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Capítulo 21
Capítulo 21
Um dos pilares das democracias liberais modernas é o Princípio de Divisão dos Poderes, que
prevê que as diversas atribuições do Estado (a criação e a aplicação das leis e o julgamento das
leis e das ações dos indivíduos) sejam distribuídas entre diferentes instituições, de modo que
apenas um indivíduo ou grupo não concentre e controle todos os poderes do Estado. Seu
objetivo é evitar a arbitrariedade ou qualquer tipo de autoritarismo; assim, é possível equilibrar
e vigiar os poderes, além de evitar abusos recíprocos.
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Todos os países democráticos contemporâneos adotam algum sistema político com base na
divisão dos poderes, e, em geral, quando há a interrupção do processo democrático por golpes
de Estado ou regimes autoritários, um dos primeiros elementos do Estado a ser anulado,
subjugado ou fortemente controlado é justamente o mecanismo de divisão dos poderes. Porém,
essa ideia de divisão do poder é recente no pensamento político. Até o século XVII, ela não era
considerada essencial para o funcionamento social e estatal, existindo antes disso forte
concentração de poderes, e estreitos limites para práticas democráticas. Uma mesma instituição
podia exercer múltiplos poderes e, no caso das monarquias absolutistas, o rei tinha condições
de intervir em todos eles. O Princípio de Divisão dos Poderes nasceu de dois movimentos
distintos. O primeiro foram as chamadas Revoluções Inglesas do século XVII. Elas resultaram na
criação do primeiro regime monárquico europeu no qual existia um sistema de divisão dos
poderes, impedindo, assim, o exercício absoluto do poder pelo rei. Porém, a formulação teórica
e filosófica dessa divisão somente se concretizou no século seguinte, em um contexto no qual
diversos pensadores passaram a defender novas ideias sociais, políticas, científicas e filosóficas.
Esses pensadores, chamados de iluministas, foram os responsáveis pela criação de diversas
ideias que influenciam o mundo até hoje.
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Os cercamentos também resultaram no aumento de crimes como roubo, uma vez que nem
toda a população expulsa de suas casas conseguia ser empregada. É esse aumento de
“vagabundos” (vagabonds, do termo “aquele que vaga”) que impulsiona a criação de leis
anticercamento que buscavam impedir a transformação de terras dedicadas à lavoura em terras
cercadas destinadas a outras atividades produtivas, como pastos. A burguesia, por exemplo, foi
uma das principais beneficiadas com os cercamentos das terras, porque passou a negociá-las e a
utilizá-las para a expansão da produção de manufaturas. Além da burguesia, setores da pequena
nobreza, os chamados gentry, também se beneficiaram. Assim como os burgueses, esses
indivíduos passaram a investir na compra de terras, o que aproximava os interesses econômicos
de ambos. O compartilhamento de interesses em comum fez esses dois grupos se tornarem
aliados e passarem a lutar pela ampliação de seus poderes políticos, pressionando a monarquia
e a alta nobreza a promover reformas políticas no país.
Uma das estratégias adotadas pela burguesia e pelos gentry foi utilizar o Parlamento inglês
como mecanismo de pressão sobre o rei. É importante lembrar que a história da Inglaterra foi
marcada por constante disputa entre os reis e o Parlamento. Em alguns períodos, o monarca
conseguiu se sobrepor e ampliar seus poderes. Em outros, ocorreu o inverso, e o rei foi obrigado
a aceitar uma série de determinações que diminuíam seus poderes. Entre o século XVI e o início
do século XVII, os reis da dinastia Tudor conseguiram se impor sobre o Parlamento e
intensificaram seus poderes.
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Após o fim da dinastia Tudor, a subida de Jaime ao poder significou a união das coroas
britânica e escocesa. Jaime I da Inglaterra é Jaime VI da Escócia. Essa informação é relevante,
pois ajuda a compreender os embates entre o monarca e o Parlamento inglês. A Escócia do
século XVII possuía um parlamento, mas, diferentemente do Parlamento da Inglaterra, nunca
possuiu uma verdadeira força de atuação, sendo submetido ao monarca. Quando Jaime subiu ao
poder, a independência e a governabilidade exercidas pelo Parlamento inglês entraram em
choque com o estilo de governo escocês.
