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R611c
Rodrigues, Janine Marta Coelho
A criança autista: um estudo psicopedagogico/Janine Marta Coelho Rodrigues, Eric Spencer - 2 ed.
Rio de Janeiro: Wak Editora, 2015.
132p.: 21cm
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7854-113-2
2015
WAK EDITORA
7.4 – Son-Rise
7.5 – Ambientes estruturantes
8 – TERAPIA DE LINGUAGEM
9 – PSICOTERAPIA E AUTISMO
10 – TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
11 – ESTUDO DE CASO NO CONTEXTO DAS PRÁTICAS PSICOPEDAGÓGICAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
O presente estudo objetiva proporcionar àqueles pais e
profissionais que lidam com o autista a oportunidade de conhecer
algumas experiências, relatos e sugestões de atividades que
certamente orientarão de forma sistematizada, o atendimento
especializado do indivíduo autista.
As pesquisas teóricas, os depoimentos colhidos e as
experiências vividas foram aqui relatados com o mais possível
rigor.
Esperamos, com esta publicação, estimular outros estudos e
pesquisas sobre um tema ainda pouco estudado e de tão complexas
discussões.
Suponho que o sucesso da primeira edição deste singelo livro,
que esgotou-se em tempo surpresa, deu-se pelo fato de que os
temas foram aqui tratados com rigor científico, mas de modo
descomplicado, com palavras simples e precisas que ajudaram
pais e profissionais a entender melhor as questões do Autismo.
Esta segunda edição revisada em alguns pontos reafirma aqui
nosso compromisso pessoal e profissional com aqueles que
precisam ser acolhidos, para serem compreendidos e
adequadamente atendidos.
Atualizamos alguns índices, revisamos alguns assuntos e
introduzimos uma rápida apresentação de métodos que, na edição
anterior, não foram tratados.
Esperamos com esta nova edição estar contribuindo para a
discussão do tema Autismo. Tema complexo, difícil de ser
entendido e explicado. Contudo, temos a certeza de que antes de
discutir níveis, denominações, causas do Autismo, melhor será
interagir com os considerados autistas, conviver com eles,
vislumbrando sempre as potencialidades que precisam ser
reveladas e as capacidades que precisam ser desenvolvidas.
A questão sobre o tema do Autismo permeia o discurso da
Educação Especial Inclusiva, quando se propõe a valorização do
ser humano portador de deficiência. Tal discurso é gerado à luz de
princípios universais, ancorados nos direitos humanos difundidos
na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Convenção
Sobre os Direitos da Criança.
O Autismo bem como outras síndromes e deficiências ainda
são cercados por atitudes de discriminação e preconceito que
envolvem o desconhecido e a desinformação. Neste sentido, o
pesquisador ou o estudioso do Autismo tem como compromisso
primeiro desvendar um imenso espaço do conhecimento sobre o
Autismo e dar a conhecer, caminhando em vagarosos e atenciosos
passos, ultrapassando quadros estreitados por um diagnóstico,
descrevendo o universo do autista como tal, desenvolvendo
estudos e divulgando achados compreendidos nas interações das
especificidades de cada sujeito autista que se estuda.
Levar em conta o meio circundante do contexto sociofamiliar
em que o autista vive e em quais condições é educado conduz o
pesquisador a duas atividades: a primeira consiste em indagar e a
segunda em transformar. O propósito deste estudo é levar os
leitores a se questionarem, refletirem e, consequentemente,
transformarem-se, mudarem de atitude em relação ao autista.
A síndrome do Autismo é um distúrbio do desenvolvimento,
embora os sintomas tornem-se mais evidentes aos três anos de
idade. A pessoa autista apresenta dificuldades de compreensão
dos significados atribuídos, não se sabe se seu pensamento é do
tipo puramente figurativo, sem conservações, o que lhes dificulta
a possibilidade de realizar algumas habilidades que impliquem
mudanças. Mas percebemos que, na elaboração do pensamento,
as crianças autistas não utilizam a reversibilidade lógica ou
fazem evocações mentais. São capazes de refazer por imitação
inicialmente e, mais tarde, por transformação, quando se
trabalham precocemente o espaço, a casualidade e a
generalização em suas ações. Daí os pais e os professores não
experimentarem pedir à criança autista que relate o que fez, por
exemplo. Parece que, por ele não haver desenvolvido a capacidade
de ordenamento, de organização e, assim, a evocação de cenas, de
situações que supõem a construção e a reconstrução de esquemas
reversíveis apresentam muitas dificuldades de serem adquiridas.
