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História

O Período Joanino e Independência do Brasil (1808–1822)

Objetivo
Você aprenderá sobre a transferência da Família Real portuguesa para o Brasil em 1808,
compreendendo os motivos para a mudança, os impactos diretos da chegada e as transformações
que essa transferência causou no Brasil.

Se liga
Para mandar bem nesse conteúdo, é de suma importância que você tenha visto a matéria sobre a
Era Napoleônica.

Curiosidade
Com a transferência da Família Real para o Brasil, a nobreza precisou trazer a maior quantidade
possível de coisas que pudessem utilizar na colônia e para reconstruir seus hábitos dos tempos de
metrópole. Sendo assim, cerca de 60 mil livros da Biblioteca da Ajuda também desembarcaram no
Brasil. Os livros, então, foram destinados à Real Biblioteca Nacional.

Teoria

O bloqueio continental
Em 1806, o crescimento econômico e militar da França de Napoleão Bonaparte encontrava na força
do Império Britânico uma resistente barreira. Apesar das vitórias francesas contra as coligações, a
poderosa marinha inglesa venceu Napoleão Bonaparte na Batalha de Trafalgar, em 1805, impedindo
o desejo francês de se tornar a maior economia do mundo.

Em 1806, evitando outro conflito direto entre as duas potências e visando sufocar a economia da
Inglaterra por meio do isolamento da ilha britânica, Napoleão decretou o Bloqueio Continental,
impedindo que a Inglaterra realizasse comércio com outros países e punindo aqueles que
continuassem recebendo em seus portos os navios ingleses.

Nessa conjuntura, sob ameaça de Napoleão e extremamente dependente da economia inglesa e


dos acordos comerciais feitos no passado, Portugal precisou
encontrar uma forma de superar o bloqueio e proteger a Família Real
contra os ataques franceses. Assim, uma série de propostas de
defesa foram analisadas, até mesmo a possibilidade de uma guerra e
da transferência para a colônia apenas de Pedro de Alcântara, o
herdeiro.

No entanto, com a proposta inglesa de enviar tropas para defender Portugal e navios para escoltar
a transferência de toda a Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, o príncipe regente D. João optou
pelo acordo com os ingleses, cedendo uma série de benefícios aos ingleses na colônia. Com a
Família Real lançada ao mar e o trono vazio em Portugal, o militar inglês William Beresford se tornou
o responsável por comandar o exército português e defender o país contra os ataques de Napoleão.
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A transferência da Família Real


Entre os dias 25 e 29 de novembro de 1807, os navios vieram
de Portugal para o Brasil carregando os súditos escoltados
pela frota britânica, comandada pelo Capitão Graham Moore.
Entre os navegantes, encontravam-se D. João, D. Maria e o
Príncipe da Beira, herdeiro do trono, Pedro de Alcântara. A
parada inicial na Bahia, no dia 24 de janeiro de 1808,
demonstrou a primeira grande mudança da colônia, com a
chegada da Família Real; pois, na curta estadia, D. João
confirmou o compromisso com a Inglaterra e assinou o
Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas. O decreto marcou o fim do chamado “exclusivo
metropolitano”, beneficiando amplamente os comerciantes ingleses nos portos brasileiros.

Vale destacar que as relações entre Portugal e Inglaterra, assim como os benefícios ingleses,
ampliaram-se a partir desse decreto, visto que em 1810 foram assinados o Tratado de Comércio e
Navegação (que garantia a tarifa de 15% para produtos ingleses que entravam no Brasil, enquanto
os lusitanos pagavam 16% e outras nações amigas, 24%) e o Tratado de Aliança e Amizade (que
ampliava as relações militares e comerciais entre Portugal e Inglaterra; exigindo, além disso, o
comprometimento português com o fim gradativo da escravidão na colônia).

Esses acordos, inclusive, foram responsáveis por inviabilizar o próprio desenvolvimento


manufatureiro da colônia; visto que, ainda em 1810, D. João também havia revogado o alvará de
1785, que proibia o estabelecimento de manufaturas e indústrias no Brasil, mas os produtos
brasileiros não conseguiram competir com a entrada em massa dos ingleses.

