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História Econômica,

Política e Social
do Brasil
Material Teórico
A decadência do Sistema Colonial e a Formação do
Brasil Independente

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Vivian Fiori

Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
A decadência do Sistema Colonial e a
Formação do Brasil Independente

·· A Chegada da Corte Portuguesa ao Brasil


·· O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves
·· A População Brasileira
·· A Independência em 1822
·· A Confederação do Equador
·· O Período Regencial
·· Fim do Período Regencial e Maioridade de Dom Pedro II

Identificar como o processo de transferência da sede do governo português


para o Brasil influenciou a demanda por autonomia, levando ao processo de
Independência. Mostrar os reveses deste processo, a política de centralização
do poder no primeiro reinado e os conflitos regionais e movimentos nativistas.

Nesta unidade, continuaremos os estudos sobre a História Econômica, Social e Política do


Brasil. Agora, tratando do fim do sistema colonial, da chegada da família real portuguesa ao
Brasil, e dos processos que culminaram com a Independência.
Reiteramos a necessidade, nesta disciplina, da leitura atenta aos textos, bem como do
empenho na realização das atividades e materiais complementares.

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Unidade: A decadência do Sistema Colonial e a Formação do Brasil Independente

Contextualização

1808. O reino português está sendo invadido pelas tropas de Napoleão Bonaparte. A dura
escolha necessita ser feita por Dom João VI: resistir e, provavelmente, sofrer um massacre,
devido à superioridade das tropas inimigas, ou fugir, junto com a Corte, para sua mais próspera
colônia – o Brasil – deixando o país entregue à própria sorte.
Para a empreitada da fuga, o único apoio de que dispõe é o da Inglaterra, potência naval
rival da França de Napoleão, e único poder a resistir à expansão territorial francesa.
Enquanto isso, no Brasil, o governo colonial carecia há tempos de um maior aparato para
controlar o território. Há poucas décadas haviam sido enfrentadas rebeliões nativistas que
buscavam a independência, como foi o caso da Inconfidência Mineira, em 1788; e também da
Conjuração dos Alfaiates, na Bahia, em 1798.
Veremos, nesta unidade, que a chegada da família real proporcionou um desenvolvimento
institucional até então sem precedentes no Brasil, o que veio influenciar decisivamente na
Independência em 1822.
Veremos ainda como a nação independente foi consolidada, em meio a um complicado
contexto externo, no qual a Inglaterra assume posição de liderança global, influenciando
enormemente nossa política interna.

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A Chegada da Corte Portuguesa ao Brasil

A fuga da Família Real portuguesa para o Brasil, em 1808, modificou radicalmente a maneira
como estava estruturada a colônia.
Portugal fora invadido pelas tropas de Napoleão Bonaparte, o que criou uma situação
inusitada: a então colônia – o Brasil – passa a ser a sede oficial do governo português, exilado.
A cidade do Rio de Janeiro tornou-se a porta de entrada para produtos de todo o tipo, já
que uma das primeiras medidas de Dom João VI ao desembarcar foi decretar a “Abertura dos
Portos às Nações Amigas”.
Tal atitude levou a uma invasão de produtos ingleses e o fim do sistema colonial, já que a
Inglaterra era a principal potência mundial, e a única que podia garantir segurança frente às
tropas da França napoleônica.
De acordo com o historiador Boris Fausto:

[...] o príncipe regente revogou os decretos que proibiam a instalação de


manufaturas na colônia, isentou de tributos a importação de matérias-primas
destinadas à indústria, ofereceu subsídios para as indústrias de lá, de seda e
do ferro, encorajou a invenção e a introdução de novas máquinas (FAUSTO,
1994, p. 122).

