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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................4
3 HISTÓRIA ................................................................................................................8
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10.1 A União entre Ciência e Técnica ........................................................................ 37
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se
levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que
seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a
pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a
mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo
de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe
convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e
prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS E ENSINO
Fonte: criacionismo.com. br
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A utilização da HC no ensino não pode ser vista como uma linha de orientação
recente, nem decorre diretamente de uma perspectiva atual do ensino das Ciências. Neste
contexto, o Ensino de Ciências deve contribuir para desmistificar possíveis intenções
subjacentes a um modelo reducionista. Assim, a HC não deve limitar-se à transmissão de
conhecimentos objetivos, nem tão pouco à aprendizagem de um método científico
apresentado como fórmula mágica, ou receita magistral para incorporar a realidade no nosso
entendimento. A HC deve apresentar a Ciência, os cientistas e os principais objetivos de sua
realidade dentro da história.
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científico, constitui-se numa vertente importante para a formação daqueles
professores (GUÇÃO et al., 2009, apud SEPINI, 2016, p. 99).
A HC, se bem utilizada, poderá contribuir, ainda, para que os alunos percebam que a
Ciência é um empreendimento coletivo, socialmente análogo a outras atividades
humanas; poderá combater a visão heroico-individualista muito comum entre os
alunos, segundo a qual a Ciência é obra de gênios (CAMPOS, 2009, apud DEBUS,
2004, p. 100).
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3 HISTÓRIA
Fonte: revistazunai.com.br
Por outro lado, questões ligadas ao ensino têm sido, cada vez mais, estudadas e
debatidas entre professores, orientadores de ensino e pesquisadores da área. Temas
que vão desde as interações na sala de aula, passando por interesses e motivações,
culminando em novas sugestões metodológicas, são os mais procurados pelos
profissionais interessados nos processos de ensino e aprendizagem (DUARTE et al.,
2010, apud SEPINI, 2016, p. 100).
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seja inserida e prontamente trabalhada nos cursos de formação de professores. Sobre a
formação de a HC deve integrar o Desenho Curricular dos Cursos de Formação de
Educadores para o Ensino Básico.
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Os produtos resultantes do avanço tecnológico e científico são parte integrante na
vida da maioria das pessoas no mundo contemporâneo. Tamanha diversidade de inovações
acaba demandando certa curiosidade tanto pelo conhecimento científico quanto por suas
repercussões no desenvolvimento de novas tecnologias. Os autores afirmam, ainda, que
dessa forma parece natural que, cada vez mais, a Ciência esteja condicionada a decisões
políticas e sociais, ultrapassando os limites das associações científicas. Ainda segundo os
autores, acredita-se que para compreender o atual estado da Ciência e, portanto, ser
possível algum juízo de valor, seja imprescindível conhecer pelo menos um pouco de sua
História.
Assim, o estudante poderá melhor perceber que o conhecimento científico não se faz
de forma inerte, uma vez que sua evolução está relacionada tanto com as mudanças
históricas, quanto sociais. Enfim, trata-se de compreender que não se pode ignorar as
relações entre o processo de produção de conhecimento na Ciência e o contexto social,
político, econômico e cultural em que essa Ciência se faz.
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A EVOLUÇÃO DO CONHECIMENTO
Fonte: lumeonline.com.br
[...] a ciência, nos moldes que conhecemos hoje, é relativamente recente. Foi
somente na Idade Moderna que adquiriu o caráter científico que tem atualmente. [...]
A revolução científica propriamente dita ocorreu no século XVI e XVII, com Copérnico,
Bacon e seu método experimental, Galileu, Descartes e outros. (CERVO, 2006, apud
CARTONI, 2009, p. 12).
4 TIPOS DE CONHECIMENTO
Fonte: researchgate.net
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A ciência, na condição atual, é o resultado de descobertas ocasionais, nas
primeiras etapas, e de pesquisas cada vez mais metódicas, nas etapas posteriores. O
patamar recente de desenvolvimento foi resultante da evolução de técnicas, fatos empíricos
e leis. Estes formam o elemento de continuidade que, por sua vez, foi sendo aperfeiçoado e
ampliado ao longo da história da humanidade (CARRAHER, 1999). O conhecimento, na sua
forma mais simples, é aquele que advém da observação e dos próprios sentidos, como
sensações capitaneadas pelo nosso corpo físico. Uma definição de conhecimento considera-
o como resultado da relação que se estabelece entre o sujeito que conhece (sujeito
cognoscente) e um objeto a ser conhecido (sujeito cognoscível), que pode ser um objeto
físico inanimado como o próprio homem, suas ideias, suas leis etc. Cervo e Bervian (2006)
destacam 4 níveis de conhecimento, a partir dos quais o homem se apropria da realidade
[...] todo o nosso conhecimento provém, em suma, das sensações e percepções; pois
o homem não possui outras fontes, outros canais com o mundo exterior e ressalta
que em nível empírico obtém-se da experiência imediata o conteúdo fundamental do
pensamento; são racionais antes de tudo a forma de conhecimento e os conceitos
implícitos na linguagem, em que são expressos os resultados do conhecimento
empírico. (KOPNIN, 1979, apud SILVA, 2012, p. 5).
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4.2 Conhecimento filosófico
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espécie; seu intuito é constituir-se como método sistemático em busca de um ordenamento
das leis e princípios.