Após a estadia na Bahia, a Corte portuguesa desembarcou no Rio de janeiro no dia 8 de março de
1808, hospedando-se em diversas locações da cidade, como o Convento das Carmelitas e outros
prédios que foram cedidos por seus proprietários ou confiscados previamente pela Coroa, com a
marcação “PR” nas portas, indicando que seria cedido ao Príncipe Regente (na cultura popular, a
sigla recebeu o significado de “Ponha-se na rua”).

Desse modo, a chegada da Família Real portuguesa ao Brasil trouxe uma série de mudanças para a
colônia, modernizando a cidade do Rio de Janeiro e criando mecanismos e instituições que
facilitariam a vida da Corte no Brasil. Entre as novidades, podemos citar:
● A criação da Imprensa Régia e a abertura de
tipografias para a produção de jornais;
● A fundação do Banco do Brasil;

● Criação do Erário Régio e do Conselho da Fazenda;

● A abertura de escolas de medicina em Salvador e no


Rio de Janeiro;
● A elevação da colônia a Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves (1815);
● A chegada da Missão Artística Francesa;

● A criação do Jardim Botânico, do Museu Real, da


Biblioteca Real, da Academia de Belas Artes e outros.
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Pega a visão: a Missão Artística Francesa resultou do polêmico convite feito por D.
João VI a artistas franceses, para que viessem ao Brasil ajudar a desenvolver a
produção artística e pintar a natureza e a sociedade local. Essa iniciativa trouxe ao
país grandes artistas, como Joachim Lebreton, o líder; Nicolas-Antoine Taunay, pintor
de paisagens e cenas históricas; e Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny, arquiteto, junto com
seus discípulos Charles de Lavasseur e Louis Ueier. Entre esses artistas, talvez o que mais tenha
destaque até hoje e que aparece com mais frequência em livros didáticos e vestibulares é Jean
Baptiste Debret.

Ele foi responsável por uma série de pinturas incríveis sobre a natureza e as relações sociais no
Brasil oitocentista, pintando especialmente o cotidiano dos escravizados no Rio de Janeiro. As
obras de Debret se tornaram importantes fontes para historiadores compreenderem melhor a
dinâmica da escravidão negra no Brasil.

“Negra vendendo caju”, Jean Baptiste Debret (1827).


Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Debret_negra_vendendo_caju.jpg

Os conflitos internos e externos


Apesar da transferência da Família Real portuguesa ter representado uma estratégia de proteção
contra as tropas francesas; na colônia, o príncipe regente enfrentou alguns conflitos internos e
externos. No caso internacional, os principais: a invasão da Guiana Francesa em 1809 (que foi
dominada por Portugal até 1817) e a invasão da Cisplatina em 1811.

No interior da colônia, a situação também não era pacífica, visto que os privilégios portugueses nas
distribuições de cargos, o aumento de impostos em Pernambuco (dinheiro que era enviado para o
Rio de Janeiro) e o foco de investimentos na capital deixaram parte da elite colonial insatisfeita,
sobretudo em Pernambuco. Assim, influenciados pelos pensamentos iluministas e liberais, uma
parcela da população pernambucana, principalmente os ligados à elite agrária e ao comércio, que
frequentavam as lojas maçônicas, rebelou-se no dia 6 de março de 1817, na chamada Revolução
Pernambucana, que emancipou a capitania e criou a primeira experiência republicana no Brasil.
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A nova república contou com forte apoio popular nas manifestações e teve caráter liberal,
instituindo a divisão dos três poderes, a liberdade de imprensa e abolindo as tarifas joaninas. No
entanto, manteve a escravidão e as desigualdades sociais. O movimento também contou com
graves desentendimentos internos, o que enfraqueceu a revolução e facilitou a repressão ordenada
pela Coroa.

