1) O documento discute a importância de seguir métodos científicos ao elaborar trabalhos acadêmicos em direito, como monografias e dissertações.
2) Muitos estudantes de graduação e pós-graduação em direito precisam escrever trabalhos, mas não têm interesse em se tornar pesquisadores.
3) O livro fornece um guia prático para a elaboração desses trabalhos, abordando questões como uso da jurisprudência e entrevistas de forma acessível.
1) O documento discute a importância de seguir métodos científicos ao elaborar trabalhos acadêmicos em direito, como monografias e dissertações.
2) Muitos estudantes de graduação e pós-graduação em direito precisam escrever trabalhos, mas não têm interesse em se tornar pesquisadores.
3) O livro fornece um guia prático para a elaboração desses trabalhos, abordando questões como uso da jurisprudência e entrevistas de forma acessível.
1) O documento discute a importância de seguir métodos científicos ao elaborar trabalhos acadêmicos em direito, como monografias e dissertações.
2) Muitos estudantes de graduação e pós-graduação em direito precisam escrever trabalhos, mas não têm interesse em se tornar pesquisadores.
3) O livro fornece um guia prático para a elaboração desses trabalhos, abordando questões como uso da jurisprudência e entrevistas de forma acessível.
QUEIROZ, Rafael Mafei; FEFERBAUM, Marina. Metodologia da pesquisa em direito:
técnicas e abordagens para a elaboração de monografias, dissertações e teses. São Paulo: Saraiva, 2019.
Metodologia Científica é uma disciplina teórica e normativa. Ela informa
a um pesquisador como ele deve proceder à análise de seu objeto de pesquisa para que o faça de maneira cientificamente válida. Diz ainda como os resultados da pesquisa devem ser registrados em um relatório final (dissertação de mestrado, tese de doutorado etc.). O objetivo de quem realiza uma pesquisa acadêmica é produzir um texto cientificamente respeitável. Nesse sentido, não faz diferença se o tema do trabalho é algo muito teórico (“Qual o conceito de validade jurídica em Hart?”) ou mais prático (“Qual a diferença entre monopólio estatal e serviços prestados em caráter exclusivo pelo Estado?”), pois se o seu autor pretende que ele seja reconhecido como um trabalho científico, então deve escrevê-lo observando certas regras que a comunidade acadêmica estabelece como pedigrees de trabalhos dessa natureza. Essas regras amparam-se em fundamentos filosóficos que a disciplina de Metodologia Científica sintetiza, organiza e expõe. Por esse motivo, tanto as disciplinas de metodologia científica que são obrigatoriamente oferecidas em cursos de graduação e pós-graduação em Direito quanto a bibliografia fundamental indicada para esses cursos dedicam muita atenção a temas que interessam bastante a quem tenha curiosidade teórica sobre o direito e seu status epistemológico, mas que interessam pouco aos alunos que não tenham esse perfil. Para quem quer fazer um trabalho de qualidade, mas nem por isso deseja se converter em filósofo da ciência, ou em profundo teórico do direito, as preleções sobre paradigmas da ciência moderna ou separação entre sujeito e objeto soam enfadonhas e distantes. Muitas vezes são frustrantes também, pois não ajudam, de maneira imediata, a enfrentar os obstáculos mais corriqueiros que surgem durante a escrita de um trabalho científico. O papel dos trabalhos científicos no Direito mudou muito de alguns anos para cá: hoje temos muitas (demasiadas, a bem da verdade) faculdades de direito funcionando no Brasil, onde estudam milhares de alunos que têm, todos, a obrigação de escrever trabalhos científicos – a temida monografia de final de curso, ou trabalho de conclusão de curso – como requisito para seu bacharelado. Boa parte desses alunos irá, pouco tempo depois da formatura, perseguir uma especialização acadêmica em sua área de preferência em algum dos muitos cursos de pós-graduação lato sensu existentes no mercado, os chamados cursos de especialização, onde, eventualmente, terão de fazer um trabalho científico. Embora a mais recente resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) tenha deixado de mencionar a obrigatoriedade de desenvolver um trabalho científico para obtenção do título de especialista, os cursos de mestrado profissional estão se multiplicando pelo país e exigem, para sua titulação, a produção de um trabalho acadêmico. Além disso, há dezenas de programas de mestrado e doutorado em Direito no Brasil, cada vez em maior número. Assim, de