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Revista Educar FCE - Abril 2019

VOLUME 19 ABRIL DE 2019

MUSICALIDADE NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
A escola como um local reprodutor de uma
cultura que promove a desigualdade

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Educar FCE / Faculdade Campos Elíseos


Vol. 19, n. 01 (Abril, 2019), SP

Volume 19, n.01 (Abril, 2019)


Mensal

1. Inclusão escolar; 2. Musicalização; 3. Trabalho docente;


4. Aprendizagem; 5. Ludicidade.

CDD 370

Os Conceitos emitidos nesta revista são de inteira responsabilidade dos autores.


É proibida a reprodução total ou mesmo parcial desta obra sem prévia
autorização dos autores.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Educar FCE-(CDD 370) - Volume 19 - Número 1 - Abril de 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

PALAVRA DO DIRETOR
O TRABALHO DE CONTEUDISTA
O conteudista é o profissional que desenvolve uma enorme energia mental
possui domínio sobre determinado para desenvolver a melhor narrativa do
assunto. Geralmente trata-se de um texto possível que ampare os diversos
especialista, podendo ser um mestre ou passos exigidos no desenvolvimento
doutor, com experiências direcionadas aos instrucional da modalidade a distância nos
Prof. Paulo Mantovan
Diretor Acadêmico
objetos de estudo do conteúdo requerido. Ambientes de Virtuais de Aprendizagem, da Faculdade Campos Elíseos
A ele é encomendado um texto que os AVAs. a ajuda instantânea de um professor, é
reflita seu saber, mas que também A modalidade a distância já não algo que exige uma programação mental
expresse as necessidades de um projeto é considerada algo novo, mas a todo diferenciada do conteudista, já que aponta
de estudos, atualmente é mais comumente momento vem agregando novos estudos para um processo de autodidatismo da
atrelado a modalidade a distância. e experiências no uso da tecnologia, o que aprendizagem, que exige do aluno uma
O pressuposto é que o trabalho a está provocando um aumento gradativo de sistemática autodisciplina para com os
ser realizado não exige uma relação interesse nos meios educacionais devido a estudos.
formal com vínculo empregatício, mas uma imensa gama de possibilidades de Nesse contexto, a exigência
uma prestação de serviços autônoma, hipertextos colaborativos. acadêmica voltada para o EAD requer
independente de supervisão ou horários Mesmo diante do atual momento que o texto seja modelado e modulado
ou de comparecimento em local evolucionista da modalidade a distância, na forma de desenho instrucional, com
específico. O resultado dessa operação ainda assim, os seus pressupostos participação, aí sim, de docentes, que
pode ou não ser utilizado pelo contratante, formais não atingem toda a comunidade deverão adaptar o texto no ambiente
é eminentemente vinculado ao talento do acadêmica, onde críticas são emanadas e virtual de aprendizagem, através do
profissional do contratado. resistências ainda são oferecidas a favor órgão acadêmico NDE – Núcleo Docente
A participação de um conteudista do conservadorismo histórico vivenciado Estruturante, além de uma grande equipe
envolve uma relação dialógica que vai nesse meio, todavia, constata-se uma de produção voltada para os quesitos
além da dimensão de docência, é muito continua evolução dos meios tecnológicos tecnológicos inerentes ao EAD.
mais voltado ao contexto profissional. tornando a aprendizagem presencial Por isso é que hoje já não basta ser
Não é simplesmente uma realização com articulada como o contexto híbrido entre um professor de sucesso no modelo
retorno financeiro, a troca que se realiza é a conservação da tríade cadeira-aluno- presencial, não basta ter escrito
muito mais ampla porque envolve algumas professor com tecnologias virtuais de inúmeros livros técnicos ou científicos,
dificuldades que permeiam o universo da apoio a aprendizagem presencial, onde não basta somente dominar o conteúdo.
pedagogia em relação ao saber, no sentido também os conteudistas profissionais Os conteudistas não necessitam ser
de que o conteúdo deverá apontar para adquirem espaços importantes. obrigatoriamente docentes, mas conhecer
os estímulos cognitivos da aprendizagem, Escrever um texto com vistas a atingir essa modalidade, sabendo que ali existem
portanto, forçosamente o conteudista especificamente o aprendiz, que não terá competências diferenciadas.

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EDITORIAL CONSELHO EDITORIAL


Márcia Donizete Leite Oliveira
Cláudia Regina Esteves
Conceitualizar trabalho é tratar de uma questão que envolve diversos campos disciplinares, uma vez que Ivan César Rocha Pereira
não cabe seguir uma concepção de senso comum. O trabalho nos é apresentado comumente na forma de
Paulo Malvestio Mantovan
Rodrigo Leite da Silva
ameaça, de sofrimento ou de realização, de fadiga ou estresse, de exploração e injustiça, mas também como Maria Virgínia F. P. Couto Rosa
impulso para a realização e para o desenvolvimento profissional individual e coletivo. E, segundo Astrada Marcelo de Lima
(1968), é Hegel, quem dá ao termo trabalho, um significado positivo, pois vê o “trabalho” como uma “atividade
EDITORA-CHEFE
humana” que se originou de um processo histórico por meio da interação histórica e como um resultado da
Márcia Donizete Leite Oliveira
ação do homem construtiva da vida individual e social. Completando essa linha de pensamento, Bronckart

(2008:93) define “trabalho” como é uma forma de agir, ou uma prática, própria da espécie humana, que EDITORA-ADJUNTO
desenvolveu de atividades coletivas organizadas, destinadas a assegurar a sobrevivência dos membros do Marcelo de Lima
grupo, e que se tornaram “particularmente complexas e diversificadas”. E, Clot (2006) caracteriza o “trabalho”
REVISÃO E NORMALIZAÇÃO
como uma prescrição de objetivos e procedimentos a serem realizados. Porém, o que nos chama à atenção é DE TEXTOS
o trabalho efetivamente realizado, chamado pelo autor de “trabalho real”, pois segundo ele, é uma atividade Márcia Donizete Leite Oliveira
que não se limita apenas ao que é realizado pelo indivíduo, mas também o que ele deixa de realizar, o que Rodrigo Leite da Silva
poderia ter feito, mas foi amputado de seu poder de agir, devido a impedimentos internos ou externos que

acabam surgindo no percurso de sua atividade. Quanto ao trabalho do professor, muitas pesquisas nos
PROGRAMAÇÃO VISUAL E
DIAGRAMAÇÃO
mostram uma preocupação voltada ao ensino-aprendizagem e não propriamente ao trabalho docente. Para Keter Reis
maiores esclarecimentos, Saujat (2004), preocupado com esta questão mostra em suas pesquisas que não há

uma atenção notória para o trabalho educacional, pois essas pesquisas continuam presas a uma concepção
PROJETO GRÁFICO

unificada da atividade docente. Mesmo tendo interesse pelo trabalho docente, continuam reduzindo esta
Elizandra Pires

atividade como objetiva e transmissora de conhecimentos. Assim, o autor nos adverte que este trabalho, é

uma “atividade de um sujeito que tem seus próprios fins, buscando alcançar seus objetivos, ao mesmo tempo COPYRIGTH
em que busca realizar aquilo que é determinado pela própria tarefa” (LEPLAT, 1997:4 apud SAUJAT, 2004). Revista Educar FCE
Como se pode ver, os impedimentos do trabalho docente não são levados em conta, porém muitos desses ISSN 2447-7931
podem causar o estresse ou fadiga ao professor, prejudicando seu agir. Assim, é necessário dar “voz” a esse Faculdade Campos Elíseos
trabalhador que pode estar sofrendo e prejudicando seu desempenho. Pois sua atividade é situada, a qual (ABRIL, 2019) - SP
engaja suas dimensões física e psíquica, cognitiva, emocional (...). É também mediada por instrumentos de
Publicação Mensal e
trabalho (materiais ou simbólicos) que envolve um agir coletivo, interacional e, ao mesmo tempo transpessoal, multidisciplinar vinculada
no sentido de ser guiado por outros elementos ou por outros tipos de agir. Entretanto, é também uma à Faculdade Campos Elíseos.
atividade conflituosa que provoca a aprendizagem de novos conhecimentos e de desenvolvimento humano
Os artigos assinados são de
ou pode servir de impedimentos a tudo isto, pois não se limita apenas à sala de aula porque é uma atividade responsabilidade exclusiva
que vai muito além dos espaços escolares (MACHADO, 2008, p,93). Assim, o professor está constantemente dos autores e não expressam,
reformulando seu agir, reelaborando prescrições, readaptando-se a cada situação diária com reações
necessariamente, a opinião do
Conselho Editorial.
diferentes, interesses próprios, motivações, objetivos e variados recursos para lidar com as capacidades dos

alunos por meio desta atividade complexa e multidimensional que é o trabalho docente. É permitida a reprodução total
Prof.ª. Dra. Márcia Donizete Leite Oliveira ou parcial dos artigos desta
revista, desde que citada a fonte.
Coordenadora da Revista EducarFCE

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SUMÁRIO
129 A APRENDIZAGEM EM ARTES NAS PRÁTICAS DE
EDUCAÇÃO INFANTIL: CORPO, MOVIMENTO E
DANÇA
Carla Simone Vicente Tavares De Oliveira

12 A INCLUSÃO E SEUS DIREITOS 140 VIOLÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR


Adriane Luzia Martucci Liberatti Cristiane Amaro Da Silva

19 UM OLHAR INTEGRADOR NA ALFABETIZAÇÃO DE 148 A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES:


AUTISTAS HISTORICIDADE DOS CURRÍCULOS DOS
Adrilene Braga Tiba CURRICULOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Cintia Cristina De Castro Mello

29 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR COMBATENDO O 160 A IMPORTÂNCIA DA ARTE NOS ANOS INICIAIS
SEDENTARISMO Daiene Furquim
Aldivânia Santos Do Nascimento

42 DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM 169 A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO NA


EDUCAÇÃO INFANTIL
Alessandra De Araujo Melo Zacharias
Daniela Carvalho Perelli

52 O ENSINO POR MEIO DOS RECURSOS 181 "O ENSINO DE MÚSICA COMO INSTRUMENTO
TECNOLÓGICOS E DAS MÍDIAS SOCIAIS DE INTERVENÇÃO NAS DIFICULDADES DE
Alessandra Ferrari Da Fonseca Teixeira APRENDIZAGEM NO ENSINO FUNDAMENTAL
Daniela Patricia Almeida Machado

62 "CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN 200 A EDUCAÇÃO BÁSICA E A


FREQUENTAREM ESCOLAS PARA CRIANÇAS TIDAS NEUROPSICOPEDAGOGIA: CONCEITOS E
COMO “NORMAIS” ELEMENTOS SOBRE O CÉREBRO QUE PODEM
Ana Claudia Marquez Silva MELHORAR A APRENDIZAGEM ESCOLAR
Danielle De Oliveira Nonato
71 "PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO: INSTÂNCIAS
QUE FORNECEM ELEMENTOS BÁSICOS PARA O
DESENVOLVIMENTO"
Ana Cristina Da Silva Sacramento 209 "A MELHOR FORMA DE ENSINAR: CONTRIBUIÇÕES
DA PSICOPEDAGOGIA"
Débora Gomes Leal

85 EDUCAÇÃO INCLUSIVA: BARREIRAS VISÍVEIS E 221 FORMAÇÃO DOCENTE OPOSITOR E DESAFIADOR:


INVISÍVEIS
Ana Cristina De Meneses Macena UMA ANÁLISE DAS COGNIÇÕES E AÇÕES INFANTIS
Denise Dos Santos Souza Turubia

95 "A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS


DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: AEE um direito em
pauta" 232 A ANÁLISE DO ESTUDO DA HERANÇA
Ana Lúcia Novais Gonçalves MONOGÊNICA PRESENTE EM LIVROS DIDÁTICOS
Diego Daniel Duarte Dos Santos

105 A ARTE E SUAS LINGUAGENS - MUSICALIZAÇÃO NA 240 OS BENEFÍCIOS DOS JOGOS E BRINCADEIRAS
EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Ana Lucia Ramos Santos Diego Daniel Mascarenhas Martins

120 A CONTRARIEDADE NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 252 A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS E SUA


NO BRASIL IMPORTÂNCIA
Ana Maria Vaccari Da Silva Mungioli Elaine Bento Da Silva

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262 "A IMPORTÂNCIA DAS CORES NOS DESENHOS NO 406 A INFLUÊNCIA DA ARTE AFRODESCENDENTE
ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL" NA CULTURA BRASILEIRA: UMA VISÃO SOBRE
Elaine Cristina Negreiros Da Silva A DIVERSIDADE E CIDADANIA NO ENSINO
FUNDAMENTAL
Gisleine Ferreira De Freitas Mello

275 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA 417 EDUCAÇÃO INFANTIL: O CURRÍCULO EM


ALFABETIZAÇÃO EVIDÊNCIA
Erika Cristina De Matos Carnaìba Givanilda Vieira Pinheiro De Sousa

293 "A PREVENÇÃO DE DOENÇAS TRANSMITIDAS 425 "A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NO


PELO CARAMUJO AFRICANO: EDUCAÇÃO PARA A DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DOS EDUCANDOS"
SUSTENTABILIDADE" Gleice Carvalho Martins
Fábio Roberto Manente Dos Santos

303 "UMA ANÁLISE DA ALFABETIZAÇÃO INCLUSA NA 436 "O IMPACTO DAS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS
PROPOSTA DA EDUCAÇÃO INFANTIL" NO COTIDIANO ESCOLAR: UM RELATO DE
Fabio Valim Dos Santos EXPERIÊNCIA EM ESCOLAS DA PREFEITURA DE
CAIEIRAS E DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO"
Gleice Kelly De Souza Guerra
313 O DIREITO DA CRIANÇA DEFICIENTE INTELECTUAL
E A RESSIGNIFICAÇÃO DA PRÁXIS PEDAGÓGICA 445 "A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS COOPERATIVOS NO
CONTEXTO ESCOLAR"
Flávia Aparecida Miranda
Helen De Arruda

330 A INCLUSÃO DE ALUNOS COM SÍNDROME DE 454 ARTE E INFÂNCIA: ONDE ELAS SE ENCONTRAM,
DOWN NA VISÃO DA PSICOPEDAGOGIA QUAIS BENEFÍCIOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Flávia Cristina Pereira Figueiredo Isabel Cristina De Castro Tomaz

340 A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NA FORMAÇÃO 465 ESCREVER E LER COMO PARTES INTEGRANTES
PEDAGÓGICA DO PROCESSO EDUCATIVO: INTERCONEXÕES
Flávia Salgueiro Menegassi E INFLUÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA
ALFABETIZAÇÃO
350 CONFLITO ESCOLAR Jennifer Carvalho Foster
Flaviane Ferreira Gonçalves Araújo

366 BORBOLETAS DE ZAGORSK: UMA REFLEXÃO 474 DIDÁTICA E METODOLOGIA: UM OLHAR


ACERCA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL, SUAS PRÁTICAS SOBREMÚSICA E LUDICIDADE NO PROCESSO DE
E CONCEITOS APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS AUTISTAS
Gabriela Luísa Oliveira Jorge Fernando Inácio

374 "A UTILIZAÇÃO DAS RODAS DE DANÇA COMO 482 É BRINCANDO QUE SE APRENDE: A IMPORTÂNCIA
UM RECURSO DIDÁTICO NA APRENDIZAGEM DO DO BRINCAR PARA O DESENVOLVIMENTO
BALLET CLÁSSICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL" INFANTIL
Giórgia Regina Agostinho Do Nascimento Josivan Jose De Oliveira Silva

384 INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 490 AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE SUPERAM A


Girleyde Beserra Nunes Da Silva INDISCIPLINA NA ESCOLA
Joyce Santos De Souza Ferreira

395 IO DESENHO E A SUA RELEVÂNCIA NA PRÁTICA 501 INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS NO PROCESSO DE


CLÍNICA NEUROPSICOPEDAGÓGICA APRENDIZADO
Gislane Miguel De Souza Juliana Cirillo Costa

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511 "A PSICOMOTRICIDADE E A AFETIVIDADE 665 EDUCAÇÃO ESPECIAL DE ALUNOS COM


FAVORECENDO A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO SÍNDROME ALCOÓLICA FETAL
INFANTIL" Ligia Paperini Silva
Juliana De Oliveira Rodrigues

529 A RELEVÂNCIA DA LEITURA NA EDUCAÇÃO 676 A FERRAMENTA LÚDICA COMO FERRAMENTA


PEDAGÓGICA
INFANTIL
Lillian Mariko Kamisaki
Juliana Dominichelli Higa

689 A RELEVÂNCIA DA MÚSICA NO CENÁRIO DA


538 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL
JOVENS E ADULTOS Luci Barreto De Araújo
Juliana Martins Pontes

699 A INCLUSÃO ESCOLAR E A GARANTIA DE DIREITOS


551 A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS NA EDUCACIONAIS
INSTITUIÇÃO: REVENDO OS PROCESSOS NA Luciana Donato Oliveira
DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM ATRAVÉS DOS
JOGOS 709 A DEPRESSÃO NO CONTEXTO ESCOLAR: UM
Julmara Da Silva Roncari OLHAR DIFERENCIADO
Luciana Donegatti De Lima
569 JOGOS DE CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: UM
RECURSO NA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O 721 SUSTENTABILIDADE UM DESAFIO PARA A ESCOLA
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Luciana Esteves De Faria
Jussiara Rios Da Silva Sandes Figueiredo
731 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
581 CONSTRUINDO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA Luciana Santos
HISTÓRIA INACABADA
Karina Zanoni De Oliveira

593 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ARTE NO 745 EDUCAÇÃO COMPARADA NA CONTRIBUIÇÃO


PROCESSO EDUCACIONAL DA CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E
Karen Fernandes Orefice Herrera APRENDIZAGEM
Lucio Rodolfo Rosa

602 AFETIVIDADE - CONCEITOS E SUA IMPORTÂNCIA 754 O PROFESSOR E AS IDENTIDADES A ELE


PARA A APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO NA ATRIBUÍDAS
EDUCAÇÃO INFANTIL Luiza Maria Moura
Kátia Medeiros Da Silva

616 COMO TRABALHAR A MATEMÁTICA NA 765 EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM OLHAR SOBRE AS


EDUCAÇÃO INFANTIL? PRÁTICAS
Kelly Christiane Dias Mendes Luiz Fernando Nogueira Oliveira

627 MULTILINGUAGEM NA ARTE DA EDUCAÇÃO 773 A INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO:


INFANTIL UMA CO-EMANCIPATÓRIA
Kely De Cássia Vitiello Sartori Luizelina Farias Lima

641 CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 793 "A IMPORTÂNCIA DA CRITICIDADE: A VISÃO
Lídia Cristina Rolim De Paula Pinho DE PAULO FREIRE
Magda De Souza Ferreira

802 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO DESENHO NA


652 O ENSINO DE ARTE FRENTE ÀS TIC’s
Lidyane Rafaela Almeida Santos EDUCAÇÃO INFANTIL
Maísa Moreira De Souza

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821 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 993 A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL-


E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR PARA SUA RELAÇÃO E IMPORTÂNCIA PARA O
ENSINO FUNDAMENTAL DESENVOLVIMENTO
Marcela Moreira Cerencio Marilda Pereira Da Silva De León Alvez

832 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E 1003 EDUCAÇÃO INFANTIL E ARTES VISUAIS


HIPERATIVIDADE E O PROCESSO EDUCACIONAL Marileide Santos Leite Da Silva
Marcia Amanda Paula Teixeira

1015 A RELEVÂNCIA DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO


842 A INTERAÇÃO DAS CRIANÇAS COM A ARTE INFANTIL
Márcia Boragina Marizete Pereira de Sousa Santana

855 ALFABETIZAÇÃO E AS DIFICULDADES DE 1029 EDUCAÇÃO FÍSICA E ALUNOS COM NECESSIDADES


APRENDIZAGEM NA LEITURA: UM DISTÚRBIO ESPECIAIS: INCLUSÃO
CHAMADO DISLEXIA Marlene Taira Melo
Marcia Silvério Pereira Sete

864 O ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA 1043 UMA REFLEXÃO SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA ARTE
Maria Anunciação De Souza NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Marly Aparecida Corsini Alves

876 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO 1052 PRÁTICAS DE LETRAMENTO E CONTEXTOS DE


DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA EDUCAÇÃO APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
INFANTIL Marta Almeida De Oliveira
Maria Beatriz Almeida Sposito

894 ESCOLA E COMUNIDADE NO DIVÃ COM A GESTÃO 1061 O DESENHO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
DEMOCRÁTICA Mayra Rosanna Amadasi
Maria Cleusa Ribeiro De Souza Moreno

905 FORMAÇÃO CONTINUADA 1069 JOGOS TEATRAIS NA SALA DE AULA: AFETIVIDADE,


Maria Cristina Teles De Oliveira CRIATIVIDADE E APRENDIZAGEM
Micheline Salime Souza Corrêa
914 PRÁTICAS ARTÍSTICAS NO ENSINO FUNDAMENTAL
ARTES NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
1084 A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA FORMAÇÃO DE
Maria Da Glória Moreira Bastos LEITORES
Milleny Alaksany Olivato Do Nascimento
924 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
1096 NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO
Maria De Fatima Quintanilha De Almeida Miriam Cristina Da Silva Santos

938 EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL E CURRÍCULO 1113 UMA ANÁLISE HISTÓRICA A RESPEITO DA


Maria Helena Ottoni Buzato INCLUSÃO
Mirlene Michele Da Silva Romão

947 DESENHO INFANTIL E AS RELAÇÕES COM AS 1124 A MÚSICA DENTRO DO CONTEXTO ESCOLAR
ARTES: DESENVOLVIMENTO E DIVERSÃO Monise Felix Delpasso
Maria Maura Moreira

1135 TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E


963 O AUTISMO NAS ESCOLAS PÚBLICAS ADULTOS NO BRASIL
Maria Odelice Magro Pereira
Nadir Berbert Da Silva Melo Vieira

976 A BAIXA AUTOESTIMA COMO GERADORA DE 1147 O ENSINO DE ARTES NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
LEGISLAÇÃO E PRÁTICAS
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Nair Francisca De Macedo Alonso
Mariana Batista Nunes

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1159 NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM 1333 PSICOPEDAGOGIA EM CONTEXTO: Percurso


Natiele Cavalcanti De Lima Histórico e o Papel do Psicopedagogo na Educação
Prescilia Bento
1172 "A LITERATURA DE CORDEL COMO UM GÊNERO
DE HISTÓRIAS E DE CULTURA PARA ALUNOS DO 1348 HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E O PROCESSO DE
CICLO FUNDAMENTAL ENSINO APRENDIZAGEM NAS AULAS DE ARTE
Nivalda Aparecida Da Silva Souza Rafael Da Silva Pereira

1186 PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO 1357 TGI- STRESS INFANTIL: CRIANÇA COMO SUJEITO
Pâmela Cestare Lisboas
DO CONHECIMENTO
Rafaella Mendes
1199 O TRABALHO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Pamela Medeiros Albuquerque 1365 O LÚDICO NO PROCESSO EDUCATIVO
Raphaela Rachel Bazílio Dielle
1208 RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS
Patricia Amaral Carvalho Caversan
1376 ALFABETIZAÇÃO: PROCESSOS E MODALIDADES
APLICADAS À EDUCAÇÃO INFANTIL
Raylane Ryara Dos Santos Mesquita
1219 A ESCOLA COMO MEIO QUE PREPARA PARA A
VIDA
Patricia De Oliveira Santos 1386 EDUCAÇÃO ESPECIAL X EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Régia Chinelato Da Silva Hitos
1228 A ÊNFASE DA MÚSICA INTRINSECAMENTE
ATRELADA AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS DAS 1395 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
INFÂNCIAS Renata de Carvalho Barra
Patricia Meg Ayres Sousa

1240 DESAFIO DE ALFABETIZAR TODAS AS CRIANÇAS 1404 CONTRIBUIÇÕES DA ARTE CONTEMPORÂNEA DE


ATÉ O TERCEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL FAYGA OSTROWER NO PROCESSO DE ENSINO E
Patrícia Moreira Saraiva APRENDIZAGEM EM ARTES
Renata Manfra Lucena Dias
1256 A EDUCAÇÃO INFANTIL, OS JOGOS E AS
BRINCADEIRAS
Patricia Rodrigues Da Silva
1415 O PAPEL DO ESPAÇO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Renata Maria Souza Costa De Almeida

1266 A INCLUSÃO NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS


PÚBLICAS E SOCIAIS 1423 O BRINCAR COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA
Paula Andrea De Avila Pinheiro O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Renilde Santos Dos Passos

1283 A TRAJETÓRIA DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL: 1436 A PSICOPEDAGOGIA PRESENTE NO ENSINO


TRÁFICO NEGREIRO, REPRESENTAÇÕES DO FUNDAMENTAL I
NEGRO E ABOLICIONISMO Rita Maria Silva Tura
Priscila Almeida Silva

1302 O JOGO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR 1446 EDUCAÇÃO INFANTIL E AS PRÁTICAS DE


Priscila Aparecida Spoli Alberto APRENDIZAGEM EM ARTE E EDUCAÇÃO
Rizolene Coutinho Valença

1310 (DES) EDUCAÇÃO 1456 BULLYING: ASPECTOS TEÓRICOS


Priscilla Konomi Tanaka Roberta Rodrigues Da Silva

1320 A INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM VIRTUAL NA


PRODUÇÃO ESCRITA DO ALUNO EM PROCESSO DE 1469 A PSICOPEDAGOGIA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA
ÁREA HOSPITALAR
ALFABETIZAÇÃO
Rosana Kirilauskas
Priscilla Paula Opusculo Faria

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1478 A CONTRIBUIÇÃO DA LUDOPEDAGOGIA NA 1612 O POTENCIAL DAS COTAS PARA A REDUÇÃO DO


EDUCAÇÃO INFANTIL PRECONCEITO
Rosangela Luísa Dos Santos Silva Valdirene Brito Teixeira Cesar

1487 PSICOPEDAGOGO: SUAS COMPETÊNCIAS E


DESAFIOS NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES 1622 A GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO INCLUSIVO NA
Roseli França Batista Flose Barrem ESCOLA PÚBLICA
Valéria Cristina Primo Graciano
1498 APRENDER BRINCANDO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Rosemeire Urios 1632 A EDUCAÇÃO INFANTIL COMO DESTAQUE NO
DESENVOLVIMENTO HUMANO E SOCIAL DA
CRIANÇA
Vanessa Lucena
1507 BULLING NA ESFERA ESCOLAR: O PAPEL DA
ESCOLA DIANTE DESSE FENÔMENO 1640 AS CONTRIBUIÇÕES DO LÚDICO NO CONTEXTO
Rosiane Araujo Costa Santos ESCOLAR
Vanessa Pita Do Nascimento
1516 AS ARTES VISUAIS COMO INSTRUMENTO
PEDAGÓGICO 1646 INCLUSÃO NAS ESCOLAS PÚBLICAS
Rosimeire Santos De Oliveira Vitória Jesus Faria

1527 A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO AFETIVO ENTRE 1657 O PAPEL DO NEUROPSICOPEDAGOGO


PROFESSOR E CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Daniele Nery Santos Lima
Silvina Maria Da Silva Souza
1665 O JOGO E A BRINCADEIRA COMO FERRAMENTAS
ALIADAS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÂO
1535 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E DA SOCIEDADE Gisele Mukai De Miranda Novais
NO CONTEXTO FAMILIAR E NO CENÁRIO
EDUCACIONAL
Simone Alves Cardoso 1670 REFLEXÃO SOBRE O ENSINO DO PORTUGUÊS
COMO LÍNGUA MATERNA
1548 A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA NA MODERNIDADE Sandra Maria De Oliveira
Solange Garcia
1678 A CONTRIBUIÇÃO DO COORDENADOR
PEDAGÓGICO PARA FORMAÇÃO DO DOCENTE
1556 O DESAFIO DA ALFABETIZAÇÃO EM CONTEXTO DE REFLEXIVO
LETRAMENTO Simone Velho Cotrim Fernandes 
Sonia Maria Pereira

1569 PSICOPEDAGOGIA, ESCOLA E A MODERNIDADE 1686 MELHORIA NA APRENDIZAGEM DO ALUNO


LÍQUIDA DO EJA
Talita Keiko Saito Ono Fernanda Sampaio Gomes

1581 A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO 1694 A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO


INFANTIL DE ENSINO APRENDIZAGEM DOS EDUCANDOS NO
Tânia Cristina Viana Lemos ENSINO INFANTIL
Sueli Aparecida Dias de Santana
1585 JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS COMO
RECURSOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Tania Gonzalez Grande

1592 A IMPORTÂNCIA DO NEUROPSICOPEDAGOGO


PARA O ALUNO COM TRANSTORNO DO ESPECTRO
AUTISTA
Valdinês Rosa De Souza
1603 EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CENÁRIO BRASILEIRO:
CARACTERÍSTICAS E POSSIBILIDADES PARA O
ENSINO E APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS
Valdirene De Almeida Jorge E Sene

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A INCLUSÃO E SEUS DIREITOS


RESUMO: Devemos ter consciência que toda pessoa que possui deficiência é um ser humano
digno e que precisa ser respeitado dentro das suas especificidades. Precisamos fazer valer
todos os direitos das pessoas com deficiência para que não se tornem exclusos da sociedade,
a qual necessita de conhecimentos, muitas vezes específicos, para auxiliá-los no dia a dia.
Necessitamos de campanhas mais atuantes para que a sociedade possa respeitar as pessoas
com deficiência e entender que as quais necessitam de mudanças pontuais em suas vidas
tais como: mudanças arquitetônicas sejam elas em locais públicos, privados e na locomoção.
Ainda há muito para se fazer. Muitos trajetos não são e estão apropriados para o uso de
cadeiras de rodas e o que dificulta tanto a locomoção quanto o uso por parte da pessoa
com deficiência. O acesso a uma vida social, com possibilidade de vivência cultural, está
caminhando a passos largos. As pessoas com deficiência podem e devem frequentar todos
os ambientes se assim os desejar e ter contato com a vida, além dos muros da escola e de sua
própria residência. Os direitos conquistados devem ser exercidos, respeitados e informados
para toda a sociedade para que possamos viver em harmonia e em uma sociedade plena e
justa onde o conhecimento sobre as diferenças sejam do alcance de todos. O respeito às
pessoas com deficiência deve ser ensinado não só nas escolas, mas também nas famílias
onde há ou não pessoas com deficiência. Ser solidário, ajudar quando necessário é uma
forma de profundo respeito.

Palavras-chave: Inclusão; Deficiências; Direitos; Conhecimento; Informação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O QUE É DEFICIÊNCIA? deficiência que existem e suas respectivas


informações para que possamos entender,
Este artigo visa o entendimento e compreender e fazer o que for necessário
compreensão sobre os tipos de deficiência e para garantir uma vida com qualidade para
o que pode ser realizado para uma vida justa as pessoas com deficiência.
em sociedade.
São apresentados sete tipos de deficiência:
Entendemos a deficiência como ausência Física, visual, auditiva, intelectual, múltipla,
ou insuficiência de algum órgão ou também, mobilidade reduzida e surdo-cegueira.
de outro ponto de vista, como insuficiência
de uma função psíquica ou intelectual. Deficiência Física – é quando há a
alteração total ou parcial de um ou mais
Claramente podemos compreender que membros do corpo humano e acarreta em
a deficiência é qualquer tipo de perda ou um comprometimento da função física.
anormalidade que prejudique, diferencie e A apresentação dessa deficiência se dá
que limite as funções físicas, intelectuais e sob a forma de paraplegia, monoplegia,
sensoriais de uma pessoa. tetraplegia, hemiplegia, ostomia, amputação,
deformidades físicas, ausência de membros,
A deficiência está relacionada com paralisias, nanismo, dentre outras formas,
a disfunção das funções psicológicas, que afetam e interfere na locomoção e
fisiológicas ou anatômica do ser humano e ela coordenação do aparelho/ sistema motor,
não precisa ser necessariamente apresentada na linguagem oral, no desenvolvimento e
na gestação ou logo após o nascimento. Um desempenho de atividades.
acidente sofrido, por exemplo, pode levar a
perdas de membros e/ou causar limitações, Deficiência Visual – caracterizada pela
o que ocasiona uma deficiência em áreas perda total e também chamada de cegueira,
antes perfeitas. ou parcial que apresenta uma visão reduzida
em ambos os olhos. A cegueira é entendida
Em todas as situações vividas pelas e compreendida como a perda total, ou
pessoas com deficiência se faz necessário a existência de um mínimo resíduo que
haver respeito e compreensão de toda a visão, que faz com que a pessoa necessite
sociedade. de recursos específicos para o seu
desenvolvimento pessoal e também para sua
inclusão social.
OS TIPOS DE DEFICIÊNCIA
As pessoas cegas, ou seja, as que
Quando falamos em deficiência se faz possuem a perda total da visão necessitam
necessário que sejam elencados os tipos de de equipamentos e apoios para que sua

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Revista Educar FCE - Abril 2019

inclusão seja efetiva. São considerados Deficiência auditiva – mais conhecida


apoios para a pessoa cega o sistema Braile como surdez, consiste na perda parcial ou
que é utilizado na leitura e escrita, a bengala total da audição, ou seja, da capacidade de
utilizada para locomoção e o cão-guia que ouvir, isto é, uma pessoa que apresenta um
trabalha na orientação e mobilidade, dentre problema auditivo é considerada deficiente
outros recursos e apoios. auditivo. Só é considerada surda a pessoa em
que a audição não é considerada funcional
Podemos dizer que há pessoas com no dia a dia e só é considerada parcialmente
visão subnormal, neste caso há resíduo surda a pessoa em que a capacidade de ouvir,
visual que possibilita a visualização das mesmo que de forma deficiente é funcional
escritas e objetos de uma forma ampliada, com ou sem o uso de prótese auditiva.
podendo fazer uso ou não de equipamentos
específicos. A pessoa com visão subnormal Na deficiência auditiva há uma variação
pode ou não fazer uso de apoios e isso irá de graus e níveis de surdez. São elas:
depender do caso apresentado.
• De 25 a 40 decibéis – surdez leve
Deficiência Múltipla - é quando há a • De 41 a 55 decibéis – surdez moderada
associação de duas ou mais deficiências • De 56 a 70 decibéis – surdez acentuada
em uma pessoa. Podemos pensar em uma • De 71 a 90 decibéis – surdez severa
pessoa que possui deficiência física, visual e • Acima de 91 decibéis - surdez profunda
intelectual. Neste caso o cuidado, atenção e
acompanhamento devem ser pontuais. Surdo-Cego – A surdocegueira é a
associação de duas deficiências, a surdez e a
Deficiência Intelectual - é quando o cegueira, é não deve ser compreendida com
funcionamento intelectual se apresenta a somatória de ambas, mas de uma única
significativamente inferior è media deficiência, a qual possui características
comum apresentada, e há limitações peculiares que apresenta grandes perdas
que se associam a duas ou mais áreas de auditiva e visual, fazendo com que as possui
habilidades adaptativas, como podemos a ter formas específicas de linguagem e
ver na comunicação; no cuidado pessoal; comunicação para poder participar, vivenciar
nas habilidades sociais; nas utilizações e ter acesso à educação, lazer, trabalho e
de recursos da comunidade; na saúde e a uma vida social sem prejuízos de seus
segurança; nas habilidades acadêmicas e nas direitos.
atividades de lazer e trabalho que acabam
por necessitar de modificações nos métodos Há a classificação em que as pessoas
e estratégias apresentadas. com surdocegueira podem receber, a pré-
linguísticas e pós-linguísticas.

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Quando falamos no surdo cego pré- COMO NOS RELACIONAMOS


linguístico nos referimos àquele que nasce COM AS PESSOAS COM
surdocego ou que, possivelmente, adquire
a surdocegueira ainda na fase de bebê. Já DEFICIÊNCIA
o surdocego pós-linguístico é a pessoa que Muitas vezes nos indagamos sobre como
apresenta uma deficiência que é sensorial, deve ser a nossa relação com as pessoas com
neste caso a auditiva ou a visual, e que pode deficiência. Essa relação precisa ser a mais
adquirir a outra com o passar do tempo natural possível e engajada nos conceitos
quando dizemos na aquisição de uma língua, e atitudes de respeito, solidariedade e
que pode ser a portuguesa ou a língua tolerância.
brasileira de sinais, ou seja, libras.
Quando nos deparamos com pessoas que
Mobilidade reduzida – Compreende a possuem alguma deficiência, seja ela, física
dificuldade, seja ela, permanente ou não para ou não precisamos saber como tratá-los sem
movimentar-se e que desencadeia algumas deixá-los constrangidos, fazendo com que
reduções na mobilidade, na flexibilidade e eles se sintam cidadãos respeitados em uma
coordenação motora. As percepções também sociedade inclusiva.
entram nas características da mobilidade
reduzida. Estar despreparado para essa relação
é parte de uma sociedade sem preparo
Neste conceito não são só algumas informativo e respeito às deficiências e
pessoas em específico que se enquadram, diferenças.
mas também pessoas idosas, gestantes,
lactantes, pessoas com crianças no colo e Algumas informações se fazem necessárias
pessoas obesas. para que a pessoa com deficiência se
sinta acolhida por uma sociedade justa,
O importante é ter consciência para compreensiva, tolerante e respeitosa.
que estas pessoas tenham seus direitos
assegurados, respeitados e que não sofram Pessoas com deficiência física – Quando
com a falta de informação e compaixão de se usa uma cadeira de rodas, é muito
algumas pessoas. importante compreender e saber que para a
pessoa que se encontra nessa posição há um
incômodo muito grande ficar olhando para
por muito tempo, portanto, se a conversa
se prolongar por mais tempo do que alguns
minutos é melhor sentar-se para que você e
a pessoa fitem os olhos no mesmo nível.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A cadeira de rodas, as bengalas e muletas faz parte do espaço corporal da pessoa, ou seja,
torna-se quase que uma extensão de seu corpo. Não se deve agarrar ou apoiar-se na cadeira,
pois se tem a sensação de estar faltando com respeito. Não é aconselhável movimentar a
cadeira de rodas sem antes pedir permissão para fazê-la.

Pessoas surdas – Não é respeitoso dizer que uma pessoa é surda-muda. A maioria das
pessoas surdas não fala porque não aprenderam a falar e muitas fazem a leitura labial, o que
se faz necessário falar com calma para que possam compreender.

Para conversar com uma pessoa surda é correto acenar ou tocar em braço levemente, mas
isso só acontece que ela não estiver prestando atenção em você. Não há a necessidade de
gritar, pois a pessoa surda lerá os lábios e não estará escrutando os sons. É importante falar
de frente e não de lado ou de costas.

Pessoas cegas ou com alguma deficiência visual – É sempre bom saber que nem sempre
as pessoas cegas ou com deficiência visual necessitam de ajuda, mas se caso encontrarmos
alguma pessoa que parece estar com dificuldades é bom se identificar para que ela perceba
que você está falando com ela e oferecer auxílio. Não é conveniente ajudar sem antes
perguntar. Se a ajuda for aceita é necessário colocar a mão da pessoa em nosso cotovelo
dobrado, porque dessa maneira ela vai acompanhando o movimento do nosso corpo enquanto
estamos caminhando. É bom avisar com antecedência quando há degraus, buracos, pisos
escorregadios e algum outro obstáculo durante o trajeto.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Precisamos compreender que uma pessoa com deficiência
tem capacidades, dentro de seus limites, e que não podem
ser excluídos do convívio social, escolar e profissional.

Devemos fazer o valer à inclusão como algo importante


é necessário para o desenvolvimento da pessoa que possui
deficiência.

A inclusão não pode ser vista apenas como nome, ela deve
ser compreendida, ser ensinada, vivida, realizada e praticada.
ADRIANE LUZIA
Encontramos em nossas vidas pessoas com deficiência e MARTUCCI LIBERATTI
muitas vezes nos indagamos em como auxiliá-las. É claro que Graduação em Pedagogia pela
cada pessoa com deficiência possui suas especificidades, Universidade de Mogi das
mas ao ajudar essa ajuda não pode estar sendo associada Cruzes (1991) Especialista em
Psicopedagogia pela Universidade
ou confundida com dó, menosprezo, desprezo e indiferença. Castelo Branco (2005), Especialista
Precisa ser compreendida no sentido de inclusão, de em Direito Educacional pela
capacidade, de vida, de realização e superação. Faculdade de Aldeia de Carapicuíba
(2015), Especialista em Educação
Especial em Deficiência Intelectual
pela Faculdade Campos Elíseos
(2018), Professora de Educação
Infantil e Ensino Fundamental I
na EMEF Professora Célia Regina
Andery Braga na prefeitura de São
Paulo/SP e Professor Adjunto I,
prefeitura municipal de Ferraz de
Vasconcelos/SP.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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PAULA, Jairo. Inclusão: mais que um desafio escolar, um desafio social. 2ª Ed. São Paulo. Ed.
Jairo de Paula, 2006.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

UM OLHAR INTEGRADOR NA
ALFABETIZAÇÃO DE AUTISTAS
RESUMO: É sabido queo papel institucional que a escola carrega diante da sociedade é a de
socialização entre os alunos e entre toda a comunidade escolar, ou seja, a função social de
escola reside na sua importância como fonte de integração do ambiente escolar para com
as crianças. As crianças com síndrome de autismo – Transtorno do Espectro Autista (TEA) –
merecem uma maior atenção no que toca a escolarização e ao ambiente escolar. O autismo
afeta, dentro outros, os mecanismos de interação socialdo indivíduo e aguça a introspecção
e reações antissociais. Todavia, tanto a escola, como os professores devem comungar dos
mesmos objetivos para atingir esse intento, qual seja: a efetiva socialização da criança com
TEA entre os demais integrantes do grupo escolar. Porém, escusado é lembrar que, toda a
comunidade escolar, e nisso integra-se os pais, de uma forma em geral, deve proporcionar
um ambiente escolar que possa ser inclusivo, onde a criança autista se permita fazer parte
de um grupo e a encarrar a escola como um ambiente familiar. Proporcionar a inclusão
educacional, pode facilitar, de certa forma, o processo de letramento e alfabetização da
criança com Transtorno do espectro Autista e fazer cair por terra velhas práticas pedagógicas
e atitudes de desrespeitos muito comuns em algumas escolas brasileiras.

Palavras-chave: autismo, alfabetização, letramento e inclusão

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INTRODUÇÃO e ao ambiente escolar, de qualidade e que


respeite suas limitações.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou
autismo, como é mais conhecido, é considerado Esse direito foi ainda mais assegurado,
um transtorno de origem neurobiológica e se segundo Caroline Oliveira (2015), quando
manifesta, geralmente, no desenvolvimento em dezembro de 2012, a Lei n° 12.764, a
da primeira infância. O TEA é caracterizado chamada Lei de PolíticaNacional de Proteção
por um desenvolvimento deficitário, dos Direitos da Pessoa com Transtorno do
visivelmente anormal, na interação social e Espectro Autista garantiu à criança com
na comunicação (MOREIRA, 2019). Segundo TEA de frequentar, regularmente a escola
o Manual de Diagnóstico e Estatística de básica, ainda solicitar acompanhamento
Transtornos Mentais, o autismo, além do no ambiente escolar, caso seja necessário.
déficit na interação social, requer a presença Ainda, de acordo com a autora, o Estado de
de padrões de comportamentos repetitivos, São Paulo deve arcar, obrigado por lei, com
interesses ou atividades. a educação e tratamentos médicos de toda
pessoa com autismo que solicitar auxilio
O Transtorno do Espectro Autistaé o estatal (OLIVEIRA, 2015).
nome dado para um grupo de deficiência no
desenvolvimento do ser e inclui uma vasta Diante disso, durante o processo de
gama de “espectro” de sintomas, níveis de alfabetização da criança com TEA deve ser
deficiências e habilidades. Por isso, cada levado em consideração a especificidade
criança autista se apresenta como sendo e particularidade de cada uma. Porém, de
única, ou seja, não existem dois autista iguais, acordo com Marília da Silva Araújo (2015), a
cada um tem a sua particularidade, pode-se falta de preparo dos professores, somado à
ter com grau de transtorno e habilidades dificuldade enfrentada por algumas escolas
diferentes (PFEIFFER, 2018). que não proporcionam a inclusão,têm
dificultado a efetiva inclusão dos alunos com
De acordo com a Constituição Federal autismo no processo educacional.
promulgada no ano de 1988, todos têm
direito à educação, pois em seu Art. 205 ela Ademais, salienta Boralli (2003), a falta
explicita que além de ser um direito reservado de ações positivas dos governos e das
a todos, o Estado deve garantir esse direito, instituições públicas em relação às crianças
bem como a família e a sociedade. Segundo com autismo é um forte agravante para as
ainda o texto Legal, todos devem ser dificuldades enfrentadas pelos educadores
tratados de forma igual, sem distinção de e pela comunidade escolar. Dessa forma,
qualquer natureza. Dessa forma, à criança o amparo às crianças e seus familiares
que apresenta um quadro de autismo não lhe fica a cargo, muitas vezes, de associações
deve ser negligenciado o direito à educação especializadas. Essa é uma postura, critica o

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autor, de países de terceiro mundo, em que o a escola exclui e segrega o aluno com quadro
assistencialismo dá lugar a políticas públicas de autismo.
de inclusão.
Debruçar-se sobre o tema da
Porém, postula Santos (2008), que devido alfabetização de crianças com autismo é
aos altos custos gerados por entidades o intuito desse trabalho. Por meio de uma
particulares para inclusão da pessoa com revisão bibliográfica procurou-se elencar as
autismo, que em muitos casos fica inviabilizado dificuldades enfrentadas pela comunidade
o acesso de uma maior parcela de crianças escolar, pelos pais e principalmente pelos
ao direito Constitucional de alfabetização. alunos que apresentam um quadro de autismo
Uma vez que o apoio familiar prestados no que tange aos princípios básicos da
por essas associações se faz necessário alfabetização e aos Direitos Constitucionais
e para tanto, formação e treinamento de à todos garantidos.
profissionais capacitados para essa tarefa é
de fundamental importância nesse processo,
porém bastante oneroso (SANTOS, 2008). O AUTISMO
Por outro lado, a escola, ao recebe O TEA – Transtorno Espectro do Autismo
um aluno autista, deveria estar ciente -, pode ser classificado em três graus: leve,
que está se comprometendo com uma moderado ou severo, pois essa variação
criança que se apresenta com dificuldades depende do quão é a necessidade de apoio
de relacionamento social, interação de outras pessoas para realização de suas
comunicativa, falta de concentração ou necessidades básicas. No entanto, a pessoa
seguir regras sociais. No entanto, em muitos com autismo não apresenta, fisicamente, um
casos o ambiente escolar se torna um local aspecto diferenciado de outras pessoas. Pode-
opressor, onde os alunos autistas serão se perceber o grau de autismo observando
forçados a se enquadrar em padrão pré- seu comportamento. O isolamento social e
estabelecidos e sua recusa será encarada repetitividade são algumas características da
como desrespeito, falta de motivação ou até pessoa com autismo.
mesmo preguiça (Ibidem).
Por ser a escola o primeiro local de interação Escusado é lembrar que o autismo não se
social da criança, longe de seio familiar, manifesta como uma doença, no entanto, ele
ela tem por obrigação procurar acolher, de não tem cura, dessa forma acompanhará a
forma proporcional, todos as crianças, mas pessoa perenemente. Porém, quanto mais
a falta de preparo de alguns profissionais da cedo for detectado sua presença na criança,
área, conjuntamente com a falta de interesse melhor será o desenvolvimento dessa
da classe política faz com que, ao invés de criança.
incluir para um efetivo processo educacional,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O termo autismo é uma palavra que vem Escusado é lembrar que o autismo não
do grego, autás, e quer dizer “em si mesmo”, é considerado uma doença, pois sim, uma
e foi empregado pela primeira vez no ano de síndrome que acomete o cérebro e está
1911, pelo médico psiquiatra suíço, Eugene presente desde a infância do ser, e ele
Bleuler.Bleuler afirmou que os indivíduos se manifesta em qualquer que seja sua
com autismo sofriam com a ausência da classe social ou seu grupo étnico-racial
realidade, pois penetravam em seu mundo (MERCADANTE; ROSÁRIO, 2009).
particular, ignorando o seu redor. “O autista
mergulharia no seu interior, em sua própria e Já, no ano de 1976, uma nova percepção
fecunda imaginação” (BARBOSA 2013 apud em relação ao autismo estava surgindo com
RODRIGUES; SPENCER, 2010). o pesquisador E. R. Ritvo, que relacionou
o autismo a uma deficiência cognitiva, ou
De acordo com Priscila Barbosa (2013), seja, não mais como uma psicose infantil
o médico psiquiatra austríaco Léo Kanner ou quadros psicológicos ou distúrbio de
é considera pioneiro no que se refere à desenvolvimento, como era visto até
observação de crianças que apresentavam então, mas como uma deficiência do
comportamentos fora do normal. É também, Sistema Nervoso Central (ASSUMPÇÃO JR;
segunda a autora, o primeiro estudioso do PIMENTEL, 2000).
assunto a lançar publicações sobre seus
estudos em uma obra intitulada Distúrbios A partir daí não se tem dúvida, entre os
autísticos do contato afetivo. Em um de seus pesquisadores do TEA, acerca dos fatores
relatos lê-se: “Tais crianças estavam sempre neurológicos causadores da síndrome, no
distanciadas das outras e pareciam manter entanto, apesar dessa substancial evidência,
uma relação não funcional com os objetos, os mecanismos etiológicos não têm
inclusive brinquedos” (BARBOSA, 2013 especificamente sido identificados. Apesar
apud SUPLINO, 2009,). de muitos anos de estudos, o autismo ainda
não tem compreendida a sua patogênese
No ano de 1940, Kanner denominou de de confirmação de seu diagnóstico. Tem,
“autismo infantil precoce”, definindo-a de no entanto, o autismo como definição
síndrome e observou outras características as descrições de comportamentos
comuns nas crianças, quais sejam, “sérias caracterizados como anormais (Ibidem).
dificuldades de contato com as pessoas; ideia
fixa em manter os objetos e as situações sem
variá-los; fisionomia inteligente; alterações AUTISMO NO BRASIL
na linguagem do tipo inversão pronominal,
neologismos e metáforas”(BARBOSA, 2013 No caso brasileiro, o autismo foi tratado de
apud RODRIGUES; SPENCER, 2010). forma tardia por entidades governamentais,
no que tange ao acolhimento e ao auxílio,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

tanto à pessoa com quadro de autismo Areferida lei foi de fundamental importância,
quanto a seus familiares. Restava, até os por representar um marco histórico na luta a
anos iniciais de século XXI, para a parcela favor dos direitos dos autistas no Brasil, e foi
da população brasileira que estava direta recebida com aplausos por grupos ativistas
ou indiretamente em contato como o TEA o que lutas a favor dos autistas. A inclusão
auxílio das instituições não governamentais dos autistas como tendo os mesmos direitos
(FELDMAN; LIMA, 2017). que as pessoas com deficiência possibilita
o acesso a direitos já previstos legalmente
De acordo com Paiva Junior (2019), o Brasil para pessoas com deficiência no Brasil, como
não tem um estudo quantificativo no que se benefícios financeiros, ingresso ao mercado
toca ao número de pessoas com autismo, ou de trabalho, garantia à educação em escolas
seja, “o Brasil não tem estudos de prevalência regulares, dentre outros. Ademais, garante
de autismo. Não temos números oficiais”. aos autistas atendimentos em serviço de
Segundo ainda com o autor, nem mesmo o saúde especializada. (OLIVEIRA; FELDMAN;
IBGE tem um estudo estatístico de autismo COUTO; LIMA, 2017).
no Brasil.
No ano de 2013 foi lançado, pelo Ministério
Um estudo que prima pela estimativa da Saúde dois documentos que vão a favor
acerca do número de pessoas com autismo dos direitos da população brasileira com
no Brasil pode acarretar maior investimento, autismo. Os referidos documentos tinham
por parte do governo, em políticas públicas. por finalidade orientar o SUS no que tange
Dessa forma, tem-se a ideia de quem são e aos tratamentos das pessoas com TEA
onde residem os autistas brasileiros, para, (Ibidem).
assim, ter um maior direcionamento tanto
do governo federal quanto do governo local
para auxiliar a pessoa autista e seus familiares EDUAÇÃO E O AUTISMO
(PAIVA JUNIOR, 2019).
Na área da educação, segundo a senadora
Porém, no dia 27 de dezembro do ano de Mara Gabrilli – PSDB em entrevista ao
2012, foi dado um passo importante no que Estadão, no dia 01 de abril de 2019, as
toca os direitos da pessoa com autismo. Foi crianças com autismo são, em muitos casos,
sancionada a Lei nº 12.764, que “Institui a Política têm sua matrícula negada pelas escolas, e
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoacom quando são aceitas a comunidade escolar
Transtorno do Espectro Autista” (BRASIL, 2012). faz prática de uma “falsa inclusão”. Quer
Essa Lei reconheceu a pessoa com TEA como dizer que o aluno autista é tratado como
sendo uma “pessoa com deficiência para todos sendo um aluno não diferenciado dos
os efeitos legais”, por meio do texto explicitado demais, em relação aos métodos de ensino-
em seu parágrafo segundo. aprendizagem. A falta de ferramentas tanto

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Revista Educar FCE - Abril 2019

da escola em sala de aula como pedagógicas O autor ainda lembra que, no ano de
por parte do professor é uma deficiência 2007, o Ministério da Educação e Cultura
apontada pela senadora. Gabrilli foi relatora e a Secretaria de Educação Especial (MEC/
do projeto de lei (Lei. 1361/01) que previa SEESP) produziu um documento com a
o reconhecimento da pessoa com autismo à finalidade de disciplinar a inclusão de alunos
condição análoga à pessoa com deficiência, com Transtornos Globais do Desenvolvimento
para fins legais. A referida lei criou uma nas escolas regulares. No entanto, esse
Política Nacional de Proteção dos Direitos da processo inclusivo deve ser garantido pela
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista escola, porém, pais e professores devem
(GABRILLI, 2019). garantir uma efetiva inclusão do aluno na
comunidade escolar. (Ibidem)
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência, sancionada no ano de 2015,
tipifica como crime (multa mais reclusão de LETRAMENTO,
2 – 5 anos) a discriminação, maus tratos de ALFABETIZAÇÃO E AUTISMO
qualquer natureza, a recusa o cancelamento
da matrícula escolar ou, ainda, cobre valor Ischkanian ensina que letramento e
adicional da pessoa com deficiência, seja a alfabetização têm diferenças quanto aos
instituição de ensino pública ou privada. seus efeitos práticos. Enquanto alfabetização
Essa mesma postura é aplicada à pessoa com é um processo pedagógico tradicional,
autismo no território nacional. em que a escola se preocupa em ensinar a
criança os princípios básicos do alfabeto,
De acordo com Schmidt (2016) o processo ou seja, o ensinar a ler e a escrever sendo
de inclusão de alunos síndrome do autismo uma prioridade da escola que pensa o
trás benefícios não somente para a criança alfabetizar. Considera-se, aqui, a escrita da
autista ou para seus familiares, mas sim, língua portuguesa, basicamente, enquanto
defendo o autor, para toda a comunidade representação gráfica. Por outro lado,
escolar. Segundo ele, defende a autora, o letramento cuida de ser
“uma nova perspectiva sobre a prática social
a inclusão, a educação de alunos com da escrita” (ISCHKANIAN, s/d).
autismo, assim como oreconhecimento dos
infinitos matizes e gradientes pelas quais
estas características seapresentam ao longo Kleiman(1995) define letramento como
do espectro, se constitui como um desafio sendo um conjunto de práticas sociais, as
para todos osenvolvidos. Acredita-se que o
processo inclusivo possa gerar benefícios a quais se usam a escrita como sendo um
todos osenvolvidos, e não somente àqueles sistema simbólico, em contextos específicos
incluídos. Por exemplo, alguns estudos mostram e para objetivos específicos. Portanto,
quea inclusão de alunos com autismo no ensino
regular pode ampliar os conhecimentos eformas conclui a autora, nem todos os adultos
de ensinar a aprender entre os envolvidos alfabetizados são de fato letrados, pelo fato
(SCHMIDT, 2016).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de o processo de alfabetização se aplica às que os professores, também especializados,


praticas de leitura diária, sem, no entanto, possam obter maior êxito no processo de
aplica-las a situações específicas (KLEIMAN, inclusão dos alunos com autismo. Defende
1995). ainda as autoras que o professor, ou os
grupos de professores não necessariamente
No que toca às crianças com autismo, precisam, trabalhar em apenas uma escola,
salienta Bastos (2018), uma das maiores podendo deslocar-se para outras unidades
dificuldades gira entorno da falta de educacionais quando assim precisarem. O
socialização apresentada pelas crianças com importante, reiteram elas, é que o educador
TEA. A escola tendo um papel fundamental tenho especialização no processo de ensino-
no processo de socialização da criança, no aprendizado com as crianças com síndrome
que tange ao autismo, o ambiente escolar de TEA. Ou seja, esse professor tenha
é de fundamental importância. Segundo habilidades em com atividades de integração
a autora, a escola tem a possibilidade de social, estratégias e métodos de trabalho
oferecer à criança com autismo um “lugar de que visem uma efetiva integração da criança
pertencimento”, pois, no ambiente escolar (MORAIS; DOS ANJOS,
2017).
Com a inclusão, aposta-se no poder das
diferentes produções discursivas postas em
circulação no interior do campo escolar, a fim De outra forma, Martins, Machado e
de delinear, assegurar e sustentar um lugar para Acosta (2016), postulam que o papel da
essas crianças – aluno/criança –, uma vez que família no diante das crianças com síndrome
uma designação de lugar social é especialmente
importante para as crianças que enfrentam de autismo pode ser determinante no
dificuldades estruturais no estabelecimento do processo de ambientação escolar. A falta
laço social, como o caso de crianças com TEA. de credibilidade por parte de alguns pais
(BASTOS, 2018).
faz com que estes, muitas vezes, sejam
negligentes com seus filhos e deixam de
Por outro lado, salienta a autora, o desafio lado alguns ensinamentos básicos que
para a instituição de ensino reside no fato podem potencializar o desenvolvimento das
de que a inclusão das crianças com autismo crianças, o autocuidado e a independência.
requer um processo de transformação
do ambiente escolar. Ademais, os modus Por outro,defende Bastos (2018), para a
operandi dos professores devem ser criança com autismo o estar na escola cumpre
reavaliados, fugindo de uma perspectiva duas funções básicas de valor terapêuticas,
pedagógica hegemônica (BASTOS, 2018). uma no âmbito educacional pois promove a
circulação e o laço social e outra no âmbito da
Para que seja garantida a inclusão, Morais escolarização, pois promove para a criança,
e Dos Anjos (2017) salientam que deve dessa forma, uma autonomia de sua posição
haver salas de aulas especializadas a fim de em relação ao simbólico.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
À criança com síndrome de autismo deve-se ter um
maior cuidado quando se é referido ao processo social de
educação. No Brasil, os autistas estão com seus direitos
amparados legalmente. A lei de n° 12.764 do ano de 2012, a
chamada Lei de Política Nacional de Proteção da Pessoa com
Transtorno do Espectro Autista. A partir dessa lei, a garantiu
da frequência escolar por parte das crianças com autismo
pode ser efetivada, além de possibilitar acompanhamento
especializado, caso haja necessidade por conta do aluno.

Faz-se importante lembrar que cada quadro de autismo ADRILENE BRAGA TIBA
se diferencia uns dos outros, não havendo, desse modo, um
Especialista em neurociências
processo generalista quando se refere ao seu tratamento. pela Faculdade Campos Elíseos
Logo, na escola, com as crianças autistas devem ser evitados (2018); Psicóloga, Psicopedagoga
os métodos generalistas de educação. Ademais, o ambiente e Professor de Educação Infantil
e Ensino fundamental I na EMEF
escolar deve ser um local de integração para as crianças Rodrigo Mello Franco de Andrade
com TEA, de forma que em uma ação conjunto com escola,
professores, comunidade escolar e os próprios pais devam
de responsabilizar por construir um ambiente integrador.

Por outro lado, a inclusão tende a passar por algumas barreiras, dentre elas estão a falta
de profissionais qualificados para o ensino-aprendizagem, a falta de recurso financeiros para
proporcionar um ambiente educacional inclusivo, a falta de informações e discussão com a
comunidade escolar para uma maior aceitação e quebra de preconceitos frente às crianças
com síndrome de TEA e o isolamento e abandono por parte do governo ás crianças autistas
e seus familiares, que são amparados, em muitos casos por organização particulares e de
solidariedade.

Portanto, pode perceber por meio deste que as discussões acerca do autismo,
principalmente no Brasil, são de estrema importância, porém seus estudos e suas formas de
amparo governamental estão ainda engatinhando. Avanços na legislação podem proporcionar
maior visibilidade para as pessoas com autismo, trazendo à tona discussões sobre o tema.
Diante disso, seu resultado prático pode ter reflexo no processo educacional das crianças
com síndrome de autismo e a escolarização como sendo um ponto fulcral desse debate.
Permitindo, assim, quebra de estereótipos e preconceitos e um amento da responsabilidade
social para com a comunidade de autistas no Brasil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR


COMBATENDO O SEDENTARISMO
RESUMO: Ao observar o aumento nos números de casos de crianças e adolescentes sedentários no país,
consideramos a importância de encontrar soluções para reduzir os casos de sedentarismo. Esses casos estão
diretamente ligados a fatores que incentivam a adoção dos hábitos sedentários, como a falta de espaços
públicos para as atividades físicas, a violência e o uso abusivo de aparelhos eletrônicos. A implantação de
programas de promoção à saúde na escola busca a conscientização dos educandos para adotarem um estilo
de vida ativo acompanhado por uma alimentação adequada e a prática de atividade física regular, a adoção de
hábitos saudáveis além de proporcionarem o bem-estar físico, mental, social e emocional, também minimiza o
aparecimento de doenças crônicas na idade adulta.O professor de Educação Física é responsável por elaborar
situações problemas para despertar em seus alunos a formação de respostas e soluções, o aluno e o professor
participam ativamente do processo de aprendizagem, proporcionando assim um maior entendimento sobre o
problema vivido pelo país. O projeto deve ser incluído no ambiente escolar, e deve contar com a participação
de todos os professores e colaboradores da escola, objetivando no sucesso do projeto que é conscientizar os
alunos sobre os benefícios da atividade física e da adoção dos hábitos saudáveis.Para que esse objetivo seja
alcançado é indispensável que haja um profissional comprometido e interessado em ajudar a mudar esse quadro
que preocupa cada vez mais o país e o mundo. Um profissional diferenciado é sempre bem-vindo e um trabalho
bem elaborado é capaz não só de beneficiar os alunos e colaboradores do ambiente escolar, mas também
uma sociedade e isso é sempre importante. Buscar interagir a escola com a sociedade, afinal a melhoria ocorre
através de um conjunto, onde ambas as partes participam ativamente do processo de transformação.Com o
aparecimento de doenças crônicas em idades cada vez mais precoces, consideramos a importância em incluir
esse projeto no ambiente escolar, promovendo a atividade física e conscientizando seus alunos sobre a prática
da mesma, ao adotar hábitos saudáveis na infância a probabilidade de que essas crianças e adolescentes levem
esse estilo de vida também para sua idade adulta.Enfim, o objetivo principal a ser alcançado é a conscientização
dos educandos sobre os benefícios de se tornar um indivíduo fisicamente ativo, com hábitos saudáveis e com a
ingestão de alimentos saudáveis. Proporcionando a qualidade de vida na infância a na idade adulta.