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comportamento. Um dos principais autores a defender a ideia de que o conhecimento é fruto
de rupturas epistemológicas é Kuhn (1962), em seu livro “A estrutura das revoluções
científicas”, quando introduz o conceito de paradigmas. O paradigma traduz-se em uma
estrutura imaginária, modelo de pensamento próprio de cada época e produzido pela
experiência de mundo, pela linguagem própria do período e imposto a todos os domínios do
pensamento. No caso do paradigma cartesiano e a concepção de ciência desenvolvida por
Newton, apesar de primordiais na era industrial moderna, o princípio norteador era de que o
mundo é um grande sistema mecânico, acabado, previsível e independentemente do
homem, cuja missão da ciência era descobrir seu funcionamento, medi-lo e dominá-lo. Kuhn
constatou que, quando um paradigma é aceito pela maioria da comunidade científica, acaba,
por conseguinte, impondo-se como modo obrigatório de abordagem dos problemas. Assim,
um novo paradigma só pode surgir com a mudança das velhas crenças e formas de pensar,
como aconteceu quando Copérnico conseguiu provar que a Terra não era o centro do
universo, ou Einstein descobriu que uma coisa pode estar ou não no mesmo lugar no
espaço de acordo com o ponto de vista. Morin (1990) alerta para o fato de que os
paradigmas são ocultos, governam nossas ações, nossa visão de mundo e das coisas; sem
que tenhamos consciência como princípios supralógicos de organização de pensamento.
[...] a ciência lida com fenômenos complexos, realidades caóticas e com incertezas.
De certa forma, por meio da ciência, procuramos ordenar esses fenômenos e explicá-
los racionalmente. Surge daí o cuidado que devemos ter sempre que afirmamos ou
negamos algo. Assim é que se explica o fato de que os textos científicos, mesmo bem
fundamentados em termos de conceituação teórica, metodologia, pesquisa
bibliográfica e empírica, possuem uma estrutura de erudição. Essa erudição
compreende o sistema de citações e o respaldo em pesquisas anteriores. (DIEHL,
2004, apud CARTONI, 2009, p.17).
[...] é justamente essa constante mudança que está sujeita a ciência que torna as
conclusões não totalmente falsas ou verdadeiras, mas sim que algumas sejam mais
prováveis que outras, dependendo do grau de fundamentação teórica, do arsenal
metodológico e da pesquisa empírica. Mesmo cientes de que dificilmente chegaremos
à verdade absoluta dos fenômenos analisados, devemos fazer um esforço para não
nosso deixar levar pela subjetividade de posições e opções pessoais. (DIEHL, 2004,
apud CARTONI, 2009, p.17).
6 CRITÉRIOS DE CIENTIFICIDADE
Embora não haja uma definição única de ciência, ela pode ser definida genericamente
a partir de sua característica mais comum: o processo de produção de conhecimento. Pode
ser entendida, nesse sentido, como um conjunto de métodos lógicos e empíricos que
permitem a observação sistemática de fenômenos, a fim de compreendê-los e estabelecer
padrões regulares que seguem. A ciência é uma forma de proceder que busca:
Responder questionamentos;
Solucionar problemas;
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Desenvolver de modo mais efetivo os procedimentos para responder as
questões e de solucionar problemas.
A ciência é a “busca constante de explicações e de soluções, de revisão e de
reavaliação de seus resultados, apesar de sua falibilidade e de seus limites”. Conhecimento,
do ponto de vista científico, é tanto o reflexo quanto a produção de determinado objeto em
nossa mente. Deste processo de conhecimento participam tanto a razão quanto os sentidos
e a intuição. O conhecimento científico pode ser definido como conhecimento racional e
sistemático da realidade. Sua origem está nos procedimentos de verificação baseados na
metodologia científica. Conforme já exposto, o conhecimento científico “não é considerado
como algo pronto, acabado ou definitivo”, mas como busca e revisão constante dos
conhecimentos existentes.
O estudo debruça-se sobre um objeto reconhecível e definido de tal maneira que seja
igualmente reconhecível pelos outros. Destaca-se que o termo objeto não tem
necessariamente um significado físico. Por exemplo: a raiz quadrada é um objeto sem
que a tenham visto ou as classes sociais são objetos mesmo que alguns possam
alegar que só se conhecem indivíduos ou médias estatísticas e não classes
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propriamente ditas. Estabelecer o objeto significa definir as condições sobre as quais
trataremos com base em que regras que estabelecemos ou outros estabeleceram
anteriormente.
O estudo deve dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob uma ótica
diferente do que foi dito. Como exemplo, um trabalho matematicamente exato visando
demonstrar com métodos tradicionais o teorema de Pitágoras não seria científico,
uma vez que nada acrescentaria ao já sabido. Mesmo um trabalho de compilação
pode ser cientificamente valioso na medida em que a pesquisa reuniu e relacionou de
modo orgânico e criativo as opiniões já expressas por outros sobre o tema.
O estudo deve ser útil aos demais. A importância de um trabalho acrescentar algo
àquilo que a comunidade já sabia reflete a função social da pesquisa em melhorar as
condições de vida, a libertação moral e política de povo, o domínio de uma tecnologia
e sua aplicação prática.
O estudo deve fornecer elementos para verificação e contestação das hipóteses
apresentadas e, portanto, para uma continuidade pública. Este requisito é
fundamental para o progresso da ciência e validação dos resultados, questionando
procedimentos e a própria ética da verificação dos dados. (ECO, 2006, apud
CARTONI, 2009, p.17).
Como demonstrou o autor é possível desenvolver uma tese “científica” mesmo sem utilizar
logaritmos e provetas.
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vez mais vinculado a sua capacidade de captar recursos, enredar pessoas para trabalhar em
sua equipe e fazer alianças que proporcionem os recursos necessários para o
desenvolvimento de sua pesquisa.
O título ou rótulo de “ser cientista” é factível àquele que, de alguma forma, cultiva
esses conhecimentos e possui atitude científica. Para além da figura estereotipada do
pesquisador, fazer ciência não é privilégio de um tipo particular de pessoa, povo ou cultura.
Pouco adianta o conhecimento e o emprego de técnicas metodológicas sem o rigor e
seriedade que a pesquisa exige.
[...] a postura científica é, antes de tudo, uma atitude ou disposição subjetiva do
pesquisador que busca soluções sérias, com métodos adequados para o problema
que enfrenta. Esta postura não é inata da pessoa; ao contrário, é desenvolvida ao
longo da vida, à custa de muito esforço e de uma série de exercícios. Ela pode e deve
ser aprendida. Na prática, é expressão de uma consciência crítica, objetiva e racional.
