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NEUROCIÊNCIA E

APRENDIZAGEM

PROFESSOR
Dr. Weslei Jacob

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EXPEDIENTE

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacio-
nal Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Pós-Graduação Bruno do Val
Jorge Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane
Yoshie Fukushima Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de
Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina
da Silva Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel

FICHA CATALOGRÁFICA
Coordenador(a) de Conteúdo
Waleria dos Santos Leonel
Projeto Gráfico e Capa
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho Núcleo de Educação a Distância. JACOB, Weslei .
e Thayla Guimarães
Neurociência e Aprendizagem.
Editoração Weslei Jacob.
Henrique Coppola Cole
Design Educacional Maringá - PR.: UniCesumar, 2020.
Patrícia Peteck 152 p.
Revisão Textual “Graduação - EaD”.
Nágela Costa 1. Neurociência 2. Aprendizagem. EaD. I. Título.
Cintia Prezoto Ferreira
Érica Fernanda Ortega
Ilustração
Welington Vainer CDD - 22 ed. 612.82
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Fotos Impresso por:
Shutterstock

Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

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BOAS-VINDAS

Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra-


balhamos com princípios éticos e profissiona-
lismo, não somente para oferecer educação de Tudo isso para honrarmos a nossa mis-

qualidade, como, acima de tudo, gerar a con- são, que é promover a educação de qua-

versão integral das pessoas ao conhecimento. lidade nas diferentes áreas do conheci-

Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis- mento, formando profissionais cidadãos

sional, emocional e espiritual. que contribuam para o desenvolvimento


de uma sociedade justa e solidária.
Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com
dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje,
temos mais de 100 mil estudantes espalhados
em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais
(Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e
em mais de 500 polos de educação a distância
espalhados por todos os estados do Brasil e,
também, no exterior, com dezenas de cursos
de graduação e pós-graduação. Por ano, pro-
duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos
mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe-
cidos pelo MEC como uma instituição de exce-
lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos
e estamos entre os 10 maiores grupos educa-
cionais do Brasil.

A rapidez do mundo moderno exige dos edu-


cadores soluções inteligentes para as neces-
sidades de todos. Para continuar relevante, a
instituição de educação precisa ter, pelo menos,
três virtudes: inovação, coragem e compromis-
so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos,
para os cursos de Engenharia, metodologias ati-
vas, as quais visam reunir o melhor do ensino
presencial e a distância.

Reitor
Wilson de Matos Silva
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Dr. Weslei Jacob


Doutor em Atividade Física, Educação Física e Esporte, linha de pesquisa: Treinamen-
to Esportivo, pela Universidade de Barcelona, Espanha. Mestre em Atividade Motora
e Educação pela Universidade de Barcelona, Espanha. Especialista em Educação In-
fantil pela Faculdade Cruzeiro do Oeste. Graduado em Educação Física pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná. Proprietário da Academia Slims Emagrecimento.
Professor Universitário. Professor convidado em módulos de Pós-Graduação, pelo
Grupo RHEMA Educação, Instituto Dimensão, Instituto Paranaense de Ensino e Fa-
culdade Cruzeiro do Oeste. Professor de capacitações voltadas à Educação Infantil.

http://lattes.cnpq.br/9792821644478744
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA

NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM

Prezado(a) aluno(a), este material didático pretende levar até você, de modo simples e esclarecedor,
os conhecimentos relacionados à Neurociência e a Aprendizagem, um novo campo de estudo que
desvenda os mistérios da mente, cotidianamente. A neurociência está associada à aprendizagem hu-
mana bem como a todas as estratégias e intervenções que possam ampliar a aquisição e a retenção
de informações, por parte do aprendiz.
As cinco unidades propostas neste livro permitirão que você desfrute, compreenda e aplique os
conhecimentos acerca do estudo das bases neurológicas que interferem, de modo positivo ou nega-
tivo, na aprendizagem humana. Tudo que sabemos ou conhecemos se armazena dentro de sofisti-
cadas estruturas plásticas, em nosso cérebro. Tais componentes neurológicos permitem uma vasta
comunicação e integração entre todo nosso encéfalo e organismo, por meio de estímulos neurais.
Resumidamente, aprender é fazer melhor a cada nova tentativa.
Na Unidade 1, abordaremos os princípios da neuroanatomofisiologia do cérebro, desde sua estrutura
até a organização do sistema nervoso. Aqui, discutiremos os diferentes aspectos sobre as trocas de
informações entre as células. Para tanto, é necessária a apresentação da disposição neuronal, os
potenciais de membrana e de ação, bem como o mecanismo sináptico, elucidando toda a transmissão
de informações entre células nervosas ou tecidos-alvo.
No transcorrer da Unidade 2, faremos uma viagem evolutiva dos estudos sobre o cérebro até o
desenvolvimento da mente e do comportamento humano. Neste momento, explanaremos e discu-
tiremos as mudanças notórias percebidas, em especial, nas duas primeiras décadas de vida. Nota-se,
sobretudo, essa abordagem desenvolvimentista nas dimensões internas dos seres humanos, as quais
sustentam a aprendizagem e o comportamento.
A aprendizagem é um construtor de formação de memórias. Sobre ela, então, falaremos na Unidade 3.
Formar memórias é adquirir, difundir ou modificar novas experiências ao realizar associações referentes
aos conhecimentos já armazenados. Nessa unidade, discutiremos, ainda, os conceitos de neuroplastici-
dade e como o humor pode ser uma excelente estratégia para formação de novas memórias.
Ao longo de toda a Unidade 4, elucidaremos, por meio da tríade de aprendizagem, os conceitos e
aplicações das funções cognitivas, executivas e primitivas dos seres humanos. Abordaremos os as-
pectos cognitivos relacionados ao nosso intelecto, nossos pensamentos e nossas memórias, os quais
poderão ser facilitadores, ou não, no processo de aquisição de aprendizagens.
Por fim, na Unidade 5, apresentaremos a você os elementos associados à neuroeducação, os quais
se relacionam, diretamente, à aplicação da neurociência em todos os contextos de nossas vidas,
em especial, na sala de aula. Para finalizar esse material, discutiremos as formas de aprendizagem,
as técnicas para melhorar a aquisição de informações e a proposição de estratégias pedagógicas
eficientes, as quais facilitarão o desenvolvimento de atividades que consideram, acima de tudo, o
funcionamento neurológico harmonioso.
Espero que você aproveite esse material e que sua utilização possa permitir, de forma autônoma,
alcançar o êxito em sua intervenção profissional.
ÍCONES
pensando juntos

Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e


transformar. Aproveite este momento!

explorando ideias

Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco


mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos.

quadro-resumo

No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida


para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos.

conceituando

Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.

conecte-se

Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes


online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno-
logia a seu favor.

Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar


Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo
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CONTEÚDO

PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01
8 UNIDADE 02
42
PRINCÍPIOS DA BASES
NEUROANATOMOFISIOLOGIA: NEUROLÓGICAS E
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO APRENDIZAGEM
DO SISTEMA NERVOSO

UNIDADE 03
68 UNIDADE 04
90
APRENDIZADO E COGNIÇÃO E FUNÇÕES
MEMÓRIAS EXECUTIVAS

UNIDADE 05
115 FECHAMENTO
144
CONCLUSÃO GERAL
NEUROEDUCAÇÃO
1
PRINCÍPIOS DA
NEUROANATOMOFISIOLOGIA:
ESTRUTURA E
ORGANIZAÇÃO
do sistema nervoso
PROFESSOR
Dr. Weslei Jacob

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Subdivisão Anatômica do Sis-
tema Nervoso • Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico • Sistema Nervoso Autônomo •
Potenciais de membrana e potenciais de ação • Sinapse.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introduzir conteúdos sobre a subdivisão anatômica do sistema nervoso • Apresentar a subdivisão e as
funções do sistema nervoso central e periférico • Aprender a função do sistema nervoso autônomo •
Entender os mecanismos de transporte, por meio da membrana: seus potenciais de ação • Aprender
o funcionamento sináptico para a transmissão de informações neurais.
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a), esse material didático pretende levar a você, de modo esclarece-
dor, os conhecimentos relacionados à neurociência e à sua relação com a aprendiza-
gem, área de conhecimento que discutiremos, ao longo de todo material.

Iniciamos, neste momento, nossos estudos a respeito do funcionamento neurológico,


no qual esse mecanismo complexo, denominado sistema nervoso, integra-se com di-
versas partes independentes do corpo humano. Contudo o controle, o funcionamento
e o processamento das funções corporais ocorrem por meio de um trabalho conjunto
com o sistema endócrino. Na organização do sistema nervoso, evidenciam-se diferen-
tes subdivisões, como o sistema nervoso central e periférico. Observa-se, também, a
importância das respostas autônomas controladas via sistema nervoso autônomo
simpático ou parassimpático, que excitam ou relaxam, respectivamente, a atividade
dos diversos sistemas anatomofisiológicos.

A base da comunicação corporal, oriunda ou não de algum componente do sistema


nervoso, depende diretamente das células nervosas, denominadas neurônios. Essas
estruturas, em especial, são extremamente excitáveis, e com estimulação apropriada
disparam ondas elétricas às mais diferentes estruturas corporais. Esses impulsos ner-
vosos ou potenciais de ação são responsáveis por integrar o sistema nervoso (sistema
nervoso central e sistema nervoso periférico) com as informações provenientes do
próprio corpo e informações sobre o ambiente que o cerca, bem como envia informa-
ções/estímulos a órgãos efetores, como músculos, glândulas e adipócitos.

A comunicação neuronal ocorre entre neurônios presentes no sistema nervoso e


entre estruturas neuroefetuadoras, ou seja, entre um neurônio motor com fibras
musculares, glândulas e adipócitos. Estes eventos dependem diretamente de subs-
tâncias químicas denominadas de neurotransmissores. Quando um impulso nervoso
chega ao final de um neurônio, substâncias químicas são liberadas entre essas célu-
las nervosas ou nos tecidos alvos com a função de propagar a informação, iniciando
assim um novo impulso elétrico nas estruturas adjacentes. O local onde acontece
essa comunicação entre neurônios ou entre neurônio e órgão neuroefetuador é o
mecanismo denominado sinapse.
1
SUBDIVISÃO
UNIDADE 1

ANATÔMICA
do sistema nervoso

Caro(a) aluno(a), iniciamos essa unidade com o seguinte questionamento: o que


controla o funcionamento corporal? Isso mesmo, o sistema nervoso, juntamente
com o sistema endócrino, controla todas as ações voluntárias e involuntárias do
corpo humano. Para que esse controle seja possível, o sistema nervoso é subdi-
vidido em diversas estruturas. A Figura 1, a seguir, apresenta a organização do
sistema nervoso e, apoiando-se nela, ficará mais fácil o entendimento dos conhe-
cimentos de comando e controle das funções corporais.

Descrição da Imagem: é observado a subdivisão do sistema nervoso em sistema nervoso central e periférico.
O sistema nervoso central se subdivide em encéfalo e medula espinal. O encéfalo se ramifica em cérebro,
cerebelo e tronco encefálico, este último é formado por mesencéfalo, ponte e bulbo. O sistema nervoso
periférico, por sua vez, é composto por 12 pares de nervos cranianos, 31 pares de nervos raquidianos e as
terminações nervosas.

Medula Espinal

Figura 1 - Organização do Sistema Nervoso / Fonte: adaptado de Guyton e Hall (2017).


10
Na Figura 2, a seguir, podemos observar essas subdivisões no corpo humano:

UNICESUMAR
Descrição da Imagem: verifica-se na imagem a ilustração de um ser humano em posição anatômica com o
sistema nervoso evidenciado. São apresentados o cérebro e medula espinal como componentes do sistema
nervoso central. Observa-se no sistema nervoso periférico os nervos cranianos e espinais, gânglios, plexos
entéricos no intestino delgado e os receptores sensoriais da pele.

Figura 2 - O Sistema Nervoso / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 573).

Para que seja possível o controle das funções musculares e metabólicas, o sistema
nervoso conta com uma complexa rede de neurônios que somam, aproximadamen-
te, 90 bilhões de unidades (PIVETTA, 2008). Evidentemente, a maior parte desses
neurônios está localizada no encéfalo, mais especificamente no cérebro, uma das
mais importantes estruturas neurológicas existentes. A composição do encéfalo,
ainda, conta com cerebelo e tronco encefálico, este, por sua vez, apresenta uma nova
11
subdivisão, mesencéfalo, ponte e bulbo. Observe a Figura 3, a seguir, que está em um
UNIDADE 1

corte no plano sagital (separa o corpo em duas metades iguais). Nesta ilustração, é
possível perceber as estruturas que organizam e compõem o encéfalo; nela, podem
ser observados o cérebro, cerebelo, tronco encefálico e a medula espinal.

Descrição da Imagem: são apresentadas duas imagens cortadas no plano sagital, dividindo o encéfalo em
duas metades iguais para que seja possível ver as estruturas neurológicas mediais. A primeira imagem apre-
senta o diencéfalo, tálamo, hipotálamo, glândula pineal (parte do epitálamo). Verifica-se ponte, bulbo e me-
sencéfalo que compõem o tronco encefálico. Se observa ainda cerebelo, medula espinal, cérebro e a hipófise.
A segunda imagem retrata praticamente as mesmas estruturas, com diferença apenas no tipo de ilustração.

Figura 3 - Vista do plano sagital do sistema nervoso central / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 622).
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Agora, com esse pequeno conhecimento a respeito das subdivisões do encéfalo,

UNICESUMAR
acrescentado ao que você já sabe sobre a medula espinal, será formada uma das
mais importantes regiões de estudos e análises dentro da neurociências: o sistema
nervoso central (SNC). O sistema nervoso, em sua subdivisão, ainda, conta com
o sistema nervoso periférico (SNP), composto por nervos cranianos, que são
ligados ao encéfalo, e nervos raquidianos ou periféricos, que ficam conectados à
medula espinhal, terminações nervosas e gânglios.
Para explicar melhor, os nervos têm a função de levar informações do encéfalo
até os tecidos periféricos, como os músculos. Quando isso ocorre, podemos afirmar
que esses nervos apresentam características motoras ou eferentes. As glândulas e os
adipócitos também respondem a ações de comando emitidas pelo SNC. Por outro
lado, se as informações são levadas da periferia corporal para serem processadas no
sistema nervoso, denominamos de nervos sensitivos ou aferentes. É bem verdade
que existem nervos que realizam as duas funções, tanto de levar para processamen-
to encefálico, como disparar informações para resultar em atividades diversas de
nosso organismo. Esses são denominados nervos do tipo misto.
Existem 12 tipos de nervos cranianos, cada um com uma função específica,
conforme apresentado no quadro a seguir:

Nº Nome Tipo Função

I Olfatório Sensitivo Olfato.

II Óptico Sensitivo Visão.

III Oculomotor Misto Movimentos oculares, acomodação.

IV Troclear Motor Movimentos oculares.

V Trigêmeo Misto Sensibilidade da face, mastigação.

VI Abducente Motor Movimentos oculares.

VII Facial Misto Expressão facial, salivação, lacrimejamento.

VIII Vestibulococlear Misto Audição, equilíbrio.

IX Glossofaríngeo Misto Sensibilidade oral, deglutição, salivação.

X Vago Misto Sensibilidade, movimentos viscerais.

XI Acessório Motor Movimentos da cabeça.

XII Hipoglosso Motor Movimentos da língua.

Quadro 1 - Os nervos Cranianos / Fonte: Lent (2013, p. 31).


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Evidencia-se que os 12 nervos cranianos, em grande parte, atuam no controle da
UNIDADE 1

cabeça e do pescoço, com exceção no nervo vago X. A medida que esses nervos
são encaminhados aos tecidos alvos espalhados em todo o corpo humano, eles
se ramificam, ficando cada vez menores.
Imagino que você deve estar preocupado com essas relações com anatomia
humana e seus exercícios de memorização. Para tanto, peço que faça a seguinte
reflexão: se os nervos cranianos estão intimamente ligados ao encéfalo, em qual
ponto de nosso organismo estão localizados os nervos raquidianos ou periféri-
cos? A resposta é: junto a nossa medula, nossa coluna vertebral.
Os 31 pares de nervos raquidianos são originados a partir da medula espinal
e distribuídos pelas vértebras que unidas formam a coluna vertebral. Mas para
conseguir explicar a você, acompanhe meu raciocínio: uma vértebra de nossa co-
luna está posicionada de tal modo, que existirá uma saída para nervos, localizada
na face anterior, mais próxima de nosso abdômen, e outra posterior, posicionada
em direção às nossas costas. Pois bem, agora, ficou fácil, já que em uma mesma
vértebra duas porções de nervos surgirão: os nervos motores, responsáveis pelos
movimentos teciduais, que emanam da saída anterior de cada vértebra, e os ner-
vos sensitivos, que partem da parte posterior de cada estrutura vertebral.
Agora, você deve se perguntar: o que são as terminações nervosas e os gân-
glios? Pois bem, as terminações nervosas são a parte final de um nervo, local onde
trocas de informações ocorrerão, com um tecido alvo ou mesmo com outros
nervos. Além disso, as terminações nervosas integram o organismo com o am-
biente por meio de receptores localizados na superfície corporal, os quais captam
estímulos luminosos, olfativos, gustativos, de temperatura, de pressão, táteis e de
dor. Já os gânglios são agregados de corpos celulares de neurônios localizados
fora do sistema nervoso central.
Para elucidar melhor a você o que é um gânglio neuronal, imagine que existe um
neurônio que emana de nosso encéfalo e percorre nossa coluna. Imagine-o inteiriço,
que começa em nossa cabeça e se prolonga até nossa coluna. Agora, imagine outro
neurônio/nervo, que inicia em nossa coluna e se prolonga até um músculo. Pois
bem, os gânglios são formados por redes complexas de corpos celulares de neurô-
nios, os quais conectam diferentes partes do corpo, por exemplo o SNC e o SNP.
Caríssimos(as), para continuarmos aprofundando os conhecimentos sobre
o sistema nervoso, a aula seguinte elucidará aspectos relacionados ao sistema
nervoso central e ao sistema nervoso periférico.

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2
SISTEMA NERVOSO CENTRAL E

UNICESUMAR
SISTEMA NERVOSO
periférico

Ao analisar a Figura 3, apresentada anteriormente, podemos perceber que o sis-


tema nervoso central (SNC) é composto por partes muito importantes, são elas:
telencéfalo, parte mais volumosa do encéfalo, composto por núcleos da base e
córtex cerebral; o diencéfalo no cérebro; mesencéfalo; ponte e bulbo, no tronco
encefálico e cerebelo. O diencéfalo é uma continuidade do mesencéfalo, com-
posto por calibrosos feixes de fibras que se conectam ao telencéfalo, estando
agrupado com tálamo, epitálamo e hipotálamo (LENT, 2013). A junção de todas
essas partes compõe o encéfalo. O SNC, ainda, é composto pela medula espinal.
Comumente, por estar “fora” da nossa caixa craniana, muitos indivíduos cometem
o erro de relacionar a medula espinal com o sistema nervoso periférico (SNP),
quando, na verdade, ela integra o SNC.
O SNP é composto por nervos, terminações nervosas e gânglios que deixam
o encéfalo ou a medula espinal para levar ou trazer informações dos tecidos
corporais. Em outras palavras, tudo que se encontra dentro de nossa cabeça e
prolonga-se até nosso cóccix faz parte do SNC, por outro lado, tudo que sair
dessas regiões contempla o SNP.
Caro(a) aluno(a), de acordo com a subdivisão do sistema nervoso apresenta-
da na aula anterior, faço-lhe uma pergunta: em qual local do nosso corpo estão
armazenadas as nossas memórias voluntárias? Por exemplo, segurar um lápis ou
uma caneta para escrever. Se, por ventura, ficou em dúvida, é porque sempre nos
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foi relatado que quem controla o nosso corpo é o cérebro, e já percebeu que esse
UNIDADE 1

órgão é, apenas, uma porção de um amplo sistema de processamento e análises.


As ações motoras voluntárias dependem de memórias e aprendizagens, ou
seja, uma ação motora será processada em uma região específica, denominada de
córtex motor. Você sabe onde fica? Essa região está localizada abaixo da “molei-
rinha” de uma criança e contém neurônios que irão memorizar e analisar tudo o
que se refere aos movimentos corporais. Desse mesmo modo ocorre com outras
informações, como as percepções táteis, visuais, auditivas etc., ou seja, nosso en-
céfalo contém regiões específicas para processar coisas específicas.
Conforme a estrutura, ou organização do Sistema Nervoso, apresentada na
aula anterior, Guyton e Hall (2017) subdividem o SNC em três níveis de fun-
cionalidades específicas: (1) nível medular, (2) nível cerebral inferior e (3) nível
cerebral superior ou nível cortical.
Inicio essa explicação com o seguinte questionamento: ao encostar em uma
superfície quente, talvez uma panela, a retirada de sua mão ocorre por reflexo ou
por comandos voluntários disparados do seu córtex motor? Se respondeu que sua
ação motora ocorreu por comandos voluntários advindos de seu encéfalo, você
errou. Existe, em nossa medula, estruturas denominadas de interneurônios, estes
recebem informações aferentes ou sensoriais, advindos dos termorreceptores
localizados em sua mão. A função do interneurônio é realizar uma triagem das
informações que devem ser analisadas pelo encéfalo (FOSS; KETEYIAN, 2010).
Agora, reflita comigo: sua mão está queimando, a informação chega ao in-
terneurônio. Este percebe que a temperatura está muito elevada e envia uma
informação ao encéfalo com o seguinte comando: “está queimando, o que devo
fazer?”. Neurologicamente, busca-se uma solução plausível e eficiente para esse
problema. Dessa forma, ao se consultar as memórias já experienciadas, um co-
mando motor será gerado com a finalidade de retirar a mão da superfície quente.
Você concorda comigo que até isso acontecer, por mais rápido que seja, a
queimadura já teria ocorrido? Pois bem, o interneurônio, antes mencionado, atua
como um “gerente”, ele realizará a triagem do que deve ou não subir para análise
encefálica. Em uma situação como a exemplificada, essa estrutura enviará uma
informação motora, sem o consentimento neurológico superior, ou seja, a infor-
mação chega em nossa medula espinal e retorna para a nossa mão. Conhecemos
esse evento como arco reflexo.
O nível reflexivo do SNC comanda os reflexos corporais, como os movimen-
tos gastrointestinais, os movimentos de marcha, o controle dos vasos sanguíneos,
16
dentre muitos outros. Pense sempre do seguinte modo: se não deu tempo de ver,

UNICESUMAR
sentir ou ouvir e, ainda assim, algum movimento ocorreu, é reflexo. Por exemplo,
piscamos sem pensar quando há poeira entrando nos olhos; se eu jogo um estojo
em você e, em reposta, você desvia, com velocidade ou tempo de reação, ou, ainda,
você viu o estojo e tomou uma decisão de segurá-lo ou desviar dele, a análise foi
em nível superior e não medular.
Agora está fácil de explicar o nível três: cortical ou cerebral superior, este
processa tudo voluntariamente, como análises de questões de prova; a busca em
nossas memórias diversas e respostas para solucionar os problemas cotidianos
apresentados etc.
Para finalizar os três níveis, falta-nos esclarecer o funcionamento do nível
dois, cerebral inferior ou, se preferir, pode interpretá-lo como nível subcons-
ciente ou primitivo, localizado na base do encéfalo (GUYTON; HALL, 2011).
Uma pergunta rápida: está pensando para respirar nesse momento ou alterar sua
pressão arterial? Não, é claro que não. Essa ação, entretanto, está constantemen-
te acontecendo e pode ser definida como o controle subconsciente que ocorre,
principalmente, ao nível do bulbo e da ponte. O controle do equilíbrio é função
combinada de partes mais antigas do cerebelo com a substância reticular do
bulbo, ponte e mesencéfalo.
Os reflexos de alimentação, tais como a salivação em resposta ao sabor dos
alimentos e o lamber dos lábios, são controlados por centros localizados no bulbo,
ponte, mesencéfalo, amígdala e hipotálamo. Da mesma forma, muitas respostas
emocionais, tais como a raiva, a excitação, as atividades sexuais, a reação à dor
ou ao prazer podem ocorrer em animais sem córtex cerebral (LENT, 2013; MA-
CARDLE; KATCH; KATCH, 2015).
Assim, cada região do sistema nervoso apresenta capacidades de processa-
mento e funções específicas. Diversas funções são originárias do subconsciente,
ou seja, das regiões encefálicas inferiores. Outras são desenvolvidas ou integradas
pela medula espinal, sobretudo, a região cortical, de nível superior que apresen-
tará ampla capacidade de processamento e funcionalidade, permitindo acesso
ao mundo do pensamento.
Caro(a) aluno(a), é bem verdade que, até aqui, apresentamos em grande parte
o SNC e, ainda, precisamos esclarecer aspectos referentes ao SNP, mesmo que
nas entrelinhas dos parágrafos anteriores isso já tenha ocorrido. Diferentemente
do SNC, que é compactado em uma massa tecidual bastante densa e complexa,
o SNP é disperso em nosso organismo, por prolongamentos neuronais denomi-
17
nados de nervos, além de contar com corpos celulares agregados, que fora do
UNIDADE 1

SNC formam os gânglios. Os termos “nervos” e “gânglios” indicam os condutos


de comunicação do SNC com os diversos tecidos e órgãos que compõe o corpo
humano (LENT, 2013).
Posto isso e diante da alta complexidade anatômica de funcionalidade do
sistema nervoso, na aula seguinte, elucidaremos acerca dos aspectos referentes
ao funcionamento do sistema nervoso autônomo.

3
SISTEMA NERVOSO
AUTÔNOMO

Tal como vimos, até aqui, anatomicamente, o sistema nervoso é composto por
SNC e SNP. Funcionalmente, o SNP é subdividido em sistema nervoso somático
e sistema nervoso autônomo (SNA). O sistema nervoso somático é responsável
pela inervação da pele, músculos e articulações; por outro lado, o SNA é respon-
sável pela inervação sensitiva das vísceras, controle motor dos músculos lisos e
glândulas exócrinas.

18
O SNA é parte funcional importante do sistema nervoso, auxiliando no con-

UNICESUMAR
trole da homeostase corporal. Esta tarefa de buscar o equilíbrio constante do
funcionamento corporal ocorre de modo autônomo e independente da nossa
mente consciente, desse modo, raramente percebemos seu funcionamento (PAR-
KER, 2014). O SNA é ativado pela medula espinal, tronco cerebral e hipotálamo.
Também pode operar por reflexos viscerais (subconsciente), além do córtex, que
pode influenciar diretamente em seu controle (GUYTON; HALL, 2017).
O funcionamento do SNA ocorre por meio de respostas involuntárias, po-
dendo acontecer de maneira imediata ou duradoura, e enviar comandos a três
destinos principais: músculos lisos de diversos órgãos e vasos sanguíneos, mús-
culo cardíaco e algumas glândulas (PARKER, 2014). Resumidamente, atua dire-
tamente sobre as funções vitais do corpo humano, com a capacidade de dobrar
a frequência cardíaca em menos de cinco segundos, também pode se elevar a
pressão arterial a níveis alarmantes ou reduzi-la em segundos a ponto de levar o
indivíduo ao desmaio. Também é assim para a sudorese, esvaziamento da bexiga
etc. (GUYTON; HALL, 2017).
Percebeu algo no controle involuntário do SNA? Ele apenas dispara infor-
mação eferente, efetora ou motora e, de acordo com a necessidade corporal, irá
disparar da medula espinal para os tecidos alvos. Para tanto, existe uma nova
subdivisão. Prometo a vocês que essa é bem fácil de se compreender: o SNA é
subdividido em Sistema Nervoso Autônomo Simpático e Sistema Nervoso Au-
tônomo Parassimpático (GUYTON; HALL, 2017; PARKER, 2014).
Essas duas porções do SNA atuam, de maneira antagônica, uma relação de
“puxa-empurra”, conforme se observa nas Figuras 4 e 5, as quais demonstram
o controle simpático e parassimpático, respectivamente. Isso significa que elas
atuam sobre os mesmos tecidos, porém de formas opostas, estimulando ou ini-
bindo a salivação, dificultando ou facilitando o aporte de oxigênio para os pul-
mões, estimulando ou inibindo a atividade gastrointestinal etc. (GORDO, 2014;
DARIO et al., 2016; FERREIRA et al, 2017). Vale ressaltar, aqui, que ambos os
sistemas, sempre, estão atuando; a intensidade, no entanto, da ativação de cada
um deles se modifica (PARKER, 2014; SILVERTHORN, 2017).

19
Descrição da Imagem: observa-se na figura o sistema nervoso autônomo simpático, evidenciando um es-
UNIDADE 1

quema que se inicia no encéfalo e se prolonga até o cóccix, no final da medula espinal. No esquema, são
representados os neurônios pré-ganglionares com linhas contínuas (os nervos emanam da região torácica e
lombar) e os neurônios pós-ganglionares com linhas pontilhadas. Fica evidenciado a distribuição e atividade
dos neurônios pós-ganglionares sob músculos lisos, vasos sanguíneos e glândulas dos seguintes órgãos: olhos,
coração, pulmão, fígado, rins, estômago, intestino delgado, órgãos genitais e outras estruturas fisiológicas são
alvo da parte simpática do sistema nervoso autônomo.

Figura 4 - Sistema Nervoso Autônomo Simpático / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 678).
20
Descrição da Imagem: na figura o sistema nervoso autônomo parassimpático, evidenciando um esquema que

UNICESUMAR
se inicia no encéfalo e se prolonga até o cóccix, no final da medula espinal. No esquema, são representados os
neurônios pré-ganglionares com linhas contínuas (surgem especialmente do encéfalo e da região sacral ao final
da medula espinal) e os neurônios pós-ganglionares com linhas pontilhadas. Fica evidenciado a distribuição e
atividade dos neurônios pós-ganglionares sob músculos lisos e glândulas dos seguintes órgãos: olhos, coração,
pulmão, fígado, rins, estômago, intestino delgado, órgãos genitais e outras estruturas fisiológicas são alvo da
parte parassimpática do sistema nervoso autônomo.

