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tÓpiCos espeCiAis

Prof. Kleber Renan de Souza Santos


Profª. Ana Clarisse Alencar Barbosa
Prof. Arildo João de Souza
Prof. Fábio Roberto Tavares
Profª. Francieli Stano Torres
Profª. Graciela Márcia Fochi
Profª. Grazielle Jenske
Profª. Greisse Moser
Profª. Luciane da Luz
Prof. Lírio Ribeiro
Profª. Maquiel Duarte Vidal
Profª. Meike Schubert
Profª. Vânia Konell
Profª. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

2018
Copyright © UNIASSELVI 2018
Elaboração:
Prof. Kleber Renan de Souza Santos
Profª. Ana Clarisse Alencar Barbosa
Prof. Arildo João de Souza
Prof. Fábio Roberto Tavares
Profª. Francieli Stano Torres
Profª. Graciela Márcia Fochi
Profª. Grazielle Jenske
Profª. Greisse Moser
Profª. Luciane da Luz
Prof. Lírio Ribeiro
Profª. Maquiel Duarte Vidal
Profª. Meike Schubert
Profª. Vânia Konell
Profª. Vera Lúcia Hoffmann Pieritz

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

657
S237tSantos, Kleber Renan
Tópicos Especiais / Kleber Renan Santos et al. Indaial:
UNIASSELVI, 2018.

294 p. : il

ISBN 978-85-515-0131-3

1. Tópicos Especiais.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Vamos iniciar os estudos do Livro Didático de
Tópicos Especiais. Este livro está dividido em três unidades e tem o intuito
de apresentar e reforçar temas no componente de Formação Geral, conforme
orientação da Portaria Inep nº 239, de 10 de junho de 2015, art. 3º:

No componente de Formação Geral serão considerados os


seguintes elementos integrantes do perfil profissional: letramento
crítico; atitude ética; comprometimento e responsabilidades
sociais; compreensão de temas que transcendam ao ambiente
próprio de sua formação, relevantes para a realidade social;
espírito científico, humanístico e reflexivo; capacidade de análise
crítica e integradora da realidade; e aptidão para socializar
conhecimentos com públicos diferenciados e em vários contextos.

A partir dessa orientação, queremos que você compreenda que


aprender a questionar é tão importante quanto buscar o saber, e que ao final
do estudo deste livro você seja capaz de formular novas perguntas sobre a
realidade humana e consiga propor soluções responsáveis para os desafios
profissionais que surgirem. Assim, este livro traz conteúdos gerais para
você estar bem preparado para o ENADE e também para o que a vida lhe
apresentar. São temas pertinentes, atuais, abrangentes e que fazem parte da
vida de todos nós. Vamos começar?!

Na primeira unidade, que vai tratar sobre cidadania e sociedade,


seremos conduzidos por um mundo intrínseco do comportamento humano em
sociedade e suas regras de conduta e participação social, política e econômica,
na qual trabalharemos a questão da formação dos princípios morais e éticos dos
homens que vivem e convivem em sociedade, além de abordarmos questões
pertinentes à democracia, à ética e à cidadania. Desta forma, abordaremos a
compreensão dos significados dos princípios norteadores da democracia, ética
e cidadania, além de realizar uma reflexão e uma discussão sobre as questões
ético-morais na relação indivíduo e sociedade.

Ainda nessa unidade vamos apresentar algumas definições e


conceitos a respeito dos problemas sociais ocasionados pela diversidade que
gera diferenças entre coisas e seres, que por consequência geram os mais
diversos preconceitos, desigualdades e conflitos sociais. Vamos também
identificar a necessidade e a essencialidade da inclusão como uma forma de
democratização das relações sociais, principalmente na emancipação e na
sutileza do trato com o outro, seja em relação aos “iguais” ou entre iguais
e diferentes, que de alguma forma ainda não foram incluídos no contexto
social. Relacionado à sociedade e suas relações, vamos trabalhar o conceito
de multiculturalismo, enfatizando as origens do surgimento do movimento e
os campos de conhecimento que acolhem os estudos multiculturais.
III
Para finalizar a Unidade 1, estudaremos a cultura e a arte como áreas
que interagem entre si e com as demais áreas de conhecimento. Estudar,
pesquisar e refletir sobre as diferentes culturas e suas manifestações artísticas
possibilita a compreensão da vida e das relações entre os sujeitos no meio
social. A cultura, assim como a arte, é dinâmica, vai mudando conforme o
tempo e o espaço. A cultura e a arte devem ser estudadas a partir de três
concepções: erudita, popular e de massa.

Começamos a segunda unidade adentrando nos assuntos
relacionados à Ciência, Tecnologia e Sociedade. Veremos como se faz
necessário entendermos os fundamentos da ciência sob diferentes óticas e
também analisar definições e pensamentos acerca da tecnologia e algumas
formas de interpretar a sociedade.

Muito próximo dessa temática, avançaremos sobre as tecnologias
da informação e comunicação como fator determinante no advento da
sociedade da informação, das transformações resultantes do processo da
globalização de mercados e dos avanços do uso dos processos tecnológicos
na vida cotidiana dos indivíduos.

Concluímos os estudos deste livro com a terceira unidade. Nela,
vamos estudar sobre as políticas públicas, sobre a vivência nos meios urbanos
e rurais e a questão ecológica, temas tão importantes para o desenvolvimento
da sociedade como um todo.

Queremos evidenciar a importância das políticas públicas para a
concretização dos direitos e deveres do Estado em relação às pessoas que
compõem a sociedade e, assim como o Estado, gozam de seus direitos civis
e políticos. Veremos que estamos sujeitos ao conjunto de normas jurídicas e
sociais, formando assim um marco regulatório previamente fixado no que
diz respeito à distribuição harmônica dos elementos que formam os direitos,
deveres e responsabilidades em prol do desenvolvimento educacional,
político, econômico e social. Nesta via de mão dupla vamos perceber que a
vida em sociedade está ligada à política e não há ação social sem ação política,
quer seja promovida pelo Estado ou pela sociedade. Vamos ainda tratar sobre
a saúde e sua gestão, a habitação e moradia como direitos constitucionais e a
segurança em âmbito nacional.

Esperamos que este estudo possa auxiliá-lo na compreensão de tantos
temas que compõem este livro de estudos, preparar-se bem para o ENADE e
levar para a vida as abordagens aqui feitas.

Bons estudos!

IV
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

UNI

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos


materiais ofertados a você e dinamizar ainda
mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza
materiais que possuem o código QR Code, que
é um código que permite que você acesse um
conteúdo interativo relacionado ao tema que
você está estudando. Para utilizar essa ferramenta,
acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor
de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa
facilidade para aprimorar seus estudos!

V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – CIDADANIA E SOCIEDADE...................................................................................1

TÓPICO 1 – DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA...................................................................3


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................3
2 A DEMOCRACIA EM PAUTA .......................................................................................................4
3 A QUESTÃO DA ÉTICA....................................................................................................................8
4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA..............................................................13
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................16
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................18

TÓPICO 2 – SOCIEDADE E A DIVERSIDADE...............................................................................21


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................21
2 CONCEITOS DE DIVERSIDADE CULTURAL E DESIGUALDADE SOCIAL.....................21
3 DIVERSIDADE CULTURAL E DESIGUALDADE SOCIAL......................................................22
4 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE.............................................................30
5 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE HUMANA........................................31
6 CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DO SABER APRENDIDO ..........................................37
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................38
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................39

TÓPICO 3 – MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/


INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO........................................................41
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................41
2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO..............................................................................41
3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO............................................................................43
4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O MULTICULTURALISMO....................44
5 MOVIMENTO FEMINISTA..............................................................................................................45
5.1 FEMINISMO....................................................................................................................................45
5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA...............................................................................................46
5.3 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA...............................................................................................46
5.4 A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E O SURGIMENTO DOS ESTUDOS
DE GÊNERO....................................................................................................................................48
6 CONCEITUANDO GÊNERO...........................................................................................................48
7 ESTUDOS DE GÊNERO....................................................................................................................51
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................56
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................58

TÓPICO 4 – RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR


PRIVADO E TERCEIRO SETOR..................................................................................63
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................63
2 SETOR PRIVADO...............................................................................................................................63
3 TERCEIRO SETOR .............................................................................................................................64
3.1 HISTÓRICO ....................................................................................................................................65
3.2 REALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL.................................................66

VII
4 AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS....................................................................68
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................71
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................72

TÓPICO 5 – CULTURA E ARTE..........................................................................................................75


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................75
2 CULTURA..............................................................................................................................................76
3 ARTE.......................................................................................................................................................79
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................86
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................87

UNIDADE 2 – POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO:


OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE................................................................89

TÓPICO 1 – CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE........................................91


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................91
2 CIÊNCIA................................................................................................................................................91
3 TECNOLOGIA.....................................................................................................................................93
4 SOCIEDADE ........................................................................................................................................95
5 SOCIEDADE ENTRE CIÊNCIA E TECNOLOGIA .....................................................................96
6 CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE (CTSA) –
INTERPRETAÇÕES SOBRE A NOVA FORMAÇÃO..................................................................98
6.1 CTS SOB NOVAS ÓTICAS............................................................................................................98
6.2 CTS SOB A ÓTICA DE MILTON SANTOS ...............................................................................98
6.3 CTSA SOB A ÓTICA DE WIEBE BIJKER....................................................................................101
7 CARACTERIZANDO O MUNDO ATUAL....................................................................................103
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................105
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................106

TÓPICO 2 – TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC).......................109


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................109
2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) COMO
FATOR DETERMINANTE NO ADVENTO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO...........109
3 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO – TIC..............................................112
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................116
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................117

TÓPICO 3 – AVANÇOS TECNOLÓGICOS......................................................................................119


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................119
2 TENDÊNCIAS ORGANIZACIONAIS DO SÉCULO XXI.........................................................119
3 COMUNIDADES VIRTUAIS...........................................................................................................120
3.1 REDES SOCIAIS..............................................................................................................................124
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................125
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................126

TÓPICO 4 – GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL..............................................129


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................129
2 GLOBALIZAÇÃO: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA..............................................................129
2.1 O TERCEIRO SETOR.....................................................................................................................132
3 GLOBALIZAÇÃO: UM BALANÇO.................................................................................................132
4 A POLÍTICA INTERNACIONAL.....................................................................................................134
5 O ESTADO MODERNO E O LIBERALISMO...............................................................................134

VIII
6 O NEOLIBERALISMO E A TERCEIRA VIA.................................................................................135
7 TENDÊNCIAS AOS GOVERNOS E À POLÍTICA INTERNACIONAL..................................136
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................138
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................139

TÓPICO 5 – RELAÇÕES DE TRABALHO........................................................................................141


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................141
2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO..............................................................141
3 AS MULHERES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL......................................146
4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS..............................................................147
4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL...............................................................148
4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS NO BRASIL................................148
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................150
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................153
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................154

UNIDADE 3 – POLÍTICAS PÚBLICAS.............................................................................................157

TÓPICO 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO.......................................................................159


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................159
2 POLÍTICA PÚBLICA ATUAL...........................................................................................................159
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................172
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................175
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................176

TÓPICO 2 – POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE................................................................................177


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................177
2 CONCEITO DE SAÚDE.....................................................................................................................179
3 SAÚDE: DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO............................................................182
4 AS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE...........................................................................................183
5 DIVERSOS ATENDIMENTOS EM SAÚDE .................................................................................186
5.1 POLÍTICAS DE SAÚDE E PROGRAMAS ESPECÍFICOS .......................................................187
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................191
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................192

TÓPICO 3 – HABITAÇÃO E SANEAMENTO.................................................................................195


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................195
2 DIREITO À MORADIA.....................................................................................................................195
3 SANEAMENTO...................................................................................................................................202
4 SANEAMENTO BÁSICO..................................................................................................................203
5 PRECARIZAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO........................................................................207
6 AVANÇOS NO SANEAMENTO......................................................................................................210
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................212
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................213

TÓPICO 4 – TRANSPORTES E SEGURANÇA................................................................................217


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................217
2 CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSPORTES......................................................................................219
2.1 TERRESTRES...................................................................................................................................219
2.2 AQUAVIÁRIOS...............................................................................................................................221
2.3 AÉREO..............................................................................................................................................223

IX
3 INFRAESTRUTURA...........................................................................................................................224
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................226
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................227

TÓPICO 5 – POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM ÂMBITO NACIONAL.............229


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................229
2 A SEGURANÇA PÚBLICA E AS CONTRIBUIÇÕES COMUNITÁRIAS...............................230
3 SEGURANÇA PÚBLICA E JUSTIÇA CRIMINAL.......................................................................231
4 SEGURANÇA PÚBLICA E O PAPEL DO ESTADO.....................................................................235
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................238
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................239

TÓPICO 6 – VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA....................................................................241


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................241
2 VIDA URBANA...................................................................................................................................241
3 VIDA RURAL.......................................................................................................................................243
4 SEMELHANÇAS OU DIFERENÇAS...............................................................................................245
5 ECOLOGIA...........................................................................................................................................248
6 ECOSSISTEMA....................................................................................................................................249
6.1 ORGANIZAÇÃO DOS SERES VIVOS........................................................................................250
6.2 EXEMPLOS DE ECOSSISTEMAS................................................................................................253
6.3 DIVERSIDADE DO ECOSSISTEMA............................................................................................254
7 OS GRANDES BIOMAS....................................................................................................................254
7.1 FATORES QUE DETERMINAM OS BIOMAS...........................................................................254
RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................................................256
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................257

TÓPICO 7– MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.............................259


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................259
2 QUESTÕES AMBIENTAIS – UMA REFLEXÃO SOCIOAMBIENTAL....................................259
3 SUSTENTABILIDADE: SURGIMENTO .......................................................................................261
3.1 RELATÓRIO BRUNDTLAND OU “NOSSO FUTURO COMUM”..........................................263
3.2 AGENDA 21....................................................................................................................................263
3.3 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL – RIO+20.............................................................................................................264
4 SUSTENTABILIDADE: CONCEITUAÇÃO...................................................................................264
4.1 OS PILARES DA SUSTENTABILIDADE....................................................................................265
5 AS FERRAMENTAS PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL..........................................................267
5.1 PACTO GLOBAL ...........................................................................................................................268
5.2 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO - ODM..............................................269
5.3 PROTOCOLO DE KYOTO............................................................................................................270
5.4 ABNT NBR 14064 – INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA...........271
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................272
RESUMO DO TÓPICO 7......................................................................................................................276
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................277

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................281

X
UNIDADE 1

CIDADANIA E SOCIEDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• compreender diferentes conceitos de democracia, ética, cidadania e socio-


diversidade;
• verificar os padrões de conduta moral ao longo do tempo e em diversas
culturas;
• identificar a importância da responsabilidade social e os três setores: pú-
blico, privado e terceiro setor para uma sociedade equânime;
• entender a importância da cultura e da arte no desenvolvimento da sociedade.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA

TÓPICO 2 – SOCIODIVERSIDADE E INCLUSÃO

TÓPICO 3 – MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTO-


LERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO

TÓPICO 4 – RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRI-


VADO E TERCEIRO SETOR

TÓPICO 5 – CULTURA E ARTE

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA

1 INTRODUÇÃO
Entraremos no mundo do comportamento humano em sociedade e
suas regras de conduta e participação social, política e econômica, no qual
trabalharemos a questão da formação dos princípios morais e éticos dos homens
que vivem e convivem em sociedade, além de abordarmos questões pertinentes à
democracia e à cidadania.

Esses conceitos estão previstos na Portaria INEP nº 493 de 6 de junho de


2017, em seu Art. 1º, que destaca:
O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), parte
integrante do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior
(SINAES), tem como objetivo geral avaliar o desempenho dos
estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas
diretrizes curriculares, às habilidades e competências para atuação
profissional e aos conhecimentos sobre a realidade brasileira e
mundial, bem como sobre outras áreas do conhecimento (BRASIL,
2017, grifos nossos).

A mesma portaria, em seu Art. 5º, indica como referência do perfil do


concluinte, no âmbito da Formação Geral, as seguintes características:
I. ético e comprometido com as questões sociais, culturais e ambientais;
II. humanista e crítico, apoiado em conhecimentos científico, social e
cultural, historicamente construídos, que transcendam o ambiente próprio
de sua formação;
III. protagonista do saber, com visão do mundo em sua diversidade para
práticas de letramento, voltadas para o exercício pleno de cidadania;
IV. proativo, solidário, autônomo e consciente na tomada de decisões
pautadas pela análise contextualizada das evidências disponíveis;
V. colaborativo e propositivo no trabalho em equipes, grupos e redes,
atuando com respeito, cooperação, iniciativa e responsabilidade social.

E no Art. 6º é indicado que a prova ENADE avaliará se o concluinte


desenvolveu, no processo de formação, competências para:
I. fazer escolhas éticas, responsabilizando-se por suas consequências;
II. ler, interpretar e produzir textos com clareza e coerência;
III. compreender as linguagens como veículos de comunicação e expressão,
respeitando as diferentes manifestações étnico-culturais e a variação
linguística;
IV. interpretar diferentes representações simbólicas, gráficas e numéricas
de um mesmo conceito;
V. formular e articular argumentos consistentes em situações
sociocomunicativas, expressando-se com clareza, coerência e precisão;
VI. organizar, interpretar e sintetizar informações para tomada de decisões;
VII. planejar e elaborar projetos de ação e intervenção a partir da análise de
necessidades, de forma coerente, em diferentes contextos;

3
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

VIII. buscar soluções viáveis e inovadoras na resolução de situações-


problema;
IX. trabalhar em equipe, promovendo a troca de informações e a
participação coletiva, com autocontrole e flexibilidade;
X. promover, em situações de conflito, diálogo e regras coletivas de
convivência, integrando saberes e conhecimentos, compartilhando metas
e objetivos coletivos.

Para tanto, abordaremos a compreensão dos significados dos princípios


norteadores da democracia, ética e cidadania, além de realizar uma reflexão e
uma discussão sobre as questões ético-morais, na relação indivíduo e sociedade.

2 A DEMOCRACIA EM PAUTA
Estamos vivendo em um país apresentado como democrático! Será que
todos nós compreendemos o sentido real da democracia e seus reflexos na sociedade
brasileira? Em outros termos, o que realmente é este Estado Democrático de Direito
em que vivemos?

Neste sentido, Moisés (2010, p. 277) expõe que “o significado mais usual
da democracia se refere aos procedimentos e aos mecanismos competitivos de
escolha de governos através de eleições”, ou seja, a democracia é compreendida
habitualmente somente como um processo de escolha dos nossos representantes
legais em todas as esferas, tanto local, municipal, estadual quanto federal, no qual a
população dessas esferas, por meio de seu voto, seleciona e elege o seu representante
para legislar em nome dessa mesma população. Assim, “podemos considerar que
a democracia nada mais é do que um sistema de governo, no qual o povo governa
para sua própria sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 133, grifos do original).

Deste modo, pode-se observar que a democracia pode ser exercida de duas
formas distintas, pois ela pode ser direta ou indireta (Quadro 1). O conceito de
democracia é notoriamente o entendimento de toda massa populacional brasileira
nos dias de hoje, pois quando se indaga às pessoas com relação ao conceito de
democracia, é este conceito de escolha de nossos representantes legais, por
intermédio do voto popular, que aparece nos discursos da população de nosso país.

QUADRO 1 – FORMAS DE DEMOCRACIA

FORMAS DE DEMOCRACIA
Democracia Na qual o povo decide diretamente, por meio de referendo/
direta plebiscito, se aceita ou não determinadas questões políticas e
administrativas de sua localidade, Estado ou país.
Democracia Nesta, o povo participa democraticamente, por meio do voto,
indireta elegendo seu representante político, ou seja, uma pessoa que
o represente nas diversas esferas governamentais, para tomar
decisões cabíveis em nome do povo que o elegeu.
FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 133)

4
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA

Cunha (2011, p. 105) expõe que a democracia pode ser compreendida


como “método de organização social e política tendente à maior realização da
liberdade e da igualdade. [é um] Sistema político em que o povo constitui e
controla o governo, no interesse de todos”.

Outro fator que não podemos esquecer é que, quando falamos em


democracia, também falamos de Estado Democrático de Direito. Segundo
Cunha (2011, p. 138), o “Estado de direito [é aquele] que se organiza e opera
democraticamente”. Nossa Carta Magna de 1988, já em seu preâmbulo, instituiu
um Estado Democrático de Direito, ou seja, a Constituição da República
Federativa do Brasil se organizou e definiu suas normativas em prol de um Estado
Democrático, no qual a democracia deverá ser a base fundamental da República
Federativa do Brasil. Assim, segundo Pieritz (2013, p. 133), “este sistema de
governo democrático possui formatos diferentes nas diversas sociedades, pois
em cada uma existem regras e normas diferentes, e isto acontece por causa da
constituição dos princípios ético-morais de cada localidade”.

Vale salientar que a democracia vai muito além desse discurso sintético de
representação e de voto, pois Moisés (2010, p. 277, grifos nossos) coloca-nos que:
existem outras perspectivas que ampliam a compreensão do conceito,
incluindo tanto as dimensões que se referem aos conteúdos da
democracia, como também os seus resultados práticos esperados no
terreno da economia e da sociedade. Por uma parte, acompanhando
a abordagem minimalista de Schumpeter (1950) e a procedimentalista
de Dahl (1971), vários autores definiram a democracia em termos de
competição, participação e contestação pacífica do poder.

Neste sentido, no que tange à conotação que a democracia tem de


competição, participação e contestação pacífica do poder, pode-se expor que
falar de democracia também está atrelado ao conceito do “jogo de poderes”,
principalmente a disputa e concorrência de cargos em todas as esferas
governamentais ou não, além da competição entre partidos políticos e outros
grupos econômicos, políticos, culturais e sociais.

Além disso, não podemos esquecer um elemento fundamental da


democracia, que é a questão da “participação do povo”, em que cada cidadão
brasileiro é elemento fundamental no processo democrático do Brasil, pois direta
ou indiretamente é parte do processo democrático instaurado neste país. Ao
proferir sua escolha, independentemente do que for ou de que escolha fora feita,
torna-se automaticamente parte do Estado Democrático de Direito e integra-se ao
sistema vigente de democracia daquele determinado Estado.

Resumidamente, a Figura 1 apresenta o primeiro entendimento da


definição e o significado da democracia e o Estado Democrático de Direito.

5
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

FIGURA 1 – DEMOCRACIA E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

FONTE: Os autores

Maciel (2012, p. 73, grifos do original) complementa expondo que a


democracia “tornou-se uma aspiração universal, por ser o regime de governo mais
propenso a garantir os direitos individuais, porém não se resume simplesmente
ao ato de votar, sendo que o direito à participação tornou-se uma atividade
importante diante da constituição da cidadania”.

Por conseguinte, pode-se expor que democracia denota participação


direta ou indireta da população em todos os espaços que necessitem do veredito
do povo em prol de objetivos comuns a ele mesmo. Assim, Beethan (2003, p. 110
apud MACIEL, 2012, p. 73, grifos nossos) complementa expondo que:
O direito à participação pode ser tanto reativo quanto proativo. Em
sua forma reativa, a participação consiste na articulação coletiva de
respostas a políticas de desenvolvimento. Na forma proativa, ela invoca
a responsabilidade popular no desencadeamento da articulação de
políticas de desenvolvimento. No primeiro caso, os governos propõem
e os cidadãos reagem; no segundo, os cidadãos propõem e os governos
reagem. Em ambas as formas, o direito de participação assume a lógica
de colaborar com o desenvolvimento. “No coração da democracia
repousa, assim, o direito do cidadão de opinar nos assuntos públicos e
de exercer controle sobre o governo, em pé de igualdade com os demais”.

Deste modo, pode-se expor que um dos elementos da democracia é a


articulação coletiva do povo em prol de uma determinada demanda social,
política, cultural ou econômica. Para que se possa debater coletivamente os prós e
contras, no que tange aos assuntos pertinentes ao interesse coletivo, dando assim
respostas a esta mesma demanda.

Vale salientar que a não participação e a omissão também são formas de


participação, pois retratam a sua alienação, indiferença, contestação ou o seu
descontentamento em relação ao sistema vigente. Então, isto não quer dizer que
aquele cidadão que se omitiu ou apenas não quis participar não fez parte do
6
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA

processo democrático de um país, pelo contrário, todo cidadão tem o direito de


participar ou não, mesmo que o voto no Brasil seja obrigatório, pois ao votar ele
exprime a sua vontade, ou o seu desejo.

Aqui fica claro que a população, ao exercer seu direito de participação de


forma proativa, demonstra seus direitos e responsabilidades perante os efeitos da
decisão coletiva. Entretanto, também existem quatro condições necessárias para
que se possa instaurar um regime governamental pautado na democracia.

QUADRO 2 – CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O REGIME DEMOCRÁTICO


Direito dos cidadãos de ESCOLHEREM GOVERNOS por
meio de eleições com a participação de todos os membros
adultos da comunidade política. A isso se dá o nome de
sufrágio universal (direito ao voto).
ELEIÇÕES regulares, livres, competitivas, abertas e significativas.
GARANTIA DE DIREITOS de expressão, reunião e organização,
Disponível em: <http://
rafaelsilva.over-blog.es/arti- em especial, de partidos políticos para competir pelo poder.
cle-objetivo-democracia- Acesso a fontes alternativas de INFORMAÇÃO sobre a ação
-iv-124370354.html>. de governos e a política em geral.
FONTE: Adaptado de Moisés (2010, p. 277)

Essas quatro condições mínimas para implantar um regime democrático


são de fundamental importância para que haja a participação democrática de um
povo em prol dos objetivos comuns do próprio povo, uma vez que a democracia
vai muito além da simples representação e de voto, ela se efetiva e concretiza-se
com a participação, com a competição e a contestação dos processos pacíficos da
busca do poder no Estado Democrático de Direito.

Sucintamente, a Figura 2 apresenta a ampliação da compreensão do


entendimento do significado da democracia, ou seja, o seu conceito ampliado:

FIGURA 2 – CONCEITO AMPLIADO DE DEMOCRACIA

FONTE: Os autores

7
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

ATENCAO

Caro acadêmico, para colaborar com seus estudos, veja que a junção das Figuras
1 e 2 proporciona o entendimento global do que é democracia.

3 A QUESTÃO DA ÉTICA
O tema que abordaremos neste momento é relativo à questão da ética,
a qual permeia constantemente nosso dia a dia, seja no âmbito familiar, social
ou profissional. Aparentemente, compreendemos o seu significado e seus efeitos,
mas será que realmente compreendemos o seu sentido real? Será que sabemos o
que é certo ou errado para nós na sociedade em que vivemos?

Neste sentido, Tomelin e Tomelin (2002, p. 89) expõem que “a ética é


uma das áreas da filosofia que investiga sobre o agir humano na convivência
com os outros [...]”. Em outros termos, as nossas ações perante a sociedade em
que vivemos são orientadas por princípios éticos e morais, e esses princípios são
norteadores de consciência moral do certo e do errado, do bem e do mal.

De modo mais abrangente, a ética pode ser conceituada como a área da


filosofia que investiga o agir humano, tanto aqueles com repercussão social,
quanto aqueles sem maiores impactos na sociedade, ou seja, não somente os atos
relativos à convivência com os outros, mas também consigo mesmo.

Assim, no que tange a esta problemática relativa à ética, Pieritz (2013, p.


3) expõe que “a ética não é facilmente explicável, mas todos nós sabemos o que é,
pois está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em sociedade,
ou seja, ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com
os outros integrantes da sociedade”. E que esses valores éticos são construídos
historicamente pelos povos, de geração em geração.

O que são valores? Pedro (2014, p. 490) faz um resgate etimológico da


palavra Axiologia, de origem grega, que significa estudo dos valores ou ciência do
valor, e aponta para um significado, o da vivência do valor, independentemente
do valor que for, pois este é experienciado como um fenômeno que se apresenta
à consciência como tal e como um acontecimento que nos é imediatamente dado.

Para a filósofa húngara Agnes Heller (1972, p. 4), “valor é tudo aquilo que
faz parte do ser genérico do homem e contribui, direta ou mediatamente para a
explicação desse ser genérico”. Vejamos no Quadro 3 quais são os atributos dos
valores humanos na perspectiva de Heller:

QUADRO 3 – ATRIBUTOS DOS VALORES HUMANOS

- que se expressa prioritariamente por intermédio do trabalho;


OBJETIVAÇÃO - que proporciona sair do subjetivo e passar para o real e
concreto.

8
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA

- que se expressa com a convivência com o outro, em grupo;


SOCIALIDADE - aprendizagem com o outro;
- assimilação de normas sociais.
- tomar ciência dos fatos ou de alguma coisa;
- reconhecimento da realidade;
CONSCIÊNCIA
- descoberta de algo;
- capacidade de perceber as coisas.
- universal;
UNIVERSALIDADE - o todo;
- fazer parte de um determinado grupo.
LIBERDADE - livre-arbítrio.
FONTE: Adaptado de Bonetti et al. (2010, p. 23)

Portanto, os atributos dos valores humanos apresentados no Quadro 3 são


os elementos constitutivos do ser humano, do ser social, que formam os nossos
valores morais. Complementando, no Quadro 4 apresentamos mais exemplos
dos valores e virtudes do ser humano, que vive e convive em sociedade.

QUADRO 4 – EXEMPLOS DOS VALORES E VIRTUDES HUMANOS

Amizade Justiça Obediência Respeito Simplicidade


Lealdade Compreensão Sinceridade Pudor Generosidade
Paciência Ordem Humildade Autoestima Liberdade
FONTE: Os autores

Deste modo, podemos expor que “todos nós possuímos princípios e


valores que foram e são constituídos por nossa sociedade. E, com relação a esses
valores, cada um de nós possui uma visão do que é certo e errado, do que é o bem
e o mal” (PIERITZ, 2012, p. 57).

Não podemos nos esquecer de que “esta consciência moral é determinada por
um consenso coletivo e social, ou seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe
as normas de conduta que o regem. Como exemplo, temos a nossa Constituição Federal
e outras regras e normas de nossa sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 4).

São estas regras e normativas jurídicas e sociais que determinam o nosso


agir em sociedade, e cada grupo social possui suas características, ou seja, não
se pode dizer que todos nós somos iguais, que todas as nações e Estados são
iguais, porque não somos, pois, independentemente do Estado, do país ou grupo
social, fomos moldando nossos valores e princípios de forma diferente ao longo
de nossa existência.

Agora, acadêmico, raciocine o seguinte: se é um fato que nossa consciência


moral é construída no seio de uma sociedade e com a influência do meio e das
pessoas com as quais convivemos, há ainda outros fatores que concorrem para
a constituição da consciência moral, e esse elemento é chamado de Lei natural
9
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

– pelos jusnaturalistas – e tem caráter universal, pois perpassa as sociedades


políticas, é algo mais profundo que elas, constitui-se na própria natureza humana
em sua universalidade (ROHLING, 2012). Segundo Valls (2003, p. 8):

costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois campos:


num, os problemas gerais e fundamentais (como liberdade, consciência,
bem, valor, lei e outros); e no segundo, os problemas específicos, de
aplicação concreta, como os problemas da ética profissional, de ética
política, de ética sexual, de ética matrimonial, de bioética etc.

Em outros termos, os problemas éticos permeiam todas as nossas ações em


sociedade. Neste sentido, vale salientar que “cada sociedade possui suas normas
de conduta comportamental e seus princípios morais, ou seja, cada grupo social
constitui o que é certo e errado, o que é o bem e o mal para o seu povo, portanto,
nem sempre o que é certo para nós pode ser certo para um outro grupo social e
vice-versa” (PIERITZ, 2013, p. 4).

Então, como desvelar esta situação? Como saber se estamos no caminho


certo? Se estamos fazendo certo ou errado? Ou se realmente estamos fazendo o
bem ou o mal a alguém? São muitas indagações!

Para auxiliar a reflexão sobre essas questões, Finnis (filósofo e jurista


australiano) identifica sete valores básicos, os quais são os seguintes:

I) vida; II) o conhecimento; III) o jogo; IV) a experiência estética; V) a


sociabilidade; VI) a razoabilidade prática; e, VII) a religião. Esses valores,
contudo, não são os únicos, pois existem, evidentemente, muitos outros,
os quais, segundo propõe o autor, são modos ou combinações de modos
de buscar – embora nem sempre com sensatez – e de realizar – nem
sempre exitosamente – uma das sete formas básicas de bem, ou alguma
combinação delas (ROHLING, 2012, p. 163).

Neste sentido, podemos observar ainda que:

os problemas éticos se distinguem da moral pela sua característica


genérica, enquanto que a moral se caracteriza pelos problemas da
vida cotidiana. O que há de comum entre elas é fazer o homem pensar
sobre a responsabilidade das consequências de suas ações. A ética faz
pensar sobre as consequências universais, sempre priorizando a vida
presente e futura, local e global. A moral faz pensar as consequências
grupais, adverte para normas culturalmente formuladas ou pode estar
fundamentada num princípio ético. A ética pode, desta forma, pautar
o comportamento moral (TOMELIN; TOMELIN, 2002, p. 90).

Podemos expor que deste ponto de vista existem diferenças nítidas entre
ética e moral, sendo que a ética é generalista e a moral reflete o comportamento
socialmente construído e legitimado pelo seu povo. Enfim, Tomelin e Tomelin
(2002, p. 89, grifos do original) complementam expondo que “a palavra ética
provém do grego ethos e significa hábitos, costumes, e se refere à morada de um
povo ou sociedade. A palavra moral provém do latim moralis e significa costume,
conduta”. Logo, conforme Pieritz (2012, p. 58, grifos nosso):

10
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA

A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento


que cada pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que
é certo ou errado, o que é bom ou mal. Porém, este comportamento
sempre partirá do ponto de vista dos princípios morais de cada
sociedade, ou seja, seu grupo social. A ética auxilia no esclarecimento e
na explicação da realidade cotidiana de cada povo, procurando sempre
elaborar seus conceitos conforme o comportamento correspondente
de cada grupo social.

Por conseguinte, “o ético transforma-se assim numa espécie de legislador


do comportamento moral dos indivíduos ou da comunidade” (VÁZQUEZ, 2005,
p. 20), ou seja, a ética está para regular o nosso comportamento em sociedade.

Complementando, Vázquez (2005, p. 21) coloca-nos que “a ética é teoria,


investigação ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de
comportamento dos homens [...]”, ou seja, “o valor de ética está naquilo que ela
explica – o fato real daquilo que foi ou é –, e não no fato de recomendar uma ação
ou uma atitude moral” (PIERITZ, 2013, p. 7, grifo nosso).

Devemos compreender as diferenças conceituais de ética e moral, pois


“podemos afirmar que a ética estuda e investiga o comportamento moral dos
seres humanos. E esta moral é constituída pelos diferentes modos de viver e agir
dos homens em sociedade, que é formada por suas diretrizes morais da vida
cotidiana, transformando-se no decorrer dos tempos” (PIERITZ, 2013, p. 19).

Todavia, o que é a moral?

Segundo Aranha e Martins (2003, p. 301, grifos do original), “a MORAL


vem do latim mos, moris, que significa ‘costume’, ‘maneira de se comportar
regulada pelo uso’, e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é ‘relativo
aos costumes’”. Assim, a moral é compreendida como um conjunto de regras
de condutas socialmente admitidas em determinadas épocas ou por um grupo
de pessoas, ou seja, “a moralidade dos homens é um reflexo direto do modo de
ser e conviver em sociedade, no qual o caráter, os sentimentos e os costumes
determinam o seu comportamento individual e social, que foi ou está sendo
perpetuado num espaço de tempo” (PIERITZ, 2013, p. 35). Ainda de acordo com
Pieritz (2013, p. 38):
A moral sugere, constantemente, a valorização de nossas ações e de
nossos comportamentos em sociedade, mas é a moral que determina
quais são os nossos direitos e deveres perante a sociedade em que
vivemos. Estes deveres são conectados ao nosso modo de ser e
conviver em sociedade, gerando certas responsabilidades com relação
a si próprio e aos outros, tais como:
• sentimentos;
• escolhas;
• desejos;
• atitudes;
• posicionamentos diante da realidade;
• juízo de valor;
• senso moral;
• consciência moral.

11
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

Sob estas concepções de ética e moral, apresentamos as suas principais


diferenças na Figura 3:

FIGURA 3 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL

FONTE: Adaptado de Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90)

Assim, podemos observar que existem diferenças concretas entre estes


dois conceitos, no entanto, ainda devemos compreender que:

FIGURA 4 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL

FONTE: Adaptado de Paulo Netto (apud BONETTI et al., 2010, p. 23)

12
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA

Assim, concluímos que a moral:

Vem se constituindo historicamente, mudando no decorrer da própria


evolução do homem em sociedade. Em que seus hábitos e costumes
são constituídos por esta relação social, em que a essência humana é
pautada por estes princípios morais. E estes, por sua vez, constituem o
ser social que somos. E a ética nesta questão chega para simplesmente
regular e analisar estes preceitos morais (PIERITZ, 2013, p. 21).

Por conseguinte, segundo Pieritz (2013, p. 21, grifo nosso), “a ética


é precursora da TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos diversos sistemas ou
estruturas sociais. Sistemas estes que imprimiam suas mudanças sociais, tais
como: Capitalismo e Socialismo”.

Por fim, Pieritz (2013, p. 21) expõe que “quando é constituída uma nova
estrutura social, a ética, os valores e princípios morais são modificados para
constituir assim esta nova concepção de sociedade”. Ou seja, historicamente, com
as transformações sociais, políticas e econômicas de um povo, automaticamente
o sistema de valores morais e éticos se transforma, para que assim seja possível
constituir um novo padrão sócio-histórico daquele determinado grupo.

Salientando ainda que nesse processo de transformação social devemos


respeitar a permanência de alguns valores socialmente construídos, como a
solidariedade, a igualdade e a fraternidade, para que todos possamos construir
uma sociedade mais justa, ética, democrática e cidadã.

4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA


No que tange às questões pertinentes à cidadania, partiremos de sua
concepção advinda do Título I – “Dos Princípios Fundamentais” da Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988, a qual assim expressa:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.

Neste sentido, podemos observar que um dos princípios fundamentais da


Carta Magna brasileira é a cidadania, mas você sabe o seu significado?

13
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

Vejamos: cidadania “é um conjunto de direitos e deveres que denotam e


fundamentam as condições do comportamento de cada indivíduo em relação à
sociedade, ou seja, a cidadania designa normas de conduta para o convívio social,
determinando nossas obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa
sociedade” (PIERITZ, 2013, p. 132). Neste sentido:

Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da sociedade, para


melhorar suas vidas e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca
esquecer das pessoas que mais necessitam. A cidadania deve ser
divulgada através de instituições de ensino e meios de comunicação,
para o bem-estar e desenvolvimento da nação. A cidadania consiste
desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros, respeitar
os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como todas as
outras pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer obrigado,
desculpe, por favor e bom dia quando necessário [...], até saber lidar
com o abandono e a exclusão das pessoas necessitadas, o direito das
crianças carentes e outros grandes problemas que enfrentamos em
nosso país. ‘A revolta é o último dos direitos a que deve um povo livre
para garantir os interesses coletivos: mas é também o mais imperioso
dos deveres impostos aos cidadãos’. Juarez Távora - Militar e político
brasileiro (WEB CIÊNCIA, 2009 apud PIERITZ, 2013, p. 132).

Portanto, podemos observar que a cidadania possui três dimensões.

QUADRO 5 – DIMENSÕES DA CIDADANIA

DIMENSÕES DA CIDADANIA
Cidadania São aqueles direitos advindos da LIBERDADE de cada indivíduo,
civil por exemplo:
• o livre-arbítrio para expressar nossos pensamentos;
• o direito de propriedade (venda e compra de um
imóvel, um bem ou serviço);
• entre outros.
Cidadania Podemos considerar que a cidadania política se legitima quando
política os homens exercem seu poder político de ELEGER e SER
ELEITOS para o exercício do poder político, independentemente
da instituição pública ou privada na qual venham exercer suas
atribuições.
Cidadania Compreendida como o conjunto de direitos concernentes ao
social CONFORTO de cada cidadão, no que tange à sua vida econômica
e social, ou seja, do seu bem-estar social.
FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 132-133)

A cidadania expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem


e convivem em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange
ao respeito a si, ao próximo e ao patrimônio público e privado. Além de que a
cidadania é participação nos espaços públicos de discussão, a qual permeia as
questões de democracia e ética de toda a população daquele determinado grupo
social, político ou econômico.
14
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA

Deste modo, Maciel (2012, p. 29) expõe que hoje em dia a cidadania é
“sinônimo de participação que remete ao exercício da democracia para além das
eleições. Somos ‘controladores’ da política, do orçamento, ou seja, das ações do
Estado como um todo”. Cada cidadão tem o dever e o direito de participar de
todos os espaços democráticos do seu município, Estado ou Federação.

Nesse sentido, tem-se a participação como um mecanismo do exercício da


cidadania, ou seja, “O conceito contemporâneo de cidadania transcende a simples
lógica da garantia de direitos legais. Segundo a concepção de Dallari (2004), a
cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de
participar da vida e do governo de seu povo” (MACIEL, 2012, p. 31). Portanto,
a palavra de ordem é “participar”, fazer parte do processo democrático, pois, de
acordo com Maciel (2012, p. 32), quem não exerce sua cidadania “está excluído
da vida social e da tomada de decisões. A cidadania não significa apenas
uma conquista legal de alguns direitos, mas sim a realização destes direitos.
Ela é construída e conquistada a partir da nossa capacidade de organização,
participação e intervenção social”.

Vale salientar que a cidadania é conquistada pela nossa participação nos


momentos das discussões e decisões coletivas, portanto a cidadania se dá pela
participação ativa de nossa vida em sociedade e na vida pública.

15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A compreensão do significado mais usual da democracia denota que a


democracia é compreendida como um sistema de governo, no qual o povo
governa para sua própria sociedade.

• A democracia pode ser exercida de duas formas distintas, pois ela pode ser
direta ou indireta.

•   A democracia é compreendida popularmente como a escolha de nossos


representantes legais, por intermédio do voto popular.

• O Estado Democrático de direito, que é aquele Estado que se organiza e opera


democraticamente.

• A Constituição da República Federativa do Brasil se organizou e definiu suas


normativas em prol de um Estado Democrático, no qual a democracia deverá
ser a base fundamental da República Federativa do Brasil.

• A democracia também está atrelada ao conceito do “jogo de poderes”,


principalmente a disputa e concorrência de cargos em todas as esferas
governamentais ou não.

• É importante relembrar que o elemento fundamental da democracia é a


“participação do povo”.

• A ética é uma das áreas da filosofia que investiga o agir humano na convivência
com os outros.

•   A ética está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em


sociedade, ou seja, ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de
convivência com os outros integrantes da sociedade.

• Todos nós possuímos princípios e valores que foram e são constituídos por
nossa sociedade. E, com relação a estes valores, cada um de nós possui uma
visão do que é certo e errado, do que é o bem e o mal.

• A consciência moral é determinada por um consenso coletivo e social, ou seja,


o conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas de conduta que o
regem.

• Os problemas éticos permeiam todas as nossas ações em sociedade.

16
• Existem diferenças nítidas entre ética e moral, sendo que a ética regula a moral,
a ética é generalista e a moral reflete o comportamento socialmente construído
e legitimado pelo seu povo.

• A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento que cada


pessoa ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo ou errado,
o que é bom ou mal.

• O valor da ética está naquilo que ela explica, o fato real daquilo que foi ou é, e
não no fato de recomendar uma ação ou uma atitude moral.

• Um dos princípios fundamentais da Carta Magna brasileira é a cidadania.

• A cidadania designa normas de conduta para o convívio social, determinando


nossas obrigações e direitos perante os outros integrantes da nossa sociedade.

• A cidadania expressa os direitos e deveres de todas as pessoas que vivem e


convivem em sociedade, seja na esfera social, política ou civil, no que tange ao
respeito a si, ao próximo e ao patrimônio público e privado.

• Cada cidadão tem o dever e o direito de participar de todos os espaços


democráticos do seu município, Estado ou Federação. A participação é
compreendida como um mecanismo do exercício da cidadania.

17
AUTOATIVIDADE

1 (ENADE-2010, Formação Geral, Questão 9) As seguintes


acepções dos termos democracia e ética foram extraídas do
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
democracia. POL. 1 governo do povo; governo em que o povo
exerce a soberania 2 sistema político cujas ações atendem aos
interesses populares 3 governo no qual o povo toma as decisões
importantes a respeito das políticas públicas, não de forma
ocasional ou circunstancial, mas segundo princípios permanentes
de legalidade 4 sistema político comprometido com a igualdade
ou com a distribuição equitativa de poder entre todos os cidadãos
5 governo que acata a vontade da maioria da população, embora
respeitando os direitos e a livre expressão das minorias.
ética. 1 parte da filosofia responsável pela investigação dos
princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o
comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da
essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes
em qualquer realidade social. 2 p.ext. conjunto de regras e preceitos
de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social
ou de uma sociedade.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Considerando as acepções acima, elabore um texto dissertativo, com até 15 linhas,


acerca do seguinte tema: Comportamento ético nas sociedades democráticas.

Em seu texto, aborde os seguintes aspectos:

a) conceito de sociedade democrática;


b) evidências de um comportamento não ético de um indivíduo;
c) exemplo de um comportamento ético de um futuro profissional
comprometido com a cidadania.

2 (ENADE-2010, Formação Geral, Questão 2)

18
A charge acima representa um grupo de cidadãos pensando e agindo de modo
diferenciado, frente a uma decisão cujo caminho exige um percurso ético.
Considerando a imagem e as ideias que ela transmite, avalie as alternativas
que seguem.

I- A ética não se impõe imperativamente nem universalmente a cada cidadão;


cada um terá que escolher por si mesmo os seus valores e ideias, isto é, praticar
a autoética.
II- A ética política supõe sujeito responsável por suas ações e pelo seu modo
de agir na sociedade.
III- A ética pode se reduzir ao político, do mesmo modo que o político pode se
reduzir à ética, em um processo a serviço do sujeito responsável.
IV- A ética prescinde de condições históricas e sociais, pois é no homem que se
situa a decisão ética, quando ele escolhe os seus valores e as suas afinidades.
V- A ética se dá de fora para dentro, como compreensão do mundo, na
perspectiva do fortalecimento dos valores pessoais.

Estão corretas:

a) ( ) I e II. 
b) ( ) I e V. 
c) ( ) II e IV. 
d) ( ) III e IV. 
e) ( ) III e V.

19
20
UNIDADE 1
TÓPICO 2

SOCIEDADE E A DIVERSIDADE

1 INTRODUÇÃO
Vamos iniciar o nosso tópico apresentando algumas definições e conceitos
a respeito dos problemas sociais ocasionados pela diversidade que gera diferenças
entre coisas e seres, que por consequência geram os mais diversos preconceitos,
desigualdades e conflitos sociais.

Vamos reconhecer a necessidade e a essencialidade da inclusão como uma


forma de democratização das relações sociais, principalmente na emancipação e na
sutileza do trato com o outro, seja em relação aos “iguais” ou entre iguais e diferentes,
o que significa apenas uma concepção criada para diferenciar pessoas ou grupos
sociais que, de alguma forma, ainda não foram incluídos no contexto social.

2 CONCEITOS DE DIVERSIDADE CULTURAL E


DESIGUALDADE SOCIAL
A diversidade cultural e a desigualdade social, apesar de terem conceitos
distintos, desempenham uma ampla relação entre seus termos, isto é, quanto
maior for a diversidade cultural, maior será a desigualdade social.

Neste sentido, Gomes (2012, p. 678) afirma que “a diversidade, entendida


como construção histórica, social, cultural e política das diferenças, realiza-se
em meio às relações de poder e ao crescimento das desigualdades e da crise
econômica que se acentuam no contexto nacional e internacional”.

A diversidade cultural brasileira se deu pelo processo de miscigenação


entre brancos, índios e negros e foi marcada por uma série de crenças, hábitos,
costumes e conceitos contraditórios, alimentando assim uma discussão
permanente a respeito dos direitos e deveres dos seres humanos. Principalmente
no combate aos preconceitos remanescentes e oriundos dessa relação, que
perdurou por séculos, trazendo sérias consequências a uma imensa população de
oprimidos, incluindo-se aí os negros, os índios, os pobres, os portadores de algum
tipo de deficiência, tipos de preferências, relações e diferenças sexuais, doenças
crônicas, dentre outras formas de relações consideradas por uma boa parte da
sociedade como algo fora da normalidade e, por esse motivo, não aceitável.

21
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

3 DIVERSIDADE CULTURAL E DESIGUALDADE SOCIAL


A diversidade no contexto cultural significa uma grande quantidade de
coisas, ações, pensamentos, ideias e pessoas que se diferenciam entre si dentro de
grupos sociais ou dentro de uma mesma sociedade, e os mesmos são passíveis
de discussão, apelos, protestos, discórdia e geralmente acabam em conflitos,
chegando até às desigualdades sociais.

Por isso, a presença da diversidade no acontecer humano nem sempre


garante um trato positivo dessa diversidade. Os diferentes contextos
históricos, sociais e culturais, permeados por relações de poder e
dominação, são acompanhados de uma maneira tensa e, por vezes,
ambígua de lidar com o diverso. Nessa tensão, a diversidade pode ser
tratada de maneira desigual e naturalizada (GOMES, 2007, p. 19).

No entanto, existem pontos de vista convergentes e pontos de vista


divergentes, ambos discriminatórios, um no sentido positivo e outro no sentido
negativo, isto é, no primeiro caso, trata-se daquilo que já foi estipulado pela
sociedade como regras relacionadas com bom senso; já no segundo caso, são ações
que não condizem com a ordem preestabelecida através das leis, normas e regras
que regulam e inibem o que podemos definir como procedimentos absurdos.
Portanto, a desigualdade social tem os seus princípios pautados nas tendências e
nas diferenças de cada indivíduo. Vejamos:

A pobreza: é uma condição que faz parte de um determinado grupo


de pessoas que vivem à margem da sociedade, que são carentes dos recursos
existentes, como moradia, alimentação, situação financeira etc. O que, na visão
de alguns autores, é a condição que mais degrada o ser humano e a que mais se
aproxima e se identifica como um fator ou um elemento causal do desequilíbrio
econômico e da desigualdade social.

Raça: trata-se da discriminação social, o que é muito presente nos dias de


hoje por alguns grupos inescrupulosos que agridem com palavras ou pela violência
física pessoas que não são da mesma etnia, não têm a mesma cor da pele, ou são de
diferentes religiões ou, até mesmo, por causa de seu comportamento sexual.

A discriminação racial diz respeito à raça/cor/fenótipo, que é um fator


inerente à pessoa. Tal discriminação é abominável, assim como a discriminação
a deficientes físicos ou idosos, pois tratam-se de aspectos involuntários e que,
ademais, revelam a riqueza multifacetada da ordem criada, da diversidade natural.

Outro tipo de discriminação é a avaliação dos atos e comportamentos, seja


na escolha de uma religião e suas práticas ou nas ações que envolvem a sexualidade,
entre outros aspectos do comportamento humano, pois nesses casos não se trata
de aspectos inerentes ou involuntários, mas de opções sobre as quais podemos [e
devemos] fazer juízos morais. Do contrário, por que estaríamos discutindo isso?
Será que o ser humano, com toda capacidade de raciocínio e reflexão sobre si
mesmo, reconhece a riqueza da pessoa? Haveria alguma etnia “melhor” que outra?

22
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE

Podemos citar como exemplo o que aconteceu com os judeus, conhecido


como o holocausto, ou o caso da África do Sul, que teve repercussão mundial,
também conhecido como segregação racial (Apartheid), que significa separação
entre negros e os brancos das classes dominantes.

DICAS

Sugerimos que você assista ao filme Mandela, que fala sobre a vida do ex-
presidente da África do Sul e líder da luta contra o Apartheid. O filme tem como diretor
Justin Chadwick.

Como podemos perceber, o preconceito, a discriminação e o descaso com


algumas pessoas têm ocasionado uma série de sofrimento e dor, principalmente
para aquelas que são rejeitadas por uma grande parte da sociedade, em que as
mesmas são julgadas e condenadas ao mesmo tempo, após serem classificadas
como diferentes, porém, diferentes no sentido tendencioso e pejorativo, e muitas
vezes essas pessoas são taxadas e rotuladas como pervertidas, no caso dos
homossexuais, e frágeis, no caso das mulheres. Vejamos:

Mulher: infelizmente, as estatísticas comprovam que apesar das várias leis


existentes, no caso específico da Lei Maria da Penha, instituída para a proteção
da integridade da mulher brasileira contra casos de violência doméstica, ainda
existem casos absurdos de desrespeito à dignidade humana, não discriminando
raça, religião ou posição social.

Homossexualidade: é o comportamento sexual entre pessoas do mesmo


sexo, e para alguns indivíduos esse tipo de comportamento fere as normas de
conduta universal. No entanto, já existem projetos no Congresso Nacional que
criminalizam certas atitudes discriminatórias contra essa parcela da sociedade, o
que significa um avanço na busca de um espaço alternativo, o que é perfeitamente
compreensivo em uma sociedade cultural democrática.

De acordo com Silva (2007, p. 133), “[...] os diferentes grupos sociais,


situados em posições diferenciadas de poder, lutam pela imposição de seus
significados à sociedade mais ampla”. Assim, é fundamental que percebamos
as diferenças e desigualdades não de forma natural, mas como uma construção
histórica possível de ser desestabilizada em sua forma rígida, para ser transformada
em algo que possa ser identificado e reconhecido como base para a construção de
relações interpessoais mais democráticas dentro da sociedade, isto é, devemos
pensar e repensar o seu conceito histórico e a sua trajetória futura, pois, de acordo
com Gomes (2007, p. 22):

23
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

A diversidade cultural varia de contexto para contexto. Nem sempre aquilo


que julgamos como diferença social, histórica e culturalmente construída
recebe a mesma interpretação nas diferentes sociedades. Além disso, o
modo de ser e de interpretar o mundo também é variado e diverso.
Por isso, a diversidade precisa ser entendida em uma perspectiva
relacional. Ou seja, as características, os atributos ou as formas
‘inventadas’ pela cultura para distinguir tanto o sujeito quanto o grupo
a que ele pertence dependem do lugar por eles ocupado na sociedade
e da relação que mantêm entre si e com os outros.

Portanto, o caráter multicultural de nossas sociedades revela-se hoje


temática quase obrigatória nas discussões sobre sociedade e sobre educação.
Porém, refletir sobre a diversidade exige um posicionamento crítico diante de
uma realidade cultural e racialmente miscigenada, assunto que, apesar de já ter
sido discutido anteriormente, achamos prudente e viável inserir neste parágrafo
outra opinião, que confirma as anteriores a respeito do processo de miscigenação.

“Não podemos esquecer que a sociedade é construída em contextos históricos,


socioeconômicos e políticos tensos, marcados por processos de colonização e
dominação. Estamos, portanto, no terreno das desigualdades, das identidades e das
diferenças” (GOMES, 2007, p. 22). E ainda segundo Gomes (2003, p. 73):

O reconhecimento dos diversos recortes dentro da ampla temática


da diversidade cultural (negros, índios, mulheres, portadores de
necessidades especiais, homossexuais, entre outros) coloca-nos
frente a frente com a luta desses e outros grupos em prol do respeito
à diferença. Coloca-nos também diante do desafio de implementar
políticas públicas em que a história e a diferença de cada grupo social e
cultural sejam respeitadas dentro das suas especificidades, sem perder
o rumo do diálogo, da troca de experiências e da garantia dos direitos
sociais. A luta pelo direito e pelo reconhecimento das diferenças não
pode se dar de forma separada e isolada e nem resultar em práticas
culturais, políticas e pedagógicas solidárias e excludentes.

No entanto, a diversidade e a diferença dizem respeito não somente aos


sinais que podem ser vistos a olho nu, mas também àqueles que são construídos
socialmente ao longo de um processo histórico, tendo os seus pontos divergentes
e convergentes, que são construídos através das relações sociais e, principalmente,
nas relações de poder e de submissão, e para algumas pessoas, nem sempre esse
posicionamento é entendido dessa forma.

Como nos diz Carlos Rodrigues Brandão (1986 apud GOMES, 2007, p.
25), “por diversas vezes, os grupos humanos tornam o outro diferente para fazê-
lo inimigo”. Aprofundando essa reflexão, tomamos como exemplo a Constituição
Federal de 1988, que trata no Artigo 5º dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos
desta Constituição;

24
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa


senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante; [...] (BRASIL, 1988, s.p.).

Neste sentido, surgem algumas perguntas relacionadas à diversidade


humana e seus direitos: se “todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza”, tendo reconhecidas suas individualidades de homem e
mulher como cidadãos, por que tanto se discute sobre as “questões de gênero”?
Será que essa ideologia propõe a valorização da pessoa humana? Ou está disposta
a trazer divisão, confusão de ideias ou até mesmo a negação da ordem natural?
Ao privilegiar determinados grupos em detrimento de outros, não estaria
contrariando a própria Constituição?

Acadêmico, são muitos os questionamentos, e conforme destacado na


apresentação deste livro, “aprender a questionar é tão importante quanto buscar
o saber”. Por isso, nosso propósito é estimular o seu raciocínio crítico sobre a
realidade em que vivemos, em um tempo de profundas e rápidas mudanças
culturais, um tempo de aumento do individualismo, da comunicação quase que
exclusivamente on-line, em que pouco se ouve, vê, toca ou sente. O diálogo é o
caminho que nos une, revela nossa capacidade de aprender com o próximo e
permite que as diferenças favoreçam a complementariedade promotora da paz.

Pensar na diversidade cultural é pensar em sociedade, que envolve


pensamento, ideia, ação e mudanças, isto é, significa pensar não apenas no
reconhecimento do outro, mas pensar na relação entre o eu e o outro, pois, quando
consideramos o outro estamos também considerando a nossa história, o nosso
grupo e o nosso povo, mas não apenas como um simples padrão de comparação,
e sim em sua totalidade.

FIGURA 5 – DIVERSIDADE CULTURAL

FONTE: Disponível em: <http://educacaobilingue.com/2010/01/17/indigena/>.


Acesso em: 12 fev. 2014.

25
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

Nessa perspectiva, percebemos que “somos todos iguais como seres


humanos. Por isso devemos combater qualquer forma de discriminação e de
arrogância, agindo solidariamente uns com os outros” (AQUINO et al., 2002, p.
16). O ser humano veio ao mundo não somente para compor ou contribuir para o
povoamento da Terra, mas para ser útil, participativo, democrático, ético, moral
e solidário para com os seus semelhantes.

Essas são as diversas opções existentes, que além de motivadoras, também


servem como estímulo na adaptação do ser humano, bem como no seu processo
de desenvolvimento pessoal frente às diversidades existentes no universo, que
poderíamos denominá-las como um conjunto de atos e fatos diferentes entre si
que formam a sociedade como um todo. Para Saji (2005, p. 13), “o tema diversidade
é bastante amplo. Sua abordagem vai desde definições restritas às questões de
raça, etnia e gênero, até as mais abrangentes, que consideram como diversidade
qualquer diferença individual entre as pessoas”.

AUTOATIVIDADE

Chegou a sua vez!


Escreva o seu conceito para Diversidade.
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____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

Assim, a diversidade faz parte da natureza das coisas existenciais, sendo


elas a diversidade relacionada à situação socioeconômica, ou à diversidade
cultural, em que as mesmas foram se transformando em essência no decorrer dos
tempos, principalmente em se tratando das diferenças relacionadas às diferentes
raças e suas manifestações culturais, incluindo-se aí a sua descendência, que, por
consequência, deixam de fazer parte da cultura original e passam a fazer parte
de outra cultura produzida para atender a uma demanda econômica. Como foi
o caso da cultura da cana-de-açúcar, explorada pelos grandes latifundiários,
gerando um longo período de uma relação conflitante e tumultuada entre o
poder daqueles grupos de exploradores e a submissão dos negros, dos índios,
das mulheres, das crianças e adolescentes.
Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através
de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós,
brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados.
Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou.
A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para
fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e
brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de
escravos, seremos sempre servos da malignidade destilada e instalada
em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida
para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens,
sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria
(RIBEIRO, 1995, p. 120).

26
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE

Então, caro acadêmico, existe uma diversidade de coisas diferentes e uma


diversidade de pessoas diferentes em todos os seus aspectos. A esse tipo de diversidade
denominamos de diversidade cultural, o que significa, na prática, o relacionamento
comunitário, ou melhor, o relacionamento em diferentes comunidades, podendo esse
relacionamento contribuir significativamente no sentido cooperativo ou na geração
de conflitos, que são chamados de conflitos sociais.

Portanto, são essas diferenças que geram o princípio da desigualdade


social, que vão além das características humanas, ultrapassando o bom senso,
descaracterizando o princípio da igualdade e do amor ao próximo, modificando
ou alterando outros princípios considerados de grande importância para as
questões relacionadas com o respeito, a dignidade, a reciprocidade e as boas
práticas das relações humanas no contexto social.

AUTOATIVIDADE

Qual o seu conceito para desigualdade social?


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____________________________________________________________________

Acadêmicos! É preciso que haja um basta nesta triste trajetória de descaso e


discriminação entre os seres humanos, principalmente frear os impulsos daqueles
mais exaltados, que ferem com palavras e atos e cada vez mais maculam a imagem
e obscurecem a identidade do indivíduo como pessoa e como cidadão com direitos
e deveres. Dessa forma, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social.
Isso é cidadania, isso é respeito e é também uma forma de inclusão social.

Assim, a desigualdade significa não só a diferença existente entre pessoas


ou coisas que compõem o universo, mas significa também a diferença no tratamento
e no respeito para com o outro. Nesse caso, estamos nos referindo à desigualdade
humana, que na maioria das vezes está caracterizada pelo preconceito e pelos
diversos tipos de violências e pelas suas relações conflitantes dentro do contexto
social. Exemplo: a desigualdade socioeconômica, as desigualdades raciais, a falta
de segurança, a falta de acesso à moradia, ao saneamento básico, dentre outras
formas de exclusão social. Muitas vezes, essas diferenças são ocasionadas pela
falta de oportunidade, excluindo até o mais digno do ser humano, o que não
deixa de ser uma forma preconceituosa de relação e convivência social. Aquino et
al. (2002, p. 34-35) afirmam que:
Toda vez que julgamos uma pessoa, um grupo ou mesmo um povo sem
conhecê-los, estamos usando de preconceito. [...]. O termo preconceito
significa o conjunto de opiniões formadas antecipadamente sobre o
outro, sem levar em conta suas qualidades ou suas capacidades. Os
preconceituosos têm atitudes intolerantes com as pessoas que são diferentes
deles. Julgam-se superiores e, por isso, desvalorizam e desrespeitam outras
pessoas. Preconceito e intolerância andam sempre juntos.

27
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

São atitudes que acontecem no dia a dia, por meio de atos, gestos ou
palavras que tentam diminuir, rebaixar os modos de ser, agir e sentir
dos outros. E, algumas vezes, elas ocorrem sem que as percebamos com
clareza, até senti-las na própria pele – por exemplo, quando não somos
aceitos por alguém ou por um grupo. Neste caso, somos vítimas de um
preconceito aberto, direto e explícito. E isso já aconteceu com todos
nós, de um modo ou de outro. Mas há também o preconceito indireto,
implícito, como as piadas de mau gosto, que ofendem as pessoas só
por causa de sua raça, nacionalidade, sexo e outras características.

Ainda com relação aos preconceitos, segundo a denominação de inclusão


e exclusão social, estas são pautadas e divididas em grupos ou classes sociais,
que, por sua vez, são classificadas hierarquicamente de acordo com o seu poder
aquisitivo, sua relação social, diferenças culturais, a cor da pele, sexualidade,
etnia, deficiências físicas, idade, crenças etc.

Portanto, a diversidade humana (pessoas diferentes) deveria ser um


instrumento de unificação dos seres, diferentemente das desigualdades sociais,
que significam que nem todos têm as mesmas oportunidades, o que em grande
parte se deve às diversas formas de preconceito. Alguns deles, no modo de ver
do seu praticante, lhe soam como se isso fosse uma espécie de elogio ao próximo.
Exemplo: E aí, negão!? Essa expressão, que parece simples, é uma forma disfarçada
de discriminação. “Algumas expressões corriqueiras que falamos sem pensar são
carregadas de preconceito” (AQUINO et al., 2002, p. 44).

Aquino et al. (2002, p. 44) trazem mais exemplos: “é o caso de determinadas


expressões preconceituosas, como: os negros que têm ‘almas brancas’, os homossexuais
que parecem ‘pessoas normais’, os idosos que parecem ‘jovens’, os obesos que são
‘engraçados’, as pessoas pobres que são ‘limpas’. E assim por diante”.

Como sabemos, o descaso e as práticas discriminatórias em relação a essas
pessoas, que fazem parte, assim como todos nós, de um mesmo espaço planetário,
não deveriam existir, mesmo porque a diferença existente entre os seres de
todas as espécies faz parte de um processo natural, ou melhor, da natureza das
coisas existentes. E os seres humanos vão além das diferenças, pois nós somos
dotados de raciocínio e discernimento para avaliar e distinguir o certo do errado,
comportamento esse que deveria ser institucionalizado pelas tradições, pelos
valores éticos e morais, sem a necessidade de uma imposição legal, como é o caso
da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

No entanto, parece que pouco têm efeito as leis que reprimem essas
práticas discriminatórias, preconceituosas e racistas, visto que, infelizmente,
parece existir uma autorrejeição por parte de algumas pessoas ou grupos que
ainda mantêm certos padrões de comportamento que não mais condizem com
a realidade dos padrões atuais e universais, dos direitos constituídos e com o
processo democrático, com as leis de proteção às crianças, aos idosos, aos negros,
às mulheres, aos indígenas, aos deficientes físicos, entre outros. São seres humanos
que sofrem discriminação e negação de direitos que estão incluídos na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, conforme citado no parágrafo acima.

