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DESENVOLVIMENTO DA
APRENDIZAGEM
Professora: Me. Patrícia Rodrigues da Silva
DIREÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Apresentar a Neurociência em sua vertente relacionada ao comportamen-
to humano.
•• Conhecer os aspectos básicos da estrutura do sistema nervoso central que
se relacionam com a aprendizagem.
•• Aprender sobre as principais funções cognitivas e a sua relação com o
cérebro.
•• Conjecturar sobre a integração entre prática pedagógica e neurologia da
aprendizagem.
PLANO DE ESTUDO
ASPECTOS
INTRODUTÓRIOS SOBRE
NEUROCIÊNCIA
Quando abordamos a Neurociência em sua vertente voltada para a educação, pro-
curamos elementos que deem subsídios a nós professores para a compreensão da
aprendizagem e o entendimento dos comportamentos manifestados pelos nossos
alunos nos processos vivenciados por eles. Como podemos estimular (ou inibir) estes
processos?
Assim sendo, vamos agora conhecer aspectos gerais sobre neurociência, que
serão fundamentais para o desenvolvimento do nosso estudo sobre Neurodidática.
Complementando, Kandel; Schwartz e Jessell (2003), nos trazem que a tarefa das
neurociências está em explicar o comportamento no que tange ao funcionamen-
to cerebral, de forma a elucidar sobre como o cérebro organiza e articula os milhões
de células nervosas individuais e como estas células são influenciadas pelo ambien-
te externo, gerando o comportamento.
““
O que somos, fazemos, pensamos e desejamos é resultado do funcionamento
do sistema nervoso e sua interação com o corpo, juntamente com a histó-
ria de vida de cada um, a cultura, a sociedade, e a genética fazem de nós o
que somos, individualmente, como seres humanos, e como animais racio-
nais (RELVAS, 2016, p. 1).
Robert Lent (2010) nos traz que precisamos falar em “Neurociências”, no plural, visto
que há modos de classificá-las de acordo com nos níveis de abordagem a que se
propõe a investigação que se deseja realizar. O autor traz um modo esquemático de
compreender as neurociências, conforme apresentado no quadro a seguir:
Quadro 1: Modo esquemático de compreender as neurociências.
Vemos assim, caro(a) aluno(a) que as ciências que “formam” a neurociências, atuam
em busca de investigar o sistema nervoso para assim, entender como ele se desen-
volve e funciona, e, por meio dessas investigações nos revelar como o nosso cérebro
produz comportamentos, emoções, sensações, nos levando a tomada de decisões.
Dialogando com o campo da educação, as neurociências nos revelam como os in-
divíduos aprender e/ou podem aprender.
Ressalto ainda, que em nossos estudos nos valeremos dos aspectos que compõem
a neurociência cognitiva, visto que o nosso intuito é nos voltar a questões de apren-
dizagem, ensino, didática e o universo de sala de aula, em busca de um diferencial
da prática pedagógica.
Mesmo assim, vale destacar a perspectiva de Lent (2010) de que os limites exis-
tentes entre essas disciplinas das neurociências não são nítidos, o que nos obriga
muitas vezes a saltar de uma disciplina a outra, sempre que tentamos compreender
o funcionamento do sistema nervoso. Muito interessante não é mesmo?
Vemos assim, que a neurociência é interdisciplinar e reúne áreas, linhas e dife-
rentes disciplinas científicas. Estudá-la é sempre uma experiência muito rica, pois,
adentramos em um universo que sempre poderá ser explorado de fora diferente em
busca de resultados diferentes. Para nós professores, a neurociência desvenda cami-
nhos para a compreensão de fatores que levam ou impedem a criança a aprender,
especialmente quando adentramos no âmbito da neurociência cognitiva.
““
[...] a neurociência cognitiva está entrelaçada nos saberes. É necessário pensar
que ela está para além de mapear o cérebro, a importância está em desvendar
meandros de seu funcionamento, compreendendo fluxos e refluxos dos neu-
rotransmissores, acompanhadas de dinâmicas complexas que transformam
passos de resoluções de problemas, observando, diagnosticando, diferentes
segmentos que implicam na aquisição de conhecimentos (LÉO, 2010, p. 9).