Figura 5 - Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 681).
21
Vamos exemplificar: imagine que você deve realizar a apresentação de um im-
UNIDADE 1

portante trabalho acadêmico e o auditório está lotado, com centenas de pessoas.


O que aconteceria com seu corpo? Se respondeu nervosismo, certamente estará
suando mais que o normal; frequência cardíaca e respiração estariam elevadas
e, possivelmente, as pernas ficariam trêmulas. Pois bem, esse estado corporal de
estresse, que, para muitos, promove o desejo de fugir, ocorre em virtude da maior
atividade da porção simpática, o qual tem a função de preparar nosso organismo
para a sobrevivência, com o instinto de luta ou de fuga.
Mencionamos, anteriormente, que as duas porções do SNA atuam de modos
opostos. Sabendo disso, volte ao exemplo apresentado, que se refere ao momento
de estresse frente a apresentação para todas aquelas pessoas: era necessário rea-
lizar digestão? Seria possível dormir? Impossível, não é mesmo? Com essa breve
explanação, acredito que compreendeu a maneira que o SNA atuará em nosso
organismo e, sobretudo, a atuação da divisão parassimpática, que tem a finalidade
de relaxamento corporal, preparando-nos para o repouso.
Em outras palavras, em momentos de estresse, a porção simpática facili-
tará o aporte de sangue, de nutrientes e de oxigênios para os músculos das pernas,
os quais sustentariam uma rápida corrida para longe desse auditório. Diferen-
temente do momento pós-almoço, em que se reduz a atividade simpática e se
eleva a atuação parassimpática, responsável por favorecer a atividade digestória.
Evidentemente, tudo isso somente é possível devido a reorganização neuronal
promovida por cada uma das porções do SNA.

pensando juntos

Se os comandos neurológicos são os responsáveis por controlar todo o corpo humano e


desencadear a aprendizagem, por qual razão conhecemos tão pouco sobre essa temática?

Caro(a) aluno(a), se ainda não ficou claro essa atividade antagônica entre as duas
divisões do SNA, apresento a você algumas alterações fisiológicas que ocorrem
diante da atuação dos sistemas simpático e parassimpático. Em momentos de
estresse, o SNA Simpático promove aumento da frequência cardíaca, taquipnéia,

22
vasodilatação músculo-esquelética, vasoconstrição visceral, ativação das glân-

UNICESUMAR
dulas sudoríparas, dilatação da pupila (midríase), entre outros. Por outro lado,
quando o SNA Parassimpático é mais atuante, acontece o oposto, a frequência
cardíaca diminui, ocorre bradipneia, fechamento da pupila etc.
Por se tratar de um mecanismo neuronal que estimula, especificamente, os
tecidos corporais para que estes atuem, é fundamental a liberação de neurotrans-
missores, entre neurônios ou tecidos alvos. Desse modo, devemos pensar em ace-
tilcolina, liberado em fibras colinérgicas e, por outro lado, associa norepinefrina
e epinefrina (adrenalina) para as fibras adrenérgicas (GUYTON; HALL, 2017).
Para entendermos melhor, no penúltimo parágrafo da primeira aula desta uni-
dade, apresentamos um exemplo para explicar o que eram gânglios. Volte a esta
ideia: imagine neurônios deixando o SNC e chegando a um gânglio (agregados de
corpos celulares de neurônios localizados fora do sistema nervoso central). Eles são
chamados de neurônios pré-ganglionares. Existem também aqueles neurônios que
deixam os gânglios e se conectam aos tecidos corporais, como o coração, esses são
denominados neurônios pós-ganglionares (SILVERTHORN, 2017; CURI, 2017).
Agora, é possível utilizar os exemplos dessa aula e compará-los a situações de
conhecimentos prévios. A adrenalina, com base em seu conhecimento, excita ou
relaxa? Ela é extremamente excitante e, sobretudo estimulante. Desse modo, ao
secretar adrenalina, nosso organismo espera estresse fisiológico, pelo menos sobre
os tecidos alvos envolvidos. Posto isso, sempre que forem liberadas norepinefrina
ou epinefrina, fazemos referência aos neurônios pós-ganglionares simpáticos. Por
outro lado, neurônios pré-ganglionares parassimpático e simpático, bem como os
pós-ganglionares parassimpáticos, liberam o neurotransmissor acetilcolina. Por
essa razão, são denominados fibras colinérgicas. Vale ressaltar que a acetilcolina,
assim como os neurotransmissores adrenais, também, é excitatória. No entanto,
para as ações mencionadas, em especial para a atividade parassimpática, a ace-
tilcolina apresenta função de redução das atividades do organismo.
Aluno(a), como já deve ter percebido, ao longo desta unidade, os conheci-
mentos acerca do Sistema Nervoso são fascinantes, mas extremamente amplos
e complexos, de tal modo que vale a pena se aprofundar mais sobre a temática.
Certamente, isso o ajudará muito profissionalmente. Para continuar nosso enten-
dimento sobre o funcionamento neurológico, na aula, a seguir, apresentaremos a
você conhecimentos referentes aos potenciais de membrana e potenciais de ação.

23
4
POTENCIAIS DE
UNIDADE 1

MEMBRANA E
potenciais de ação

Caro(a) aluno(a), agora que já possui informação e conhecimento necessário


sobre estruturas neurológicas, faço a você a seguinte pergunta: de qual forma
as informações processadas em nosso sistema nervoso chegam aos seus desti-
nos? Por exemplo, um comando que emana do SNC e perpassa pelo SNP com
destino aos músculos da mão irão gerar contração, possibilitando a realização
da escrita. Por outro lado, se o destino são os músculos da face o resultado pode
ser a fala. Deste modo, as informações são levadas e trazidas dos tecidos alvos,
por meio das células especializadas, denominadas de neurônios ou dos nervos,
que estão fora do SNC.
Nosso corpo possui bilhões de células nervosas que tem a finalidade de pro-
pagar informações elétricas que conduzirão a informação do sistema nervoso aos
tecidos ou dos tecidos para processamento neurológico. Dito isso, reflita comigo:
de qual maneira essa eletricidade é gerada? Para responder esse questionamen-
to, necessitamos resgatar, em nossas memórias, os conhecimentos de química,
histologia e biologia. Observe a Figura 6, a seguir, ela retrata uma célula nervosa.
24
Descrição da Imagem: na figura são visualizados três neurônios, o multipolar, bipolar e unipolar. Em todos

UNICESUMAR
eles são evidenciados o corpo celular, dendritos, zona-gatilho, axônio, bainha de mielina e terminação axônica.
para o neurônio unipolar também são apresentados os prolongamentos periféricos e central.

Figura 6 - Tipos de neurônios / Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 580).

O neurônio ou célula nervosa é alta-


mente especializada, têm propriedades
únicas e funções totalmente específicas.
Sobretudo, um neurônio apresenta um
corpo celular contendo o núcleo, pro- REALIDADE
longamentos de axônios e múltiplos AUMENTADA
dendritos que emergem do corpo celu-
lar. São evidenciados os espaços intra-
celular e extracelular, os quais contém
uma determinada concentração de so-
lutos, como íons de potássio (K+), com
maior concentração dentro da célula;
íons de sódio (NA+), altamente con-
centrados fora da célula; aminoácidos;
cloro; dentre muitos outros compostos.
Posto isso, é importante memorizar
que, internamente, a célula é predomi-
nantemente negativa, com aproxima-
damente -90 milivolts (mV) de tensão.
25
Todavia como isso é possível, uma vez que os íons de K+, presentes em grande
UNIDADE 1

parte no meio intracelular, são carregados positivamente? Isso mesmo, não há


apenas K+ no meio intracelular, existem outros componentes dentro da célula,
em especial, grande quantidade de ânions que são carregados negativamente.
Agora, responda: para que serve uma membrana celular? Serve para separar,
proteger uma célula ou estrutura celular. E como as substâncias atravessam essa
barreira? Dependerá do tipo de transporte, que se apresenta na Figura 7 a seguir.
Existe o transporte passivo (sem gasto de energia) e o transporte ativo (com gasto de
energia). O primeiro é subdividido em três: difusão simples, difusão facilitada por
proteínas de canal e difusão facilitada mediada por proteínas transportadoras ou
carreadoras. O transporte ativo, por sua vez, ocorre mediado somente por proteínas
transportadoras ou carreadoras (GUYTON; HALL, 2006; GUYTON; HALL, 2011).

Figura 7 - Vias de transporte através da membrana celular / Fonte: Guyton e Hall (2017, p. 46).

A bicamada de lipídios que compõe essa barreira denominada de membrana


celular, observável na Figura 8 a seguir, permite que gases como oxigênio e dió-
xido de carbono atravessem como “fantasmas”, como se não existissem barreiras
para permitir que ocorra a difusão simples. Por outro lado, a difusão facilitada,
mediada por proteínas de canal, funciona como uma espécie de porta ou de túnel
invaginados na membrana. Esses facilitadores são seletivos, específicos e levam
em consideração o diâmetro, as cargas elétricas, o peso molecular etc. Assim,
as proteínas de canal podem levar o sódio para o meio intracelular e retirar o
potássio, desde que existam condições favoráveis para isso. Esse evento, ainda, é
classificado como transporte passivo, pois o NA+ deseja entrar, e a célula necessita
e permite sua entrada. É algo semelhante à quando você deseja realizar algo e
todas as condições além de favoráveis permitem realizá-lo.
26
Descrição da Imagem: a imagem retrata a membrana celular, evidenciando a bicamada lipídica, estrutura que

UNICESUMAR
separa o meio intracelular e extracelular. São observadas proteínas e carboidratos invaginados na membrana.

Figura 8 - Estrutura da membrana celular, evidenciando principalmente a bicamada lipídica


/ Fonte: Guyton e Hall (2017, p. 14).

A proteína carreadora ou transportadora atua tanto no transporte passivo como


no ativo. Agora, imagine que a célula deseja alguma substância que está do lado de
fora: essa substância deseja entrar, porém não é possível sem um empurrãozinho.
Está aí a definição de transporte passivo mediado por uma proteína de transpor-
te. A associação a uma porta giratória de um banco costuma funcionar, já que
mesmo que você pare, ela continuará girando e lhe empurrará para dentro da
agência bancária. Por fim, o transporte ativo, com gasto de energia, ocorre quando
se deseja retirar uma substância que gostaria de permanecer em um dos lados da
membrana. Observe o NA+, que deseja ficar para sempre no meio intracelular,
um ambiente bem mais agradável que do lado de fora. No entanto esse íon em
excesso pode prejudicar a atividade celular e, portanto, a célula tentará retirá-lo
contra sua vontade, por isso, existe gasto energético.
Para facilitar seu entendimento, considere uma sala de aula, em que eu, o
professor, pegarei você pelo braço e tentarei arrastá-lo para fora da sala, mas você
quer e tem o direito de ficar. Provavelmente, você me faria suar muito, ou seja, me
27
faria gastar energia. O transporte ativo primário mais famoso é a bomba de sódio/
UNIDADE 1

potássio, em que a célula retira três íons de NA+ e devolve dois íons de K+ para o
meio intracelular. Existe, ainda, o transporte ativo secundário e suas subdivisões
de co-transporte e contra-transporte.
Caríssimos(as), após essas informações prévias, podemos explorar a geração
de um potencial elétrico. Quando um neurônio se encontra em repouso, ou seja,
com seu potencial de membrana em -90mV, com elevadas concentrações de K+
dentro da célula e maior concentração de NA+ fora da célula, denomina-se a célula
de polarizada, pronta para ser estimulada a processar ou enviar algum comando.
Assim, como mencionamos nos parágrafos anteriores, os íons de NA+ em alta
concentração, no meio extracelular, buscarão a entrada para o meio intracelular,
carregando com eles cargas positivas. Considerando que a célula, em seu estado
de repouso normal, é predominante negativa, como ficaria essa relação? Com a
entrada do NA+ a célula ficará momentaneamente positiva. À medida que estes
íons atravessam a membrana e a negatividade intracelular começa a ser perdida,
levando a célula a aproximadamente -70mV de tensão, um limiar para a abertura
de diversos canais de voltagem dependentes de sódio se abrem, permitindo gran-
de entrada desse soluto, ao ocasionar uma elevação da polaridade da membrana
para aproximadamente +35mV. Este momento é denominado de despolarização
da membrana ou, em outras palavras, estímulo, comando ou eletricidade.
Ao considerar que esse potencial positivo prejudicaria a atividade celular, à
medida que os canais de sódio começam a se fechar pela própria positividade
que está sendo gerada, canais de voltagem dependentes de potássio se abrem,
permitindo evasão dos íons de K+ para o exterior da célula. Como esses íons
carregam cargas positivas, internamente a célula voltará a ficar negativa, evento
denominado como repolarização. No entanto a condutância (velocidade de con-
dução do íon pelo canal) dos canais de NA+ é maior quando comparada ao K+
e, desse modo, os canais de potássio são mais lentos para abrir e, também, para
fechar. Por essa razão, a célula fica hipernegativa, por volta de -105mV, período
conhecido como hiperpolarização da célula.
Agora, reflita um pouco: se o NA+ entrou e o K+ saiu, esses íons estão inver-
tidos. Então, como eles retornarão aos seus devidos locais de permanência? Por
meio do transporte ativo primário, via bomba de sódio/potássio, que será res-
ponsável por reorganizar esses solutos e devolver a célula o equilíbrio necessário.

28
5

UNICESUMAR
SINAPSE

Caro(a) aluno(a), antes de discutirmos os aspectos sinápticos envolvidos na trans-


missão neuronal, inicio essa aula de uma maneira diferente: peço que observe a
Figura 9, a seguir, que representa o término de um neurônio e o início de outro.

Descrição da Imagem: são apresentados na imagem o axônio do neurônio pré-sináptico e o dendrito do


neurônio pós-sináptico. É ilustrada a direção do impulso nervoso, a fenda sináptica, os canais voltagem-de-
pendente de Ca2+, os neurotransmissores e receptores envolvidos na sinapse química.

Figura 9 - Mecanismo sináptico


29
De acordo com o que foi apresentado, anteriormente, sobre a geração de um
UNIDADE 1

potencial de ação e observando a Figura 9, fica evidente que as células nervosas


apresentam características diferentes, como seus tamanhos e formatos. Contu-
do os dendritos neuronais não se tocam, assim, a conexão entre dois ou mais
neurônios apresenta um espaço. Posto isso, faço a seguinte pergunta a você: se as
informações neuronais são levadas por eletricidade por meio desses neurônios
e essas células nervosas não se encostam umas nas outras, como a transmissão
ocorre de um neurônio para o outro? Por meio da sinapse, que corresponde ao
local em que dois neurônios ou um neurônio e uma célula efetora se comunicam
(TORTORA; DERRICKSON, 2016).
O processo de conexão sináptica ocorre o tempo todo, em nosso organis-
mo, em quantidades que variam ao longo do dia ou das atividades realizadas.
Sobretudo, as sinapses são fundamentais para que qualquer atividade corporal
aconteça, visto que é a maneira pela qual se leva informações ao SNC ou do SNC
aos tecidos alvos. Também, podemos representar sinapses como conhecimento,
aprendizagem ou formação de memórias, itens que serão discutidos nas próximas
unidades (LENT, 2013; RELVAS, 2015).

explorando Ideias

No mundo animal, existem dois tipos de sinapses: químicas e elétricas. As sinapses quí-
micas dependem de uma substância neurotransmissora que atua sobre receptores loca-
lizados na membrana do neurônio seguinte. Existem mais de 40 substâncias conhecidas
e essa troca de informação ocorre em sentido unidirecional. Por outro lado, as sinapses
elétricas são caracterizadas por canais diretos que conduzem eletricidade de uma célula
para outra, sem a necessidade dos neurotransmissores e seus respectivos receptores,
desse modo, é possível transmitir informações nos dois sentidos da célula.
Fonte: Guyton e Hall (2017, p. 575).

Caro aluno(a), como tudo que se remete à neurofisiologia depende de bases mais
técnicas, essa comunicação neuronal pode ocorrer entre dois neurônios, ou mi-
lhares deles, simultaneamente. Gostaria que, ao pensar em sinapse, fizesse a se-
guinte relação: sinapse é o ato de comunicar, fofocar, passar adiante, assim como
é feito em uma simples brincadeira infantil, o “telefone sem fio”.

30
Observe a Figura 10 apresentada na sequência. Existem, na imagem, dois

UNICESUMAR
neurônios. O final do primeiro neurônio é denominado como botão pré-sináp-
tico e o início do segundo neurônio como pós-sináptico. No botão pré-sinápti-
co, existem pequenas bolsas, chamadas de vesículas sinápticas, que armazenam
neurotransmissores, estruturas de comunicação, ou seja, os transmissores de in-
formação. No botão pós-sináptico, existem receptores que receberão os neuro-
transmissores. Por fim, no meio intracelular existem muitos íons de K+ e no meio
extracelular existem NA+ e cálcio (Ca²+) (BARRETT et al., 2014).

Descrição da Imagem: a imagem retrata uma ilustração da sinapse química, a qual inicia no neurônio pré-
-sináptico em direção à terminação nervosa. No botão terminal sináptico, são visualizados os íons de Ca²+
atravessando seus respectivos canais voltagem dependentes. Visualiza-se, ainda, as vesículas sinápticas con-
tendo neurotransmissores. Após a fenda sináptica, é observado o neurônio pós-sináptico com seus receptores
recebendo os neurotransmissores que regulam a propagação do impulso nervoso.

Figura 10 - Sinapse / Fonte: Tortora e Nielsen, 2019, p. 577.

31
Após a geração de um impulso nervoso (potencial de ação), uma descarga elétrica irá
UNIDADE 1

percorrer o axônio até chegar à terminação da célula nervosa (botão pré-sináptico).


Isso pode ocorrer de neurônio para neurônio ou de uma célula nervosa para um
tecido corporal, como um músculo, por exemplo. Conforme a eletricidade percorre
a fibra nervosa e se aproxima de seu final, os canais voltagem dependentes de Ca2+
se abrem no final do neurônio, assim o Ca2+ disponível fora da célula entra no botão
pré-sináptico. Esse evento permite que as vesículas sinápticas se desloquem em dire-
ção à membrana neuronal até que se liguem a ela, por meio de um evento chamado
de exocitose. Após essas vesículas sinápticas fundirem-se à membrana neuronal, os
neurotransmissores serão liberados na fenda sináptica (meio extracelular entre os
dois neurônios), conforme indicam os autores Guyton e Hall (2017).
Com os neurotransmissores disponíveis entre as células nervosas ou com
os tecidos alvo, a sequência do mecanismo sináptico depende da ligação desses
neurotransmissores com os receptores presentes no botão pós-sináptico. Vale
ressaltar que as substâncias neurotransmissoras podem ser excitatórias, que es-
timulam a comunicação, ou inibitórios, as quais bloqueiam a passagem da infor-
mação. Caríssimo(a), para essa apresentação, utiliza-se o mecanismo de sinapses
excitatórias. Com essa ligação neurotransmissor-receptor, mediada por uma ação
enzimática, ocorrerá a abertura dos canais voltagem dependentes de NA+ (pre-
sente no meio extracelular). Desse modo, a rápida difusão do NA+ para o interior
do próximo neurônio irá despolarizar a célula nervosa, levando a informação
adiante. Para concluir o mecanismo sináptico, os neurotransmissores utilizados
devem ser recaptados pelo botão pré-sináptico para ressintetizá-los para um
próximo comando (GUYTON, HALL, 2011; BARRETT et al., 2014).

32
Caro(a) aluno(a), para facilitar seu entendimento e construir conhecimento

UNICESUMAR
de modo mais eficiente, deixo a você um resumo desse mecanismo sináptico:
a) Chega o potencial de ação.
b) Abertura dos canais voltagem dependentes de cálcio.
c) Ativação das vesículas secretórias que contêm neurotransmissores em
direção à membrana pré-sináptica.
d) Exocitose, liberação do neurotransmissor no espaço sináptico.
e) Neurotransmissor se liga com as proteínas situadas no botão pós-sináptico.
f) Uma enzima irá catalisar a reação (quebra do neurotransmissor).
g) Abrem-se os canais de NA+.
h) Início de um novo potencial de ação.
i) Neurotransmissores voltam para o botão pré-sináptico para serem
reaproveitados.

explorando Ideias

Várias doenças antes consideradas como psiquiátricas, que afastavam as pessoas do


convívio social, hoje, estão associadas como doenças orgânicas neurológicas, como es-
quizofrenia, transtorno obsessivo-compulsivo, depressão, psicose, autismo, doença de
Parkinson, da mesma forma que diversas dificuldades de aprendizagens. Hoje, é possível
identificar alterações orgânicas em receptores de neurotransmissores ou mesmo na bai-
xa ou excessiva produção dos neurotransmissores.
Fonte: Relvas (2015, p. 63).

33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 1

Nesta unidade, compreendemos inúmeras informações sobre a organização do


sistema nervoso central e suas subdivisões que elucidam os mecanismos de co-
municação neuronal para controlar as ações de diversos tecidos corporais. Fica
evidenciado que a abordagem neurológica para processar harmonicamente o
funcionamento do corpo humano perpassa pela atividade direta do sistema ner-
voso central, periférico e autônomo.
Foi observado que cada subdivisão do sistema nervoso contempla um de-
terminado tipo de comando e controle. Desse modo, elucidou-se que o sistema
nervoso central, em sua porção superior ou cortical, além de armazenar milhares
de memórias, atua no processamento e controle voluntário das mais diferentes
tomadas de decisão. Por outro lado, a porção subcortical do sistema nervoso cen-
tral atua no controle das respostas do subconsciente e, por fim, a porção medular
contempla as respostas reflexas.
O sistema nervoso periférico é responsável por distribuir as informações
advindas do sistema nervoso central, por meio de diversos tipos de nervos. O
sistema nervoso autônomo, contudo, é uma porção do sistema nervoso central
que atua de forma independente, controlando atividades estressoras ou relaxantes
de praticamente todos os órgãos corporais.
Aprendemos que toda a comunicação de informações depende, diretamente,
da atividade neuronal equilibrada, considerando os mecanismos de transporte,
por meio da membrana, no qual substâncias são transportadas passiva ou ativa-
mente. Elucidou-se a movimentação pela membrana celular dos diversos íons
envolvidos na geração e propagação de um estímulo elétrico, responsável por
distribuir as informações a todas as regiões corporais. Entendemos que as sinap-
ses são um importante mecanismo de troca de informações entre os neurônios
ou tecidos corporais, assim como um mecanismo importante na identificação e
intervenção com diversas dificuldades de aprendizagens.
Por fim, espero que seu futuro seja brilhante, desejo que aproveite e compar-
tilhe cada novo conhecimento adquirido.

34
na prática

1. O sistema nervoso central apresenta uma vasta possibilidade de processamento de


informações. Para tanto, recebe estímulos de todas as estruturas corporais, bem como
envia comandos para cada porção corpórea existente. Sobre essa temática, julgue as
afirmativas a seguir:

I - Os estímulos captados por receptores sensoriais são enviados ao sistema nervoso


central de maneira eferente, com a finalidade de realizar trabalho.
II - O sistema nervoso central é composto por encéfalo e medula espinal. O encéfalo
se divide em diversas outras estruturas, já a medula espinal dará início ao sistema
nervoso periférico.
III - O sistema nervoso central apresenta três níveis importantes, sendo eles: cortical,
subcortical e medular.
IV - O processamento do sistema nervoso central ocorre de maneira individualizada, com
pouca relação com o sistema nervoso periférico e autônomo.

É correto o que se afirma em:

a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e IV.
d) II e III.
e) II, III e IV.

35
na prática

2. O sistema nervoso controla a atividade muscular, os eventos viscerais e a velocidade de


secreção de algumas glândulas endócrinas. Já o sistema endócrino controla as funções
metabólicas do corpo humano e, juntos, esses sistemas regulam a maior parte das fun-
ções corporais. O sistema nervoso humano tem características específicas, adquiridas em
cada estágio do desenvolvimento evolutivo, o que possibilita receber informações sen-
soriais (aferentes) e enviar informações para tecidos ou órgãos alvos (eferentes). Desse
modo, é possível provocar reações imediatas, ou formar memórias a serem guardadas
no cérebro por minutos, semanas ou anos, podendo ajudar a determinar as reações
corporais em data futura. Sobre o sistema nervoso central, assinale a alternativa correta.

a) Atividades subconscientes, como a salivação, em resposta ao sabor dos alimentos e


o lamber dos lábios, são processadas em nível medular.
b) O armazenamento de informações, funções precisas e definidas são processados em
nível cerebral superior ou cortical.
c) Movimentos de marcha, reflexos musculares e controle de vasos sanguíneos locais
são processados em nível cerebral inferior ou subcortical.
d) O nível cerebral superior ou cortical é composto por medula, mesencéfalo, ponte e bulbo.
e) O nível medular é responsável pelos reflexos caracterizados por uma análise bem
elaborada, após a observação. A partir dessa situação, é visto que este nível é capaz
de processar uma informação a nível cerebral inferior ou subcortical.

3. Os sinais eferentes do Sistema Nervoso Autônomo são transmitidos pelo Sistema Nervo-
so Simpático (SNS) e Sistema Nervoso Parassimpático (SNP). Em relação à atuação desses
dois sistemas em nosso organismo, assinale a alternativa correta.

a) O SNP é um sistema que prepara e promove ativação e estresse em nosso organismo,


preparando-o para a “luta ou para a fuga”.
b) O SNS é um sistema que prepara e promove relaxamento em nosso organismo,
preparando-o para o sono ou digestão.
c) Os dois sistemas (SNS e SNP) trabalham de maneira individualizada, em que, sempre
que um está atuando, o outro é desligado para não interferir nos ajustes necessários
no organismo.
d) O SNS provoca ativação das glândulas sudoríparas e vasodilatação músculo esquelé-
tico. Por outro lado, o SNP provoca bradipneia e diminuição da frequência cardíaca.
e) A atuação do Sistema Nervoso Autônomo é dependente da ativação neural voluntária.

36
na prática

4. A geração de um potencial de ação ocorrerá somente com uma mudança no potencial de


membrana. A partir disso, iniciando um ciclo vicioso ao longo de toda a fibra nervosa, em
geral, é necessária a elevação abrupta da ordem de 15 a 30 mV. Por conseguinte, o aumento
súbito do potencial de membrana, em fibra calibrosa, de -90 mV até cerca de -70 mV será
capaz, na maioria das vezes, de deflagrar o desenvolvimento explosivo do potencial de ação.
Em relação ao Potencial de Membrana e Potencial de Ação, assinale a alternativa correta.

a) O Potássio, em grande quantidade no interior da célula, é o único responsável pela


negatividade intracelular.
b) A fase de repolarização ocorre devido à difusão do potássio para o exterior da célula.
c) A reorganização dos íons depende da bomba de Sódio-Potássio, pois é por meio
desse componente que o sódio será transportado para dentro da célula e o potássio
para fora.
d) Potencial de ação é causado pela difusão do íon cálcio para o interior da célula nervosa.
e) Na fase de repouso, diz-se que a membrana está “hiperpolarizada”, a qual pode ser
hiperpolarização refratária absoluta ou relativa.

5. Os tecidos alvo são inervados por diversas terminações nervosas, que se originam de
neurônios. Para que a informação seja repassada adiante, faz-se necessário um mecanis-
mo para transmissão de impulsos elétricos, um processo denominado sinapse química.
Em relação ao processo sináptico, assinale a alternativa correta.

a) Os neurotransmissores têm a função de se conectar ao íon de NA+ (sódio), o que


promoverá o início de um novo potencial de ação.
b) Durante o processo de comunicação neural, os neurotransmissores que estão ar-
mazenados em vesículas sinápticas serão liberados na fenda sináptica (espaço ex-
tracelular) por exocitose, evento que ocorre após a entrada de íon de Ca2+ (cálcio) no
interior do botão pré-sináptico.
c) A enzima acetilcolinesterase tem a função de transmitir informações de um neurônio
a outro, auxiliados pelo funcionamento da bomba de NA+/K+ (sódio/potássio).
d) Os receptores localizados no botão pós-sináptico são específicos e têm a função
de se prender às vesículas sinápticas, promovendo a abertura de canais voltagem
dependentes de NA+.
e) A sinapse ocorre por condução saltatória, na qual o estímulo neural é transmitido de
um neurônio a outro por saltos que ocorrem nos nodos de Ranvier.

37
na prática

6. Para que potenciais de ação sejam transmitidos de um neurônio para outro neurônio, ou
de neurônios para tecidos alvos, são necessárias sinapses, as quais possibilitam a conti-
nuidade da transmissão das informações neurais. Em relação ao mecanismo sináptico,
analise as afirmativas a seguir.

I - Em uma sinapse química, faz-se necessário a liberação de neurotransmissores,


os quais podem ser excitatórios (estimulam a transferência de informações) e
os inibitórios, que bloqueiam a transmissão de informações.
II - Em uma sinapse, muitos componentes em um circuito harmonioso são neces-
sários, sobretudo a participação de íons de sódio, potássio e cálcio.
III - Uma sinapse ocorre por meio de um “salto” da eletricidade, que ocorre de um
dendrito neuronal para outro.
IV - Um evento sináptico eficiente depende unicamente das atividades da bomba
de sódio e potássio, da bomba de cálcio e, em especial, da polaridade da
membrana celular.

É correto o que se afirma em

a) I e II.
b) I, II e III.
c) I e IV.
d) II e III.
e) II, III e IV.

