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A Psicomotricidade

e o Processo
de Alfabetização
1. Introdução 5
Conceitos, Epistemologia e Fundamentos 7
O Processamento Psicomotor 15
A importância da Avaliação Psicomotora 16

2. As Dimensões da Psicomotricidade
e o Desenvolvimento da Aprendizagem 25
As Dimensões da Psicomotricidade 28
A Noção do Tempo ou Temporalidade 32
Dimensão Emocional 33

3. O Uso da Psicomotricidade no Processo


da Aprendizagem 35

4. Psicomotricidade e Linguagem na Alfabetização 44


Psicomotricidade x Linguagem 44
Psicomotricidade no Processo de Aprendizagem
da Leitura e da Escrita 44
A visão 45
Audição 46
Percepção Tátil 47
Olfato 48
Percepção Olfativa 48
Paladar 48
Cinestésico 48
Educação e Reeducação Psicomotora 49
A Relação entre o Corpo e a Escrita 53
Movimento de Pinça e Posicionamento Corporal 54

02
5. A psicomotricidade e o fazer docente 60
Jogos e Brincadeiras: Arte, Recreação e Cognição 62
Desenvolvimento da Coordenação Motora Fina 63
Dicas para Estimulação da Memória 66
Vivendo a Psicomotricidade 67

6. Referências Bibliográficas 70

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

1. Introdução

Fonte: Mamamia1

A interface entre psicologia e


educação permite aventar as
inúmeras articulações existentes en-
Revela-se assim a importância de se
estabelecer uma atuação integrada
entre professores e psicólogos com
tre desenvolvimento e aprendiza- vistas a evitar o fracasso escolar e
gem. Em decorrência disso, a rela- promover uma maior adaptação do
ção entre a atuação pedagógica e psi- aluno à escola.
cológica na escola, tem adquirido Partindo desses pressupostos
um destaque cada vez maior, tendo desenvolvemos esta disciplina, obje-
em vista que, essa parceria, permite tivando a análise da teoria do desen-
uma reflexão em torno das proble- volvimento de Vygotsky, que nos
máticas que acometem a educação fornece, juntamente com outros au-
infantil, bem como ponderações tores, uma nova imagem da pri-
acerca das melhores estratégias de meira infância, elucidando a rele-
intervenção no ambiente escolar. vância do conhecimento do nível de

1 Retirado em https://www.mamamia.com.au/

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

maturação, apresentado pela crian- leitura da bibliografia utilizada e re-


ça, bem como, da importância das lacionada ao final desta.
interações desta com o meio para o A Psicomotricidade como ci-
seu desenvolvimento cognitivo e ência, é entendida por Fonseca (20
motor. 10) como o campo transdisciplinar
Nesta ótica, a educação é de que estuda e investiga as relações e
fundamental importância para a cri- as influências recíprocas e sistêmi-
ança, uma vez que mediante o pro- cas, entre o psiquismo e o corpo, e,
cesso da aprendizagem ela se apro- entre o psiquismo e a motricidade,
pria dos saberes acumulados pela emergentes da personalidade total,
humanidade, bem como das formas singular e evolutiva que caracteriza
de agir e se situar no mundo, essas o ser humano, nas suas múltiplas e
novas aquisições alavancam o seu complexas manifestações biopsicos-
desenvolvimento infantil abrindo sociais, afetivo-emocionais e psico-
caminhos para a aquisição de novas socio-cognitivas.
aprendizagens que, por sua vez, Para Vygotsky (1999), o ho-
oportunizarão maior desenvolvi- mem, enquanto ser social se consti-
mento e, assim, dialeticamente, a tui como tal, mediante suas relações
criança vai adquirindo formas mais pessoais, o que lhe permite desen-
elaboradas de raciocínio e motrici- volver suas habilidades por meio de
dade. Segundo Costallat (1976, p. suas interrelações com a sociedade.
01) - a psicomotricidade, como ciên- Dessa forma, a importância das inte-
cia da educação, enfoca esta unidade rações sociais no processo de desen-
educando o movimento, ao mesmo volvimento da criança se destaca, no
tempo em que, põe em jogo as fun- sentido de que no contato social com
ções intelectivas. diferentes sujeitos que a aprendiza-
Pensando nisso, analisaremos gem é possibilitada, ou seja, só se
o processo de alfabetização, bem co- aprende no contato com o outro.
mo, as questões do desenvolvimen- Esse processo possibilita à criança a
to infantil, ligadas à psicomotrici- interiorização das formas culturais,
dade e todas as suas possibilidades. dos objetos da cultura, assim seu de-
Assim, esperamos que você desen- senvolvimento acontece através da
volva seus conhecimentos e que fa- aquisição das formas criadas histori-
ça, também, uma excelente leitura, camente e dos modos da atividade.
obtendo o sucesso que almejas. Ou- Contudo, o sujeito de que fala
tras informações e aprofundamen- Vygotsky não é passivo, mas um su-
tos devem ser buscados através da jeito criativo que, transformando e

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

reconstruindo, interfere em sua rea- que, são diversos os métodos experi-


lidade, conferindo-lhes outros senti- mentados, pelos educadores, com o
dos e interpretações singulares. objetivo de alfabetizar seus alunos.
Ora, se a psicomotricidade Diante disto, relacionaremos o
preocupa-se com o desenvolvimento processo de alfabetização com a prá-
global e harmônico do indivíduo, tica psicomotricista, a qual é bas-
não pode se esquivar de analisar a li- tante discutida nas escolas nos dias
gação entre psiquismo e motrici- de hoje, objetivando oferecer, aos
dade, aqui se situa a grande contri- professores alfabetizadores, ferra-
buição oferecida pela psicologia aos mentas que permitam a utilização
seus estudos. E, em se tratando da da psicomotricidade, em todas as
psicologia histórico-cultural de Vy- suas possibilidades, com vistas à ob-
gotsky, ela investiga a influência tenção do sucesso escolar, de nossos
exercida pelos contextos histórico e alunos.
cultural na formação do indivíduo e Para tanto, inicialmente, fare-
na dinâmica das relações entre os mos uma aná0lise conceitual do que
processos de desenvolvimento e vem a ser a psicomotricidade.
aprendizagem. Dentro deste prisma,
a psicomotricidade analisa o seu fí- Conceitos, Epistemologia e
sico e social em transformação per- Fundamentos
manente e em constante interação
com o meio, modificando-o e modi- A Sociedade Brasileira de Psi-
ficando-se. Na psicomotricidade é comotricidade (SBP, 2007) define a
trabalhada [...] a vivência corporal, o prática da psicomotricidade, como
campo semiótico das palavras e a in- uma ciência que visa contribuir para
teração entre os objetos e o meio que o indivíduo possa reconhecer o
para realizar uma atividade‖ (LAPI- seu corpo em suas relações, utilizan-
ERRE, 1984 apud BUENO, 1998). do-o como recurso prático em suas
Outrossim, o processo de alfa- atividades. Já a Associação Brasi-
betização é um dos períodos mais leira de Psicomotricidade (2011), en-
importantes da vida acadêmica da fatiza que, a psicomotricidade:
criança. Ferreiro e Teberosky (1991,
p. 15) referem-se a este momento “(...) é a ciência que tem como
como sendo também condição de objeto de estudo o homem atra-
vés do seu corpo em movimento
sucesso ou fracasso escolar. No en- e em relação ao seu mundo in-
tanto, sabemos que aprender a ler e terno e externo. Está relacio-
a escrever não é tão simples, posto nada ao processo de maturação,
onde o corpo é a origem das

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

aquisições cognitivas, afetivas e psicológicas e as anomalias motri-


orgânicas. É sustentada por três
zes, o que o levou a formular o ter-
conhecimentos básicos: o movi-
mento, o intelecto e o afeto. Psi- mo. (OLIVEIRA, 1997).
comotricidade, portanto, é um Contudo, ao longo da história
termo empregado para uma
concepção de movimento orga-
da psicomotricidade, diversos auto-
nizado e integrado, em função res a conceituaram e conceituam,
das experiências vividas pelo inúmeras vezes. Assim, de acordo
sujeito cuja ação é resultante de
sua individualidade, sua lingua-
com Fonseca (1997):
gem e sua socialização (ABP,
2011).” “(...) a nossa ideia da Psicomo-
tricidade é justificar o movi-
Embora se admitam, inúme- mento como realização intenci-
onal, como atividade da totali-
ras conceituações acerca do que seja dade somatopsíquica, ou seja,
psicomotricidade, considerando como a expressão de uma per-
que, enquanto área de estudo, ela é sonalidade. (p.12).”

um construto teórico que passou por


Para Bueno (1998, p. 24) a psi-
modificações e multideterminações
comotricidade:
ao longo da história e pelos estudio-
sos do tema, a grosso modo, ela pode
“(...) é uma ciência relativamen-
ser definida como a realização de um te nova que, por ter o homem
pensamento através de um ato mo- como objeto de estudo, engloba
várias outras áreas: educacio-
tor coeso, preciso e harmonioso.
nais, pedagógicas e de saúde.
Segundo Fonseca (2002, p.15), Envolve-se com o desenvolvi-
a psicomotricidade como objeto de mento global e harmônico do
indivíduo desde o nascimento.
estudo subtende as relações entre a
Portanto, é a ligação entre o psi-
organização neurocerebral, a orga- quismo e a motricidade.”
nização cognitiva e a organização ex-
pressiva da ação, ou seja, ela com- Outros autores como De Meur
preende a ação, sendo não dissocia- e Staes (1992), afirmam que a Psico-
das a execução e a elaboração. Con- motricidade quer destacar a relação
tudo, foi com Dupré que o termo existente entre a motricidade, a
apareceu pela primeira vez, em mente e a atividade e, facilitar a
1920, significando um entrelaça- abordagem global da criança por
mento entre o pensamento e o movi- meio de uma técnica. No que Fon-
mento. Ele verificou que existia uma seca (1995) afirma que ela é um meio
estreita relação entre as anomalias inesgotável de afinamento percep-

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

tivo- motor que põe em jogo a com- olhar globalizado, que percebe a re-
plexidade dos processos mentais, lação entre a motricidade e o psi-
fundamentais para a polivalência quismo, como entre o indivíduo glo-
preventiva e terapêutica das dificul- bal e o mundo externo. Pode ser en-
dades de aprendizagem. tendido como uma técnica, cuja or-
Outros afirmam que ela é en- ganização de atividades, possibilite à
tão, uma técnica que se dirige, pelo pessoa conhecer concretamente, seu
exercício do corpo e do movimento, ser e seu ambiente, para atuar de
considerando o ser em sua totali- maneira adaptada.
dade. (CAMARÇOS, R.L./CANSA- E, é com base nessa concepção
DO, H. R, 1999); Ainda, que ela é a que entendemos a importância da
comunicação que faz de mim como psicomotricidade no desenvolvi-
um todo, corpo e eu, corpóreo, que mento da alfabetização. Isto porque,
se torna possível, ao outro, me reco- o processo de desenvolvimento da
nhecer como sujeito e não como um psicomotricidade contribui, signifi-
objeto‖ (CARDOSO, 1998); ou que cativamente, para a aquisição de ha-
ela não é exclusivamente de um no- bilidades acadêmicas, ou seja, atra-
vo método, ou de uma escola, ou de vés dela, o aluno assimila com mais
uma corrente de pensamento, nem facilidade os conteúdos ministrados
constitui uma técnica, um processo, na escola. Isso acontece porque, o
pois tal pode levar-nos a um novo corpo, em movimento, torna-se a
afastamento da concepção unitária base para o desenvolvimento da cri-
do homem. Visa, segundo a reflexão ança, em todos os seus aspectos.
de M. Vial, fins educativos pelo em- Assim, experimentar o próprio
prego do movimento humano (FON- corpo e relacioná-lo com sua lingua-
SECA. 1997). gem simbólica é fundamental na
Diante de tantos conceitos, to- prática psicomotricista. Através des-
mamos como base o conceito de De ta relação estabelecida, na prática da
Meur e Staes (1992), ao colocarem a psicomotricidade, é possível que a
psicomotricidade como a posição criança possa desfrutar e agir sobre
global do sujeito, que pode ser en- seu desenvolvimento afetivo, motor
tendido como a função de ser hu- e cognitivo.
mano, que sintetiza psiquismo e mo- Nessa perspectiva, Vygotsky
tricidade, com o propósito de permi- (1996), afirma que, o desenvolvi-
tir, ao indivíduo, adaptar de maneira mento começa com a mobilização
flexível e harmoniosa ao meio que o das funções mais primitivas (ina-
cerca. Pode ser entendido como um tas), com o seu uso natural. A seguir,

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

passa por uma fase de treinamento, seus escritos enfatizou também que,
em que, sob a influência de condi- nessa relação com o outro, o apren-
ções externas, muda sua estrutura e dizado é mediado pelo uso de instru-
começa a converter-se de um pro- mentos, sejam eles materiais ou
cesso natural em um processo cultu- simbólicos. Os instrumentos materi-
ral‖ complexo, quando se constitui ais são as ferramentas que o homem
uma nova forma de comportamento utiliza para o domínio da natureza e,
com a ajuda de uma série de dispo- os instrumentos simbólicos são os
sitivos externos. O desenvolvimento signos, ou seja, elementos que repre-
chega, afinal, a um estágio em que sentam ou expressam outros obje-
esses dispositivos auxiliares exter- tos, eventos, situações‖. (OLIVEIRA,
nos são abandonados e tornados 1998, p. 30).
inúteis e o organismo sai desse pro- Entrando no campo referente
cesso evolutivo transformado, pos- ao desenvolvimento e à aprendiza-
suidor de novas formas e técnicas de gem, é bom lembrar que Vygotsky
comportamento. (VYGOTSKY e LU- admitia a existência de uma unidade
RIA, 1996, p. 215). dialética entre estes dois polos (PA-
Como teórico interacionista, LANGANA, 1994, p. 116), de tal ma-
Vygotsky acredita na importância da neira que um processo convertia-se
interação social, destacando o papel no outro, desenvolvendo e impulsio-
da cultura no processo de humaniza- nando-o. Esse processo se dá por
ção (aquisição de cultura). Segundo meio da interiorização das formas
ele, só nos humanizamos e nos tor- culturais, dos objetos da cultura,
namos humanos, no contato com o através das interações do homem
outro. Partindo dessa premissa, com o mundo. Portanto, a importân-
atrelou o desenvolvimento humano cia das interações sociais no pro-
ao meio social e às condições de vida cesso de aprendizagem do indivíduo
nos planos, material e cultural. se destaca no sentido de que é no
O desenvolvimento, nessa contato social com diferentes sujei-
perspectiva, tem o seu processo de tos que a aprendizagem se efetiva.
constituição arraigado na atividade, Estudando a relação entre de-
como mencionado acima, mas prin- senvolvimento e aprendizagem, Vy-
cipalmente nas relações sociais que gotsky (1998, p. 111) descobriu que
favorecem diferentes trocas que ge- existe uma relação entre determi-
ram aprendizagens que, por sua vez, nado nível de desenvolvimento e a
promovem desenvolvimento num capacidade potencial de aprendiza-
processo dialético ascendente. Em

