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EMOÇAO

Introduçãc à Psicologia
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Richard e" Atkãí"ïsmrì
Ritm L. Ãâkiã-rs*r-ï
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Capítulos
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MouvAçÃo E EvloçÃo
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Motivos Básicos

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CepÍrur-o 10

Recompensa e Motivação de Incentivo


Adicção a Drogas e RecomPensa
ocê está dirigindo Pela rodovia,
Homeostase e Impulsos
tentando chegar Pontualmente a
Temperatura e Homeostase
A Sede como Processo Homeostático uma importante entrevista de trabalho'

iiu
Fome Como você se atrasou Pela manhã, de-
Interações entre Homeostase e Incentivos
':: cidiu não tomar o café e agora está fa-
Indicadores Fisiológicos de Fome
Integração de Indicadores de Fome minto. A impressão que você tem é que
Obesidade todos os anúncios pela estrada são de
Anorexia e Bulimia comida - bolinhos de presunto e ovos,
Gênero e Sexualidade
hambúrgueres suculentos, suco delicio-
Desenvolvimento Sexual Inicial
Hormônios versas Ambiente so. Seu estômago ronca e você tenta ig-
Sexualidade Adulta norá-lo, mas é impossível. A cada quilô-
Orientação Sexual
metro que passa você Íica com mais fo-
Fronteiras da Pesquisa Psicológica:
lmprinting me. Você quase bate na traseira do carro
z.
Vozes Contemporâneas na Psicologia: da frente enquanto olha um anúncio de
Nossa Orientação Sexual E Inata ou pizza. Em suma, você foidominado pelo
Socialme nte Determi nada?
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estado motivacional chamado fome.
Uma motivação é uma condição que
energíza o comportamento e o orienta.
Ela é experienciada na forma de desejo
consciente - o desejo por comida, por
bebida, por sexo. A maioria de nós é ca-
paz de escolher se irá agir de acordo
com os desejos ou não. Podemos nos
forçar a abrir mão do que desejamos, e
podemos nos obrigar afazer o que

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Introdução à Psicologia de Hilgard g7ï

preferiríamos não fazer. Talvez possamos até delibe- nos na motivação. Considera-se que alguns instintos
radamente optar por não pensar sobre desejos que internos, tais como aqueles relacionados à fome ou à
nos recusamos a atender. Mas é consideravelmente sede, refletem necessidades fisiológicas básicas. Pa-
mais difícil - tahez impossível controlar nossas ra motivações como sexo ou agressão, fatores instin-
motivações diretamente. Quando estamos com lome, tivos parecem menos vinculados a necessidades fi-
é diÍícil não querer comida. Quando estamos com siológicas absoiutas. AÍinal, precisamos agredir ou-
calor e com sede, não podemos deixar de desejar tra pessoa da mesma forma que precisamos comer
uma brisa fresca ou uma bebida gelada. A escolha ou beber? Ainda assim, considera-se que agressão e
consciente parece ser a conseqüência, e não a causa, sexo possuem aspectos instintivos, tanto no sentido
de nossos estados motivacionais. Então, o que con- de que Íâtores internos tais como o estado hormonal
trola a motivação, além da escolha racÌonal? muitas vezes parecem importantes, quanto no senti-
As causas da motivação variam de eventos fisio- do de que eles podem ter originalmente se desenvol-
Ìógicos no cérebro e no corpo até nossa cultura e in- vido para atender às necessidades básicas ancestrais.
teração social com outros indivíduos a nossa volta. Por outro lado estão as teorias de incentìvo da
Este capítulo irá discutir o controle de motivações motivação, que enfatizam o papel motivacionaÌ dos
básicas como sede, Íbme e sexo. Em grande medida eventos externos ou objetos de desejo. Comida, bebi-
estas motivações provêm de nossa herança biológica da, parceiros sexuais, alvos de ataque, relacionamen-
e revelam princípios gerais sobre como a motivação tos com os outros, estima, dinheiro e as recompensas
e a recompensa operam para orientar o comporta- do sucesso - todos são incentivos. Os incentivos são
mento. Aspirações sociais e influências culturais so- os objetos da motivação. AÍinal, nossas motivações
bre a motivação serão discutidas posteriormente. não funcionam num vácuo - quando queremos, que-
Para motivações básicas como Íbme, sede e sexo remos ulgo. A natureza deste algo nos impele em
os psicólogos tradicionalmente distinguem dois tipos uma direção ou outl-â. O objetivo poderia ser uma co-
de teorias de motivação. A diferença refere-se à ori- mida saborosa, água para beber, um parceiro para in-
gem dâ motìvaÇão, o que a ca.tsa e como ela contro- teragìr, a expuÌsão de um ìntruso, ou a possc de um
la o comportamento. Por um lado existem as teorias recurso disputado. Muitos incentivos são recompen-
dos irtstintos, que enlatizam o papel de fatores inter-

As causas da motivação variam de eventos como sede até aspira-


ções sociais e Ìnfluêncìas culturais, como aqueles que criam o desejo
de vencer.

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Smith' Daryl J' Bem e Susan Nolen-Hoeksema


:t?2.'::" .,, Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkínson, Edward E'

produzir prazer e reforçar o compor- principalmente em seus pontos de vista; na verdade


sas. Eles podem
nao ná connito entre elas. É amplamente reconheci-
tamento que conduza a eÌes. para
Alguns incentivos são reforçamentos primários'
do que ambos os tipos de processos existem
quase todo tipo de motivação (Toates, 1986)' Mas é
capazes de agir como recompensas independente-
mais fácil enfocar um tipo de controle para com-
mãnte de aprendizagem anterior' Por exemplo' um ou-
preendê-lo integralmente antes de mudar para o
gosto adocicâdo ou uma sensação sexual podem ser primeiramente
i.o. Por este motivo, consideraremos
ãgradáveis na primeira vez que são experimentados' os
os processos de incentivo e depois abordaremos
Outros incentivos são reforçamentos secundários'
processos instintivos. Note-se, contudo, que tanto
os
que adquiriram sen status pelo menos em paÍte atra- juntos
iatores de incentivo quanto instintivos operam
vés de aprendizado sobre sua relação com outros (ver Figura
po- na vida real, muitas vezes interagindo
eventos. Por exemplo, dinheiro ou uma boa nota podem acen-
eficazes, com base em nossa ex- 10.1). Por exemplo, fatores instintivos
dem ser incentivos O sabor da
tuar o efeito motivacional dos incentivos'
periência cultural com eles e com o que representam' das pes-
que te- comida torna-se mais agradável à maioria
Puru o. animais, um estímulo condicionado 1979)'
à comida pode servir como re- soas quando elas estão com fome (Cabanac'
nha sido emparelhado melhor
Em qualquer caso' a aprendizagem Voce iá deixou de almoçar para aproveitar
compensa eficaz. por lanchar
secundá- uma festa à noite? Ou já foi repreendido
é crucial para a formação de reforçamentos jantar"?
porque isso "estragaria seu Inversamente'
rios. Embora menos importante' a aprendizagem po-
iu,or", de incentivo podem despertar estados instin-
de até desempenhar um papel na modulação da
efi-
tivos. Já não the aconteceu de passar em frente a uma
cácia de alguns reforçamentos primários' Por exem-
aroma delicioso e su-
padaria ou Íestaurante com um
plo, você podia estar faminto quando nasceu' mas
titamente perceber que estava com fome?
você não nasceu com qualquer idéia do que agora
são seus alimentos prediletos. As teorias de incenti-
vo da motivação concentram-se principalmente na RecomPensa e Motivação
relação da aprendizagem e experiência com o con- de lncentivo
trole da motivação.
As teorias de incentivo e instinto oferecem dife- A motivação tipicamente dirige o comportamento
rentes perspectivas sobre o controle da motivação' para um determinado incentivo que produz prazer
ou
Mas a diferença entre as perspectivas teóricas ocorre ãliuiuu* estado desagradável: comida, bebida' sexo
e assim por diante. Em outras paÌavras' a motivação
de incentivos se caracteriza pelo afeto, a produçtio
de prazer ou clespraler- A onipresença do afeto em
APRENDIZAGEM
nossa expefiência de vida levou alguns a sugerirem
DESEJOS
CONSCIENTES qu. o prur". se desenvolveu para cumprir um papel
psicolãgico básico (Cabanac, 1992)' Esse papel é

moÌdar o compoftamento servindo como uma "moe-


ESTíMULO ATRAçÃO
EXTERNO MOïvAçÃo DE
COMPORTA-
INCENTIVO MENTAL da comum" psicológica que reflete o valor de cada
uma de nossas ações. O prazet tende a estar associa-
PRAZER
CONSCIENTE do a estímulos que aumentam nossa capacidade de
sobreviver ou a capacidade de sobrevivência de nos-
:

NECÉSSIDADE SINAIS INSTINTIVOS re-


FlsloLÓGICA sa prole. Isso inclui alimento saboroso, bebida
freicante e reprodução sexual' Conseqüências dolo-
que
rosas ou frustrantes estão associadas a eventos
ameaçam nossa sobrevivência: dano físico' doença
FIGURA 10.1 ou perda de recursos. As conseqüências recompensa-
como a visão de doras de uma ação, em outras palavras, geralmente
Um Modelo de Motivos Básicos IJm estímulo externo'
de recompensa pas-
se a ação merece ser repetida' O prazer po-
é comparado com a lembrança de seu valor
comida, indicam
sado. Ao mesmo tempo, sinais fisiológicos
de fome e saciedade modulam
de informação são íntegra'
de ter-se desenvolvido como uma forma que o cére-
o valor potencial no momento. Estes dois tipos
incentivo finat para o estímulo externo' bro dispõe de registrar as boas e más conseqüências
ãoi p"r" produzir a motivação de
que'se mìanifesta no comportamento e na experiência consciente'
(Adapta- de ações passadas' com o intuito de melhor orientaÍ
do deToates, 1986) as ações no futuro.

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Introdução à Psicologia de Hilgard 373

Se o prazer é um tipo de moeda corrente pâra o ativados por muitas drogas que causam prazer a hu-
valor de eventos diversos, faz sentido que o cérebro manos e animais, como, por exemplo, cocaína, anfe-
deveria possuir uma Íbrma de traduzir os diferentes tamina e heroína. A capacidade de praticamente to-
prazeres em seu equivalente "valor em dinheiro". das as recompensas, quer naturais ou artificiais, de
Existe realmente evidência de que o cérebro pode ter ativar esses neurônios levou alguns psicólogos a con-
uma "moeda comum" neural para a recompensa. É cluir que a atividade neste sistema neural constitui a
até mesmo possível que todos os incentivos sejam re- "moeda comum" do cérebro para a recompensa (Wi-
compensadores precisamente porque ativam o mes- se,1982).
mo sistema cerebral de recompensa. Essa moeda O funcionamento do sistema dopamínico meso-
neural parece estar relacionada com o nível de ativi- límbico parece particularmente importante para a
dade no sistema dopamínico mesolímblco (ver Figu- propriedade motivacional das recompensas. Em vez
ra 10.2'1. Os neurônios desse sistema localizam-se no de criar a sensação de prazer em si, sua atividade pa-
tronco cerebral superior e estendem seus axônios até rece dispor os indivíduos a querer repetir o evento
o prosencéfalo. Como indica seu nome, estes neurô- que causou o aumento procurando e obtendo incen-
nios usam o neurotransmissor dopamina para trans- tivos conhecidos (Berridge e Valenstein, 1991). Isso
mitir sua mensagem. pode ocomer quando uma mordiscada na comida
O sistema dopamínico mesolímbico é ativado desperta seu apetite para comer mais. Até mesmo a
por muitos tipos de recompensas naturais, tais como ativação artitìcial de neurônios dopamínicos pode ter
alimenlos ou bebidas saborosas. ou um parceiro se- o mesmo efeito. Por exemplo, a ativação do sistema
xual desejado. Os mesmos neurônios também são por um eletrodo estimulante motiva o animal a co-

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Bulbo
olÍatório

Substância
negra

FIGURA 10.2
Duas lmportantes Rotas Dopamínicas O sistema mesolímbico é aparentemente responsávet pelos síntomas de
esquìzofrenia; a rota aos gânglìos basaìs é responsávet pela discÍnesìa tardia, a qual às vezes re,sulta do uso de me-
dicamentos neurolépticos. (Adaptado de Valzelli, 1980)

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..+: 374L. Capítu1o l0 RitaL.Atkinson,RichardC.Atkinson,EdwartlE.Smith,DaryIJ'BemeSusanNolen-Hoeksema

da pelas drogas pode ser uma super-recompensa


pol-
mer, beber ou fazer sexo se houver a oportunidade
parafazer essas coisas. A ativação do sistema dopa- que as drogas podem causar superativação dos siste-
mas cerebrais de recompensa. As drogas que causam
mínico mesolímbico por um eletrodo (ou por uma
droga) também é recompensadora por si só' Os ani- euforia ativam tanto os sistemas de recompensa de
prazer (gostar) quanto de motivação (querer), talvez
mais trabalham paÍa repetiÍ o evento que ativa o sis-
tema. De maneira inversa, quando os animais rece-
porque elas estimulem os sistema neurais tanto
bem drogas que suprimem a atividade do sistema do- opióides quanto dopamínicos. Depois de experien-
pamínico mesolímbico, eles se comportam como se ciada, a lembrança deste intenso ptazer é uma poten-
[e tentação para recuperá-la repetidas vezes'
não mais quisessem comida, água, sexo ou outros in-
centivos naturais. Eles também parecem não desejar
Mas a lembrança do prazer por si só não seria
incentivos ârtificiais como cocaína ou estimulação suficiente para produzir adicção, pelo menos para
elétrica cerebral recompensadora. Portanto, o siste- muitas pessoas, se não houvessem fatores adicionais'
ma dopamínico mesolímbico parece ser usado pelo O segundo fator é a capacidade das drogas aditivas
cérebro para criar desejos por uma diversidade de in- de, se consumidas repetidas vezes, produzir síndro-
centivos naturais e artiÍìciais. mes de abstinência desagradáveis. À medida que
uma droga é consumida repetidamente, os sistemas
Adicção a Drogas e Recompensa de prazer que ela ativa podem tornar-se cada vez
mais resistentes à ativação em um esforço para recu-
A adicção é uma poderosa motivação para algumas perar seu estado de equilíbrio normal. Isto é, em par-
pessoas. O desejo por certas drogas, tais como opiá- te, a causa da tolerância (a necessidade de uma
ceos (heroína ou morhna), psicoestimulantes (anfeta- maior quantidade de uma droga para alcançar a
mina ou cocaína) ou "versões de rua" sintéticas des- mesma euforía). Além disso, após repetida exposi-
sas drogas, além de algumas outras drogas (álcool' processos que têm
ção à droga, o cérebro pode ativar
nicotina), podem tornar-se irresistíveis (Leshner, conseqüências exatamente contrárias àquelas da dro-
1997). Os dependentes químicos podem desejar a ga. Estes processos podem ajudar o cérebro a perma-
droga com tanta intensidade que sacrificam o empre- necer em um estado de equilíbrio quando a droga é
go, os relacionamentos e a vida familiar, o lar e até tomada, mas por si só são desagradáveis' Se o depen-
sua liberdade Para obtê-la. dente pára de usar uma droga' a falta de atividade em
Tomar uma droga uma vez, ou mesmo de vez em sistemas de prazer resistentes e a ativação de proces-
quando, não constitui adicção. Muitos americanos já sos opostos de desprazer podem produzir abstinên-
experimentaram pelo menos uma das drogas que cia. O estado aversivo de abstinência apresenta aos
acabamos de mencionar sem se tornarem dependen- dependentes um outro motivo para voltar a tomar a
tes. Até mesmo o uso regular (por exemplo, freqüen- droga, pelo menos enquanto durar o estado de absti-
temente beber vinho nojantar) não reflete necessa- normalmente várias semanas'
nência -
riamente adicção. Só ocorre adicção quando um pa- Finalmente, as drogas aditivas podem produzir
drão de comportamento de consumo compulsivo e mudanças permanentes nos sistemas cerebrais de re-
ilestrutivo emerge; muitas vezes a pessoa compulsi- compensa que causam desejo mesmo depois de pas-
.i:i vamente deseja a droga. O que causa a transforma- sada a abstinência. O uso repetido de drogas como
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ção de "experimentar" uma droga, ou
fazer uso so-
cocaína, heroína ou anfetamina, que ativam o siste-
Íij Ì cial ou recreativo, em adicção? ma dopamínico mesolímbico' faz com que estes neu-
Algumas drogas são particularmente poderosas rônios tornem-se hiperativos ou sensibilizados' A
em sua capacidade de produzir adicção. Três fatores sensibilização neural pode ser permanente' e isso
principais operam juntos para tornar as drogas psi- significa que estes neurônios serão ativados mais in-
lii coativas mais aditivas do que outros incentivos, em-
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;> tensamente por drogas e estímulos relacionados a
:iÌì (,, bora nem todos estes fatores precisem estar presen- drogas. Uma vez que o sistema cerebral dopamínico
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,i: . tes para que ocorra adicção. A primeira é a capacida- mesolímbico parece mediar as propriedades motiva-
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de da maioria das drogas aditivas de superativar sis-
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:!i cionais de recompensa (querer) mais do que as pro-


Ë temas de recompensa no cérebro. Como as drogas priedades de prazer (gostar), sua hiperativação em
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<!:. atuam diretamente nos neurônios cerebrais, elas po- dependentes pode causar desejo exagerado pela dro-
dem produzir níveis de atividade no sistema dopami ga (Robinson e Benidge, 1993). A sensibilização
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nico mesolímbico que ultrapassam em muito aqueles neural dura muito mais do que a abstinência' Esse
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(i:r produzidos por incentivos naturais. A euforia causa-
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Introdução à psicologia de Hilgard 375

pode ser um dos motivos pelos quais dependentes íe- ajustado, o termostato é ativado: a diferença entre
cuperados estão sujeitos a recaídas no uso de drogas sua meta e a temperatura real faz com que ele ative o
mesmo depois de completarem programas de desin- aquecedor. Se no verão a temperatura ambiente sobe
toxicação. acima da temperatura ajustada no termostato de res-
A combinação destes fatores elucida por que as friamento, o termostato ativa o ar-condicionado. Um
drogas psicoativas, mais do que muitos outros incen- termostato coneciado a um aquecedor e a um condi-
tivos, são capazes de produzir adicção. Estas drogas cionador de ar pode ser usado para manter um am-
ativam diretamente mecanismos cerebrais de prazer biente em tempeÍatura constante mesmo com a mu-
a níveis incomparáveis, produzem síndromes de abs- dança das estações. Muitos processos fisiológicos
tinência que levam o dependente de volta à droga, e funcionam como termostatos: eles ativam motiva-
talvez hiperativem permanentemente os sistemas ce- ções que ajudam a manter a homeostase.
rebrais que lazem com que as recompensas da droga
sejam desejadas. É difícil resistir a esta combinação. Temperatura e Homeostase
Se a temperatura de seu cérebro diminuísse em 10"
Homeostase e lmpulsos C, você perderia a consciência. Se a temperatura de
seu cérebro subisse 10" C acima do normal, você
Nossas vidas dependem de manter certas coisas no morreria. Ainda que você tenha estado em um clima
mesmo estado. Se a temperatura do seu cérebro mu- muito quente ou muito frio, seu cérebro perÍnaneceu
dasse mais do que alguns graus, você rapidamente Íì- consideravelmente protegido dentro de uma estreita
caria inconsciente. Se a proporção de água em seu faixa de alguns graus centígrados. Sistemas <Ie con-
corpo subisse ou caísse mais do que um certo nível trole homeostáticos, tanto Írsiológicos quanto psico-
percentual, seu cérebro e corpo não poderiam fun- lógicos, são a razão desta constância.
cionar e você correria perigo de morte. Os humanos Respostas fisiológicas como suar e tremer são
e os animais se equilibram em uma corda bamba en- em pafie o que faz com que a temperatura do cérebro
tre extremos fisiológicos. Como máquinas delicadas permaneça tão estável: estas respostas fisiológicas
e precisamente sintonizadas, não podemos funcionar proporcionam resfriamento através de evaporação e
se nosso ambiente interno não estiver em equilíbrio. aquecimento através de atividade muscular. Reações
Mas, diferente da maioria das máquinas, fomos cria- psicológicas também entram em ação quando você
dos para mantermos nós mesmos este equilíbrio. começa a sentir calor desconfortável. É possível que
Mesmo quando o mundo exterior muda, nossos esta- você queira tirar alguma peça de roupa, beber algu-
dos internos permanecem relativamente estáveis. ma coisa gelada, ou encontrar uma sombra. Mas o
Grande parte da motivação básica é destinada a que desencadeia estas respostas flsiológicas e psico-
nos auxiliar a manter nosso equilíbrio interno. A fim lógicas?
de manter nosso mundo interno dentro dos estreitos
Quando você está sob sol forte, todo o seu corpo
limites da sobrevivência fisiológica, dispomos de começa a ficar quente. Inversamente, se você Íìca
processos de controle ativos para manter a homeos- muito tempo desprotegido no frio, seu corpo inteiro
tase, ou seja, trm estado interno constante (homeo começa a ficar hipotérmico (Íiio demais). Mas é ape-
significa "igual" e estase significa "estático,' ou nas no cérebro que a mudança de temperatura é reai-
"constante"). Um processo de controle homeostático mente detectada. Neurônios em diversos pontos do
é um sistema que funciona ativamente para manter cérebro, principalmente na região (frontal) pré-ópti-
um estado constante (ou seja, homeostase). ca do hipotálamo na base do cérebro, são essencial-
Os processos de controle homeostático podem mente termostatos neurais (Satinoff, 1983). Eles co-
ser psicológicos, fisiológicos ou mecânicos. Um meçam a opeÍar de modo diferente quando sua pró_
exemplo familiar é o termostato que controla um pria temperatura muda. Estes neurônios servem tan-
aquecedor ou um condicionador de ar. Os termosta- to de termômetro quanto de ponto de ajuste homeos-
tos são feitos para manter a homeostase da tempera- tático dentro do corpo. Quando suas temperaturas se
tura. Quando você ajusta seu termostato para uma afastam de seus níveis normais, seu metabolismo se
deteminada temperatrlra, esta temperatura é o valor altera, e isso muda seus padrões de atividade ou de
desejado ou ponto crítico. O ponto crítico é o valor ativação. Isso desencadeia reações fisiológicas como
que o sistema homeostático tenta manter. Se no in- perspiração ou calafrio, que ajudam a conigir a tem-
verno a temperatura ambiente cai abaixo do valor peratura do corpo. AÌém dìsso, isso desencadeia sua

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Atkinson, Richarct C' Atkinson' Edwartl
E' Smith' DcIryt J Bem e Susan Nolen-Hoeksema
cr6 Capítulo 10 Ríta L.

de suas
que o faz trutuÍa e conteúdos da célula' A água dentro
sensação de estar quente ou frio demais' O segundo tì-
uma células é seu resentatórìo intracelular'
querer buscar umâ sombra ou vestir um casaco' que está fora
para o mesmo problema' po de reservatório é formado pela água
solução comportamental no sangue e em
demais' uma brisa po- das células. Esta água está presente
Quando você está quente
semelhante' quando você outros fluidos corporais e é chamada de resentatório
de paìecer boa. De modo
um banho quente parece agradável' extracelular.
est; frio demais,
própria temperatura interna muda' A sede extracelular resulta quando nossos coÍ-
Mas quando sua ou nos
externos também mu- pos perdem água porque ficamos sem beber
sua percepção destes eventos extraída do
todo o seu corpo mude de .*"..i,u*o, dé maneira intensa' A água é
da. Èmbora normalmente excretada pelas
um ou dois graus' quando você está corpo pelos rins através da urina,
temperatura em pul-
gtanauias sudoíparas na pele, ou exalada dos
em situações que o fazem sentir muito quente ou provém
íõ". ,tu forma de vapoÍ, e em cada caso ela
frio, é apenas uma pequena mudança na temperatura sangüínea' A perda re-
como você mais diretamente da irrigação
cerebral que causa a mudança no modo que permanece;
fazendo-o duz o volume de fluido extracelular
se sente. O cérebro pode ser "enganado"' vez' produz
mudando a tempe- a perda no volume de sangue, por sua
sentir calor ou frio simplesmente
Você não sente esta
uma redução na pressão arterial'
pequeno de neu-
ratura de um número relativamente pressão arterial, mas os receptores \z
suave alteração na
rônios no hipotálamo. Por exemplo' o resfriamento grandes vasos
indo- de pressão em seus rins, coração e
isolado do hipotálamo (pelo bombardeamento e ativam neurônios sensórios
tubo .uniüín"o, a detectam
lor de um líquido frio através <le um pequeno
sinal para o cérebro Deg1i1 os
no hipotálamo) quJt ans-it"m um
que fbi cirurgicamente implantado enviam um impulso à hipó-
para ligar neurônios no hipotálamo
motiva um rato a pressionar uma barra
pele - ainda fise, fazendo-a segregaÍ um hormônio antidiurético
uma lâmpada de calor que aquece sua
que
geral não tenha dimi- (ADH) na colTente sangüínea' O ADH faz com
que sua temperatura corporal
hipotalâmicos os rins retenham água do sangue quando o filtram'
nuído (Satinoff, 1964). Os neurônios em uri-
Em vezde enviar esta água para convertê-la
detectaram um afastamento de sua própria
tempera-
rins restituem ao sangue' Isso ocorre sempre
na. os a
tura do Ponto crítico normal' por mais do que algumas
que você fica sem beber
A maioria de nós já experienciou uma mudança que sua
pode tem- úoras. Por exemplo, você pode ter percebido
temporária no ponto crítico' Uma doença nestas
aumentar os pontos cíticos do cérehro
urina parece ter uma cor mais concentrada
po.*iu-"nt. depois
tempera- ocasiões (por exemplo, quando você acorda
em vários graus acima do normal' Então a cérebro envia
o que de uma noite de sono). Além disso' o
tura que eles "procuram" totna-se mais alta' hormô-
Reações fisiológicas que elevam a um sinal neural aos rins que os faz liberar o
resulta em febre. com uma
corpo são ativadas' Você treme' ea nio renina. A renina interage qulmicamente
temperatura do um outro
substância no sangue para produzir ainda
temperatura do corpo começa a subir acima do nor- de \
você hormônio, a angiotensina, que ativa os neurônios
mal. Ma. apesar da elevação de temperatura' o dese-
um localização profunda no cérebro, produzindo
pode continuar sentindo frio - até mesmo em
jo de beber.
ãmbiente quente - até que seus neurônios hipotalâ-
Lembre-se que toda essa seqüência de eventos
e
micos atinjam seu ponto cítico elevado' queda na pressão arlerial cau-
desencadeada por uma
pela desidratação. Outros eventos que causam
A Sede como Processo Homeostático sada
po-
queda dramática na pressão sangüínea também
Satisfazer a sede éum importante processo homeos- dem produzir sede' Por exemplo, soldados ferirlos
tático. A sede é a manifestação psicológica da ne' .u.npo, de batalha ou pessoas feridas que perde-
cessidade de ógua, que é êssencial para a sobrevi- "*
.u*.uito sangue podem sentir sede intensa' A cau-
.'ì vência. O que controla esse processo? de pres-
sa de seu desejo é a ativação de receptores
i::l:..
Depois de ficar sem água ou exercitar-se inten- são, que desencadeia a mesma seqüência de produ-
tipos de re-
samente, o corpo começa a esvaziar dois ção de renina e angiotensina, resultando na experiên-
:,Ì :t'i, eliminada
servatórios líquidos à medida que a ág:ua é cia de sede (Fitzsimons, 1990)'
.<
:l
iu pela perspiração, respiração ou micção' O
primeiro
A sede intracelular é causada por osmose a -
nas ela é
,..),.1

.ÍÈ ... iipo à" reiervatório é formado pela água contida tendência da água de passar de zonas onde
ì.iì moléculas
.élulur. Esta água está misturada com as abundante para zonas onde ela é relativamente rara'
. rr'ì
de proteína' gordura e carboidrato
que foÍmam a es-
:1.t
!?
I !.i
Introdução à Psicologia de HiÌgard 377

É principalmente a concentração de íons de "sais" de


sódio, cloro e potássio que detemina se a água é
abundante ou rara. À medida que o corpo perde água,
essas concentrações começam a aumentar na circula-
ção. Basicamente, o sangue se toma mais salgado. As
concentrações mais elevadas no sangue fazem com
que a água migre do interior relativamente diluído
das células do corpo - inclusive dos neurônios - para
o sangue. Num processo semelhante à absorção de
água com uma toalha de papel, a água é extraída dos
neurônios e demais células. Os neurônios do hipotá-
.: ' .:. lamo são ativados quando a maior concentração de
,;.. - sal no sangue extrai água deles, tornando-os desidra-
tados. Sua ativação produz sede osmótica ou "intra-
.r. :. l celular", produzindo o desejo de beber. O beber res-
titui água no sangue, reduzindo a concentração de
sal, o que por sua vez permite que a água retome aos
A maioria dos proprietários de bares sabe que os salgados despertam
sede osmótíca e, deste modo, induzem os fregueses a beber mais.
neurônios e outras células. É por isso que as pessoas
tìcam com sede depois de comer uma comida salga-
da - aìnda que talvez não tenham perdido água. são de repulsa. Primatas, macacos e diversas outras
espécies reagem da mesma maneira. Os fabricantes
de alimentos tiram proveito de nosso gosto natural
Fome por doces para criar alimentos doces que estimulam
muitas pessoas a comeÍ em excesso.
O controle da fome envolve muitos dos mesmos con
Por que achamos comidas e bebidas doces tão
ceitos homeostáticos da sede, mas comer é muitl
atraentes? Os psicólogos evolucionistas sugeriram
mais complexo do que beber. Quando estamos com
que é porque a doçura era um excelente "rótulo" pa-
secìe. geralmente precisamos apenas de igua. e nos-
ra nossos ancestrais (que coletavam alimentos entre
sa sede é dirigida para qualquer coisa que possa for-
plantas desconhecidas) que lhes inlormava que um
necê-la. Mas existem muitas coisas diÍèrentes para
determinado alimento ou baga era rico em açúcar,
comer. Precisamos comer diversos tipos de coisas
classe de carboidrato digerível. Ingerir alimentos do-
(proteínas, carboidratos, gorduras, sais minerais) pa-
ces é um excelente meio de obter calorias, e calorias
ra sermos saudáveis. Precisamos selecionar o equilí-
não eram abundantes em nosso passado evolutivo.
brio correto de alimentos que contêm tais caracterís-
Uma explicação semelhante loi proposta para nossa
ticas. A evolução forneceu a nossos cérebros formas
aversão pelo sabor amaÍgo. Os compostos natural-
de nos ajudar a escolher os alimentos de que precisa-
mente amargos que ocorem em determinada plantas
mos (e evitar comer coisas que possam nos envene-
podem Íazer com que elas sejam tóxicas aos huma-
nar). Algumas destas formas envolvem as preferên-
nos. O amargor, em outras palavras, é um rótulo pa-
cias básicas de paladar com as quais nascemos. Ou-
ra um tipo natural de veneno de ocorrência comum.
tras envolvem mecanismos de aprendizagem de pre-
Os ancestrais que evitavam plantas amargas podem
ferências por determinados alimentos e aversão a ou-
ter tido mais êxito na evitação destes venenos (Rozin
tfos.
e Schulkin, 1990).
O sabor é o Íãtor mais importante na preferência
Uma segunda maneira de desenvolver as prefe-
de alimentos. O sabor contêm tanto componentes de
rências por alimentos ocorre mediante um conjunto
paladar quanto de odol mas foi o paladar que se tor-
de mecanismos de aprendizagem e aprendizagem so-
nou mais importante na evolução humana. Os seres
cial. Um deles é a preÍèrência baseada nas conse-
.::,
humanos nascem "programados" com preferências e
qüências de ingerir comida com um determinado sa-
aversões por determinados gostos. Até mesmo bebês
bor. A experiência com as conseqiiências nutricio-
respondem ao gosto doce com movimentos de esta-
nais de um alimento conduz a uma gradual predile-
lidos dos lábios e expressões laciais que indicam
prazer (Steiner, 1979'). Eles respondem a sabores ção por seu sabor através de um processo que é es-
sencialmente uma forma de condicionamento clássi-
amargos afãstando-se e virando o rosto com expres-

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,.i- .... :: Rita L. Atkinson, Ríchanl C. Atkinson, EclwartÌ E. Smith, Daryl J. Bem e Susan
Nalen-Hoeksema
ian i-
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:

*vt+,.::..,..:.: Capítulo 10
i,,,, .-ìÌ,'

,n -.
[ -Ì ".-. co (Booth, 1991). A experiência com outras formas do processo de digestão. Ainda mais é criada pelo fi-
,!j de associações com reflexos no sabor pode também gado quando ele converte outras formas de nutrien-
Lrì i1
tì ,.f ser a base para o desenvolvimento de preferências tes. Deste modo, uma refeição reabastece o combus-
por sabores que inicialmente não são agradáveis, tais tível de que seus neurônios cerebrais e as demais cé-
!:': :'1'
como álcool ou cafeína. Em outras palavras, os efei- lulas de seu corpo necessitam.
(:,i: -:ìì
tos psicológicos ou físicos positivos do álcool ou da Como nossas células precisam de combustível,
1i)1- .,.-
cafeína podem fazer-nos desenvolver preferência por
poderíamos esperar que a fome fosse unicamente
'lt-: .:(_a
estes alimentos, mesmo que inicialmente não goste- uma motivação homeostática controlada inteiramen-
;:(i:r í-rì
;
mos de seu gosto. O mesmo tipo de processo pode te pela necessidade de manter fontes suficientes de
ocoÍrer no sentido oposto para produzir forte aver- energia à disposição. Na verdade, a homeostase é o
são, ou aversão condicionada, por um determinado princípio dominante que opera no controle da fome'
alimento. Se sua primeira amostra de um alimento Déficits nos combustíveis disponíveis podem desper-
ou bebida saborosa é seguida de náusea, da próxima tar forme, e excedentes podem inibila' Mas ainda
vez que o experimentar você pode achar que o ali- que a homeostase seja crucial para entender o con-
mento não é saboroso. O alimento não mudou, mas trole da fome, fatores de incentivo são igualmente
você sim, em função de suas novas memórias asso- importantes. Na verdade, só podemos entender a fo-
ciativas, que fazem com que a comida seja posterior- me se examinaÍÍnos a interação entre homeostase e
mente experienciada como desagradável. incentivos.
A importância das interações entre a redução do
lnterações entre Homeostase impulso homeostático e o gosto e outros estímulos
e lncentivos de incentivo dos alimentos foi elucidada por um
clássico experimento de Miller e Kessen (1952)' F's-
Independentemente dos alimentos particulares que tes investigadores treinaram ratos para percoÍTer um
escolhemos, não há dúvida de que precisamos comer pequeno trajeto para obter uma recompensa de leite'
a f,m de manter a homeostase de energia. As células Em um dos casos, os ratos receberam leite como re-
colporais queimam combustível para produzir a compensa da maneira comum: eles o beberam' Nou-
energia necessária para as tarefas que realizam' C) tra situação, os ratos receberam a mesma quantidade
exercício físico faz com que as células musculares de leite, porém de maneira mais direta: o leite era
queimem combustível extra paÍâ atender às necessi- suavemente bombeado em seus estômagos através
,t:t'
ir-= dades metabó1icas impostas pelo movimento energé- de uma cânula introduzida em uma abertura artifi-
i!l!:
(:.Ì tico. Pela queima de mais combustível, elas utilizam ctal, oufístula, implantada semanas antes. Estas duas
reservas de calorias que foram depositadas como recompensas ofereciam exatamente o mesmo núme-
:l! gordura animal ou outras formas de "energia arma- ro de calorias. Ambas reduziam o déficit de combus-
l'-:
zenada". Durante a leitura deste texto' os neurônios tível dos ratos ao mesmo grau. Mas os ratos aprende-
de seu cérebro também estão queimando combustí- ram a ir em busca da recompensa de leite muito me-
vel a fim de atender às necessidades metabólicas lhor quando podiam bebê-lo. O leite não era um mo-
criadas quando eles disparam impulsos elétricos e tivador poderoso quando era bombeado diretamente
produzem e liberam neurotransmissores. O principal para o estômago, ainda que reduzisse a fome da mes-
combustível usado pelos neurônios é a glicose, um ma maneira que quando ia para a boca. Os ratos pre-
açúcar simples. Sem combustível, os neurônios não cisavam tanto saboreil a recompensa quanto fazêJa
funcionam. Infelizmente, seu cérebro não usa mais reduzir a fome.
glicose quando você "o exercita" pensando muito' A importância destas interações entre incentivos
Estes neurônios estão sempre ativos. e sempre con- orais e redução de impulso foi comprovada de mui-
sumindo glicose, quer você esteja pensando muito tas maneiras desde aquele primeiro experimento
ou não. O pensamento concentrado ou outros even- (Toates, 1986). O alimento que não passa pela rota
tos psicológicos podem alterar levemente o padrão natural de degustação e deglutição não ó fortemente
de uso de glicose, mas não a quantidade total. motivador tanto para animais quanto para humanos'
A glicose está presente em muitas frutas e outros
Por exemplo, as pessoas que são alimentadas inteira-
aÌimentos. Ela também pode ser fabricada pelo fíga- mente por meio de infusões intravenosas ou intragás-
do a partir de outros açúcares ou carboidratos. Depois tricas de nutrientes muitas vezes acham estas "refei-
de fazer uma refeição, uma grande quantidade de glu- insatisfatórias. Elas podem sentir um intenso
ções"
cose será absorvida pela circulação sangüínea através

