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Breves considerações sobre projetos de pesquisa em direito: afinal, o que é marco teórico?
RAFHAEL FRATTARI.
Prof. de Metodologia da Pesquisa Jurídica e de Direito Tributário da Universidade Federal de Ouro Preto/MG.
Mestre em Direito Tributário na UFMG.
Advogado.

1. INTRODUÇÃO.

Nos últimos anos, a Educação universitária, do que não se apartou o ensino do Direito, ganhou várias inovações na sua normativa legal.

Assim, foram sistematizadas, nos termos da Portaria nº 1.886/94, do Ministério da Educação, as diretrizes curriculares para a área de Direito, de acordo com a prescrição da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, com a orientação do Parecer nº 776/97 da Câmara de Educação Superior e com o disposto no Edital nº 4/97 da
SESu/MEC.

Tais diretrizes são claras ao exigir que dentre as características dos futuros operadores jurídicos figure a “capacidade de apreensão, transmissão crítica e produção criativa
do direito a partir da constante pesquisa e investigação”.

Doutro lado, um passo realmente importante ao incentivo das atividades de pesquisa na graduação em Direito foi dado pela Portaria nº 1.886/94, que prescreveu a exigência
da realização por todos os discentes de monografia de final de curso para a sua regular conclusão. Assim, tornou-se obrigatório que todos os discentes realizem uma
pesquisa durante o período do Curso. Não se trata de um simples aprofundamento de estudo, mas sim de uma monografia, que, por ser um relatório de investigação como
outro qualquer, pressupõe a existência de uma verdadeira pesquisa que lhe anteceda (GUSTIN; DIAS, 2001: 11).

A ciência jurídica em geral, especialmente a produzida no Brasil, não é das mais afeitas às preocupações metodológicas que informam a atividade de pesquisa. Como não
poderia deixar de ser, isso se reflete também na iniciação científica praticada em direito. No mais das vezes, escolhe-se um tema de pesquisa, sobre o qual são feitos
levantamentos bibliográficos superficiais nos manuais, e constrói-se um grande resumo das opiniões emitidas pelos autores mais acessíveis. Quando muito, são feitas
referências às posições dos tribunais ou órgãos administrativos sobre o assunto escolhido.

Ora, tal tarefa não constitui uma pesquisa, senão que um aprofundamento de estudos. Às vezes, nem isso é alcançado, tendo em vista que quase sempre os discentes
realizam um estudo pior do que aqueles nos quais buscaram apoio. É claro, existem exceções à regra geral, geralmente encontradas em instituições nas quais há docentes
com experiência de pesquisa e uma certa estrutura mínima (acervo de dados, programas de concessão de bolsas, grupos de pesquisa, contato entre a graduação e a
pós-graduação, etc).

Para reverter essa situação geral, o Ministério da Educação sugeriu que nas estruturas curriculares dos cursos houvesse espaço para o desenvolvimento de aptidões que
pudessem orientar os discentes na elaboração e execução de investigações científicas: “existência de espaço, na estrutura curricular, para elaboração de projeto, orientação
e execução da monografia final”.

Assim, os cursos jurídicos foram obrigados, através da Portaria citada, a incluir em suas grades curriculares disciplinas específicas de metodologia de pesquisa jurídica.

Mesmo com essa inovação, a prática tem mostrado que várias são as dificuldades encontradas pelos discentes na realização de seus trabalhos de pesquisa, aptos a
comporem um relatório final a ser apresentado perante banca examinadora como monografia de final de curso.

Alguns desses obstáculos podem ser chamados de estruturais, tais como o despreparo da maioria dos docentes em orientá-los, a falta de acesso a materiais aptos a
possibilitarem as investigações, sem falar na ausência da tradição do ensino jurídico com a atividade de pesquisa, principalmente com o trato de questões metodológicas. Os
alunos têm encontrado dificuldade mesmo para elaborar um projeto de pesquisa. Dentre esses problemas, abordar-se-á apenas o último, ainda assim de maneira informal e
superficial, como que para introduzir o discente na temática.

A tarefa ganha relevo prático, pois a imposição de determinadas regras acadêmicas não é capaz, por si só, de suprir lacuna de toda a educação já recebida pelos discentes,
pouco preocupada em tratar a pesquisa como atividade que produza conhecimento, aspecto, aliás, que é ínsito ao seu próprio conceito.

O fato torna-se hialino na dificuldade dos discentes em tratar de temas imprescindíveis a qualquer investigação que se queira científica, tais como: a delimitação e
construção de um problema a ser investigado, a identificação dos objetivos da pesquisa, a adoção de um marco teórico próprio a lhe dirigir, o oferecimento de hipóteses,
dentre outros elementos essenciais à prática da investigação científica.

Embora comecem a ser produzidos livros e textos com o fito de orientarem alunos e professores na elaboração e desenvolvimento de pesquisas em Direito, há alguns temas
que oferecem especial dificuldade para serem compreendidos pelos operadores jurídicos. Dentre os quais, avulta a importância da definição de um marco teórico da
investigação. Este trabalho pretende oferecer escólios para facilitar a compreensão do que venha a se constituir como marco teórico de uma pesquisa.

