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1 INTRODUÇÃO
Algumas pesquisas atuais sobre o ensino de ciências têm dado ênfase na
importância de se ter uma formação humanista de forma ampla. A incorporação de
elementos da História da Ciência (HC) no ensino de ciências é um dos caminhos
para essa formação. A HC mostra como os conceitos físicos se desenvolveram ao
longo do tempo. Isso ajuda o aluno a entender como se dá o desenvolvimento da
ciência e como ela é influenciada pela época e os diversos contextos em que está
imersa.
A história da ciência quando apresentada ligada ao tema/conceito específico
traz uma contextualização, pois a ciência influencia e é influenciada pela época em
que se insere. O contexto e necessidades da época influenciam a maneira como ela
se desenvolverá deixando assim sua marca temporal.

Para Chevallard (1991), se a ciência é entendida como uma atividade


humana desenvolvida em um dado contexto sociocultural, à construção dos
saberes escolares também é concebida como um processo
contextualizado, influenciado por inúmeros elementos do seu entorno sócio-
político-social. (FORATO et al, 2011, p. 30)

Destaca-se o papel dos livros didáticos (LD) como elemento que possa
contribuir para inserção da HC nas aulas de física. Até porque estes ainda são os
principais materiais de referência para muitos professores ao planejarem suas aulas
e para os alunos no processo de aprendizagem. Não é incomum que o professor
fique preso ao conteúdo presente no LD.
No Brasil existe o Programa Nacional do Livro Didático PNLD como
responsável pela avaliação dos LD. É esse programa que indica elementos do
currículo que devem estar presentes nos livros, sendo também responsável por
distribuir de forma gratuita o LD a todas as escolas públicas do país.
Considerando a importância da HC no ensino de física e o LD como material
de referência, foi considerado importante analisar como a HC se mostra presente
nos livros. Contudo optou-se por fazer a análise em um tópico específico, a Física
Moderna e Contemporânea. A escolha por esse tema se deve ao fato de a HC ser
uma das abordagens mais comuns neste tópico (RODRIGUES, 2019) e por ser um
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tema importante a ser tratado no ensino médio (EM) porque nos permite abordar
questões que permeiam nossas tecnologias atuais. Assim, neste trabalho pretende-
se avaliar como a HC se mostra presente nos tópicos de FMC dos Livros didáticos
aprovados na última edição do PNLD, em 2018. Assim, o objetivo principal desta
pesquisa é realizar a análise da presença e de como a História da Ciência está
presente nos tópicos de Física Moderna e Contemporânea nos Livros Didáticos
aprovados pelo PNLD antes da implantação da BNCC. Vale ressaltar que esta
pesquisa começou a ser desenvolvida antes da divulgação dos atuais livros e por
isso optou-se por manter essa amostra.

2 HISTÓRIA DA CIÊNCIA NO ENSINO


DE CIÊNCIAS E OS LIVROS
DIDÁTICOS, OS ELEMENTOS
TEÓRICOS DESTA PESQUISA
No desenvolvimento deste trabalho notou-se a importância de discutir sobre
dois elementos principais, a História da Ciência no ensino de ciências, e os livros
didáticos. Neste tópico podem ser observadas algumas ideias iniciais desses
elementos para uma contextualização sobre os temas e suas importâncias para este
trabalho. Durante o desenvolvimento desta pesquisa, será feito um aprofundamento
maior dessas questões.

