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DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
NA INFÂNCIA
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
Impresso por:
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-
mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cur-
sos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais
de 100 mil estudantes espalhados em todo o
Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
MEC como uma instituição de excelência, com
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferen-
tes áreas do conhecimento, formando profissio-
nais cidadãos que contribuam para o desenvolvi-
mento de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou
profissional, nos transformamos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe
de professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORAS
PROBLEMAS E DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA
SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá Aluno(a) da Unicesumar, seja bem-vindo(a)! Este livro foi especialmente elaborado
por nós com o objetivo de disponibilizar um material didático de fácil acesso, com in-
formações claras e atualizadas acerca dos conteúdos implicados na disciplina de Proble-
mas e Dificuldades de Aprendizagem.
Esta é uma disciplina que engloba conhecimentos da área da Psicologia da Educação,
Psicologia da Aprendizagem e Psicologia do Desenvolvimento. Por isso, retomaremos
aspectos do desenvolvimento humano, da aprendizagem e do processo de escolariza-
ção, de modo a estabelecermos os parâmetros necessários para compreendermos o que
são os problemas e as dificuldades de aprendizagem.
Nosso livro está organizado em 5 Unidades, nas quais apresentaremos o contexto his-
tórico que possibilitou a construção da infância como objeto de pesquisa e a necessida-
de de se pensar sobre os problemas de aprendizagem, decorrentes de transtornos do
desenvolvimento e do comportamento. Essa sistematização foi pensada para que você
adquira o conhecimento necessário para analisar as dificuldades de aprendizagem que
surgirão no cotidiano de sua futura prática laboral, e principalmente para formar um
docente capaz de pensar de forma articulada sobre a teoria e a prática, analisando os
fenômenos da aprendizagem.
Na Unidade I, “INFÂNCIA E APRENDIZAGEM: UM BREVE HISTÓRICO E APROXIMAÇÕES
ENTRE OS CONCEITOS”, iniciamos nossa jornada percorrendo o trajeto histórico da for-
mação do conceito de infância, demonstrando como ele está atrelado ao processo de
educação e escolarização. Propomos uma análise cuidadosa da história da infância, pois
somente ao entendermos as características intrínsecas a esse momento do desenvol-
vimento seremos capazes de destacar quais são os aspectos que devemos considerar,
com o objetivo de avaliar tanto o desenvolvimento quanto a competência para apren-
dizagem de uma criança. Destacaremos a influência organicista na visão de infância e
consequentemente na concepção de aprendizagem, além das dificuldades que possam
surgir no processo de aprender.
Para analisarmos de modo global os indivíduos e sua relação com o processo de apren-
dizagem, temos na Unidade II, “TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E DA APREN-
DIZAGEM”, a apresentação das teorias psicológicas de Jean Piaget, Lev S. Vigotsky, Henry
Wallon e Sigmund Freud. Iremos retomar as bases de suas teorias e compreender sua
repercussão no contexto escolar e na prática docente.
Esse percurso objetiva evidenciar como as dificuldades e problemas de aprendizagem
podem ser pensados, analisados e manejados de formas diferentes, conforme o viés
teórico adotado, para analisar os casos de alunos com aprendizagem comprometida
que por ventura cruzem seu caminho. A partir da compreensão alcançada nesta etapa
de seus estudos, você será capaz de compreender os malefícios e a limitação de análise
de se reputar ao aluno a responsabilidade individual de seu desempenho acadêmico,
seja ele adequado ou não.
APRESENTAÇÃO
UNIDADE I
17 Introdução
51 Considerações Finais
58 Refêrencias
60 Gabarito
UNIDADE II
63 Introdução
96 Considerações Finais
102 Referências
104 Gabarito
12
SUMÁRIO
UNIDADE III
107 Introdução
139 Referências
141 Gabarito
UNIDADE IV
145 Introdução
178 Referências
180 Gabarito
13
SUMÁRIO
UNIDADE V
183 Introdução
212 Referências
Gabarito
Professora Dra. Gescielly B. da Silva Tadei
Professora Me. Juliana da Silva Araujo Alencar
I
Professora Me. Márcia R. Sousa Storer
INFÂNCIA E APRENDIZAGEM:
UM BREVE HISTÓRICO E
UNIDADE
APROXIMAÇÕES ENTRE OS
CONCEITOS
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender a construção da infância enquanto objeto de estudo.
Problematizar a noção de normalidade. Discutir a influência da
maturidade para a aprendizagem infantil.
■■ Definir Aprendizagem. Apresentar as diferentes influências filosóficas
na conceituação da aprendizagem.
■■ Historicizar a aprendizagem e o fracasso escolar como objeto
de estudo. Pontuar o impacto do desenvolvimento científico e
econômico na noção de desempenho escolar.
■■ Apresentar o histórico e as possíveis etimologias das Dificuldades de
Aprendizagem.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A História da Infância: a construção de um objeto de estudo
■■ Desenvolvimento Infantil e a Questão da Maturidade para
aprendizagem
■■ Aprendizagem: definição, relevância e trajeto histórico
■■ Dificuldades de Aprendizagem: percurso histórico da formação do
conceito e definições
17
INTRODUÇÃO
Introdução
18 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A HISTÓRIA DA INFÂNCIA: A CONSTRUÇÃO DE
UM OBJETO DE ESTUDO
os gregos não se preocuparam em teorizar acerca desta faixa etária, mas a paixão
desse povo pela educação fez com que se aproximasse muito desta concepção.
As primeiras escolas que se tem registro são datadas desse período. Se desta-
cam os estudos de Platão sobre a importância de se ensinar virtude de coragem
para as crianças e jovens, pois contrapondo-se ao modelo classista aristocrá-
tico da grécia antiga, o filósofo defendia que as ideias eram inatas, e por isso a
educação era o modo pelo qual os sujeitos poderiam conhecer sua verdadeira
essência (FREIRE, 2014).
Entretanto, o sentimento de empatia com a condição diferenciada de desen-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
volvimento não estava presente neste momento. As crianças eram vistas como
aquelas que precisavam ser corrigidas a qualquer custo, inclusive por meio de
castigos físicos intensos, para tornarem-se educadas segundos os critérios sociais
da época (POSTMAN, 1999).
No entanto, com a invasão do império Romano, séculos de desenvolvi-
mento foram soterrados em seus escombros ou escondidos nos porões da Igreja
Católica. Neste processo, a ideia de alfabetização social foi perdida, bem como
as noções de educação e vergonha até ali desenvolvidas. Entende-se por alfabe-
tização social ou socializado, como a condição social em que a maioria do povo
tem acesso à leitura e escrita, dominando de fato o código. Segundo Postman
(1999), a alfabetização social foi substituída pela alfabetização corporativa, na
qual poucos têm acesso a esta modalidade e formam a corporação de Escribas,
por conseguinte privilegiados.
Postman (1999) nos alerta para o impacto social decorrente da ruptura na
cultura letrada do período romano. O autor defende a ideia de que, se por cul-
tura letrada entendemos a quantidade de pessoas que dominam sem embaraço
a leitura e escrita, e não simplesmente a capacidade de se decodificar o alfabeto,
podemos entender como uma questão de dominação o desaparecimento da
capacidade de ler e escrever.
Esse aspecto é relevante, pois em uma sociedade não letrada a discussão
acerca da diferença entre crianças e adultos não existe. Jacques Rousseau toma
essa prerrogativa como ponto central em sua obra Emílio, afirmando que “ler é
o flagelo da infância porque, em certo sentido, os livros nos ensinam a falar de
coisas das quais nada sabemos” (apud POSTMAN, 1999, p. 27).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dutiva, determinando um dever ser desses sujeitos como indivíduos ainda não
prontos, imaturos e não ainda socializados para participar integralmente da vida
em sociedade” (CASTRO, 2013, p. 17, grifos da autora).
Como dito, dez séculos se passaram até a noção de infância voltar a ter des-
taque no círculo acadêmico. Na pesquisa de Ariès (1978), dois sentimentos de
infância são evidentes durante a alta e baixa Idade Média: o de paparicação e o
de exasperação. O primeiro estava relacionado a ingenuidade, gentileza e graça,
que tornava a criança uma espécie de bobo da corte para os adultos circundan-
tes, pois se distraiam com as peripécias decorrentes da inabilidade social dos
pequenos. Em contrapartida, o sentimento de exasperação decorreu da vertente
moralista, principalmente da Igreja, que passou a questionar os mimos ofereci-
dos às crianças, pois entendia como forma de favorecer a falta de educação dos
pequenos sujeitos. Para exemplificar a dualidade destes sentimentos de infân-
cia, Ariès recorre aos escritos de Montaigne:
Quando os adultos fazem-nas [as crianças] cair numa armadilha,
quando elas dizem uma bobagem ao tirar uma conclusão acertada de
um princípio impertinente que lhes foi ensinado, os adultos dão garga-
lhadas de triunfo por havê-las enganado, beijam-nas e acariciam-nas
como se eles tivessem dito algo correto [era a paparicação]. É como se
as pobres crianças fossem feitas apenas para divertir os adultos, como
cãezinhos ou macaquinhos [os macacos de Montaigne] (apud ARIÈS,
1978, p. 161-162).
pois já contavam com o fato de que a maioria iria morrer. As precárias condi-
ções de saneamento, higiene e de armazenamento da comida favoreciam doenças
que provocavam a morte das crianças. A taxa de mortalidade caiu efetivamente
em meados do século XIX, graças aos avanços da medicina, em decorrência da
esterilização do leite (DAVIDSON; MAGUIN, 1983 apud MATIOLLI, 1998).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Tamanha era a invisibilidade social das crianças até o século XIV que elas
não eram mencionadas em legados e testamentos, como um indicativo de
que não se tinha grandes expectativas de sobrevivência. Por essa razão, em
algumas partes da Europa as crianças eram tratadas como se tivessem o gê-
nero neutro.
Fonte: adaptado de: Postman ( 1999).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dominava a palavra.
Na Idade Média existiam escolas, mas estas não tinham a representatividade
dada no período grego e eram destinadas somente a pessoas das classes abastadas.
As salas comportavam pessoas de todas as idades, e era comum a retomada das
lições, pois não havia tempo certo de início do processo escolar. Neste sentido,
é correto afirmar que, no mundo medieval, “[...] não havia nenhuma concepção
de desenvolvimento infantil, nenhuma concepção de pré-requisitos de aprendi-
zagem sequencial, nenhuma concepção de escolarização como preparação para
o mundo adulto” (POSTMAN, 1999, p. 29).
Para Ariès (1978), o que caracteriza a forma de se lidar com a criança como
um adulto logo após o desmame tardio - na época era costume o desmame acon-
tecer por volta dos 7 anos - era justamente a falta de conhecimento a respeito
da educação. Para o autor:
A civilização medieval havia esquecido a pandeia dos antigos, e ainda
ignorava a educação dos modernos. Este é o fato essencial: ela não ti-
nha idéia da educação. Hoje, nossa sociedade depende e sabe que de-
pende do sucesso de seu sistema educacional (ARIÈS, 1978, p. 276).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
bússola), juntamente com o movimento das cruzadas, o modelo feudal começa
a ruir, pois surgiu a sobra de produção. Com o excesso, começaram a se esta-
belecer relações de troca entre os feudos, que gradualmente se especializaram
nos produtos que produziam. Não tardou a ressurgir a moeda como mercado-
ria de troca, constituindo aí a burguesia e a origem do capitalismo (PEREIRA;
GIOIA, 1988).
A burguesia era a classe social constituída por trabalhadores do campo que
se destacaram na arte da negociação, enriquecendo mediando as trocas de produ-
tos. Esses se organizaram ao redor dos burgos em casas menores, com cômodos
separados, estruturando o que foi chamado de família nuclear, constituída por
pai, mãe e filhos, estes em número bem menos expressivos (MATTIOLI, 1998;
ARIÈS, 1978). Vivendo mais próximos, o sentimento de intimidade se desen-
volve, fortalecendo a preocupação para com as crianças, e consequentemente a
ideia de atendimento diferenciado a ser dispensado a elas.
Enfim, quando esse modelo de infância a ser protegido e educado com a fina-
lidade de desenvolvimento moral rígido se estabeleceu, para Postman (1999),
o modelo de família moderno também se efetivou. Nesse contexto, a educação
formal tem seu lugar de destaque. Havia a cobrança social tanto da garantia da
sobrevivência das crianças quanto de seu desenvolvimento moral. A família
então passou a ter o papel de educadora dos princípios do Estado e da religião.
Nas palavras de Postman (1999, p. 58): “suas expectativas e responsabilidades
tornaram-se mais sérias e mais numerosas quando os pais passaram a ser tutores,
guardiães, protetores, mantenedores, punidores, árbitros do gosto e da retidão”.
A ênfase dada a escolarização passou a nortear toda a forma de pensar e
os jovens para sua inserção no mercado de trabalho. Demanda esta que foi refor-
çada pelos princípios higienistas crescentes na época, que por sua vez defendiam
a importância de proteger a saúde física (vacinas, remédios, higiene) e psicológica
(entendida como formação moral). Sob este discurso, de acordo com Mattioli
(1998), a escolarização surge como tábua da salvação, pois retiraria as ingênuas
e desprotegidas crianças das influências maléficas do mundo externo. As primei-
ras instituições destinadas a crianças surgem no século XVIII, atendendo a duas
necessidades sociais da época: liberar as camponesas para trabalhar nas fábri-
cas e diminuir a mortalidade infantil. Com esta ação, o Estado passa a assumir
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a responsabilidade pela garantia de direitos das crianças.
A influência higienista não interfere somente na construção das escolas. Toda
a arquitetura urbana sofreu seu impacto. Antes, lugares destinados à recreação
coletiva e momentos de socialização, como praças públicas, passam a ser evitados,
em razão da crescente violência social e a facilidade de disseminação de patolo-
gias. Colocar as crianças na escola, nesse sentido, abarcou também a dimensão
de experiência lúdica, servindo de palco para as brincadeiras (MATTIOLI, 1998).
No que tange ao papel da mulher no processo de produção e educação das
crianças, amparados em Mattioli (1998), podemos perceber claramente a influ-
ência socioeconômica no desempenho de suas funções. É inegável a importância
da relação mãe-filho para o desenvolvimento infantil. No entanto, de acordo com
a demanda societária, seu exercício era mais ou menos destacado.
No período de guerras, os homens, estando nos campos de batalhas, não
poderiam ocupar as vagas nas indústrias em franca produção, e as mulheres foram
convocadas a assumir esse lugar. Desse modo, o cuidado dos filhos passou a ser
delegado às instituições como creches e escolas, que tinham profissionais capa-
citados para o cuidado e formação de sujeitos íntegros. Todavia, nos períodos
de trégua os homens retornavam às suas cidades de origem, e estando desem-
pregados se tornavam um problema social. Com o intuito de minimizar esses
problemas, as agências governamentais iniciaram campanhas justificando, inclu-
sive biologicamente, a importância das mulheres retomarem os cuidados dos
filhos (MATTIOLI, 1998).
A ciência psicológica foi requisitada para fortalecer os argumentos a serem
utilizados para cumprir tal intento, ou seja, foi utilizada como instrumento
ços não são mais essenciais, se difunde a necessidade que cada uma tome para
si os cuidados e a educação de seus filhos.
Mas a discriminação social e a influência ideológica do Estado não para por
aí. Matiolli (1998) destaca que os jardins de infância criados no século XIX, com
finalidade educativa/formativa, atendiam as crianças oriundas das classes sociais
mais abastadas. Diferentemente das pré-escolas, que surgiram com o objetivo de
educar as crianças de origem proletárias, dentro dos princípios burgueses mora-
lizadores, além de disciplinar a pobreza.
O papel do Estado como representante dos direitos das crianças foi fortale-
cido com a promulgação de um tratado estabelecido pela Organização das Nações
Unidas (ONU), visando à proteção infantil. No contexto
político brasileiro, foi somente com a aprovação
da Constituição Federal de 1988 que o sis-
tema de garantia de direitos da criança e do
adolescente foi salvaguardada por lei. O
Brasil apresenta, ao menos em lei, um
grande diferencial, que é o Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei Federal
de nº. 8069 de 13/07/1990), no qual
é implementado toda uma rede de
Conselhos Estaduais e Municipais dos
Direitos da Criança e do Adolescente,
além dos Conselhos Tutelares que são
órgãos executores (MATTIOLI, 1998).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Figura 1 - ONU
Mattioli (1998) destaca ainda a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), redi-
gida em 1996 pelo Ministério da Educação (MEC). Esta lei versa que o sistema
de educação ofertado para a população de zero a seis anos deveria ser nome-
ado educação infantil e, portanto, deveria atuar em duas frentes: as creches para
crianças de até três anos e as pré-escolas para as crianças de quatro a seis anos
de idade, sendo ambas atuantes com o mesmo princípio, qual seja: o desenvol-
vimento integral da criança.
Com este breve recorte histórico, esperamos que você tenha compreendido
a interrelação entre os processos sociais e a construção da infância como um
objeto de estudo. Conforme apresentamos as influências político-econômicas
na constituição de novos campos de pesquisa, podemos afirmar que nenhuma
pesquisa é neutra, pois estará permeada pelos interesses de seus financiadores.
No caso específico de nosso objeto de estudo, podemos afirmar que a Psicologia
passou a ter um lugar de destaque na avaliação e na análise da infância, justa-
mente para dar resposta a necessidade de situar o lugar social da criança nas
sociedades industriais. Isso porque:
Esta forma racionalizada de pensar as etapas da vida acaba por criar toda uma
expectativa sobre a inserção social do sujeito. O que devemos esperar da criança?
Como ela se torna apta a desenvolver ou não determinada competência? E qual
o ponto de comparação para análise de comportamentos e desempenhos?
Estas questões nos remetem à formação de disciplinas específicas para a aná-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lise da infância. Castro (2013) destaca, assim como Mattioli (1998) e Postman
(1999), que a Psicologia do Desenvolvimento se forma como uma disciplina da
Psicologia justamente para dar conta desta demanda social, “[...] impulsionada
pelo movimento crescente da escolarização obrigatória nas nações ocidentais”
(ROSE, 1985 apud CASTRO, 2013, p. 24).
A escolarização impulsiona o nascimento de mais uma disciplina específica
da Psicologia: a Psicologia da Aprendizagem. Como este processo ocorre? Por
que há crianças que não aprendem? O caminho traçado para responder estas
questões será objeto de nossos estudos. Ciente desse trajeto histórico, espera-
mos que você consiga compreender a importância desta disciplina, e também a
responsabilidade enquanto educador de analisar de forma contextualizada seus
alunos na sua práxis docente.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DESENVOLVIMENTO INFANTIL E A QUESTÃO DA
MATURIDADE PARA APRENDIZAGEM
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mentais e o meio ambiente” (HAMZE, 2010, on-line)1.
As novas correntes filosóficas destacaram que o processo de desenvolvi-
mento humano necessitava ser observado a partir de algumas vertentes, sendo
elas: a biológica, psicológica, histórica, social e a cultural.