Não objetiva encerrar o tema, mas tão somente dar noções propedêuticas àqueles que se perdem no seu enfrentamento, em razão das lacunas da Educação básica, média,
e mesmo superior. Por isso, baseia-se, sobretudo, nas experiências pessoais vivenciadas como aluno de pós-graduação e nos problemas mais usuais com os quais nos
deparamos como professor de metodologia da pesquisa jurídica na graduação em direito.

Assim, abordaremos, em primeiro plano, as linhas gerais dos elementos necessários ao planejamento de uma investigação científica em ciências sociais aplicadas, entre as
quais figura o Direito.

2. CONSIDERAÇÕES PROVISÓRIAS SOBRE OS ELEMENTOS PRINCIPAIS DA PESQUISA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM DIREITO.

Ressalte-se, inicialmente, que não há distinção entre uma pesquisa de graduação e uma pesquisa em nível de pós-graduação, como pode sugerir o título utilizado. Ambas
devem conter os elementos básicos que possam qualificar a sua atividade como produção de conhecimento científico. Contudo, dispensa maiores comentários afirmar que a
exigência em relação às pesquisas de graduandos não é a mesma que paira sobre as investigações da pós-graduação. Isso não deve ser visto como uma licença para que
as pesquisas de graduação sejam realizadas de qualquer forma. Trata-se apenas de constatar que o nível de uma investigação de graduação não costuma ser aquele
pretendido nas pós-graduações. Se o for, tanto melhor. A seguir, tratamos dos principais elementos constitutivos de um plano de pesquisa em direito, dando notícia de cada
um deles, para então analisar o que vem a ser o “marco teórico” de uma pesquisa. Esse trabalho não prescinde da complementação dos manuais de pesquisa científica,
visto que aborda apenas de passagem temas que poderiam ser discutidos profundamente e que, em verdade, mereceriam muitas páginas. Demais disso, não se tratarão dos
procedimentos que operacionalizam as pesquisas jurídicas, elementos essenciais a qualquer investigação. Isso para não fugir do tema ora proposto, e para não se
abordarem assuntos, os quais o Autor não tem segurança em trata-los em rápidas páginas.

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2.1. A escolha do tema de pesquisa.

A maioria das investigações tem início na escolha de um tema de pesquisa. O tema é o assunto sobre o qual o discente deitará sua atenção na busca de um problema de
pesquisa. Essa afirmação já nos impulsiona a uma observação preliminar: não se fazem pesquisas apenas com a escolha de um determinado tema.

O tema somente guarda relação de inclusão com o objeto da pesquisa. Por isso, totalmente sem lugar as afirmações comuns de que: “minha pesquisa é sobre direitos
humanos”, ou mesmo, “investigo a posse no direito brasileiro”, ou ainda “estudo as formas de transferência de responsabilidade por débitos tributários”. Ora, o tema de
pesquisa é apenas o conjunto teórico no qual está inserida a problematização que requer a investigação. Nada mais.

De preferência, o tema deve constituir uma área de interesse da qual o pesquisador disponha de um conhecimento já razoável. Geralmente, essas áreas são as que mais
atraem a atenção do aluno. Esse conhecimento prévio é que permitirá ao discente a possibilidade de sucesso na delimitação do temário e na sua problematização. Nesse
ponto, abrimos um parêntese para a seguinte observação, a qual pedimos escusas pela informalidade. Costumamos dar um conselho bastante pessoal aos discentes que
nos procuram ávidos por soluções aos seus dilemas: investiguem o que vocês gostem!! Tenham prazer em estudar!!!

Trata-se mesmo de gosto pessoal, que, no mais das vezes, costuma advir das ambições culturais, sociais e econômicas de cada qual. Pensamos que todos deveriam
escolher seus temas, a priori, através do seu interesse pessoal, que é o resultado da pré-compreensão histórica de mundo de cada um. Essa idéia também é defendida por
Paulo Salles OLIVEIRA, verbis:

“...promover a consonância entre pesquisa e biografia é altamente estimulante, pois atribui vida ao estudo, retirando da produção intelectual poeiras de artificialismo, que
recobrem parte da pesquisa acadêmica ou, senão isso, que acabam contribuindo para a representação social da universidade como redoma, imagem que ainda encontra
ressonância no conjunto da sociedade.” (2001: 19)

Também é bastante aconselhável que exista na Instituição um docente com conhecimento e experiência de pesquisa sobre o tema escolhido. Do contrário, não terá o
discente quem o aconselhar com segurança sobre os problemas que serão encontrados. Da mesma forma, os orientadores devem procurar ao máximo só aceitarem essa
incumbência quando se sentirem seguros e dominarem a matéria escolhida como tema de pesquisa. Dificilmente, docentes com experiência em pesquisa aceitam orientarem
investigações sobre assuntos que não dominam. Só o fazem quando confiam muito e já conhecem as capacidades e habilidades dos orientandos (ECO, 1995: 33). Ainda
assim, isso é desaconselhável e pode prevenir que, tanto o aluno, quanto o orientador encontrem tantas dificuldades que acabem por desestimularem-se da prática da
atividade científica.

A escolha da temática não é das mais difíceis. Contudo, é apenas o primeiro passo e de nada adianta se os próximos não forem dados com rigor e cuidado. Escolhido um
tema, cabe ao pesquisador problematiza-lo.