Palavras-chave: Sedentarismo; Conscientização; Atividade Física; Qualidade de Vida;

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO de alimentos altamente calóricos, sem que


haja gastos para o consumo exagerado
A alimentação inadequada e o dessas calorias.
sedentarismo estão se tornando cada vez
mais presentes no cotidiano de crianças A principal forma para combater esses
e adolescentes, esses hábitos sedentários hábitos inadequados é focalizar no objetivo
estão aumentando absurdamente os casos da saúde para que esses indivíduos
de doenças crônicas, sendo os principais conheçam a importância da atividade física
fatores de risco a diabetes, hipertensão, para beneficiar a qualidade de vida.
elevação dos níveis de colesterol, tendência
a coagulação e obesidade. O professor de Educação Física que
possui conhecimento desses riscos e das
Segundo dados da OMS (2004), a formas para combatê-los é responsável pela
epidemia de obesidade vem crescendo conscientização dos seus alunos, realizando
significadamente ao longo dos anos e os uma reflexão sobre a necessidade de uma
resultados são realmente preocupantes vida ativa para se tornar um adulto saudável.
e divulgam que 30,3% de crianças e E para que esses alunos adotem esse
adolescentes têm excesso de peso e 15,3% costume saudável, passando também para
são consideradas obesas, a probabilidade é seus familiares e amigos buscando atingir o
que desses casos 79% mantenham o excesso objetivo geral de uma população consciente
de peso ao atingirem a idade adulta. dos benefícios da atividade física para a
transformação de uma sociedade saudável.
Essas doenças crônicas degenerativas são
uma das principais causas de mortalidade Diante de resultados alarmantes sobre
e limitações das capacidades físicas pelo o sedentarismo de crianças e adolescentes
desenvolvimento de placas de ateroma em idade escolar, consideramos a
causando estreitamento das paredes dos importância de planejar aulas com ênfase
vasos sanguíneos e prejudicando as funções nas capacidades físicas informando sobre
dos órgãos vitais, podendo resultar em seus benefícios dessas práticas para a saúde
infarto do miocárdio ou isquemia. proporcionando conhecimentos e bem estar,
realizando projetos através das dimensões
A falta de atividade física e a má dos conteúdos conceituais, procedimentais
alimentação estão consequentemente e atitudinais para assim alcançarem os
ligadas à forma com que essas crianças e objetivos propostos nas aulas, objetivando
adolescentes dispõem das suas horas de na conscientização dos educandos para uma
lazer usufruindo do uso abusivo de vídeo vida saudável.
games, computadores, celulares e televisão
resultando também na indução de ingestão

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O propósito desse estudo foi apresentar o que a criança com hábitos ativos se torne um
sedentarismo e suas consequências à saúde e adulto ativo, minimizando a incidência de
verificar como o professor de Educação Física várias doenças (NAHAS, 1998).
pode auxiliar no combate dessa epidemia,
através da conscientização dos alunos sobre O professor de Educação Física é
a necessidade de fazer atividade física para o responsável por orientar, incentivar e
benefício da qualidade de vida. conscientizar seus alunos sobre os benefícios
da prática da atividade física, mas para que
o seu objetivo seja satisfatório é importante
SEDENTARISMO NA ESCOLA que os alunos possam usufruir de suas aulas
em locais adequados, com vestimentas
Segundo Nahas (1998), com o avanço corretas e associados a esses fatores é
da tecnologia, o aumento da violência e importante que haja uma alimentação
a falta de espaços públicos para a prática equilibrada (ALVES, 2007).
corporal, reduziram as oportunidades de
lazer favorecendo os hábitos sedentários, o A escola não é um ambiente para que
número de crianças e adolescentes em idade se realize a prática de atividade física
escolares sedentárias e consequentemente regularmente, e as aulas de Educação Física
obesas, vem aumentando consideravelmente não são propostas com o objetivo de beneficiar
a cada ano, com objetivo de encontrar um a saúde dos educandos. Afinal as duas aulas
caminho contra esse mal destacamos o papel semanais não atendem aos objetivos para
da escola como meio para combater o avanço tornar o indivíduo fisicamente ativo. Os
dessa epidemia da era moderna e encontrar conteúdos propostos nas aulas de Educação
nela formas para lutar contra o sedentarismo, Física devem objetivar na conscientização
e apontar a importância do professor de dos alunos sobre os benefícios da atividade
Educação Física para conscientização dos física e em informar os indivíduos sobre os
alunos para que criem esse hábito saudável malefícios de um estilo de vida sedentário.
com a prática da atividade física.
A escola é o local onde existe uma
Um estilo de vida ativo em nível de atividade disciplina onde é obrigatória a prática da
física que é caracterizada como qualquer atividade física e são nessas aulas que
movimento como resultado de contração professor deve conscientizar incentivar e
muscular esquelética que aumente o gasto divulgar os benefícios da atividade física,
energético acima do repouso, em crianças para que seus alunos adotem esse hábito
e adolescentes contribui para melhoria do saudável ao longo de sua vida, onde o aluno
perfil lipídico e metabólico e para redução de busque a prática dessas atividades também
casos de obesidade. Ao promover a atividade fora do ambiente escolar, mas para que
física na infância e na adolescência é provável isso aconteça o professor deve apresentar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

propostas aos seus alunos com diversos tipos diversas práticas corporais, assim os alunos
de atividades, proporcionando liberdade de podem conhecer diferentes culturas e
escolha, o aluno encontrará a atividade que escolher uma atividade que sinta prazer em
mais se identifica e irá realizar determinada praticar e busque a mesma fora do ambiente
prática com entusiasmo e prazer (ALVES, escolar, beneficiando não apenas o seu
2007). desenvolvimento físico, mas também os
aspectos mentais, sociais e emocionais.
“O objetivo principal da prescrição da atividade
física na criança e no adolescente é criar o
habito e o interesse pela atividade física, e não Guedes e Guedes (1997) apontam duas
treinar visando desempenho. Dessa forma, metas como prioridade para o atendimento
deve-se priorizar a inclusão da atividade física da proposta de promoção da saúde: a)
no cotidiano a valorizar a educação física escolar
para que estimule a pratica da atividade física promover experiências motoras que possam
para toda vida, de forma agradável e prazerosa, repercutir satisfatoriamente em direção a um
integrando as crianças e não discriminando os melhor estado de saúde, procurando afastar
menos aptos. ” (NAHAS, 1998, p.2)
ao máximo a possibilidade de aparecimento
dos fatores de risco que contribuem para o
Segundo Guedes e Guedes (1997) as aulas surgimento de eventuais distúrbios orgânicos;
de Educação Física são ocupadas por um e b) levar os educandos a assumirem atitudes
tempo excessivamente longo com tarefas de positivas em relação a pratica de atividades
organização e aguardo entre as atividades físicas para que se tornem ativos fisicamente
ministradas, e a maior parte delas envolve não apenas na infância e na adolescência,
a pratica de esportes, as oportunidades mas também na vida adulta.
de participar de atividades voltadas as
desenvolvimento e ao aprimoramento da De acordo com os dados alcançados
aptidão física são pequenas, o que leva através de estudos, relataram informações
profissionais da área a buscarem uma nova sobre a divisão das aulas do ensino
definição do verdadeiro papel dos programas fundamental II ao ensino médio, e concluíram
de Educação Física como meio de promoção que dos 50 minutos disponíveis as aulas de
da saúde. Educação Física a proporção média do tempo
dedicado as atividades de desenvolvimento
Para que o indivíduo deixe de ser e aprimoramento dos níveis de aptidão
sedentário, é necessário que o mesmo física, revelaram valores entre 10 e 20%,
realize exercícios físicos no mínimo 30 cerca de quatro a oito minutos em cada
minutos diários, sendo ao menos 5 dias aula. A maior parte do tempo foi dedicado
por semana. O que mostra que as aulas de aos componentes motores da aptidão física
Educação Física não são suficientes para foi atribuída à realização de exercícios
tornar o indivíduo fisicamente ativo. Então aeróbicos, seguido dos exercícios que
é importante que o professor apresente exigem a participação da flexibilidade e da

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Revista Educar FCE - Abril 2019

capacidade de força / resistência muscular física na escola podem minimizar esses


(GUEDES, 1997). casos, a escola é muito importante na luta
ao combate do sedentarismo, através dela
Guedes e Guedes (1997:57), “conclui que educamos os indivíduos a buscarem uma
são necessárias modificações nos atuais vida melhor.
programas da Educação Física para que possa
levar aos escolares a assumirem atitudes Segundo Guedes e Guedes (1997),
positivas quanto à prática da atividade física admitem que um dos objetivos importantes
relacionada à saúde”. dos programas de Educação Física Escolar
é levar os jovens a incorporarem hábitos
Segundo Guedes e Guedes (1997) a permanentes que se tornem ativos
disciplina de Educação Física escolar não tem fisicamente, em sua sequência de atividades
como único objetivo oferecer uma formação deverão ser contemplados uma variedade de
educacional direcionada à promoção da diferentes exercícios físicos, na tentava de
saúde, mas é de extrema importância que mostrar diversos caminhos para se alcançar
os alunos tenham acesso a informações e esse intento, considerando o uso de recursos
experiências sobre a aptidão física e seus disponíveis na comunidade. Rotinas criativas
benefícios para a saúde, permitindo aos envolvendo elementos de motivação
alunos autonomia para escolher a atividade adequados deverão escolher um ambiente
física que mais lhe proporciona prazer e se favorável a pratica da atividade física ao
identifica com ele, para que siga esse habito mesmo tempo em que procura suprir as
ao longo de toda a vida, alcançando objetivos necessidades de realização dos exercícios
quanto a qualidade e sucesso dos programas físicos indispensáveis ao desenvolvimento e
de ensino. Considerando a relação entre a do aprimoramento da aptidão relacionada à
pratica de exercícios físicos nas idades mais saúde.
precoces para menor incidência de fatores
de risco, para aquisição de hábitos de vida No estudo de Hallal (2006) foi realizada uma
ativos na idade adulta e contribuição para pesquisa com 4.451 adolescentes com idades
a formação de atitudes positivas quanto entre 10-12 anos e os resultados com margem
à pratica de atividade física relacionada a de erro é de 1,5 pontos percentuais, esses dados
saúde. apontaram a prevalência de sedentarismo em
95%. Embora a maioria das doenças associadas
A escola sempre busca atender as ao sedentarismo somente se manifeste na
necessidades da sociedade, e hoje o mundo vida adulta, está cada vez mais evidente que
precisa urgentemente de maneiras para seu desenvolvimento se inicie na infância e
reduzir os casos de sedentarismo de crianças adolescência. Sendo assim, o estímulo à pratica
e adolescentes, a adoção de programas de de atividade física desde a infância deve ser
conscientização dos benefícios da atividade uma prioridade em saúde pública.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

As atividades físicas praticadas dentro aos alunos nas aulas de Educação Física
das escolas não atingem as recomendações com orientações sobre qual exercício é
atuais quanto a pratica da atividade física, capaz de desenvolver as capacidades de
mas o aumento do número semanal das aulas força muscular, flexibilidade, resistência,
de Educação Física pode auxiliar no combate enfim inúmeras capacidades que devem ser
ao sobrepeso e o aumento da intensidade apresentadas aos alunos com informações
das atividades nas aulas poderia minimizar para que o mesmo possa compreender os
essa prevalência do sedentarismo, contando motivos de suas execuções, quando o aluno
com o auxílio das escolas na participação se torna ciente dos motivos das atividades
ao combate a essa epidemia que atinge um as aulas se tornam mais motivantes,
número elevado da população (HALLAL, interessantes e fazem um sentido diferente,
2006). com explicações sobre os objetivos das
aulas o aluno poderá criar um habito de
Que a atividade física é um importante meio praticar atividades físicas por toda sua vida,
para alcançar a qualidade de vida é bastante afinal ele reconhece o verdadeiro benefício
visível. Mas a preocupação surge através de e compreende qual atividade realizar para
fatores que incentivam a realização dessas alcançar o seu objetivo.
atividades, a falta de espaços disponíveis
para a prática de atividades e a falta de
informações sobre os exercícios acabam CONSCIENTIZAÇÃO DA
reduzindo a realização das atividades. A ATIVIDADE FÍSICA
escola é o local onde as pessoas devem
aprender sobre essas práticas corporais, é O aumento da urbanização, o excesso
na escola que aprendemos a ler, escrever, de veículos e o crescimento da violência
realizar cálculos, aprendemos as orientações são fatores determinantes na redução das
geográficas, a história do mundo, enfim atividades físicas, a falta de locais disponíveis
informações que facilitam e implicam em e seguros para as práticas corporais fizeram
nossas vidas e na convivência social. Mas com que as crianças permaneçam entre
muitas vezes as pessoas saem da escola sem quatro paredes optando por videogames,
conhecer quais atividades físicas podem televisão e computadores. Uma criança hoje
gerar os benefícios para a saúde. gasta em média 600 Kcal a menos do que
há 50 anos, e assiste em média 27 horas de
TV por semana, só sendo ultrapassada pelas
A principal meta a ser alcançada é horas de sono. Isso reflete na elevação dos
conscientizar as pessoas sobre a importância índices de obesidade na infância em todo
de cultivar uma vida ativa, mas a orientação mundo (ALVES, 2003).
sobre qual atividade é capaz de beneficiar
determinada capacidade física é apresentada

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Segundo a Organização Mundial de Saúde gastos energéticos, o objetivo da pesquisa


(OMS) a atividade física é listada como um foi verificar o tempo de TV assistido pelos
dos principais indicadores de saúde. escolares o resultado total obteve um tempo
médio de 3,7 à 2,4 horas diárias, sendo que
“A atividade física é sem dúvida um fator segundo a Associação Americana de Pediatria
determinante no controle e prevenção recomenda-se que crianças e adolescentes
das doenças crônicas não transmissíveis. assistam no máximo 2 horas de TV por dia. O
Indivíduos fisicamente ativos tendem a maior tempo de permanência em frente a TV
apresentar menor morbidade e mortalidade foi significadamente associada a diminuição
por essas doenças. Portanto, é importante a da potência aeróbica, da força de MMII
adoção da prática de atividade física regular (Membros Inferiores), da velocidade e um
como forma de melhorar, manter ou recuperar aumento do IMC (Índice de Massa Corporal).
a saúde do indivíduo, de preferência adotando
o habito logo na infância e adolescência”. Segundo uma pesquisa sobre o Padrão
(MATSUDO, 2007:22) de Vida 80% dos brasileiros adultos não
praticam atividades físicas regularmente este
As doenças cardiovasculares representam hábito sedentário está presente também nas
a principal causa de mortalidade nos países crianças e adolescentes associado ao tempo
ricos. No Brasil, respondem por 33% das livre em frente à TV, jogando videogame e
causas de morte e representam os maiores utilizando computadores. Com a influência
gastos para o Sistema Único de Saúde (SUS). da atividade física esses hábitos podem
Vários fatores de risco vêm apresentando ser modificados por um estilo de vida ativo
um declínio como o fumo, a diabetes e a para que esse comportamento seja refletido
hipertensão arterial. Mas a obesidade e também na idade adulta (MATSUDO, 2007).
o sedentarismo apresentam uma curva
ascendente e os programas de atividade Segundo Matsudo (2007) a maior parte
física regular podem diminuir o rico de morte dos escolares aproximadamente 79,4%
em 25% (ALVES, 2003). participavam das aulas de Educação Física
oferecida nas escolas, então é de grande
Segundo Matsudo (2007), em uma pesquisa importância que haja uma implantação de
realizada sobre a “relação do tempo de TV e programas na disciplina de Educação Física
aptidão física de escolares de uma região de para que se consiga estimular as crianças para
baixo nível socioeconômico”, aponta dados a pratica de atividades físicas contribuindo
alarmantes sobre a média de tempo que as assim para a redução dos hábitos sedentários.
crianças e adolescentes assistem TV foram Com essas ações procura-se alcançar estilos
avaliados 233 escolares com faixa etária de 9 de vida ativos que possam reduzir os riscos
à 15 anos, sendo 119 meninos e 114 meninas de doenças crônicas presentes também
os resultados foram avaliados através de nesta fase da vida.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Simons-Morton (1994) apud Guedes fisiológicas e psicológicas que poderão


e Guedes (1997) sugere que programas persistir ao longo da vida adulta (GUERRA,
apropriados de atividade física, destinados 2003).
à promoção da saúde em crianças e
adolescentes, deverão envolver movimentos Em um estudo Guedes (2001) procurou
dinâmicos com participação dos grandes analisar os “níveis de pratica de atividade
grupos musculares, por 30 minutos ou física habitual em adolescentes” escolares
mais, três a cinco vezes por semana e com com idades entre 15 à 18 anos onde divulgou
intensidades moderadas da ordem de 60 a resultados sobre a participação na pratica
70% da frequência cardíaca máxima prevista de exercícios físicos e esportes, verificou-se
para idade, em valores médios entre 150 e que em média 13,4% das moças e 36.3% dos
170 batimentos por minuto. rapazes se identificaram com as atividades
e notou-se que com o avanço da idade os
Segundo Guerra (2003) os fatores de adolescentes dedicavam cada vez mais
risco para o desenvolvimento de doenças tempo para a pratica.
cardiovasculares podem ser classificados
em função da natureza biológica que Muitos estudos realizados recentemente
caracteriza-se pelo índice de massa corporal, mostram os benefícios de um estilo de
tensão arterial, colesterol, entre outros e de vida ativo acompanhados por uma ingestão
natureza comportamental que caracteriza- energética adequada e atividade física regular.
se a atividade física, o consumo de energia, A atividade física regular pode minimizar
o tabaco, o álcool, etc. Considerando que o aparecimento de doenças crônicas,
os fatores de riscos biológicos contribuem reduzindo assim os riscos de mortalidade,
com uma grande porcentagem dos fatores para que se tornem significativas as
de risco das doenças cardiovasculares e alterações fisiológicas favoráveis para saúde
conhecendo esses risco para crianças e do indivíduo, segundo o American Colege of
adolescentes refletimos então a importância Sports Medicine (ACMS) apud Alves (2003) é
de programas de saúde a partir dessa idades recomendável que inicie a pratica corporal a
para a prevenção dessas doenças, incluindo partir dos 2 anos de idade e que se pratique
atividades físicas nos programas da educação. no mínimo 30 minutos de atividade física de
moderada à intensa por pelo menos 5 dias
Na natureza comportamental, um estilo por semana.
de vida saudável acompanhado por uma
alimentação regular e atividade física diária Mas é importante ressaltar que as
iniciada na infância, podem minimizar o atividades físicas para crianças devem ser
aparecimento de doenças degenerativas na motivantes para que a mesma sinta prazer em
idade adulta, ressaltando também benefícios realizar as práticas corporais. São inúmeras
favoráveis nas alterações biomecânicas, as vantagens para quem adota um hábito

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ativo, além de proporcionar alegria e disposição e uma vida saudável, concluímos então os
benefícios não só na área física, mas também no campo social e emocional.

Infelizmente a atenção dos profissionais da saúde ainda é pouco satisfatória, mas é


importante a participação desses profissionais da saúde, dos familiares e da comunidade
em geral, para que seja desenvolvido programas para estimulo e incentivo a atividade física.

Algumas sugestões são apresentadas para reduzir o hábito sedentário, estimular a


participação dos estudantes em competições esportivas, reduzir o número de horas gasto
com TV, vídeo games e computadores, que haja exemplo dos pais e reforço das aulas de
Educação Física nas escolas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hoje diversos fatores incentivam as crianças e adolescentes
a adotarem hábitos sedentários, a falta de espaços públicos
para a prática corporal, a violência nas ruas e a evolução
tecnológica que acaba induzindo esses indivíduos a passarem
suas horas de lazer usufruindo desses aparelhos eletrônicos.

A alimentação também é um fator predominante, afinal


a ingestão de alimentos hipercalóricos, estão cada vez mais
presentes nos lares e na alimentação feitas fora de casa, nas ALDIVÂNIA SANTOS
escolas, e em outros ambientes. Hoje crianças e adolescentes DO NASCIMENTO
ingerem esses alimentos hipercalóricos e não possuem os Graduação em Educação Física
gastos energéticos necessários para eliminar essas calorias. pela Universidade Nove de Julho
(2012); Especialista em Fisiologia
do Exercício Aplicada a Clínica
O mais preocupante são as doenças causadas pelos médica pela Universidade Federal
hábitos sedentários, afinal esses hábitos irregulares estão de São Paulo (2014) Professor de
totalmente ligados aos casos de obesidade, que hoje atinge Ensino Fundamental II – Educação
Física - na EMEF Professor Ernesto
aproximadamente 30% das crianças e adolescentes. Apesar de Moraes Leme.
de ser raro o aparecimento das doenças crônicas nesses
indivíduos, compreendemos que com o hábito sedentário
adotado desde a infância aumenta a probabilidade de
desenvolver doenças como a diabetes, a hipertensão,
colesterol alto e infarto do miocárdio podendo ocasionar até
em mortalidade.

Ao observar o aumento dos casos de sedentarismo em


crianças e adolescentes e os malefícios por ele causados,
consideramos a importância de encontrar maneiras de
reduzir os números desses casos no país. O sedentarismo é
considerado um problema mundial e necessita urgentemente
de reverter esse quadro, que assusta a população.

A escola é um ambiente importantíssimo para mudar os


temas considerados urgentes na sociedade. E seu objetivo
é educar crianças e adolescentes para mudar os problemas
da sociedade e transformá-la em uma sociedade melhor.
A escola é componente principal para conscientizar seus

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Revista Educar FCE - Abril 2019

alunos sobre a importância em adotar hábitos saudáveis, proporcionando para os mesmos a


qualidade de vida, minimizando o aparecimento de doenças crônicas e lhes proporcionando
uma vida saudável ao longo da sua vida.

A Educação Física componente curricular obrigatório na escola é uma disciplina que exerce
uma participação especial nessa conscientização, afinal a mesma trabalha diretamente com
a atividade física e o profissional da área possui conhecimento especifico sobre o assunto.

O objetivo do presente estudo é apresentar a importância de incluir um programa de


saúde na escola, que busque conscientizar seus alunos sobre os benefícios da atividade
física. Mas é indispensável que a escola em geral esteja incluída no programa, onde todas
as disciplinas buscaram o mesmo objetivo, conscientizar os educandos sobre a importância
do hábito saudável, assim com o trabalho em conjunto fica mais fácil atingir os objetivos
propostos.

As aulas de Educação Física têm o papel principal em apresentar aos alunos diferentes
práticas corporais para que os mesmos busquem pratica-las fora do ambiente escolar, adotam
um estilo de vida ativo, praticando atividade física diariamente no mínimo 30 minutos e ao
menos 5 vezes por semana.

Com a implantação do projeto de saúde na escola, a elaboração de uma avaliação física


para acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos alunos durante o ano letivo, e com
a visualização das necessidades dos educandos seria indispensável e facilitaria a elaboração
das aulas do professor de Educação Física que realizaria suas aulas baseando-se nos objetivos
a serem alcançados para melhoria da necessidade dos seus alunos.

A participação ativa dos alunos durante o processo de aprendizagem é fundamental, as


intervenções durante as aulas incentiva os alunos a formar ideias, buscar soluções e tomar
decisões sobre o assunto, fazendo com que os mesmos participem das atividades com
entusiasmo e motivação, esse processo é importante e incentiva o aluno a buscar respostas
sobre a sua saúde e ainda busca sempre interagir com a sua família, disseminando informações
para toda a sociedade, sobre o sedentarismo e seus riscos à saúde.

Enfim, hoje o mundo enfrenta problemas associados aos hábitos irregulares não somente
ligados à falta de atividade física, mas também à alimentação inadequada e estresse. Todos
esses fatores acabam induzindo as pessoas a adotarem hábitos impróprios que prejudicam a
sua saúde. A escola é o local onde a criança deve aprender a importância de buscar um estilo
de vida saudável, com uma alimentação adequada e com exercícios físicos regulares.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Portanto, a conscientização dos alunos é o fator determinante para reduzir esses casos
de sedentarismo, obesidade e o aparecimento de doenças crônicas cada vez mais precoces.
Com informações e intervenções provocadas pelos professores, os educandos podem obter
conhecimentos essências para adotarem um estilo de vida ativo, beneficiando o seu bem-
estar físico, mental, social e emocional. Afinal, as práticas corporais são capazes de beneficiar
diversos aspectos, além de enriquecer seu conteúdo cultural, então por que esperar para
começar a praticar. Afinal, esporte é vida.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Rev. Paul. Educ. Fís, São Paulo, v. 11, n.1, p. 49-62, 1997.

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Esporte, São Paulo, v.4, n. 4, p. 1-3, 1998.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM
RESUMO: Este artigo tem como objetivo reconhecer quais dificuldades de aprendizagem
uma criança que reside na periferia de São Paulo, estuda em escola pública e sofre agressões,
tanto físicas como psicológicas, tentar entender quais são as consequências desses atos na
vida escolar, dela buscando meios para um melhor trabalho com essas crianças em sala de
aula para que este déficit apresentado não perdure por toda sua vida acadêmica, podendo
ser sanado, ajudando assim está criança a se recuperar de possíveis traumas.

Palavras-chave: Dificuldades de aprendizagem; Agressão Física; Agressão Psicológica.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO CAUSAS DAS AGRESSÕES


Segundo o dicionário Aurélio agressão Segundo Censo realizado no Brasil em
significa: 1. Ação de agredir; 2. Pancada; 3. 2010 temos 9% de não-alfabetizados,
Ferimento; 4. Insulto. Podemos dizer então equivalente a 18 milhões de brasileiros que
que quando uma criança leva uma surra não sabem ler e escrever. Algumas famílias,
daqueles que deveriam zelar por ela ou é principalmente falando da periferia de São
insultada com palavras que agridam sua Paulo e de baixa renda, possuem um déficit
autoestima é caracterizada uma violência de instrução e isto também é um fator
contra esta criança e isto pode acarretar determinante para o desenvolvimento do
diversos danos, sendo estes momentâneos processo de ensino aprendizagem de muitas
ou permanentes. crianças, pois conforme Fernández precisa-
se de uma relação entre mãe como ensinante
Sendo assim uma criança que convive em e filho como aprendente, este processo é
um ambiente opressor, onde aqueles que de extrema importância principalmente nos
deveriam lhe dar amor e carinho utilizam- primeiros anos escolares.
se do abuso da força para agredi-la tanto
física como psicologicamente, levará consigo Outra afirmação de Scoz e Fernández é que
durante a infância e possivelmente na fase as primeiras vivências ocorrem nas interações
adulta resquícios destes momentos. familiares, portanto como interagir em uma
família que traz como base a violência e a
Um dos problemas enfrentados por estas falta de instrução, onde a criança necessita
crianças é a dificuldade que encontra no e clama por ajuda, principalmente nos
momento de frequentar o ambiente escolar, primeiros momentos de sua alfabetização.
pois para Scoz, não há dúvida de que a
influência familiar é decisiva na aprendizagem Segundo Geraldo Francisco Filho,
dos alunos. crianças que residem em lares violentos,
desestruturados e até mesmo vivendo
Se a influência familiar é de tamanha na linha abaixo da pobreza influenciam e
importância, o que esperar de uma criança dificultam a vida de estudante.
que tem como base familiar um ambiente
inseguro, pais ou cuidadores que não se Geraldo fala também que estes alunos
importam com ela e que a educação para buscam na escola um refúgio e até uma
muitos não foi algo apresentado, pois por esperança de mudar de vida assim que passa
muitas vezes esta criança precisará de para a adolescência. Sendo assim podemos
alguém para orientá-la no processo de dizer que a escola tem um papel fundamental
aprendizagem. na vida destas crianças, cabe aos professores
receber e ajudar estas crianças.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Não é um processo fácil, visto que uma nesse ambiente que ele vai buscar conforto
criança que sofre abusos chega na escola para os seus possíveis problemas. Procurar
fragilizada, amedrontada, em busca realmente observar e estar ao lado acompanhando os
de algum tipo de carinho e atenção, ela por processos que a criança passa até chegar ao
si só já se sente inferior ao outro devido suas seu desenvolvimento pleno é um dever da
condições financeiras e emocionais. família, principalmente se está se encontra
com dificuldades em qualquer âmbito,
necessitando de maiores auxílio e atenção. A
O PROCESSO DE criança precisa sentir-se segura no ambiente
APRENDIZAGEM em que vive notando que sua família lhe
oferece carinho e dedicação isso auxilia no
A motivação faz parte do processo de seu desenvolvimento e até atenua possíveis
aprendizagem, principalmente na fase inicial problemas que se desencadeiam por conta
de escolarização, portanto crianças que não de problemas como baixa autoestima,
possuem a motivação vinda dos próprios depressão e rejeição por parte de colegas e
lares terão dificuldades maiores em lidar pessoas do convívio em geral.
com o novo e até mesmo com frustrações
oriundas de problemas escolares. Sobre Segundo Piaget a criança possui
motivação José (2016), afirma que a comportamentos diferentes em cada fase
de sua vida e um deles seria a “Afetividade
Desde o início do desenvolvimento o fator autocentrada”, que nada mais é do que a
motivação demonstra sua importância. À
medida que a criança cresce seu autoconceito “capacidade de experimentar emoções e
e o conhecimento que ela tem de si mesma vão sentimentos centrados em si mesmos”.
se estabelecendo. A maneira pela qual ela se vê,
o jeito pelo qual ela se sente irão influir muito
em tudo que ela faz e, basicamente, em sua Este tipo de comportamento se manifesta
capacidade de aprendizagem (JOSÉ e COELHO, em faixas etárias distintas e cada uma delas
2006). apresenta uma característica, como de 0 a
2 anos a criança apesar de não demonstrar
Desta forma podemos entender que necessita de muito afeto, de 2 a 4 anos é o
motivação está relacionada com a autoestima, momento em que a criança precisa de muito
que é comprometida cada vez que a criança carinho, especialmente dos pais, já dos 4 aos
é agredida psicologicamente e com isto os 7 anos ela revela grande necessidade de ser
conflitos e os problemas de aprendizagem amada e é nesta fase que gestos de carinho
começam a surgir. e atenção dos pais farão com que se sintam
amadas e mais confiantes.
A compreensão da família frente às
dificuldades encontradas pelo indivíduo Então a partir dos 7 anos a criança
é de extrema importância, uma vez que é começa a descobrir o seu valor e o do outro

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Revista Educar FCE - Abril 2019

e a afetividade vai se tornando menos Quando falamos de inibição lembramos


egocêntrica. logo daquela criança tímida em sala de aula,
que sente inferior aos outros ou por suas
Avaliando estes dados é possível perceber condições financeiras, ou por sua aparência
que a afetividade também é fator relevante e por não saber ou entender determinado
na aprendizagem, uma criança bem orientada, conteúdo e com isto não se exprime em sala
amada, que sua autoestima seja a cada dia como receio da turma.
exaltada esta criança conseguirá superar
as fases de desenvolvimentos e enfrentar Já a ansiedade pode ser causada por
quaisquer desafios, entre eles a matemática. eventos fortes em suas vidas que podem
ser frustrações, sustos, medos entre outros.
E novamente é possível perceber o quanto Sendo assim podemos entender que a criança
a relação familiar influência na estrutura agredida pode vir a se tornar ansiosa e isto
das crianças, sendo de suma importância a atrapalha muito no seu desenvolvimento,
estrutura familiar em um lar sem violência e tendo novamente a família o papel de acalmá-
que o afeto predomine. la, dizendo que tudo dará certo, que ela pode
contar com o seu apoio, sendo assim um lar
Segundo Elisabete da Assunção José, sem estrutura se torna propício para que
aprendizagem é o resultado da estimulação uma criança sofra de ansiedade, causando
do ambiente sobre o indivíduo já maturo, então outro sintoma que seria a angústia e
que se expressa, diante de uma situação- o sentimento de rejeição, que nada mais é
problema. do que o sentimento de achar que ninguém
liga pra ela, que ela não vai aprender nunca,
Pensando assim fica mais claro entender portanto seus pais e professores não se
o quanto o ambiente, isto é, a família é importarão com ela e também os próprios
importantíssima na formação da criança em colegas do seu convívio.
relação aos seus estudos e como situação-
problema aparece à matemática que é um Outro fator importante é o ambiental que
desafio para muitos. visa o tipo de educação familiar, o grau de
estimulação que a criança recebeu desde os
Para Elisabete da Assunção José (2006) primeiros dias de vida, etc.
existem inúmeros fatores que podem
desencadear um problema de aprendizagem, Este fator engloba o que vimos e falamos
vamos falar sobre dois deles: o primeiro até o momento, voltando novamente à
deles é o fator psicológico que seria a família que é o alicerce desta criança, que
inibição, ansiedade, angústia, sentimento quando abalado se torna prejudicial e
generalizado de rejeição etc. também o estimulo que vem quando os pais
se dedicam aquele filho, não só com carinho e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

atenção que como vimos faz muita diferença darei uma nota para o cobrador e ele me
no seu desenvolvimento, mas nas questões voltara o troco exato ou senão ler os números
escolares, nas primeiras letras, na leitura da placa do ônibus que vai para minha casa.
do primeiro livro, em contar os dedinhos
da mão, em parabeniza-lo a cada atividade De acordo com Garcia (1998),
que traz da escola, isto tudo é estímulo e a
criança levará para vida estes ensinamentos, “...para resolver um cálculo, até o mais simples
que possa ser, vários mecanismos cognitivos
tornando-se forte para enfrentar os desafios são envolvidos, como o processamento
tanto da vida como da escola, entre eles a verbal e/ou gráfico da informação, percepção,
matemática. reconhecimento e produção de números,
representação número/símbolo, discriminação
viso espacial, memória de curto e longo prazo,
raciocínio sintático e atenção.”
O ENSINO DA MATEMÁTICA E
SUAS DIFICULDADES Para Smith e Strick,

Segundo Rotta (2006), o conhecimento e Ao tratar da questão da etiologia das dificuldades


de aprendizagem em Matemática (DAM),
as habilidades matemáticas fazem parte da observa-se que existem muitas interrogações
nossa vida cotidiana, nas tarefas habituais e, com frequência, não existe uma única causa
ou relacionadas com o trabalho e nas ações que possa ser atribuída, mas sim várias delas
conjuntamente. As causas das dificuldades
sociais. podem ser buscadas no aluno ou em fatores
externos, em particular no modo de ensinar a
A matemática constitui-se em uma Matemática. Quanto a aspectos referentes aos
alunos são considerados a memória, a atenção,
ferramenta muito importante para todos, a atividade perceptivo-motora, a organização
usamos matemática para calcular o troco espacial, nas habilidades verbais, a falta de
da cantina da escola, para pagar a passagem consciência, as falhas estratégicas, como fatores
responsáveis pelas diferenças na execução
no ônibus, usamos o reconhecimento do
matemática (SMITH E STRICK, 2001).
número quando preciso ver o letreiro do
ônibus, o número da casa do meu amigo, Portanto, para que uma criança desenvolva
enfim os números, os cálculos, a matemática estas competências ela precisa estar
é companheira pra toda vida, portanto é estruturada emocionalmente, principalmente
preciso entender seus caminhos e percursos na questão do raciocínio, memória e atenção.
entendendo também suas dificuldades e E para isto ela necessita conviver em um
prazeres. ambiente que proporcione esta estrutura,
isto é, seu lar deve ser acolhedor.
Como na língua portuguesa é muito
fascinante juntar as letrinhas e descobrir Sanchez (2004) destaca que as dificuldades
como escrever seu nome, na matemática de aprendizagem em Matemática podem se
também se torna prazeroso eu saber que manifestar nos seguintes aspectos:

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Dificuldades quanto às crenças, às atitudes, às


expectativas e aos fatores emocionais acerca O ENSINO DA LÍNGUA
da matemática. Questões de grande interesse e
que com o tempo podem dar lugar ao fenômeno
PORTUGUESA E SUAS
da ansiedade para com a matemática e que DIFICULDADES
sintetiza o acúmulo de problemas que os alunos
maiores experimentam diante do contato Os estudos demonstram que as habilidades
com a matemática. Dificuldades originadas do processamento fonológico possuem uma
no ensino inadequado ou insuficiente sejam
porque à organização do mesmo não está correlação com o desempenho de leitura e
bem sequenciado, ou não se proporcionam escrita, sustentando a hipótese do déficit
elementos de motivação suficientes; seja porque fonológico. Desse modo, as habilidades
os conteúdos não se ajustam às necessidades e
ao nível de desenvolvimento do aluno, ou não fonológicas, de vocabulário, de consciência
estão adequados ao nível de abstração, ou não fonológica, de memória e de sequenciamento
se treinam as habilidades prévias; seja porque a são pré-requisitos para a aquisição de leitura
metodologia é muito pouco motivadora e muito
pouco eficaz. (SANCHEZ, 2004, p.174)
e escrita, embora outros fatores também
afetem a aquisição da linguagem escrita,
Voltamos então a ressaltar o problema como o nível socioeconômico, a inteligência
da ansiedade que em longo prazo pode geral, a escolaridade dos pais e a estimulação
atrapalhar o desempenho da criança e que os pais oferecem à criança em casa.
também a motivação, que neste caso deve (CAPOVILLA, A.; GÜTSCHOW; CAPOVILLA,
partir desde cedo dos pais e familiares e F., 2004; PREILOWSKI; MATUTE, 2011).
em seguida dos professores que também
desenvolvem um papel importante neste Azevedo e Guerra, após muitas pesquisas
ciclo, pois ele deve voltar seu olhar com e estudos acerca do tema violência contra
atenção àquela criança que aparenta receber criança tem sua opinião:
maus tratos em sua residência, pois para
criança este professor pode ser sua salvação, Todo ato ou omissão praticado por pais,
parentes ou responsáveis contra crianças e/ou
visto todos os problemas que ele enfrenta adolescentes que – sendo capaz de causar dano
em casa. físico, sexual e/ou psicológico à vítima – implica,
de um lado, uma transgressão do poder/dever de
proteção do adulto e, de outro, uma coisificação
O professor deve estar sempre atento da infância, isto é, uma negação do direito que
às etapas do desenvolvimento do aluno, crianças e adolescentes tem de serem tratados
colocando-se na posição de facilitador da como sujeitos e pessoas em condição peculiar
de desenvolvimento. AZEVEDO e GUERRA
aprendizagem e calçando seu trabalho no 1989, p. 33).
respeito mútuo, na confiança e no afeto
(DROWET, 1995). Assim sendo, a maneira como a criança é
tratada, se é rejeitada ou não, a maneira pela
O comprometimento da família e o qual ela se vê, se sente, irão influir e muito
olhar atento do professor torna mais fácil a em tudo o que ela faz e, basicamente, em
aprendizagem do aluno com dificuldades. sua capacidade de aprendizagem e na fase

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de alfabetização, do conhecimento dos fonemas, da escrita, que é sem dúvida uma das
etapas mais importantes da vida escolar de uma criança, sofrerá danos que pode com o
passar do tempo se reverter, põem dependerá muito do apoio familiar.

As dificuldades de aprendizagem, desassociada das deficiências, referem-se, conforme


explicam Stefanini e Cruz (2006) a alguma desordem na aprendizagem geral da criança,
provém de fatores reversíveis e normalmente não têm causas orgânicas.

A habilidade de acesso rápido ao léxico para nomeação de letras é altamente correlacionada


ao conhecimento de letras no início da alfabetização, sendo, essencialmente, esta habilidade
relacionada com o futuro desempenho de fluência de leitura (SCHATSCHNEIDER et al.,
2004).

Pode-se dizer que a linguagem oral, a consciência fonológica e o conhecimento de letras
são os três domínios-chaves do início da alfabetização que devem ser desenvolvidos para
aperfeiçoar o ensino de crianças que estão em situação de risco para problemas de leitura,
durante a pré-escola (LONIGAN, C.J. et al, 2013).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluindo, para Vygotsky a aprendizagem ocorre sob
níveis de desenvolvimento. Segundo o teórico, existem dois
níveis de desenvolvimento: o real, que exprime o desempenho
da criança ao realizar suas tarefas sem ajuda de ninguém e o
potencial, aquele alcançado quando a criança recebe ajuda
de alguém.

Podemos notar novamente a importância do meio em
que a criança inicia sua vida escolar, desde os primeiros
momentos, antes mesmo no berçário, pois a estimulação do
bebê, a leitura que os pais fazem para crianças que ainda ALESSANDRA DE ARAUJO
não dominam os fonemas, isto é, a ajuda dita por Vygotsky MELO ZACHARIAS
influenciam o desenvolvimento da criança, já aquela que não Graduação em Pedagogia pela
foi estimulada, que os pais não possuem habito de leitura, as Faculdade Sumaré (2015);
vezes por não gostar ou até mesmo por não saber ler terão Professor de Ensino Infantil e
Fundamental I - na EMEF Bel.
peso neste desenvolvimento. Mario Moura e Albuquerque.

Completando esse pensamento, Stevanato et al. (2003)


afirma que: O contexto ambiental engloba fatores relativos
ao nível socioeconômico e suas relações com ocupação dos
pais, número de filhos, escolaridade dos pais. Esse contexto é
o mais amplo em que vive o indivíduo. O contexto psicológico
refere-se aos fatores envolvidos na organização familiar,
ordem de nascimento dos filhos, nível de expectativa e
as relações desses fatores são respostas como ansiedade,
agressão, autoestima, atitudes de desatenção, isolamento,
não concentração. O contexto metodológico engloba o
que é ensinado nas escolas e sua relação com valores como
pertinência e significado, com o fator professor e com o
processo de avaliação em suas várias acepções e modalidades
(STEVANATO et al., 2003)

A escola é um dos agentes responsáveis pela integração


da criança na sociedade, além da família. É um componente
capaz de contribuir para o bom desenvolvimento de uma
socialização adequada da criança, por meio de atividades em

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Revista Educar FCE - Abril 2019

grupo, de forma que capacite o relacionamento e participação ativa destas, caracterizando


em cada criança o sentimento de sentir-se um ser social. A escola deve ser um ambiente onde
as crianças possam sentir-se bem, amadas, alegres e seguras. Muitas crianças encontram
refúgio na escola, naquele professor que se mostra interessado por ela, que nota quando
cortou o cabelo ou até mesmo se está triste ou se demonstram machucados muitas vezes
omitidos pelos pais.

Segundo José e Coelho (2006, p. 11) o processo de aprendizagem sofre várias influências:
“intelectual, psicomotor, físico, social – mas é do fator emocional que depende grande parte
da educação”.

Desse modo, o que demonstra vários autores, que deixam claro que a criança agredida
tem sem emocional abalado, que pode levar anos para restabelecer emocionalmente, que
criança deve ser feliz, cuidada e acima de tudo protegida por aqueles que ela tanto confia
que são seus pais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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pequeno poder. São Paulo: Iglu, 1989. Acessado em 25.03.2019.

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VYGOTSKY LSA. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos


superiores. São Paulo:Martins Fontes;1991. Acessado 10.04.2019.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O ENSINO POR MEIO DOS


RECURSOS TECNOLÓGICOS
E DAS MÍDIAS SOCIAIS
RESUMO: Nesse trabalho pretende-se discorrer a respeito das tecnologias novas e antigas
utilizadas na prática pedagógica. Dentre as novas tecnologias merecem destaque os softwares
educativos que possibilitam a interação entre o estudante e o programa desenvolvido para
essa finalidade. Com base nesse entendimento, é possível afirmar que o computador é uma
das mais importantes ferramentas de trabalho em benefício da em educação.

Palavras-chave: educação, tecnologia, softwares educativos, Mídias sociais, interação,


aprendizagem.

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INTRODUÇÃO esse conceito no dia-a-dia do aluno do


professor.
As mídias sociais estão sendo utilizadas em
benefício da educação, propondo maneiras
concretas de desenvolver o espírito crítico no TECNOLOGIA PEDAGÓGICA
processo de ensino e aprendizagem (BARON EDUCACIONAL
& BRUILLARD, 2006).
Toda prática pedagógica reflete a
Atualmente a mídia social ocupa um concepção do educador relativamente ao
lugar proeminente no cotidiano de 92% dos que seja em se arrepender. Em consonância
adolescentes e 58% dos adultos. Estudantes com Oliveira e Moreira (2001, p.15):
e professores não podem prescindir de usá-
las como recurso pedagógico (BARON & Quando nós professores nos propomos a ensinar
determinados conteúdos circulares aos nossos
BRUILLARD, 2006). alunos, colocamos em ação, ainda que não
tenhamos consciência disso, uma série de ideias
As plataformas de interação social e práticas que acumulamos ao longo de nossa
formação e do nosso exercício profissional, as
apresentam várias vantagens quando usadas quais espelham o significado que atribuímos aos
corretamente. No entanto, essas ferramentas processos de ensino e aprendizagem.
interativas estão se estabelecendo
lentamente no setor educacional, porque Com base nesse entendimento, é
a aprendizagem pelas redes sociais não é necessário considerar as concepções
institucionalizada e, muitas vezes, é feita pedagógicas utilizadas para o trabalho
por professores com bases autodidatas, com a tecnologia, a fim de que não sejam
que apresentam diferentes ideias de antagônicas à informatização do processo
atividades passíveis de serem integradas na educacional.
aprendizagem, desenvolvem comunidades
virtuais de aprendizagem e comunidades de
prática, e exploram os impactos positivos CONHECIMENTO EMPIRISTA
desses meios de comunicação sobre a vida
dos estudantes (BARON & BRUILLARD, Em geral os professores transmitem o
2006). conhecimento sem, contudo, oferecer base
teórica. Para trabalhar com tecnologias é
Esse trabalho tem o propósito de discorrer necessário embasamento sólido, sendo
a respeito da utilização de softwares também importante a escolha de um bom
educativos com a finalidade de promover software educativo (OLIVEIRA e MOREIRA,
a aprendizagem. Para compreender essa 2001).
proposta é necessário conceituar e situar o
termo tecnologia e a importância de inserir

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Na concepção empirista o conhecimento CONCEPÇÃO RACIONALISTA


é adquirido por intermédio dos sentidos em
decorrência de experiências sensoriais, ou Com base nessa teoria o comportamento
seja, da percepção que ocorre por intermédio humano resulta de uma estrutura orgânica
deles. inata. Por isso, essa corrente de pensamento
é também denominada inatismo ou
O processamento das informações ocorre apriorismo.
por intermédio dos processos mentais do
indivíduo. Nesses processos devem ser Em última análise, as capacidades humanas,
considerados os sentidos internos e externos as capacidades, os valores e a maneira de
(OLIVEIRA e MOREIRA, 2001). pensar seriam decorrentes de uma bagagem
hereditária ou do processo maturacional que
Por sentidos internos compreendem-se: ocorre naturalmente no indivíduo.
a fantasia, a imaginação sensível, a memória
sensível e a atenção. Por sentidos externos Em termos de aprendizagem o
compreendem-se: a visão, audição, com o conhecimento seria construído a partir da
fato, o paladar. razão independentemente de experiências e
dos sentidos, contrariando a teoria empirista
O pressuposto fundamental do empirismo (VILA, 2018).
consiste no fato de que tudo deve passar
pelo crivo da experiência: "não há nenhuma São adeptos dessa vertente o psicólogo
concepção no espírito do homem que não Carl Rogers e o psicolinguista Noam
tenha sido originada nos órgãos dos sentidos" Chomsky, segundo o qual o sistema nervoso
(HOBBES, 1983). humano dispõe de mecanismos inatos que
tornam possível às crianças a construção de
Essa corrente do pensamento tem como regra de linguagem.
um dos seus principais precursores o filósofo
John Locke, segundo o qual a mente humana
pode ser comparada com uma página em CONCEPÇÃO INTERACIONISTA
branco, cujos conhecimentos impressos
resultam de sensações e experiências. A vertente interacionista considera que
o conhecimento é resultante das trocas
Com base entendimento o conhecimento entre o indivíduo e o meio. As informações
resulta do contato do ser humano com o advindas do meio são interpretadas e
meio em que vive. condicionam a construção do conhecimento.
Essa teoria é denominada construtivismo.
Segundo ela, quando o indivíduo interage
com meio há entre eles uma ação recíproca

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Revista Educar FCE - Abril 2019

já que influenciam um ao outra numa relação de conhecimento. Contudo o conhecimento


dinâmica e dialética entre o indivíduo e o adquirido nas instituições educacionais é
meio ou contexto. teórico em detrimento daqueles obtidos na
vida cotidiana (VILA, 2018).
As principais contribuições teóricas do
interacionismo ou construtivismo foram A importância de Vygotsky para o
apontadas por Piaget, segundo o qual ocorre a aprendizado por meio da tecnologia recai
psicogênese do conhecimento e também por sobre o fato de que esse teórico enfatiza
Vygotsky, que enfatiza a interação contínua que os instrumentos podem ser mediadores
entre estruturas orgânicas e as condições capazes de potencializar o processo de
contextuais ou sociais (VILA, 2018). aprendizagem.

Atualmente, são desenvolvidos métodos


VIGOTSKY E A TECNOLOGIA alternativos para atingir objetivos
PEDAGÓGICA educacionais, pela internet e outros recursos
tecnológicos, que podem ser utilizados
Vygotsky nasceu em ORSHA, pequena de forma benéfica e eficiente, agilizando o
cidade da Bielorrússia, em 17 de novembro trabalho da escola, que consiste em promover
de 1896, e viveu na Rússia. Morreu de a construção do conhecimento (VYGOTSKY,
tuberculose na Rússia, com 37 anos. Era 1998).
contemporânea de Piaget .

Foi um pensador da área educacional, TECNOLOGIAS NOVAS


um filósofo da psicologia. Suas teorias E ANTIGAS COMO
fundamentam a educação e a pedagogia
ainda hoje. Para ele, o indivíduo se desenvolve FERRAMENTAS DE
principalmente em decorrência da interação APRENDIZAGEM
com o meio, como resultado de um processo
sócio-histórica, no qual a linguagem e a Por tecnologias antigas compreendem-
aprendizagem desempenham importante se o retroprojetor, o quadro de giz, livros
papel (VYGOTSKY, 1998). e cadernos. Não se trata de tecnologias
ultrapassadas, pois ainda são muito úteis
A relação entre pensamento e linguagem no processo de ensino e aprendizagem
é responsável pela formação dos conceitos, (OLIVEIRA e MOREIRA, 2001).
sendo que a cultura desempenha importante
papel na construção de significado. A escola, As novas tecnologias consistem em
por sua vez, desempenha importante papel computador e internet entre outros recursos
no processo de internalização a transmissão digitais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Para beneficiar o processo cognitivo de Para que ocorra o uso pedagógico da


aprendizagem o profissional de educação tecnologia, a escola deve repensar seu
deve recorrer a diferentes tecnologias, sejam projeto pedagógico e os professores devem
elas novas e antigas. Tais tecnologias não se rever suas metas.
anulam. Na verdade são complementares.

De fato, as novas tecnologias como TRABALHANDO COM


computador e a internet favorecem SOFTWARES PEDAGÓGICOS
efetivamente o processo de construção e de
conhecimento, processo esse que ocorre de Softwares pedagógicos permitem aos
forma contínua e mediada pelo professor. alunos criar trabalhos para publicação em
Por meio dos recursos tecnológicos é ambiente multimídia ou na Internet. Ao
possível desenvolver a potencialidade do utilizar tais softwares os alunos podem incluir
aluno em aprender, aumentando o nível de sons, imagens, vídeos, textos se animações
desenvolvimento real e potencial (OLIVEIRA (OLIVEIRA e MOREIRA, 2001).
e MOREIRA, 2001).
Os softwares educacionais permitem que
Dentre as novas tecnologias, merecem se desenvolva entre aluno e educador uma
destaque o computador, os recursos de relação na qual podem investigar interagir,
hipertexto, multimídia e hipermídia, televisão criar, refletir e valorizar suas produções
a cabo e por satélite, o CD-ROM e as tele e de forma autônoma, interdisciplinar e
videoconferências, entre outros. cooperativa com criatividade, emoção e
lógica.
Além do desenvolvimento tecnológico
é necessário que ocorra o aprimoramento Considerando-se todos esses atributos
também das instituições educacionais. o educador participa da construção do
As escolas devem rever seus processos conhecimento, ensinando o aluno a utilizar as
pedagógicos, os quais devem ser alinhados ferramentas tecnológicas de forma divertida
ao uso das novas tecnologias e tecnologias e com criatividade.
antigas.
A aprendizagem efetiva ocorrerá por meio
É importante promover a capacitação da exploração dos recursos tecnológicos e do
dos professores por meio de encontros com manuseio das ferramentas, o que promove
profissionais das áreas tecnológicas, trabalho uma aprendizagem não formal, uma espécie
esse que deve ser interdisciplinar (OLIVEIRA de autoaprendizagem altamente significativa
e MOREIRA, 2001). (OLIVEIRA e MOREIRA, 2001).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Muitas escolas atualmente utilizam como um grupo de ferramentas com base


projetos de robótica como parte de nos fundamentos da Web, permitindo
projetos educacionais. Esses recursos são comunicação e colaboração através da troca
interessantes à medida que permitem a de conteúdo produzido pelos usuários dessas
participação ativa dos alunos de seu próprio redes (DEVELOTTE e DERVIN, 2012).
processo de ensino e aprendizagem, sendo o
professor o sujeito que permite essa troca e Os sites de redes sociais são as mídias
efetiva construção do conhecimento. sociais mais populares, embora não sejam
os únicos. As principais categorias de mídias
sociais são os relacionados nas linhas
TRABALHANDO COM seguintes.
MÍDIAS SOCIAIS
Redes sociais
REDES SOCIAIS,
MIDIAS SOCIAIS E WEB Esses sites facilitam a interação social e
o compartilhamento de informações entre
O termo redes sociais, mídias sociais ou membros ou amigos do grupo de interesse.
Web 2.0 costuma ser utilizados para se referir Dentro de um sistema definido, os usuários
a plataformas ou ferramentas interativas da criam um perfil público ou semipúblico e
Web. No entanto, é importante definir bem uma rede de contatos com outros usuários,
esses conceitos, que não constituem um navegando através dele para trocar
todo homogêneo e se distinguem em vários informações. Este tipo de rede aumenta a
aspectos (DEVELOTTE e DERVIN, 2012). percepção periférica, pois o usuário pode
exibir marcadores temporários em sua
Web vida diária através do Facebook, LinkedIn
e Twitter, plataformas mais utilizadas
O termo Web refere-se geralmente (BOGDAN, 2013).
a plataformas que permitem que vários
usuários de redes sociais usem logins para Treinamento em redes sociais para alunos
criar, distribuir, compartilhar ou manipular
conteúdo de acesso aberto (DEVELOTTE e Os cursos de informática deveriam ter
DERVIN, 2012). como objetivo o fomento da usabilidade nas
redes sociais. Para conseguir isso, o professor
Mídia social poderia primeiro apresentar as motivações e
funções de uma plataforma de sua escolha,
Heterogêneas, as mídias sociais incluem e então, convidar os alunos a (BOGDAN,
uma grande variedade de plataformas 2013):
online e aplicativos móveis. Eles se definem

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Revista Educar FCE - Abril 2019

• Descobrir concretamente o usando mídias sociais. Os professores que já


funcionamento da rede social (funções, possuem algumas habilidades de mídia social
utilidade, parâmetros, etc.) podem usá-lo para apresentar seu conteúdo.
• Conhecer as políticas de uso do site. Por exemplo, eles podem transmitir vídeos
Também seria relevante mostrar-lhes: ou clipes de áudio que eles produziram ou
• Como garantir a proteção de dados compartilhar links para o conteúdo de seus
pessoais encontrados em seu ambiente alunos (DEVELOTTE e DERVIN, 2012).
virtual?
Ao se conectar a um ambiente virtual de
Aprender sobre publicação, transmissão e aprendizagem, os jovens podem consultar o
compartilhamento também seria interessante material à distância a qualquer momento e
(BOGDAN, 2013): caminhar em seu próprio ritmo. Por exemplo,
ambientes como ChallengeU e Edmodo são
• Como editar informações? interessantes para a realização de atividades
• Como fazê-lo com segurança? virtuais. Dependendo do seu curso ou nível,
• Que informações podem ser editadas o professor prepara material (escrito, áudio
ou compartilhadas nesses sites de rede? ou vídeo) para apresentar o conteúdo.
• Com quem compartilhar (ou não) Ao fazer o login, os alunos têm acesso a
Informações? Por quê? atividades de aprendizagem individuais
ou grupais. Promovendo a comunicação.
No final desta atividade, os alunos Essas plataformas também permitem
conheceriam os diferentes parâmetros de receber feedback instantâneo de colegas ou
um site de redes sociais e seriam capazes professores, de modo que podem reformular
de dominá-los adequadamente (BOGDAN, sua abordagem se quiserem alcançar seus
2013). objetivos de aprendizagem. Mais importante
ainda, o professor pode usar esses ambientes
Ideias para usar as mídias sociais em sala para avaliar até que ponto cada pessoa adquire
de aula conhecimento ou habilidades. Através de
atividades de aprendizagem específicas
A integração das mídias sociais com a do assunto, promove-se a capacidade de
experiência acadêmica não é óbvia para editar, transmitir e remixar conteúdo digital
todos os professores, pelo contrário. Aqui (BARON & BRUILLARD, 2006).
estão algumas maneiras de começar.
Sua abordagem mais individual e
O professor poderia começar estabelecendo personalizada favorece uma estrutura de
e definindo conceitos-chave a serem câmbio muito aberta. Na verdade, os alunos
aplicados pelos alunos para desenvolver acessam um mundo de conhecimento
atividades de aprendizagem sobre ou e conhecimento informal em todos os

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Revista Educar FCE - Abril 2019

momentos. Eles colaboram virtualmente com outros jovens (de seu grupo, de outro grupo ou
do resto do mundo), observam questionam os outros têm feedbacks rápidos e muito mais.
Esses ambientes não são muito direcionados e podem até levar a projetos colaborativos às
vezes inesperados e informais fora dos espaços de aprendizagem institucional (BARON &
BRUILLARD, 2006).

Obviamente, para um uso ideal, essas plataformas exigem algum trabalho prévio do
professor, especialmente em termos de preparação do equipamento (DEVELOTTE e DERVIN,
2012).

Eles não são os únicos que podem ser usados em aula! Por exemplo, mais e mais professores,
mesmo no nível primário, estão usando a plataforma de microblogging Twittter para uma
variedade de projetos educacionais com seus alunos.

Os assuntos e as atividades escolhidas são bastante aleatórias, mas as atividades podem ser
adaptadas de acordo com o nível de escolaridade ou o campo de aprendizagem (DEVELOTTE
e DERVIN, 2012).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse projeto teve por objetivo discorrer a respeito do
uso de recursos tecnológicos em benefício da educação.
Acredita-se que professores e pedagogos com formação
tradicional pouco a pouco deixarão de lado a resistência e
o medo de utilizar recursos tecnológicos e logo passarão a
incluir essas ferramentas na rotina da sala de aula. Para isso,
é necessário preparo, além da compreensão real da proposta
aqui sugerida, para que se possa estabelecer uma conexão
concreta entre o processo de ensino-aprendizagem e as ALESSANDRA FERRARI
ferramentas tecnológicas em benefício da educação. DA FONSECA TEIXEIRA

Graduação em Letras pela


Universidade Paulista - UNIP.
(1999); Especialista Pedagogia
pela Faculdade Campos Salles
(2000); Professor de Ensino
Fundamental I - - na EMEF Ernani
Silva Bruno, Professor de Ensino
Fundamental II e Médio – Língua
Portuguesa - na E.E. Dr.Genésio
de Almeida Moura.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
BARON, Georges-Louis e BRUILLARD, Eric. O que aprender nas comunidades de professores
online? Reflexões metodológicas e perspectivas. 2006.

BOGDAN, Patrut. Mídia social e novo ambiente acadêmico: desafios pedagógicos: desafios
pedagógicos . IGI Global. 2013.

DEVELOTTE, Christine e DERVIN, Fred. A mídia social e o ensino-aprendizagem das línguas:


links reais ou de fantasia? Onde estamos? Trocar para aprender on-line Grenoble: 2012.

Imagine. Disponível em: <www.imagine.etc.br/imagine/galeria_logomotiom>. Acesso em:


11 Jun. 2018.

OLIVEIRA, C. C, COSTA, J. W, MOREIRA, M. Ambientes Informatizados de Aprendizagem.


1º Ed. São Paulo: Ed. Papirus. 2001.

VILA, Maria do Carmo. Concepções Epistemológicas. Disponível em: <www.geocities.com/


luis_brandao/epistemo> Acesso em 13 Jun 2018.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento psicológicos superiores.


6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

HOBBES, T. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. São Paulo:
Abril Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN


FREQUENTAREM ESCOLAS PARA
CRIANÇAS TIDAS COMO “NORMAIS”
RESUMO: Para compreender a importância de uma criança com Síndrome de Down
frequentar uma escola regular, houve a leitura e interpretação de vários dados e literaturas,
quanto melhor a criança for aceita pela família, sociedade e grupo acadêmico, maior e melhor
será o seu desenvolvimento. Uma das maiores barreiras é a formação dos profissionais que
lidarão diretamente com essas crianças, os espaços físicos e matérias adequados para tal.O
educador é o eixo principal para a formação da sociedade inclusiva, ele está lidando com
crianças, que em sua maioria, não têm preconceitos inseridos. As dificuldades são imensas,
a maioria é por falta de informação, o portador de Síndrome de Down não é um doente, ele
tem suas limitações onde as mesmas têm que ser respeitadas, como de qualquer outro ser.
A inclusão é o ato de incluir de uma forma globalizada, e não somente dentro da instituição
educacional.

Palavras-Chave: Crianças; Síndrome de Down; Escola; Limite; Respeito.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO tempo, nessas instituições encontrarmos


professores e profissionais de outras áreas
Com este tema quero enfocar sobre Criança com dúvidas e dificuldades de como realizar
com síndrome de Down frequentarem o seu trabalho de uma forma satisfatória e
escolas tidas para crianças “normais”, pois adequada, para que seja bem aproveitado.
estes portadores são capazes de entenderem
e compreenderem suas limitações e Este artigo tem como objetivo a inclusão
conviverem com elas em grupo. O primeiro social e mostrar que é possível, uma criança
documento sobre essa síndrome se deu em com síndrome de down frequentarem
1866 descrita pela por Langdon Down, essa instituições educacionais dita para crianças
síndrome sempre existiu na humanidade, “normais”, o que é necessário são ajuste
mas parece que nos dias atuais existem mais, para que essa inclusão seja realizada de uma
mas o que ocorre é que antigamente essas forma satisfatória, tanto para a instituição
as crianças ficavam em casa, em contato e principalmente para o educando, onde
apenas com os mais íntimos, com o tempo ninguém deva ser separado do outro por uma
os cuidados que receberam permitiram questão de diferença, procurando realizar
sua inclusão social e elas são vistas por um desenvolvimento comum e igualitário a
toda a parte, ativas e atuantes, dentro de todos. No início da vida acadêmica é possível
instituições educacionais e trabalhando, que o portador de Síndrome de Down não
apesar do desenvolvimento físico e mental consiga atingir um nível satisfatório perante
mais lento. A síndrome pode aparecer em aquele que não possui anomalia, mas isso não
qualquer etnia, classe social e econômica. descarta a possibilidade da escolarização,
As pessoas com síndrome de Down, possui pois existem relatos que muitos chegam a
uma anomalia genética num dos 23 pares completar o ensino fundamental, outros o
de cromossomos. Os indivíduos possuem médio, e tem os quais entram na universidade.
algumas características físicas em comum,
como rosto redondo, olhos puxados e certo Os alunos portadores de Síndrome de
retardo mental. A criança com síndrome Down em sua maioria são carinhosos e
de Down precisa ser estimulada desde o atenciosos, eles precisam de atenção,
nascimento para vencer as limitações que estímulos e paciência dos profissionais
essa alteração genética traz consigo, feito e também em seu ambiente familiar. Os
com carinho, amor e atenção, podemos ter profissionais devem estar bem preparados
resultados muito satisfatório. para os receberem, pois ele será o mediador
nesse processo de inclusão. Neste caso
Nos dias atuais encontramos instituições levanta-se o seguinte questionamento: A
educacionais, tanto pública como privada, educação escolar está sendo primordial para
que atendem alunos portadores de alguma o auxílio no desenvolvimento da criança com
anomalia ou deficiência, mas ao mesmo Síndrome de Down?

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CRIANÇAS COM SÍNDROME A pessoa que possui a síndrome,


DE DOWN, FREQUENTAREM essa alteração causa problemas no
desenvolvimento corporal e cognitivo,
ESCOLAS DITAS COMO promovendo características físicas típicas,
“NORMAIS” citadas acima, e deficiência intelectual,
principalmente nos atrasos no campo da
A síndrome de Down é causada pela aquisição da linguagem, comunicação
presença de três cromossomos 21 em e da cognição, tendo também terão no
todas ou na maior parte das células de um desenvolvimento motor e na estatura,
indivíduo. Isso ocorre na hora da concepção relacionados ao crescimento e ganho de
de uma criança. As pessoas com síndrome de peso.
Down, ou trissomia do cromossomo 21, têm
47 cromossomos em suas células em vez de Durante muito tempo o portador da
46, como a maior parte da população. síndrome de Down era considerado uma
pessoa incompetente, tendo um enorme
Nenhum comportamento dos pais causam preconceito sobre essa anomalia, eles
a síndrome de Down, ela é uma deficiência pareciam em não fazer parte da sociedade,
no cromossomo 21, nada pode ser feito para sendo que hoje através de estudos e
evita-la, ela não é uma doença e sim uma estatística sabemos que eles podem estudar,
anomalia. aprenderem a ler, escrever, tem sentimentos,
amor e tristeza, como qualquer outra pessoa
Dentre as características físicas de um dita como “normal”. A expectativa de vida
portador de Síndrome de Down são, : de indivíduos que nasceram com Síndrome
olhos amendoados, maior propensão ao Down aumentou, hoje em dia, devido
desenvolvimento de algumas doenças e aos avanços tecnológicos e da medicina,
hipotonia muscular. Em geral, as crianças indivíduos com essa condição podem viver
com síndrome de Down são menores em por mais 60 anos com qualidade.
tamanho e seu desenvolvimento físico,
mental e intelectual pode ser mais lento Segundo Schwartzman (2003), tanto o
do que o de outras crianças da sua idade. comportamento quanto o desenvolvimento
a síndrome de Down não é uma doença, e cognitivo dos portadores de Down, não
sim uma condição inerente à pessoa, desta estão exclusivamente relacionados à sua
forma não se deve falar em tratamento ou alteração cromossômica, mas sim ao restante
cura para a trissomia do 21, mas eles estão do seu potencial genético e, principalmente,
mais vulneráveis a algumas questões de ao estímulo social que recebe do contexto
saúde que devem ser observadas desde o sociocultural a qual está inserida. Cada
nascimento da criança, como cardiopatias e indivíduo tem o seu modo de se integrar
problemas respiratórios. e seu tempo de evoluir conforme suas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

necessidades é a interação que faz o ser como as públicas, elas devem melhorar seu
humano se desenvolver. sistema educacional, sua infraestrutura e
estrutura humana para receber esse tipo de
O ambiente ideal para se transmitir e estudantes.
construir conhecimento, cultura e cidadania,
a todas as crianças é na escola, onde ela é A matrícula de crianças e jovens com
garantida por lei. A constituição federal de síndrome de Down é garantida por lei,
1988 Art. 205. A educação, direito de todos e não podendo a instituição alegar a falta de
dever do Estado e da família, será promovida e preparo para recebê-los.
incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da O artigo 8º da Lei 7.853/89 específica que
pessoa, seu preparo para o exercício da recusar a inscrição de um aluno em qualquer
cidadania e sua qualificação para o trabalho. escola, seja pública ou privada, por motivos
Art. 206. O ensino será ministrado com relacionados a qualquer deficiência, é crime.
base nos seguintes princípios: I – igualdade Além de receber uma multa, os diretores
de condições para o acesso e permanência ou responsáveis pela escola que se negar a
na escola; Art. 208. O dever do Estado matricular pessoas com deficiência podem
com a Educação será efetivado mediante a ser punidos com reclusão de um a quatro
garantia de: III - atendimento educacional anos.
especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino; Em 1994, a declaração de Salamanca
IV - atendimento em creche e pré-escola às enfatizava de forma quase redundante que
crianças de 0 a 6 anos de idade. Art. 213. “educação para todos efetivamente significa
Os recursos públicos serão destinados às para todos”. Requisitos, restrições e exceções
escolas, podendo ser dirigidos a escolas são inerentes à lógica da integração. Na
comunitárias, confessionais ou filantrópicas, inclusão, todos têm direito à educação, não
definidas em lei, que: I – comprovem se trata só de acesso. A Convenção da ONU
finalidade não lucrativa e apliquem seus sobre os direitos das pessoas com deficiência,
excedentes financeiros em educação. Nos ratificada no Brasil com equivalência de
últimos anos, tem crescido muito a política emenda constitucional em 2008, garante
educacional com relação aos estudantes participação efetiva, sem discriminação e
com Síndrome de Down, sendo focada a com base na igualdade de oportunidades,
inclusão desses jovens na rede regular de para o pleno desenvolvimento do potencial
ensino. Isso elevou o número de matrículas, do educando.
porém esse tipo de inclusão nem sempre
é feita de maneira correta, devido a falta A lei existe, mas não garante que a
de recursos humanos e pedagógicos das instituição educacional saberá como
instituições educacionais tanto privadas trabalhar com essa criança de uma forma

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Revista Educar FCE - Abril 2019

satisfatória. Durante muito tempo, Existe uma grande ilusão quando


acreditava-se que era possível generalizar acreditam que a escola precisa, estar
pessoas e, assim, padronizar estratégias pronta antes, para depois receber os alunos
terapêuticas e pedagógicas a partir de um com deficiência. Vygotsky enfatiza que a
mesmo quadro diagnóstico. Atualmente, já condição humana não é dada pela natureza,
sabemos, por experiência, que essa noção é mas construída ao longo de um processo
no mínimo simplista. Ainda que apresentem histórico-cultural, pautado nas interações
pareceres diagnósticos absolutamente sociais realizadas entre o homem e o meio, ou
iguais, duas pessoas podem reagir às mesmas seja, o preparo do professor no contexto da
intervenções de maneiras diferentes. Com o educação inclusiva é o resultado da vivência
tempo, as pesquisas desmitificaram a ideia e da interação cotidiana com cada um dos
de que haja uma “receita” para ensinar esses educandos, com e sem deficiência, a partir
estudantes ou outros, o ativo é a presença, de uma prática pedagógica dinâmica que
ou seja, a escola não tem mesmo como reconhece e valoriza as diferenças. Não há
saber, antecipadamente, como proceder especialização capaz de dizer o que somente
com uma criança ou adolescente com base no dia a dia poderá ser revelado.
em seu diagnóstico. E isso não se aplica
somente a pessoas com alguma deficiência, Além disso, a insegurança expressa no
já que a diferença é própria da condição argumento da falta de preparo revela,
humana. O processo de aprendizagem de muitas vezes, a fragilidade da escola em
cada estudante é singular.. Mesmo que duas lidar com a diferença. Por trás do discurso
pessoas apresentem o mesmo diagnóstico, aparentemente “responsável” de que as
elas podem reagir de modos diferentes a uma escolas não estão prontas para receber
mesma intervenção. Assim, a recomendação determinados alunos por serem incapazes
dada aos educadores é a de conhecer todos de suprir suas necessidades, de lidar com
de forma individual, perceber como cada um as suas dificuldades e de oferecer recursos
aprende e valorizar suas singularidades. ou pessoal adequados, está, muitas vezes,
a noção de que alguns estudantes não são
Apesar de todos terem a consciência de ou não estão aptos a frequentá-las devido a
que a educação das pessoas com deficiência suas condições, na verdade a instituição tem
é um direito inquestionável, muitos medo do novo, de lidar com a diferença.
professores e gestores escolares ainda
resistem, declarando-se despreparados para A educação inclusiva não é rápido e
concretizá-la. Até mesmo educadores que se nem fácil, requer é um processo contínuo
dizem favoráveis à inclusão de pessoas com e dinâmico, que precisa da participação de
deficiência admitem exceções, alegando não todos os envolvidos, inclusive do próprio
terem o “preparo necessário”. educando e seus familiares, por isso,
é necessário, garantir sua presença na

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Revista Educar FCE - Abril 2019

escola, para que a equipe pedagógica possa Down concluem o Ensino Médio, com ou
conhecê-lo bem e assim buscar identificar sem adaptações curriculares.
meios de garantir sua inclusão efetiva. É de
suma importância que esta inclusão seja feita A educação acadêmica é fundamental
de modo colaborativo, todos os envolvidos, para o desenvolvimento dessas crianças
inclusive a família, para participarem pois com o seu aprendizado dentro de uma
desse processo investigativo, desta forma educação acadêmica, o aluno aprende a
oferecendo apoios aos estudantes que ser crítico e formar sua própria identidade,
precisam de algum tipo de ajuda para realizar além do desenvolvimento psicoafetivo e
as propostas a fim de garantir o direito à o processo de socialização. Conviver com
igualdade de oportunidades, reiterando que pessoas de diferentes origens e formações
é preciso conhecer muito bem os alunos em uma escola regular e inclusiva pode
para saber qual é o apoio que necessitam. ajudar ainda mais as pessoas com síndrome
A Convenção da ONU, garante medidas de Down a desenvolverem todas as suas
de apoio para pessoas com deficiência, capacidades, com a ajuda dos educandos
no âmbito do sistema educacional geral, e de seus familiares poderão ser inseridas
objetivando sua “inclusão plena”. A principal na sociedade com menos restrições.
medida de apoio é o (AEE) atendimento Antigamente, pensavam que as pessoas
educacional especializado. com síndrome de Down nasciam com uma
deficiência intelectual severa, hoje já sabemos
Uma escola inclusiva é uma escola que que o desenvolvimento da criança depende
inclui a todos, sem discriminação, e a cada fundamentalmente da estimulação precoce,
um, com suas diferenças. Perseguindo a do enriquecimento do ambiente no qual ela
aprendizagem de forma ampla e colaborativa, está inserida e do incentivo das pessoas que
oferecendo oportunidades iguais para todos estão à sua volta. Com apoio e investimento
e estratégias diferentes para cada um, de na sua formação, os alunos com síndrome
modo que todos possam desenvolver seu de Down, assim como quaisquer outros
potencial. estudantes, têm capacidade de aprender,
respeitando sempre o limite de cada um.
Se a educação fundamental inclusiva no
Brasil está começando, o ensino médio e O papel da escola é ser inclusiva e dar a
o superior constituem um grande desafio. assistência de acordo com a necessidade de
Ao mesmo tempo em que os alunos com cada um, incluindo novos métodos, de maneira
síndrome de Down vão encontrando espaços em que auxilie no desenvolvimento e amplie o
para progredir e avançar na sua educação, as conhecimento dos alunos. Através do lúdico o
escolas e universidades precisam se adequar professor poderá integrar este aluno aos outros
a esta nova situação. É possível notar que com mais facilidade, onde o preconceito é deixado
cada vez mais jovens com síndrome de de lado e estimulando a interação entre eles.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Cada alunos, independentemente de qualquer deficiência, tem um perfil único, com


habilidades e dificuldades em determinadas áreas, algumas características associadas
à síndrome de Down merecem a atenção de pais e professores, como o aprendizado em
um ritmo mais lento, a dificuldade de concentração e de reter memórias de curto prazo,
assim necessitam de mais interação e que sejam estimuladas o tempo todo. As crianças com
síndrome de Down quando tem o contato com as outras “ditas como normais” a ajudam no
seu aspecto emocional e pessoal, essa mudança só ocorre quando todos envolvidos tem a
consciência de tal importância.