Por fim, o estabelecimento da Corte portuguesa no Brasil também movimentou grupos insatisfeitos
em Portugal; que, com o fim das ameaças napoleônicas, passaram a reivindicar o retorno da Família
Real portuguesa, o fim da dependência à Inglaterra e uma série de mudanças – insatisfações essas
que se desenrolaram na chamada Revolução Liberal do Porto, de 1820. Esse evento, liderado pela
burguesia portuguesa, configurou-se como uma das grandes revoluções de caráter liberal na Europa
no século XIX e impactou diretamente o processo de Independência do Brasil.

O processo de Independência do Brasil


Com as exigências das Cortes Constituintes de 1820 pelo retorno da
Família Real e pela recolonização do Brasil, D. João VI, pressionado,
decidiu retornar a Lisboa, mas deixou na capital seu filho, o príncipe
herdeiro Pedro de Alcântara. Durante esse período, entre 1820 e 1822, as
relações entre Brasil e Portugal se estremeceram ainda mais, com os
diversos decretos ordenados pelas Cortes portuguesas, que limitavam a
autonomia das províncias brasileiras e o poder do Príncipe Regente e de
seus ministros.

Visto isso, dois grupos políticos se mostravam insatisfeitos com as novas


imposições portuguesas e foram fundamentais para a articulação da
independência do Brasil, sendo eles: o grupo dos liberais, organizados sobretudo no Partido
Brasileiro (na época, não existiam partidos políticos; logo, era apenas um grupo com ideias
próximas e formado por brasileiros) e liderados pelo jornalista Joaquim Gonçalves Ledo, do Rio de
Janeiro; e, por outro lado, os Bonifácios, liderados por José Bonifácio de Andrada, em São Paulo.

Em 1821, um dos momentos mais sensíveis do processo, as Cortes portuguesas passaram a insistir
mais intensamente no retorno do príncipe a Portugal, com a instalação no Brasil de uma junta
governativa. Nessa conjuntura, políticos, grandes latifundiários e jornalistas que apoiavam a
permanência de D. Pedro e estavam insatisfeitos com as ordens portuguesas passaram a se
encontrar no chamado Clube da Resistência. O clube foi organizado pelo mineiro José Joaquim da
Rocha, que ajudou a reunir oito mil assinaturas em um documento entregue a D. Pedro, pedindo sua
permanência no Brasil.

Assim, desafiando as Cortes portuguesas e os soldados do general português Jorge Avillez, que
estavam no Rio de Janeiro, D. Pedro, no dia 9 de janeiro de 1822, supostamente declarou: “Como é
para o bem de todos e para a felicidade geral da nação, estou pronto: Diga ao povo que eu vou ficar”.
Esse episódio ficou conhecido como o Dia do Fico e marcou o processo de independência do Brasil
ao contrariar as exigências das Cortes portuguesas.
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Apesar de D. Pedro ter nomeado José Bonifácio como Ministro do Reino e dos Negócios
Estrangeiros logo em seguida, mostrando a forte aproximação entre os dois; o futuro imperador, por
outro lado, não deixou de ouvir as forças liberais e Joaquim Gonçalves Ledo, que sugeriam a criação
de uma Assembleia Constituinte e a eleição para os nomes que a comporiam. D. Pedro, ainda em
1822, além de decretar o Cumpra-se, em maio (ordenando que as exigências portuguesas só teriam
validade se aprovadas pelo Príncipe Regente), convocou, em junho, as eleições para a Constituinte.

Visto isso, nota-se que as medidas decretadas por D. Pedro e a movimentação de seus apoiadores
deixavam o Brasil cada vez mais distante de Portugal e com a conquista da autonomia desejada
por uma grande parcela da elite agrária, comercial e política brasileira. Ainda nesse contexto, outra
grande influência de destaque para a emancipação, que também apoiou D. Pedro na decisão do Dia
do Fico, foi sua esposa, Leopoldina de Habsburgo.

