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A transferência da corte portuguesa para o Brasil

Apesar de alguns historiadores ainda insistirem na visão de que a mudança da corte portuguesa para o
Brasil tratou-se de uma simples fuga, são muitos os historiadores que veem essa mudança como uma
verdadeira manobra política estratégica, pois permanecendo em Portugal, D. João VI (que na época ainda
era príncipe regente) sofreria o mesmo fim que seus vizinhos espanhóis: humilhações e prisão, nada
podendo fazer pelo reino. Napoleão iria depor a dinastia de Bragança e dividir o Reino de Portugal e suas
possessões ultramarinas. Seria o fim de Portugal. Mudando a corte portuguesa para o Brasil, D. João salvou
monarquia e as colônias. Ao invés de ser preso e expatriado, fundou no Brasil um novo Império. A mudança
foi resultado de um plano antigo e era a única solução para impedir o desaparecimento da monarquia
portuguesa.1

Sendo Portugal um Reino tão pequeno e suscetível e sendo o Brasil é uma Terra tão grande e boa, a ideia
de mudança do rei de Portugal para o Brasil em muitos momentos esteve presente na corte, desde a
expedição colonizadora de Martim Afonso em 1532.2 Colocando em prática o antigo plano de transferência
da corte para o Brasil, chega à nossa Terra em janeiro de 1808.3

Consequências:

Administração

A chegada da família real trouxe inúmeras mudanças para o Brasil, mas principalmente ao Rio de Janeiro,
onde se instalou. Se inicialmente a população se irritou por terem suas residências tomadas para a
acomodação da corte, logo a irritação passou por causa das várias reformas que beneficiaram a todos4.

Foi necessária uma grande reorganização na administração. Por isso criaram órgãos administrativos,
Militares e tribunais que antes só existiam em Portugal. O Brasil deixa de ser colônia e passa a ser o Reino
Unido aos de Portugal e Algarves.5

Em 1816, com a morte da rainha, D. João, o príncipe regente, assume como rei de Portugal, Brasil e
Algarves e é coroado no Brasil. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro considerou-o verdadeiro
fundador da nacionalidade Brasileira. Tinha grande capacidade de se adaptar à situação de contingência
(ruim) e de escolher bons ministros6.

Desenvolvimento cultural

A chegada da família real ao Brasil trouxe grande desenvolvimento cultural à colônia. Com a família real
chegam artistas, pintores, arquitetos e músicos. Temos a abertura de mais escolas primárias e da primeira
escola médico-cirúrgica em Salvador. O Brasil passa a ser alvo de grandes explorações científicas para
observação da flora, fauna e minérios. É fundada a imprensa Régia no Rio de Janeiro e bibliotecas em outras
capitanias.7

Desenvolvimento econômico

O Brasil passa também por um grande desenvolvimento econômico. Enquanto ainda estava na condição
de colônia, o Brasil só poderia fazer comércio com sua metrópole, ou seja, Portugal. Era-lhe proibido
inclusive a produção de certas manufaturas. Com a chegada da família real essa situação muda
completamente, D. João VI determina a abertura dos portos brasileiros para todas as nações amigas
mediante imposto de 24% (15% para Inglaterra e 16% para Portugal 8). Além disso, foi dado um grande
incentivo à construção de novas embarcações a partir de 1809, a aumentando o comércio de cabotagem. O
número de embarcações portuguesas dobrou e o de embarcações estrangeiras quadruplicou entre 1808 e
1820. A Inglaterra era a maior beneficiada, mas não a única. Em 1820, dos 354 navios estrangeiros que
chegaram aos portos brasileiros, 195 eram ingleses, 74 norte-americanos e 46 franceses.9

A abertura dos portos foi como que mágica para o comércio do Brasil. Como a procura por nossos
produtos era alta, seus preços subiram, o que foi muito vantajoso ao Brasil, e como a procura pelas
mercadorias estrangeiras não era tão grande por aqui, o preço delas caiu. Enriqueceram agricultores,
fazendeiros, tropeiros responsáveis pelas mulas cargueiras do interior para o litoral.10 Muitos estrangeiros
se estabeleceram no Brasil para se dedicar ao comércio, agricultura e indústria. 11 Além disso, houve grande
incentivo à agriculta e do povoamento através da concessão de sesmarias, melhoria de estradas. Foi fundado
o Banco do Brasil e liberada a abertura de lojas e vendas12. Foram incentivadas (através da isenção de
impostos para a importação de máquinas13) e criadas indústrias manufatureiras (antes proibidas) e de
fabricação de ferro.14