:1..ì i
r,lt'
lnfodução à Psicologia de Hilgard 379

desejo de comer algo que possâm pôr na boca - mes- chamado alíestesia (Cabanac, 1979), em que os ali-
mo que depois precisem cuspi-lo depois de mastigá- mentos (especialmente os alimentos doces) têm me-
lo. O forte desejo de estimulação oral - acima e além lhor sabor quando estamos com fome. Por exemplo,
da satisfação de necessidades calóricas - também se quando se pede às pessoas que avaliem a palatabili-
reflete em nosso uso generalizado de adoçantes arti- dade de bebidas doces depois de uma ret-eição, ou
1ìciais, que oferecem sabor sem calorias. Os incenti- depois de várias horas sem comeÍ, elas atribuem
vos alimentares, através da experiência sensorial en- pontuações mais altas de palatabilidade à mesma be-
volvida na ingestão de alimentos e bebidas palatá- bida quando estão com fome do que quando come-
veis, são poÍtanto tão cruciais para o apetite quanto a ram há pouco tempo.
redução do impulso calórico.
A aprendizagem é uma parte importante da inte- lndicadores Fisiológicos de Fome
ração entre os sinais fisiológicos de fome e os estí- Talvez você já tenha notado que quando você está
mrúos de incentivo de comer. Demonstrações dramá- com fome seu estômago às vezes ronca' Nestes mo-
ticas podem ser vistas em animais em que o ato de mentos as paredes do estômago estão envolvidas em
comer é "clesvinculado" das conseqüências calóricas contrações musculares, criando os movimentos rui-
peÌa implantação de uma fístula no estômago, a qual dosos de seus conteúdos, que você ouve. As contra-
permite que o alimento seja retirado do estômago quando você
ções do estômago são mais lreqüentes
bem como colocado ali. Se a tampa da fístula é re- está com lome e inclinado a sentir que seu estômago
movida, tudo que é comido irá sair em vez de ser dì- está vazio. A associação destas contrações a sensa-
gerido. Isso é chamado de alimentação falsa porque a hi-
ções de fome levou os investigadores a levantar
a refeição é uma faÌsificação no sentido de que não pótese de que sensores de pressão no estômago de-
Íbrnece calorias. Animais alimentados Íâlsamente tectam o vazio e ativam tanto as contrações qrÌanto a
comem quantìdades normais e depois param. Por experiência psicológica de fome. Posteriormente,
que eles param em vez de continuarem comendo? A psicólogos e Íìsiólogos descobriram que esta coinci-
resposta torna-se clara quando obser\àmos o consu- dência é apenas ìsso - uma coìncìdèncìa. Às sensa-
mo de comida durante as refeições subseqüentes: os
ções estomacais das contrações não são a causa real
animais aumentam gradualmente a quantidade inge- da fome. Na verdade, as pessoas que flzeram cirur-
rida à medida que aprendem que a refeição fornece gias retirando seus estômagos por motivos de saúde,
menos calorias do que antes (Van Vort e Smith, fazendo com que a comida passe diretamente para os
1987). Se â tampa da fístula é substituída de modo intestinos, podem contìnuar tendo fortes sensações
que tudo é digerido da maneira normal, os animais rle fome.
comem a quantidade "excessiva" em suas refeições O estômago realmente possui receptores que sào
seguintes. Gradualmente, o tamanho de suas refei- ìmportantes para as mudanças na fome, mas estes re-
ções diminui para níveis normais à medida que eles ceptores são primariamente de natureza química.
aprendem que a comida aparentemente voltou a ser Eles estão mais relacionados com sensações de sa-
rica em calorias. Estas observações levaram à hipóte-
ciedade - são ativados por açúcares e outros nutrien-
se da saciedade condicionctda - óe que a plenitude
tes presentes nos conteúdos do estômago e enviam
que sentimos após uma refeição é pelo menos em
um sinal neural ao cérebro - do que com sensações
parte produto de aprendizagem (Booth, 1987).
de fome.
Os humanos também são capazes de ter uma sa- O indicador fisiológico de fome está mais direta-
ciedade condicionada. Em um experimento, pediu-se mente relacionado com a real Íbnte de calorias para os
às pessoas que fizessem várias refeições com um ali-
neurônios e outÍas células: níveis de glicose e outros
mento característico rico em calorias e com outro ali- nutrientes no colpo. O cérebro é seu próprio sensor de
mento que era pobre em caiorias. Posteriormente, deficiências nas calorias disponíveis. Lembre-se de que
quando os participantes receberam novamente os dois principal
os neurônios cerebrais usam glicose como sua
alimentos, que eram aparentemente os mesmos que fonte de energia. Os neurônios dc determinadas partes
antes, mas com conteúdo calórico idêntico, os alimen-
do cérebro, especialmente o tronco cerebral e o hipotá-
tos que originalmente eram mais ricos em calorias lamo, são particulatmente sensíveis aos níveis de glico-
lhes pareceram mais satisfatórios (Booth, 1990).
se. Quando os níveis caem muito, a atividade destes
Uma última forma de interação entre incentivos neurônios é interompìda. Isso sinaliza o resto do cé-
alimentares e o impulso homeostático é o fenômeno rebro, produzindo fome. A fome pode ser produzida

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:i,.iii ç:: Capítulo l0 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
i.. ì.

artificialmente em animais experimentais mesmo infusão de nutrientes no sangue que vai diretamente
:..:4. que eles tenham comido recentemente. Se substân- para o fígado.
(ii: !rl-.,
'Ì-- <-l
'..r cias químicas que impedem que os neurônios quei- Por que o cérebro dependeria de sinais de nu-
iitj
i.:
..-:a
mem a glicose como combustível são infundidas no trientes provenientes do fígado e não de seus pró-
í' t:
:::.,,.
cérebro de um animal, este irá subitamente procurar prios detetores? Uma possível resposta é que o fíga-
tl: t comida. Seu cérebro foi enganosamente induzido a do pode medir mais acuradamente os diversos tipos

ì:1r
ri:iì,
\: detectar falta de glicose, ainda que esta estivesse de nutrientes utilizados pelo cotpo. O cérebro detec-
::.,i .;nì realmente presente, porque a atividade dos neurônios ta principalmente a glicose, mas outros tipos de nu-
foi interrompida como se a glicose estivesse baixa. trientes, como carboidratos. proteínas e gorduras
(:,
complexas podem ser medidos, armazenados e às
iJ-
.
:=
"!1.
lndicadores PeriÍéricos Em certa medida, fome é o vezes conveftidos em outros nutrientes pelo fígado.
::i: :-:,'
que sentimos quando não estamos sentindo sacieda- Seu papel como "câmbio" geral dos nutrientes pode

t,íÌ llj de. Enquanto há alimentos calóricos em nosso estô- permitir ao fígado fazer a melhor estimativa das re-
mago ou intestino, ou as reservas de calorias estão servas totais de energia disponíveis ao organismo.
altas em nosso corpo, sentimo-nos relativamente sa-
::.t/. r..l tisfeitos. Quando estas declinam, ocoÍre a fome. O Integração de lndicadores de Fome
controle da fome é, portanto, o inverso do controle
a),'i :::::1 Os indicadores de fome e saciedade são processados
da saciedade.
pelo cérebro em duas etapas para produzir a motiva-
Muitos sistemas físicos contribuem pÍÌra o senti-
ção para comer. Primeiro, os sinais dos receptores de
mento de saciedade após uma refeição. O primeiro
ç) ::::ì fome no próprio cérebro e sinais de saciedade trans-
tj):',;.. sistema é formado pelas partes do corpo que primei-
I
l!,,: ' i\
lír.' mitidos do estômago e do fígado são somados no
ro processam a comida: o estômago e o intestino.
',1
tronco cerebral para detectar o nível geral de necessi-
,, Tanto a expansão física do estômago quanto as subs-
dade (Grill e Kaplan, 1990). Esta "avaliação integra-
tâncias presentes nos alimentos ativam receptores
da da fome" também está conectada no tronco cere-
r i.t nas paredes do estômago. Estes receptores enviam
i:r :-' bral aos sistemas sensório-neurais que processâm o
seu sinal para o cérebro através do nervo vago, que
ar !r:iì
.i.) íÌ gosto. Os neurônios gustativos no tronco cerebral po-
também transmite sinais de muitos outros órgãos
dem mudar sua responsividade durante algumas for-
i-ì .,. corporais. Um segundo tipo de mensagem de sacie-
mas de fome e saciedade (Scott e Mark, 1986). Isso
dade origina-se no dttodeno, a pafte dos intestinos
ìÌ;
:'J
íÌ
i:l: que recebe comida diretamente do estômago. Este si-
pode ser parte do motivo pelo qual os alimentos têm
sabor mais agradável quando estamos com fome.
nal é enviado ao cérebro como substância química e
ii) ::.' Para tornar-se a experiência consciente que co-
-,1: não através de um nervo. Quando o alimento chega
\jii;
. nhecemos como fome, e para estimular a busca de
ii -,\
ao duodeno, ele faz com que este segregue um hor-
,:,,r, : alimento, o sinal de fome do tronco cerebral deve ser
a:;, mônio (colecistoquinina, ou CCK) na circulação. O
processado adicionalmente no prosencéfalo. Uma re-
CCK ajuda a promover a digestão fisio1ógica, mas
gião essencial para este processamento é o hipotála-
i..ì ,: Ì também tem uma conseqüência psicológica. Ele se
ì:, mo (ver Figura 10.3). A fome é afetada de duas for-
'i
desloca através do sangue até chegar ao cérebro, on-
.{i mas radicalmente diferentes por manipulações de
ii.J'
,',,,r;
de é detectado por receptores especiais. Isso produz
-:... duas partes do hipotálamo: o hipotálamo lateral (as
t:. sensações de saciedade. Animais famintos podem ser
porções em ambos os lados) e o hipotálamo ventro-
induzidos a sentir uma falsa saciedade se quantida-
=
ii\:
':)
ìi-i
des microscópicas de CCK forem infundidas em
medial (a porção inferior ["ventral"] e intermediária
Imedial]). A destruição do hipotálamo lateral produz
seus cérebros pouco depois de terem começado uma
uma aparente ausência total de fome, pelo menos até
i'O .. refeição (Smith e Gibbs, 1994).
que o resto do cérebro se recllpere (Teitelbaum e
;i-- ;) Talvez surpreendentemente, o sinal cerebral
'É, mais sensível de disponibilidade de nutrientes origi-
Epstein, 1962). Esse fenômeno é chamado de síndro-
" r.ì. me hipotalâmicn lateral. Os animais nos quais pe-
ne-se em feceptores neuronais separados do cérebro
":l: ...: quenas lesões foram feitas em seu hipotá1amo lateral
È,: e dos alimentos: o fígado (Friedman, 1990). Os re-
:....]
.::...,j -,,. podem simplesmente ignorar a comida. Eles podem
ceptores no fígado são altamente sensíveis a altera-
a

até rejeitá-la como se ela tivesse um gosto ruim (por


r::!, ) ções nos nutrientes presentes no sangue após a di- exemplo, eles fazem caretas e a cospem vigorosa-
gestão. Estes sinais também são enviados ao cérebro
'i:: <.j: mente). Se não forem alimentados artificialmente,
'!.. l,(rì
através do nervo vago. Um animal faminto pára de
ê ú.. eles morrem de inanição. Um padrão praticamente
,i' i ... j comer quase imediatamente depois de uma pequena
ii

'ti ::'tl
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ìtii: :' I
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i:,ì:,. -.-.
t::,t . , .
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Introdução à Psicologia de Hilgard 381

FIGURA 10,3

O Hipotálamo e a Hipófise

<.

Hipotálamo -
Hipófíse -*-

oposto de comportamento, a síndrome hipotalômíca per a alimentação quando injetadas em par-tes do hi-
ventromedial, é produzido por uma lesão do hipotá- potálamo lateral. Muitos medicamentos prescritos
lamo ventromedial. Animais com esse tipo de lesão para dieta são quimicamente semelhantes às anÍèta-
comem com voracidade e consomem grandes quan- minas. Estas drogas podem inibir o apetite por sua
tidades de comida, especialmentc se eìa e agradivel. atuação nos neurônios no hipotálamo.
PrevisiveÌmente, eles ganham peso até ficarem mui-
to obesos, adquirindo até o dobro de seu peso corpo-
ral normal (vcr Figura 10.4).
Outras manipulações destas regiões cerebrais
também parecem alterar a fome. Por exemplo, a esti-
mulação elétrica do hipotálamo lareral produz exces,
so de alimentação, exatamente o contrário de uma le-
são do hipotálamo lateral (e o mesmo ef'eito de uma
lesão do hipotálamo ventromedial). Um animal com
um eletrodo de estimulação em seu hipotálamo late-
ral pode começar a procurar comida e comer assim
que a estimulação se inicia, e parar de comer quando
ela cessa. Inversamente, a estimulação do hipotála-
mo ventromedial detém a alimentação natural de um
animal laminto.
A estimulação neuroquímica do hipotálamo Íìn-
ciona de modos semelhantes. Por exemplo, certos
compostos, tais como o neuropeptídeo Y, ou drogas
opiáceas como a morf,na, podem estimular a alimen-
tação quando são injetadas no hipotálamo ventrome-
FIGURA 10,4
dial. Estas drogas podem temporariamente estimular
a fome ou fazer a comida ter melhor sabor. Outras Um dano no hipotálamo ventromedial produz excesso de alimentação e
drogas, tais como as anfetaminas, podem interrom- obesidade.

: ri,ii ri .i:

-lr::ìirt, ., tt lill l::r !


382 Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richard C. AÍkinson, Ed-'arcl E. Smith, Daryl J. Bem e Suson Nolen-Hoeksemtt

Por volta de 1960, quando a importância do hi- natômicos e neurotransmissores estão envolvidos no
potálamo lateral e do hipotálamo ventromedial para apetite e na saciedade.
a Íbme foi descoberta, os psicólogos tinham a ten- Uma conseqüência de ter muitos sistemas neu-
dência de considerar estes locais simplesmente como rais para o apetite é que não é possível abolir o comer
centros de fome ou saciedade. Desde então, tornou- destruindo-se apenas um local. Mesmo em animais
se evidente que os conceitos de "centro da fome" ou com lesões hipotalâmicas laterais, com o tempo o
apetite irá voltar. Se os ratos são artiflcialmente ali-
\
!-;l "centro da saciedade" são muito simplistas, por di-
mentados por diversas semanas, ou meses, depois de
rilì versas razões. Uma é que estes locais não são os úni-
cos centros de fome ou saciedade no cérebro. Eles uma lesão, eles começarão a comer novamente, mas
interagem com muitos outros sistemas cerebrais pa- irão comer apenas o suÍìciente paÍa manter seu peso
ra produzir seus efeitos. De fato, alguns dos mesmos corporal mais baixo. Eles parecem ter atingido a ho-
.1.a.
efeitos podem ser produzidos pela manipulação de meostase em um ponto crítico mais baixo. Na verda-
outros sistemas cerebrais, além do hipotálamo. Por de, os ratos podem ser "protegidos" da perda habi-
exemplo, muitos dos efeitos da manipulação do hi- tual no comer resultante de uma lesão hipotalâmica
potálamo lateral podem ser duplicados pela manipu- lateral se antes da lesão forem submetidos a uma die-
lação do sistema dopamínico mesolímbico, que sim- ta que diminua seu peso corporal (ver Figura 10.5).
plesmente passa através do hipotálamo. Como as le- Isso indica que as lesões hipotalâmicas na verdade
sões hipotalâmicas laterais, as lesões neste feixe de não acabam com a fome. Em vez disso, elas podem
axônios que contém dopamina elimina a alimenta- elevar ou diminuir o ponto crítico homeostático para
ção. Na verdade, muitos estudos iniciais das lesões o peso corpoÍal que normalmente controla a fome.
(:):
hipotalâmicas laterais realmente destruíam tanto o Mudar o ponto crítico é como reajustar um termosta-
sistema dopamínico mesolímbico como os neurônios to: o sistema procura atingir o novo peso corporal. O
do próprio hipotálamo lateral. Inversamente, a su- efeito de lesões hipotalâmicas mediais também se
pressão da alimentação ocasionada pela estimulação conforma com essa idéia. Os animais com estas le-
elétrica e por muitas drogas também depende em sões não ganham peso inÍìnitamente. Com o tempo
parte da ativação do sistema mesolímbico. Assim, eles se estabilizam em um novo peso corporal obeso.
além de um ou dois centros, muitos sistemas nelrroa- Naquele ponto eles comem apenas para manter o no-
vo ponto crítico. Se, contudo, Íbrem submetidos a
:; uma dieta e seu peso cair abaixo daquele ponto críti-
4rü co, eles voltam a comer em excesso a fim de recupe-
rar aquele peso corporal quando tiverem esta oportu-
4*0 nidade (ver Figura 10.6). Uma vez recuperado aque-
le níve1 de obesidade, eles param outra vez.
ãeü
:11
.í Obesidade
PESO
3Ëü Até aqui enÍàtizamos os processos homeostáticos na
::
CORPORAL
(gramas) Íbme, mas o comportamento de alimentação mostra
3{0 vários desvios da homeostase. O peso corporal de al-
gumas pessoas não é tão constante quanto sugere o
üc.u ponto de vista homeostático. O desvio mais comum
da regulação homeostática da alimentação - pelo
?fin
.1* ü 1* 20 3ü 40
menos para humanos - é a obesidade. Aproximada-
I
mente 25Vo dos americanos são obesos, uma condi-
."t'
Antes da Lesão ff Depois da Lesão
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ção muitas vezes definida como estar 30Vo ou mais
a. DtÀs acíma do peso adequado. A prevalência da obesida-
de varia entre diferentes grupos. A obesidade física
,til
FIGURA 10.5 ocorre aproximadamente na mesma freqüência em
ambos os sexos, mas a percepção psicológica de es-
Peso Corporal e Hipotálamo Lateral Ántes de lesionar o hìpotálamo Ia-
tar com excesso de peso é mais comum entre as mu-
teral, um grupo de ratos foi privado de alimentação e outro grupo podía alí-
\: mentar-se livremente. Depoìs da cirurgÌa, os animais privados de alimento theres. Mais de 50lo das mulheres norte-americanas.
aumentaram seu consumo de alimentos e adquiilram peso, enquanto o comparado com mais de 35Vo dos homens, conside-
grupo que se alimentara lívremente perdeu peso. Ambos os grupos se es- ram-se com excesso de peso (BrowneÌÌ e Rodin,
tabilizaram no mesmo nível de peso. (Segundo Powley e Keesey, 1970) 1994; Horm e Anderson, 1993). Nos Estados Uni-
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Introdução à Psicologia de Hilgard 383

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FIGURA 10.6
EÍeitos da Alimentação Forçada e Privação de Alimento em Ratos com Lesões no HVM Depois que o hipotá-
lamo ventromedial é lesionado, o rato come excessivamente e ganha peso até estabilizar-se em um novo nível, de
obesidade. A alimentação forçada ou privação de alimento altera o nível de peso apenas temporarìamente; o rato
retorna a seu nível estabilizado. (Segundo Hoebel e Teitelbaum, 1966)

dos, a obesidade é mais prevalecente em grupos de levam ao ganho de peso em duas grandes classes: (a)
classe socioeconômica inferior do que em grupos de a genética e (b) a de consumo de calorias (comer em
::: ín classe mais alta; entretanto, nos países em desenvol- excesso). De maneira geral, as pessoas podem ficar
I i:riÌ vimento ocoÍïe o inverso: quanto mais alta a condi-
r li]
obesas porque são geneticamente predispostas a me-
íjÌ ção socioeconômica das pessoas, maior sua probabi- tabolizar nutrientes em gordura mesmo que não co-
lidade de serem obesas (Logue, 1991; Stunkard, mam mais do que outras pessoas (causas metabóli-
.. l::_ 1996). cas), ou porque elas comem demais (por motivos psi-
: :.tt.
.:'-' A obesidade é uma importante ameâça à saúde. cológicos ou sociológicos). Ambos os fatores podem
Ela contribui para uma maior incidência de diabete, estar envolvidos em alguns casos de obesidade, en-
'a t.)
pressão arterial elevada e doenças cârdíacas. Como quanto em outros o culpado pode ser a genética ou o
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se não bastasse, em nossa cultura a obesidade tam- excesso de alimentos.
bém pode ser um estigma social, pois as pessoas
obesas muitas vezes são consideradas indulgentes e Fatores Genéticos Há muito se sabe que a obesida-
sem força de vontade. Isso pode ser muito injusto, de ocorre em famílias. Em famílias nas quais ne-
pois, como veremos, em muitos casos, a obesidade nhum dos pais é obeso, apenas cerca de 107o dos fi-
se deve a fatores genéticos e não ao excesso de ali- lhos serão obesos; se um dos pais é obeso, cerca de
mentação. Considerando-se os problemas associados 40Va dos filhos também o será; e se ambos os pais
à obesidade, não é de surpreender que todos os anos são obesos, aproximadamenÍe J07o dos filhos tam-
milhões de pessoas gastam bilhões de dólares em bém o serão (Gurney, 1936). Estas estatísticas suge-
dietas e drogas para perder peso. rem uma base biológica para a obesidade, mas outras
A maioria dos pesquisadores concorda que a interpretações são possíveis. Por exemplo, talvez os
obesidade é um problema complexo que pode envol- filhos estejam simplesmente imitando os hábitos ali-
ver fatores metabólicos, nutricionais, psicológicos e mentares de seus pais. Descobeftas recentes, contu-
sociológicos. A obesidade provavelmente não é um do, apóiam Íbrtemente uma base genética para a obe-
distúrbio único, mas uma variedade de distúrbios sidade.
que tem a gordura como seu principal sintoma (Ro-
din, 1981). Perguntar como nos tornamos obesos é Estudos de Gêmeos Uma maneira de obter evi-
como perguntar como se chega a Pittsburgh dências do papel da genética na obesidade é estudar
- exis-
tem muitas maneiras de se chegar lá, e qual delas vo- gêmeos idênticos. Como os gêmeos idênticos têm os
cô "escoÌhe" depende de onde você está vindo (Offir, mesmos genes, e uma vez que os genes teoricamen-
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1982). No que se segue, dividiremos os fatores que te desempenham um papel no ganho de peso, gê-

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(1, cos determinam o quanto ganhamos em peso quando
aumentamos nosso consumo de calorias'
() Os resultados também deixam claro por que não
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devemos presumir que pessoas obesas necessaria-
;'; mente comem mais do que pessoas não-obesas. Ape-
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(;)i sar de comerem aproximadamente a mesma quanti-
dade (1.000 calorias extras), a quantidade de peso
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adquirido pelos dif'erentes pares de gêmeos vaíiou'
x.i
!. Esta diferença parece depender de como seus corpos
metabolizaram as calorias extras. Os corpos de algu-
i-ì mas pessoas tendem a converter uma maior propof-
ção de calorias em reservas de
gordura, enquanto ou-
,:íi
tras tendem a queimar as mesmas calorias através cle
í.' diferentes processos metabólicos, independentemen-
lf]r te do quanto seja comido (Ravussin et al., 1988).
Um crítico poderia opor-se a darmos tanta im-
:*. portância ao estudo descrito. Gêmeos idênticos têm
ii):

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Descobertas rccentes oferecem fortes evidências de uma base genéti- não apenas genes idênticos, como também crescem
Ìr. ca para a obesidade. em ambientes muito parecidos. Talvez fatores am-
bientais tenham sido responsáveis pela semelhança
de peso adquirido pelos gêmeos idênticos. Precisa-
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ll
meos idênticos deveriam ser semelhantes em seus
padrões de ganho de Peso. mos estudar gêmeos idênticos que foram criados se-
ri
.< Em um experimento, l2 pares de gêmeos idênti- parados para ver o quanto os membros de um mesmo
cos (todos masculinos) concoÍdaram em ficar em um par se assemelham em peso adquirido. Isso foi feito
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alojamento universitário por 100 dias. O objetivo do em um estudo conduzido na Suécia (Stunkard et al.,
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(.ì. experimento eÍa fazeÍ com que os gêmeos ganhas- 1990). Os pesquisadores estudaram os pesos de 93
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sem peso. Cada um deles recebeu uma dieta que con- pares de gêmeos idênticos criados separadamente'
tinha 1.000 calorias extras por dia. Além disso, sua bem como o peso de 153 pares de gêmeos idênticos
atividade física foi restringida; eles não podiam se criados juntos. Constatou-se que os membros de um
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exercitar e ao, em vez disso, passavam grande parte par de gêmeos criados separadamente são notavel-
aiii;
do tempo lendo, praticando jogos sedentádos e assis- mente semelhantes em peso; na verdade, eles eram
a.l. tindo à televisão. Ao final dos 100 dias, todos os ho- tão semelhantes em peso quanto membros de pares
mens tinham adquirido peso, mas a quantidade ad- de gêmeos criados juntos. Não resta dúvida que os
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í:a:l:
quirida variava de 4 a 13,5 quilos. Entretanto - e es- genes são um determinante importante do peso e do

,:ì te é o ponto-chave - quase não havia variação na ganho de peso.


quantidade adquirida pelos membros de cada par cle
gêmeos (a variação ocorreu entre os pares de gê- Células de Gordura Se os genes desempenham um
<l. meos). Em outras palavras, gêmeos idênticos ganha- papel no ganho de peso, queremos saber alguns deta-
ram quantidades quase idênticas. Além disso, gê- lhes sobre este papel. Mais particulaÍïnente, quais são
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meos idênticos tendiam a ganhar peso nos mesmos os processos digestivos e metabólicos que são afeta-
íJ:r
lÈ\ lugares. Se um dos membros de um par de gêmeos dos pelos genes e que mediam o ganho de peso? Uma
ganhava peso na cintura, o outro também; se um dos resposta envolve as células de gordura, onde toda a
membros de outro par de gêmeos ganhava peso nos gordura do corpo é armazenada. Existem entre 30 e
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quadris e coxas, o outro também (Bouchard et a1., 40 bilhões de células de gordura nos corpos da maio-
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1990). ria dos adultos normais, mas o grau de peso em ex-
:
Estes resultados deixam claro que tanto o consu- cesso caffegado pelos adultos norte-americanos co-
mo de calorias quanto a genética contribuem para o muns varia em mais do que os 25 a33vo qtte esse nú-
ganho de peso. O fato de que todos os homens no es- mero sugeriria. A variação adicional provém do ta-
<.:i
tudo ganharam peso indica que mais calorias se tra- manho, e não apenas do número de células de gordu-
duzem em maior peso; isso quase não surpreende. O ra: quanto mais calorias ingerimos e não queimamos,
]'.. fato de que a quantidade de peso adquirida variava maiores se tornam as células de gordura existentes.
Í.ì.
'i.) de um par de gêmeos para outro, mas não variava em Em um estudo, constatou-se que os participantes
.; obesos tinham três vezes mais células de gordura do
um mesmo par de gêmeos sugere que fatores genéti-
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trntrodução à Psicologia de Hilgard 385

que os pafticipantes normais (Knittle e Hirsch, a fome de acordo com isso (Weigle, 1994). Por
1968). Em outros estudos, os pesquisadores demons- exemplo, acredita-se que um "gene de obesidade" de
trarâm que os ratos que têm o dobro do número habi- camundongos controla a capacidade das células de
tual de células de gordura tendem a ser duas vezes gordura de produzir um "sinal químico de sacieda-
mais gordos que os ratos-controle. E quando os pes- de" (Zhang et al., 1994). Os ratos que não possuem
quisadores extraíram algumas das células de gordura este gene se tornam obesos. Normalmente, quanto
de ratos jovens para que tivessem apenas a metade mais gordura corporal se tem, mais o sinal de sacie-
das que os membros da mesma ninhada, tais ratos dade é segregado no sangue. Ainda não sabemos se a
adquiriram apenas â metade do peso que os outros obesidade humana envolve um rompimento nesse fa-
membros da mesma ninhada quando cresceram tor ou gene de saciedade. Mas a possibilidade de que
(Faust, 1984; Hirsch e Batchelor, 1976). Portanto, o nível de reservas de gordura é mantido constante
existe um elo entre os genes e o número de células de pode ajudar a explicar por que para algumas pessoas
gordura, e outro elo entre o número de células de obesas é difícil não deixar de recuperar o peso que
gordura e a obesidade; através desta cadeia, os genes perderam através da dieta.
têm uma ligação com a obesidade. Em suma, existem diversas rotas pelas quais os
genes podem ser responsáveis pelo ganho excessivo
Dieta e Pontos Críticos Quando as pessoas tomam de peso, que incluem possuir células de gordura
medicamentos para dieta, diversas coisas podem grandes e em grande quantidade, ter um ponto críti-
acontecer. O medicamento pode suprimìr o apetite co elevado e ter uma baixa taxa metabólica.
diretamente; isso reduziria a sensação de fome. Ou-
tro medicamento poderia suprimir o ponto crítico - Excesso de Alimentação Embora Íatores fisiológi-
o ponto em que o peso corporal se.fixa e que o corpo cos como regulação de gordura e taxa metabólica se-
procLtra manter - em vez de suprimir o apetite dire- jam determinantes importantes do peso corporal, não
tamente. Por exemplo, sugeriu-se que substâncias há dúvida de que comer excessivamente também po-
dietéticas como a fenfluramina têm esse eÍèito de causar obesidade. Os fatores psicológicos que ca-
(Stunkard, 1982). Esse efeito seria equivalente à di- racterizam a alimentação em pessoas que estão ten-
reta supressão do apetite, contanto que o peso corpo- tando perder peso incluem a interrupção de restri-
ral fosse mais alto do que o ponto crítico diminuído. ções conscientes, e o estímulo emocional.
Quando o peso corporal caísse para o nível mais bai-
xo, o apetite voltaria apenas ao grau necessário para lnterrupção de Restrições Conscientes Algumas
permanecer naquele peso. Quando uma pessoa pa- pessoas Íjcam obesas por comerem em excesso depois
rasse de tomar o medicamento, o ponto crítico retor- de Íazerem dieta. Um homem obeso pode interromper
naria a seu nível mais elevado e a pessoa recuperaria uma dieta de dois dias e depois comer tanto que acaba
o peso que havia perdido. Finalmente, algumas dro- consumindo mais calorias do que teria feito se não ti-
gas, tais como a nicotina, podem ajudar as pessoas a vesse feito dieta alguma. Uma vez que a dieta era uma
perder peso por elevarem a taxa metabólica das célu- restrição consciente, a interrupção do controle é um
las, fazendo-as queimar mais calorias do que nor- fator de aumento no consumo de calorias.
malmente o fazem. Para obter um entendimento mais profundo do
Um dos motivos pelos quais a teoria do ponto papel das restrições conscientes, os pesquisadores
crítico se tornou popular entre os psicólogos é a Íbr- desenvolveram um questionário sobre dieta, históri-
te tendência de adultos obesos, tanto humanos qnan- co de peso e preocupação com a alimentação (por
to animais, de retornarem a seu peso corporal origi- exemplo, "Com que freqüência você faz dieta?";
nal depois de pararem a dieta. Em contraste com os "Você come moderadamente na frente dos outros,
ratos jovens descritos há pouco, mesmo a remoção mas come em excesso quando está sozinho?"). Os
cirúrgica de depósitos de gordura por lipoaspiração resultados mostram que quase todas as pessoas -
parece não produzir perda permanente de peso quan- magras, normais ou obesas - podem ser classificadas
do ela é realízada em adultos: os adultos recuperam em uma de duas calegorias: pessoas que consciente-
a gordura em outro lugar. Isso parece aplicar-se à li- mente restringem sua alimentação e pessoas que não
poaspiração realizada em adultos humanos obesos o fazem. Além disso, qualquer que seja seu peso real,
(Vogt e Beiluscio, 1987). o comportamento de alimentação daqueles que res-
Alguns investigadores sugeriram que uma vez tringem sua alimentação é mais parecido com o de
atingidos os níveis adultos de tecido adiposo, eles indivíduos obesos do que com o das pessoas que co-
são mantidos naquele nível. O cérebro pode detectar mem livremente (Herman e Polivy, 1980; Ruderman,
mudanças no nível de gordura corporal e influenciar 1986).

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ii' i Um estudo realizado em laboratório mostra o Dieta e Controle de Peso Embora fatores genéticos
que acontece quando as restrições são retiradas. Pe- possam limitar a quantidade de peso que podemos
diu-se a pessoas que controlam sua alimentação e a perder confbrtavelmente, pessoas com excesso de
pessoas que comem livremente que bebessem dois peso ainda podem perder peso seguindo um progrâ-
milkshakes,um milkshake, ou nenhum; depois elas ma de controle de peso. Mas, para que um programa
experimentaram diversos sabores de sorvete e foram seja bem-sucedido, ele deve envolver algo mais do
incentivadas a comer o quanto quisessem (Herman e que apenas uma dieta rígida.
Mack, 1975). Quanto mais mílkshakes bebiam as
pessoas que comem livremente, menos sorvete elas Limites das Dietas Infelizmente, a maioria das pes-
comiam depois. Em contraste, os participantes que soas que faz dieta não são bem-sucedidas, e aquelas
controlam sua alimentação e que haviam sido pré- que conseguem perder alguns quilos, muitas vezes,
alimentados com dois milkshakes comeram mais voltam a ganhar peso depois que param de fazer die-
sorvete do que aqueles que beberam tm milkshake ta. Esta situação parece dever-se em parte a duas rea-
ou nenhum. Assim, os indivíduos que estão tentando ções arraigadas a uma privação temporária de ali-
restringir sua alimentação, ignorando seu impulso mentos (o que uma dieta é). A primeira reação é que
comum de comer mais, também podem passar a ig- a privação em si pode, depois, causar um excesso de
norar as sensações de saciedade que normalmente alimentação. Em alguns experimentos, os ratos fo-
deteriam seu desejo de comer. ram primeiramente privados de alimento por quatro
dias, depois podiam comeÍ até recuperarem o peso
Estímulo Emocional Indivíduos com excesso de norrnal e Iìnalmente podiam comer tanto quanto qui-
peso, com freqüência, dizem que tendem a comer sessem. Estes ratos comiam mais do que ratos-con-
mais quando estão tensos ou ansiosos, e resultados trole sem histórico de privação. Assim, a privação
experimentais conÍirmam estes relatos. Participantes prévia conduz a um subseqüente excesso de alimen-
obesos comem mais em uma situação de muita an- tação, mesmo depois que o peso perdido como resul-
siedade do que em uma situação de pouca ansiedade, tado da privação tenha sido recuperado (Coscina e
enquanto participantes com peso normal comem Dixon, 1983).
mais em situações de pouca ansiedade (McKenna, A segunda reação que nos interessa é que a pri-
1972). Outras pesquisas indicam que qualquer espé- vação diminui a taxa metabólica e, como podemos
cie de estímulo emocional parece aumentar o consu- recordar, quanto mais baixa a taxa metabólica, me-
i','irlll mo de alimentos em algumas pessoas obesas. Em nos calorias são gastas e maior é o peso. Conseqüen-
um estudo, participantes com excesso de peso e peso temente, a redução calórica durante a dieta é parcial-
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',.)4.. .- normal assistiram a um filme diferente em cada uma mente contrabalançada pela menor taxa metabólica,
;1:: i:'l de quatro sessões. Três dos filmes despertavam di- o que dificulta a satisfação dos objetivos daqueles
:::
1li: versas emoções: um era angustiante, um era diverti- que fazem dieta. A menor taxa metabólica causada
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do e um era sexualmente excitante. O quarto filme pela dieta também pode explicar por que muitas pes-
í.,ì I lÌ
era um entediante documentário de viagens. Depois soas acham cad,a vez mais difícil perder peso com
de assistir a cada um dos filmes, os participantes fo- cada dieta sucessiva: o corpo responde a cada perío-
ram solicitados a degustar e avaliar diferentes tipos do de dieta com uma redução na taxa metabólica
de biscoitos. Os participantes obesos comeram signi- (Brownell, 1988).
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iJ'i a:Ì ficativamente mais biscoitos depois de assistir a Ambas as reações à dieta - alimentação exagera-
iì Íì qualquer um dos filmes estimulantes do que depois da e menor taxa metabólica - são compreensíveis em
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de ver o filme sobre viagens. Os indivíduos com pe- termos evolutivos. Até muito recentemente na histó-
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oÒ .. so normal comeram a mesma quantidade de biscoi- ria humana, sempre que as pessoas passavam por pn-
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tos independentemente do fllme a que tivessem as- vação era poÍ escassez de alimentos no ambiente.