Com isso, na prática, nem mesmo os portugueses dispunham de tantos privilégios


quanto os ingleses no comércio colonial brasileiro. A Inglaterra dispunha de uma imensa
marinha mercante, e assim os produtores brasileiros negociavam diretamente com os ingleses,
principalmente na capital (Rio de Janeiro), mas também em Belém, São Luís, Recife e Salvador.
Do ponto de vista externo, a instalação das estruturas diplomáticas portuguesas no Brasil
levou a uma maior intervenção na região, como ocorreu com a anexação da província Cisplatina
(atual Uruguai), pelo Brasil, em 1821.

O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves

Com o término da guerra na Europa, e a derrota de Napoleão Bonaparte, era de se esperar


que a corte portuguesa regressasse. No entanto, em 1815, Dom João VI elevou a colônia
brasileira à uma condição igualitária em sua relação com Portugal, por meio da criação do
Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Tal iniciativa teve uma consequência direta: a Revolução Liberal do Porto, em 1820,
procurava dar uma resposta à crise tanto econômica quanto política que havia se abatido
sobre Portugal. A administração do território português, na prática, estava nas mãos dos
ingleses, inclusive o domínio militar. Esta situação era vista como ultrajante, e levou a conflitos
também no território brasileiro.

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Unidade: A decadência do Sistema Colonial e a Formação do Brasil Independente

A presença da Corte no Brasil trouxe consigo um imenso aparato burocrático composto por
portugueses. Entretanto, havia também representantes das elites regionais brasileiras, produtores
agrícolas e comerciantes do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Apesar de ser considerada uma Revolução Liberal, o movimento português tinha como
objetivo o retrocesso do Brasil à condição colonial, o que não era aceito pela elite brasileira.
Isso gradativamente foi levando à situação que culminou com a Independência, proclamada
pelo príncipe herdeiro da coroa portuguesa, Dom Pedro, em 1822.
A partir desse momento, o Brasil foi dividido em províncias, cuja chefia era indicada pelo
próprio Imperador. Como veremos adiante, essa centralização motivou inúmeras revoltas
durante todo o período imperial.

Revolução Pernambucana de 1817.


A chegada da Família Real Portuguesa, a partir de 1808, estabeleceu uma série
de transformações que determinaram maior liberdade econômica às elites
agroexportadoras do país. Contudo, essas regalias também foram seguidas pela
elevação dos impostos para o financiamento de conflitos em que Dom João VI
havia se envolvido. Ao mesmo tempo, observamos que os comerciantes portugueses
foram notadamente beneficiados com regalias que ampliavam os lucros da chamada
“nobreza da terra”.
Tais medidas chegaram à região de Pernambuco no momento em que os produtores
sofriam com a flutuação do açúcar e do algodão no mercado internacional. Mediante
essa dificuldade econômica, grande parte da população tinha grande dificuldade
para pagar os impostos estabelecidos pela Coroa Portuguesa. Isso tudo ocorria em
um tempo no qual os ideais de liberdade e igualdade do iluminismo rondavam
alguns quadros da elite intelectual da época.
Nesse contexto de tantas insatisfações e problemas, os proprietários de terra e
outros brancos livres pobres organizaram o movimento que eclodiu em março de
1817. Após derrotarem as tropas defensoras de Portugal, os revoltosos formaram
um governo provisório composto por cinco membros. Além disso, estabeleceram
a formação de um grupo de emissários que difundiriam o movimento em outras
capitanias do Brasil e algumas nações europeias.
Logo que soube do ocorrido, o governo português organizou tropas na Bahia e no
Rio de Janeiro com o objetivo de abafar o levante. Enquanto as tropas terrestres
tomavam as regiões do interior, a cidade do Recife foi cercada por embarcações
que interromperam a comunicação da capitania com outras regiões. Os líderes
acabaram sendo presos e executados. Dessa forma, o governo lusitano preservava
a sua hegemonia política através da força das armas.
Por Rainer Sousa, Mestre em História.
Fonte: http://www.brasilescola.com/historiab/revolucao-pernambucana.htm

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A População Brasileira

A população total do Brasil, no começo do século XIX, era de aproximadamente 4 milhões


de pessoas. Devemos ter em conta esse número como mera estimativa, já que havia enormes
dificuldades em obter dados precisos, com uma população tão pequena dispersa por um
imenso território.