Aliança Inglesa

A Inglaterra obteve muitas vantagens em seu comércio com o Brasil em troca dos grandes auxílios que
prestou. Primeiro durante o translado da corte portuguesa ao Brasil e, posteriormente, na expulsão dos
franceses do território português, nas três ocasiões em que Portugal foi invadido (com toda essa ajuda,
ocorrerá certa influência inglesa no governo português). Portugal comprometia-se também à extinção
gradual da escravidão, o que só ocorreu mais de 50 anos depois.15

Intervenções no Rio da Prata

Por conta do destronamento do rei da Espanha por Napoleão, as colônias espanholas começaram a se
desligar da Espanha16. Uma série de conflitos começou a se aproximar das fronteira sul do Brasil, na região
do Rio da Prata, em 1811, 1812 e 1816. O governo português se viu obrigado a intervir (para manter a paz
em sua fronteira), ocupando a Banda Oriental (atualmente, o Uruguai), que pertencia à Espanha. Quando os
franceses são expulsos da Espanha, o rei espanhol procura negociar a devolução do território, mas se nega
a ressarcir o rei português os gastos que teve com a manutenção da paz. Assim, em julho de 1821, é criado
o Estado Cisplatino (atual Uruguai) e anexado ao ´Reino de Portugal, Brasil e Algarves.17

A caminho da Independência

Revolução Pernambucana

A situação de Pernambuco era próspera nesses dias, havia alguns problemas na administração, mas não
justificaria uma revolta. Alguns fatores podem ser citados: próximo a 1817, houve um incidente entre um
português e um soldado, além disso, os militares andavam descontentes com o sistema de pagamento18.

As ideias iluministas (“fim da monarquia, o poder é do povo...”) chegaram a Pernambuco, apesar das
censuras, através dos “pedreiros-livres”. A primeira loja maçônica foi fundada em Recife em 1814, sendo
três lojas em 1816. Seus fundadores preparam a revolta de 181719.

Assim como na Inconfidência Mineira e na Conjuração Baiana, os planos dos revoltosos foram logo
descobertos e eles começaram a ser presos, um deles, porém (Barros Lima), reagiu e acabou sendo morto,
em 06 de março de 1817, causando grande comoção. Rompeu-se então a revolta e a instauração de uma
junta governativa.20 Esta, para conquistar simpatia da população, manda aumentar o soldo dos soldados e
abaixar impostos, ainda assim foi preciso proibir que se deixasse a cidade. Pedem logo apoio à Inglaterra e
Estados Unidos, mas eles se negaram.21 Aderiram à revolta: a Paraíba e o Ceará, mas aí os revoltosos foram
rapidamente detidos e presos.
Um dos líderes, padre José Inácio Ribeiro de Abreu Lima, padre Roma, tentou levar o movimento à Bahia,
mas, ao ser descoberto, acabou sendo julgado e fuzilado. Da Bahia e do Rio de Janeiro saíram tropas para
submeter os revoltosos, que sem apoio necessário acabaram se rendendo em 19 de maio de 1817. 22

A maioria dos participantes, dentre eles militares e alguns padres, foram condenados à morte. Sobreviveu
Frei Caneca, que participará de outras revoltas e Francisco Muniz Tavares, que escreverá a História da
Revolução de Pernambuco.23

