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A TAXONOMIA DE BLOOM COMO PERSPECTIVA EPISTEMOLÓGICA


PARA A ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO EDUCACIONAL

Rosângela Borges Pimenta1


Fernando José Spanhol2

Resumo
As instituições de ensino estão cada vez mais utilizando ferramentas de apoio ao
planejamento pedagógico. Uma dessas ferramentas é a Taxonomia de Bloom, em sua
nova versão, que tem como finalidade classificar os objetivos educacionais em uma
hierarquia de seis níveis cognitivos, com foco nas dimensões do conhecimento e dos
processos cognitivos. Neste cenário, o objetivo do presente estudo foi analisar a
relevância da Taxonomia de Bloom como uma perspectiva epistemológica para a
elaboração dos objetivos educacionais aos cursos de graduação. O método de
pesquisa utilizado para a investigação foi a pesquisa bibliográfica. Os resultados
evidenciaram que a Taxonomia de Bloom revisada, por estruturar melhor os objetivos
educacionais às dimensões do conhecimento, é um instrumento relevante para o
planejamento curricular, sobretudo na organização de um plano de ensino.

Palavras-chave: Taxonomia de Boom. Epistemologia. Planejamento Educacional.

Abstract
The institutions of graduate education are increasingly using tools to support
educational planning. One such tool is Bloom's Taxonomy, in its new version, which
aims to classify educational objectives in a hierarchy of six cognitive levels, focusing on
the dimensions of knowledge and cognitive processes. In this scenario, the objective of
this study was to analyze the relevance of Bloom's Taxonomy as an epistemological
perspective for the development of educational goals for undergraduate courses. The
research method was used to research the literature. The results showed that the
revised Bloom's Taxonomy, for better structure the educational goals to the dimensions
of knowledge, is an important tool for planning curriculum, especially in the
organization of a teaching plan.

Keywords: Taxonomy Boom. Epistemology. Educational Planning.

1 Introdução
A produção do conhecimento passou, ao longo da história da humanidade, por
várias concepções e formulações. No pensamento de Popper (1994), a ciência não é

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento –


EGC - Universidade Federal de Santa Catarina.

2 Prof. Dr. Fernando José Spanhol do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão


do Conhecimento – EGC - Universidade Federal de Santa Catarina.
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um empreendimento estável: mais se assemelha a um pântano, no qual, de vez em


quando, encontramos uma pedra firme. Por isso, a atividade humana de conhecer,
segundo o filósofo, caracteriza-se por duas tarefas principais: fazer conjecturas e
buscar suas refutações.
Cada vez mais, na sociedade do conhecimento, o mercado exige dos
profissionais novas competências para a sua atuação profissional. Para se tornarem
mais competitivos necessitam desenvolver novas habilidades para a criação de novas
oportunidades. O papel da educação é fundamental neste cenário. A prática docente
deve ser voltada na busca em propor conexões ao conhecimento de forma a
estabelecer a relação entre a teoria e a prática. Questionar o conhecimento existente é
um exercício basilar. Ao propor aos alunos essa atitude crítica e reflexiva, o professor
conduz os discentes a assumirem uma posição de sujeitos pesquisadores ativos no
processo. Assim, o aluno deve ser desafiado a elaborar sínteses que se constituam
efetivamente em uma nova produção do conhecimento (TORRES, 2007).
Tradicionalmente, a sala de aula é identificada com o ritmo monótono e
repetitivo associado ao perfil de um aluno que permanece demasiado tempo inerte
(TORRES, 2007). No ensino de graduação, a realidade não é diferente, de forma
contínua é solicitado aos discentes um alto grau de abstração na realização de
algumas atividades acadêmicas que simulam a realidade, e, percebe-se uma
proporção muito pequena de alunos que conseguem realizar essas atividades de
forma satisfatória e criativa.
Neste cenário, um dos instrumentos da área educacional que busca apoiar o
planejamento didático-pedagógico é a taxonomia de objetivos educacionais, também
conhecida como “Taxonomia de Bloom”. Esta ferramenta foi desenvolvida com a
finalidade de classificar comportamentos educacionais que representam os resultados
esperados do processo educacional. Assim, os docentes, ao identificarem o nível
cognitivo dos objetivos educacionais podem determinar se os mesmos estão redigidos
em um nível de complexidade apropriado aos alunos (EWING, 2006). Na visão de
Turra et al. (1985), o trabalho pedagógico do professor deve girar em torno dos
objetivos educacionais. Desta forma, o professor pode definir a complexidade dos
seus objetivos educacionais por meio da Taxonomia de Bloom, e, consequentemente,
determinar o domínio cognitivo de suas aulas e do aprendizado dos alunos.
Visando atender aos objetivos propostos da pesquisa, o estudo está
estruturado em sete seções. Na presente seção são apresentados os aspectos
introdutórios referentes à pesquisa, tais como: apresentação do cenário atual e
relevância do tema e estrutura do trabalho. Na seção dois, são apresentados os
objetivos da pesquisa. Na seção 3 os pressupostos teóricos e conceituais sobre a
temática. Na quarta seção estão os procedimentos metodológicos da pesquisa. Na
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seção cinco, são discutidos os resultados da pesquisa. Na sexta seção estão as