3. A CONSTRUÇÃO DO TEMA-PROBLEMA.

Como já vimos, é muito comum depararmo-nos com trabalhos que se denominam pesquisas sem que tenham as características próprias dessa atividade. Em razão da
desatenção da tradicional ciência do Direito, a maioria das pesquisas de graduação, e até algumas em nível de pós-graduação, estão mais próximas de aprofundamentos de
estudo. É o caso de pesquisas que se propõem apenas à investigar a obra de determinados autores. Quem nunca se deparou com estudos sobre a obra de Kelsen, ou de
Kant? Afirmar que uma pesquisa tem por objeto apenas o estudo da obra de quem quer que seja é apenas assumir que não temos pesquisa, mas sim aprofundamento de
estudo sobre o pensamento de um autor que julgamos interessante.

Para iniciar qualquer investigação científica é imprescindível que tenhamos um problema sobre determinado tema e não somente uma obra qualquer que chame nossa
atenção. A problematização, pois, implica a delimitação do tema escolhido.

Uma pesquisa não pode ser um amontoado de dados sobre algo. Há de ter-se um problema prévio, que mereça a atenção do pesquisador. Esse problema não pode ser
resolvido com a leitura de alguns artigos ou livros, sobretudo os manuais. Do contrário, não teríamos um problema comum à maioria da comunidade acadêmica, mas
simplesmente constataríamos uma falha em nosso conhecimento prévio sobre o assunto. Se com uma busca superficial conseguimos solucionar o problema que foi
elaborado, em verdade, não temos problema algum (GUSTIN; DIAS, 2001: 9). A não ser que discordemos da resposta que foi dada à indagação. Mas isso é uma das
justificativas possíveis à escolha do problema, e, como tal, será tratada mais adiante.

Por ora, registre-se que problematizar algo deve ser, antes de tudo, uma atitude crítica, que pode consistir em várias tarefas, tais como inserir um objeto em novos contextos
teóricos ou práticos, analisar os seus fundamentos teóricos sob perspectiva diferente da tradicional, perquirir sua eficácia, eficiência ou efetividade[2], enfim, qualquer tarefa
que lance um novo olhar sobre um tema bem delimitado.

O importante é que tenhamos uma indagação. GUSTIN e DIAS são extremamente didáticas e, ao mesmo tempo, cirurgicamente rigorosas em sua definição de pesquisa: “A
definição mais simples de pesquisa poderia ser formulada como a procura de respostas para perguntas ou problemas propostos e que não encontrem soluções imediatas na
literatura especializada sobre o assunto” (2001: 9).

Portanto, precisamos de uma pergunta. De preferência, que nos cause certa perplexidade, ou mesmo indignação, seja com a falta de respostas, seja com as repostas dadas
tradicionalmente a ela.

Porém, qualquer indagação não nos serve. É preciso que o pesquisador tenha fôlego para responder ao problema que se propõe a investigar. Isso requer desde condições
pessoais e intelectuais até tempo hábil, ou ainda fácil acesso aos dados necessários à resposta. Há questões que mesmo para um exemplar estudante do 3º período do
curso de direito seriam extremamente complexas. Seria tarefa simples analisar por quê o tipo penal não corresponde ao conceito de tipo utilizado nas ciências sociais, mas
sim ao de determinação conceitual fechada? (DERZI, 1988). Outras demandariam um tempo de pesquisa de que não dispõe o pesquisador de graduação, dadas as
premências da vida cotidiana. Além disso, as condições materiais também devem ser levadas em conta na elaboração e resolução de um problema. Por exemplo, seria
quase impossível para um estudante brasileiro analisar a razão pela qual surgiram novas formas contratuais no sul do Irã. A não ser que conheça o idioma árabe, ou quiçá, o
dialeto local, e vá até tal sítio realizar sua pesquisa. Daí a necessidade de que a escolha do problema seja feita pelo pesquisador, mas com a chancela do orientador, em
tese, mais experiente para a aferição dessas possibilidades.

Dado o caráter informativo deste trabalho, restam duas observações importantes a serem feitas. A primeira delas refere-se à delimitação do tema, operacionalizada com a
sua problematização.

Parece haver uma tendência (a qual já vitimou este autor), entre os discentes da graduação, de se escolher pesquisas “grandiosas”. Em outros termos, querem desvelar
problemas de décadas, resolver conflitos teóricos imensos, descobrir tudo que lhes seja possível. Por um lado, isso é extremamente positivo, pois mostra o entusiasmo com
o qual o discente encara a atividade de pesquisa. Doutro lado, isso pode acabar resultando num sentimento de frustração diante das dificuldades encontradas pela adoção
de problemas enciclopédicos. Então, a correta delimitação do tema-problema é elemento, embora insuficiente, essencial ao sucesso de qualquer pesquisa. A ciência se faz
por cumulação, embora cientistas de envergadura digam o contrário, com base na distinção entre ciência normal (cumulativa) e ciência revolucionária (não-cumulativa)
(KUHN, 1982).

O que importa é que se o discente conseguir “botar mais um tijolinho” na construção da ciência, já se pode dar por satisfeito. Não é necessário que construa um sistema
científico completo. Aliás, isso nunca ocorre.