pouco tempo para cá, os trabalhos científicos no campo jurídico, que antes ficavam restritos ao mundo das poucas pessoas que buscavam formação em pesquisa em cursos de mestrado e doutorado em universidades públicas ou seletas escolas privadas, agora pertencem ao universo da massa variada de estudantes de graduação e pósgraduação em Direito. Esses estudantes têm interesses heterogêneos, mas é certo que muitos deles não querem ser cientistas, filósofos ou metodólogos; querem, isso sim, ser advogados tributaristas, juízes da infância e juventude, defensores públicos, membros do Ministério Público, diplomatas, procuradores etc. – querem, em outras palavras, perseguir carreiras jurídicas práticas e não acadêmicas. Essas pessoas têm, via de regra, preocupações formativas que passam longe da epistemologia jurídica ou da metodologia das ciências sociais, mesmo porque tais conhecimentos, embora úteis, não são condições necessárias para que se tenha sucesso em nenhuma dessas profissões. Nesse sentido, os bacharéis em Direito distanciam-se de quem vem das outras ciências sociais aplicadas: nestas últimas, os conhecimentos metodológicos são mais imediatamente constitutivos dos profissionais da área, sejam eles acadêmicos ou não. Um sociólogo precisa saber fazer pesquisa social quando atua como professor universitário, mas também quando é responsável por, digamos, pesquisas de mercado sobre comportamento de consumidores em uma agência publicitária. O mesmo não vale para um advogado, magistrado ou promotor: todos podem ser ótimos profissionais sem que estejam familiarizados com o estado da arte da metodologia da pesquisa jurídica (muito embora conhecimentos metodológicos sempre ajudem no bom pensar). Este livro objetiva fornecer um guia prático para a elaboração de trabalhos científicos em direito. Seu conteúdo é prático em um duplo sentido: primeiro, porque espelha dúvidas mais recorrentes e importantes que alunos de graduação e pós-graduação em direito fizeram e fazem aos seus autores, todos professores da disciplina em diferentes instituições de ensino pelo Brasil: como devo usar a jurisprudência na minha pesquisa? Tenho de escrever um capítulo histórico? Como devo fazer entrevistas, caso necessite delas? E assim por diante. Segundo, porque reflete também o estado da arte das pesquisas em que as autoras e os autores estão envolvidos enquanto acadêmicos, revelando desafios reais da investigação científica do direito e estratégias concretamente adotadas para sua superação. O livro encontra-se, portanto, no meio do caminho entre as dúvidas de alunos iniciantes na pesquisa e os desafios de pesquisadores profissionais do direito, cada qual escrevendo sobre sua área de expertise. A concepção de objetividade e praticidade do livro que antecedeu a este (Metodologia Jurídica, 2012) teve como referência o aluno de cursos de especialização em direito, cujo perfil era o do profissional sem tempo para se dedicar ao aprofundamento das questões teóricas relacionadas à produção acadêmica. Mas esse perfil de aluno, ocupado e inexperiente, se espalha por outros contextos: os acadêmicos não habituais e com pouca experiência de pesquisa estão também nos cursos de graduação e mestrado profissional; são seguramente a maioria nos cursos de pós-graduação stricto sensu também. Acadêmicos não habituais não têm na pesquisa científica sua principal ocupação, mas precisam, em algum momento particular, conhecer e aplicar de alguma maneira as técnicas e métodos de pesquisa de modo competente e funcional. Estamos entre aqueles que acreditam que essas habilidades não só viabilizam bons trabalhos científicos, mas contribuem também para o incremento de competências valorizadas nas profissões práticas do direito, tais como localização de informações precisas, resolução de problemas completos e clareza na argumentação escrita. O livro também pode servir a acadêmicos mais experientes, que poderão encontrar aqui informações úteis. Poderão consultá-lo como um manual prático para sanar dúvidas pontuais sobre exigências formais específicas (como uma referência bibliográfica pouco usual), bem como para aproveitar as dicas objetivas e precisas sobre as várias etapas da produção científica, as quais a experiência nem sempre é capaz de sistematizar com clareza. Não é raro que o tempo apague da memória algumas das lições dessa matéria ou que o hábito gere vícios pouco saudáveis. Esta obra atende a diferentes necessidades em diferentes níveis, portanto. Organizada