décadas
de amizade, de trabalho etnográfico, de gravações, de conversas, de de-
senhos, de tradução, de transcrições. Como bem sugere Viveiros de Castro
(2015, p. 29) na apresentação - “O recado da mata” - estamos diante de um
trabalho de edição, cheio de desafios, perigos e paradoxos de “uma escrita
etnográfica pós-colonial”. O povo Yanomami, no entanto, de memória forte
e longa, não precisa de “peles de imagens para impedi-las de fugir da nossa
mente”, pois as palavras dos antepassados estão gravadas e as palavras dos
xapiri - que na nossa língua poderíamos pensar como espíritos da floresta
- são antigas mas tornadas novas cada vez que eles descem e dançam para
os xamãs (KOPENAWA, ALBERT, 2015, p. 75).
Essa é uma das muitas pistas dadas por pensadores e artistas in-
dígenas para entender o livro como armadilha da colonialidade, como foi
a bíblia, primeiro livro a ser impresso por Gutenberg na tecnologia de ti-
pos móveis, gesto que redimensiona a relação com a escrita no Ocidente
(MCLUHAN, 1972). A bíblia é emblemática, neste sentido, se pensarmos no
primeiro contato da colonização europeia nas Américas e também seu ri-
tornelo missionário que continua a levar, até hoje, a doença, o genocídio e
a violência aos povos da floresta.
Ailton Krenak diz, em relação aos povos de tradição oral e sua tra-
vessia para o mundo da escrita, de como também, historicamente, a leitura
e a escrita chegam como instrumento da colonização dos jesuítas e talvez
a bíblia seja o primeiro livro impresso que funda essa relação de imposição
da cultura branca sobre os povos originários. Ou seja, a relação da catequi-
zação com o mundo da leitura e escrita: “enquanto os índios puderam resis-
tir, eles não aprenderam nem a ler, nem a escrever. Então seria interessante
a gente investigar se quando os índios estão lendo e escrevendo se eles já
se renderam ou se eles ainda estão resistindo” (KRENAK, 2016, s/p).
Meu filho eu me grudei na capa daquele livro. Dizem que fui raptado, que fui
lesado, roubado, injustiçado, que fui traído, enganado. Dizem que fui besta.
Não! Fui eu mesmo que quis ir na capa daquele livro. Fui eu que quis ir fazer
a nossa história. Vi ali todas as chances para nossa eternidade. Vi ali toda a
chance possível para que um dia vocês pudessem estar aqui junto com todos
(MAKUNAIMA Apud ESBELL, 2018b, p. 16).
brancos, sejam brancos ou pretos. Aqui por onde hoje é Roraima e região co-
meçavam a se ver as primeiras investidas dessas pessoas por nossas terras e,
antes do alemão, outros passaram também anotando coisas. Pesquisas vão e
vem e não se sabe ao certo quem anotou no papel pela primeira vez o nome
Makunaimî. O fato é que Akuli falou muito para o alemão e ele gostou muito
de ouvir e, como pode, anotou tudo (ESBELL, 2019b, s/p).
nas aos 12 anos se deu seu primeiro contato com a Canauanim, aldeia de
sua mãe, raptada por uma missionária na infância e radicada longe de seus
parentes. Gustavo nasce deste desterro, no Paraná, e com sua obra esses
fios conectam Roraima e Paraná, lendo as palavras das “Mãos-Mães” de sua
história, afrontando o esquecimento e o apagamento operados pelo que
chama de “coma colonial”.
As instalações de Gustavo Caboco incorporam muitas escritas. Por
vezes, o artista traz ao museu ou à galeria uma espécie de parede escrita à
mão, compilando objetos e bandeiras bordadas, como se fosse inscreven-
do mapas de sua pesquisa poética, registro de encontros com os parentes
e de experimentos com a palavra, o vídeo, a imagem. Seus escritos são,
muitas vezes, expandidos co-criando com os espaços gráficos da página,
do ambiente, do tecido.
Seus livros são todos curados a partir da Picada Livros, seu selo
editorial, pelo qual lançou “Baaraz Ka’aupan” (2020) e “A pedra do Bende-
gó” (2021). O segundo livro, em colaboração com o Parquinho Gráfico3 e o
primeiro por seu acabamento artesanal da versão em serigrafia e em en-
cadernação de tecido com a Caderno Listrado, editora de livros de artista
de Curitiba, demonstram uma diálogo muito profícuo de sua obra com o
campo das Artes Gráficas e da Poesia Visual, assim como o corpo também é
fundamental para sua poética. Sobretudo este corpo em trânsito.
Tanto Jaider Esbell quanto Gustavo Caboco em seus escritos de ar-
tista, parentes de territórios vizinhos, fronteiriços no Monte Roraima cos-
turam, de diversas formas, modos diferentes de ouvir, honrar, cuidar e dar
lugar a essas vozes avós. Em 2020, por exemplo, juntam-se à Vovó Bernal-
dina, “filha fervorosa de Makunaimî” (ESBELL, 2019c, p. 7), na exposição “O
Renascimento de Makunaima na Arte Indígena Contemporânea”, no Museu
Paranaense e outras ativações em exposições por todo o país.
Vovó Beraldina, falecida em 2020 vítima da COVID-19, publicou em
2019 seu “Cantos e Encantos: Meriná Eremu”, reunindo seus cânticos na lín-
gua macuxi e na língua portuguesa, em uma publicação de pesquisa e edi-
Os cantos presentes aqui não são de autoria de Meriná, mas são aqueles que
aprendeu durante a vida, sendo a força interpretativa e política na região das
serras. Pertencem a uma produção coletiva ou cantos que se tornaram de
uso coletivo dos povos circum-Roraima da já referida tríplice fronteira (Bra-
sil-Venezuela-Guiana). São cantados principalmente em língua macuxi, mas
também é possível ouvi-los em outras línguas e/ou em outros povos, como
o taurepang. Eles pertencem a esta memória coletiva (FIOROTTI, 2019, p. 9).
“waro’ma eremu
vovó, Dona Zabelê, uma anciã importante para o Povo Pataxó, que sobrevi-
veu o Fogo de 1951, foi uma educadora viva:
A educação que tive primeiramente foi a educação cultural por Luciana Maria
Ferreira (Zabelê) ajudada pela sua filha. Esse conhecimento ocorreu em rodas
de causos contados por ela perante os sobrinhos e netos, principalmente. As
aulas eram de dia, o aprendizado incluía escrita de nomes e contagem dos
números. Posicionada no centro da roda, Zabelê entoando a chula a seguir,
dançava com um graveto na mão encenando estar escrevendo no chão. Mas,
ao invés de letras, traçava linhas e rabiscos aleatórios no chão. Pois, Zabelê
não sabia ler nem escrever: “Caboco de Pena, escreva na areia. Caboco de
Pena escreva na areia! Escreva meu Caboquinho o nome da aldeia. Escreva
meu Caboquinho o nome da aldeia”. Tinha vez que as letras do alfabeto e os
numerais desenhados no chão de areia se misturavam às delícias da gastro-
nomia Pataxó que minha avó Martinha (Dona Buru) chegava para a gente de-
gustar. (...) Peixe na patioba, beiju, farinha de coco e tapioca . . . A comida era a
recompensa para quem dançasse e escrevesse o nome correto na areia. Catar
sementes na mata, conchas na beira da praia, fazer colar, cortinas, abajour,
se transformava em oportunidades para a gente aprender a contar, escrever
os números, resolver operações mais simples. (...) Assim, entre 11 e 12 anos
(1986 – 1987) quando fui para a escola, já conhecia as letras do alfabeto, sabia
escrever meu nome, contar e escrever os números. Portanto, se o povo Pata-
xó se mantêm até hoje, tem sido graças aos mestres e às mestras da cultura
como Zabelê, minha avó Buru e outras pessoas anônimas espalhadas por aí,
dentro e fora das nossas aldeias” (OLIVEIRA, 2008).