Uma figura de linguagem bastante apropriada para se ter idéia do que deve procurar o pesquisador pode ser dada com as noções de horizontalidade e verticalidade. É muito
mais produtivo que o pesquisador se proponha a fazer um recorte vertical no ponto de pesquisa escolhido. Assim, poderá dar novas contribuições ao estudo do objeto. Na
linguagem comum: “falar muito – e bem -, sobre pouca coisa”. Ao revés, quando o recorte dado é horizontal, o perigo quase inevitável é não abordar com profundidade o
problema, restringindo-se à sua superficialidade, é dizer, “falar pouco, sobre quase tudo”. Sem dúvida, o primeiro aporte tem chance de realmente produzir conhecimento,
enquanto que o segundo tende à simples reprodução do já feito.

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Suponhamos que um pesquisador, interessado em criminologia, deseja identificar as seqüelas psicológicas em gestantes que praticaram aborto, com o intuito de investigar a
adequação do tratamento penal da matéria. Sua tarefa seria mais suave se restringisse seu estudo às gestantes adolescentes, de tal classe social, ou de tal e qual religião,
ou qualquer outro fator limitante. Se se propõe o estudo do impacto da legislação do imposto de renda das pessoas físicas na população brasileira, seria mais útil restringir a
classe econômica dessas pessoas, e assim por diante. Se quer pesquisar a eficácia das exonerações tributárias no ordenamento brasileiro, seria prudente que escolhesse
entre as isenções e as imunidades, no mínimo.

Não se trata, porém, de investigar um caso isolando-o das relações com os problemas que lhe são conexos ou apartando-o da realidade social. Essa perspectiva, outrora
assumida com fervor pela ciência moderna, levou ao extremo das especialidades, que acabaram por deformar o conhecimento da realidade, tamanho o seu recorte. Um
saber pode ser construído sobre um problema bastante limitado, sem que seja excludente de suas relações ou artificial. Basta que sejam feitas as relações necessárias, em
cada caso.

A última consideração importante, sobretudo na pesquisa em Direito, refere-se ao tipo de pesquisa a ser desenvolvida. Há uma tendência geral dos estudos jurídicos em
restringirem-se à teoria. Em Direito, certamente pela influência formalista, prefere-se a pesquisa teórica, geralmente sobre as normas jurídicas e suas possíveis relações com
o ordenamento jurídico. Isso se deve, sem dúvida, ao fato de que a concepção do Direito como ciência normativa ainda está bastante arraigada nos praticantes da ciência
jurídica. Lembre-se de que KELSEN (1999) acreditava que o papel da ciência jurídica seria apenas a descrição das normas que compõem o ordenamento jurídico. Qualquer
outro estudo que buscasse centrar-se em fatos ou valores seria despiciendo à ciência do Direito. Na verdade, essa postura, ainda dominante em nossas faculdades, já foi
superada há muito pelos principais juristas de nossa época. O estudo de por que essa idéia ainda se sustenta em nossas universidades seria, inclusive, um bom tema de
pesquisa, devidamente problematizado.

O fato é que os últimos anos assistiram a denúncia da postura formalista, aparentemente neutra ideologicamente, como um dos grandes males da ciência do direito. Por
vezes, essa insurgência chegou a ser radical, como mostra-nos o trecho do excelente Prof. ÓSCAR CORREAS, da Universidade Autônoma do México:

“Portanto, não adotaremos a limitada e mesquinha posição que consiste em declarar que, se alguém quer estudar certa parte do fenômeno,
distinta da que querem estudar outros, então os primeiros não estudam Direito senão outra coisa, e portanto, não devem ter lugar numa
Faculdade de Direito. Isto é muito importante, porque é o discurso com que se ataca, nessas faculdades, as correntes críticas e alternativas. O
procedimento é este: primeiro definem o Direito; logo definem a ciência do Direito. E dizem que o Direito é essa classe de discursos; que a
ciência do Jurídica é a que descreve as normas contidas nesse discurso. E logo, que quem não estuda isso, não ´faz´ Direito, e portanto, não
tem lugar numa faculdade de Direito. Esta é a posição da doutrina tradicional, hoje dominante: existe somente uma ciência jurídica, a
dogmática; e a Teoria do Direito tem como objeto produzir conceitos necessários para cultivar essa ciência. Todo o resto deve ser expulso da
Faculdade de Direito. Resta dizer que por detrás dessa postura, aparentemente científica, esconde-se uma posição política cujo fundo
reacionário é claro: os juristas devem estudar somente o que a lei diz, sem fazerem outras espécies de perguntas incomodas para quem detêm
o poder.” (CORREAS, 1995: 49)

Mestres entre nós já deixaram claro que o fenômeno jurídico é composto por normas, fatos e valores (REALE, 1993). Portanto, em Direito vários tipos de pesquisas podem
ter lugar, e não somente os estudos teóricos sobre as normas do ordenamento, ou ainda, sobre a natureza jurídica deste ou daquele instituto.

Temas emergentes como a efetividade dos direitos humanos, as relações de consumo, o controle de práticas anti-truste, a cidadania, dentre muitos outros podem suscitar
problemas que possam permitir abordagens empíricas valiosas. Num primeiro momento, os discentes de Direito podem pensar que pesquisas empíricas são mais “difíceis”
que as pesquisa eminentemente teóricas. Mesmo correndo o risco de não termos sustentação comprovada, ousamos dizer que estão redondamente enganados. O controle
metodológico de uma pesquisa empírica costuma ser realizado de maneira mais evidente e objetiva que a aferição do rigor nas pesquisas teóricas. O problema é a falta de
conhecimento dos discentes da própria atividade de pesquisa e do seu pouco contato com trabalhos empíricos[3].