É de grande valia a inserção de toda criança no contexto escolar para a socialização,


aprendizado e a formação pessoal, independente de síndrome ou não, todos nós possuímos
certas habilidades e enfrentamos dificuldades.

A inclusão é um processo social um pouco mais complexo, pois engloba a educação inclusiva,
e vincula o respeito e direitos humanos. A educação inclusiva evidencia o problema social
com relação à forma que os deficientes eram tratados, excluídos de ambientes comuns, sem
direito de participar de forma ampla do contexto social. De acordo com Voivodic (2008),
atualmente podemos ver na sociedade pessoas com Síndrome de Down que conquistaram
seus espaços, venceram preconceitos e suas dificuldades. Pois, vencer os desafios é a maior
conquista da luta pela inclusão dessas crianças na rede do ensino regular. Não se pode inserir
a criança na escola regular sem um acompanhamento. A criança ainda não tem preconceitos,
a escola tem que mostrar que a sociedade é formada por pessoas diferentes, a criança acaba
se tornando um cidadão mais consciente. As escolas normais ou regulares devem aumentar
as suas capacidades para identificarem e integrarem as crianças com Síndrome de Down. O
sistema de ensino tem de dar lugar à qualidade de ensino. Pesquisas de estudos evidenciaram
que, mesmo aquelas crianças com a Síndrome de Down, ao apresentarem um nível maior de
dificuldade, obtiveram melhora quando incluídas na escola regular. Entretanto, os autores
alertam que uma mesma criança inserida em diferentes contextos de inclusão, caminha para
o sucesso de modos diversos, pois muitas escolas possuem formas variadas de lidar com
estas crianças, isso ocorre também com as crianças “ditas como normais”, é comum do ser
humano, afinal cada ser é um ser, com pensamentos, atitudes e habilidades diferentes.

Apesar de estar evidente a contribuição do ambiente da escola regular para o


desenvolvimento global das crianças com Síndrome de Down, a inclusão também favorece
as crianças com desenvolvimento típico.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criança com síndrome de Down quando frequentada
uma escola comum, ajuda a si mesma como os outros, pois os
alunos estarão trabalhando o respeito, a tolerância, quando
encontrado outra pessoa na sociedade com qualquer que
seja a síndrome saberá que é apenas uma anomalia genética,
mas também é um ser como qualquer outro com sentimentos
e capaz de aprender dentro dos seus próprios limites.

A lei existe e garante a educação a todos, mas é necessária


uma educação de inclusão que garante este processo. Para
que haja a inclusão escolar, são necessárias mudanças, ANA CLAUDIA
quebras de paradigmas e novas perspectivas educacionais MARQUEZ SILVA

Graduação em Pedagogia pela


A inclusão social, não somente da Síndrome de Down, tem Universidade Cidade de São Paulo
conseguido mais espaço nas instituições educacionais e na (1995);
sociedade., mas para que haja maior efetividade é necessário Especialista em Artes Visuais
pela Faculdade UniSantos (2013);
de apoio de políticas específicas na conscientização da Professora de Ensino Fundamental
população e que sejam realmente implantadas na sociedade, II - Arte - na EMEF Carlos Correa
com o intuito de incluir as na rede regular de ensino. Melhor Mascaro.

formação e preparação a todos os profissionais que iram lidar


com a síndrome. A educação das crianças com Síndrome de
Down é possível, mesmo com todas as limitações, pois são
crianças capazes de aprender, no seu tempo, apenas temos
que respeitar o limite de cada um. A educação visa melhorar
sua vida diária e sua autonomia. A inclusão deve ser ampla no
sentido de atender não só a criança, mas toda a sua família,
que precisa de orientação pedagógica e acompanhamento
de profissionais da saúde, para que a qualidade de vida tanto
da criança quanto de seus familiares seja cada vez mais
aprimorada.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
SALAMANCA. Declaração de Linha de ação sobre necessidades educativas especiais.
Brasília: Corde, 1994.

VYGOTSKY, L. A formação social da mente: o desenvolvimento os processos psicológicos


superiores. 5. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

SCHWARTZMAN, José Salomão. (Org). Síndrome de Down. 2 ed. São Paulo: Memnom:
Mackenzie, 2003.

MEMNON 2012. COLL, C. Desenvolvimento psicológico e educação. Transtornos de


desenvolvimento e necessidades especiais. Tradução de Fatima Murad. Porto Alegre: Artmed,
2004.

MANTOAN, M. T.E. Inclusão escolar o que é? Por que? Como fazer? 2 ed. São Paulo: Moderna,
2006.

VOIVODIC, M. A. Inclusão escolar de crianças com Síndrome de Down. 5 ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2008.

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criancas-com-sindrome-de-down-no-ensino-fundamental/
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Acesso em: 20 de fevereiro de 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

PSICOMOTRICIDADE E EDUCAÇÃO:
INSTÂNCIAS QUE FORNECEM
ELEMENTOS BÁSICOS PARA O
DESENVOLVIMENTO
RESUMO: Definimos como meta analisar a neurociência e o desenvolvimento do aprendizado
por meio de estudos da arte, entretanto não nos limitamos em fechar o campo em torno
de análises de obras, mas da representação que as manifestações artísticas podem trazer
para o desenvolvimento do cérebro. Entendemos que a neurociência representa um ramo
dos estudos do cérebro que tem como fulcro desenvolver as potencialidades humanas. Para
alcançarmos êxito em nosso trabalho fizemos uma pesquisa em diversas áreas para que com
uma visão multifacetada pudéssemos refletir em diversos ângulos afinando a percepção e
ampliando o lócus investigativo. Esperamos que que nosso modesto trabalho possa contribuir
para o estudo científico do tema.

Palavras-Chave: Neurociência. Arte. Desenvolvimento. Criança.

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INTRODUÇÃO No imaginário infantil e infanto-juvenil a


arte demonstra certa padronização estética,
Podemos por meio da arte identificar acreditamos ela que leva as gerações a se
diferenças cerebrais estruturais de identificarem comportamental e socialmente
comportamento entre vários indivíduos. de acordo com as expressões artísticas de
A partir daí, podemos postular hipóteses uma Indústria Cultural que usa a fotografia
sobre a estrutura e como essa estrutura como dispositivo artístico para justificar as
se relaciona com os estímulos. Contudo, escolhas por formas corporais, cheiros e
muitas vezes achamos difícil atribuir sabores. Isso alimenta um mercado cada vez
causalidade as descobertas científicas mais pulsante que encontra nesses nichos de
quando as vinculamos ao mundo da arte. fetiches o cenário ideal para sanar as vontades
No entanto, podemos dizer com confiança que estimulam a liberação de endorfina por
que a estrutura do cérebro muda como meio das compras. O desenvolvimento está
consequência das sinapses provenientes atrelado também a expressões de cunho
de expressões artísticas. Acreditamos – por artístico e estético.
meio do embasamento teórico calcado nas
pesquisas efetuadas – que haja ligações A alimentação também é nosso foco nesse
desse processo com o que se entende por trabalho uma vez que para se viabilizar uma
“plasticidade cerebral”. Vários campos usam o boa saúde e motricidade a alimentação
conceito de plasticidade cerebral. Um campo faz-se mister, os movimentos corporais
emergente muito interessante envolve o são expressões que só fazem sentido aos
estudo da arte e do cérebro, ou arteterapia. estímulos recebidos do cérebro se estiverem
Originalmente, a arteterapia usava conceitos atrelados a ideia de corpo saudável.
puros de arte, sem a investigação científica.
Agora, lentamente, está adotando o Assim também nos relacionamos ao
pensamento científico usando abundantes desenho infantil, parte fundamental do
dados neurocientíficos e as ferramentas desenvolvimento humano, as primeiras
objetivas da investigação científica. Durante expressões que levam em consideração
anos, reconhecemos que a criação de arte coordenação motora e capacidade cerebral
permitia reformular experiências, reorganizar põe o desenvolvimento cognitivo em
pensamentos e obter insights pessoais que outro patamar, pois acelera por meio da
muitas vezes aumentavam a qualidade de autonomia as possibilidades de significação
vida de uma pessoa. A arteterapia ganhou na aprendizagem. A arte se torna, portanto,
popularidade porque combina a expressão a via de acesso para as manifestações do
artística livre com o potencial de intervenção cérebro, as sinapses que ocorrem por meio das
terapêutica significativa. sensações que ela representa dão contornos
significativos aos estudos comportamentais
explicando – ou buscando explicar – os

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avanços no desenvolvimento educacional. A fusão do conhecimento em


Como por meio da arte, os comportamentos neurociência com o conhecimento acerca do
são induzidos a mudança por exemplo o desenvolvimento em prol do entendimento
neuromarketing que se baseia nos resultados pormenorizado, e por assim dizer, os
obtidos em neurociência – gostos, aptidões, primeiros anos de vida na determinação
estética, moda, etc. – para vender produtos o futuro da criança, percebemos as
ou se comunicar com base nos dados ligações entre o modo como o cérebro se
psicológicos já utilizados criando formas de desenvolve e os mecanismos neurológicos e
comunicação e mensagens subliminares. O biológicos que influenciam a aprendizagem,
funcionamento do sistema nervoso não pode comportamento e saúde ao longo da vida.
ser concebido independentemente do corpo
(ambiente interno) e do mundo ao nosso “A aprendizagem inicia-se desde o começo da
vida. Muito antes de a criança entrar na escola,
redor (ambiente externo), assim acreditamos enquanto cresce e se desenvolve em todos os
que os impulsos dados pelo meio são também domínios (físico, cognitivo e socioemocional), ela
fundamentais ao desenvolvimento. O sistema aprende nos contextos de seus relacionamentos
afetivos. Especialmente na primeira infância,
nervoso cérebro-espinhal ajuda a gerenciar as a aprendizagem é fortemente influenciada por
relações de nossos organismos com o mundo todo o meio onde a criança se encontra e com o
exterior. É também chamado de sistema qual interage. A criança aprende no ambiente de
seus relacionamentos, que por sua vez afetam
nervoso sensorial somático, permitindo todos os aspectos de seu desenvolvimento.
experimentar sensações nas partes distintas A promoção do desenvolvimento integral
do seu corpo. Assim, esperamos que nosso saudável, com nutrição e cuidados de saúde
adequados, ambiente familiar afetivo, seguro e
trabalho tenha boa aceitação por essa distinta estimulante, relações estáveis e incentivadoras,
academia, nossos sinceros préstimos. além da oferta de educação de qualidade,
fornecem o alicerce para que cada criança viva
bem no presente e alcance seu potencial pleno
no futuro.” (Comitê Científico Núcleo Ciência
ESTÍMULOS COGNITIVOS Pela Infância, p, 4)

Existe uma importância crucial no Estes dados confirmam os preceitos da


desenvolvimento infantil, particularmente do boa maternidade que os pais aplicam por
desenvolvimento cerebral, percebemos na séculos. Mães e pais sempre souberam que o
primeira infância como ocorre a influência da bebê e os jovens criança precisam de amor e
aprendizagem, o comportamento e a saúde ao carinho. Mas o que esse novo conhecimento
longo do ciclo de vida bem como a influência sobre o desenvolvimento do cérebro tem
proveniente das experiências e dos ambientes de profundamente fascinante, é que ele nos
vivenciais, particularmente a participação ativa faz entender como uma boa educação, bons
dos pais e da família de modo geral, todos esses cuidados, boa nutrição e boa saúde durante
estímulos são basilares ao desenvolvimento da a primeira infância estabelecem as bases
primeira infância. para o desenvolvimento do cérebro, e como

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representam alicerces importantes para Além disso, agora entendemos melhor


fases posteriores da vida. como os estímulos experimentados pela
criança antes dos três anos afetam as células
Psicólogos do desenvolvimento têm nervosas (neurônios) e vias neuronais cérebro.
estudado como as crianças se desenvolvem A interação ativa entre a estimulação precoce
por um longo tempo e como aprendem, do cérebro, através dos canais sensoriais, e a
observando e avaliando o comportamento estrutura genética fundamental do cérebro
e as habilidades em várias idades. No tem um efeito direto e decisivo sobre o
entanto, sobre suas descobertas a respeito à desenvolvimento do cérebro, que, por sua
importância do desenvolvimento na primeira vez, tem repercussões a longo prazo no
infância e seus desdobramentos, o potencial a criança se tornará. O desenvolvimento
a longo prazo não atraiu a atenção do público humano não se baseia em uma oposição
até pouco tempo. Nas últimas décadas, entre hereditariedade e educação, mas sim
a neurociência permitiu a explosão do na interação entre esses dois elementos.
conhecimento sobre o cérebro e as ligações
entre o desenvolvimento do cérebro de Grande parte do desenvolvimento
crianças menores e as dificuldades que ele cerebral ocorre antes do nascimento, ainda
pode apresentar mais tarde com relação à no estágio embrionário (duas semanas
aprendizagem, comportamento e saúde. após a concepção) é formado o tubo neural
que se formará o cérebro e espinha. De
As novas descobertas derivam da pesquisa algumas células, o cérebro produz bilhões
básica em neurociência, novas tecnologias de neurônios. Agora, a maioria das células
que permitem aos neurocientistas obter cerebrais de um ser humano é produzida
imagens do cérebro humano e estudar entre o quarto e sétimo mês de gravidez.
sua atividade em vários estágios de Uma vez que os neurônios são formados,
desenvolvimento, a pesquisa neurobiologia eles devem migrar para o local designado e
e integração de novos conhecimentos. formar conexões. Uma migração maciça de
células ocorre quando o feto tem cerca de
Antes dessas fascinantes descobertas quatro meses e meio de idade.
sobre o desenvolvimento cerebral de crianças,
pensamos geralmente que a arquitetura do Uma criança é dotada de bilhões de
cérebro foi largamente determinada desde o neurônios que devem formar bilhões e bilhões
nascimento por características genéticas que de ligações para funcionar corretamente. Em
o indivíduo herdou dos pais. Os cientistas resposta aos estímulos do meio recebido pelos
agora estabeleceram que uma grande parte órgãos dos sentidos (olhos, ouvidos, nariz,
do desenvolvimento do cérebro ocorre entre língua, pele, articulações etc.), os neurônios
a concepção e a idade de um ano. na parte correspondente do cérebro formam
conexões, chamadas sinapses, que permitem

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ao cérebro reconhecer os sinais dos órgãos NEUROCIÊNCIA, EDUCAÇÃO,


dos sentidos. ALIMENTAÇÃO E SOCIEDADE
“Um aspecto essencial do aprendizado é o fato A alimentação é fator que explica o
de ele criar a zona de desenvolvimento proximal;
ou seja, o aprendizado desperta vários processos desenvolvimento do cérebro da criança
internos de desenvolvimento, que são capazes em idade escolar. Uma dieta com baixa
de operar somente quando a criança interage qualidade faz com que o aluno não responda
com pessoas em seu ambiente e quando em
cooperação com companheiros. Uma vez adequadamente à excelência do esperado
internalizados, esses processos tornam-se parte com relação ao ensino fornecido. Se a
das aquisições do desenvolvimento da criança.” emoção representa um impulso motor ao
(VYGOTSKY, 98 p.117-118)
funcionamento neural e orgânico para a ação.
Uma experiência emocional não é em suma
Durante os três primeiros anos de vida, há um fenômeno isolado ela varia de pessoa para
grande intensidade na produção de sinapses pessoa e é resultante de uma série de eventos.
e neuronal, especialmente durante a gravidez Nela podem conjuntamente ser inclusos
e no primeiro ano; a produção continua, uma gama de ações, planos e pensamentos
mas a uma taxa decrescente, até a idade de sobre como ocorrem os fenômenos ou como
10 anos, e para algumas funções, continua algo ocorre, está ocorrendo ou como irá
tudo ao longo da vida. Esse processo é acontecer. A alimentação enquanto qualidade
frequentemente chamado de fiação cerebral. fisiológica sempre precisou estar cada vez
mais sob os olhares dos pesquisadores e
Enquanto está relação é feita no início portanto de mais atenção por ser fruto da
do desenvolvimento, um processo também cultura, dos hábitos regionalizados herdados
ocorre. Bloqueio importante dos neurônios, e adquiridos, é fundamental buscarmos
sinapses e até mesmo vias neuronais que conceitos que venham dar contornos as
não estão em estímulos. Aqueles que não demandas apresentadas para que seja
são usados ou que não são eficazes são viabilizada a profilaxia com relação ao
eliminados. Esse processo crucial é uma desenvolvimento cognitivo. A nutrição como
forma de padrão que faz aparecer formando fator preventivo de doenças e mantenedor
os diagramas embutidos da massa de células de um estado cerebral saudável tem se
que durará toda a vida, enquanto o excedente mostrado fundamental em diversos campos
é eliminado. de pesquisa, seja em nível individual ou
populacional.

A alimentação reflete e interfere em


sentimentos e emoções. Assim também
ocorre com a má alimentação, ela pode ser
fonte de alterações no desenvolvimento das

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funções cerebrais, o cosmopolitismo fruto são alguns dos responsáveis pela regulação
da sociedade pós-moderna fez aumentar orgânica dos indivíduos. Essa regulação
consideravelmente a ingestão de alimentos vincula-se diretamente ao estado que garante
pobres em nutrientes, dentre os quais os o controle emocional. Não obstante, esses
referentes as vitaminas e minerais. Esses, por nutrientes fornecem energia para o corpo,
sua vez, representam grande importância para garantindo o bom humor. No momento da
as funções de todos os sistemas corporais, ingestão de um alimento, os nutrientes
incluindo aí o sistema nervoso central. Não contidos ali liberam neurotransmissores
há como comprovar cientificamente se que por sua vez são enviados ao Sistema
existe de fato uma relação direta de que a Nervoso Central que é responsável pelo
falta de nutrientes acarreta problemas no estado de humor das pessoas, a serotonina
desempenho cerebral, entretanto é em sua é o principal responsável por essa sensação.
totalidade aceitável estabelecer que a falta Contudo, existem variáveis que podem afetar
de nutrientes importantes no processo de a produção e liberação da serotonina.
alimentação pode vir a reduzir o rendimento
cerebral. A serotonina é o neurotransmissor e como
já dissemos anteriormente está ligado ao
“A formação de uma memória resulta de estado de bom humor. Se os sinais, que são
modificações ativadas por um sinal nas conexões
das redes neuronais. Quando uma informação enviados ao Sistema Nervoso Central, por
é recebida, proteínas e genes são ativados algum motivo estiverem em desequilíbrio,
nos neurônios. Proteínas são produzidas e seja por deficiência nutricional – assim como
encaminhadas para as conexões estabelecidas
entre neurônios. Essas proteínas servem ao ocorre por outros distúrbios fisiológicos
reforço e à construção de novas sinapses – –, provocam uma deficiência na produção
aprendizagem (os locais de comunicação entre de serotonina. Isso desencadeia várias
os neurônios). Quando se forma uma nova
memória, uma rede específica de neurônios alterações em nosso sistema nervoso (como
é elaborada em diversas estruturas cerebrais, depressão, ansiedade, fadiga e aumento
principalmente no hipocampo e depois a de peso). A melhora do funcionamento do
lembrança é gravada da mesma maneira no
córtex, local de seu armazenamento definitivo organismo relaciona-se com os hábitos
(MELO, 2005. P, 30)” alimentares e nesse bojo também está
contido as características cerebrais e da
Aspectos cognitivos e qualidade do sono produção dos neurotransmissores que são
são alguns exemplos que a má alimentação responsáveis pela sensação de bem-estar.
acarreta para o desenvolvimento das funções
cerebrais, além de afetar o humor por causa O sistema neurológico necessita de boas
de sua composição nutricional, tem um peso gorduras para um bom funcionamento e que
fundamental no controle das funções do uma das razões da intoxicação dos neurônios
sono as vitaminas e os minerais, presentes é a ingestão das gorduras trans e os aditivos
em frutas e verduras – ou a falta delas –, químicos em excesso, essa intoxicação

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primas. Recebem instrução da pituitária. As


compromete o desempenho cerebral, instruções são levadas em um hormônio-mestre,
podendo levar a demência, ansiedade, o adrenocorticotrófico(ACTH) que significa
depressão e déficit de atenção. hormônio que alimenta o córtex suprarrenal. A
pituitária controla a maioria dos hormônios do
corpo, medindo suas quantidades e fazendo os
CHUDLER assevera que os ácidos graxos ajustes necessários. Mas mesmo a pituitária não
da tipologia n-6, exercem influências nas pode decidir que nível de hormônio é apropriado
para uma circunstância em que o corpo se
capacidades que os neurônios sustentam ao encontre. As verdadeiras decisões são tomadas
utilizar-se da glicose. Teores baixos do tipo por outro centro de controle, o hipotálamo. O
n-3 podem acarretar deficiências visuais e a hipotálamo é, assim, o centro da administração
do corpo, tanto quanto de sua defesa.” (FULDER,
sua ausência pode levar o indivíduo a pouco 1986, p.169-170)
rendimento com relação ao aprendizado,
nas funções motoras e de motivação, Um outro problema se relaciona com
afetando outros sistemas que carecem do a questão da obesidade, muitos casos de
uso dos neurotransmissores na região do dificuldades de relacionamento vinculam-se
córtex frontal. Na fase de desenvolvimento aos modelos estabelecidos pela sociedade
aconselha-se a ingestão da vitamina B6 e que estes mesmos modelos geram
contida nos alimentos do tipo feijão ou lentilha, acepções de pessoas nos mais diversos
isso pois são conhecidos como responsáveis meios. Estudos apontam que a ingestão
pela produção de neurotransmissores que de nutrientes – do mesmo modo como o
levam ao controle da excitação e ômega3 metabolismo destes nutrientes – podem
no que compete estimular os neurônios. Os ser modulados por estruturas neurológicas
efeitos positivos no cérebro que o consumo e por sistemas neuroquímicos em conjunto
de alimentos selecionados proporciona ao com neuroendócrinos apropriados. As
bom funcionamento cognitivo é algo a ser alterações vinculadas a estes sistemas
fomentado a todo instante. neurais podem estar ligadas as mudanças nos
comportamentos alimentares. Assim crianças
“O cérebro registra mudanças ou as ameaças que se alimentam de maneira errada tendem
ao meio interior estável, e transmite instruções
à fisiologia para que efetue os ajustes a desenvolver um descontrole do com
necessários. Também a glândula suprarrenal relação aos sinalizadores de adiposidade que
é induzida a secretar adrenalina. A resposta são responsáveis por informar ao cérebro as
elétrica-adrenalina contribui para a prontidão.
Esta prontidão é organizada pelos hormônios. quantidades de energia corporal armazenada
A adrenalina é um hormônio incumbido da além da conta.
ativação rápida. São chamados glicocorticoides
os hormônios que orquestram, no corpo, as
preparações de longo prazo, são hormônios-
chave...Quando analisados os glicocorticoides
humanos, verifica-se que um único hormônio
constitui cerca de 95% de sua quantidade: o
cortisol, ou hidrocortisona [...] As glândulas
suprarrenais são apenas a usina manufatureira.
Produzem os hormônios com as matérias-

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EDUCAÇÃO ALIMENTAÇÃO são tratados, discutidos e apresentados, para


que a situação pareça ser atual e as pessoas
BOTIPOS ARQUÉTIPOS sejam confrontadas com questões substantivas.
Tais problemas são ocultos sobretudo na medida
em que parece haver soluções para todos
As crianças que passam por esse esses problemas, como se a amável vovó ou o
descompasso alimentar carregam uma carga bondoso tio apenas precisassem irromper pela
emocional muito forte quando postas em porta mais próxima para novamente concertar o
casamento esfacelado. Eis aqui o terrível mundo
contraste com os padrões vendidos pela dos modelos ideais de uma ‘vida saudável’,
Indústria Cultural. dando as homens uma imagem falsa do que
seja a vida de verdade, e que além disto dando
a impressão de que as contradições presentes
“Quanto mais firmes se tornam as posições desde os primórdios de nossa sociedade
da indústria cultural, mais sumariamente ela poderiam ser superadas e solucionadas no plano
pode proceder com as necessidades dos das relações inter-humanas, na medida em que
tudo dependeria das pessoas” (ADORNO, 2000,
consumidores, produzindo-as, dirigindo-as, p. 84)
disciplinando-as e, inclusive suspendendo
a diversão: nenhuma barreira se eleva Apontam-se fatores neuroendócrinos
contra o progresso cultural” (ADORNO; como os de maior relevância para a
HORKHEIMER, 1985, p. 135). manutenção do nosso organismo ao que se
refere ao balanço energético, podendo assim,
A mídia condiciona os comportamentos controlar a perda ou ganho de peso. Quantos
das pessoas e vende os arquétipos ao que descompensa a aceitação padronizada
comerciais dos mais variados possíveis, dos elementos que consagram a ‘forma
quanto ao corpo os padrões se difundem perfeita’, estes podem servir de impeditivos
pela TV, revistas, jornais e mídias das mais que podem afetar o estado de humor das
variadas possíveis. Pessoas felizes e corpos pessoas, mais especificamente as crianças, a
esculturais despontam nas frentes das coisificação imposta nos meios onde o fator
vitrines, as crianças não procuram mais o econômico é imperativo transforma pessoas
exercício do brincar, busca nesses espelhos em coisas que são atraídas por outras coisas.
desformes valores que foram de modo geral A mercadoria é o atrativo das consciências
subvertidos. A oferta de alimentos com baixo formadas e em formação as informações
teor nutritivo está entre os mais veementes chegadas ao cérebro por meio de cores e
ataques dessa indústria, nunca se viu a sabores fazem com que o acesso a esses
verdadeira face do resultado desse tipo de bens estimulem a serotonina dando ênfase a
dieta nos meios de comunicação. sensação de saciedade controlando o estado
de humor, entretanto esse acesso pode ser
“Contudo, quero destacar também o que deletério ao seu possuidor na medida em
considero ser o perigo especifico. Trata-se de algo
relativo ao conteúdo, que nada mais tem a ver que se necessite cada ver mais dele para se
com o veículo técnico de comunicação de massa. controlar as emoções.
Trata-se destas situações inacreditavelmente
falsas, em que aparentemente certos problemas

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“[...] as pessoas acreditam estar salvas quando se


orientam conforme regras científicas, obedecem possível previsão de fatos. Calcula e infere,
a um ritual científico, se cercam de ciência. A aprofunda e formula testes e hipóteses
aprovação científica converte-se em substituto hão construir teorias, que serão postas
da reflexão intelectual do factual, de que a
ciência deveria se constituir. A couraça oculta experimentalmente, podendo ser replicadas,
a ferida. A consciência coisificada coloca a para então serem aceitas ou refutadas.
ciência como procedimento entre si própria e a A procura da ciência capta e apreende o
experiência viva” (ADORNO, 2000, p. 70).
máximo dos fenômenos estudados com
a mínima interferência pessoal como já
fora dito anteriormente. Esse processo de
NEUROCIENCIA E A impessoalidade é importante e necessário,
APRENDIZAGEM POR MEIO portanto, considerado uma prioridade.
A arte reivindica a expressão, constrói
DA ARTE o conhecimento atuando de maneira a
A atuação independente entre arte compreender as manifestações do seu objeto
e ciência não impede o relacionamento de estudo e como ocorre a apresentação
entre elas de diversas maneiras. Podemos qualitativa e quantitativa desses atributos.
encontrar pontos de convergência, assim É gerada partindo da intencionalidade
como os divergentes entre essas duas áreas. e, desse modo, utiliza-se de símbolos e
A exemplo, a arte tanto quanto a ciência alegorias visuais, sons, cinéticos ou outros
utiliza-se da observação apurada para a para dar sentido as suas obras. O simbolismo
realizarem suas pesquisas, entretanto nessa linguístico é estruturado em uma composição
observação de seus objetos de estudo que organiza: cor, forma, movimento, som,
partem de pontos de vistas distintos. Nos emoção, ritmo dentre outros atributos que
desafios encontrados em uma área podem possam vir a representar a intencionalidade
refletir algumas questões de desinteresse proposta. A interação é de fato um elemento
para a outra, muito embora os resultados que encontra no meio características
adquiridos nas pesquisas desenvolvidas por fundamentais, pois relaciona-se, na troca
cada área sejam de suma importância para de informações, de sensações e assim gera
o desenvolvimento humano e para ambas. novas maneiras perceptivas e contemplativas
Isso pois, o conhecimento que se gera nas em torno do aprendizado de seu objeto de
duas esferas oferece o essencial para o ser estudo. A arte pode se apropriar de maneira a
humano afim de que este possa fomentar interagir com o objeto de estudo e, se preciso
novas investigações. for interferir no fenômeno observado.

A preocupação da ciência repousa em “Na medida em que os signos se afirmam,


com justeza, com acento, com profundidade,
desvendar os fatores constituintes e os na medida em que eles tomam o corpo e seus
instrumentos que dão funcionamento ao seu hábitos, eles estimulam; em contrapartida,
objeto de estudo, por meio da descrição e os sentimentos interiores pouco a pouco
realmente se instalam na alma do ator, se

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ampliam, se suplantam. É nessa fase do trabalho que surge, amadurece e se desenvolve uma sinceridade, uma
espontaneidade construída, obtida, pode-se dizer, agindo como uma segunda natureza; inspirando, por sua
vez, reações físicas e seus dados de autoridade, de eloquência, do natural e da liberdade” (COPEAU, 1955, p.
32-33).

Cada ação humana é planejada, aprender, correr, ensinar, desenhar, pintar, dançar ou
cantar é calculada e analisada por meio do funcionamento do nosso sistema nervoso. Dessa
maneira, é o sistema nervoso quem fornece e o suporte para que seja viável a prática de
uma ação artística. Não é estranho observarmos o encantamento dos atores sociais que
se dedicam a estudar o sistema nervoso em ação. Entre os gregos havia os que diziam que
a contemplação é o primeiro passo no caminho da sabedoria, e que quando não temos a
potencialidade de nos maravilharmos, corremos o risco de deixar de saber. Torna-se um
espetáculo magistral visualizar e compreender as inúmeras possibilidades de conexões
neurotransmissoras realizadas no encéfalo para aquilo que em primeiro movimento pareça
simples e estanque, mas que ao ser movimentado efetua alterações significativas no que se
refere a tarefa contemplativa.

“[...] pois a beleza não oferece resultados isolados nem para o entendimento nem para a vontade, não realiza,
isoladamente, fins intelectuais ou morais, não encontra uma verdade sequer, não auxilia nem mesmo o
cumprimento de um dever, e é, numa palavra, tão incapaz de fundar o caráter quanto de iluminar a mente.
Pela cultura estética, portanto, permanecem inteiramente indeterminados o valor e a dignidade pessoais de
um homem, à medida que estes só podem depender dele mesmo, e nada mais se alcançou senão o fato de
que, a partir de agora, tornou sê-lhe possível pela natureza fazer de si mesmo o que quiser – de que lhe é
completamente devolvida a liberdade de ser o que deve ser.” (SCHILLER, 1995, p.110)

Ainda para os gregos a arte realiza ligações fundamentais no campo dos sentidos,
fornecendo elementos fundantes de novas sensações que pela própria natureza artística
representa no cérebro humano reações emocionas e afetivas ou de repulsa. A arte se apoia
nas estruturas emocionais para que seu sentido tenha mais veemência, ao mesmo tempo em
que as representações sociais se valem da contemplação para explicar os estados emocionais
das pessoas a neurociência se utiliza desse dispositivo para ampliar os estudos em torno do
caráter científico. As interpretações podem afetar o cérebro de diversas formas como vemos
em LOBATO (1951).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A comunidade educacional está se tornando consciente
que “entender o cérebro” pode apontar novos caminhos para
a pesquisa e melhorar as políticas e práticas educativas. Isso
em contato com os conhecimentos do meio acadêmico, com
as contribuições didáticas e com as áreas do conhecimento
estudantil vem dando um novo fôlego ao desenvolvimento
educacional. Este trabalho constitui uma síntese sintética
da aprendizagem função cerebral por meio da neurociência
e como essa relação se dá com os estímulos artísticos, e
portanto, submete temas cruciais à atenção da comunidade
educativa e neurocientífica. Ele não propõe soluções ANA CRISTINA DA SILVA
simplistas, nem afirma que a neurociência tem a resposta SACRAMENTO
para tudo. Por outro lado, constitui um inventário objetivo Graduação em Pedagogia pela
do conhecimento atual na encruzilhada da neurociência Unifai (2004); Professora de
cognitiva e aprendizagem; também indica caminhos para Educação Infantil - na EMEI Cel.
Walfrido de Carvalho.
explorar e listar as implicações ao processo de ensino. A
neurociência demonstra claramente que o cérebro tem uma
grande capacidade adaptação às demandas de seu meio
ambiente, plasticidade e conexões neurais são criadas ou
outros são enfraquecidos ou eliminados conforme necessário.
A extensão da modificação depende de tipo de aprendizado:
Aprendizado de longo prazo leva a mudanças mais profundas.
Ela também depende de quando a aprendizagem acontece.
Podemos associar cultura a arte como instrumento de
auxílio imaginativo, subjetivo, narrativo e frequentemente
controverso, mas muito raramente científica. Em contraste
a isso, nós retratamos ciência como lógica, objetiva, factual,
e integral ao nosso entendimento da natureza, tanto de nós
mesmos quanto o mundo ao nosso redor. Mas o crescente
insight que alguns cientistas tiveram veio a reconhecer o
trabalho de artistas como co-investigadores da realidade,
assim levaram suas abordagens a diferirem, artistas e os
cientistas, se esforçando para um objetivo comum em
busca pelo reconhecimento das partes constituintes do
conhecimento. Portanto acreditamos ao associarmos
neurociência à arte encontramos os elementos que além de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sustentar nossas aspirações, contribuímos para enriquecer os estudos sobre essa ciência
que cada dia mais ganha proporções importantes. Lacunas existem e sempre hão de existir
pois o conhecimento não é algo que se esgota, sempre há de surgir uma nova possibilidade,
temos a crença de que a continuidade da pesquisa em questão possa caminhar em torno
da questão alimentar que abordamos aqui, mas para o momento estamos satisfeitos com os
resultados obtidos.

82
Revista Educar FCE - Abril 2019

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São Paulo: Icone, 1998.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO INCLUSIVA:
BARREIRAS VISÍVEIS E INVISIVEIS
RESUMO: O presente trabalho apresenta uma das maiores dificuldades encontradas pelas
escolas na atualidade, a inserção de alunos com necessidades educacionais especiais na
sala comum. A escola contemporânea deve ser capaz de fazer o atendimento adequado a
essas crianças e adolescentes e não se omitir e se ausentar em suas responsabilidades. As
pesquisas indicam que as políticas públicas assumiram compromissos por meio de legislações
apropriadas, que garantem direitos a esse alunado. Mas o obstáculo maior é que haja, de
fato, um comprometimento de todos que estão envolvidos nesse processo, principalmente
do professor, que deve acreditar na possibilidade da inclusão e trabalhar a aceitação das
diferenças com todos, tarefa que é árdua e trabalhosa, mas necessária à dignidade dessas
crianças.

Palavras-Chave: inclusão; escola; legislação; professor.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Assim sendo, e posto à relevância do


tema se faz necessário uma reflexão a cerca
Nossa sociedade mudou muito de algumas da questão, o que me leva a enveredar
décadas para cá, e em todos os aspectos. por algumas indagações que necessitam
A tecnologia tem tomado um espaço até ser respondidas a fim de minimizar muitas
então nunca pensado. Em todas as áreas inquietações, objetivo maior desse trabalho.
do conhecimento houve um progresso
surpreendente, e a educação especial e
inclusiva, como não poderia deixar de ser, POLÍTICAS PÚBLICAS E O
teve um avanço mensurável, em pesquisas e PAPEL DO MINISTÉRIO DA
práticas.
EDUCAÇÃO
As pesquisas especializadas em educação Garantiu-se, a partir da Constituição
especial e inclusiva nos mostra cada vez mais Brasileira de 1988, às pessoas com
qual é o papel da escola, dada às atribuições necessidades especiais, o direito à educação
que lhe cabem, e que nunca antes lhe foi e o direito de ser recebida nas escolas
cobrada. regulares junto com os demais alunos. O
que levou a sociedade brasileira, a assumir
Porém, a maior dificuldade encontrada compromissos, que legitimasse estes
pela escola e pelos educadores, é sem dúvida, direitos em legislações apropriadas, como
como atender os alunos com necessidades a Resolução nº 2 CEB/CNE de 2001, que
especiais de forma eficaz, garantindo acesso estabelece a Educação Especial na Educação
igualitário às oportunidades, respeitando as Básica (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2002).
políticas públicas vigentes e acima de tudo
atendendo alunos de forma que tenham Segundo o Ministério da Educação (2002)
um atendimento educacional que lhes dê o compromisso do Estado brasileiro com
condições efetivas de aprendizagem e o a Educação Especial tornou-se claro, pela
desenvolvimento de suas potencialidades. primeira vez, na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação nº 4.024/1961. Lei que garantia
Diante das dificuldades enfrentadas pela apoio financeiro às instituições privadas,
escola e pelos educadores, há a necessidade que fossem credenciadas pelos Conselhos
de conhecer os fundamentos e os aspectos Estaduais de Educação, além de decretar que
legais que permeiam a Educação Especial, o aluno com deficiência deveria ser atendido
visto que é notória a preocupação em relação na educação regular, dentro do possível.
à inclusão escolar, sem quaisquer distinções
em relação aos educandos. Na década de 70, quando começou a se
implantar no país uma visão tecnicista da
Educação e a ampliação de serviços privados,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

instituem-se Portarias Interministeriais termos da Declaração de Educação para


nº 477 e nº 186, que determinavam Todos, elaborada na Conferência Mundial
procedimentos de diagnósticos e sobre Educação realizada em Jomtien na
atendimentos especializados para alunos Tailândia, assumindo o compromisso de
portadores de deficiência, dizendo que empregar diligência a fim de construir um
deveria recorrer-se aos serviços privados sistema educacional para todos. O lema no
da comunidade, na ausência da LBA/MPAS discurso oficial era “Todos na escola” e “ Uma
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2002). escola de qualidade para todos”.

O ano de 1981 foi definido pela ONU como Em 1994, foi publicada a Política Nacional de
o ano Internacional das Pessoas Portadoras Educação Especial, documento do Ministério da
de Deficiência, desencadeando uma ampla Educação que recomendava que a educação do
discussão nacional sobre o direito de as pessoas aluno com necessidades educacionais especiais,
portadoras de deficiência estarem inseridas na fosse de preferência, realizada no ensino
sociedade (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2002, regular. O poder público assumiu o seu papel,
p.8). mas permitiu a participação do setor privado
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2002).

O Ministério da Educação (2002) relata Em 1994, o Brasil acatou, novamente, um


que em 1985, foi instituído pelo Presidente compromisso internacional, postulado na
da República, um comitê que deveria elaborar Conferência Mundial sobre Necessidades
um plano de atendimento às pessoas Educativas Especiais: Acesso e Qualidade,
portadores de deficiência. desta vez realizada em Salamanca, na
Espanha (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO,
A Constituição Federal de 1988 2002, p.10).
estabeleceu a descentralização do poder por
meio da municipalização, propiciando que o Sendo assim, o autor diz que o Ministério,
atendimento aos alunos com necessidades a fim de propiciar os ajustes e adaptações
educacionais crescesse nos municípios necessárias às necessidades educacionais
brasileiros. Dando prioridade ao aluno com dos alunos, vem desenvolvendo desde então,
necessidades especiais, o atendimento diferentes ações.
no ensino regular, embora deixando
claro e dando ênfase da necessidade de De 1995 a 2001 o Ministério da Educação,
colaboração dos setores privados, por meio passou a investir veementemente nessas três
de programas preventivos, do atendimento vertentes: política, administrativa/gestão e
e de educação para o trabalho (MINISTÉRIO pedagógica (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO,
DA EDUCAÇÃO, 2002). 2002).

Enfatiza ainda o Ministério da Educação “Em setembro de 2001, o Ministério da


(2002) que em 1990, o Brasil, aceitou os Educação publicou as Diretrizes Nacionais

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Revista Educar FCE - Abril 2019

da Educação Especial na Educação Básica” expressão, pois esse termo portar não
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2002, p.12). é recomendado quando nos referimos a
uma necessidade e a principio geral esse
De acordo com o autor esse foi o mais termo pode causar muitos equívocos de
significativo passo na história da Educação identificação e de encaminhamento de
Especial no Brasil. Esse documento veio alunos para o atendimento educacional
explicitar as orientações e determinações especializado.
para a construção de um sistema educacional
que desse respostas às necessidades Todavia, o marco de referência à época era o
documento “Política Nacional de Educação
educacionais dos alunos. Dessa forma esse Especial” (1994) em que no item revisão
alunado passou a ser de responsabilidade conceitual apresentava como “ alunado da
do ensino regular (MINISTÉRIO DA educação especial” os chamados “portadores
de necessidades educacionais especiais”,
EDUCAÇÃO, 2002). classificados em: “ portadores de deficiência”,
“portadores de condutas típicas” e “ portadores
de altas habilidades (superdotadas)”. Portanto, na
INCLUIR OS ALUNOS LDB/96 os direitos foram conferidos para outras
categorias além daquela que a Constituição
COM NECESSIDADES confere proteção especial por meio de normas
específicas (VICTOR, et al., 2013, p.21).
EDUCACIONAIS ESPECIAIS
NA CLASSE COMUM O documento “Política Nacional de
Educação Especial na Perspectiva da
De acordo com Victor et al. desde a Educação Inclusiva (PNEE/08) propõe uma
Constituição Federal de 1988, a conceituação revisão da conceituação desse público alvo,
do público alvo para usufruir o direito ao que o restringe em: alunos com deficiência,
atendimento educacional especializado foi transtornos globais de desenvolvimento,
sendo modificado. A expressão “portadores altas habilidades/superdotação e transtornos
de deficiência”, usada na C.F./88, concedia funcionais específicos (VICTOR, et al. 2013).
os direitos determinados a apenas uma
categoria de pessoas, aqueles que, por O autor ainda ressalta que uma política
diversas razões, apresentavam deficiência de educação que seja responsável e efetiva,
física, auditiva, intelectual, visual, deficiência deve deixar claro, por meio de documentação
múltipla, que possuíam duas ou mais dessas legal ou de orientações às escolas, quais são
deficiências. os alunos que tem o direito ao atendimento
educacional especializado.
O autor acrescenta que na LDB/96 a
terminologia assumida foi “educandos Para Victor et al. (2013) quando a
portadores de necessidades especiais”. definição não é clara e pontual, muitos
Fazendo uma nota em relação a essa encaminhamentos de alunos a serviços de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

educação especial, são feitos erroneamente, O que se pode delatar, de acordo com
mesmo que esses serviços, sejam apenas de Victor (2013), e com certo grau de anuência,
apoio, o que não seria necessário desloca-los é o descuido que ainda marca o atendimento
para outros tipos de serviços o que muitas escolar de pessoas com necessidades
vezes acontece. especiais no Brasil.

O autor ainda esclarece que se o aluno não “Isto sim, tem configurado como um dos
apresenta necessidade educacional especial principais obstáculos à concretização da tão
e sim apresenta outras necessidades, estas da conclamada educação para todos, assumindo
competência exclusiva da educação comum, como lócus da matrícula desse alunado as
e for encaminhado para algum tipo de serviço classes comuns” (VICTOR, et al., 2013, p.27).
especializado, isto levará a prejuízos de
âmbito pessoal, pois os rótulos depreciativos Segundo o autor muitos professores
dos seus usuários ainda existem, e o outro não acreditam nessa possibilidade de
prejuízo é o financeiro, pois o recurso público inclusão e argumentam se utilizando de
da educação é valioso e deve ser usado, de suas experiências, pois estas propostas
fato, por quem necessita. têm recebido tratamento muito diverso
dos gestores de sistemas de ensino e sua
Outro fato a ser citado pelo autor é que interpretação, às vezes, tem se efetuado
a definição de educação especial tem o somente com a garantia da oferta de vagas
destaque dos recursos e serviços que são para alunos com necessidades educacionais
próprios desse atendimento, pois o foco do especiais nas classes comuns.
documento todo é o atendimento educacional
especializado com todo acompanhamento, Contudo, por variados motivos- desde a falta de
vontade política, de investimento financeiro, à
intervenções pedagógicas necessárias, sobrevivência de mecanismos de discriminação,
apoio de permanência desse aluno na classe rejeição, superproteção, enfim, de atitudes que
comum. perpetuam na sociedade brasileira- é comum
a exclusão escolar desse alunado passar de
uma condição prevista como transitória para
Porém nas duas últimas duas décadas, permanente ( VICTOR, et al., 2013, p.28).
há muitos argumentos de resistência à
escolarização de todos, sem distinção, em Victor, et al. ( 2013, p. 29) deixa claro que “
classes comuns (VICTOR, et al., 2013). a educação, com essa compreensão, antes de
E Fávero (2007, p. 17) deixa claro que “é ser adjetivo como especial, por ser educação
direito de toda criança, mesmo que apresente não deve ter marcas de assistencialistas e/ou
características muito diferentes da maioria, médico-psicológicas e sim, caráter escolar”.
conviver com sua geração, sendo que o
espaço privilegiado para que isso ocorra é a Como diz Victor et al.( 2013, p.11) “
escola”. não estamos perante uma imagem doce,

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clemente, suave. Incluir é um gesto árduo e Ainda que há uma orientação nacional, mas
trabalhoso. É um processo difícil para quem a forma como ela acontece em cada região,
incluiu e para quem é incluído”. cabe a cada grupo de educadores fazê-la, a
partir de seu conhecimento, de suas reais
E ressalta que não basta lançar o problema condições, dos profissionais presentes e das
dentro das escolas e dizer que ele existe. políticas locais.
Fazendo assim com que algumas consciências,
no plano político e social, fiquem tranquilas, Na concepção de Jesus e Effgen (2012)
pois os problemas não se resolvem por si só. para se garantir a aprendizagem de todos
Para que a inclusão ocorra na vida escolar é os alunos, é necessário assegurar o acesso
necessário criar condições para tal, formar ao currículo escolar, a partir de práticas
adequadamente professores, construir pedagógicas adequadas, que condiz com
práticas coerentes, conceituar e delimitar o percurso de aprendizagem de cada
os alunos com necessidades educacionais aluno. O que não é fácil, pois para isso
especiais. acontecer os professores precisam ter
conhecimentos teóricos-práticos, tem que
existir um planejamento coletivo, bem como
O PAPEL DO PROFESSOR estratégias e metodologias de ensino e
avaliação que permita o acompanhamento
Jesus e Effgen ( 2012) concordam que do desenvolvimento individual do aluno em
primeiramente deve se ter um grande sala de aula.
investimento na formação inicial e continuada
dos educadores. Mas uma formação educacional Os alunos tem que ter acesso a esses
pública que lhe garanta uma formação de direitos que lhe são imputados, do contrário
qualidade, que considere a diversidade sua inclusão não ocorre de fato, e os prejuízos
que se encontra na sala de aula, como no decorrentes dessa falsa inclusão serão
caso específico do aluno com deficiência, sentidos ao longo da existência dos mesmos.
transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades/superdotação. Outro ponto citado pelos autores é o fato
de que uma formação docente qualificada
É necessário um processo de formação pode muito, mas não é tudo. Há outros
condizente com as dificuldades que o aspectos que configuram os sistemas de
professor irá encontrar em sua rotina escolar, ensino e as condições de trabalho docente.
a fim de que esse possa lidar de forma eficaz
com as problemáticas que a inclusão escolar Aspectos, ao meu ver, como acessibilidade
apresenta, tanto na parte pedagógica, quanto arquitetônica, comunicação efetiva entre os
nos aspectos de convívio e interação entre envolvidos, materiais adequados disponíveis,
os envolvidos no processo educacional. equipe de apoio especializada para o

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atendimento às necessidades especiais educacional que atenda às suas necessidades


desses alunos, entre tantos outros que e condições, não apenas, realizando uma
somados à formação docente fazem toda a inserção física desses educandos (JESUS;
diferença. EFFGEN, 2012).

No Brasil, a partir da Portaria Ministerial Os autores dizem que em algumas


nº 1793, foi reconhecida a importância de
complementar os currículos de formação de realidades escolares, a inclusão dos alunos
docentes e de outros profissionais que atuam com deficiência, se reduz a um simples
em áreas afins, sendo recomendada a inclusão espaço de socialização. Mas é necessária
de disciplina específica focalizando aspectos
ético-político-educacionais relativas às pessoas maior responsabilidade, pois a inclusão é um
com necessidades especiais, prioritariamente processo complexo e esta complexidade deve
nos cursos de Pedagogia, Psicologia e em ser respeitada, atendida e não desprezada.
outras licenciaturas, assim como a inclusão de
conteúdos específicos em cursos da área da
Saúde e em outras áreas. Está previsto, assim, Há a necessidade de uma reestruturação,
que na formação inicial, durante a graduação, de acessibilidade física, pedagógicas,
todos os futuros professores da Educação
Básica, devem desenvolver competências para remover as barreiras visíveis e invisíveis,
atuar também com alunos que apresentem que são as mais sérias de serem removidas
necessidades especiais, em qualquer etapa e (JESUS; EFFGEN, 2012).
modalidade de ensino, na perspectiva de se
efetivar a educação inclusiva (JESUS; EFFGEN.
2012, p. 29). Existe ainda a importância de o professor
ter a certeza da possibilidade dessas crianças
Por melhor que se tenha sido a formação construírem conhecimento, e recebe-las por
dos profissionais de ensino, ela não pode se acreditarem nessa construção e não apenas
esgotar na fase inicial. Há a necessidade de por obrigação (SAMPAIO; SAMPAIO, 2009).
uma formação continuada, de acordo com
a diversidade existente (JESUS; EFFGEN, Segundo Jesus e Effgen( 2012, p. 36) , “
2012). a inclusão deve ser pensada também, de
maneira a extrapolar a dimensão da sala de
Realça ainda os autores que todos os aula, envolvendo toda a comunidade escolar.
profissionais que atuam no cotidiano escolar,
precisam estar preparados para atuarem com Quatro eixos parecem caracterizar a
a diversidade dos alunos. postura de um professor inclusivo:

A formação tem que ser permanente, para Valorização da singularidade do aluno e respeito
ao seu ritmo, ressaltando suas possibilidades,
que se possa atuar, efetivamente, frente aos e não apenas sua deficiência; atenção ao
alunos que estão sob sua responsabilidade, vínculo professor-aluno; uso adequado e não
por mais diversificado que seja o grupo de estigmatizante do diagnóstico e a presença de
um desejo de aprender vibrante no professor, a
educadores, dando-lhes um atendimento fim de que esteja aberto para buscar alternativas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de intervenção diante da inegável dificuldade em aprende dos alunos com deficiência (SAMPAIO; SAMPAIO,
2009, p. 103).

Para Almeida (1986, p.123) “educar é desenvolver todas as potencialidades de cada um,
respeitando sua liberdade individual”.

O que não se deve é abrir mão da ética e todos precisam se engajar nessa empreitada
(JESUS, EFFGEN, 2012).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enfim chego ao momento de concretizar as conclusões
adquiridas no decorrer da pesquisa. Ao iniciar esse trabalho
muitas eram as indagações que me permeava. Angústias
decorrentes do fato da inclusão ser hoje um dos maiores
desafios da educação brasileira.

Viajando pela literatura, pude obter por meio dos teóricos


um leque de constatações de suma importância, vislumbrei
alguns pontos no que se refere à problemática da inclusão,
e constatei que a Educação Especial que por muito tempo
configurou-se como um sistema paralelo de ensino, hoje ANA CRISTINA DE
vem assumindo um papel diferente. MENESES MACENA
Graduação em Pedagogia
Indaguei logo de início o papel da escola diante da pelo Centro Universitário Ítalo
problemática da inclusão dos alunos com necessidades Brasileiro (2013); Especialista em
Educação Especial e Inclusão pela
educacionais especiais, e os autores e os documentos Faculdade de Conchas (2018);
apresentaram várias vertentes da questão, ressaltando sim Professor de Educação Infantil e
a responsabilidade da escola, mas também do Estado e de Ensino Fundamental I - na EMEF
Bel Mário Moura e Albuquerque.
todos envolvidos no processo educacional.

As políticas públicas garantem às pessoas com


necessidades educacionais especiais, direitos que antes não
existem. O aparato legal é eficaz, porém a preocupação maior
é no que tange à formação e qualificação dos profissionais
da educação que lidam diretamente com esse alunado. Se os
recursos e os métodos de ensino são eficazes, se de fato a
diversidade é valorizada, para não comprometer a qualidade
da educação proposta aos alunos.

Nessa caminhada em favor de uma escola para todos,


em uma perspectiva da educação inclusiva, o essencial é
que todos os envolvidos nesse processo se engajem para
que, verdadeiramente, as escolas se tornem ambientes
educacionais plenamente inclusivos e não excludentes.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS


DEFICIÊNCIA INTELECTUAL:
AEE UM DIREITO EM PAUTA
RESUMO: O presenta artigo tem como sua proposta principal abordar o direito à educação
especial de jovens e adultos com deficiência intelectual, ressaltando a importância do AEE
(Atendimento Educacional Especializado), por meio de pesquisa bibliográfica com o intuito
de resgatar, analisar e sistematizar a evolução do direito à educação de jovens de adultos
com deficiência na legislação nacional. Vale destacar que embora acreditemos na garantia
do direito à educação, iremos verificar se há o reconhecimento legal do direito à educação
especial deste alunado em pauta. Deste modo, teremos como metodologia de pesquisa uma
abordagem qualitativa, utilizando de pesquisa documental a partir de consultas e análises
à produções legais e pesquisa bibliográfica, assim como fontes secundárias que podem
ser consideradas públicas, desde publicações avulsas, boletins, revistas, livros, pesquisas,
monografias, teses, etc. Assim, esta pesquisa utilizará referencias de alguns autores que
utilizam a escola como pano de fundo para explorar aspectos da vida psicológica e social
dessas pessoas. Tais pesquisas configuram-se como essenciais para a compreensão e reflexão
sobre o papel central da escola, bem como da formação destes sujeitos.

Palavras-Chave: Direito. Educação de Jovens e Adultos. Educação Especial. Políticas


Públicas. Inclusão Escolar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO UM RECORTE HISTÓRICO


DO DIREITO A EDUCAÇÃO
Nas últimas décadas temos escutado
muito sobre a oferta de uma sociedade e
ESPECIAL DE JOVENS E
educação inclusiva, porém no que diz respeito ADULTOS
à educação e jovens e adultos, observamos
neste panorama atual que a oferta e procura Sabe-se que o reconhecimento do direito
por esta clientela está diminuindo cada vez a educação de jovens e adultos precede o
mais. Apesar dos incentivo e preceitos de atendimento especializado para deficientes,
políticas públicas para organizar e adequar que chamaremos de educação especial.
o ensino e a educação especial, pouco se Embora possamos compreender que no
fala em serviços educacionais para jovens e colonialismo, por exemplo, nenhuma destas
adultos deficientes na educação pública. modalidades eram oferecidas e estes sujeitos
não gozavam de direitos como os demais.
Para que esta educação e qualidade possa
realmente acontecer, há que se considerar Durante este período, segundo Romanelli
um esforço imenso de toda a equipe escolar (1997), a educação era baseada em
e sociedade para enfrentar os desafios princípios doutrinários e religiosos como o
da educação especial, seja o sistema, da catequese, na qual o principal objetivo
os professores, os especialistas, alunos, era recrutar fieis. Mais adiante este ensino
universidades etc.(FONSECA, 2006, p.6). voltou-se para a educação da elite, ou seja,
para a minoria da população, reproduzindo
Compreendendo isto, devemos nos ater um modelo europeu.
a uma frase muito famosa do autor Santos:
“temos o direito de ser iguais quando as Já em 1808, com a vinda da família Real,
diferenças nos inferiorizam. Temos o direito ocorreram algumas mudanças no âmbito
de sermos diferentes quando a igualdade educacional, como a preocupação para
nos descaracteriza”. Esta frase irá nos formar técnicos burocratas para exercer
nortear em nossa reflexão sobre os preceitos a nova função. Próxima a esta data, mais
e momentos históricos que influenciaram a em 1822, na independência do Brasil, foi
educação especial de jovens e adultos com instalado um novo regime, que de acordo
deficiência. com Gohn (1995), com tendências para o
liberalismo que atendia apenas aos interesses
Deste modo, podemos nos remontar a da elite brasileira, excluindo-se os outros
épocas um pouco mais longínquas para segmentos. Exposto na Constituição de
analisarmos a evolução desta modalidade de 1824 que assegurava apenas os descritos:
ensino e os alunos que nela frequentam.
[...] direitos civis (de cidadania) aos brasileiros
brancos, mas não aos índios e escravos, e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

direitos políticos (de voto) aos brasileiros brancos


que tinham, no mínimo renda de 100mil réis Segundo Paiva (2003) a educação de jovens
anuais: quem é “coisa” não tem direitos, quem e adultos, ganhou espaço principalmente
é “povo” ou “plebe” tem direitos civis e políticos no final do século XIX e início do século XX
diferenciados, proporcionais à renda. (Hilsdorf,
2003, p. 44).
com a migração dos povos do Nordeste para
o Centro –Sul, com a chamada educação
Como era de se esperar, nenhum artigo popular, que desempenhava um importante
nesta constituição imperial fazia menções papel para a ascensão social do indivíduo.
às pessoas com deficiência e nem registros
de atendimentos educacionais para esta Já com o advento da i da República, houve
clientela. maior participação da população, tanto no
que diz respeito aos votos eleitorais, quanto á
No segundo império brasileiro, criaram os expansão da educação, que agora o governo
institutos imperiais, que atendia a população incentivava com inúmeras campanhas
para ensino profissionalizante de uma de alfabetização de jovens e adultos, e
clientela restriata de jovens cegos ou surdos a aderência de instituições particulares
com idade entre sete e quatorze anos. assistenciais para atendimento de crianças
(JANNUZZI, 2004) com deficiência.

Ainda nesta época, porem em 1854, o Depois de alguns anos, especificamente


Regulamento para a Reforma do Ensino em 1932, o Ministério da Educação e Saúde
Primário e secundário do Município da Corte Pública, tornou oficial o ensino emendativo,
fixava a obrigatoriedade e frequência às que pertencia ao ensino supletivo, para a
escolas primárias. Assim, educação especial, englobando a essa nova
modalidade os anormais do físico (débeis,
[...] os pais, tutores, curadores ou protetores que cegos e surdos-mudos), os anormais de
tiverem em sua companhia meninos maiores de
sete anos sem impedimento físico ou moral, e conduta (menores delinquentes, perversos
não lhes derem ensino, pelo menos do primeiro e viciados) e os anormais de inteligência
grau, incorrerão em multas de 20$000 a como eram chamados na época. (JANNUZZI,
100$000, conforme circunstâncias. (MOACYR,
2004).
1936, p. 11 apud Beisiegel, 2004, p.16)

Já em 1934 foi aprovada a terceira


Deste modo, o documento nos mostra Constituição brasileira que em seu artigo
a discriminação e exclusão daqueles que 149, garantia o direito à educação a
possuíam algum tipo de impedimento, todos, brasileiros e estrangeiros, sendo
ou seja, os deficientes que permaneciam responsabilidade da família de do poder
excluídos e esquecidos pelo poder público público e no artigo 150, estabelecia a
da época. gratuidade e a obrigatoriedade ao ensino,
estendendo a população adulta, entretanto,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

nada se mencionou sobre a educação de geral de educação, a fim de integrá-los na


pessoas com deficiência. comunidade.

Somente no final da década de 1950, se Art.89 – Toda iniciativa privada considerada


efetivaram ações em relação a educação eficiente pelos conselhos estaduais
de pessoas deficientes, que receberam de educação, e relativa a educação de
apoio do setor governamental, profissionais excepcionais, receberá dos poderes públicos
especializados e associações civis de pessoas tratamento especial mediante bolsas de
com ou sem deficiência, segundo (JANNUZZI, estudos, empréstimos e subvenções.
2004). Assim em 1960, de acordo com
Mazzotta (1999), o Decreto n. 48.961 de 1960 Voltando para a educação de jovens e
tinha como finalidade promover a educação, adultos encontramos a criação do sistema
treinamento, reabilitação e assistência Mobral em 1967, que tinha o objetivo de
educacional as crianças retardadas e outros erradicar o analfabetismo e proporcionar
deficientes mentais de qualquer idade educação continuada. Chilante(2005) faz
ou sexo, mediante cooperação técnica e uma crítica à prática educativa, afirmando:
financeira para entidades privadas e públicas
em todo o território nacional; criar convênios [...] o movimento fazia restrições ao método
Paulo Freire, usava material didático que
para a formação de professores e técnicos associava o sucesso de cada um unicamente
especializados, classes especiais, internatos ao esforço individual, exaltando os padrões de
e semi-internatos, assistência domiciliar, vida modernos, contribuindo para a aquisição de
novas possibilidades de consumo. Além disso,
entre outros; estimular a constituição de eram enaltecidos os valores urbano-industriais,
associações e fundações educativas para o que acabou incentivando o êxodo rural. (p.25)
esta população e promover a integração
nos meios educacionais comuns a outras No entanto, a lei n.5692 de 11 de agosto
pessoas. de 1971, apresenta avanços no que diz
respeito à educação de jovens e adultos, pois
trouxe um capítulo destinado a modalidade
A LDB E O SISTEMA MOBRAL de ensino supletivo, composta por regras
básicas, assim, possuía quatro funções:
A primeira Lei de Diretrizes e Bases da suplência, suprimento, qualificação e
Educação Nacional (LDB/61) que dedica dois aprendizagem. De acordo com Paiva (2005),
artigos aos excepcionais, foi um dos grandes o que mais se destaque nesta lei a visibilidade
avanços que tivemos em relação ao público que trouxe sobre a suplência com um intuito
que estamos analisando: de suprir a escolaridade daqueles que não
tiveram acesso a ela durante a infância.
Art.88 – A educação de excepcionais deve,
no que for possível, enquadrar-se no sistema

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Mais adiante, contamos com a elaboração Com as diversas reformas ocorridas com
da Constituição federal de 1988 que o início do governo de Fernando Henrique
representou um avanço maior na questão Cardoso e de Luis Inácio Lula da Silva, os
da declaração dos direitos sociais, pois, além programas federais tinham propostas para
de garantir o ensino fundamental como desenvolver ações sociais de combate
um direito público subjetivo, assim como a à pobreza, erradicar o analfabetismo,
gratuidade e a obrigatoriedade do ensino programas de educação à distância e
médio, entre outros. (OLIVEIRA, 2002) ampliar o acesso ao programa Projovem aos
deficientes.
Apesar destes avanços, Oliveira ainda
adverte que: Neste período, ocorreu a publicação
de uma das leis mais importantes para a
[...] não constitui prática estranha, ainda hoje, a educação nacional que foi a Lei de Diretrizes
recusa de matricula na primeira série do ensino
fundamental a criança com dez ou mais anos, e Bases da Educação Nacional de 1996
sob alegação de que se ela aguardar mais um (LDB96), nela, encontramos a educação de
pouco, poderá ingressar no curso de suplência jovens e adultos separadamente da educação
“encurtando o caminho”. (Oliveira, 2002, p. 26)
de pessoas deficientes (Educação Especial).

Neste Sentido podemos entender, que Encontramos três artigos nesta lei que
encurtar o caminho seria cursá-lo em menos tratam da educação especial, sendo que
de 8 anos, já que o mesmo não indicava um o art. 58 garante a educação especial aos
período mínimo obrigatório. educandos com necessidades especiais
preferencialmente na rede regular de ensino,
também os serviços de apoio especializado
EDUCACAO PARA TODOS em classes, escolas ou serviços especializados
OU PARA ALGUNS e o art. 59 trata das condições necessárias
para que o atendimento seja garantido com
Em 1990, o Brasil participou da professores especialistas. Já no inciso II,
Conferencia de Educação para Todos, em aparece o termo “terminalidade específica”
que diversos países se reuniram para apontar para aqueles que não puderem atingir o
soluções e compromissos com uma educação nível exigido para a conclusão do ensino
que satisfizesse as necessidades básicas de fundamental, em virtude da deficiência.
aprendizagem, com o intuito de combater (BRASIL, 1996).
o analfabetismo, eliminar o preconceito e
garantir o acesso e igualdade à educação Ainda na mesma lei, podemos entender
de todas as pessoas com qualquer tipo de que os alunos da educação especial são
deficiência. considerados:

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Educandos que apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de


desenvolvimento que dificultem o acompanhamento de atividades curriculares, compreendidas de dois
grupos: 1.1 aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; 1.2 aquelas relacionadas a condições,
disfunções, limitações ou deficiências; 2. Dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais
alunos, particularmente alunos que apresentam surdez, cergueira, surdocegueira ou distúrbios acentuados
de linguagem, para os quais devem adotadas formas diferenciadas de ensino e adaptações de acesso ao
currículo, com utilização de linguagens e códigos aplicáveis, assegurando-se os recursos humanos e materiais
necessários. (BRASIL, 2001, p.20)

Notamos que o Parecer CNE/CEB 17/01 ampliou o público da educação especial,


garantindo atendimento educacional especializado, além de serviços para um público maior,
contribuindo para uma política sobre as necessidades especiais e não sobre a deficiência em
si, considerando as diversas necessidades. (MAZZOTTA, 1982).

Retomando a questão da terminalidade específica e relacionado com a educação de


jovens e adultos, encontramos em (DI PIERRO, 2003, p. 19), que de acordo com estudos da
psicologia cognitiva, não há limites para aprender em qualquer idade. A única ressalva feita
nessa direção vem da psicologia do desenvolvimento que comprovou em seus estudos a
importância de investir na educação de crianças de zero a seis anos. Assim, “não há nenhuma
teoria psicológica que sustente que os adultos e os idosos não são capazes de aprender”.

É importante comentarmos que durante os anos de 2009 e 2010, a sociedade civil, os
sistemas de ensino, os órgãos educacionais e o Congresso Nacional reuniram-se para debater
aspectos centrais da educação brasileira e apresentar propostas para serem incorporadas no
novo plano, que entrou em vigência no início de 2011.

Na Conferência nacional de Educação foi elaborado o documento final em 2010, intitulado
Conae: Construindo o Sistema Nacional Articulado: O Plano nacional de educação, Diretrizes
e estratégias de ação, “resultou de um rico processo de construção coletiva, desencadeado
pela decisão política de submeter ao debate social as ideias e proposições em torno da
construção do Sistema nacional de Educação” (BRASIL, 2010, p. 7). Encontramos ainda que
as pessoas com deficiência com idade superior à destinada ao ensino obrigatório também
fazem parte do público de educação de jovens e adultos, o que poderá representar um
grande avanço para a área em questão se considerarmos a invisibilidade destas pessoas na
história da educação brasileira.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fim de compreender a legislação que regem a educação
de jovens e adultos com deficiência, observamos que os
diversos estudos expostos na pesquisa, contam um uma gama
muito escassa de preceitos que unam as duas modalidades,
a educação de jovens e adultos, assim como a educação
especial.

Verificamos que após um período de invisibilidade


das políticas públicas e da sociedade no geral, a pouco
tempo, jovens e adultos com deficiência, começaram a ser
considerados pertencentes ao universo educacional, de tal ANA LÚCIA NOVAIS
modo que hoje em dia, possuem direitos à escolarização GONÇALVES
e participantes ativos na educação escolar, que ora os
Graduação em Artes Visuais
abandonou, ora propôs avanços para formalizar suas pela Universidade Metropolitana
realidades no sistema de ensino. de Santos(2013); Especialista em
Educação Especial e Inclusiva
pela Universidade Internacional
Expusemos diversas leis e decretos que comtemplaram de Curitiba (2010); Professor de
tais premissas, que duraram um longo tempo até se tornarem Ensino Fundamental II e médio na
o que vivenciamos atualmente nas instituições de ensino. EMEF Dr. João Augusto Breves ,
Professor de Educação Básica –
Percebemos no decorrer da pesquisa, que logo após a chegada Artes- na EPG Zilda Furini
da família real no nosso país, a educação era um privilégio
apenas de alguns, os mais abastados financeiramente e os
que não possuíam nenhum tipo de necessidade especial.
Essa realidade foi se modificando ao longo dos anos, abrindo
cada vez mais oportunidades para os jovens e adultos com
deficiência frequentarem e permanecerem na escola.

