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Universidade Estadual do Piauí- UESPI

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Professora Dra Herik Zednik


herik.rodrigues@srn.uespi.br
@herikzednik
1. CONTEXTO HISTÓRICO, SOCIAL, ECONÔMICO E POLÍTICO DO
SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA EJA NO BRASIL

1.1 Um passeio pela história da Educação de Jovens e Adultos;


1.2 Os Sujeitos do EJA: diferenças e desigualdades
1.3 Os jovens e adultos analfabetos – quem são eles?
1.3.1 Relações étnico-raciais e sujeitos;
1.3.2 Relações de gênero e educação – reconhecendo lugares sociais construídos
EDUCAÇÃO
Por meio da educação o homem
ressignifica aquilo que pode favorecer
seu bem estar. Enquanto ser humano,
produz Cultura – seu fazer histórico.

A educação é fundamental para a


humanização e socialização do homem.
O homem produz conhecimento, valores,
arte, ciência, crenças, e tecnologia.
RODA DE CONVERSA

Vídeo Vida Maria


Debata sobre as questões do analfabetismos no Brasil e sua relação com a EJA.
Conceito de Alfabetização

• Até 1940, eram consideradas


alfabetizadas as pessoas que
declaravam saber ler e escrever e
que assinavam seu nome para
comprová-lo.
• A partir dos anos de 1950 e até o
censo de 2000, os instrumentos
de avaliação foram alterados e
passaram a considerar
alfabetizados os que se
declaravam serem capazes de ler
e escrever um texto simples.
Sentido Etimológico

• Alfabetizar significa “levar à


aquisição do alfabeto”, o que
deixa o termo reduzido a uma
estratégia mecânica,
articulada com a habilidade
de codificar e decodificar
grafemas e fonemas.
ALFABETIZAÇÃO
• Aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia,
codificar e decodificar os rudimentos da escrita;
• “Ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a
escrever”.
• Ler é ser capaz de se descentrar de suas ideias e pensamentos para
acompanhar, compreender, analisar, julgar o pensamento do outro,
buscar o significado por trás das palavras, ler também as
entrelinhas.
• Escrever, elaborar um texto, é ser capaz de utilizar o instrumento
da escrita para representar pensamentos, comunica-los, perpetuá-
los, defendê-los, compartilhá-los.
LETRAMENTO (SOARES, 2001)

• O letramento é mais do que a aquisição da


habilidade de codificar o próprio nome;
• Trata-se da capacidade de interpretar a
leitura e a escrita na prática social;
• Envolve valores, atitudes, sentimentos e
relacionamento social.
Inaf - Indicador de
Alfabetismo Funcional
• Analfabetos absolutos - Inclui
quem não realiza tarefas
simples, como a leitura de palavras e frases, ainda que leia
números familiares, como os de telefone e preços
• Alfabetismo nível rudimentar -
Diz respeito a quem localiza
informações explícitas em textos curtos, lê e escreve números
e sabe usar o dinheiro para pequenos pagamentos
• Alfabetismo nível básico - Reúne
os que leem e compreendem
textos de média extensão e números na casa dos milhões e
resolvem problemas com operações simples
• Alfabetismo nível pleno - Agrupa
quem interpreta textos,
compara e avalia informações, distingue fato de opinião e
resolve problemas com porcentuais e cálculos de área
CONTEXTO
HISTÓRICO
Organização Histórica -
Período Colonial (Até 1822)

Os Padres Jesuítas
podem ser considerados
os primeiros educadores
no período Colonial
(MESGRAVIS, 2015).
PERÍODO IMPERIAL (1822 - 1889)

1824 – Primeira Constituição brasileira: "instrução primária e gratuita


para todos os cidadãos”;
1925 - Decreto 16782/A (Lei Rocha Vaz ou Reforma João Alves): Criação
de Escolas Noturnas de Ensino Primário para adultos;
1934 -Constituição da República Nova;
1936-37 - Plano Nacional de Educação obrigava a gratuidade
do ensino primário integral (estendido aos adultos);
1872 – 82,3% da população brasileira era analfabeta (FERRARO, 2004);
Lei Saraiva, de 1881, proibiu o voto dos analfabetos;
Até 1888 - “predomínio das relações escravocratas no campo”.
PERÍODO REPUBLICANO (A PARTIR DE 1989)