Assunto conexo a esse é o da interdisciplinaridade nas ciências sociais. GUSTIN e DIAS nos alertam que a tendência atual é a das pesquisas transdisciplinares ou, ainda,
interdisciplinares, em contraposição aos estudos monodisciplinares (2001: 11). A complexidade dessa discussão foge aos objetivos propedêuticos deste trabalho, pelos quais
remetemos o leitor interessado à obra citada, de resto, imperdível[4].

O que importa ressaltar é que estão abertas múltiplas possibilidades de análise aos pesquisadores do Direito em correlacionar seus problemas com as discussões que
ocorrem nas outras ciências sociais. A ciência do direito só tem a enriquecer-se com isso, bem como as pesquisas que o fizerem com o rigor devido. Exemplo notório é a
ciência da História, que, no decorrer do Século XX, viveu uma revolução até hoje inacabada, através do diálogo incessante com outras ciências sociais, tais como a
demografia, a economia, a sociologia e a antropologia (LE GOFF, 1998; AGUIRRE ROJAS, 2000). Assim, embora não se tenha tratado do tema com a profundidade que
requer, registre-se que a interlocução entre o direito e as demais ciências não é perniciosa, como queria fazer parecer a doutrina formalista, mas, ao contrário, bastante
bem-vinda.

Pensamos que com esses alertas preliminares, com um pouco de estudo, de reflexão crítica e, principalmente, com o auxílio do orientador os pesquisadores não encontrarão
dificuldades intransponíveis à elaboração de problemas interessantes.

4. A JUSTIFICATIVA DA INVESTIGAÇÃO.

Eleito e elaborado um tema-problema, a próxima etapa na construção de um projeto de pesquisa é justificar a escolha feita. Na verdade, em termos práticos, isso se dá
conjuntamente, no raciocínio do pesquisador.

A forma de se justificar a escolha de um tema relaciona-se com a importância que a resolução do seu problema terá na ciência, inclusive na sua prática social. Não nos
esqueçamos que a uma ciência sempre corresponde uma prática social (SANTOS, 1995).

Dificilmente, um problema será totalmente novo. A novidade em ciência é um tema complexo e de muitas sutilezas. O importante é que a definição de novos problemas é
muito rara em nível de iniciação científica, contudo, não é impossível.

Mais comum, é julgar uma questão relevante porque não houve ainda nenhuma resposta dada a ela pelos autores que a abordam. A justificativa também pode nascer da
insatisfação das respostas dadas às perguntas já feitas. Nesse caso, essa insurgência deverá ficar clara, numa espécie de revisão da literatura existente, que é a principal
função da justificativa do problema (GUSTIN; DIAS, 2001: 63). Afinal, é preciso demonstrar aos interlocutores do pesquisador por que sua pesquisa é relevante. Não há
como fazer isso, sem uma abordagem, ainda que sucinta, de como o problema já fora tratado.

Outra possibilidade é a repetição de pesquisas já realizadas em outras condições espaciais ou temporais, ou seja, sua re-testagem, na linguagem técnica.

Enfim, inúmeras razões podem tornar relevante a realização de um trabalho científico. Ele pode ser irrelevante em um determinado lugar, numa sociedade dada, mas, em
outra, ser de suma importância. Uma única ressalva ainda há de ser feita sobre esse assunto. A de que a ciência do Direito é uma ciência social aplicada. Isso lhe dá a
responsabilidade de produzir um conhecimento apto a interferir na realidade. Mesmo as pesquisas mais teóricas visam a alterar ou incrementar um conhecimento anterior,
com a finalidade, ainda que mediata, de interferir no real, alterando-o. Ocorre que em temas mais teóricos e filosóficos essa intervenção, normalmente, se dá vagarosamente,
numa espécie de longa duração braudeliana (BRAUDEL, 1958). Contudo, isso não exime o jurista pesquisador, seja de qual nível for, de sempre ter como idéia retora o
pressuposto de que a ciência jurídica deve produzir um conhecimento para ser aplicado (GUSTIN; DIAS, 2001: 30).

5. OS OBJETIVOS DA PESQUISA.

Devidamente justificada a eleição do tema-problema da pesquisa, necessário se faz apresentar quais são os seus objetivos. Dizemos objetivos da pesquisa porque é praxe
comum, ao menos na Universidade Federal de Minas Gerais, dividir-se o objetivo da pesquisa em geral e específicos.

O objetivo geral é o que o pesquisador espera obter como resultado final de sua investigação. O ideal, segundo GUSTIN e DIAS, é que seja utilizado um verbo no infinitivo

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para apresentar-se o objetivo geral do trabalho (2001: 52). Verbos como compreender, propor, determinar, são ideais para essa tarefa. O objetivo geral deve permitir que se
conheça em inteireza o que pretende obter o pesquisador.