““
O desenvolvimento atual das Neurociências é verdadeiramente fascinante
e gera grandes esperanças de que, em breve, tenhamos novos tratamentos
para uma grande gama de distúrbios do sistema nervoso, que debilitam e in-
capacitam milhões de pessoas todos os anos (BEAR; CONNORS, 2008, p. 21).
saiba mais
BREVE HISTÓRIA DA NEUROCIÊNCIA COGNITIVA
Do que trata o campo da neurociência cognitiva? De onde surgiu? Para onde
está indo? Você encontrará uma breve história das pessoas e das ideias que
levaram ao novo campo da neurociência cognitiva, aquele que tem suas
raízes na neurologia, na neurociência e na ciência cognitiva.
O termo neurociência cognitiva foi criado dentro de um táxi da cidade de
Nova York, no final dos anos de 1970, porque naquele momento uma nova
missão se fazia realmente necessária. Os neurocientistas estavam desco-
brindo como o córtex cerebral era organizado e como ele funcionava em
resposta a estímulos simples.
Conforme nos traz Relvas (2016), quando a neurociência dialoga com a educação,
promove ao professor caminhos para tornar-se mediador no processo de ensino-
-aprendizagem. Neste processo torna-se fundamental que o professor promova em
seu cotidiano os estímulos corretos e no momento certo, para que o aluno possa
integrar, associar e entender, ou seja, aprender de forma significativa e prazerosa no
processo escolar.
Pós-Universo 13
O CÉREBRO E A
APRENDIZAGEM
Neste momento, vamos conhecer aspectos básicos do sistema nervoso, em particular
sobre o cérebro e a sua relação com a aprendizagem. Uma das formas de encará-lo,
diz Lent (2010), é como um objeto desconhecido, capaz de produzir comportamen-
tos e consciência, vistas como propriedades emergentes do sistema nervoso.
Vamos então conhecer tais aspectos básicos e compreendê-los dentro do nosso
âmbito educacional, ou seja, pensando a sua relação com a aprendizagem escolar.
O sistema nervoso
O sistema nervoso pode ser dividido em: sistema nervoso central (SNC), sistema
nervoso periférico (SNP) e sistema nervoso autônomo (SNA). Podemos dizer que
no SNC estão as partes situadas dentro do crânio e da coluna vertebral – encéfalo
e medula espinhal. No SNP, estão raízes, plexos e nervos distribuídos por todo o or-
ganismo. O SNP coloca o SNC em contato com os órgãos efetores – principalmente
músculos voluntários, e também trazem informações periféricas como sensibilida-
des e sentidos (LENT, 2010; MAIA; THOMPSON, 2011).
No sistema nervoso central (SNC) está a maior parte das células nervosas, seus
prolongamentos e os contatos que estabelecem entre si. Já no sistema nervoso
periférico (SNP) ficam relativamente poucas células, mas um grande número de pro-
longamentos denominadas fibras nervosas, que estão agrupadas em filetes alongados
denominados nervos (LENT, 2010). O sistema nervoso autônomo (SNA) é compos-
to por estruturas centrais e periféricas relacionadas apenas ao controle involuntário
das funções orgânicas (MAIA; THOMPSON, 2011).
14 Pós-Universo
atenção
Faz-se importante ressaltar caro(a) aluno(a) que o sistema nervoso, por meio de seu
conjunto de órgãos, é altamente responsável pela vida mental e de relação do indi-
víduo, como também pelo funcionamento de outros órgãos do nosso corpo. Então,
conhecer essas especificidades permite a nós professores compreendermos a origem
de muitos comportamentos de nossos alunos, como também as dificuldades ou fa-
cilidades de aprendizagem.
sulco Tálamo Corpo caloso
central (lia os dois hemisférios
lobo cerebrais)
parietal
Corpo pineal
lobo
frontal
Cérebro
lobo
occipital Bulbo
lobo olfatório
temporal Hipotálamo
Quiasma óptico Cerebelo
cerebelo Tegmento
ponte de Tecto
Varólio Mesencéfalo Ponte
medula Medula
Bulbo
espinhal
É claro, que em tão pouco tempo não conseguimos – e nem é o objetivo aqui –
esgotar as possiblidades de estudos e interpretações e muitos menos tratar de toda
a complexidade em que se assenta o sistema nervoso e os estudos sobre o cérebro
humano. O intuito está em trazer subsídios para criar as bases de entendimento do
comportamento e aprendizagem.
atenção
O cortéx cerebral é o que faz os seres humanos serem como são. Dentro
do grande cortéx humano situa-se uma parte expressiva do segredo da
consciência humana, nossas capacidades sensoriais e sensibilidades ex-
traordinárias do mundo externo, nossas habilidades motoras, aptidões para
o raciocínio e a imaginação, e acima de tudo, nossas capacidades únicas
de linguagem.