,. í. sistido (White, 1971). Uma resposta adaptativa a esta escassez é comer em
A capacidade do estresse emocional de fazer os excesso e aÍmazenar no organismo o máximo possí-
'.:,1. ..,r
indivíduos comerem também foi observada em ou- vel de comida sempre que esta estiver disponível.
'ì: 3Í
tros animais. Possivelmente isso indica que o estres- Assim, a seleção natural pode ter favorecido a capa-
';a-, : se pode ativar sistemas cerebrais básicos que, em cidade de comer em excesso após a privação. Isso
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!.
certas condições, resultam em excesso de alimenta- explica a reação de comer excessivamente. Uma se-
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ção (Rowland e Antelman, 1976). gunda resposta adaptativa à escassez de alimentos no


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Introdução à Psicologia de Hilgard 387

ambiente é diminuir a taxa na qual os organismos TABELA 10.1


gastam suas poucas calorias, conseqüentemente, a
Perda de Peso Após DiÍerentes Tratamentos perda de peso em quilos
seleção natural pode ter favorecido a capacidade de
ao final de seis meses de tratamento e no acompanhamento após um ano.
diminuir nossa taxa metabólica durante a privação. Os particìpantes nos dois grupos-controle não estavam disponíveis para o
Isso explica a segunda reação que nos interessa. Es- acompanhamento após um ano. (Segundo Craighead, Stunkard e O'Brien,
tas duas reações foram muito úteis a nossa espécie 1981)
em épocas de escassez de alimentos, mas quando a
fome não é mais fonte de preocupação, elas impe- Pêrda de peso Perda de peso
dem que as pessoas obesas que fazem dieta percam após 6 meses após 1 ano
peso perÍnanentemente (Polivy e Herman, 1985). Grupos de tratamento
ModiÍicação de hábitos 10,88k9 8,97k9
Programas de Controle de Peso Para perder peso ïerapia medicamentosa 14,46k9 6,25k9
e manter-se no peso desejado, parece que os Tratamento combinado 15,28k9 4,58k9
indiví-
Grupos-controle
duos obesos precisam formar um novo conjunto de
Lista de espera 1,31 (ganho)
hábitos alimentares permanentes (em oposição às Visitas a um médico 5,98
dietas temporárias) e seguir um programa de exercí-
cios. Algum apoio para esta conclusão é oferecido
pelo seguinte estudo, que comparou vários métodos peso do que os outros dois grupos de tratamento; es-
de tratamento da obesidade (Craighead, Stunkard e tes participantes mantiveram um média de perda de
O'Brien, 1981; Wadden et aÌ., 1997). peso de 8,97 quilos ao final do ano, ao passo que as
Durante seis meses, indìvíduos obesos seguiram perdas de peso para o grupo de tratamento medica-
um de três regimes: (a) modificação de hábitos ali- mentoso e o grupo de tratamento combinado tinham
mentares e prática de exercício, (b) terapia medica- uma média de apenas 6,25 e 4,25 quilos cada um.
mentosa usando um inibidor de apetite (Íènflurami- O que causou esta reversão? Um maior senso de
na) e (c) uma combinação de modificação de com- eficiência própria ou autocontrole pode ter sido um
portamento e terapia medicamentosa. Os participan- fator. Os participantes que receberam o tratamento
tes de todos os três grupos de tratamento receberam apenas com modificação de comportamento podem
informações sobre exercícios e extensa orientação ter atribuído sua perda de peso a seus próprios esfor-
nutricionaÌ, incluindo uma dieta de menos de 1.200 ços, deste modo reforçando sua decisão de continuar
calorias por dia. Os participantes dos grupos de mo- a controlar o peso após o término do tratamento. por
dificação de hábitos aprenderam a se conscientizar outro lado, os participantes que receberam um inibi-
das situações que os estimulavam a comer em exces- dor de apetite provavelmente atribuíram sua perda de
so, a mudar as condições associadas com seu exces- peso à medicação e, portanto, não desenvolveram o
so de alimentação, a recompensarem a si mesmos senso de autocontrole. Outro fator possível origina-
por hábitos alimentares apropriados, e a desenvolver se do fato de que a medicação havia diminuído as
um programa de exercícios adequado. Além dos três sensações de Íbme dos participantes, ou temporaria-
grupos de tratamento, havia os do grupos-controle: mente diminuiu seu ponto crítico e, conseqüente-
LÌm era composto de participantes que esperavam pa- mente, apenas os participantes do grupo de terapia
ra participar do estudo, e o outro de participantes que medicamentosa e do grupo de tratamento combinado
visitavam um médico para um tratamento tradicional podiam não estaÍ suficientemente preparados para li-
de problemas de peso. dar com o aumento de Íbme que sentiram quando a
A Tabela 10. I apresenta os resultados do estuclo. medicação foi intenompida.
Os participantes em todos os três grupos de trata-
mento perderam mais peso do que os participantes Anorexia e Bulimia
nos dois grupos-controle, sendo que o grupo que
Embora a obesidade seja o problema de alimentação
combinava a modificação de hábitos e a terâpia com
mais comum, o problema oposto também apareceu
medicamentos foi o que perdeu mais peso, e o grupo
através da anorexia nervosa e bulimia. Estes dois
com somente modificação do hábito foi o que perdeu
transtornos envolvem ambos um desejo patológico
menos. Entretanto, durante o ano seguinte ao trata-
de não ganhar peso.
mento, ocoÍreu uma inversão notável. O grupo que
A anorexia nervosa é caracteizadapelaperda
apenas modiÍìcou os hábitos recuperou muito menos
de peso ertrema auro-ímposta - pelo menos I5% do

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peso normal mínímo do indivíduo. Alguns anoréxi- no corpo, o que pode acarretar problemas como desi-
'ra- cos na verdade pesam menos do qte 507a de seu pe- úatação, arritmias cardíacas e infecções urinrírias.
iJ :ir: so normal. Apesar da extrema perda de peso e dos Como a anorexia, a bulimia aflige principalmen-
.:': : : problemas resultantes, o anoréxico típico nega que te mulheres jovens. Mas a bulimia é mais freqüente
ir ::-,,"
exista um problema e se recusa a adquirir peso. Na do que a anorexia, estimando-se que 5 a l07o das
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verdade, os anoréxicos freqüentemente acham que
-:t ' mulheres nofte-americanas são de algum modo afe-
litì ì
;JjÌ t-" pa"recem muito gordos. Para o diagnóstico de anore- tadas. Ela não restringe-se às classes mais altas, a bu-
(:i: l
xia em mulheres, além da perda de peso, elas tam- limia ocorre em todos os grupos raciais, étnicos e so-
l,
1.,. ' bém devem ter parado de menstruar. A perda de peso cioeconômicos de nossa sociedade.
irr '
pode ter diversos efeitos colaterais perigosos, que in- Os pesquisadores sugeriram uma variedade de
cluem emaciação, suscetibilidade à infecção e outros causas para a anorexia e a bulìmia, incluindo fatores
sintomas de desnutrição. Em casos extremos, os efei- sociais, biológicos e de personalidade ou família.
tos colalerais podem causar mone. Provavelmente é necessário que diversos destes fato-
A anorexia é relativamente rara; sua incidência res ocorramjuntos para que uma pessoa desenvolva
nos Estados Unidos é de cerca de 17o (Fairburn, um transtomo alimentar.
Welch e Hay, 1993). Entretanto, esta incidência re- Muitos psicólogos sugeriram que fatores sociais
presenta mais do que o dobro desde a década de desempenham um papel importante na anorexia e na
1960, e é possível que a Íìeqüência ainda esteja au- bulimia. Mais particularmente, eles apontam a ênfa-
mentando (McHugh, 1990). A anorexia tem 20 vezes se dada em nossa sociedade à magreza nas mulheres.
'- ,!ì mais chances de ocorrer em mulheres do que em ho- Tal ênfase aumentou nitidamente nos últimos 40
í.1 ìr:
mens; a maioria dos casos são mulheres jovens entre anos, o que está de acordo com a afirmação de que a
e .ìï
it..., , .. a adolescência e os 30 anos. Tipicamente, os anoré- incidência de transtornos alimentares também au-
.:t-, , ' ' xicos se concentram totaÌmente na comida, cuidado- mentou durante esse período. Um indicativo dessa
.q.i
l:"'
samente calculando a quantidade de calorias em tu- tendência é a mudança no que as pessoas vêem como
1.1'
do que consomem. Às vezes esta preocupação chega o colpo da mulher "perfeita". A Figura 10.7 coloca
iì rì
{,.} i.lì! ao ponto da obsessão, como no caso de uma anoréxi- uma foto de Jayne Mansfield, cujo corpo era consi-
::._i.\.
t..._
ca que comentou com seu terapeuta, "claro que to- derado ideal por muitas pessoâs nos anos 50, ao lado
li:-ì:
it.,. mei o café da manhã; eu comi o meu 'tchau,", ou de uma Íbtografia da atrtz Julia Roberts, que reflete
ii,i
ìr:i t quando outra disse, "Eu não costumo lamber um se- o ideal de hoje. Roberts é nitidamente muito mais
;::) I l; lo postaÌ - nunca se sabe, pode ter calorias" (Bruch,
Ír;; l'::i magra do que Mansfield. Presumivelmente estes cor-
1973). obsessão por comida e o possível ganho de pos "perfeitos" influenciam a opinião das mulheres
lll' l:r'.
?i.
^ alguns anoréxicos a se exercitarem com-
peso leva de seus próprios corpos, e conseqüentemente muitas
ú'.r
pulsivamente, às vezes vigorosamente várias horas acham que seu corpo é muito maior do que o ideal
i.ìril

I- i.:.
ao dia (Logue, 1991). (Garner e Garfinkel, 1'980; Logue, 1991).
a.: -..,( A bulimia se caracteriza por episódios recorren- Evidentemente, nem todas as pessoas que são
-... íì tes de ingestão exagerada de alimentos (rópido con- expostas a estas pressões sociais desenvolvem um
i:::ì ri'r, sumo de uma grande quantidade de comida em um transtorno alimentar. Cerlas vulnerabilidades bioló-
g-' ...,r

i!.i r:1."
período distinto de tempo), seguida por tentatívas de gicas podem aumentar a tendência de desenvolver
aì !rì
i,

i.! ,,',:: purgar o excesso por meio de vômitos ou laxantes. transtornos alimentares. Uma hipótese é que a anore-
i./ì í"ì Estes episódios podem ser freqüentes e extremos. xia é causada por disfunções do hipotálamo, parte do
!,i ':... Uma pesquisa com mulheres bulímicas constatou cérebro que ajuda a regular a alimentação. Os indiví-
tl. '"'-. que a maioria das mulheres comia exageradamente duos anoréxicos apresentam funcionamento inferior
!rit: : Ì
pelo menos uma vez ao dia (geralmente à noite) e do hipotálamo e anormalidades em vários dos neuro-
:'t9 ìt, que em média estes episódios envolviam o consumo
.:- í'i transmissores importantes para seu funcionamento
. lìÍ.. de 4.800 calorias (muitas vezes alimentos doces ou (Favaet al., 1989). Emrelação àbulimia, pode haver
carboidratos salgados). Entretanto, por causa da pur- uma deficiência de serotonina, neurotransmissor que
i,:,,:
-:::i gação após a ingestão dos alimentos, o peso de uma desempenha um papel tanto na regulação do humor
,i;,,/:
pessoa bulímica pode permanecer relativamente nor- quanto no apetite (Mitchell e DeZwann,1993).
.. mal; isso permite que os bulímicos mantenham seu A personalidade e fatores familiares podem
.,ï íÌ
;.... \: distúrbio alimentar oculto. Porém, esse comporta- igualmente desempenhar um papel na anorexia e na
.ì..- : i rì
t-;,. l=l mento pode ter um alto custo hsiológico; o vômito e bulimia. Muitas jovens com transtornos de alimenta-
o'o'::
iJ ''''' o uso de laxantes pode romper o equilíbrio de potássio
ção vêm de famílias que exigem "perfeição" e extre-
... s:r:
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r,t ì::1
Introdução à Psicologia de Hilgard 389

FIGURA 10.7
Jayne Mansfield (esquerda) era a representante do corpo peieito na década de lgsT,
ao passo que Julia Roberts
(direita) foi considerada o corpo peieito dos anos 1990.

mo autocontrole, mas não permitem expressões de


Gênero e Sexualidade
afeto ou conflito (Bruch, 1973; Minuchin. Rosman e
Baker, 1978). Algumas jovens podem tentar obter al- Como a sede e a fome, o desejo sexual é uma pode-
gum controle sobre os pais e expressões de interesse
rosa motivação. Contudo, existem algumas diferen_
deles, controlando os hábitos alimentares, com o
ças importantes. O sexo é um motivo social - ele ti-
tempo desenvolvendo anorexia. Outras podem apelar picamente envolve outra pessoa
para o excesso de comida quando se sentem emocio_ -, ao passo que os
motivos de sobrevivência envolvem apenas o indiví-
nalmente perturbadas ou penosamente conscientes duo. Além disso, o sexo não envolve um déficit inter-
de sua baixa auto-estima (Polivy e Herman, 1993). no que precisa ser regulado e remediado para que o
Os tratamentos que visam ajudar as pessoas com organismo sobreviva. Por conseguinte, os motivos
transtornos alimentares a reclÌperarem hábitos sau_ sociais não se prestam a uma análise homeostática.
dáveis de alimentação e lidarem com os problemas
Com relação ao sexo, duas distinções críticas
emocionais que enfrentam mostraram-se úteis precisam ser lembradas. A primeira deriva-se do fato
(Agras, 1 993 ; Fairburn e Hay, 1992). Medicamentos
de que, embora comecemos a amadurecer sexual_
que regulam os níveis de serotonina também podem
mente na puberdade, a base de nossa identidade se-
ser úteis, principalmente para pessoas com bulimia xual é estabelecida no útero. Portanto, faz-se uma
(FNBC Study Group, 1992). Entretanro, a anorexia e
distinção entre sexualidade adulta (ou seja, que ini-
a bulimia são problema sérios, e as pessoas com es- cia com as mudanças da puberdade) e desenvolvi-
tes transtomos muitas vezes continuam a ter proble_ mento sexuâl inicial. A segunda distinção refere_se
mas consideráveis por alguns anos. aos determinantes biológicos e ambientais de com-

1.1

,.1:

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i J .).i..' r. ,.:l.i.., ..ir' rl ',r.

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á:'!.1.1
t
::.lr' : tco Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
i. l'ìl

i!À ",
portamentos e sentimentos sexuais. Para muitos as- gônada, desenvolve-se em testículos se o embrião
':-4. pectos do desenvolvimento sexual e da sexualidade for geneticamente masculino ou em ovários se o em-
() .n' adulta, uma questão fundamental é o grau em qrÌe o brião for geneticamente feminino (ver Capítulo 2).
i::ìl
-
comportamento ou sentimento em questão é produto Uma vez desenvolvidos os testículos ou os ovários,
.-.
estes produzem os hormônios sexuais, que então
!:
íi i: -rì. da biologia (particularmente hormônios), do ambien-
(i: , te e aprendizado (experiências iniciais e normas cul- controlam o desenvolvimento das estmturas repro-
:::lL .
lq;
turais), ou de interações de fatores biológicos e am- dutivas internas e os genitais externos. Os hormônios
i.; r.)i
bientais. sexuais são ainda mâis importantes para o desenvol-
vimento pré-natal do que o serão para a expressão da

_...- 1:.,
Desenvolvimento Sexual lnicial sexualidade adulta.
i=,r :. O hormônio fundamental no desenvolvimento
':t i,nì Para ter experiências sociais e sexuais gratificantes
ã .<j genital é o androgênio. Se as glândulas sexuais em-
quando adultos, a maioria das pessoas precisa desen-
brionárias produzirem androgênio suficiente, o re-
volver uma identidade de gênero apropriada, me-
cém-nascido terá genitais masculinos; se houver an-
diante a qual os homens passam a ver a sí mesmos
drogênio insuficiente, o recém-nascido terá genitais
I
-: r;i;l como homens e as mulheres como mulhere.t. Este de-
femininos mesmo que seja geneticamente masculi-
':i.t: il-
senvolvimento é bastante complexo e na verdade co-
no. Inversamente, se andrógenos forem acrescenta- t
meça antes do nascimento. Durante os dois primei-
(:a dos artificialmente, o recém-nascido terá órgãos ge-
ros meses, após a concepção. apenas os cfomosso-
-- ,aa
nitais masculinos mesmo que seja geneticamente fe-
mos de um embrião humano indicam se ele irá evo-
minino. Em outras palavras, a presença ou ausência
:!i ,i:.tì luir para um menino ou menina. Até esta etapa, os
de um cromossomo masculino (Y) normalmente in-
í!,,, rlÈ
.-i: dois sexos têm aparência idêntica e possuem tecidos
'i ., Í'luencia o desenvolvimento sexual simplesmente por
...',. que posterionnente irão transforma-se em testículos
determinar se o embrião irá segregar andrógenos. O
ou ovários, bem como um tubérculo genital que irá
.l:a:t ,'ii
ijììt r...i
desenvolvimento anatômico do embrião feminino
. transformar-se num pênis ou num clitóris. Mas entre
não necessita de hormônios femininos, apenas a au-
:ì i.-. dois e trôs meses, uma glândula sexual primitiva, ou
sência de hormônios masculinos. Em resumo, a na-
íurezairâ produzir uma fêmea a menos que o andro-
Se as glândulas sexuais embrionárias produzirem gênio intervenha.
:.:a ,.:.
androgênio suÍiciente, o feto irá desenvolver genÌtais A influência do androgênio, chamada de andro-
masculinos. Aqui se mostra um feto, quatro meses genízaçao, vai muito além da anatomia. Depois de
í:t:: |) após a concepção.
,2 <;:
moldado os genitais, o androgênio começa a agir so-
ai
bre as células cerebrais. Estudos com ratos indicam
que o androgênio pré-natal muda o volume e a estru-
.a'..) l
tura complexa das células do hipotálamo do feto, ór-
gão que regula a motivação em humanos bem como
em ratos (Money, 1988). Essencialmente, estes efei- t
tos do androgênio masculinizam o cérebro e podem
.4a a.:
ser responsáveis por alguns traços e comportamentos

iitì ;;,,,,;
masculinos que aparecem meses ou anos depois, tais
:::ì ....,,
como níveis mais elevados de agressividade.
Oì r:-
Í'ì i.,- Numa série de experimentos, injetou-se andro-
'r'.Ì:' gênio em macacas grávidas e suas proles foram ob-
servadas detalhadamente. As crias mostraram algu-
mas mudanças anatômicas (pênis em vez de clitóris),
,i.:: ;..ìl
-
!t.. além de agirem de maneira diferente em relação a fê-
-at: áa meas normais. Elas eram mais agressivas nas brinca-
í:jj
(:::: i : deiras, mais masculinas nos jogos sexuais, e intimi-
tÌ .it'.
davam-se menos com a aproximação de pares (Goy,
1968; Phoenix, Goy e Resko, 1968). Essas descober-
tas indicam que alguns comportamentos típicos ao
r-ì :.1ì gênero (tais como maior agressão nos machos) são,
O ',:l

ii:ì ;:. r
i.irt :.ì!
l:
-'lr i

Introdução à Psicologia de Hilgard 391

em parte, determinados pelos hormônios nos ani- influência muito maior na identidade do gênero do
mais não-humanos. que sells genes ou hormônios.
Anormalidades hormonais iniciais também po- Por exemplo, milhares de mulheres nascidas du-
dem ter o resultado inverso; elas podem "Íèminizar" fante as décadas de 1950 e 1960 foram expostas a
o comportamento sexual posterior dos machos. Um uma substância antiabortiva, o dietìlestilbestrol, que
exemplo notável é o "estresse materno": uma mu- tinha eÍ'eitos desconhecidos semelhantes aos efeitos
dança no comportamento sexual de ratos machos cu- hormonais sobre o desenvolvimento cerebral. Nor-
jas mães sofreram elevado estresse emocional duran- malmente a testosterona (principal andrógeno) se-
te a gravidez (Ward, 1992). Níveis elevados de es- gregada pelos testículos de um embrião masculino é
tresse em uma rata grávida desencadeiam eventos convertida no cérebro em uma substância semelhan-
hormonais que resultam em uma diminuição na te ao dietilestilbestrol. As mulheres grávidas que to-
quantidade de andrógenos produzidos pelos testícu- maram o medicamento não sabiam, pofianto, que es-
los do embrião mascuÌino. Isso, por sua vez, resulta tavam expondo seus Íètos a um ambiente químico
numa redução do androgênio que chega ao córebro semelhante àquele experimentado pelo cérebro em
em desenvolvimento. O hipotálamo e outras regiões desenvolvimento de um macho normal. Para fetos do
cerebrais parecem desenvolver-se de modo distinto sexo masculino, isso não teria maiores conseqüên-
nestes embriões. Quando esses ratos machos tornam- cias: seus cérebros já haviam sido expostos aos pa-
se adultos, eles mostram menos comportamento se- drões masculinos de estimulação química. Mas os
xual masculino e podem até exibir padrões femini- fetos femininos foram expostos a uma estimulação
nos de movimentos de copulação se forem cobertos química do sexo oposto ou semelhante à masculina
por outro macho. durante o período no qual suas mães tomaram o me-
Não se sabe se efeitos semelhantes sobre o de- dicamento. Para a grande maioria destas filhas, a ex-
senvolvimento cerebral ou comportamental ocomem posição pré-natal não teve efeito detectável. A maio-
em seres humanos. Embora alguns acreditem que es- ria das meninas que teve exposição pré-natal ao die-
ses experimentos possam explicar a base da orienta- tilestilbestrol, posteriormente, teve desenvolvimento
ção heterossexual versus homossexual humana, exis- semelhante ao de outras e tornaram-se indistinguí-
tem diferenças entre os resultados desses experimen- veis de mulheres com experiência pré-natal normal.
tos com animais e o comportamento humano. Por O ambiente social, em outras palavras, parece ter ti-
exemplo, ratos machos cujas mães sofreram estresse do uma influência muito maior no desenvolvimento
durante a gravidez tendem a mostrar comportamento sexual e de gênero destas mulheres do que os hormô-
menos sexual de qualquer tipo do que ratos machos nios pré-natais.
comuns, mas isso não se aplica a homens homosse- Mas isso não significa dizer que o ambiente quí-
xuais comparados a homens heterossexuais. Não mico pré-natal não teve absolutamente nenhum efei-
obstante, estes exemplos ilustram a importância do to. Os pesquisadores detectaram várias diferenças
ambiente hormonal inicial para o comportamento se- sutis que caracterizam pelos menos algumas das mu-
xual posterior de animais não-humanos, além de su- theres expostas ao dietilestilbestrol. por exemplo,
t- gerirem a possibilidade de que os hormônios pré-na- entre estas mulheres, uma proporção ligeiramente
tais podem ser importantes também para a motivação maior do que a normalmente previsível parece ser
sexual humana. homossexual ou bissexual. Orientação sexual não é o
mesmo que identidade de gênero, mas neste caso é
Hormônios versus Ambiente possível que um pequeno efeito dos hormônios pré-
I

Em seres humanos, grande parte do que se sabe so- natais se reflita em ambas. (A orientação sexual é
bre os efeitos dos hormônios pré-natais e do ambien- discutida com profundidade posteriormente nesta se-
te inicial foi revelado por estudos de indivíduos que, ção.) De modo semelhante, estas mulheres mostram
por diversos motivos, foram expostos a hormônios classificação levemente inferior em alguns indicado-
pré-natais que normalmente seriam experienciados res de "interesse maternal", tais como gostar de be-
por um sexo, mas depois foram criados em um papel bês, ainda que elas não se.jam diferentes de outras mu-

social que normaÌmente seria típico do sexo oposto. lheres na maioria de outras medidas de comportamen-
Na maioria desses casos, o rótulo designado e o pa- to e atitudes parentais, sexuais ou sociais (Ehrhardt et
pel sexual com o qual o indivíduo é criado têm uma al., 1989). Esses estudos sugerem que, embora even-
tos hormonais pré-natais possam ter algumas conse-

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f,;92,,,,,:=:,:,i Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richartl c. Atkinson, Edward E. smith, Daryl J. Bem e susan Nolen-Hoeksema
i:: 'iì,i
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"..-' qüências sutis no posterior desenvolvimento sexual e pênis completamente secionado no que deveria ter
,:ì

lta social, seu efeito é muito mais fraco em humanos do sido uma simples circuncisão. Dez meses depois, os
(/,rì iì.,
que em animais não-humanos. Para os humanos, fato- pais autorizaram uma ciÍurgia para transformar seu
rii
tú< res sociais e culturais parecem ser dominantes (Mo- filho em uma menina - os testículos foram removi-
ney,1980). dos e uma vagina foi preliminarmente formada. A
Mas existem alguns estudos que indicam a con- criança depois recebeu hormônios sexuais femininos
,::.
L .:. clusão oposta. O mais célebre deles foi realizado há e foi criada como menina. Nos anos seguintes a
'il: !íì muitos anos em aldeias distantes da República Do- criança parecia ter assumido uma identidade femini-
1:): ....):
minicana. Ele envolveu 18 seres humanos genetica- na, preferindo mais roupas, brinquedos e atividades
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mente masculinos que, devido a uma condição co- femininas do que seu irmão. Como ela parecia ser
....-
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1r::1

nhecida como ínsensibilidade andro qênic a, nasce- uma menina normal em muitos aspectos, a maioria
r-r iiíì
ta":ai a:.i
fam com órgãos internos que eram nitidamente mas- dos investigadores concluiu que esse era um caso em
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culinos, mas com genitais exteínos que eram seme- que o ambiente social tinha vencido.
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lhantes aos de mulheres, incÌuindo um órgão sexual Contudo, estudos da criança na época em que
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:.'. il ,t semelhante a um clitóris. Na insensibilidade andro- ela havia chegado à puberdade revelaram que o re-
tr Ii; gênica, as gônadas se desenvolvem como testículos sultado era mais complexo (Diamond, 1982). En-
liÍ: ,la:
li\' ì -
liialÌ ii,n. normais e começam a segregar testosterona e outros quanto âdolescente, ela era infeliz e parecia confusa {
:i:i ::l,r ândrógenos. Entretanto, os sistemas receptores que em relação a sua sexualidade, ainda que não tivesse
1ì t>i
seriam ativados pelos andrógenos estão ausentes pe- sido informada sobre seu sexo original ou sobre a
:,ir Ì lo menos em alguns dos tecidos que normalmente operação de mudança sexual à qual havia sido sub-
(-)
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Í:::ì
ì,:- seriam masculinizados pelos hormônios. Ainda que metida. Nas entrevistas ela se recusava a desenhar a
ii- :iÌli
andrógenos sejâm segregados e estejam presentes na hgura de uma mulher, desenhando em seu lugar ape-
:í :""11
coÍTente sangüínea de um menino assim, eles não nas um homem. Aspectos de sua linguagem corpo-
li:,, :\ì produzem o padrão mâsculino de desenvolvimento ral, como seu modo de andar e padrões de postura e
genital e físico. Todos os l8 bebês estudados tinham movimento, tinham aparência masculina. Social-
z: !i\:
sido criados como meninas, o que estava em desa- mente, ela tinha um grau de dificuldade usual maior
Ô Crni
..-,.1.ì cordo tanto com seus genes como com seu ambiente para desenvolver relacionamentos com seus pares.
hormonal pré-natal. Quando chegaram à puberdade' Uma avaliação recente deste indivíduo consta-
o surto de hormônios masculinos produziu as mu- tou que ele veio a rejeitar a identidade sexual femini-
danças corporais usuais e transformou seus órgãos na e vive bem como homem desde então (Diamond e
ii ii
'(i:J sexuais semelhantes a clitóris em órgão semelhantes Sigmundson, 1997). Assim, a tentativa de controlar
,:,u , a pênis. A maioria desses homens, criados como mu- sua identidade de gênero através de socialização, e
ttli.
theres, rapidamente tornaram-se homens. Eles pare- de educá-lo como uma "menina normal", não teve
l,
t:t: ciam ter pouca dificuldade em se adaptar à identida- êxito a longo prazo. É Olffcit saber a exata fonte de
de masculina; eles saíam para trabalhar como minei- dificuldade que ele teve em sua adaptação emocional :

iaì ros e lenhadores, e alguns encontraram parceiras se- e social na puberdade. As explicações incluem a pos- {
xuais. Neste caso, a biologia triunfou sobre o am- sibilidade de que seu desenvolvimento cerebral ini-
,:t
biente (Imperato-McGinley et aI., 1919). cial como homem impôs limites em sua posterior ca-
Mas existe controvérsia em torno desses meni- pacidade de adaptar-se a uma identidade sexual fe-
1..j'ì

nos dominicanos que pareciam ser meninas. Eles não minina.


parecem ter sido criados como meninas comuns (o O que podemos concluir sobre a identidade do
que não é de surpreender, pois tinham genitais ambí- gênero? Evidentemente, os hormônios pré-natais e o

i-^.)
guos). Eles parecem ter sido tratados um pouco co- ambiente são ambos determinantes importantes da
e.l
:-.' .::;, mo homens e um pouco como mulheres, o que pode identidade do gênero e normalmente operam em har-
rrì monia. Quando entram em choque, como ocoÍre em
n, ter facilitado sua posterior transição para o sexo mas-
culino (Money, 1987). alguns indivíduos, a maioria dos especialistas acredi-
c í..: Em outros casos, os resultados do conflito entre ta que o ambiente irá predominar. Mas esta é uma
'I área controversa, e a opinião dos especialistas pode
:-.1.
{:l
hormônios pré-natais e criação social são menos cla-
ros. No exemplo mais dramático, um par de meninos mudar à medida que mais dados forem reunidos.
,r.Ì ..1'ì
gêmeos idênticos teve um ambiente pré-natal nor-
lt,, !:
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mal. Mas na idade de oito meses um deles teve seu
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I 'I . rt, Ì.i


Introdução à PsicoÌogia de Hilgard 393

Sexualidade Adulta HIPOTALAMO


NO CÉREBRO
\ludanças nos sistemas hormonais corporais ocor-
rem na puberdade, a qual geralmente se inicia entre Fator de Liberação
as idades de I 1 e 14 anos (ver Figura 10.8). O hipo- de Gonadotropina
tálamo começa a segregar substâncias chamadas de
fatores de liberação de gonadotropina; estes estimu-
MULHERES HlPoFlsE HoMENs
lam a hipófise, que fica imediatamente abaixo do hi-
potálamo. A hipófise secreta hormônios sexuais, Gonadotropinas

chamados gonadotropinas, na corrente sangüínea.


Estes circulam pelo corpo e atingem as gônadas -
FSH e LH ICSH

ovários nas mulheres e testículos nos homens -, as


quais produzem óvulos ou espermatozóides. As go- OvÁRros TESTíCULOS
nadotropinas ativam as gônadas, fazendo-as segregar Maturação Maturâção
hormônios sexuais adicionais na corrente sangüínea. e ovulação de
de êsperma-
Nas mulheres, o hipotálamo libera seus fatores folículos tozóides
de liberação de gonadotropina em um ciclo mensal,
aumentando e diminuindo aproximadamente a cada Estrógeno e Andrógenos
Progesterona (Testosterona)
18 dias. Isso estimula a hipófise a segÍegÍÌr duas go-
nadotropinas: hormônio foliculoestimulante (FSH) e
hormônio luteinizante (LH), tambóm num ciclo
mensal. Esses hormônios ativam os ovários. O hor- FIGURA 10.8
mônio folículo estimulante estimula os ovários a Sistema Hormonal Envolvido no Sexo Por meio de
produzir folícalos, conjuntos de células nos ovários hormônios, o hipotálamo instrui a hipófise, que por sua
que permitem que óvulos férteis se desenvolvam. vez instruì as gônadas a segregarem os hormonios se-
Uma vez produzido, o folículo começa a segÍegar es- xuais"

trogênio, o hormônio feminino. O estrogênio é libe-


rado na corrente sangüínea para influenciar o desen-
maioriâ das espécies animais, atuam no cérebro para
volvimento sexual do corpo e, em muitas espécies de
ativar o desejo sexual.
animais, para ativar a motivação sexual no cérebro. A
segunda gonadotropina, o hormônio luteinizante, é EÍeitos dos Hormônios no Deseio e na Excitação
liberada da hipófise um pouco depois do que o hor- Em muitas espécies, a excitação sexual está intima-
mônio folículo estimulante. O hormônio luteinizante mente ligada a variações nos níveis hormonais; mas
provoca a ovulação, a liberação de um óvulo.fértil nos seres humanos os hormônios desempenham um
maduro do folículo. Quando o folículo libera o óvu- papel menor. Uma maneira de avaliar a contribuição
lo, ele também segrega um segundo hormônio femi- dos hormônios para a excitação sexual é estudar os
nino, a progesterona, que prepara o útero para a im- efeitos da remoção de gônadas, procedimento cha-
plantação de um óvulo fertilizado e, em algumas es- mado de gonadecïomia. (Nos homens, a remoção
pécies de animais, também ativa a motivação sexual
dos testícuÌos é chamada de castraçtio.) Em experi-
no cérebro. mentos com animais, tais como ratos e cobaias. a
Nos homens, o hipotálamo segrega o fator de li- castração resulta em rápido declínio e eventual desa-
beração de gonadotropina de modo constante e não parecimento da atividade sexual. Para os humanos,
em um cicÌo mensal. Isso faz com que a hipóÍìse no evidentemente, não existem experimentos controla-
homem Ìibere constantemente sua gonadotropina, dos; ao invés disso, os psicólogos dependem da ob-
chamada de hormônio estimulante de células inters- servação de homens com doenças graves (tais como
ticiais (ICHS) na corrente sangüínea. O ICHS faz os câncer dos testículos) que foram submetidos à cas-
testículos masculinos produzirem espermatozóides tração química (uso de hormônios sintéticos para su-
maduros, aumentando em muito a secreção de an- primir ou bloquear o uso de androgênio). Normal-
drógenos, principalmente a testosterona. A testoste- mente estes estudos mostram que alguns homens per-
rona e outros andrógenos estimulam o desenvolvi- dem o interesse pelo sexo enquanto outros continuam
mento de características físicas masculinas e, na a ter uma vida sexual normal (Money et al., 1976;

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ia::ììÌ !,. ll ......-:::.:$VE='..t"',. Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
'i:::: .ììì.

Walker, 1978). Ao que paÍece, o androgênio contribur te ciclo estrual é acompanhado por uma variação na
'''
::l i),aa:
(. )
::.:4., paÍa o desejo sexual apenas em alguns casos. motivação sexual na maioria das espécies mamífe-
ul íì
Outra maneira de medir a contribuição dos hor- ras. A maioria das fêmeas é receptiva às tentativas
u'l :1:
il,:l
..', ] :
mônios para o desejo e a excitação sexual nos ho- sexuais do macho somente durante o período de ovu-
mens é averiguar a relação entre variação hormonal lação, quando o nível de estrógeno está no máximo;
\i:iti t:::::))

e interesse sexual. Por exemplo, será que um homem durante este período, diz-se que a fêmea está no
'a1-. _
tem maior probabilidade de sentir-se excitado quan- "cio". Entre os primatas, contudo, a atividade sexual
)i-i \:i
do seu nível de testosterona está alto? Constatou-se é menos influenciada pelo ciclo de fertiÌidade; fê-
iaiL ::
meas de macacos, de macacos grandes e de chim-
,
:!. ' que o nível de testosterona pode não ter influência na
ri.ll
.t:11,
função de copulação - indicada pela capacidade de panzés copulam durante todas as fases do ciclo, em-
i=) ,.....
ter ereção, mas Íealmente aumenta o desejo - indica- bora a ovulação ainda seja o peíodo de atividade se-
q ìli do pelas fantasias sexuais (Davidson, 1988). Porém, xual mais intensa. Na fêmea humana, o desejo e a
:.1rr 1r..1
os principais determinantes do desejo sexual nos ho- excitação sexual parecem ser muito mais influencia-
mens pafecem ser fatores emocionais; portanto, tan- dos por fatores sociais e emocionais.
C)"ìì :.,'ì
to para homens quanto para mulheres, a causa mais Em suma, o grau de controle hormonal sobÍe o
..< comum de pouco desejo em casais que procuram te- comportamento sexual é menor nos humanos do que
t:-,,
rapia sexual é o conflito conjugal (Goleman, 1988). nos outros animais. Ainda assim, mesmo nos huma-
:i,ì i,;l:
O desejo sexual é ainda menos dependente de nos pode haver algum controle hormonal, como ates-
'ì.'
.".
>i. hormônios nas mulheres. Isso contrasta com espé- ta o relacionamento entre os níveis de testosterona e
111:_

cies não-primatas, nas quais o comportamento se- o desejo sexual nos homens.
littj
ti:::
. l
iiìl
xual é altamente dependente de hormônios sexuais.
Em todos os outros animais, a remoção dos ovários Controle Neural Em certo sentido, o principal ór-
.j1: ::..,:l
resulta em intemrpção da atividade sexual. Uma fê- gão sexual é o cérebro. O cérebro é onde o desejo se-
.::. ): '
xual se origina e onde o comportamento sexual é
.,1r,,. ra-ll
mea castrada deixa de ser receptiva ao macho e ge-
.l!1. ii
ralmente resiste às investidas sexuais. A principal ex- controlado. Nos humanos, a função sexual do cére-
/ì li \!r
4 ì::..
a) lllì ceção é a fêmea humana; após a menopausa (quando bro estende-se para o controle dos pensamentos, das
os ovários pararam de funcionar), a maioria das mu- imagens e das fantasias sexuais. No cérebro, os hor-
' iiìn
mônios sexuais podem influenciar a função neural
lheres não sente diminuição no desejo sexual. Na
>:i i5 verdade, algumas mulheres mostram aumento do in- em indivíduos adultos. A seguir discutimos como os
>:l: teresse sexual após a menopausa, talvez porque não hormônios sexuais também influenciam o desenvol-
í::iì i.-:l
,tìl --. flquem mais preocupadas corn a possibilidade de fi- vimento físico e os padrões de conexão dos neurô-
:::1 i.t:.
carem grávidas. Existem evidências de que o desejo nios no início da vida em todas as espécies mamífe-
... :. ras, inclusive nos humanos, e nos adultos em pelo
::r:i ! r1
sexual nas mulheres é facilitado por quantidades mí-
nimas de hormônios sexuais na conente sangüínea menos algumas espécies (Breedlove, 1994).
.,:.... (Sherwin, 1988). Entretanto, o nível necessário é tão O sistema nervoso é afetado pelos hormônios se-
baixo que ele pode ser excedido na maioria das mu- xuais em muitos níveis. No nível da medula espinal.
::, 'r""i
(:t lheres e, conseqüentemente, não desempenhar um os circuitos neurais controlam os movimentos da có-
ta::):
,i::i' ,, ,t:
pula. Nos homens, estes incluem a ereção do pênis
,i-) -:l "
papel signiflrcativo nas variações no desejo.
Estudos da relação entre variação hormonal e bem como os movimentos pélvicos e a ejacuÌação.
ià) ,,.,1

excitação sexual em mulheres antes da menopausa Todas estas ações podem ser obtidas de modo refle-
;ir
i\ ..... xo em homens cujas medulas espinais foram secio-
i*Ì levaram a uma conclusão semelhante: as variações
hormonais normais controlam a excitação em outros nadas por ferimentos e que não possuem sensações
animais, mas não em seres humanos. Em fêmeas ma- corporais conscientes. De modo semelhante, estudos
!..ì
i.ì:i
míferas,. os hormônios variâm ciclicamente, com clínicos de mulheres com danos na medula indicam
.ì iì
', i.1 mudançâs concomitantes na fertilidade. Durante a que as secreções vaginais em resposta à estimulação
primeira parte do ciclo mamífero (durante a qual o genital e aos movimentos pélvicos podem ser con-
Í:]: <i óvulo está sendo preparado para fertilização), os troladas por circuitos reflexos neurais na medula es-
-!: <a pinal (Offir, 1982).
ovários segregam estrógeno, o qual prepara o útero
.:1.-' para implantação e também tende a despertâr o inte- Níveis superiores do córebro, principalmente o
ia:::

.,::" .+ resse sexual. Depois que ocorre a ovulação, tanto a hipotálamo, contêm os sistemas neurais que são im-
ì!'- ii.l:ì portantes para aspectos mais complexos do compor-
progesterona quanto o estrógeno são segregados. Es-
í:-:. 'í.-''
ai: :"ll

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,ii::ii i.l;rl

ía ..

it;j i
Introdução à Psicologia de Hilgard s95

tamento sexual. Por exemplo, a perseguição sexual e


cópula podem ser provocadas tanto em machos
quanto em fêmeas de muitas espécies animais por
estimulação elétrica de regiões hipotalâmicas. Mes-
mo em humanos, há relatos de que a estimulação de
regiões cerebrais próximas ao hipotálamo provoca
intensas sensações e desejo sexual (Heath,1912).ln-
versamente, lesões do hipotáÌamo podem eliminar o
comportamento sexual em muitas espécies, inclusive
nos humanos.