Os objetivos específicos são os procedimentos pelos quais o pesquisador pretende alcançar o objetivo geral. Melhor, então, elencá-los passo a passo. Esses objetivos têm
nítido caráter instrumental ou operacional. Veja-se como GUSTIN e DIAS abordam o assunto:

“Os objetivos específicos têm, ao contrário do geral, natureza operacional. Ou seja, eles se referem a procedimentos ou operações que deverão ser realizados para que, ao
final do cumprimento de todos aqueles previstos, chegue-se ao produto da pesquisa: realizando-se o objetivo geral e ratificando ou não a hipótese de investigação. Dessa
forma, os verbos devem indicar ações precisas” (2001: 52-53).

6. INTRODUÇÃO À METODOLOGIA DA PESQUISA: O MARCO TEÓRICO COMO ELEMENTO OBJETIVANTE DO CONHECIMENTO.

É comum os estudantes conceberem a metodologia de pesquisa como o conjunto de procedimentos adotados para a realização da pesquisa. Realmente, têm razão. Porém,
a metodologia não é só isso. Compreende, ademais, outros elementos fundamentais à constituição da pesquisa. Assim, o método inclui também os fundamentos da
pesquisa, a sua hipótese, o seu marco teórico, além dos procedimentos de execução da investigação. Outra não é a lição de Paulo Salles OLIVEIRA:

“Método envolve, sim, técnicas que devem estar sintonizadas com aquilo que se propõe; mas, além disso, diz respeito a fundamentos e processos, nos quais se apóia a
reflexão. (...)

A superação do entendimento meramente instrumental da metodologia, como se ela apenas representasse um conjunto de técnicas das quais o pesquisador pudesse dispor,
independentemente de suas concepções acerca do mundo e as relações entre o sujeito e o objeto da pesquisa, reafirma a importância de uma reflexão, capaz de dar conta
dos procedimentos pelos quais se constrói uma pesquisa em ciências humanas.” (2001: 21)

Há um aspecto que apesar de não compor a metodologia de um trabalho está intimamente relacionado a ela. São as pré-compreensões de vida do pesquisador. Ora,
qualquer sujeito tem uma visão de mundo que lhe informa em todos os seus atos, sobretudo, os discursivos. Vivemos inseridos num círculo comunicativo composto pela
escola que freqüentamos, pela família que temos, por nossos amigos (e inimigos!), nossos colegas de trabalho, enfim, nossa sociedade. Assim, temos atitudes políticas,
filosóficas, sociais que acabam por se refletirem em nossas investigações científicas.

A ciência cartesiana tradicional, influenciada pelo positivismo científico, procurou extirpar qualquer tipo de valoração que pudesse interferir na produção do conhecimento
científico. Considerou, durante séculos, que a cientificidade de um determinado saber estaria na sua suposta neutralidade axiológica. Construiu-se, então, o mito de que a
ciência é um saber neutro, no qual não têm lugar considerações éticas ou valorativas. Assim, o cientista deveria despir-se de todos os seus pré-conceitos ao fazer ciência.

FREUD, ao desvelar a riqueza e a onipresença do inconsciente, a crise da ciência instrumental e a própria mecânica quântica incumbiram-se de espancar esse mito. Uma
descrição brilhante desse processo pode ser vista na obra Um discurso sobre as ciências, de Boaventura de Sousa SANTOS (2001). Interessa-nos apenas indicar que é
impossível extirpar nossa pré-compreensão de vida de qualquer uma das nossas atitudes. Desde a escolha da cor de nossas roupas, passando pelas nossas opiniões em
mesa de bar até nossos escritos científicos, tudo está pautado pelas nossas vivências, mesmo que adormecidas em nosso inconsciente. Portanto, qualquer produção de
conhecimento está eivada dos valores daquele que a produziu.

Se é assim, ainda é possível a produção de um conhecimento que seja inteligível a todos? É dizer, sobre o qual possa haver discussões objetivas? Se levada a inclusão da
subjetividade do pesquisador ao extremo, não teríamos o reino da relatividade a impedir qualquer conhecimento objetivo? A pesquisa seria possível?

A resposta a essas perguntas passa pelo nosso objeto central de análise: o marco teórico. De fato, a falta de um elemento que dê objetividade ao conhecimento que
produzimos pode torná-lo mera opinião. Ou seja, se não houver um conjunto de perspectivas objetivamente assumidas pelo pesquisador ter-se-á como resultado de uma
pesquisa apenas a opinião pessoal do pesquisador. Pululariam todas as espécies de “achismos”.

Não é assim que funciona a ciência. A objetividade pode ser alcançada pela adoção de um sistema de referências que permita direcionar o olhar do pesquisador ao seu
objeto. Nesse sistema, estão a ideologia do pesquisador e seu marco teórico, que lhe permitirá construir sua problemática, antever suas hipóteses e adotar as técnicas que
lhe permitirão confirmar ou refirmar as soluções prévias por ele ofertadas.

O marco teórico, pois, é peça fundamental para controlar as ideologias do cientista, permitindo-se, assim, perquirir-se objetivamente o saber produzido. Mas o que é,
objetivamente, o marco teórico? É uma afirmação de determinado autor pela qual se pode construir um quadro teórico capaz de moldar o olhar do pesquisador ao seu objeto,
fixando-lhe as suas possibilidades e limites. É comum ouvir a seguinte frase: “meu marco teórico é Habermas” , ou “meu marco teórico é o positivismo jurídico”. A primeira
assertiva não é correta, pois o marco teórico é uma afirmação teórica de determinado autor, não o autor em si. A segunda frase erra por não especificar qual afirmação ou
princípio do positivismo jurídico é assumida como quadro modelar. Até porque, existem vários positivismos, cada qual com as suas peculiaridades.