Explica-se, então, a necessidade do autista em estabelecer
rotinas quanto à sua comunicação e às reações comportamentais.
O distanciamento das relações, uma eventual agressividade
quando seu ambiente é modificado, as condutas de birra e a difícil
participação nas atividades de interação social para nós,
estudiosos do Autismo, são tentativas diferentes de se comunicar
com a realidade social.
A proposta desta pesquisa foi conhecer a Psicopatologia
autística e a pessoa portadora da síndrome, identificando
particularidades no comportamento (uma fixação, gosto,
habilidade, limitações), que indicassem possibilidades, que
poderiam vir a se tornar canais de comunicação.
O estudo tenta apontar caminhos para ajudar a pessoa autista
e sua família por meio de práticas psicopedagógicas capazes de
reduzir os problemas e modificar o comportamento autístico para
uma conduta mais autônoma com base em teorias científicas de
estudiosos que, há muito, vêm estudando e pesquisando o
Autismo, como Rivière (1999, p. 286), quando diz: “Desenvolver ao
máximo suas potencialidades e competências, favorecer um
equilíbrio pessoal o mais harmonioso possível, fomentar o bem-
estar emocional e aproximar as crianças autistas do mundo
humano de relações significativas”.
Assim como Rivière, pensamos que a criança autista tem os
mesmos direitos e precisa das mesmas oportunidades para
educar-se como uma criança considerada normal.
Os primeiros estudos sobre o Autismo foram iniciados pelo
psiquiatra Leo Kanner, em 1943, quando estudou um grupo de
crianças com características clínicas específicas, que assumiam
comportamentos diferentes daqueles já conhecidos pela literatura
das síndromes psiquiátricas.
Foram 11 casos estudados desde os primeiros meses de vida da
criança e descritos, em 1943, em um artigo sobre um quadro
descritivo intitulado “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”.
Este trabalho apresentava casos de 11 crianças com faixa etária
entre dois anos e meio e oito anos onde ele distinguiu as mesmas
características clínicas. Mais tarde, apresentando mais 38 casos,
publica o “Tratado de Psiquiatria Infantil”, edição de 1950. O
aspecto mais marcante nos estudos iniciais de Kanner descrevia
uma anormalidade inata no comportamento social, “o isolamento
ou o afastamento social”, que denominou retraimento autístico,
notável desde os primeiros períodos do desenvolvimento.
Prosseguindo nos estudos sobre os distúrbios decorrentes desse
estado patológico, Kanner, em 1949, refere-se ao quadro com o
nome de Autismo Infantil Precoce, evidenciando sérias
dificuldades de contato com as pessoas, ideia fixa em manter os
objetos e as situações sem variá-los, fisionomia inteligente,
alterações na linguagem do tipo inversão pronominal,
neologismos e metáforas. A contínua análise dos problemas leva
Kanner a acreditar que o Autismo devesse ser separado da
Esquizofrenia Infantil, embora continuasse colocando o Autismo
Infantil no grupo das psicoses infantis até o fim de seus trabalhos.
Durante o processo de pesquisa, ressalta a importância da
verificação do Autismo como sintoma primário, afastando o
distúrbio autístico de outros quadros orgânicos (Afasia Sensorial
Congênita) e psíquicos (Demência de Heller). Com o passar dos
anos, observa diferenças na evolução dos casos estudados e propõe
que pesquisas bioquímicas poderiam abrir novos caminhos no
estudo do Autismo Infantil. Em 1956, há uma reestruturação da
concepção quanto à idade de aparecimento das características.
Kanner e Eisenberg constatam que a síndrome pode apresentar-
se após um desenvolvimento supostamente normal. Os valiosos
trabalhos de Kanner foram complementados pelas investigações
de Chapman, B. Rimbaud, Bettelheim, Ajuriaguerra, Diatkine,
Spitz, L. Bender, entre outros.
Entre Leo Kanner e Eugene Bleuler, um psiquiatra da época,
que também se preocupava com a explicação destes casos,
provocou-se uma divergência que dividiu a comunidade científica,
causando uma dificuldade em diferenciar claramente os
diagnósticos de Esquizofrenia Infantil, Psicose Infantil e Autismo.
