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Rafaela Teixeira Paula; Diego Estevão Chaves, Verônica Andréa de Andrade Almeida

Universidade Federal de Juiz de Fora


rafatpaula@hotmail.com
diego_chaves_1997@hotmail.com
veeh_a@hotmail.com

Problema Urbano de Luanda: A questão do Lixo na Capital


Angolana
RESUMO: Atualmente, o lixo é um dos maiores problemas urbanos e afeta a todos os
setores da sociedade. A intensa urbanização e o consumo cada vez maior de produtos
industrializados provoca o aumento na produção de lixo urbano, estando todos os países
sujeitos a este problema. No entanto, alguns destes, os desenvolvidos na maior parte das
vezes, conseguem administrar melhor o descarte de seu lixo, enquanto os países
subdesenvolvidos possuem um sistema de coleta e descarte de resíduos ineficaz, obrigando
a população a conviver ao lado de toneladas de detritos. Dentre os afetados por este
problema está a Angola, país situado na costa ocidental da África e que saiu recentemente
de uma guerra civil, apresentando inúmeros problemas sociais e estruturais, dentre eles, o
lixo, que afeta de forma negativa e prejudica ainda mais a qualidade de vida dos habitantes.
Este trabalho tem como objetivo apresentar dados relevantes referentes à produção de lixo e
seu processo de coleta e disposição final na cidade de Luanda, capital do país, e apresentar
os resultados do acompanhamento dos serviços ofertados em uma área residencial da
cidade, o Kilamba. O desenvolvimento do trabalho consistiu na pesquisa de informações
nos meios de comunicação de Angola e no acompanhamento da coleta de lixo durante dois
meses, entre 20 de outubro e 20 de dezembro de 2015 na centralidade do Kilamba. Em
Angola, são produzidos diariamente cerca de quatro quilogramas de lixo por pessoa e em
Luanda a produção anual é de 1,3 milhões de tonelada. Atualmente, juntamente com
empresas parceiras, a Empresa de Limpeza e Saneamento da cidade de Luanda (Elisal) é a
encarregada do processo público de limpeza na capital angolana, coletando, transportando,
depositando o lixo e gerindo os aterros sanitários. O gasto anual necessário para manter
Luanda limpa é de cerca de 19 milhões de dólares mensais, no entanto o valor
disponibilizado é aproximadamente 10 milhões de dólares por mês, insuficiente para a
limpeza de toda a província. O acompanhamento da coleta de lixo no Kilamba durou 62
dias e ocorreu em apenas 16 dias. Entre os dias 20 e 30 de outubro houve coleta nos dias 22
e 26, às 19:00h e às 22:00h, respectivamente. Entre os dias 01e 31 de novembro a coleta foi
feita nos dias 06, 12, 13, 18, 22, 25, 26 e 28, às 8:00h, 19:00h, 12:30h, 20:00h, 11:40h,
9:00h, 20:15h e 18:00h, respectivamente. Entre os dias 01 e 20 de dezembro a coleta foi
feita nos dias 02, 04, 06, 08 (duas vezes), 11 e 16, às 9:30h, 9:45h, 16:00h, 9:40 e 21:20,
23:30 e 16:30, respectivamente. Conclui-se que a frequência da coleta de lixo realizada no
Kilamba é irregular, não apresentando padrão de dias e horários. O número de dias sem
coleta varia de 1 a 9 e o horário da coleta nos dias que são realizadas não é fixo. Em alguns
casos, a coleta foi feita em dois dias seguidos e na maioria dos casos o intervalo foi de três
dias ou mais. Desta forma, o morador não sabe quando deve colocar o lixo nos pontos de
coleta, localizados nas esquinas do Kilamba, o que faz com que o lixo se acumule nesses
locais e nas próprias ruas, causando mau cheiro e atraindo insetos. O caso do Kilamba é só
um exemplo da ineficácia de todo o processo de tratamento de resíduos sólidos em Luanda;
vale ressaltar que o Kilamba é uma das áreas socioeconômicas mais privilegiadas e que nos
outros bairros o problema do lixo é ainda mais grave.

