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IMIGRANTES COLONOS:
OCUPAÇÃO TERRITORIAL E
FORMAÇÃO CAMPONESA NO SUL
DO BRASIL
Giralda Seyferth
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A nova lei de terras (Lei 601, de 18.9.1850) veio para regular a proprieda-
de da terra e seu art. 1º estabeleceu que a aquisição de terras devolutas (públi-
cas) só podia ser feita por compra. Não comentaremos os detalhes da lei e
sua regulamentação pelo Decreto 1318, de 30.1.1854, mas apenas observar
que a transformação das terras devolutas em mercadoria trouxe mudança
significativa no regime de colonização: os lotes agora só podiam ser conce-
didos por compra, mesmo nas colônias oficiais, isto é, aquelas sob adminis-
tração do Estado. A maior parte da regulamentação diz respeito à demarca-
ção, legitimação e venda das terras públicas (tendo em vista o regime
anterior de sesmarias). Mas seu efeito sobre a colonização ultrapassa essa
questão pois estabeleceu as regras de funcionamento da Repartição Geral
das Terras Públicas, "encarregada de dirigir a medição, divisão, e descrição das
terras devolutas, e sua conservação, de fiscalizar a venda e distribuição de-
las, e de promover a colonização nacional e estrangeira" - conforme o art.
21 da Lei 601. Apesar da menção aos "nacionais", na prática prevalesceu
a colonização estrangeira e, na expansão posterior das áreas colonizadas, a
maior parte dos brasileiros era constituída por descendentes de imigrantes.
Devem ser mencionadas mais duas questões contidas nessa legislação.
Em primeiro lugar, houve a concentração da competência sobre as terras
devolutas e a colonização em um único órgão subordinado ao Ministério
dos Negócios do Império, a Repartição Geral das Terras Públicas (que, na
legislação posterior, até mesmo a republicana, mudou de nome muitas
vezes, e passou ao Ministério da Agricultura, mas sem alterar suas finali-
dades). Ainda que as províncias tivessem autonomia para fundar colônias
em terras devolutas sob seu controle, estavam subordinadas à legislação
maior e sujeitas à regulação e fiscalização exercida por aquela repartição.
Entre outras coisas, cabia a ela fixar o preço mínimo da braça quadrada,
medida então usada na demarcação dos lotes. Em segundo, no caput da Lei
601 há uma referência à cessão de terras a título oneroso para empresas
particulares, abrindo espaço para a colonização privada a partir de conces-
sões de áreas maiores de terras devolutas para demarcação e venda a colo-
nos. Na verdade, essa forma de colonização foi regulada por contratos ce-
lebrados entre empresas criadas com essa finalidade e o governo brasileiro,
tomados públicos por decreto e sujeitos a fiscalização. A arregimentação
de imigrantes na Europa, ou de colonos em outras regiões coloniais, nesse
caso, cabia às empresas, assim como as despesas com a demarcação e lo-
calização em lotes coloniais. Nem sempre a venda das terras aos colonos
cobriu os gastos, mas a maior parte das empresas teve sucesso, sobretudo
após 1889, porque puderam contar com a parcela da população excedente
nas regiões coloniais mais antigas, cuja reprodução social na condição cam-
ponesa estava ameaçada.
A mudança na forma de concessão da terra e a importância assumida
pelos empreendimentos particulares na segunda metade do século XIX
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criaram a chamada "dívida colonial". A maioria dos colonos não tinha meios
de pagar pelo lote à vista e, no ato da concessão, contraía uma dívida a ser
saldada (com pagamento de juros) em cinco anos, à qual muitas vezes se
acrescentavam os subsídios (passagem custeada pela empresa ou pelo
governo e também os recursos recebidos para manutenção nos primeiros
meses de permanência na colônia).
Durante o Império não ocorreram alterações nesses dispositivos legais,
a não ser a transferência da Repartição Geral das Terras Públicas para a
Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Pú-
blicas, criada pelo Decreto 1.067, de 28.7.1860, mudando a denominação
para Diretoria das Terras Públicas e Colonização. Deve ser observado que
tal repartição também tinha a competência para a "catequese e civilização
dos índios" e seu aldeamento (conforme Decreto 2.748 de 16.2.1861).