A Lei Saraiva estimulou a discriminação e preconceito


das pessoas analfabetas, e essas ideias foram difundidas
no período que preconizava a República;

1891- Constituição Brasileira: laicização do ensino


em estabelecimentos públicos (VAGULA,2009);

Até meados do século XX grande parcela da população


vivia em área rural.
DÉCADA DE 1930
✓O Analfabetismo passou a ser considerado
doença nacional.
✓O Analfabeto era visto como inculto, preguiçoso,
ignorante e incapaz;
✓Surge o movimento contra o analfabetismo, com
o objetivo de aumentar o contingente eleitoral;
✓O domínio da leitura e escrita passa a ser
valorizado diante do acelerado processo de
urbanização do país.
DÉCADA DE 1930

✓Constituição de 1934 - EJA - dever do Estado,incluído na


oferta de ensino primário integral,gratuito, de frequência
obrigatória;

✓Brasil -modelo agrícola, passa a exigir preparação de


mão‐de‐obra, para atender o contexto urbano industrial e
meio rural;

✓1940 - Discurso ideológico: “O trabalhador rural não


precisava de estudos para pegar na enxada”.
(SOUZA, 2012, p.17)
INÍCIO DAS CAMPANHAS DE
ALFABETIZAÇÃO

• Efervescência de movimentos
sociais, políticos e Culturais:
Centros Populares de Cultura
(CPC);
• Movimento de Cultura Popular
(MCP);
• Movimento de Educação de Base
(MEB);
• Campanha “de pé no chão também
se aprende a ler”;
INÍCIO DAS CAMPANHAS DE
ALFABETIZAÇÃO

 1940 - Campanhas de curta duração,


descontínuas, sem grande
sistematização;
 Apoio e a parceria das diferentes
instâncias da sociedade civil.
 Campanha de Educação de
Adolescentes e Adultos – CEAA
(1947) - qualificação para mão de
obra;
 I Congresso Nacional de EJA (1947):
“ser brasileiro é ser alfabetizado”
(SOUZA, 2012).
• 1945 → Decreto 19513: Institui dotação
orçamentária de “25% de cada auxílio federal para
Educação Primária de adolescentes e adultos
analfabetos, observados os termos de um plano
geral de ensino supletivo”

• 1946 → Decreto-Lei 8529: Instituía a Lei Orgânica


do Ensino Primário, criando o “curso primário
supletivo”

• 1946 → Constituição reconhece a educação como


direito de todos e o ensino primário oficial gratuito
para todos
INÍCIO DAS CAMPANHAS DE
ALFABETIZAÇÃO
✓1950 - Lançada a Campanha Nacional
de erradicação do analfabetismo (CNEA),
coordenada por Lourenço Filho, que
marcou uma nova etapa nas discussões
sobre a
educação de adultos;
✓Houve seminários preparatórios, em
diversas regiões do Brasil, com o
propósito de erradicação do
analfabetismo;
✓Paulo Freire chamou a atenção para as
causas sociais ligadas ao analfabetismo;
✓1958 - Críticas à Campanha de
Educação de Adultos, em função do
caráter superficial do aprendizado.
EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO POPULAR

Os movimentos de educação e cultura


popular foram conduzidos pelas ideias de
Paulo Freire, vinculados a organizações
sociais, igreja católica e a governos
(DIPIERRO,2005);

1961-Movimento de Cultura Popular


(MCP)- Recife
Movimentos Importantes

• 1950 → Atividades pastorais da Igreja


Católica, nos subúrbios e áreas rurais

• 1952 → Campanha Nacional de Educação


Rural (CNER)

1958 → Campanha Nacional de Erradicação
do Analfabetismo (CNEA)

• 1961 → Movimento de Educação de Base


(MEB)
CPC
da
MEB – Movimento de Educação de
UNE
Base da Igreja Católica

Miguel Arraes na Cerimônia de inauguração do Movimento de


Cultura Popular – MCP – no Sítio da Trindade -4/1/1961
• 1962 → Movimento de Cultura Popular do
Recife/Paulo Freire (MCP)