28
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE

Nesta perspectiva, não se desconsidera que as diferenças existam


e estejam colocadas socialmente, porém, elas não significam,
necessariamente, exclusão social. Por exemplo, a condição de raça,
gênero, religião, entre outras, não seria elemento de exclusão, mas de
diferenciação entre as pessoas, não as tornando ‘desiguais’. As pessoas
são diferentes umas das outras e isto nada tem a ver com privilégios.
Assim, racismos e preconceitos se fundamentam no entendimento da
diferença/diversidade como desigualdade. Nestes termos, as pessoas
e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença
os inferioriza e o direito a ser diferentes quando a igualdade os
descaracteriza (SANTOS, 2003 apud MARQUES, 2009, p. 68).

Para que possamos entender e discursar sobre o conceito de diversidade não
é tão fácil como parece, pois é preciso nos aprofundarmos sobre o seu real significado
e a sua real importância no equilíbrio natural e social, na relação homem-natureza, e
principalmente na relação entre seres humanos, tanto no que diz respeito à tolerância
e ao respeito mútuo entre seres da mesma espécie, bem como a compreensão e o
sentimento solidário, que são a base do princípio da igualdade.

Sem diversidade não há estímulos para pensar diferente, não há estímulos


para pensar no princípio da igualdade. Portanto, pensar diferente é o caminho
para viver e compreender o sentimento solidário que devemos ter. Apesar de
que, no dia a dia, relacionar-se com as inúmeras diferenças humanas e sociais do
mundo atual nem sempre traz harmonia.

Assim, seguindo o raciocínio de Aquino et al. (2002), o problema é o


seguinte: se todas as pessoas são únicas e especiais a seu modo, quem haveria de
ser “mais” ou “melhor” do que o outro? Em outras palavras, somos únicos como
indivíduos, e por isso somos diferentes, somos iguais como seres humanos. A
isso se dá o nome de equidade. Convém lembrar que ser igual não é ser idêntico.
Ao contrário, somos semelhantes, embora diversos. Afinal de contas, em que
nos diferenciamos uns dos outros? A resposta é óbvia: em praticamente tudo.
A começar pela nossa história de vida, passando pelas características biológicas
(raça, cor, sexo), até as de cunho social (escolaridade, condição econômica, opções
políticas etc.). Mesmo sendo únicos, continuamos a pertencer à mesma espécie, à
raça humana. Por essa razão, não há seres humanos “superiores” ou “inferiores”.
Cada um é especial a seu modo. Só teremos um convívio democrático e pacífico
se tratarmos o outro da mesma forma que gostaríamos de ser tratados.

Todos esses conceitos fazem parte de uma cultura geral, ou seja, da


construção e da desconstrução do processo de desenvolvimento humano, e da
sua própria sobrevivência. A cultura é, pois, “o conteúdo da construção histórica
da humanidade dos seres humanos, humanizando-os ou desumanizando-
os” (SOUZA, 2002, p. 53). O principal objetivo do nosso estudo é justamente
conscientizar os nossos acadêmicos rumo a uma reflexão mais humanista a
respeito das nossas ações e na superação definitiva da desigualdade social, o que
diz respeito ao cidadão e à relação com o meio em que ele vive, em que o respeito
pelas diferenças forma o espírito da academia e a humanização social.

Com base no que foi dito e analisado até aqui, nos parece que o ponto de
partida para a solução, pelo menos de parte dos problemas raciais, das diferenças,
da exclusão e da inclusão social, pode estar na educação de base, ou seja, se o

29
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

aluno tiver uma educação inicial que o motive a ultrapassar essas barreiras. A
partir daí ele poderia formar uma base sólida para ingressar na faculdade melhor
preparado, o que sem dúvida é parte integrante para o seu desenvolvimento
profissional e pessoal.

DICAS

Você quer descansar um pouco, sem deixar de refletir


sobre o conteúdo? Assista ao filme “O Visitante”, ele
contribuirá com seus estudos.
Sinopse: Walter, solitário professor universitário, tem 62
anos e já não encontra prazer na vida. Ao viajar a Nova
York para uma conferência, encontra o casal Tarek e
Zainab, imigrantes sem documentos, morando em seu
apartamento. Eles não têm para onde ir, e Walter acaba
deixando que fiquem. Para retribuir, o talentoso Tarek ensina
Walter a tocar o tambor africano e os dois ficam amigos.
Quando a polícia prende o jovem e decide deportá-lo,
Walter faz de tudo para ajudá-lo, com uma garra que há
muito não sentia. Surge então a mãe de Tarek em busca do
filho e um improvável romance tem início.

FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=1aSoTQbewiI>. Acesso em: 9 set. 2017.

4 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE


Acadêmicos! Já compreendemos o caráter plural de nossas sociedades e
as complexas relações estabelecidas socialmente. Diante disso, percebemos que
vivemos em uma sociedade dividida em classes, em que a luta pela manutenção
ou superação das divisões sociais é constante.

Nesse sentido, lutamos em favor da inclusão escolar, em favor de


currículos mais inclusivos, abertos às diferenças sociais, psíquicas, físicas,
culturais, religiosas, raciais e ideológicas, no intuito de respeitar o caráter plural
da nossa sociedade, contribuindo para formar sujeitos autônomos, críticos e
criativos, aptos a compreender como as coisas são e por que são assim.

O principal objetivo é a possibilidade da mudança, da construção de uma


ordem social mais justa e menos excludente. Sendo isso um legado do presente
para as gerações futuras, o que pode ser uma prática aprendida e reproduzida
a partir da família e da escola, que são os agentes formadores de opinião, e que
juntamente com a sociedade esses agentes irão definir o sucesso ou o fracasso no
contexto social.

30
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE

5 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE HUMANA


Acadêmico! A inclusão escolar tem sido mal interpretada tanto por parte da
escola, seja ela comum ou especial, quanto dos profissionais da educação. “O certo,
porém, é que os alunos jamais deverão ser desvalorizados e inferiorizados pelas suas
diferenças, seja nas escolas comuns, seja nas especiais” (MANTOAN, 2006, p. 190).

Ainda com base nesse raciocínio, “[...] a educação escolar não pode ser
pensada nem realizada senão a partir da ideia de uma formação integral do
aluno – segundo suas capacidades e seus talentos – e de um ensino participativo,
solidário, acolhedor” (MANTOAN, 2006, p. 9). Reverter o que historicamente
foi construído é difícil, implica em construir alternativas que possibilitem a
emancipação social dos diferentes sujeitos, fazendo uma clara opção política
por um compromisso contra as discriminações, as desigualdades e o respeito à
diversidade cultural.

O que, de acordo com Mantoan (2006, p. 9, grifo do original), trata-se


de um trabalho de “‘ressignificação’ do papel da escola com professores, pais
e comunidades interessadas, bem como de adoção de formas mais solidárias e
plurais de convivência. Para terem direito à escola, não são os alunos que devem
mudar, mas a própria escola!”. E a autora continua: “O direito à educação é
natural e indisponível. Por isso, não faço acordos quando me proponho a lutar
por uma escola para todos, sem discriminações, sem ensino à parte para os mais
e para os menos privilegiados”.

Dessa forma, a escola pode fazer o anúncio da construção de novos


tempos na educação, contribuindo para formar alunos não conformistas, e sim,
questionadores, reagentes e competentes, aptos a rejeitar valores celebrados pela
nova ordem mundial, como o egoísmo e o individualismo. Mantoan (2006, p.
14) nos coloca que, seja ou não “uma mudança radical, toda crise de paradigma
é cercada de muita incerteza e insegurança, mas também de muita liberdade
e ousadia para buscar outras alternativas, novas formas de interpretação e de
conhecimento [...] para realizar a mudança”.

Mudança essa que é direito expresso na Constituição Federal de 1988. A


Constituição respalda em seu artigo 206, inciso I, que o ensino será ministrado em
“igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. Portanto, temos
que entender que:

Ao garantir a todos o direito à educação e ao acesso à escola, a


Constituição Federal não usa adjetivos. Por essa razão, toda escola
deve atender aos princípios constitucionais sem excluir nenhuma
pessoa em decorrência de sua origem, raça, sexo, cor, idade ou
deficiência. Apenas esses dispositivos já bastariam para que não se
negasse a qualquer pessoa, com ou sem deficiência, o acesso à mesma
sala de aula que qualquer outro aluno (MANTOAN, 2006, p. 26-27).

Percebe-se então que os discursos precisam ser revistos, compreendendo


a diversidade humana como algo positivo, liberto de olhares preconceituosos,
possibilitando a valorização pela cultura do outro. Portanto, a inclusão:

31
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

[...] exige uma mudança de mentalidade e de valores nos modos de vida


e é algo mais profundo do que simples recomendações técnicas, como
se fossem receitas. Requer complexas reflexões de toda a comunidade
escolar e humana para admitir que o princípio fundamental da
educação inclusiva é a valorização da diversidade, presente numa
comunidade humana (STRIEDER; ZIMMERMANN, 2011, p. 146).

E na sequência os autores continuam afirmando que a escola:

Foi e continua sendo um espaço de padronizações ao promover a


construção de conhecimentos com pouco significado, formalizado,
pronto, sem relação e sentido com a vida dos seres humanos que lá
estão, sejam alunos ou docentes. Ela é construtora de pensamentos,
ações e movimentos que denotam igualdade e repetição.
É importante a escola oportunizar vivências capazes de desconstruir a
realidade do igual, da repetição, para valorizar a diferença, acreditando
na diversidade da vida, das cores, sabores e movimentos (STRIEDER;
ZIMMERMANN, 2011, p. 148).

Assim, falar sobre inclusão escolar e/ou social é falar sobre a conscientização
humana na democratização das relações entre os povos e os demais indivíduos
que fazem parte do contexto social como um todo, independentemente de credo,
raça, poder aquisitivo ou posição social, visto que fazemos parte de uma mesma
sociedade e as diferenças fazem parte integrante do equilíbrio social e da própria
espécie humana. No entanto, fica aqui a indagação: quais as oportunidades que
estão sendo oferecidas pelos agentes sociais a essa massa de desamparados e
excluídos do sistema social?

De acordo com texto publicado no livro “Ética e cidadania: construindo


valores na escola e na sociedade”, desenvolvido pelo Ministério da Educação,
a escola pode e deve ser um ponto de partida na formação de cidadão e cidadã
comprometidos com a construção dos valores éticos e morais, tanto no contexto
escolar, como no âmbito das relações sociais.

Aprender a ser cidadão e cidadã é, entre outras coisas, aprender


a agir com respeito, solidariedade, responsabilidade, justiça, não
violência; aprender a usar o diálogo nas mais diferentes situações e
comprometer-se com o que acontece na vida da comunidade e do país.
Esses valores e essas atitudes precisam ser aprendidos e desenvolvidos
pelos estudantes e, portanto, podem e devem ser ensinados na escola.
Para que o(a)s estudantes possam assumir os princípios éticos, são
necessários pelo menos dois fatores:
- que os princípios se expressem em situações reais, nas quais o(a)s
estudantes possam ter experiências e conviver com a sua prática;
- que haja um desenvolvimento da sua capacidade de autonomia
moral, isto é, da capacidade de analisar e eleger valores para si,
consciente e livremente.
Outro aspecto importante desse processo é o papel ativo dos sujeitos
da aprendizagem, estudantes e docentes, que interpretam e conferem
sentido aos conteúdos com que convivem na escola, a partir de seus
valores previamente construídos e de seus sentimentos e emoções
(LODI; ARAÚJO, 2006, p. 69).

32
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE

Com relação aos agentes citados nos parágrafos anteriores, também


concordamos que a partir da inclusão escolar, principalmente no tocante à
educação básica, ela deveria ser um espaço voltado para a harmonização da
convivência social e não simplesmente uma mera reprodução de saberes. Em que,
na maioria das vezes, esses saberes são direcionados apenas para produzir agentes
econômicos, dando pouca ou quase nenhuma ênfase às questões relacionadas à
ética e às características comportamentais do ser humano como uma forma de
equilíbrio no convívio das relações sociais, o que já é um processo discriminatório
e de exclusão, ou, no mínimo, uma forma de omissão do próprio sistema de
ensino, principalmente com relação aos índios e negros.

A luta travada em torno da educação do campo, indígena, do negro,


das comunidades remanescentes de quilombos, das pessoas com
deficiência, tem desencadeado mudanças na legislação e na política
educacional, revisão de propostas curriculares e dos processos de
formação de professores. Também tem indagado a relação entre
conhecimento escolar e o conhecimento produzido pelos movimentos
sociais (GOMES, 2007, p. 32).

E na continuação o autor chega às seguintes conclusões:

A diversidade é muito mais do que o conjunto das diferenças. Ao


entrarmos nesse campo, estamos lidando com a construção histórica,
social e cultural das diferenças, a qual está ligada às relações de poder,
aos processos de colonização e dominação. Portanto, ao falarmos sobre a
diversidade (biológica e cultural) não podemos desconsiderar a construção
das identidades, o contexto das desigualdades e das lutas sociais.
A diversidade indaga o currículo, a escola, as suas lógicas, a sua
organização espacial e temporal. No entanto, é importante destacar
que as indagações aqui apresentadas e discutidas não são produtos
de uma discussão interna à escola. São frutos da inter-relação entre
escola, sociedade e cultura e, mais precisamente, da relação entre
escola e movimentos sociais. Assumir a diversidade é posicionar-se
contra as diversas formas de dominação, exclusão e discriminação. É
entender a educação como um direito social e o respeito à diversidade
no interior de um campo político (GOMES, 2007, p. 41).

Assim, é através dos movimentos sociais que podemos melhorar o


sistema educacional e corrigir as distorções sociais, que são frutos de um processo
longo que vem se arrastando através dos tempos, em que pouco ou quase nada
tem sido feito como forma de reparar ou pelo menos minimizar os seus efeitos
negativos e na reparação dos erros cometidos. Portanto, é de extrema necessidade
a inserção e a interação de todos os seres humanos, independentemente de suas
características ou condições sociais.

Para Stainback (1999), a total inclusão de todos os membros da humanidade,


de quaisquer raças, religiões, nacionalidades, classes socioeconômicas,
culturas ou capacidades, em ambientes de aprendizagem e comunidade,
pode facilitar o desenvolvimento do respeito mútuo, do apoio mútuo e
do aproveitamento dessas diferenças para melhorar nossa sociedade. É
durante seus anos de formação que as crianças adquirem o entendimento
das diferenças, o respeito e o apoio mútuos em ambientes educacionais
que promovem e celebram a diversidade humana.

33
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

A construção de sociedades e escolas inclusivas, abertas às diferenças


e à igualdade de oportunidades para todas as pessoas, é um objetivo
prioritário da educação nos dias atuais. Nesse sentido, o trabalho com as
diversas formas de deficiências e uma ampla discussão sobre as exclusões
geradas pelas diferenças social, econômica, psíquica, física, cultural,
racial, de gênero e ideológica, devem ser foco de ação das escolas. Buscar
estratégias que se traduzam em melhores condições de vida para a
população, na igualdade de oportunidades para todos os seres humanos
e na construção de valores éticos socialmente desejáveis por parte dos
membros das comunidades escolares é uma maneira de enfrentar essas
exclusões e um bom caminho para um trabalho que visa à democracia e à
cidadania (ARAÚJO, 2007, p. 16-17).

Portanto, as mudanças comportamentais e as inclusões sociais relacionadas


com todos os povos não podem e não devem ser somente responsabilidade da família
e das instituições de classes, mas também de responsabilidade das escolas inclusivas
e dos seus agentes sociais. Neste sentido, reafirmamos que a inclusão escolar:

Só será viável se o professor e toda a comunidade escolar mudarem


seu jeito de lidar com a diferença, via aceitação de formas relacionais
de afetividade, de escuta e de compreensão, suspendendo juízos
de valores como pena, repulsa e descrença. Uma mudança como
desejo interior, porque algo interior nos diz que vale a pena mudar
(STRIEDER; ZIMMERMANN, 2011, p. 148).

E quando falamos em mudanças, estamos nos referindo a uma mudança


estrutural, em que todas as partes se relacionam, interagem e se complementam
para a harmonização do todo, que por sua vez é parte de uma estrutura maior, que
podemos chamar de estrutura social, que é composta, dentre outras, pela escola,
família, igreja, governo com suas políticas públicas, instituições financeiras, jurídicas
e organizações sociais propriamente ditas, as ONGs. Como podemos perceber, tudo
isso constitui um grande desafio rumo a uma mudança significativa. E, por estas e
outras razões, nos parece que a sociedade está caminhando no rumo certo.

AUTOATIVIDADE

Então, acadêmico, você acredita que ainda existe perspectiva e esperança


de dias melhores? Como podem ser superadas as barreiras que afetam a
harmonia entre os humanos?
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____________________________________________________________________
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34
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE

Vejamos o que nos propõem os autores Assmann e Sung (2000, p. 103):

A esperança humana, da qual estamos falando, é um horizonte de


futuro tecido com desejo. Não o desejo de um único indivíduo, nem
o desejo de subir na ‘escada do sucesso’ segundo os parâmetros da
eficiência do mercado regendo todos os aspectos da nossa vida, mas o
desejo do reconhecimento mútuo e respeitoso entre pessoas e grupos
sociais, o desejo de uma vida mais digna e prazerosa para todos\as. O
desejo de um mundo onde caibam muitos e muitos mundos.

E concluindo o seu pensamento:

É esse horizonte de esperança que nos mostra, nos revela, a mesquinhez


e a irracionalidade de uma sociedade centrada na exclusão e
insensibilidade, e a desumanidade de uma vida humana voltada para
negar a sua condição humana.
Horizonte de esperança não é algo que se toma dentre as ofertas do
mercado, nem pode ser produzido individualmente. Como todo
horizonte de compreensão, ele deve ser tecido no diálogo, na construção
de uma linguagem e esperanças comuns. Por isso, um horizonte de
esperança que nos abra e nos interpele para a sensibilidade solidária
só pode ser fruto de um desejo de dialogar com os\as que estão dentro
e fora da sociedade, do nosso mundo (o mundo de cada um, o mundo
de cada grupo social). Diálogo que pressupõe o reconhecimento
mútuo (ASSMANN; SUNG, 2000, p. 103).

O que Assmann e Sung (2000) nos esclarecem é que o ser humano precisa,
em primeiro lugar, conscientizar-se do seu papel na sociedade, e que isso não pode
ser uma ação única, mas sim uma ação conjunta, como um grande suporte em
prol da democratização solidária. Essa solidariedade deve trazer benefícios tanto
para o indivíduo, quando analisado separadamente, quanto na sua convivência
em sociedade, ou seja, a relação do indivíduo com ele mesmo ou no convívio
social. E na sequência os autores analisam com muita propriedade o resultado
ocasionado por esse processo de interação:

Quando imergimos nesse horizonte, descobrimos algumas verdades


humanas básicas. A descoberta da minha condição humana não se dá
fora do reconhecimento da condição humana (da dignidade humana)
dos que estão ‘dentro e fora’ da sociedade. Eu não posso me descobrir
como pessoa humana se não ‘descobrir’ o\a outro\a, o\a diferente, como
participante da mesma condição humana. É o reconhecimento do\a
diferente como ‘igual’, isto é, coparticipante da mesma condição humana,
que me possibilita encontrar comigo mesmo. Na década de 70 havia uma
propaganda que mostrava um menino e uma menina, cada um olhando
dentro do short de banho do\a outro\a. Acima do desenho, a frase: ‘Ah!
Descobri a diferença!’ É a descoberta de que existe um sexo diferente na
mesma espécie humana, que me faz descobrir que eu sou um ser sexuado,
masculino ou feminino (ASSMANN; SUNG, 2000, p. 104).

E para finalizar, os autores fazem um breve resumo a respeito das relações


de convivência e de reciprocidade humana, principalmente para aqueles que
possam ter algumas dificuldades para entender a complexidade a respeito da
inclusão social e escolar da diversidade humana.

35
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

Em resumo, tentar encontrar-se consigo mesmo e realizar-se como


ser humano negando o\a outro\a que lhe revela e lhe lembra as suas
angústias e medos inerentes à sua condição humana é um caminho
trágico, no sentido grego desse conceito, isto é, não como destino,
mas como tomada de consciência de um desafio radical que parte da
nossa condição humana. A única forma de nos realizarmos como seres
humanos é reconhecendo e assumindo a nossa condição humana. É
isto que nos possibilita vivermos as alegrias da vida, mas também
os momentos tristes e angustiantes. Esse assumir a nossa condição
humana pressupõe o reconhecimento do(a) outro(a) que nos lembra
das nossas inseguranças. Este reconhecimento mútuo só é possível
se cultivarmos e vivermos a sensibilidade solidária e o horizonte de
esperança. Educar para a esperança é uma das chaves para educar
para a sensibilidade solidária (ASSMANN; SUNG, 2000, p. 104).

Estamos nos referindo ao processo de educação e aprendizagem, e já ficou


evidente que esse é o caminho. No entanto, é preciso levantar algumas bandeiras
e eliminar algumas barreiras, principalmente as do descaso, da arrogância e
da intolerância, que são ações que principiam e dão origem ao preconceito e à
desigualdade social, que, pelo visto, parece povoar e circular por quase todas as
fases da questão educacional. A começar pelas dificuldades de acesso à educação
de base, ou pela falta de espaço adequado, não só em termos de locomoção e
acesso, mas, principalmente, para aquelas pessoas com certo grau de dificuldades.

Com relação às dificuldades de acesso, estas parecem não ser privilégio


somente daqueles com alguma deficiência física, mas de todos aqueles motivados
por razões circunstanciais, sejam elas pela distância, pelas condições de transporte
ou, ainda, pelo descaso das autoridades, que deveriam ser os mentores,
incentivando e facilitando o acesso às escolas da rede pública e privada, oferecendo
escolas e ensino de qualidade, com professores qualificados e comprometidos
com o processo educacional. Isso evitaria, pelo menos em parte, a desagregação,
a degradação e o êxodo escolar, em que o abandono ou o afastamento de alunos
das salas de aulas podem ter diversos motivos, muitos deles justificados pelas
condições precárias de algumas escolas, bem como a falta de compromisso e
atitude das autoridades, a improbidade administrativa, o desvio de verbas,
dentre outras formas de descaso das autoridades públicas.

Observe, acadêmico, que ainda existe uma série de problemas a serem


resolvidos nas instituições escolares. De acordo com Prieto (2006, p. 33), “as
instituições escolares, ao reproduzirem constantemente o modelo tradicional,
não têm demonstrado condições de responder aos desafios da inclusão social
e do acolhimento às diferenças, nem de promover aprendizagens necessárias à
vida em sociedade [...]”.

Acadêmicos, percebemos que os que mais sofrem com essa situação de


penúria são os menos afortunados, os que não possuem as mínimas condições
de frequentar uma escola particular, ou os deficientes físicos, que, muitas vezes,
além das condições financeiras, também lhes faltam as condições principais ao
acesso e permanência no âmbito escolar.

36
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE

6 CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DO SABER


APRENDIDO
Assim, de acordo com o que foi aprendido até agora, podemos afirmar que a
diversidade, as diferenças, a identidade, a exclusão e a inclusão, quando reparadas
na sua desarmonia social, representam partes integrantes da vida em comunidade,
em que são introduzidas as mudanças necessárias ao desenvolvimento social e, ao
mesmo tempo, produzidas outras formas de relacionamentos, outras formas de
diversidade, ou até mesmo outras maneiras e meios de abordagens no processo
de interação do eu com o outro. Isso faz parte da natureza humana, ou seja, um
estado em movimento, de renovação e de mudanças.

Dessa maneira, a sociedade continuará a produzir saberes e realidades


relativas, seja em relação à diversidade existente, seja em relação ao comportamento
humano na convivência social, ou na interação da pessoa com ela mesma, com os
outros, bem como as abordagens relacionadas aos contrastes da vida cotidiana,
caracterizadas pelas desigualdades sociais. Portanto, essas verdades continuarão
a ser questionadas, até que outras verdades as sobreponham.

Assim, a exclusão e a inclusão social das diferenças são formas de


construção e desconstrução de uma variedade de elementos históricos e atuais,
distintos e circunstanciais e que, muitas vezes, vão além da nossa compreensão.

Caros acadêmicos, de acordo com o que vimos, percebemos que uma das
verdades absolutas é que: sempre haverá o eu e o outro, e esse outro será sempre
diferente do eu, e essa diferença continuará sendo o fio condutor responsável pela
diversidade cultural e pelos diversos tipos de conflitos sociais, seja no sentido
negativo ou no sentido positivo.

37
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A diversidade, no contexto cultural, significa uma grande quantidade de coisas,


ações, pensamentos, ideias e pessoas que se diferenciam entre si dentro de
grupos sociais ou dentro de uma mesma sociedade, e os mesmos são passíveis
de discussão, apelos, protestos, discórdia e geralmente acabam em conflitos,
chegando até às desigualdades sociais.

• É fundamental que percebamos as diferenças e desigualdades, não de forma


natural, mas como uma construção histórica possível de ser desestabilizada
em sua forma rígida, para ser transformada em algo que possa ser identificado
e reconhecido como base para a construção de relações interpessoais mais
democráticas dentro da sociedade, isto é, devemos pensar e repensar o seu
conceito histórico e a sua trajetória futura.

• A desigualdade significa não só a diferença existente entre pessoas ou coisas


que compõem o universo, mas significa também a diferença no tratamento e no
respeito para com o outro. Nesse caso, estamos nos referindo à desigualdade
humana, que na maioria das vezes está caracterizada pelo preconceito e pelos
diversos tipos de violência e pelas suas relações conflitantes dentro do contexto
social.

• A diversidade humana (pessoas diferentes) deveria ser um instrumento de


unificação dos seres, diferentemente das desigualdades sociais, que significam
que nem todos têm as mesmas oportunidades, o que em grande parte se deve
às diversas formas de preconceito, algumas delas no modo de ver do seu
praticante.

• Falar sobre inclusão escolar e/ou social é falar sobre a conscientização humana
na democratização das relações entre os povos e os demais indivíduos que
fazem parte do contexto social como um todo, independentemente de credo,
raça, poder aquisitivo ou posição social, visto que fazemos parte de uma
mesma sociedade e as diferenças fazem parte integrante do equilíbrio social e
da própria espécie humana.

38
AUTOATIVIDADE

1 (ENADE-2014, Pedagogia) Da visão dos direitos humanos e


do conceito da cidadania fundamentado no reconhecimento das
diferenças e na participação dos sujeitos decorre uma identificação
dos mecanismos e processos de hierarquização que operam na
regulação e produção de desigualdades. Essa problematização explicita os
processos normativos de distinção dos alunos em razão de características
intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, estruturantes do modelo
tradicional de educação escolar.
FONTE: BRASIL, MEC: Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, 2008, p. 6 (adaptado).

As questões sucintas no texto ratificam a necessidade de novas posturas docentes,


de modo a atender à diversidade humana presente na escola. Nesse sentido, no
que diz respeito ao seu fazer docente frente aos alunos, o professor deve:
I- Desenvolver atividades que valorizem o conhecimento historicamente
elaborado pela humanidade e aplicar avaliações criteriosas com o fim de
aferir, em conceitos ou notas, o desempenho dos alunos.
II- Instigar ou compartilhar as informações e a busca pelo conhecimento
de forma coletiva, por meio de relações respeitosas aceitas pelos diversos
posicionamentos dos alunos, promovendo o acesso às inovações tecnológicas.
III- Planejar ações pedagógicas extracurriculares, visando ao convívio com a
diversidade, selecionar e organizar os grupos, a fim de evitar conflitos.
IV- Realizar práticas avaliativas que evidenciem as habilidades e competências
dos alunos, instigando esforços individuais para que cada um possa melhorar
o desempenho escolar.
V- Utilizar recursos didáticos diversificados, que busquem atender às
necessidades de todos e de cada um dos alunos, valorizando o respeito
individual e coletivo.

É correto apenas o que se afirma em:

a) ( ) I e II.
b) ( ) II e V.
c) ( ) II, III e IV.
d) ( ) I, II, IV e V.
e) ( ) I, III, IV e V.

2 (IFC-2015) Sobre a Educação Inclusiva, marque V para as


afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) Na Educação Inclusiva, os alunos com deficiência têm a chance de se


prepararem para a vida em sociedade, os professores de melhorarem suas
habilidades profissionais e a sociedade passa a valorizar a igualdade para todos.

39
( ) Na Educação Inclusiva, o aluno com deficiência tem a facilidade de
construir conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacidade
cognitiva, principalmente nas escolas que mantêm um modelo conservador
de atuação e uma gestão autoritária e centralizadora.
( ) Na Educação Inclusiva, a escola se baseia na lógica do concreto e na
repetição alienante e descontextualizada das atividades.
( ) A Educação Inclusiva requer que os sistemas educacionais modifiquem
não apenas as suas atitudes e expectativas em relação aos alunos com
deficiência, mas que se organizem para construir uma real escola para todos,
onde o currículo leve em conta a diversidade e seja concebido com o objetivo de
reduzir barreiras atitudinais e conceituais e se pautar por uma ressignificação
do processo de aprendizagem na sua relação com o desenvolvimento humano.

Assinale a alternativa com a sequência correta.

a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) F – V – V – F.

40
UNIDADE 1
TÓPICO 3

MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA,
TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E
RELAÇÕES DE GÊNERO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos trabalhar o conceito de multiculturalismo, enfatizando
as origens do surgimento do movimento e os campos de conhecimento que
acolhem os estudos multiculturais. Nesse sentido, temos como objetivo situar o
multiculturalismo do ponto de vista político (movimentos sociais multiculturais
e políticas públicas) e teórico (ciências multiculturalistas), visando oferecer
conteúdo de base para a interpretação desse campo de estudos.

No desenvolvimento deste tópico, também será abordado os temas


tolerância/intolerância e relações de gênero, discutindo de modo reflexivo os
conceitos de feminismo e ideologia de gênero. O objetivo é apresentar diferentes
pontos de vista para os referidos conceitos, e conduzir o acadêmico a uma reflexão
crítica da realidade, de modo que possa – com embasamento crítico e sempre que
possível científico – compreender melhor esses temas.

2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO
Como a própria etimologia da palavra nos sugere, o termo “multi”
significa vários; o termo “culturalismo” refere-se à cultura; e o sufixo “ismo”
está associado às posições assumidas ou ideias aceitas sobre a possibilidade
do conhecimento, ou seja, no caso do multiculturalismo significa uma posição
assumida sobre as diferentes relações entre as várias culturas.
O ‘multiculturalismo’ é um termo polissêmico e existem, pelo menos,
dois sentidos diferentes em que este pode ser utilizado. Um primeiro
sentido é descritivo e reporta a um fato da vida humana e social, que
é a diversidade cultural étnica, religiosa que se pode observar no
tecido social, ou seja, um certo cosmopolitismo que atualmente é
fácil de ver em qualquer grande cidade da Europa e da América do
Norte. Um segundo sentido é prescritivo e está associado às chamadas
políticas de reconhecimento da identidade e/ou da diferença que os
poderes públicos prosseguem, ou deveriam prosseguir, segundo os
seus defensores, em nome dos grupos minoritários e/ou ‘subalternos’
(FERNANDES, 2011, p. 2, grifos do original).

Dito de outra forma, multiculturalismo significa a existência de grupos de


diversas culturas, assim como o embate político, econômico e social travado pelos
41
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

diferentes grupos sociais na luta pelo respeito à diversidade. Por isso, além de
estudos teóricos e empíricos, o termo implica na conquista de reivindicações das
chamadas minorias ou grupos marginalizados, como os negros, índios, mulheres,
homossexuais e outros tantos que buscam assegurar seus direitos sociais através
de políticas públicas de ação afirmativa.

FIGURA 6 – MULTICULTURALISMO, DIVERSIDADE E DESAFIO DO HOMEM PARA


O SÉCULO XXI

FONTE: Disponível em: <http://fadivagrupo7.blogspot.com/>. Acesso em: 7 dez. 2017.

O multiculturalismo é pluralista, porque as diferenças coexistem em um


mesmo país ou região. Ali convivem diferentes culturas, valores e tradições.
Há o diálogo e convivência pacífica entre as culturas diversas. No entanto, esta
coexistência pacífica não significa negar as diferenças entre as culturas, nem
homogeneizá-las, mas compreendê-las a partir de uma visão dialética sobre os
termos igualdade e diferença, na medida em que não se pode falar em igualdade
sem levar em conta as diferenças culturais, e não se pode relacionar a diferença
como medida de valor.

Nesse sentido, entendemos que igualdade e diferença não são termos


opostos. Na verdade, a igualdade opõe-se à desigualdade, enquanto diferença
opõe-se à padronização, à homogeneização, à produção em série. O que o
multiculturalismo quer é lutar pela igualdade e pelo reconhecimento das
diferenças.

Por esse motivo, um dos temas centrais do multiculturalismo tem sido o


Direito à Diferença e à Diminuição das Desigualdades, bandeira de luta de vários
movimentos sociais contemporâneos espalhados pelo mundo inteiro.

42
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO

3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO
O termo multiculturalismo é relativamente recente e sua utilização ocorreu
pela primeira vez na Inglaterra, entre as décadas de 1960 e 1970. De acordo com
Fernandes (2006), o multiculturalismo surgiu na linguagem oficial do Canadá e
na Austrália, para designar as políticas públicas com o objetivo de valorizar e/ou
promover a diversidade cultural. Ainda nesse período, o autor destaca que outros
países anglo-saxônicos, como o Reino Unido, a Nova Zelândia e os EUA, também
iniciam políticas públicas qualificadas como multiculturais.

NOTA

Países anglo-saxônicos são países cujos descendentes são provenientes de povos


germânicos (anglos, saxões e jutos). Esta denominação é resultado da fusão desses povos
que se fixaram ao sul e leste da Grã-Bretanha, no século V.

Tomando como base o caso dos Estados Unidos, o multiculturalismo


surge como movimento organizado na década de 1960, a partir dos primeiros
movimentos sociais, como: o negro, feminista, hippie, ambientalista, entre outros.
No entanto, para entender o motivo pelo qual esses movimentos surgiram,
devemos resgatar o aspecto da constituição histórica dos Estados Unidos,
marcada por um longo processo de colonização, que teve como base a eliminação
e a opressão das diversas tribos indígenas que ali estavam. Além disso, prezado
acadêmico, devemos levar em conta o processo de escravidão que ocorreu no
país, no qual os negros serviram como base para o desenvolvimento da nação.

Essas posturas dos colonizadores norte-americanos foram influenciadas


pelos valores religiosos de igrejas protestantes, comuns à maioria dos colonos
de origem anglo-saxã. Esta influência permeou o pensamento e as atitudes dos
colonizadores norte-americanos em relação aos demais grupos, desencadeando,
mais tarde, uma série de movimentos pela busca de justiça social.

O que queremos destacar neste momento é que, a exemplo do caso dos


EUA, o movimento multiculturalista surgiu em grande escala nas sociedades nas
quais o direito à diversidade cultural foi historicamente negado.

Segundo Silva (2000), o multiculturalismo teve início em países em


que a diversidade cultural era vista como um problema para a construção da
unidade nacional. Muitas nações construíram suas identidades por intermédio
de processos autoritários, pela imposição de uma cultura, dita superior, a todos
os membros da sociedade.

43
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O


MULTICULTURALISMO
Já entendemos que o multiculturalismo é, ao mesmo tempo, uma
rede de movimentos sociais em prol da afirmação dos grupos minoritários,
historicamente excluídos pela sociedade. Neste sentido, podemos compreender
que o multiculturalismo é um campo de estudos que aborda a problemática dos
grupos de forma multidisciplinar. Portanto, vamos tratar agora de alguns aspectos
sobre o caráter científico do multiculturalismo, que são os estudos multiculturais.

Prezados acadêmicos, vocês sabiam que os estudos multiculturais são


provenientes de várias áreas do conhecimento?

Pois bem, entre as áreas de conhecimento podemos destacar os campos


da Antropologia Cultural, Psicologia Social, História e Sociologia, que abordam
diferentes problemas relativos ao multiculturalismo. Algumas áreas se ocupam
do ponto de vista histórico do movimento, outras se ocupam da genealogia dos
mesmos, outras se ocupam dos processos políticos e sociais que os movimentos
promovem, e ainda, outras áreas se ocupam de aspectos epistemológicos do
estudo dos movimentos. Enfim, há uma variedade de estudos sobre o tema nas
mais diferentes áreas disciplinares.

NOTA

GENEALOGIA: estudo da origem das famílias.


EPISTEMOLOGIA: estudo do grau de certeza do conhecimento científico em seus diversos
ramos.

Portanto, o estudo do multiculturalismo requer uma compreensão


interdisciplinar do contexto histórico, socioeconômico e cultural desses diferentes
grupos sociais e da sua diversidade cultural construída conforme seu tempo e
suas condições humanas e geográficas.

NOTA

Abordagem Interdisciplinar: refere-se ao trabalho e estudo de profissionais de


diversas áreas do conhecimento ou especialidades sobre um determinado tema ou área de
atuação, implicando necessariamente na integração dos mesmos para uma compreensão
mais ampla do assunto.

44
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO

Daí a complexidade em se abordar a temática do multiculturalismo em


todas as regiões do planeta, levando em consideração a diversidade e a história
dos seus diversos povos em cada um dos cinco continentes e seus diferentes
países. No entanto, o multiculturalismo já alcançou um elevado nível na discussão
acadêmica. De acordo com Sidekum (2003, p. 9), “esse alcance é a marca principal
das últimas décadas do século XX, consolidando-se, especialmente, pelos estudos
comparados da cultura, desenvolvidos pela antropologia cultural e pela psicologia
aplicada, também conhecida por psicologia social intercultural”.

5 MOVIMENTO FEMINISTA
O surgimento dos estudos atuais sobre a condição feminina, o Estudo
de Gênero só foi possível porque, ao longo do tempo, o movimento social de
mulheres “fez muito barulho”, denunciando as situações de opressão, preconceito
e dominação que sofreram. A amplitude do movimento feminista não pode e não
deve ser reconhecida apenas como um dos movimentos de luta das mulheres,
porque muitas mulheres com perfis e histórias diferentes participaram. Se hoje
o gênero representa uma categoria de análise tão importante para as ciências
humanas e sociais, é porque se fez legítimo pelas tantas batalhas dos movimentos
feministas, tornando-se fundamental para a compreensão das relações humanas.

5.1 FEMINISMO
O feminismo é um conceito múltiplo, ele possui uma dimensão política,
que se refere aos movimentos de luta por direitos, e uma dimensão acadêmica,
que se refere aos estudos da condição feminina. A dimensão acadêmica, ou seja,
o campo de pesquisa e de conhecimento sobre as mulheres, pode ser considerada
multidisciplinar, porque ocorre em diferentes campos disciplinares, como:
Antropologia, História, Educação, Sociologia, Direito e vários outros.

O principal objetivo do movimento feminista não foi alcançar a igualdade


entre homens e mulheres, mas sim a equidade entre eles. Para assegurar a igualdade
não deve ser necessário que as mulheres assumam posturas “masculinas”. Elas
devem preservar suas identidades. Por isso a ideia de “equidade” e não igualdade.

Com relação ao Movimento Feminista, ele surgiu no século XVIII, na


Europa, especialmente na Inglaterra e França, mas logo repercutiu em outros
países e se desenvolveu de diferentes formas e expressões até os dias atuais.
Para dar uma ideia de totalidade ao movimento, ele foi dividido em três grandes
momentos, que explicam as diferentes concepções e lutas do movimento.

45
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA

Esse primeiro momento do feminismo, chamado “Primeira Onda


Feminista”, refere-se a um período extenso de atividade feminista ocorrido
durante o século XIX e início do século XX, no Reino Unido, na França e
Estados Unidos, que tinha o foco originalmente na promoção da igualdade
nos direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres, e na
oposição de casamentos arranjados e da propriedade de mulheres casadas
(e seus filhos) por seus maridos. No entanto, no fim do século XIX, o
ativismo passou a se focar, principalmente, na conquista de poder político,
especialmente o direito ao sufrágio (voto) por parte das mulheres.

FONTE: Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/09/14/historia-da-


primeira-onda-feminista/>. Acesso em: 19 set. 2017.

Ainda assim, muitas feministas já faziam campanhas pelos direitos


sexuais, reprodutivos e econômicos das mulheres.

Na França do século XVIII, envolvidas pelo ideal de “Liberdade,


Igualdade e Fraternidade” da Revolução Francesa, mulheres de todas as classes
sociais juntaram-se ao movimento revolucionário. Elas acreditavam que, uma
vez estabelecida a democracia, seus direitos ao voto, à vida pública, ao divórcio
e à emancipação social (já que eram subordinadas ao pai ou marido) seriam
assegurados. Muitas mulheres lutaram nos fronts de batalha na revolução, e
algumas morreram guilhotinadas, por defenderem suas convicções depois que a
Revolução se consolidou e lhes negou, de forma desleal, seus direitos.

5.3 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA


A Segunda Onda Feminista culminou com os movimentos sociais em
andamento nos Estados Unidos, e o país foi, desta vez, a referência do movimento
para o restante do mundo. A segunda onda se refere a um período da atividade
feminista que teve início na década de 60 e durou até o fim da década de 80.

As ativistas femininas fizeram campanhas pelos direitos legais


das mulheres (direitos de contrato, direitos de propriedade, direitos
ao voto), pelo direito da mulher à sua autonomia e à integridade de seu
corpo, pelos direitos ao aborto e pelos direitos reprodutivos (incluindo o
acesso à contracepção e a cuidados pré-natais de qualidade), pela proteção
de mulheres e garotas contra a violência doméstica, o assédio sexual e o
estupro, pelos direitos trabalhistas, incluindo a licença-maternidade e
salários iguais, e todas as outras formas de discriminação.

FONTE: Disponível em: <http://igualdadedegeneroeraca.blogspot.com/2011/09/movimento-


feminista>. Acesso em: 20 out. 2011.

46
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO

Uma das autoras mais importantes da segunda onda é Betty Friedan, com
seu famoso livro A Mística Feminina (The Feminine Mystique, 1963).

No livro, Friedan levanta a hipótese de que as mulheres seriam


vítimas de um sistema falso de crenças, que exige que elas encontrem
identidade e significado em suas vidas através de seus maridos e filhos;
esse sistema faz com que a mulher perca completamente a sua identidade
para a de sua família.

Disponível em: <http://www.veracruz.edu.br/palavradeprofes


sor/2010/cinema1.htm>.

Friedan, especificamente, localiza esse sistema nas comunidades


suburbanas de classe média pós-Segunda Guerra Mundial; ao mesmo
tempo, o boom econômico pós-guerra nos Estados Unidos levou ao
desenvolvimento de novas tecnologias que tornaram o trabalho das donas
de casa menos difícil, mas que frequentemente tinham o resultado de tornar
o trabalho das mulheres menos significante e menos valorizado.

FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo>. Acesso em: 20 out. 2011.

47
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

5.4 A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E O SURGIMENTO DOS


ESTUDOS DE GÊNERO
De acordo com Grossi (2010), o movimento feminista e o movimento gay
merecem destaque como aqueles que de fato questionaram as relações “afetivo-
sexuais” no espaço privado. A partir de então, esses questionamentos começaram
a adentrar o espaço universitário e pesquisas passaram a ser desenvolvidas no
interior de várias disciplinas.

No Brasil, a partir dos anos 1970/80 começam a se desenvolver estudos


sobre a condição feminina, em que basicamente se discutia a opressão das
mulheres em uma sociedade patriarcal. Já a partir dos anos 1980 surgem os
estudos sobre as mulheres, pois: “[...] se percebe que não é possível falar de uma
única condição feminina no Brasil, uma vez que existem inúmeras diferenças,
não apenas de classe, mas também regionais, de classes etárias, de ethos, entre as
mulheres brasileiras” (GROSSI, 2010, p. 3-4).

Nesse período, várias teses são desenvolvidas, porém, segundo Grossi


(2010, p. 4), a referência utilizada para o reconhecimento das mulheres enquanto
grupo está ainda associada a uma “unidade biológica (vagina, útero, seios)”.

6 CONCEITUANDO GÊNERO
O conceito de gênero surge no Brasil através de pesquisadoras norte-
americanas, que vão tratar as relações entre homens e mulheres de forma a negar
as diferenças biológicas como constituidoras das identidades dos seres humanos,
e introduzir a perspectiva de que somos construídos a partir de determinados
mecanismos sociais. Uma das pensadoras responsáveis por essa nova perspectiva
é a autora Joan Scott. No artigo intitulado “Gênero: uma categoria útil de análise
histórica”, ela diz que:

O gênero torna-se uma maneira de indicar ‘construções sociais’ – a


criação inteiramente social de ideias sobre os papéis adequados
aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir às origens
exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das
mulheres. O gênero é, segundo esta definição, uma categoria social
imposta sobre um corpo sexuado (SCOTT, 1990, p. 7).

Para a estudiosa Françoise Héritier (1996), o conceito de gênero é relacional,


ou seja, se constrói na relação entre homens e mulheres, haja visto que ninguém
vive só, pois todas as pessoas se relacionam desde que nascem, independente das
regras sociais e culturais.

Segundo Grossi (2010), papéis de gênero são as representações (tomadas


como representações de uma personagem no teatro) de cada sexo, ou seja, papéis
sexuais são as características atribuídas a cada sexo, de acordo com sua cultura.

48
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO

São modelos do que é próprio e concernente a cada sexo. Sabe-se, através de


relatos de historiadores, que os papéis de gênero podem ser alterados dentro de
uma mesma sociedade, dependendo das situações.

Com relação à identidade de gênero, ela se forma, segundo Grossi (2010), a


partir da socialização de valores e comportamentos que são internalizados logo nas
primeiras fases da infância. Esses valores e comportamentos que são repassados
são diferentes para cada sexo e também variam de uma cultura para outra.

Um dos estudos da autora clássica de Antropologia, Margaret Mead


(1979), poderá ilustrar o que procuramos dizer até aqui. Essa autora procura
nos fazer refletir como, nas diferentes sociedades, são construídos padrões de
conduta, comportamento, culturas, atribuindo-se valores a algumas coisas e
a outras não, como idade e sexo, ritmo de nascimento, maturação e velhice, a
estrutura do parentesco consanguíneo.

Em seu livro “Sexo e Temperamento”, essa antropóloga aborda três grupos


diferentes em uma ilha da Nova Guiné: os montanheses Arapesh, os canibais
Mundugumor e os caçadores de cabeças de Tchambuli. A autora faz o estudo
com estes três grupos porque as diferenças de sexo fazem parte da organização
sociocultural dos mesmos, ainda que estas diferenças sejam percebidas e
dramatizadas de formas diferentes.

A partir dessa observação, a autora constata: ainda que, de uma forma


geral, as sociedades se organizem levando em conta as diferenças entre os sexos,
não significa dizer que essa organização esteja baseada em sistemas de oposição
ou dominação.

Na visão do escritor argentino Jorge Scala, especialmente em seu livro


intitulado “Ideologia de Gênero: o neototalitarismo e a morte da família” (2011),
bem como em uma entrevista sobre o tema (2012), o termo gênero é associado a
uma ideologia e não a uma teoria ou hipótese, pelo seguinte motivo:

Uma teoria é uma hipótese verificada experimentalmente. Uma


ideologia é um corpo fechado de ideias, que parte de um pressuposto
básico falso – que por isto deve impor-se evitando toda análise racional
-, e então vão surgindo as consequências lógicas desse princípio falso.
As ideologias se impõem utilizando o sistema educacional formal
(escola e universidade) e não formal (meios de propaganda), como
fizeram os nazistas e os marxistas (SCALA, 2012, s.p.).

O autor argumenta ainda que o fundamento da ideologia de gênero é


falso.

Seu fundamento principal e falso é este: o sexo seria o aspecto biológico


do ser humano, e o gênero seria a construção social ou cultural do sexo.
Ou seja, que cada um seria absolutamente livre, sem condicionamento
algum, nem sequer o biológico -, para determinar seu próprio gênero,
dando-lhe o conteúdo que quiser e mudando de gênero quantas vezes
quiser. Agora, se isso fosse verdade, não haveria diferenças entre

49
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

homem e mulher – exceto as biológicas -; qualquer tipo de união entre


os sexos seria social e moralmente bom, e todas seriam matrimônio;
cada tipo de matrimônio levaria a um novo tipo de família; o aborto
seria um direito humano inalienável da mulher, já que somente ela é
que fica grávida; etc. Tudo isso é tão absurdo, que só pode ser imposto
com uma espécie de “lavagem cerebral” global (SCALA, 2012, s.p.).

Para concluir sua explicação, Scala responde à seguinte pergunta: quais


são, então, as consequências para nossos filhos, para a próxima geração, caso a
ideologia de gênero seja incentivada nas escolas infantis?

Eu respondo com um fato real. Dei uma palestra sobre esta ideologia,
a todos os professores de uma cidade de 7.000 habitantes, numa área
rural da minha província. Gente simples e trabalhadora. Ao concluí-
la, uma professora comentou em voz alta: ‘Agora eu entendo porque
há alguns dias meu filho de sete anos me perguntou: mamãe, eu sou
menino ou menina …? As pessoas formadas e maduras estão imunes
dessa ideologia, mas se a permitirmos penetrar nas crianças desde tenra
idade – cinema, rádio, TV, escola, revistas -, em muitos casos, teremos
que lamentar com o tempo tragédias de todo tipo (SCALA, 2012, s.p.).

Vejamos o que nos apresenta o autor Dale O’Leary (1997, p. 1), em sua
obra “A agenda de gênero”.

Sem alarde ou debate, a palavra ‘sexo’ foi substituída pela palavra


‘gênero’. Nós costumávamos falar de ‘discriminação de sexo’, mas
agora é ‘discriminação de gênero’. Com certeza parece bastante
inocente. ‘Sexo’ possui um significado secundário, subentendendo
relação sexual ou atividade sexual. ‘Gênero’ parece mais delicado
e refinado. As militantes feministas aprenderam a partir de suas
derrotas. Quando elas não puderam vender sua ideologia radical para
as mulheres em geral, elas lhe deram uma nova roupagem. Agora elas
são bastante cuidadosas em revelar seus verdadeiros objetivos. Elas
pretendem alcançar seus fins não por uma confrontação direta, mas
através de uma mudança no significado das palavras.

No decorrer de seu texto, O’Leary (1997) faz menção à Conferência da


ONU sobre População, realizada no Cairo, em 1994, e a Conferência sobre as
Mulheres, realizada em Pequim, em 1995, em que foi incluída na plataforma de
ação destas conferências a “perspectiva de gênero”. Sobre este tema, o autor faz
os seguintes questionamentos:

Qual é a relação entre a “perspectiva de gênero” e o fato de que os seus


proponentes possuem uma extrema aversão a palavras como mãe, pai,
marido e esposa? Por que os defensores da Agenda de Gênero referem-se
ao casamento e à família em termos negativos? Por que um documento da
ONU sobre as mulheres não tem quase nada de positivo a dizer sobre as
mulheres que são mães de tempo integral? Por que a ONU não promove
mais a “perspectiva da mulher”? (O’LEARY, 1997, p. 2).

Caro acadêmico, agora é com você. Diante das discussões apresentadas


até o momento, como você define gênero? O que você pensa sobre o assunto?
Você considera que o objetivo da ideologia de gênero é promover a defesa da

50
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO

mulher? Promover a defesa do homem? Defender a vida humana e as crianças?


Lutar pela equidade entre homens e mulheres? São muitas as indagações que
precisam ser feitas para elucidar seu pensamento, e para que de modo crítico e
racional você possa chegar às suas próprias conclusões.

DICAS

Para complementar nossa conversa, leia atentamente a introdução do livro


de Marilena Chauí sobre “O que é ideologia” e tire suas próprias conclusões sobre os
fundamentos da “ideologia de gênero”.

“Frequentemente, ouvimos expressões do tipo “partido político ideológico”, é preciso ter


uma “ideologia”, “falsidade ideológica”.
Essas expressões tomam a palavra ideologia para com ela significar “conjunto sistemático
e encadeado de ideias”. Ou seja, confundem ideologia com ideário.
Nossa tarefa, aqui, será desfazer a suposição de que a ideologia é um ideário qualquer
ou qualquer conjunto encadeado de ideias e, ao contrário, mostrar que a ideologia é
um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é
uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a
dominação política.

FONTE: Chauí, M. O Que é Ideologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. Disponível em:
<https://goo.gl/VMihTF>. Acesso em: 9 set. 2017.

7 ESTUDOS DE GÊNERO
Especialmente nas três últimas décadas, os estudos de gênero passaram
a se preocupar com várias questões relativas ao universo das relações sociais.
Observar a realidade a partir da análise de gênero possibilitou novas interpretações
sobre o comportamento humano e a observação das desigualdades de gênero.
Vejamos, a seguir, alguns estudos de gênero e suas principais contribuições.

A construção social da desigualdade de Gênero (Educação Diferenciada):


Os estudos compreendem que há uma educação diferenciada para meninos e
meninas desde o seu nascimento. Nessa educação, reproduzem-se idealizações e
modelos de papéis destinados a homens e mulheres na sociedade. Por exemplo,
os meninos brincam de bola e carrinho, enquanto as meninas brincam de boneca
e casinha, deixando claro o espaço que cada um ocupará dentro da sociedade. Por
este motivo é que se organizam papéis diferenciados para homens e mulheres.

Papéis femininos ou Feminilidades: De acordo com os estudos, os modelos


de feminino em nossa sociedade são criados a partir de símbolos antagônicos: Eva
e Maria, bruxa e fada, mãe e madrasta. Sendo que essas definições propõem o que
é bom para as mulheres e culpam-nas quando não correspondem a este padrão.
A sociedade espera que as mulheres cuidem da casa, dos filhos e do marido, que
51
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

sejam as guardiãs da moral da família, que sejam meigas, atenciosas, maternais e


frágeis. Outras expressões de feminino são marginalizadas.

Papéis masculinos ou Masculinidades: Os estudos sobre masculinidade


tratam da construção da identidade masculina e das diferentes masculinidades.
Além disso, tratam do discurso sobre o masculino, a idealização dele e os
padrões de masculinidade. O que a sociedade espera do papel desempenhado
pelos homens é que sejam provedores, fortes e viris. Outras expressões de
masculinidade também são consideradas desviantes.

Violência de gênero: Os estudos apontam que a violência de gênero é


demonstrada no exercício de poder dos homens (na forma de espancamentos,
insultos, ameaças, estupros, assédio, assassinatos e outros) sobre as mulheres e
demais pessoas consideradas "inferiores" (homossexuais, crianças, idosos etc.).
Esses estudos demonstram uma série de situações em que as mulheres têm sido
historicamente violentadas em seus direitos, tanto no aspecto físico, quanto
psicológico.

Famílias: Muitos estudos reconhecem que há uma visão tradicional de


família que não reconhece a existência de núcleos familiares chefiados somente
por mulheres ou a constituição de famílias compostas por "agrupamento". De
igual forma, são abordadas aqui as questões relativas aos papéis tradicionais
desempenhados por homens e mulheres dentro das estruturas familiares.
 
A imagem das mulheres nos meios de comunicação: Os estudos
demonstram que os meios de comunicação parecem dar às mulheres "visibilidade"
e "espaço para discussão", mas que reforçam constantemente o seu papel de "objeto
de consumo", de "utilidade pública" e "sexual". Por exemplo, nas propagandas de
bebidas alcoólicas.

A educação escolar: Os estudos reforçam que a educação escolar é


transmissora de valores, atitudes e preconceitos, reprodutora das desigualdades
de gênero e homofobia. Isso porque, no universo das instituições de ensino do
nosso país, assuntos como Gênero e Sexualidade têm sido tratados historicamente
como tabus. Quando se permite falar sobre esses temas, a escola tende a tratar
a questão como uma dimensão da vida adulta, ligada à constituição da família
e da reprodução, através de uma perspectiva biológica. Desta forma, tanto o
exercício da sexualidade por si, quanto as orientações homoafetivas, neste espaço
disciplinar, são negados. A escola tem assumido, entre outros, o papel de vigiar
os limites entre as identidades e os papéis de gênero. Nesta função, de acordo
com Louro (1997), a norma a ser mantida e reafirmada pela instituição valoriza,
prioritariamente, o modelo tradicional dos papéis de gênero e o comportamento
heterossexual, reafirmando os padrões da moral dominante vigente na sociedade,
tomando por modelo as relações hierárquicas e desiguais entre os sexos e o
homem e a mulher branca heterossexual de classe média urbana e cristã. Os que
são diferentes deste modelo são considerados como tendo um comportamento
"desviante". Louro (1997, p. 36) destaca que “ninguém é essencialmente diferente,

52
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO

ninguém é essencialmente o outro; a diferença é sempre constituída a partir de


um dado lugar que se toma como centro".

No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e a Secretaria de


Educação Continuada (SECAD/MEC) possuem a perspectiva de que os temas
gênero, identidade de gênero e orientação sexual devem ser considerados pela
política educacional como uma questão de direitos humanos. Por este motivo
é que existe no Brasil uma agenda de enfrentamento ao sexismo e homofobia
através do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) e do Programa
Brasil sem Homofobia (BSH).

Por outro lado, a questão tornou-se tão polêmica a ponto de gerar a


elaboração de um projeto de lei (Projeto de Lei 7382/2010), que prevê a penalização
pela discriminação contra heterossexuais e determina que as medidas e políticas
públicas antidiscriminatórias atentem para essa possibilidade, ou seja, pune
a “heterofobia”. No momento, o projeto encontra-se em pedido de vista pela
Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM).

Público e Privado: Os estudos demonstram que, a partir da consolidação


do capitalismo, consolida-se também a ideologia de que existe uma esfera pública
e outra privada. Esfera privada: Lugar próprio das mulheres, do doméstico, da
subjetividade, do cuidado, da honra. Esfera pública: Espaço dos homens, da
objetividade, dos iguais, da liberdade e do direito. Desta maneira, convencionou-se
nas sociedades ocidentais o espaço privado para a mulher, a casa, o cuidado com
os filhos e marido; e o espaço público ao homem, relações sociais, políticas e de
trabalho. Essa “ordem” social criou diferenças e justificou desigualdades sexuais
ao longo da história, sendo que muitas ainda permanecem nos dias de hoje.

A divisão sexual do trabalho: Os estudos demonstram que historicamente


a divisão sexual do trabalho enfatiza para os homens a produção e a subsistência da
família e para as mulheres a reprodução e a educação das crianças.

Acadêmico, sobre esses temas, reflita as seguintes perguntas: O que você


entende por viver sem preconceito de gênero? E sem preconceito de sexo? Existe
diferença entre essas perguntas? Como você responderia cada uma delas?

Você deve ter percebido que nos últimos cinco ou dez anos houve, no
Brasil, uma evidente tendência ao uso do termo gênero – em referência aos papéis
masculinos e femininos das pessoas – em substituição ao termo sexo – referente ao
sexo biológico – em muitos sites governamentais e não governamentais, quando da
necessidade de informar dados pessoais para cadastros. Já se deparou com isso?

Apesar de serem conceitos diferentes (sexo e gênero), observe que são


perguntas semelhantes, que nos remetem ao reconhecimento das diferenças entre
homens e mulheres e ao respeito para com ambos. No entanto, até pouco tempo
não se fazia esse questionamento, mesmo reconhecendo que há manifestações
de comportamento afetivo ou sexual diferente do sexo de nascimento. Contudo,
o momento delicado em que a sociedade vivencia esse debate não pode motivar
violência e intolerância e, muito menos, a adoção do relativismo, teoria filosófica
que admite que todo conhecimento é relativo. Pois se assim o fosse, perguntas

53
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

como “de onde vim?”, “o que sou?” e “para onde vou?” não seriam tão intrigantes
quanto são para a única espécie capaz de raciocinar sobre si mesma, o Homo sapiens.

Assim, o modo como o termo gênero vem sendo utilizado nos diversos
meios de comunicação apresenta uma fragilidade. Por exemplo, se o gênero
representa o comportamento social da pessoa e o sexo a determinação biológica,
as duas perguntas deveriam ser feitas. Agora, se só existe uma espécie humana e
nesta se manifestam apenas dois sexos (ou dois gêneros), estaria coerente discutir
relações de gênero?

O debate acerca do assunto é amplo, e para nós, brasileiros, a Constituição


prevê, no Art. 3º, inciso IV, que constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil, dentre outros, promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, religião, idade e quaisquer outras formas de discriminação
(BRASIL, 1988). Portanto, já estaria respaldado o reconhecimento da diversidade
humana e o combate à discriminação de qualquer origem.

A produção foi sempre mais valorizada do que a reprodução,


por este motivo é que as atividades ditas reprodutivas, como as funções
domésticas, são desvalorizadas. De acordo com Faria (1997), referindo-se
ao trabalho das mulheres rurais no Brasil:
Carpir no sertão nordestino era uma tarefa dos homens e era
considerado um trabalho pesado. Carpir no brejo paraibano
era tarefa das mulheres e era considerado trabalho leve. Como
se vê, no cultivo da cana o que caracterizava um trabalho como
leve ou pesado não era a força física necessária para realizá-lo,
mas o valor social de quem o fazia (FARIA, 1997, p. 14).

Nesse sentido, a desigualdade sexual não é refletida como um


problema de gênero, ela é naturalizada. Essa postura é que mantém o
padrão de desvalorização do trabalho feminino, e é o que explica porque
muitas mulheres ainda ganham menos que os homens, mesmo ocupando
cargos iguais.

Por outro lado, após a expansão do capitalismo, quando as mulheres


entram no mercado de trabalho permanecem ainda com as atividades domésticas,
o cuidado com a casa e com os filhos. De acordo com o IBGE (2005):
O IBGE mostra que a crescente participação das mulheres
no mercado de trabalho não reduziu a jornada delas com os
afazeres domésticos. Pelo contrário, na faixa etária de 25 a 49
anos de idade, onde a inserção das mulheres nas atividades
remuneradas é maior e que coincide com a presença de filhos
menores, o trabalho doméstico ocupa 94% das mulheres.
Aumentando o tempo de trabalho da mulher em função da
dupla jornada de trabalho.

FONTE: Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2012/anais/122f.pdf>. Acesso em: 2


jun. 2015.

54
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO

Dupla Jornada de Trabalho:

A partir da segunda metade do século XX, com a expansão do


capitalismo, as mulheres entraram definitivamente no mercado de trabalho.
Fato que, por um lado, possibilitou a inserção da mulher no mundo do
trabalho “produtivo” e no espaço público, e por outro, lhe manteve a condição
de trabalhadora doméstica, pois ela continuou com a integralidade das
atividades do lar. Ocorre, assim, o acúmulo de funções, chamado de dupla
jornada de trabalho. Além disso, do ponto de vista do desenvolvimento do
capitalismo, a contratação de mulheres foi estrategicamente conveniente,
pois a remuneração do trabalho feminino era mais baixa do que a masculina,
dada a sua condição histórica de inferioridade. Por esse motivo, ainda nos
dias de hoje, em alguns setores, o trabalho feminino é menos valorizado do
que o masculino.

FONTE: Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos14/20320175.pdf>. Acesso


em: 7 dez. 2017.

55
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O multiculturalismo significa a existência de grupos de diversas culturas,


assim como: o embate político, econômico e social travado pelos diferentes
grupos sociais na luta pelo respeito à diversidade.

• O termo “multiculturalismo” é recente, e sua utilização ocorreu pela primeira


vez na Inglaterra, entre as décadas de 1960 e 1970.

• A ideia de que os estudos multiculturais são multidisciplinares, na medida


em que são provenientes de diversos campos de conhecimento, como:
Antropologia Cultural, Psicologia Social, História, Sociologia, entre outros.

• O direito à diferença e a diminuição das desigualdades são temas centrais


para o multiculturalismo, bandeira de luta de vários movimentos sociais
contemporâneos espalhados pelo mundo inteiro.

• O conceito de cultura corresponde ao conjunto das regras sociais aceitas como


normas pela sociedade ou grupo que as compõe.

• O etnocentrismo é a maneira de ver os “outros” com base nos nossos padrões


culturais, com os nossos valores sociais, morais e éticos, e não os valores do
outro.

• O relativismo cultural significa uma perspectiva mais ampla sobre o outro,


uma perspectiva que vê e compreende o outro a partir dos parâmetros e regras
sociais do outro.

• O feminismo como conceito múltiplo. Ele possui uma dimensão política, que
se refere aos movimentos de luta por direitos, e uma dimensão acadêmica, que
se refere aos estudos da condição feminina.

• O Movimento Feminista surgiu no século XVIII, na Europa, e foi dividido em


três grandes momentos, sendo a 1ª, a 2ª e a 3ª ondas feministas.

• A primeira onda feminista se refere a um período extenso de atividade


feminista, ocorrido durante o século XIX e início do século XX, na Europa.
Sendo que o foco original do movimento se concentrou na promoção da
igualdade, nos direitos contratuais e de propriedade para homens e mulheres.

56
• A segunda onda feminista tem como cenário de surgimento os Estados
Unidos já no século XX, na década de 1960, na medida em que o processo de
industrialização se acelera. O movimento feminista, neste momento histórico,
luta por melhores condições de trabalho e renda, além de questionar as relações
na família.

• Com a terceira onda feminista – a partir da década de 1980 –, vem a introdução


da discussão da desigualdade de gênero no meio acadêmico, momento em
que surge o conceito de gênero.

• O conceito de gênero surge no Brasil através de pesquisadoras norte-


americanas, que vão tratar as relações entre homens e mulheres de forma a
negar as diferenças biológicas como constituidoras das identidades dos seres
humanos, e introduzir a perspectiva de que somos construídos a partir de
determinados mecanismos sociais.

• Existem pensamentos contrários à ideologia de gênero e outros favoráveis, a


depender do autor que se leva em consideração.

• Questionar é tão importante quanto buscar o saber, e que é preciso estimular o


pensamento crítico diante dos problemas cotidianos, de modo a desenvolver a
capacidade de propor soluções viáveis e sustentáveis.