ExperÍências lniciais O ambiente também influen-


cia a sexualidade adulta. As experiências iniciais são
um fator determinante do comportamento sexual de
muitos mamíferos e podem afetar respostas sexuais
específicas. Por exemplo, ao brincarem, muitos ma-
cacos exibem muitas das posturas necessárias poste-
Jogos sexuais entre macacos. O comportamento heterossexual normal
dormente para a cópula. Ao lutarem com os pares,
nos primatas depende não apenas dos hormônìos e do desenvolvimen-
macacos jovens machos agaÍTam-se por trás e em-
to de respostas sexuais específicas, mas também de um laço afetivo
purram-se, respostas que são componentes do com- com um membro do sexo opasto.
portamento sexual adulto. As jovens fêmeas recuam
quando ameaçadas por um jovem macho agressivo e
Íìcam de pé firmes, em uma postuÍa semelhante mente, o comportamento heterossexual normal nos
àquela necessária para suportar o peso do macho du-
primatas depende não apenas dos hormônios e do
rante a cópula. Estâs respostas pré-sexuais j â apare- desenvolvimento de respostas sexuais específicas,
cem com apenas 60 dias de idade e tornam-se mais mas também de um laço aletivo com um membro do
Íieqüentes e refinadas à medida que o macaco ama- sexo oposto. Este laço é uma conseqüência das inte-
durece. Seu aparecimento precoce sugere que se tra- rações anteriores com a mãe e os pâres, através das
ta de respostas inatas a estímulos específicos, e a mo- quais o jovem macaco aprende a confiar, a expor
dificação e refinamento destas respostas através da suas partes delicadas sem medo de ser ferido, a acei-

experiência indica que a aprendizagem desempenha tar e usufiuir do contato físico com os outros. e a ser
um papel no desenvolvimento do padrão sexual motivado a procurar a companhia dos outros (Har-
adulto. low, 1971).
A experiência também afeta o aspecto interpes- Embora devamos ter cautela para generalizar es-
soal do sexo. Macacos criados em isoÌamento parcial tas descobertas ao desenvolvimento sexual humano,
(em gaiolas de arame separadas, de onde podem ver observações clínicas de bebês humanos indicam cer-
outros macacos, mas não podem ter contato com tos paralelos. Os bebês humanos desenvolvem seus
eles) geralmente são incapazes de copular na maturi- primeiros sentimentos de confiança e afeição através
dade. Os macacos machos são capazes de realizar a de um relacionamento caloroso e amoroso com a
mecânica do sexo: eles se masturbam até a ejacula- mãe ou substituta (ver Capítulo 3). Esta confiança
básica é pré-requisito para interações satisfatórias
ção aproximadamente na mesma freqüência que os
macacos normais. Mas quando confrontados com com os pares. E os relacionamentos afetuosos com
uma fêmea sexualmente receptiva, eles parecem não outros jovens de ambos os sexos prepaÍam as bases
saber como assumir a postura correta para a cópula. para a intimidade necessária para relacionamentos
t::.'. Eles ficam excitados, mas apalpam inutilmente a fê- sexuais entre adultos.
tt:.
mea ou seus próprios corpos. Seu problema não é
apenas uma deficiência de respostas específicas. Es-
lnfluências Culturais A cultura também influencia
a expressão do desejo sexual. Diferente dos outros
tes macacos tem problemas sociais ou afetivos: mes-
:.:l
primatas, o comportamento sexual humano é forte-
mo em situações não-sexuais, eles são incapazes de
mente determinado pela cultura. Por exemplo, todas
se relacionar com outros macacos. demonstrando
as sociedades impõem algumas restrições ao com-
medo e luga ou agressir idade extrema. Aparente-

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Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edw'ard E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
r..., ì. 'n*S

'
'1,..': 'r4.. portamento sexual. O incesto (relações sexuais den- e Martin, 1948). Em contraste, diversos Ìevantamen-
': ..i
tro da família) é proibido em quase todas as cultuÍas. tos junto a universitários americanos conduzidos nos
anos de 1 970 revelaram percentuais de 40 a 80Vo tan-
ìÍ=
íiai <
Outros aspectos do comportamento sexual - ativida-
de sexual entre cdanças, homossexualismo, mastur- to para homens quanto para mulheres tHunt. 1974:
1:.4. :.",
r.-r i ì
bação e sexo antes do casamento - são permitidos Tavris e Sadd, 1977). Durante as últimas décadas,
lit: em graus variados nas diferentes sociedades. Nas tem havido uma tendência gradual para iniciar a ati-
!j1. ..-
culturas pré-letradas, a atividade sexual varia ampla- vidade sexual em idade mais precoce. Aproximada-
ir-Ì :r.
:!t :+ mente. Algumas sociedades muito permissivas in- mente 50Vo, tanto de homens quanto de mulheres, re-
;""i centivam atividades de auto-erotismo e sexo entre latam ter tido intercurso sexual aos 16 ou 17 anos
t:-i,
crianças de ambos os sexos e perÍnitem que elas ob- (Laumann et aI., 1994). A Figura 10.9 mostra a inci-
- :l:ll
!=, ,.....
servem a atividade sexual adulta. Os Chewas da dência relatada de intercurso antes do casamento em
L-j

4ìl
ìl:,!:
África, por exemplo, acreditam que se as crianças estudos conduzidos durante um período de 35 anos.
lr,.ì ii ll
não puderem exercitar-se sexualmente não serão ca- Note-se que a mudança no comportamento sexual
ii'-
íÍì
pazes de gerar filhos depois. Os Sambias da Nova loi maior entre as mulheres do que entre os homens
í:,ì ,... Guiné, institucionalizaram o bissexualismo: desde e que as maiores mudanças ocolreram no final da dé-
rì\ i'r_':i:
í_'ìì
antes da puberdade até o casamento, um menino vi- cada de 1960. Estas mudanças levaram muitos ob-
ti:
i!!ì irì
I
ve com outros membros do sexo masculino e pratica servadores do cenário social nos anos de 1970 a con-
; llll.rl
o homossexualismo. (Herdt, 1984). cluir que uma "revolução sexual" havia ocorrido.
...',:il. Em contraste, sociedades muito restritivas ten- Atualmente parece que a revolução sexual foi
ìt:tr:
tam controlar o comportamento sexual pré-adoles- prejudicada pelo medo de doenças sexualmente
i:ì
Ò:'Í, cente e impedir que as crianças aprendam sobre se- transmissíveis, principalmente a AIDS. Além disso,
l!,. ,ri
!_. . ,. xo. Os Cunas da América do Sul acreditam que as a "revolução" pode ter envolvido comportamento
crianças devem ser totalmente ignorantes a respeito mais do que sentimentos. Em entrevistas Çom casais
tt)
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de sexo até que se casem; eles sequer permitem que de universitiários norte-americanos nos anos de 1970,
:::::
:i
j,:ì iiitl
ta il
crianças vejam animais parindo. apenas 20Vo achavam que o sexo entre conhecidos
ô (';:' Embora a maneira mais óbvia de estudar dife- fortuitos era totalmente aceitável (Peplau, Rubin e
i' l: ,í\
- '_,. renças culturais seja investigar as práticas nos dife- Hlll, 197'7). De modo semelhante, embora as mulhe-
:.liÌ . ,. rentes países, também pode-se observar mudânças res estejam tornando-se mais parecidas com os ho.
culturais que ocorrem dentro de um país. Uma destas mens em relação ao compoftamento sexual, elas con-
>,1 mudanças ocoÍreu nos Estados Unidos e em outros tinuam a diferir dos homens em algumâs atitudes em
,.í) .? países ocidentais entre as décadas de 1940 e 1970. relação ao sexo antes do casamento. A maioria das
t- ,:, Nos anos 1940 e 1950, os Estados Unidos e a maio- mulheres que pratica sexo pré-marital o fazem com
liìi la
l9i
ria de outros países ocidentais seriam classìficados apenas um ou dois parceiros com quem estão emo-
como sexualmente restritivos. Tradicionalmente, a cionalmente envolvidas. Os homens, em contraste.
existência de sexualidade antes da puberdade tinha são mais propensos a procurar sexo com múltiplos
.-. í\ sido ignorada ou negada. O sexo conjugal era consi- parceiros (Laumann et al., 1994). Contudo, em um
derado a única forma sexual legítima, e outros meios determinado período de cinco anos, a maioria tanto
,:-ia; ; de expressão sexual (atividades homossexuais, sexo de homens quanto de mulheres tende a não ter mais
ì;í o, pré-marital e extraconjugal) eram geralmente conde-
atrì i...1
do que um parceiro sexual (Laumann et a1., 1994).
:; i..,1
nados e muitas vezes proibidos por lei. Evidente-
,:i- ::
;-ì:."1 mente, muitos membros destas sociedades entrega- Diferenças Sexuais Estudos de heterossexuais de-
:ì. ' ,:..' vam-se a estas práticas, mas freqüentemente com monstraram que homens e mulheres jovens diferem
sentimentos de vergonha. em suas atitudes em relação ao sexo; as mulheres são
iÌi --.-ì
Com o passar dos anos, as atividades sexuais mais propensas do que os homens a ver o sexo como
,Í tornaram-se menos restritas. As relações sexuais an- parte de um relacionamento amoroso. Relacionado a
-.a-l <l tes do casamento tornaram-se mais aceitáveis e mais isso, diferenças entre homens e mulheres foram
it:.i :
ì:::. i- freqüentes. Entre indivíduos com nível superior en- identiflcadas quanto à natureza do tipo de evento que
'l;:": trevistados em 1940, 277o das mulheres e 49Va dos mais provavelmente provoca ciúme sexual: infideli-
<. iiìì
homens tinham praticado sexo pré-marital até a ida- dade emocional ou infidelidade sexual. Quer medi-
'- \l de dos 21 anos (Kinsey et al., 1953; Kinse, Pomeroy das por relatos pessoais ou por reações autônomas
:1.. lrrì
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\.il 1....:l
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1:í. ...-.

i:) ll :
Introdução à Psicologia de Hilgard 337

como lreqüência cardíaca, as mulheres reagem mais


1 fìfì
vigorosamente à perspectiva de inf,rdelidade emocio-
nal (perspectiva de seu parceiro formar um relacio-
namento amoroso com outra pessoa), independente-
.8ü
mente de a infìdelidade envolver um ato sexual con- PERCËNTUAL ôü
creto. Em contraste, os homens reagem mais vigoro- DE INDIVTDUOS
samente à perspectiva de infidelidade sexual, inde- QUETIVEFAM
RELAçóÊS 4!
pendentemente de a ligação de seu parceiro sexual
SEXUAIS
envolver um compromisso emocional (Buss et al., Ê8
1992).
As diferenças entre os sexos se aplicam ao com- n
1955 1S4ü ì*45 1*5ü J$55 rSfiA 1,SË5 'rCï8 r*75
portâmento bem como às atitudes. As mulheres que
praticam sexo antes do casamento tendem a ter me-
nos parceiros sexuais do que os homens. As diferen-
ças entre os padrões mascuÌinos e femininos de com- FIGURA 10.9
portamento sexual persistem independentemente da
orientação sexual. Por exemplo, casais de lésbicas lncidência Relatada de Coito antes do Casamento Cada ponto de da-
dos representa as descobertas de um estudo da incidência de sexo pré-
tendem a ter sexo com menos freqüência do que ca-
marital entre homens e mulheres universitários. Note-se a clara tendência
sais heterossexuais, e casais de homossexuais mas- ascendente a partir da década de 1 960. (Segundo Hopkins, 1 977)
culinos fazem sexo com mais freqüência do que ca-
sais heterossexuais. Pode-se consideraÍ que essas di-
f'erenças reÍ-letem um continuum que vai de caracte- ocupe diferentes pontos da escala para diferentes
rísticas tipicamente femininas a características tipi- componentes. Por exemplo, muitas pessoas que se
camente masculinas (Buss, 1994). sentem sexualmente atraídas por pessoas do mesmo
sexo nunca tiveram nenhum comportamento homos-
'i .--
:r
Orientação Sexual sexuaÌ; muitas que tiveram contatos homossexuais
não se identificam como pessoas homossexuais ou
A orientação sexual de um indivíduo é o grau em
bissexuais. Para complicar ainda mais a situação, as
qtte ele sente atraÇão serual por pessoas dct sexo
:t. pessoas podem com o tempo mudar em um ou mais
i:1., oposto e/ou do mesmo sero. Como Alfred Kinsey, o
componentes.
!.:: pioneiro pesquisador do sexo da década de 1940, a
maioria dos cientistas comportamentais conceituali-
zam a orientação sexual como um cuntinuum, que
Freqüência das Diferentes Orientações Se-
xuais Em uma pesquisa sobre sexualidade nos Esta-
vai da exclusiva heterossexualidade até a exclusiva
dos Unidos, 10,17o dos homens adultos e 8,67o das
homossexualidade. Por exemplo, na própria escala
?i mulheres adultas de uma amostra randômica nacio-
de sete pontos de Kinsey, os indivíduos que têm atra-
nal relataram pelo menos uma das seguintes situa-
ção exclusiva por pessoas do sexo oposto e que man-
têm comportamento sexual somente com estas pes- ções: (a) atualmente sentiam-se atraídas "principal-
::j ,.
soas estão no extremo heterossexual da escala (cate-
mente" ou "apenas" por pessoas de seu sexo; (b)
achavam que Íãzer sexo com uma pessoa do mesmo
goria 0); aqueles que sentem atração exclusivamente
_\: por pessoas do mesmo sexo e que mantêm compor- sexo era "um pouco" ou "muito" atraente; ou (c) ti-
rli.i
nham tido comportamento sexual com uma pessoa
tamento sexual somente com estas pessoas estão no
extremo homossexual da escala (categoria 6); os in-
do mesmo sexo após os 18 anos (Laumann et al.,
1994). Estes percentuais são semeihantes ao percen-
..: ..;
divíduos nas categorias 2 a 4 geralmente são defini-
tual de pessoas que são canhotas (cerca de 87o).Em
dos como bissexuais.
termos de auto-identiÍìcação, 2,8Vo dos homens e
Mas isso simplifica em demasia a situação, pois
l,4Vo das mulheres se identificavam como homosse-
a orientação sexual compreende diversos componen-
:i::, : xuais (gays ou lésbicas) ou bissexuais - semelhante
tes distintos, incluindo atração erótica ou desejo se-
ao percentual de pessoas nos Estados Unidos que se
xua1, comportamento sexuaÌ, atração romântica e au-
identiÍìcam como judias (2 a3 7o).
to-identificação como pessoa heterossexual, homos-
sexual ou bissexual. Não é raro que um indivíduo
.i

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358 Capítulo l0 Rìta L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
- .:':.

:...t: ',r; Como reconhecem os autores da pesquisa, te- biológicas inatas, tais como genes ou hormônios pré-
':Í
!t: :,ìt,,,
mos que considerar que esses percentuais estão abai- natais?

ìr li
xo dos percentuais reais, uma vez que muitas pes- Os melhores dados sobre as primeiras experiên-
iiil <! soas relutam em admitir desejos ou comportamentos cias de vida provêm de um estudo intensivo conduzi-
ii'ii ,1 que ainda são considerados por alguns como imorais do em ampla escala em que foram entrevistados
(!; ou patológicos. O problema foi especialmente acen- aproximadamente 1.000 homossexuais e 500 hete-
t::;ll
,:a.:., tuado nesta pesquisa porque as entrevistas foram rossexuais de ambos os sexos que viviam na área da
Í) conduzidas nos lares dos próprios entrevistados, e Baía de São Francisco tBell. Weinberg e Hammers-
;'
,^.'"
,',,,i:
outros membros da família, inclusive crianças, tam- mith, 1981a). O estudo revelou um - e apenas um -
bém estavam em casa no momento, embora não ne- importante fator que prognosticava uma orientação
l--,,r ::
cessariamente na mesma sala. durante mais de 20Vo homossexual na idade adulta tanto em homens quan-
das entrevistas. to em mulheres: inconformidade de gênero na infân-
i,iì lil cia. Como mostra a Tabela 10.2, quando inquiridos
Causas da Orientação Sexual A pergunta comum, sobre as atividades lúdicas de que gostavam ou não
"O que causa a homossexualidade?" é cientificamen- na infância, os homossexuais gd)Ìs e lésbicas tinham
te errônea porque implicitamente assume ou que a considerável maior propensão do que homens e mu-
':.-'
. -t
<,.....,
heterossexualidade não precisa de explicação ou que lheres heterossexuais a responder que não gostavam
(ì .-,i
(ì :::r'i suas causas são auto-explicáveis. Aqueles que por al- das atividades típicas de seu sexo e maior propensão
:itÌì :,ri: gum motivo pensaram sobre isso provavelmente a responder que gostavam de atividades típicas do
concluíram que como apenas o comportâmento hete- outro sexo. Os homossexuais gays e lésbicas tam-
ìi.' íi::ì
<::Ì ':. rossexual resulta em reprodução, este deve ser o Íe- bém tinham maior propensão do que os heterosse-
l!.,: ,:\\
sultado "natural" da evolução, e portanto somente xuais a responder que não tinham sido másculos (nos
::a'j
desvios da heterossexualidade (tais como a homos- homens) ou femininas (nas mulheres) quando crian-
i::' ,.r.,
sexualidade) oferecem um enigma cientíÍìco. O pró-
+, r':
.:- :' ças. Além desta inconformidade de gênero, os ho-
:rr'l:l prio Freud não concordava: "[a heterossexualidade] mossexuais gays e lésbicas eram mais propensos a
i 1....
também é um problema que necessita elucidação e terem tido mais amigos do sexo oposto.
Q :.r'rr

-- t- não é um fato auto-explicável baseado em uma atra- Duas características dos dados na Tabela 10.2
i:::ì
ção que é em última análise de natureza química" são dignas de nota. Primeiro, as descobertas são
'i:':i < (190511962, p. ll-12). É por concordamos com muito sólidas e semelhantes para homens e mulhe-
r! ,.
):r: it i Freud que chamamos esta seção do capítulo de tes'. 63Vo tanto de homossexuais gízl,s quanto de lés-
ti.. :,::i
ai-.j i!-il
"orientação sexual" e não de "homossexualidade". bicas não gostavam de atividades inÍantis típicas de
ó :::.
Mais uma vez está em questão a indagação da
.:i:. seu sexo, comparados com apenas 1 0 a I 5 7o dos he-
ii,i r'i natureza e experiência, que foi o que introduzimos terossexuais entrevistados. Segundo, é evidente que
,1..rÌ l
no capítulo sobre desenvolvimento (Capítulo 3) e o as mulheres são mais propensas do que os homens a
.::::l i que discutimos detalhadamente no capítulo sobre di- terem gostado de atividades típicas do sexo oposto
ferenças individuais (Capítulo l2): Em que medida a durante a infância e a terem tido mais amigos de in-
a:ri i"-i,
orientação sexual de um adulto é determinada pelas fância do sexo oposto. Na verdade, a maioria tanto
ü .r'
primeiras experiências da vida ou por influências de lésbicas quanto de mulheres heterossexuais neste

,iit't i";
TABELA 1O-2
;:ì li "l
lnconÍormidade de Gênero na lnfância Em um estudo de ampla escala com entrevistas, os homossexuais mas-
culinos e as lésbicas tinham considerável maior propensão do que homens e mulheres heterossexuais a dizer que
í,'.aì .,-: não tinham tido conformìdade de gênero durante a infâncìa. (Segundo Bell, Weinberg e Hammersmith, 1981 b)

. Í..
'!ìì. Homens Mulheres
a:!,); PreÍerências ê Comportamentos sem
. -,

ii:: l: ConÍormidade de gênero Gays Heterossêxuais Lésbicas Heterossexuais

Não gostavam de atividades típicas de seu sexo 63"/" 10T" 63"k 15"/"
Gostavam de atividades atípicas para seu sexo 48T" 11"/" 81V" 61"/"
iiì iaiìl
Tipif icado atipicamente (masculinidade/feminilidade) 56"/o 8"/" 807" 2470

È Útt
A maioria dos amigos de infância eram do sexo oposto 42/o 13/" 60"/" 40To

<i
!:,,ì :,::
i,ìr ':.1

:>
1.. "':1"
.,...
Introdução à Psicologia de Hilgard 3S9

estudo eram masculinizadas, isto é, gostavam de ati- plo, na cultura Sambiana da Nova Guiné, citada an-
vidades de menino quando crianças. É o fato de não teriormente, todos os meninos têm comportamentos
rJ:
gostar das atividades típicas de seu sexo que parece exclusivamente homossexuais desde antes da puber-
,llÌ ser o melhor indicador de orientação homossexual dade até o final da adolescência. A partir de então,
nÌì quando adulto, tanto nos homens quanto nas mulhe- praticamente todos eles se casam e tornam-se exclu-
res. A descoberta geral de que a inconformidade de sivamente heterossexuais (Herdt, 1 984, 1 987).
ta
'tt):
gênero na infância prognostica um resultado homos- Finalmente, os estudos deixam claro que nossa
.\..t sexual na idade adulta foi confirmada por viírios ou- orientação sexual não é algo que simplesmente esco-
,a:lì

tros estudos (Bailey eZucker, 1995), incluindo di- lhemos. Homossexuais gdys e lésbicas não escolhem
i.-i
versos estudos que acompanharam meninos com in- ter sentimentos eróticos por pessoas do mesmo sexo
conformidade de gênero até a adolescência e idade mais do que heterossexuais escolhem ter sentimen-
:.i adulta e avaliaram suas orientações sexuais (Green, tos eróticos por pessoas do sexo oposto. Como ilus-
l.iaìl 1987; Zrcker, 1990). tra a seção Vozes Contemporâneas na Psicologia,
Além da descoberta geral de inconformidade de deste capítulo, os cientistas comportamentais real-
gênero, o estudo em São Francisco também gerou mente discordam em relação à questão da natureza e
muitos resultados negativos que foram importantes experiência - se os principais determinantes da
porque invalidaram teorias comuns sobre os antece- orientação sexual enraízam-se na biologia ou na ex-
:a, r'rr'rl
dentes da orientação homossexual. Por exemplo: periência -, mas o público muitas vezes interpreta
t, - ;:.
,::: A identificação de uma pessoa com o genitor de mal a questão, como se esta fosse entre saber se a
sexo oposto durante seu desenvolvimento parece orientação sexual é determinada por variáveis fora de
:::ì :. ..
controle do indivíduo ou se ela é livremente escolhi-
:a:: itir não ter impacto significativo no fato de ela tornar-
se homossexual ou heterossexual. Isso não confir- da. Esta não é a mesma questão.
ma a teoria psicanalítica de Freud (discutida no Uma vez que a maioria das principais teorias do
ì:.1"j": Capítulo 13) bem como outras teorias baseadas na homossexualismo baseadas nas experiências da in-
::''J dinâmica da família de infância da pessoa. fância ou adolescência não foram apoiadas por evi-
a. :.-
i.tì :.1,ì dências, muitos cientistas atualmente acreditam que
.....
,: ,l iiìi Homossexuais gdys e lésbicas não tinham maior
as origens tanto da inconlormidade de gênero da in-
:.j I propensão do que os heterossexuais entrevistados
:!:: fância quanto da orientação homossexual adulta po-
' '
a dizerem que tinham tido seu primeiro contato se-
dem estar na biologia do indivíduo, possivelmente
xual com uma pessoa do mesmo sexo. Além clisso,
nos genes ou nos hormônios pré-natais. O debate em
eles não careciam de experiências heterossexuais
Vozes Contemporâneas na Psicologia, apresenta
durante os anos de infância e adolescência, e tam-
pouco acharam estas experiências desagradáveis.
duas visões contrastantes das atuais evidências da
biologia.
A orientação sexuaÌ de uma pessoa geralmente é
determinada na adolescência, mesmo que ela ain- Fatores Biológicos Uma vez que os resultados do
da não se tenha tornado sexualmente ativa. Ho- estudo em São Francisco invalidaram praticamente to-
mossexuais gcys e lésbicas normalmente sentiram das as principais teorias do homossexualismo basea-
atração pelo mesmo sexo três anos antes de terem das nas experiências da infância ou adolescência, os
tido qualquer atividade sexual "avançada" com investigadores especulam que as origens tanto da in-
pessoas do mesmo sexo.
conformidade de gênero da infância quanto da orien-
Estas duas últimas descobertas indicam que, em tação homossexual adulta podem estar em fatores bio-
geral, os sentimentos homossexuais, e não os con- lógicos do indivíduo, incluindo hormônios e genes.
portamentos homossexuais, são os antecedentes crí- Como assinalado anteriormente, os hormônios
ticos de uma orientação homossexual na idade adul- sexuais - especialmente os andrógenos - estão en-
ta. Eles portanto invalidam qualquer teoria de apren- volvidos na motivação sexual. Esta observação suge-
dizagem comportamental simples da orientação se- riu a muitos dos primeiros pesquisadores que os ho-
xual, incluindo a versão popular leiga que afirma que mens homossexuais poderiam ter níveis inferiores de
uma pessoa pode tomar-se homossexual se for "se- andrógenos ou testosterona do que os homens hete-
duzida" por uma pessoa do mesmo sexo ou por ter rossexuais. Contudo, essa hipótese não foi confirma-
um(a) professor(a), genitor ou clérigo admirado e da. A maioria dos estudos não mostrou diferenças, e
'+
l-li').
Jì. abertamente homossexual. Dados interculturais tam- aqueles que o nzeram deixaram de controlar outros
bém são compatíveis com esta conclusão. Por exem- fatores conhecidos por suprimir os níveis de andró-
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'a:,,.,:i4frt Capítulo 10 Rita L. Atkínson, Rìchard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
l: .-ì.ììÌ

o., ..
U ;:r genos, tais como estresse ou uso recreativo de dro- reta entre os hormônios pré-natais e a orientação se-
| ;j,l gas. Além disso, quando homossexuais masculinos xual adulta.
tlìr ,:4.,

ìrl recebem testosterona adicional, sua motivação se- Problemas metodológicos semelhantes dificul-
ì
xual aumenta - como ocorre nos homens em geral - tam a intelpretação de outras descobertas relaciona-
mas sua orientação sexual não muda. das com a hipótese hormonal pré-natal. Por exemplo,
íli: .
O papel dos hormônios no desenvolvimento pré- foi relatado que o hipotálamo de homossexuais gays
'' ''' ii:iÌ:
natal sugeriu uma hipótese hormonal diferente. Ba- difere num pequeno detalhe estrutural daquele de
i-i ..:
;, r:ì
seados na pesquisa em ratos em que a testosterona homens heterossexuais (LeVay, 1993, 1991). Como
pré-natal "masculiniza" o cérebro e influencia as notado anteriormente, o hipotálamo está intimamen-
l:j",
subseqüentes respostas de acasalamento como mas- te envolvido com os hormônios sexuais e o compor-
:ii
t-:l ''..=
culinas, alguns pesquisadores levantaram a hipótese tâmento sexual. Mas esta descoberta se baseia em
::::ì .::.
exames dos cérebros de homens que haviam morri-
de que os machos humanos que recebem quantida-
l': ii.ì des de testosterona consideravelmente abaixo da mé- do. Os homossexuais haviam todos morridos de
., 1 a dia em um momento crítico do desenvolvimento pré- complicações daAIDS, mas a maioria do grupo-con-
(:ll ..-.:
natal estarão predispostos a uma orientação homos- trole de heterossexuais tinha morrido de outras cau-
sexual na vida adulta; De modo semelhante, fetos fe- sas. Não sabemos se o processo patológico em si não
ii.'" '.'{
mininos expostos a quantidades de testosterona con- poderia ter afetado o cérebro, embora existam algu-
:.: vì;
sideravelmente acima da média podem também ser mas evidências de que a AIDS provavelmente não é
i\ì È;i
..,,' :ii. ligeiramente predispostas a uma orientação homos- a causa desta diferença estrutural (LeVay, 1993; ver
sexual na vida adulta (Ellis e Ames, 1987). também Bem, 1996; Z:ocker e Bradley, 1995).
u

,rj iì I 1,1,

É aiticit testar hipóteses relativas a hormônios Em contraste com a ambigüidade da evidência


i!.., . , pré-natais em humanos, e a maioria dos estudos rela- hormonal, a evidência de uma ligação entre fatores
.11:
.tt !:
:...1

cionados possuem falhas metodológicas que impedem genéticos e orientação homossexual adulta está
conclusões seguras (Adkins-Regan, 1988; Ehrhardt e bem-estabelecida - ainda que sua interpretação não.
'ìi::: ,-j,
-.: - ,:r
-. Meyer-Búlburg, I 98 I ). Por exemplo, um estudo bem Os dados mais persuasivos são os provenientes de
"i.ì >.. conhecido acompanhou meninas que foram expostas estudos de gêmeos idênticos e fraternos. Num estu-
a níveis extremamente altos de testosterona pré-natal. do de homossexuais gays que eram gêmeos idênti-
As meninas nasceram com genitiília ambígua, as quais cos, constatou-se que 527o óe seus irmãos gêmeos
foram corrigidas por cirurgia logo após o nascimento. também eram homossexuais, comparados com ape-
iìl ::ì":
Em entrevistas na segunda infância, estas meninas e nas 227o de seus irmãos gêmeos fraternos (Bailey e
ttli:t .', suas mães disseram que elas tinham maior propensão Pillard, 1991). Num estudo comparável de lésbicas,
':,11., para serem "masculinizadas" do que as meninas de 487o de suas irmãs idênticas eram também lésbicas.
t,: |.: um grupo-controle (Money e Ehrhardt, 1972). No comparado com apenas 167o de irmãs gêmeas frater-
início da idade adulta, elas eram mais propensas do nas. Além disso, apenas 67o das irmãs adotivas des-
>.ì-
i )
que as meninas do grupo-controle a terem fantasias tas mulheres eram lésbicas, mais um indicativo de
sexuais com o mesmo sexo (Money, Schwartz e Le- que os genes estão envolvidos (Bailey, Pillard, Nea-
a; wis, 1984). Estes resultados foram freqüentemente 1e e Agyei, 1993). Um estudo subseqüente de quase

":..ì ,:' interpretados como demonstrativos de que a testoste- 5.000 gêmeos que foram sistematicamente extraídos

t! i;
i:Jì ;i,,.1:
rona havia "masculinizado" os cérebros das meninas de cartório confirmaram a hereditariedade da orienta-
i
l.rì durante o período pré-natal. ção sexual para homens, mas não para mulheres (Bai-
Mas outras interpretações são possíveis. Por ley e Martin, 1995). Finalmente, uma análise de 114
':.... exemplo, essas meninas também estavam tomando famílias de homossexuais gays, juntamente com uma
li\l
medicação com coftisona, o que poderia torná-las fi- análise cromossômica de 40 famílias nas quais ha-
tÌ1.)
;,;-' sicamente mais ativas e, conseqüentemente, mais viam dois irmãos homossexuais, mostrou evidência
rii
r!ì
íí
r'.ì-
impetuosas e desordeiras. Isso poderia influenciar de um marcador genético para a homossexualidade no

ai,'l
suas interações com outras meninas, com meninos e cromossomo X, o cromossomo que os homens rece-
r1 com adultos e, possivelmente, mudar o modo como bem de suas mães. Homossexuais gays tinham mais
í'':ì estas pessoas as tratavam. Por este e outros motivos, parentes homossexuais gays pelo lado matemo do que
,:.! o estudo não demonstra claramente uma ligação di- pelo lado patemo da família (Hamer e Copeland,
1994: Hamer et al.. 1993).

aì.
lntrodução à Psicologia de Hilgard 40Í
"
'ì: 'r
,.'>'

(.)
Teoria do "Exótico Torna-se a Teoria do Erótico,,
Uma teoria recentemente proposta, baseada na expe-
riência, procura integrar as descobertas que revisa-
mos. Trata-se dateoria da orientação sexual do exó-
tico tornar-se erótico (Bem, 1995). Esta teoria pro-
põe, primeiro, que fatores genéticos e possivelmente
outros fatores biológicos não influenciam a orienta-
ção sexual por si mesmos, mas influenciam o tempe-
ramento e os traços de personalidade de uma criança.
Como veremos no Capítulo 12, em cerca de metade
,1..r
'::.' 1....,
lil:l da variação entre os indivíduos, a maioria dos traços
de personalidade podem ser atribuídos a diferenças
Ê genéticas. Em outras palavras, existe sólida evidência
de que a maioria dos traços de personalidade possui
um fofie componente genético ou hereditiírio, inclu-
sive temperamentos como emotividade, sociabiÌidade
e nível de atividade (Buss e Plomin, 1984, 1975).
O temperamento predispõe uma criança a gostar Segundo a teoria de Bem que o exótico torna-se
mais de algumas atividades do que de outras: uma erótico, uma crìança sem conformidade de gênero
irá sentir-se mais parecÌda e mais à vontade com
criança gosta de brincadeiras mais impetuosas e de
crìanças do sexo oposto.
esportes mais competitivos; outra irá preferir se rela-
cionar com mais tranqüilidade ou brincar de outras
coisas como, por exemplo, jogar amarelinha. Algu- tras meninas pode sentir semelhante excitação de
mas destas atividades são mais típicas dos homens; tom emocional. Contudo, o caso mais comum prova-
outras são mais típicas das mulheres. Assim, depen- velmente é o da criança que sente uma tênue excita-
dendo do sexo da criança, ela será geneticamente ção produzida por estar na presença de pares desse-
predisposta a ter conformidade ou inconformidade melhantes.
de gênero. Como mostra a Tabela 10.2, as crianças Finalmente, a teoria propõe que em anos futu-
<ii. também tendem a ter amigos que partilham de suas ros, esta excitação geral se transforma em excitação
preferências por determinadas atividades; por exem- erótica ou atração sexual - depois que a causa origi-
l,
plo, a criança - masculina ou feminina - que foge nal da excitação diminuir ou desaparecer. Evidências
í

t...,,
dos esportes competitivos de grupo irá evitar brincar para esta última etapa no processo provêm, em parte,
com meninos e irá procurar meninas como parceiras de estudos laboratoriais em que participantes mascu-
para brincar. Conseqüentemente, as crianças com linos foram fisiologicamente excitados de diversas
conformidade de gênero sentir-se-ão mais parecidas maneiras não-sexuais (por exemplo, correndo sobre
ii'J
.,,,r1
e mais confoftáveis com crianças de seu próprio se- uma esteira ou assistindo a um videoteipe de um nú-
l=,
xo; crianças com inconformidade de gênero sentir- mero teatral cômico ou de um urso sendo morto).
.. .:
se-ão mais à vontade com crianças do sexo oposto. Quando estes homens subseqüentemente assistiram
A teoria propõe então que a dessemelhança e a um videoteipe de uma mulher atraente, eles a acha-
desconforto produz excitação geral (não-sexual). pa- ram mais atraente e expressaram maior interesse em
ra a criança tipicamente feminina, esta excitação po- conhecê-la e beijá-la do que os homens que não ti-
de ser vivenciada como um ligeiro temor ou apreen- nham sido fisiologicamente excitados. Além disso,
são na presença de meninos; para a criança tipica- não importava o que havia causado a excitação inicial.
mente masculina, ela pode ser sentida na forma de Esta descoberta geral foi replicada em vários estudos
antipatia ou desprezo na presença de meninas (,,as (Allen, Kenrick, Linder e McCall, 1989; Dutton e
meninas são nojentas"). O caso mais claro é o meni- Aron, 1974; White e Kight, 1984; White, Fishbein e
no efeminado que é provocado e atormentado pelos Rutstein, 1981). Em resumo, a excitação fisiológica
outros meninos por sua inconformidade de gênero e geral pode ser subseqüentemente experimentada ou
conseqüentemente tende a sentir uma forte excitação interpretada como excitação sexual, ou até mesmo
criada pelo medo e raiva suprimida em sua presença. transformada nela.
Uma menina mais "masculina" que se afasta das ou-

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402 Capítulo 10 Rita L. Atkínson, Richard C. Atkinson, Edvçurd E. Smith, Dan^l J. Bem e Susan NoLen-Hoeksema

FRONTEIRAS DA PESQUISA PSICOLOGICA


a

Impríntíng,,,,,:
i '..:.
Aìgumas noJivações pârecem ser instiiifi-
vafiìenE direcionadas a seus alvos de in-
:atÌ ì
centivo. O conceito de instìnto - uma pro-
:r. (ì pensão ineta para comportâÍ-se de um de-
iu
lerminado modo - tem uma história longa
e contÍoversa. No século KD( e início do
. ta:t.
1.,-l ,.-.. século XX. os psicólogos lormularam lon-
: : :'
gas listas de inslintos { I 8, segundo um teó-
1 í',
rico proemìnente; para erplicar o compor-
'ì lìl
tamenlo humano (McDougalt. 1908). A
partir de 1920. o conceito caiu em descré-
dito entre os psicólogos nofle-americanos,
em pafle porque a expliceçào geralmente
.r't: r,_i. era circular (por exemplo. podemos expÌi-
câÍ que os p*ssâitls,.èitnstíoem ninhos por-
que possuem um inslinto para isso. mas a O fenômeno do imprinting é tão forte que tem sido utilizado para treìnar espé-
única prova que temos deste instinto ë que cies ameaçadas de extinÇão a aprender rotas apropriadas de migração. Aqui,
jovens garças seguem um ultraleve pilotado pelo biólogo de vida selvagem
os pássaros constÍoem ninhos): em parte
Kent Clegg.
porque todo lipo de comportanìento pare-
cia se qualificar para seu próprio insünto. o
que levava a Iistas ainda mais longas t você do instinto começaram a ser incorpclrados ou seja, ele,pode $€r desencâdeado por al-
lem um instinto para fazer um curso de psi- na psicologia. gum estímulo natural na primeira rez em
cologia?): e ainda em parte porque o surgi- No sentido etológico, um padrào de que há contato com o estímulo. Uma
.,)
Ì::, mento do behaviorismo fez os psicólogos comportamento pcde ser chamado de ins- criança pequena engutinhando ou cami-
olharem mais para a aprendizagem em tintivo quando ele é ta) especÍfico à erpé- nhando peÌa primeira \ez, um jovem es-
tlll:
busca tle explicações do componamento. cie - ou $ejâ, ele apârece em todos os quilo rbrindo uma noz pela primeira vez e
-.,1 Conrudo, o estudo do componamento ins- membros de uma especie independente- um bebè humano recém-nascido sorrindo
.:i

tintivo persisüu entre um grupo de zoólo- menle do ambienre em que cresceram e ou chorrndo estão todos exibindo padròes
gos europeus conhecidos como etologisras \em serem especilìcamente aprendidos; instintivos de comportamento.
td(tl(,gìü e o ramo da zoologia que estuda 1b1 um padrão fixo de açào ou seja. ele Uma das aplicações mais bem-suce-
o comportamento dos animais), e a pafiir tem uma organização muito estereotipada didas da abordagem etológica tem sido o
da década de I 950 os conceitos etológicos e previsível; e {c) inatamente liberado - estudo do imprintìng, a rápida aprendiza-

Inversamente, a teoria implica que quando as uns com os outros porque se sentem como se Íbssem
crianças interagem com pares com os quais se sen- irmãos e irmãs (Shepher, 197 l).
tem à vontade, não ocome excitação. Assim, crianças O mesmo processo explica porque pÍaticamente
com conformidade de gênero terão amizades com as todos os homens sambianos tornam-se heterosse-
quais se sintam confortáveis, mas não-eróticas, com xuais na idade adulta apesar de terem passado toda a
ì'1'.. membros do mesmo sexo, ao passo que crianças com sua adolescência envolvidos em atividades homosse-
. :..u.
| Ìr-
inconÍbrmidade de gênero terão amizades do mesmo xuais. Embora a maioria deles goste de suas práticas
-.::t ,ii
tipo, não-eróticas, mas com membros do sexo opos- homossexuais, o contexto de íntima ligação masculi-
to. Assim, apenas o exótico torna-se erótico. Evidên- na no qual elas ocorrem não produz sentimentos ho-
!,::, ,ii.
cias indiretas disso provêm da observação de que moeróticos ou românticos tbrtemente carregados;
,1.)
meninos e meninas criados coletivamente em comu- enquanto isso, os meninos aprendem que as mulhe-
t::: !l nidades (kibbutzim) em Israel raramente se casâm res são inferiores e perigosas - o que aumenta o ape-
]ì-. llr ì
.ì :.:liì lo erótico das mulheres. De modo mais geral, a teo-
ll"
r-.1 '' '

,l:
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:r:l ,ì,'

i. .: ..