Os dados mais precisos eram aqueles obtidos nas áreas mais urbanizadas, em regiões
onde havia maior concentração populacional, como no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia
e Pernambuco.

Havia uma grande parcela de população negra, somando-se os libertos e os escravos. Já a


população indígena era de difícil mensuração, já que havia situações muito distintas.

O indígena das regiões costeiras há muito havia sido dizimado ou miscigenado. Possivelmente
houvesse muitas tribos e povos ainda não conhecidos, nas regiões menos exploradas como o
atual Centro-Oeste, e na Amazônia.

De acordo com Manuel Correia de Andrade (1999, p. 28), “[...] o sistema de produção
provocou a expropriação da população indígena, o confisco de suas terras e a perda de sua
liberdade, adotando-se o sistema de escravização do gentio”.

O colonizador português procurava explorar a rivalidade entre as tribos, aliando-se a algumas


delas, como os tabajaras, da região da Paraíba e Pernambuco, e os tupiniquins, do Sudeste1 . Ao
mesmo tempo, havia tribos que eventualmente se aliaram a franceses ou holandeses, como foi
o caso dos potiguares, do Nordeste brasileiro.

Havia uma identificação dos indígenas, por parte dos colonizadores, que era baseada
meramente na afinidade linguística. Para José de Anchieta, os tupis eram os povos que falavam
a língua mais comum no litoral brasileiro, chamada por ele de “língua geral”. Todos os demais
eram “tapuias”, expressão do idioma tupi que quer dizer “os que não falam nossa língua”
(VAINFAS, 2013, p. 39).

Por outro lado, a crescente incorporação de população negra escravizada alterou


consideravelmente a demografia brasileira, especialmente naquelas regiões cuja produção
dependia sistematicamente da mão de obra escrava, como era o caso das regiões mineradoras –
Minas Gerais, Goiás – e também das ligadas ao cultivo de cana (Pernambuco), fumo (Recôncavo
Baiano), além da própria capital, Rio de Janeiro.

De acordo com Algranti (apud Campos, 2004), em 1821, às vésperas da Independência, cerca
de 60% da população carioca era composta por negros, como podemos ver na tabela a seguir:

1 Cabe lembrar que as expressões Nordeste e Sudeste são do século XX, mas servem de forma didática para estabelecer onde se localizavam
no passado.

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Unidade: A decadência do Sistema Colonial e a Formação do Brasil Independente

Tabela 1: População da Corte e da Província do Rio de Janeiro, em 1821.

População
Situação
Corte Província Total
Forro 10.151 38.576 48.727
Livre 43.139 159.280 202.419
Escrava 36.182 173.775 209.957
Total 89.472 371.631 461.103
Fonte: Censo Demográfico de 1821

Segundo a autora, as possibilidades de trabalho, bem como de fuga, criaram condições para
uma convivência entre os negros livres e a população escrava, o que por sua vez possibilitou a
ocupação de áreas antes inóspitas da cidade, como charcos e encostas de morros.
Já de acordo com estudos do historiador britânico Leslie Bethell, a divisão da população
brasileira, por regiões, era a seguinte, em 1819:

Tabela 2: População brasileira, escrava e livre, por províncias e regiões - 1819

Regiões e Áreas População


Total
Administrativas
Livres Escravos
NORTE 104.211 39.040 143.251
Amazonas 13.310 6.040 19.350
Pará 90.901 33.000 123.901
NORDESTE 716.468 393.735 1.110.203
Maranhão 66.668 133.332 200.000
Piauí 48.821 12.405 61.226
Ceará 145.731 55.439 201.170
Rio Grande do Norte 61.812 9.109 70.921
Paraíba 79.725 16.723 96.448
Pernambuco 270.832 97.633 368.465
Alagoas 42.879 69.094 111.973
LESTE 1.299.287 508.351 1.807.638
Sergipe 88.783 26.213 114.996
Bahia 330.649 147.263 477.912