2.1 História da Ciência


Não é incomum encontrar, ainda, a ideia que a ciência é construída como
uma soma de descobertas que surgem para explicar ou resolver algum problema da
sua época e que vai se acumulando ao longo do tempo. Introduzir a história da
ciência no ensino é uma das formas de desconstruir esse tipo de visão inadequada
sobre a construção do conhecimento científico. Além disso, trabalhar com HC em
sala de aula é uma forma de discutir sobre os métodos de investigação científica e
promover um ensino mais contextualizado.
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O desenvolvimento do pensamento crítico e criativo figura os principais


anseios de uma educação científica de qualidade em todos os níveis da
educação. Preparar o estudante para lidar com as constantes inovações
das ciências e tecnologias, além de entender a articulação entre os
conteúdos científicos e seus usos sociais, significa promover o
desenvolvimento de competências visando contribuir para o complexo
processo de ensino aprendizagem. (Forato et al, 2011, p 2 e 3)

Ao incluir tópicos de HC nas aulas é esperado ressaltar a ciência como um


processo de construção humana, que se desenvolve com o tempo e não algo já
terminado, como muitas vezes aparece nos livros. A HC presente nas aulas pode
fazer a ciência ser mais interessante para o aluno que agora passa a conhecer o
contexto da teoria.

[...] uma importante dificuldade no ensino de ciência reside no fato de


serem apresentados aos estudantes conhecimentos já elaborados, sem
que os problemas que se pretendia resolver na época e as dificuldades
encontradas na sua solução sejam sequer comentados. Isso dificulta a
compreensão das limitações e da provisoriedade do conhecimento
científico, em constante processo de desenvolvimento. Nesse sentido, a
história da ciência enquanto componente do conhecimento físico tem papel
relevante. (MORAES, 2017, p15).

A história da ciência pode ser o diferencial para a contextualização de alguns


conceitos de física. A HC, quando utilizada de forma correta pelo professor, pode
fazer com que os alunos entendam que o conhecimento é desenvolvido com o
tempo e ao longo dele através de processos que podem não ser lineares. A partir
disso também é possível mostrar como o conteúdo que está sendo exposto se
relaciona com outras disciplinas.
Quando em contato com a HC, os estudantes podem desenvolver uma
habilidade crítica, pois foi apresentada a eles evidências que mostram como o
conhecimento se constrói, assim é possível que eles consigam formar suas opiniões
sobre questões científicas que divergem do senso comum.
Com o estudo da HC, o estudante pode aprimorar sua consciência histórica,
social e política, para assim entender melhor como a ciência, em cada época, foi
desenvolvida e influenciada pelo contexto histórico, político, social e econômico.
Assim, os alunos podem compreender melhor a importância da ciência e suas
implicações na sociedade (SILVA, PAGLIARINI, 2008). A HC pode evidenciar como
os cientistas ao longo do tempo superaram dificuldades, desenvolvendo soluções
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para alguns problemas presentes na época (nota-se a vacina da covid como um


exemplo recente).

2.2 Livro didático


O livro didático representa o material mais utilizado na educação brasileira,
sendo corriqueiramente o principal instrumento para o professor, tanto para
preparação das aulas, quanto para aquisição de conhecimento, além de que, para
os alunos é a principal fonte de informação. Sendo assim, as informações contidas
no LD têm um grande papel na formação dos alunos.
Segundo Chopin (2004), o livro didático é de extrema importância por exercer
algumas funções no processo educativo do qual destacamos duas:

1.Função referencial, também chamada de curricular ou pragmática,


desde que existam programas de ensino: o livro didático é então
apenas a fiel tradução do programa ou, quando exerce o livro jogo da
concorrência, uma de suas possíveis interpretações. Mas em todo o
caso, ele constitui o suporte privilegiado dos conteúdos educativos, o
depositário dos conhecimentos, técnicas ou habilidades que um grupo
social acredita que seja necessário transmitir às novas gerações.
2.Função instrumental: o livro didático põe em prática métodos de
aprendizagem, propõe exercícios ou atividades que, segundo o
contexto, visam a facilitar a memorização dos conhecimentos, favorecer
a aquisição de competências disciplinares ou transversais, a
apropriação de habilidades, de métodos de análise ou de resolução de
problemas etc. (p. 533)

