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História, cloroquina e comportamento político em meio a Pandemia

Augusto César Acioly Paz Silva1

A política sempre foi um tema de interesse da História. Muitas vezes, identificada como
sinônimo da disciplina, e que se constituiria numa modalidade de história, com “H”
maiúsculo. Mesmo sendo, uma das dimensões exploradas pela área, a política
compreendida neste texto, como à ação dos indivíduos, em meio aos jogos, disputas e
visões de mundo a serem realizadas em sociedade sofre mudanças e deslocamentos no
que se refere à forma como os sujeitos a experimentam o que tem forjado modos
diferentes de atuação ao mesmo tempo em que, a compreensão a respeito deste
fenômeno.
Em tempos de crise sanitária, com dimensões mundiais, a Política tomou forma e
modificou a maneira como os indivíduos se relacionam e experienciam diferentes
sociabilidades. No caso do Brasil, esta realidade provocada pela pandemia, além de toda
tragédia suscitada pelo cenário de mortes em massa e falta de coordenação racional e
profissional no enfrentamento desta realidade, ganhou contornos que se dimensionam,
para além da situação imediata provocada pela Pandemia, materializando no processo
de ideologização dos comportamentos políticos que impacta decisivamente nas
narrativas históricas construídas e as que ainda serão estruturadas no futuro.
Um passeio pelas mídias sociais, nos ajuda a verificar de maneira clara, como os
indivíduos se posicionam sob a defesa do tratamento do COVID com o sem cloroquina.
Escolha que não se encontra sintonizada com crenças a respeito da eficácia cientifica
desta medicação ou de outros tratamentos e procedimentos lastreados pela explicação
científica, mas orientada pelas especulações e achismos daqueles e daquelas que ao
invés de guiarem-se pela explicação científica, não o fazem.
Um simples posicionamento como o de aceitar ou não o uso da cloroquina já se efetiva
como um rastro importante, para pensarmos os marcadores que indicam o quadrante que
os sujeitos se definem e repercutem nas suas mídias digitais. A defesa de um tratamento
médico para o Covid que passe pela manipulação da hidroxicloroquina colabora para
demonstrar ou não sintonia com a visão política dos segmentos bolsonaristas. Mesmo
que tal adesão não seja unânime, ela nos ajuda a compreender de alguma forma a
fisionomia do comportamento político e de como eles se posicionam em outros temas
que podem não parecer correspondentes, como questões vinculadas a História do Brasil
no período do regime militar, a importância da cultura ou de políticas identitarias ou de
transferência de renda.
Este fenômeno de tribalização, descrito por muitos teóricos do comportamento político,
ajuda-nos a repensar as visões clássicas a respeito da Política e de suas finalidades,
construídas por historiadores e cientistas sociais. Algumas das narrativas por eles
elaboradas e amparadas em concepções orientadas pela racionalidade, virtude e defesa
do bem comum que seriam os paramentos norteadores para que as pessoas se
1
Doutor em História pela UFPE, professor da AESA-CESA – Arcoverde/PE. Integrante do Grupo de
Pesquisa em Comportamento Político. E-mail: cesar_história@hotmail.com
engajassem na defesa de determinada narrativa política ou até mesmo histórica, não se
materializam de forma direta na realidade estabelecida. Tais adesões são frutos de
registros, amparados por sentimentos como: empatia e crenças racionalmente não
justificadas, mobilizadores das escolhas políticas que nos últimos anos tem polarizado
de maneira extrema e violenta o debate político, principalmente, nos ambientes virtuais.
Desta forma, os “posts” nas diversas mídias digitais, têm tornado um ambiente virtual
numa arena acirrada de polêmicas e linchamentos públicos onde o debate de ideias tem
cedido espaço para o xingamento. Por tal realidade a pandemia, o uso da cloroquina e a
contraposição à sua administração medicamentosa, tem denotado que as posições
políticas não se encerram na adesão das ideias ou propostas, mas em comportamentos
que classicamente fogem ao debate político, pois até mesmo encarar ou não o Covid
como “gripezinha”, passa a ser interpretado como adeptos ou desafetos ao
bolsonarismo.
O cenário histórico da Pandemia provoca, na qualidade de profissionais da História que,
pensar essa realidade, dialogando com os “utensílios” fornecidos pela História do tempo
presente, significa rastrear e analisar o lugar que o conceito de comportamento político
agrega a reflexão promovida pela História, uma vez que, o dialogo metodológico entre
estas duas áreas, reforça as possibilidades de pensarmos a realidade histórica,
colaborando para que as ações dos homens no tempo, não pareçam um objeto de um
passado distante e que apresente a utilidade da História para a vida. Dimensão que deve
colaborar para pensarmos, como os seres humanos vivenciam as formas de lidar com o
tempo, mesmo em períodos nos quais desenvolvemos a sensação de que existe uma
aceleração da história, realidade que se apresenta nos momentos atravessados por
pandemias, guerras e transformações que impactam a realidade histórica e humana.

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