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1a edição – 1980
36a edição – 2014

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N13i
Nader, Paulo
AOS JURISTAS DE AMANHÃ

(Mensagem aos iniciantes no estudo do Direito)

Conheço as dúvidas e inquietações dos acadêmicos ao ingressarem


nos cursos jurídicos. Durante muitos anos, no magistério de disciplinas
propedêuticas, desenvolvi processos interativos com os jovens, tendo por
objeto não apenas os conceitos gerais ou específicos de nossa Ciência, mas,
ainda, os aspectos psicológicos que envolvem o começo da aprendizagem.
Na fase de iniciação, muitas são as dificuldades. A linguagem técnica
dos livros constitui, invariavelmente, um desafio a ser superado e, às vezes,
o obstáculo do acadêmico situa-se também na verbalização de suas ideias,
ao carecer de recursos para a exposição clara de seu pensamento. Acresce,
para muitos, a frustração ao não encontrar, de imediato, os assuntos que
despertam o seu fascínio, como o habeas corpus ou o mandado de
segurança.
Em lugar da análise de institutos jurídicos populares, a temática que se
lhes apresenta é de conteúdo sociológico ou filosófico, que o seu espírito
não assimila com avidez. As especificidades se limitam, por ora, às noções
fundamentais do Direito. Compreende-se, um projeto tão grandioso quanto
o de formação do jurista de amanhã não se executa aleatoriamente, nem
atendendo à imediatidade dos interesses. Os conteúdos são relevantes, mas
o método adequado de aprendizagem é indispensável, tanto na seleção dos
temas, quanto na sequencialidade de seus estudos.
Durante o curso, a teoria e a prática são igualmente importantes e
devem ser cultivadas sem preponderância de enfoque. O saber apenas
teórico é estéril, pois não produz resultados; a prática, sem o conhecimento
principiológico, é nau sem rumo, não induz às soluções esperadas. Para ser
um operador jurídico eficiente, o profissional há de dominar os princípios
informadores do sistema. O raciocínio em torno dos casos concretos se
organiza a partir deles, que são os pilares da Ciência do Direito. A resposta
para as grandes indagações e a solução dos casos complexos não se
encontram em artigos isolados de leis, mas na articulação de paradigmas e a
partir dos inscritos na Constituição da República.
A experiência de vida é um fator favorável ao estudo do Direito, que é
uma disciplina das relações humanas. Quem está afeito à engrenagem social
ou aos problemas da convivência possui uma vantagem, pois o
conhecimento da pessoa natural e da sociedade constitui um pré-requisito à
compreensão dos diversos ramos jurídicos.
As disciplinas epistemológicas, que não tratam do teor normativo das
leis, mas de suas categorias fundantes, devem ser a prioridade nos primeiros
períodos. O acadêmico pode até, paralelamente, acompanhar o andamento
de processos, engajando-se em escritório de advocacia, o que não deve é
preterir os estudos de embasamento ou adiá-los. A assimilação de práticas
concretas, sem aquela preparação, pode gerar vícios insanáveis.
Tão importante quanto a formação técnica do futuro profissional é o
desenvolvimento paralelo de sua consciência ética; é o seu compromisso
com a justiça. A seriedade na conduta, a firmeza de caráter e a opção pelo
bem despertam o respeito e dão credibilidade à palavra. O saber jurídico,
sem os predicados éticos, não se impõe, não convence, pois gera a
desconfiança.
A implementação do jurista de amanhã se faz mediante muita
dedicação. A leitura em geral, especialmente na área de ciências humanas,
se revela da maior importância. O desejável é que o espírito se mantenha
inquieto, movido pela curiosidade científica, pela vontade de conhecer a
organização social e política, na qual se insere o Direito. Para os
acadêmicos, tão importante quanto a lição dos livros é a observação dos
fatos, da lógica da vida, pois eles também ensinam. O hábito de raciocinar é
da maior relevância, pois nada aproveita quem apenas se limita a ler ou a
ouvir. Cada afirmativa, antes de assimilada, deve ser avaliada, submetida a
análise crítica.
O curso jurídico é um processo pedagógico, que visa a criar o hábito
de estudo. A educação jurídica requer perseverança; é obra do tempo. Ela
amolda o espírito, orientando-o na interpretação do ordenamento e na arte
de raciocinar. A busca do saber é atividade que apenas se inicia nos centros
universitários; o seu processo é interminável. Por mais sábio que seja o
jurista, não poderá abandonar os compêndios. A renovação dos
conhecimentos há de ser uma prática diária, ao longo da existência.
Na vida universitária, que é toda de preparação, o estudo de línguas
deve ser cultivado e a partir da bela flor do Lácio, que é instrumento
insubstituível em nosso trabalho. Ao seu lado, outras se revelam da maior
importância para as pesquisas científicas, como a espanhola, a francesa, a
italiana e a alemã, entre outras. O conhecimento da língua inglesa permitirá
a participação do futuro jurista em conclaves internacionais.
Ao ingressar nas Faculdades, os estudantes devem ter em mente um
projeto, visando a sua formação profissional. Haverão de ser ousados em
sua pretensão: por que não um jurista ou um causídico de projeção? Um
mestre ou um jurisconsulto de nomeada? O fundamental, depois, será a
coerência durante o período de aprendizado: a utilização de meios ou
instrumentos que transformem o projeto em realidade.
A nota que distingue o verdadeiro jurista, a meu ver, é a sua
autonomia para interpretar as novas leis; é a capacidade para revelar o
direito dos casos concretos, sem a dependência direta da doutrina ou da
jurisprudência. Estas são importantes instrumentos na definição das normas
e do sistema jurídico em geral, mas devem ser apenas coadjuvantes nos
processos cognitivos. Dentro desta visão, o acadêmico há de preocupar-se
mais com os princípios e técnicas de decodificação do que propriamente em
assimilar os conteúdos normativos. Estes, muitas vezes, possuem vida
efêmera, pois as leis e os códigos estão em contínua mutação,
acompanhando a evolução da sociedade.
O ordenamento jurídico que o legislador oferece aos profissionais do
Direito carece de sistematização ou de coerência interna e apresenta
importantes omissões, ditadas algumas pelo avanço no âmbito das ciências
da natureza, como a Biologia e a Física. Cabe ao intérprete a tarefa de
cultivar a harmonia do sistema e propor o preenchimento de lacunas.
A teoria, como se depreende, é importante, não a ponto de prescindir
da experiência, adquirida na análise de casos propostos. Não se formam
juristas apenas pela leitura de livros, no recolhimento das bibliotecas.
Ressalvadas, pelo menos em nosso meio, as figuras exponenciais de Pontes
de Miranda e de Miguel Reale, desconheço a figura do jurista precoce,
daquele que domina o saber jurídico em plena juventude, antes mesmo de
sua colação de grau e de se afeiçoar aos embates forenses.
O jurista de amanhã se encontra, hoje, nas Faculdades de Direito. Este
vir a ser depende, preponderantemente, do esforço de cada acadêmico, de
sua determinação em realizar o seu projeto pessoal. Seus pais e mestres,
com seu apoio, orientação e palavra de estímulo, desempenham importante
papel nesta conversão de potência em ato.

Paulo Nader

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