• Avaliar criticamente a realidade à luz dos conhecimentos científicos, éticos


e morais contribui para o reconhecimento da diversidade e o respeito à
dignidade humana.

57
AUTOATIVIDADE

1 As mulheres frequentam mais os bancos escolares que os


homens, dividem seu tempo entre o trabalho e os cuidados com a
casa, geram renda familiar, porém, continuam ganhando menos
e trabalhando mais que os homens.

As políticas de benefícios implementadas por empresas preocupadas em facilitar


a vida das funcionárias que têm criança pequena em casa já estão chegando ao
Brasil. Acordos de horários flexíveis, programas como auxílio-creche, auxílio-
babá e auxílio-amamentação são alguns dos benefícios oferecidos.
FONTE: Adaptado de <http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 30 jul. 2013.

JORNADA MÉDIA DE TRABALHO POR SEMANA

NO BRASIL - (EM HORAS)


FONTE: Disponível em: <http://ipea.gov.br>. Acesso em: 30 jul. 2013.

Considerando o texto e o gráfico, avalie as afirmações a seguir.

I- O somatório do tempo dedicado pelas mulheres aos afazeres domésticos


e ao trabalho remunerado é superior ao dedicado pelos homens,
independentemente do formato da família.
II- O fragmento do texto e dos dados do gráfico apontam para a necessidade
de criação de políticas que promovam a igualdade entre os gêneros no que
concerne a tempo médio dedicado ao trabalho e remuneração recebida.
III- No fragmento de reportagem apresentado, ressalta-se a diferença entre o
tempo dedicado por mulheres e homens ao trabalho remunerado, sem alusão

58
aos afazeres domésticos.
É correto o que se afirma em:

a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III apenas.
e) ( ) I, II e III.

2 O conceito de feminismo possui uma perspectiva política,


que se refere ao movimento social em prol de políticas de
reconhecimento e uma perspectiva acadêmica, que se refere aos
estudos feministas. Com relação ao conceito de feminismo e à
atuação do movimento feminista, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas: 

( ) O feminismo é um movimento social e um campo de conhecimento que


tem como objetivo defender a igualdade entre homens e mulheres, seja do
ponto de vista jurídico, político ou econômico.
( ) O movimento feminista está dividido historicamente em três "ondas",
sendo que a primeira onda refere-se ao feminismo do século XVIII, e tem
como referências países como França e Inglaterra.
( ) Os estudos feministas têm como objetivo denunciar as desigualdades
biológicas entre homens e mulheres, no sentido de garantir direitos apenas
para as mulheres.
( ) Os estudos feministas podem ser classificados como multidisciplinares,
pois são desenvolvidos a partir de várias áreas de estudos.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F – V.
b) ( ) F – V – F – F.
c) ( ) F – F – V – F.
d) ( ) F – V – F – V.

3 O feminismo é um movimento social e um campo de estudos


cujo objetivo é defender a igualdade entre os sexos. Na história
do feminismo, convencionou-se dividir o movimento em
três momentos: primeira, segunda e terceira onda feminista.
Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: 

( ) Uma das autoras mais importantes da Segunda Onda Feminista é Betty


Friedan. Ela ficou conhecida por escrever o livro "A Mística Feminina". Nele,
a autora enobrece a vida vazia das donas de casa de classe média nos Estados
Unidos, destacando que a identidade da mulher deve ser exclusiva da família.
( ) Na Segunda Onda, a revolucionária Olímpia de Gouges, em 1791,
escreveu uma declaração muito importante, argumentando que as mulheres
deveriam ter os mesmos direitos que os homens, podendo participar da vida
política, governando e formulando leis.

59
( ) A Segunda Onda Feminista culminou com os movimentos sociais em
andamento nos Estados Unidos. Esse momento do feminismo começa na
década de 1960 e dura até o fim da década de 1980.
( ) A Terceira Onda Feminista inicia na década de 1990, com o objetivo de
compreender os problemas femininos de um ponto de vista mais amplo, e não
apenas do ponto de vista das "mulheres brancas de classe média-alta", como
fez a segunda onda.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F – F – V – V.
b) ( ) F – V – F – F.
c) ( ) V – F – V – F.
d) ( ) V – V – F – V.

4 (ENADE - 2017, FORMAÇÃO GERAL, questão 1).

TEXTO 1
Em 2001, a incidência da sífilis congênita – transmitida da mulher para o
feto durante a gravidez – era de um caso a cada mil bebês nascidos vivos.
Havia uma meta da Organização Pan-Americana de Saúde e da Unicef de
essa ocorrência diminuir no Brasil, chegando, em 2015, a cinco casos de
sífilis congênita por 10 mil nascidos vivos. O país não atingiu esse objetivo,
tendo se distanciado ainda mais dele, embora o tratamento para sífilis seja
relativamente simples, à base de antibióticos. Trata-se de uma doença para a
qual a medicina já encontrou a solução, mas a sociedade ainda não.
FONTE: Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 23 jul. 2017 (adaptado).

TEXTO 2
O Ministério da Saúde anunciou que há uma epidemia de sífilis no Brasil. Nos
últimos cinco anos, foram 230 mil novos casos, um aumento de 32% somente
entre 2014 e 2015. Por que isso aconteceu?
Primeiro, ampliou-se o diagnóstico com o teste rápido para sífilis realizado
na unidade básica de saúde e cujo resultado sai em 30 minutos. Aí vem o
segundo ponto, um dos mais negativos, que foi o desabastecimento, no país,
da matéria-prima para a penicilina. O Ministério da Saúde importou essa
penicilina, mas, por um bom tempo, não esteve disponível, e isso fez com
que mais pessoas se infectassem. O terceiro ponto é a prevenção. Houve, nos
últimos dez anos, uma redução do uso do preservativo, o que aumentou, e
muito, a transmissão.
A incidência de casos de sífilis, que, em 2010, era maior entre homens, hoje recai
sobre as mulheres. Por que a vulnerabilidade neste grupo está aumentando?
As mulheres ainda são as mais vulneráveis a doenças sexualmente
transmissíveis (DST), de uma forma geral. Elas têm dificuldade de negociar
o preservativo com o parceiro, por exemplo. Mas o acesso da mulher ao

60
diagnóstico também é maior, por isso, é mais fácil contabilizar essa população.
Quando um homem faz exame para a sífilis? Somente quando tem sintoma
aparente ou outra doença. E a sífilis pode ser uma doença silenciosa. A mulher,
por outro lado, vai fazer o pré-natal e, automaticamente, faz o teste para a
sífilis. No Brasil, estima-se que apenas 12% dos parceiros sexuais recebam
tratamento para sífilis.
FONTE: Entrevista com Ana Gabriela Travassos, presidente da regional baiana da
Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Disponível em: <http://www.
agenciapatriciagalvao.org.br>. Acesso em: 25 jul. 2017 (adaptado).

TEXTO 3
Vários estudos constatam que os homens, em geral, padecem mais de
condições severas e crônicas de saúde que as mulheres e morrem mais que
elas em razão de doenças que levam a óbito. Entretanto, apesar de as taxas de
morbimortalidade masculinas assumirem um peso significativo, observa-se
que a presença de homens nos serviços de atenção primária à saúde é muito
menor que a de mulheres.
GOMES, R.; NASCIMENTO, E.; ARAUJO, F. Por que os homens buscam menos os serviços de
saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com
ensino superior. Cad. Saúde Pública [on-line], v. 23, n. 3, 2007 (adaptado).

A partir das informações apresentadas, redija um texto acerca do tema:


Epidemia de sífilis congênita no Brasil e relações de gênero

Em seu texto, aborde os seguintes aspectos:

• A vulnerabilidade das mulheres às DSTs e o papel social do homem em


relação à prevenção dessas doenças.
• Duas ações, especificamente voltadas para o público masculino, a serem
adotadas no âmbito das políticas públicas de saúde ou de educação, para
reduzir o problema.

5 (ENADE – 2017, FORMAÇÃO GERAL, questão 2).

A pessoa trans precisa que alguém ateste, confirme e comprove que ela pode
ser reconhecida pelo nome que escolheu. Não aceita que se autodeclare
mulher ou homem. Exige que um profissional de saúde diga quem ela é. Sua
declaração é o que menos conta na hora de solicitar, judicialmente, a mudança
dos documentos.

FONTE: Disponível em: <http://www.ebc.com.br>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).

61
No chão, a travesti morre
Ninguém jamais saberá seu nome
Nos jornais, fala-se de outra morte
De tal homem que ninguém conheceu
FONTE: Disponível em: <http://www.aminoapps.com>. Acesso em 31 ago. 2017 (adaptado).
Usava meu nome oficial, feminino, no currículo porque diziam que eu estava
cometendo um crime, que era falsidade ideológica se eu usasse outro nome.
Depois fui pesquisar e descobri que não é assim. Infelizmente, ainda existe
muita desinformação sobre os direitos das pessoas trans.
FONTE: Disponível em: <http://www.brasil.elpais.com>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).

Uma vez o segurança da balada achou que eu tinha, por engano, mostrado o
RG do meu namorado. Isso quando insistem em não colocar meu nome social
na minha ficha de consumação.
FONTE: Disponível em: <http://www.brasil.elpais.com>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).

Com base nessas falas, discorra sobre a importância do nome para as pessoas
transgêneras e, nesse contexto, proponha uma medida, no âmbito das políticas
públicas, que tenha como objetivo facilitar o acesso dessas pessoas à cidadania.

62
UNIDADE 1
TÓPICO 4

RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR


PRIVADO E TERCEIRO SETOR

1 INTRODUÇÃO
Nosso tempo apresenta enormes desafios éticos que decorrem da
diversidade cultural das sociedades contemporâneas, do consumismo, do
individualismo, do hedonismo, do desprezo ao próximo e à natureza, gerando
um quadro de crise que tem sérias implicações sobre a ética, sobre os valores e
sobre a responsabilidade social.

Podemos notar um triplo aspecto nesta crise: primeiro, o agravamento da


desigualdade social, com crescente pobreza e miséria de uma parte considerável
da população mundial. A desigualdade hoje se mostra tão grande que pode até
levar à desumanização de uma parte considerável das pessoas, com os laços de
cooperação e solidariedade atingindo níveis tão baixos como nunca vistos antes
na história de nossa espécie.

Em segundo lugar, vemos uma crise do sistema de trabalho, com o


desemprego, a perda dos postos de trabalho para a automação, e a exclusão
social, que colocam o problema ético de como construir uma sociedade que não
gere destituídos dela.

Em terceiro lugar, vemos a crise ecológica, com os níveis de consumo atuais


esgotando os recursos naturais e degradando a natureza a ponto de comprometer
a sobrevivência dos seres vivos, o que nos chama a atenção para a necessidade de
uma nova ética em nossa relação com a natureza.

2 SETOR PRIVADO
Toda a realidade relatada anteriormente vem acompanhada do
entendimento de que cada setor da sociedade tem suas responsabilidades.

O setor privado, por mais óbvio que seja, não deveria ter participação
do setor público. Esse setor também é conhecido como ‘iniciativa privada’ e tem
papel preponderante na economia e desenvolvimento de um país.

63
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

3 TERCEIRO SETOR
Tradicionalmente, as organizações são pensadas e divididas a partir de
uma lógica política administrativa que dirige a organização, partindo de dois
pontos: de ordem pública ou de ordem privada. As organizações que estão fora
desses dois grupos, que não apresentam objetivo meramente lucrativo ou não
(apenas) desempenham funções públicas, são as organizações sociais, ou seja,
todas as organizações residuais são definidas nesse guarda-chuva, o que abarca
um conjunto muito heterogêneo de tipos e práticas. Não podemos aqui confundir
com o terceiro setor do ponto de vista econômico, ou também conhecido como
setor terciário, que se caracteriza por desenvolver as atividades de comércio da
produção industrial, e por serviços, como transportes, telecomunicações e energia.

“A expressão ‘terceiro setor’ pode considerar-se também adequada na


medida em que sugere uma terceira forma de propriedade entre a privada e a
estatal, mas se limita ao não estatal enquanto produção, não incluindo o não
estatal enquanto controle” (BRESSER-PEREIRA; GRAU, 1999, p. 16).

Pode-se notar que existe um problema de definição conceitual sobre o que


abrange o terceiro setor. “[...] o conceito de terceiro setor descreve um espaço de
participação e experimentação de novos modos de pensar e fazer sobre a realidade
social. É um campo marcado por uma irredutível diversidade de atores e formas
de organização” (CARDOSO, 1997 apud BRESSER-PEREIRA; GRAU, 1999, p. 37).

É importante levar em conta que a Organização Social é um tipo específico


de ator dentro do terceiro setor. Apesar disso, algumas características podem ser
apontadas como típicas das Organizações Sociais (BRESSER-PEREIRA; GRAU,
1999), que aqui são listadas:

• iniciativas privadas que buscam suprir uma utilidade de ordem pública, ou


seja, seus fins são públicos;
• constituído em grande parte por voluntários. Isso quer dizer que alguns
membros devem trabalhar sem remuneração;
• sem fins lucrativos (o que não quer dizer que não haverá salário para alguns
membros, mas sim que o objetivo não é enriquecer);
• deve ser formalmente constituída. Isso não significa que deve necessariamente
ser uma instituição legalizada, mas sim possuir regras, procedimentos que
assegurem a existência e atuação da organização;
• a gestão é própria, não deve ser realizada por grupos externos;
• passar por processo de regulamentação nesses últimos anos.

Assim, pode-se afirmar que o terceiro setor não é público nem privado.
Ele se situa num entremeio, preenchendo lacunas do Estado através de uma
atuação na esfera privada. Assim, as organizações visam prestar serviços com
fins de atender demandas sociais em áreas como saúde, educação, cultura etc.
Seu formato típico não é da Organização Não Governamental (ONG), e sim do
setor estatal e do setor privado, que visam suprir as falhas do Estado e do setor

64
TÓPICO 4 | RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E TERCEIRO SETOR

privado no atendimento às necessidades da população, numa relação conjunta.


Entretanto, algumas organizações estão evitando tal denominação, motivos
explicados por Fischer e Falconer (1998, p. 4):

Esta característica pode ser observada quando se analisa a adoção


do termo ONG – Organização Não Governamental – pelas entidades
brasileiras. O termo foi adotado mais por influência dos financiadores
internacionais do que por uma tendência espontânea das organizações
brasileiras. Até, pelo contrário, muitas entidades atualmente não
aceitam esta denominação por considerá-la restritiva, ou mesmo
porque ela omite princípios e valores que lhe são mais caros do ponto
de vista ideológico, ou que, na sua opinião, expressam com mais
clareza sua missão institucional.

De fato, a imagem das Organizações Sociais colou nas ONGs, mas elas
são, na verdade, múltiplas e assumem vários formatos. Uma das críticas a
essas organizações seria sobre uma atuação que serviria apenas a fins privados,
não abrangendo a dimensão social da questão. Outro ponto seria sobre o
enriquecimento de algumas organizações, que obtinham lucro irregularmente.
Entretanto, as organizações sociais se apresentam como uma alternativa que,
quando considerados todos os seus preceitos, funcionam efetivamente junto à
população.

3.1 HISTÓRICO
O surgimento das Organizações Sociais acontece no contexto de crise do
último quarto do século XX, a partir da proposta de Estado mínimo nos anos
1980 pelo neoliberalismo, que significa a maior redução possível do Estado na
economia, o que significou um corte nos programas destinados ao apoio da
população. Na década de 1990 essa proposta começa a se mostrar irreal e se inicia
um retorno do Estado a uma posição mais atuante.

O contexto foi agravado pela abertura do capitalismo na década de 1990


e pela globalização. O processo de globalização e o fortalecimento das estruturas
capitalistas no mundo, com o fracasso dos sistemas socialistas, aumentam a
competitividade entre as empresas, que a partir deste momento não concorrem
apenas com as nacionais, mas com aquelas situadas em outras partes do mundo.

Assim, o Estado nacional teve dificuldade em proteger as empresas


nacionais e os seus trabalhadores, o que levou à crise. “Esta crise levou o mundo a
um generalizado processo de concentração de renda e a um aumento da violência
sem precedentes, mas também incentivou a inovação social na resolução dos
problemas coletivos e na própria reforma do Estado” (BRESSER-PEREIRA;
GRAU, 1999, p. 15).

Uma dessas inovações refere-se justamente ao fortalecimento do controle


social através do público não estatal. Isso a tal ponto que se pode afirmar que

65
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

o século XXI é o momento em que o público não estatal torna-se chave para a
manutenção da vida social. Outro ponto que fortalece é a visão dessas organizações
como espaço possível para a prática da cidadania, tornando efetiva a democracia
participativa.

No Brasil, existem algumas particularidades sobre o histórico dessas


organizações. Na verdade, desde o período militar, em meados do século XX, o
Estado brasileiro realizou intervenção maciça na economia. Na década de 1990
esse modelo começou a ser criticado, algumas críticas em direção do desvio da
função do papel do Estado, outras em direção do gasto gerado por essa atuação.
Na década de 1990 surge, de fato, uma reação a essa conjuntura: “Só em meados
dos anos 90 surge uma resposta consistente com o desafio de superação da crise:
a ideia da reforma ou reconstrução do Estado, de forma a resgatar sua autonomia
financeira e sua capacidade de implementar políticas públicas conjuntamente
com a sociedade” (BRASIL, 1997a, p. 8).

Desta forma, o Estado inicia um processo de repensar o desenvolvimento.


Ele toma para si outros papéis, o de promotor e regulador do desenvolvimento,
deixando de se responsabilizar diretamente, como o fazia antigamente. Nesse
sentido, por um lado, ele deixa a função de prestador direto de serviços sociais,
principalmente saúde e educação, para assumir a sua regulação. Por outro lado,
enquanto promotor, ele oferece subsídios a esses novos atores que assumirão essa
atuação direta (BRASIL, 1997b).

Nesse contexto, surgem as Organizações Sociais, figura fundamental para


o processo da reforma do Estado. O Estado, na verdade, fomenta esse novo ator.
Ainda está em curso essa troca de atores, da saída do Estado para a ocupação das
Organizações Sociais, que foi impulsionada pela regularização da sua atuação
promovida na última década.

3.2 REALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL


Possuir um título de Organização Social no Brasil, atualmente, garante
o recebimento de benefícios do Estado, que abrangem dotações orçamentárias,
isenções fiscais, subsídios etc. Reiterando que as Organizações Sociais devem
atender a uma demanda específica da comunidade.

Elas se fazem presentes atualmente na gestão de hospitais, santas casas,


museus, institutos de fomento à pesquisa, de projetos voltados a algumas áreas
específicas (saúde e cultura, esporte, no caso de alguns estados), manutenção de
grupos (como a Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).

66
TÓPICO 4 | RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E TERCEIRO SETOR

FIGURA 7 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO – ODM

FONTE: Disponível em: <http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-


milenio>. Acesso em: 7 dez. 2017.

Essas Organizações Sociais realizam a gestão do espaço público e querem


melhorar a vida das pessoas, e, por consequência, a sociedade como um todo.

O espaço continua sendo público, ou seja, do Estado, mas quem administra


os recursos, os negócios e as pessoas? Isso significa dizer que a associação de um
museu faz desde a gestão dos funcionários que ali trabalham até o controle da
bilheteria, programação cultural, peças e curadoria das peças.

O Estado de São Paulo foi pioneiro na implantação do sistema na área


de saúde. A seleção envolve uma convocatória pública exigindo a experiência
mínima na área de gerenciamento. Esse método visa garantir que entidades
sólidas assumam a frente das instituições e o sucesso do modelo.

O trabalho e o estudo são compreendidos como essenciais para humanizar


o indivíduo. Além disso, o trabalho principal é aquele que provê os meios de
vida. Já o estudo é responsável pelo desenvolvimento humano. São eles que
transformam as pessoas e a sua realidade (SCHERER-WARREN, 2000). Nesse
sentido, há um intenso investimento na educação dentro dos acampamentos, não
financeiro, mas de conhecimento humano através de parcerias com universidades
e capacitação constante dos professores. Assim, o Movimento Sem-Terra amplia
sua dimensão de atuação:

O objetivo material imediato (a terra) ‘não basta’, como dizem, deve vir
acompanhado de lutas pelos direitos sociais (a cidadania plena) e em
direção à construção de uma sociedade mais justa (a socialista). Para
atingir este objetivo é que a educação, considerada como um direito
essencial, deve se desenvolver como um processo que inclui educação
formal (ensino fundamental) e informal (participação no movimento,
nas mobilizações, em ações de solidariedade etc.), incluindo neste
processo todas as gerações e gêneros (SCHERER-WARREN, 2000, p. 48).

67
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

Segundo avaliação da experiência de São Paulo pelo Banco Mundial


em 2006 (apud CAMARGO et al., 2013), a solução gerou uma experiência
de modernização positiva em relação ao modelo anterior, mais produtiva e
barata. Entretanto, há muitas críticas na proposta, a primeira seria o desvio de
função, com alta probabilidade de as organizações passarem a atuar para fins
privados; segundo, que há pouca transparência na sua atuação em relação à
disponibilidade de informações (CAMARGO et al., 2013). Isso não apenas por
parte das organizações, como também a postura do próprio Estado.

4 AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS


No Brasil, as Organizações Não Governamentais (as ONGs) surgem no país
no contexto da entrada da sociedade civil de forma orgânica, quer dizer, da sua
participação efetiva nos rumos do país através da política. Isso acontece nas últimas
décadas do século XX, ou seja, pouco mais de 20 anos.

Entretanto, qual seria de fato o espaço ocupado pelas ONGs em relação


à sociedade civil na atualidade? Elas atuam politicamente? “[...] no Brasil, temas
como direitos humanos, meio ambiente e fome têm tido como porta-voz, em grande
parte, um conjunto de ONGs, que toma a iniciativa diante do Estado, propondo
políticas diretamente ao Poder Executivo ou pressionando o Congresso Nacional
para aprovações de leis” (PINTO, 2006, p. 654).

Exercendo o papel de pressionar governantes, as ONGs tratam de temas


relativos a grupos e questões não trabalhadas sistematicamente, entre outras formas
de atuação política. Como exemplo, podemos citar a questão do meio ambiente.
Dentro das plataformas dos partidos, recentemente a discussão surgiu, e mesmo
assim algo ainda raso, que não compreende o problema de forma profunda.

E
IMPORTANT

É interessante pensar que quem começa com as discussões ambientais são as


ONGs. Na Amazônia, não se sabe ao certo o número de ONGs que atuam. As informações
variam de 1.000 a 100.000. Abaixo, seguem os símbolos de algumas delas.

68
TÓPICO 4 | RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E TERCEIRO SETOR

Outros temas relativos a grupos minoritários no país, como sobre


as mulheres, direitos homoafetivos, indígenas, moradores de rua, são
sistematicamente trabalhados e elaborados pelas ONGs. É bom esclarecer que
as vozes desses grupos não são substituídas pelas ONGs, mas elas servem como
intermediadoras na realização de projetos e sistematização das demandas, já que
possuem uma preocupação maior em termos de organização que os movimentos
sociais (PINTO, 2006). Dentro das ONGs também atuam indivíduos pertencentes
a essas minorias, não existe uma fronteira, mas uma integração.

No que concerne às formas como as ONGs se movem no espaço


público, vale chamar a atenção para o potencial de construção de
redes, abrangendo os espaços locais, regionais e globais, como também
as potencialidades de incluir, nessas redes, desde organizações
internacionais, como as do sistema ONU e fundações financiadoras,
até grupos semimarginalizados em bairros da periferia das grandes
cidades. A noção de rede em relação às ONGs pode ser pensada de duas
formas: uma é a rede entre ONGs incluindo também os movimentos
sociais, na qual cada organização é ponto de transmissão para outras,
maiores ou menores, locais ou globais. Outra forma de pensar a rede é
como um espaço tridimensional onde as ONGs funcionam não apenas
como pontos de transmissão, mas como pontos nodais, que acumulam
e distribuem informações, acumulam poder, credenciam-se como
representantes fazendo a ligação entre o Estado e a sociedade em geral
(PINTO, 2006, p. 658).

Dessa forma, as ONGs adquirem poder, conseguem estabelecer pontes


entre diferentes grupos. Por um lado, isso é positivo, pois elas conseguem fazer
ressoar as vozes daqueles que pouco seriam ouvidos e colocar suas demandas aos
governos. Por outro lado, esse poder pode ser perigoso, quando as populações
apoiadas por essas ONGs passam a depender de sua atuação, ou seja, as ONGs
podem desenvolver territórios de domínio, não estimulando a prática da cidadania
e a busca dos direitos por si mesmo, mas uma dependência de sua atuação.

O fato é que as ONGs possuem na realidade brasileira contemporânea


uma atuação política real e que conseguem pressionar o governo por uma
atuação mais social. O espaço significa uma atuação política potencial, mas não
existem limites das ações. Elas “não podem ser vistas de maneira simplista,
como substitutas de partidos políticos, do Estado ou mesmo dos movimentos
sociais. Suas ações têm limites, entre eles o fato de serem fragmentadas, atingirem
o conjunto da sociedade de forma limitada e dependerem de financiamentos
pontuais” (PINTO, 2006, p. 667).

DICAS

O diretor Sergio Bianchi desenvolve uma crítica sobre a atuação das ONGs no
Brasil. Busque e assista!

69
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

O que se espera de uma sociedade que se vê desafiada pelos seus


indivíduos é que ela seja capaz de:

• orientar as pessoas e os recursos materiais e financeiros para a promoção


humana;
• manter uma atitude crítica frente às propostas políticas vigentes;
• vivenciar o espírito de partilha e ajuda mútua na comunidade educativa;
• realizar campanhas comunitárias diante das situações emergentes.

A participação ativa e efetiva das pessoas na vida política e social é um


grande desafio, pois tem como objetivo externar a cidadania que todos almejam.
O que ainda vemos é que conceitos como cidadania, os direitos e deveres do
cidadão, algo que deveria estar entranhado em nossas vidas, não são tão
conhecidos, muito menos praticados em nossa sociedade. São só conceitos.

70
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• Tradicionalmente, as organizações são pensadas e divididas a partir de uma


lógica política administrativa que dirige a organização, partindo de dois
pontos: de ordem pública, ou de ordem privada.

• O surgimento das Organizações Sociais acontece no contexto de crise do


último quarto do século XX.

• Exercendo um papel de pressão, as ONGs tratam de temas relativos a grupos


e questões não trabalhadas sistematicamente, entre outras formas de atuação
política.

• A participação ativa e efetiva das pessoas na vida política e social é um grande


desafio, como forma de externar a cidadania que todos almejam.

71
AUTOATIVIDADE

1 Os direitos humanos são compartilhados por todos os


indivíduos, contudo, a charge mostra a violação deles em um
período específico da história brasileira: a ditadura militar.
A personagem, através de uma fala irônica, narra fatos que
aconteceram na época. A partir desse contexto, analise as sentenças a seguir:

I- A charge mostra a violação do direito à vida por conta das perseguições e


mortes ocorridas.
II- Segundo a charge, os direitos humanos são respeitados universalmente em
todos os períodos da história.
III- A charge mostra um contexto histórico de grandes liberdades para o
indivíduo se expressar, apesar das perseguições narradas.
IV- A charge mostra a violação do direito à liberdade, tanto pela perseguição
aos indivíduos como pela censura da imprensa e intelectuais.

FONTE: Disponível em: <http://historianovest.blogspot.com/2010/07/charges-


declaracao-dos-direitos-humanos.html>. Acesso em: 3 fev. 2014

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a sentença IV está correta.


b) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
72
2 Com os protestos de junho de 2013, veio à tona a insatisfação
popular quanto aos rumos como a política no Brasil está sendo
gestada. Entretanto, deve-se ter conhecimento dos espaços e
atores políticos para além do governo que aproximam a sociedade
civil de uma ação mais contundente. Sobre o tema, associe os itens, utilizando
o código a seguir:

I- Conferências de Políticas Públicas.


II- Organização Social.
III- Organização Não Governamental (ONG).

( ) Cuidam de grande parte de temas referentes às minorias, ou seja, os


indígenas, as mulheres, os homoafetivos.
( ) Debatem políticas públicas, sendo imprescindível a participação popular.
( ) Realizam a gestão de espaços públicos, como hospitais, museus.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) III - I - II.
b) ( ) I - II - III.
c) ( ) II - III - I.
d) ( ) III - II - I.

73
74
UNIDADE 1
TÓPICO 5

CULTURA E ARTE

1 INTRODUÇÃO
A cultura e a arte são áreas que interagem entre si e com as demais áreas
de conhecimento. Estudar, pesquisar e refletir sobre as diferentes culturas e suas
manifestações artísticas possibilita a compreensão da vida e das relações entre os
sujeitos no meio social. A cultura, assim como a arte, é dinâmica, vai mudando
conforme o tempo e o espaço. A cultura e a arte devem ser estudadas a partir de
três concepções: erudita, popular e de massa.

A cultura erudita é aquela proveniente de estudos, pesquisas e que


geralmente está associada às instituições acadêmicas, por se tratar de um processo
de legitimação. A arte está associada a esta área, pois envolve a compreensão de
conhecimentos artísticos, históricos, filosóficos e sociais. Assim, a arte erudita,
também conhecida como a de vanguarda, é concebida conhecendo lugares como
galerias de arte, exposições e museus, bem como toda a estrutura e dinâmica de
mediação que ocorrem entre os locais e o espectador, propondo humanização dos
sentidos.

Já a cultura de massa surge com as novas tecnologias e com os meios


de comunicação, como: jornais, televisão, rádio, cinema, música, internet, entre
outros. A cultura de massa tem relação com o consumismo, devido à influência
que a mídia exerce. A arte está relacionada à cultura de massa, devido à tecnologia
utilizada e à grande quantidade de signos criados.

E, por último, a cultura popular, que está relacionada ao que pertence à


maioria do povo e que não é ensinada necessariamente em espaços formais de
educação. É a definição de várias áreas de conhecimento, como: folclore, dança,
música, festa, literatura, arte, artesanato etc. O conhecimento da cultura popular
é passado de geração a geração.

Desta forma, caro acadêmico, convidamos você para primeiramente


compreender a cultura e a arte e como essas áreas de conhecimento interagem
com o meio social.

75
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

2 CULTURA
A cultura é um aspecto social mutante em constante questionamento, pois
é considerada por muitos pesquisadores como representação da intervenção da
sociedade nos ambientes, sendo por isso difícil de conceituar. Para José Luiz dos
Santos (2006, p. 45):

Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja como


dimensão do processo social. Ou seja, a cultura não é algo natural,
não é decorrência de leis físicas e biológicas. Ao contrário, a cultura é
produto coletivo da vida humana. Isso se aplica não apenas à percepção
da cultura, mas também à sua relevância, à importância que passa
a ter. Aplica-se ao conteúdo de cada cultura particular, produto da
história de cada sociedade. Cultura é um território bem atual das lutas
sociais por um destino melhor. É uma realidade e uma concepção que
precisam ser apropriadas em favor do progresso social e da liberdade,
em favor da luta contra a exploração de uma parte da sociedade por
outra, em favor da superação da opressão e da desigualdade.

Nesta perspectiva, a cultura é avaliada como um movimento humano


que acontece a partir da convivência em grupo e da interação social. Portanto,
é necessário percebermos as especificidades de cada grupo cultural, para assim
observar e descobrir os signos existentes em busca da identidade de cada povo.

São os valores culturais que identificam um povo, uma comunidade e


cada pessoa. É através da cultura que se pode observar e caracterizar a história de
vida, os costumes, as crenças e os hábitos de um determinado grupo social.

José Luiz dos Santos (2006, p. 7) descreve que a cultura é uma preocupação
do mundo atual, buscando “entender os caminhos que conduziram os grupos
humanos às suas relações presentes e suas perspectivas de futuro”. O autor,
quando relata cultura e diversidade, descreve que:

O desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos e


conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de se
apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade
e expressá-la. A história registra com abundância as transformações por
que passam as culturas, mais frequentemente por ambos os motivos.
Por isso, ao discutirmos sobre cultura, temos sempre em mente a
humanidade em toda a sua riqueza e multiplicidade de formas de
existência. São complexas as realidades dos agrupamentos humanos e
as características que os unem e diferenciam, e a cultura as expressa.

Nesse sentido, Eduardo David de Oliveira (2006, p. 155) se manifesta


dizendo que “o homem é um ser cultural. A cultura é construída, forjada de
acordo com os acontecimentos da história e criada a partir das contingências,
sempre muito singulares, das comunidades humanas”.

A compreensão de cultura é extremamente complexa, pois recebe novas


definições com o passar do tempo, mas a partir da segunda metade do século XX cria-
se uma concepção ampliada de cultura, como descreve Marilena Chauí (2008, p. 57):
76
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE

A partir de então, o termo cultura passa a ter uma abrangência que


não possuía antes, sendo agora entendida como produção e criação da
linguagem, da religião, da sexualidade, dos instrumentos e das formas
do trabalho, das formas da habitação, do vestuário e da culinária, das
expressões de lazer, da música, da dança, dos sistemas de relações
sociais, particularmente os sistemas de parentesco ou a estrutura da
família, das relações de poder, da guerra e da paz, da noção de vida
e morte. A cultura passa a ser compreendida como o campo no qual
os sujeitos humanos elaboram símbolos e signos, instituem as práticas
e os valores, definem para si próprios o possível e o impossível, o
sentido da linha do tempo (passado, presente e futuro), as diferenças
no interior do espaço (o sentido do próximo e do distante, do grande
e do pequeno, do visível e do invisível), os valores como o verdadeiro
e o falso, o belo e o feio, o justo e o injusto, instauram a ideia de lei, e,
portanto, do permitido e do proibido, determinam o sentido da vida e
da morte e das relações entre o sagrado e o profano.

Na perspectiva de cultura como aprendizagem de saberes cotidianos é


fundamental que se traga a posição de Waldenyr Caldas (1986, p. 13), ao dizer
que o pensamento humano cria o modo de vida, os costumes e as regras, dizendo
que a cultura:

Quando aplicada ao nosso estilo de vida, ao convívio social, nada tem


a ver com a leitura de um livro ou aprender a tocar um instrumento,
por exemplo. Na realidade, o trabalho do antropólogo, estudioso da
cultura humana, começa pela investigação de culturas, ou seja, pelo
modo de vida, padrões de comportamento, sistema de crenças, que
são características de cada sociedade. Noutras palavras, pode-se
dizer que nenhuma sociedade, nenhum povo, seja ele atrasado ou
desenvolvido, primitivo ou civilizado, jamais agirá de forma idêntica
aos demais. Poderá haver, isto sim, algumas semelhanças.

A cultura pode ser entendida como importante agente para debater o estar
e ser no mundo, que é entendido como um movimento que está intimamente
ligado a tudo e a todos os aspectos sociais, culturais, históricos e filosóficos.
Segundo José Luiz dos Santos (2006, p. 8), “cada realidade cultural tem sua lógica
interna, que devemos conhecer para que façam sentido suas práticas, costumes,
concepções e as transformações pelas quais passam”.

AUTOATIVIDADE

Analise e responda esta questão da prova ENADE 2007:

Jornal do Brasil, 3 ago. 2005.

77
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

Tendo em vista a construção da ideia de nação no Brasil, o argumento da


personagem expressa:

a) ( ) A afirmação da identidade regional.


b) ( ) A fragilização do multiculturalismo global.
b) ( ) O ressurgimento do fundamentalismo local.
d) ( ) O esfacelamento da unidade do território nacional.
e) ( ) O fortalecimento do separatismo estadual.

Cada povo, cada região tem suas especificidades culturais que compreendem
a sua forma de pensar e de agir, evidenciando a diversidade cultural existente. A
partir da diversidade cultural compreende-se a identidade cultural de cada povo.
Para Oliveira (2006, p. 84): “a identidade se constrói com relação à alteridade.
Com aquilo que não sou eu. É diante da diferença do outro que a minha diferença
aparece”. Diferentes nações, etnias, identidades regionais, comunidades ou outros
tipos de grupos sociais organizam e dão sentido à sua existência.

O Brasil, por exemplo, apresenta uma diversidade cultural ampla, pois


é resultado de uma miscigenação étnica e cultural, principalmente dos povos
indígenas, africanos e europeus. Esta miscigenação se dá devido ao processo
histórico que ocorreu no Brasil.

Assim, a educação no Brasil estabeleceu, nas diretrizes e bases da educação


nacional, a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e
indígena no currículo escolar da educação básica. A lei tem como propósito
o conhecimento desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da
África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a
cultura negra e indígena brasileira, o negro e o índio na formação da sociedade
nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política,
pertinentes à história do Brasil.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), em seu documento,


também descrevem sobre Pluralidade Cultural, explicando que o estudo das
diferentes culturas deve contribuir para a formação de uma nova mentalidade,
onde toda forma de discriminação e exclusão seja superada, proporcionando ao
povo brasileiro “uma vivência plena de sua cidadania” (BRASIL, 1997, p. 13).

Tal perspectiva vem ao encontro da necessidade de ampliar o conhecimento


cultural, com o propósito de banir aspectos de enxergar apenas a sua cultura
específica. A partir da concepção de que o ser humano apenas considera o seu
modo de vida como o “mais correto” e “melhor”, assim, ele age em uma lógica
do etnocentrismo. De acordo com Meneses (1999, p. 13):

Etnocentrismo é um preconceito que cada sociedade ou cada cultura


produz, ao mesmo tempo em que procura incutir, em seus membros,
normas e valores peculiares. Se sua maneira de ser e proceder é a
certa, então as outras estão erradas, e as sociedades que as adotam

78
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE

constituem ‘aberrações’. Assim, o etnocentrismo julga os outros povos


e culturas pelos padrões da própria sociedade, que servem para aferir
até que ponto são corretos e humanos os costumes alheios. Desse
modo, a identificação de um indivíduo com sua sociedade induz à
rejeição das outras.

Por meio do conhecimento da diversidade cultural é possível distanciar


pensamentos etnocêntricos que promovem o preconceito. Entende-se que
conhecendo a cultura do outro em um contexto de diversidade pode-se identificar
e valorizar cada movimento cultural de forma a promover uma vivência plena
com respeito e ética social. Entende-se que conhecendo a cultura do outro em um
contexto de diversidade se pode identificar e valorizar cada movimento cultural,
de forma a distanciar preconceitos e desigualdades.

3 ARTE
“A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas,
como se sente que são”. (Fernando Pessoa, 1986)

Desde a pré-história o ser humano está cercado de fenômenos artísticos,


como desenho, gravura, pintura, dança, escultura, música, literatura, entre
outros. Atualmente, percebe-se uma grande variedade de práticas artísticas que
permeiam o universo cultural, que circundam entre as várias linguagens artísticas,
como: artes visuais, artes cênicas, dança e música. Ao refletir sobre a arte, alguns
questionamentos surgem: O que é arte? Que tipo de arte conhecemos? A arte tem
alguma função?

O homem primitivo, por exemplo, precisou criar objetos que


correspondessem às suas necessidades de sobrevivência, representando por
meio de desenhos nas cavernas os seus anseios para suas caçadas. A partir da
concepção de arte primitiva, Marilena Chauí (2008, p. 403) questiona sobre o
“que dizem os desenhos nas paredes da caverna”. A autora afirma que “o mundo
é visível, e para ser visto é que o artista dá a ver o mundo”. Com isso, a arte
inicialmente teve aspecto de utilidade, mas com o passar do tempo, os utensílios
e as representações começaram a ser criados pelo prazer em si, desvinculando
da ideia unicamente de utilidade. Assim, a arte surge com novas compreensões,
como cita Marilena Chauí (2003, p. 406-407):

A distinção entre artes da utilidade e artes da beleza acarretou uma


separação entre técnica (o útil) e arte (o belo), levando à imagem da
arte como ação individual espontânea, vinda da sensibilidade e da
fantasia do artista como gênio criador. Enquanto o técnico é visto
como aplicador de regras e receitas vindas da tradição ou da ciência,
o artista é visto como dotado de inspiração, entendida como uma
espécie de iluminação interior e espiritual misteriosa, que leva o gênio
a criar a obra.

O belo para a arte passa a ser concebido pela experiência artística. A partir da
abordagem do belo ou juízo do gosto, a arte também é estudada por uma disciplina

79
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

filosófica que é conhecida como estética. A palavra estética é a tradução da palavra


grega aesthesis, que significa conhecimento sensorial, experiência e sensibilidade.
A estética estuda as sensações que a arte provoca no ser humano, desde sensações
boas até sensações que causam desconforto, inquietude, aflição etc.

A partir das manifestações artísticas criadas desde a pré-história até


a contemporaneidade, percebe-se que diferentes povos culturais criam suas
particularidades artísticas, como é o caso, por exemplo, das culturas indígenas. Os
povos indígenas, devido aos saberes ancestrais, se apropriam de elementos da sua
etnia para conceber o belo por meio das manifestações culturais. A pintura corporal
dos povos indígenas tem representação ritualística, desta forma, cada sociedade
assume um significado artístico diferente, como é o caso da pintura corporal na
atualidade, que é representada pela tatuagem, e esta tem apenas o significado de
decorar.

A arte tem inúmeras possibilidades de definição, pois se compreende como


uma manifestação dinâmica, onde são atribuídos conceitos no tempo e espaço.

A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma
transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um
mundo outro – mais bonito ou mais intenso ou mais significativo, ou
mais ordenado – por cima da realidade imediata [...]. Naturalmente,
esse mundo do outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura,
de sua experiência de vida, das ideias que ele tem na cabeça, enfim, de
sua visão de mundo [...] (GULLAR, 1982 apud CHAUÍ, 2003, p. 271).

A palavra arte deriva do latim ars, artis, que significa profissão ou


habilidade natural ou adquirida. Também corresponde ao termo grego tékhne,
“técnica”, que significa “toda atividade humana submetida a regras em vista da
fabricação de alguma coisa” (CHAUÍ, 2003, p. 275). Este conceito também se tem
na cultura greco-romana, que significava ofício. Assim, a primeira definição da
arte estava ligada ao propósito de fazer ou produzir. A segunda definição de arte
é compreendida como conhecimento, visão ou contemplação, isto significa que a
obra pode retratar aspectos históricos, sociais e educativos. Já a terceira definição
está ligada à arte como expressão, que é uma experiência com o sensível.

A partir dessas abordagens, percebe-se que é difícil um conceito definitivo


para responder o que é arte, pois a arte se transforma, se modifica de acordo com
o contexto cultural no qual está inserida.

A obra Mona Lisa, criada pelo artista do Renascimento Leonardo da Vinci,


é tida como um exemplo de obra de arte que é conhecida por grande parte da
população mundial. Seu misterioso sorriso é pesquisado e admirado por muitos.

80
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE

FIGURA 8 – LEONARDO DA VINCI. MONA LISA. 1503–1507

Óleo sobre madeira de álamo, color. 77 cm x 53,5 cm. Museu do Louvre, Paris.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa#/media/
File:Mona_Lisa,_by_Leonardo_da_Vinci,_from_C2RMF_retouched.jpg>. Acesso
em: 20 maio 2015.

Séculos depois de Leonardo da Vinci, o artista do movimento artístico


Dadaísmo, Marcel Duchamp, atuou como um dos maiores expoentes da
vanguarda artística do século XX. Duchamp reproduziu a obra original Mona
Lisa em cartões postais, desenhando na imagem um bigode e escrevendo embaixo
da mesma: L.H.O.O.Q. A obra do artista Duchamp não se trata de uma ofensa à
obra original, mas uma brincadeira irônica com reverência aos antigos mestres da
pintura.

81
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

FIGURA 9 – MARCEL DUCHAMP. MONA LISA (L.H.O.O.Q). 1919.


READY-MADE CERTIFICADO

Lápis sobre produção fotográfica. Color; 17,8 cm x 12 cm. Coleção privada.


FONTE: Disponível em: <http://museuhoje.com/app/v1/br/arte/55-
marcelduchamp>. Acesso em: 20 maio 2015.

Foi com o princípio de repensar o sentido de arte do seu tempo que


Duchamp colocou em questão o que seria arte. Isso leva a pensar que conceituar
arte não é definitivo, uma vez que cada um pode conceber a obra de uma forma.

Chauí (2003, p. 403) descreve que “a obra de arte dá a ver, a ouvir, a sentir,
a pensar, a dizer. Nela e por ela, a realidade se revela como se jamais a tivéssemos
visto, ouvido, sentido, pensado ou dito”. Assim, para a autora (2003, p. 407), as
artes na atualidade tornam-se:

Trabalho da expressão e mostram que, desde que surgiram pela


primeira vez, foram inseparáveis da ciência e da técnica. Assim, por
exemplo, a pintura e a arquitetura da Renascença são incompreensíveis
sem a matemática e a teoria da harmonia e das proporções; a pintura
impressionista, incompreensível sem a física e a óptica, isto é, sem a
teoria das cores etc. A novidade está no fato de que, agora, as artes
não ocultam essas relações, os artistas se referem explicitamente a
elas e buscam nas ciências e nas técnicas respostas e soluções para
problemas artísticos.

82
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE

Nesta abordagem, a arte parte para a construção de um sentido novo (a


obra) e o institui como parte da cultura. Segundo Chauí (2008, p. 329), “o artista
é um ser social que busca exprimir seu modo de estar no mundo na companhia
dos outros seres humanos, reflete sobre a sociedade, volta-se para ela, seja para
criticá-la, seja para afirmá-la, seja para superá-la”.

A obra Guernica, pintada pelo artista do Cubismo, Pablo Picasso, propaga


o sentido da arte enquanto expressão, pois revela na obra o sentido da dor, do
belo, do terrível, do sublime, ou seja, mostra por meio da arte o sentido da cultura
e da história na vida em sociedade. Essa obra retratou o bombardeio que a cidade
espanhola Guernica sofreu por aviões alemães.

FIGURA 10 – PABLO PICASSO. GUERNICA. 1937

Pintura a óleo. 349 cm x 776 cm. Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Guernica_%28quadro%29#/media/
File:Mural_del_Gernika.jpg>. Acesso em: 20 maio 2015.

Nota-se que a arte é uma ciência do conhecimento que representa um


elo entre o passado, o presente e o futuro, pois demonstra o pensar, o agir e
todos os aspectos culturais existentes desde o homem primitivo até o homem
contemporâneo.

A arte pertence à cultura erudita, que são as artes desenvolvidas a partir


de um conhecimento acadêmico, são aquelas que estão dentro de lugares como
galerias de arte e museus, mas também, a arte faz parte da cultura popular, e
este conhecimento popular é reconhecido como patrimônio cultural. Para Suíse
Monteiro Leon Bordest:

83
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE

O patrimônio cultural de um povo é formado pelo conjunto dos saberes,


fazeres, expressões, práticas e seus produtos, que remetem à história,
à memória e à identidade de um povo. A preservação do patrimônio
cultural significa, principalmente, cuidar (reproduzir sempre e os
manter vivos) dos bens aos quais esses valores estão associados, ou
seja, cuidar de bens representativos da história e da cultura de um
lugar ou de um grupo social. A Constituição brasileira de 1988, em
seus artigos 215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao
reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e
imaterial e, também, ao estabelecer outras formas de preservação –
como o registro e o inventário – além do tombamento, instituído pelo
Decreto nº 25, de 30 de novembro de 1937, que determina especialmente
a proteção de edificações, paisagens e conjuntos históricos urbanos.
O patrimônio imaterial cuida da preservação dos bens culturais de
natureza imaterial, como os ofícios e saberes artesanais, as maneiras
de pescar, caçar, plantar, cultivar e colher, de utilizar plantas como
alimentos e remédios, de construir moradias, mas também manifestos
através das danças e músicas, incluindo também os modos de vestir
e falar, os rituais e festas religiosas e populares, as relações religiosas,
sociais e familiares que revelam os múltiplos aspectos da cultura
cotidiana de uma comunidade (apud IPHAN/MinC, 2012).

Nos dias atuais a arte contemporânea está associada à indústria cultural,


apropriando-se da tecnologia e das interferências da mídia, fazendo parte
da cultura de massa. Os meios de comunicação, como a televisão, fotografia,
cinema, internet, rádio e redes sociais fazem com que o conhecimento artístico
seja divulgado com maior facilidade e rapidez, de forma acessível a grande parte
da população.

A arte na atualidade ou arte contemporânea, que surgiu mais


intensamente a partir de 1960, busca romper com aspectos tradicionais da arte.
A arte contemporânea passa a ser pensada como integrante da vida e do mundo,
em que é concebida em lugares formais e informais, buscando a participação do
público. Tem como característica a apropriação de materiais e objetos encontrados
no cotidiano. Neste sentido, a obra tem um tempo de duração determinado.

A artista canadense Jana Sterbak fez uma exposição, em 1987, causando


polêmica por mostrar que o corpo humano, por mais bem vestido e arrumado
que esteja, não passa de carne e osso.

84
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE

FIGURA 11 – JANA STERBAK, VANITAS. VESTIDO DE CARNE PARA ALBINO


ANORÉXICO.1987

FONTE: Disponível em: <http://performatus.net/jana-sterbak/>. Acesso em:


20 maio 2015.

A arte contemporânea proporcionou aos artistas maior liberdade de criação,


sendo que ampliou o conceito das linguagens artísticas do que pode ou não ser
considerado como arte. Desta forma, podemos dizer que a arte contemporânea
é uma arte conceitual, pois a ideia proposta pelo artista é mais importante que o
objeto em si, valorizando a experiência que irá causar no público. Desta forma,
pode-se pensar a arte na atualidade como uma área do conhecimento em uma
relação com a natureza, com a realidade urbana e com o mundo tecnológico. Com
isso surgem diferentes linguagens contemporâneas que se articulam, como a
pintura, gravura, escultura, desempenho, happening, instalação, assemblage, ready-
made, fotografia, literatura, video-art, body-art, land-art etc.

85
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:

• Estudar, pesquisar e refletir sobre as diferentes culturas e suas manifestações


artísticas possibilita a compreensão da vida e das relações entre os sujeitos no
meio social. A cultura e a arte devem ser estudadas a partir de três concepções:
erudita, popular e de massa.

• A cultura, assim como a arte, é dinâmica, vai mudando conforme o tempo


e espaço, e são duas áreas de conhecimento de difícil definição, porém elas
interagem entre si e com as demais áreas de conhecimento.

• A cultura é considerada como um movimento humano decorrente da


convivência em grupo e da interação social. Portanto, é necessária a percepção
das especificidades de cada grupo cultural, para com elas observar e descobrir
os signos existentes em busca da identidade de cada povo.

• É por meio do conhecimento e da valorização da cultura que se pode observar


e caracterizar a história de vida, os costumes, as crenças e os hábitos de um
determinado grupo social a fim de distanciar preconceitos e desigualdades.

• A arte tem sua definição a partir de três concepções: do fazer, do conhecimento


e da experiência com o sensível. A arte pode ser representada por meio das
artes visuais, artes cênicas, música e dança.

86
AUTOATIVIDADE

1 (ENADE – 2008, questão 1) O filósofo alemão Friedrich


Nietzsche (1844-1900), talvez o pensador moderno mais incômodo
e provocativo, influenciou várias gerações e movimentos
artísticos. O Expressionismo, que teve forte influência desse
filósofo, contribuiu para o pensamento contrário ao racionalismo moderno e
ao trabalho mecânico através do embate entre a razão e a fantasia. As obras
desse movimento deixam de priorizar o padrão de beleza tradicional para
enfocar a instabilidade da vida, marcada por angústia, dor, inadequação do
artista diante da realidade. Das obras a seguir, a que reflete esse enfoque
artístico é:

A B C

Homem idoso na poltrona. Figura e borboleta. Milton O grito. Edvard Munch, Oslo.
Rembrandt van Rijn – Louvre, Dacosta. Disponível em: <http://
Paris. Disponível em: <http://www. members.cox.net>.
Disponível em: <http://www. unesp.br>.
allposters.com>.

C D

Menino mordido por um lagarto. Abaporu. Tarsila do Amaral.


Michelangelo Merisi (Caravaggio), Disponível em: <http://tarsilado
National Gallery, Londres. amaral.com.br>.
Disponível em: <http://vr.theatre.
ntu.edu.tw>.
87
88
UNIDADE 2

POLÍTICA, TECNOLOGIA
E GLOBALIZAÇÃO: OS
IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender os fundamentos e concepções sobre Ciência, Tecnologia e Socie-


dade;

• ampliar a percepção acerca das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade;

• conceber as tecnologias da informação e comunicação como fator determinante


no advento da sociedade da informação;

• contribuir para o debate sobre a sociedade da informação;

• compreender as práticas de inovação, as comunidades virtuais e seus impactos


e conhecer novidades tecnológicas existentes;

• compreender o processo político, social e histórico contemporâneo;

• refletir sobre relações de trabalho.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE

TÓPICO 2 – TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)

TÓPICO 3 – AVANÇOS TECNOLÓGICOS

TÓPICO 4 – GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL

TÓPICO 5 – RELAÇÕES DE TRABALHO

89
90
UNIDADE 2
TÓPICO 1

CIÊNCIA, TECNOLOGIA,
SOCIEDADE E AMBIENTE

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, para adentrarmos nos assuntos relacionados à Ciência,
Tecnologia e Sociedade é necessário entendermos os fundamentos de cada tema,
e, somente então, relacionarmos com o todo. Desta forma, convidamos você a
discutir ciência sob diferentes óticas, analisar definições e pensamentos acerca da
tecnologia e interpretar a sociedade.

Abordaremos algumas relações sobre ciência e tecnologia, tratando


do contrato de neutralidade dessa parceria; trataremos ainda do processo de
análise da evolução da sociedade sob algumas perspectivas; para, assim, analisar
a entrada da participação da sociedade nas discussões da já vencida parceria
ciência e tecnologia. Somente então abordaremos a nova formatação da CTS
(Ciência, Tecnologia e Sociedade) com embasamento nas discussões levantadas
pelo trabalho dos pesquisadores Milton Santos e Wiebe Bijker. E para finalizar,
algumas considerações acerca de modernidade, pós-modernidade e globalização.

2 CIÊNCIA
Entender eventos, situações ou fatos novos é sempre uma tarefa fácil para
você? Se fosse designado para a incrível tarefa de defender um determinado
episódio, como você procederia? Essas indagações fazem-se necessárias para que
ampliemos nossos horizontes sobre o fato de que as pessoas constroem formas
próprias para compreender a realidade, seja observando pelo viés cultural,
histórico, geográfico, ambiental.

A mitologia, a arte, a religião e até mesmo a ciência são observadas quando


o foco é explicar as situações que cercam os seres humanos. Você, com certeza,
já deve ter ouvido sobre Isaac Newton! Não se recorda? E sobre Isaac Newton
e a história da maçã que caiu sobre a cabeça dele, originando assim a teoria da
gravidade? Ficou mais fácil, não? Pois bem, é desta forma que a sociedade explica
situações do cotidiano: apoiando-se em diferentes pensamentos para defender o
que acontece ao seu redor.

91
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

Quando contrapomos a ciência natural à ciência humana podemos


perceber o jogo de conflitos, pois, conforme Omnés (1996), a ciência é capaz de
explicar a realidade, bastando para isso princípios, regulamentos e normas. De
qualquer maneira, tais conflitos são indissociáveis da epistemologia e da política,
uma vez que ocorre a tentativa de autoridade de uma ciência sobre a outra. Desta
forma, a realidade é comumente explicada pela ciência.

A ciência apresenta características que a fazem singular; é cumulativa,


ou seja, não se costuma descartar informações ou dados obtidos; é computável,
permite o devido registro de tais informações ou dados, e, apesar dessas
características a ciência não é irrevogável, o que significa que ela é contestável.
Segundo Abbagnano (2000), além de utilizar sua própria linguagem, é baseada em
métodos e fundamentos epistemológicos, o que faz com que seja clara e objetiva.

Diversos são os métodos utilizados para explicar o cotidiano através da


ciência. Severino (2007, p. 102) nos diz que um método científico pode ser “um
conjunto de procedimentos lógicos e de técnicas operacionais que permitem o
acesso às relações causais constantes entre os fenômenos”. Já para Omnés (1996,
p. 272), é “um conjunto de regras práticas que permitem garantir a qualidade da
correspondência entre a representação científica e a realidade”.

Nessa mesma perspectiva, Omnés (1996) também propõe que o método deve
cumprir ainda algumas etapas que visam diminuir a distância entre a cientificidade
do conhecimento e a proposta de explicação do mesmo, que seriam:

FIGURA 12 – ETAPAS PARA EXPLICAÇÃO DO COTIDIANO ATRAVÉS DA CIÊNCIA

• EMPÍRICA OU EXPLORATÓRIA
• análise dos fatos e determinação de regras baseadas na experiência.
Etapa 1

• CONCEPÇÃO OU PERCEPÇÃO
• apropriação de conceitos e criação de princípios.
Etapa 2

• ELABORAÇÃO
• indicação das consequências dos princípios.
Etapa 3

• CONSTATAÇÃO OU COMPROVAÇÃO
• aprovação ou não das hipóteses propostas.
Etapa 4

FONTE: Adaptado de Omnés (1996)

92
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE

Faz-se de suma importância a compreensão sobre ciência e o conhecimento


gerado por ela. Porém, não se pode deixar de lembrar que o conhecimento
científico avança pelo campo da prática e não só pelo patamar teórico.

3 TECNOLOGIA
O que surge no seu pensamento ao ouvir a palavra tecnologia? Porventura
seriam máquinas sofisticadas, ou, quem sabe, computadores de última geração?
Exatamente, esses são sinônimos de tecnologia, mas convidamos você a aprofundar
seus conhecimentos ainda mais. Veja, pelo menos, outras três vertentes possíveis
para a utilização dessa palavra, segundo Ferreira (2004):

1. Linguagem peculiar a um ramo determinado do conhecimento, teórico ou


prático. 
2. Conjunto dos processos especiais relativos a uma determinada arte ou
indústria.
3. Aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral.

Por mais simplificadas que sejam estas três conceituações, elas permitem
a análise inicial acerca da discussão sobre tecnologia.

Vamos iniciar falando sobre o conjunto de processos utilizados em


uma determinada área, neste estamos falando de teoria e prática aliadas a fim
de atingir um objetivo. Isso nos faz inferir que o conhecimento científico não
ocorre somente na academia, mas também no ambiente de trabalho, ou seja,
não só há produção de conhecimento científico no ambiente acadêmico, mas nas
prestadoras de serviço, as quais testam a teoria promovida pela ciência, agora no
campo da prática.

E
IMPORTANT

Há de se destacar uma situação relevante nas questões tecnológicas, no âmbito


de país, a capacidade de produção de tecnologia também diferencia os países desenvolvidos
dos em desenvolvimento.

Você consegue perceber, nessa explanação inicial, a ação do ser humano


em tudo o que se refere à tecnologia? Normalmente, quando se fala nesse assunto,
logo se pensa em tecnologia de ponta, sondas espaciais, nanotecnologia, enfim;
porém, a própria transformação das peles de animais em roupas, dos elementos
da natureza em utensílios domésticos, o uso do fogo, entre outros ao longo da
história, são exemplos de tecnologia. E, sim, a tecnologia está presente desde
muito cedo na vida do ser humano.

93
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

Maior complexidade há quando analisamos a tecnologia do ponto de vista


técnico, pois incluímos o campo de atuação da atividade humana e aumentamos
os dados acerca do que vem a ser tecnologia. Como já exposto, a tecnologia
está em todos os meios, seja científico, cultural, social; com isso, ratificamos as
colocações de que em todas as ações humanas há técnica e, portanto, a tecnologia
está amplamente disseminada, como preconiza Abbagnano (2000). Outrossim, é
relacionada às implicações sobre todo esse conhecimento desenvolvido; segundo
Dias e Silveira (2005), o uso, o aproveitamento e os resultados são de acordo com
o objetivo para o qual foi desenvolvida e o meio em que está inserida.

FIGURA 13 - A PRIMEIRA RODA

FONTE: Disponível em: <http://waz.com.br/blog/2013/08/26/cinco-tecno


logias-que-mudaram-o-mundo/>. Acesso em: 15 maio 2015.

Pode-se perceber que a técnica está tão enraizada entre a natureza e o ser
humano que, para Santos (2006), é quase impossível separá-la, pois o homem já
não se vê mais sem o uso de tecnologia, que facilita, medeia e auxilia em muitos
processos. Talvez possa surgir aí um fator de preocupação: substituição (em
demasia) dos elementos naturais por processos artificiais. Fica a deixa para você
pesquisar e analisar o que se apresenta de prós e contras nessas questões.

Agora, partimos para a análise do último item sobre tecnologia, esse


pode ser traduzido como tecnocracia, ou seja, o uso do conhecimento científico
nos demais meios, porém, com a divulgação exclusiva a partir do que a ciência
e a técnica propõem como resultado. Nesse último, tal ação elimina as demais
análises feitas a partir da concepção política, ideológica e social, o que, por sua
vez, pode causar o determinismo tecnológico. Não se esqueça, tais ações terão
reflexo direto nas questões relacionadas à sobreposição das ciências humanas e
às ciências da natureza.

94
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE

Pelo que foi apresentado nesta breve explanação, pode-se perceber que as
ações são interligadas e que agem como reação em cadeia. Nesse processo, faz-se
necessário entender a sociedade como agente integrante e mediador de todos os
processos descritos.

4 SOCIEDADE
Ao entender a importância de discutir a sociedade como parte integrante
de todo o processo relacionado à tecnologia, se abre precedentes para muitas
indagações. As discussões seriam inúmeras, pois haveria necessidade de abrir
alinhamentos no mais amplo sentido a fim de ajustar as arestas para que se forme
o conhecimento acerca do assunto. Seja no âmbito político, econômico, social,
cultural, ambiental, faz-se necessário apurar o contexto em que ocorrem, a fim de
compreender seu impacto. Lembrando que a ciência humana apresenta grande
diversidade de pressupostos metodológicos e epistemológicos, e estes serão
abordados, através de alguns autores e suas perspectivas, a seguir.

FIGURA 14 – PERSPECTIVAS DE TEORIAS E SEUS AUTORES SOBRE SOCIEDADE

A Sociedade como Organismo.


• Auguste Comte (1898): teoria do positivismo. Cita três etapas para a evolução
da humanidade: teológica, metafísica e positiva.
• Lewis Henry Morgan (1978): mudança social através da integração com a
descoberta das forças motoras.

A teoria dos ciclos históricos.


• Osvald Spengler (1932): propõe que as evoluções ocorrem de maneira cíclica
e que têm período para iniciar e para encerrar.

O materialismo histórico e a mudança social.


• Karl Marx (1867): a mudança na sociedade só ocorre impulsionada pelo
conflito entre as diferentes classes sociais.

Fenomenologia
• Edmund Husserl (1859): apregoava que a sociedade necessitava apenas
de análise no âmbito da consciência e que o mundo exterior poderia ser
desconsiderado nesta análise.

Existencialismo
• Heidegger e Jean-Paul Sartre (1905): apresentaram correntes filosóficas que
analisavam a relação entre o homem e o mundo, considerando homem um
ser independente e, portanto, capaz de definir suas próprias ações.

FONTE: Adaptado de Tello e Mainardes (2012)

95
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

Pode-se perceber que cada autor defende uma linha de pensamento, ora
específica, ora compartilhada por outro autor, porém, divergentes; no entanto,
nas propostas de conceituação sobre sociedade, cada um nas suas perspectivas
defende seus pontos de vista. Vejamos, por exemplo, Comte, em cuja teoria fez uso
de leis e métodos das ciências naturais, entendendo a sociedade como um grande
organismo vivo, interligado e interdependente. O principal conceito defendido
por Comte era de que a sociedade evoluía apenas em uma direção, ou seja, sua
postura frente às mudanças era conservadora. Com base nesta teoria surgiram
outras, nesta mesma linha de pensamento, denominadas como Neopositivismo.

Por outro lado, Spengler entendia que a sociedade evoluía em ciclos


que se encerravam em grandes períodos, citando como exemplos as sociedades
babilônica, egípcia, romana.

Marx, por sua vez, defendia a ideia de que a sociedade, como capitalista,
começara a dividir as classes sociais e tal divisão proporcionava observar a
evolução da sociedade num viés de produtividade e capitalismo.

Husserl tinha grande preocupação com a essência dos objetos e não com
o materialismo. Desta forma, considerava mais importante a experiência da
consciência do que os demais fatores materiais ou ideias.

Michel Foucault defendia a ideia de que o saber estava fortemente ligado


ao poder, e propunha uma genealogia para analisar a sociedade com a ideia de que
o saber estaria presente nas relações humanas e nas instituições disciplinadoras.

Assim, diversas são as teorias acerca da evolução da sociedade, que não


se encerram e tampouco foram todas apresentadas, mas que permitem dar-nos
base para analisar, no contexto da sociedade atual, a implicação da sociedade
nas práticas atuais. Acertadamente, podemos inferir que nenhum fator até
aqui estudado age sozinho ou de maneira isolada, é no conjunto da obra que a
sociedade evolui, a ciência melhora e a tecnologia se adapta (BAZZO, 2010).

5 SOCIEDADE ENTRE CIÊNCIA E TECNOLOGIA


Já vimos a definição de tecnocracia, pela qual a ciência passa a ter razão
sobre tudo e todos. Pois bem, esta visão apresenta um modelo de progresso linear,
pelo qual o desenvolvimento social é apenas consequência do desenvolvimento
proposto pela ciência, que, por sua vez, geraria o desenvolvimento tecnológico e,
somente então, chegaria no desenvolvimento social.

96
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE

FIGURA 15 – O PROGRESSO DO PONTO DE VISTA DA TECNOCRACIA

FONTE: Adaptado de Auler e Delizoicov (2006)

Quando se trata do modelo linear apresentado, a perspectiva é de que


tanto a ciência quanto a tecnologia determinam as ações e melhorias, e a sociedade,
por sua vez, somente as recebe sem possibilidade de interação. Nesse modelo, a
relação entre o desenvolvimento científico e o social é casual, o que é fortemente
criticado; outro fator de desagrado nesse modelo, conforme Bourdieu (1983a), é da
neutralidade da ciência. Segundo ele, esse fator é tido como “utopia de interesses”,
ou seja, coloca a ciência como melhor explicação da real condição da sociedade.