considerações finais. Finaliza-se com as referências utilizadas no trabalho.
2 Objetivos
O objetivo deste estudo foi analisar a relevância da Taxonomia de Bloom, em
sua nova versão, como uma perspectiva epistemológica para a elaboração dos
objetivos educacionais aos planejamentos, tendo em vista que os cursos de
graduação apresentam, em sua maioria, os processos cognitivos em adquirir, codificar,
armazenar, processar e disseminar o conhecimento como fator de produção.
3 Revisão de Literatura
A pesquisa bibliográfica busca enaltecer conhecimentos já produzidos e já
publicados, resultados de pesquisas concretas e de qualidade. Essa modalidade de
pesquisa se realiza a partir do registro de publicações disponíveis, decorrentes de
pesquisas anteriores, em documentos impressos e on line, como livros, periódicos,
teses e dissertações; a fonte bibliográfica é encontrada geralmente em bibliotecas ou
base de dados (SEVERINO, 2007; GIL, 2010). Portanto, a discussão teórica neste
estudo tem sua base em publicações sobre Taxonomia de Bloom, Epistemologia e
Conhecimento, as quais são apresentadas a seguir.
3.1 Taxonomia de Bloom
A Taxonomia de Bloom é uma ferramenta criada por Benjamin e sua equipe
com a finalidade de classificar os objetivos educacionais. Benjamin nasceu no dia 21
de fevereiro de 1913 (Lansford, Pennsylvania) e faleceu em 13 de setembro de 1999.
Foi professor na Universidade de Chicago onde desenvolveu investigações sobre os
processos de planificação e avaliação no ensino. Bloom (1963) era contra o uso de
testes realizados, porque acreditava que a finalidade desses instrumentos deveria
determinar o domínio ou a falta de habilidade, oferecendo, tanto ao aluno quanto ao
professor, informações para a melhoria dos desempenhos cognitivos ainda não
totalmente dominados.
A classificação proposta por Bloom dividiu as possibilidades de aprendizagem
em três grandes domínios: a) Cognitivo, abrangendo a aprendizagem intelectual; b)
Afetivo, abrangendo os aspectos de sensibilização e gradação de valores; c)
Psicomotor, abrangendo as habilidades de execução de tarefas que envolvem o
organismo muscular.
Cada um destes domínios têm diversos níveis de profundidade de
aprendizado, por isso a classificação de Bloom é denominada hierárquica: cada nível
é mais complexo e mais específico que o anterior. O terceiro domínio não foi
terminado, e apenas o primeiro foi implementado em sua totalidade.
Embora tenha recebido pouca atenção quando publicado pela primeira vez, a
Taxonomia de Bloom já foi traduzida em vinte e dois idiomas e é uma das referências
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mais amplamente aplicadas e mais citadas na educação (HOUGHTON, 2004;


KRATHWOHL, 2002; OZ-TEACHERNET, 2001). A figura 1 apresenta a hierarquia
proposta por Bloom.
Figura 1 – Classificação da Aprendizagem.

Fonte: Adaptada de Bloom et al., 1977.