Minhas mais velhas e meus mais velhos me formaram pela oralidade, mas
eles mesmos me colocaram na escola para aprender, pela linguagem escrita,
a traduzir os contratos que fomos forçados a assumir. Fui para a escola da lin-
guagem escrita aos nove anos, mas, desde que comecei a falar, fui formado
também por mestras e mestres de ofício nas atividades da nossa comunida-
de. Quando fui para a escola no final da década de 1960, os contratos orais
estavam sendo quebrados na nossa comunidade para serem substituídos
por contratos escritos impostos pela sociedade branca colonialista. Estudei
até a oitava série, quando a comunidade avaliou que eu já poderia ser um
tradutor (SANTOS, 2018, s/p).
Talvez o primeiro sinal gráfico, que me foi apresentado como escrita, tenha
vindo de um gesto antigo de minha mãe. Ancestral, quem sabe? Pois de
quem ela teria herdado aquele ensinamento, a não ser dos seus, os mais anti-
gos ainda? Ainda me lembro, o lápis era um graveto, quase sempre em forma
de uma forquilha, e o papel era a terra lamacenta, rente as suas pernas aber-
tas. Mãe se abaixava, mas antes cuidadosamente ajuntava e enrolava a saia,
para prendê-la entre as coxas e o ventre. E de cócoras, com parte do corpo
quase alisando a umidade do chão, ela desenhava um grande sol, cheio de
infinitas pernas. Era um gesto solene, que acontecia sempre acompanhado
pelo olhar e pela postura cúmplice das filhas, eu e minhas irmãs, todas nós
ainda meninas. Era um ritual de uma escrita composta de múltiplos gestos,
em que todo corpo dela se movimentava e não só os dedos. E os nossos cor-
pos também, que se deslocavam no espaço acompanhando os passos de
mãe em direção à página-chão em que o sol seria escrito. Aquele gesto de
movimento-grafia era uma simpatia para chamar o sol (EVARISTO, 2005, s/p).
Essa mulher que tece fios, formando desenhos, sou eu agora. Estou tecendo
a minha história a cada escolha que faço. A mulher rendeira também precisa
de paciência para continuar a tecer, também precisa de coragem para fazer
novos e diferentes desenhos, eu me vejo nesta mulher, desde o dia que deci-
di vir estudar, e ter coragem para enfrentar esse novo mundo tão preconcei-
tuoso e difícil de viver (PATAXÓ, A, 2022, p. 21).
vida das escritas da natureza, das línguas, dos cantos e das narrativas dos
povos indígenas deste país, das milhares de cosmo-poéticas que nossos
povos produzem, ensinam e encantam. Uma escrita, um documento, uma
assinatura, portanto, que assegura, protege e garante a sobrevivência de
tantas outras escritas.
Imagem 5: Lula assinando demarcação no Assentamento Terra Livre (2023), ao lado da ministra
dos Povos Indígenas Sônia Guajajara
Referências
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pour l’Art Contemporain, Paris: Actes Sud, 2003, p. 46.
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XACRIABÁ, Célia, 2020 “Amansar o giz”. In Revista Piseagrama. Edição n.14 Futuro.
Belo Horizonte: Cidades Criativas, 2020.
Abstract: This article discusses the inclusion of deaf indigenous people in ba-
sic education schools and bilingual education. It aims to raise and give visibili-
ty to the practices developed in some regions of Brazil regarding the inclusion
of deaf indigenous students in formal education, specifically the initial and
final years of elementary school. The method used was dialectic, which invol-
ves review and critical reflection. The data were analyzed from the references
Libras, Deaf Indigenous and bilingualism, superseded in Vigotski’s Historical
Cultural method (2007). The results demonstrate signs shared by deaf people
in the villages, created by them and which are part of their own language. It is
concluded that it is necessary to identify the cultural elements that constitute
its identity, as well as the contexts in which the deaf linguistic signs specific
to the culture emerge, how they legitimize and intertwine with the Brazilian
Sign Language.
Keywords: Libras. Indigenous. Bilingualism. Deaf culture.
Introdução
2014 FERREIRA, “Educação Kaingang: “O estudo teve a finalidade Ele não cita a quan-
Bruno Processos próprios de evidenciar a importância tidade de crianças
de aprendizagem e do espaço escolar e os observadas, mas,
Educação Escolar”. espaços de construção de fala que foi realizada
conhecimentos indígenas no Setor Missão,
a partir de processos da Terra Indígena
próprios, considerando a Guarita, município de
cultura, os costumes, a Redentora – RS. Ele
tradição e a visão de mundo foi participante da
própria do povo Kaingang”. pesquisa juntamente
com as crianças da
aldeia.
Considerações finais
Referências
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VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
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nos com necessidades educacionais especiais. In: VITALIANO, C. R. (Org.). Formação
de professores para a inclusão de alunos com necessidades educacionais espe-
ciais. Londrina: EDUEL, 2010.
Introdução
tavam cada vez mais envolvidas com a luta política pelos seus espaços de
direito, como é notório na fala do líder Lourenço Txibae Ewororo, na aber-
tura da 3ª assembleia:
Estamos aqui para mais uma reunião. Como já sabemos, a 1ª foi feito em Dia-
mantino, outra foi feito em Cururu, lá no Pará. Estamos vendo que estas reu-
niões estão despertando bastante interesse por nossa parte, índios. Estamos
despertando também a Funai, que é órgão principal encarregado de nossos
problemas, de nossos interesses em geral. Estamos aparecendo. Por nossa
parte cada um deve apresentar os problemas que tem sua área. O que esta-
mos fazendo e devemos fazer? Para ver se nos sentimos mais unidos para re-
clamar e pedir à Funai para que no futuro temos uma condição de vida mais
melhor para os nossos filhos. Seria bom cada um apresentar os problemas,
o que devemos discutir para acharmos uma solução. Trabalhar tudo junto.
Cada um vai ter liberdade de falar, livre e espontâneo de dizer. Pode se sentir
em casa que ninguém vai reparar se alguém fala mal, fala bem, todos somos,
sentimos irmãos aqui juntos (EWORORO, 1975 apud SCHWADE, 2021).
Considerações finais
Referências
ALMEIDA, Aline & FREIRE, Gabriela. 2016. Sociedade contra o Estado - Pierre Clas-
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CNV, 2014. Disponível em: http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/images/pdf/relato-
rio/Volume%202%20%20Texto%205.pdf.
Introdução
3. A Rede M/C foi criada em 1998 por um grupo de pensadores intelectuais latino-americanos,
a partir de vários encontros e seminários, após a desagregação do Grupo Latino-americano de
Estudos Subalternos (BALLESTRIN, 2013).
[…] se refiere a un patrón de poder que emergió como resultado del colo-
nialismo moderno, pero que en vez de estar limitado a una relación formal
de poder entre dos pueblos o naciones, más bien se refiere a la forma como
el trabajo, el conocimiento, la autoridade y las relaciones intersubjetivas se
articulan entre sí, a través del mercado capitalista mundial y de la idea de
raza (MALDONADO-TORRES, 2007, p. 131).
espaço para o saber dos povos não europeus (neste caso, os povos indíge-
nas sobre o qual estamos refletindo). Neste sentido, Dávalos (2005, p. 19)
afirma que “si esta hipótesis es correcta […] los tiempos actuales se presen-
tan como cruciales y de sobrevivencia, es decir, como tiempos de guerra”.