Fonte: Thompson (2005, p. 19)
““
[...] projeção sensorial e cognição, planejamento e iniciação de movimentos
voluntários, processos mentais complexos (pensamento, raciocínio), com-
preensão e expressão da linguagem, memória e aprendizagem, experiências
emocionais e motivacionais (MAIA; THOMPSON, 2011, p. 21).
Pós-Universo 17
reflita
Notamos então, que inúmeros são os vínculos que se estabelecem entre tecidos,
cognição, afetividade, sensibilidade e motricidade. Mas, quem é o responsável pelo
estabelecimento destes vínculos? O neurônio. Segundo Thompson (2005, p. 2) “o
neurônio é a unidade funcional do cérebro”. A sua finalidade está em transmitir in-
formações para outros neurônios, células musculares ou células glandulares.
““
A principal diferença entre um neurônio e outras células está na membra-
na: ela se especializou para transmitir informações. Os corpos celulares dos
neurônios possuem fibras que se estendem externamente. Uma destas
fibras, o axônio, conduz informações do corpo celular do neurônio para
outras células. As terminações do axônio são muito especializadas e chama-
das de sinapses: elas liberam transmissores químicos sobre as outras células
(THOMPSON, 2005, p. 32).
Dendritos
Corpo
celular
Ramificação
Núcleo Axônio terminais do
axônio
Sobre o conceito de plasticidade cerebral aplicado à educação, Léo (2010) nos diz que
se relaciona à disposição de o sistema nervoso acordar diante do ambiente durante
todo o desenvolvimento humano, restaurando e restituindo funções que foram de-
sorganizadas por condições patológicas. A abordagem experimental é a mais comum
da plasticidade cerebral, mas também pode ser vista na probabilidade concreta da
existência e expressão funcional do sistema nervoso, na motricidade, percepção e
linguagem, por exemplo (LÉO, 2010, p. 10).
Pós-Universo 19
atenção
FUNÇÕES COGNITIVAS
E APRENDIZADO
ESCOLAR: PERCEPÇÃO
E MEMÓRIA
Neste momento caro(a) aluno(a), vamos nos aprofundar um pouco mais a respeito
do aprendizado escolar. As nossas discussões se guiarão por meio das etapas cog-
nitivas do processo de aprendizagem que são: a percepção, a memória, as funções
executivas e as funções expressivas.
Construção do processo de
aprendizagem
Quais fatores cognitivos influenciam na aprendizagem da criança? Como acontece
o processo de aprendizagem? O que impede o processamento de informações e a
aprendizagem significativa?
Estas são questões que podem nos inquietar continuamente em nosso dia a dia
de sala de aula. Por esse motivo, vamos compreender de que forma se constrói o
processo de aprendizagem, amparado as funções cognitivas do aprendente.
Na concepção de Maia (2011), o aprendizado escolar se constitui em um processo
que requer prontidões neurobiológicas, cognitivas, emocionais e pedagógicas, como
também os estímulos apropriados. Dessa forma, a criança aprende não somente no
ambiente escolar, mas imersa no meio social, que abarca a família e a escola. Este
meio social também vai determinar a natureza e a qualidade do aprendizado.
Denominamos funções cognitivas, o conjunto de funções cerebrais básicas que
permitem a recepção e o processamento de estímulos e as respostas aos mesmos.
Ao mesmo tempo, representam o que muitas vezes chamamos de pensamento, que
possibilita o raciocínio e a emoção, atributos que encontram a sua “máxima” expres-
são na espécie humana (MAIA, 2011).
22 Pós-Universo
A percepção
Segundo Lent (2010) a percepção se inicia quando uma forma qualquer de energia
incide sobre as interfaces situadas entre o corpo e o ambiente. Os receptores senso-
riais são o que denominados de sentidos: visão, olfato, audição, sensibilidade corporal
e gustação. Neste processo o nosso SNC recebe essas informações provenientes do
meio externo, dando-lhe um significado.