38
aprimore-se

EFEITO ZIKA: MAIS DO QUE APENAS MICROCEFALIA

Assim como o vírus da febre amarela, dengue e febre do Nilo Ocidental, o vírus Zika é um flavi-
vírus transmitido por artrópodes e, principalmente, pela picada do mosquito Aedes. Esse vírus
que pode ser encontrado em secreções corporais, também pode ser transmitido via placentá-
ria, por via sexual ou por hemotransfusão.
Indivíduos infectados podem apresentar febre, artralgia, exantema, cefaléia e/ou mialgia,
mas a maioria das infecções é assintomática. Além das anomalias congênitas, a infecção pelo
vírus Zika está associada à síndrome de Guillain-Barré.
Já existe, no Brasil, casos confirmados, que além de apresentar a microcefalia, bebês infecta-
dos podem apresentar outras alterações neurológicas. Deste modo, é fundamental a realização
de exame de imagem na 18ª semana de gestação em caso de suspeita de infecção por Zika.
Um estudo realizado com gestantes encaminhadas ao Serviço de Medicina Fetal do Instituto
Paraibano de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto no Brasil, entre outubro de 2015 e feve-
reiro de 2016, constatou comprometimento neurológico em todos os casos de microcefalia, com
padrão comum de atrofia cerebral e modificações associadas a distúrbios da migração neuronal.
De acordo com o Dr. Amilcar Tanuri, o Zika induz leões muito específicas, com diferenças na
gravidade do quadro, o qual pode ser determinado pelo local de replicação do vírus. Quando
atinge estruturas importantes, como tronco cerebral ou cerebelo, as consequências são maio-
res do que se o vírus se replicar no córtex, podendo levar à morte. Ainda, não está claro os
fatores que determinam o local de replicação do vírus.
A pesquisa indica que “o que parece ser universal é o fato da microcefalia não ser um achado
isolado, mas sim consequência de várias lesões cerebrais”, escrevem os autores. “Restrição de
crescimento e outros comprometimentos, como alterações oftalmológicas, foram observadas
nos recém-nascidos. De fato, constatamos a existência de ventriculomegalia acentuada poden-
do repercutir para a microcefalia observada na maioria dos pacientes”.
O Dr. Amilcar Tanuri salienta a importância da ultrassonografia no terceiro trimestre da
gestação “para notificar, isolar ou identificar os bebês/fetos (infectados)”.

Fonte: texto adaptado de Anderson (2016, on-line).

39
eu recomendo!

livro

Neurociências e Transtornos de Aprendizagem: as múltiplas


eficiências para uma educação inclusiva
Autora: Marta Pires Relvas
Editora: Wak
Sinopse: livro ideal para profissionais da educação, pais e todos
os responsáveis pelo processo de educar pessoas, conhecendo
exatamente as dimensões que o humano possui na teia com-
plexa da vida, que é o aprendizado. Qual o motivo que determinadas pessoas
aprendem e outras não? Muitos fatores foram estudados, várias estratégias me-
todológicas foram aplicadas, porém uma inesgotável, sem dúvida nenhuma, é a
biologia do afeto para acolher o humano que tem expectativas e curiosidades do
que virá a aprender. É um livro para todos, com linguagem fácil, mostrando como
a Neurociência pode ser aplicada em sala de aula, pelo funcionamento dos estí-
mulos cerebrais, despertando inteligências com a biologia do afeto e amor, crian-
do vínculos e conquistas solidárias em nosso cotidiano, por meio da observação,
interação e acolhida a todos que aprendem.

conecte-se

O Cérebro Humano - Neste vídeo, são discutidos de modo específico


e interativo a evolução e o funcionamento do sistema nervoso. Neste
documentário, são apresentados inúmeros aspectos sobre o funcio-
namento neurológico, no qual as discussões favorecem para a maior
compreensão sobre as especificidades do encéfalo humano.

40
eu recomendo!

filme

Uma mente brilhante


Ano: 2001
Sinopse: John Nash (Russell Crowe) é um gênio da matemática
que, aos 21 anos, formulou um teorema que provou sua geniali-
dade, casou-se cedo e trabalhou para o governo dos Estados Uni-
dos. Mas aos poucos Nash passa a ser atormentado por delírios e
alucinações, chegando a ser diagnosticado como esquizofrênico.
Porém, após anos de luta para se recuperar, ele consegue retor-
nar à sociedade e acaba sendo premiado com o Nobel.

conecte-se

Funcionamento do sistema nervoso - Neste vídeo, é apresentado em


uma animação em 3D o funcionamento do sistema nervoso, apresen-
tando os neurônios, impulsos nervosos e sinapses que ocorrem nos
seres humanos.

41
2
BASES
NEUROLÓGICAS
e aprendizagem

PROFESSOR
Dr. Weslei Jacob

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Evolução do estudo do cérebro •
Introdução à teoria neuronal • Neurônios em rede • Neuroplasticidade cerebral • Desenvolvimento da
mente e do comportamento.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Apresentar a origem e a evolução dos estudos relacionados à atividade cerebral. • Elucidar os conceitos
sobre teoria neuronal • Proporcionar ao aluno o entendimento e a contextualização do funcionamento
neurológico na aprendizagem em rede • Aprender sobre o remodelamento neuronal e sua relação com
a aprendizagem • Relacionar as tomadas de decisão e a qualidade das ações com o amadurecimento
neurológico.
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), o cérebro é alvo de estudos, desde o século IV d.C. e, por se tratar de
um momento histórico, em que a igreja era protagonista em praticamente tudo, áreas
neurológicas “vazias” eram consideradas a morada da alma. Essa ideia estendeu-se
por diversos séculos, fortalecendo a crença de que, em pontos do cérebro, a alma
humana era armazenada. Mais tarde, com o avanço dos estudos neurológicos e da
tecnologia, o mapeamento das operações mentais descartou a existência da alma em
qualquer local do sistema nervoso.

Desde o século XIX, os estudos sobre o comando de informações neurais se desta-


cam e desvendam os mistérios da mente. Desse modo, identificou-se a capacidade
de células nervosas dispararem eletricidade para as mais diferentes áreas corporais,
dando início a teoria neuronal e, consequentemente, ao conhecimento das sinapses.

As discussões, nesse momento, elucidam a capacidade de adaptação neuronal, que


aponta para a estreita relação do funcionamento físico-químico do cérebro e os es-
tímulos a ele oferecidos, o qual pode promover aprendizado e ajustes para suprir as
necessidades corporais. Tal modelamento ficou conhecido como neuroplasticidade.
Os ajustes relacionados ao funcionamento neurológico são favorecidos em virtude
de uma rede de processamento específico, formada pelos neurônios, na qual áreas
encefálicas são responsáveis por armazenar e interpretar conhecimentos específicos
e diretamente relacionados.

Ao navegarmos pelos conhecimentos do sistema nervoso, muitas dúvidas são escla-


recidas. Você já se perguntou por qual razão uma criança recém-nascida, toda flácida,
indefesa e dependente, em pouco tempo, corre; fala e resolve diversas situações pro-
blemas, como: o que você mais gosta de fazer? Qual profissão escolheu? A resposta
para todos esses questionamentos está no funcionamento neurológico que permite
ao cérebro aprender; motivar-se e se modificar. Sobretudo, quanto mais conhecemos
esse magnífico campo da neurociência, mais compreendemos os processos de ama-
durecimento neuronal que influenciará, diretamente, na evolução humana.
1
EVOLUÇÃO DO
UNIDADE 2

ESTUDO
do cérebro

Caro(a) aluno(a), ao refletirmos sobre neurociência, o que essa temática nos su-
gere? Se fragmentarmos a palavra em neuro + ciência, temos como resultado, o
estudo do cérebro. Se ampliarmos essa definição, a neurociência é um conjunto
de disciplinas que estudam o funcionamento do sistema nervoso. Diversas são
as teorias sobre o início dos estudos a respeito das funções mentais no cérebro
humano. Acredita-se que uma das mais antigas seja do século IV d.C., com ideias
defendidas por influência do clero (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). Ago-
ra, reflita comigo: de acordo com os conhecimentos adquiridos, ao longo da sua
vida, independentemente das suas crenças religiosas, foi lhe ensinado que nós,
seres humanos, viemos para esse mundo para pregar o bem. Desse modo, se assim
o fizermos, nossa alma transcenderá e iremos para o céu.

pensando juntos

Se a relação corpo e alma é presente até os dias atuais para a maioria das pessoas, em
qual local está localizada a alma no corpo humano?

44
Posto isso, volte ao início do parágrafo anterior: se o clero auxiliou nas definições so-

UNICESUMAR
bre o estudo do cérebro, admitia-se, naquela época, que dentre as três áreas cerebrais
conhecidas, uma delas era a morada da alma. Fica evidente que essa doutrina de três
ventrículos cerebrais (anterior, mediano e posterior) se prolongou ao longo dos sécu-
los, descrita e defendida por diversos autores, como Leonardo da Vinci, St. Agostinho
e Thomas Willis, que propuseram esquemas sobre as funções mentais (LENT, 2013).
Com a evolução de diversos conhecimentos sobre anatomia e fisiologia do
cérebro humano e com a descoberta do córtex, que originava a cognição humana,
ocorreu a ruptura com a doutrina ventricular que já durava mais de mil anos.
Ocasionou-se, então, o nascimento da neurociência, a partir das ideias de Franz
Gall, no século XIX (KANDEL, 2014; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
Gall acreditava que o cérebro produzia comportamentos, pensamentos e
emoções em áreas/órgãos com funções bem definidas, postulando, em 1810, as
27 faculdades “afetivas e intelectuais”, as quais, mais tarde, seriam ampliadas para
35, por seu discípulo Johann Spurzheim, essas são retratadas na Figura 1 a seguir.
Essa divisão do cérebro foi considerada absurda para a época, além de afrontar a
unidade referente à morada da alma, exigida pela igreja (LENT, 2013).

Figura 1 - Localização das faculdades afetivas e intelectuais, segundo Spurzheim


Fonte: Lent, (2018, p. 8). 45
A segunda metade do século XIX revolucionou os estudos neurológicos com
UNIDADE 2

a descoberta da especificidade de processamento e localidade da linguagem


humana, no córtex cerebral, denominada área de Broca. Igualmente, áreas
definitivas e com localização específica para a visão, funções sensoriais e
motoras rapidamente foram definidas.
Caro(a) aluno(a), após esse breve his-
tórico, avançamos um pouco mais. Mui-
tos estudos e pesquisas relacionadas ao
funcionamento neurológico surgiram,
durante os séculos XIX e XX. Um marco
importante é o famoso caso do trabalha-
dor ferroviário “Phineas Gage”, que, aos 25
anos de idade, no ano de 1848, nos Estados
Unidos (EUA), foi exposto a uma explosão
mal calculada, essa fez com que uma barra
de ferro de 1 metro de comprimento, 3 cm
de diâmetro e 6 kg, atravessasse o crânio
do operário, gerando uma enorme lesão
no cérebro e perda de um dos olhos, a Fi-
gura 2 apresenta o retrato de Gage, segu-
rando o ferro que o machucou.
Com o acometimento da lesão e,
certamente, pela falta de um tratamento
médico satisfatório, pesquisas e de me-
dicamentos que surtissem efeito, Gage,
superando todas as expectativas, sobre-
viveu e, após dois meses, estava com seu
tratamento concluído. O mais impressio-
nante é que mesmo sem todos os recur-
Figura 2 - Retrato do sobrevivente de le-
sos médicos atuais, ele não demonstrava
são cerebral Phineas P. Gage (1823-1860), nenhum prejuízo em relação aos seus
segurando o ferro que o machucou / Fon-
te: Wikimedia Commons (2014, on-line). sentidos. Podia ouvir, falar, sentar, movi-
mentar-se e utilizar o olho restante para a
visão sem nenhuma restrição. No entanto os familiares e amigos que conheciam
e conviviam com o trabalhador relataram que “Gage já́ não era mais Gage”: antes
uma pessoa persistente, ciente, responsável e capaz, passou a ser, após a lesão, in-
46
UNICESUMAR
capaz de realizar suas funções, estava mais irresponsável, irreverente, caprichoso,
obsceno e socialmente inadequado. Pesquisadores passaram a utilizar esse caso
como fonte ou inspiração para novas pesquisas e, com os recursos tecnológicos,
foi possível compreender que o córtex pré-frontal é fundamental para o proces-
samento emocional e para as tomadas de decisão.
Outro caso similar ocorreu com um brasileiro, que também sofreu uma lesão
que atingiu a área frontal do cérebro, quando um vergalhão atravessou seu crâ-
nio em 2012. Naquela época, acreditava-se que o brasileiro, após perder 11% da
massa encefálica, ficaria mais desinibido, bem-humorado, mas teria dificuldade
em planejar o futuro, além de possíveis mudanças comportamentais e difícil rela-
cionamento com familiares e amigos. No entanto o sujeito não apresenta nenhum
tipo de sequela ou alteração de sua personalidade ou do comportamento, segue
com a vida normalmente.
Com tantas incertezas sobre as funções neurológicas, muitas autoridades
buscaram entender casos intrigantes, como os relatados expostos anteriormente.
Agora, reflita comigo: esses casos históricos contavam com todos os recursos e
tecnologias que temos atualmente? É evidente que não. Por isso, a década de 90
foi conhecida como a década do cérebro, em que muito aporte financeiro foi
concedido, nos Estados Unidos, para a construção de laboratórios e investimentos
em equipamentos tecnológicos, com o intuito de se estudar o funcionamento
neurológico. Da mesma forma, países europeus seguiram com a mesma proposta.
No Brasil, aconteceu igualmente e, pouco a pouco, mistérios foram e estão sendo
desvendados sobre essa magnífica estrutura corporal.
47
2
INTRODUÇÃO À
UNIDADE 2

TEORIA NEURONAL

Aluno(a), mesmo com a contínua exploração das funções neurológicas ao longo


dos séculos, muitas rupturas só foram possíveis devido aos avanços tecnológicos.
Acreditava-se que o sistema nervoso mantinha sua comunicação em rede con-
tínua com os tecidos corporais e, inicialmente, imaginava-se que os comandos
eram levados por meio de fluídos. Logo depois, adotou-se a possibilidade de
condução elétrica para transportar informações.
As discussões acerca do córtex cerebral ganharam notoriedade após 1880,
motivadas pelos estudos anatômicos propostos pelo espanhol Santiago Ramón
y Cajal (1852-1934), médico e histologista, ganhador do prêmio Nobel de 1906
(FERREIRA, 2013), cujo retrato é apresentado na Figura 3. Suas investigações
demonstraram que o cérebro não era uma rede contínua de ligação direta, mas
sim um conjunto de unidades celulares discretas. Em outras palavras, a teoria
neuronal, que se baseia na individualidade anatômica da célula nervosa e pode
ser chamada de lei de polarização dinâmica. Com tais proposições e as diversas
subdivisões em zonas anatômicas diferente, cada uma delas possui funciona-

48
mento diferente, o que faz surgir uma

UNICESUMAR
nova cartografia cortical, bastante se-
melhante a que verificamos atualmen-
te (FERREIRA, 2013; LENT, 2013).
De acordo com o que foi apresen-
tado até esse momento, considere a
seguinte situação: se células nervosas
disparam e conduzem eletricidade,
seria muito conveniente que o sistema
nervoso fosse um emaranhado de fios
elétricos contínuos, sem rupturas. Des-
se modo, neurologistas da época prefe-
Figura 3 - Retrato de Santiago Ramón y Cajal, 1899 riam defender a chamada teoria reticu-
/ Fonte: Wikimedia Commons (2016, on-line).
lar, pois os mistérios acerca das funções
neurológicas eram muitos e não se concebia a ideia simples de que sua composição,
assim como para o resto do corpo, dependia de unidades básicas como as células.
Com a evolução das técnicas histológicas para observar células nervosas, esse
impasse defendido pela teoria reticular, que relutava e acreditava na existência de
uma tela densa, um emaranhado de fios que conduzem os impulsos nervosos, foi
superado pelas observações de Cajal, que identificou padrões na continuidade das
células presentes no encéfalo, obedecendo uma organização de corpos celulares,
axônios, dendritos e um espaço entre elas. Esses pequenos espaços obrigavam os
estudiosos da época a explicarem de qual maneira a transmissão dos impulsos
nervosos era transmitida de uma célula para outra. Iniciava-se, desse modo, os
estudos sobre sinapse (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
Caro(a) aluno(a), Cajal trouxe conhecimentos que se encaixavam com as
necessidades neurofisiológicas e neuropatológicas, ao destacar que essas células
minúsculas formam diversos circuitos ou vias bem delimitadas. O desenvolvi-
mento constante dessas células levou à queda da teoria reticular e consolidou,
na transição do século XX, o surgimento de uma nova teoria, conhecida como a
Teoria Neuronal (FERREIRA, 2013).

49
3
NEURÔNIOS
UNIDADE 2

TEM REDE

Caro(a) aluno(a), a explosão da pesquisa em neurociências, por volta de 1990, im-


pulsionada pelo avanço tecnológico, evidenciou a formação de redes neuronais.
Em 1940, já se buscava entender o metabolismo cerebral, mas como você pode
imaginar, existia uma tremenda limitação para a realização dos experimentos.
Faça comigo uma reflexão: quando falamos, corremos ou pensamos em seu
futuro, seu cérebro consome mais energia? Ficou com dúvidas? Então, vamos
entender um pouco mais sobre essa temática. Assim como outros tecidos cor-
porais, quanto mais trabalharem, mais energia e nutrientes serão necessários.
Dessa forma, a atividade mental e o metabolismo cerebral estão intimamente
relacionados, ou seja, quanto mais uma região neurológica estiver ativa, mais
glicose e oxigênio será necessário para suprir a atividade dos neurônios envol-
vidos naquele momento.
De acordo com as concepções propostas por Cajal, o neurônio é envolvi-
do por uma membrana plasmática, ou seja, é uma unidade celular autônoma e,
portanto, necessita de estruturas especializadas para promover a comunicação e
distribuir as informações para todos os outros neurônios com os quais faz con-
tato: mecanismo conhecido como sinapse (KREBS, 2013; LENT, 2013; KANDEL,
2014; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).

50
UNICESUMAR
Figura 4 - Neurônios em rede

Historicamente, existiu uma busca pelo localização das áreas cerebrais e de seus
respectivos funcionamentos cognitivos. O surgimento das técnicas de imagem
por ressonância magnética ampliou os conhecimentos sobre essa temática, bem
como a possibilidade do surgimento de diversas áreas de conhecimento relacio-
nado à neuro, como a neuroeducação, a neuroeconomia etc. (LENT, 2013).
Você já percebeu que, diversas vezes, ao pensar em um assunto, muitos ou-
tros são propagados em nosso cérebro. Façamos o seguinte exercício: gostaria
que você pensasse em uma vaca. O que mais surgiu em seu pensamento? Pasto,
bezerro, leite, churrasco… por qual razão, porém, isso ocorreu? Havia pedido
apenas para se recordar da vaca.
Pois bem, essa cascata de informações não solicitadas ocorreu em seu pen-
samento pelo fato de que os neurônios compõem uma rede: a ligação de dois ou
mais neurônios constituirão uma ampla área de conhecimento e processamento,
a qual armazena e analisa informações relacionadas. Dessa maneira, ao pensar
em um determinado assunto, você promoverá a comunicação neuronal (sinapse)
entre dois neurônios que irão se comunicar com outros dois, que continuarão a
propagar essa informação. É dessa maneira que se justifica a ideia de formação
em rede, conforme apresentado na Figura 4.

51
Acredito que, ainda, restou uma dúvida: por qual razão, ao pensar na vaca,
UNIDADE 2

muitos outros assuntos ou conceitos emanaram em seu cérebro? Imagine da se-


guinte forma: em cada ligação neuronal, armazenaremos um tipo de informação.
Os neurônios vizinhos farão o mesmo com um assunto associado, diretamente,
com aquela temática. Assim, ao pensar na vaca, automaticamente, foi ativado um
processo sináptico vizinho acerca da área de conhecimento em questão. É como
se o neurônio responsável por armazenar a informação sobre a vaca alertasse
um neurônio vizinho: “amigo, fique atento, pois se estão lembrando de mim,
possivelmente lembrarão de você também”, de tal modo que outras informações,
como o leite que vem da vaca, que ela tem manchinhas pretas ou mesmo que vive
em um pasto, surgem em sua cabeça. Tais eventos evidenciam que não, apenas,
os neurônios se organizam em rede, mas que nossos conhecimentos também.

explorando Ideias

Neurônios são células, altamente, especializadas que exercem a função de processamen-


to e transmissão de informações. São essas células que possibilitam o acontecimento de
diversas sinapses, que em um adulto é estimado entre 100 e 500 trilhões, promovidas por
aproximadamente 86 bilhões de neurônios.
Fonte: adaptado de Radanovic (2016).

Caro(a) aluno(a), nesse momento é importante realizar um alerta. Um erro comum


é pensar que algumas partes do cérebro estão muito atuantes e outras regiões ficam
“desligadas”. O processamento de qualquer informação necessita de áreas neuroló-
gicas específicas, assim como verificamos em imagens coloridas da subdivisão das
áreas funcionais do cérebro. O que muitos se esquecem, porém, é que o funciona-
mento neurológico é integralizado, conectado, ou seja, tudo sempre se relaciona.
Assim, várias áreas do cérebro funcionam juntas, de maneira interligada.
Para esclarecer essa ideia, vamos usar as palavras como referência: ao pensar
nas palavras, a ativação neurológica será maior nos lobos frontais. Já ao ver as
palavras, a região occipital estará mais ativa e, ao escutar palavras, a região tem-
poral estará mais funcional (KANDEL, 2014).

52
Portanto, nosso encéfalo possui regiões específicas de processamento, mas,

UNICESUMAR
para que essas áreas específicas atuem com eficiência, dependem da atividade
de outras regiões neurológicas. Isso fortalece o pensamento científico a res-
peito do processamento de informações, o qual é responsável por conceber as
memórias do mundo interligadas entre si, ao formar uma rede de significados
necessários ao conhecimento.

4
NEUROPLASTICIDADE
CEREBRAL

Caríssimo(a) aluno(a), o desenvolvimento dos circuitos neuronais leva muito


tempo para se estabilizar. Durante o período médio de duas décadas, o ama-
durecimento do sistema nervoso passa por muitas mudanças, as quais devem
estar estáveis durante a fase adulta, modulando e permitindo que as transmissões
sinápticas sejam mais eficientes.
Constatamos que existem trilhões de sinapses em nosso sistema nervoso. Por
isso, é fundamental conhecer um pouco mais sobre as possíveis mutações que
podem ocorrer nos neurônios, com a finalidade de otimizar a atividade neuroló-
gica. Desse modo, os neurônios apresentam a capacidade de aumentar ou reduzir
53
as espinhas dendríticas, local em que ocorrerão as sinapses, o que possibilita
UNIDADE 2

fortalecer ou desligar conexões neurais. Tal capacidade de mudança dos neurô-


nios é conhecida como plasticidade neuronal e pode ocorrer morfológica ou
fisiologicamente. Para Lent (2013), plasticidade é definida como a capacidade de
mudança que o sistema nervoso apresenta, em resposta a exigências do ambiente
em que se encontra.
Para deixar claro a você, apresentaremos dois exemplos. O primeiro deles está
relacionado a esse material que estamos compartilhando: ao compreender os con-
ceitos da neurociência, podemos interligá-lo à aprendizagem e, possivelmente, a
memorização duradoura desses conhecimentos será armazenada em seu cérebro.
Em outras palavras, o simples fato de aprender algo novo ou melhorar um conhe-
cimento antigo é denominado plasticidade ou, se preferir, neuroplasticidade.
Você deve conhecer algum caso de acidente vascular encefálico ou cerebral
(AVE ou AVC, respectivamente). Essa é a ideia que precisamos para compreen-
der o segundo exemplo: quando um dos lados do corpo apresenta movimentos
comprometidos, é bem verdade que dependendo da magnitude da lesão, a pessoa
pode entrar em óbito. Quando os movimentos de marcha, fala e outras ações
corporais ficam comprometidas, esses indivíduos normalmente realizam ses-
sões de fisioterapia e, após muitas sessões, normalmente, os movimentos ficam
bem melhores e mais coordenados. Agora, eu lhe pergunto: se as vias neuronais
“morreram” ou desapareceram pela lesão, o que aconteceu para que essa melhora
se evidenciasse? Por meio da neuroplasticidade.

pensando juntos

No caso de uma via neuronal deixar de existir, é possível substituí-la?

Os mecanismos plásticos podem ocorrer de três maneiras distintas: morfológica,


definida pela alteração dos axônios, dendritos e sinapses; funcional, identificada
por alterações na fisiologia neuronal e sináptica; e comportamental, a qual se re-
laciona aos fenômenos de aprendizagem e formação de memórias (LENT, 2013).
A neuroplasticidade morfológica e ontogênica estão diretamente associa-
das aos efeitos e influências ambientais, como a linguagem. As mudanças nos
axônios podem ocorrer nos locais que apresentam lesões e, também, em regiões
54
sem ocorrência de lesões. Simplificando, os circuitos neuronais são ajustados de

UNICESUMAR
acordo com as influências ambientais, em especial, durante o período de desen-
volvimento, evidenciando uma capacidade plástica maior nos anos iniciais do
que após a fase adulta (LENT, 2013; KANDEL, 2014).
Caro(a) aluno(a), se existe a capacidade de ajustar processos vinculados ao
axônio neuronal, será que é possível fazer o mesmo com os dendritos? Evidente-
mente que sim, já que as alterações e os ajustes nas árvores dendríticas também
são mais evidentes nos jovens, quando comparado a adultos, e são susceptíveis
às influências do ambiente (GUYTON; HALL, 2017; KREBS, 2013).
Portanto, é sugestivo que com uma árvore dendrítica consolidada em ambien-
tes ricos em bons estímulos, os indivíduos em questão, possivelmente, apresenta-
rão um nível de linguagem e ou instrução educacional mais elevada. Vale ressaltar
que como dendritos estão, diretamente, conectados aos axônios e relacionados
às sinapses, a instabilidade ou estabilidade em qualquer um desses mecanismos
pode resultar em prejuízos ou benefícios, respectivamente, ao indivíduo.
No que se refere à neuroplasticidade funcional, deve-se considerar que o trei-
namento e a repetição podem resultar em uma maior ativação de determinada área
cerebral, ampliando a capacidade de processamento. Um exemplo para elucidar essa
situação: será que uma pessoa com deficiência visual congênita também nasce com
áreas neurológicas de processamento tátil mais desenvolvidas? Evidente que não,
mas no transcorrer de seu desenvolvimento as influências do ambiente promoverão
plasticidade nos dendritos neuronais, ampliando a capacidade de utilizar as mãos.
Conforme o que foi apresentado, é possível considerar a recuperação, na
maioria das vezes, parcial, de áreas lesionadas do sistema nervoso, pelas adapta-
ções ocorridas nos neurônios e nas sinapses pelas intervenções e práticas persis-
tentes, mesmo que algumas sejam mais eficientes em jovens e outras em adultos.

explorando Ideias

Desde o surgimento da teoria neuronal proposta por Cajal, no final do século XIX e iní-
cio do século XX, a regeneração do sistema nervoso era descartada. Por outro lado, com
o avanço tecnológico, a neurogênese é aceitável em diversas áreas neurológicas. Essa
capacidade de regeneração ou proliferação do tecido neuronal, após uma lesão, está as-
sociada à disponibilidade de células-tronco na região lesada. No entanto tal regeneração
do tecido nervoso depende de muito mais, como considerar a íntima ligação dos circuitos
neuronais, constituídos por células independentes, mas interligadas.
55
5
DESENVOLVIMENTO DA
UNIDADE 2

MENTE E DO
comportamento

Caro(a) aluno(a), para finalizar esse capítulo, discutiremos o desenvolvimento do


sistema nervoso e seu impacto no comportamento humano. Para isso, deixo o
seguinte questionamento: uma criança, após o nascimento, é imatura ou madura?
Se respondeu imatura, sua resposta está correta. No entanto precisamos fazer
uma análise mais profunda.
Uma criança recém-nascida apresenta imaturidade, principalmente, nos aspec-
tos motores, visto que é 100% dependente da mãe. É possível verificar na natureza
outros animais, que, ao nascerem, começam a caminhar imediatamente. Para nós,
seres humanos, todas as ações motoras levarão tempo para se estabilizar, pouco a
pouco, mês a mês. Até que isso ocorra, é necessário o cuidado materno/paterno.
Veja bem, apresentamos a você, apenas, a imaturidade motora, mas e o desen-
volvimento do sistema nervoso? Ficou em dúvida? Pois bem, esclareço para você:
ainda, no período intrauterino ocorre o desenvolvimento de diversas funções da
mente, como o aprendizado sensorial e até mesmo de características da lingua-
gem. Contudo, como o funcionamento neurológico é algo bastante complexo, é
necessário muito tempo para amadurecer todas as capacidades da mente.
Está claro que o desenvolvimento da mente e do comportamento está associa-

56
do à maturação do sistema nervoso. Desse modo, a complexidade dos compor-

UNICESUMAR
tamentos humanos está, diretamente, associada ao funcionamento neurológico
(LENT, 2013). Agora, reflita comigo: se os aspectos motores são imaturos no
início da vida, como é possível que a criança, ainda, durante a gestação, realize
movimentos de chutar, engolir, mexer os olhos ou as mãos? A resposta está na
maturação do sistema nervoso. No entanto, antes, pergunto-lhe: o que é matura-
ção? A maturação, do ponto de vista neurológico, são todos os ajustes, adaptações
e conexões realizadas por e entre os neurônios, que ampliam a sua capacidade
de disparar potenciais de ação (impulsos nervosos), essas ativam outras células
nervosas ou músculos envolvidos nos movimentos corporais.
Além da amplificação nas conexões neurais, ocorre também o processo de
mielinização, esta aumenta a velocidade de condução dos impulsos nervosos,
otimizando as capacidades de sobrevivência, dos gestos motores, dos comporta-
mentos em geral e do processamento neural para diversas tomadas de decisões
(GUYTON; HALL, 2017).
O processo de maturação do sistema nervoso é iniciado durante a gestação,
ocorre em larga escala, durante os primeiros anos de vida, e é finalizado por volta
da segunda década de vida. Um dos princípios do desenvolvimento neurológico
é que o cérebro cresce mais em surtos do que de maneira suave, sendo que toda
fase de desenvolvimento é acompanhada por uma fase de estabilização. Eviden-
temente, na infância, os intervalos de crescimento e estabilidade são curtos. Por
exemplo, até os 5 meses de um bebê, os intervalos são de aproximadamente 1
mês. Basta observar a evolução apresentada por ele: antes, todo “molinho”, com
um mês já é evidenciado um maior tônus muscular, aos três meses um controle
da cervical e, antes dos cinco meses, um ajuste na visão.