Na visão de Bloom et al. (1956), as contribuições da Taxonomia de Bloom para o
planejamento educacional são:
• padronizar a linguagem sobre os objetivos de aprendizagem para facilitar a
comunicação entre pessoas (docente, coordenadores etc.), conteúdos,
competências e grau de instrução desejado;
• servir como base para que determinados cursos definam, de forma clara e
particular, objetivos e currículos baseados nas necessidades e diretrizes
contextual, regional, federal e individual (perfil do discente/curso);
• determinar a congruência dos objetivos educacionais, atividades e avaliação de
uma unidade, curso ou currículo;
• definir um panorama para outras oportunidades educacionais (currículos,
objetivos e cursos), quando comparado às existentes.
3.1.1 Taxonomia de Bloom Revisada
Após quarenta anos da divulgação da Taxonomia de Bloom, Lori Anderson
publicou, em 1999, um trabalho de resgate do trbalho original.Já em 2001 um grupo
de estudiosos na área, sob a supervisão de David Krathwohl que foi um dos
especialistas que participou da primeira versão, divulgaram um relatório de revisão,
em formato de livro, com o título A taxonomy for learning, teaching and assessing:a
revision of Bloom´s taxonomy for educacional objectives (ANDERSON et al., 2001).
Este grupo de estudiosos reestruturaram a taxonomia original procurando um
equilíbrio entre o que já existia. Ao analisar a relação direta entre verbo e substantivo,
os pesquisadores chegaram à conclusão de que verbos e substantivos deveriam
pertencer a dimensões separadas na qual os substantivos formariam a base para a
dimensão conhecimento (o que) e o verbo para a dimensão relacionada aos aspectos
cognitivos (como). A separação de substantivos e verbos propiciou um caráter
bidimensional à taxonomia original, nominada nesta nova versão de Dimensão
Conhecimento e Dimensão dos processos.
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Com esta nova estrutura, os pesquisadores diferenciaram, para cada categoria,


o que estava relacionado para a aquisição do conhecimento, desenvolvimento de
habilidade e competência (FERRAZ; BELHOT, 2010).
A figura 2 mostra a Taxonomia de Bloom revisada:

Figura 2 - Taxonomia de Bloom Revisada

Fonte: Eduteka.org. ImagBloom.jpg (2012).

A importância da Taxonomia de Bloom não está sendo utilizada apenas no


âmbito da educação, mas também nas organizações intensivas em conhecimento, que
é um dos objetos de estudo do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão
do Conhecimento. Este cenário é percebido no pensamento de Kimiz (2005), quando
o autor enfatiza que a Taxonomia Bloom serve para determinar não apenas o que os
trabalhadores do conhecimento são esperados a fazer (normalmente referindo às
habilidades ou especialização), mas também o nível de desempenho que se espera
deles (também conhecida como nível de domínio).
O autor ressalta ainda que a aplicação do conhecimento, no entanto, exige que
os trabalhadores do conhecimento atinjam níveis mais elevados de compreensão, tais
como análise, síntese e avaliação. Desta forma, a taxonomia fornece uma estrutura
mais detalhada para avaliar a extensão à qual o conhecimento foi internalizado.
3.2 Epistemologia e Conhecimento
A palavra “Epistemologia” descende do termo grego episteme que "significa
ciência por oposição a doxa (opinião) e a thechné (arte ou habilidade)". A terminação
logia descende de logus que, em grego, significa teoria, conceito, ou mesmo, ideia e
palavra (JAPIASSU; MARCONDES, 1990, p. 82). Fialho, Remor e Sousa (2012)
definem epistemologia como sendo o campo que estuda o conhecimento científico e
suas implicações no trabalho de pesquisa acadêmica.
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A Epistemologia, portanto, é o campo de estudo cujo objeto é o conhecimento


científico. Ela abriga também o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos
resultados das diversas ciências, que se destinam a determinar a sua origem lógica, o
seu valor científico e a sua importância na sociedade do conhecimento.
De modo geral, a ciência estuda os fenômenos físicos ou mentais, com o objetivo de
conhecê-los. Em princípio, o objetivo da ciência é o conhecimento, cujo valor está em
si mesmo. Os produtos específicos da ciência são teorias, como conjuntos de
conceitos ou ideias, que explicam e justificam os fenômenos estudados (FIALHO;
REMOR; SOUSA, 2012).
Em Lecourt (1983), Bachelard enfatiza que em séculos passados, acreditava-
se ainda no caráter empiricamente unificado do conhecimento. A ciência apresentava-
se como conhecimento homogêneo, como a ciência do nosso próprio mundo,
organizada por uma razão universal e estável. Lopes (2007) complementa este
pensamento quando ressalta que o epistemólogo debatia sobre a ciência na busca
constante de rompimento com o monismo metodológico e com as visões mais
arraigadas do positivismo lógico sobre a produção do conhecimento científico. O
objetivo de Bachelard não era ensinar aos cientistas como proceder em seu trabalho.
“Seu diálogo era com os filósofos de seu tempo, questionando uma Filosofia desatenta
às transformações radicais que sofre a razão humana com o advento da ciência
contemporânea” (LOPES, 2007, p. 31). Para Bachelard, a ciência opõe-se
absolutamente à opinião, ao conhecimento vulgar, assim o senso comum é o primeiro
obstáculo a ultrapassar. Para ele, o conhecimento científico é sempre a reforma de
uma ilusão (LECOURT, 1983).
Williams (2001) observa que, no que concerne à epistemologia, para perceber
o que há de diferente numa determinada área teórica, a melhor forma de começar, é
perguntar que problemas são abordados. Desta forma, o autor sugere que se
distingam cinco tipos de problemas, conforme demonstra o quadro 1:
Quadro 1 - Cinco tipos de problemas para analisar determinada área teórica