PALAVRAS-CHAVE: LIXO, LUANDA, CONSUMISMO

INTRODUÇÃO:

O lixo é, sem dúvidas, um dos maiores problemas urbanos atuais e afeta, em


diferentes intensidades, as diferentes classes sociais e grau de desenvolvimento de uma
cidade ou país. A intensa urbanização e consumo cada vez maior de produtos
industrializados provoca o aumento da produção de lixo urbano e, para Mucelin e Bellini
(2008) a disposição inadequada destes resíduos sólidos em fundos de vale, às margens de
ruas ou cursos d’água gera inúmeros resultados ambientais negativos. Pode-se destacar a
contaminação de corpos d’água, assoreamento, enchentes, proliferação de vetores
transmissores de doenças, tais como cães, gatos, ratos, baratas, moscas e vermes, poluição
visual, mau cheiro e contaminação do ambiente. Segundo Fernandez (2004) as alterações
ambientais ocorrem por inumeráveis causas, muitas denominadas naturais e outras oriundas
de intervenções antropológicas, consideradas não naturais. É fato que o desenvolvimento
tecnológico contemporâneo e as culturas das comunidades têm contribuído para que essas
alterações no e do ambiente se intensifiquem, especialmente no ambiente urbano.
Todos os países estão sujeitos a esse problema, no entanto, alguns conseguem
administrar melhor e são extremamente limpos, outros não tem o mesmo desempenho e a
população é obrigada a conviver ao lado de toneladas do próprio lixo. Na grande maioria
dos casos, a primeira situação se refere aos países desenvolvidos, enquanto que os
subdesenvolvidos são submetidos ao segundo caso.
Dentre os países subdesenvolvidos que convivem diariamente com o problema do
lixo pode-se citar Angola. Angola situa-se no sudoeste da África, tem uma área de
aproximadamente 1.247.000 km2 e uma população de aproximadamente 24.383.300
habitantes (INE, 2014). O país, que saiu recentemente de uma guerra civil apresenta
inúmeros problemas sociais como a desigualdade social e a extrema pobreza de grande
parte da população, muitas vezes sem acesso à água potável e energia elétrica. Nesse
contexto o lixo produzido se mostra como outro fator que afeta de forma negativa e
prejudica ainda mais os habitantes, sujeitos aos problemas já citados. Essa situação é ainda
mais grave em Luanda, capital do país, onde se concentra aproximadamente 6.542.944
habitantes (INE, 2014), quase 27% de toda a população nacional.

OBJETIVOS:

Este trabalho tem como objetivo apresentar alguns dados relativos à produção de
lixo e seu processo de disposição final em Luanda. Outro objetivo é apresentar resultados
do acompanhamento da produção e coleta de lixo em uma área residencial de Luanda, o
Kilamba.

METODOLOGIA:

O desenvolvimento do trabalho consistiu na pesquisa de informações relativas à


produção de lixo, procedimentos de coleta e destino final desses resíduos na cidade de
Luanda.
Outra estapa consistiu no acompanhamento da coleta de lixo durante dois meses,
entre 20 de outubro de 2015 e 20 de dezembro de 2015 na centralidade do Kilamba, uma
área residencial localizada no município de Belas, Luanda, procurando observar a
quantidade de lixo produzida nos intervalos entre uma coleta e outra e a frequência da
coleta, abordando os dias e os horários em que aconteciam.
Angola situa-se na costa ocidental do continente africano, e faz fronteira a norte
com a República Democrática do Congo, a Leste com a Zâmbia, a Sul com a Namíbia e é
limitado a oeste pelo Oceano Atlântico (figura 1), possui uma área de cerca de 1.246.700
km2 e uma população de aproximadamente 24.383.300 habitantes. Luanda, a capital de
Angola possui uma área de 2.417 km² e uma população de cerca de 6.542.944 (INE,
2014).

Figura 1: Mapa de localização de Angola


Fonte: adaptado de Bondo, 2014

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com um diagnóstico do Ministério do Ambiente de Angola realizado em


2014 (ANGONOTÍCIA, 2015), no país são produzidos diariamente cerca de quatro
quilogramas de lixo por pessoa e em Luanda a produção anual é de 1,3 milhões de
toneladas, com tendência de aumento de 146% até 2025.
Atualmente a Empresa de Limpeza e Saneamento da cidade de Luanda (Elisal) é a
empresa encarregada do processo público de limpeza na capital angolana. A Elisal
juntamente com outras empresas parceiras, desde as operadoras, micro-operadoras e
operadoras de pré-recolha, é responsável pela coleta, transporte, deposição do lixo e gestão
do aterro sanitário (ANGONOTÍCIAS, 2015).

Segundo um dos principais jornais do país, o Rede Angola (2014) o gasto anual
necessário para manter Luanda limpa é de cerca de 225 milhões de dólares, ou seja, quase
19 milhões de dólares mensais. No entanto o valor disponibilizado pelo Ministério das
Finanças, aproximadamente 10 milhões de dólares por mês é insuficiente para a limpeza de
toda a província. Esta é a justificativa da Elisal, que reconhece a limpeza ineficaz de
Luanda. O governo, sabendo que os recursos não são suficientes para o recolhimento de
todo o resíduo sólido apela para o envolvimento voluntário de cidadãos e empresas públicas
e privadas.