Dentre as teorias psicológicas que problematizam esses aspectos, ressaltamos
o posicionamento da histórico-cultural, por afirmar que a criança nasce em um
mundo humano, e não em um mundo “natural”. De acordo com Fontana e Cruz
(1997, p. 57) a criança “[...] começa a sua vida em meio a objetos e fenômenos
criados pelas gerações que a precederam e vai se apropriando deles conforme se
relaciona socialmente e participa das atividades e práticas culturais”. Ainda res-
paldadas nas ideias expostas pelas referidas autoras, podemos compreender que:
[...] desde o nascimento, a criança está em constante interação com os
adultos, que compartilham com ela seus modos de viver, de fazer as
coisas, de dizer e de pensar, integrando-a aos significados que foram
sendo produzidos e acumulados historicamente. As atividades que ela
realiza, interpretadas pelos adultos, adquirem significado no sistema de
comportamento social do grupo a que pertence (FONTANA; CRUZ,
1997, p. 57).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a busca pela autonomia, pela independência em: “comer sozinho”, “amarrar o
sapato sozinho”, “vestir-se sozinho”, “ser capaz de decodificar as letras do alfa-
beto”, “entrar no mundo da leitura e da escrita”, “conseguir resolver operações
matemáticas que exigem um nível de abstração considerável”, “conseguir dirigir
um automóvel (quando adulto, claro!)”, dentre inúmeros outros exemplos que
exprimem a condição humana para o crescimento.
Você pode estar se perguntando agora: mas se maturidade não tem a ver com
processos puramente biológicos, poderíamos ensinar uma criança de 4 anos a
ler sem problema algum? Ou então, por que existem crianças que apresentam
dificuldades de se apropriarem dos códigos de leitura, escrita ou matemático?
São questões pertinentes e serão respondidas no decorrer do livro de diversas
formas. Entretanto, neste momento buscamos discutir a afirmação amplamente
difundida no âmbito escolar, respaldada na visão evolucionista, de que a não
aprendizagem esperada da criança é decorrente de suas imaturidade biológica,
pois ainda não estariam preparadas para se apropriarem de forma tranquila dos
requisitos acadêmicos.
Por hora, pontuaremos a visão vygotskyana acerca desta problemática. À luz
dessa abordagem, uma criança imatura corresponde àquela que precisa do auxí-
lio de um par educativo mais desenvolvido que ela, para que consiga na relação
de troca e mediação, internalizar a lógica intrínseca ao processo em questão, de
tal modo que gradualmente consiga realizar a atividade sem auxílio posterior.
Em termos conceituais, estamos falando da Zona de Desenvolvimento Proximal.
Mas afinal, o que significa isso?
Essa “imaturidade” que a literatura traz denota as atividades que a criança ainda
não desempenha sem o devido auxílio. Por isso, nós educadores precisaremos
atuar na Zona de Desenvolvimento Proximal, para que possamos auxiliar real-
mente o processo de desenvolvimento humano.
A compreensão parece difícil? Então vamos a um exemplo:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tural, devido ao processo de internalização dos instrumentos e da fala social
(REGO, 2007).
Assim, não teríamos nome, não pensaríamos de forma abstrata, não teríamos
noção de tempo nem espaço para além do momento presente.
Tamanha a relevância deste processo na formação da individualidade humana
que a humanidade foi, ao longo da história, organizando meios educacionais e ins-
tituições como as escolas, para tornar a aprendizagem mais eficiente (CAMPOS,
2011). A historicidade permitiu ao homem se apropriar das descobertas das
gerações anteriores, de modo a poder superar o que estava posto ao invés de
precisar reinventar os objetos e instituições sociais. Essa apropriação permite
ao homem complexificar cada vez mais sua aprendizagem e formação intelec-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tual, emocional e social.
Aprender é considerado por algumas correntes teóricas como o produto
natural dos indivíduos. No entanto, pense conosco: a complexidade de tarefas
como somar, ler, digitar e ser empático com as pessoas, denota que são fenô-
menos que não podemos aprender de forma natural, pois são de ordem social
e relacional. Amparadas nas palavras de Bossa (2008, p. 29), a “incursão pela
história das idéias de nossos antepassados é condição para estudar o presente e
planejar o futuro”.
Recuperando o trajeto histórico sobre a construção da aprendizagem como
uma preocupação acadêmica, desde a antiguidade os filósofos e os pensadores
questionavam-se sobre o que seria e como aconteceria a aprendizagem. A prin-
cípio, as teorias elaboradas pelos filósofos gregos confundiam as explicações
dos processos lógicos com as teorias do conhecimento, tanto que “a noção de
aprender se confundia com a ação de captar ideias, fixar seus nomes, retê-los
e evocá-los” (CAMPOS, 2011, p. 16), ações posteriormente diferenciadas entre
conhecer e aprender.
Nesse percurso, Campos (2011) afirma que as primeiras concepções de apren-
dizagem nos remetem ao período da filosofia clássica iniciada com os estudos
de Sócrates (436-336 a.C.) Segundo a autora, Sócrates concebia o conhecimento
como pré-existente no espírito do homem, e a aprendizagem seria a maneira de
despertar tais conteúdos por meio do método da maiêutica, revelando assim as
verdades universais. Maiêutica consiste na argumentação por meio do diálogo,
que proporcionaria ao sujeito o desvelar de seus conhecimentos ou mesmo de
suas limitações (FREIRE, 2014).
Platão (427-347 a.C.), por sua vez, postulou a teoria dualista, separando o
mundo das coisas do mundo das ideias, ou em outras palavras, a mente do corpo.
Seguidor de Sócrates, manteve a concepção de que a aprendizagem resgataria os
princípios de conhecimento que o sujeito já teria no âmbito mental; a aprendi-
zagem nada mais seria do que reminiscências (CAMPOS, 2011). Freire (2014)
esclarece que essa divisão fortaleceu a divisão entre trabalho intelectual e traba-
lho material, criando um abismo entre ambas e desvalorizando a importância
tanto do corpo quanto do trabalho manual.
Em contraposição à concepção platoniana, Aristóteles (384-322 a.C.) inau-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Rousseau (1717-1778), contrapondo-se a concepção cartesiana de Descartes,
traz no século XVIII um novo olhar para a infância e a aprendizagem. Para este
filósofo, segundo Bossa (2008), a ingenuidade infantil permitia que a criança
fosse capaz de aprender de forma mais significativa antes de ser corrompida pela
superficialidade da civilização.
Descartes representa a pedagogia iluminista baseada na universalidade do
sujeito, que alcançaria o conhecimento puro ao se despir de toda a sua memória
histórica e cultural, atendo somente aos fatos. Rousseau, por sua vez representa-
ria a pedagogia romântica, na qual a concepção de homem o concebe como ser
autêntico e capaz de se desenvolver de forma harmoniosa e criativa (BOSSA, 2008).
Nos últimos três séculos, surgiram vários teóricos que se dispuseram a pen-
sar a relação desenvolvimento e aprendizagem, alguns deles vamos estudar mais
adiante no livro. No entanto, a discussão até a atualidade ainda é permeada
fundamentalmente pelas concepções até aqui apresentadas. Os princípios carte-
sianos sustentariam a pedagogia tradicional “que pressupõe um sujeito racional,
bem como um ensino centralizado na figura do professor, que detém o saber”
(GHIRALDELLI Jr. apud BOSSA, 2008, p. 44).
Essa visão adultocêntrica de educação lança sob a infância um olhar de
transitoriedade, imposta por sua condição de imaturidade, que precisa ser supe-
rada por meio da aprendizagem direcionada e disciplinarizada, de modo a
alcançar o status de adulto ideal. Nesta perspectiva podemos afirmar, ampara-
dos em Bossa (2008), que a sociedade moderna, tendo a racionalidade como o
valor primordial, desenvolveu mecanismos científicos-disciplinares, tais como
observações, medidas comparativas e fiscalizações com a finalidade de forjar o
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: PERCURSO
HISTÓRICO DA FORMAÇÃO DO
CONCEITO E DEFINIÇÕES
Até então, a condição de não alfabetizado ou não letrado não era vista como
um problema social ou clínico, pois as pessoas que não tivessem instrução for-
mal poderiam exercer diversos ofícios que precediam desse atributo, e o valor
recebido por seu trabalho não os tornavam fatalmente excluídos da sociedade
(CORDIÉ, 1996). Todavia, acompanhando o ritmo acelerado das mudanças do
modo de produção, esta concepção mudou de forma drástica a partir do final
do século XIX e continua em ritmo acelerado.
A escolarização passou a ser entendida como fundamental para a execução
de atividades inclusive artesanais, pois os artesãos precisavam aprender como
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gerenciar uma loja antes de abrir seu negócio. O desemprego, condição inerente
ao modo de produção capitalista, passou a ser justificado pela dificuldade de se
empregar pessoas que não fossem escolarizadas. Nas sociedades ocidentais, os
valores que são apregoados como essenciais são todos relacionados ao sucesso
financeiro, tais como dinheiro, posses de bens materiais e o poder que repre-
sentam socialmente esses bens. Por essa razão, a autora afirma que:
aqueles deixados à margem do conhecimento se tornaram o refugo da
sociedade; sem diploma, sem trabalho, sem dinheiro. Ora, a pobreza na
sociedade dita “de consumo” gera uma frustração que o campesinato
pobre do século passado seguramente não conhecia. No contexto atual,
podemos dizer que o fracasso escolar se tornou sinônimo de fracasso
na vida (CORDIÉ, 1996, p. 20, aspas da autora).
Já escutou a frase “você precisa estudar para ser alguém na vida, ganhar
bem e poder adquirir o que deseja”? Este discurso reflete a lógica capitalista
impregnada na escola. Como podemos mudar esta visão?
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mos humanos por meio das relações sociais. Então, a potencialidade do outro
é trabalhada e valorizada pelo seu igual, por aquele que é mais experiente em
determinadas funções.
Trouxemos esse ponto de vista pela seguinte questão: o quão perigoso é
pontuar que uma criança não está dentro do padrão de normalidade. Ao afir-
marmos isso, temos que levar em conta todas as condicionantes anteriormente
citadas. Caso contrário, reforçaremos a concepção patologizante, impedindo o
outro, no caso a criança, de ter acesso pleno ao seu processo de humanização.
A discussão sobre o que é normal ou não, no desenvolvimento e na aprendi-
zagem humana, se justifica no fato de que muitas são as avaliações realizadas na
atualidade, que mostram a “dificuldade” apresentada pela criança em determi-
nada área do conhecimento. Caso não tenhamos claro os conceitos discutidos,
corremos o risco de “rotular” a criança, de julgar sua dificuldade em aprender
de forma descontextualizada. Ou seja, perderemos a compreensão global que
nos convoca a pensar esta temática para além da responsabilidade individual
da criança.
Por esse motivo, fomos enfáticas em retomar a trajetória histórica da constru-
ção da infância enquanto objeto de estudo. Pontuando que somente a partir do
estabelecimento dessa categoria que disciplinas específicas para o cuidado com
a criança tiveram a chance de se sustentar teórica e metodologicamente, como
foi o caso da Psicologia do Desenvolvimento e da Psicologia da Aprendizagem.
Inclusive, é dentro da área da Psicologia da Aprendizagem que temos a subárea
de estudos referentes a Problemas e Dificuldades de Aprendizagem na Infância.
Podemos destacar ainda que a Psicopedagogia entra em cena a partir dessas
condicionantes, área essa que tem como um dos pilares o trato direto de crian-
ças e adolescentes que apresentam dificuldades significativas em seu processo
de aprendizagem.
Analisar globalmente o desenvolvimento e aprendizagem humana nos
demanda um árduo trabalho, pois implica compreender que os indivíduos
aprendem de forma singular e não homogênea. Em contrapartida, permite-nos
valorizar a criança enquanto um ser capaz de aprender e lidar com questões refe-
rentes ao seu aprendizado. É um caminho de profundo respeito ao outro, naquilo
que tange à sua totalidade enquanto ser humano no mundo.
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não apresentavam lesão aparente no Sistema Nervoso Central. Por esse motivo,
Denhoff passou a defender que, não havendo evidência de lesão orgânica, o
nome correto seria Disfunção Cerebral Mínima caracterizado por “distúrbio
hipercinético do impulso”, abarcando os seguintes sintomas: “agitação, hipera-
tividade, diminuição progressiva da atenção, concentração escassa, distração,
irritabilidade” (CIASCA, 2003, p. 23).
Esse conceito chegou ao Brasil em 1960, de acordo com Scoz (2013), pro-
piciando uma maior aceitação pelos professores e pelos pais das dificuldades
de aprendizagem das crianças, uma vez que esta era tida como neurológica. Se
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por um lado serviu para melhorar o acolhimento da criança, também favoreceu
o desinvestimento educacional por parte dos educadores e reforçou a postura
medicamentosa que enfrentamos até hoje.
Em 1988, a Organização Americana National Joint Committee of Learning
Disabilities definiu as dificuldades de aprendizagem como sendo “um termo geral
que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestas por dificuldades
significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da lei-
tura, da escrita e do raciocínio matemático” (FONSECA, 1995; p. 71).
Nota-se que as definições até aqui expostas consideram as dificuldades de
aprendizagem como tendo causas intrínsecas aos sujeitos e de ordem neurológica.
Na atualidade, os avanços nos estudos levaram à compreensão que as D.A.
podem ter causas diversas. Cristovão e Cardoso (2004; p. 97) apresentam um
quadro formulado por García, no qual subdivide as dificuldades de aprendiza-
gem de acordo com a perspectiva adotada para analisar o fenômeno.
Quadro 1 - Dificuldades de Aprendizagem de acordo com sua Etiologia
■■ Disgrafia
■■ Disortografia
■■ Discalculia
PERSPECTIVA Causas ■■ Todas ou boa parte das perspectivas
INTERATIVA
Fonte: adaptado de Cristóvão e Cardoso (2004).
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dificuldades acadêmicas como consequência direta, mas sim, como deriva-
dos de outras condições e performance (ALGOZZINE; YSSELDEYKE, 1986).
Fonte: fragmento extraído de Ciasca (2003, p. 26).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
52
Simone - No Distrito Federal, por exemplo, cursos variados estão disponíveis na rede
pública de ensino. São também programados momentos semanais de formação
continuada nas escolas em que os professores atuam. Eles lecionam em um turno e no
outro realizam diferentes atividades. Entre elas, as mencionadas. Exemplo que deveria
ser seguido por todas as unidades da Federação. Entretanto, na formação continuada
deveriam ser incluídos espaços objetivos e subjetivos que permitam trabalhar ques-
tões psicopedagógicas essenciais para a qualificação do fazer pedagógico. O caráter
subjetivo da aprendizagem, muitas vezes esquecido, é tão importante quanto a didáti-
ca, os métodos, as técnicas.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
SAVIANI, D. Sentido da pedagogia e papel do pedagogo. In: Revista ANDE, São Pau-
lo, n. 9, p. 27-28, 1995.
SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar: problema escolar e de aprendiza-
gem. Petrópolis: Vozes, 2013.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/o-que-e-aprendi-
zagem.htm> . Acesso em: 10 mai. 2017.
2
Em: <http://www.brasil.gov.br/educacao/2014/07/dificuldade-de-aprendizagem-
-requer-avaliacao-especializada>. Acesso em: 10 mai. 2017.
GABARITO
1. Alternativa C.
2. Alternativa B.
A afirmativa três está falsa, pois na Idade Antiga os filósofos preocuparam-se
em compreender como o sujeito aprendia o mundo real e não se ele era capaz
de aprender e conhecer algo. Esta discussão só veio a tona com os estudos da
Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem na Idade Moderna.
3. Alternativa E.
Ambas as asserções estão falsas, pois a maneira pela qual os sujeitos se relacio-
nam são influenciadas pela organização social. Na idade Média, por exemplo
a criança não tinha o destaque que tem na Idade Moderna e contemporânea,
muito menos o suporte a ela ofertado conforme vimos em nossos estudos.
4. Alternativa D.
A afirmativa 2 está incorreta, pois os avanços na área de Psicologia da Apren-
dizagem permitiu a análise global da aprendizagem de tal modo que aspectos
extrínsecos e a influência mútua dos aspectos passaram a ser discutidos como
possíveis causas de problemas de aprendizagem.
5. Alternativa A.
Professora Dra. Gescielly Barbosa da Silva Tadei
Professora Me. Juliana da Silva Araujo Alencar
II
Professora Me. Márcia R. de Sousa Storer
TEORIAS DO
DESENVOLVIMENTO
UNIDADE
HUMANO E DA
APRENDIZAGEM
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender a teoria construtivista do desenvolvimento cognitivo.
■■ Conhecer a teoria de Henri Wallon.
■■ Pontuar os principais conceitos da teoria psicanalítica.
■■ Identificar pontos fundamentais da teoria de Lev Seminovich
Vigotsky.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ A Epistemologia Genética de Jean Piaget
■■ A Teoria Psicogenética de Henri Wallon
■■ A Psicanálise de Sigmund Freud
■■ A Psicologia Sócio-Histórica de Lev Seminovich Vigotsky
63
INTRODUÇÃO
Introdução
64 UNIDADE II
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dedicação às noções de inteligência que o fez mundial-
mente conhecido. Nomeou sua teoria como Epistemologia
Genética, por buscar a compreensão da origem do conhe-
Figura 1 - Jean Piaget
cimento científico e do pensamento lógico e racional. Fonte: Wikimedia
Apesar de ser uma questão filosófica, Piaget se propôs ([2017], on-line)1
Ouvir perguntas como essa nos desconcerta, ao mesmo tempo em que fica-
mos encantados e nos divertimos com esses equívocos. Nossa atenção se volta
para compreender o modo peculiar que a criança tem de pensar sobre as coisas
e de estabelecer relações entre elas. Essas peculiaridades chamaram a atenção,
também, de Piaget. Ele queria entender como o ser humano elabora os conhe-
cimentos sobre a realidade, chegando a construir um sistema de abstração. Por
isso, ele estudou o desenvolvimento do pensamento da criança.
Cabe ressaltar, amparados em Gouveia (2011), que a noção de desenvol-
vimento para Piaget se efetiva por contínuas reorganizações da atividade da
inteligência, que levará à progressiva complexidade de organização da realidade.
Por essa razão, o autor preconizou que o desenvolvimento se dava por saltos e
rupturas, estabelecendo os estágios com características próprias de organização
e leitura de mundo. Estas concepções o levaram a adotar o método experimen-
tal como procedimento investigativo.
Os estudos de Jean Piaget tiveram impacto no campo da Psicologia e da
Pedagogia. Seu trabalho, pioneiro no estudo do processo de raciocínio infantil
por meio da interação com crianças, resultou em um progresso no campo do
conhecimento da cognição.
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ção (o indivíduo em função do meio), sendo a adaptação o ponto de equilíbrio
entre esses dois momentos. Ao agir sobre o meio ambiente, o indivíduo incor-
pora novos elementos (assimilação), organizando estes dados em um sistema
interno de relações (acomodação), que adquirem significado para o indivíduo
com o objetivo de se adaptar melhor ao seu contexto social (adaptação).
Nas palavras de Gouveia (2011, p. 122): “A assimilação é a incorporação
da realidade exterior à organização do sujeito. A acomodação, ao contrário, é a
transformação do sujeito, em função da realidade exterior”.