Esse período foi marcado por uma nova investida do Parlamento contra o monarca, visando
diminuir os poderes do rei e ampliar a autoridade da Assembleia. Isso deu início a uma série de
disputas, que opôs a realeza à alta burguesia e aos representantes do Parlamento, os dois
últimos apoiados pela burguesia e pela gentry.
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Esse cenário tenso e conflituoso resultou em grande desgaste político. Para conter as
insatisfações, Carlos I foi obrigado a convocar o Parlamento, tentando aprovar medidas que
fortalecessem seus poderes militares. Os parlamentares, contudo, recusaram-se a conceder mais
poderes ao rei, o que levou a uma crise política, já que Carlos I não aceitou essa recusa e decidiu
adotar medidas para reforçar seu poder sem o apoio do restante da sociedade.
Tal decisão deu início a um conflito militar, opondo, de um lado, o monarca e seus aliados
(como setores da alta burguesia); e, do outro, aqueles contrários ao rei e favoráveis ao
Parlamento (a burguesia e a gentry, principalmente). Os primeiros foram chamados de
cavaleiros, enquanto os segundos receberam o nome de “cabeças redondas”. Os enfrentamentos
iniciais entre os dois grupos ocorreram em 1642.
TOME NOTA
A substituição de uma monarquia por uma república, bem como a execução de um rei, eram
acontecimentos inéditos até então na história da Europa. Por isso, o movimento foi
chamado de Revolução Puritana, considerado a primeira revolução na qual a burguesia
desempenhou papel preponderante. Dessa forma, tal evento faz parte das chamadas
Revoluções Burguesas, que, a partir desse momento, passaram a ter grande impacto na
organização política da Europa.
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Nesta pintura de John Barker, está retratada a Batalha de Marston Moor, em 1644, um dos embates do
conflito inglês que levaria à derrota de Carlos I e da monarquia.
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A Inglaterra republicana
Com a proclamação da República, Oliver Cromwell tornou-se o líder do novo governo e
passou a reprimir setores que defendiam uma revolução mais radical, como os diggers, ou
escavadores (defensores, entre outras bandeiras, do fim da propriedade privada), e os levellers,
ou niveladores (defensores de medidas para a promoção da igualdade social na Inglaterra). Ao
mesmo tempo, Cromwell adotou medidas que favoreciam os interesses da burguesia, como a
assinatura dos chamados Atos de Navegação, que determinavam que todos os produtos
comercializados com as colônias inglesas deveriam ser transportados por navios da Inglaterra.
Essa medida ajudou a fortalecer ainda mais os comerciantes ingleses e a desenvolver a
economia inglesa. Por essa razão, pode-se dizer que esse período marcou a consolidação do
fortalecimento da burguesia inglesa, a qual se tornou uma força política e econômica decisiva
no período. Como será visto no capítulo sobre Revolução Industrial, esse é um elemento central
para se entender o início da industrialização na Inglaterra.
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AGORA
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Observe a imagem a seguir. Trata-se de uma representação produzida em 1649 por Gerrard
Winstanley, importante líder do movimento digger. Em seguida, responda ao que se pede.
1. Descreva a imagem.
2. Formule uma hipótese para explicar a qual processo ocorrido na sociedade inglesa
entre os séculos XVI e XVII essa imagem faz referência.
3. De que modo essa imagem pode ser relacionada com os ideais defendidos pelo
movimento digger?
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Essa tendência de Jaime II ocorreu, em parte, devido a questões religiosas que extrapolavam
o embate costumeiro relacionado com a indicação de cargos. Ele foi criado católico, e as
monarquias alinhadas ao catolicismo geralmente seguiam a acepção de “direito divino”. Essa
doutrina, contudo, conflitava com os direitos políticos almejados pelo Parlamento. Além disso, a
tentativa de afrouxar as leis penais bem como de adotar políticas de tolerância religiosa foram
vistas como medidas para desestabilizar a Igreja da Inglaterra, causando desconfiança a setores
da sociedade inglesa.