(CERVO, 2006, apud CARTONI, 2009, p.20).
O trabalho científico, propriamente dito, deve ser avaliado pela sua qualidade temática
e pela sua qualidade formal. A qualidade temática (ou política) refere-se fundamentalmente
aos conteúdos, aos fins e à substância do trabalho científico. Já a qualidade formal diz
respeito aos meios e formas usados na produção do trabalho. Refere-se ao domínio de
técnicas de coleta e interpretação de dados, manipulação de fontes de informação,
conhecimento demonstrado na apresentação do referencial teórico e apresentação escrita
ou oral em conformidade com os ritos acadêmicos.
Ressalta-se que o papel do cientista é estudar, pesquisar, sistematizar, teorizar sem,
contudo, intervir, influenciar, tomar posição no sentido de apenas comprovar seu ponto de
vista, sua maneira de conceber a realidade. A qualidade do pesquisador também está em
ser competente formalmente.
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porque produzem estilos consistentes de argumentação, tanto no sentido lógico como
na atualidade.
Objetivação – significa a tentativa – nunca completa – de descobrir a realidade social
assim como ela é, mais do que como gostaríamos que fosse. Como não há
objetividade (ou seja, o conhecimento objetivo – imparcial e com total verossimilhança
em descrever o fenômeno), substitui-se pelo de objetivação. (DEMO, 1989, apud
CARTONI, 2009, p.22).
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significativas sobre seu campo de conhecimento ou para a sociedade e, em particular, sobre
as práticas organizacionais, podendo, portanto, ser função de um contexto.
etodologia:
Via de regra, a boa metodologia é um caminho adequado para responder ao
problema de pesquisa, devendo assegurar coerência em suas etapas e partes. As
metodologias não são universais, assim sendo, a avaliação quanto à adequação das
mesmas deve considerar seu contexto. Seguem-se dois exemplos:
Conclusões:
Avalia-se primeiramente se o trabalho propicia fundamentos consistentes às
conclusões do autor. Deve-se considerar se as conclusões são coerentes entre si e com o
quadro teórico de referência utilizado, se tem alcance compatível com a análise efetuada e,
se for o caso, com a amostra estudada para os trabalhos de campo. Frequentemente
observam-se trabalhos com conclusões tímidas e acanhadas, que ficam aquém do que seria
possível e, em outros casos, conclusões que vão além do que permitiria a análise das
observações que as originaram.
[...] quando sabemos exatamente qual foi o caminho seguido na pesquisa, podemos
proceder com exatidão à verificação dos passos percorridos até o resultado final.
Esse caminho seguido, o roteiro seguro que guia o cientista em suas investigações é
o método por ele utilizado. (MEZZAROBA, 2006, apud CARTONI, 2009, p.24).
Embora não seja a intenção fazer a história do método na literatura filosófica, é importante a
breve reflexão acerca de seus conceitos fundadores e seus desdobramentos para a
pesquisa, dos quais se destacam os autores:
Método proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz que pressupõe que
só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O raciocínio dedutivo tem o
objetivo de explicar o conteúdo das premissas gerais para argumentos particulares.
Por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, de análise do
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geral para o particular, chega a uma conclusão. Usa o silogismo, construção lógica
para, a partir de duas premissas, retirar uma terceira logicamente decorrente das
duas primeiras, denominada de conclusão.
Método proposto pelos empiristas, Bacon, Hobbes, Locke e Hume. Considera que o
conhecimento é fundamentado na experiência e o método permite analisar o objeto para tirar
conclusões gerais ou universais. No raciocínio indutivo, a generalização deriva de
observações de casos da realidade concreta. As constatações particulares levam à
elaboração de generalizações.
Pode-se dizer que por meio da dedução chega-se a conclusões verdadeiras, tendo
por base premissas verdadeiras, no método indutivo chega-se a conclusões que são
apenas prováveis por isto é pouco utilizado. As constatações possibilitam conclusões
generalizadas. Este método foi muito utilizado por Bacon, Hobbes, Locke e Hume.
(LAKATOS, 1993 apud ARAÚJO, 2010, p. 8).
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raciocínio do tipo indução científica como o movimento do pensamento que via de uma ou
várias verdades singulares a uma verdade mais universal (lei), temos que certo número de
vezes o óxido de carbono paralisa os glóbulos sanguíneos; desta observação infere-se que
sempre dadas às mesmas condições, o óxido de carbono paralisará os glóbulos sanguíneos.
Pensando em uma situação em que os jornais dão cobertura a um grande caso de
corrupção de um importante magistrado nacional. O cidadão leigo e no uso do senso comum
pensaria: “Se o juiz “X” é corrupto, logo todos os juízes também são.” Mas é importante
perceber que, mesmo sendo o raciocínio indutivo responsável por generalizações, ele tem
um papel importante no desenvolvimento científico, especialmente nas ciências
experimentais como acima apresentado. Nas pesquisas farmacêuticas, no caso da
descoberta da penicilina, tivemos um caso de indução. Por exemplo, se há um processo de
busca de remédio para determinada doença e acaba-se descobrindo uma substância “Y”
que tem a capacidade de regenerar alguns tipos de células doentes. A partir daí pode-se
induzir que aquele princípio químico pode regenerar qualquer célula e concentrar a pesquisa
na cura para o câncer.
Proposto por Popper, consiste na adoção da seguinte linha de raciocínio, descrita por Gil
(1999):
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Karl Popper, em 1934, em sua obra A lógica da pesquisa científica, promoveu uma
crítica ao método indutivo, afirmando que a ciência somente é capaz de fornecer soluções
temporárias para os problemas que enfrenta. Assim, as teorias científicas e seus problemas
são viáveis de análise por meio de hipóteses (conjecturas) para promovê-las a um rigoroso
processo de falseabilidade, ou seja, a verificação empírica de modo a corroborá-las ou
refutá-las.