Diz-se ainda que existem receptores específicos – áreas especializadas – para
analisar cada uma das modalidades perceptivas, que se setorizam em característi-
cas específicas do todo a ser analisado. Por exemplo, áreas específicas pra análise de
cor, movimento e tridimensionalidade se encontram na área cortical-visual, assim
como, existem o processamento de sons musicais e sons pertencentes a linguagem
humana são processados por áreas auditivas específicas (MAIA, 2011).
Pós-Universo 23
““
[...] a análise das formas gráficas “p”, “q”, “d”, “b”, todas são primariamente um
semicírculo acoplado a uma haste, pode ser entendida como as letras “pê”,
“quê”, “dê” e “bê”, uma vez que se analise a disposição espacial diferenciada
desse semicírculo/haste e se correlacione tal representação gráfica com o
som correspondente das letras representadas [...] como tais habilidades vão
sendo desenvolvidas com a maturação pela idade do SNC e pela experiencia
e exposição repetida aos estímulos, podemos compreender como as dificul-
dades no reconhecimento de tais regras são próprias da aquisição de leitura
e escrita, mas que podem representar disfunções em nível perceptivo-visual
e fonológico, à medida que permanecem após uma etapa esperada de de-
senvolvimento (MAIA, 2011, p. 34).
saiba mais
A memória
O que é a memória? Compreendida em nossas discussões como a segunda etapa
do processo de aprendizagem, a memória corresponde a capacidade do aprendente
reter as informações que recebeu do ambiente externo, e também de acessar infor-
mações previamente armazenadas.
Brandão (2001) nos retrata que aprendizagem e memória estão imbricadas em
um processo contínuo de estágios. O primeiro estágio corresponde a memória de
curto prazo – memória de trabalho, uma memória sensorial ou imediata que ocorre
em uma fração de segundo, como guardar um número de telefone, por exemplo.
Essa memória tem duração pequena – alguns segundos, minutos ou horas – mas,
por meio da repetição mental do conteúdo da informação pode se converter em
memória de longo prazo, passa a integrar o sistema duradouro de armazenamento.
A memória de trabalho, segundo Maia (2011) é uma modalidade mnêmica,
temporalmente pequena, mas, responsável pelo processamento das informações
recebidas pelo meio, em tempo real, como também das informações resgatadas
da memória permanente para a execução do raciocínio. Este “exercício” é facilmen-
te percebido em crianças em fase de alfabetização, por exemplo. “Anatomicamente,
a memória de trabalho corresponde a um espaço virtual onde múltiplas conexões
e integrações são orquestradas sob a ‘batuta’ do lobo frontal, em especial o cortéx
pré-frontal” (MAIA, 2011, p. 35).
““
Uma disfunção cognitiva que classicamente compromete a memória de
trabalho é o TDAH, explicando as grandes dificuldades de organização, plane-
jamento e retenção de informações em pessoas com este distúrbio. Há uma
grande demanda de memória de trabalho em tarefa de raciocínio lógico-de-
dutivo, especialmente na Matemática. Na dislexia, por sua vez, a memória
de trabalho especificamente fonológica está deficiente (MAIA, 2011, p. 35).
Pós-Universo 25
atenção
A aprendizagem pode ser vista como um conjunto de comportamentos que
viabilizam os processos neurobiológicos e neuropsicológicos da memória.
Na memória secundária, a “leitura periódica” das informações que ali estão armazena-
das permite que as informações sejam alteradas, como também novas informações
relacionadas a aprendizagem inicial sejam acrescidas ao sistema. Continuando com
exemplo do filme citado anteriormente, ao trazermos para a discussão que estamos
estabelecendo, acabamos por acrescentar novos aspectos, novas formas de enxer-
gá-lo, ou seja, a memória foi modificada.
Brandão (2001) e Maia (2011) chama este processo de consolidação, aquilo
que é armazenado na memória de longo prazo. E como isso acontece? O hipocam-
po tria e determina quais informações, dentre as milhares que são processadas pela
memória de trabalho, serão permanentemente regidas em nosso córtex cerebral.
saiba mais
O hipocampo faz parte do sistema límbico, que é região que regula emoções,
estando associado principalmente à memória.
O indivíduo não tem autonomia nessa tarefa ou influência consciente sobre o hipo-
campo para selecionar o que guardar na memória de longo prazo ou então esquecer.