como roteiro e estruturada como referência ponto a ponto entre os requisitos, as convenções e as formalidades da produção científica, ela pode ser consultada de diferentes maneiras, com distintos propósitos. Em linhas gerais, este livro possui uma sequência lógica e concatenada de capítulos, os quais podem ser lidos na ordem estabelecida ou consultados de maneira independente e em diferentes níveis de profundidade. Considerada em seu todo, esta obra revela sua utilidade como roteiro prático, sendo de especial valia aos estudantes iniciantes na graduação e na pós-graduação que tenham de fazer trabalhos de fôlego, seja em disciplinas específicas, ou, ainda, e principalmente, nas etapas de término, quando devem redigir seus trabalhos de conclusão de curso (TCC). Para os primeiros, que não possuem senão uma vaga ideia do que seja uma produção científica, uma leitura atenta deste livro, acompanhada de alguma atenção de seus orientadores, já os ajudará a produzir um trabalho acadêmico respeitável. Para os demais, muitos dos quais já passaram pelo temido trabalho de conclusão da graduação, este roteiro os ajudará a pôr em ordem os trabalhos de pós-graduação, cuja densidade de pesquisa exige um planejamento bem estruturado desde o início. Qualquer que seja o caso, este livro visa tornar acessível um conjunto de técnicas científicas mais diretamente aplicáveis a trabalhos jurídicos, de maneira concisa e abrangente, servindo a todos que necessitem de informações descomplicadas e objetivas que os auxiliem na produção científica em direito. O mestrado profissional em direito é recente no Brasil. O programa pioneiro foi o da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, iniciado em 2013. Depois deste, vários outros programas foram e estão sendo criados, em número que só tende a aumentar. A demanda por profissionais de mercado que buscam na academia uma alta qualificação está crescendo. Em grande parte, esses alunos são profissionais já com alguma experiência prática, mas que possuem pouca familiaridade com normas acadêmicas. São também pessoas que não possuem, como regra, folga de tempo disponível para se apropriar de rigores e formalidades científicas. Segundo a Portaria n. 17/20093, o mestrado profissional é um curso stricto sensu, mas com público-alvo distinto. Os alunos são profissionais com grande conhecimento e atuação no mercado, que não necessariamente pretendem seguir uma carreira exclusivamente acadêmica. Formam-se mestres, mas com foco voltado à pesquisa aplicada, e não pesquisadores com atuação exclusiva na academia. Este livro também está na medida do que mestrandos de programas stricto sensu profissionais precisam. Uma fonte de consulta objetiva e prática para auxiliá-los desde a formulação do seu problema de pesquisa até a execução e registros científicos. O Capítulo 3 é inteiramente dedicado à pesquisa jurídica no Mestrado Profissional. Os leitores notarão que recursos visuais, como tabelas e quadros, são frequentes no livro. Eles são estratégias de organização da informação apresentada pelos autores, de modo a simplificar a sua consulta. Notará também que todos os capítulos são recheados de exemplos, do que fazer e do que não fazer, referentes a cada tipo de pesquisa. Todos os exemplos são tirados de pesquisas reais, devidamente publicadas pelos seus autores. Na área do direito, os trabalhos de conclusão de curso (ou TCCs) não costumam ter a mesma variedade de formas das outras áreas do conhecimento, como nas artes (em que se pode produzir um vídeo, executar um número musical ou construir uma maquete) ou em áreas tecnológicas (em que se pode construir um robô ou um protótipo de automóvel). No direito, os trabalhos se apresentam sempre como textos escritos, no típico monográfico, com um conteúdo invariavelmente homogêneo (conceito, natureza jurídica, evolução histórica, o tema na jurisprudência etc.), o que faz pensar numa espécie de modelo canônico a partir do qual toda produção jurídica acadêmica é concebida e executada. Por isso, muitos têm a impressão de que existe um único tipo de trabalho de conclusão em direito – “a” monografia, como se não houvesse vários tipos de trabalhos monográficos – e que fazer um trabalho acadêmico-jurídico é sempre produzir um texto à imagem e semelhança desse cânone. Não é o caso. Mesmo limitados à forma escrita, os trabalhos jurídicos não são tão restritos como parecem à primeira vista. Além da conhecida “monografia”, artigos científicos, dissertações e teses