Nesse sentido, a síntese do processo da assimilação e acomodação seria
nomeado como adaptação, logo de inteligência para Piaget. No entanto, Gouveia
(2011) destaca que adaptação, na lógica da epistemologia genética, corresponde
a um processo de transformação. Por essa razão, a teoria piagetiana não é consi-
derada nem inatista, nem empirista, mas sim sócio-interacionista, pois:
ela realiza a síntese entre essas duas correntes, o que implica pensar,
seja organismo e meio, seja sujeito e objeto, como totalidades indis-
sociáveis, onde cada um dos elementos exerce o seu papel e onde as
transformações são mútuas (GOUVEIA, 2011, p. 122).
Para pensar como esta relação se estabelece, Piaget teorizou que os indivíduos
apresentariam esquemas que servem de base para a interação com o ambiente.Os
primeiros esquemas seriam os reflexos do recém nascido, que são respostas auto-
máticas desencadeadas por estímulos. Segundo Fontana e Cruz (1997), os esquemas
possibilitam ao bebê a adaptação ao meio. A assimilação provoca transforma-
ções nos reflexos, que vão gradativamente se diferenciando e tornando-se cada
vez mais complexos e flexíveis. Esse processo dá origem aos esquemas de ação.
imediato. Eles são organizados em objetos: “para olhar”; “para pegar”; “para
sugar”; e “para empurrar”. A organização do real por meio da ação marca o
início do desenvolvimento cognitivo da criança (FONTANA, CRUZ 1997).
Os esquemas de ação ampliam-se e coordenam-se entre si, diferenciam-se e
acabam por se interiorizar, transformando-se em esquemas mentais e dando
origem ao pensamento. Esse desenvolvimento contínuo dos esquemas se dá
no sentido de uma adaptação cada vez mais complexa e diferenciada da reali-
dade (GOUVEIA, 2011).
Você pode estar se perguntando agora: O que faz o sujeito mobilizar estes
processos de adaptação? Já falamos algo sobre equilibração, mas vamos nos
deter um pouco sobre este conceito, tido como fundamental para a compreen-
são da lógica Piagetiana.
Fontana e Cruz (1997) pontuam que o desenvolvimento para Piaget se
efetiva no interjogo entre fatores internos (ligados à maturação), fatores exter-
nos (experiência adquirida em contato com o ambiente) e de um processo de
auto-regulação, nomeado de equilibração. O nome, apesar de estranho, é esse
mesmo. Piaget utilizou o termo equilibração ao invés de equilíbrio para desta-
car esse processo como uma tendência do organismo a se adaptar ao meio. Essa
tendência é uma propriedade intrínseca e constitutiva da vida mental, pois é
por meio de seu funcionamento que o sujeito vai mantendo o estado de equi-
líbrio ou de adaptação em relação ao meio.
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vido. Tanto que, para Fontana e Cruz (1997), a noção de desenvolvimento para
Piaget poderia ser descrita como um processo de equilibrações sucessivas, que
levam o sujeito a estabelecer maneiras de agir e pensar progressivamente mais
complexas e elaboradas.
Entendendo as bases da teoria piagetiana, fica mais fácil compreender o fato
do autor ter dividido o desenvolvimento da inteligência em 4 períodos sequen-
ciais, respeitando a determinação biológica da espécie humana. Cunha (2015)
pontua que cada período se constitui como um alicerce para o posterior, ou seja,
que as aquisições cognitivas são precondições para a etapa seguinte.
Todavia, apesar dos períodos serem divididos por marcos cronológicos,
Cunha (2015) pontua que as definições de idade servem como indicativos e não
categorias como alguns manuais descrevem. Isso quer dizer que não basta alcançar
a idade de transição de um estágio ao outro que a criança magicamente apresen-
tará as características de pensamento mais elaborado. O desenvolvimento tem
uma linha pré determinada, mas é variável de indivíduo para indivíduo, segundo
seu próprio ritmo. O que mobilizará a passagem de um estágio para o outro é a
compreensão da criança, de que seus modos de agir e pensar estão insuficientes
ou inadequados para resolver os problemas que surgem no contato com o meio.
Fontana e Cruz (1997) destacam que é a partir desta inadequação que a criança
acaba por tornar seus modos de pensar e agir mais complexos.
Posto isso, podemos agora apresentar de forma breve os períodos e suas carac-
terísticas. São 4 estágios do desenvolvimento cognitivo propostos por Piaget, a
saber: período sensório-motor; período pré-operatório; período operatório
concreto; período operatório formal.
decorrência da experiência. O bebê repete o exercício reflexo até que seja assi-
milado os elementos aos esquemas reflexos: sugar torna-se sugar o dedo, sugar
a manta etc.
Estágio III do período sensório-motor (4 a 8 meses): este estágio é nome-
ado como reações circulares secundárias. O bebê, graças à coordenação da visão
e preensão, consegue empreender ações no ambiente, por isso secundárias. Sua
ação a partir desse momento será sobre os objetos do meio. Gouveia (2011) pon-
tua que estas condutas sinalizam a transição entre o hábito e a inteligência, pois
a criança passa a assimilar o mundo externo empreendendo mudanças sobre ele.
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Ao observarmos um bebê brincando com seu móbile, temos a compreensão desse
processo. O bebê acidentalmente puxa a corda do brinquedo, percebendo o ruído
ou o movimento desencadeado. Pelo processo de assimilação, ele repetirá esse
processo esperando o mesmo resultado, até assimilar o novo esquema de ação.
Estágio IV do período sensório-motor (8 a 12 meses): podemos dizer,
amparados em Gouveia (2011), que este é o momento em que surge o nasci-
mento da ação ou da inteligência, visto que, no quarto estágio, o bebê consolida
e concilia os esquemas de ação já internalizados, tornando-se capaz de aplicá-
-los a novas e diferentes situações. Esta é a fase em que começamos a brincar de
“esconde-esconde” com o bebê, e ele ativamente retira o obstáculo interposto
entre ele e objeto escondido.
Estágio V do período sensório-motor (12 a 18 meses): marcado pelas rea-
ções circulares terciárias. Seguindo a lógica piagetiana, primário refere-se ao
corpo e secundário ao mundo externo, terciário remete à experimentação ativa
dos eventos em que vivencia. Coincide com o momento em que a criança passa
a explorar ativamente o meio, buscando novas experiências (GOUVEIA, 2011).
Um bom exemplo da ação nesta fase é a criança utilizar um banco para alcan-
çar um objeto que está em uma prateleira alta, além de explorar um brinquedo
de diferentes formas, com o objetivo de experienciar sua ação e a mudança de
resultados sobre o objeto.
Estágio VI do período sensório-motor (18 a 24 meses): esse subestágio
é marcado pelo processo de elaboração mental. Isso quer dizer que a criança
começa a antecipar mentalmente a ação antes da execução. A representação
de objeto começa a ser estabelecida em razão da permanência de objeto. Dois
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centrismo, configura-se pela dificuldade de articular pontos de vista e de pensar
relações existentes para além de seu contato direto.
Período de Operações Concretas (7 a 11 anos): é nessa fase que são estabelecidas
as bases para o pensamento lógico, próprio do período final do desenvolvimento
cognitivo, em que a linguagem torna-se totalmente socializada e a criança é
capaz de coordenar diferentes pontos de vista. Isso acontece pois o pensamento
da criança passa a ser mais maleável, permitindo coordenar esquemas de ação
que até o momento eram apenas representados. Segundo Cunha (2015, p. 71):
Com base nas aquisições sensoriais e motoras do primeiro período, a
criança consegue percorrer um trajeto dentro da sua casa. Mais tarde,
descreve o trajeto percorrido, dada a capacidade de formar a imagem
mental de suas ações, capacidade adquirida no segundo período. Ago-
ra, já consegue elaborar mentalmente o trajeto inverso, do ponto final
ao ponto de início.
CRUZ, 1997, p. 51). Representa, também, que a criança não está mais presa a sua
percepção direta do fenômeno, mas que consegue pensar mais de uma operação
envolvida, por isso destaca-se a descentralização na forma de pensar.
Entretanto, nesse estágio, o pensamento encontra-se atrelado a bases con-
cretas, em outras palavras, a experiências empíricas. Não há necessidade de
estar presente as variáveis envolvidas no processo de raciocínio, mas em algum
momento deve ter passado pela experiência concreta. Cunha (2015) destaca
essa característica em razão do processo de escolarização da criança. O autor
pontua que crianças nesta faixa etária não tem condições intelectuais de elabo-
rar raciocínios somente baseadas em formulações puramente verbais. A criança
poderá até ser capaz de reproduzir, mas não de assimilar e acomodar enquanto
conhecimento.
Período de Operações Formais (12 a 16 anos): estágio também conhe-
cido como operações proposicionais, visto que o raciocínio torna-se hipotético
dedutivo, ou seja, se descola totalmente da base concreta para se articular e bus-
car soluções adaptativas. Nas palavras de Gouveia (2011, p. 135) “[...] com base
em simples pressuposições sem relação necessária com a realidade ou com as
crenças do indivíduo, confiando na inevitabilidade do próprio raciocínio, em
oposição ao acordo das conclusões com a experiências”.
O pensamento “liberta-se” da experiência direta e a estruturas cognitivas do
sujeito adquirem maturidade, e o equipamento estrutural cognitivo do adoles-
cente está pronto para pensar “tão bem quanto” o adulto, mas não garante que
o pensamento seja “tão bom quanto” ao do adulto, pois isso implica níveis de
experiência e vivências diferentes. Adultos e adolescentes que raciocinam com as
operações formais empregam os mesmos processos lógicos. Já é possível ao indi-
víduo atingir um nível de abstração total, pensando logicamente, conseguindo
levantar hipóteses e buscando soluções para problemas matemáticos sem preci-
sar partir do concreto, compreendendo metáforas e insinuações (CUNHA, 2015).
Podemos afirmar que ocorrerão mudanças ao longo da vida apenas de maneira
qualitativa, e não mais quantitativa. É o último período segundo a teoria de Piaget.
A teoria piagetiana teve relativo impacto sobre a área educacional, e também
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sobre a teoria psicológica. Embora não tenha desenvolvido uma teoria educa-
cional, suas ideias foram apropriadas por autores que se debruçam sobre tais
questões. Um nome de referência na atualidade seria Emília Ferreiro, uma das
mais expressivas estudiosas sobre o referencial piagetiano e o processo de desen-
volvimento humano aplicados à alfabetização.
Além do mais, sua teoria do desenvolvimento, sistematizada em períodos,
facilita a organização de um processo interventivo com a criança ou o adoles-
cente. Quanto à esfera educacional, para essa linha de trabalho, o professor é
um facilitador do processo de ensino-aprendizagem da criança. Ele está a todo
o tempo buscando alternativas para ensinar, mas dentro do período evolutivo da
criança, haja vista que o processo de desenvolvimento é maturacional.
Esse foi um pequeno passo estudado sobre a teoria piagetiana. Se você se
identificou com os pressupostos piagetianos, dedique-se lendo as obras sugeri-
das no material complementar.
Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879 - 1962), de origem burguesa, nasceu e viveu
toda a sua vida na França. Graduou-se em Filosofia (1902) e atuou como pro-
fessor do nível secundário. Em 1908, concluiu o curso de medicina e psicologia,
além de dedicar-se a Letras (MORAES; ONCALLA, 2011). De
formação ampla, tornou-se médico psiquiatra, pesqui-
sador e professor em um momento histórico intenso.
Participou das duas Grandes Guerras Mundiais.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Por meio de seus estudos, Wallon empreendeu esforços para clarificar
os processos evolutivos das funções psicológicas dos indivíduos, atribuindo
grande importância à relação estreita estabelecida entre a emoção e o cará-
ter, entendendo que a organização postural e a organização emotiva-afetiva se
constituíam como os primeiros alicerces da organização psicológica da criança
(MOARES; ONCALLA, 2011).
Ainda segundo as autoras, Wallon deu considerável destaque à observação
da criança concreta, na realização de suas atividades em seu contexto habitual,
justamente por considerar a influência das relações com o meio. Por essa razão,
seu método de estudo foi o genético comparativo multidimensional, que con-
siste em “[...] analisar e comparar a criança ao adulto, às outras faixas etárias,
ao animal, ao primitivo, a partir das condições patológicas dos seus pacientes”
(MORAES; ONCALLA, 2011, p. 205).
A concepção psicogenética vem justamente dessa perspectiva interacionista
de sua leitura do desenvolvimento, que considera tanto a base orgânica quanto
a influência do meio. A teoria walloniana, à luz de Almeida e Mahoney (2011),
pressupõe a unidade organismo-meio, da qual resulta a integração do que Wallon
nomeou como conjuntos funcionais: motor, afetivo, cognitivo e pessoa. A arti-
culação entre esses conjuntos funcionais forma o psiquismo humano.
Segundo a teoria walloniana, os seres humanos são entendidos como sujei-
tos em constantes transformações, sendo estas moldadas pelas trocas constantes
entre os fatores genéticos e condições sociais. As autoras destacam que tais ele-
mentos determinam a direção do processo de desenvolvimento, que finaliza
na transformação da criança no adulto da cultura. A mudança é a condição do
uma forma específica, dando base para a sua individualidade. Nas palavras de
Almeida e Mahoney (2011, p. 103):
A criança desenvolve sua consciência, sua vida psíquica que se expres-
sa, organiza-se em conjuntos funcionais que se integram, cada um com
sua identidade específica. Qualquer estimulação em um deles se reflete
sobre os outros: um estímulo cognitivo se reflete sempre sobre o motor
e o afetivo e vice-versa.
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pondendo às sensibilidades corporais.
Os movimentos selecionados são os
que garantem a aproximação do
outro cuidador, que lhe proverá
o bem-estar necessário. Nesta
fase, a afetividade está prepon-
derante, pois é esta que orienta as primeiras reações do bebê em relação às pessoas.
Estágio sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos): o controle motor é refinado e
a criança adquire a marcha e a preensão palmar, possibilitando maior autono-
mia na exploração de objetos e de espaços. Assim, podemos dizer que o objetivo
central do estágio é o interesse na exploração sensório-motora do mundo físico.
A função simbólica se estabelece concomitantemente à linguagem, permitindo
que a criança possa distinguir entre objetos e pessoas, bem como representá-los
quando ausentes. O termo projetivo que compõe o nome do estágio remete-se
ao fato de que a criança ainda depende do auxílio de gestos para exteriorizar o
ato mental que se projeta em atos motores (ação concreta no meio/motricidade).
Estágio do personalismo (3 a 6 anos): como o nome sugere, nesta etapa do
desenvolvimento a tarefa central é a formação da personalidade. Atividades de opo-
sição ao outro, de sedução e de imitação são os norteadores das três etapas que a
criança vivencia durante o percurso de formação de si. A primeira fase (3-4 anos)
é a de oposição, marcada pela expressão do não como elemento de expulsão do
outro; os pronomes mim e eu substituem a terceira pessoa; a necessidade de se reco-
nhecer como pessoa e diferenciar-se do outro é tão intensa que a criança se torna
provocativa. A segunda (4-5 anos) já é conhecida pela idade da graça, pois a criança
mundo adulto. O grupo passa a ter uma importância diferenciada, pois para for-
talecer seu sentido de personalidade, o jovem se ampara em um grupo unido e
formado por gostos e ideias compartilhadas.
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A alternância entre os polos afetivo e cognitivo pontuados nos estágios não que-
rem sugerir que são estanques. Galvão (2000) faz questão de evidenciar que a
perspectiva walloniana de desenvolvimento pensa o sujeito de uma forma rela-
cional. Os fatores orgânicos estabelecem a sequência fixa que se observa entre
os estágios do desenvolvimento, mas não garantem de forma alguma a homo-
geneidade, tanto em idade quanto tempo de duração, uma vez que a influência
do meio é igualmente relevante para a estruturação do processo. A cultura e a
linguagem instrumentalizam o pensamento, favorecendo a sua evolução, e esse
processo não é linear nem tranquilo:
Segundo a perspectiva walloniana o desenvolvimento infantil é um
processo pontuado por conflitos. Conflitos de origem exógena, quando
resultantes dos desencontros entre as ações da criança e o ambiente
exterior, estruturado pelos adultos e pela cultura. De natureza endó-
gena, quando gerados pelos efeitos da maturação nervosa. Até que se
integrem aos centros responsáveis por seu controle, as funções recentes
ficam sujeitas a aparecimentos intermitentes e entregues a exercícios
de si mesmas, em atividades desajustadas das circunstâncias exteriores.
Isso desorganiza, conturba, as formas de conduta que já tinham atin-
gido certa estabilidade na relação com o meio (GALVÃO, 2000, p. 42).
Por tal motivo, Galvão (2000) destaca que a duração dos estágios e as idades
são apenas referências, pois o desenvolvimento em si depende de característi-
cas individuais e das condições de existência. Podemos, amparados em Almeida
e Mahoney (2011), pontuar que os estágios possuem uma sequência temporal,
haja vista que a atividade anterior prepara para o surgimento da seguinte, evi-
denciando também que a maneira pela qual a criança reage está relacionada aos
recursos que dispõe no momento vivido. Sendo assim, mais que a idade em si,
é preciso identificar os interesses e as atividades características de cada período,
decorrentes das transformações sociais que cada momento histórico presencia.
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Desse modo, percebemos que o meio social não é só uma condição para a sobre-
vivência, mas sim uma condição sine qua non para o desenvolvimento mental.
Nesta perspectiva, constatamos que a escola pode tanto contribuir para o desen-
volvimento e diferenciação individual dos sujeitos ou inibir tal processo. Então,
se a Escola não ofertar os recurso necessários condizentes com cada estágio do
desenvolvimento, permitindo que exercitem as ações que sua evolução funcio-
nal já permite, estará vetando o desenvolvimento da criança.
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Freud (CUNHA, 2015). Cursou medicina
e especializou-se em neurologia e psiquia-
tria, após começar a trabalhar como residente
no Hospital Geral de Viena (KUPFER, 1995).
Foi nesse período que Freud passou a se inte-
ressar por pacientes que apresentavam sintomas sem
explicação orgânica. Intrigado por estes casos, passou a dedicar-se aos estudos
dos desequilíbrios psicológicos. Este caminho levou-o a postular uma das teo-
rias de maior destaque do século passado, a Psicanálise (KUPFER, 1995).
De acordo com seu fundador, a psicanálise poderia ser pensada sob 3 pers-
pectivas: 1) um procedimento de investigação dos processos mentais que não
temos acesso senão pela interpretação; 2) um método para tratamento dos dis-
túrbios neuróticos e 3) uma disciplina científica (FREUD, 1923a [1922]).
Barone (2011) ressalta que, mesmo não havendo uma teoria de aprendiza-
gem proposta formalmente por Freud, em vários textos de sua obra podemos
notar as referências feitas sobre o papel da cognição no desenvolvimento humano,
como recurso para superar nossa condição de fragilidade frente às dificuldades
de sobrevivência no mundo.
Já parou para pensar como somos dependentes de outro ser humano? Se
compararmos as condições físicas do bebê humano ao nascimento com outras
espécies animais, vamos perceber que somos o filhote que mais demora para
conseguir por si só garantir a sua sobrevivência.
Por essa razão, Freud (1938/1981) é tão enfático ao afirmar que os homens só
se tornam humanos pela mediação do outro humano. A espécie humana precisa
que uma outra pessoa haja como suporte físico e simbólico devido à extrema
dependência física e mental que apresenta ao nascer. Esta condição vai sendo
superada por meio do amadurecimento biológico, mas principalmente pela
apropriação cognitiva e emocional dos elementos simbólicos que organizam o
mundo dos homens, a cultura. Ou seja, só nos constituímos enquanto sujeitos
e aprendemos na RELAÇÃO com um OUTRO humano.