Contudo, algumas características do elemento a ser memorizado apontadas por Maia
(2011) merecem ser citadas:
““
A memória permanente é o acúmulo de informações desde os nossos primei-
ros momentos de vida [...] se não regularmente utilizadas, ou se ficam ‘soltas’
fora de um conjunto significativo de aprendizados, podem imergir na incons-
ciência e dar o ar de sua graça raramente. Tanto a memória quanto a atenção
vão ficando maiores (em termos de duração, quantidade e complexidade),
quanto mais amadurecido o sistema nervoso central e mais estimuladas
forem (MAIA, 2011, p. 36).
Na memória terciária, Brandão (2001) nos salienta, que são armazenadas informa-
ções relacionadas ao funcionamento da vida cotidiana, constituindo-se em traços
de memórias correspondentes a fala, escrita, atividade motora e outras atividades
que se mostram essenciais.
Pós-Universo 27
““
A princípio, não existe uma necessidade educacional especial que afete pri-
mariamente a capacidade de memorizar (consolidar) de forma genérica da
criança ou adolescente, salvo situações adquiridas que lesem a região hipo-
campal (tumores, traumatismo ou doenças degenerativas). Os transtornos
de aprendizado são caracterizados por dificuldades mnemônicas específicas
decorrentes de disfunção geneticamente determinadas em áreas cerebrais
específicas. Dessa forma, os disléxicos têm dificuldades de memorização
fnêmica/fonológica (embora sem alterações em outras áreas de proces-
samento linguístico), os portadores de disgrafia na memória grafêmica e
grafofonêmica e os com discalculia na memória para números (MAIA, 2011,
p. 36).
quadro resumo
FUNÇÕES COGNITIVAS
E APRENDIZADO
ESCOLAR: FUNÇÕES
EXECUTIVAS E
EXPRESSIVAS
Continuando as nossas discussões acerca das funções cognitivas e aprendizado
escolar, falaremos agora das funções executivas e das funções expressivas.
Funções executivas
Entendemos por funções executivas o conjunto de habilidades que permitem o de-
sempenho de ações voluntárias orientadas para metas, que podem ser intelectuais
ou emocionais. São aquelas habilidades que permitem ao aluno iniciar e desenvol-
ver uma atividade com objetivo final determinado (COSTA; MAIA, 2011).
São as funções executivas caro(a) aluno(a) que nos levam a executar uma série
de tarefas simples em nossa rotina, como também tarefas complexas que exijam so-
luções mais aprofundadas. Quando em sala de aula propomos atividades aos nossos
alunos, estamos estimulando as suas funções executivas, pois, estamos estimulan-
do o seu cérebro e o funcionamento de diversas atividades mentais que otimizem
o seu desempenho.
Para Costa e Maia (2011, p. 55), “as funções executivas são, portanto, determi-
nantes da capacidade de aprendizagem”. As autoras ainda reforçam que o bom
desenvolvimento das funções executivas dependem não somente do amadureci-
mento cerebral, mas, também da assimilação de maneira progressiva das estratégias
de ensino-aprendizagem utilizadas pelo professor.
30 Pós-Universo
Segundo Morton (2013, p. 4), as funções executivas podem ser divididas em três
grandes categorias de competências: autocontrole, memória de trabalho e flexibili-
dade cognitiva. O autocontrole corresponde a capacidade de o indivíduo resistir à
uma tentação, a algo que gostaria de fazer, para poder fazer aquilo que é certo. Essa é
uma capacidade que ajuda as crianças a prestar atenção, agir menos impulsivamente
e a manter a concentração numa tarefa, por exemplo. Ligada às funções executivas, a
memória de trabalho busca manter as informações na mente para que elas possam
ser manipuladas. Esta é uma habilidade necessária à realização de tarefas cognitivas,
como a de estabelecer uma relação entre dois assuntos, fazer cálculos mentais e/ou
estabelecer uma ordem de prioridade entre várias tarefas. A flexibilidade cogniti-
va se volta à capacidade de o indivíduo usar o pensamento criativo e realizar ajustes
flexíveis que possibilitem a adaptação às mudanças. Uma habilidade que auxilia as
crianças a utilizarem imaginação e criatividade para resolver problemas.