Introdução à Psicologia de Hilgard 403

: :-'
gem inicial que permite que um recém- vínc*lo'entre,+ÌúãEe sua piole é chamado
nascido ou animal que acabou de saú de d.* ímprínting:'fursi?le. OÌÌlro lipo de irÌ'
um ovo desenvolvr apego pela mìe lver priníing é o impÍinli:ìng.,Sexual, q*e é -#-!
Capítulo 71. Nas primeiras horas de vida. aprendido ao mesmo tempo que o imprìn-
os bebês de muitas espécies qão ''progra- ting maf€mo, mas só se,e*pres$a no cclït-
mâdcg::Ì:pâra adquirir uma ligação emo- portamento posteriormeÍtdnà vida, quan-
cional com a figura social mais próxima. do o animal escolhe um parceiro. No inr-
,:l:, 't',
Normaìmente esla seria I mãe. mas se um printing sexuat, o bebê aprende com seus .d:- /
palinho que recém-eclodiu do ovo vir pais como deve parecer um "adulto ade-
{
apenas um ser humano ou ald mesmo um
objeLo inanimado em movimento. como.
quado" e depois. quando adulto. escolhe
um parceiro de aparência semelhante. Por
{///r' J*
por exemplo. um chamariz cle caça de ma- exemplo. um paLinho macho cr-iado por r
deirá, em vee de sua mãe rea,l, ele irá "1i- sua màe natural posleriormente irá esco- Quando os estudos de imprinting
I
gar-se" à pessoa ou ao objeto. Duranle o lher uma parceira que se pareça com ela, dão errado.
''penodo críLico" no quaì o Imprinring po- mas um macho criado por uma mãe adoti-
ì:_
de oconeE â exposição a urn objet* por va de uma espécie diferente de pato irá es-
ia apenas [0 minulos e sutìciente para esla- colher uma parceira que se.ja semeÌhante à uma escolhã melhor. AÌguns psicólogos
belecer uma ligaçào emocional que irá mãe adotiva e não à mãe biológica. A sugeriram que este mecanismo pode estar
l!l
-'ìl persisúr até que o animal te úa crescido. maior prelerência é por parceiros que se- relacionado com o motivo pelo qual as lì-
.a'
O patinho irá sêgúr o chamãriz se este for jam parecidos. mas nào idênticos ao alvo gaçòes românticas humunas raramente re
o primeiro objeto que vìr, depois irá renrar de imprinting sexual. Um parceiro que é desenvolvem entre membros da mesma
perïnanecer próximo a eÌe mesmo em cir- apenas Iigeiramente diferente do alro é famíie.
t - ..- cunstánciâs adversas, e posteriormente irá percebido como mais desejável (Bateson, Os seres humanos sào capazes cle rm-
prelerir estar perto dele me5mo que possa 1978r. Os etologisras intcrpreruam esse prinringl'O imprìntìng é mds lorte nas
optar enre ele e um pato vivo tHess. lenômeno como um mecanismo psieoló- espëcies que nascem e eclodem já com a
1972.t. Esra tcndência e rào forte que re- gico que se desenvolvcu para perm.itir que capacidade tle se deslocar e que amadure-
centemenle loi utiìizada para treinarespd- o indivíduo escolhesse um parceiro de es- cem rapidamente. Os seres humanos. em
cies ameaçadrs de exünçào a seguirem pécie apropriada. mas ao mesmo tempo conraste, nascem impolente$ e amadure-
..-. ultraleves para aprenderem rotas de mr- evitasse a endogamia. Um perceiro que cem lentamenle. Embora raços de im-
graçào apropriadas ( Li ne. I 998 t. pareceça idèntico ao alvo de imprinting prinring persistam nos humanos. eles sào
'.::.
O Ìmprinting tem diversas outras tende a ser um prrente próximo: um par- de pouca imponância quando compara-
conseqüôncias. O desenvolvimento do ceiro apena$ ligeiramente diferente seria dos com a influência dr culLura.

ria implica que em diÍèrentes épocas e culturas, a he- parceiros por parte de animais não-humanos. Como
terossexualidade será o resultado predominante por- discutido no quadro de Fronteiras da Pesquisa psico-
que praticamente todas as sociedades estabelecem lógica deste capítulo, algumas espécies preferem
uma divisão de trabalho baseada no sexo que divide parceiros que sejam semelhantes, mas não-idênticos,
homens e mulheres e os torna dessemelhantes, exóti- ao alvo de imprinting sexual com o qual tiveram con-
cos, e, portanto, eróticos uns para os outros. tato antes da maturidade sexual; um parceiro que é
Outros autores também propuseram que, embo- apenas ligeiÍamente diferente do alvo é percebido
ra a semelhança e a familiaridade possam promover como mais desejável. Os etoÌogistas especulam que
amizade e compatibilidade, é a dessemelhança, a es- esta preferência impede a endogamia porque um par-
tranheza e o sentimento de exotismo que despertam ceiro que parece idêntìco ao aÌvo de imprintíng ten-
a excitação sexual e/ou sentimentos românticos de a ser rÌm parente próximo.
(Bell, 1982; Tripp, 1987). Os etologistas até assina- A questão geral aqui é que apenas porque um
laram os efeitos da dessemelhança nas escolhas de comportamento pode ser vantajoso do ponto de vista

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ttt;çã Capítulo 10 Rita L. Atkínson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
.)> " ''
!Õ ,,..

i-ì:> de reprodução, isso não significa que a evolução o genes. E assim como bebês de patos irão encontrar
":' ,ì
"È7 "embutiu" na espécie. Considere-se mais uma vez os mães patas, na maioria das vezes, também as socie-
-- _.ì
patos descritos no quadro Fronteiras da Pesquisa Psi- dades humanas asseguram que homens e mulheres
>;: cológica. Evidentemente seria vantajoso para sua re- vejam a si mesmos como dessemelhantes o suficien-
produção que os patos acasalassem com outros pa- te pa"ra gaÍantir que a espécie não desapareça. Foi até
tos. Mas se eles forem criados por uma mãe adotiva sugerido que pelos cuidados dispensados aos sobri-
it( ,
iafì
Ên t<i de outra espécie, eles irão preferir um parcei-ro(a) nhos e sobrinhas, tias lésbicas e tios homossexuais
'": líì. que seja parecido com ela a outro pato. Eles irão até ajudam aespécie aperpetuar (V/ilson, 1978).
arú ":1,Ï
preferir um humano se ele for o primeiro objeto em Ao longo deste capítulo, vimos que as causas
movimento que virem depois de saírem da casca. psicológicas e biológicas estão tão intimamente en-
-_- .<
r I irr Contanto que o ambiente apóie ou promovasuficien- trelaçadas no controle de muitas motivações que aca-
q.íi a:ì' temente o comportamento reprodutivamente vanta- bam se fundindo em uma sucessão de eventos. Não
joso, este não será,necessariamente programado nos apenas as causas biológicas podem controlar as mo-
iõ=
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Introdução à psicologia de Hilgard ?';*j|.,Wê
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tü tivações psicológicas como fome e sede, mas os pro- saciedade produzido por um estômago cheio de ali-
cessos e as experiências psicológicos controlam a mento é influenciado pela experiência anterior. Nos-
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E motivação e, por retroalimentação, podem controlar sas ligações sociais são determinadas em grande par-
E as respostas fisiológicas. Por exemplo, o uso repeti- te pelas conseqüências das primeiras interações so_
E do de uma droga aditiva pode perÍnanentemente alte-
É ciais com determinados indivíduos. Em muitos pro-
t rar determinados sistemas cerebrais. Mais comu- cessos motivacionais, a biologia e a psicologia não
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mente, os alimentos e as bebidas específicos que de- são domínios separados, mas dois aspectos do con-
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sejamos são estabelecidos como objetos de escolha trole que interagem continuamente para dirigir
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em grande parte por aprendizagem, e até o grau de processos motivacionais.

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VOZES CONTEMPORANEAS NA PSICOLOGIA


Nossa Orientâção Sexual E lnâta ou Socialmente Determinada?

Evidência:em Prol do,fu**o sobre o Produzido


J. Miehaê1,,B ailey, Nortl estern |University

PormuitoS anos, maioria dos psicólogos


a versas culturas (Whitâm e Mãúy, 1986; Xq28 que seus irmãos homossexuais (Hu
presumia que a
homossexualidade era Whitam e Marhy. Iggl). Embora nào co- eral.. I 9951.
produto da etperiéncia. causada por rela- nheçamos as causas exalas da inconior- A teoria mais influente sugere que
çòes patológicas entre pais e lìÌhos ou ex- midade de gènero na infância o quadro existe uma área do cérebro que aleta a
periências atípicas de condicionamenro. gerâl implica que elaé inat4*não adqui- orìentaçào sexua.l s que o desenvolvimen-
Enlretanto. os estudos científicos destas rida. lo deste ccntro de orientação sexual de-
possibilidrdes nào lhes olèreceram muito Os estudos de irmãos, lincluindo os pende dos efeiLos iniciais dos hormônios
apoio. (p. ex., gêmeos. olerecem evidéncia mais direta. llevay, 1996t. Assim. segundo a teoria.
Bell, Weinbêrg Homossexuais masculinos tendem a ter os homossexuais possuem cenros de
e Hammesmith, mais irmàos homossexuais, quando com- orientaçào sexud femininos. e as lésbicas
1981). Os pais parados eom heterossexuais. e lósbicas possuem centros mascülinos. Dois casos
de homossexu- tendem a ter mais irmãs ldsbicas. quando de meninos cujos pênis foram acidental-
als nao eram comparadas com mulheres heterossexuais mente destruídos em renrâ idade e que fo-
muito diferentes tBailey e Pillard. lq95t. Estudos de gê- ram enlão criados como mulheres tam-
dos dè::,ü:eteros- meos sugerem que estes padrões reflelem bém sào perlinentes. Quando adultos. am-
sexuais {e quan- intluências genéticas e nào o rmbiente bos sentiam atração principalmente por
do Õ eram, o companilhado pelos membros da lamíia. mulheres. o que é compatÍvel com sua
,sentido da cau- Cêmeos idêntictrs tendem a ser mais se- biologiaprd-natal ao invés de sua criação
saçâo não era melhantes em suas orientaçòes sexuaiq do pos-natd (Bradley. Olìrer. Chemick e
claroì. A maio- que gêmeos lratemos (Bailey e PillertJ. Zuckner. 1998: Diamond e Sigmundson,
ria dos homos- 1995t. Por outro lado. pelo menos em Iq96). Um estudo realmente comparou os
sexuais teve de- 507o dos easos, se um gêmeo idêntico e cérebros de homossexulis com o de ho-
J. Michael Bailey
sejos homosse- homossexual. o outro gêmeo d hererosse- mens e mulheres helerossexuais e consla-
xuais muito an- ruaì. Embora is\o compro\e o imporlanLe tou que um núcleo (um bloco de célulãs
les de terem tido qualquer experiência se- papel do ambiente no desenvolrimenttr relacionadas) era maior nos cerebros dos
rual que pudesse plausivelmente ter cau)a- sexuaÌ, as infllências ambientais não pre- homens helerossexuais do que nos de ho-
.:' i...-
do um condicionamento inusual. À rnedi- cisam scr sociais. Fatores biológicos tam- mosseruais. cujos cérebros cram pareci-
da que os cientislas se desencantavam bém podem causar dilerenças entre gê- dos com os de mulheres heterosscxuais
.a:):
\i:iì: com as explicaçoes sociris. sua rtenção meos {Marlin. Boomsma e Machen. (LeVay. I 99 I ). Este núcleo situava-se no
vollrva-se para teorirs que situur.am as 1997t. Quando gêmeos idènricos rêm hìpotálamo. que se sahe ser imponante
origens da onentaçào serual na pessoa. orientações sexuais diferentes, eles em para o comportamento sexual. E provável
O correlato mais bem-comprovado muilos casos lembram-se de serem dife- que o hipotálamo se desenvolra muir.o ce-
da homosçexualidade adultr é a inconlor- rentes quando crianças. o que implica la- clo no: humanos e. assim. e improvável
midade de gênero na inlància {Bailey e tores ambientais iniciais. Mas I precisa que esta dilèrença entre homens homos-
Zucker. I 995 t. Em média. os homens ho- naturera das influêneias rmbientais rela- sexuais e heterossexuais seja causada por
mossexuais foram meninos femininos e cionadas conúnua incerta- experiências di lerentes.
as lésbicas foram menrnas masculinas. Os esludos de associação que real- As origens da orientaçào 5exual con-
Aparentemenle. a inconformidade cle gê- mente examinam o DNA olerecem evi- tinuam controversas, e há muito trabalho
nero na infáncia se mmifesta na primeirr dência mais direta das influências genéri- pela frente. Muiras dar descobertas mais
infância upesar das pressòes de socializa- cas (Hamer et al., 1993). Pares cle irmàos importanles (p. ex.. Hamet et al.. l99l:
ção. e nào poÍ câusa delas. Na lerdade. homossexuaìs tendem a ter herdado o LeVay. l99lr precisam ser replicadas.
meninos extremamente femininor, que mesmo segmento do cromossomo X, o Neste momenlo, o papel do ambiente so-
geralmente se lomam homossexuais Xq28. com mais lreqtiência do que pode- cìal não pode ser excluído, embora pou-
a,.
-:\,
(Green. 1987). muitas vezes solrem devi- rir ser atribuítlo au acaso. Isso sugere que cas pesquisas empíricas. se alguma. re-
do às reeçòes a seu compoflamento atípi- um gene naquela regiào afeta a orientaçào úam apoiado este papel. Em contrasre. a
::.
',Ì co. A associaçào entrc orientaçào serual e sexual dos homens. Em apoio a esta pos- busca científica drs origens inatas produ-
inconformidade de gênert, na infancia pa- sibilidade. homens hetcrossexueis lendem ziu umr scqüência regular de deçcobertas.
:- rece ser universal, e é enconfada em di- a nào ter herdado a mesmiì versào tlo
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A Orientação.Sexual Nãt S trnata
Daryl J. Bem. Cornell Unív.ersity

O Dr. Bailry'e eu concordamos com as n E Estê sentlmento.,.de ser,di--, A


evidências de que há uma ligaçào ou cor-
->
ferente cri a uma exc itaç,ão::intçn*iËrcnda. Variáveis Biológicas
relação entre variáveis biológicas e orien- Para a criança tipicanrenÍe maseulina, es-
taçào sexual. Porém, quero propor uma ta excitação pode ser senlida como anli-
iíterpretação alternativê dâ evidência bio- pâtia oÌr desprezo na prese.rça dÈúéïinâs
ìógica: a teoria da orientação sexual do 1''meninas são nojentas";l para r criança B
Exótico Tornar-se Erótico rEBE) íBem, tipicamente feninina, ela pr:dèiser senti- Ïemperamentos lnfantis
1996). O Írajeto proposto por esta teoria é da como rimidez ou apreensão na presen-
ilustrado na figura que segue. ça de meninos. Contudo, para a maioria
A B A teoria propõe, em pri- das crianças esta exciução provavelmen-
->
üeirÕ,,,lÌigâr;: que fatores genéticos, hor-. " te nào será sentida cónsaienlemente. G PreÍerências poÍ Atividades
Típicas/Atípicas ao Sexo
,,moÍrais e po3siv*}mËÍIt€ o$ftos fatores E F Em anos futuros, esuexci-
->
b'iológicos não influ*nciaq ditetâmÕnte a tação geral se transforma em excitação
(ConÍormidade
/lncontormidade de Gênero)
orientação sexual adulta. mas influen- erótica ou em a1Ìação sexual * o exótico
ciam, islo sim, o temperameÍrïo e Õ$ tra* torna-se erótico. Evidèncias pura esta úl-
D
ços de personalidade de,uma criança. tima etapa no processo provêm, em parte, Sêntir-se DiÍerentê dos Pares do
úuitú tiãÇó*,dç,p€+*êdã1iãáde têm um de esildos em que participantes masculi- Mesmo Sexolsexo Oposto ("Exótico")
' :íoité cômFsírene,'genético cu hereditrírio. no$:heterossexuais que tinham sido flsio-
incluindo tempeÍaÌneÉtos infaniis como logicamente (mas não sexualmènte) esti-
agressão è nível de atividade. mulados sentiram maior alração por uma
E
. :. B*> C Temperamentos deste tipo mulher do que homens que nào tinham si- Excitação Fisiológica em Relação a
predispòem uma criança a gostar mais de do fisiologicamen{e eslimulados. Em ou- Pares do Mesmo Sexo/Sexo Oposto
algumas atividades do que de outras: tras palavras. a excitação Íìsiológica geral
uma criança mais agressiva ou ativa irá po<Je ser subseqüenlemenle experi menta-
gostar de brincadeiras maìs impetuosas da ou interpretada como excitação sexuaÌ, F
(atividades tipicamente masculinas t: ou- ou até mesmo transformada nela. Atração Erotica por Pessoas do
Mesmo Sexo/Sexo Oposto
tra irá preferir se relacionar com mais Os mesmos estudos que o Dr. Bailey
tranqüilidacle iatividades trpicamente fe- cita como indicadores da ligação entre as
mininast. Assim. conÍbrme o sexo da variáveis biológicas e a orienlação sexual
crianqa ela será geneticamente predis- na verdade oÍèrecem evidência para a va a interesses e preferèncias de inconfor-
posta a ter conformidade ou inconformi- afirmativa de que a inconlormjdade de midade de gènero na infància e somente
dade de gênero. Como mostra a Tabela gênero na inl'áncia alua entre as duas. Por depois à orientação homossexual adulta.
10.2. as crianças também tendem a ter exemplo. os estudos de gêmeos que ele Contudo. os estudos nào provam que a
amigos que compartilham de suas prefe- cita também consralarâm que pares de gê- teoria está cena: somente mais pesquisas
rências por determinadas atividades: por meos idènticos eram mais semelhanles do podem nos ajudar a decidir.
exemplo. a criança masculina ou femi- que pares de gêmeos fraternos em relação Finalmente, deve-se assinalar que a
nina * que foge dos espÕrte$ cümperiti- à inconlormidade de gênero na infáncia. teoria de que o exótico torna-se erótico
vos de grupo irá evitar brincar com meni- De modo semelhante. os estuclos de DNA aplica-se tanto à heterossexualidade
nos e irá procúrar meninas comoparcei- constataram que pares de irmãos homos- quanto à homossexualidade. Uma vez que
ras para brincar. sexuais que comparlilham do mesmo seg- a maioria clas sociedades enlatiza as dile-
C D Deste modo. crianças com mento do cromossomo X também sào renças entre homens e mulheres, a maio-
->
conformidade de gênero sentir-se-ào mais mais semelhantes em inconformidade de ria dos meninos e das meninas irá crescer
diferenres de crianças do sexo oposto. ou gênero do que irmãos homossexuais que sentindo-se diferente dos membros do se-
seja, irào vê-las como relativamente mais não o rêm em comum. Em resumo. os es- xo oposto e1 conseqüentemente, irá sentir
"exóticas" do que as cnanqas de seu pró- rudos que moslram uma ligaçào entre va- rtraçào erótica por e les postenormente na
prio sexo: crianças com inconlormidade riáveis biológicas e orientação homosse- vida. E por isso que a heterossexualidade
de gènero sentir-se-ào mais parecidas xual na idade adulLa são compaúvers com e a orientaçào mais comum através dos
com crianças do sexo oposto. a teoria do exórico tomar-se erótico quan- tempos c da* culluras.
do estr afirma que a biologia primeiro le-
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:;,;:,40ft.,:=,:.:,,. Capítulo 10 Rita L. Atkinsort, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
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RESUMO

1. Os estados motivacionais orientam e ativam o comporta- 8. A fome é grandemente controlada por sinais de déficit ho-
mento. Eles surgem de duas fontes: fâtores instintivos internos meostático e de saciedade. Certos neurônios no cérebro, prin-
e fatores de incentivos externos. cipalmente no tronco cerebral e no hipotálamo, detectam deÍì-
2. Os fatores de incentivo são metas no mundo externo, tais ciências de glicose e provocam fome. Outros detectores de nu-
como alimento, água, parceiros sexuais e drogas. Os incenti- trientes, principalmente no fígado, detectam o aumento de re-
vos são o alvo do comportamento motivado e são tipicamente servas de energia e provocam saciedade. Um sinaÌ de sacieda-
recompensadores. Embora alguns incentivos - tais como do- de, na forma do hormônio colecistoquinina, é liberado dos in-
ces quando estamos com fome - sejam poderosos motivadores testinos para ajudar a parar a fome e a ingestão de alimentos.
por si só, a maioria dos incentivos se estabelece por aprendiza- 9. Duas regiões do cérebro são críticas para a fome: o hipotá-
gem. lamo lateral e o hipotálamo ventromedial. A destruição do hi-
3. Muitos tipos de recompensas naturais podem ativar o siste- potálamo lateral provoca diminuição na ingestão de alimentos.
ma dopamínico mesolímbico. A atividade nestes neurônios A destruição do hipotálamo ventromedial provoca excesso na
pode constituir a base neural para todas as recompensas. A ati- ingestão de alimentos. Embora inicialmente se pensasse que
vação artificial destes neurônios por drogas de recompensa ou estas duas regiões fossem centros de fome e saciedade, a fome
estimulâção cerebral elétrica provoca aumento da motivação não é destmída por qualquer tipo de lesão. Outra interpretação
tanto para incentivos naturais quanto artificiais. Mudanças destes efeitos é que as duas regiões do hipotálamo exercem
neste sistema, produzidas pelo repetido consumo de drogas efeitos recíprocos no ponto de ajuste homeostático do peso
que o ativam, podem, em parte, causar o desejo compulsivo corporal. Danos ao hipotálamo lateral podem diminuir o pon-
verificado na adicção. to crítico, e danos ao hipotálamo ventromedial podem elevar o
4. Fatores instintivos tendem a promover homeostase: a pre- ponto crítico. Drogas para dieta que alteram o apetite podem
servação de um estado interno constante. A homeostase envol- Íìncionar em parte por afetarem neurônios nestas regiões do
ve diversos componentes: um valorde objetivo ou ponto críti- hipotálamo.
co para o estado interno ideal, um sinal sensorial que mede o 10. As pessoas tornam-se obesas principalmente porque: (a)
,_ estado interno presente, uma comparação entre o valor de ob- são geneticamente predispostas a ter peso acima do normal ou
t...1.
jetivo e o sinal sensorial e, finalmente, uma resposta que leva (b) comem excessivamente (por motivos psicológicos). A in-
o estado interno presente para mais perto do valor de objetivo. fluência dos genes é mediada por seu efeito nas células de gor-
5. A regulação da temperatura é um exemplo de homeostase. dura, na taxa metabólica e nos pontos críticos. Quanto ao ex-
A variável regulável é a temperatura do sangue, e sensores pa- cesso na alimentação e à obesidade, as pessoas obesas tendem
ra isso estão distribuídos em diversas partes do corpo, incluin- a comer em excesso quando param de fazer dieta, comem
do o hipotálamo. Os ajustes são respostas lisiológicas automá- mais quando estimuladas emocionalmente, e são mais respon-
ticas (por exemplo, arrepios) ou respostas comportamentais sivas a sugestões externas de fome do que as pessoas de peso
voluntárias (tais como vestir um pulôver). normal. No tratamento da obesidade, dietas extremas parecem
6. A sede é outro motivo homeostático. Existem duas variá- ineficazes porque a privação causa posterior excesso de ali-
veis reguláveis, o fluido intracelulff e o fluido extracelular. A mentação e diminuição da taxa metabólica. O que parece fun-
perda de líquido intracelular é detectada por sensores osmóti- cionar melhor é estabelecer um novo conjunto de hábitos ali-
cos - neurônios do hipotálamo que respondem à desidratação. mentares permanentes e fazer um programa de exercícios.
A perda de líquido extracelular é detectada por sensores de 1 1. A anorexia nervosa é caracterizada por extrema perda de
pressão sangüínea - neurônios localizados nas principais veias peso auto-imposta. A bulimia caracteriza-se por episódios re-
e órgãos que respondem a uma queda na pressão. Os sinais in- coÍrentes de ingestão exagerada de alimentos, seguida por ten-
tracelulares e extracelulares atuam juntos para produzir sede. tativas de purgar o excesso por meio de vômitos ou laxantes.
7. A fome se desenvolveu para nos permitir selecionar uma As possíveis causas destes distúrbios alimentares incluem fa-
diversidade de nutrientes. Os humanos possuem preferências tores alimentares como baixa auto-estima, fatores sociais co-
inatas de paladar, tais como por sabores doces, e aversões, tais mo destaque cultural à magreza, e fatores biológicos como
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como pelo sabor amargo, que orientam nossa escolha de ali- baixos níveis de serotonina.
mentos. Além disso, podemos desenvolver uma ampla varie- 12. Hormônios pré-natais contribuem para o desenvolvimento
dade de preÍ'erências e aversões adquiridas. Sinais homeostá- sexual. Se as glândulas sexuais produzem hormônios andróge-
ticos de fome, que aparecem quando o corpo está com poucos nos suhcientes, o embrião terá um padrão masculino de desen-
combustíveis ricos em calorias, como a glicose, produzem volvimento genital e cerebral. Se os andrógenos estão em níveis
tl-.
apetite em parte por fazerem o indivíduo perceber alimentos baixos ou ausentes, o embrião terá um padrão feminino de de-
de incentivo como mais atraentes e agradáveis. senvolvimento genital e cerebral. Nos animais, os hormônios

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Introdução à Psicologia de Hilgard 409

pré-natais paÍecem ser deteminantes poderosos do compofia- pares têm uma grande influência na sexualidade adulta em pri-
mento sexual adulto. Nos humanos, os hormônios pré-natais matas e humanos. Para os humanos, outros deteminantes am-
parecem ser muito menos importantes, embora possam ainda bientais da sexualidade adulta incluem as normas culturais.
desempenhar um papel no desenvolvimento sexual posterior. Embora a sociedade ocidentaÌ tenha tornado-se cada vez mais
Nos casos em que a exposição hormonal do embrião é típica flexível em relação aos papéis sexuais femininos e masculi-
de um sexo, mas o papel social e o gênero após o nascimento nos, homens e mulheres podem ainda diferir em suâs atitudes
é mais característico do sexo oposto (devido a desequilíbrio perante o sexo e os relacionamentos.
hormonal, medicamentos pré-natais ou acidentes pós-natais), '14. Estudos recentes apoiaram a afirmativa de que fatores
o desenvolvimento do indivíduo parece corresponder mais biológicos, genéticos, hormonais ou neurais podem determi-
proximamente ao gênero social pós-natal. nar em parte se um indivíduo será heterossexual ou homosse-
13. Os hormônios femininos (estrógeno e progesterona) e os xual, mas as evidências não são conclusivas. Também não se
hormônios masculinos (andrógenos) são responsáveis pelas sabe se fatores biológicos podem inÍluenciar a orientação se-
mudanças no corpo que ocorrem na puberdade, mas desempe- xual diretamente ou se ao invés disso eles contribuem para ou-
nham um papel limitado na excitação sexual humana. Em con- tÍos traços, tais como a conformidade de gênero, que indireta-
traste, em outros animais, existe um substancial çontrole hor- mente influenciam o desenvolvimento da orientação sexual.
monal sobre o sexo. As primeiras experiências com os pais e

PALAVRAS-CHAVE

motivação (p. 370) ponto crítico (p. 385)


afeto (p.372) anorexia nervosa (p. 387)
adicção (.p. 314) bulimia (p. 388)
tolerância (p. 37 a) identidade do gênero (p. 390)
homeostase (p.375) ovulação (p. 393)
sede (p. 376) orientação sexual (p. 397)
obesidade (p. 382)

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO CRíflCA

1. Em que medida você acha que seus hábitos alimentares são 2. Por que você acha que muitas pessoas acreditam que o de-
controlados pelas necessidades fisiológicas de seu corpo? Eles sejo e a atividade sexual humana são fortemente influenciados
são controlados por fatores genéticos? E por fatores ambientais? pelos hormônios quando as evidências sugerem que não?

LEITU RAS COM PLEM ENTARES

Uma visão geral dos fatores biológicos na motivação pode ser nos alimentares, ver Szmukler, Dare e Treasure, Handbook of
encontrada em Rosenzweig, Biologícal Psychology (1996), e Eating Disorders (1994), e Garner e Garfinkel, Handbook of
em Carlson, Physiology ofBehavior (5. ed., 1994). As bases Treaíment .for Eating Disorders (2. ed., 1997). Para relatos
neurais da recompensa são discutidas detalhadamente por pessoais de jovens com distúrbios de alimentação, ver Pipher,
Hoebel no Handbook of experímental Psychology de Stevens Revivíng Ophelía (1994). Uma discussão de diversos aspectos
(2. ed., 1 988). Para análises dos fatores que controlam o comer da sexualidade humana pode ser encontrada em McWhirter et
e o beber, ver E.M. Stricker (ed,.), Neurobiology of Food and al. (eds.), Homossexuality/ Heterossexuctlity (1990); e em Le-
Fluíd Intake, Handbook of Behavíoral Neurobiology 10 Yay, The Sexual Brain (1994).
(1990). Para uma variedade de perspectivas sobre os transtor-
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CapÍrur-o 11
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Componentes da Emoção
Excitação e Emoção
ossos sentimentos mais básicos
I ntensidade das Emoçoes
Fronteiras da Pesquisa Psicológica: incluem não apenas motivos como
Utilização da Excitação para Detectar fome e sexo, mas também emoções co-
Mentiras
mo alegria e raiva. Emoções e rÌìotivos
Diferenciação das Emoçòes
estão intimamenle relacionados. As
Cognição e Emoção
Intensidade e Diferenciação das Emoções emoções podem ativar e dirigir o com-
Dimensões de Avaliação portamento da mesma maneira que os
Algumas Implicações Clínicas
motivos básicos o fazem. Elas também
Emoçâo sem Cognição
Expressão e Emoção
podem acompanhar o comportamento
Comunicação da Emoção Através das motivado: o sexo, por exemplo, não é
Expressòes Faciais apenas um motivo poderoso, mas tam-
Localização no Cérebro
bém uma fonte potencial de alegria.
Intensidade e Diferenciação das Emoções
Reações Gerais à Presença de um Estado Apesar de suas semelhanças, é preciso
Emocional distinguir motivos de emoções. Uma di-
Atenção e Aprendizagem: Congruência de
ferença é que as emoções são desenca-
Humor
Avaliação e Estimativa: Efeitos do Humor
deadas do exterior, ao passo que os mo-
Agressividade como Reação Emocional tivos são ativados do interior. Ou seja, as
Agressividade como Impulso emoções geralmente são despertadas
Agressividade como Resposta Adquirida
por eventos externos, e as reações emo-
!,1.1
Expressão Agressiva e Catarse
iar:Ì, Vozes Contemporâneas na Psicologia: cionais são dirigidas a estes eventos;os
As Emoções Positivas nos Fazem Bem? motivos, em contraste, muitas vezes são
despertados por eventos internos (tais
como desequilíbrio homeostático) e são
naturalmente dirigidos a determinados
objetos do ambiente (como comida,

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IntroduÇão à Psicologia de Hilgard 4ï+'

água, ou um parceiro). Outra distinção entre motivos 3. Cognições sobre a emoção e situações associa-
e emoções é que um motivo geralmente é provocado das.
por uma necessidade específica, ao passo que uma 4. A expressão facial.
emoção pode ser provocada por uma ampla varieda-
5. Reações à emoção.
de de estímulos (pense em todas as coisas diferentes
6. Tendências de ação.
que podem deixálo furioso).
Estas distinções não são absolutas. Uma Íbnte Nenhum desses componentes por si só é uma emo-
externa às vezes pode despertar um motivo. como
ção. Eles todos se reúnem para criar uma determina-
ocorre quando a visão da comida desperta a fome. E da emoção. Além disso, cada um desses componen-
o desconforto causado por um desequilíbrio homeos- tes pode influenciar os outros componentes. Por
tático - fome severa, por exemplo - pode despertar
exemplo, sua avaliação cognitiva de uma situação
emoções. Não obstante, as emoções e os motivos são pode causar uma determinada emoção: se você acha
suficientemente diferentes em suas fontes, experiên- que um balconista está tentando enganá-lo, você pro-
cia subjetiva e efeitos no comportamento para mere- vavelmente sentirá cólera. Mas se você já estiver
cerem abordagens separadas. zangado no início da situação, terá tendência ainda
maior de avaliar o comportamento do balconista co-
Gomponentes da Emoção mo desonesto.
Os teóricos da emoção estão cada vez mais ado-
A emoção é uma condíção complexa qLte sLrge em tando uma perspectiva sistêmica nâ abordagem da
resposta a determinadas experiências de caráter emoção, na qual se considera que os componentes
afetivo. Uma emoção intensa tem pelo menos seis de uma emoção exercem efeitos recíprocos uns so-
componentes (Fridja, 1986; Lazarus, 1991). O com- bre os outros (ver Figura 1 1.1). As questões críticas
ponente que reconhecemos com mais freqüência é a nas modernas teorias da emoção dizem respeito à
experiência subjetiva da emoção - o estado afetivo natureza de cada um desses componentes e os meca-
ou os sentimentos associados à emoção. Um segun- nismos específicos pelos quais eles influenciam uns
do componente é a reação corporal. Quando irritado, aos outros. Por exemplo, um conjunto de questões
por exemplo, você pode às vezes tremer ou aumentar relaciona-se a como as respostas do sistema nervoso
o tom de voz mesmo sem intenção de fazê-lo. Um autônomo (ver Capítulo 2), crenças e cognições, e
terceiro componente é o conjunto de idéias e crenças expressões faciais contribuem para a intensidade de
que acompanham a emoção e parecem vir à cabeça uma emoção experimentada. Por exemplo, você se
automaticamente. Sentir alegria, por exemplo, mui- sente mais zangado quando experimenta maior exci-
tas vezes envolve pensar sobre os motivos para a ale- tação de seu sistema nervoso autônomo? Na verda-
gria ("Eu consegui - entrei para a faculdade!"). Um de, será que você sequer seria capaz de sentir-se
quarto componente de uma experiência emocional é zangado se não tivesse excitação autônoma? De mo-
a expressão facial. Quando você sente nojo, por do análogo, a intensidade de sua cólera depende de
exemplo, é provável que você franza as sobrance- você ter um certo tipo de pensamento, ou um certo
lhas, muitas vezes abrindo a boca e semicerrando os tipo de expressão facial? Em contraste com essas
olhos. Um quinto componente diz respeito às rea- questões sobre a intensidade de uma emoção, tam-
ções gerais à emoção; por exemplo, uma emoção ne- bém existem questões sobre que componentes de
gativa pode obscurecer sua visão de mundo. Um sex- uma emoção são responsáveis por fazer com que as
to componente são as tendências de ação associadas diversas emoções pareçam diferentes. Para entender
à emoção - o conjunto de comportamentos que as a diferença entre as questões relativas à intensidade
pessoas tendem a apresentar quando experimentam e as questões relativas à diferenciação, considere a
uma certa emoção. Por exemplo, a ira pode levar-nos possibilidade de que a excitação autonôma aumenta
à agressão. em muito a intensidade de nossas emoções, mas o
Assim, nossa lista dos componentes de uma padrão de excitação é aproximadamente o mesmo
emoção inclui o seguinte: para diversas emoções; se este fosse o caso, a exci-
tação autonôma não poderia se diferenciar entre as
l. A experiência subjetiva da emoção. emoções.
2, Respostas corporais internas, especialmente Neste capítulo, estas questões servirão de orien-
aquelas que envolvem o sistema nervoso autô- tação ao considerarmos a excitação autonôma, a ava-
nomo. liação cognitiva e a expressão facial. Depois, voltare-
412 Capítulo 11 Rítct L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Dan,l J. Bem e Su.son Nolen'Hoeksema

. ì, t:: emocional resulta da ativação do setor simpático do


i;i:
PERSONALIOADË sistema nervoso autônomo quando este prepara o
a-.

ComproffiiËËo ÉnÌendÍ-
Condições corpo pâra ações de emergência (ver capítulo 2). o
l:-1 :
rÍèntô
com obletlvos situacionais sistema simpático é responsável pelas seguintes mu-
,i. ... Crença$ siluâcional
: CÕnhecimënto. danças (que não precisam ocorrer todas ao mesmo
'.,.1
tempo):
' i.;ì

l. A pressão arterial ea ÍÌeqüência cardíaca au-


A Processo de avaliação mentam.
Conliguração da
resposta emocional
2. A respiração fica mais rápida.
3. As pupilas dilatam-se.
4. A perspiração aumenta, enquanÍo a secreção de
Resultado da aúàtiaç6o saliva e muco diminuem.
5. O nível de açúcar aumenta para fomecer mais
energia.
renoencras
. Experiência
Resposta
subleÌiva ou 6. O sangue coagula mais râpidamente em caso de
oe açao f isiológica
"ãt.to" ferimentos.
7. O sangue é desviado do estômago e dos intesti-
nos para o cérebro e os músculos esqueléticos.

T Tradução da ação 8. Os pêlos da pele eriçam-se, Íàzendo-a enrugar-se.

Portanto, o sistema simpático prepara o organis-


mo para a produção cle energia. À medida que a emo-
EnfrenramenroÍocado Jj""ï::ff- EnÍrentamentoÍocado ção diminui, o sistema parassimpático - aquele que
na emoção tamento no problema conserva a energia - assume o controle e restitui o
organismo a seu estado normal.
FIGURA 11.1 Estas atividades do sistema nervoso autônomo
Um Modelo de como os Componentes da Emoção AÍetam uns aos são desencadeadas pela atividade em certas regiões
Outros em um Sistema Dinâmico (Segundo Lazarus, 1991) do cérebro, incluindo o hipotálamo (o qua1, como vi-
mos no Capítulo 10, desempenha um papel impor-
tante em muitos motivos biológicos) e partes do sis-
lnos nossa atenção para reações gerais à presença de
tema límbico. Impulsos destas áreas são transmitidos
um estado emocional. Na seção Íìnal, iremos focali-
a núcleos no tronco cerebral que controlam o Íìncio-
zar a tendôncia de ação de uma emoção, utilizando a
namento do sistema nervoso autônomo. O sistema
agressividade como exemplo. Do princípio ao fim,
nervoso autônomo então atua diretamente sobre os
estaremos primordialmente interessados nos estados
músculos e órgãos internos para iniciar algumas das
afetivos mais intensos - aqueles envolvidos na ale-
mudanças corporais descritas anteriormente. Ele
gria, tristeza, cólera, medo e nojo - ainda que as
também atua indiretamente pela estimulação dos
idéias e os princípios que surgirão em nossa discus-
hormônios supra-renais para prodnzir outras mudan-
são estejam relacionados com uma variedade de sen-
ças corpofais.
timentos.
Note-se que o tipo de excitação fisiológica in-
tensificada que descrevemos é característica de esta-
Excitação e Emoção dos emocionais como cólera e medo, durante a qual
o organismo deve preparar-se para a ação - por
Quando sentimos uma emoção intensa, como medo exemplo, para lutar ou 1ìgir. (O papel desta resposta
ou cólera, podemos perceber diversas mudanças cor- de luta ou fuga em situações ameaçadoras ou estres-
porais - incluindo aceleração da respiração e da fre- santes é discutido adicionalmente no Capítulo 14.)
qüência cardíaca, secura na boca e garganta, perspi- Algumas das mesmas respostas também podem
ração, tremores e uma sensação de desconlbrto no ocoÍrer durante excitação de alegria ou sexual. Mas
::..- li ìr
estômago (ver Tabela 1 1.1). A maioria das mudanças durante emoções de tristeza e pesar, alguns proces-
..'Ì i.
fisiológicas que ocorrem durante uma excitâção
l

ii f.ri sos corporais podem ser deprimidos, ou retardados.

.a: ',

1,. 'ti..i ÍrìCr: a.rí.i' a..ì1 l,':'

i lr irì ::ì,-::{::' í'l iì.ri.) l:',


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r :,Ì

Introdução à Psicologia de Hilgard

(Ver o quadro Fronteiras da Pesquisa Psicológica nas


TABËLA Í1.1
páginas 414-415. para uma discussão sobre o uso da
Sintomas de Medo em Vôos de Guerra Baseado em relatos de pitotos
excitação autonôma para determinar se uma pessoa
de combate durante a Segunda Guerra Mundìal. (Segundo Shafer, 1947)
está mentindo.)