Depois de muitas reinvindicações, houve um avanço muito


importante na CF/88 que assegurou o direito à educação
de todos, tornando-se um marco para as pessoas com
deficiência.

Mesmo assim, sabemos que ainda há um longo caminho


a ser percorrido para que alcancemos uma educação de
qualidade para todos e todas, assim, para que essa mudança
ocorra, necessitamos rever cinco campos fundamentais,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

como: o político, o administrativo das escolas, o pedagógico, o técnico-científico e o


estrutural.

Deste modo, entendemos o quão grande é o caminho a ser percorrido, apesar dos avanços
que de explicitamos ao longo da história, reconhecemos a urgência destas políticas públicas
no sistema educacional, possibilitando uma educação de qualidade para todos, de maneira
que se possibilite o desenvolvimento de habilidades, competências e socialização, efetivando
assim o direito de todos à educação, sejam jovens, adultos e deficientes.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A ARTE E SUAS LINGUAGENS -


MUSICALIZAÇÃO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O presente trabalho de pesquisa tratará sobre a arte e suas linguagens, mais
especificamente a música na Educação Infantil. O presente trabalho tem como objetivo
mostrar a importância da Arte na Educação Infantil, fase esta, que as crianças precisam
de brincadeiras, do lúdico para se desenvolverem de maneira feliz e plena. Foi realizado o
presente trabalho analisando-se vários teóricos dedicados ao assunto, assim conforme o
RCN (Referencial Curricular Nacional) de artes e os diversos estudos elaborados durante
este trabalho, veremos que a arte possui várias linguagens que formam um conjunto de
diferentes tipos de conhecimento, tais como: artes visuais, dança, música, teatro e literatura,
visando a criação de significações que exercem, fundamentalmente, a constante possibilidade
de transformação do ser humano. O objetivo do trabalho é dar ideias, abrir caminhos para
que o professor da Educação Infantil busque deixar as salas de aulas mais interessantes e
divertidas, para que o processo de ensino venha a ser mais satisfatório, tanto do ponto de
vista do conhecimento em si, como do desenvolvimento de um melhor indivíduo.

Palavras-Chave: Arte; Educação Infantil; Linguagens Artísticas; Musicalização.

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INTRODUÇÃO Através desses estudos, pode-se


então, perceber o rico universo repleto
Este trabalho tem por objetivo incentivar os de particularidades autênticas e originais
professores da Educação Infantil a inovarem que a criança oferece por intermédio de
e aproveitarem a fase de brincadeira da suas criações plásticas, canções e fábulas
criança, transformando suas aulas - às a elas apresentadas, expressões corporais
vezes monótonas - em algo envolvente e e brincadeiras que, posteriormente, após
alegre, trazendo algo prazeroso, tanto para rabiscos, desenhos e expressões lúdicas, se
si, como para seus alunos. Após conhecer tornarão letras, números, e palavras. Todas
diversas vertentes pedagógicas durante a as atividades vivenciadas pela criança em sua
graduação do Curso de Pedagogia, chamou- fase pré-escolar poderão lhe possibilitar um
me a atenção a Pedagogia Waldorf, que dá a desenvolvimento da motricidade em todo seu
devida atenção às linguagens artísticas como processo, principalmente se essas atividades
parte fundamental de seu currículo. Assim, forem contínuas durante o decorrer de sua
a Arte faz parte da graduação anterior e da vida estudantil.
experiência do cotidiano, justificando-se
por ser um aspecto de interesse contínuo. Diante de diversos fatores, percebemos
Entendemos que, a Educação Infantil traz que a arte não tem uma definição ou
grande interesse e pesquisa para a vida significado único e específico, pois a cada
profissional. Percebeu-se que estava sendo tempo ou sociedade ela toma uma forma,
feito adaptações em nosso dia-a-dia, na uma importância. Justamente por essas
escola e assim, nada melhor, então, que unir múltiplas funções vem adquirindo maior
os conhecimentos e interesses procurando significado para a Educação. Conforme
trazer ao professor da educação infantil, o RCN (Referencial Curricular Nacional,
através do presente estudo, um despertar 1998), a Arte possui várias formas de
artístico ao seu processo de ensino. linguagens que formam um conjunto de
diferentes tipos de conhecimento, visando
Embora o objeto de estudo seja a criação de significações que exercem,
especificamente classes de Educação Infantil, fundamentalmente, a constante possibilidade
no Capítulo I aproveitamos ideias de autores de transformação do ser humano. Segundo
que, de uma maneira geral, se preocupam com os estudos e os PCNs, as linguagens artísticas
a Arte na Educação. Após as leituras efetuadas podem ser divididas da seguinte maneira:
a partir de Oliveira (2002), Gardner (1997) e Artes Visuais, Dança, Música, Teatro e
os Referenciais Curriculares Nacionais de Arte Literatura, estas que serão de grande valia
(RCN DE ARTE, 1998), buscou-se constituir o no decorrer da presente pesquisa.
suporte teórico para o trabalho, delimitando
o objeto da pesquisa em como as linguagens A presença da música na educação dos
artísticas influenciam o processo de ensino. alunos é de fundamental importância, pois

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a mesma contribui para o enriquecimento DESENVOLVIMENTO


do ensino, elevando a sua autoestima,
criatividade, sensibilidade e capacidade Conforme observação e atuação, viu-
de concentração. Portanto, a utilização da se que classes de Alfabetização de escolas
música toma-se relevante porque trabalha públicas e até particulares, em sua grande
conteúdos e conceitos de uma forma lúdica, maioria, seguem padrões semi-prontos,
permitindo a fantasia, momentos esses que com métodos definidos, acompanhados de
as crianças curtem e gostam, fazendo com um processo de ensino imposto e voltado
que a aprendizagem aconteça de uma forma exclusivamente para o produto final. Embora
muito mais prazerosa. na escola privada a Arte tenha um cuidado
mais especial, isso ainda não significou
A música como atividade criativa pode uma integração com outras disciplinas. Em
favorecer o aparecimento de situações relação à integração da linguagem artística
problema, propondo novas formas de ao processo de ensino muito pouco foi visto
utilização e manuseio da linguagem e ou feito a respeito.
propiciando a construção de hipóteses de
escrita. A Música estimula áreas do cérebro Para entender melhor o papel da
não desenvolvidas por outras linguagens, Arte como elemento na aprendizagem e
como a escrita e a oral. Assim, realizar esse tipo desenvolvimento criativo e reflexivo das
de trabalho ajuda a melhorar a sensibilidade crianças, é preciso antes percebê-la como
dos alunos, a capacidade de concentração e uma das manifestações mais antigas da
a memória, trazendo benefícios ao processo humanidade, em que desde os tempos
de alfabetização e ao raciocínio matemático. mais remotos, o homem se expressava por
meio de danças, desenhos, sons em forma
A música tem grande importância na de música, enfim, através das linguagens
alfabetização, pois através da música artísticas. Através de registros como a pintura
as crianças expressam suas emoções e rupestre, egípcia, entre outros, podemos
sentimentos. Assim, a presente pesquisa delinear o modo de vida, as crenças e os
pretende responder tais questionamentos: ideais dos mesmos. Antes mesmo da escrita,
Como a musicalização é trabalhada no cotidiano desenhos eram feitos em cavernas, sons
escolar das crianças? A musicalização contribui eram produzidos e o corpo era usado como
para o desenvolvimento cognitivo da criança? forma de expressão.
As atividades musicais implementadas no
contexto infantil promovem a interação e Por meio da Arte, momentos históricos
a socialização das crianças? Que atividades dignos de nota foram registrados, como
de cantigas contribuem para alfabetização. é o caso de Guernica, onde Pablo Picasso
É o que veremos no decorrer do presente retratou a Guerra Civil Espanhola, entre
trabalho. outros tantos episódios conhecidos. Assim,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

por meio desta expressão, conseguimos deslocou o eixo da questão pedagógica do


tomar conhecimento de uma época e de intelecto para o sentimento; do aspecto
uma cultura, conforme Rosemary Lambert: lógico para o psicológico...". Aproveitando o
“A nossa compreensão do que é construído, marco que foi a Semana de Arte Moderna
pintado e feito em qualquer época faz parte com sua característica inovadora e nacional,
da compreensão que devemos ter de nós o interesse pela Arte das e para as Crianças
próprios” (LAMBERT apud SANS, 1995, aumentou significativamente; na Educação,
p.95). Desta forma, não há como desprezar isso consistia, segundo Fusari (1993), em
o papel artístico, na formação integral do "uma aprendizagem que acompanhava o
indivíduo, uma vez que, além de representar desenvolvimento natural do indivíduo não só
um movimento cultural, significa também em seus aspectos intelectuais mas também
um movimento educativo, em que se busca sociais, emocionais, perceptivos, físicos e
a constituição de um ser humano completo, psicológicos". Desenvolve-se, assim, de uma
total, valorizando aspectos intelectuais, forma livre e flexível, a sensibilidade e os
morais, estéticos. Além disso, desperta sentidos.
sua "consciência individual, harmonizada
ao grupo social ao que pertence" (FUSARI, Já na Pedagogia Tecnicista, a disciplina
1993, p. 15). Este papel integral que a Artes, paralelamente à assinatura da Lei de
Arte proporciona pode ser identificado Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
plenamente na filosofia da Pedagogia Waldorf foi efetivamente introduzida no currículo,
a qual abordaremos mais adiante e que onde professor e aluno não eram colocados
funcionará como linha diretriz do presente em primeiro plano, e sim, o sistema técnico
trabalho. Antes, porém, delinearemos alguns de organização da aula e do curso. Havia
pontos básicos do processo arte/educação uma intenção de incorporar o moderno e o
no Brasil. tecnológico no currículo, a fim de preparar
indivíduos aptos às necessidades do
O interesse e o termo Arte-Educação mercado de trabalho. Porém, a Educação
surge no país por volta da década de 70, Artística, termo utilizado nesta tendência,
depois de acompanhado os fundamentos era tratado de um modo indefinido, como
metodológicos da Escola Nova e da podemos observar através do "Parecer nº
Educação através da Arte de Herbert 540/77: não é uma matéria, mas uma área
Read, com o propósito de propor uma ação bastante generosa e sem contornos fixos,
educativa criadora, ativa e centrada no flutuando ao sabor das tendências e dos
aluno. Se antes, na Pedagogia Tradicional, a interesses" (apud FUSARI; FERRAZ, 1993,
arte era voltada mais para um fazer técnico p. 38). Neste mesmo período, os professores
e reprodutivista (cópia), a Pedagogia Nova, de arte, muitas vezes despreparados e
entretanto, como afirma Saviani (2000, p. inseguros, passam a apoiar-se em livros
09) traz uma visão distinta, visto que "(...) didáticos, demonstrando grande fragilidade

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metodológica, pois possuíam uma formação conhecem arte, mas ela faz parte de nosso
universitária insuficiente e provinham de dia a dia, desde o relógio que desperta pela
pouco tempo para se aprofundar no estudo manhã, pois este é resultado de um estudo
de arte. Em seus conceitos e metodologias, minucioso de cor, forma, volume e material
ressalta seus métodos frágeis e inadequados, para ser confeccionado, até outros objetos
principalmente no uso de recursos de seu cotidiano como os móveis, utensílios,
audiovisuais como gravadores, projetores de modelos de carro, construções, etc. De certa
slides, entre outros. Desta forma, o professor forma, em todos os objetos há um pouco de
muitas vezes bombardeava os alunos com "arte aplicada" (OLIVEIRA; GARCEZ, 2002);
imagens sem uma explicação ou discussão e está presente nas diversas culturas e
crítica sobre o assunto, o que possibilitaria civilizações esse desejo de tornar os objetos
uma significativa apreensão do saber em harmoniosos e agradáveis ao olhar. Porém:
arte.
O gosto e a sensibilidade para apreciar a arte
variam de pessoa para pessoa, de idade para
Após vários obstáculos, em 1981, idade, de região para região, de sociedade
professores de arte "(...) deram origem a para sociedade, de época para época. Assim,
movimentos de organização de professores as manifestações artísticas trazem a marca do
tempo, do lugar e dos artistas que os criaram,
de artes, como as associações de arte- pois refletem essa variação no conceito de beleza
educadores que se formaram em diferentes e na função do objeto artístico (OLIVEIRA;
estados do país" (FUSARI, 1993, p. 39). A GARCEZ, 2002, p.12).

primeira dessas associações foi a Associação


de Arte-Edticadores do Estado de São Dar uma definição à arte, como diria
Paulo (AESP), fundada em 1982, entre Battistoni Filho (1995), seria uma verdadeira
outros formados posteriormente. Assuntos tirania do espírito, pois para o autor, talvez
referentes aos cursos de arte, desde a pré- jamais se consiga sintetizar o complexo
escola até as universidades, eram tratados em fenómeno simultaneamente material e
reuniões, congressos e encontros estaduais, espiritual que ela representa, uma vez que
nacionais e internacionais, a fim de promover "tem a capacidade de expressar e estimular
e qualificar o ensino e o educador em arte. uma experiência dentro de uma determinada
organização ou disciplina" (BATTISTONI
Parafraseando Marques (1999), a arte FILHO, 1995, p. 09). O artista é um ser
hoje é parte da vida de todos, através das criador, e dentre os elementos usados para
camisetas com reproduções de obras de seu processo de criação estão a forma - que
Van Gogh, ou através de comerciais de designa o caráter total ou estrutural de uma
sabonete com música de Mozart, e nas composição-liberdade de expressão, sendo
bailarinas clássicas anunciando dietéticos, o espaço, o sentimento vital do artista; e a
entre outras formas já banalizadas. Ou linha e a cor, instrumentos para concretizar
seja, muitas pessoas podem dizer que não suas ideias, sendo no bidimensional (espaço

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Revista Educar FCE - Abril 2019

plano) ou tridimensional (objeto sólido). Em outras culturas e épocas a arte surge


desvinculada de religião, mas unicamente
Ao usar a mão, o homem realizou uma como forma de expressão para quem produz,
de suas principais descobertas como onde no Século XIX, segundo o poeta Charles
representação de sua consciência. Posterior a Baudelaire (apud BATTISTONI FILHO, 1995,
esse processo foi a descoberta da expressão, p. 13) "abre novas perspectivas a cerca
ou melhor, da linguagem, pelo qual o homem de uma nova postura crítica ao romper
se comunica através dos tempos, assim com os cânones sagrados da imitação da
como com a arte, onde através de textos natureza. Para ele, a arte deveria ser mais
históricos (inscrições, literaturas, etc.), introspectiva, mais pessoal", o que possibilita
tradição oral ( contos populares, lendas, uma experiência especial para quem aprecia,
fábulas, etc.), tradição pictórica (desenhos, estimulando o pensamento, a sensibilidade,
mapas, brasões, quadros, etc.), e materiais além de causar prazer ou expressar uma visão
referentes ao passado contribuem para de mundo que provoque uma inquietação no
o conhecimento artístico como ruínas, observador. A arte exige uma análise crítica
instrumentos, esculturas, etc., que nos de suas dimensões e formas de expressão, faz
permitem uma maior contextualização do do sujeito que a aprecia parte integrante de
homem desde seus primórdios quanto a sua sua composição, no momento que o mesmo
cultura e civilização. interage com suas observações e conclusões.
Independente de sua direção, ou tempo
Em muitas sociedades até hoje, a arte é histórico, a arte nos cerca e se destaca como
utilizada como forma de homenagear outros elemento definidor da identidade e cultura
deuses, ou seja, está ligada à religião. Podemos de um povo, de um grupo social, de uma
citar, como exemplo, famosas construções época, enfim, de um indivíduo. Assim, a arte
do passado, como a Catedral de Notre Dame pode ser manifestada de diversas formas:
de Laon-Paris, construídas na Idade Média
(aproximadamente Século XI a XIV), ou Pelo som (música), pela linguagem verbal oral ou
escrita (literatura), pela imagem visual (pintura,
obras do Renascimento (aproximadamente desenho, escultura, gravura, fotografia) ou pela
Século XV a XVI) onde, entre outros grandes linguagem corporal (dança). Ou pode, ainda,
artistas, está Michelângelo, que pintou expressar-se pela mistura de várias linguagens
(OLIVEIRA; GARCEZ, 2003, p. 13).
cenas de Génesis da bíblia no teto da Capela
Sistina na Itália. Uma das cenas mais famosas
é A Criação do Homem, em que representa Justamente por essas múltiplas funções,
o corpo de Adão animado pela figura que que viemos apontando ao longo deste capítulo,
representa o espírito de Deus, ao toque a questão artística vem adquirindo uma
suave dos dedos de ambos, cena esta que maior importância na Educação. Conforme o
marca a humanidade por sua impressionante Referencial Curricular Nacional (RCN), a Arte
beleza. possui várias formas de linguagens, estas que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

constituem um conjunto de diferentes tipos nossas escolas, somente como forma de


de conhecimento, e que visam a criação de apresentação nas festinhas de fim de ano.
significações, exercitando fundamentalmente
a constante possibilidade de transformação Teatro - No processo de formação da
do ser humano. Para melhor definirmos a arte criança, cumpre não só a função integradora
como agenciadora de mudanças, precisamos e socializadora, mas dá oportunidade para
especificar as linguagens artísticas e como que ela se aproprie crítica e construtivamente
elas desenvolvem aquelas significações dos conteúdos sociais e culturais de sua
acima mencionadas. comunidade, integra imaginação, percepção
emoção, intuição, memória e raciocínio (RCN,
1998, p.84). Segundo Sans (1995) "Criar é
AS LINGUAGENS ARTÍSTICAS se manifestar pela expressão lúdica". Como
afirma Slade (1978), quando as crianças não
Artes Visuais - Pintura, escultura, são "tolhidas" pelos adultos, são capazes
desenho, gravura, arquitetura, artefato, de encontrar a "auto-expressão" e, assim,
desenho industrial, fotografia, artes procurar atingir o pleno desenvolvimento
gráficas, cinema, televisão, performance, de sua personalidade. Para este autor, a
entre outras, constituem este tipo de arte. criança descobre a vida e a si mesma através
Nelas percebemos uma comunicação eficaz de tentativas emocionais e físicas e depois
entre objeto e observador, pois atinge o através da prática do jogo dramático. Com
sujeito sem a necessidade da explicação estas atividades, a criança, ao realizar os jogos
dos fatos, considerando que o mundo atual propostos, passa a vivenciar movimentos
caracteriza-se pela utilização da visualidade de percepção do espaço e, com o treino,
em quantidade inigualável. tornam-se mais coordenados.

Dança (Expressão Corporal) - Toda ação Literatura - A história para o leitor toma
humana envolve a atividade corporal. A formas, sentimentos, sensações, cores e
criança é um ser em constante mobilidade, e estimulam a criatividade e a transformação
utiliza-se dela para buscar conhecimento de si deste. A autora observa que é necessário
mesma e daquilo que a rodeia, relacionando- oferecer às crianças literaturas variadas, antes
se com objetos e pessoas. A ação física é mesmo que sejam capazes de ler e escrever,
necessária para que a criança harmonize pois a partir desses primeiros contatos, as
de maneira integradora as potencialidades crianças farão descobertas fundamentais
motoras, afetivas e cognitivas (RCN, ao seu processo de ensino. Afirma ainda
1998, p.67). Portanto, a primeira forma de ser diferente uma história contada e uma
aprendizagem da criança é através da ação lida, pois, ao ler uma poesia, por exemplo,
física, e a motricidade está ligada à atividade fornece-se ritmo dando informação sonora
mental. A dança normalmente é vista, em das letras. É importante ressaltar, segundo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Simon (2002), que a literatura ajuda a ajudando as crianças a desenvolverem a


incentivar a curiosidade e a imaginação, bem sensibilidade através do que vêem, do que
como desenvolver na criança, habilidades tocam, do que ouvem e do que sentem
linguísticas, abrangendo a leitura, a escrita, com seu corpo. Haveria, assim, incentivo ao
a fala e a audição. Os alunos passam a processo intelectual do aluno, auxiliando-o
descobrir a beleza das palavras e o ritmo da na ampliação de suas considerações de
linguagem. Portanto, o hábito de ler e ouvir mundo, se trabalhasse simultaneamente
histórias, fábulas, contos infantis, e a poesia as linguagens artísticas no processo de
estimulam a criança em seu desenvolvimento alfabetização. A partir desse ponto de
da imaginação, do vocabulário e da clareza vista, é preciso repensar a educação atual
de interpretação. predominante, e garantir ao alunado maior
rendimento de uma maneira mais satisfatória,
considerando-o como uma pessoa inteira,
ARTE E EDUCAÇÃO com seus sentidos e sua criação lúdica. É
necessário, então, que o professor refuta
Sendo assim, a arte, junto com as demais sobre suas práticas pedagógicas, e seja capaz
disciplinas e através de um trabalho de se dispor a adicionar novas propostas
formativo e informativo, tem a possibilidade para melhor ensino e assimilação dos alunos.
de contribuir para a preparação de indivíduos Nesse mundo frenético e capitalista, as
que percebam melhor o mundo em que vivem emoções e as experiências da razão e do
e saibam compreendê-lo e nele possam atuar pensamento são separadas e a escola acaba
seguindo o pensamento de Fusari (1993). por reproduzir esta separação com a intenção
A arte é o movimento da ação dialética do de preparar o aluno para o trabalho e para
homem com seu meio, por isso o seu papel uma visão de mundo já pronta. Embora muito
transformador, como já foi explicitado. se discuta e se modifique constantemente
sobre métodos educacionais, ainda o que
Não há como discordar de Vicktor vemos é uma sociedade e escola manipuladas
Lowenfeld (1977), quando assevera que não até em suas atitudes mais íntimas, embora
se deve dar importância apenas à aquisição nos pareça algo disfarçado.
do conhecimento, descuidando de outras
coisas importantes que as crianças precisam Segundo Azevedo (1995), a escola divide
para se adaptarem ao mundo de uma maneira o corpo humano não em cabeça, tronco e
mais plena. Ele afirma ainda que a arte "pode membros, mas sim em: "da cintura para cima,
constituir o equilíbrio necessário entre o a parte mais nobre, e da cintura para baixo,
intelecto e as emoções" (LOWENFELD, a parte mais inferior; ou ainda, na cabeça a
2002, p. 40), principalmente porque "todas razão - a superioridade do homem sobre os
as experiências artísticas são percebidas em animais; no corpo, os instintos - O lado mais
primeiro lugar, por intermédio dos sentidos", animal do homem".

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MUSICALIZAÇÃO NA no vestuário etc. Quando o aluno toma


EDUCAÇÃO INFANTIL conhecimento da arte de diferentes culturas,
promove-se o respeito, o reconhecimento
Segundo Fusari e Ferraz (2002, p. 53), o e a valorização da capacidade artística do
professor de arte precisa saber até onde vai a outro (Referenciais Curriculares Nacionais-
sua ação profissional no sentido de fornecer Arte, 1995).
subsídios aos alunos para que os mesmos
elaborem uma cultura estética e artística Os conteúdos da área de arte devem estar
que expresse suas vidas na sociedade em relacionados de tal maneira que possam
que vivem. A atualização dos professores assentar a aprendizagem artística dos alunos
não acontece somente nos grandes centros do na Educação Infantil. De acordo com os
urbanos, pois esse aprimoramento se dá Referenciais Curriculares Nacionais-Arte
através de leituras, e esse material pode ser (1995, p. 26):
encontrado nos acervos de bibliotecas e
universidades. Tal aprendizagem diz respeito à possibilidade
de os alunos desenvolverem um processo
contínuo e cada vez mais complexo no domínio
É importante que o professor de Arte do conhecimento artístico e estético, seja no
inclua no currículo informações sobre a exercício do seu próprio processo criador, por
meio das formas artísticas, seja no contato com
arte produzida na região onde vive, no país obras de arte e com outras formas presentes nas
e até fora do país, entendendo também culturas ou na natureza. O estudo, a análise e
as informações produzidas pelas mídias a apreciação das formas podem contribuir tanto
para o processo pessoal de criação dos alunos
para unificar o conhecimento e ampliar as como também para o conhecimento progressivo
possibilidades de participação social do e significativo da função que a arte desempenha
aluno. Segundo os Referenciais Curriculares nas culturas humanas.
Nacionais-Arte (1995): “Ressalta-se que o
percurso criador do aluno, contemplando O ensino da Educação Artística tem
os aspectos expressivos e construtivos, é o como proposta o desenvolvimento global
foco central da orientação e planejamento da personalidade, através de formas as
da escola”. mais diversificadas e complementares
possíveis de atividades expressivas, criativas
A arte está presente em diferentes e sensibilizadoras. Assim, a criatividade, a
manifestações na cultura popular, erudita, imaginação e a emoção estética precisam
meios de comunicação e modernas ser desenvolvidas através da apropriação
tecnologias. Ela nem sempre se apresenta dos meios que ampliem e consolidem a
no dia-a-dia como obra de arte, mas pode capacidade de ler e construir imagens.
ser observada na forma dos objetos, nas É fundamental reavaliar as imagens que
vitrines das lojas, na música, na dança de se consomem, ou que se produzem no
rua, nos pregões de vendedores, nos jardins, cotidiano, pois não existem imagens neutras,

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uma vez que estas objetivam determinados artista na escolha dos arranjos e combinações
pontos de vista. e de conhecimentos da funcionalidade musical
para a composição sucessivas de sons e silêncio
A assimilação dos conhecimentos organizados, obedecendo a um tempo. Para
artísticos é fundamental para ampliar o tanto, é necessário o uso da matemática e da
campo do já criado e desta forma, servir de física, relacionando os elementos musicais. A
base para novas criações. Mesmo que se música é um signo em si mesma, interpretada
coloque a Criação como meta principal, é pelas emoções de acordo com o que os ouvidos
indispensável, assimilar, repetir e trabalhar percebem, trazendo um poder referencial sobre
com as soluções já existentes, sem estreitar coisas, seres reais ou imaginários, pessoas,
ou limitar o trabalho escolar. formas e tipos de movimento. J. J. Rousseau,
no seu Dicionário, define a Música: "Arte
de combinar os sons de modo agradável ao
IMPORTÂNCIA DA MÚSICA ouvido". Mas, assim dizendo, parece-me que
ele limitou a ação dessa arte a uma sensação
A música é uma linguagem capaz de expressar física, descuidando da sensação espiritual que a
sentimentos e pensamentos e está presente na música provoca.
educação de todas as culturas. É um meio muito
importante para desenvolver a expressividade, Suzigam afirma que “não podemos considerar
o equilíbrio, auto estima, autoconhecimento e a música fora do princípio que ela realmente é:
interação social. A palavra música originou-se do Uma linguagem de expressão”. Howard Gardner
grego que significava a ‘Arte das Musas’. Musas (1995), em sua teoria das Inteligências Múltiplas,
eram as deusas da Arte. Eram nove as Musas; indicou a Música como uma das inteligências.
a protetora da poesia lírica e música chamava- Em sua teoria, as pessoas possuem alguns
se Euterpe. Muitos dos antigos gregos com a tipos de capacidades, que podem ser melhores
palavra — música — designavam a harmonia desenvolvidas se estimuladas. Portanto, uma
universal, reguladora da educação do homem pessoa pode não ter facilidade de aprendizado
(HOWARD, 1984, p. 18). em Matemática, ciência ou Língua Portuguesa,
por exemplo, mas pode ser muito hábil em
Aos poucos se reservou o nome de Musa música ou movimentos corporais. Gardner
para a arte dos sons, pois a Música, como arte afirma ainda que, a música é uma atividade
abstrata, se distin¬guia das outras, que são psicofísica interior, ou seja, não se pode ensiná-
representativas. Segundo o Dicionário Aurélio la, é algo que se aprende sozinho. Não se nega
da Língua Portuguesa, Música é a arte e a a importância da técnica e da presença de
ciência de combinar os sons de modo agradável elementos padronizados nos sons, mas ressalva
ao ouvido. Pode-se considerar, de acordo com que estes são unidos por apresentarem poderes
Brito (2003) que música é, além de arte, uma e efeitos expressivos (SUZIGA, 1986).
ciência, pois precisa da sensibilidade de um

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Gainza (1998, p. 22), porém, defende que “a Gramática musical (harmonia); Aspectos
música e o som, enquanto energia, estimulam semânticos; Frases, textos, obras etc.; Timbres;
o movimento interno e externo no homem; Memórias rítmicas, melódicas, harmônicas e
impulsionam-no à ação e promovem nele timbrística, na construção de um repertório
uma multiplicidade de condutas de diferentes de comunicação. Como elementos essenciais
qualidade e grau”. A música é uma forma de da música, de acordo com Brito (2003, p. 25),
representar a vida da criança, portanto contribui temos: Som e silencio - impressão produzida
para seu desenvolvimento. Pode abranger as em nosso ouvido pela vibração de um corpo
diversas áreas da educação, além de temas sonoro ou a não percepção da mesma; Ritmo –
específicos. A autora relaciona-a com uma fonte variação na intensidade, na duração e na altura;
de estímulos, de equilíbrio dos sentimentos Melodia – é uma sucessão de sons que diferem
para a criança. entre si na duração, entonação e intensidade;
Harmonia - Combinação de sons resultantes
O Referencial Curricular Nacional para a da superposição de melodias, denominados
Educação Infantil define a música como uma acordes.
linguagem capaz de expressar sensações,
sentimentos e pensamentos, através da
conciliação entre o som e o silêncio. Segundo BREVE HISTÓRICO DA
Raimundo Martins, educar musicalmente é UTILIZAÇÃO DA MÚSICA
ensinar de modo que a criança compreenda a
linguagem musical, por meio de experimentos e NA EDUCAÇÃO
convivência orientada. A música sempre esteve presente na vida das
pessoas, principalmente na religião. Os gregos
Segundo Rosa (1990), o período anterior à e referiam aos deuses com música. O ensino
alfabetização pode ser privilegiado, quando de música inicialmente se restringia apenas
se utiliza a música de maneira que facilite o aos mosteiros. Após a Reforma Protestante,
desenvolvimento de diversas habilidades. A crianças e jovens tiveram maior acesso à
música é usada atualmente, principalmente educação musical. No Brasil, a educação
na Educação Infantil, com alguns propósitos, Musical originou-se na educação jesuítica,
como formar hábitos (lavar as mãos, escovar porém com intenção de evangelização. A
os dentes etc.); realização de comemorações música brasileira teve influências europeias,
(dia do índio, dia das mães, natal etc.); indígenas e africanas. A Lei de Diretrizes e Bases
memorização de conteúdos (números, letras, da Educação Nacional instaurou a música como
cores etc.). Como pontos fundamentais que componente curricular obrigatório de diversas
compõem a música enquanto linguagem, de formas, ora como parte da Educação Artística,
acordo com Suzigam (1996), temos: Códigos ora como educação musical propriamente dita.
sonoros; Caracteres de representação gráfica;

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos no decorrer do estudo, a arte aliada à
alfabetização pode trazer consideráveis resultados à
aprendizagem, à autoestima e ao desenvolvimento da criança.
Nossa intenção é que consigamos desenvolver atividades
significativas e alegres e não continuemos a deixar nossas
crianças lidarem somente com textos mecânicos escritos
artificialmente e ou cartilhas que única e exclusivamente
ensinam a correspondência grafo-fonêmica.
ANA LUCIA RAMOS
Queremos que nossos alunos não só aprendam a ANTUNES
identificar palavras, decodificar símbolos, mas que isso
Graduação em Pedagogia pela
colabore para que não se tornem adultos problemáticos, Universidade São Marcos (2002);
depressivos, pessimistas como podemos ver atualmente, Especialista em Arte Educação
ou nos casos onde "algumas crianças com notas que vão de e Terapia pela Faculdade de
Educação e Tecnologia Iracema –
bom a excelente são, contudo, infelizes, ansiosas e sofrem FAETI (2017); Professor de Ensino
de baixa auto-estima" (MISHNE, p.50), queremos como já Fundamental I e Educação Infantil
citamos, a Arte na Educação para resgatar outros valores, na EMEI Casimiro de Abreu

modificar esta visão e desenvolver uma consciência mais


reflexiva, criativa , crítica e principalmente feliz.

Pois, a criança que viver a sua infância com respeito,
entendimento e criatividade, estará mais próxima de ser um
adulto com visão capaz de superar o dogmatismo social de
sua época, e ainda para Cheida (1994), oferecendo condições
ainda não atingidas para que a convivência humana aconteça
com mais dignidade. A função deste trabalho não é interferir
no processo de ensino, mas fazer com que a arte não
seja só uma matéria a parte, seja também um facilitador
do processo de alfabetização das crianças, podendo ser
de grande valia para o professor completar suas práticas
pedagógicas, visando estimular nas crianças um processo
alfabetizador espontâneo, criativo e animador. É preciso que
tenhamos instrumentos, não para eliminar uma forma, em
prol de outra, mas aliar o contexto a uma forma prazerosa.
Para isso, precisamos conhecer outros métodos de outros
educadores, mesmo contrários aos nossos, para discutirmos

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suas experiências, visto o ensino ser um dos pontos inquietantes dentro da área da educação;
por isso, novas propostas devem ser sempre contempladas pelos educadores interessados e
dedicados a sua profissão.

Uma das possibilidades, bem adotadas por alguns educadores, seria começar um ensino
utilizando embalagens de produtos que as crianças tenham em casa, painéis conhecidos,
dentre outros. Através desses objetos, que fazem parte do cotidiano de cada família, a
criança terá a oportunidade de reconhecer neles o princípio artístico, pois, a arte é forma,
cor, movimento e expressão. Estamos, com este trabalho, propondo a solução de todos
os problemas em uma sala de ensino infantil, mas tornando-a mais significativa e feliz,
procurando deixar uma sementinha para que seja cultivada por todos que os educadores
que desejam dar mais significação a sua profissão e seu real objetivo de educar. Sendo assim,
a discussão não está fechada, pois o conhecimento é histórico e a história está em constante
transformação.

Como se pode concluir, a arte tem papel crucial na Educação Infantil, sendo ela que mais
se aproxima da tarefa primordial da primeira infância, que é a construção dos sistemas
simbólicos de representação, essencial à constituição da criança como ser humano histórico
e social. Vale lembrar que, a criança é um ser em contínuo crescimento, com evolução na
transformação física, perceptiva e psíquica, o que faz com que a criança tenha um espírito
curioso, atento, experimental, buscando, conhecendo e conquistando o mundo que o rodeia.

A criança pelo que se pôde constatar é um ser sensível, que busca compreender o mundo
agindo e dando forma a seus pensamentos e sentimentos, apropriando-se da cultura e
produzindo-a, transformando a realidade ao mesmo tempo que transforma a si mesma. E
assim, a arte tem um papel essencial, o que nos faz concluir que, dançar, cantar, brincar de
faz-de-conta, desenhar, inventar brinquedos a partir dos mais variados objetos, explorando
suas possibilidades sonoras, visuais e táteis, são atividades essenciais no processo de
constituição da criança como ser humano, o que é atestado por sua presença na vida
cotidiana das crianças em diferentes tempos e lugares.

117
Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A CONTRARIEDADE NA EDUCAÇÃO
A DISTÂNCIA NO BRASIL
RESUMO: Neste artigo será exposto um curto histórico das experiências em EaD no Brasil,
desde os cursos por correspondência até a educação por meios eletrônicos. São apontadas
as legislações e projetos governamentais e apresenta as contrariedades em correção a
Educação a Distancia no Brasil.

Palavras-Chave: Projetos governamentais, contrariedade, legislação brasileira, EaD.

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INTRODUÇÃO Na contemporaneidade, o Fundo de


Fortalecimento da Escola (Fundescola), projeto do
Quando se fala na prática em EaD no Ministério da Educação criado com participação
Brasil, admite se que seja percursor dos cursos das secretarias estaduais e municipais de educação
desenvolvidos pelo Instituto Universal Brasileiro dos territórios Norte, Nordeste e Centro Oeste
(1941), entidade particular que disponibilizava do Brasil, transmitem, desde 1977, de segunda
educação a distância de característica supletiva, a sexta-feira pela Rádio Nacional, AM, e através
além de cursos profissionalizantes, por meio da Rádio Nacional Amazônia, OC, o projeto
de correspondência. Esse método impresso de Escola Brasil, expandindo conhecimento sobre o
educação a distancia igualmente foi aplicado em cotidiano das escolas. “Outras emissoras de rádio
ao menos um projeto governamental, o projeto e serviços de alto-falantes dessas regiões também
LOGOS, conduzido para criação de professores atuam em parceria, retransmitindo o programa,
amadores (1973). Na contemporaneidade, assim como a rádio-novela “A Caminho da Escola”,
emprega-se o meio impresso, como método que contém recomendações para melhorar
adicional de ação, na evolução de atividades de a qualidade do ensino nas escolas e informar
educação a distância. à população sobre os assuntos de educação,
mobilizando pais e as comunidades locais a
A primeira prática de EaD no Brasil, contudo, participarem da vida escolar”.
não foi executada pelo sentido impresso, mas
pelas afluências dos rádios. Ora, em 1923, a O alicerce televisivo principiou sua utilização
Fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro para ensino a distância no começo da década
divulgava programação relacionada à língua, de 70 no qual nasceu o Projeto Saci – Sistema
telefonia, radiotelegrafia, literatura e outros. Desde Avançado de Comunicações Interdisciplinares –
desse momento, meio a esses alicerces difundidos do qual, a finalidade era de demonstrar um método
pela mídia de comunicação, o rádio tem sido o nacional tele-educação, via satélite (1973). Este
transmissor com enorme tempo de utilização projeto foi continuado por outra iniciativa de
para realizações em EaD no Brasil. Em 1939 abrangência nacional, o Telecurso de 1º e 2º
idealizou-se o Instituto Rádio Monitor, receoso graus (1978), onde mais tarde passou a chamar-
em manusear o rádio para fins de educação. Em se Telecurso 2000 (1995), direcionado para
todos os últimos decênios muitos procedimentos aperfeiçoamento do Ensino na Educação Básica
relacionados à educação à distância manusearam- e nos cursos profissionalizantes. Nos anos 70
se do rádio, em singularizados tipos de projetos, incontáveis iniciativas de “programas educativos”
quase sempre governamentais. Salienta-se, foram introduzidas nas áreas nacionais, através
dentre eles, as escolas radiofônicas ou as tele- de programas culturalmente diversificados,
aulas dramatizadas do Movimento de Educação abrangendo iniciativas de educação a distância
de Base – MEB (1956) e o Projeto Minerva, que com diferentes finalidades. Em 1996 aparece uma
difundia cursos em redes nacionais por estações nova iniciativa nacional, o TV Escola, direcionado
de rádio (1970). especialmente para o desenvolvimento do

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professor e para contribuição do exercício do haver cooperação e integração entre os diferentes


docente por intermédio de películas educativas e sistemas. (Regulamento)
programas televisivos. § 4º A educação a distância gozará de
tratamento diferenciado, que incluirá:
Os projetos e realizações em EaD empregando- I - custos de transmissão reduzidos em canais
se dos recursos impressos, radiofônicos e comerciais de radiodifusão sonora e de sons e
televisivos, agrupam-se aos programas executados imagens;
desde a metade da década de 80 instruídos para I - custos de transmissão reduzidos em canais
o aproveitamento dos recursos da informática comerciais de radiodifusão sonora e de sons e
para criação e capacitação de professores não imagens e em outros meios de comunicação
exclusivamente pela caracterização de categorias que sejam explorados mediante autorização,
de técnicos para o progresso de cursos presenciais, concessão ou permissão do poder público;
todavia, também, a distância. (Redação dada pela Lei nº 12.603, de 2012)
II - concessão de canais com finalidades
Esta é uma das realizações estimuladas após exclusivamente educativas;
a elaboração em 1995 no Mistério da Educação III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para
da Secretaria de Educação à Distância (SEED) que o Poder Público, pelos concessionários de canais
vem prosseguir ao artigo 80 da nova LDB (Lei comerciais.
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) de
1996, que pela primeira vez estabelece a respeito Somente em fevereiro de 1998, as realizações
das iniciativas em EaD no país, expressando: de Educação a Distância são regulamentadas pelo
artigo 2º da do Decreto 2494/98 que diz:
Art. 80. O Poder Público incentivará o
desenvolvimento e a veiculação de programas os cursos a distância que conferem certificado ou
diploma de conclusão do ensino fundamental para
de ensino a distância, em todos os níveis e jovens e adultos, do ensino médio, da educação
modalidades de ensino, e de educação continuada. profissional e de graduação serão oferecidos por
(Regulamento) instituições públicas ou privadas especificamente
credenciadas para esse fim (...).
§ 1º A educação a distância, organizada com
abertura e regime especiais, será oferecida por
instituições especificamente credenciadas pela Por meio deste decreto, as recomendações
União. de curso em EaD nestas competências de
§ 2º A União regulamentará os requisitos para educação precisarão ser conduzidas ao órgão do
a realização de exames e registro de diploma sistema municipal ou estadual encarregado pelo
relativos a cursos de educação a distância. credenciamento de instituições e assentimentos
§ 3º As normas para produção, controle e de cursos – a menos que se trate instituições
avaliação de programas de educação a distância ligada ao sistema federal de ensino, no qual, assim,
e a autorização para sua implementação, caberão o credenciamento terá de ser realizado pelo
aos respectivos sistemas de ensino, podendo Ministério da Educação.

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No caso de cursos de graduação e educação qualidade, os projetos de EaD não estimularam


profissional em nível tecnológico, a instituição os conjuntos convencionais de ensino superior
interessada deve credenciar-se junto ao MEC, – público e privado – até metade dos anos 90.
solicitando, para isto, a autorização para cada Anteriormente, é digna a referência unicamente
curso que pretenda oferecer. a disposição da Universidade de Brasília (UnB),
que em 1980 já havia elaborado seu Centro de
Os projetos de Mestrado ou doutorado na Educação a Distância (CEAD), encarregado pela
categoria a distancia, no Brasil, até então, são proposta dessa categoria de aprendizagem em
assuntos de normatização particular. Os projetos cursos opcionais e de rápida extensão.
de Pós-graduação em Latu Sensu, conhecidos por
especializações, ainda há pouco tempo eram tidos Em 1995, a Universidade Federal de Mato
como livres, isto é, emancipados de aprovação de Grosso (UFMT), desenvolve o Núcleo de
desempenho por parte do MEC. Entretanto, com Educação Aberta e Distância do Instituto de
o parecer n.º 908/98 (aprovado em 02/12/98) Educação (NEAD). Data também desta época a
e a Resolução nº 3 (de 05/10/99) da Câmara criação do laboratório de EaD do Programa de
de Educação Superior do Conselho Nacional de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da
Educação que consolidou exigências de validez dos Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
diplomas de cursos presenciais de especialização,
passou-se indispensável a regulamentação de Os obstáculos para o desenvolvimento de
semelhantes cursos na modalidade a distância. cursos e a proposta mediana de disciplinas a
distancia aconselharam as instituições para o
Mas há pouco tempo, diversas iniciativas em conjunto em massa, ou, associações para encarar
educação a distância foram desenvolvidas pelo juntas as diversas questões e criar o rosto as
governo e entidades e companhias privadas com dificuldades desta nova categoria de ensino. Estas
aplicação de películas (entregues em invólucros ou dificuldades acontecem essencialmente por conta
difundido através de sinais abertos ou fechados dos altos valores dos instrumentos, software
de TV) e de softwares (entregues por meio de e telecomunicações. A Universidade Virtual
disquetes). Pública do Brasil é um exemplar de associações
desta natureza, constituído por 63 organizações
Com a expansão da capacidade de alcance públicas de ensino, entre universidades federais,
dos espaços concedidos através da internet, estaduais e CEFETS. No âmbito privado de ensino
novas iniciativas em EaD foram instauradas ante diversas são as realizações, como se pode citar, a
a coordenação geral – na esfera governamental – Universidade Virtual Brasileira, constituída por
do PROINFO, programa igualmente executado na nove organizações de ensino superior.
esfera da SEED/MEC desde 1996.
A normatização do Fundo de Universalização
Considerado como uma configuração supletiva dos Serviços de Telecomunicação – FUST,
de oferecimento da educação e com declínio de objetiva assegurar, entre outras coisas, às

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bibliotecas e às instituições brasileiras públicas de diversos profissionais de distintas áreas, o projeto


ensino: a instalação de redes de alta velocidade, solidificou-se a principio em uma proposição, “Livro
possibilitando o acesso à Internet, o intercâmbio Verde” da Sociedade da Informação, que depois
de sinais e a implantação de serviços de de ser pesquisado e analisado em diversas áreas
teleconferência entre estabelecimentos de ensino da sociedade, direcionará a produção de “políticas
de todo o país e do mundo. e iniciativas voltados para a entrada do país no
movimento global de mudanças nas dimensões
A admissão em vigor do FUST assegura que político-econômica-tecnológica, desencadeado
“as prestadoras de serviços nessa área passam pela grande quantidade e velocidade de circulação
a ter as obrigações de universalização e o dever de informações digitalizadas, através do uso
de contribuir com a receita do Fundo, mediante crescente da Internet na economia” (Livro Verde).
a pagamento de impostos pela autorização e
prestação do serviço e uso de radiofreqüência” A meio de essenciais preocupações exibidas
(PICANÇO, 2001). no Livro Verde para a incorporação do Brasil na
Sociedade da Informação está no espalhamento
O mais atual evento oficial a respeito da EaD da Educação a Distância, por meio da internet,
está explícito na observação apontada no Diário “como mecanismo complementar, substitutivo
Oficial da União e que diz: ou integrante de ensino presencial”. Segundo
apresentado no próprio Livro Verde, tal qual
Educação a Distância para Cursos Superiores - As importância é esclarecida pelo fato da EaD
instituições de ensino superior do sistema federal de
ensino poderão introduzir, na organização pedagógica proporcionar:
e curricular de seus cursos superiores reconhecidos,
a oferta de disciplinas que, em seu todo ou em parte, “i. O aumento considerável da audiência de um curso
utilizem método não presencial. Essas disciplinas ou palestra, tanto no tempo como no espaço, através
não poderão exceder a 20% do respectivo currículo. do concurso intensivo de meios eletrônicos para o
(Edição nº 201-E, de 19.10.2001). registro e a transmissão de conteúdos. Isto permite, por
exemplo, oferecer boas oportunidades de educação
para os interessados, mesmo que em áreas remotas
Estabelecendo, uma atual fase para EaD no e desprovidas de boas oportunidades locais de
Brasil, autenticando não mais exclusivamente educação. Outro benefício é o compartilhamento de
como categoria suplementaria de educação, mas recursos de ensino entre instituições com interesses
e quadros complementares, mesmo que situadas em
como perspectiva de se incorporar e mesmo locais afastados entre si. ii. A oferta de oportunidades
cambiar a proposta de disciplinas até então de aprendizado para estudo em casa ou no trabalho,
ofertadas exclusivamente de forma presencial. em qualquer horário, ampliando as possibilidades de
oferta de educação continuada. iii. A individualização
do processo educativo, mesmo em esquemas de
Diferentes realizações direcionadas para grande escala, devido à maior interatividade propiciada
aplicação extensas de projetos EaD estão sendo pela Internet. iv. A organização do trabalho em equipe
de intensa cooperação, mesmo envolvendo pessoas
aguardadas também pelo Programa Sociedade geograficamente dispersas e trabalhando em horários
da Informação. Estimuladas pelo Ministério distintos”.
da Ciência e Tecnologia, com a presença de

124
Revista Educar FCE - Abril 2019

De acordo com o Livro Verde, são “aspectos críticos, no ensino a distância, o desenvolvimento de
metodologias pedagógicas eficientes para o novo meio e de ferramentas adequadas para o estudo
individual, ou em grupo. Nesse sentido, para que o ensino a distância alcance o potencial de vantagens
que pode oferecer, é preciso investir no seu aperfeiçoamento e, sobretudo, regulamentar a atividade e
também definir e acompanhar indicadores de qualidade”.

Desta forma, mostra-se como projetos fundamentais:

A alfabetização digital precisa ser promovida em todos os níveis de ensino, do fundamental ao superior, por meio da
renovação curricular para todas áreas de especialização, de cursos complementares e de extensão e na educação de jovens
e adultos, na forma e concepção emanadas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. A geração de novos
conhecimentos diz respeito sobretudo à formação em nível de pós-graduação. Mas é também viabilizada pela formação
profissional em nível de graduação em áreas diretamente relacionadas com tecnologias de informação e comunicação
e sua aplicação: cursos de engenharia de computação, telecomunicações, ciências da informação, comunicação social,
cinema e animação etc. . A aplicação de tecnologias de informação e comunicação pode ser objeto de formação desde
o nível médio, sobretudo no âmbito de cursos técnicos em informática, eletrônica etc. Ela é certamente o foco central de
cursos de graduação que tratam de tecnologias de informação e comunicação. E é também preocupação dos cursos de
pós-graduação em tecnologias de informação e comunicação e áreas correlatas, especialmente quando a aplicação de
conhecimentos se refere à produção ou aperfeiçoamento de bens e serviços na própria área, o que exige o domínio dos
fundamentos conceituais básicos associados aos níveis mais elevados de ensino. Finalmente, a aplicação de tecnologias
de informação e comunicação em quaisquer outras áreas (não próximas de tecnologias de informação e comunicação),
tais como saúde, transportes, biologia etc., demanda a participação de profissionais dessas áreas, mas com conhecimentos
aprofundados em tecnologias de informação e comunicação, que transcendem em muito o nível de alfabetização digital.
Como denominar essa capacidade específica em tecnologias de informação e comunicação de profissionais de outras áreas
para aplicar tecnologias de informação e comunicação nessas suas áreas?” (Livro Verde).

125
Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos dos projetos em EaD desenvolvidos no Brasil,
especialmente pelo governo, remotamente nos apresenta
suas interrupções ríspidas. Referem-se as propostas políticas,
mais do que educacionais, articulado por uma estipulada
equipe e que eram reduzidos a cada medida das diretrizes
políticas do respectivo Ministério da Educação, por diversas
vezes no mesmo governo.

O regulamento na política e a produção “em gabinete” ANA MARIA VACCARI


destes planejamentos tiram a instrumentalização da existência DA SILVA MUNGIOLI
de execução e da carência existencial dos ambientes
Mestra em Educação,
educacionais para os quais se direcionam. Conduzidos por Administração e Comunicação
teorias e atividades distantes da realidade física das escolas pela Universidade São Marcos –
e dos outros círculos educacionais, grande parte destes Professora de Ensino Fundamental
e Médio da Prefeitura Municipal
planos foram exigidos, com o menor grau de independência de São Paulo e pela Secretaria de
para modificações pelos seus responsáveis. Este atraso Estado da Educação.
através de quem imagina e de quem desenvolve, ocasionou
na oferta de propostas com currículos inapropriados e com
oferta de métodos pedagógicos normatizados de orientações
desproporcionais dos projetos que a média repassava. e sem
conexão com os atributos locais dos alunos ou suas carências
materiais de aprendizagem.

Além do mais, os impedimentos de suportes de apoio a enorme soma de alunos criaram


contrariedade de desagrado total pois seja qual for o retorno para as incertezas esclarecidas
apresentava-se longo e insatisfatório, senão ilusório. A retirada numerosa e sucessiva dos
alunos descontente com os projetos ajudou ainda mais para deturpar tais tentativas.

Outra problemática vem acrescentar à antipatia disseminada por parte dos educadores
em correlação à educação à distância. Referem-se ao incômodo, sobre ao que em outro
momento foi denominado de tecnologia educacional. A aplicação numerosa dos volumes
prontos e dos argumentos tecnológicos da década de 70, tempo educacional politicamente
vinculado com o clico mais rígido da ditadura no Brasil, finalizam o cenário de repulsa e
hostilidade dos educadores aos planos educação a distância mediada pelas modernas
tecnologias de informações e comunicação.

126
Revista Educar FCE - Abril 2019

A educação na atual conjuntura é capaz, conseqüentemente, agregar com o fundamento


de abraçar verdadeiramente as atuais tecnologias na direção natural para ficar conforme os
princípios e aos parâmetros determinados pela atual ordem internacional ou compreender
as atuais tecnologias conforme aos locais de luta e de modificações, “com a preocupação
com a preservação de nossa identidade cultural, fundada na riqueza da diversidade; à
sustentabilidade de um padrão de desenvolvimento que respeite as diferenças e busque o
equilíbrio regional; à efetiva participação social, sustentáculo da democracia política” (Livro
Verde).

A inquietude em educação na atual conjuntura é o de produzir o cidadão brasileiro que do


mesmo modo seja capaz de ser um cidadão do mundo, e não meramente instruir o trabalhador
ou o consumidor das atuais tecnologias. Isto é, a definição de projetos que sejam capazes
de fazer a utilização das atuais tecnologias para preparar as pessoas para apoderar-se de
determinações e para propensão indicada sobre as diversas perspectivas na vida em sociedade
– educacional, econômico, social e político. Para tal, torna-se indispensável o ingresso para o
conhecimento e ao entendimento e a competência de demandá-los dogmaticamente.

Projetos em EaD de importância precisam abranger capacidades de aplicações de quaisquer


meios tecnológicos acessível – do meio impresso aos lugares participativos digitais – sem
distinção. Precisam assegurar a viabilidade de propensão dos alunos a meio das categorias
presenciais e a distância, sem detrimento para o seu conhecimento.

Preferencialmente, precisam assegurar a formação do profissional analítico, do mesmo


modo no que se diz à aceitação e utilização das tecnologias, reconhecendo o caráter dessas
atuais forças, revelando seu começo técnico e utilizar seus estudos em iniciativas mais
apropriadas com a veracidade, finalidades centrais desses projetos.

Estas mesmas vias são igualmente utilizadas para projetos a respeito de outros modelos de
tecnologias de comunicação e informação como o rádio, revistas e a televisão e a utilização
das redes abertas na internet.

Projetos de tecnologia analítica já se encontram desenvolvidos em diversos cursos


superiores e se estabelecem, diversos deles, como ambiente de persistência e de
transparência a respeito da utilização de redes e computadores. Buscam observar pode de
trás dos projetos e ocupações ofertados comercialmente, desmantelá-los e sobrepor seus
arcabouços na formação de propostas e produtos direcionados para questões existentes,
erguidos em suas coletividades e ambientes de atuação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
BELLONI, M.L. et al. Educação a Distância. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.

CULIK, Hugh. The Interplay of Web Site Design and Teaching -Thinking Learning Dynamics
of Education. Collaboration, Cleveland: Cleveland State UP. Disponível em: <http://www.
culik.com/hugh/resume.html>. Winter, 1999.

DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. Edição nº 201-E, de 19.10.2001.

FUNDESCOLA/MEC – Fundo de Fortalecimento da Escola. Disponível em: <http://www.


fundescola.org.br>.

FUST - Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações. Disponível em: <http://


www.anatel.org.br>.

LEI 9.998/00. Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações - FUST. Brasília:


Congresso Nacional. Disponível em: <http://www.anatel.org.br>. 17 ago. 2000.

LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio


de Janeiro: Editora 34, 1993.

PICANÇO, A.A. Educação a Distância: solução ou novos desafios? in GT 16 “Educação e


comunicação” na “24 Reunião Anual da ANPED”. Disponível em: <http://www.anped.org.
br/24/tp1.htm#gt16>.

TAKAHASHI, T. (org.) Sociedade da Informação no Brasil - Livro Verde. Brasília: Ministério da


Ciência e Tecnologia. Disponível em: <http://www.soc.info.org.br>. Set. 2000.

UNIFESPVIRTUAL. Educação a Distância: Fundamentos e Guia Metodológico. Disponível


em: <http://www.virtual.epm.br/home/resenha.htm#historico>.

UNIREDE – Universidade Virtual Pública do Brasil. Disponível em: <www.unirede,br>.

UVB - a Universidade Virtual Brasileira. Disponível em: <http://www.uvb.br/>.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A APRENDIZAGEM EM ARTES NAS


PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL:
CORPO, MOVIMENTO E DANÇA
RESUMO: Esta pesquisa trata de uma revisão bibliográfica com o foco voltado ao trabalho
com o Corpo e o Movimento na Escola. Dentro desse tema, o objetivo deste trabalho é
relatar como se realiza o trabalho com o corpo e o movimento na Educação Infantil, para
tanto traz alguns conceitos sobre o trabalho com a música e a dança na escola. A dança na
educação infantil pode ser vista como uma forma de articular o corpo, o movimento e a arte,
além da música e do espaço utilizado para tal prática. O trabalho como os movimentos e a
dança permite que as crianças experimentem e entendam os seus corpos e a forma como os
movimentos acontecem. As canções de ninar, os brinquedos sonoros e as brincadeiras com
sons e palmas também contribuir para repertoriar a música na educação infantil, favorecendo
a interação, por meio da criação, dos gestos, da imitação e das expressões corporais. A dança
na educação infantil pode ser vista como uma forma de articular o corpo, o movimento e a
arte, além da música e do espaço utilizado para tal prática. O trabalho como os movimentos
e a dança faz com que as crianças experimentem e entendam os seus corpos e a forma como
os movimentos acontecem.

Palavras-Chave: Corpo e Movimento; Música; Dança; Aprendizagem; Artes.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO dos sons e silêncios quanto das estruturas e


organizações musicais; e a reflexão que traz
Segundo as orientações curriculares questões referentes à organização, criação,
do MEC são divididas as especificidades produtos e produtores musicais.
do conhecimento artístico em quatro
modalidades: Música, Teatro, Dança e Artes Os conteúdos para o trabalho com música
visuais. Assim, os Parâmetros Curriculares na educação infantil com crianças menores,
Nacionais / Artes para o Ensino Fundamental, devem abranger alguns conceitos, dentre
Referenciais Curriculares para a Educação eles: a exploração de materiais e a escuta
Infantil e Parâmetros Curriculares para de obras musicais para propiciar o contato
o Ensino Médio trataram de explicitar e experiências com a linguagem musical; o
os conteúdos de música, artes cênicas, som e o silêncio; a vivência da organização
artes visuais e dança e suas metodologias dos sons pelo fazer e pelo contato com
específicas. diferentes obras e a reflexão sobre a música
como produto cultural do ser humano.
Com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN 9394/96) fica A dança possui alguns conceitos que
promulgado que o ensino de Arte constituirá podem ser trabalhados e o professor não pode
componente curricular obrigatório, nos limitar-se a mera reprodução estereotipada
diversos níveis de educação básica, e tem de movimentos. Mesmo sem a formação
como meta promover o desenvolvimento especifica em dança, o professor pode
cultural dos alunos. promover e desenvolver atividades em que
as crianças possam explorar os movimentos
O trabalho com as Artes Visuais na e o corpo utilizando a música e a dança.
Educação Infantil deve respeitar as
peculiaridades das crianças e o seu nível de
desenvolvimento, favorecendo o processo de ARTES VISUAIS, LEGISLAÇÃO
criação das mesmas. O educador deve intervir E APRENDIZAGEM
proporcionando o contato com diferentes
objetos agindo de forma intencional com o A abordagem mais contemporânea da
intuito de enriquecer a ação desenvolvida Arte Educação no Brasil está relacionada
pela criança. ao desenvolvimento cognitivo, que vem
se impondo cada vez mais entre os arte/
A linguagem musical possui uma estrutura educadores brasileiros. Essa compreensão
e algumas características próprias, entre nos impõe a pensar de maneira diferente
elas temos a produção, que é centrada o ensino de arte na educação escolar,
na experimentação e na imitação; a provocando o deslocamento das nossas
apreciação que trata da percepção tanto preocupações relacionadas à questão de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

“como se ensina arte” para “como se aprende não previa a formação e a qualificação dos
arte”. professores.

A valorização da expressão infantil em Na Reforma Educacional de 1971 fica


artes passa a ser sinalizada com a semana da estabelecida a prática da polivalência no
Arte Moderna em 1922 em que os modelos ensino de artes, com esta reforma, as
de educação técnica voltados para o trabalho artes plásticas, a música e as artes cênicas
com desenho clássico e geométrico são deveriam ser ensinadas em conjunto por
contestados. um único professor da 1ª à 8ª séries do 1ª
grau. Nesta época foram criados os cursos
Mário de Andrade em seu curso de de licenciatura em educação artística com
filosofia e história da arte na Universidade duração de dois anos para preparar estes
do Distrito Federal contribuiu para que as professores polivalentes.
produções das crianças fossem vistas com
novos critérios sob a ótica da filosofia e da De acordo com Barbosa (2003) em 1977, o
arte e em seus artigos de jornal contribuiu MEC criou o Programa de Desenvolvimento
para a valorização das atividades artísticas Integrado de Arte Educação (Prodiarte)
da criança como linguagem. que tinha por objetivo integrar a cultura da
comunidade e da escola por meio de parcerias
Entre 1960 e 1970 são publicados alguns com órgãos estaduais e universidades. Os
livros sobre artes plásticas na escola e objetivos dos programas do Prodiarte eram:
algumas das técnicas utilizadas eram lápis concorrer para a expansão e a melhoria
de cera e anilina, pintura a dedo, recorte da educação artística na escola de 1º
e colagem, dentre outras. Com a ditadura grau; enriquecer a experiência criadora de
militar, o ensino de Artes na Escola pública professores e alunos; promover o encontro
passa a basear-se em temas que tinham entre o artesão e o aluno; valorizar o artesão
referências em comemorações de datas e a produção artística junto à comunidade.
cívicas e datas religiosas.
Com a Lei de Diretrizes e Bases da
De acordo com Barbosa (2003) nos fins Educação Nacional (LDBEN) 9394/96 fica
da década de1960 e início de 1970, algumas promulgado o seguinte texto em seu artigo
escolas que eram especialistas no ensino de 26: “O ensino de Arte constituirá componente
arte passam a desenvolver experiências que curricular obrigatório, nos diversos níveis
envolvem projetos de artes com a criatividade de educação básica, de forma a promover o
e o desenvolvimento da criança. Com a Lei de desenvolvimento cultural dos alunos.”
Diretrizes e Bases (LDB) 5692/71 a Educação
Artística foi instituída no currículo reunindo Com a sanção da Lei 11.769 em agosto
todos os tipos de linguagem, porém esta lei de 2008 o ensino de música tornou-se

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Revista Educar FCE - Abril 2019

conteúdo obrigatório, mas não exclusivo possível que a criança aprenda e compreenda
no ensino curricular de Arte, alterando o o seu conteúdo de forma relevante e
Artigo 26º da LDBEN de 9394/96, trazendo significativa.
a possibilidade da implantação efetiva do
ensino de música nas escolas de uma forma Quando a criança começa a desenhar ela
mais abrangente. trabalha sobre a hipótese de que o desenho
serve para imprimir tudo o que ela sabe sobre
O trabalho com as Artes Visuais na o mundo, expressando suas percepções e
Educação Infantil deve respeitar as sentimentos, observando diferentes objetos
peculiaridades das crianças e o seu nível de simbólicos e as imagens que cria. Na fase de
desenvolvimento, favorecendo o processo de simbolização, a criança vai incorporando as
criação das mesmas. O educador deve intervir regularidades e os códigos que representam
proporcionando o contato com diferentes as imagens que a cercam e aprende a
objetos agindo de forma intencional com o considerar que o desenho serve para imprimir
intuito de enriquecer a ação desenvolvida aquilo que ela vê.
pela criança.
Segundo Andrade (2009) o ensino da arte
O educador deve compreender o desenho em espaços educativos carecem de propostas
da criança como um processo de criação e que desafiem o imaginário da criança, que
como uma forma de linguagem, deve deixar explorem a linguagem visual, musical e
a criança livre para criar e representar aquilo corporal nas milhares possibilidades de
que deseja, as marcas deixadas pelas crianças criar com diferentes materiais e suportes e
são únicas e valorosas quando pensamos no diferentes formas de produzir, entender e ler
verdadeiro sentido de criação e arte. imagens, bem como investigar possibilidades
do próprio corpo e gestos com uma riqueza
Privilegiando as diversas formas expressivas, imensa de expressão
utilizando-nos de diferentes linguagens (fala,
jogos, dramatização, música, dança, desenho,
pintura, literatura, argila), ampliamos a ideia de A educação em arte propicia o desenvolvimento
arte para além da técnica – como expressividade, do pensamento artístico e da percepção
comunicabilidade. E expressar-se livremente é, estética, que caracterizam um modo próprio de
antes de tudo, direito inalienável de crianças e ordenar e dar sentido à experiência humana: o
aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção
adultos. (LEITE, 1998, p. 149). e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas
quanto na ação de apreciar e conhecer as formas
O educador deve conduzir o processo produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza
educativo dando significado aquilo que a e nas diferentes culturas. (BRASIL, 1997, p.19)
criança aprende, incluir a Arte no currículo
escolar, não é suficiente para a garantia de É importante proporcionar para as crianças
aprendizado, a Arte deve estar integrada a apreciação de figuras, ao contato com os
as demais áreas do conhecimento e tornar personagens de uma história já conhecida,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de um desenho e, até mesmo, de alguns Com a questão da avaliação em Artes


filmes, partindo desta apreciação o professor Visuais, segundo o RCNEI (1998), surge
poderá trabalhar com essas personagens por inevitavelmente a discussão sobre a
meio de jogos simbólicos, fazendo pequenas possibilidade de realizá-la, posto que as
dramatizações e aproveitando os objetos produções em artes são sempre expressões
presentes em sala de aula. singulares do sujeito produtor e, desta
maneira, não seriam passíveis de julgamento.
Com isso, o professor estará criando
possibilidade para que as crianças Neste caso, a orientação é que a avaliação
desenvolvam relações entre as em Artes Visuais deva ser sempre processual
representações visuais e suas vivências, e ter um caráter de análise e reflexão sobre
enriquecendo seu conhecimento do mundo as produções das crianças, desta maneira
e contribuindo para o desenvolvimento das a avaliação para a criança deve explicitar
linguagens artísticas. suas conquistas e as etapas do seu processo
criativo; para o professor, deve fornecer
A exposição das produções e dos trabalhos informações sobre a adequação de sua
infantis permitem que a criança reconheça o prática para que possa repensá-la, estruturá-
seu trabalho e a sua arte e contribuem para o la e adequá-la.
seu desenvolvimento artístico, colaborando
para a autoestima das crianças e de seus
familiares e para que ela desenvolva o prazer CORPO, MOVIMENTO,
pela criação e pela arte. Poder observar o MÚSICA E DANÇA
seu trabalho e permitir que outras pessoas
apreciem a sua produção é importante para NA ESCOLA
a criança e favoreça o seu crescimento As instituições de educação infantil devem
aumento a sua auto confiança. proporcionar um ambiente físico e social
no qual as crianças se sintam protegidas,
Também é de fundamental importância acolhidas e seguras para se arriscar, quanto
que o professor respeite os pontos de mais rico e desafiador for esse ambiente,
vista de cada criança, estimulando e melhor a criança será capaz de ampliar os seus
desenvolvendo suas leituras singulares e conhecimentos. O trabalho com movimento
produções individuais. Os momentos de propicia um amplo desenvolvimento de
conversa e troca de experiências entre as aspectos específicos da motricidade das
crianças também são ricos momentos de crianças, bem como atividades voltadas para
aprendizagem e o prazer lúdico torna-se o a ampliação da cultura corporal.
gerador do processo de produção.
De acordo com as legislações em vigor
que referem-se às questões educacionais,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

todas as crianças, a partir dos quatro anos Os conteúdos a serem organizados para
de idade devem ter seus espaços garantidos o trabalho com o movimento na educação
em instituições especializadas e a Lei de infantil devem respeitar as diferentes
Diretrizes e Bases da Educação Nacional capacidades das crianças em suas faixas
(LDBEN 9394/96), determina que as etárias, além das diferentes culturas corporais
crianças de zero a três anos de idade sejam presentes em cada região. O ambiente vivido
atendidas pelas creches. É obrigação do no dia a dia das crianças nas instituições de
Estado oferecer a todas as crianças uma educação infantil deve propiciar um diálogo
educação na fase da infância e as instituições com as diferentes linguagens, promovendo
escolares possuem uma certa autonomia novas experiências e aproximando as
para elaboração das atividades curriculares a crianças de suas possibilidades de criação,
serem desenvolvidas nesta faixa etária. podemos citar como exemplo: a educação
física, as artes plásticas, a dança, a música, o
As Artes Visuais expressam, comunicam e teatro, a poesia e a literatura.
atribuem sentido a sensações, sentimentos,
pensamentos e realidade por meio da organização
de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional A exploração do ambiente ocorre com o
como tridimensional, além de volume, espaço, movimento, desta maneira, é de extrema
cor e luz na pintura, no desenho, na escultura,
na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, importância que seja oferecido às crianças
bordados, entalhes etc. O movimento, o uma grande variedade de movimentos
equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a para que o seu corpo possa experimentar
continuidade, a proximidade e a semelhança
são atributos da criação artística. A integração diferentes ações e situações, aumentando
entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, gradativamente o conhecimento de seu
estéticos e cognitivos, assim como a promoção próprio corpo pela criança. A corporeidade
de interação e comunicação social, conferem
caráter significativo às Artes Visuais. (BRASIL, da criança deve ser intensamente estimulada,
1998, p.85) por meio da motricidade, experimentando,
aprimorando e aperfeiçoando os seus
A finalidade da educação infantil é movimentos.
proporcionar o desenvolvimento integral da
criança em todos os seus aspectos, físico, As instituições escolares ainda encontram
intelectual, linguístico, afetivo e social, dificuldades para integrar a linguagem musical
visando a complementação da educação ao contexto educacional, evidenciando-se
recebida da família e na comunidade, uma defasagem entre o trabalho realizado
conforme o determinado no artigo 29 da na área de Música e nas demais áreas
LDBEN 9394/96. Por meio das interações do conhecimento, na qual são realizadas
que a criança faz com outras crianças atividades de reprodução e imitação não
na escola, com os professores e com os prevalecendo as atividades voltadas à criação
outros funcionários é que ela constrói seu musical.
conhecimento nas diferentes dimensões.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sejam suficientemente abertas para possibilitar


A música inserida na disciplina de Arte, respostas múltiplas e criativas. (Orientações
como conteúdo obrigatório, mas não Curriculares, 2007, p.71)
exclusivo da disciplina, pode contribuir, não
só para a formação cultural das crianças e Segundo Laban (1990) os movimentos na
adolescentes, na medida em que irão ampliar dança se manifestam na riqueza dos gestos e
seus repertórios acerca da diversidade nos passos utilizados no dia a dia: em qualquer
musical, como também para a melhoria na ação o homem faz uso de movimentos leves
qualidade do ensino da Arte, estimulando o ou fortes, diretos ou flexíveis, lentos ou
aluno a ampliar as suas linguagens artísticas súbitos, controlados ou livres.
e os seus conhecimentos.
A dança possui alguns conceitos que
De acordo com Marques (1997) a podem ser trabalhados e o professor não pode
formação de professores que atuam na área limitar-se a mera reprodução estereotipada
de dança é sem dúvida um dos pontos mais de movimentos. Mesmo sem a formação
críticos no que diz respeito ao ensino desta especifica em dança, o professor pode
arte em nosso sistema escolar. Na prática, promover e desenvolver atividades em que
tanto professores de educação física, de as crianças possam explorar os movimentos
educação infantil, assim como de educação e o corpo utilizando a música e a dança.
artística, vêm trabalhando com dança nas
escolas sem que tenham necessariamente É importante instigar as crianças a
tido experiências práticas ou teóricas como experimentar a dança sem preocupação
intérpretes, coreógrafos e diretores de dança. com o certo ou o errado, as brincadeiras
A dança na educação infantil é uma parte devem estimular os improvisos das crianças
do trabalho que deve ser desenvolvido e aproveitar os espaços disponíveis para
utilizando a linguagem corporal, tornando-se a realização de tais atividades, sem a mera
significativo e respeitando a movimentação reprodução de sequencias passadas pelos
espontânea e criativa da criança, sem uma professores.
mera reprodução de estereótipos.
A dança na educação infantil pode ser
As possibilidades expressivas do corpo são vista como uma forma de articular o corpo,
especialmente trabalhadas por meio da
dança. Para que a dança constitua um meio o movimento e a arte, além da música e do
de expressão para a criança, é importante que espaço utilizado para tal prática. O trabalho
ela tenha a oportunidade de criar movimentos como os movimentos e a dança faz com que
livremente. Entretanto, a liberdade precisa ser
“alimentada” pelo professor, para que a criança as crianças experimentem e entendam os
não se restrinja ao repertório de movimentos seus corpos e a forma como os movimentos
que já conheça e os repita mecanicamente. É acontecem.
preciso que o professor planeje propostas que
estimulem a criação de diferentes respostas
motoras expressivas a estímulos diversos, que
ele lance desafios que estimulem a criação e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Utilizando o movimento e o corpo, que são a base para um trabalho bem sucedido com
as crianças pequenas, os professores em conjunto com os demais profissionais é capaz de
introduzir a “dança” como “arte” proporcionando às crianças um desenvolvimento que vai
além da fala e da escrita.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino da arte em espaços educativos precisam de
propostas que desafiem o imaginário da criança, que
explorem a linguagem visual, musical e corporal nas milhares
possibilidades de criar com diferentes materiais e suportes e
diferentes formas de produzir, entender e ler imagens, bem
como investigar possibilidades do próprio corpo e gestos
com uma riqueza imensa de expressão.