A maior parte dos decretos, alvarás, decisões etc., que marcaram a co-
lonização antes de 1889, estava voltada para a ratificação dos contratos com
agenciadores de imigrantes, a serviço do governo brasileiro, e com empre-
sas colonizadoras. Muitos desses contratos referiam-se a empresas inte-
ressadas em introduzir imigrantes colonos no Norte e Nordeste. Nenhum
desses projetos chegou a ser implementado. Em outras províncias, sua ocor-
rência foi restrita - caso de Minas Gerais e Rio de Janeiro. De fato, esse
modelo de ocupação de terras só foi realmente significativo no Sul, no
Espírito Santo e em São Paulo, concretizando-se à margem da grande pro-
priedade escravista. De acordo com a argumentação de seus idealizadores
e defensores, atendia "a uma necessidade pública" - povoar os campos
incultos com agricultores morigerados, ativos e submissos às leis e autori-
dades. Por isso, a ênfase recaiu na imigração de famílias, preferencialmen-
te originárias do meio rural, acostumadas às lidas agrícolas ou com algu-
ma habilidade em artes e ofícios. Claro que nem todos os imigrantes
destinados aos núcleos coloniais se enquadravam nesse perfil idealizado,
e os problemas enfrentados pelas administrações coloniais, até mesmo
movimentos sociais de alcance local ou reclamações, foram imputados a
colonos desqualificados como "escória urbana". Mas apesar das críticas à
política imigratória do Império, o modo republicano de colonizar não trou-
xe novidades após 1889. Manteve-se a forma de assentamento em linhas
coloniais, a colonização continuou atrelada à imigração e as empresas pri-
vadas se multiplicaram. A figura do agenciador contratado pelo governo,
porém, desapareceu na década de 1880, depois de constatadas irregulari-
dades no recrutamento de imigrantes em alguns países europeus.
Os decretos 528, de 28.6.1890, que regularizou o serviço de introdução
e localização de imigrantes, 6.455, de 19.4.1907 e 9.081, de 3.11.1911, que
regulamentaram o serviço de povoamento do solo nacional, apontam as
normas vigentes no início da República. No primeiro deles, justificando a
continuidade da imigração européia (e apresentando empecilhos à entra-
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Leo Waibel, geógrafo alemão que trabalhou no Brasil entre 1946 e 1950,
foi autor de um estudo significativamente intitulado "Princípios de coloni-
zação européia no sul do Brasil" (incluído em Waibel, 1958)- o texto mais
abrangente sobre o povoamento de terras florestais com colonos europeus
e os sistemas agrícolas por eles produzidos. As observações transcritas em
epígrafe resumem as motivações colonizadoras do governo brasileiro no
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tradas por empresas, que podiam recrutar colonos na Europa por sua con-
ta ou recebê-los pela interveniência governamental. O lote familiar não
pode ser considerado uma ficção legal: supunha, antes, a concessão prefe-
rencial aos emigrados em família, que também podiam receber subsídios
e, no caso dos chefes de família, havia prioridade para atuar como empre-
gados temporários nos serviços públicos da abertura de estradas e demar-
cação de linhas e lotes coloniais. Muitos saldaram a dívida contraída na
compra da terra com o rendimento desse tipo de trabalho. Os solteiros,
especialmente os filhos adultos de colonos já localizados, tinham dificul-
dade para obter terras (Seyferth, 1996), sobretudo nos períodos de fluxos
mais intensos, ocasiões em que o tempo de espera pelo lote podia ser de
seis meses a um ano. Na situação pioneira era raro encontrar linhas e lotes
já demarcados que pudessem atender às demandas dos recém-chegados.
Conforme observação anterior, parte dos homens adultos foi dirigida para
esse tipo de trabalho assalariado, daí o longo tempo de espera nas sedes
dos núcleos. Como observou Waibel, grande parte das colônias surgiu em
regiões ainda cobertas pela floresta - um processo de ocupação que não
levou em conta a população indígena ou a eventual presença de posseiros
ou sesmeiros em alguns lugares.
Em cada núcleo colonial estava prevista a formação de um povoado, o
lugar da sede administrativa a partir do qual demarcavam-se as principais
linhas. Na distribuição espacial do núcleo colonial o povoado quase sem-
pre estava situado no entroncamento de caminhos de cargueiros ou nas
margens dos rios, sobretudo nos trechos navegáveis (caso, por exemplo,
do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, onde os dois primeiros povoados
surgiram nos lugares onde os rios Itajaí-açu e Itajaí-mirim deixam de ser
navegáveis). Há algumas exceções, mas essa disposição espacial marcou a
instalação de núcleos coloniais no Sul e, no caso dos povoamentos do sé-
culo XIX, ocorridos em áreas acidentadas, com a cobertura vegetal origi-
nal, acompanhando os vales dos rios na direção do planalto, é possível fa-
lar em fronteira ou zona pioneira. O conceito clássico de fronteira supõe o
deslocamento sertão adentro e refere-se ao limite da zona povoada, con-
forme a obra de Turner (1920) que aborda a ocupação do Meio-Oeste dos
Estados Unidos - portanto, há um critério espacial que a localiza como um
contínuo entre a civilização e a mata virgem. Waibel (1958, p.265) ampliou
o conceito definindo "zona pioneira" e associando-a à expansão agrícola
na forma de povoamento, com a formação de uma paisagem cultural espe-
cífica, camponesa. Tem uma dimensão econômica mais ampla, supondo a
existência de vias de comunicação e transporte que permitem colocar ex-
cedentes no mercado com capacidade de absorvê-los e terras disponíveis
para receber grande número de colonos. De acordo com essa definição,
várias regiões ocupadas por colonos europeus formaram zonas pioneiras.
