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CIÊNCIAS HUMANAS:
processos formativos, educativos e linguísticos
1. Linguística.
2. Crítica e interpretação.
3. Ciências humanas.
4. Pesquisa.
1. CDD: B869-9
© 2022 by Anderson Luís Venâncio, Marilurdes Cruz Borges, Nícolas Vladimir de Souza Januário,
Talita de Carvalho Guiraldelli Venâncio(org) Todos os direitos reservados.
www.ribeiraograficaeditora.com.br
contato@ribeiraograficaeditora.com.br
CONSELHO EDITORIAL
APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................ 6
CAPÍTULO 1
A (RE) TEXTUALIZAÇÃO ENTRE GÊNEROS DISTINTOS COMO PROCESSO
FORMATIVO, EDUCATIVO E LINGUÍSTICO ..................................................................... 9
NÍCOLAS VLADIMIR DE SOUZA JANUÁRIO
CAMILA DE ARAÚJO BERALDO LUDOVICE
DOI: 10.47791/RGE/892716701
CAPÍTULO 2
A FÓRMULA DISCURSIVA SOBRE A GLOBALIZAÇÃO NA OBRA
DE MILTON SANTOS ............................................................................................................ 31
TALITA DE CARVALHO GUIRALDELLI VENÂNCIO
ANDERSON LUIS VENÂNCIO
MARILURDES CRUZ BORGES
DOI: 10.47791/RGE/89271670
CAPÍTULO 3
LEI DE LIBRAS: 20 ANOS DE UMA POLÍTICA INCLUSIVA?..................................... 47
MARCELO HENRIQUE BASTOS
ASSUNÇÃO CRISTOVÃO
DOI: 10.47791/RGE/892716703
CAPÍTULO 4
Mitologias: Obras mitológicas na sociedade contemporânea. ........................... 67
ALOÍSIO FRANCISCO ROSA
CLÁUDIO NAZARÉ SILVEIRA
DOI: 10.47791/RGE/892716704
CAPÍTULO 5
AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA EM DIÁLOGO
COM A GERAÇÃO Z .............................................................................................................. 82
RENATA DA SILVA COSTA SOUZA
DANIELLE CRISTINA TEODORO DE SOUZA
MARILURDES CRUZ BORGES
DOI: 10.47791/RGE/892716705
CAPÍTULO 6
ANTIGUIDADE CLÁSSICA: o legado da Grécia à Roma .......................................... 93
CÁSSIA MARIANA NUNES
ANDERSON LUÍS VENÂNCIO
DOI: 10.47791/RGE/892716706
CAPÍTULO 7
THINK TANKS: conceito, origem e suas ações no cenário político brasileiro ....... 110
JÚLIA ROBERTA NAQUES
TALITA DE CARVALHO GUIRALDELLI VENÂNCIO
DOI: 10.47791/RGE/892716707
CAPÍTULO 8
AS INFLUÊNCIAS DA ARTE SACRA NA CULTURA CRISTÃ CONTEMPORÂNEA ....... 122
ROGER DE CARVALHO GARCIA
CLÁUDIO NAZARÉ SILVEIRA
DOI: 10.47791/RGE/892716708
CAPÍTULO 9
MILITARES, POLÍTICA E IMPÉRIO: A Gênese da Crise entre Monarquia
e Exército (1860/1870) ....................................................................................................... 136
ANDERSON LUIS VENÂNCIO
DOI: 10.47791/RGE/892716709
CAPÍTULO 10
A NATUREZA DIALÓGICA DO ENUNCIADO EM MIKHAIL BAKHTIN
E SUA CONTRIBUIÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS .............................................. 154
CLÁUDIA DE FÁTIMA OLIVEIRA
RICARDO BOONE WOTCKOSKI
SIMONE TAVARES DE ANDRADE
DOI: 10.47791/RGE/892716710
RESUMO
Em busca de compreender o valor interativo nos textos, entendemos que se
torna importante perscrutar arefacção (a retextualização) de um gênero textual
para outro como uma oportunidade de entender o processo de dinamicidade
linguística na comunicação humana. Assim, as reflexões sobre a prática de leitura
e interpretação direcionam a atividade interacional. Nosso trabalho tem como
objetivo, a partir de uma análise qualitativa e comparativa, apresentar a atividade
de retextualização entre gêneros distintos como processo formativo, educativo
e linguístico empreendido pelo cartunista norte-americano Robert Crumb em
sua história em quadrinhos (HQ) Gênesis, lançada em 2009, tendo como fonte o
livro do Gênesis da Bíblia Sagrada. A partir desta proposição, podemos constatar
que as estratégias linguísticas e interacionais pelo texto-base, aliadas à expressão
sincrética da HQ, permitem aos leitores uma corrente e significativa interação.
Como recorte, apresentamos análises de uma única parte do segundo capítulo
da HQ – a criação de Adão, comparando-os com os do texto-fonte. Este trabalho
advindo de uma pesquisa mais aprofundada, pautou-se de perspectivas teóricas
da Linguística Textual, por meio de enfoques da retextualização, advindos dos
estudos de Koch (2016), Marcuschi (2008), Cavalcante (2014), Bentes (2010),
Bakhtin (2011) e Dell’Isola (2007). Considerando a HQ como um texto
sincrético, pautamo-nos nos postulados teóricos sobre a linguagem dos
quadrinhos formulados por autores como Eisner (2010/2013), García (2012) e
Ramos (2016).
Palavras-chave: (Re)textualização. Histórias em Quadrinhos. Livro do Gênesis.
Robert Crumb.
9
ABSTRACT
In search of understanding the interactive value in texts, we understand that it
becomes important to scrutinize the refaction (retextualization) from one textual
genre to another as an opportunity to understand the process of linguistic dynamics
in human communication. Thus, reflections on the practice of reading and
interpretation direct the interactional activity. Our work aims, from a qualitative
and comparative analysis, to present the activity of retextualization between
different genres as a formative, educational and linguistic process undertaken by
the North American cartoonist Robert Crumb in his comic book (HQ) Genesis,
released in 2009. , having as source the book of Genesis of the Holy Bible. From
this proposition, we can see that the linguistic and interactional strategies by the
base text, allied to the syncretic expression of the comic, allow the readers a
current and significant interaction. As a cut, we present analyzes of a single part
of the second chapter of the comic – the creation of Adam, comparing them with
those of the source text. This work, arising from a more in-depth research, was
guided by theoretical perspectives of Textual Linguistics, through retextualization
approaches, arising from the studies of Koch (2016), Marcuschi (2008), Cavalcante
(2014), Bentes (2010), Bakhtin (2011) and Dell’Isola (2007). Considering the comic
as a syncretic text, we are guided by theoretical postulates about the language of
comics formulated by authors such as Eisner (2010/2013), García (2012) and
Ramos (2016).
Keywords: (Re)textualization. Comics.Bookof Genesis. Robert Crumb.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Sabe-se que o exercício da retextualização é uma prática
comum e que escrever continua sendo uma importante atividade
comunicativa do ser humano, após a fala, como defende Marcuschi
(2008) em seus pressupostos teóricos a respeito da retextualização.
Nesse sentido, precisamos nos atentar para a importância da
linguagem no processo de interação, buscando alternativas para a
efetividade na leitura, na compreensão, na interpretação e na
produção textual.
Segundo Dell’Isola (2007), a retextualização é um processo
de reescrita ou refacção textual, ou seja, uma transformação de um
gênero textual em outro, e tal processo envolve algumas operações
que tornam evidentes o funcionamento social da linguagem
enquanto interação comunicativa. Levando em consideração essa
10
perspectiva, a atividade de retextualizar ratifica a importância dos
gêneros textuais, promovendo habilidades e competências de leitura
e escrita, bem como a percepção de fatores sociais, históricos e
culturais.
O processo de retextualização, sem discordar das abordagens
científicas publicadas até o momento, é sem dúvida uma atividade
semelhante à tradução. Assim, a questão nesse caso é a observância
e análise de como um texto “primitivo” é capaz de se derivar em
outro, inclusive de gênero diferente, sem que se percam as
essencialidades (as equivalências) do lado textual, pelo processo de
refacção e reescrita.
Para este trabalho, elegemos como corpus um recorte menor do
segundo capítulo da história em quadrinhos (HQ) Gênesis, do
cartunista norte-americano Robert Crumb, que tem como texto-fonte
o livro do Gênesis da Bíblia Sagrada. A HQ e seu texto-fonte
pertencem a gêneros textuais distintos e, apesar de apresentarem a
mesma narrativa, têm propósitos diferentes de intencionalidade.
Enquanto o livro da Bíblia Sagrada tem uma função reveladora e
norteadora para os que creem em Deus, a HQ se apresenta como
uma versão de um texto “clássico” pelas mãos de um renomado
cartunista.
Sabemos que a leitura, bem como a interpretação de textos,
sempre esteve atrelada aqueles que de fato exercem tal prática e, em
outra perspectiva, menos praticada ou valorizada por outros.
Pensando em teorias mais claras e específicas, bem como modelos
de produtividade para serem aplicadas à prática discursiva, partimos
de dois pontos de interesse. O primeiro foi pensar em um texto que a
maioria das pessoas conhece e que, de certa forma, aprecia por
questões sociais, culturais e religiosas, tal como a Bíblia Sagrada. No
caso do segundo ponto, a decisão pelas histórias em quadrinhos, que
consideravelmente são também materialidades do pensamento
humano em formas artística, linguística e representativa do mundo
real que ratifica o processo formativo, educativo e linguístico –
temática deste e-book.
11
Partindo desses pontos, pretendemos mostrar como um
determinado texto, pertencente a um gênero específico, pode ser
reescrito em outro gênero, como também verificar como o corpus do
trabalho (uma HQ, fruto de um processo de retextualização) demanda
diferentes estratégias de leitura e interpretação. Destacaremos também
os sentidos produzidos por meio das modalidades de expressão
presentes no recorte do corpus, tais como as expressões comunicativas
e as ações das personagens empregadas na obra de Crumb,
relacionando-as ao texto-fonte.
Vale ressaltar que, segundo Koch e Elias (2015), um
determinado gênero textual pode assumir a forma de outro gênero,
tendo em vista o propósito de comunicação, evidenciando a
hibridização ou a intertextualidade intergenérica de texto. De acordo
com essa teoria, o leitor/receptor de um determinado gênero deve
estar atento à materialidade linguística, às palavras, se o texto for
unicamente verbal, bem como aos índices constitutivos do texto para
que a leitura seja profícua e confirme o propósito principal, que é
entender os enunciados.
Este trabalho está pautado em estudos da Linguística Textual,
da Linguagem dos Quadrinhos e da Retextualização. Para
compreender algumas perspectivas da textualidade, tomamos das
posições teóricas de Koch (2016), Marcuschi (2008), Cavalcante
(2014), Bentes (2010) e Bakhtin (2011), no que concerne à
intertextualidade. Atentando-nos ao referencial teórico para o
entendimento do processo de retextualização, utilizamos as obras de
Dell’Isola (2007) e Travaglia (2013). Considerando a HQ como um
texto sincrético, trabalhamos também com os estudos sobre a
linguagem dos quadrinhos formulados por autores como Eisner
(2010,2013), García (2012) e Ramos (2016). Cabe destacar que todo
o composto teórico possibilita entender as diferentes interfaces
textuais que reiteram a importância e a necessidade da compreensão
do nosso objeto de estudo em um processo formativo, educativo e
linguístico.
12
FIGURA 1 – CAPA DA HQ GÊNESIS POR ROBERT CRUMB1
13
Segundo Januário (2018, p. 41), a intertextualidade é
constitutiva de ideias que se relacionam entre si dentro de uma
sequência de evidências dialogais entre os textos diferentes, que se
aproximam pela copresença ou pela derivação. Isso ocorre num
repertório linguisticamente constituído de classificações e
potencialidades que efetivamente torna o diálogo entre textos uma
dinâmica comunicativa sendo imediata ou distante entre aspartes.
15
2. A (RE) TEXTUALIZAÇÃO: VALORES DIACRÔNICOS NA
INTERAÇÃO VERBAL
Segundo Januário (2018, p. 56 – 57), a linguagem existe desde
os primórdios da humanidade como instrumento constitutivo da
comunicação. Sua serventia está relacionada diretamente à
sobrevivência do indivíduo com o meio, fazendo parte integralmente
do nosso dia a dia e permeando grupos sociais instituídos de princípios
e valores significativos. Situando a importância do processo de
comunicação, ressaltamos aqui que a palavra, vocábulo que sofre
dificuldade de conceitualização por problemas de tradução e por estar
disperso e construído ao decorrer da obra de Bakhtin, é de suma
importância, uma vez que é a materialidade da língua em práticas
de linguagens dentro de um espaço/tempo que determina a
funcionalidade comunicativa e operacional das realizações textuais.
O contato inicial entre as pessoas se dá pela língua oral por ser
uma forma espontânea e de necessidade social ligada a um conjunto
de contextos possíveis. Tomemos do exemplo de Marcuschi (2008)
ao dizer em seus estudos que a língua, especificamente, a oral é
transformadora e permite o desenvolvimento de conhecimentos. Um
exemplo disso para salientar a especificidade apontada pelo
pesquisador é o choro da criança para indicar necessidades, como
instinto de sobrevivência, determinando assim o começo de
possibilidades comunicativas caracterizando outras modalidades de
correspondências como a prosódia, a gestualidade, os movimentos
do corpo e dos olhos e expressões fisionômicas.
A língua falada é consideravelmente privilegiada por apresentar
identidades culturais de seus falantes, dentro de uma imensa
diversidade do uso de uma mesma língua que, dialogicamente,
instaura-se no momento inicial de interação. Para Koch (2011, p.14),
essa perspectiva implica em um processo de coautoria, pelo simples
fato dos interlocutores estarem face a face e refletirem juntos a
materialidade linguística conjunta. Levando em consideração a ação
verbal conjunta da fala “face a face”, apresentada por Koch (2011),
também é de suma importância destacar que essas interações podem
16
apresentar um grau menor quando um dos interlocutores domina a
fala do outro sobre um tema em desenvolvimento. A pesquisadora,
tomando dos conceitos teóricos de Charaudeau e Maingueneau
(2004), nos apresenta tal ação comunicativa como turno de fala.
Atrelada à fala, sabemos ainda, a partir disso, que a escrita passou
a ser utilizada em outros veículos materiais até chegar finalmente ao
papel. A partir dos estudos feitos por Graff (1995), a cronologia da escrita,
parte de fato da Idade Média, com o surgimento da imprensa e as
traduções da bíblia feitas por Martin Lutero, teólogo que gradualmente
percebeu o avanço da ação material da língua em um processo exclusivo
para aqueles conhecidos como letrados. Ainda devemos ressaltar que a
escrita promove contextos sociais básicos da vida cotidiana, que em
paralelo à oralidade criam um dinamismo no processo de interação
verbal, sendo eles: (1) o trabalho, (2) a escola, (3) o dia a dia, (4) a família,
(5) a vida burocrática, (6) a atividade intelectual.
Para cada um dos contextos apresentados anteriormente, há
ênfases e objetivos, sendo os mesmos diferentes e estabelecidos como
parâmetros, o que propicia entender a escrita como ponto de partida
para produção de gêneros textuais distintos e seus respectivos
domínios.
Em se tratando da escrita a partir das reflexões anteriores,
percebe-se claramente que tal modalidade é reconhecida como
manifestação intelectual do letramento, evidenciando uma
aprendizagem social e histórica para fins utilitários em suas variadas
formas no processo comunicativo, pautada pelo padrão, sem que seja
acusada de ação ignóbil, como acontece com a oralidade.
Com base nas ideias anteriores e tomando-nos da teoria da
retextualização, Dell’Isola (2007) afirma que tal teoria, conhecida
também como reescrita e refacção de uma modalidade escrita para
outra, é um processo que envolve situações de funcionalidade da
linguagem. Tal operação evidencia influências históricas, sociais,
políticas, econômicas, culturais dentro de uma perspectiva de
reestrutura interacional entre participantes ativos de um mesmo
grupo. Seguindo uma estrutura normativa de retextualização, tendo
17
como base a teoria marcuschiana, tal processo indica a utilidade
comunicacional a partir de outras propostas de reescrita na
legitimação interacional, mantendo a ideia, o sentido, a intenção, o
conteúdo e o contexto. São várias as possibilidades de retextualização:
(1) de texto oral para texto oral; (2) de texto oral para texto escrito;
(3) de texto escrito para texto escrito; (4) de texto multimodal para
texto oral; (5) de texto multimodal para texto escrito; (6) de texto
não verbal para texto escrito, dentre outras. Segundo a pesquisadora,
a realização dessa atividade envolve tanto relações entre gêneros e
textos – o fenômeno da intertextualidade – as relações entre discursos
– a interdiscursividade, como podemos verificar na citação a seguir.
18
FIGURA 3 – PROCESSOS DE (RE) TEXTUALIZAÇÃO
19
inicial de leitura e interpretação, por fim, de produtividade, uma
vez que um texto preciso é analisado. Infere-se então a ideia de que
cada texto é único, individualizado. Sendo assim, a retextualização
também apresenta um caráter particular, individual do
“retextualizador”.