exemplificam a variedade possível de trabalhos acadêmicos no campo jurídico. As opções à disposição do aluno dependem, por sua vez, do tipo de programa e da instituição de ensino em cujo âmbito o trabalho seja produzido, a qual pode estabelecer quais formatos serão aceitos. Por disposições regulamentares dos órgãos governamentais responsáveis pelos programas de mestrado e doutorado no Brasil, os trabalhos de conclusão nesses programas devem ser dissertações e teses, respectivamente, defendidos em sessões públicas perante uma banca de examinadores devidamente titulados. Já nos programas de graduação e pós-graduação lato sensu (especialização), admitem-se variedades de formatos. Ainda assim, o trabalho mais comumente solicitado nesses programas é a tradicional “monografia”, às vezes chamada de TCC (trabalho de conclusão de curso). É importante conhecer a especificidade de cada um desses trabalhos, de forma a ter clareza do que se exige de quem venha a empreender qualquer um deles. A “monografia” é o formato de trabalho mais adotado pelas faculdades de Direito no cumprimento da exigência de um trabalho obrigatório de final de curso. Como o nome indica, impõe conteúdo monográfico; ou seja, ela deve focar-se em um assunto específico e ser completa na abordagem que dele fizer. A monografia é um trabalho completo por si só, pois constrói um argumento bastante em si mesmo, da dúvida que suscita a investigação ao encaminhamento de uma possível conclusão, exaurindo o estudo da produção científica mais relevante a seu respeito. “Qualquer trabalho que se proponha a examinar um tema específico, esgotando a sua análise, seria subsumível no conceito genérico de monografia” (BARRAL, 2003, p. 15). A monografia é um gênero de trabalho acadêmico que pode compreender, portanto, desde um artigo científico de fôlego até uma longa tese de doutorado, passando por trabalhos de conclusão de cursos de graduação ou pós-graduação lato sensu, dissertações de mestrado ou mesmo trabalhos disciplinares de matérias específicas na graduação ou pós-graduação. No entanto, o nome “monografia” acabou associado, no Brasil, especificamente a trabalhos de conclusão de graduação e pós-graduação lato sensu. O primeiro aspecto constitutivo de uma monografia é o seu tema. O tema é a fronteira de um trabalho. Numa primeira aproximação, fixar um tema implica não mais do que delimitar um assunto. A “responsabilidade civil”, por exemplo, é uma primeira aproximação a um tema monográfico (ainda que seja excessivamente amplo e necessite de ulteriores recortes). A “responsabilidade civil do Estado por omissão” é outro exemplo, uma especificação do primeiro. Essa primeira aproximação deve, nos casos de trabalhos de pretensões mais científicas, ser mais delimitada e recortada de modo a produzir novos temas, cada vez mais restritos, todos desdobramentos da primeira aproximação ao tema: “responsabilidade civil objetiva por atividades de risco” seria uma especificação dentro do amplíssimo tema da “responsabilidade civil”, por exemplo. Porém, não importa o quanto seja delimitado, um tema nunca se esgota, pois o que o constitui não é apenas o assunto, mas também o enfoque de análise a que ele será submetido: uma compilação bibliográfica ampla sobre a responsabilidade civil em atividades de tratamento de resíduos tóxicos não se confunde com uma pesquisa jurisprudencial exaustiva sobre esse mesmo tema, embora as duas foquem nos mesmos institutos jurídicos. É por isso que não basta discorrer sobre determinado tema para se produzir uma monografia. É necessário fazê-lo de maneira direcionada, ou seja, com um objetivo. Monografias, como trabalhos científicos que são, partem de dúvidas e procedem de modo a respondê-las, colhendo dados e informações e fazendo interpretações e análises tendentes à resposta das perguntas iniciais. Essas dúvidas iniciais, a serem respondidas por meio do trabalho de pesquisa e análise de argumentos e dados, formam o verdadeiro tema de uma monografia. Se quero fazer uma pesquisa cujo propósito seja descobrir as nuances da jurisprudência sobre a responsabilidade civil decorrente de atividades de manejo de lixo tóxico, então o meu tema pode ser apresentado como “as regras de responsabilidade civil no manejo de lixo tóxico na jurisprudência” (faltaria ainda acrescentar o tribunal e o intervalo de tempo focados na pesquisa, o que daria ainda maior precisão ao recorte temático). O objetivo da minha investigação – aquilo que quero descobrir – constitui