Não eram núcleos isolados e, passado o período crucial dos primeiros as-
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A opinião geralmente difundida nos meios brasileiros era que o colono devia
permanecer agricultor, visto que, para isso, o haviam feito vir ... Assim se formava
e se mantinha uma espécie de casta inferior, destinada, pela origem e pela profis-
são de seus membros, a explorar a terra e aumentar a produção agrícola, que era
ao mesmo tempo o fim da colonização e a única medida de êxito.
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sobreviver até tomar os lotes produtivos, pois nem todos obtinham traba-
lho temporário em obras públicas. No Vale do ltajaí, por exemplo, formou-
se uma verdadeira rede de comerciantes - chamados "vendeiros" - cuja
principal atividade consistia na compra dos excedentes coloniais para
beneficiá-los e exportá-los. Os relatórios estatísticos dos diretores da Co-
lônia ltajaí, referidos ao primeiro decênio, já mencionavam a exportação
de folhas de tabaco e charutos, além de açúcar, banha e outros itens de
alimentação. Alguns colonos remediados possuíam engenhos ou atafonas
para fabricação de açúcar, cachaça, fubá, farinha de mandioca; a maioria
tinha condições para produzir banha, item bastante valorizado nas áreas
de colonização alemã (cf. Rache, 1969; Seyferth, 1974). Mas, à exceção da
banha e de outros derivados suínos, os comerciantes monopolizaram os
processos de beneficiamento da produção agrícola; muitos deles enrique-
ceram com serrarias. Assim, controlaram os preços e os transportes de
mercadorias e, em muitas situações, praticaram o escambo ou a permuta
de mercadorias sem uso do dinheiro.
De modo geral, o crescimento urbano das antigas sedes coloniais e o
desenvolvimento econômico, com a conseqüente diferenciação interna no
meio rural, não trouxeram grande mudança na dependência em relação aos
"vendeiros" (que também eram imigrantes ou descendentes). Referindo-
se à colonização alemã, Rache (1969) foi um dos primeiros a observar o
elo de dependência entre comerciantes e colonos e o poder econômico
daquelas casas que se transformaram em grandes firmas e, pela acumula-
ção de capital comercial, promoveram a industrialização.
A relação com os comerciantes alude ao espaço urbano mais próximo
desse universo rural que, ao mesmo tempo, faz parte da realidade social
chamada colônia. Mais do que o lugar das transações comerciais, a venda
tornou-se um dos espaços da sociabilidade, onde amigos se encontram e
as notícias circulam. Em contrapartida, com o processo de urbanização se
acelerando, as antigas sedes coloniais concentraram as principais associa-
ções recreativas, os serviços públicos, escolas melhores e as igrejas, embo-
ra os serviços religiosos ocorressem também nas capelas do interior. Isso
nos conduz ao espaço mais comunitário das linhas - as picadas abertas pelos
pioneiros na mata original as quais serviram como primeiras vias de co-
municação -, forma de povoamento que os geógrafos chamaram "rural
disperso" (Waibel, 1958, p.242) em fileira, em alusão ao formato padroni-
zado do lote de 25 hectares (longo e estreito). O termo "disperso", nesse
caso, não significa longa distância, pois os lotes foram demarcados, com
certa continuidade (quando não havia obstáculos naturais) ao longo das
linhas, e as casas, em sua maioria, foram construídas junto à picada. Por
outro lado, desde o início do processo colonizador os imigrantes procura-
ram superar o isolamento imposto pela moradia no lote, criando pontos
de lazer e convivência quase sempre localizados em um determinado ponto
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tivas sobre a "falta de apego à terra" demonstrada pelos colonos sem "ori-
gem rural". Longe disso, pois a migração tem relação com as limitações do
próprio modelo colonizador sistematizado pelo Estado, a fragilidade eco-
nômica própria do campesinato e suas formas de organização social.
A migração em âmbito rural acompanhou a expansão colonizadora para
o oeste, na direção do planalto. De fato, durante o Império os imigrantes
alemães ocuparam importantes bacias hidrográficas próximas ao litoral,
como o Vale do Itajaí (SC) e os vales ao pé da serra, formados pelos tribu-
tários do rio Jacuí (RS). A Colônia Caxias (hoje a cidade de Caxias do Sul)
foi o principal centro distribuidor da colonização italiana, iniciada em 1875.