Para isso, a filha de Jaime II, Mary Stuart, foi coroada rainha da Inglaterra, e seu marido,
Guilherme de Orange, seria o novo rei. Entretanto, ambos deveriam aceitar a imposição de um
documento que limitava definitivamente o poder dos reis da Inglaterra. Esse documento,
conhecido como Declaração de Direitos (Bill of Rights), reconhecia o poder do Parlamento para
criar leis e estipulava que o próprio monarca deveria obedecer a elas. Guilherme de Orange e
Mary Stuart aceitaram esse acordo e conquistaram apoio para subir ao trono, o que resultou na
abdicação de Jaime II e na sua respectiva fuga para a França.
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Guilherme de Orange e Mary Stuart retratados em tela de 1647, de Gerard van Honthorst.
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O pioneirismo inglês nesse processo contribuiu para o enriquecimento do país e para a sua
transformação no principal centro econômico da Europa entre as primeiras décadas do século
XVIII e as últimas décadas do século XIX. Além disso, o movimento de fortalecimento político da
burguesia também contribuiu para a difusão de novas ideias e formas de pensamento que
valorizavam as liberdades individuais e os direitos dos cidadãos. A Declaração de Direitos
repercutiu, assim, em diversos documentos que estabeleciam garantias aos indivíduos contra os
abusos de poder dos governantes.
TOME NOTA
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A Revolução Científica
Nos séculos XVI e XVII, houve consideráveis transformações intelectuais e científicas na
Europa. Nesse período, ocorreram importantes descobertas científicas em diversos campos do
saber, como a Medicina, a Matemática, a Física e a Química. Em decorrência do florescimento de
novos conhecimentos, técnicas e teorias, esse momento ficou conhecido como o início da
chamada Revolução Científica europeia.
experimentos científicos que pudessem ser repetidos, isto é, reproduzidos por outros
pesquisadores. Por meio desses experimentos mais rigorosos, houve gradativamente o
abandono de diversas ideias consideradas verdadeiras desde a Idade Média, ainda que muitas
vezes de forma conflituosa.
Foi no campo da Física que a Revolução Científica se manifestou com contornos mais nítidos,
já que os séculos XVI e XVII foram marcados pelo nascimento da chamada Física moderna. Essa
transformação na compreensão do mundo natural ocorreu graças a contribuições de pensadores
como Nicolau Copérnico (1473-1543), Galileu Galilei (1564-1642), Johannes Kepler (1571-1630) e
Isaac Newton (1643-1727), responsáveis pelo desenvolvimento de novas noções sobre o espaço,
o movimento, as propriedades da luz, a dinâmica dos corpos celestes e outros fenômenos
naturais.
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Dois pensadores centrais para a renovação do pensamento político do período foram Thomas
Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704), embora suas reflexões sobre o processo político
inglês sejam significativamente distintas. Hobbes enxergou a Guerra Civil Inglesa – que instaurou
a República na Inglaterra – como uma grande ameaça para a ordem social e a segurança dos
indivíduos. Diante desse cenário de profunda transformação do poder vigente, elaborou uma
reflexão na qual defendia o fortalecimento do poder absoluto dos governantes e a restrição das
liberdades individuais, pois essa lhe parecia ser a única forma de conter os conflitos entre os
indivíduos e evitar a guerra civil.
Apesar das divergências de suas perspectivas, Hobbes e Locke elaboraram teorias chamadas
posteriormente de teorias políticas contratualistas, na medida em que se baseavam na defesa da
existência de um contrato entre o governante e a sociedade. Esse contrato seria o fundamento
do governo e da organização da sociedade. Essa concepção era bastante inovadora no século
XVII, pois os governos comumente eram apresentados como um elemento natural ou uma
criação divina, sem possibilidades de serem questionados ou contestados. As ideias
contratualistas previam a possibilidade de se dissolver o contrato e se criarem novas formas de
governo. Por isso, tornaram-se a base para inúmeros movimentos revolucionários nos séculos
seguintes.