2
Entende-se que são aqueles que envolvem o uso de diferentes linguagens. Neste sentido, a maioria
dos gêneros que circulam socialmente são multissemióticos, pois envolvem no mínimo a linguagem
verbal e a visual (fotos, ilustrações, cores). Um poema visual, por exemplo, configura-se como um
texto verbo-visual.
3
Atividades que propõe uma nova compreensão da dinâmica do processo social de construção da
identidade do indivíduo/pessoa humano a partir dos atos de fala e/ou comunicação escrita, seja
factível ou em aspecto de verossimilhança (no caso da literatura e similares).
21
4. ROBERT CRUMB E SUA (RE)TEXTUALIZAÇÃO: UM PROCESSO
FORMATIVO, EDUCATIVO E LINGUÍSTICO
Robert Crumb teve uma infância e adolescência conturbadas,
em um cenário de violência doméstica e contato com drogas, bebidas
e anfetaminas. Ele nasceu em 30 de agosto de 1943, na Filadélfia,
Pensilvânia, nos Estados Unidos da América. Filho de Charles
Crumb e Beatrice como um de seus cinco filhos. Seu pai era ilustrador
de combate no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. Seus
pais tiveram um casamento infeliz por causa do qual os filhos
sofreram. Ele adorou as animações de Walt Kelly e Fleischer Brothers
e começou a desenhar seus próprios quadrinhos junto com seus
irmãos.
Segundo Robert Hyghes (2010), crítico de arte da revista Time,
da vida suburbana, o que mais marcou a vida do cartunista foram
suas experiências psicodélicas com os hippies de São Francisco e
que, por meio delas, encontrou sua maneira de expor seus
sentimentos e revoltas acumuladas durante as fases anteriores à fase
adulta. Estimulado por esse contexto, Crumb produz suas obras
trazendo à tona um humor negro, permeado por situações bizarras
e pelo sarcasmo. Essas características ganham forma e conteúdo
em suas revistinhas e a sociedade e o status quo, de modo geral,
tornam-se os alvos de suas provocações. Os trabalhos do cartunista
tiveram visibilidade durante a década de 1960, quando Crumb se
integra ao movimento de contracultura que estava se formando nos
EUA. Embora parecesse uma decisão imprudente na época, isso
provaria ser essencial na carreira do cartunista. Dentre os trabalhos
de Crumb nesse período, destacam-se a tira Keepon Truckin; o
personagem “Mr. Natural”, um guru espiritual que era contra os
princípios morais; e “Fritz The Cat”, um gato antropomórfico que
tinha uma vida lasciva. Tendo essas produções em mãos, Crumb
mostra à sociedade seus interesses intersubjetivos, suas críticas e
sátiras presentes em suas HQs.
Após a breve biografia do cartunista Crumb, passamos para as
análises do recorte selecionado.
22
Tanto a refacção quanto a equivalência das linguagens estão
atreladas ao fator de intertextualidade que designa um conjunto
de relações entre textos que se faz evidente. É um fenômeno
linguístico pertinente à textualidade que contribui para a
constituição de uma unidade progressiva e factível no processo
de interação comunicativa. Tomando-nos das análises a seguir,
verificamos que além da refacção textual, ou seja, alterações
vocabulares do texto-fonte para o texto-derivado, a equivalência
das linguagens expressamente explícitas se adornam a um estilo
de produtividade do autor. Tais relações entre a imagem de Deus
e os compostos verbais de ambos os textos representam
mimeticamente contextos “reais” de acordo com a história bíblica,
ao mesmo tempo em que evocam conhecimentos de mundo, os
quais são compartilhados com o leitor.
Para que possamos verificar a dialogia entre os textos e o
valor de retextualização como processo formativo, educativo e
linguístico, apresentamos o seguinte recorte retirado de uma
pesquisa maior com o objetivo de adequarmos ao formato de
artigo. Para tanto, as relações entre os textos são perceptíveis no
texto-fonte e no texto retextualizado, permitindo ao leitor a
depreensão da passagem bíblica em questão sem prejuízo de
interpretação.
Ademais o recorte que apresentamos, evoca o fenômeno da
inter textualidade – quanto relações entre discursos – a
interdiscursividade. Sob este aspecto, explicitamente apresentado
no processo, o leitor passa a refletir sobre as regularidades
linguísticas, textuais e discursivas dos gêneros envolvidos e passa
a entender a organização das informações dos textos em questão
que efetivamente reforçam o princípio interacional, comunicativo.
Vejamos estes aspectos na tabela 1 a seguir e como a atividade
de retextualização acontece por ancoragens linguísticas.
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TABELA 1 - TEXTO-FONTE (BÍBLIA SAGRADA DO REI JAMES) E GÊNESIS,
DE ROBERT CRUMB (PÁGINA 15)
TEXTO-FONTE TEXTO-RETEXTUALIZADOGÊNESIS DE
BÍBLIA SAGRADA ROBERT CRUMB – página 15
DO REIJAMES
24
O texto-fonte traz no versículo 2:4 “Esta é a história do início
da humanidade, no tempo em que Yahweh Deus criou o Céu e a
Terra”. Já o texto retextualizado por Crumb, temos “Tal é a história
dos céus e da terra, de quando eles foram criados”. Nota-se que o
termo “humanidade”, presente no texto-fonte foi suprimido no texto
retextualizado por Crumb. Isso se deve ao fato, segundo a história
bíblica, de não existirem seres viventes humanos na passagem em
questão. O artista obedece de fato à progressão discursiva bíblica.
Por mais que as personagens tenham sido apresentadas nas páginas
14 e 15 de sua obra, estas apresentações são apenas uma antecipação
do que terá por vir na sequência narrativa. Esta estratégia de
composição auxilia os leitores a entenderem a história da criação,
bem como depreender as significações entre o verbal e o visual.
Verificamos que as partes verbais entre os textos (texto-fonte e
texto retextualizado) sinalizam seus componentes linguísticos e
visuais.
Na tabela 1, Crumb une os versículos em duas progressões
discursivas. Na primeira, acima dos quadrinhos em uma sequência
horizontal, Deus está satisfeito com a criação, o que de fato abre o
segundo capítulo da obra de Crumb. Na sequência, o artista cria três
quadros estabelecendo uma relação efetiva entre o verbal e visual,
pois as situações representadas nas imagens reforçam o que é expresso
verbalmente no texto bíblico.
Espera-se que o leitor ao ler a parte escrita e a visual possa
atentar-se às duas dimensões comunicativas que se alinham,
propondo a ativação da memória e dos conhecimentos de mundo e
partilhados para uma efetiva interpretação do início da narrativa
bíblica, no que se compreende a criação da vida humana.
Segundo Eisner (2010, p.19), nas HQs, a imagem e a palavra
apresentam o mesmo peso e se complementam constituindo uma
linguagem acessível para o entendimento do leitor. Crumb ao ilustrar
as cenas da tabela 1 robustece a teoria de Eisner. As linguagens verbal
e visual se complementam numa representação quase “documental”
sobre o que pode ser imaginado como a história da criação.
25
Segundo Januário (2018, p. 119), cabe ressaltar aqui a importância
da retextualização, tendo como peculiaridade os requadros da página
da HQ. Atentando-se à página 15, é perceptível a ausência de moldura.
Para Eisner (2010), o ato de enquadrar ou moldurar a ação não só
define seu perímetro, mas estabelece a posição do leitor em relação às
cenas e pode indicar a duração do evento, que neste caso é o tempo
presente. O leitor passa a perceber a materialização “dos feitos” de
Deus que são expressos nos quadrinhos 2 e 3 da página 15, sendo:
Deus, de braços cruzados, contemplando Adão e Eva que interagem
com as outras criaturas e, recostado em uma árvore com semblante
sereno, de olhos fechados, conotando a satisfação e/ou a ideia de “dever
cumprido”. Crumb, ao apresentar as personagens e a interação dos
mesmos em uma determinada sequencialidade (os três primeiros
quadrinhos da página 15), oferece ao leitor a depreensão de que as
cenas possuem maior duração de tempo. Este indicativo pode ser
devidamente verificado a partir das locuções adverbiais apresentadas
nas seguintes passagens do texto-fonte e no texto retextualizado,
respectivamente: “Houve, assim, à tarde e a manhã: esse Foi o sexto dia” e
“E houve uma tarde e houve uma manhã, o sexto dia”.
Ainda, segundo Januário (2018, p. 119 – 121), os versículos 2:6
e 2:7 do texto-fonte e os quadrinhos 3 e 4 do texto retextualizado,
verificamos a presença de analepsis4, a interrupção de uma sequência
cronológica narrativa pela interpelação de eventos ocorridos
anteriormente, neste caso, a criação do homem, como um ser vivente.
É, portanto, uma forma de anacronia, ou seja, uma mudança de plano
temporal que apresenta a relevância da temática e ressalta o valor da
memória do narrador.
Os elementos narratológicos apresentados anteriormente, bem
como os demais de toda a HQ de Crumb, podem ser depreendidos
4
A analepse é um recurso narratológico conhecido como “flashback” (de volta ao passado) usado em
narrativas literárias com o objetivo de criar um suspense ou efeito dramático mais forte na história,
ou ainda, para desenvolver um personagem, dando-lhe mais destaque.
5
As HQs de modo geral são textos híbridos por apresentarem os requadros e falas em balões, que
representam a sequência de ações e falas das personagens. A hibridização é verossímil e dinâmica no
processo comunicativo das HQs, oferecendo ao leitor evidências de elementos estruturantes de
diferentes gêneros textuais.
26
pelas linguagens verbal e visual, que evidenciam o processo de
retextualização e a importância da situacionalidade defendidos por
Travaglia (2013, p.130-131) ao afirmar que tal processo e fator de
textualidade influenciam na recepção da mensagem apresentada ao
leitor, referindo-se a compostos devidamente instituídos de valores,
tomados de elementos de estrutura textual que são diluídos e propõem
a contextualização. Devemos entender que os quadrinhos
apresentados em nosso corpus apresentam duas linguagens distintas
com seus respectivos elementos de estrutura, formando textos
híbridos5 em uma convenção narrativa histórica, social e cultural.
O que salientamos neste tópico são as possibilidades de entender
melhor a sequência narrativa do recorte proposto e compreender
como funcionam seus elementos constitutivos dentro de um plano
explícito ou implícito de ações.
O plano explícito está na associação entre o verbal (texto-fonte)
à esquerda e o texto-derivado não verbal (à direita), enquanto o plano
implícito está no processo de interpretação do leitor ao fazer as
devidas associações e perceber as equivalências entre os elementos
linguísticos dos textos.
Com base na assertiva anterior, verificamos a intencionalidade
e aceitabilidade do texto-fonte e do texto derivado. Em ambos, o
repertório linguístico e visual são claros e concisos para o leitor, sem
que haja suspeitas ou questionamentos quanto à temática
apresentada, pois o conteúdo é símile. É verificável que a
retextualização do verbal feita por Crumb é diferente, mas o composto
vocabular obedece à transmissão sinonímica do repertório narrativo
bíblico. Quanto à consistência e a relevância entre os textos
comparados na tabela 1, os mesmos apresentam enunciados verbais
e elementos visuais que se articulam em uma segmentação lógica,
conferindo ao leitor a interpretabilidade, o que ratifica o estilo e a
forma presentes na HQ.
27
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou promover uma reflexão sobre a atividade
da retextualização que, consequentemente, reforça a importância da
leitura, compreensão e interpretação, a partir dos conhecimentos
teóricos apresentados que possibilita o desenvolvimento das
habilidades e das competências do leitor.
Após análises feitas e apresentadas neste trabalho, sobre a
temática da retextualização, verificou-se que o gênero HQ permite
algumas possibilidades e estratégias de leitura e interpretação, que,
consequentemente, recai na escrita, priorizando a participação ativa
entre os interlocutores, o que promove a realização de um trabalho
coletivo, encurtando as distâncias entre emissor-autor, voz do texto e
receptor-leitor.
Assim, este trabalho considerou reflexões como um ponto de
partida para novas possibilidades de retorno ao tema. O campo de
pesquisa para as histórias em quadrinhos ainda é vasto, possibiltando
novas perspectivas de análises sobre a temática proposta no âmbito
educacional ou linguístico. Ambos os campos oferecem elementos
capazes de enfatizar valores de dinamicidade e dialogia entre textos,
permitindo com que o desenvolvimento cognitivo aconteça de
maneira gradativa, reflexiva e criativa, por parte do leitor. Assim,
entendemos que a atividade da retextualização faz parte de um
processo formativo, educativo e linguístico.
AGRADECIMENTO
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES)
– Código de Financiamento 001.
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REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. Tradução Paulo Bezerra. 5. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2010.
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TRAVAGLIA, N. G. Tradução retextualização: a tradução numa perspectiva
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30
CAPÍTULO 2
RESUMO
A ocorrência do sintagma “globalização”, tomado como exemplo desse
funcionamento formulaico que uma palavra ou expressão pode assumir, é o que
nos leva, então, a tomar para nossa pesquisa o ponto de partida segundo o qual o
estatuto de fórmula para o sintagma nos propomos a analisar, ou seja, a
globalização. Para além disso, cabe inserir as reflexões propostas por Milton Santos
a respeito das incongruências do processo de globalização.
Palavras-chave: Análise do discurso; sintagma; globalização.
ABSTRACT
The occurrence of the phrase “globalization”, taken as an example of this formulaic
functioning that a word or expression can assume, which leads us, then, to take for our
research the starting point according to which the status of formula for the phrase we
propose to analyze, that is, globalization. In addition, it is worth inserting the reflections
proposed by Milton Santos regarding the inconsistencies of the globalization process.
Keywords: Discourse analysis; syntagma; globalization.
INTRODUÇÃO
Em sua tese de doutorado intitulada Émergence et emplois de la
formule “purification éthnique” dans la presse française (1980-1994), une
analyse du discours, Krieg-Planque (2000) apresenta um estudo da
circulação do sintagma “purificação étnica” e suas variações, como
“limpeza étnica” e “depuração étnica”, nas mídias francesas e
internacionais, no período da guerra da ex-Iugoslávia. Os resultados
desse estudo e sua análise dão origem à obra “Purification éthnique”:
une formule et son histoire (KRIEG-PLANQUE, 2003).
31
A partir da tradução do livro para o português, no Brasil, diversas
pesquisas foram realizadas, tanto para investigar como determinados
sintagmas se consolidam como fórmulas discursiva, quanto para
estudar a circulação de fórmulas já consagradas, como é o caso de
“globalização”, citada como exemplo de fórmula discursiva por Krieg-
Planque (2010). Facin e Freitas (2012), por exemplo, apresentam uma
pesquisa sobre a fórmula discursiva “sustentabilidade” inscrita em
anúncios publicitários, divulgados em número especial da revista Veja
de 2011, com o objetivo de analisar de que modo o conceito de
sustentabilidade se consolida nesse gênero discursivo. Trata-se,
portanto, de um estudo que não objetiva discutir a ocorrência ou não
de uma fórmula, mas de partir de um sintagma já entendido como
fórmula discursiva e investigar seu percurso em determinado corpus.
Mas esse não é o tipo de pesquisa mais comum em se tratando do
conceito de fórmula tal como entendido por Krieg-Planque (2010).
Geralmente, os pesquisadores discutem sobre a possibilidade de se
pensar ou não um determinado sintagma como uma fórmula discursiva,
a partir do exame de como o referido sintagma preenche, mesmo que
parcialmente, as propriedades que constituem uma fórmula discursiva.
Considerando o exposto, entendemos que a proposta teórico-
metodológica de Krieg-Planque (2010) sobre a noção de fórmula
discursiva, pode ser empregada em pesquisas para análise discursiva
de diversos corpora, ampliando, assim, as possibilidades dos analistas
de discursos, notadamente daqueles que lidam com os campos
políticos, midiáticos e institucionais em geral.
Os sentidos de “globalização” nesta análise serão tomados em
relação ao pensamento do geógrafo Milton Santos1 (2006, 2015), cujos
1
Milton Santos (1926-2001) foi bacharel em Direito (UFB, 1948) e doutor em Geografia(Universidade de
Strasbourg,1958). Em um momento em que a Geografia ainda estava em estado germinal como ciência no
Brasil, foi um dos responsáveis pela estruturação do conhecimento geográfico na academia brasileira,
considerado, portanto, um dos pioneiros do campo da Geografia nacional. Lecionou em diversas universidades
brasileiras e estrangeiras e, mesmo depois de aposentado, continuou a lecionar na USP, onde ingressou em
1984. O Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal) sedia a Cátedra Milton Santos,
dedicada a estudos e pesquisas na área. Autor de várias obras que tratavam de temas como a economia
urbana dos países em desenvolvimento; a renovação da Geografia como ciência; os estudos do meio técnico-
cientifico-informacional e a globalização, em 1994, Santos recebeu o Prêmio Internacional de Geografia
Vautrin Lud,uma espécie de Nobel da especialidade, atribuído por universidades de vários países.
32
textos sobre o tema consideraremos corpus de referência para a
pesquisa, daí a perspectiva de uma análise interdiscursiva.
2
Campanhas de 1970, 1974 e 1977, nos três plebiscitos os cidadãos se pronunciaram contra a
limitação de imigrantes na Suíça.