10
Minas Gerais 463.342 168.543 631.885
Espírito Santo 52.573 20.272 72.485
Rio de Janeiro 363.940 146.060 510.000
SUL 309.193 125.283 434.476
São Paulo 160.656 77.667 238.323
Paraná 160.656 77.667 238.323
Santa Catarina 34.859 9.172 44.031
Rio de Grande do Sul 63.927 28.253 92.180
CENTRO-OESTE 59.584 40.980 100.564
Mato Grosso 23.216 14.180 37.396
Goiás 36.368 26.800 63.168
BRASIL 2.488.743 1.107.389 3.596.132
Fonte: Leslie Bethel apud Fausto, Boris, 1994.

Note, nessa tabela, que a divisão regional utilizada refere-se ao período em que o texto foi
produzido, já que no século XIX não havia divisões regionais oficiais.
Vemos que há uma grande concentração de população, primeiramente na faixa litorânea, nas
regiões Nordeste e Leste. Por ordem de importância, em termos populacionais, estão as províncias
de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. A região Leste é a mais populosa, seguida do Nordeste.
Podemos observar que, tanto no Nordeste quanto no Leste, há em média para cada dois
habitantes livres, um escravo. Em Goiás e Mato Grosso, que eram nesta época frentes pioneiras
de mineração, esta concentração é ainda maior: aproximadamente 60% de homens livres e
40 % de escravos.

A Independência em 1822

A princípio, a independência brasileira é comumente tratada como um acontecimento “de


cartas marcadas”, pacífico, uma simples transferência de poder de pai – Dom João VI, rei de
Portugal – para filho – Dom Pedro de Alcântara.
No entanto, como nos dizem Manuel e Sandra Correa de Andrade (1999):

Proclamada a independência, sob o controle do grupo monarquista dos Andrada,


e estabelecida a capital do império no Rio de Janeiro, tratou o imperador de
convocar uma Assembleia Constituinte, em 1823. Logo surgiram divergências
entre os deputados liberais, com compromissos regionais, e os deputados ligados
à Coroa. Como as críticas fossem se acentuando, D. Pedro I deu seu primeiro
golpe de estado e, em 12 de novembro de 1823 dissolveu a Constituinte [...]
(ANDRADE, 1999, p. 44).

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Unidade: A decadência do Sistema Colonial e a Formação do Brasil Independente

Em resumo, constituiu-se um Estado unitário, sendo as províncias governadas por presidentes


escolhidos pelo governo central. Os deputados mais radicais foram presos, sendo outorgada a
Constituição de 1824.
Essa Carta previa um amplo controle do Imperador sobre o Legislativo. A escolha dos
senadores era feita por meio de listas tríplices, entregues a ele, sendo que este ainda detinha
o Poder Moderador, pelo qual podia controlar os demais poderes, intervindo diretamente no
Legislativo quando assim achasse conveniente.
Outras questões ganharam espaço no debate sobre como deveria ser gerido o recém-criado
império independente. Entre elas, destaca-se a centralização do poder no Rio de Janeiro. Em
1834, após a abdicação de Dom Pedro I, um ato do governo regencial tentou criar assembleias
estaduais, eleitas diretamente, o que conflitava com o fato de os presidentes das províncias
continuarem sendo indicados.
Assim, em vários momentos do período imperial, houve conflitos regionais, geralmente
relacionados à excessiva intervenção do governo central na vida das províncias. Foram esses os
casos da Guerra da Cisplatina, que resultou na independência do Uruguai, em 1827, da Guerra
dos Farrapos, no Rio Grande do Sul (1835-1845), e da Revolução Praieira 2, em Pernambuco,
em 1849 (ANDRADE, 1999, p. 47).
Ainda em 1824, irrompeu em Pernambuco a revolução conhecida como Confederação
do Equador. Essa revolta pode ser relacionada com o crescimento da oposição liberal ao
autoritarismo de Dom Pedro I.