TOME NOTA
A formulação de novas ideias científicas, políticas e sociais entre os séculos XVI e XVII, assim
como as transformações na organização econômico-social, constituíram condições nas
quais se fortaleceu a convicção de que os seres humanos poderiam utilizar a razão e a
inteligência para modificar seu meio ambiente e seu mundo, bem como reorganizar as
sociedades existentes. Essa crença na razão se intensificou no decorrer do século XVIII,
Avaliar
adquirindo contornos mais nítidos no movimento intelectual iluminista. Ao longo do16 século,
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as ideias desse movimento se espalharam pela Europa e para outras regiões do mundo,
inclusive a América, e tiveram grande impacto na formação do mundo contemporâneo.
O texto a seguir é um pequeno fragmento da obra Dois tratados sobre o governo, escrita por
John Locke no final do século XVII. Foi nessa obra que o pensador inglês elaborou suas
principais teorias sobre a organização da sociedade em uma perspectiva contratualista.
Para compreender esse fragmento, é importante notar como Locke visualiza a existência de
dois modos de vida para os seres humanos. O primeiro deles seria a liberdade natural
anterior à vida em sociedade, na qual todos poderiam agir livremente, mas não existiam
regras comuns que poderiam garantir a paz e a tranquilidade de todos. O segundo modo de
vida seria o vigente na sociedade civil, quando as leis e as regras sociais determinariam o
alcance da liberdade dos indivíduos. Com base nisso e na leitura do texto, responda ao que
se pede.
A única maneira pela qual uma pessoa qualquer pode abdicar de sua liberdade natural e
revestir-se dos elos da sociedade civil é concordando com outros homens em juntar-se e
unir-se em uma comunidade, para viverem confortável, segura e pacificamente uns com
outros, num gozo seguro de suas propriedades e com maior segurança contra aqueles que
dela não fazem parte.
LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 468.
1. De acordo com Locke, as pessoas poderiam abrir mão de suas liberdades naturais
mediante o uso da violência?
Avaliar 16
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3. Com base na leitura desse fragmento, é possível afirmar que Locke consideraria válido
que o governo criado após a instauração da sociedade civil agisse de forma arbitrária ou
violenta contra a população?
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O Iluminismo
As transformações científicas, filosóficas e culturais do século XVII ganharam ainda mais
força ao longo do século XVIII, estimulando indivíduos e grupos sociais a defender, em diversas
regiões europeias, a necessidade de promover a emancipação dos seres humanos por meio do
uso da razão. Com isso, os indivíduos poderiam questionar a ordem social no Antigo Regime,
especialmente os poderes absolutistas dos reis, a grande influência intelectual e social da Igreja
e, em alguns casos, até as desigualdades sociais que diferenciavam a nobreza e o povo em uma
sociedade com fortes traços estamentais.
Tendo em vista que o pensamento iluminista era uma forma de crítica aos valores da
sociedade do Antigo Regime, pode-se entender esse fortalecimento dos ideais iluministas na
França pelo expressivo desenvolvimento do Antigo Regime no país. A monarquia francesa no
séculoAvaliar 16 das
XVIII era o principal modelo de absolutismo na Europa, especialmente em virtude
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ações de Luís XIV (1638-1715), representante máximo da centralização do poder nas mãos do
monarca. Além disso, a Corte francesa era uma das mais luxuosas do continente europeu.
Esses autores criticaram diferentes aspectos da sociedade do Antigo Regime, como a teoria
do poder divino dos monarcas e a influência da Igreja no Estado. Montesquieu, por exemplo,
questionou o poder excessivo dos reis e defendeu um sistema de divisão dos poderes. Voltaire
centrou suas reflexões na defesa da liberdade de expressão, sendo um crítico incessante dos
poderes da Igreja. Rousseau afirmava que a desigualdade social era um mal que deveria ser
combatido e propunha a criação de um regime político no qual todos os cidadãos participariam
da organização do governo. Já os economistas iluministas questionaram os entraves
protecionistas do mercantilismo, defendendo a liberdade econômica como meio para o
desenvolvimento do país.