meu tema, note-se bem, moldando-o a partir de um assunto mais amplo (responsabilidade civil por atividades de risco inerente). Nem todo objetivo é compatível com o conteúdo de um texto monográfico. Textos com o objetivo de ensinar, explicar ou divulgar determinado tema não são monográficos, normalmente, pois não possuem foco, aprofundamento ou completude suficientes em relação a um tema, elementos que uma monografia deve ter. Tratados, manuais e cursos, por mais completos que sejam, não são monográficos, pois sua principal ambição é, digamos, horizontal – cobrir todo um campo de conhecimento, não mais do que panoramicamente –, enquanto que em uma monografia o propósito do autor deve ser vertical: aprofundar-se em um aspecto bastante restrito de um tema pontual. Um texto monográfico deve ter um ponto de partida (perguntas), um caminho (coleta de dados ou argumentos, análises e intepretações) e um ponto de chegada (conclusão), alinhados coerentemente com vistas ao objetivo inerente ao tema da pesquisa. Um bom critério para saber se um trabalho é monográfico é verificar se o texto traz um raciocínio que conduz a uma conclusão. Não basta que ele tenha um capítulo final intitulado “Conclusão” se esta não decorrer de um desenvolvimento intencional e articulado do texto, com base em dados e argumentos interpretados ao longo do trabalho. Não basta, portanto, escrever um texto no estilo manual didático (conceito, natureza jurídica, evolução histórica...), criar um tópico final denominado “Conclusão” e apresentar o trabalho como se monográfico fosse. As leitoras e os leitores mais atentos já terão notado que os mais populares manuais e cursos do mercado editorial brasileiro não têm um capítulo de conclusão, o que faz perfeito sentido, já que manuais não são construídos com o propósito de concluir coisa alguma. Trabalhos que se pretendem monográficos, mas são elaborados à moda de manuais em geral, mostram-se inconclusivos, não obstante, como aponta Oliveira (2006), seus autores esforcem-se para, ao final, apresentar conclusões que muitas vezes não superam o senso comum, e que não dependem de uma pesquisa científica para que se chegue a elas: “o tema é difícil”, “o assunto é instigante”, “há muitas nuances”, “é preciso decidir com cautela” etc. Casos tais apenas demonstram que seus autores começaram trabalhos que deveriam ser monográficos, mas não tinham seus objetivos bem definidos: faltavam-lhes perguntas claras e uma ideia de como respondê-las. Imaginemos um trabalho não monográfico sobre responsabilidade civil. O texto apresentaria de início os elementos da responsabilidade: dano, nexo causal e culpa. Explicaria, em seguida, cada um deles, detalhando cada teoria envolvida. Seguiria, então, para a discussão dos sujeitos envolvidos, dedicando um capítulo inteiro ao Estado. E por aí iria. Ao final, concluiria seu autor que a responsabilidade civil é um tema complexo, que merece ser estudado em minúcias, que certos aspectos só podem ser apreciados caso a caso etc. O leitor desse texto certamente ficaria bem informado sobre os conceitos básicos da matéria, mas tal conclusão não é aquilo que se espera de um trabalho monográfico. Ou melhor, tal “conclusão” nem é, em sentido próprio, uma verdadeira conclusão. Não basta incluir um capítulo chamado “Conclusão” para que o trabalho, por mágica, torne-se conclusivo: a conclusão depende de um concatenamento argumentativo que não existe em um trabalho com esse conteúdo. Em um trabalho verdadeiramente monográfico sobre o mesmo tema do exemplo anterior, o autor passaria rapidamente pelos elementos da responsabilidade, conceituando-os com brevidade e profundidade apenas necessária ao enfrentamento de suas questões de pesquisa. Optaria, como introdução do trabalho, por contextualizar a responsabilidade civil à luz da Constituição de 1988, analisando o instituto a partir das decisões do Supremo Tribunal Federal, especificamente nos pontos em que o entendimento da corte mudou em relação à Constituição anterior. Observaria o autor que, embora não tivesse havido quaisquer alterações relevantes de redação da normativa constitucional da responsabilidade civil do Estado, a jurisprudência da corte sobre esse tema mudou a partir da nova Carta. *********************************************************
ADEODATO, João Maurício. Bases para uma metodologia da pesquisa em Direito. Revista CEJ. Brasília. n 7. jan/abr. 1999
Este livro está dividido em cinco partes, fracionadas em 27 capítulos.
