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EMOÇAO
Introduçãc à Psicologia
de Hilgard
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Capítulos
- Capítulo 1ü - M*tivos ilàásicns
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MouvAçÃo E EvloçÃo
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Motivos Básicos
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CepÍrur-o 10
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Fome Como você se atrasou Pela manhã, de-
Interações entre Homeostase e Incentivos
':: cidiu não tomar o café e agora está fa-
Indicadores Fisiológicos de Fome
Integração de Indicadores de Fome minto. A impressão que você tem é que
Obesidade todos os anúncios pela estrada são de
Anorexia e Bulimia comida - bolinhos de presunto e ovos,
Gênero e Sexualidade
hambúrgueres suculentos, suco delicio-
Desenvolvimento Sexual Inicial
Hormônios versas Ambiente so. Seu estômago ronca e você tenta ig-
Sexualidade Adulta norá-lo, mas é impossível. A cada quilô-
Orientação Sexual
metro que passa você Íica com mais fo-
Fronteiras da Pesquisa Psicológica:
lmprinting me. Você quase bate na traseira do carro
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Vozes Contemporâneas na Psicologia: da frente enquanto olha um anúncio de
Nossa Orientação Sexual E Inata ou pizza. Em suma, você foidominado pelo
Socialme nte Determi nada?
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estado motivacional chamado fome.
Uma motivação é uma condição que
energíza o comportamento e o orienta.
Ela é experienciada na forma de desejo
consciente - o desejo por comida, por
bebida, por sexo. A maioria de nós é ca-
paz de escolher se irá agir de acordo
com os desejos ou não. Podemos nos
forçar a abrir mão do que desejamos, e
podemos nos obrigar afazer o que
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Introdução à Psicologia de Hilgard g7ï
preferiríamos não fazer. Talvez possamos até delibe- nos na motivação. Considera-se que alguns instintos
radamente optar por não pensar sobre desejos que internos, tais como aqueles relacionados à fome ou à
nos recusamos a atender. Mas é consideravelmente sede, refletem necessidades fisiológicas básicas. Pa-
mais difícil - tahez impossível controlar nossas ra motivações como sexo ou agressão, fatores instin-
motivações diretamente. Quando estamos com lome, tivos parecem menos vinculados a necessidades fi-
é diÍícil não querer comida. Quando estamos com siológicas absoiutas. AÍinal, precisamos agredir ou-
calor e com sede, não podemos deixar de desejar tra pessoa da mesma forma que precisamos comer
uma brisa fresca ou uma bebida gelada. A escolha ou beber? Ainda assim, considera-se que agressão e
consciente parece ser a conseqüência, e não a causa, sexo possuem aspectos instintivos, tanto no sentido
de nossos estados motivacionais. Então, o que con- de que Íâtores internos tais como o estado hormonal
trola a motivação, além da escolha racÌonal? muitas vezes parecem importantes, quanto no senti-
As causas da motivação variam de eventos fisio- do de que eles podem ter originalmente se desenvol-
Ìógicos no cérebro e no corpo até nossa cultura e in- vido para atender às necessidades básicas ancestrais.
teração social com outros indivíduos a nossa volta. Por outro lado estão as teorias de incentìvo da
Este capítulo irá discutir o controle de motivações motivação, que enfatizam o papel motivacionaÌ dos
básicas como sede, Íbme e sexo. Em grande medida eventos externos ou objetos de desejo. Comida, bebi-
estas motivações provêm de nossa herança biológica da, parceiros sexuais, alvos de ataque, relacionamen-
e revelam princípios gerais sobre como a motivação tos com os outros, estima, dinheiro e as recompensas
e a recompensa operam para orientar o comporta- do sucesso - todos são incentivos. Os incentivos são
mento. Aspirações sociais e influências culturais so- os objetos da motivação. AÍinal, nossas motivações
bre a motivação serão discutidas posteriormente. não funcionam num vácuo - quando queremos, que-
Para motivações básicas como Íbme, sede e sexo remos ulgo. A natureza deste algo nos impele em
os psicólogos tradicionalmente distinguem dois tipos uma direção ou outl-â. O objetivo poderia ser uma co-
de teorias de motivação. A diferença refere-se à ori- mida saborosa, água para beber, um parceiro para in-
gem dâ motìvaÇão, o que a ca.tsa e como ela contro- teragìr, a expuÌsão de um ìntruso, ou a possc de um
la o comportamento. Por um lado existem as teorias recurso disputado. Muitos incentivos são recompen-
dos irtstintos, que enlatizam o papel de fatores inter-
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Introdução à Psicologia de Hilgard 373
Se o prazer é um tipo de moeda corrente pâra o ativados por muitas drogas que causam prazer a hu-
valor de eventos diversos, faz sentido que o cérebro manos e animais, como, por exemplo, cocaína, anfe-
deveria possuir uma Íbrma de traduzir os diferentes tamina e heroína. A capacidade de praticamente to-
prazeres em seu equivalente "valor em dinheiro". das as recompensas, quer naturais ou artificiais, de
Existe realmente evidência de que o cérebro pode ter ativar esses neurônios levou alguns psicólogos a con-
uma "moeda comum" neural para a recompensa. É cluir que a atividade neste sistema neural constitui a
até mesmo possível que todos os incentivos sejam re- "moeda comum" do cérebro para a recompensa (Wi-
compensadores precisamente porque ativam o mes- se,1982).
mo sistema cerebral de recompensa. Essa moeda O funcionamento do sistema dopamínico meso-
neural parece estar relacionada com o nível de ativi- límbico parece particularmente importante para a
dade no sistema dopamínico mesolímblco (ver Figu- propriedade motivacional das recompensas. Em vez
ra 10.2'1. Os neurônios desse sistema localizam-se no de criar a sensação de prazer em si, sua atividade pa-
tronco cerebral superior e estendem seus axônios até rece dispor os indivíduos a querer repetir o evento
o prosencéfalo. Como indica seu nome, estes neurô- que causou o aumento procurando e obtendo incen-
nios usam o neurotransmissor dopamina para trans- tivos conhecidos (Berridge e Valenstein, 1991). Isso
mitir sua mensagem. pode ocomer quando uma mordiscada na comida
O sistema dopamínico mesolímbico é ativado desperta seu apetite para comer mais. Até mesmo a
por muitos tipos de recompensas naturais, tais como ativação artitìcial de neurônios dopamínicos pode ter
alimenlos ou bebidas saborosas. ou um parceiro se- o mesmo efeito. Por exemplo, a ativação do sistema
xual desejado. Os mesmos neurônios também são por um eletrodo estimulante motiva o animal a co-
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Bulbo
olÍatório
Substância
negra
FIGURA 10.2
Duas lmportantes Rotas Dopamínicas O sistema mesolímbico é aparentemente responsávet pelos síntomas de
esquìzofrenia; a rota aos gânglìos basaìs é responsávet pela discÍnesìa tardia, a qual às vezes re,sulta do uso de me-
dicamentos neurolépticos. (Adaptado de Valzelli, 1980)
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Introdução à psicologia de Hilgard 375
pode ser um dos motivos pelos quais dependentes íe- ajustado, o termostato é ativado: a diferença entre
cuperados estão sujeitos a recaídas no uso de drogas sua meta e a temperatura real faz com que ele ative o
mesmo depois de completarem programas de desin- aquecedor. Se no verão a temperatura ambiente sobe
toxicação. acima da temperatura ajustada no termostato de res-
A combinação destes fatores elucida por que as friamento, o termostato ativa o ar-condicionado. Um
drogas psicoativas, mais do que muitos outros incen- termostato coneciado a um aquecedor e a um condi-
tivos, são capazes de produzir adicção. Estas drogas cionador de ar pode ser usado para manter um am-
ativam diretamente mecanismos cerebrais de prazer biente em tempeÍatura constante mesmo com a mu-
a níveis incomparáveis, produzem síndromes de abs- dança das estações. Muitos processos fisiológicos
tinência que levam o dependente de volta à droga, e funcionam como termostatos: eles ativam motiva-
talvez hiperativem permanentemente os sistemas ce- ções que ajudam a manter a homeostase.
rebrais que lazem com que as recompensas da droga
sejam desejadas. É difícil resistir a esta combinação. Temperatura e Homeostase
Se a temperatura de seu cérebro diminuísse em 10"
Homeostase e lmpulsos C, você perderia a consciência. Se a temperatura de
seu cérebro subisse 10" C acima do normal, você
Nossas vidas dependem de manter certas coisas no morreria. Ainda que você tenha estado em um clima
mesmo estado. Se a temperatura do seu cérebro mu- muito quente ou muito frio, seu cérebro perÍnaneceu
dasse mais do que alguns graus, você rapidamente Íì- consideravelmente protegido dentro de uma estreita
caria inconsciente. Se a proporção de água em seu faixa de alguns graus centígrados. Sistemas <Ie con-
corpo subisse ou caísse mais do que um certo nível trole homeostáticos, tanto Írsiológicos quanto psico-
percentual, seu cérebro e corpo não poderiam fun- lógicos, são a razão desta constância.
cionar e você correria perigo de morte. Os humanos Respostas fisiológicas como suar e tremer são
e os animais se equilibram em uma corda bamba en- em pafie o que faz com que a temperatura do cérebro
tre extremos fisiológicos. Como máquinas delicadas permaneça tão estável: estas respostas fisiológicas
e precisamente sintonizadas, não podemos funcionar proporcionam resfriamento através de evaporação e
se nosso ambiente interno não estiver em equilíbrio. aquecimento através de atividade muscular. Reações
Mas, diferente da maioria das máquinas, fomos cria- psicológicas também entram em ação quando você
dos para mantermos nós mesmos este equilíbrio. começa a sentir calor desconfortável. É possível que
Mesmo quando o mundo exterior muda, nossos esta- você queira tirar alguma peça de roupa, beber algu-
dos internos permanecem relativamente estáveis. ma coisa gelada, ou encontrar uma sombra. Mas o
Grande parte da motivação básica é destinada a que desencadeia estas respostas flsiológicas e psico-
nos auxiliar a manter nosso equilíbrio interno. A fim lógicas?
de manter nosso mundo interno dentro dos estreitos
Quando você está sob sol forte, todo o seu corpo
limites da sobrevivência fisiológica, dispomos de começa a ficar quente. Inversamente, se você Íìca
processos de controle ativos para manter a homeos- muito tempo desprotegido no frio, seu corpo inteiro
tase, ou seja, trm estado interno constante (homeo começa a ficar hipotérmico (Íiio demais). Mas é ape-
significa "igual" e estase significa "estático,' ou nas no cérebro que a mudança de temperatura é reai-
"constante"). Um processo de controle homeostático mente detectada. Neurônios em diversos pontos do
é um sistema que funciona ativamente para manter cérebro, principalmente na região (frontal) pré-ópti-
um estado constante (ou seja, homeostase). ca do hipotálamo na base do cérebro, são essencial-
Os processos de controle homeostático podem mente termostatos neurais (Satinoff, 1983). Eles co-
ser psicológicos, fisiológicos ou mecânicos. Um meçam a opeÍar de modo diferente quando sua pró_
exemplo familiar é o termostato que controla um pria temperatura muda. Estes neurônios servem tan-
aquecedor ou um condicionador de ar. Os termosta- to de termômetro quanto de ponto de ajuste homeos-
tos são feitos para manter a homeostase da tempera- tático dentro do corpo. Quando suas temperaturas se
tura. Quando você ajusta seu termostato para uma afastam de seus níveis normais, seu metabolismo se
deteminada temperatrlra, esta temperatura é o valor altera, e isso muda seus padrões de atividade ou de
desejado ou ponto crítico. O ponto crítico é o valor ativação. Isso desencadeia reações fisiológicas como
que o sistema homeostático tenta manter. Se no in- perspiração ou calafrio, que ajudam a conigir a tem-
verno a temperatura ambiente cai abaixo do valor peratura do corpo. AÌém dìsso, isso desencadeia sua
de suas
que o faz trutuÍa e conteúdos da célula' A água dentro
sensação de estar quente ou frio demais' O segundo tì-
uma células é seu resentatórìo intracelular'
querer buscar umâ sombra ou vestir um casaco' que está fora
para o mesmo problema' po de reservatório é formado pela água
solução comportamental no sangue e em
demais' uma brisa po- das células. Esta água está presente
Quando você está quente
semelhante' quando você outros fluidos corporais e é chamada de resentatório
de paìecer boa. De modo
um banho quente parece agradável' extracelular.
est; frio demais,
própria temperatura interna muda' A sede extracelular resulta quando nossos coÍ-
Mas quando sua ou nos
externos também mu- pos perdem água porque ficamos sem beber
sua percepção destes eventos extraída do
todo o seu corpo mude de .*"..i,u*o, dé maneira intensa' A água é
da. Èmbora normalmente excretada pelas
um ou dois graus' quando você está corpo pelos rins através da urina,
temperatura em pul-
gtanauias sudoíparas na pele, ou exalada dos
em situações que o fazem sentir muito quente ou provém
íõ". ,tu forma de vapoÍ, e em cada caso ela
frio, é apenas uma pequena mudança na temperatura sangüínea' A perda re-
como você mais diretamente da irrigação
cerebral que causa a mudança no modo que permanece;
fazendo-o duz o volume de fluido extracelular
se sente. O cérebro pode ser "enganado"' vez' produz
mudando a tempe- a perda no volume de sangue, por sua
sentir calor ou frio simplesmente
Você não sente esta
uma redução na pressão arterial'
pequeno de neu-
ratura de um número relativamente pressão arterial, mas os receptores \z
suave alteração na
rônios no hipotálamo. Por exemplo' o resfriamento grandes vasos
indo- de pressão em seus rins, coração e
isolado do hipotálamo (pelo bombardeamento e ativam neurônios sensórios
tubo .uniüín"o, a detectam
lor de um líquido frio através <le um pequeno
sinal para o cérebro Deg1i1 os
no hipotálamo) quJt ans-it"m um
que fbi cirurgicamente implantado enviam um impulso à hipó-
para ligar neurônios no hipotálamo
motiva um rato a pressionar uma barra
pele - ainda fise, fazendo-a segregaÍ um hormônio antidiurético
uma lâmpada de calor que aquece sua
que
geral não tenha dimi- (ADH) na colTente sangüínea' O ADH faz com
que sua temperatura corporal
hipotalâmicos os rins retenham água do sangue quando o filtram'
nuído (Satinoff, 1964). Os neurônios em uri-
Em vezde enviar esta água para convertê-la
detectaram um afastamento de sua própria
tempera-
rins restituem ao sangue' Isso ocorre sempre
na. os a
tura do Ponto crítico normal' por mais do que algumas
que você fica sem beber
A maioria de nós já experienciou uma mudança que sua
pode tem- úoras. Por exemplo, você pode ter percebido
temporária no ponto crítico' Uma doença nestas
aumentar os pontos cíticos do cérehro
urina parece ter uma cor mais concentrada
po.*iu-"nt. depois
tempera- ocasiões (por exemplo, quando você acorda
em vários graus acima do normal' Então a cérebro envia
o que de uma noite de sono). Além disso' o
tura que eles "procuram" totna-se mais alta' hormô-
Reações fisiológicas que elevam a um sinal neural aos rins que os faz liberar o
resulta em febre. com uma
corpo são ativadas' Você treme' ea nio renina. A renina interage qulmicamente
temperatura do um outro
substância no sangue para produzir ainda
temperatura do corpo começa a subir acima do nor- de \
você hormônio, a angiotensina, que ativa os neurônios
mal. Ma. apesar da elevação de temperatura' o dese-
um localização profunda no cérebro, produzindo
pode continuar sentindo frio - até mesmo em
jo de beber.
ãmbiente quente - até que seus neurônios hipotalâ-
Lembre-se que toda essa seqüência de eventos
e
micos atinjam seu ponto cítico elevado' queda na pressão arlerial cau-
desencadeada por uma
pela desidratação. Outros eventos que causam
A Sede como Processo Homeostático sada
po-
queda dramática na pressão sangüínea também
Satisfazer a sede éum importante processo homeos- dem produzir sede' Por exemplo, soldados ferirlos
tático. A sede é a manifestação psicológica da ne' .u.npo, de batalha ou pessoas feridas que perde-
cessidade de ógua, que é êssencial para a sobrevi- "*
.u*.uito sangue podem sentir sede intensa' A cau-
.'ì vência. O que controla esse processo? de pres-
sa de seu desejo é a ativação de receptores
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Depois de ficar sem água ou exercitar-se inten- são, que desencadeia a mesma seqüência de produ-
tipos de re-
samente, o corpo começa a esvaziar dois ção de renina e angiotensina, resultando na experiên-
:,Ì :t'i, eliminada
servatórios líquidos à medida que a ág:ua é cia de sede (Fitzsimons, 1990)'
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iu pela perspiração, respiração ou micção' O
primeiro
A sede intracelular é causada por osmose a -
nas ela é
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.ÍÈ ... iipo à" reiervatório é formado pela água contida tendência da água de passar de zonas onde
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de proteína' gordura e carboidrato
que foÍmam a es-
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Introdução à Psicologia de HiÌgard 377
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Nalen-Hoeksema
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*vt+,.::..,..:.: Capítulo 10
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[ -Ì ".-. co (Booth, 1991). A experiência com outras formas do processo de digestão. Ainda mais é criada pelo fi-
,!j de associações com reflexos no sabor pode também gado quando ele converte outras formas de nutrien-
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tì ,.f ser a base para o desenvolvimento de preferências tes. Deste modo, uma refeição reabastece o combus-
por sabores que inicialmente não são agradáveis, tais tível de que seus neurônios cerebrais e as demais cé-
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como álcool ou cafeína. Em outras palavras, os efei- lulas de seu corpo necessitam.
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tos psicológicos ou físicos positivos do álcool ou da Como nossas células precisam de combustível,
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cafeína podem fazer-nos desenvolver preferência por
poderíamos esperar que a fome fosse unicamente
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estes alimentos, mesmo que inicialmente não goste- uma motivação homeostática controlada inteiramen-
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mos de seu gosto. O mesmo tipo de processo pode te pela necessidade de manter fontes suficientes de
ocoÍrer no sentido oposto para produzir forte aver- energia à disposição. Na verdade, a homeostase é o
são, ou aversão condicionada, por um determinado princípio dominante que opera no controle da fome'
alimento. Se sua primeira amostra de um alimento Déficits nos combustíveis disponíveis podem desper-
ou bebida saborosa é seguida de náusea, da próxima tar forme, e excedentes podem inibila' Mas ainda
vez que o experimentar você pode achar que o ali- que a homeostase seja crucial para entender o con-
mento não é saboroso. O alimento não mudou, mas trole da fome, fatores de incentivo são igualmente
você sim, em função de suas novas memórias asso- importantes. Na verdade, só podemos entender a fo-
ciativas, que fazem com que a comida seja posterior- me se examinaÍÍnos a interação entre homeostase e
mente experienciada como desagradável. incentivos.
A importância das interações entre a redução do
lnterações entre Homeostase impulso homeostático e o gosto e outros estímulos
e lncentivos de incentivo dos alimentos foi elucidada por um
clássico experimento de Miller e Kessen (1952)' F's-
Independentemente dos alimentos particulares que tes investigadores treinaram ratos para percoÍTer um
escolhemos, não há dúvida de que precisamos comer pequeno trajeto para obter uma recompensa de leite'
a f,m de manter a homeostase de energia. As células Em um dos casos, os ratos receberam leite como re-
colporais queimam combustível para produzir a compensa da maneira comum: eles o beberam' Nou-
energia necessária para as tarefas que realizam' C) tra situação, os ratos receberam a mesma quantidade
exercício físico faz com que as células musculares de leite, porém de maneira mais direta: o leite era
queimem combustível extra paÍâ atender às necessi- suavemente bombeado em seus estômagos através
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ir-= dades metabó1icas impostas pelo movimento energé- de uma cânula introduzida em uma abertura artifi-
i!l!:
(:.Ì tico. Pela queima de mais combustível, elas utilizam ctal, oufístula, implantada semanas antes. Estas duas
reservas de calorias que foram depositadas como recompensas ofereciam exatamente o mesmo núme-
:l! gordura animal ou outras formas de "energia arma- ro de calorias. Ambas reduziam o déficit de combus-
l'-:
zenada". Durante a leitura deste texto' os neurônios tível dos ratos ao mesmo grau. Mas os ratos aprende-
de seu cérebro também estão queimando combustí- ram a ir em busca da recompensa de leite muito me-
vel a fim de atender às necessidades metabólicas lhor quando podiam bebê-lo. O leite não era um mo-
criadas quando eles disparam impulsos elétricos e tivador poderoso quando era bombeado diretamente
produzem e liberam neurotransmissores. O principal para o estômago, ainda que reduzisse a fome da mes-
combustível usado pelos neurônios é a glicose, um ma maneira que quando ia para a boca. Os ratos pre-
açúcar simples. Sem combustível, os neurônios não cisavam tanto saboreil a recompensa quanto fazêJa
funcionam. Infelizmente, seu cérebro não usa mais reduzir a fome.
glicose quando você "o exercita" pensando muito' A importância destas interações entre incentivos
Estes neurônios estão sempre ativos. e sempre con- orais e redução de impulso foi comprovada de mui-
sumindo glicose, quer você esteja pensando muito tas maneiras desde aquele primeiro experimento
ou não. O pensamento concentrado ou outros even- (Toates, 1986). O alimento que não passa pela rota
tos psicológicos podem alterar levemente o padrão natural de degustação e deglutição não ó fortemente
de uso de glicose, mas não a quantidade total. motivador tanto para animais quanto para humanos'
A glicose está presente em muitas frutas e outros
Por exemplo, as pessoas que são alimentadas inteira-
aÌimentos. Ela também pode ser fabricada pelo fíga- mente por meio de infusões intravenosas ou intragás-
do a partir de outros açúcares ou carboidratos. Depois tricas de nutrientes muitas vezes acham estas "refei-
de fazer uma refeição, uma grande quantidade de glu- insatisfatórias. Elas podem sentir um intenso
ções"
cose será absorvida pela circulação sangüínea através
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lnfodução à Psicologia de Hilgard 379
desejo de comer algo que possâm pôr na boca - mes- chamado alíestesia (Cabanac, 1979), em que os ali-
mo que depois precisem cuspi-lo depois de mastigá- mentos (especialmente os alimentos doces) têm me-
lo. O forte desejo de estimulação oral - acima e além lhor sabor quando estamos com fome. Por exemplo,
da satisfação de necessidades calóricas - também se quando se pede às pessoas que avaliem a palatabili-
reflete em nosso uso generalizado de adoçantes arti- dade de bebidas doces depois de uma ret-eição, ou
1ìciais, que oferecem sabor sem calorias. Os incenti- depois de várias horas sem comeÍ, elas atribuem
vos alimentares, através da experiência sensorial en- pontuações mais altas de palatabilidade à mesma be-
volvida na ingestão de alimentos e bebidas palatá- bida quando estão com fome do que quando come-
veis, são poÍtanto tão cruciais para o apetite quanto a ram há pouco tempo.
redução do impulso calórico.
A aprendizagem é uma parte importante da inte- lndicadores Fisiológicos de Fome
ração entre os sinais fisiológicos de fome e os estí- Talvez você já tenha notado que quando você está
mrúos de incentivo de comer. Demonstrações dramá- com fome seu estômago às vezes ronca' Nestes mo-
ticas podem ser vistas em animais em que o ato de mentos as paredes do estômago estão envolvidas em
comer é "clesvinculado" das conseqüências calóricas contrações musculares, criando os movimentos rui-
peÌa implantação de uma fístula no estômago, a qual dosos de seus conteúdos, que você ouve. As contra-
permite que o alimento seja retirado do estômago quando você
ções do estômago são mais lreqüentes
bem como colocado ali. Se a tampa da fístula é re- está com lome e inclinado a sentir que seu estômago
movida, tudo que é comido irá sair em vez de ser dì- está vazio. A associação destas contrações a sensa-
gerido. Isso é chamado de alimentação falsa porque a hi-
ções de fome levou os investigadores a levantar
a refeição é uma faÌsificação no sentido de que não pótese de que sensores de pressão no estômago de-
Íbrnece calorias. Animais alimentados Íâlsamente tectam o vazio e ativam tanto as contrações qrÌanto a
comem quantìdades normais e depois param. Por experiência psicológica de fome. Posteriormente,
que eles param em vez de continuarem comendo? A psicólogos e Íìsiólogos descobriram que esta coinci-
resposta torna-se clara quando obser\àmos o consu- dência é apenas ìsso - uma coìncìdèncìa. Às sensa-
mo de comida durante as refeições subseqüentes: os
ções estomacais das contrações não são a causa real
animais aumentam gradualmente a quantidade inge- da fome. Na verdade, as pessoas que flzeram cirur-
rida à medida que aprendem que a refeição fornece gias retirando seus estômagos por motivos de saúde,
menos calorias do que antes (Van Vort e Smith, fazendo com que a comida passe diretamente para os
1987). Se â tampa da fístula é substituída de modo intestinos, podem contìnuar tendo fortes sensações
que tudo é digerido da maneira normal, os animais rle fome.
comem a quantidade "excessiva" em suas refeições O estômago realmente possui receptores que sào
seguintes. Gradualmente, o tamanho de suas refei- ìmportantes para as mudanças na fome, mas estes re-
ções diminui para níveis normais à medida que eles ceptores são primariamente de natureza química.
aprendem que a comida aparentemente voltou a ser Eles estão mais relacionados com sensações de sa-
rica em calorias. Estas observações levaram à hipóte-
ciedade - são ativados por açúcares e outros nutrien-
se da saciedade condicionctda - óe que a plenitude
tes presentes nos conteúdos do estômago e enviam
que sentimos após uma refeição é pelo menos em
um sinal neural ao cérebro - do que com sensações
parte produto de aprendizagem (Booth, 1987).
de fome.
Os humanos também são capazes de ter uma sa- O indicador fisiológico de fome está mais direta-
ciedade condicionada. Em um experimento, pediu-se mente relacionado com a real Íbnte de calorias para os
às pessoas que fizessem várias refeições com um ali-
neurônios e outÍas células: níveis de glicose e outros
mento característico rico em calorias e com outro ali- nutrientes no colpo. O cérebro é seu próprio sensor de
mento que era pobre em caiorias. Posteriormente, deficiências nas calorias disponíveis. Lembre-se de que
quando os participantes receberam novamente os dois principal
os neurônios cerebrais usam glicose como sua
alimentos, que eram aparentemente os mesmos que fonte de energia. Os neurônios dc determinadas partes
antes, mas com conteúdo calórico idêntico, os alimen-
do cérebro, especialmente o tronco cerebral e o hipotá-
tos que originalmente eram mais ricos em calorias lamo, são particulatmente sensíveis aos níveis de glico-
lhes pareceram mais satisfatórios (Booth, 1990).
se. Quando os níveis caem muito, a atividade destes
Uma última forma de interação entre incentivos neurônios é interompìda. Isso sinaliza o resto do cé-
alimentares e o impulso homeostático é o fenômeno rebro, produzindo fome. A fome pode ser produzida
:
'.:a.t,i:.t l )
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,ri,- ':.:. '..{g;t::'.'