33
uma fórmula assemelha-se a um referente social, isto é,
um signo que significa alguma coisa para todos em um
momento dado. Ao dizer que “Überfremdung” e
“Xenofobia” são referentes sociais, entendemos que, nos
anos 1960-1980, qualquer locutor, individual ou coletivo,
sabia ou pretendia saber o que “significavam” essas
fórmulas (FIALA & EBEL, 1983, apud KRIEG-
PLANQUE, 2010, p.53).
36
O caráter discursivo da fórmula é o que resulta, na
sequência, de uma certa utilização, seja ela concomitante
ou posterior ao aparecimento dessa sequência na língua.
Essa utilização varia de uma fórmula a outra. Ela deve,
no entanto, reunir duas propriedades constitutivas da
fórmula: seu caráter de referente social e seu caráter
polêmico, duas propriedades que apreendemos como
independentes (KRIEG-PLANQUE, 2010, p.90).
37
2010, p. 99) ressaltam que o caráter polêmico é indissociável do caráter
de referente social, pois quando há um território partilhado há
polêmica, ou seja, a fórmula é objeto de polêmicas porque é portadora
de questões sociopolíticas. Krieg-Planque (2010) entende que a
fórmula tem um caráter histórico, devido ao fato de se constituir como
um referente social em um espaço público e, por isso, ser objeto de
debate e carregar questões polêmicas.
Considerando que uma fórmula raramente participa de um
único processo discursivo e, durante os debates, concentra várias
questões, quase sempre se insere em polêmicas variadas. E ainda,
38
enunciado “bem talhado e apto a chamar atenção; ela pode ser um
adágio, um provérbio, um ditado, uma sentença; ela pode ser uma
possibilidade, o elemento de uma alternativa (a fórmula federalista, a
fórmula centralizadora)” (KRIEG-PLANQUE, 2010, p.110).
As propriedades, expostas anteriormente, são precisas,
entretanto a fórmula se situa num continuum, pois a noção de fórmula
é aproximada. Conforme uma sequência se constitui, mais ou menos,
de cada uma das quatro propriedades que a caracterizam, ou seja, é
gradual e, até mesmo desigual, por exemplo, cristalização forte, mas
caráter polêmico fraco. Portanto, não são mensuráveis em termos de
presença ou ausência de cada propriedade, mas sim em termos de
ser mais ou menos bem preenchida:
39
expressões contribuem, ao mesmo tempo, para construir.
Assim, por exemplo, podemos considerar que formulações
como “mundialização/globalização”, “mundializar/
globalizar” [...] etc. constituem as variantes de uma mesma
fórmula – “mundialização” – cujo estudo seria útil para
compreender o modo pelo qual os debates sobre o estado
das relações sociais se desenvolveram na virada do século
XX para o século XXI (KRIEG-PLANQUE, 2010, p. 9).
40
além disso, tudo aquilo em que ainda não nos tornamos,
ou seja, tudo aquilo que a nós mesmos nos projetamos como
seres humanos, por intermédio dos mitos, das escolhas,
das decisões e das lutas” (SANTOS, 2015, p.168).
41
lado, interpretações da história a partir da política. Na
realidade, nunca houve na história humana separação entre
as duas coisas. As técnicas são oferecidas como um sistema
e realizadas combinadamente através do trabalho e das
formas de escolha dos momentos e dos lugares de seu uso.
[...] Só que a globalização não é apenas a existência desse
novo sistema de técnicas. Ela é também o resultado das
ações que asseguram a emergência de um mercado dito
global, responsável pelo essencial dos processos políticos
atualmente eficazes (SANTOS, 2015, p. 24).
5
“Estas funcionam a partir de uma fragmentação, já que um pedaço da produção pode ser feita na
Tunísia, outro na Malásia, outro ainda no Paraguai, mas isto apenas é possível porque a técnica hegemônica
de que falamos é presente ou passível de presença em toda a parte” (SANTOS, 2015, p.26).
43
Como visto, o período histórico atual dispõe de uma unicidade
técnica marcada pela convergência dos momentos, que permite ações
igualmente globais. Segundo Santos (2015), durante o imperialismo
existiam diversos motores do capitalismo, cada qual com suas
especificidades, gerenciavam suas ações seguindo modelos que
consideravam mais adequados para cada país. Atualmente, podemos
falar de uma mais-valia à escala mundial que atua como um motor único
e não mais vários motores do capitalismo atuando independentemente:
44
lugares, que incluem condições físicas, naturais ou
artificiais e condições políticas. As empresas, na busca da
mais-valia desejada, valorizam diferentemente as
localizações. Não é qualquer lugar que interessa a tal ou
qual firma. A cognoscibilidade do planeta constitui um dado
essencial à operação das empresas e à produção do sistema
histórico atual (SANTOS, 2015, p. 33).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É evidente que o processo de globalização é irreversível. São
inegáveis os benefícios trazidos por esse processo, tais como:
45
conectividade, rapidez no fluxo de informações, facilidades nos
transportes e comunicação, intercâmbios culturais e, claro, geração
de riqueza. Porém, é nisso que está o principal entrave trazido pela
globalização: a concentração excessiva e aviltante de riqueza nas mãos
de uma minoria. Além disso, a melhoria no fluxo de informação não
significa, em grande parte dos casos, em melhoria do conhecimento.
O paradoxo imposto pelo atual modelo de globalização está no fato
de que nunca foi tão fácil produzir riqueza e mesmo assim a maior
parte do mundo continuar pobre. Isso é mais evidente nos países que
não conseguiram ainda alcançar um patamar elevado em pesquisa e
desenvolvimento. Se tirarmos a maquiagem, veremos que a
globalização não é tão bela quanto parece.
AGRADECIMENTO
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES)
– Código de Financiamento 001.
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SENE, Eustáquio de. Globalização e espaço geográfico. 4 ed. São Paulo:
Contexto, 2012.
46
CAPÍTULO 3
RESUMO
Neste artigo, foi apresentada uma reflexão acerca de um acontecimento
histórico que marcou profundamente a comunidade surda e os movimentos
sociais que lutavam para serem reconhecidos os direitos linguísticos dos surdos.
Referido momento se materializou com a aprovação e promulgação da lei nº
10.436/02 que significou um novo olhar a este grupo minoritário. Dessa forma,
estabeleceu-se a Língua Brasileira de Sinais como a primeira língua do surdo
para que este possa ter a possibilidade de interagir e participar de uma
sociedade majoritariamente ouvintista. Decorridos vinte anos da aprovação
da lei de Libras evidencia-se a implementação e a oferta de interlocutores no
ambiente educacional e isso, sem dúvida, é um ganho para o aluno surdo em
seu processo de aprendizagem. Entretanto, a partir de trabalhos recentes,
também foi possível verificar que uma inclusão de fato ainda não ocorreu,
posto que a interação entre alunos surdos e ouvintes e, até mesmo com os
professores regentes da sala regular apresenta-se falha, o que não contribui
para um processo educacional bilingue.
Palavras-Chave: Surdez. Libras. Educação. Inclusão.
ABSTRACT
In this article, a reflection was presented on a historical event that profoundly
marked the deaf community and the social movements that struggled to have
the linguistic rights of the deaf recognized. That moment materialized with the
approval and enactment of Law nº 10.436/02, which meant a new look at this
minority group. In this way, the Brazilian Sign Language was established as the
first language of the deaf so that they can have the possibility of interacting and
participating in a mostly hearing society. Twenty years after the approval of the
Libras law, the implementation and the offer of interlocutors in the educational
environment are evident, and this is a gain for the deaf student in his learning
process. However, from recent works it was also possible to verify that an
inclusion in fact has not yet occurred, since the interaction between deaf and
47
hearing students, and even with the teachers in charge of the regular classroom
is flawed, which does not contribute to for a bilingual educational process.
Keywords: Deafness. Libras. Education. Inclusion.
INTRODUÇÃO
O interesse em desenvolver este artigo relaciona-se a um
acontecimento que marcou profundamente a memória e a história
da comunidade surda e seus militantes.
A comunidade surda, os movimentos sociais e os militantes da
causa ideológica (Libras) viram suas reivindicações e lutas se
materializarem em uma política de libertação linguística no dia 24
de abril de 2002, reconhecendo, desta maneira, a Língua Brasileira
de Sinais como a primeira língua do surdo. Diante deste
reconhecimento linguístico e cultural, o surdo passa a ser um sujeito
que estabelece sua interlocução por intermédio de um canal
comunicacional diferente. (HOFFMEISTER, 1999; JOKINEN,
1999; MOURA, 2000; SKLIAR, 2001; SÁ, 2002)
Portanto, o surdo não é um ser em falta em déficit que precisa
ser corrigido a fim de se adaptar à sociedade ouvintista, mas sim, um
indivíduo que se comunica e interage por meio da Língua de Sinais
que é distinto da interlocução oralista e ouvinte. Brito (2013, p.11)
enfoca que:
50
LIBRAS - LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – UM BREVE HISTÓRICO
Para discorrer a respeito da Língua de sinais no Brasil, é preciso
compreender e refletir todo o processo histórico de construção, luta
e afirmação desta, como uma língua natural do surdo e não uma
mera simplificação de gestos, códigos e mímicas.
A legitimação desta língua ainda encontra barreiras que se
configuram na falta de conhecimento, na dominação da língua oral
e no preconceito para com esse grupo minoritário (surdo). (SÁ, 2002).
A consciência cultural e identitária deste grupo trouxe a
autoestima necessária para o embate na busca por seu direito linguístico,
posto que, a conquista da Libras (Língua Brasileira de sinais) se efetivou
mediante o enfrentamento e engajamento das associações de surdos e
a superação da excludência desta comunidade que foi e, ainda é tratada
com indiferença. Monteiro (2006, p. 295) aponta que:
55
IX - comunicação: forma de interação dos cidadãos que
abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua
Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o
Braille, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil,
os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim
como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas
auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios
e formatos aumentativos e alternativos de comunicação,
incluindo as tecnologias da informação e das
comunicações. (Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000).
57
Neste esquema de tramitação o projeto de lei é apresentado ao
Senado no ano de 1996, posteriormente, segue para a comissão de
Educação (CE) em junho de 1997. Logo após é discorrido na
Comissão de Assuntos Sociais (CAS) onde se destaca o parecer
favorável nº 574 em 1998. Neste momento, o projeto de lei é
denominado Parecer 574/98, posto que, seria necessário promover
algumas alterações.
Em novembro de 1998, o Parecer vai ao plenário para leitura e
apreciação e em dezembro do mesmo ano encerra-se esta primeira
etapa com o encaminhamento a Câmara dos Deputados para revisão.
(Brito, 2003)
58
Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), onde o Projeto de
Lei também recebe parecer favorável e aprovação com emenda da
(CEC).
No ano de 2001, passa pela Comissão de Constituição e Justiça
e de Cidadania (CCJC), onde apresenta parecer favorável e aprovação
ao Projeto de Lei 4857/98 com emenda da (CEC). É também
aprovada pela CCJC a Redação final do citado Projeto de Lei.
Finaliza-se, assim a primeira etapa de aprovação do PL. No mesmo
ano é despachado com emenda ao Senado Federal. (BRITO 2003)
METODOLOGIA
Como metodologia para o presente artigo, optou-se pela
pesquisa bibliográfica. De acordo com Gil (2002 p. 44)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na dissertação de 2020, o pesquisador entende que ainda não
ouve uma efetiva comunicação entre surdos e ouvintes e, que apesar
da Lei ser de 2002, ainda se encontra incipiente em termos de
efetividade.
Sendo que pouco se avançou no processo de inclusão do surdo
na sociedade ouvinte, ainda existem surdos que não sabem Libras e
61
poucos pares para a comunicação na Língua de sinais. Percebe-se
que o contato ouvinte com a primeira língua dos surdos ainda é muito
básico e que, portanto, a vivência do surdo, solitária.
Entende que seu trabalho contribuirá para a reflexão e que,
dessa forma, poderá contribuir para uma comunicação mais efetiva,
além da vivência de um novo momento social para a Libras.
Na dissertação de 2021, a pesquisadora percebe que a barreira
linguística ainda é um complicador para a educação dos surdos e
que falta uma centralização da Libras no ensino das crianças surdas
no contexto escolar, visto que, o cenário bilingue apresenta falhas e
falta de suporte estrutural.
O vínculo social é comprometido por falta de pares linguísticos,
ou seja, a ausência de interação entre os surdos. Também enfatiza as
necessidades de mais pesquisas na educação de crianças surdas e
que o aprofundar da Libras é necessário para experiências e relações
sociais na constituição de sujeitos surdos.
Na dissertação de 2022, há o enfoque de que a língua natural
do surdo é a Libras e que esta tem características próprias (visual,
motora e manual) e que hoje começa a existir mais interesse na
singularidade linguística. Porém, por meio desta pesquisa,
compreendeu-se que a escola muitas vezes não oferece recursos
estruturais para as reais necessidades dos alunos.
De acordo com a pesquisadora, o governo precisa oferecer mais
capacitação e qualificação aos profissionais da educação. O não
comprometimento na oferta de estrutura pode causar uma visão
negativa do surdo e que, apesar do discurso de igualdade, a falta de
estrutura reforça as diferenças.
Enfoca que as bases legais contemplam as necessidades do aluno
surdo, entretanto, as ações cotidianas das instituições dificultam a
aplicação da Lei no processo inclusivo do surdo. Assim, sem a
efetivação da Libras fica difícil a concretização do ensino bilingue
garantido por força das Leis.
Diante da análise destes dados, é possível compreender que o
processo de inclusão do aluno surdo ainda passa por problemas
62
estruturais e humanos (formação e qualificação), além da incipiente
difusão da Libras. Portanto, ainda falta uma real implementação das
legislações inclusivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No percurso deste artigo compreendemos que um conjunto de
leis bem elaborado e estruturado é essencial para que se possa garantir
os direitos e a cidadania do sujeito surdo, principalmente, por se tratar
de um conjunto legal marcado pela luta e obstinação deste grupo
minoritário. Grupo este que buscou sua subjetividade e peculiaridade
linguística em um mundo condicionado ao ouvintismo e ao oralismo.
A conquista precisa ser comemorada, entretanto, a busca pela
implementação e fiscalização da Libras precisa ser recobrada a todo
momento e, em todos os seguimentos sociais. É preciso entender
que a tensão secular dos grupos linguísticos majoritário e minoritário
não se extinguiu totalmente e, dessa forma, é preciso vigilância para
que não se tenha apenas uma legislação simbólica e “engavetada”
(DIAS, 2006).
A luta pela legitimação dos direitos garantidos pela Lei Nº
10.436/02 e Decreto nº 5.626/05 exigem das comunidades surdas e
movimentos sociais recobradas ações de defesa das políticas públicas
inclusivas.
Estas ações políticas defendidas pelos grupos são para que o
surdo possa viver no interior da sociedade ouvinte com garantias de
acesso a todas às informações, à educação de qualidade e à plena
participação social.
Para se vislumbrar o cenário descrito anteriormente é preciso
que o aluno surdo tenha uma escola que o acolha e saiba enxergar as
diferenças linguísticas, além da necessidade da difusão da Libras entre
seus pares (surdos) que, muitas vezes, não a conhece.
A difusão da Libras é de suma importância para que a mesma
possa romper as barreiras da comunicação e, assim se torne presente
na escola e na sociedade como um todo. Esta base de interação
comunicacional entre surdos e ouvintes contribuirá para a construção
63
de uma sociedade mais inclusiva onde a deficiência se tornará
diferença.
Entretanto, de acordo com as pesquisas recentes analisadas
neste trabalho mesmo, decorridos vinte anos da aprovação da lei de
Libras, a efetivação e a difusão da mesma ainda se encontra
preambular no ambiente educacional. Ambiente este que marca um
cenário pouco inclusivo.
Esta situação ainda embrionária do contexto educacional advém
da falta de estrutura e de políticas educacionais afirmativas, para que
dessa forma se rompa o processo pedagógico segregacionista.
Embora tenham existido sinais de melhora de acordo com as
pesquisas analisadas, tal situação ainda é insuficiente para uma real
integração dos alunos surdos nas instituições de ensino, que é
majoritariamente ouvinte.
O ambiente educacional bilingue atual apresenta falhas que se
manifestam na formação e qualificação do corpo docente, além do
desconhecimento da Libras por parte dos alunos ouvinte e até mesmo
surdos.
A situação descrita contribui para que a interação do surdo no
interior da escola seja deficitária, o que acentua um processo de
exclusão.
Diante deste cenário histórico de conquistas e insucessos para
o processo de inclusão do aluno surdo, os questionamentos que nos
levaram a esta pesquisa foram a princípio esclarecidas, porém, aberta
a novas reflexões mais apuradas.
AGRADECIMENTOS
Apoio: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – BRASIL (CAPES) – Código de Financiamento:
88887.673590/2022-00).
64
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do Congresso Nacional.
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Piracicaba.