Diferentemente das outras abordagens teóricas, a Psicanálise não se propõe
a pensar ou estabelecer um método de intervenção pedagógico, mas sim uma
perspectiva ética sobre o sujeito. Compreender seu funcionamento, o processo
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toda e qualquer norma social estabelecida. Compõe, também, os conteúdos do
Id todo e qualquer desejo que foi reprimido em razão das demandas sociais,
além das situações traumáticas que o sujeito não suportou lidar, bem como a
sexualidade infantil.
As pulsões sexuais e agressivas funcionam como uma força que pressiona
para sua satisfação de forma intensa e insistente. O aparelho psíquico regido pelo
princípio da satisfação/prazer não suporta manejar nenhum acúmulo de pres-
são, pois sente como desprazer esse acúmulo de tensão e procura uma forma de
satisfazer sua necessidade ou desejo imediatamente. Pensemos no bebê para cla-
rificar estas afirmações: ao observarmos um recém nascido, vemos que frente a
quaisquer alterações orgânicas ele chora e só para quando tem sua necessidade
satisfeita. Esse é o modelo do funcionamento do Id (FREUD, 1938/1981).
No entanto, não é possível que o bebê seja atendido sempre que demanda de
um adulto a satisfação de suas necessidades. Sendo assim, uma nova instância
psíquica se desenvolveria a partir do contato com o mundo externo. Via per-
cepção, o indivíduo tem acesso a uma série de informações que gradualmente
vão organizando e melhorando sua forma de lidar com o mundo social, ou seja,
pela aprendizagem o sujeito passa a reconhecer melhor os objetos capazes de
proporcionar a satisfação de suas necessidades e desejos. Estamos falando do
EGO, instância desenvolvida a partir da aprendizagem, que organiza a memória,
controla a ação motora e administra da melhor forma que pode a energia libidi-
nal disponível pelo Id. Assim, seu papel é de frente às pressões de satisfação do
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de forma sucinta a concepção Freudiana de desenvolvimento psicossexual.
Para Freud (1938/1981), o desenvolvimento da personalidade dos sujeitos
testemunham a história do seu investimento libidinal. Segundo o autor, todo o
aparelho psíquico funciona baseado em como é investida a libido - energia arma-
zenada do Id. Severamente criticado por afirmar que desde a primeira infância
os indivíduos experienciavam uma determinada sexualidade, o autor mante-
ve-se firme em seu caminho para justificar as causas das patologias psíquicas.
Sexualidade, para Freud (1938/1981), corresponde à experiência de satisfação
e deve ser diferenciada do senso comum. Satisfação para Freud é mais amplo do
que a cópula genital. Satisfação envolve a descarga da pressão libidinal, que em
cada etapa do desenvolvimento terá um suporte específico localizado no corpo -
zonas erógenas. Segundo o autor, os indivíduos possuem a capacidade de extrair
prazeres parciais de atividades diversas envolvendo o olhar, o sentir, o paladar, o
ouvir, excretar, a excitação genital e a realização de processos cognitivos. Essas
satisfações parciais são organizadas em cada etapa do desenvolvimento psicos-
sexual, vinculando-se a uma zona erógena. As patologias psíquicas e os traços
de caráter se estabelecem a partir das experiências individuais vividas em cada
uma destas etapas, quais sejam: oral, anal, fálica, genital e período de latência.
Na sequência, apresentaremos cada uma dessas fases e o período de latência.
Fase oral (0 a 2 ano): a experiência de satisfação da fome, por meio da
mamada, transforma os lábios e a cavidade oral na região do corpo a ser inves-
tida pela energia libidinal. Podemos dizer, amparadas em Freud (1938/1981),
que o mundo é internalizado e entendido através da experiência oral, por essa
razão a criança nesta idade leva tudo à boca, morde, suga etc.
mica dos sexos e a repercussão desta na vida psíquica da criança. Por volta dos 4
anos, a criança começa a perceber que meninos e meninas são diferentes anato-
micamente. A fase leva esse nome, pois a constatação de que meninos tem pênis
e meninas não, aciona nas crianças uma angústia diferenciada, a angústia de cas-
tração. Freud (1938/1981) preconizou que nesta fase a criança encenaria um jogo
de relações por ele nomeado Complexo de Édipo, que permite à criança construir
sua identidade masculina ou feminina. De forma sucinta, esta estrutura relacio-
nal permite que o menino rivalize com o pai pelo desejo da mãe e a menina com
a mãe pelo desejo do pai. Frases como ‘’vou casar com o papai ou com a mamãe’’
tornam-se comum neste momento evolutivo, bem como uma hostilidade direta
direcionada ao genitor de mesmo sexo. A criança precisa articular o seu desejo
com a realidade posta pela sociedade: não cometerás o incesto. Precisando articular
seu desejo com a barreira social posta, a criança então desloca seu desejo de ter o
pai ou a mãe para ser como o pai ou como a mãe, ou seja, estabelecer uma iden-
tidade/papel sexual. O superego se constitui nesta etapa do desenvolvimento a
partir da identificação com as figuras parentais e a aceitação das normas sociais.
Período de Latência (6 a 11 anos): esta etapa é nomeada como período de
latência pois não há investimento libidinal direcionado para o corpo. Na latência, a
criança, pela ação da repressão dos desejos sexuais infantis, passa por um processo
de dessexualização da libido. Assim, todo o prazer advindo das atividades caracterís-
ticas das fases libidinais anteriores
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são substituídos por sentimentos
de nojo, vergonha, pudor e ternura,
pois estes são sentimentos valori-
zados socialmente. A libido, então,
é direcionada a produção intelec-
tual por meio da sublimação. Por
essa razão, o período em que a
criança está mais disponível para
a aprendizagem escolar seria a par-
tir de seis anos (KUPFER, 1995).
Fase Genital (a partir de 11
anos): é o modelo de organização libidinal adulto. Nesta fase, a energia libidinal
que estava direcionada aos relacionamentos sociais desde o período de latência
volta a ser investido no próprio corpo, em decorrência da maturação dos órgãos
genitais. O adolescente precisa aprender a lidar com uma nova forma de experien-
ciar o corpo, que demanda dele formas diferentes de se relacionar socialmente.
Para Freud (1938/1981), há uma atualização da conflitiva edípica, permitindo
a solução de possíveis questões remanescente da fase fálica. As novas identifi-
cações, agora determinadas pelo círculo social mais amplo, principalmente o
grupo de amigos, fortalecem a identidade sexual do sujeito.
Cabe ressaltar que estas idades são apenas aproximadas e não exatas. São as
experiências individuais, relacionais juntamente com o processo maturacional
que desencadearão a passagem de uma etapa a outra.
FREUD E A EDUCAÇÃO
Como dito, Freud não discorreu diretamente sobre a educação, mas sua teoria
pode auxiliar a prática educativa ao possibilitar a compreensão da origem do
desejo de aprender e do papel do docente neste processo.
Conforme visto, a teoria Freudiana entende que o psiquismo e todas suas
funções são desencadeadas pela libido, ou seja, a energia sexual. Por essa razão,
foi necessário apresentarmos as etapas do desenvolvimento psicossexual, pois
em cada etapa conseguimos perceber que as teorias acerca das grandes dúvidas
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A PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA DE LEV
SEMINOVICH VIGOTSKY
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Agora fica claro o motivo pelo qual a formação do psiquismo humano, a par-
tir dos pressupostos vygotskyanos, tem o historicismo como grande produtor e
norteador desta teoria, assim como de seus contemporâneos, como os soviéti-
cos Luria e Leontiev, ambos conhecidos no meio educacional do Brasil (SILVA;
POSSIDÔNIO, 2007).
Por ser datado historicamente, entendemos que o desenvolvimento do psi-
quismo humano está intimamente ligado aos processos sociais, de tal forma que
as contradições existentes nos sistemas sociais são encontradas na expressão
dos tipos de personalidade e na própria estruturação do psiquismo (MARTINS;
CASTANHO; ANGELINI, 2011).
Oliveira (2003, apud MARTINS; CASTANHO; ANGELINI, 2011) esclarece
essa relação ao dizer que o entendimento do que caracteriza o homem está na
compreensão do desenvolvimento da humanidade enquanto espécie. Segundo
a autora, foi com o surgimento do trabalho e da criação dos instrumentos que
o homem transformou não só a natureza, mas também a si próprio, pois pode
desenvolver a memória voluntária, além de estabelecer modelos abstratos de
ação, forjando a linguagem e se constituindo como sujeito nas relações sociais.
Durante seu percurso acadêmico, você deve ter se deparado com a teoria de
Vygotsky sendo nomeada como sócio-histórica ou histórico-cultural, corre-
to? Martins, Castanho e Angelini (2011), amparadas dos estudo de Silva e
Davis (2004), afirmam que ambas as formas são corretas ao entendermos
que seu nome vem das proposições marxistas do seu fundador. Isso porque
ambas as nomenclaturas denotam o papel de destaque conferido à histo-
ricidade. Lembrando que, para Vigotsky (2000, apud MARTINS; CASTANHO;
ANGELINI, 2011, p. 159), a história possui dois significados:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Fontana e Cruz (1997) trazem exemplos esclarecedores para compreender-
mos melhor o que seriam e como se relacionam os conceitos de instrumentos
e signos. Um animal, ao sentir fome, está limitado às suas características bioló-
gicas e as condições de seu ambiente para conseguir sanar sua necessidade. O
homem não depende dessas condições, uma vez que, por meio de seu trabalho,
ele pode criar instrumentos e processos que o permitiu desenvolver, por exem-
plo a agricultura, o sistema de irrigação, o arado e as máquinas que facilitam
a sua ação sobre o meio. O signo, por sua vez, permite ao homem representar,
evocar ou tornar presente aquilo que se faz ausente, então, a palavra, o dese-
nho e os diferentes símbolos, que permitem ao homem desenvolver
as noções de passado-presente-futuro, bem como trabalhá-las de
forma independente. Nas palavras de Fontana e Cruz (1997,
p. 59), “o instrumento está orientado externamente, ou
seja, para a modificação do ambiente, o signo é inter-
namente orientado, modificando o funcionamento
psicológico do homem”.
Problematizando, enfim, a questão da aprendi-
zagem sob o olhar sócio-cultural, podemos
pensar que a escola regida na atuali-
dade pelos princípios capitalistas têm
dificultado o acesso e a apropriação do
conhecimento para todas as classes sociais, visto que o ideal contemporâneo visa à
adaptação forçada e totalitária dos indivíduos à realidade posta, naturalizando pro-
cessos sociais ao fragmentar a história e lecionar os conteúdos acadêmicos de forma
descontextualizada (REGO, 2007).
Superar os comportamentos instintivos e primitivos, de modo a forjar por
meio das relações sociais as funções psicológicas superiores é papel da educa-
ção formal, e esse é o motivo do destaque dado tanto à escola quanto ao papel
do professor nesta perspectiva teórica. No entanto, tal intento só será possível ao
construirmos uma educação que supere a competitividade intrínseca ao modo
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Piaget trouxe contribuições notadamente reconhecidas no âmbito escolar
ao sistematizar os períodos do desenvolvimento cognitivo. Sua teoria permite
compreendermos a importância dos aspectos maturacionais envolvidos na apren-
dizagem, e também pontua o papel do meio como fator diferencial tanto para
o pleno desenvolvimento cognitivo como para o estabelecimento de dificulda-
des de aprendizagem.
Wallon, por sua vez, evidencia a necessidade de olharmos a criança na sua
totalidade. Ao propor os estágios do desenvolvimento, o autor deu destaque à
afetividade, no processo de construção de si. Para o autor, pensar a aprendizagem
perpassa o estabelecimento de relações afetivas de respeito mútuo e compreen-
são acerca das características da infância.
Apesar de Freud não ter se dedicado às demandas específicas da aprendiza-
gem, seu legado auxilia no entendimento da origem do desejo de aprender, da
condição humana necessária para o controle das pulsões, do desenvolvimento
cognitivo, além de pontuar o papel do professor como aquele que oferece suporte
e investimento emocional para viabilizar o desenvolvimento integral do aluno.
Por fim, apresentamos as contribuições de Vygotsky para o cenário educa-
cional atual. Sua obra se destaca por problematizar os aspectos históricos-sociais
que influenciam o desenvolvimento e a aprendizagem dos indivíduos. Tal posi-
ção permite-nos ampliar a discussão dos problemas de aprendizagem para além
da culpabilização individual dos educandos.
Claro que não vamos culpabilizar as alfabetizadoras. A questão não é essa! Precisamos
olhar o contexto social, repensar as práticas educativas e convocar pensadores de diver-
sas áreas do conhecimento para propor mudanças estruturais no modo de ensino e no
olhar lançado a nossas crianças. A Educação desempenha um papel muito importante
para que o façamos de forma impensada. A educação formal precisa fomentar a vivaci-
dade, o prazer e a alegria, amparando as frustrações dos alunos para que esses possam
se tornar cada vez mais autônomos e críticos da realidade vivida. Ou seja, a escola preci-
sa desenvolver o pensamento, a criatividade, a inteligência, o conhecimento e o desejo
de aprender e estudar por conta própria.
FONTE: Meier (2012, on-line)4.
99
Material Complementar
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jean_Piaget_in_Ann_Arbor.png>.
1
mai. 2017.
Em:
3
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lev_Vygotsky_1896-1934.jpg>.
Acesso em: 11 mai. 2017.
4
Em: <http://www.janeayresouto.com.br/noticia/professora-posso-brincar->. Aces-
so em: 11 mai. 2017.
GABARITO
III
Professora Me. Márcia R. Sousa Storer
ASPECTOS NEUROLÓGICOS
UNIDADE
DA APRENDIZAGEM E A
FORMAÇÃO DA ATENÇÃO
Objetivos de Aprendizagem
■■ Caracterizar o sistema nervoso central; definir as funções executivas e
memória operacional.
■■ Apresentar a teoria de Luria sobre o desenvolvimento cognitivo.
■■ Descrever a formação da atenção.
■■ Discutir o papel da linguagem no desenvolvimento da atenção.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Base neurológica da aprendizagem: alguns apontamentos
■■ Desenvolvimento cognitivo segundo Luria
■■ A formação neuropsicológica da atenção
■■ O papel da linguagem no desenvolvimento da atenção
107
INTRODUÇÃO
Introdução
108 UNIDADE III
Você sabia que o cérebro controla tudo que fazemos? Segundo Griggs (2009),
esse órgão é responsável pela percepção, consciência, memória, linguagem e
inteligência. Ainda hoje não temos o domínio sobre a totalidade de suas fun-
ções ou de seu funcionamento, e talvez jamais o teremos. Atualmente, sabemos
que o cérebro é subdividido em regiões com funções específicas, e que sua célula
básica é o neurônio. Portanto, vamos conhecer um pouco deste fantástico mundo
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da neurociência e sua articulação com a aprendizagem, desenvolvimento cog-
nitivo e a atenção.
O cérebro e o sistema nervoso são compostos por neurônios e células gliais.
Os neurônios são as células responsáveis pela transmissão de informações por
todo o sistema nervoso. Sua função é receber os estímulos, decodificar a men-
sagem, enviar e integrar todas as informações no sistema nervoso. Já as células
gliais, do grego glia - cola -, funcionam como suporte aos neurônios, eliminando
os resíduos químicos, além de manter isolados e em equilíbrio o ambiente cere-
bral (GRIGGS, 2009).
Na Figura 1, você conhecerá como é um neurônio e as partes que o compõe:
Figura 1 - A estrutura de um neurônio
Os neurônios são formados por três componentes: dendritos, corpo celular e axô-
nio. Cada estrutura desempenha funções específicas, que por sua vez funcionam
de maneira integrada para cumprir com seus objetivos. Os dendritos são os ter-
minais que recebem as informações advindas de outros neurônios e transmitem
ao corpo celular. A decisão de transmitir ou não a informação para os neurô-
nios vizinhos compete ao corpo celular. Caso decida passar a informação, isto é
feito por meio de impulsos elétricos em direção ao axônio. Conforme pode ser
identificado na Figura 1, o axônio é a fibra longa que sai do corpo celular, rami-
ficando-se na extremidade final para transmitir a informação aos neurônios
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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tem reduzido o número de mortes de bebês e de gestantes, e ampliado o número
de crianças saudáveis.
Destacamos aqui a atuação da Pastoral da Criança, criada pela saudosa Zilda
Arns (1934-2010), que tem atuado junto a populações carentes para a divulgação
da necessidade de uma alimentação saudável para crianças, assim como cuidados
básicos de higiene, não descuidando do aconselhamento de gestantes carentes.
Posturas como essa tem
trazido um número cada
vez mais elevado de crian-
ças saudáveis que tem
adentrado a escola para o
contato com o sistema de
ensino científico formal.
Voltando para as nossas discussões sobre a rede neuronal, no que isso interfere
no processo de desenvolvimento e aprendizagem?
Conforme visto na unidade I, podemos afirmar que a aprendizagem é enten-
dida como uma mudança de comportamento resultante da experiência. Fonseca
(1995) pontua que essa mudança é estável e durável, interiorizada e armazenada
no cérebro dos indivíduos. Por essa razão, o autor pontua que aprendizagem é uma
função do sistema nervoso central. Apesar de esse processo não ser totalmente
conhecido, podemos afirmar que os processos neurológicos que já definimos
anteriormente não ocorrem em uma área específica do cérebro, mas sim em toda
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Vejamos as definições básicas sobre cada área e o quanto elas interferem no pro-
cesso de aprendizagem do ser humano.
O Lobo Occipital é responsável pela noção espacial e a constância das formas,
e nele acontece a integração visual por meio da recepção dos estímulos nervosos.
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do córtex pré-frontal), além da paralisia contralateral e falta de sensibilidade (na
área do córtex motor e sensitivo) (FONSECA, 1995).
Por fim o córtex cerebral, centro de controle e processamento da informação
de todo o sistema nervoso, é a camada superficial do cérebro, a camada enru-
gada que vemos ao visualizar o cérebro humano, envolvendo fisicamente todas
as estruturas cerebrais descritas por nós. Nele ocorre a percepção, a linguagem,
a memória, a tomada de decisão e todos os processos cognitivos de nível supe-
rior (GRIGGS, 2009).
Além de ser dividido por Lobos, o cérebro, dada a sua especialização, tam-
bém é dividido em hemisfério direito e esquerdo, que por sua vez são unidos pelo
corpo caloso - funciona como uma ponte entre os dois hemisférios. O hemisfério
direito alcança o processo de mielinização primeiro, visto que as funções bási-
cas a ele atribuídas tornam-se mais eficientes do que a do hemisfério esquerdo.
Por exemplo, pensando nas aprendizagens pré-primárias e primárias, podemos
pontuar que o hemisfério direito é responsável pelas funções não verbais, tais
como classificar, seriar, reconhecer, desenhar, pintar, recortar, enfiar, entre outros.
Já o esquerdo é responsável pela dimensão verbal e por atividades complexas
como ler, escrever, contar etc. Por essa razão, Fonseca (1995, p. 175) afirma que
a “ontogênese vai do não-verbal (HD) ao verbal (HE), do ato ao pensamento,
do gesto à palavra, da psicomotricidade à psicolinguística”.