:i,.iii ç:: Capítulo l0 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
i.. ì.
artificialmente em animais experimentais mesmo infusão de nutrientes no sangue que vai diretamente
:..:4. que eles tenham comido recentemente. Se substân- para o fígado.
(ii: !rl-.,
'Ì-- <-l
'..r cias químicas que impedem que os neurônios quei- Por que o cérebro dependeria de sinais de nu-
iitj
i.:
..-:a
mem a glicose como combustível são infundidas no trientes provenientes do fígado e não de seus pró-
í' t:
:::.,,.
cérebro de um animal, este irá subitamente procurar prios detetores? Uma possível resposta é que o fíga-
tl: t comida. Seu cérebro foi enganosamente induzido a do pode medir mais acuradamente os diversos tipos
ì:1r
ri:iì,
\: detectar falta de glicose, ainda que esta estivesse de nutrientes utilizados pelo cotpo. O cérebro detec-
::.,i .;nì realmente presente, porque a atividade dos neurônios ta principalmente a glicose, mas outros tipos de nu-
foi interrompida como se a glicose estivesse baixa. trientes, como carboidratos. proteínas e gorduras
(:,
complexas podem ser medidos, armazenados e às
iJ-
.
:=
"!1.
lndicadores PeriÍéricos Em certa medida, fome é o vezes conveftidos em outros nutrientes pelo fígado.
::i: :-:,'
que sentimos quando não estamos sentindo sacieda- Seu papel como "câmbio" geral dos nutrientes pode
t,íÌ llj de. Enquanto há alimentos calóricos em nosso estô- permitir ao fígado fazer a melhor estimativa das re-
mago ou intestino, ou as reservas de calorias estão servas totais de energia disponíveis ao organismo.
altas em nosso corpo, sentimo-nos relativamente sa-
::.t/. r..l tisfeitos. Quando estas declinam, ocoÍre a fome. O Integração de lndicadores de Fome
controle da fome é, portanto, o inverso do controle
a),'i :::::1 Os indicadores de fome e saciedade são processados
da saciedade.
pelo cérebro em duas etapas para produzir a motiva-
Muitos sistemas físicos contribuem pÍÌra o senti-
ção para comer. Primeiro, os sinais dos receptores de
mento de saciedade após uma refeição. O primeiro
ç) ::::ì fome no próprio cérebro e sinais de saciedade trans-
tj):',;.. sistema é formado pelas partes do corpo que primei-
I
l!,,: ' i\
lír.' mitidos do estômago e do fígado são somados no
ro processam a comida: o estômago e o intestino.
',1
tronco cerebral para detectar o nível geral de necessi-
,, Tanto a expansão física do estômago quanto as subs-
dade (Grill e Kaplan, 1990). Esta "avaliação integra-
tâncias presentes nos alimentos ativam receptores
da da fome" também está conectada no tronco cere-
r i.t nas paredes do estômago. Estes receptores enviam
i:r :-' bral aos sistemas sensório-neurais que processâm o
seu sinal para o cérebro através do nervo vago, que
ar !r:iì
.i.) íÌ gosto. Os neurônios gustativos no tronco cerebral po-
também transmite sinais de muitos outros órgãos
dem mudar sua responsividade durante algumas for-
i-ì .,. corporais. Um segundo tipo de mensagem de sacie-
mas de fome e saciedade (Scott e Mark, 1986). Isso
dade origina-se no dttodeno, a pafte dos intestinos
ìÌ;
:'J
íÌ
i:l: que recebe comida diretamente do estômago. Este si-
pode ser parte do motivo pelo qual os alimentos têm
sabor mais agradável quando estamos com fome.
nal é enviado ao cérebro como substância química e
ii) ::.' Para tornar-se a experiência consciente que co-
-,1: não através de um nervo. Quando o alimento chega
\jii;
. nhecemos como fome, e para estimular a busca de
ii -,\
ao duodeno, ele faz com que este segregue um hor-
,:,,r, : alimento, o sinal de fome do tronco cerebral deve ser
a:;, mônio (colecistoquinina, ou CCK) na circulação. O
processado adicionalmente no prosencéfalo. Uma re-
CCK ajuda a promover a digestão fisio1ógica, mas
gião essencial para este processamento é o hipotála-
i..ì ,: Ì também tem uma conseqüência psicológica. Ele se
ì:, mo (ver Figura 10.3). A fome é afetada de duas for-
'i
desloca através do sangue até chegar ao cérebro, on-
.{i mas radicalmente diferentes por manipulações de
ii.J'
,',,,r;
de é detectado por receptores especiais. Isso produz
-:... duas partes do hipotálamo: o hipotálamo lateral (as
t:. sensações de saciedade. Animais famintos podem ser
porções em ambos os lados) e o hipotálamo ventro-
induzidos a sentir uma falsa saciedade se quantida-
=
ii\:
':)
ìi-i
des microscópicas de CCK forem infundidas em
medial (a porção inferior ["ventral"] e intermediária
Imedial]). A destruição do hipotálamo lateral produz
seus cérebros pouco depois de terem começado uma
uma aparente ausência total de fome, pelo menos até
i'O .. refeição (Smith e Gibbs, 1994).
que o resto do cérebro se recllpere (Teitelbaum e
;i-- ;) Talvez surpreendentemente, o sinal cerebral
'É, mais sensível de disponibilidade de nutrientes origi-
Epstein, 1962). Esse fenômeno é chamado de síndro-
" r.ì. me hipotalâmicn lateral. Os animais nos quais pe-
ne-se em feceptores neuronais separados do cérebro
":l: ...: quenas lesões foram feitas em seu hipotá1amo lateral
È,: e dos alimentos: o fígado (Friedman, 1990). Os re-
:....]
.::...,j -,,. podem simplesmente ignorar a comida. Eles podem
ceptores no fígado são altamente sensíveis a altera-
a
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FIGURA 10,3
O Hipotálamo e a Hipófise
<.
Hipotálamo -
Hipófíse -*-
oposto de comportamento, a síndrome hipotalômíca per a alimentação quando injetadas em par-tes do hi-
ventromedial, é produzido por uma lesão do hipotá- potálamo lateral. Muitos medicamentos prescritos
lamo ventromedial. Animais com esse tipo de lesão para dieta são quimicamente semelhantes às anÍèta-
comem com voracidade e consomem grandes quan- minas. Estas drogas podem inibir o apetite por sua
tidades de comida, especialmentc se eìa e agradivel. atuação nos neurônios no hipotálamo.
PrevisiveÌmente, eles ganham peso até ficarem mui-
to obesos, adquirindo até o dobro de seu peso corpo-
ral normal (vcr Figura 10.4).
Outras manipulações destas regiões cerebrais
também parecem alterar a fome. Por exemplo, a esti-
mulação elétrica do hipotálamo lareral produz exces,
so de alimentação, exatamente o contrário de uma le-
são do hipotálamo lateral (e o mesmo ef'eito de uma
lesão do hipotálamo ventromedial). Um animal com
um eletrodo de estimulação em seu hipotálamo late-
ral pode começar a procurar comida e comer assim
que a estimulação se inicia, e parar de comer quando
ela cessa. Inversamente, a estimulação do hipotála-
mo ventromedial detém a alimentação natural de um
animal laminto.
A estimulação neuroquímica do hipotálamo Íìn-
ciona de modos semelhantes. Por exemplo, certos
compostos, tais como o neuropeptídeo Y, ou drogas
opiáceas como a morf,na, podem estimular a alimen-
tação quando são injetadas no hipotálamo ventrome-
FIGURA 10,4
dial. Estas drogas podem temporariamente estimular
a fome ou fazer a comida ter melhor sabor. Outras Um dano no hipotálamo ventromedial produz excesso de alimentação e
drogas, tais como as anfetaminas, podem interrom- obesidade.
: ri,ii ri .i:
Por volta de 1960, quando a importância do hi- natômicos e neurotransmissores estão envolvidos no
potálamo lateral e do hipotálamo ventromedial para apetite e na saciedade.
a Íbme foi descoberta, os psicólogos tinham a ten- Uma conseqüência de ter muitos sistemas neu-
dência de considerar estes locais simplesmente como rais para o apetite é que não é possível abolir o comer
centros de fome ou saciedade. Desde então, tornou- destruindo-se apenas um local. Mesmo em animais
se evidente que os conceitos de "centro da fome" ou com lesões hipotalâmicas laterais, com o tempo o
apetite irá voltar. Se os ratos são artiflcialmente ali-
\
!-;l "centro da saciedade" são muito simplistas, por di-
mentados por diversas semanas, ou meses, depois de
rilì versas razões. Uma é que estes locais não são os úni-
cos centros de fome ou saciedade no cérebro. Eles uma lesão, eles começarão a comer novamente, mas
interagem com muitos outros sistemas cerebrais pa- irão comer apenas o suÍìciente paÍa manter seu peso
ra produzir seus efeitos. De fato, alguns dos mesmos corporal mais baixo. Eles parecem ter atingido a ho-
.1.a.
efeitos podem ser produzidos pela manipulação de meostase em um ponto crítico mais baixo. Na verda-
outros sistemas cerebrais, além do hipotálamo. Por de, os ratos podem ser "protegidos" da perda habi-
exemplo, muitos dos efeitos da manipulação do hi- tual no comer resultante de uma lesão hipotalâmica
potálamo lateral podem ser duplicados pela manipu- lateral se antes da lesão forem submetidos a uma die-
lação do sistema dopamínico mesolímbico, que sim- ta que diminua seu peso corporal (ver Figura 10.5).
plesmente passa através do hipotálamo. Como as le- Isso indica que as lesões hipotalâmicas na verdade
sões hipotalâmicas laterais, as lesões neste feixe de não acabam com a fome. Em vez disso, elas podem
axônios que contém dopamina elimina a alimenta- elevar ou diminuir o ponto crítico homeostático para
ção. Na verdade, muitos estudos iniciais das lesões o peso corpoÍal que normalmente controla a fome.
(:):
hipotalâmicas laterais realmente destruíam tanto o Mudar o ponto crítico é como reajustar um termosta-
sistema dopamínico mesolímbico como os neurônios to: o sistema procura atingir o novo peso corporal. O
do próprio hipotálamo lateral. Inversamente, a su- efeito de lesões hipotalâmicas mediais também se
pressão da alimentação ocasionada pela estimulação conforma com essa idéia. Os animais com estas le-
elétrica e por muitas drogas também depende em sões não ganham peso inÍìnitamente. Com o tempo
parte da ativação do sistema mesolímbico. Assim, eles se estabilizam em um novo peso corporal obeso.
além de um ou dois centros, muitos sistemas nelrroa- Naquele ponto eles comem apenas para manter o no-
vo ponto crítico. Se, contudo, Íbrem submetidos a
:; uma dieta e seu peso cair abaixo daquele ponto críti-
4rü co, eles voltam a comer em excesso a fim de recupe-
rar aquele peso corporal quando tiverem esta oportu-
4*0 nidade (ver Figura 10.6). Uma vez recuperado aque-
le níve1 de obesidade, eles param outra vez.
ãeü
:11
.í Obesidade
PESO
3Ëü Até aqui enÍàtizamos os processos homeostáticos na
::
CORPORAL
(gramas) Íbme, mas o comportamento de alimentação mostra
3{0 vários desvios da homeostase. O peso corporal de al-
gumas pessoas não é tão constante quanto sugere o
üc.u ponto de vista homeostático. O desvio mais comum
da regulação homeostática da alimentação - pelo
?fin
.1* ü 1* 20 3ü 40
menos para humanos - é a obesidade. Aproximada-
I
mente 25Vo dos americanos são obesos, uma condi-
."t'
Antes da Lesão ff Depois da Lesão
t-
::,:1.,
ção muitas vezes definida como estar 30Vo ou mais
a. DtÀs acíma do peso adequado. A prevalência da obesida-
de varia entre diferentes grupos. A obesidade física
,til
FIGURA 10.5 ocorre aproximadamente na mesma freqüência em
ambos os sexos, mas a percepção psicológica de es-
Peso Corporal e Hipotálamo Lateral Ántes de lesionar o hìpotálamo Ia-
tar com excesso de peso é mais comum entre as mu-
teral, um grupo de ratos foi privado de alimentação e outro grupo podía alí-
\: mentar-se livremente. Depoìs da cirurgÌa, os animais privados de alimento theres. Mais de 50lo das mulheres norte-americanas.
aumentaram seu consumo de alimentos e adquiilram peso, enquanto o comparado com mais de 35Vo dos homens, conside-
grupo que se alimentara lívremente perdeu peso. Ambos os grupos se es- ram-se com excesso de peso (BrowneÌÌ e Rodin,
tabilizaram no mesmo nível de peso. (Segundo Powley e Keesey, 1970) 1994; Horm e Anderson, 1993). Nos Estados Uni-
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DIAS
FIGURA 10.6
EÍeitos da Alimentação Forçada e Privação de Alimento em Ratos com Lesões no HVM Depois que o hipotá-
lamo ventromedial é lesionado, o rato come excessivamente e ganha peso até estabilizar-se em um novo nível, de
obesidade. A alimentação forçada ou privação de alimento altera o nível de peso apenas temporarìamente; o rato
retorna a seu nível estabilizado. (Segundo Hoebel e Teitelbaum, 1966)
dos, a obesidade é mais prevalecente em grupos de levam ao ganho de peso em duas grandes classes: (a)
classe socioeconômica inferior do que em grupos de a genética e (b) a de consumo de calorias (comer em
::: ín classe mais alta; entretanto, nos países em desenvol- excesso). De maneira geral, as pessoas podem ficar
I i:riÌ vimento ocoÍïe o inverso: quanto mais alta a condi-
r li]
obesas porque são geneticamente predispostas a me-
íjÌ ção socioeconômica das pessoas, maior sua probabi- tabolizar nutrientes em gordura mesmo que não co-
lidade de serem obesas (Logue, 1991; Stunkard, mam mais do que outras pessoas (causas metabóli-
.. l::_ 1996). cas), ou porque elas comem demais (por motivos psi-
: :.tt.
.:'-' A obesidade é uma importante ameâça à saúde. cológicos ou sociológicos). Ambos os fatores podem
Ela contribui para uma maior incidência de diabete, estar envolvidos em alguns casos de obesidade, en-
'a t.)
pressão arterial elevada e doenças cârdíacas. Como quanto em outros o culpado pode ser a genética ou o
''rl ia: ì
se não bastasse, em nossa cultura a obesidade tam- excesso de alimentos.
bém pode ser um estigma social, pois as pessoas
obesas muitas vezes são consideradas indulgentes e Fatores Genéticos Há muito se sabe que a obesida-
sem força de vontade. Isso pode ser muito injusto, de ocorre em famílias. Em famílias nas quais ne-
pois, como veremos, em muitos casos, a obesidade nhum dos pais é obeso, apenas cerca de 107o dos fi-
se deve a fatores genéticos e não ao excesso de ali- lhos serão obesos; se um dos pais é obeso, cerca de
mentação. Considerando-se os problemas associados 40Va dos filhos também o será; e se ambos os pais
à obesidade, não é de surpreender que todos os anos são obesos, aproximadamenÍe J07o dos filhos tam-
milhões de pessoas gastam bilhões de dólares em bém o serão (Gurney, 1936). Estas estatísticas suge-
dietas e drogas para perder peso. rem uma base biológica para a obesidade, mas outras
A maioria dos pesquisadores concorda que a interpretações são possíveis. Por exemplo, talvez os
obesidade é um problema complexo que pode envol- filhos estejam simplesmente imitando os hábitos ali-
ver fatores metabólicos, nutricionais, psicológicos e mentares de seus pais. Descobeftas recentes, contu-
sociológicos. A obesidade provavelmente não é um do, apóiam Íbrtemente uma base genética para a obe-
distúrbio único, mas uma variedade de distúrbios sidade.
que tem a gordura como seu principal sintoma (Ro-
din, 1981). Perguntar como nos tornamos obesos é Estudos de Gêmeos Uma maneira de obter evi-
como perguntar como se chega a Pittsburgh dências do papel da genética na obesidade é estudar
- exis-
tem muitas maneiras de se chegar lá, e qual delas vo- gêmeos idênticos. Como os gêmeos idênticos têm os
cô "escoÌhe" depende de onde você está vindo (Offir, mesmos genes, e uma vez que os genes teoricamen-
, .::.
1982). No que se segue, dividiremos os fatores que te desempenham um papel no ganho de peso, gê-
.
;'::,a.,,tii,::i,í'(.l: i: .ìl,Jt:il,i..'''''-' -,,'ll
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i'=Ì 9w.,.., Capítulo 10 Rí.ta L. Atkinson. Richard c. Atkinson, Edward E. smith, Daryl J. Bem e susan Nolen-Hoeksema
.>.
Íl
(1, cos determinam o quanto ganhamos em peso quando
aumentamos nosso consumo de calorias'
() Os resultados também deixam claro por que não
'i]
devemos presumir que pessoas obesas necessaria-
;'; mente comem mais do que pessoas não-obesas. Ape-
í)t:
tn
(;)i sar de comerem aproximadamente a mesma quanti-
dade (1.000 calorias extras), a quantidade de peso
IJì
'Li
adquirido pelos dif'erentes pares de gêmeos vaíiou'
x.i
!. Esta diferença parece depender de como seus corpos
metabolizaram as calorias extras. Os corpos de algu-
i-ì mas pessoas tendem a converter uma maior propof-
ção de calorias em reservas de
gordura, enquanto ou-
,:íi
tras tendem a queimar as mesmas calorias através cle
í.' diferentes processos metabólicos, independentemen-
lf]r te do quanto seja comido (Ravussin et al., 1988).
Um crítico poderia opor-se a darmos tanta im-
:*. portância ao estudo descrito. Gêmeos idênticos têm
ii):
,È
r!ì.t
Descobertas rccentes oferecem fortes evidências de uma base genéti- não apenas genes idênticos, como também crescem
Ìr. ca para a obesidade. em ambientes muito parecidos. Talvez fatores am-
bientais tenham sido responsáveis pela semelhança
de peso adquirido pelos gêmeos idênticos. Precisa-
,:.
ll
meos idênticos deveriam ser semelhantes em seus
padrões de ganho de Peso. mos estudar gêmeos idênticos que foram criados se-
ri
.< Em um experimento, l2 pares de gêmeos idênti- parados para ver o quanto os membros de um mesmo
cos (todos masculinos) concoÍdaram em ficar em um par se assemelham em peso adquirido. Isso foi feito
tittl
alojamento universitário por 100 dias. O objetivo do em um estudo conduzido na Suécia (Stunkard et al.,
;>:.
(.ì. experimento eÍa fazeÍ com que os gêmeos ganhas- 1990). Os pesquisadores estudaram os pesos de 93
(.._r
sem peso. Cada um deles recebeu uma dieta que con- pares de gêmeos idênticos criados separadamente'
tinha 1.000 calorias extras por dia. Além disso, sua bem como o peso de 153 pares de gêmeos idênticos
atividade física foi restringida; eles não podiam se criados juntos. Constatou-se que os membros de um
:ìti
\.,,4..
exercitar e ao, em vez disso, passavam grande parte par de gêmeos criados separadamente são notavel-
aiii;
do tempo lendo, praticando jogos sedentádos e assis- mente semelhantes em peso; na verdade, eles eram
a.l. tindo à televisão. Ao final dos 100 dias, todos os ho- tão semelhantes em peso quanto membros de pares
mens tinham adquirido peso, mas a quantidade ad- de gêmeos criados juntos. Não resta dúvida que os
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í:a:l:
quirida variava de 4 a 13,5 quilos. Entretanto - e es- genes são um determinante importante do peso e do
r-.)
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que os pafticipantes normais (Knittle e Hirsch, a fome de acordo com isso (Weigle, 1994). Por
1968). Em outros estudos, os pesquisadores demons- exemplo, acredita-se que um "gene de obesidade" de
trarâm que os ratos que têm o dobro do número habi- camundongos controla a capacidade das células de
tual de células de gordura tendem a ser duas vezes gordura de produzir um "sinal químico de sacieda-
mais gordos que os ratos-controle. E quando os pes- de" (Zhang et al., 1994). Os ratos que não possuem
quisadores extraíram algumas das células de gordura este gene se tornam obesos. Normalmente, quanto
de ratos jovens para que tivessem apenas a metade mais gordura corporal se tem, mais o sinal de sacie-
das que os membros da mesma ninhada, tais ratos dade é segregado no sangue. Ainda não sabemos se a
adquiriram apenas â metade do peso que os outros obesidade humana envolve um rompimento nesse fa-
membros da mesma ninhada quando cresceram tor ou gene de saciedade. Mas a possibilidade de que
(Faust, 1984; Hirsch e Batchelor, 1976). Portanto, o nível de reservas de gordura é mantido constante
existe um elo entre os genes e o número de células de pode ajudar a explicar por que para algumas pessoas
gordura, e outro elo entre o número de células de obesas é difícil não deixar de recuperar o peso que
gordura e a obesidade; através desta cadeia, os genes perderam através da dieta.
têm uma ligação com a obesidade. Em suma, existem diversas rotas pelas quais os
genes podem ser responsáveis pelo ganho excessivo
Dieta e Pontos Críticos Quando as pessoas tomam de peso, que incluem possuir células de gordura
medicamentos para dieta, diversas coisas podem grandes e em grande quantidade, ter um ponto críti-
acontecer. O medicamento pode suprimìr o apetite co elevado e ter uma baixa taxa metabólica.
diretamente; isso reduziria a sensação de fome. Ou-
tro medicamento poderia suprimir o ponto crítico - Excesso de Alimentação Embora Íatores fisiológi-
o ponto em que o peso corporal se.fixa e que o corpo cos como regulação de gordura e taxa metabólica se-
procLtra manter - em vez de suprimir o apetite dire- jam determinantes importantes do peso corporal, não
tamente. Por exemplo, sugeriu-se que substâncias há dúvida de que comer excessivamente também po-
dietéticas como a fenfluramina têm esse eÍèito de causar obesidade. Os fatores psicológicos que ca-
(Stunkard, 1982). Esse efeito seria equivalente à di- racterizam a alimentação em pessoas que estão ten-
reta supressão do apetite, contanto que o peso corpo- tando perder peso incluem a interrupção de restri-
ral fosse mais alto do que o ponto crítico diminuído. ções conscientes, e o estímulo emocional.
Quando o peso corporal caísse para o nível mais bai-
xo, o apetite voltaria apenas ao grau necessário para lnterrupção de Restrições Conscientes Algumas
permanecer naquele peso. Quando uma pessoa pa- pessoas Íjcam obesas por comerem em excesso depois
rasse de tomar o medicamento, o ponto crítico retor- de Íazerem dieta. Um homem obeso pode interromper
naria a seu nível mais elevado e a pessoa recuperaria uma dieta de dois dias e depois comer tanto que acaba
o peso que havia perdido. Finalmente, algumas dro- consumindo mais calorias do que teria feito se não ti-
gas, tais como a nicotina, podem ajudar as pessoas a vesse feito dieta alguma. Uma vez que a dieta era uma
perder peso por elevarem a taxa metabólica das célu- restrição consciente, a interrupção do controle é um
las, fazendo-as queimar mais calorias do que nor- fator de aumento no consumo de calorias.
malmente o fazem. Para obter um entendimento mais profundo do
Um dos motivos pelos quais a teoria do ponto papel das restrições conscientes, os pesquisadores
crítico se tornou popular entre os psicólogos é a Íbr- desenvolveram um questionário sobre dieta, históri-
te tendência de adultos obesos, tanto humanos qnan- co de peso e preocupação com a alimentação (por
to animais, de retornarem a seu peso corporal origi- exemplo, "Com que freqüência você faz dieta?";
nal depois de pararem a dieta. Em contraste com os "Você come moderadamente na frente dos outros,
ratos jovens descritos há pouco, mesmo a remoção mas come em excesso quando está sozinho?"). Os
cirúrgica de depósitos de gordura por lipoaspiração resultados mostram que quase todas as pessoas -
parece não produzir perda permanente de peso quan- magras, normais ou obesas - podem ser classificadas
do ela é realízada em adultos: os adultos recuperam em uma de duas calegorias: pessoas que consciente-
a gordura em outro lugar. Isso parece aplicar-se à li- mente restringem sua alimentação e pessoas que não
poaspiração realizada em adultos humanos obesos o fazem. Além disso, qualquer que seja seu peso real,
(Vogt e Beiluscio, 1987). o comportamento de alimentação daqueles que res-
Alguns investigadores sugeriram que uma vez tringem sua alimentação é mais parecido com o de
atingidos os níveis adultos de tecido adiposo, eles indivíduos obesos do que com o das pessoas que co-
são mantidos naquele nível. O cérebro pode detectar mem livremente (Herman e Polivy, 1980; Ruderman,
mudanças no nível de gordura corporal e influenciar 1986).
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38ô ..,:,.=, Capítulo 10 Rita L. Atkínson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
iì
ii' i Um estudo realizado em laboratório mostra o Dieta e Controle de Peso Embora fatores genéticos
que acontece quando as restrições são retiradas. Pe- possam limitar a quantidade de peso que podemos
diu-se a pessoas que controlam sua alimentação e a perder confbrtavelmente, pessoas com excesso de
pessoas que comem livremente que bebessem dois peso ainda podem perder peso seguindo um progrâ-
milkshakes,um milkshake, ou nenhum; depois elas ma de controle de peso. Mas, para que um programa
experimentaram diversos sabores de sorvete e foram seja bem-sucedido, ele deve envolver algo mais do
incentivadas a comer o quanto quisessem (Herman e que apenas uma dieta rígida.