Nesse processo de despertar para a situação que estão vivendo e
sobre as imposições do Estado, a Copime e o Foreeia (enquanto Movimento
Indígena) fortalecem uma consciência política nos indígenas, favorecendo
a articulação coletiva e suas reivindicações frente ao Estado. As ações des-
ses dois movimentos tem papel fundamental na implementação e revitali-
zação da Educação Escolar Indígena (EEI), ainda que a própria escolarização
dos professores indígenas seja em escolas e universidades não-indígenas.
A COPIME e o FOREEIA (Movimentos Indígenas) ao perceberem que
o mundo (colonizado) em que vivem já não faz mais sentido e, que se per-
cebem não pertencente a esta realidade, agem para encontrar (ou criar) a
realidade que se adeque à sua nova forma de ver e pensar o mundo. Nesse
sentido, considera-se essencial “el cambio de la actitud natural racista o in-
dividualista de la modernidad a la actitud des-colonial de cooperación en
la ruptura con el mundo de la muerte colonial es el momento más funda-
mental del giro des-colonial” (MALDONADO-TORRES, 2008, p. 67).
Verifica-se que a ação decolonial empreendida pelos Movimentos
Indígenas COPIME e FOREEIA, relaciona-se com uma das características da
decolonialidade trabalhada por Maldonado-Torres (2008). O referido autor
destaca o reconhecimento da multiplicidade de formas coloniais de poder,
que marcou (e ainda marca) a vida de milhares de indivíduos, e que es-
ses projetos de morte ajudam a entender as formas modernas de poder
e como elas agem na sociedade, tendo a possibilidade para propor novas
alternativas de combate a esses projetos. O que está por trás dessa consci-
ência caracteriza-se como uma “[…] necessidade de romper a barreira que
ainda imperava e que mantinha os povos indígenas numa situação de tu-
telados, incapazes de gerenciar seu próprio destino” (MUNDURUKU, 2012,
p. 57). Nesta perspectiva, entende-se que a decolonialidade não pode ficar
apenas nas reflexões acadêmicas, pensando num universalismo epistêmi-
co, caso contrário, estar-se-ia criando uma nova colonialidade do saber,
pois o pensamento decolonial visa superar todo e qualquer universalismo
que se pretenda impor, incluindo o próprio pensamento decolonial.
Nº Legislação Definição
04 Lei nº 2.781, de 16 de “Dispõe sobre a criação da categoria Escola Indígena Municipal, dos
setembro de 2021 cargos dos profissionais do magistério indígena, da regularização dos
espaços de estudos da língua materna e conhecimentos tradicionais
indígenas na rede municipal de ensino da Secretaria Municipal de Edu-
cação, no âmbito do município de Manaus, e dá outras providências”.
Fonte: dados da pesquisa (2021)
2011, Art. 1º, Parágrafo único). No entanto, nota-se o que parece ser uma
contradição quando no Art. 3º versa que as Escolas Indígenas devem “obe-
decer” aos princípios que estão dispostos no referido artigo para poderem
se organizar como Escola Indígena diferenciada.
Art. 3º Para sua organização, as escolas indígenas deverão obedecer aos se-
guintes princípios:
I - reconhecimento e respeito à diversidade étnica, cultural e linguísticas dos
povos e comunidades indígenas;
II - valorização dos conhecimentos e saberes tradicionais;
III - valorização e fortalecimento das culturas indígenas;
IV - diversidade de concepções de ensino e de aprendizagem;
V - gestão participativa. (MANAUS, 2011, Art. 3º).
Espaços culturais referem-se aos locais onde são realizadas atividades edu-
cacionais, como nas comunidades indígenas Tikuna, AMARN, Sateré Mawé.
Espaços educativos são as escolas municipais, localizadas em comunida-
des indígenas, onde os professores indígenas realizam suas atividades
(SANTOS, 2012, p. 94).
A educação existe onde não há escola e por toda parte pode haver redes e
estruturas sociais de transferência de saber de uma geração a outra onde
ainda não foi sequer criada a sombra de algum modelo de ensino formal e
centralizado. Porque a educação aprende com o homem a continuar o tra-
balho da vida. A vida que transporta de uma espécie para a outra, dentro da
história da natureza, e de uma geração a outra de viventes, dentro da história
da espécie, os princípios por meio dos quais a própria vida aprende e ensina
a sobreviver e a evoluir em cada tipo de ser (BRANDÃO, 2007, p. 13).
Tinha um grande problema aqui em Manaus […] que era a questão do re-
conhecimento da categoria de professor indígena. Tem os centros culturais
onde acontece a revitalização das línguas, mas não tem o reconhecimento
dos professores dessa categoria, e a precariedade de como funcionam os
centros culturais (COPIME, 2021, p. 2).
A SEMED, ela paga professor, ela dar merenda, ela dar material, ela dá mobili-
ário, mas o espaço físico é por conta da comunidade. E muitos não entendem
isso. […] eu sempre falo: cadê a contrapartida da comunidade? A contrapar-
tida da comunidade é o espaço físico. Dos vinte e dois (22) centros, apenas
cinco (5) passaram para receber material. Porque não tem infraestrutura. E
a COPIME, graças a Deus, concordou com a gente. Só vai receber material
quem melhorar a sua estrutura física” (GEEI, 2021, p. 3).
sente nas discussões para a criação da referida lei, com vista contribuir com
a garantia e melhoria de da EEI, reforçando a força que o Movimento Indí-
gena no Amazonas possui.
A Lei traz a esperança de uma escolarização melhor, a possibilidade
de autonomia pedagógica nas EIM’s, pois nas palavras do professor indí-
gena da etnia Tikuna, “com a lei aprovada nós vamos manter nossa língua,
resgatar nossas danças e costumes, fazer aquilo que é melhor e que estava
faltando.” (SERRÃO, 2021, p. 2).
Considerações finais
Referências
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ção primeiros passos; 20).
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ria Escola Indígena Municipal, dos cargos dos profissionais do magistério indígena,
da regularização dos espaços de estudos da língua materna e conhecimentos tradi-
cionais indígenas na rede municipal de ensino da Secretaria Municipal de Educação,
no âmbito do município de Manaus, e dá outras providências. Diário Oficial do Mu-
nicípio de Manaus, 16/09/2021. Ano XXII, Ed. 5185. Manaus, 2021. f.1-3.
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SILVA, Elisângela Guedes da. Indígenas no contexto urbano: identidades, culturas
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mã Manaus. Manaus, 2019. Dissertação (Mestrado em Sociedade e Cultura na Ama-
zônia) . Universidade Federal do Amazonas, 2019. p. 75-77.
1. Pós doutora pela Universidade de Buenos Aires, com pesquisas sobre Estudos de Gênero e
Estudos da Tradução (O Corpo da Mulher Tradutora e Intérprete de Línguas de Sinais). Doutora
em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Educa-
ção Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Pedagoga pela Universidade
das Américas Tradutora/Intérprete de Língua de Sinais Brasileira.Atualmente, trabalha como
Professora da área de Tradução, no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC - Câmpus Palhoça
Bilíngue). Endereço eletrônico: saionara.figueiredo@ifsc.edu.br.
2. Indígena da etnia Pataxó, Mestrando em Relações Étnicas e Contemporaneidade pela Univer-
sidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Especialista em Libras: Docência e Intérprete pela
Faculdade Santo Agostinho (FACSA) e em Inclusão e Diversidade na Educação pela Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Licenciado em Letras - Libras pelo Centro Universitário
ETEP e em História pela Faculdade Santo Agostinho (FACSA). É proficiente em Tradução e In-
terpretação da Libras PROLIBRAS pela Universidade Federal de Santa Catarina (2008). Endereço
eletrônico: kawhaufsb2017@gmail.com.