• 1962 → Centro Popular de Cultura da UNE


(CPC)

• 1963 → “De pé no chão também se aprende


a ler”- Natal

• 1964 → Programa Nacional de Alfabetização


do MEC
Sem confundir escolas com
prédios escolares, em três
anos a campanha
matriculou 17.000 alunos a
um custo - aluno de menos
de dois dólares

Acampamento das Rocas – Campanha de Pé no Chão também se aprende a ler


“ A escola de palha, construída em janeiro/fevereiro de 1961,
no Acampamento Escolar das Rocas. Em setembro desse ano já
contava com 1.266 alunos. Esse tipo de construção não agride
a ecologia nem a cultura local, pois é uma extensão da casa de
palha”.

Acampamento Escolar das Rocas

Campanha - De Pé no Chão Também se


Aprende uma Profissão – Curso de Alfaiataria
1964 → Estagnação do
processo sob alegação
oficial de que os
movimentos anteriores
eram de cunho
“ideológico”.
PERÍODO MILITAR (1964-1985)

✓Muitos programas de alfabetização de


adultos foram reprimidos, por órgãos do
governo militar;
✓Surge o MOBRAL – Lei n. 5.379/1967 –
Proposta desconsiderava a migração rural-
urbana.
✓Valorizava o modelo industrial, seguindo
padrões capitalistas de produção e
consumo;
✓Objetivo: escolarizar muitos, com pouco
recurso – baixo custo operacional.
Em 1972 a primeira turma de formandos do Mobral
(Movimento Brasileiro de Alfabetização de Adultos) de
Rio Piracicaba desfilou pela principal rua da Cidade,
sendo assistida por um grande número de populares.
PERÍODO MILITAR (1964-1985)

✓Dos 40 milhões de frequentadores do


Movimento, apenas 10% foram alfabetizados.
(PAIVA, 1983);
✓O Mobral foi extinto em 1985;
✓Seu lugar foi ocupado pela Fundação Educar
que passa a desempenhar papel relevante junto
ao MEC, às prefeituras municipais e a sociedade
civil organizada, (movimento sociais e populares).
O pós-64

1966 → Decreto Lei 57.895, 20/12/66 -


determina a utilização dos Fundos Nacionais de Ensino
Primário e Médio na alfabetização de maiores de dez anos

1967 → Lei 5379, 15/12/67 - criação do


Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL)
1986 → Decreto 92374 de 06/02/86 - aprova o Estatuto
da Fundação EDUCAR
1988 → Constituição Federal – prevê a modalidade de Educação
de Jovens e Adultos (EJA)
1990 → Medida Provisória 151, 15/03/90 – extingue a
Fundação EDUCAR
→ Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania
(PNAC)

1993 / 1994 → Plano Decenal de Educação Para Todos


1990 – ANO INTERNACIONAL DA
ALFABETIZAÇÃO

• Proposta: erradicação do
analfabetismo em 10 anos.

• Nesse período, o governo federal


extingue a Fundação Educar, e
ausenta‐se da função de
articulador de uma política de
educação de adultos no Brasil;

• Conferência Mundial de Educação


Para Todos.
1996 → Lei 9394, 20/12/96 – regulamenta
disposição constitucional e prevê a modalidade de EJA

1996 → Projeto de Lei 1603/96 – propõe o


Sistema de Educação Profissional

1997 → Decreto 2208/97 – regulamenta


disposições da Lei 9394/96 e institui o Sistema de Educação
Profissional
1996 → Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996 –
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

Regulamenta a Educação de Jovens e Adultos e traz


um Capítulo específico sobre a Educação Profissional
1998 → Projeto de Lei 4173/98 – propõe o
Plano Nacional de Educação e inclui a modalidade de EJA

2000 → Resolução nº 1 do Conselho Nacional de


Educação – estabelece as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos

2001 → Plano Nacional de Educação –


sancionado pelo Presidente da República – mantém a
modalidade de EJA – Veto aos recursos orçamentários
para EJA
Obrigada!

herik.rodrigues@srn.uespi.br

@herikzednik

Docente e-Mature

Herik Zednik

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