Mack, 1975). Quanto mais mílkshakes bebiam as
pessoas que comem livremente, menos sorvete elas Limites das Dietas Infelizmente, a maioria das pes-
comiam depois. Em contraste, os participantes que soas que faz dieta não são bem-sucedidas, e aquelas
controlam sua alimentação e que haviam sido pré- que conseguem perder alguns quilos, muitas vezes,
alimentados com dois milkshakes comeram mais voltam a ganhar peso depois que param de fazer die-
sorvete do que aqueles que beberam tm milkshake ta. Esta situação parece dever-se em parte a duas rea-
ou nenhum. Assim, os indivíduos que estão tentando ções arraigadas a uma privação temporária de ali-
restringir sua alimentação, ignorando seu impulso mentos (o que uma dieta é). A primeira reação é que
comum de comer mais, também podem passar a ig- a privação em si pode, depois, causar um excesso de
norar as sensações de saciedade que normalmente alimentação. Em alguns experimentos, os ratos fo-
deteriam seu desejo de comer. ram primeiramente privados de alimento por quatro
dias, depois podiam comeÍ até recuperarem o peso
Estímulo Emocional Indivíduos com excesso de norrnal e Iìnalmente podiam comer tanto quanto qui-
peso, com freqüência, dizem que tendem a comer sessem. Estes ratos comiam mais do que ratos-con-
mais quando estão tensos ou ansiosos, e resultados trole sem histórico de privação. Assim, a privação
experimentais conÍirmam estes relatos. Participantes prévia conduz a um subseqüente excesso de alimen-
obesos comem mais em uma situação de muita an- tação, mesmo depois que o peso perdido como resul-
siedade do que em uma situação de pouca ansiedade, tado da privação tenha sido recuperado (Coscina e
enquanto participantes com peso normal comem Dixon, 1983).
mais em situações de pouca ansiedade (McKenna, A segunda reação que nos interessa é que a pri-
1972). Outras pesquisas indicam que qualquer espé- vação diminui a taxa metabólica e, como podemos
cie de estímulo emocional parece aumentar o consu- recordar, quanto mais baixa a taxa metabólica, me-
i','irlll mo de alimentos em algumas pessoas obesas. Em nos calorias são gastas e maior é o peso. Conseqüen-
um estudo, participantes com excesso de peso e peso temente, a redução calórica durante a dieta é parcial-
',ll: ,__'
',.)4.. .- normal assistiram a um filme diferente em cada uma mente contrabalançada pela menor taxa metabólica,
;1:: i:'l de quatro sessões. Três dos filmes despertavam di- o que dificulta a satisfação dos objetivos daqueles
:::
1li: versas emoções: um era angustiante, um era diverti- que fazem dieta. A menor taxa metabólica causada
.tjl .4..
do e um era sexualmente excitante. O quarto filme pela dieta também pode explicar por que muitas pes-
í.,ì I lÌ
era um entediante documentário de viagens. Depois soas acham cad,a vez mais difícil perder peso com
de assistir a cada um dos filmes, os participantes fo- cada dieta sucessiva: o corpo responde a cada perío-
ram solicitados a degustar e avaliar diferentes tipos do de dieta com uma redução na taxa metabólica
de biscoitos. Os participantes obesos comeram signi- (Brownell, 1988).
:,,..1t.1
iJ'i a:Ì ficativamente mais biscoitos depois de assistir a Ambas as reações à dieta - alimentação exagera-
iì Íì qualquer um dos filmes estimulantes do que depois da e menor taxa metabólica - são compreensíveis em
Íi .j.,'l
de ver o filme sobre viagens. Os indivíduos com pe- termos evolutivos. Até muito recentemente na histó-
! ì' .r.i
oÒ .. so normal comeram a mesma quantidade de biscoi- ria humana, sempre que as pessoas passavam por pn-
:,- í
tos independentemente do fllme a que tivessem as- vação era poÍ escassez de alimentos no ambiente.
'ì
,. í. sistido (White, 1971). Uma resposta adaptativa a esta escassez é comer em
A capacidade do estresse emocional de fazer os excesso e aÍmazenar no organismo o máximo possí-
'.:,1. ..,r
indivíduos comerem também foi observada em ou- vel de comida sempre que esta estiver disponível.
'ì: 3Í
tros animais. Possivelmente isso indica que o estres- Assim, a seleção natural pode ter favorecido a capa-
';a-, : se pode ativar sistemas cerebrais básicos que, em cidade de comer em excesso após a privação. Isso
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certas condições, resultam em excesso de alimenta- explica a reação de comer excessivamente. Uma se-
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t:. .- 388 Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richard c. Atkìnson, Edward E. smith, Daryl J. Bem e susan Nolen-Hoeksema
peso normal mínímo do indivíduo. Alguns anoréxi- no corpo, o que pode acarretar problemas como desi-
'ra- cos na verdade pesam menos do qte 507a de seu pe- úatação, arritmias cardíacas e infecções urinrírias.
iJ :ir: so normal. Apesar da extrema perda de peso e dos Como a anorexia, a bulimia aflige principalmen-
.:': : : problemas resultantes, o anoréxico típico nega que te mulheres jovens. Mas a bulimia é mais freqüente
ir ::-,,"
exista um problema e se recusa a adquirir peso. Na do que a anorexia, estimando-se que 5 a l07o das
íii: -
verdade, os anoréxicos freqüentemente acham que
-:t ' mulheres nofte-americanas são de algum modo afe-
litì ì
;JjÌ t-" pa"recem muito gordos. Para o diagnóstico de anore- tadas. Ela não restringe-se às classes mais altas, a bu-
(:i: l
xia em mulheres, além da perda de peso, elas tam- limia ocorre em todos os grupos raciais, étnicos e so-
l,
1.,. ' bém devem ter parado de menstruar. A perda de peso cioeconômicos de nossa sociedade.
irr '
pode ter diversos efeitos colaterais perigosos, que in- Os pesquisadores sugeriram uma variedade de
cluem emaciação, suscetibilidade à infecção e outros causas para a anorexia e a bulìmia, incluindo fatores
sintomas de desnutrição. Em casos extremos, os efei- sociais, biológicos e de personalidade ou família.
tos colalerais podem causar mone. Provavelmente é necessário que diversos destes fato-
A anorexia é relativamente rara; sua incidência res ocorramjuntos para que uma pessoa desenvolva
nos Estados Unidos é de cerca de 17o (Fairburn, um transtomo alimentar.
Welch e Hay, 1993). Entretanto, esta incidência re- Muitos psicólogos sugeriram que fatores sociais
presenta mais do que o dobro desde a década de desempenham um papel importante na anorexia e na
1960, e é possível que a Íìeqüência ainda esteja au- bulimia. Mais particularmente, eles apontam a ênfa-
mentando (McHugh, 1990). A anorexia tem 20 vezes se dada em nossa sociedade à magreza nas mulheres.
'- ,!ì mais chances de ocorrer em mulheres do que em ho- Tal ênfase aumentou nitidamente nos últimos 40
í.1 ìr:
mens; a maioria dos casos são mulheres jovens entre anos, o que está de acordo com a afirmação de que a
e .ìï
it..., , .. a adolescência e os 30 anos. Tipicamente, os anoré- incidência de transtornos alimentares também au-
.:t-, , ' ' xicos se concentram totaÌmente na comida, cuidado- mentou durante esse período. Um indicativo dessa
.q.i
l:"'
samente calculando a quantidade de calorias em tu- tendência é a mudança no que as pessoas vêem como
1.1'
do que consomem. Às vezes esta preocupação chega o colpo da mulher "perfeita". A Figura 10.7 coloca
iì rì
{,.} i.lì! ao ponto da obsessão, como no caso de uma anoréxi- uma foto de Jayne Mansfield, cujo corpo era consi-
::._i.\.
t..._
ca que comentou com seu terapeuta, "claro que to- derado ideal por muitas pessoâs nos anos 50, ao lado
li:-ì:
it.,. mei o café da manhã; eu comi o meu 'tchau,", ou de uma Íbtografia da atrtz Julia Roberts, que reflete
ii,i
ìr:i t quando outra disse, "Eu não costumo lamber um se- o ideal de hoje. Roberts é nitidamente muito mais
;::) I l; lo postaÌ - nunca se sabe, pode ter calorias" (Bruch,
Ír;; l'::i magra do que Mansfield. Presumivelmente estes cor-
1973). obsessão por comida e o possível ganho de pos "perfeitos" influenciam a opinião das mulheres
lll' l:r'.
?i.
^ alguns anoréxicos a se exercitarem com-
peso leva de seus próprios corpos, e conseqüentemente muitas
ú'.r
pulsivamente, às vezes vigorosamente várias horas acham que seu corpo é muito maior do que o ideal
i.ìril
I- i.:.
ao dia (Logue, 1991). (Garner e Garfinkel, 1'980; Logue, 1991).
a.: -..,( A bulimia se caracteriza por episódios recorren- Evidentemente, nem todas as pessoas que são
-... íì tes de ingestão exagerada de alimentos (rópido con- expostas a estas pressões sociais desenvolvem um
i:::ì ri'r, sumo de uma grande quantidade de comida em um transtorno alimentar. Cerlas vulnerabilidades bioló-
g-' ...,r
i!.i r:1."
período distinto de tempo), seguida por tentatívas de gicas podem aumentar a tendência de desenvolver
aì !rì
i,
i.! ,,',:: purgar o excesso por meio de vômitos ou laxantes. transtornos alimentares. Uma hipótese é que a anore-
i./ì í"ì Estes episódios podem ser freqüentes e extremos. xia é causada por disfunções do hipotálamo, parte do
!,i ':... Uma pesquisa com mulheres bulímicas constatou cérebro que ajuda a regular a alimentação. Os indiví-
tl. '"'-. que a maioria das mulheres comia exageradamente duos anoréxicos apresentam funcionamento inferior
!rit: : Ì
pelo menos uma vez ao dia (geralmente à noite) e do hipotálamo e anormalidades em vários dos neuro-
:'t9 ìt, que em média estes episódios envolviam o consumo
.:- í'i transmissores importantes para seu funcionamento
. lìÍ.. de 4.800 calorias (muitas vezes alimentos doces ou (Favaet al., 1989). Emrelação àbulimia, pode haver
carboidratos salgados). Entretanto, por causa da pur- uma deficiência de serotonina, neurotransmissor que
i,:,,:
-:::i gação após a ingestão dos alimentos, o peso de uma desempenha um papel tanto na regulação do humor
,i;,,/:
pessoa bulímica pode permanecer relativamente nor- quanto no apetite (Mitchell e DeZwann,1993).
.. mal; isso permite que os bulímicos mantenham seu A personalidade e fatores familiares podem
.,ï íÌ
;.... \: distúrbio alimentar oculto. Porém, esse comporta- igualmente desempenhar um papel na anorexia e na
.ì..- : i rì
t-;,. l=l mento pode ter um alto custo hsiológico; o vômito e bulimia. Muitas jovens com transtornos de alimenta-
o'o'::
iJ ''''' o uso de laxantes pode romper o equilíbrio de potássio
ção vêm de famílias que exigem "perfeição" e extre-
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Introdução à Psicologia de Hilgard 389
FIGURA 10.7
Jayne Mansfield (esquerda) era a representante do corpo peieito na década de lgsT,
ao passo que Julia Roberts
(direita) foi considerada o corpo peieito dos anos 1990.
1.1
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t
::.lr' : tco Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
i. l'ìl
i!À ",
portamentos e sentimentos sexuais. Para muitos as- gônada, desenvolve-se em testículos se o embrião
':-4. pectos do desenvolvimento sexual e da sexualidade for geneticamente masculino ou em ovários se o em-
() .n' adulta, uma questão fundamental é o grau em qrÌe o brião for geneticamente feminino (ver Capítulo 2).
i::ìl
-
comportamento ou sentimento em questão é produto Uma vez desenvolvidos os testículos ou os ovários,
.-.
estes produzem os hormônios sexuais, que então
!:
íi i: -rì. da biologia (particularmente hormônios), do ambien-
(i: , te e aprendizado (experiências iniciais e normas cul- controlam o desenvolvimento das estmturas repro-
:::lL .
lq;
turais), ou de interações de fatores biológicos e am- dutivas internas e os genitais externos. Os hormônios
i.; r.)i
bientais. sexuais são ainda mâis importantes para o desenvol-
vimento pré-natal do que o serão para a expressão da
_...- 1:.,
Desenvolvimento Sexual lnicial sexualidade adulta.
i=,r :. O hormônio fundamental no desenvolvimento
':t i,nì Para ter experiências sociais e sexuais gratificantes
ã .<j genital é o androgênio. Se as glândulas sexuais em-
quando adultos, a maioria das pessoas precisa desen-
brionárias produzirem androgênio suficiente, o re-
volver uma identidade de gênero apropriada, me-
cém-nascido terá genitais masculinos; se houver an-
diante a qual os homens passam a ver a sí mesmos
drogênio insuficiente, o recém-nascido terá genitais
I
-: r;i;l como homens e as mulheres como mulhere.t. Este de-
femininos mesmo que seja geneticamente masculi-
':i.t: il-
senvolvimento é bastante complexo e na verdade co-
no. Inversamente, se andrógenos forem acrescenta- t
meça antes do nascimento. Durante os dois primei-
(:a dos artificialmente, o recém-nascido terá órgãos ge-
ros meses, após a concepção. apenas os cfomosso-
-- ,aa
nitais masculinos mesmo que seja geneticamente fe-
mos de um embrião humano indicam se ele irá evo-
minino. Em outras palavras, a presença ou ausência
:!i ,i:.tì luir para um menino ou menina. Até esta etapa, os
de um cromossomo masculino (Y) normalmente in-
í!,,, rlÈ
.-i: dois sexos têm aparência idêntica e possuem tecidos
'i ., Í'luencia o desenvolvimento sexual simplesmente por
...',. que posterionnente irão transforma-se em testículos
determinar se o embrião irá segregar andrógenos. O
ou ovários, bem como um tubérculo genital que irá
.l:a:t ,'ii
ijììt r...i
desenvolvimento anatômico do embrião feminino
. transformar-se num pênis ou num clitóris. Mas entre
não necessita de hormônios femininos, apenas a au-
:ì i.-. dois e trôs meses, uma glândula sexual primitiva, ou
sência de hormônios masculinos. Em resumo, a na-
íurezairâ produzir uma fêmea a menos que o andro-
Se as glândulas sexuais embrionárias produzirem gênio intervenha.
:.:a ,.:.
androgênio suÍiciente, o feto irá desenvolver genÌtais A influência do androgênio, chamada de andro-
masculinos. Aqui se mostra um feto, quatro meses genízaçao, vai muito além da anatomia. Depois de
í:t:: |) após a concepção.
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moldado os genitais, o androgênio começa a agir so-
ai
bre as células cerebrais. Estudos com ratos indicam
que o androgênio pré-natal muda o volume e a estru-
.a'..) l
tura complexa das células do hipotálamo do feto, ór-
gão que regula a motivação em humanos bem como
em ratos (Money, 1988). Essencialmente, estes efei- t
tos do androgênio masculinizam o cérebro e podem
.4a a.:
ser responsáveis por alguns traços e comportamentos
iitì ;;,,,,;
masculinos que aparecem meses ou anos depois, tais
:::ì ....,,
como níveis mais elevados de agressividade.
Oì r:-
Í'ì i.,- Numa série de experimentos, injetou-se andro-
'r'.Ì:' gênio em macacas grávidas e suas proles foram ob-
servadas detalhadamente. As crias mostraram algu-
mas mudanças anatômicas (pênis em vez de clitóris),
,i.:: ;..ìl
-
!t.. além de agirem de maneira diferente em relação a fê-
-at: áa meas normais. Elas eram mais agressivas nas brinca-
í:jj
(:::: i : deiras, mais masculinas nos jogos sexuais, e intimi-
tÌ .it'.
davam-se menos com a aproximação de pares (Goy,
1968; Phoenix, Goy e Resko, 1968). Essas descober-
tas indicam que alguns comportamentos típicos ao
r-ì :.1ì gênero (tais como maior agressão nos machos) são,
O ',:l
ii:ì ;:. r
i.irt :.ì!
l:
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em parte, determinados pelos hormônios nos ani- influência muito maior na identidade do gênero do
mais não-humanos. que sells genes ou hormônios.
Anormalidades hormonais iniciais também po- Por exemplo, milhares de mulheres nascidas du-
dem ter o resultado inverso; elas podem "Íèminizar" fante as décadas de 1950 e 1960 foram expostas a
o comportamento sexual posterior dos machos. Um uma substância antiabortiva, o dietìlestilbestrol, que
exemplo notável é o "estresse materno": uma mu- tinha eÍ'eitos desconhecidos semelhantes aos efeitos
dança no comportamento sexual de ratos machos cu- hormonais sobre o desenvolvimento cerebral. Nor-
jas mães sofreram elevado estresse emocional duran- malmente a testosterona (principal andrógeno) se-
te a gravidez (Ward, 1992). Níveis elevados de es- gregada pelos testículos de um embrião masculino é
tresse em uma rata grávida desencadeiam eventos convertida no cérebro em uma substância semelhan-
hormonais que resultam em uma diminuição na te ao dietilestilbestrol. As mulheres grávidas que to-
quantidade de andrógenos produzidos pelos testícu- maram o medicamento não sabiam, pofianto, que es-
los do embrião mascuÌino. Isso, por sua vez, resulta tavam expondo seus Íètos a um ambiente químico
numa redução do androgênio que chega ao córebro semelhante àquele experimentado pelo cérebro em
em desenvolvimento. O hipotálamo e outras regiões desenvolvimento de um macho normal. Para fetos do
cerebrais parecem desenvolver-se de modo distinto sexo masculino, isso não teria maiores conseqüên-
nestes embriões. Quando esses ratos machos tornam- cias: seus cérebros já haviam sido expostos aos pa-
se adultos, eles mostram menos comportamento se- drões masculinos de estimulação química. Mas os
xual masculino e podem até exibir padrões femini- fetos femininos foram expostos a uma estimulação
nos de movimentos de copulação se forem cobertos química do sexo oposto ou semelhante à masculina
por outro macho. durante o período no qual suas mães tomaram o me-
Não se sabe se efeitos semelhantes sobre o de- dicamento. Para a grande maioria destas filhas, a ex-
senvolvimento cerebral ou comportamental ocomem posição pré-natal não teve efeito detectável. A maio-
em seres humanos. Embora alguns acreditem que es- ria das meninas que teve exposição pré-natal ao die-
ses experimentos possam explicar a base da orienta- tilestilbestrol, posteriormente, teve desenvolvimento
ção heterossexual versus homossexual humana, exis- semelhante ao de outras e tornaram-se indistinguí-
tem diferenças entre os resultados desses experimen- veis de mulheres com experiência pré-natal normal.
tos com animais e o comportamento humano. Por O ambiente social, em outras palavras, parece ter ti-
exemplo, ratos machos cujas mães sofreram estresse do uma influência muito maior no desenvolvimento
durante a gravidez tendem a mostrar comportamento sexual e de gênero destas mulheres do que os hormô-
menos sexual de qualquer tipo do que ratos machos nios pré-natais.
comuns, mas isso não se aplica a homens homosse- Mas isso não significa dizer que o ambiente quí-
xuais comparados a homens heterossexuais. Não mico pré-natal não teve absolutamente nenhum efei-
obstante, estes exemplos ilustram a importância do to. Os pesquisadores detectaram várias diferenças
ambiente hormonal inicial para o comportamento se- sutis que caracterizam pelos menos algumas das mu-
xual posterior de animais não-humanos, além de su- theres expostas ao dietilestilbestrol. por exemplo,
t- gerirem a possibilidade de que os hormônios pré-na- entre estas mulheres, uma proporção ligeiramente
tais podem ser importantes também para a motivação maior do que a normalmente previsível parece ser
sexual humana. homossexual ou bissexual. Orientação sexual não é o
mesmo que identidade de gênero, mas neste caso é
Hormônios versus Ambiente possível que um pequeno efeito dos hormônios pré-
I
Em seres humanos, grande parte do que se sabe so- natais se reflita em ambas. (A orientação sexual é
bre os efeitos dos hormônios pré-natais e do ambien- discutida com profundidade posteriormente nesta se-
te inicial foi revelado por estudos de indivíduos que, ção.) De modo semelhante, estas mulheres mostram
por diversos motivos, foram expostos a hormônios classificação levemente inferior em alguns indicado-
pré-natais que normalmente seriam experienciados res de "interesse maternal", tais como gostar de be-
por um sexo, mas depois foram criados em um papel bês, ainda que elas não se.jam diferentes de outras mu-
social que normaÌmente seria típico do sexo oposto. lheres na maioria de outras medidas de comportamen-
Na maioria desses casos, o rótulo designado e o pa- to e atitudes parentais, sexuais ou sociais (Ehrhardt et
pel sexual com o qual o indivíduo é criado têm uma al., 1989). Esses estudos sugerem que, embora even-
tos hormonais pré-natais possam ter algumas conse-
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f,;92,,,,,:=:,:,i Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richartl c. Atkinson, Edward E. smith, Daryl J. Bem e susan Nolen-Hoeksema
i:: 'iì,i
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"..-' qüências sutis no posterior desenvolvimento sexual e pênis completamente secionado no que deveria ter
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lta social, seu efeito é muito mais fraco em humanos do sido uma simples circuncisão. Dez meses depois, os
(/,rì iì.,
que em animais não-humanos. Para os humanos, fato- pais autorizaram uma ciÍurgia para transformar seu
rii
tú< res sociais e culturais parecem ser dominantes (Mo- filho em uma menina - os testículos foram removi-
ney,1980). dos e uma vagina foi preliminarmente formada. A
Mas existem alguns estudos que indicam a con- criança depois recebeu hormônios sexuais femininos
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L .:. clusão oposta. O mais célebre deles foi realizado há e foi criada como menina. Nos anos seguintes a
'il: !íì muitos anos em aldeias distantes da República Do- criança parecia ter assumido uma identidade femini-
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minicana. Ele envolveu 18 seres humanos genetica- na, preferindo mais roupas, brinquedos e atividades
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mente masculinos que, devido a uma condição co- femininas do que seu irmão. Como ela parecia ser
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1r::1
nhecida como ínsensibilidade andro qênic a, nasce- uma menina normal em muitos aspectos, a maioria
r-r iiíì
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fam com órgãos internos que eram nitidamente mas- dos investigadores concluiu que esse era um caso em
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culinos, mas com genitais exteínos que eram seme- que o ambiente social tinha vencido.
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lhantes aos de mulheres, incÌuindo um órgão sexual Contudo, estudos da criança na época em que
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:.'. il ,t semelhante a um clitóris. Na insensibilidade andro- ela havia chegado à puberdade revelaram que o re-
tr Ii; gênica, as gônadas se desenvolvem como testículos sultado era mais complexo (Diamond, 1982). En-
liÍ: ,la:
li\' ì -
liialÌ ii,n. normais e começam a segregar testosterona e outros quanto âdolescente, ela era infeliz e parecia confusa {
:i:i ::l,r ândrógenos. Entretanto, os sistemas receptores que em relação a sua sexualidade, ainda que não tivesse
1ì t>i
seriam ativados pelos andrógenos estão ausentes pe- sido informada sobre seu sexo original ou sobre a
:,ir Ì lo menos em alguns dos tecidos que normalmente operação de mudança sexual à qual havia sido sub-
(-)
í5
Í:::ì
ì,:- seriam masculinizados pelos hormônios. Ainda que metida. Nas entrevistas ela se recusava a desenhar a
ii- :iÌli
andrógenos sejâm segregados e estejam presentes na hgura de uma mulher, desenhando em seu lugar ape-
:í :""11
coÍTente sangüínea de um menino assim, eles não nas um homem. Aspectos de sua linguagem corpo-
li:,, :\ì produzem o padrão mâsculino de desenvolvimento ral, como seu modo de andar e padrões de postura e
genital e físico. Todos os l8 bebês estudados tinham movimento, tinham aparência masculina. Social-
z: !i\:
sido criados como meninas, o que estava em desa- mente, ela tinha um grau de dificuldade usual maior
Ô Crni
..-,.1.ì cordo tanto com seus genes como com seu ambiente para desenvolver relacionamentos com seus pares.
hormonal pré-natal. Quando chegaram à puberdade' Uma avaliação recente deste indivíduo consta-
o surto de hormônios masculinos produziu as mu- tou que ele veio a rejeitar a identidade sexual femini-
danças corporais usuais e transformou seus órgãos na e vive bem como homem desde então (Diamond e
ii ii
'(i:J sexuais semelhantes a clitóris em órgão semelhantes Sigmundson, 1997). Assim, a tentativa de controlar
,:,u , a pênis. A maioria desses homens, criados como mu- sua identidade de gênero através de socialização, e
ttli.
theres, rapidamente tornaram-se homens. Eles pare- de educá-lo como uma "menina normal", não teve
l,
t:t: ciam ter pouca dificuldade em se adaptar à identida- êxito a longo prazo. É Olffcit saber a exata fonte de
de masculina; eles saíam para trabalhar como minei- dificuldade que ele teve em sua adaptação emocional :
iaì ros e lenhadores, e alguns encontraram parceiras se- e social na puberdade. As explicações incluem a pos- {
xuais. Neste caso, a biologia triunfou sobre o am- sibilidade de que seu desenvolvimento cerebral ini-
,:t
biente (Imperato-McGinley et aI., 1919). cial como homem impôs limites em sua posterior ca-
Mas existe controvérsia em torno desses meni- pacidade de adaptar-se a uma identidade sexual fe-
1..j'ì
i-^.)
guos). Eles parecem ter sido tratados um pouco co- ambiente são ambos determinantes importantes da
e.l
:-.' .::;, mo homens e um pouco como mulheres, o que pode identidade do gênero e normalmente operam em har-
rrì monia. Quando entram em choque, como ocoÍre em
n, ter facilitado sua posterior transição para o sexo mas-
culino (Money, 1987). alguns indivíduos, a maioria dos especialistas acredi-
c í..: Em outros casos, os resultados do conflito entre ta que o ambiente irá predominar. Mas esta é uma
'I área controversa, e a opinião dos especialistas pode
:-.1.
{:l
hormônios pré-natais e criação social são menos cla-
ros. No exemplo mais dramático, um par de meninos mudar à medida que mais dados forem reunidos.
,r.Ì ..1'ì
gêmeos idênticos teve um ambiente pré-natal nor-
lt,, !:
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mal. Mas na idade de oito meses um deles teve seu
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'i't r"'j
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ia::ììÌ !,. ll ......-:::.:$VE='..t"',. Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
'i:::: .ììì.
Walker, 1978). Ao que paÍece, o androgênio contribur te ciclo estrual é acompanhado por uma variação na
'''
::l i),aa:
(. )
::.:4., paÍa o desejo sexual apenas em alguns casos. motivação sexual na maioria das espécies mamífe-
ul íì
Outra maneira de medir a contribuição dos hor- ras. A maioria das fêmeas é receptiva às tentativas
u'l :1:
il,:l
..', ] :
mônios para o desejo e a excitação sexual nos ho- sexuais do macho somente durante o período de ovu-
mens é averiguar a relação entre variação hormonal lação, quando o nível de estrógeno está no máximo;
\i:iti t:::::))
e interesse sexual. Por exemplo, será que um homem durante este período, diz-se que a fêmea está no
'a1-. _
tem maior probabilidade de sentir-se excitado quan- "cio". Entre os primatas, contudo, a atividade sexual
)i-i \:i
do seu nível de testosterona está alto? Constatou-se é menos influenciada pelo ciclo de fertiÌidade; fê-
iaiL ::
meas de macacos, de macacos grandes e de chim-
,
:!. ' que o nível de testosterona pode não ter influência na
ri.ll
.t:11,
função de copulação - indicada pela capacidade de panzés copulam durante todas as fases do ciclo, em-
i=) ,.....
ter ereção, mas Íealmente aumenta o desejo - indica- bora a ovulação ainda seja o peíodo de atividade se-
q ìli do pelas fantasias sexuais (Davidson, 1988). Porém, xual mais intensa. Na fêmea humana, o desejo e a
:.1rr 1r..1
os principais determinantes do desejo sexual nos ho- excitação sexual parecem ser muito mais influencia-
mens pafecem ser fatores emocionais; portanto, tan- dos por fatores sociais e emocionais.
C)"ìì :.,'ì
to para homens quanto para mulheres, a causa mais Em suma, o grau de controle hormonal sobÍe o
..< comum de pouco desejo em casais que procuram te- comportamento sexual é menor nos humanos do que
t:-,,
rapia sexual é o conflito conjugal (Goleman, 1988). nos outros animais. Ainda assim, mesmo nos huma-
:i,ì i,;l:
O desejo sexual é ainda menos dependente de nos pode haver algum controle hormonal, como ates-
'ì.'