A princesa, que se tornou regente durante a viagem de D. Pedro para a província de São Paulo, em
agosto, recebeu novos decretos portugueses, que suspendiam a Assembleia Constituinte, exigindo
o retorno imediato de D. Pedro a Portugal e declarando os ministros brasileiros como traidores.
Diante de mais um entrave com Portugal, D. Leopoldina se reuniu com os ministros e assinou, ainda
em 1822, a Declaração de Independência do Brasil.

A carta foi entregue para D. Pedro no dia 7 de setembro, enquanto


ele ainda estava em São Paulo. Nesse momento, o então Príncipe
Regente teria tomado conhecimento das novas exigências
portuguesas e da declaração elaborada por D. Leopoldina e José
Bonifácio; e supostamente teria organizado seus soldados,
declarando a emancipação brasileira de Portugal, com o famoso
grito da independência. Ao retornar à capital, D. Pedro foi coroado
no Campo de Santana, no dia 12 de outubro de 1822, sendo
aclamado Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.

Vale destacar que, apesar da declaração, a independência não foi


conquistada de forma tão pacífica, visto que os soldados portugueses se encontravam presentes
no Brasil e não aceitaram a emancipação, assim como focos de resistência em algumas províncias
ainda apoiavam as Cortes portuguesas. Desse modo, com um exército organizado com
mercenários e soldados estrangeiros e com apoio da Inglaterra, os grupos que ainda resistiam nas
províncias do Maranhão, Bahia, Pará e Piauí foram rapidamente derrotados.

Naturalmente, não bastava solucionar os desentendimentos provinciais. Para que o Brasil tivesse
condições de estabelecer um Estado autônomo e soberano, era fundamental que outras
importantes nações reconhecessem a sua independência. Em 1824, buscando cumprir sua política
de aproximação com as outras nações americanas, os Estados Unidos da América reconheceram
a Independência do Brasil.

Restavam, portanto, as negociações diplomáticas entre Brasil e Portugal, para que a antiga
metrópole reconhecesse, enfim, a Independência. Os diálogos foram mediados pela Inglaterra, que
apoiou a causa brasileira e ajudou a costurar o Tratado de Paz, Amizade e Aliança. A partir desse
acordo, o Brasil assumiu o pagamento de uma indenização de dois milhões de libras esterlinas para
Portugal (na prática, a dívida lusa com a Inglaterra foi transferida para o Brasil); e, enfim, Portugal
reconheceu a emancipação da antiga colônia americana.
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Exercícios de fixação

1. O que foi o Bloqueio Continental?


(A) O cerco naval que a França realizou em Portugal.
(B) O cerco naval que a França realizou na Espanha.
(C) O cerco naval que a França realizou na Rússia.
(D) O cerco naval que a França realizou na Inglaterra.

2. O que motivou a transferência da Família Real portuguesa para o Brasil?


(A) A Revolução de Cádiz.
(B) As guerras napoleônicas.
(C) A Revolução Liberal do Porto.
(D) A crise do século XIV.

3. Dos tratados a seguir, qual foi assinado na chegada da Família Real ao Brasil?
(A) Tratado de Madri.
(B) Tratado da Tríplice Aliança.
(C) Tratado de Comércio e Navegação.
(D) Tratado de Tordesilhas.

4. No dia 9 de janeiro de 1822, o famoso Dia do Fico representou:


(A) A decisão de D. João VI de continuar no Brasil.
(B) A decisão de D. João VI de manter o Brasil como uma colônia.
(C) A decisão de D. Pedro de continuar no Brasil.
(D) A decisão de D. Pedro de manter o Brasil uma colônia.

5. Qual dos eventos a seguir influenciou o retorno de D. João VI para Portugal?


(A) Revolução Liberal do Porto.
(B) Revolução Francesa.
(C) Revolução de Cádiz.
(D) Revolução Russa.
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Exercícios de vestibulares

1. (Enem, 2010) “Eu, o Príncipe Regente, faço saber aos que o presente Alvará virem: que
desejando promover e adiantar a riqueza nacional, e sendo um dos mananciais dela as
manufaturas e a indústria, sou servido abolir e revogar toda e qualquer proibição que haja a
este respeito no Estado do Brasil”.
Alvará de liberdade para as indústrias 1º de Abril de 1808. In: Bonavides, P.; Amaral, R. Textos políticos da História do Brasil. Vol. 1. Brasília:
Senado Federal, 2002, adaptado.