3. Pedagoga, Mestre em Linguística - UFSC e Doutoranda em Linguística Aplicada UNICAMP/
UFMS. Professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Endereço eletrônico:
shirley.vilhalva@ufms.br.
4. Bacharel no curso Interdisciplinar em Humanidades pela Universidade Federal do Sul da Bahia
- UFSB. Coordenador do núcleo Central dos Estudantes indígenas da UFSB , campus Sosígenes
Costa - Porto Seguro - BA. Ativista dos direitos dos povos indígenas, cultura, identidade e das
Línguas Indígenas de Sinais - LIS. Endereço eletrônico: davidlibras6@gmail.com.
línguas nos permite ampliar os nossos olhares e ver e agir de forma diferente.
Um estudo trilhado através dos autores: WEINREICH (2006); SALOMÃO (2013);
MAHER, (2010).
Palavras-chave: Comunidade multilíngue. Multiculturalidade. Ensino-apren-
dizagem. Linguística. Indígenas.
a. Interferência/transferências de idiomas
b. Alternância de código
c. Empréstimos linguísticos
riza-se por ser um sistema individual de cada aluno com adições que se
manifestam irregularmente e desequilibradas, mas, ao mesmo tempo,
de forma sistemática.
Por sua vez, Santos (2019) concebe o objeto de estudo da DLL como
os processos de ensino, aquisição e aprendizagem da língua e literatura,
bem como tudo relacionado ao desenvolvimento de competências, conhe-
cimentos, habilidades e estratégias linguísticas e/ou literárias implantadas
pelo aluno. O objeto do estudo em si evoluiu na medida em que a própria
disciplina se consolidou como ciência. Por isso, acreditamos que o objeto
de estudo é definido nos processos dinâmicos em que todas as ações rela-
cionadas ao ensino-aprendizagem das línguas são inseridas em um espaço
de interação complexa.
Evolução, complexidade, paradoxo e transversalidade são as cons-
tantes que Possenti (2013) usa para abordar as características dessa disci-
plina. Evoluir e adaptar implica mudanças em toda a dinâmica do processo.
Referências
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guesa nas séries iniciais do ensino fundamental na Escola Adriano Pires – uma crítica
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SANTOS, Suzana Sanches dos. O bilinguismo como proposta inclusiva para surdos
no processo inicial de escolarização. 2013. 55f. Orientador: Profª. Esp. Nívea Maria
Pinheiro Costa. Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade Cearense,
Curso de Pedagogia, 2013.
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WEINREICH, U. Languages in contact. New York: Linguistic Circle of New York, 1953.
Abstract: One of the most studied themes about Brazil in the past one hun-
dred years, the Canudos War (1983-1897) registered the Indigenous Peoples
presence at the rebel city of Belo Monte since its foundation. Nevertheless,
the subject had been largely excluded until the 90’s, when it reemerged as
a line of studies that changed the epistemological set traditionally used on
Canudos. This article aims to present the development of this line of studies
through its reference texts, seeking to approach its conditions of possibility
and potentialities, such as the increase of the indigenous epistemology circu-
lation in the scientific production field.
Keywords: Anthropology. Epistemology. Indigenous Peoples. Northeast of
Brazil. Canudos War
1. Bacharel em Relações Internacionais pelo IRI/PUC-Rio, Mestre em Ciências Sociais pela UERJ.
Elaborou a dissertação de mestrado, financiada pelo CNPq, intitulada Contra-cartografias de Ca-
nudos: por uma etnoepistemologia do conflito (2023), na qual analisa o desenvolvimento deste
campo de produção de conhecimento de 1874 a 2022, apresentando uma análise antropológica
baseada no levantamento bibliográfico em que lista os 646 principais textos produzidos sobre
o tema, estratificando o campo a partir de cinco ciclos textuais, suas principais linhagens episte-
mológicas e autores de referência. Endereço eletrônico: pedro_acb@hotmail.com.
Introdução
A virada interpretativa
2. Como Audálio Dantas, José Calasans, Abelardo Montenegro, Renato Ferraz, etc.
4. Apesar de afirmar que “Os “trabalhos” mais “finos”, mais sérios, não podem ser feitos com a mes-
ma eficiência de antes porque os caboclos de hoje não sabem a língua dêles (...) e do uso da língua
na comunicação com os encantados” (BANDEIRA, 1972:76), a autora aqui não relaciona diretamen-
te o fato a morte dos pajés e demais falantes do dialeto Kipeá em Canudos durante o conflito.
5. VELDEN, 2003:70.
6. No trabalho de campo que realizei no Sertão durante os eventos dos 120 anos do fim da
Guerra de Canudos, em 2017, observei que tanto a academia, quanto os movimentos sociais
e interlocutores sertanejos locais guardam, da memória a acervos, registros da participação de
indígenas nas atividades dos centenários – na verdade, soube do trabalho de Lúcia Mascarenhas
precisamente por indicação de uma interlocutora do Movimento Popular e Histórico de Canu-
dos. Ao perguntar sobre a participação indígena nos eventos, mostraram-me diversas fotografias
do arquivo da casa-sede do MPHC; acompanhava a Celebração Popular pelos Mártires de Canu-
dos que este movimento social organiza desde a década de 1980, vinte e quatro anos depois
de Lúcia Mascarenhas fazer o mesmo. “Ela esteve aqui e acompanhou nossa celebração que nem
você. Queria falar com tudo quanto era índio! E tinha um montão, povo de tudo quanto é lado, que
também lutou pelo Belo Monte”.
7. Cf. NASSER; NASSER, 1973:16 apud VELDEN, 2003:65.
8. A Revista Canudos, editada pelo CEEC da Universidade Estadual da Bahia.
9. “Renildo; Vicente; Arnaldo, “Bom Caboclo”; Zé Pedro; Alpidio, tio de Zacarias; A mãe de Dona Mari-
quinha; Pedro Miguel, “Jagunço bom”, pai de seu Genesio e avô de Fiel; Zabezona, “cabocla valente”,
ajudou jagunço a sair de Canudos; Leodoro, foi baleado com 13 anos. É avô do cacique Lázaro, tia
de Seu Zé de Amélia; Joao Panta; Gualberto, pai de seu João do Sacão, Josefa, mãe de Dona Joana
de Seu Evaristo; Maria Gorda, foi baleada, Polinha, Chiquinha, Joao de Pedrinho, parente de Seu Ze
Fausto, Maria Francisca, parente de seu Ze Fausto; Zé Ferreira, Antonio Fogueteiro, “Jagunço bom”, foi
“mandão” em Canudos; José Mancin, “Jagunço brabo” e outros” (MASCARENHAS, 1997b:70).
pois “Os índios mais velhos ali presentes conheciam o Sinhozinho do Bendó.
E sabiam que naquela região tinha madeira que daria para a construção da
igreja. Antônio Fogueteiro, um dos cabeças de Canudos, (...) propôs a Antônio
Conselheiro ir ao Bendó” (MASCARENHAS, 1997b:71).
O episódio do transporte do madeirame, de ampla circulação em
campo, é registrado a partir de um observador participante do episódio,
“assim Caboclo Zé Pedro me contou”, que atesta que o peso da madeira des-
tinada a cumieira da construção havia diminuído após Conselheiro dar-lhe
“nove pancadas, três em cada ponta, três no meio” (IDEM), possibilitando
seu transporte antes impossível.