Entretanto, cabe ressaltar que, apesar dos hemisférios processarem as infor-
mações de modo diferente e na ordem inversa, ou seja, por meio de ações cruzadas
no que tange a execução de movimentos, na aprendizagem isso acontece de forma
integrada e equilibrada (FONSECA, 1995).
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dos animais, pois correspondem “[...] à capacidade do sujeito de engajar-se em
comportamento orientado a objetivos, ou seja, à realização de ações voluntárias,
independentes, autônomas, auto-organizadas e orientadas para metas específi-
cas” (ARDILA; OSTROSKY-SOLÍS, 1996 apud CAPOVILLA; ASSEF; COZZA,
2007, p. 52).
Toda a potencialidade adaptativa do sujeito está relacionada às funções exe-
cutivas, que remetem-se à complexificação das funções cognitivas, tais como a
seleção e integração de informações atuais ou previamente memorizadas, o plane-
jamento consciente e o monitoramento da execução das respostas (CAPOVILLA;
ASSEF; COZZA, 2007).
Em suma, as funções executivas podem ser consideradas como um conjunto
de funções que tem a responsabilidade de iniciar e desenvolver uma atividade
com um objetivo final determinado, participando dos processos cognitivos, do
estado de alerta, de atenção, de tempo de reação, da desenvoltura e da flexibili-
dade do pensamento (FUSTER, 1997).
Daimond e Lee (2011, apud LEON et al., 2013) pontuam que as funções
executivas podem ser divididas em componentes simples ou básicos, como a
flexibilidade cognitiva, controle inibitório e memória de trabalho, e em aspec-
tos mais complexos como raciocínio e planejamento.
Vamos discorrer de forma breve sobre a memória operacional ou de tra-
balho, pois conforme Capovilla, Assef e Cozza (2007) e Leon et al. (2013) o
funcionamento adequado destes elementos é fundamental para a aprendiza-
gem dos indivíduos.
Ao fazer uma lista de compras em sua casa, você precisa olhar seus armá-
rios, identificar os itens faltantes e escrever em uma folha de papel ou em um
dispositivo móvel, para poder consultar na hora da realização da tarefa, cor-
reto? O armazenamento temporário da informação necessária para a realização
de quaisquer tarefas cognitivas é atribuição da memória de trabalho (GRIGGS,
2009). Nas palavras de Secchi (2008, on-line)2, a memória operacional ou de
trabalho refere-se:
[...] ao armazenamento temporário da informação necessária para o de-
sempenho de diversas tarefas cognitivas, entre cálculo, leitura, conver-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
transformadora da revolução mobilizou toda a sociedade, que via nas mudanças
históricas uma transformação não só social, mas também íntima. Todos eram
convocados a sair de seu mundo privado e compartilhar metas em uma socie-
dade coletiva (REGO; OLIVEIRA, 2010).
Em sua experiência discente, Luria, segundo Rego e Oliveira (2010), pode
experienciar um momento único na história. Os professores estavam confusos
sobre o que trabalhar em sala de aula e quais referências buscar para suas for-
mações. Entendendo ser de fundamental importância para o trabalho docente
uma formação acadêmica sólida, Luria passou a se interessar pelas ideias do
socialismo utópico, pela psicologia e, consequentemente,
a pensar sobre uma nova abordagem de compreen-
são dos seres humanos, que levasse em conta a
dimensão histórica e social na sua constituição.
Nas palavras de Luria (1992, p. 26):
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
práticas (utilização de instrumentos): se estabelece após um obstáculo, no qual
um comportamento já adquirido ou inato não é capaz de se resolver, levando o
indivíduo a estabelecer um novo comportamento, sendo capaz de aplicá-lo pos-
teriormente em situações análogas (significado funcional).
Aqui podemos entender melhor o que Luria esclarece como desenvolvimento
cognitivo. O terceiro estágio demonstra que o comportamento primitivo de uti-
lizar instrumentos é comum a todos os animais, incluindo o homem. Entretanto,
este pré-requisito da atividade laboral se torna mais complexo no homem, pois
ele é capaz não só de utilizar os instrumentos, mas também de criá-los por meio
do trabalho e da linguagem (REGO; OLIVEIRA, 2010).
Desse modo, conseguimos compreender porque as transformações das
funções psicológicas primitivas em superiores (atenção, memória, percepção,
sensação, pensamento, linguagem e volição) se deram inicialmente a partir
do trabalho com a transformação da natureza, para suprir as necessidades que
num primeiro momento eram biológicas e posteriormente tornaram-se cultu-
rais (REGO, 2007).
Na sua busca para compreender a articulação entre o desenvolvimento bioló-
gico e social, Luria, respaldado em sua formação médica, propôs um estudo sobre
a questão funcional do cérebro, de modo a esclarecer de forma objetiva a forma-
ção e organização das funções psicológicas superiores (REGO; OLIVEIRA, 2010).
Fonseca (2013) afirma que, para Luria, o cérebro humano é o produto filo e
ontogenético de sistemas funcionais, adquiridos em milhares de anos ao longo
do processo sócio-histórico da raça humana. A teoria psiconeurológica de Luria
entende sistemas funcionais como a coordenação de áreas cerebrais em interação,
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mou, aprendendo a fazer uso de suas capacidades naturais com racionalidade
e, com efeito, isso provocou mudanças no conteúdo de seu psiquismo e de seus
mecanismos (meios) através dos signos ou instrumentos psicológicos (REGO;
OLIVEIRA, 2010).
Dessa forma, o comportamento do homem cultural distancia em grande
escala do comportamento do homem primitivo, tanto no aspecto biológico
quanto no cultural, uma vez que as alterações ocorridas se devem às transfor-
mações históricas que envolvem a evolução biológica, desde os animais até os
seres humanos, a evolução histórico-cultural, do homem primitivo ao homem
moderno, e o desenvolvimento individual (ontogênese), do recém nascido até
o homem adulto moderno.
vidade mental, ou o processo que mantém uma severa vigilância sobre o curso
preciso e organizado da atividade mental”.
Para Luria (1981), conforme visto, é a primeira unidade funcional do cére-
bro responsável pela atividade atencional, ou seja, o substrato biológico seria
a formação reticular, a parte superior do tronco encefálico, mas também atua-
ria, quando relacionada a atividades mais complexas, áreas do córtex límbico e
a região frontal. Esta relação se daria da seguinte forma: as estruturas da parte
superior do tronco encefálico e a formação reticular seriam as responsáveis pela
manutenção do tono cortical de vigília e manifestação da reação de alerta geral,
enquanto o córtex límbico e a região frontal estariam relacionados ao reconhe-
cimento seletivo de um determinado estímulo, inibindo respostas a estímulos
irrelevantes.
Amparados em Gonçalves e Melo (2009), cabe ressaltar que, na ocasião, era
considerado como córtex límbico as áreas do giro do cíngulo, do parahipocam-
pal e do hipocampo. Nessa época, Luria já fazia referência aos estudos clínicos
com áreas cerebrais lesionadas em humanos, sendo que dela provém grande
parte do conhecimento que se têm sobre a função cognitiva da atenção e sua
base biológica.
Segundo Luria (1981), a atenção não é importante somente para o estabe-
lecimento do raciocínio organizado. Graças ao funcionamento da atenção, a
percepção, os processos motores e o pensamento podem se desenvolver. Isso
porque, ao empreendermos quaisquer ações, é necessário a atuação seletiva da
atenção para mantermos o foco para o cumprimento ou não de um determinado
objetivo. O não funcionamento adequado da atenção faria com que nosso cérebro
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autora destaca que a relação entre sujeito e objeto é bilateral: “tanto a atenção
se dirige para o objeto por algum interesse imediato ou necessidade do sujeito,
quanto o objeto pode atraí-la em razão de suas características e qualidades”
(AMUDE-PATEZ; 2010, p. 37).
Amude-Patez (2010) esclarece que essa relação bilateral pode ser explicada
a partir da compreensão de que atenção tem fatores que delimitam sua mani-
festação, determinam suas propriedades e delimitam a seleção dos processos
psíquicos. Esses fatores são de ordem externa ou interna.
Os fatores externos remetem-se aos motivos extrínsecos ao indivíduo, ou
seja, os que chegam via campo perceptivo e determinam o sentido e o volume
da atenção. Luria (1991 apud AMUDE-PATEZ; 2010) pontua como sendo os
elementos desencadeantes a intensidade, a novidade do estímulo, os contrastes,
as mudanças bruscas e o movimento do objeto atencional.
Segundo Amude-Patez (2010), a intensidade do estímulo corresponde à força
que ele possui para se destacar entre os demais, por exemplo: uma luz intensa,
cores vibrantes, sons e cheiros fortes. Para você conseguir visualizar essa questão,
imagine a seguinte situação: ao entrarmos em um recinto com baixa ilumina-
ção, nossa atenção é automaticamente direcionada para o foco de luz mais forte.
Entretanto, se no ambiente todos os focos de luz tiverem a mesma intensidade, a
nossa capacidade atencional sofrerá oscilações entre um foco e outro de luz. No
que tange à novidade do estímulo, a autora destaca os quesitos singularidade e
a originalidade, afirmando que nossa atenção tende a ser direcionada para estí-
mulos novos que despertam a nossa curiosidade. A mudança brusca de estímulo,
como uma buzina alta em um ambiente silencioso, chamará involuntariamente
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forma que o indivíduo se relaciona com o mundo. Sendo assim, ao pensarmos
sobre a influência do estado de ânimo ou cansaço, entendemos que esses estão
intimamente ligados à atividade que o sujeito desempenha na sociedade, pois
cada sujeito forja sua forma de ser e estar no mundo ao desempenhar atividades
diferentes (AMUDE-PATEZ, 2010). Para exemplificar, um degustador de café
terá muito mais habilidade em avaliar se um café é bom ou não do que um con-
sumidor comum do produto.
De forma esquemática, Amude-Patez (2010) elaborou um esquema com a
finalidade de conseguirmos sistematizar visualmente os aspectos internos e exter-
nos que influenciam na capacidade atencional dos indivíduos.
Figura 5 - Demonstrativo dos fatores que influenciam na constituição das propriedades da atenção
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- Deve-se a comportamentos reflexos - Desenvolve-se da atenção involuntária
- Caráter instável - Caráter estável
- É passiva, por ser governada por fatores indepen- - Caráter ativo, por ser orientada pelo pró-
dentes do sujeito, por exemplo, um ruído repentino, prio sujeito
uma sensação de fome
- Não intencional, na medida em que é guiada por
estímulos externos ao indivíduo
- Espontânea - Atenção orientada por esforço consciente
- Tem caráter mediato, em razão de o objeto
que é foco da atenção não a atrair direta-
mente sobre si
O PAPEL DA LINGUAGEM NO
DESENVOLVIMENTO DA ATENÇÃO
o seio e de maneira reflexa girará seu pescoço direcionando o olhar para o estí-
mulo sonoro que se tornou principal. A mamada perde sua característica de
estímulo principal e o estímulo sonoro desorganiza a ação que estava em exe-
cução, qual seja: a nutrição.
O presente exemplo evidencia o que Luria (1981) afirmou, ao dizer que o
processo atencional dos sujeitos não estaria presente somente quando as fun-
ções psicológicas superiores estivessem estabelecidas. Ao nascimento, temos
indicadores fisiológicos que devem ser considerados básicos para o processo de
desenvolvimento da atenção voluntária.
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Para além dos aspectos físicos ligados aos objetos ou situações que serviram
de estímulo para convocar atenção da criança, Luria (1981) evidencia o papel
da mediação no desenvolvimento humano ao dizer que a voz do adulto é uma
fonte de estímulo de destaque no campo atencional da criança. A linguagem atua
como uma influência seletiva forte e rigorosa, além de auxiliar na organização
do pensamento da criança na medida que a função comunicativa se estabelece
(AMUDE-PATEZ, 2010).
Amude-Patez (2010) esclarece, a partir de Luria, que a atenção se desenvolve
primeiramente amparada na relação mediada por um adulto ou sujeito mais
experiente, sendo a princípio uma função interpsíquica. A atenção da criança
na sua fase inicial do desenvolvimento é eminentemente involuntária. Por meio
da relação, mediada pela linguagem, o adulto destaca no campo perceptivo da
criança objetos que ele nomeia e oferece a ela, orientando assim a sua atenção,
ou seja, divide com a criança essa função, por isso interpsíquica. Essa interação é
essencial para o desenvolvimento da criança, que não diferencia os objetos ao seu
redor, visto que essa função é realizada pela instrução verbal do adulto cuidador.
Com o desenvolvimento da linguagem, a criança passa a ser capaz de nomear
os objetos, ou seja, de distingui-los dos demais. A linguagem também possibilita
estabelecimento das funções psíquicas superiores, como o pensamento e racio-
cínio dedutivo. Isso implica na capacidade de se ater ao exame de um objeto
de forma consciente e por um tempo maior, viabilizando a análise do objeto, a
generalização e a codificação de suas experiências. Essa capacidade atencional
autodirigida e sustentada aponta para um salto significativo no desenvolvi-
mento da atenção da criança. Nesse estágio, ela demonstra ter superado o estágio
sensorial alcançando o racional, isso quer dizer que a linguagem possibilitou que
a atenção deixasse de ser guiada exclusivamente pela percepção e impressão e
passasse a ser orientada pelo pensamento, tornando-se uma função intrapsí-
quica (AMUDE-PATEZ, 2010).
Além do mais, este processo é um marco importante no desenvolvimento da
capacidade atencional da criança, pois, segundo Amude-Patez (2010), demarca
a passagem da atenção elementar para a tipicamente humana, a atenção volun-
tária. A atenção superior é a expressão do desenvolvimento histórico-social, e
na compreensão de Luria (1981, p. 229) “tem uma história longa e dramática,
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direcionando para o quê, como e quando focar a atenção. Contudo, esse pro-
cesso só se efetiva se o comando verbal coincidir com a percepção imediata da
criança (AMUDE-PATEZ, 2010).
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do com a teoria aqui estudada, esta conduta é coerente? Por quê?
Entre os quatro e cinco anos, idade pré-escolar, a instrução verbal ganha força
em decorrência da ampliação da capacidade compreensiva da criança. Esse
momento é significativo para o desenvolvimento, pois marca a passagem da aten-
ção involuntária para a voluntária, pois a fala passa a se sobrepor aos fatores que
caracterizam a atenção involuntária (AMUDE-PATEZ, 2010).
Aos 6 anos aproximadamente, de acordo com Amude-Patez (2010), a criança
consegue manejar de forma mais autônoma sua atenção, pois passa a ser capaz de
guiar sua atenção por meio da fala interna. Na fase escolar, a atenção apresenta
características mais estáveis que a anterior, justamente devido a fala interiori-
zada. Nesta etapa, conseguimos compreender de forma mais clara o motivo pelo
qual Luria (1992) pontua que a atenção é um dos aspectos mais importantes para
o desenvolvimento cognitivo. Para o autor, quanto mais atentos, mais capazes
somos de perceber de forma correta o nosso entorno. Um exemplo disso é tra-
zido por Amude-Patez (2010), ao sinalizar que uma atenção pouco desenvolvida
remete a uma percepção superficial, facilmente identificada no caso de alunos
que ao ler a palavra não a percebe como um todo, mas apenas uma parte dela,
resultando em sua leitura incorreta.
Será por volta dos 7 anos que a seletividade da atenção se estabelecerá de
forma mais efetiva, pois a fala interna está desenvolvida de tal maneira que passa
a organizar não só o comportamento, mas também seus processos sensoriais e
de pensamento (AMUDE-PATEZ, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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para a vida humana e para o desenvolvimento cognitivo dos indivíduos. Nesse
contexto, compreender a ação das funções executivas e como o cérebro processa
a informação na memória de trabalho possibilita entender melhor as possíveis
falhas em seu funcionamento, e consequentemente direcionar ações que visem
solucionar o problema.
Entretanto, amparados nos estudos de Luria e estudiosos da cognição, foi
possível destacar que a mediação social é imprescindível para o pleno desen-
volvimento e funcionamento das funções psicológicas superiores, tais como:
atenção, concentração, pensamento, raciocínio, imaginação, planejamento etc.
O autor destacou em seus estudos que o cérebro era o substrato biológico da cog-
nição, mas seu desenvolvimento depende da mediação social, dando destaque
à escola para sua realização, uma vez que aprender é o motor para o desenvol-
vimento cognitivo.
Neste aspecto, debruçamo-nos nos estudos sobre a atenção por entender-
mos ser a função cognitiva capaz de integrar todas as demais, ao empreender
suas funções de seletividade e inibição. Sem a ação da atenção, o pensamento
racional e a atividade intencional, tipicamente humana, seria inviável, pois não
conseguiríamos manter o foco em uma tarefa por tempo suficiente para entender-
mos os elementos integrados, e nem empreender uma ação lógica e organizada
para assimilação ou transformação de nosso contexto social. Por fim, apontamos
como a linguagem é essencial na transição da atenção primária para a voluntária.
Essa teoria teve ampla difusão no Brasil na década de 1970, juntamente com a teoria
sociológica, que pontuava a necessidade de se pensar a desigualdade social como um
dos fatores que influenciavam o estabelecimento dos problemas de aprendizagem de
crianças pobres e em situação de vulnerabilidade social (SOUZA, 2007, on-line)4.
134
Entretanto, devemos nos preocupar com estas afirmações, que levam crer que basta
pertencer às classes populares e a criança poderá apresentar toda sorte de déficits cog-
nitivos, intelectuais, culturais etc. Avaliar a partir de parâmetros culturais distintos o
desenvolvimento das crianças é reforçar a violência simbólica que a desigualdade social
imputa aos pauperizados (SOUZA, 2007, on-line)4.
A ideologia difundida a partir de uma perspectiva burguesa reforça a exclusão social,
pois desconsidera a cultura popular, o contexto histórico e principalmente avalia o su-
jeito com parâmetros fora de sua realidade social.
Pensar em problemas de aprendizagem envolve refletir sobre as relações estabelecidas
na escola que possam estar influenciando na não aprendizagem da criança. Não é raro
ouvir de professores de classes populares que seus alunos não aprendem porque seus
pais não incentivam a escolarização, porque estão subnutridos ou porque são incapa-
zes. Estas frases exemplificam uma relação de aprendizagem fadada ao fracasso escolar,
pois ao não se acreditar na potencialidade do aluno, as práticas docentes desenvolvidas
não serão implementadas com dedicação e afinco (SOUZA, 2007, on-line)4.
Claro que a culpa não é do professor, mas a leitura descontextualizada tanto do aluno
quanto da educação brasileira acaba por reforçar práticas sociais excludentes e perver-
sas. Contra isso precisamos lutar, tomando como nosso instrumento o conhecimento e
a historicidade da educação.
Fonte: as autoras.
135
REFERÊNCIAS ON-LINE
mai. 2017.
2
Em: <http://www.medicinageriatrica.com.br/2008/04/23/memoria-do-idoso-par-
te-1-funcionamento-da-memoria/>. Acesso em: 12 mai. 2017.
3
Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Luria.jpg>. Acesso em: 12 mai.
2017.
Em: <www.abrapee.psc.br/artigo5.htm>. Acesso em: 12 mai. 2017.