O projeto industrializante de D. João, conforme expresso no alvará, não se concretizou. Que


características desse período explicam esse fato?
(A) A ocupação de Portugal pelas tropas francesas e o fechamento das manufaturas
portuguesas.
(B) A dependência portuguesa da Inglaterra e o predomínio industrial inglês sobre suas redes
de comércio.
(C) A desconfiança da burguesia industrial colonial diante da chegada da família real
portuguesa.
(D) O confronto entre a França e a Inglaterra e a posição dúbia assumida por Portugal no
comércio internacional.
(E) O atraso industrial da colônia provocado pela perda de mercados para as indústrias
portuguesas.
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2. (Enem, 2010) Em 2008 foram comemorados os 200 anos da mudança da família real
portuguesa para o Brasil, onde foi instalada a sede do reino. Uma sequência de eventos
importantes ocorreu no período 1808-1821, durante os 13 anos em que D. João VI e a família
real portuguesa permaneceram no Brasil. Entre esses eventos, destacam-se os seguintes:
Bahia – 1808: Parada do navio que trazia a família real portuguesa para o Brasil, sob a
proteção da marinha britânica, fugindo de um possível ataque de Napoleão.
Rio de Janeiro – 1808: desembarque da família real portuguesa na cidade onde residiriam
durante sua permanência no Brasil.
Salvador – 1810: D. João VI assina a carta régia de abertura dos portos ao comércio de todas
as nações amigas, ato antecipadamente negociado com a Inglaterra em troca da escolta dada
à esquadra portuguesa.
Rio de Janeiro – 1816: D. João VI torna-se rei do Brasil e de Portugal, devido à morte de sua
mãe, D. Maria I.
Pernambuco – 1817: As tropas de D. João VI sufocam a revolução republicana.
GOMES. L. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do
Brasil. São Paulo: Editora Planeta, 2007 (adaptado)

Uma das consequências desses eventos foi:


(A) a decadência do império britânico, em razão do contrabando de produtos ingleses através
dos portos brasileiros,
(B) o fim do comércio de escravos no Brasil, porque a Inglaterra decretara, em 1806, a
proibição do tráfico de escravos em seus domínios.
(C) a conquista da região do rio da Prata em represália à aliança entre a Espanha e a França
de Napoleão.
(D) a abertura de estradas, que permitiu o rompimento do isolamento que vigorava entre as
províncias do país, o que dificultava a comunicação antes de 1808.
(E) o grande desenvolvimento econômico de Portugal após a vinda de D. João VI para o
Brasil, uma vez que cessaram as despesas de manutenção do rei e de sua família.

3. (Enem, 2009) No tempo da independência do Brasil, circulavam nas classes populares do


Recife trovas que faziam alusão à revolta escrava do Haiti:
Marinheiros e caiados
Todos devem se acabar,
Porque só pardos e pretos
O país hão de habitar.
(AMARAL, F. P. do. Apud CARVALHO, A. Estudos pernambucanos. Recife: Cultura Acadêmica, 1907.)

O período da independência do Brasil registra conflitos raciais, como se depreende:


(A) dos rumores acerca da revolta escrava do Haiti, que circulavam entre a população escrava
e entre os mestiços pobres, alimentando seu desejo por mudanças.
(B) da rejeição aos portugueses, brancos, que significava a rejeição à opressão da
Metrópole, como ocorreu na Noite das Garrafadas.
(C) do apoio que escravos e negros forros deram à monarquia, com a perspectiva de
receber sua proteção contra as injustiças do sistema escravista.
(D) do repúdio que os escravos trabalhadores dos portos demonstravam contra os
marinheiros, porque estes representavam a elite branca opressora.
(E) da expulsão de vários líderes negros independentistas, que defendiam a implantação de
uma república negra, a exemplo do Haiti.
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4. (Enem, 2014) A transferência da corte trouxe para a América portuguesa a família real e o
governo da Metrópole. Trouxe também, e sobretudo, boa parte do aparato administrativo
português. Personalidades diversas e funcionários régios continuaram embarcando para o
Brasil atrás da corte, dos seus empregos e dos seus parentes após o ano de 1808.
NOVAIS, F. A.; ALENCASTRO, L. F. (Org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.