57
À medida que o bebê envelhece, seus períodos de crescimento e estabilização,
UNIDADE 2

também, passam a ser mais longos. No período dos 8, 12 e 20 meses, observa-se


maior equilíbrio, no qual o bebê começa a sentar e, logo, a caminhar. Observa-se,
aos 20 meses, marcos de desenvolvimento cognitivo: a maioria dos bebês eviden-
ciam o planejamento dirigido ao objetivo em seu comportamento, como de uma
criança já ser capaz de arrastar uma cadeira para ficar alto o suficiente para alcançar
algo proibido, mesmo que ninguém lhe ensine. Já entre os 2 e 4 anos, as mudanças
neurológicas são inúmeras, mas ocorrem lentamente. Assim, é possível verificarmos
a melhora da coordenação motora, do aprendizado, do vocabulário, mesmo que
limitado, e uma maior compreensão do mundo que a rodeia (BEE; BOYD, 2011).
Após os 4 anos, há um outro surto importante, como a maturação de áreas neu-
rológicas que permite a fluência na fala e entendimento da linguagem. Nessa fase,
além da visível melhora da coordenação motora, ocorre grande amadurecimento
das funções cognitivas e a criança se torna capaz de prestar atenção e repetir se-
quências de números e histórias, tendo o hábito de ler e contar histórias. Mesmo que
ela já as conheça, é muito sugestivo mudar algum personagem ou permitir que as
crianças façam isso e, acima de tudo, as mudanças sejam percebidas. Outra opção é
você iniciar a história e deixar que as crianças terminem, entre outras possibilidades
(GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; CALL; FEATHERSTONE, 2013).

58
Vale ressaltar que os surtos do crescimento não ocorrem em todo o cérebro,

UNICESUMAR
é restrito a partes específicas. Desse modo, pequenas áreas neurológicas amadu-
recem. Após o amadurecimento, as mudanças se estabilizam e, somente depois,
novos pontos encefálicos serão maturados também.
São identificados dois surtos de crescimento durante a infância: entre 6 e 8
anos, com melhoras nas habilidades motoras finas e na coordenação olho-mão.
Já entre 10 e 12 anos, os lobos frontais do cérebro otimizam o foco no processa-
mento da memória, lógica e planejamento (BEE; BOYD, 2011).
O amadurecimento neurológico continua na segunda década de vida, no qual
dois surtos de crescimento cerebral importantes ocorrem na adolescência: o pri-
meiro surge entre os 13 e 15 anos, oportunizando evoluções na percepção espacial
e nas funções motoras. Podemos observá-las quando um adolescente estabanado,
que derruba tudo, quebra tudo sem querer, tropeça e cai com frequência, deixa de
apresentar esses comportamentos e passa a melhorar seu rendimento no esporte
(BEE; BOYD, 2011; RELVAS 2015).
Nessa fase, ocorre ampla diferenciação de crianças com idades escolares menores,
pois adolescentes possuem pensamentos abstratos e refletem sobre seus processos
cognitivos, tudo isso sustentado pelas mudanças profundas no córtex pré-frontal
(capacidade de controlar conscientemente seus pensamentos) e a rápida formação
de novas sinapses em outras partes do cérebro (BEE; BOYD, 2011; RELVAS 2015).
O segundo grande surto na segunda década de vida aparece por volta dos 17 anos
e perdura até a fase adulta. Nesse momento, os lobos frontais do córtex têm maior foco
do desenvolvimento, sendo possível controlar a lógica e o planejamento. Indivíduos
nessa faixa etária lidam mais facilmente com situações problemas que requerem fun-
ções cognitivas (BEE; BOYD, 2011; RELVAS 2015). Em síntese, conhecimento sobre o
funcionamento neurológico é essencial para uma excelente intervenção profissional.

explorando Ideias

A utilização em longo prazo de esteroides anabólicos androgênicos (EAA) está associado à


diminuição da conectividade da amígdala direita com áreas cerebrais envolvidas no con-
trole cognitivo e na memória espacial, o que poderia contribuir para os efeitos psiquiá-
tricos e disfunção cognitiva associados ao uso de EAA. Desse modo, é possível encontrar
anormalidades e maior vulnerabilidade nos processos neurotóxicos ou neurodegenerati-
vos, contribuindo para uma disfunção cognitiva em usuários de anabolizantes.
Fonte: adaptado de Kaufman et al., 2015.
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 2

Nesta unidade, elucidou-se o surgimento dos conhecimentos acerca do funciona-


mento neurológico. As bases inerentes a essa temática apontam para a necessidade
de novas investigações sobre a atividade neuronal, pois, com o avanço da tecnologia,
muitos outros mistérios sobre as operações mentais podem ser desvendados.
O cérebro é alvo de estudos há muitos séculos. Sobretudo, a neurociência é uma
ciência recente que vem contribuindo para as mais diferentes áreas de atuação, seja
para a reabilitação de traumas, entendimento de doenças neurológicas ou para a
criação de estratégias de ensino e aprendizagem de recém-nascidos e ou idosos.
A rede de conhecimentos formada pelos neurônios permite aos profissio-
nais compreender que os conhecimentos estão diretamente relacionados, uma
vez que as áreas de processamento no sistema nervoso agrupam informações
semelhantes. Por essa razão, é possível verificar imagens encefálicas sempre colo-
ridas. É importante ressaltar que a atividade neurológica, além de ativar sinapses
específicas, necessita de alto aporte de oxigênio e nutrientes que sustentarão tal
atividade neural.
Por fim, fica esclarecido que o amadurecimento humano tem relação direta
com a maturação dos neurônios, os quais podem aumentar a condução elétrica e a
capacidade de responder a problemas diversos: esse evento ocorre, em especial, ao
longo das duas primeiras décadas de vida. Posto isso, o desenvolvimento da mente
e dos comportamentos humanos iniciam, ainda, no período intrauterino, mas são
potencializados em virtude da formação das bainhas de mielinas, que, somadas à
eficiência sináptica, oportunizam o desenvolvimento motor, a maior capacidade
linguística e tantos outros elementos desenvolvimentistas.
Por fim, conhecer o funcionamento das funções neurológicas oportuniza aos
psicopedagogos e profissionais da educação, planejar e estruturar estratégias di-
ferenciadas para a aplicação dos métodos de aprendizagem. Tal estudo também é
imprescindível para que o planejamento seja adequado ao potencial neurológico
dos indivíduos.

60
na prática

1. Ao que se refere ao estudo do cérebro humano, pesquisas passaram a ser mais robustas
e exploradas a partir da década de 90, uma vez que foi facilitado o acesso aos recursos
financeiros e todo o investimento para essa área. Assim, surgiu uma nova ciência, deno-
minada neurociência. Sobre essa temática, assinale a alternativa correta.

a) O investimento em equipamentos de neuroimagens possibilitou acompanhar, em


tempo real, o processo neuronal de um sujeito que está sendo testado.
b) As parcerias que foram realizadas com operários que apresentavam lesões no cére-
bro foi o maior investimento proposto pela neurociência.
c) A teoria neuronal que se iniciou na década de 90 possibilitou o mapeamento do
cérebro pela dissecação de animais mortos.
d) A neurociência tem por intuito principal investir em cirurgias cerebrais e publicar
estudos referentes aos resultados alcançados.
e) A neurociência é uma linha de trabalho vinculada, somente, à classe médica.

2. Já está bastante claro que os neurônios são células cerebrais responsáveis pela construção
do conhecimento. Essas estruturas nervosas têm a capacidade de propagar as informações
que a ele chegam. Por qual razão, quando pensamos em um objeto, animal, ou situação
específica, outros eventos emergem de nosso cérebro? Analise as afirmativas a seguir.

I - O cérebro funciona integralmente, não existe uma conexão ou função específica,


esse órgão sabe de tudo e sobre qualquer coisa, assim busca similaridades que
possam ser utilizadas em determinado momento.
II - Devido a neuroplasticidade cerebral, que permite ao nosso cérebro se reorganizar
de acordo com as necessidades, permitindo que os neurônios compartilhem as
informações.
III - Neurônios são estruturas conectadas, em forma de rede, para se comunicar uns com
os outros. As novas memórias são guardadas de acordo com padrões de informação
e similaridades.
É correto o que se afirma em:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.

61
na prática

3. O sistema nervoso humano apresenta a capacidade de se remodelar, de mudar e se


adaptar a novas situações, seja pelo fato de aprender algo novo ou se reorganizar devido
à ausência de algum sentido, como ocorre em pessoas cegas que desenvolvem mais
o sentido da audição e tato, por exemplo. Em outras palavras, nosso sistema nervoso
tem a capacidade de alterar sua função ou de sua estrutura em resposta às influências
ambientais que o atingem. De acordo com essa temática, assinale a alternativa correta.

a) A capacidade de remodelar as conexões neurais é conhecida como Neuroplasticidade.


b) A capacidade de remodelar as conexões neurais encontrando novos caminhos é
conhecida como Sinapses.
c) A capacidade de remodelar as conexões neurais é conhecida como Potencial de ação.
d) A capacidade de remodelar as conexões neurais encontrando novos caminhos é
conhecida como Memória.
e) A capacidade de remodelar as conexões neurais é conhecida como difusão através
da membrana.

4. Se pararmos para analisar do ponto de vista animal, todos somos capazes de aprender
e tudo é dependente para a variedade comportamental e sobrevivência da espécie. No
entanto só observamos algo novo devido a uma série de sofisticadas estruturas neu-
ronais, geneticamente, determinadas a serem plásticas. De acordo com a afirmação de
que a maior plasticidade neuronal humana ocorre até aproximadamente aos três anos
de idade, assinale a alternativa correta.

a) Nesse período, o bebê é acompanhado de perto por pais e especialistas infantis.


b) Nesse período, o bebê é muito observador, presta atenção e reconhece tudo a sua volta.
c) Durante esse período, o bebê tem muitas sinapses e, por esse motivo, apenas, o
cérebro é moldado.
d) Durante este período, o bebê possui grande sensibilidade às influências externas.
e) Nesse período, o processo maturacional do bebê é muito intenso, o que por si só,
converte-se em conhecimento.

62
na prática

5. Uma criança já nasce com muitas conexões sinápticas (conexão entre neurônios, ativida-
de elétrica entre eles). Aos 12 meses de vida, já se tem, praticamente, o dobro de sinapses
que um cérebro adulto e, com isso, tem-se um maior gasto de energia. Por qual razão o
excesso de sinapses é fundamental para o aprendizado? Assinale a alternativa correta.

a) O excesso de sinapses na infância servirá como matéria prima para a construção do


conhecimento, fortalecendo as conexões entre neurônios.
b) Apenas, para gastar energia, durante o amadurecimento cerebral.
c) Para eliminar informações desnecessárias, durante o processo de estabilização do
conhecimento formal.
d) Devido à necessidade de estimulação elétrica, uma vez que o aprendizado é guardado
no potencial elétrico das sinapses.
e) Para que seja possível a aquisição de linguagem nessa etapa da vida.

63
aprimore-se

BIOFEEDBACK OU NEUROFEEDBACK NA EDUCAÇÃO

Atualmente, indivíduos convivem constantemente com dores, estresse, insônia, de-


pressão, enxaqueca, fobias, traumas vasculares ou neurais, dentre tantas outras
situações que podem prejudicar a saúde ou o rendimento cognitivo. Posto isso, você
conhece ou já pensou em biofeedback?
Para explicar melhor do que se trata, biofeedback tem em sua essência na in-
tervenção multidisciplinar, muitas vezes, aplicado ao aspecto terapêutico e, recen-
temente, como ferramenta educacional de aprimoramento de desempenho. Muito
utilizado em esportes de alta performance, ampliando sua utilização nas esferas
executivas, educacionais etc. Para tanto, os equipamentos utilizados para mensu-
ração de informações são não invasivos, normalmente são utilizados eletrodos que
são colocados sobre a pele, os quais coletarão sinais elétricos que serão transforma-
dos em dados ou imagens. Existem biofeedbacks eletrodérmicos (GSR, EDR ou EDA),
os quais verificam a condução elétrica na pele, térmicos (TEMP), de eletromiografia
(EMG), que verificam a atividade muscular, monitoramento da frequência respirató-
ria e cardíaca e neurofeedbacks (EEG).
Neurofeedbacks consistem em medir ondas elétricas cerebrais com o intuito de
treinar o indivíduo a reduzir ou a aumentar a frequência/amplitude de ondas, de
acordo com os objetivos que se pretende alcançar. Para isso, são realizadas sessões
de aproximadamente 50 minutos de uma a três vezes por semana, considerando
um total entre 20 e 40 sessões para se alcançar melhores resultados.
Na década de 90, o estudo do cérebro foi incrementado com as neuroimagens,
com as quais é possível acompanhar em tempo real, o processo neuronal de um
sujeito que está sendo testado, sendo possível apoiar-se em exames de Imagem por
Ressonância Magnética (IRM); Imagem por Ressonância Magnética Funcional (IRMF);
e ou Tomografia por Emissão de Pósitrons (TEP).

64
aprimore-se

Esses tipos de máquinas subsidiaram a visualização de alguns processos cere-


brais, e assim o entendimento de certas dificuldades de aprendizagem devido à
falta de bom funcionamento de algumas partes do cérebro. Tome, por exemplo,
indivíduos com dislexia (não conseguem processar sons rápidos), dificuldade com
fonemas etc. Quando submetidos a um programa de computador três horas por
dia, durante 4 semanas, o programa inicialmente projetava fala lenta com sons pro-
longados facilmente e, em pouco tempo, essas crianças estavam aptas a processar
a fala em ritmo normal.
Os biofeedbacks, em especial no Brasil, são considerados terapias complemen-
tares, mas podem estar presentes em intervenções junto a quadros de transtornos
de déficit de atenção, hiperatividade, reeducação neuromuscular, doença de Ray-
naud, dentre muitas outras, sobretudo, os avanços sobre essa temática dependem
da continuidade dos estudos experimentais.

Fonte: o autor.

65
eu recomendo!

livro

Neurociências: desvendando o sistema nervoso


Autor: Mark F. Bear
Editora: Artmed
Sinopse: assim como a medicina, as neurociências estão em
constante evolução. À medida que novas pesquisas e a própria
experiência clínica ampliam o nosso conhecimento, são necessá-
rias modificações na terapêutica, onde também se insere o uso
de medicamentos. Os autores desta obra consultaram as fontes consideradas
confiáveis, num esforço para oferecer informações completas e, geralmente, de
acordo com os padrões aceitos, na época da publicação. Entretanto, tendo em
vista a possibilidade de falha humana ou de alterações nas ciências médicas, os
leitores devem confirmar estas informações com outras fontes.

66
anotações



































3
APRENDIZADO E
MEMÓRIAS

PROFESSOR
Dr. Weslei Jacob

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Alicerce da aprendizagem • Forma-
ção de memórias • Memórias de curta e longa duração • Humor, aprendizagem e formação de memórias.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Descrever e discutir os elementos estruturais básicos para a aprendizagem • Elucidar os mecanismos
neurológicos para a formação de memórias • Oferecer ao discente conhecimento sobre os tipos de
memórias existentes • Evidenciar a importância do humor na aprendizagem.
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), as memórias são codificadas e armazenadas pelos neurônios, for-


mando diversas redes neurais, do mesmo modo a evocação dessas informações ocor-
rem pelas mesmas regiões e estruturas. A formação das memórias depende, direta-
mente, do nível de consciência, emoção e estado de humor do aprendiz. Perceba como
é difícil recordar de algo quando estamos alterados, com o estado de alerta elevado ou
com alto nível de estresse em uma prova ou em uma apresentação acadêmica. Diante
disso, é difícil lembrar de assuntos já conhecidos e absorver novos conhecimentos.

Formar memórias é mais do que moldar a personalidade, é promover conhecimento


saudável, ao longo de toda uma vida. Nossas memórias podem ser moldadas por
emoções que vão além de estar triste ou alegre, fazem parte da exteriorização do
desejo e das vontades do ser humano ao longo do seu desenvolvimento.

Nesta unidade, discutiremos os aspectos principais acerca do aprendizado retido ou,


como comumente é denominado, memórias, sobretudo, com uma abordagem clara
e de fácil compreensão. São raras as crianças que se recordam de eventos nos pri-
meiros anos de vida, isso ocorre pelo fato das estruturas neurais, ainda, não estarem
totalmente estabelecidas.

É interessante considerar o aprendizado sob um alicerce, o qual contém elementos


que, inter-relacionados, permitirão que o aprendiz e o docente melhorem os conhe-
cimentos diversos, aumentando o aprendizado e, por consequência, a permanência
dessas novas informações nas memórias de longa duração.

Atualmente, nas redes sociais, diversas são as charges, os memes ou contextualiza-


ções engraçadas de algum fato ou evento. Esse humor, que nos prende por horas,
em frente a uma tela tecnológica, pode e deve ser ajustado para o contexto escolar,
pois gargalhadas em virtude de uma prática pedagógica bem-humorada irá favorecer
a formação de memórias de curta duração.
1
ALICERCE DA
UNIDADE 3

APRENDIZAGEM

Caro(a) aluno(a), iniciamos, neste momento, uma discussão maravilhosa acerca


da aprendizagem e, para tanto, começo com a seguinte indagação: o que faz os
seres humanos aprenderem algo? Fácil, não é mesmo! Acredito que diversas coi-
sas vieram a sua cabeça, mas antes de responder e definirmos o que eu gosto de
chamar de alicerce do aprendizado, reflita sobre a seguinte situação: uma criança
de alguns meses que já engatinha, quando inserida em uma sala de aula, com
poucos ou muitos recursos, o que aconteceria? Ela certamente iria mexer em tudo,
não é mesmo? É possível consideramos isso como exploração do ambiente, ou
seja, pelas experiências vividas nesse local a criança internaliza conhecimentos
diversos que, possivelmente, resultarão em aprendizagem.
Voltamos agora à primeira pergunta que lhe fiz nesta unidade: como aprende-
mos? Muito provavelmente você respondeu que nós, seres humanos, aprendemos
pela prática, ou seja, vivenciando, experimentando, realizando diversas atividades
ou tarefas, e isso está totalmente correto. A prática não só nos leva a perfeição,
mas também nos proporciona aprendizagens. Dito isso, faço-lhe uma nova in-
dagação: você gosta de praticar coisas que não são agradáveis? Acredito que a
resposta é: definitivamente não! Desse modo, o que necessitamos para praticar
situações que nos ofereçam aprendizagem? Motivação. Ninguém prática ou faz
algo se sua motivação é pequena ou inexistente. Posto isso, prática e motivação
estão diretamente relacionadas, tarefas ou situações fáceis demais desmotivam,
difíceis demais inviabilizam a prática e, por consequência, a motivação.
70
Pegue papel e caneta, peço que, ao centro do papel, escreva a palavra “aprendi-

UNICESUMAR
zagem”, acima dela escreva “prática” e abaixo “motivação”. Feito isso, trace uma seta
em duplo sentido partindo da prática, passando pela aprendizagem e chegando
a motivação, depois faça o caminho inverso. Tal e como verificamos, prática e
motivação caminham juntas no que se refere à aprendizagem. Mas tenha calma.
Nosso alicerce do aprendizado, ainda, não está pronto, coloque em um dos lados
da folha a palavra “métodos”, no mesmo alinhamento da palavra aprendizagem
e do outro lado escreva “atenção”.
Todos sabemos a importância dos métodos de ensino e aprendizagem, são
métodos intraneurosensorial, interneurosensorial, otimização das atividades pro-
postas de aprendizagens pelos canais visual, auditivo ou cinestésico, ou mesmo
pelas metodologias ativas que estão em alta nesse momento. Independentemente
do método preferido, sua escolha deve levar em consideração os aspectos que au-
mentam a motivação e, por consequência, a prática. Desta forma, deve-se adaptar
ou substituir os métodos sempre que for necessário.

pensando juntos

Ao realizar um cálculo matemático de multiplicação, são adotadas as mesmas estratégias


ou regras? Quando a multiplicação é realizada no papel, existem regras, um passo a passo
metodológico para se completar a equação. Agora, ao realizá-la na cabeça, cada indivíduo
pode encontrar uma forma de ser assertivo e rápido na resolução da problemática em
questão. Por essa razão, muitos são os métodos que podem ser adotados, não existe o me-
lhor nem o pior, mas sim aquele que é mais eficiente diante de uma determinada situação.

Seguindo com o entendimento deste alicerce de aprendizagem, falta-nos um


item fundamental, a atenção. Quantas vezes você teve de ler textos mais de uma
vez para compreendê-los? É evidente que existem textos que apresentam a ne-
cessidade de se ler mais de uma vez, talvez pela sua complexidade, agora, se você
não é uma criança que precisa da repetição para aprender melhorar seu foco e
consequentemente aprender, posso ser incisivo ao dizer que está lendo com a sua
cabeça em outro lugar. Desse modo, pare de se enganar, adultos não precisam ler
com música de fundo, ruídos diversos ou qualquer outra coisa que venha a pensar.
Tome como exemplo: quando se deve entregar uma tarefa ou estudar algo e o
prazo está distante, seu foco será pequeno pois há tempo para concluir tal tarefa,
71
por outro lado se a entrega é para amanhã, seu rendimento irá aumentar muito,
UNIDADE 3

não é mesmo? Ou seja, a melhora da nossa atenção está no treino diário, assim,
a manutenção do foco será cada dia melhorada.

explorando Ideias

Os seres humanos, homens e mulheres, mantêm o foco em apenas uma coisa por vez. Mu-
lheres, por sua vez, apresentam maior densidade neuronal, favorecendo a rápida mudança
de foco, o que nos leva à sensação de realizar diversas atividades simultaneamente, quan-
do, na verdade, faz-se uma coisa por vez, mas se muda o foco principal muito rapidamente.

Por fim, ao considerarmos que a aprendizagem está diretamente relacionada à


prática, motivação, métodos e nível de atenção, falta apenas um ingrediente, a
“oportunidade”. Isso mesmo, nada do que discutimos até agora promoverá estra-
tégias para um aprendizado mais eficiente se não oportunizamos os aprendizes
de experimentarem e de se envolverem com essas estratégias.
Tome como nota o atleta de futebol Neymar, um indivíduo talentoso com
predisposição individual para ser jogador dessa modalidade, mas lhe pergunto, e
se Neymar fosse uma criança com os mesmos “dons”, porém tivesse que trabalhar
na infância para ajudar sua família e pouco pudesse se dedicar ao futebol, será que
ele seria o atleta que se tornou? Bem difícil, não é mesmo? Isso ocorre também
para músicos, pessoas talentosas que nascem com ouvidos maravilhosos, mas se
não estimularmos, se não propusemos tarefas que desenvolvam essas habilidades,
a aprendizagem será falha ou, em muitas vezes, ocorrerá.
Posto isso, é nosso dever oportunizar a cada aprendiz as situações específicas
que os levarão ao aprendizado. Gosto de chamar de alicerce do aprendizado, pois
se qualquer variável falhar, o aprendizado tende a ser deficitário ou inconsistente.

72
2
FORMAÇÃO DE

UNICESUMAR
MEMÓRIAS

Excelentíssimos(as) alunos(as), inicio essa aula afirmando que se nossa atenção


for pequena, o aprendizado não acontece, ou seja, é muito mais que o entendi-
mento da leitura de um texto. Sobretudo, falar de aprendizagem é, na verdade,
falar de memórias ou de lembranças que, por sua vez, são memórias armazenadas
em nosso cérebro.
A formação de memórias depende, inicialmente, da recepção de estímulos
provenientes do meio externo, essas informações chegam ao nosso encéfalo por
meio dos “órgãos dos sentidos”, como o tato, o olfato, o paladar etc. A partir desse
momento, a atenção passa a ser fundamental na sequência do processo, pois quando
esses estímulos sensoriais não recebem atenção, a informação é perdida e nenhuma
mudança neurológica para a formação de memórias acontece. Por outro lado, os
estímulos sensoriais que recebem atenção serão convertidos em memórias de curta
duração (PARKER, 2014, RADANOVIC; KATO-NARITA, 2016).
Nesse momento, chegamos a uma encruzilhada: as memórias de curta dura-
ção podem ser eliminadas, desde que não sejam retomadas, porém, quando são
trabalhadas e voltam a receber atenção, são transformadas e armazenadas em
memórias de longa duração.

73
As memórias que formamos são agrupadas por temas, basta pensar em uma
UNIDADE 3

feira livre ou uma feira de rua, do que você lembra? Acredito que passou em sua
cabeça pastéis, hortaliças, frutas etc. Isso só foi possível porque nossos conheci-
mentos estão fixados em nossa cabeça por áreas temáticas, formando diversos
mapas mentais (CALL; FEATHERSTONE, 2013; RELVAS, 2010). O processo é
bem simples, mas ao mesmo tempo complexo. Desse modo, observe a Figura 1 a
seguir, que apresenta as principais estruturas neurológicas envolvidas no processo
de formação de memórias.

Descrição da Imagem:na Figura 1, observa-se as estruturas envolvidas na formação das memórias. Como se
fosse um Raio-X do encéfalo, deixando evidenciado a amígdala cerebral conectada ao hipocampo e, na parte pos-
terior da imagem, o cerebelo, estrutura que não armazena memórias, mas auxilia em seu processo de formação.

Amígdala

Hipocampo Cerebelo

Figura 1 - Hipocampo e amígdala cerebral na formação de memórias

Caro(a) aluno(a), o hipocampo apresentado na figura anterior é a região res-


ponsável por formar memórias. Evidentemente, essa estrutura depende de
diversas outras estruturas neurológicas para consolidar as aprendizagens.
Observe, na imagem, uma pequena bola na ponta do hipocampo, a amígdala
cerebral, que tem por função classificar o estado emocional do aprendiz no
momento da formação da memória.
74
UNICESUMAR
pensando juntos

Se o hipocampo é tão importante para a formação de memórias, a retirada dele poderia


resultar na impossibilidade de construir memórias?

No momento de se consolidar uma nova memória, é necessário manter alto ní-


vel de atenção, por essa razão os métodos empregados são importantíssimos.
Sobretudo, é fundamental se preocupar com o estado emocional do aprendiz,
caso contrário, há o risco de inibir a aprendizagem.
Para explicar melhor, considere um momento de estresse, como o medo, a
fúria, uma ansiedade excessiva, dentre outras tantas situações que são controladas
pelo sistema límbico dos seres humanos, em outras palavras, são eventos primi-
tivos, para a sobrevivência (FONSECA, 2016). Nesses momentos nos mantemos
racionais? Por vezes brigamos, esbravejamos, xingamos, muitas vezes surge um
branco durante uma prova, esquecemos trechos importantes em uma apresenta-
ção. Todos esses eventos emanam, em especial, pela ativação da amígdala cerebral,
responsável por perceber nosso estado emocional em dado momento, e se por
alguma razão nosso estado de alerta for negativo, a parte racional do cérebro
será momentaneamente bloqueada, impossibilitando a manutenção de foco, a
evocação de memórias relacionadas a tal temática e, por fim, pequena ativação
hipocampal, ou seja, existe, aqui, a impossibilidade de formar boas memórias.
Desse modo, o ato de formar memórias depende diretamente do estado emo-
cional do aprendiz, pois quando confortável, dentro do contexto de aprendiza-
gem, permitirá acesso aos canais de captação de estímulos sensoriais do ambiente,
direcionando tais experiências para o hipocampo que, por sua vez, consolida uma
nova aprendizagem (FONSECA, 2014; PIRES; FERREIRA; ACAMPORA, 2018).
Simplificando a você, as áreas sensitivas do cérebro identificam estímulos
respectivos, as áreas de associação integram esses sinais a outros dados de outros
sentidos já existentes e, na sequência, irão compará-los com as memórias e os
conhecimentos já existentes no cérebro e associá-los a emoções e sentimentos.
Para apresentar a você, de modo técnico, como essa construção de uma memó-
ria de longa duração acontece, já sabemos que o hipocampo deverá formar uma
memória declarativa (consciente) e, para isso, é auxiliado pelo córtex entorrinal, giro
dentado e região CA3 (subárea do hipocampo). O hipocampo é interconectado
com todas as regiões do cérebro que registram e modulam o caráter emocional
das experiências com aquelas que determinam se são novas ou não (LENT, 2013).
75
O hipocampo recebe e emite fibras a vários núcleos da amígdala e do septo
UNIDADE 3

medial, do córtex pré-frontal mediolateral (este é essencial para o processamento


da memória de trabalho, a qual é crucial para manter a memória viva ou disponível
enquanto ela está sendo percebida ou processada), do córtex parietal associativo da
maior parte do córtex sensorial.“O hipocampo, a amígdala e os córtices entorrinal,
pré-frontal e parietal recebem também vias de informação referente ao estado de
consciência, alerta e ansiedade” (LENT, 2013, p. 247). A Figura 2 a seguir representa
as memórias de acesso consciente e inconsciente dos seres humanos.

Descrição da Imagem:a Figura 2 está construída em forma de um esquema gráfico, que subdivide as memórias
em declarativas do lado esquerdo e procedimentais ao lado direito. A imagem, ainda, representa as variações
dessas memórias em subtipos, pois memórias declarativas são subdivididas em memórias semânticas e epi-
sódicas. Por outro lado, as memórias procedimentais estão relacionadas ao aprendizado motor e seu amplo
condicionamento ou aperfeiçoamento.

Memória Declarativa Memória Procedimental


Contém informações adquiridas de Contém informações que não somos
maneira explícita e que somos conscientes de possuir que foi
conscientes em possuir adquirida de forma implícita

Memória Semântica Aprendizado Motor


Contém informações de fatos e
eventos independentes do contexto
que foi adquirida

Memória Episódica
Contém informações de fatos e
eventos particulares de um
contexto determinado Condicionamento
Permite codificação de
informações e conhecimentos
abstratos sobre o mundo que
nos rodeia (ex. a moeda
brasileira é o Real)

Permite codificação de informação relativa


a associações e eventos de caráter pessoal
(ex. minha filha nasceu em Londres)

Figura 2 - Os tipos e subtipos de memória e suas principais características


Fonte: Lent (2013, p. 246).