Conforme pudemos observar, a tecnocracia, ou seja, a decisão de manter


apenas uma vertente entre ciência, tecnologia e sociedade não é neutra, pois age
sobre interesses políticos. O movimento ciência e tecnologia, ainda nos anos 1960
e 1970, foi duramente criticado por promover, além do já exposto, problemas
ambientais, além da aplicação da tecnologia bélica, por exemplo, nas guerras
mundiais.

Foi a partir das décadas de 1960 e 1970 que o movimento de neutralidade


da dupla ciência e tecnologia perdeu força e a sociedade passou a exercer seu
papel de analisar criticamente a parceria entre as duas frentes e participar das
discussões técnico-científicas propostas pelo, agora, grupo (ANGOTTI; AUTH,
2001, AULER; BAZZO, 2001). A partir desse movimento, outras frentes foram
incorporadas às discussões sobre o que seria conhecimento científico e tecnológico,
bem como suas evoluções.

Como fora visto, mais precisamente após a II Guerra Mundial, a parceria


entre ciência e tecnologia passou por profundas mudanças, principalmente por
começar a levar em conta o bem-estar social. O primeiro avanço foi no sentindo
de considerar o desenvolvimento tecnológico um dos impulsionadores do
progresso. A ciência, de certa maneira, também passou por mudanças, ganhando
a cada período maior importância. Passemos, agora, a analisar algumas reações
entre a parceria da ciência, da tecnologia e da sociedade, que se deu após essas
grandes adequações e modificações.

97
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

6 CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE (CTSA)


– INTERPRETAÇÕES SOBRE A NOVA FORMAÇÃO
Sob a nova ótica de formação, agora com o criticismo social, ciência e
tecnologia passam a ter uma conotação diferente e menos isolada. O ensino de
Ciências com enfoque ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA) a partir de
questões sociocientíficas (QSC), “tem por objetivo a emancipação dos sujeitos ao
fazer com que eles problematizem a ciência e participem de seu questionamento
público, engajando-se na construção de novas formas de vida e de relacionamento
coletivo” (MARTINEZ, 2012, p. 55).

Para o referido autor, as questões sociocientíficas e a perspectiva CTSA


“têm em comum o objetivo de focar o ensino de Ciências na formação para a
cidadania dos estudantes no ensino básico e superior, bem como nos processos
de formação cidadã mais amplos abrangidos na sociedade”.

Para contextualizar esta temática, convido-o para analisarmos, juntos,


duas interpretações, baseadas nos filósofos Wiebe Bijker e Milton Santos.

6.1 CTS SOB NOVAS ÓTICAS


Ao debater o tema CTS, procuramos trazer para a conversa a contribuição
dos seguintes pesquisadores: Wiebe Bijker e Milton Santos.

Wiebe Bijker (1951- ) é um construtivista social que trabalhou visando


estabelecer novas bases teóricas e metodológicas entre a CTS. O elo para esta
nova parceria seria a sociedade e, no momento em que assume este ponto de
vista, começa a trabalhar com o também construtivista social Trevor Pinch.
Ambos envolvidos na divulgação de documentos que debatem o relacionamento
entre ciência e tecnologia, e destacando a importância da essência social
(BENAKOUCHE, 2005).

Outro pesquisador que traremos para a discussão é Milton Santos (1926-


2001), um geógrafo brasileiro que, por sua vez, tratou das questões relacionadas
à CTS sob a ótica da informação.

6.2 CTS SOB A ÓTICA DE MILTON SANTOS


Milton Santos traz à luz a discussão do meio ambiente e sua relação
com CTS, portanto, na visão desse pesquisador já poderíamos usar o conceito
CTSA. Ele aborda questões como o espaço e a sucessão de relacionamento entre
o homem e a natureza, bem como a da organização humana. Dessa forma, faz
uma interessante análise sobre a divisão do espaço geográfico. Para entender

98
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE

melhor, trazemos um trecho do texto “A natureza do espaço”, que trata sobre as


considerações do autor sobre meio natural, meio técnico e meio técnico-científico-
informacional.

O meio natural

Quando tudo era meio natural, o homem escolhia da natureza


aquelas suas partes ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da
vida, valorizando, diferentemente, segundo os lugares e as culturas, essas
condições naturais que constituíam a base material da existência do grupo.

Esse meio natural generalizado era utilizado pelo homem sem


grandes transformações. As técnicas e o trabalho se casavam com as dádivas
da natureza, com a qual se relacionavam sem outra mediação.

O que alguns consideram como período pré-técnico exclui uma


definição restritiva. As transformações impostas às coisas naturais já eram
técnicas, entre as quais a domesticação de plantas e animais aparece como
um momento marcante: o homem mudando a Natureza, impondo-lhe leis.
A isso também se chama técnica.

Nesse período, os sistemas técnicos não tinham existência


autônoma. [...]. A harmonia socioespacial assim estabelecida era, desse
modo, respeitosa da natureza herdada, no processo de criação de uma
nova natureza. Produzindo-a, a sociedade territorial produzia, também,
uma série de comportamentos, cuja razão é a preservação e a continuidade
do meio de vida. Exemplo disso são, entre outros, o pousio, a rotação de
terras, a agricultura itinerante, que constituem, ao mesmo tempo, regras
sociais e regras territoriais, tendentes a conciliar o uso e a “conservação”
da natureza: para que ela possa ser outra vez utilizada. Esses sistemas
técnicos sem objetos técnicos não eram, pois, agressivos, pelo fato de serem
indissolúveis em relação à Natureza que, em sua operação, ajudavam a
reconstituir.

O meio técnico

O período técnico vê a emergência do espaço mecanizado. Os


objetos que formam o meio não são, apenas, objetos culturais; eles são
culturais e técnicos ao mesmo tempo. Quanto ao espaço, o componente
material é crescentemente formado do “natural” e do “artificial”. Mas, o
número e a qualidade de artefatos variam. As áreas, os espaços, as regiões,
os países passam a se distinguir em função da extensão e da densidade da
substituição, neles, dos objetos naturais e dos objetos culturais, por objetos
técnicos.

99
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

Os objetos técnicos, maquínicos, juntam à razão natural sua


própria razão, uma lógica instrumental que desafia as lógicas naturais,
criando, nos lugares atingidos, mistos ou híbridos conflitivos. Os objetos
técnicos e o espaço maquinizado são lócus de ações “superiores”, graças
à sua superposição triunfante às forças naturais. Tais ações são, também,
consideradas superiores pela crença de que ao homem atribuem novos
poderes, o maior é a prerrogativa de enfrentar a Natureza, natural ou já
socializada, vinda do período anterior, com instrumentos que já não são
prolongamento do seu corpo, mas que representam prolongamentos do
território, verdadeiras próteses. Utilizando novos materiais e transgredindo
a distância, o homem começa a fabricar um tempo novo, no trabalho, no
intercâmbio, no lar. Os tempos sociais tendem a se superpor e contrapor
aos tempos naturais. [...].

O meio técnico-científico-informacional

O terceiro período começa praticamente após a Segunda Guerra


Mundial, e sua firmação, incluindo os países de terceiro mundo, vai
realmente dar-se nos anos 70. É a fase a que R. Richta (1968) chamou de
período técnico-científico, e que se distingue dos anteriores pelo fato da
profunda interação da ciência e da técnica, a tal ponto que certos autores
preferem falar de tecnociência para realçar a inseparabilidade atual dos
dois conceitos e das duas práticas.

Essa união entre técnica e ciência vai dar-se sob a égide do mercado.
E o mercado, graças exatamente à ciência e à técnica, torna-se um mercado
global. A ideia de ciência, a ideia de tecnologia e a ideia de mercado global
devem ser encaradas conjuntamente, e desse modo podem oferecer uma
nova interpretação à questão ecológica, já que as mudanças que ocorrem na
natureza também se subordinam a essa lógica.

Neste período, os objetos técnicos tendem a ser ao mesmo tempo


técnicos e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de
sua produção e de sua localização, eles já surgem como informação; e, na
verdade, a energia principal de seu funcionamento é também a informação.
Já hoje, quando nos referimos às manifestações geográficas decorrentes dos
novos progressos, não é mais de meio técnico que se trata. Estamos diante
da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio técnico-
científico-informacional.

Da mesma forma como participam da criação de novos processos


vitais e da produção de novas espécies (animais e vegetais), a ciência e a
tecnologia, junto com a informação, estão na própria base da produção,
da utilização e do funcionamento do espaço e tendem a constituir o seu
substrato. [...].

100
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE

Podemos então falar de uma cientificização e de uma tecnicização


da paisagem. Por outro lado, a informação não apenas está presente nas
coisas, nos objetos técnicos, que formam o espaço, como ela é necessária à
ação realizada sobre essas coisas. A informação é o vetor fundamental do
processo social e os territórios são, desse modo, equipados para facilitar a
sua circulação. [...].

Os espaços assim requalificados atendem, sobretudo, aos interesses


dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da política e são
incorporados plenamente às novas correntes mundiais. O meio técnico-
científico-informacional é a cara geográfica da globalização.

FONTE: Santos (2006, p. 157-161)

Após esta leitura, você conseguiu identificar os aspectos importantes


da relação entre CTS(A) que Milton Santos aborda? Como você pôde ver, essa
questão é analisada na perspectiva de que as relações foram sendo estabelecidas
ao longo do tempo e de maneira dialética. O autor destaca questões que merecem
ser reanalisadas, como: a necessidade de determinar as características do mundo
atual (como modernidade, pós-modernidade e globalização), assim como a
história das relações entre CTSA. Outro ponto que merece ser revisitado são as
relações entre CTSA em uma lógica de mercado, ou seja, buscar reflexões sobre o
sistema produtivo como um todo.

6.3 CTSA SOB A ÓTICA DE WIEBE BIJKER


Um dos principais incentivadores do movimento construtivista social foi
Wiebe Bijker. Para entendermos melhor suas ideias e ideais, compartilharemos
um pequeno trecho do artigo “Tecnologia é Sociedade: contra a noção de impacto
tecnológico”, de Benakouche (1999, p. 11-13), que aborda os principais vieses
deste pesquisador.

Sustentando que os vários elementos envolvidos no processo de


inovação tecnológica constituem uma teia contínua (“seamless web”), Bijker
pretende dar conta dessa realidade através da elaboração de uma teoria que:

a) explique tanto a mudança quanto a estabilidade das técnicas;


b) seja simétrica, ou seja, possa ser aplicada tanto às técnicas que dão certo
como às que falham;
c) considere tanto as estratégias inovadoras dos atores como o caráter
limitador das estruturas; e, finalmente
d) evite distinções a priori entre o social, o técnico, o político ou o econômico.

101
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

Diante de tal agenda, propõe o uso de alguns conceitos básicos e


operacionais, postos inclusive à prova nos vários estudos de caso que
realizou, dentre os quais se destacam os de grupos sociais relevantes,
estrutura tecnológica (“technological frame”), flexibilidade interpretativa
(“interpretative flexibility”) e estabilização ou fechamento (“closure”).

Os “grupos sociais relevantes” são aqueles mais diretamente


relacionados ao planejamento, desenvolvimento e difusão de um artefato
dado; na verdade, seria na interação entre os diferentes membros desses
grupos que os artefatos são constituídos. Nesse processo, os atores não
agem aleatoriamente, mas segundo padrões específicos, isto é, agem a
partir das “estruturas tecnológicas” às quais estão ligados; esta noção –
central, neste quadro analítico-descritivo – é ampla o suficiente para incluir
teorias, conceitos, estratégias, objetivos ou práticas utilizadas na resolução
de problemas ou mesmo nas decisões sobre usos, pois não se aplica apenas
a grupos profissionais especializados, mas a diferentes tipos de grupos
sociais. Segundo Bijker, existiriam diferentes graus de inclusão nessas
estruturas, isto é, de envolvimento.

Na medida em que os grupos atribuem diferentes significados a um


mesmo artefato, sua construção supõe um exercício de negociações entre
esses mesmos grupos, onde o uso da retórica é um recurso poderoso, ou seja,
é objeto de uma “flexibilidade interpretativa”. Quando esta atividade de
ajustes se estabiliza e um significado é fixado ou aceito, diz-se que o artefato
atingiu o estágio de “fechamento”. É justamente a prática da flexibilidade
interpretativa que retira dos artefatos sua obturacidade; é ela que explica
porque os mesmos não têm uma identidade ou propriedades intrínsecas, as
quais seriam responsáveis por seu sucesso ou o seu fracasso, seus “impactos”
positivos ou negativos. Em outras palavras, o não reconhecimento da
importância desse processo é que leva à crença equivocada do determinismo
da técnica. Assim é que tudo, numa tecnologia dada, do seu planejamento a
seu uso, estaria sujeito a variáveis sociais e, portanto, estaria aberto à análise
sociológica. No entanto, pode-se perguntar: ao se adotar essa perspectiva
não se corre o risco de se cair num reducionismo social? Não, respondem os
pesquisadores identificados com a mesma. O reconhecimento da existência
de estruturas tecnológicas evitaria esse risco: na medida em que as mesmas
influenciam a ação dos diferentes grupos sociais relevantes, essas estruturas
seriam justamente as pontes que ligam tecnologia e sociedade, levando à
constituição de conjuntos sociotécnicos (BIJKER, 1995).

Após esta leitura, você pode traçar os principais pontos elencados pelo autor?

Se você citou a questão da importância de debater as ações dos conceitos


CTSA em conjunto, com o enfoque nas ações sociais, fez uma excelente leitura.
Wiebe Bijker foi um dos grandes defensores da participação da sociedade nas
discussões relacionadas à ciência, e como consequência, demonstra em todos os
seus discursos o repúdio à parceria entre sociedade e tecnologia.
102
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE

A partir das colocações proporcionadas pelos dois autores é possível


elencar pontos que merecem ser revistos, como a forma com que as comunicações
de massa são disponibilizadas e utilizadas pela sociedade, assim como a
importância da tecnologia no cotidiano e a dependência tecnológica.

7 CARACTERIZANDO O MUNDO ATUAL


Ao caracterizar o mundo atual, faz-se necessário observar três vertentes
singulares: modernidade, pós-modernidade e globalização. É importante analisar
esses três pontos para que se possa avançar nos estudos sobre CTSA. Vamos lá?

O que vem a ser a modernidade? Para muitos, o conceito de modernidade


refere-se a ideias bastante controversas, compreendendo desde pequenas
práticas a formas de perceber, conceber e viver o mundo. Para melhor situá-lo,
relembramos três grandes eventos: Revolução Industrial, Revolução Francesa e
Revolução Científica.

A pós-modernidade ainda é complexa e a ideia não é amplamente aceita


por todos os cientistas e pensadores. As dúvidas e diferenças surgiram por volta
de 1970 e 1990, mas ainda assim pode-se verificar duas linhas de discursos,
quando o termo é pós-modernidade: a da continuidade e a do rompimento.

FIGURA 16 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS CONCEITOS DE MODERNIDADE, PÓS-


MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO

FONTE: Adaptado de David Harvey (2003)

103
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

Agora, quando o assunto é globalização, o termo é mais conhecido,


tendo em vista que é assunto atual e amplamente divulgado e trabalhado na
mídia. Como todo conceito, esse também apresenta seus prós e contras, pois
está fortemente ligado à maneira como foi apreendido pela sociedade. O marco
inicial da globalização é fracamente indicado, como no período da Revolução
Tecnocientífica, porém, viu-se nesse uma importante ferramenta de longo alcance,
com ligações para diferentes partes do mundo.

A globalização está amparada, principalmente, nos avanços tecnológicos,


assim como nas relações sociais e econômicas, no mercado da conectividade e da
virtualidade. A compressão da globalização, conhecida como compressão tempo-
espaço, é abordada como sendo a responsável por alterar a forma de comunicação
entre as pessoas, como a telefonia móvel (HARVEY, 2003). Porém, como tudo tem
seu outro lado, assim também é na globalização, podendo proporcionar tanto a
inclusão como a desigualdade social.

Uma importante observação precisa ser feita sobre esse ponto: deve-se
cuidar para que os avanços tecnológicos não venham a causar o determinismo
tecnológico, o que ocasionaria o mesmo pensamento de que a ciência e a
tecnologia são neutras. Nesse momento, o que se deve buscar é usar a tecnologia
como ferramenta e não como base.

104
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• A ciência, como forma de explicar a realidade, apresenta as seguintes


características: linguagem própria; conhecimento acumulável, registrável e
refutável; e articulação entre procedimentos metodológicos e fundamentos
epistemológicos.

• A tecnologia, como sinônimo de técnica, nos permite pensar das tecnologias


mais simples até as mais avançadas, como roupa, ferramentas e celulares; e,
quando falamos em tecnocracia, podemos entender como ideologização da
técnica.

• A sociedade pode ser analisada e interpretada de diversas formas e são vários


os autores que apresentam algum parecer sobre o tema sociedade.

• A ciência e a tecnologia apresentam um modelo de crescimento e evolução


linear.

• O movimento que engloba ciência, tecnologia e sociedade está baseado em uma


visão mais crítica sobre a parceria entre ciência e tecnologia, o que permitiu
inserir outros pontos para debate das questões sociais, políticas, culturais e
econômicas acerca da ciência e das tecnologias.

• Há várias interpretações acerca das relações CTS(A), e as de Milton Santos e


Wiebe Bijker são duas delas.

• Os conceitos de modernidade, pós-modernidade e globalização são importantes


para a discussão acerca de ciência, tecnologia e sociedade, mas apresentam
concepções e interpretações bastante controversas.

105
AUTOATIVIDADE

1 Leia a charge a seguir:

FONTE: Disponível em: <http://www2.uol.com.br/laerte/tiras/>. Acesso em: maio 2015.

A análise da charge nos remete ao fenômeno da insegurança no


emprego, vivido, nos dias atuais, por muitas pessoas. Esta insegurança
também está atrelada ao desenvolvimento de novas tecnologias, o que, por
sua vez, tornou-se mais evidente nos últimos anos. Com base nos efeitos
nocivos, é correto afirmar que:

a) ( ) Produz sensação de apreensão quanto à continuidade futura de um


cargo e/ou de um papel dentro do ambiente de trabalho.
b) ( ) O maior aumento da insegurança no trabalho ocorreu em meados dos
anos de 1990, entre os trabalhadores que exercem atividades manuais.
c) ( ) Trata-se de um fenômeno recente causado por profundas alterações
no contexto do mercado de trabalho.
d) ( ) Os estudos apontam que a insegurança no emprego é restrita ao
ambiente de trabalho, não afetando a saúde e a vida pessoal dos
empregados.

2 Com referência à comunicação de massa, identifique a opção


correta.

a) ( ) A comunicação de massa engendra um tipo de comunicabilidade


do “entre nós”, que se reporta aos telespectadores, ouvintes e
aos brasileiros, em geral, gerando a ilusão de pertencerem a uma
comunidade.
b) ( ) A comunicação de massa caracteriza-se pela divisão entre a figura do
emissor e a do receptor autorizado e pela negligência do monopólio
comunicativo e do cerceamento de práticas populares.
c) ( ) A comunicação de massa fundamenta-se na premissa de que tudo
pode ser mostrado e dito, não estabelecendo critérios sobre quem
pode dizer e quem pode ouvir.
106
d) ( ) O receptor autorizado tem um espaço da fala para opinar e contradizer,
não sendo necessário que suas funções sejam definidas na estrutura
do campo comunicativo.
e) ( ) Na comunicação de massa, o espaço social sui generis é transformado
em um espaço social heterogêneo, em que emissor e receptor têm
papéis bem definidos.

107
108
UNIDADE 2 TÓPICO 2

TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO (TIC)

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, ao falarmos das tecnologias da informação e comunicação
como fator determinante no advento da sociedade da informação, estamos a falar
das transformações resultantes do processo da globalização de mercados e dos
avanços do uso dos processos tecnológicos na vida cotidiana dos indivíduos.
Desse mosaico de transformações exercidas pelos meios tecnológicos na vida
cotidiana dos indivíduos emerge o conceito de sociedade da informação. Sob
este prisma, o que iremos apresentar nas próximas páginas busca assinalar as
tecnologias da informação e comunicação como fator determinante no advento da
sociedade da informação. Portanto, esperamos que este tópico possa contribuir,
de certa forma, para inseri-lo no debate sobre a sociedade da informação e que
sirva de ferramenta para expandir o seu horizonte pensante.

2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO (TIC) COMO FATOR DETERMINANTE NO
ADVENTO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Nos últimos anos do século XX o mundo vem adquirindo uma nova
configuração, fundamentada nas tecnologias da informação e da comunicação.
A sociedade pós-industrial vem sofrendo modificações de forma acelerada,
reestruturando o capitalismo, na medida em que todas as economias do planeta
passam a interdepender umas das outras, em escala global.

Diante disso, observa-se que as grandes organizações mundiais passam


por um processo de descentralização e interconexão das empresas, exemplos
desse processo são: o aumento do capital frente ao trabalho, com o declínio do
sindicalismo e crescente desemprego e a incorporação massiva da mulher no
mundo do trabalho.

109
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

FIGURA 17 – SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://webquests.edufor.pt/webquest/soporte_


horizontal_w.php?id_actividad=2826&id_pagina=1>. Acesso em: maio 2015.

Com o crescente aumento do uso das Tecnologias da Informação e


de Comunicação nos diversos setores da atividade humana, bem como a sua
integração às facilidades das telecomunicações, tornou-se evidente a possibilidade
de ampliar cada vez mais, tanto o acesso à informação, quanto o desenvolvimento
de novos meios que proporcionem de forma rápida sua distribuição no campo
das pesquisas científicas. As atividades tradicionais, como a leitura, a escrita,
o correio, o comércio, a publicidade ou o ensino, em atividades realizadas em
ambientes virtuais, passam agora a ser capturadas por esses novos dispositivos
tecnológicos de informática, cada vez mais avançados.

Esse processo, que teve a sua origem no fim dos anos 1960 e início dos
anos 1970, não foi, por si só, responsável pela nova forma de organização social.
Centrado na ideia de informação e comunicação, o uso das TIC resultou da
interação de três processos independentes: revolução da tecnologia da informação;
da economia (crise econômica do capitalismo e do estatismo e a consequente
reestruturação de ambos); e apogeu de movimentos sociais e culturais, tais como
a afirmação das liberdades individuais, dos direitos humanos, do feminismo e do
ambientalismo (CASTELLS, 2001).

Na escala societária, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)


constituíam um limiar sobre o qual se sucediam os acontecimentos políticos, militares
ou científicos, tornando-se desta forma uma expressão de competição global, cuja
lógica encontrava-se inserida dentro de uma economia informacional/global; e
uma nova cultura, a cultura da virtualidade real, em que a sociedade e a cultura
estão subjacentes à ação e às instituições sociais em um mundo interdependente. A
interação entre esses processos e as reações por eles desencadeadas fez surgir uma
nova estrutura social dominante, a sociedade em rede.

Na época atual, as chamadas Tecnologias de Informação e Comunicação


(TIC) constituem ferramentas indispensáveis no processo de fortalecimento
e integração das nações na nova cadeia global. Segundo Castells (2001), esse

110
TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)

processo foi de extrema importância, pois seu papel conferiu uma dinâmica e
formação de redes das diversas esferas da atividade humana. Esta nova lógica
preponderante de redes, sobre a qual a nova sociedade se assenta, transformou
todos os domínios de vida social e econômica.

Por intermédio da tecnologia, redes de capital, de trabalho, de


informação e de mercados conectaram funções, pessoas e locais
valiosos ao redor do mundo, ao mesmo tempo em que desconectaram
as populações e territórios desprovidos de valor e interesse para
a dinâmica do capitalismo global. Seguiram-se exclusão social e
não pertinência econômica de segmentos de sociedades, de áreas
urbanas, de regiões e de países inteiros, constituindo o que chamo
de ‘o Quarto Mundo’. A tentativa desesperada de alguns desses
grupos sociais e territórios para conectar-se à economia global e
escapar da marginalidade levou a uma situação que chamo de ‘a
conexão perversa’, quando o crime organizado em todo o mundo
tirou vantagem de sua condição para promover o desenvolvimento
da economia do crime global. O objetivo é satisfazer o desejo proibido
e fornecer mercadorias ilegais à contínua demanda de sociedades e
indivíduos abastados (CASTELLS, 1999, p. 411).

A fim de compreender o surgimento das novas formas de organização


social por conta das tecnologias informacionais, devemos observar os resultados
dessa “revolução tecnológica na estrutura social”, a saber:

• informação e conhecimento estão profundamente inseridos na cultura das


sociedades;
• as novas tecnologias da informação agregam processos de produção, distribuição
e direção, permitindo diferentes tipos de atividades interligadas de acordo com
o modo organizativo que se ajusta melhor à estratégia da empresa ou à história
da instituição. Três conceitos surgem dessa transformação fundamental do
modo em que o sistema de produção opera e, juntos, formam as bases atuais
da nova economia e forçarão a redefinição da estrutura ocupacional, além do
sistema de classes da nova sociedade: articulações entre as atividades; redes que
configuram as organizações; e fluxos de fatores de produção e de mercadorias;
flexibilidade e adaptabilidade são necessidades fundamentais para a direção de
organizações, pois complexidade e incerteza são características essenciais do
novo meio ambiente organizacional;
• as novas tecnologias de comunicação têm um impacto direto sobre os meios de
comunicação e sobre a formação de imagens, representações e opinião pública
em suas sociedades, resultando em uma tensão crescente entre globalização e
individualização no universo dos audiovisuais;
• as fontes de poder na sociedade e entre as sociedades são alteradas pelo caráter
estratégico das tecnologias e da informação na produtividade da economia e na
eficácia das instituições sociais. A habilidade de promover a mudança tecnológica
está relacionada diretamente com a habilidade de uma sociedade para difundir
e intercambiar informações e relacioná-las com o restante do mundo.

111
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

3 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
E COMUNICAÇÃO – TIC
Desde os primórdios da humanidade, o homem sempre sentiu a
necessidade de se comunicar com os outros homens. As novas tecnologias vêm
efetuando mudanças sociais drásticas nos diversos segmentos da sociedade. As
chamadas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) têm se apresentado
como um fator decisivo na nova organização social, sem precedentes na história.

O próprio capitalismo passa por um processo de profunda


restauração, caracterizado por maior flexibilidade de gerenciamento;
descentralização das empresas e sua organização em redes tanto
internamente quanto em suas relações com outras empresas;
considerável fortalecimento do papel do capital vis-à-vis o trabalho,
com o declínio concomitante da influência dos movimentos de trabalho;
incorporação maciça das mulheres na força de trabalho remunerada,
geralmente em condições discriminatórias; intervenção estatal para
desregular os mercados de forma seletiva e desfazer o estado do bem-
estar social com diferentes intensidades e orientações, dependendo da
natureza das forças e instituições políticas de cada sociedade; aumento
da concorrência econômica global em um contexto de progressiva
diferenciação dos cenários geográficos e culturais para acumulação e a
gestão de capital (CASTELLS, 1999, p. 21).

Primeiramente, para melhor compreender o conceito de Tecnologias da


Informação e Comunicação - TIC e o seu papel nas sociedades atuais, de forma a
dar uma “robustez” mais ampla às nossas reflexões, faremos um pequeno aporte
histórico sobre o conceito de tecnologia em Manuel Castells. Neste sentido,
segundo afirma o autor (1999, p. 24):

Para dar os primeiros passos nessa direção, devemos levar a tecnologia a


sério, utilizando-a como ponto de partida desta investigação; devemos
localizar esse processo de transformação tecnológica revolucionária
no contexto social em que ele ocorre e pelo qual está sendo moldado;
e devemos lembrar que a busca pela identidade é tão poderosa quanto
a transformação econômica e tecnológica no registro da nova história.

O termo tecnologia provém do verbo grego tictein, que significa "técnica,


arte, ofício", juntamente com o sufixo "logia", que significa "estudo", portanto, o
conhecimento prático que almeja alcançar um determinado fim concreto.

O Dicionário de Sociologia, de Alan Johnson (1997), indica a palavra


“tecnologia” como o repositório acumulado de conhecimento cultural sobre
ambientes físicos e seus recursos materiais, com vistas a satisfazer desejos e vontades.
Contudo, segundo afirma Johnson (1997), tecnologia não pode ser confundida com
a ciência, na medida em que ela consiste de conhecimentos práticos sobre como
usar recursos materiais, ao passo que a ciência consiste de conhecimento abstrato e
teorias sobre como o processo do conhecimento se constrói.

Na sociedade industrial, o conceito de tecnologia esteve associado à forma


de produto, passando, portanto, a não mais designar a forma de produção, ou seja,
concentra-se nos produtos, nos processos, nos equipamentos e nas operações.

112
TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)

Assim, na visão de Masi (1999), esta lógica, em que a tecnologia se torna uma
ferramenta indispensável nas relações de produção, obrigou o mundo da produção
industrial a sofrer grandes mudanças, tanto no processo de regulamentação da
empresa, como na organização do trabalho, de forma a responder aos imperativos
que a própria tecnologia trouxe para o aperfeiçoamento das condições de vida do
homem. Nesse sentido, para Masi (1999, p. 158), as principais transformações
provocadas por esses imperativos são as seguintes:

• Um intervalo de tempo mais curto exigido pelo processo produtivo


para levar até o fim a realização de um produto.
• Um aumento da necessidade de capital para a produção.
• Maior especialização e definição de funções, operações, processos
e materiais, com uma consequente rigidez que impede conversões de
uma operação para outra.
• Maior necessidade de mão de obra especializada.
•Maior exigência de organização de todas as atividades especializadas
envolvidas, o que resulta na posterior exigência de outros especialistas:
os especialistas em organizações.
• A necessidade de planejamento, em face do tempo e dos capitais
empregados, da rigidez dos processos, das exigências organizacionais
e da instabilidade do mercado em relação aos sistemas industriais que
utilizam tecnologias avançadas.

Já no século XX, a tecnologia passa a ser descrita como um campo do


conhecimento que, além de usar o método científico, cria e/ou transforma
processos materiais. Assim, segundo Masi (1999), a tecnologia passa a ser o
motor do desenvolvimento da sociedade, elevando o padrão de vida de uma
determinada sociedade, reduzindo desta forma as desigualdades. Nesse sentido,
na visão de Masi (1999, p. 159), a tecnologia passa a ser:

uma nova forma de racionalidade funcional que modifica os


modelos educacionais, ‘os sistemas de especulação, tradição e
razão’; revolucionando os transportes e as comunicações, cria
novos tipos de relações sociais (onde, por exemplo, as relações de
parentesco são substituídas por ligações de trabalho e profissionais)
e de interdependência econômica. A tecnologia, enfim, modifica a
percepção (também estética, como testemunham as novas tendências
das artes figurativas) do espaço e do tempo.

Na visão de Castells (2001, p. 49), a tecnologia corresponde:

(ao) uso de conhecimento científico para especificar as vias de se fazer as


coisas de uma maneira reproduzível. Entre as tecnologias da informação
incluo, como todo o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica,
computação (software e hardware), telecomunicações/radiodifusão, e
optoeletrônica. Além disso, diferentemente de alguns analistas, também
incluo nos domínios da tecnologia da informação a engenharia genética e
seu crescente conjunto de desenvolvimento e aplicações.

Com base nessa citação, torna-se claro que a tecnologia não determina a
sociedade, nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica. Portanto,
para Castells (2001), a tecnologia e a sociedade são categorias interdependentes,

113
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

na medida em que a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas
“ferramentas tecnológicas”. Nesse sentido, para Castells (2001), a tecnologia é
uma condicionante, e não determinante, da sociedade.

Por conseguinte, a relação entre tecnologia e sociedade está marcada pela


presença do papel do Estado, podendo estimular ou constranger ambientes de
inovação tecnológica, organizando as forças sociais dominantes em determinado
tempo e espaço. Em grande medida, o grau de tecnologia existente numa
sociedade é a representação de sua capacidade coletiva de controle sobre o meio
político, isto é, de determinação sobre o formato das instituições, ou seja, do
próprio Estado, no sentido de que este permita o melhor desenvolvimento das
iniciativas e o uso das tecnologias a favor dos indivíduos. Desta feita, “o processo
histórico em que esse desenvolvimento de forças produtivas ocorre assinala as
características da tecnologia e seus entrelaçamentos com as relações sociais”
(CASTELLS, 2001, p. 31).

Sob esta ótica, a tecnologia não pode ser vista como uma “ferramenta”
que busca resolver problemas imediatos que se apresentam numa determinada
sociedade, mas sim como um meio integrante e compatível com a sociedade em
que está inserida. Para o sociólogo espanhol Manuel Castells Oliván, o suposto
dilema do determinismo tecnológico é falso. Portanto, não se trata de perguntar
se a tecnologia determina comportamentos na sociedade ou se a sociedade
é quem controla a tecnologia. Como diz Castells (2001, p. 25), “a tecnologia é
a sociedade e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas
ferramentas tecnológicas”. Isso não impede de admitir que no começo é uma
parte da sociedade que dá o start, para depois os outros se apropriarem das
inovações. Foi o que aconteceu nos EUA, quando um setor específico da sociedade
introduziu essas novas formas de produção, comunicação, gerenciamento e vida
(CASTELLS, 2001).

Nessa medida, tanto a informação como o conhecimento criam um novo


sistema baseado num complexo integrado de rede global de interação, em que
a produtividade e a competitividade das suas unidades dependem basicamente
de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação
baseada no conhecimento.

Sem dúvida, informação e conhecimento sempre foram elementos


cruciais no crescimento da economia, e a evolução da tecnologia
determinou em grande parte a capacidade produtiva da sociedade e os
padrões de vida, bem como formas sociais de organização econômica
[...]. A emergência de um novo paradigma tecnológico organizado em
torno de novas tecnologias da informação, mais flexíveis e poderosas,
possibilita que a própria informação se torne o produto do processo
produtivo. Sendo mais preciso: os produtos das novas indústrias
de tecnologia da informação são dispositivos de processamento da
informação. Ao transformarem os processos de processamento da
informação, as novas tecnologias da informação agem sobre todos
os domínios da atividade humana e possibilitam o estabelecimento
de conexões infinitas entre diferentes domínios, assim como entre os
elementos e agentes de tais atividades (CASTELLS, 2001, p. 88).

114
TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)

Assim, para Castells (2001), o que caracteriza a atual revolução tecnológica


não é a centralização do conhecimento e da aplicação, senão o uso da informação
para a gestão de todo o processamento da informação e gerenciamento, num
processo de retroalimentação eterno, promovendo a passagem de três estágios
das novas tecnologias de telecomunicações nas últimas décadas, quais sejam: a
automação das tarefas, as experiências de usos e a reconfiguração das aplicações.
“Nos dois primeiros estágios, os avanços tecnológicos se caracterizam pelo learn
by using, isto é, pelo aprender usando. No último, são os usuários que aprenderam
a tecnologia fazendo, o que acabou resultando na configuração das redes e na
descoberta de novas aplicações” (CASTELLS, 2001, p. 51).

Desta feita, seria incorreto falar de uma Sociedade Informacional,


implicando uma inadequada “homogeneidade das formas sociais” em qualquer
lugar do globo sob o novo sistema. Não se trata de reduzir os povos da Terra ao
novo paradigma informacional, mas, segundo o pensador espanhol, poderíamos
falar de uma sociedade informacional assim como falamos da “sociedade urbano-
industrial, cujas características são bem definidas e algumas de suas principais
estão difundidas mundialmente” (CASTELLS, 1999, p. 38).

115
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

● As novas tecnologias da informação e comunicação têm um impacto direto na


vida social dos indivíduos.

● Os novos dispositivos de informação constituem verdadeiras fontes de


poder nas sociedades, e são alterados de acordo com o caráter estratégico da
produtividade da economia e na eficácia das instituições sociais.

● O termo tecnologia provém do verbo grego tictein, que significa criar,


produzir, significando, portanto, o conhecimento prático que almeja alcançar
um determinado fim concreto.

● O que caracteriza a renovação tecnológica não é a centralidade do conhecimento


e nem da informação.

● Tecnologia não pode ser confundida com ciência, na medida em que ela
consiste de conhecimentos práticos sobre como usar recursos materiais, ao
passo que a ciência consiste de conhecimento abstrato e teorias sobre como o
processo do conhecimento se constrói.

● A expressão Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC refere-se


ao conjunto de recursos tecnológicos capazes de produzir e disseminar
informações, ou seja, ferramentas que permitem arquivar e manipular
informações em forma de textos, imagens e sons, permitindo, desta forma,
que nos comuniquemos uns com os outros.

● São cinco os elementos que caracterizam o novo paradigma das tecnologias da


informação e comunicação.

116
AUTOATIVIDADE

1 (ENADE - 2011) Exclusão digital é um conceito que diz respeito


às extensas camadas sociais que ficaram à margem do fenômeno
da sociedade da informação e da extensão das redes digitais. O
problema da exclusão digital se apresenta como um dos maiores
desafios dos dias de hoje, com implicações diretas e indiretas sobre os mais
variados aspectos da sociedade contemporânea.
Nessa nova sociedade, o conhecimento é essencial para aumentar a
produtividade e a competição global. É fundamental para a invenção, para
a inovação e para a geração de riqueza. As tecnologias de informação e
comunicação (TICs) proveem uma fundação para a construção e aplicação
do conhecimento nos setores públicos e privados. É nesse contexto que se
aplica o termo exclusão digital, referente à falta de acesso às vantagens e
aos benefícios trazidos por essas novas tecnologias, por motivos sociais,
econômicos, políticos ou culturais.

Considerando as ideias do texto acima, avalie as afirmações a seguir.


I- Um mapeamento da exclusão digital no Brasil permite aos gestores de políticas
públicas escolherem o público-alvo de possíveis ações de inclusão digital.
II- O uso das TICs pode cumprir um papel social, ao prover informações
àqueles que tiveram esse direito negado ou negligenciado e, portanto, permitir
maiores graus de mobilidade social e econômica.
III- O direito à informação diferencia-se dos direitos sociais, uma vez que esses
estão focados nas relações entre os indivíduos e, aqueles, na relação entre o
indivíduo e o conhecimento.
IV- O maior problema de acesso digital no Brasil está na deficitária tecnologia
existente em território nacional, muito aquém da disponível na maior parte
dos países de primeiro mundo.

É correto apenas o que se afirma em:

a) ( ) II e IV.
b) ( ) I e II.
c) ( ) III e IV.
d) ( ) I, II e III.
e) ( ) I, III e IV.

2 (ENADE – 2011) A cibercultura pode ser vista como herdeira


legítima (embora distante) do projeto progressista dos filósofos
do século XVII. De fato, ela valoriza a participação das pessoas
em comunidades de debate e argumentação. Na linha reta das
morais da igualdade ela incentiva uma forma de reciprocidade essencial nas
relações humanas. Desenvolveu-se a partir de uma prática assídua de trocas
de informações e conhecimentos, coisa que os filósofos do Iluminismo viam
como principal motor do progresso.
117
[...] A cibercultura não seria pós-moderna, mas estaria inserida perfeitamente
na continuidade dos ideais revolucionários e republicanos de liberdade,
igualdade e fraternidade. A diferença é apenas que, na cibercultura, esses
“valores” se encarnam em dispositivos técnicos concretos. Na era das
mídias eletrônicas, a igualdade se concretiza na possibilidade de cada um
transmitir a todos; a liberdade toma forma nos softwares de codificação e no
acesso a múltiplas comunidades virtuais, atravessando fronteiras, enquanto a
fraternidade, finalmente, se traduz em interconexão mundial.
O desenvolvimento de redes de relacionamento por meio de computadores e a
expansão da internet abriram novas perspectivas para a cultura, a comunicação
e a educação. De acordo com as ideias do texto acima, a cibercultura:

a) ( ) Representa uma modalidade de cultura pós-moderna de liberdade de


comunicação e ação.
b) ( ) Constituiu negação dos valores progressistas defendidos pelos
filósofos do Iluminismo.
c) ( ) Banalizou a ciência ao disseminar o conhecimento nas redes sociais.
d) ( ) Valorizou o isolamento dos indivíduos pela produção de softwares de
codificação.
e) ( ) Incorpora valores do Iluminismo ao favorecer o compartilhamento de
informações e conhecimentos.

118
UNIDADE 2
TÓPICO 3

AVANÇOS TECNOLÓGICOS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, ao falarmos de avanços tecnológicos, se torna importante
compreendermos sobre as práticas de inovação, compreender comunidades
virtuais e seus impactos e conhecer um pouco das novidades tecnológicas
existentes.

A tecnologia faz parte do nosso dia a dia e vem se expandindo cada vez
mais. Neste tópico, queremos apenas trazer algo sobre as novas tecnologias, mas
fique antenado nos noticiários, todos os dias temos o lançamento de uma nova
tecnologia.

2 TENDÊNCIAS ORGANIZACIONAIS DO SÉCULO XXI


Muitas pessoas não conseguem trabalhar sem seu laptop ou smartphone.
Além disso, para muitos é impossível imaginar o dia sem o Google ou, para outros,
mensagens de texto, WhatsApp ou Facebook para ficar em contato com uma grande
rede de colegas. Em apenas uma década a tecnologia mudou muito a forma
como trabalhamos e nos comunicamos. E na próxima década, com o aumento da
velocidade das conexões da internet, haverá mudanças mais profundas para o
trabalho do que qualquer coisa vista até o momento. Todas as informações serão
mais fáceis de visualizar e analisar.

As empresas enfrentam mudanças mais abrangentes e com maior alcance


em suas implicações do que qualquer coisa desde a Revolução Industrial moderna,
que ocorreu no início de 1900 (BALTZAN; PHILLIPS, 2012). Para auxiliar na
compreensão e influência das tecnologias em nosso modo de vida, observe as
informações das figuras a seguir, nelas consta uma nova tecnologia que já vem
sendo utilizada por empresas e pela educação, chama-se: comunidades virtuais.

119
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

FIGURA 18 – COISAS QUE VAMOS DIZER PARA NOSSOS NETOS

FONTE: Baltzan e Phillips (2012)

FIGURA 19 – COMO SEREMOS LEMBRADOS POR NOSSOS NETOS

FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/JJh21n> Acesso em: 13 dez. 2017.

3 COMUNIDADES VIRTUAIS
Você já ouviu falar em comunidade virtual? Também encontramos
com o nome de grupo virtual, mas perante a bibliografia vamos trabalhar com
comunidade virtual.

120
TÓPICO 3 | AVANÇOS TECNOLÓGICOS

As comunidades virtuais são redes virtuais de comunicação interativa,


organizadas em interesses compartilhados. Ao analisarmos o passado, na origem
das primeiras civilizações, o ser humano era nômade, vivia da caça, pesca e coleta
de produtos na natureza. Com o passar dos anos o ser humano aprendeu a se
organizar em grupos, assim nascendo as primeiras comunidades, as quais deram
origem às civilizações. Esses grupos humanos definiram formas de expressar
valor moral e cultural, de acordo com cada época. Com as novas tecnologias
constituíram-se grupos de sujeitos ligados por vínculos não formalizados, com
características comuns, formando-se as comunidades virtuais (MUSSOI; FLORES;
BEHAR, 2007).

NOTA

As comunidades virtuais se constituem de grupos de pessoas interconectadas


em busca da inteligência coletiva.

FIGURA 20 – PRINCÍPIOS DA CIBERCULTURA

FONTE: Os autores

121
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

Uma comunidade virtual é uma inteligência coletiva em potencial. Um


grupo humano se interessa em constituir-se como comunidade virtual para
aproximar-se do ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais capaz de
aprender e inventar. A virtualização ou desterritorialização das comunidades
no ciberespaço são condições para haver inteligência coletiva em grande escala.
A inteligência coletiva é o terceiro princípio da cibercultura. O ciberespaço é a
ferramenta de organização de comunidades de todos os tipos, o melhor uso do
ciberespaço pode ser alcançado ao se colocar em sinergia os saberes, as imaginações
e as energias espirituais daqueles que estão conectados a ele. A cibercultura é a
expressão da aspiração de construção de um laço social, fundado sobre a reunião
em torno de centros de interesses comuns, no compartilhamento de informações,
na cooperação e nos processos de colaboração (MUSSOI; FLORES; BEHAR, 2007).

DICAS

Quer conhecer mais sobre a Cibercultura? Então leia o livro de Pierre Lévy.
Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.

Para estimular sua leitura e aprofundar o conceito de cibercultura,


trazemos alguns trechos do livro de Pierre Lévy (1999, p. 11).

Pensar a cibercultura: esta é a proposta deste livro. Em geral me


consideram um otimista. Estão certos. Meu otimismo, contudo, não
promete que a Internet resolverá, em um passe de mágica, todos
os problemas culturais e sociais do planeta. Consiste apenas em
reconhecer dois fatos. Em primeiro lugar, que o crescimento do
ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos
para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes
daquelas que as mídias clássicas nos propõem. Em segundo lugar,
que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação,
e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste
espaço nos planos econômico, político, cultural e humano.

O referido autor apresenta a contextualização dos princípios da cibercultura


no mundo atual, e conclui que o programa da cibercultura é o universal sem
totalidade, ou seja, possui uma relação profunda com a ideia de humanidade e se
abastece da diversidade cultural.

A interconexão para a interatividade é supostamente boa, quaisquer


que sejam os terminais, os indivíduos, os lugares e momentos que ela
coloca em contato. As comunidades virtuais parecem ser um excelente
meio (entre centenas de outros) para socializar, quer suas finalidades
sejam lúdicas, econômicas ou intelectuais, quer seus centros de
interesse sejam sérios, frívolos ou escandalosos. A inteligência coletiva,
enfim, seria o modo de realização da humanidade que a rede digital

122
TÓPICO 3 | AVANÇOS TECNOLÓGICOS

universal felizmente favorece, sem que saibamos a priori em direção


a quais resultados tendem as organizações que colocam em sinergia
seus recursos intelectuais. Em resumo, o programa da cibercultura é o
universal sem totalidade (LÉVY, 1999, p. 132).

As comunidades virtuais podem ter diversidade de pessoas, como de


assuntos. Para educação, uma comunidade virtual cria uma relação de professor-
aluno que dialogam e estabelecem regras juntos. O professor, nesta situação, é o
mediador, orientador, instigador do processo.

Palloff e Pratt (2004) apresentam técnicas instrucionais centradas no aluno


para que o professor tenha sucesso nas interações das comunidades:

• Acesso e habilidade: o professor deve utilizar apenas tecnologias que sirvam


aos objetivos da aprendizagem; a tecnologia deve ser mantida em um nível
simples, para que seja transparente ao aluno; o professor deve se certificar de
que o aluno tenha habilidade necessária para usar a tecnologia.
• Abertura: sempre comece a atividade com apresentação; use atividades de
aprendizagem que levem em consideração a experiência e a resolução de
problemas.
• Comunicação: deixe claro ao aluno as diretrizes para a comunicação, incluindo
a net etiqueta; exemplifique como realizar uma boa comunicação; estimule a
participação; acompanhe os alunos que não participam.
• Comprometimento: explique suas expectativas em relação à utilização do
tempo; explique a realização de trabalhos, prazos de entrega e meios pelos
quais a avaliação será elaborada; crie uma agenda de publicação junto aos
alunos; apoie o desenvolvimento de boas habilidades de gerenciamento de
tempo.
• Colaboração: trabalhe com estudos de caso, trabalhos em pequenos grupos,
simulações e utilização do pensamento crítico; faça com que os alunos enviem
seus trabalhos para a comunidade, para maior interação com os demais
colegas; faça perguntas abertas para estimular a discussão.
• Reflexão: coloque regras quanto ao tempo de postagem da mensagem; estimule
os alunos a refletir, escrever off-line e depois transcrever para a comunidade;
faça perguntas abertas e estimule a reflexão sobre o material utilizado.
• Flexibilidade: varie as atividades para atender todos os estilos de aprendizagem
e oferecer um interesse adicional; negocie as diretrizes da atividade com os
alunos, assim promovendo maior engajamento; use a internet como uma
ferramenta e um recurso de ensino e estimule os alunos a buscar referências
que possam compartilhar.

Analisando ao nosso redor, temos diversas formas de comunidades


virtuais, e você deve conhecer muitas delas. Veremos no próximo subtópico essas
formas, conhecidas por redes sociais.

123
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

3.1 REDES SOCIAIS


As redes sociais podem ser vistas como uma tecnologia com menos
seguidores para a sua utilização como uma ferramenta de trabalho, mas não
deve ser, devido ao número de assinantes dessa tecnologia. Esses sites permitem
que o usuário faça várias atividades, tais como: postar um perfil, fotos, vídeos,
chat, blog, e se conectar com seus pares através de boletins individuais, grupos
privados e fóruns.

Quais são os aspectos críticos que definem uma tecnologia de rede social?
Tradicionalmente, os traços dessas ferramentas incluem a criação de um login no
site, que fornece uma página de perfil, em que muitas vezes você pode adicionar
fotos e outros conteúdos. Você pode se conectar com outras pessoas que conhece
ou pode encontrar novas pessoas através do site, tornando-se o seu "amigo". Este
título serve para designar, no site, que duas pessoas estão ligadas de alguma
forma. Isso proporciona a capacidade de receber atualizações em suas páginas
"de amigos", comunicar-se com eles através de e-mail no local/comentários/chat, e
criar grupos específicos no site em torno de temas ou conteúdo. A seguir, veremos
algumas novidades tecnológicas.

DICAS

Alguns sites que você deve acessar para ficar dentro das atualidades tecnológicas:

<http://www.cienciahoje.pt/3445>
<http://olhardigital.uol.com.br/home>
<http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia>
<http://revistapesquisa.fapesp.br/>
<http://www2.uol.com.br/sciam/>
<http://www.abc.org.br/centenario/>
<http://www.scielo.org/php/index.php?lang=pt>

124
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• Algumas tendências para as empresas perante as tecnologias.

• O que são comunidades virtuais e para que servem.

• O que é cibercultura e seus princípios.

• O que são redes sociais.

125
AUTOATIVIDADE

1 (ENADE – 2014) O trecho da música “Nos bailes da vida”, de


Milton Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”,
é antigo, e a música, de tão tocada, acabou por se tornar um
estereótipo de tocadores de violões e de roda de amigos em
Visconde de Mauá, nos anos de 1970. Em tempos digitais, porém, ela ficou
mais atual do que nunca. É fácil entender o porquê: antigamente, quando a
informação se concentrava em centro de exposição, veículos de comunicação,
editoras, museus e gravadoras, era preciso passar por uma série de curadores,
para garantir a publicação de um artigo ou livro, a gravação de um disco
ou a produção de uma exposição. O mesmo funil, que poderia ser injusto e
deixar grandes talentos de fora, simplesmente porque não tinham acesso
às ferramentas, às pessoas ou às fontes de informação, também servia como
filtro de qualidade. Tocar violão ou encenar uma peça de teatro em um grande
auditório costumava ter um peso muito maior do que fazê-lo em um bar, um
centro cultural ou uma calçada. Nas raras ocasiões em que esse valor se invertia,
era justamente porque, para uso do espaço “alternativo”, havia mecanismos de
seleção tão ou mais rígidos que o espaço oficial.

A partir do texto acima, avalie as asserções a seguir e a relação entre elas.

I- O processo de evolução tecnológica da atualidade democratiza a produção


e a divulgação de obras artísticas, reduzindo a importância que os centros de
exposição tinham nos anos de 1970.
PORQUE
II- As novas tecnologias possibilitam que artistas sejam independentes,
montem seus próprios ambientes de produção e disponibilizem seus trabalhos,
de forma simples, para um grande número de pessoas.

A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.

a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa


correta da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma
justificativa correta da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.

2 (ENADE – 2013) Uma revista lançou a seguinte pergunta em


um editorial: “Você pagaria um ladrão para invadir sua casa?”.
As pessoas mais espertas diriam provavelmente que não, mas
companhias inteligentes de tecnologia estão, cada vez mais,
dizendo que sim. Empresas como a Google oferecem recompensas para

126
hackers que consigam encontrar maneiras de entrar em seus softwares. Essas
companhias frequentemente pagam milhares de dólares pela descoberta de
apenas um bug, o suficiente para que a caça a bugs possa fornecer uma renda
significativa. As empresas envolvidas dizem que os programas de recompensa
tornam seus produtos mais seguros. “Nós recebemos mais relatos de bugs, o
que significa que temos mais correções, o que significa uma melhor experiência
para nossos usuários”, afirmou o gerente de programa de segurança de uma
empresa. Mas os programas não estão livres de controvérsias. Algumas
empresas acreditam que as recompensas devem apenas ser usadas para
pegar cibercriminosos, não para encorajar as pessoas a encontrar as falhas. E
também há a questão de double-dipping, a possibilidade de um hacker receber
um prêmio por ter achado a vulnerabilidade e, então, vender a informação
sobre o mesmo bug para compradores maliciosos.

Considerando o texto acima, infere-se que:

a) ( ) Os caçadores de falhas testam os softwares, checam os sistemas e


previnem os erros antes que eles aconteçam e, depois, revelam as
falhas a compradores criminosos.
b) ( ) Os caçadores de falhas agem de acordo com princípios éticos
consagrados no mundo empresarial, decorrentes do estímulo à livre
concorrência comercial.
c) ( ) A maneira como as empresas de tecnologia lidam com a prevenção
contra ataques dos cibercriminosos é uma estratégia muito bem-
sucedida.
d) ( ) O uso das tecnologias digitais de informação e das respectivas
ferramentas dinamiza os processos de comunicação entre os usuários
de serviços das empresas de tecnologia.
e) ( ) Os usuários de serviços de empresas de tecnologia são beneficiários
diretos dos trabalhos desenvolvidos pelos caçadores de falhas
contratados e premiados pelas empresas.

127
128
UNIDADE 2
TÓPICO 4

GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA
INTERNACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Os elementos que compõem o repertório da civilização ocidental em termos
de instituições, códigos jurídicos, leis, estatutos reguladores e pacificadores,
por muito tempo encontraram-se centrados em favorecer o poder político e os
sistemas econômicos, os quais, no momento presente, encontram-se em situação
de crise e mal-estar dos indivíduos, e a alternativa diante deste cenário tem sido a
retomada das formas de viver e fazer, dos costumes, valores, relações e vínculos
de interdependência e reciprocidade no interior das comunidades.

Vivemos em um momento de crises e impasses, isso encontra-se


diretamente relacionado com as matrizes e modelos teóricos que legitimavam o
crescimento econômico equilibrado (crença no mercado autorregulado), o modelo
de organização política (Estado neoliberal), o sistema monetário internacional
(baseado no padrão-ouro) e o equilíbrio de poder na geopolítica internacional
(hegemonia norte-americana e europeia).

Sem sombra de dúvidas, representamos uma civilização centrada no


otimismo do progresso e do trabalho capitalista, e cada vez mais é reconhecida
a afirmação do individualismo. À medida que avança o processo de conquista
da propriedade e da individualização dos sujeitos, faz-se necessário cada vez
mais constituir normas e um conjunto de outros valores éticos, sociais e de
regulamentação que garantam equidade e paz nas relações dos indivíduos.
Bem, você deve estar se perguntando: como chegamos a este estado?! Ao longo
dos próximos dois subtópicos procuramos apresentar elementos para que se
compreenda o processo político, social e histórico desse quadro.

2 GLOBALIZAÇÃO: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA


Trata-se de um fenômeno de organização e circulação política, econômica,
comercial e cultural, que foi praticado pelas mais diversas sociedades e desde
os mais antigos mercadores (fenícios) da antiguidade, que se organizavam em
caravanas por terra e expedições de navegadores por mares e oceanos.

129
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

FIGURA 21 – GLOBALIZAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://queconceito.com.br/wp-content/uploads/Globaliza


ção.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.

Alguns autores situam o fenômeno no final do século XV e ao longo do


século XVI, quando se dá início às grandes navegações que partiam do continente
europeu em direção a regiões como a América, África, Oceania e Ásia.

A globalização também é apresentada como sendo resultante das


concepções e direitos/deveres que existiam no interior da Revolução Francesa e da
Revolução Industrial inglesa do século XVIII, ao desenvolvimento do capitalismo
em escala mundial, bem como uma continuidade da lógica civilizacional que
tem sido designada por modernidade (concentração da população nas cidades,
industrialização da produção, racionalização do pensamento, laicidade do Estado),
que se acentuará ao longo do século XIX.

As possibilidades de atuação da economia, em favor dos interesses de


mercado, foram potencializadas pelo espírito capitalista, que estava amparado
na livre circulação de mercadorias das doutrinas do “deixe ir, deixe vir e tudo
se autorregulará”. Esta fórmula e lei foram responsáveis por conferir ao sistema
financeiro a dinâmica da “oferta e da procura” de produtos, a transitoriedade e a
flutuação de preços, de lucros e de taxas de impostos, que por sua vez atribuíram
ampla independência, liberdade nas relações comerciais e na prestação de serviços.

O mercado preocupou-se, também, em perceber o potencial de consumo/


mercado, passando a intercambiar produtos entre as regiões que não eram capazes

130
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL

de produzi-los. A esta prática pode-se exemplificar com os produtos ingleses e


franceses, que eram negociados com produtos e as populações dos países indianos,
americanos, africanos.

Resumidamente, o mercado atendia às demandas de economia (comércio,


circulação e consumo de produtos); o Estado, por sua vez, atendia a necessidades
de serviços junto à população (serviços educacionais, infraestrutura, habitação,
saúde e lazer).

A globalização, que se apresenta ao nosso momento histórico, ganhou


ênfase no final dos anos de 1980, quando foi reconhecido o fim do cenário da Guerra
Fria, com as experiências da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas)
e foi desfeito o muro de Berlim, que separava a Alemanha Oriental (comunista/
socialista) da Alemanha Ocidental (capitalista).

Ocorreu também a formação da OMC: Organização Mundial do Comércio


(que conta com a adesão de mais de 150 países) e os blocos econômicos da UNIÃO
EUROPEIA, NAFTA, MERCOSUL, APEC, ASEAN, entre outros. Na América
Latina estruturou-se a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe), órgão para pensar o desenvolvimento econômico, social e sustentável. Esta
articulação de países indica um forte movimento de regionalização das relações
econômicas e políticas, assim como das relações sociais e culturais entre os mesmos,
e por sua vez, dos conceitos de fronteira, espaço, nação, Estado, entre outros.

Ianni (1994) foi categórico quando refletiu que a fábrica global é tanto
metáfora quanto realidade, altamente determinada pelas exigências da reprodução
ampliada do capital.

No âmbito da globalização, os interesses de mercado revelam-se ávidos


por processos que sejam capazes de promover cada vez mais a concentração e
centralização do capital, para tanto articulam em torno de si empresas, mercados,
forças produtivas, centros decisórios, alianças, estratégias e planejamentos de
corporações, que se estendem e ultrapassam províncias, nações e continentes, ilhas
e arquipélagos, mares e oceanos (IANNI, 1994).

Os Estados, em vez de desaparecer, adquirem uma nova lógica de operação,


em que seu poder é limitado frente à expansão das forças transnacionais que
reduzem a capacidade dos governos de controlar os contatos entre as sociedades e
os indivíduos, por sua vez são forçados a impulsionar as relações transfronteiriças.
Nessa perspectiva, os problemas políticos nem sempre são resolvidos de forma
adequada e satisfatoriamente, então, eis que se faz necessário buscar a cooperação
com outras nações e agentes não estatais a fim de atender tais demandas
(KEOHANE; NYE, 1989).

131
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

2.1 O TERCEIRO SETOR


O terceiro setor ganhou espaço de constituição e atuação a partir dos
anos de 1990. E instalou-se como alternativa em meio ao setor público/estatal
(primeiro setor) e o setor privado/industrial/mercado (segundo setor), no sentido
de intermediar, gerenciar e prestar serviços de interesse público em situações e
contextos que os dois outros setores não atingem/alcançam.

Por meio dessa formulação e composição de setores, cria-se um vácuo


de poder e ação que favorece a constituição de organizações, coletividades
internacionais e transnacionais, governamentais e não governamentais, que se
propõem a apresentar decisões políticas e ações sociais.

O terceiro setor constitui uma espécie de sociedade civil de caráter jurídico.


Os órgãos que compõem o terceiro setor podem ser sociedades, associações,
fundações, institutos, ONGs (Organismos Não Governamentais), OSCIPs
(Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). As ONGs que compõem
uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos ou econômicos,
encontram-se pautadas nas normas e legislações da Declaração Universal dos
Direitos Humanos e na Constituição Federal. Essas associações recebem doações
de empresas e pessoas físicas que procuram deduzir impostos que devem ser
pagos ao governo federal, para tanto precisam atuar em atividades que se
caracterizam como: entidades de interesse público, como fundos de direitos da
criança e do adolescente; instituições de ensino e pesquisa; e atividades culturais
e audiovisuais.

Entre as críticas que são feitas à modalidade, encontram-se as situações em


que se caracterizam espaços que favorecem a atuação de grupos que se utilizam
de verbas públicas em nome de grupos privilegiados.

3 GLOBALIZAÇÃO: UM BALANÇO
A globalização pode apresentar sua face mais bem-sucedida, que reside
no fato de que foi capaz de favorecer a intercomunicação entre povos e as pessoas
das mais diferentes e inusitadas regiões do planeta, diminuir as fronteiras no
campo dos transportes e promover intercâmbios nas atividades de comunicação
e informações.

A formação dos grupos regionais é capaz de conferir aos seus membros


uma melhor possibilidade de negociação e barganhas no jogo das relações que
se dão no cenário mundial. Por outro lado, quando interpretadas nas relações
internas, em especial com os membros que compõem o grupo do qual fazem parte,
evidenciam-se realidades sociais, culturais, condições de produção e capacidade
de consumo desigual, de forte dependência tecnológica e vulnerabilidades
política e econômica (a exemplo disso pode-se considerar o grupo NAFTA, que é
composto pelos países: Canadá, Estados Unidos da América e México).

Todavia, acabou por prevalecer o caráter de fazer com que as relações


políticas, os governos, os grupos sociais e movimentos culturais fossem colocados

132
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL

a favor dos interesses da economia. Acabou-se por padronizar cada vez mais os
processos de produção, os desejos de consumo, os estilos de vida e as culturas,
anulando cada vez mais as diferenças, identidades, as especificidades, as tradições
locais e regionais, qualquer tipo de fronteiras e valores morais tradicionais.

Os modelos ideais de globalização que foram postulados garantiam que


os indivíduos se abrissem a uma imensa variedade e riqueza de itens, tanto
materiais como imateriais. Munidos desses itens, a vida ganharia uma dinâmica
e a criatividade dos ares de liberdade, que por sua vez contagiariam com imensa
alegria e colocariam em movimento o ambiente cultural e intelectual dos hábitos,
dos costumes, das mentalidades de todos e a todos em toda face da Terra
(BERMAN, 1986).

A partir das formulações de produção, trabalho e economia postuladas


pelos teóricos do século XIX, gerou-se uma espécie de novo modelo antropológico
de homem, o Homo economicus, que tem como centro e modo de vida os princípios da
economia, que se revela pelos aspectos de um comportamento de individualismo
exacerbado, competição desenfreada e o consumismo sem sentido, numa espécie
de busca pelo ter e ter cada vez mais, e obtido a qualquer custo.

AUTOATIVIDADE

1 (ENADE – 2014) Com a globalização da economia social por meio


das organizações não governamentais, surgiu uma discussão do
conceito de empresa, de sua forma de concepção junto às organizações
brasileiras e de suas práticas. Cada vez mais é necessário combinar
as políticas que priorizam modernidade e competitividade com incorporação
dos setores atrasados mais intensivos de mão de obra. A respeito desta temática,
avalie as afirmações a seguir:

I- O terceiro setor é uma mistura dos dois setores clássicos da sociedade, o


público representado pelo Estado, e o privado representado pelo empresariado
em geral.
II- É o terceiro setor que viabiliza o acesso da sociedade à educação e ao
desenvolvimento de técnicas industriais, econômicas, financeiras, políticas e
ambientais.
III- A responsabilidade tem resultado na alteração do perfil corporativo e
estratégico das empresas, que têm reformulado a cultura e a filosofia que
orientam as ações institucionais.

Está correto o que se afirma em:

a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
133
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

4 A POLÍTICA INTERNACIONAL
A política ganhou um caráter internacional a partir do século XVIII,
quando do surgimento do Estado Moderno, em que o sistema capitalista irá se
instalar a fim de obter condições e favorecimentos para expandir seus alcances em
termos de matérias-primas, frentes de investimento e mercado consumidor. Ela
pode ser identificada ainda quando da vigência do regime de Colonialismo, que
vigorou na era das grandes navegações, quando Espanha e Portugal estabeleciam
e organizavam politicamente suas colônias de exploração nos continentes
americano e africano.

5 O ESTADO MODERNO E O LIBERALISMO


Surge no contexto em que ocorre o enfraquecimento do Antigo Regime
(marcado pelas monarquias), das aristocracias, do clero, da Igreja Católica como
um todo, diante do fortalecimento crescente do Estado moderno, da burguesia
comercial, do liberalismo e do capitalismo.

O Estado moderno possuía como principal intento reestruturar os


governos de forma laica/secular, de forma a estabelecer regulação política,
jurídica e institucional das relações entre religião e política, Igreja e Estado, ou
seja, conferir emancipação do Estado e do ensino público dos poderes eclesiásticos
e de toda referência e legitimação religiosa. Nesse contexto, caberia ao Estado
garantir a neutralidade em matéria religiosa (ou a concessão de tratamento
estatal isonômico às diferentes agremiações religiosas), a tolerância religiosa e as
liberdades de consciência, de religião (incluindo a de escolher não ter religião) e
de culto (CASANOVA, 1994).

A busca por um novo/outro conjunto de valores morais, o exercício de


métodos sofisticados de pensar e sentir, a racionalidade desprendida de uma
matriz religiosa dogmática, o reconhecimento da subjetividade inerente às
relações humanas, a defesa da liberdade de pensar e agir conforme uma ética
particular/interiorizada, tudo isto vai reforçar a crítica aos resquícios que ainda
persistiam do mundo feudal, do Antigo Regime e dos sistemas monárquicos que
perduraram ao longo dos séculos XVII e XVIII.