Durante missões de Freqüen-


lntensidade das Emoções combate você sentiu(-se)...? Às vezes temente Total

Qual é o relacionamento entre maior excitação fisio- O coração batendo mais ÍoÍte 56% 30"/" 86"/o
lógica e a experiência subjetiva de uma emoção? e mais rápido
Particularmente, a percepção de nossa excitação faz Os músculos muitotensos 53 30 83
parte da experiência da emoção? Para responder a zangado
Facilmente irritado ou 58 22 80

esta pergunta, os pesquisadores estudaram a vida


boca
Secura na garganta ou na 50 30 80
Írio
Perspiração nervosa ou suor 53 26 79
emocional dos indivíduos com danos na medula es- DesconÍorto no estômago 53 23 76
pinal. Quando a medula espinal é secionada ou lesio- que
Sensação de irrealidade - 49 20 69
isso não poderia estaÍ acontecendo
nada, as sensações abaixo do ponto de dano não con-
com você
seguem chegar ao cérebro. Uma vez que algumas Necessidade de urinar 40 25 65
destas sensações são oriundas do sistema nervoso Íreqüentemente
simpático, os danos reduzem as contribuições da ex- Tremores 53 11 64
citação autonôma para a experiência da emoção. Confuso ou desconcertado 50 53
Fraco ou Ìonto 37 4 41
Em um estudo, veteranos de guerra com danos Que logo após a missão você não 34 5 39
na medula espinal foram divididos em cinco grupos conseguia lembÍar-se dos detalhes
conforme a localização da lesão na medula espinal. do que havia acontecido
Em um grupo, as lesões ocorreram próximo ao pes- Enjoado do estômago 33 5 38
coço (no nível ceruical), sem retorno do sistema sim-
lncapaz de concentrar-se 32 J 35
sujado
Que tinha molhado ou 4 1 5
pático ao cérebro. Em outro grupo, as lesões ocorre- as calças
ram pefto da base da coluna (no nível sacral), sendo
possível um retorÍÌo pelo menos parcial dos nervos
sìmpáticgs. Os outros três grupos ficavam entre estes
comparasse a intensidade de sua experiência emo
dois e\tremos. Assim. os cinco grupos representa-
cional em cada caso. Os dados ref'erentes uoa a*udo,
vam um continuum de sensação corporal: quanto
de medo e cólera são apÍesentados na Figura 11.2.
mais alta a lesão na medula espinal, menor o retomo
Quanto mais alta a lesão na medula espinal do indi-
do sistema nervoso autônomo para o cérebro (Hoh-
víduo (ou seja, quanto menos retorno do sistema ner-
mann, 1962).
Os participantes foram entrevistados para deter-
minar seus sentimentos em situações de medo, cóle-
ra, pesar e excitação sexual. Pediu-se a cada pessoa
que se recordasse de um incidente causador de emo-
ção que tivesse ocorrido antes do dano e de um outro
comparável que tivesse ocorrido depois dele, e que

ALTERAçAO NA
FIGURA 11.2 EMOTIVIDAOE "O'5

Relacionamento entre Lesões na Medula Espinal e


Emotividade Pessoas com lesões na medula espinat -1

compararam a ìntensidade de suas experiências emo-


cìonais antes e depois dos danos. Seus relatos foram -1 ,5
codificados de acordo com o grau de alteraçào: 0 indi-
ca ausência de alteraçáo: uma ligeira atteraçào ('Eu
acho que sinto menos") é codificada como -1 para de- _2
créscimo ou como +1 para aumento; e uma forte alte- E E 8õ 8õ
ração ("Eu sinto muito menos") é codificada como -2
ou +2. Note que quanto maìs alta a iesão. maior a dimi-
# E FE :FgrÈ-Ëõo
F
È

nuiçào na emotìvidade após o dano. (Segundo Schach-


ter. 1 971: Hohmann, 1 962) NíVEL DA LEsÃo
414 Capítulo 1l Rita L. Atkinson, Rìchard C. Atkinson, ültt'ttrtl E. Sm.íth, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoek.sema

FRGNTEIHAS DA PESQUISA PSICOLOGICA

Utitização da Excitaçãrlpara Detectar Mentiras

Se a excitaçào autônome é um componen-


ie da emoção, e se sentir uma emoção é
uma conseqüência proiável cle mentir. de-
veríamos poder üsÍ!{ â presençat de excita-
ção autonôma prra in leri r que uma pessoa
está mentindo. Essa e a teoria que [unda-
Éente o teste de detecçãÕ de Íìentiras, na
qual um aparelho chama do polígrafo (que
significa "diversos registros") medc si-
multaneamente diversas respostas fisioló-
gicas {ver Figura I t. As mediçòes regis-
tradas com mais freqüência sào rs altera-
ções na freqüencia cardíaca. pressào arle-
rial, respiração,. e'resposla galvânica da
pele iRGPt (mudança na condutiridade
eletrica da pele que ocoÍTe com a excita-
çào emocional).
Áo operaí Õ poiígafi:. o procedì- Os regìstros na Figura 1 mostram as respostas a uma mentira real e a uma
:merita padrão çon$i$1e. em lâzer o primei_ meltìr? simulada. Nesse experimento, o participante escolheu rJm número e
io,"gi*r,o*qo*tooinrliví.uoe:llï'l i:;Z:"J:J",;":i::::ï:;ir'::!::iï"::ï::#âlï"?!,ï!ii?,ÊE,tí;if,'f;
rado: csle registro serve como linha de -'1.-: -'
;;;;;;;;;#;;
tes. o examìnadoÍ
;;;;;;;;;;.*
de
então faz uma sdrie
,,:":;:"i:â'::"::,:;"':::ï;:::i:,:::::[2::,?:::;?:;i;,:ii:J::#;I
peiceptíveis na f reqüência cardíaca e na RGp
perguntrs cuidadosamente elrhoradas
que a pe\soa loi rnstruícla r responcler cli-
zendo "sim" ou "não". Algumas pergun-
tas são "críticas", o que significa qìeïma os registros gráficos propriamente di- exigern q':.Ïbi: as-pârtes concordem
Jle
Los' com sua utilizaçào' Entretanto' exames
pessoa cuÌpada tende a mentir ao respon-
..Você F,ntretanto. a utiÌizaçào do polígraio com polígrafos muilas vezes sào utiliza-
dê-las {por exemplo. r la-
assaltou
vrnderiu de Beri em Ì I de dezembro?..
para detecçìo de rnenliras está longe de dos em investigações criminais prelim.ina-

outÍas perguntas são ..controles.'; até pes_


ser segura. uma resposta
lor.l 1Tu
p*r. re:i e pot empíegadores durante
ltrevistas
gunta pode indicar que um indivíduo está com candidatos a cargos de confiança.
soas inocertes têm certa tendência , Áen_
tir ao respondê_las (por exempÌo, ..você excitado. mas não mostraÍ o porquê da
os, reFresentantes da Associação
pessoa jnocente pode.tì- Americana oe e,otr^s;1na dizem obler uma
alguma rez jd pegou algo que não cra :i:'liti:
.uma pode reagir emocio- laxa-de.acerto de9avo ou mais em testes
,au.l"). out.o* p*rgontu, são ..neutras,' car muito tensa, ou
.jvolè palavras nas pergunras. conduzidos por um opcrador habilidoso.
rpor exemplo. uiu. em sun Die-
lrl::1.^1:."as
go?J. perguntas cúticas são aìternadss e assim pârecer estar mentindo quando Mas os cúicos acreditam que a iaxa de
com peÍgunras neurras e controle; reser_
reaÌmente está di zendo a verdade. Por
ï:^:l:
ou-
é b.. menor. Por exempio, Lykken
mentiroso expenentepode (l9S4i.sustentaqueemestudosqueenvol-
u*-r."".otempoapóscada:perguntapa- 11l1ll:lÏ
mostrar pouca excitação ao mentir- E um vem situações da vida real, o exame no de-
ra que as medições ao potieiafo vottem
ro norma[. presume-se qua Jon-Ìan,au*o indivíduo.inteligenre pode scr capaz de teror dc menlira tem êxiro somenle em
pessoa culpada irá mostrar respostas fi-
mdquina pensando em algo 6'57o drs vezes e que uma pessoa inocente
^o:i:lï _ i
elcltante ou tensionando os músculos du- tem 507o de chances dl no te_s-
,iotógi.u, àaiores para as perguìtas críti- foltlsar
rânle perguntas neutras, criando, assim, te. Ele afirma que o po1ígrafo detecta não
cas do qu. para asìuffas. A ãetecção de
mentirar baseia_se essencialmente em umalinhadebasecomparável areaqòes apenasaercitaçàoqueacomprúaomen-
para pergun'-tas críticas. tir. mas tambdm o esLres\e que uma pessoa
uma espdcie cle "engodo". na oual o exa-
minadorseesforçaparaconrerrceroindi- o::.:ïrldcssesedeoulrosproblc- honesrasentcquandoepresaao.aparelho.
_^
mas, a maioria.dos tribunais estaduais e
Além disso. algumas pessoas culpadas po-
víduc de que qualquer tentativa para en-
lederais.nào accium rcsullados de erames dem sentir-:e menos excitedas quando es-
ganar a máquinr será muilo óbvia r Srre.
como.prova; os tribunajs (saxe' Doughenv e cross'
bougherry e crors. te85). A in.raLaçio ::t ï]T:'"t 11"^Ttt.tl:d"
queaççitamessetipodepíovâgeralmente 1985). Não cbstante, muitas empresas
oesÌa crença pooe ser mars rmporranre oo

ii)
ii''
ijl
Introdução à Psicologia de Hilgard 415

RESPTRAçÃO FIGURA 1 : ,:

Uma Mentira Heal e uma Men'tira.Si-


FBEOÜÊNCIA Ífiulâdã Registradas pôr, um'Folígra- :

CARDíACA tô Fsse rcgistro masfraàs respostas fí-


siológicas de um:Índivíduo quândÕ elë
fiente e quando ele çirílula,:+ueestá
mentindo. A regìstro da,,rcspiração {lí':
RESPOSTA
*--.'-J'
GALVÂNIOA
\J /.1,
U
i\
nha superior) mostra que ele conteve a
DA PELE respiração quando se preparava para a
ì i tl I
primeíra simulação. Ele {oi capaz de
:T 22 ?5 lg Áü rr 1ç
produzir alterações significativas na fre-
à
'ì* 'i'
..À Á quência cardíaca e na BGP na segun-
!

MENTIRA PRIMEIRA SEGUNDA da simulaçào. (Segundo Kubis, 1962)


REAL MENTIRA MENTIRA
SIMULADA SIMULADA

acred;{4m que os beneficios destes::exam€s nervoso autônomo quando o Íalante está cordas vocais não podem set controladas
supeiam os riscos. e os exalres com polÊ sob tenção. Quando uma grrvaçào em fita pela vontade). Por outro lado. um formrto
grafos são uLilizados com freqüência na in- da voz de uma pessoa é reproduzida atra- de onda retesado indica apenas que o indi-
dúqrria priv
. Eles tãm m são muito vés de um dispositivo chamado de anali- vÍduo esrá tenso ou ansioso. e nào necessa-
utilizê4q+ no campri€*fgde lqls- O FBI sador de tensào da voz. uma represenla- riamente que,ele está mentindo.
aplica miúares de testes por ano, a maioria qão visual da roz pode ser produzida em Entretanlo, exislem dois problemas
cleles para segúr pisras e verificar latos uma t"ira de papel milimetrado. As vibra- sérios com o uso de um analisador de ten-
são de voz para a detecção de mentiras.
áreas nas qúais, concordam os especialis- ções das cordas vocais na voz de um fa-
tas. o polígralo é mais útil. Em casos cri- lante que esú reÌaxado assemelham-se a Primeiro. uma ver que o tLnalisador pode
minais e privatios, quaìquer pessoa tem o uma série de ondas íver o grálìco à es- operar por telefone. em mensagens de rd-
direito legal de recusar um exarre com po- querda na Figura 2). Quando o falante es- dio ou teìevisão, ou a partir de gravações,
lígralo. Enretanto, isso clificilmente é uma tá sob tensào. as r ihraçòes são suprimidur existe a possibi lidade de que o dispositivo
salvaguarda para uma pes\oa cuja recusa. (ver o gráfico à direita na Figura 2). seja utilizado sem ética. A segunda preo-
por qualquer motìvo, pode pôr em rìsco O analisador de tensão de voz é utili- cupação é com a preci$ãÕ, Àlguns investi
uma carreira ou oportunidade de trabalho. zado na detecqào de menliraç essencial- gadores alegam que o analisador de voz
Outro tipo de detector de mentiras mente clo mesmo moclo que um polígrafo: tem a mesma exatidào que o poligrafo pa-
mede as alterações na voz de uma pessoa pergLrntas neutras sào intercaladas com ra distinguir indivíduos inocentes e cuJpa-
que seriam indefectáveis ao ouvido huma- perguntas críticas, e os registros das res- dos; ou$os afirmam que ele não é mais
no. Todos os músculos, inclusive aqueles postas dos parlicipantes a ambas são com- preciso do qúe o acaso. Muito mais pes-
que controlam as cordas vocais, vìbram parados. Se as respostas às perguntâs cíti- quisas precisam ser feitas para determinar
ligeiramente quando estão sendo utiliza- cas produzem o fomaio de onda relarado. o relacionamenlo enlre mudanças de voz
dos. Essa vibração, que é transmitida às a:pessoa provâvelmente está dizendo a ver- e outras medìdas fisioÌógicas da emoção
cordas vocais. é suprimida pelo sistema dade (pelo que se sabe. as vibrações das (Lykken. lq80: Rice, 1978).

FIGURA 2

EÍeitos daTênsão nos Padrõe$ dê


II
Yoz Um analisador de voz produz re-
1i,i,,illliit{, gìstros graficos da fata. A impressão

l
jiljri'lil;111;,1;,,'' para um falante relaxado assemelha-se
a uína séríe de ondas como aquelas

Ìi11:;, i,jl j1i; iill mostradas à esqueda. As ondas são
I iÌ iliüq
l,j:i,,: produzidas por pequenas vibraçoes
l lliì'ï,,\ ,'.,,,:;':,.,.;";, : ;l ii ï,ji í il l, itill das cordas vocais. Sob tensão, as vi-
liiíìÌ 'iÌ| ijiij1 ii;1,;rlii, ;;
i ftÌ !
^ rlllil :i;,rr,,i' IIl
' r.Ìr'ìi.r
I'l ii'ì tl'ïtri'1,
l:{l lii
il b rações sào sup r midas, p rod uzi n d o
t

i .
r1-_.,
I
uma impressão semelhante àquela exi-
bida à direita. (Segundo Hotden, 1975)
,-t:
i ,.aì.
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Il a-,' i.:-' ,-ì rl

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i!r,., 'iì
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4'r6 Capítulo 11 Rita L. Atkhson, Rir:hard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
:r .

.::ì ' '


t!ì ,,.
voso autônomo), maior a diminuição na emotividade cotremos"; "estamos furiosos porque batemos". O
. ì:l após o dano. A mesma relação se aplicava a estados fisiologista dinamarquês Carl Lange chegou a uma
'r!: lll
de excitação sexual e pesar. Uma redução na excita- conclusão parecida mais ou menos na mesma época,
rìi ì
ção autonôma resultava em uma redução na intensi- mas para ele as mudanças corporais incluíam a exci-
(, -,:
tação autonôma. Essa concepção ficou conhecida co-
l::i í"'ìi
dade da emoção experimentada.
a: Os comentários dos pacientes com lesòes mais Íno teoria James-Lange, e diz o seguinte: como a
.- ,.ì altas na medula espinal sugeriram que eles podiam percepção da excitação autonôma (etalvez de outras
:a .,.s reagir emocionalmente a situações excitantes, mas mudanças corporais) constitui a experiência de uma
que não se sentiam realmente emocionados. Por emoção, e como diversas emoções parecem diferen-
exemplo, "É uma espécie de cólera fria. Às vezes eu tes, deve haver um padrão distinto de atividade auto-
.i.: !i.aì ajo com cólera quando vejo aìguma injustiça. Eu gri- nôma para cada emoção. A teoria James-Lange por-
to e praguejo e faço barulho, porque se você não faz tanto sustenta que a excitação autônoma diferencia
,j ì:
isso de vez em quando, as pessoas se aproveitam de as emoções.
você; mas já não há o mesmo calor de antes. É uma Essa teoria (principalmente no que se refere à
espécie de cólera mental". Ou "Eu digo que estou excitação autonôma) foi seriamente criticada na dé-
com medo, como quando vou fazer uma prova muito cada de 1920.O ataque foi liderado pelo hsiologista
difícil na escola, mas eu não sinto realmente medo, Walter Cannon (1927), que ofereceu três críticas de
não fico toda tensa e trêmula com a sensação de va- relevo:
zio no estômago que eu sentia antes".
O estudo recém-descrito é importante, porém 1. Uma vez que os órgãos internos são estruturas
não totalmente objetivo - as situações emocionais relativamente insensíveis e não são abundante-
variavam de um participante para outro. e os partici- mente providas de nervos, as mudanças inter-
pantes avaliavam suas próprias experiências. Um es- nas oconem muito lentamente para serem fonte
de sentimento emocional.
tudo de seguimento foi mais objetivo: todos os parti-
cipantes foram expostos às mesmas situações, e suas 2. A indução artificial das mudanças corporais as-
experiências emocionais foram classificadas por ava- sociadas com uma emoção como, por exemplo,
liadores independentes. Participantes do sexo mas- injetando-se uma droga como a epinefrina, não
culino com danos na medula espinal viram fotogra- produz a experiência de uma verdadeira emo-
fias de mulheres vestidas e nuas e pediu-se-lhes que ção.
se imaginassem sozinhos com cada uma delas. Os 3. O padrão de excitação autonôma não parece di-
participantes relataram seus "pensâmentos e senti- ferir muito de um estado emocional para outro;
mentos", que foram então classificados por avaliado- por exemplo, embora a cólera faça nosso cora-
res quanto à emoção manifestada. Considerou-se que
ção bater mais rápido, isso também acontece
os pacientes que tinham lesões maiorês sentiam me- quando vemos alguém que amamos.
nor excitação sexual do que aqueles cujas lesões na
espinha eram menores (Jasmos e Hakmiller, 1975). O terceiro argumento, portanto, nega explicita-
Mais uma vez, quanto menor o retorno do sistema mente que a excitação autonôma possa diferenciar as
,:-,1 : _ nervoso autônomo para o cérebro, menos intensa a emoções.
emoção. Os psicólogos tentaram refutar o terceiro argu-
mento de Cannon através do desenvolvimento de
i.,ì a,: )
:ì. ;i-'
Diferenciação das Emoções medidas cadavez mais precisas dos componentes de
excitação autonôma. Embora alguns experimentos
Não há dúvida de que a excitação autonôma contri-
aìa) - -
na década de 1950 tenham descrito padrões flsiológi-
bui para a intensidade da experiência emocional.
cos distintos para diferentes emoções (Ax, 1953;
Mas ela diferencia as emoções? Em outras palavras,
Funkenstein, 1955), até a década de 1980 a maioria
existe um padrão de atividade para a alegria, outro
dos estudos não tinha encontrado muitas evidências
(.i1 ' para a cólera, outro ainda para o medo e assim por
i:::: iLi
de que diferentes padrões de excitação estavam asso-
diante? Esta pergunta remonta a um artigo escrito
:l:; 1 ciados a diferentes emoções. Um estudo de Leven-
por Vy'illiam James há mais de um século (James,
son, Ekman e Friesen ( 1 990), entretanto, oferece for-
II 1884), no qual ele propunha que a percepção das
":ì::'.r1-
te evidência de que existem padrões autônomos dis-
mudanças corporais na verdade y' a experiência sub-
tintos para as diferentes emoções. Os participantes
jetiva de uma emoção: "Ficamos com medo porque

!-Ì

f',ai
:i:: : :l:
:.ì:iia;ÌÌ.':ìÍ,ir (a
Introdução à Psicologia de Hilgard 417

produziram expressões emocionais para cada uma de sua freqüência cardíaca, temperatura da pele e oulros
seis emoções - sulpresa, nojo, tristeza, cólera, medo indicadores de excitação eram registrados. Embora a
e alegria - seguindo instruções sobre que músculos magnitude das alterações fisiológicas tenha sido me-
faciais específicos deveriam contrair. Enquanto eles nor do que a das alterações descritas anteriormente
mantinham a expressão emocional por l0 segundos, para indivíduos norte-americanos, os padrões de ex-
os pesquisadores mediram sua freqüência cardíaca, a citação para as diferentes emoções eram os mesmos:
temperatura da pele e outros indicadores de excita- a freqüência cardíaca era maior para a cólera, medo

ção autonôma. Algumas destas medidas revelaram e tristeza do que para nojo, e a temperatura da pele
diferenças entre as emoções (ver Figura 1 1.3). A fre- era mais alta para a cólera (Levenson etal.,1992).
qüência cardíaca era mais rápida para as emoções Estes resultados são importantes mas não ofere-
negativas de cólera, medo e tristeza do que para ale- cem apoio inequívoco para a teoria James-Lange ou
gria, surpresa e nojo; e as primeiras três emoções para a idéia de que a excitação autonôma é o único
distinguiam-se em parte pelo Íato de que a tempera- componente que diferencia as emoções. Os estudos
tura da pele era mais elevada na cólera do que no me- que descrevemos demonstraram que existem algu-
do ou tristeza. Assim. se tanto ao sentirmos cólera mas diferenças fisiológicas entre as emoções (embo-
quanto âo verïnos alguém que amamos nosso coração ra alguns pesquisadores questionem isso; ver Ca-
bate mais rápido. somente a cólera o Íàz bater muito cioppo et al., 1993), e não que essas diÍ'erenças são
mais rápido; e embora a cólera e o medo tenham mui- percebidas e experimentadas como diÍ'erenças quali-
to em comum, a cólera é quente e o medo é frio (não tativas entre as emoções. Mesmo que a excitação au-
admira que as pessoas dizem que seu "sangue t-erveu" tonôma ajude a diferenciar algumas emoções, é im-
de raiva ou que "gelaram" de medo). provável que ela diferencie todas as emoções; por
Em um estudo semelhante, 32 universitárias ti- exemplo, é improvável que encontremos nas reações
veram contato com incentivos variados ligeiramente autonômas a diferença entre contentamento e orgu-
estÍessantes enquanto a temperatura de seus rostos e tho. Além disso, as duas primeiras objeções de Can-
mãos era registrada. Verificou-se um aumento na non à teoria de James-Lange ainda continuam valen-
temperatura epidérmica das mãos em reação a seg- do: a excitação autonôma é muito lenta para diferen-
mentos de Íìlmes que visavam produzir alegria, mas ciar experiêncìas emocionais, e a indução artiÍìcial
ocoÍreu um resÍÌiamento em reação a perguntas pes- de excitação não produz uma emoção verdadeira.
soais ameaçadoras (Rirnm-Kaufman e Kagan, 1996). Por estcs motivos, muitos psicólogos ainda acredi-
Outra pesquisa sugere que estes padrões caracte- tam que alguma outra coisa diferente da excitação
rísticos de excitação podem ser universais. Leven- autonôma deve estar envolvida na diferenciação das
son, Ekman e colegas estudaram os minangcabaus emoções. Geralmente consìdera-se que este algo
do oeste de Sumatra, uma cultura muito diferente da mais (ou parte dele) é a avaliação cognitiva pelo in-
cultura norte-americana. Mais uma vez, os partici- divíduo da situação.
pantes produziram expressões faciais para várias
emoções - medo, cólera, tristeza e nojo - enquanto


(ú o
'= E
Õ o
FIGURA 11.3
8
0) :
CN z
DiÍerenças de Excitação para DiÍerentes Emoções
0,15
Alterações na freqüência cardíaca (tom escuro) e na b
temperatura do dedo direito (tom claro). Para a fre- ALTERAçÃO 4 o'1 ALÌERAçÃoNA
qüência cardíaca, as mudanças associadas à cólera, NA FREQUENCIA
TEIT4PERATURA
medo e trìsteza foram todas signìficativamente maiores CARDíACA o.05
(graus)
do que aquelas para alegria, surpresa e nojo. Para a (batimentos/min) 0
0
temperatura do dedo, a mudança assocìada à cólera
foi significativamente diferente daquela para todas as -0,05
outras emoções. (Segundo Ekman, Levenson e Frie- S Freqüência Cardíaca
sen,1990) Í3 Temperatura
r:Ì
ir rlì ::. ,

a:;: _ ::1ì, r- -
__rì't::tt
a-.. i,lr.:
l\- I

4:18 Capítulo l1 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkfuson, Edward E. Smi.th, Datll J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema

|t_ì,

Cognição e Emoçã_o Diferente da excitação autonôma, as avaliações são


suficientemente variadas para distinguir entre muitos
alì:

Quando vivemos uma experiência ou ação, nós a in- tipos diferentes de sentimentos, e o processo de ava-
t:i
terpretamos em relâção a nossas metas e bem-estar liação em si pode ser rápido o bastante para explicar
tl: pessoal ("Venci a partida e sinto-me feliz" ou "Rodei a velocidade com que surgem algumas emoções.
tti
na prova e sinto-me deprimido"). Essa interpretação Além disso, muitas vezes enfatizamos as avaliações
,i'i.ll
é conhecida como avaliação cognitiva. Ela ajuda a cognitivas quando descrevemos a qualidade de uma
emoção. Dizemos, "Fiquei zangada porque ela(e) foi
t'-t:
.i,,rj determinar o tipo de emoção que sentimos bem co-
tr:j
mo sua intensidade. injusta(o)" ou "Fiquei assustado porque fui abando-
nado(a)"; injustiça e abandono são evidentemente
lntensidade e Diferenciação crenças que resultam de um processo cognitivo. Es-
rt.. das Emoções sas observações indicam que as avaliações cogniti-
vas muitas vezes são suficientes para determinar a
I
Nossa avaliação de uma situação pode evidentemen-
t.t.
í:iì qualidade da experiência emocional. Isso por sua vez
te contribuir para a intensidade de nossa experiência indica que se as pessoas pudessem ser induzidas a
i-.- i: ,,
emocional. se estâmos em um carro que começa a estarem em um estado neutro de excitação autonô-
descer uma ladeira íngreme, sentimos medo, se não ma, a quaìidade de sua emoção seria determinadâ
;-:^ t: r:
pavor; mas se soubermos que o carro faz parte de
'"r:
,:.'t:
rl unicamente por sua avaliação da situação. Schachter
uma montanha-russa, o medo geralmente é muito e Singer (1962) testaram pela primeira vez esta idéia
..., 1t_
' menor. Se alguém nos disser que não suporta nos em um experimento que teve significativo impacto
naj
ver, podemos flcar muito zangados ou magoados se nas teorias da emoção durante as duas décadas se-
aquela pessoa é um amigo, mas não muito perturba- guintes.
..:t, l
dos se a pessoa é alguém que nunca vimos antes. Os participantes receberam uma injeção de epi-
.l
Nesses casos e em inúmeros outros, nossa avaliação
ii" 'i. l
nefrina, que tipicamente provoca excitação autonô-
cognitiva da situação determina a intensidade de ma - um aumento na freqüência cardíaca e na taxa
ì:----. nossa experiência emocional (Lazarus, 199 I ; Laza-
li,l
respiratória, tremores musculares e uma sensação de
...1... rus, Kanner e Folkman, 1980). nervosismo. O experimentador então manipulava as
A avaliação cognitiva também pode ser ampla- informações que os participantes recebiam em rela-
mente responsável pela diferenciação das emoções.
ìil: :-j ção aos efeitos da epinefrina. Alguns deles foram
'ì: iì: coffetamente infotmados sobre os eÍ'eitos de excita-
í:t: r. )'
ção da droga; outros não recebiam qualquer infotma-
t
-
Nossa avatiaçào cognitiva de uma situaÇâo aiuda a determinar o tipo de ção sobre os efeitos fisiológicos da droga. Assim, os
:.....

::al i:.ìl emoção que sentimos bem como sua intensìdade. A avaliação cognitiva participantes informados tinham uma explicação pa-
,Ì!
i::
:
contribuíu para as díferentes reações causadas pelo veredicto no iulga' ra sua excitação, enquanto que os participantes de-
mento de O. J. Simpson.
ii ìì <1.
sinformados não. Schachter e Singer previam que o
modo dos participantes desinformados interpretarem
seus sintomas dependeria da situação na qual fossem
colocados. Os participantes foram deixados em uma
l.a:ìj :''; sala de espera com outra pessoa, que aparentemente
íar"Ì ,i,,,1

era um outro participante, mas que na verdade era


um aliado do experimentador; esse aliado criava uma
situação de alegria (fazendo aviões de papel, jogan-
eo .. do basquete com bolas de papel, e coisas desse tipo)
:r_1 .,;ì- ou uma situação de cólera (queixando-se do experi-
]L
mento, rasgando um questionário e assim por dian-
..,,..- -.i
te). Os participantes desinÍbrmados colocados na si-
:i:::: :-.ii. tuação de alegria classificaram seus sentimentos co-
aa :iì
. riin,:::.
mo mais alegres do que o f,zeram os participantes in-
formados naquela situação, e os participantes desin-
formados na situação de cólera classiflcaram seus
ll',..
í:ì, iì
:L I'
sentimentos como mais coléricos do que o fizeram
:'.
ll i ,r'
os participantes inÍbrmados. Em outras palavras, os

ilii ':{
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rjì i Vi .,i
t.:
Introdução à Psicologia de Hilgard 41.9

participantes que tinham uma explicação fisiológica


para sua excitação eram menos influenciados pela si- (a) TEORIA JAMES-LANGE
tuação do que os participantes que não tinham a ex-
plicação. Estímulo Excitação fisiológica Experiência
e comportamentos subjetiva de emo-
O experimento de Schachter e Singer foi extre- explícitos específicos ção
mamente influente, mas essa inÍluência pode não ter de uma emoção
justiflcativa. O padrão de resultados do estudo não (b) TEORIA SCHACHTER-STNGEB
apoiou fortemente as hipóteses dos experimentado-
res, no sentido de que as diferenças entre os gÍupos
Estímulo Excitação Avaìiação Experiência
Íisiológìca cognitiva da subjetiva de
críticos não atingiu significado estatístico e um gm- geral excitação emoção
po-controle não reagiu de maneira compatível com a
hipótese. Além disso, a excitação autonôma pode
(c) TEORIAS DE AvALnçÃO

não ter sido a mesma nas situações de alegria e cóle- Estímuìo


ra, e certamente não era neutra. Experimentos poste- Experiência
+
subjetiva de emoção
riores constataram que os pafiicipantes classificaram Avaliação do estímulo
suas experiências de maneira mais negativa (menos
(d) HIPÓTESE DE RETROALIMENTAÇÃO FACIAL
alegre, ou mais colérica) do que justificado pela si-
tuação, sugerindo que a excitação fisiológica produ- Experiência
Expressão Íacial
subjeÌiva da emoção
zida pela epinefrina é experimentada como algo de-
sagradável. Além disso, esses experimentos por ve-
zes tiveram dificuldade em reproduzir os resultados FIGURA Í1.4
obtidos por Schachter e Singer (Marshall e Zimbar-
PrincipaisTeorias da Emoção As dìferentes teorias da emoção propõem
do, 1979: Maslach, 1979). Portanto, precisamos de
diferentes relacionamentos entre os componentes de uma emoção.
mais evidências de que uma excitação compÌetamen-
te neutra possa ser erroneamente atribuída a uma de-
terminada emoção.
de cólera. Na verdade, os participantes que se exerci-
Um outro estudo forneceu tal evidência. Os par-
taram responderam mais agressivamente à provoca-
ticipantes primeiro fizeram exercícios físicos vigoro-
sos e depois participaram de uma tarefa durante a ção do que os participantes que não se exercitaram
tZillman e Bryant. 1974r.
qual eram provocados por um cúmplice do experi-
As conclusões oriundas dessa linha de pesquisa
mentador. O exercício induzia excitação hsiológica
são que um evento tipicamente resulta tanto emexci-
que era neutra e que era mantida até que o partici-
tação autonôma quanto em avaliação cognitiva. A
pante fosse provocado, essa excìtação deveria com-
excitação percebida e a avaliação cognitiva não são
binar-se com qualquer excitação causada pela provo-
experimentadas como independentes; na verdade, a
cação, resultando em uma experiência mais intensa
excitação é atribuída à avaliação ("Meu coração está
disparado porque estou furiosa com o que Maria dis-
se".) Estes estudos indicam que tanto a excitação
A excitação física pode intensíficar os sentimentos
quanto a avaliação contribuem para a intensidade da
de cólera.
experiência - e que às vezes apenas a avaliação pode
determinar a qualidade da experiência. Embora a
pesquisa indique que a excitação pode auxiliar na di-
ferenciação das emoções, ela parece desempenhar
um papel menor do que a avaliação.
As duas seções superiores da Figura I 1.4 resu-
mem como os componentes de uma emoção intera-
gem nas duas principais teorias que discutimos até
aqui. Embora cada uma dessas teorias tenha sido
corroborada em certa medida, elas simplificam de-
masiadamente o processo de emoção. Os componen-
tes, excitação autonôma e avaliação cognitiva, são
Ì.:
::::,
lr ,':,.]. al. ii- rir: rr:
'' i.t.i -,, ' -r.:.;):pr.i..,,

r- ìì

L.)
,'1:

','420 Capítulo ll Rita L. Atkinson. RicharcÌ C. Atkhson. Edward E. Smith, DarvL J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema

por si só eventos complexos que possuem subcom- TABELA 11.3


;:j ponentes, e estes subcomponentes não ocorrem to-
Dimensões Primárias da Avaliação e suas Conse-
dos ao mesmo tempo. Por exemplo, se um conheci- qüências Combìnações de duas dimensões da avalìa-
do disser algo que lhe insulte, talvez primeiramente ção e suas emoções assocradas. (Segundo Roseman,
você perceba a antipatia do comentário, depois sinta 1984;1979)
um toque de excitação, depois avalie o comentário
mais profundamente enquanto sente mais excitação, Ocorre Não Ocorre
:i:: e âssim por diante. Assim, a excitação autonôma e a
Desejável Alegria Tristeza
avaliação cognitiva se estendem ao longo do tempo,
lndeseiável Angústia Alívio
e seus subcomponentes podem ocorrer simultanea-
mente (Ellsworth, 1991).

Dimensões de Avaliação Alguns eventos podem ser avaliados da mesma for-


t: ma por todas as pessoas. Por exemplo, grandes ser-
Na terceira seção da Figura I 1.4, encontra-se outra
pentes sibilântes tendem a ser avaliadas como amea-
importante teoria da emoção, que rotulamos de teo-
ças pela maioria dos animais e seres humanos. Con-
ria da avaliaçdo. Na verdade, trata-se de um grupo
tudo, os tipos de ameaças que provocam as avalia-
de teorias que sugerem que as avaliações que as pes-
ções relacionadas na Tabela 1 1.2 podem diferir entre
soas Íazem das situações (não suas avaÌiações da ex-
espécies e culturas humanas (Mesquita e Frijda,
citação fisiológica) levam à experiência subjetiva de
1992). Entre os humanos, por exemplo, muitos nor-
emoção e excitação associada a elâ. Estas teorias de
te-americanos ficariam chocados ao caminhar na
avaliação podem ser divididas em (a) teorias que
praia e descobrir que todo mundo ali estava nu, mas
identificam emoções primárias ou fundamentais e
muitos brasileiros não se impressionariam com uma
especificam os tipos de situações e avaliações que
cena dessas porque tomar banho de sol nu é mais co-
provocam essas emoções, e (b) teorias que identih-
mum no Brasil do que nos Estados Unidos.
cam as dimensões primárias das avaliações e as emo-
O segundo grupo de teorias da avaliação preocu-
ções específicas que delas resultam. pa-se em especificar as dimensões primárias das ava-
De acordo com o primeiro grupo de teorias de
liações (em vez de um conjunto primário de emo-
avaliação, existe um conjunto relativamente pequeno
de emoções "primárias", cada uma das quais provo-
ções) e as conseqüências emocionais dessas dimen-
sões. A Tabela 11.3 apresenta um exemplo. Uma di-
cada por avaliações específicas de um evento. A Ta-
mensão é o quanto um evento previsto é desejável, e
bela 1 1.2 relaciona diversas emoções (tais como me-
outra é a ocorrência ou não desse evento. Quando
do) e as avaliações que as desencadeiam (ameaça).
combinamos essas duas dimensões, obtemos quatro
Estas emoções primárias podem ser encontradas em
possíveis avaliações, cada uma das quais parecendo
todas as culturas humanas e em todo o reino animal.
produzir uma emoção distinta. (Estamos utilizando
apenas quatro emoções em nosso exemplo por moti-
TABELA 11.2 vos de simplicidade.) Quando um evento desejado
(como apaixonar-se) ocorre, sentimos alegria; quan-
Emoções Primárias e suas Causas Oito emoções
primárias e suas avaliações associadas. (Segundo do um evento desejado não ocorre (a pessoa por
Plutchik, 1980) quem estamos apaixonados não nos ama), sentimos
tristeza; quando um evento indesejado (como sair-se
Emoção Avaliação mal numa prova) ocorre, sentimos angústia; e quan-
do um evento indesejado não ocorre (não se sair mal
Pesar (tristeza) Perda de ente querido
numa prova), sentimos alívio.
Medo Ameaça
O exemplo anterior utiliza apenas duas dimen-
Cólera Obstáculo
sões, mas a maioria das teorias da avaliação cogniti-
Alegria Parceiro potencial
va considera que inúmeras dimensões estão envolvi-
.'.i ConÍiança Membro do grupo
das. Por exemplo, Smith e Ellsworth (1987; 1985)
Nojo Objeto repulsivo
constataram que pelo menos seis dimensões eram
Antecipação Novo Ìerritório
necessárias para descrever 15 diferentes emoções
Surpresa Objeto novo repentino
(incluindo, por exemplo, cólera, culpa e tristeza). Es-

ia I::
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ií..rì .È
Introdução à Psicologia de Hilgard 421

tas dimensões incluíam (a) o fato de desejar ou não a ção clínica intrigante. Às vezes um paciente parece
situação (agradável e desagradável); (b) a quantida- estar experimentando uma emoção, mas não está
de de esforço que a pessoa prevê que irá despender consciente dela. Isto é, o paciente não tem expe-
na situação; (c) a certeza da situação; (d) a quantida- riência subjetiva da emoção, mas reage de forma
de de atenção que a pessoa deseja dedicar à situação; compatível com a emoção - por exemplo, embora o
(e) o grau de controle que a pessoa sente que tem so- paciente possa não se sentir bravo, ele age de ma-
bre a situação; e (Í) o grau de controle que a pessoa neira hostil, Além disso, em um momento posterior
atribui a Íbrças não-humanas na situação. Para ilus- ele pode experimentar a emoção e concordar que
trar como as duas últimas dimensões operam, a cóle- em certo sentido ele devia estar sentindo-a antes.
ra é associada a uma situação desagradável causada Freud (1915/1976) considerava que esse fenômeno
por outra pessoa, a culpa é associada a uma situação envolvia a repressão de idéias dolorosas, e as des-
desagradável ocasionada por nós mesmos, e a triste- cobertas da pesquisa moderna sobre avaliação e
za é associada a uma situação desagradável determi- emoção são compatíveis com essa hipótese. Como
nada pelas circunstâncias. Assim, se voçê e um ami- nossa crença sobre uma situação geralmente dá à
go perderam um concerto que queriam muito assis- emoção sua qualidade, impedir que essa crença en-
tir, você sentirá cólera se o perdeu porque o amigo tre em nossa consciência (repressão) impede-nos de
não sabe onde colocou os ingressos, culpa se você experimentar a qualidade da emoção.
não sabe onde pôs os ingressos, e tristeza se o espe- Outro ponto de contato entre a análise clínica e a
táculo loi cancelado porque um dos artistas adoeceu. pesquisa experimental refere-se ao desenvolvimento
A vantagem desse tipo de abordagem é que ela espe- emocional. O trabalho clínico indica que as sensa-
cifica o processo de avaliação detalhadamente e ex- ções de prazer e angústia de uma pessoa não mudam
plica uma ampla variedade de experiências emocio- à medida que e1a amadurece; o que muda, contudo,
nais. são as idéias associadas às sensações (Brenner,
1980). Assim, a sensação de alegria pode ser a mes-
Algumas lmplicações Glínicas ma quer tenhamos 3 ou 30 anos, mas o que nos dei-
xa alegre é muito diÍ'erente. Esse padrão de desenvol-
O fato de que as avaliações cognitivas podem dife-
vimento encaixa-se perfeitamente com os fatos sobre
renciar as emoções ajuda a entender uma observa-

A sensação de alegria pode ser a mesma quer tenhamos 3 ou 30 anos.