.".
>i. hormônios nas mulheres. Isso contrasta com espé- ta o relacionamento entre os níveis de testosterona e
111:_
cies não-primatas, nas quais o comportamento se- o desejo sexual nos homens.
littj
ti:::
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iiìl
xual é altamente dependente de hormônios sexuais.
Em todos os outros animais, a remoção dos ovários Controle Neural Em certo sentido, o principal ór-
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resulta em intemrpção da atividade sexual. Uma fê- gão sexual é o cérebro. O cérebro é onde o desejo se-
.::. ): '
xual se origina e onde o comportamento sexual é
.,1r,,. ra-ll
mea castrada deixa de ser receptiva ao macho e ge-
.l!1. ii
ralmente resiste às investidas sexuais. A principal ex- controlado. Nos humanos, a função sexual do cére-
/ì li \!r
4 ì::..
a) lllì ceção é a fêmea humana; após a menopausa (quando bro estende-se para o controle dos pensamentos, das
os ovários pararam de funcionar), a maioria das mu- imagens e das fantasias sexuais. No cérebro, os hor-
' iiìn
mônios sexuais podem influenciar a função neural
lheres não sente diminuição no desejo sexual. Na
>:i i5 verdade, algumas mulheres mostram aumento do in- em indivíduos adultos. A seguir discutimos como os
>:l: teresse sexual após a menopausa, talvez porque não hormônios sexuais também influenciam o desenvol-
í::iì i.-:l
,tìl --. flquem mais preocupadas corn a possibilidade de fi- vimento físico e os padrões de conexão dos neurô-
:::1 i.t:.
carem grávidas. Existem evidências de que o desejo nios no início da vida em todas as espécies mamífe-
... :. ras, inclusive nos humanos, e nos adultos em pelo
::r:i ! r1
sexual nas mulheres é facilitado por quantidades mí-
nimas de hormônios sexuais na conente sangüínea menos algumas espécies (Breedlove, 1994).
.,:.... (Sherwin, 1988). Entretanto, o nível necessário é tão O sistema nervoso é afetado pelos hormônios se-
baixo que ele pode ser excedido na maioria das mu- xuais em muitos níveis. No nível da medula espinal.
::, 'r""i
(:t lheres e, conseqüentemente, não desempenhar um os circuitos neurais controlam os movimentos da có-
ta::):
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pula. Nos homens, estes incluem a ereção do pênis
,i-) -:l "
papel signiflrcativo nas variações no desejo.
Estudos da relação entre variação hormonal e bem como os movimentos pélvicos e a ejacuÌação.
ià) ,,.,1
excitação sexual em mulheres antes da menopausa Todas estas ações podem ser obtidas de modo refle-
;ir
i\ ..... xo em homens cujas medulas espinais foram secio-
i*Ì levaram a uma conclusão semelhante: as variações
hormonais normais controlam a excitação em outros nadas por ferimentos e que não possuem sensações
animais, mas não em seres humanos. Em fêmeas ma- corporais conscientes. De modo semelhante, estudos
!..ì
i.ì:i
míferas,. os hormônios variâm ciclicamente, com clínicos de mulheres com danos na medula indicam
.ì iì
', i.1 mudançâs concomitantes na fertilidade. Durante a que as secreções vaginais em resposta à estimulação
primeira parte do ciclo mamífero (durante a qual o genital e aos movimentos pélvicos podem ser con-
Í:]: <i óvulo está sendo preparado para fertilização), os troladas por circuitos reflexos neurais na medula es-
-!: <a pinal (Offir, 1982).
ovários segregam estrógeno, o qual prepara o útero
.:1.-' para implantação e também tende a despertâr o inte- Níveis superiores do córebro, principalmente o
ia:::
.,::" .+ resse sexual. Depois que ocorre a ovulação, tanto a hipotálamo, contêm os sistemas neurais que são im-
ì!'- ii.l:ì portantes para aspectos mais complexos do compor-
progesterona quanto o estrógeno são segregados. Es-
í:-:. 'í.-''
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Introdução à Psicologia de Hilgard s95
experiência indica que a aprendizagem desempenha tar e usufiuir do contato físico com os outros. e a ser
um papel no desenvolvimento do padrão sexual motivado a procurar a companhia dos outros (Har-
adulto. low, 1971).
A experiência também afeta o aspecto interpes- Embora devamos ter cautela para generalizar es-
soal do sexo. Macacos criados em isoÌamento parcial tas descobertas ao desenvolvimento sexual humano,
(em gaiolas de arame separadas, de onde podem ver observações clínicas de bebês humanos indicam cer-
outros macacos, mas não podem ter contato com tos paralelos. Os bebês humanos desenvolvem seus
eles) geralmente são incapazes de copular na maturi- primeiros sentimentos de confiança e afeição através
dade. Os macacos machos são capazes de realizar a de um relacionamento caloroso e amoroso com a
mecânica do sexo: eles se masturbam até a ejacula- mãe ou substituta (ver Capítulo 3). Esta confiança
básica é pré-requisito para interações satisfatórias
ção aproximadamente na mesma freqüência que os
macacos normais. Mas quando confrontados com com os pares. E os relacionamentos afetuosos com
uma fêmea sexualmente receptiva, eles parecem não outros jovens de ambos os sexos prepaÍam as bases
saber como assumir a postura correta para a cópula. para a intimidade necessária para relacionamentos
t::.'. Eles ficam excitados, mas apalpam inutilmente a fê- sexuais entre adultos.
tt:.
mea ou seus próprios corpos. Seu problema não é
apenas uma deficiência de respostas específicas. Es-
lnfluências Culturais A cultura também influencia
a expressão do desejo sexual. Diferente dos outros
tes macacos tem problemas sociais ou afetivos: mes-
:.:l
primatas, o comportamento sexual humano é forte-
mo em situações não-sexuais, eles são incapazes de
mente determinado pela cultura. Por exemplo, todas
se relacionar com outros macacos. demonstrando
as sociedades impõem algumas restrições ao com-
medo e luga ou agressir idade extrema. Aparente-
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Capítulo 10 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edw'ard E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
r..., ì. 'n*S
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'1,..': 'r4.. portamento sexual. O incesto (relações sexuais den- e Martin, 1948). Em contraste, diversos Ìevantamen-
': ..i
tro da família) é proibido em quase todas as cultuÍas. tos junto a universitários americanos conduzidos nos
anos de 1 970 revelaram percentuais de 40 a 80Vo tan-
ìÍ=
íiai <
Outros aspectos do comportamento sexual - ativida-
de sexual entre cdanças, homossexualismo, mastur- to para homens quanto para mulheres tHunt. 1974:
1:.4. :.",
r.-r i ì
bação e sexo antes do casamento - são permitidos Tavris e Sadd, 1977). Durante as últimas décadas,
lit: em graus variados nas diferentes sociedades. Nas tem havido uma tendência gradual para iniciar a ati-
!j1. ..-
culturas pré-letradas, a atividade sexual varia ampla- vidade sexual em idade mais precoce. Aproximada-
ir-Ì :r.
:!t :+ mente. Algumas sociedades muito permissivas in- mente 50Vo, tanto de homens quanto de mulheres, re-
;""i centivam atividades de auto-erotismo e sexo entre latam ter tido intercurso sexual aos 16 ou 17 anos
t:-i,
crianças de ambos os sexos e perÍnitem que elas ob- (Laumann et aI., 1994). A Figura 10.9 mostra a inci-
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!=, ,.....
servem a atividade sexual adulta. Os Chewas da dência relatada de intercurso antes do casamento em
L-j
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4ìl
ìl:,!:
África, por exemplo, acreditam que se as crianças estudos conduzidos durante um período de 35 anos.
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não puderem exercitar-se sexualmente não serão ca- Note-se que a mudança no comportamento sexual
ii'-
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pazes de gerar filhos depois. Os Sambias da Nova loi maior entre as mulheres do que entre os homens
í:,ì ,... Guiné, institucionalizaram o bissexualismo: desde e que as maiores mudanças ocolreram no final da dé-
rì\ i'r_':i:
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antes da puberdade até o casamento, um menino vi- cada de 1960. Estas mudanças levaram muitos ob-
ti:
i!!ì irì
I
ve com outros membros do sexo masculino e pratica servadores do cenário social nos anos de 1970 a con-
; llll.rl
o homossexualismo. (Herdt, 1984). cluir que uma "revolução sexual" havia ocorrido.
...',:il. Em contraste, sociedades muito restritivas ten- Atualmente parece que a revolução sexual foi
ìt:tr:
tam controlar o comportamento sexual pré-adoles- prejudicada pelo medo de doenças sexualmente
i:ì
Ò:'Í, cente e impedir que as crianças aprendam sobre se- transmissíveis, principalmente a AIDS. Além disso,
l!,. ,ri
!_. . ,. xo. Os Cunas da América do Sul acreditam que as a "revolução" pode ter envolvido comportamento
crianças devem ser totalmente ignorantes a respeito mais do que sentimentos. Em entrevistas Çom casais
tt)
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de sexo até que se casem; eles sequer permitem que de universitiários norte-americanos nos anos de 1970,
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crianças vejam animais parindo. apenas 20Vo achavam que o sexo entre conhecidos
ô (';:' Embora a maneira mais óbvia de estudar dife- fortuitos era totalmente aceitável (Peplau, Rubin e
i' l: ,í\
- '_,. renças culturais seja investigar as práticas nos dife- Hlll, 197'7). De modo semelhante, embora as mulhe-
:.liÌ . ,. rentes países, também pode-se observar mudânças res estejam tornando-se mais parecidas com os ho.
culturais que ocorrem dentro de um país. Uma destas mens em relação ao compoftamento sexual, elas con-
>,1 mudanças ocoÍreu nos Estados Unidos e em outros tinuam a diferir dos homens em algumâs atitudes em
,.í) .? países ocidentais entre as décadas de 1940 e 1970. relação ao sexo antes do casamento. A maioria das
t- ,:, Nos anos 1940 e 1950, os Estados Unidos e a maio- mulheres que pratica sexo pré-marital o fazem com
liìi la
l9i
ria de outros países ocidentais seriam classìficados apenas um ou dois parceiros com quem estão emo-
como sexualmente restritivos. Tradicionalmente, a cionalmente envolvidas. Os homens, em contraste.
existência de sexualidade antes da puberdade tinha são mais propensos a procurar sexo com múltiplos
.-. í\ sido ignorada ou negada. O sexo conjugal era consi- parceiros (Laumann et al., 1994). Contudo, em um
derado a única forma sexual legítima, e outros meios determinado período de cinco anos, a maioria tanto
,:-ia; ; de expressão sexual (atividades homossexuais, sexo de homens quanto de mulheres tende a não ter mais
ì;í o, pré-marital e extraconjugal) eram geralmente conde-
atrì i...1
do que um parceiro sexual (Laumann et a1., 1994).
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nados e muitas vezes proibidos por lei. Evidente-
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;-ì:."1 mente, muitos membros destas sociedades entrega- Diferenças Sexuais Estudos de heterossexuais de-
:ì. ' ,:..' vam-se a estas práticas, mas freqüentemente com monstraram que homens e mulheres jovens diferem
sentimentos de vergonha. em suas atitudes em relação ao sexo; as mulheres são
iÌi --.-ì
Com o passar dos anos, as atividades sexuais mais propensas do que os homens a ver o sexo como
,Í tornaram-se menos restritas. As relações sexuais an- parte de um relacionamento amoroso. Relacionado a
-.a-l <l tes do casamento tornaram-se mais aceitáveis e mais isso, diferenças entre homens e mulheres foram
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ì:::. i- freqüentes. Entre indivíduos com nível superior en- identiflcadas quanto à natureza do tipo de evento que
'l;:": trevistados em 1940, 277o das mulheres e 49Va dos mais provavelmente provoca ciúme sexual: infideli-
<. iiìì
homens tinham praticado sexo pré-marital até a ida- dade emocional ou infidelidade sexual. Quer medi-
'- \l de dos 21 anos (Kinsey et al., 1953; Kinse, Pomeroy das por relatos pessoais ou por reações autônomas
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Introdução à Psicologia de Hilgard 337
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358 Capítulo l0 Rìta L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
- .:':.
:...t: ',r; Como reconhecem os autores da pesquisa, te- biológicas inatas, tais como genes ou hormônios pré-
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mos que considerar que esses percentuais estão abai- natais?
ìr li
xo dos percentuais reais, uma vez que muitas pes- Os melhores dados sobre as primeiras experiên-
iiil <! soas relutam em admitir desejos ou comportamentos cias de vida provêm de um estudo intensivo conduzi-
ii'ii ,1 que ainda são considerados por alguns como imorais do em ampla escala em que foram entrevistados
(!; ou patológicos. O problema foi especialmente acen- aproximadamente 1.000 homossexuais e 500 hete-
t::;ll
,:a.:., tuado nesta pesquisa porque as entrevistas foram rossexuais de ambos os sexos que viviam na área da
Í) conduzidas nos lares dos próprios entrevistados, e Baía de São Francisco tBell. Weinberg e Hammers-
;'
,^.'"
,',,,i:
outros membros da família, inclusive crianças, tam- mith, 1981a). O estudo revelou um - e apenas um -
bém estavam em casa no momento, embora não ne- importante fator que prognosticava uma orientação
l--,,r ::
cessariamente na mesma sala. durante mais de 20Vo homossexual na idade adulta tanto em homens quan-
das entrevistas. to em mulheres: inconformidade de gênero na infân-
i,iì lil cia. Como mostra a Tabela 10.2, quando inquiridos
Causas da Orientação Sexual A pergunta comum, sobre as atividades lúdicas de que gostavam ou não
"O que causa a homossexualidade?" é cientificamen- na infância, os homossexuais gd)Ìs e lésbicas tinham
te errônea porque implicitamente assume ou que a considerável maior propensão do que homens e mu-
':.-'
. -t
<,.....,
heterossexualidade não precisa de explicação ou que lheres heterossexuais a responder que não gostavam
(ì .-,i
(ì :::r'i suas causas são auto-explicáveis. Aqueles que por al- das atividades típicas de seu sexo e maior propensão
:itÌì :,ri: gum motivo pensaram sobre isso provavelmente a responder que gostavam de atividades típicas do
concluíram que como apenas o comportâmento hete- outro sexo. Os homossexuais gays e lésbicas tam-
ìi.' íi::ì
<::Ì ':. rossexual resulta em reprodução, este deve ser o Íe- bém tinham maior propensão do que os heterosse-
l!.,: ,:\\
sultado "natural" da evolução, e portanto somente xuais a responder que não tinham sido másculos (nos
::a'j
desvios da heterossexualidade (tais como a homos- homens) ou femininas (nas mulheres) quando crian-
i::' ,.r.,
sexualidade) oferecem um enigma cientíÍìco. O pró-
+, r':
.:- :' ças. Além desta inconformidade de gênero, os ho-
:rr'l:l prio Freud não concordava: "[a heterossexualidade] mossexuais gays e lésbicas eram mais propensos a
i 1....
também é um problema que necessita elucidação e terem tido mais amigos do sexo oposto.
Q :.r'rr
-- t- não é um fato auto-explicável baseado em uma atra- Duas características dos dados na Tabela 10.2
i:::ì
ção que é em última análise de natureza química" são dignas de nota. Primeiro, as descobertas são
'i:':i < (190511962, p. ll-12). É por concordamos com muito sólidas e semelhantes para homens e mulhe-
r! ,.
):r: it i Freud que chamamos esta seção do capítulo de tes'. 63Vo tanto de homossexuais gízl,s quanto de lés-
ti.. :,::i
ai-.j i!-il
"orientação sexual" e não de "homossexualidade". bicas não gostavam de atividades inÍantis típicas de
ó :::.
Mais uma vez está em questão a indagação da
.:i:. seu sexo, comparados com apenas 1 0 a I 5 7o dos he-
ii,i r'i natureza e experiência, que foi o que introduzimos terossexuais entrevistados. Segundo, é evidente que
,1..rÌ l
no capítulo sobre desenvolvimento (Capítulo 3) e o as mulheres são mais propensas do que os homens a
.::::l i que discutimos detalhadamente no capítulo sobre di- terem gostado de atividades típicas do sexo oposto
ferenças individuais (Capítulo l2): Em que medida a durante a infância e a terem tido mais amigos de in-
a:ri i"-i,
orientação sexual de um adulto é determinada pelas fância do sexo oposto. Na verdade, a maioria tanto
ü .r'
primeiras experiências da vida ou por influências de lésbicas quanto de mulheres heterossexuais neste
,iit't i";
TABELA 1O-2
;:ì li "l
lnconÍormidade de Gênero na lnfância Em um estudo de ampla escala com entrevistas, os homossexuais mas-
culinos e as lésbicas tinham considerável maior propensão do que homens e mulheres heterossexuais a dizer que
í,'.aì .,-: não tinham tido conformìdade de gênero durante a infâncìa. (Segundo Bell, Weinberg e Hammersmith, 1981 b)
. Í..
'!ìì. Homens Mulheres
a:!,); PreÍerências ê Comportamentos sem
. -,
Não gostavam de atividades típicas de seu sexo 63"/" 10T" 63"k 15"/"
Gostavam de atividades atípicas para seu sexo 48T" 11"/" 81V" 61"/"
iiì iaiìl
Tipif icado atipicamente (masculinidade/feminilidade) 56"/o 8"/" 807" 2470
È Útt
A maioria dos amigos de infância eram do sexo oposto 42/o 13/" 60"/" 40To
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Introdução à Psicologia de Hilgard 3S9
estudo eram masculinizadas, isto é, gostavam de ati- plo, na cultura Sambiana da Nova Guiné, citada an-
vidades de menino quando crianças. É o fato de não teriormente, todos os meninos têm comportamentos
rJ:
gostar das atividades típicas de seu sexo que parece exclusivamente homossexuais desde antes da puber-
,llÌ ser o melhor indicador de orientação homossexual dade até o final da adolescência. A partir de então,
nÌì quando adulto, tanto nos homens quanto nas mulhe- praticamente todos eles se casam e tornam-se exclu-
res. A descoberta geral de que a inconformidade de sivamente heterossexuais (Herdt, 1 984, 1 987).
ta
'tt):
gênero na infância prognostica um resultado homos- Finalmente, os estudos deixam claro que nossa
.\..t sexual na idade adulta foi confirmada por viírios ou- orientação sexual não é algo que simplesmente esco-
,a:lì
tros estudos (Bailey eZucker, 1995), incluindo di- lhemos. Homossexuais gdys e lésbicas não escolhem
i.-i
versos estudos que acompanharam meninos com in- ter sentimentos eróticos por pessoas do mesmo sexo
conformidade de gênero até a adolescência e idade mais do que heterossexuais escolhem ter sentimen-
:.i adulta e avaliaram suas orientações sexuais (Green, tos eróticos por pessoas do sexo oposto. Como ilus-
l.iaìl 1987; Zrcker, 1990). tra a seção Vozes Contemporâneas na Psicologia,
Além da descoberta geral de inconformidade de deste capítulo, os cientistas comportamentais real-
gênero, o estudo em São Francisco também gerou mente discordam em relação à questão da natureza e
muitos resultados negativos que foram importantes experiência - se os principais determinantes da
porque invalidaram teorias comuns sobre os antece- orientação sexual enraízam-se na biologia ou na ex-
:a, r'rr'rl
dentes da orientação homossexual. Por exemplo: periência -, mas o público muitas vezes interpreta
t, - ;:.
,::: A identificação de uma pessoa com o genitor de mal a questão, como se esta fosse entre saber se a
sexo oposto durante seu desenvolvimento parece orientação sexual é determinada por variáveis fora de
:::ì :. ..
controle do indivíduo ou se ela é livremente escolhi-
:a:: itir não ter impacto significativo no fato de ela tornar-
se homossexual ou heterossexual. Isso não confir- da. Esta não é a mesma questão.
ma a teoria psicanalítica de Freud (discutida no Uma vez que a maioria das principais teorias do
ì:.1"j": Capítulo 13) bem como outras teorias baseadas na homossexualismo baseadas nas experiências da in-
::''J dinâmica da família de infância da pessoa. fância ou adolescência não foram apoiadas por evi-
a. :.-
i.tì :.1,ì dências, muitos cientistas atualmente acreditam que
.....
,: ,l iiìi Homossexuais gdys e lésbicas não tinham maior
as origens tanto da inconlormidade de gênero da in-
:.j I propensão do que os heterossexuais entrevistados
:!:: fância quanto da orientação homossexual adulta po-
' '
a dizerem que tinham tido seu primeiro contato se-
dem estar na biologia do indivíduo, possivelmente
xual com uma pessoa do mesmo sexo. Além clisso,
nos genes ou nos hormônios pré-natais. O debate em
eles não careciam de experiências heterossexuais
Vozes Contemporâneas na Psicologia, apresenta
durante os anos de infância e adolescência, e tam-
pouco acharam estas experiências desagradáveis.
duas visões contrastantes das atuais evidências da
biologia.
A orientação sexuaÌ de uma pessoa geralmente é
determinada na adolescência, mesmo que ela ain- Fatores Biológicos Uma vez que os resultados do
da não se tenha tornado sexualmente ativa. Ho- estudo em São Francisco invalidaram praticamente to-
mossexuais gcys e lésbicas normalmente sentiram das as principais teorias do homossexualismo basea-
atração pelo mesmo sexo três anos antes de terem das nas experiências da infância ou adolescência, os
tido qualquer atividade sexual "avançada" com investigadores especulam que as origens tanto da in-
pessoas do mesmo sexo.
conformidade de gênero da infância quanto da orien-
Estas duas últimas descobertas indicam que, em tação homossexual adulta podem estar em fatores bio-
geral, os sentimentos homossexuais, e não os con- lógicos do indivíduo, incluindo hormônios e genes.
portamentos homossexuais, são os antecedentes crí- Como assinalado anteriormente, os hormônios
ticos de uma orientação homossexual na idade adul- sexuais - especialmente os andrógenos - estão en-
ta. Eles portanto invalidam qualquer teoria de apren- volvidos na motivação sexual. Esta observação suge-
dizagem comportamental simples da orientação se- riu a muitos dos primeiros pesquisadores que os ho-
xual, incluindo a versão popular leiga que afirma que mens homossexuais poderiam ter níveis inferiores de
uma pessoa pode tomar-se homossexual se for "se- andrógenos ou testosterona do que os homens hete-
duzida" por uma pessoa do mesmo sexo ou por ter rossexuais. Contudo, essa hipótese não foi confirma-
um(a) professor(a), genitor ou clérigo admirado e da. A maioria dos estudos não mostrou diferenças, e
'+
l-li').
Jì. abertamente homossexual. Dados interculturais tam- aqueles que o nzeram deixaram de controlar outros
bém são compatíveis com esta conclusão. Por exem- fatores conhecidos por suprimir os níveis de andró-
. <il
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ii. i;
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'a:,,.,:i4frt Capítulo 10 Rita L. Atkínson, Rìchard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
l: .-ì.ììÌ
o., ..
U ;:r genos, tais como estresse ou uso recreativo de dro- reta entre os hormônios pré-natais e a orientação se-
| ;j,l gas. Além disso, quando homossexuais masculinos xual adulta.
tlìr ,:4.,
ìrl recebem testosterona adicional, sua motivação se- Problemas metodológicos semelhantes dificul-
ì
xual aumenta - como ocorre nos homens em geral - tam a intelpretação de outras descobertas relaciona-
mas sua orientação sexual não muda. das com a hipótese hormonal pré-natal. Por exemplo,
íli: .
O papel dos hormônios no desenvolvimento pré- foi relatado que o hipotálamo de homossexuais gays
'' ''' ii:iÌ:
natal sugeriu uma hipótese hormonal diferente. Ba- difere num pequeno detalhe estrutural daquele de
i-i ..:
;, r:ì
seados na pesquisa em ratos em que a testosterona homens heterossexuais (LeVay, 1993, 1991). Como
pré-natal "masculiniza" o cérebro e influencia as notado anteriormente, o hipotálamo está intimamen-
l:j",
subseqüentes respostas de acasalamento como mas- te envolvido com os hormônios sexuais e o compor-
:ii
t-:l ''..=
culinas, alguns pesquisadores levantaram a hipótese tâmento sexual. Mas esta descoberta se baseia em
::::ì .::.
exames dos cérebros de homens que haviam morri-
de que os machos humanos que recebem quantida-
l': ii.ì des de testosterona consideravelmente abaixo da mé- do. Os homossexuais haviam todos morridos de
., 1 a dia em um momento crítico do desenvolvimento pré- complicações daAIDS, mas a maioria do grupo-con-
(:ll ..-.:
natal estarão predispostos a uma orientação homos- trole de heterossexuais tinha morrido de outras cau-
sexual na vida adulta; De modo semelhante, fetos fe- sas. Não sabemos se o processo patológico em si não
ii.'" '.'{
mininos expostos a quantidades de testosterona con- poderia ter afetado o cérebro, embora existam algu-
:.: vì;
sideravelmente acima da média podem também ser mas evidências de que a AIDS provavelmente não é
i\ì È;i
..,,' :ii. ligeiramente predispostas a uma orientação homos- a causa desta diferença estrutural (LeVay, 1993; ver
sexual na vida adulta (Ellis e Ames, 1987). também Bem, 1996; Z:ocker e Bradley, 1995).
u
,rj iì I 1,1,
cionados possuem falhas metodológicas que impedem genéticos e orientação homossexual adulta está
conclusões seguras (Adkins-Regan, 1988; Ehrhardt e bem-estabelecida - ainda que sua interpretação não.
'ìi::: ,-j,
-.: - ,:r
-. Meyer-Búlburg, I 98 I ). Por exemplo, um estudo bem Os dados mais persuasivos são os provenientes de
"i.ì >.. conhecido acompanhou meninas que foram expostas estudos de gêmeos idênticos e fraternos. Num estu-
a níveis extremamente altos de testosterona pré-natal. do de homossexuais gays que eram gêmeos idênti-
As meninas nasceram com genitiília ambígua, as quais cos, constatou-se que 527o óe seus irmãos gêmeos
foram corrigidas por cirurgia logo após o nascimento. também eram homossexuais, comparados com ape-
iìl ::ì":
Em entrevistas na segunda infância, estas meninas e nas 227o de seus irmãos gêmeos fraternos (Bailey e
ttli:t .', suas mães disseram que elas tinham maior propensão Pillard, 1991). Num estudo comparável de lésbicas,
':,11., para serem "masculinizadas" do que as meninas de 487o de suas irmãs idênticas eram também lésbicas.
t,: |.: um grupo-controle (Money e Ehrhardt, 1972). No comparado com apenas 167o de irmãs gêmeas frater-
início da idade adulta, elas eram mais propensas do nas. Além disso, apenas 67o das irmãs adotivas des-
>.ì-
i )
que as meninas do grupo-controle a terem fantasias tas mulheres eram lésbicas, mais um indicativo de
sexuais com o mesmo sexo (Money, Schwartz e Le- que os genes estão envolvidos (Bailey, Pillard, Nea-
a; wis, 1984). Estes resultados foram freqüentemente 1e e Agyei, 1993). Um estudo subseqüente de quase
":..ì ,:' interpretados como demonstrativos de que a testoste- 5.000 gêmeos que foram sistematicamente extraídos
iì
t! i;
i:Jì ;i,,.1:
rona havia "masculinizado" os cérebros das meninas de cartório confirmaram a hereditariedade da orienta-
i
l.rì durante o período pré-natal. ção sexual para homens, mas não para mulheres (Bai-
Mas outras interpretações são possíveis. Por ley e Martin, 1995). Finalmente, uma análise de 114
':.... exemplo, essas meninas também estavam tomando famílias de homossexuais gays, juntamente com uma
li\l
medicação com coftisona, o que poderia torná-las fi- análise cromossômica de 40 famílias nas quais ha-
tÌ1.)