66
CAPÍTULO 4
RESUMO
Sob o viés das tecnologias, as mitologias são recriadas na sociedade por meio de
conceitos inovadores, encontrando várias formas de distribuir seu conteúdo para
serem contadas e readaptadas ao público e ao mercado. Ao falar em mitologias
na atualidade, estamos nos referindo a uma variedade de informações que
evoluíram juntamente com a sociedade. Assim, é possível compreender as razões
pelas quais esse tema permanece tão relevante nesse momento em que a tecnológica
teve seu avanço expoente. Observando os trabalhos apresentados dentro da cultura
cinematográfica, literária e da indústria de jogos eletrônicos, deparamo-nos
também com um universo de contos recém-criados, que levam em conta a
adaptação de mitos antigos, se fixando como outros modos de visitar as mitologias.
Considerando os apontamentos relevantes feitos por autores como Leonardo
Campos, Carlos Giovane Dutra Del Castilho e Igor Barbosa Cardoso, em
associação à Maria Cecília de Miranda Nogueira Coelho, responsáveis por colher
informações das inserções mitológicas na literatura e demais mídias, podemos
confirmar que a transformação desse tema aconteceu de fato, mas mantendo seu
cerne intacto. Atribuindo os trabalhos desenvolvidos através de novas pesquisas,
tendo em mente a variedade do público, as mitologias alcançaram um maior
interesse e, com isso, veio também a oportunidade de se destacar ainda mais na
história, dentro dos meios de comunicação existentes atualmente.
Palavras-chave: Mitos; Obras mitológicas; adaptações de mitologias; construção
cultural; mitologia grega.
ABSTRACT
From the perspective of technologies, mythologies are recreated in society through
innovative concepts, finding various ways to distribute their content to be told
and re-adapted to the public and the market. When talking about mythologies
today, we are referring to a variety of information that has evolved along with
society. Thus, it is possible to understand the reasons why this theme remains so
relevant in this moment in which technology has had its exponential advance.
67
Observing the works presented within the movie, literary, and electronic game
industry culture, we also come across a universe of newly created tales, which
take into account the adaptation of ancient myths, setting themselves as other
ways of visiting mythologies. Considering the relevant notes made by authors
such as Leonardo Campos, Carlos Giovane Dutra Del Castilho and Igor Barbosa
Cardoso, in association with Maria Cecília de Miranda Nogueira Coelho,
responsible for gathering information about mythological insertions in literature
and other media, we can confirm that the transformation of this theme has indeed
happened, but keeping its core intact. Attributing the work developed through
new research, having in mind the variety of the public, mythologies have reached
a greater interest and, with this, also came the opportunity to stand out even
more in history, within the existing means of communication today.
Keywords: Myths; mythological works; adaptations of mythologies; cultural
construction; Greek mythology.
INTRODUÇÃO
A análise a respeito das mitologias, abordada por meio de uma
pesquisa que busca visualizar a introdução dos mitos em novos
formatos de mídia, mostra uma passagem por um processo de
transformação cultural contínua. Através de um estudo comparativo,
a partir do significado das mitologias, entre a atualidade e a
antiguidade, é permitido distinguir um panorama da variação dos
paradigmas neste ponto da história, construindo um conceito que
atribui novos valores sobre a interpretação mitológica, o qual passa
a se relacionar com o setor de mercado, produzindo bens de consumo.
Ao observar a inserção das mitologias em conteúdos de mídia
diversos, como livros, filmes, séries, desenhos e jogos eletrônicos,
entende-se que essa relação produziu uma grande absorção desse
tema por parte do setor industrial, provocando nos consumidores
uma grande vontade de encontrar mais informações a respeito desse
assunto, trazendo uma nova perspectiva que vai ao encontro com a
capacidade de comercializar essas histórias, conseguindo ensinar e
aguçar a curiosidade de quem adquire esses materiais, aproximando-
os de diversas culturas e suas mitologias.
Na sociedade atual, as mitologias tornaram-se um produto que
vai além dos campos de estudos, alcançando o caminho do
68
entretenimento. Ao levar em consideração a forma como as
mitologias foram reinterpretadas atualmente, mostra que elas
passaram a ser enxergadas como uma matéria bruta, densa e rica,
com muito potencial de ser refinada para que dessa maneira consiga
explorar um espaço dentro do mercado consumidor.
Para, além disso, cria-se a capacidade de aproximar as culturas
através do entretenimento e maximiza a dispersão em novas formas
de arte. Del Castilho (2017, p.181) faz referências sobre a importância
do conhecimento da mitologia onde diz que:
70
seres humanos, abandonar a infância e enfrentar a vida
adulta. Não existe espaço de experimentação melhor do
que o cinema para isto.
72
Uma interpretação de Hollywood produzida em 1997, dirigido
por Andrey Konchalovsky, a película intitulada A odisseia, adapta
os poemas de Homero sobre a história do mítico Odisseu, um
personagem que se confunde dentro da mitologia grega. Nessa
história adaptada, o poema de Homero sobre a tentativa do guerreiro
grego Odisseu, que em suas desventuras fica prisioneiro na ilha de
Ítaca e tem de enfrentar diversas criaturas míticas em situações
angustiantes. Aliás, a mitologia grega é de fato uma das mais (senão
a mais) apreciadas e utilizadas pela cultura ocidental nas indústrias
de filmografia, literatura e de jogos eletrônicos.
A série literária Percy Jackson também foi objeto utilizado como
fonte para a construção de livros e filmes. “A série de filmes é baseada
nos livros escritos por Rick Riordan sobre semideuses e os deuses do
Olimpo. Na trama, a mitologia grega é trazida para os dias atuais,
tendo como adicional a criação dos semideuses (filhos dos deuses) e
seu acampamento onde são treinados e podem ser quem realmente
são longe dos olhos mortais.” (LAZARIN, 2014, p. 02). A história
dos livros pegou emprestada de referências mitológicas para construir
sua própria visão do universo baseado na cultura grega, recontando
os mitos com uma mistura entre o mundo moderno e elementos
míticos.
A LITERATURA OCIDENTAL
Aos entusiastas da literatura, existe um campo vasto, o qual
consegue explicar sobre as diversas mitologias ao redor do mundo,
sua temporalidade, os significados e suas filosofias. No entanto, há
inúmeras formas de enxergarmos essas mesmas informações hoje.
Houve mudanças no modelo de entrega dos mitos, como no caso
dos grandes escritores contemporâneos que são conhecidos como
verdadeiros gênios na arte de reinterpretar e contar histórias baseadas
em mitologias antigas.
Um desses escritores é Neil Gaiman, um autor que consegue
atender ao ritmo do mercado e produzir grandes obras cuidando de
assuntos que abordam diferentes mitologias. Através de Gaiman,
73
somos apresentados à obra 1 Deuses Americanos. “Deuses
Americanos é uma crítica sobre nossa concepção de deuses,
sociedade, fé e o que realmente importa para nós. Trazer essa premissa
em uma história normal poderia ser cansativo e clichê, mas ao criar
um universo fantástico (que se mistura com nossa própria realidade),
Gaiman torna tudo mais atrativo.” (DELAVY, 2017, p. 04).
Essa obra retrata a chegada dos antigos deuses em terras
americanas. Todo esse passeio, todavia, apresenta conceitualmente
os antigos deuses de diversas mitologias, como por exemplo, Odin
da mitologia nórdica, Ostara das lendas célticas e diversos outros
elementos. Estes seres mitológicos entram em conflito com os ditos
“novos Deuses”, nascidos em terras americanas, surgidos do culto
às tecnologias que se personificam em formas antropomórficas. A
Mídia se torna um desses “novos Deuses”, assim como o Senhor
Mundo, entre outros elementos contemporâneos que são apreciados
pelas sociedades.
Neil Gaiman traz, em sua obra, a finalidade da rivalidade entre
os antigos e novos deuses, disputando entre eles a adoração dos
humanos. Dentro da obra de Gaiman, Deuses americanos faz mais
do que apresentar deuses em sua eterna disputa pela glória eterna.
Neil dá ao leitor a oportunidade de conhecer outros aspectos sobre o
caráter dos seres divinos, criando personalidades e motivações que
esclarecem as relações com a fé e os poderes de cada deus ou criatura
mitológica perante a humanidade. De acordo com o psicólogo e
historiador Guarnieri (2017, p. 01), em seu blog, Gaiman explica sobre
essas relações tanto no livro quanto na série adaptada e apresenta os
personagens com uma mistura de ficção e mitos, onde diz:
74
precisa sustentar seu alcoolismo; uma versão do deus
egípcio Anubis que trabalha administrando uma funerária,
entre outros. Até Cristo aparece, e em múltiplas faces, uma
para cada denominação religiosa, incluindo encarnações
mexicanas, negras, asiáticas, e até uma hippie. Cada religião
acredita e, portanto, vê e sustenta uma versão de sua
divindade. (GUARNIERI, 2017, P. 01).
75
Outra obra de Neil Gaiman que retrata personalidades
mitológicas é a série Sandman. Nesse livro, Gaiman traz uma proposta
eloquente a respeito de sua criação própria introduzida em consonância
com o que as pessoas conhecem sobre a mitologia. Sandman é uma
série de títulos de histórias em quadrinhos, uma obra dividida em vários
volumes em que cada parte trata de um acontecimento em particular.
O protagonista da série é retratado pelo ser mítico homônimo à obra,
Sandman, ou Morfeu, uma referência ao deus grego do sono. A
narrativa se abre em um mundo onde deuses e forças da natureza
entram em conflito causando problemas entre deuses e homens; coloca
em teste a honestidade de alguns escolhidos pelos deuses para
desenvolver tarefas que podem trazer sua própria ruína.
76
grande faraó. Ele identificou o peixe-deus fenício Dagon
(anteriormente Oannes) como o próprio Grande Cthulhu,
e assim se tornou a primeira pessoa a ligar extraterrestres
a religiões antigas.
77
Podemos encontrar outros seres míticos nessa obra assim como
a lenda da carpa, aqui citado por Avancini (2020, p. 05) sobre o uso
da mitologia chinesa nessa adaptação:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise observativa a respeito das mitologias na cultura
contemporânea concede a compreensão de que o mercado se agarra
ao que tem a maior margem potencial de ser comercializado. As
formas como os mitos, os contos e lendas foram projetados para serem
inseridos nas sociedades, comprovam que o estímulo ao
conhecimento é também voltado pelo impulso de fazer da história
um produto competitivo no mercado.
78
Observando cada aspecto com que as mídias são desenvolvidas
e trabalhadas para conseguirmos acessar seus conteúdos, percebemos
que o formato das mitologias sofrem modificações tanto de semântica
quanto de significado para se tornar mais atrativo, ou para se
enquadrar melhor na sociedade, quase como se seguisse o conceito
político da janela de Overton, onde a descrição sobre esse fenômeno
diz que “Na formulação de Overton, é sempre possível desenhar um
[sic] continuum de posicionamentos para qualquer tema e há sempre
um espaço, bem delimitado, onde há aceitação unânime”. (ELEMAR
Jr., 2019, p. 02).
Então, podemos ligar o fato de que as mudanças nas mitologias
acontecem por dois motivos, onde o primeiro deles diz respeito sobre
a curva de aceitação da sociedade sobre um determinado assunto ou
posicionamento a respeito de uma discussão, seja político ou social e
o segundo motivo é a aceitação desse material dentro da concorrência
mercadológica.
Como a cada geração, as informações ganham novos apêndices,
somos capazes de distinguir dentro das circunstâncias, que a maneira
como os mitos são expostos, dependem também da geração que está
disposta a contar sobre as mitologias e o modo como vão usar para
fazê-lo.
Observamos que escritores como Neil Gaiman, Howard P.
Lovecraft, conseguiram confeccionar grandes obras fazendo uso das
antigas mitologias de diversas culturas, ora adaptando-as como são,
ora transformando, modificando e deturpando fatos sobre as histórias
originais.
Nesse ponto, conseguimos entender então a importância nessa
distribuição das mitologias dentro da sociedade. A dispersão de livros,
filmes e demais mídias que apresentam dentro de si as novas fórmulas
para entregar os velhos mitos, amplificados, melhorados ou não,
modificados para selecionar públicos alvos, mas sempre sendo
reavivada no imaginário da humanidade, causando admiração,
curiosidade e, às vezes, até mesmo novas devoções.
79
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80
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81
CAPÍTULO 5
RESUMO
O objetivo do estudo desenvolvido neste capítulo visa compreender como a
afetividade walloniana dialoga com os processos de aprendizagem significativa de
adolescentes entre 13 e 14 anos. Aprender com afetividade favorece o desenvolvimento
cognitivo dos alunos, como aponta Henri Wallon, o primeiro filósofo a trazer as
emoções do aluno para a sala de aula, considerando-as fundamentais para a formação
do eu. Embora os estudos sobre afetividade e adolescência de Wallon não dizem
respeito à Geração Z, primeira geração a nascer em ambiente totalmente digital, eles
nos fornecem subsídios para sua compreensão. Através do método dedutivo e
qualitativo, este estudo analisa, sob a perspectiva dialógica bakhtiniana, os aspectos
subjetivos do comportamento humano de adolescentes entre 13 e 14 anos. Os nativos
digitais caracterizam-se pela expressão de sua identidade, são sujeitos abertos à
inovação, comunicação e diversidade. Educar esses sujeitos com afeto é capacitá-los
a aprender a aprender, aprender a ser, aprender a conviver e aprender a conhecer. A
pesquisa mostra que o diálogo entre afetividade e aprendizagem na educação escolar
de adolescentes determina a identidade de um sujeito ativo e participativo, não só
com o mundo digital, mas também com o meio social. Desse modo, resulta em
educação de qualidade porque contribui para a saúde e o bem-estar do indivíduo e da
sociedade, corroborando, assim, com a Agenda 2030 e com os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável 3 e 4, justificados pela ONU.
Palavras-chave: Afetividade Waloniana; Geração Z; dialogismo; Bakhtin;
educação de qualidade.
ABSTRACT
The objective of the study developed in this chapter aims to understand how
Wallonian affectivity dialogues with the meaningful learning processes of
adolescents between 13 and 14 years old. Learning with affectivity favors the
82
students’ cognitive development, as pointed out by Henri Wallon, the first
philosopher to bring the student’s emotions into the classroom, considering them
fundamental for the formation of the self. Although Wallon’s studies on affectivity
and adolescence do not concern Generation Z, the first generation to be born in
a fully digital environment, they provide us with subsidies for its understanding.
Through the deductive and qualitative method, this study analyzes, from the
Bakhtinian dialogical perspective, the subjective aspects of the human behavior
of adolescents between 13 and 14 years old. Digital natives are characterized by
the expression of their identity, they are subjects open to innovation,
communication and diversity. Educating these subjects with affection is enabling
them to learn to learn, learn to be, learn to live together and learn to know. The
research shows that the dialogue between affectivity and learning in the school
education of adolescents determines the identity of an active and participative
subject, not only with the digital world, but also with the social environment. In
this way, it results in quality education because it contributes to the health and
well-being of the individual and society, thus corroborating the 2030 Agenda and
the Sustainable Development Goals 3 and 4, justified by the UN
Keywords: Wallonian affectivity; generation Z; dialogismo; Bakhtin; quality
education.
INTRODUÇÃO
A indisciplina dentro da sala de aula é um problema recorrente
e que se agrava ainda mais na fase da adolescência, época em que
muitos estão num processo de descoberta da própria identidade,
mudanças de hormônio e outros fatores que caracterizaram a
construção do cidadão.
Para entender seus fenômenos e minimizá-los no ambiente
escolar, é necessário que os professores compreendam a importância
que eles exercem na formação do aluno, sujeito que exercerá um
papel ativo na sociedade. Além da família, a escola também exerce
um papel fundamental na educação dos estudantes, visto que, além
de passarem grande parte do tempo dentro dos muros escolares, a
escola funciona como laboratório das experiências sociais.
Cientes da responsabilidade que a escola e o professor têm na
formação dos alunos, esta pesquisa objetiva compreender de que
forma o docente pode contribuir para que o educando tenha acesso a
uma educação de qualidade e igualitária, seja o aluno disciplinado
83
ou não. Para tanto, a presente pesquisa teve seus estudos baseados
na teoria da psicogenética do filósofo Henri Wallon, o qual considera
que a pessoa deve ser compreendida em seus aspectos biológicos,
afetivos, intelectuais e sociais.
86
3. GERAÇÃO Z E OS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DE WALLON
O termo geração Z veio de uma definição sociológica para definir
características comum às pessoas nascidas entre 1997 e 2010. Assim,
se tomarmos como base o ano de 2022, pertencem à geração Z os
adolescentes/jovens com idade entre 12 e 25 anos. Esses sujeitos são
caracterizados como nativos digitais, pois são adolescentes que
nasceram em contexto digital, ou seja, na denominada Era Digital, já
com o uso de computadores e telefones móveis desde a infância, onde
as tecnologias se integram a cada dia com mais rapidez no cotidiano.
Em continuidade, com base no exposto por Wallon, em seus
estágios de desenvolvimento humano, uma grande parte dos
integrantes da geração Z faz parte do estágio 5 – “Puberdade-
adolescência”, que vai dos 12 anos até a idade adulta. Essa fase é um
momento caracterizado por processos de transformações, fase em
que o adolescente passa a desenvolver sua afetividade de forma mais
ampla, como, por exemplo, buscando a autoafirmação e, de forma
biológica, abarcando o seu desenvolvimento sexual.