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

gem‖. Tal descoberta o levou a defi- Nessa mesma linha, diversos


nir dois níveis de desenvolvimento: educadores defendem a existência
o real e o potencial. O nível de desen- da relação entre o processo de en-
volvimento real corresponde ao que sino e aprendizagem e a qualidade
já se sabe e é caracterizado pela so- da função neuromuscular do indiví-
lução de situações e problemas de duo, associando, este fato, à relevân-
forma independente, tendo em vista cia da aplicação da prática psicomo-
que ele resulta de processos de de- tricista na sala de aula, especialmen-
senvolvimento já adquiridos, que já te nas fases que antecedem o pro-
se completaram. O nível de desen- cesso de alfabetização, bem como,
volvimento potencial se refere aos durante o mesmo.
processos latentes, ainda em estado Ampliando o espaço da psico-
incipiente, e é caracterizado pela so- motricidade na escola, os alunos se
lução de problemas sob a orientação alfabetizarão com mais tranquili-
ou em colaboração com pessoas com dade. O número de crianças que en-
outras experiências. A distância contram dificuldades durante o pro-
existente entre estes dois níveis de cesso de aquisição das habilidades
desenvolvimento constitui a zona de de leitura e escrita é muito grande e,
desenvolvimento proximal (ZDP), em sendo, o uso da psicomotricida-
neste sentido, a aprendizagem esco- de, associada à prática docente, con-
lar deve ocorrer por meio de inter- tribuiria sobre-maneira para que
venções feitas na ZDP. tais dificuldades fossem ameniza-
A esse respeito, Vygotsky co- das.
menta que um aspecto essencial do O desenvolvimento cognitivo é
aprendizado é o fato de ele criar a entendido como um processo que,
zona de desenvolvimento proximal; permanentemente, se transforma,
ou seja, o aprendizado desperta vá- como resultado de continuas rees-
rios processos internos de desenvol- truturações, decorrentes das diver-
vimento, que são capazes de operar, sas interações que o indivíduo esta-
somente, quando a criança interage belece, enquanto se desenvolve.
com pessoas, em seu ambiente e Existem momentos essenciais, nos
quando em cooperação com seus quais a estimulação permite que al-
companheiros. Uma vez internaliza- gumas funções apareçam e se desen-
dos, esses processos tornam-se par- volvam.
te das aquisições do desenvolvimen- Assim, mesmo no caso do cé-
to independente da criança. (VY- rebro funcionar perfeitamente, se a
GOTSKY, 1999, p. 101). pessoa não escuta até os dez anos de

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

idade, por exemplo, é muito impro- Nesse sentido, de acordo com


vável que possa aprender a falar. O Ajuriaguerra (1984), a criança deve-
funcionamento do cérebro e da rá possuir algumas habilidades para
mente depende e se beneficia da ex- que possa aprender a ler e a escre-
periência. ver. A princípio, podemos citar o do-
Em sendo, o ser humano não mínio do gesto e do objeto, do es-
deve ser visto de forma segmentada, quema corporal, da lateralidade, da
mas integralmente, articuladamen- espacialidade, da temporalidade e
te, onde um segmento está direta- discriminação auditiva e visual.
mente integrado e vivo, de acordo A estimulação destas habilida-
com o outro e, dependendo do outro. des deve começar bem cedo, antes
Sendo assim, a Psicomotricidade é a mesmo que a criança seja capaz de
relação entre o pensamento e a ação, segurar o lápis, na mãozinha, caso
envolvendo a emoção. Esta defini- contrário, algumas crianças podem
ção vai de encontro com o pensa- vir a apresentar dificuldades relacio-
mento de estudiosos da Psicomotri- nadas à percepção, ao controle cor-
cidade, tais como: Piaget, Wallon, poral e à coordenação. Isto poderá
Gesell, Pierre Vayer, entre outros. ser percebido em atividades motoras
Diante destas questões pode- em que o aluno não coordena bem os
mos dizer os comportamentos mo- seus movimentos, tem dificuldades
tor, emocional e intelectual influem na caligrafia ou sente dores no braço
no desenvolvimento global da crian- ao escrever.
ça. Se a criança põe a mão na chama De Meur (1984, p 8), afirma
de uma vela, por exemplo, ela sente que nesses casos, as crianças não
dor e assim, modificará seu compor- possuem força muscular, tampouco,
tamento diante do fogo, pois, enten- flexibilidade articular necessária aos
derá, a partir dessa vivência, que o diferentes movimentos da escrita.
fogo faz doer. Diante desse exemplo, A falta de direção gráfica pode
muito provavelmente, esta criança ser decorrente de uma lateralidade
tomará mais cuidado, nas próximas mal definida. A criança pode ter di-
vezes em que se deparar com o fogo. ficuldade com relação às noções de
Portanto, esse é um exemplo no qual direita e esquerda, pois seu lado do-
os comportamentos motor, intelec- minante pode ainda, estar indefi-
tual e emocional influem no com- nido.
portamento e no desenvolvimento Quando as crianças confun-
de uma criança. dem: n-u / ou - on / p – b / 9 – 6 po-

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

demos considerar que existem pro- contribuindo para a definição das


blemas relacionados com a estrutu- zonas do córtex cerebral, estando
ração espacial. Estas crianças prova- presente nas ações humanas, desde
velmente apresentarão também difi- o surgimento da fala, considerando
culdades na discriminação visual e que neste momento, seu corpo tam-
inabilidade de orientar-se no es- bém falará.
paço. A visão acerca do corpo hu-
Quanto à orientação temporal, mano, tem se multiplicado até os
a criança poderá se confundir ao or- dias de hoje, devido ao permanente
denar as letras de uma palavra, não desenvolvimento deste, que é o eixo
percebendo os intervalos ou não do campo psicomotor e, às relações
identificando qual letra vem primei- que estabelece com o simbólico no
ro e qual vem em seguida. mundo.
Em suma, são grandes as con- De acordo com Alves (2007, p.
tribuições das atividades psicomoto- 04), a palavra CORPO deriva de três
ras no processo de desenvolvimento vertentes:
físico e intelectual. No domínio do
gesto e do instrumento são indis- “Sânscrito garbhas - embrião;
Grego karpós - fruto, semente,
pensáveis para que a criança possa
envoltura;
manipular corretamente objetos Latim corpus - tecido de mem-
como: tesoura, lápis, borracha, ré- bros, envoltura da alma, em-
brião do espírito.”
gua, entre outros; sentar-se correta-
mente, com postura, confortavel-
Já a palavra PSICOMOTRICI-
mente contribuem para que o aluno
DADE foi mencionada pela 1ª vez,
desenvolva de maneira correta seus
em 1870, no intuito de explicar al-
movimentos gráficos.
guns fenômenos patológicos na me-
A psicomotricidade é, por-
dicina. A história da Psicomotrici-
tanto uma aliada na busca de alguns
dade é solidária à história do corpo
pré-requisitos para o processo de al-
(LEVIN, 2007, p. 22).
fabetização, permitindo que a cri-
Wallon apresentou suas pes-
ança experimente e descubra o mun-
quisas baseadas no desenvolvimen-
do e a si mesma, vislumbrando o ali-
to neurológico da criança recém-
cerce sobre o qual seu conhecimento
nascida e nas relações entre os está-
será edificado.
gios do desenvolvimento mental e
Historicamente, a psicomotri-
motor do ser humano, em 1925. A
cidade surgiu na área da medicina
partir daí, começou a considerar o
(neurologia) no fim do século XIX,

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

movimento humano como um ins- uma motricidade de relação‖ e as


trumento na construção do psiquis- maneiras de intervenção passou a
mo (LEVIN, 2007, p. 25). ser reeducativa (instrumental) e te-
Posteriormente, Wallon criou rapêutica (o ser humano em sua to-
o termo Diálogo Tônico, onde era es- talidade).
tabelecida uma relação entre o tono É necessário dizer que embora
postural e o tono emocional. Através muitos ainda vejam desta forma, a
desta relação, Wallon passou a en- Psicomotricidade não é a junção da
tender que o orgânico e o social es- psicologia com a motricidade, mas
tavam ligados pela emoção. Enten- possui um valor nela própria, em
deremos melhor estas questões se suas funções e contribuições para o
considerarmos que, para Wallon, desenvolvimento humano.
existe uma relação entre motricida- No Brasil o principal interesse
de e caráter, ou seja, a prática do cor- com a chegada das práticas psico-
po em movimento está, intimamen- motricistas estava voltado para ma-
te ligada, ao aspecto afetivo, ao so- neira como era realizado o diagnós-
cial, ao emocional e a cultura do in- tico psicomotor. Profissionais de di-
divíduo. Devido a estas contribui- versas áreas já debatiam sobre qual
ções Henri Wallon é considerado seria a área profissional a desenvol-
por muitos, o maior responsável ver a ação psicomotora.
pelo reconhecimento do movimento Voltando aos acontecimentos
na reeducação psicomotora. da década de 1970, duas tendências
O neuropsiquiatra Julien de marcaram o desenvolvimento da
Ajuriaguerra (1947), também mar- Psicomotricidade:
cou profundamente a história da  Generalização – Caráter de
Psicomotricidade. Ele repensou o ação psicomotora em todas as
conceito de debilidade motora e abordagens corporais na edu-
apresentou os distúrbios psicomoto- cação e reeducação;
res, com sua etiologia e sintomatolo-  Metodologização – Métodos
utilizados nas avaliações.
gia, mencionando formas inovado-
ras para avaliá-los e tratá-los. A par- Em 1980 é fundada a Socie-
tir daí, a Psicomotricidade começou dade Brasileira de Terapia Psicomo-
a diferenciar-se e adquiriu autono- tora (SBTP), dando início a uma era
mia e função na área da saúde e da científica marcada, em 1982, pelo 1º
educação. Congresso Brasileiro de Psicomotri-
Nos anos de 1970, a psicomo- cidade.
tricidade foi definida ainda como

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Já em 1989 é autorizado, no tamente neste processo de aprendi-


Diário Oficial de 29 de maio de 1989, zagem motora do qual falamos ante-
o 1° curso de graduação em Psico- riormente. Tais interferências, por
motricidade, no IBMR (Instituto sua vez, resultam da ação dos mús-
Brasileiro de Medicina e Reabilita- culos, tendões e articulações indis-
ção) com sede no Rio de Janeiro, pensáveis às atividades motoras. Os
pelo Decreto Lei n° 97.782 efetivado sentidos visuais, auditivos e táteis,
através da Portaria n° 536 de 10 de também interferem diretamente.
maio de 1995. O objetivo da ação motora é
Atualmente, a Psicomo-trici- atingido com o esforço que permite
dade representa uma ciência das estabilizá-la e mantê-la. A ação pas-
mais respeitadas por diversas áreas sa a ser automática com a estabiliza-
e segmentos, incorporada a vários ção da atividade motora, ou seja, a
cursos superiores, e com inúmeros assimilação da ação faz com que ela
cursos de Pós-graduação, na pers- seja automática. Por exemplo: as
pectiva de construção de um profis- ações manuais se iniciam a partir da
sional, voltado para o estudo e apre- preensão reflexa que vai se ajustan-
sentação, à sociedade, de caminhos do de acordo com os diferentes obje-
que levam à construção de um ser tivos que a criança vai manipulando.
humano pleno. Desta maneira consegue progressi-
vamente regular a preensão por
O Processamento Psicomotor meio da repetição e reforço, através
das atividades exploratórias propor-
O processamento psicomotor
cionadas pelas brincadeiras e outras
é a prática de vários movimentos or-
atividades relacionadas com esse
ganizados, resultante de processos
objetivo. Deste modo a criança pode
de aprendizagem prévios que bus-
compor múltiplos estereótipos ma-
cam alcançar determinado objetivo.
nuais (recortar, dobrar, modelar)
O indivíduo, no decorrer de sua vide,
que vão incorporando novas habili-
aprende estes movimentos, que por
dades motoras.
sua vez são voluntários e complexos,
É importante entendermos
como por exemplo: andar, alimen-
que a aquisição de habilidades mo-
tar-se, vestir- se, saudar o outro, es-
toras depende da atividade do sis-
covar os dentes, ler e até mesmo es-
tema nervoso. Quando um bebê se
crever:
desloca a algum ponto do espaço
Processos centrais (corticais)
buscando alcançar um objetivo, ele
de análise e síntese interferem dire-
está praticando uma ação baseada

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

nem conceitos gnosopráticos e que, Neste sentido, propomos a


portanto, chamamos de psicomotri- você, aluno e futuro professor, que
cidade. Desta forma, fica mais fácil realize avaliações psicomotoras,
entender que a psicomotricidade grupais e individuais, com as crian-
permite a relação entre as interações ças, buscando nas atividades realiza-
cognitivas emocionais, simbólicas e das, demonstrar e apreender os ne-
sensório-motoras na capacidade de xos existentes entre a teoria e a ação.
ser e expressar-se em um contexto No primeiro momento das
psicossocial. A psicomotricidade as- avaliações, ou seja, na apresentação,
sim definida desempenha um papel é importante que todos falem seus
fundamental no desenvolvimento nomes e, em seguida, estimule-os a
harmônico da personalidade. refletirem sobre suas frequências à
A partir das primeiras percep- escola. Dialogando, avalie a noção
ções visoespaciais e áudio temporais de temporalidade dos alunos. Em al-
e dos primeiros reflexos primitivos gumas situações, onde as crianças
nos quais se assentam as futuras são muito jovens, a noção de tempo-
aprendizagens, é estruturada a psi- ralidade pode estar, ainda, se esta-
comotricidade. Esta é a mais ele- belecendo.
mentar expressão do grau de desen- Segundo Coste (1992, p.53), o
volvimento e do nível de atividade tempo é, simultaneamente, duração,
da esfera afeto-cognitiva que possi- ordem e sucessão. O autor acres-
bilita toda a realização da conduta centa, ainda que, a integração desses
(RISUENO, A. MOTTA, 2005). três níveis é necessária à estrutura-
ção temporal do indivíduo. Nesta te-
A importância da Avaliação mática, crianças muito jovens, até
Psicomotora cinco anos, são incapazes de asso-
ciar os estímulos e avaliar a duração
A avaliação psicomotora auxi- do tempo, utilizando formas rudi-
lia educadores e profissionais da mentares de referências.
educação a proporem ações basea- Bruno Castets (1974, apud
das e fundamentadas no movimento COSTE, 1992, p.54) assinala que o
consciente e espontâneo do corpo, desenvolvimento da linguagem na
com a finalidade de normalizar, criança é um fator essencial na es-
completar ou aperfeiçoar a conduta truturação temporal, pois o emprego
global da criança de hoje e, conse- de pronomes como eu, tu, ele e, so-
quentemente, do homem de ama- bretudo o uso de verbos auxiliares
nhã.