;,;-' sicamente mais ativas e, conseqüentemente, mais viam dois irmãos homossexuais, mostrou evidência
rii
r!ì
íí
r'.ì-
impetuosas e desordeiras. Isso poderia influenciar de um marcador genético para a homossexualidade no
ai,'l
suas interações com outras meninas, com meninos e cromossomo X, o cromossomo que os homens rece-
r1 com adultos e, possivelmente, mudar o modo como bem de suas mães. Homossexuais gays tinham mais
í'':ì estas pessoas as tratavam. Por este e outros motivos, parentes homossexuais gays pelo lado matemo do que
,:.! o estudo não demonstra claramente uma ligação di- pelo lado patemo da família (Hamer e Copeland,
1994: Hamer et al.. 1993).
aì.
lntrodução à Psicologia de Hilgard 40Í
"
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,.'>'
(.)
Teoria do "Exótico Torna-se a Teoria do Erótico,,
Uma teoria recentemente proposta, baseada na expe-
riência, procura integrar as descobertas que revisa-
mos. Trata-se dateoria da orientação sexual do exó-
tico tornar-se erótico (Bem, 1995). Esta teoria pro-
põe, primeiro, que fatores genéticos e possivelmente
outros fatores biológicos não influenciam a orienta-
ção sexual por si mesmos, mas influenciam o tempe-
ramento e os traços de personalidade de uma criança.
Como veremos no Capítulo 12, em cerca de metade
,1..r
'::.' 1....,
lil:l da variação entre os indivíduos, a maioria dos traços
de personalidade podem ser atribuídos a diferenças
Ê genéticas. Em outras palavras, existe sólida evidência
de que a maioria dos traços de personalidade possui
um fofie componente genético ou hereditiírio, inclu-
sive temperamentos como emotividade, sociabiÌidade
e nível de atividade (Buss e Plomin, 1984, 1975).
O temperamento predispõe uma criança a gostar Segundo a teoria de Bem que o exótico torna-se
mais de algumas atividades do que de outras: uma erótico, uma crìança sem conformidade de gênero
irá sentir-se mais parecÌda e mais à vontade com
criança gosta de brincadeiras mais impetuosas e de
crìanças do sexo oposto.
esportes mais competitivos; outra irá preferir se rela-
cionar com mais tranqüilidade ou brincar de outras
coisas como, por exemplo, jogar amarelinha. Algu- tras meninas pode sentir semelhante excitação de
mas destas atividades são mais típicas dos homens; tom emocional. Contudo, o caso mais comum prova-
outras são mais típicas das mulheres. Assim, depen- velmente é o da criança que sente uma tênue excita-
dendo do sexo da criança, ela será geneticamente ção produzida por estar na presença de pares desse-
predisposta a ter conformidade ou inconformidade melhantes.
de gênero. Como mostra a Tabela 10.2, as crianças Finalmente, a teoria propõe que em anos futu-
<ii. também tendem a ter amigos que partilham de suas ros, esta excitação geral se transforma em excitação
preferências por determinadas atividades; por exem- erótica ou atração sexual - depois que a causa origi-
l,
plo, a criança - masculina ou feminina - que foge nal da excitação diminuir ou desaparecer. Evidências
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t...,,
dos esportes competitivos de grupo irá evitar brincar para esta última etapa no processo provêm, em parte,
com meninos e irá procurar meninas como parceiras de estudos laboratoriais em que participantes mascu-
para brincar. Conseqüentemente, as crianças com linos foram fisiologicamente excitados de diversas
conformidade de gênero sentir-se-ão mais parecidas maneiras não-sexuais (por exemplo, correndo sobre
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.,,,r1
e mais confoftáveis com crianças de seu próprio se- uma esteira ou assistindo a um videoteipe de um nú-
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xo; crianças com inconformidade de gênero sentir- mero teatral cômico ou de um urso sendo morto).
.. .:
se-ão mais à vontade com crianças do sexo oposto. Quando estes homens subseqüentemente assistiram
A teoria propõe então que a dessemelhança e a um videoteipe de uma mulher atraente, eles a acha-
desconforto produz excitação geral (não-sexual). pa- ram mais atraente e expressaram maior interesse em
ra a criança tipicamente feminina, esta excitação po- conhecê-la e beijá-la do que os homens que não ti-
de ser vivenciada como um ligeiro temor ou apreen- nham sido fisiologicamente excitados. Além disso,
são na presença de meninos; para a criança tipica- não importava o que havia causado a excitação inicial.
mente masculina, ela pode ser sentida na forma de Esta descoberta geral foi replicada em vários estudos
antipatia ou desprezo na presença de meninas (,,as (Allen, Kenrick, Linder e McCall, 1989; Dutton e
meninas são nojentas"). O caso mais claro é o meni- Aron, 1974; White e Kight, 1984; White, Fishbein e
no efeminado que é provocado e atormentado pelos Rutstein, 1981). Em resumo, a excitação fisiológica
outros meninos por sua inconformidade de gênero e geral pode ser subseqüentemente experimentada ou
conseqüentemente tende a sentir uma forte excitação interpretada como excitação sexual, ou até mesmo
criada pelo medo e raiva suprimida em sua presença. transformada nela.
Uma menina mais "masculina" que se afasta das ou-
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402 Capítulo 10 Rita L. Atkínson, Richard C. Atkinson, Edvçurd E. Smith, Dan^l J. Bem e Susan NoLen-Hoeksema
Impríntíng,,,,,:
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Aìgumas noJivações pârecem ser instiiifi-
vafiìenE direcionadas a seus alvos de in-
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centivo. O conceito de instìnto - uma pro-
:r. (ì pensão ineta para comportâÍ-se de um de-
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lerminado modo - tem uma história longa
e contÍoversa. No século KD( e início do
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1.,-l ,.-.. século XX. os psicólogos lormularam lon-
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gas listas de inslintos { I 8, segundo um teó-
1 í',
rico proemìnente; para erplicar o compor-
'ì lìl
tamenlo humano (McDougalt. 1908). A
partir de 1920. o conceito caiu em descré-
dito entre os psicólogos nofle-americanos,
em pafle porque a expliceçào geralmente
.r't: r,_i. era circular (por exemplo. podemos expÌi-
câÍ que os p*ssâitls,.èitnstíoem ninhos por-
que possuem um inslinto para isso. mas a O fenômeno do imprinting é tão forte que tem sido utilizado para treìnar espé-
única prova que temos deste instinto ë que cies ameaçadas de extinÇão a aprender rotas apropriadas de migração. Aqui,
jovens garças seguem um ultraleve pilotado pelo biólogo de vida selvagem
os pássaros constÍoem ninhos): em parte
Kent Clegg.
porque todo lipo de comportanìento pare-
cia se qualificar para seu próprio insünto. o
que levava a Iistas ainda mais longas t você do instinto começaram a ser incorpclrados ou seja, ele,pode $€r desencâdeado por al-
lem um instinto para fazer um curso de psi- na psicologia. gum estímulo natural na primeira rez em
cologia?): e ainda em parte porque o surgi- No sentido etológico, um padrào de que há contato com o estímulo. Uma
.,)
Ì::, mento do behaviorismo fez os psicólogos comportamento pcde ser chamado de ins- criança pequena engutinhando ou cami-
olharem mais para a aprendizagem em tintivo quando ele é ta) especÍfico à erpé- nhando peÌa primeira \ez, um jovem es-
tlll:
busca tle explicações do componamento. cie - ou $ejâ, ele apârece em todos os quilo rbrindo uma noz pela primeira vez e
-.,1 Conrudo, o estudo do componamento ins- membros de uma especie independente- um bebè humano recém-nascido sorrindo
.:i
tintivo persisüu entre um grupo de zoólo- menle do ambienre em que cresceram e ou chorrndo estão todos exibindo padròes
gos europeus conhecidos como etologisras \em serem especilìcamente aprendidos; instintivos de comportamento.
td(tl(,gìü e o ramo da zoologia que estuda 1b1 um padrão fixo de açào ou seja. ele Uma das aplicações mais bem-suce-
o comportamento dos animais), e a pafiir tem uma organização muito estereotipada didas da abordagem etológica tem sido o
da década de I 950 os conceitos etológicos e previsível; e {c) inatamente liberado - estudo do imprintìng, a rápida aprendiza-
Inversamente, a teoria implica que quando as uns com os outros porque se sentem como se Íbssem
crianças interagem com pares com os quais se sen- irmãos e irmãs (Shepher, 197 l).
tem à vontade, não ocome excitação. Assim, crianças O mesmo processo explica porque pÍaticamente
com conformidade de gênero terão amizades com as todos os homens sambianos tornam-se heterosse-
quais se sintam confortáveis, mas não-eróticas, com xuais na idade adulta apesar de terem passado toda a
ì'1'.. membros do mesmo sexo, ao passo que crianças com sua adolescência envolvidos em atividades homosse-
. :..u.
| Ìr-
inconÍbrmidade de gênero terão amizades do mesmo xuais. Embora a maioria deles goste de suas práticas
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tipo, não-eróticas, mas com membros do sexo opos- homossexuais, o contexto de íntima ligação masculi-
to. Assim, apenas o exótico torna-se erótico. Evidên- na no qual elas ocorrem não produz sentimentos ho-
!,::, ,ii.
cias indiretas disso provêm da observação de que moeróticos ou românticos tbrtemente carregados;
,1.)
meninos e meninas criados coletivamente em comu- enquanto isso, os meninos aprendem que as mulhe-
t::: !l nidades (kibbutzim) em Israel raramente se casâm res são inferiores e perigosas - o que aumenta o ape-
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.ì :.:liì lo erótico das mulheres. De modo mais geral, a teo-
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gem inicial que permite que um recém- vínc*lo'entre,+ÌúãEe sua piole é chamado
nascido ou animal que acabou de saú de d.* ímprínting:'fursi?le. OÌÌlro lipo de irÌ'
um ovo desenvolvr apego pela mìe lver priníing é o impÍinli:ìng.,Sexual, q*e é -#-!
Capítulo 71. Nas primeiras horas de vida. aprendido ao mesmo tempo que o imprìn-
os bebês de muitas espécies qão ''progra- ting maf€mo, mas só se,e*pres$a no cclït-
mâdcg::Ì:pâra adquirir uma ligação emo- portamento posteriormeÍtdnà vida, quan-
cional com a figura social mais próxima. do o animal escolhe um parceiro. No inr-
,:l:, 't',
Normaìmente esla seria I mãe. mas se um printing sexuat, o bebê aprende com seus .d:- /
palinho que recém-eclodiu do ovo vir pais como deve parecer um "adulto ade-
{
apenas um ser humano ou ald mesmo um
objeLo inanimado em movimento. como.
quado" e depois. quando adulto. escolhe
um parceiro de aparência semelhante. Por
{///r' J*
por exemplo. um chamariz cle caça de ma- exemplo. um paLinho macho cr-iado por r
deirá, em vee de sua mãe rea,l, ele irá "1i- sua màe natural posleriormente irá esco- Quando os estudos de imprinting
I
gar-se" à pessoa ou ao objeto. Duranle o lher uma parceira que se pareça com ela, dão errado.
''penodo críLico" no quaì o Imprinring po- mas um macho criado por uma mãe adoti-
ì:_
de oconeE â exposição a urn objet* por va de uma espécie diferente de pato irá es-
ia apenas [0 minulos e sutìciente para esla- colher uma parceira que se.ja semeÌhante à uma escolhã melhor. AÌguns psicólogos
belecer uma ligaçào emocional que irá mãe adotiva e não à mãe biológica. A sugeriram que este mecanismo pode estar
l!l
-'ìl persisúr até que o animal te úa crescido. maior prelerência é por parceiros que se- relacionado com o motivo pelo qual as lì-
.a'
O patinho irá sêgúr o chamãriz se este for jam parecidos. mas nào idênticos ao alvo gaçòes românticas humunas raramente re
o primeiro objeto que vìr, depois irá renrar de imprinting sexual. Um parceiro que é desenvolvem entre membros da mesma
perïnanecer próximo a eÌe mesmo em cir- apenas Iigeiramente diferente do alro é famíie.
t - ..- cunstánciâs adversas, e posteriormente irá percebido como mais desejável (Bateson, Os seres humanos sào capazes cle rm-
prelerir estar perto dele me5mo que possa 1978r. Os etologisras intcrpreruam esse prinringl'O imprìntìng é mds lorte nas
optar enre ele e um pato vivo tHess. lenômeno como um mecanismo psieoló- espëcies que nascem e eclodem já com a
1972.t. Esra tcndência e rào forte que re- gico que se desenvolvcu para perm.itir que capacidade tle se deslocar e que amadure-
centemenle loi utiìizada para treinarespd- o indivíduo escolhesse um parceiro de es- cem rapidamente. Os seres humanos. em
cies ameaçadrs de exünçào a seguirem pécie apropriada. mas ao mesmo tempo conraste, nascem impolente$ e amadure-
..-. ultraleves para aprenderem rotas de mr- evitasse a endogamia. Um perceiro que cem lentamenle. Embora raços de im-
graçào apropriadas ( Li ne. I 998 t. pareceça idèntico ao alvo de imprinting prinring persistam nos humanos. eles sào
'.::.
O Ìmprinting tem diversas outras tende a ser um prrente próximo: um par- de pouca imponância quando compara-
conseqüôncias. O desenvolvimento do ceiro apena$ ligeiramente diferente seria dos com a influência dr culLura.
ria implica que em diÍèrentes épocas e culturas, a he- parceiros por parte de animais não-humanos. Como
terossexualidade será o resultado predominante por- discutido no quadro de Fronteiras da Pesquisa psico-
que praticamente todas as sociedades estabelecem lógica deste capítulo, algumas espécies preferem
uma divisão de trabalho baseada no sexo que divide parceiros que sejam semelhantes, mas não-idênticos,
homens e mulheres e os torna dessemelhantes, exóti- ao alvo de imprinting sexual com o qual tiveram con-
cos, e, portanto, eróticos uns para os outros. tato antes da maturidade sexual; um parceiro que é
Outros autores também propuseram que, embo- apenas ligeiÍamente diferente do alvo é percebido
ra a semelhança e a familiaridade possam promover como mais desejável. Os etoÌogistas especulam que
amizade e compatibilidade, é a dessemelhança, a es- esta preferência impede a endogamia porque um par-
tranheza e o sentimento de exotismo que despertam ceiro que parece idêntìco ao aÌvo de imprintíng ten-
a excitação sexual e/ou sentimentos românticos de a ser rÌm parente próximo.
(Bell, 1982; Tripp, 1987). Os etologistas até assina- A questão geral aqui é que apenas porque um
laram os efeitos da dessemelhança nas escolhas de comportamento pode ser vantajoso do ponto de vista
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i-ì:> de reprodução, isso não significa que a evolução o genes. E assim como bebês de patos irão encontrar
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"È7 "embutiu" na espécie. Considere-se mais uma vez os mães patas, na maioria das vezes, também as socie-
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patos descritos no quadro Fronteiras da Pesquisa Psi- dades humanas asseguram que homens e mulheres
>;: cológica. Evidentemente seria vantajoso para sua re- vejam a si mesmos como dessemelhantes o suficien-
produção que os patos acasalassem com outros pa- te pa"ra gaÍantir que a espécie não desapareça. Foi até
tos. Mas se eles forem criados por uma mãe adotiva sugerido que pelos cuidados dispensados aos sobri-
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Ên t<i de outra espécie, eles irão preferir um parcei-ro(a) nhos e sobrinhas, tias lésbicas e tios homossexuais
'": líì. que seja parecido com ela a outro pato. Eles irão até ajudam aespécie aperpetuar (V/ilson, 1978).
arú ":1,Ï
preferir um humano se ele for o primeiro objeto em Ao longo deste capítulo, vimos que as causas
movimento que virem depois de saírem da casca. psicológicas e biológicas estão tão intimamente en-
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r I irr Contanto que o ambiente apóie ou promovasuficien- trelaçadas no controle de muitas motivações que aca-
q.íi a:ì' temente o comportamento reprodutivamente vanta- bam se fundindo em uma sucessão de eventos. Não
joso, este não será,necessariamente programado nos apenas as causas biológicas podem controlar as mo-
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Introdução à psicologia de Hilgard ?';*j|.,Wê
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tü tivações psicológicas como fome e sede, mas os pro- saciedade produzido por um estômago cheio de ali-
cessos e as experiências psicológicos controlam a mento é influenciado pela experiência anterior. Nos-
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E motivação e, por retroalimentação, podem controlar sas ligações sociais são determinadas em grande par-
E as respostas fisiológicas. Por exemplo, o uso repeti- te pelas conseqüências das primeiras interações so_
E do de uma droga aditiva pode perÍnanentemente alte-
É ciais com determinados indivíduos. Em muitos pro-
t rar determinados sistemas cerebrais. Mais comu- cessos motivacionais, a biologia e a psicologia não
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mente, os alimentos e as bebidas específicos que de- são domínios separados, mas dois aspectos do con-
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sejamos são estabelecidos como objetos de escolha trole que interagem continuamente para dirigir
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em grande parte por aprendizagem, e até o grau de processos motivacionais.
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A Orientação.Sexual Nãt S trnata
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RESUMO
1. Os estados motivacionais orientam e ativam o comporta- 8. A fome é grandemente controlada por sinais de déficit ho-
mento. Eles surgem de duas fontes: fâtores instintivos internos meostático e de saciedade. Certos neurônios no cérebro, prin-
e fatores de incentivos externos. cipalmente no tronco cerebral e no hipotálamo, detectam deÍì-
2. Os fatores de incentivo são metas no mundo externo, tais ciências de glicose e provocam fome. Outros detectores de nu-
como alimento, água, parceiros sexuais e drogas. Os incenti- trientes, principalmente no fígado, detectam o aumento de re-
vos são o alvo do comportamento motivado e são tipicamente servas de energia e provocam saciedade. Um sinaÌ de sacieda-
recompensadores. Embora alguns incentivos - tais como do- de, na forma do hormônio colecistoquinina, é liberado dos in-
ces quando estamos com fome - sejam poderosos motivadores testinos para ajudar a parar a fome e a ingestão de alimentos.
por si só, a maioria dos incentivos se estabelece por aprendiza- 9. Duas regiões do cérebro são críticas para a fome: o hipotá-
gem. lamo lateral e o hipotálamo ventromedial. A destruição do hi-
3. Muitos tipos de recompensas naturais podem ativar o siste- potálamo lateral provoca diminuição na ingestão de alimentos.
ma dopamínico mesolímbico. A atividade nestes neurônios A destruição do hipotálamo ventromedial provoca excesso na
pode constituir a base neural para todas as recompensas. A ati- ingestão de alimentos. Embora inicialmente se pensasse que
vação artificial destes neurônios por drogas de recompensa ou estas duas regiões fossem centros de fome e saciedade, a fome
estimulâção cerebral elétrica provoca aumento da motivação não é destmída por qualquer tipo de lesão. Outra interpretação
tanto para incentivos naturais quanto artificiais. Mudanças destes efeitos é que as duas regiões do hipotálamo exercem
neste sistema, produzidas pelo repetido consumo de drogas efeitos recíprocos no ponto de ajuste homeostático do peso
que o ativam, podem, em parte, causar o desejo compulsivo corporal. Danos ao hipotálamo lateral podem diminuir o pon-
verificado na adicção. to crítico, e danos ao hipotálamo ventromedial podem elevar o
4. Fatores instintivos tendem a promover homeostase: a pre- ponto crítico. Drogas para dieta que alteram o apetite podem
servação de um estado interno constante. A homeostase envol- Íìncionar em parte por afetarem neurônios nestas regiões do
ve diversos componentes: um valorde objetivo ou ponto críti- hipotálamo.
co para o estado interno ideal, um sinal sensorial que mede o 10. As pessoas tornam-se obesas principalmente porque: (a)
,_ estado interno presente, uma comparação entre o valor de ob- são geneticamente predispostas a ter peso acima do normal ou
t...1.
jetivo e o sinal sensorial e, finalmente, uma resposta que leva (b) comem excessivamente (por motivos psicológicos). A in-
o estado interno presente para mais perto do valor de objetivo. fluência dos genes é mediada por seu efeito nas células de gor-
5. A regulação da temperatura é um exemplo de homeostase. dura, na taxa metabólica e nos pontos críticos. Quanto ao ex-
A variável regulável é a temperatura do sangue, e sensores pa- cesso na alimentação e à obesidade, as pessoas obesas tendem
ra isso estão distribuídos em diversas partes do corpo, incluin- a comer em excesso quando param de fazer dieta, comem
do o hipotálamo. Os ajustes são respostas lisiológicas automá- mais quando estimuladas emocionalmente, e são mais respon-
ticas (por exemplo, arrepios) ou respostas comportamentais sivas a sugestões externas de fome do que as pessoas de peso
voluntárias (tais como vestir um pulôver). normal. No tratamento da obesidade, dietas extremas parecem
6. A sede é outro motivo homeostático. Existem duas variá- ineficazes porque a privação causa posterior excesso de ali-
veis reguláveis, o fluido intracelulff e o fluido extracelular. A mentação e diminuição da taxa metabólica. O que parece fun-
perda de líquido intracelular é detectada por sensores osmóti- cionar melhor é estabelecer um novo conjunto de hábitos ali-
cos - neurônios do hipotálamo que respondem à desidratação. mentares permanentes e fazer um programa de exercícios.
A perda de líquido extracelular é detectada por sensores de 1 1. A anorexia nervosa é caracterizada por extrema perda de
pressão sangüínea - neurônios localizados nas principais veias peso auto-imposta. A bulimia caracteriza-se por episódios re-
e órgãos que respondem a uma queda na pressão. Os sinais in- coÍrentes de ingestão exagerada de alimentos, seguida por ten-
tracelulares e extracelulares atuam juntos para produzir sede. tativas de purgar o excesso por meio de vômitos ou laxantes.
7. A fome se desenvolveu para nos permitir selecionar uma As possíveis causas destes distúrbios alimentares incluem fa-
diversidade de nutrientes. Os humanos possuem preferências tores alimentares como baixa auto-estima, fatores sociais co-
inatas de paladar, tais como por sabores doces, e aversões, tais mo destaque cultural à magreza, e fatores biológicos como
ítJi
como pelo sabor amargo, que orientam nossa escolha de ali- baixos níveis de serotonina.
mentos. Além disso, podemos desenvolver uma ampla varie- 12. Hormônios pré-natais contribuem para o desenvolvimento
dade de preÍ'erências e aversões adquiridas. Sinais homeostá- sexual. Se as glândulas sexuais produzem hormônios andróge-
ticos de fome, que aparecem quando o corpo está com poucos nos suhcientes, o embrião terá um padrão masculino de desen-
combustíveis ricos em calorias, como a glicose, produzem volvimento genital e cerebral. Se os andrógenos estão em níveis
tl-.
apetite em parte por fazerem o indivíduo perceber alimentos baixos ou ausentes, o embrião terá um padrão feminino de de-
de incentivo como mais atraentes e agradáveis. senvolvimento genital e cerebral. Nos animais, os hormônios
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Introdução à Psicologia de Hilgard 409
pré-natais paÍecem ser deteminantes poderosos do compofia- pares têm uma grande influência na sexualidade adulta em pri-
mento sexual adulto. Nos humanos, os hormônios pré-natais matas e humanos. Para os humanos, outros deteminantes am-
parecem ser muito menos importantes, embora possam ainda bientais da sexualidade adulta incluem as normas culturais.
desempenhar um papel no desenvolvimento sexual posterior. Embora a sociedade ocidentaÌ tenha tornado-se cada vez mais
Nos casos em que a exposição hormonal do embrião é típica flexível em relação aos papéis sexuais femininos e masculi-
de um sexo, mas o papel social e o gênero após o nascimento nos, homens e mulheres podem ainda diferir em suâs atitudes
é mais característico do sexo oposto (devido a desequilíbrio perante o sexo e os relacionamentos.
hormonal, medicamentos pré-natais ou acidentes pós-natais), '14. Estudos recentes apoiaram a afirmativa de que fatores
o desenvolvimento do indivíduo parece corresponder mais biológicos, genéticos, hormonais ou neurais podem determi-
proximamente ao gênero social pós-natal. nar em parte se um indivíduo será heterossexual ou homosse-
13. Os hormônios femininos (estrógeno e progesterona) e os xual, mas as evidências não são conclusivas. Também não se
hormônios masculinos (andrógenos) são responsáveis pelas sabe se fatores biológicos podem inÍluenciar a orientação se-
mudanças no corpo que ocorrem na puberdade, mas desempe- xual diretamente ou se ao invés disso eles contribuem para ou-
nham um papel limitado na excitação sexual humana. Em con- tÍos traços, tais como a conformidade de gênero, que indireta-
traste, em outros animais, existe um substancial çontrole hor- mente influenciam o desenvolvimento da orientação sexual.
monal sobre o sexo. As primeiras experiências com os pais e
PALAVRAS-CHAVE
1. Em que medida você acha que seus hábitos alimentares são 2. Por que você acha que muitas pessoas acreditam que o de-
controlados pelas necessidades fisiológicas de seu corpo? Eles sejo e a atividade sexual humana são fortemente influenciados
são controlados por fatores genéticos? E por fatores ambientais? pelos hormônios quando as evidências sugerem que não?
Uma visão geral dos fatores biológicos na motivação pode ser nos alimentares, ver Szmukler, Dare e Treasure, Handbook of
encontrada em Rosenzweig, Biologícal Psychology (1996), e Eating Disorders (1994), e Garner e Garfinkel, Handbook of
em Carlson, Physiology ofBehavior (5. ed., 1994). As bases Treaíment .for Eating Disorders (2. ed., 1997). Para relatos
neurais da recompensa são discutidas detalhadamente por pessoais de jovens com distúrbios de alimentação, ver Pipher,
Hoebel no Handbook of experímental Psychology de Stevens Revivíng Ophelía (1994). Uma discussão de diversos aspectos
(2. ed., 1 988). Para análises dos fatores que controlam o comer da sexualidade humana pode ser encontrada em McWhirter et
e o beber, ver E.M. Stricker (ed,.), Neurobiology of Food and al. (eds.), Homossexuality/ Heterossexuctlity (1990); e em Le-
Fluíd Intake, Handbook of Behavíoral Neurobiology 10 Yay, The Sexual Brain (1994).