O Estado Moderno e o Liberalismo concatenam todo um processo


histórico, com múltiplas determinações: a ideia moderna de indivíduo (que não
se restringe ao ideário liberal) e que surgiu em meio a mudanças profundas e
que abrangiam as mais diversas relações humanas, tais como religião, política,
economia, trabalho, família, ideias, artes: tudo convergindo e reforçando
mutuamente para produzi-la.

O Imperialismo que surgiu foi uma formação de governo e política, que


se praticou muito no século XIX, e foi exercido pelos países europeus para com

134
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL

os países de regiões como a África, América e Ásia, de onde obtinham matérias-


primas para empreender sua produção industrial, consolidavam relações
comerciais e mercados consumidores e exerciam influência/dominação cultural.

6 O NEOLIBERALISMO E A TERCEIRA VIA


O neoliberalismo forjou-se a partir dos elementos já existentes no interior
do liberalismo clássico do século XVIII, porém, agora privilegiou os ideais
econômicos, em especial os princípios de liberdade de empreendimento, de
propriedade e de lucro, em detrimento das demandas/necessidades políticas e
sociais (legitimidade, direitos e serviços) dos indivíduos.

Dentre as críticas que são feitas ao neoliberalismo tem-se as políticas


que promovem a redução da interferência/regulação do Estado nas atividades
econômicas/financeiras, permitindo o livre funcionamento do mercado, inclusive
na distribuição da riqueza; assim como na promoção de bem-estar, em prol da
privatização por grupos privados na oferta de serviços de saúde, educação,
cultura, pensões, entre outros.

No contexto de política econômica, os governos deveriam atuar no sentido


de favorecer mudanças tecnológicas e a rentabilidade das empresas, favorecendo
cada vez mais o mercado livre e a redução da taxa de acumulação.

As principais experiências de governos neoliberais podem ser identificadas


com o caso da Inglaterra, sob o governo da primeira ministra Margareth Thatcher,
e dos Estados Unidos, com o presidente Ronald Reagan; do ditador Augusto
Pinochet, no Chile; e em termos de bases teóricas, a Escola de Chicago, liderada
pelos economistas Milton Friedman e George Stigler.

A ‘terceira via’ foi apresentada como alternativa frente às crises que


emergiam das políticas neoliberais, que propõe uma espécie de humanização do
capitalismo, nos aspectos do malefício do Estado neoliberal e da sociedade de livre
mercado. Na qual estariam engajados tanto dirigentes políticos de países ricos e
representantes de empresas transnacionais, que em meio às crises econômicas se
dedicariam a amenizar os impactos sociais, as injustiças, revoluções e caos, no
sentido de manter a paz e coesão social.

Anthony Giddens (2001), um dos principais estudiosos e defensores da


‘terceira via’, a explica como sendo uma estratégia de âmbito mais global, a fim de
favorecer e melhorar as sociedades burguesas e democráticas, uma perspectiva
de que os Estados/governos devem se reformar e a sociedade civil se qualificar/
educar no sentido de os indivíduos exercerem a cidadania para participar e
decidir diante das demandas de caráter coletivo.

135
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

Os defensores da ‘terceira via’ interpretam que grande parte dos problemas


que acometem os países pobres e subdesenvolvidos não são fruto da economia
global ou das práticas de exploração das nações ricas, e sim das condições internas
das próprias sociedades.

A terceira via pode ser observada quando partidos políticos de esquerda,


ou de cunho social, trabalhista e democrático, procuram ajustar suas políticas aos
moldes neoliberais e, por outro lado, criar modos particulares de amenizar os
problemas sociais e os riscos de degradação sociopolítica de seus países, em meio
ao capitalismo que se torna cada vez mais global e ao mercado que se faz cada vez
mais onipresente, ambos processos de pouca probabilidade de reversão.

7 TENDÊNCIAS AOS GOVERNOS E À POLÍTICA


INTERNACIONAL
Existem impasses que se abatem sobre as mais diversas nações e países
do globo, tais como governos e os sistemas políticos altamente burocratizados
e quase falidos, e incapazes de conseguirem proporcionar justiça e bem-estar
social, envolvidos em redes profundas de corrupção.

O estudioso Ladislau Dowbor procura fazer uma síntese da trajetória e


do perfil do conceito de governo, levando em consideração o caráter que este
apresentou em termos de princípios na responsabilidade pela administração, na
relação com os cidadãos e no atributo que norteia os espaços, os processos e as
instâncias que compõem um governo.

Observe com atenção o quadro a seguir, que faz as devidas distinções e


estabelece comparações e reflexões.

QUADRO 6 – EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE GOVERNO - LADISLAU DOWBOR


ADMINISTRAÇÃO NOVA GESTÃO GOVERNANÇA
PÚBLICA PÚBLICA PARTICIPATIVA
PRINCÍPIOS Cumprimento de Eficiência e Responsabilidade,
ORIENTADORES leis e regras resultados transparência e
participação
RESPONSABILIDADE
DA Políticos Clientes Cidadãos, atores
ADMINISTRAÇÃO
SUPERIOR

RELAÇÃO Obediência Credenciamento Empoderamento


CIDADÃO-ESTADO
ATRIBUTO-CHAVE Imparcialidade Profissionalismo Participação
FONTE: World Public Sector Report (2005, p. 7)

136
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL

Estabelecendo relação com o quadro geral dos modelos econômicos que


influenciaram e configuraram os sistemas políticos, pode-se situar os modelos
de liberalismo à estrutura de governo denominada de ‘administração pública’,
modelo de governo que vigorou ao longo do neoliberalismo na categoria de ‘nova
gestão pública’ como que sendo pertencente à terceira via, identificado também
como ‘governança participativa’.

Nesse contexto de mudanças de modelos de Estado/governo, cada vez


mais o Estado é chamado a ampliar os investimentos em recursos humanos e
infraestrutura local, sendo de responsabilidade do Estado proteger os grupos
vulneráveis e o meio ambiente, aproximar o Estado da população, criar meios e
políticas que favoreçam a inclusão e participação efetiva dos cidadãos, reduzir
as oportunidades de corrupção, garantir estabilidade macroeconômica, favorecer
parcerias entre o setor público e o privado, gerir os processos de privatização,
fortalecer redes industriais em nível nacional, regional e internacional; apoiar as
exportações, entre outros.

DICAS

Acesse a página do professor da Universidade de São Paulo/USP Ladislau Dawbor.


Aprofunde seus conhecimentos sobre política, governo, economia, tecnologia e sociedade
com as dicas e sugestões de livros, artigos e filmes lá indicados. Disponível em: <http://
dowbor.org/>. Acesso em: 4 jun. 2015.

137
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• A globalização consiste em um fenômeno antigo em meio às sociedades que


procuravam intercambiar produtos, tecnologias e informações, porém, ganhou
forte impulso ao final da década de 1980, quando ocorreu a queda do Muro de
Berlim e do fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

• O fenômeno da mundialização das relações financeiras e da globalização


favoreceu alguns grupos regionais que buscam tanto favorecer como proteger
os processos industriais que existem no interior dos países membros, e neste
contexto os governos desempenham papel fundamental.

• Dentre os desafios que ocorrem no interior dos grupos econômicos está


a heterogeneidade das bases produtivas, a vulnerabilidade econômica,
instabilidades políticas e a diversidade sociocultural de cada país membro.

• A terceira via consiste em uma união de representantes de órgãos políticos


e financeiros que pretendem apresentar soluções no sentido de amenizar e
humanizar os impactos do sistema neoliberal em meio à sociedade e às
populações.

• O perfil de Estado/governo que se faz necessário no cenário político atual é o


de um governo capaz de proteger os grupos vulneráveis e o meio ambiente,
criar meios e políticas que favoreçam a inclusão e participação efetiva dos
cidadãos, reduzir a corrupção, garantir estabilidade macroeconômica, gerir
os processos de privatização, fortalecer redes industriais em nível nacional,
regional e internacional.

138
AUTOATIVIDADE

1 (ENADE – 2014) Ideais liberais e métodos democráticos


vieram, gradualmente, se combinando num modo tal que, se é
verdade que os direitos de liberdade deram início à condição
necessária para a direta aplicação das regras do jogo democrático,
é igualmente verdadeiro que, em seguida, o desenvolvimento da democracia
se tornou o principal instrumento para a defesa dos direitos de liberdade.
De acordo com a orientação teórica expressa no texto acima, avalie as
afirmações a seguir.

I- Liberalismo e democracia, doutrinas políticas distintas, exercem grande


influência no ordenamento político das sociedades atuais.
II- Liberalismo e democracia são doutrinas políticas que surgiram em
momentos diferentes e convergiram para dar origem à democracia liberal.
III- Liberalismo é uma doutrina política incongruente com o ideal igualitário,
que caracteriza a tradição democrática.

É correto o que se afirma em:

a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.

139
140
UNIDADE 2
TÓPICO 5

RELAÇÕES DE TRABALHO

1 INTRODUÇÃO
Um indivíduo/trabalhador, consciente de si e de seu fazer profissional,
geralmente pergunta-se sobre aspectos inerentes ao ofício, tais como: saber
fazer, técnica, matéria-prima e energia, os meios de produção, o produto, custo,
margem de lucro, jornada de trabalho, remuneração, condições de trabalho,
comércio, consumo, categoria de trabalho, reconhecimento e valor/sentido social
e a realização, a satisfação/sentido pessoal, os âmbitos e as instituições que
intermedeiam seu fazer profissional.

2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO


Ao pensar e refletir sobre relações de trabalho, parece que se toca em uma
questão que é responsável por causar entusiasmo e resistência aos indivíduos, ao
mesmo tempo as pessoas se sentem dispostas e se dedicam a certa atividade e,
por outro lado, recuam diante das condições, regramentos e normatizações em
que precisarão estar alinhadas e adequadas. Percebe-se, também, uma espécie
de um relutar diante do fato da exploração do homem pelo próprio homem, no
sentido de obter e gerar riqueza.

Conta-se com todo um processo e imaginário histórico para que isso


ocorra, no sentido de que as relações de trabalho se encontram forjadas em meio
a elementos religiosos, sociais, econômicos e políticos, e procura-se apresentar as
principais concepções e dinâmicas que o homem atribuiu ao trabalho ao longo
de sua jornada histórica, bem como as possibilidades do momento presente e
vislumbrar tendências que as relações de trabalho podem trilhar.

Albornoz (2008) apresenta que a expressão trabalho contém muitos


significados, tais como esforço, fadiga, sofrimento, labuta, castigo, realização,
sacrifício; que existem muitas expressões, nas mais diferentes línguas, como labor
e operare no italiano, travailler no francês, work no inglês; bem como comporta
correlações entre as mesmas, como no caso da palavra latina arvum, que significa
terreno arável, que surgiu da noção do alemão arbeit, que significa trabalho.

Na Grécia antiga, pode ser associada à noção de poiesis, que significava


o fazer, a fabricação, o que o ser humano produz tanto material: uma obra de
arte executada por um artista, escultor, ceramista; como não material: instituições
sociais, referências culturais etc.
141
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

A expressão trabalho, tal como é escrita e utilizada na língua portuguesa,


deriva da expressão latina tripalium, que ao longo da Idade Média era o nome
dado a um instrumento de tortura que apresentava três paus reunidos, utilizado
pelos camponeses e servos para bater o trigo, as espigas de milho, e para desfiar
e esfiapar o linho; certa vez foi adaptado e utilizado como instrumento de tortura
(ALBORNOZ, 2008).

O missionário católico Raimundo Lélio (1232-1315), que atuou entre


os povos catalães no século XIII, foi o responsável por reabilitar a expressão e
concepção ‘trabalho’, que foi amplamente difundida na sociedade moderna
industrial e capitalista (GANDILLAC, 1995). A concepção de trabalho também é
identificada na denominação de tripalium, que foi extraída do latim e designava
um instrumento de tortura reservado aos escravos. Lélio a substituiu pela
expressão treballan, que é oriunda do idioma catalão, que designa a habilidade
em elaborar a matéria bruta, transformando-a em obra, realização e propriedade
humana, e dignificadora do próprio homem.

Labor e trabalho são expressões muito utilizadas e até sinônimos, porém


Arendt (2007) nos propõe que se faça distinção entre elas. Por labor a autora
relaciona o ato de trabalhar, que está na labuta, numa lógica de estar em curso,
na disposição de verbo no gerúndio, está ocorrendo, não comporta a noção de
produto final. Por trabalho designa as atividades feitas com as mãos, a noção de
produto, trata-se de um trabalho que é apresentado como acabado.

Os estudiosos são unânimes ao apresentar que a palavra trabalho deve


ser identificada e compreendida ainda nas sociedades ágrafas (sociedade sem
escrita), quando ocorreu a passagem das atividades de caça, coleta e pesca à
prática da agricultura e na domesticação dos animais.

Durante muitos séculos, a moral e a ética do “trabalho” e da “conquista”


permaneceram, em grande parte, como um fato circunscrito ao universo rural,
ao lavrar e semear a terra, colher e armazenar alimentos, domesticar e tratar
animais, construir pontes, moinhos, celeiros, castelos, palácios, igrejas, minerais,
metais preciosos, entre outros.

As concepções foram alteradas, inclusive as mais antigas, quando


reunidas nos livros da Bíblia Sagrada, em que o trabalho não é mais visto como
um indício da maldição de Deus a Adão e Eva, com a expulsão do paraíso, sendo
que teriam que ganhar o pão com o suor do próprio rosto. Os gregos distinguiam
entre esforço do trabalho na terra, a fabricação do artesão que servia ao usuário,
e a atividade livre do cidadão que discutia os problemas da cidade. De modo
muito semelhante na Idade Média, trabalhar com as mãos era sinônimo de ser
escravo ou servo, um indício de que o indivíduo pertencia aos grupos inferiores
da sociedade.

A partir da reforma protestante, empreendida pelo teólogo Martinho


Lutero (1483-1546), a concepção de trabalho foi profundamente reformulada no

142
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO

sentido de que o trabalho, como vocação, conduziria os indivíduos à salvação da


alma. João Calvino (1509-1564), teólogo francês, apresentava a noção de que o
trabalho, o êxito e a prosperidade material em vida deveriam ser compreendidos
como uma forma de conquistar a benevolência de Deus. Ambas as teorias
favoreceram o contexto no qual implantavam-se políticas de mercantilismo e
capitalismo.

O sociólogo Max Weber (1864-1920) defendeu, em seus estudos, que os


valores religiosos do protestantismo favoreceram e coincidiam com o espírito do
capitalismo, no sentido de que superavam a moral católica de renúncia ao mundo
material, do acúmulo de bens financeiros e ao lucro, na vida religiosa de devoção
contemplativa e de renúncia ao mundo material.

A noção de vocação para o trabalho foi associada também à ideia de


amor ao próximo, e quanto mais intensa a atividade profissional, maior a
aproximação da salvação. Por outro lado, a falta de vontade de trabalhar passou
a ser compreendida como ausência do estado de graça e do não merecimento da
salvação de Deus. Assim, estava autorizado que todo indivíduo empreendesse a
busca pela riqueza material, podendo realizar grandes ações e assim galgar sua
própria salvação.

Uma das principais alterações que a modernidade realizou foi a de


apropriar-se da concepção positiva de trabalho e mudar o ambiente de realização
do mesmo, que do interior das casas ou no interior das corporações de ofício
passou a ser realizado em cidades, no interior dos espaços das fábricas.

Foi nesta época que surgiram as noções de divisão de trabalho, na qual


cada indivíduo, com a fração/parte que desempenha, na sua especialidade,
contribui à soma de trabalho coletivo, que por sua vez gera a riqueza de cada
nação, o que se tornaria uma espécie de consciência e interesse coletivo e comum
a todo indivíduo. É nesse momento que a mudança de percepção da noção de
trabalho passa a ocorrer, no sentido de que as pessoas passam a trabalhar para
poder consumir, e não mais para produzir algo.

A partir do século XVIII, os economistas Adam Smith (1723-1790) e David


Ricardo (1772-1823) reforçam os valores de atividades produtivas e de riqueza
material, e defendem que o trabalho é o grande responsável pela riqueza social, o
que por sua vez supervalorizou a ideia de homem operário, Homo economicus, que
produz riqueza, que contribui para que o sistema econômico continue a alcançar
seus objetivos e lançar novas possibilidades de investimentos e lucratividade. Foi
nesse contexto que o estudioso alemão Karl Marx (1818-1883) defendeu que a
essência do homem é o trabalho e não a sua vida espiritual. Passou a observar
mais de perto a relação do homem e do trabalho, ao ponto de analisar dimensões
peculiares e subjetivas da relação do homem com o trabalho e a mercadoria, e se
engajar ativamente em fazer o processo de crítica e denúncia das contradições
que envolviam trabalhadores, proprietários dos meios de produção e burgueses
comerciantes, abrangendo o sistema capitalista como um todo.

143
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

No entanto, a perspectiva de Marx era a de que o exercício crítico, através


da intelectualidade, não era suficiente, para ele o mundo não se transforma com o
pensamento e leis, o mundo deveria ser transformado pela práxis, na organização
dos trabalhadores e na realização de atos revolucionários. A divisão do trabalho
era responsável pela alienação do homem na sociedade capitalista, que por sua
vez se revelava em face à perda da totalidade e da dignidade humana. Caberia
ao proletariado a responsabilidade pelo ato de fazer a revolução e transformar a
sociedade, tomar o poder e abolir a relação capitalista de produção. Em meio ao
campo de luta e revoluções, os trabalhadores deveriam estar conscientes de si e
de sua classe/categoria e empreender as revoluções que fossem necessárias a fim
de desfazer o quadro de desigualdade, injustiças e exploração que o trabalho
favorecia. Marx defendia a superação do sistema capitalista pelo comunismo,
numa espécie de sociedade associativa em que o livre desenvolvimento individual
seria a condição do livre desenvolvimento de todos (MARX; ENGELS, 2010).

Segundo Abbagnano (2000), a relação do trabalho com a existência humana


passa a ser lugar-comum na cultura contemporânea. Mesmo fora do âmbito
marxista, o caráter penoso atribuído ao trabalho não é atribuído ao trabalho em
si, mas às condições sociais em que ele é realizado nas sociedades industriais.

O trabalho passa a ser visto como parte fundamental da natureza humana.


O trabalho é ainda hoje visto como um valor social, sendo o trabalhador um
personagem social merecedor de respeito, admiração e dignidade pelas obras
que faz a si, a seus familiares e semelhantes.

A nova concepção que foi atribuída ao trabalho combina com os valores das
mudanças no interior da fabricação de produtos. O homem, reconhecendo que o
trabalho não era mais motivo de sofrimento e castigo, mas sim uma atividade que
o tornaria socialmente reconhecido, sentiu-se motivado e disposto a se dedicar e
doar a fim de preencher as oportunidades e a demanda da manufatura e indústria
nascente, bem como o campo das invenções de máquinas e técnicas e o próprio
sistema capitalista, que estavam exigindo.

Trabalho, geralmente, pode ser definido como atividade coordenada


de caráter físico ou intelectual, necessária a qualquer tarefa, serviço ou
empreendimento, ocupação, ofício, exercício de profissão. Um aspecto que
distingue o trabalho humano do trabalho dos outros animais está no fato de que o
trabalho e esforço humanos são atribuídos à intencionalidade, além da operação
instintiva e programada que é reconhecida nas atividades dos animais. No homem
é percebido o grau de especialização, complexidade, tanto das atividades, como
dos meios dos quais ele se utiliza para realizar o trabalho.

A produção artesanal, produção familiar em espaços domésticos ou


pequenas oficinas, como alfaiates, ceramistas, sapatarias, na qual importa fazer
um bom trabalho, um produto único, com maestria e arte de fazê-lo. O trabalhador
encontrava-se livre para organizar seu trabalho, a seleção de sua matéria-prima,
o começo, a forma, a técnica, o ritmo, os detalhes, o acabamento, a entrega. Não
ocorre a distinção de trabalho e lazer, divertimento e cultura, ambos se fundem.

144
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO

A Europa viveu seu momento de desenvolvimento industrial ainda no


século XIX, na América Latina ocorreu somente na segunda metade do século XX,
realidades nas quais o processo de aprimoramento da produção acabou por se
modificar, não seguindo a lógica de fases e processos que ocorreram na Europa.
O quadro industrial dessa região apresenta-se ora como que ainda na segunda
revolução industrial, e ora na produção que se utiliza de tecnologia de ponta e
robotização, em especial a migração e empregabilidade no setor de serviços. Ao
mesmo tempo, encontram-se inúmeros desafios em termos de dependência em
relação a tecnologias e desigualdades no que diz respeito ao acesso ao emprego.

No século XIX, pode-se falar que a produção capitalista, que introduziu


a máquina a vapor e a modernização dos métodos de produção, desintegrou
costumes e introduziu novas formas de organização da vida social. A transição
da produção artesanal para a manufatureira e desta para a produção fabril, a
migração do campo para a cidade; o fim da servidão; o desmantelamento da
família patriarcal; a introdução do trabalho feminino e infantil.

A individualização da produção, a programação das atividades, linhas


de montagem, produção em série e o consumo em massa (fordismo e taylorismo)
almejavam articular o acesso a matérias-primas, à mão de obra, ao fácil
escoamento da produção e obter maiores margens de lucros entre os custos e
a comercialização da produção, que por sua vez acarretam deslocamentos que
desperdiçavam tempo significativo na vida dos trabalhadores, além da produção
de poluição e impactos ao meio ambiente.

A maquinização e a mecanização da produção conferiram ao trabalhador


a percepção da perda do saber fazer, a perda da noção de produtor. Diante disso,
o trabalhador se sentiu pressionado a se adaptar para poder operar as máquinas
que estavam sendo introduzidas nos espaços de trabalho. A separação, divisão
e especialização da produção fizeram com que o produtor não conseguisse mais
reconhecer a totalidade do produto depois de pronto. Mudanças da concentração
da população em relação às atividades econômicas e oportunidades de trabalho,
assim como o trabalho na indústria, acabaram por concentrar a população em
determinadas regiões e cidades, tornando-as superpovoadas.

O que Marx procurou definir como ‘alienação’ encontrava-se nascente


nesses processos, e depois poderia ainda ser verificada em situações como a do
consumo dos produtos que estavam sendo produzidos/consumidos, no contexto
industrial em que a produção se dava em grande escala e para consumo em massa.
Trabalhadores como alfaiates, costureiras, sapateiros, eram os testemunhos mais
expressivos desse processo.

Diante da reflexão de Arendt (2007), podemos afirmar que, desde o século


XIX, o Homo faber foi perdendo sua aura e passou a ser valorizado o “princípio
da felicidade”. De fato, o progresso da civilização não produziu uma sociedade
de indivíduos políticos ou de trabalhadores que amam seu ofício, e sim uma
sociedade de consumidores, de indivíduos isolados e desenraizados, uma cultura

145
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

de massa imersa em futilidade. E a construção da identidade deixou de ser


pautada em atividades criativas e produtivas, à medida que o trabalho se tornou
apenas um meio de satisfazer necessidades ou desejos de consumo.

3 AS MULHERES NO CONTEXTO DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


As mulheres participaram da produção de utensílios, alimentos e
mercadorias desde os tempos mais remotos, que envolviam desde as atividades no
interior da casa, família e comunidade. A alimentação, o artesanato e a educação
das crianças foram inseridos no interior dos espaços de trabalho com fortes
projetos a partir da Revolução Industrial. Os maiores problemas surgem quando
as mulheres passam a ser empregadas no interior das indústrias modernas, em
meio a longas jornadas de trabalho, com a presença de maquinários, em que os
salários pagos às mulheres eram inferiores.

A gradual introdução das mulheres no campo de trabalho favoreceu


a mudança de hábitos e costumes por parte das mesmas. O fato de trabalhar
no interior das fábricas exigia novos comportamentos, posturas e até uma
indumentária que favorecesse a realização das atividades e evitasse possíveis
acidentes de trabalho. Os vestidos longos e rodados, os chapéus e demais
acessórios ofereciam risco de acidentes se usados nos espaços de trabalho em
meio às máquinas.

As roupas que deveriam ser usadas no interior das indústrias precisavam


ser justas, retas e que cobrissem o corpo o máximo possível. A condição e imposição
do meio de trabalho foram responsáveis por depreciar a feminilidade, fragilidade
e sensibilidade da mulher e favorecer uma postura rígida, tenaz e ereta. Foi neste
contexto que a estilista francesa Coco Chanel (1883-1971) começa a projetar roupas
com design mais favorável às atividades no interior das fábricas e empresas, nas
quais se destacam cortes e precisão geométrica das roupas e modelos ajustados
ao corpo, ausentes de babados, volumes, acessórios, entre outros.

ATENCAO

1º de Maio: Dia do Trabalhador, Dia do Trabalho ou Dia Internacional dos


Trabalhadores
Esta data, que é comemorada em diversos países, como Brasil, Portugal, Austrália, Angola,
França, Suécia, Moçambique, é resultante de uma greve geral de trabalhadores que ocorreu
no ano de 1886, no interior de Chicago, nos Estados Unidos da América. A paralisação
foi responsável por envolver diversos parques industriais da cidade. Dentre as causas da
paralisação encontrava-se a redução da jornada de trabalho. A presença dos manifestantes
na rua se estendeu por diversos dias e acabou por ser reprimida com violência pelas tropas
do governo, causando inúmeras mortes.

146
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO

A partir dos anos de 1990 o toyotismo, idealizado pelo engenheiro-


mecânico Taiichi Ohno (1912-1990), tornou-se tendência no interior dos sistemas
produtivos. Esse rearranjo produtivo apresenta, como princípios, a otimização
da produção em todas as fases e a integração de todos os setores no interior dos
espaços produtivos; no campo deliberativo requer a descentralização da tomada
de decisões; produção de itens diferenciados; formação de alianças e redes de
atividades empresariais; por parte dos indivíduos requer trabalho em equipe,
proporciona a participação nos resultados, subcontratação e exige qualificação
constante.

4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS


O homem contemporâneo possui uma relação com o trabalho, que foi
instaurada ainda no século XIX e que ganhou desenvolvimento e aprofundamento
ao longo do século XX. Trata-se da produção industrial, tecnológica e a prestação
de serviços no interior de grandes cidades. O espaço primordial de realização dos
indivíduos torna-se o espaço no interior das cidades, os espaços das indústrias e
o âmbito público das relações.

A era industrial deixou de cumprir sua ‘grande promessa’: fabulosas


realizações materiais e intelectuais. O sonho de sermos senhores independentes de
nossas vidas terminou quando despertamos para o fato de que todos nos tornamos
peças ínfimas da máquina burocrática, com nossos pensamentos, sentimentos e
gostos manipulados pelo governo, pela indústria e pelas comunicações de massa
que controlam tudo (FROMM, 1987).

Uma das questões cruciais de tal processo diz respeito à passagem do


regime fordista (século XIX) ao regime chamado de produção toyotista. A técnica
tornou cada vez mais fragmentado o processo de trabalho e, consequentemente,
independente dos indivíduos, bem como aleatório com quem o faz, em que já
não importa como cada um o faz; importa sim que cada indivíduo mantenha-se
submetido ao todo, mantenha os laços, as passagens, o fluxo do processo, com o
mínimo de interferência criativa, inovação que possa tornar os fluxos ainda mais
eficientes.

Trabalhar em uma mesma empresa por muitos anos, ser homenageado


e receber condecorações de três, cinco, dez, 15, 20 anos de empresa, faz parte da
geração anterior à qual nos encontramos e que tende a se tornar cada vez mais
raro. Especialmente no ramo do terceiro setor.

No interior das grandes organizações descortinam-se tendências à


rotatividade, à terceirização, cooperativas de trabalho, atividades autônomas,
grupos de voluntariado, economia solidária, entre outras. No panorama atual
de sistemas de governos, grupos empresariais e relações de trabalho, cadencia-
se a internacionalização dos processos de produção e comercialização e a

147
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

mercantilização/financeirização das relações econômicas e sociais, no sentido de


que reforçam o sistema capitalista e o poder do mercado, dimensões em que a
noção de competição e propriedade prevalecem como moral e finalidade última,
o que por sua vez acaba por fragilizar as estruturas de Estado, as relações sociais
e culturais entre os indivíduos.

A tecnologia da informação, a descoberta e desenvolvimento de novos


materiais, as mudanças e oscilações nas estruturas de mercado e a capacidade
de competitividade e as relações intra e interpessoais parecem ser os elementos
que mais permeiam as relações de trabalho. No interior dessas novas tendências
identifica-se a busca dos indivíduos em vivenciar experiências que aliem trabalho,
moradia, realização de projetos pessoais, formação continuada, vivências
familiares, sociais e de lazer.

4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL


O trabalho informal é o que ocorre nas experiências de trabalho artesanal
e prestação de serviços, em que envolve intensa dedicação de mão de obra, de
caráter temporário, geralmente apresenta pouco montante de capital envolvido
e acaba apresentando acordos à parte das legislações trabalhistas; o que por sua
vez acaba não concorrendo como linhas de financiamentos, seja de bancos ou
governos; como exemplo, pode-se relacionar as práticas de trabalho no ramo do
vestuário e alimentação.

Como economia solidária, pode-se entender as atividades que ocorrem


de forma coletiva e em estruturas suprafamiliares, articuladas em associações,
cooperativas, empresas autogestadas, grupos de produção, clubes de trocas etc.,
cujos participantes tanto podem ser trabalhadores dos meios urbano e rural.

Os envolvidos nas atividades de economia solidária exercem forte


controle e gerenciamento das atividades e dos resultados. Realizam atividades
econômicas de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito
(cooperativas de crédito e os fundos rotativos populares), de comercialização
(compra, venda e troca de insumos, produtos e serviços) e de consumo solidário.
As atividades econômicas devem ser permanentes ou principais, ou seja, a razão
de ser da organização.

4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS


NO BRASIL
O trabalho livre e assalariado ganhou espaço após a abolição da escravidão
aplicada aos trabalhadores negros no Brasil em 1888 e com a gradual vinda dos
imigrantes europeus. As condições impostas eram ruins, acabaram por gerar no
interior do país as primeiras discussões sobre leis trabalhistas. Os imigrantes

148
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO

traziam consigo a experiência do movimento operário e sindical no interior dos


países europeus, o que por sua vez favoreceu a estruturação de organizações de
trabalhadores, círculos operários, sindicatos e demais frentes de representação.

No final do século XIX surgem as primeiras normas trabalhistas, por meio


do Decreto nº 1.313, de 1891, que regulamentou o trabalho dos menores de 12
a 18 anos. Em 1912, foi fundada a Confederação Brasileira do Trabalho (CBT),
durante o 4º Congresso Operário Brasileiro. Dentre as causas defendidas pela
Confederação estavam: a jornada de trabalho de oito horas, fixação do salário-
mínimo, indenização para acidentes, contratos coletivos ao invés de individuais.

No cenário internacional do pós-1ª Guerra Mundial, em 1919, surge a


Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão internacional que por sua
vez impulsionou a formação de um Direito do Trabalho. O surgimento deste
órgão, naquele momento histórico, visava intermediar o conflito entre o capital e
o trabalho, e que era visto como uma das principais causas dos desajustes sociais
e econômicos, inclusive motivadores de guerras.

DICAS

Caro estudante, procure saber mais sobre a atuação da Organização Internacional


do Trabalho-OIT. Trata-se do órgão responsável pelas convenções e recomendações que
norteiam as questões relacionadas ao trabalho em nível internacional.

Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/content/apresenta%C3%A7%C3%A3o>. Acesso


em: 3 jun. 2015.

A política trabalhista brasileira se consolida, de fato, após a Revolução de


30, quando Getúlio Vargas cria o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.
A Constituição de 1934 foi a primeira a tratar de Justiça do Trabalho e Direito
do Trabalho, assegurando a liberdade sindical, salário-mínimo, jornada de
oito horas, repouso semanal, férias anuais remuneradas, proteção do trabalho
feminino e infantil e igualdade salarial.

No Brasil de 1964, com o golpe militar e a instalação da ditadura, ocorreram


fortes medidas de repressão à classe trabalhadora, com o Decreto nº 4.330, as
intervenções atingiram sindicatos em todo o Brasil. Este decreto é conhecido
como a lei antigreve, que impôs tantas regras para realizar uma greve que, na
prática, elas ficaram proibidas.

Depois de anos sofrendo cassações, prisões, torturas e assassinatos, em


1970 um novo movimento sindicalista se reestrutura no interior do Estado de São
Paulo, no chamado ABCD paulista. No ano de 1978 ocorre uma grande greve em

149
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

São Bernardo do Campo (SP) e que ganhou aderência de trabalhadores de todo


o país.

Após o fim da ditadura militar, em 1985, e em meio às mudanças no


cenário econômico, com a promulgação da Constituição de 1988, as conquistas
dos trabalhadores foram restabelecidas; por exemplo, a Lei nº 7.783/89, que
restabelecia o direito de greve e a livre associação sindical e profissional, a
aposentadoria rural; Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT); Benefício de
Prestação Continuada (BPC); Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI); bolsa escola e, ulteriormente, bolsa família, entre outros.

DICAS

Conheça o site do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Lá você encontrará


resoluções sobre o funcionamento das centrais sindicais, leis e convenções ao exercício das
profissões, orientações sobre os trâmites contratuais e demissionais, seguro-desemprego,
trabalho temporário, políticas de microcrédito, trabalho decente, entre outros.

MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/portal-


mte/>. Acesso em: 3 jun. 2015.

LEITURA COMPLEMENTAR

A TERCEIRIZAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO

Grupos de empresários e empregadores apresentam argumentos no


sentido de que a geração de emprego formal, e até a abertura de empresas,
no Brasil, são dificultadas diante dos custos que as leis trabalhistas acabam
acarretando. Alegam que em torno de 67% do salário consiste em tributos, que
são pagos ao governo, que procura atender a leis de descanso remunerado, 13º
salário, FGTS, adicionais em casos de horas extras, insalubridade e trabalho
noturno. E diante deste cenário é que ganham espaço as ideias de terceirização
no interior dos postos de trabalho.

Terceirização é o processo pelo qual uma empresa deixa de executar


uma ou mais atividades realizadas por trabalhadores diretamente contratados
e as transferem para outra empresa. A terceirização se realiza de duas formas,
não excludentes. Na primeira, a empresa deixa de produzir bens ou serviços
utilizados em sua produção e passa a comprá-los de outra – ou outras empresas
–, o que provoca a desativação, parcial ou total, de setores que anteriormente
funcionavam no interior da empresa.

150
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO

A outra forma é a contratação de uma ou mais empresas para executar,


dentro da “empresa-mãe”, tarefas anteriormente realizadas por trabalhadores
contratados diretamente. Essa segunda forma de terceirização pode referir-se
tanto a atividades-fim como a atividades-meio. Entre as últimas podem estar,
por exemplo, limpeza, vigilância, alimentação. Tem-se observado também que
vem ocorrendo o processo de quarteirização, a contratação de uma empresa pela
empresa-mãe, que deverá gerir as relações com o conjunto das empresas terceiras
contratadas no interior da mesma.

O processo de terceirização da produção e da prestação de serviços no


Brasil, e em quase todos os países capitalistas, desenvolveu-se como parte do
rearranjo produtivo, iniciado na década de 70 do século XX, a partir da terceira
Revolução Industrial, e que se prolonga até os dias de hoje. São mudanças
importantes na organização da produção e do trabalho e, no caso específico da
terceirização, na relação entre empresas.

A adoção deste processo foi intensificada e disseminada no âmbito


da reestruturação produtiva que marcou os anos 90. A partir do ano 2000, a
economia brasileira iniciou um lento processo de recuperação, com taxas de
crescimento positivas, porém o cenário do mercado de trabalho já é o da difusão
generalizada da terceirização da mão de obra. Se, inicialmente, as empresas
precisaram enxugar os custos para garantir sua sobrevivência, o processo de
terceirização não apresentou retrocesso diante da melhora do cenário econômico,
tendo permanecido como um elemento fundamental da mudança do processo
produtivo e do mercado de trabalho brasileiros.

Em nível internacional destaca-se que as atividades mais atingidas pela


terceirização, em suas diferentes formas, são aquelas próprias da Tecnologia da
Informação (TI), o que inclui o trabalho de programadores, de processamento
de dados e de desenvolvimento de softwares. O avanço rápido e constante nesses
processos tecnológicos facilita a troca de dados, a execução de projetos e a entrega
de produtos, independentemente do local onde o trabalho é executado.

A maior preocupação constatada a partir das fontes de informação sobre


os Estados Unidos é a possibilidade de demissão em massa de trabalhadores
americanos qualificados em decorrência de processos de terceirização nos
quais as contratantes são empresas americanas. Nesse caso, o mais comum tem
sido a adoção do international outsourcing (compra do componente ou serviço
em outro país), do offshoring (realocação da empresa em outro país) ou ainda
do on-site offshoring (contratação de trabalhadores estrangeiros imigrantes
ou de trabalhadores em seus países de origem). Os países europeus, quando
comparados com os Estados Unidos, demandam menos serviços terceirizados e
adotam algumas barreiras culturais que dificultam a transferência de atividades
de um país para outro.

Dentre os setores mais vulneráveis à terceirização no continente,


tem-se que a maioria está relacionada à área de TI, que atuam nos ramos de

151
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE ASOCIEDADE

desenvolvimento de softwares, processamento de dados, vendas, serviços de


atendimento ao cliente, pesquisa, desenvolvimento e designs, finanças, recursos
humanos e gerenciamento. Estima-se que os trabalhadores indianos da área de
computação, por exemplo, recebam entre 1/5 e 1/10 do que é pago a um americano
pela mesma função.

No Brasil os ramos de atividades que mais registram processos de


terceirização são o setor público, no interior das unidades de governo, o setor
financeiro, como bancos, os setores elétrico, químico, de petróleo e petroquímico
e da construção civil.

Diante das formas mais explícitas de precarização das condições de


trabalho e de vulnerabilidade da condição do trabalhador que resultam dos
processos de privatização, tem-se um novo relacionamento sindical entre
empregador e empregado, que aponta a desmobilização dos trabalhadores
para reivindicações e greves, eliminação das ações sindicais e trabalhistas que
reclamam pelos direitos sociais.

Texto adaptado de DIEESE. Departamento Intersindical de Estatísticas


e Estudos Socioeconômicos. O processo de terceirização e seus efeitos
sobre os trabalhadores no Brasil. Convênio SE/MTE nº 04/2003, Processo nº
46010.001819/2003-27.

FONTE: Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BA5F4B7012BAAF91A9E060F/


Prod03_2007.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.

152
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:

• A palavra trabalho tem origem nas práticas e atividades das mais antigas
sociedades, comporta muitas diferenças de escrita, em especial na forma como
as sociedades concebiam e ao valor moral que atribuíram à mesma.

• No interior da forma de produção artesanal o trabalhador detém o


conhecimento de todas as fases de produção, pode atender à vontade pessoal
de quem procura pelo produto, o produto consiste em um exemplar único e o
artesão acompanha também o processo de comercialização do produto.

• No interior do processo de produção de forma manufaturada se dá a


especialização e divisão de funções, a produção passa a ocorrer fora do local
de moradia dos responsáveis pela produção, o que por sua vez favorece os
primórdios das grandes indústrias.

• No interior dos modos organização industrial do século XVIII e XIX


prevaleceram os modelos fordista e taylorista, que se caracterizam pelo perfil
de produção organizada em linhas de produções, em série e consumo em
grande escala, e obedecem à organização e administração científica.

• O toyotismo consiste numa forma de organização no interior de empresas e


processos produtivos que contempla a descentralização do poder e formação
de redes de trabalho, a diferenciação da produção, forte controle da produção
e qualificação constante dos trabalhadores.

• A terceirização pode ocorrer de diferentes formas: pela contratação de uma


empresa que subcontrata trabalhadores para exercer funções no interior de
uma empresa-mãe, como também quando uma empresa passa a comprar parte
dos processos e dos produtos de outra empresa para compor o seu produto
final.

153
AUTOATIVIDADE

1 Karl Marx (1818-1883), pensador alemão que se dedicava a


denunciar as contradições no interior do sistema capitalista, ao
longo de sua vida precisou mudar-se por diversas vezes de país,
pois o teor de suas ideias acabava por lhe render inimigos de forte
influência e poder político. Além disso, também passou por problemas com
renda, sendo socorrido pelo amigo e colega/escritor F. Engels. Pergunta-se: no
que consistiam as principais ideias e teorias de Marx?

I- A ideia principal estava em explicar, denunciar e combater as contradições


que estavam disfarçadas e camufladas no interior do regime comunista.
II- Argumentava que a divisão do trabalho era responsável por alienar o
trabalhador, assim como, por lhe extorquir a sua dignidade.
III- Defendia que estaria única e exclusivamente nas mãos do proletariado
conduzir a revolução que substituiria o capitalismo pelo comunismo.
IV- As teorias de Marx apresentavam que o proletariado deveria fazer
a revolução e transformar a sociedade, tomar o poder e abolir a relação
capitalista de produção.

Agora, assinale a alternativa correta:

a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.


b) ( ) Somente as sentenças III e IV estão corretas.
c) ( ) Somente as sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As alternativas II, III e IV estão corretas.

2 (ENADE – 2014) O debate sociológico acerca das novas relações


de trabalho e consumo no capitalismo se intensificou desde a
segunda metade do século XX, especialmente a partir de um
novo modelo de acumulação, marcado pela “flexibilização
dos processos produtivos”. Como aponta David Harvey a este respeito,
a acumulação flexível “é marcada por um confronto direto com a rigidez
do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos
mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo”. E, ainda, mais
importante do que isso é a redução aparente do emprego regular, em favor
do crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário ou subcontratado.

FONTE: HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.

De acordo com a afirmação acima, a acumulação flexível:

I- Gerou cada vez mais trabalho especializado, responsável pelo aumento da


racionalidade do processo produtivo.
II- Pode ser considerada uma expansão do princípio fordista de produção.
III- Aumentou a precarização das relações de trabalho no capitalismo
contemporâneo.
154
IV- Implica crescente heterogeneidade dos mercados de trabalho e dos
padrões de consumo.

É correto apenas o que se afirma em:

a) ( ) I e II.
b) ( ) I e III.
c) ( ) II e III.
d) ( ) II e IV.
e) ( ) III e IV.

155
156
UNIDADE 3
POLÍTICAS PÚBLICAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• conhecer e analisar as principais características das políticas públicas do Brasil;

• refletir sobre a organização do sistema educacional brasileiro;

• caracterizar os pilares de alicerce do desenvolvimento sustentável;

• refletir sobre o contexto de desenvolvimento sustentável;

• retratar as ferramentas de gestão socioambiental para a sustentabilidade;

• conhecer as ações nacionais de segurança e defesa pública;

• refletir sobre como o aumento populacional e o avanço tecnológico impac-


tam sobre os ecossistemas;

• perceber a importância do sistema de transportes no desenvolvimento


econômico do país;

• conhecer as políticas nacionais para a habitação e o saneamento;

• identificar os modos de vida urbano e rural, sua organização social, seme-


lhanças e diferenças e sua interdependência;

• destacar as características que identificam o meio urbano e o meio rural.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em sete tópicos. No decorrer da unidade você en-
contrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO

TÓPICO 2 – POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE

TÓPICO 3 – HABITAÇÃO E SANEAMENTO

TÓPICO 4 – TRANSPORTES E SEGURANÇA

TÓPICO 5 – POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM ÂMBITO NACIONAL

TÓPICO 6 – VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA

TÓPICO 7 – MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

157
158
UNIDADE 3
TÓPICO 1

POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Quando falamos em políticas públicas, estamos nos referindo aos direitos
e deveres do Estado para com as pessoas que compõem a sociedade e, assim
como o Estado, gozam de seus direitos civis e políticos. Estamos também sujeitos
ao conjunto de normas jurídicas e sociais, formando assim um marco regulatório
previamente fixado no que diz respeito à distribuição harmônica dos elementos
que formam os direitos, deveres e responsabilidades em prol do desenvolvimento
educacional, econômico e social. A vida em sociedade está ligada à política e
não há ação social sem ação política, quer seja promovida pelo Estado ou pela
sociedade (RAMOS, 2014).

2 POLÍTICA PÚBLICA ATUAL


O termo política possui várias definições, as quais denotam a organização e
o estudo das ações a serem realizadas para o bem-estar da população. Percebemos
que a política é algo complexo, mas que se bem administrado ou exercido, poderá
ter efeitos positivos junto à população.
As primeiras reflexões sobre o que é política surgiram na Grécia antiga,
com os filósofos, a quem eram atribuídos os dons do pensamento, das
ideias e, consequentemente, do conhecimento.
Pode-se citar Sócrates e dois de seus principais sucessores, Platão e
Aristóteles, como sendo os primeiros a tratarem das questões da ética
e da política. A Grécia era considerada o berço da democracia, ainda
que nem todos os seus iluminados viam no modelo democrático a
melhor maneira de conduzir o povo. Ao aproximar-se das leituras
sobre a vida e obra desses pensadores, percebe-se, por conclusão,
que para eles a solução para os problemas da sociedade deve passar,
necessariamente, pela educação. Passados mais de dois mil anos,
continua-se lutando pelos mesmos direitos à igualdade e combatendo-
se os mesmos problemas relacionados à ética e à moral, sem as quais
não se exercita a verdadeira política (RAMOS, 2014, p. 9).

Portanto, “o cotidiano (político) é construído por aqueles que interagem


nesse contexto. Fazer política é interagir nos acontecimentos e participar
criticamente da sua história” (RAMOS, 2014, p. 9).

“A política sempre está ligada ao exercício do poder em sociedade, seja em


nível individual, quando se trata das ações de comando, seja em nível coletivo,

159
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

quando um grupo (ou toda sociedade) exerce o controle das relações de poder
em uma sociedade” (SANTOS, 2012, p. 2). Assim, as políticas públicas são de
responsabilidade do Estado, com base em organismos políticos e entidades da
sociedade civil, que derivam de normatizações, ou seja, se estabelece um processo
de tomada de decisões – nossa legislação. Ao iniciarmos nossos estudos sobre
a organização da educação no Brasil, precisamos ter em mente que a educação
é intencional, principalmente no que diz respeito ao sistema escolar. Os atores
que permitem discussões sobre um determinado problema da sociedade são: a
sociedade civil organizada; os servidores públicos e os políticos.

As etapas ou fases do processo da política distinguem-se de acordo


com o entendimento de cada autor, mas comumente podem se
classificar como:

• Identificação do problema: é a primeira etapa e consiste na


identificação, ou levantamento do problema a ser considerado como
foco da política pública.
• Agenda: é a etapa em que se definem os focos de atuação do
governo. É o conjunto de problemas e demandas que comporão o
plano de ação. A formação da Agenda de Governo consiste numa fase
tumultuada e competitiva, com os envolvidos dedicados na conquista
de espaço para os interesses que defendem.
• Tomada de decisão: adoção da política, em consenso (de comum
acordo), as partes decidem sobre os diversos aspectos, ou focos, que a
política abrangerá.
• Implementação: é a etapa em que as decisões deixam de ser
intenções e passam a ser intervenções na realidade.
• Monitoramento, Avaliação, Ajustes: são etapas de acompanhamento
do processo de formulação/elaboração da política, oferecendo
informações para possíveis ajustes na direção dos resultados esperados
(RAMOS, 2014, p. 14-15).

Com base nesses argumentos, a educação no contexto brasileiro está


prevista, é regida (legislada) por normas jurídicas que compelem os cidadãos e
o poder público a cumpri-las. De acordo com Motta (1997, p. 75), a educação é a:

[...] manifestação cultural que, de maneira sistemática e intencional,


forma e desenvolve o ser humano. [...] A educação é a ação exercida
pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontram ainda
preparadas para a vida social; tem por objetivo suscitar e desenvolver
na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais
reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio
especial que a criança, particularmente, se destina.

Estes princípios e fins aparecem no texto da Constituição Federal de 1988


e posteriormente são reafirmados na Lei de Diretrizes e Bases - LDB, Lei 9.394, de
20 de dezembro de 1996, direcionando a educação brasileira, e que em seu Art. 2˚
trata “Dos Princípios e Fins da Educação Nacional” (BRASIL, 1996).

Desta forma, a LDB 9.394/96 regulamentou o que foi tratado sobre


educação na Constituição Federal abordando a educação escolar. O Título V trata
dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino; em seu Capítulo I, demonstra

160
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO

a composição dos níveis escolares, formada pela Educação Básica; Educação de


Jovens e Adultos; Educação Profissional; Educação Superior e Educação Especial.

Educação Básica é formada de três etapas: Educação Infantil, Ensino


Fundamental e Ensino Médio. Conforme a LDB, são finalidades da
Educação Básica ‘[...] desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação
comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores’ (art. 22).
As modalidades importam em atendimentos afeitos a peculiaridades
que podem dizer respeito a uma população específica ou a objetivos
de formação mais especializada ou complementar. No primeiro caso,
encontramos a educação de jovens e adultos e a educação especial. No
segundo caso, a educação profissional.
A educação de jovens e adultos (EJA) enseja a escolarização daqueles
que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino
Fundamental ou Médio. Contempla cursos de EJA e exames supletivos.
Os cursos e os exames são acessíveis para estudantes maiores de 15
anos (Ensino Fundamental) e de 18 anos (Ensino Médio).
A educação especial destina-se aos educandos portadores de
necessidades especiais e deve estar contemplada em todas as etapas
da educação. A legislação estabelece a sua oferta preferencial na rede
regular de ensino e em classes comuns, embora possibilite a oferta
desta modalidade em classes e escolas especiais.
Pode-se identificar a inserção da educação profissional na Educação
Básica de três modos: ensino técnico - concomitante, integrado
ou sequencial ao Ensino Médio, inclusive EJA; formação inicial e
continuada de trabalhadores articulada ao Ensino Fundamental ou
Médio, inclusive EJA; preparação básica para o trabalho no Ensino
Fundamental e Médio, inclusive EJA (FARENZENA, 2010).

Como podemos ver, a preocupação em fortalecer a educação como um


direito, um currículo integrado, é o ponto de partida para assegurar os direitos
fundamentais da sociedade. Para que essa proposta ocorresse na educação
brasileira tivemos mudanças significativas, principalmente a partir da LDB – Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, Lei no 9.394, de 1996, que marcou a educação
e fez com que gerasse muito investimento, tanto no sentido intelectual, como
financeiro. Um dos princípios da LDB é a valorização do profissional da educação
escolar, a qual defende que:

A formação dos profissionais da educação, de modo a atender


às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos
objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá
como fundamentos:
I– a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento
dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho;
II– a associação entre teorias e práticas, mediante estágios
supervisionados e capacitação em serviço;
III– o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em
instituições de ensino e em outras atividades (BRASIL, 1996, art. 61).

A partir daí, muitos acordos e reformas foram realizados na educação,


priorizando a qualidade da mesma. O Plano Nacional de Educação para o decênio
2011-2020 indica algumas diretrizes que demonstram esse interesse, enfatizando
a melhoria da qualidade de ensino, a formação para o trabalho, a valorização

161
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

dos profissionais da educação, entre outras que indiretamente também enfocam


a formação docente. Dentre as 20 metas traçadas do PNE para até 2020, seis (da
13 até a 18) pretendem aumentar a qualidade do ensino com base na formação
inicial e principalmente continuada, em diferentes níveis.

AUTOATIVIDADE

(IFRN – Concurso Público – Grupo Magistério – Políticas e Gestão Escolar


2012) A concepção curricular que articula o Ensino Médio à formação
técnica, além de estabelecer o diálogo entre os conhecimentos científicos,
tecnológicos, sociais, humanísticos, habilidades relacionadas ao trabalho e
de superar o conceito da escola dual e fragmentada, pode representar, em
essência, a quebra da hierarquização de saberes e colaborar, de forma efetiva,
para a educação brasileira como um todo, no desafio de construir uma nova
identidade para essa última etapa da educação básica. A proposta curricular a
que esse enunciado se refere é:

a) ( ) Currículo integrado.
b) ( ) Currículo tecnicista.
c) ( ) Currículo tradicional.
d) ( ) Currículo profissionalizante.

Para atualizar a temática da Educação em nosso país, a leitura a seguir trata


dos trâmites da implantação do Sistema Nacional de Educação (SNE). Assim, com
o objetivo de efetivar a implantação do SNE, o Decreto de 26 de abril de 2017, da
Presidência da República, convoca a 3ª Conferência Nacional de Educação, prevista
para ocorrer em Brasília no ano de 2018, conforme detalhes do texto a seguir.

[...] O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe


conferem o art. 84, caput, incisos IV e VI, alínea "a", da Constituição,
DECRETA:
Art. 1º Fica convocada a 3ª Conferência Nacional de Educação -
CONAE, a ser realizada na cidade de Brasília, Distrito Federal, com
o tema "A Consolidação do Sistema Nacional de Educação - SNE e
o Plano Nacional de Educação - PNE: monitoramento, avaliação
e proposição de políticas para a garantia do direito à educação de
qualidade social, pública, gratuita e laica".
§ 1º A União, sob a orientação do Ministério da Educação - MEC e
observado o disposto no art. 8º da Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014,
promoverá a realização da CONAE, a ser precedida de conferências
municipais, distrital e estaduais, articuladas e coordenadas pelo
Fórum Nacional de Educação - FNE, nos termos do art. 6º da Lei nº
13.005, de 2014.
§ 2º A etapa nacional da 3ª CONAE, a ser realizada em 2018, será
precedida pelos seguintes eventos:

I- conferências livres, a serem realizadas no ano de 2017;


II- conferências municipais ou intermunicipais, a serem realizadas até
o final do segundo semestre de 2017; e
III- conferências estaduais e distrital, a serem realizadas até o final do
segundo semestre de 2018.

162
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO

Art. 2º As conferências nacionais de educação serão realizadas com


intervalo de até quatro anos entre elas, com o objetivo de avaliar a
execução do PNE vigente e subsidiar a elaboração do PNE para o
decênio subsequente.
Art. 3º São objetivos específicos da CONAE:

I- acompanhar e avaliar as deliberações da CONAE de 2014, verificar


seus impactos e proceder às atualizações necessárias;
II- avaliar a implementação do PNE, com destaque específico ao
cumprimento das metas e das estratégias intermediárias, sem
prescindir de uma análise global do plano e;
III- avaliar a implementação dos planos estaduais, distrital e
municipais de educação, os avanços e os desafios para as políticas
públicas educacionais.

Art. 4º O tema central da 3ª CONAE será dividido nos seguintes eixos


temáticos:

I- O PNE na articulação do SNE: instituição, democratização,


cooperação federativa, regime de colaboração, avaliação e regulação
da educação.
II- Planos decenais e SNE: qualidade, avaliação e regulação das
políticas educacionais.
III- Planos decenais, SNE e gestão democrática: participação popular
e controle social.
IV- Planos decenais, SNE e democratização da Educação: acesso,
permanência e gestão.
V- Planos decenais, SNE, Educação e diversidade: democratização,
direitos humanos, justiça social e inclusão.
VI- Planos decenais, SNE e políticas intersetoriais de desenvolvimento
e Educação: cultura, ciência, trabalho, meio ambiente, saúde,
tecnologia e inovação;
VII- Planos decenais, SNE e valorização dos profissionais da Educação:
formação, carreira, remuneração e condições de trabalho e saúde.
VIII- Planos decenais, SNE e financiamento da educação: gestão,
transparência e controle social.

Art. 5º As diretrizes gerais e organizativas para a realização da CONAE


serão elaboradas pelo MEC e coordenadas pelo FNE, observado o
disposto no art. 8º da Lei nº 13.005, de 2014 [...]
(Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da
União - Seção 1 - 27/04/2017, Página 19).

Conforme a leitura anterior, observa-se que em 2017 deveria ter ocorrido


Conferências Municipais e Intermunicipais com o tema: “A consolidação do
Sistema Nacional de Educação – SNE e o Plano Nacional de Educação – PNE,
voltado para o monitoramento, avaliação e proposição de políticas para a garantia
do direito à educação de qualidade social, pública, gratuita e laica”. Assim, as
conferências municipais deveriam discutir e fornecer subsídios sobre a efetivação
da implantação SNE e do PNE, em preparação às conferências estaduais e a
Nacional, prevista para o ano de 2018. No entanto, devido ao turbulento momento
político enfrentado no Brasil, apenas duas capitais (Belo Horizonte/MG e São
Paulo/SP) realizaram o evento naquele ano, e dois terços das capitais brasileiras
não tem sequer a previsão de data para organizá-las.

163
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

NOTA

Até a conclusão deste livro, em janeiro de 2018, a última atualização sobre a


implantação do Plano Nacional de Educação, prevista pelo Projeto de Lei Complementar
PLP 413/2014, foi o Parecer do Relator, Dep. Glauber Braga (PSOL-RJ), pela aprovação
deste, e do PLP 448/2017, apensado, como substitutivo. O parecer foi apresentado em 22/
dez./2017 à Comissão de Educação. Portanto, o projeto encontra-se ainda em tramitação
no Congresso Nacional.

Para acompanhar a tramitação na íntegra, acesse: <http://www.camara.gov.br/


proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=620859>. Maiores informações também
estão disponíveis no site do MEC: <http://pne.mec.gov.br/sistema-nacional-de-educacao>.

CNTE defende a instituição do SNE de forma articulada entre os entes federados

A Confederação Nacional dos


Trabalhadores em Educação (CNTE)
divulgou em setembro (2017), a nota
pública:  Análise do documento da
SASE/MEC sobre Sistema Nacional
de Educação. O documento analisa o
texto —  Instituir um Sistema Nacional
de Educação: agenda obrigatória para
o país — disponibilizado pelo Ministério
da Educação (MEC), em junho para
amplo debate nacional.
Na nota, a entidade posiciona-se em acordo com vários pontos do texto apresentado pelo
MEC, pelo fato do seu conteúdo exprimir conceitos referendados nas duas Conferências
Nacionais de Educação (CONAEs), e por absorver propostas das entidades educacionais,
como a CNTE, apresentadas ao longo do processo histórico do debate sobre o Sistema
Nacional de Educação (SNE).

Para a Confederação, as graves fragilidades resultantes da ausência de um SNE estão em


destaque no documento, como: I) ausência de referenciais nacionais de qualidade, capazes
de orientar a ação supletiva para a busca da equidade; II) a descontinuidade de ações; III)
a fragmentação de programas; e IV) a falta de articulação entre as esferas de governo
são fatores que, de fato, não contribuem para a superação das históricas desigualdades
econômicas e sociais do país.

A CNTE entende que o texto do MEC reafirma a educação como um direito inalienável e
que realiza um diagnóstico dos avanços e desafios para garantia desse direito, num contexto
histórico e político, apresentando uma proposta de instituição do SNE realizado por um
conjunto articulado de quatro dimensões, levando a uma nova forma de organização da
Educação Nacional: alterações na Lei de Diretrizes e Bases; regulamentação do artigo 23 da
Constituição Federal (CF) ou a Lei de Responsabilidade Educacional; adequação das regras
de financiamento e dos sistemas de ensino às novas regras nacionais instituição do SNE.
Para o presidente da entidade, Roberto
Franklin de Leão, o Brasil possui leis
que estruturam o sistema, como a lei
que estipula o piso nacional salarial dos
professores e a própria LDB. Destaca
que precisamos de mais uma legislação
nacional para organização da educação
nacional, a fim de que as políticas sejam
mais orgânicas, como é o SNE, que
"respeita a diversidade e as diferenças do

164
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO

federalismo brasileiro, considerando a qualidade e distanciando-se da centralização da


gestão da educação".

Entretanto, mesmo em consenso sobre vários pontos apresentados no documento


do MEC, a CNTE reafirma a necessidade de um olhar especial na regulamentação do
Custo Aluno-Qualidade e do piso salarial dos profissionais da educação, conjugada com
as diretrizes nacionais de carreira; na autonomia das escolas e de seus profissionais; no
aperfeiçoamento e fortalecimento dos espaços de participação; no estabelecimento de
critérios para as ações distributivas e supletivas da União e dos estados, via regulamentação
do art. 23, V, da CF; na regulamentação das receitas para a educação e na definição das
normas vinculantes para a organização dos sistemas de ensino.

Redação SASE/MEC com informações da CNTE.

FONTE: Disponível em: <http://pne.mec.gov.br/mais-destaques/410-cnte-defende-a-


instituicao-do-sne>. Acesso em: 7 dez. 2017.

Outro documento importante são os Parâmetros Curriculares Nacionais.


Sua história começa a partir da década de 1980, com as mudanças econômicas e
sociais de nível mundial e a abertura da política nacional. A partir desse momento,
as discussões políticas passaram a privilegiar o tema da democracia. Com base
nesse tema, as reflexões propiciaram a instauração e consolidação de um governo
e de um regime democrático.

Em decorrência dos debates e dada a importância da democracia, a


Assembleia Nacional Constituinte, em 1988, institui o Estado Democrático de Direito,
regulamentado pela Constituição da República Federativa do Brasil, denominada
Constituição Cidadã. Ela estabelece como princípios fundamentais: “I - a soberania;
II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho
e da livre iniciativa; V - o pluralismo político” (BRASIL, 1988, Título 1).

FIGURA 22 – CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988

FONTE: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/upload/conteudo


_legenda/8e426990caf5533da936acd858c65f32.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.

165
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

O artigo 5º dispõe sobre os direitos e deveres individuais e coletivos,


segundo o qual “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”
(BRASIL, 1988, Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais). Desse modo,
no artigo 6º, são indicados os direitos dos cidadãos; constam como “direitos
sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social,
a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição” (BRASIL, 1988, Capítulo II - Dos Direitos Sociais).

A defesa do exercício da cidadania na escolarização está deliberada no


artigo 205: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).

Para a disseminação da educação cidadã, outros documentos são


produzidos a partir de reuniões e pactos mundiais, como a Declaração Mundial
sobre Educação para Todos, ocorrida em Jomtien – Tailândia.

Em 1990, reuniram-se representantes dos seguintes países: Indonésia,


China, Bangladesh, Brasil, Egito, México, Nigéria, Paquistão e Índia, para discutir
sobre a satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, considerando que
todo cidadão tem direito à educação, e ainda, que a educação favoreça “o progresso
social, econômico e cultural, a tolerância e cooperação internacional” (UNESCO,
1998, s.p.). Para suprimir os problemas da educação, melhorar a qualidade
e disponibilidade, a Declaração traça objetivos como medidas necessárias à
educação para todos. Assim, os países citados comprometeram-se em cooperar
e responsabilizar-se com as metas construídas. A partir desse documento, cada
país construiu planos e metas para alcançar os objetivos educacionais.

ATENCAO

Você imagina quais foram as metas traçadas no encontro mundial que resultou
na Declaração Mundial sobre Educação para Todos?

As finalidades traçadas são: 1 Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem; 2 Expandir


o enfoque; 3 Universalizar o acesso à educação e promover a equidade; 4 Concentrar a
atenção na aprendizagem; 5 Ampliar os meios de e o raio de ação da educação básica; 6
Propiciar um ambiente adequado à aprendizagem; 7 Fortalecer as alianças; 8 Desenvolver
uma política contextualizada de apoio; 9 Mobilizar os recursos; e 10 Fortalecer a solidariedade
internacional (UNESCO, 1998).

166
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO

Ao encontro desse documento, o governo brasileiro inicia discussões


a respeito da educação nacional e a construção de políticas de educação, que
discorrem sobre a atualização de processos formativos, processos de avaliação, a
formação docente, a relação aluno-professor, a gestão escolar, o currículo escolar e
a criação de projetos, de reformas e de planos. O PCN é um documento norteador
formulado a partir dessas políticas de educação.

Assim, em 1995, a elaboração dos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais


é iniciada, sendo concluída somente em 1997, no governo do presidente Fernando
Henrique Cardoso. Fique atento, acadêmico, ao estudo desse documento, pois as
políticas de educação têm objetivos traçados, como toda a prática docente possui.

O objetivo dos PCN (BRASIL, 1997a) é estabelecer à equipe pedagógica


uma referência curricular e apoio na elaboração do currículo e do projeto
pedagógico. Conforme os PCN, esse documento é o resultado de um trabalho
que contou com a participação de um grupo de especialistas ligado ao Ministério
da Educação (MEC), produzido a partir de estudos e do contexto das discussões
pedagógicas atuais, no decurso de seminários e debates com professores que
atuam em diferentes graus de ensino.

FIGURA 23 – CONSTRUÇÃO DOS PARÂMETROS CURRICULARES


NACIONAIS – PCN

FONTE: Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/bibliot


eca/portugues/img/0056.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.

O documento dos PCN consiste em uma referência nacional para o Ensino


Fundamental e Médio. Sua elaboração é de primeiro nível de concretização
curricular, seguido de propostas curriculares dos Estados e municípios, que
poderão ser utilizadas como recurso para adaptações ou elaborações curriculares
realizadas pelas Secretarias de Educação (BRASIL, 1997a).

O texto dos PCN tem função definidora do currículo mínimo, orienta


práticas pedagógicas e organiza a estrutura escolar. Estabelece o plano curricular
indicando conteúdos, objetivos, práticas educativas e sugestões de avaliação.

167
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

Como é um documento de nível nacional, tenta abranger e ter aplicabilidade em


todo o território nacional, de maneira homogênea (BARBOSA; FAVERE, 2013).

Os PCN do Ensino Fundamental, do primeiro ao nono ano, são compostos


de módulos divididos em: Volume 1: Introdução; Volume 2: Língua Portuguesa;
Volume 3: Matemática; Volume 4: Ciências Naturais; Volume 5: História e
Geografia; Volume 6: Arte; Volume 7: Educação Física; Volume 8: Apresentação
dos Temas Transversais e Ética; Volume 9: Meio Ambiente e Saúde; e Volume 10:
Pluralidade Cultural e Orientação Sexual.