Durante o acompanhamento da coleta de lixo no Kilamba durante 62 dias, a


empresa recolheu o lixo em apenas 16 dias. Entre os dias 20 e 30 de outubro houve coleta
somente nos dias 22 e 26, às 19:00h e às 22:00h, respectivamente. Entre os dias 01e 31 de
novembro a coleta foi feita nos dias 06, 12, 13, 18, 22, 25, 26 e 28, às 8:00h, 19:00h,
12:30h, 20:00h, 11:40h, 9:00h, 20:15h e 18:00h respectivamente. Entre os dias 01 e 20 de
dezembro a coleta foi feita nos dias 02, 04, 06, 08 (por duas vezes), 11 e 16, às 9:30h, 9:45h,
16:00h, 9:40 e 21:20, 23:30 e 16:30.
Conclui-se que a frequência da coleta de lixo realizada no Kilamba é irregular, não
apresenta padrão de dias e nem horários. O número de dias sem a recolha do lixo varia de 1
a 9 dias e o horário da coleta nos dias que são realizadas não é fixo, havendo coleta na parte
da manhã, da tarde e da noite. Nota-se que em alguns casos a coleta foi feita em dois dias
seguidos e na maioria dos casos o intervalo foi de três ou mais dias.
Dessa maneira o morador não sabe quando deve colocar o lixo nos pontos de coleta.
Isso faz com que o lixo se acumule nesses locais (foto 1), que se localizam geralmente nas
esquinas da zona residencial, extrapolando muitas vezes as ruas, causando um cheiro
desagradável, contaminação ambiental, poluição visual e atraindo insetos e outros animais,
sendo um fator de proliferação de doenças, agravando ainda mais a extrema pobreza e
situação que os angolanos enfrentam, que pode ser evidenciado pela foto 2. Além disso,
alguns moradores, buscando uma alternativa para diminuir o problema do lixo na cidade,
queimam os resíduos (foto 3), o que “resulta em maiores teores e saturação de alumínio, e
maior acidez potencial, bem como menores teores de magnésio na camada superficial do
solo” (JACQUES, 2003)
Foto 1: Pontos de coleta de lixo no Kilamba
Fonte: Paula, R. T.

Foto 2: Situação social crítica de Angola


Fonte: Paula, R. T.

Foto 3:Terreno após queima de residuos sólidos


Fonte: Paula, R. T.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Angola, um país que convive com diversos problemas sociais tem como um dos
pricipais a questão do lixo, fator que agrava e cria vários outros problemas. Esta situação
ocorre em todo o território, sendo que Luanda é a área mais atingida, devido à alta
densidade demográfica na capital do país.
Nota-se que o sistema público de coleta é totalmente ineficaz e, muitas vezes, o
Estado transfere a responsabilidade para a população, promovendo campanhas educativas,
com isntruções de deposição dos resíduos. Grande parte dos habitantes depositam o lixo em
local inadequado, mas isto ocorre porque na maior parte das situações o local destinado ao
assentamento do lixo está, de alguma forma, inviabilizado. Portanto, os moradores não
devem ser culpados pela atual situação, sendo o governo o responsável por promover um
sistema eficaz de coleta e disposição final do lixo.
O caso do Kilamba é só um exemplo da ineficácia de todo o processo de tratamento
de resíduos sólidos em Luanda e em todo o país. Vale ressaltar que o Kilamba é uma das
áreas socioeconômicas mais privilegiadas de Luanda e que nos outros bairros o problema
do lixo é ainda mais grave.

BIBLIOGRAFIA

ANGONOTÍCIA. É hora de limpar Luanda. 2015

BONDO, Hortênsio Felisberto de Fátima. Litoestratigrafia e modelo sedimentar da


Bacia do Cuanza (NW de Angola). 2014. 96 p. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Geologia, Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território,
Universidade do Porto, Porto, 2014.

FERNANDEZ, F. A. dos S. O poema imperfeito. Crônicas de Biologia, conservação da


natureza, e seus heróis. 2. ed. Curitiba: UFPR, 2004.

GOLÇALVES, Antônio Olimpio. Geologia de Angola. Universidade Agostinho Neto,


Departamento de Geologia. Luanda, 2012.

INE - Instituto Nacional de Estatística de Angola. Portal Oficial do INE de Angola. Censo
2014.

JACQUES, Aino Victor Avila. A queima das pastagens naturais–efeitos sobre o solo e a
vegetação. Ciência Rural, v. 33, n. 1, p. 177-181, 2003

MUCELIN, C. A.; BELLINI, M. Lixo e Impactos Ambientais Perceptíveis no


Ecossistema Urbano. Sociedade e natureza, Uberlândia, 2008.

REDE ANGOLA. Recolha de lixo em Luanda deficitária. Partidos de oposição apelam a


medidas imediatas. 2014

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