O marco teórico direcionará desde a escolha do problema, as hipóteses oferecidas ao seu deslinde, até os procedimentos operacionais de pesquisa adotados. Isso porque,
como já se pôde perceber, o marco teórico é fruto de todo o sistema de referências de determinado sujeito, ou seja, de como o pesquisador “enxerga o mundo”. Vamos a
alguns exemplos.

O pesquisador que se põe a indagar a força cogente do princípio da proporcionalidade não pode partir do marco teórico de que as normas jurídicas são apenas aquelas que
se estruturam sob a forma do dever ser kelseniano, na sua famosa formulação: se A é, deve ser B. Isso porque os princípios jurídicos não se estruturam e se aplicam da
mesma forma que as regras de conduta. Nesse caso, seria mais prudente procurar como marco teórico alguma afirmação na obra de Dworkin ou Perelman, autores que dão
outra conotação aos princípios jurídicos.

Um discente que queira pesquisar o lugar do direito do trabalho na ciência jurídica terá dificuldades em adotar como marco teórico alguma afirmação que tenha como pano
de fundo a tradicional cisão da ciência jurídica entre direito público e direito privado. Portanto, terá que adotar uma afirmação teórica, para dirigir seu trabalho, que esteja
fora da dicotomia direito público e direito privado.

Se uma investigação pretende defender a punibilidade das pessoas jurídicas pela prática de crimes ambientais, não deverá escolher como marco teórico afirmações
tradicionais do direito penal de que só a pessoa física pode ser responsabilizada por condutas tipificadas como crimes.

Portanto, o marco teórico existe para restringir o olhar do pesquisador em direção ao seu objeto. Se se pretende aferir a efetividade das normas de adoção no direito
brasileiro, não podemos partir do pressuposto de que a ciência do direito é apenas normativa, restringindo-se ao estudo das normas. A restrição desse estudo às normas
fatalmente não permitirá que o mesmo tenha sucesso, ao menos no que tange a identificar a efetividade das regras de adoção.

Um trabalho que tenha por escopo demonstrar a necessidade da interdisciplinaridade em ciências sociais, não pode adotar como marco teórico qualquer afirmação no
sentido de que cada disciplina do saber tem um objeto completamente apartado das demais.

Assim, a escolha do marco teórico é a definição das próprias possibilidades de abordagem do tema-problema. A escolha do mesmo deverá ser feita a partir de determinado
quadro de teorias, explicitado na afirmação que constitui o marco teórico. Também daí será elaborada a hipótese do problema e definidos os procedimentos operacionais de
investigação que permitirão a realização da pesquisa.

Quando adotamos um marco teórico qualquer, permitimos que nossa pesquisa objetivamente possa ser discutida por pessoas com diversas orientações ideológicas. Isso
porque ninguém poderá evocar a seu favor qualquer posicionamento pessoal. O debate será orientado pelo marco teórico escolhido. Não há problema em alguém divergir
dos resultados de nossas pesquisas se essa pessoa parte de outro marco teórico. O problema é se partindo do mesmo marco teórico alguém nos oferece resultados
diversos dos nossos. Aí sim, teremos uma questão a ser solucionada, talvez de cunho metodológico, ou mesmo de incorreção na metodologia utilizada.

Portanto, a adoção de determinado marco teórico balizará toda a atividade da pesquisa, incluindo-se a definição de todos os seus elementos constitutivos, desde o

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problema, até as possíveis soluções a ele oferecidas.

Definido o marco teórico da pesquisa – que em verdade precede inclusive a formulação do problema - urge dar à luz a hipótese a ser proposta como solução ao problema
posto. Isso porque a hipótese de pesquisa é a solução prévia ao problema escolhido pelo pesquisador, passível de ser confirmada ou não ao final da pesquisa. Portanto, a
hipótese, diferentemente do que o senso comum costuma imaginar, não é uma pergunta. Ao revés, é uma solução prévia dada pelo pesquisador. O fato pode parecer
estranho aos que não são familiarizados com a atividade de pesquisa. Para quê me ponho um problema se já possuo a sua resposta? Os que pensam assim, desconhecem
a provisoriedade da hipótese. A prática científica busca acabar, pelo menos por determinado período de tempo, até que outras investigações demonstrem o contrário, com a
precariedade da resposta adotada. Isso porque a hipótese outra coisa não é senão a solução prévia ao problema, passível de ser confirmada ou não. Portanto, a atividade
de pesquisa é a busca da confirmação ou rejeição da hipótese elaborada.

A aferição da validade da hipótese ofertada depende das variáveis dela derivadas. Em razão do caráter introdutório deste ensaio não se abordará quais são as
características das variáveis de uma hipótese, bem como dos seus indicadores. Apenas segue-se um breve comentário sobre tais conceitos.

As variáveis são os elementos decompostos da hipótese constituídos de características, propriedades ou elementos verificáveis, relacionados com a solução do problema,
aptos a permitirem a objetivação do conhecimento, segundo sua capacidade de relação com a problemática proposta.