De forma geral, os sujeitos presentes nessa geração buscam
antecipar e simplificar as coisas, ou seja, buscam a otimização das
tarefas devido ao contato com os constantes avanços tecnológicos, o
que tem impacto direto no processo de ensino-aprendizagem ao terem
sua compreensão tecnológica apurada.
Mahoney e Almeida trazem algumas das características gerais
do sujeito que está passando pelo 5º estágio:
89
aprendido na escola não servirá para o futuro que os aguarda, que a
escola não é capaz de oferecer o que é relevante à sua necessidade.
Desse modo, eles não se dedicam a aprender, não enxergam a
funcionalidade da escola para a sua formação.
A escola, como visto, na maioria dos casos, suspende o aluno
de frequentar as aulas ao invés de investigar a fonte do problema, ou
seja, libera-se da responsabilidade de ter que lidar com alunos com
esse perfil, deixando toda a responsabilidade a cargo dos pais.
Entretanto, a família, em muitos casos, não possuí estrutura, por
exemplo: pais separados, alguém da família que seja dependente
químico, famílias sem poder aquisitivo suficiente à alimentação
adequada e situações em que os pais saem para trabalhar de
madrugada e só voltam à noite, deixando seus filhos sozinhos. Nesses
casos, a responsabilidade de cuidar da casa e dos irmãos mais novos
acaba ficando na mão do próprio adolescente.
Essas são situações em que se tornam difíceis para a família
resolver sozinha, o que agrava ainda mais o problema, estendendo-
se até a vida adulta, portanto, a suspensão do aluno de frequentar às
aulas não é o meio mais eficaz para que tal comportamento deixe de
ocorrer novamente. É preciso que a escola e a família se unam a fim
de compreender qual a causa ou as causas que fazem com que o
aluno aja de forma indisciplina no ambiente escolar.
É nesse momento que o professor pode mediar esse processo.
Usando da afetividade como ferramenta, ele poderá aproximar-se
dos alunos e estes ao conteúdo, mostrando-lhes uma perspectiva
melhor para o futuro. Dessa forma, o aluno poderá compreender
que quem faz o seu futuro é ele próprio. Cabe, pois, a inclusão e não
a exclusão do estudante indisciplinado. O professor deve mediar os
conflitos por meio do afeto e promover situações para que a criança
e o adolescente encontrem na escola o lugar da acolhida e da
aprendizagem significativa ao seu desenvolvimento motor, afetivo,
cognitivo e identitário.
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esta pesquisa foi possível verificar como os estudos de
Wallon contribuíram para a compreensão de como acontece o
desenvolvimento da inteligência do ser humano desde a infância. Seus
estudos ajudam diferentes áreas do conhecimento a observar a formação
integral do indivíduo, seja no aspecto motor, intelectual e afetivo.
Após o estudo sobre a psicogênese da pessoa completa,
entendemos que o aluno, ao chegar na sala de aula, é um sujeito em
processo de desenvolvimento, já vem dotado de saberes que serão
ressignificados e solidificados em contanto com outros sujeitos no
ambiente educacional. Portanto, está com todos os campos funcionais
ativos.
Em posse desse conhecimento, o professor precisa ter em mente
que as emoções também devem estar presentes no ambiente escolar
e participar da formação cidadã é ativar, além do cognitivo, a
afetividade. Wallon foi o primeiro a falar sobre a importância da
afetividade e da emoção no processo de desenvolvimento da criança.
Dentro do ambiente escolar e da sala de aula, não se adquire saberes
sem afeto, pois isso influencia o modo com que as relações humanas
acontecem. Explorando emoções e afeto, o professor terá competência
e habilidade para mediar o conhecimento e a convivência na sala de
aula, logo, minimizará os problemas de indisciplina.
Dessa forma, para que o educando se desenvolva tanto nos
aspectos orgânicos como sociais, faz-se necessário o aumento do
contingente de professores qualificados, dotados de habilidades que
possam interagir afetivamente com os alunos, de forma a contribuir
positivamente para a aprendizagem e, consequentemente, para o
desenvolvimento global do indivíduo.
AGRADECIMENTO
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES)
– Código de Financiamento 001.
91
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de Bakhtin. Campinas/SP: Mercado de Letras, 2009.
WALLON, H. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Editorial Estampa,
1975.
92
CAPÍTULO 6
ABSTRACT
This article analyzes the legacy that Greek civilization left for Rome and,
consequently, for the West. These legacies are multiple and manifest themselves
with intensity in the arts, aesthetics, literature, architecture, urbanization, slavery
and religiosity. It is no exaggeration to say that the “inner parts” of the West were
forged in the exchange of these two civilizations. To carry out this analysis, some
points were treated about the thought, setting and internal and external relationships
of the Greek peoples, verifying from the founding myths to their Philosophy.
Keywords: Greece. Training. Legacy. Pomegranate. Western.
INTRODUÇÃO
O presente capítulo tem por objetivo servir de bússola. Assim
como a geografia guia pelo espaço, dá dimensão física e direciona, a
história busca, dentre outras coisas, mostrar de onde as civilizações
vieram e o que compõe suas culturas. Não que a história vá dar um
caminho exato para onde seguir, corroborando com narrativas que
vêm a história como cíclica ou linear, mas sabendo da própria
identidade e tomando o passado como professor, o que torna mais
93
fácil saber quais passos tomar, como agir no cenário geopolítico e
vislumbrar um futuro livre de amarras, manipulações e guerras ou
pelo menos atenuar tais possibilidades.
Nota-se, então, um constante exercício de humildade e
admiração, onde olhar para aquilo que ficou com dedicação mostra
a sabedoria de um povo. Há diferenças notáveis entre os moldes da
cultura oriental e ocidental e o que cada cultura manteve para si ao
longo das eras. Ambas tiveram início espiritualizadas, porém, de
modo geral, enquanto o Ocidente viu as suas filosofias seguindo para
o crescimento de ideias e contrapontos livres, o Oriente viu na
hierarquia e no rigor o fortalecimento dos seus ideais.
Com constantes debates atualmente sobre conservadorismo nos
moldes ocidentais e devido aos eventos políticos recentes, “O Legado
da Grécia à Roma” busca vislumbrar o que a Grécia deixou
culturalmente para Roma e para o Ocidente, não de modo detalhado,
mas dando o caminho das pedras e um gosto de aprofundamento
para o tema.
1.2 ROMA
“Rômulo e Remo” é de longe a lenda mais popular sobre a
fundação de Roma e o fato de a origem histórica da cidade ainda ser
um mistério traz um ar ainda mais miraculoso sobre as origens dessa
grande civilização.
Conta uma das versões mais conhecidas da lenda que Rômulo
e Remo eram filhos do deus da guerra, Marte, com Reia Sílvia, filha
de Numítor, de Alba Longa. Quando os gêmeos eram bebês, Amúlio,
irmão de Numítor, destronou seu irmão e obrigou sua sobrinha a
tornar-se sacerdotisa, obrigando-a a jogar seus filhos no Rio Tibre.
Por um milagre, eles sobreviveram, foram criados por uma loba,
Capitolina, e depois receberam os cuidados de Fáustulo e sua esposa.
96
Quando adultos, eles restauram o trono de Alba Longa ao pai
e pedem permissão para fundar uma cidade à beira do Rio Tibre
(Roma). No entanto, eles acabam brigando e Rômulo mata o seu
irmão. Logo em seguida, ele transforma o Capitólio em refúgio. Para
obter esposas, os membros de Roma (que eram somente homens)
roubavam mulheres sabinas. Ao morrer, Rômulo foi levado aos céus
e passou a ser adorado como deus Quirino.
Outra lenda diz que Eneias era um troiano, filho da deusa Vênus
e Anquises (Rei troiano de Dárdano). Após a vitória dos gregos na
guerra de Tróia, Eneias vagou pelo Mediterrâneo, até chegar ao Lácio,
onde reinou por alguns anos. Depois de morto, foi adorado como
Júpiter Indiges. Seu filho Ascânio fundou Alba Longa e seu
descendente, Numítor foi pai de Reia Sílvia; era, então, avô de
Rômulo. De acordo com (FUNARI, 1989, págs. 86 e 87),
· ESPARTA
Localizava-se na região da Lacônia, a sudeste da Península do
Peloponeso, cortada pelo rio Eurotas, num vale cercado por altas
montanhas de difícil transposição. Era muito fértil e rica em minerais,
porém devido aos terrenos pantanosos e ao difícil acesso era um
território pouco disputado.
Conta-se que os dórios deram origem a Esparta durante os
séculos VIII e IX, subjugando os povos da região da Lacônia e
99
expandindo-se. Os povos capturados eram obrigados a trabalhar para
os espartanos, os chamados hilotas. Naturalmente que eles não
gostavam da sua condição de vida e se revoltaram diversas vezes,
tendo suas tentativas suprimidas.
Devido ao aparato exigido para se controlar outros territórios
e temendo haver mais povos não espartanos que espartanos em seu
território, o governo de Esparta opta por diminuir o território e
concentrar as suas forças em formar um exército de excelência. Dessa
forma dá-se início ao estilo de vida espartano retratado na maioria
das obras literárias, onde o cidadão espartano é escolhido por um
ancião quando nasce (caso contrário é morto jogado de um penhasco),
depois separado da mãe aos sete anos e treinado como militar. Eles
aprendem pouco sobre arte, escrita e até mesmo fala, atendo-se ao
necessário para as suas atividades militares.
O cidadão de maior direito em Esparta era o ancião, os outros
eram treinados a obedecer. Isso fez de Esparta um povo extremamente
disciplinado e forte, porém sem traquejo político e cultural.
· ATENAS
Localizava-se na Ática, a sudeste da Península Grega Central.
Com solo pouco fértil a cevada e o trigo mal davam conta de
alimentar os seus cidadãos. Por outro lado, as colinas favoreceram
o plantio de uvas e oliveiras, e as planícies a extração de prata,
deste modo Atenas se valia do seu comércio (principalmente
marítimo).
Ampliou o seu território, diferentemente das outras cidades,
e durante o século VIII já tinha tomado toda a região da Ática
(sendo uma das últimas cidades micênicas a resistir, expulsou os
dórios e tomou as cidades vizinhas). Dos séculos IX-VI a.C., os
atenienses foram governados por Aristocratas e eupátridas (bem-
nascidos). Os reis foram substituídos por magistrados, que se
encarregavam das guerras e alguns outros assuntos, juntamente com
o conselho. Somente esses administravam a cidade, enquanto pobres
e camponeses sofriam até pena de escravidão por dívida.
100
Com o aumento dos contatos no Mediterrâneo devido ao
crescimento da cidade entre os séculos VII e VI, os comerciantes
passaram a ter mais poder e a exigir concessões políticas. Nesse
contexto, surgiu Drácon (“serpente”), figura importante que se tornou
legislador, redigindo e tornando conhecidas as leis diante de todos.
O código Draconiano teria sido escrito por volta de 620 a.C., ele foi
responsável por tornar as leis públicas e aplicáveis a todos, mas não
acabou com o poder econômico dos aristocratas, fazendo com que
os ânimos não se acalmassem em Atenas.
Vendo esse cenário Sólon, arconte, tomou medidas para
favorecer o desenvolvimento econômico, a indústria e o comércio.
Além disso também favoreceu os cidadãos mais pobres eliminando
medidas como escravidão por dividas e dando mais poderes a
Assembleia popular por exemplo. Fora vincular os direitos políticos
as grandes fortunas e não mais as famílias de renome.
A Eclésia (Assembleia popular dos cidadãos) e a Bulé (Tribunais
populares), de começo não eram tão importantes, mas depois, por
volta do século VI a.C., irão se sobrepor ao poder dos arcontes
(políticos afortunados) e dos aerópagos (conselho da nobreza). O
período de transição, porém não foi algo fácil.
De 560 a 527 a.C, Atenas passou pela tirania de Pisístrato, um
governante moderado que valorizava a cultura (ele que ordenou que
se escrevesse Ilíada e Odisséia, pois ainda eram transmitidas
oralmente), os pequenos proprietários e a economia.
Foi somente com Clístenes que as quatro tribos hereditárias foram
substituídas por dez tribos definidas por seus territórios geográficos, a
Bulé passou a ter quinhentos membros definidos por sorteio e os
campos foram repartidos em trítrias (três por tribo), cada um com um
certo número de demos. A partir desse ponto, todo cidadão que estivesse
alistado em um demo poderia votar na Assembleia.
No tempo de Clístenes, também foi criado o Ostracismo que
permitia que um cidadão que fosse considerado causador de
problemas fosse exilado. Isso foi importante para manter o controle
e evitar guerras civis.
101
A Grécia, desde 491 a.C., vinha sendo atacada por persas
constantemente e durantes as batalhas que se sucederam em 485 a.C.
Atenas teve um papel fundamental para a derrota persa. Depois desse
grande feito, Atenas passou a ser uma das cidades mais suntuosas e
influentes do território grego atingindo o seu ápice. Restaurou suas
fortificações, ergueu construções admiráveis, tornou-se um império
e evoluiu em direção à democracia.
102
Muito do conhecimento atual deriva das suas teorias
matemáticas, físicas, naturais e meditações. Contudo, a era de ouro
da Grécia foi marcada por três principais filósofos, que, com a sua
maneira de pensar, trouxeram o foco da filosofia para o ser humano,
seja na sua formação, propósito e psiquê (alma segundo os gregos)
ou na sua inserção no todo como algo de extrema importância e não
igualado.
103
Fundou uma escola, a Academia, onde tem os seus ensinos
voltados cada vez mais para o mundo das ideias. E, então, é nesse ponto
que surge a base para o termo “amor platônico”, sem contato físico.
Aristóteles, por sua vez, é muito mais prático. Nascido em Stageira em
484 a.C. começou a estudar na Academia com apenas dezessete anos, e
teve Platão como mentor, que o chamava de “cérebro da escola”.
Com a morte de Platão em 347 a.C., Aristóteles saiu de Atenas,
continuou estudando e se tornou tutor de Alexandre, filho do rei
Filipe II da Macedônia em 342 a.C. Somente quando este assumiu o
trono em 336ª.C., Aristóteles retorna a Atenas e funda o Liceu.
Redigiu inúmeras obras, de inúmeros temas, desde biologia lógica,
até críticas literárias. Diferentemente de Plantão, Aristóteles embasou
a sua filosofia no mundo real, naquilo que podia ser examinado e
estudado, além de substituir os diálogos usados pela prosa, que julgava
mais filosófico. Segundo (FUNARI, 1989, p. 70),
· JOGOS OLÍMPICOS
Nas Olimpíadas, podiam competir todos os gregos livres de
nascimento que não tivesse tido algum tipo de condenação, estando
excluídos, portanto, os escravos e os bárbaros, além da mulheres,
104
que não apenas eram impedidas de disputar como também de assistir
aos jogos, com a única exceção da sacerdotisa de Deméter. Os Jogos
continuaram a ser celebrados até 494 d.C. e quando a Grécia passou
a ser dominada por romanos, também puderam competir os cidadãos
de Roma. Ao final da competição, todos os vencedores, com suas
coroas de louros, ofereciam sacrifício a Zeus, ao que se seguia um
banquete, ao som de um canto especialmente composto para a ocasião
por algum poeta renomado e interpretado por um coro.
· ARTES
Segundo (FUNARI, 1989, p.71 e 72),
4. HELENISMO
De acordo com (GREEN, 2007, p.9),
107
consideração, já que Roma conseguiu a Grécia politicamente, mas
culturalmente foi a Grécia quem dominou.
Um olhar para a arte romana, os mitos e histórias, a arquitetura
e até mesmo a língua falada entre a elite e é possível ver isso com
bastante nitidez. Duas coisas a serem levadas em consideração
quando analisamos a presença da Grécia no Império Romano é que,
da mesma forma que não podemos olhar os deuses gregos como
olhamos para o Deus bíblico, também não podemos olhar para as
civilizações do mundo antigo como olhamos para as nossas
atualmente.
Após a Revolução Francesa, no final do século XVIII, foi
incutido no senso comum o conceito de Estado Nacional onde, para
ser considerada nação, uma civilização deve conter um povo, um
território e uma cultura. Na Antiguidade, havia mesclas culturais
muito mais evidentes, aceitáveis e abrangentes, onde o que importava
eram as línguas e tradições conservadas, além ou apesar do domínio.
E isso leva a segunda consideração, que é o fato de Roma
manter-se imponente diante do Helenismo, e da Grécia a todo custo
manter-se firme em suas tradições, mesmo que a longo prazo seja
possível observar que tanto a cultura grega quanto a romana sofreram
modificações. A Grécia já estava presente em Roma, muito antes do
domínio, seja nos etruscos que compunham a civilização romana ou
na presença da Grécia na chamada Magna Grécia (onde os gregos
ocupavam o sul da Península Itálica e a Sicília), e mesmo absorvendo
da cultura, Roma manteve uma identidade extremamente forte e
contundente. O cuidado necessário para uma análise fidedigna dessa
questão requer uma honestidade e uma abrangência de visão que vai
além de dois pesos e duas medidas, haja visto que ambas as
características estavam presentes tanto no Império (pelo seu caráter
agregador), quanto na Grécia (pela sua formação e hábitos de
aprendizagem). De acordo com (FUNARI, 1989, p.132),
108
poeta latino Horácio (século I a.C.) (Ep. 2, 1, 156) compôs
a famosa fórmula: Graecia capta ferum uictorem cepit,
“A Grécia capturada conquistou o orgulhoso
conquistador”. Basta lembrar que os deuses gregos e suas
histórias foram incorporados pelos romanos, tendo seus
nomes traduzidos, como é o caso de Zeus (Júpiter),
Afrodite (Vênus) ou Ares (Marte).