O trabalho com as Artes Visuais na Educação Infantil CARLA SIMONE VICENTE


deve respeitar as peculiaridades das crianças e o seu nível TAVARES DE OLIVEIRA
de desenvolvimento, favorecendo o processo de criação das
Graduada em Pedagogia pela
mesmas. O educador deve intervir proporcionando o contato Universidade Metropolitana de
com diferentes objetos agindo de forma intencional com o Santos (2015); Especialista em
intuito de enriquecer a ação desenvolvida pela criança. Administração com Ênfase em
Educação, Diversidade e Inclusão
Social pela Faculdade Campos
Os documentos norteadores da educação fazem Elíseos (2018). Professora de
orientações didáticas aos professores incluindo a música Educação Infantil na Prefeitura
do Município de São Paulo, atua
dentre as atividades permanentes que devem ser como Assistente de Diretor na
oportunizadas às crianças, além disso define que os eixos Emei Coronel José Canavó Filho.
do currículo devem garantir experiências que promovam o
relacionamento e a interação das crianças com diversificadas
manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema,
fotografia, dança, teatro, poesia e literatura.

A formação dos professores que atuam nas séries iniciais e


na educação infantil ainda produz alguns equívocos de como se
trabalhar com este conteúdo, alguns profissionais não se veem
capazes de realizar determinadas atividades musicais, justificando
que é necessário ter certas aptidões para trabalhar com música.

O ensino de dança na escola pode dar subsídios para


a criança compreender e transformar as relações que
se estabelecem entre corpo, arte e sociedade, de forma
a contribuir para que eles tomem consciência de suas
potencialidades, aumentando sua capacidade de resposta e
sua habilidade de comunicação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Na educação infantil é possível trabalhar com todas as possibilidades de dança, visto


que todas elas surgem das motivações inerentes do ser humano. Os objetivos das práticas
nesse nível educacional devem ser direcionados a um reconhecimento corporal das crianças
em um primeiro momento, passando por uma educação dos sentidos e finalizando com a
exploração da criatividade e possibilidade de comunicação corporal utilizando a dança.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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ANGOTTI, Maristela. Educação Infantil. Campinas: Alínea, 2009.

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Curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didáticas para Educação Infantil.
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Revista Educar FCE - Abril 2019

VIOLÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR


RESUMO: Hoje muito se fala no termo violência, que consiste em inserir crianças com
deficiências em ambientes acolhedores e com profissionais preparados, garantindo
oportunidades e equidade, porém inúmeros desafios são encontrados. O equívoco no
entendimento do conjunto dessas ações provoca a necessidade de rever essas práticas.
O aluno com deficiência não pode se sentir diminuído ou fracassado, é necessário buscar
estratégias no planejamento para que a adaptação seja mais um benefício na busca pelos
seus direitos. Aceitar a diversidade, eliminar barreiras e pensar no coletivo, são maneiras
de alcançar o respeito e mudar o sistema educacional excludente e seletivo. A reflexão é a
resposta para muitas perguntas.

Palavras-Chave: Inclusão; Deficiência; Profissionais; Prática; Diversidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO RELACIONAMENTO SOCIAL


O presente artigo aborda um tema que A discussão sobre violência é polêmica,
vem sendo discutido há muitas décadas mas necessária e têm sido destaque na mídia.
nas escolas: a violência. Mas o que significa Especialistas manifestam suas opiniões sobre
o termo violência? Quais são os tipos? o assunto. Os motivos têm sido investigados
Como combatê-la? De quem é a culpa? São e acredita-se que dentre os diversos motivos,
perguntas que atravessam o tempo e resgata o principal é o relacionamento social. Hoje,
a importância da conscientização da situação os estudantes apresentam perspectivas
e de sua luta constante. A definição é tarefa explícitas de convivência. Por não saber
árdua, visto que ela passa por mudanças, à lidar com o problema, a solução encontrada
medida da que a sociedade se transforma. e uma postura intransigente, onde a revolta
dá lugar a explosão e para sobreviver prefere
A violência nas escolas tem aumentado exteriorizar uma conduta antissocial. Existe
todos os dias, interferindo na qualidade de vulnerabilidade e o estudante agressor
ensino das nossas crianças seja física, seja multiplica suas vítimas, uma vez que quanto
psicológica e está ganhando destaque. É mais “personagens” com medo, mais ele
preocupante essa situação, a maneira como a sobe na escala do poder.
criança quer impor sua opinião, intimidando
e manifestando de forma negativa o seu As formas de agressão praticadas por
interesse pessoal ou seu ponto de vista. um ou mais estudantes, contra outros,
com intenção é repetidamente sem motivo
O contexto social tem muita influência e aparente, pelo simples fato de intimidar,
é nítida que o comportamento agressivo é mostra que as dificuldades de relacionamento
a única forma que a criança encontra de ter são uma realidade e não estabelecem vínculo
respeito, visto que não encontra em outro afetivo.
ambiente. A prática educacional enumera
os culpados e caracteriza cada um, mas é Opressão e humilhação são as formas
preciso mediar de modo participativo, o de atacar a dignidade humana, esse
debate faz parte do processo, dialogar e constrangimento é presente nas escolas,
argumentar são formas de solucionar as é uma prática antiga que não passa
questões sociais, enaltecendo de forma despercebida por ninguém.
significativa a autoestima dessas crianças
que vem sendo discriminados por conta de
seu comportamento. FAMÍLIA X ESCOLA
É uma batalha árdua. Como resolver esse
problema? A estrutura familiar muitas vezes

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Revista Educar FCE - Abril 2019

é a raiz dessa violência, porém aprofundar se sintam seguros e acolhidos.


o diálogo com a família muitas vezes é uma
experiência dolorosa e desastrosa, visto que Comunicar as famílias, prevenindo as
muitas vezes ela não aceita ser responsável situações desagradáveis, caso o problema
pelo comportamento do estudante. A falta seja familiar, oferecer ajuda.
de parceria impossibilita encontrar o motivo
do individualismo do estudante. Não há Conscientizar e desenvolver respeito e
compromisso, o que há é indiferença e cidadania. Debater, participar e argumentar
distorção do que é certo ou errado, de quem são formas de decidir democraticamente
é a culpa ou quem é o culpado. O estudante os motivos e as soluções para solucionar e
precisa ser protagonista, mas no quesito efetivar maior participação de todos.
apresentado.
Eliminar as diferenças é um desafio, mas
Podemos assistir, no espaço escolar, encontrar soluções para o problema e tomar
as cenas que ultrapassam os limites da providências é um avanço. Para melhorar
brincadeira e do respeito à criança, deixando a qualidade de ensino, todos devem estar
em seus lugares um quadro de explícita envolvidos, pois na busca da qualidade
violência. (Eliane Cavalleiro, 2003, p.77) exclusão não se encaixa.

Escola x família precisa estar atenta para Pensar no coletivo é o mesmo que
resgatar o sentido de convivência coletiva, entender os conceitos, mas não abrir mão
desenvolvendo uma intervenção positiva do seu individual é algo difícil para muitos,
que possibilita uma gradual participação dos por isso muitos precisam de ajuda. Esse
estudantes no ambiente escolar. papel é de todos nós, não podemos deixar
que nossos educandos sigam sua vida sem
regras fixas e sem bússolas, usando somente
COMO MINIMIZAR OS a emoção.
PROBLEMAS NAS ESCOLAS
As expressões de acomodação precisam
Será que existe uma forma de acabar com dar lugares as atitudes. Identificado o
essa violência? Quais são as práticas para problema, agora é momento de resolvê-lo.
acabar ou minimizar esse problema?
Não basta a um pai, a uma mãe ou aquele
O estudante apresenta conflito interior, que cuida considerar ofensivo. Que não olhe
baixa autoestima, desinteresse e mudança a conduta do filho, do enteado, como uma
no comportamento, é preciso ficar atento, ação ofensiva de alguém insolente.
pois ele pode estar sendo vítima de violência.
Criar um vínculo de confiança permite que A melancolia tomou conta da vida de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

muitos, é um cenário que implora por acadêmico do educando é função de


mudanças. Os dados são preocupantes, é todos, vamos ocupá-los. Parar de se
uma geração desiquilibrada e vazia, que não lamentar culpados, comparar ou admitir o
demonstra força para encarar os problemas, fracasso. É preciso reinventar e entender
se sentem feios, excluídos e presos. São que as turbulências em que as crianças/
angústias que não são compartilhadas e adolescentes se encontram são passageiras,
assim se instala um mal-estar; que se instala desde que a manga seja arregaçada.
introversão e parte para a violência.
Não se pode negar que os fatores
A reflexão e o diálogo são formas que que motivam a violência escolar é uma
possibilitam uma tomada de decisão mais questão que deve ser avaliada. Ter um bom
sensata. Escolha é um direito, consequência entendimento sobre o tema e suas origens
é dever. A sabedoria está em ouvir, em para que medidas eficazes sejam tomadas, é
fazer parte de um grupo e entender da uma das ações que deveria ser tomada em
biodiversidade que nós fazemos parte. Somos todo o ambiente escolar. A violência seja
todos diferentes e devemos aproveitar o que verbal ou física causa consequências, muitas
cada um tem a oferecer. vezes irreversíveis. Discursos de ódio e
atitudes impensadas iniciadas sem motivos
Nós nascemos para aprender, ultrapassando destacam esses estudantes de forma
limites e utilizando as habilidades que nos é negativa.
oferecida.
Compreender exige esforço e minimizar a
Nessa observação, vale ressaltar que a violência exige estratégias direcionadas. Vale
família é o primeiro vínculo que a criança tem ressaltar que nos dias atuais a violência tem
com a sociedade e é a partir dessa vivência despertado medo, não só nos estudantes,
que se deve mostrar para ela que o respeito mas também em funcionários, professores
é ferramenta essencial para sobrevivência. e pais. A situação está se agravando e o
É um trabalho árduo e muitos desistem. ambiente escolar está perdendo o status de
Portanto a estrutura familiar não enfraquece lugar de descobertas e conhecimentos.
a ética.
Para descobrir os motivos que levam
Ao identificarmos o problema, fechar os esses estudantes a essas atitudes absurdas,
olhos não é a solução, é preciso enfrentar violentas e rudes, é preciso entender o que
com atitudes responsáveis, mostrando que a vai em sua mente e aspirar a sua aflição.
violência é o antônimo de relação e prolonga Ameaças, reprovação, medo, exclusão e
a trajetória. insegurança são alguns dos motivos pelo
qual fazem com que eles iniciem a violência.
Participar do crescimento pessoal e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Qual o papel de cada um nesse tema que As causas e as consequências pedem


tanto aflige? É uma deficiência estrutural e mudança rápida nesse cenário. É fundamental
psicológica. Suprir as necessidades básicas que o assunto vire tema de debate e que a
desses estudantes que tanto imploram ajuda. escola volte a ser um espaço de aprendizado.
Sabe-se que a sociedade é capitalista, com Um problema social estampado nas mídias,
a preocupação equivocada, onde acredita- capaz de propagar ideias para aqueles
se precisa ter e não ser. A construção da que acreditam estar na mesma situação.
identidade é frustrante e sem referência. E Oportunizar reflexão é mostrar aos
cada dia que passa está mais distante a busca estudantes que tudo pode ser superado
por algo que dê sentido e que seja o ponto sempre com respeito ao próximo.
de partida.
É preciso abordar esse tema com mais
A escola e a família devem ensinar e educar frequência e não esperar acontecer algo para
e vice-versa, mostrando a importância do debater, visto que episódios de violência tem
estudante como protagonista, com segurança acontecido com frequência absurda.
e princípios morais; só assim não se cultivará
uma relação violenta, motivo de sofrimento A mídia nos mostra como nossos
e queixa de muitos. estudantes estão ainda mais agressivos e
sem medo das consequências. Existem várias
A violência na escola é o reflexo da formas de violência e essa prática não é algo
ausência de valorização desses jovens que recente, porém de alguns anos para cá o
por diversas vezes quer chamar a atenção tema está recebendo um olhar diferente por
da família, da escola e dos governantes. É todos. Acabar com essa prática é complicado,
preciso mostrar o caminho correto, é preciso mas se todos tiverem os mesmos objetivos,
falar mais vezes “não” e é preciso reforçar as conseguiremos alcançar o desejo. Sabe-
necessidades do diálogo, pois é dessa forma se que o real está distante do ideal, porém
que indivíduos conscientes de seus atos construir um vínculo de confiança auxilia a
estarão inseridos na sociedade. mudança de comportamento.

A escola por sua vez em parceria com a Acompanhar e evitar a reprodução da


família deve buscar através de projetos, violência e insistir no apoio do estudante e
incentivar e motivar para que todos se sintam família inibi essa falta de limites e de afeto.
acolhidos. Ser amparado é tudo o que esses
estudantes querem, mas infelizmente o que Quando falamos em violência, vem a nossa
eles têm é o distanciamento daqueles que mente os massacres que a mídia nos mostra. É
deveriam ser o porto seguro. difícil entender a cabeça desses estudantes e
de outros que indiretamente participam dessas
atitudes. Como se armam e o que pensam?

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Revista Educar FCE - Abril 2019

As justificativas são questionáveis e provoca um constrangimento, que se encontra além


da opressão. Alunos desmotivados e sem perspectivas, sem responsabilidades e sem ser
visto por todos. São alguns dos motivos pelo qual esses estudantes entram nesse mundo
sem retorno.

O contexto social é favorável, mas precisa ser mudado. Governo, família e escola precisam
apresentar alternativas para que o individual passa a ser coletivo e o protagonista (criança/
adolescente/jovem) seja visto como responsável por uma construção de uma sociedade
mais justa e digna.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo tem como objetivo apresentar a situação
dos alunos que apresentam comportamento agressivo
e dificuldade no relacionamento pessoal. É resultado de
pesquisas bibliográficas, onde se pode concluir que o diálogo
é um processo educacional gradativo e constante. Refletir
para entender e assim combater, visto que o homem vive em
sociedade e existe educação em todos os níveis. Isolar, exaltar,
punir ou enaltecer os envolvidos. Justificar a violência permite
que ela saia do ambiente escolar. É preciso ter compromisso CRISTIANE AMARO
com a vida e não se acomodar com a indiferença. A violência é DA SILVA
uma ação que requer reação. Quem pratica precisa ser visto e
Graduação em Pedagogia pela
quem sofre precisa ser visto. Não premiar os manipuladores e Universidade da Cidade de São
os espectadores, assim como não podemos assustar ainda mais Paulo (2014); graduação em
quem está do lado da minoria. História pelo Instituto Superior de
Educação Elvira Dayrell (2016);
pós-graduada em Educação
Mediar os conflitos, de modo participativo mostra que as Inclusiva pela Faculdade Campos
regras existem para todos os envolvidos. As agressões verbais Salles (2018); Professora de
Educação Infantil e Ensino
ou físicas criam sentimento de impotência, não soma nada Fundamental I - na EMEF João
no estudante, pelo contrário. Não importa qual o motivo ou Ribeiro de Barros, Professora de
objetivo dos insultos, negros homossexuais, pobres, deficientes, Educação Básica I - na EE Annita
Guastini Eiras.
o que importa é que a intervenção quando feita a tempo,
melhora o ambiente da escola. A integridade física, emocional
ou psicológica de todos os integrantes de uma escola.

É necessário eliminar as diferenças. Permitir que os estudantes sejam protagonistas num


contexto social no qual ele foi inserido e que o mais importante é que assumam responsabilidade
pelas suas escolas. Mostrar ao estudante o que é perspectiva de futuro é um dever e avanço de
forma explícita, resgatando o sentido de convivência coletiva ou simplesmente grupo.

Preparar o aluno para a vida oferecendo subsídios e ensinando o respeito chama-se


desenvolvimento. O alcance da meta é uma tarefa que exige praticas em benefícios da equidade
e da qualidade.

Potencializar a adaptação desses alunos torna-os mais confiante, mais compreensivos e mais
capazes. É o melhor benefício no processo ensino-aprendizado e humanizando-os.

146
Revista Educar FCE - Abril 2019

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147
Revista Educar FCE - Abril 2019

A FORMAÇÃO INICIAL DE
PROFESSORES: HISTORICIDADE
DOS CURRÍCULOS DA EDUCAÇÃO
FÍSICA
RESUMO: A formação de professores nos cursos de Licenciatura apresenta inúmeras
lacunas e indagações a respeito de sua estrutura, currículos e práticas, apontando
uma formação destoante da realidade. Neste artigo, a partir da revisão de literatura,
abordamos a necessidade de olharmos o processo educativo a partir de sua historicidade,
compreendendo seu contexto de produção. Dessa forma, entendemos que os currículos
dos cursos de formação de professores atenderam às necessidades e interesses de cada
momento histórico, político e social. Analisamos os currículos da Educação Física, buscando
levantar as significações e sentidos atribuídos às suas práticas, e os fatores determinantes
que constituíram as transformações da área ao longo da história. Concluímos que o currículo
não é um produto neutro, mas resultado da interação entre diferentes esferas com variadas
intenções, ou seja, a formação de professores é permeada por um contexto macro, que
determina suas práticas e ações.

Palavras-Chave: Formação de professores; Currículo; Educação Física; Historicidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO que atuam nesse componente curricular.


Assim, iniciamos a discussão analisando os
Há muitos questionamentos a respeito processos educativos como resultados de
da formação inicial de professores nos processos sociais e históricos; em seguida
diversos cursos de licenciatura ofertados retomamos o conceito de currículo abordado
nas faculdades e universidades do Brasil. neste estudo, como artefato cultural; e
As críticas recaem sobre a organização por fim olhamos especificamente para os
curricular, disciplinas ofertadas, carga currículos das Licenciaturas em Educação
horária, relação teoria e prática, estágio Física com o propósito de identificarmos
supervisionado, competências e habilidades fatores que determinaram suas concepções
desenvolvidas, dentre outro fatores que e propostas.
resultam na qualidade da formação do futuro
professor.
A HISTORICIDADE DOS
Mais do que as questões de ordem PROCESSOS EDUCATIVOS
prática, é fundamental compreendermos
como os currículos de formação inicial se Como já apresentado, entendemos aqui
constituem: quais concepções de ensino, que os processos educativos passaram por
de professor, de aluno e de sociedade um processo de transformação ao longo
definem e pautam este currículo, para assim da história, determinado por inúmeros
entendermos a significação atribuída a esta fatores sociais, políticos e culturais. Ou seja,
formação. Para tal, é essencial analisar os não se trata de um processo natural, mas
processos históricos, políticos, sociais e intencional, permeado por pelo contexto no
culturais que produziram a formação inicial qual se insere.
que conhecemos atualmente. Para tal, há a
necessidade de buscarmos a historicidade Alves (2007) aponta a necessidade de
dos processos educativos, renegando a ideia recuperar a historicidade das práticas
de naturalização das práticas escolares e escolares para compreensão dos seus
favorecendo a análise de sua produção e sentidos e significados em dado tempo
construção. histórico, e para entendimento de como,
por que e para que elas foram constituídas,
Este artigo tem como objetivo compreender tendo clareza do que efetivamente estas
como os currículos de formação inicial em práticas são.
Educação Física foram constituídos ao longo
da história, buscando entender os significados Gonzales (2007) também sugere uma
e sentidos atribuídos a esta disciplina na leitura das práticas escolares a partir da
escola, ao papel do professor, à função compreensão dos processos históricos e
social da área e à formação dos professores sociais que constituem a formação humana.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Para o autor, as práticas sociais, dentre elas descrição dos fenômenos, com o objetivo
as educacionais, são construções históricas de estabelecer relações entre o sujeito e seu
permeadas pelas questões sociais e culturais tempo histórico e cultural.
de determinado momento, com significações
e sentidos específicos. Enguita (2004) apresenta que o caráter
reprodutor ou transformador da escola está
Já Buffa e Nosella (2009) complementam diretamente relacionado à estrutura social
essas colocações indicando a importância de que a cerca e ao ritmo da mudança social.
considerar as relações entre particularidade Assim, defende que quando a sociedade
e totalidade ao olharmos as instituições propõe mudanças, e acredita nelas, a
escolares, considerando o movimento real escola se torna um poderoso instrumento
da história e a sociedade que a produziu. de transformação, e ao contrário, quando
Defendem uma linha que descreva o singular a sociedade é estável a educação se torna
explicitando suas relações com os diferentes desnecessária. O autor ainda afirma que
contextos que o produzem: político, o papel do professor também se altera de
econômico, social e cultural, fazendo uma acordo com a sociedade que se pretende
leitura dialética do fenômeno. Os autores formar, exemplificando com as diferentes
sugerem assim a necessidade de relacionar o formas de organização social no decorrer
particular com o contexto social mais amplo, da história. Por fim, sugere que estamos em
evidenciando interesses contraditórios e um momento de mudança intrageracional,
as inúmeras condições que determinam o no qual a mudança da sociedade ocorre
fenômeno estudado, relacionando assim de maneira generalizada dentro de uma
suas condições às mudanças estruturais da mesma geração nos diferentes campos da
sociedade. experiência humana, e aqui ocorre a crise
do sistema educacional. Para o autor nesta
Dessa forma, é importante sociedade há a necessidade de readaptação
compreendermos de que maneira as constante a novas condições de vida, de
mudanças estruturais e a cultura permeiam trabalho e sociabilidade em um processo
e determinam as ações, as práticas e a contínuo de aprendizagem, o que estabelece
própria cultura escolar. Assim, pretendemos novas formas de organização do trabalho e
relacionar traços da particularidade (educação formação docente. Em outro texto o autor
e seus agentes) à totalidade (estrutura apresenta outras demandas que permeiam a
social). Essas contribuições são significativas escola e as políticas para a educação dentre
para a leitura do objeto desta pesquisa, uma elas as desigualdades de classes, gênero,
vez que a formação inicial está atrelada a etnia e as desigualdades culturais, reforçando
um contexto social mais amplo determinada que a escola é um espaço complexo, diante
por inúmeros fatores e intenções. Ou seja, de dilemas que não encontram soluções
fica evidente a necessidade de superar a simples.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Harvey (2006) colabora com o debate controle, os docentes tornam-se sujeitos


sobre as transformações sociais ao tratar do desta intervenção e muitas vezes são
impacto do capital sobre as relações do sujeito convencidos da eficácia das novas políticas
com o mundo, e aqui também podemos para a melhoria de seu trabalho e satisfação
incluir a submissão da escola e seus agentes, profissional, permitindo assim que a forma e
dentre eles o professor, a esta lógica que conteúdo do seu processo de trabalho sejam
transforma tudo em mercadoria, reforçando controlados e muitas vezes colonizados pelas
a cultura do consumo. Na educação é nítida políticas de controle.
a invasão desta cultura através de políticas e
reformas que afirmam o conhecimento como Já Dufour (2005) questiona a função
produto a ser consumido. Essas reformas da escola dentro deste contexto na
não resultam apenas em transformações contemporaneidade, apontando seus
estruturais, mas impactam também a forma desafios para que ela mantenha de fato seu
de ensinar, avaliar, planejar e administrar papel formador. O autor reforça a importância
a educação nos diferentes níveis. Assim, de entendermos quem são esses sujeitos que
a ação do capital por meio dos pacotes estão nas salas de aulas, sob quais condições
curriculares, aligeiramento da formação eles estão sendo formados e a necessidade da
de professores, apostilamentos, ensino á compreensão da função simbólica da escola
distância (EAD), avaliações externas, sistema e do professor como referencial na formação
de bonificações, fragmentação do trabalho dos sujeitos. Mais do que isso, o autor sugere
e outros mecanismos e programas de que a escola retome sua função crítica, uma
flexibilização e controle, tem transformado vez que é uma das instituições que participa
cada vez mais a educação em “fábrica de da constituição dos sujeitos. Assim, coloca a
ensinar” (LESSA, 2007). Del Pino, Vieira e escola como importante meio de transmissão
Hypólito (2009) complementam este debate de narrativas que atribuem sentidos e
ao afirmar que o alinhamento da educação ao significados às ações dos sujeitos no mundo
mercado, o seu caráter utilitário, a separação e como espaço de construção de relações
entre a concepção e execução da educação, entre os sujeitos e com o saber. No entanto,
a padronização de práticas e concepções para o autor não é isso que tem acontecido e
de ensino, o declínio da autonomia e da a escola, junto com outras instituições, tem
reflexão nas decisões pedagógicas, e a contribuído cada vez mais na “(...) fabricação
transformação do trabalho docente são de um indivíduo subtraído da função crítica
efeitos do novo gerencialismo, uma rede e suscetível de uma identidade incerta que
de controle total sobre o trabalho docente obedece a uma nova lógica não igualitária
que afeta inclusive a própria identidade dos a serviço do sistema neoliberal” (DUFOUR,
professores, que também são reduzidos 2005, p.149).
a clientes e consumidores dos produtos
educacionais. Através deste mecanismo de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Dessa forma, a partir das contribuições social e cultural veio a se tornar o que é dentro
dos autores e cotejando a formação inicial á de uma dinâmica social que o produziu dessa
totalidade social e aos desafios da sociedade forma, entendendo assim que o currículo
contemporânea, podemos questionar de que não é resultado apenas de um processo
maneira esta formação tem sido suficiente social, mas de um processo constituído de
para o exercício da docência em uma conflitos e lutas entre diferentes concepções
sociedade em constante mudança e em um sociais. Aqui cabe entende-lo também
espaço complexo como a escola? Como os como instrumento político que age sobre
cursos de formação de professores fazem a as pessoas e não apenas um momento de
leitura desta sociedade, da função da escola e seleção e organização do conhecimento,
papel do professor? Estamos sendo formados como um inocente processo epistemológico.
para atuar em uma sociedade estática ou Dessa forma, através da análise dos
as propostas de formação acompanham os currículos dos cursos de formação inicial de
processos de mudança social? A formação professores ao longo da história podemos
inicial de professores está voltada para a entender que tipo de professor se espera a
compreensão desta realidade e desafios que partir daquela proposta, para aquele tempo
adentram os muros da escola? Possibilitam e contexto histórico. Este processo é
espaços e momentos de discussão sobre essencial para esclarecer como o currículo se
destes elementos? Afinal, que professor tornou o que ele é. Alves (2007) afirma que
estamos formando, para qual sociedade? o trabalho didático, e dentro dele as práticas
escolares como o currículo, são produtos e
produtores de relações específicas de cada
A HISTORICIDADE DOS época. Assim, as concepções de aluno, de
CURRÍCULOS DA professor, de ensino e aprendizagem, os
recursos didáticos, o espaço físico entre
EDUCAÇÃO FÍSICA outros elementos que constituem a relação
Partindo destes pressupostos entendo educativa são resultados de um processo
que, assim como outras práticas escolares, histórico e social que os determinaram. Essa
o currículo é uma produção histórica. Ele compreensão é fundamental ao tratarmos
atende as necessidades e realidade de um da análise das práticas formativas, revelando
momento histórico específico e é produto sua historicidade e desnaturalizando este
de luta por significação de determinados processo.
grupos. Nele estão inscritas as concepções
de mundo e a formação que se espera Como já colocado em outros momentos,
para os sujeitos que por ele passam. Para o currículo é produto de relações de poder,
Silva (1996) mais do que descrever como definido por questões sociais, políticas,
se organizava o currículo no passado, é culturais e econômicas de um contexto
fundamental entender como este artefato histórico. Buffa e Nosella (2009) apontam

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a importância de analisar os currículos para processo histórico, os cursos de formação de


se compreender os objetivos e sentidos professores em Educação Física atenderam
sociais presentes nas instituições, a partir aos diferentes interesses e objetivos
da apreensão da relação dialética entre atribuídos à área, produzindo diversos
escola e sociedade, entendendo a instituição discursos nos currículos dos cursos de
como espaço permeado por diferentes Licenciatura a respeito das práticas corporais,
determinações. função da escola, papel do professor, leitura
de sociedade entre outros, o que possibilitou
Sacristán (1999) reforça a importância a formação de identidades profissionais
do entendimento sobre o currículo, tanto docentes distintas para cada concepção,
de seus conteúdos como de suas formas, dentro de um mesmo espaço. Assim, os
para compreensão da missão e objetivos currículos de formação inicial de professores
da instituição escolar em seus diferentes de Educação Física têm difundido inúmeras
níveis e modalidades, pois ele apresenta representações sobre o porquê, para que e
valores e pressupostos que se constituíram como se tornar um professor da área.
dentro de uma trama cultural, política e
social. “Conhecer o currículo, é saber sobre Neira (2009) questiona a política curricular
as práticas educacionais ali existentes, é adotada na formação inicial dos professores
conhecer o espaço de política cultural, de Educação Física, pois em sua maioria
espaço este, de construção e produção de atendem a modismos e pressões daqueles
significações” (SACRISTÁN, 1999, p. 54). O com maior poder de influência. Indaga quais
autor em outro momento ainda considera códigos estão sendo ensinados aos futuros
a importância do currículo como elemento professores e quais representações estes
central de referência para se conhecer uma tem construído a respeito da profissão, aluno,
instituição e suas práticas, uma vez que a escola, sociedade, currículo, aprendizagem
prática docente permeia e é permeada pelo etc.
currículo.
Ao longo das décadas, os cursos de
Assim, para entendermos a significação formação de professores em Educação
atribuída á formação inicial é necessário Física, construídos com o objetivo de
concebermos como os currículos de formação atender as novas funções atribuídas à área,
inicial nas Licenciaturas em Educação Física disponibilizaram a proliferação de inúmeros
se tornaram o que são, e os dilemas que discursos no currículo das Licenciaturas
giram em torno de suas práticas. contribuindo para a formação de diferentes
identidades profissionais docentes, na
A formação profissional em Educação intenção de contemplar estas distintas
Física desde as décadas de 80-90 tem se concepções (NEIRA, 2009).
caracterizado por indefinições. Em seu

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Inúmeros fatores definiram as propostas básica. Ou seja, será que estamos formando
de formação profissional em Educação Física: professores que compreendem e atuam
o contexto sociopolítico de cada tempo na realidade contemporânea das escolas,
histórico, o processo de neoliberalização da conscientes de suas funções?
economia, exigindo um perfil profissional
específico; a possibilidade de campos de Alves (2007) nos faz refletir sobre a
atuação variados; a busca por “cientificidade” necessidade de produzirmos práticas
e afirmação da área, gerando distintas condizentes ao nosso tempo histórico e as
concepções sobre sua função; e o quadro necessidades sociais atuais, relevando a
sociocultural e histórico que em diferentes importância do professor na transformação
épocas determinaram a proposição de educacional para impulsionar a transformação
políticas públicas para a formação desses social. Pensar desta forma nos permite olhar
professores (SOUZA NETO et al., 2004). a coerência e objetivos de determinadas
práticas dentro da escola, muitas vezes
Tal política curricular resultou em reforçadas nos cursos de formação, como
conflitos de representações á respeito da distantes e desconectadas de sua função
docência, sociedade, função da escola e social em nossos dias. Práticas que antes
práticas educacionais, uma vez que essa poderiam fazer sentido, hoje precisam ser
formação abrangente favorece a construção transformadas e ajustadas ás necessidades
de diferentes sujeitos-professor (da área de de nossa época. Portanto, reconhecer
saúde, das escolinhas de esportes, do fitness, as mudanças das relações educativas
da escola etc.). Mais do que isso, as críticas possibilita a superação desse anacronismo
em torno da formação inicial apontam que presente no trabalho didático, manifestado
os conhecimentos adquiridos nos cursos de diferentes maneiras: desde a utilização
de Licenciatura mostram-se inadequados de recursos didáticos até a metodologia de
para as configurações atuais da sociedade, ensino e fundamentação teórica das práticas
não atendendo as características da escola escolares.
do século XXI, fato que frequentemente
provoca um “choque com a realidade” nos O autor indica que um conjunto de
professores iniciantes. O que observamos práticas hierarquizadas ainda permeiam a
e pressupomos é que o atual pensamento organização do trabalho didático e como o
curricular dos cursos de formação em movimento da história e as transformações
educação física não rompeu com algumas sociais são ignorados pelos educadores em
lógicas e características dos primeiros suas práticas escolares. Pensando nisso, cabe
currículos propostos, dando continuidade questionarmos quais práticas e concepções
á determinadas concepções e significações vem sendo reforçadas nos cursos de
sobre o conhecimento, o currículo e a função formação inicial de professores em Educação
social da área, especialmente na educação Física e como os currículos tem colaborado

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ou não para uma possível transformação compreenda a práxis, entendida como


educacional, que considere os processos atividade humana, produto e produtora de
históricos e sociais em seus currículos. práticas sociais e constituinte da formação
dos sujeitos.
(...) eis colocado um importante elemento
de pauta para a tarefa política de formação
dos educadores em nosso tempo, qual seja, a Essa discussão também tem permeado os
libertação de suas consciências em face desse estudos sobre formação inicial, apontando a
domínio ideológico perpetuado por séculos, que constante presença de currículos pautados
se traduz nas reivindicações, ainda, por uma
pedagogia artesanal. As condições materiais que em saberes “funcionais” em detrimento dos
davam sustentação a essa pedagogia já foram saberes ligados a compreensão e formação
revolucionadas há muito tempo. Portanto, tais humana.
reinvindicações devem ser denunciadas como
profundamente reacionárias, pois são, inclusive,
um óbice ao desenvolvimento das condições De acordo com Gatti e Nunes (2009) há
subjetivas da transformação educacional no décadas a institucionalização e os currículos
presente, aspecto indissociável da própria
dos cursos de licenciaturas vêm sendo
transformação social (ALVES, 2007, p. 264).
postos em questão, apresentando diversos
problemas em seus propósitos formativos.
Portanto, é essencial que as práticas Atualmente, a complexidade do cenário
difundidas e vivenciadas nos cursos de global e da educação tem exigido cada vez
formação possibilitem a construção de mais que a formação superior para a docência
saberes pautada no contexto e tempo vá além da discussão sobre o como fazer,
histórico que vivemos, sem desconsiderar com foco nos procedimentos, e estimule
os processos que constituíram e produziram o questionamento e a crítica sobre o por
essas práticas, compreendendo assim as quê e para quê fazer, com foco na reflexão
relações entre suas experiências singulares e construção do conhecimento. Assim, as
e a totalidade social. Mas, de quais práticas críticas em torno da formação instrumental
estamos falando? e utilitária tem sido presente nos debates
sobre a formação inicial, apontando a
Gonzales (2007) questiona o entendimento necessidade de investimento na formação
de práticas como atividade utilitária e da pessoa humana do futuro profissional.
imediata, e o pragmatismo presente nas Reconhece-se que a formação especializada
práticas educacionais, influenciadas pelas e técnica é necessária, no entanto deve ser
necessidades do mundo do trabalho e da enriquecida com a oferta de ferramentas e
produção. Assim, a prática reduzida ao espaços que possibilitem a (re)construção
útil, eficaz e eficiente tem determinado o dos saberes e concepções sobre o ensino,
pensamento de políticas e propostas para a escola e a docência. Para tanto, os cursos
a educação em detrimento de uma prática devem construir estruturas curriculares
que integre objeto e sujeito, ou seja, que articuladas, integradoras e flexíveis e não

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Revista Educar FCE - Abril 2019

processos reducionistas que objetivam a aquisição de habilidades e competências a serem


reproduzidas nos locais de prática. (BATISTA, PEREIRA e GRAÇA, 2012).

As afirmações acima nos fazem refletir sobre quais práticas, com que objetivos e com quais
significações tem circundado as instituições escolares, neste caso os cursos de formação de
professores. Como vimos tratar de práticas educacionais está vinculado á uma construção
histórica, social e cultural que determina a formação dos sujeitos. Gonzales (2007) afirma a
utilidade como eixo central que tem orientado e subsidiado as práticas formativas no espaço
escolar e questiona a ausência do ponto de vista histórico-social, que considere a ação dos
sujeitos sobre a realidade humana.

O autor nos indaga qual opção de processo formativo, nós educadores, temos incorporado?
A formação para a produção de relações de dominação e alienação ou a formação que
possibilite práticas centradas na produção de relações que potencializem mudanças? Ou seja,
é urgente repensarmos a trajetória formativa nos cursos de Licenciatura, com práticas mais
reflexivas, dialógicas e em consonância com o projeto de uma sociedade mais democrática e
coletiva, considerando a historicidade do processo educativo e a transformação do contexto
político, social e cultural.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo destes questionamentos, das discussões
pontuadas acima e dos dilemas que enfrentam os cursos de
formação inicial de professores, fica evidente a necessidade
de entender a formação humana como elemento central
da educação, e esta como processo mediador entre a vida
do indivíduo e a sociedade, como prática mediadora de sua
humanização.

Para tanto, é essencial que as práticas escolares, aqui


as práticas voltadas para a formação de professores, CINTIA CRISTINA DE
ultrapassem a formação de um sujeito singular, pautada no CASTRO MELLO
mundo prático, eficaz e eficiente, voltado para sua adaptação,
Graduação em Educação Física
e que considere a relação entre educação escolar, práticas pela Universidade Estadual
formativas e constituição dos sujeitos em seus contextos e Paulista (2006); Mestre em
tempos históricos. Educação pela Universidade Nove
de Julho (2014); Professora de
Educação Física na EMEF Franklin
A bibliografia revisada nos permitiu uma leitura distinta Augusto de Moura Campos.
a partir da análise de elementos específicos que compõem
a sociedade e adentram os muros da escola, sugerindo
possibilidades para que a escola seja realmente um
espaço de mudanças. Precisamos superar a visão técnica
e funcionalista dos currículos, em especial nos cursos de
formação de professores, e compreendermos seu caráter
histórico e social. A formação de professores não pode estar
alheia à sociedade e, principalmente, à escola, já que esta se
apresenta como um microesfera social.

Fica notória a necessidade de repensar a sociedade que


queremos para assim estabelecermos a escola e educação que
precisamos, e a partir daí formar professores que assumam a
identidade de agentes de uma possível transformação, que
não “estranhem” o ambiente escolar e se silenciem com os
seus desafios, mas que se vejam como sujeitos coletivos na
construção deste espaço.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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A IMPORTÂNCIA DA ARTE
NOS ANOS INICIAIS
RESUMO: Este artigo tem por objetivo analisar a atuação da arte nos anos iniciais. Sendo
assim, pretendeu-se mostrar que a educação por meio da arte é, na verdade, um movimento
educativo e cultural que busca a constituição de ser um ser humano completo, dentro de
um contexto na qual valorize o ser humano nos aspectos intelectuais, morais e estéticos.
Visando refletir sobre o papel da arte na educação infantil. E desta forma, procurou-se
evidenciar que, não lançando mão da arte o educando pode desenvolver seu intelecto pelo
lúdico e assim trabalhar de maneira mais produtiva.

Palavras-Chave: Anos iniciais; Arte; Educação; História

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INTRODUÇÃO democratização da educação escolar também


na área artística.
Pretende-se com este artigo mostrar
como a arte é importante nos anos iniciais
da educação (educação infantil) ressaltando ARTE NOS ANOS INICIAIS
estimula o universo lúdico de cada criança.
Assim proporcionar subsídios para que Em relação à arte na educação, devemos
professores e professorados possam destacar as possibilidades de aprendizagem
encaminhar e buscar o aperfeiçoamento da e a importância da arte na educação. Antes
área. E dessa forma propor um instrumental de ser preparado para explicar a importância
teórico-metodológico, visando uma postura da arte na educação, o professor deverá
reflexiva e crítica sobre as práticas educativas estar preparado para entender e explicar a
em artes com crianças. função da arte para o educando, destacando
assim aspectos históricos e socias.
Acredita-se que ao trazer esta proposta
para a arte nos anos iniciais, estaremos O papel da arte na educação é influenciado
contribuindo para o seu aprimoramento, pelo modo como o professor e o aluno vêem
pois esse tema tem sido abordado nas o papel da arte fora da escola.
mais variadas maneiras e algumas vezes
sem esclarecer devidamente o objetivo de “A arte não tem importância para o homem
somente como instrumento para desenvolver
estudo. sua criatividade, sua percepção, etc.; mas tem
importância em si mesma, como assunto, como
Com o objetivo de atender a este propósito objeto de estudos”. BARBOSA, 1975

procuramos introduzir neste projeto os


estudos sobre o desenvolvimento expressivo Ao destacar que o professor de arte deve
e representacional em seu envolvimento com assumir em suas aulas um conceito positivo
o meio educacional e suas relações com o sobre a Arte, vinculado às referencias
mundo das artes. Se propondo a ver, observar artísticas, e que a sua principal finalidade
e refletir sobre as experiências artísticas deve ser evolução do domínio histórico da
infantis, os educadores, os professores de Arte.
artes e mesmo os pais poderão compreendê-
las melhor e, principalmente, encontrar Para repensarmos e realizarmos cursos
caminhos para auxiliar a manifestação da de Arte na escola, Vicente Lanier (1984) nos
criatividade e imaginação da criança em arte. lembra que:

Espera-se que o tema abordado possa Evidentemente, cada aluno em particular –


criança ou adulto – terá seus próprios interesses
mobilizar reflexões, discussões, pesquisas estéticos, ponto a partir do qual pode ser levado
que contribuam para o fortalecimento e para um envolvimento mais amplo. Para um,
poderá ser a colcha da vovó, para outro, pôster

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de aristas. Devemos explorar esses interesses e é praticado tendo em vista o desenvolvimento


pessoais. Entretanto, os currículos são das suas forças intelectuais. [...] Quando
normalmente planejados para grupos e não para mencionamos que a finalidade do processo de
indivíduos e, portanto, é importante identificar ou ensino é proporcionar aos alunos os meios para
prever aquelas artes populares que podem servir que assimilem ativamente os conhecimentos
como o dominador comum mais abrangente do é porque a natureza do trabalho docente é a
interesse da juventude. [...] Contudo, mesmo o mediação da relação cognitiva entre o aluno e as
mais contemporâneo conteúdo de curso não irá matérias de ensino. (1991, p. 54-5).
garantir o tipo de crescimento que nossa ideia
de conceito central forte sugere, se não estiver
implementado por procedimentos adequados
em sala de aula. Se reduzirmos o currículo de ANALISANDO DOCUMENTOS
Arte ao bordados, produção de filmes ou vídeo –
teipes, desenho ou recriação de espaços urbanos,
produção de histórias em quadrinhos, m suma, Até bem pouco tempo o aspecto cognitivo
desenvolvendo todas essas atividades de ateliê, não era considerado na a educação infantil
de que os professores gostam muito, mesmo
incluindo o folclore, a arte popular e a média, e esta não estava integrada na educação
o mais provável é que nossos alunos estarão básica. A Arte na educação infantil tem um
essencialmente limitados no crescimento que papel fundamental, envolvendo os aspectos
poderíamos provocar neles (1984, p. 6-7).
cognitivos, sensíveis e culturais. A Lei de
Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96 veio
O trabalho com arte na escola tem uma garantir este espaço à educação infantil, bem
amplitude de conceitos, gerando assim como o da arte neste contexto. Se fizermos
muitas possibilidades dessa ação educativa uma revisão da legislação educacional
ser quantitativa e qualitativamente bem brasileira, veremos que de uma forma ou
feita. de outra a arte sempre esteve presente nas
escolas. Porém, autores como Silva e Araújo
O professor deverá encontrar condições (2007) observam que o ensino de arte passou
de aperfeiçoar-se constantemente , tanto por diversas fases, destacando três grandes
em saberes artísticos e sua história, tendências: a pré-modernista, a modernista
quanto em saberes sobre a organização e o e a pós-modernista.
desenvolvimento do trabalho de educação
escolar em arte. A pré-modernista tinha como objetivo,
inicialmente através dos jesuítas, catequizar
Para a realização de cursos de arte com os povos e um dos seus instrumentos era o
qualidade, Libâneo, 1991, diz:: ensino de técnicas artísticas. Nesse ensino
predominava a produção de figuras, do
Não é suficiente dizer que os alunos precisam desenho do modelo vivo, do retrato, da
dominar os conhecimentos, é necessário dizer
como fazê-lo, isto é, investigar objetivos e cópia de estamparias, obedecendo a um
métodos seguros e eficazes para a assimilação conjunto de regras rígidas (SILVA e ARAÚJO,
dos conhecimentos. [...] O ensino somente é 2007). Os autores informam que através de
bem sucedido quando os objetivos do professor
coincidem com os objetivos de estudos do aluno suas reformas educacionais, Rui Barbosa,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

implantou o ensino de desenho no currículo acontecesse ela não poderia ser apresentada
escolar, com objetivo de preparar o povo para a arte do adulto, pois não servia como
para o trabalho. Para os positivistas a arte só modelo, por isso o arte/educador deveria
tinha importância quando contribuísse para o interferir o mínimo possível, pois dessa
estudo da ciência e esse ensino de arte como maneira iria conservar um valor muito
técnica é visto até hoje em algumas práticas importante divulgado pela Arte/Educação
escolares. Elas se manifestam através do modernista que seria a originalidade como
ensino de desenho geométrico, ensino dos um fator essencial do fazer artístico. Por
elementos da linguagem visual, na pintura de tanto, essa concepção é sobre ações mentais
desenhos e figuras mimeografadas. desenvolvidas durante a realização de
atividades de artes, tendo o resultado final
A partir de 1914 o desenho infantil foi sem muita importância, e a partir dessa ideia
visto como livre expressão da criança, surge a concepção de arte como lazer, auto
merecido de investigação e interpretação. expressão e catarse, o que descaracteriza
Mesmo com essa nova visão sobre o desenho a arte como conhecimento indispensável
infantil os valores estéticos só passaram a ser para a formação das novas gerações (SILVA
valorizados através das correntes artísticas e ARAÚJO, 2007). O esvaziamento dos
expressionistas, futuristas e dadaístas na conteúdos de artes ocorreu através da
cultura brasileira. Através da nova concepção concepção de ensino baseada na simples
de criança, de que ela não é um adulto em realização de atividades artísticas, e com a
miniatura mas deve ser respeitada em seu obrigatoriedade do ensino de artes no 1 º e 2
contexto, foi fundada a escolinha de artes do º grau o ensino passou a se chamar educação
Brasil. Ela recebeu diferentes contribuições artística. A lei n° 5.692, promulgada em 11 de
e influências teóricas e sua proposta buscou agosto de 1971, classificou os componentes
valorizar a arte da 9 criança, através da do currículo em duas modalidades, a
concepção de ensino baseada na livre primeira de disciplina (área de conhecimento
expressão e liberdade criadora. A valorização com objetivos, conteúdos...) e a segunda
da expressão e da espontaneidade da de atividades (desenvolvimento de práticas
criança foram um dos novos métodos, que e procedimentos). As atividades eram
através dos modernistas Mário de Andrade aplicadas apenas para cumprir horários e as
e Anita Malfatti introduziram a ideia de aulas eram ministradas por professores que
livre expressão do ensino de arte (SILVA e não compreendiam o significado da arte na
ARAÚJO, 2007). educação. Os arte/educadores conquistaram
o ensino obrigatório de artes para a
Segundo Azevedo (2005) todas as crianças educação básica através da promulgação
eram capazes de produzir e expressar-se da nova LDBEN nº 9394 (BRASIL, 1996),
através da arte, crianças com necessidade explicitando que o ensino de arte deverá
especiais também, mas para que isso promover o desenvolvimento cultural dos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

alunos. Depois dos estudos de alguns da técnica que valoriza o produto artístico
autores, compreendeu- se que o ensino de em detrimento do processo, e do ensino de
arte está baseado no interculturalismo, na arte como expressão que valoriza o processo
interdisciplinaridade e na aprendizagem dos e não da valor ao produto estético (SILVA
conhecimentos artísticos, a partir da inter- e ARAÚJO, 2007). A função do profissional
relação entre o fazer, o ler e o contextualizar em arte na educação não é simplesmente
arte (SILVA e ARAÚJO, 2007). Portanto, ministrar aulas fragmentadas de arte, mas,
o ensino de arte deve ser interdisciplinar sobretudo de organizar um espaço de cultura
com ele mesmo, através das diferentes que possibilite a ampliação das expressões e
linguagens, assim também com outras áreas das linguagens da criança.
de conhecimento humano.
Como historicamente pode-se observar, a
Assim, tem surgido a necessidade de novas arte na educação infantil possuía um perfil de
práticas para a arte na educação infantil, no recreação e de desenvolvimento emotivo e
sentido de desenvolver práxis nas quais haja a motor. Hoje, a arte na educação infantil está
total integração do profissional da educação em processo de rupturas e transformações,
infantil, do profissional da arte na educação, exigindo das políticas educacionais, dos
das crianças, da instituição e da comunidade. cursos de Formação de Professores,
Esta abordagem tem se mostrado eficiente especialmente das Licenciaturas em Arte,
e consolidada para a educação infantil na um comprometimento com os aspectos
Itália, sendo disseminada em outros países. cognitivos, sensíveis e culturais. Cabe então,
Obviamente, entende-se que cada espaço a todos os profissionais que atuam direta ou
possui especificidades próprias que devem indiretamente com o ensino da arte, uma
ser respeitadas. Portanto, a ideia não é a reflexão não somente dos processos de sala
de adotar modelos estrangeiros, mas de tê- de aula, mas também do seu papel como
los como possibilidade de referência. Nesta cidadãos, protagonistas de uma história
perspectiva, entende-se por novas propostas
que partem de uma visão de currículo não
linear ou sistêmico, considerando o contexto QUESTIONAMENTOS
histórico-social, as necessidades e interesses SOBRE A ARTE E EDUCAÇÃO
das crianças, no qual educadores, crianças,
instituição e comunidade desenham um INFANTIL
currículo que parte do trabalho coletivo. Arte! O que é arte? Com certeza já
ouvimos mães e professoras dizerem: esse
Nessa concepção, a arte como menino/menina é muito arteiro/a..., mas
conhecimento busca a valorização tanto será que arteiro tem alguma coisa haver
do produto artístico como o processo com arte? Bem, arteiro segundo minhas
desenvolvido no ensino de arte, ao contrário pesquisas significa alguém levado, que faz

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traquinagens, travesso etc. E a arte? Bem, Na Idade Média, no regime feudalista, a


segundo o AULETE (dicionário digital), e a criança era considerada um pequeno adulto,
capacidade e aptidão do ser humano de aplicar que executava as mesmas atividades dos
conhecimentos e habilidade na execução de mais velhos. A partir do século XVI com
uma ideia, de um pensamento. É também uma o advento da burguesia, surgem neste
atividade criadora do espírito humano, que momento duas atitudes contraditórias no
busca representar as experiências coletivas que se refere à concepção de criança: uma
ou individuais através de uma impressão a considera ingênua, inocente e é traduzida
estética, sensorial, emocional, cognitiva, pela paparicação dos adultos; enquanto a
sociais, éticas e estéticas. Bom, então a uma outra a considerava imperfeita e incompleta
íntima relação entre arte e arteiro. Isso me e é traduzida pela necessidade do adulto
leva a dizer todo/a artista é arteiro, pois, quão moralizar a criança. Assim, ainda na sociedade
“chatas” seriam as músicas, pinturas, danças, burguesa ela passa a ser alguém que precisa
literatura etc. Seria tudo muito monótono ser cuidada, escolarizada e preparada para
quase sem vida. uma atuação futura.

Assim, a arte é um fenômeno Por outro lado a avanços interessantes,


eminentemente humano. Através dela na visão de Rousseau a criança não poderia
damos sentidos e significados ao mundo ser meramente considerada como um
que nos rodeia, que aprimore estranho e adulto em miniatura, “mas que ela vive
sem sentido, ao poucos, por meio da arte, de em um mundo próprio cabendo ao adulto
suas dimensões simbólicas, ganham poder compreendê-la.”. Já em meados do século
expressivo de representar ideias através de XX com alguns movimentos de renovação
linguagens particulares, como a literatura, pedagógica que caminhavam em direção ao
a dança, a música, o teatro, a arquitetura, a que denominamos “movimentos das escolas
fotografia, o desenho, a pintura, entre outras novas”, podemos observar assim, algumas
formas expressivas. Deste modo, a arte, sensíveis mudanças. De acordo com Leão,
vai tornando este mundo que o humano o 2008:
transformou em um lugar de exclusão e morte
em um ambiente mais belo e prazeroso de se Sendo a escola o primeiro espaço formal onde se
dá o desenvolvimento de cidadãos, nada melhor
viver. que por aí se dê o contato sistematizado com
o universo artístico e suas linguagens: artes
Mas o que tudo isso tem haver com visuais, teatro, dança, música e literatura. No
entanto, é perceptível que o trato dado à arte
educação e especialmente com a educação (ou o ensino da arte) sempre fica em segundo
infantil? Para responder a esta indagação, farei plano e seu fazer é reduzido a mera atividade de
um breve retrospecto da educação infantil e lazer e recreação em um processo extremamente
mecânico. (LEÃO, 2008.)
com base nos dados analisarei o papel da arte,
sua importância, seu lugar, e sua relevância.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Com relação a como fazer isso dentro plano, só para quando tivermos tempo, e o
da sala de aula ou na escola, vai estar terceiro diz que se deve sempre criar novos
diretamente atrelado ao que está exposto produtos para criar novas necessidades aos
acima. Desse modo os/as educadores/as homens e assim poder vender mais produtos.
em primeiro lugar, precisam acreditar nas Por isso muitos pensadores falam que esses
crianças. Acreditar que elas, mesmo diante caminhos estão levando a destruição da
das mais diversas dificuldades, tanto de vida no planeta, pois assim estão deixando
materiais como de recursos humanos são de lado os valores e emoções. A dança, a
capazes de produzir, de criar, de representar, festa, a arte, os rituais vão se afastando
de pensar sobre. de nós e o trabalho vai tomando conta até
ficarmos alienados. Foi por conta disso
Sem essa percepção inicial por partes dos/ que começaram a surgir outras propostas
as educadores/as poderemos ter todos os que pensam na valorização na arte e no
recursos possíveis e o fazer artístico ficará brinquedo. “A arte não possibilita apenas um
ainda reduzido às atividades de coordenação meio de acesso ao mundo dos sentimentos,
motora, de passa tempo, de conotação mas também o seu desenvolvimento, a
decorativa, etc. sua educação” (DUARTE JÚNIOR, 2012,
p.66). Ou seja, através da arte podemos nos
Nesse sentido, a arte não pode reduzir- expressar, usar nossa imaginação. Muitas
se num elemento decorativo e festeiro. A vezes não vemos isso acontecer nas escolas,
arte valoriza a organização do mundo da elas querem já oferecer o produto pronto,
criança, assim como o relacionamento com o querem uma resposta pronta. “A escola hoje
outro e com o seu meio. Estimular o ensino se caracteriza pela imposição de verdades
da arte nesta perspectiva tornará a escola já prontas, às quais os educandos devem se
um espaço vivo, contribuindo assim para o submeter” (DUARTE JÚNIOR, 2012, p.72).
desenvolvimento pleno de seus educandos. Na arte-educação o aluno tem a liberdade de
se expressar em todas as suas disciplinas, de
elaborar seus sentidos em relação a cultura
OS SENTIDOS DA onde vive “Por isso, na arte-educação, o que
ARTE EDUCAÇÃO importa não é o produto final obtido; não é
a produção de boas obras de arte” (DUARTE
Na civilização ocidental existem três JÚNIOR, 2012, p.73). Através deste estudo
postulados que são: a primazia da razão, do compreendemos os objetivos de artes na
trabalho e a natureza infinita. O primeiro educação infantil. A partir disso concluo o
valoriza mais a razão, e deixa de lado os trabalho por meio de uma breve reflexão
valores e as emoções. O segundo faz sobre minha formação como Pedagoga e
com que o lúdico fique apenas como uma Arte Educadora.
atividade de lazer, que fique em segundo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que a arte se apresenta no cotidiano infantil na
forma de expressão da sua visão de mundo, sua representação
da realidade surge quando a criança rabisca ou desenha
no papel, na areia, na terra, na água; neste momento, ela
está utilizando a linguagem da arte para expressar-se.
Esses trabalhos de expressão não são apenas impressões
que a criança deixa sobre o suporte, mas explicitam o seu
desenvolvimento intelectual, emocional e perceptivo.

Desta maneira, a presença da arte na educação infantil DAIENE FURQUIM


apresenta um descompasso entre a produção teórica
Graduação em Artes pela UNG
existente e a prática pedagógica adotada por grande parte (2008); Especialista em Gestão
dos educadores, para os quais as atividades desenvolvidas Escolar pela Faculdade UNG
nas aulas de arte são tidas como um passatempo, como um (2010); Professor de Ensino
Fundamental I - na EMEF Romão
enfeite para as datas comemorativas, sem significação para a Gomes, Professor de Educação
criança. Considera-se fundamental que o professor que atua Básica – - na EPG Darcy Ribeiro
na educação Infantil, compreenda como se dá o processo
de criação nas crianças e suas fases de desenvolvimento
criador, para que possa propiciar a oportunidade à criança
de crescer por meio de suas experiências artística.

Diante desta perspectiva, a arte na Educação Infantil


apresenta-se como uma linguagem que tem estrutura
e características próprias que possibilita à criança, no
processo de criação, reformular suas ideias e construir novos
conhecimentos em situações onde a imaginação, a ação, a
sensibilidade, a percepção, o pensamento e a cognição são
reativados. Por fim, desenvolvidas as atividades teórico-
práticas que visam trabalhar o desenvolvimento da
imaginação criadora, da expressão, da sensibilidade e da
capacidade estética das crianças, percebe-se que há uma
maior conscientização por parte dos educadores acerca do
processo de criação em arte na Educação Infantil.

167
Revista Educar FCE - Abril 2019

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168
Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DA MUSICALIZAÇÃO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O mundo que vivemos é extremamente sonoro onde grande parte dos objetos
eletrônicos e máquinas que nos rodeiam emitem algum tipo de som, nossas casas, ruas,
trabalhos, por onde andamos estamos imersos em um mundo de sons, onde a presença da
música em nossas vidas é incontestável. A música que se faz presente em várias culturas
e acompanha a história da humanidade, é uma forma de expressão artística, a linguagem
musical se faz presente em todas as classes sociais e em todos os momentos da vida.
Nesse artigo pretendemos analisar a musicalização como uma importante ferramenta para a
construção do saber e do conhecimento. Sabendo da importância da música como conceito
histórico, social, psicológico e cultural podemos classificar essa importância e colocar no
convívio das crianças os benefícios no seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor além
das influências que são inseridas no seu dia a dia principalmente no ambiente escolar onde
elas passam a maior parte do seu dia.

Palavras-Chave: Palavras-chave: Musicalização; Desenvolvimento Infantil; Arte Educação;


Educação Infantil

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO da sonoridade característica de cada lugar


onde vive, portanto ao entrar nos centros de
Vivemos em um mundo extremamente educação infantil, o bebê já será dono de um
sonoro onde grande parte dos objetos vasto repertório musical, onde farão parte
eletrônicos e máquinas que nos rodeiam músicas e sons familiares entoados pelas
emitem algum tipo de som, nossas casas, pessoas nas quais ele conhece e convive,
ruas, trabalhos, por onde andamos estamos no ambiente do berçário esse repertório se
imersos em um mundo extremamente ampliará adicionando novos sons no mundo
sonoro, onde a presença da música em do bebê.
nossas vidas é incontestável. A música se faz
presente em várias culturas e acompanha As linguagens artísticas apoiam as
a história da humanidade, é uma forma de crianças na ampliação de sua sensibilidade
expressão artística, popular ou erudita, a e capacidade de lidar com sons, ritmos
linguagem musical se faz presente em todas formas, melodias, imagens, gestos, etc...
as classes sociais e em todos os momentos a expressividade estimulada pelas artes
da vida. pressupõe muita pesquisa e experimentação
e uma enorme familiaridade com os materiais
Apesar da variedade de estilos musicais e e processos que estão implicados no fazer
a variedade de possibilidades que a música artístico, pois devemos reconhecer que
nos apresenta a nossa relação com os sons as crianças já possuem um conhecimento
se inicia ainda no ventre e segue durante a prévio, se expressam, sabem o que gostam
infância, muito antes da alfabetização. de produzir, olhar, escutar e reconhecer a
intenção, propósito e prazer que está por
A música é uma linguagem muito trás de cada gesto, traço ou movimento
importante na comunicação e expressão infantil, saber propor desafios que tenham
humana. Desde antes do nascimento os significado, além disso, é fundamental
bebês já estão imersos num mundo de sons, para o professor incentivar expressões
desde as primeiras semanas de vida eles já em diferentes linguagens sensoriais com
são capazes de distinguir claramente a voz a intenção de estimular a criatividade,
humana dos outros sons, a voz materna é articulando as diferentes linguagens.
reconhecida pelo bebê e será um instrumento
importante na construção de um vínculo e Nas brincadeiras infantis a música é
na interação familiar. Essas crianças farão utilizada como forma de expressão e para
parte desse universo sonoro as canções estabelecer regras, alegria, relações sociais,
e brincadeiras musicais, assim, os bons e diversão e aprendizagem. Para Loureiro
músicas constituem uma fonte importante (2003) o aprendizado de música deve ser
de conexão cultural e desde muito cedo o um ato de desprendimento prazeroso, que
bebê estará conhecendo e se apropriando comungue com as experiências da criança

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sem ser uma imposição ou que busque mais eles realizarão suas experiências de
a qualquer custo que a criança domine exploração e conhecimento dos objetos e do
um instrumento, o qual pode minar sua mundo onde vivem.
sensibilidade e criatividade.
A exploração sonora de objetos do
Entendemos que o aprendizado de cotidiano, já é uma prática infantil, onde
música não deve ser algo mecânico e sim os adultos observando como educadores
uma atividade natural e completamente precisam aprender a valorizar, permitindo
prazerosa onde venha colaborar com o que as crianças tenham o tempo e o espaço
desenvolvimento infantil. necessário para as explorações sonoras,
onde é comum o ato de arrastar e bater os
As crianças logos nos primeiros estágios objetos e aos poucos ocorre a organização
da infância balbuciam, choram, sorriem e repetindo os gestos para internalizá-los, a não
adquirem independência para começar a interferência de um adulto é fundamental,
satisfazer sua curiosidade indo em busca pois permite o trabalho de exploração do
da experimentação com os objetos e universo sonoro feita única e exclusivamente
brinquedos a sua volta para cheirar, colocar pela criança.
na boca, bater, jogar no chão e movimentar
o máximo possível para auxiliar na sua As tradições musicais e o conhecimento
descoberta de mundo, assim colecionando dos adultos sobre música carregam
sons e construindo uma trilha sonora. comentários sobre a experimentação musical
infantil caracterizando como “barulho” e
Para o francês Delalande, a criança se “ruído” criando uma conotação de incômodo
interessa pela música de uma maneira e caracterizando essa atividade da criança
espontânea, logo ele defende que devemos de descobrimento do mundo ao seu redor
deixar a criança em contato com os como “indesejável” e “evitável”, no mesmo
instrumentos musicais e fontes sonoras momento a expressão “som” traz um aspecto
e incentivá-los a produzir, a sua maneira, positivo, no entanto no ponto de vista físico
música. Cada criança faz sua própria qualquer fenômeno acústico é som, seja
composição onde o papel do educador é a experimentação musical infantil ou uma
criar motivação e estímulo para esse ato. melodia de Beethoven.