Nesse sentido, o transporte da madeira também é um dos fatores
da adesão ao movimento de Canudos de acordo com a epistemologia Kiriri:
“Quando colocaram [a madeira] no terreiro do Sinhozinho, foi uma “alegria
danada”, com vivas para o Bom Jesus Conselheiro”, no dia seguinte, “passa-
ram em Mirandela (...) eram os índios que levavam a madeira”, e no caminho
“levavam viola, pandeiro e onde dormiam faziam “aquela” festa. Amanhecen-
do o dia, viajavam. Os índios foram tudo. Foi contado o que ficou. Iam por que
queriam ir, não tinham promessa (...) era naquela Santa Alegria até chegarem
lá em Canudos” (MASCARENHAS, 1997b:71-72).
O Início dos combates, é tópico igualmente abordado enquanto acon-
tecimento significativo para a perspectiva Kiriri: visto que aponta sua partici-
pação no primeiro embate dos conselheiristas com as forças repressivas do
estado, assinalando que o primeiro sangue derramado na guerra fora de um
Kiriri: “Desta turma, só morreu um índio” (MASCARENHAS, 1997b:72;84).
A circulação da produção de víveres, assim como a pendularidade
relativa à produção de farinha entre Canudos e as aldeias, é abordada pe-
los Kiriri no tópico seguinte, Na terra do “rio de leite e barrancos de cuscuz”
(MASCARENHAS, 1997b:73). Enquanto no tópico As Orações, Mascarenhas
registra a memória das tradições da Horas em Canudos (correspondente
a divisão do dia) na experiência indígena dos Kiriri; que participavam das
orações e mantinham aquelas que lhes eram próprias (IDEM).
O tópico Os kiririzeiros eram “jagunços” trata sobre a tradição oral
desta etnia sobre sua participação guerreira em diferentes momentos do
conflito. Relata que até os sabidos – isto é, aqueles que falavam com os en-
cantados – usavam sua ciência na luta: “Pedro Miguel, caboclo velho, virou
Jagunço. Era um “sabido”, se envultava” (IBIDEM). Este último transmitira o
saber da violência contando sua sobrevivência ao bombardeio da Igreja
Nova, lotada de gente, e as pessoas do Belo Monte que pereceram em meio
ao fogo decorrente da artilharia e dinamites do exército.
Contudo, o relato transmitido por Pedro Miguel igualmente demar-
ca Canudos como “uma festa...”, assinalando aquilo já registrado na textua-
lidade mais ampla do campo, o crescimento populacional do Belo Monte
durante o conflito:
Era de Canudos para a aldeia, da aldeia para Canudos, dizia, “lá tá bom”. Dizia
que era uma festa... era a alegria maior do mundo. Tinha também a caixa de
guerra.... tan, tan,. tan, quando caia um, outro pegava. No quinto ano, o últi-
mo “rebuliço” foi no meio da rua [cidade]. Ele no meio dos mortos e chega um
com um punhal furando para ver quem estava vivo, ele consegue escapar. À
noite, pega as armas, entra nos piquetes, os “buracos”, com as armas e ai era
só derrubando gente. Os soldados procuravam, mas não viam nada (MASCA-
RENHAS: 1997b:74).
com a promessa de que com a vitória, o mesmo seria governo” (IDEM), até a
organização da contra-ofensiva conselheirista e o papel de protagonismo
que os Kiriri relatam.
Pajeú foi então ajudado pelos pajés Kiriri que através da sua sabedoria e da
“ciência” descobriram como Moreira César iria e aconselhou Pajeú a mandar
flecha e tiro para a caixa dos olho daquele (MASCARENHAS, 1997b:75).
10. “O pai de João Sabino saiu no ’’cerco’’ da guerra com oito anos, foi criado no Massacará. Maria
falou da sua avó, Silvino de seus avós e pai. São eles, Maria de Jesus, Maria de Catarino e sua mãe,
Marculina Maria de Jesus; uma irmã de Marculina morreu lá, José de Filimina, Manoel Pereira
Dias, Mariano, Marcelo, Noberto, Jose Bernardino e a mulher, Andre, Carlito, ’’tocador de gait’’ e
outros” (MASCARENHAS, 1997:77).
11. Um dos diversos desdobramentos desta agenda de pesquisa é o artigo A maior alegria do
mundo (2012), onde Reesink retoma de forma mais detida a participação Kiriri em Canudos à luz
dos relatos atuais destes indígenas.
14. Matrizes que Velden assinala com “a marxista, religiosa e a que lança mão do par campesi-
nato/catolicismo rural ou rústico” (2003:59). Esta última, aquela que minha pesquisa identifica
como a linhagem sociológica de Canudos, cuja mater-família é Maria Isaura Pereira de Queiroz e
o ancestral totêmico, Weber. Àquilo que Velden chama de matrizes explicativas, preferi o con-
ceito de linhagens epistemológicas por realizar a pesquisa de dissertação buscando privilegiar
as relações entre os nativos (relativos ou efetivos) deste campo na produção de conhecimento,
isto é, seus autores.
Considerações finais
tema, assim como sua importância para assegurar os direitos dos Povos
Indígenas do Nordeste15, vem despertando inúmeras atividades das quais
este artigo, em si, é também singelo desdobramento.
Em 2022, fui convidado a participar da roda de conversa sobre
a presença indígena em Canudos, iniciativa discente da Pós-Graduação
em Crítica Cultural da UNEB, organizada pelos colegas Anny Santos e
Kárpio Siqueira. A roda de conversa contou ainda com convidados como
Pedro Lima Vasconcelos e Felipe Vander Velden. O destaque, contudo,
fora a grande participação de jovens Kiriri, Kaimbé e Tuxá na atividade.
Seus relatos e engajamento com o tema me levam a pensar na impor-
tância da implementação da política de cotas na universidade pública
brasileira e na possibilidade de vermos desde a academia a produção
científica indígena elaborada por esta promissora geração de pesqui-
sadores nativos – que, tais como seus ancestrais, seguem na luta pela
afirmação de sua existência.
Referências
CARVALHO, Maria Rosário. [1977] Los Kariri de Mirandela: um subsegmento rural indí-
gena. México: América Indígena, XXXVII (1), 1977
15. Vale ressaltar que a proposta de Marco Temporal das Terras Indígenas, atualmente em trânsito
no senado após ser aprovada pela câmara dos deputados, interfere diretamente nos direitos e
demandas Kiriri e Kaimbé, visto localizar seu recorte na promulgação da atual Constituição, dia
05 de outubro de 1988 – ou seja, exatos 91 anos após o marco temporal de outra desterrito-
rialização assinalada por estas etnias: a queda definitiva da cidade do Belo Monte de Canudos,
ocupada pelas forças da república em 05 de Outubro de 1897.
REESINK, Edwin B. [1997b] Índios e Canudos. A tradição oral entre os Kaimbé sobre
Canudos e os efeitos sociais resultantes da guerra. Fortaleza: VIII Encontro de Ciências
Sociais do Norte/Nordeste - Programa & Resumos, p. 100, 1997.
REESINK, Edwin B. [1998] Até o dia do Juízo Final. Vitória: XXI reunião da ABA, p. 142,
1998.
REESINK, Edwin B. [1999] Till the end of time - regime of salvation and enteotopia at
Canudos. Boston: Journal of Millenial Studies, v.2, p. 01-19, 1999.
REESINK, Edwin B. [2012] A maior alegria do mundo: a participação dos índios Kiriri em
Belo Monte (Canudos). Salvador: Índios e caboclos: a história recontada, p. 243-256,
2012.
REESINK, Edwin B. [2013] Saber os nomes: observações sobre a degola e a violência con-
tra Belo Monte (Canudos). Recife: Revista Anthropológicas a.17, v.24, p. 43-73, 2013.
TAVARES, Odorico; VERGER, Pierre. [1947] Roteiro de Canudos. O Cruzeiro, n.39, a. XIX;
Rio de Janeiro, 19 jul. 1947.