Os fatos apresentados se relacionam ao processo de independência da América portuguesa


por terem
(A) incentivado o clamor popular por liberdade.
(B) enfraquecido o pacto de dominação metropolitana.
(C) motivado as revoltas escravas contra a elite colonial.
(D) obtido o apoio do grupo constitucionalista português.
(E) provocado os movimentos separatistas das províncias.

5. (Enem, 2011) “No clima das ideias que se seguiram à revolta de São Domingos, o
descobrimento de planos para um levante armado dos artífices mulatos na Bahia, no ano de
1798, teve impacto muito especial; esses planos demonstravam aquilo que os brancos
conscientes tinham já começado a compreender: as ideias de igualdade social estavam a
propagar-se numa sociedade em que só um terço da população era de brancos e iriam
inevitavelmente ser interpretados em termos raciais.”
MAXWELL, K. Condicionalismos da Independência do Brasil. In: SILVA, M. N. (coord.) O Império luso-brasileiro, 1750-1822. Lisboa: Estampa,
1966.

O temor do radicalismo da luta negra no Haiti e das propostas das lideranças populares da
Conjuração Baiana (1798) levaram setores da elite colonial brasileira a novas posturas diante
das reivindicações populares. No período da Independência, parte da elite
participou ativamente do processo, no intuito de:
(A) instalar um partido nacional, sob sua liderança, garantindo participação controlada dos
afro-brasileiros e inibindo novas rebeliões de negros.
(B) atender aos clamores apresentados no movimento baiano, de modo a inviabilizar novas
rebeliões, garantindo o controle da situação.
(C) firmar alianças com as lideranças escravas, permitindo a promoção de mudanças
exigidas pelo povo sem a profundidade proposta inicialmente.
(D) impedir que o povo conferisse ao movimento um teor libertário, o que terminaria por
prejudicar seus interesses e seu projeto de nação.
(E) rebelar-se contra as representações metropolitanas, isolando politicamente o Príncipe
Regente, instalando um governo conservador para controlar o povo.
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6. (Enem, 2019) Entre os combatentes estava a mais famosa heroína da Independência. Nascida
em Feira de Santana, filha de lavradores pobres, Maria Quitéria de Jesus tinha trinta anos
quando a Bahia começou a pegar em armas contra os portugueses. Apesar da proibição de
mulheres nos batalhões de voluntários, decidiu se alistar às escondidas. Cortou os cabelos,
amarrou os seios, vestiu-se de homem e incorporou-se às fileiras brasileiras com o nome de
Soldado Medeiros.
GOMES, L. 1822. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

No processo de Independência do Brasil, o caso mencionado é emblemático porque evidencia


(A) a rigidez hierárquica da estrutura social
(B) inserção feminina nos ofícios militares
(C) adesão pública dos imigrantes portugueses.
(D) flexibilidade administrativa do governo imperial.
(E) receptividade metropolitana aos ideais emancipatórios.

7. (Enem PPL, 2022) A abertura dos portos brasileiros em 1808 inaugurou a possibilidade, para
viajantes europeus de diversas nacionalidades, de percorrer áreas até então dificilmente
acessíveis à sua curiosidade. Os relatos de inúmeras expedições, a maioria de caráter
científico, foram publicados na Europa, para leitores ávidos de notícias sobre um Brasil até
então desconhecido, terra cujos segredos haviam sido velados por uma Coroa portuguesa
ciumenta e possessiva.
DUARTE, R. H. Olhares estrangeiros: viajantes no vale do Rio Mucuri. Revista Brasileira de História, n. 44, 2002 (adaptado).