Cada parte representa uma etapa do roteiro de elaboração de um trabalho científico em direito; e cada capítulo, um tópico possivelmente relevante para cada uma dessas etapas. Embora as grandes partes cubram etapas necessárias à produção de um trabalho científico (determinar o tipo de pesquisa a ser feita, executá-la, redigir o trabalho), os capítulos dentro de cada uma delas terão pertinências diferentes para diferentes tipos de pesquisa: quem for fazer, por exemplo, um trabalho de pesquisa jurisprudencial deverá passar pelos Capítulos 6 e 13, mas não precisará passar pelo Capítulo 8 se estiver convencido de que seu trabalho não precisará de uma parte histórica. Na primeira parte, há orientações gerais sobre os objetivos do livro e como utilizá-lo (Capítulo 1), bem como os formatos possíveis de trabalhos acadêmicos que alunas e alunos de direito podem ter de escrever (Capítulo 2). Ela também inclui um capítulo sobre a pesquisa jurídica aplicada no âmbito de mestrados profissionais (Capítulo 3). A parte 2 pode ajudar o pesquisador na etapa inicial de construção da sua pesquisa, oferecendo caminhos e inspirações para iniciar a concepção do seu problema de pesquisa caso esteja com dúvida sobre o tema diante da área de interesse (Capítulo 4). O Capítulo 5 cuida de uma das dúvidas elementares de jovens pesquisadores: como é possível dar “cientificidade” à resposta de uma questão jurídica controvertida, quando parece haver boas razões para ambos os lados da contenda? Há também capítulos que ajudam a avaliar a necessidade de uma pesquisa jurisprudencial (Capítulo 6), de um capítulo histórico (Capítulo 8) ou de direito comparado (Capítulo 9). O Capítulo 7 trata de um tema inexplicavelmente negligenciado na pesquisa jurídica (salvo raras exceções, como é o caso dos autores que o escreveram): a pesquisa legislativa. A parte 3 apresenta métodos e técnicas úteis para a execução de vários tipos de pesquisa jurídica. Ele começa com o projeto de pesquisa, documento básico para o planejamento de uma investigação minimamente adequada (Capítulo 10). Em seguida, apresenta ferramentas para localização de informação jurídica básica na internet (“doutrina” e legislação, pois jurisprudência é cuidada no Capítulo 6). O Capítulo 12 apresenta um método e técnicas para leitura de textos teóricos complexos. O Capítulo 13 explica como coletar e organizar as informações coletadas em pesquisa jurisprudencial de modo adequado e funcional. Os capítulos seguintes abordam a realização de entrevistas (Capítulo 14) e a observação etnográfica em contextos jurídico-institucionais (Capítulo 15). O Capítulo 16 apresenta orientações para a realização de pesquisa em arquivos históricos, enquanto o Capítulo 17 explica o uso do método do estudo de caso e sua aplicação para temas jurídicos. Na parte 4, apresentamos algumas agendas contemporâneas da pesquisa jurídica, que podem apontar caminhos interessantes de pesquisa. Elas cuidam de áreas interdisciplinares, cujo conteúdo não foi ainda “canonizado” por manuais ou programas oficiais de disciplina, e que por isso costumam trazer maiores dificuldades para pesquisadores menos experientes. Há capítulos que apresentam os campos de pesquisa de Direito e Economia (Capítulo 18), Direito e Políticas Públicas (Capítulo 19), Direito e Tecnologia (Capítulo 20), Direito, Feminismos e Gênero (Capítulo 21), Direito e Discriminação (Capítulo 22), e finalmente o estado da arte da agenda de pesquisa sobre o Supremo Tribunal Federal (Capítulo 23). Detalhamento e orientações sobre o registro formal e escrito da pesquisa estão na parte 5. A pesquisa deve culminar com a redação de um texto (artigo, TCC, dissertação ou tese) que a apresente e a comunique de maneira clara, correta e eficiente. O Capítulo 24 traz apontamentos iniciais para a redação de textos acadêmicos em direito. O Capítulo 25 explica as normas para formatação do texto e padronização de textos e referências, conforme as normas técnicas da ABNT ou o Manual de Chicago. O Capítulo 26 apresenta ferramentas de informática necessárias para a formatação do trabalho final, ensinando como resolver rapidamente dificuldades com processadores de texto que roubam tempo de acadêmicos das humanidades. O Capítulo 27 é dedicado às boas práticas éticas na pesquisa e na redação de textos jurídicos.
A mudança paradigmática no processo de ensino e aprendizagem jurídica do Brasil contemporâneo a partir do uso de metodologias ativas: a sala de aula invertida