VELDEN, Felipe Ferreira Vander. Combates singulares, histórias singulares: sobre a par-
ticipação indígena no movimento de Canudos. Tellus, a.3, n.4, abr. 2003.
Abstract: The discussions and studies presented in this article are preliminary
surveys of our research. Indigenous peoples, inhabitants who were already
in the territory we now call Brazil before the arrival of European colonizers,
were unable to prevent the catechization and acculturation promoted in this
cultural, social, and linguistic clash. In this sense, according to the researched
theorists, Alves (2020); Deleuze and Guattari (1980); Oliveira and Carvalho
(2005); Ribeiro (2021); Silva (2019); Souza (2018); and Krenak (2012), among
others, we observe the origin of Youth and Adult Education (YAE). The Jesuits
who arrived with the Portuguese in the 16th century began to promote this
Catholic-based “education” for indigenous children and young people. It was
one of the ways the Portuguese found to expand the overseas territory. Based
on the researched sources, we were able to ascertain how much indigenous
peoples still contribute with their cultures and ways of being and thinking
towards a fairer world, even while coexisting with a multiplicity of cultures
within Brazilian society.
Keywords: Youth and Adult Education (YAE). Indigenous Peoples. Jesuits.
History.
INTRODUÇÃO
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
3. ABYA YALA, na língua do povo Kuna, significa Terra madura, Terra Viva ou Terra em florescimen-
to e é sinônimo de América. O povo Kuna é originário da Serra Nevada, no norte da Colômbia,
tendo habitado a região do Golfo de Urabá e das montanhas de Darien e vive atualmente na
costa caribenha do Panamá na Comarca de Kuna Yala (San Blas).
o que mais queriam, como está expresso na Carta de Pero Vaz de Caminha,
era atrair as gentes para o seu rebanho à moda portuguesa: “Porém o me-
lhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente.
E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”,
diz a Carta. A partir dessa percepção, os portugueses entenderam que
precisariam “educar” essas gentes, ou melhor, catequizar para salvá-las. É
importante ressaltar que os jesuítas lusitanos vieram como missionários,
com o intuito de difundir o cristianismo entre os povos indígenas.
Segundo Leite (1974), os jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549,
junto com o governador-geral Tomé de Sousa, enviado pela coroa portu-
guesa para estabelecer uma administração colonial no país. A vinda dos
jesuítas estava diretamente ligada à política de colonização portuguesa,
que buscava consolidar o domínio territorial e religioso no novo território.
Ao chegarem ao Brasil, os jesuítas estabeleceram missões e aldeamentos,
onde procuraram converter os indígenas ao cristianismo, ensinando-lhes
os princípios da fé católica. Eles acreditavam que a evangelização dos indí-
genas era um dever moral e religioso, além de uma forma de assegurar o
domínio e a influência portuguesa na região.
Os jesuítas adotaram uma abordagem particularmente estratégi-
ca ao estabelecerem suas missões. Conforme Leite (1974), eles procuravam
aprender as línguas indígenas, adaptar-se à cultura local e estabelecer rela-
ções de confiança com as comunidades nativas. Além da evangelização, os
jesuítas também se dedicaram à educação dos indígenas, ensinando-lhes ofí-
cios, como a agricultura e a carpintaria, bem como os princípios da fé católica.
Por meio desse contexto, entende-se que os jesuítas buscavam
os indígenas por meio de um processo de aculturação, visando a trans-
formação cultural e a conversão religiosa dos nativos. Lima (1996, p. 56),
ressalta que “a imposição cultural era uma prática comum, com o objetivo
de substituir as crenças e costumes indígenas pela cultura europeia”. Se-
gundo Souza (1986), os jesuítas adotaram uma estratégia de catequese e
educação dos indígenas, mas também ressalta a imposição de valores e
normas europeias sobre os povos nativos. Estes autores argumentam que
essa imposição cultural levou a conflitos e resistências por parte dos indí-
genas, mas também resultou em transformações culturais profundas nas
Até 1988 a legislação era marcada por esse viés integracionista, mas a nova
Constituição inovou ao garantir às populações indígenas o direito tanto à ci-
dadania plena, liberando-as da tutela do Estado, quanto ao reconhecimento
de sua identidade diferenciada e de sua manutenção, incumbindo o Estado
de assegurar e proteger as manifestações culturais das sociedades indígenas.
A Constituição assegurou, ainda, o direito das sociedades indígenas a uma
educação escolar diferenciada, específica, intercultural e bilíngue, o que vem
sendo regulamentado por meio de vários textos legais (MEC, 2001, p. 42).
4. Ailton Krenak: líder indígena, escritor e ativista brasileiro da etnia Krenak é reconhecido por sua
defesa dos direitos dos povos indígenas.
práticas usadas por diferentes povos deste continente americano para cons-
tituir seus coletivos. São práticas ligadas à produção da pessoa – o que é mui-
to diferente de moldar alguém –, que entendem que todos nós temos uma
transcendência e, ao chegarmos ao mundo, já somos – e o ser é a essência de
tudo (KRENAK, 2022, p. 93-94).
DESOBEDIÊNCIA EPISTEMOLÓGICA
5. Rizoma é um termo originado da botânica, utilizado pelos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guat-
tari, para descrever uma maneira de encarar o indivíduo, o conhecimento e as relações entre as
pessoas, ideias e espaços, a partir de uma perspectiva de fluxos e multiplicidades, que não possui
uma raiz ou centro.
6. Deleuze (1925-1995) e Guattari (1930-1992) são dois filósofos franceses que se conheceram e tra-
balharam juntos após os eventos de maio de 1968 e escreveram juntos a obra ”Mil Platôs” em 1980.
Considerações finais
O nosso país é diverso, cada cultura tem o seu verso, sua visão e en-
tendimento sobre a terra e modo de existir enquanto seres humanos. Mas
podemos nos questionar: por que aprender com as culturas indígenas?
O que elas podem nos ensinar? Nesse caminho, citamos Krenak para nos
alumiar: “eu não quero salvar os indígenas, eu quero salvar a humanidade”.
A liderança indígena Davi Kopenawa Yanomami também comenta sobre
os xamãs: “Por isso, até hoje, os xamãs continuam defendendo os seus e a
floresta. Mas também protegem os brancos, apesar de serem outra gente,
e todas as terras, até as mais imensas e distantes” (KOPENAWA & ALBERT,
p.86, 2022). Ou seja, dentro da multiplicidade cultural de cada um, há a hu-
manidade que nos conecta.
Esse pensamento indígena, de duas etnias distintas em nosso país,
por exemplo, nos faz refletir, de fato, o quanto temos de olhar para os povos
da floresta e ressignificar e decolonizar o nosso pensamento. As atitudes
que os colonizadores tiveram para com os povos que dominaram também
em outros territórios ainda persistem com ações de desprezo e ojeriza.
É com a educação que podemos mudar atitudes preconceituosas
que estão arraigadas desde a formação do Brasil. O Estado precisa atender
toda a população, oferecendo educação de qualidade em todos os espaços
Referências
CAMINHA, Pero Vaz de. A carta de Pero Vaz de Caminha. Disponível em: http://objdigi-
tal.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/carta.pdf. Acesso em: 22/05/2023.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, Jose R. B. Cinco ideias equivocadas sobre o índio. In: Repecult: revistas e ensaios
e pesquisas em educação e cultura. V. 1; n 1. Ano 2016.
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Entre América e Abya Yala – tensões de territoriali-
dade. Disponível em: https://www.ufrgs.br/estudoslatinoamericanos/wp-content/
uploads/2019/04/ELA8%C2%BA-Texto9-1.pdf. Acesso em: 21/05/2023.
KOPENAWA, Davi & ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami.