Os relatos de viagens ao Brasil, publicados na Europa, contribuíram para a construção da


identidade europeia na medida em que
(A) destacaram a exuberância da natureza tropical, elaborando uma visão heroica da
conquista.
(B) defenderam a legitimidade da escravidão africana, aprovando-a como fator de
humanização.
(C) enfatizaram o exotismo da sociedade colonial, contrapondo-a à ideia iluminista de
civilização.
(D) analisaram a miscigenação dos grupos raciais, atribuindo um caráter positivo a esse
processo.
(E) descreveram a diversidade das etnias indígenas, contribuindo para a preservação de suas
culturas.
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8. (Enem, 2020) O movimento sedicioso ocorrido na capitania de Pernambuco, no ano 1817, foi
analisado de formas diferentes por dois meios de comunicação daquela época. O Correio
Braziliense apontou para o fato de ser “a comoção no Brasil motivada por um
descontentamento geral, e não por maquinações de alguns indivíduos". Já a Gazeta do Rio de
Janeiro considerou o movimento como um "pontual desvio de norma, apenas uma 'mancha'
nas 'páginas da História Portuguesa’, tão distinta pelos testemunhos de amor e respeito que
os vassalos desta nação consagram ao seu soberano".
JANCSÔ. I. PIMENTA, J. P. Peças da um mosaico. In MOTA. C. G. (Org) Viagem Incompleta: a experiência brasileira (1500-2000) São Paulo;
Senac. 2000 (adaptado).

Os fragmentos das matérias jornalísticas sobre o acontecimento, embora com percepções


diversas, relacionam-se a um aspecto do processo de independência da colônia luso-
americana expresso em dissensões entre:
(A) quadros dirigentes em tomo da abolição da ordem escravocrata.
(B) grupos regionais acerca da configuração politico-territorial.
(C) intelectuais laicos acerca da revogação do domínio eclesiástico.
(D) homens livres em tomo da extensão do direito de voto.
(E) elites locais acerca da ordenação do monopólio fundiário.

9. (Enem 3ª aplicação, 2014) Eu gostaria de entrar nua no rio, mas estou aqui entre homens,
somos todos soldados. Os portugueses de uma canhoneira bombardearam Cachoeira, então
um bando de Periquitos, e entre eles eu e mais cinco ou seis mulheres, entramos no rio, de
culote, bota e perneira, capa abotoada e baioneta calada. Pensei outra vez no sítio. Ali tudo
era cálido, os panos convidavam ao sono. Aqui, luta-se pela vida, pela Pátria. Minha baioneta
rasga o ventre de um português que não quer reconhecer a Independência do Brasil gritada,
la no Sul, pelo Imperador D. Pedro.
MARIA QUITERIA, s/d. Disponível em: www.vidaslusofonas.pt. Acesso em: 31 jan. 2012 (adaptado).

A análise do texto revela um processo de emancipação política do Brasil que supera o marco
do Grito do Ipiranga e da figura de D. Pedro I, pois a luta pela independência
(A) foi conduzida por um exercito profissional.
(B) ficou limitada a disputas e acordos políticos.
(C) fomentou movimentos separatistas do Sul do país.
(D) contou com a participação de diversos segmentos sociais.
(E) consolidou uma ideia de pátria que excluía a herança portuguesa.
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10. (Enem PPL, 2016) É hoje a nossa festa nacional. O Brasil inteiro, da capital do Império a mais
remota e insignificante de suas aldeolas, congrega-se unânime para comemorar o dia que o
tirou dentre as nações dependentes para colocá-lo entre as nações soberanas, e entregou-lhe
os seus destinos, que até então haviam ficado a cargo de um povo estranho.
(Gazeta de Notícias, 7 set. 1883.)