(1990). Para uma variedade de perspectivas sobre os transtor-
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CapÍrur-o 11
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Componentes da Emoção
Excitação e Emoção
ossos sentimentos mais básicos
I ntensidade das Emoçoes
Fronteiras da Pesquisa Psicológica: incluem não apenas motivos como
Utilização da Excitação para Detectar fome e sexo, mas também emoções co-
Mentiras
mo alegria e raiva. Emoções e rÌìotivos
Diferenciação das Emoçòes
estão intimamenle relacionados. As
Cognição e Emoção
Intensidade e Diferenciação das Emoções emoções podem ativar e dirigir o com-
Dimensões de Avaliação portamento da mesma maneira que os
Algumas Implicações Clínicas
motivos básicos o fazem. Elas também
Emoçâo sem Cognição
Expressão e Emoção
podem acompanhar o comportamento
Comunicação da Emoção Através das motivado: o sexo, por exemplo, não é
Expressòes Faciais apenas um motivo poderoso, mas tam-
Localização no Cérebro
bém uma fonte potencial de alegria.
Intensidade e Diferenciação das Emoções
Reações Gerais à Presença de um Estado Apesar de suas semelhanças, é preciso
Emocional distinguir motivos de emoções. Uma di-
Atenção e Aprendizagem: Congruência de
ferença é que as emoções são desenca-
Humor
Avaliação e Estimativa: Efeitos do Humor
deadas do exterior, ao passo que os mo-
Agressividade como Reação Emocional tivos são ativados do interior. Ou seja, as
Agressividade como Impulso emoções geralmente são despertadas
Agressividade como Resposta Adquirida
por eventos externos, e as reações emo-
!,1.1
Expressão Agressiva e Catarse
iar:Ì, Vozes Contemporâneas na Psicologia: cionais são dirigidas a estes eventos;os
As Emoções Positivas nos Fazem Bem? motivos, em contraste, muitas vezes são
despertados por eventos internos (tais
como desequilíbrio homeostático) e são
naturalmente dirigidos a determinados
objetos do ambiente (como comida,
água, ou um parceiro). Outra distinção entre motivos 3. Cognições sobre a emoção e situações associa-
e emoções é que um motivo geralmente é provocado das.
por uma necessidade específica, ao passo que uma 4. A expressão facial.
emoção pode ser provocada por uma ampla varieda-
5. Reações à emoção.
de de estímulos (pense em todas as coisas diferentes
6. Tendências de ação.
que podem deixálo furioso).
Estas distinções não são absolutas. Uma Íbnte Nenhum desses componentes por si só é uma emo-
externa às vezes pode despertar um motivo. como
ção. Eles todos se reúnem para criar uma determina-
ocorre quando a visão da comida desperta a fome. E da emoção. Além disso, cada um desses componen-
o desconforto causado por um desequilíbrio homeos- tes pode influenciar os outros componentes. Por
tático - fome severa, por exemplo - pode despertar
exemplo, sua avaliação cognitiva de uma situação
emoções. Não obstante, as emoções e os motivos são pode causar uma determinada emoção: se você acha
suficientemente diferentes em suas fontes, experiên- que um balconista está tentando enganá-lo, você pro-
cia subjetiva e efeitos no comportamento para mere- vavelmente sentirá cólera. Mas se você já estiver
cerem abordagens separadas. zangado no início da situação, terá tendência ainda
maior de avaliar o comportamento do balconista co-
Gomponentes da Emoção mo desonesto.
Os teóricos da emoção estão cada vez mais ado-
A emoção é uma condíção complexa qLte sLrge em tando uma perspectiva sistêmica nâ abordagem da
resposta a determinadas experiências de caráter emoção, na qual se considera que os componentes
afetivo. Uma emoção intensa tem pelo menos seis de uma emoção exercem efeitos recíprocos uns so-
componentes (Fridja, 1986; Lazarus, 1991). O com- bre os outros (ver Figura 1 1.1). As questões críticas
ponente que reconhecemos com mais freqüência é a nas modernas teorias da emoção dizem respeito à
experiência subjetiva da emoção - o estado afetivo natureza de cada um desses componentes e os meca-
ou os sentimentos associados à emoção. Um segun- nismos específicos pelos quais eles influenciam uns
do componente é a reação corporal. Quando irritado, aos outros. Por exemplo, um conjunto de questões
por exemplo, você pode às vezes tremer ou aumentar relaciona-se a como as respostas do sistema nervoso
o tom de voz mesmo sem intenção de fazê-lo. Um autônomo (ver Capítulo 2), crenças e cognições, e
terceiro componente é o conjunto de idéias e crenças expressões faciais contribuem para a intensidade de
que acompanham a emoção e parecem vir à cabeça uma emoção experimentada. Por exemplo, você se
automaticamente. Sentir alegria, por exemplo, mui- sente mais zangado quando experimenta maior exci-
tas vezes envolve pensar sobre os motivos para a ale- tação de seu sistema nervoso autônomo? Na verda-
gria ("Eu consegui - entrei para a faculdade!"). Um de, será que você sequer seria capaz de sentir-se
quarto componente de uma experiência emocional é zangado se não tivesse excitação autônoma? De mo-
a expressão facial. Quando você sente nojo, por do análogo, a intensidade de sua cólera depende de
exemplo, é provável que você franza as sobrance- você ter um certo tipo de pensamento, ou um certo
lhas, muitas vezes abrindo a boca e semicerrando os tipo de expressão facial? Em contraste com essas
olhos. Um quinto componente diz respeito às rea- questões sobre a intensidade de uma emoção, tam-
ções gerais à emoção; por exemplo, uma emoção ne- bém existem questões sobre que componentes de
gativa pode obscurecer sua visão de mundo. Um sex- uma emoção são responsáveis por fazer com que as
to componente são as tendências de ação associadas diversas emoções pareçam diferentes. Para entender
à emoção - o conjunto de comportamentos que as a diferença entre as questões relativas à intensidade
pessoas tendem a apresentar quando experimentam e as questões relativas à diferenciação, considere a
uma certa emoção. Por exemplo, a ira pode levar-nos possibilidade de que a excitação autonôma aumenta
à agressão. em muito a intensidade de nossas emoções, mas o
Assim, nossa lista dos componentes de uma padrão de excitação é aproximadamente o mesmo
emoção inclui o seguinte: para diversas emoções; se este fosse o caso, a exci-
tação autonôma não poderia se diferenciar entre as
l. A experiência subjetiva da emoção. emoções.
2, Respostas corporais internas, especialmente Neste capítulo, estas questões servirão de orien-
aquelas que envolvem o sistema nervoso autô- tação ao considerarmos a excitação autonôma, a ava-
nomo. liação cognitiva e a expressão facial. Depois, voltare-
412 Capítulo 11 Rítct L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Dan,l J. Bem e Su.son Nolen'Hoeksema
ComproffiiËËo ÉnÌendÍ-
Condições corpo pâra ações de emergência (ver capítulo 2). o
l:-1 :
rÍèntô
com obletlvos situacionais sistema simpático é responsável pelas seguintes mu-
,i. ... Crença$ siluâcional
: CÕnhecimënto. danças (que não precisam ocorrer todas ao mesmo
'.,.1
tempo):
' i.;ì
.a: ',
Qual é o relacionamento entre maior excitação fisio- O coração batendo mais ÍoÍte 56% 30"/" 86"/o
lógica e a experiência subjetiva de uma emoção? e mais rápido
Particularmente, a percepção de nossa excitação faz Os músculos muitotensos 53 30 83
parte da experiência da emoção? Para responder a zangado
Facilmente irritado ou 58 22 80
ALTERAçAO NA
FIGURA 11.2 EMOTIVIDAOE "O'5
ii)
ii''
ijl
Introdução à Psicologia de Hilgard 415
RESPTRAçÃO FIGURA 1 : ,:
acred;{4m que os beneficios destes::exam€s nervoso autônomo quando o Íalante está cordas vocais não podem set controladas
supeiam os riscos. e os exalres com polÊ sob tenção. Quando uma grrvaçào em fita pela vontade). Por outro lado. um formrto
grafos são uLilizados com freqüência na in- da voz de uma pessoa é reproduzida atra- de onda retesado indica apenas que o indi-
dúqrria priv
. Eles tãm m são muito vés de um dispositivo chamado de anali- vÍduo esrá tenso ou ansioso. e nào necessa-
utilizê4q+ no campri€*fgde lqls- O FBI sador de tensào da voz. uma represenla- riamente que,ele está mentindo.
aplica miúares de testes por ano, a maioria qão visual da roz pode ser produzida em Entretanlo, exislem dois problemas
cleles para segúr pisras e verificar latos uma t"ira de papel milimetrado. As vibra- sérios com o uso de um analisador de ten-
são de voz para a detecção de mentiras.
áreas nas qúais, concordam os especialis- ções das cordas vocais na voz de um fa-
tas. o polígralo é mais útil. Em casos cri- lante que esú reÌaxado assemelham-se a Primeiro. uma ver que o tLnalisador pode
minais e privatios, quaìquer pessoa tem o uma série de ondas íver o grálìco à es- operar por telefone. em mensagens de rd-
direito legal de recusar um exarre com po- querda na Figura 2). Quando o falante es- dio ou teìevisão, ou a partir de gravações,
lígralo. Enretanto, isso clificilmente é uma tá sob tensào. as r ihraçòes são suprimidur existe a possibi lidade de que o dispositivo
salvaguarda para uma pes\oa cuja recusa. (ver o gráfico à direita na Figura 2). seja utilizado sem ética. A segunda preo-
por qualquer motìvo, pode pôr em rìsco O analisador de tensão de voz é utili- cupação é com a preci$ãÕ, Àlguns investi
uma carreira ou oportunidade de trabalho. zado na detecqào de menliraç essencial- gadores alegam que o analisador de voz
Outro tipo de detector de mentiras mente clo mesmo moclo que um polígrafo: tem a mesma exatidào que o poligrafo pa-
mede as alterações na voz de uma pessoa pergLrntas neutras sào intercaladas com ra distinguir indivíduos inocentes e cuJpa-
que seriam indefectáveis ao ouvido huma- perguntas críticas, e os registros das res- dos; ou$os afirmam que ele não é mais
no. Todos os músculos, inclusive aqueles postas dos parlicipantes a ambas são com- preciso do qúe o acaso. Muito mais pes-
que controlam as cordas vocais, vìbram parados. Se as respostas às perguntâs cíti- quisas precisam ser feitas para determinar
ligeiramente quando estão sendo utiliza- cas produzem o fomaio de onda relarado. o relacionamenlo enlre mudanças de voz
dos. Essa vibração, que é transmitida às a:pessoa provâvelmente está dizendo a ver- e outras medìdas fisioÌógicas da emoção
cordas vocais. é suprimida pelo sistema dade (pelo que se sabe. as vibrações das (Lykken. lq80: Rice, 1978).
FIGURA 2
l
jiljri'lil;111;,1;,,'' para um falante relaxado assemelha-se
a uína séríe de ondas como aquelas
ií
Ìi11:;, i,jl j1i; iill mostradas à esqueda. As ondas são
I iÌ iliüq
l,j:i,,: produzidas por pequenas vibraçoes
l lliì'ï,,\ ,'.,,,:;':,.,.;";, : ;l ii ï,ji í il l, itill das cordas vocais. Sob tensão, as vi-
liiíìÌ 'iÌ| ijiij1 ii;1,;rlii, ;;
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il b rações sào sup r midas, p rod uzi n d o
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uma impressão semelhante àquela exi-
bida à direita. (Segundo Hotden, 1975)
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4'r6 Capítulo 11 Rita L. Atkhson, Rir:hard C. Atkinson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
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Introdução à Psicologia de Hilgard 417
produziram expressões emocionais para cada uma de sua freqüência cardíaca, temperatura da pele e oulros
seis emoções - sulpresa, nojo, tristeza, cólera, medo indicadores de excitação eram registrados. Embora a
e alegria - seguindo instruções sobre que músculos magnitude das alterações fisiológicas tenha sido me-
faciais específicos deveriam contrair. Enquanto eles nor do que a das alterações descritas anteriormente
mantinham a expressão emocional por l0 segundos, para indivíduos norte-americanos, os padrões de ex-
os pesquisadores mediram sua freqüência cardíaca, a citação para as diferentes emoções eram os mesmos:
temperatura da pele e outros indicadores de excita- a freqüência cardíaca era maior para a cólera, medo
ção autonôma. Algumas destas medidas revelaram e tristeza do que para nojo, e a temperatura da pele
diferenças entre as emoções (ver Figura 1 1.3). A fre- era mais alta para a cólera (Levenson etal.,1992).
qüência cardíaca era mais rápida para as emoções Estes resultados são importantes mas não ofere-
negativas de cólera, medo e tristeza do que para ale- cem apoio inequívoco para a teoria James-Lange ou
gria, surpresa e nojo; e as primeiras três emoções para a idéia de que a excitação autonôma é o único
distinguiam-se em parte pelo Íato de que a tempera- componente que diferencia as emoções. Os estudos
tura da pele era mais elevada na cólera do que no me- que descrevemos demonstraram que existem algu-
do ou tristeza. Assim. se tanto ao sentirmos cólera mas diferenças fisiológicas entre as emoções (embo-
quanto âo verïnos alguém que amamos nosso coração ra alguns pesquisadores questionem isso; ver Ca-
bate mais rápido. somente a cólera o Íàz bater muito cioppo et al., 1993), e não que essas diÍ'erenças são
mais rápido; e embora a cólera e o medo tenham mui- percebidas e experimentadas como diÍ'erenças quali-
to em comum, a cólera é quente e o medo é frio (não tativas entre as emoções. Mesmo que a excitação au-
admira que as pessoas dizem que seu "sangue t-erveu" tonôma ajude a diferenciar algumas emoções, é im-
de raiva ou que "gelaram" de medo). provável que ela diferencie todas as emoções; por
Em um estudo semelhante, 32 universitárias ti- exemplo, é improvável que encontremos nas reações
veram contato com incentivos variados ligeiramente autonômas a diferença entre contentamento e orgu-
estÍessantes enquanto a temperatura de seus rostos e tho. Além disso, as duas primeiras objeções de Can-
mãos era registrada. Verificou-se um aumento na non à teoria de James-Lange ainda continuam valen-
temperatura epidérmica das mãos em reação a seg- do: a excitação autonôma é muito lenta para diferen-
mentos de Íìlmes que visavam produzir alegria, mas ciar experiêncìas emocionais, e a indução artiÍìcial
ocoÍreu um resÍÌiamento em reação a perguntas pes- de excitação não produz uma emoção verdadeira.
soais ameaçadoras (Rirnm-Kaufman e Kagan, 1996). Por estcs motivos, muitos psicólogos ainda acredi-
Outra pesquisa sugere que estes padrões caracte- tam que alguma outra coisa diferente da excitação
rísticos de excitação podem ser universais. Leven- autonôma deve estar envolvida na diferenciação das
son, Ekman e colegas estudaram os minangcabaus emoções. Geralmente consìdera-se que este algo
do oeste de Sumatra, uma cultura muito diferente da mais (ou parte dele) é a avaliação cognitiva pelo in-
cultura norte-americana. Mais uma vez, os partici- divíduo da situação.
pantes produziram expressões faciais para várias
emoções - medo, cólera, tristeza e nojo - enquanto
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(ú o
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Õ o
FIGURA 11.3
8
0) :
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DiÍerenças de Excitação para DiÍerentes Emoções
0,15
Alterações na freqüência cardíaca (tom escuro) e na b
temperatura do dedo direito (tom claro). Para a fre- ALTERAçÃO 4 o'1 ALÌERAçÃoNA
qüência cardíaca, as mudanças associadas à cólera, NA FREQUENCIA
TEIT4PERATURA
medo e trìsteza foram todas signìficativamente maiores CARDíACA o.05
(graus)
do que aquelas para alegria, surpresa e nojo. Para a (batimentos/min) 0
0
temperatura do dedo, a mudança assocìada à cólera
foi significativamente diferente daquela para todas as -0,05
outras emoções. (Segundo Ekman, Levenson e Frie- S Freqüência Cardíaca
sen,1990) Í3 Temperatura
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4:18 Capítulo l1 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkfuson, Edward E. Smi.th, Datll J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
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Quando vivemos uma experiência ou ação, nós a in- tipos diferentes de sentimentos, e o processo de ava-
t:i
terpretamos em relâção a nossas metas e bem-estar liação em si pode ser rápido o bastante para explicar
tl: pessoal ("Venci a partida e sinto-me feliz" ou "Rodei a velocidade com que surgem algumas emoções.
tti
na prova e sinto-me deprimido"). Essa interpretação Além disso, muitas vezes enfatizamos as avaliações
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é conhecida como avaliação cognitiva. Ela ajuda a cognitivas quando descrevemos a qualidade de uma
emoção. Dizemos, "Fiquei zangada porque ela(e) foi
t'-t:
.i,,rj determinar o tipo de emoção que sentimos bem co-
tr:j
mo sua intensidade. injusta(o)" ou "Fiquei assustado porque fui abando-
nado(a)"; injustiça e abandono são evidentemente
lntensidade e Diferenciação crenças que resultam de um processo cognitivo. Es-
rt.. das Emoções sas observações indicam que as avaliações cogniti-
vas muitas vezes são suficientes para determinar a
I
Nossa avaliação de uma situação pode evidentemen-
t.t.
í:iì qualidade da experiência emocional. Isso por sua vez
te contribuir para a intensidade de nossa experiência indica que se as pessoas pudessem ser induzidas a
i-.- i: ,,
emocional. se estâmos em um carro que começa a estarem em um estado neutro de excitação autonô-
descer uma ladeira íngreme, sentimos medo, se não ma, a quaìidade de sua emoção seria determinadâ
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pavor; mas se soubermos que o carro faz parte de
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rl unicamente por sua avaliação da situação. Schachter
uma montanha-russa, o medo geralmente é muito e Singer (1962) testaram pela primeira vez esta idéia
..., 1t_
' menor. Se alguém nos disser que não suporta nos em um experimento que teve significativo impacto
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ver, podemos flcar muito zangados ou magoados se nas teorias da emoção durante as duas décadas se-
aquela pessoa é um amigo, mas não muito perturba- guintes.
..:t, l
dos se a pessoa é alguém que nunca vimos antes. Os participantes receberam uma injeção de epi-
.l
Nesses casos e em inúmeros outros, nossa avaliação
ii" 'i. l
nefrina, que tipicamente provoca excitação autonô-
cognitiva da situação determina a intensidade de ma - um aumento na freqüência cardíaca e na taxa
ì:----. nossa experiência emocional (Lazarus, 199 I ; Laza-
li,l
respiratória, tremores musculares e uma sensação de
...1... rus, Kanner e Folkman, 1980). nervosismo. O experimentador então manipulava as
A avaliação cognitiva também pode ser ampla- informações que os participantes recebiam em rela-
mente responsável pela diferenciação das emoções.
ìil: :-j ção aos efeitos da epinefrina. Alguns deles foram
'ì: iì: coffetamente infotmados sobre os eÍ'eitos de excita-
í:t: r. )'
ção da droga; outros não recebiam qualquer infotma-
t
-
Nossa avatiaçào cognitiva de uma situaÇâo aiuda a determinar o tipo de ção sobre os efeitos fisiológicos da droga. Assim, os
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::al i:.ìl emoção que sentimos bem como sua intensìdade. A avaliação cognitiva participantes informados tinham uma explicação pa-
,Ì!
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contribuíu para as díferentes reações causadas pelo veredicto no iulga' ra sua excitação, enquanto que os participantes de-
mento de O. J. Simpson.
ii ìì <1.
sinformados não. Schachter e Singer previam que o
modo dos participantes desinformados interpretarem
seus sintomas dependeria da situação na qual fossem
colocados. Os participantes foram deixados em uma
l.a:ìj :''; sala de espera com outra pessoa, que aparentemente
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Introdução à Psicologia de Hilgard 41.9
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','420 Capítulo ll Rita L. Atkinson. RicharcÌ C. Atkhson. Edward E. Smith, DarvL J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
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tas dimensões incluíam (a) o fato de desejar ou não a ção clínica intrigante. Às vezes um paciente parece
situação (agradável e desagradável); (b) a quantida- estar experimentando uma emoção, mas não está
de de esforço que a pessoa prevê que irá despender consciente dela. Isto é, o paciente não tem expe-
na situação; (c) a certeza da situação; (d) a quantida- riência subjetiva da emoção, mas reage de forma
de de atenção que a pessoa deseja dedicar à situação; compatível com a emoção - por exemplo, embora o
(e) o grau de controle que a pessoa sente que tem so- paciente possa não se sentir bravo, ele age de ma-
bre a situação; e (Í) o grau de controle que a pessoa neira hostil, Além disso, em um momento posterior
atribui a Íbrças não-humanas na situação. Para ilus- ele pode experimentar a emoção e concordar que
trar como as duas últimas dimensões operam, a cóle- em certo sentido ele devia estar sentindo-a antes.
ra é associada a uma situação desagradável causada Freud (1915/1976) considerava que esse fenômeno
por outra pessoa, a culpa é associada a uma situação envolvia a repressão de idéias dolorosas, e as des-
desagradável ocasionada por nós mesmos, e a triste- cobertas da pesquisa moderna sobre avaliação e
za é associada a uma situação desagradável determi- emoção são compatíveis com essa hipótese. Como
nada pelas circunstâncias. Assim, se voçê e um ami- nossa crença sobre uma situação geralmente dá à
go perderam um concerto que queriam muito assis- emoção sua qualidade, impedir que essa crença en-
tir, você sentirá cólera se o perdeu porque o amigo tre em nossa consciência (repressão) impede-nos de
não sabe onde colocou os ingressos, culpa se você experimentar a qualidade da emoção.
não sabe onde pôs os ingressos, e tristeza se o espe- Outro ponto de contato entre a análise clínica e a
táculo loi cancelado porque um dos artistas adoeceu. pesquisa experimental refere-se ao desenvolvimento
A vantagem desse tipo de abordagem é que ela espe- emocional. O trabalho clínico indica que as sensa-
cifica o processo de avaliação detalhadamente e ex- ções de prazer e angústia de uma pessoa não mudam
plica uma ampla variedade de experiências emocio- à medida que e1a amadurece; o que muda, contudo,
nais. são as idéias associadas às sensações (Brenner,
1980). Assim, a sensação de alegria pode ser a mes-
Algumas lmplicações Glínicas ma quer tenhamos 3 ou 30 anos, mas o que nos dei-
xa alegre é muito diÍ'erente. Esse padrão de desenvol-
O fato de que as avaliações cognitivas podem dife-
vimento encaixa-se perfeitamente com os fatos sobre
renciar as emoções ajuda a entender uma observa-
emoção discutidos anteriormente. Sensações de pra- amígdala é capaz de responder a uma situação urgen-
zer e angústia provavelmente devem-se à retroali- te antes que o córtex o faç4, o que sugere que às ve-
mentação proveniente da excitação autonôma, e a zes podemos sentir antes de pensar. Para exemplifi-
nâtureza desse retorno pode não mudar muito duran- car, se pelo canto do olho você vê algo com a fonna
te toda a vida. Em contraste, idéias associadas às de uma selpente, sua amígdala envia um sinal de ur-
sensações são simplesmente crenças emocionais, e gência que the faz dar um salto antes que seu córtex
devem mostrar o mesmo tipo de desenvolvimento possa determinar que o objeto em questão é, na ver-
que outros aspectos da cognição. dade, um inofensivo pedaço de corda. Embora essa
Finalmente, a pesquisa sobÍe avaliação se encai- pesquisa se baseie em ratos, existem motivos para
xa com um fenômeno que é conhecido não apenas crer que as rotas neurais envolvidas existem também
pelos médicos mas por todos nós: o grau em que nos humanos (Le Doux, 1989).
uma situação provoca uma emoção depende de nos- Embora possamos ter experiências emocionais
sa experiência. Ao confrontarem-se com um empre- sem avaliação cognitiva consciente e deliberada, es-
gador excessivamente crítico, alguns ficarão apenas tas experiências podem restÍingir-se a sentimentos
ì'-' aì incomodados enquanto outros ficarão enfurecidos. positivos ou negativos indiferenciados. Se definir-
i-ta i
i"Ì ..:i
):
Por que essa diferença? Presumivelmente por causa mos a avaliação cognitiva de maneira ampla para in-
das diferenças de experiência anterior: talvez aqueles cluir avaliações primitivas ou automáticas das situa-
{,'..t . .:
que se enfurecem tiveram uma figura de autoridade ções que adquirimos através da evolução, podemos
excessivamente cítica no passado, enquanto aqueles dizer que quase todas as emoções envolvem algum
.-.. "i) que apenas se incomodam não tiveram essa expe- tipo de avaliação (Lazarls, 1991).
!, :"'ì
a lii
riência. Um possível elo entre a expeÍiência passada
:!r. iil.. e a emoção presente é o processo de avaliação; ou se-
ìa
ja, nossa experiência passada afeta nossas crenças
Expressão e Emoção
q,,;, I sobre a situação presente, e estas crenças influen-
t:
A expressão facial que acompanha uma emoção evi-
ciam a emoçào que experimentamos.
tÌ.Jr
dentemente serve para comunicar aquela emoção.