16
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

ser e ter e dos tempos verbais, torna meio, no trabalho de percepção tem-
possível que a criança manifeste a poral.
aquisição de temporalidade. Assim, ao final das atividades
Após essa primeira parte, ob- da avaliação, apresente às crianças a
serve se as crianças demonstram, atividade de reprodução de estrutu-
claramente, a noção de dia e noite, ras rítmicas e peça que eles acompa-
bem como, a organização das fases nhem o ritmo.
do dia e os dias da semana. A reprodução de estruturas
Veja se a noção de dia e noite é rítmicas é importante por auxiliar
organizada pela luminosidade. Se no desenvolvimento da alfabetiza-
não há claridade então é noite e está ção das crianças, pois acompanhan-
na hora de dormir. Havendo organi- do os ritmos elas demonstram que
zação da manhã, da tarde e da noite, são capazes de acompanhar a forma-
muitas vezes isto se dá graças à no- ção das palavras e, consequente-
meação que alguém faz para a cri- mente, as reproduzem no papel, ar-
ança, mas principia a noção de tem- ticulando-as com ordem em ora-
poralidade. ções. Como afirma Schinca (1991,
Se as crianças avaliadas estão p.82), foneticamente, a sílaba, a pa-
em idade escolar, entre os cinco e os lavra, as pausas, a frase ou série de
nove anos, elas já devem ser capazes palavras criam na linguagem normal
de reconhecer um dia da semana, di- um mundo do ponto de vista rít-
ferenciar a manhã e a tarde e indicar mico-sonoro.
o dia da semana. Para aquelas que já Avaliando a noção corporal
estão entre os sete e os nove anos a que as crianças possuem, peça a elas
identificação deve ser do mês, do que pintem uma figura do corpo hu-
ano e do dia do mês (COSTE, 1992). mano. De carteira em carteira avalie
Quanto à noção de ordem, a noção de corpo que elas possuem.
analise se as crianças conseguem Nesta atividade também é pos-
perceber o primeiro e o último das sível verificar a coordenação motora
atividades, ordenando-os, numeri- fina e a pega do lápis.
camente. Alguns apresentarão dificul-
Ainda no que tange à estrutu- dades na coordenação motora fina e
ração temporal, o acompanhamento uma pega muito forte no lápis, que
de estruturas rítmicas, utilizadas dificulta a escrita e o traçado.
nas avaliações, objetivam um equilí- O esquema corporal é a expe-
brio na adaptação do indivíduo ao riência, imediatamente, percebida

17
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

de uma parte do corpo. Entende-se o aprendizagem a exploração de cada


percebidal como um processo psí- músculo e suas funções, bem como
quico, individual e referente ao do manejo na sua contração e des-
modo como cada um experiencia seu contração. Neste sentido, a autora
corpo. De acordo com Frug (2001), expõe sobre:
pode-se definir esquema corporal
como uma tomada de consciência “(...) isolar o trabalho de um só
músculo e, uma vez indepeden-
formal do indivíduo no seu mundo
tizado do resto do corpo, efe-
das sensações, ou ainda uma ma- tuar primeiramente o estudo de
neira de expressar que meu corpo suas atividades básicas: contra-
ção e afrouxamento. Para isso é
está no mundo. (FRUG, 2001, p.36). necessário interiorizar as sen-
Segundo Coste (1992), a evolução do sações corporais e, racional-
reconhecimento do próprio corpo mente, ir tomando consciência
delas. (SCHINCA, 1992, p.24).
marca uma conscientização e distin-
ção entre o eu e a realidade do meio
A autora sugere exercícios
circundante.
para o aquecimento de crianças em
A música, Cabeça, Ombro, joe-
atividades motoras, exercícios que
lho e pé também deve ser utilizada
facilitem não apenas a avaliação de
em algumas avaliações para que se
dificuldades e debilidades, mas que
avalie não apenas a noção corporal,
auxiliam a criança no processo de
mas também como se apresenta a
conhecimento do próprio corpo, tão
harmonia muscular do corpo.
importante como já descrito e obser-
Algumas crianças apresentam
vado anteriormente. Juntamente
muitas dificuldades, não conseguin-
com a estruturação do esquema cor-
do nomear as partes do corpo e tão
poral, a função tônica constitui um
pouco acompanhar o ritmo coreo-
conceito básico da psicomotrici-
grafado. Com o objetivo de analisar
dade. As suas primeiras formulações
a tonicidade muscular das crianças,
assinaram a certidão de nascimento
realize aquecimentos simples, de ex-
da psicomotricidade, sendo Dupré,
tensão e flexão corporal. Nestas ati-
em particular, um dos precursores.
vidades, muitos alunos não apresen-
(COSTE, 1992).
tarão qualquer dificuldade, porém,
Nesse aspecto, peça aos alunos
outros demonstrarão dificuldades
que arremessem bolas. Ao fazê-lo, as
significativas na realização dos exer-
crianças devem apresentar uma co-
cícios.
ordenação motora óculo-manual,
Segundo Schinca (1992) é uma
muitas vezes, imprecisa.
das primeiras etapas do processo de

18
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Passando por baixo e por cima Essas atividades devem ser re-
de uma corda, algumas crianças de- alizadas em todas as avaliações, as-
monstram muita dificuldade de se sim como o chute ao gol, que avalia
perceberem no espaço, ainda sendo a precisão do gesto motor do pé e o
percebido que a estruturação espa- acompanhamento da ação com os
cial é deficiente, pois as crianças se olhos.
esbarram com frequência, muitas Nesta atividade, algumas cri-
não se separam umas das outras (no anças apresentam movimentos pre-
sentido de ficarem unidas e não pró- cisos e harmoniosos, com boa equili-
ximas) e não conseguem se organi- bração no olhar e chutar. Outras cri-
zar em filas com espaço suficiente anças não obtêm tanto êxito na exe-
para o outro. cução do exercício, porém, em geral,
A destreza manual, avaliada o domínio do pé direito garante
no arremesso de bolas, deve se mos- equilíbrio e certa precisão ao movi-
trar positiva, em grande parte das mento.
crianças e, a coordenação motora, A criança inicia seu desenvol-
óculo-manual, deve se mostrar pre- vimento com movimentos sem pre-
cisa, com algumas crianças com difi- cisão e involuntários que vão se tor-
culdades mais relevantes, porém, nando intencionais à medida que o
sem maiores problemas. Logo, exer- indivíduo toma consciência e con-
cícios realizados com bolas e que trole do próprio corpo e, segundo
exercitam a criança, em ações como Frug (2001), isto ocorre a partir dos
lançar em determinada direção e seis/sete anos, fase em que se com-
trajetória, bem como, em receber pleta a maturação neuroperceptivo-
com precisão visomanual, põem em motora. Destaca-se que atividades
jogo a capacidade de adaptação do que ajudem na estruturação do es-
esforço muscular a um dado obje- quema corporal, na descoberta do
tivo. Grosso modo, a criança, antes próprio corpo e do espaço em que
do lançamento da bola, deve repre- este está inserido, promovem o de-
sentar mentalmente seu movimento senvolvimento das crianças e a exe-
e, muito claramente, saber que ener- cução de movimentos mais firmes,
gia deve empregar para chegar a tal equilibrados, precisos e com maior
objetivo. Se falha uma vez, por apli- refinamento.
car mais ou menos energia que o ne- Não distante destas questões,
cessário, deve corrigir-se e adaptar nas avaliações realizadas, as crian-
seu esforço com maior precisão ças costumam apresentar dificulda-
(SCHINCA, 1992).

19
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

des em identificar direita e es- Podemos aferir, então, que, es-


querda, em sua maioria. Porém, no tes dois últimos alunos, são crianças
arremesso de bolas, identifica-se cuja idade já aponta para uma late-
que as crianças têm a lateralidade ralidade definida, para o uso prefe-
ainda em desenvolvimento, com rente do lado esquerdo. São crianças
prevalência de uso do lado direito. tidas como canhotas ou sinistras, o
Observa-se que, consensualmente, que exige abordagens diversificadas
aos cinco anos, a tendência é que a para se trabalhar conceitos como di-
lateralidade o uso preferente, ou o reita/esquerda, àqueles referentes à
predomínio motor de uma das duas temporalidade e outros. Neste sen-
partes do corpo, em quatro níveis: tido, é importante verificar quais são
mão, pé, olho e ouvido, já esteja es- as reais dificuldades quando se está
tabelecida. Este estabelecimento, em sala de aula, pois crianças como
por sua vez, indica que há uma pre- as citadas, são abordadas como cri-
valência pessoal por usar um dos la- anças com déficits por não se ade-
dos, permitindo à criança, assimilar quarem ao padrão de normalidade
os conceitos de direita/esquerda‖ em esperado. Deve-se trabalhar com
si, nos objetos em relação a si, no ou- elas de maneira a respeitar sua late-
tro que está a sua frente e por fim, ralidade e seu desenvolvimento não
nos objetos entre si. deficiente, mas diferente.
Tomemos como exemplo uma Outro elemento da psicomo-
criança de cinco anos, que tem como tricidade que deve ser bem avaliado
uso preferente o lado direito, mas nos encontros com as crianças é a
que ainda não reconhece direita/es- noção de espaço, verificada através
querda no outro e, muitas vezes, em da brincadeira de passar por baixo e
si. Outras duas crianças de seis anos, por cima de uma corda. Destarte,
apresentam uso preferente pelo lado percebe-se que as crianças se perce-
esquerdo. Uma destas alega que o bem no espaço, tem noção de seu
lado direito é o preferente, porém corpo e do espaço que lhes é neces-
constata-se que, no exercício de chu- sário.
tar a bola, por exemplo, o esquerdo Em outros casos, existem difi-
é o mais forte e preciso. Já a outra culdades em reconhecer esquerda e
criança, avaliada como canhota, ao direita e, consequentemente, em
apresentar o exercício de maior for- perceber seu corpo em relação ao es-
ça no lado direito, usa, preferencial- paço e a si. De acordo com Schinca
mente o lado esquerdo. (1992), a vivência e o conhecimento

20
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

do espaço são fundamentais para motor, mas pelas transformações tô-


adquirir a orientação do próprio nicas, sensoriais e emocionais que
corpo no espaço, sendo igualmente existem em suas ações pelo processo
importante, além do conhecimento de transformação interior da cri-
racional das dimensões e direções ança‖ (PINTO, 2000, p.89).
espaciais, a sensibilização para o va- Ao professor, psicólogo, pais,
lor subjetivo, individual e absoluta- psicomotricista, enfim, cabe ao
mente pessoal deste espaço onde o adulto nas suas interações com a cri-
corpo se manifesta, pois entrar em ança atuar como mediador, que pre-
contato tátil com o espaço prepara o para o ambiente e disponibiliza os
indivíduo para percebê-lo como um meios necessários para facilitar as
meio de expressão, mais que um trocas entre as crianças e meio am-
meio puramente físico. biente e social, facilitando o proces-
Em sendo, reiteramos a im- so da atividade infantil e a sua inte-
portância de se fazer uma avaliação riorização. Para tanto, é essencial
psicomotora, posto que, a mesma é que o adulto demonstre empatia, so-
uma forte aliada de educadores e lidariedade, respeito às preferências
funcionários das escolas, pois per- e necessidades individuais de cada
mite que sejam repensadas ou cria- criança, incentivando-as a entrarem
das atividades que auxiliem os alu- em contato com os objetos e pessoas
nos a se desenvolverem adequada- do mundo que a rodeia sem receio,
mente. Sendo a escola um local pri- experimentarem as sensações do
vilegiado de promoção de desenvol- contato, do toque, do manipular,
vimento, cabe a ela e aos seus profis- olhar, pegar, chutar, etc. Dessa for-
sionais a tarefa de auxiliar aquelas ma, estabelece-se na criança um
crianças que porventura estejam sentimento de segurança, incentivo
apresentando dificuldades psicomo- e afetividade no desvelamento e des-
toras. A esse respeito, a psicologia bravamento da sua realidade.
histórico-cultural nos faz perceber a As atividades lúdicas, princi-
importância da influência do meio palmente os jogos, desempenham
social no desenvolvimento infantil uma função vital no desenvolvimen-
que depende da mediação do outro e to físico-motor e intelectual das cri-
da estimulação da interação social, anças em idade escolar. Para Vygo-
destacando a função do adulto no tsky, as brincadeiras e os jogos con-
acompanhamento da criança inte- tribuem no e para o desenvolvi-
ressando-se não somente pelo ato mento da criança, dentre suas atri-

21
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

buições se encontram as de permitir O processo de internalização


que as crianças organizem seus pró- permite à criança não apenas assi-
prios comportamentos e faça a sepa- milar o que está sendo realizado, em
ração qualitativa entre ações e obje- termos de atividade ou conhecimen-
tos. to, como também produzir suas pró-
Os jogos geram zonas de de- prias objetivas de acordo com as
senvolvimento proximal, possibili- condições de vida histórico-cultu-
tando à criança desempenhar fun- rais que partilhe. A internalização é
ções, tarefas e raciocínios que ela um processo ativo no qual a criança
não conseguiria realizar sozinha, não apenas assimila a realidade,
ressaltando que estamos nos refe- mas interfere nela, transformando-a
rindo aqui de jogos que oportunizem e atribuindo-lhe outros sentidos e
a interação entre duas ou mais pes- interpretações pessoais.
soas. Assim, no jogo, o comporta- Assim, nos acompanhamentos
mento da criança se situa além da- realizados, as atividades devem se
quele que é esperado para a sua ida- iniciar de forma mediada (alunos de
de, quer dizer, além de seu compor- psicologia - crianças) e, após inter-
tamento diário; no brinquedo é nalizada por elas, devem se tornar
como se ela fosse maior do que é na atividades independentes, singula-
realidade. Como no foco de uma len- res da criança. Isso justifica a obten-
te de aumento, o brinquedo contém ção dos resultados favoráveis com as
todas as tendências do desenvolvi- intervenções empreendidas na es-
mento sob forma condensada, sen- cola. Tal acontecimento somente ad-
do, ele mesmo uma grande fonte de quirirá esta configuração, se parti-
desenvolvimento (VYGOTSKY, rem do princípio do atendimento de
1999, p. 134-135). Pois, as brincadei- alguns elementos que se firmaram
ras e jogos, além de proverem as ne- como eixos articuladores das inter-
cessidades físicas e motoras, partici- venções como: o estabelecimento de
pam da estruturação mental das cri- uma interação adequada com as cri-
anças por via do processo de inter- anças, um planejamento bem estru-
nalização, pelo qual a operação rea- turado das atividades e exercícios
lizada externamente é internalizada realizados e a presença constante do
mediante símbolos e signos e passa respeito e afeto para com todos,
a constituir o mundo interno da cri- principalmente com as crianças.
ança alavancando o seu desenvolvi-
mento.

22
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Assim, buscamos orientar os cabendo à escola verificar a origem


educadores e responsáveis pelas ins- social destes indivíduos e dar apoio
tituições onde as avaliações se farão, para a inserção, que culmina na
sobre a relevância do trabalho e da aprendizagem e não para a segrega-
reeducação psicomotora. Uma vez ção, que apenas reforça a delinquên-
que, os jogos e as atividades lúdicas cia e os comportamentos que se
que exigem das crianças esforço afastam dos ideais educacionais. É o
muscular e intelectual, como os es- pedagógico cumprindo seu papel e
portes em geral e os jogos com enfo- exercendo seu compromisso magno
que cognitivo, propiciam que a toni- que é com o desenvolvimento e a
cidade muscular e a estruturação es- aprendizagem.
pacial possam ser estimuladas de
maneira adequada, ao mesmo tem-
po estimulam e desenvolvem as fun-
ções mentais em função das zonas
de desenvolvimento proximal que
são criadas.
Vale ressaltar que não é nome-
ando patologias ou definindo debili-
dades que se resolvem problemas de
aprendizagem ou mesmo emocio-
nais e, que ainda fatores sociais,
econômicos e afetivos sempre influ-
enciam no desenvolvimento e o de-
sempenho psicomotor das crianças.
Outros alunos que começam a rece-
ber rótulos de alunos problemas ou
hiperativos, podem estar trazendo
suas angústias, problemas emocio-
nais e familiares para a sala de aula
e estas angústias também precisam
ser trabalhadas pela escola e não são
resolvidas com nomeação de dificul-
dades.
Pois, as crianças que não estão
incluídas no ambiente escolar têm
seu sentimento de pertença violado,

23
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

2. As Dimensões da Psicomotricidade e o Desenvol-


vimento da Aprendizagem

Fonte: Medium2

C omo vimos no capítulo ante-


rior, Sousa (2004), afirma que,
para Wallon o conhecimento, a
neurológico e o psiquiátrico, a partir
de técnicas reeducativas. Ajuria-
guerra atualiza o conceito de psico-
consciência e o desenvolvimento ge- motricidade, associando-o ao movi-
ral da personalidade, não podem ser mento.
isolados das emoções. Esse é o mo- Todavia, Sousa (2004) afirma
mento do paralelismo, de que nos que, a prática de Piaget, também
fala LEVIN (1995, p. 25). contribuiu para o enriquecimento
Contudo, em 1947, Ajuriaguer- teórico da psicomotricidade, já que o
ra, então líder da escola de psicomo- mesmo estudou, com profundidade,
tricidade, delimita os transtornos as inter-relações entre a motricidade
psicomotores, que oscilam entre o

