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Introdução:
Durante o reinado de D. Pedro II, a mão de obra escrava no mundo estava perto de sua
proibição por conta da influência da Inglaterra, principal potência geopolítica do período, a
qual buscava a inserção do trabalho assalariado nos países em geral, gerando, desse modo,
mais mercados consumidores para venderem seus produtos e manufaturas. Nesse cenário, a
Coroa brasileira, ciente de que a economia nacional consistia em mão de obra escrava, tomou
medidas para beneficiar os grandes latifundiários e manter a estrutura de poder político e
econômico como estava antes dessa incursão inglesa contra a escravidão. Em outras palavras,
a intenção era proteger esses grandes donos de terra de quaisquer impactos econômicos que
medidas congruentes com essa nova pauta inglesa pudesse ter.
Estruturalmente, os latifúndios brasileiros estavam sob a posse de capitães donatários-
homens de confiança da corte, e da Coroa- que deveriam distribuir as terras em sesmarias, nas
quais os sesmeiros produziriam e pagariam tributos para o governo. Outra característica
importante era que as terras dos capitães donatários poderiam ser apenas repassadas de forma
hereditária, ou seja, não havia a possibilidade de compra ou venda. Sobre a burocracia, eram
necessários dois documentos: a Carta de Doação e a Carta Foral que, respectivamente, eram
responsáveis pelo repasse e comprovação de posse da terra; e pelos tributos.
Para compreendermos o contexto mundial, vale dizer que a Inglaterra estava passando por
diversas alterações no âmbito econômico, sendo a principal delas a Primeira Revolução
Industrial. Em decorrência disso, a produção econômica inglesa teve sua escala e velocidade
ampliadas, assim gerando a necessidade de ampliar mercados consumidores parceiros. Devido
a essa mentalidade e aos valores iluministas presentes, o país britânico chegou à conclusão de
que o fim da escravidão era necessário. Dessa maneira, com esse modo de pensar, o país
inglês pressionou seus parceiros comerciais, dentre eles o Brasil, para que tornassem sua força
de trabalho assalariada.
Tendo em vista essa questão geopolítica, a Coroa brasileira promulgou a Lei de Terras de
1850, substituindo o sistema de sesmarias, presente desde o período colonial, e dando caráter
de propriedade privada aos latifúndios brasileiros. Essa medida legalizou as terras já ocupadas
anteriormente até 1822, trouxe a possibilidade de compra, que não existia no sistema de
sesmarias, e tornou as terras devolutas (não ocupadas) propriedade do Estado brasileiro.
Em suma, o foco deste trabalho é apresentar o motivo da Lei de Terras de 1850, suas
motivações e resultados após sua oficialização.
Em meados do século XVIII, a Inglaterra estava passando por grandes mudanças e transições,
tendo como a mais marcante a Revolução Industrial. Nesse processo, houve o surgimento do
conceito de propriedade privada e do capitalismo, modo de produção no qual há ênfase na
produtividade e no lucro. Isso se deveu ao grande poder econômico acumulado pela burguesia,
assim gerando a ambição por poder político da mesma classe. Para que os interesses burgueses
fossem atingidos, foi necessária a idealização do Liberalismo Político, conjunto de ideias
favoráveis à liberdade do homem, fazendo oposição ao sistema absolutista vigente. Com a
ascensão e a supremacia da burguesia inglesa, para a sobrevivência do sistema capitalista era de
extrema importância a geração de novos mercados consumidores, pois o consumo é a base do
capitalismo. Por essas razões, a Inglaterra começou a pressionar o Brasil para proibir o tráfico
internacional de escravos, e o gradual fim da escravidão traria a necessidade da inserção do
trabalho assalariado no território brasileiro. Além disso, também é necessário ressaltar que a
escravidão vai contra os princípios do Liberalismo Político inglês, e a primazia dos direitos
naturais de liberdade, igualdade, e valorização do individualismo e da vida. Como o Brasil tinha
como principal parceiro comercial a Inglaterra, o país, governado por uma regência, em 1831,
publicizou a Lei Feijó, que invalidava a escravidão de qualquer africano que chegasse no Brasil a
partir daquele ano. Entretanto, a lei ficou conhecida como “lei para inglês ver”, pois ela havia
sido promulgada para agradar os ingleses, mas não era cumprida, nem encontrava fiscalização
eficaz por parte do Brasil. Com o passar do tempo, a corte inglesa fez o ato Bill Aberdeen, que
permitia à marinha britânica aprender ou afundar os navios suspeitos de tráfico negreiro no
Oceano Atlântico. Por essas razões, o Brasil, em 1850, agora regido por D. Pedro II, promulgou a
Lei Eusébio de Queirós, que proibiu a entrada de escravos africanos no Brasil e dessa vez a lei
realmente foi cumprida, diferente da Lei Feijó.
AS VIAGENS NEGREIRAS DE PORTUGAL
(gráfico)
Em 1850, após a declaração da lei n. 581(Lei Eusébio de Queirós), ficou evidente para a
sociedade brasileira que o sistema escravista estava perto do fim. Por isso, D. Pedro II, para
agradar seus principais aliados políticos, a elite agrária cafeicultora brasileira, tomou como
medida a promulgação da Lei de Terras de 1850. Desde a distribuição das Sesmarias, não houve
nenhuma nova política de regulamentação da posse das terras brasileiras, e com a futura chegada
da mão de obra assalariada, havia o risco da criação de novas fazendas, a partir da posse e
produção em terras devolutas.
Assim, tomando como base um modelo australiano, em 1843, foi apresentada à Câmara dos
Deputados um projeto de lei no tocante à regulamentação dos territórios brasileiros
O projeto propunha, dentre outros tópicos:
1. a compra de terras devolutas - desocupadas - por meio de pagamento à vista, em dinheiro
e sob altos valores;
2. a legalização das sesmarias doadas até 1822 e das áreas que a partir daquela data
estivessem ocupadas por mais de um ano;
3. o registro de todas as terras num prazo de seis meses, sob pena de confisco;
4. a medição e demarcação dos terrenos, sob risco de serem considerados áreas devolutas, e
a criação de um imposto sobre as terras, que seriam confiscadas em caso de não
pagamento por três ano
O texto original foi alterado, e os proprietários de terra demonstraram seu poder político,
especialmente aqueles do estado do Rio, os quais ficaram descontentes com alguns termos. Desse
modo, extinguiram o imposto atrelado ao território e o risco de expropriação.
Sendo assim, a lei n.601(Lei de Terras) deu viés de propriedade privada aos latifúndios já
ocupados até 1822, regularizando-os e tornando-os passíveis de venda e compra, o que não era
permitido antes dessa lei. Além disso, essa nova regra declarava que as terras devolutas(não
ocupadas) eram propriedade da Coroa brasileira. A Lei de Terras também previu algumas multas
para os que tivessem cometido irregularidades. A principal consequência dessa medida foi a
perpetuação da concentração fundiária, pois futuros imigrantes e trabalhadores assalariados não
possuíam o capital necessário para realizar a compra de novas terras. Contudo, a parte da lei que
previa multas e regras de ocupação foi desrespeitada e pouco exigida, demonstrando o poder de
influência da elite cafeeira.
4. CONCLUSÕES FINAIS DO CONTEXTO BRASILEIRO ANTERIOR E
CONCOMITANTE À LEI DE TERRAS
REFERÊNCIAS
Ronaldo Vainfas, Sheila de Castro Faria, Jorge Luiz Ferreira, Georgina dos Santos.
História. São Paulo: Saraiva, 2019