422 Capítulo 11 Rita L. Atkinson. Richard C. Atkínsott. Edvvard E. Smith, Daml J. Bem e Susan Nolen'Hoeksema

emoção discutidos anteriormente. Sensações de pra- amígdala é capaz de responder a uma situação urgen-
zer e angústia provavelmente devem-se à retroali- te antes que o córtex o faç4, o que sugere que às ve-
mentação proveniente da excitação autonôma, e a zes podemos sentir antes de pensar. Para exemplifi-
nâtureza desse retorno pode não mudar muito duran- car, se pelo canto do olho você vê algo com a fonna
te toda a vida. Em contraste, idéias associadas às de uma selpente, sua amígdala envia um sinal de ur-
sensações são simplesmente crenças emocionais, e gência que the faz dar um salto antes que seu córtex
devem mostrar o mesmo tipo de desenvolvimento possa determinar que o objeto em questão é, na ver-
que outros aspectos da cognição. dade, um inofensivo pedaço de corda. Embora essa
Finalmente, a pesquisa sobÍe avaliação se encai- pesquisa se baseie em ratos, existem motivos para
xa com um fenômeno que é conhecido não apenas crer que as rotas neurais envolvidas existem também
pelos médicos mas por todos nós: o grau em que nos humanos (Le Doux, 1989).
uma situação provoca uma emoção depende de nos- Embora possamos ter experiências emocionais
sa experiência. Ao confrontarem-se com um empre- sem avaliação cognitiva consciente e deliberada, es-
gador excessivamente crítico, alguns ficarão apenas tas experiências podem restÍingir-se a sentimentos
ì'-' aì incomodados enquanto outros ficarão enfurecidos. positivos ou negativos indiferenciados. Se definir-
i-ta i
i"Ì ..:i
):
Por que essa diferença? Presumivelmente por causa mos a avaliação cognitiva de maneira ampla para in-
das diferenças de experiência anterior: talvez aqueles cluir avaliações primitivas ou automáticas das situa-
{,'..t . .:
que se enfurecem tiveram uma figura de autoridade ções que adquirimos através da evolução, podemos
excessivamente cítica no passado, enquanto aqueles dizer que quase todas as emoções envolvem algum
.-.. "i) que apenas se incomodam não tiveram essa expe- tipo de avaliação (Lazarls, 1991).
!, :"'ì
a lii
riência. Um possível elo entre a expeÍiência passada
:!r. iil.. e a emoção presente é o processo de avaliação; ou se-
ìa
ja, nossa experiência passada afeta nossas crenças
Expressão e Emoção
q,,;, I sobre a situação presente, e estas crenças influen-
t:
A expressão facial que acompanha uma emoção evi-
ciam a emoçào que experimentamos.
tÌ.Jr
dentemente serve para comunicar aquela emoção.
,tì:
Desde a publicação, em 1872, do clássico A expres-
Emoção sem Cognição são da emoção no homen e nos animais, de Charles
..t .,) Existem casos de emoção em que nenhuma avalia- Darwin, os psicólogos consideram a comunicação da
ção cognitiva está envolvida? Quando um rato rece- emoção uma função importante, a qual tem valor de
be um choque elétrico pela primeira vez, por exem- sobrevivência para a espécie. Assim, parecer assusta-
plo, presumivelmente sua reação emocional é desti- do pode avisar os outros que o perigo está presente, e
.tt ;:, tuída de atividade cognitiva. De modo análogo, se de perceber que alguém está zangado nos informa que
repente você é esmunado no rosto, você pode expe- essa pessoa pode estar prestes a agir agressivamente.
rimentar uma emoção antes de interpretar o fato. Pesquisas mais recentes sugerem que, além de sua
,i1 ,.! função de comunicação, as expressões emocionais
Os exemplos anteriores sugerem que pode haver
dois tipos de experiências emocionais: aquelâs que contribuem para a experiência subjetiva da emoção,
se baseiam em avaliação cognitiva e aquelas que pre- assim como o ïazem a excitação e a avaliação. Essa
? ì ...
cedem a cognição (Zajonc,1984; 1980). Essa dico- teoria é representada na seção infedor da Figura I 1.4.
tomia é apoiada pela pesquisa nas estmturas cere-
brais envolvidas na emoção. Uma dessas estruturas é Comunicação da Emoção Através das
i...,
a:..-ì
a amígdala, uma pequena massa em forma de amên- Expressões Faciais
doa localizada na porção inferior do cérebro e que
Algumas expressões faciais parecem ter um signifi-
Íìi ..-' registra reações emocionais. Até pouco tempo atrás,
cado universal, independente da cultura na qual o in-
.'''. .::u
pensava-se que a amígdala recebia todas as informa-
divíduo é criado. Na expressão universal de cólera,
ções do córtex e, conseqüentemente, que estes im- por exemplo, o rosto enrubesce, as sobrancelhas fi-
Íl) - pulsos sempre envolviam avaliação cognitiva. Mas
.ii::: iL: cam mais baixas e se aproximam, as narinas se dila-
'L< pesquisas mais recentes em ratos revelaram cone-
tam, o maxilar se enrijece e os dentes aparecem.
xões entre os cânais sensoriais e a amígdala que não
.rl_.1

passam pelo córtex; estas conexões diretas podem Quando pessoas de cinco países (Estados Unidos,
,I: \: Brasil, Chile, Argentina e Japão) viram fotografias
..,.- ser a base biológica das emoções precognitivas, ou
i.Ì:ì
mostrando expressões típicas de alegria, cólera, tris-
cì;, '.9' emoções que não se baseiam na avaliação. Assim, a
teza, nojo, medo e surpresa, elas tiveram pouca dih-

,''-.<
i:ì ,1.::.

t= .,..
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ait. ,

:a, ....
t:il ...
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ij!:l ,::ttitÌr.Ir ì!l
i-i i u

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1 : Iiir:
Introdução à Psicologia de Hilgard 423

culdade para identificar a emoção que cada expres- ocidentais. De modo semelhante, universitários ame-
são transmitia. Até mesmo membros de grupos isola- ricanos que viram videoteipes de expressões fàciais
dos que praticamente não tiveram contato com as de nativos fore identificaram as emoções associadas
culturas ocidentais (os fores e o danis da Nova Gui- com precisão, embora às vezes confundissem medo
né) conseguiram identificar as emoções repÍesenta- e surpresa (Ekmrn. 1982).
das pelas expressões faciais de pessoas das culturas

As expressões faciais são universais quanto às emoções que transmitem. Fotografias de pessoas da Nova Gui-
né e dos Estados Unidos demonstram que emoções específicas são transmitidas pelas mesmas expressões fa-
ciais. Aqui aparecem, da esquerda para a direita, alegria, tristeza, e nojo.
t'-:
irr
L:ía:
I :;1
a:::, A 1:,- r.l

...: .\: 5:.--i.,l.i'i


;ìi.ì : ll

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L!,,, '---
424', Capítulo 11 Rita L. Atkinson, Richartl C. Atkinson, Etlvtard E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema

.ì, Cada cultura possui seu próprio conjunto de re-


l:':l A universalidade de algumas expressões emo-
cionais apóia a idéia de Darwin de que elas são res- gras para demonstrar emoção. Estas regras especifi-
postas inatas com uma história evolutiva. Para Dar- cam os tipos de emoções que as pessoas deveriam
'j il: win, muitas de nossas maneiras de expressar emoção sentir em determinadas situações e os comportamen-
são padrões herdados que originalmente tinham al- tos adequados para determinadas emoções. Como
í.)' : gum valor de sobrevivência. Por exemplo, a expres- exemplo, em algumas culturas espera-se que as pes-
c'i
soas que perdem um ente querido fiquem tristes e ex-
.

são de nojo ou rejeição se baseia na tentativa do or-


ganismo de livrar-se de algo desagradável que inge- pressem sua tristeza chorando abertamente e lamen-
riu. Nas palavras de Darwin (18'72), tando a perda. Em outras culturas, espera-se que os
consternados cantem, dancem e fiquem felizes' Na
A palavra "nojo", em seu sentido mais simples, Europa, dois homens que se cumprimentam na tua
significa algo ofensivo ao gosto. Mas como o nojo podem se abraçar e beijar, mas nos Estados Unidos
também causa âboÍrecimento, ele geralmente é esses gestos de afeto são tabus entre os homens. As-
acompanhado de uma caÍïanca, e muitas vezes poÍ sim, superpostas às expressões básicas das emoções,
i
gestos como se quiséssemos afastar ou nos prote-
que parecem ser universais, encontramos as formas
:.J i ger de um objeto ofensivo. O nojo extremo é ex-
)::
convencionais de expressão - uma espécie de lingua-
pressado por movimentos ao redor da boca idênti
,À .l: gem da emoção que é reconhecida por outros mem-
cos àqueles de preparação para o ato de vomitar. A
ca boca se escancara, com o lábio superior fortemen- bros da cultura, mas muitas vezes incompreendida
, te retraído. As pálpebras semicerradas, ou o afasta- por pessoas de outras culturas.
:11ì

'i:j t:íì
() mento dos olhos ou do cotpo inteiro, também são
(:i \t
altamente expressivas de desdém. Estas ações pa- Localização no Cérebro
!::: i'L)l
itrl i'l: recem declarar que a pessoa desprezada não mere-
..:: As expressões emocionais que são universais (por
ce ser olhada ou é desagradável de olhar. Cuspir
exemplo, aquelas associadas à alegria, à cólera e ao
,:
,i.i '
parece um sinal quase universal de desprezo ou no-
jo; e cuspir certamente representa a expulsão de nojo) também são altamente específicas: determina-
ta: :í
;ir r... qualquer coisa ofensiva da boca. dos músculos são usados para expressar determina-
!) a.ii das emoções. Essa combinação de universalidade e
*- i.. 'Embora alguns gestos e expressões faciais pare- especificidade sugere que um sistema neurológico
çam estar intrinsecamente associados a deteminadas especializado pode ter-se desenvolvido nos humanos
i"i !:.
emoções, outros são aprendidos. Um psicólogo estu- para interpretar as expressões emocionais. As evi-
o" lu!r.
dou romances chineses para determinar como eles
:;': il'.ì dências de pesquisa indicam que realmente existe
retratavam diversas emoções humanas. Muitas das um sistema assim e que ele se localiza no hemisfério
t-f |
:ì.:: mudanças corporais que ocoÍrem quando uma pes- cerebral direito.
.Ì r::
soa sente uma emoção (por exemplo, rubor, tremor, Uma fonte de evidência são os estudos em que
n:: i.:.. enrugamento da pele) representam as mesmas emo- Íbtografias de expressões emocionais são âpresenta-
ções na ficção chinesa e na literatura ocidental. Ou- das brevemente ao lado direito ou esquerdo do cam-
tras expressões corporais, contudo, transmitem emo- po visual do participante. Recordemos do Capítulo 2
ções muito diferentes na Ílcção chinesa quando com- um estímulo apresentado ao campo visual esquerdo
('i .. paradas com o ocidente. As seguintes citações de ro- que se projeta no hemisfério direito, enquanto um es-
ló i'r"
iYl:;,,1 mances chineses certamente seriam mal-interpreta- tímulo apresentado ao campo visual direito projeta-
':-l ,,,,1

at:i í-ì das por um leitor norte-americano sem familiaridade se no hemisfério esquerdo. Quando os participantes
j: a!
com a cultura (Klineberg, 1938): têm que decidir qual entre duas emoções uma ima-
,:1ì ::--.

!ì:1\Ì
gem representa, eles são mais rápidos e mais preci-
eé .. "Eles mostraram a língua."
sos quando a flgura é projetada em seu hemisfério
(Eles mostraram sinais de surpresa.)
-,r :! ìl direito. Além disso, quando as duas metades do ros-
"Ele bateu as mãos."
rlt,
(Ele estava preocupado ou decepcionado.)
to transmitem emoções diferentes, (por exemplo,
{:rj <1
uma delas com um sorriso e a outra com uma caÍTan-
"Ele coçou as orelhas e o rosto."
[::: r:...:
ca), a expressão projetada no hemisfério direito tem
lÌ: :ij: (Ele estava feliz.)
..: .1.1:
"Os olhos dela se arredondaram e ficaram escanca- maior impacto sobre a decisão do participante.
t:::: rados." Outra evidência sobre a localização das expres-
-iÌì ï (Ela ficou zangada.) sões emocionais provém de estudos de pacientes que
>Ì'
":":

!-t ";
:'-l:.

.i lj.Í.iii.Írat.
1.. I
Introdução à Psicologia de Hilgard 425

soÍieram danos cerebrais devido a denames ou aci- clai (Tomkins, 1962). Segundo essa hipótese, assim
dentes. Os pacientes com danos no hemisfério direi- como recebemos retorno sobre (ou percebemos)
to têm mais dificuldade para reconhecer expressões nossa excitação autonôma, também recebemos re-
faciais de emoção do que pacientes com dano apenas torno sobre nossa expressão facial, e esse retorno
no hemisfério esquerdo (Etcoff, 1985). combina-se com outros componentes da emoção pa-
Nosso sistema para reconhecer expressões emo- ra produzir uma experiência mais intensa. Isso sìg-
cionais parece ser altamente especializado. Em espe- nifica que se você se fizer sorrir e mantiver esse sor-
cia1, ele se distingue de nossa capacidade de reco- riso por alguns segundos, você irá começar a sentir-
nhecer rostos. Considere um prosopagnósico, um in- se feliz; se franzir as sobrancelhas, sentir-se-á tenso
divíduo que, devido a dano no córtex, tem tamanha e irritado.
dificuldade para reconhecer rostos familiares que às Em apoio a hipótese de retorno facial, os partici-
vezes não consegue reconhecer seu próprio rosto. pantes que exageram suas reações emocionais a estí-
Contudo, ele consegue reconhecer expressões emo- mulos emocionais relatam mais resposta emocional
cionais: ele é capaz de dizer que uma determinada do que participantes que não o fazem. Em um estu-
pessoa está lèÌiz mesmo não sabendo que aquela do, os participantes decidiam o quanto diversos odo-
pessoa é sua esposa (Bruyer, Latere e Seron, 1983). res eram agradáveis ou não enquanto sorriam ou Íã-
As capacidades de reconhecimento de rostos e de ziam carrancas. Os participantes que sorriam perce-
emoções também são diferentemente aÍètadas pela biam os odores como mais agradáveis; aqueles que
estimulação elétrica de dilèrentes regiões do hemis- fazram carrancas percebiam os odores como menos
lério direito: o reconhecimento de rostos é rompido agradáveis (Iftaut, 1982). Noutro experimento, os
pela estimulação da região entre os lobos parietal e participantes classificavam o quanto desenhos ani-
occipital, ao passo que o reconhecimento de emoção mados eram engraçados enquanto seguravam uma
é rompido pela estimulação de uma determinada re- caneta entre os dentes ou entre os lábios. Segurar
gião do lobo temporal (Fried, 1982). uma caneta entre os dentes força o rosto a fazer um
Além de serem comunicadas pelas expressões sorriso, enquanto segurá-la entre os lábios força o
faciais, as emoções se expressam por variações nos rosto a fazer uma carranca. (Experimente.) Como se
padrões de voz (particularmente variações de altura, esperava, os desenhos tbram considerados mais en-
tempo e acento). Algumas dessas variações parecem graçados quando a caneta era mantida entre os den-
ser universais e específicas. Por exemplo, um au- tes do que quando era mantida entre os lábios
mento abrupto na altura indica medo. O sistema neu- (Strack, Martin e Stepper, 1988).
rológico especializado para percepção desses sinais Além desses estudos, que mostram uma conexão
emocionais localiza-se no hemisfério cerebral direi- direta entre expressão e emoção sentida, outros ex-
to, e a evidência para isso é semelhante àquela para perimentos indicam que as expressões laciais podem
expressões faciais. Os participantes são mais preci- ter um efeito indireto sobre a emoção ao aumenta-
sos na identificação do tom emocional de uma voz rem a excitação autonôma. Esse efeito ç.i demons-
apresentada ao ouvido esquerdo (que projeta inÍbr- trado no experimento discutido anteriormente no
.mação primariamente ao hemisfério direito) do que a qual produzir determinadas expressões emocionais
uma apresentada ao ouvido direito (que se projeta provocava mudanças nos batimentos cardíacos e na
primariamente ao hemisfério esquerdo). E pacientes temperatura da pele (Levenson, Ekman e Freisen,
com dano apenas no hemisfério dlreito têm mais 1990). Portanto, precisamos adicionar expressão
problemas para identiÍìcar emoções a partir de indí- emocional a nossa lista de fatores que contribuem
cios de voz do que pacientes com dano apenas no he- para a experiência emocional.
misfério esquerdo (Ley e Bryden, 1982). Alguns pesquisadores também acreditam que as
expressões faciais podem determinar a qualidade das
lntensidade e DiÍerenciação emoções. Como as expressões para as emoções pri-
das Emoções márias são distintas e ocoffem rapidamente, elas são
ao menos candidatas plausíveis para a contribuição à
Hipótese de Retorno Facial A idéia de qlre as ex-
pressões faciais, além de sua função comunicativa,
diferenciação das emoções. Tomkins (1980) propôs
que o retorno proveniente da expressão facial é in-
também contribuem para nossa experiência de emo-
trinsecamente positivo ou negativo, sugerindo assim
ções às vezes é chamada de hipótese de retorno fa-
um meio pelo qual as expressões faciais podem dis-
l.'ì i ,ì i.ì ()
i
.lì i; .r, ì1ì Í'; í.) l.ì.

&&:::. Capítulo 1l Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Danl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
a: .ì':l

iÌ> tinguir emoções positivas de negativas. Se esta su- Reações Gerais à Presença de
.
'r.t ;ì
;::/,
i;,,.,. gestão mostrar-se verdadeira, retornamos (em parte)
um Estado Emocional
t-l:rì r.ì
à teoria de James-Lange, segundo a qual a emoção é
'r; ì
a percepção de certas mudanças colporais. No início do capítulo, assinalamos que um dos prin-
iir: !:, cipais componentes da emoção é o modo como uma
úrr
(i Fluxo Sangüíneo eTemperatura do Cérebro Exa-
cl
1l
pessoa reage à presença de um estado emocional.
3;ì tamente que aspectos de uma expressão facial tor- Embora algumas reações sejam específicas à emo-
!,1Ì r.j:.

nam-na intrinsecamente positiva ou negativa? Uma


:1::: ra.a ção experimentada - por exemplo, aproximando-se
r-. "l possível resposta pode residir no fato de que a con- de alguém quando alegre ou afastando-se quando as-
i.i "
tração de certos músculos faciais pode afetar o fluxo sustado - outras parecem aplicar-se a emoções em
:r.ll i:
?.{ a.ì de sangue em vasos sangüíneos adjacentes. Isso por geral. Em especial, estar em um estado emocional
sua vez pode afetar o fluxo sangüíneo cerebral, o pode (a) determinar no que prestamos atenção e o
qual pode determinar a temperatura do cérebro, po- que aprendemos e (b) determinar que tipos de julga-
'iiij
dendo facilitar e inibir a liberação de diversos neuro-
:.tì

mentos fazemos sobre o mundo.


rj' tr r:
.': ::t:..
transmissores - e estes podem fazer pafte da ativida-
.--r i I
::íì .')::
de cortical que subjaz a emoção. Por exemplo, quan- Atenção e Aprendizagem:
do sorrimos, a conhguração dos músculos faciais po-
iìl:
Congruência de Humor
:li
de causar uma diminuição da temperatura na região
:i ,iì:,, do cérebro na qual o neurotransmissor serotonina é O humor é um estado emocional duradouro. Tende-

Lìj
'ú) ..rn
liberado; essa mudança de temperatura pode blo- mos a prestar mais atenção a eventos que combinam
quear a liberação do neurotransmissor, resultando com nosso humor do que com eventos que não com-
iil
!,:::::
i: I :r\ num sentimento positivo. O trajeto crítico, portanto, binam com ele. Conseqüentemente, aprendemos
l!,.. ..
,.1,
,,,
pode partir da expressão facial para o Íluxo sangüí- mais sobre eventos que combinam, ou são congruen-
,).-l
,ri a..jr neo, para a temperatura do cérebro e para a experiên- tes, com nosso humor. Um experimento que de-
cia emocional (Zajonc, Murphy e Inglehart, 1989). monstra esses fenômenos envolveu três etapas. Na
(:ì. i:.--
Esse trajeto da expressão para a emoção é corro- primeira, os participantes foram hipnotizados e indu-
(.1 (tì!
! ì'1 :\l zidos a hcarem felizes ou tristes. Na segunda, os par-
borado pela pesquisa experimental. Um estudo apro-
veita o fato de que a pronúncia da vogal alemã "ü" ticipantes hipnotizados leram uma breve narrativa
(como em Für') exige o estiramento de um músculo sobre um encontro entre dois personagens - um per-
t:.,
facial que se contrai quando sorrimos. Isso sugere sonagem feliz e um triste. A história descrevia vivi-
que a expressão facial associada com a pronúncia de dâmente os acontecimentos na vida de dois homens
"ü" pode causar um sentimento negativo. Para testar e suas reações emocionais. Depois de ler a história,
essa hipótese, participantes alemães leram em voz perguntou-se aos participantes quem eles achavam
alta histórias que continham muitas palavras com que era o personagem central e com quem se identi-
"ü" ou nenhuma palavra com "ü"; as histórias ti- ficaram. Os participantes que tinham sido induzidos
nham conteúdo e tom emocional semelhantes. Quan- a Íìcarem felizes identificaram-se mais com o peÍso-
do perguntados sobre o quanto gostaram das histó- nagem feliz e acharam que a história continha mais
rias, os participantes acharam menos agradáveis as informações sobre ele; os participantes que tinham
histórias que continham palavras com "ü" do que sido induzidos a Íìcarem tristes identificaram-se
aquelas sem palavras com "ü". Além disso, enquan- mais com o personagem triste e achavam que a histó-
to os participantes liam as histórias, a temperatura de ria continham mais declarações sobre ele. Esses re-
suas testas era medida para dispor-se de uma estima- sultados indicam que os participantes prestaram
tiva da temperatura do cérebro. As temperaturas ele- mais atenção ao personagem e aos acontecimentos
varam-se durante as narrativas que continham pala- que eram congruentes com seus humores do que
vras com "ü", mas não durante as narrativas sem es- àqueles que não eram (Bower, 1981).
ii.tj tas palavras. Assim, a expressão facial necessária pa- A terceira etapa desse experimento forneceu in-
i!;
a: ra produzir "ü" causou tanto um aumento da tempe- dícios de que os participantes também aprendiam
ratura facial quando um sentimento negativo. e pos- mais sobre eventos congruentes com o humor do que
.j
.rl.i sivelmente também um aumento da temperatura ce- sobre eventos incongruentes com o humor. Um dia
,!lìl rebral (Zajonc, Murphy e Inglehart, 1989). depois de ler a história, os participantes, agora com
humor neutro, retonìaram ao laboratório, onde Íbram
iÇ-ì-
(-)
i..)

(!.)
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a:j;

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r ll ,r;.i...j,:r
;l
Introdução à Psicologia de Hilgard 427

solicitados a recordarem-se da história. Os partici- Nosso humor também afeta nossos julgamentos
pantes recordaram-se mais sobre o personagem com sobre a freqüência de diversos riscos. O mau humor
o qual se haviam identificado: para os participantes leva-nos a ver os riscos como mais prováveis; o bom
anteriormente felizes, 55% dos fatos recordados re- humor nos leva a vê-los como menos prováveis. Em
feriam-se ao personagem feliz; para os participantes um experimento que tratava de estimativa de riscos,
anteriormente tristes, 80% dos fatos recordados reÍè- os participantes no grupo experimental primeiro
riam-se ao personagem triste (Bower, 1981). liam uma matéria jornalística que relatava uma mor-
Como exatamente a congruência entre nosso hu- te trágica e, desse modo, eram expostos a um humor
mor e determinado material novo influencia a apren- negativo. Participantes-controle liam uma matéria
dizagem daquele material? Sabemos que podemos jornalística suave, que os deixava com um humor
aprender melhor um novo material se pudermos rela- neutro. Depois, pediu-se a todos os parlicipantes que
cioná-lo com informações que já estão na memória. estimassem as Íìeqiiências de vários tipos de fatali-
Nosso humor durante a aprendizagem pode aumen- dade, inclusive morte por doenças como leucemia e
tar a disponibilidade das memórias que combinam doenças cardíacas e de acidentes em incêndios e en-
com esse humor, e estas memórias serão mais facil- chentes. Os participantes expostos a um humor nega-
mente relacionadas a um novo material que também tivo estimaram que as freqüências destes tipos de fa-
combine com esse humor. Vamos supor que você ou- talidades eram quase duas vezes maiores do que as
ve uma história sobre um aluno que ó reprovado na estimativas de participantes com humor neutro.
escola. Se você está de mau humor quando ouve a AÌém disso, tudo o que importava para a estimativa
história, algumas de suas lembranças sobre experiên- de freqüências era o humor do participante, e não o
cias de reprovação (especialmente reprovação acadê- conteúdo da história que os havia colocado naquele
mica) podem estar facilmente acessíveis, e a seme- estado de espírito. A história Írâgica que alguns par-
lhança destas lembranças ao novo Íato de alguém ticipantes experimentais leram envolvia um caso de
sendo reprovado na escola irá facilitar a relação en- leucemia, e a história que outros participantes expe-
tre elas. Em contraste, se você está de bom humor rimentais leram envolvia uma morte em incêndio;
quando ouve a história, suas memórias mais acessí- ambos os grupos de participantes superestimaram as
veis podem ser muito dessemelhantes a uma repro- freqüências de mortes por leucemia e incêndios no
vação escolar para promover um relacionamento en- mesmo grau. A semelhança entre a história e o risco
tre as antigas memórias e o novo fato. Assim, nosso não teve efeito sobre a estimativa de Íìeqüência. É
humor influencia que memórias estão mais acessí- como se o afeto estivesse separado do conteúdo da
veis e que memórias inÍluenciam o que nos é Íãcil história, e apenas o humor ou afeto orientasse as es-
lembrar no momento (Isen, 1985; Bower, 1981). timativas subseqüentes. Resultados comparáveis fo-
ram obtidos para os efeitos de estar de bom humor. A
Avaliação e Estimativa: EÍeitos leitura de uma história sobre a boa sorte de uma pes-
do Humor soa levou os participantes a fazerem estimativas rela-
tivamente baixas sobre as freqüências de diversas fa-
Nosso humor pode afetar nossa avaliação sobre ou-
talidades, e o grau em que os participantes fizeram
tras pessoas. Experiências cotidianas oferecem inú-
isso não dependeu da semelhança entre a história e o
meros exemplos disso. Quando estâmos de bom hu-
risco que estava sendo avaliado (Johnson e Tversky,
mor, o hábito de um amigo de repetidamente verifi-
1 983).
car suâ aparência no espelho pode parecer apenas
Humores específicos podem ter efeitos específi-
uma idiossincrasia; quando estamos de mau humor,
cos sobre nossos julgamentos do mundo e de outras
podemos ater-nos ao quão vaidoso ele seja. Nosso
pessoas. Em um estudo, os participantes loram colo-
humor também aÍèta nossa avaliação sobre objetos
cados em um estado de espírito de tristeza ou irrita-
inanimados. Em um experimento, pediu-se aos parti-
cipantes que avaliassem seus principais bens. Os par- ção imaginando-se em uma situação triste ou irritan-
te. Depois, pediu-se a eles que avaliassem as possí-
ticipantes que recém haviam sido agradados com um
veis causas de fatos hipotéticos, tais como perder um
pequeno presente classiflcaram seus televisores e au-
vôo importante ou perder dinheiro. Os participantes
tomóveis de maneira mais positiva do que os partici-
irritados tendiam a atribuir os Íãtos hipotéticos aos
pantes-controle que estavam com humor neutro (Isen
erros de outras pessoas, mas os participantes tristes
et al., 1978).
tendiam a atribuí-los a situações (por exemplo, o
vt:) .a.'
gt-)
i.--- ,:_ i

i ari..)
'(-: ,,'l

'428 Capítulo II Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Ehvard E. Smìth, Daryl J. Bem e Susan Nolen'Hoeksema
i,,,, ,,i'.
r-Ì, " '

r" congestionamento de tráfico era o motivo por ter per- termos individuais, muitas pessoas expenmentam
'1 ':::
t!.4., dido o vôo). Assim, os participantes irritados esta- pensamentos e impulsos agressivos com freqüência,
ir4 í-1.,
vam mais dispostos a culpar alguém pelos fatos ne- e o modo como lidam com esses pensamentos terá
\,'t _..
gativos, enquanto os participantes tristes estavam efeitos importantes sobre sua saúde e suas relações
!' :-,; interpessoais. Outro motivo pelo qual os psicólogos
mais dispostos a reconhecer que uma situação infeliz
poderia ter causado os fatos (Keltner, Ellsworth e concentraram-se na agressividade é que duas das
'o: ' :r.i
Edwards, 1992). principais teorias do comportamento social fazem
.a.r: :r' Estar de mau humor, portanto, faz o mundo pa- suposições bastante diferentes sobre a natureza da
recer mais perigoso. Essa percepção pode refoÍçar o agressividade. A teoria psicanalítica de Freud vê a
É!
mau humor. Além disso. como assinalado anterior- agressividade como um impulso, ao passo que a teo-
:1:
'ì.ii a iiì mente, estar de mau humor nos leva a atentar e a ria da aprendizagem social a vê como uma resposta
.."-;..t,:
flxar seletivamente fatos de cunho negativo; isso po- adquirida. A pesquisa sobre agressividade nos ajuda
de reforçar o mau humor. Uma análise semelhante a avaliar estas teorias concorrentes.
.tì :r
aplica-se ao bom humor. Ele faz o mundo parecer Na discussão que se segue, descreveremos pri-
ariì .,.-
menos arriscado e nos leva a atentar para material de meiramente estas diferentes concepções, juntamente
liliìi : caráÍer positivo e fixá-lo. Assim, as conseqüências com a pesquisa relacionada, e depois considerare-
..ii.: :,,.. gerais de humor servem para perpetuá-lo. mos como elas diferem em relação aos efeitos dos
ôa :ri
{Ìi retratos da agressividade nos meios de comunicação
de massa. Lembre-se que por agressão nos referi-
iai
Agressividade como Reação mos ao comportamento que tem a íntenção de ferir
Emocional outra pessoa (física ou verbalmente) ou destruir pro-
! ií:il
príedade. O conceito-chave nessa definição é a in-
As emoções causam não apenas reações gerais, mas tenção. Se uma pessoa acidentalmente pisa em seu
í4,,, ,Àl também tendências específlcas de ação. Provavel- pé num elevador lotado e imediatamente se desculpa,
mente iremos rir quando estivermos alegres, retrair- você não interpretaria o comportamento como agres-
nos quando assustados, ficar agressivos quando zan-
(ì; a:fì:
sivo; mas se alguém se aproxima de você enquanto
gados, e assim por diante. Entre estas típicas tendên-
você está sentado em sua mesa de trabalho e pisa no
cias de ação, os psicólogos escolheram uma, â agres- seu pé, você não hesitaria em rotular esse ato de
são, para estudar extensivamente. Essa atenção espe-
agressivo.
cial deve-se em parte ao signifìcado social da agres-
são. Em termos sociais, numa época em que as ar- Agressividade como lmpulso*
mas nucleares estão amplamente disponíveis, um
único ato agressivo pode significar uma tragédia. Em Segundo a teoria psicanalítica de Freud, muitas de
nossas ações são determinadas pelos instintos, espe-
cialmente pelo instinto sexual. Quando a expressão
desses instintos é frustrada, um impulso agressivo é
ai il A agressão é um imputso o, uru *"rorÁ
"aqu,iriau,z induzido. Posteriormente, os teóricos psicanalíticos
ampliaram essa hipótese de frustração-agressão,
propondo que sempre que o esforço de uma pessoa
para atingir algum objetivo é bloqueado, um impul-
so agressivo é induzido, o qual motiva um comporta-
mento que visa destruir o obstáculo (pessoa ou obje-
to) causador da frustração (Dollard et al., 1939). Es-
sa proposta tem dois aspectos cíticos. Um é que a
causa usual de agressão é a frustração; a outra é que
a agressão tem as propriedades de um impulso bási-
co - sendo uma forma de energia que persiste até que

+ N. àe R. T. Os autores americanos utllizam os termos ir.çlincl,


-;,.,Ì
.: ,::i. drive e impulse de forma bastante similar, não se preocupando em
usar o termo palsdo para demarcu claramente a diferença em re-
í; ,í:ì
lação ao termo irlstinto, como o lazem muitos autores de funda-
,!._J f, ll
mentação psicanalítica de origem européia. Optou-se por traduzir
sempre drlve e impulse por impuÌso e inrllncl por instinto, de for-
r;il :-'
.t::lr lil:ìì ma a sef o mais ltel possível ao original.
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Tntrodução à Psicologia de Hilgard 4X

sua meta seja satisfeita, bem como uma reação inata pequena estimulação elétrica de uma região específi-
como a fome ou o sexo. Como veremos, é o aspecto ca do hipotálamo produz comportamento agressivo,
impulsivo da hipótese de frustração-agressão que até mesmo mortal, em animais. Quando o hipotála-
tem sido particularmente controverso. mo de um gato é estimulado através de eletrodos im-
plantados, o animal sibila, seus pêlos se eriçam, suas
Agressividade em Outras Espécies Se a agressão pupilas se dilatam e ele ataca um rato ou outros obje-
é realmente um instinto básico como a fome, espera- tos colocados em sua gaiola. A estimulação de uma
ríamos que outras espécies mamíleras apresentassem área dif'erente do hipotálamo produz um comporta-
padrões de agressividade semelhantes aos nossos mento bastante distinto: emvez de apresentaÍ estas
(assim como apresentam padrões de fome semelhan- respostas de raiva, o gato aproxima-se Íìiamente do
tes aos nossos). As evidências para isso mudaram Íato e o mata.
com o passar do tempo. Na década de 1960, a pes- Técnicas semelhantes produziram comporta-
quisa etológica inicial sugeria que existe uma grande mento agressivo em ratos. Um rato criado em labora-
diÍèrença.entre os humanos e as outras espécies - is- tório que nunca matou um camundongo, nem tam-
to é, que os animais desenvolveram mecanismos pa- pouco viu um rato selvagem matar um, pode viver
ra controlar seus instintos agressivos, mas os huma- tranqüilamente com um camundongo na mesma
nos não (Ardrey, 1966;Lorenz,1966). Entretanto, a gaiola. Porém, se seu hipotáiamo é estimulado, o
pesquisa subseqüente sugeriu que talvez os animais animal ataca seu parceiro de gaiola e o mata exata-
não sejam menos agressivos do que nós. Demons- mente com a mesma reação apresentada por um rato
trou-se que a incidência de assassinato, estupro e in- selvagem (uma Íbrte dentada no pescoço que secio-
fanticídio entre os animais era muito maior do que se na a medula espinal). A estimulação parece desenca-
pensava anteriormente. dear uma resposta homicida inata que anteriotmente
Um tipo de assassinato ocorre em conflitos por estava iatente. Inversamente, se um bloqueador neu-
território entre chimpanzés (Goodall, 1978). Em um roquímico é injetado no mesmo sítio cerebral que in-
caso bem-documentado no Parque Nacional do Rio duz os ratos a espontaneamente matar camundongos
Gombe na Tanzânia, um bando de cinco chimpanzés quando os vêem, os Íatos ficam temporariamente pa-
machos defendia seu território contra qualquer ma- catos (Smith, King e Hoebel, 1970). Nesses casos,
cho estranho que o invadisse. Quando o bando en- portanto, a agressividade tem algumas características
contrava um grupo de dois ou mais forasteiros, sua de instinto, pois envolve reações inatas.
reação era severa, mas não-mortal; porém, quando Em alguns mamíf'eros, estes padrões instintivos
havia apenas um intruso, um dos integrantes do ban- de agressão são controlados pelo córtex e, portanto,
do poderia segurar seu braço, outro a perna, enquan- são mais inÍluenciados pela experiência. Macacos
to um terceiro o golpeava até matá-lo (ou dois dos que vivem em grupos estabelecem uma hierarquia de
membros do bando arrastavam o intruso sobre as ro- domínio: um ou dois machos tornam-se líderes, e os
chas até ele morrer). Em um outro conflito por terri- outros se posicionam em diversos níveis inleriores
tório observado durante a década de 1970, uma tribo na hierarquia. Quando o hipotálamo de um macaco
de cerca de 15 chimpanzés destruiu um grupo vizi- dominante é eletricamente estimulado, o macaco ata-
nho menor matândo os machos um de cada vez. As ca os macacos subordinados mas não as fêmeas.
primatas Íêmeas cometem atos agressivos tanto Quando um macaco de hierarquia inÍèrior é estimu-
quanto os machos, embora seus embates sejam me- lado da mesma maneira. ele se acovarda e se com-
nos mortais porque seus dentes são mais curtos e porta de modo submisso (ver Figura 1 1.5). Assim, o
menos afiados (Smuts, 1986). comportamento agressivo em um mâcâco não é auto-
Embora observações como essas aproximem a maticamente provocado pela estimulação do hipotá-
agressividade animal da agressividade humana, res- lamo; seu ambiente e suas experiências passadas
tam diferenças, como, por exemplo, as gueras de também desempenham um papel. Os humanos são
larga escala criadas pelos humanos. semelhantes. Embora sejamos equipados com meca-
nismos neurológicos que são atrelados à agressivida-
Base Biológica da Agressividade em Outras Es- de, a ativação desses mecanismos geralmente está
pécies As descobertas sobre a base bioiógica da sob controle cortical (exceto em alguns casos de da-
agressividade em animais oferecem indícios da pre- no cerebral). Na verdade, na maioria dos indivíduos
sença de um instinto agressivo em pelo menos algu- a lreqüência na qual o comportamento agressivo se
mas espécies. Alguns estudos demonstram qlre uma expressa, a forma que assume e as situações nas
t'' ì ':)

430 Capítu1o 11 Rìta L. Atkinson, Richard C. Atkütson, Edward E. Smith, Daml J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema

FIGURA 11.5

''.iì Êstimulação Cerebral e Agressão IJma suave corrente elétrica é transmitìda por controle remoto a eletrodos im'
ijì plantados no hÌpotátamo do macaco. A resposta do animal (atacar ou fugi) depende de sua posição na hierarquia
ilil de domínio da colônia.
:'t.

i+
.:r. quais aparece são determinadas em grande parte pe- Estas descobertas oferecem alguns indícios para
la experiência e pelas inÍluências sociais. uma base biológica da agressividade nos humanos e,
:..)
conseqüentemente, pâra a concepção de que a agres-
Bases Biológicas da Agressividade nos Huma- sividade é como um instinto. Contudo, nesses estu-
nos Um fator biológico que pode estar Íelacionado dos, o elo entre testosterona e agressividade muitas
com a agressividade nos machos humanos é o nível vezes é tênue; números elevados de participantes são
de testosterona. Recordemos do Capítulo 10 que a necessários para constatar o efeìto. Isso sugere que
::1.
testosterona é um hormônio sexual mascuÌino res- precisamos procurar alhures para encontrar outros
ponsável por muitos caracteres corporais masculinos determinantes da agressividade.
e foi associado à agressividade em macacos. Estudos
..:i::il .r-
sugerem que também nos humanos, níveis mais altos Agressividade como Resposta
de testosterona estão associados a níveis mais eleva- Adquirida
dos de agressividade. Um estudo em larga escala en-
A teoria de aprendizagem social se preocupa com a
volveu mais de 4.400 veteranos norte-americanos do
::!: a'til
t.: )) .' interação social humana, mas tem suas origens em
t.''Ì ,,,,,,,
sexo masculino. Os homens ïrzeram diversos testes
estudos behavioristas de aprendizagem animal como
psicológicos, sendo que alguns mediam a agressivi-
aqueles discutidos no Capítulo 7. Ela se concentÍa
dade; eles também forneceram amostras de sangue
iíì ., I nos padrões de comportamento que as pessoas de-
: -'' ,--i'
para que seus níveis de testosterona pudessem ser
senvolvem em resposta a eventos em selÌ ambiente.
determinados. Os homens com níveis mais elevados
Alguns comportamentos sociais podem ser recom-
de testosterona tinham maior probabilidade de ter
'- pensados, ao passo que outros podem produzir resul-
.!:/, uma história de agressão. Como o comportamento
tados desfavoráveis; através do processo de reforço
agressivo nos homens às vezes pode causar compor-
diferencial, as pessoas, com o tempo, selecionam os
tamento anti-social, poderíamos esperar que aìtos ní-
padrões de comportamento mais bem-sucedidos.
veis de testosterona seriam um impedimento ao su-
Contudo, a teoria da aprendizagem social difere do
cesso na vida norte-americana. De fato, homens com
behaviorismo radical na medida em que enfatiza os
níveis extremamente altos de testosterona tinham
processos cognitivos. Como as pessoas podem repre-
maior propensão a terem empregos de status inferior
sentaÍ mentalmente as situações, elas são capazes de
do que homens com níveis mais baixos de testostero-
pÍever as prováveis conseqüências de suas ações e al-
na (Dabbs e Morris, 1990).
terar seu comportamento de acordo com isso.