,tì:
Desde a publicação, em 1872, do clássico A expres-
Emoção sem Cognição são da emoção no homen e nos animais, de Charles
..t .,) Existem casos de emoção em que nenhuma avalia- Darwin, os psicólogos consideram a comunicação da
ção cognitiva está envolvida? Quando um rato rece- emoção uma função importante, a qual tem valor de
be um choque elétrico pela primeira vez, por exem- sobrevivência para a espécie. Assim, parecer assusta-
plo, presumivelmente sua reação emocional é desti- do pode avisar os outros que o perigo está presente, e
.tt ;:, tuída de atividade cognitiva. De modo análogo, se de perceber que alguém está zangado nos informa que
repente você é esmunado no rosto, você pode expe- essa pessoa pode estar prestes a agir agressivamente.
rimentar uma emoção antes de interpretar o fato. Pesquisas mais recentes sugerem que, além de sua
,i1 ,.! função de comunicação, as expressões emocionais
Os exemplos anteriores sugerem que pode haver
dois tipos de experiências emocionais: aquelâs que contribuem para a experiência subjetiva da emoção,
se baseiam em avaliação cognitiva e aquelas que pre- assim como o ïazem a excitação e a avaliação. Essa
? ì ...
cedem a cognição (Zajonc,1984; 1980). Essa dico- teoria é representada na seção infedor da Figura I 1.4.
tomia é apoiada pela pesquisa nas estmturas cere-
brais envolvidas na emoção. Uma dessas estruturas é Comunicação da Emoção Através das
i...,
a:..-ì
a amígdala, uma pequena massa em forma de amên- Expressões Faciais
doa localizada na porção inferior do cérebro e que
Algumas expressões faciais parecem ter um signifi-
Íìi ..-' registra reações emocionais. Até pouco tempo atrás,
cado universal, independente da cultura na qual o in-
.'''. .::u
pensava-se que a amígdala recebia todas as informa-
divíduo é criado. Na expressão universal de cólera,
ções do córtex e, conseqüentemente, que estes im- por exemplo, o rosto enrubesce, as sobrancelhas fi-
Íl) - pulsos sempre envolviam avaliação cognitiva. Mas
.ii::: iL: cam mais baixas e se aproximam, as narinas se dila-
'L< pesquisas mais recentes em ratos revelaram cone-
tam, o maxilar se enrijece e os dentes aparecem.
xões entre os cânais sensoriais e a amígdala que não
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passam pelo córtex; estas conexões diretas podem Quando pessoas de cinco países (Estados Unidos,
,I: \: Brasil, Chile, Argentina e Japão) viram fotografias
..,.- ser a base biológica das emoções precognitivas, ou
i.Ì:ì
mostrando expressões típicas de alegria, cólera, tris-
cì;, '.9' emoções que não se baseiam na avaliação. Assim, a
teza, nojo, medo e surpresa, elas tiveram pouca dih-
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1 : Iiir:
Introdução à Psicologia de Hilgard 423
culdade para identificar a emoção que cada expres- ocidentais. De modo semelhante, universitários ame-
são transmitia. Até mesmo membros de grupos isola- ricanos que viram videoteipes de expressões fàciais
dos que praticamente não tiveram contato com as de nativos fore identificaram as emoções associadas
culturas ocidentais (os fores e o danis da Nova Gui- com precisão, embora às vezes confundissem medo
né) conseguiram identificar as emoções repÍesenta- e surpresa (Ekmrn. 1982).
das pelas expressões faciais de pessoas das culturas
As expressões faciais são universais quanto às emoções que transmitem. Fotografias de pessoas da Nova Gui-
né e dos Estados Unidos demonstram que emoções específicas são transmitidas pelas mesmas expressões fa-
ciais. Aqui aparecem, da esquerda para a direita, alegria, tristeza, e nojo.
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424', Capítulo 11 Rita L. Atkinson, Richartl C. Atkinson, Etlvtard E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
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() mento dos olhos ou do cotpo inteiro, também são
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altamente expressivas de desdém. Estas ações pa- Localização no Cérebro
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itrl i'l: recem declarar que a pessoa desprezada não mere-
..:: As expressões emocionais que são universais (por
ce ser olhada ou é desagradável de olhar. Cuspir
exemplo, aquelas associadas à alegria, à cólera e ao
,:
,i.i '
parece um sinal quase universal de desprezo ou no-
jo; e cuspir certamente representa a expulsão de nojo) também são altamente específicas: determina-
ta: :í
;ir r... qualquer coisa ofensiva da boca. dos músculos são usados para expressar determina-
!) a.ii das emoções. Essa combinação de universalidade e
*- i.. 'Embora alguns gestos e expressões faciais pare- especificidade sugere que um sistema neurológico
çam estar intrinsecamente associados a deteminadas especializado pode ter-se desenvolvido nos humanos
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emoções, outros são aprendidos. Um psicólogo estu- para interpretar as expressões emocionais. As evi-
o" lu!r.
dou romances chineses para determinar como eles
:;': il'.ì dências de pesquisa indicam que realmente existe
retratavam diversas emoções humanas. Muitas das um sistema assim e que ele se localiza no hemisfério
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:ì.:: mudanças corporais que ocoÍrem quando uma pes- cerebral direito.
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soa sente uma emoção (por exemplo, rubor, tremor, Uma fonte de evidência são os estudos em que
n:: i.:.. enrugamento da pele) representam as mesmas emo- Íbtografias de expressões emocionais são âpresenta-
ções na ficção chinesa e na literatura ocidental. Ou- das brevemente ao lado direito ou esquerdo do cam-
tras expressões corporais, contudo, transmitem emo- po visual do participante. Recordemos do Capítulo 2
ções muito diferentes na Ílcção chinesa quando com- um estímulo apresentado ao campo visual esquerdo
('i .. paradas com o ocidente. As seguintes citações de ro- que se projeta no hemisfério direito, enquanto um es-
ló i'r"
iYl:;,,1 mances chineses certamente seriam mal-interpreta- tímulo apresentado ao campo visual direito projeta-
':-l ,,,,1
at:i í-ì das por um leitor norte-americano sem familiaridade se no hemisfério esquerdo. Quando os participantes
j: a!
com a cultura (Klineberg, 1938): têm que decidir qual entre duas emoções uma ima-
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!ì:1\Ì
gem representa, eles são mais rápidos e mais preci-
eé .. "Eles mostraram a língua."
sos quando a flgura é projetada em seu hemisfério
(Eles mostraram sinais de surpresa.)
-,r :! ìl direito. Além disso, quando as duas metades do ros-
"Ele bateu as mãos."
rlt,
(Ele estava preocupado ou decepcionado.)
to transmitem emoções diferentes, (por exemplo,
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uma delas com um sorriso e a outra com uma caÍTan-
"Ele coçou as orelhas e o rosto."
[::: r:...:
ca), a expressão projetada no hemisfério direito tem
lÌ: :ij: (Ele estava feliz.)
..: .1.1:
"Os olhos dela se arredondaram e ficaram escanca- maior impacto sobre a decisão do participante.
t:::: rados." Outra evidência sobre a localização das expres-
-iÌì ï (Ela ficou zangada.) sões emocionais provém de estudos de pacientes que
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.i lj.Í.iii.Írat.
1.. I
Introdução à Psicologia de Hilgard 425
soÍieram danos cerebrais devido a denames ou aci- clai (Tomkins, 1962). Segundo essa hipótese, assim
dentes. Os pacientes com danos no hemisfério direi- como recebemos retorno sobre (ou percebemos)
to têm mais dificuldade para reconhecer expressões nossa excitação autonôma, também recebemos re-
faciais de emoção do que pacientes com dano apenas torno sobre nossa expressão facial, e esse retorno
no hemisfério esquerdo (Etcoff, 1985). combina-se com outros componentes da emoção pa-
Nosso sistema para reconhecer expressões emo- ra produzir uma experiência mais intensa. Isso sìg-
cionais parece ser altamente especializado. Em espe- nifica que se você se fizer sorrir e mantiver esse sor-
cia1, ele se distingue de nossa capacidade de reco- riso por alguns segundos, você irá começar a sentir-
nhecer rostos. Considere um prosopagnósico, um in- se feliz; se franzir as sobrancelhas, sentir-se-á tenso
divíduo que, devido a dano no córtex, tem tamanha e irritado.
dificuldade para reconhecer rostos familiares que às Em apoio a hipótese de retorno facial, os partici-
vezes não consegue reconhecer seu próprio rosto. pantes que exageram suas reações emocionais a estí-
Contudo, ele consegue reconhecer expressões emo- mulos emocionais relatam mais resposta emocional
cionais: ele é capaz de dizer que uma determinada do que participantes que não o fazem. Em um estu-
pessoa está lèÌiz mesmo não sabendo que aquela do, os participantes decidiam o quanto diversos odo-
pessoa é sua esposa (Bruyer, Latere e Seron, 1983). res eram agradáveis ou não enquanto sorriam ou Íã-
As capacidades de reconhecimento de rostos e de ziam carrancas. Os participantes que sorriam perce-
emoções também são diferentemente aÍètadas pela biam os odores como mais agradáveis; aqueles que
estimulação elétrica de dilèrentes regiões do hemis- fazram carrancas percebiam os odores como menos
lério direito: o reconhecimento de rostos é rompido agradáveis (Iftaut, 1982). Noutro experimento, os
pela estimulação da região entre os lobos parietal e participantes classificavam o quanto desenhos ani-
occipital, ao passo que o reconhecimento de emoção mados eram engraçados enquanto seguravam uma
é rompido pela estimulação de uma determinada re- caneta entre os dentes ou entre os lábios. Segurar
gião do lobo temporal (Fried, 1982). uma caneta entre os dentes força o rosto a fazer um
Além de serem comunicadas pelas expressões sorriso, enquanto segurá-la entre os lábios força o
faciais, as emoções se expressam por variações nos rosto a fazer uma carranca. (Experimente.) Como se
padrões de voz (particularmente variações de altura, esperava, os desenhos tbram considerados mais en-
tempo e acento). Algumas dessas variações parecem graçados quando a caneta era mantida entre os den-
ser universais e específicas. Por exemplo, um au- tes do que quando era mantida entre os lábios
mento abrupto na altura indica medo. O sistema neu- (Strack, Martin e Stepper, 1988).
rológico especializado para percepção desses sinais Além desses estudos, que mostram uma conexão
emocionais localiza-se no hemisfério cerebral direi- direta entre expressão e emoção sentida, outros ex-
to, e a evidência para isso é semelhante àquela para perimentos indicam que as expressões laciais podem
expressões faciais. Os participantes são mais preci- ter um efeito indireto sobre a emoção ao aumenta-
sos na identificação do tom emocional de uma voz rem a excitação autonôma. Esse efeito ç.i demons-
apresentada ao ouvido esquerdo (que projeta inÍbr- trado no experimento discutido anteriormente no
.mação primariamente ao hemisfério direito) do que a qual produzir determinadas expressões emocionais
uma apresentada ao ouvido direito (que se projeta provocava mudanças nos batimentos cardíacos e na
primariamente ao hemisfério esquerdo). E pacientes temperatura da pele (Levenson, Ekman e Freisen,
com dano apenas no hemisfério dlreito têm mais 1990). Portanto, precisamos adicionar expressão
problemas para identiÍìcar emoções a partir de indí- emocional a nossa lista de fatores que contribuem
cios de voz do que pacientes com dano apenas no he- para a experiência emocional.
misfério esquerdo (Ley e Bryden, 1982). Alguns pesquisadores também acreditam que as
expressões faciais podem determinar a qualidade das
lntensidade e DiÍerenciação emoções. Como as expressões para as emoções pri-
das Emoções márias são distintas e ocoffem rapidamente, elas são
ao menos candidatas plausíveis para a contribuição à
Hipótese de Retorno Facial A idéia de qlre as ex-
pressões faciais, além de sua função comunicativa,
diferenciação das emoções. Tomkins (1980) propôs
que o retorno proveniente da expressão facial é in-
também contribuem para nossa experiência de emo-
trinsecamente positivo ou negativo, sugerindo assim
ções às vezes é chamada de hipótese de retorno fa-
um meio pelo qual as expressões faciais podem dis-
l.'ì i ,ì i.ì ()
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.lì i; .r, ì1ì Í'; í.) l.ì.
&&:::. Capítulo 1l Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smith, Danl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
a: .ì':l
iÌ> tinguir emoções positivas de negativas. Se esta su- Reações Gerais à Presença de
.
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i;,,.,. gestão mostrar-se verdadeira, retornamos (em parte)
um Estado Emocional
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à teoria de James-Lange, segundo a qual a emoção é
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a percepção de certas mudanças colporais. No início do capítulo, assinalamos que um dos prin-
iir: !:, cipais componentes da emoção é o modo como uma
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(i Fluxo Sangüíneo eTemperatura do Cérebro Exa-
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pessoa reage à presença de um estado emocional.
3;ì tamente que aspectos de uma expressão facial tor- Embora algumas reações sejam específicas à emo-
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Lìj
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liberado; essa mudança de temperatura pode blo- mos a prestar mais atenção a eventos que combinam
quear a liberação do neurotransmissor, resultando com nosso humor do que com eventos que não com-
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i: I :r\ num sentimento positivo. O trajeto crítico, portanto, binam com ele. Conseqüentemente, aprendemos
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pode partir da expressão facial para o Íluxo sangüí- mais sobre eventos que combinam, ou são congruen-
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,ri a..jr neo, para a temperatura do cérebro e para a experiên- tes, com nosso humor. Um experimento que de-
cia emocional (Zajonc, Murphy e Inglehart, 1989). monstra esses fenômenos envolveu três etapas. Na
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Esse trajeto da expressão para a emoção é corro- primeira, os participantes foram hipnotizados e indu-
(.1 (tì!
! ì'1 :\l zidos a hcarem felizes ou tristes. Na segunda, os par-
borado pela pesquisa experimental. Um estudo apro-
veita o fato de que a pronúncia da vogal alemã "ü" ticipantes hipnotizados leram uma breve narrativa
(como em Für') exige o estiramento de um músculo sobre um encontro entre dois personagens - um per-
t:.,
facial que se contrai quando sorrimos. Isso sugere sonagem feliz e um triste. A história descrevia vivi-
que a expressão facial associada com a pronúncia de dâmente os acontecimentos na vida de dois homens
"ü" pode causar um sentimento negativo. Para testar e suas reações emocionais. Depois de ler a história,
essa hipótese, participantes alemães leram em voz perguntou-se aos participantes quem eles achavam
alta histórias que continham muitas palavras com que era o personagem central e com quem se identi-
"ü" ou nenhuma palavra com "ü"; as histórias ti- ficaram. Os participantes que tinham sido induzidos
nham conteúdo e tom emocional semelhantes. Quan- a Íìcarem felizes identificaram-se mais com o peÍso-
do perguntados sobre o quanto gostaram das histó- nagem feliz e acharam que a história continha mais
rias, os participantes acharam menos agradáveis as informações sobre ele; os participantes que tinham
histórias que continham palavras com "ü" do que sido induzidos a Íìcarem tristes identificaram-se
aquelas sem palavras com "ü". Além disso, enquan- mais com o personagem triste e achavam que a histó-
to os participantes liam as histórias, a temperatura de ria continham mais declarações sobre ele. Esses re-
suas testas era medida para dispor-se de uma estima- sultados indicam que os participantes prestaram
tiva da temperatura do cérebro. As temperaturas ele- mais atenção ao personagem e aos acontecimentos
varam-se durante as narrativas que continham pala- que eram congruentes com seus humores do que
vras com "ü", mas não durante as narrativas sem es- àqueles que não eram (Bower, 1981).
ii.tj tas palavras. Assim, a expressão facial necessária pa- A terceira etapa desse experimento forneceu in-
i!;
a: ra produzir "ü" causou tanto um aumento da tempe- dícios de que os participantes também aprendiam
ratura facial quando um sentimento negativo. e pos- mais sobre eventos congruentes com o humor do que
.j
.rl.i sivelmente também um aumento da temperatura ce- sobre eventos incongruentes com o humor. Um dia
,!lìl rebral (Zajonc, Murphy e Inglehart, 1989). depois de ler a história, os participantes, agora com
humor neutro, retonìaram ao laboratório, onde Íbram
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(!.)
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Introdução à Psicologia de Hilgard 427
solicitados a recordarem-se da história. Os partici- Nosso humor também afeta nossos julgamentos
pantes recordaram-se mais sobre o personagem com sobre a freqüência de diversos riscos. O mau humor
o qual se haviam identificado: para os participantes leva-nos a ver os riscos como mais prováveis; o bom
anteriormente felizes, 55% dos fatos recordados re- humor nos leva a vê-los como menos prováveis. Em
feriam-se ao personagem feliz; para os participantes um experimento que tratava de estimativa de riscos,
anteriormente tristes, 80% dos fatos recordados reÍè- os participantes no grupo experimental primeiro
riam-se ao personagem triste (Bower, 1981). liam uma matéria jornalística que relatava uma mor-
Como exatamente a congruência entre nosso hu- te trágica e, desse modo, eram expostos a um humor
mor e determinado material novo influencia a apren- negativo. Participantes-controle liam uma matéria
dizagem daquele material? Sabemos que podemos jornalística suave, que os deixava com um humor
aprender melhor um novo material se pudermos rela- neutro. Depois, pediu-se a todos os parlicipantes que
cioná-lo com informações que já estão na memória. estimassem as Íìeqiiências de vários tipos de fatali-
Nosso humor durante a aprendizagem pode aumen- dade, inclusive morte por doenças como leucemia e
tar a disponibilidade das memórias que combinam doenças cardíacas e de acidentes em incêndios e en-
com esse humor, e estas memórias serão mais facil- chentes. Os participantes expostos a um humor nega-
mente relacionadas a um novo material que também tivo estimaram que as freqüências destes tipos de fa-
combine com esse humor. Vamos supor que você ou- talidades eram quase duas vezes maiores do que as
ve uma história sobre um aluno que ó reprovado na estimativas de participantes com humor neutro.
escola. Se você está de mau humor quando ouve a AÌém disso, tudo o que importava para a estimativa
história, algumas de suas lembranças sobre experiên- de freqüências era o humor do participante, e não o
cias de reprovação (especialmente reprovação acadê- conteúdo da história que os havia colocado naquele
mica) podem estar facilmente acessíveis, e a seme- estado de espírito. A história Írâgica que alguns par-
lhança destas lembranças ao novo Íato de alguém ticipantes experimentais leram envolvia um caso de
sendo reprovado na escola irá facilitar a relação en- leucemia, e a história que outros participantes expe-
tre elas. Em contraste, se você está de bom humor rimentais leram envolvia uma morte em incêndio;
quando ouve a história, suas memórias mais acessí- ambos os grupos de participantes superestimaram as
veis podem ser muito dessemelhantes a uma repro- freqüências de mortes por leucemia e incêndios no
vação escolar para promover um relacionamento en- mesmo grau. A semelhança entre a história e o risco
tre as antigas memórias e o novo fato. Assim, nosso não teve efeito sobre a estimativa de Íìeqüência. É
humor influencia que memórias estão mais acessí- como se o afeto estivesse separado do conteúdo da
veis e que memórias inÍluenciam o que nos é Íãcil história, e apenas o humor ou afeto orientasse as es-
lembrar no momento (Isen, 1985; Bower, 1981). timativas subseqüentes. Resultados comparáveis fo-
ram obtidos para os efeitos de estar de bom humor. A
Avaliação e Estimativa: EÍeitos leitura de uma história sobre a boa sorte de uma pes-
do Humor soa levou os participantes a fazerem estimativas rela-
tivamente baixas sobre as freqüências de diversas fa-
Nosso humor pode afetar nossa avaliação sobre ou-
talidades, e o grau em que os participantes fizeram
tras pessoas. Experiências cotidianas oferecem inú-
isso não dependeu da semelhança entre a história e o
meros exemplos disso. Quando estâmos de bom hu-
risco que estava sendo avaliado (Johnson e Tversky,
mor, o hábito de um amigo de repetidamente verifi-
1 983).
car suâ aparência no espelho pode parecer apenas
Humores específicos podem ter efeitos específi-
uma idiossincrasia; quando estamos de mau humor,
cos sobre nossos julgamentos do mundo e de outras
podemos ater-nos ao quão vaidoso ele seja. Nosso
pessoas. Em um estudo, os participantes loram colo-
humor também aÍèta nossa avaliação sobre objetos
cados em um estado de espírito de tristeza ou irrita-
inanimados. Em um experimento, pediu-se aos parti-
cipantes que avaliassem seus principais bens. Os par- ção imaginando-se em uma situação triste ou irritan-
te. Depois, pediu-se a eles que avaliassem as possí-
ticipantes que recém haviam sido agradados com um
veis causas de fatos hipotéticos, tais como perder um
pequeno presente classiflcaram seus televisores e au-
vôo importante ou perder dinheiro. Os participantes
tomóveis de maneira mais positiva do que os partici-
irritados tendiam a atribuir os Íãtos hipotéticos aos
pantes-controle que estavam com humor neutro (Isen
erros de outras pessoas, mas os participantes tristes
et al., 1978).
tendiam a atribuí-los a situações (por exemplo, o
vt:) .a.'
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'428 Capítulo II Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Ehvard E. Smìth, Daryl J. Bem e Susan Nolen'Hoeksema
i,,,, ,,i'.
r-Ì, " '
r" congestionamento de tráfico era o motivo por ter per- termos individuais, muitas pessoas expenmentam
'1 ':::
t!.4., dido o vôo). Assim, os participantes irritados esta- pensamentos e impulsos agressivos com freqüência,
ir4 í-1.,
vam mais dispostos a culpar alguém pelos fatos ne- e o modo como lidam com esses pensamentos terá
\,'t _..
gativos, enquanto os participantes tristes estavam efeitos importantes sobre sua saúde e suas relações
!' :-,; interpessoais. Outro motivo pelo qual os psicólogos
mais dispostos a reconhecer que uma situação infeliz
poderia ter causado os fatos (Keltner, Ellsworth e concentraram-se na agressividade é que duas das
'o: ' :r.i
Edwards, 1992). principais teorias do comportamento social fazem
.a.r: :r' Estar de mau humor, portanto, faz o mundo pa- suposições bastante diferentes sobre a natureza da
recer mais perigoso. Essa percepção pode refoÍçar o agressividade. A teoria psicanalítica de Freud vê a
É!
mau humor. Além disso. como assinalado anterior- agressividade como um impulso, ao passo que a teo-
:1:
'ì.ii a iiì mente, estar de mau humor nos leva a atentar e a ria da aprendizagem social a vê como uma resposta
.."-;..t,:
flxar seletivamente fatos de cunho negativo; isso po- adquirida. A pesquisa sobre agressividade nos ajuda
de reforçar o mau humor. Uma análise semelhante a avaliar estas teorias concorrentes.
.tì :r
aplica-se ao bom humor. Ele faz o mundo parecer Na discussão que se segue, descreveremos pri-
ariì .,.-
menos arriscado e nos leva a atentar para material de meiramente estas diferentes concepções, juntamente
liliìi : caráÍer positivo e fixá-lo. Assim, as conseqüências com a pesquisa relacionada, e depois considerare-
..ii.: :,,.. gerais de humor servem para perpetuá-lo. mos como elas diferem em relação aos efeitos dos
ôa :ri
{Ìi retratos da agressividade nos meios de comunicação
de massa. Lembre-se que por agressão nos referi-
iai
Agressividade como Reação mos ao comportamento que tem a íntenção de ferir
Emocional outra pessoa (física ou verbalmente) ou destruir pro-
! ií:il
príedade. O conceito-chave nessa definição é a in-
As emoções causam não apenas reações gerais, mas tenção. Se uma pessoa acidentalmente pisa em seu
í4,,, ,Àl também tendências específlcas de ação. Provavel- pé num elevador lotado e imediatamente se desculpa,
mente iremos rir quando estivermos alegres, retrair- você não interpretaria o comportamento como agres-
nos quando assustados, ficar agressivos quando zan-
(ì; a:fì:
sivo; mas se alguém se aproxima de você enquanto
gados, e assim por diante. Entre estas típicas tendên-
você está sentado em sua mesa de trabalho e pisa no
cias de ação, os psicólogos escolheram uma, â agres- seu pé, você não hesitaria em rotular esse ato de
são, para estudar extensivamente. Essa atenção espe-
agressivo.
cial deve-se em parte ao signifìcado social da agres-
são. Em termos sociais, numa época em que as ar- Agressividade como lmpulso*
mas nucleares estão amplamente disponíveis, um
único ato agressivo pode significar uma tragédia. Em Segundo a teoria psicanalítica de Freud, muitas de
nossas ações são determinadas pelos instintos, espe-
cialmente pelo instinto sexual. Quando a expressão
desses instintos é frustrada, um impulso agressivo é
ai il A agressão é um imputso o, uru *"rorÁ
"aqu,iriau,z induzido. Posteriormente, os teóricos psicanalíticos
ampliaram essa hipótese de frustração-agressão,
propondo que sempre que o esforço de uma pessoa
para atingir algum objetivo é bloqueado, um impul-
so agressivo é induzido, o qual motiva um comporta-
mento que visa destruir o obstáculo (pessoa ou obje-
to) causador da frustração (Dollard et al., 1939). Es-
sa proposta tem dois aspectos cíticos. Um é que a
causa usual de agressão é a frustração; a outra é que
a agressão tem as propriedades de um impulso bási-
co - sendo uma forma de energia que persiste até que
J ....
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i t_. ìi íÌ t' i
'ìt {'ì'i':-']j:t:iat
.- ilij.
Tntrodução à Psicologia de Hilgard 4X
sua meta seja satisfeita, bem como uma reação inata pequena estimulação elétrica de uma região específi-
como a fome ou o sexo. Como veremos, é o aspecto ca do hipotálamo produz comportamento agressivo,
impulsivo da hipótese de frustração-agressão que até mesmo mortal, em animais. Quando o hipotála-
tem sido particularmente controverso. mo de um gato é estimulado através de eletrodos im-
plantados, o animal sibila, seus pêlos se eriçam, suas
Agressividade em Outras Espécies Se a agressão pupilas se dilatam e ele ataca um rato ou outros obje-
é realmente um instinto básico como a fome, espera- tos colocados em sua gaiola. A estimulação de uma
ríamos que outras espécies mamíleras apresentassem área dif'erente do hipotálamo produz um comporta-
padrões de agressividade semelhantes aos nossos mento bastante distinto: emvez de apresentaÍ estas
(assim como apresentam padrões de fome semelhan- respostas de raiva, o gato aproxima-se Íìiamente do
tes aos nossos). As evidências para isso mudaram Íato e o mata.
com o passar do tempo. Na década de 1960, a pes- Técnicas semelhantes produziram comporta-
quisa etológica inicial sugeria que existe uma grande mento agressivo em ratos. Um rato criado em labora-
diÍèrença.entre os humanos e as outras espécies - is- tório que nunca matou um camundongo, nem tam-
to é, que os animais desenvolveram mecanismos pa- pouco viu um rato selvagem matar um, pode viver
ra controlar seus instintos agressivos, mas os huma- tranqüilamente com um camundongo na mesma
nos não (Ardrey, 1966;Lorenz,1966). Entretanto, a gaiola. Porém, se seu hipotáiamo é estimulado, o
pesquisa subseqüente sugeriu que talvez os animais animal ataca seu parceiro de gaiola e o mata exata-
não sejam menos agressivos do que nós. Demons- mente com a mesma reação apresentada por um rato
trou-se que a incidência de assassinato, estupro e in- selvagem (uma Íbrte dentada no pescoço que secio-
fanticídio entre os animais era muito maior do que se na a medula espinal). A estimulação parece desenca-
pensava anteriormente. dear uma resposta homicida inata que anteriotmente
Um tipo de assassinato ocorre em conflitos por estava iatente. Inversamente, se um bloqueador neu-
território entre chimpanzés (Goodall, 1978). Em um roquímico é injetado no mesmo sítio cerebral que in-
caso bem-documentado no Parque Nacional do Rio duz os ratos a espontaneamente matar camundongos
Gombe na Tanzânia, um bando de cinco chimpanzés quando os vêem, os Íatos ficam temporariamente pa-
machos defendia seu território contra qualquer ma- catos (Smith, King e Hoebel, 1970). Nesses casos,
cho estranho que o invadisse. Quando o bando en- portanto, a agressividade tem algumas características
contrava um grupo de dois ou mais forasteiros, sua de instinto, pois envolve reações inatas.
reação era severa, mas não-mortal; porém, quando Em alguns mamíf'eros, estes padrões instintivos
havia apenas um intruso, um dos integrantes do ban- de agressão são controlados pelo córtex e, portanto,
do poderia segurar seu braço, outro a perna, enquan- são mais inÍluenciados pela experiência. Macacos
to um terceiro o golpeava até matá-lo (ou dois dos que vivem em grupos estabelecem uma hierarquia de
membros do bando arrastavam o intruso sobre as ro- domínio: um ou dois machos tornam-se líderes, e os
chas até ele morrer). Em um outro conflito por terri- outros se posicionam em diversos níveis inleriores
tório observado durante a década de 1970, uma tribo na hierarquia. Quando o hipotálamo de um macaco
de cerca de 15 chimpanzés destruiu um grupo vizi- dominante é eletricamente estimulado, o macaco ata-
nho menor matândo os machos um de cada vez. As ca os macacos subordinados mas não as fêmeas.
primatas Íêmeas cometem atos agressivos tanto Quando um macaco de hierarquia inÍèrior é estimu-
quanto os machos, embora seus embates sejam me- lado da mesma maneira. ele se acovarda e se com-
nos mortais porque seus dentes são mais curtos e porta de modo submisso (ver Figura 1 1.5). Assim, o
menos afiados (Smuts, 1986). comportamento agressivo em um mâcâco não é auto-
Embora observações como essas aproximem a maticamente provocado pela estimulação do hipotá-
agressividade animal da agressividade humana, res- lamo; seu ambiente e suas experiências passadas
tam diferenças, como, por exemplo, as gueras de também desempenham um papel. Os humanos são
larga escala criadas pelos humanos. semelhantes. Embora sejamos equipados com meca-
nismos neurológicos que são atrelados à agressivida-
Base Biológica da Agressividade em Outras Es- de, a ativação desses mecanismos geralmente está
pécies As descobertas sobre a base bioiógica da sob controle cortical (exceto em alguns casos de da-
agressividade em animais oferecem indícios da pre- no cerebral). Na verdade, na maioria dos indivíduos
sença de um instinto agressivo em pelo menos algu- a lreqüência na qual o comportamento agressivo se
mas espécies. Alguns estudos demonstram qlre uma expressa, a forma que assume e as situações nas
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430 Capítu1o 11 Rìta L. Atkinson, Richard C. Atkütson, Edward E. Smith, Daml J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
FIGURA 11.5
''.iì Êstimulação Cerebral e Agressão IJma suave corrente elétrica é transmitìda por controle remoto a eletrodos im'
ijì plantados no hÌpotátamo do macaco. A resposta do animal (atacar ou fugi) depende de sua posição na hierarquia
ilil de domínio da colônia.