2 Retirado em https://medium.com/

25
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

e a percepção, por meio de uma am- trói a realidade, que sente e se rela-
pla experimentação. Ainda, confor- ciona. Além disso, três dimensões
me Sousa (2004), Piaget entende serão centradas pela psicomotrici-
que a motricidade interfere na inte- dade: a instrumental, cognitiva e a
ligência, antes da aquisição da lin- tônico-emocional. Nesse sentido, o
guagem, pois, considera que o resul- novo enfoque dado à relação, à afeti-
tado de uma certa experimentação vidade e ao movimento, possibilita
motora, integrada e interiorizada uma reformulação na prática da psi-
como processo de adaptação, é es- comotricidade.
sencialmente movimento. 3. O terceiro, chamado de clínica
No entanto, segundo Levin psicomotora, iniciou segundo Sousa
(1995), a partir de três grandes ver- (2004), a partir das contribuições da
tentes chamadas de cortes episte- psicanálise por meio de interesses
mológicos, há uma tentativa de teóricos e metodológicos dos psico-
aproximação desse corpo como sen- motricistas. Há uma mudança no
do único e global: que diz respeito ao olhar deste pro-
1. O primeiro, focado na neuro- fissional, já que a preocupação foca-
psiquiatria em que o corpo é um ins- se num sujeito desejante, com seu
trumento, uma máquina de movi- corpo em movimento. Levin (1995)
mento; estava basicamente ligado à destaca que por meio do simbolismo
reeducação psicomotora em que, a o corpo não apenas se movimenta,
reabilitação centrava-se por meio de mas se relaciona, tem seus papéis
exercícios motores repetitivos. Nes- definidos na sociedade, tudo isso in-
te período, foi marcante a presença e fluencia na tomada de um ser dese-
a fundamentação dos ideais teóricos jante.
de Wallon e Dupré;
2. O segundo ligado ao campo da No entanto, a partir de Ne-
psicologia genética, nos quais os grine (1995) e, de seus estudos acer-
sentimentos passam a ter importân- ca de Pierre Vayer e Le Bouch surge
cia na formação do indivíduo, surgia a educação psicomotora, que utili-
então, a terapia psicomotora que va- zava a educação física como meio
loriza a emoção, a formação de um para se trabalhar a psicomotricidade
ser pensante global e total. Para Le- no contexto educacional, com o in-
vin (1995), já não se trata de uma re- tuito de promover, na criança ina-
educação, mas de uma terapia em daptada, uma educação motriz (co-
um corpo em movimento que cons- ordenação, equilíbrio etc) e psico-

26
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

motriz (memória e consciência). Le desenvolvimento humano têm sido


Bouch (1983) propõe uma educação traçadas na psicologia. Elas buscam
baseada na psicocinética, ou seja, no responder como cada um chegou a
desenvolvimento de qualidades dos ser aquilo que é, mostrando quais os
indivíduos, proporcionando uma re- caminhos abertos para mudanças
lação melhor com seu meio. nessas maneiras de ser, desvelando
Atualmente, a educação psico- quais as possibilidades de cada indi-
motora vem sendo enfatizada em víduo para aprender.
instituições escolares e pré-escola- Para Oliveira (2002, p. 125), os
res, clubes, espaços de recreação fatores hereditários e o papel da ma-
etc., através de variadas estratégias e turação orgânica, têm sido superes-
trabalhos que, multiplicam-se, pro- timados por correntes afins do bio-
movendo uma revisão da noção de logismo ou do inatismo, que enfati-
infância e da práxis educativa. Se- zam a espontaneidade das transfor-
gundo Le Boulch (1983), a Educação mações, nas capacidades psicológi-
Psicomotora pode ser entendida co- cas do indivíduo, sustentando que
mo uma metodologia de ensino, que dependeriam, muito pouco, da in-
instrumentaliza o movimento hu- fluência de fatores externos a ele.
mano, enquanto meio pedagógico, Nesse sentido, o desenvolvi-
para favorecer o desenvolvimento mento seria, então, como o desenro-
da criança. lar de um novelo em que estariam,
Todo este processo de forma- previamente inscritas, as caracterís-
ção, de uma área do saber, proporci- ticas de cada pessoa. Bastaria ali-
onou uma identidade marcante na mentar um processo de maturação
psicomotricidade com as questões e, as aptidões individuais, em estado
voltadas a um conhecimento que de prontidão, guiariam o comporta-
tem uma aplicabilidade funcional e mento do sujeito. Essa corrente de
dirigida. Todas as vertentes citadas, pensamento, ainda hoje é particu-
anteriormente, utilizam-se de ferra- larmente forte na educação infantil,
mentas para atuar sobre o corpo de subsidiando concepções de que, a
forma mecânica, embora alguns au- educação da infância, envolveria
tores fundamentem suas teorias, em apenas regar as pequenas sementes
relação à importância e a necessi- para que estas desabrochem suas
dade de compreender o ser humano, aptidões.
como totalidade. Outras correntes explicativas,
Não obstante e historicamen- ao contrário, têm asseverado que o
te, diferentes concepções acerca do ambiente é o principal elemento de

27
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

determinação do desenvolvimento desenvolvimento condicionada,


humano. Segundo elas, o homem tanto pelo equipamento biocompor-
tem plasticidade para adaptar-se, a tamental da espécie, quanto pela
diferentes situações de existências, operação de mecanismos gerais de
aprendendo novos comportamen- interação com o meio.
tos, desde que lhe sejam dadas con- Por essa perspectiva, não há
dições favoráveis. Na educação in- uma essência humana, mas uma
fantil, tal concepção promoveu a cri- construção do homem em sua per-
ação de muitos programas de inter- manente atividade de adaptação a
venção sobre o cotidiano e a apren- um ambiente. Ao mesmo tempo em
dizagem da criança, em idades cada que a criança modifica seu meio, é
vez mais precoces. Todavia, essa vi- modificada por ele. Em outras pala-
são minimiza a iniciativa do próprio vras, ao constituir seu meio, atribu-
sujeito e, também o fato de, as rea- indo-lhe a cada momento determi-
ções dos diversos sujeitos, submeti- nado significado, a criança é por ele
dos às pressões de um mesmo meio constituída; adota formas culturais
social, não serem semelhantes. de ação que transformam sua ma-
Para responder ao impasse neira de expressar-se, pensar, agir e
criado pelas posições precedentes, sentir, isto é, seu desempenho, atra-
surgiu na psicologia, uma corrente vés do corpo, com suas representa-
que advoga a existência de uma rela- ções.
ção, de recíproca constituição, entre
indivíduo e meio, a conhecida ver- As Dimensões da Psicomotrici-
tente interacionista. Segundo Oli- dade
veira (2002, p. 126), o desenvolvi-
mento humano não decorre da ação A psicomotricidade possui três
isolada de fatores genéticos, que dimensões que são exercidas de
buscam condições para o seu ama- forma integrada. A seguir analisare-
durecimento, nem de fatores ambi- mos cada uma delas:
entais que agem sobre o organismo, Dimensão Motora: Esta dimen-
controlando seu comportamento. são envolve as funções da evolução
Decorre, antes, das trocas recíprocas da tonicidade muscular, o desenvol-
que se estabelecem durante toda a vimento do controle da eficiência
vida entre o indivíduo e o meio, cada motora (velocidade e precisão), o
aspecto influindo sobre o outro. desenvolvimento das possibilidades
Como todo organismo vivo, o hu- de equilíbrio e o desenvolvimento e
mano inscreve-se em uma linha de afirmação da lateralidade.

28
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Ao obter estas habilidades mo- antes que aqueles que estão localiza-
toras, o indivíduo pode executar dos nas extremidades.
ações como correr, escalar, pular, Por exemplo: a diferenciação
etc. As coordenações dinâmicas ma- dos movimentos globais do braço
nuais, indispensáveis para a leitura e ocorre antes da diferenciação dos
escrita como a coordenação óculo- movimentos do cotovelo e esta, an-
manual ou Visio-digital, também tes da do pulso, que por sua vez,
são adquiridas a partir da aquisição ocorre antes da dos dedos. A preci-
destas habilidades. são, velocidade e coordenação dos
O desenvolvimento da tonici- movimentos dos dedos e mãos são
dade muscular está ligado à evolu- indispensáveis para a aprendizagem
ção do sistema nervoso, basicamen- da escrita.
te, ao desenvolvimento das funções A coordenação é a concordân-
piramidais e a mielinização das fi- cia, que ocorre entre as ações mus-
bras nervosas. Existe no bebê, re- culares em descanso e em movi-
cém-nascido, uma hipotonia no eixo mento, nas respostas aos estímulos.
corporal e uma hipertonia nas suas A coordenação se refere a um con-
extremidades. Contudo, à medida junto de ações musculares, seja em
em que o bebê vai se desenvolvendo, repouso ou em movimento, que es-
vai havendo um equilíbrio, graças à tão sujeitas a determinados estímu-
progressiva tonicidade do tronco. los. Envolve o desenvolvimento da
A dissociação dos movimentos flexibilidade, no que se refere ao
é a destreza que nos permite reali- controle motor. A coordenação re-
zar, movimentos independentes, en- quer a tomada de consciência do seu
tre os distintos segmentos corporais. corpo e do mesmo, no espaço.
A eficiência motora se refere O equilíbrio é uma parte ne-
ao desenvolvimento da velocidade e cessária da coordenação dinâmica.
precisão da motricidade fina, ou Significa a capacidade, que temos,
seja, o desenvolvimento dos grandes de controlar nosso corpo no espaço
conjuntos musculares finos preci- e, em sendo, podermos recuperar
sos. A diferenciação céfalo-caudal nossa postura, normal e correta, de-
significa que, a motricidade da ca- pois de ter realizado um movimento.
beça e do tronco se diferencia antes Para manter um equilíbrio dinâmico
das extremidades inferiores. A dife- é necessário manter uma atitude
renciação próximo-distal significa postural, apropriada, durante os
que os conjuntos musculares, mais movimentos. O equilíbrio estático
próximos do tronco, diferenciam-se exige uma coordenação neuromoto-

29
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

ra adequada para manter uma deter- Nos dois primeiros anos: a cri-
minada postura. ança vai dominando, progressiva-
Dimensão Cognitiva: A dimen- mente, primeiro a cabeça, em se-
são cognitiva trata do desenvolvi- guida o tronco e, depois, as extremi-
mento das funções cognitivas, as dades inferiores.
quais permitem, ao indivíduo, reali- Dos dois aos três anos: há uma
zar movimentos corporais, ou seja, predominância dos elementos mo-
dominar as relações espaciais, tem- tores e sinestésicos, sobre os visuais
porais e simbólicas. e espaciais.
Espacialidade: O conceito de Dos cinco aos sete anos: a cri-
espaço não é inato, mas é elaborado ança já é capaz de ir tomando cons-
por meio da ação e da interpretação ciência do seu próprio corpo e de re-
de dados e dos estímulos sensoriais. presentá-lo.
A compreensão do espaço tem Dos oito aos nove anos: a criança
origem no conhecimento do próprio transpõe, com segurança, sua ima-
corpo. O esquema corporal significa gem aos demais e, já pode transferir,
a tomada de consciência global do progressivamente, esta orientação
corpo. É muito difícil estabelecer aos objetos, o que permite uma es-
uma boa relação entre o EU e o mun- truturação do seu espaço de ação,
do exterior, se não somos capazes de bem como, a disponibilidade global
reconhecer e representar mental- do seu corpo, como conjunto organi-
mente, de forma adequada, o pró- zado, chegando assim, a um controle
prio corpo. A criança vai desenvol- acabado da sua mobilidade segmen-
vendo o esquema corporal e, torna- tar.
se consciente do seu corpo para, as- Desta maneira, o indivíduo se-
sim, poder dirigi-lo. No princípio, o gue na construção do espaço ao seu
bebê não distingue a si mesmo do redor, na medida em que vai se de-
mundo exterior e, somente vai co- senvolvendo. Sua única referência é
nhecendo este, por meio de ações e o próprio corpo, ou seja, nas ativida-
movimentos corporais. des corporais do indivíduo, sua rela-
O desenvolvimento do esque- ção com o espaço vai sendo estabe-
ma corporal vai sendo estruturado lecida. Aos dois anos, o conhecimen-
de acordo com a maturação neuroló- to do seu esquema corporal é frag-
gica, que ocorre em diferentes perí- mentado e, por volta dos 3 ou 4 anos,
odos: ainda não tem noção de unidade. É,

30
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

somente, por volta dos sete anos de aprendizagem da escrita. Durante o


idade, que a criança começa a toma- processo de aprendizagem, a criança
da de consciência, dos pontos de re- poderá confundir letras com grafias
ferência externos, passando a expe- parecidas e, que são diferenciadas
rimentar a relação do seu corpo com pela orientação espacial que cada
o espaço. Está tomada de consciên- uma possui, como por exemplos:
cia, de que falamos, trata do reco- P-q B-d
nhecimento das noções topológicas,
contidas nos sentidos de: distância; Na matemática também po-
altura; direita e esquerda; frente e dem ocorrer confusões na leitura e
atrás. Em seguida, a criança aprende na escrita dos números, como:
sobre as relações entre os objetos e 6-9 3-5
ela mesma.
Assim, podemos afirmar que, Estruturação Espacial: Contri-
o desenvolvimento corporal é pro- bui para que o indivíduo tenha capa-
gressivo e acontece de cima para cidade de formar um todo, a partir
baixo, ou seja, da cabeça para os pés. de determinados elementos. Em re-
Quando este desenvolvimento acon- lação à estruturação espacial, pode-
tece de maneira adequada possibi- mos citar três categorias fundamen-
lita que o indivíduo conheça seu cor- tais que a compõe, as quais foram
po e o utilize bem. Sem que ocorra o mencionadas por Piaget. São elas:
desenvolvimento adequado do es-  Relações Topológicas: ação de
separar, ordenar, sequenciar,
quema corporal o indivíduo não po-
entre outras. Estas relações
derá realizar nenhum movimento são básicas e acontecem entre
que dependa de coordenação ou os objetos;
equilíbrio.  Relações Projetivas: estão ba-
A noção espacial ou espaciali- seadas nas relações topológi-
dade é constituída por três aspectos: cas e respondem às necessida-
Orientação Espacial: Permite des, em função de um determi-
nado ponto de vista, para si-
que o indivíduo tenha consciência,
tuar um objeto em relação aos
permanente, da localização do seu demais.
corpo, em relação aos objetos, no es-  Relações Métricas: estão base-
paço e da maneira adequada de po- adas na capacidade que o indi-
sicioná-lo no espaço, de acordo com víduo possui para coordenar
sua localização. objetos, entre si, de acordo
O comprometimento na orien- com uma referência, como por
tação espacial pode comprometer a exemplo, o sistema de medi-
das.

31
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Organização Espacial: A organi- assim como a do espaço, passa por


zação espacial permite que o indiví- várias fases. No começo, para a cri-
duo organize os elementos no espa- ança que vive centrada em si mesma,
ço ou no tempo, como por exemplo, a noção de tempo é bastante subje-
a habilidade para estabelecer rela- tiva. A ordem é a primeira coisa que
ções independentes, tais como: a a criança aprende (primeiro me le-
proximidade; a anterioridade; a pos- vanto, depois vou à escola, depois al-
terioridade, etc. Quando a criança moço.), ou seja, a sucessão ordenada
apresenta dificuldade na organiza- de elementos isolados.
ção espacial, possivelmente, poderá Desta forma, podemos dizer
sofrer algum prejuízo em sua capa- que a criança começa a medir o tem-
cidade para ordenar as letras, na for- po, através de suas atividades roti-
mação de palavras. neiras. Posteriormente, ela passa a
Por exemplo: se apresentar- compreender ciclos mais longos
mos as letras A, S, C e A para a crian- como, férias, aniversário, natal, etc.
ça e pedirmos que, a partir delas, Com cerca de três anos, a criança
forme a palavra CASA, esperamos inicia o uso ainda inadequado de ter-
que ela realize a atividade desta for- mos e conceitos como amanhã, hoje,
ma: ontem, antes, depois, etc. Somente a
partir dos quatro anos, tais termos
A–S–C-A CASA são empregados, adequadamente,
na fala da criança. Em torno dos sete
No entanto, se a criança não ti- anos, a criança já domina o signifi-
ver organização espacial, ela poderá cado dos dias da semana e dos me-
encontrar dificuldade para respeitar ses, estando apta para aprender a in-
a ordem das letras e, em consequên- terpretar o relógio.
cia disto, apresentar-nos: A noção de espaço e tempo
tem grande importância no processo
de ensino e aprendizagem. A com-
“SACA” “A SCA”
preensão da relação existente entre
estes dois elementos (espaço e tem-
A Noção do Tempo ou Tempo- po) é decisiva no processo de apren-
ralidade dizagem, especialmente, na repro-
dução de fonemas, letras, números,
O tempo é percebido como a palavras, etc.
situação ordenada de ações e trans- As habilidades de lateralidade
formações. A construção do tempo, e da direcionalidade apresentam

32
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

uma íntima relação com a estrutura- expressivas ou criativas do indiví-


ção espaço-temporal. A lateralidade duo, estão relacionadas com sua afe-
está ligada à dominância lateral do tividade. Isto nos permite concluir,
indivíduo (destro, canhoto, ambi- ainda que as diversas formas de in-
destro), ou seja, com que lado do tervenção psicomotoras contribuem
corpo o sujeito realiza funções ou para que o indivíduo conheça, de
atividades motoras, com maior fre- maneira concreta, seu EU e o meio
quência e desenvoltura. Já as habili- em que vive, podendo assim, agir de
dades referentes à direcionalidade forma adaptada.
estão relacionadas com a tomada de
consciência, por parte do indivíduo, “É a inteligência que se encar-
rega de coordenar a motrici-
no que diz respeito à lateralidade do
dade, de forma a acomodá-la ao
seu corpo. real, para conhecê-lo e transfor-
Quando a criança já identifica má-lo. É este mesmo princípio
que deve ser transferido para as
o lado direito e esquerdo do seu cor- aprendizagens escolares ou ex-
po, ela já está preparada para usar traescolares. Para aprender a
estes conceitos, externamente. Ao ler, a escrever, a cantar e a pen-
sar, a criança deve experimen-
experimentar a consciência lateral tar e realizar ações e interações
do seu corpo, a criança está pronta múltiplas com os sistemas pro-
para compreender, também, as rela- prioceptivos, vestibulares, tác-
til-cinestésicos, visuais e auditi-
ções espaciais. vos. (PIAGET apud FONSECA,
Assim, como no espaço não 2008, p. 98).”
existem direções objetivas, podemos
concluir que as noções de direita e
esquerda, frente e atrás, acima e
abaixo, são determinadas de acordo
com as atividades motoras do corpo.