Na Escócia, o pensador Adam Smith (1723-1790), em seu livro A riqueza das nações, lançou as
bases do chamado liberalismo econômico, defendendo o trabalho humano como fonte
produtora de riqueza, a se desenvolver sem a intervenção estatal. Outro pensador fundamental
do Iluminismo foi o alemão Immanuel Kant (1724-1804), que elaborou uma das mais
importantes sínteses filosóficas das propostas iluministas, sustentando o esclarecimento (o uso
da razão) como meio pelo qual os seres humanos poderiam deixar a condição de menoridade e
alcançar a maioridade intelectual.
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A crítica ao Antigo Regime foi bastante incisiva entre os pensadores iluministas. A imagem se trata de um
cartum que circulou na França do século XVIII, denunciando o desequilíbrio entre as três principais classes
sociais (estados) da nação – a população em geral (campesinato e burguesia) sustentava o clero e a
nobreza. A legenda, em língua francesa, pode ser traduzida como “Espera-se que esse jogo termine logo”.
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TOME NOTA
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Diversas mulheres também se destacaram por suas ideias iluministas. Elas formularam as
primeiras teorizações em defesa da igualdade de gênero e do reconhecimento público das
mulheres. A francesa Olympe de Gouges (1748-1793) e a inglesa Mary Wollstonecraft (1759-
1797), por exemplo, foram duas importantes pensadoras do período, elaborando
documentos nos quais defendiam os direitos das mulheres e afirmavam que estas tinham os
mesmos atributos intelectuais que os homens, uma tese recusada por muitos homens
iluministas.
A Enciclopédia
Os pensadores iluministas nutriam o objetivo de que suas propostas e reflexões se
disseminassem pela sociedade, alcançando o maior número possível de pessoas. Por isso,
preocupavam-se em utilizar diversos canais para divulgar suas ideias, como as academias
científicas, os salões, as casas de pessoas ricas ou influentes, os livros, os jornais e panfletos
diversos.
conhecimento a fim de torná-lo mais acessível a todos. Esse caráter democratizante contribuiu
para a rápida disseminação das ideias iluministas e sua influência e repercussão sobre
movimentos sociais dos mais diversos espectros ideológicos. Como será visto nos capítulos
sobre independência dos Estados Unidos e da América Espanhola e sobre a sociedade do ouro,
as ideias iluministas desempenharam papel destacado na organização de movimentos
independentistas nas diversas colônias europeias, especialmente a partir de meados do século
XVIII. Além disso, a Revolução Francesa (1789), acontecimento que será abordado com mais
afinco em estudos posteriores, também foi bastante influenciada pelos pensadores iluministas.
Leitura da tragédia de Voltaire O órfão da China no salão de Madame Geoffrin (1812), tela de Anicet
Lemonnier. Nessa obra, está representado o ideal iluminista de ampliação de uma sociedade letrada,
promotora de conhecimento, artes e cultura.
Página 26
O despotismo esclarecido
Na segunda metade do século XVIII, os Países Baixos, a França e a Inglaterra passavam por
um momento de forte desenvolvimento. Por outro lado, diversos reinos europeus estavam sob
um cenário econômico pouco favorável em relação a essas nações. Por exemplo, Portugal,
Espanha, Prússia, Áustria, Rússia e Suécia enfrentavam dificuldades crescentes para competir no
Avaliar 16
mercado internacional e manter equilibrada sua balança comercial. Além disso, os setores
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Para contornar tal cenário, uma das questões mais importantes era retomar o
desenvolvimento político-econômico do Estado. Nesse contexto, o Iluminismo foi uma fonte de
inspiração para diversas reformas implementadas no período, e Estados com tendências
reformistas graduais utilizaram parcialmente as ideias do movimento, como Portugal, Espanha,
Rússia e principados germânicos e escandinavos. Assim, houve uma relativa abertura dos
monarcas a algumas ideias iluministas como forma de legitimar seu poder em um período de
crise; e tal processo, combinado com a manutenção do monopólio real do poder, ficou
conhecido como Despotismo Esclarecido.
É nesse sentido, por exemplo, que a atitude da imperatriz da Áustria, Maria Teresa (1717-
1780), de impor o alemão como língua oficial de todos os territórios da dinastia Habsburgo pode
ser interpretada como uma política típica de déspotas esclarecidos. A unificação do idioma fez
parte de uma racionalização, pelo uso de técnicas de simplificação e uniformização. Isso causou
o fortalecimento da burocracia do Estado. Assim, ainda que parcialmente, o Iluminismo
expandia-se, e medidas semelhantes foram adotadas por outros déspotas esclarecidos.