É bastante simples compreender o conceito de memórias declarativas: são memó-


rias de acesso consciente, as quais podem ser divididas em memórias semântica
e episódica. Para explicar o que são memórias semânticas, pergunto-lhe: qual
a capital do Brasil? Qual a moeda financeira dos Estados Unidos da América?
Se você conseguiu buscar, de modo consciente, em suas memórias, as respostas
76
para estas questões, já compreendeu do que se trata memórias semânticas. As

UNICESUMAR
memórias episódicas, por sua vez, estão associadas à busca, em sua cabeça, por
um evento, casamento, formatura, o evento do 11 de setembro etc.
Por outro lado, memórias procedimentais estão representadas nas ações in-
conscientes, como escrever, por exemplo. Nós pensamos no que escrever e não
em como escrever. Talvez, quando aprendeu a dirigir um carro, muitas ações
dependiam de sua atenção máxima, já hoje, os pés e as mãos simplesmente mo-
vimentam-se, de maneira automática.
Ampliando essa discussão sobre os mistérios do encéfalo humano, trago o
seguinte questionamento: você já passou por momentos de déjà vu? Aqueles mo-
mentos em que acredita já ter passado ou vivido pela mesma situação? E se eu te
falar que nossas memórias podem nos enganar? Isso mesmo! Nossas memórias
podem ser pessoais, mas também podem ser coletivas, ficou confuso? Calma, eu
lhe explico: as memórias podem ser perdidas ou fortalecidas ao longo da vida, ou
seja, fortalecemos aqueles eventos importantes e descartamos coisas irrelevantes
ou que já não nos interessa mais.
Como já discutido, a formação das memórias depende da nossa atenção e
da vivência sobre determinado evento que se pretende armazenar, no entanto
nosso cérebro também incorpora a essas lembranças fatos irreais, construtos do
imaginário, mentiras ou diversas variações a essas memórias, assim, é possível
acreditar ter passado por alguma situação, quando, na verdade, foi algo que es-
cutou de algum amigo, viu na televisão ou mesmo sonhou.
Para reforçar essa ideia, considere o seguinte: se durante o aprendizado,
após o nascimento, o recém-nascido apresenta um alicerce neuronal desestru-
turado e, ainda, em processo de amadurecimento, como é possível se recordar
de eventos da infância? Posso lhe responder de modo simples: é bem provável
que este momento de recordação tenha sido muito feliz ou muito traumático,
caso contrário, você pode se recordar de uma foto, de histórias contadas por
pais, parentes ou indivíduos que acompanharam seu crescimento. Em resumo,
nós, seres humanos, podemos “roubar” memórias de outras pessoas e acreditar
que são experiências individuais.
É válido ressaltar que existem memórias que são formadas em questão de se-
gundos, outras, em minutos e, outras ainda, em semanas. Basta comparar uma quei-
madura em uma panela quente com um conhecimento técnico de neurociências.

77
3
MEMÓRIAS DE
UNIDADE 3

CURTA E LONGA
duração

Caro(a) aluno(a), de qual maneira aprendemos? Após tantas discussões acerca


desse assunto, acredito que tenha conseguido responder a essa indagação de ma-
neira ampla, mas, ao analisarmos essa questão, de modo sutil e simplista, pode-
ríamos resolver essa problemática pela experiência, a maneira pela qual cada um
de nós perpassa por essa realidade que, possivelmente, será armazenada.
Neste momento, vale ressaltar alguns canais de comunicação do meio externo
para com nosso sistema nervoso central, para isso necessitamos dos “órgãos dos
sentidos”, que sempre foram muito estimulados durante os processos educacionais
de base. A construção de memórias depende das experiências sensoriais, ou seja, a
internalização das informações depende do tato, olfato, gustação, visão e audição.
Para que o sistema nervoso traduza os eventos vivenciados durante a aqui-
sição de novas memórias, é necessário a utilização de neurônios e redes neurais,
desse modo, considere a seguinte situação: ao ler um livro, assim como esse mate-
rial, as informações chegam pelos olhos (canal visual), a luz que chega a retina será
convertida em impulsos elétricos, que serão levados e processados pelo córtex
visual na região occipital (nuca) de nosso crânio (PARKER, 2014).

78
Dessa maneira, a realidade é internalizada de modo idêntico por meio de sinais

UNICESUMAR
elétricos que são conduzidos por diversas redes neurais, sendo processados e tra-
duzidos por eventos bioquímicos que ocorrem nos neurônios. Ao lembrarmos de
algo memorizado, o caminho inverso é realizado, fazendo com que nossos sentidos
e consciência possam interpretar tais códigos como tradução do mundo real.
De acordo com Lent (2013), é possível subdividir as memórias considerando
seu tempo de persistência em nosso encéfalo, sendo assim, existem memórias que
perduram por alguns minutos e aproximadamente 6 horas, estas são denomi-
nadas memórias de curta duração. Por outro lado, memórias de longa duração,
como as declarativas ou procedimentais apresentadas na aula anterior, podem
perdurar por horas, dias, meses ou anos. Para Guyton e Hall (2017), além das
memórias de curto e longo prazo, existe ainda a memória intermediária, que
pode durar horas e até mesmo semanas, no qual mudanças físicas, químicas e
anatômicas temporárias podem surgir nas redes neurais.
Para a consolidação de uma memória de curta duração é necessária a reto-
mada repetida de determinado conhecimento, assim mudanças físicas, químicas
e anatômicas nas sinapses ocorrem, ao construir memórias de longa duração
(GUYTON, HALL, 2017). Você já se deparou com situações de indivíduos que
sofreram acidentes e não se recordam daquele evento? Pois bem, isso ocorre pela
necessidade de tempo de repetição de uma memória, ou seja, para uma consolida-
ção fraca de uma memória de curta duração, é necessária a retomada dos eventos
por cerca de cinco ou dez minutos, e mais de uma hora para consolidação forte.
Desse modo, ao perdermos a consciência em um acidente essa retomada deixa
de ser possível, resultando na perda daquela memória.
Como todos sabemos, a repetição leva ao aprendizado, e um cansaço mental
pode inviabilizar a aquisição de informações. Pois bem, o aprendizado de longo
prazo é favorecido pela prática pedagógica fracionada e bem estruturada, ou
seja, fortalecer pequenas partes de conceitos que devem ser aprendidos resulta
em maior aprendizagem, quando comparada a um processo de ensino e apren-
dizagem superficial e amplo.
Ao que parece, as memórias de curta e longa duração ocorrem em paralelo,
ambas são processadas nas mesmas regiões (hipocampo, córtex entorrinal e córtex
parietal associativo), mas utilizam vias enzimáticas diferentes, o que pode favorecer
maior entendimento sobre a perda de memória, durante a velhice (LENT, 2013).

79
4
HUMOR,
UNIDADE 3

APRENDIZAGEM E
formação de memórias

Caro(a) aluno(a), uma sala de aula em que se imperam a cordialidade, a tran-


quilidade e o bom humor favorece a aprendizagem, pois o riso rompe estruturas
da imaginação e abre a mente do aprendiz. O humor aumenta o interesse dos
aprendizes, ao possibilitar a resolução de problemas, aumenta a confiança, ajuda
na superação de problemas e melhora a comunicação com os estudantes.
Obviamente, é impossível apoiar-se no humor 100% do tempo em sala de aula,
mas melhora a relação dos alunos com os professores, dos alunos com outros alunos
e, desse modo, o riso se faz uma excelente estratégia de ensino e aprendizagem.
Busque em suas lembranças um bebê de poucos meses, desconsidere as ações
reflexas. Pense que este distribui risos sempre que está satisfeito com algo, mesmo
que não conheça muito do mundo a sua volta. A risada dessa criança indica feli-
cidade. Logo, a comunicação por gestos não é diferente do que se passa conosco
quando satisfeitos e felizes.
Para lhe explicar melhor, considere um jogo de palavras que será percebido
pelas áreas da linguagem, podendo ser captadas para nosso mundo interior
pela visão ou audição: é desse modo que compreenderemos o que estamos
vendo ou ouvindo. Todas as vezes que uma situação absurda surgir, a risada
tomará conta, e nosso corpo irá nos trazer uma sensação de felicidade gigan-
tesca (RADANOVIC; KATO-NARITA, 2016).

80
Você já ouviu dizer que o hemisfério esquerdo do encéfalo humano ana-

UNICESUMAR
lisa, logicamente, as situações em que nos deparamos, já o hemisfério direito
é responsável pelos aspectos criativos. Posto isso, todas as vezes que um jogo
de palavras, como uma história que nos é contada chega por meio dos “órgãos
dos sentidos” para serem processadas e compreendidas, o cérebro esquerdo
tenta entender qual é o final lógico da história, enquanto o cérebro direito
considera a remota possibilidade do absurdo, desse modo, todas as vezes que
o lógico se transforma rapidamente em ilógico (absurdo), surge o divertido e,
consequentemente, as gargalhadas.
As gargalhadas gostosas que produzimos ou percebemos, em outras pessoas,
dependem da produção de um neurotransmissor chamado dopamina, o qual é
liberado na base do encéfalo em uma área denominada de área tegmentar ventral,
o qual se conectará a receptores que são nomeados como núcleos accumbens,
desencadeando assim, a reação do riso do córtex pré-frontal. Por fim, como rir
é um movimento de estruturas neurológicas responsáveis pelas ações motoras,
também serão acionadas a esse todo evento que gera prazer, e automaticamente
a vontade de fazer novamente será repetida e várias vezes acionadas pelo encé-
falo humano. Comumente, conhecido como circuito de recompensa (GOMES;
PEREIRA, 2016; BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
O humor é processado de maneiras diferentes no cérebro masculino e femi-
nino. No homem, o processo é bastante simples, o evento ou a história contada é
divertida ou não é, simples assim. É por esse motivo que, muitas vezes, mulheres
se deparam com homens gargalhando com um episódio do “Chaves”. Por outro
lado, o cérebro feminino é bastante complexo, a mulher consegue maior ativação
do circuito de recompensa mencionado acima, utiliza a informação recebida para
integrar melhor o conhecimento formal previamente adquirido com as emoções
(mulheres contam histórias nos mínimos detalhes, não é mesmo?). Por fim, surge
no cérebro feminino maior nível de humor, ou seja, uma sensação agradável.
Seja pela simplicidade ou complexidade do cérebro masculino ou feminino,
respectivamente, o humor tem função importantíssima na formação de memó-
rias de curta duração. Ao contar histórias engraçadas, ao se apoiar em piadas
saudáveis, o cérebro aumenta seu nível de atenção e de conexões neurais, o que
favorece o surgimento de uma memória. A partir desse momento, cabe ao pro-
fessor mediar atividades para retomar a temática, transformando-a em memórias
de longa duração.

81
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 3

Finalizamos essa unidade com uma confissão: como eu gosto dos assuntos
que se remetem à formação de memórias, da consolidação de novos aprendi-
zados, os quais ficarão retidos nos neurônios por dia, meses ou décadas, em
decorrência das adaptações físicas, químicas e anatômicas que ocorrem nessas
estruturas em virtude dos estímulos diversos, sejam eles do ambiente, sejam
dos mediadores de conhecimento.
A formação das memórias humanas depende da funcionalidade harmoniosa
de diversas estruturas neurológicas, como o hipocampo, córtex entorrinal, amíg-
dala cerebral, dentre outras áreas vinculadas ao sistema nervoso. Nesse viés, um
dos elementos cruciais para o armazenamento de novos conhecimentos é consi-
derar as emoções individuais e a base de conhecimentos prévios já memorizados
sobre um determinado assunto. Desse modo, um aprendiz confortável emocio-
nalmente tende a ativar e usar melhor o cérebro racional e, consequentemente,
aprender mais e melhor.
Verificamos, aqui, que o ato de aprender e moldar o cérebro humano é bastan-
te individual, uma vez que os motivadores de cada pessoa podem ser diferentes,
bem como sua personalidade. Independentemente da historicidade de cada um,
o aprendizado está relacionado de maneira direta à prática, ao nível de atenção
e motivação do aprendiz e, sobretudo, das estratégias, métodos e oportunidades
que serão oferecidas, nos mais diferentes contextos, para esses indivíduos que
necessitam absorver um novo conhecimento.
Caro(a) aluno(a), fica evidente nessa unidade que pensar em estratégias
que ampliem ou promovam mais facilmente a construção do aprendizado é
importante, sendo o humor uma excelente maneira de se ensinar, de conectar
conceitos, reduzir o estresse, aumentar a socialização dos aprendizes e, o mais
importante, construir em cada indivíduo a vontade de voltar a sala de aula e
aprender cada vez mais.

82
na prática

1. É notório, em todos os seres humanos, que o riso surge em virtude da satisfação.


Em crianças, esse evento ocorre mesmo que não conheçam algo. Sobretudo, a
gargalhada é um indicador de felicidade, assim como uma forma de comunicação.
Sobre o humor em sala de aula, assinale a alternativa correta.

a) A utilização de histórias bem-humoradas auxilia na formação de memória de


curta duração.
b) A utilização do humor, em sala de aula, deve ser utilizado apenas para relaxar o
cérebro, sem finalidades pedagógicas.
c) Homens usam melhor as histórias bem-humoradas que as mulheres para a for-
mação ou integração de conhecimentos.
d) O riso só será possível depois que o indivíduo adquirir capacidades de interpre-
tação visual e auditiva.
e) e) Ao se apoiar em momentos engraçados, o professor passará uma imagem de
pouca preocupação com a aprendizagem dos discentes.

2. A construção do conhecimento, apoiado nos princípios da neurociência com poten-


cial aplicação no ambiente de sala de aula, deve:

a) Considerar que cada região do cérebro trabalha individualmente, no qual a ati-


vação simultânea do córtex cerebral não ocorrerá, independentemente da ex-
periência de aprendizagem.
b) Apoiar-se na modificação neurológica pouco a pouco, em que o resultado da
experiência não terá capacidade de reestruturar o cérebro do aprendiz.
c) Interligar aprendizagem e emoções, apoiando-se em experiências adequadas a
cada período maturacional específico.
d) Apoiar-se na mediação por meio de experiências, sendo que as emoções, por terem
características primitivas, são descartadas no processo de ensino-aprendizagem.
e) Considerar que o cérebro humano é incapaz de testar hipóteses e gerar novos
padrões de conhecimento.

83
na prática

3. As emoções têm, obviamente, um papel fundamental na função adaptativa e de


sobrevivência da espécie e participam dos processos de aprendizagem dos seres
humanos, inclusive da aprendizagem dos conhecimentos escolares. Como podería-
mos colocar dentro dos currículos escolares o ensinamento das emoções? Marque
a alternativa correta.

a) Direcionar o aluno com maior frequência ao trabalho com os psicólogos, pois


com essas conversas o aluno educará suas emoções.
b) Motivar os alunos a persistir mediante os acertos e frustrações, controlar impul-
sos, centralizar emoções para situações específicas, motivar pessoas e fazê-las
desenvolverem seus melhores talentos.
c) Por meio restrito ao aprendizado de conhecimentos de leitura e escrita, pois com
uma boa base educacional o aluno não terá motivos para ficar emocionalmente
abalado.
d) Deixando o aluno tomar todas as decisões, uma vez que as emoções servem para
a sobrevivência, assim o acadêmico será treinado a tomar decisões e aprender
com as consequências de seus atos, sendo elas boas ou não.
e) As emoções ocorrem por base neurológica primitiva, no qual seu treinamento é
improvável em virtude de suas funções pré-concebidas.

4. Para a formação de memórias, as áreas sensitivas do cérebro identificam estímulos


respectivos, e as áreas de associação integram esses sinais a outros dados de outros
sentidos já existentes, na sequência irão compará-los com as memórias e conheci-
mentos já existentes no cérebro e associá-los às emoções e sentimentos. Sobre a
formação de memórias, assinale a alternativa correta.

a) A formação de memórias depende diretamente do nível de atenção do aprendiz.


b) Memórias de longa duração são formadas inicialmente, seguida da consolidação
de memórias de curta duração.
c) Memórias de curta duração são formadas mesmo que o aprendiz não tenha
oferecido atenção aos estímulos recebidos.
d) Memórias de curta duração apresentam duração de semanas.
e) Ao formar memórias de longa duração, a aprendizagem certamente permane-
cerá armazenada até o final da vida.

84
na prática

5. Observe o esquema referente à formação de memórias apresentado a seguir.

Entrada proveniente
de sentidos

Não recebeu
MEMÓRIA SENSORIAL atenção

Recebeu atenção Informação


perdida

MEMÓRIA DE Memórias não


CURTA DURAÇÃO consolidadas

Memórias
consolidadas

MEMÓRIA DE
LONGA DURAÇÃO

Sobre o processo de formação de memórias, assinale a alternativa correta.

a) As informações que recebem pouca atenção não serão perdidas, serão armaze-
nadas como memórias inconscientes.
b) Para se construir uma memória, a receptividade de estímulos sensoriais é pouco
relevante.
c) Para que seja formada uma memória, deve-se receber uma informação, que com
a devida atenção será transformada em memória de curta duração e, possivel-
mente, longa duração.
d) Para a consolidação de uma memória, basta receber um estímulo qualquer que
a informação será armazenada.
e) Dependendo da intensidade do estímulo, é possível formar memórias de longa
duração, mesmo que uma memória de curta duração não tenha sido formada.

85
na prática

6. Tendo consciência de que todo ser humano é diferente e podem aprender cada um
em seu tempo e do seu modo, não importando classe social, financeira ou física, qual
é a soma da base ideal para se alcançar o aprendizado? Assinale a alternativa correta.

a) Oportunidade + atenção + leitura + música = aprendizado.


b) Professores + apostilas + pais + métodos = aprendizado.
c) Métodos + prática + motivação + atenção + oportunidade = aprendizado.
d) Escola + alunos + professores + pais + amigos = aprendizado.
e) Prática + motivação + atenção + brincadeiras = aprendizado.

86
aprimore-se

EXERCÍCIO, MEMÓRIA E DEPRESSÃO

Diversas são as estratégias para melhorar a aprendizagem e a formação de memó-


rias. Um dos elementos essenciais para a consolidação das memórias é uma molé-
cula chave denominada Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF). O mais im-
pressionante é que o aumento da expressão do BDNF ocorre, em especial, por meio
da realização de exercícios físicos, em que o efeito dessa proteína no hipocampo e
subáreas responsáveis pela formação das memórias continua sendo aumentada
por alguns dias, após a realização das atividades motoras (MOOREN; VOLKER, 2012).
Exercícios aeróbios são os mais estudados no que se refere a essa temática, o
que não descarta a importância de exercícios de maior intensidade, os quais dei-
xam os seus praticantes ofegantes e com dificuldades para consumir oxigênio.
Dessa forma, sejam exercícios como corridas, danças ou musculação, permitem o
aprendizado em menos tentativas em decorrência do aumento da proteína BDNF
no hipocampo, o que acelera a aprendizagem, além de outros produtos gênicos da
plasticidade sináptica.
A prática regular de exercícios físicos, além de influenciar positivamente o apren-
dizado e a memória, atua como mecanismo não farmacológico para combater a de-
pressão, isso por que a elevação da expressão gênica do BDNF sobre o hipocampo
também pode agir como antidepressivo para as desordens de humor. Posto isso,
pode se sustentar que o exercício tem consequências anatômicas, celulares, mole-
culares e funcionais positivas para o cérebro (LIMA, 2017).
Simultaneamente às discussões sobre memória está a amnésia, a qual é a perda
ou a falha de memórias declarativas. Diversas doenças podem provocar amnésia,
entre elas a mais comum, mas, a menos grave, pois geralmente não causa danos
neuronais, advém de quadros de depressão. Evidentemente, as demências são ex-
tremamente graves, por exemplo, a doença de Alzheimer, a doença de Parkinson, a
dependência crônica de álcool ou cocaína, lesões ou traumatismos cranianos, den-
tre tantas outras (LENT, 2013).

87
aprimore-se

Vale ressaltar, aqui, a apnéia obstrutiva do sono (OAS), que provoca interrupções
do mecanismo respiratório durante a noite de sono. A OAS causa hipóxia, a qual
pode gerar danos aos tecidos corporais, como, complicações cardiovasculares, so-
nolência e alterações neurocognitivas (NASCIMENTO, 2016).
A falta de oxigenação, durante o período de sono, pode influenciar para uma de-
formação de memórias, sobretudo, na confusão com algumas demências. A apneia
noturna, frequente e prolongada, resulta no esquecimento de situações simples ou
complexas do cotidiano, no qual os prejuízos em decorrência de alterações neuro-
lógicas podem ser confundidos com doença de Alzheimer. As memórias definem
nossa personalidade e capacidade de resolução de problemas e, também, são mol-
dadas pelo ambiente que estamos inseridos. Tal e como verificamos, o exercício
pode ser um excelente aliado no aprendizado, na profilaxia de diversas patologias
neurológicas ou mesmo para a saúde em geral.

Fonte: o autor.

88
eu recomendo!

filme

Sem Limites
Ano: 2011
Sinopse: o escritor Eddie Morra (Bradley Cooper) não está con-
seguindo cumprir os prazos para a entrega de um livro, esse blo-
queio de escritor é superado pela utilização de um remédio que
potencializa a atividade neural, permitindo a utilização de 100%
do cérebro. O efeito da medicação é imediato, e o escritor passa
a lembrar de tudo que já leu, viu ou ouviu durante a vida. Seu su-
cesso no aprendizado de diversas línguas, resoluções de cálculos e mesmo escrita
impressiona até mesmo grandes empresários.
Comentário: neste filme, observa-se a maior atividade e capacidade neurológica
em virtude da utilização de uma substância farmacológica, no entanto, na vida
real, muitos indivíduos necessitam da utilização de medicamentos para ampliar
a performance cognitiva. Por outro lado, pessoas que não apresentam déficit na
liberação de neurotransmissores não terão efeitos otimizados em sua memória,
atenção, foco ou potencialização da atividade neural.

conecte-se

Os Super-humanos
A série mostra uma mulher chamada Elisabeth Sulston com alto grau de sineste-
sia, que é uma função fisiológica de fundir os sentidos, além de melhorar a me-
mória e o aprendizado. Ressalto, aqui, que o cérebro humano pode nos enganar,
criar e recriar situações. Os vídeos sugeridos é apenas para fortalecer as discus-
sões acerca dos processos de aprendizagem humana.

Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=gwOoNthhvMU
Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=8yMx30qyDWs

89
4
COGNIÇÃO E
FUNÇÕES
EXECUTIVAS

PROFESSOR
Dr. Weslei Jacob

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Funções Cognitivas • Sistema
Límbico • Funções Executivas • Tríade da Aprendizagem.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Oferecer ao discente informações e conhecimentos sobre a cognição humana e aprendizagem • Apre-
sentar a importância do sistema límbico como fator determinante na aprendizagem • Desenvolver
entendimento sobre as funções executivas dos seres humanos • Relacionar funções cognitivas, conativas
e executivas para a aprendizagem.
INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), ao observar o funcionamento do cérebro, compreendemos o surgi-


mento e o fortalecimento das sinapses, a criação dos circuitos neurais e as adaptações
para a velocidade de condução dos impulsos elétricos. Também desvendamos os
processos de ensino e aprendizagem, os quais estão intimamente interligados a evo-
lução do cérebro, das características dos neurônios, bem como do amadurecimento
biológico e cultural dos seres humanos.

Dentro desse eixo central dos processos de ensino e aprendizagem, serão abordadas
as funções cognitivas, a atuação do sistema límbico e as funções executivas como um
tripé que permite, potencializa e aperfeiçoa os processos de aprendizagem.

A cognição humana, diretamente associada à capacidade de resposta individual para


as mais diferentes situações, depende de íntima relação dos lobos frontais com outras
regiões encefálicas, e é por essa razão que os seres humanos são capazes de receber
estímulos sensoriais (input), identificar tais estímulos, apoiar-se em memórias já adqui-
ridas para selecionar as respostas mais adequadas para alguma respectiva situação
e, por fim, programar a ação que será executada (output).

O sistema límbico concebe análises interessantes do processo evolutivo do encéfalo


humano. Mesmo com tantos séculos de evolução humana, traços primitivos perma-
necem vívidos em áreas da base do encéfalo, são eles que induzem o comportamento
emocional que tem por papel principal nos manter seguros e vivos. Sobretudo, o sis-
tema límbico está diretamente envolvido nos processos de aprendizagem, pois, se por
influências ambientais, a sinalização primitiva for pequena, maior será o acionamento
das funções cognitivas, melhorando as capacidades de resposta e por consequência
o aprendizado.

As funções executivas ou complexas são a interligação das funções primitivas do sis-


tema límbico e as funções cognitivas no ato de executar alguma ação, que na maior
parte das vezes é expressada por algum movimento corporal, seja ele verbal, não
verbal, esportivo, dentre outros.
1
FUNÇÕES
UNIDADE 4

COGNITIVAS

Caro(a) aluno(a), o que consegue pensar ou dizer a respeito da cognição? Você


acredita que é algo que acontece no cérebro? Se pensou e respondeu algo seme-
lhante, você acertou e começou esse capítulo com o pé direito. Cognição humana
é a capacidade que os seres humanos têm de receber problemas, encontrar solu-
ções e executar as ações necessárias.
Para Fonseca (2014), a cognição e a inteligência emergem dos neurônios, os
quais podem ser considerados células de aprendizagem, que sustentam e con-
solidam somaticamente qualquer tipo de aprendizagem, seja ela de base sensó-
rio-motor, práxica, verbal, não-verbal, operacional e quaisquer tipos de novos
conhecimentos que se abarcam na leitura, na escrita, na matemática etc.
A aprendizagem humana, bem como a cognição, está pautada em uma in-
vestigação multi e transdisciplinar, a qual está relacionada ao conhecimento e
aos pensamentos. Desse modo, as aprendizagens simbólicas ou não simbólicas
envolvem diversos processos cognitivos e uma complexa estrutura neurológica
para arquitetar, integrar e organizar a sequência de informações.
Antes de discutirmos a fundo a função cognitiva, observe a anatomia cerebral
na figura abaixo. É bem verdade que existem regiões corticais de acesso cons-
ciente e também existem zonas subcorticais, responsáveis pelo processamento
primitivo, responsável por ações inconsciente. Entretanto, vamos analisar rapi-
damente algumas áreas de processamento no cérebro, essa estrutura com aspecto
enrugado ou amassado, conforme se pode observar na Figura 1 a seguir.
92
Descrição da Imagem: observa-se na figura abaixo a estrutura encefálica, deixando mais evidente, com cores

UNICESUMAR
distintas, os lobos cerebrais. A imagem evidencia os lobos frontal, temporal, parietal e occipital. Esses lobos
subdividem importantes regiões para processamentos específicos no cérebro.