7 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA
a) No que se refere à classificação da pesquisa quanto à natureza, ela pode ser organizada
em:
Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica procura analisar e conhecer as contribuições culturais ou
científicas existentes sobre um determinado assunto, explicando um problema a partir desse
levantamento. Estuda teorias, correlacionam conceitos e formula quadros de referência,
pautada em dados secundários. Cabe lembrar que, em qualquer área ou qualquer
modalidade de pesquisa, exige-se uma pesquisa bibliográfica prévia, para levantamento da
situação da questão, uma fundamentação teórica ou, ainda, para justificar os limites e
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contribuições da própria pesquisa. Quando é realizada como o todo da pesquisa, a pesquisa
bibliográfica deve conter todas as etapas formais de um trabalho científico. É muito comum
encontrar-se este tipo de pesquisa em Ciências Humanas, nas áreas da Linguística, História,
Literatura ou Teologia. Na área das Ciências Exatas, a pesquisa bibliográfica geralmente faz
parte da pesquisa descritiva ou experimental, com o intuito de recolher informações e
conhecimento prévios sobre o problema pesquisado.
Pesquisa Exploratória
É a pré-pesquisa ou o levantamento de hipóteses para posterior pesquisa,
normalmente o primeiro passo da investigação. Auxilia na formulação de hipóteses para
posteriores ações. Ou colabora com a familiarização do fenômeno para que se obtenha uma
percepção sobre ele.
Primordialmente, tem o papel de avaliar quais as relações entre os componentes do
objetivo de estudo e é, em geral, recomendada quando há pouco conhecimento sobre o
assunto.
Pesquisa Descritiva
A pesquisa descritiva observa, registra, analisa e correlaciona fatos ou fenômenos
(variáveis) sem manipulá-los. Pesquisa a frequência com que um fenômeno ocorre, as suas
dependências e características no mundo físico ou humano, sem a interferência do
pesquisador. Tem por objetivo definir melhor o problema, descrever o comportamento dos
fenômenos, definir e classificar fatos e variáveis, sem a pretensão de explicá-los.
Pesquisa Experimental
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Aplicada à solução de problemas ou diagnóstico de uma realidade específica, codifica
a face mensurável da realidade. Baseada na análise de dados primários e originais para
interpretar e predizer os resultados, visa a construção de uma teoria e interfere diretamente
na realidade ou meio ambiente. Procura explicar de que modo ou por que causas o
fenômeno é produzido, empregando para tanto a avaliação qualitativa e quantitativa do
tema. Caracteriza-se por manipular diretamente as variáveis relacionadas com o objeto de
estudo, através de situações controladas. Utiliza-se de equipamentos de medida e técnicas
modernas de análise para a mensuração das variáveis envolvidas no objeto de estudo. São
usados os termos “pesquisa de campo” ou “pesquisa de laboratório”, como indicativo das
pesquisas práticas.
Pesquisa Quantitativa
Considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números
opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de
técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de
correlação, análise de regressão etc.). Inclui a coleta de dados (estatísticas oficiais,
pesquisas em arquivos, entrevistas pessoais ou por outros meios, como telefone, postais e
internet) e requer procedimentos para escolha da amostra, localização e abordagem do
entrevistado.
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Quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros,
artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet. Pesquisa
documental. Quando elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento
analítico.
Pesquisa experimental.
Quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variáveis que seriam capazes
de influenciá-lo, definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a
variável produz no objeto. Levantamento. Quando a pesquisa envolve a interrogação
direta das pessoas cujo comportamento deseja-se conhecer. Estudo de caso. Quando
envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se
permita o seu amplo e detalhado conhecimento.
Pesquisa ex-post facto
Quando o “experimento” realiza-se depois dos fatos.
[...] este tipo de pesquisa investiga algo já ocorrido, o experimento se realiza depois
dos fatos acontecidos. Neste tipo de pesquisa, apesar de realizar uma investigação
sistemática e empírica o pesquisador não tem controle direto sobre as variáveis a
serem estudadas, dessa forma elas são intrinsecamente não controláveis. (GIL, 1999,
apud ARAÚJO, 2010, p. 3).
Pesquisa-ação
Quando concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de
um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos da situação
ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Pesquisa
participante. Quando se desenvolve a partir da interação entre pesquisadores e
membros das situações investigadas.
[...] quando concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a
resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos
da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
(GIL, 1999, apud ARAÚJO, 2010, p. 4).
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Pesquisa experimental
b) Classificação da pesquisa quanto à abordagem do problema:
Pesquisa qualitativa
Pesquisa quantitativa
c) Classificações da pesquisa do ponto de vista dos procedimentos técnicos:
Pesquisa bibliográfica
Pesquisa documental
Pesquisa experimental
Levantamento
Estudo de caso
Pesquisa ex-post facto
Pesquisa-ação
Pesquisa participante
Fazer pesquisa é defender uma ideia, fundamentando-a com bibliografias e pela
utilização de procedimentos de investigação sistematizados. Esse processo serve para
organizar e muitas vezes desnudar o fenômeno que se está estudando, não deixando de
lado qualquer uma de suas partes. O fenômeno precisa ser definido, ordenado, clarificado e
divido em suas partes para que possa ser perfeitamente compreendido.
Fonte: editoraunesp.com.br
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A obra de Galileu Galilei (1564-1642) está intimamente ligada à revolução científica
do século XVII, talvez uma das mais profundas revoluções sofridas pelo espírito humano,
que implicou uma mudança intelectual radical, cujo produto e expressão mais genuína foi o
nascimento da ciência moderna.
Dentro desse quadro, Galileu é universalmente considerado o fundador da física
clássica, que passará a ser desenvolvida na direção de uma teoria físico-matemática dos
fenômenos naturais. Suas contribuições substantivas para essa nova ciência, a saber, a
descoberta da lei de queda dos corpos, a formulação da teoria do movimento uniformemente
acelerado e a descoberta da trajetória parabólica dos projéteis, justificam plenamente o
veredito. A contribuição de Galileu constitui-se, sem dúvida, na elaboração da primeira teoria
cinemática que consegue descrever matematicamente o movimento dos corpos físicos.