Portanto, buscou-se fundar a autoridade das monarquias no Direito Natural Moderno com
base nas noções de felicidade e de progresso dos povos, aspectos iluministas presentes em
reformas jurídicas de monarcas como Frederico II (1712-1786) da Prússia, Maria Teresa e José II
(1741-1790) da Áustria, Catarina II (1729-1796) da Rússia e Gustavo III (1746-1792) da Suécia.
Essas reformas possuíam aspectos em comum além do fundamento no direito natural, como a
abolição da tortura como método judicial para produção da verdade, a interferência em
privilégios do clero e da nobreza, o controle estatal das respectivas igrejas nacionais e a
unificação dos códigos penais. Contudo, alguns monarcas fizeram reformas mais profundas,
como Frederico II, que instituiu a igualdade jurídica e a separação dos poderes, enquanto outros
adotaram reformas mais amenas, como Catarina II, que se limitou a abolir a tortura e a
referendar juridicamente os privilégios aristocráticos com a Carta da Nobreza (1785).
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Nesse sentido, por exemplo, o Marquês de Pombal aplicou medidas que reverberaram na
sociedade colonial brasileira e que ficaram conhecidas posteriormente como Reformas
Pombalinas. Tais reformas representaram uma intervenção autoritária da metrópole no sentido
de reforçar o controle de Portugal sobre a colônia, consolidando o absolutismo português, como
ao intensificar a política fiscal sobre o ouro explorado em Minas Gerais. Isso, em conjunto com
outras reformas de intervenção do governo de Pombal, acirrou as insatisfações da sociedade
brasileira.
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Frederico II da Prússia (centro) foi um dos monarcas a adotar medidas típicas do despotismo esclarecido e
foi influenciado diretamente por Voltaire.
ENQUANTO ISSO...
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Gregório de Matos
Gregório de Matos viveu em Portugal por cerca de três décadas, retornando ao Brasil aos 47
anos. Nesse longo período, recebeu grande influência da arte barroca, que se desenvolvia
na época, e seus poemas evidenciam diversos temas próprios desse movimento artístico,
como a fugacidade da vida, o combate entre elementos opostos e a instabilidade do mundo.
O poeta também possuía forte espírito satírico, um traço observável em vários de seus
poemas críticos à ordem social vigente.
Retrato de Gregório de Matos em uma edição de um livro brasileiro da segunda metade do século XIX.
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A Revolução Puritana.
A Revolução Gloriosa.
O despotismo esclarecido.
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A imagem a seguir é uma representação de um encontro entre Frederico II e Voltaire feita por
um artista alemão do século XIX. Com base na observação atenta da imagem, responda ao que
se pede.
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Questão 01
De que modo o monarca e o filósofo foram representados na imagem?
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Questão 02
Pode-se dizer que esse tipo de representação pretendia construir uma imagem positiva de
Frederico II e ressaltar seu caráter ilustrado. Justifique essa ideia com elementos da imagem
anterior.
1. que é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para suspender as leis ou seu
cumprimento.
[...]
2. que, do mesmo modo, é ilegal a faculdade que se atribui à autoridade real para dispensar
as leis ou o seu cumprimento, como anteriormente se tem verificado, por meio de uma
usurpação notória.
[...]
6. que o ato de levantar e manter dentro do país um exército em tempo de paz é contrário a
lei, se não proceder autorização do Parlamento.
[...]
9. que os discursos pronunciados nos debates do Parlamento não devem ser examinados
senão por ele mesmo, e não em outro Tribunal ou sítio algum.
[...]
Questão 03
Quais eram os principais direitos previstos nos trechos selecionados da Declaração de Direitos
para o Parlamento?
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Questão 04
Com base nos trechos selecionados, explique a razão pela qual o poder do rei inglês deixou de
ser absoluto com a Declaração de Direitos.
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Questão 05
(ESPCEX) O século XVIII registrou profundas transformações na maneira de governar de diversos
dirigentes.