As festividades em torno da Independência do Brasil marcam o nosso calendário desde os


anos imediatamente posteriores ao 7 de setembro de 1822. Essa comemoração está
diretamente relacionada com
(A) a construção e manutenção de símbolos para a formação de uma identidade nacional.
(B) o domínio da elite brasileira sobre os principais cargos políticos, que se efetivou logo após
1822.
(C) os interesses de senhores de terras que, após a Independência, exigiram a abolição da
escravidão.
(D) o apoio popular às medidas tomadas pelo governo imperial para a expulsão de
estrangeiros do país.
(E) a consciência da população sobre os seus direitos adquiridos posteriormente à
transferência da Corte para o Rio de Janeiro.

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Gabaritos

Exercícios de fixação

1. D
O Bloqueio Continental foi uma estratégia de Napoleão Bonaparte para tentar sufocar a
economia inglesa, realizando um cerco que impedisse o país de fazer comércio com outros
reinos; punindo, assim, aqueles que desrespeitassem o bloqueio.

2. B
As guerras napoleônicas devastaram a configuração política europeia e chegaram a ameaçar
os domínios portugueses após a invasão do exército napoleônico na Espanha. Cercada pelos
franceses e recebendo apoio da Inglaterra, a Família Real decidiu abandonar Portugal e
transferir seu comando para o Rio de Janeiro.

3. C
O famoso Dia do Fico representa a decisão de D. Pedro de desrespeitar as ordens da Corte
portuguesa e as ameaças do exército ao escolher ficar no Brasil.

4. A
Entre as instituições criadas no Rio de Janeiro para tentar reproduzir os hábitos da corte na
antiga metrópole, foi o Jardim Botânico que recebeu centenas de espécies de plantas.

5. A
A Revolução Liberal do Porto de 1820 exigiu o retorno imediato da Família Real portuguesa e a
submissão do rei à nova Constituição, que estava sendo elaborada em Portugal.

Exercícios de vestibulares

1. B
Apesar da permissão às indústrias, a entrada de mercadorias inglesas dificultou o
desenvolvimento da manufatura nacional.

2. C
Com a invasão do território espanhol por Napoleão, Portugal aproveitou a rivalidade que tinha
com a França para começar a ocupar os territórios-colônia que pertenciam à Espanha, como
parte da região do Rio do Prata.

3. A
O enunciado e o texto fazem referência às trovas que circulavam no Brasil durante a
independência; falando, nesse caso, sobre a Revolução do Haiti. Portanto, percebemos que
também havia entre os escravizados brasileiros um desejo de revolta e emancipação.

4. B
A transferência da Corte portuguesa para o Brasil possibilitou diversas transformações na
colônia, como uma maior liberdade de comércio com a Inglaterra, o que reduziu os impactos
do exclusivo metropolitano.

5. D
A elite brasileira, essencialmente agrária, participou ativamente do processo de independência,
para que ela não tomasse um caráter popular e revolucionário, abolindo os privilégios
estabelecidos por eles durante o período colonial.
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6. A
O trecho revela a rigidez das instituições e relações na colônia; uma vez que, para participar da
luta armada, Maria Quitéria teve que se vestir de homem.

7. C
As viagens de naturalistas e pintores franceses ao Brasil destacaram características de uma
sociedade e de uma terra com natureza exóticas, diferente das tradições europeias e do que
entendiam como um “progresso” proporcionado pelas ideias iluministas.

8. B
O texto demonstra que os grupos de diferentes jornais apresentavam visões diversas quanto à
questão político-territorial brasileira; demonstrando, portanto, divergências regionais.

9. D
Apesar de liderada e conduzida por uma aristocracia que apoiou D. Pedro I, o filho do rei
português, o processo de independência do Brasil contou com a participação de diversas
camadas sociais, como homens e mulheres populares.

10. A
A exaltação do dia da independência do Brasil está ligada a construção de uma identidade
nacional e uma reafirmação da soberania nacional. Como a independência não foi um
consenso entre a população, tais medidas tinha a intenção de conquistar apoio do povo e dar
base para a formação de um sentimento nacionalista.

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