A Confederação do Equador

A imprensa começou a ocupar lugar de destaque no cenário político. Vários jornais liberais,
que defendiam maior autonomia provincial e menor intervenção do imperador, eram editados,
como o “Tamoio”, dos irmãos Andrada.
Em Pernambuco, havia dois jornais oposicionistas: a Sentinela da Liberdade e o Tífis
Pernambucano, cujos principais articuladores eram Cipriano Barata e Frei Caneca respectivamente
(FAUSTO, 1994, p. 153).
Cipriano logo foi detido, restando ao Frei Caneca o papel de liderança regional, apoiado
por figuras locais, como Manuel de Carvalho. Este, em 2 de julho de 1824, proclamou a
independência em relação ao governo imperial, criando a Confederação do Equador. Tal país
teria como componentes, além de Pernambuco, a Paraíba, o Rio Grande do Norte, o Ceará,
o Piauí e o Pará, reunidos numa federação em formato republicano, nos moldes dos Estados
Unidos da América.

2 O movimento ocorrido em Pernambuco entre 1842 a 1849 pode ser caracterizado como o mais “politizado” de todas as revoltas do período
(alguns historiadores consideram-na uma revolução).

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Vários estrangeiros tomaram parte nesta revolta, sendo que para algumas testemunhas, o
ambiente muito se assemelhava àquele presente durante a Revolução Francesa.
A reação do governo imperial foi violenta, sendo que, em novembro de 1824, a rebelião
já havia sido completamente sufocada. Os líderes foram condenados à morte, num tribunal
absolutamente manipulado pelo imperador. Frei Caneca, que simbolizava a confederação, foi
fuzilado, diante da recusa de qualquer carrasco em enforcá-lo.
Segundo o historiador Boris Fausto (1994), Pernambuco foi um grande palco de revoltas
durante o Império, pelo menos entre 1817 e 1848.
Por conta disso, a comarca de São Francisco – atual oeste da Bahia – foi retirada do
território pernambucano e anexada primeiramente a Minas Gerais, em 1824, e à província da
Bahia, em 1827.

O Período Regencial

Após Dom Pedro I ter abdicado do trono e retornado a Portugal, onde assumiu o governo sob
o titulo de Dom Pedro IV, ocorreu um vácuo de poder, já que o herdeiro, Pedro de Alcântara,
tinha apenas 5 anos de idade.
Desse modo, ficou estabelecido que, até a sua maioridade, seriam escolhidos regentes,
responsáveis pelo governo. Assim, durante um período de aproximadamente 10 anos, o Brasil
foi governado por brasileiros.

Quadro 1: Os Governos Regenciais

Período Característica Regente (s)

Francisco de Lima e Silva;


José Joaquim Carneiro de
Abril a Junho de 1831 Regência Trina Provisória
Campos; Nicolau Pereira de
Campos Vergueiro.

Francisco de Lima e Silva;


Junho de 1831 a 1834 Regência Trina Permanente João Bráulio Muniz; José da
Costa Carvalho.

1835-1837 Regência Una Diogo Antonio Feijó.

1837-1840 Regência Una Pedro de Araújo Lima.

Fonte: FAUSTO, Boris, 1994. Elaborado por Vivian Fiori.

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Unidade: A decadência do Sistema Colonial e a Formação do Brasil Independente

Em 1834, houve uma reforma constitucional, que estabeleceu uma série de medidas, entre
as quais destacamos:
 A criação da figura do Município Neutro – o Rio de Janeiro, posteriormente transformado
em Distrito Federal, quando da proclamação da República.
 Os conselhos provinciais foram transformados em Assembleias Legislativas.
 A regência passou a ser exercida por uma pessoa, eleita para um mandato de quatro anos.
 Foi suprimida a figura do Conselho de Estado, estabelecida pela constituição de 1824, e
que exercia ampla influência no governo imperial.