A constituição da cinemática será fundamental para o entendimento mais profundo do
movimento e de seu papel nos eventos naturais, em suma, para o desenvolvimento e a
consolidação da dinâmica. E Galileu não deixou de dar passos importantes nessa direção,
com suas discussões sobre a extrusão causada pela rotação terrestre ou com seu princípio
único da teoria do movimento que contém implícita a ideia de conservação de energia ou
ainda com sua teoria dinâmica das marés.
Também é comum considerar Galileu um dos fundadores do método experimental,
apesar da imensa oposição levantada por Koyré em sua influente e sedutora interpretação
de um Galileu platônico, operando matematicamente a priori.
Deste ponto de vista, não são apenas as realizações estritamente científicas que
contam como contribuições de Galileu à posteridade, mas também sua maneira de conceber
a ciência física, o método científico e, principalmente, a maneira pela qual chegou aos
resultados científicos.
Em resumo, o que caracteriza a atitude científica galileana - e também a atitude
científica moderna - é a procura, na natureza, de regularidades matematicamente
expressáveis, as chamadas leis da natureza, e o método de certificar-se de sua verdade
através da realização de experimentos. O principal exemplo apresentado nesse sentido é a
própria lei de queda dos corpos que Galileu confirma por meio da realização de
experimentos com o plano inclinado.
Com o intuito de avaliar essas duas afirmações sobre o alcance da obra de Galileu
apresentam, a seguir, algumas considerações no sentido de contextualizar historicamente as
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atribuições de fundação da física clássica e do método experimental, de modo a revelar o
alcance intelectual e sócio institucional da atividade científica do grande pisano.
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Quanto ao segundo instrumento, embora definitivamente Galileu não tenha sido o
inventor do telescópio, foi, entretanto, o primeiro a aperfeiçoá-lo e utilizá-lo em
observações astronômicas sistemáticas e contínuas, dando assim a um aparelho que
despertava muita curiosidade na época e cujo valor militar foi imediatamente
reconhecido (o próprio Galileu o venderá por essa utilidade à Sereníssima República
de Veneza) uma aplicabilidade científica de inestimável valor para a astronomia e
para a ciência em geral (cf. MARICONDA; VASCONCELOS, p. 71-4).
É verdade que Galileu não enfrentou os problemas teóricos levantados pelo uso do
telescópio; em particular, não se interessou pela teoria óptica que explicava o funcionamento
do telescópio, embora essa teoria já se encontrasse, em parte, nas obras do italiano
Giovanni Battista Della Porta, Magia naturalis de 1589 e De refractione de 1593,3 e, de
modo completo, nas obras de Johannes Kepler, Ad Vitelionem paralipomena, de 1604, na
qual apresenta uma explicação exata da propriedade das lentes, e Diottrica, de 1611, na
qual Kepler expõe a teoria completa do telescópio.
Mas essa falta de interesse na teoria óptica não retira de Galileu todo o mérito, pois a
necessidade de entender o funcionamento de um instrumento e a importância da teoria que
explica a confiabilidade desse instrumento nasce do uso efetivo e da utilidade demonstrada
do instrumento. Galileu foi, certamente, quem mostrou a indiscutível utilidade científica do
telescópio, realizando suas famosas observações astronômicas, anunciadas no Sidereus
nuncius, de 1610.
Galileu realizou durante mais de vinte anos, do final de 1609 até a publicação do
Diálogo, em 1632, vários conjuntos de observações telescópicas sistemáticas e contínuas,
por exemplo, sobre as fases de Vênus, sobre os satélites de Júpiter, sobre os anéis de
Saturno, sobre as manchas solares etc.
Dentre esses conjuntos, as observações mais extraordinárias são aquelas sobre as
manchas solares, acerca das quais Galileu publicaria, em 1613, o Istoria e dimostrazioni
intorno alle macchie solari, obra na qual recolhe suas três cartas em resposta às visões
tradicionalistas do jesuíta Scheiner.
É inegável que a prática da observação telescópica contribuiu para abrir as portas ao
conhecimento do sistema solar e do universo e, em outro plano, para o desenvolvimento de
uma atitude de observação controlada e sistemática realizada por meio de e através de
aparelhos, de aparatos instrumentais, desenhados especificamente para fins científicos.
Com efeito, a pesquisa telescópica de Galileu não influiu apenas no domínio do
macrocosmo, onde reconhecidamente abriu a possibilidade de uma nova cosmologia, mas
desencadeou o início da pesquisa microscópica tanto na direção do aperfeiçoamento do
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aparelho, o microscópio, como no desenvolvimento do conhecimento observacional sobre o
microcosmo. Não se trata, evidentemente, de dizer que Galileu tenha contribuído
diretamente para a microscopia, mas basicamente de assinalar o nascimento de um novo
estilo científico que combina matemática e experiência ou, como no caso de Galileu,
geometria e experimentos, ou numa formulação mais clara, opera com experiências
construídas pela razão.
Mesmo no final de sua vida, Galileu procurou construir, sem êxito, um relógio de
pêndulo que fornecesse uma medida exata do tempo. Essas tentativas, apesar de
malsucedidas, mostram claramente a consciência que Galileu tinha da importância, para a
física clássica, dos instrumentos de medida, isto é, de aparelhos técnicos, de artefatos que
permitissem observações e medições cada vez mais precisas.
A física aristotélica transcende o senso comum, ela elabora teorias e não apenas
representa fenômenos, por isso pode ser considerada científica. Não obstante é uma
física, isto é, uma ciência altamente elaborada, apesar de não o ser fundada
abstratamente na matemática. Não se trata de imaginação pueril, nem de grosseiro
enunciado logomáquico de senso comum, mas de uma teoria, ou seja, uma doutrina
que, partindo naturalmente dos dados do senso comum, submete-os a um tratamento
extremamente coerente e sistemático. (KOYRÉ, 1982, apud SALOMOM 2010, p. 5).