Dimensão Emocional

A dimensão cognitiva envolve


os estímulos emocionais, os quais
interferem no movimento do corpo,
podendo estimulá-los ou inibi-los.
Ao pensarmos a motricidade, como
parte integrante do psiquismo, con-
cluímos que as habilidades motoras

33
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

3. O Uso da Psicomotricidade no Processo da


Aprendizagem

Fonte: Medium3

O s menores gestos e atividades


humanas carregam, em si, a
Psicomotricidade. Em vista disso,
em sendo, quando uma criança
apresenta dificuldades de aprendi-
zagem, o problema pode estar nos
podemos admitir que, a mesma, é níveis das bases do desenvolvimento
um fator essencial ao desenvolvi- psicomotor.
mento global e uniforme da criança, Nessa perspectiva, podemos
posto que, a estrutura da Educação aferir que, se durante o processo de
Psicomotora é a base fundamental aprendizagem, os elementos básicos
para o processo intelectivo e de da psicomotricidade (esquema cor-
aprendizagem da criança. poral, lateralidade, estruturação es-
Isto por que, o desenvolvimen- pacial, orientação temporal, pré-es-
to evolui do geral para o específico e,

3 Retirado em https://medium.com/

35
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

crita), forem utilizados ou aprendi-  Dominância manual já estabe-


dos, inadequadamente, acarretará lecida;
dificuldades na aprendizagem, pos-  Conhecimento numérico, para
to que, os mesmos são fundamentais saber quantas sílabas formam
uma palavra;
para que esse processo ocorra com
 Movimentação dos olhos, da
sucesso. Assim, um problema, em
esquerda para a direita, que
um destes elementos, prejudicará a são os adequados para escrita;
realização de uma boa aprendiza-  Discriminação de sons (per-
gem. cepção auditiva);
O ato antecipa a palavra e, a  Adequação da escrita às di-
fala é uma importante ferramenta mensões do papel, bem como à
psicológica organizadora. Através da proporção das letras etc.;
fala, a criança integra os fatos cultu-  Pronúncia adequada das le-
tras, sílabas e palavras;
rais ao desenvolvimento pessoal.
 Noção de linearidade e da dis-
Quando, então, ocorrem falhas no
posição sucessiva das letras e
desenvolvimento motor, poderá palavras;
também ocorrer falhas na aquisição  Capacidade de decompor pala-
da linguagem verbal e escrita. Isto vras em sílabas e letras;
porque, faltando, à criança, um re-  Possibilidade de reunir letras e
pertório de vivências concretas, que sílabas para formar palavras
serviriam ao seu universo simbólico, etc.
constituído na linguagem, afetará o
Contudo, diante da sociedade
seu processo de aprendizagem. A
do conhecimento e da informação,
criança, cujo desenvolvimento psi-
que exige cada vez mais rapidez na
comotor é constituído de forma defi-
atividade intelectual, prescindindo-
citária, poderá apresentar proble-
a da atividade motora, vemos que, as
mas na escrita, na leitura, na direção
consequências se apresentarão no
gráfica, na distinção de letras (ex:
tempo. E na educação?
b/d), na ordenação de sílabas, no
A escola ainda mantém o cará-
pensamento abstrato (matemática),
ter mecanicista instalado na Educa-
na análise gramatical e em muitas
ção Infantil, ignorando a psicomo-
outras questões ligadas à aprendiza-
tricidade, também nas séries iniciais
gem. Nesse sentido, relacionaremos
do Ensino Fundamental. Os profes-
as habilidades exigidas para a efetiva
sores, preocupados com a leitura e a
aprendizagem da leitura e da escrita.
escrita, muitas vezes não sabem co-
São elas:

36
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

mo resolver as dificuldades apresen- andar, correr, pular, aprender a fa-


tadas por alguns alunos, rotulando- lar, se expressar, utilizando de jogos
os como portadores de distúrbios de e brincadeiras. Estas aquisições são,
aprendizagem. Na realidade, muitas sem dúvida, o resultado de uma ma-
dessas dificuldades poderiam ser re- turação orgânica progressiva, mas,
solvidas na própria escola e, até evi- sobretudo, o fruto da experiência
tadas precocemente, se houvesse um pessoal, sendo, parcialmente, um
olhar atento e qualificado, dos agen- produto da educação, haja vista que,
tes educacionais, para o desenvolvi- elas são obtidas e complementadas,
mento psicomotor. progressivamente, ao tocar, ao apal-
Entendemos hoje que o uso da par, ao andar, ao cair, ao comparar,
psicomotricidade tornou-se funda- sendo resultado das experiências vi-
mental, haja vista que, a sua utiliza- venciadas.
ção, ajudaria a sanar estas dificulda- Esta ligação estreita entre ma-
des. Isto porque, através dela, pode- turação e experiência neuromotora,
mos oportunizar, aos alunos, condi- segundo Wallon (1995), passa por
ções de desenvolver capacidades bá- diferentes estados:
sicas, aumentando seu potencial  Estado de impulsividade mo-
motor, utilizando o movimento para tora - onde os atos são simples
atingir aquisições mais elaboradas, descargas de reflexos;
como as intelectuais etc.  Estados emotivos - as primei-
ras emoções aparecem no tô-
Neuropsiquiatras, psicólogos,
nus muscular.
fonoaudiólogos e educadores, têm
 As situações são conhecidas
insistido sobre a importância do de- pela agitação que produzem,
senvolvimento psicomotor, durante evidenciando uma interação
os três primeiros anos de vida, en- da criança com o meio;
tendendo que, é nesse período, o  Estado sensitivo-motor - coor-
momento mais importante de aqui- denação mútua de percepções
sições físicas, significativas, para o diversas (adquire a marcha, a
preensão e o desenvolvimento
desenvolvimento global da criança.
simbólico e da linguagem);
Aquisições que marcam conquistas  Estado projetivo - mobilidade
igualmente importantes no universo intencional dirigida para o ob-
emocional e intelectual. jeto.
Aos três anos, as aquisições da  Associa à necessidade do uso
criança são consideráveis, possuin- de gestos para exteriorizar o
do, então, todas as coordenações ato mental (inteligência práti-
neuromotoras essenciais, tais como: ca e simbólica).

37
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Do ato motor à representação do exterior, imprimindo suas rela-


mental, graduam-se todos os níveis ções com o meio, com predominân-
de relação entre o organismo e o cia do aspecto cognitivo.
meio (WALLON, 1995). O desenvol- Trata-se do período escolar,
vimento para o autor é uma cons- onde a psicomotricidade deve ser
tante e progressiva construção, com desenvolvida em atividades enrique-
predominância afetiva e cognitiva. cedoras e, onde a criança de apren-
Na segunda infância, surgem dizagem lenta, terá que ter, ao seu
em funcionamento territórios ner- lado, adultos que interpretem o sig-
vosos, ainda adormecidos e proces- nificado de seus movimentos e ex-
sos da mielinização. As aquisições pressões, auxiliando a na satisfação
motoras, neuromotoras e percepti- de suas necessidades.
vo-motoras efetuam-se num ritmo Na educação infantil, a priori-
rápido: tomada de consciência do dade deve ser ajudar a criança a ter
próprio corpo, afirmação da domi- uma percepção adequada de si mes-
nância lateral, orientação em rela- ma, compreendendo suas possibili-
ção a si mesmo e adaptação ao mun- dades e limitações reais e, ao mesmo
do exterior. tempo, auxiliando-a no processo de
Este período de 3 a 4 e de 7 a 8 a se expressar, corporalmente, com
anos é, ao mesmo tempo, o período maior liberdade, conquistando e
de aprendizagens essenciais e de in- aperfeiçoando novas competências
tegração progressiva, no plano so- motoras.
cial. Nesse sentido, o movimento e
Segundo Wallon (1995), nes- sua aprendizagem abre um espaço
ses períodos, outras fases estarão para desenvolver:
presentes, a saber:  As habilidades motoras além
Estado de personalismo – for- das dimensões cinéticas, que
mação da personalidade que se pro- levem a criança a aprender a
cessa através das interações sociais, conhecer seu próprio corpo e a
se movimentar expressiva-
reorientando o interesse da criança
mente;
com as pessoas, predominância das  Um saber corporal que deve
relações afetivas; incluir as dimensões do movi-
Estado categorial - observa-se mento, desde funções que in-
progressos intelectuais, o interesse diquem estados afetivos, até
da criança para as coisas, para o co- representações de movimen-
nhecimento e as conquistas do mun- tos, mais elaborados, de senti-
dos e ideias;

38
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

 Um caminho para trocas afeti- propiciando experiências que favo-


vas; recerão a motricidade fina, auxilia-
 A comunicação e a expressão ria os alunos, de ritmo normal e os
das ideias; de aprendizagem lenta, a vencer me-
 A exploração do mundo físico lhor os desafios da leitura e da es-
e o conhecimento do espaço;
crita.
 A apropriação da imagem cor-
poral; Além disso, pode ser desta-
 As percepções rítmicas, esti- cado o fato de que, as brincadeiras e
mulando reações novas, atra- os jogos, são importantes no mundo
vés de jogos corporais e dan- da fantasia da criança, o que torna
ças; possível transcender o mundo ime-
 As habilidades motoras finas diatamente disponível e diretamen-
no desenho, na pintura, na te perceptível. O mundo perceptível
modelagem, na
das pessoas é sempre um mundo
 Escultura, no recorte e na co-
significativo, isto é, um mundo in-
lagem, e nas atividades de es-
crita. terpretado por alguém e, portanto,
 Os materiais que colaboram singular e subjetivo, tal como a es-
para as experiências motoras, crita.
das crianças, podem incluir: As crianças estão sempre em
 Túneis para as crianças per- movimento, se deslocando entre
correrem; ações incertas e aleatórias, em fun-
 Caixas de madeira; ção de sua curiosidade com o mun-
 Móbiles;
do, para a construção de interesses
 Materiais que rolem e onde as
próprios mais claros. A escola pode
crianças possam entrar;
 Instrumentos musicais ou ge- aproveitar esse movimento ou en-
radores de som (bandinhas de tão, pode inibi-lo, de tal modo, que
diversos objetos etc.); desencoraje a criança em sua pes-
 Cordas; quisa com o meio.
 Bancos, sacos de diversos ta- A atitude da escola, frente à es-
manhos, pneus, tijolos; pontaneidade do movimento de ca-
 Espelhos, bastões, varinhas; da criança, poderá influenciar o ru-
 Papéis de todos os formatos; mo do processo de aprendizagem da
 Giz, lápis, canetas hidrográfi- criança. A escola que trabalha, com
cas (de diversos tamanhos);
especial atenção, para o desenvolvi-
 Elásticos e outros.
mento psicomotor da criança, tende
Enfim, estimular atividades a contribuir para o seu efetivo
corporais, para além da sala de aula, aprendizado.

39
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

A educação psicomotora, nas Portanto, para a psicomotrici-


escolas, visa desenvolver uma pos- dade interessa o indivíduo como um
tura correta, frente à aprendizagem todo, procurando auxiliar na inves-
de caráter preventivo e do desenvol- tigação e descoberta, acerca dos pro-
vimento integral do indivíduo, nas blemas ligados à aprendizagem. Vê-
várias etapas de crescimento. se então, se o problema está no
A educação psicomotora, as- corpo, na área da inteligência ou na
sim, ajuda a criança a adquirir o es- afetividade, para então, definir quais
tágio de perfeição motora, até o final atividades devem ser desenvolvidas,
da infância (7 a 11 anos), nos seus as- visando a superação do problema.
pectos neurológicos de maturação, Nesse sentido, é comum, nas
nos planos rítmico e espacial, no escolas, crianças com distúrbios psi-
plano da palavra e no plano corpo- comotores. Embora aparentemente
ral. normais, muitas vezes são incapazes
Os princípios do ritmo - tônus de ler ou escrever, apresentando vá-
- dinâmica corporal obedecem às rios problemas que interferem no
leis: processo escolar. Pode até ser ge-
 Céfalo-caudal; rado por uma disfunção cerebral mí-
 Próximo-distal. nima, por um problema físico ou até
mesmo emocional.
O equilíbrio dos opostos será a O ideal seria que todos os edu-
psicomotricidade. PSICO: intelec- cadores tivessem, como alicerce pa-
tual (cognitivo), emocional (querer), ra as suas atividades, a psicomotrici-
mental (intenção), movimento, dade, pois, fariam com que as crian-
gesto + MOTRICIDADE. ças tivessem liberdade de realizar
Fatores psicomotores e as ati- experiência com o corpo, fato indis-
vidades a serem trabalhadas na Edu- pensável no desenvolvimento das
cação Psicomotora. (LURIA e COS- funções mentais e sociais.
TALLAT): Desenvolvendo, assim, pouco
1. Atividade Tônica: Tonicidade; a pouco, a confiança em si mesma e
Equilíbrio. o melhor conhecimento de suas pos-
2. Atividade Psicofuncional: La- sibilidades e limites, as crianças te-
teralidade; Noção do corpo; Estrutu- riam as condições necessárias para
ração espaço corporal. uma boa relação com o mundo.
3. Atividade de Relação: Memó-
ria corporal.

40
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Para tanto, na escola, é impor- o desenvolvimento infantil, contri-


tante que se leve em consideração buindo na capacidade de expressão
todos os aspectos: e de desenvolvimento das habilida-
Socioafetivo: visando favorecer des motoras das crianças.
sua autoimagem positiva, valori- A autenticidade e a cumplici-
zando suas possibilidades de ação e dade das relações, no campo educa-
crescimento à medida que desen- cional, favorecem o desenvolvimen-
volve seu processo de socialização e to das habilidades psicomotoras, de
interage com o grupo independente forma motivante e significativa, faci-
de classe social, sexo ou etnia; litando assim, a aprendizagem e o
Cognitivo: Acreditar que, através desenvolvimento global das crian-
das descobertas e resoluções de situ- ças.
ações, ele constrói as noções e con- Para que haja intercâmbio en-
ceitos. Enfrentando desafios e tro- tre o professor, o aluno e a aprendi-
cando experiências com os colegas e zagem, o trabalho da psicomotrici-
adultos, ele desenvolve seu pensa- dade é da mais valiosa função, tanto
mento; no maternal como na pré-escola,
Psicomotor: Através da expansão bem como, no período de alfabetiza-
de seus movimentos e exploração do ção, por haver um estreito parale-
corpo e do meio a sua volta. Reali- lismo entre o desenvolvimento das
zando atividades que envolvam es- funções psíquicas, que são as princi-
quema e imagem corporal, laterali- pais responsáveis pelo bom compor-
dade, relações têmporo-espaciais. tamento social e acadêmico do ho-
Nesse aspecto, o professor não mem.
deverá esquecer que, o material de É inegável que o exercício fí-
seu trabalho é o seu aluno. Portanto, sico é necessário para o desenvolvi-
não deverá preocupar-se apenas em mento mental, corporal e emocional
preparar o ambiente escolar com do ser humano e, em especial, da cri-
cartazes, painéis, faixas. Mas em ança. O exercício físico estimula a
preparar a si mesmo. É necessário respiração, a circulação, o aparelho
que ele conheça seu aluno, tornan- digestivo, além de fortalecer os os-
do-se seu amigo. sos, músculos e aumentar a capaci-
Isto porque, é a partir de uma dade física geral, dando ao corpo,
relação de confiança, estabelecida um pleno desenvolvimento.
entre professor e aluno, que se po- Quanto à parte mental, se a
derá propor dinâmicas que auxiliem criança possuir um bom controle

41
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

motor, poderá explorar o mundo ex-


terior, fazer experiências concretas,
que ampliam o seu repertório de ati-
vidades e solução de problemas, ad-
quirindo, assim, várias noções bási-
cas para o próprio desenvolvimento
intelectual, o que permitirá a to-
mada de conhecimento do mundo
que a rodeia, permitindo-lhe ter o
domínio da relação corpo-meio.
Assim, devemos ter consciên-
cia da importância da educação pelo
movimento, posto que, a mesma,
permite à criança resolver, mais fa-
cilmente, os problemas atuais de sua
escolaridade, preparando-a para a
sua existência no mundo adulto.