REFERÊNCIAS
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Editora Contexto, 1989.
GRENN, Peter. Alexandre, O Grande e o Período Helenístico. Rio de Janeiro:
Editora Objetiva LTDA, 2007.
109
CAPÍTULO 7
RESUMO
Este artigo mantém por desígnio a conceituação, ainda que amplamente discutida,
do termo ‘’think tanks’’ expondo sua origem internacional e seu significado histórico
que permite que o termo se mantenha na sua língua original, seus meios de
propagação e sua influência em políticas públicas citando, com ênfase no cenário
exterior, a RAND Corporation, um think tank norte-americano desenvolvido em
1948 pela Douglas Aircraft Company para oferecer pesquisa e análise às Forças
Armadas dos Estados Unidos que teriam supostamente dado origem ao formato
conhecido hoje como think tanks. Através da conceituação e análise de sua origem,
partiremos para uma análise um pouco mais ampla das ações de instituições
brasileiras que podem ser identificadas e encaixadas sob a luz do que o amplo
debate nos permite compreender como think tank, levantando a questão de que
tal fenômeno que tanto atinge cenário políticos e militares é pouco abordado e
analisado tanto internacionalmente quanto no território brasileiro. O artigo em
questão não pondera com a criação de respostas para as dúvidas pendentes acerca
das corporações que atuam no cenário brasileiro, mas se presta a expor informações
apanhadas de estudos que contemplam o objetivo de oferecer esclarecimentos
dentro do debate e nos oferecem um conceito mais concreto para um fenômeno
de considerável amplitude conceitual.
Palavras-chave: think tanks; políticas; Brasil; conceito; fenômeno.
ABSTRACT
This article maintains by design the conceptualization, although widely discussed,
of the term ‘’think tanks’’ exposing its international origin and its historical
meaning that allows the term to remain in its original language, its means of
propagation and its influence on policies. public citing, with an emphasis on the
foreign scenario, the RAND Corporation, an American think tank developed in
110
1948 by the Douglas Aircraft Company to provide research and analysis to the
US Armed Forces that allegedly gave rise to the format known today as think
tanks. Through the conceptualization and analysis of its origin, we will start with
a slightly broader analysis of the actions of Brazilian institutions that can be
identified and embedded in the light of what the broad debate allows us to
understand as a think tank, raising the question that such a phenomenon that
affects both political and military scenarios is little discussed and analyzed both
internationally and in Brazil. The article in question does not ponder with the
creation of answers to the pending doubts about the corporations that operate in
the Brazilian scenario, but it lends itself to exposing information gathered from
studies that contemplate the objective of offering clarifications within the debate
and offering us a more concrete concept. for a phenomenon of considerable
conceptual breadth.
Keywords: think tanks; Policies; Brazil; concept; phenomenon.
CONCEITO E ORIGEM
A origem de instituições que tinham como objetivo a produção
de ideias políticas e a sua divulgação é de ampla discussão entre
diversos autores. Para alguns autores, dentre eles McGann (2018), a
origem dos think tanks remonta ao século XX, tanto nos Estados
Unidos quanto na Europa, como uma maneira de resolver
instabilidades decorrentes da Revolução Industrial, por meio da forte
confiança em especialistas. Instituições como a Brookings Institution
(1916), o Carnagie Endowment for International Peace (1914), o Kiel
Institute of World Economics (1914) e o Royal Institute for
International Affairs (1920) seriam consideradas resultantes da
primeira onda dessa modalidade de organização.
É interessante reafirmar que o conceito de thinks tanks tem
sido constantemente revisado na literatura e algumas
considerações devem ser abordadas, como aponta Thiago Aguiar
de Moraes em suas pesquisas denominada Os think tanks brasileiros
em perspectiva: características gerais, apontamentos conceituais e
possibilidades de pesquisa:
111
análise do fenômeno. Ademais da reivindicação de
independência das próprias instituições em relação a
partidos políticos, governos ou qualquer outra instância,
os valores, estudos e projetos que um TT defende e
difunde têm um perfil mais conservador ou progressista.
(MORAES, 2013, p.2)
1
On May 14, 1948, Project RAND—an organization formed immediately after World War II to
connect military planning with research and development decisions—separated from the Douglas
Aircraft Company of Santa Monica, California, and became an independent, nonprofit organization.
Adopting its name from a contraction of the term research and development, the newly formed entity
was dedicated to furthering and promoting scientific, educational, and charitable purposes for the
public welfare and security of the United States.
112
FIGURA 1 – RAND – RESEARCHER NANCY NIMITZ
Fonte: September 1, 1958. Photo by Leonard McCombe/The LIFE Picture Collection/Getty Images
113
realizada pelo acadêmico James McGann, fundador da Think Tanks
and Civil Societies Program (TTCSP), listou os think tanks mais influentes,
sendo sete deles instituições chinesas como Instituto Chinês de
Relações Internacionais Contemporâneas (CICIR), Academia
Chinesa de Ciências Sociais, Centro de Pesquisa para o
Desenvolvimento do Conselho de Estado (DRC). No estudo Think
Tanks, Foreign Policy and Geo-Politics: Pathways to Influence, realizado
pelos pesquisadores e acadêmicos Donald Abelson, Stephen Brooks
e Xin Hua constataram que essas organizações tiveram impacto na
formulação das políticas da China no período subsequente à crise
financeira global de 2008, particularmente no que diz respeito à
crescente proximidade do país com o continente europeu.
Outro tópico questionável é o caráter acadêmico assumido
pelos thinks tanks em suas pesquisas e estudos oferecidos, pois ao se
tratar de instituições privadas e sem compromisso com áreas
relacionadas ao Estado, não existe um sistema que fiscalize a
veracidade e honestidade dessas produções quase-academic, dando-
lhes liberdade para a criação e divulgação de dados que não
correspondem com a realidade e, se delatado a sua falta de veracidade
e alteração, não há penalidades existentes que possam impedir a
disseminação de informações alteradas para favorecer alguma das
partes de interesse daqueles que financiam essas organizações.
Ao ressaltar algumas das problemáticas trazidas pelos thinks
tanks na atualidade, partiremos para o cenário brasileiro.
115
O IPES desenvolveu uma dupla vida política desde o seu
início. Aos olhos de simpatizantes e defensores, a sua
face pública mostrava uma organização de ‘respeitáveis
homens de negócio’ e intelectuais, com um número de
técnicos de destaque, que advogavam a ‘participação nos
acontecimentos políticos e sociais e que apoiavam a
reforma moderada das instituições políticas e
econômicas existentes’. Seu objetivo ostensivo era
estudar ‘as reformas básicas propostos por João Goulart
e a esquerda, sob o ponto de vista de um tecno-
empresário liberal’, conforme uma versão de seu
documento básico. ‘A responsabilidade democrática do
empresário’, distribuído entre recrutas potenciais, o
IPES foi instituído como uma ‘agremiação apartidária
com objetivos essencialmente educacionais e cívicos’.
Além disso, segundo o documento, o IPES seria
orientado por ‘dirigentes de empresas e profissionais
liberais que participam com convicção democrática,
como patriotas e não como representantes de alguma
classe ou de interesses privados. Eles se reúnem para
analisar a situação e contribuir para a solução dos
problemas sociais que curtem constantemente na vida
brasileira. (DREIFUSS, 1981, p.163-165
117
públicos e, principalmente, valores e princípios
democráticos que pautam o desenvolvimento do país.
Com um quadro de formadores de opinião e
influenciadores, o think tank promove valores e princípios
que garantem uma sociedade livre, com liberdade
individual, economia de mercado, democracia
representativa e Estado de Direito.2
118
Compete, Celebrate!™ exclusivo da Atlas Network
inspira nossos parceiros a melhorar o desempenho e
alcançar resultados extraordinários.3
Fonte: https://blogdoverissimo.com.br/renovabr-abre-inscricoes-para-formacao-de-politicos/
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através de uma análise da fundação do RenovaBR é possível
perceber o seu discurso liberal e a sua origem atrelada a grandes
empresários e homens que detém altíssimo poder através do acúmulo
3
Disponível em: https://www.institutomillenium.org.br/sobre-nos/Acesso em: 30 nov. 2022
119
de capital e, ainda que as instituições citadas se declarem como sem
partido ou neutras, é possível identificar que não se trata de
neutralidade, mas de agir de acordo com os interesses políticos
daqueles que os comandam.
Aqui utilizaremos a máxima ‘’quem paga a banda, escolhe a
música’’, a qual deflagra o fato de que todo tipo de entrega de recursos,
legais ou não, detém como promessa o retorno de favores, o que se
aplica intensamente nos casos das organizações de think tanks desde
a sua origem até a atualidade que tem sido tão deturpada por ações
atreladas ao acúmulo de capital e ao pensamento liberal.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, Jonathan Frade. O fenômeno dos think tanks e as relações
internacionais: o caso do instituto de pesquisas e estudos sociais (ipes).
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Ingenuity To Enrich Humanity. Acesso em: 19 out. 2022.
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(ecfr.eu). Acesso em: 19 out. 2022.
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120
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1371335322_ARQUIVO_ThiagoAguiardeMoraes-ANPUH2013-FINAL.pdf
Acesso em: 19 out. 2022
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dos movimentos RenovaBR e MBL: reflexos no período eleitoral de 2018. Terceiro
Milênio: Revista Crítica de Sociologia e Política. 2019. Disponível em: Vista do
Análise do arranjo institucional e discursivo dos movimentos RenovaBR e MBL
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VIEIRA, Fernando de Oliveira. O discurso anticomunista nos boletins mensais
do ipês entre 1963-1966. Universidade Federal de São Paulo. 2016.
121
CAPÍTULO 8
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar, por meio da arte, uma mudança
na cultura cristã, a qual se encontra, com o decorrer dos anos, percebendo com
fluidez o ocorrer dos períodos que essas edificações sofreram mudanças em sua
arquitetura e seus interiores, com referências de Gombrich, Graça Proença,
Claudio Plastro. Historiadores, Artistas, Teólogos e jornalistas. O artigo apresenta
formas em que a mente se evoluiu em questões da doutrina, em relação aos
costumes e com exposição dos pensamentos. A evolução do estilo clássico para o
contemporâneo, levando em consideração a modernidade que se encontra inserida,
os novos templos e novas manifestações artísticas como a arte urbana na qual se
encontra relatos de modernidade, um exemplo é o grafite que com o passar do
tempo veio se modernizando e hoje se encontra o grafite digital, no qual o artista
com o auxilio de um projetor e uma imagem pré-programada projeta em um
prédio e aquela é sua intervenção. Contudo se deve muito aos artistas barrocos
com suas técnicas de valorização do contraste, os artistas impressionistas com as
ideias da iluminação, as igrejas se encontram em constante evolução, e ela se vem
na necessidade de quebrar paradigmas impostos.
Palavras chave: Influencia, Cultura, Arte, Cristã
ABSTRACT
The purpose of this article is to present a change in Christian culture, in which it
is found throughout the years through art, noticing the occurrence of the periods
when these buildings underwent changes in their architecture and interiors, with
references. by Gombrich, Graça Proença, Claudio Plastro. Historians, Artists,
Theologians and Journalists. The article presents ways in which the mind evolved
into questions of doctrine, in relation to customs and the exposition of thoughts.
The evolution from classic to contemporary style, taking into account the
modernity that is inserted, the new temples and new artistic manifestations such
122
as urban art in which reports of modernity are present, one example is the graffiti
that over time came modernizing and today is the digital graffiti, in which the
artist with the aid of a projector and a pre-programmed image projects in a building
and that is his intervention. However, it owes a great deal to Baroque artists with
their contrast-enhancing techniques, Impressionist artists with the ideas of
enlightenment, churches are constantly evolving, and it comes in the need to
break imposed paradigms.
Keywords: Influence, Culture, Art, Christian
INTRODUÇÃO
Atualmente, é comum observar a diversidade cultural e seus
valores, o que torna evidente a multiplicidade de costumes que são
transferidos de gerações para gerações. Nota-se, de alguma forma,
uma herança de povos de séculos atrás, evidenciando o motivo desse
capítulo, na busca de atenuar o interesse sobre diversos movimentos,
instigar o leitor de que acontece uma evolução muito grande a
respeito da fé cristã e uma evolução tão rápida em tempos históricos
que se assemelha com a da nossa própria tecnologia.
Com referências de Gombrich e Graça Proença, este capítulo
foi dividido em três partes de desenvolvimento, na primeira parte
há a evolução histórica dos conceitos culturais, com uma citação
dos períodos importantes para abordar o tema, o qual se encontra
com base na estética de cada período.
Em segundo instante, o tema já se apresenta com a cultura
cristã atual, retratando algumas edificações arquitetônicas e
mostrando uma certa evolução em suas construções. Aqui se
encontra, nas referências da música, um conceito mais que
significante na cultura, já que nos primórdios da tradição os cultos
eram ricos em arranjos musicais. No mesmo instante, trata-se do
respeito das artes visuais, com suas pinturas, muitas vezes,
acadêmicas, mas com o conceito da contemporaneidade, as obras
saem do estilo acadêmico e começam a tomar novos horizontes em
outros conceitos.
Já na terceira etapa, trata-se da tecnologia nas igrejas como
uma forma de atrair os fiéis, trazendo uma crítica sobre a aceitação
123
para os fiéis mais antigos, pois sempre ocorre um extremo vício do
uso dos aparelhos tecnológicos com os jovens. Outro ponto
relativamente importante é sobre a aceitação da alquimia entre os
fiéis com base sobre a inquisição, pois, por muito tempo do período
medieval, era difícil fazer utilização de certa ciência sem sofrer os
castigos impostos.
Através de pesquisas e de vivências no tema, a arte sacra veio
tomando seu lugar em cada cultura, em cada templo de orações e na
vivência pessoal de cada um. Antes de entender o agora, procura-se
entender o passado no qual foi o berço de tudo, todas as evoluções
que se teve a esse respeito.
A TRANSFORMAÇÃO DA MENTE
Como dito anteriormente, nos últimos séculos, nota-se uma
mudança na mentalidade cristã, sentimos uma perda do interesse
das pessoas, tal como, já que não é mais a arte que chama os fiéis,
então o que os chamam? O que faz com que se saia de casa e escute
a palavra de um desconhecido?
Para Humberto Chaves da Rocha, (presbítero da assembleia
de Deus e mestre em Teologia Livre pela FTN – Palmas- em janeiro
de 2018). Em seu artigo “desafios da igreja cristã na pós-
modernidade”, ele comenta: “A Igreja está inserida num contexto
em que houve uma ruptura com a cultura de valores éticos, moral e
espirituais. Isso revela a face perversa do mal que afeta a sociedade
como um todo, e que acaba tentando afetar também a cultura da
igreja do Senhor. Ainda é possível verificar que o atual contexto
histórico de sociedade é evidenciado por uma geração sem referência,
sem reverência e sem limites, relativista, narcisista, hedonista, céticos
e ao mesmo tempo moralistas.”
O jovem vem evoluindo com o tempo, e parte dessa evolução
se encontra no modo em que se vive a partir de uma doutrina imposta
por algum antepassado, a doutrina é um conjunto coerente de ideias
fundamentais a serem transmitidas e ensinadas, podem ser de formas
literárias, filosófica, política e religiosa. Com ela se encontra uma
131
bussola para guiar os conceitos éticos e morais, contudo os jovens se
encontram evoluindo através de certos preceitos culturais no qual
esses meios se encontram com uma grande mudança nas doutrinas.
Com a citação de Humberto Chaves, nota-se isso em nossa realidade,
a cada dia se percebe a formação de jovens sem limites relativistas,
narcisistas e céticos.
A era tecnológica que se encontra, não se pensa em nada mais
além das vidas cotidianas, e não enxerga-se nada que não esteja sobre
uma tela, isso é bem um grande empecilho, porem pode-se tirar muito
aproveito desta ferramenta, tal como a utilização da arte digital no
meio sagrado, há exemplos com a própria arte urbana já se adaptando
a essa nova fase, o famoso grafite digital, no qual se monta a arte por
meio tecnológico e já se projeta em alguma parede com o uso de um
projetor.
Com a transformação do século, os discípulos também vêm se
transformando, isso gera resultados diversos, um ponto negativo é a
falta do senso estético e apreciativo de certos templos, percebemos
que graças as tecnologias as pessoas perdem muito fácil o foco
apreciativo em algo que está a sua frente.