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direções de pesquisa estão claramente presentes nos dois tratados militares – Breve
instruzione all’architettura militare e Trattato di fortificazione, cujo objetivo indisfarçável é
mostrar a aplicabilidade técnica da nova ciência, e no pequeno tratado manuscrito intitulado
Le mecaniche, que alcançou grande difusão, chegando a ser publicado em tradução
francesa por Mersenne, em 1634.
O que acontece é o nascimento de uma concepção de ciência que está aliada a uma
nova concepção da racionalidade científica para a qual há uma estreita relação entre o
trabalho científico e o trabalho técnico. Grande parte das transformações que se produziram
na mentalidade científica, em particular, na física do século XVII, originou-se das sempre
novas exigências e das questões cada vez mais precisas levantadas pelos técnicos. O que
os técnicos procuram é saber com exatidão como se comportam certos fenômenos
particulares, de modo que possamos saber como agir quando nos confrontamos com esses
fenômenos.
É por isso que, para os técnicos, como para Galileu, as discussões dos físicos
aristotélicos acerca das causas dos fenômenos naturais e as especulações dos filósofos das
universidades acerca da essência última da Natureza parecerão desprovidas de interesse e
significação.
Essa aliança entre a ciência e a técnica, que tem em Galileu um de seus primeiros
defensores, conduziu obviamente a uma radical transformação da problemática científica, a
uma caracterização inteiramente nova das próprias pesquisas científicas e de seus
objetivos, a um novo estilo de sistematização e exposição. Contudo, não se deve pensar que
essa transformação consistiu em afastar da ciência todas as argumentações teóricas. Foram
afastadas apenas aquelas investigações teóricas que, por sua generalidade, por seu caráter
excessivamente abstrato e especulativo, fogem a qualquer possibilidade de controle,
mantendo-se apenas com base na autoridade conferida pela tradição.
Na nova concepção de ciência, serão deixadas de lado as especulações desprovidas
de relação com a experiência, abrindo espaço para aquelas considerações teóricas (1) que
podem conduzir à formulação de leis naturais, ao estabelecimento de previsões, à
estipulação de regras práticas visando à ação e (2) que podem ser controladas pela
experiência e pelas consequências práticas.
Isso significa que a ciência, ao enfrentar os problemas levantados pela técnica, não
realiza apenas uma função prática, mas preenche também uma função teórica de
justificação racional de certas práticas técnicas, de certos modos especializados de fazer.
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Dito de outro modo, as reflexões e os raciocínios práticos dos técnicos viriam a ser
justificados pelas especulações da ciência natural nascente.
Cada vez mais a especulação científica se fundamentaria nas próprias atividades
práticas, abrindo assim a possibilidade de que as teorias científicas fossem julgadas não só
pelo seu valor teórico, mas também pelo aporte que fornecem à solução de problemas
técnicos.
Dois exemplos marcantes dessa relação entre a teoria e a prática, característica da
união entre ciência e técnica, encontram-se justamente na grande obra final de Galileu,
Discorsi e dimostrazioni matematiche intorno a due nuove scienze, que retoma as direções
iniciais da pesquisa mecânica dando-lhe agora uma cinemática física (uma descrição
matemática do movimento dos corpos físicos). Assim, tanto a Segunda Jornada, na qual
Galileu apresenta a primeira nova ciência que trata da resistência dos materiais, como na
Quarta Jornada, na qual desenvolve uma parte importante da segunda nova ciência, a
saber, a teoria do movimento dos projéteis, é evidente a união entre a teoria e a prática. A
primeira nova ciência é notável nesse aspecto.
Nela, Galileu introduz considerações sobre o “efeito-escala”, que se mostram básicas
para esse tipo de estudo abrindo a possibilidade dos testes de laboratório com protótipos
menores que os originais. É possível. a partir do conhecimento fornecido pela ciência da
resistência dos materiais, projetar grandes estruturas com cálculo prévio dos esforços e
pontos de ruptura, do tipo de material a ser utilizado em vista do esforço exigido etc. O
aporte prático da primeira nova ciência de Galileu é, portanto, decisivo. Galileu está não
apenas fundando uma nova ciência, uma nova teoria sobre a resistência dos materiais, mas
definindo os contornos de um novo tipo de atividade profissional, a engenharia civil. Não é
menor o aporte prático da teoria do movimento dos projéteis da Quarta Jornada, da qual
Galileu tinha razão em se orgulhar, pois a teoria dos projéteis desenvolvida nela permite
informar a prática dos artilheiros que podem, a partir de então, produzir “tiros científicos”, isto
é, planejar de antemão o uso da artilharia.
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respondem a nosso bem-intencionado, mas muitas vezes desinformado, esforço
focalizado na aprendizagem: desinformado na medida em que não levamos em conta
que a aprendizagem não é apenas uma questão de saber se podemos compreender
uma explicação científica, mas também de saber se nossas opções sociais e culturais
na vida fazem nosso interesse se voltar nessa direção. Uma suposição aparente na
perspectiva da mudança conceitual no ensino de ciências é que as pessoas podem
simplesmente mudar seus pontos de vista sobre um tema ou em um domínio
científico, sem a necessidade de mudar coisa alguma sobre suas vidas ou suas
identidades. Este modularismo contraria os resultados trazidos pela pesquisa
sociocultural. Deixe-me dar um exemplo simples, mas eficaz: a controvérsia
evolucionista-criacionista. Adotar uma visão evolucionista das origens do ser humano
não é, para um criacionista, Epistemologia apenas uma questão de mudar de ideia
sobre os fatos, ou sobre o que constitui uma explicação econômica e racional dos
fatos. Isso significaria mudar um elemento essencial da sua identidade como alguém
cristão que crê na Bíblia (fundamentalista). Isso significaria quebrar um vínculo
essencial com a sua comunidade (e com o seu Deus). Tal coisa poderia levá-lo ao
ostracismo social e à ruína de seus negócios ou de suas perspectivas de emprego.