Assim, de certa forma, iniciou-se um processo que direcionava para uma maior autonomia
provincial. No entanto, os deputados das assembleias eram eleitos nas províncias, mas os
presidentes de província (cargo similar ao atual de governador do Estado) eram indicados pelo
governo central, o que levou a conflitos (ANDRADE, 1999).
O modelo federalista, em grande parte inspirado no exemplo norte-americano, era defendido
por importantes elites regionais, por permitir maior participação local na vida política brasileira.
No entanto, este modelo era confrontado pelo temor do governo – imperial e regencial – de que
pudesse haver uma fragmentação, semelhante a que ocorreu na América Espanhola.
Durante o período regencial, ocorreu uma série de insurreições e revoltas regionais (vide
figura 1). Alguns movimentos visavam garantir maior autonomia provincial, diante das decisões
do governo do Rio de Janeiro; outros tinham claro viés separatista.

Fonte: Adaptado por Vivian Fiori, 2014 (IBGE, 2011)

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A seguir, vamos explicar alguns desses movimentos sociais e políticos.

 A Cabanagem
A província do Pará, local de ocorrência da revolta (entre os anos de 1835-1840), era uma
província distante, cuja capital contava apenas 12 mil habitantes. Sua população era composta
por mestiços, especialmente de ascendência indígena e, de acordo com o historiador Boris
Fausto, não havia sequer uma aristocracia rural estabelecida, como era o caso em outras
províncias (FAUSTO, 1994, p. 165).
A revolta começa com uma disputa pelo poder local, diante da contrariedade com a
nomeação do presidente da província. Os rebeldes, principalmente pessoas de origem humilde,
liderados pelo jovem Eduardo Angelim, de apenas 21 anos, chegaram a formar um governo,
proclamando a independência do Pará.
A rebelião foi sufocada pelas tropas do governo regencial, que bloquearam a foz do rio
Amazonas, impedindo a chegada e saída de suprimentos. Cerca de 30 mil pessoas, ou 20% da
população da província do Pará, pereceram (FAUSTO, 1994, p. 165).

Você Sabia ?
A Revolta dos Malês
Durante as primeiras décadas do século XIX, várias rebeliões de escravos explodiram na província
da Bahia. A mais importante delas foi a dos Malês, uma rebelião de caráter racial, contra a
escravidão e a imposição da religião católica, que ocorreu em Salvador, em janeiro de 1835.
Nessa época, a cidade de Salvador tinha cerca de metade de sua população composta por
negros escravos ou libertos, das mais variadas culturas e procedências africanas, dentre as quais a
islâmica, como os haussas e os nagôs. Foram eles que protagonizaram a rebelião, conhecida como
dos “malês”, pois este termo designava os negros muçulmanos, que sabiam ler e escrever o árabe.
Sendo a maioria deles composta por “negros de ganho”, tinham mais liberdade que os negros das
fazendas, podendo circular por toda a cidade com certa facilidade, embora tratados com desprezo
e violência. Alguns, economizando a pequena parte dos ganhos que seus donos lhes deixavam,
conseguiam comprar a alforria.]
Em janeiro de 1835 um grupo de cerca de 1500 negros, liderados pelos muçulmanos Manuel
Calafate, Aprígio, Pai Inácio, dentre outros, armou uma conspiração com o objetivo de libertar
seus companheiros islâmicos e matar brancos e mulatos considerados traidores, marcada para
estourar no dia 25 daquele mesmo mês. Arrecadaram dinheiro para comprar armas e redigiram
planos em árabe, mas foram denunciados por uma negra ao juiz de paz. Conseguem, ainda,
atacar o quartel que controlava a cidade, mas, devido à inferioridade numérica e de armamentos,
acabaram massacrados pelas tropas da Guarda Nacional, pela polícia e por civis armados que
estavam apavorados ante a possibilidade do sucesso da rebelião negra.
No confronto morreram sete integrantes das tropas oficiais e setenta do lado dos negros. Duzentos
escravos foram levados aos tribunais. Suas condenações variaram entre a pena de morte, os trabalhos
forçados, o degredo e os açoites, mas todos foram barbaramente torturados, alguns até a morte. Mais
de quinhentos africanos foram expulsos do Brasil e levados de volta à África. Apesar de massacrada,
a Revolta dos Malês serviu para demonstrar às autoridades e às elites o potencial de contestação e
rebelião que envolvia a manutenção do regime escravocrata, ameaça que esteve sempre presente
durante todo o Período Regencial e se estendeu pelo Governo pessoal de D. Pedro II.
Fonte: Empresa Municipal de Multimeios do Rio de Janeiro – MULTIRIO.
Disponível em: http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/rev_males.html