A grande transformação vem de que muitos paradigmas os quais
vêm se quebrando com o tempo, o que antes era estritamente proibido,
hoje de certa forma é liberado, como o fato de que no período
medieval os alquimistas, a química da Idade Média, que procurava
descobrir o remédio contra todos os males físicos e morais, e a pedra
filosofal, que deveria transformar os metais em ouro, eram rivais
mortais da igreja e se fosse encontrado fazendo o uso da alquimia,
iria sofrer pela inquisição, nos atuais períodos, o alquimista traz muitas
inovações com tratamentos de doenças. Como dito já estudante
Jenifer Fogaça (graduada em química- 2013), “No ano de 1493 nasceu
Phillipus Aureolus Theophrastus Bombast von Hohenheim, mais
conhecido como o médico Paracelso. Apesar de ainda estar ligado à
alquimia, ele desenvolveu a iatroquímica, em que a principal
finalidade era a preparação de medicamentos apropriados para
combater as doenças por meio de fontes minerais. Para ele o corpo
132
era um conjunto de substâncias químicas que interagiam
harmonicamente e que, se a pessoa estivesse doente, isso significaria
que havia uma alteração dessa composição química, que podia ser
eliminada por meio de produtos químicos.” Através disso, os
preconceitos da alquimia passaram a ser banais.
Nota-se um grande salto quando se fala da tecnologia com a
sacralidade. Torna-se a mesma briga que houve com o uso de imagens
nos templos na hera bizantina, muitos se tornam a favor, porém
muitos acabam se tornando contra, pois fala-se que a tecnologia não
pode estar interligada nas igrejas, porém muitos líderes religiosos se
utilizam das mídias sociais para conectar com os fiéis. Quando se
fala de tecnologia e religião, faz parecer que é algo que não se mistura,
a questão é que com a tecnologia à tona, vemos uma grande cadeia
de vantagens a respeito, temos um exemplo das visitações online nos
museus do mundo, no qual você não necessariamente sai da sua casa
para visitar um museu, temos exemplos na catedral de Notre Dame
e na Capela Sistina, na qual com a ajuda de óculos de realidade
virtual, podemos fazer uma visitação em seus acervos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nota-se inúmeras bases artísticas que se encontra no dia a dia,
no qual basta ser observado quando se caminha para o trabalho e
encontra uma catedral no estilo neoclássico, ou barroco, encontramos
referências da qual consegue-se perceber com grande facilidade
quando olhado para um prédio histórico, ao caminhar no centro das
grandes cidades e prédios que hoje são prefeituras ou prédios públicos
se encontra um grande choque artístico cultural, como nas cidades
de Ouro Preto, Ribeirão Preto, São Paulo, cidades nas quais houve
algum contexto histórico como o próprio imperialismo.
Observa-se, nas músicas atuais, diversas bases nas sonoridades
que conseguem trazer várias influências eruditas, um exemplo na
música brasileira é o samba, o qual é um ritmo com as raízes
interligadas e seus instrumentos é de fácil percepção de percussão,
133
este instrumento é o mais antigo instrumento musical e retrata os
primórdios da civilização humana. Seu uso está relacionado a festas
e celebrações religiosas e profanas, cerimônias fúnebres, danças e
muitos outros eventos.
Muitas técnicas de pintura que se sabe hoje devem-se aos
impressionistas, com a ideia de iluminação nas pinturas, aos artistas
barrocos, com a valorização do contraste e a emoção sobre a razão,
a qual foi uma ferramenta muito importante na contra reforma, os
naifes, com a ingenuidade em seus traços ingênuos, ainda é um estilo
que se aprimora a cada dia. Agora se encontra o uso do grafite digital,
já retratando a respeito da arte urbana, com a utilização de um
projetor e de um programa de animação se consegue fazer uma forma
de grafite temporário, o artista deixa uma animação pronta em
alguma mídia e projeta em algum muro ou prédio, transformando
em uma arte efêmera.
As igrejas se encontram em constante evolução para atrair os
fiéis, atualmente se torna um desafio a cada dia para atrair novos
membros para as igrejas, com a grande era tecnológica, acaba-se
idolatrando outros deuses, no caso a tecnologia. Como serão as
próximas igrejas nessa nova era, qual será as novas cruzadas religiosas.
REFERÊNCIAS
BARROCO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras.
São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Disponível em: <http://
enciclopedia.itaucultural.org.br/termo64/barroco>. Acesso em: 29 out. 2019.
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Vol. I, tomo. 1. São Paulo: Global, 1999.
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134
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2017.<https://oglobo.globo.com/rio/igrejas-diferentonas-atraem-jovens-
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Música Barroca <http://www.direitobrasil.adv.br/arquivospdf/musica/bar.pdf>
Acesso em: 29 out. 2019.
PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Ed. Ática, 2010.
135
CAPÍTULO 9
RESUMO
O presente artigo visa discutir a gênese das lutas entre regime monárquico e Exército
no espaço político brasileiro. Entende-se que a partir da centralização do Estado
levada a cabo pelo Partido Conservador entre as décadas de 1840 e 1850, o poder
militar ficou restrito aos civis, cabendo ao Exército – aqui entendido como instituição
– um papel de simples figurante na cena política nacional. Somente a partir da
Guerra do Paraguai (1864 a 1870) é que o Exército passa, lentamente, de figurante
a protagonista da vida política nacional. Tal mudança implicou em sérios atritos
entre militares e civis. Fato que se faria sentir pesadamente na configuração
institucional brasileira do final do século XIX até os tempos atuais.
Palavras-chave: Império; guerra; Paraguai; exército.
ABSTRACT
This article aims to discuss the genesis of the struggles between the monarchical
regime and the Army in the Brazilian political space. It is understood that from the
centralization of the State carried out by the Conservative Party between the 1840s
and 1850s, military power was restricted to civilians, leaving the Army – understood
here as an institution – a role of simple extra in the national political scene . It was
only after the Paraguayan War (1864 to 1870) that the Army slowly changed from
an extra to a protagonist in national political life. This change resulted in serious
clashes between the military and civilians. A fact that would be heavily felt in the
Brazilian institutional setting from the end of the 19th century to the present day.
Keywords: Empire; war; Paraguay; army.
INTRODUÇÃO
No dia 15 de novembro de 1889, um golpe articulado pelo
Exército (mais precisamente o Alto Comando e as tropas localizadas
no Rio de Janeiro), Republicanos e Cafeicultores: derrubou o
136
Ministério comandado pelo Visconde de Ouro Preto e pôs fim aos
67 anos de governo monárquico brasileiro. O fato é ainda mais
chamativo quando se tem em mente que o Imperador deposto era D.
Pedro II. Afinal, os 49 anos do Governo de D. Pedro II foram
marcados por uma profunda estabilidade política e pelo crescimento
econômico do país. Tais anos também deixaram evidente o
predomínio do elemento civil sobre o militar. Daí surgir a seguinte
pergunta: como o Exército deixou de ser uma instituição figurante
na cena política nacional, para se tornar um dos principais
protagonistas? Nesse artigo, busca-se resgatar o ponto onde a curva
de prestígio do Exército, dentro dos círculos políticos, passou de
estável à ascendente.
Tal como CARVALHO (2005), COSTA (1995) e
DORATIOTO (2007), acreditamos que o cerne da questão se
encontra na Guerra do Paraguai. Como demonstraremos, foi nesse
episódio que o Exército brasileiro ganhou prestígio e pode se organizar
em termos institucionais. Acima de tudo, foi no decorrer da guerra
que um militar de alta patente (no caso tratava-se do comandante
das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai, Marques de Caxias)
desafiou o poder civil (o atrito foi com o Presidente do Conselho de
Ministros e liberal de grande prestígio, Zacarias de Góes e
Vasconcellos). Nesse momento, percebeu-se um fato até então nunca
visto na cena política imperial: o imperador optou em prestigiar as
forças armadas, em detrimento do poder civil. Daí em diante a relação
entre Exército e políticos nunca mais foi a mesma. É claro que tal
episódio deve ser melhor matizado para que possamos perceber as
implicações institucionais e a própria mudança na cultura política
nacional que daí em diante, lentamente, se faria sentir.
Desta forma faremos um breve resumo da vida política nacional
entre a década de 1840 até o início da Guerra do Paraguai. Faremos
um breve resumo da política externa do Império no período que
antecedeu a Guerra. Também será interessante analisar os motivos
da Guerra – sem, contudo, descrevê-los pormenorizadamente – e
por fim, trazer a toda os eventos políticos que acabaram por criar o
137
precedente para a proeminência do elemento militar sobre o civil na
política nacional.
1. O IMPÉRIO EM MOVIMENTO
O Segundo Reinado foi marcado pelo esforço da elite nacional
em buscar um novo ordenamento político. Dessa maneira, o Estado
Imperial assumiu uma nova postura frente aos desafios impostos pelos
poderes locais. No campo da macro-política, Liberais e
Conservadores se sucederam no poder. No decorrer da década de
1840, os Liberais levaram adiante dois movimentos armados, visando
contestar o poder Central, representado pelos Ministros alocados no
Rio de Janeiro.
Tanto conservadores quanto liberais defendiam o progresso para
o Império. Esse progresso significava o aumento do investimento em
obras de infra-estrutura dentro do país, principalmente no que se refere
à construção de estradas que interligassem os centros produtores com
as zonas de distribuição no litoral ou nas capitais do interior. Os
grupos lutavam pela hegemonia política, pelo direito de imprimir
suas marcas na administração publica e na própria consolidação do
Estado Nacional brasileiro.
Entrementes, em 1844 um fato novo tomou a cena da política
imperial. Um grupo de liberais do norte, denominados praieiros
começou a ter uma certa ascendência na Corte. As causas dessa
ascendência não foram suficientemente exploradas pela
historiografia, mas segundo Joaquim Nabuco, eles contavam com o
apoio da Facção Áulica. O fato é que esse grupo ganhou
proeminência justamente no momento em que os Conservadores
sofreram grandes desgastes junto a Coroa. A “inversão” Ministerial
promovida pelo Imperador em 1844 somada a Anistia aos liberais
envolvidos com a Revolução de 1842 deu novo vigor aos grupos
liberais. Segundo Jose Murilo de Carvalho (2007, p. 46):
138
essa pretensão era causa de permanente instabilidade.
O fato de não serem os conflitos entre grupos dominantes
marcados por diferenças de classe não os tornava menos
freqüentes ou menos intensos (...) A saída para o problema
foi o estabelecimento de um contrato político não escrito
das elites com a monarquia e com o Poder Moderador:
Ela e ele seriam aceitos na medida em que possibilitassem
a convivência civilizada dos partidos e a paz social.
139
os humildes). Como Presidente do Conselho de Ministros, Alves
Branco levou a cabo uma lei que obrigava os funcionários públicos a
aderirem ao partido dominante, do contrário seriam demitidos.
(BRASIL, 1979, p. 200)
Tanto na Revolução Liberal de 1842, quanto na Revolução
Praieira, os liberais foram derrotados. Sua derrota militar acabou se
tornando uma derrota política, na medida em que os projetos
Conservadores passam a ganhar as instituições. Izabel Marson deixou
isso bem claro ao afirmar: “O Estado imperial que emergiu da luta entre
os partidos de Pernambuco não tolerava mais fazer grandes concessões aos
senhores locais, exatamente por disputar com eles o império político sobre o
território e sobre os cidadãos (...)”. (MARSON, 1987, p. 118)
Em 1848, frente à incapacidade dos liberais em levar adiante
os projetos do Gabinete, o Imperador reconvocou os conservadores
ao poder. Assim, em 29 de setembro de 1848, assumiu um Gabinete
Conservador, que governou até 11 de maio de 1852, quando foi
substituído por outro similar (BRASIL, 1979, p.112-113). Em 1849,
Sales Torres Homem, sob o pseudônimo de Timandro, publicou seu
famoso panfleto “O Libelo do Povo”, onde teceu críticas acidas à
Casa Bragança. (DUARTE, 1996, p. 119)
O gabinete conservador que havia sido formado logo após o
fim do quinquênio liberal se empenhou em utilizar todos os meios
para impor sua autoridade. Para os conservadores, perder para os
praieiros, significava antes de tudo abrir mão de sua hegemonia
política, além disso, os conservadores haviam passado um bom tempo
no ostracismo político e tiveram bastante tempo para repensar suas
estratégias políticas. Se no início da década de 1840 o discurso da
ordem era essencial, em 1849 a ordem deveria vir acompanhada do
progresso.
O ano de 1850 foi um dos anos mais profícuos dentro dos
propósitos da direção saquarema, e não só para ela, mas para todo o
Brasil no Segundo Reinado1 . O Estado centralizado ganhou
1
É justamente a partir de 1850 que o Império Brasileiro começa a passar por reformas modernizadoras
de sua economia e sociedade. A esse respeito ver: GRAHAN, Richard.Grã-Bretanha e o Início da
Modernização do Brasil: 1850-1914. Brasiliense, 1973.
140
finalmente corpo. O Brasil projetava-se na política latino-americana
e firmava-se como um grande exportador de commodities. Afinal,
justamente em 1850 aboliu-se o “comércio infame”. Também foi
promulgada a Lei de Terras, efetivou-se a reforma na Guarda
Nacional e, por fim, promulgou-se o Código Comercial.
(SCHWARCZ, 2007, p. 102). Além disso, no plano da política
externa, o Brasil logrou uma vitória significativa em seus negócios
no Prata, derrotando o líder uruguaio Oribe. (p.103)
Mas mesmo assim, a tensão, ao menos nacionalmente, entre
liberais e conservadores mantém-se. Parte de Honório Hermeto
Carneiro Leão a iniciativa de uma nova proposta política. O episódio
é assim definido por Jose Murilo “Agora chegara a vez da transação, da
conciliação, da superação dos velhos antagonismos. A palavra conciliação
começou a circular. O imperador não só apoiava a idéia, como lhe foi atribuída
sua iniciativa”. (CARVALHO, 2007, p. 55)
Assim, a década de 1850 assiste uma mudança significativa na
atuação dos partidos. Deixando de lado velhos antagonismos, a
“conciliação” permitia a formação de vários Ministérios, onde
Liberais e Conservadores conviviam pacificamente. Entretanto, a
visão de estado patrocinada pelos conservadores se fez sentir. A ordem
defendida pelos conservadores é aquela necessária para manutenção
da Escravidão, para a regulação e disciplina da violência dentro do
país, para a centralização do monopólio da violência e, em última
instância, a completa preponderância do Estado sobre o “Governo
da Casa” (MATTOS, 2004, p. 103-192). Esse esforço por parte dos
Saquaremas pode ser melhor entendido a partir de uma passagem
citada por Ilmar Mattos quando os Conservadores haviam acabado
de debelar a Revolução Liberal de 1842:
141
exorbitando se suas atribuições”. Contra a pretensão dos
luzias, a força vencedora defendia a necessidade de
“armar o poder com os meios indispensáveis para
emancipar-se da tutela das facções”, propugnando, assim,
uma distribuição desigual do aparelho do Estado pelo
espaço territorial do Império. (MATTOS, 2004, p. 104)
143
Bem mais difíceis eram as relações do Brasil com as duas
pequenas repúblicas que colocara (o Uruguai desde 1828
e o Paraguai desde 1843) sob sua proteção.
145
A recomendação de Caxias não foi ouvida. O Ministério buscou
pressionar Montevidéu para que Aguirre recua-se. A solução
diplomática, por vários motivos, tornou-se cada vez mais distante.
Compondo com Buenos Aires, o Rio de Janeiro optou por uma
solução armada. Uma ação rápida e precisa garantiu a posse do líder
colorado, Venancio Flores; considerado um “verdadeiro amigo do
Brasil”. (DORATIOTO, 2007, p. 75)
Nesse episódio ficou evidente que uma composição diplomática
entre Brasil e Argentina era perfeitamente possível. Ao mesmo tempo,
o Paraguai pretextando perigo a sua soberania e alegando que o Império
não honrara sua palavra – empenhada em 1852 – de não se meter na
política interna Uruguai e, ainda, contando com o suposto apoio das
Províncias argentinas de Entre Rios e Corrientes; decidiu por uma
ação militar. Apreendeu o navio brasileiro Marquês de Olinda, fecho
em definitivo o rio Paraguai à navegação brasileira e o atacou a
Província do Mato Grosso. Como se não bastasse, num movimento
ousado, pois em risco toda a fronteira Sul do Brasil ao penetrar no Rio
Grande do Sul. O Império do Brasil foi arrastado para uma guerra que
não estava preparado. A Argentina, por um erro de cálculo de Solano
López, decide entrar na guerra contra o Paraguai. O Uruguai, por ter
um “presidente amigo dos brasileiros” se viu na obrigação de integrar
a aliança. A resultante dessa equação não poderia ser outra: o Paraguai
deveria agora lutar contra seus três vizinhos e, acima de tudo, fazer
frente ao poder de mobilização que o Império possuiu. Resta uma
pergunta: a intervenção no Uruguai representava um risco direto ao
Paraguai? Wilma Peres Costa responde (1995, p. 138)
146
3. A GUERRA
Não é nossa proposta nos alongarmos no desenvolvimento da
Guerra do Paraguai, entretanto algumas considerações são
pertinentes. Ao início da guerra, a correlação de forças era a seguinte:
148
concretamente o opróbrio que a escravidão representava
para o Império, diante de um inimigo que a lançava em
seu rosto, dos aliados perante quem ela era constrangida
e humilhada e das próprias tropas brasileiras nas quais os
homens de cor se amiudavam. No mesmo cenário,
desnudara-se a fragilidade militar Império, a
vulnerabilidade de suas defesas e a dependência de um
aliado recente (mas adversário histórico) para expulsar o
invasor de seu território. Apenas por um fio, o imperador
foi poupado de presenciar um general (e chefe de Estado)
republicano comandando a libertação de uma porção do
território do Império, e das missões, sobre a qual
subsistiam litígios entre o Brasil e as repúblicas do Prata.