A observação e o respeito pela forma que Logo aprender a escutar é um importante


os bebês exploram os sons são a maneira conteúdo pois, a brincadeira musical na
mais adequada de permitir às crianças a Educação Infantil deve focar em ações
terem acesso a experiência musical, portanto como: a escuta de músicas, a diferenciação
quanto mais os adultos disponibilizarem de sons e silêncio, a expressão corporal
materiais e brinquedos para o manuseio, em diferentes ritmos musicais, o cantar em

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Revista Educar FCE - Abril 2019

diversas alturas e intensidades sonoras, a significados, assim, enriquecendo cada vez


exploração dos sentimentos por meio da mais sua capacidade de expressão.
música, a criação musical livre e com regras.
Se bem trabalhada, desenvolve o raciocínio,
a criatividade e a possibilidade de descoberta A IMPORTANCIA DA MÚSICA
de novos dons e aptidões, por isso se toma NO DESENVOLVIMENTO
um relevante recurso didático, devendo estar
presente cada vez mais em sala de aula. INFANTIL

De acordo com Macedo (2005) a Sabendo da importância da música como


musicalização é uma importante ferramenta conceito histórico, social, psicológico e
para a construção do saber e do conhecimento cultural podemos classificar essa importância
musical. Esse processo tem como objetivo e colocar no convívio das crianças os
despertar, aprimorar e desenvolver o gosto benefícios no seu desenvolvimento cognitivo,
musical nas pessoas e contribuir para afetivo e motor além das influências que são
motivar e estimular a formação emocional inseridas no seu dia a dia principalmente no
e física do aluno. Para tanto a música deve ambiente escolar onde elas passam a maior
estar associada á todos os outros tipos de parte do seu dia.
arte, contribuindo assim para o melhor
desenvolvimento de todos e facilitando O papel do educador é fundamental nesse
o processo ensino-aprendizagem, desta desenvolvimento, pois diante da missão
maneira adaptar esse conjunto a realidade tão rica que é educar, ele pode inserir a
dos alunos é primordial. música no período de suas aulas através e
jogos, brincadeiras, parlendas entre outros
O dia a dia da educação infantil está cercado momentos, valorizando o uso da música.
de processos de experimentação, testes
onde as crianças criam e assumem padrões e Para isso o professor não precisa ser
modelos sonoros se tornando assim uma das mestre ou especialista em música, e sim ter
primeiras formas de exploração e elaboração a sensibilidade e o interesse de estimular na
musical, onde o Referencial Curricular criança o gosto para os vários estilos musicais,
Nacional assegura a utilização das diferentes assim, valorizando a cultura nacional e
linguagens sejam elas corporal, musical, regional na qual a criança está inserida o que
plástica, oral e escrita ajustadas às diferentes aproxima a arte do seu espectador, no caso,
intenções e situações de comunicação, a criança.
de forma que auxilie a compreensão e o
ser compreendido, expressar suas ideias, A utilização de música no ambiente escolar
sentimentos, necessidades, desejos e tem muito a oferecer tanto para as crianças
avançar no processo de construção de como para os educadores, pois por meio da

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Revista Educar FCE - Abril 2019

musicalização as crianças se sentem mais à Outro eixo do desenvolvimento da criança


vontade dentro do ambiente escolar, assim, é o motor que assim como os outros eixos
desenvolvendo e interagindo com os colegas, acompanha a criança desde o nascimento e
descobrindo a própria identidade, gostos e por toda a vida. O movimento e o ritmo são
se inserindo ainda mais na comunidade onde dois fatores indispensáveis quando o assunto
pertence. é o desenvolvimento motor das crianças
esse ato começa com o movimento ainda no
A música oferece muitos atributos ventre da mãe, com o passar do tempo ocorre
que podem auxiliar nos estímulos para o o aprimoramento das diferentes habilidades
desenvolvimento infantil, sendo assim a do movimento propriamente dito, a criança
convivência das crianças com atividades está em completa dinâmica o tempo todo,
musicais como, ouvir, reproduzir, tocar e seja durante as brincadeiras, para pedir algo
apreciar favorece o desenvolvimento do que lhe agrade ou nas práticas esportivas,
conhecimento e o intelectual. Partindo movimento e atividade é a principal condição
dessas atividades a criança desenvolve sua na vida da criança, sem isso ela enfraqueceria
acuidade auditiva, começa a acompanhar física e mentalmente.
os movimentos, os gestos e também os
ritmos. Entrelaçando a música com o Com isso compreendemos o papel do
desenvolvimento das crianças, elas se ritmo no desenvolvimento motor, pois assim
tornam mais atentas e vão pouco a pouco como o movimento o ritmo não aparece
descobrindo e explorando suas capacidades, sozinho, o ritmo faz fluir o movimento e o
a cultura na qual está inserida e começam movimento faz fluir o ritmo. Piccolo (1995)
a estabelecer relações com o meio em que diz que é importante valorizar e observar o
estão inseridas. movimento infantil pois “ritmo do movimento
na criança: ver e perceber, pois ritmar é dar
Nesse contexto Gardner (1995) defende forma ao movimento”.
que as “evidências de várias culturas
apoiam a noção de que a música é uma Quando observamos crianças brincando,
faculdade universal. Os estudos sobre o correndo, pulando, batendo palmas, girando,
desenvolvimento dos bebês sugerem que podemos ver o desenvolvimento motor
existe uma capacidade computacional “pura” de cada uma e como elas se movimentam,
no início da infância. Finalmente, a notação algumas mais rápidos, outros mais devagar,
musical oferece um sistema simbólico sendo assim podemos relacionar o
acessível e lúcido”. Portanto podemos desenvolvimento motor infantil ao cantar,
observar que a inteligência e a imaginação acompanhar canções com palmas, com os
das crianças não têm limite e pode ser pés, tocar instrumentos assim incluindo
estimulada durante o seu desenvolvimento. ritmos e movimentos em um fenômeno
chamado música. A música oferece essa

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Revista Educar FCE - Abril 2019

mistura de movimento e ritmo e a partir dessa O desenvolvimento afetivo da criança


combinação a criança começa a desenvolver como dito por Wallon, é marcado pela fase
com mais facilidade seus processos motores onde ela começa a construir sua própria
e expressões corporais. identidade e partindo disso começa a
interagir com outras crianças, com o meio
A combinação de música, ritmo e e aprende a controlar suas emoções. Assim
movimento auxilia a criança a desenvolver incluímos as contribuições que a música faz
várias outras habilidades motoras como por para o desenvolvimento afetivo, por meio
exemplo, se o ritmo da música for acelerado dela, a criança cria condições e oportunidade
a movimentação da criança será mais rápida, de interagir com o ambiente no qual está
se o ritmo da música for mais lento, o inserida, seja por uma cantiga de roda, onde
movimento da criança será calmo e devagar. a criança começa a se soltar e expressar
Sendo assim conseguimos visualizar os o que está sentindo no momento, seus
efeitos que as combinações musicais causam conflitos, indecisões e seus medos, ainda
nas crianças, esses movimentos também a criança pode se emocionar partindo de
significam as expressões das emoções, onde determinadas cantigas e possibilitar a troca
a criança começa a formar o equilíbrio mental, de experiências e ideias que possam surgir.
esse contato da criança com a música dispara
uma descarga emocional, onde é colocado Ainda para Weigel (1988), “participar de
para fora toda a tensão da mente e do corpo. um grupo com a mesma finalidade, como um
grupo musical, a cooperação se tornará mais
Na rotina da educação infantil percebemos constante e começará a se formar, em cada
que todas as crianças são diferentes, umas criança, a consciência do “nós”, como coletivo.
mais ativas e outras mais lentas, portanto, De tal modo, podemos partir das múltiplas
cada criança se expressa de uma maneira formas que podemos contextualizar a música
diferente, pois pensam e sentem de formas dentro do desenvolvimento infantil, notando
distintas pela dança, canto, teatro, brincadeiras que as manifestações de emoções começam
e outras formas que são encontradas por a aflorar em cada criança assim abrindo a
elas. Assim desenvolvem cada vez mais oportunidade para que ela se expresse, se
a coordenação motora que reflete no sinta livre, realizada e capaz de interagir com
decorrer da vida de cada indivíduo, a música a comunidade e com os outros.
e o ritmo auxiliam no desenvolvimento da
coordenação motora, pois sempre que estão Outro ponto importante para lembrar deve
expostos a expressividade a noção rítmica ser a inserção das múltiplas diversidades
melhora, e segundo Weigel (1988) a criança existentes o PCN “A diversidade permite
que possui boa expressividade rítmica terá ao aluno a construção de hipóteses sobre o
favorecida a sua coordenação motora. lugar de cada obra no patrimônio musical da
humanidade, aprimorando sua condição de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

avaliar a qualidade das próprias produções propostas musicais”, combinando essa ideia
e as dos outros”. Nesse caso a música pode ao RCNEI (1998) que articula “As crianças
ser utilizada além de ferramenta para o podem perceber, sentir e ouvir, deixando-
desenvolvimento como forma de resgatar e se guiar pela sensibilidade, pela imaginação
preservar a cultura de cada pessoa. e pela sensação que a música lhes sugere
e comunica”. Entre tantas configurações,
Portanto é de extrema importância que a música se trabalhada de forma correta
a escola e os educadores tragam para a no âmbito escolar pode influenciar a
sala de aula diversos gêneros musicais, aprendizagem e o desenvolvimento das
diversos estilos para proporcionar às crianças. Quando falamos de cultura não
crianças momentos de reflexão e análise podemos esquecer a cultura que a própria
das músicas apresentadas, estimulando a criança traz para dentro da sala de aula,
exposição das opiniões e o senso crítico. seja de uma brincadeira, uma canção ou até
Assim é importante que por serem crianças mesmo uma dança, se incentivada a mostrar
os educadores não se prendam somente o seu conhecimento, a sua bagagem cultural,
as músicas infantis, que muitas vezes são criamos um sentimento de pertencimento a
padronizadas restringem o conhecimento da comunidade, a escola, além de deixá-la mais
diversidade. De acordo com o RCNEI (1998), aberta a outras propostas.
“As canções infantis veiculadas pela mídia,
produzidas pela indústria musical, pouco As crianças de cinco anos já podem
enriquecem o conhecimento das crianças”. O ser incentivadas a improvisar em grupo,
universo da música é muito vasto e rico em buscando agrupar ou coordenar diferentes
canções instrumentais e com voz, aguçando sons e criar pequenas frases musicais e
a sensibilidade da audição infantil para que canções que envolvam os nomes dos amigos
percebam as diferenças de entonação em e rimas, é importante também que elas sejam
algumas vozes, o grave, agudo ou suave. estimuladas a desenhar tudo que ouvem
Além disso o educador não deve deixar de como sons curtos, compridos, grossos,
lado a oportunidade que tem de trabalhar a agudos, produções essas que servem para
improvisação de forma lúdica e espontânea, comparar com as partituras. Esses registros
onde as crianças podem improvisar a partir podem ser enriquecidos com outros materiais
das próprias canções, assim enriquecendo como massinha, lãs, barbantes e botões para
a cultura regional e explorando a bagagem visualizar que diferentes sons são lidos de
cultural de cada educando. diferentes maneiras.

De acordo com Weigel (1988) “Ao Esse processo de descobertas dos


ser incentivada a mostrar os brinquedos múltiplos gêneros musicais, a criança aprecia
cantados, as cantigas de roda que já conhece, o que lhe é apresentado primeiramente pelo
a criança se torna mais receptiva a outras meio em que está inserida e no convívio com

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Revista Educar FCE - Abril 2019

os familiares e pessoas próximas, apreciando na maioria das vezes vários estilos musicais,
mas, ao surgir o contato com um mundo que proporciona uma vasta gama de estilos musicais,
começa a fazer parte de sua personalidade assim, adotando um ou mais estilos em tudo. Na
fase da adolescência, começa o tempo de dúvidas e dificuldades de se expressar e interagir
no meio social, entra a questão as tribos ou grupos sociais que são formadas por indivíduos
que apreciam somente um estilo e querem ser diferenciados, até causando divisões sociais
e confrontos.

A importância da diversidade cultural vem em criar o respeito com o outro, aprendendo


a apreciar o repertório vasto de estilos e gêneros musicais, explorando o que tem de bom
em cada estilo, o indivíduo torna-se livre e não preso a uma teoria sem respeitar o próximo,
tendo uma melhor vivência, interagindo no meio social e, é claro, realizando-se como pessoa
no seu próprio ser, não em busca de definições em como ser em personalidades criadas a
base de um gênero somente, e nunca se satisfazendo no ato de se modificar conforme troca
de roupa literalmente.

Portanto tornamos essas descobertas mais prazerosas e produtivas, onde cada criança
traz o que já conhece, agrada e assimila com o que acabou de conhecer, aumentando seu
repertório cultural, o estímulo que a música provoca nas crianças contribui para que o
conhecimento caminhe de uma forma mais divertida, elas passam ter mais criatividade, mais
facilidade ao se expressar e descobrem a comunicação social, que dentro das instituições de
ensino o interesse pela aprendizagem aumenta cada vez mais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que devemos trabalhar com a música de uma
forma onde a mesma influencie no desenvolvimento das
crianças, fazendo com que o interesse pela musicalidade e
pelos vários gêneros e diferentes culturas comecem desde
cedo, assim explorando o mundo ao seu redor. O trabalho
do educador é criar um ambiente propício para a exploração
e proporcionar situações de interação com o meio e com os
outros, pois o objetivo da musicalização na educação infantil
não é formar músicos e sim crianças autônomas, com um DANIELA CARVALHO
senso crítico e com o desenvolvimento enriquecido pela PERELLI
música.
Graduação em Normal Superior
pela Universidade de São Paulo
Além disso é muito importante que seja disponibilizado (2005); Professor de Educação
para as crianças a quantidade e a qualidade de materiais de Infantil e Ensino Fundamental I -
na EMEI Professor Paulo Freire.
modo que ela se sinta incentivada a experimentá-los e que
possa oferecer o auxílio necessário para o desenvolvimento
de suas ideias.

É no dia a dia que a música se faz presente na sala de aula,


junto com as atividades desenvolvidas pelos professores
de educação infantil e com base nas experiências pessoais
de cada educador que nasce uma prática pedagógica que
contemple e adicione a musicalização como elemento
importante que colabore com o trabalho e o desenvolvimento
cognitivo, afetivo, motor e psicológico.

Partindo disso podemos analisar como a cultura infantil


transforma momentos na escola em uma rica troca de
experiência onde a música atua no desenvolvimento da
interação social, da memorização, criatividade, aprendizado
e expressão, além dos fatores já citados. A educação musical
oferece o aprendizado mais lúdico, fazendo com que o ensino
caminhe de uma maneira despojada, estimulando a atenção
e o interesse de cada criança, dentro ou fora das escolas a
música sempre estará presente, trazendo seus benefícios
para o meio social de cada um de nós.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Na educação infantil devem fazer parte canções infantis tradicionais, canções folclóricas
de diferentes países e canções populares a fim de buscar uma maior diversidade e
representatividade no processo educativo, pois o professor deve propor atividades de escuta
e apreciação musical dessas obras diversas. É importante lembrar que as crianças possuem
formas diferentes de participar e manifestar sua preferência por determinadas músicas e
canções, logo nem todas as músicas escolhidas podem ser de agrado do educando, mas esse
deve aprender também a respeitar os múltiplos gostos e gêneros musicais.

O silêncio também deve ser bem apreciado pelas crianças, pois a música não precisa estar
presente em todos os momentos, há ocasiões na qual o silêncio é bem-vindo e cheio de
significados, pois essa experiência contribui para o tão importante descanso auditivo que
é necessário para a compreensão da música quando ela está presente. Cabe ao professor
organizar as situações onde permitirá às crianças a ouvirem e produzirem sua música em
grupo, também criando locais de silêncio com colchonetes e objetos aconchegantes.

Sobre a arte Wendell (2010) discorre



“As artes, pelas suas potencialidades integradoras, oportunizam ao ser humano o desenvolvimento de
competências para a vida, sejam elas cognitivas (aprender a conhecer), sociais (aprender a conviver), produtivas
(aprender a fazer) ou pessoais (aprender a ser), pois, há uma experiência estética viva e que favorece a inter
e transdisciplinaridade, seja como disciplina em uma instituição de ensino ou como tema/método numa ação
transversal. ” (Villaça, 2014 apud Wendel, 2010 p. 9)

Atualmente não existe uma separação da arte e da educação no processo de transformar


um indivíduo por isso existe a expressão arte educação que considera arte complemento da
educação, a arteducação pondera que o processo educativo não é destinado somente aos
espaços formais (como a escola), podendo ocorrer em museus, assentamentos, ocupações,
aldeias, sindicatos, asilos, centros de referência, centros de reabilitação, projetos sociais,
entre outros. Atualmente as artes, em modo geral, estão sendo utilizadas como metodologia
em diversas áreas do conhecimento como meio de compreensão e vivência de conteúdos
diversos, além da o aprendizado de cada eixo individualmente dentro do campo da arte.
Isso fica visível por exemplo na educação infantil onde a arte está no dia a dia dos alunos, as
suas expressões, interpretações e conhecimento de mundo, seja pelo desenho, pela cantiga
de roda ou pela forma de descoberta lúdica do seu redor. Já nos museus e instituições
sociais como ONGs as artes entram como método na formação da cidadania, nas produções
temáticas, no empoderamento cultural, no conhecimento do mundo e do seu redor ou na
educação de valores, assim tendo a oportunidade de formar crianças e jovens artistas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A música está presente em todos os momentos da nossa vida é uma das formas mais
importantes e simples de expressão humana o que justifica sua presença no contexto da
educação, de uma maneira mais geral, na educação infantil, especificamente. Ouvir música
aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos são atividades que
despertam, estimula e desenvolve o gosto pela atividade musical, além de propiciar a vivência
de elementos estruturais dessa linguagem.

Logo concluímos que a música é um instrumento importante na educação infantil pelo


desenvolvimento que ela proporciona aos educandos de forma lúdica e prazerosa. A
musicalização deve ser feita em todas as fases do desenvolvimento humano, mas a infância
se beneficia de forma especial.

A presença da arte no currículo da educação formal é indispensável, pois ela possibilita


ao indivíduo a oportunidade de conhecer novos ambientes, de expandir seus gostos e se
expressar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O ENSINO DE MÚSICA COMO


INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO NAS
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
NO ENSINO FUNDAMENTAL I
RESUMO: Este trabalho buscou estudar as concepções do ensino de música como aliada no
processo de intervenção nas dificuldades e distúrbios de aprendizagem de alunos do Ensino
Fundamental I e evidenciar-se-á sobre a contribuição da música para a expansão da função
cognitiva, afetiva, motora e linguística da criança, assim como sua utilização nas escolas
que se adequaram a lei 11.769 (anexo I), que obriga o ensino de música nas escolas. Foram
analisadas as vantagens que a música agrega ao cidadão e todos envolvidos na construção
do conhecimento do sujeito, desde a família até a escola e seus profissionais e de que forma
ela atua no individuo, também analisamos intervenção utilizando a música, argumentos
fundamentados em autores renomados nesta abordagem.

Palavras-Chave: Ensino De Música; Dificuldade De Aprendizagem; Desenvolvimento E


Intervenção.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO como a música pode ser utilizada em sala


de aula para facilitar a compreensão de
A educação musical é um excelente conteúdos, a concentração, a desinibição,
instrumento para aquisição do conhecimento etc. dos educandos.
e ajuda as crianças com dificuldades de
aprendizagem, estes educandos necessitam Para tanto será necessário:
de uma ajuda especial para compreender
e desenvolver algumas habilidades • Verificar de que maneira o uso do
como, consciência fonológica, raciocínio, ensino de música promove a aprendizagem
concentração e criatividade a música é uma em alunos com dificuldade.
excelente ferramenta para trabalhar tal
desenvolvimento. • Compreender quais as melhores
formas de interligar música e aprendizagem,
Decidimos falar sobre música nas ações de maneira que a aula possa ser prazerosa,
educativas e como instrumento para proveitosa e organizada.
trabalhar as dificuldades de aprendizagem
com êxito, por ela ser algo que sempre Esta pesquisa de abordagem bibliográfica
despertou nosso interesse, e está presente traz o ensino de música como uma
em nossas vidas das mais diversas formas e alternativa de intervenção para dificuldade
momentos. de aprendizagem e a intenção é aludir
segundo alguns autores o uso da música com
Os seres humanos, em especial os crianças que apresentam obstáculos na hora
brasileiros, são “movidos” à música. Em todo da aquisição do conhecimento.
e em qualquer lugar , encontramos alguém
escutando música, seja no celular, no Ipod, no Diante do exposto consideramos a
som do carro, no rádio de casa ou do serviço. música como uma grande aliada no ensino-
Enfim, a música está no nosso cotidiano aprendizagem na vida escolar dos alunos,
quase como que o ar que respiramos. Ela especificamente no ensino fundamental
mexe com os nossos sentidos, por isso é I. Desta forma, como lançar mão da
utilizada em diversos meios de comunicação música, usando-a como um recurso para
como forma de nos envolver na mensagem o desenvolvimento da cognição dos
que está sendo transmitida. educandos?

Dentre as diversas propriedades benéficas Para o neurocientista Sacks 2014 “a música


que a música possui e proporciona aos é uma linguagem tão poderosa quanto à da
educadores como ferramenta de ensino e comunicação verbal”, significa que a música
aos educandos como fonte de aprendizagem, tem uma história tão antiga quanto à do
queremos com esta pesquisa compreender homem, e é inquestionável sua presença em

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Revista Educar FCE - Abril 2019

nossas vidas, para Sacks (2014) ela modifica proporcionados pela música em ambientes
até nosso cérebro. como hospitais, escolas, empresas e outros,
vêm nos mostrar a veracidade da contribuição
O neurocientista Oliver Sacks (autor de da música para a formação integral do ser.
“Alucinações musicais”), a música não é apenas
uma forma pela qual nos conectamos e criamos Chiarelli e Barreto (2005, p. 9) destacam ainda
laços. Ela, literalmente, molda os nossos que alguns hospitais adquiriram a prática
cérebros. Sacks apud (GRANDELLE, 2014, p.02). de utilizar “a música antes, durante e após
cirurgias”, obtendo melhoras significativas na
Dessa forma a música aperfeiçoa nossas saúde dos pacientes. Nas empresas, colabora
atividades cognitivas. Vários estudos e com a integração da equipe, melhora o
pesquisas trazem resultados satisfatórios desempenho da empresa e a produtividade
empregando a música como um recurso para dos funcionários.
pessoas com dificuldades de aprendizagem
e também com necessidades educacionais Agora, falta salientar o uso da música na
especiais. escola. Ela possibilita o desenvolvimento
de algumas inteligências, são elas:
lógico-matemática, linguística, espacial,
A MÚSICA E SUA intrapessoal, musical e corporal-cinestésica,
FUNÇÃO COGNITIVA ainda contribui para interação do indivíduo,
concentração, socialização, autoestima,
A música influência muito na vida escolar formação humanística, além de auxiliar no
de nossas crianças e pode estar presente em desenvolvimento cognitivo.
todos os assuntos propostos na educação. É
uma das formas importantes de expressão A função mais evidente da escola é preparar
os jovens para o futuro, para a vida adulta e
humana e integra os aspectos afetivos, suas responsabilidades. Mas ela pode parecer
cognitivos, sensíveis e estéticos. aos alunos como um remédio amargo que
eles precisam engolir para assegurar, num
futuro bastante indeterminado, uma felicidade
Como apontam Chiarelli e Barreto (2005, bastante incerta. A música pode contribuir para
p. 07), as atividades musicais nas escolas não tornar esse ambiente mais alegre e favorável à
são com a finalidade de formar musicistas, aprendizagem, afinal “propiciar uma alegria que
seja vivida no presente é a dimensão essencial
mas sim de propiciar o contato com a da pedagogia, e é preciso que os esforços dos
linguagem musical “facilitando a expressão alunos sejam estimulados, compensados e
de emoções, ampliando a cultura geral e recompensados por uma alegria que possa ser
vivida no momento presente”. SNYDERS apud
contribuindo para a formação integral do
(CHIARELLI e BARRETO 2005, p. 05).
ser”.
Estudos mostram que a música é usada
Na medida em que várias pesquisas nas escolas habitualmente como material
são divulgadas informando os benefícios didático, prática que é contestada por

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Loureiro (2003). De acordo com esta autora que esta conscientização tem encontrado
as atividades musicais devem se igualar as nas escolas é o preconceito existente entre
outras disciplinas do currículo, por fazerem docentes, gestores, currículo, Sistema e
parte do cotidiano da maioria dos indivíduos, até mesmo na comunidade, porque julgam
são manifestações importantes que devem algumas disciplinas como mais importantes
ser consideradas como formação cultural e do que as outras e deixam que ideologias
educativa. de uma determinada classe continuem
norteando o ensino nas escolas. Tal situação
Entendemos que o ensino das artes, é criticada severamente pela autora que se
especialmente da música, deve ser considerado
na educação escolar da mesma forma que outras insurge contra este preconceito acentuando
áreas do conhecimento, como a matemática, a que a música pode contribuir para o
língua portuguesa, a história etc. Porém por desenvolvimento da criatividade e criticidade
oferecer uma forma de conhecimento especifico,
deve ser encarado de modo organizado, dos alunos e desta forma eles saberão além
coerente, que situa entre vivência, expressão e de resolver problemas do cotidiano, escolher
compreensão. (LOUREIRO, 2003, p. 143) qual a melhor música para ser ouvida por ele
e pelos seus entes.
A educação musical não podia estar
dissociada das práticas cotidianas dos O que dá a entender nas entrelinhas da obra
alunos, uma vez que atividades musicais que de Loureiro (2003) é que esta criatividade
envolvem o canto, a dança, o movimento e a e criticidade desenvolvidas segundo o
improvisação já fazem parte do ambiente de auxílio da educação musical provavelmente
crianças e jovens, seja no ambiente familiar não sejam interessantes para a ideologia
ou fora dele. São manifestações de grande da classe dominante que está infiltrada
valor, que merecem ser consideradas na dentro de nossas escolas, uma vez que os
formação cultural e educativa dos alunos desfavorecidos teriam acesso à informação
e, dessa forma com reais possibilidades de com maior capacidade de distinção entre o
constituírem uma vertente fundamental do que é certo e errado, bom ou ruim para ele e
ensino e de igualar-se as demais disciplinas a coletividade; seriam capazes de criar coisas
do currículo escolar. (LOUREIRO, 2003, p. e com isso ganharem independência em
144-145) diversos aspectos da vida; seriam capazes de
refletirem sobre as letras das músicas, não
A autora ainda explica a necessidade dando mais créditos para músicas que em
da conscientização da inclusão da música nada acrescentam, que impelem a violência,
no currículo, porque não basta apenas a o preconceito, etc., dando vez para a música
inclusão se não houver um interesse por que realmente está comprometida com a
parte dos educadores e sociedade, que deve, arte, com o esclarecimento, com a cultura.
por sua vez, se sensibilizar pelo valor do
ensino da arte na escola. Uma das barreiras Loureiro (2003) ainda ressalta que a

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desvalorização do ensino de música nas por todos os membros que constituem a


escolas se dá pelo fato desta estar incluída comunidade escolar e deve ser colocado
dentro da disciplina de artes que é uma em prática, não apenas para atender uma
matéria muito ampla, sendo assim a música exigência da lei, mas para que a escola possa
fica com uma pequena fatia dentro desta dar mais um salto no ensino-aprendizagem de
disciplina, ou seja, para o ensino de artes já na seus alunos, formando cidadãos pensantes
atualidade dispõe-se de pouco tempo, bem e não apenas indivíduos com capacidades
menos que para as disciplinas consideradas limitadas apenas ao que o sistema necessita
equivocadamente mais importantes, que para seu pleno funcionamento e perpetuação
dirá para o ensino de música, que fica como do poder nas mãos de uma minoria.
um item a ser abordado pelo professor de
artes, utilizado muitas vezes por este como Para ratificar a importância da educação
uma forma de entretenimento lúdico e musical como fator no desenvolvimento
institucionalizado. harmonioso do ser humano, assim como no
processo de socialização, sensibilidade e
Nos dias atuais, as escolas não podem mais estética do aluno, a autora expõe que:
ficar presas a métodos maçantes, cansativos
como a memorização, as aulas expositivas, os “Consideramos a importância da educação
alunos ficam sentados enfileirados, uns atrás musical na sociedade contemporânea
dos outros tendo suas cabeças esvaziadas justificada pela função de promover o
da criatividade e sendo cheias de conteúdos desenvolvimento do ser humano, não por
muitas vezes descontextualizados estáticos, meio do adestramento e da alienação, mas por
inquestionáveis, que adestram, castram, meio da conscientização da interdependência
condicionam, alienam essas crianças e entre corpo e mente, entre a razão e a
jovens. Muito pelo contrário, a escola deve sensibilidade, entre a ciência e a estética. É
levar o aluno à autonomia, assim como Freire o caso de abrirmos espaço para liberdade da
(1996) sempre destacava em seus discursos; criação e da recriação do discurso musical,
ela (a escola) deve ser libertadora, deve por meio da ação própria do sujeito sobre o
instigar o desenvolvimento da criatividade, material sonoro”. (LOUREIRO, 2003, p. 142)
da veia artística, do questionamento, do
amadurecimento, da intuição para que assim Ao abrir espaço para a música na escola, a
o indivíduo possa resolver da melhor forma equipe docente está dando a oportunidade
possível seus problemas cotidianos dentro aos alunos de aumentar o pensamento
e fora do âmbito escolar e, o ensino de crítico, a atenção, a memória, a afetividade,
música, como já foi citado aqui, auxilia no a disciplina, o raciocínio, a coordenação, a
desenvolvimento destas potencialidades, concentração, a motricidade, a cognição e
sendo assim, este deve ser encarado com o desenvolvimento motor, melhor dizendo,
respeito e com sua devida importância desenvolve a criança em sua totalidade. É

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isso que Sekeff (2007) descreve no trecho recurso como um aliado está perdendo um
abaixo. grande tempo na sua jornada profissional,
correndo ainda o risco do fracasso.
... a vivência musical que se pretende na
educação {...} é que motivem o indivíduo a
romper pensamentos prefixados, induzindo-o Para auxiliar o aluno a desenvolver o
à projeção de sentimentos, auxiliando-o no cognitivo, é preciso muita criatividade por
desenvolvimento e no equilíbrio de sua vida parte do educador, visto que há uma grande
afetiva, intelectual, social, contribuindo enfim
para a sua condição de ser pensante. (SEKEFF, diversidade e diferenças individuais entre os
2007, p.128) alunos. Planejar atividades para alcançar o
desenvolvimento da criança requer inúmeras
O desenvolvimento da criança e do jovem estratégias a fim de evitar o desinteresse
em sua totalidade é um desafio que vem já dos educandos e propiciar aulas prazerosas,
algum tempo sendo proposto à escola, está divertidas e atraentes. Assim, podemos
desde os primórdios vem investindo em direcioná-las as práticas relacionadas à
métodos falidos que tentam separar a cabeça música, já que colaboram bastante para a
do restante do corpo, apenas transferindo o construção do conhecimento, além de ser
conhecimento ao aluno. Discussões sobre fonte super agradável.
interdisciplinaridade enfatizam a importância
do desenvolvimento do homem como Swanwick (2010) em entrevista a revista
um todo e da apreensão e internalização nova escola dá algumas dicas em linhas gerais:
do conhecimento quando o docente
proporciona ao aluno um desenvolvimento O essencial é respeitar o estágio em que cada
aluno se encontra. Tendo isso em mente, é preciso
na sua totalidade: cabeça, tronco e membros, seguir três princípios. Primeiro, preocupar-se
ou seja, lançando mão das atividades físicas com a capacidade da criança de entender o
e artísticas, dentre elas a música como que é proposto. De, observar o que ela traz de
sua realidade, as coisas com que também pode
grande potencializadora das habilidades do contribuir. Por fim, tornar o ensino fluente,
indivíduo. como se fosse uma conversa entre estudantes e
professor. Isso se faz muito mais demonstrando
os sons do que com o uso de notações musicais.
Hoje nas escolas um dos grandes desafios (Revista Nova Escola, SWANWICK, 2010, p.03)
é garantir a aprendizagem dos alunos, e
cada um aprende de seu modo e a seu Mediante diversas pesquisas, este autor
tempo. As pesquisas no campo das artes concluiu que o indivíduo aprende música de
corporais, sobretudo na área da música vêm acordo com as oportunidades de interação
trazendo resultados positivos quanto a maior dele com a música, do ambiente musical que
compreensão e assimilação por parte dos o cerca e de acordo com sua educação. Ele
alunos aos conceitos a eles ensinados, sendo também percebeu que o aprendizado de
assim, o educador que por preconceito ou música está ligado à faixa etária do indivíduo,
por qualquer outro motivo não utiliza deste e cada uma corresponderia a um estágio.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O primeiro vai até mais ou menos os 4 anos.


Sua marca principal são experimentações, com da ditadura militar, quando diversos músicos
as crianças batendo coisas e explorando as foram exilados de nosso país, utilizavam da
possibilidades de produção de sons de cada música, para criticarem o regime de governo
instrumento. No segundo estágio, que vai dos 5
aos 9 anos, essa manipulação já funciona como que limitavam os direitos de cidadãos
uma forma de manifestação do pensamento, impondo só seus deveres.
dando origem às primeiras composições, muito
parecidas com as que os pequenos conhecem
de tanto cantar, tocar e escutar. As criações
se tornam mais variadas e surpreendentes a EDUCAÇÃO MUSICAL
partir dos 10 anos, num movimento que chamo
de especulativo. Em seguida, já no início da NO BRASIL 1930
adolescência, as variações passam a respeitar os
padrões de algum estilo específico, muitas vezes Os PCN’s de Artes (1998) revelam-nos
o pop ou o rock, “idiomas” em que é possível que a necessidade de utilizar a música como
estabelecer conexões com outros jovens. Por
fim, a partir dos 15 anos, é possível desenvolver recurso no processo de ensino aprendizagem
um quarto estágio, que engloba os outros ocorre desde muitos anos atrás.
três, em que a música representa um valor
importantíssimo para a vida do adolescente, {...} é necessário lembrar que, desde meados
marcado mais por uma relação emocional do século XIX, já se encontram referências a
individual e menos por modismos passageiros matérias de caráter artístico introduzidas na
ou algum tipo de consenso social. (Revista Nova educação escolar pública brasileira (por exemplo,
Escola, SWANWICK, 2010, p.04). em 1854, foi constituído, por decreto federal, o
ensino de Música, abrangendo noções de música
e exercícios de canto). (PCN’S DE ARTES , 1998,
Autores como Vivian Silva Dupin (2005), p.23).
Monique Andries Nogueira (2003), Maria
de Lourdes Sekeff (2007), Violeta Hemsy Houve alguns programas de educação
de Gaiza (1988), relatam a mesma ideia musical no Brasil, nos anos 30, por exemplo,
com relação à música no processo de preponderou o “Canto Orfeônico”, como
aprendizagem da criança, sendo um recurso esta época foi o período que Getúlio Vargas
de suma importância no processo educacional instituiu o Estado Novo, a escola passa a ser
escolar, considerando uma potencializadora vista como um lugar ideal para transmitir
no processo cognitivo. ideologias e moldar os cidadãos. O Estado/
Governo investiu na educação com o
Além de todas as utilidades atribuídas interesse de controlá-la e moldar um novo
à música, já aqui expostas, Swanwick tipo de cidadãos, valorizando o civismo. Após
(2003) descreve a música como uma forma a ditadura militar observam-se mudanças nas
simbólica de discurso, que persiste em ações pedagógicas e também na Educação
todas as culturas, ou seja, uma forma de Musical agora ela pode ser: “sentida, tocada,
expressar o pensamento, articulando-o a dançada, além de cantada” Pcn’s de Artes
formas sonoras. Podemos exemplificar essa (1998, p. 25).
qualidade musical, recordando-nos da época

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Em linhas gerais na história de docentes no cotidiano da escola, e no cotidiano não


percebe-se que a preocupação com a práxis escolar o aluno é rodeado de musicalidade.
de mediar o saber era vista como transferir A veracidade de tais benefícios é tão clara
conhecimento, a arte da música não pode que em 2008 foi sancionada a lei (nº 11.769)
ser uma mera reprodução do que é imposta (Anexo 1) que trata da obrigatoriedade do
pelo poder, e sim sentida no âmbito da ensino de música nas escolas de educação
música com ênfase na interação, criatividade, básica, estabelecendo o prazo de três anos
sensibilidade, estética e na liberdade de para que as escolas se adequassem e se
expressão garantido assim uma participação preparassem para incluir tal disciplina em
ativa dos educandos na elaboração e seus currículos.
produção artística musical.
A acessibilidade dos alunos a atividade
Segundo os Pcn’s de Artes (1998) foi musical precisa ser de forma vasta e
delegada aos professores a incumbência de democrática, a fim de desenvolver algumas
educar os alunos em todas as linguagens competências e habilidades, o Pcn’s de Artes
artísticas, o docente torna-se polivalente, (1998) ressalta quais são:
todavia a concepção que poderiam dominar
o conjunto das modalidades artísticas foi Desenvolver seu conhecimento estético e
competência artística nas diversas linguagens da
equivocada, uma vez que acarretou na área de Arte.
diminuição qualitativa do saber de cada
modalidade e ainda na redução do ensino de Construir uma relação de autoconfiança com
a produção artística pessoal e conhecimento
artes. Assim perdeu-se a especificidade das estético, respeitando a própria produção e a dos
modalidades. Diante do ocorrido acontece a colegas, sabendo receber e elaborar críticas.
capacitação dos professores.
Compreender e utilizar a arte como linguagem,
identificar, relacionar e compreender a arte
As faculdades que formavam para Educação como fato histórico. (PCN DE ARTES , 1998, p.
Artística, criadas na época especialmente para
48).
cobrir o mercado aberto pela lei, não estavam
instrumentadas para a formação mais sólida do
professor, oferecendo cursos eminentemente Esses objetivos evidenciam a importância
técnicos, sem bases conceituais {...} (PCN´S DE
de desenvolver no aluno o processo cognitivo
ARTES , 1998, p. 27).
essencial para o exercício da cidadania.
Decorrente dessa falta de preparo dos
professores no passado, considerando que Uma das áreas de Arte, a música é
para a educação não é um passado longínquo considerada uma comunicação social e
e por sinal as mudanças na educação contribui para a aprendizagem, para GAINZA
acontecem devagar, encontramos, ainda (1982, p. 34) “a aprendizagem se concretiza
hoje, professores e projetos pedagógicos com a aquisição – consciente ou não – de
rígidos que não utilizam o recurso da música uma série de capacidades ou destrezas no

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Revista Educar FCE - Abril 2019

campo sensorial, motor, afetivo e mental”, dúvidas. Daí como compreender o que está
sendo um excelente recurso para se trabalhar sendo ensinado?
dificuldades de aprendizagem, porque é uma
forma de transmitir informações, ideias e Ao entrar em contato com a música e
sensações, tal desempenho só é possível aprendendo suas técnicas e propriedades,
se a equipe docente e equipe educacional os alunos poderão ver nela uma forma de
partilharem as necessidades dos alunados a expor suas ideias e desenvolver aptidões
fim de que a música trabalhada no dia a dia que antes lhes dificultava a conversação
da escola tenha significado e seja atraente. e a compreensão, não só dos conteúdos
escolares, mas até mesmo de uma notícia de
O aluno precisa se sentir parte integrante jornal, uma conversa informal ou formal, etc.
e fundamental no ensino de música,
constatando os reais progressos, habilidades Como discurso a música significativamente
promove e enriquece nossa compreensão sobre
e competências desenvolvidas por intermédio nós mesmos e sobre o mundo. Não é de se
da musicalização. admirar que a música seja tão frequentemente
interligada a dança e cerimônia, com ritual e cura,
A participação ativa do sujeito no ato de e que tenha um papel central em celebrações
musicalização não mobiliza apenas os aspectos de eventos marcantes da vida: nascimento,
mentais conscientes que conduzem a uma adolescência, casamento, morte. (SWANWICK,
apreciação objetiva da música, mas também 2003, p.18)
uma gama ampla e difusa de sentimentos e
tendências pessoais. Por esse motivo a música
é, para as pessoas, além de objetos sonoro, Diante de tantas propriedades benéficas
concreto, específico e autônomo, também aquilo que a música traz consigo, queremos
que simboliza, representa ou evoca. (GAINZA , mediante o auxílio destes e de outros autores
1982, p. 34).
que venham a contribuir com esse trabalho,
aprofundar nossos conhecimentos nesta
Conforme o indivíduo vai tendo contato incrível e tão útil ferramenta para buscar
com a música e enxerga nela esta propriedade, compreendê-la e auxiliar outros profissionais
de ser instrumento de expressão, este passa da área da educação neste desafio que hoje
a utilizá-la como aliada na conversação, é uma realidade: “O ensino de música nas
assim como Oakeshot (apud SWANWICK escolas”.
2003) afirma.

Sabemos que muitas das dificuldades DIFICULDADE E DISTÚRBIOS


de aprendizado, estão relacionadas à DE APRENDIZAGEM
dificuldade de expressão dos alunos e
consequentemente de compreensão, porque Como seres humanos estamos em constante
um aluno que tem medo de expor suas ideias, evolução, isto ocorre desde os primórdios,
na grande maioria das vezes, não expõe suas visto que a necessidade de sobrevivência fez

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Revista Educar FCE - Abril 2019

tais como os problemas de relacionamento entre


o homem usar sua inteligência, para enfrentar professores e alunos, o tipo de metodologia de
algumas situações como; eliminar os inimigos ensino utilizada pelo professor, conteúdos fora
e comer precisou desenvolver instrumentos da realidade do aluno, outros. (MARTINS E
FIGUEIREDO, 2011, p. 05)
para caçar, superando as dificuldades do
momento e, por conseguinte não parou de
inventar. Em outras palavras, quem aprende A criança não aprende só na escola, ela
sempre inova, busca outras alternativas aprende também no seu cotidiano, em casa
e assim sucessivamente. A aprendizagem com os familiares, na rua com os colegas
acontece à medida que o individuo entra em brincando, na igreja, ao escutar conversas
contato com ambientes estimuladores é a de adulto, assistir a um filme ou novela,
interação com o meio, e ela ocorre dentro ouvir uma música seja ela apropriada ou
do cérebro, sua construção é por meio de não para idade entre outros ambientes e
esquemas mentais. Por outro enfoque se situações, todavia o enfoque deste trabalho
houver uma ruptura, uma anormalidade entre é a aprendizagem que a escola proporciona,
estes esquemas mentais que são neurônios a qual os autores já citados questionam ao
o processo de ensino-aprendizagem ficará se referirem as dificuldades de aprender
comprometido e mais dificultoso. que os alunos exprimem. Problema este que
pode ou não originar-se apenas do aluno, ou
Nos dias atuais grande tem sido a gama de seja, por uma carga genética ou psicológica,
alunos com alguma dificuldade no processo entretanto pode, também, proceder da
de ensino-aprendizagem, pelo fato deste unidade escolar.
aluno ter uma limitação para aprender,
gera-lhe uma sensação de desconforto, e A adversidade que afeta a aprendizagem
conseguinte, reflete em seu comportamento não é relativo apenas ao aluno, mas à
e se mostra ser; inquieto, agitado, bagunceiro, escola, não é inerente apenas ao educando,
distraído, não se concentra, desinteressado todavia à metodologia do educador, não é
e indisciplinado. Este comportamento limitada a cognição, contudo as condições
pode advir de diversos fatores seja de aprendizagem oferecida pela instituição
ele orgânico, ambiental, especifico ou escolar.
emocional, atadas a problemas externos ou
internos ao individuo e até mesmo a vários Outros autores discorrem sobre a
elementos simultaneamente, afetando o dificuldade de aprendizagem na mesma
desenvolvimento natural da aprendizagem. concepção dos autores supracitados, em
Para Martins e Figueiredo (2011) esta outras palavras delegam o fracasso do aluno
problemática é bem mais complicada. a tudo que o cerca, responsabilizando o meio
em qual ele vive, e da mesma forma a escola
É uma questão muito mais complexa, onde e tudo que nela há.
muitos fatores podem interferir e causar
transtornos de aprendizagem para muitos alunos,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Leite (2012) descreve no trecho abaixo. tarde, quando a equipe docente em reuniões
pedagógicas percebe que, o aluno desatento
As dificuldades de aprendizagem correspondem
a uma categoria ampla de fenômenos que podem não acompanha a classe, estando abaixo do
influenciar negativamente no aprendizado. resultado esperado. Como lidar com este(s)
Abrangem os problemas de aprendizagem e os aluno(s)? O educador precisa estar atendo a
problemas escolares, isto é, o modo como a escola
lida com o processo de ensino-aprendizagem. esta situação, identificar a necessidade do
Enquanto os problemas de aprendizagem educando, descobrir o motivo que atrapalha
concentram o peso da dificuldade no aluno, as o seu desenvolvimento e estar disposto a
dificuldades de aprendizagem incluem os fatores
externos ao aluno. No caso da escola, são os inovar sua prática, ou melhor, realizar uma
problemas de origem pedagógica. CIASCA, 2003 abordagem diferenciada, com estratégias
(apud LEITE, 2012, p. 17) de ensino e instrumentos a fim de resgatar
o aluno, trabalhar com os conhecimentos
Segundo a obra de Leite (2012, p. 07) prévios do aluno contextualizando os
ressalta que após vários estudos sobre conteúdos com a realidade dos educandos,
concepções e fatores determinantes estabelecer uma relação professor-aluno
da aprendizagem conclui-se “uma baseada no dialogo e na afetividade são
nova concepção de aprendizagem, que apetrechos fundamentais para constituir
a compreende como um fenômeno um ambiente estimulador da construção do
multideterminado”, deriva disso que tanto os conhecimento.
fatores internos do aluno/indivíduo que são
suas características orgânicas, psicológicas
e individuais quanto os fatores externos ao INTERVENÇÃO VIA MÚSICA
aluno/indivíduo, visto que se caracteriza
pelo contexto histórico familiar, cultural, Uma breve descrição sobre, o que é
social e educativo no qual este aluno esta música? A palavra música vem do grego,
inserido são fundamentais para o processo assim como muitas outras palavras que fazem
de aprendizagem eles se inter-relacionam parte do nosso vocabulário, e significa a arte
incessantemente, “formando uma complexa das musas, considerada uma manifestação
combinação de influencia”. artística que combina ritmo, altura, melodia,
timbre, andamento e harmonia e se adéqua
Geralmente é o professor o primeiro a e também se modifica conforme a época e
detectar a dificuldade da criança dentro da sociedade a qual esta inserida. E segundo
escola, e a primeira impressão é de que o Brito (2003, p.26) “música é linguagem
aluno esta no mundo da lua, não realiza as que organiza, intencionalmente, os signos
comandas, não domina com facilidade a escrita sonoros e o silêncio no espaço-tempo”.
e a leitura, não relembra o que a professora
ou um coleguinha acabara de falar, ou seja, Há muitos anos já se falavam da música
ele é preguiçoso um desinteressado. Só mais e sua contribuição para a integração do ser

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recém-nascido prefere e se acalma com músicas


em sua totalidade, corpo, mente e alma. que ouviu durante a gestação, também é
Aristóteles era um dos estudiosos adeptos possível que a habilidade linguística comece a ser
ao apoio da música no desenvolvimento de adquirida na fase final da gestação. As mães que
conversam com o feto estariam habituando-o
uma pessoa, como salienta Rocha (2012). ao ritmo e a musicalidade da língua. (Apud Dr.
BERESTEIN 1998 – In Matias, 1999 p. 5)
De qualquer modo, podemos supor que, para um
homem como Aristóteles, estudioso dos mais
variados temas nas mais diferentes áreas do Considerando esses aspectos do som,
conhecimento, a música tinha um grande valor, e logo, da música e levantando dados de
tendo em vista também o seu papel na formação algumas pesquisas de autores renomados
do cidadão grego e a presença dessa arte na vida
cotidiana dos antigos helenos. (ROCHA , 2012 a respeito de tal assunto descobrimos que
p. 227) a música, aplicada da forma correta, pode
influenciar de maneira muito positiva a
Não esta atrelada, apenas, aos cidadãos vida escolar de nossas crianças, ou seja, na
gregos, mas sim na formação de todo ser assimilação de conteúdos, concentração,
humano, outro grande estudioso que também raciocínio lógico, etc. e pode estar presente
acreditava no poder da música foi Platão, em todos os assuntos propostos na educação.
Fonterrada (2008) relata em sua obra que: É uma das formas importantes de expressão
“Para Platão e todos os gregos, a literatura, humana e integra os aspectos afetivos,
a música e a arte têm grande influência no cognitivos, sensíveis e estéticos.
caráter, e seu objetivo é imprimir ritmo,
harmonia e temperança à alma” (p. 27). Uma intervenção feita com o auxilio da
música é primordial, esta intervenção é feita,
Diversos estudos comprovaram e ainda na maioria das vezes, por meio do estudo
comprovam o bem que a música faz para
aprendizagem do indivíduo, a música está de um instrumento musical, isso se nomeia
intimamente ligada ao desenvolvimento e como o ensino de música, com bastante
história do cidadão. Antes mesmo de nascer já cautela e cuidado, porque tanto os pais
temos contato com ritmos e musicalidade, como
exemplifica Matias (1999): quanto o professor não podem exigir uma
perfeição do aluno ao tocar o instrumento,
Nos últimos anos, surgiram experiências com porque a música, primeiramente, precisa de
hidrofones (microfones que funcionam em meio
líquido). A conclusão foi de que as conversas de ser sentida e não cobrada, segundo Gainza
fora, podem ser ouvidas, más atenuadas pela (1982), discorre: “O objetivo específico da
gordura e pelos tecidos da mãe. Os resultados educação musical é musicalizar, ou seja,
apontaram outra novidade: os sons graves
chegam mais fortes que os sons agudos, devido tornar um indivíduo sensível e receptivo
à vibração que ele provoca no meio líquido. ao fenômeno sonoro, promovendo nele,
(MATIAS, p. 4, 1999) ao mesmo tempo, respostas de índole
A revista Super Interessante (1998) mostra o musical” (p. 101). O aluno precisa se sentir
estudo do Dr. Berestein, do hospital Albert parte integrante e fundamental no ensino
Einstein, a sensibilidade musical pode começar a de música, constatando os reais progressos,
se formar dentro do útero, já foi mostrado que o

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Revista Educar FCE - Abril 2019

habilidades e competências desenvolvidas ela não desenvolveu como deveria. Para tal
por intermédio da musicalização. atividade podemos utilizar a música como
um instrumento de intervenção usando-a
O beneficio da música no processo de como um jogo.
ensino-aprendizagem é tão satisfatório que
passa a ser obrigatório o ensino de música Assevera Brito (2003)
em todas as escolas públicas e particulares
do Brasil, todavia, por vários motivos ainda Partindo de uma análise que considera que, em
sua essência, a música é jogo, o compositor,
não se implantaram tal exigência nas escolas, pesquisador e educador francês François
por conseguinte, esta intervenção utilizando Delalande relacionou as formas de atividade
a música como recurso dentro da intuição lúdica infantil proposta por Jean Piaget a três
dimensões presentes na música:
escolar é improvável que aconteça, visto
que se precisa de um professor de música • Jogo sensório-motor – vinculado à exploração
e, normalmente, aulas de quatro a cinco do som e do gesto;

vezes por semana, para obter um resultado • Jogo simbólico – vinculado ao valor expressivo
significatório. Caso as escolas tivessem e à significação mesma do discurso musical;
cumprido a exigência da lei (ensino de música
• Jogo com regras – vinculado à organização e a
obrigatório) estaria mais acessível o estudo estruturação da linguagem musical.
de um instrumento musical a todos.
[...] Na cadência de um concerto, por exemplo,
o solista mostra seu virtuosismo mediante o
O dialogo entre a equipe escolar e o jogo sensório-motor, enquanto trechos musicais
professor de música não pode faltar, porque líricos constituem expressões simbólicas. E
o objetivo precisa ser claro, a fim de que toda parte que diz respeito à estruturação da
composição pode ser relacionada ao jogo com
não haja cobrança excessiva das técnicas regras. (BRITO , 2003 p.31)
instrumentais e leve em consideração o
conjunto que engloba a arte da música, a
mesma promove; a sensibilidade, estética, A música é um fator presente na vida do
expressão, emoção, memorização, atenção, ser humano desde o inicio de sua geração
comunicação e a aprendizagem. (ainda no útero) até o fim da vida, e também
é considerada relaxante e estimula a
Bem, sabemos que, se a criança não aprendizagem. Nogueira (2003) afiança que
desenvolveu adequadamente suas utilizar a música no processo de intervenção
habilidades respeitando os estágios ou fases garante o desenvolvimento da criança e sua
pelas quais ela passou, é por que lhe faltou eficácia é incontestável.
algo ou deveria ter sido mais estimulada, e
certamente apresentará alguma dificuldade Giorgio Losavov, cientista búlgaro,
no futuro e cabe a escola/professor realizou uma pesquisa com crianças que
desvendar qual foi a fase ou estágio que apresentavam dificuldade de aprendizagem,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

no desenvolvimento e aperfeiçoamento da
para um grupo foi oferecido música clássica, socialização, alfabetização, capacidade inventiva,
lenta, durante as aulas e o outro grupo não expressividade, coordenação motora e tato fino,
tiveram música e as crianças que ouviram a percepção sonora, percepção espacial, raciocínio
lógico e matemático e estética. (BERTOLUCHI,
música tiveram ótimos resultados, Losavov 2009, p.03)
justifica que;

Quando uma pessoa ouve música clássica, lenta, Desta forma, o trabalho do educador
ela passa de um nível para outro, exemplificado:
ganha mais um instrumento aliado ao
Nível alfa (alerta) para o nível beta (relaxado, desenvolvimento da cognição, em que a
mas atento); diminuindo a ciclagem cerebral, música pode ser usada; para se ouvir, tocar,
aumentam as atividades dos neurônios e as
sinapses tornam-se mais rápidas, facilitando jogar, dançar, criar, reinventar e etc.. Vale
a concentração e a aprendizagem. (Apud ressaltar a importância de escutar a criança,
OSTRANDER e SCHOEDER, 1978 – In resgatar a subjetividade do aluno, só então,
NOGUEIRA, 2003, p. 06).
poderá orientá-lo e intervir dando-lhe música
para ouvir ou instrumentos para tocar, estes
A escola tem um papel imprescindível podem ser confeccionados pelo próprio
na vida de seu aluno que é desenvolver aluno oportunizando uma experiência única,
o aspecto cognitivo, psicológico e se tornará parte integrante do instrumento,
emocional, características fundamentais tendo um significado para ele.
para aprendizagem. Podemos ver a música
como um alicerce ao desenvolvimento da Conforme o indivíduo vai tendo contato
criança, um recurso útil para se trabalhar as com a música e enxerga nela esta propriedade,
dificuldades de aprendizagem. de ser instrumento de expressão, este passa
a utilizá-la como aliada na conversação,
De acordo com Bertoluchi (2009) assim como Oakeshot (apud SWANWICK
2003) afirma.
O desenvolvimento da musicalidade nas
crianças deve estar em conformidade com sua
vivência musical e com os métodos utilizados. A Sabemos que muitas das dificuldades
musicalização, por si só, já se inicia no lar, com de aprendizado, estão relacionadas à
a oferta de ferramentas à criança para que ela dificuldade de expressão dos alunos e
descubra os sons e seu universo (discos, canções,
instrumentos, objetos sonoros variados, gravuras consequentemente de compreensão, um
relacionadas, etc). Na escola, no entanto, deverá aluno que tem medo de expor suas ideias,
se realizar o direcionamento deste interesse para na grande maioria das vezes, não expõe suas
o desenvolvimento de outros aspectos ligados
à criança (criatividade, coordenação motora, dúvidas. Daí como compreender o que está
lateralidade, lógica, estética, etc). sendo ensinado?
A musicalização, além de transformar as crianças
em indivíduos que usam os sons musicais, fazem Ao entrar em contato com a música e
e criam música, apreciam música, e finalmente aprendendo suas técnicas e propriedades, os
se expandem por meio da música, ainda auxilia

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Revista Educar FCE - Abril 2019

alunos poderão ver nela uma forma de expor suas ideias e desenvolver aptidões que antes
lhes dificultava a conversação e a compreensão, não só dos conteúdos escolares, mas até
mesmo de uma notícia de jornal, uma conversa informal ou formal, etc.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Iniciamos esta pesquisa com a ideia de encontramos
argumentos para comprovarmos a veracidade sobre
essa afirmação: O ensino de música: um instrumento de
intervenção nas dificuldades de aprendizagem, durante a
o Ensino fundamental I. A resposta desta foi plenamente
respondida.

Com a música as matérias ficam mais fáceis de serem


compreendidas, porque esta arte transmite emoções,
cultura, valores e é importante para o desenvolvimento do
próprio eu. Ela possui vários significados e interpretações
e ajuda em diversos contextos que envolvem o raciocínio
e aprendizagem, em especial no desenvolvimento dentro DANIELA PATRICIA
das escolas. Esses significados da música estão em torno de ALMEIDA MACHADO
nós e temos que saber explorá-los, eles contribuem para o
Graduação em Pedagogia pela
processo de aprendizagem. Faculdade Sumaré (2012);
Especialista em Psicopedagogia
Os dados coletados por meio de uma investigação escolar pela Faculdade Unicastelo
(2013); Professora de Educação
bibliográfica fatigante afirmam que a música é uma alternativa Infantil e Ensino Fundamental I -
de muita valia para o professor e para esses alunos, utilizar na EMEF Quirino Carneiro Renno.
a música na sala de aula é uma didática que torna a aula
prazerosa, contribui para o desempenho, desenvolve
habilidades, potencialidades e a criatividade.

Pode-se dizer que a música é admissível e encantadora,


portanto se deve trabalhar com ela em todas as faixas etárias,
a criança desenvolve várias habilidades para construir o seu
próprio conhecimento.

Trabalhar com o ensino de música na intervenção é


criar possibilidade de ativar o cérebro em diversas áreas
responsáveis por comandos ligados a cognição, favorecendo
as crianças com dificuldade ou distúrbio de aprendizagem na
aquisição do conhecimento.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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de Educação Fundamental. – Brasília: MEC / SEF, 1998.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A EDUCAÇÃO BÁSICA E A NEUROPSICOPEDAGOGIA:


CONCEITOS E ELEMENTOS SOBRE O CÉREBRO QUE
PODEM MELHORAR A APRENDIZAGEM ESCOLAR

RESUMO: Este artigo indica alguns elementos e conceitos das bases biológicas do cérebro
e como estas informações sobre o funcionamento cerebral podem ajudar os educadores a
prepararem suas aulas e melhorarem suas metodologias de ensino. O artigo indica também
que os educadores devem se apropriar do conhecimento da Neuropsicopedagogia como mais
um elemento de conhecimento que ajudará o professor a refletir sobre sua prática e melhorar
sua metodologia de ensino. Com bases teóricas em Ramon Cosenza e Eduardo Novaes o
artigo busca mostrar como o professor pode tornar sua aula mais eficiente e significativa para
o aluno com vistas á aprendizagem para forma-lo cidadão crítico, protagonista na sociedade.

Palavras-Chave: Educação; Neuropsicopedagogia; Cérebro; Aprendizagem; Prática Educativa

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INTRODUÇÃO
Nos últimos anos muitas pesquisas foram realizadas, por neurocientistas para tentar
responder a seguinte questão: como o cérebro funciona? A partir deste conhecimento
de como o cérebro funciona, varias outras áreas tentam se apropriar das pesquisas
e responder a outras questões. Na educação surgem os seguintes enigmas: Como o ser
humano aprende? Como o ser humano pode aprender mais? Será que o conhecimento
da Neuropsicopedagogia pode realmente ajudar os professores dentro da sala de aula?
Onde esta a ligação entre a Neuropsicopedagogia e a Educação? Estas são perguntas que
surgem á partir do conhecimento sobre o funcionamento cerebral. Dentro desta avalanche
de conhecimento sobre o cérebro o professor se sente confuso sem saber em que estas
pesquisas podem ajuda-lo a compor sua metodologia de ensino. Mas o quê realmente os
professores podem utilizar do funcionamento cerebral para melhorar sua aula? Este artigo
busca justamente a ponte entre Educação e Neuropsicopedagogia, busca evidenciar alguns
conceitos e elementos sobre o cérebro que realmente são relevantes para os professores
conhecerem e melhorarem suas práticas pedagógicas.

O CÉREBRO E SUAS PRINCIPAIS PARTES


O órgão, matriz do sistema nervoso que está localizado dentro do crânio nos seres
humanos, é o principal centro de regulação e controle das atividades corporais: sede da
consciência, do pensamento, da memória e da emoção. É ele, portanto, que permite ao
homem identificar, perceber e interpretar o mundo que o rodeia. É composto por massa
cinzenta e massa branca, sendo dividido em dois hemisférios por intermédio do corpo caloso,
compreendendo também o tronco encefálico e o cerebelo (NOVAES, 2017).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O córtex cerebral corresponde à camada mais externa do órgão formada por tecido rugoso de cerca
de dois milímetros de espessura, sendo um importante local de processamento neural, responsável
por funções complexas como memória, atenção, consciência, linguagem, percepção e pensamento.
Constituída por massa cinzenta, essa estrutura permitiu ao ser humano desenvolver cultura, já que induziu
a elaboração do pensamento abstrato e das representações simbólicas(NOVAES, 2017).

Cada hemisfério contém cinco lobos. O lobo frontal está associado à atividade motora, articulação da
fala, pensamento e planejamento – responsável por cognição e memória. O lobo parietal responde pela
interpretação das sensações e pela orientação do corpo. O lobo occipital interpreta a visão. Nos lobos
temporais as emoções e a memória são trabalhadas, fornecendo ao indivíduo a capacidade de identificar
e interpretar objetos ao recuperar informações passadas (NOVAES, 2017).

A base do cérebro é composta por gânglios basais, tálamo e hipotálamo, atuando na coordenação de
movimentos, organização da transmissão e recepção das informações sensoriais e atividades automáticas
do corpo, respectivamente. A função do tronco cerebral é regular as atividades como a deglutição e a
frequência cardíaca. O cerebelo, abaixo do cérebro e sobre o tronco cerebral, coordena os movimentos do
corpo ao utilizar as informações enviadas pelo cérebro a respeito dos membros (NOVAES, 2017).

COMO A INFORMAÇÃO SE REPASSA NO CÉREBRO


Dois tipos de células, a glia e o neurônio, constituem a maior parte do cérebro. A primeira
tem a função de dar suporte e proteger a segunda, que carrega a informação sob a forma de
pulsos elétricos (NOVAES, 2017).

A comunicação entre neurônios é realizada pelo envio de produtos químicos,


neurotransmissores, pelas sinapses – junções especializadas por meio das quais as células
do sistema nervoso mandam sinais formando circuitos biológicos (NOVAES, 2017).

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Os nossos sentidos (visão, olfato, audição, A interação com o meio ambiente é


tato e paladar) recebem informações do importante porque é ela que confirmará ou
mundo que nos rodeia. Estas mensagens induzirá a formação de conexões nervosas,
são enviadas como impulsos sensoriais sinapses, e portanto a aprendizagem ou o
primeiramente ao tálamo e depois para aparecimento de novos comportamentos
regiões do córtex cerebral específicas de que delas decorrem (COSENZA, 2011).
cada sentido. Dessa maneira, o cérebro
as reúne, organiza e armazena. De forma Sabe-se hoje que existe o padrão
adequada, transmite impulsos nervosos que cronológico para o aparecimento de muitas
ditam o comportamento motoro e mantém funções do cérebro e do corpo. Estes marcos
as funções do corpo, como batimento de desenvolvimento são etapas cumpridas
cardíaco, pressão arterial, balanço hídrico e regularmente pelo amadurecimento
temperatura corporal (NOVAES, 2017). progressivo das conexões que se fazem entre
os neurônios e também pela mielização das
fibras nervosas envolvidas na sua execução
ESTUDOS SOBRE O CÉREBRO (COSENZA, 2011).
E SEU FUNCIONAMENTO
Contudo, há capacidades que parecem
No processo de construção do cérebro, depender de uma interação mais específica
são formados neurônios em um número com o meio ambiente, como a linguagem
muito maior que o necessário para o falada, por exemplo. Na verdade esta já é uma
seu funcionamento. Muitas células são capacidade programada do nosso sistema
descartadas ao final, ou porque não se nervoso. As crianças com o cérebro dentro do
localizam no lugar certo, ou porque não padrão da normalidade irão aprender a falar
conseguiram formar as ligações necessárias, e a compreender de uma forma natural, sem
ou ainda por que as ligações formadas não necessidade de serem ensinadas. Contudo,
eram corretas ou não se transformaram que idioma vão dominar depende de sua
em funcionais, assim muitas sinapses interação social (COSENZA, 2011).
formadas inicialmente irão desaparecer
por um processo de retração axonal, ou Experiências com o cérebro mostram que,
desbastamento sináptico (COSENZA, 2011). quando se retira a estimulação necessária
para o desenvolvimento de determinadas
A criação de novas sinapses depende capacidades, elas simplesmente não se
tanto da repetição do estímulo no cérebro desenvolvem, ou se desenvolvem de forma
como também da emoção empregada no inadequada (COSENZA, 2011).
momento de estimulo do cérebro.
O sistema nervoso é extremamente
plástico nos primeiros anos de vida. A

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capacidade de formação de novas sinapses RELAÇÃO ENTRE


é muito grande, o que é explicável pelo CONHECIMENTO SOBRE
longo período de maturação do cérebro, que
se estende até os anos da adolescência. O O CÉREBRO E A EFETIVA
cérebro adulto não tem a mesma facilidade APRENDIZAGEM
de promover tão grande modificação, mas a
plasticidade, ainda que diminuída, acontece É pela sinapse que o cérebro repassa as
pela vida inteira, portanto a capacidade informações. Quanto mais sinapses o cérebro
de aprender é mantida pelo resto da vida processa, mais informações, aprendizagens
(COSENZA, 2011). este cérebro esta produzindo.

O sistema nervoso se modifica por Então aprendizagem se traduz pela
toda a vida, mas dois momentos são formação e consolidação das ligações entre
particularmente importantes ao longo de seu células nervosas (as sinapses). È fruto das
desenvolvimento. O primeiro corresponde ao modificações químicas e estruturais do
período em torno da época de nascimento, sistema nervoso de cada um que exige
quando ocorre um ajuste quanto ao número energia e tempo para se manifestar.
de neurônios que serão realmente utilizados
nos circuitos necessários ás diversas funções No processo de amadurecimento do
neurais. O segundo corresponde a época da cérebro algumas sinapses serão perdidas,
adolescência, quando um grande rearranjo mas os cérebros que não forem estimulados
tem lugar, havendo um acelerado processo de perderão mais sinapses ainda. Crianças
eliminação de sinapses, um desbastamento pouco estimuladas nos primeiros anos de
sináptico, que ocorre em diferentes regiões vida podem apresentar dificuldade para
do córtex cerebral (COSENZA, 2011). a aprendizagem, porque o cérebro delas
ainda não teve a oportunidade de utilizar
As modificações que ocorrem na todo o potencial de reorganização de
adolescência preparam o indivíduo para a suas redes neurais. Embora necessitem de
vida adulta. O aumento da conectividade mais estímulos e estratégias alternativas
das células corticais é progressivo durante de aprendizagem, ainda terão chance de
a infância, mas declina na adolescência até recuperar o tempo perdido e as habilidades
atingir um padrão adulto, o que reflete, não desenvolvidas até então (BARTOSZECK,
provavelmente, uma otimização do potencial 2009).
de aprendizagem. Nesta fase da vida diminui a
taxa de aprendizagem de novas informações, Períodos críticos (grau de plasticidade
mas aumenta a capacidade de usar e elaborar cerebral) são estágios de desenvolvimento
o que já foi aprendido (COSENZA, 2011). para funções específicas do cérebro.
São tipo “janelas de oportunidade” nos

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primórdios da vida, quando o cérebro da Memória é imprescindível para a


criança está particularmente susceptível às aprendizagem. As estratégias pedagógicas
entradas de estimulação sensorial, para o devem utilizar recursos que sejam
amadurecimento de sistemas neurais mais multissensoriais, para ativação de múltiplas
desenvolvidos (BARTOSZECK, 2009). redes neurais que estabelecerão associação
entre si. Se as informações/experiências
Cores, movimento, sons e afetividade forem repetidas, a atividade mais freqüente
são estímulos sensoriais básicos na primeira dos neurônios relacionados a elas, resultará
infância (1 aos 3 anos). As consequências em neuroplasticidade e produzirá sinapses
da privação visual nos primeiros anos são mais consolidadas. Esse conjunto de
sempre mencionadas como provas de neurônios associados numa rede é o
importância capital da estimulação visual substrato biológico da memória. Os registros
para a educação infantil. Todavia, estudos transitórios - memória operacional - serão
posteriores sugeriram que algum grau de transformados em registros mais definitivos -
recuperação é possível, dependendo da memória de longa duração (GUERRA, 2011).
extensão do período e das circunstâncias
do fato. A maioria dos neurocientistas São as emoções que orientam a
atualmente acredita que os “períodos aprendizagem. Neurônios das áreas cerebrais
críticos” não são tão rígidos e inflexíveis. que regulam as emoções, relacionadas ao
Interpretam como períodos “sensíveis” pelo medo, ansiedade, raiva, prazer, mantêm
que passa o cérebro na sua capacidade de conexões com neurônios de áreas
ser alterado e moldado pelas experiências ao importantes para formação de memórias.
longo da vida (BARTOSZECK, 2009). Poderíamos dizer que o desencadeamento
de emoções favorece o estabelecimento
A Atenção é uma função neural muito de memórias. Aprendemos aquilo que nos
importante, pois a partir da atenção é que a emociona (GUERRA, 2011).
criança vai selecionar o que recebe e isso
levará a formação de sinapse, ou seja, a O cérebro do adolescente ainda está
formação da aprendizagem. Intervalos ou em desenvolvimento, principalmente na
mudanças de atividades são importantes para chamada área pré-frontal, parte mais anterior
recuperar nossa capacidade de focar atenção. do lobo frontal, envolvida com as funções
Dificilmente um aluno prestará atenção em executivas, ou seja, com a elaboração
informações que não tenham relação com o seu das estratégias de comportamento para
arquivo de experiências, com seu cotidiano ou solução de problemas e autoregulação do
que não sejam significativas para ele. O cérebro comportamento. Cérebros adolescentes
seleciona as informações mais relevantes testam novos comportamentos com o
para nosso bem estar e sobrevivência e foca objetivo de selecionar habilidades, atitudes
atenção nelas (GUERRA, 2011). e conhecimentos de fato proveitosos para

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a sobrevivência na vida adulta. Eles aprendem o que os motivam, o que os emocionam,


o que desejam, aquilo que tem significado para seu cotidiano. Transformar o conteúdo
programático de uma disciplina em algo relevante para o aprendiz é um grande desafio para
o professor (GUERRA, 2011).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Neuropsicopedagogia é uma Ciência que, a partir do estudo do
cérebro e alinhada com os conhecimentos psicopedagógicos busca
melhorar o processo de ensino aprendizagem.