Já os PCN do Ensino Médio são assim distribuídos: Bases legais;


Linguagens, Códigos e suas tecnologias; Ciências da natureza, Matemática e suas
tecnologias; Ciências humanas e suas tecnologias.

NOTA

Caro acadêmico, a Educação Infantil também tem documentos norteadores


do currículo, que são: Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – RECNEI
e Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. O primeiro documento
pretende orientar o professor, além de discutir conceitos importantes como educar e cuidar,
entre outros. O RECNEI está dividido em unidades, que são: Introdução, Formação Pessoal
e Social e Conhecimento de Mundo, Identidade e Autonomia das crianças e Movimento,
Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. Já o
segundo documento está disponível em dois volumes e apresenta recomendações para
promover a igualdade de oportunidades educacionais.

Para conhecer melhor os documentos, respectivamente, acesse:

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf>;

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.pdf>.

Uma das preocupações centrais dos PCN é o tema da cidadania, da formação


cidadã. Mais do que o ensino de conteúdos básicos, hoje, na escola, a aprendizagem
da cidadania é legitimada e indispensável. A disseminação dessa aprendizagem
transita em documentos oficiais, em autores que escrevem sobre educação e
em projetos pedagógicos das escolas. Os PCN defendem que o fundamento da
sociedade democrática é reconhecer o sujeito de direito (BRASIL, 1997b).

Com base na Constituição de 1988 e na LDB, os Parâmetros Curriculares


Nacionais propõem uma educação comprometida com a cidadania, sendo
pautados em princípios que devem orientar a educação escolar: dignidade da
pessoa humana, igualdade de direitos, participação e corresponsabilidade pela
vida social. Conforme os PCN, “a educação para a cidadania requer, portanto, que

168
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO

questões sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos alunos”


(BRASIL, 1997b, p. 25). Os conteúdos dos PCN, de acordo com Barbosa (2000, p.
71), partem:

do princípio de que os conteúdos de ordem cognitiva veiculados


pela escola – de forma fragmentada, em razão da especialização do
conhecimento de cada área – não seriam suficientes para atender às
demandas da atualidade em relação ao perfil ideal do novo homem,
para que este homem pudesse inserir-se no mundo do trabalho,
exercer a sua cidadania e participar na construção do bem comum.
A educação deveria voltar-se, a partir de então, para a formação
integral dos alunos. Foi, assim, proposta a ampliação da concepção de
conteúdo escolar, que deveria agora incorporar o ensino de hábitos,
atitudes, valores, normas e procedimentos que pudessem contribuir
para o desenvolvimento e socialização dos alunos.

A inclusão dos temas transversais é um assunto novo, possível na sociedade


atual, visando uma nova formação comparada a formações anteriores, trazendo
assuntos de fora, da sociedade, para dentro da escola. Assim, além de objetivos
cognitivos, os PCN traçam objetivos morais e atitudinais.

Os PCN foram elaborados com a contribuição de um professor espanhol,


César Coll. A proposta brasileira pretendeu implantar uma reforma curricular,
dar direcionamento ao trabalho do professor, bem como o que se deve esperar do
aprendizado do aluno, ou seja, o que deve conter no currículo escolar (BARBOSA;
FAVERE, 2013).

Os PCN pretendem atender às deliberações da Constituição Federal de


1988 e assim fixar conteúdos mínimos para o ensino, construindo uma formação
básica e respeitando as especificidades regionais.

Citando Barreto (2000, p. 35), “o governo federal passa pela primeira vez,
em meados dos anos noventa, a fazer ele próprio prescrições sobre currículo, que
vão muito além das normas e orientações gerais que caracterizaram a atuação dos
órgãos centrais em períodos anteriores”.

Com o intuito de transformar a realidade educacional, o documento defende


que “faz-se necessária uma proposta educacional que tenha em vista a qualidade
da formação a ser oferecida a todos os estudantes” (BRASIL, 1997a, p. 27).

A intenção dos PCN é que o professor tenha um auxílio em sua ação


de reflexão sobre o cotidiano da prática pedagógica, que continuamente esse
cotidiano transforma-se e exige novas competências docentes. Nesse sentido,
com esse documento se prevê que seja possível:

- rever objetivos, conteúdos, formas de encaminhamento das


atividades, expectativas de aprendizagem e maneiras de avaliar;
- refletir sobre a prática pedagógica, tendo em vista uma coerência com
os objetivos propostos;

169
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

- preparar um planejamento que possa de fato orientar o trabalho em


sala de aula;
- discutir com a equipe de trabalho as razões que levam os alunos a
terem maior ou menor participação nas atividades escolares;
- identificar, produzir ou solicitar novos materiais que possibilitem
contextos mais significativos de aprendizagem;
- subsidiar as discussões de temas educacionais com os pais e
responsáveis (BRASIL, 1997a, p. 12).

A proposta apresentada pelos PCN não tem uma concepção rígida de


currículo; é flexível, com o objetivo de considerar a diversidade brasileira e
respeitando a autonomia do professor e equipe pedagógica.

Acadêmico, apresentamos aqui uma imagem disponibilizada em outro


documento importante do MEC, “Ensino Fundamental de Nove anos”, que
contribui para percebermos a organização desse nível de ensino:

FIGURA 24 – ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS

Ensino Fundamental
Anos Iniciais Anos Finais
1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/noveanorienger.pdf>.
Acesso em: 5 dez. 2017.

A figura acima nos indica uma organização que atualmente deve ser
planejada em seu conjunto, ou seja, projetando essa prática para o trabalho do
professor, em que “esta é uma oportunidade preciosa para uma nova práxis dos
educadores, sendo primordial que ela aborde os saberes e seus tempos, bem como
os métodos de trabalho, na perspectiva das reflexões antes tecidas” (BRASIL,
2004, p. 18).

Assim, temos que dar continuidade na definição e redefinição das práticas


e das ações, que devem ser realizadas com a mesma rapidez e complexidade com
que ocorre o processo de transformação, não só no Brasil, mas em escala mundial.

A importância que adquirem, nessa nova realidade mundial, a ciência e


inovação tecnológica tem levado os estudiosos a denominar a sociedade
atual de sociedade do conhecimento, sociedade técnico-informacional ou
sociedade tecnológica, o que significa que o conhecimento, o saber e a
ciência assumem papel muito mais destacado do que anteriormente.
Na atualidade, as pessoas aprendem na fábrica, na televisão, na rua,
nos centros de informação, nos vídeos, no computador, e cada vez
se ampliam os espaços de aprendizagem (LIBÂNEO, 2012, p. 62-64,
grifos do autor).

170
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO

A instituição escolar já não é considerada o único meio ou o meio


mais eficiente e ágil de socialização dos conhecimentos técnico-científicos e de
desenvolvimento de habilidades cognitivas e competências sociais requeridas
para a vida prática.

A tensão em que a escola se encontra não significa, no entanto, seu fim


como instituição socioeducativa ou o início de um processo de desescolarização
da sociedade. Indica, antes, o início de um processo de reestruturação dos
sistemas educativos e da instituição tal como a conhecemos. A escola, hoje,
precisa não apenas conviver com outras modalidades de educação não formal,
informal e profissional, mas também, articular-se e integrar-se a elas, a fim de
formar cidadãos mais preparados e qualificados para um novo tempo. Para isso,
o ensino escolar deve contribuir para:

a) Formar indivíduos capazes de pensar e aprender permanentemente


(capacitação permanente) em um contexto de avanço das tecnologias de
produção e de modificação da organização do trabalho, das relações contratuais
capital/trabalho e dos tipos de empregos.
b) Prover formação global que constitua um patamar para atender à necessidade
de maior e melhor qualificação profissional, de preparação tecnológica e
de desenvolvimento de atitudes e disposições para a vida numa sociedade
técnico-informacional.
c) Formar cidadãos éticos e solidários.

Assim, pensar o papel da escola nos dias atuais sugere levar em conta
questões relevantes. A primeira, e talvez a mais importante, é que as transformações
mencionadas representam uma reavaliação que o sistema capitalista faz de seus
objetivos.

No entanto, quando o autor Libâneo (2012) faz o alerta de que o ensino


escolar deve contribuir para formar indivíduos capazes de pensar e aprender
permanentemente dentro do contexto tecnológico e das relações capital/trabalho,
poderia, aí, ser acrescentado o termo “harmonização das relações trabalhistas”. O que
quer dizer que a educação pode e deve ter uma relação próxima e significativa com
o capitalismo, uma vez que o desenvolvimento educacional deixou de ser estável,
isto é, com hora e local predeterminados. Hoje, a informação e o conhecimento não
têm fronteira, eles estão em toda parte, principalmente nas organizações produtoras
de bens e serviços. Ainda segundo o autor, “a escola deixou de ser o único meio de
socialização do conhecimento”. Seguindo a mesma linha de raciocínio com relação
ao capital/trabalho, Liedke (2002, p. 345-346) afirma que:

No limiar do século 21, os avanços da tecnologia microeletrônica e da


racionalização das técnicas organizacionais do processo de trabalho,
orientados por conceitos como produção flexível, produção enxuta e
especialização flexível, em um contexto de competição capitalista global,
colocam em xeque a centralidade do trabalho. Decorridos três séculos
de predomínio da sociedade industrial, o trabalho passa a assumir um
conteúdo crescentemente intelectual, em contraposição ao conceito
de trabalho físico, manual. Aumenta a importância da informação,
do trabalho imaterial, em contraposição ao conceito convencional de
trabalho, centrado na ideia de transformação da natureza. Para alguns

171
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

estudiosos, teria chegado o momento, na história da humanidade,


de separarem-se, novamente, os conceitos de trabalho, emprego e
identidade social e individual. Outras formas de socialização, de
construção das identidades sociais e individuais deverão voltar-se para
atividades de cunho comunitário, como escolas, clínicas, clubes de
bairro, manutenção de infraestrutura nas cidades, envolvendo várias
formas de trabalho voluntário (KUMAR, 1985: CACCIAMALI, 1996).
Estudos recentes apontam para a importância de políticas voltadas ao
estímulo das atividades intensivas em mão de obra, ao mesmo tempo
em que defendem a necessidade de diminuição da jornada de trabalho
semanal (MATTOSO, 1996; ANTUNES, 1996). Mais do que simples
especulação, os desafios são amplos e incertas as alternativas. Porém,
parece certo que as formas precárias de ocupação da força de trabalho
(trabalho temporário, desregulamentação do trabalho, rebaixamento
dos salários) estão longe do conceito aristotélico de trabalho humano
como obra criativa, livre da esfera da necessidade.

No entanto, a Revolução Tecnológica vai além do fenômeno relacionado


com a dinâmica da informação e comunicação, pois ela é também o objeto de
dinamização dos saberes, conceitos e dos valores individuais e sociais. Sendo
assim, essas tecnologias têm se mostrado eficientes e flexíveis em todos os aspectos
da vida cotidiana, seja no âmbito das relações sociais, econômicas e educacionais,
principalmente por oferecerem uma gama de alternativas que podem e devem
ser utilizadas na busca de soluções e na melhoria dos métodos e das formas de
ensinar e aprender. Isto porque, como sabemos, não existe uma homogeneidade
regional, isto é, as políticas públicas não conseguem equacionar ou resolver
os problemas relacionados à distribuição dos meios e recursos necessários ao
desenvolvimento do indivíduo, do processo educativo e do desenvolvimento
econômico, onde todos esses conceitos fazem parte da cadeia produtiva como
um todo, pois um país só se desenvolve com educação, emprego e distribuição
equitativa de renda, o que vai ao encontro dos princípios da igualdade.

LEITURA COMPLEMENTAR

Universidade pra quê? A força e o futuro da UERJ

Ana Karina Brenner, Bruno Deusdará,


Guilherme Leite Gonçalves e Lia Rocha

Como professor aposentado da UERJ somo-me a estes e estas colegas


no protesto, na reação e na esperança acerca do que o atual governo sem
legitimidade democrática está fazendo com esta universidade que se conta entre
as melhores do país. Na agenda do atual governo liderado pelo PMDB, ciência,
pesquisa, formação e inclusão social não fazem parte de sua agenda. Colocam
a universidade no item de gastos e encargos, quando deveria significar um alto
investimento em favor das novas gerações e do futuro do país, portanto, merecer
um tratamento prioritário. Uma nação feita de ignorantes está condenada a se
transformar num país pária, perder o passo da história e sequestrar o futuro dos
jovens. Mas tudo isso se inscreve dentro do programa da dominação imperial

172
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO

que nos quer recolonizar e fazendo-os apenas exportadores de commodities. Para


isso não se precisa de ciência, de tecnologia, nem de um projeto nacional, apenas
de espírito subserviente e venal. Recusamos este destino funesto, pois em termos
de futuro, quando o que vai contar mesmo será uma economia e uma tecno-
ciência montada sobre o fator ecológico. Aí surgiremos como uma das potências
reitoras, não para dominar, mas para podermos, com os bens e serviços que a
Mãe Terra nos galardoou, ser a mesa posta para as fomes e as sedes do mundo
inteiro. É o sentido secreto e providencial de sermos geograficamente grandes
e ecologicamente ricos. Precisamos resgatar a UERJ, o hospital Pedro Ernesto e
outras frentes de ensino e pesquisa distribuídos pelo Estado do Rio de Janeiro,
com seu protagonismo histórico e com seu alto sentido social, especialmente, para
os mais penalizados pela nossa sociedade injusta e excludente. E vamos triunfar,
porque nada resiste ao que é bom, justo, digno e ecologicamente responsável.
Parabéns aos autores e autoras deste corajoso texto, urdido de sã indignação e de
justa esperança. Leonardo Boff

[...]

A universidade moderna nasceu de um projeto destinado a desenvolver


as qualidades humanas e a cultura por meio de um programa de formação, que
combinava ensino e pesquisa com base no conhecimento científico. Esse projeto,
no entanto, tinha um vício de origem: era inacessível às classes populares; servia
apenas à reprodução das elites. Sofria, assim, de um mal-estar que, dentre outras,
produziu as revoltas estudantis de 1968. A partir desse momento, as políticas
universitárias se voltaram para articular formação e inclusão social, conhecimento
científico e igualdade.

A UERJ é resultado de um amadurecimento histórico dessa nova


universidade. Criada em 1950, destaca-se pelo pioneirismo: primeira universidade
pública do Brasil a oferecer ensino superior noturno, permitindo a qualificação
dos trabalhadores; segunda instituição universitária a possuir um hospital das
clínicas voltado para o ensino; primeira a implantar o sistema de cotas para
negros, indígenas e estudantes oriundos de escolas públicas.

Nos últimos 10 anos, o número de cursos de doutorado quase dobrou,


passando de 23 para 43. Em 2016, a UERJ possuía 26.767 estudantes presenciais,
dos quais 9.900 cotistas e ainda 7.266 alunos de Educação a Distância. Além do
Hospital Universitário Pedro Ernesto e da Policlínica Piquet Carneiro, ela conta
com 714 projetos, 253 cursos e 34 programas de extensão, que levam à sociedade
conhecimento e tecnologias de ponta, envolvendo cerca de 3 milhões de pessoas,
entre profissionais, estudantes e comunidade atendida.

Nos últimos anos, a UERJ conquistou o regime de trabalho de Dedicação


Exclusiva, assegurando um plano de carreira com capacidade de atrair os melhores
quadros acadêmicos. Tal regime é estruturante da carreira docente, garantidor
da qualidade da pesquisa, do compromisso com a formação de estudantes e
pesquisadores, e do desenvolvimento tecnológico a partir da fixação de docentes
em uma única instituição.

173
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

Hoje, no entanto, todo esse patrimônio corre risco.

Ciência, formação e igualdade social não fazem parte da agenda do PMDB.


A Universidade lhe é estranha. Em seu programa para o Brasil, “Uma ponte para
o futuro”, ela é tratada tão somente como encargo ou despesa, desconsiderando
sua importância como investimento na construção e preservação do patrimônio
científico e tecnológico de uma nação. Ao assim concebê-la, atribui à educação
superior a responsabilidade de produzir desajuste fiscal quando é, na verdade,
potencial de desenvolvimento econômico e de geração de emprego. Mas, então,
qual é o projeto do PMDB para a Universidade?

Desde o golpe parlamentar, em 2016, o Governo Temer tem realizado


significativos cortes em políticas sociais, entre elas o ensino superior. Só o MEC
sofreu corte de R$ 4,3 bilhões. Assim, 15% dos gastos de custeio e 40% das
despesas de capital, aprovados pelo Congresso para as universidades federais,
ficaram congelados. No Rio de Janeiro ocorre fato semelhante. Para dar apenas
um exemplo, no final de 2016, o Governo Pezão reduziu o orçamento da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro em mais de 30%.

Em agosto de 2017, professores e servidores técnico-administrativos da


UERJ encontram-se com quatro meses de salários atrasados (mesma situação
das outras universidades estaduais UEZO e UENF). Também atrasadas estão as
bolsas de estudantes e residentes. O confisco de salários e bolsas é um confisco
do orçamento da universidade, e mina as condições de reprodução das forças
necessárias ao trabalho e à continuidade do patrimônio intelectual, científico e
democrático adquirido ao longo das décadas. Um exemplo dos efeitos nefastos
dessa crise é a saída forçada de alguns docentes do regime de dedicação exclusiva.
Obrigados a acumular atividades paralelas, muitos desses profissionais não
retornarão ao regime após esse período.

O resultado da política universitária de Pezão e Temer, cujo não pagamento


dos salários da UERJ é a expressão mais vil, são vários: evasão de estudantes, fuga
de cérebros, destruição da pesquisa de ponta, eliminação do legado intelectual,
extermínio da formação e da cultura. Em outras palavras, a depredação do
resultado de décadas de investimento material e humano.

Nós, da Universidade, entendemos que docência, pesquisa, cultura e


formação se relacionam com o futuro. Nossa resistência é a garantia de que o
projeto de universidade pública, de qualidade, gratuita, cada vez mais plural e
inclusiva, permaneça. UERJ Resiste!
FONTE: Disponível em: <https://leonardoboff.wordpress.com/2017/08/11/universidade-pra-que-
a-forca-e-o-futuro-da-uerj/>. Acesso em: 9 set. 2017.

174
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A vida em sociedade está ligada à política e não há ação social sem ação
política, quer seja promovida pelo Estado ou pela sociedade.

• As políticas públicas são de responsabilidade do Estado, com base em


organismos políticos e entidades da sociedade civil, que derivam de
normatizações, ou seja, se estabelece um processo de tomada de decisões,
nossa legislação.

• A criação de documentos nacionais norteadores foi possível a partir da década


de 1980, com a abertura política e com a instituição de um Estado democrático,
com a Constituição Federal de 1988, como é o caso dos Parâmetros Curriculares
Nacionais.

• A LDB 9.394/96 regulamentou o que foi tratado sobre educação na Constituição


Federal, abordando a educação escolar. O objetivo dos PCN é estabelecer
à equipe pedagógica uma referência curricular e apoio na elaboração do
currículo e do projeto pedagógico.

• Os PCN têm função definidora do currículo mínimo, orientam práticas


pedagógicas e organizam a estrutura escolar.

• Uma das preocupações centrais dos PCN é o tema da cidadania, que deve
resultar em uma formação cidadã.

175
AUTOATIVIDADE

1 Para retomar o que aprendemos até o momento, aponte as


características principais e o contexto histórico no qual foram
construídos os PCN:

2 (IFRN – Concurso Público – Grupo Magistério – Políticas e


Gestão Escolar 2012)

A partir do que estabelece a Lei nº 9.394/1996, analise as afirmativas a seguir.

I- A educação profissional técnica de nível médio articulada, segundo essa lei,


será desenvolvida nas formas integrada e concomitante.
II- A educação de jovens e adultos deverá ser oferecida, preferencialmente,
articulada à educação profissional.
III- As instituições de educação profissional e tecnológica oferecerão cursos
regulares e cursos especiais, abertos à comunidade.
IV- Na educação profissional técnica de nível médio, a preparação geral
para o trabalho e, facultativamente, a habilitação profissional, poderão
ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de Ensino Médio ou em
cooperação com instituições especializadas em educação profissional.
V- A educação profissional técnica de nível médio, por ter total autonomia
pedagógica, prescinde de organizar cursos seguindo as orientações contidas
nas diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional de
Educação.

Das afirmativas acima, estão corretas, apenas:

a) ( ) I, II, III e IV.


b) ( ) II, III, IV e V.
c) ( ) I e V.
d) ( ) II e IV.

176
UNIDADE 3
TÓPICO 2

POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao estudo que faremos sobre o Sistema
de Saúde brasileiro. Este tema levará você a refletir sobre a realidade da saúde
pública em nosso país e os seus desafios para assegurar o atendimento a todo
cidadão com dignidade e em igualdade de condições.

O acesso universal, integral e equânime à assistência em saúde é um


direito de todos e um dever do Estado, garantido pela Constituição.
Contudo, para além das obrigações do governo, a saúde também
é uma responsabilidade coletiva, que implica na participação da
população nos processos de melhoria e no progresso da qualidade de
serviços (SCHMIDT, 2015, p. 12).

A gestão do sistema nacional de saúde é bastante complexa, se pensarmos


em atingir de forma equânime todas as pessoas que dependem do serviço público
num contexto com desigualdades e desafios sociais aos governos. Concorda
Zetzsche (2014, p. 3) ao dizer que “Cuidar da saúde significa manter a nação
em condições de progresso e trabalho, com uma população saudável e menores
índices de adoecimento e transmissão de doenças”.

O sistema de saúde brasileiro engloba uma rede de serviços prestados


por instituições públicas e privadas aos cidadãos que se utilizam de uma
multiplicidade de atendimentos. Considerado exemplo de política pública pelo
acesso universal à população, demanda ainda maior participação da sociedade
nos conselhos e conferências municipais de saúde para o efetivo controle social
na administração pública.

O fortalecimento da política pública de saúde depende, sobretudo, de


investimentos que assegurem as ações e programas que impulsionem os indicadores
de saúde a um nível favorável; é fundamental a melhora da infraestrutura, com
a ampliação e modernização dos locais de atendimento, qualidade dos serviços
oferecidos e capacidade técnica dos profissionais contratados para a gestão.

Competência administrativa, visão política e gerencial, profundo


conhecimento da história do país e de sua dinâmica social, visão
epidemiológica e crítica, e visão ontológica – visão de respeito e
reconhecimento do ser humano – (alvo dos programas e políticas de
saúde) são requisitos mais que necessários àquele ou àquela que vai
trabalhar em gestão de saúde, quer seja de caráter público ou privado
(ZETZSCHE, 2014, p. 4).

177
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

A saúde para os brasileiros, segundo a pesquisa do Instituto de Pesquisas


Datafolha (2014), é considerada o serviço público mais importante; mas
diariamente o usuário se depara com problemas, como a falta de médicos, filas
de espera nas emergências e nos hospitais, demora para realização de cirurgias e
hospitais sem recursos financeiros.
Área de maior importância – nível federal
(Estimulada e única)

Na segunda etapa, entre as áreas que consideraram importantes, Saúde se destaca, 15


FIGURA 25 – IMPORTÂNCIA DA SAÚDE PÚBLICA
como prioridade. Educação fica em segundo lugar, porém bem mais à distância.
 O usuário do SUS dá maior importância para a Saúde. Usuário  Não 
do SUS usuário
59% 46%
17% 25%
8% 9%
7% 11%
5% 3%
3% 3%
1% 1%
0,4% 1%
0,3% ‐
Base: Total Brasil  2.418 entrevistas
FONTE: Disponível em: <http://portal.cfm.org.br/images/PDF/apresentao-integra-datafolha203.
P3. Dentre esses serviços que você considerou muito importantes, qual deve ser a primeira prioridade do governo federal, na sua opinião?

pdf>. Acesso em: 6 jun. 2015.

A partir dessa reflexão, podemos enfatizar a importância da política


pública de saúde no contexto social brasileiro e a necessidade de gestão técnica
com profissionais habilitados. A relevância do tema foi abordada no Exame
Nacional do Estudante – ENADE (2013) e propomos que você leia e responda.

AUTOATIVIDADE

A questão da saúde no Brasil é complexa e dependente da atuação


dos vários agentes que a compõem. Cada um desses agentes,
governo, organizações e sociedade, tem suas responsabilidades
sobre a qualidade da saúde no Brasil. Ao governo cabe desenvolver
políticas e realizar investimentos adequados, dentro de um planejamento ao
longo do tempo; às organizações compete executar essas políticas, como também
prestar serviços à população com qualidade; e a sociedade, por seu lado, deve
aderir às ações preventivas promovidas pelo governo e pelas organizações,
assim como deve ter uma postura ativa, autônoma e corresponsável, em relação
à sua qualidade de vida.

FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/Win8/Desktop/16_TEC_GESTAO_HOSPITALAR.


pdf>. Acesso em: 3 maio 2015.

178
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE

FONTE: Disponível em: <http://www.ivancabral.com>. Acesso em: 23 ago. 2013.

Considerando a figura e o trecho acima, redija um texto dissertativo sobre o


papel e (ou) funções do gestor hospitalar no contexto da qualidade da saúde
no Brasil.

2 CONCEITO DE SAÚDE
Temos como conceito de saúde, segundo a Organização Mundial de
Saúde (USP, 2015, s.p.): “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental
e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”.

Essa concepção de saúde induz a novas condutas quanto à promoção de


saúde e prevenção de doenças. O indivíduo é inserido numa rede de cuidados
permanentes, visando maior qualidade de vida, mesmo que aconteça a doença.
A vida mais saudável demanda novos hábitos, que incluem a alimentação
adequada, lazer, convívio social, esportes e atividade física como práticas diárias.

Mesmo o doente crônico aprende a conviver melhor com a doença,


tornando-se menos dependente da assistência médica, adquirindo hábitos que
ajudam na melhora do estado de saúde. É o que Zetzsche (2014, p. 13) define
como “comportamentos mais saudáveis e que desenvolva o seu autocuidado,
possibilitando que, desta forma, acabe vivendo mais e melhor depois de seu
adoecimento, por mais incrível que isto pareça, à primeira vista”. Neste contexto,
percebe-se que a população está adotando um estilo de vida mais saudável, com

179
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

atitudes de prevenção para a saúde física e mental; este movimento se estende a


outros ambientes, como exemplo, no trabalho e na educação, visto que a qualidade
de vida está diretamente relacionada ao modo como as pessoas vivem.

As cidades devem oferecer espaços coletivos, parques, praças, centros


de convivência, para que a comunidade usufrua de qualidade de vida, o que
comprovadamente vem reduzindo os custos em serviços médicos e assistenciais
nos municípios.

FIGURA 26 – SAÚDE PÚBLICA

FONTE: Disponível em: <http://brubrinq.com.br/ckfinder/userfiles/images/pra%C3%A


7a_playground2.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2018.

Essa é uma realidade possível, de acordo com Zetzsche (2014, p. 9):

[...] a amplitude do escopo de ações em saúde vai abranger


intervenções e estratégias nos mais variáveis setores, como meio
ambiente, sustentabilidade, manejo agrícola, controle de endemias
e pandemias, definição dos níveis aceitáveis de desenvolvimento e
qualidade de vida, saneamento básico, manejo de recursos hídricos e
naturais, ambientes de trabalho, acesso ao lazer, educação, moradia,
entre tantos outros, pois é nestas boas condições de vida que a saúde é
mais fácil de se obter e de se conservar.

A transformação social, a partir da saúde, busca incutir nas pessoas


atitudes frente a fatores de influência negativa, por exemplo, a mídia com a
demasiada publicidade de produtos alimentícios industrializados, que não
trazem benefícios à saúde e contribuem para a obesidade e sobrepeso; ou ainda,
o álcool e cigarro, que levam a problemas comportamentais e afetam a família.

180
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE

[...] a obesidade na população brasileira está se tornando bem mais


frequente do que a própria desnutrição infantil, sinalizando um
processo de transição epidemiológica que deve ser devidamente
valorizado no plano da saúde coletiva. As doenças [...] estão
relacionadas, em grande parte, com a obesidade e com práticas
alimentares e estilos de vida inadequados (IBGE, 2008, s.p.).

Além dos problemas decorrentes da vida moderna que afetam a saúde


da população, temos ainda doenças epidemiológicas como dengue, malária
e tuberculose, por exemplo, e que causam a morte de milhões de pessoas no
mundo todo e são decorrentes da miséria, da precariedade no abastecimento de
água potável, do saneamento básico e pela falta de acesso aos serviços públicos
de saúde e educação. A globalização fortaleceu esse processo de disseminação
de doenças ao redor do mundo, principalmente pelo contingente de populações
imigratórias.

Visando contribuir com seu conhecimento, reflita e responda à atividade a


seguir, que trata sobre o tema de forma a fazer refletir a partir das considerações
apresentadas, compreender as relações entre saúde pública e as desigualdades
sociais e suas terríveis consequências para a humanidade.

AUTOATIVIDADE

(ENADE–2013 – Formação Geral) A Organização Mundial de Saúde (OMS)


menciona o saneamento básico precário como uma grave ameaça à saúde
humana. Apesar de disseminada no mundo, a falta de saneamento básico ainda
é muito associada à pobreza, afetando, principalmente, a população de baixa
renda, que é mais vulnerável devido à subnutrição e, muitas vezes, à higiene
precária. Doenças relacionadas a sistemas de água e esgoto inadequados e a
deficiências na higiene causam a morte de milhões de pessoas todos os anos,
com prevalência nos países de baixa renda (PIB per capita inferior a US$ 825,00).
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 88% das mortes
por diarreia no mundo são causadas pela falta de saneamento básico. Dessas
mortes, aproximadamente 84% são de crianças. Estima-se que 1,5 milhão de
crianças morram a cada ano, sobretudo em países em desenvolvimento, em
decorrência de doenças diarreicas. No Brasil, as doenças de transmissão feco-
oral, especialmente as diarreias, representam, em média, mais de 80% das
doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (IBGE, 2012).

Com base nas informações e nos dados apresentados, redija um texto


dissertativo acerca da abrangência, no Brasil, dos serviços de saneamento
básico e seus impactos na saúde da população. Em seu texto, mencione as
políticas públicas já implementadas e apresente uma proposta para a solução
do problema apresentado no texto acima.
FONTE: Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2013
/16_TEC_GESTAO_HOSPITALAR.pdf>. Acesso em: 6 maio 2015.

181
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

3 SAÚDE: DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO


A Constituição da República Federativa de 1988 dispõe em seu art. 196: “A
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais
e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação”.

No Brasil, temos um sistema de saúde garantido pela Constituição Federal,


que se constitui no Sistema Único de Saúde – SUS. Para Campos et al. (2006, p.
531 apud ZETSZCHE, 2014, p. 87), o SUS é:

[...] o arranjo organizacional do Estado Brasileiro que dá suporte à


efetivação da política de saúde no Brasil, e traduz em ação os princípios
e diretrizes desta política. Compreende um conjunto organizado
e articulado de serviços e ações de saúde, e aglutina o conjunto das
organizações públicas de saúde existentes nos âmbitos estadual,
municipal e nacional, e ainda os serviços privados de saúde que o
integram funcionalmente para prestação de serviços aos usuários do
sistema, de forma complementar, quando contratados ou conveniados
para tal fim. O SUS foi instituído com o objetivo de coordenar e
integrar as ações das três esferas de governo e pressupõe a articulação
de subsistemas verticais (de vigilância e assistência à saúde) e
subsistemas de base territorial – estaduais, regionais e municipais –
para atender de maneira funcional às demandas por atenção à saúde.

Historicamente, a população brasileira era desassistida de assistência


médica e, quando acometida de doença, recorria às crenças e à medicina natural;
o auxílio ao povo era feito pelas Santas Casas de Misericórdia. Somente a partir
da industrialização no país e dos movimentos sindicalistas é que o Estado passa a
atuar na área da saúde, com a criação das caixas de aposentadoria e pensão, mas
que permitiam somente aos contribuintes o acesso à assistência médica, enquanto
a maior parcela da população ficou à margem deste direito. Durante o período
militar, a iniciativa privada passa a ter participação no sistema com os convênios
e planos de saúde.

Essas medidas contribuíram para a Reforma Sanitária que levou à criação


do SUS, que, segundo Arouca (1998 apud ZETZSCHE, 2014, p. 79):

[...] nasceu na luta contra a ditadura, com o tema Saúde e Democracia, e


estruturou-se nas universidades, no movimento sindical, em experiências
regionais de organização de serviços. Esse movimento social consolidou-
se na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, na qual, pela primeira
vez, mais de cinco mil representantes de todos os segmentos da sociedade
civil discutiram um novo modelo de saúde para o Brasil. O resultado foi
garantir na Constituição, por meio de emenda popular, que a saúde é um
direito do cidadão e um dever do Estado.

Posteriormente, em 1990, foi promulgada a Lei Orgânica do SUS, com


as Leis nº 8.080 e nº 8.142, que têm como base de sustentação os princípios
norteadores do Sistema Único de Saúde brasileiro:

182
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE

• Princípio da Universalidade: estabelece a todos o direito de atendimento pelo


Sistema Único de Saúde.
• Princípio da Integralidade: relaciona dois aspectos do SUS, o primeiro refere-se
à compreensão do ser humano biopsicossocial que requer um atendimento em
sua integralidade; e o segundo aspecto integra as ações do Sistema Único de
Saúde para o atendimento integral entre os diferentes níveis de complexidade
de atenção à saúde.
• Princípio da Igualdade: possibilita as mesmas condições de acesso ao Sistema
Único de Saúde neste país, onde ninguém pode solicitar um atendimento
diferenciado, seja um pedido por apadrinhamento político, ou pelo nível
social, raça, gênero.

Na visão de Cony (2014, s.p.), o SUS pode ser considerado como direito
humano: “[...] é a maior conquista do povo brasileiro em política pública e é
um sistema que é referência em saúde para o mundo, sob a ótica gravada na
Constituição de que o SUS é um direito de todos e um dever do Estado e evoluindo
para a compreensão de que é um direito humano”.

4 AS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE


O funcionamento do Sistema Único de Saúde conjuga uma rede de
serviços denominada Rede de Atenção à Saúde, que classifica os atendimentos
em níveis de atenção primária, secundária e terciária, conforme a exigência do
serviço que será prestado ao usuário. A rede compreende-se em âmbito estadual
e regional, numa articulação interfederativa, em que serviços de saúde são
executados em uma região de Saúde determinada por um espaço geográfico de
municípios limítrofes, que segundo o Decreto nº 7.508/2011, será “delimitado a
partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e
infraestrutura de transportes compartilhados [...]”. Trata-se de uma organização
complexa, que identifica os diversos atendimentos por meio de um Mapa da Saúde,
que segundo decreto, faz a distribuição “[...] de recursos humanos e de ações e
serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada, considerando-se a
capacidade instalada existente, os investimentos e o desempenho aferido a partir
dos indicadores de saúde do sistema”.

A Rede de Atenção à Saúde (RAS) atua a partir da Unidade Básica de Saúde


ou USF – Unidade de Saúde da Família, onde inicia o trabalho junto à comunidade.
As consultas são realizadas pelo médico generalista e, se for necessário, encaminha
aos médicos especialistas que integram o setor de atenção secundária.

A Unidade Básica de Saúde realiza os atendimentos em nível de atenção


primária “[...] enfatizando a função resolutiva dos cuidados primários sobre
os problemas mais comuns de saúde e a partir do qual se realiza e coordena o
cuidado em todos os pontos de atenção” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p. 4
apud ZETZSCHE, 2014, p. 32).

183
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

A pesquisa do Instituto Datafolha (2014) mostra com que objetivo o


usuário busca o atendimento na Unidade de Saúde.

Porta de entrada para o SUS


(Estimulada
FIGURAe27 única)
– NECESSIDADES NA SAÚDE PÚBLICA
Quando precisam de atendimento de saúde do SUS, o primeiro local procurado é o 44

Posto de Saúde para a maior parcela dos usuários (48%). No entanto, 49% usam
algum serviço de emergência como porta de entrada.

49% utilizam
atendimento de
emergência como
porta de entrada

FONTE: Disponível em: <http://portal.cfm.org.br/images/PDF/apresentao-integradatafolha203.


Base: Total Brasil, entrevistados que utilizaram serviço
P13. Quando você ou alguém de sua casa precisa de atendimento de saúde do SUS, qual o primeiro local que vocês procuram, de acordo com este cartão? 
pdf>. Acesso em: 6 jun. 2015.

No setor de atenção secundária, adentramos em Policlínicas de


especialidades, Ambulatórios e Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Do
setor terciário fazem parte os hospitais especializados, Unidades de Tratamento
Intensivo (UTIs), Centros de Hemodiálise, entre outros.  Os encaminhamentos
feitos aos usuários são formais, por meio de referências e contrarreferências, que
são os registros das consultas e procedimentos utilizados pelos médicos e agentes
de saúde.

UNI

Pontos de atenção à saúde são entendidos como espaços em que se ofertam


determinados serviços de saúde, por meio de uma produção singular. Os domicílios, as
unidades básicas de saúde, as unidades ambulatoriais especializadas, os serviços de
hemoterapia e hematologia, os centros de apoio psicossocial, as residências terapêuticas,
entre outros. Os hospitais podem abrigar distintos pontos de atenção à saúde: o ambulatório
de pronto atendimento, a unidade de cirurgia ambulatorial, o centro cirúrgico, a maternidade,
a unidade de terapia intensiva, a unidade de hospital/dia, entre outros. Todos os pontos de
atenção à saúde são igualmente importantes para que se cumpram os objetivos da rede de
atenção à saúde e se diferenciam, apenas, pelas distintas densidades tecnológicas que os
caracterizam (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p. 4 apud ZETSCHE, 2014, p. 32).

184
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE

Vejamos um exemplo de atendimento em rede:

O sr. José é portador de doença mental leve diagnosticada durante a


infância, mas os pais não procuraram um tratamento na época; a partir da visita
do agente comunitário a domicílio, o sr. José foi encaminhado para a Unidade
Básica de Saúde (que fez seu acompanhamento clínico e o encaminhou também
para o CAPS - Centro de Atenção Psicossocial). Foi feito o cadastro na ESF
(Estratégia de Saúde Familiar) e no CAPS e as crises puderam ser cuidadas sem
internação. O sr. José também tem hipertensão e por isso faz acompanhamento
com a médica da Unidade de Saúde Básica, que prescreve os seus medicamentos.
Como o sr. José é viúvo e mora sozinho, o agente comunitário tem feito visitas
com frequência, para saber se está tomando a medicação corretamente.

Neste exemplo, podemos verificar como um usuário pode ter o seu


cuidado compartilhado entre uma equipe de atenção primária, a unidade de
saúde da família, e uma equipe de atenção secundária, a equipe do CAPS.

Para conhecer melhor os princípios que norteiam a legislação orgânica


de saúde, acompanhe a questão a seguir, ela trata sobre o tema, que também foi
abordado no Exame Nacional do Estudante – ENADE (2013) e ajuda a entender o
funcionamento da saúde pública e pensar sobre a qualidade de atendimento em
saúde na sua cidade.

AUTOATIVIDADE

Mais de 20 anos após a criação do SUS, surge a necessidade de regulamentação


de dispositivos da Lei Orgânica da Saúde, em face de lacunas legais quanto à
organização do sistema, ao planejamento da saúde, à assistência à saúde e à
articulação interfederativa. A regulamentação, pelo Poder Executivo Federal,
da Lei nº 8.080/1990, por meio do Decreto nº 7.508/2011, surge no momento
em que os gestores, profissionais de saúde e trabalhadores detêm maior
compreensão sobre a organização constitucional e legal do SUS e o usuário
sobre o seu direito à saúde.

De acordo com o decreto citado acima, avalie as afirmações a seguir.

I- A integralidade da assistência à saúde se inicia e se completa na rede de


atenção à saúde, mediante referenciamento do usuário na rede regional e
interestadual, conforme pactuado nas comissões intergestoras.
II- Mapa da Saúde é a descrição geográfica da distribuição de recursos
humanos e de ações e serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa
privada que será utilizada na identificação das necessidades de saúde e
orientará o planejamento integrado dos entes federativos, contribuindo para
o estabelecimento de metas de saúde.

185
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

III- Região de Saúde é o espaço geográfico contínuo constituído por


agrupamentos de municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades
culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura
de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o
planejamento e a execução de ações e serviços de saúde.

É correto o que se afirma em:

a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e III, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.
FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/Win8/Desktop/16_TEC_GESTAO_HOSPITALAR.pdf>.
Acesso em: 6 maio 2015.

5 DIVERSOS ATENDIMENTOS EM SAÚDE


Para desenvolver a política pública de saúde é preciso, inicialmente,
diagnosticar a condição de saúde da população brasileira. Segundo as informações
divulgadas pelo Ministério da Saúde, a estimativa de vida do brasileiro aumentou
para 72,7 anos em média, passando a viver mais tempo; em contrapartida, a taxa
de natalidade decresceu de 6,2 filhos por mulher nos anos 60 para 1,8 filhos por
mulher até 2009.

Nesta perspectiva, constatamos que a população no Brasil está envelhecendo,


as pessoas vivem mais tempo e nascem menos crianças; e o índice de mortalidade
aumentou devido a doenças crônicas que afetam 79,1% dos idosos de 65 anos ou
mais. Segundo Mendes (2012, p. 34-35 apud ZETSCHE, 2014, p. 21), “Ademais,
31,3% da população geral, em torno de 60 milhões de pessoas, têm doenças crônicas,
e 5,9% dessa população total têm três ou mais dessas doenças crônicas”.

Diariamente, o SUS presta atendimento a milhares de usuários que


furtivamente adoecem, necessitando de intervenção médica, realização de exames,
cirurgias e internações em hospitais; são considerados atendimentos de problema
agudo, pois quando solucionado, o paciente é liberado. Para o atendimento de
gestantes ou usuários de drogas, álcool e/ou portadores de doenças sexualmente
transmissíveis, que necessitam de acompanhamento, é requerido o agendamento
da consulta.

O atendimento a domicílio feito pelo médico da Unidade Básica de


Saúde visa atender a pessoas impossibilitadas de deslocamento em virtude de
graves acidentes, por exemplo. São realizados os procedimentos mais comuns de
recuperação, por meio de curativos e fisioterapia; além destes, também se inclui
aqui o atendimento a pacientes acometidos das doenças ocupacionais como LER e
DORT, o que leva um grande número de trabalhadores à incapacidade funcional.

186
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE

No entanto, muitos atendimentos seguem uma inversão do modelo


de atenção à saúde, “[...] demandado pela maioria das pessoas e denominado
de queixa conduta”, como afirma Zetzsche (2014, p. 23). Após a consulta e a
prescrição de exames, o paciente sente-se melhor e desiste dos exames. Os
sintomas ressurgem e a doença se instala com gravidade, e o retorno ao médico
é inevitável, o que representa um alto custo para o SUS, e maior ganho para a
iniciativa privada pela quantidade de exames de alto custo, e para a indústria
farmacêutica, pela quantidade de medicamentos.

5.1 POLÍTICAS DE SAÚDE E PROGRAMAS ESPECÍFICOS


Pela complexidade de atuação do SUS em todo o território nacional,
criaram-se políticas nacionais para o combate de doenças e prevenção em saúde,
coordenadas pelo Ministério da Saúde e operacionalizadas em programas
específicos no combate a doenças.

E
IMPORTANT

O Brasil detém a tecnologia para a fabricação de muitas das vacinas utilizadas nas
campanhas de saúde pública do país. A Fiocruz – Fundação Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro,
e o Instituto Butantã, em São Paulo, são considerados centros de excelência para a fabricação
de imunobiológicos. Ambas as instituições são órgãos públicos (ZETZSCHE, 2014, p. 244).

No Brasil, temos várias políticas de saúde operacionalizadas por


programas presentes em todo o país, vejamos algumas:

QUADRO 7 – DEMONSTRATIVO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS ESPECÍFICOS DE SAÚDE

POLÍTICA
PÚBLICA/ OBJETIVO
PROGRAMA
PROVAB Programa de Valorização do Profissional da Atenção
Básica (PROVAB) - Estimular a formação do médico para
a real necessidade da população brasileira e levar esse
profissional para localidades com maior carência para este
serviço.
PROGRAMA Desde 2011, o Ministério da Saúde vem promovendo a
ACADEMIA DA implantação e implementação de polos da Academia da
SAÚDE Saúde nos municípios brasileiros. Os polos são espaços
físicos dotados de equipamentos, estrutura e profissionais

187
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

qualificados, com o objetivo de contribuir para a promoção


da saúde e produção do cuidado e de modos de vida
saudáveis da população.
MAIS MÉDICOS O Programa Mais Médicos faz parte de um amplo pacto de
melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de
Saúde, que prevê mais investimentos em infraestrutura dos
hospitais e unidades de saúde, além de levar mais médicos
para regiões onde há escassez e ausência de profissionais.
MELHOR EM Melhorar e ampliar a assistência no SUS a pacientes
CASA com agravos de saúde, que possam receber atendimento
humanizado, em casa, e perto da família.
FARMÁCIA O Governo Federal criou o Programa Farmácia Popular
POPULAR do Brasil para ampliar o acesso aos medicamentos para as
doenças mais comuns entre os cidadãos. O Programa possui
uma rede própria de Farmácias Populares e a parceria com
farmácias e drogarias da rede privada, chamada de "Aqui
tem Farmácia Popular".
CARTÃO Cartão Nacional de Saúde é um instrumento que possibilita
NACIONAL DE a vinculação dos procedimentos executados no âmbito do
SAÚDE Sistema Único de Saúde (SUS) ao usuário, ao profissional
que os realizou e também à unidade de saúde em que
foram realizados. Para tanto, é necessária a construção
de cadastros de usuários, de profissionais de saúde e de
unidades de saúde. A partir desses cadastros, os usuários
do SUS e os profissionais de saúde recebem um número
nacional de identificação.
PRONTO As Unidades de Pronto Atendimento - UPA 24h são
ATENDIMENTO estruturas de complexidade intermediária entre as
UPA 24h Unidades Básicas de Saúde e as portas de urgência
hospitalares, onde, em conjunto com estas, compõem uma
rede organizada de Atenção às Urgências.
HUMANIZASUS A Política Nacional de Humanização existe desde 2003
para efetivar os princípios do SUS no cotidiano das
práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde pública
no Brasil  e incentivando trocas solidárias entre gestores,
trabalhadores e usuários.
DOAÇÃO DE O Sistema Nacional de Transplantes (SNT), instituído
ÓRGÃOS pelo Decreto n° 2.268, de 30 de junho de 1997, é a instância
responsável pelo controle e pelo monitoramento dos
transplantes de órgãos, de tecidos e de partes do corpo
humano, realizados no Brasil.
PNAN – A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN),
POLÍTICA aprovada no ano de 1999, integra os esforços do Estado
NACIONAL DE brasileiro, que por meio de um conjunto de políticas
ALIMENTAÇÃO públicas propõe respeitar, proteger, promover e prover os
E NUTRIÇÃO direitos humanos à saúde e à alimentação. A completar-
se dez anos de publicação da PNAN, deu-se início ao

188
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE

processo de atualização e aprimoramento das suas bases e


diretrizes, de forma a consolidar-se como uma referência
para os novos desafios a serem enfrentados no campo da
alimentação e nutrição no Sistema Único de Saúde (SUS).
SAMU O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU
192 tem como objetivo chegar precocemente à vítima após
ter ocorrido alguma situação de urgência ou emergência
de natureza clínica, cirúrgica, traumática, obstétrica,
pediátrica, psiquiátrica, entre outras, que possa levar ao
sofrimento, a sequelas ou mesmo à morte. Trata-se de um
serviço pré-hospitalar, que visa conectar as vítimas aos
recursos que elas necessitam e com a maior brevidade
possível.
PROGRAMAS DE O câncer de mama é o mais incidente na população
CONTROLE DE feminina mundial e brasileira, excetuando-se os casos de
CÂNCER- câncer de pele não melanoma. Políticas públicas nessa área
POLÍTICA vêm sendo desenvolvidas no Brasil desde meados dos anos
NACIONAL 80 e foram impulsionadas pelo Programa Viva Mulher em
DE ATENÇÃO 1998. O controle do câncer de mama foi reafirmado como
ONCOLÓGICA plano de fortalecimento da rede de prevenção, diagnóstico
e tratamento do câncer, lançado pela presidente da
República em 2011.
QualiSUS - REDE QualiSUS - Rede é um projeto formalizado a partir de
Acordo de Empréstimo com o Banco Mundial, com a
finalidade de contribuir para a organização de redes
regionalizadas de atenção à saúde no Brasil.
CONTROLE DO O Programa tem como objetivo reduzir a prevalência de
TABAGISMO fumantes e a consequente morbimortalidade relacionada
ao consumo de derivados do tabaco, seguindo um modelo
no qual ações educativas, de comunicação, de atenção à
saúde, associadas às medidas legislativas e econômicas,
potencializam-se para prevenir a iniciação do tabagismo,
promover a cessação de fumar e proteger a população da
exposição à fumaça ambiental do tabaco.
BANCOS DE A Rede BLH tem por missão a promoção da saúde da
LEITE HUMANO mulher e da criança mediante a integração e a construção
de parcerias com órgãos federais, a iniciativa privada e a
sociedade.
POLÍTICA DE Estratégia criada pelo INCA visando à ampliação da
PREVENÇÃO assistência oncológica no Brasil pela implantação de
AO CÂNCER serviços que integram os diversos tipos de recursos
GINECOLÓGICO E necessários à atenção oncológica de alta complexidade em
DA PREVENÇÃO hospitais gerais.
DA DST
FONTE: Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/profissional-e-gestor/gestao-
da-saude-publica>. Acesso em: 5 jun. 2015.

189
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

Neste cenário, o trabalho da Vigilância Epidemiológica é fundamental


para prever as ações que o Estado deve realizar a partir da coleta de informações
do perfil epidemiológico da população. A Vigilância Epidemiológica acompanha
a evolução de determinadas doenças e adota medidas que impedem que as
pessoas sejam expostas ao contágio de doenças transmissíveis.

Trouxemos para você, acadêmico, um pouco do contexto que foi construído


durante longos anos por nosso sistema de saúde brasileiro. Ele ainda está em
construção, adaptação, com novas propostas surgindo diariamente, afinal, é um
grande desafio a concepção de saúde de qualidade para todos.

190
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu:

• O que é saúde e como promovê-la.

• A concepção de saúde pública a partir da promoção de saúde e prevenção a


partir de condicionantes sociais.

• A interferência de ações de promoção de saúde nos diferentes meios sociais.

• No Brasil a saúde é um direito constitucional e dever do Estado.

• O SUS é o sistema de saúde nacional que funciona em rede, norteado pelos


princípios de universalidade, integralidade e igualdade determinados na Lei
Orgânica da Saúde.

• Como funciona o sistema de saúde e os diversos aspectos no atendimento ao


usuário.

• A atenção básica nos níveis primário, secundário e terciário, conforme a


exigência do atendimento.

• A importância da Vigilância Epidemiológica como provedora de informações


para políticas públicas e programas específicos de combate e prevenção de
doenças.

• Conhecemos algumas políticas públicas e programas desenvolvidos para o


combate e prevenção de doenças.

191
AUTOATIVIDADE

1 Conforme determinado pela Constituição Federal de 1988, a


questão da saúde pública é dever do Estado, sendo operacionalizado
pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Sem dúvida, atender a esta
demanda é um enorme desafio, pelas dimensões e complexidades
existentes em nosso país para garantir a todos qualidade nas políticas públicas
de saúde. Neste contexto, analise as sentenças a seguir:

I- O SUS (Sistema Único de Saúde) precisa estar em constante evolução, sendo


um processo contínuo de construção.
II- O SUS é um dos maiores programas de saúde do mundo.
III- A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que o sistema de saúde não
fosse estatizado, ou seja, deverá ser assegurado pela iniciativa privada.
IV- A ESF (Estratégia de Saúde da Família) é considerada a porta de entrada
no sistema SUS.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença III está correta.
c) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

2 No contexto do atendimento ao usuário do sistema de saúde,


a estrutura para promover estes procedimentos está dividida em
níveis de atenção. Considerando o assunto, analise as sentenças
a seguir:

I- A atenção básica é caracterizada por ser a porta de entrada dos tratamentos


do SUS.
II- O usuário que for atendido no nível de atenção básica não poderá receber
tratamento nos demais níveis de atenção.
III- São considerados como atenção secundária os serviços realizados pelo
SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e UPAS (Unidades de
Pronto-Atendimento).
IV- Os serviços de atenção terciária são realizados nos consultórios médicos.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.


b) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.

192
3 No contexto do modelo de saúde existe a classificação de
níveis de atenção, que estão divididos em primário, secundário
e terciário. Sabemos que o maior número de atendimentos aos
usuários do sistema de saúde concentra-se no nível de atenção
primário. Desta forma, disserte sobre o que trata a Política Nacional de
Atenção Básica.

4 O sistema de saúde pode ser definido como um conjunto de


relações econômicas, políticas e institucionais, que refletem na
condução das atividades que promovem a saúde, com serviços
que visam alcançar esses resultados. Como o Sistema de Saúde
Brasileiro é considerado?

a) ( ) Privado.
b) ( ) Parcial.
c) ( ) Universal.
d) ( ) Público.

193
194
UNIDADE 3
TÓPICO 3

HABITAÇÃO E SANEAMENTO

1 INTRODUÇÃO
A grande concentração populacional nos centros urbanos exige o
atendimento de necessidades básicas à dignidade humana. A moradia é
um elemento essencial ao homem. Entretanto, a construção de aglomerados
habitacionais é responsável por grandes impactos ambientais. Inicialmente,
as áreas são desmatadas, os solos desprotegidos, dá-se lugar às construções e,
caso não haja condições adequadas de saneamento, ocorre o acúmulo de lixo e a
contaminação das fontes de água. Este é um panorama simplificado e didático,
apenas, pois outras tantas alterações ocorrem simultaneamente.

A fim de garantir condições dignas para as moradias, a Organização


Mundial da Saúde definiu parâmetros mínimos de qualidade das áreas destinadas
às habitações:

• As habitações devem apresentar estrutura mínima para acomodar todos os


moradores.
• Capacidade para fornecer proteção térmica e proporcionar a redução de ruídos
e poeira.
• Possibilitar o acesso ao abastecimento de água e qualidade adequada ao
consumo humano.
• Apresentar estrutura para a disposição e manejo adequado de resíduos sólidos
e líquidos.
• Estar localizada em área adequada à moradia.
• Evitar a poluição no ambiente doméstico.
• Ser livre da presença de vetores e/ou hospedeiros intermediários de agentes
etiológicos.

Conhecendo os parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da


Saúde, observamos que nossas cidades ainda estão longe de atender a todos os
requisitos necessários ao bem-estar social.

2 DIREITO À MORADIA
Ainda dentro do contexto da habitação, são comuns os problemas
ambientais advindos da concentração desordenada de construções, muitas vezes
irregulares (clandestinas):

195
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

• A ocupação das encostas e a consequente destruição da vegetação que protege


o solo são responsáveis pelas tragédias registradas nos períodos chuvosos.
• As construções à beira de córregos e rios causam, pelo menos, dois grandes
problemas: as enchentes e a contaminação das águas por falta de saneamento
básico.

Por tudo isso, é legítimo que o movimento pela reforma urbana foi
incluído no texto constitucional, através da emenda popular da reforma urbana,
encaminhada ao Congresso Nacional em 1988 e que inseriu o capítulo de Política
Urbana da Constituição, prevista nos artigos 182 e 183 (MINISTÉRIO DAS
CIDADES, 2007).

Apesar de não atender aos anseios de todos, a inclusão desses dispositivos


significou um avanço, pois, pela primeira vez, uma política pública voltada à
questão urbana foi garantida através de sua inserção no texto constitucional.

Com essa abertura e com a necessidade de regulamentar o capítulo da


política pública urbana inserida na Constituição, foi editado o Projeto de Lei n°
5.788/90, que tramitou por cerca de uma década e somente foi aprovado pelo
Congresso Nacional com a edição da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001,
conhecida como Estatuto da Cidade.

O direito à moradia passou a ser tratado constitucionalmente como um


dos direitos do trabalhador. A Constituição de 1988, no seu artigo 7º, ao apresentar
os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, estabelece em seu inciso IV que o
salário-mínimo deve atender às necessidades vitais básicas do trabalhador e de
sua família, entre as quais se inclui o direito à moradia.

A Emenda Constitucional nº 26/2000, contudo, veio expandir esse direito,


alterando a redação do artigo 6º da Constituição Federal, o qual originalmente
tutelava o direito social, um tipo de direito fundamental. Nesta expansão, com
a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, acresce-se o
direito à moradia, incluindo-o dentre os direitos sociais a serem fomentados pelo
Estado para a coletividade.

A figura a seguir retrata o déficit habitacional do ano de 2007 a 2012,


anos de pesquisa realizada pelo IBGE, que mostra pouco avanço percentual na
diminuição desse grande problema que é a falta de moradia.

196
TÓPICO 3 | HABITAÇÃO E SANEAMENTO

FIGURA 28 - DÉFICIT HABITACIONAL

DÉFICIT HABITACIONAL TOTAL, RELATIVO E POR COMPONENTES


Brasil
2007 - 2012
Ano
Especificação
2007 2008 2009 2011 2012
Déficit Total Absoluto 6.102.414 5.686.703 6.143.226 5.889.357 5.792.508
Déficit Total Relativo 10,8 9,8 10,4 9,5 9,1
Total de Domicílios 56.338.622 58.180.644 59.252.675 62.116.819 63.766.688
COMPONENTES
Habitação Precária 1.264.414 1.158.801 1.088.634 1.187.903 883.777
Improvisados 109.421 101.100 69.432 130.905 85.550
Rústicos 1.154.993 1.057.701 1.019.202 1.056.998 798.227
Coabitação Familiar 2.481.128 2.211.276 2.511.541 1.916.716 1.865.457
Cômodos 200.094 175.366 216.924 221.546 170.926
Famílias
2.281.034 2.035.910 2.294.617 1.695.170 1.694.531
Conviventes
Ônus Excessivo
1.965.981 1.928.236 2.143.415 2.388.316 2.660.348
com Aluguel
Adensamento
390.891 388.390 399.636 396.422 382.926
Excessivo
Fonte: Dados básicos: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) 2007 - 2012.
Elaboração: Fundação João Pinheiro (FJP), Centro de Estatística e Informações (CEI).
Nota Técnica: Déficit Habitacional no Brasil Anos 2011 e 2012/Fundação João Pinheiro.

FONTE: Disponível em: <http://www.cbicdados.com.br/menu/deficit-habitacional/deficit-habitaci


onal-no-brasil>. Acesso em: 21 maio 2015.

Sabemos que o acesso ao direito da moradia depende também da terra,


do espaço físico, ou seja, do direito de propriedade (COSTA, 2007), e não só de
políticas públicas. A propriedade resulta do trabalho e deve ser exclusiva do
trabalhador.

Com a inclusão da Política Urbana, e com a aprovação da Lei nº 10.257, de


10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade, que instituiu as diretrizes
e os instrumentos de cumprimento da função social da cidade, como também da
propriedade urbana, descentralizaram-se as políticas públicas de planejamento
urbano, ficando estas a cargo dos municípios.

Entretanto, para a instituição desta política é preciso reunir todas as


informações necessárias a subsidiar a elaboração do projeto de regularização,
seja nas esferas municipal, estadual e federal, o que torna lento o andamento
do processo. Nesse processo, outras dimensões devem ser consideradas. Direitos

197
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

como a saúde, a educação, o saneamento básico e a segurança compõem, com a


moradia, todo um contexto a ser considerado.

Quanto ao conceito de moradia, Costa (2007) a define como uma das


principais necessidades básicas do ser humano e está ligada à disponibilidade de
trabalho, lazer e livre circulação. A moradia representa o abrigo, o lar em família.
Mesmo sendo um direito de todos, o direito à moradia se configura como um dos
principais problemas da sociedade atual, visto que nem todos contam com uma
moradia digna.

Costa (2007) complementa apontando que o aumento de concentração


de pessoas no meio urbano pede por políticas voltadas à disponibilização de
habitações dignas, de maneira ampla e regular, para assim suprir as demandas
encontradas em várias cidades do mundo, em especial, nas cidades brasileiras.

FIGURA 29 – MORADIA DIGNA?

FONTE: Disponível em: <://jopbj.blogspot.com.br/2012/05/moradia-direito-de-todos-dever


-do.html>. Acesso em: 29 maio 2015.

O cenário atual se apresenta através do surgimento de núcleos habitacionais


em reservas ambientais, agredindo o planeta e colocando em perigo a integridade
física dos cidadãos. Em sua maioria, o problema habitacional acontece com
a população de baixa renda, carente de moradia e de acesso a outros serviços
essenciais.

O direito à moradia está intimamente ligado à dignidade do cidadão.


Ireno Júnior (2008) enfatiza que o direito à moradia procede do direito à vida, e
deve ter prioridade ao se planejar, elaborar e executar as políticas públicas.

198
TÓPICO 3 | HABITAÇÃO E SANEAMENTO

Portanto, é responsabilidade do Estado promover e proteger o direito


à moradia, regulamentar e interferir nas ações do setor privado direcionadas à
política habitacional. Porém, em alguns casos, o próprio Estado dificulta, com
tanto entrave burocrático que impede que o cidadão tenha acesso a esse direito.

FIGURA 30 – DIREITO À MORADIA

FONTE: Disponível em: <http://www.agoraamazonas.com/i-seminario-nacional-de-direito-


a-moradia-da-dpe-am/>. Acesso em: 29 maio 2015.

Considerada uma das necessidades fundamentais do ser humano, a habitação


mostra variações decorrentes das condições culturais, espaciais e temporais. Dessa
forma, interfere na população, meio ambiente e instituições sociais.

Para atender a essas necessidades, as políticas públicas exercem papel


fundamental, pois elas devem ser responsáveis e comprometidas com o
desenvolvimento da nação e dos cidadãos. Assim, buscam melhorar a qualidade
de vida e respeitar o direito à cidadania (ZANLUCA, 2011).

Zanluca (2011) explica que o processo de urbanização e implementação


das políticas públicas no país faz referência ao período colonial. É no período pré-
capitalista que a ocupação do espaço urbano sofre forte influência da Igreja. Esta
instituição mantinha influência na vida da população e também valorizava o solo
urbano. Assim, começava a divisão territorial por classes de renda.

A mudança do regime imperial para o republicano apresentou-se


como um período de modernização das áreas urbanas do país. Por outro lado,
199
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

contribuiu para aumentar a crise habitacional, já que com a República vieram


muitos imigrantes. Alguns trabalhavam no meio rural e outros na área urbana,
acelerando o processo de industrialização. Além disso, esses trabalhadores saíram
do espaço rural e foram para o urbano, criando um aumento populacional nas
áreas urbanas (ZANLUCA, 2011).

FIGURA 31 – MORADIA, DIREITO DE TODOS

FONTE: Disponível em: <http://terradedireitos.org.br/wp-content/uploads/2012/06/


Manifesta%C3%A7%C3%A3o-da-Assembleia-Popular-pelo-direito-%C3%A0-moradia_2011.JPG>.
Acesso em: 29 maio 2015.

O cenário brasileiro começou a mudar através da integração da Secretaria


de Planejamento Habitacional (SERPHAN), em 1964, por meio do Plano Nacional
de Habitação, que proporcionou ao Estado tomar consciência do desequilíbrio
ocupacional do território brasileiro – como mencionam Azevedo e Prates (2001),
entre outros –, do crescimento desenfreado das cidades e, por consequência, do
caos nas áreas urbanas.

Conforme Zanluca (2011), nos espaços urbanos o governo realizou


diversas obras estruturais, valorizando o solo urbano, o incremento do mercado
imobiliário e a construção de prédios. Assim, o processo de construção do território
urbano no Brasil ocorreu sem planejamento. A partir do início do século XX,
outros acontecimentos propiciaram a criação de políticas públicas direcionadas
ao espaço urbano. Deu-se início ao processo de acumulação de capital mediante
a exploração da mão de obra. Com condições de vida precárias e salário baixo,
muitos trabalhadores procuraram espaços mais baratos para morar, iniciando o
processo de favelização.

Foi durante a década de 1970, no governo da ditadura militar, que foram


criados o Banco Nacional da Habitação (BNH) e o Serviço Federal de Habitação
e Urbanismo (SERFHAU), tendo por objetivo estimular a indústria e atender às
necessidades habitacionais. No entanto, esse processo atendeu, em especial, às
classes média e alta, deixando de lado as mais carentes. Depois, na década de 1980,
200
TÓPICO 3 | HABITAÇÃO E SANEAMENTO

o Brasil enfrentou um crescimento muito abaixo do esperado, acompanhado do


crescimento das dívidas externa e interna. Grande parte dos trabalhadores, sem
ter qualificação especializada e carente de atendimento aos serviços básicos do
Estado, como o direito à moradia, sofreu com a revolução microeletrônica, o que
gerou o fechamento de vários postos de trabalho (ZANLUCA, 2011).

FIGURA 32 – NOVAS MORADIAS

FONTE: Disponível em: <http://ipco.org.br/ipco/noticias/igual-sem-personalidade-estag


nante#.VWhTD89Viko>. Acesso em: 25 jun. 2015.

Para tentar estruturar a questão habitacional no país, foi instituído, em


16 de junho de 2005, através da Lei nº 11.124, o Sistema Nacional de Habitação
de Interesse Social (SNHIS), sendo criados o Fundo Nacional de Habitação de
Interesse Social (FNHIS) e o Conselho Gestor do FNHIS.

Conforme o Capítulo I, seção I, artigo 2º da referida lei, fica instituído o


Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), com o objetivo de:

I – viabilizar para a população de menor renda o acesso à terra


urbanizada e à habitação digna e sustentável;
II – implementar políticas e programas de investimentos e subsídios,
promovendo e viabilizando o acesso à habitação voltada à população
de menor renda; e
III – articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das
instituições e órgãos que desempenham funções no setor da habitação.