.l'ìr
lntrodução à Psicologia de Hilgard

A teoria da aprendizagem social também difere


do behaviorismo radical na medida em que enÏatiza
o papel da aprendizagem vicariante, ou aprendiza-
Frustração **p lmpulso agressivo ----Fu Iò'J"Ï|,""
ComDortamento
gem por observação. Muitos padrões de comporta-
mento são adquiridos observando-se as ações dos
outros e suas conseqüências. Uma criança que obser-
va a expressão de dor de um itmão mais velho na ca-
;---*9 Dependência
deira do dentista provavelmente irá ter medo quando Experiências ì
aversivas $Ì" Realização
chegar a sua hora de ir ao dentista pela primeira vez.
Retraimento e resignação
A teoria da aprendizagem social enfatiza o papel dos
lndução d9_*;:n*
modelos na transmissão tanto de comportamentos Agressão
incentivo
específicos quanto de respostas emocionais. Ela fo- Sintomas psicossomáticos
caliza questões como quais tipos de modelos são
t" Auto-entorpecimenlo com
, drogas e álcool
mais eficazes e que fatores determinam se o compor-
1
t
í--to
tamento observado irá realmente ser eÍ'etivado (Ban- Rêsolução construtiva
de problemas
dura, 1986;1973).
Com esta ênfase na aprendizagem, não é de sur- FIGURA 11.6
preender que a teoria da aprendizagem social rejeite
Duas Visões da Agressividade Esfe diagrama representa esquematica-
o conceito de agressividade como um impulso de- mente os determinantes da agressividade segundo a teoría psicanalítica
sencadeado pela frustração; a teoria propõe em vez (hipótese da frustrução-agressão) e a teorìa da aprendizagem social. Da
disso que a agressividade é semelhante a qualquer perspectiva da teorìa da aprendìzagem social, a excitação emocional cau-
outra resposta adquirida. A agressividade pode ser sada por experiências desagradáveis pode Ievar a vários comportamentos
dìstintos, dependendo do comportamento que tenha sido reforçado no pas-
aprendida através de observação ou imitação, e
sado.
quanto mais freqüentemente ela lor reforçada, maior
sua probabilidade de ocorrer. Uma pessoa que é frus-
trada por uma meta bloqueada ou é perturbada por
um acontecimento estressante sente uma emoção de- Crianças pré-escolares que observaram um adulto
sagradável. A resposta que esta emoção provoca irá expressando várias formas de agressividade em rela-
diferir dependendo dos tipos de resposta que o indi- ção a um grande boneco inflável subseqüentemente
víduo aprendeu a usar para enfrentar situações difí- imitaram muitas das ações do adulto, inclusive ações
ceis. O indivíduo frustrado pode buscar ajuda nos inusuais (ver Figura 1 L7). O experimento foi expan-
outros, comportar-se agressivamente, retrair-se, ten- dido para incluir duas versões gravadas em vídeo de
tar ainda mais superar o obstáculo, ou íecorrer ao modelos agressivos: uma mostrando um adulto com-
uso de drogas ou álcool. A resposta escolhida será portando-se agressivamente com o boneco, e outra
aquela que foi mais bem-sucedida no passado para mostrando um personagem de desenhos animados
aliviar a f'rustração. Segundo essa concepção, a frus- exibindo o mesmo comportamento agressivo. Os re-
tração provoca agressividade principalmente nas sultados foram igualmente surpreendentes. As crian-
pessoas que aprenderam a responder a situações ad- ças que assistiram a um dos filmes comportaram-se
versas com comportamento agressivo (Bandura, de modo tão agressivo com o boneco quanto as
1911). crianças que tinham observado um modelo vivo exi-
A Figura 1 1.6 mostra como a teoria da aprendi- bindo agressividade. A Figura 11.8 mostra as medi-
zagem social difere da teoria psicanalítica (ou seja, a das de comportamento agressivo para cada um dos
hipótese da frustração-agressão) na conceituação da grupos e para dois grupos-controle que não observa-
agressão. A teoria da aprendizagem social presume ram modelo algum ou que observaram um modelo
que (a) a agressão é apenas uma entre diversas rea- não-agressivo. A conclusão desses estudos é que a
ções à experiência aversiva de frustração e (b) a observação de modelos de agressão vivos ou fllma-
agressão é uma resposta sem nenhuma caÍacterística dos aumenta a probabiiidade de agressividade no ob-
pulsional, e conseqlientemente é influenciada pelas servador. Isso pode ser em parte o motivo pelo quaì
conseqüências previstas do comportamento. as crianças cujos pais as punem mais severamente te-
rem tendências mais agressivas do que a média; os
lmitação da Agressão Uma lonte de evidência pa- pais funcionam como modelo (Eron, 1987).
ra a teoria da aprendizagem social é a pesquisa que
mostra que a agressividade, como qualquer outra ReÍorçamento da Agressão Outra evidência para a
resposta, pode ser aprendida através da imitação. teoria da aprendizagem social é que a agressividade

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Capítulo Rittr L. Atkinson. Richard C. Atkittson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
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FIGURA 11.7

Crianças Imitando a Agressividade Adulta Críanças de educação infantil observaram um adulto expressando
várias formas de compoftamento agressivo com um boneco inflável. Depois de observar o adulto, tanto meninos
quanto meninas comportaram-se agressivamente com o boneco, cometendo muitos dos atos específicos de agres-
são do adutto, ìnctuindo tevantar e iogar o boneco, bater nele com um martelo e chutá-lo.

:;rì 'i.liì depende das contingências de reforçamento tanto ato agressivo era o reÍbrçamento positivo. Para as
l'tj ', quanto outras respostas apÍendidas. Diversos estudos crianças que mostraram menos agressividade, uma
demonstram que as crianças são mais inclinadas a reação comum era a punição. As crianças que inicial-
r,.f . a expressar respostas agressivas que aprenderam pela mente não eram agressivas, mas que às vezes conse-
i ì' -..ì' guiam deter os ataques mediante contra-agressão,
observação de modelos agressivos, quando elas são
'aÌ:ri .,.' reforçadas por tais ações, ou quando observam mo- gradualmente passaram a iniciar seus próprios ata-
delos agressivos sendo reforçados. Em um estudo, os ques (sua agressividade estava sendo reforçada posi-
- i,:_
tivamente). Não há dúvida de que as conseqüências
pesquisadores observaram criânças poÍ 10 semanas,
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registrando os casos de agressão e os eventos que da agressividade desempenham um papel importan-
i:::: :ii,
!!
'::" ..: imediatamente os
segu:iram, tais como refor- te na modelagem do comportamento (Patterson, Litt-
tai: :. man e Bricker,1961).
çamentos positivos (as vítimas sobressaltaram-se ou
:,

choraram), punição pela agressão (a vítima contra-


atacou) ou reações neutras (a vítima ignorou o agres- Expressão Agressiva e Catarse
sor). Para as crianças que apresentaram o maior nível Os estudos que tentam distinguir a agressividade en-
geral de agressividade, a reação mais comum a seu quanto impulso da agressividade enquanto resposta

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lntrodução à Psicologia de Hilgard 438

aprendida, muitas vezes concentram-se na catarse, Modelo


Kl Respostas Modêlo
ou purg,ar uma emoÇtio experiment(mdo-a intensa- agressivas lvlodelo Modelo em não- Nenhum
mente. Se a agressividade é um impulso, a expressão imilativas .Í{}* ao vivo Íilmado desenho agressivo modelo
da agressividade deveria ser catártica, resultando na
ffi Todas as
redução da intensidade dos sentimentos e ações respostas erÌ
uv
agressivas (maìs ou menos como comer leva a uma agressÌvas
redução de sentimentos e ações baseadas na fome).
Por outro lado, se a agressividade é uma resposta ad-
.
NUMERO DE
RÍÌ

quirida, a expressão da agressividade poderia resul- RESPOSTÂS


tar em um aumento dessas ações (se a agressão Íbr 4ç

reforçada). As evidências disponíveis favorecem a


concepção de resposta adquirida.

Agir Agressivamente Os psicólogos conduziram


inúrmeros estudos laboratoriais para determinar se a
agressão diminui ou não depois de ter sido parcial- FIGURA 11.8
mente expressa. Os estudos com crianças indicam
lmitação da Agressão A observação de modelos agressivos (quer ao vi-
que a participação em atividades agressivas aumenta
vo ou em filmes) aumenta muÌto a quantidade de comportamento agressi-
o comportamento agressivo ou o mantém no mesmo vo exibida pelas crianças, quando comparada à observação de um modelo
nível. Experimentos com adultos produzem resulta- não-agressivo ou a absolutamente nenhum modelo. Note-se que a obser-
dos semelhantes. Quando têm a oportunidade de as- vação de um modelo ao vivo resulta em imitação de atos agressivos maìs
sustar outra pessoa (que não pode retaliar), os uni- específicos, ao passo que a observação de modelos filmados (da vida real
ou em desenhos) instiga mais respostas agressivas de todos os Írpos. (Se-
versitários tornam-se cada vez mais punitivos. Parti-
gundo Bandura, 1 973)
cipantes irritados tornam-sc ainda mais punitivos em
ataques sucessivos do que os que não estão irritados.
Se a agressividade fosse catártica, os participantes ir- em que a expressão da agressividade pode diminuir
ritados deveriam reduzir seu impulso agressivo ao sua incidência. Por exemplo, comportar-se agressi-
agirem agressivamente e qlranto mais praticassem vamente pode despertar sentimentos de ansiedade
agressão, menos punitivos Íìcariam (Berkowitz, que inibem a agressividade adicional, principalmen-
1 965). te se os agressores observam que suas ações causa-
Situações da vida real oferecem algumas evidên- ram danos. Nesses casos, contudo, o efeito sobre o
cias de catarse. Em um caso, trabalhadores aeroviá- comportamento agressivo pode ser explicado sem
rios da CaliÍõrnia que haviam sido demitidos foram concluir que um impulso agressivo está sendo redu-
entrevistados sobre o que sentiam em relação a suas zido. Além disso, embora a expressão de sentimen-
empresas c supervisores, e subseqüentemente Íbram tos hostis com ações geralmente não reduza a agres-
solicitados a descrever seus sentimentos por escrito. são, ela pode lazer a pessoa sentir-se melhor. Mas is-
Se a agressividadc fosse catiírtica, os homens que ex- so pode acontecer porque a pessoa se sente mais po-
pressaram muita raiva nas entrevistas deveriam ter derosa e com mais controle, e não porque a pessoa
expressado relativamente pouca raiva nos relatos es- diminuiu um impulso egressivo.
critos. Porém. os resultados indicaram outra coisa:
aqueles que expÍessaram raiva nas entrevistas expres, Vendo a Violência A maioria dos estudos que dis-
siiram ainda mais cólera em seus relatos. A expressão cutimos aborda as conseqüências de expressar dire-
da cólera pode ter promovido ainda mais sua agressi- tamente a agressividade. Mas, e os e1èitos de expres-
vidade. Outro estudo examinou o relacionamento en sar a agressividade de maneira indireta ou vicariante
tre a hostilidade de um país (em relação a seus países assistindo à violência na televisão ou nos cinemas?
vizinhos) e os tipos de esportes praticados por seus Será que ver violência é catártico, oÍ-erecendo esca-
cidadãos. Constatou-se que culturas mais beligeran- pes imaginários para o impulso agressivo'? Ou isso
tes praticavam jogos mais combativos. Novamente, a estìmula a agressividade ao servir de exemplo de
agressividade parece gerar mais agressividade e não comportamento vioìento? Já vimos que as crianças
dissipá-la (Ebbesen, Duncan e Konecni, 1975). imitam o comportamento agressivo fÌlmado ou pre-
Estes resultados argumentam conlra a agressivi- senciado ao vivo em urì ambiente de laboratório,
dade ser catfutica. Entretanto. existem circunstâncias mas como elas irão reagir em ambientes mais natu-
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434 Capítu1o 11 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smìth, Danl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema

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As crianças muitas vezes imitam o que vêem na televisão.

rais? A quantidade de violência à qual as crianças tre oito e nove anos foram estudadas. Os pesquisado-
são expostâs namídia torna essa questão importante. res coletaram informações sobre as preferências de
Diversos estudos experimentais controlaram a cada criança e sua agressividade (conforme avalia-
quantidade de tempo que as crianças assistiam à tele- ção de seus colegas de aula.) Contatou-se que os me-
visão. Em um estudo, um grupo de crianças assistiu ninos que preferiam programas que continham uma
a desenhos animados violentos por uma determinada quantidade considerável de violência eram muito
quantidade de tempo todos os dias; outro grupo âs- mais agressivos em seus relacionamentos interpes-
sistiu a desenhos sem violência pela mesma quanti- soais do que os meninos que preferiam programas
dade de tempo. A quantidâde de agressividade exibi- que continham pouca violência. Até aí, os indícios
da pelas crianças em suas atividades diárias foi cui- são semelhantes àqueles obtidos em estudos anterio-
dadosamente registrâda. As crianças que assistiram a res. Mas 10 anos depois, mais da metade dos partici-
desenhos violentos ficaram mais agressivas em suas pantes originais Íbram entrevistados sobre suas pre-
interações com os pares, ao passo que aquelas que ferências por progíamas de televisão, fizeram um
assistiram a desenhos sem violência não apresenta- teste que media tendências delinqüentes, e foram
ram alteração na agressividade intelpessoal (Steuer, avaliados por seus pares quanto a sua agressividade.
Applefield e Smith, 197 1). A Figura 1 1.9 mostra que a alta exposição à violên-

O estudo recém-descrito envolve um grupo ex- cia na televisão aos nove anos está positivamente re-
perimental e um grupo-controle. Entretanto, a maio- lacionada com a agÍessividade em rapazes de lg
ria dos estudos que tratam dos hábitos das crianças anos. Mais importante, a correlação permanece sig-
em relação a assistir à televisão são correlacionais; nihcativa mesmo quando métodos estatísticos são
eles determinam a relação entre â quantidade de ex- usados para controlar o grau de agressividade na in-
posição à violência televisionada e o grau em que as Íância, deste modo reduzindo a possibilidade de que
crianças usam o comportamento agressivo para re- o nível inicial de agressão determine tanto as prefe-
solver conflitos interpessoais. Essa correlação é cla- rências na infância quanto a agressividade adulta.
ramente positiva (Singer e Singer, 1981), até mesmo É interessante que os resultados não mostraram
para crianças na Finlândia, onde há um número redu- uma relação consistente entre os hábitos de ver tele-
zido de programas na televisão violentos (Lagers- visão de meninas e seu compofiamento agressivo em
petz, Viemero e Akademi, 1986). Corelações, con- qualquer idade. Isso está em consonância com resul-
tudo, não implicam relações causais. É possível que tados de outros estudos que indicam que as meninas
as crianças que são agressivas prefiram assistir a pro- tendem a imitar o comportamento agressivo muito
gramas de televisão violentos - ou seja, ter uma na- menos do que o fazem os meninos, a menos que elas
tureza agressiva faz com que assistam à violência, e sejam especificamente reforçadas a fazê-lo. Em nos-
1,.:::

não o contrário. sa sociedade, as meninas têm menor probabilidade


Para avaliar essa hipótese alternativa, um estudo de serem reforçadas por comportarem-se agressiva-
llal iilì
acompanhou os hábitos de assistir à televisão duran- mente. E como a maioria dos papéis agressivos na te-
te um período de 10 anos. Mais de 800 crianças en- levisão são masculinos, as mulheres têm menos
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lntrodução à Psicologia de Hilgard It35

chances de encontrar modelos agressivos para imita-


rem. Para os meninos, contudo, a maioria dos estu-
dos apontam para a conclusão de que assistir à vio-
lência realmente aumenta o comporlamento agressi-
vo, principalmente em crianças jovens. Na verdade,
lsü
esta conclusão é apoiada por uma revisão de 28 estu-
dos desta questão (Wood, Wang e Chachere, 1991). AGRESSIVIDADE
CONFORME
Estas descobertas argumentam contra a idéia da ,00
AVAL|AçÃO
agressão como catârse e a visão de que a agressivida- DOS PARES
de é um impulso. (10 ANOS DEPOTS)
Os resultados da pesquisa sobre assistir à violên-
50
cia na televisão oferecem lorte apoio para reduzir a
quantidade de agressividade nos programas infantis.
Eles também transmitem um recado aos pais. Pais
responsáveis devem não apenas controlar de perto o
BAIXA MODEPADA ALTA
tipo de programas de televisão que seus filhos assis-
tem, como também devem evitar elogiar ações agres-
I
t
sivas tanto por parte dos filhos quanto por parte de "ïttïi?1,ï^il',ïHï'J,ï^
personagens da televisão. Eles também precisam es-
tar conscientes de seu forte papel na modelagem do
compofiamento - se agirem agressivamente, seus Íì- FIGURA 11.9
lhos provavelmente também o farão.
Relação entre Assistir Programas de Televisão Violentos na lnfância e
Nosso estudo da agressividade não considerou
ser Agressivo na ldade Adulta A preferêncìa de meninos por programas
de forma alguma todas as suas possíveis causas. de televisão vÌolentos aos 19 anos tem correlação positiva com o compor-
Causas comuns de cólera e agressão incluem a perda tamento agressivo aos 19 anos. (Segundo Eron et al., 1972)
de auto-estima ou a percepção de que outrâ pessoa
agiu de maneira injusta (Averill, 1983); não nos con-
centramos em nenhum desses fatores em nossa dis-
cussão da agressividade como impulso versus a universais) e os componentes psicológicos da emo-
agressividade como reposta adquirida. Além disso, ção (tais como as avaliações cognitivas) interagem
muitas condições sociais estão envolvidas na instiga- para produzir a experiência da emoção. Considera-
ção da agressividade; pobreza, superpopulação, dos em conjunto, a pesquisa revista nesse capítulo
ações de autoridades como a polícia e valores cultu- sugere que, na maioria dos casos, os componentes
rais são apenas alguns deles. Algumas destas in- biológicos e psicológicos da emoção provavelmente
fluências sociais serão consideradas no Capítulo 18. têm influências recíprocas em um processo dinâmi-
Em suma, a agressão pode muitas vezes ocoÍrer co que se desenvolve ao longo do tempo. Uma situa-
quando uma pessoa é frustrada, mas ela nem sempre ção pode inicialmente provocar uma emoção tênue,
segue a frustração; existem muitas condições e su- mas quando a pessoa avalia a situação com mais pro-
gestões sociais que aumentam ou diminuem a ten- lundidade, a emoção pode tornar-se mais intensa e
dência de uma pessoa para agir agressivamente (Ber- sua excitação fìsiológica pode aumentar. Os efeitos
kowirz, l98l). da emoção sobre sua memória de eventos semelhan-
O estudo da agressividade deixa claro que uma tes no passado e sobre suas avaliações desse evento
reação emocionaÌ é um evento complexo. De modo podem intensificar ainda mais sua experiência subje-
semelhante, cada componente de uma emoção que tiva da emoção. Com o tempo, poftanto, circuitos de
consideramos - excitação autônoma, avaliação cog- retroalimentação entre os componentes biológicos e
nitiva e expressão emocional - é por si só um evento psicológicos de uma emoção podem influenciar o
complexo que envolve múltiplos fatores, tanto bioló- desenvolvimento da emoção. Retornaremos às dis-
gicos quanto psicológicos. Na verdade, cada uma cussões da retroalimentação entre componentes bio-
das teorias da emoção descritas neste capítulo ava- lógicos e psicológicos da emoção quando discutir-
liou como os componentes biológicos da emoção mos o estresse no capítulo l4 e os transtornos emo-
(tais como excitação fisioiógica e expressões faciais cionais nos Capítulos l5 e 16.
VOZES CONTEMPORANEAS NA PSICOLOGIA
As Emoções Positivas nos Fazem Bem?
'.''
O Bom d**,,Emoções Postfi+*s
ì ,'
' ::::: ,'. .'
Barbúa L. Fredricksotr,,,'(Jniversíty of Miclal,gún. ;::" .,

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i.r'ì, Para que serar'em &$ emoções posilivas? tude das em@ões'negatìv*.s õ quç::glas cles: que ajudaram os primeircs leres humano$
Essa pergunta parece quase tola porque, pe*"tam tbrtes impul*os pêíâ âglr de deter- a viver o bastante para se reproduzirem e
i:tì
de certa forma. a resposla é óbvia: e bom minadas maneiras: lutar guando se estí serem nossos ancestrais llevenson. I 994:
tÈr emoções positivas. Esse fato por si só com raìva. fugir quando se e{tá com me- Tooby e Cosmider, 199Sì,0:nalor adap-
faz delas experiências gratificanies e va- do. ou cuspir quando se eslá com nojo tativo das emoÇ6e* negatiÍã$:foi ligado às
liosas. Fim da história. certo? (Frijda, Kuipeis e Schúre, 19891 Lazarus, específicas tendèncias de açào que elas
Infèlizmente. para muitos psicólo- l99l). Em outras palawas, as emoçòes desencadeim. Essas açòes específicas íp.
gos, esse tem sido o fim da história, Se negativas estreilam o elo entre o nosso ex., lutar. lugir. cuspir) representam aquc-
examlnatÏnos a pensamento e as nossas açocs. As emo- las que funcionaram melhor quando nos-
literatura cientí- çòes positivas parecem ter um efeito com- sos ancestrais enfrentavam ameaçrs a sua
fica sobre emo- plementar; elas ampliam o nosso pensa- vida e integridade lísica. Acredito que o
ções, descobri- menlo e a\ nossas aÇòes: a alegrìa gera o valor adaptalivo das emoçòes posilivas
femÕs uma ateiÌ- anseio de brincar, o interesse, o anseio de pode ser relacionado ao modelo t.le am-
Ç4Q:resilâgadora explorar. a ratisfaçào, o anseio de usutruir pliação e construção que delineei aqur.
e o amor, um ciclo recorrente de cada um Dentre nossos a*cestrais, aqueles que se
fmoÇões '*e-
,,,,,,.,.,*"
-
cÔmo destes anseios. A virtude aqui é que as reÉderam aos anseios despertados pelas
,,1;,]leat*as
,,' ,: medo, raiva, no- emoções positivas expandem nosso modo emoções positivas, (p. ex., brincar, explo-
"", jo e vergonha =- úpico de pensar e esl"ar no mundo. forçan- rar, saborear) teriam, conseqüentemente,
e pouqursslmâ do-nos a sermos mais criaúvos. mais cu- reunido mais recursos físicos, intelectuais
atenção às emo- riosos. ou mais ligados aos ouros (Fre- e sociais. Quando estes mesmos ances-
çÕes positivas - tlickson, 1998: Isen, 1987t. lrais posteriormente enl-rentavam amer-
como aiegria, sa- As emoções positivas constroem ças inevitáveis a vida e a integridade iísi-
Barbara L. Fredrickson nossos recursos pessoais. Embora as ca, estes recursos ter-se-iam traduzido em
::tJnï.'ïiï emoções em si tenham curf,a duração, seus maiore: chances de sobrevirência. Assim.
embora poucos el-eitos sobre nós podem ser duradouros. na medida em que as capacidades de er-
questionem a aÍirmação de Thomas Jef- Ao ampliarem nosso pensalnento e açòes perimentar emoçòes positivas e negativas
ferson, na Declaraçào de Independência por um momento, as emoções positivrs sào geneticamenle codifìcrdas, estas ca-
dos Estados Unidos, de que a busca de fe- promovem a descobefia cle idéias, ações e pacìdades. atravds do processo de scleção
licidade é um objetivo digno. poucos in- laços sociais originais e criaüros. Brincar, nal ural, provavelmente lomaram-se pafle
vestigaram as emoçòes positivas cientifi- por exemplo, pode construir nossas habili- tie nossa nalureza humana universal.
camenle. dades fïsicas e sociais, explorar pode gerar Assim, as emoções po*itivas podem
Considero este um grande erro. O conhecimento. e saborear pode determinar fazer mai* por nós do que normalmente
bom senso (e um pouco de pe:quisa) su- nossas prioridades de vidr. Estas conse- admitimos. Sentir-se bem pode ampliar
gere que rs emoções positir as contribuem qüências muitas vezes percluram muito nosso modo típico de pensar e agir e. por
muito para a qualidade de nossas vidas tempo depois que a emoçào positivr ini- sua vez. construir nossos recursos pes-
(Myers e Diener. 1995t. Mas como? Em cial se exúnguiu. Deste modo, as emoções soais. tornando-nos pessoas mais com-
que áreas? Eslas queslòes merecem alen- positiras conrtroem nosso estoque de re- piexas e resilientes. Portanto, da próxi-
ção cienlífica. Para dar início à pesquisa cursos a \erem utilizados em momentos mâ vez que vocô estiver rindo com os
nessa área, propus um novo modelo para de dificuldatle. os quais variam desde re- amigos. explorando um interesse. ou
descrever a lorma e funçào de um sub- cursos lísicos (p. ex.. a capacidade de der- desfrutando de uma caminhatia pelo par-
.
::. ''..
conjunto de emoçòes positivas. incluindo rotar um prcdadort alé recursos intelec-
luais (p. ex.. um mapa cognitiro para en-
que, lembre-se de que talvez você esteja
. l
:..t alegria. inleresse. satislaçào e 3mor. Estas cultivando mais do apenas boas sensa-
::, emoções positìvas, acredito. tèm reper- contraÍ o caminho) e sociais (p. ex., al- ções efêmeras; lalvez você estda tam-
a,:
,j.
cussòes benéficas que nào se restringem guém a quem recorrer para pedir ajuda). bém otimizando sua própria saúde e
apenas ao sentir-se bem (Fredrickson, As emoções são adaptações desen- bem-estar a longo prazo (Fredrickson.
:::i:
I
q98 ). volvidas. Or psicólogos muitas vezes re- em produçào).
As emoções positivas ampliam nos- presenlam as emoçòes como adaptaçòes
so pensamento e nossas ações. Uma vir- psicológicas desenvolvidas. ou tendèncias

E
O Bom de Sgnür-se M*l ::::,:,,::=:. ,, :':'
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Gerald L. Clore, University of Lllinois, Champaign

Sentir medo, tristeza, culpa ou cólera é uma delas iransmite inlormaçòes especi experiêncìa de estarmo$ erradcs. Mesmo
desagradável. Num mundo idea.l. estas ficas. A tristeza indica uma perda,-o me- em ratos, o compoüamento d guiado por
emoções negativas cenamente não existi- do, uma ameaça, e a raiva:aos,alertã'.pirá velhos hábitos quando eles expenmenram
riam. Não seria meravilhoso nunca mais uma ação reprovável (ürto.g1l, Clore e gratificação epor novo âpÈçfidizado
sentir medo, tristeza. culpa ou raiva? Ou Collins, 1988). Mas as eÍnoç& pç$itivas quft1do eles experimq*1am conseqËências
nào? Pense duas vezes antes de respon- parecem todas ser apenas varìaÇõer de fe- negalivas tGray. I 97 I ).
der, porque sentir-se mal tem muitcs as- licidade, a quat simplesmente i*dica que A pesquisa na psicoìogìa social tam-
pertos positivos. Três deÌes são descrilos as ccisas estão beü. A precisão da dor e a bém sugere que
a segui r: indistinção da alegrìa podem sei visras no ôs ,sentiftentrls
l. Os sentimentos negativos nos fato de que as pessoas conseguem dascre- positivas levam
motivam. Cada emoçào negativa desem- ver seu soÍrimento ffsico e psicológico as pessoas a de-
penha um papel importalte. O medo e a com grande precisão. mas um âstronaula pender de suas
ansiedade, por exemplo. sâo úteis a todos flu*ando no espaço, amarrado a stra es- Çrenças pre$en-
os momentos. Sem medo. andanamos por paçonave. poderia apenas dizer. "Óümo, tes, eÍlçuanto
aí çomo çãezinhos ou criança* pequ€nã$, maravilhoso, não teúo palavras" (Arna- sent'imentos ne-
dispostos a aüavesse{ as fuâs em frente chai.1999r. gativos as le-
ao$ veículos e a at)raçãí cães fefozes. Iría- 3. Os sentimentos negativos nos vam a daÍ prio-
mcs fazer umá palesil*.tmportante sem ajudam a aprender. Avaliamas o tempo ridade a novas
ter preparado nada pará dizer. A culpa todo as situações em que nos encontra- informações do
também é uma emoçào úril e importante. mos. A teoria do aleto como informacão ambiente- Pm
Por e'<emplo. erperi mentos demonstram (p. ex., Schwarz e Clore, 1996) sustenta exemplo, diver-
que sentimentos moderados de cuÌpa po- que os sentimentos que resultam destas sos experimen-
Gerald L. Clore
dem despertar comportamento cooperati- avaliações lornecem um relorno sobre o tos demonsffa-
vÇ mesmo em pessoas que de outro modo ambiente e sobre nossos recursos para li- ram que as pessoas que estão de bom hu-
explorariam os outros iKetelaar e Au, dar com ele. Sentimentos negativos indi- mor tendem mais a usar estereótipos e prì-
1999 ). A cólera rambém pode ter benefÊ cam que lemos um problema e muilas re- meiras impressòes quando lazem julga-
cios. A cólera motiva-nos a buscarjusriça zes disparam o pensamenlo sistemático mentos das outras. ao passo que aquelas
quardo recebemos roco de menos ou so- que visa resolvê-lo. Os senlimenlos ne- que estão de mau humor sào mais propcn-
Ào, ,rutudor cle maneira injustr. Quando gati\os levam-nos a reunir novas infor- sas ajulgar a panir do que as pessoas real-
estamos com raiva. podemos defender mrçòe: e mudar algo em nossa aborda- mente Íbzem QsbeÌl, Clore e Wyer, 1999).
nossos princípios m€smo quando há pou- gem. Portanto,':em relação a depender de
co a ganhar imediatamente com isso. Na Este relacionamento entre o aleto e a nossas próprias suposições anteriores, os
verdade, o caraler desagradálel das emo- uülização tJo que já sabemos e totalmente sentimentos positivos atuam como um
çòes negativas como a raiva pode ter-se sensato. Quando estamos desempenhan- acelerador e os sentimenlos negalivos co-
desenvolvido exâtamente para qsse pro- do uma tarefa com êxito. sentimo-nos mo um freio. Ou seja. os sentimenlos po-
pósito - lrarer para o presente um pouco bem e continuamos lazendo o que parece sitìvos nos incenlivam a prosseguir com
do desprazer que ocoreria depoir de rno. estar ilncionando. Mas quando não esta- nossas próprias crenças egocêntricas. en-
do mais intenso caso não agíssemos mos lendo èxito, sentimo-nos mal. e en- quanto oç \enlimentos negativos alertam
rFrank. I988,1. tào tentamos mudar. concentrmdo-nos para problemas. mostram onde nossas su-
2. Os sentimentos negativos nos em novas infbrmações do ambiente em posições nào estào corretas. e desenca-
informam. Uma das uirtudà das emo- vez de em inlormaçòes anligas que não deiam o processo de aprendizado de coi-
çõ€s negâtivas é que elas são informativas eslào luncionan<jo. Filórolos da educaçào sas novas. Sentir-se mal d bom quando is-
(Clore. I992), e sem dúvida elas sào mui- (Dewey. I9l6), reóricos da aprendizagem so inibe nossa uliliraçào <je suposiçòes
to mais inlotmativas do que :ìs emoçòe\ (McDougall. 1923) e esrudos mais recen- por tempo suficiente para nos permitir
positivas. Exisrem muitus emoções nega- tes sobre as ondas cerebrais iDonchin, aprender algo nor o.
tivas caraclerísticas. incluindo medo. rai- 1982) concordam que a aprendizagem
va. tristeza, vergonha. nojo. elc. Cada ocoÍre principalmente quando temos a
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438 Capítulo l1 Rìta L. Atkinson, Rìcharcl C. Atkinson, Edtvard E. Smìth, DaryL J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema

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RESUMO
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1. Os componentes da emoção incluem a experiência subjeti- tos que condizem com nosso humor do que a eventos que
ís< não o fazem. Outra conseqüência é que nosso estado emo-
va da emoção, a excitação autônoma, a avaliação cognitiva, a
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ii;ì ilì expressão emocional, as reações gerâis à emoção e as tendên- cional afeta nossa avaliação sobre as pessoas e objetos, bem
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cias de ação. como nossa estimativa do que irá acontecer no futuro' Quan-
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do estamos de mau humor, estimamos que diversos riscos
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2. As emoções intensas geralmente envolvem a excitação fl-


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:: siológica causada pela ativação do setor simpático do sistema são relativamente freqüentes; quando estamos de bom hu-
,:ì nervoso âutônomo. As pessoas com danos na medula espinal, mor, estimamos que estes riscos são relativamente infre-
os quais limitam a retroalimentação do sistema nervoso autô-
qüentes.
7. A agressividade é uma tendência de ação típica em respos-
nomo, dizem que experimentam emoções menos intensas' A
excitação autônoma pode também ajudar a diferenciar as emo- ta à raiva (embora possa ocoffer também por outros motivos)'
i..)
Írl (por exemplo, fre- Segundo a teoria psicanalítica, a agressividade é um impulso
ções, uma vez que o padrão de excitação
qüência cardíaca, temperatura da pele) difere para âs diferen- produzido pela fiustração; segundo a teoria da aprendizagem
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tes emoções. social, a agressividade é uma resposta adquirida.
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3. Uma avaliação cognitiva é uma análise de uma situação 8. A hipótese de que a agÍessividade é um impulso básico re-
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lr que resulta em uma emoção. Estas avaliações afetam tanto â cebe algum apoio de estudos que indicam uma base biológica


I:: intensidade quanto a qualidade de uma emoção. Quando as para a agressividade. Em alguns animais, a agressividade é
controluÌda por mecanismos neurológicos no hipotálamo' A es-
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pessoas são induzidas a um estado de excitação indiferencia-


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'.ir da, a qualidade de suas experiências emocionais pode ser in- timulação do hipotálamo de um rato ou gato pode provocâr
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iÔ fluenciada por sua avaliação da situação. Contudo, existem ca- uma reação de raiva ou homicida' Nos humanos e em alguns
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outros animais, o comportamento agressivo está em grande


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sos de emoção em que nenhuma avaliação cognitiva conscien-


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te ou deliberada parece estar envolvida (por exemplo, expe- parte sob controle cortical e conseqüentemente é afetado pelas
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riências de medo que foram adquiridas na infância mediante experiências passadas e inÍ'luências sociais' Entretanto, mes-
condicionamento clássico). Estas emoções precognitivas pare- mo em humanos, pode haver algumas bases biológicas da
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cem ser mediadas por rotas neurais distintas no cérehro' agressividade.
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4. As expressões faciais que acompanham as emoções primá- 9. ConÍbrme a teoria da aprendizagem social da agressivida-
i-tì; -.. as reações agressivas podem ser aprendidas através de imi-
rias possuem um significado universal. Pessoas de diferentes <1e,

!\J i..z culturas concordam sobre qual emoção uma pessoa em uma tação e aumentar de freqüência por reforçamento positivo. As
;ìt irli crianças têm maior tendência a expressar respostas agressivas
i;ttti i.:l determinada fotografia está expressando. As culturas podem
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diferir quanto aos fatores que provocam certas emoções e quando são reforçadas por estas ações do que quando são pu-
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_- 1:. quanto às regÍas para a exibição adequada de emoção. A capa- nidas por elas.
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':.::a. cidade de reconhecer a expressão emocional localiza-se no he- 10. Existem indícios de que a agressividade aumenta o com-
misfério cerebral direito e neurologicamente distingue-se da porlamento agressivo subseqüente ou o mantém no mesmo ní-
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4< capacidade de reconhecer rostos. vel. Assim, quando há repetidas oportunidades de dar um sus-
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5. Além de suas lunções comunicativas, as expressões emo- to em outra pessoa (sem que essa possa retaliar), estudantes
,:-.lf cionais podem contribuir para a experiência subjetiva de uma universitários tomam-se cada vez mais punitivos. A expressão
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emoção (hipótese da retroalimentação facial). Apoiando essa indireta ou vicariante da agressividade tem efeitos semelhan-
--i ;'ll hipótese, as pessoas dizem experimentar uma prática emocio- tes: existe uma relação positiva entre a quantidade de violên-
i.,it a. ì nal mais intensa quando exageram suas reações faciais aos es- cia na televisão a qual as crianças são expostas e o grau em
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tímulos emocionais. que agem agressivamente.

!,,Ì ii\ì 6, Uma reação geral a estar em um estado emocional é que


tendemos a prestar mais atenção e aprender mais sobre even-
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Introdução à Psicologia de Hilgard tif11#tgt :::,,

PALAVRAS.CHAVE

emoção (p. al l) agressividade @. a28)


lË avaliação cognitiva (p. a18) catarse (p.432)
emoções precognitivas (p. a22)

!E
t:
ls QUESTOES PARA REFLEXAO CRITICA

IF 1. Admitindo-se que as emoções se desenvolveram porque 2. Nos últimos anos, o conceito de inteligência emocional - a
servem a propósitos úteis, que objetivos seriam atendidos por capacidade de compreender e regular nossas emoções - tor-
manifestações exffemas de emoção, tais como depressão seve- nou-se popular. Em sua opinião, o que significa ser emocio-
ra ou cólera crônica? nalmente inteligente em nossa sociedade? De que forma você
acha que a inteligência emocional poderia variar de uma cul-
tura para outra?

LEITURAS COMPLEMËNTARES
t=
t-. Para uma introdução a diversas concepções da emoção, alguns mentos de detecção de mentiras, ver Lykken, A Tremor in the
capítulos de Mook, Motivation (1987) são muito úteis. Para Blood: Uses andAbuses of the Lie Detector (1980).
F= uma abordagem mais técnica da emoção, ver Lazarus, Emo- A teoria psicanalítica da emoção é apresentada em dois li-
rlj.
ìG tion and Adpatarion (1991); Frijda, The Emotions (1986); vros de Freud: Além do princípío do praTer (ï92011975) e No-
lf! Mandler, Mind and Emotion (1982); e Plutchik e Kellerman v as confe rênc ias introdutórias em p s ic anóli s e (1933 / 1965).
ã (eds.), Emotion: Theory, Research, and Experience (1980). O
ì:
I .-
r< papel da cognição na emoção é discutido com profundidade
Para a abordagem da aprendizagem social, ver Bandura, So-
cial learning theory Q977). Livros sobre agressividade in-
t€
!=
em Ortony, Clore e Collins, The Cognitive Structure of Emo- cluem Bandura, Aggression: A Social Leaming Analysís
;it tions (1988). (1973); Tavis, Anger: The Misunderstood Emotion (1984):
is
? '<( Volumes interessantes sobre expressões faciais e emoção Hamburg and Trudeau (eds.), Biobehavioral Aspects of Agres-
incluem Emotion in the Human Face, de Ekman(2. ed., 1982) sion (1981): e Averill, Anger and Aggression: An Essay on
e Telling Lies: Clues to Deceit in the Marketplace, Politics and Emotion (1982).
Marriage (1985). Para estudo e análise crítica dos procedi-

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