4
141
REFERÊNCIAS
GABARITO
1. Alternativa D. A primeira afirmativa está falsa, pois todas as áreas do cérebro são
importantes para a aprendizagem por terem funções diferentes.
2. A atenção tem o caráter seletivo e organizador dos estímulos que recebemos.
Somente por meio de seu bom funcionamento somos capazes de selecionar o
estímulo mais importante em detrimento do restante. Sem a atuação da aten-
ção, todas as nossas funções cognitivas, tais como a percepção dos processos
motores e o pensamento racional estariam comprometidos. Isso porque em
nosso campo de pensamento emergiria uma série de estímulos desorganizados,
determinando, consequentemente, uma série de associações descontroladas,
impedindo assim o pensamento racional ou mesmo a realização de qualquer
atividade humana direcionada.
3. Alternativa B. As afirmativas I e IV estão incorretas, pois a teoria histórico-cultural
parte do pressuposto que o desenvolvimento humano é relacional e social. Des-
ta forma, a maturação não tem a ver exclusivamente com o processo biológico,
mas sim com a mediação social, principalmente, por meio da linguagem que
permite o homem descolar-se do concreto e superar sua condição animal.
4. Alternativa D.
5. Alternativa A. A afirmativa III está incorreta, pois aos 4/5 anos a fala já se sobre-
põe às características intrínsecas aos objetos.
Professora Dra. Gescielly B. da Silva Tadei
Professora Me. Juliana da Silva Araujo Alencar
IV
Professora Me. Márcia R. Sousa Storer
DIFICULDADES DE
UNIDADE
APRENDIZAGEM: ENTENDENDO
TERMINOLOGIAS E
CONCEITUAÇÕES
Objetivos de Aprendizagem
■■ Diferenciar dificuldades de problemas de aprendizagem.
■■ Caracterizar os diferentes transtornos de aprendizagem nas áreas da
linguagem, leitura, escrita, matemática, relações e movimentos.
■■ Descrever a equipe multiprofissional e suas atribuições no
diagnóstico e no atendimento de crianças com D.A. Problematizar a
atuação dos profissionais no suporte dado a estas crianças.
■■ Pontuar os pré-requisitos para aquisição da leitura e da escrita.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Dificuldades e Problemas de Aprendizagem: Quais as diferenças?
■■ Transtornos de Aprendizagem
■■ Atuação dos Profissionais no Suporte à Criança com D.A.: alguns
apontamentos e reflexões
■■ Pré-Requisitos para Aquisição da Leitura e Escrita
145
INTRODUÇÃO
Introdução
146 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIFICULDADES E PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM:
QUAIS AS DIFERENÇAS?
Ainda neste grupo, podemos incluir “[...] as dificuldades que a criança pode
apresentar em alguma matéria ou em algum momento da vida além de proble-
mas psicológicos, como falta de motivação e baixa autoestima”.
A segunda categoria postulada por Ohlweiler (2016) refere-se às dificuldades
secundárias como sendo aquelas apresentadas pelo educando em decorrência de
outros quadros diagnosticáveis. Nessa modalidade, estão incluídas as pessoas com
deficiência intelectual, sensorial, quadros neurológicos graves (paralisias cere-
brais, epilepsia), transtornos emocionais significativos e o Transtorno do espectro
autista (TEA) ou o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Conforme Moojen (2004, p. 2004), evidencia-se que os elementos envolvidos
nessa categoria atuam “primariamente sobre o desenvolvimento humano nor-
mal e secundariamente sobre as aprendizagens específicas”.
As aprendizagens específicas remontam à apropriação da linguagem - falada
ou escrita-, a aquisição dos conceitos matemáticos, capacidade de realizar cál-
culos, destreza na idealização e na execução de movimentos e a habilidade de
escrever de forma correta -gráfica e ortograficamente. No caso das dificuldades
secundárias, há condições patológicas como cegueira, deficiência intelectual,
transtornos comportamentais ou emocionais etc. que comprometem o desenvol-
vimento normal e por conseguinte a aprendizagem das habilidades acadêmicas
específicas (MOOJEN, 2004).
Essa divisão é importante para situarmos os aspectos relevantes a serem pen-
sados, no momento em que levantamos as hipóteses acerca das dificuldades e
dos problemas de aprendizagem.
Quando pensamos na palavra problema, imaginamos situações para as quais
as soluções são difíceis, geram impasses, contrariedade, ou mesmo doenças. Nos
referimos a uma condição de saúde não adequada como um problema, não é?
Se a pessoa está com uma disfunção renal, quando questionada acaba por res-
ponder que está com um problema de rim.
A compreensão de que problema se remete a um quadro de disfunções, dis-
túrbios e transtornos nos levou a adotar esta nomenclatura para nos referirmos
aos Transtornos de Aprendizagem, visto que algumas literaturas nomeiam essas
patologias como distúrbios, outras como transtornos, sendo ambas referentes
ao comprometimento das habilidades escolares em decorrência de alterações
Para que o diagnóstico nessa área seja realizado, é essencial que sejam seguidos
alguns critérios com o objetivo de diferenciá-lo de outros problemas de apren-
dizagem. Sendo assim:
Uma característica essencial do transtorno específico da aprendizagem
são dificuldades persistentes para aprender habilidades acadêmicas fun-
damentais (Critério A), com início durante os anos de escolarização for-
mal (i.e., o período do desenvolvimento). Habilidades acadêmicas bási-
cas incluem leitura exata e fluente de palavras isoladas, compreensão da
leitura, expressão escrita e ortografia, cálculos aritméticos e raciocínio
matemático (solução de problemas matemáticos) (DSM-V, 2014, p. 68).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Além disso, essas dificuldades não podem apresentar quaisquer comorbidades,
ou seja, rebaixamento intelectual, transtornos emocionais ou sensoriais que jus-
tifiquem o desempenho aquém do esperado para a criança, e por isso não podem
ser definidos como dificuldades secundárias.
As alterações decorrentes do quadro de problemas de aprendizagem são
persistentes e não transitórios. Deste modo, cabe ressaltar que os transtornos
específicos da aprendizagem não são consequência de falta de oportunidade de
aprendizagem ou escolarização inadequada. No caso desses transtornos, o suporte
pedagógico adequado por mais de seis meses, além do atendimento ofertado na
escola não leva o sujeito a acompanhar o desempenho esperado para sua faixa
etária, mas sim minimiza os impactos decorrentes do transtorno (DSM-V, 2014).
No NJCLD (apud SMITH, 2008, p. 110) a terminologia adotada é Distúrbios
de Aprendizagem. No Brasil, adotou-se a terminologia Transtornos. A defini-
ção utilizada é a seguinte:
Distúrbio de Aprendizagem é uma expressão geral que se refere a um gru-
po heterogêneo de distúrbios, manifestado por dificuldades significativas
na aquisição e no uso de capacidades de atenção, fala, leitura, escrita, ra-
ciocínio ou habilidades matemáticas. Estes distúrbios são intrínsecos ao
indivíduo, supostamente devido a uma disfunção do sistema nervoso
central e podem ocorrer ao longo da duração de vida. Problemas de com-
portamentos auto-reguladores, percepção social e interação social podem
coexistir com distúrbios de aprendizagem, mas não consistem, por si só,
em distúrbios de aprendizagem. Embora distúrbios de aprendizagem pos-
sam ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes (ex:
prejuízo sensorial, retardo mental, distúrbio emocional grave), ou com
influências extrínsecas (como diferenças culturais, instrução insuficiente
ou inadequada), eles não são decorrentes destas condições ou influências.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Abordaremos primeiramente os Transtornos Específicos do Desenvolvimento
da Fala e Linguagem (F80) (CID-10, 1993). Os transtornos de fala e linguagem
correspondem a alterações precoces na aquisição normal da linguagem. O pre-
juízo da comunicação envolve tanto a linguagem expressiva verbal quanto a
linguagem de sinais, não podendo ser atribuído diretamente a nenhum outro
problema neuropsicossocial. Esse transtorno pode atingir a aprendizagem esco-
lar da criança, pois quando não diagnosticado e tratado precocemente acabam
sendo seguidos por dificuldades de ler e de soletrar, além de desencadear pro-
blemas relacionais, emocionais e comportamentais, sendo os mais comuns as
Dislalias, Gagueira, Fala Desordenada e os Transtornos de Linguagem expres-
siva e Receptiva (GRUNSPUN, 1999).
Dislalia corresponde ao fracasso na utilização dos sons da fala esperados
para a etapa evolutiva da criança, envolvendo erros “[...] na produção, uso, repre-
sentação ou organização dos sons, tais como a substituição de um som por outro
(uso de /L/ ao invés de /R/) ou a omissão de sons (omitir o /R/)” (GRUNSPUN,
1999, p. 3).
Gagueira ou tartamudez/disfluência é um transtorno articulatório do ritmo
da fala, alterando-lhe a fluência e o padrão temporal destoantes com a idade do
indivíduo. Pode ser identificada na repetição de sons e sílabas, prolongamento
de sons, interjeições, palavras partidas - pausas dentro das palavras - bloqueio
audível ou silencioso, circunlocuções - substituições de palavras para evitar as
que são problemáticas - palavras faladas com excesso de tensão física, repetições
de monossílabos, movimentos associados de face e/ou outras partes do corpo
(GRUNSPUN, 1999, p. 4).
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se orientarem com mapas, globos e o próprio ambiente. Usa dedos para
contar. Possui dificuldades em lembrar se seqüências: letras do alfabe-
to, dias da semana, meses do ano, lê as horas. Não consegue lembrar-se
de fatos passados como horários, datas, diário escolar. Alguns possuem
dificuldades de lembrar objetos, nomes, sons, palavras ou mesmo le-
tras. Muitos conseguem copiar, mas na escrita espontânea como ditado
e ou redações mostra severas complicações. Afeta mais meninos que
meninas.
Sugerimos a você que leia em José e Coelho (2009) as dicas para trabalhar as
limitações da criança com dislexia. Os autores pontuam de forma clara orien-
tações valiosas para o manejo das dificuldades que essas crianças enfrentam.
No que tange aos Transtornos do Desenvolvimento da Escrita Expressiva
- Disgrafia e Disortografia, García (1998), amparado em Gregg (1992), expressa
que esses, tais como os anteriores, não podem ser explicados:
[...] nem pela presença de uma deficiência mental, nem por escolariza-
ção insuficiente, nem por um déficit visual ou auditivo, nem por altera-
ção neurológica.Classifica-se como tal apenas se produzem alterações
relevantes no rendimento acadêmico ou nas atividades da vida cotidia-
na. A gravidade do problema pode ir desde erros na soletração até erros
na sintaxe, estruturação ou pontuação das frases, ou na organização de
parágrafos (GREGG, 1992 apud GARCÍA, 1998, p. 191).
José e Coelho (2009, p. 95-96) observam que a criança disgráfica tem dificul-
dades em passar para a escrita o que é captado pela percepção visual. Isso quer
dizer que a criança lê e compreende normalmente, mas a expressão gráfica está
comprometida, pois não consegue idealizar no campo motor o que viu. Deste
modo, acaba tendo traçado lento das letras, em geral ilegíveis. Para as autoras,
os principais erros cometidos pela criança com disgrafia são:
■■ Apresentação desordenada do texto.
■■ Margens mal feitas ou inexistentes; a criança ultrapassa ou pára muito
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
agrupamento de objetos em conjuntos), habilidades de ‘atenção’ (como
copiar figuras corretamente nas operações matemáticas básicas, recor-
dar o número que ‘transportamos’ e que devemos acrescentar a cada
passo, e observar os sinais das operações) e as habilidades ‘matemáticas’
(como o seguimento das sequências de cada passo nas operações mate-
máticas, contar objetos e aprender as tabuadas de multiplicar).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS NO SUPORTE À
CRIANÇA COM D.A.: ALGUNS APONTAMENTOS
E REFLEXÕES
podem gerar mal-entendidos acerca das condutas das crianças no ambiente esco-
lar. Citamos os exemplos pontuados pela autora:
■■ Alunos que ao serem atendidos no reforço escolar atingem rapidamente
o sucesso nas atividades, em detrimento de outros que não apresentam
progresso.
■■ Alunos que ao trocarem de escola evoluem imediatamente, enquanto
outros seguem acumulando fracassos.
■■ Casos em que o incentivo de um professor já é o suficiente para desen-
cadear uma melhora, outros que desde o início da vida escolar arrastam
os mesmo problemas.
■■ Alunos que vão bem em determinadas disciplinas e em outras não.
■■ Alunos que oscilam em seu rendimento de acordo com a relação estabe-
lecida com o professor.
Atuação dos Profissionais no Suporte à Criança com D.A.: Alguns Apontamentos e Reflexões
160 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
fatores biológicos, emocionais, familiares e sociais (MOOJEN, 2004).
Enquanto educadores, devemos ficar atentos a alterações bruscas de com-
portamento. Por exemplo: uma criança que comumente comporta-se de maneira
tranquila, amorosa e de maneira “repentina” passa a manifestar um tom mais
agressivo, revoltado ou indisciplinado.
Crianças que não permanecem sentadas nas carteiras, são irrequietas, falan-
tes ou quietas demais, não gostam de perder ou receber um “não” como resposta,
choram, fazem birra, batem nos colegas ou em si próprias, podem estar expres-
sando, por meio desse comportamento, sentimentos e angústias que lhes estão
incomodando, mas não sabem como externalizar de forma adequada. Como esses
comportamentos mobilizam muito os adultos, cabe aos pais, familiares, amigos
e professores ficarem atentos para não agirem somente por condutas coerciti-
vas, mas também buscarem compreender o que pode estar desencadeando tais
comportamentos (SANTOS, 2012).
É na escola que encontramos o ambiente propício para a manifestação de
algumas questões relativas ao comportamento, haja vista que é um ambiente no
qual convivem seres humanos em relação, e se há relação há eclosão de confli-
tos, manifestações comportamentais e dificuldades, ou seja, há a reprodução de
problemas sociais e familiares que podem acentuar alguns tipos de problemas
de aprendizagem.
Sendo assim, não podemos trabalhar as dificuldades se não observarmos as
questões referentes ao contexto social, histórico, cultural e o processo de ensino.
Afinal, a “culpada” pela dificuldade de aprendizagem não é a criança. Fazer uma
redução a culpado e inocente não favorece o encaminhamento de todo o processo
Atuação dos Profissionais no Suporte à Criança com D.A.: Alguns Apontamentos e Reflexões
162 UNIDADE IV
que a criança sofreu um acidente aos cinco anos e que bateu a cabeça. Embora
o neuropediatra diga que está tudo bem com Sara, a escola não concordava com
o diagnóstico do médico.
Veja, a preocupação não está pautada no conteúdo escolar, visto que especu-
lações quanto à família de Sara e seu acidente sofrido há muito tempo ocupam
o primeiro plano da discussão.
Ao recorrermos a Bock (2000), encontramos que a tarefa da escola é pautada
na transmissão do conhecimento adquirido historicamente. Nessa perspectiva,
especula-se que essa não tem sido a fundamental preocupação no caso da aluna
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Sara. Parece que há a necessidade de que Luiza comprove que Sara não é capaz
de aprender em uma sala de crianças ditas “normais”. Cogita-se uma culpabi-
lização da criança e da família sobre a suposta incapacidade da criança, afinal,
a família é carente, Sara não tem mãe, tem vários irmãos... Essa é justamente a
visão liberal acerca do homem, que segundo Bock (2000) é visto como um ser
cheio de capacidades e potencialidades que podem ser manifestadas no decor-
rer da vida. É a ideia de natureza humana, a qual traz a questão da essência, da
semente de homem que desabrocha conforme é estimulada e adequada ao meio
social. Nesse sentido, se Sara não aprende é porque há alguma coisa errada, e
cabe a psicóloga desvendar esse mistério, afinal a menina está comprometendo
o bom andamento da turma!
A psicóloga para e se põe a pensar no que poderia fazer, visto que a demanda
cobrava de forma encoberta o diagnóstico de um possível “problema” que impedia
o aprendizado de Sara. Situações como essas são vividas não só pelos profissionais
da saúde, mas também por professores, que se veem empoderados pelo discurso
da ciência e acabam por decidir o caminho que a criança seguirá em sua vida
acadêmica. Abrir mão desse poder é fundamental, para que possamos fazer uma
leitura mais empática e coerente com a situação da criança (KUPFER, 1995).
Para fugir de atitudes onipotentes, o profissional deve se cercar de infor-
mações. Neste caso, Luiza leu a ficha escolar da criança e constatou que ela
participava de um grupo de apoio psicopedagógico em uma clínica escola de
Psicopedagogia. Decidiu então procurar a psicopedagoga responsável por Sara.
A psicopedagoga disse que a menina realmente não estava alfabetizada, mas
que desde que começou a frequentar o grupo de apoio psicopedagógico Sara
damental para obter mais informações. A professora lhe disse que a menina
realmente tinha muita dificuldade, mas que no final do ano ela já havia progre-
dido muito e que acompanhava a turma. Mais um dado a somar no levantamento
realizado, a menina realmente apresentou progressos... Mas por que esse pro-
gresso não estava sendo percebido?
A fim de conseguir mais informações a respeito do caso, a psicóloga resol-
veu observar algumas aulas na sala de Sara. Percebeu que a aluna se comportava
de acordo com o contexto da sala de aula que era composta por crianças com
idade entre 7 e 8 anos. A menina conversava com os colegas, no entanto era
nítido perceber que algumas crianças a deixavam isolada, principalmente aque-
las popularmente nomeadas de “preferidas da professora”. Sara demonstrava a
necessidade de que a professora lhe escolhesse ou elogiasse sua atuação em algo
que havia feito. A psicóloga não percebeu desatenção, a aluna acompanhava o
ritmo da sala de aula e tinha a matéria em dia. Cometia erros tal qual os demais
alunos. O que estava acontecendo?
A psicóloga percebeu que tinha um extenso material em mãos. Profissionais
apontavam para a melhora da aluna: a professora do primeiro ano, a psicope-
dagoga do grupo de apoio psicopedagógico, e agora havia sua própria opinião,
pois havia constatado que a menina estava aprendendo e progredindo. Por isso,
a psicóloga decidiu ter uma conversa com a professora, no entanto, não queria
que essa conversa acontecesse na hora do intervalo, e pediu para que a profes-
sora fosse até a sua sala no horário de sua “hora atividade”.
Atuação dos Profissionais no Suporte à Criança com D.A.: Alguns Apontamentos e Reflexões
164 UNIDADE IV
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gua portuguesa, de uma maneira diferente daquela falada.
Ao final da conversa, a professora comentou que havia muitos aspectos em
que Sara poderia melhorar, principalmente nesses detalhes. Disse ainda que sofre
com uma menina grande demais em sua sala, pois ela já é “sensual” e as demais
meninas não. A psicóloga pontuou detalhes como a estatura de Sara não ser tão
alta, e que a preocupação da escola necessita se pautar em priorizar a transmis-
são do saber sistematizado. A conversa ocorreu de forma tranquila, esses dados
foram passados também para a Equipe Pedagógica do colégio por meio de um
breve relatório.