A partir de uma legislação mais específica sobre o tema em apreço, o


governo federal passou a se envolver de forma mais incisiva na implementação de
programas voltados à área de habitação, mesmo porque, organismos mundiais,
como a Organização Mundial da Saúde, já preconizam parâmetros mínimos que
venham a dar garantias de moradia digna para as pessoas:
201
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

• As habitações devem apresentar estrutura mínima para acomodar todos os


moradores.
• Capacidade para fornecer proteção térmica e proporcionar a redução de ruídos
e poeira.
• Possibilitar o acesso ao abastecimento de água e qualidade adequada ao
consumo humano.
• Apresentar estrutura para a disposição e manejo adequado de resíduos sólidos
e líquidos.
• Estar localizada em área adequada à moradia.
• Evitar a poluição no ambiente doméstico.
• Ser livre da presença de vetores e/ou hospedeiros intermediários de agentes
etiológicos.

Há muito que se fazer. Há muito que se cobrar das políticas públicas para
que se coloque em prática o que preconiza a legislação.

O resultado dessa mobilização, dessa cobrança da sociedade, pode ser


exemplificado pelo Estatuto da Cidade. Este Estatuto da Cidade é resultado de
um movimento multissetorial e de abrangência nacional, que lutou para incluir
no contexto constitucional instrumentos que levem à instauração da função social
da cidade e da propriedade no processo de construção das mesmas.

O Estatuto, como é definido em sua própria apresentação, é considerado


um dispositivo legal e de suprema importância:
O Estatuto abarca um conjunto de princípios – no qual está expressa uma
concepção de cidade e de planejamento e gestão urbanos – e uma série de
instrumentos que, como a própria denominação define, são meios para
atingir as finalidades desejadas. Entretanto, delega – como não podia deixar
de ser – para cada um dos municípios, a partir de um processo público
e democrático, a explicitação clara destas finalidades. Neste sentido, o
Estatuto funciona como uma espécie de ‘caixa de ferramentas’ para uma
política urbana local. É a definição da ‘cidade que queremos’, nos planos
diretores de cada um dos municípios, que determinará a mobilização (ou
não) dos instrumentos e sua forma de aplicação. É, portanto, no processo
político e no engajamento amplo ou não da sociedade civil, que repousará
a natureza e a direção de intervenção e uso dos instrumentos propostos no
Estatuto (BRASIL, 2001).

O Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) não foi criado apenas para ser mais
um instrumento regulamentador de urbanização e regularização da situação
habitacional nas cidades brasileiras, ele é resultado de lutas, negociações e
articulações entre o poder público, os movimentos sociais e a sociedade civil.

3 SANEAMENTO
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, no seu relatório de 2011,
apresenta a universalização da rede de abastecimento de água, coleta de esgoto
e de manejo de resíduos sólidos. Sabemos que essa condição constitui parâmetro
mundial de qualidade de vida já alcançado em grande parte dos países mais

202
TÓPICO 3 | HABITAÇÃO E SANEAMENTO

ricos. Infelizmente, no Brasil, a desigualdade verificada no acesso da população a


esses serviços ainda constitui o grande desafio posto ao Estado e à sociedade em
geral nos dias atuais.

A natureza relacional do saneamento reporta, necessariamente, tanto a


compreensão mais ampla da saúde humana quanto do meio ambiente no qual o
ser humano vive e se reproduz em sociedade, projetando, por esta via, o próprio
estilo de desenvolvimento dominante em um dado território. Nesse sentido,
dentro da temática ambiental, é apresentada a distribuição espacial de algumas
doenças, procurando exemplificar os diferentes tipos de relacionamentos
estabelecidos entre meio ambiente, doenças e saneamento.

Ao lado de temas diretamente ligados à saúde humana, como a incidência


de doenças de veiculação hídrica, compõem esse capítulo aqueles outros referentes
ao destino do lixo, à poluição na captação de água, ao destino das embalagens de
agrotóxicos e às inundações. Nesse contexto, a espacialização de alguns temas
da pesquisa, segundo a bacia hidrográfica, adquire também uma importância
central na atualidade, dada a dimensão estratégica que adquiriu o tema da gestão
dos recursos hídricos para o planejamento do uso dos recursos naturais no país.

Diretamente ligadas ao aprofundamento da cidadania no Brasil, a


institucionalização e a gestão dos serviços de saneamento evidenciam não só
a difusão no território nacional das várias esferas de competência política que
administram esses serviços, como, principalmente, a espacialização das diversas
formas de manifestação dos movimentos locais reivindicando o acesso ao
saneamento e/ou à melhoria dos serviços.

Cabe observar que na contemporaneidade o direito ao saneamento se


confunde, cada vez mais, com o próprio direito ao meio ambiente e à qualidade
de vida, tornando-se um dos indicadores mais sensíveis do grau de organização
da sociedade civil em busca do acesso à cidadania e da própria diminuição das
desigualdades existentes na sociedade brasileira.

4 SANEAMENTO BÁSICO
A política pública de saneamento básico foi promulgada através da Lei n°
11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabeleceu diretrizes nacionais para esta área
em específico. Sob os efeitos desta lei, considera-se saneamento como o conjunto
de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água
potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos,
drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. Alochio (2007) define cada um
desses conjuntos de serviços da seguinte maneira:

a) quanto ao abastecimento de água potável, temos todas as atividades,


infraestruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água
potável, abrangendo desde a captação até as ligações prediais e os respectivos
instrumentos de medição;

203
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

b) quanto ao esgotamento sanitário, temos todas as atividades, infraestruturas


e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final
adequados dos esgotos sanitários, compreendendo desde as ligações prediais
até o seu lançamento final no meio ambiente;
c) quanto à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, temos todas as
atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte,
transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo orgânico, da
varrição e limpeza de logradouros e vias públicas;
d) quanto à drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, temos todas as
atividades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de
águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de
vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas
nas áreas urbanas.

Assim, o saneamento básico busca fornecer qualidade de vida para


o crescimento sustentável e a promoção da saúde humana. “Dessa forma, a
universalização do acesso aos serviços de água e de esgoto é um objetivo legítimo
das políticas públicas porque tem impactos importantes sobre a saúde, o ambiente
e a cidadania” (GALVÃO-JÚNIOR, 2009 apud PELLIZZETTI, 2010, p. 144).

FIGURA 33 – TRATAMENTO DE ESGOTO

FONTE: Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfkR4AI/projeto-final-energia>.


Acesso em: 29 maio 2015.
204
TÓPICO 3 | HABITAÇÃO E SANEAMENTO

Vamos iniciar a nossa revisão histórica pela década de 1970. Naquela época
não se dava a devida atenção aos serviços de saneamento básico e não havia um
órgão específico para execução do serviço, que era realizado por diver­sos órgãos.
As entidades que realizavam esse trabalho eram contratadas pelo município,
porque a responsabilidade da atividade cabia a ele. As políticas de saneamento
eram elaboradas pelos órgãos federais, estaduais, municipais, junto à Fundação
SESP – Fundação Serviços de Saúde Pública –, uma entidade supervisionada pelo
Ministério da Saúde. A supervisão maior sempre acontecia sobre os estados e
municípios com maiores receitas e os serviços prestados eram: abastecimento
de água e coleta e tratamento de esgoto. A contratação dessas entidades para a
execução do trabalho se dava por meio de autarquias e pelos órgãos públicos.

No ano de 1971, criou-se o Planasa (Plano Nacional de Saneamento),


que tinha por finalidade determinar fontes de financiamento e criar formas de
melhorias para a situação do saneamento no país.

A ação do plano se dava basicamente no abastecimento de água e


esgotamento sanitário, usando os recursos do FGTS gerados pelo BNH (Banco
Nacional da Habitação). A criação de companhias estaduais de saneamento (água
e esgoto) era de responsabilidade do BNH, controladas por empresas públicas.

O Planasa tinha como atributo defender a ideia de que o sistema de


saneamento deveria gerar recursos, por meio de tarifas, uma forma de autofinanciar
e também ressarcir os investimentos realizados. No primeiro momento o atrativo
do Planasa estava no retorno financeiro trazido por ele e não na qualidade da
saúde da população.

A economia no Brasil entrou em crise nas décadas de 1980 e 1990, quando


os estados trabalham de forma seletiva a solicitação pelo serviço, que, apesar da
crise, encontrava-se em um bom momento e crescia continuamente. Naquela
época, houve um grande deslocamento de pessoas que viviam no campo e
buscavam nas cidades condições melhores de moradia. Foi então que o Planasa
definiu metas de atendimento, e 90% da meta de abastecimento de água foi
alcançada. Para os serviços de esgoto sanitário foi estipulada a meta de 60%, mas
não foi atendida.

205
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

FIGURA 34 – INVESTIMENTOS DO PLANASA

FONTE: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/goassociados/poltica-nacional-de-saneam


ento-fiesp7novembro2011-c-rosito>. Acesso em: 29 maio 2015.

Na década de 1990, constatou-se o fracasso e foi extinto o Planasa; então,


na época do governo de Fernando Henrique Cardoso, fomentou-se campanha
para a privatização do setor. O argumento dado pela privatização era a melhoria
dos serviços e custo baixo, vantagens competitivas nas quais quem ganhava eram
os cidadãos brasileiros, uma máscara usada pelos parlamentares para justificar
o investimento não realizado para melhoria dos serviços; o governo também
alegava ausência de recursos.

O governo importou-se com saneamento de tal modo que criou a Secretaria


de Saneamento Ambiental, responsável por formular e articular políticas de
saneamento para estados e municípios em conjunto com o governo federal.

Salientamos a importância na nova lei da Política Nacional de Saneamento,


que tem como conceito de saneamento básico os chamados saneamentos
ambientais, incluindo em sua política águas pluviais, resíduos sólidos e controle
de vetores.

206
TÓPICO 3 | HABITAÇÃO E SANEAMENTO

FIGURA 35 – SANEAMENTO AMBIENTAL

Atividades, infraestruturas e instalações necessárias


ao abastecimento público de água potável, desde
a captação até as ligações prediais e respectivos
instrumentos de medição.

Abastecimento de água

Atividades, infraestruturas e instalações


operacionais de coleta, transporte, tratamento e
disposição final adequados dos esgotos sanitários,
desde as ligações prediais até o seu lançamento
final no meio ambiente.

Esgotamento sanitário

Atividades, infraestruturas e instalações


operacionais de coleta, transporte, transbordo,
tratamento e destino final do lixo doméstico
e do lixo originário da varrição e limpeza de
logradouros e vias públicas.

Limpeza pública e manejo


dos resíduos sólidos

Atividades, infraestruturas e instalações


operacionais de drenagem urbana de águas
pluviais, de transporte, detenção ou retenção para
o amortecimento de vazões de cheias, tratamento
e disposição final das águas pluviais drenadas
nas áreas urbanas.

Drenagem e manejo
das águas pluviais

FONTE: Disponível em: <http://www.portalresiduossolidos.com/politica-federal-para-o-saneamen


to-basico/>. Acesso em: 29 maio 2015.

5 PRECARIZAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO


Parece estranho falarmos em doenças causadas por falta de saneamento
básico em pleno século XXI, mas infelizmente elas ainda existem e, para
considerarmos esse contexto, abordaremos neste tópico algumas doenças
causadas pela não prestação do serviço de saneamento básico. As doenças
causadas na população procedentes de ausência de saneamento decorrem de:

• Qualidade e quantidade das águas de abastecimento.


• Destinação inadequada dos esgotos sanitários.

207
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

• Destinação dos resíduos sólidos.


• Ausência de drenagem adequada para as águas pluviais.
• Falta de educação sanitária.

FIGURA 36 – SANEAMENTO BÁSICO

FONTE: Disponível em: <http://mgmeinteragindocomcienciasnaturais.blogspot.com.br/>.


Acesso em: 29 maio 2015.

Toda água a ser consumida precisa ser tratada, pois a saúde do ser
humano é o seu bem maior, e o consumo e uso inadequados de água causam
sérios problemas à saúde do homem. Pode parecer estranho, porém há situações
nas quais encontramos doenças infecciosas trazidas pela água até quando a
usamos para higienizar os ambientes, bem como no preparo dos alimentos.

São doenças causadas por agentes microbianos e agentes químicos.


Pode-se contrair essas doenças na ingestão da água ou por algum alimento já
contaminado. As doenças relacionadas com a água são:

• Cólera.
• Febre tifoide.
• Disenteria bacilar.
• Hepatite infecciosa.

As doenças trazidas pela água não ocorrem somente por ingestão ou


contato com alimentos, elas aparecem também quando não há higienização
208
TÓPICO 3 | HABITAÇÃO E SANEAMENTO

correta. Várias pesquisas realizadas em comunidades carentes concluíram que


a quantidade de água tem tanta importância quanto a qualidade, em destaque
a importância maior à quantidade. Foi provado que o aumento de volume de
água usado pela comunidade reduz a incidência de algumas doenças do trato
intestinal; constatou-se também que a falta de água influencia diretamente na
higiene pessoal e doméstica, provocando doenças como:

• Diarreias.
• Infecções de pele e olhos.
• Infecções causadas por piolhos.

O lixo é um assunto bastante comentado. O lixo tem como conceito


ambiental ser resíduos sólidos, e a não disposição desses resíduos atrai moscas,
que são as responsáveis pela transmissão de inúmeras doenças. O lixo acumulado
traz insetos de todo tipo, bem como ratos, sendo estes agentes transmissores de
doenças, como: peste bubônica, leptospirose e febres.

FIGURA 37 - LIXO

FONTE: Disponível em: <https://jogadacerta.files.wordpress.com/2012/10/emidio-batista.jpg>.


Acesso em: 26 maio 2015.

O lixo também favorece o acúmulo de água, o qual pode facilitar a


reprodução do mosquito transmissor da dengue. Para evitar o aparecimento de
seres tão indesejados é preciso:

• Haver uma coleta de lixo eficiente.


• Manter as latas e acondicionamentos de lixo sempre tampados.

209
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

6 AVANÇOS NO SANEAMENTO
A Política Nacional de Saneamento Básico dá as diretrizes necessárias
para o cumprimento das atividades nos quatro eixos do saneamento. Para alguns
desses serviços também já foram criadas políticas nacionais específicas, que visam
delimitar ainda mais as práticas que deverão nortear as ações nesses âmbitos.

FIGURA 38 – GESTÃO DE SANEAMENTO BÁSICO

FONTE: Disponível em: <http://www.portalresiduossolidos.com/politica-federal-para-


o-saneamento-basico/>. Acesso em: 29 maio 2015.

Uma delas é a Política Nacional de Resíduos Sólidos, sendo esta instituída


pela Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, e que representa um marco histórico na
evolução das diretrizes do saneamento básico brasileiro. Com a nova legislação,
conforme o Capítulo II, em seu artigo 3º, inciso XVI, os resíduos sólidos são
denominados como:

[...] material, substância, objeto ou bem descartado resultante de


atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede,
se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido
ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos
cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede
pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções
técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia
disponível.

210
TÓPICO 3 | HABITAÇÃO E SANEAMENTO

Complementando, trazemos ainda a definição que abrange o


gerenciamento de resíduos sólidos, assim disposto no inciso X do mesmo artigo:

Conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas


de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final
ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano
municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de
gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta lei.

Quanto ao plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, é


importante ressaltar que, conforme a legislação da política de resíduos, é condição
para que o Distrito Federal e os municípios possam ter acesso aos recursos
da União, ou por ela controlados, voltados “a empreendimentos e serviços
relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem
beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito
ou fomento para tal finalidade” (MINISTÉRIO DAS CIDADES, s.d., s.p.).

Desta forma, além de ser imprescindível a formulação do plano para


que se possam delimitar as ações a serem implementadas nos municípios, a sua
criação permitirá que estes possam buscar incentivos para a realização de tais
ações.

211
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Direito à moradia se configura como um dos principais problemas da sociedade


atual, visto que nem todos contam com uma moradia digna.

• A mudança do regime imperial para o republicano apresentou-se como um


período de modernização das áreas urbanas do país.

• Foi durante a década de 1970, no governo da ditadura militar, que foram


criados o Banco Nacional da Habitação (BNH) e o Serviço Federal de Habitação
e Urbanismo (SERFHAU), tendo por objetivo estimular a indústria e atender
às necessidades habitacionais.

• Em 16 de junho de 2005, através da Lei nº 11.124, foi instituído o Sistema


Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS), sendo criados o Fundo
Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e o Conselho Gestor do
FNHIS.

• As habitações devem apresentar estrutura mínima para acomodar todos os


moradores.

• A Política Nacional de Saneamento tem como conceito de saneamento básico os


chamados saneamentos ambientais, incluindo em sua política águas pluviais,
resíduos sólidos e controle de vetores.

• Infelizmente, ainda é comum termos doenças causadas pelo mau uso da água
e também pela pouca abrangência do saneamento básico.

• A Política Nacional de Saneamento Básico é que estabelece as diretrizes


necessárias para o cumprimento das atividades nos quatro eixos do saneamento.

• Foram criadas políticas nacionais específicas, pela Política Nacional de


Saneamento Básico, que visam delimitar ainda mais as práticas que deverão
nortear as ações nesses âmbitos.

• O controle de resíduos sólidos tem sua importância em todas as esferas do


poder público.

212
AUTOATIVIDADE

1 No ano de 2005, entrou em vigor a Lei 11.124, que veio para


estruturar as ações voltadas à habitação no Brasil. A partir disso,
criou-se o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS),
com o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS).

Com relação aos objetivos do SNHIS, classifique V para as sentenças verdadeiras


e F para as falsas:

( ) Implementação de políticas e programas públicos de investimentos


habitacionais, visando atingir a população de baixa renda.
( ) Procura a constante viabilização do acesso à terra urbanizada e à moradia
sustentável à população carente.
( ) Intermedeia e apoia as ações de instituições e órgãos que desempenham
atividades voltadas à habitação.
( ) Incentiva políticas públicas habitacionais à população por melhores
condições de vida, deixando em segundo plano a população de baixa renda.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V - V - V - F.
b) ( ) F - F - V - V.
c) ( ) V - F - F - V.
d) ( ) F - V - F - F.

2 Sobre o Conselho de Habitação, analise as sentenças a seguir:

I- Decorrente do modo de produção capitalista, as famílias de baixa renda


necessitam do auxílio dos movimentos sociais que lutam pelo direito à
moradia, para reivindicar a efetivação do direito e instalação de unidades
habitacionais.
II- Os conselhos e os órgãos públicos não necessitam estar integrados para o
desenvolvimento das ações e atribuições, pois as instituições públicas devem
prestar suporte administrativo, operacional e financeiro, possibilitando um
corpo técnico-administrativo para o Conselho.
III- O Conselho de Habitação deve ser considerado como órgão colegiado
administrativo, sendo um órgão integrante da administração pública. Apesar
de estar integrado ao ministério, secretaria, departamento, não significa que
o Conselho deva ter uma subordinação hierárquica no exercício de suas
atribuições.
IV- O Conselho de Habitação é um instrumento para efetivar o controle social
no que tange aos serviços habitacionais e ao planejamento urbano das cidades.

213
Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.


b) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.

3 O Estatuto da Cidade criou uma série de instrumentos para que


a cidade pudesse buscar seu pleno desenvolvimento urbano, sendo
que seus princípios básicos estão alicerçados pelo planejamento
participativo e a função social da propriedade. Refletindo sobre o
Estatuto da Cidade, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O Estatuto, na realidade, é um código que foi criado por cada município, a


fim de ser mais um instrumento de regularização da situação habitacional
nas cidades e nos campos.
( ) O Estatuto da Cidade não surgiu ao acaso, ele foi criado em função
de muita mobilização e reivindicação social, incluindo a pressão dos
movimentos sociais. Ele compreende o resultado de diversas negociações
e articulações entre o poder público e a sociedade civil.
( ) Além de estabelecer a função social da cidade e da propriedade, o
Estatuto procura definir uma nova regulamentação para o uso do solo
urbano para a melhoria da qualidade da vida urbana.
( ) O Estatuto da Cidade, também chamado de Código Habitacional, institui
princípios, regras e normas no âmbito público e no privado, regulando o
uso da propriedade urbana e rural, ou seja, no campo e na cidade.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F - V - V - F.
b) ( ) V - V - F - V.
c) ( ) F - F - V - V.
d) ( ) F - V - F - F.

4 Entre os diversos impactos ocasionados pela ação do homem,


pode-se citar aqueles provenientes dos resíduos sólidos
resultantes das atividades industriais, domésticas, hospitalares,
agrícolas, entre outras. Com relação aos resíduos sólidos e a sua
destinação, analise as sentenças a seguir:

I- Atualmente, grande parte dos resíduos sólidos produzidos pelas atividades


humanas no Brasil é destinada aos aterros sanitários, não sendo mais uma
preocupação governamental.
II- O aterro controlado é considerado a melhor opção com relação ao aterro
sanitário e lixão, uma vez que a camada de resíduo é sempre coberta, evitando
o contato com vetores de doenças.
III- Um dos grandes problemas atuais relacionados ao estabelecimento e
manutenção de aterros sanitários diz respeito aos elevados custos envolvidos.
214
IV- Atualmente, já existem alternativas mais modernas de destinação de
resíduos, sendo, inclusive, possível gerar energia a partir desse produto.
Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças III e IV estão corretas.


b) ( ) As sentenças I, III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

5 O saneamento básico em centros urbanos é um tema que


vem sendo discutido com mais detalhes. Apesar do aumento,
nos últimos anos, dos investimentos e programas, o problema
ainda não foi resolvido em níveis aceitáveis. Uma das formas
nas quais podemos identificar problemas de saneamento urbano é quando se
multiplicam as doenças causadas pelo ambiente. Sobre o exposto, analise as
sentenças a seguir:

I- Doenças podem ser veiculadas pela água e pelo esgoto quando não há
tratamento. 
II- A poluição atmosférica das grandes cidades afeta, principalmente, a
população de baixa renda. 
III- O mau cheiro e impactos visuais na água não apontam riscos de
disseminação de doenças. 
IV- As faixas sociais de menor renda normalmente estão mais expostas à água
contaminada e aos resíduos sólidos urbanos.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.


b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.
d) ( ) As sentenças II e III estão corretas.

215
216
UNIDADE 3
TÓPICO 4

TRANSPORTES E SEGURANÇA

1 INTRODUÇÃO
A palavra “transporte” é originária do latim, onde trans significa “de um
lado a outro” e portare significa “carregar”. Assim, podemos dizer que transporte
é o nome dado à movimentação de pessoas ou objetos de um local a outro.

Segundo Torre (2002), os transportes foram desenvolvidos graças à


evolução do homem nas atividades de semeadura e à descoberta do fogo. Estes
dois fatores possibilitaram o fim da vida nômade e o início da vida em sociedade,
onde houve uma melhora na alimentação e a possibilidade de domesticação de
animais. Assim, o homem percebeu que os animais poderiam ter mais utilidade
além de aproveitar a carne, o leite e a pele. Desta forma, os animais começaram a
ser utilizados para puxar e carregar coisas.

FIGURA 39 – ANIMAIS PARA CARREGAR COISAS

FONTE: Disponível em: <http://br.monografias.com/trabalhos3/processo-


aprendizagem-aluno-paralisia-cerebral/image016.jpg>. Acesso em: 29 maio 2015.

Com a vida em sociedade vieram também as atividades comerciais e a


necessidade de aprimorar a forma de se transportar. Era preciso transportar mais
peso e em uma velocidade maior, surgindo veículos providos de roda, bem como
a necessidade de vias adequadas para que estes veículos pudessem rodar.

217
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

FIGURA 40 – VEÍCULOS PROVIDOS DE RODA

FONTE: Disponível em: <http://br.monografias.com/trabalhos3/processo-apren


dizagem-aluno-paralisia-cerebral/image016.jpg>. Acesso em: 29 maio 2015.

As necessidades primárias do ser humano deram origem aos meios


de transportes que conhecemos hoje e, consequentemente, aos três elementos:
infraestrutura, veículos e operações.

FIGURA 41 – TRANSPORTES ATUAIS

FONTE: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/upload/conteudo_


legenda/3ebd751eeeb19d5f4d4a7201627f6d2d.jpg>. Acesso em: 27 maio 2015.

218
TÓPICO 4 | TRANSPORTES E SEGURANÇA

2 CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSPORTES


Podemos movimentar pessoas ou cargas de um local a outro por meios
terrestres (carros, ônibus, trens, dutos – no caso de cargas – etc.), aquaviários
(navios, canoas, barcos etc.) ou aéreos (aviões, helicópteros, balões etc.).

2.1 TERRESTRES
Os transportes terrestres são os mais essenciais para o ser humano, pois
através deles o homem pode se locomover tanto para locais com pouca distância,
como para grandes distâncias, bem como transportar cargas. Podemos classificar
os transportes terrestres em: rodoviários, ferroviários e dutoviários.

O transporte rodoviário é responsável pelo deslocamento de pessoas e


mercadorias, acontece em motos, carros, caminhões ou ônibus e são utilizadas
ruas, rodovias ou estradas para os deslocamentos.

FIGURA 42 - TRANSPORTE RODOVIÁRIO

FONTE: Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/files/2012/06/sao-paulo-


congestionamento-radial-leste-transito-ibge-20120427-size-620.jpg>. Acesso em: 9 maio 2015.

Apesar de ser o meio de transporte mais utilizado no Brasil no deslocamento


de cargas, ele apresenta o preço de frete superior ao hidroviário e ao ferroviário.
Desta forma, é mais adequado para mercadorias de alto valor ou perecíveis.

219
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

E
IMPORTANT

Segundo o Boletim Estatístico de 2014 da Confederação Nacional do Transporte


(CNT), o meio de transporte rodoviário tem uma participação superior a 60% no transporte
de cargas no Brasil.

Matriz do Transporte de Cargas


Modal Milhões (TKU) Participação (%)
Rodoviário 485.625 61,1
Ferroviário 164.809 20,7
Aquaviário 108.000 13,6
Dutoviário 33.300 4,2
Aério 3.169 0,4
Total 794.903 100,0

FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/201403%20%20Boletim


%20Estatistico%20CNT%20-%20Fevereiro.pdf>. Acesso em: 20 maio 2015.

O transporte ferroviário é uma modalidade de transporte terrestre, em


que o deslocamento é feito em trens que se movem sobre trilhos. Ele é muito
vantajoso para o transporte de cargas pesadas, sobretudo de matérias-primas. 

FIGURA 43 - TRANSPORTE FERROVIÁRIO

FONTE: Disponível em: <http://www.revistadigital.com.br/wp-content/uploads/2013


/04/train1.jpg>. Acesso em: 9 maio 2015.

220
TÓPICO 4 | TRANSPORTES E SEGURANÇA

As mercadorias transportadas pelo modal ferroviário são de baixo


valor agregado e em grandes quantidades, como: minério, produtos agrícolas,
fertilizantes, carvão, derivados de petróleo etc.

O transporte dutoviário é o transporte realizado por meio de tubos, para


mercadorias específicas, podendo ser gasodutos (substâncias gasosas), oleodutos
(líquidas) ou minerodutos (substâncias sólidas).

FIGURA 44 - TRANSPORTE DUTOVIÁRIO

FONTE: Disponível em: <http://www.cnt.org.br/Imagens%20CNT/dutos_


transpetro17072012_edited-1.jpg>. Acesso em: 9 maio 2015.

2.2 AQUAVIÁRIOS
De acordo com Novaes (2004, p.151), “o transporte aquaviário, como sua
denominação indica, envolve todos os tipos de transportes efetuados sobre a
água. Inclui o transporte fluvial, lacustre e o transporte marítimo”.

O fluvial é um transporte aquaviário, realizado em barcos ou balsas, que


se movimentam sobre os rios.

221
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

FIGURA 45 - TRANSPORTE FLUVIAL

FONTE: Disponível em: <http://www.revistadigital.com.br/wp-content/uploads/2013 /04/train1.


jpg>. Acesso em: 9 maio 2015.

O transporte marítimo consiste em uma modalidade de transporte


aquaviário, em que ocorre o deslocamento intercontinental de cargas e passageiros
por mares ou oceanos.

FIGURA 46 - TRANSPORTE MARÍTIMO

FONTE: Disponível em: <http://www.elmensajerodiario.com.ar/fotografias/56302_flu.jpg>.


Acesso em: 9 maio 2015.

222
TÓPICO 4 | TRANSPORTES E SEGURANÇA

O transporte lacustre é restrito a lagos navegáveis para transportar


qualquer carga, mas sua característica é ligar cidades e países vizinhos. É um meio
de transporte bastante restrito, em razão de existirem poucos lagos navegáveis,
especialmente em termos de profundidade.

2.3 AÉREO
É o meio de transporte mais rápido do planeta, sendo mais comum em
aviões e helicópteros, mas também pode ser feito em balões. É eficaz para o
transporte de passageiros, porém, em razão dos elevados custos, não é o mais
adequado para o transporte de cargas pesadas.

FIGURA 47 - TRANSPORTE AÉREO

FONTE: Disponível em: <http://sesi.webensino.com.br/sistema/webensino/aulas/308


4_168/09_677_ENS_FUN_03_09/imagens/FIG_005.jpg>. Acesso em: 9 maio 2015.

Para cumprir sua função, os  meios de transporte se utilizam das vias
aéreas, aquáticas ou terrestres, ou seja, necessitam de infraestrutura. Assunto este
que abordaremos a seguir.

223
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

3 INFRAESTRUTURA
A infraestrutura de uma localidade é composta por um conjunto de
programas e ações que possam proporcionar condições de bem-estar social e de
desenvolvimento econômico. Uma dessas ações é o serviço de transporte, que,
conforme estudamos, é essencial para o deslocamento de pessoas e cargas.

Estudamos também que existem diversos meios de transportes, e a


infraestrutura necessária para a realização de um transporte varia, dependendo
do público ou carga a serem transportados.

Para o desenvolvimento da infraestrutura dos transportes, no Brasil,


existe o Ministério dos Transportes, que é o órgão da administração pública
federal que gerencia a política nacional de transportes (ferroviário, rodoviário
e aquaviário), bem como participa da coordenação dos transportes aeroviários e
serviços portuários.

O Ministério dos Transportes formula, coordena e supervisiona as políticas


nacionais para o setor de transportes, realizando o planejamento estratégico e a
elaboração de diretrizes para a sua implementação e a definição das prioridades
dos programas de investimento. Conheça, a seguir, a relação de ações e programas
do Ministério dos Transportes:

Programa de Investimento em Logística – PIL

• PIL – Rodovias
• PIL – Ferrovias

Este programa tem como objetivo propiciar ao Brasil um sistema


de transporte adequado às suas dimensões e, para isso, busca um modelo de
investimento que privilegia a parceria entre o setor público e o privado.

Programa de Aceleração do Crescimento – PAC

• PAC - Rodovia
• PAC - Ferrovia
• PAC - Hidrovia

Iniciou em 2007 e teve a sua segunda fase em 2011. O Programa de


Aceleração do Crescimento (PAC) visa o planejamento e execução de grandes
obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do país, no intuito de
promover um desenvolvimento acelerado e sustentável.

Planos Estratégicos

• PNLT - Plano Nacional de Logística e Transportes


• PHE - Plano Hidroviário Estratégico

224
TÓPICO 4 | TRANSPORTES E SEGURANÇA

• BR Legal - Programa Nacional de Segurança e Sinalização Rodoviária


• PNCV - Programa Nacional de Controle Eletrônico de Velocidade 
• ProPass - Projeto da Rede Nacional de Transporte Rodoviário Interestadual e
Internacional de Passageiros

Os planos estratégicos buscam conciliar os aspectos logísticos, de custos


e de sustentabilidade, visando o desenvolvimento econômico do país, através da
racionalização dos gastos públicos e da eficiência nos serviços executados.

Serviços ao Cidadão

• Passe Livre: O Passe Livre é um programa em que pessoas carentes portadoras


de deficiência podem viajar, entre os estados brasileiros, sem pagar passagem.

• Consultas Públicas: Consultas Públicas são discussões de temas relevantes


sobre os investimentos no setor de transportes abertas à sociedade.

Incentivos Fiscais

• Debêntures
• REIDI - Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da
Infraestrutura
• CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico
• FMM - Fundo da Marinha Mercante

São programas que auxiliam as empresas interessadas em investir no


desenvolvimento da infraestrutura do setor de transportes.

Política Ambiental para o Setor de Transportes

A Política Ambiental do Ministério dos Transportes tem como referência


as diretrizes ambientais nacionais e suas ações são pautadas na viabilidade
ambiental dos empreendimentos de transportes, o respeito às necessidades de
preservação ambiental e a sustentabilidade ambiental dos transportes.

ATENCAO

Acadêmico, conheça mais sobre cada um dos programas para o desenvolvimento


do setor de transportes em: <http://www.transportes.gov.br/acoes-e-programas.html>.

225
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico, você aprendeu que:

• Transporte é o nome dado à movimentação de pessoas ou objetos de um local


a outro.

• Os meios de transportes são classificados em: terrestres (carros, ônibus, trens,


dutos, no caso de cargas etc.), aquaviários (navios, canoas, barcos etc.) ou
aéreos (aviões, helicópteros, balões etc.).

• O Ministério dos Transportes é o órgão da administração pública federal


que gerencia a política nacional de transportes (ferroviário, rodoviário e
aquaviário), bem como participa da coordenação dos transportes aeroviários e
serviços portuários.

• Existem diversos programas federais que visam o desenvolvimento dos


transportes no país e todas as suas ações são pautadas na viabilidade
ambiental dos empreendimentos de transportes, o respeito às necessidades de
preservação ambiental e a sustentabilidade ambiental dos transportes.

226
AUTOATIVIDADE

1 (ENADE – 2014) Os desafios da mobilidade urbana associam-se


à necessidade de desenvolvimento urbano sustentável. A ONU
define esse desenvolvimento como aquele que assegura qualidade
de vida, incluídos os componentes ecológicos, culturais, políticos,
institucionais, sociais e econômicos que não comprometam a qualidade de
vida das futuras gerações.

O espaço urbano brasileiro é marcado por inúmeros problemas cotidianos e


por várias contradições. Uma das grandes questões em debate diz respeito
à mobilidade urbana, uma vez que o momento é de motorização dos
deslocamentos da população, por meio de transporte coletivo e individual.

Considere os dados do seguinte quadro.

Mobilidade urbana em cidade com mais de 500 mil habitantes


Modalidade Tipologia Porcentagem (%)
A pé 15,9
Não motorizado
Bicicleta 2,7
Ônibus municipal 22,2
Motorizado coletivo Ônibus metropolitano 4,5
Metroferroviário 25,1
Automóvel 27,5
Motorizado individual
Motocicleta 2,1

Tendo em vista o texto e o quadro de modalidade urbana apresentados,


redija um texto dissertativo, contemplando os seguintes aspectos:

a) consequências, para o desenvolvimento sustentável, do uso mais frequente


do transporte motorizado;
b) duas ações de intervenção que contribuam para a consolidação de políticas
públicas de incremento ao uso de bicicleta na cidade, assegurando-se o
desenvolvimento sustentável.

2 (ENADE – 2014) O quadro a seguir apresenta a proporção (%)


de trabalhadores por faixa de tempo gasto no deslocamento casa-
trabalho, no Brasil e em três cidades brasileiras.

Tempo de deslocamento Brasil Rio de Janeiro São Paulo Curitiba


Até cinco minutos 12,70 5,80 5,10 7,80
De seis minutos até meia hora 52,20 32,10 31,60 45,80
Mais de meia hora até uma hora 23,60 33,50 34,60 32,40

227
Mais de uma hora até duas
9,80 23,20 23,30 12,90
horas
Mais de duas horas 1,80 5,50 5,30 1,20

CENSO 2010/IBGE (adaptado).

Com base nos dados apresentados e considerando a distribuição da população


trabalhadora nas cidades e as políticas públicas direcionadas à mobilidade
urbana, avalie as afirmações a seguir.

I- A distribuição das pessoas por faixa de tempo de deslocamento casa-


trabalho na região metropolitana do Rio de Janeiro é próxima à que se verifica
em São Paulo, mas não em Curitiba e na média brasileira.
II- Nas metrópoles, em geral, a maioria dos postos de trabalho está localizada
nas áreas irregulares ou na periferia, o que aumenta o tempo gasto por esta
população no deslocamento casa-trabalho e o custo do transporte.
III- As políticas públicas referentes a transportes urbanos, por exemplo,
Bilhete Único e Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), ao serem implementadas,
contribuem para a redução do tempo gasto no deslocamento casa-trabalho e
do custo do transporte.

É correto o que se afirma em:

a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.

228
UNIDADE 3
TÓPICO 5

POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA


EM ÂMBITO NACIONAL

1 INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao estudo sobre políticas públicas de
segurança em âmbito nacional. Este tema levará você a refletir sobre a realidade
das políticas públicas em relação à segurança, seja em nível municipal, estadual
e federal.

A segurança pública é um dos temas mais debatidos e pesquisados


nos últimos anos no Brasil. Entretanto, as discussões e a visibilidade
pública do problema ainda não tiveram impacto definitivo na produção
de conhecimento acadêmico na área. Evidentemente, muitos pesquisadores
vêm se debruçando sobre o assunto e a bibliografia nacional sobre segurança
não para de ampliar-se e de se aprofundar. Mas as políticas públicas
voltadas para a segurança ainda carecem de uma reflexão mais sistemática
e a produção acadêmica necessita conversar com a produção que emerge
dentro das instituições voltadas para segurança.

A dificuldade reside, em grande medida, à tradição jurídica e


policial brasileira, que coloca a segurança como um problema afeto mais a
juristas e a profissionais.

A segurança pública continua sendo uma área de pouca penetração


para outras áreas do conhecimento, como as Ciências Sociais, a Psicologia,
a Administração, a Economia, a História e a Geografia.

O predomínio do Direito (bem como a formação policial em


academias insuladas do contexto universitário mais amplo) tornam a
segurança pública basicamente um problema de lei e ordem, cujos efeitos se
traduzem numa discussão estéril sobre mecanismos mais apropriados para
aumentar o grau de punitividade de nossas instituições, particularmente,
aquelas ligadas tradicionalmente ao direito penal e à administração da justiça
criminal. A própria composição profissional das instituições de segurança
pública reflete essa tradição. Em grande parte, delegacias de polícia,
instituições correcionais, fóruns e unidades de cumprimento de medidas
socioeducativas são concebidas, geridas e controladas por profissionais
da área do direito e com formação técnica específica, proporcionada pelas
instituições. Em vários lugares do mundo, particularmente no contexto

229
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

anglo-saxão, os profissionais da área da justiça criminal têm procurado


formação complementar em universidades e encontrado espaço e abertura
para construir seu conhecimento de forma transdisciplinar.

Nas universidades, centros de pesquisa (que recebem recursos


públicos e privados) têm se tornado espaço importante para formação
complementar e para a realização de pesquisas acadêmicas ou aplicadas
em decorrência dos problemas e questões que interferem na qualidade do
serviço das instituições.

FONTE: Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politicas>. Acesso


em: 14 maio 2015.

2 A SEGURANÇA PÚBLICA E AS
CONTRIBUIÇÕES COMUNITÁRIAS

A segurança pública, nesse contexto, tem passado por uma


mudança importante de referencial. Tem deixado de ser vista como um
problema restrito do Estado, das instituições criminais e do direito. O novo
referencial tem apontado para uma nova visão da segurança como espaço
de participação comunitária (pública, mas não apenas estatal), que afeta a
outras áreas de governo (social e não apenas criminal), sendo ligada a uma
abordagem que concilia diversas disciplinas (particularmente das Ciências
Humanas) e como problema de ordem regional ou global.

Além disso, a segurança pública tem sido vista como espaço de


experimentações sobre a questão fundamental da garantia da ordem social
num contexto de globalização que aporta problemas novos que demandam
soluções novas.

FONTE: Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politicas>. Acesso


em: 14 maio 2015.

FIGURA 48 – ORDEM SOCIAL E LIBERDADE

FONTE: Disponível em: <http://kdfrases.com/frase/108215>. Acesso em: 8 jun. 2015.

230
TÓPICO 5 | POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM ÂMBITO NACIONAL

Por exemplo, a internacionalização do crime, a nova configuração


do crime eletrônico, a desestruturação do mercado de trabalho interno, a
nova fluidez das fronteiras e novos marcos do crime como empreendimento
lucrativo são problemas que exigem uma nova configuração da segurança
pública que desafia nossa tradição criminal, essencialmente inquisitorial.
Em grande parte, a morosidade do processo, um policial ainda fortemente
cartorial, a falta de comunicação entre as instituições da segurança, a
formação pouco flexível dos profissionais, a baixa capacitação, a incitação
ao crime e à violência policial como forma de controle social, o baixo
arejamento das estruturas estatais, a dificuldade com que a informação
é produzida e circula no contexto institucional, e mesmo uma concepção
militar da segurança dificultam a assimilação das experiências internacionais
e impedem a presença de pesquisadores no cotidiano das instituições.

Espera-se, no cenário da segurança pública, nesse começo de milênio,


que os desafios sejam enfrentados e que novos espaços de participação e de
transparência na administração pública sejam solucionados. Não se trata
apenas de aprimorar os mecanismos de detecção do crime e de apreensão
de criminosos, no novo cenário das políticas de segurança, trata-se de
aprimorar as estratégias preventivas e ampliar o controle social sobre as
instituições públicas. Estamos apenas no começo dessa nova realidade. Para
mudarmos o quadro limitado da segurança, legado por uma visão estatizante
e populista em que o crime é alvo de políticas repressivas padronizadas e
de baixo impacto, é preciso conceber que os chamados crimes sem vítimas
devem ser o desafio para superar o abismo entre segurança e cidadania,
entre segurança e defesa dos direitos humanos.

FONTE: Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politicas>. Acesso


em: 14 maio 2015.

3 SEGURANÇA PÚBLICA E JUSTIÇA CRIMINAL

Nas duas últimas décadas, o Brasil presenciou uma crescente


preocupação com as questões relativas à segurança pública e à justiça
criminal. Uma verdadeira obsessão securitária refletiu-se num nível
jamais visto de debates públicos, de propostas legislativas e de produção
acadêmica. Esta última se debruçou sobre as práticas de segurança e de
justiça, ao menos no contexto da redemocratização do país. Não obstante,
pouco tem sido feito, no âmbito político, para que se tornasse tangível
uma efetiva reforma dessas instituições, tendo como preâmbulo pesquisas
e conhecimentos provenientes, tanto da maior participação coletiva na
formulação, implantação e acompanhamento de políticas públicas, quanto
da disponibilidade sem precedentes de pesquisadores aptos a discutir com
o universo da política e das instituições criminais as alternativas de reforma
dentro de um contexto de aumento do quantum de cidadania e participação

231
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

democrática. Em outros termos, como bem lembrou Paulo Sérgio Pinheiro,


a redemocratização política do Brasil não foi ainda capaz de lançar suas
luzes sobre as práticas de nossas instituições criminais – estas, ao contrário,
parecem resistir à democratização, formando um enclave autoritário no
cerne do Estado democrático. Toda essa violência, inclusive contra o Estado
de Direito, não é privilégio do Brasil.

FONTE: Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politicas>. Acesso


em: 14 maio 2015.

FIGURA 49 – A VIOLÊNCIA PELO MUNDO

FONTE: Disponível em: <http://agencianota.blogspot.com.br/2013_10_01_archive.html>.


Acesso em: 3 jun. 2015.

A violência letal, a superlotação dos presídios, rebeliões e


mortes, os horrores vividos pelos jovens em instituições como a Febem,
o virtual abandono das instituições manicomiais sem a contrapartida de
um atendimento ambulatorial, o desalento e a descrença nas medidas
de recuperação dos presos e de cura dos esquecidos dos manicômios
judiciários, a tortura em delegacias de polícia e a eterna lentidão e
alheamento das autoridades judiciárias são faces terríveis que apontam
para uma crise de longa data em nosso sistema criminal. Neste momento,
estamos nos perguntando sobre as razões para todas estas dificuldades e

232
TÓPICO 5 | POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM ÂMBITO NACIONAL

vendo, por toda parte, a expansão da segurança privada, a disseminação


de dispositivos eletrônicos de segurança, o aumento do sentimento de
insegurança e a constituição de verdadeiros enclaves fortificados em que a
tolerância em relação às violações das liberdades civis corre de par com a
aceitação das hierarquias e das múltiplas faces da exclusão social. As políticas
de segurança pública são parte integrante do contexto político, social,
econômico, cultural em que são formuladas, apresentadas e implantadas
por meio da elaboração de planos nacionais, estaduais e municipais.

Na implementação de políticas públicas são realizados projetos e


ações através da articulação entre a sociedade civil, polícias, instituições
públicas e privadas na esfera da segurança pública.

FONTE: Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politicas>. Acesso


em: 14 maio 2015.

A proposição de políticas públicas de segurança, no Brasil, consiste


num movimento pendular, oscilando entre a reforma social e a dissuasão
individual. A ideia da reforma decorre da crença de que o crime resulta de
fatores socioeconômicos que bloqueiam o acesso a meios legítimos de se
ganhar a vida. Esta deterioração das condições de vida traduz-se no acesso
restrito de alguns setores da população a oportunidades no mercado de
trabalho e de bens e serviços, assim como na má socialização a que são
submetidos nos âmbitos familiar, escolar e na convivência com subgrupos
desviantes. Consequentemente, propostas de controle da criminalidade
passam, inevitavelmente, tanto por reformas sociais de profundidade, como
por reformas individuais voltadas a reeducar e ressocializar criminosos
para o convívio em sociedade.

A par das políticas convencionais de geração de empregos e combate


à fome e à miséria, ações de cunho assistencialista visariam minimizar os
efeitos mais imediatos da carência, além de incutir, em jovens candidatos
potenciais ao crime, novos valores através da educação, da prática de
esportes, do ensino profissionalizante e do aprendizado de artes e na
convivência pacífica e harmoniosa com seus semelhantes. Quando isto já
não é mais possível, que se reformem então aqueles indivíduos que caíram
no mundo do crime através do trabalho e da reeducação nas prisões.

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-


88391999000400003>. Acesso em: 14 maio 2015.

233
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

FIGURA 50 - DESPERDÍCIO

FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/-wreCnfeuiig/UD85Z56293I/


AAAAAAAAIqY/4hJTgqI6-n4/s1600/dinheiro_no_ralo.jpg>. Acesso em: 14 maio 2015.

De outro lado, é igualmente forte a crença de que a criminalidade


encontra condições ideais de florescimento quando é baixa a disciplina
individual e baixo o respeito a normas sociais. Consequentemente,
políticas de segurança pública enfatizam a necessidade de uma atuação
mais decisiva do Poder Judiciário e das instâncias de controle social. Isto
significa legislações mais duras e maior policiamento ostensivo, de forma
tal que as punições dos delitos sejam rápidas, certas e severas.

Se necessário, até mesmo a atuação das Forças Armadas é


requisitada, merecendo o aplauso da população. Não se descarta, ainda, o
efeito dissuasório que soluções finais, como a pena de morte, teriam sobre
o comportamento criminoso. O argumento é que não se trata de vingança,
mas exemplo para que homens de bem não caiam em tentação. Discursos
inflamados dão suporte a ambas as versões, cujo grau de combustão é tanto
maior quanto mais aferrados a questões de princípio ideológico.

Do ponto de vista da modificação de valores das pessoas, reconhece-


se hoje como isso é extremamente difícil mediante políticas públicas. Os
educadores de rua e profissionais que lidam com menores infratores sabem
muito bem como é árdua essa tarefa com meninos de rua. E isto porque se
acena com soluções de médios e longos prazos para garotos (às vezes nem
tão garotos assim) que obtêm satisfações imediatas de sua atividade nas ruas.

Além disso, sabe-se que nem todos os meninos de rua ou jovens


desempregados são candidatos naturais a uma carreira criminosa. Estudos
que acompanharam jovens de uma cidade americana ao longo de suas

234
TÓPICO 5 | POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM ÂMBITO NACIONAL

vidas mostram que, se um número significativo deles teve problemas com


a polícia alguma vez em suas vidas, o número dos que reincidiram outras
vezes é muito menor — menos de 6%. O mais curioso, entretanto, é que
esse pequeno número de criminosos era responsável por mais de 50% das
queixas criminais. Isto significa que apenas uma parcela muito pequena
desses jovens seguiu uma carreira criminosa (WOLFANG et al., 1972).

No outro extremo do movimento pendular estão aqueles que


acreditam que o problema do crime é fundamentalmente uma questão de
polícia e de legislação mais repressivas. A dissuasão do comportamento
criminoso, então, passaria necessariamente por uma atuação mais intensiva
do sistema de justiça criminal.

Mais recentemente, a orientação oficial do governo federal tem se


calcado na sociologia crítica (TAYLOR; YOUNG, 1980), cuja concepção de
crime baseia-se nos direitos humanos (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 1996).
Isto abriu a possibilidade de incluir, dentre as modalidades de crime,
aqueles cometidos pelo Estado. Daí a importância de se controlarem as
organizações componentes do aparato repressivo, que parece ter sido a
tônica da atual política de segurança em âmbito federal.

Um exame mais atento, entretanto, mostra que tais modelos e teorias


não são necessariamente excludentes, mas complementares. Um modelo de
segurança que se preocupe com a contenção e controle do Estado em relação
ao direito dos cidadãos não pode furtar-se à constatação de que segurança é
igualmente um direito humano, aliás, consagrado na Declaração Universal
dos Direitos do Homem.

Por outro lado, o sistema de Justiça Criminal, em geral, e a atuação


policial, em particular, serão tanto mais eficientes no exercício de suas
funções de dissuasão quanto mais amparados pelas pessoas e comunidades
nas quais atuam. O que tem sido eficaz são programas e estratégias de
segurança baseados numa articulação multi-institucional entre Estado e
sociedade (SHERMAN, 1997; SHORT, 1997; GREENWOOD et al., 1996;
FELSON e CLARKE, 1997).

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-8839


1999000400003>. Acesso em: 14 maio 2015.

4 SEGURANÇA PÚBLICA E O PAPEL DO ESTADO

O crime é uma coisa muito séria para ser deixada apenas nas mãos
de policiais, advogados ou juízes, pois envolve dimensões que exigem a
combinação de várias instâncias sob o encargo do Estado e, sobretudo, a
mobilização de forças importantes na sociedade.

235
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

O Estado deve mobilizar organizações que atuam nas áreas da


saúde, educação, assistência social, planejamento urbano e, naturalmente,
da segurança. Muitos poderiam argumentar que o que se propõe é, na
verdade, quase um modelo do "bom governo". Um Estado que conseguisse
simultaneamente responder às demandas sociais nesses diversos setores
estaria respondendo às atribuições que lhe cabem minimamente. Isto é
verdade.

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-65551998000300007&s


cript=sci_arttext>. Acesso em: 3 jun. 2015.

FIGURA 51 – FUNÇÕES DO ESTADO

ESTADO
1

SISTEMA BUROCRACIA
POLÍTICO ESTATAL

INTERESSES E
DEMANDAS POLÍTICAS
DA 3 E BENS
SOCIEDADE PÚBLICOS
CIVIL
5
BUROCRACIA
SEGMENTO
PÚBLICA
SOCIAL
NÃO-ESTATAL

3º SETOR

FEEDBACK

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-655519980003


00007&script=sci_arttext>. Acesso em: 3 jun. 2015.

A diferença está em que a alocação desses recursos se daria não em


torno de prioridades governamentais (educação, saúde ou segurança), mas
da identificação de locais e grupos no interior da sociedade que mereceriam
um tratamento prioritário. Por outro lado, isto não significa que o Estado
devesse paralisar suas atividades nessas áreas em favor do atendimento de
populações e áreas assoladas pela criminalidade violenta, mas simplesmente
reconhecer que o atendimento nessas áreas é realmente prioritário.

236
TÓPICO 5 | POLÍTICAS PÚBLICAS DE SEGURANÇA EM ÂMBITO NACIONAL

O fenômeno da criminalidade urbana violenta não é distribuído


aleatoriamente pela área urbana, mas está localizado em alguns poucos
grupos e locais (SHERMAN, 1997). Daí não haver combate efetivo ao crime
que não leve em conta a recuperação das áreas degradadas pela violência
nos grandes centros urbanos.

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-6555199800030000


7&script=sci_arttext>. Acesso em: 3 jun. 2015.

ATENCAO

Surgem aqui alguns questionamentos pertinentes: qual nível de governo é


responsável no trato e na prioridade pela segurança pública? O que é de responsabilidade
do governo federal quando concentra a maior fatia da arrecadação de impostos?

Além das atribuições definidas constitucionalmente, são centrais na formulação e


implementação dessas políticas, tais como as de construção e manutenção de um sistema
de indicadores sociais de criminalidade, ou o estímulo a pesquisas sobre determinados
"problemas" que preocupam o governo federal. Isto seria feito através da indução à
pesquisa sobre os problemas identificados pelo governo federal. Atenção especial
deveria ser dada não apenas ao estímulo às pesquisas, cuidando para que elas também
tenham recomendações práticas, com especial atenção aos mecanismos de avaliação de
implementação das políticas sugeridas.

Em bases estritamente cognitivas, a formulação de políticas públicas de segurança pode


perfeitamente prescindir de quaisquer abordagens culturalistas para a formulação de
programas e projetos. Não é necessário, para se controlar a criminalidade, reformar a
personalidade das pessoas.

É fato que temos hoje uma onda de violência sem controle efetivo do Estado. E todos
nós exigimos que o Estado se utilize da repressão como se fosse a melhor solução dos
conflitos. Isso ocasiona um emaranhado de normas penais visivelmente ineficazes, fruto de
uma clara predileção vingativa adotada por nosso ordenamento proveniente desde épocas
remotas. Dessa forma, a criminalidade continuará aumentando, porque está ligada a uma
estrutura social profundamente injusta e desigual. Caso não se atue nesse ponto, será inútil
punir e continuará sendo um engano a ideia de que se pode corrigir castigando.

Torna-se urgente, portanto, um aprimoramento da política de segurança pública, pois


enquanto a sociedade não se conscientizar da importância da prevenção, será muito difícil
implantar uma atuação correta em resposta à criminalidade.

Não acreditamos que a mudança de valores das pessoas deva ser objeto de políticas
governamentais. O que deve ser oferecido às pessoas são orientações acerca das
consequências de suas ações, tanto em direção ao crime como em relação ao não crime
(WILSON, 1983; CLARKE, 1997; CLARKE; CORNISH, 1985).

FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-65551998000300


007&script=sci_arttext>. Acesso em: 3 jun. 2015.

237
RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico, você aprendeu que:

• Nas duas últimas décadas, o Brasil presenciou uma crescente preocupação


com as questões relativas à segurança pública e à justiça criminal.

• A violência letal, a superlotação dos presídios, rebeliões e mortes, os horrores


vividos pelos jovens em instituições como a Febem, o virtual abandono das
instituições manicomiais sem a contrapartida de um atendimento ambulatorial,
o desalento e a descrença nas medidas de recuperação dos presos e de cura dos
esquecidos dos manicômios judiciários, a tortura em delegacias de polícia e
a eterna lentidão e alheamento das autoridades judiciárias são faces terríveis
que apontam para uma crise de longa data em nosso sistema criminal.

• As políticas de segurança pública são parte integrante do contexto político,


social, econômico, cultural em que são formuladas, apresentadas e implantadas
por meio da elaboração de planos nacionais, estaduais e municipais.

238
AUTOATIVIDADE

1 A violência urbana persiste como um dos mais graves problemas


sociais no Brasil, totalizando mais de 1 milhão de vítimas fatais
nos últimos 24 anos. A taxa de mortes por agressão saltou de 22,2
no ano de 1990 para 28,3 por 100 mil habitantes em 2013, com
variações importantes entre diferentes estados. Outro dado alarmante é que o
Brasil possui 2,8% da população mundial, mas acumula 11% dos homicídios
de todo o mundo.
FONTE: LIMA, R, S.; BUENO, S.; MINGARDI, G. Estado, polícias e segurança pública no Brasil.
Revista DIREITO GV, São Paulo, vol. 12, n. 1: 49-85, 2016.

O texto trata da questão da violência no Brasil, o qual:

a) ( ) Apresenta um panorama da melhoria da segurança pública no país,


visto os dados apresentados.
b) ( ) Indica a urgência na atenção à questão da segurança pública no país,
visto os dados apresentados.
c) ( ) Aponta o Brasil como um dos países com maiores índices de violência
urbana, sendo optativo o investimento no setor.
d) ( ) Demonstra que o país está no caminho certo, reduzindo os índices de
violência, especialmente no ambiente urbano.
e) ( ) Evidencia como o Brasil está melhorando em termos de segurança
pública, pois os índices de violência estão diminuindo.

2 Leia atentamente os textos a seguir.

O sistema prisional brasileiro convive ainda com um sistema


de justiça que não é capaz de julgar os 222.190 encarcerados em situação
provisória nas prisões do país, mesmo frente a um déficit de 203.531 vagas,
segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública para o ano de 2014.
A realidade de oito estados é ainda mais grave à medida em que verificamos
que mais de 50% da população prisional não foi julgada: Sergipe com 70,9%;
Piauí com 63,6%; Pernambuco com 59,1%; Amazonas com 56,6%; Bahia com
54,9%; Maranhão com 54,8%, Mato Grosso com 52,8%; Roraima com 50,3%.
FONTE: LIMA, R, S.; BUENO, S.; MINGARDI, G. Estado, polícias e segurança pública no Brasil.
Revista DIREITO GV, São Paulo, vol. 12, n. 1: 49-85, 2016.

O Ministério da Justiça informa que, em junho de 2016, a população carcerária


no Brasil atingiu a marca de 726.712 pessoas presas, mais que o dobro de 2005,
quando o estudo começou a ser realizado. Esses 726 mil presos ocupam 368
mil vagas, média de dois presos por vaga – uma evidência da superlotação.
FONTE: G1-Política. Brasil dobra número de presos em 11 anos, diz levantamento; de 726 mil detentos,
40% não foram julgados. 2017. Disponível em: <https://goo.gl/WWb6a3> Acesso em: 18 jan. 2018.

239
Os dados apresentados nos textos indicam que:

a) ( ) Há um aumento expressivo de presos nos últimos anos no Brasil,


reflexo do aumento da criminalidade e da agilidade da justiça julgar
os acusados, reduzindo as cadeias.
b) ( ) Há uma agilidade no sistema de justiça criminal brasileiro, o qual
é capaz de julgar e prender criminosos condenados, possibilitando
aperfeiçoar o uso das cadeias.
c) ( ) Há um surto de criminalização no Brasil, onde a justiça apresenta
agilidade ao processar e julgar a população acusada de cometer
crimes, esvaziando as cadeias.
d) ( ) Há uma evidente incapacidade do sistema de justiça criminal
brasileiro de processar e julgar a população carcerária, a qual aumenta
desproporcionalmente ao número de vagas.
e) ( ) Há evidências de como a justiça brasileira é séria e célere, pois
consegue julgar os acusados de crimes em tempo hábil, proporcional
às vagas carcerárias.

240
UNIDADE 3
TÓPICO 6

VIDA RURAL, URBANA E


ECOLOGIA

1 INTRODUÇÃO
O ser humano, desde os seus primórdios na Terra, enfrentou desafios das
mais diferentes formas, diferentes momentos, diferentes situações. E tanto o ser
humano quanto os desafios foram modificando o meio, o espaço ocupado por este
ser e tantos outros seres. Assim, podemos nos perguntar: Quais os novos paradigmas
que se apresentam para o ser humano? Como acontecerá o desenvolvimento
humano respeitando a natureza em meio a tantos desafios e o que pode facilitar
esse processo de desenvolvimento, tanto para o ser humano como para tudo o
que o circunda, de modo especial a natureza, seja ela presente no meio urbano ou
no meio rural? Como avançar no desenvolvimento sem prejudicar ainda mais o
próprio ser humano e o seu meio? O primeiro passo é conhecendo onde ele vive. É
o que queremos fazer nesse pequeno estudo. Vamos lá!

2 VIDA URBANA
Urbano tem origem no latim urbanus, que significa “pertencente à
cidade”. Segundo o Dicionário Web (2009-2017, s.p.), “urbano é tudo aquilo que
está relacionado com a vida na cidade e com os indivíduos que nela habitam, por
oposição a rural, que é relativo ao campo e ao interior”.

Repare que o rural e o urbano mexem com a vida, com o modo de vida
das pessoas, da qualidade de vida. Vemos então que o urbano se formou a partir
do rural, e criou tal separação, dicotomia e função. O antagonismo de um mesmo
espaço só pode ser percebido no entendimento do que é, e qual a relação deste
com o homem e com outros espaços.

Segundo o IBGE (2013), a cidade é a parte de um lugar localizada na malha


urbana, dentro do perímetro urbano. O senso comum aponta a vida urbana como
uma vida por vezes estressante, conturbada, rápida, desordenada, barulhenta, em
detrimento da vida rural, pacata, silenciosa, aprazível. Para melhor caracterizar
a vida urbana, recorremos ao IBGE, que classifica as cidades pelo número de
edificações/habitantes:

• Cidade pequena, de até 50.000 habitantes.


• Cidade média-pequena, de 50.000 a 100.000 habitantes.
241
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

• Cidade média, de 100.000 a 300.000 habitantes.


• Cidade média-grande, de 300.000 a 500.000 habitantes.
• Cidade grande, com mais de 500.000 habitantes.

FIGURA 52 – IMOBILIDADE URBANA?

FONTE: Disponível em: <http://www.ongcidade.org/site.php?/noticia/id/1657>. Acesso em: 14


maio 2015.

Há termos empregados não necessariamente à parte urbana de um


município, mas sim à malha urbana ou economia:

• Cidade global: grandes centros econômicos. São divididos em alfa, beta e gama.
• Metrópole: principal cidade dentre várias que ocupam o mesmo perímetro.
• Megacidade: cidade ou região com mais de 10.000.000 de habitantes.
• Megalópole: conjunto de várias metrópoles e cidades grandes.

Como vimos, a cidade é uma realidade bastante difícil de definir. Por


estranho que possa parecer, não há nenhuma definição universal de cidade. Cada
país adapta os seus critérios de definição.

A definição de zona urbana varia de um país para outro. De uma


forma geral, é considerada urbana qualquer zona que apresentar uma
população igual ou superior a 2000 habitantes. A atualização dos modelos
de crescimento urbano tem feito com que a densidade da população, a
extensão geográfica e o desenvolvimento de infraestruturas se combinem
para serem pilares na delimitação deste tipo de zonas.

Embora seja difícil generalizar, as zonas urbanas costumam


apresentar um maior preço em termos de superfície (o custo de vida é

242
TÓPICO 6 | VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA

mais caro, nomeadamente os próprios terrenos e aluguéis) e uma menor


presença de emprego no setor primário comparando com as zonas rurais.
Por outro lado, as zonas urbanas oferecem uma maior gama de recursos
para a sobrevivência das pessoas.

As zonas urbanas, como as cidades, caracterizam-se pelo


desenvolvimento do seu setor secundário (industrial) e terciário (serviços).
Se, por um lado, os produtos e os serviços da cidade têm influência no
comportamento do campo, já este, por sua vez, abastece as regiões urbanas
com mercadorias agrícolas e pecuárias.

Em geral, o espaço urbano excede os próprios limites da cidade, já


que se formam grandes áreas metropolitanas periféricas agrupadas em seu
redor. Convém destacar que a taxa de urbanização é o índice demográfico
que expressa a relação percentual entre a população urbana (os habitantes
das cidades) e a população total de um país. Quanto maior o valor, maior é
o nível de desenvolvimento.

Desde a Revolução Industrial, a população urbana tem vivido


a experiência de um crescimento constante. De acordo com o Fundo de
População das Nações Unidas (FPNUA), em 2008, a população mundial foi
de 50% na zona rural e de 50% na urbana, ano a partir do qual se registrou
uma ocupação cada vez maior das cidades.

FONTE: Disponível em: <http://conceito.de/zona-urbana>. Acesso em: 2 jun. 2015.

O olhar sobre o urbano em nosso país chega à ONU (Organização das


Nações Unidas), que aponta que até 2050 o Brasil terá aproximadamente 93% de
sua população vivendo nos centros urbanos. Já a população no meio rural terá
um decréscimo, com moradores neste meio de aproximadamente 16 milhões de
habitantes.

3 VIDA RURAL
Caro acadêmico! Todos nós sabemos que há pessoas que moram na cidade,
outras no campo, ou no meio rural. É preciso desmistificar aquela imagem que
temos do meio rural bucólico, como descrito em filmes ou em poesia. O agronegócio
não nos deixa mentir, o meio rural alcançou grau de desenvolvimento ímpar nos
últimos anos.

243
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

FIGURA 53 – VIDA TRANQUILA NO CAMPO

FONTE: Disponível em: <http://www.vende4.com/wp-content/uploads/2011/04/


vida-no-campo.jpg>. Acesso em: 14 maio 2015.

Visto isso, de forma conceitual podemos assim descrever:

• A população que vive no campo ou na zona rural recebe o nome de população


rural (do latim rural, is).
• Já aquela que vive em meio aos grandes centros urbanos é denominada
população urbana (do latim urbe, que significa cidade).

Para definir o termo “rural”, devemos recorrer à sua origem, vinda do


latim “rural, is”. Segundo o Dicionário Web (2009-2017, s.p.), “é um adjetivo que
corresponde ao que pertence ou relativo ao campo” (um terreno extenso que se
encontra fora das regiões mais povoadas e são terras de cultivo). É exatamente o
oposto do que conhecemos como zona urbana, de cidades.

Graziano da Silva (1999) nos dá o conceito de meio rural como um conjunto


de regiões ou zonas (território) cuja população desenvolve diversas atividades ou
se desempenha em distintos setores, como a agricultura, o artesanato, as indústrias
pequenas, o comércio, os serviços, o gado, a pesca, a mineração, a extração de
recursos naturais e o turismo, entre outros. Segundo esse mesmo autor, em tais
regiões ou zonas há assentamentos que se relacionam entre si e com o exterior, e
nas quais interagem uma série de instituições públicas e privadas.