Ele poderia complicar a sua vida familiar ou as suas chances de casar. Embora eu
esteja exagerando um pouco aqui (substitua isso por adotar uma visão secular
progressiva da aceitação de estilos de vida de um gay para apreciar as
consequências potencialmente mais extremas), o ponto é que as crenças sobre o
mundo natural e social têm se desenvolvido em culturas junto com toda a rede
complexa de práticas sociais que vincula toda uma comunidade. A Igreja da
Renascença não se opôs a Galileu só porque ele discordou de suas conclusões
sobre os movimentos dos corpos celestes. Havia muito mais em jogo do que uma
escolha racional entre teorias concorrentes. (LEMKE, 2001, apud CUNHA. 2010
p.74).
A ciência deve ser um movimento humano que nos faça crescer, transpor a níveis
mais altos no conhecimento, repensando inclusive nossa cultura. A obrigação dos cientistas
e da escola, cada um no seu âmbito, é prover meios das pessoas crescerem e transporem
barreiras que as permitam contestar até mesmo os seus valores culturais. Isso, quando
acontece, se dá muito lentamente. Quando se diz que é necessário respeitar as crenças não
corroboradas pela ciência de uma pessoa, não se está dizendo que os professores ou os
cientistas devem compactuar com essa crença. A ideia é estabelecer um possível diálogo,
um confronto saudável, que permita a essa pessoa rever e aprofundar seu modo de ver o
mundo. No entanto, isso não é nem um pouco simples, pois modificar crenças envolve muito
mais do que aprender conceitos científicos.
Sendo assim, não cabe à Ciência estabelecer o que é ou não verdade e nem
implementar uma cruzada contra misticismos ou religiões. No entanto, a comunidade
científica e a educação em Ciências jamais pode se omitir quando algum grupo tenta exigir
que se ensinem nas escolas, nas aulas de Ciências, concepções de fundo religioso, não
consensualmente aceitas pela comunidade científica. Isso se constitui em uma batalha por
supremacia cultural, que pode prejudicar a livre exposição de ideias, a liberdade de
argumentação e avaliação dessa argumentação para validar (ou não) as ideias expostas. É
esse confronto saudável que se deve esperar nas aulas de Ciências e na comunidade
extraescolar, não uma batalha por supremacia cultural.
Nessa diversidade cultural em que se vive hoje, como dizer se algo é científico ou
não? Não há, a princípio, um critério único. Tomemos um exemplo: uma pessoa criacionista
afirma que o Design Inteligente é uma teoria que desfruta do mesmo status da Teoria da
Evolução, com convicção.
Outro caso: um espírita afirma categoricamente que a Física Quântica confirma a
existência dos poderes da mente em mudar a realidade externa. Ou seja, Espiritismo é uma
ciência. Como argumentar contrariamente a essas afirmações? Pode-se seguir os passos de
um cientista ingênuo, para ilustrar a discussão: o cientista ingênuo diria que a ciência
obedece aos passos do método científico, a pseudociência não.
Como não há nenhuma evidência experimental convincente e que seja consenso na
comunidade científica a favor do espiritismo ou do Design Inteligente, nenhuma das duas é
ciência. Portanto, são pseudociência.
Nesse caso, a Teoria M, por não ter respaldo experimental, seria também uma
pseudociência? Como há muitos físicos trabalhando na Teoria M, eles estão fazendo
pseudociência e, portanto, admitindo valer a pena gastar esforços com o que não é
científico? O Espiritismo e o Design inteligente estariam no mesmo status acadêmico que a
Teoria M? Argumentar em favor do método científico único é um ato muitíssimo frágil. Na
realidade não é tão fácil quanto parece argumentar em favor de uma separação clara entre
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ciência e pseudociência. Isso depende da epistemologia adotada e é sempre polêmico e
sujeito a críticas. Popper se preocupou em estabelecer o que ele chamou de critério de
demarcação, com o qual pretendia distinguir as ciências da metafísica ou da pseudociência.
Como cita Silveira (1989).
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criacionistas que vem há anos tentando resolver seus principais problemas e fraquezas (daí
vem, por exemplo, o Design Inteligente).
O mesmo pode ser aplicado à Ufologia e ao Espiritismo: evoluíram muito nos últimos
50 anos e há um número imenso de pessoas trabalhando no sentido de refinar essas
concepções. Isso não quer dizer que o Design Inteligente, a Ufologia ou o Espiritismo sejam
facilmente qualificados como ciência. Ou seja, é complicado usar esse critério como
demarcador. Larry Laudan foi um dos filósofos que criticou o critério de demarcação de
Popper. Em um de seus trabalhos, ele argumenta:
A menos do fato que ele (o critério de Popper) deixa ambíguo o status de virtualmente
todo enunciado existencial, embora bem fundamentado (por exemplo, a alegação de
que os átomos existem que há um planeta mais próximo do Sol do que a Terra, que
há um elo perdido), ele tem a consequência indesejável de disfarçar de “científico”
qualquer alegação doentia que faça indubitavelmente falsas asserções. Assim,
defensores da ideia de que a Terra é plana, os criacionistas bíblicos, proponentes do
laetrile e das caixas de orgônio, devotos do Uri Geller, caçadores do Pé-Grande,
defensores da existência do monstro do lago Ness, defensores da cura pela fé, os
amadores que criaram o polywater, Rosacruzes, os que acreditam que o mundo vai
acabar videntes que veem o futuro na água, os primal screamers, mágicos,
astrólogos, todos se tornarão científicos no critério de Popper... (LAUDAN, 1983,
apud CUNHA. 2010 p.78).