PROBLEMAS REFLEXÃO
1. O que é o conhecimento? Como se distingui o
conhecimento da simples crença ou opinião? O que
Problema analítico aqui se pretende, idealmente, é uma explicação
precisa ou "análise" do "conceito" de conhecimento.
O objetivo é traçar uma fronteira que separe a província
Problema da do conhecimento de outros domínios cognitivos ou talvez
demarcação o cognitivo do não cognitivo.
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Este se relaciona com o modo como obtemos ou


procuramos conhecimento. O problema da "unidade"
Problema do método coloca a questão seguinte: Há só uma forma para
adquirir conhecimento, ou há várias, dependendo do tipo
de conhecimento em questão?
Será de fato possível obter algum conhecimento? Este
Problema do ceticismo problema é difícil porque há argumentos poderosos,
alguns bastante antigos, a favor da resposta negativa.
Os problemas esboçados são significativos somente se
faz sentido possuir conhecimento. Mas será faz, e se sim
Problema do valor por quê? O conhecimento é o único objetivo da
investigação, ou há outros com igual (ou maior)
importância?
Fonte: Adaptado de Williams, 2001.

Contudo, o objetivo maior da epistemologia é a criação e a sistematização do


conhecimento científico, com base em procedimentos metodológicos, que tenham
racionalidade e objetividade, passíveis de controle lógico e experimental entre os
fenômenos observados.
Lakatos e Marconi (1986) distinguem o conhecimento segundo sua origem, e
estabelecem quatro tipos de conhecimentos: a) o conhecimento popular; b) o
conhecimento filosófico; c) o conhecimento científico; d) o conhecimento religioso; e) o
conhecimento poético e f) o conhecimento político. Dentre esses, e não menos
importante, o que nos interessa nesta discussão é o conhecimento científico.
O conhecimento científico é sistemático e está baseado na observação e
experimentação, assemelhando-se e utilizando o conhecimento filosófico e o
conhecimento poético para se sustentar. Esse tipo de conhecimento propõe a
experimentação científica para a comprovação de suas hipóteses. Cabe ressaltar que
o conhecimento científico pode adotar diferentes métodos para fundamentar as
pesquisas científicas, sendo o método hipotético-dedutivo, o método indutivo, o
método interpretativo e o método dialético-interpretativo (LAKATOS; MARCONI, 1986).
O método, antes de tudo, busca formalizar logicamente as ações do pensamento,
compondo um “corpus teórico” e um “corpus de pesquisa”.
Fialho, Remor e Sousa (2012) explicam que o caráter epistemológico do
método científico é garantido pela possibilidade de um outro sujeito, seguindo os
mesmos passos de um primeiro, confirmar ou refutar a evidência científica. Assim, o
processo de pesquisa deve ser composto e descrito de modo que um outro
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pesquisador possa percorrer as mesmas etapas lógicas e experimentais, conferindo