Anterior Posterior

Sulco central
Lobo parietal

Lobo frontal
Lobo occipital

Lobo temporal

Figura 1 - Lobos cerebrais

É na parte posterior (lobo occipital) da nossa cabeça, que analisamos as informa-


ções visuais. No lobo temporal, por sua vez, localizado próximo à orelha, proces-
samos informações auditivas; no lobo parietal o, processamento cinestésico; no
córtex motor, processa-se as informações relacionadas a movimentos; no lobo
frontal (testa), consciência e personalidade; e abaixo dos lobos frontais está o
córtex pré-frontal, uma superestrutura que analisa com consequência todas as
nossas ações, orquestrando as funções mentais.
Os hemisférios cerebrais, as estruturas neurológicas e as células que levam
os comandos até estruturas periféricas do corpo humano estão interconectadas.
Desse modo, a imensa conexão existente entre as estruturas neurológicas permite
considerar que o processamento das informações acontece em áreas específicas,
no entanto, a superestrutura encefálica apresenta uma rede de conexões íntimas
o suficiente para se conectar rapidamente a diversas outras regiões.
Ilustríssimo(a) aluno(a), no que se refere à aprendizagem, não é possível se-
parar as possibilidades cognitivas, as quais possuem diversas estruturas neuro-
lógicas que realizam processos de modo interligado. No entanto, fragmento aqui
a cognição, para esclarecer o modo pelo qual nosso cérebro processa as mais
diferentes informações que se pode receber e analisar. Em resumo, a cognição é
93
um dos principais elementos que alicerçam a aprendizagem e, sobretudo, está re-
UNIDADE 4

lacionada à capacidade que temos de receber informações do ambiente, encontrar


respostas em nossas memórias e realizar uma ação referente ao estímulo recebido.
De acordo com Bee e Boyd (2011), as teorias cognitivas enfatizam os aspectos
mentais do desenvolvimento, tais como lógica e memória. Por essa razão, um bebê
comumente joga as coisas ao chão, sendo realizada por ele uma análise repleta de
atenção, como se ele já soubesse o percurso que tal objeto irá percorrer e onde ele
irá parar. Nessa repetição de jogar objetos no chão, os bebês aprendem o mundo
ao seu redor e, assim, formam quadros mentais que subsidiarão seus comporta-
mentos. Após essa aprendizagem, pouco a pouco o bebê amadurece, avançando
na interação com o mundo ao seu redor.
Para esclarecer melhor a lógica da cognição humana, faça a seguinte reflexão:
um pedestre em movimento, no meio de um tráfego intenso da cidade, quais in-
formações ele precisa processar? Muitas, não é mesmo? Esse ambiente oferece ao
pedestre diversos estímulos ambientais, desde um outro pedestre que está em nosso
caminho, que devemos desviar, da velocidade dos carros em nossa direção, para que
não sejamos atingidos, até a grande variedade de estímulos sonoros, dentre tantas
outras informações. Todos esses estímulos podem ser considerados como input, ou
seja, entrada de informações para processamento. Por outro lado, a ação realizada
como resultado do processamento da informação é denominada de output.
Posto isso, é possível avançarmos para três importantes estágios de proces-
samento da informação: a identificação do estímulo; a seleção da resposta; e a
programação da ação. Esses estágios de processamento estão entre o input e o
output (SHIMIDT; WRISBERG, 2010).
O primeiro estágio fornece fontes importantes de informação, indicando o
que se deseja como resultado final, podendo, conforme exemplo mencionado
anteriormente, evitar um pedestre ou veículo. Esse primeiro estágio depende di-
retamente da captação de estímulos do ambiente para reunir os componentes da
informação, utilizando para isso os sistemas sensoriais, tais como: visão, audição,
tato, olfato e paladar. No caso de o indivíduo conseguir reunir todas as etapas
necessárias da informação recebida do ambiente, avança-se ao próximo estágio.
O estágio dois, de seleção da resposta, relaciona-se com as diversas possi-
bilidades de criar uma ação e resolver os problemas provenientes do estágio de
identificação de estímulo. Suponha que o veículo que se desloca na rua apresenta
uma determinada velocidade, e devemos decidir se atravessamos rapidamente a

94
rua na frente do carro ou esperamos ele passar, ou seja, a seleção da resposta está

UNICESUMAR
intimamente associada à variabilidade de memórias, aprendizados armazenados
para as mais diferentes e possíveis resoluções do input.
Por fim, o terceiro estágio de programação da resposta depende do construto
selecionado no segundo estágio. É nesse momento que se prepara para a ação.
Aqui organiza-se o sistema sensorial, indicando para qual lado nossa visão deve
olhar, é ajustada a base postural e prepara os músculos e os programas motores
para a execução dos movimentos. Quando todas essas etapas estiverem ajustadas,
o output será visto, fotografado ou filmado.
Caríssimos(as), vamos simplificar essa explicação. Quando está resolvendo
uma prova teórica, ao ler (input) um determinado item (questão), está captando
e estruturando elementos de informações em seu encéfalo, utilizando para isso
o sistema sensorial da visão. Após identificar os estímulos sobre a temática, os
comandos presentes no enunciado irão buscar em suas memórias uma resposta,
a qual pode ser assinalada entre os itens A e E. Posteriormente a análise detalhada,
você acredita que a alternativa correta se encontra na letra B, para assinalar, deve
estruturar e organizar o movimento de sua mão, anotando na folha (output) o
construto cognitivo.
Como vemos, da resolução de problemas até sua expressão em forma de
ação, exige em seu conjunto diferentes funções cognitivas, a qual também pode
ser significada por habilidades, capacidades ou competências cognitivas. São
elementos das funções cognitivas: atenção; funções motoras; funções visuais;
memória; funções executivas; praxia construtiva; linguagem; nível intelectual.
Tome como exemplo a seguinte situação: você chega em casa e sente um odor
de fumaça (atenção), ao reconhecer o cheiro (percepção) com base no que já
aprendeu (memória), esse pode ser um sinal de incêndio, desse modo você irá
buscar estratégias para resolver o problema (funções executivas).
Essas habilidades cognitivas são usadas para aprender, compreender e inte-
grar as informações de uma forma significativa. A Informação aprendida cog-
nitivamente é entendida e assimilada, não apenas memorizada. Desse modo,
são subdivididas em capacidades executivas, motoras, simbólicas, sociais etc., as
quais remetem-se ao domínio da linguagem, da compreensão de fenômenos, do
enfrentamento de situações problemas, da construção de argumentações e da
elaboração de propostas (FONSECA, 2007).

95
Para treinar processos cognitivos devemos visualizar, imaginar, verbalizar e
UNIDADE 4

categorizar informações processadas cognitivamente, que são emocionalmente


ativadas, controladas e reguladas ao possibilitar uma aprendizagem significativa,
capacidade de pensar e raciocinar que deve ser ensinada.
Para elucidar melhor, observe o exemplo a seguir: buscar focos de possível
incêndio. Para fazer tal ação, um indivíduo deve ser capaz de identificar o cheiro
de queimado ou de fumaça, desviar a atenção para ele, associar essa informação
a algum objeto do ambiente e, em seguida, utilizar as habilidades motoras para se
locomover e buscar o foco do incêndio. Em síntese, é o que realizamos em nosso
domicílio quando sentimos ou percebemos situações semelhantes, locomovemo-
-nos à cozinha, aos banheiros e outros cômodos na busca de encontrar possíveis
irregularidades. Todas essas etapas são classificadas como habilidades cognitivas.
O desenvolvimento cognitivo é um conjunto de competências que podem ser
diagnosticadas e ensinadas separadamente, que certamente se correlaciona com a cul-
tura. Dificuldades de aprendizagem podem surgir por várias causas, como baixo Q.I.,
fracos hábitos de estudos, autoconceito negativo, fraca atitude, conflitos emocionais,
ensino pobre ou dispedagogia, falta de motivação e desenvolvimento inadequado dos
processos cognitivos que viabilizam a aprendizagem (FONSECA, 2007).
Para elucidar a aplicação de elementos que discorremos até aqui, observe o
quadro abaixo.
OS PROFESSORES PODEM
HABILIDADES OS ESTUDANTES GOSTAM DE
FAZER

Passar o tempo ao ar livre, Utilizar o espaço fora da sala de


observar, colecionar plantas, aula, ter plantas e animais na sala
Naturalista
pedras, animais, perceber a de aula, conduzir experiências de
natureza. ciências etc.

Criar projetos de leitura e escrita,


Contar histórias, trocadilhos,
ajudar os alunos a preparar dis-
Linguística adivinhações, jogos de pala-
cursos, despertar para os deba-
vras, criar poemas.
tes, palavras cruzadas.

Escutar e tocar instrumento, Reescrever letras de músicas para


Musical relacionar ritmo, rimas, criar ensinar conceito, ensinar história
notas. por meio de música.

96
OS PROFESSORES PODEM

UNICESUMAR
HABILIDADES OS ESTUDANTES GOSTAM DE
FAZER

Trabalhar com números, adi-


Usar jogos de estratégias, usar
vinhar coisas e ao analisar si-
Lógico-mate- objetos concretos, gravar infor-
tuações compreender como as
mática mações em gráfico, estabelecer
coisas funcionam, exibir preci-
linhas de tempo e espaço, mapas.
são em resolver problemas.

Jogar esportes e ser ativo, usar


Proporcionar atividades de
Cinestésico corpo, arte, dança, representar
movimentos.
mímicas.

Rabiscar, pintar, desenhar ou


criar representações tridimen-
Desenhar mapas e labirintos, con-
Espacial sionais, trabalhar com quebra-
duzir atividades de visualização.
-cabeça, completar labirintos,
montar e desmontar coisas.

Permitir o trabalho no ritmo de


Controlar os próprios senti- cada um, designar projetos indivi-
mentos e humores, estabele- duais e direcionados, estabelecer
Intrapessoal cer metas pessoais, aprender metas, oferecer oportunidades
a escutar, utilizar habilidades de receberem feedbacks dos ou-
metacognitivas. tros, envolver em um projeto de
reflexão.

Curtir amigos, liderar, meditar, Utilizar aprendizagem cooperati-


dividir, entrar em consenso, va, passar projetos em grupo ou
Interpessoal
trabalhar como membro de em duplas, criar situações nas
um time efetivo. quais troquem informações.

Quadro 1 - Propondo atividades combinadas


Fonte: Relvas (2010, p. 104).

Tal e como discutimos, o quadro apresentado acima indica o que se pode fazer
para criar estratégias, do que se pode fazer para trabalhar e para desenvolver as
habilidades predominantes nos aprendizes. Desse modo, desperta-se o interesse
em aprender a aprender, conhecer, conviver, fazer e ser.

97
2
SISTEMA
UNIDADE 4

LÍMBICO

Caro(a) aluno(a), você já reparou que existem situações em nosso cotidiano nas
quais agimos de modo inconsciente e tomamos decisões de maneira instintiva?
Pois bem, e se eu te disser que dentro dos processos educacionais nós falamos
ou tentamos ensinar para a parte errada do encéfalo, você acreditaria? Para te
convencer dessa situação, gostaria que fizesse a seguinte reflexão: ao considerar
que grande parte da sociedade é extremamente consumista, ao entrar em uma
loja de roupas ou calçados, você se depara com um item único, elegante, bonito
e, acima de tudo, que tenha um caimento perfeito em seu corpo ou pés. Talvez
alguns diriam: “eu preciso dessa peça de roupa ou desse par de calçados”, quando,
na verdade, seu guarda-roupas está repleto de roupas novas, centenas de outros
calçados, ou seja, na verdade você não necessita de mais esse item.
Posto isso, por qual razão compramos mesmo sem precisar? Difícil de
responder, não é mesmo? Compramos pela nossa emoção e não pela razão. A
partir de agora, estamos prontos para discutirmos sobre esse encéfalo primitivo,
que, por diversas vezes, toma conta de nossa consciência.

98
UNICESUMAR
pensando juntos

Os seres humanos são dotados da capacidade de processar informações, desse modo, a


parte primitiva do nosso encéfalo realiza análises de maneira consciente ou inconsciente?

O sistema límbico influencia o comportamento instintivo e subconsciente (sem


acesso voluntário) das pessoas e, em grande parte das vezes, está associado às
respostas relacionadas à sobrevivência ou à reprodução. Nos seres humanos, o
sistema límbico e diversas estruturas associadas desempenham papéis complexos,
relacionados à expressão de instintos, impulsos ou emoções (PARKER, 2014).
A ação primitiva inata pode ser modificada por considerações racionais, ela-
boradas por regiões superiores do encéfalo (acesso voluntário), considerando a
execução de nossas ações os valores morais, sociais e culturais. Sobretudo, essas
modificações são essenciais ao comportamento humano, posto que nem sempre
os atos humanos são racionais, em especial em tempos de tensão ou crise.
Permita-me apresentar-lhe uma situação para esclarecer melhor: o que difere
os seres humanos de um animal selvagem? O raciocínio. Agora, imagine uma
super mulher, batalhadora, que estuda e trabalha muito e, além de tudo, deve
gerir uma família e obviamente uma casa, você deve conhecer alguém assim,
não é mesmo? Considere que seu esposo, em um dia de folga, agende, em sua
residência, um jantar com parentes e amigos. No entanto, nesse dia, a mulher se
encontra muito atarefada no trabalho, faculdade ou pós-graduação. Ao ser infor-
mada pelo esposo de sua decisão, a mulher não gosta muito da ideia, pois sua casa
está bagunçada demais para receber visitas e, ela ainda sabe que deverá trabalhar
muito nesse evento social, mesmo após um dia repleto de atividades desgastantes.
À medida que a hora do almoço chegou, essa mulher correu para casa para ajei-
tar a casa e iniciar o preparo de algum prato para servir à noite e, logo depois, volta
para sua rotina de trabalho. Ao final do dia, a mulher corre para casa e, com muito
esforço, consegue deixar tudo em ordem e solicita ao seu esposo que observe o prato
que levou ao forno, pois ela iria banhar-se. Alguns minutos depois, a mulher deixa
o chuveiro desesperada e corre para a cozinha, pois sentiu um odor de queimado.
Ao chegar ao forno, seu prato, preparado com tanto esforço já havia queimado.

99
Caríssimo(a), no início do parágrafo anterior, definimos a principal diferença
UNIDADE 4

entre seres humanos e animais selvagens, e como a mulher é um ser racional, ao


se deparar com aquela situação, ela olha para o seu cônjuge e diz: “tudo bem, eu
faço outro”. Talvez esteja rindo e lembrando da sua mãe, tia ou avó na mesma
situação e para muitas mulheres a ação não seria essa, um momento de fúria, de
insatisfação, de descontentamento tomaria conta de todo o organismo e, possi-
velmente, panelas iriam voar. Claro que algumas palavras de muito carinho, ou
seja, tentar se justificar ou argumentar só iria piorar a situação nesse momento.
Vale ressalvar, aqui, que os instintos ou impulsos primitivos podem ser modela-
dos racionalmente e talvez algumas mulheres lidariam tranquilamente com uma
situação semelhante a essa.

pensando juntos

Será que em momentos de descontrole emocional é possível manter a racionalidade du-


rante a tomada de decisão?

O questionamento que lhe faço é: por que em alguns momentos perdemos a razão
e depois nos arrependemos de algo que falamos ou fazemos? O sistema límbico
está localizado na parte central inferior do encéfalo e suas estruturas controlam
os impulsos sobre o comportamento externo, como digestão, micção e, claro, as
emoções, sejam elas de raiva, ciúme ou impulsos de fome. Para a história que
retratei a você, a forte expressão emocional influencia não apenas o compor-
tamento, mas sim o processamento racional. Em resumo, todas as vezes que o
sistema primitivo estiver altamente ativado, nosso acesso ao controle racional do
comportamento humano estará dificultado, fazendo-nos agir primitivamente,
organizando nosso corpo para a sobrevivência.
Diversas são as estruturas límbicas, as quais podem ser observadas na Figura
2. Destacam-se: hipocampo, amígdala cerebral, giro para-hipocampal, mesencé-
falo, fórnice, giro do cíngulo, corpo mamilar e corpo caloso, bulbos olfatórios,
hipófise e ponte (PARKER, 2014). Sobretudo, é importante considerar que outras
áreas neurológicas estão envolvidas no processamento instintivo (RELVAS, 2010).

100
Descrição da Imagem: a Figura 2 está em corte no plano sagital, por essa razão, pode-se observar as estru-

UNICESUMAR
turas neurológicas que estão ao centro do encéfalo, principalmente estruturas importantes que compõem o
sistema límbico. A imagem evidencia as seguintes estruturas neurológicas: fórnice, estria medular do tálamo,
estria terminal, hipocampo no lobo temporal, giro denteado, núcleo anterior do tálamo, trato mamilotalâmico,
giro do cíngulo no lobo frontal, comissura anterior, núcleos septais, corpo mamilar, bulbo olfatório, corpo
amigdaloide e giro para-hipocampal no lobo frontal.

Figura 2 - O sistema límbico


Fonte: Tortora e Nielsen (2019, p. 644).

Ao iniciar esse item, indiquei que comunicamos para a parte errada do encéfalo,
mas antes de discutirmos e analisarmos situações cognitivas ou mesmo execu-
tivas, é fundamental “desarmar” o sistema límbico, pois se ele estiver fortemente
ativado, tem condições de bloquear nossa racionalidade. Desse modo, devemos,
antes de mais nada, considerar a base emocional de qualquer aprendiz.
O sistema límbico se relaciona com aspectos positivos e negativos dos seres
humanos, como as motivações, as emoções, o temperamento e a personalidade
do indivíduo. Posto isso, Fonseca (2014) diz que o aprendiz estará constante-
mente questionando: Por que faço a tarefa? O que faço com a tarefa? Como
me sinto com a tarefa?
Os processos de ensino e aprendizagem envolvem muito mais que bons recur-
sos, é fundamental considerar como estratégia pedagógica os estados de humor,
medo, ameaça, perigo, ansiedade, insegurança, desconforto etc.

101
3
FUNÇÕES
UNIDADE 4

EXECUTIVAS

Historicamente busca-se compreender a complexidade do comportamento hu-


mano e a maneira pela qual as relações sociais e interpessoais manifestam-se. A
organização das funções neurológicas, em especial das funções executivas, há
séculos intriga pesquisadores, os quais buscaram entender as razões que levaram
pessoas com lesões neurológicas a permanecerem vivas ou mesmo indivíduos
sem deficiências aparentes apresentarem alterações comportamentais.
As funções executivas são um construto de diversas operações cognitivas, poden-
do ser influenciadas por respostas do sistema límbico, sobretudo a flexibilidade ou a
autorregulação das operações mentais e comportamentais, na estruturação do plane-
jamento cognitivo que fazem parte do domínio das funções executivas (LENT, 2013).
Caro(a) aluno(a), para elucidar a você, ao tratarmos de funções executivas basta
se apoiar nos capítulos anteriores dessa unidade, os quais apresentaram e discutiram
as funções cognitivas e o funcionamento do sistema límbico, desse modo, a tomada
de decisão com consciência, antevendo as consequências que o planejamento de
suas ações podem ocasionar, são denominadas funções executivas.
O comportamento executivo envolvido no planejamento das ações humanas,
está relacionado, historicamente, ao processamento neural nos lobos frontais
(testa) e córtex pré-frontal, o que permanece adequado até os dias atuais. Re-
centemente, com o avanço da tecnologia, exames de neuroimagem demonstram
que, além dessas duas regiões neurológicas, outras redes neuronais presentes no
102
cérebro e no cerebelo participam ativamente da elaboração dos comportamentos

UNICESUMAR
executivos dos seres humanos.
O córtex pré-frontal, presente nos lobos frontais, está relacionado às funções
superiores que podem ser representadas por diversos comportamentos humanos.
Posto isso, qualquer lesão da área pré-frontal determina a perda de concentra-
ção, diminuição da habilidade intelectual, déficit de memória e julgamento. Para
simplificar, essa região está associada à fala, as funções motoras, controle práxi-
co, exploração visual, planificação e programação de tarefas, julgamento social,
dentre outras (RELVAS, 2010).
Nos lobos frontais, quando intactos, está a integridade do bom desempenho
executivo. Diversas estruturas neuronais, mesmo que fora dos lobos frontais, conec-
tam-se a essa região cerebral, a qual apresenta função cognitivo-comportamental
importante, como impor metas elaboradas ao comportamento humano, desde pla-
nos acadêmicos, profissionais ou meramente pessoais preestabelecidas pelo próprio
indivíduo. Sempre existe uma escolha, não é mesmo? Você pode concluir a leitura
desse material e vencer mais essa etapa ou parar para passear com seus amigos, essa
regulação do seu comportamento é influenciada pela atuação dos lobos frontais.
O correto funcionamento das estruturas anatômicas do encéfalo humano
possibilita a organização das funções cognitivas e a aplicação de suas capacidades
em diversas situações da vida real, seja como ferramenta biológica de sobrevivên-
cia, seja ela para a eficácia dos recursos físicos e sociais com propósitos de curto,
médio ou longo prazo (FONSECA, 2014).
A desorganização das funções executivas, causadas por alguma lesão neu-
rológica ou por alguma síndrome específica, resultará em maior propensão de
indivíduos com dificuldades de aprendizagens em virtude de limitações para
autorregular o funcionamento executivo como forma de reagir aos estímulos
do ambiente, ou mesmo por alterações cognitivo-comportamental que podem
inclusive ocasionar mudanças na personalidade individual.
Por outro lado, uma criança de dois anos, mesmo que sem lesão neurológica,
já processa bem os estímulos verbais, desde que curtos e limitados, reagindo, por
exemplo, a um comando de “pegue a bola”. A partir dos quatro anos, influencia-
da pela maturação neurológica que está acontecendo, já é possível, além de com-
preender os comandos verbais, associá-los a respostas motoras, sendo capaz de
compreender e executar ações do tipo “com um apito, jogue a bola para o alto,
com dois apitos segure a bola e pule o mais alto que conseguir”. Indivíduos com
lesões nos lobos frontais se mostram incapazes de processar todos esses comandos.
103
Os lobos frontais são extremamente atuantes em nosso funcionamento execu-
UNIDADE 4

tivo; essa região neurológica também é extremamente atuante em nossa memória


operacional ou memória de trabalho, responsável por manter uma informação
viva em nossa cabeça até que outros processamentos sejam finalizados. Pode-se
tomar como exemplo um filme, você fica cerca de duas horas frente a tela e, ao
final do filme, consegue se lembrar de praticamente todo o desenrolar da história.
Isso é possível, pois a memória de trabalho manteve essas informações vivas em
sua cabeça para que ao chegar ao final do filme, a história fizesse sentido. O mesmo
vale para armazenarmos temporariamente um número de telefone que deve ser
anotado até conseguirmos papel e caneta para transpormos a sequência numérica.
Sob essa perspectiva, os lobos frontais também são responsáveis diretos na
codificação das memórias, possibilitando ações cotidianas com o mínimo esfor-
ço, indicando que os comportamentos sociais podem ser guiados por crenças e
atitudes morais (LENT, 2013).
Excelentíssimo(a) aluno(a), você deve estar se questionando: talvez esta seja
a passagem mais complexa do material, não é mesmo? Contudo, posso tranqui-
lizá-lo(a) ao afirmar que as funções executivas estão presentes em praticamente
todas as nossas ações diárias, é possível encontrá-las em resoluções de problemas
que demandam criatividade, planejamento, flexibilidade cognitiva ou mesmo res-
postas rápidas. Desse modo, podemos observar as funções executivas em nossas
memórias, ou seja, nossos aprendizados armazenados que serão utilizados como
um banco de dados responsáveis pela resolução dos mais diferentes problemas
que um indivíduo pode se deparar.


Para ter sucesso escolar o estudante deve evocar um conjunto muito
diversificado de competências executivas, a saber: estabelecer ob-
jetivos; planificar, gerir, predizer e antecipar tarefas, textos e traba-
lhos; priorizar e ordenar tarefas no espaço e no tempo para concluir
projetos e realizar testes; organizar e hierarquizar dados, gráficos,
mapas e fontes variadas de informação e de estudo; separar ideias
e conceitos gerais de ideias acessórias ou de detalhes e pormeno-
res; pensar, reter, manipular, memorizar e resumir dados ao mesmo
tempo que leem; flexibilizar, alterar e modificar procedimentos de
trabalho e abordagens a temas e tópicos de conteúdo, aplicando di-
ferentes estratégias de resolução de problemas; manter e manipular

104
informação na memória de trabalho; automonitorizar o progresso

UNICESUMAR
individual e do grupo de trabalho; autorregular e verificar as res-
postas produzidas e a conclusão, revisão e verificação de tarefas,
projetos, relatórios e trabalhos individuais ou de grupo; refletir e
responsabilizar-se pelo seu estudo e sobre o seu aproveitamento
escolar etc. (FONSECA, 2014, p. 245).

4
TRÍADE DA
APRENDIZAGEM

Caro(a) aluno(a), para finalizarmos esta unidade sobre as funções que resultam
na aprendizagem humana, considere a relação das três subunidades apresentadas
até aqui. Funções cognitivas, responsáveis pelo processamento de informação
(input e output), o sistema límbico associado às respostas primitivas e de acesso
inconsciente e as funções executivas, as quais promovem a integração das fun-
ções cognitivas e conativas. Para compreendermos melhor essa relação, observe
a Figura 3 a seguir, que representa a tríade da aprendizagem humana.

105
Descrição da Imagem: pode-se verificar nesta figura a inter-relação de três componentes fundamentais na
UNIDADE 4

construção de aprendizagens, os quais são apresentados em três círculos que se entrelaçam. Um dos círculos
está demarcado como função cognitiva, outro como função conativa e o terceiro como função executiva.

Funções
cognitivas

Funções Funções
conativas executivas

Figura 3 - Tríade funcional da aprendizagem Humana


Fonte: adaptada de Fonseca (2014).

As discussões relacionadas à aprendizagem humana são muito amplas e, até certo


ponto, complexas, por essa razão discutimos cada elemento que favorece a apren-
dizagem separadamente. Desse modo, compreendemos que as funções cogniti-
vas, muitas vezes relacionadas à inteligência dos indivíduos, atuam diretamen-
te na resolução de problemas de maneira eficiente. Por outro lado, a influência
primitiva que age sobre as mais diferentes situações cotidianas, ainda presente
em áreas neurológicas específicas, apresenta alta relevância nos mecanismos de
processamento neural. Por fim, as funções executivas têm por finalidade integrar
as funções cognitivas e conativas (sistema límbico), para a execução das ações,
que na maioria das vezes são expressadas por meio de movimentos corporais.
Caríssimo(a) aluno(a), a neuropsicopedagogia tem por função revelar-nos as
habilidades do cérebro. Para tanto, é fundamental uma divisão entre os processos
psicocognitivos, os quais são responsáveis pela aprendizagem, e os processos
psicopedagógicos, responsáveis pelo ensino. Desse modo, a tríade funcional da
aprendizagem humana, apresentada na figura anterior, pode ser aplicada.
A cognição humana, como verificamos, depende da ótima interligação de dife-
rentes áreas do cérebro, resultando na integração das informações recebidas com o
planejamento das ações em resposta aos mesmos estímulos captados. As áreas cogni-
tivas se conectam com praticamente todo o encéfalo, inclusive com o sistema límbico,
por essa razão nossas tomadas de decisões dependem do comportamento emocional.
Essa relação entre cognição e emoção resulta nas funções mais complexas, denomina-
das funções executivas, que envolvem, segundo Paula, Pinto e Lúcia (2008), iniciação,
106
planejamento, levantamento de hipóteses, flexibilidade mental, tomada de decisão,

UNICESUMAR
autorregulação, julgamento, utilização de feedback e autopercepção.
Em contrapartida, a aquisição de aprendizagens pode ser influenciada pela
falha de uma das funções mencionadas. O sistema límbico pode criar barreiras
que forneçam ao aprendiz um fator limitador como a desmotivação, a desorga-
nização, a desplanificação, a perda de estratégias de atenção, a criação, a busca e
a conquista de objetivos e fins a atingir etc., que se repercutem quer nas funções
cognitivas, quer nas funções executivas (FONSECA, 2014).
Em virtude dessa íntima relação entre as funções antes apresentadas, é fun-
damental conhecer os mecanismos de aquisição de aprendizagens para que os
processos de ensino sejam adequados e compatíveis aos aprendizes. Em resumo,
os mais diferentes profissionais, em seu desenvolvimento de ações que visam a
aprendizagem, devem estar atentos às emoções, aos sentimentos, ao estado de
humor e todos os elementos que envolvem o sistema límbico, pois eles podem
acelerar o funcionamento cognitivo e por consequência, executivo, ou mesmo
bloqueá-lo, inviabilizando a aquisição de novos conhecimentos.
Para exemplificar melhor a você, faça a seguinte relação: um aprendiz em
sala de aula pode apresentar baixo rendimento cognitivo e, muitas vezes, análises
elaboradas, solicitação de diversas avaliações multiprofissionais serão realizadas
com a finalidade de se diagnosticar algum transtorno relacionado às dificuldades
de aprendizagem. Muitas vezes todas as discussões se remetem ao aprendiz e não
ao profissional que media as ações e cria os métodos de ensino. Possivelmente, o
baixo rendimento acadêmico está associado à escolha metodológica do docente,
o qual pode estar negligenciando o comportamento emocional do aprendiz frente
às propostas de aprendizagens oferecidas diariamente.

explorando Ideias

As emoções que sentimos permitem mudar nossas memórias, a cada vez que relembra-
mos algo, surge uma nova ideia de realidade, já não se sabe se é como realmente vimos,
assistimos na televisão ou se ouviu, isso permite a formação da personalidade, construto
este que está associado ao amadurecimento neuronal. Diversas lembranças que são evo-
cadas podem estar alteradas pelo que foi contado por outras pessoas, como um evento
que se passou na infância. Muitas fotos ou relatos provavelmente chegam ao encéfalo
humano por verdades contadas por terceiros, desse modo, é possível que ocorra uma
reconstrução da respectiva memória, ou seja, muito do que lembramos hoje, pode, na
verdade, ser parte de um evento experienciado por outra pessoa.
107
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 4

O ato de aprender ou de abstrair e armazenar informações por curto, médio


ou longo prazo está associado diretamente a três funções, que se conceituam
separadamente, ao mesmo tempo que se inter-relacionam. Assim, um tripé foi
apresentado para o maior entendimento dos processos de aquisição de informa-
ções, bem como a estruturação das estratégias de ensino que podem ampliar a
aquisição e a retenção de novas memórias.
É evidenciado que tomadas de decisões, em virtude de uma elaborada e com-
plexa atividade neurológica, frente à necessidade de resolver problemas, depen-
dem, em especial, dos conhecimentos armazenados no cérebro humano. Por essa
razão, a capacidade cognitiva de um indivíduo se relaciona à possibilidade de
identificação dos mais diferentes estímulos, seguido da busca para encontrar as
possíveis soluções nas diferentes memórias já armazenadas, e, por consequência,
executar a ação da melhor maneira possível.
Fica esclarecido que as ações cognitivas podem ser limitadas ou alteradas pelo
sistema límbico, o qual toma as decisões primitivas, estando associado às emo-
ções, a insegurança, o medo, a raiva, a euforia, dentre tantas outras funções que se
remetem à sobrevivência da espécie, sobretudo, as funções conativas, que podem
interferir ou influenciar na racionalidade humana, limitando o processamento
neurológico à base do encéfalo, acionando minimamente o neocórtex humano.
Como podemos ver até aqui, as funções executivas dependem de ótimo fun-
cionamento das estruturas neuronais, em especial dos lobos frontais e as de-
mais áreas que a ele se conectam. Evidenciou-se que sua desorganização, lesão
ou qualquer falha de processamento pode resultar na incapacidade de interagir
adequadamente aos estímulos recebidos do ambiente, podendo assim levar o
indivíduo a mudanças cognitivo-comportamentais ao influenciar diretamente
a qualidade e a possibilidade de aprendizagens acadêmicas ou sociais.

108
na prática

1. O sistema límbico é composto por diversas estruturas neurológicas que criam inúme-
ras interconexões, as quais permitem um amplo e importante controle sobre o orga-
nismo dos seres humanos. Portanto, o controle de diversos comportamentos sociais
e emocionais estão diretamente associados ao controle dessas funções primitivas.

Em relação a essa temática, associando-a aos elementos acerca da aprendizagem hu-


mana, assinale a alternativa correta.

a) Os comportamentos emocionais são construtos de análises conscientes, bem


planejadas e estruturadas, o que sustenta a formação de aprendizados nos mais
diferentes contextos.
b) As emoções estão especialmente vinculadas a amígdala cerebral, possibilitando
ou inviabilizando a consolidação de novas aprendizagens.
c) Os comportamentos sociais apresentam base hereditária, por essa razão as fun-
ções cognitivas são deixadas em segundo plano, apenas como base de suporte
para o sistema límbico.
d) Os comportamentos emocionais são evidências da elevada atividade das funções
cognitivas, devido ao amplo processamento das ações frente ao medo, ansieda-
de, raiva, dentre outros.
e) A aprendizagem se relaciona com as funções cognitivas e executivas, ressaltando
a pouca importância do sistema límbico nesse processo.