Tradução Beatriz Perrone-Moisés. 1ª ed. 16ª reimpr. São Paulo: Cia das Letras, 2022.
KRENAK, Ailton. Futuro Ancestral. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras,
2019.
SOUZA, Laura de M. O Diabo e a Terra de Santa Cruz. São Paulo: Companhia das Letras,
1986.
KAMBEBA, Márcia Wayna. O lugar do saber. São Leopoldo: Casa Leiria, 2020.
Disponível em: https://olma.org.br/wp-content/uploads/2020/06/olugardo-
saber.pdf. Acesso em 22 mai. 2023.
4. Indígena com nome civil, Márcia Vieira da Silva, pertence ao povo Omágua/Kambeba no Ama-
zonas, Alto Solimões. Nascida na Aldeia Belém do Solimões do povo Tikuna. É mestra em Geo-
grafia pela Universidade Federal do Amazonas, escritora, poeta, compositora, fotógrafa, ativista,
faz palestras sobre a importância da cultura dos povos indígenas.
5. SILVA, Márcia Vieira da. Reterritorialização e identidade do povo Omágua- Kambeba na aldeia
Tururucari- Uka. 2012. 175 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal do Ama-
zonas, Manaus, 2012. Disponível em: https://tede.ufam.edu.br/bitstream/tede/3978/2/Disserta%-
c3%a7%c3%a3o%20%20M%c3%a1rcia%20Vieira%20da%20Silva.pdf. Acesso em 25 mai. 2023.
6. Título da obra: Ay Kakyri Tama ‘Eu moro na cidade’.
Prosa e verso
IDENTIDADE
Minha indianidade,
Meu caminho na cidade,
Meus cabelos longos,
Carregam minha identidade.
7. CASTRO. Eduardo Viveiros de. Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena. In: A in-
constância da alma selvagem: e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
p. 347-349.
8. Os Cambebas (ou Kambeba) são um grupo indígena que habita o médio rio Solimões, no es-
tado brasileiro do Amazonas, mais precisamente nas Áreas Indígenas Barreira da Missão, Igarapé
Grande, Jaquiri e Kokama. Seriam os supostos omáguas que os cronistas do século XVI encontra-
ram na região (No Peru habitam terras próximas à capital, Lima). Sua principal característica era a
deformação craniana, tornando-a em um formato de cone. Disponível em: https://pt.wikiversity.
org/wiki/Wikinativa/Cambeba. Acesso 23 mai. 2023.
9. Mesmo não falando cotidianamente a língua materna, como ocorre entre os membros dessa
etnia no Peru, os Kambeba no Brasil ainda dominam um importante vocabulário, pertencente
à família Tupi-Guarani, em momentos formais de reuniões com os brancos, em alguns dias de
aulas na escola das aldeias alguns mais velhos e lideranças falem um significativo vocabulário
que eles identificam como Cambeba. (Conf. BONI & KAMBEBA, 1999.). Disponível em: https://pib.
socioambiental.org/pt/Povo:Kambeba. Acesso em 23 mai. 2023.
10. Os Cambeba do Alto Solimões foram incorporados aos Ticunas por ocasião da demarcação
das terras indígenas Ticuna, mas, hoje, estão iniciando um processo de afirmação étnica articula-
do pela OCAS com apoio dos Kambeba do médio Solimões. Disponível em: https://pib.socioam-
biental.org/pt/Povo:Kambeba. Acesso em 23 mai. 2023.
ela revela seu devir: “Pela igualdade, / Pela cultura na cidade, /Pela arte que
é milenar, /Unidos, Kokama, Kambeba, Tikuna / Vem! Mostra que és dono
desse lugar” (p. 37). A retomada vem com tudo: língua, cultura, arte, terri-
tório indígena (TI), educação diferenciada e continuada, mobilizada pelos
movimentos indígenas.
No ambiente “Amazônico Chão”, a autora faz um apanhado na etno-
grafia, no caboclo, ribeirinho do Solimões, que não aparece como o intru-
so, invasor, mas um ser da floresta que busca nela o abrigo e alimento; ela
toma da mata os elementos necessários para fixar seu lar: maçaranduba,
cedro, paxiúba, palha de urucari; apresenta o alimento recolhido da flora lo-
cal: banana com chá de canela, açúcar da cana e alimentos preparados tra-
dicionalmente na panela de barro. O trabalho de mutirão convoca a todas,
da mais nova às mais velhas que “Cantando tecem sua história” (p. 40-41).
A nostalgia do lugar de origem faz a autora demarcar os dois mun-
dos que traz a cena nas suas memórias para descrever as diferenças das
comidas e modo de vida da aldeia de origem em “Memórias de São Paulo
de Olivença-AM” (p. 44-45), mostrando a sua rotina, monotonia e tradição
das festas juninas. Em contraponto, Kambeba mostra o seu traço arteiro,
trazido no texto que segue, “A dança carrega cultura”; apresenta uma cons-
ciência de dança como arte, na cultura e na espiritualidade que segue ao
toque do tambor (africano) e danças tradicionais com enlace intercultural:
“Que do povo Negro veio / Entre tantas danças o frevo, samba, Capoeira,
pagode, maracatu, afoxé” (p. 46). A relação interétnica marca presença indí-
gena no carimbó e maculelê que contemplam no corpo as artes ancestrais.
A autora levará o leitor ao mercado “Ver-o-Peso”, em Belém do Pará,
propagando cultura, crença, saberes: “Ver-o-Peso de todos os cheiros, / De
todos os gostos, / Essa riqueza tem aqui” (p. 47). Partindo daí, segue o texto
que promove o “Verde Mundo” e nesse trocadilho de palavras, se discute
questões indígenas, ainda atuais, como a destituição territorial e desacul-
turação; a exploração da natureza mudou o verde da floresta: “Mexeu com
a cor do universo, / Até o clima se alterou.” (p. 48).
Conclusão
ENTREVISTA
CAMINHOS DA RESILIÊNCIA: Entrevista com Rosilene Tuxá sobre
Ancestralidade, Lutas Indígenas e Educação Escolar Diferenciada
junto ao meu corpo, alma, mente e situações que vão para além do meu cor-
po, para além da minha fala, para além do meu fazer, das minhas atitudes,
mas com a certeza de que sou guiada, orientada e também protegida por
eles, meus mestres, meus guias. Estes, que por mais que as distâncias percor-
ridas no meu caminhar me levem para longe de minhas raízes, eles me tra-
zem de volta, pois nunca me senti só. Essas presenças estão para além das
distâncias, para além do meu querer, para além das territorialidades percorri-
das, elas estão vivas no meu ser me orientando e mostrando os caminhos
possíveis. Quantas vezes quis me inserir no particular, nos rituais, no particu-
lar Tuxá e quantas vezes me foi retirada porque esse ritual ele era somente
para os mais velhos, as pessoas mais velhas. As pessoas jovens não podiam
participar e com o contexto de barragem, os jovens foram convidados a par-
ticipar, convidados pela nossa ancestralidade, pelos nossos mestres, pelos
nossos guias. Então, rememorar as experiências ancestrais, é também reme-
morar esses momentos de querer me inserir em um contexto que não me era
permitido por ser muito jovem, e que hoje me é permitido. Então é dialogar
com essas experiências é dialogar com a minha ancestralidade com os meus
guias, com os meus mestres, com as vivências cotidianas, eles estão sempre
presentes. Parte da minha infância e adolescência se dá em meio a esse con-
texto, em que nosso povo atravessava um processo de diásporas de perdas e
de novas territorializações, novas formas de organização e reorganização so-
cial, novo reordenamento sócio cultural. Advindo dos processos de diáspora
por conta do contexto de barragem. Então, a minha infância, a minha adoles-
cência foi nesse meio, e no entanto, esse não foi o primeiro episódio de des-
territorialização do nosso povo, dessa quebra de vínculos, de perda e de des-
controle das territorialidades pessoais, coletivas, de perda, de acesso a
territórios econômicos, culturais, simbólicos ou de afastamento deles e de
novos processos de territorialização. Então, esse último, provocado por barra-
gem, foi um verdadeiro ecocídio do território ancestral, do nosso território.