Segundo Boulos Jr. (2011), Frederico II, da Prússia, aboliu as torturas aplicadas aos presos,
incentivou as letras, as artes e as ciências e dirigiu pessoalmente a reforma de Berlim, capital da
Prússia na época. Já o Marquês de Pombal, ministro do rei D. José I, de Portugal, decretou a
emancipação dos indígenas na América portuguesa, a abolição da escravidão africana e a
fundação da Imprensa Régia, em Portugal. Por sua vez, José II, da Áustria, adotou a tolerância
religiosa, mas manteve intocados o militarismo e a servidão. Catarina II, da Rússia, mandou
construir escolas, fundou hospitais, dirigiu a reforma da capital (São Petersburgo) e combateu a
corrupção nos meios civis e religiosos.
a) todos foram provavelmente inspirados por ideias iluministas, e o tipo de governo adotado
por eles foi chamado pelos historiadores do século XIX de despotismo esclarecido.
b) somente Frederico II e Catarina II foram inspirados por ideias iluministas, e o tipo de governo
adotado por eles foi chamado de socialismo.
ATIVIDADES
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Questão 01
(ENEM)
Fala-se muito nos dias de hoje em direitos do homem. Pois bem: foi no século XVIII – em 1789,
precisamente – que uma Assembleia Constituinte produziu e proclamou em Paris a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão. Essa Declaração se impôs como necessária para um grupo
de revolucionários, por ter sido preparada por uma mudança no plano das ideias e das
mentalidades: o Iluminismo.
Questão 02
(IFCE) A Europa Ocidental vivenciou, entre os séculos XVI e XVIII, inúmeras transformações
culturais. É (são) uma dessas transformações:
a) O Movimento Reformista do século XVI foi caracterizado por uma unificação de pensamento e
práticas nos diversos países nos quais se difundiu.
c) Os Tribunais da Santa Inquisição foram extintos entre 1545 e 1563, graças à Contrarreforma
Religiosa, que alterou os dogmas católicos a partir de um enfoque humanista.
d) AsAvaliar 16
ideias liberais econômicas, na metade do século XVIII, criticavam o Sistema Colonial e
defendiam a Manutenção dos Monopólios, que eram o principal gerador de riqueza da
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sociedade.
e) O Movimento Iluminista, no século XVIII, baseava-se no racionalismo e criticava os
fundamentos do poder da Igreja, que apoiava os princípios do poder monárquico absoluto.
Página 30
Questão 03
(FGV)
“O gênero humano é de tal ordem que não pode subsistir, a menos que haja uma grande
infinidade de homens úteis que não possuam nada.”
“O comércio, que enriqueceu os cidadãos na Inglaterra, contribuiu para os tornar livres, e essa
liberdade deu por sua vez maior expansão ao comércio; daí se formou o poderio do Estado.”
(Cartas inglesas)
a) define, com suas ideias, os interesses da burguesia como classe, no século XVIII: o comércio
como condição para a acumulação de capital, a riqueza como fator de liberdade e do poder
de Estado e a propriedade ligada à desigualdade.
b) crê, como filósofo iluminista do século XVIII, nas igualdades social e política, pois a filosofia
burguesa elabora uma doutrina universalista que confunde a causa da burguesia com a de
toda a humanidade.
d) considera que a burguesia não se constitui em uma classe no século XVIII, e que ela precisa
do poder do Estado centralizado para garantir a sua riqueza e, nessa medida, aproxima-se da
nobreza para obter apoio político.
Questão 04
(PUC) O Iluminismo, como movimento intelectual, reuniu pensadores que abordaram a política,
a organização social e a natureza de formas distintas. Pode-se, no entanto, encontrar um
conjunto de princípios comuns que dão identidade ao pensamento iluminista europeu do século
XVIII. Sobre esse movimento, analise as afirmativas a seguir.
II. Os iluministas defendiam que as sociedades humanas tendiam para um estágio inevitável
de progresso material e espiritual que levaria à regeneração do ser humano e que seria
guiada por Deus.
III. A defesa da razão como principal recurso humano para conhecer e explicar os fenômenos
sociais e naturais estava no centro da atitude intelectual dos filósofos iluministas.