Justamente por ser a principal fonte de referência de alunos, é importante


que os livros apresentem conteúdos e abordagens destes, de forma adequada para
a formação que se espera dos alunos.
No Brasil, existe um programa de distribuição de LD para escolas públicas
desde 1937. O Instituto Nacional do Livro que era responsável por essa distribuição
para as primeiras séries do ensino fundamental. Atualmente, o PNLD é responsável
pela distribuição dos livros para todos os anos do ensino fundamental e médio, e
pela avaliação e seleção desses livros.
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Após a avaliação dos livros, o Ministério da Educação (MEC) envia uma


resenha dos livros aprovados para as escolas públicas. Resenhas essas que podem
ajudar os professores e as escolas na escolha da coleção de livros que irão adotar.
É importante ressaltar que as coleções mudam de 3 em 3 anos, esse é o tempo
necessário para o processo de seleção e distribuição dos livros de um dado nível de
ensino pelo PNLD.
Com relação a abordagem da HC nos livros didáticos, existem algumas
orientações entre os critérios de avaliação do PNLD, visando uma melhor
adequação dessa abordagem. Segundo tais critérios, os LD devem conter uma
visão da HC de uma forma crítica, contextualizada com a evolução do conhecimento
científico ao passar do tempo. É importante, também, que o livro traga o peso de
diferentes épocas e culturas para o desenvolvimento do conhecimento científico.
Além disso, os livros devem fazer uso da HC com uma visão pluralista, fazendo
diferentes abordagens, principalmente sobre principalmente sobre métodos
científicos para que não haja da parte dos estudantes uma percepção de que exista
um método científico único.
Segundo Silva e Pagliarini (2008), quando há uma má qualidade dos
elementos da História e Filosofia da Ciência, possibilita-se o seguinte senso comum
na formação do estudante:

A primeira importante característica ou percepção sobre a ciência que


vem à mente da maioria dos estudantes talvez seja a existência de um
método científico universal, o qual todas as pessoas que façam ou
desejam fazer ciência devem seguir. De uma maneira geral, esses
passos comuns que são seguidos pelos cientistas, se apresentam da
seguinte maneira: um primeiro estágio, onde é necessário definir o
problema a ser estudado; por meio de algumas informações anteriores
sobre o problema, se existentes, deve-se então formular uma hipótese;
em seguida vem um dos momentos cruciais do método onde se é
necessário fazer rigorosas medições e observações acerca do
problema estudado para assim ser possível um teste rigoroso da
hipótese formulada; finalmente, confirmada ou não a hipótese, tem-se
as conclusões onde se comunicam os resultados obtidos (McCOMAS,
1996) (SILVA e PAGLIARINI, 2008, p.3)
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De forma resumida, o PNLD faz as orientações para que o conteúdo da HC


tenha uma visão crítica e pluralista da evolução do conhecimento científico, de
maneira que possa mostrar um vínculo entre ciência, tecnologia, sociedade, cultura
e economia, para o avanço do conhecimento.
Segundo o guia do PNLD, alguns motivos para os livros usarem a HC são:
Aspectos relacionados à História da Ciência são igualmente utilizados
no processo de contextualização do ensino de Física, com o objetivo
de associar a aprendizagem do conteúdo a aspectos relacionados ao
seu desenvolvimento. Pode-se, nesse caso, valorizar uma história
mais interna ao âmbito da Ciência, discutindo a evolução de um
conceito, ou destacando experimentos e situações exemplares que
possam contribuir para uma mudança conceitual, ou ainda uma
história que se liga à fatores externos, com o objetivo de relacionar o
conhecimento científico ao momento histórico de seu desenvolvimento,
incorporando-o aos aspectos sociais, culturais, políticos ou
econômicos. Em ambos os casos, há a preocupação de se
transcender a perspectiva empirista, evitando que o conhecimento
científico seja identificado como aquele que é absoluto e
inquestionável e, ao mesmo tempo, construindo a visão de que a
Ciência é um conjunto de conhecimentos sistematizados, produzidos
socialmente ao longo da história, na busca da compreensão e
transformação da natureza e da sociedade. (BRASIL, ANO, p.11)
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