A postura da psicóloga foi a de não culpabilizar Sara pela sua dificuldade, mas
sim de tentar compreender o contexto social de onde estava surgindo a queixa
em relação à aluna. À primeira vista essa atitude parece simples, mas ao iniciá-
-la pôde-se acompanhar o caminho sinuoso percorrido pela psicóloga, visto que
as “autoridades escolares” já haviam dado o veredicto de que Sara não consegui-
ria acompanhar a turma da segunda série. Analisar criticamente uma situação
onde pode estar envolvido um ser humano demanda um grande esforço, visto
que essa pessoa contém informações do todo social, e é por isso que a análise
pode ser mais extensa. A avaliação de Sara nos traz justamente a reflexão de que
devemos, antes de mais nada, analisar os fatos de maneira contextualizada para
não patologizarmos a criança.
Todavia, há crianças com questões específicas de aprendizagem, conforme
apresentamos anteriormente, e nestes casos o trabalho de diagnóstico deve ser
ainda mais amplo, pois dependendo do Transtorno deve-se acionar profissio-
nais diferentes da área da saúde.
nados de acordo com as questões inerentes aos casos trabalhados. Por exemplo:
se o aluno é Respirador Oral, o dentista é fundamental para auxiliar na corre-
ção da arcada dentária e o fisioterapeuta na correção do modo de respirar; se o
avaliando apresentar um transtorno de fala, o fonoaudiólogo será o fundamen-
tal tanto no diagnóstico quanto no tratamento.
E o professor, onde fica nessa história toda? Ele é peça fundamental no pro-
cesso de identificar casos em que há a real necessidade de encaminhar para
avaliação específica. Conhecer os indicativos de que há algo errado, ou seja, que a
criança apresenta dificuldades que fogem ao padrão de normalidade esperado para
sua faixa etária, além de conhecer as principais características de cada Transtorno
é essencial para realizar um encaminhamento acertado. Após o diagnóstico, o
professor precisa ser incluído no tratamento, pois será ele o profissional que pos-
sibilitará a inclusão
no ambiente esco-
lar. O professor
também deve ser
bem or i e nt a d o
pelos profissionais
quanto às adapta-
ções curriculares e às
técnicas de manejo
necessárias para o
desenvolvimento do
aluno atendido.
Atuação dos Profissionais no Suporte à Criança com D.A.: Alguns Apontamentos e Reflexões
166 UNIDADE IV
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Frederico Neto et al (2015) realizaram um estudo em 7 escolas públicas de
São Paulo, avaliando a percepção dos professores sobre D.A. Nesse estudo,
os autores confirmaram que, apesar dos avanços na área de diagnóstico, os
professores apontam como causas da D.A. fatores relacionados às crianças
e/ou às famílias majoritariamente. Tal postura denota que os educadores
continuam repetindo a noção de que os problemas de ordem familiares ou
psiconeurológicos são infinitamente superiores às questões pedagógicas e
da relação professor-aluno. E qual é o problema dessa visão acerca do pro-
blema de aprendizagem?
Quando o professor não se vê como peça fundamental nesse processo, pas-
sam a considerar a sua atuação pouco efetiva, não conseguindo ver que a
mudança de sua postura poderia ter um impacto muito maior na melhora
do aluno.
Fonte: adaptado de Frederico Neto et al. (2015).
Percepção: é por meio dos órgãos dos sentidos que a criança estabelece con-
tato com o mundo exterior, compreendendo como o contexto social se organiza.
Por essa razão, é fundamental que na educação infantil todos os sentidos sejam
trabalhados, ou seja, o visual, o auditivo, o tátil, o olfativo e o gustativo. Quanto
mais estimulada for a criança e o seu sistema neurológico estiver desenvolvido,
“[...] maior número de detalhes integrados ela será capaz de perceber” (JOSÉ;
COELHO, 2009, p. 78)
Esquema Corporal: corresponde à habilidade de conhecer o próprio corpo,
de suas partes, dos movimentos, das posturas e das atitudes. A perceção que a
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criança tem do próprio corpo pode ser avaliada a partir dos desenhos de figura
humana que ela realiza. A estruturação do esquema corporal permite a criança
a tomar a si própria como ponto de referência, além de se distinguir dos demais
sujeitos e objetos. Este pré-requisito é fundamental para o estabelecimento de
habilidades básicas para a alfabetização, tais como noções de em cima, em baixo,
na frente, atrás, esquerdo, direito, bem como permite adquirir seu equilíbrio
corporal e dominar seus impulsos motores. Falhas nesta área podem compro-
meter as noções espaciais e temporais e o equilíbrio e postura, que por sua vez
afetam a capacidade de se locomover num espaço e escrever obedecendo limi-
tes de uma folha ou linha (JOSÉ; COELHO, 2009).
Lateralidade: preferência neurológica que se tem por um lado do corpo na
utilização da mão, pé, olho e ouvido. Os sujeitos podem ser destros, canhotos ou
ambidestros. Alguns podem apresentar a lateralidade cruzada, ou seja, olho e pé
adotam o direito, enquanto ouvido e mão adotam o lado esquerdo. As dificulda-
des decorrentes de não lateralização da criança podem ser notadas principalmente
na qualidade da grafia, apresentando letra ilegível, na orientação espacial na folha
de papel e nas posturas incorretas no ato de escrever (JOSÉ; COELHO, 2009).
Orientação espacial e temporal: é a consciência da relação do corpo com
o meio externo. Essa habilidade é essencial para a criança estabelecer relações
entre o espaço e si próprio, dirigir-se a algo, avaliar e adaptar seus movimentos
ao espaço disponível. Falhas na aquisição dessa habilidade podem refletir nos
seguintes problemas de aprendizagem, de acordo com José e Coelho (2009, p. 79):
Já a noção de tempo deve conciliar tanto o tempo vivido quanto o externo, pois
somente como ela percebe o tempo vivido é que os conceitos como ontem,
hoje, dias, meses, anos, etc. serão adquiridos, estabelecendo a noção de suces-
são. Segundo José e Coelho (2009, p. 80), lacunas de desenvolvimento nessa área
podem acarretar:
■■ Dificuldades na pronúncia e na escrita de palavras (troca ou inversão da
ordem das letras).
■■ Dificuldade na retenção de uma série de palavras na frase e de uma série
de ideias dentro de uma história.
■■ Má concordância verbal.
■■ Dificuldade no ditado devido à não-correspondência dos sons com as
letras que os representam.
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omissões de pontuação e entonação inadequadas. No que tange a parte gráfica, o
comprometimento do ritmo pode contribuir para aglutinações, omissões ou adi-
ções de sílabas, bem como falhas na acentuação de palavras.
Análise e síntese visual e auditiva: para Morais (1997, p. 48), esse é um dos pré-
-requisitos mais importantes para a aprendizagem da leitura e escrita. Para conseguir
ler, a criança precisa “[...] reconhecer a palavra, decompô-la em suas partes cons-
tituintes (análise) e recompô-la, unindo as partes ao todo (síntese)”. José e Coelho
(2009) pontuam que esse processo inicia-se por meio de desenhos e estimulações
auditivas, como adivinhações e rimas, para posteriormente ser transferida para a
escrita. Quando a criança apresenta lacunas no desenvolvimento desta habilidade,
apresentará dificuldades na formação de sílabas, na sequência das letras e na for-
mação de novas palavras.
Habilidades visuais e auditivas: a capacidade perceptiva visual íntegra per-
mite a criança discriminar semelhanças e diferenças, formas e tamanhos, distinguir
figura-fundo e memória visual preservada. Essas habilidades são desenvolvidas gra-
dualmente com a apresentação de objetos já conhecidos e posteriormente a inclusão
de elementos gráficos como letras e palavras. Os movimentos oculares são desordena-
dos na criança, cabendo à educação formal ensiná-las a deslocar os olhos no sentido
da leitura, ou seja, direita e esquerda, fazendo paradas e saltos, processos envolvidos
na leitura. Já a habilidade auditiva permite a discriminação dos sons, principalmente
de letras que sonoramente são muito parecidas, tais como: v/f, t/d, p/b. Quaisquer
falhas nessas habilidades podem acarretar dificuldades de associação entre símbolo
e som, tornando a leitura lenta, com inversões, omissões, adições de letras e pala-
vras, o mesmo acontecendo com a escrita (JOSÉ; COELHO, 2009; MORAIS, 1997).
Linguagem oral: para José e Coelho (2009), a alfabetização só pode ser ini-
ciada quando a criança é capaz de pronunciar adequadamente todos os sons da
língua. Tal condição é esperada por volta dos 6 anos. A amplitude de vocabulá-
rio também é fundamental, pois uma criança com repertório verbal pobre pode
não ser capaz de usar as palavras com seu significado adequado, e consequen-
temente não conseguirá compreender textos.
Neste item, procuramos destacar a relação entre as habilidades básicas neces-
sárias para aquisição e escrita e as possíveis consequências na aprendizagem, caso
não ocorram da maneira esperada. Ao dominar esses saberes, você terá mais
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Bueno aponta em entrevista não haver dados oficiais que indiquem a quan-
tidade de diagnósticos errados atribuídos a crianças com D.A, mas Maria
Irma acredita que seja superior a 90%. De onde vem essa discrepância?
(Chris Bueno)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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são de ordem intrínseca ao sujeito, persistentes e sem perspectiva de remissão.
Vimos critérios envolvidos e as características de cada um dos transtornos de
aprendizagem de ordem psiconeurológica, quais sejam: dislexia, disortografia,
disgrafia, discalculia, dispraxia, dislalia, gagueira etc.
A distinção entre dificuldades e problemas de aprendizagem é importante
para não corrermos o risco de patologizarmos toda e qualquer dificuldade aca-
dêmica que uma criança ou adolescente venham apresentar no contexto escolar.
Nossa pretensão foi clarificar essas nomenclaturas, descrevendo suas principais
características, enfatizando que o desejo dos profissionais da educação pelo pro-
gresso da criança faz toda a diferença no diagnóstico e do prognóstico da mesma.
Vimos então que o diagnóstico de possíveis problemas de aprendizagem
começa pela observação e ação dos professores, mas não são eles que fecham
esse processo. Seu papel neste processo é conseguir distinguir as dificuldades
de percurso, testar diferentes metodologias, e quando os recursos escolares se
esgotarem ou mesmo se houver fortes indicativos, encaminhar a criança para
profissionais da área da saúde.
O encaminhamento realizado por você será realizado com maior segurança
ao ter como parâmetro as condições com que seu aluno chegou ao processo de
alfabetização e, por essa razão, apresentamos os pré-requisitos necessários para
a aquisição da leitura, escrita e noções matemáticas.
J.P. – Qual o papel do professor no reconhecimento das dificuldades dos alunos e no encami-
nhamento dos mesmos à consulta médica?
C. N. A– Estudos têm demonstrado que o principal encaminhamento para a equipe de
saúde é realizado pelos professores. É muito importante o professor ter condições de
reconhecer que o aluno possa apresentar dificuldades de aprendizagem, mas o diag-
nóstico tem de ser feito pela equipe de saúde.
J.P. – Qual o papel dos psicopedagogos no atendimento a estudantes que apresentam difi-
culdades de aprendizagem?
C. N. A – O papel principal do psicopedagogo é descobrir junto ao aluno as melhores
estratégias de estudo e aprendizagem.
J.P. – O atendimento a alunos com dificuldades de aprendizagem deve ser feito de forma
interdisciplinar?
C. N. A – Com certeza. O diagnóstico e o tratamento devem ser feitos pela equipe mul-
tidisciplinar (neuropediatras, pediatras, hebiatras, psiquiatras, oftalmologistas, otorrino-
laringologistas, fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos, ortoptistas, professores).
Cada caso é um caso. Dependendo do paciente, torna-se necessário o parecer desses
profissionais.
Caros(as) alunos(as), nesta entrevista o Dr. Aucélio apresenta de forma muito clara o
papel de cada profissional no diagnóstico e no tratamento do aluno com Transtorno
de Aprendizagem. Ter conhecimento sobre esse processo é fundamental, pois situa o
professor acerca de seu papel no processo, qual seja, o encaminhamento e acompanha-
mento da evolução dos alunos. Destacamos, então, que compete ao professor conhecer
sobre os transtornos para poder fazer os encaminhamentos necessários, mas não é de
sua responsabilidade dar o diagnóstico.
Fonte: Portal Brasil (2014, on-line)4.
175
Material Complementar
178
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS ON-LINE
1
Em: <http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/#!em-branco/c1qq9>. Acesso em:
15 mai. 2017.
2
Em: <http://simaia.blogspot.com.br/2012/07/discalculia.html>. Acesso em: 15 mai.
2017.
3
Em: <http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=1327> . Acesso em: 15 mai.
2017.
4
Em: <http://www.brasil.gov.br/educacao/2014/07/dificuldades-de-aprendizagem-
-exigem-acompanhamento-medico>. Acesso em: 15 mai. 2017.
GABARITO
V
Professora Me. Márcia R. Sousa Storer
TRANSTORNOS DO
COMPORTAMENTO:
UNIDADE
DEFINIÇÕES, MANEJO E
ALGUMAS REFLEXÕES
Objetivos de Aprendizagem
■■ Identificar os critérios diagnósticos do Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH). Problematizar o uso de medicação
e o suporte dado a crianças hipercinéticas e desatentas na
atualidade.
■■ Caracterizar os Transtornos da Conduta (T. C.) e o Transtorno de
Oposição Desafiante (T.O.D.).
■■ Refletir sobre a influência dos aspectos emocionais no processo de
aprendizagem das crianças.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH)
■■ Transtornos de Oposição Desafiante e da Conduta: indicativos e
manejo no contexto escolar
■■ Afetos e aprendizagem: breves apontamentos
183
INTRODUÇÃO
Introdução
184 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/
HIPERATIVIDADE (TDAH)
Com certeza você conhece ou ao menos ouvir falar de alguém que foi diagnosti-
cado com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Conforme
Szobot (2004), o TDAH é um dos transtornos de desenvolvimento mais comuns
na infância e adolescência. Tal condição se deve a inúmeros fatores, dos quais
pontuaremos alguns no decorrer de nossa discussão. Entretanto, para refletir-
mos sobre a amplitude que os diagnósticos de TDAH tomaram na atualidade,
precisamos compreender um pouco de seu percurso histórico e identificar os
critérios que são adotados para a elaboração desse diagnóstico.
Em nossa construção de conhecimento até aqui, deixamos claro que a apren-
dizagem se sustenta em diversos fatores, sendo eles intrínsecos e extrínsecos ao
sujeito. A criança precisa ter preservada a funcionalidade das estruturas cere-
brais, bem como sua maturidade neuropsicológica, pois ambas influenciam no
estabelecimento da atenção, concentração, memória e funções executivas do
cérebro (CAPOVILLA et al, 2007; FONSECA, 2013).
Todavia, apoiados em Luria (1981), entendemos que os processos de matu-
ração e de desenvolvimento das habilidades atencionais e das funções executivas
perpassam a experiência psicossocial. Assim, a experiência sociocultural, o estí-
mulo ambiental, o processo de ensino e educação e os processos sociais mediados
pela linguagem são essenciais na construção e organização das funções psicoló-
gicas superiores, dentre elas a atenção e o controle motor voluntário.
Fazer esse breve resgate foi necessário, pois quando lidamos com crianças que
apresentam indicativos de TDAH, comumente acompanha-nas rótulos estigma-
tizantes e pais culpabilizados por não saberem educar seus filhos (SCHICOTTI;
ABRÃO; GOUVEIA-JUNIOR, 2016).
O aspecto que mais se destaca na criança antes de ser corretamente diagnosticada
com TDAH é o componente hiperativo-impulsivo. Dada a dificuldade em contro-
lar seu corpo e adequar sua vontade ao contexto, muitas vezes são nomeados como
“insuportáveis”, “desobedientes”, “incontroláveis” etc. (ALBERTINI; SILVA, 2016).
Na escola, a criança hiperativa-impulsiva é assim nomeada quando apresenta
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para aventar a hipótese de TDAH, o descontrole motor não pode ser restrito ao
ambiente escolar, devendo aparecer em outros núcleos de convivência da criança.
A família constantemente relata a dificuldade em estabelecer limites e da criança
observar as normas de conduta esperadas para sua faixa etária, seja em festas
familiares, na igreja ou em eventos sociais (BENCZIK, 2006).
Outro aspecto do TDAH remete-se à capacidade atencional incompatí-
vel com o esperado para a faixa etária da criança (SZOBOT, 2004). Conforme
estudamos na Unidade III, a atenção é uma das funções psicológicas superiores
fundamentais para o estabelecimento da aprendizagem.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(AMUDE-PATEZ, 2010).
Os estudos acerca do TDAH indicam que as pessoas acometidas por esse
transtorno apresentam alterações em seus neurotransmissores, responsáveis pela
transmissão das informações nas células nervosas através de substâncias, com o
controle de liberação da dopamina e da noradrenalina (BENCZIK, 2006). Assim,
as informações necessárias se alteram ou não chegam ao lobo frontal, parte do
cérebro responsável por manter a atenção pelo tempo necessário para que a ação
seja planejada e organizada, para que haja o controle dos impulsos, das emoções,
a inibição dos estímulos distratores e finalmente o estabelecimento da memó-
ria (CAPOVILLA et al., 2007).
Apesar de um dos critérios diagnósticos do TDAH seja a apresentação dos
sintomas antes dos 12 anos de idade (DSM-V, 2014), não raro o diagnóstico
acontece bem antes, coincidindo com o início do processo de escolarização da
criança (BENCZIK, 2006). Frente à escolarização cada vez mais cedo, têm sur-
gido casos diagnosticados precocemente. Se por um lado é bom reconhecer a
necessidade de suporte diferenciado para a criança com dificuldades em sustentar
sua atenção, por outro tal situação pode suscitar uma avalanche de diagnósticos
precipitados (ALBERTINI; SILVA, 2016).
O diagnóstico do TDAH, de acordo com Jafferian e Barone (2015), é fun-
damentado nas manifestações comportamentais dos pacientes, tendo por
referência os critérios explicitados nos Manuais de Diagnósticos e Estatísticos
das Perturbações Mentais (DSM-V), desenvolvido pela Associação Americana
de Psiquiatria (APA), e na Classificação Internacional de Doenças (CID-10),
produzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
outro local de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em
um mesmo lugar).
C. Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é ina-
propriado. (Nota: Em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sensações de
inquietude.)
D. Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer
calmamente.
E. Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado” (p.
ex., não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado por muito tempo,
como em restaurantes, reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto
ou difícil de acompanhar).
F. Frequentemente fala demais.
G. Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha
sido concluída (p. ex., termina frases dos outros, não consegue aguardar a vez de
falar).
H. Frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez (p.ex., aguardar em
uma fila).
I. Frequentemente interrompe ou se intromete (p. ex., mete-se nas conversas,
jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir
ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode intrometer-se em ou
assumir o controle sobre o que outros estão fazendo).
Fonte: DSM – V (2014, p. 59-60).
A estarem presentes antes dos 12 anos de idade (no DSM-IV, a idade de corte
era 7 anos). No critério C, é pontuado ser imprescindível a atuação dos sinto-
mas em dois ou mais ambientes: em casa, na escola, no trabalho etc. O critério
D versa sobre a necessidade de haver prejuízo na área social, acadêmica ou pro-
fissional, decorrentes da queda de qualidade do funcionamento da atenção e/ou
hiperatividade-impulsividade. Por fim, o critério E pontua a necessidade de ser
descartada quaisquer comorbidades (transtorno do humor, de ansiedade, dis-
sociativo, de personalidade etc.) (DSM-V, 2014).