2. Após a década de 70, os estudos sobre as operações mentais ganharam notorieda-


de. Nesse contexto, surge o modelo de processamento de informações, o qual tem
o intuito de compreender os fenômenos que precedem as tomadas de decisões
nos mais diferentes contextos.

Em relação ao modelo de processamento de informações, assinale a alternativa correta.

109
na prática

a) O modelo de processamento de informações depende da receptividade de um


estímulo (input), da sua identificação (percepção), da seleção da resposta (deci-
são), da programação da resposta (ação), por fim o resultado da ação (output).
b) O modelo de processamento de informação depende de informações pré-arma-
zenadas que não podem ser alteradas, esse mecanismo é chamado de retroa-
limentação ou feedback.
c) O modelo de processamento de informações depende única e exclusivamente
da maneira pela qual o indivíduo toma uma decisão (seleção da resposta).
d) O modelo de processamento de informações depende do resultado da ação
(output), o qual impactará na recepção de um novo estímulo (input).
e) O modelo de processamento de informação depende do problema ou estímulo
recebido (input), os quais podem variar a programação da ação (output), mas
não a seleção da resposta (decisão).

3. A aprendizagem deve levar em consideração as diferentes possibilidades de execu-


ção para ampliar a base de dados, memórias do aprendiz. Evidentemente, a preo-
cupação com a base emocional não deve ser negligenciada, uma vez que ela tem
o poder de impedir ou favorecer a aquisição de conhecimentos. Por fim, deve-se
trabalhar com o aluno integralmente, associando a base cognitiva e emocional para
que a resolução de problemas seja otimizada.

Posto isso, analise as afirmativas abaixo sobre o mecanismo de aprendizagem que deve
envolver essencialmente

I - A formulação de tarefas que sejam exequíveis, ampliando a atenção do aluno


para que a performance cognitiva atinja os objetivos planejados.
II - A aplicação de procedimentos sistematizados para resolução de problemas,
aos quais a adequação dos estímulos para as características individuais é fun-
damental.
III - A tarefa é desenvolvida, não importando objetivos, desse modo a preocupação
com a planificação das estratégias pedagógicas é pouco necessária.

É correto o que se afirma apenas em

110
na prática

a) I.
b) I e II.
c) II e III.
d) I e III.
e) I, II e III.

4. Para que seja possível processar uma resposta sobre qualquer assunto ou proble-
mática, uma análise elaborada deve ocorrer no Sistema Nervoso Central.

De acordo com os modelos de processamento de informações, assinale a alternativa correta.

a) O estímulo recebido deve ser analisado junto às memórias, o qual utilizará a me-
lhor informação disponível, aquela que trará a possibilidade de maior êxito para
a respectiva situação, assim a resposta será executada minimizando a chance
de erros.
b) As respostas que um aprendiz executa são processadas junto às memórias, que
utilizará a primeira informação neuronal disponível.
c) A qualidade da resposta depende diretamente das bases de memórias conso-
lidadas, no entanto, descarta-se a importância da velocidade de comunicação
neuronal.
d) A condução elétrica das informações é fundamental para a boa tomada de deci-
são, sendo que um aluno que se apoia em respostas rápidas demais certamente
irá falhar na análise ou execução do problema em questão.
e) Análises a nível neuronal são eventos primitivos, os quais são programados, espe-
cificamente, para a sobrevivência, não sendo necessário avaliar o tipo de estímulo
recebido para se tomar uma decisão.

111
na prática

5. A tríade funcional da aprendizagem, proposta por Fonseca (2014), apresenta as fun-


ções cognitivas, funções conativas e funções executivas. Sobre essa tríade, analise
as afirmativas abaixo.

I - Funções cognitivas se referem ao processamento de informações.


II - Funções conativas se referem ao sistema límbico.
III - Funções executivas se referem à tomada de decisão, as quais interligam as
funções cognitivas e funções conativas.

É correto o que se afirma apenas em

a) I.
b) I e II.
c) II e III.
d) I e III.
e) I, II e III.

6. Para que as intervenções em sala de aula sejam apoiadas nas funções cognitivas,
conativas e executivas, assinale a alternativa correta.

a) O professor deve apoiar-se apenas na base cognitiva para resolver problemas,


pois as funções executivas e conativas não influenciam na aprendizagem.
b) As funções conativas se referem à base primitiva do ser humano, as quais são
descartadas dos mecanismos de aprendizagem.
c) As funções executivas estão relacionadas ao córtex pré-frontal, desse modo só
podem ser aplicadas ao final da adolescência ou em adultos.
d) O professor deve considerar as diferentes possibilidades de resolução de pro-
blemas e considerar também as emoções dos alunos para que seja possível
efetivar boas memórias.
e) A tríade apresentada é definida como funções cognitivas para alunos com difi-
culdades de aprendizagens, funções executivas para alunos sem dificuldades de
aprendizagem e funções conativas para alunos com transtorno.

112
aprimore-se

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: O PAPEL DO CÉREBRO NA


APRENDIZAGEM

Historicamente, a evasão escolar pode estar associada ao insucesso acadêmico. Tal evento
pode estar relacionado a um processo dispedagógico oferecido pelo professor, no entan-
to, independentemente da qualidade do ensino, dificuldades de aprendizagens (DA) são
limitadores da performance cognitiva e consequentemente acadêmica. As DA podem criar
obstáculos ou impedimentos relacionados à fala, audição, leitura, escrita, operações mate-
máticas ou relacionamento, os quais podem se prolongar ao longo da vida.
A ampliação dos conhecimentos relacionados às DA indica que mais de 80% estão
associados à dislexia, disortografia, déficit de atenção e hiperatividade, podendo ocorrer
por envolvimento genético, familiar, nível socioeconômico, presença ou ausência de le-
são neurológica, sobretudo, relacionados ao domínio da linguagem.
Deste modo, as DA podem resultar em déficits de processamento, que são a essência
de um processo de aprendizagem; essas falhas de processamento envolvem a relação
aluno x professor ou aluno x tarefa. Tais dificuldades são evidenciadas por problemas
fonoaudiológicos, visuais, auditivos, reflexivos, dentre outros. Por essa razão, os déficits
cognitivos estão associados a desordens neurológicas.
Dificuldades experimentadas pelos aprendizes parecem estar relacionadas ao nível
do input, ou seja, da recepção da informação, a qual é, muitas vezes, sustentada por fal-
ta ou falhas de atenção. Deste modo, o enquadramento interno, em busca de soluções
para tal problemática, será limitado, dificultando o output eficiente.
Por essa razão, a apresentação de informações para indivíduos com DA é de extrema
importância, uma vez que pode facilitar o processamento da informação, promovendo
melhoras das funções cognitivas, implicando uma aprendizagem com sucesso.
Neste contexto, as avaliações neurológicas e neuropsicológicas em crianças e jovens
são importantes. Desse modo, podem ser identificadas as limitações do funcionamento
encefálico, possibilitando arquitetar estratégias de intervenção eficientes, desde ações
medicamentosas até intervenções pedagógicas.

Fonte: adaptado de Fonseca (2007).

113
eu recomendo!

livro

Linguagem e cognição: Processamento, aquisição e cérebro


Autores: Augusto Buchweitz e Mailce Borges Mota
Editora: EDIPUCRS
Sinopse: neste livro, você encontrará capítulos cativantes que le-
vam a compreender os mecanismos cognitivos que subjazem o
processamento da linguagem para esta área, a psicolinguística, que
se propõe a entender esta habilidade incrível do ser humano de se
comunicar e de compreender sinais e sons organizados e carregados de significado.
Comentário do autor: neste material, você encontrará diversos especialistas
das mais diferentes áreas, inúmeros pesquisadores que buscam compreender
a linguagem, seja vinculada às dificuldades de aprendizagem ou mesmo às defi-
ciências. Sobretudo, as análises são pautadas nos elementos cognitivos, áreas de
processamento neurológico e, claro, na neurociência.

114
anotações



































5
NEUROEDUCAÇÃO

PROFESSOR
Dr. Weslei Jacob

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Como o cérebro funciona para
aprender • Aprendizagem interneurosensorial, intraneurosensorial e aprendizagem integrativa • Neu-
rociências em sala de aula • Educação cognitiva • Biofeedback e aprendizagem.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Refletir sobre o funcionamento neurológico na aprendizagem • Proporcionar conhecimentos sobre
tipos e formas de aprendizagem fundamentadas no desenvolvimento neurológico • Sugerir diferentes
possibilidades de trabalhos neurocognitivos para a sala de aula, contribuindo com a prática pedagógica
eficiente • Aprender como desenvolver atividades apoiadas na educação cognitiva • Elucidar conceitos
e aplicações sobre o biofeedback na educação.
INTRODUÇÃO

O aprendizado de conhecimentos conceituais, da escrita, da leitura, do controle motor


e de diversas outras formas de aquisição de novas informações depende da matura-
ção das estruturas neurológicas, desse modo, o funcionamento neurológico eficiente
associado à estimulação adequada de um indivíduo podem promover aprendizado
em todos os seres humanos.

Ao direcionar nossos esforços para compreender o funcionamento do cérebro e de


como ele pode interferir no processo de ensino e aprendizagem, estudaremos os
aspectos relacionados ao nível cognitivo, partindo da percepção do mundo que nos
rodeia. Por essa razão, é fundamental apontar a experimentação de diferentes possibi-
lidades e situações, permitindo que qualquer indivíduo tenha acesso ao conhecimento
do mundo a sua volta, tocando, sentindo, ouvindo ou simplesmente vivendo, dentro
da sua evolução natural.

Falar em aprendizado é mencionar, de maneira direta, a formação de memórias, as


quais são codificadas nos neurônios, armazenadas em redes neuronais e evocadas
por essas mesmas redes. Nossas memórias podem ser formadas desde que haja
atenção e intencionalidade por parte do aprendiz, sobretudo, podem ser moldadas
por emoções que vão além de estar triste ou alegre, fazem parte da exteriorização do
desejo e das vontades do ser humano ao longo do seu desenvolvimento.

Neste momento, serão discutidas as possibilidades de mudanças comportamentais


por meio de uma ferramenta interventiva denominada biofeedback, método não inva-
sivo e não medicamentoso, que envolve inúmeros elementos eletrônicos que auxiliam
o desenvolvimento da modificação consciente e intencional das funções corporais nos
pacientes, ampliando as possibilidades de aprendizagens. Posto isso, a aprendizagem
depende do funcionamento harmonioso do sistema nervoso, bem como de todos os
outros sistemas corporais.
1
COMO O CÉREBRO
UNIDADE 5

FUNCIONA PARA
aprender

Caro(a) aluno(a), iniciarei esta unidade com alguns questionamentos: o que é


aprender? O que é neurociência? Como o cérebro funciona? Como todo esse
conhecimento neurológico pode auxiliar no processo de ensino e aprendizagem?
Começo respondendo a primeira pergunta: aprendizagem se associa aos
conhecimentos da neurociência, do funcionamento neurológico, das sinapses,
experiências, potenciais de ação, do estudo dos neurônio e a maturação indi-
vidual. Resumidamente, aprender é o fortalecimento dos circuitos neurais, das
milhares de sinapses em virtude das experiências vividas, dos estímulos novos
que constantemente são comparados aos antigos, de nossa atenção ou mesmo da
repetição de algo que queremos consolidar em nossas memórias.
Falar de neurociências é relacionar muito mais que o estudo das funções
neurológicas, é transcender às condições sociais ou a historicidade de cada indi-
víduo. Para continuar a responder os questionamentos que realizei no início desta
unidade, permita-me mais um: o que faz gêmeos idênticos, criados pelos mesmos
responsáveis, frequentando a mesma escola, com os mesmo colegas, professores,
estímulos e ambiente serem diferentes? Todos somos únicos devido às marcas
que são efetivadas em nosso cérebro e a maneira com que as experiências sociais
ou pessoais marcam essa estrutura neurológica que formará redes neuronais di-
ferentes, transformando-nos em seres únicos, sem outro igual, mesmo com uma
estrutura anatômica ou físico-química semelhante.
118
Amparado por essa explicação, podemos avançar para o processamento

UNICESUMAR
neuronal específico. Dependendo da área do cérebro, os neurônios dessa de-
terminada região processam coisas específicas e armazenam temas específicos.
É bem verdade que nosso cérebro ou todo o encéfalo funciona integralmente
(desconsidere aqui patologias neurológicas), ou seja, é mito aquela ideia difun-
dida na sociedade sobre a possibilidade de sermos capazes de nos comunicar
por telepatia, no caso de utilizarmos 100% do cérebro humano, pelo menos pelos
conhecimentos atuais. Nós, seres humanos, já utilizamos toda a potencialidade
neurológica e integramos todas as áreas neurológicas; evidentemente, em dadas
situações, regiões encefálicas são mais atuantes que outras.
Ao nascer, o bebê inicia um amplo processo de aquisição de informações, e
temos a capacidade de adaptar a atividade neural em todos os momentos da vida,
por essa razão, o cérebro, além de aprender também é capaz de se reorganizar.

pensando juntos

Uma pessoa cega nasce com capacidades auditivas bem mais desenvolvidas ou isso é
desenvolvido ao longo da vida?

As experiências vividas oferecem a todos nós a capacidade de ajustar áreas de pro-


cessamento, ou seja, uma pessoa que nasceu cega tende a desenvolver um outro canal
sensorial, em especial um órgão do sentido próximo, desse modo, com a ausência da
visão, o aparelho auditivo e ou sistema sensorial por meio do tato serão amplificados.
Se analisarmos exames de imagem neurológicas, a leitura em braile (percep-
ção tátil) de um indivíduo que é cego e outro que não é, as áreas ativas responsá-
veis por esse processamento no cérebro serão sempre maiores em nos indivíduos
cegos do que naqueles não cegos. Isso ocorre por conta da reorganização neural.

119
Até aqui, discutimos e analisamos diversas situações acerca do funcionamen-
UNIDADE 5

to neurológico, o qual evidenciou os aspectos de maturação neural como um dos


elementos principais da aprendizagem humana. Sobretudo, esse amadurecimento
das estruturas encefálicas é o que permite a aquisição da linguagem, das ações
motoras e da formação de memórias. É importante salientar que essa maturação
biológica tem duração aproximada de duas décadas. Lembre-se, a mielinização
neurológica associada à maturação neuronal ocorre ao longo de toda a vida,
sendo maturada e estabilizada rapidamente no início da vida (LENT, 2013).
Soma-se aos processos de maturação neuronal os estímulos, o ambiente e in-
dividualidade biológica e pouco a pouco mudanças no desenvolvimento infantil
são percebidas. Inicialmente, de mês em mês, logo depois, os intervalos entre os
surtos maturacionais no cérebro e sua estabilização ficam um pouco mais lon-
gos, cerca de quatro meses, depois dois anos e assim sucessivamente. Na prática,
observamos uma criança toda flácida e com comandos reflexos com um mês
de vida, para um amadurecimento e evolução cognitiva aos quatro anos. Agora,
além do controle motor amplificado, o nível de atenção e capacidade de lidar com
números, histórias ou hipóteses é notório (BEE; BOYD, 2011).
Para que possamos aprender algo, devemos estar com nossa atenção vol-
tada para aquele momento, objetivo ou situação. A aprendizagem depende da
intensidade da atenção, sendo assim, é fundamental que esta seja educada. Si-
multaneamente, o sistema límbico, parte do cérebro onde se originam nossas
emoções, participa dos processos de aprendizagem do ser humano, inclusive da
aprendizagem dos conhecimentos escolares.
A aprendizagem é efetuada pela criação de novas memórias, ampliação e
transformação das redes neuronais que guardam os conteúdos trabalhados an-
teriormente. Em síntese, a prática pedagógica que for planejada e executada sem
levar em consideração os processos internos mentais da espécie humana terá
grande possibilidade de conduzir o aluno a uma situação de não aprendizagem.
Posto isso, os conhecimentos relacionados a esse magnífico órgão devem ser
esclarecedores para os profissionais que trabalham com a educação, uma vez
que devem ser o alicerce na elaboração de métodos durante todo o processo de
ensino-aprendizagem (JACOB, 2014).

120
2
APRENDIZAGEM

UNICESUMAR
INTERNEUROSENSORIAL,
INTRANEUROSENSORIAL
e aprendizagem integrativa

Está claro que todos aprendemos pelas experiências vividas, foi assim desde que
nascemos e é assim até os dias atuais. É possível aprender pelo ambiente que nos
rodeia ou por estímulos que nos são ofertados, no entanto, independentemente
dos estímulos ambientais ou culturais recebidos, todos aprendemos pelos órgãos
dos sentidos, pelos canais de comunicação do mundo externo para com o mundo
interno. São eles: tato, olfato, paladar, audição e visão.
Posto isso, todos nós aprendemos pela visão, audição ou canal cinestésico. É
bem verdade que alguns de nós aprendem mais pela visão, outros pela audição
e outros por sensações, no entanto, todos aprendemos por todos esses canais de
aprendizagem, mas para alguns indivíduos, a visão é o principal canal de apren-
dizagem e a audição, ou canal cinestésico, o segundo melhor canal de aprendi-
zagem. Para outros indivíduos, é a audição que se destaca e talvez a visão seja o
pior canal de aprendizagem.

121
Independentemente disso, devemos atuar priorizando todos os canais. Para
UNIDADE 5

isso, podemos nos apoiar em estratégias metodológicas como:


■ Visual: aprende pelo que vê. Evite imagens desnecessárias, habitue-se a
construir imagens mentais, utilize fluxogramas, tabelas, fotos, frases – es-
quemas – textos espalhados nas paredes de seu quarto, textos grifados etc.
■ Auditivo: aprende pelo que escuta. Apoie-se em trabalhos em grupo,
peça para um colega te fazer perguntas ou respondê-las, grave aulas e
depois escute (sugerido, antes de dormir e ao acordar, pois a mente está
mais relaxada – exemplo: crianças aprendem músicas de propagandas
com facilidade por esse motivo). Ruídos podem interferir no processo
de aprendizagem.
■ Cinestésico: utilize jogos criativos, jogos de fixação, atividades práticas e
coletivas, muitas vezes com movimentos corporais, tome nota das coisas
que percebe etc.

Diante do que apresentei até esse momento, a aprendizagem pode ocorrer pelos
órgãos dos sentidos. Tais canais de comunicação podem funcionar sozinhos, asso-
ciados a um outro canal ou mesmo de modo integrado. Desta forma, existem três
formas de aprendizagem: intraneurosensorial, interneurosensorial e integrativa.
A aprendizagem intraneurosensorial pode ser estruturada como uma forma
de absorção de conhecimentos, em que se um dos órgãos dos sentidos estiver
comprometido, isso não afetará a aprendizagem via outros canais. Por outro lado,
a aprendizagem interneurosensorial é extremamente interessante do ponto de
vista pedagógico, pois deve-se estruturar as atividades para que, assim, seja possí-
vel o trabalho com mais de um sistema de aprendizagem simultaneamente. Tome
como exemplo atividades apoiadas em músicas que poderão gerar dramatizações,
esse exemplo inter-relaciona os canais auditivo, visual e, possivelmente, tátil.
Como consequência, a compreensão dos dois modelos de aprendizagens su-
pracitadas facilitará o entendimento e desenvolvimento de outro tipo de apren-
dizagem, a integrativa. Nesta modalidade, é possível criar um ambiente de ensino
transformador e facilitador, desse modo, deve-se desenvolver, primeiro, a atitude,
para aprender com cada um dos alunos; logo após se deve pensar em exercícios de
aprendizagem; e, por fim, criar novos contextos para aplicação da aprendizagem.

122
Excelentíssimo(a) aluno(a), o ato de aprender poderá melhorar o desenvolvi-

UNICESUMAR
mento cognitivo do aprendiz, por essa razão, habilidades e competências devem
ser consideradas no transcurso educacional, oferecendo o suporte necessário
para a consolidação das aprendizagens. Desse modo, as habilidades podem ser
classificadas em:
■ Sensação: esta habilidade nos permite colocar em contato com o mundo
ao nosso redor. Vale ressaltar que esse primeiro nível é pré-cognitivo, basta
hipotetizar sobre a seguinte situação: “eu acho que está frio lá fora”, talvez
sim, talvez não, só teremos certeza ao sair pela porta e cognitivamente
percebermos a real condição climática.
■ Percepção: esta habilidade nos permite estabelecer as formas e imagens.
Este nível está relacionado à capacidade neurológica de converter as
sensações em impulsos elétricos, ou seja, é a tomada de consciência em
relação às sensações.
■ Formação de imagens: está relacionada com a memória e com o registro
de nossas experiências e está ligada a todas as sensações experimentadas
(aspectos não verbais). Aqui, vale ressaltar que a formação de imagens não
depende somente da absorção de conhecimento a nível visual, mas sim de
qualquer canal de aprendizagem, no qual a percepção de sons, texturas e
odores podem compor a formação de imagens.
■ Simbolização: esta é a habilidade característica do ser humano, consiste
em todas as formas de representação verbal e não verbal. Essa simboliza-
ção está muito presente nos centros de educação infantil, os quais desen-
volvem as capacidades de avaliar perto e longe, grande e pequeno, alto e
baixo, dentro outros. Tais situações podem ser otimizadas com o simples
ato de brincar, como utilizar como recurso a brincadeira “coelhinho sai da
toca”. Por outro lado, a simbolização é muito evidenciada pelos sistemas
verbais, relacionadas à linguagem falada, escrita ou lida.
■ Conceituação: processo mental envolvendo a retenção e classificação.
É a capacidade que temos de formar conceitos, sustentado pela aqui-
sição da linguagem; nesta etapa, o indivíduo aprende a generalizar e a
categorizar situações.
■ Para que você compreenda melhor, coloco para tudo que expliquei: os
níveis de evolução até a aprendizagem.

123
Conceituação
UNIDADE 5

Simbolização

Formação de imagens

Percepção

Sensação

Figura 1 - Níveis Hierárquicos de Experiências na Aprendizagem


Fonte: o autor.

Como é possível observar nesta “teia de aranha”, a parte mais externa é a sensação,
seguida pela percepção. Ambas têm por características aspectos primitivos, dife-
rentemente de simbolização e da conceituação, são cognitivos e estão ao centro
dessa “teia de aranha”.
O processo de aprendizagem humana está relacionado às primeiras experiên-
cias perpassadas sobre a temática a ser aprendida. Evidentemente, são iniciadas
pela sensação e depois percepção, sendo escaladas até a conceituação, do primi-
tivo ao cognitivo. Sobretudo, essa evolução nos níveis apresentados é dependente
da experiência no nível anterior, ou seja, não é possível simbolizar sem antes ter
formado imagens, tampouco é possível perceber antes de passar pelas sensações.
A importância dessa relação crescente e harmoniosa é gigantesca, além de que
a falha, em alguma transição, pode resultar em problemas que irão prejudicar a
aquisição de diversos conhecimentos, como a aquisição da linguagem.

124
3
NEUROCIÊNCIAS EM

UNICESUMAR
SALA DE AULA

A neuroeducação sustenta o aprendizado como uma forma de mudar comporta-


mentos, assim, o aprender é mais do que simplesmente aquisição de conhecimen-
tos. Desse modo, neuroeducação, que analisa a mente, o cérebro e a educação, está
diretamente relacionado a neurociência, que estuda o funcionamento do sistema
nervoso; da psicologia, a qual se vincula com o cérebro e o comportamento; e a
pedagogia, referente à educação e à aprendizagem. Evidentemente, outras áreas
de conhecimento estão atreladas a esse processo, como a neuropsicologia, neu-
rociência educacional, psicologia educacional, dentre outras.
Posto isso, uma dúvida aparece com frequência entre profissionais da educa-
ção: como trabalhar em sala de aula para ampliar a possibilidade de aprendizado
potencializando o funcionamento neurológico? Para respondermos esse ques-
tionamento, observe o quadro a seguir.

125
Princípios da neurociência Ambiente de sala de aula
UNIDADE 5

Na aprendizagem como atividade


1. Aprendizagem, memória e
social, alunos precisam de oportuni-
emoções ficam interligadas quando
dades para discutir tópicos. Ambiente
ativadas pelo processo de aprendi-
tranquilo encoraja o estudante a
zagem.
expor seus sentimentos e suas ideias.

Aulas práticas, exercícios físicos com


2. O cérebro se modifica aos pou-
envolvimento ativo dos participantes
cos, fisiológica e estruturalmente,
fazem associações entre experiências
como resultado da experiência.
prévias com o entendimento atual.

3. o cérebro mostra períodos ótimos Ajuste de expectativas e padrões de


(períodos sensíveis) para certos desempenho às características etárias
tipos de aprendizagem que não se específicas dos alunos e o uso de uni-
esgotam mesmo na idade adulta. dades temáticas integradoras.

Estudantes precisam sentir-se “de-


4. O cérebro mostra plasticidade tentores” das atividades e de temas
neuronal (sinaptogênesse) e maior que são relevantes para suas vidas.
densidade sináptica que não prevê Atividades pré-selecionadas com
maior capacidade generalizada de possibilidade de escolha das tarefas
aprender. aumenta a responsabilidade do aluno
no seu aprendizado.

5. Inúmeras áreas do córtex cere- Situações que reflitam o contexto da


bral são simultaneamente ativadas vida real, de forma que a informação
no transcurso de nova experiência nova se “ancore” na compreensão
de aprendizagem. anterior.

Promover situações em que se aceite


6. O cérebro foi evolutivamente tentativas e aproximações ao gerar
concebido para perceber e gerar hipóteses e apresentação de evidên-
padrões quando testar hipóteses. cias. Uso de resolução de “casos” e
simulações.

Propiciar ocasiões para alunos ex-


7. O cérebro responde, devido à
pressarem conhecimento por meio
herança primitiva, às gravuras, ima-
das artes visuais, da música e das
gens e símbolos.
dramatizações.

Quadro 1 - Princípios da neurociência com potencial aplicação no ambiente de sala de aula


Fonte: adaptado de Rushton e Larkin, 2001; Rushton et al., 2003 (apud BARTOSZECK, 2006).

126
O quadro apresenta a aplicabilidade dos conhecimentos da neurociência dentro

UNICESUMAR
de sala de aula. Fica evidenciado que os conhecimentos adquiridos dependem
diretamente dos mecanismos de formação de memórias, bem como das influên-
cias emocionais no momento da aprendizagem, os quais sustentam a importância
de se pensar em práticas pedagógicas motivantes, em que o aprendiz se sinta
confortável e, acima de tudo, receptivo aos conhecimentos.
Trabalhar com a aprendizagem é, na verdade, otimizar e propor situações prá-
ticas que estimulem a experiência dos aprendizes, ou seja, quanto mais práticas
ficarem as atividades, mais conhecimento será consolidado. Também fica claro
que as etapas evolutivas dos seres humanos ocorrem pouco a pouco, ou seja, se
amadurece áreas específicas do encéfalo, as quais são estabilizadas e, somente após
essa consolidação neural, um novo surto maturacional irá ocorrer.
O cérebro possui ampla capacidade plástica, a qual pode ser ampliada para
a formação de novos conhecimentos, desde que o aprendiz se sinta detentor do
conhecimento, sendo protagonista de sua aprendizagem, para isso, o professor
pode delimitar temas e permitir a livre escolha de um assunto para ser estudado,
construindo e alicerçando novos conhecimentos. As áreas específicas do cérebro
que armazenam informações prévias darão suporte aos novos conhecimentos e,
pouco a pouco, a aprendizagem é efetivada em memórias.
Diante do que foi apresentado até aqui, os aprendizes devem considerar hi-
póteses, resolver problemas, solucionar casos reais, tudo isso amparado pelos
conhecimentos do professor mediador, dos seus próprios conhecimentos e tam-
bém do auxílio de outros colegas.

127
4
EDUCAÇÃO
UNIDADE 5

COGNITIVA

Caro(a) aluno(a), as transformações sociais mudaram muito mais do que apenas


a facilidade de transmitir conhecimentos, mudaram também as pessoas. Por essa
razão, empresas pensadas para dar certo no século XX desapareceram no século
XXI e algo semelhante está acontecendo no contexto acadêmico, na estruturação
de atividades que auxiliam aprendizes a utilizarem melhor o cérebro e sua cognição.
A educação cognitiva é um novo processo, um novo método pedagógico de
ensino-aprendizagem, o qual transforma um instrumento educacional inovador,
tem o dever de gerar conflitos, podendo utilizar vários pontos de vista sobre o
mesmo problema. Deve gerar dúvidas, debates, discussões com respeito mútuo,
o que potencializa o desenvolvimento cognitivo. Sobretudo, deve-se aliar a teoria
e a prática, pois uma educação cognitiva eficiente não se decora, não se ensina
conceitos, aprende-se a resolver problemas.
Antes de sair construindo estratégias, inventando inúmeras atividades, é fun-
damental uma avaliação e um diagnóstico psicopedagógico, com a identificação
do perfil cognitivo do aluno. Após essa verificação, a intervenção deverá enrique-
cer, potencializar, otimizar e maximizar a capacidade de processar informações,
ou seja, modificar a estrutura de aprendizagem do aluno.

128
Posto isso, Fonseca (2007) sugere como aprender mais é fundamental nos

UNICESUMAR
dias atuais e isso envolve, essencialmente:
■ Focar a atenção para captar o máximo de informação a partir de um
conjunto de estímulos.
■ Formular tarefas exequíveis para lidar com a tarefa.
■ Estabelecer e planificar estratégias.
■ Monitorar a performance cognitiva até atingir o objetivo.
■ Examinar a informação disponível.
■ Aplicar procedimentos sistemáticos para resolver problema em causa e
verificar sua adequabilidade.

