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O ETR, que representaria, a princípio, um avanço nas conquistas sociais do campo, acabou tendo resultados pouco
desejáveis. A melhoria das condições de vida do trabalhador rural não ocorreu como esperado Por dois motivos: a quase
impossibilidade de fiscalização das novas leis em um território tão extenso e o Desemprego ocasionado pelo encarecimento
da mão de obra.
Uma forma comum de burlar a legislação vigente foi intensificar o uso da mão de obra sazonal, ou temporária. A figura
de intermediários – os chamados “gatos” – usados para recrutar (e controlar) esses trabalhadores também se tornou bastante
corriqueira após a entrada em vigência do ETR. O estatuto foi revogado Em 1973, quando foi substituído pela Lei do
Trabalhador Rural, que estendeu alguns novos direitos ao trabalhador do campo, como o aviso prévio e o adicional de
trabalho noturno, entre outros.
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O Estatuto da Terra de 1964
Durante o governo do marechal Castelo Branco, no período da ditadura civil-militar, foi criado o Estatuto da Terra.
Esse documento buscava, teoricamente, estabelecer as bases jurídicas necessárias para o processo de reforma agrária no país
de forma concomitante à mecanização do campo. Não obteve grande sucesso, principalmente por conta dos interesses
políticos e econômicos de grandes latifundiários, que influenciaram (e ainda hoje influenciam) as alterações nas leis e o seu
cumprimento.
O estatuto consistia em um cadastramento das terras, estabelecendo categorias a partir de suas dimensões. Para isso,
foi definida uma unidade de medida que ficou conhecida como “módulo rural”. Tratava-se da quantidade mínima de terra
necessária para que uma família com quatro adultos fixasse produção de subsistência e obtivesse sustento social e
econômico. Sua dimensão métrica variava dependendo da unidade federativa em que se encontrava a propriedade.
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dita, no contexto da modernização, se torna apenas uma das etapas do processo produtivo. Veja o esquema a seguir.
Outro ponto a ser destacado é que a modernização apresentou um caráter parcial, por vários motivos:
• As regiões não foram atingidas da mesma forma por esse processo. O Sul e o Sudeste se sobressaíram
nesse sentido.
• Nem todas as produções vivenciaram essa modernização, só as de maior interesse no mercado, sobretudo internacional.
• Os pequenos produtores, que não tinham acesso a linhas de crédito ou conhecimento técnico, ficaram
à margem desse processo.
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Hoje, o agronegócio, reflexo direto do processo de modernização do campo, é uma das maiores fontes de divisas da
nossa economia. Também chamado de agrobusiness, ele se consolida como o carro-chefe do comércio exterior, sendo
responsável por mais de 1/3 das exportações e cerca de 25% do PIB nacional. O crescimento brasileiro nesse setor colocou o
país entre os maiores produtores agrícolas do planeta. Os produtos de maior destaque são soja, laranja, derivados de cana de
açúcar, carne e couro bovino, frango e café.
O Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de alimentos, buscando sempre pressionar a Organização Mundial
de Comércio a derrubar barreiras protecionistas de países como Estados Unidos e os pertencentes à União Europeia.
Assim,se por um lado a modernização concentrou terras, gerou desemprego rural e acentuou as desigualdades, por outro
lado permitiu a expansão da área de cultivo, aumentou a produção agrícola e as exportações, contribuindo assim para a
manutenção de uma balança comercial favorável.
Sem grandes políticas de amparo por parte do Estado, muitos desses produtores faliram novamente, o que explica o
aumento da urbanização nas regiões de destino, além da intensificação de conflitos por terra, que passaram a envolver mais
intensamente também as populações tradicionais, como os povos indígenas nativos e os seringueiros.
A fronteira agrícola brasileira também se caracterizou pela expansão dos complexos agroindustriais na direção do
Sertão nordestino, desde o interior da Bahia até o sul dos estados do Maranhão e do Piauí. Tais áreas – economicamente
estagnadas até o fim do século XX – hoje inserem-se no contexto da economia exportadora brasileira, principalmente de
soja. No entanto, a estrutura fundiária concentradora, o aumento brutal do desmatamento e das queimadas, bem como a
exploração dos trabalhadores rurais são elementos mantidos, comprovando que a modernização conservadora prevalece até
os dias atuais
A luta pela terra da década de 1980 em diante pode ser caracterizada pela formação de dois grupos sociais antagônicos:
o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a União Democrática Ruralista (UDR). O MST se organizou a
partir de famílias de agricultores segregados pelo processo de modernização. Estes se tornaram agentes de luta pela terra nas
suas regiões de origem, especialmente no Sul do Brasil, mas também na Amazônia e no Nordeste.
A UDR, desde 1985, representa os interesses dos latifundiários no debate acerca da reforma agrária. Tem como objetivo
se contrapor ao MST e pressionar os poderes políticos no Brasil a seu favor. Foi lançado em 1985 o Plano Nacional de
Reforma Agrária (PNRA), com o objetivo de assentar 10 milhões de trabalhadores rurais sem-terra, o que nem de longe foi
alcançado, muito por conta das pressões de representantes da UDR.
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Para concluir
Vimos que o Brasil possui profunda concentração fundiária. Em termos quantitativos existem mais propriedades
pequenas, porém elas ocupam uma área extremamente inferior às grandes propriedades e latifúndios. O passado colonial do
Brasil colaborou muito para a estrutura fundiária atual, uma vez que capitanias hereditárias e sesmarias eram propriedades
de tamanhos imensos.
Do ponto de vista jurídico, o módulo fiscal define a classificação de tamanho das propriedades, e é utilizado para cálculo
de impostos. Já o módulo rural determina o nível de produtividade das propriedades. O ETR e o Estatuto da Terra não
alcançaram efetividade completa em razão dos interesses envolvidos e da baixa fiscalização.
Além disso, são comuns as relações de trabalho assalariadas (regulares ou temporárias) e as não assalariadas (colonos,
parceiros, posseiros) no campo brasileiro. A modernização do campo brasileiro trouxe resultados positivos e também
negativos, como o agravamento da concentração de terras, as disparidades sociais e o desemprego.Realizar uma reforma
agrária significa criar artifícios de redistribuição da terra em um país ou região. No Brasil, a realização de uma reforma
agrária esbarra nos interesses de agentes econômicos e políticos.
Por fim, vale lembrar que os CAIs representam organizações que articulam os setores primário e secundário da
economia. E também que a expansão da fronteira agrícola recente ocorreu da região Sul em direção ao Centro-Oeste e,
posteriormente, ao sul da Amazônia, tornando-se, inclusive, um debate que aborda os impactos ambientais decorrentes.