(COSTA, 1995, p.185)
150
Nota-se então que temos uma situação muito complexa em
termos políticos. Um Ministério cioso de sua autoridade e uma crise
terrível nos quadros da alta cúpula militar em 1866. Havia uma
enorme pressão para que o Marquês de Caxias fosse enviado ao
Paraguai. É necessário ter em mente que o Alto Comando estava
rachado por intensas rivalidades políticas (Osório e Porto Alegre) e
a Marinha sob o comando de Tamandaré não utilizada seus recursos
na plenitude. Caxias tinha várias coisas que o tornavam superior
aos demais: prestígio político, título nobiliárquico de alta
envergadura, bom transito no Conselho de Estado, amigos
poderosos no Senado, respeito e admiração da tropa, antiguidade
de suas patentes e de convivência com o Exército. Todos os oficiais
que estavam em conflito já haviam servido com Caxias e sempre
em posições subalternas a ele. De fato, Caxias era a solução mais
viável para os problemas do Exército. Entretanto, sendo Caxias um
homem de partido e chefe conservador, mandá-lo para o Paraguai
implicaria em grave risco para a sobrevivência do sistema político
em vigor. Implicaria na remoção de todos os inimigos que pudessem
atrapalhar o trabalho que Caxias teria de fazer. O Ministério correu
o risco. Nomeou Caxias (COSTA, 1995, p. 248-249). Uma das
primeiras conseqüências desse ato foi a necessidade de demitir o
Ministro da Guerra (figura publicamente antipática a Caxias) e
afastar o Almirante Tamandaré do comando da Marinha Imperial,
nomeando J.J. Inácio – amigo do Marquês para o posto (p.250).
Ouçamos o que Joaquim Nabuco nos diz sobre tal episodio:
“Sacrificando o seu ministro da guerra à necessidade de mandar
para o Paraguai o Marquês de Caxias, Zacarias tinha de antemão
assentido à sua própria demissão de ser com a ele a
incompatibilidade do novo comandante em chefe. (...) Esse era o
fato que dominava a situação política: o gabinete estava à mercê do
seu general e com ele a situação política.” (NABUCO, 2001, p.90)
Não demorou muito para que Caxias e Zacarias tivessem um
tremendo enfrentamento político. Caxias não apresentou nenhum
milagre na Guerra. Ele assumiu o comando das operações e tratou
151
de reorganizar as tropas e providenciar a logística necessária parra
levar a guerra a Assunção. No início de 1868, Humaitá ainda não
havia caído. A opinião pública começou a se impacientar. Alguns
jornais do Rio de Janeiro – como o Anglo Braziliam Times que recebia
subsídios do Gabinete – passaram a atacar a condução da guerra
feita por Caxias. Periódicos declaradamente liberais atacaram o
Marquês. (COSTA, 1995, p. 251-252)
Dessa forma, uma crise sem precedentes explodiu a cena
política nacional em 1868. Caxias pediu demissão do seu posto e
independente dos motivos oficiais, fez chegar ao Rio de Janeiro o
real motivo de sua demissão: ele não se sentia apoiado pelo Ministério.
Zacarias, por seu turno, resolveu partir para uma perigosa queda de
braço. Apresentou também o pedido de demissão de todo o
Ministério, fato esse que implicaria em dissolver o Parlamento e
convocar novas eleições. Traduzindo: se o Imperador insistisse em
manter Caxias, ele teria de implodir com toda a situação política e
criar uma, onde os Conservadores fossem maioria. O custo político
de tal operação seria alto e o desgaste da figura do Imperador seria
evidente. (COSTA, 1995, p. 253-254)
O Imperador recorreu ao Conselho de Estado para saber se
deveria demitir o general ou o Ministério. Percebendo o perigo da
situação, o Conselho indicou que nenhuma demissão fosse dada. O
Imperador, por seu turno, reenviou a questão, dando a entender que
preferia manter Caxias e fazendo a mesma pergunta. O Conselho
respondeu que o mal menor seria demitir o general. Ao nosso ver, o
Conselho temia dar poder demais a qualquer militar. Zelava pela
primazia do poder civil. Alguém poderia dizer que a maioria do
Conselho era liberal, daí a decisão pela saída de Caxias. Uma rápida
olha na lista de conselheiros derruba essa tese. Tanto é, que os
membros do Conselho procuraram Caxias e propuseram uma
conciliação com Zacarias. (COSTA, 1995, p. 255)
Tais fatos se deram em fevereiro de 1868. Em julho, o gabinete
caiu. Enfraquecido e não apoiado pelo Imperador. Zacarias passou
a fazer oposição ácida ao Poder Moderador, o que implica em fazer
152
oposição ao próprio Imperador.Os conservadores voltaram ao poder.
Caxias conduziu a guerra com precisão e só se retirou quando o
Paraguai não representava mais um perigo ao Império. Daí em diante
uma grave crise se instalou no sistema político. A estabilidade ficou
severamente comprometida.
CONCLUSÃO
Ao não apoiar o Ministério e dar a entender que preferia seu
general, o Imperador criou um precedente perigoso na História do
Brasil. O Exército saiu da guerra totalmente mudado. Entrou criança,
saiu adulto. Enquanto Caxias, Osório e Porto Alegre estiveram a
frente da força, ninguém ousou contestar a Monarquia. Porém na
década de 1880, todos esses já haviam morrido. Novos oficiais menos
políticos e mais corporativos passaram a dar ao Exército mais ousadia.
Em 1889, setores do Exército derrubaram o regime. Criou-se uma
República institucionalmente fraca. Até 1985, os militares
mantiveram o hábito de “derrubar ministérios”.
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Império. MEC, Instituto Nacional do Livro, Brasília, 1979.
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NABUCO, Joaquim. Um Estadista no Império. II vol. Ed. TopBooks, 2001.
153
CAPÍTULO 10
RESUMO
O estudo dos processos linguísticos que o homem realiza ao fazer uso de sua
competência linguística para produzir enunciados é o objeto de estudo da
Linguística, ciência autônoma, que encerra teorias e metodologias sólidas e, por
isso, realiza-se em contraponto ao estudo gramatical tradicional que dominou o
estudo da linguagem humana desde tempos remotos até seu advento na transição
do século XIX para o XX. O estudo tradicional a que se referem os estudiosos da
linguagem, portanto, diz respeito a um período extenso, que se inicia na
Antiguidade Clássica e desemboca no século XIX. Como Gramática Tradicional,
consequentemente, conforme pontua Weedwood (2002, p. 10), identifica-se “um
exame não científico do fenômeno gramatical, em que as línguas eram analisadas
com referência ao latim, pouca atenção sendo prestada aos fatos empíricos”.
Assim, o presente estudo tem o objetivo de oferecer uma visão geral a respeitodas
principais abordagens que ocuparam os estudos pré-linguísticos e o contexto dos
estudos linguísticos em que se deram as proposições bakhtinianas, na sequência,
apresenta-se uma síntese do desenvolvimento dos estudos linguísticos, antes e
durante o florescimento da linguística como ciência.
Palavras-chave: Linguística. Pré-Linguística. Bakhtin.
ABSTRACT
The study of linguistic processes that man performs when making use of his
linguistic competence to produce utterances is the object of study of Linguistics,
an autonomous science, which contains solid theories and methodologies and,
therefore, is carried out in contrast to the traditional grammatical study. that
dominated the study of human language from ancient times until its advent in the
transition from the 19th to the 20th century. The traditional study to which
language scholars refer, therefore, concerns an extensive period, which begins in
154
Classical Antiquity and ends in the 19th century. Consequently, Traditional
Grammar, as Weedwood (2002, p. 10) points out, identifies “an unscientific
examination of the grammatical phenomenon, in which languages were analyzed
with reference to Latin, little attention being paid to empirical facts”. Thus, the
present study aims to provide an overview of the main approaches that occupied
pre-linguistic studies and the context of linguistic studies in which Bakhtinian
propositions took place. linguistic studies, before and during the flowering of
linguistics as a science.
Keywords: Linguistics. Pre-Linguistics. Bakhtin.
INTRODUÇÃO
O interesse pelo funcionamento da linguagem humana remonta
à Antiguidade e, no caso do Ocidente, seus primórdios se encontram
na Grécia, sob o arbítrio da Lógica e da Retórica, ramos da Filosofia.
156
A ascensão do Império Romano (século IV a.C.) não ofuscou
a importância grega para o estudo da linguística, pelo contrário,
manifestou importante contribuição ao legado grego. Nesse sentido,
Robins (1983, p. 35) observa que:
2
A expressão “gramáticas medievais vernáculas” é usada em geral de modo pouco preciso para
denotar três gêneros literários bastante diferentes: 1) livros didáticos preparados para ensinar latim a
falantes não nativos, escritos em vernáculo; 2) obras escritas numa língua vernácula que explicitam
os princípios gerais da gramática - quase sempre os princípios de natureza semântica e funcional - e
extraem seus exemplos da língua em que são escritas; 3) obras que descrevem a estrutura do vernáculo,
usando normalmente o vernáculo como meio de expressão (WEEDOOD, 2002, p. 61).
158
Em termos gerais, pode-se sintetizar os estudos linguísticos dos
períodos Antigo e Medieval nos termos seguintes:
162
Como bem observa Parreira (2007, p. 1033):
163
Importante para essa proposição foi a compreensão saussuriana
do que chamou de duas faces do mesmo signo. A uma chamou
significante e diz respeito à materialidade do signo; à outra,
significado e se relaciona ao conceito que evoca na mente, conforme
os valores que subjazem sua formação.
A proposta de estudo dicotômico da língua pode ser sintetizada
nos termos seguintes:
164
demonstra que a linguagem desencadeia o processo de
criação do conhecimento. A capacidade inata que ele
defende em 1957 atesta que mesmo uma criança
desfavorecida socialmente aprende bem a linguagem,
segundo padrões universais. Desse modo, ele enfatiza a
importância do sujeito e da mente no processo de
aquisição da língua (PARREIRA, 2007, p. 1034).
167
fazer uso para se definir como eu e a um outro como tu. A categoria
pessoa se materializa na “subjetividade” que se instala na e fora da
linguagem, apresentando efeitos os mais variados sobre a organização
das formas e nas relações da significação das línguas. Acrescenta o
autor que a noção de tempo que há nas línguas também se manifesta
sob o domínio da subjetividade.
169
propõe uma abordagem estruturalista em detrimento da historicista
em voga. Tal abordagem se daria em termos de sistemas de relações
nas quais se constituiria a língua. O gerativismo assume, por outro
lado, que a linguagem deve ser analisada como reflexo genético. Seu
interesse, entre outros, recai sobre os aspectos inatos da mente que
geram o conhecimento linguístico. Benveniste, por sua vez,
demonstra que o sujeito se constitui em relação ao outro, por meio
da língua, enquanto produz sentidos dialogados no discurso.
Outros estudiosos da língua manifestaram proposições em torno
da Linguística e seu objeto de pesquisa. Os três aqui referenciados
são ilustrativos do estado da arte em que desponta, no Leste da
Europa, o círculo de Bakhtin.
170
Natural de uma pequena cidade dos arredores de Moscou
chamada Oriol, Bakhtin cedo mudou-se para a então capital da
Lituânia, Vilna, cidade em que aprendeu a conviver com a diversidade
linguística. Em 1913, ingressou na universidade de Odessa,
transferindo-se pouco tempo depois para Petrogrado.
Em 1928, Bakhtin foi condenado a cinco anos em um campo
de trabalhos forçados, pena que foi permutada, em seguida, pelo exílio
no Cazaquistão, lá vivendo até 1936. Ao regressar, fixou residência
em Saransk, onde lecionou no Instituto Pedagógico da Mordóvia.
Pouco tempo depois, transferiu-se para Kimri, onde lecionou em
duas escolas secundárias.
Entre 1930 e 1940, Bakhtin desenvolveu sua tese de doutorado
sobre François Rabelais e escreveu seus trabalhos sobre o gênero
romanesco e o conceito de cronotopo. Em 1945, regressou à Saransk
e ao antigo posto de professor universitário até se aposentar em 1961.
A partir de então, uma série de publicações colocou novamente em
evidência seu nome. Depois da re-publicação de sua obra sobre
Dostoiévski (1963), publicou seu trabalho sobre François Rabelais
(1965) e desenvolveu seus ensaios sobre estética literária, publicados
logo após sua morte. Bakhtin viveu seus três últimos anos em Moscou
e faleceu em 1975.
CONCLUSÃO
Vistos, então, os fins a que se destinam os estudos dos linguistas
aqui demonstrados, verifica-se que todos eles tiveram exímia
contribuição para os trabalhos e os estudos linguísticos, os quais são
tidos como apoio para importantes pesquisas de estudantes e
professores das áreas inerentes à Letras e outras afins.
Bakhtin, ao trazer os estudos acerca do dialogismo, trouxe
relevante contribuição aos estudos literários, os quais reverberam até
os dias atuais. Muitos dos estudos literários e linguísticos se fundam
em suas concepções, bem como nas de seus antecessores, o que
comprova a relevância dos estudos dos linguistas que habitam o
ambiente acadêmico e reverbera por toda a sociedade.
171
REFERÊNCIAS
BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral I. Campinas, SP: Pontes,
1995. ______. Problemas de linguística geral II. Campinas, SP: Pontes, 1989.
PARREIRA, Miriam S. A importância do pensamento de Saussure e da teoria de
Chomsky para a Linguística Moderna Domínios de Lingu@gem | Uberlândia |
vol. 11, n. 3 | jul./set. 2017
ROBINS, R.H. Pequena história da lingüística. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico,
1983.
SAUSSURE, Ferdinand de. (2006). Curso de lingüística geral. 27. ed. São Paulo:
Cultrix.
WEEDWOOD, B. História Concisa da Linguística. Tradução: Marcos Bagno.
São Paulo: Parábola, 2002.
172
SOBRE ORGANIZADORES
173
TALITA DE CARVALHO GUIRALDELLI VENÂNCIO
Mestrado em Linguística, pela Universidade de Franca – UNIFRAN (2017).
Especialização em Educação a Distância, pela Universidade de Franca -
UNIFRAN (2013). Graduação em Pedagogia (2016), em Geografia (2010) e em
Informática Empresarial e Comercial (2007), pela mesma universidade. Graduação
em História (em andamento) também pela UNIFRAN. Foi docente nos cursos
de graduação em História e Geografia da Universidade de Franca. É tutora do
curso de Pedagogia do CEAD da Universidade Federal de Ouro Preto (Bolsa
Capes). Leciona na Educação Básica (privada e pública)
E-mail: tcguiraldelli@hotmail.com
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9685264053524977
174
Universidade de Franca e Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela FCLAR
- Unesp (Araraquara). Realizou estágio de pós-doutorado no Departamento de
Educação, Informação e Comunicação, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (USP), sob a supervisão da Profa.
Dra. Soraya Maria Romano Pacífico. É líder do GEBGÊ - Grupo de Pesquisas
Estudos Bakhtinianos dos Gêneros do Discurso - certificado pelo CNPq.
E-mail: camilaludovice@gmail.com
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2484816022138902
ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-5998-7597
175
DANIELLE CRISTINA TEODORO DE SOUZA
Mestranda em Linguística pela Universidade de Franca (bolsista CAPES).
Graduada em Pedagogia pela Universidade de Franca (2021). Participante do
PIBID (bolsista CAPES - 2021). Iniciação Científica (2020) junto ao Programa
de Pós-Graduação em Linguística da Universidade de Franca (voluntária).
Premiada na Coninc-Semesp categoria Ciências Humanas e Sociais (2020).
Técnica em Administração pelo Centro Estadual de Educação Tecnológico Paula
Souza (2018). Membro dos grupos de pesquisa GEBGÊ e LABOAD.
E-mail: daniellesouzat@outlook.com
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6448969794346993
ORCID ID: https://orcid.org/0000-0001-6949-6612.
176
Centro Universitário Moura Lacerda de Ribeirão Preto, em Letras-Habilitação
Português/Espanhol, pela Universidade de Franca, em Pedagogia pelo Claretiano
- Centro Universtiário de Batatais, especialização em Docência no Ensino Superior
nas Modalidades a Distância e Presencial pelo Claretiano - Centro Universitário
de Batatais, em Planejamento, Implementação e Gestão da EAD pela
Universidade Federal Fluminense – Niterói/RJ, em Metodologia do Ensino da
Língua Inglesa pela Faculdade de Educação São Luís de Jaboticabal/SP, mestrado
em Linguagens da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Docente
e coordenador de curso no Claretiano - Centro Universitário de Batatais, Professor
EBT Substituto do IFSuldeMinas – Campus Muzambinho e docente da FATEC
Mococa. É membro do grupo de pesquisa certificado pelo CNPq GEBGÊ- Grupo
de Estudos Bakhtinianos dos Gêneros do Discurso.
E-mail: rwotckoski@gmail.com
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1944251139657142
ORCID ID: https://orcid.org/0000-0001-7105-9286.
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ÍNDICE REMISSIVO
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