42
43
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

4. Psicomotricidade e Linguagem na Alfabetização

Fonte: Medium4

Psicomotricidade x Lin- enda e se relacione com a significa-


guagem ção social.

A través do movimento, a criança Psicomotricidade no Processo


consegue provocar mudança de Aprendizagem da Leitura e
da Escrita
no meio exterior, que por sua vez,
muda o próprio indivíduo. Isto ocor- Anteriormente, verificamos
re, por meio da representação, como que a aquisição adequada das habi-
forma criadora das relações. As lidades para a prática da leitura e da
representações de que falamos são escrita dependem intimamente do
individuais, ou seja, são experiên- bom desenvolvimento fisiológico,
cias vividas, por cada um, contri- emocional, neurológico, intelectual
buindo para que o sujeito compre- e social do indivíduo.

4 Retirado em https://medium.com/

44
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Segundo POPPOVIC (1996): da de decisão. Neste momento bus-


caremos entender melhor como os
“A fala, a leitura e a escrita não canais sensoriais e a estimulação
podem ser consideradas como
sensório-perceptivo-motora contri-
funções autônomas e isoladas,
mas sim como manifestações buem para o sucesso da aprendiza-
de um mesmo sistema, que é o gem escolar. Promover atividades
sistema funcional da lingua-
gem. A fala, a leitura e a escrita
que permitam que a criança vivencie
resultam de um harmônico de- situações de contato com o mundo
senvolvimento e da integração das sensações faz com que ela per-
das várias funções que servem
de base ao sistema funcional da
ceba ativamente o meio em que vive
linguagem desde o início de sua transformando experiência em
organização (POPPOVIC, 1996, aprendizagem e aprendizagem em
p. 64).”
inteligência.
A seguir veremos alguns dos
A prática da escrita é realizada
canais exteroceptivos mais impor-
pela criança, mas para que ela rea-
tantes no processo de ensino apren-
lize esta atividade será necessário
dizagem:
que ela faça uso de sua mão, assim
como de sua capacidade de orienta-
A visão
ção espacial (lateralidade), de um
ritmo motor (relaxamento e contra-
 É o mais competente, rápido e
ção), de sua postura (eixo postural)
preciso canalizador de infor-
e de seu reconhecimento acerca da mações e o mais importante
atividade (função cognitiva). Daí a meio de comunicação inter-
importância do desenvolvimento e pessoal que o ser humano pos-
da prática gradual de atividades que sui.
envolvam e estimulem a coordena-  A percepção visual da criança
ção motora, o equilíbrio, o relaxa- atinge o grau mais alto de evo-
lução aos sete anos, o que é de-
mento, a variação de movimentos, o
terminante no processo de
esquema corporal, a lateralidade, a aprendizagem de conteúdos
espacialidade e também a motrici- mais complexos, como ler e es-
dade fina. crever. Caso esta evolução não
Para Luria (1990, p.37), per- aconteça de maneira adequa-
cepção envolve um processo com- da, a criança poderá enfrentar
plexo que compreende atividades de dificuldades na aquisição das
habilidades para leitura e es-
orientação, uma estrutura probabi-
crita. Para dominar tais com-
lística, uma análise e síntese dos as- petências escolares, a criança
pectos compreendidos, e uma toma-

45
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

também deverá possuir algu- Posição no Espaço:


mas capacidades psicomoto-  Refere-se à habilidade da cri-
ras, as quais precisam ser esti- ança para reconhecer e identi-
muladas e bem desenvolvidas. ficar quaisquer formas, inde-
pendente da posição no es-
Coordenação Visomotora: paço. Esta habilidade possibi-
 Está relacionada com a capa- lita que a criança realize a di-
cidade para produzir respostas ferenciação, seleção, distinção
grafomotoras através da coor- ou discriminação de igual x di-
denação visual. Ex.: desenhos, ferente, ainda que estes este-
escrita, atividades lúdicas de jam posicionados de maneira
manipulação etc. invertida, revertidas ou roda-
das.
Figura-Fundo:
 Refere-se à capacidade do in- Relações Espaciais:
divíduo em distinguir uma de-  Está relacionado com a capaci-
terminada figura grafada em dade para reconhecer e identi-
um fundo onde existem outras ficar a posição de dados espa-
figuras. Esta capacidade con- ciais em objetos, figuras, le-
tribui significativa para que a tras, pontos e números entre si
criança seja capaz de analisar e e relacionados com o indiví-
sintetizar palavras, frases e duo. A criança utilizará esta
textos, frequentes nas ativida- habilidade em atividades que
des que requerem a prática de possam requerer o reconheci-
leitura. mento de uma sequência de
letras em uma palavra ou uma
Constância de Forma: sequência de palavras em uma
frase.
 Refere-se à habilidade da cri-
 Diante da importância no pro-
ança em reconhecer e identi-
cesso de alfabetização, a per-
ficar variadas formas e figuras,
cepção visual deve ser desen-
independentemente de seu ta-
volvida antes das primeiras
manho, orientação ou posição.
exigências escolares.
Quando a criança demonstra
essa capacidade provavel-
mente já estará pronta para Audição
usá-la também identificação
de letras com traçados pareci-  É outro canal de grande im-
dos, palavras escritas com portância no processo de en-
tipos de letras ou cores sino aprendizagem. Através
diferenciadas. deste sentido, o indivíduo é ca-

46
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

paz perceber e reconhecer percebido por toda a extensão


uma infinidade de sons. Um de pele do corpo humano de
destes sons é o da voz do outro formas diferentes e permite
(fala) e diante dela, o ouvinte que o indivíduo perceba e
reage discriminando-a. Isto é identifique texturas, tempera-
fundamental para que a crian- turas, dor e outras sensações,
ça faça o seu reconhecimento que se manifestam através do
de mundo. A audição é princi- estímulo.
pal meio utilizado na aprendi-  O tato representa ainda gran-
zagem da fala. O bebê ouve a de importância na comunica-
fala do outro e elabora sua lin- ção humana, pois pode ser
guagem. Novamente consta- percebido em grande parte da
tamos que a apartir de algu- superfície do corpo, ou seja, o
mas competências perceptivas indivíduo pode através deste
ligadas a genética humana, a sentido, receber os mais varia-
criança adquire outras ha- dos estímulos, inclusive, o ca-
bilidades e capacidades que rinho.
lhe serão úteis na relação com  Ações como pegar, soltar, ma-
o meio. nipular e jogar objetos estão
intimamente ligadas a este es-
As competências da Percepção tímulo, o qual permitirá que a
Auditiva são: criança possa estudar um ob-
 Perceber diferentes direções jeto de várias maneiras, atra-
verbais; vés de vários canais sensoriais.
 Traduzir músicas e ritmos em
movimentos corporais; Percepção Tátil
 Perceber a diferença nos sons
emitidos por instrumentos di- Projetar, analisar, registrar e
versos de percussão; integrar; estas são ações que o indi-
 Perceber e internalizar sons, víduo integra ao cérebro graças aos
timbres e tonalidades; receptores tácteis, por meio do ma-
 Alterar a expressão motora re- nuseio e manipulação.
lacionando-a com o som; No momento em que atinge
 Promover integração intersen-
seu maior nível de atividade a per-
sorial auditivo-motora.
cepção tátil contribui para que o in-
O Tato: divíduo confirme informações rece-
 Trata-se de um importante e bidas através da visão, por estender
refinado canal externo de ex- a percepção das características físi-
ploração sensorial e aprendi- cas do objeto em questão.
zagem; este sentido pode ser

47
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Por ser um sentido analítico, a De acordo com Fonseca (2004, p.


percepção tátil permite que o indiví- 56), (...) com a percepção olfativa,
duo receba informações que dificil- pode-se construir mapas territoriais
mente seriam fornecidas por outro e topográficos que permitam peram-
sentido, como: texturas e tempera- bulações na escuridão e planifica-
turas. ções mentais das ações.
É através da percepção tátil
que a criança desenvolve sua capaci- Paladar
dade de representação mental.
Percepção Gustativa: permite
Olfato que o ser humano perceba por meio
da língua, o sabor de substâncias.
Está relacionado com sensa- Isto acontece porque as papilas gus-
ções agradáveis e desagradáveis e tativas, localizadas na superfície da
trata-se de um importante meio de língua, possuem suas estruturas
aprendizagem simbólica. O nariz é o compostas por células sensoriais, as
órgão receptor dos estímulos olfati- quais transmitem ao cérebro infor-
vos e permite que o indivíduo per- mações que permitem que o indiví-
ceba odores variados. duo identifique as sensações de do-
O olfato é considerado um re- ce, amargo, azedo e salgado. O olfato
ferencial na orientação espacial. É também exerce influência sobre o
importante dizer que muitas vezes paladar e ajuda o cérebro a identifi-
algumas mensagens são recebidas car o gosto das substâncias levadas à
mais rapidamente pelo indivíduo boca.
através do olfato.
Cinestésico
Percepção Olfativa
Este sentido permite que o in-
Através da percepção olfativa divíduo obtenha informações acerca
são desenvolvidos processos de da velocidade, da posição e força
atenção seletiva e comparativa, os exercida pelo seu corpo ao realizar
quais o indivíduo relaciona com si- um movimento. Para que o sentido
tuações vividas anteriormente. cinestésico possa agir, os receptores
Diante de um odor o indivíduo musculares, os tendões, os ligamen-
pode ainda aceitar, rejeitar, aproxi- tos e as articulações devem estar em
mar-se ou afastar-se de outras pes- perfeito funcionamento.
soas, objetos e até espaços físicos.

48
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Trata-se de um intencional e Segundo FONSECA apud


voluntário, ou seja, ele se manifesta DANTAS (1992):
de acordo com a vontade do indiví-
duo. Este, por sua vez precisar re- “As atividades sensório-moto-
ras passam, com a integração
presentar sua própria experiência
da experiência, a atividades
induzindo o movimento em seu pró- perceptivo-motoras, tornando
prio corpo, a fim de reconhecer um possível a interiorização das
imagens mentais que, por sua
movimento fora do corpo. vez, constituirão, como primei-
Os sentidos de equilíbrio asso- ras estruturas operacionais, o
ciados aos cinestésicos possibilitam suporte da linguagem e da re-
flexão. (FONSECA apud DAN-
que o ser humano note superfícies e TAS, 1992, p. 25).”
arestas, uma figura linear, exten-
sões, larguras, alturas e profundida- Uma integração sensorial em
des. Através da sensação corporal, a evolução gradual e integrada, ocorre
criança experimenta o verdadeiro através do desenvolvimento psico-
conhecimento do seu corpo. motor (cognitivo, emocional, motor
A percepção sensorial do mo- e social) da criança, tornando real o
vimento (interno ou externo) des- desenvolvimento global.
perta o cérebro para que este atue
sobre a parte do corpo em movi- Educação e Reeducação Psi-
mento. Quando o cérebro humano comotora
exerce essa função, busca perceber
as partes do corpo da maneira como Etimologicamente, educar sig-
se encontra ou da maneira como se nifica promover a educação, trans-
movimenta naquele momento espe- mitir conhecimentos a, instruir. Já a
cífico, comparando suas caracterís- palavra reeducar, significa tornar a
ticas atuais com as percebidas em educar, completar ou aprimorar a
atividades psicomotoras realizadas educação.
anteriormente. Em sendo e, sabendo que as
As situações posturais, espaci- capacidades físicas, intelectuais e
ais, temporais e coordenativas, in- morais do indivíduo, se desenvol-
dispensáveis para que o indivíduo vem dentro do processo de educa-
obtenha êxito na aquisição de co- ção, objetivando contribuir para a
nhecimentos, são automaticamente integração individual e social da cri-
ajustados por meio da percepção ci- ança, é importante que o educador
nestésica. tenha consciência deste fato, uma

49
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

vez que passaremos a pensar sobre a “(...) devemos acabar com a


ideia de que jogos psicomotores
diferença entre educação psicomo-
constituem perda de tempo, fa-
tora‖ e reeducação psicomotora. zendo assim, com que as crian-
Como já vimos anteriormente, ças trabalhem o tempo inteiro
sentadas em frente à folha de
a educação psicomotora envolve to- papel ofício, colorindo ponti-
das as habilidades e capacidades in- nhos, colorindo limites dese-
dividuais ou coletivas, da criança e, nhos pré-elaborados, executan-
do tarefas em livros ou folhas
que está se desenvolve de forma gra- mimeografadas, deixando al-
dual. Vimos também que, a educa- guns pais satisfeitos ao final de
ção psicomotora, é primordial no cada mês, pois recebem uma
pasta (feita pelo professor)
processo de aquisição de conheci- cheia de trabalhos que na ver-
mentos escolares. dade tolheram a criatividade de
Os pais são os primeiros edu- seus filhos.”
cadores a contribuírem para o de-
senvolvimento global da criança, Diante da colocação dos auto-
visto que, cotidianamente, compar- res, podemos concluir que as ativi-
tilham com ela, momentos de esti- dades desenvolvidas em sala de aula,
mulação, como o banho. Neste mo- precisam ser diversificadas e elabo-
mento, a criança desfrutará da radas com propriedade, buscando
aprendizagem do seu próprio corpo, oportunizar a aquisição e construção
através das sensações. A mãe ou o do conhecimento, por parte da cri-
adulto, que acompanha a criança, ança.
deve cuidar para que ela vivencie O processo de reeducação psi-
também, experiências e estímulos comotora deve ser iniciado o mais
durante a alimentação e ao brincar, cedo possível. No entanto, é impor-
propiciando a oportunidade de ela- tante que o educador saiba que não
borarem estratégias que facilitem se trata de uma simples ginástica
suas atividades. corretiva ou rítmica especializada.
Um pouco mais a frente, o pro- Este processo parte de um aspecto
fessor passa a integrar o grupo que essencial que tem como objetivo,
contribui para o desenvolvimento da apoiar a criança em suas diversas
criança. Nesse sentido, os jogos psi- ações de adaptação cotidianas.
comotores tornam-se um recurso Normalmente, é tranquilo
fundamental na educação psicomo- oportunizar momentos em que, as
tora. Segundo os educadores Bastos crianças pequenas, possam adquirir
e Sá (2001, p. 62): suas habilidades motoras e intelec-