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Unidade: A decadência do Sistema Colonial e a Formação do Brasil Independente

 A Revolução Farroupilha
Provavelmente a mais conhecida revolta do período imperial, eclodiu em 1835, no Rio
Grande do Sul. Foi a mais longa revolta do período, durando até 1845.
Essa província mantinha estreitas relações com as colônias da região do Rio da Prata –
Uruguai e Argentina. O principal produto comercial da região era o charque (carne salgada), que
era comercializado principalmente com as províncias do centro-sul do Brasil, para consumo dos
escravos. Além disso, produzia também muares, que eram usados no transporte de mercadorias
pelo Brasil.
A principal reclamação com relação ao governo central residia na cobrança de impostos,
considerada exagerada. Além disso, era comum as províncias que não podiam se manter
receberem fundos provenientes de recursos obtidos em outras. Assim, o Rio Grande do Sul
tinha que arcar com custos de províncias como Santa Catarina, entre outras.
Os principais interessados em separar-se eram os estacieiros, proprietários rurais, que
detinham amplo poder local, e que pretendiam que houvesse uma livre circulação entre seus
rebanhos com os países vizinhos do Prata (FAUSTO, 1994, p. 169).
Entre as figuras de destaque da rebelião, encontram-se: Bento Gonçalves, rico proprietário
de terras, muito influente na política local; João Manuel de Lima e Silva, tio do futuro Duque
de Caxias; Davi Canabarro, chefe militar que havia participado da Guerra da Cisplatina; e
Giuseppe Garibaldi, mercenário italiano, que havia lutado nas campanhas pela unificação da
Itália, e trouxera consigo uma legião de italianos.
Em 1838 foi proclamada a República de Piratini, na cidade de mesmo nome, cujo governo
foi dado a Bento Gonçalves. Garibaldi e Canabarro chegaram mesmo a dominar a província de
Santa Catarina para os rebeldes, por um longo período.
Os acordos que levaram ao fim da rebelião foram bastante satisfatórios para os farroupilhas,
já que obtiveram uma sobretaxa de 25% sobre o charque importado, além de uma anistia
ampla e da incorporação das tropas rebeldes ao Exército regular brasileiro.

 A Balaiada
As rivalidades entre membros da elite local maranhense foram a principal motivação da
rebelião conhecida como Balaiada, iniciada em 1838. O nome deriva do apelido de um dos
líderes, Francisco dos Anjos Ferreira, o Balaio, cuja filha foi violentada por um capitão de polícia,
não tendo havido nenhuma investigação ou punição.
Juntamente com outro importante líder, Raimundo Gomes, a rebelião envolveu principalmente
pequenos produtores de algodão e criadores de gado (FAUSTO, 1994).
Os rebeldes, carentes de uma causa comum, usavam estratégias de guerrilha. As tropas do
governo central, por sua vez, lideradas por Luís Alves de Lima e Silva – na ocasião, nomeado
“Barão de Caxias” – buscaram reforçar as defesas das vilas e cidades, especialmente Caxias,
maior centro da revolta.
A revolta foi contida totalmente em 1840, sendo dada anistia aos revoltosos em troca da re-
escravização dos negros que nela lutaram.