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O ideal é que não só se deve mostrar isso, mas também que a possibilidade, a
variedade e quantidade de evidências em favor dessa teoria deve ser maior do que para as
teorias rivais. Testabilidade não é o mesmo que falseabilidade. Teste no sentido empregado
aqui inclui não apenas o modelo-padrão de testes experimentais, onde se tem um grupo
controle e experimental, mas também, o teste envolve a acumulação e ponderação das
evidências, diretas e indiretas, em apoio das hipóteses concorrentes.
Com relação ao muito pequeno e ao passado distante, testes científicos de detecção
são muitas vezes como em um romance de mistério que envolve a acumulação de indícios
que, por assim dizer, apontam todos no mesmo sentido. Ciências históricas como a geologia
ou biologia evolutiva, ou teorias sobre as origens do universo, não podem utilizar
experimentos controlados; ao invés disso, as hipóteses são ponderadas, isto é, são
evidências indiretas de uma variedade de fontes relevantes.
Esse critério também deixa espaço para inconsistências. Mas encaixa-se bem com
uma afirmação de Larry Laudan. Referindo-se às batalhas travadas nos Estados Unidos
para se inserir o Design Inteligente nos currículos escolares, nas quais os opositores
usavam o discurso de que Design Inteligente não é ciência, Laudan argumentou que o
importante não é provar que o Design Inteligente não é científico, pois é demasiado
complicado, mas se as evidências disponíveis fornecem argumentos mais fortes para a
Teoria Evolucionista do que para o Design Inteligente. Tais evidências são atualmente muito
mais favoráveis à Teoria Evolucionista, mas os criacionistas não admitem esse fato. Assim,
o embate entre eles e os evolucionistas segue, sem que se possa vislumbrar uma
possibilidade de consenso.
Os criacionistas mais radicais parecem muito mais preocupados em silenciar os
cientistas do que em estabelecer debates; tentam com isso impedir que os conhecimentos
construídos por seus programas de pesquisa, que derrubam dogmas bíblicos, sejam
propagados nas escolas e na sociedade. Por mais objeções que os partidários da teoria do
Design Inteligente (ou de outros tipos de teorias criacionistas) construam contra o
evolucionismo, até o momento nenhuma delas foi capaz de apontar alguma falha séria, o
suficiente que pudesse abalar as bases da Teoria Evolucionista. Tampouco, nenhum
partidário de teorias criacionistas teve (e muito provavelmente jamais terá) condições de
formular uma teoria criacionista capaz de ganhar respeito e dedicação da comunidade
científica. Sendo assim, não há nenhum motivo para ensinar teorias criacionistas nas
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escolas como se fossem teorias concorrentes da Teoria Evolucionista, pois isso incentivaria
os alunos a pensarem que existe essa falsa controvérsia na ciência.
A demarcação é ainda um ponto muito polêmico na Filosofia da Ciência. Embora seja
muito difícil definir com clareza o que é científico do que não é sem correr riscos de ser
restritivo demais (eliminando teorias ou atividades consensualmente consideradas como
merecedoras de investigação) ou permissivo demais (incluindo teorias ou atividades não
consensualmente consideradas como merecedoras de investigação), pode-se, adotando
uma dada epistemologia, tentar traçar essa demarcação (mesmo que seja uma demarcação
não muito precisa).
Quando se fala “teorias ou atividades consensualmente merecedoras de investigação”
não se está dizendo de modo algum que os cientistas precisam ser unânimes em relação a
uma atividade ou teoria. Em geral, quando uma teoria é controvertida e, no sentido
kuhniano, quebra paradigmas, a comunidade científica pode se dividir e não estar em
consenso entre si.
Segundo um critério kuhniano para esboçar uma demarcação, as teorias não são
aleatoriamente escolhidas pela comunidade como merecedoras ou não de investigação: elas
são submetidas à publicação em revistas especializadas, nas quais acontece a avaliação
pelos pares, ou seja, tanto quem propõe as teorias como quem as avalia são cientistas
experientes e com sólida formação para tal. Se são publicadas, acredita-se que possam
merecer investigação. Esse “aval” é sempre temporário, pois a teoria é posta em discussão.
Isso pode acontecer mesmo sem um consenso geral de toda a comunidade científica em
torno da teoria e mostra que ela ganhou esse “aval” por ter argumentos sólidos que a
fundamentavam, ao menos no momento em que foi aceita para publicação.
É nesse sentido que se argumenta que não é a maioria popular que decide o que é
científico ou não, e sim, pessoas com formação acadêmica para isso. A comunidade
científica, mesmo depois de controvérsias no final do século XIX, validou e continua
validando a teoria Darwinista, mesmo com muitos refinamentos. Quanto ao Design
Inteligente, Cura Quântica, Fenômenos Paranormais ou coisas parecidas, jamais algum
deles conseguiu cumprir esse critério.
É de se esperar, nas aulas da área de Ciências da Natureza, que a escola ensine os
resultados referendados pela comunidade científica, sob pena de não estar enculturando os
alunos, mas de ir à contramão disso. Portanto, quando nos referimos à origem da vida e do
universo, é bastante contestável que Design Inteligente ou qualquer teoria criacionista sejam
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ensinados como teorias concorrentes ao evolucionismo nas escolas, nas aulas de Ciências
da Natureza.
Essas teorias não têm esse status na comunidade científica e, portanto, não é
aceitável ensiná-las nas aulas de Ciências da Natureza como se o tivessem. Mesmo não
havendo um critério de demarcação satisfatório e claro, devesse lembrar de que há uma
comunidade séria, imensa e bem preparada trabalhando em uma infinidade de linhas de
pesquisa.
É dessa comunidade que saem as decisões sobre o que é ou não merecedor de
investigação. Essa comunidade não é infalível e há uma série de fatores que interferem na
evolução da ciência como, por exemplo, relações de poder. Mesmo que essa comunidade
não seja perfeitamente isenta, historicamente se vê que os enganos são reparados com o
tempo. Enfim, mesmo o critério rígido não existindo, existe o forte escrutínio de uma
comunidade especializada, que deve ser respeitado.
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