Por ser um diagnóstico clínico, convencionou-se em aplicar um questioná-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
rio junto aos pais e professores que têm contato com a criança ou adolescente
a serem avaliados. O questionário é o SNAP-IV, em que é avaliado somente o
critério A, por isso não pode ser tomado como único recurso para aventar a
hipótese diagnóstica.
Matos (2013, on-line)1 destaca que a atual versão do DSM avançou na com-
preensão do quadro de TDAH quando retirou os subtipos prescritos no DSM-IV,
quais sejam: desatento, hipercinético e impulsivo. No DSM-V (2014), o modelo
adotado foi o de apresentação ao invés de subtipos, de tal forma que o entendi-
mento passa a ser de que os sintomas podem se modificar com o tempo, alterando
assim o predomínio de uma ou outra característica do transtorno.
No DSM-V (2014, p. 60), os subtipos agora podem ser categorizados da
seguinte forma:
Apresentação combinada: Se tanto o Critério A1 (desatenção) quan-
to o Critério A2 (hiperatividade-impulsividade) são preenchidos nos
últimos 6 meses. [...] Apresentação predominantemente desatenta: Se
o Critério A1 (desatenção) é preenchido, mas o Critério A2 (hipera-
tividade-impulsividade) não é preenchido nos últimos 6 meses. [...]
Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva: Se o Critério
A2 (hiperatividade-impulsividade) é preenchido, e o Critério A1 (desa-
tenção) não é preenchido nos últimos 6 meses.
Szobot (2004, p. 23) elenca algumas situações observadas no cotidiano que são
comuns para crianças que apresentam os sintomas de hiperatividade-impulsividade:
■■ Atividade motora excessiva: a criança não consegue participar das brin-
cadeiras de uma forma mais contida, ou está sempre “correndo”.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
No que tange à apresentação desatenta do Transtorno, Szobot (2004) pontua que
as formas mais observadas em sala são as seguintes: a) aluno está constantemente
com a cabeça longe, olhar distante e requisitando explicações contínuas, pois
distrai-se com facilidade, comprometendo sua compreensão, logo não realizam
com sucesso as atividades solicitadas e vão gradualmente perdendo o interesse
pelos estudos; b) dificilmente conclui suas tarefas, por ficar divagando em sala
de aula; c) sérias dificuldades em se organizar, levando-o a apresentar mate-
riais incompletos e desorganizados; d) perde com frequência seus pertences;
e) comete erros por distração ou impaciência, por ex.: erra as contas de mate-
mática por não se atentar ao sinal grafado; f) quaisquer estímulos distraem sua
atenção na sala de aula.
De acordo com o DSM-V (2014), de modo geral, o TDAH
é mais comum em meninos do que em meninas, sendo que
a apresentação desatenta costuma-se encontrar
primariamente em meninas e a apresenta-
ção hiperativa-impulsiva em meninos.
Destacamos a incidência na atua-
lidade de casos de TDAH, que
segundo o referido manual
seria de 5% das crianças.
Você percebeu que toda a literatura utilizada para definir o TDAH pontua que,
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apesar de ser um transtorno, não há sequer um único exame laboratorial que sus-
tente o diagnóstico alicerçado nas patologias biológicas? Silva e Albertini (2016)
problematizam a questão do diagnóstico de TDAH, respaldadas nos estudos de
Araújo (2012), pontuando que, ao analisarmos os sintomas descritos como crité-
rios diagnósticos, perceberemos que esses são comuns à população geral devido
a comorbidades, variações socioambientais, familiares ou mesmo culturais.
Entretanto, o foco dos estudos sobre TDAH se concentram, em grande parte,
no campo neurológico/neuropsicológico e genéticos. Esses campos do saber
vem publicando dados significativos sobre as funções e áreas responsáveis pela
atenção e controle motor. Nessa perspectiva biologizante, pontuam que as fun-
ções executivas processadas nas áreas frontais do cérebro e no córtex apresentam
alguma alteração que justifique a desatenção e agitação motora, refletindo assim
na habilidade de atender às demandas solicitadas ou atingir um objetivo, pois a
capacidade de planejamento, monitoramento e perseverança na ação estão com-
prometidos (BENCZIK, 2006).
Em nossa Unidade I, quando abordamos o nascedouro das dificuldades
de aprendizagem, vimos que o conceito fundamental na época foi o de Lesão
Cerebral Mínima, depois substituído por Disfunção Cerebral Mínima (DCM),
devido a não comprovação por meio de exames do comprometimento orgânico.
Você se lembra quais eram as principais características apontadas com crité-
rio diagnóstico? Pois bem, retomemos. Crianças com dificuldades de conciliar
ordens, respeitar regras, descontrole motor, agitação, dificuldades de aprendiza-
gem, impulsivas, diminuição progressiva da atenção, escassa concentração etc.
(CIASCA, 2003).
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farmacológicas, em especial ao metilfenidato, a conhecida RITALINA. Sendo
entendido como um quadro de ordem biológica, cujo diagnóstico é dado, exclu-
sivamente, por profissionais da medicina, o tratamento prioritário estabelecido
foi o medicamentoso.
Para termos ideia da proporção que o uso de medicação tem tomado em
nossa sociedade, de acordo com pesquisas realizadas por Primi (2015), o gasto
com medicamentos aumentou 13,1% em 2014, atingindo US$373,9 bilhões, sendo
este o maior índice desde 2001, quando atingiu 17%. Esses são valores gerais, ou
seja, a indústria farmacêutica cresceu no geral 13,1% em 2014. Tais dados apon-
tam para uma tendência mundial de medicalização da vida cotidiana, onde não
podemos sofrer, ficar cansados ou diminuir nosso rendimento, que necessaria-
mente estamos sendo acometidos por alguma patologia (para saber mais sobre
o tema, leia nossa Leitura Complementar!).
O Metilfenidato tornou-se uma verda-
deira alavanca da indústria farmacêutica.
O consumo do medicamento, mais
conhecido como RITALINA, cres-
ceu 775% entre julho de 2003 a julho
de 2015. Em todo o mundo, a produ-
ção aumentou 1200% entre a década
de 1990 a 2006 (PRIMI, 2015).
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pode ser considerado o foco do regime de atenção global na atualidade, no qual
embota a nossa percepção mediante a excitação contínua que estamos submeti-
dos. Tomando como exemplo o uso da televisão, o autor assinala que os diretores
de programas televisivos tem claro que, frente a menor queda de tensão dos estí-
mulos oferecidos, o espectador irá trocar de canal, facilidade aumentada com a
utilização de aparelhos com controle remoto.
O leitor assíduo também está imerso nesse contexto. Se vocês perceberem ao
redor, verão que os jornais e as mídias impressas mudaram significativamente seu
layout, tornando-se cada vez mais parecidos com revistas exibindo ilustrações:
Nas últimas duas décadas, todos os grandes jornais estão cada vez mais
parecidos com as revistas ilustradas. Sem fotos grandes eles não po-
dem mais concorrer. Toda a diagramação supõe que ninguém tem mais
concentração e resistência suficientes para ler um texto da primeira à
última página, linha por linha (TÜRCKE, 2015, on-line)2.
cluem nada que começam. Elas são impelidas por uma agitação motora
constante, não acham nenhum refúgio, nenhuma válvula de escape, e
se transformam em estorvos constantes para escola, família e colegas
(TÜRCKE, 2015, on-line)2.
Tendo em vista, segundo Luria (1981), que atenção involuntária evolui por meio
da ação mediadora dos símbolos sociais para a atenção voluntária, podemos
entender melhor o que afirma Türcke. Se a forma que utilizamos as palavras para
direcionar a atenção das crianças em processo de formação vem sendo mediada
por uma cultura que nos impulsiona a não estabelecermos níveis atencionais
sustentados, como ensinaremos isso a elas? Analisando o contexto histórico, o
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“É evidente que aquele fenômeno difuso, para o qual o TDAH é mais a de-
signação de um embaraço que um diagnóstico patológico bem delinea-
do, não pode ser entendido fora de uma perspectiva teórico-cultural mais
abrangente. O TDAH não é só uma doença em um ambiente saudável. Ao
contrário: apenas onde já existe uma cultura do déficit de atenção é que
existe TDAH. Bilhões de pequenos choques audiovisuais estimulam a aten
ção humana o tempo todo – e por isso a desgastam. Essa é a lei do déficit de
atenção, cuja dinâmica permeia toda a nossa cultura”.
FONTE: Türcke (2015, on-line)2.
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TRABALHANDO CRIANÇAS COM DIFICULDADES DE ATENÇÃO
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(psicólogos, psicopedagogos, educadores, terapeutas ocupacionais, fonoaudió-
logos etc.) apresentam resultados significativos no desenvolvimento das funções
psicológicas superiores, bem como na aquisição dos pré-requisitos para a apren-
dizagem da leitura, escrita e noções lógico matemáticas.
Frases como: ele não respeita, não tem o mínimo de educação, não escuta e
obedece ninguém, desafia todo mundo, entre outras, são comuns ao se referir a
crianças encaminhadas para psiquiatras infantis com o objetivo de verificar as
razões pelas quais a criança com esse perfil não se adapta aos contextos sociais.
Comportamentos hostis como não respeitar limites e autoridades, testar o
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tionador/desafiante ou com índole vingativa. Para se configurar em um quadro
desse transtorno, é necessário que se apresente ao menos 4 dos sintomas descri-
tos a seguir, sendo persistentes e não compatíveis ao considerado normal para a
idade, gênero e cultura do avaliando. Lembrando que, no caso de crianças com
menos de 5 anos, esse padrão comportamental deve ocorrer na maioria dos dias
por um período mínimo de seis meses - exceto as condutas do item A8; e em
crianças com mais de 5 anos, esses comportamentos devem estar presentes ao
menos uma vez por semana no período de seis meses.
O critério (A) considerado nos casos de T.O.D. é subdividido em três aspec-
tos: humor raivoso/ irritável, comportamento questionador/desafiante e índole
vingativa (DSM-V, 2014, p. 502):
Humor Raivoso/Irritável: 1. Com frequência perde a calma. 2. Com
frequência é sensível ou facilmente incomodado. 3. Com frequência
é raivoso e ressentido. Comportamento Questionador/Desafiante: 4.
Frequentemente questiona figuras de autoridade ou, no caso de crian-
ças e adolescentes, adultos. 5. Frequentemente desafia acintosamente
ou se recusa a obedecer a regras ou pedidos de figuras de autorida-
de. 6. Frequentemente incomoda deliberadamente outras pessoas. 7.
Frequentemente culpa outros por seus erros ou mau comportamento.
Índole Vingativa: 8. Foi malvado ou vingativo pelo menos duas vezes
nos últimos seis meses.
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os pais ou em lar substituto, ou uma vez sem retomar por um longo
período. 15. Com frequência falta às aulas, com início antes dos 13 anos
de idade.
Para problematizar a temática sobre os afetos, sugiro que você faça uma breve
reflexão: o seu desempenho ao realizar uma atividade é o mesmo independente de
estar se sentindo tranquilo ou ansioso? Certamente você respondeu não! Agora,
compreenderemos os motivos que levam os afetos a desempenharem um papel
tão importante no processo de aprendizagem do indivíduo.
Ao nascer, a criança não sabe distinguir raiva, tristeza, felicidade, tranqui-
lidade etc., ela aprenderá o que são esses afetos por meio do cuidado do adulto
disponível. Ao atender as necessidades da criança, o adulto vai decodificando e
nomeando os afetos por ela expressos utilizando palavras. Isso implica em um
estado de disponibilidade interna e sensibilidade do cuidador para com os sinais
da criança - choro, birra, agitação - que sinalizam a premência em ser acolhida
e atendida em suas necessidades.
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ção e afeto, afirmando que não existe entendimento adequado do pensamento
humano sem analisar sua base afetivo-volitiva.
Quando a criança passa a frequentar a escola, o professor é esse agente media-
dor. Sua mediação nas relações de conflito em que a criança se envolve, o amparo
dado quando essa não consegue executar atividades sozinha, ou seja, a capaci-
dade empática do professor em entender e acolher as demandas relacionais e de
aprendizagem que a criança apresenta neste contexto é, sem sombra de dúvidas,
de suma importância para a criação de um ambiente propício à aprendizagem
e o reconhecimento de sua singularidade (REGO, 2007).
Por essa razão, ao defendermos que o meio social é o fator proeminente do
processo de aprendizagem, destacamos a necessidade de observar os estímulos
que o ambiente propicia por meio das condições afetivas, sociais e econômicas
nas quais a criança está inserida, pois a criança vai gradualmente construindo
suas experiências e aprendizagem no contato com seus pares.
Krueger (2010), reportando-se a Mukhina (1995), pontua que a criança sen-
te-se muito mais disponível para a aprendizagem quando é tratada com carinho
e experimenta um estado emocional de bem estar, segurança e harmonia. A
autora ainda cita Saltini (1997), ao afirmar que a inter-relação entre professor e
aluno é o fio condutor e o suporte afetivo para a construção do conhecimento.
Na escola, as relações com os amigos e professores estabelece um amplo
espaço para o desenvolvimento da individualidade dentro de um contexto sócio-
-histórico, por meio dos conflitos cotidianos em sala de aula, no pátio e nas
brincadeiras, tornando a escola um dos centros de relações mais importantes
na vida das crianças (REGO, 2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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temporânea nos mobiliza a estabelecer padrões de atenção e de comportamento
condizentes com alguns sintomas do TDAH. Somando-se a isso, vimos o quanto
a indústria farmacêutica cresceu com o patologização da conduta do escolar.
Seguindo o mesmo raciocínio, apresentamos o Transtorno Desafiante de
Oposição e o Transtorno de Conduta, ambos considerados graves e de grande
repercussão no ambiente escolar, em razão das dificuldades de manejo que os
indivíduos portadores desses quadros mobilizam.
Nosso objetivo em conhecer estes quadros é que, em razão do descontrole
do comportamento característicos em todos esses transtornos, o comprometi-
mento da aprendizagem acaba sendo de ordem secundária, haja vista que, em
decorrência do transtorno apresentado, o indivíduo não desenvolve adequada-
mente as habilidades acadêmicas necessárias para o sucesso escolar.
Fica de alerta, contudo, que os comportamentos descritos como sintomas
destas patologias nos compêndios de medicina podem ser identificados de modo
isolado em crianças que não apresentam esses quadros. Por essa razão, é funda-
mental descartar questões normais do desenvolvimento, problemas emocionais
ou mesmo de educação antes de levantarmos a hipótese de transtornos.
Por fim, discutimos o papel dos afetos, evidenciando a influência das relações
sociais na organização de um clima propício para o processo de aprendizagem,
considerando a complexidade envolvida no ato de aprender.
Material Complementar
REFERÊNCIAS
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REFERÊNCIAS ON-LINE
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t%C3%A9rios-do-dsm-v.html>. Acesso em: 16 mai. 2017.
2
Em: <http://www.revistaserrote.com.br/2015/06/cultura-do-deficit-de-atencao/>.
Acesso em: 16 mai. 2017
GABARITO
1) Alternativa D.
O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, pois a sua etimologia está
relacionada a alterações neurológicas que influenciam o desenvolvimento glo-
bal do indivíduo. Os prejuízos na aprendizagem são secundários aos sintomas
do TDAH, pois é a falta de atenção ou autocontrole da conduta que impede a
aquisição das competências acadêmicas e comportamentais.
2) Alternativa D.
3) À luz da teoria histórico-cultural, a atenção é uma função psicológica superior
que se desenvolve por meio da mediação cultural. Sendo assim, o padrão aten-
cional do sujeito depende das condições sociais objetivas e culturais em que
está inserido, pois estas darão os elementos formadores para serem apropriados.
Neste sentido, a organização social atual tem nos levado a estabelecer um pa-
drão atencional fragmentado e de curto período uma vez que as formas de co-
municação e de trabalho nos levam a acumular funções a serem desenvolvidas
concomitantemente. Outro aspecto a se destacar é que, ao medicalizar o fracas-
so escolar, a responsabilidade sobre essa situação passa a ser única do indivíduo
que expressa os sintomas, justificando em causas orgânicas comportamentos
que são de origem social. Sendo assim, os problemas de escolarização passam a
ser discutidos como problemas de ordem médica, inviabilizando o processo de
reflexão no contexto escolar sobre o fracasso escolar.
4) Conforme explicitado no tópico 2, as crianças com esses transtornos apresen-
tam severas dificuldades de estabelecer vínculos sociais saudáveis, de cumprir
com compromissos organizados, de auto regulação de comportamento. Logo,
o desenvolvimento da atenção e a concentração necessária para execução das
atividades acadêmicas ficam comprometidas. Além disso, em razão do padrão
comportamental hostil, estes alunos ficam muito tempo fora da sala de aula,
prejudicando o acompanhamento dos conteúdos escolares.
5) Alternativa E.
A afirmativa I é falsa, pois a dimensão afetiva tem igual relevância nos aspectos
que influenciam a aprendizagem.
A III afirmativa, por sua vez, é falsa pois a expressão afetiva que se requer do
professor no exercício de seu trabalho não está relacionada a mimos e agrados,
mas sim no respeito e confiabilidade desenvolvido no vínculo estabelecido com
o alunado.
215
CONCLUSÃO
Caro(a) aluno(a), aqui encerramos a primeira parte de um longo caminho a ser per-
corrido por você na busca de sua capacitação profissional. Ao tomar para si a missão
de ser educador, você assume também o papel de referência emocional/educacio-
nal para milhares de crianças e adolescentes, bem como de ser um pesquisador
acerca dos temas da infância e educação.
Nesta jornada, nos propomos a contribuir com o conhecimento acerca dos Proble-
mas e Dificuldades de Aprendizagem. Para tanto, contextualizamos historicamente
os conceitos de infância e de aprendizagem, com o objetivo de evidenciar a corre-
lação existente entre o que se entende por infância e como lidamos com os proble-
mas apresentados nesta etapa do desenvolvimento.
Conhecer o caminho traçado historicamente sobre a conceituação das Dificuldades
de Aprendizagem nos permitiu evidenciar a necessidade de se conhecer o desen-
volvimento infantil nos aspectos biopsicossociais. Isso ocorre porque, para diferen-
ciarmos problemas de dificuldades de aprendizagem, precisamos nos apropriar do
que é esperado ou não para cada faixa etária e como a cultura lida com determina-
dos sintomas.
Assim, vimos que dificuldades de aprendizagem estão relacionadas a questões so-
cioambientais (estímulo, metodologia de ensino etc.), e com os desafios existentes
na própria assimilação dos conteúdos acadêmicos. Os problemas de aprendizagem,
por sua vez, são mais complexos, pois envolvem patologias diagnosticadas por uma
equipe de profissionais da saúde e educação, ou seja, são os transtornos de apren-
dizagem, definidos segundo os parâmetros do CID-10 e do DSM-V.
Em nossa trajetória, esperamos ter estimulado sua curiosidade acerca da causa in-
fantil, bem como instigado sua veia de pesquisador, para que, ao conhecer quais são
os pré-requisitos básicos para a aquisição da leitura, escrita e noções matemáticas,
a importância afetiva e educacional que o professor tem na vida dos alunos fique
clara, para incentivá-los a ser cada vez mais comprometidos com o bem estar e a
boa formação de crianças e adolescentes.
ANOTAÇÕES