Kanner admite no Autismo uma “inaptidão” em estabelecer
relações socias normais com as pessoas e em reagir diante de
situações da realidade. Já Bleuler propõe uma “ausência da
realidade”, com visível ênfase à vida interior, e,
consequentemente, impedimento ou impossibilidade de
comunicar-se com o mundo externo, demonstrando atos de um
proceder muito reservado. Para Bleuler, o autista mergulha
ativamente no seu imaginário. Kanner discorda e sugere uma
falta de imaginação.
Encontramos na literatura alguns conceitos sobre Autismo,
visto ora como um transtorno orgânico resultante de uma
patologia de sistema nervoso central e, por isso, compreende
implicações neurobiológicas, neurofisiológicas e neuroanatômicas,
ora como uma doença incapacitante e crônica que provoca sérios
comprometimentos no campo cognitivo, no desenvolvimento da
motilidade e da linguagem, apresentando deficit ou alterações na
codificação e na decodificação dos significados das palavras, ora,
ainda, como um impedimento neurofuncional que não permite ao
seu portador o desenvolvimento funcional eficaz no processo de
comunicação. São distúrbios que variam desde um mutismo
(silêncio voluntário) até a ecolalia, a inversão pronominal e os
neologismos. Os estudiosos também evidenciam perturbações
quanto ao comportamento social. Alguns deles afirmam que
alguns autistas até chegam a manter um contato social, porém
demonstram uma forma de relacionamento bastante subjetiva,
talvez até atípica aos padrões normais de relacionamento.
Percebemos em nossas observações no campo de estudo que
alguns autistas podem fixar-se apenas em uma parte do corpo ou
em um detalhe da roupa de quem se aproxima dele. Expressam
gestos repetitivos e um conjunto variado de manias, acendem e
apagam uma lâmpada continuamente, fazem questão de colocar
um objeto sempre na mesma posição, frequentemente apelam
para movimentos com as mãos antes de pegar em um material
qualquer ou mesmo na ausência deste. Existem outros traços
marcantes, resultados de descrições clínicas mais recentes, como
tipos de afetos inadequados, como, por exemplo, dificuldade de
perceber intenções e de externar os sentimentos, distúrbios do
sono (insônia precoce) e da alimentação, problemas digestivos nos
primeiros meses do nascimento, anomalias congênitas e
hiporrespostas ou hiper-respostas aos estímulos sensoriais, como
analisaremos em detalhes mais adiante.
A aparência física dos autistas, a princípio, não expõe a
dimensão exata da gravidade do problema, cujos sintomas iniciais
surgem antes dos dois anos e seis meses de nascimento do bebê.
Em geral, são crianças de traços singelos e de feições bonitas. O
diagnóstico depende de uma combinação de vários critérios
determinados. No DS – IV, é preciso estabelecer critérios (seis
itens em cada grupo de avaliação: interação social, comunicação e
comportamento) para diagnóstico. Já circula, entre os
profissionais interessados, o DSM–V, com componentes mais
sintetizados de informações, objetivando agilizar o diagnóstico.
Para viabilizar um atendimento mais eficaz, sugerimos trabalhar
com os dois. A prevalência varia em uma taxa de dois a cinco
casos por 10.000 crianças nascidas vivas. Se forem consideradas
algumas características do retardo mental severo semelhantes ao
Autismo, a taxa sobe para 20 casos por 10.000 nascidos. É mais
comum em crianças do sexo masculino, e a proporção atinge de
três a cinco vezes mais meninos do que meninas. Nas meninas
autistas, a manifestação da síndrome é mais intensa quando
comparada aos meninos autistas, isto se deve a questões de
ordem genética. Segundo dados da literatura psiquiátrica, cerca
de 70% a 80% dos autistas possuem comprometimento
intelectual.
a) Retardo Mental
b) Esquizofrenia
e) Privação Psicossocial
2.3 – Etiologias
“Pequeno”
L. T. L.
J. M. de S.
Síndrome de Rett
Etiologia
Sintomas e Sinais
Tratamento
Prognóstico
Etiologia
Sintomas e Sinais
Tratamento
Prognóstico
Síndrome de Asperger
Etiologia
Sintomas e Sinais
Tratamento
Prognósticos
7.4 – Son-Rise
Aprendizagem: Tempos e Espaço do Aprender – Fabiane Ortiz Portella e Fabiane Romano de Souza
Bridi (orgs.)