Hoje restando apenas uma ponta desse território, o território ancestral D’zo-
robabé onde estão nossas ancestralidades, onde estão nossas forças. Assim,
é preciso entender os muitos caminhos que conduziram o meu povo, as nos-
sas relações do presente e nossas perspectivas de futuro. Eu costumo dizer
que na minha infância, a minha adolescência foi um pé na canoa e outro na
experiências ancestrais se tornam cada vez mais fortes, porque nós nunca
nos distanciamos dos nossos que estão presentes, sejam eles presentes em
corpo ou presente em alma. Então, pensar nas minhas experiências ances-
trais é refletir sobre elementos que configuram a territorialidade do meu
povo, como complexo de práticas ritual e alimentar, que se conectam numa
rede de relações com os lugares e suas simbologias, com pessoas e com e
seus significados e afetos e com os entes e seus apreços. Então, essa relação
revela, ela é revelada na intercessão sobrenatural, que hoje se conecta ao
território Dzorobabé, e tem essa presença tão forte e tão necessária para o
nosso povo nos dias atuais. Então, as vivências e experiências ancestrais que
mais marcaram a minha vida em comunidade foram situações em contexto
de ritual, de festivos e do particular. E principalmente o percurso que eu con-
sidero uma memória muito boa na minha vida pessoa, que foi o que os meus
pais sempre e meus irmãos, principalmente também, sempre viveram re-
mando por entre águas, as águas profundas, por entre as margens de Ilhas e
ilhotas, corredores de águas cortantes e terras, cachoeiras, pedregulhos mo-
dos próprios de circulação e de conhecimento, derivados da complexa rela-
ção cotidiana com rio, com as canoas, com os lugares, com a terra e com eles,
os encantos, que o nosso povo mais precisamente viveu na sua mais densa
forma de vida relacional e de modos de produção de lugares até a mudança
para atual aldeia Tuxá-Mãe nos finais dos anos 1980, quando o território Tuxá
virou lago, ou seja, ficou submerso nas águas do rio Opará, do nosso rio Opa-
rá, do nosso Rio São Francisco. Essas vivências, elas me rememoram muito,
principalmente, na nossa convivência com esse rio, não só nos processos de
navegabilidade, mas principalmente nos momentos de lazer, de banhos, de
convivência no rio, de troca alimentar. Então, isso é fundamental para forma-
ção do nosso corpo, corpo território que nós, povos indígenas, temos na nos-
sa concepção de território.
ção, a gente está apostando que essa política vai ser muito bom para con-
solidação da sistematização do conhecimento e da produção de conheci-
mento no processo da alfabetização das crianças indígenas. Outra ação
importante e que por sinal o lançamento dela vai ser agora na próxima
quinta-feira (a data foi 21 de setembro de 2023) é o PARFOR Equidade. Que é
uma parceria da SECADI com a Capes que é um programa de formação de
professores para Primeira Licenciatura, Segunda Licenciatura e Pedagogia
Intercultural, mas que garante também toda especificidade de um projeto
de curso pensado com a população indígena e também com a participação
de notório saber, do sábio indígena que vai estar neste curso como profes-
sor-formado. A gente está apostando que esse edital PARFOR Equidade,
que vai ser lançado agora na próxima quinta-feira, será uma grande pro-
posta para expandir a formação de professores indígenas. A gente ainda
tem um gargalo, como disse, que é dar continuidade ao Fundamental anos
finais e Ensino Médio em muito territórios indígenas, porque a gente não
tem professor com formação, e agora a gente quer expandir isso não só
com as Licenciatura e Pedagogias Interculturais no âmbito das Universida-
des e Institutos Federais e Estaduais, mas também, em cursos específicos,
como o PARFOR. Pensando em planejamento, estratégia, política, gover-
nança da Educação Escolar Indígena, a gente entende que o modelo que é
posto nessa configuração dos entes Federados - municípios e estados e
Ministério da Educação, não conseguem dar conta das especificidades.
Para isso foi lançado um decreto presidencial dos Territórios Etnoeducacio-
nais - TEEs, mas avaliamos hoje que a política dos Territórios Etnoeducacio-
nais é ainda uma política muito importante para melhoria da consolidação
da Educação Escolar Indígena Específica e Diferenciada, no entanto, é pre-
ciso fazer uma melhor gestão dos TEEs, uma melhor governança dos TEEs
e nós estamos justamente pensando essa reestruturação, pensando não,
redesenhando já essa reestruturação dos territórios educacionais, mês que
vem a gente vai ter 16 (dezesseis) consultores já contratados para ir a cam-
po, para que a gente possa reativar os Territórios Etnoeducacionais, recons-
tituir as comissões e nós estamos construindo uma governança que possa
estar mais próxima desse territórios, estamos desenhando uma governan-
ça onde possamos ter estruturas de governança de extensão do MEC nos
MEC, como a CAPES, como a SESU, como a SEB, o próprio FNDE, essas rela-
ções estão nos mostrando muitos caminhos possíveis. Claro que as coisas
não se dão de forma tão simples para que possamos ver os resultados de
forma unânime, as coisas vão acontecendo aos poucos, a gente vai vendo
o resultados por regiões, por pontos, por política, mas eu considero impor-
tante essa relação que construímos e que estamos construindo com ou-
tras Secretarias do Ministério e com outros Ministérios, como o Ministério
dos Povos Indígenas, com outras relações para que a gente possa ter um
melhor atendimento à Educação Escolar Indígena. Pensar essa nova rou-
pagem na política educacional dos Povos Indígenas e colocando os Territó-
rios Etnoeducacionais como subsistema do Sistema Nacional e tendo todo
esse diálogo, essa abertura para os diálogos internos com o Ministério da
Educação, a gente consegue sim ter expectativas positivas para dias me-
lhores na Educação Escolar Indígena. Como eu disse, é claro que isso requer
toda um desafio a ser enfrentado, principalmente porque ela, a SECADI e o
MEC como todo, perdeu percentual muito significativo de recursos huma-
nos com a criação de novos ministérios, então nós temos poucos recursos
humanos, poucos profissionais no âmbito do Ministério, no âmbito da Co-
ordenação de Política da Educação Escolar Indígena para que possamos
chegar com mais celeridade nas instâncias governamentais locais. Esse é
um grande desafio, a gente tem uma equipe reduzida, mas é uma equipe
que tem trabalhado muito porque acredita nos resultados e estamos ven-
do os resultados positivos. A minha atuação no MEC, é claro que ela é um
desafio, né? mas ela não é uma coisa nova. Não é uma atuação nova, devido
já ter passado por essa experiência no âmbito do Estado quando fui ges-
tora de Educação Escolar Indígena no Estado da Bahia e também quando
fui gestora do curso de Licenciatura Intercultural na Universidade Federal
do Amapá, onde foi coordenadora de curso e professora, essa experiência
de gestão no âmbito do Estado e no âmbito da Universidade, com certeza,
proporcionaram um certo conforto para a minha atuação na pasta do MEC,
por já conhecer os caminhos das Pedras, vamos dizer assim. Por já entender
de gestão pública, por já entender que os caminhos precisam ser trilhados
e precisam ser buscados e essa vontade de fazer está em mim, né? então
vamos que vamos!