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.:r. quais aparece são determinadas em grande parte pe- Estas descobertas oferecem alguns indícios para
la experiência e pelas inÍluências sociais. uma base biológica da agressividade nos humanos e,
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conseqüentemente, pâra a concepção de que a agres-
Bases Biológicas da Agressividade nos Huma- sividade é como um instinto. Contudo, nesses estu-
nos Um fator biológico que pode estar Íelacionado dos, o elo entre testosterona e agressividade muitas
com a agressividade nos machos humanos é o nível vezes é tênue; números elevados de participantes são
de testosterona. Recordemos do Capítulo 10 que a necessários para constatar o efeìto. Isso sugere que
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testosterona é um hormônio sexual mascuÌino res- precisamos procurar alhures para encontrar outros
ponsável por muitos caracteres corporais masculinos determinantes da agressividade.
e foi associado à agressividade em macacos. Estudos
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sugerem que também nos humanos, níveis mais altos Agressividade como Resposta
de testosterona estão associados a níveis mais eleva- Adquirida
dos de agressividade. Um estudo em larga escala en-
A teoria de aprendizagem social se preocupa com a
volveu mais de 4.400 veteranos norte-americanos do
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t.: )) .' interação social humana, mas tem suas origens em
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sexo masculino. Os homens ïrzeram diversos testes
estudos behavioristas de aprendizagem animal como
psicológicos, sendo que alguns mediam a agressivi-
aqueles discutidos no Capítulo 7. Ela se concentÍa
dade; eles também forneceram amostras de sangue
iíì ., I nos padrões de comportamento que as pessoas de-
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para que seus níveis de testosterona pudessem ser
senvolvem em resposta a eventos em selÌ ambiente.
determinados. Os homens com níveis mais elevados
Alguns comportamentos sociais podem ser recom-
de testosterona tinham maior probabilidade de ter
'- pensados, ao passo que outros podem produzir resul-
.!:/, uma história de agressão. Como o comportamento
tados desfavoráveis; através do processo de reforço
agressivo nos homens às vezes pode causar compor-
diferencial, as pessoas, com o tempo, selecionam os
tamento anti-social, poderíamos esperar que aìtos ní-
padrões de comportamento mais bem-sucedidos.
veis de testosterona seriam um impedimento ao su-
Contudo, a teoria da aprendizagem social difere do
cesso na vida norte-americana. De fato, homens com
behaviorismo radical na medida em que enfatiza os
níveis extremamente altos de testosterona tinham
processos cognitivos. Como as pessoas podem repre-
maior propensão a terem empregos de status inferior
sentaÍ mentalmente as situações, elas são capazes de
do que homens com níveis mais baixos de testostero-
pÍever as prováveis conseqüências de suas ações e al-
na (Dabbs e Morris, 1990).
terar seu comportamento de acordo com isso.
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lntrodução à Psicologia de Hilgard
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Capítulo Rittr L. Atkinson. Richard C. Atkittson, Edward E. Smith, Daryl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
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FIGURA 11.7
Crianças Imitando a Agressividade Adulta Críanças de educação infantil observaram um adulto expressando
várias formas de compoftamento agressivo com um boneco inflável. Depois de observar o adulto, tanto meninos
quanto meninas comportaram-se agressivamente com o boneco, cometendo muitos dos atos específicos de agres-
são do adutto, ìnctuindo tevantar e iogar o boneco, bater nele com um martelo e chutá-lo.
:;rì 'i.liì depende das contingências de reforçamento tanto ato agressivo era o reÍbrçamento positivo. Para as
l'tj ', quanto outras respostas apÍendidas. Diversos estudos crianças que mostraram menos agressividade, uma
demonstram que as crianças são mais inclinadas a reação comum era a punição. As crianças que inicial-
r,.f . a expressar respostas agressivas que aprenderam pela mente não eram agressivas, mas que às vezes conse-
i ì' -..ì' guiam deter os ataques mediante contra-agressão,
observação de modelos agressivos, quando elas são
'aÌ:ri .,.' reforçadas por tais ações, ou quando observam mo- gradualmente passaram a iniciar seus próprios ata-
delos agressivos sendo reforçados. Em um estudo, os ques (sua agressividade estava sendo reforçada posi-
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tivamente). Não há dúvida de que as conseqüências
pesquisadores observaram criânças poÍ 10 semanas,
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registrando os casos de agressão e os eventos que da agressividade desempenham um papel importan-
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segu:iram, tais como refor- te na modelagem do comportamento (Patterson, Litt-
tai: :. man e Bricker,1961).
çamentos positivos (as vítimas sobressaltaram-se ou
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lntrodução à Psicologia de Hilgard 438
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434 Capítu1o 11 Rita L. Atkinson, Richard C. Atkinson, Edward E. Smìth, Danl J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
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rais? A quantidade de violência à qual as crianças tre oito e nove anos foram estudadas. Os pesquisado-
são expostâs namídia torna essa questão importante. res coletaram informações sobre as preferências de
Diversos estudos experimentais controlaram a cada criança e sua agressividade (conforme avalia-
quantidade de tempo que as crianças assistiam à tele- ção de seus colegas de aula.) Contatou-se que os me-
visão. Em um estudo, um grupo de crianças assistiu ninos que preferiam programas que continham uma
a desenhos animados violentos por uma determinada quantidade considerável de violência eram muito
quantidade de tempo todos os dias; outro grupo âs- mais agressivos em seus relacionamentos interpes-
sistiu a desenhos sem violência pela mesma quanti- soais do que os meninos que preferiam programas
dade de tempo. A quantidâde de agressividade exibi- que continham pouca violência. Até aí, os indícios
da pelas crianças em suas atividades diárias foi cui- são semelhantes àqueles obtidos em estudos anterio-
dadosamente registrâda. As crianças que assistiram a res. Mas 10 anos depois, mais da metade dos partici-
desenhos violentos ficaram mais agressivas em suas pantes originais Íbram entrevistados sobre suas pre-
interações com os pares, ao passo que aquelas que ferências por progíamas de televisão, fizeram um
assistiram a desenhos sem violência não apresenta- teste que media tendências delinqüentes, e foram
ram alteração na agressividade intelpessoal (Steuer, avaliados por seus pares quanto a sua agressividade.
Applefield e Smith, 197 1). A Figura 1 1.9 mostra que a alta exposição à violên-
O estudo recém-descrito envolve um grupo ex- cia na televisão aos nove anos está positivamente re-
perimental e um grupo-controle. Entretanto, a maio- lacionada com a agÍessividade em rapazes de lg
ria dos estudos que tratam dos hábitos das crianças anos. Mais importante, a correlação permanece sig-
em relação a assistir à televisão são correlacionais; nihcativa mesmo quando métodos estatísticos são
eles determinam a relação entre â quantidade de ex- usados para controlar o grau de agressividade na in-
posição à violência televisionada e o grau em que as Íância, deste modo reduzindo a possibilidade de que
crianças usam o comportamento agressivo para re- o nível inicial de agressão determine tanto as prefe-
solver conflitos interpessoais. Essa correlação é cla- rências na infância quanto a agressividade adulta.
ramente positiva (Singer e Singer, 1981), até mesmo É interessante que os resultados não mostraram
para crianças na Finlândia, onde há um número redu- uma relação consistente entre os hábitos de ver tele-
zido de programas na televisão violentos (Lagers- visão de meninas e seu compofiamento agressivo em
petz, Viemero e Akademi, 1986). Corelações, con- qualquer idade. Isso está em consonância com resul-
tudo, não implicam relações causais. É possível que tados de outros estudos que indicam que as meninas
as crianças que são agressivas prefiram assistir a pro- tendem a imitar o comportamento agressivo muito
gramas de televisão violentos - ou seja, ter uma na- menos do que o fazem os meninos, a menos que elas
tureza agressiva faz com que assistam à violência, e sejam especificamente reforçadas a fazê-lo. Em nos-
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lntrodução à Psicologia de Hilgard It35
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i.r'ì, Para que serar'em &$ emoções posilivas? tude das em@ões'negatìv*.s õ quç::glas cles: que ajudaram os primeircs leres humano$
Essa pergunta parece quase tola porque, pe*"tam tbrtes impul*os pêíâ âglr de deter- a viver o bastante para se reproduzirem e
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de certa forma. a resposla é óbvia: e bom minadas maneiras: lutar guando se estí serem nossos ancestrais llevenson. I 994:
tÈr emoções positivas. Esse fato por si só com raìva. fugir quando se e{tá com me- Tooby e Cosmider, 199Sì,0:nalor adap-
faz delas experiências gratificanies e va- do. ou cuspir quando se eslá com nojo tativo das emoÇ6e* negatiÍã$:foi ligado às
liosas. Fim da história. certo? (Frijda, Kuipeis e Schúre, 19891 Lazarus, específicas tendèncias de açào que elas
Infèlizmente. para muitos psicólo- l99l). Em outras palawas, as emoçòes desencadeim. Essas açòes específicas íp.
gos, esse tem sido o fim da história, Se negativas estreilam o elo entre o nosso ex., lutar. lugir. cuspir) representam aquc-
examlnatÏnos a pensamento e as nossas açocs. As emo- las que funcionaram melhor quando nos-
literatura cientí- çòes positivas parecem ter um efeito com- sos ancestrais enfrentavam ameaçrs a sua
fica sobre emo- plementar; elas ampliam o nosso pensa- vida e integridade lísica. Acredito que o
ções, descobri- menlo e a\ nossas aÇòes: a alegrìa gera o valor adaptalivo das emoçòes posilivas
femÕs uma ateiÌ- anseio de brincar, o interesse, o anseio de pode ser relacionado ao modelo t.le am-
Ç4Q:resilâgadora explorar. a ratisfaçào, o anseio de usutruir pliação e construção que delineei aqur.
e o amor, um ciclo recorrente de cada um Dentre nossos a*cestrais, aqueles que se
fmoÇões '*e-
,,,,,,.,.,*"
-
cÔmo destes anseios. A virtude aqui é que as reÉderam aos anseios despertados pelas
,,1;,]leat*as
,,' ,: medo, raiva, no- emoções positivas expandem nosso modo emoções positivas, (p. ex., brincar, explo-
"", jo e vergonha =- úpico de pensar e esl"ar no mundo. forçan- rar, saborear) teriam, conseqüentemente,
e pouqursslmâ do-nos a sermos mais criaúvos. mais cu- reunido mais recursos físicos, intelectuais
atenção às emo- riosos. ou mais ligados aos ouros (Fre- e sociais. Quando estes mesmos ances-
çÕes positivas - tlickson, 1998: Isen, 1987t. lrais posteriormente enl-rentavam amer-
como aiegria, sa- As emoções positivas constroem ças inevitáveis a vida e a integridade iísi-
Barbara L. Fredrickson nossos recursos pessoais. Embora as ca, estes recursos ter-se-iam traduzido em
::tJnï.'ïiï emoções em si tenham curf,a duração, seus maiore: chances de sobrevirência. Assim.
embora poucos el-eitos sobre nós podem ser duradouros. na medida em que as capacidades de er-
questionem a aÍirmação de Thomas Jef- Ao ampliarem nosso pensalnento e açòes perimentar emoçòes positivas e negativas
ferson, na Declaraçào de Independência por um momento, as emoções positivrs sào geneticamenle codifìcrdas, estas ca-
dos Estados Unidos, de que a busca de fe- promovem a descobefia cle idéias, ações e pacìdades. atravds do processo de scleção
licidade é um objetivo digno. poucos in- laços sociais originais e criaüros. Brincar, nal ural, provavelmente lomaram-se pafle
vestigaram as emoçòes positivas cientifi- por exemplo, pode construir nossas habili- tie nossa nalureza humana universal.
camenle. dades fïsicas e sociais, explorar pode gerar Assim, as emoções po*itivas podem
Considero este um grande erro. O conhecimento. e saborear pode determinar fazer mai* por nós do que normalmente
bom senso (e um pouco de pe:quisa) su- nossas prioridades de vidr. Estas conse- admitimos. Sentir-se bem pode ampliar
gere que rs emoções positir as contribuem qüências muitas vezes percluram muito nosso modo típico de pensar e agir e. por
muito para a qualidade de nossas vidas tempo depois que a emoçào positivr ini- sua vez. construir nossos recursos pes-
(Myers e Diener. 1995t. Mas como? Em cial se exúnguiu. Deste modo, as emoções soais. tornando-nos pessoas mais com-
que áreas? Eslas queslòes merecem alen- positiras conrtroem nosso estoque de re- piexas e resilientes. Portanto, da próxi-
ção cienlífica. Para dar início à pesquisa cursos a \erem utilizados em momentos mâ vez que vocô estiver rindo com os
nessa área, propus um novo modelo para de dificuldatle. os quais variam desde re- amigos. explorando um interesse. ou
descrever a lorma e funçào de um sub- cursos lísicos (p. ex.. a capacidade de der- desfrutando de uma caminhatia pelo par-
.
::. ''..
conjunto de emoçòes positivas. incluindo rotar um prcdadort alé recursos intelec-
luais (p. ex.. um mapa cognitiro para en-
que, lembre-se de que talvez você esteja
. l
:..t alegria. inleresse. satislaçào e 3mor. Estas cultivando mais do apenas boas sensa-
::, emoções positìvas, acredito. tèm reper- contraÍ o caminho) e sociais (p. ex., al- ções efêmeras; lalvez você estda tam-
a,:
,j.
cussòes benéficas que nào se restringem guém a quem recorrer para pedir ajuda). bém otimizando sua própria saúde e
apenas ao sentir-se bem (Fredrickson, As emoções são adaptações desen- bem-estar a longo prazo (Fredrickson.
:::i:
I
q98 ). volvidas. Or psicólogos muitas vezes re- em produçào).
As emoções positivas ampliam nos- presenlam as emoçòes como adaptaçòes
so pensamento e nossas ações. Uma vir- psicológicas desenvolvidas. ou tendèncias
E
O Bom de Sgnür-se M*l ::::,:,,::=:. ,, :':'
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Sentir medo, tristeza, culpa ou cólera é uma delas iransmite inlormaçòes especi experiêncìa de estarmo$ erradcs. Mesmo
desagradável. Num mundo idea.l. estas ficas. A tristeza indica uma perda,-o me- em ratos, o compoüamento d guiado por
emoções negativas cenamente não existi- do, uma ameaça, e a raiva:aos,alertã'.pirá velhos hábitos quando eles expenmenram
riam. Não seria meravilhoso nunca mais uma ação reprovável (ürto.g1l, Clore e gratificação epor novo âpÈçfidizado
sentir medo, tristeza. culpa ou raiva? Ou Collins, 1988). Mas as eÍnoç& pç$itivas quft1do eles experimq*1am conseqËências
nào? Pense duas vezes antes de respon- parecem todas ser apenas varìaÇõer de fe- negalivas tGray. I 97 I ).
der, porque sentir-se mal tem muitcs as- licidade, a quat simplesmente i*dica que A pesquisa na psicoìogìa social tam-
pertos positivos. Três deÌes são descrilos as ccisas estão beü. A precisão da dor e a bém sugere que
a segui r: indistinção da alegrìa podem sei visras no ôs ,sentiftentrls
l. Os sentimentos negativos nos fato de que as pessoas conseguem dascre- positivas levam
motivam. Cada emoçào negativa desem- ver seu soÍrimento ffsico e psicológico as pessoas a de-
penha um papel importalte. O medo e a com grande precisão. mas um âstronaula pender de suas
ansiedade, por exemplo. sâo úteis a todos flu*ando no espaço, amarrado a stra es- Çrenças pre$en-
os momentos. Sem medo. andanamos por paçonave. poderia apenas dizer. "Óümo, tes, eÍlçuanto
aí çomo çãezinhos ou criança* pequ€nã$, maravilhoso, não teúo palavras" (Arna- sent'imentos ne-
dispostos a aüavesse{ as fuâs em frente chai.1999r. gativos as le-
ao$ veículos e a at)raçãí cães fefozes. Iría- 3. Os sentimentos negativos nos vam a daÍ prio-
mcs fazer umá palesil*.tmportante sem ajudam a aprender. Avaliamas o tempo ridade a novas
ter preparado nada pará dizer. A culpa todo as situações em que nos encontra- informações do
também é uma emoçào úril e importante. mos. A teoria do aleto como informacão ambiente- Pm
Por e'<emplo. erperi mentos demonstram (p. ex., Schwarz e Clore, 1996) sustenta exemplo, diver-
que sentimentos moderados de cuÌpa po- que os sentimentos que resultam destas sos experimen-
Gerald L. Clore
dem despertar comportamento cooperati- avaliações lornecem um relorno sobre o tos demonsffa-
vÇ mesmo em pessoas que de outro modo ambiente e sobre nossos recursos para li- ram que as pessoas que estão de bom hu-
explorariam os outros iKetelaar e Au, dar com ele. Sentimentos negativos indi- mor tendem mais a usar estereótipos e prì-
1999 ). A cólera rambém pode ter benefÊ cam que lemos um problema e muilas re- meiras impressòes quando lazem julga-
cios. A cólera motiva-nos a buscarjusriça zes disparam o pensamenlo sistemático mentos das outras. ao passo que aquelas
quardo recebemos roco de menos ou so- que visa resolvê-lo. Os senlimenlos ne- que estão de mau humor sào mais propcn-
Ào, ,rutudor cle maneira injustr. Quando gati\os levam-nos a reunir novas infor- sas ajulgar a panir do que as pessoas real-
estamos com raiva. podemos defender mrçòe: e mudar algo em nossa aborda- mente Íbzem QsbeÌl, Clore e Wyer, 1999).
nossos princípios m€smo quando há pou- gem. Portanto,':em relação a depender de
co a ganhar imediatamente com isso. Na Este relacionamento entre o aleto e a nossas próprias suposições anteriores, os
verdade, o caraler desagradálel das emo- uülização tJo que já sabemos e totalmente sentimentos positivos atuam como um
çòes negativas como a raiva pode ter-se sensato. Quando estamos desempenhan- acelerador e os sentimenlos negalivos co-
desenvolvido exâtamente para qsse pro- do uma tarefa com êxito. sentimo-nos mo um freio. Ou seja. os sentimenlos po-
pósito - lrarer para o presente um pouco bem e continuamos lazendo o que parece sitìvos nos incenlivam a prosseguir com
do desprazer que ocoreria depoir de rno. estar ilncionando. Mas quando não esta- nossas próprias crenças egocêntricas. en-
do mais intenso caso não agíssemos mos lendo èxito, sentimo-nos mal. e en- quanto oç \enlimentos negativos alertam
rFrank. I988,1. tào tentamos mudar. concentrmdo-nos para problemas. mostram onde nossas su-
2. Os sentimentos negativos nos em novas infbrmações do ambiente em posições nào estào corretas. e desenca-
informam. Uma das uirtudà das emo- vez de em inlormaçòes anligas que não deiam o processo de aprendizado de coi-
çõ€s negâtivas é que elas são informativas eslào luncionan<jo. Filórolos da educaçào sas novas. Sentir-se mal d bom quando is-
(Clore. I992), e sem dúvida elas sào mui- (Dewey. I9l6), reóricos da aprendizagem so inibe nossa uliliraçào <je suposiçòes
to mais inlotmativas do que :ìs emoçòe\ (McDougall. 1923) e esrudos mais recen- por tempo suficiente para nos permitir
positivas. Exisrem muitus emoções nega- tes sobre as ondas cerebrais iDonchin, aprender algo nor o.
tivas caraclerísticas. incluindo medo. rai- 1982) concordam que a aprendizagem
va. tristeza, vergonha. nojo. elc. Cada ocoÍre principalmente quando temos a
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438 Capítulo l1 Rìta L. Atkinson, Rìcharcl C. Atkinson, Edtvard E. Smìth, DaryL J. Bem e Susan Nolen-Hoeksema
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RESUMO
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1. Os componentes da emoção incluem a experiência subjeti- tos que condizem com nosso humor do que a eventos que
ís< não o fazem. Outra conseqüência é que nosso estado emo-
va da emoção, a excitação autônoma, a avaliação cognitiva, a
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ii;ì ilì expressão emocional, as reações gerâis à emoção e as tendên- cional afeta nossa avaliação sobre as pessoas e objetos, bem
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cias de ação. como nossa estimativa do que irá acontecer no futuro' Quan-
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do estamos de mau humor, estimamos que diversos riscos
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te ou deliberada parece estar envolvida (por exemplo, expe- parte sob controle cortical e conseqüentemente é afetado pelas
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riências de medo que foram adquiridas na infância mediante experiências passadas e inÍ'luências sociais' Entretanto, mes-
condicionamento clássico). Estas emoções precognitivas pare- mo em humanos, pode haver algumas bases biológicas da
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cem ser mediadas por rotas neurais distintas no cérehro' agressividade.
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4. As expressões faciais que acompanham as emoções primá- 9. ConÍbrme a teoria da aprendizagem social da agressivida-
i-tì; -.. as reações agressivas podem ser aprendidas através de imi-
rias possuem um significado universal. Pessoas de diferentes <1e,
!\J i..z culturas concordam sobre qual emoção uma pessoa em uma tação e aumentar de freqüência por reforçamento positivo. As
;ìt irli crianças têm maior tendência a expressar respostas agressivas
i;ttti i.:l determinada fotografia está expressando. As culturas podem
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diferir quanto aos fatores que provocam certas emoções e quando são reforçadas por estas ações do que quando são pu-
.a'l :--:
_- 1:. quanto às regÍas para a exibição adequada de emoção. A capa- nidas por elas.
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i.ìi
':.::a. cidade de reconhecer a expressão emocional localiza-se no he- 10. Existem indícios de que a agressividade aumenta o com-
misfério cerebral direito e neurologicamente distingue-se da porlamento agressivo subseqüente ou o mantém no mesmo ní-
.i: 5
4< capacidade de reconhecer rostos. vel. Assim, quando há repetidas oportunidades de dar um sus-
' ll .j.,.i
5. Além de suas lunções comunicativas, as expressões emo- to em outra pessoa (sem que essa possa retaliar), estudantes
,:-.lf cionais podem contribuir para a experiência subjetiva de uma universitários tomam-se cada vez mais punitivos. A expressão
,'...11
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emoção (hipótese da retroalimentação facial). Apoiando essa indireta ou vicariante da agressividade tem efeitos semelhan-
--i ;'ll hipótese, as pessoas dizem experimentar uma prática emocio- tes: existe uma relação positiva entre a quantidade de violên-
i.,it a. ì nal mais intensa quando exageram suas reações faciais aos es- cia na televisão a qual as crianças são expostas e o grau em
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tímulos emocionais. que agem agressivamente.
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Introdução à Psicologia de Hilgard tif11#tgt :::,,
PALAVRAS.CHAVE
!E
t:
ls QUESTOES PARA REFLEXAO CRITICA
IF 1. Admitindo-se que as emoções se desenvolveram porque 2. Nos últimos anos, o conceito de inteligência emocional - a
servem a propósitos úteis, que objetivos seriam atendidos por capacidade de compreender e regular nossas emoções - tor-
manifestações exffemas de emoção, tais como depressão seve- nou-se popular. Em sua opinião, o que significa ser emocio-
ra ou cólera crônica? nalmente inteligente em nossa sociedade? De que forma você
acha que a inteligência emocional poderia variar de uma cul-
tura para outra?
LEITURAS COMPLEMËNTARES
t=
t-. Para uma introdução a diversas concepções da emoção, alguns mentos de detecção de mentiras, ver Lykken, A Tremor in the
capítulos de Mook, Motivation (1987) são muito úteis. Para Blood: Uses andAbuses of the Lie Detector (1980).
F= uma abordagem mais técnica da emoção, ver Lazarus, Emo- A teoria psicanalítica da emoção é apresentada em dois li-
rlj.
ìG tion and Adpatarion (1991); Frijda, The Emotions (1986); vros de Freud: Além do princípío do praTer (ï92011975) e No-
lf! Mandler, Mind and Emotion (1982); e Plutchik e Kellerman v as confe rênc ias introdutórias em p s ic anóli s e (1933 / 1965).
ã (eds.), Emotion: Theory, Research, and Experience (1980). O
ì:
I .-
r< papel da cognição na emoção é discutido com profundidade
Para a abordagem da aprendizagem social, ver Bandura, So-
cial learning theory Q977). Livros sobre agressividade in-
t€
!=
em Ortony, Clore e Collins, The Cognitive Structure of Emo- cluem Bandura, Aggression: A Social Leaming Analysís
;it tions (1988). (1973); Tavis, Anger: The Misunderstood Emotion (1984):
is
? '<( Volumes interessantes sobre expressões faciais e emoção Hamburg and Trudeau (eds.), Biobehavioral Aspects of Agres-
incluem Emotion in the Human Face, de Ekman(2. ed., 1982) sion (1981): e Averill, Anger and Aggression: An Essay on
e Telling Lies: Clues to Deceit in the Marketplace, Politics and Emotion (1982).
Marriage (1985). Para estudo e análise crítica dos procedi-
I <t'
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