No fim do século XIX começou a expansão para o oeste e o norte do Rio
Grande do Sul e para o oeste de Santa Catarina e, pouco mais de uma dé-
cada depois, para o oeste do Paraná. Ainda no século XIX houve migração
do noroeste de Santa Catarina (a região de Joinville) para o Paraná, princi-
palmente de alemães e poloneses que se fixaram em Curitiba ou em colô-
nias próximas a essa cidade. No Paraná, a colonização só se intensificou
no último quartel do século XIX, mas envolveu imigrantes de diversas pro-
cedências, com maior diversificação de nacionalidades, pois além de ale-
mães, italianos e poloneses, também entraram alemães do Volga (ou teuto-
russos), ucranianos, holandeses, japoneses, menonitas e suábios do
Danúbio - estes últimos no pós-guerra. De certa forma, o oeste do Paraná
foi a última fronteira agrícola do Sul, recebendo imigrantes e os descen-
dentes oriundos dos outros dois estados, em um processo de ocupação
ainda em curso após a Segunda Guerra Mundial. A fronteira paranaense
também atraiu uma migração originária de São Paulo (em uma ampliação
da frente de expansão paulista). Todo esse movimento ocupacional, com
características de povoamento em terras consideradas devolutas, mas que
não estavam necessariamente "vazias" (no sentido do "vazio demográfi-
co"), atraiu os excedentes populacionais das "colônias velhas", que ali se
juntaram aos novos imigrantes. Nessa vasta região do planalto, a coloni-
zação realizou-se principalmente por intermédio de empresas colonizado-
ras que lucraram bastante com a venda de lotes e investiram na propagan-
da para atrair indivíduos e famílias das "colônias velhas". Nessa região,
houve também áreas ocupadas por associações de tipo confessional e ét-
nico, sem fins lucrativos (Renk, 1997). Deve ser observado, ainda, que esse
deslocamento alcançou a fronteira internacional, pois houve emigração de
alemães, italianos e descendentes para a Argentina e o Paraguai.
A movimentação colonizadora é uma das causas da migração, pois
anunciava a possibilidade de acesso à terra em novas frentes visualizadas
como "pioneiras". Mas a migração ocorreu também porque havia pressões
internas próprias das sociedades camponesas, além dos problemas decor-
rentes da sistemática de localização no período da grande imigração (en-
tre 1880 e 1914).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A colonização do sul do Brasil foi planejada pelo Estado, tendo por finali-
dade última a localização de imigrantes europeus em terras públicas, na
forma da pequena propriedade familiar. Pode ser definida como um pro-
cesso contínuo de ocupação territorial, baseado na imigração dirigida, que
durou mais de um século, sem mudanças substantivas na legislação
regulatória. A configuração espacial do núcleo colonial obedeceu às nor-
mas legais e seus elementos constitutivos - a sede (ou povoado), com seus
"lotes urbanos", e as linhas (ou picadas) com seus "lotes rurais" - deram os
contornos de uma formação sociocultural camponesa. Apesar das diferen-
ças culturais relacionadas à própria imigração, que deram respaldo para a
distinção simbólica entre colônias e colonos etnicamente adjetivados, a base
empírica constituída pelo núcleo é o elemento comum a todas as colônias
(em seu significado mais amplo), assim como a conversão da linha em
comunidade rural.
A vivência de uma situação "pioneira" (real ou imaginada) pelos povoa-
dores originais de cada núcleo, a propriedade de uma "colônia" (na defini-
ção da unidade produtiva, o lote) e o estilo de vida comunitário conforma-
ram a própria identidade social do colono, em uma apropriação positiva
da categoria oficial de certa forma imposta pela política de colonização.
Essa apropriação persiste nos dias de hoje, até mesmo em sua vinculação
com a imigração, e tem alta carga simbólica na distinção entre descenden-
tes de imigrantes e brasileiros (Seyferth, 1993). O fundamento da congruên-
cia entre imigrante e colono provavelmente está na própria legislação sobre
o processo de colonização, que excluiu, ou apenas admitiu com restrições,
a participação de brasileiros (nacionais). Daí a referência à "colonização
européia" observada, por exemplo, em Waibel, que tratou do tema de modo
mais abrangente. Nos primórdios ela estava vinculada ao "trabalho livre"
em contraste com o regime escravista.
O início dos processos de localização foi marcado por dificuldades di-
versas e conflitos próprios de situações de fronteira (ou frente pioneira),
mas, paradoxalmente, o engajamento dos imigrantes nos trabalhos públi-
cos de demarcação e abertura de vias de comunicação - causa da demora
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