50
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

tuais. Porém, quando estes estímu- ça com aproximadamente, cin-


co anos.
los são inadequados, causando défi-
Em casos de dificuldade motora
cit na aquisição dos esquemas psico- ou em alguns casos de instabili-
motores, esta criança deverá ser ree- dade psicomotora, a reeduca-
ção pode começar por volta dos
ducada, ou seja, os conhecimentos 4 anos.
(esquemas) devem ser esquecidos, Quando a criança chega ao 1º
para que só então, o reeducador pos- ano do Ensino Fundamental.
Nesta fase do desenvolvimento
sa apresentar-lhe os esquemas de o educador identifica mais pre-
maneira adequada. cisamente as dificuldades da
Nesse sentido, a reeducação criança na organização espacial
e temporal e ainda sua lentidão
ganha um caráter de urgência, quan- na realização das atividades
do o déficit está relacionado com propostas e dificuldade para
problemas afetivos, uma vez que, concentrar-se. Diante destes fa-
tos, a idade dos seis anos é con-
com o passar do tempo, a criança po- siderada a mais comum para o
derá apresentar algum tipo de blo- processo de reeducação. (BAS-
queio ou sinais de angústia, diante TOS e SÁ, 2001, p. 62-63).”
da reprovação e punição do outro.
Através da reeducação, a criança po- As idades citadas acima, para
derá adotar uma postura, comporta- que se inicie o processo de reeduca-
mental, mais adequada. ção, não são regras, visto que, crian-
Bastos e Sá (2001) apresentam ças com mais idade, adolescentes e
algumas indicações e sugestões refe- jovens com idade entre 16 e 17 anos
rentes ao processo de reeducação: e até mesmo adultos, apresentam a
necessidade de reeducação. Esta re-
“A reeducação pode começar alidade é resultado da negligência de
entre a idade de 18 a 24 meses muitos pais e educadores, diante das
no caso de crianças que apre- dificuldades apresentadas e acumu-
sentarem atraso psicomotor e
grande déficit motor ou blo- ladas pelo educando, ao longo dos
queio afetivo. Neste caso ocor- anos. Por não reconhecerem ou, por
rerá uma reeducação mais pa- não aceitarem que, a raiz do pro-
recida com educação devido a
pouca idade do indivíduo. No blema estava no alicerce do desen-
entanto, tratando-se de dificul- volvimento, do processo de ensino e
dades psicomotoras, é mais in- aprendizagem, educadores e pais,
dicado que o educador utilize os
métodos de reeducação. principais responsáveis pela educa-
Diante de problemas relaciona- ção da criança, se acomodaram.
dos ao esquema corporal e es-
truturação espacial, seria mais
indicada a reeducação da crian-

51
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

No processo de reeducação é  Perturbações da Sensibilidade


imprescindível considerar a quali- Sintoma: A criança não é capaz
dade do relacionamento entre o ree- realizar os gestos demonstra-
ducador e a criança. No entanto, ca- dos por outra pessoa, a não ser
que isto seja feito diante de um
be ao reeducador compreender que
espelho; apresenta dificuldade
um bom relacionamento acontece para segurar um objeto nas
com o tempo e dificilmente será pos- mãos sem deixar que caia, tor-
sível estabelecê-lo previamente. ce os tornozelos com frequên-
A seguir, veremos alguns cia e sensibilidade no contato
exemplos, do que poderíamos cha- humano.
mar de perturbações ou atrasos psi-  Perturbações no Esquema
Corporal Sintoma: não reco-
comotores, o que por sua vez, carac-
nhece as partes do seu corpo e
terizaria a necessidade da reeduca- não aponta corretamente seus
ção psicomotora. Observe os seguin- membros, seus movimentos
tes aspectos com atenção: não são bem coordenados;
 Atraso no Desenvolvimento  Perturbações da Lateralidade
Motor Sintoma: não é capaz de Sintoma: se confunde ao defi-
subir escadas ou andar para nir com que mão realizará as
trás; atividades, é desajeitada e
 Grandes Déficits Motores Sin- apresenta dificuldades para
toma: Hemiplegia (apresenta definir sua dominância lateral
dificuldades para mover as (direita e esquerda), escreve
pernas ou não consegue movê- números e letras de forma es-
las); pelhada. Para recortar usa a
 Perturbações do Equilíbrio mão direita, mas ao brincar
Sintoma: a criança sofre que- prefere a esquerda.
das frequentes, corre com o  Perturbações da Estrutura Es-
tronco posicionado para trás, pacial Sintoma: não considera
anda com os pés afastados um termos espaciais como em ci-
do outro e choca-se com outras ma, embaixo e ao lado. Orien-
crianças durante as brincadei- ta-se com dificuldade e sua
ras; memória espacial é compro-
 Perturbações da Coordenação metida;
Sintoma: a criança não apre-  Perturbações de Orientação
senta destreza nas atividades Temporal Sintoma: Não é ca-
manuais. Frequentemente po- paz de diferenciar ordens nu-
derá ser inadequada ou desa- méricas (primeiro e último),
jeitada em atividades simples não identifica curto e grande
como comer, vestir-se e recor- espaço de tempo. Para desen-
tar; volver ações motoras como

52
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

correr, apresenta dificuldade, dade do indivíduo em sustentar uma


pois sua corrida é constituída ideia e posteriormente, ordená-la
de passos longos demais ou em uma determinada sequência e
curtos demais. Por não ter no-
relação. A relação que o indivíduo
ção do tempo, em geral é de-
sorganizado. estabelece entre a palavra falada
 Perturbações Afetivas Sinto- (audição), o sentido da palavra (sig-
ma: Encontra dificuldade para nificado) e o registro gráfico da pala-
compartilhar seus sentimen- vra (signo), permite que este, interi-
tos e desejos. Não consegue es- orize o significado do objeto mais fa-
tabelecer contato corporal. cilmente, beneficiando o seu pro-
cesso de aprendizagem e prática da
Diante destas características, escrita. Desta maneira, fica mais fá-
podemos concluir que, quando a cri- cil entender porque a criança apren-
ança apresenta algum sintoma, rela- de a ler e, posteriormente, aprende a
cionado a um comprometimento escrever. Isto se deve à relação entre
psicomotor, esta deve obter atendi- a palavra impressa e o som.
mento, através das sessões de reedu- O educador deve estar atento
cação psicomotora. às mudanças no uso da mão durante
as atividades de escrita. Após esta
A Relação entre o Corpo e a Es- faixa etária, mudanças podem ser
crita
prejudiciais. Por exemplo, se uma
criança com tendência a ser canhota,
Como já vimos anteriormente,
anteriormente foi forçada a utilizar
após os seis anos de idade a criança
sua mão direita para escrever, esta
já deve ter definido sua dominância
não deve ser contrariada novamen-
lateral (canhota - destra - ambides-
te, ou seja, é mais indicado que o
tra). A atenção do professor nesta
professor enfrente junto ao seu alu-
etapa é imprescindível. O educador
no os problemas que poderão surgir
deve iniciar o processo de alfabetiza-
pelo uso da mão indevida, tais como:
ção somente quando constatar que
lentidão motora, giro no sentido in-
seu aluno já venceu as etapas anteri-
verso, etc.
ores, necessárias para ao processo
Mais à frente, entre os sete e
de aquisição da lectoescrita.
oito anos, a criança canhota tende a
Outra questão a ser lembrada
cobrir o que escreve, na medida em
é que, a prática ou ação, da escrita
que, sua mão se move da esquerda
constitui uma forma superior de lin-
para a direita. Desta forma, ela é im-
guagem, a qual, depende da capaci-
pedida de visualizar (ler) sua própria

53
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

escrita enquanto a faz, levando a cri- No caso da criança destra, o


ança a adotar posições que poderão ideal é que ocorra um predomínio
prejudicá-la, ainda mais. Nestes ca- homogêneo, ou seja, deve ser destro
sos, é comum que o aluno procure na mão, no olho e no pé. Quando
encolher o ombro esquerdo, aproxi- existe um cruzamento, ou seja, o in-
mando o braço do tronco ou, incli- divíduo é canhoto no uso do pé, mas
nar-se para a direita, para mobilizar destro no uso da mão, ocorre o que
melhor seu braço, colocando sua podemos chamar de lateralidade
mão por cima da linha, para deixá-la cruzada, a qual deve ser superada
livre. Algumas sugestões poderão através da educação psicomotora.
ajudar ao educador, na elaboração Desta forma, haverá um predomínio
de estratégias pedagógicas, que pos- lateral que contribuirá para o pro-
sam contribuir para a adequação da cesso de ensino aprendizagem que
postura da criança em questão. virá.
 Posicionar a folha de papel no
canto esquerdo; Movimento de Pinça e Posicio-
 Inclinar a folha de papel para a namento Corporal
direita;
 Posicionar a mão da criança de A posição adotada pela criança
maneira parecida com o posi- é muito importante e devemos estar
cionamento do destro, ou seja,
atentos, desde o início, buscando
abaixo da linha;
 Sugerir que o aluno segure o corrigir quaisquer erros diagnostica-
lápis e realize o movimento de dos, já que uma postura correta é
progressão da esquerda para a aquela que permite realizar, de for-
direita. ma adequada, todos os movimentos
que estão envolvidos na prática da
escrita.

Estágio Faixa Etária Características das crianças


Não possui perfeito domínio motor para os traçados gráfi-
cos;
Não tem controle na inclinação e dimensão das letras;
De 5/6 anos a
Pré-caligráfico Não faz margens ou apresenta-se de forma desordenada;
8/9 anos
Mantém uma postura errada do tronco;
Copia as palavras letra por letra.

Não apresenta dificuldades para pegar e manusear os ins-


trumentos gráficos;
Caligráfico De 10 a 12 anos
Apresenta uma escrita mais rápida e regular;
Distribui corretamente as margens;

54
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Apresenta uma postura mais adequada do tronco e da ca-


beça;
Sua escrita imita o modelo, é ainda pouco pessoal.

Modifica a escrita dada a necessidade de maior agilidade


Dos 12 anos para acompanhar o pensamento, raciocínio e as atividades
Pós-caligráfico
em diante escolares;
Apresenta postura correta.

Algumas características são às bordas laterais do papel. O ca-


comuns, no processo em que a cri- derno deve estar inclinado para a es-
ança se torna capaz de representar querda. No caso da criança canhota
graficamente as palavras. Este fato a posição é a mesma, entretanto,
motivou vários autores, a apresenta- deve-se inverter a inclinação.
rem suas concepções acerca dos es- No início, o lápis que a criança
tágios do desenvolvimento gráfico. utiliza deve ser mais grosso que os
Neste momento, nos importa a clas- comuns. Este tipo de lápis, evita que
sificação do desenvolvimento grá- a criança aperte os dedos, ao segurar
fico segundo Ajuriaguerra (1983): o lápis. É importante que o educador
Existem ainda, alguns aspec- tenha consciência da maneira cor-
tos importantes a serem considera- reta de segurar o lápis. Na preensão
dos, dentre eles, estão: a postura da do lápis deve ser utilizado o dedo in-
criança, a maneira como deve segu- dicador, o dedo polegar e o dedo mé-
rar o lápis, entre outros. dio. O indicador e o médio são res-
A seguir veremos mais deta- ponsáveis pelo movimento do lápis.
lhadamente o que é necessário para Eles seguram e executam uma pres-
o êxito na aquisição da prática da es- são média que permite, ao mesmo
crita e o que deve ser corrigido pelo tempo, segurar e movimentar o lá-
educador, durante o processo de al- pis. Por sua vez, o médio serve para
fabetização. apoiar e reforçar o movimento de
A criança deve posicionar-se pinça, estabilizando e proporcio-
paralelamente à mesa, evitando a nando firmeza no traçar.
formação de um ângulo reto com Algumas posturas incorretas
esta. Deve ainda, estar sentada, con- podem provocar erros disgráficos,
fortavelmente, com o dorso apoiado agrupados em dois tipos:
no encosto, os pés apoiados no chão  Posturas que quebram o pro-
e os braços sobre a mesa, a mão es- longamento mão-antebraço,
querda sobre a mesa e seu braço di- por meio de um giro forçado
reito deve estar na posição paralela do pulso. Isso faz com que a

55
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

mão esteja estendida, para Outras posturas adotadas,


frente ou para trás, em relação para segurar o lápis, podem compro-
ao antebraço. meter a fluidez, o tamanho e a quali-
dade do traço da escrita.
 Posicionando o dedo polegar
em cima do lápis, ao lado do
dedo indicador, a criança dei-
xa de usar corretamente o de-
do médio, o qual, não funcio-
nará mais como apoio para o
movimento da pinça escritora
diminuindo a fluidez da es-
crita; escrever nesta posição
provoca cansaço na mão.

 Posturas nas quais a mão ado- Para ajudar a criança que usa
ta uma posição muito marca- esta posição para segurar o lápis, o
da, com a palma para baixo, educador poderá propor atividades
com o polegar posicionado
próximo à mesa ou, aquelas motoras que envolvam a utilização
que apoiam, excessivamente, a de pinceis, a perfuração e até mesmo
lateral externa da mão, pro- o uso de giz, entre outros. Elogiar a
vocando a elevação da pinça criança e motivá-la, quando fizer uso
escritora. da posição correta, também é muito
importante.

 Algumas pessoas adotam a po-


sição correta ao segurar o lá-
pis, no entanto, flexionam de
maneira excessiva os dedos e
seguram o lápis com rigidez.

56
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Esta posição causa dor nos de-


dos do escritor, o que geral-
mente contribui para que a cri-
ança não sinta prazer na prá-
tica da escrita.

O educador poderá ajudar


propondo atividades de segmenta-
ção e, como já foi sugerido, cuidando
para que a criança posicione a mão
abaixo da linha, bem como, posicio-
Aqui, o educador deve utilizar nando o papel corretamente.
técnicas de relaxamento, envolven-  A criança que utiliza a posição
do frequentemente a mão e o braço, chamada de empunhadora, se-
bem como, com atividades que esti- gura o lápis com a pinça infe-
mulem o gesto manual e digital e a rior, ou seja, apoia-o no local
estimulação da coordenação motora da interseção dos dedos indi-
fina, explorando o manuseio do pin- cador e polegar. Nesta posição,
a polpa do polegar não tem a
cel.
função de segurar o lápis, fa-
 A próxima posição é chamada zendo com que a fluidez da
de varredura e consiste na prática da escrita diminua,
quebra, da prolongação cor- provocando ainda, contração e
reta da mão e do antebraço, ao fadiga.
fazer um giro do pulso para
frente e para dentro. Seguran-
do o lápis desta maneira, a
pessoa não conseguirá ver o
que está escrevendo. Como já
vimos anteriormente, é uma
postura comum em pessoas
canhotas, mas pode acontecer
também com pessoas destras.
Além destas questões, a posi-
ção de varredura causa fadiga
e dor no escritor.

57
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

 A intervenção do professor outra mão. Esta deve servir de apoio


deve ser gradual neste caso, na prática da escrita, posicionando
indicando à criança, a maneira sobre a mesa em posição palmar e,
correta da pinça escritora; outras vezes, pode servir para segu-
rar o papel.