Para a análise das variáveis identificadas servimo-nos dos indicadores, que nada mais são do que a identificação dos dados a serem coletados. Através deles podemos
definir o sentido das variáveis da hipótese e, assim, permitir a objetivação do conhecimento, segundo sua capacidade de aclarar e mensurar um fato determinante do
problema escolhido.

A discussão sobre esses temas, mais complexos que os já expostos, deve ser feita após o discente ter se familiarizado com os conceitos ora trazidos à luz. De qualquer
forma, existem trabalhos de valor que abordam essa problemática, dos quais os de GUSTIN e DIAS (2001), o melhor que conhecemos para a ciência do Direito, pode ser
complementado com as lições de LAKATOS e MARCONI (2001).

7. CONCLUSÕES.

Esperamos ter colaborado para introduzir o discente no conhecimento dos elementos básicos da atividade científica em direito. É preciso reafirmar que este trabalho nunca
teve a pretensão de exaurir o tema, mas somente de dialogar com aqueles que sentem uma dificuldade inicial no seu trato, mostrando que as dúvidas não afligem só a eles,
nem são intransponíveis. Trata-se de abrir um diálogo, ao qual esperam-se críticas e concordâncias. Tudo com o intuito de fornecer aos operadores jurídicos informações
que possam fazer com que aumentem sua familiaridade com esse debate.

O que se quis mostrar foi que esses temas podem ser abordados de uma maneira simples, mas não superficial. Obviamente, complementações às informações aqui
colacionadas são não só desejáveis, como também imprescindíveis. Deste modo, o leitor interessado poderá ter acesso às outras obras, sobremaneira as relacionadas na
bibliografia, sem prejuízo de textos não citados.

8. BIBLIOGRAFIA:

AGUIRRE ROJAS, Carlos Antonio. Os Annales e a historiografia francesa. Tradições críticas de Marc Bloch a Michel Foucault. Trad. Jurandir Malerba. Maringa: Eduem,
2000.

BRAUDEL, Fernand. Histoire et sciences sociales. La longue durée. In Annales E.S.C., nº 04, out./dez., 1958, p. 725-753.

CORREAS, Óscar. Teoría del Derecho. Barcelona: Editorial M.J. Bosch, 1995.

DERZI, Misabel Abreu Machado. Direito tributário, direito penal e tipo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1988, p. 302.

DESCARTES, René. O discurso do método. In Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996, p. 61-127.

ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 12. ed. Tradução Gilson Cezar Cardoso de Souza. São Paulo: Perspectiva, 1995, p. 170.

GUSTIN, Miracy de Sousa Barbosa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. Curso de iniciação à pesquisa jurídica e à elaboração de projetos. 2. ed. NIEPE/Faculdade de
Direito/UFMG. Belo Horizonte, 2001.

HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre faticidade e validade. Tradução Flávio Beno. Rio de Janeiro: Forense, 1997, vol. I e II.

KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6. ed. Tradução João Batista Machado. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 427.

KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1982.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas: 2001.

LE GOFF, Jacques. A história Nova. In: LE GOFF, Jacques; CHARTIER, Roger; REVEL, Jacques (Org.). A história nova. 4. ed. Tradução Eduardo Brandão. São Paulo:
Martins Fontes, p. 26-64.

NUNES, Antonio Sedas. Questões preliminares sobre as ciências sociais. 12. ed. Lisboa: Editorial Presença, 1996.

OLIVEIRA, Paulo de Salles. Caminhos de construção da pesquisa em ciências humanas. In: OLIVEIRA, Paulo de Salles (Org.). Metodologia das ciências humanas. 2. ed.
São Paulo: Hucitec/UNESP, 2001, p. 17-26.

REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 1993.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Introdução a uma ciência pós-moderna. 4. ed. Porto: Afrontamento, 1995, p. 199.

. Crítica da razão indolente. Contra o desperdício da experiência. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição paradigmática.
São Paulo: Cortez, 2000, p. 415 . vol. I.

. Um discurso sobre as ciências. 12. ed. Porto: Afrontamento, 2001.

SILVA, Augusto Santos; PINTO, José Madureira. Uma visão global sobre as ciências sociais. In SILVA, Augusto Santos; PINTO, José Madureira (orgs.). Metodologia das
ciências sociais. 8. ed. Porto: Afrontamento, p. 9-27, 1986.

[1] Este ensaio é dedicado à Profa. Dra. Miracy Barbosa de Sousa Gustin, pelo seu incansável esforço à frente da Coordenadoria Acadêmica e, após, do
Núcleo de Estudos Interdisciplinares da Faculdade de Direito da UFMG. Seu trabalho, conjuntamente com o de outros professores, causou uma
verdadeira revolução na iniciação científica daquela instituição, a qual espero este artigo não desmereça. Trabalho inédito, remetido à publicação na
Revista Jurídica da Universidade Federal de Ouro Preto, permitida a sua reprodução apenas para fins acadêmicos.

[2] Para uma distinção entre estes termos, confira-se: GUSTIN; DIAS, 2001: 75-76.

[3] Para uma enumeração exemplificativa dos tipos de pesquisa em Direito, confira-se: GUSTIN; DIAS, 2001: 26-30.

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[4] Um aprofundamento desta discussão nas ciências sociais, em geral, pode ser visto em: SANTOS, 1995, 2000 e 2001; NUNES, 1986; PINTO e SILVA,
1986.

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