De acordo com o que foi apresentado, é nosso dever relacioná-lo com os conhe-
cimentos prévios sobre cognição que já obtemos. Para tanto, o ato de aprender
mais e melhor se apoia em:
■ Resolver problemas, envolve, fundamentalmente: receber e interpretar da-
dos e produzir procedimentos para lidar com o problema (fase de input).
■ Criar operações e processos relacionados com as tarefas inerentes ao pro-
blema (fase de integração e planificação).
■ Aquisição de competências para solucionar o problema (fase de output).

Excelentíssimo(a), permita-me realizar uma rápida atividade cognitiva com


você: apresentarei algumas frases e você deverá reescrevê-la mentalmente sem
a utilização de palavras negativas. Por exemplo, substituir o “não” por imagens
mentais positivas. Tome como exemplo a frase “não saia sem casaco”, refazendo:
“lembre-se de levar seu casaco se for sair”. Agora tente solucionar esse problema,
reescrevendo mentalmente as seguintes frases.
■ “não olhe lá”.
■ “tente não se atrasar”.
■ “seja cuidadoso, não torça o tornozelo”.
■ “por favor, complete essa avaliação sem olhar seu caderno, o quadro na
frente da sala ou a prova dos outros”.
■ “esteja consciente do perigo de perder a paciência”.
■ “não ande em ruas escuras”.
■ “evite sair da sala por essa porta, porque você pode disparar o alarme
de incêndio”.

129
Acredito que tenha realizado cada uma dessas transcrições com êxito e, sim-
UNIDADE 5

plesmente, ao solicitar essa situação, acabou de realizar uma atividade de base


cognitiva. Essa substituição de palavras que remetam à negação, sempre que
indicado, deverá acontecer.
Aqui está outro exemplo: se eu digo a você:“não pensem em um limão suculento!”,
a fim de compreender minha sentença, você, primeiro faz uma representação interna
de um limão suculento. Se eu acrescento:“Agora não sinta o gosto forte deste limão!”,
sua boca pode começar a salivar, embora eu tenha dito que não fizessem isso. Quando
os professores dizem:“não esqueçam seu dever de casa!”, os alunos têm que imaginar
esquecê-lo. Seus cérebros estarão mais predispostos a esquecer. Se você quer sugerir
que seus alunos façam seu dever de casa, o errado é dizer: “não esqueçam”, enquanto
que o correto seria: “lembrem seu dever de casa” (BOLSTAD, 1997).
Por essa razão, sempre que possível, além do não, substitua, mas por e; tente
por faça; devo, tenho que e preciso por quero, decido, vou; e, se por quando.
Caro(a) aluno(a), você conhece a Barsa? Uma coletânea de 18 livros com
cerca de 10 mil páginas, que continha conhecimento, leitura e cultura. As famí-
lias que adquiriram os exemplares da Barsa detinham boa condição financeira
e estavam preocupados com os estudos dos filhos. Nesses exemplares, alunos e
professores tinham acesso ao conhecimento, no entanto, aquelas informações
eram estáticas, imutável e sempre estaria escrita do mesmo jeito.
Na última década, com a infinita geração de conteúdos, uma nova forma de
se comunicar, viajar, ler livros ou assistir filmes mudaram, mas a escola tem se
transformado lentamente.
A educação tradicional está sendo reformada pelas novas tecnologias, que
criam aprendizes diferentes, os quais podem aprender de modo individualizado
e em qualquer lugar do mundo, desse modo, pode-se dizer que a tecnologia de-
mocratizou o conhecimento, tornou-o barato e acessível.
Caríssimo(a), vivemos num tempo em que a informação é facilmente difun-
dida e se consegue acesso a diversos conhecimentos de maneira rápida, basta
apenas alguns cliques na internet que um mundo de conhecimentos estará em
nossa frente. Tantas mudanças subsidiadas pela expansão tecnológica trouxe,
novamente, discussões acerca da aprendizagem, no qual os aprendizes conhecem
e questionam mais, os quais também desejam passar por uma experiência de
aprendizagem marcante e inovadora, tais transformações geram, por consequên-
cia, maiores investimentos na carreira docente. Posto isso, surge, como estratégia
pedagógica, para atender esse novo perfil acadêmico, as metodologias ativas.
130
A principal mudança proposta pelas metodologias ativas na educação é a

UNICESUMAR
substituição do protagonismo do professor pelo aluno, os quais devem absorver
conteúdos de maneira autônoma e participativa. Vale ressaltar que isso não retira
a necessidade e a importância dos professores, os quais sempre serão os media-
dores dos conhecimentos, incentivando a alicerçando os aprendizados.
Da Silva e Muzardo (2018) mencionam a pirâmide da aprendizagem de Wil-
liam Glasser, a qual indica que os seres humanos aprendem cerca de 10% com
leituras, 20% com a escrita, 50% observando e escutando, 70% discutindo com
outras pessoas, 80% praticando e 95% ensinando. Os dados apresentados susten-
tam a importância do aprendiz como protagonista, o qual irá debater, discutir e
ensinar os assuntos produzidos por ele.
Sobretudo, de acordo com o que discutimos até esse momento, no que se
refere aos mistérios do funcionamento neurológico para a aprendizagem, todas
as vezes que um aprendiz é atuante no processo, seu nível de atenção é elevado
consideravelmente e, por consequência, poderá desencadear o processo de aqui-
sição e retenção de novas informações.
Acredito que você deva estar se perguntando como colocar as metodologias
em prática. Nesse viés, apresento para você algumas práticas de ensino e apren-
dizagem apoiadas nesta nova metodologia de trabalho pedagógico. Podemos
utilizar, na construção de conhecimento, a elaboração de projetos, resolução de
problemas, estudos de caso ou trabalhos em grupo.
Na construção da elaboração de projetos, o professor pode criar temas gera-
dores de conhecimento e distribuir ou permitir que os aprendizes se distribuam
nos temas propostos. O contexto específico direcionado pelo professor resultará
na criação de um projeto aplicado, com a finalidade de resolver situações especí-
ficas com caráter investigativo e com crivo crítico, para tanto, irá utilizar recursos
tecnológicos e outros recursos disponíveis.
Desse modo, as metodologias ativas apresentam diversos benefícios, tais
como: maior autonomia, confiança, capacidade de resolução de problemas, for-
mação profissional mais qualificada e próxima à realidade do mercado de traba-
lho, bem como protagonista do seu próprio aprendizado. Sobretudo, são elevadas
no aluno a experiência da aprendizagem como algo satisfatório e duradouro.
Caríssimo(a), o modelo tradicional de ensino já não se sustenta mais, está
ultrapassado, assim como a tecnologia avança, os profissionais da educação que
se manterão no mercado serão aqueles que conseguirão se adaptar às novas ten-
dências desse mundo tecnológico.
131
5
BIOFEEDBACK E
UNIDADE 5

APRENDIZAGEM

Você está com depressão, dor, algum trauma vascular ou neuronal, enxaqueca
ou dores de cabeça? Você está estressado, com insônia, fobias, asma ou in-
continência urinária? Já pensou em Biofeedback? Nesse tópico, todas essas
nomenclaturas serão explicadas.
Caro(a) aluno(a), este é um novo campo de pesquisas que surgiu no século
XX, que prima pela autorregulação dos processos psicofísicos e o aumento da
consciência corpo-mente. Resumidamente, a abordagem educacional por meio
do biofeedback está relacionada diretamente com a neurociência cognitiva, uma
vez que os métodos se baseiam na neuroplasticidade cerebral, nas teorias de
aprendizagem humana e nos processos cognitivos.
Como tantos outros campos de atuação têm surgido nos últimos anos, é
uma área de atuação multidisciplinar, sendo empregada desde áreas médicas,
psicológicas até a cibernética. Sobretudo, sua empregabilidade em áreas es-
portivas, comportamentais, empresariais, de reabilitação e tantas outras têm
se destacado cada vez mais.
É possível conceituar biofeedbacks como um aspecto terapêutico e de ferramen-
ta educacional como aprimoramento de desempenho. Muito utilizado em esportes
de alta performance, ampliando sua utilização nas esferas executivas, educacionais
etc. Existem, biofeedback eletrotérmicos (GSR, EDR ou EDA), térmicos (TEMP),
de eletromiografia (EMG) e neurofeedback (EEG) (DAS NEVES NETO, 2018).
132
Se você voltar ao primeiro parágrafo deste item em questão, todas aquelas

UNICESUMAR
situações que listei a você serão resultados de desequilíbrios internos, em es-
pecial de alterações neurofisiológicas, o qual demandará consciência para que
sejam novamente controladas. As técnicas de biofeedback permitem ao indivíduo
regular-se voluntariamente às respostas fisiológicas e emocionais. Para tanto,
podem ser utilizados diferentes métodos, como conscientização e relaxamento,
técnicas musculares, respiratórias e cognitivas que facilitam a autorregulação dos
processos corporais (LANTYER; VIANA; PADOVANI, 2013).
Você deve estar se perguntando como isso é possível, não é mesmo? Simples, é
possível se apoiar em jogos por seu caráter lúdico que pode e deve ser empregados
em crianças. Tais jogos podem apresentar, como objetivo, o controle da pressão
arterial ou frequência cardíaca durante momentos de estresse.
Reflita comigo, em momentos de estresse ou ansiedade elevada, seus bati-
mentos cardíacos ficam baixos ou aumentam consideravelmente? Isso mesmo,
para a maioria das pessoas, os batimentos cardíacos são elevados e com ele a
ansiedade, e o resultado disso pode ser a falha no processamento cognitivo para
tomadas de decisões mais eficientes. Parece claro que, controlar essa elevação dos
batimentos cardíacos pode ser uma excelente estratégia de autocontrole neurofi-
siológico, pois com um coração trabalhando mais tranquilamente, menores serão
os níveis de estresse e ansiedade e, como resultado, teremos maior e, possivelmen-
te, melhor utilização das funções cognitivas.

explorando Ideias

Um eletrocardiograma é a representação gráfica dos impulsos elétricos no músculo cardía-


co. As oscilações entre cada batimento cardíaco podem indicar quadros patológicos, nível
de condicionamento físico ou mesmo estresse excessivo, no entanto, o intervalo entre dois
batimentos cardíacos pode ser denominado de variabilidade de frequência cardíaca.
Essa mensuração elétrica pode ser solicitada clinicamente por um cardiologista, mas tam-
bém é possível verificá-la em alguns relógios de monitoramento cardíaco e depois transferir
os dados com a gravação dessa variabilidade entre os batimentos cardíacos a um software
específico e depois solicitar a interpretação dos dados por um profissional qualificado.

133
Um dos métodos, de muito utilizados, é o Neurofeedback, que consiste em me-
UNIDADE 5

dir ondas elétricas cerebrais, com o intuito de treinar o indivíduo a reduzir ou a


aumentar a frequência/amplitude de ondas de acordo com os objetivos que se
pretende alcançar. Para isso, são necessários, aproximadamente, 50 minutos de
treinamento, com uma a três sessões por semana. Faz-se necessário de 20 a 40
sessões para se alcançar melhores resultados.

explorando Ideias

O Comitê Olímpico do Brasil considera o judô como uma das principais fontes de meda-
lhas em jogos olímpicos. Como resultado, um grande aporte financeiro é cedido à confe-
deração e aos atletas dessa modalidade. A competição em alto nível promove diversas
alterações emocionais e fisiológicas nos atletas, no qual esses desequilíbrios podem pre-
judicar as tomadas de decisão no momento da competição e resultar em perda de per-
formance e, consequentemente, uma boa colocação. Diante disso, atletas de judô estão
sendo preparados por técnicas de biofeedbacks e neurofeedback, fazendo da modalidade
uma das pioneiras na utilização da neurociência.
As técnicas adotadas podem usar imagens de adversários difíceis e analisar os batimen-
tos cardíacos, a sudorese, a atividade cerebral e, por meio dos resultados obtidos, utilizar
de ferramentas neuropsicológicas para melhorar a concentração e baixar a ansiedade.
Durante o biofeedback, busca-se evitar efeitos negativos causados por ambientes exter-
nos que influenciam na perda da atenção, maior tensão muscular, redução da autocon-
fiança, dentre outros fatores. A respiração profunda é controlada, pode ser um excelente
aliado para oxigenar o organismo e reduzir a ansiedade.

Na década de 90, o estudo do cérebro foi incrementado com as neuroimagens,


com as quais é possível acompanhar em tempo real o processo neuronal de um
sujeito que está sendo testado: Imagem de Ressonância Magnética (IRM), Ima-
gem por Ressonância Magnética Funcional (IRMF) e Tomografia por Emissão
de Pósitrons (TEP) (JACOB, 2014).
Esses tipos de máquinas subsidiaram a visualização de alguns processos ce-
rebrais e, assim, trouxe o entendimento de certas dificuldades de aprendizagem
devido à falta de funcionamento de algumas partes do cérebro. Indivíduos com
dislexia (não conseguem processar sons rápidos) tinham dificuldade com fone-
mas. Usaram um programa de computador três horas por dia, durante quatro
semanas; como inicialmente a fala era lenta e os sons prolongados, facilmente
essas crianças estavam aptas a processar a fala em ritmo normal (JACOB, 2014).
134
UNICESUMAR
A criança com dislexia possui características que podem ser percebidas des-
de a Educação Infantil, tais como: atraso na linguagem, dificuldade de nomear
objetos, cores etc., utilizar palavras inconclusas (“tipo”, “coisa”...) ou alguns vícios
de linguagem presentes na sociedade atual ou dependentes da localidade em
que vive. Possui vocabulário pobre, dificuldade de aprender rimas, memorizar
músicas ou não consegue expressar uma história dentro de uma sequência lógica.
Existem, ainda, as características motoras, como tropeçar com frequência, apre-
sentar dificuldades para abotoar uma calça ou uma camisa e amarrar os cadarços,
em outras palavras, acabam por ser desastrados.
As características apresentadas antecedem o período de alfabetização e se as
intervenções pedagógicas forem efetivadas nessa fase (Educação Infantil), a dis-
lexia poderá ser amenizada ou até superada logo. As intervenções envolvem a as-
similação de fonemas (na alfabetização e letramento desde a Educação Infantil),
trava-línguas, rimas, desenvolvimento do vocabulário, melhoria da compreensão
e fluência da leitura. Outra maneira para ensinar as crianças disléxicas poderia ser
pela utilização das vias táteis, identificando o traçado das letras, bem como a escrita
em caixas de areia e tatear em letras escritas em lixas (folha de lixa) (JACOB, 2014).
Outra técnica que se enquadra nos mecanismos de biofeedbacks é a imagéti-
ca, você já ouviu falar? É algo bem simples de se realizar e, sobretudo, seus resul-
tados são excelentes. Gostaria que, nesse momento, você se imaginasse chegando
a um local de prova, entrando confiante na sala de aula, imagine-se sentado na
cadeira e logo após preenchendo o caderno de provas com exatidão, em que todos
135
os itens da prova são respondidos facilmente por você. Mentalize a devolutiva
UNIDADE 5

desta prova, em que sua nota foi a melhor da turma, coroando, assim, todo seu
esforço e dedicação.
Isso é imagética, antes de qualquer evento que precisa de resultado, perpassa
mentalmente por todas as etapas da execução, desde sua preparação, execução e
finalização. Evidentemente, nesse exercício, deverá sempre pensar positivamen-
te, assim os níveis de ansiedade serão reduzidos, permitido acesso os melhores
conhecimentos anteriormente abstraídos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Evidenciou-se que o entendimento de como o cérebro funciona é fundamental


para que haja um planejamento escolar viável e palpável, com estratégias diferen-
ciadas para a aplicação dos métodos de aprendizagem relacionados aos conteúdos
escolares. Também é imprescindível para que o planejamento seja adequado ao
potencial neurológico dos alunos, isto é, nem banalizar o conteúdo, tampouco ir
além da capacidade de compreensão de um grupo específico, sempre respeitando
os períodos de maturação biológica individual.
Conhecemos aspectos inerentes à base neurológica e suas relações com a apren-
dizagem humana, as quais, mesmo sem oferecer uma “receita de bolo”, nos mostram
quais caminhos podemos seguir, desde que sejam considerados os períodos evolu-
tivos que podem ser influenciadores diretos no comportamento humano.
Elucidamos diversos conhecimentos que se apoiam na neurociência e, por meio
deles, norteamos o trabalho pedagógico, fazendo com que o aluno/aprendiz perce-
ba que é ele quem está no controle de sua aprendizagem, fazendo-o compreender o
quanto tudo aquilo é e será importante para toda a sua vida, o ajudando a alcançar
atenção e emoção equilibradas e, o mais importante: ensiná-lo a lidar com cada
uma delas. Lembre-se, sempre que a aprendizagem oferecer controle e a percepção
de progresso, sempre trará ao aluno uma sensação estimulante.
Por fim, concluímos que todos os seres humanos são capazes de aprender
ou aprimorar conhecimentos durante toda a vida, entretanto, se dificuldades
de aprendizagens ou a necessidade de elevar a performance cognitiva surgirem,
é possível apoiar-se em biofeedbacks, em que a tecnologia também trabalha a
favor da educação. Ao se apoiar nessas terapias de monitoramento de variáveis
cardíacas, neurológicas ou respiratórias, é possível equilibrar emoções, reduzir a
ansiedade e, como consequência, otimizar a tomada de decisão individual.
136
na prática

1. A prática pedagógica que for planejada e executada sem levar em consideração


os processos internos mentais da espécie humana terá grande possibilidade de
conduzir o aluno a uma situação de não aprendizagem. Posto isso, por qual razão
os conhecimentos do cérebro são essenciais para os profissionais que trabalham
com o processo de ensino-aprendizagem?

a) Pois somos todos diferentes, aprendemos de maneiras diferentes, em que a es-


cola ideal deve ser voltada ao desenvolvimento do perfil cognitivo de cada aluno.
b) Pois devem ser esclarecedores, apontando os métodos que devem ser utilizados
para ensinar.
c) Para mudar o currículo escolar, uma vez que não se pode ensinar todos da mes-
ma maneira, se for identificado uma criança com dificuldade e aprendizagem, do
ponto de vista cognitivo, deve ser direcionada a um outro contexto educacional.
d) Para apontar que é impossível aprender tudo, sendo assim, se não foi possível
ensinar algo, deve-se seguir para o próximo conteúdo a ser repassado para não
perder tempo.
e) Para intervir adequadamente no contexto clínico, identificando distúrbios e trans-
tornos em alunos de diferentes idades, possibilitando a criação de prescrição de
medicamentos e de atividades interventivas.

2. Atualmente, aprender não é somente aquisição de conhecimentos, aprender é mu-


dar comportamentos. Em virtude disso, inúmeras áreas interventivas se apoiam na
neuroeducação, como a psicologia, a neurociência e a pedagogia. Os princípios da
neurociência podem ser aplicados nos ambientes de sala de aula, potencializando
o aprendizado e o funcionamento neurológico de aprendizes.

Sobre essa temática, assinale a alternativa correta.

137
na prática

a) O aprendiz deve aprender sozinho, no qual a seleção prévia das atividades é


apenas uma opção por parte do professor, não sendo necessária essa preocu-
pação por parte do docente.
b) O aprendiz deve ser colocado como “detentor” do conhecimento, gerando envol-
vimento ativo do aluno por meio de atividades que somem a teoria e a prática.
c) O aprendiz deve experimentar para aprender, desse modo, independentemente
do momento maturacional dos aprendizes, tudo que for oferecido será adquirido.
d) O docente deve ensinar de modo fragmentado, uma vez que conhecimentos an-
teriores não necessitam ser utilizados para a formação de novas aprendizagens.
e) Apoiar-se em resolução de problemas, estudos de casos, simulações e criação
de hipóteses são estratégias pedagógicas ultrapassadas.

3. A aprendizagem deve levar em consideração as diferentes possibilidades de execu-


ção para ampliar a base de dados, memórias do aprendiz. Evidentemente, a preo-
cupação com a base emocional não deve ser negligenciada, uma vez que ela tem
o poder de impedir ou favorecer a aquisição de conhecimentos. Por fim, deve-se
trabalhar com o aluno integralmente, associando a base cognitiva e emocional para
que a resolução de problemas seja otimizada.

Posto isso, analise as afirmativas a seguir sobre o mecanismo de aprendizagem que


deve envolver, essencialmente,

I - a formulação de tarefas que sejam exequíveis, ampliando a atenção do aluno


para que a performance cognitiva atinja os objetivos planejados.
II - a aplicação de procedimentos sistematizados para resolução de problemas,
o qual a adequação dos estímulos para as características individuais é funda-
mental.
III - a tarefa desenvolvida, não importando objetivos, desse modo a preocupação
com a planificação das estratégias pedagógicas é pouco necessária.

É CORRETO o que se afirma em:

138
na prática

a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e III, apenas.
e) , II e III.

4. Os seres humanos apresentam três canais de comunicação do meio externo para


o meio interno, ou seja, filtros que otimizam a experienciação de diversos temas, os
quais podem ou não ser consolidados em aprendizagens.

De acordo com a receptividade de informações por meio dos canais visuais, auditivos e
cinestésicos, assinale a alternativa correta.

a) Os seres humanos apresentam somente um dos três canais de comunicação, ou


seja, o professor deve descobrir qual é esse canal e adaptar as estratégias para
cada um dos alunos em sala de aula.
b) Independentemente do canal de comunicação para a aprendizagem, todos po-
dem aprender, no entanto, é certo que pessoas cinestésicas aprendem menos
do que as auditivas ou visuais.
c) O canal visual se aprende pelo que se vê, devendo construir atividades que se
apoiem em imagens, fotos, esquemas etc. O canal auditivo se aprende pelo que
se escuta, devendo construir trabalhos de perguntas e respostas, sons diversos,
musicalidade etc. Para o canal cinestésico, deve-se utilizar jogos criativos, práticas
coletivas, dentre outros.
d) O canal cinestésico, pela globalidade de utilização dos canais de comunicação
frente às atividades de base coletiva, no qual é possível perceber diversas sen-
sações, é a melhor estratégia de intervenção para qualquer indivíduo.
e) O canal visual se aprende pelo que se escuta, devendo construir trabalhos de
perguntas e respostas, sons diversos, musicalidade etc. O canal auditivo se vê, de-
vendo construir atividades que se apoiem em imagens, fotos, esquemas etc. Para
o canal cinestésico, deve-se utilizar jogos criativos, práticas coletivas, dentre outros.

139
na prática

5. As experiências humanas que levarão à aprendizagem ocorrem por meio da per-


cepção de estímulos. Sobre esse “filtro”, é possível gerar aprendizagem, ou seja,
aquela que ocorre pela internalização da recepção de estímulos visuais, auditivos
ou cinestésicos.

De acordo com o exposto, assinale a alternativa correta.

a) O canal visual apresenta a menor capacidade de recepção de informações.


b) O canal visual apresenta a maior capacidade de recepção de informações.
c) O canal auditivo apresenta a maior capacidade de recepção de informações.
d) O canal auditivo apresenta a menor capacidade de recepção de informações.
e) O canal cinestésico apresenta a maior capacidade de recepção de informações.

6. A consolidação da aprendizagem depende da disposição do aprendiz em querer


aprender, também são necessários recursos materiais adequados e, obviamente, a
estrutura cognitiva prévia dos indivíduos envolvidos no processo de aprendizagem.

Para isso, assinale a alternativa correta sobre o aprender por parte do aluno, que de-
pende diretamente:

a) Das estratégias adotadas para otimizar a performance cognitiva.


b) Das informações disponíveis, independentemente da qualidade da informação.
c) Da qualidade dos estímulos, mesmo que sem tamanha atenção.
d) Da extrema dificuldade em resolver as tarefas.
e) Da extrema facilidade das tarefas.

140
aprimore-se

A VIDA DE HELEN KELLER

Helen Adams Keller, nasceu no dia 27 de junho de 1880, em uma pequena cidade
rural do Alabama, nos Estados Unidos (EUA), mas a vida de Helen começa a ser
“destruída”, transformando-se em uma história de vida dramática, quando Helen
adoece aos 19 meses de idade. Uma doença de natureza misteriosa, que perdurava
dias, fazendo com que a família de Helen aguardasse o pior, que ela viesse a falecer.
Os médicos da época chamaram de “Febre Cerebral”; os médicos de nossos dias
dizem que poderia se tratar de meningite ou escarlatina. Quando a febre baixou e
a doença cessou, a família de Helen não podia esperar que algo complicado viesse
a surgir mais uma vez, perceberam que Helen não respondia a gestos e sons e logo
foi comprovado que a doença havia deixado Helen completamente cega e surda.
Em consequência a essa situação, a infância de Helen se tornara muito compli-
cada, transformando-a em uma criança muito difícil. Ela não tinha limites, quebrava
muitas coisas, gritava e aterrorizava a todos, “um monstro que deveria ser internada
numa instituição”. Quando a menina completara seis anos e com a família deses-
perada, a mãe de Helen, Kate Keller, tinha lido um livro de Charles Dickens, “Notas
Americanas”, que tratava de um magnífico trabalho realizado com outra mulher
cega e surda, Laura Bridgman.
Após esse momento, a família de Helen, em uma consulta com um médico espe-
cialista, confirmava que jamais a menina que nascera “perfeita” voltaria a enxergar e a
ouvir, mas que todos familiares não deveriam perder as esperanças, pois Helen ainda
poderia ser ensinada. Um perito em crianças surdas, Alexander Perkins Bell, indicou
aos Kellers, que buscassem um professor para Helen, Michael Anagnos, diretor do
Instituto Perkins e Asylum Massachusetts para Cegos, o qual recomendou imediata-
mente uma aluna antiga da instituição, senhora Anne Sullivan, que perdeu boa parte
da visão aos cinco anos, mas após uma cirurgia recuperou boa parte da visão.

141
aprimore-se

Anne Sullivan encontra Helen em março de 1887 e passa a ensiná-la imedia-


tamente, começando com o soletrar da palavra “Boneca” com os dedos (presente
que trouxera para Helen), após essa, outras palavras passaram a ser ensinadas, no
entanto, ela movia os dedos, mas não compreendia seus significados. Além de alfa-
betizá-la, Anne tinha de controlar e educar o mau gênio da menina, como melhorar
a falta de educação e modos à mesa. Mesmo com muita dificuldade e os boicotes
de Helen, Anne insistia, até que, em algumas semanas, o trabalho começou a surtir
efeito e o comportamento da menina Helen passou a mudar, o “milagre” aconteceu,
assim como os laços entre as duas.
Várias foram as tentativas e estratégias utilizadas pela professora, uma delas
foi um jato d’água despejado sobre uma das mãos de Helen, a qual na outra mão
aprendia a soletrar a palavra água. Depois a palavra bomba de água, depois profes-
sor e assim, em pouco tempo, Helen conhecia trinta e nove novas palavras. Logo, a
professora ensinou-a a ler, em braille, com letras em alto relevo.
Após Helen ser citada em um artigo por Michael Anagnos, chamando-a de “fe-
nômeno”, ganha muita publicidade na mídia e em fotos, deixando um legado por
possibilitar ou estimular diretamente o desenvolvimento de novas tecnologias e mé-
todos de ensino para pessoas cegas e surdas.

Fonte: adaptado de Associação de Surdos do Porto ([2020]).

142
eu recomendo!

livro

Neurociência na prática pedagógica


Autora: Marta Pires Relvas
Editora: WAK
Sinopse: o livro ressalta o conhecimento adquirido por meio de
abordagens teóricas, reflexões, discussões e práticas pedagógicas,
refletindo e redimensionando estas práticas como objetivo princi-
pal no entendimento sobre a biologia cerebral e suas interfaces no
desenvolvimento das inteligências e da aprendizagem cognitiva e emocional.

143
143
conclusão
conclusãogeral
geral

conclusão
conclusão
geral
geral

Prezado(a) aluno(a), evidenciou-se, ao longo desse material, que a neurociência re-


lacionada à aprendizagem é um campo novo e muito amplo, o qual pode ser em-
pregado a diversos profissionais que buscam excelência dos processos de ensino e
aprendizagem. Desse modo, a neurociência esclarece os aspectos comportamentais
dos seres humanos e o funcionamento biológico dos tecidos corporais, a aquisição
de memória, o processamento de informações, dentre outras inúmeras funções.
O entendimento do funcionamento neurológico é fundamental para que haja
um planejamento pedagógico viável e palpável, com estratégias diferenciadas para
a aplicação dos métodos de aprendizagem, nos mais diferentes conteúdos. Tam-
bém é imprescindível um planejamento condizente ao potencial neurológico dos
aprendizes, isto é, não se deve banalizar o conteúdo nem se quer ir além da capaci-
dade de compreensão de um grupo específico.
Fica esclarecido que a aprendizagem depende, diretamente, da adaptação neu-
ronal, a qual pode sofrer influências intrínsecas ou extrínsecas. Posto isso, o meio
em que estamos inseridos, os estímulos recebidos e a predisposição genética são
influenciadores no processo de aquisição e retenção de memórias e, consequente-
mente, da capacidade cognitiva individual. Sobretudo, é necessário encontrar estra-
tégias que remodelam a comunicação neuronal. Essas podem acontecer por meio
do humor, das atividades em grupo, da aplicação visual ou auditiva, bem como dos
métodos pedagógicos atuais. Melhorar o aprendizado depende dos mediadores de
conhecimentos e, também, da vontade e do desejo de cada um para aprender.
Como verificamos, as estruturas neurológicas são um conjunto de sistemas
complexos, os quais podem sofrer diversas influências internas ou externas. Desse
modo, ao intervir profissionalmente com crianças, adolescentes, adultos ou idosos,
devemos sempre nos apoiar das neurociências, assim o entendimento das respos-
tas neurológicas na atuação profissional será facilitado.

144
144
anotações


































referências

UNIDADE 1

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150
gabarito

UNIDADE 1 UNIDADE 4

1. D. 1. B.

2. B. 2. A.

3. D. 3. B.

4. B. 4. A.

5. B. 5. E.

6. A. 6. D.

UNIDADE 2 UNIDADE 5

1. A. 1. A.

2. E. 2. B.

3. A. 3. B.

4. E. 4. C.

5. A. 5. B.

6. A.

UNIDADE 3

1. A.

2. C.

3. B.

4. A.

5. C.

6. C.

151
anotações



































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