Revolução do Porto

Os franceses haviam sido expulsos definitivamente de Portugal em 1814, mas D. João não mostrava
pretensão de voltar. Além desta situação, as dificuldades econômicas por causa das invasões francesas e a
interferência inglesa no governo causaram grande descontentamento em Portugal 24. Novamente entra em
cena a maçonaria para derrubar o governo. Com as idéias liberais que circulavam pela Europa, pensavam
que uma "Constituição" resolveria todos os problemas.25 Surge então a idéia de reunir a tradicionais Cortes
portuguesas, que não eram reunidas há mais de 100 anos (algo parecido com o que vimos na Revolução
Francesa). O atraso no pagamento do exército aumenta o descontentamento, a cidade do Porto é tomada
em 24 de agosto 1820 e Lisboa em 15 de setembro. Coloca-se em prática a convocação das Cortes, sem a
autorização de D. João VI.26

No Brasil, D João recebia diversos conselhos: permanecer no Brasil, voltar a Portugal, permanecer no
Brasil e enviar o filho a Portugal. Enquanto isso, em Portugal, a Ilha da Madeira e os Açores e, no Brasil, a
Capitania do Grão Pará e da Bahia, aderiam à revolução do Porto, inclusive havendo conflito armado em
Salvador, que chegou a pedir o envio de tropas à Lisboa. Decidiu-se pela partida do príncipe D. Pedro e a
convocação de Cortes também no Rio de Janeiro, o que aumentou ainda mais o clima de revolta, obrigando
o príncipe a voltar atrás em seu decreto. D. João se viu obrigado a aceitar a exigência dos revoltosos,
substituindo seus ministros por nomes indicados por eles. 27

Durante esse tempo, ocorreu a reunião de uma Assembleia de eleitores no Rio de Janeiro que exigiu a
adoção da Constituição Espanhola (enquanto não se elaborasse a portuguesa) e a permanência de D. João,
que tudo aceitou através de um decreto. Dessa vez Dom Pedro reage com força contra a Assembleia,
revogando o decreto. 28

A situação fica te tal modo insustentável que D. João decide voltar ele mesmo para Portugal, decisão que
também desagradou a muitos no Brasil. Em 24 de abril, conta o próprio D. Pedro, D. João lhe confidencia, já
prevendo os futuros acontecimentos: “‘Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que me hás de
respeitar, do que para algum desses aventureiros’. Dois dias depois, embarcou para Portugal D. João VI, aqui
deixando como Regente o filho e herdeiro”. 29

As discussões nas Cortes distanciavam cada vez mais representantes portugueses e brasileiros, deixando
cada vez mais claro a diferença entre os interesses dos dois grupos. A animação inicial dos brasileiros pela
revolução do Porto, rapidamente se transformou em desapontamento. Foram tomadas muitas decisões
contra o Brasil: o fim de tribunais, a proibição da criação de uma universidade, o governo das capitanias
ficaria sujeito a Portugal. Por fim determinaram a volta do príncipe D. Pedro I a Portugal. 30

No Brasil, as notícias que chegavam das discussões nas Cortes portuguesas despertavam a animosidade
contra Portugal. D. Pedro então, decide pela desobediência e fica no Brasil, convocando uma Assembleia
Constituinte e Legislativa em junho de 1822. 31
1
Vianna livro físico, p. 8-9 e 12
2
Vianna livro físico, p. 9-11
3
Vianna livro físico, p. 12
4
Calmon 4, pg 37
5
Vianna livro físico, p. 13
6
Vianna livro físico, p. 15
7
Vianna livro físico, p. 16-19
8
Vianna livro físico, p. 24-27
9
Vianna livro físico, p. 21-23
10
Calmon 4, p. 43-44
11
Calmon 4, p. 26
12
Calmon 4, p. 25
13
Calmon 4, p. 46
14
Vianna livro físico, p. 24-27
15
Vianna livro físico, p. 28
16
Calmon 4, p. 61
17
Vianna livro físico, p. 29-33
18
Vianna livro físico, p. 36
19
Vianna livro físico, p. 35
20
Vianna livro físico, p. 35-37
21
Vianna livro físico, p. 38
22
Vianna livro físico, p. 39
23
Vianna livro físico, p. 41
24
Vianna livro físico, p. 42-43
25
Calmon 4, p. 122
26
Vianna livro físico, p. 42-43
27
Vianna livro físico, p. 44-45
28
Calmon 4, p. 134
29
Vianna livro físico, p. 45-47
30
Vianna livro físico, p. 49-50
31
Vianna livro físico, p. 50-51

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