Educação tem porfinalidade criarcondições (estratégias pedagógicas,


ambiente favorável, infraestrutura material e recursos humanos) que
atendam a um objetivo específico, por exemplo, o desenvolvimento
de competências pelo aprendiz, num contexto particular. A Educação
Básica (do ensino infantil ao ensino médio) pode se beneficiar
grandemente dos estudos sobre neuropsicopedagogia.

A educação não é investigada e explicada da mesma forma que DANIELLE DE


um conhecimento exato como neurotransmissão. A Educação não é OLIVEIRA NONATO
regulada por leis físicas, mas por aspectos humanos que incluem sala
Licenciatura em Física pelo IFSP
de aula, dinâmica do processo ensino aprendizagem, escola, família, (2007); Licenciatura em Pedagogia
comunidade, políticas públicas. Desta forma descobertas sobre o pela Faculdade Sumaré ( 2013);
cérebro não se aplicam direta e imediatamente na escola já que o Especialista em Psicopedagogia
pela Faculdade Campos Salles
processo de educar depende de vários aspectos. A aplicação do (2017); Professora de Educação
conhecimento sobre como o cérebro funciona no contexto educacional Infantil no CEI Jardim Rosely,
da educação básica tem limitações. O conhecimento sobre o cérebro Professora de Educação Básica –
Física - na EE Jardim Iguatemi
pode informar a Educação, mas não explicá-la ou fornecer prescrições,
receitas que garantam resultados. Teorias psicológicas baseadas nos
mecanismos cerebrais envolvidos na aprendizagem podem inspirar objetivos e estratégias educacionais.

Neste contexto o trabalho do educador da educação básica pode ser mais significativo e eficiente se ele
conhece o funcionamento cerebral, o que lhe possibilita desenvolvimento de estratégias pedagógicas mais
adequadas assim utilizando-se da neuropsicopedagogia. A inclusão dos fundamentos, elementos e conceitos
neurobiológicos do processo ensino-aprendizagem na formação inicial do educador da educação básica
em específico, proporcionará nova e diferente perspectiva da educação e de suas estratégias pedagógicas,
influenciando também a compreensão dos aspectos sociais, psicológicos, culturais e antropológicos
tradicionalmente estudados pelos pedagogos, ou seja, conhecer sobre neuropsicopedagogia se torna
imprescindível para se ter uma formação adequada para ser professor.

Enfim conhecer sobre neuropsicopedagogia faz do docente da educação básica um professor melhor, que
conhece melhor seu aluno e proporciona uma aprendizagem mais significativa e duradoura para formação
de cidadãos críticos dentro da sociedade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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NOVAES, Eduardo, Cérebro. Disponível em: http://saude.ig.com.br/cerebro/. Acesso em :


02/03/2019 as 19: 00hs.

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A MELHOR FORMA DE ENSINAR:


CONTRIBUIÇÕES DA
PSICOPEDAGOGIA
RESUMO: Esse artigo apresenta-se com o objetivo de investigar e contribuir para a questão
fundamental de que não basta aprender como se aprende, é preciso descobrir a melhor
forma de ensinar. A neurociência está ligada a psicopedagogia como uma base, pois esta
nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem e se
tornou uma área de estudo específica que busca conhecimento em outros campos e cria
seu próprio objeto de estudo (Bossa, 2000, p. 23). Ocupa-se do processo de aprendizagem
humana: seus padrões de desenvolvimento e a influência do meio nesse processo, que
na prática a aproximação e enfoques plurais como: biológico, neurológico, psicológico,
matemático, físico, filosófico e computacional propõe a resolução de problemas, mudanças
de comportamento e melhorias na qualidade de vida de estudantes.

Palavras-Chave: Contribuição; Compreensão; Desenvolvimento; Aproximação e


Comportamento.

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INTRODUÇÃO DESENVOLVIMENTO DA
APRENDIZAGEM A PARTIR
Cada vez mais educadores procuram
compreender como se dá o aprendizado,
DE ESTÍMULOS
nesta busca incessante entre mente e
cérebro, um desafio: Não basta aprender A aprendizagem ocorre desde o princípio
como se aprende, mas descobrir a melhor da vida, por isso a chamamos de integral. A
forma de se ensinar. aquisição de um conhecimento novo provém
do processo mental feito pela construção. é
Um levantamento demonstra que o a aprendizagem que por sua vez define-se
analfabetismo corresponde a 9,7% do total como um efeito a partir da articulação de
da população com 15 anos ou mais de idade, esquemas, são as dimensões coexistentes
de acordo com dados da Pnad (Pesquisa que possibilitam ao humano configurar
Nacional por Amostra de Domicílios), uma dinâmica própria de funcionamento,
divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro o que caracteriza o seu processo de
de Geografia e Estatística). Realidade que aprendizagem, onde o esquema evolutivo
preocupa. pode ser interacionista, estruturalista ou
construtivista.
Mais que mapear o cérebro, desvendar
meandros de seu funcionamento, Experimentos em ratos comprovam
compreender fluxos e refluxos de que quando criados em gaiolas cheias de
neurotransmissores, acompanhar dinâmicas brinquedos coloridos, rodas, escadas e
complexas e transformar passos da resolução rampas, esses animais desenvolvem maior
de um problema em modelos matemáticos, número de ramificações neurais no córtex
observar e diagnosticar; pesquisadores de cerebral. Estudos com seres humanos
diferentes segmentos estão interessados também mostram que os estímulos
nas implicações sociais da aquisição de favorecem o desenvolvimento cerebral.
conhecimentos que possibilitem a inclusão
de milhares de crianças e adultos, não Maria Anita Viviani Martins é professora
apenas em quantidade de alunos com acesso titular da Pontifícia Universidade Católica
à escola, mas possibilitando a qualidade da (PUC), coordena o grupo de Educação e
educação oferecida. Conhecimento da PUC de São Paulo com uma
equipe multidisciplinar e interinstitucional
que se reúne semanalmente para discutir
temas aplicados a educação que nasceu da
inquietude de educadores que buscavam
compreender melhor por que alguns alunos
aprendiam e outros não.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O grupo é o primeiro no país voltado para de enfoques e contribuições. Possuem dois


a discussão regular da neurociência dos seguimentos e abordagens distintas: Uma
processos de ensino e aprendizagem e que privilegia a preocupação com o ambiente e
valoriza a prática pedagógica como suporte a preservação de ecossistemas sustentáveis,
necessário a intervenção docente. direcionando-se para um modelo de
educação no qual o aluno é visto como
“A mensagem de incapacidade é protagonista, elemento ativo no próprio
devastadora para a criança, afeta seu processo de formação. A outra tem por base o
potencial cognitivo, motor e sua condição de interesse por componentes cognitivos e tem
interagir”, diz Viviani Martins. influência de pesquisadores da Universidade
de Columbia, em Nova York, que propõe uma
Estudos reforçam a compreensão visão de educação que privilegia tecnologias
de que é preciso educar a criança num da informação e o uso de softwares para
ambiente acolhedor, que favoreça o uso facilitar o aprendizado.
de diferentes formas de expressão, jogos,
apresentação de objetos coloridos e contato O grupo sintetiza discussões a respeito
com novas experiências para estimular o de ideias dos educadores Jean Piaget,
desenvolvimento neural e ampliar conexões. Lev S. Vygotsky e aspectos biológicos do
desenvolvimento, concluindo que há poucos
Uma forma eficaz para melhorar o anos havia um padrão para estudar educar,
trabalho docente é retomar o sujeito do mas hoje o pensamento é dinâmico, sistêmico,
ensino, aproximando as descrições desse em rede, as janelas se abrem no computador,
sujeito produzidas pela pedagogia, pela há figuras, movimento e links; cada sujeito,
medicina, pela psicologia, usando uma cada situação tem particularidades.
linguagem interativa e produzindo novos
conhecimentos. A diversidade humana é a “grade régia”
da Natureza e se expressa por meio de
Reconhecer que o cérebro se desenvolve estruturas biológicas, processo educacional
e aprende a mudar ao longo da vida e nos tem de ser visto de forma individualizada,
faz rever conceitos como fracassos e as customizada.
dificuldades de aprendizado, pois existem
inúmeras possibilidades de aprender. Diferenças são naturais e necessárias. Por
esse motivo não importa tanto a metodologia
que se usa para ensinar, mas sim um olhar
CUSTOMIZAR A EDUCAÇÃO aguçado, a estratégia para cada necessidade
e situação específica.
Na Escola para o Futuro a característica
é a proposta de se abrir para a pluralidade

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A regra é justamente fugir das regras. entre problemas de disciplina e respiração


Questionários e cartilhas, portanto, já não oral. Por isso é fundamental a orientação de
combinam com essa forma particularizada pais e profissionais da educação a respeito
de voltar-se para o aluno. da relação entre respiração oral, roncos,
distúrbios respiratórios durante o sono e o
Entre as prioridades estão a elaboração desempenho escolar para que as crianças
de propostas de currículos mais flexíveis, recebam tratamento específico.
voltados para a diversidade dos alunos,
formação e a capacitação de profissionais da
educação. SOLUÇÕES E MUDANÇAS
A pesquisadora Beatriz Rizek ressalta a
AMÍGDALAS NO visão do local para o global, com foco no
CRUZAMENTO DE DADOS futuro sustentável.

Investigação coordenada pela médica Segundo Rizek, valorizar a cidadania é uma


otorrinolaringologista Renata Di Francesco, forma eficaz de ensinar a pessoa a interagir
doutora em Medicina da USP, participante do com o mundo, permitindo a descoberta de
Grupo de Pesquisa em Educação e Produção formas de intervenção e atuação. Isso vale
de Conhecimento da PUC-São Paulo, e pela tanto para processos escolares quanto para
psicopedagoga Kátia Kühn Chedidi, mostrou contribuir com a preservação de uma área
influência da respiração oral (frequente na pública ou o do ambiente. Atualmente, a
idade escolar, causada principalmente por pesquisadora participa de um projeto em
processos alérgicos e aumento das amígdalas conjunto com entidades públicas e privadas,
e adenoide) sobre dificuldades com disciplina voltado para o enfrentamento da violência
e aprendizado. contra crianças e adolescentes no Brasil.

Crianças com problemas respiratórios Sentada no fundo da classe, debruçada


dormem mal à noite e, durante o dia, sobre a carteira, com a cabeça escondida
geralmente apresentam problemas de entre os braços, Ana Paula, de 14 anos,
atenção e aprendizagem. Muitas vezes, esse parecia alheia a qualquer atividade proposta.
aluno é rotulado como incapaz ou preguiçoso, No entanto, uma moradora da periferia
quando na verdade tem um problema que de uma cidade de médio porte e aluna de
pode e deve ser tratado. uma escola pública, foi considerada por
muito tempo como “um caso perdido” por
A pesquisa constatou que há maior número seus professores e chegou a ser cogitado
de crianças com respiração oral dentre as diagnóstico de autismo. E provavelmente,
que participam do reforço escolar e ralação continuaria engrossando estatísticas do

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Ministério da Educação (MEC) que apontam de alfabetização partiu do que ela sabia e
para uma realidade preocupante: 49% das não do que desconhecia. A primeira palavra
crianças matriculadas entre a primeira e a que a menina escreveu, sem copiar, e leu foi
quarta série não sabem ler. “bijuteria”.

O encontro com a educadora Elvira Ao fim do ano letivo, Ana escrevia cartas,
Souza Lima, contratada pela prefeitura desenhou o cenário de uma peça na escola
para desenvolver um projeto voltado para e decorou o texto com o qual participou da
crianças com dificuldade de aprendizagem, encenação.
porém, mudou o rumo da vida de Ana Paula.
Em quatro meses ela foi alfabetizada. O processo da menina, registrado em
vídeo, serve como material de formação para
O primeiro contato foi difícil. De um lado professores.
a menina, calada e de cabeça baixa. De
outro, a professora de História da Escrita
do Metropolitan Museum, de Nova York, e JOGOS E BRINCADEIRAS
ex-professora do Instituto de Psicologia da NA EDUCAÇÃO INFANTIL
USP. Na bagagem, aulas de antropologia com
Lévi-Strauss e neurologia no laboratório do O jogar está nos documentos oficiais
psicogeneticista Henry Wallon, na França, da educação infantil, de acordo com o
por quatro anos, doutorado em educação Referencial Curricular Nacional para a
e três pós-doutorado em neuropsicologia Educação Infantil (1998), na Educação
e desenvolvimento humano nos Estados Infantil, as brincadeiras e os jogos devem
Unidos. E a certeza de que todos podem ser bem planejados pelo educador, pois,
aprender, desde que se encontre a maneira se bem utilizadas no processo de ensino
certa de ensinar. aprendizagem, se tornam um grande aliado
na introdução dos conteúdos. Assim, os jogos
O silêncio entre elas, no entanto, se e as brincadeiras ganham cenário e espaço
prolongava e as tentativas de aproximação na rotina escolar das crianças da educação
se frustravam. Foi então que a educadora infantil e penetram nas instituições infantis
percebeu que a garota usava brincos criadas a partir de então.
coloridos e comentou sobre a beleza da
peça. Suas palavras pareceram surtir efeito O eixo movimento (que inclui os jogos
mágico. A menina levantou os olhos e disse: e brincadeiras), abrange o sentido amplo
“Eu que fiz”. Foi como se uma porta tivesse se do desenvolvimento relacionado à cultura
aberto. Elvira percebeu logo que Ana Paula corporal motora. O movimento é uma das
tinha coordenação motora fina desenvolvida, primeiras formas de expressão da criança
ideia de simetria e criatividade. Seu processo .Ele também é uma forma de interação

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Revista Educar FCE - Abril 2019

da criança, na medida em que a criança progride


com o meio social. Embora ,muitas vezes em seu desenvolvimento e amadurecimento é
,por motivos disciplinares ,os professores necessário que ela manifeste o que é próprio da
acabam adotando posições que cerceiam o cada etapa de sua vida. (ARIÉS, 1978, p.52).
movimento infantil, é preciso levar em conta
a importância desses movimentos e o que ele Foi por volta das décadas de 60 e
s podem refletir na vida das nossas crianças 70, no século XX que a psicologia do
.Por isso ,a proposta pedagógica deve desenvolvimento e da psicanálise colaborou
contemplar a expressividade e mobilidades para que se observasse a infância como
próprias ás crianças. o período primordial do desenvolvimento
do ser humano, destacando o papel da
Na educação infantil os jogos têm sido brincadeira na educação infantil.
muito utilizados com a finalidade de formação
de hábitos e atitudes, memorização de A brincadeira infantil pode se constituir em
conteúdos e mesmo para adaptar as crianças, uma atividade em que as crianças sozinhas ou
pois envolve um conjunto de atividades em grupo procurem compreender o mundo e
relacionadas entre si. as ações nas quais estão inseridas no seu dia
a dia. É uma atividade predominantemente
Os conteúdos selecionados para o eixo de infantil, é a forma pela qual se começa a
movimentos priorizam o desenvolvimento aprender. A brincadeira aparece sempre
das capacidades expressivas e instrumentais como uma situação organizada, exigindo para
do desenvolvimento, possibilitando a aquele que brinca decisões que precisam ser
apropriação corporal das crianças de tomadas, mesmo numa situação imaginaria,
forma que possam agir cada vez mais com quando as crianças interagem com diferentes
intensidade e liberdade. objetos atribuindo-lhes outros significados,
existe a escolha constante por parte da
Conforme Ariés (1978), O presente criança. É uma característica importante
trabalho, atem-se para a compreensão da que exerce influência no desenvolvimento
importância de se trabalhar ludicamente do autocontrole da criança. Na perspectiva
com brincadeiras e jogos na educação Histórico-Cultural, a brincadeira evidencia
infantil, tem por finalidade compreender um trabalho primordial no desenvolvimento
a prática pedagógica do professor e a dos processos psicológicos da criança. Ao
importância dos jogos de Educação Infantil, debater a importância das brincadeiras no
no desenvolvimento integral das crianças. desenvolvimento da criança, o autor dá
relevância significativa à brincadeira de
O autor afirma que, enquanto brinca, o ser humano faz de conta. A brincadeira de faz de conta
vai garantindo a integração social além de exercitar
seu equilíbrio emocional e atividade intelectual. É tem grande privilégio em sua discussão
na brincadeira também que se selam as parcerias, sobre a importância papel do brinquedo no
porém o aprendizado não deve estar presente só desenvolvimento da criança.
na escola, mas também como parte do dia-a-dia

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Para Almeida (1993), a brincadeira obtém conduzir uma brincadeira com os seus alunos.
um papel extremante importante na formação É imprescindível a garantia do espaço para
da criança, no sentido que considera a meio o momento da brincadeira, dando direito de
social como maneira de aprendizagem do ser uma possibilidade de educação da criança
humano. Neste sentido, e no ato de brincar em uma concepção criadora, voluntária e
que a criança socializa seus pensamentos e consciente. É no momento do brincar, que
produz situações imaginárias que introduz as crianças constroem a consciência do
elementos do contexto cultural do qual faz real, e também ao mesmo instante tem uma
parte. oportunidade de modificá-la.

A criança quando nasce já está inserida A brincadeira é um momento privilegiado


em um contexto social, e a brincadeira da aprendizagem infantil na qual o
torna-se um passo importantíssimo para que desenvolvimento pode atingir níveis
ela se aproprie do mundo, na internalização mais sérios, precisamente por meio da
dos conceitos desse ambiente externo probabilidade de interação entre as duplas
a ela. Neste sentido podemos entender em uma circunstância imaginária e pela
que a brincadeira é algo muito importante negociação de regras de convivência e de
para que a criança se desenvolva e o autor conteúdos temáticos.
confirma essa afirmação, ao falar que o ato
de brincar é uma atividade que incentiva a De acordo com Costa (2012), a brincadeira
aprendizagem, pelo fato, de criar uma zona precisa abranger um espaço essencial na
de desenvolvimento proximal na criança. A educação infantil, sabendo que o professor é
ideia de zona de desenvolvimento proximal a peça mais importante para ajudar que isso
demonstra também a relevância da mediação aconteça, partilhando das brincadeiras das
durante a brincadeira. crianças, é por meio das ações do professor,
que a criança conseguirá adicionar às
Antunes (1999) afirma que, no ambiente culturas e maneiras de vida dos adultos de
das escolas de educação infantil esse modo criativo e social.
assunto tem que ser bem analisado ao
refletir na qualidade das brincadeiras a serem Nesta perspectiva, a brincadeira encontraria um
papel educativo importante na escolaridade das
propostas naquele ambiente. É importante crianças que vão se desenvolvendo e conhecendo
levar em consideração que tudo em volta o mundo nesta instituição que se constrói a partir
da criança poderá de estimular e enriquecer exatamente dos intercâmbios sociais que nela
vão surgindo: a partir das diferentes histórias de
as brincadeiras, ou o contrário. Pensar na vida das crianças, dos pais e dos professores que
mediação é algo imprescindível no momento compõem o corpo de usuários da instituição e que
de organização e também do comprar dos nela interagem cotidianamente (COSTA, 2012,
p.26).
brinquedos, organizar a sala, brincar no
parque, além da hora em que a professora vai A criança não nasce sabendo brincar, ela precisa
aprender, por meio das interações com outras

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Revista Educar FCE - Abril 2019

crianças e com os adultos. Ela descobre em contato


com objetos e brinquedos certas formas de uso inteligência. É brincando que as crianças
desses materiais. Observando outras crianças e demonstram suas necessidades e desejos
as intervenções da professora ela aprende novas construídos em toda sua vida, brincar é de
brincadeiras e suas regras. Depois que aprende,
pode reproduzir ou recriar novas brincadeiras. extrema relevância para o desenvolvimento
Assim elas vão garantindo a circulação e cognitivo, motor, afetivo e social da criança,
preservação da cultura lúdica (COSTA, 2012, p.1). quanto maiores forem às oportunidades que
a criança tiver de brincar mais natural será o
É de extrema importância que as crianças seu desenvolvimento.
possam usufruir determinados espaços na
escola que permita o acontecimento dos De acordo com Ariés (1978), por intermédio
mais variados tipos de brincadeiras, pois das brincadeiras, ocorre o estimulo do
compreendemos que é por intermédio dos desenvolvimento cognitivo da criança. É por
jogos e das brincadeiras que a criança aumenta meio do brincar, que a criança consegue
sua curiosidade, atenção, autonomia, e sua uma experiência real, percebe-se assim
capacidade de solucionar problemas. Tudo um universo mágico, imaginário, criativo,
isso faz parte da aprendizagem da criança, e estimulante para as habilidades, à curiosidade
são primordiais para o desenvolvimento da e em especial para a independência da
particularidade da criança. criança. Ao elaborar suas hipóteses a criança
organiza suas próprias ideias sobre o mundo
É por intermédio da brincadeira que a que a rodeia, reproduzindo com isso o seu
criança pode vencer seus limites e consegue desenvolvimento psicológico e cognitivo em
viver experiências que vão mais adiante de que se encontra.
sua idade e realidade, fazendo com que ela
desenvolva sua consciência. Dessa maneira, É de pura responsabilidade do professor
é na brincadeira que se deve sugerir à criança como educador, observar e acompanhar
desafios e questões que a façam refletir, seu aluno, e estabelecer o contato direto
propor soluções e resolver problemas. com contos de fadas na educação infantil,
cria uma ponte direta com os sentimentos
Costa (2012) acredita que é por meio do e desejos de cada uma das crianças, quem
brincar que as crianças conseguem aumentar nunca sonhou em ser princesa ou principe?
sua imaginação, além de criar e respeitar Ou seja ,viver o real ensinando a arte.O
regras de organização e convivência, que aluno precisa somente se identificar com
deverão, futuramente, ser usadas para o os contos e com o conteúdo estabelecido,
entendimento da realidade. A brincadeira um dos segredos da prática pedagógica é
proporciona também o desenvolvimento falar a mesma “linguagem dos seus alunos “
do autoconhecimento, aumentando a auto ,se aproximando ,se fazendo real ,trazendo
estima, oportunizando o desenvolvimento a teoria para prática. Mas não existem
físico-motor, também o raciocínio e a problemas nessa questão, pelo contrário,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

essas situações devem ser vistas de maneira Existem vários tipos de brincadeiras e
normal. Gradativamente o professor vai atividades lúdicas. A brincadeira livre é uma
sugerindo que a arte seja realizada no dialeto destas atividades, na qual a criança tem
padrão, isso quando o aluno é um falante de liberdade de escolher o que quer realizar,
outra variedade. A arte é de acesso de todos, sendo uma opção de testar hipóteses,
sem distinção ou exceções, e ao deixar que a possibilidades a criança descobri o mundo
criança se identifique e se descubra. ao seu redor, solucionando problemas e
experimentando seus limites e possibilidades.
Uma dificuldade que essa concepção Há também brincadeiras em grupo, que
de ensinamento apresenta ,é de como são muito importantes, pois as crianças
diferenciar as artes e seus significados,porém estabelecem contatos entre si e sentem-se
cabe á nós professoras usarmos nossa visão parte do grupo.
de observação e distimguir a prática das
habilidades que cada aluno traz de bagagem. A brincadeira em grupo auxilia na
Ainda, de acordo com as pesquisadoras o socialização e na alfabetização, então a
indivíduo no processo de aprendizagem criança começa a aceitar críticas, dividir,
passa por fases distintas, ampliando a sua respeitar regras e normas de convivência.
reflexão sobre o seu sistema até chegar ao Segundo Ariés (2008), dentre as brincadeiras
seu domínio, vivendo o lúdico. existentes podemos citar: queimada, corre
cotia, estátua, amarelinha, batata quente,
Durante a brincadeira, a criança não se passa anel, vivo morto, telefone sem fio
preocupa com os resultados que possa obter entre outras. São brincadeiras transmitidas
na brincadeira algo possível de ser observado de geração para geração ou aprendidas nos
no momento e após a brincadeira. O que a grupos infantis, na rua, nos parques, escolas
impulsiona a explorar e descobrir o mundo é o etc.
prazer e a motivação que surgem da necessidade
de aprender por meio dos exemplos dos Entretanto o que variam as regras
pais, amigos ou pessoas próximas, desde que dependendo de cultura ou de grupo, contudo
seja está uma de seus atuais referenciais de o conteúdo do que é objetivo básico da
comportamento de mundo. brincadeira permanece, existem vários
tipos de brincadeiras, é de fundamental
Educar significa, portanto, propiciar situações de importância que as crianças brinquem na
cuidado, brincadeiras e aprendizagem orientadas
de forma integrada e que possam contribuir para educação Infantil, devemos ressaltar, porém,
o desenvolvimento das capacidades infantis de que as formas de brincar devem existir de
relação interpessoal de ser e estar com os outros maneira equilibrada, dada a contribuição que
em uma atitude básica de aceitação, respeito
e confiança, e o acesso, pelas crianças aos cada uma delas exerce no desenvolvimento
conhecimentos mais amplos da realidade social e infantil.
cultural. (ARIÉS, 1998, p. 23, v.01).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

É possível dizer que o lúdico é uma ferramenta pedagógica que os professores podem
utilizar em sala de aula como técnicas metodológicas na aprendizagem, visto que por
meio da ludicidade os alunos poderão aprender de forma mais prazerosa, concreta
e, consequentemente, mais significativa, culminando em uma educação de qualidade.
Entretanto, o problema que gerou esse estudo foi justamente a não utilização do lúdico na
sala de aula, pela maioria dos professores, desenvolvendo situações e práticas pedagógicas
tradicionais e sem dinamismo.

A brincadeira com toda sua forma lúdica, sempre esteve presente na vida do ser humano
desde os primórdios, em todos os lugares. A brincadeira, desde a antiguidade, sempre foi
usada como um recurso para o ensino, porém a sociedade tinha o brincar como forma de
negação ao trabalho.

A sociedade considerava a brincadeira como recreação, e a imagem social da infância não


aceitavam um comportamento infantil natural, que pudesse representar algum valor em si,
o brincar é uma atividade especialmente humana, sendo o principal modo de expressão da
infância, fazendo com que ela possa interagir e aprender novas experiências e assim também
ser alfabetizada.

Desde a antiguidade diversas culturas já produziam brinquedos infantis, o que indica


que brincar é uma atividade natural ao homem independente da sua origem ou época. A
brincadeira caracteriza-se por sua organização e pela utilização de regras; a brincadeira é
uma atividade que deve ser levada a sério, que pode ser tanto coletiva quanto individual, na
qual para as crianças as existências das regras não limitam a ação lúdica, a criança pode
modificá-la, quando desejar, incluir novos membros, retirar e modificar as próprias regras, ou
seja, existe uma liberdade da criança agir sobre ela.

A brincadeira constitui em uma atividade em que as crianças, sozinhas ou em grupo,


procuram entender o mundo e as ações humanas nas quais estão inseridas no seu dia a dia,
pois é por meio da brincadeira que a criança constrói seu conhecimento e sua identidade,
o movimento desenvolvido por meio destas brincadeiras é uma das primeiras formas de
expressão da criança e sua porta para a alfabetização.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A professora de História da Escrita do Metropolian Museum, de
Nova York, e ex-professora do Instituto de Psicologia da USP, Elvira
Souza Lima costuma contar aos profissionais que assessora uma
experiência que viveu com índios na Amazônia. Como na maior parte
das escolas que visita, os professores de lá se queixavam da “falta de
memória” das crianças, inclusive para fixar conceitos considerados
simples, como cores. Ela, então, perguntou a um aluno de que
cor era a árvore. “Depende”, respondeu ele, sem hesitar. E de fato
depende da parte da árvore, do tipo de árvore e da hora do dia e de DÉBORA GOMES LEAL
como a luz incide sobre o vegetal. Parece banal, mas é fundamental
Professor de Educação Infantil na
que o professor compreenda como o cérebro da criança funciona Rede da Prefeitura de SP
para ajudá-la a aprender, comenta. Caso contrário, o professor vai Artigo apresentado como
teimar que a árvore é verde e o aluno apenas vai decorar a resposta, requisito parcial para aprovação
do Trabalho de Conclusão do
sem que isso tenha sentido para ele. Curso de Especialização.

É muito importante que o professor que o professor saiba que o


cérebro humano se organize em torno da formação de significados,
acredita.

Um campo de significação é uma rede de informações e


experiências relacionadas entre si que constituem sentido para
o indivíduo e possibilita a formação de outros significados. A
aprendizagem do conhecimento formal ocorre se houver, no
procedimento pedagógico, previsão de trazer o novo relacionado
a um conhecimento prévio do indivíduo, o que facilita a construção
de um novo significado.

A importância do período escolar, faz com que o cérebro humano


disponha de maior facilidade para estabelecer conexões entre
células nervosas e, assim, aprender.

Tocar um instrumento musical ou se aproximar de uma língua


estrangeira, por exemplo, são habilidades aprendidas em pouco
tempo e com grande maestria, nesse período, se compararmos à
aprendizagem de pessoas mais velhas. A razão no estabelecimento
de sinapses devido à plasticidade do cérebro.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
DAMÁSIO, António - O ministério da Consciência. Companhia das Letras, 2000

DAMÁSIO, António - Em busca de Espinosa. Companhia das Letras,2004

SACKS, Oliver – Um antropólogo em Marte. Companhia das Letras, 1995

LENT, Roberto – Cem bilhões de neurônios. Editora Atheneu, 2004

LIMA, Elvira Souza – Diversidade na sala de Aula. Editora Sobradinho, 1997 Nabuco,

NEVES, Libéria Rodrigues. O uso de jogos teatrais na educação: Possibilidades diante do


fracasso escolar/Libéria Rodrigues Neves, Ama Lydia Bezerra Santiago. – Campinas, SP:
Papirus, 2009. – (Coleção Ágere)

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e


representação. Tradução de Álvaro Cabral e Cristiane Monteiro Oiticica. Rio de Janeiro:
Zahar, 1975.

VIGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

FORMAÇÃO DOCENTE OPOSITOR


E DESAFIADOR: UMA ANÁLISE DAS
COGNIÇÕES E AÇÕES INFANTIS
RESUMO: O Transtorno Opositor e Desafiador (TOD) é definido por um padrão recorrente
de caráter negativista, desafiador, desobediente e hostil dirigido a figuras de autoridade. O
Transtorno Opositor e Desafiador é caracterizado por uma desobediência quase generalizada.
Diante de uma instrução que desagrada a criança, essa pode então demonstrar oposição
passiva (parece concordar com o pedido, mas intencionalmente falha em responder), ou
oposição ativa (a criança grita, e cria impedimentos graves às demandas atribuídas). Lançando
objetos, ou confrontado e desafiado por um “não” olhando nos olhos, ou passiva- agressiva
oposição propriamente dita (a criança parece cumprir o pedido do adulto, mas dói demais
ou quebra da ação. A criança se recusa a cumprir as instruções e depois se recusa a cumprir
as sanções impostas pelos pais. Em alguns casos, os pais até sentem que a criança assumiu a
casa e que, no final, é ele quem decide. Nos casos mais graves, a criança, além de se recusar
a se curvar à autoridade, procura provocar o adulto.

Palavras-Chave: Transtorno; Educação; Família; Sociedade.

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INTRODUÇÃO forçado a fazer um determinado acordo,


deve estar confiante de que seus pais o
Devemos primeiro aqui destacar que a estão impondo para seu bem, assim ela é
oposição é uma fase normal, saudável e disciplinada.
até desejável no desenvolvimento de uma
criança. Com a idade de dois anos, a criança Na infância, um distúrbio de oposição
entende que ele tem algum controle sobre geralmente ocorre por uma das seguintes
seu ambiente, mas especialmente sobre razões: A criança não é reconhecida por
as pessoas ao seu redor. Ela entende que seus pais em suas necessidades, em sua
pode dizer não a um pedido feito, coisa individualidade e em sua busca por autonomia,
que provavelmente nunca o fez. As vezes seus pais não conseguiram estabelecer
descobre que recebe mais atenção quando uma relação de confiança mútua, a criança
se opõe a um pedido do que quando o aprendeu que a oposição compensa (por
cumpre normalmente. A oposição da criança, exemplo, ele recebe mais atenção quando se
então, tem a função primordial de capacitá- opõe do que quando ele cumpre, ou ele sabe
la a afirmar sua individualidade. A criança que, se ele se opuser, tem chances de para
confronta seus pais pela primeira vez, ter sucesso). Há também um componente
passando-lhes a mensagem de que pode ter genético que predispõe algumas crianças a
desejos distintos do que exigem dela, e que, adotarem comportamentos de oposição.
como indivíduo, pode afirmar seus desejos. É
a “fase do não” que se inicia. Note que uma fase de oposição normal
e desejável aparece na adolescência. A
Esta fase deve, no entanto, desaparecer oposição cumpre novamente a mesma função
e a criança deve retornar em harmonia aos de afirmar autonomia e individualidade. O
convívio hierárquico familiar com seus pais. adolescente começa a ter opiniões diferentes
Esta harmonização deve ser feita por uma das dos pais e nem sempre quer seguir
abordagem de ambos os lados. Os pais o caminho que eles traçaram para ele. O
devem reconhecer a individualidade do filho, adolescente também quer ser capaz de fazer
deixando-o fazer as coisas por conta própria, as coisas sozinho de forma independente.
quando assim ele solicitar, deixando-o fazer Essa oposição é de suma importância para
escolhas e decisões mediadas pela atenção e levar o adolescente a se tornar um adulto
valorizando a autonomia da criança. A criança independente.
deve perceber que seus pais estão impondo
uma estrutura que deve ser mantida para sua Na psicologia infantil, eles estão incluídos
própria segurança. A criança deve então ter sob o termo atividades de detecção
grande confiança em seus pais, muitas vezes precoce destinadas a descoberta de um
até mesmo uma confiança cega. Mesmo transtorno em seus primeiros estágios.
que ele não entenda por que ele está sendo Esta detecção precoce é muito importante

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Revista Educar FCE - Abril 2019

nesta especialidade porque ao diagnosticar outro lugar. Esta argumentação, portanto,


o transtorno nos estágios iniciais de vida leva a nada em termos de resolver a situação.
torna-se transcendente em outras áreas. A Após um certo número de repetições da
dificuldade nasce entre outras coisas da falta instrução, com argumentação, vão para o
de qualificação adequada e da verbalidade segundo estágio, a ameaça. A criança é então
latente na criança, da necessidade de ameaçada de punição ou perda de privilégio.
usar informações fornecidas pelos pais O presente trabalho buscará delinear
e coabitantes que quase todos os casos um panorama geral do dito transtorno,
sintomas psíquicos também podem ser esperamos contribuir com isso para o debate
componentes de certos comportamentos ou acadêmico.
mudanças evolutivas da criança.

“[...] um padrão global de desobediência, desafio A OPOSIÇÃO E OS


e comportamento hostil. Os pacientes discutem
excessivamente com adultos, não aceitam CONDICIONAMENTOS
responsabilidade por sua má conduta, incomodam
deliberadamente os demais, possuem dificuldade PSICOLÓGICOS
de aceitar regras e perdem facilmente o controle
se as coisas não seguem a forma que eles desejam.” No primeiro ano de vida, esses propósitos
(SERRAPINHEIRO et al. 2004, p. 273). estão relacionados pois com a conquista
da autonomia e são expressos por
Inicialmente os pais fazem um pedido desenvolvimento da linguagem, a capacidade
para a criança, ou negam-lhe algo que ele de explorar e do autocontrole. É normal que
deseja. Para isso, a criança se opõe e começa a criança chore visando obter o que quer e
a discutir. Em resposta aos argumentos que o choro deve ser preocupante apenas
da criança, os pais explicam, reexplicam, quando excessivo, e acompanhado por
reformulam e explicam novamente sua distúrbios do sono, distúrbios alimentares,
decisão. Este é o começo da argumentação. ansiedade excessiva em relação a estranhos,
Então os pais entram nos argumentos da sem contato visual, não sorrindo ou com
criança e frequentemente se desvia nesse rigidez muscular excessiva.
momento em um argumento irracional,
porque a criança usa argumentos irracionais. Entre 1 e 3 anos de idade, o objetivo
Por exemplo: Todos os meus amigos têm do desenvolvimento salvo relação com a
este brinquedo e não eu. Neste exemplo, confiança básica dos adultos atenderá às suas
o argumento da criança é obviamente necessidades, nas respostas do corpo e no
implausível, mas os pais em alguns casos desenvolvimento da coordenação muscular.
respondem com um argumento igualmente As dificuldades normais nessa idade são uma
implausível – Bem, é isso, você pode viver exploração constante, incluindo corrida,
com um de seus amigos se quiser! –, uma vez teatral em entrar nas copias das vivências,
que nunca deixariam seu filho ir morar em na busca ativa por atenção e curiosidade

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Revista Educar FCE - Abril 2019

nas partes do seu corpo. O problemas DEFINIÇÃO DO CAMPO


significativos são aqueles que têm a ver COGNITIVISTA
com distúrbios do sono (terrores noturnos)
e distúrbios de comportamento alimentar, Alguns estudos tentaram se concentrar
nenhuma aparência incapaz de separar da nas ficções cognitivas concretas que
mãe sem sentir ansiedade extrema, birras e fundamentam o TOD e como esclarecê-los,
não iniciar o carrinho do esfíncter. enfatizando funções executoras, envolvidas
no desenvolvimento dos dutos disruptivos.
Os recursos mais destacados do TOD são: Estes incluem a memória de trabalho,
negativismo, hostilidade e comportamento autorregulação, flexibilidade cognitiva ou
desafiador Existem muitos graus nesta capacidade de mudar e a capacidade de
tabela, dentro da qual o problema é, quanto resolver problemas através do planejamento
mais a atitude desafiadora prevalece a e organização. Estudos que caracterizaram
oposição se amplia, essa atitude também crianças com transtorno de déficit de atenção
ocorre em relação ao pai e professores (é e hiperatividade(TDAH) em associação com
predominantemente com a mãe), e quanto a TOD, identificaram disfunções cognitivas
mais o sujeito se recusa a admitirmos importantes na memória e trabalho, que se
conselhos, correções e punições. Alguma manifestam por dificuldades em discernir
redes psicanalíticas sustentam que as origens as consequências de um determinado
do TOD pode ser baseado em perturbação comportamento baseado em uma
desta etapa, que tem a ver com os modelos experiência anterior. As consequências não
aqueles de exemplo e autoridade paterna podem ser antecipadas potencialidades dos
e os impulsos do sim-não da criança em atos, que podem finalmente acabar sendo
desenvolvimento. vistos como comportamentos oposicionistas
e desafiantes.
“O processo de socialização consiste em uma
aprendizagem social, através da qual aprendemos “Há relativa escassez de trabalhos sobre o
comportamentos sociais considerados adequados Transtorno Desafiador Opositor, de forma geral
ou não e que motivam os membros da própria e a literatura sugere que fatores diversos podem
sociedade a nos elogiar ou a nos punir.” (SAVOIA, contribuir para o aparecimento do problema.
1989, p. 55) Em especial, é possível afirmar que ainda há
poucos estudos direcionados a investigar os
fatores determinantes que contribuem para
Outros sinais de aviso estariam o aparecimento do problema.” (PAULO e
relacionados ao ambiente da criança. No que RONDINA, 2010, p.2-3)
diz respeito ao relacionamento pais-filhos-
escola que podem ser observados durante Intimamente relacionado ao conceito
a consulta psiquiátrica, os sinais podem ser de detecção, logo no início encontramos
detectados indicando uma inter-relação a “resiliência” que é referida à capacidade
inadequada e tempo emocional da criança. de se adaptar satisfatoriamente a apesar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

da presença de adversidades significativas nos leva ao estágio em que os pais tomam


ir a qualidade do risco ou proteção de uma uma decisão punitiva em relação à criança. O
situação específica que é dada pela interação pai está com raiva, ele impõe uma sanção à
de muitos fatores que podem variar de tal criança, que muitas vezes ele não consegue
forma que, em certas circunstâncias, cria segurar uma vez que a tensão diminui. Neste
uma característica que é protetora e em caso, a criança aprende que, de fato, as
outras, de risco. punições não são válidas. Mas no momento
da punição em questão, enquanto a tensão
Em geral, eles são considerados é forte, a criança pode explodir e construir
como fatores de proteção uma série de uma crise (agressão), o que agrava ainda mais
circunstâncias, como ter bom funcionamento a situação.
intelectual, facilidade para relações sociais,
uma boa rede de apoio, bom temperamento
junto com senso de humor, alta autoestima e MEIOS DIFERENTES DE
boa saúde, talento e confiança. Como fatores ENCARAR O TOD
de risco estão a capacidade intelectual
abaixo da média, no caso escolar, problemas As crianças estão constantemente sendo
acadêmicos, alterações de conduta na escola, colocadas em condições inóspitas, que
relações empobrecidas com seus iguais, as prejudicam, mas elas também podem
ausência de uma figura adulta de apoio ou promover a resiliência. Entre elas pobreza,
falta de consideração no ambiente familiar superlotação escolar, violência intrafamiliar,
e a utilização de métodos disruptivos de desemprego, trabalho infantil e criminalidade
mentira. colocam em ação de grupos regados de
pouco acesso à cobertura das necessidades
A argumentação é o combustível que básicas e distribuição injusta de renda, pode
mantém vivo o ciclo de oposição. Ao cortar se comportar como fatores ambientais que
o argumento, corta-se a oposição. Quando o são interrelacionais com fatores genéticos
ciclo começar, a partir da solicitação inicial, para modular o comportamento.
conta-se até três para a criança cumprir.
Assim, cortamos as pontes. Nós isolamos a “[...]crianças com TDO apresentam
significativamente mais disfunção familiar
criança e paramos completamente de interagir até do que controles psiquiátricos. Há uma
com ela por alguns minutos. Uma criança clara relação entre TDO e sofrimento e mau
não pode ficar sozinha em uma ilha deserta. funcionamento familiares. Infelizmente, devido à
natureza transversal da maioria desses estudos,
A oposição só existe se houver alguém para é difícil definir a direção da associação entre
revidar a criança. Ao cortar a interação e a desagregação familiar e TDO.” (SERRAPINHEIRO
argumentação, cortamos o combustível para et al. 2004, p. 273).

o motor da oposição. Durante este ciclo, a Alguns autores constituem um estudo


tensão aumenta em ambos os lados. Isso epidemiológico da frequência de TOD e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

suas parcerias com outras entidades. Em um Não o ajuda a ser o herói na família, ele
estudo foram encontrados elementos que já é levado por outro que ele conhece bem
integraram o quadro conceitual de crianças incapaz de desalojar. Assim, para ter um
agressivas e pró- sociais: cultura escolar, clima lugar tão importante em sua família, ele só
escolar, ambiente familiar, pro-socialização e tem que ir para o papel de vilão. Aquele que
agressividade. A pro-socialização representa se torna o oposto do outro. Desobediente,
um elemento de temperamento o que pode excitado e desagradável. Se a criança
favorecer o surgimento de regras devida descobre que não consegue obter o amor de
sociais e proteger comportamentos seus pais – e de outras esferas – através do
agressivos e violentos. (TAVARES, 2007, p. sucesso, pelo menos conseguirá sua atenção
75,) pelo fracasso. É muito mais recompensador
obter uma forte reação dos pais porque algo
Mas qual é o vínculo com o distúrbio foi feito de forma errada do que obter uma
de oposição na criança? Bem, este enredo reação indiferente, porque você se deu bem,
bem sucedido reproduzido em sua família, mas não tanto quanto o herói da família.
nos irmãos. Quando uma criança exibe (TAVARES, 2007, p. 75,)
naturalmente um comportamento sábio
e obediente, e o sucesso escolar é fácil, Como em um filme, aquele que se dá
naturalmente o coloca na posição de herói bem, mas não tanto quanto o herói, ou, na
em casa. Ele é elogiado por seus sucessos, melhor das hipóteses, recebe um papel de
seu bom comportamento é enfatizado, ele apoio, secundário. Nenhuma criança quer
é segurado em nossos braços, exclamando ser um papel de apoio, então o papel do vilão
como ele é orgulhoso e recompensado por se torna a alternativa para obter um papel
privilégios. A outra criança que tem uma de liderança. Tudo isso está acontecendo
personalidade corajosa, que muitas vezes inconscientemente e até insidiosamente
esquece as instruções e para o qual as durante vários meses ou anos. Mas
quais o desempenho acadêmico é menos gradualmente os papéis são acampados,
automático ao olhar do herói (irmão ou irmã) polarizados e cada criança age de acordo
e descobre que ele nunca pode chegar a este com seu caráter em construção fruto do
padrão. meio.

“Um tema ou padrão amplo, difuso; formado O estudo de TOD que começa na fase
por memórias, emoções e sensações corporais;
relacionado a si próprio ou aos relacionamentos da infância e na adolescência, leva-nos a
com outras pessoas; desenvolvido durante a considerar a agressão e violência, ligadas
infância ou adolescência; elaborado ao longo à situações e relações ambientais e sócio
da vida do indivíduo; disfuncional em nível
significativo” (YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, familiares. As hipóteses mais utilizadas
2008, p. 22). são baseados na aprendizagem social que
a criança faz, como a oposição violenta, e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que geralmente têm sua expressão máxima As formas mais extremas de TOD tem
no coração dos “ambientes socialmente um transtorno co-mórbido associado a ele
desfavorecidos cronicamente mantido”. métodos de observação cada avaliador deve
empregar mais de um método de observação,
Esses comportamentos violentos tem como entrevistas, escalas declaração
uma extensão, e em muitos casos sofrem (Avaliação, Inventário de Hospedagem
solidificação, durante a adolescência Infantil e escala de Agressão Aberta),
e na idade adulta pode se transformar avaliação relatórios neuropsicológicos e
gradativamente em um transtorno de escolares.
personalidade antissocial. Encontramos aqui
uma linha de continuidade entre violência O primeiro passo, antes do início de
infantil e a do adulto, em muitos casos com qualquer Inter comportamento, é diferenciar
origem social previsíveis e, portanto, sujeitas se o comportamento de uma criança é
a normas de prevenção. Existem fatores enquadrado em uma variante de normalidade
de risco que causam metade dos casos os ou deve ser considerado patológica, tendo
distúrbios comportamentos na infância em conta os parâmetros de persistência,
podem evoluir na idade adulta de uma forma frequência e intensidade. A abordagem
negativa, bem como fatores de proteção popular baseia-se na hipótese de que as
que capacitam adequadamente podendo crianças com mau comportamento estão em
representar uma boa técnica para preservar conformidade com as seguintes suposições:
esses problemas. (BARRETO, 1981, p.307) são obstinados, manipuladores, coercitivos,
rude, controladora, desafiadora eles
procuram por atenção. Portanto, de acordo
OUVIR AS CRIANÇAS com esta abordagem, a intervenção deve
AUXILIA NO PROCESSO estar preparado para mostrar quem está no
comando e qual é o adulto correto, para que
A atitude da criança com o meio deve ser assim obedeçam. (BATISTA, 2006, p. 75)
observada antes de entrar no cerne da questão,
se apresentada uma ansiedade desproporcional Obviamente, este modelo não costuma
ao separar as partes constituintes do seu mundo, fornecer soluções prontas desde que
se ela obedece as ordens que eles lhe dão, ou o problema não é uma ignorância da
até mesmo, se o transtorno mais grave e crônico criança sobre quem dá ou o que o bom
e comportamental mostram deterioração em e mau comportamento. Os programas
várias áreas, como dificuldades na mecânica de intervenção de uma perspectiva
social, às vezes direitos, escassas realizações teórica comportamental abrange todos
acadêmicas e vocações se uma deterioração no os contextos: família, escola e a própria
desenvolvimento da comunicação interpessoal. criança. Antecedentes, comportamento e
(BARRETO, 1981, p.307) consequências, maioria dos modelos de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

intervenção analícas comportamentais baseiam-se na análise da abordagem epistemológica,


isto é, antecedentes, comportamento e sequências. Crianças desafiadoras (BATISTA,
2006, p. 78). Um dos programas mais usais é o chamado Crianças desafiadoras de base
comportamental. Consiste em etapas com que se destinam a adquirirem comportamentos
positivos que ajudam a alcançar o sucesso na escola e nas suas relações sociais. As estratégias
usadas são projetadas para reduzir repouso e comportamento de oposição e mencionar
comportamentos de colaboração. Este baseia-se no pressuposto de que comportamentos
positivos tenderão a aumentar se a criança recebe um prêmio ou reconhecimento por eles,
em tanto que os negativos tenderão a morrer se forem ignorados ou gerarem consequências
negativas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dissemos anteriormente que há coisas para lembrar nos
casos de oposição. O segundo (e talvez o mais importante) é:
dedicação a criança e zelar por seu sucesso, novamente dê-
lhe tempo de qualidade. Esta é a necessidade mais importante
para uma criança. Um estudo de macacos bebês mostrou
que era mais importante para eles estarem próximos de suas
mães do que se alimentar. Diante de uma escolha forçada,
preferiam privar-se de comida do que privar-se de sua mãe.
Basicamente, somos apenas primatas avançados e isso ilustra
o quanto as crianças também precisam de atenção. DENISE DOS SANTOS
SOUZA TURUBIA
Para quem não conviveu com um filho oposto, amar seu
Graduação em Pedagogia pela
filho parece óbvio. Para o pai que experimenta a oposição Universidade Nove de Julho
e a provocação de uma criança todos os dias, o amor que (2012); Professora de Educação
julgamos incondicional às vezes parece abalado. E assim Infantil – PEI
começa um ciclo em que tentamos evitar a criança porque
prevemos um contato desagradável. Quanto mais tentamos
evitá-lo, mais a criança precisará ter certeza de que seus pais
ainda estão lá para ele.

Assim, ele adotará comportamentos ainda mais opostos


e provocativos, a fim de provocar uma reação e obter essa
atenção de seus pais ou professores. Um exemplo típico
para os pais de crianças dentre as quais é: quando se jogam
sozinhos, a forma calma e composta, vamos evitar a todo
o custo para ver a criança não quebrar este belo momento
de paz. Percebemos a criança como uma bomba prestes
a explodir e evitamos esta bomba, por medo de causar a
explosão. Assim, a criança que tem um comportamento
exemplar neste momento não receberá atenção de seus pais.
Ela logo perceberá que a melhor maneira de conseguir essa
atenção será explodir.

Assim, o aspecto mais importante será estabelecer um


vínculo forte e inabalável de confiança entre a criança e seus
pais e propor uma socialização dentro de parâmetros que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

caibam nas demandas apresentadas. Para isso, é essencial passar tempo e qualidade com ela
todos os dias por 20 a 30 minutos no mínimo.

A criança muitas vezes procura atenção negativa através de sua oposição, na qual ela
não consegue obter atenção positiva. Também deve ser notado que uma criança será mais
relutante em objetar se sentir que corre o risco de quebrar um forte vínculo positivo com os
pais, e se ele sentir que não tem nada a perder em seu relacionamento (ou mesmo se sentir
que está ganhando atenção). A criança deve sentir um vínculo de forte apego. Vale ressaltar
aqui a importância do investimento não só da mãe, mas também do pai, escola e comunidade
muitas vezes. Recomenda-se também inverter a interação negativa usando tantas palavras
positivas quanto possível para a criança oposta. Ele é elogiado por seus sucessos e esforços,
e lhe é dito que é amado e orgulhoso dele. O contato físico, como abraços e beijos, são
formas poderosas de fortalecer o vínculo entre os quais e o mundo que os cerca.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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PATTO, M. H. S. Introdução a psicologia escolar. São Paulo: T A Queiroz, 1981. p. 296 - 319.

BATISTA, C. A. M. Educação inclusiva: Atendimento educacional


especializado para a deficiência mental. 2ºed. Brasília: MEC/SEESP, 2006. PAULO, Marta
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TAVARES. M. Módulo IV - Estratégias Específicas em Entrevista: a entrevista estruturada


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2007.

YOUNG, J. E.; KLOSKO, J. S.; WEISHAAR, M. E. Terapia do esquema: guia das técnicas
cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A ANÁLISE DO ESTUDO DA HERANÇA


MONOGÊNICA PRESENTE EM LIVROS
DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO
RESUMO: As mudanças cientificas e tecnológicas tem se tornado uma constante em nossa
sociedade. Na busca por inovações, a pesquisa deixou de pertencer a um campo especulativo
dentro das grandes corporações, e hoje entra na pauta de qualquer forma de organização
que pretenda permanecer atuante. Assim, o presente estudo tem como objetivo analisar
as conclusões de Gregor Mendel a partir de uma das mais importantes pesquisas feitas,
analisando conteúdos presente em diversos livros didáticos do Ensino Médio relacionados
à herança monogênica, enfatizando a necessidade de conhecimentos prévios antes de
abordá-lo em sala de aula. Mais especificamente a transposição didática feita a partir desse
experimento.

Palavras-Chave: Transposição didática; Primeira lei de Mendel; Herança monogênica;


Probabilidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO três anos é algo que se todas as condições


fossem favoráveis, o que não é o caso, seria
Atualmente, há um consenso sobre a uma tarefa muito difícil de ser feita. Some-
necessidade de uma atualização do conteúdo se a isso, um sistema de ensino que dificulta
e da forma de como ele é ministrado nas qualquer ideia nova, colocando o profissional
escolas. De acordo Programa Internacional da educação preso a cotidiano pouco flexível,
de Avaliação de Alunos (PISA), nosso país cheio de horários, conteúdos e todo tipo de
está entre os últimos colocados entre as condições homogeneizantes para um público
nações avaliadas, ocupando a 54a posição muito heterogêneo e que não acha vantajoso
entre os 57 países avaliados. adaptar-se ao sistema.

Resultados como esses, traduzem o Considerando tudo isso, qualquer tipo


despreparo de nosso país para competir diferente método de ensino é uma batalha
em um mundo globalizado, marcado pela que desgasta professores, alunos, país e
competitividade. E nós professores, frente equipe escolar, sendo na maioria das vezes,
a resultados como esses, não podemos nos inglória e sem vencedores.
manter inertes.
O tema “Genética”, sempre desperta o
Grande parte dessa incapacidade dos interesse dos educandos, uma vez que mesmo
alunos em relação aos saberes escolares que não tenha contato direto com a disciplina
provém de muitos fatores como, por exemplo, na sala de aula, participam de um mundo onde
uma família desestruturada, uma sociedade diariamente surgem novas notícias, sobre
imediatista e um sistema de ensino moroso, os inúmeros benefícios obtidos ou poderão
que não atende os alunos ditos “normais”, advir a partir das pesquisas genéticas. Assim,
tampouco os que devem ser incluídos. ampliar as abordagens que podem ser feitas
sobre esse tópico, utilizando livros do ensino
Subtraindo todas essas variáveis negativas médio soma-se a possibilidades na busca
que diminuem as possibilidades do sucesso de um aumento da qualidade na educação
escolar, resta ainda a responsabilidade do básica.
professor na atualização do seu saber e da
busca de novas formas de ensinar de modo que Este trabalho teve como principal objetivo
atenda a ampla heterogeneidade educandos. colocar em discussão, a partir da análise do
Tendo isso em vista, trabalhos, pesquisas e cotidiano escolar e da análise bibliográfica
ideias que facilitem a aprendizagem são pertinente, a dificuldades de muitos alunos
sempre úteis. em resolver problemas ligados a primeira
lei de Mendel enfatizando alternativas para
Transmitir conhecimentos adquiridos minorar essa carência.
em alguns séculos do estudo da vida em

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O presente estudo foi realizado através uma “mistura” das características do pai e
de revisão bibliográfica. Pesquisa em livros, da mãe que seriam transmitidas aos filhos
artigos e teses especializadas no assunto. no momento da concepção. Essa ideia
apesar de ser incorreta, pode explicar a
maioria dos casos de herança, uma vez que
HISTÓRICO DE MENDEL aparentemente possuímos características
intermediárias de nossos genitores.
Johan Gregor Mendel foi um monge
da Morávia, nascido em uma vila atual Entretanto, algo como o nascimento de
Republica Tcheca em 22 de julho de 1822 uma criança de olhos claros filho de um
em uma família de humildes camponeses que casal de olhos castanhos, ou seja, como pais
cultivavam principalmente árvores frutíferas. podem gerar filhos que não pareçam com
Esse cultivo e reprodução de vegetais mais eles mesmos, mas com um antigo ancestral,
tarde influenciariam umas das experiências era algo inexplicável.
mais importantes que já existiram e colocaria
o nome de Mendel na posteridade. Para responder a essa questão, Mendel
apoiou-se no “ombro” de outros “gigantes”
Para estudar, o jovem moraviano, e estudou Física, Matemática, Botânica
enfrentou dificuldades financeiras, levando-o e História Natural em Viena, aplicando
a ingressar em um mosteiro agostiniano em esses conteúdos em aulas de Ciências que
Brunn (atual Brno), no final da adolescência. ministrava.
Com essa oportunidade conseguiu estudar e
há mesmo tempo garantir a sua subsistência. Paralelamente, o naturalista Charles
Darwin prosseguia em suas pesquisas sobre
Nesse mosteiro havia um jardim com uma evolução, mas a forma como ela acontecia
pequena variedade de flores da região que ainda era um mistério, mais alguém com
despertaram o interesse do noviço, que habilidades em Física e Matemática,
como muitos dos estudantes e pesquisadores como Mendel abriu o caminho para esse
da época já sabiam sobre a existência entendimento. Uma vez que não há
dos gametas. Entretanto a combinação “misturas”, como se acreditava na herança
entre essas duas estruturas (óvulo e de características, Os conhecimentos
espermatozóide), para o nascimento de um conquistados na época em que foi
novo ser com características próximas a de demonstrador na Universidade de Física em
seus ancestrais, era algo que não poderia ser Viena contribuíram de sobremaneira para
explicado com clareza. sua descoberta.

Entre as teorias mais populares, estava


a que defendia a existência de uma fusão,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EXPERIÊNCIA lisas, como as de seus genitores, um total de


três quartos aproximadamente de ervilhas
No jardim do mosteiro onde residia em lisas.
1856, Mendel possuía uma plantação de
ervilhas (Pisum sativum), de 35x7 metros. O grande insight que colocou o Mendel
Esse experimento durou cerca de oito anos na história foi estabelecer uma relação entre
e foram utilizadas cerca de trinta mil plantas. esses resultados e esses fatores se segregam
e se rearranjam em um novo cruzamento.
Mendel procurava entender como as
características são transmitidas de uma Mendel imaginou que se uma ervilha possui
geração para a outra. Utilizando ervilhas, fatores lisos e enrugados. Metade do polén
Mendel cultivou ervilhas que originavam em de contém o fator liso e metade contêm o
sua estufa, divididas em plantas com ervilhas fator enrugado, o mesmo aconteceria com as
puras lisas e outra metade puras enrugadas. estruturas femininas. Durante a reprodução a
Após crescerem, Mendel as cruzou as reprodução haveria quatro modos diferentes
variedades, resultando após duas semanas, de combinação entre os fatores lisos e
em vagens de ervilhas hibridas. enrugados.

Se a teoria da mistura vigente na A combinação de fatores inferida por


época fosse verdadeira, esse cruzamento Mendel foi: liso x liso; liso x enrugado;
produziria algo intermediário entre ervilhas enrugado x liso; enrugado x enrugado.
lisas e enrugadas. Entretanto todas as Concluindo-se ai que sempre que o fator liso
ervilhas resultantes dos cruzamentos eram estivesse presente, ele será preponderante,
lisas. Intrigado com o resultado, Mendel ou seja, dominante.
plantou todas as ervilhas colhidas, e quando
estas cresceram, o monge permitiu que as Então apenas os pares enrugados x
plantas originadas desse cruzamento se enrugados, apresentariam essa característica.
autofecundassem, obtendo como resultado
o reaparecimento das ervilhas enrugadas. Conforme a proporção estatística que se
apresentou. Em fevereiro de 1865, Mendel
Conclui-se então, que essa característica apresentou os resultados de seus trabalhos
deveria estar presente oculta na geração para um público que não estava preparado
anterior para que reaparecesse novamente. para entendê-lo. Conceitos estatísticos
O monge então, contou quantas ervilhas não estavam na pauta de pessoas que
eram lisas e enrugadas em um total de esperavam uma palestra sobre plantas. A
7324 (sete mil, trezentas e vinte e quatro), Genética Moderna iniciava-se sem o devido
ervilhas. Chegando há um resultado de reconhecimento.
aproximadamente 6000 (seis mil), ervilhas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Três anos se passaram e Mendel foi eleito Conceitos como “tipo selvagem”, ou
abade em seu mosteiro, a falta de êxito na seja, a forma mais comum das diferentes
apresentação que fez para apresentar os propriedades dos organismos e da forma
resultados de sua experiência, levou-o a como eles podem ser cruzantes com
direcionar sua atenção para problemas mais outros espécimes mutantes é abordada
imediatos. na introdução e na sequência a um relato
da biografia de Mendel, seus estudos,
Mesmo sem o reconhecimento em vida, experiências e conclusões.
Mendel tinha noção de sua descoberta,
segundo suas palavras: “Meus estudos
científicos têm me proporcionado grande ABORDAGEM DO TEMA NO
satisfação e eu estou convencido que não LIVRO BIOLOGIA - GENÉTICA;
demorará muito para que o mundo inteiro
reconheça os resultados de meu trabalho”. EVOLUÇÃO E ECOLOGIA VOL. 03

Dezesseis anos após a sua morte, seus O primeiro capitulo do livro, página 10
estudos foram revistos, e após pesquisas, (dez). Tem início com a biografia do renomado
concluiu-se que os fatores (genes), descobertos cientista, que leva o epíteto de “Pai da
por ele eram comum a toda vida na Terra. Genética” e as diferentes aplicações dessa
ciência. O conceito de herança monogênica
é acrescido de informações como meiose,
O ESTUDO DA HERANÇA mitose e a terminologia usada nessa
MONOGÊNICA NO LIVRO disciplina. A partir da pagina 19 (dezenove),
o autor usa exemplos de probabilidades,
INTRODUÇÃO A GENÉTICA como os já citados no presente trabalho
O tema inicia-se no segundo capítulo deste para posteriormente aplicá-los no conceito
livro a partir da página 25 (vinte e cinco), com de herança monogênica propriamente dita.
questões como; “Como são identificados os O livro não se estende muito pela teoria,
genes individuais”? enfatizando a aplicação do conceito na
resolução de exercícios pré-vestibulares.
Que principio de herança Mendel
descobriu? Qual é a base cromossômica do
princípio de Mendel? E como o princípio de LIVRO BIO - VOLUME 02.
Mendel é aplicado à herança humana?
Esse livro segue a mesma sequência
Com base nessas questões, observa-se didática do livro citado anteriormente,
a riqueza do assunto e porque ele atrai a entretanto, os tópicos são abordados de
atenção dos estudantes. uma maneira mais aprofundada, uma vez

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que o livro dedica um maior número de páginas ao tema. O estudo da herança de uma
característica tem início a partir da página 259 (duzentos e cinquenta e nove).

DISCUSSÃO
Os livros direcionados para o público universitário abordam o tema herança monogênica
de maneira direta, não se preocupando se o alunos conhece a terminologia utilizada no
assunto, se possuem conhecimentos fora da área específica pertencente a biologia, como o
de probabilidade.

Essa postura justifica-se, uma vez que necessariamente o aluno já deveria pelo menos ter
esse conteúdo, que tem que ser abordado no ensino médio.

A também um estudo mais aprofundado, relacionando diferentes anomalias humanas,


por exemplo, relacionando-a a genes específicos, ou seja, assuntos que seriam abordados
ao longo de um ano no ensino médio, por exemplo. São estudados em um capítulo do livro
universitário.

Todos os livros direcionados para o Ensino Médio que foram pesquisados, possuem a
preocupação de apresentar algumas noções de probabilidade antes de entrar no conteúdo
pertencente ao domínio da genética. Mais especificamente, todos os livros, utilizam os
mesmos exemplos, como o lançar de moedas, cartas de baralho, o lançar de dados, etc.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mendel , o “pai da genética”, contemporâneo do naturalista
Charles Darwin foi um estatístico. As teorias de ambos
influenciaram o estudo da vida no que se refere à evolução
e a hereditariedade. Afinal: “Nada em biologia faz sentido
senão sob a luz da evolução” (Theodosius Dobzhansky).

Mas se Darwin foi um observador da vida no literal sentido


da palavra, Mendel realizou um trabalho, exato, com critérios
científicos capazes de serem repetidos. O reagente biológico DIEGO DANIEL DUARTE
de seu trabalho foi uma ervilha ( Pisum sativum), um vegetal DOS SANTOS
com centenas de variedades. Todavia, outras espécies com
Graduação (Licenciatura e
as mesmas características favoráveis a esta experiência Bacharelado) em Ciências
poderiam substituí-la sem prejuízo. Ou seja, a observação Biológicas pela UNIB -
do desenvolvimento deste ser vivo, foi uma ferramenta para Universidade Ibirapuera
(2007), Licenciatura Plena em
um trabalho de estatística. Matemática (2016) e Pedagogia
(2017) pela Universidade Cruzeiro
Na transposição dessa teoria para o Ensino Médio, o do Sul; Especialista em Ensino da
Biologia pela USP - Universidade
trabalho desse monge ressurge como parte integrante do de São Paulo (2012); Professor de
estudo da biologia. Mas não há um cronograma disponível Ensino Fundamental II - Ciências -
e condições materiais que permitam a repetição desse na EMEF Duque de Caxias.

experimento.

Assim, quando se torna aprendizagem em sala de aula, o estudo da herança monogênica,


distancia-se do estudo dos seres vivos e amplia sua face exata, como um estudo estatístico
contextualizado.

Esse direcionamento serve propósitos menos complexos, mas de grande utilidade. Afinal
os eventos aleatórios pertencentes à primeira lei de Mendel são instrumentos que serão
utilizadas pelo aluno no decorrer do Ensino Médio e em outros tantos momentos de sua
vida adulta.

238
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Justiniano S. Moroni R. Moroni F. Mendes J. A utilização de multimídias educacionais na


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239
Revista Educar FCE - Abril 2019

OS BENEFÍCIOS DOS JOGOS


E BRINCADEIRAS PARA O
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
RESUMO: O presente artigo pretende abordar os benefícios dos jogos e brincadeiras para o
desenvolvimento infantil, verificando a importância do lúdico para as crianças, observando como pode
ser utilizado em prol desenvolvimento infantil. Este estudo buscou demonstrar o quanto os jogos e as
brincadeiras podem contribuir para a aprendizagem, destacando sua importância para o desenvolvimento
humano e sua a utilização como recursos pedagógico, proporcionando aos educadores alternativas para
a exploração de atividades didáticas. O lúdico consiste em uma maneira muito eficaz de perpassar pelo
universo infantil para imprimir-lhe o universo adulto, nossos conhecimentos e a forma de interagirmos.
A atividade lúdica é muito importante para o desenvolvimento sensório motor e cognitivo, desta forma,
torna-se uma maneira inconsciente de se aprender, de forma prazerosa e eficaz. A introdução do lúdico na
vida escolar do educando é uma maneira muito eficaz de perpassar pelo universo infantil para imprimir-
lhe o universo adulto, nossos conhecimentos e principalmente a forma de interagirmos. A atividade
lúdica é muito importante para o desenvolvimento sensório motor e cognitivo, desta forma, torna-se
uma maneira inconsciente de se aprender, de forma prazerosa e eficaz. Os educadores precisam ter em
mente os objetivos e os fins da brincadeira desenvolvida, sua utilização lúdica, cognitiva, sociocultural.
Para realizar tal reflexão, a metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho foi a do tipo bibliográfica,
com pesquisas realizadas em livros, revistas, artigos acadêmicos, periódicos e jornais. Os benefícios e os
estágios dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento infantil constituem atividades primárias que
trazem grandes benefícios do ponto de vista físico, intelectual e social. Como benefício físico, o lúdico
satisfaz as necessidades de crescimento e de competitividade da criança.