““
O desenvolvimento do potencial máximo das funções executivas é um
processo que exige tempo e isso se explica, em parte, pela lentidão do ama-
durecimento do córtex pré-frontal. As alterações nas funções executivas são
aparentes quando as crianças se tornam capazes de manter em mente os
objetivos importantes (por exemplo, terminar o dever de casa ao invés de
assistir à televisão). Observam-se melhorias nas funções executivas também
quando as crianças desenvolvem a capacidade de analisar seu ambiente
para decidir qual o plano de ação apropriado (por exemplo, estudar hoje à
noite é essencial para a obtenção de uma boa nota no exame do dia seguin-
te) (MORTON, 2013, p. 4).
atenção
Funções expressivas
As funções expressivas são aquelas que se voltam a alguma forma de comunicação.
Podemos dizer que a linguagem oral e a linguagem escrita são as principais e/ou
mais utilizadas pelos indivíduos.
No cérebro, todo o cortéx e as estruturas subcorticais trabalham para permitir a
linguagem. Neste processo, os sentimentos, desejos e palavras são transformados,
sendo que, as partes – aspectos verbais, mediados pelo hemisfério dominante – e o
todo, que são os aspectos não verbais, mediados pelo hemisfério não dominante, são
igualmente importantes para que haja coerência no ato comunicativo (MAIA, 2011).
Mas qual a “rota” da linguagem na cabeça dos pequenos? Vamos entender como
este processamento acontece.
Salienta Maia (2011) que quando tratamos da fala – linguagem oral – tudo começa
com as emoções e pensamentos que o emissor deseja verbalizar. Esses sentimentos
são carregados de significados que deverão ser traduzidos em palavras apropriadas.
Somente aqui, temos dois processos: o de conceitualização e lexicalização. A palavra
então é “montada” a partir de seus constituintes fonológicos e “traduzida” em mo-
vimentos articulatórios e emissões de ar pelas estruturas fonoarticulatórias – fase
chamada de articulação – com a finalidade de serem emitidas palavras em ordem,
emotividade e propriedade sociocultural, ou seja, sintaxe, prosódia e pragmatismo,
sucessivamente.
No caso da leitura e escrita, após o reconhecimento da palavra escrita, os demais
processos serão semelhantes ao processamento da percepção da linguagem falada,
ou seja, o significado isolado e contextualizado das palavras, a análise sintática, a
apreensão do pragmatismo e a prosódia (MAIA, 2011).
32 Pós-Universo
““
O cérebro processa a linguagem oral e seu correlato escrito de forma modular,
ou seja, apresenta redes específicas para o processamento de níveis hierar-
quizados, pertinentes a aspectos constitutivos dos sons (nível fonêmico),
palavras (nível lexical – léxico fonêmico em relação à palavra falada e léxico
ortográfico em relação à palavra escrita) e significados (nível semântico),
bem como para o encadeamento das palavras de forma coerente e inteli-
gível (sintaxe), acrescido de aspectos não verbais, como a intencionalidade
do ato comunicativo (pragmatismo) e os contornos afetivos de que ela se
reveste (prosódia) (MAIA, 2011, p. 37).
““
As modalidades da linguagem envolvem sistemas pareados de expressão e
compreensão. Assim, quando a expressão é oral ou vocal (modalidade que
chamamos de fala), a compreensão ocorre principalmente pelo sistema au-
ditivo; quando a expressão é gestual, a compreensão é realizada pelo sistema
visual. Da mesma forma, quando a expressão é escrita, é o sistema visual que
possibilita a leitura. E quando a escrita é Braile, é o sistema somestésico que
assume a tarefa.
Observamos assim, que o processo realizado pelo cérebro para que a função ex-
pressiva se cumpra, aconteça, é uma atividade complexo e intrínseca. Precisamos
enquanto professores compreender este processo esquemático para que assim pos-
samos estimular adequadamente os nossos alunos. Imagine todo esse processo ao
trabalharmos a leitura e escrita, por exemplo? Sem sombra de dúvidas, muitas das di-
ficuldades de aprendizagem podem ser mapeadas ao compreendermos as funções
cognitivas.
Pós-Universo 33
Vale ressaltar ainda, conforme Maia (2011) que dificuldades de atenção e execu-
ção, podem atrapalhar esse processo, por exemplo, indivíduos com TDAH podem ler
todo um texto, sem problemáticas de articulação e fluência, mas, é comum ao final
quando perguntados sobre o que entenderam, de nada lembrarem.