O rural transcende o agropecuário, e mantém elos fortes de intercâmbio


com o urbano. Na provisão não só de alimentos, mas também de grandes
bens e serviços, entre os quais vale a pena destacar a oferta e cuidado
de recursos naturais, os espaços para o descanso, e as contribuições à
manutenção e desenvolvimento da cultura. Disponível em: <http://
artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_7430/artigo_sobre_novos_
conceitos_de_urbano_e_rural >. Acesso em: 27 ago. 2013.

244
TÓPICO 6 | VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA

Para Balsadi (2001), o meio rural é então uma entidade socioeconômica


em um espaço geográfico com quatro componentes básicos:

• Um território que funciona como fonte de recursos naturais e matérias-primas,


receptor de resíduos e suporte de atividades econômicas.
• Uma população que, com base em certo modelo cultural, pratica atividades
muito diversas de produção, consumo e relação social, formando um ripado
socioeconômico complexo.
• Um conjunto de assentamentos que se relacionam entre si e com o exterior
mediante o intercâmbio de pessoas, mercadorias e informação, através de
canais de relação.
• Um conjunto de instituições públicas e privadas que articulam o funcionamento
do sistema, operando dentro de um marco jurídico determinado.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008) define zona


rural como o contrário da zona urbana. São regiões não urbanizadas ou destinadas
à limitação do crescimento urbano, utilizadas em atividades agropecuárias,
agroindustriais, extrativismo, silvicultura e conservação ambiental. Atualmente,
muitas das áreas rurais estão protegidas como área de conservação, terras
indígenas, turismo rural. Zona rural (campo) é o oposto de zona urbana (região
destinada a habitação, trabalho e outras funções básicas da população), ou seja,
quando comparada à zona urbana, a zona rural é, muitas vezes, caracterizada
como carente e precária. No entanto, no meio rural está presente o conceito de
ruralidade, contato com a natureza e animais, ar puro, sossego, vida tranquila e
mais saudável.

Muitas pessoas buscam sair da rotina estressante da zona urbana e


encontram na zona rural uma forma de descanso. Entre as atividades realizadas
no campo estão: trilhas ecológicas, cavalgadas, banhos em cachoeiras etc.

A zona rural também tem as importantes funções de preservar a


biodiversidade de um determinado local, garantir a qualidade da água e manter
as terras indígenas. Nesse sentido, as unidades de conservação foram criadas com
o intuito de preservar o patrimônio ambiental e cultural do país.

4 SEMELHANÇAS OU DIFERENÇAS
Quando for decidir onde morar e qual estilo de vida é apropriado para você,
existem diversos fatores que devem ser considerados, como empregabilidade,
interação social e saúde. Os estilos de vida rural e urbano variam de muitas
formas e os indivíduos podem fazer uma escolha entre os dois baseados naquilo
que conhecem de si mesmos e na qualidade de vida que apreciam.

A cidade e o campo proporcionam às pessoas diferentes oportunidades


que nos permitem distinguir o modo de vida rural do modo urbano. Enquanto
no campo, de uma forma geral:
245
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

• persistem muitas ocupações, com horários diferentes de trabalho mais ou


menos flexíveis;
• há pouca oferta de ocupação de tempos livres;
• valorizam-se as tradições: trajes, pratos típicos, festas populares;
• todas as pessoas se conhecem e se ajudam, em caso de necessidade;
• o ambiente é sossegado e há pouca poluição sonora e visual;
• as deslocações das pessoas são curtas, o ritmo de vida é calmo.

Já na cidade, geralmente temos algumas das realidades descritas a seguir,


que você, acadêmico, poderá confirmar ou não:

• a esmagadora maioria das pessoas cumpre horários muito rígidos, a oferta de


atividades de ocupação de tempo livre é muito diversificada;
• não há um conjunto de valores comuns, mas uma grande diversidade de
hábitos. Aceita-se a diversidade e valoriza-se o que é moderno;
• cada um sente os seus problemas. As relações entre as pessoas são pouco
familiares;
• as ruas estão repletas de painéis publicitários e a intensa circulação de
automóveis deteriora a qualidade do ar;
• o ritmo de vida é agitado.

O gráfico a seguir nos dá uma visão da evolução da população rural e


urbana no Brasil.

GRÁFICO 1 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO ENTRE 1940 E 2006

Brasil - Evolução da população rural-urbana entre


1940 e 2006
[sic] comunicação

100 Brasil - Evolução da população rural-urbana entre 1940 e 2006


81% 83,3%
76% Urbana
80
69%
64% 67% Rural
60 55% 56%
45% 44%
40 31%
36% 33%
24% 19% 16,7%
20

0
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2006
FONTE: IBGE. Anuário estatístico do Brasil, 1986, 1990, 1993 e 1997; Censo demográfico, 2000;
Síntese de indicadores sociais, 2007.

FONTE: IBGE. Anuário estatístico do Brasil, 1986, 1990, 1993 e 1997; Censo demográfico, 2000;
Síntese de indicadores sociais, 2007.

246
TÓPICO 6 | VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA

Ao falar de rural e de urbano é necessário que se tenha claro o que podemos


deferir por rural ou campo e por urbano ou cidade. A vigente definição de cidade
é fruto do Estado Novo e “foi o Decreto-Lei nº 311, de 1938, que transformou
em cidade todas as sedes municipais existentes, independentemente de suas
características estruturais e funcionais” (VEIGA, 2003, p. 1).

Segundo Veiga (2003, p. 2), a partir disso, da noite para o dia, “ínfimos
povoados” ou “simples vilarejos” se tornaram cidades.

Para as futuras cidades seria exigida a existência de pelo menos 200


casas e para as futuras vilas (sede de distritos) um mínimo de 30
moradias. Mas todas as localidades que àquela data eram cabeça de
município passaram a ser consideradas urbanas, mesmo que suas
dimensões fossem muito inferiores ao requisito mínimo fixado para
as novas.

No Brasil, mesmo com diversas modificações posteriores, essa discrepância


de divisão territorial brasileira permanece. Só no ano de 1991 houve mudanças
significativas, em que o IBGE passou a distinguir três tipos de categorias definidas
como urbanas e quatro tipos de aglomerados rurais.

Urbanas: áreas urbanizadas e não urbanizadas de acordo com a


intensidade de ocupação humana e áreas urbanas isoladas, definidas
pelas leis municipais, estando separadas por sede municipal, distrital,
área rural ou outros limites legais.
Rurais: aglomerados rurais do tipo extensão urbana, situados fora
do perímetro urbano, nem que seja uma extensão de uma cidade
com vila; povoado, aglomerado rural isolado sem caráter privado ou
empresarial que disponha do mínimo de serviços e equipamentos e
que os moradores exerçam atividades econômicas; núcleo aglomerado
rural isolado que pertença a um único proprietário e outros
aglomerados, os quais não representam as características de nenhum
dos outros três (VEIGA, 2003, p. 3, grifos do original).

FIGURA 54 – CIDADE E CAMPO SE TRANSFORMARÃO

FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-bdKDXxZfKbg/UIwsa3_9m9I/A


AAAAAAAEYc/86bFn35HAno/s1600/rural_urbano.jpg>. Acesso em: 14 maio 2015.

247
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

Desse modo, em suas análises, Graziano da Silva (1999, p. 1, grifo do


original) tem enfatizado que:

A diferença entre o rural e o urbano é cada vez menos importante. Pode-


se dizer que o rural hoje só pode ser entendido como um ‘continuum’
do urbano do ponto de vista espacial; do ponto de vista da organização
da atividade econômica, as cidades não podem mais ser identificadas
apenas com a atividade industrial, nem os campos com a agricultura
e a pecuária; e, do ponto de vista social, a organização do trabalho na
cidade se parece cada vez mais com a do campo e vice-versa.

Nas últimas décadas, tem-se destacado uma nova percepção do campo,


relativa a um modo de vida “alternativo” e ambientalmente sustentável,
correspondente a um resgate da natureza pelos hábitos da cidade que se dirige
ao campo.

Com a inserção das novas atividades no campo, sobretudo as não


agrícolas, que vêm crescendo também no Brasil, diminui a supremacia das
atividades agrícolas no meio rural. Essas mudanças advêm do contínuo declínio
da capacidade da agricultura de manter e gerar postos de trabalho, além do
crescimento de atividades geradoras de ocupações rurais não agrícolas.

Essas atividades não agrícolas fazem com que o rural assuma novas
funções. Entre as “novas funções” do campo que ganham cada vez mais destaque
estão as atividades de lazer, como o turismo em área rural, segundas residências
e aposentadorias rurais.

Dessa forma, crescem cada vez mais atividades de lazer, que buscam um
resgate às tradições culturais de determinadas áreas e valorizam os costumes da
vida rural.

5 ECOLOGIA
Ecologia ou eco-logia, do grego oikos = “casa” e logos = “estudo”;
literalmente significa o estudo da casa. Que casa? Nossa única casa, o planeta
Terra (ODUM; BARRET, 2008).

Nossa casa, a Terra, é formada por vários ecossistemas complexos que


apenas existem porque estão interligados e inter-relacionados, ou seja, não podem
viver isoladamente. Quais são esses ecossistemas?

Fazem parte dos ecossistemas os fatores bióticos e abióticos. Os fatores


bióticos são os que possuem vida, tais como: vegetais, animais, fungos,
protozoários, algas e bactérias que interagem e se sustentam mutuamente.
Os fatores abióticos são: água, solo, ar, rochas. A interdependência entre estes
fatores forma os ecossistemas terrestres e aquáticos que sustentam a vida em
nosso planeta, do qual a vida humana faz parte, pois a urbanização e o avanço

248
TÓPICO 6 | VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA

tecnológico de nossa sociedade afastaram o ser humano da natureza, criando a


falsa ideia de que a humanidade pode viver sem a natureza.

Os estudos geológicos indicam que o planeta Terra tem idade aproximada


de 4,5 bilhões de anos. O surgimento da vida ocorreu 1 bilhão de anos depois, ou
seja, há 3,5 bilhões de anos. A espécie humana iniciou sua evolução entre 2 e 3
milhões de anos (ODUM; BARRET, 2008).

Entretanto, a humanidade viveu todo este tempo em harmonia com


todos os animais e ecossistemas, domesticando alguns, matando outros para
sobrevivência; mas jamais exterminando espécies inteiras como tem ocorrido nas
últimas décadas.

A humanidade multiplicou-se de forma desordenada, sem medir os


impactos sobre os ecossistemas naturais. Somos hoje mais de 7 bilhões de pessoas
que necessitam se alimentar, morar, vestir; e, para manter essas necessidades
básicas, além do luxo e desperdício de alguns, precisamos trabalhar para produzir,
utilizando as matérias-primas extraídas dos ecossistemas, levando à extinção de
espécies inteiras de animais e vegetais.

Quais as consequências de tamanha devastação e impactos sobre os


ecossistemas? Já estamos presenciando inúmeras consequências, como o aumento
de enxurradas, tufões, tornados ou secas prolongadas em regiões de clima úmido.

6 ECOSSISTEMA
Segundo Odum e Barret (2008, p. 19), “um sistema ecológico ou
ecossistema é qualquer unidade que inclui todos os organismos (a comunidade
biótica) em uma dada área, interagindo com o ambiente físico de modo que um
fluxo de energia leve a estruturas bióticas claramente definidas e à ciclagem de
materiais entre componentes vivos e não vivos”. O termo sistema é entendido
como componentes regularmente interativos e interdependentes formando um
todo unificado.

Sistemas formados pela interação entre os organismos vivos ou bióticos e


seu ambiente abiótico, tais como: solo, água, sol, neve, vento e gelo formam um
biossistema, que abrange desde sistemas genéticos até sistemas ecológicos.

Os sistemas ecológicos se organizam em hierarquias, denominados


de níveis ecológicos: Célula; Tecido; Órgão; Sistemas de órgãos; Organismo;
População; Comunidade; Ecossistema; Paisagem; Bioma; Ecosfera (ODUM;
BARRET, 2008).

249
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

FIGURA 55 - HIERARQUIA DOS NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO ECOLÓGICA

FONTE: Odum e Barret (2008, p. 5)

6.1 ORGANIZAÇÃO DOS SERES VIVOS


Espécie: é o conjunto de indivíduos semelhantes estruturalmente,
funcionalmente e bioquimicamente que se reproduzem naturalmente, originando
descendentes férteis. Apresenta uma propagação genética própria em resposta às
pressões do ambiente ao longo da evolução. Exemplo: todos os seres humanos
pertencem a uma mesma espécie.

Organismo: é a unidade (indivíduo) fundamental da ecologia. É qualquer


corpo vivo (unicelular ou pluricelular), ou seja, é um ser vivo, por exemplo, um
peixe, um cavalo, um boi, um cogumelo, ou mesmo uma célula.

População: é o conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem em


uma mesma área em um determinado período, e abrange a taxa de natalidade, a
taxa de mortalidade, a proporção de sexos, a distribuição de idades, a emigração
e imigração. Podemos citar, como exemplo, a população de tainhas dos mares do
sul, ou boto-cor-de-rosa dos rios da Amazônia ou, ainda, as várias espécies de
mamíferos e aves que vivem nas florestas. Além da própria população humana
de um determinado país ou região.

250
TÓPICO 6 | VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA

Comunidade: é o conjunto de populações de várias espécies que sofrem


interferência umas das outras, e que habitam um determinado espaço (região) em
um determinado tempo (período).

Ecossistema ou sistema ecológico: “Um sistema ecológico ou ecossistema


é qualquer unidade que inclui todos os organismos (comunidade biótica), em
uma dada área, interagindo com o meio físico de modo que um fluxo de energia
leve a estruturas bióticas claramente definidas e à ciclagem de materiais entre
componentes vivos e não vivos” (ODUM; BARRET, 2008, p. 19).

Hábitat: é o lugar preciso onde uma espécie vive, isto é, sua morada dentro
do ecossistema que determina o comportamento de sobrevivência e reprodutivo
da comunidade (local de abrigo, alimentação e reprodução).

Biótopo: é a área física na qual determinada comunidade vive. Exemplo:


o hábitat do tucunaré, peixe da Amazônia, ou da traíra.

Nicho ecológico: o nicho ecológico pode ser definido como o total de


necessidades e condições necessárias à sobrevivência de um organismo. É um
espaço n-dimensional, no sentido de que há uma infinidade de propriedades
envolvidas (ODUM; BARRET, 2008).

Ecótono: é a região de transição entre duas ou mais comunidades/


ecossistemas. Nesta área de transição (ecótono) encontramos grande número
de espécies e, consequentemente, grande número de nichos ecológicos. Como
exemplo disso podemos citar a mata dos cocais, vegetação de transição entre a
floresta amazônica e a caatinga.

Biosfera: é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra, ou seja, de todas as


formas de vida, que inclui a litosfera, a hidrosfera e a atmosfera. Nesta faixa se encontram
os gases oxigênio e nitrogênio, importantes para a vida (ODUM; BARRET, 2008).

Atualmente, além de biólogos e ecólogos, cientistas físicos e sociais estão


considerando a ideia de que sociedades naturais e humanas funcionam da mesma
maneira que sistemas. Por que é importante estudar e compreender as sociedades
naturais e humanas na forma de sistemas? Qual a importância deste estudo/
tema para compreender a ecologia? O que nossas vidas têm a ver com a ideia de
sistemas ou ecossistemas? O que este tema tem a ver com os exames do ENADE?

O que fez a humanidade, e sobretudo a ciência, ignorar a interdependência


da teia da vida? Como não perceber que o rompimento da teia, com a morte em
massa de algumas espécies, comprometeria a sobrevivência de toda a teia?

A resposta está na forma como aprendemos a fazer ciência. O conhecimento


humano fragmentou-se, tornando-se especializado, formando profissionais que
sabem muito sobre sua formação e trabalho, perdendo a noção do todo.

Para compreender a Ecologia e os ecossistemas é fundamentalmente necessário


ter uma noção mínima da interdependência entre as florestas com o clima e sua influência
no ciclo das chuvas, a diversidade da vida, a manutenção das nascentes. Vamos recordar
o conceito de sistemas: “componentes regularmente interativos e interdependentes
formando um todo unificado” (ODUM; BARRET, 2008).

251
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

O que define uma região como floresta equatorial, mata atlântica, deserto,
pântano, geleira, mar, rio etc., é uma conjuntura de fatores que envolve a latitude,
altitude, climas, solo, regime hídrico. Nenhum destes sistemas é fechado, todos
interagem e são interdependentes. Não é possível destruir um sem afetar toda a
ecosfera, ou o planeta como um todo.

A ecologia tem a função de ensinar, por exemplo, que a retirada de


recursos naturais do planeta para suprir as necessidades de sobrevivência de
mais de 7 bilhões de habitantes está ultrapassando a capacidade da natureza de
repor o que é tirado. Florestas estão desaparecendo, rios secando, chuvas cada
vez mais escassas, secas prolongadas.

Um ecossistema se alimenta de entradas e saídas, ou seja, uma floresta


recebe a luz solar das chuvas e os nutrientes da Terra; em contrapartida, esta
sustenta a vida de milhares ou milhões de espécies vivas, plantas, animais,
incluindo a humana, fornece oxigênio, ajuda a regular o regime de chuvas etc.

As secas do Sudeste, afirmam especialistas, são uma consequência do


desmatamento da Amazônia e do próprio desaparecimento da Mata Atlântica
que cobria a região Sudeste originalmente. Sem florestas não há água e sem água
não há vida. Isto é um ecossistema, um todo interdependente que necessita ser
compreendido em sua totalidade.

Para exercitar sua compreensão sobre a capacidade do nosso planeta de


sustentar a vida, leia com atenção uma questão sobre ecologia que caiu numa
das provas do ENADE. O assunto é pegada ecológica. Você sabe do que se trata?
Pegada ecológica é um conceito criado para definir a necessidade que cada
indivíduo ou a população de uma região, país ou a humanidade inteira tem de
terra, água e outros recursos naturais para sustentar a geração atual.

AUTOATIVIDADE

Analise a questão e responda: (SINAES/ENADE – 2014) Pegada ecológica é um


indicador que estima a demanda ou a exigência humana sobre o meio ambiente,
considerando-se o nível de atividade para atender ao padrão de consumo atual
(com a tecnologia atual). É, de certa forma, uma maneira de medir o fluxo de
ativos ambientais de que necessitamos para sustentar nosso padrão de consumo.
Esse indicador é medido em hectare global, medida de área equivalente a 10.000
m². Na medida hectare global são consideradas apenas as áreas produtivas
do planeta. A biocapacidade do planeta, indicador que reflete a regeneração
(natural) no ambiente, é medida também em hectare global.

Uma razão entre pegada ecológica e biocapacidade do planeta, igual a 1 (um),


indica que a exigência humana sobre os recursos do meio ambiente é reposta
em sua totalidade pelo planeta, devido à capacidade natural de regeneração.
Se for menor que 1 (um), indica que o planeta se recupera mais rapidamente.
O aumento da razão entre pegada ecológica e biocapacidade representado no
gráfico evidencia:

252
TÓPICO 6 | VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA

Disponível em: <http://financasfaceis.wordpress.com>. Acesso em: 10 ago. 2014.

a) ( ) Redução das áreas de plantio do planeta para valores inferiores a


10.000 m² devido ao padrão atual de consumo de produtos agrícolas.
b) ( ) Aumento gradual da capacidade natural de regeneração do planeta
em relação às exigências humanas.
c) ( ) Reposição dos recursos naturais pelo planeta em sua totalidade frente
às exigências humanas.
d) ( ) Incapacidade de regeneração natural do planeta ao longo do período
de 1961 a 2008.
e) ( ) Tendência a desequilíbrio gradual e contínuo da sustentabilidade do
planeta.

Analisando o gráfico da questão, constata-se que desde 1975 a pegada


ecológica do planeta entrou no vermelho, ou seja, a Terra está perdendo
gradativamente sua capacidade de repor o que está sendo tirado. Quais serão as
consequências desse desequilíbrio para as gerações futuras? Podemos criar várias
teorias, mas a realidade só o futuro dirá.

6.2 EXEMPLOS DE ECOSSISTEMAS


Um lago, rio, pântano, floresta, bacia hidrográfica, ou mesmo um cultivo
abandonado constituem um ecossistema.

A questão é como estudar tais ecossistemas e compreender a ecologia.


Para Odum e Barret (2008, p. 26), “um modo de estudar ecologia é observar uma
pequena lagoa e um cultivo abandonado onde as características básicas dos
ecossistemas podem ser examinadas de maneira adequada – e a natureza dos
ecossistemas aquáticos e terrestres pode ser contrastada”.

Para Odum e Barret (2008), bastaria uma amostra de água de um lago, um


punhado de lodo do fundo ou solo de um prado para constituir uma mistura de
organismos vivos, tanto de micro-organismos como de macro-organismos, além
de inúmeros elementos inorgânicos.
253
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

6.3 DIVERSIDADE DO ECOSSISTEMA


A diversidade do ecossistema pode ocorrer por vários fatores. Entre
os mais importantes estão: diversidade genética; diversidade das espécies;
diversidade de hábitat e diversidade dos processos funcionais que mantêm os
sistemas complexos (ODUM; BARRET, 2008).

7 OS GRANDES BIOMAS
Uma floresta, como a amazônica, por exemplo, possui grandes
comunidades de plantas e animais influenciados pela latitude, o regime hídrico,
solo e altitude, formando assim um bioma (ODUM; BARRET, 2008).

7.1 FATORES QUE DETERMINAM OS BIOMAS


O clima, influenciado pela latitude e altitude, é o fator mais importante
para determinar um bioma. Além disso, fatores como regime hídrico e solo são
outros elementos que influenciam ou determinam a formação do bioma em
determinada região geográfica.

Os biomas se desenvolvem em ambientes como: planícies, planaltos,


campos, praias, montanhas e desertos. Estes podem ser florestas, campos,
campina, pântanos, mangues etc.

As florestas podem ser equatoriais, tropicais e temperadas.

Entre as florestas equatoriais úmidas podemos citar, como exemplo, a


floresta amazônica, floresta do Congo e floresta equatorial da Indonésia. Estas
são matas exuberantes, ricas em biodiversidade e normalmente muito fechadas,
em algumas regiões quase impenetráveis.

As temperadas têm como exemplo a Mata de Araucária no sul do Brasil, já as


florestas de Coníferas são comuns nas zonas temperadas do hemisfério norte. Este tipo
de vegetação possui menor biodiversidade, pois, em geral, poucos tipos de árvores
conseguem crescer em ambientes frios, o que influencia diretamente a fauna.

O Cerrado brasileiro, a Savana africana e a Mata Atlântica são exemplos


de biomas de clima tropical. O Cerrado e a Savana são formados por vegetação
arbustiva, intercalada com campos e gramíneas. Já a Mata Atlântica é vegetação
de clima tropical úmido, comum no litoral brasileiro.

No clima árido e semiárido aparece vegetação como a caatinga, no


Nordeste brasileiro, e vegetação de desertos, como o de Gobi, Saara e do Arizona
etc. Os biomas lacustres aparecem em ambientes de transição entre o mar e o
continente, tais como mangues, restingas etc.

Nas regiões glaciares, nas proximidades do círculo polar, aparece a


vegetação de tundra.

254
TÓPICO 6 | VIDA RURAL, URBANA E ECOLOGIA

FIGURA 56 – MAPA DOS PRINCIPAIS BIOMAS TERRESTRES

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=mapa+dos+principais+biomas&>.


Acesso em: 1º jun. 2015.

Como afirmamos, o clima é o fator determinante na formação de um


bioma, determinando o aparecimento de florestas fechadas, gramíneas, vegetação
arbustiva etc. O clima determina a flora, que por sua vez atrai animais adaptados
àquele ambiente.

Sobre esses biomas a civilização se estabeleceu e criou raízes, extraindo


os recursos naturais necessários à sobrevivência. Cidades, rodovias, portos e
aeroportos foram construídos, muitos dos biomas foram totalmente destruídos
ou existem apenas fragmentos, como a Mata Atlântica brasileira, da qual hoje
restam apenas 7% das áreas originalmente ocupadas por este bioma.

DICAS

Para mais detalhes sobre os biomas e a biodiversidade no Brasil, acesse:

http://www.sibbr.gov.br/areas/?area=biodiversidade

Neste site você encontra Mapas com dados sobre o número de espécies estimadas e a
descrição de cada um dos seis biomas continentais brasileiros: Amazônia, Cerrado, Mata
Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal.

A devastação sobre os biomas e recursos naturais é tão intensa que a ONU


criou o conceito de desenvolvimento sustentável, ou seja, atender às necessidades
da geração presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras.

255
RESUMO DO TÓPICO 6

Neste tópico, você aprendeu que:

• Em geral, o espaço urbano excede os próprios limites da cidade, já que se


formam grandes áreas metropolitanas periféricas agrupadas em seu redor.

• A cidade e o campo proporcionam às pessoas diferentes oportunidades que


nos permitem distinguir o modo de vida rural do modo de vida urbano.

• A cidade é uma realidade bastante difícil de definir. Por estranho que possa
parecer, não há nenhuma definição universal de cidade. Cada país adapta os
seus critérios de definição.

• As semelhanças e diferenças entre a vida rural e a urbana aproximam um


fator do outro quando há uma complementaridade das características que os
definem.

• Segundo Odum e Barret (2008, p. 19), “um sistema ecológico ou ecossistema


é qualquer unidade que inclui todos os organismos (a comunidade biótica)
em uma dada área interagindo com o ambiente físico, de modo que um fluxo
de energia leve a estruturas bióticas claramente definidas e à ciclagem de
materiais entre componentes vivos e não vivos”.

• Os sistemas ecológicos se organizam em hierarquias. Dentro dos sistemas


os seres vivos se organizam em diferentes níveis ecológicos: Célula; Tecido;
Órgão; Sistemas de órgãos; Organismo; População; Comunidade; Ecossistema;
Paisagem; Bioma; Ecosfera (ODUM; BARRET, 2008).

• Pegada ecológica é um conceito criado para definir a necessidade que cada


indivíduo ou a população de uma região, país ou a humanidade inteira tem de
terra, água e outros recursos naturais para sustentar a geração atual.

256
AUTOATIVIDADE

1 O enorme crescimento urbano dos últimos anos teve graves


consequências na qualidade das cidades brasileiras. Inúmeros
problemas daí decorreram, aumentando o problema da
segregação espacial. Diante deste quadro, é imprescindível uma
reforma do espaço urbano. Quanto às medidas propostas neste sentido,
analise as seguintes afirmativas:

I- Para diminuir a violência, propõem-se programas de geração de renda e emprego.


II- Para melhorar a qualidade de vida, é preciso a remoção de pessoas sem
qualificação.
III- Para diminuir o déficit habitacional, existe o confisco compulsório de
imóveis excedentes.
IV- Para estancar o êxodo rural, são adotadas medidas de fixação das pessoas
no meio rural.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) As afirmativas I e IV estão corretas.
c) ( ) As afirmativas II, III e IV estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.

2 A zona rural é habitada pela população que vive no campo e,


por isso, é chamada de população rural, significando aquilo que
é relativo ou pertencente ao campo. Do ponto de vista conceitual,
o termo "meio rural" apresenta características específicas. Com
base nestas características, analise as afirmativas a seguir:

I- A população do meio rural envolve-se com atividades como comércio,


pequenas indústrias, artesanato, extrativismo.
II- O meio rural resume-se a atividades econômicas relacionadas à produção
de alimentos, sobretudo com o ramo agropecuário.
III- O meio rural é caracterizado pelo povoamento de uma região que apresenta
solos férteis, cuja população subsiste apenas a partir do plantio.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) Somente a afirmativa III está correta.
c) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
d) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.

3 A zona urbana é caracterizada pela sua relação com a cidade e o


modo de vida urbano. De modo geral, apresenta população igual
ou superior a 2000 habitantes, embora esta delimitação considere
também extensão geográfica e infraestrutura. Acerca das

257
características das zonas urbanas, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:

( ) O custo de vida nas zonas urbanas é maior do que nas zonas rurais, mas
a área urbana apresenta mais possibilidades profissionais.
( ) Nas zonas urbanas predominam atividades econômicas dos setores
secundários e terciários, ou seja, indústrias e serviços.
( ) A produção econômica primária é superior nas áreas urbanas, se
comparada com as áreas rurais.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) F - F - V.
b) ( ) V - V - V.
c) ( ) F - F - F.
d) ( ) V - V - F.

4 (SINAES/ENADE – 2011) A definição de desenvolvimento


sustentável mais usualmente utilizada é a que procura atender às
necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações
futuras. O mundo assiste a um questionamento crescente de
paradigmas estabelecidos na economia e também na cultura política. A crise
ambiental no planeta, quando traduzida na mudança climática, é uma ameaça
real ao pleno desenvolvimento das potencialidades dos países.

O Brasil está em uma posição privilegiada para enfrentar os enormes desafios


que se acumulam. Abriga elementos fundamentais para o desenvolvimento:
parte significativa da biodiversidade e da água doce existentes no planeta;
grande extensão de terras cultiváveis; diversidade étnica e cultural e rica
variedade de reservas naturais.

O campo do desenvolvimento sustentável pode ser conceitualmente dividido


em três componentes: sustentabilidade ambiental, sustentabilidade econômica
e sustentabilidade sociopolítica.

Nesse contexto, o desenvolvimento sustentável pressupõe:


a) ( ) A preservação do equilíbrio global e do valor das reservas de capital
natural, o que não justifica a desaceleração do desenvolvimento
econômico e político de uma sociedade.
b) ( ) A redefinição de critérios e instrumentos de avaliação de custo-
benefício que reflitam os efeitos socioeconômicos e os valores reais do
consumo e da preservação.
c) ( ) O reconhecimento de que, apesar de os recursos naturais serem
ilimitados, deve ser traçado um novo modelo de desenvolvimento
econômico para a humanidade.
d) ( ) A redução do consumo das reservas naturais com a consequente
estagnação do desenvolvimento econômico e tecnológico.
e) ( ) A distribuição homogênea das reservas naturais entre as nações e as
regiões em nível global e regional.

258
UNIDADE 3
TÓPICO 7

MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

1 INTRODUÇÃO
As demandas ambientais vêm se configurando em demandas
socioambientais com o passar do tempo, o que exige mudança de atitude
e do seu contexto político, tanto no espaço quanto no tempo, tornando-
se necessário e urgente adotar novas medidas e novos olhares. No Brasil,
país em desenvolvimento e caracterizado, em sua maioria, por democracias
não consolidadas, as particularidades sociais, econômicas, ambientais e
políticas exigem uma adaptação do conjunto de instrumentos que englobam
principalmente a dinâmica político-decisória, de modo a consolidar práticas
participativas, acessíveis e realizáveis em todos os níveis sociais.

É partindo desse contexto socioambiental e político que iremos nos


aprofundar, abordando as questões sobre o desenvolvimento sustentável e a
proteção do meio ambiente. Vamos lá!

2 QUESTÕES AMBIENTAIS – UMA


REFLEXÃO SOCIOAMBIENTAL
À medida que a população mundial aumenta, cresce também sua
capacidade de intervir na natureza na busca de satisfazer suas necessidades e
desejos crescentes. Paralelo ao fato, surgem conflitos e tensões quanto ao uso do
espaço e dos recursos.

E
IMPORTANT

Recurso é qualquer coisa que podemos obter do meio ambiente para satisfazer
nossas necessidades e demandas. Em geral, são classificados como:
- Renováveis (ar, água, solo, floresta), desde que não os utilizemos mais rapidamente do que
a natureza possa renová-los.
- Não renováveis (cobre, petróleo, carvão), que somente se tornam úteis após passarem
por processos de engenharia tecnológica, por exemplo, o petróleo, que se converte em
gasolina, óleo para aquecimento e outros produtos (MILLER; SPOOLMAN, 2012).

259
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

ATENCAO

Meio ambiente é um conjunto de unidades ecológicas, ou seja, um sistema


natural formado por plantas, animais, micro-organismos, solo, rochas, ar, água, clima e os
fenômenos naturais que podem interferir no seu equilíbrio dinâmico.

Nesse contexto, chamamos de produção sustentável a maior taxa em


que podemos utilizar um recurso renovável indefinidamente sem reduzir sua
oferta. Dentre os recursos não renováveis está o petróleo, que ameaça se tornar
escasso. E não somente esse recurso vem se destacando na economia mundial,
mas também as florestas: se em tempos atrás se retirava uma árvore, hoje retiram-
se centenas por dia. Havia poucas famílias consumindo pouca quantidade de
água e produzindo poucos detritos. Hoje, nesse mesmo espaço moram milhões
de famílias, logo, toda essa relação se ampliou significativamente, com o consumo
de imensos mananciais e geração de milhares de toneladas de lixo por dia.

Como resultado de tudo isso, temos a degradação ambiental, com perdas


da biodiversidade, da vida animal e vegetal, tanto terrícolas quanto aquáticas. E
a essa degradação ainda se somam as consequências, como: a poluição das águas,
o empobrecimento e até desertificação do solo, as alterações no clima, a poluição
do ar, a crescente violência nos centros urbanos, entre tantas outras. Entretanto,
o modelo econômico que gera riqueza e renda muitas vezes é contraditório, pois
não impede o aumento da miséria e da fome (MILLER; SPOOLMAN, 2012).

E
IMPORTANT

Degradação ambiental: esgotamento ou destruição de um recurso potencialmente


renovável, como solo, pastagem, floresta ou vida selvagem, que é usado mais rapidamente do
que pode ser naturalmente regenerado. Se tal uso continuar, o recurso torna-se não renovável
(em uma escala de tempo humano) ou inexistente (extinto) (MILLER; SPOOLMAN, 2012).

ATENCAO

As maiores causas dos problemas ambientais estão no crescimento populacional,


no uso insustentável e pouco eficiente de recursos, na pobreza e a falta de inclusão dos
custos ambientais do uso dos recursos, nos preços de mercado e bens e serviços.

260
TÓPICO 7 | MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A exploração dos recursos naturais se intensificou nas últimas décadas


e adquiriu características diferenciadas com a Revolução Industrial, sendo
somadas ao desenvolvimento de novas tecnologias. A demanda mundial pelos
recursos provém de uma formação econômica cuja base é a produção e o consumo
desenfreado. E o que se tem atrelado a isso é a exploração da natureza, de fato
responsável por boa parte da destruição dos recursos naturais, base da economia
mundial.

O modelo de desenvolvimento econômico, por muitos anos, decorreu


como aquele que valoriza o aumento de riqueza sem preocupação com a
conservação dos recursos naturais. Hoje, a necessidade vital de conservação
do meio ambiente aparece em discussão com parâmetros sobre as formas de
viabilizar o crescimento econômico, explorando os recursos naturais de forma
racional, ou seja, sustentável (SACHS, 2004).

Há muitos questionamentos quanto a esse modelo, tais como: É possível


atrelar desenvolvimento e sustentabilidade? E sem o aumento da destruição? De
que tipo de desenvolvimento se fala? Existe desenvolvimento sustentável ou é
um mito? (MONTIBELLER-FILHO, 2004).

De forma geral, em todos os espaços os recursos naturais e o próprio meio


ambiente são prioridades e componentes importantes para o planejamento político
e econômico dos governos, passando então a ser analisados em seu potencial
econômico e vistos como fatores estratégicos (SACHS, 2004; ASSADOURIAN,
2010). É nesse contexto que se iniciaram as grandes reuniões mundiais sobre o
tema, nas quais se instituiu o fórum internacional em que os países, apesar de
suas divergências, passam a estar politicamente obrigados a se posicionar quanto
a decisões ambientais de alcance mundial e a legislar de forma que os direitos e os
interesses de cada nação possam ser detalhadamente equacionados em função do
interesse maior da sociedade e para com o meio ambiente como um todo.

É fundamental que a sociedade atribua regras ao crescimento, à exploração


e à distribuição dos recursos de modo a garantir a qualidade de vida das atuais
e futuras gerações e demais formas de vida. Uma das alternativas para tal se
deu ao estabelecer um limite a esse consumo sustentável. Para isso, realizou-se
a primeira Conferência Internacional promovida pela Organização das Nações
Unidas (ONU) em Estocolmo, em 1972. A segunda foi no Rio de Janeiro, em 1992,
a Rio/92, após aconteceu a Rio+10, em Johanesburgo, África do Sul em 2002, e
recentemente a Rio+20 no Rio de Janeiro, em 2012.

3 SUSTENTABILIDADE: SURGIMENTO
O tema da sustentabilidade começou a ganhar corpo em 1968, quando um
pequeno grupo de líderes da academia, indústria, diplomacia e sociedade civil se
reuniu num pequeno vilarejo em Roma, Itália. Esse grupo passou a ser chamado de
Clube de Roma. A partir deste, o tema sustentabilidade foi pauta em conferências
261
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

mundiais específicas em que se delinearam conceitos, ações, diretrizes e ementas


na busca de promover o chamado desenvolvimento sustentável. Veja a sequência
cronológica dessas importantes trajetórias em âmbito mundial.

FIGURA 57 – HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS CONFERÊNCIAS SOBRE SUSTENTABILIDADE

• Formação do Clube de Roma


• Local: Roma/Itália
1968

• A primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente


• Lançamento da obra: “Limites do Crescimento”
1972 • Local: Estocolmo/Suécia

• Conferência que criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente


e Desenvolvimento
1984

• Comissão de Brundtland
• Lançamento do Relatório de Brundtland ou "Nosso Futuro Comum".
1987

• Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o


Desenvolvimento
• Rio-92 ou Cúpula da Terra
1992 • Lançamento da Agenda 21
• Local: Rio de Janeiro/Brasil

• Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável


• Local: Joanesburgo/África do Sul
2002

• Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável


• Rio+20
2012 • Local: Rio de Janeiro/Brasil

FONTE: Os autores

262
TÓPICO 7 | MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

3.1 RELATÓRIO BRUNDTLAND OU “NOSSO FUTURO COMUM”


A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
recomendou que se criasse uma nova declaração universal sobre a proteção
ambiental e o desenvolvimento sustentável. De tal forma, esse documento
foi elaborado e intitulado Relatório Brundtland, também conhecido como
“Nosso Futuro Comum”. O relatório trouxe à comunidade global o conceito
de desenvolvimento sustentável e delineou medidas propostas para integrar a
questão ambiental e o desenvolvimento econômico (CMMAD, 1991). Dentre as
medidas propostas no Relatório podemos citar:

FIGURA 58 – MEDIDAS PROPOSTAS PELO RELATÓRIO DE BRUNDTLAND

Preservação da biodiversidade Diminuir o consumo de


e ecossistemas energia

Limitar do crescimento Aumentar a produção industrial


populacional nos países não industrializados à
base de tecnologias limpas

Criar estratégias de adaptação


Garantir de alimentação em
para o desenvolvimento
longo prazo
sustentável

Promover o desenvolvimento de Implantar um programa de


tecnologias que admitem o uso desenvolvimento sustentável
de fontes enérgicas renováveis

FONTE: Adaptado de CMMAD (1991)

3.2 AGENDA 21
A “Agenda 21” criada pela Cúpula da Terra, organizada pela ONU em
1992, é utilizada no mundo todo para nortear discussões de políticas públicas e
também para ser um “guia para o planejamento de ações locais que fomentem
um processo de transição para a sustentabilidade”, conforme relatado pela ONU.

Além das questões ambientais e suas problemáticas, a Agenda 21 inclui


outros importantes assuntos, tais como: a pobreza e a dívida externa dos países
em desenvolvimento; padrões insustentáveis de produção e consumo; pressões
demográficas e a estrutura da economia internacional.

A Cúpula da Terra ainda adotou a Convenção sobre a Diversidade


Biológica (1992) e a Convenção da ONU de Combate à Desertificação em países
que sofrem com a seca, particularmente a África (1994).

263
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

3.3 CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – RIO+20
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável,
também conhecida como Rio+20, foi realizada em junho de 2012, no Rio de
Janeiro, e teve como temas principais:

• A economia verde no contexto do desenvolvimento econômico sustentável e


da erradicação da pobreza.
• A estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

Como objetivo central, a Rio+20 definiu em seu relatório a seguinte questão:


“A renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por
meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões
adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas
novos e emergentes” (CGEE, 2012, s.p.).

E
IMPORTANT

A conferência foi intitulada como “Rio + 20” porque marca o vigésimo aniversário
da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio-92).

DICAS

Veja relatório completo da Conferência Rio+20 no site: <http://www.rio20.gov.br>.

4 SUSTENTABILIDADE: CONCEITUAÇÃO
Há uma gama de autores que descrevem e conceituam sustentabilidade.
Para Ruscheinski (2003), sustentabilidade possui uma perspectiva dinâmica, o que
não a caracteriza como estática. Para Miller e Spoolmann (2012), é a capacidade
dos sistemas naturais da Terra e dos sistemas culturais humanos de sobreviver
e se adaptar às mudanças nas condições ambientais a longo prazo, conceito que
também se refere a pessoas preocupadas em transmitir um mundo melhor para
as gerações vindouras.

264
TÓPICO 7 | MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Se formos analisar todas as conceituações, certamente ficaríamos um


bom tempo discutindo a respeito, pois são distintas as conotações para esse
termo, quase sempre em comunhão com os desejos e interesses. No entanto,
possui um significado intrínseco, histórico, que revela muito mais do que uma
palavra “politicamente correta”. Vejamos como a ONU (s.d., s.p.) aborda a
sustentabilidade no seu relatório, associando ao Desenvolvimento Sustentável:
“é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a
habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”.

Conforme você pode perceber, o ONU não trata de sustentabilidade como


termo isolado, e sim agregado ao desenvolvimento e com esse os demais índices,
por isso a tem como desenvolvimento sustentável, mas o contexto conceitual
da sustentabilidade não para por aqui. A sustentabilidade está alicerçada em
pilares centrais, os quais veremos a partir desse momento, ampliando assim seu
entendimento sobre esse tema.

4.1 OS PILARES DA SUSTENTABILIDADE


Vamos começar o estudo e entendimento dos importantes pilares da
sustentabilidade de uma forma diferente. Analise a figura a seguir e reflita que
dimensões você encontra para formar os pilares da sustentabilidade. Vamos lá!

FIGURA 59 – REPRESENTAÇÃO DAS DIMENSÕES E SUA RELAÇÃO COM A SUSTENTABILIDADE

FONTE: Disponível em: <http://www.santacruz.br/v4/download/revista-academica/13/cap5.


pdf>. Acesso em: 20 mar. 2013.

265
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

Vamos nos aprofundar mais a respeito das dimensões identificadas nessa


figura que alicerçam o desenvolvimento sustentável (SACHS, 2002). Vamos
abordar os seguintes pontos: econômico, social, ambiental, cultural, espacial,
político e psicológico.

• Sustentabilidade econômica (conhecida pelo dito popular economicamente


viável): significa uma alocação eficiente dos recursos, respeitando o meio
ambiente e o bem-estar das pessoas. A principal medida dessa dimensão é dada
justamente por critérios sociais, que pressupõem o investimento equilibrado
de recursos privados e públicos na economia.
• Sustentabilidade social (conhecida pelo dito popular socialmente justo):
consiste em um desenvolvimento que reduza as desigualdades sociais e
promova a igualdade. As ações devem abranger não só as necessidades
materiais das pessoas, mas também as não materiais.
• Sustentabilidade ecológica e ambiental (conhecida pelo dito popular
ambientalmente correto): A ecológica implica em ações que respeitem a
biodiversidade, permitindo o equilíbrio dos ecossistemas. Pressupõe a
manutenção da vida na Terra, permitindo sua continuidade. Atitudes que, além
de atender às necessidades dos indivíduos, preservam os recursos naturais.
A sustentabilidade ambiental trata-se de respeitar e realçar a capacidade de
autodepuração dos ecossistemas naturais.
• Sustentabilidade espacial ou geográfica ou territorial: as ações buscam
desenvolver equitativamente todas as regiões, inclusive com ações que
evitem a concentração excessiva de população em determinadas regiões, em
detrimento de outras. Procura, ainda, equilibrar a população urbana com a do
campo e desenvolver ações locais.
• Sustentabilidade cultural: pressupõe um desenvolvimento que respeite a
pluralidade cultural existente. As ações devem respeitar a especificidade de
cada sistema, de cada local, inclusive na resolução dos problemas.
• Sustentabilidade política (nacional e internacional): tem por base a democracia
e a apropriação universal dos direitos humanos; além do desenvolvimento
da competência do Estado para implementar os projetos em parceria com
empreendedores. No aspecto internacional, tem sua eficácia na prevenção de
guerras, garantia da paz, aplicação do princípio da precaução na gestão do meio
ambiente, recursos naturais e preservação da biodiversidade e da diversidade
cultural; gestão do patrimônio global como herança da humanidade.

Ressalta-se, por fim, que a dimensão psicológica é incorporada ao estudo


devido ao relacionamento com o ser humano e com as dimensões culturais,
sociais, políticas e econômicas (MENDES, 2009). Esse é o momento de refletir,
discutir com os colegas e ampliar a visão a respeito do tema em questão. Para
ampliar sua discussão, analise a figura a seguir e discuta sobre sustentabilidade.

266
TÓPICO 7 | MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FIGURA 60 – DESEMPENHO DAS NAÇÕES COM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


– QUANTOS PLANETAS?

USA, Europa
Necessid. Australia, do Norte Europa Países "emergentes" da Ásia
gerações Canadá e Oeste do Sul e América do Sul (+ Turquia)
atuais + "NPI"
Desenvolvimento
Sustentável
Índice de Desenvolvimento Humano - IDH

Países "emergentes"
da África do Norte,
Oriente Médio e Ásia

Países em via de
desenvolvimento
da Ásia e África

Necessid. gerações futuras


Pegada ecológique (ha/ hab)

Obs.: Ecológique = ecológica.


FONTE: Louette (2007)

5 AS FERRAMENTAS PARA A GESTÃO SUSTENTÁVEL


Dentre algumas ferramentas e organismos internacionais e as normas
brasileiras que auxiliam as organizações a desenharem seu caminho para o
desenvolvimento sustentável, temos as seguintes.

267
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

FIGURA 61 – ORGANISMOS E FERRAMENTAS INTERNACIONAIS E NORMAS DE


CERTIFICAÇÃO BRASILEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE: Adaptado de Louette (2007).

5.1 PACTO GLOBAL


O Pacto Global adotou dez princípios universais, derivados dos direitos
humanos, dos direitos do trabalho e do conceito de sustentabilidade, que
fazem parte da Declaração Universal de Direitos Humanos, da Declaração da
Organização Internacional do Trabalho, da Declaração do Rio sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (1992) e de Copenhague (2004). Os dez princípios
do Pacto Global constam na figura a seguir.

268
TÓPICO 7 | MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FIGURA 62 – PRINCÍPIOS DO PACTO GLOBAL


PRINCÍPIOS DO PACTO GLOBAL
RESPEITAR ASSEGURAR APOIAR ELIMINAR ERRADICAR
e apoiar os a não a liberdade todas efetivamente
direitos humanos participação da de associação as formas de todas as formas
reconhecidos empresa em e reconhecer trabalho forçado de trabalho
internacionalmente violações dos o direito à ou compulsório infantil da sua
na sua área direitos humanos negociação cadeia produtiva
de influência coletiva

ESTIMULAR ASSUMIR DESENVOLVER INCENTIVAR COMBATER


práticas uma abordagem iniciativas o desenvolvimento a corrupção
que eliminem preventiva, e práticas para e a difusão em todas
qualquer tipo de responsável e promover e de tecnologias as suas formas,
discriminação no proativa para disseminar a ambientalmente incluindo
emprego os desafios responsabilidade responsáveis extorsão e
ambientais sócio-ambientais suborno

FONTE: Disponível em: <http://relatorioanual2010.oi.com.br/wp-content/uploads/2011/05/


D2_01_tabela-pacto-global.gif>. Acesso em: 14 maio 2015.

5.2 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO


DO MILÊNIO - ODM
É uma ferramenta estabelecida na forma de um documento que estabelece
um conjunto de oito objetivos (Figura 50), 18 metas e 48 indicadores para o
desenvolvimento e a erradicação da pobreza em todos os países do mundo. Esses
devem ser cumpridos até 2015, conforme definido pelos países membros da ONU
no ano de 2000 (LOUETTE, 2007).

FIGURA 63 – OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

FONTE: Disponível em: <http://www.portalodm.com.br/images/noticias/2011-01-20_


especialista-propoe-novos-objetivos-do-milenio-pos-2015_gg.jpg>. Acesso em: 14 maio 2015.

269
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

Entre os dias 25 e 27 de setembro de 2015, mais de 150 líderes mundiais


se reuniram na sede da ONU, em Nova York, para estabelecerem 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS). Estes objetivos são ilustrados na figura a
seguir.

FIGURA 64 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

FONTE: Disponível em: <https://www.akatu.org.br/wp-content/uploads/2016/07/ODS-ONU.jpg>. Acesso


em: 7 dez. 2017.

5.3 PROTOCOLO DE KYOTO


O Protocolo de Kyoto é um tratado internacional com compromissos
compulsórios para a redução das emissões dos gases que provocam o efeito estufa,
legitimados por crescentes pesquisas científicas, como causa do aquecimento
global e consequente variabilidade climática.

NOTA

Os seis gases de efeito estufa monitorados pelo Protocolo de Kyoto são: o dióxido
de carbono (CO2); metano (CH4); óxido nitroso (N2O); hidrofluorocarbonos (HFCs);
perfluorocarbonos (PFCs); e hexafluoreto de enxofre (SF6). O ozônio (O3) presente na
baixa atmosfera (troposfera) é um gás poluente, responsável pelo aumento da temperatura
da superfície, e portanto, também é um gás de efeito estufa, diferentemente do ozônio
presente na alta atmosfera (estratosfera), onde forma a camada de ozônio, a qual absorve a
radiação ultravioleta do tipo B, protegendo a vida na Terra.

270
TÓPICO 7 | MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O tratado originou-se em Toronto em 1988, seguido pelo IPCC (Painel


Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e culminou com a Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (UNFCCC) na Rio-92. O
objetivo do Protocolo de Kyoto é obrigar os países desenvolvidos a reduzirem
a quantidade de gases poluentes com metas de curto, médio e longo prazo
(LOUETTE, 2007).

NOTA

O IPCC é o principal organismo internacional responsável pelas pesquisas


e informações sobre a evolução das mudanças climáticas no mundo, seus potenciais
impactos ambientais e socioeconômicos. Foi estabelecido pela Organização das Nações
Unidas para o Ambiente (UNEP) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

5.4 ABNT NBR 14064 – INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE


GASES DE EFEITO ESTUFA
A ABNT NBR ISO 14064 é uma série de normas que estabelecem diretrizes
e procedimentos para ações, a saber:

• Projetos MDL: Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.


• Inventários de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE): documento que
relata as fontes e sumidouros de gases de efeito estufa e quantifica-os em uma
organização.

Projetos de redução de emissões de gases e a verificação e gestão dos GEE.

NOTA

MDL: projetos previstos no Protocolo de Kyoto, criados para ajudar os países


Anexo I (países desenvolvidos com grandes emissões de GEE históricas e que aderiram ao
Protocolo de Kyoto) a atingirem suas metas de reduções de emissões de gases de efeito
estufa a menores custos e com maior efetividade. Os projetos de reduções de emissões
de GEE são realizados em Países Não Anexo I (países em desenvolvimento com reduzida
emissão histórica de GEE) sendo financiados pelos Países Anexo I, por meio da compra
dos créditos de carbono (valor monetário correspondente a um volume determinado de
emissões de GEE que são reduzidos por meio da implementação de Projetos MDL).

271
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

LEITURA COMPLEMENTAR

Segurança Pública brasileira é improdutiva, violenta


e reproduz desigualdades

Relatório final da Comissão da Verdade paulista sistematiza historicamente


o viés repressivo da polícia e pede a desmilitarização e a unificação das polícias.

Apenas a polícia brasileira foi responsável por seis mortes por dia, em
2013, reflexo da ideologia militar da corporação, segundo o relatório da Comissão.
Hoje, o Brasil é responsável por um em cada dez homicídios no mundo.

"A Polícia Militar tem uma organização e formação preparada para


a guerra  contra um inimigo interno e não para a proteção. Desse modo, não
reconhece na população pobre uma cidadania titular de direitos fundamentais,
apenas  suspeitos que, no mínimo, devem ser vigiados e disciplinados, porque
assim querem os sucessivos governantes, ontem e hoje". Essa é a conclusão do
capítulo sobre a militarização da polícia brasileira, presente no relatório final da
Comissão da Verdade "Rubens Paiva", divulgado nesta quinta-feira 12.

Através de um estudo histórico, que recupera a formação das polícias


brasileiras desde o período colonial, o relatório sistematiza o modelo escolhido
pelo Brasil para formar seus policiais e sugere uma profunda reforma da
Segurança Pública a fim de acabar com o crescimento recorde de mortes de civis
e policiais e com a "improdutividade" das corporações, que hoje estão divididas
em duas polícias, cada uma com duas carreiras.

O debate sobre a necessidade de reformar a Segurança Pública brasileira


não é exclusividade da Comissão da Verdade. Segundo pesquisa  Datafolha  de
2014, a segurança já é a segunda maior preocupação dos brasileiros. E não é à
272
TÓPICO 7 | MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

toa. Hoje, o Brasil é responsável por  um em cada dez assassinatos  cometidos


no mundo. Diariamente, 154 pessoas são mortas no país. Por outro lado, fontes
extraoficiais estimam que o número de pessoas presas no Brasil já beira 600 mil, o
que faz do país o terceiro maior em população carcerária do mundo, apenas atrás
de Estados Unidos e China. Em 12 anos, o crescimento carcerário brasileiro foi de
mais de 620%, enquanto o populacional foi em torno de 30%.

Uma das causas deste cenário de caos reside, segundo o relatório, na


incapacidade da Polícia Militar se adaptar ao regime democrático. "A Polícia Militar
foi e continua sendo um aparelho bélico do Estado, empregada pelos sucessivos
governantes no controle de seu inimigo interno, ou seja, seu próprio povo, ora
conduzindo-o a prisões medievais, ora produzindo uma matança trágica entre
os residentes nas periferias das cidades ou nas favelas", afirma o texto. Segundo
o documento, a concepção militar da polícia é voltada para o controle político
e não para a prevenção da violência e criminalidade. A avaliação do relatório
é reforçada por levantamentos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da
Anistia Internacional. Segundo estas organizações, a polícia brasileira matou, em
média, seis pessoas por dia, em 2013. No ano anterior, 30 mil jovens brasileiros
foram mortos, sendo 77% deles negros.

A alta letalidade policial e suas práticas repressivas não foram, no entanto,


as únicas marcas deixadas pela ditadura na gestão da segurança pública brasileira.
Em depoimento prestado à Comissão, o ex-funcionário da Secretaria Nacional de
Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, revelou que até meados dos anos 2000,
policiais militares ainda recebiam aulas de tortura nas corporações. "Nós nos
esquecemos de que a transição (democrática) passou de forma insuficiente pelas
áreas da Segurança Pública", disse.  “Até 1996,  na formação da  Polícia Civil do
Rio de Janeiro havia aulas sobre  como bater. Não é defesa pessoal, porque é
indispensável, é como bater. O Bope oferecia, até 2006, aulas de tortura. E não
estou me referindo, portanto, apenas às veleidades ideológicas de um e de outro,
nós estamos falando de procedimentos  institucionais”, completou Soares, que
também é ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro.

Assim como no período ditatorial, os assassinatos e a tortura exercidos


pelos agentes públicos seguem, na maioria dos casos, impunes. A ONG Conectas
Direitos Humanos analisou, em 2014, 455 decisões de todos os Tribunais de
Justiça do Brasil sobre denúncias de torturas. Ao final, o levantamento constatou
que policiais e funcionários do sistema prisional condenados em um primeiro
julgamento foram absolvidos, na segunda instância, em 19% dos casos. Entre
agentes privados, o índice de absolvição cai praticamente pela metade (10%).

A dependência da polícia por parte de órgãos investigativos e de perícia,


como o Instituto Médico Legal (IML), é uma das razões para a impunidade em
casos de violência policial. "É como se um colega produzisse provas contra outro,
o que implica em conflitos de interesse", afirma Vivian Calderoni, advogada da
Conectas. O mesmo raciocínio é utilizado pelo documento da comissão em relação
às mortes decorrentes de conflito com a polícia, os chamados autos de resistência.

273
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS

"Não há investigação  sobre os autos de resistência, o que garante, através da


impunidade, a permissividade dos crimes, com aval e promoção institucional",
afirma o documento. Atualmente, existem diversos projetos pelo fim dos autos
de resistência no Congresso, porém, todos estão emperrados na burocracia do
parlamento.

Levantamentos, como o da ONG Conectas, revelam que a cultura de uma


polícia repressiva e, muitas vezes, impune, é uma realidade nacional. De acordo
com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a tropa mais letal do país é a do Rio
de Janeiro, seguida pela de São Paulo, depois Bahia e Pará, "estados governados
por partidos políticos diferentes, o que sugere que essa  cultura carcerária é
compartilhada por diversas forças políticas", diz a comissão.

Por outro lado, o Brasil também possui o recorde de policiais assassinados


no mundo: 490 em 2013, 43 a mais do que em 2012. Por conta disso, a proposta
de desmilitarização policial encontra grande aceitação entre os policiais de baixa
patente. Uma pesquisa da FGV, de 2014, mostra que 73,7% dos policiais apoiam
a  desmilitarização. Segundo a mesma pesquisa, entre os policiais militares,
o índice sobe para 76,1%.

Ao todo, estima-se que os custos ligados à violência, em 2013, giraram em


torno de 258 bilhões de reais, sendo que a maior decorreu da perda do capital
humano, com mortes e invalidez, representando 114 bilhões de reais.

Uma história de repressão

Do ponto de vista da organização e instrução, a polícia brasileira, do Brasil


Colônia até a República, se constituiu como uma força militar, com a finalidade
de garantir a ordem interna e, por vezes, ser o exército da elite do Estado ou
província. No Brasil colônia, por exemplo, uma das funções da polícia era garantir
a submissão dos escravos. Já na República, a polícia paulista era caracterizada
como uma força militar estadual, ou seja, um pequeno exército a serviço da elite
cafeeira.

No entanto, foi em 1967, com o decreto da Doutrina de Segurança Nacional,


que se fortaleceu a ideia das polícias como forças repressivas com o intuito de
combater  um inimigo interno, no caso, o comunismo ou a subversão. "Com a
criação da Doutrina de Segurança Nacional se criou a figura do inimigo interno.
O Exército tem o seu inimigo externo, mas na Doutrina de Segurança Nacional se
cria a figura do inimigo interno, que é para fazer o combate à luta armada", afirma
o coronel reformado da Polícia Militar Fábio Gonçalves, em depoimento.

Em 1969, o presidente ditador Costa e Silva, outra vez por meio de


decreto, reorganiza as polícias militares. No mesmo ano, tem início a Operação
Bandeirante,  um  órgão de repressão política criado por acordo entre as Forças
Armadas e a Polícia Militar paulista, sob ordem do governo estadual e com apoio

274
TÓPICO 7 | MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

político e material de empresários. No ano seguinte, a relação entre militares e


policiais militares se intensifica e cria-se o DOI-Codi (Destacamento de Operações
de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), que posteriormente
terá sua atuação nacionalizada com órgãos  semelhantes fora do Estado de São
Paulo.

Segundo o relatório, é neste bojo que acontece a unificação da Força Pública


e Guardas Civis Estaduais, consolidando a Polícia Militar como a conhecemos
hoje. "[Graças ao] golpe dentro do golpe [AI-5] que se militarizam ao extremo as
forças de segurança, centraliza-se o comando, o controle, a  coordenação do
sistema", diz o relatório.

Nesse sentido, o relatório sugere a desmilitarização e unificação das


polícias, com o fim da duplicidade das carreiras policiais, como medida
fundamental para reverter o caráter repressivo das forças de segurança civil.
Além disso, pede-se a revogação dos decretos que  integram a  P/2 das Polícias
Militares ao Serviço Secreto do Exército, produtos legais também da  ditadura
civil-militar.

FONTE: Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/sociedade/seguranca-publica-brasileira-


e-improdutiva-violenta-e-reproduz-desigualdades-3055.html>. Acesso em: 30 maio 2015.

275
RESUMO DO TÓPICO 7

Neste tópico, você aprendeu que:

• Recurso é qualquer coisa que podemos obter do meio ambiente para satisfazer
nossas necessidades e demandas. Em geral são classificados como renováveis
(ar, água, solo, floresta) e não renováveis (cobre, petróleo, carvão).

• A exploração dos recursos naturais se intensificou nas últimas décadas e


adquiriu características diferenciadas com a Revolução Industrial, somadas ao
desenvolvimento de novas tecnologias.

• As maiores causas dos problemas ambientais estão no crescimento


populacional, no uso insustentável e pouco eficiente de recursos, na pobreza
e a falta de inclusão dos custos ambientais do uso dos recursos nos preços de
mercado e bens e serviços.

• Para se discutir os problemas ambientais se instituiu o fórum internacional,


em que os países, apesar de suas divergências, passam a estar politicamente
obrigados a se posicionar quanto a decisões ambientais.

• Os importantes movimentos que abordaram a sustentabilidade:


• Relatório Brundtland ou “Nosso Futuro Comum”
• Agenda 21
• Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável –
Rio+20

276
AUTOATIVIDADE

1 A sustentabilidade não está atrelada unicamente à área ambiental


e sim essa somada ao equilíbrio dinâmico do conjunto das relações
sociais, econômicas, culturais, espaciais e psicológicas, ou seja, é esse
conjunto que alicerça o desenvolvimento sustentável de fato. Com
relação às diretrizes e ferramentas que auxiliam as organizações a desenharem seu
caminho para o desenvolvimento sustentável, relacione as colunas:

A – PACTO GLOBAL ( ) Ferramenta para desenvolvimento de inventários


de emissões de gases de efeito estufa e projetos
para sua mitigação.

B – PROTOCOLO ( ) Estabelece um conjunto de objetivos para o


DE KYOTO desenvolvimento e a erradicação da pobreza no
mundo.

C – AGENDA 21 ( ) Resposta às ameaças que assolam o planeta,
principalmente com a terra, como forma de se
pensar articuladamente os muitos problemas
socioambientais.

D – RELATÓRIO ( ) Compromissos com a redução das emissões dos


BRUNDTLAND gases que provocam o efeito estufa.

E – RIO+20 ( ) Diretriz utilizada no mundo todo para nortear


discussões de políticas públicas, sendo um
“guia para o planejamento de ações locais que
fomentem um processo de transição para a
sustentabilidade”.

F – NBR ISO 14064 ( ) Conferência em que ocorreu a renovação do


compromisso político com o desenvolvimento
sustentável.

G – CARTA DA ( ) Ferramenta ou acordo para empresas que
TERRA pretende conciliar a força do mercado aos ideais
dos direitos humanos, levando-se em conta os
impactos sociais e ambientais.

H – METAS DO ( ) Relatório que trata da declaração universal


MILÊNIO sobre a proteção ambiental e o desenvolvimento
sustentável (Nosso Futuro Comum).

277
2 O termo sustentabilidade é flexível, dinâmico e não consensual
na academia. Em meio às inúmeras definições e controvérsias
do termo, esse ainda possui um sentido próprio, o qual nós
(empresas, organizações, sociedade) buscamos alcançar. Fale a
respeito de seu real significado.

3 A palavra sustentabilidade traz consigo a relação do


desenvolvimento sustentável. Dessa forma, pergunta-se: o que é
uma sociedade sustentável? É possível atrelar desenvolvimento
sustentável e sociedade sustentável?

4 (ENADE – 2017) Segundo o relatório da Organização das Nações


Unidas para a Alimentação e a Agricultura de 2014, a agricultura
familiar produz cerca de 80% dos alimentos no mundo e é guardiã
de aproximadamente 75% de todos os recursos agrícolas do
planeta. Nesse sentido, a agricultura familiar é fundamental para a melhoria
da sustentabilidade ecológica.
FONTE: Disponível em: <http://www.fao.org>. Acesso em: 29 ago. 2017 (adaptado).

Considerando as informações apresentadas no texto, avalie as afirmações a seguir.

I- Os principais desafios da agricultura familiar estão relacionados à segurança


alimentar, à sustentabilidade ambiental e à capacidade produtiva.
II- As políticas públicas para o desenvolvimento da agricultura familiar devem
fomentar a inovação, respeitando o tamanho das propriedades, as tecnologias
utilizadas, a integração de mercados e as configurações ecológicas.
III- A maioria das propriedades agrícolas no mundo tem caráter familiar,
entretanto, o trabalho realizado nessas propriedades é majoritariamente
resultante da contratação de mão de obra assalariada.

É correto o que se afirma em:

a) ( ) I, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) II e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.

5 (ENADE – 2017) Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável


(ODS) compõem uma agenda mundial adotada durante a Cúpula
das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em
setembro de 2015. Nessa agenda, representada na figura a seguir,
são previstas ações em diversas áreas para o estabelecimento de parcerias,
grupos e redes que favoreçam o cumprimento desses objetivos.

278
Disponível em: <http://www.stockholmresilience.org> Acesso em 26 set. 2017 (adaptado).

Considerando que os ODS devem ser implementados por meio de ações que
integrem a economia, a sociedade e a biosfera, avalie as afirmações a seguir.

I- O capital humano deve ser capacitado para atender às demandas por


pesquisa e inovação em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável.
II- A padronização cultural dinamiza a difusão do conhecimento científico e
tecnológico entre as nações para a promoção do desenvolvimento sustentável.
III- Os países devem incentivar políticas de desenvolvimento do
empreendedorismo e de atividades produtivas com geração de empregos que
garantam a dignidade da pessoa humana.

É correto o que se afirma em:

a) ( ) II, apenas.
b) ( ) III, apenas.
c) ( ) I e II, apenas.
d) ( ) I e III, apenas.
e) ( ) I, II e III.

279
280
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