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 A Sabinada
A Sabinada foi uma rebelião ocorrida em Salvador, entre 1837 e 1838, envolvendo membros
da classe média, cujo ideário era principalmente federalista e republicano. O nome deriva de um
de seus líderes, Sabino Barroso, que era jornalista e médico.
A rebelião obteve apoio dos comerciantes de Salvador, e também dos escravos negros, já que
lhes era prometida liberdade em troca da luta.
Apesar disso, a revolta não se espalhou, já que os produtores rurais da região do Recôncavo,
temendo perder seu poder, apoiaram as tropas legalistas do governo central, cujas tropas,
cercando a cidade por terra e mar, sufocaram a revolta, numa sangrenta luta corporal que
resultou num saldo de aproximadamente 1800 mortos.

Fim do Período Regencial e Maioridade de Dom Pedro II

As crescentes revoltas nas províncias, ao contrário do que se possa supor, ao invés de


trazer-lhes autonomia, ocasionaram um movimento das elites políticas do império visando à
centralização. Esse movimento passou a ser chamado de “regresso”, que acreditava que deveria
haver um reforço de autoridade, diante de tantas insurreições.
O movimento, de acordo com FAUSTO (1994, p. 175), foi levado a cabo pelos liberais, que
desejavam a ascensão de Dom Pedro II ao trono, como forma de aplacar os conflitos. Assim,
foi reestabelecido o Conselho de Estado, o código criminal revisto, e todo o aparato relativo à
justiça voltaram ao poder do governo central.
Tal movimento culminou, em julho de 1840, com a antecipação da maioridade do imperador
Dom Pedro II, que veio a assumir o trono do Brasil com 14 anos de idade.
Finalizando, nesta unidade, verificamos que houve mudanças na política no Brasil com a
chegada da Família Real, em 1808 e, posteriormente, com os governos regenciais, aconteceram
vários movimentos políticos, sociais e, em alguns casos, separatistas contra o governo.
Por conta disso, a maioridade do imperador D. Pedro II foi antecipada.

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Unidade: A decadência do Sistema Colonial e a Formação do Brasil Independente

Material Complementar

Leituras de:
IBGE. Evolução da divisão territorial do Brasil, 1872-2010. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geografia/default_evolucao.shtm
VAINFAS, Ronaldo. História indígena: 500 anos de despovoamento. In:
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Brasil: 500
anos de povoamento. Centro de Documentação e Disseminação de Informações.
Rio de Janeiro: IBGE, 2007. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/
livros/liv6687.pdf

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Referências

ANDRADE, Manuel Correia de. A questão do território no Brasil. São Paulo- Recife: Editora
Hucitec / IPESPE 1995.

ANDRADE, Manuel Correia de. Andrade, Sandra Maria Correia de. A Federação Brasileira.
Uma análise geopolítica e geo-social. São Paulo: Contexto, 1999.

CAMPOS, Andrelino. Do quilombo à favela: a produção do “espaço criminalizado” no


Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

COSTA, Wanderley Messias da. O Estado e as políticas territoriais no Brasil. São Paulo:
Contexto, 1988.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1994.

FERREIRA, Olavo Leonel. História do Brasil. São Paulo: Ática, 1991.

REIS, João José. Presença negra: conflitos e encontros. In: INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Brasil: 500 anos de povoamento. Centro de
Documentação e Disseminação de Informações. Rio de Janeiro: IBGE, 2007, p. 79-100.
Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv6687.pdf.

VAINFAS, Ronaldo. História indígena: 500 anos de despovoamento. In: INSTITUTO


BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Brasil: 500 anos de povoamento.
Centro de Documentação e Disseminação de Informações. Rio de Janeiro: IBGE, 2007, p.35-
60. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv6687.pdf.

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Unidade: A decadência do Sistema Colonial e a Formação do Brasil Independente

Anotações

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