de modo crítico os procedimentos desenvolvidos e as conclusões decorrentes.
Dessa forma, tem-se a codificação de um conhecimento, antes empírico, para
se tornar científico, segundo os métodos e a abordagem epistemológica empregados
no processo de pesquisa.
4 Metodologia
O estudo teve como método de pesquisa a pesquisa bibliográfica. Sua
finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito
sobre determinado assunto, permitindo ao pesquisador reforçar suas análises ou
manipulações de suas informações (MARCONI; LAKATOS, 2009).
5 Discussão
Bloom enfatiza que a aprendizagem é hierárquica, considerando que, para
atingir ao mais alto nível de apresendizado cognitivo, que é a criação, ela depende da
realização do mais baixo nível de conhecimentos e habilidades, num processo
evolutivo. Já a proposição da Taxonomia Revisada, apesar de manter o mesmo
desenho hierárquico da original, é flexível, pois considera a possibilidade de
interpolação das categorias do processo cognitivo. A Taxonomia de Bloom fornece
uma base coerente e sólida para a aplicação, análise, avaliação e criação do
conhecimento, e, consequentemente, determina o domínio cognitivo do planejamento
educacional dos docentes e do aprendizado dos alunos.
Anderson et al.(2001) afirmam que a Taxonomia de Bloom revisada possibilita
melhorar a estrutura dos objetivos educacionais, como também auxiliar os educadores
na elaboração do seu planejamento educacional. Kimiz (2005) elucida que a
Taxonomia de Bloom não está sendo utilizada apenas no âmbito da educação, mas
também nas organizações intensivas em conhecimento. Portanto, a utilização da
Taxonomia de Bloom na educação possibilita uma melhor comprensão das várias
dimensões do conhecimento, visando um desempenho satisfatório do discente para
que ele atinja os níveis de análise, síntese e avaliação, como também da criação de
novos conhecimentos.
Para muitos pesquisadores iniciantes, a epistemologia não confere relevância
no processo de organização metodológica, porém, aqueles que não compreendem
seu papel na ciência, certamente não têm condições de realizar reflexões exaustivas e
de qualidade na interpretação dos resultados finais da investigação científica. Peirce
(1992) afirma que a falta de coerência lógica com os dados da realidade, mesmo sob
uma pseudo-ordenação de relações, torna evidente o sofisma (ou a falsa lógica), ou
seja, é por meio de um sistema de representação e interpretação da realidade, que a
investigação científica pode ser validada.
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O campo de reflexão e validação dos sistemas de representação e


interpretação que compõem a Teoria do Conhecimento é a Epistemologia. Neste
sentido, pode-se afirmar que a Taxonomia de Bloom está pautada nos objetivos da
Epistemologia, pois se presume reconhecê-la como um sistema de organização
metodológica quando se busca reconhecer quais verbos devem ser adotados em
primeiro lugar na construção do plano de ensino. Esta realidade busca alavancar o
conhecimento por meio dos processos de compreensão, aplicação, análise, avaliação
e criação do conhecimento na esfera educacional, como também nas organizações do
conhecimento.
6 Considerações finais
Observa-se que a Taxonomia de Bloom Revisada é uma ferramenta relevante
para analisar as dimensões do conhecimento que são propostas no Projeto Político
Pedagógico do EGC. Esta ferramenta também contribui para o acompanhamento do
professor quanto aos objetivos educacionais escolhidos para a disciplina, que serão
desenvolvidos pelos alunos ao longo do processo de ensino-aprendizagem,
favorecendo também o controle da eficiência dos planejamentos executados.
Torna-se evidente que as instituições de ensino que adotam a Taxonomia de
Bloom para planejar e organizar os planos de ensino com vistas ao desempenho e
amadurecimento do aluno, no que se consagra a evolução do conhecimento, obtém
êxito no processo de ensino-aprendizagem, já que definem previamente os objetivos
de aprendizagem e as formas de alcançá-lo, elencando as ferramentas mais
apropriadas para este fim.
Em suma, a Taxonomia de Bloom é uma ferramenta relevante para ampliar e
potencializar as atividades acadêmicas necessárias ao cumprimento dos objetivos do
planejamento educacional. Verifica-se que, a sua utilização para a elaboração dos
planos de aula propicia ao docente, o alinhamento entre o que é registrado e o que é
realizado em suas aulas, propõe conexões ao conhecimento de forma a estabelecer a
relação entre a teoria e a prática, como também possibilita o acompanhamento do
processo do conhecimento construído e adquirido pelos alunos. Permite ainda aos
alunos desenvolverem suas habilidades de pensamento em níveis cognitivos
superiores, não só de compreensão, aplicação, análise e síntese, mas também da
criação de novos conhecimentos.

7 Referências
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assessing: a revision of Bloom's Taxonomy of educational objectives: Complete
edition, New York : Longman, 2001.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
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