Assim como a mão escritora, é


importante considerar a posição da

58
59
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

5. A psicomotricidade e o fazer docente

Fonte: Saude Geia5

C omo já vimos anteriormente, é


necessário que o aluno tenha
domínio de algumas habilidades an-
de cada um dos seus alunos. Nor-
malmente, as crianças apresentam
certa ansiedade em relação à apren-
tes de iniciar o processo de alfabeti- dizagem e prática da leitura e da es-
zação. A escrita, além de exigir o de- crita de suas primeiras palavras e
senvolvimento de muitas habilida- textos. Neste momento o professor
des, requer certa mudança de pers- deve garantir que seus alunos sejam
pectiva em relação a determinadas cuidados, apoiados e respeitados,
noções da realidade (ZORZI, 2003, inclusive no que diz respeito a ele-
p. 11). mentos indissociáveis como a afeti-
Cabe ao professor, ter domínio vidade, a cognição e a motricidade.
de sua prática, bem como, a consci- Compreender que a psicomo-
ência de sua responsabilidade e pa- tricidade garante uma base sólida,
pel fundamental na vida acadêmica

5 Retirado em https://saudegeia.com.br/

60
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

para uma prática docente significa- vezes, até mesmo evitados, se o edu-
tiva e dinâmica, na alfabetização, cador brasileiro considerasse e acei-
servirá de eixo norteador ao profes- tasse que a criança se desenvolve,
sor no que se refere à elaboração e em todos os seus aspectos simulta-
orientação de suas atividades, bene- neamente. Portanto, é dever do pro-
ficiando enfim, o principal persona- fessor e direito do aluno que suas ha-
gem da alfabetização que é o aluno, bilidades, capacidades, limites e po-
em seu processo de aquisição de co- tenciais sejam diagnosticados e con-
nhecimento. siderados progressivamente, no de-
correr de sua vida acadêmica, assim
“[...] é necessário projetar um como seus aspectos afetivos, sociais
plano de ação que cubra os di-
e cognitivos.
versos âmbitos do desenvolvi-
mento infantil. Isto significa O Referencial Curricular Naci-
que a questão formativa está onal para a Educação Infantil
vinculada a este processo em
todas e em cada uma das di-
(RCNEI) é um documento indispen-
mensões da criança: da sua ca- sável à prática do educador, que con-
pacidade intelectual à sua afeti- sidera a importância do desenvolvi-
vidade, da sua personalidade à
sua conduta, da linguagem ou a
mento global do educando e empe-
lógica à pintura, à música ou ao nha-se em contribuir para que seu
esporte (ZABALZA, 2008, p. aluno desenvolva habilidades im-
61). ”
prescindíveis ao processo de aquisi-
ção da lectoescrita. No RCNEI, o
A fala de Zabalza trata neces-
professor certamente encontrará
sariamente na necessidade de que o
respaldo para uma prática que en-
educador realize, previamente, uma
volve o desenvolvimento das habili-
análise diagnóstica de sua turma.
dades psicomotoras, essenciais à al-
Anteriormente, vimos que em cada
fabetização. Ora, é na Educação In-
faixa-etária a criança apresenta ca-
fantil que devem ocorrer os primei-
racterísticas especificas e que tais
ros esboços desta prática social tão
especificidades, devem ser conside-
importante, especialmente nos dias
radas pelo educador ao elaborar e
de hoje.
desenvolver sua prática docente.
Assim, de acordo com o
Atualmente, enfrentamos
RCNEI, as crianças se movimentam
grandes problemas no que diz res-
desde que nascem adquirindo cada
peito à alfabetização nas escolas pú-
vez maior controle sobre seu próprio
blicas brasileiras. Estes problemas
corpo e se apropriando cada vez
poderiam ser amenizados e algumas

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

mais das possibilidades de interação Jogos e Brincadeiras: Arte, Re-


com o mundo (BRASIL, 1998. p. 15). creação e Cognição
Sabermos que o processo de
ensino e aprendizagem deve ser me- O espaço lúdico é essencial ao
diado pelo professor, o qual no mo- desenvolvimento humano. Embasa-
mento oportuno deverá intervir a dos nesta certeza, buscaremos sub-
fim de sanar as possíveis dificulda- sídios que nos permita entender
des apresentadas pelos seus alunos. como a ludicidade se integra ao pro-
O movimento corporal não deve ser cesso de ensino e aprendizagem de-
considerado pelo professor, como senvolvido na sala de aula.
um simples deslocamento. Ao edu-
“No brinquedo, a criança opera
cador, cabe refletir e interpretar o com significados desligados dos
verdadeiro sentido deste movimen- objetos e ações aos quais estão
to, o qual se refere à interação e re- habitualmente vinculados; en-
tretanto, uma contradição mui-
lação do indivíduo com o mundo, es- to interessante surge, uma vez
timulado pela expressividade, consi- que, no brinquedo, ela inclui,
derando ainda que a escrita é uma também, ações reais e objetos
reais. Isto caracteriza a natu-
forma de expressão. Dificilmente, reza de transição da atividade
encontraremos um profissional es- do brinquedo: é um estágio en-
pecialista em psicomotricidade nas tre as restrições puramente si-
tuacionais da primeira infância
escolas públicas, no entanto o edu- e o pensamento adulto, que po-
cador não deve privar seus alunos de ser totalmente desvinculado
dos benefícios gerados pelas ativida- de situações reais (VIGOTSKY,
1984, p. 207).
des psicomotoras na prática educa-
tiva. Enquanto o psicomotricista A experiência só terá algum
ainda não integra o quadro de funci- significado para o indivíduo, quando
onários das escolas públicas, o pro- este puder vivenciar a aprendizagem
fessor alfabetizador deve se capaci- de maneira significante, em sua to-
tar a fim de proporcionar as condi- talidade.
ções necessárias para que seus alu-
nos possam alfabetizar-se. A psico- (...) aprender é o grande se-
gredo da vida: transformar toda
motricidade não é o único aspecto ação passível de introjeção e re-
essencial na aquisição da prática da flexão, bem como toda oportu-
lectoescrita, no entanto o sucesso da nidade, em ação construtiva.
Cada momento de aprendiza-
alfabetização depende intimamente gem apresenta a possibilidade
das habilidades adquiridas através de aprender o sentido do co-
das atividades psicomotoras. nhecimento. (ALESSANDRINI,
1996, p. 01).

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

A criação de um espaço mais gar, o aluno é convidado a partici-


amplo para a fantasia e para o jogo par, de forma lúdica e ativa do pro-
na escola é fundamental para que cesso de ensino e aprendizagem.
ocorra, de forma plena, o desenvol- A prática da psicomotricidade
vimento global do educando, ou se- no trabalho pedagógico contribui
ja, a prática da ludicidade aliada ao através de atividades preparatórias,
fazer docente, estimula a cognição, a como as que são sugeridas pela Te-
afetividade e as habilidades psico- rapeuta Ocupacional Johanna Cor-
motoras da criança, de maneira si- deiro Melo Franco, as quais veremos
multânea. a seguir.
Quando a criança é vista e
compreendida de forma globalizada, Desenvolvimento da Coorde-
seu desenvolvimento propicia que nação Motora Fina
ele mesmo construa e acesse as vá-
rias formas de conhecimento dispo- Rasgar papel livremente utili-
níveis. zando, de início, papéis que não ofe-
A construção do conhecimento reçam muita resistência ao serem
é estimulada, quando a inteligência rasgados:
da criança é desafiada considerando  Rasgar papel em pedaços
seus interesses e suas necessidades. grandes, em tiras, em pedaços
O processo de aquisição do conheci- pequenos.
mento requer motivação do sujeito,
Recortar com tesoura:
por isso é tão importante que o edu-
 Treinar o modo de segurar a
cador faça um diagnóstico e entenda
tesoura e seu manuseio, cor-
as necessidades do educando, para tando o ar, sem papel.
que desta forma, sejam criadas situ-  Recortar vários tipos de papel
ações que incentive e promova a com a tesoura livremente.
construção do conhecimento, a ca-  Recortar tiras de papel largas e
pacidade de elaborar e expressar compridas.
suas ideias e conceitos de forma con-  Recortar formas geométricas e
victa. Desta forma, o educador favo- figuras simples desenhadas
recerá a formação integrada da per- em papel dobrado.
sonalidade da criança.
Colar:
O jogo integra os aspectos mo-
 Colar recortes em folha de pa-
tores, afetivos, cognitivos e sociais
pel, livremente.
do indivíduo. Ao ser estimulado a jo-

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

 Colar recortes em folha de pa- Numa segunda etapa, o mate-


pel, apenas numa área deter- rial deverá ter orifícios me-no-
minada. res e os fios deverão ser mais
 Colar recortes sobre apenas finos e flexíveis.
uma linha vertical.  Bordar em talagarça.
 Colar recortes sobre apenas  Alinhavar em cartões de carto-
uma linha horizontal. lina.
 Colar recortes sobre apenas  Pregar botões.
uma linha diagonal.
Manchar e traçar:
Modelar:  Fazer os quatro exercícios se-
 Modelar com massa e argila e guintes usando inicialmente
formas circulares, esféricas, giz de cera e depois pincel e
achatadas nos polos (como to- tinta, lápis de cor e lápis preto.
mate), ovais, cônicas (como  Fazer manchas em folha de pa-
cenoura), cilíndricas (como pel, livremente.
pau de vassoura), quadrangu-  Fazer manchas dentro de figu-
lares (como tijolo), etc. ras grandes.
 Fazer manchas sobre uma li-
Perfurar: nha.
 Perfurar livremente uma folha  Fazer manchas entre linhas
de isopor com agulha de tricô paralelas, de início, distantes e
ou caneta de ponta fina sem depois, mais próximas.
carga.  Passar andando por dentro de
 Perfurar folha de cartolina em caminhos feitos com cordas
sequência semelhante à pro- estendidas no chão, como pré-
posta para o trabalho com iso- requisito para realizar os exer-
por. cícios que se seguem.
 Perfurar o contorno de figuras  Com caneta hidrográfica pas-
desenhadas em cartolina e sar um traço entre duas linhas
procurar recortá-las apenas paralelas.
perfurando.  No papel sulfite, entre as li-
nhas paralelas, traçar várias li-
Bordar: nhas com lápis de cor, cada
uma de uma cor (traço do
 Enfiar macarrão e contas em
arco-íris).
fio de náilon ou de plástico.
 Traçar linhas sobre desenhos e
 De início as contas e o macar-
letras pontilhadas em papel
rão terão orifícios graúdos e o
sulfite.
fio será bem grosso e firme.

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Pintar: as mãos dos outros até deixar,


 Pintar áreas delimitadas por discretamente, o anel em uma
formas geométricas e partes delas. Então, pergunta a um
de desenhos de objetos. dos jogadores com quem está o
anel. Se o jogador acertar, é o
Dobraduras: próximo passador.
 Dobrar folha de papel ao meio,
Exercícios para estimular o
na altura de linhas pontilhadas
(horizontais e verticais) mar- movimento de pinça fina:
cadas na folha.
 Dobrar guardanapos de papel
e de pano em retas perpendi-
culares e diagonais em relação
às bordas.
 Dobrar papel e montar figuras
(cachorro, chapéu, sapo, flor,
etc.)

Brincadeiras:
 Separe algumas revistas ve-
lhas e deixe seu filho recortar a
Fonte: https://br.pinterest.com/
figura de que mais gosta. De-
pois, pegue a tesoura e corte
uma parte da imagem. Cole o
recorte em um papel branco
para seu filho completar a fig-
ura, fazendo o desenho do que
falta. Isso vale para paisagens,
objetos. Outra forma de brin-
car com revistas velhas é sepa-
rar os olhos, bocas e narizes de
várias fotos para depois mon-
tar rostos bem malucos em um
papel. Vocês podem desenhar
o contorno do rosto e preen-
chê-lo com os recortes.
 Passar anel - Todos juntam as
mãos, palma com palma. O Fonte: https://medium.com/
passador da vez vai 'cortando'

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Recurso de adaptação para lá- Outros tipos de memória:


pis: Memória Procedimental: são
todas as habilidades motoras e de
linguagem que aprendemos como
nadar, andar de bicicleta, jogar fute-
bol.
Memória Declarativa: é a recor-
dação do nosso conhecimento rela-
tivo a pessoas, objetos, lugares e
acontecimentos.
Fonte: https://www.mercur.com.br/ Memória Prospectiva: consiste
em lembrar o que é preciso fazer e
Dicas para Estimulação da quando fazê-lo. É uma memória ex-
Memória plícita que depende do processa-
A memória é a nossa capaci- mento da atenção.
dade de guardar coisas na mente e Exemplo: lembrar de tomar o re-
de recuperá-las em algum momento médio ou de assistir uma reunião às
futuro. Procuramos recordar nomes, duas horas.
datas, listas de compras ou detalhes Atividade diária:
das viagens. A memória do dia-dia  Praticar jogos de memória,
dama, xadrez ou palavras cru-
refere-se também ao preparo de
zadas, exercícios simples como
uma refeição para noite ou aniversá- recordar fatos do dia-a-dia (o
rio de um amigo na semana que que comeu no almoço, o que
vem. Alguns aspectos da memória aconteceu na escola, nomes
estão envolvidos em quase todas as dos colegas e professores).
nossas atividades, a maneira como a  Aprender novas habilidades:
usarmos, dependerá dos nossos há- computador, pintura, música.
bitos de vida e nossa experiência.
Exercícios mnemônicos:
Tipos de memória:
 Associar fatos a imagens e
 A Memória de Curto prazo
procurar guardá-los na memó-
guarda durante alguns segun-
ria. Imaginar um alimento ou
dos a informação, antes de ser
fato e imaginar todas as suas
transferida para memória de
características.
longo prazo.
 A Memória de longo prazo re-
tém informações durante perí- Exemplo: hoje ele comeu uma fru-
odos que vão alguns minutos a ta, vermelha, redonda, começa com
muitos anos.

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

a letra m, qual o dia da semana que manter os cotovelos ligeiramente


tem natação ou educação física (..) dobrados.
Alimentação: A boa alimentação é
fundamental para a conservação da Caranguejo
memória.
Atividade física: Os exercícios fei-
tos regularmente trazem benefícios
importantes para o processo de me-
morização. (Natação, futebol.)
Sono: é muito importante para se
ter uma boa memória.
Lazer: passeios, viagens, ir ao tea-
tro, ler histórias.
Anotações em agenda ou qua-
dro de recados.
Atividades de fortalecimento e
estabilidade muscular:
Você precisa: não há caranguejos!
Apenas a criança e um trecho de
O grande impulso chão.
Como fazê-lo: Auxilie a criança até
que ela alcance a posição de caran-
guejo e peça que ela ande para trás
como um caranguejo.
Brincadeiras sensoriais: (espu-
ma, massinha, areia, tinta e vasilha
com feijão)

Vivendo a Psicomotricidade

As crianças vivem de uma ma-


Você precisa de: você e uma pa- neira bem diferente. Há algumas dé-
rede. cadas atrás, as famílias tinham outro
Como fazê-lo: Diga à criança que a perfil e, porque não dizer outras pri-
parede está caindo, e peça para ela oridades. Hoje os pais estão cada vez
empurrá-la para mantê-la. Certifi- mais distantes de seus filhos e não
que- se que ele tem apenas as suas tem a chance de perceber e contri-
mãos na parede (no ombro), e tentar

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A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

buir com o seu processo de desen- formação da base do desenvolvi-


volvimento. O foco principal é man- mento psicomotor do indivíduo; é
ter-se num mercado de trabalho na educação infantil que a criança
cada vez mais competitivo e partici- estrutura os fundamentos de seu de-
par de uma sociedade cada vez mais senvolvimento, os quais serão deter-
capitalista. As relações familiares já minantes em toda a sua vida, dentro
não são as mesmas, a sociedade já e fora da escola.
não é a mesma, a escola já não é a
mesma. O progresso trouxe mu- “A psicomotricidade na teoria
Walloniana encara a motricida-
dança à vida da sociedade, influenci-
de como um meio privilegiado
ando em seus costumes e valores. para enriquecer e ampliar as
Na educação é fácil perceber as possibilidades expressivas, afe-
tivas e cognitivas das crianças e
mudanças nos valores familiares e dos jovens, promovendo a sua
infantis, as quais impuseram limites flexibilidade e a sua plastici-
à liberdade das crianças, em espe- dade. (WALLON apud FONSE-
CA, 2008, p. 52)”.
cial, no direito de brincar. A cada
dia, as crianças integram o quadro
Estimular e educar a criança e
discente mais cedo, sendo cobradas
ao mesmo tempo garantir seu di-
e avaliadas.
reito de desenvolver-se ludicamente
A escola passou a ser uma das
tem sido um desafio para os educa-
grandes responsáveis, por grande
dores de hoje. Proporcionar ao edu-
parte da estimulação motora, emoci-
cando a vivência de experiências ne-
onal, cognitiva e social da criança e,
cessárias seu desenvolvimento e ao
portanto, não deve preocupar-se so-
mesmo tempo, brincar com ele, não
mente com a formação acadêmica de
é tarefa fácil e requer grande com-
seus alunos. As instituições de en-
prometimento, seriedade e respon-
sino devem oferecer um espaço que
sabilidade por parte do educador.
garanta a criança, o direito de expe-
rimentar e vivenciar situações no-
vas, respeitando seu nível de desen-
volvimento, em todos os seus aspec-
tos.
Diante desta nova realidade
em que as crianças apresentam ne-
cessidades e habilidades das mais
diversas, a Educação Infantil tem
uma importância fundamental na

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69
A PSICOMOTRICIDADE E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

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