IV. A igualdade e a liberdade são, para os pensadores do século XVIII, valores fundamentais e
naturais, que constituem a base política do nascente Estado Absolutista.
a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I e III.
e) I e IV.
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Questão 05
(UPE)
O Princípio de Separação dos Poderes, embora tenha sido positivado por meio da revolução
constitucionalista do final do século XVIII, tem raízes muito mais profundas, tendo em vista que
a preocupação de atribuir as funções fundamentais do estado a órgãos distintos é objeto de
reflexão e discussão desde os primórdios da organização estatal. A separação dos poderes do
Estado tem suas bases definidas por meio de uma teoria, que se desenvolveu ao longo do
tempo, mediante a reflexão de filósofos que remontam à Antiguidade, consagrando-se
efetivamente após a análise de Montesquieu, no século XVIII.
BARBOSA, Marília Costa. Revisão da Teoria da Separação dos Poderes do Estado. Escola Superior do
Ministério Público do Ceará. (adaptado)
Questão 06
(UEG) Leia o texto a seguir.
De resto, esta tolerância é tão vantajosa para as sociedades em que se estabelecem que faz a
felicidade do estado. Desde que o culto seja livre, todos ficam tranquilos: a perseguição, ao
contrário, deu lugar às guerras civis mais sangrentas, mais longas e mais destrutivas.
FREDERICO II. In: PAZZINATO, A. L.; SENISE, M. H. V. História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Ática,
2000. p. 104.
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O texto citado, de autoria do monarca prussiano Frederico II (1712-1786), expressa os valores
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Questão 07
(UFRGS) Durante o século XVII, a Inglaterra experimentou um período de profundas e violentas
transformações políticas, desde a eclosão da Guerra Civil Inglesa (1642-1651) até a Revolução
Gloriosa (1688).
c) a independência das treze colônias inglesas da América do Norte e a abertura dos portos
ingleses aos navios estrangeiros.
Questão 08
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(UEG) Leia o texto a seguir.
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Após a decapitação do rei, o Parlamento sofreu nova depuração. Um Conselho de Estado, com 41
membros, passou a exercer o Poder Executivo. Mas o controle do Estado estava de fato nas mãos
de Cromwell [...] Ofereceram-lhe a coroa, mas ele a recusou: na prática, já era um soberano e
podia até fazer seu sucessor.
PILETTI, Nelson; ARRUDA, José Jobson de A. Toda a história. São Paulo: Ática, 2000. p. 228.
Após a morte de seu líder, em 1658, o destino da chamada “República de Cromwell” foi marcado
pela
a) deposição, já no ano seguinte, de seu filho e sucessor, Richard Cromwell, permitindo o início
da fase de Restauração.
c) proibição das práticas puritanas, fazendo com que muitos membros do movimento
migrassem para a América.
Questão 09
(MACKENZIE) A Revolução Gloriosa, na Inglaterra (1688-1689), marcou o início de uma época de
grande prosperidade para o país, lançando as bases para o desenvolvimento capitalista, e
permitiu que o país fosse o pioneiro na Revolução Industrial do século XVIII. Pode-se estabelecer
uma relação entre os dois eventos porque
a) o governo passou a impor a religião anglicana, dando fim aos conflitos religiosos e aos
massacres entre católicos e protestantes, liberando mão de obra para as novas técnicas de
produção.
b) o poder real, com a retomada do absolutismo, não encontra empecilhos para dar fim ao
sistema feudal e incentivar a prática capitalista para aumentar os recursos do Tesouro
Nacional.
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c) o país, 16
com o advento do Parlamentarismo, passou por transformações, como o acordo
político e econômico entre a burguesia e a nobreza rural que, juntas, promoveram o
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21/09/2022 18:06 Estante de Conteúdo
p g q ,j ,p
desenvolvimento econômico.
d) tanto a tolerância religiosa quanto uma maior liberdade de expressão política por parte da
sociedade civil, características do despotismo esclarecido, incentivaram o desenvolvimento
econômico.
Questão 10
(FUVEST) As chamadas “revoluções inglesas”, transcorridas entre 1640 e 1688, tiveram como
resultados imediatos
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