São muitos outros desdobramentos que envolvem as funções cognitivas caro(a)
aluno(a). O nosso material não esgota as discussões sobre o assunto, assim, reco-
mendo que você continue as suas pesquisas, explore o tema. Existem materiais
fantásticos para pesquisa sobre o assunto ao explorarmos o campo da neurociên-
cia. Por exemplo, o uso de técnicas de imagem funcional para as áreas cerebrais para
compreender as regiões impactadas ao ouvir, ler, falar ou imaginar palavras, como
outras tantas pesquisas.
Não pare por aqui suas pesquisas sobre este assunto! Aprofunde os seus
conhecimentos!
atividades de estudo
1. Vimos em nossos estudos que Uma das vertentes dos estudos em Neurociência se
volta a suscitar o entendimento da aprendizagem, do funcionamento do cérebro
nas mais variadas formas de construção do conhecimento, trazendo à tona elemen-
tos que favorecem ou dificultam a aprendizagem. Sobre a neurociência, assinale V
para verdadeiro e F para falso nas sentenças a seguir, e assinale a alternativa correta.
a) V, V, F, V, F.
b) F, F, V, V, V.
c) V, V, V, V, V.
d) F, V, V, F, V.
e) V, V, F, V, V.
atividades de estudo
2. Sabemos que o sistema nervoso pode ser dividido em: sistema nervoso central (SNC),
sistema nervoso periférico (SNP) e sistema nervoso autônomo (SNA). Analise as afir-
mações a seguir, acerca do sistema nervoso, e assinale a alternativa correta.
Também pudemos conhecer os aspectos básicos da estrutura do sistema nervoso central que
se relacionam com a aprendizagem, tais como as funções cognitivas, que podem ser subdividi-
das em pensamento e emoção, motricidade e equilíbrio, sensibilidades, sentidos e controle do
meio interno, como respiração, circulação, liberação hormonal.
Fizemos discussões que trouxeram à tona estes elementos, sempre nos voltando a aprendizagem
do indivíduo. Assim, aprendemos sobre as principais funções cognitivas e a sua relação com o
cérebro, conjecturando sobre a integração entre prática pedagógica e neurologia da aprendizagem.
Pudemos ainda constatar que o aprendizado escolar se constitui em um processo que requer
prontidões neurobiológicas, cognitivas, emocionais e pedagógicas, como também os estímulos
apropriados. E que as funções cognitivas permitem a recepção e o processamento de estímulos
e as respostas, possibilitando o raciocínio e a emoção.
Falando em funções cognitivas, pudemos estudá-las como um grande processo que se realiza
em quatro etapas: percepção, memória, funções executivas e funções expressivas.
Espero que este material tenha lhe ajudado caro(a) aluno (a), a tecer reflexões sobre os elemen-
tos da neurociência que se voltam ao processo de aprendizagem, e, principalmente, em refletir
sobre práticas pedagógicas que podem ser desenvolvidas e aplicadas ao cotidiano escolar pro-
piciando o desenvolvimento adequado de nossos alunos.
material complementar
NA WEB
Nos mostra com profundidade as realizações ao longo da vida e as reflexões de um homem, que
acabou por ser muito maior do que a soma de todas as suas partes, por isso considerado um dos
pesquisadores da memória mais importantes do século XXI.
BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W. Neurociências: Desvendando o Sistema Nervoso. 3 ed. Porto
Alegre: Artmed, 2008.
GAZZANIGA, Michael S.; IVRY, Richard, MANGUN, George R. ; tradução de Angelica Rosat Consiglio.
Neurociência cognitiva: a biologia da mente. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.p. 20-37.
KANDEL, Eric R.; SCHWARTZ, James H.; JESSELL,Thomas M. Princípios da neurociência. 4.ed.
Barueri - SP: Manole, 2003.p. 5-17
MAIA, H.; THOMPSON, R. Cérebro e aprendizagem. In.: MAIA, H. (org.). Neurociências e desen-
volvimento cognitivo. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. Volume 2.
MAIA, H. Funções cognitivas e aprendizado escolar. In.: MAIA, H. (org.). Neurociências e desen-
volvimento cognitivo. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. Volume 2.
THOMPSON, R. O cérebro: uma introdução à Neurociência. São Paulo: Santos Editora, 2005.
resolução de exercícios
1. a) V, V, F, V, F.
2. e) II, III IV e V.
3. c) Percepção e memória.
4. d) 1,1, 2,1,2.