Palavras-Chave: Escola; Jogos; Brincadeiras.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO outras coisas a criança a um mundo


social, cheio de regras. Portanto, surgem
Atuando com crianças, podemos observar transformações internas no desenvolvimento
que o brincar é algo nato, que desenvolve da criança em consequência do brinquedo,
os aspectos físico, moral e cognitivo, entre cujo fundamento é a criação de uma nova
outros, mas há a necessidade da orientação relação entre o campo do significado e o
do adulto para que esse desenvolvimento campo da percepção visual, ou seja, entre as
ocorra. Por meio da brincadeira, as crianças situações do pensamento e as da realidade.
aprendem a refletir e experimentam situações Para resumir todas essas demandas práticas
novas ou mesmo do seu cotidiano, e a ação e expressá-las de uma forma unificada,
de brincar está ligada ao preenchimento pode-se dizer o que se deve fazer é, ensinar
das necessidades da criança e nestas às crianças a linguagem escrita e não apenas
está incluso tudo aquilo que é motivo a escrita de letras.
para ação. É muito importante procurar
entender as necessidades da criança, bem Assim, o objetivo geral do estudo
como os incentivos que a colocam em ação caracteriza a realização de uma pesquisa
para, então, entendermos a lógica de seu acerca do lúdico e o objetivo específico
desenvolvimento. Ao lidar com os objetos é verificar os benefícios que os jogos e
existentes na brincadeira e nos jogos a criança brincadeiras podem trazer ao processo de
pode lidar com o significado das palavras por desenvolvimento e aprendizagem infantil.
meio do próprio objeto concreto, e por esta
ação de brincar a criança embora não possua As brincadeiras podem ser consideradas
linguagem gramatical, consegue internalizar como a principal atividade da criança,
a definição funcional de objetos, e a criança independente, de sua cultura, do momento
passa a relacionar as palavras com algo histórico, e do meio ao qual está inserida.
concreto. Brincando ela se apropria de inúmeros
conhecimentos, onde ocorrem importantes
O ato de brincar estimula o uso da mudanças e transformações em seu
memória que ao entrar em ação se amplia desenvolvimento psicossocial, emocional,
e organiza o material a ser lembrado, tudo intelectual, cognitivo e motor.
isto está relacionado com aparecimento
gradativos dos processos da linguagem que O brincar é para a criança uma fonte
ao reorganizarem a vivência emocional e de descoberta de valor incalculável, pois,
eleva a criança a um novo nível de processos enquanto brinca, vivencia o lúdico de
psíquicos. A ação de brincar (o lúdico) é um forma significativa produzindo no cérebro
fator importante para o desenvolvimento uma atividade intensa marcada pelo prazer
humano, sendo que ele a partir da situação que, por sua vez, desenvolve o senso de
imaginária introduz gradativamente entre companheirismo, afirma a personalidade,

241
Revista Educar FCE - Abril 2019

proporcionando a criança a descoberta do Ao longo dos anos a alfabetização tem


seu próprio “eu”. sido alvo de inúmeras controvérsias teóricas
e metodológicas, exigindo que a escola e,
Dessa forma, podemos perceber que os educadores se posicionem em relação
reconhecer o lúdico como aliado do às mesmas, construindo suas práticas a
professor no processo ensino aprendizagem, partir do que está sendo discutido no meio
de crianças na educação infantil e apropriar- acadêmico e transposto para a sala de
se desta estratégia nas práticas pedagógicas aula a partir de suas reinterpretações e do
é transformar o espaço escolar em lugar que é possível e pertinente ser feito. Essas
inovador e significativo aos olhos do aprendiz mudanças nas práticas de ensino podem
onde ele possa expressar sentimentos, ocorrer tanto nas definições dos conteúdos
ideias, sonhos e opiniões por meio de uma a serem desenvolvidos quanto na natureza
aprendizagem que respeite seus limites e da organização do trabalho pedagógico.
potencialidades educacionais.
A ludicidade é assunto que tem
conquistado espaço no panorama nacional,
A IMPORTÂNCIA DO principalmente na educação infantil, por ser
LÚDICO NA INFÂNCIA o brinquedo a essência da infância e seu
uso permitirem um trabalho pedagógico que
Enquanto educador, é possível perceber possibilita a produção do conhecimento,
que, na infância, são várias as observações da aprendizagem e do desenvolvimento.
a serem feitas em relação aos benefícios dos Independentemente de época, cultura e
jogos e brincadeiras para o desenvolvimento classe social, os jogos e brinquedos fazem
da criança, desde a estimular sua imaginação parte da vida da criança, pois elas vivem em
até o desenvolvimento da linguagem oral. um mundo de fantasia, de encantamento, de
alegria, de sonhos onde a realidade e o faz
A ampliação do tempo de escolaridade de conta se confundem, apesar de a história
de oito para nove anos impôs importantes de antigas civilizações mostrar o contrário,
questionamentos sobre a prática de fazendo o brincar se transformar em pecado.
alfabetização, principalmente na Educação
Infantil. O que ensinar às crianças? Que Nas sociedades de mudanças aceleradas
conhecimentos essas crianças precisam em que vivemos, somos sempre levados
construir? Que habilidades precisam a adquirir competências novas, pois é o
desenvolver? Que atividades realizar na indivíduo a unidade básica de mudança.
escola para que alcancem as habilidades A utilização de brincadeiras e jogos no
desejadas? processo pedagógico faz despertar o gosto
pela vida e leva as crianças a enfrentarem os
desafios que lhe surgirem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Esta pesquisa irá mostrar o quanto Segundo PIAGET (1967, p. 13), “[...] o jogo
os jogos e brincadeiras podem ser um não pode ser visto apenas como divertimento
instrumento indispensável na aprendizagem, ou brincadeira para desgastar energia, pois
no desenvolvimento e na vida das crianças, ele favorece o desenvolvimento físico,
tornar evidente que os professores e cognitivo, afetivo e moral”. Através dele se
futuros professores devem e precisam processa a construção de conhecimento,
tomar consciência disso, saber se os principalmente nos períodos sensório-motor
professores atuantes têm conhecimento e pré-operatório.
de alguns conceitos, como o “lúdico” e a
“brinquedoteca” e muitas outras questões Agindo sobre os objetos, as crianças,
sobre a relação do brincar com a aprendizagem desde pequenas, estruturam seu espaço
e o desenvolvimento da criança. e seu tempo, desenvolvendo a noção de
casualidade, chegando à representação
O brincar e o jogar são atos indispensáveis e, finalmente, à lógica. As crianças ficam
à saúde física, emocional e intelectual e mais motivadas para usar a inteligência,
sempre estiveram presentes em qualquer pois querem jogar bem, esforçam-se para
povo desde os mais remotos tempos. superar obstáculos tanto cognitivos como
Através deles, as crianças desenvolvem a emocionais.
linguagem, o pensamento, a socialização, a
iniciativa e a autoestima, preparando-se para O jogo não é simplesmente um
ser um cidadão capaz de enfrentar desafios “passatempo” para distrair os alunos, ao
e participar na construção de um mundo contrário, corresponde a uma profunda
melhor. O jogo, nas suas diversas formas, exigência do organismo e ocupa lugar de
auxilia no processo ensino aprendizagem, extraordinária importância na educação
tanto no desenvolvimento psicomotor, isto escolar. Estimula o crescimento e o
é, no desenvolvimento da motricidade fina desenvolvimento, a coordenação muscular,
e ampla, bem como no desenvolvimento as faculdades intelectuais, a iniciativa
de habilidades do pensamento, como a individual, favorecendo o advento e o
imaginação, a interpretação, a tomada de progresso da palavra. Estimula a observar e
decisão, a criatividade, o levantamento de conhecer as pessoas e as coisas do ambiente
hipóteses, a obtenção e organização de dados em que se vive. Através do jogo o indivíduo
e a aplicação dos fatos e dos princípios a pode brincar naturalmente, testar hipóteses,
novas situações que, por sua vez, acontecem explorar toda a sua espontaneidade criativa.
quando jogamos, quando obedecemos a
regras, quando vivenciamos conflitos numa O jogo é essencial para que a criança
competição, etc. manifeste sua criatividade, utilizando
suas potencialidades de maneira integral.
É somente sendo criativo que a criança

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Revista Educar FCE - Abril 2019

descobre seu próprio eu (TEZANI, 2004, p. O brinquedo contém sempre uma


21). referência ao tempo de infância do adulto
com representações vinculadas pela memória
O jogo é mais importante das atividades e imaginações. O vocábulo “brinquedo” não
da infância, pois a criança necessita brincar, pode ser reduzido à pluralidade de sentidos
jogar, criar e inventar para manter seu do jogo, pois conota a criança e tem uma
equilíbrio com o mundo. A importância da dimensão material, cultural e técnica.
inserção e utilização dos brinquedos, jogos Enquanto objeto, é sempre suporte de
e brincadeiras na prática pedagógica é brincadeira.
uma realidade que se impõe ao professor.
Brinquedos não devem ser explorados só O brinquedo é a oportunidade de
para lazer, mas também como elementos desenvolvimento. Brincando, a criança
bastantes enriquecedores para promover a experimenta, descobre, inventa, aprende
aprendizagem. e confere habilidades. Além de estimular a
curiosidade, a autoconfiança e a autonomia,
Através dos jogos e brincadeiras, o proporcionam o desenvolvimento da
educando encontra apoio para superar suas linguagem, do pensamento e da concentração
dificuldades de aprendizagem, melhorando e da atenção.
o seu relacionamento com o mundo. Os
professores precisam estar cientes de que a O brinquedo traduz o real para a realidade
brincadeira é necessária e que traz enormes infantil. Suaviza o impacto provocado
contribuições para o desenvolvimento da pelo tamanho e pela força dos adultos,
habilidade de aprender e pensar. diminuindo o sentimento de impotência da
criança. Brincando, sua inteligência e sua
Em todos os tempos, para todos os povos, sensibilidade estão sendo desenvolvidas.
os brinquedos evocam as mais sublimes A qualidade de oportunidade que estão
lembranças. São objetos mágicos, que vão sendo oferecidas à criança através de
passando de geração a geração, com um brincadeiras e de brinquedos garante que
incrível poder de encantar crianças e adultos. suas potencialidades e sua afetividade se
harmonizem.
“Diferindo do jogo, o brinquedo supõe
uma relação intima com a criança e uma O jogo não é algo sem objetivo, o
indeterminação quanto ao uso, ou seja, professor enquanto joga ou brinca com as
a ausência de um sistema de regras que crianças, está sempre observando, como
organizam sua utilização. ” (KISHIMOTO, tem que trabalhar em outro momento. É
1994, p. 67) através das brincadeiras que acontece o
acompanhamento do raciocínio logico e
motor da criança. É no brincar que acontece

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a aprendizagem da criança, é por meio das adulto. Consegue juntar em um só grupo


brincadeiras as crianças podem ampliar a sua várias crianças e brincarem com facilidade.
capacidade de inventar brincadeiras novas, No que tange a educação o jogo desenvolve
para dar condições do desenvolvimento na o cognitivo da criança, nota-se que ela ao
diversidade das brincadeiras nas experiências ter o hábito de jogar com a família tem mais
através da troca com outra criança ou com facilidade, de socialização, aprendizagem e
os professores ou com a sua família. comunicação. Na área da psicologia o jogo
O jogo teve uma grande influência na estimula o raciocínio, melhora o humor
escola a partir de 2003, onde começou-se a e suas emoções, e ajuda na formação da
observar o quanto a criança se desenvolve, personalidade do indivíduo. Já no âmbito
quando envolvido em jogos e brincadeiras antropológico o jogo tem a função de refletir
consegue desenvolver o raciocínio cognitivo, na sociedade os costumes, história e culturas
social e intelectual. Nos estudos feitos fica diferentes. E com relação ao folclore o jogo
comprovado que até mesmo os animais é passado de geração a geração. Em seu
gostam de brincar, dessa forma quanto mais contexto:
envolver os jogos e as brincadeiras, maior é
a possibilidade de melhorar a qualidade do Sensorial – aquele que ajuda a desenvolver os
sentidos. Pois neste jogo o sentido da audição
ensino. é essencial. Raciocínio Lógico – desenvolve o
raciocínio.
A partir dessas afirmações podemos
Motor – exigem a participação de todo o corpo,
observar que os jogos em seu contexto: mais dependem principalmente dos músculos,
SILVA apud Teixeira (1997, p. 34).
Sociológico: a influência do contexto social no
qual os diferentes grupos de crianças brincam.
Educacional: contribuição do jogo para o Os jogos têm várias classificações, o que
desenvolvimento e aprendizagem das crianças. temos é que os definir para qual finalidade
Psicológico: o jogo como meio para compreender deve ser usado, para que aconteça uma
melhor o funcionamento da psique, das
emoções e da personalidade dos indivíduos. melhoria significativa da criança em todos
Antropológico: a maneira como o jogo se reflete, os aspectos e para facilitar essa escolha,
em cada sociedade, os costumes e a história das precisamos saber qual sua maior dificuldade,
diferentes culturas.
assim sendo tem também mais significado
Folclórico: analisando o jogo como expressão para o aluno e para o professor. Para trabalhar
da cultura infantil através das diversas gerações os sentidos usa-se os jogos sensoriais, como
e de como é transmitido através dos tempos.
SILVA Apud (Friedman 1996, p. 11). também os que desenvolvem o raciocínio
logico da criança. Para coordenação motora
Em se tratando da sociologia, o jogo é essencial jogar livremente, pois ajuda a criar
influencia as crianças a terem uma equilíbrio, concentração e atenção, fazendo
sociabilidade maior e com muito mais com que reflita no ensino-aprendizagem
facilidade, mesmo sem interferência do dentro e fora da sala de aula.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Para Machado (1986, p. 85), os jogos companheirismo, afirma a personalidade,


classificam-se das seguintes formas: proporcionando a criança a descoberta
do seu próprio “eu”. Brincando ela aguça o
“Grande jogo ou desporto realizado com as imaginário, desperta ideias e contribui para o
equipes e com regras. Pequeno jogo de curta
duração e de poucas regras. São jogos motores desenvolvimento intelectual e criativo.
ativos a todas as crianças menores. Jogos dirigidos
são educativas, orientados pelo professor. São Segundo KISHIMOTO (1997, p. 54)
submetidos a regras e cumprimentos, havendo
mais respeito aos direitos do companheiro, “Enquanto manifestação livre e espontânea
obedecendo à sequência normal do seu processo da cultura popular, a brincadeira tradicional
do desenvolvimento e crescimento; Jogos livres tem a função de perpetuar a cultura infantil,
escolhidos livremente pelo interesse do grupo;
Jogos individuais agem sem companheiros. desenvolver formas de convivência social e
Jogos coletivos presença do companheiro é permitir o prazer de brincar”. A brincadeira
de fundamental importância”. (Apud SILVA, é, sem sombra de dúvidas, uma linguagem
Monografia, 2007, pag.26).
natural da criança e é, portanto, de extrema
importância que esteja presente na escola
O procedimento lúdico auxilia a criança a desde a educação infantil para que o aluno
crescer, a se desenvolver e a se transformar possa se colocar e se expressar através de
em um adulto que pode brincar, criar e atividades lúdicas.
inventar em seu próprio cotidiano, na
faculdade, no seu ambiente de trabalho e no Para OLIVEIRA (1990, p. 78), as atividades
relacionamento com as outras pessoas. lúdicas são a essência da infância. Mediante
a afirmação, compreende-se, portanto, que
As brincadeiras podem ser consideradas a educação infantil não pode, de maneira
como a principal atividade da criança, alguma, desvincular as atividades lúdicas do
independente, de sua cultura, do momento processo de ensino.
histórico, e do meio ao qual está inserida.
Brincando ela se apropria de inúmeros Portanto, o espaço escolar se constitui
conhecimentos, onde ocorrem importantes como um importante ambiente favorecedor
mudanças e transformações em seu do desenvolvimento sociocultural, e é na
desenvolvimento psicossocial, emocional, escola que o aluno vivencia experiências e,
intelectual, cognitivo e motor. a partir delas, estabelece interações com
o meio. Podemos entender que a escola é
O brincar é para a criança uma fonte um espaço privilegiado para compreender,
de descoberta de valor incalculável, pois, valorizar e compartilhar conhecimentos,
enquanto brinca, vivencia o lúdico de seguindo uma proposta pedagógica
forma significativa produzindo no cérebro dinâmica que almeje um desenvolvimento
uma atividade intensa marcada pelo prazer eficaz para o processo ensino aprendizagem.
que, por sua vez, desenvolve o senso de É imprescindível pensar em metodologias

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que possibilitem ao estudante interagir com As situações lúdicas mobilizam esquemas


experiências, através de práticas educativas mentais. Sendo uma atividade física e
desenvolvidas na escola, por meio de mental, a ludicidade aciona e ativa as funções
atividades que viabilizem uma aprendizagem psico-neurológicas e as operações mentais,
mais significativa, sabendo que, através estimulando o pensamento.
dela, é possível ampliar as possibilidades
expressivas de cada educando, assim, Em geral, o elemento que separa um jogo
buscando contribuir para que os aprendizes pedagógico de um outro de caráter apenas
possam atuar em seu contexto de modo lúdico é este: desenvolve-se o jogo pedagógico
coerente com sua história e seus valores. com a intenção de provocar aprendizagem
significativa, estimular a construção de novo
O lúdico possibilita o estudo da relação da conhecimento e principalmente despertar
criança com o mundo externo, integrando o desenvolvimento de uma habilidade
estudos específicos sobre a importância do operatória, ou seja, o desenvolvimento
lúdico na formação da personalidade. Através de uma aptidão ou capacidade cognitiva
da atividade lúdica e do jogo, a criança forma e apreciativa específica que possibilita a
conceitos, seleciona ideias, estabelece compreensão e a intervenção do indivíduo
relações lógicas, integra percepções, faz nos fenômenos sociais e culturais e que o
estimativas compatíveis com o crescimento ajude a construir conexões.
físico e desenvolvimento e, o que é mais
importante, vai se socializando. Podemos dizer que o lúdico é um grande
aliado que merece atenção dos pais e
A convivência de forma lúdica e prazerosa educadores, é através dele que ocorrem
com a aprendizagem proporcionará a experiências inteligentes, praticadas com
criança estabelecer relações cognitivas emoção, prazer e seriedade.
às experiências vivenciadas, bem como
relacioná-la as demais produções culturais Através das brincadeiras é que ocorre a
e simbólicas conforme procedimentos descoberta de si mesmo e do outro. É no
metodológicos compatíveis a essa prática. ato de brincar que a criança se apropria
da realidade. O educador escolar deverá
Em virtude desta atmosfera de prazer monitorar as brincadeiras adequadas para
dentro da qual se desenrola, a ludicidade que a aprendizagem da criança ocorra de
é portadora de um interesse intrínseco, maneira agradável e compreensível.
canalizando as energias no sentido de
um esforço total para consecução de seu As atividades lúdicas têm por objetivo
objetivo. Portanto, as atividades lúdicas ajudar a criança a entrar em contato com o
são excitantes, mas também requerem um mundo imaginário e ao mesmo tempo real,
esforço voluntário. e desenvolver suas habilidades de criar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

e relacionar esses conhecimentos, pois, só assim elas serão capazes de desenvolver uma
linguagem e aprender a dominar todo tipo de informação. Elas funcionam como exercícios
necessários e úteis a vida. E as brincadeiras e jogos são elementos indispensáveis para que
haja uma aprendizagem com divertimento, que proporcione prazer no ato de aprender. E
facilite as práticas pedagógicas em sala de aula.

O lúdico tem sido utilizado como instrumento educacional desde a pré-história onde o
homem primitivo se utilizava de rituais, que muito se assemelham as brincadeiras de roda,
para exercer domínio sobre a caça, a pesca e até mesmo o poder sobre os fenômenos da
natureza, esses rituais faziam parte de suas crenças e eram transmitidos de pais para filhos.
Já na antiguidade greco-romana as atividades lúdicas como o jogo estava ligado a atividades
para relaxamento e entretenimento.

Já que é no brincar que ocorre a aprendizagem da criança, é por meio das brincadeiras que
as crianças desenvolvem a sua competência de criar novas brincadeiras, para dar qualidade
no desenvolvimento na variedade das brincadeiras, nas informações através da troca de
experiência com outra criança ou com os professores ou com a sua família é necessário levar
em consideração o prazer e a alegria ao fazê-lo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a realização deste trabalho, a metodologia de pesquisa utilizada neste trabalho foi a
do tipo bibliográfica, com pesquisas realizadas através de livros, revistas, artigos acadêmicos,
periódicos e jornais. O referencial teórico disponibilizado através da Internet permitiu uma
ampla fundamentação teórica do trabalho. Para fundamentar este artigo, as bibliografias
consultadas focam em KISHIMOTO (2002); OLIVEIRA (2003); PIAGET (1998) e VYGOTSKY
(1991).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O lúdico aplicado à mediação de um planejamento eficaz pode
proporcionar um processo de ensino-aprendizagem competente,
principalmente na iniciação e contribuição no ensino do conteúdo
trabalhado.

É imprescindível, que sejam examinadas as práticas educativas, onde


na maioria das vezes, restringe a criatividade, a autoestima, a autonomia e
a participação infantil, fundamentais para o desenvolvimento da criança.
DIEGO DANIEL
Compreender nesse estudo que o sentido da educação lúdica MASCARENHAS MARTINS
continuará garantido apenas se o professor estiver organizado para
Graduação em Educação Física
realizá-la e a escola aceitá-la como um recurso de conhecimento é pela Universidade Bandeirante
uma expectativa, que ressalva que o brincar é essencial ao ser humano de São Paulo - UNIBAN (2009);
e estabelece uma afinidade entre brincar e aprender que pode tornar Especialista em Educação e
Relações Étnico-Racionais -
o procedimento de aprendizagem prazeroso e ao mesmo tempo Pós-Graduação realizada em
enriquecedor para a criança. Por meio da participação em jogos e Faculdades Integradas Campos
brincadeiras, o aluno interage e se socializa, integrando-se com os demais. Salles (2017); Professor de
Educação Física no Ensino
Fundamental II e Ensino Médio na
É recomendável que o professor, como intercessor do processo de Rede Municipal de São Paulo, na
ensino-aprendizagem, compreenda o seu aluno como ser único, que EMEF Professor Josué de Castro
e na EMEF Rui Bloem.
possui qualidades próprias e diferenças. Aconselha-se que sua prática
propicie ao aluno o seu desenvolvimento integral.

Énecessárioqueoprofessordecidaosobjetivoseducativos,sabedordequeomelhormétododealfabetização
seria a integração de todos os outros, contextualizando-os tornando sua prática cada vez mais lúdica e eficaz.

O brincar favorece a criança o aprendizado, pois é brincando que o ser humano se torna capaz de viver
numa ordem social e num mundo culturalmente distinto. É o mais completo dos processos educativos, pois
entusiasma a inteligência, o emocional o e corpo da criança. Brincar faz parte da especificidade infantil e
oportunizar a criança seu desenvolvimento e a busca de sua completude, seu saber, seus conhecimentos e suas
perspectivas do mundo. Por ser importante para as crianças, a atividade lúdica e suas múltiplas possibilidades
pode e deve ser utilizada como recurso de aprendizagem e desenvolvimento.

Portanto, cabe ao professor analisar e avaliar as potencialidades educativas de inúmeros brinquedos e jogos
para um bom desempenho curricular, transformando as aulas mais práticas e interessantes para que os alunos
aprendam com mais facilidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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251
Revista Educar FCE - Abril 2019

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
E SUA IMPORTÂNCIA
RESUMO: Esse artigo vem buscar reflexões a respeito do Papel da contação de histórias na
Educação Infantil, a qual, com certeza, é um dos primeiros estímulos para trocar conhecimentos
de forma a trabalhar com a imaginação dos alunos. Entende-se que por meio da contação de
histórias as crianças começam a tomar gosto pela leitura, devendo ser utilizada nas escolas,
fundamentalmente na Educação Infantil. A contação de histórias incentiva a criatividade e
a manifestação de diversas formas de expressão, colaborando para o desenvolvimento da
escrita e da oralidade, desenvolvendo a percepção de representações simbólicas. Ao escutar
ou ler uma história a criança pode fazer associações com os acontecimentos em sua vida. As
situações apresentadas nas histórias fazem com que as crianças desenvolvam meios de lidar
com suas dificuldades, sentimentos e emoções.

Palavras-Chave: Contação de Histórias; Educação Infantil; Criatividade

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO De acordo com Coelho (2000) a literatura


infantil é, antes de tudo, literatura: ou
Quando contamos uma história os seus melhor, é arte: fenômeno de criatividade
problemas e dificuldades interiores vêm a que representa o mundo, o homem, a vida,
tona, então a criança frequentemente faz através da palavra, na verdade ela funde os
pedidos para lhe contar a história novamente. sonhos coma e a vida prática, o imaginário é
o real, os ideais e sua possível realização.
A leitura e a escrita são práticas relevantes
para a construção social do indivíduo, As crianças, à medida que se desenvolvem,
sua formação como cidadão e como ser devem aprender passo a passo a se
transformador e realizador. entenderem melhor, e com isso tornam-
se mais capazes de entender os outros,
A literatura é, sem dúvida, uma das propiciando uma interação satisfatória e
expressões mais significativas do desejo significativa. Para que esse desenvolvimento
permanente do ser humano de saber e ocorra, as histórias devem ser bem contadas
de domínio sobre a vida, que caracteriza de forma que despertem o interesse das
o homem de todas as épocas. Ânsia que crianças.
permanece latente nas narrativas populares
legadas pelo passado remoto. Fábulas, A história vai perdendo sua característica
apólogos, parábolas, contos exemplares, de saga local e se transforma em Contos de
mitos, lendas, sagas, contos jocosos, Fadas, como nos fala FRANZ:
romances, contos maravilhosos, e os contos
de fadas etc. Os Contos de Fadas são abstrações. São
abstrações de uma saga local condensada, e
cuja forma se cristalizou, o que permite ser mais
A contação de histórias também estreita facilmente contada e retida na memória, pois
vínculos afetivos entre professores e alunos. desta forma, toca mais diretamente as pessoas.
(1981, p. 33)
A relação de proximidade entre professor e
aluno é um fator que auxilia o processo de Não se pode precisar no qual se distingue
ensino-aprendizagem (Leite, 2012). o mito do conto folclórico. De acordo com
BETTELHEIM (1979, p. 34), apenas pode
Todas essas formas de contar histórias afirmar-se que ambos provém de uma
pertencem às narrativas nascidas entre sociedade pré - literata.
os povos da Antiguidade que, fundidas,
confundidas, transformadas se espalham por Estes contos fornecem percepções profundas
que sustentaram a humanidade através das
toda parte e permanecem até hoje como uma longas vicissitudes de sua existência, uma
rede, cobrindo todas as regiões do globo. herança que não é transmitida sob qualquer
outra forma tão simples e diretamente, ou de
modo tão acessível, às crianças. (Bettelheim,
1979, p. 34)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

soluções para os problemas que a perturbam


Portanto, por meio da leitura dos Contos (BETTELHEIM, 1980, p. 13)
de Fadas podemos perceber as questões
que permeavam os pensamentos de nossos Para a criança as histórias são como
antepassados. Vivências e experiências brinquedos pendurados no berço. As
que sustentaram a humanidade nos foram histórias fluem da boca das mães em uma
passadas através das histórias contidas nos harmonia doce e tranquila, de tal forma como
contos numa linguagem simples que fornece se fosse música. Ao ouvir os sons da voz da
sentidos em qualquer idade. mãe, a criança pequena descobre o prazer
do jogo com as palavras, se encanta com os
mistérios do som e logo descobre a sílaba e
O PROFESSOR COMO a palavra. É por esse contato constante que
CONTADOR DE HISTÓRIAS enriquece seu vocabulário, sua faculdade
de estruturação da linguagem e desenvolve
Desde que nascemos, somos rodeados suas possibilidades pessoais de criação. As
por histórias. Não são apenas as histórias crianças gostam de criar palavras e a partir
que nos prendem a atenção, mas o cheiro delas dão vida às coisas.
das pessoas que nos contam, a voz suave e
sussurrante, a respiração, o contato físico, a Augusto Cury (2003, p. 27) afirma que:
cama quentinha, o fogão a lenha, o sofá, a
almofada macia, o medo, a dor, o suspense, a Para contar histórias é necessário exercitar
uma voz flutuante, teatralizada, que muda de
esperança, o mal, o bem, o romance, o contar tom durante a exposição. É preciso produzir
de novo, enfim todos esses elementos que gestos e reações capazes de expressar o que
nos cativavam. as informações lógicas não conseguem. Muitos
pais e professores são dotados de grande cultura
acadêmica, mas são engessados, rígidos, formais.
As experiências com leitura no processo Nem eles se suportam. (CURY, 2003, p. 27)
de formação do leitor são imprescindíveis
para adquirir o hábito da leitura. E antes que O ato de contar uma história, além de
se torne um hábito é preciso desejar ler, se atividade lúdica, amplia a imaginação e ajuda
deliciar com o que lê ter prazer ao ler. E isto a criança a organizar sua fala, através da
não acontece espontaneamente. coerência e da realidade. O ver, sentir e ouvir
são as primeiras disposições na memória das
De acordo com Bettelheim (1980): pessoas. Contar histórias é uma experiência
de interação. Constitui um relacionamento
Para que uma história realmente prender a cordial entre a pessoa que conta e os que
atenção da criança, deve entretê-la e despertar
a sua criatividade. Mas para enriquecer sua ouvem. A interação que se estabelece
vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá- aproxima os sujeitos envolvidos. Os contos
la a desenvolver seu intelecto e a tornar enriquecem nosso espírito, iluminam nosso
claro suas emoções; estar harmonizada com
suas ansiedades e ao mesmo tempo sugerir interior, e, ao mesmo tempo, nos tornam mais

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Revista Educar FCE - Abril 2019

protagonistas na resolução dos problemas e trabalhados conteúdos relevantes da história,


mais flexíveis para aceitar diferenças. afim de que estas se tornem “mais leves” ou
para “não assustar” os pequenos leitores.
É fundamental que os professores contem Porém, fatos como abandono, diferenças
histórias e entrem no mundo infantil, raciais, a fome e a morte querendo ou não
tornando o processo ensino aprendizagem fazem parte da vida de todos, inclusive das
cada vez mais prazeroso e significativo. crianças.

Segundo Freud (apud Fromm, 1962) todo


A INFÂNCIA E A CONTAÇÃO sonho é uma expressão relevante da vida
DE HISTÓRIAS interior e, sua interpretação, é o caminho
para a compreensão do inconsciente. Freud
A partir da descoberta da infância, as (apud Fromm, 1962:17) percebeu que os
histórias começaram a sofrer alguns ajustes sonhos não se diferenciam dos mitos e
com o objetivo de contemplar a imaginação Contos de Fadas, e que são um fenômeno
e as necessidades das crianças. Assim, os humano universal. Numa história, a sucessão
contos começaram a ser narrados pelas amas, de acontecimentos representa a experiência
governantas, ou “cuidadora” de crianças, interna do herói - história latente – numa
imortalizando as histórias de origem popular. linguagem simbólica.

Segundo Abramovich (1997): As crianças ao lerem/escutarem Histórias


entram em contato com seu material
[…] para a criança, não se pode fazer isso de inconsciente/latente, pois ao se identificarem
qualquer jeito, pegando o primeiro volume que
se vê na estante… E aí, no decorrer da leitura, com os personagens podem avaliar as
demonstrar que não está familiarizado com situações de uma forma mais distanciada.
uma ou outra palavra (ou com várias), empacar Assim sendo, ao entrar em contato com os
ao pronunciar o nome dum determinado
personagem ou lugar, mostrar que não percebeu processos internos identificando-se com
o jeito que o autor construiu suas frases e dando os personagens, os contos possibilitam a
as pausas nos lugares errados, […] Por isso, ler criança ver-se “de fora” da situação, com
o livro antes, bem lido, sentir como nos pega,
nos emociona ou nos irrita… Assim quando um olhar mais distanciado pode-se melhor
chegar o momento de narrar a história, que se perceber o problema posto e as sugestões
passe emoção verdadeira, aquela que vem lá de para a solução.
dentro, lá do fundinho, e que por isso, chega no
ouvinte… (ABRAMOVICH, 1997, p. 18-20)
A criança, nos seus primeiros anos,
O grande problema desses ajustes é que, tem como ocupação predileta desenhar,
atualmente, as crianças só têm acesso aos porém, ao começar a idade escolar, vai se
contos adaptados, bem diferentes do texto desinteressando por essa arte, e a maioria
original, o que acaba impedindo que sejam a abandona por completo, pela falta de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

estímulo. Segundo Vygotsky (2003), o Ao ouvir ou ler Histórias, o psiquismo


desenho faz-se importante na primeira da criança se desenvolve. Primeiramente
infância, pois existe uma relação interior porque ela tem o desafio intelectual de
entre a personalidade da criança e seu gosto compreender uma narrativa tão rica,
pelo desenhar. A concentração das forças intricada e bem tecida. Os contos não nos
imaginativas criadoras da criança no desenho descrevem o mundo de acordo com a simples
não é casual, uma vez que ele permite que a realidade objetiva, mas sim, por meio de suas
criança dessa fase expresse mais facilmente riquezas simbólicas, descrevem a realidade
as suas inquietudes. subjetiva da mente humana. Isso os torna
mais verdadeiros, pois nos faz refletir sobre
Assim que a criança começa a ir para escola, os aspectos mais obscuros da nossa psique,
a sua criação já não expressa sensações em que não podem ser alcançados diretamente
razão de ainda não poder fazer um desenho através do pensamento consciente.
imaginativo de caráter pessoal. Na escola, a
criação do pequeno torna-se convencional e,
em muitos aspectos, às vezes bem ingênuo, A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E
pois geralmente ele tem que seguir os O INCENTIVO À LEITURA
padrões de um realismo visual que já lhe foi
mostrado. Todos nós sabemos da importância de se
incentivar a leitura desde os primeiros anos
Esse padrão de desenho apresenta de vida de uma criança, mesmo porque toda
mudança no momento em que a criança criança nasce em contato com o letramento.
aciona o seu processo imaginativo e torna
seu trabalho uma obra de caráter criador, A contação de história tem a função
cuja arte (cor, disposição espacial, traços...) é de ajudar a desenvolver competências e
definida por ela. habilidades, a fim de que o aluno conquiste
sua autonomia como leitor. As práticas de
As histórias podem ajudar as crianças a leitura podem e devem ser realizadas de
elaborar e vencer dificuldades psicológicas diferentes formas: oral ou silenciosamente,
bastantes complexas, pois oferecem compartilhada ou orientada.
possibilidades de se construir uma ponte
entre o inconsciente e a realidade, visto que De acordo com Patrini (2005):
em cada história uma linguagem simbólica que
se comunica diretamente com o inconsciente O conto oral é uma das mais antigas formas de
expressão. E a voz constitui o mais antigo meio
e mesmo que a criança não expresse sua de transmissão. Graças à voz, o conto é difundido
compreensão acerca da mensagem contida no mundo inteiro, preenche diferentes funções,
na história, isto não significa que esta não foi dando conselhos, estabelecendo normas e
valores, atentando os desejos sonhados e
assimilada. imaginados, levando às regiões mais longínquas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a sabedoria dos homens experimentados


(PATRINI, 2005, p.118). Os PCNs consideram, portanto, que a
atividade de leitura rompe com a antiga
Percebe-se que os contos sempre concepção de que ler é apenas decodificar
estiveram presentes em nossas vidas, de palavras e pregam uma leitura seletiva que,
forma a incentivar o gosto pela leitura, de para tanto, exigirá do leitor uma intensa
forma significativa. participação nesse processo.

De acordo com Rodrigues (2005, p. 4): Segundo Leffa (1996, p.24):

A contação de histórias é atividade própria Ler é um fenômeno que ocorre quando o leitor,
de incentivo à imaginação e o trânsito entre o que possui uma série de habilidades de alta
fictício e o real. Ao preparar uma história para sofisticação, entra em contato com o texto,
ser contada, tomamos a experiência do narrador essencialmente um segmento da realidade que
e de cada personagem como nossa e ampliamos se caracteriza por refletir um outro seguimento.
nossa experiência vivencial por meio da narrativa Trata-se de um processo extremamente
do autor. Os fatos, as cenas e os contextos são complexo, composto de inúmeros subprocessos
do plano do imaginário, mas os sentimentos e as que se encadeiam de modo a estabelecer canais
emoções transcendem a ficção e se materializam de comunicação por onde, em via dupla, passam
na vida real. inúmeras informações entre o leitor e o texto.

A leitura tem papel fundamental na Por meio desse olhar sobre a leitura,
construção de conhecimento e crescimento pode-se observar que ela é muito mais que
intelectual dos indivíduos de maneira geral. mera decodificação de palavras. A leitura é
um processo amplo e complexo, que exige
Sabe-se que, nem sempre, ela é realizada mais do leitor do que simplesmente o
de maneira eficaz, eficiente, devido a lacunas conhecimento linguístico.
no processo de ensino-aprendizagem nas
escolas. Muitas vezes, isso ocorre pela Além da contação de histórias precisamos
própria falta de conhecimento do educador pesquisar quais outras formas de incentivo
ou de posicionamento perante um conceito à leitura podemos proporcionar às crianças,
de leitura. dando-lhes um significado e entrando no
mundo mágico das histórias infantis.
A respeito do leitor competente os PCNs
(1997, p.54) afirmam: Um leitor competente Lê-se em todos os momentos da vida. Não
é alguém que, por iniciativa própria, é capaz apenas as palavras soltas em fachadas de
de selecionar, dentre os trechos que circulam lojas e propagandas pela cidade, mas também
socialmente, aqueles que podem atender a os símbolos nas placas de trânsito, a alegria
uma necessidade sua. Que consegue utilizar de uma criança ao receber um presente, ou a
estratégias de leitura adequadas para abordá- tristeza de um garoto ao ver a derrota de seu
los de forma a atender a essa necessidade. time favorito. Desta forma, pode-se concluir

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que a leitura exige de cada um uma gama de elementos que devem ser trabalhados a fim de
elevar a capacidade leitora dos indivíduos.

Ao ler o indivíduo adquire maior repertório, ampliando e expandindo seus horizontes


cognitivos. Para além disso, estudos apontam que o ato de ler é muito prazeroso na medida
em que reduz o stress ao mesmo tempo que estimula reflexões.

Por esse motivo, a leitura deve ser incentivada desde a educação infantil. Incentivar
os filhos pequenos em casa e criar hábitos são chaves importantes para que as crianças
desenvolvam o gosto pela leitura. Uma dica é levá-los nas bibliotecas, livrarias ou mesmo
contar histórias para eles.

Quando uma pessoa começa a ler é comum que a iniciativa seja por influência ou mediação
de alguém. Pais, amigos, professores ou até mesmo a indicação feita por ídolos podem ser os
responsáveis por inserir a leitura na vida de crianças e adolescentes, por exemplo.

A leitura não deve ser concebida como um processo de decodificação, por envolver-se
muito mais do que apenas aspectos de decodificação do escrito. Ela proporciona ao leitor, o
contato com o seu significado seguindo seu conhecimento de mundo, possibilitando assim,
afirmar que todos, ao lerem o mesmo conteúdo, obterão compreensão e interpretação
diversificadamente, ao interagir com o texto. O leitor realiza o processo de maneira ativa,
enriquecendo a leitura que contribuirá com seu saber, que se propõe fazer.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A contação de histórias é extremamente importante para o
desenvolvimento da criança, a qual poderá entrar no mundo
da imaginação e consequentemente da criatividade.

Ao fazer contato com a literatura, a criança participa de


uma ação pedagógica, mesmo que não seja essa a função da
narração oral ou do texto literário.

Tanto a leitura como a narração oral, fazem o ouvinte ELAINE BENTO DA SILVA
experimentar o papel de co-autor. E ainda mais, são também
Graduação em Pedagogia pela
ampliadoras do repertório cultural, que é sempre cumulativo: Universidade Nove de Julho -
quanto mais histórias uma criança ouve, quanto maior o UNINOVE em 2016. Graduação
convívio orgânico com as artes – convívio ativo, que engloba em Letras, pelo Centro
Universitário Sant´Anna em
o contemplar e o fazer-, maior será a dimensão cultural 2012. Professora de Educação
vislumbrada pela criança. Infantil pela Prefeitura Municipal
de São Paulo.
As crianças que têm contato com as histórias desenvolvem
mais a imaginação, a criatividade e a capacidade de
discernimento e crítica; na medida em que se tornam ouvintes
e leitores críticos, as crianças assumem o protagonismo de
suas próprias vidas.

Toda atividade de contação de histórias pode ser aplicada em diversas faixas etárias,
podendo sofrer intervenções em sua metodologia de aplicação, na organização e nas suas
estratégias, de acordo com as necessidades peculiares das faixas etárias.

Ao contar uma história, é de fundamental importância que o contador olhe nos olhos das
crianças, como se estivesse contando para aquele ouvinte. O olhar estabelece a comunicação
imediatamente. Não se deve flutuar sobre os ouvintes ou passar roçando os olhos em todos
e em ninguém. O olhar do contador deve ater-se aos olhos das pessoas, sem exagerar, para
não perturbá-las.

As contações de histórias têm a capacidade de desenvolver várias habilidades na


criança, proporcionando-lhe divertimento, prazer, convívio profícuo, estímulo intelectivo,
desenvolvimento harmonioso, autocontrole e auto-realização.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Contar histórias é brincar com as palavras, sonhos, imaginação, expressões, sentimentos.


É deixar, por alguns instantes, de ser você mesmo para assumir um pouco da vida dos
personagens. Contar histórias é se entregar aos ouvintes: imaginar como conquistá-los,
tentar adivinhar como cada palavra, gesto, expressão repercutirá no interior de cada um.

Elencar as vantagens da atividade é citar melhoras significativas na aprendizagem de


conteúdos, na socialização, na comunicação entre colegas de classe e professores, na
criatividade, no desabrochar de novos sentimentos e na parte comportamental em sala de
aula.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

CURY, Augusto. Pais brilhantes, Professores fascinantes. Rio de Janeiro. Sextante. 2003.

DIAS, Ana Flávia Araújo. A importância dos contos de fadas no desenvolvimento infantil.
Revista Pátio Educação Infantil. São Paulo, ano III, n.7, maio/junho 2005.

FRANZ, Marie-Louise Von. A interpretação dos contos de fada: Uma introdução à psicologia
dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Achiamé, 1981.

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.

RODRIGUES, Edvânia Braz Teixeira. Cultura, arte e contação de histórias. Goiânia, 2005.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DAS CORES


NOS DESENHOS NO ENSINO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Desde que nascemos, as cores fazem parte de nossa existência. Tudo o que
vemos é preenchido por ela. A cor é algo que nos é tão familiar que se torna difícil para
nós compreendermos que ela não corresponde a propriedades físicas do mundo, mas
sim à sua representação interna, em nível cerebral. Ou seja, os objetos não têm cor; a cor
corresponde a uma sensação interna provocada por estímulos físicos de natureza muito
diferente que nos levam a percebê-las através de nosso aparelho visual. Mais do que saber
sobre sua existência, o estudo das cores mostra-nos cada vez mais sua relação direta com
nossa percepção e compreensão do mundo. As cores atuam em nosso sistema psíquico e
podem até (de acordo com sua frequência) inibir nossos comportamentos. Neste trabalho
nos proporemos a percorrer de forma mais sistemática este universo, e esperamos com isso,
estar contribuindo com a construção de um material que seja tomado como referência para
um melhor entendimento deste fenômeno visual tão importante para nossa sobrevivência.

Palavras-Chave: Artes Visuais; Cores; Desenho; Sensibilidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

DEFINIÇÃO DE ARTE idéias, atingindo o ápice de divulgação da


crença por volta de 1200 d.C. Descobertas
A arte é a criação humana com valores arqueológicas também apontam a arte como
estéticos (beleza, equilíbrio, harmonia, necessidade, como pedra fundamental de
revolta) que sintetizam as suas emoções, sua desenvolvimento dos povos.
história, seus sentimentos e a sua cultura. é
um conjunto de procedimentos que é utilizado É certo que a arte transcende o homem.
para realizar obras e no qual aplicamos Todos os povos, em qualquer tempo,
nossos conhecimentos. Se apresenta sobre manifestaram-se artisticamente. As
variadas formas, como: a plástica, a música, inscrições rupestres, as danças rituais, as
a escultura, o cinema, o teatro, a dança, a músicas milenares tornaram-se prova e
arquitetura, etc. Pode ser vista ou percebida espelho do tempo. Inegavelmente, é por
pelo homem de três maneiras: visualizadas, meio da arte que apreciamos e descobrimos
ouvidas ou vistas (audiovisuais), hoje alguns o que existe de mais significativo na história
tipos de arte permitem que o apreciador do passado. O registro artístico tornou
participe da obra. O artista precisa da arte e a distância dos milênios uma barreira de
da técnica para se comunicar. fácil transposição. É por seu intermédio
que se lê a história pessoal, contextual e
O homem criou objetos para satisfazer neopsicossocial de cada povo.
as suas necessidades práticas, como as
ferramentas para cavar a terra e os utensílios A imagem torna-se um referencial,
de cozinha. Outros objetivos são criados um espelho, Informa como estamos,
para serem interessantes ou possuírem um independentemente da intencionalidade
caráter instrutivo. O homem cria a arte como da comunicação. Lembrando que espelho
um meio de vida, para que o mundo sabe o é revelação, traz a claro: reação, instinto,
que pensa, para divulgar as suas crenças e intenção e história.
as dos outros, para estimular e distrair a si
mesmo e aos outros, para explorar novas Partindo deste princípio, o trabalho artístico
formas de olhar e interpretar objetos e cenas. significa mais do que um processo criativo. Capta
o indizível e o invisível num momento único. O
A arte é inerente ao ser humano, que que importa é a liberdade de pensamento. O fio
se educa no contexto das manifestações que conduz ao cálculo do acaso.
culturais e se humaniza e se emociona à cada
experiência ou vivência estética. É uma forma Não se limita a ilustrar dominância,
de comunicação poderosa. Nos anos cristãos, ao contrário tensão entre o espontâneo
uma das primeiras instituições a perceber e o construído. Uma soma de motivos
esse fato foi a Igreja Católica, quando utilizou particulares. Novas proposições, a
a arte como forma de propaganda de suas precedência da transformação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

“O ato criador abrange, portanto, a capacidade


A arte, expressão privilegiada do universo de compreender, e esta, por sua vez, a de
subjetivo, muda sempre. Junto com nossas relacionar, ordenar, configurar, significar”
aspirações, necessidades e projetos. Com as (AZEVEDO, 1979, p. 26).
possíveis leituras. Leituras alheias não têm
compromisso com a intencional idade do Entende-se que a arte é capaz de fazer
artista. Mais uma prova de sua independência. flexibilizar pensamentos e relações onde
o criador é sempre capaz de conectar e
A transformação da sensibilidade e da razão, mudar as interações produzidas no mundo
duas forças presentes no processo criativo, da imagem pré-concebida. Percebe as
é concomitante à realização da liberdade. E transformações e se percebe transformador.
é nesse estado que os limites desaparecem, Ele se faz um solucionador de problemas e
que as diferenças se transformam em uma é essa capacidade que o torna apto a criar
soma de particularidades. A linguagem não e a superar os seus próprios limites em seu
é apenas meio de expressão, ela é condição processo de tensão. O sujeito criativo supera
indispensável à organização da vida mental a capacidade de imitação, produz fatos e
do ser humano. Portanto, aprender a lidar os conecta a outras relações. As relações
com o material artístico e transformá-lo em advindas estarão sempre se conectando e
instrumento de linguagem é sem dúvida dar formando novas tensões que o. alimentam
acesso à capacidade de expressão que todos para outras formações estéticas e/ou
nós possuímos. Para Ernest Fischer: vivenciais.

“... a propriedade mais importante da linguagem é


seu potencial criativo. Conhecer uma linguagem
permite ao usuário elaborar um número infinito
A HISTÓRIA DO ENSINO
de produções”. (FISCHER, 1981, p 10) DA ARTE
E é por meio dessas configurações que se Para compreender e assumir melhor a
propõe o modo de comunicação no contexto responsabilidade como professor de arte é
de uma linguagem. O processo de fazer arte importante saber como a arte vem sendo
e se expressar é revestido de um processo ensinada, as suas relações com a educação
de aprendizagem, de crescimento, de escolar e com o processo histórico-social.
amadurecimento e mediação na capacidade A partir dessas noções pode reconhecer
de comunicação do homem com o meio na construção histórica, esclarecer como
no qual ele se relaciona. É o encontro estamos atuando e como queremos construir
teoria aliada à prática. O encontro da arte essa história.
e da ciência. Da ciência e da filosofia. Um
processo educativo completo e complexo. As práticas educacionais aplicadas em
Para Fernando Azevedo: aula vinculam-se a uma pedagogia, uma
teoria de educação escolar. Ao mesmo, as

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Revista Educar FCE - Abril 2019

nossas práticas e teorias educativas estão educação escolar e com o processo histórico
impregnadas de concepções ideológicas, social.
filosóficas que influenciam tal pedagogia. É
claro que isto ocorre igualmente com ensino As práticas educativas aplicadas em
escolar de arte: a concepção de mundo aula vinculam-se a uma pedagogia, ou
deve embasar as correspondências que seja, a uma teoria de educação escolar. Ao
se estabelece entre as aulas de arte e as mesmo tempo, as nossas práticas e teorias
mudanças e melhorias que acreditamos ser educativas estão impregnadas de concepção
publicitárias na sociedade. de mundo embasa as correspondências que
estabelecemos entre as aulas de arte e as
A educação escolar e o meio social mudanças e melhorias que acreditamos
exercem ação recíproca e permanente um prioritárias na sociedade.
sobre o outro. Para os educadores mais
otimistas a educação escolar é pensada de A educação escolar e o meio social exercem
forma idealística, considerando-a muito ação recíproca e permanente um sobre o
influente e capaz de mudar por si só, as outro. Para os educadores mais otimistas
práticas sociais. Em oposições a estes, existe a educação escolar é pensada de forma
um outro grupo de professores que acredita idealística, considerando-a muito influente e
que é a sociedade, com suas práticas, que capaz de mudar, por si só, as praticas sociais.
determina totalmente a educação escolar, a Percebe-se que ambas proposições precisam
qual por sua vez é considerada reprodutora ser consideradas.
dessa sociedade, sendo incapaz de mudá-la.
No entanto, é importante definir quais
Ao analisar essas proposições percebe- particularidades desses posicionamentos
se que ambas precisam ser consideradas. destaca-se em aulas de arte, quais conservar
No entanto, é importante definir quais e quais assumir para atingir uma nova
particularidades desses posicionamentos posição mais realista e progressista, na qual
ao destacar nas aulas de arte, o que se a educação escolar em arte possa contribuir
quer conservar e o que é preciso para que nas transformações sociais culturais.
se assuma uma posição mais realista e
progressista, na qual a educação escolar em Os professores que tem esse modo de ser
arte possa contribuir nas transformações acreditam que a educação escolar é capaz,
sociais e culturais. sozinha de garantir a construção de uma
sociedade mais igualitária, democrática, e de
Para compreender e assumir melhor as evitar a sua degradação. Para eles a função
nossas responsabilidades como professores da escola é também a de resolver os desvios
de Arte é importante saber como a arte e problemas sociais.
vem sendo ensinada, suas relações com a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

As teoria de educação escolar que amparam • Assimilação do novo conhecimento por


esse posicionamento são denominadas parte do aluno, por meio de exercícios;
teorias pouco criticas da educação quanto
ás suas interferências sociais. Fazem parte • Aplicação dos novos conhecimentos em
desse grupo as seguintes pedagogias diferentes situações, atribuindo-se para isso,
que, obviamente, vinculam-se a praticas “lições de casa” com exercícios de fixação e
educativas correspondentes impregnadas memorização.
de sua concepção do mundo: pedagogia
tradicional, pedagogia nova e pedagogia Aplicação dos novos conhecimentos em
tecnicista. diferentes situações, atribuindo-se, para isso,
“lições de casa” com exercícios de fixação e
A pedagogia tradicional tem suas raízes memorização.
no século XIX e percorre todo o século XX,
manifestando-se até os nossos dias. A base Nas aulas de arte das escolas brasileiras,
idealista desta pedagogia induz a acreditar- a tendência tradicional está presente desde
se que os indivíduos são libertados pelos o século XIX, quando predominada uma
conhecimentos adquiridos na escola e teoria estética mimética, isto é, mais ligada
podem, por isso, organizar com sucesso uma às cópias do “natural” e com a apresentação
sociedade mais democrática. de “modelos” para os alunos imitarem. Esta
atitude estética implica na adoção de um
Na pedagogia tradicional o processo de padrão de beleza que consiste, sobretudo em
aquisição dos conhecimentos é proposto produzir-se e em oferecer-se à percepção, ao
através de elaborações intelectuais e sentimento das pessoas, aqueles produtos
com base nos modelos de pensamento artísticos que se assemelham com as coisas,
desenvolvidos pelos adultos, tais como com os seres, com os fenômenos de seu
análise lógica, abstrata. mundo ambiente.

O professor conduz suas aulas empregando Com relação ao ensino do desenho nas
métodos que foram enunciados pelo filosofo escolas da Inglaterra. França e outros países
Johann Friedrich Herbart (FUSARI & FERRAZ, europeus predominavam, no século XIX,
1992, p.23), que podem ser sintetizados nos influências de idéias liberais e positivistas
seguintes passos: que resultam na sua utilização como uma
modalidade aplicada em ornamentos e
• Recordação da aula anterior ou preparação dos profissionais. Isso fica bem
preparação para a aula do momento; evidente na Inglaterra. onde foram criadas
“escolas de desenho” a partir de 1837 para
• Apresentação de novos conhecimentos, atender aos princípios e práticas artísticas
principalmente através de aulas expositivas; de ornamentação, decoração e manufaturas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Nos Estados Unidos os fIlhos das classes para decoração e desenho de orientados
média e média altas aprendiam em escolas exclusivamente para cópias de modelos
particulares a copiar reproduções famosas, que vinham geralmente de fora do país. Os
perspectiva linear e desenho geométrico. desenhos eram considerados “linguagens”
Com isso, podiam reconhecer as obras de arte úteis para determinadas profissões, e
originais dos grandes mestres e não comprar quando transformados em conteúdos de
trabalhos falsos. Os filhos dos operários, ensino dava-se ênfase aos seus aspectos
entretanto, freqüentavam a, escola pública técnicos e científicos. Os professores
onde aprendiam desenho geométrico e exigiam e avaliavam esse conhecimento dos
desenho línea destinados a serem usados em alunos empregando métodos que tinham
seus futuros trabalhos nas fábricas. por finalidade exercitar a vista, a mão, a
inteligência, a imaginação (memória e novas
No Brasil do século XIX. o desenho ocupa composições), o gosto e o senso moral.
um espaço equivalente ao do mundo em
industrialização, o que fica bem evidente no Entre os anos 30 e 70 os programas dos
parecer feito por Rui Barbosa sobre o ensino cursos de desenho abordam basicamente
primário, em 1883 onde relaciona o desenho as seguintes modalidades desenho do
com o progresso industrial. Aqui também o natural (observação, representação e
ensino do desenho adquire um sentimento cópias de objetos); desenho decorativo
utilitário, direcionado ao preparo técnico de (faixas, ornatos, redes, gregas, estudo de
indivíduos para o trabalho, tanto de fábrica letras, barras decorativas, painéis); desenho
quanto de serviços artesanais. Na prática, geométrico (morfologia geométrica e
o ensino do desenho nas escolas primárias estudo de construções geométricas)
e secundárias apresenta-se ainda com uma desenho “pedagógico” nas Escolas Normais
concepção neoclássica ao enfatizar a linha o (esquemas de construções de desenho
contorno, o traçado, e a configuração. Estas para “ilustrar” aulas). Os conteúdos desses
particularidades tão “intelectualizadas” do programas são bem discriminados e, como
desenho foram transmitidas principalmente se (Observa, centrados nas representações
pela Academia Imperial do Rio de Janeiro e convencionais de imagens: abrangem ainda
pelo grupo da Missão Francesa que chegou noções de proporção, composição, teoria da
ao Brasil em 1867. luz e sombra, texturas e perspectiva.

Nas primeiras décadas do século XX Do ponto de vista metodológico, a aula de


continua evidente junto às classes sociais desenho na escola tradicional é encaminhada
mais baixas, a analogia entre o ensino do através de exercícios, com reproduções
desenho e o trabalho, como se observa modelos propostos pelo professor, que
nos programas de desenho geométrico, seriam fixados pela repetição buscando
perspectiva exercícios de composição sempre o seu aprimoramento e destreza

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Revista Educar FCE - Abril 2019

motora. Esse modo de atuar com a arte Escola nova o professor utiliza
na escola remonta a João Amós Comellius encaminhamentos que consideram o ensino e
que nos apresenta em seu livro Didática a aprendizagem basicamente como processo
Magna(1627) os princípios de um “método de pesquisa individual ou no máximo de
para ensinar as artes”. Esse autor propõe para pequenos grupos. A concretização desse
o ensino da Arte de sua época a observação método exigia uma certa ordenação de
e reprodução de modelos que deveriam passos que obedeciam à seguinte seqüência.
ser “completos e perfeitos”; depois, sugere
a apresentação de novos exemplos que Se formulassem hipóteses explicativas
seriam adaptados aos modelos e, finalmente, do problema e se desenvolvesse a
apresentação de obras de “artistas de valor”, experimentação, realizada conjuntamente
para que os alunos os julgassem de acordo opor alunos e professor para confirmar ou
com os modelos e regras aplicados). rejeitar as hipóteses formuladas.

No ensino e aprendizagem de arte, na Quanto às teorias e praticas estéticas, os


pedagogia tradicional, portanto, é dada mais professores de tendência pedagógica mais
ênfase a um fazer técnico e cientifico de escolonovista apresentam uma ruptura com
conteúdo reprodutivista, com a preocupação as “cópias” de modelos e de ambientes,
fundamental no produto do trabalho escolar, valorizando, em contrapartida os estados
supondo que assim educados os alunos vão psicológicos das pessoas, com base na
saber depois aplicar esse conhecimento ou psicologia e entrada e da psicanálise, a
trabalhar na sociedade. Esse ensino de arte estética e o ensino superior artístico foram
cumpre, pois, a função de manter a divisão influenciados também pela teoria gestáltica
social existente na sociedade característica século XX.
esta da pedagogia tradicional.
Ao ser introduzido no Brasil, entre os
O escolanovismo contrapõe-se à educação anos 30 e 40 o movimento escolanovista
tradicional avançando um novo passo em vai encontrar o país num momento de crise
direção ao ideal de assumir a organização do modelo agrário-comercial, exportador,
de uma sociedade mais democrática, os depende, e inicio do modelo nacional
educadores que adotam essa concepção desenvolvimentista, industrializado. É uma
passam a acreditar que as relações entre época assinalada por várias lutas políticas,
as pessoas na sociedade poderiam ser mais econômicas, culturais e em prol da educação
satisfatórias, menos injustas, se a educação pública básica.
escolar conseguisse adaptar os estudantes
ao seu ambiente social. No campo artístico observa-se ecos
da Semana de Arte Moderna de 1922,
expandindo-se o movimento modernista

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Revista Educar FCE - Abril 2019

para várias regiões do país e organizando- depois em conteúdos do ensino. Os métodos


se salões de arte com características mais escolanovistas foram experimentados
nacionalistas. em várias escolas, tais como as Escolas
Vocacionais de São Paulo, nos anos 60, que
As renovações de posicionamento realizaram atividades de “estudos do meio”
cultural, levam ainda os intelectuais da época com os alunos.
a motivarem-se pela produção artística
de crianças bem como por seus processos Na Pedagogia Nova, a aula de Arte traduz-
mentais seu mundo imaginativo, passando se mais por um proporcionar condições
até mesmo a colecionar os desenhos infantis. metodológicas para que o aluno possa
“exprimir-se” subjetiva e individualmente.
O princípio mais adotado por Dewey Conhecer significa conhecer-se a si mesmo;
(FUSARI & FERRAZ, 1992, p.27), é, portanto, o processo é fundamental, o produto não
o da função educativa da experiência, cujo interessa. Visto como ser criativo, o aluno
centro não é unem a matéria a ensinar nem recebe todas as estimulações possíveis
o professor, mas sim o aluno em crescimento para expressar-se artisticamente. Esse
ativo, progressivo. Esses trabalhos sintetizam “aprender fazendo” o capacitaria a atuar
suas preocupações com a importância cooperativamente na sociedade.
da educação para a sociedade e para a
democracia, e enfatizam uma pedagogia A tendência tecnicista aparece no exato
mais pragmática e experimental. momento em que a educação é considerada
insuficiente no preparo de profissionais,
A educação através da arte, quando tanto de nível médio quanto de superior, para
difundida no Brasil recuperou a valorização atender o mundo tecnológico em expansão.
da arte infantil e a concepção de arte baseada
na expressão e na liberdade criadoras. Na escola de tendência tecnicista, os
elementos curriculares essenciais – objetivos,
Depois dos anos 60, o pouco cuidado em conteúdos, estratégias, técnicas, avaliação –
avaliar-se os fundamentos do método da apresentam-se interligados.
livre expressão levou inúmeros professores
a extremos onde tudo era permitido. Os conteúdos escolares e os métodos de
ensino, muitos dos quais utilizados também
No Brasil, os professores de Arte que na pedagogia tradicional ou novista, são
aderiram à concepção da Pedagogia Nova submetidos aos objetivos comportamentais
passaram a trabalhar com diferentes métodos previstos no todo da organização do processo
e atividades motivadoras das experiências ensino-aprendizagem tecnicista.
artísticas, centradas nos interesses e temas
individuais dos alunos, que se transformavam

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Revista Educar FCE - Abril 2019

No início dos anos 70, concomitante ao das aulas de Arte na mudança e melhoria das
enraizamento da pedagogia tecnicista no relações sociais.
Brasil, é assinada a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional nº 5692/71, que Desde os anos 60, muitos educadores,
introduz a Educação Artística no currículo preocupados com o rumo da educação escolar,
escolar de 1º e 2º graus. Desde a sua passam a discutir as reais contribuições da
implantação, observa-se que a Educação escola sobretudo da escola pública pensando
Artística é tratada de modo indefinido, o numa melhoria das práticas sociais.
que fica patente na redação de um dos
documentos explicativos da lei, ou seja, o
Parecer nº 540/77: “não é uma matéria, mas NOVAS PROPOSTAS PARA
uma área bastante generosa e sem contornos O ENSINO DE ARTE
fixos, flutuando ao sabor das tendências e
dos interesses”. Ainda o mesmo parecer fala- Essas discussões têm contribuído para
se na importância do “processo” de trabalho mobilizar novas propostas pedagógicas que
e estimulação da livre expressão. apontam para uma educação conscientizadora
do povo e para um redimensionamento
Os cursos de Educação Artística vêm histórico do trabalho escolar público,
priorizando-se em atividades artísticas mais democrático e de toda a população.
direcionadas para os aspectos técnicos, Surgem, então, novas teorias para explicar a
construtivos, uso de materiais, ou em um fazer superação do pensamento liberal na busca
espontaneístico, sem maiores compromissos de um projeto pedagógico progressista. De
com o conhecimento da arte. acordo com o processo histórico seguem-
se as pedagogias: “libertadora”, “Iibertária”
As aulas de Arte apresentam influências e “histórico-crítica” ou “crítico-social dos
das três pedagogias enunciadas – tradicional, conteúdos (ou ainda “sócio-política”)
novista e tecnicista. Estas pedagogias,
embora descritas separadamente, na Inicialmente, alguns desses educadores
prática se imbricam. Acreditamos que o mais descrentes do trabalho escolar sugerem
conhecimento dos principais aspectos uma educação do povo, de caráter “não-
pedagógicos, ideológicos e filosóficos formal”, não- diretivo, não-autoritário,
que marcam o ensino-aprendizagem de visando liberar as pessoas da opressão da
Arte, pode auxiliar o professor a entender ignorância e da dominação. São as propostas
as raízes de suas ações, bem como o seu educacionais apresentadas pelas pedagogias
próprio processo de formação. Ao mesmo libertadora (representada por Paulo Freire) e
tempo, ele pode tomar ciência de que ainda libertária (representada por Michel Lobrot,
permanecem questões referentes ao papel Célestin Freinet, Maurício Tragtenberg,
especifico da educação escolar e também Miguel González Arroyo, dentre outros)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A Pedagogia Libertadora proposta por política -percebem, logo no início dos anos
Paulo Freire objetiva a transformação da 80, que era preciso ultrapassar esse mero
prática social das classes populares. Seu denuncismo, que não levaria a urna efetiva
principal intento é conduzir o povo para melhora da escola pública verdadeiramente
uma consciência mais clara dos fatos vividos democrática que desejavam a preciso
e, para que isso ocorra, trabalham com a ultrapassar esse quadro pessimista e
alfabetização de adultos. Na metodologia de imobilizador que tomava conta do ideário
Paulo Freire alunos e professores dialogam de muitos educadores. Ao mesmo tempo,
em condições de igualdade, desafiados assumiram que as reflexões e discussões
por situações-problemas que devem - das teorias “crítico-reprodutivistas”
compreender e solucionar. contribuíram para que muitos professores
se conscientizassem de dois aspectos
A Pedagogia Libertária por sua vez, resume- importantes”.
se na importância dada a experiências de
autogestão, não-diretividade e autonomia Conseguir uma educação escolar pública
vivenciadas por grupos de alunos e seus competente é, por si só, um dos atos políticos
professores. Acreditam na independência que precisa ser efetivado, pois a escola é
teórica e metodológica, livres de amarras direito de todos os cidadãos.
sociais (como foi o caso de Summerhill,
criada pelo educador inglês A. Neill, no início Garantir aos alunos o acesso aos
dos anos 60) conhecimentos fundamentais não faz da
escola a única responsável pela melhoria
Concomitante a essas proposições, surge da vida na sociedade (concepção idealista),
em dos anos 70 um outro grupo de professores nem a toma exclusivamente reprodutora das
em busca de caminhos para a educação relações sociais (concepção reprodutivista).
escolar pública, que já se apresentava com A educação escolar é influenciada por
baixa qualidade de ensino- aprendizagem. muitos determinantes sociais, históricos e,
De início, esse movimento coincide com a ao mesmo tempo, é capaz de influenciá-los,
retomada dos estudos teóricos críticos, que de intervir para que mudem, se transformem
colaborou para difundir a idéia da escola como e melhorem socialmente (concepção realista)
reprodutora das desigualdades sociais. Isto
gerou urna atitude pessimista, de negação A nova proposta da educação escolar
do trabalho da escola e a substituição dos não toma para si a responsabilidade
conteúdos tradicionais de ensino nas aulas, da conscientização política. A escola
por “discursos políticos”. não é o único segmento da sociedade
responsável pelo processo de ampliação da
Finalmente, parte desses professores conscientização política de cidadão e sim um
que passam a propor uma Pedagogia Sócio- dos segmentos que contribuem para isso. A

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Revista Educar FCE - Abril 2019

conscientização política na prática social ampla e concreta do cidadão. A educação escolar


deve assumir o ensino do conhecimento acumulado e em produção pela humanidade, isto é,
deve assumir a responsabilidade de dar ao educando o instrumental necessário para que ele
exerça uma cidadania consciente, critica e participante.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentados estes olhares sobre o mesmo objeto de
estudo, podemos perceber o quão rico é o estudo das cores
para nossa percepção e compreensão do mundo em que
vivemos. Mais que esgotar possíveis abordagens, entendemos
ter contribuído para a ampliação deste debate, e temos claro
isso só ter sido possível por conta destes anos de estudo,
da dedicação dos educadores com quem trabalhamos e do
suporte técnico oferecido por esta instituição de ensino.
Agradecemos a todos os que contribuíram para que este ELAINE CRISTINA
projeto se concretizasse e reafirmamos nossa opção por uma NEGREIROS DA SILVA
vivência profissional que seja sinônimo de liberdade e vida.
Licenciada em Pedagogia pela
Faculdade Santa Izildinha em
Nem todos relacionariam a arte dentre suas necessidades 2011. Professora de Educação
básicas da vida, mas com certeza aqueles indivíduos privados Infantil na Prefeitura de São Paulo

do convívio social devido à estigmatização, encontram na arte


um espaço para realizar-se como seres humanos, mostrando
a todos que são pessoas em busca de seu crescimento
pessoal.

Além de proporcionar atividades concretas e construtivas, a educação por meio da arte


promove o desenvolvimento de habilidades e capacidades, o controle dos movimentos, a
organização pessoal e a ordenação dos pensamentos.As atividades em grupo ajudam na
integração social, por meio da cooperação e da comunicação entre os seus membros, de
acordo com as potencialidades e necessidades de cada um, as atividades são aplicadas de
forma lúdica, a fim de tornar a aprendizagem mais emocionante, motivadora e prazerosa.

Acredito que um trabalho constante, coerente e organizado será capaz de fazer emergir
todo o potencial criador do indivíduo e torná-lo um agente social em pleno exercício da sua
cidadania.

Nesse sentido, uma pessoa que desenvolva caminhos próprios de expressão, a partir do
conhecimento de materiais, técnicas, conceitos nas diversas produções artísticas, é capaz de
participar de modo mais efetivo do seu contexto sócio-cultural, contribuindo produtivamente
e transformando o seu desenvolvimento em processo contínuo de aprendizagens e de
reconstrução de seus modos de expressão. E isso é exercer cidadania, porque afirmada a
sua marca pessoal, de indivíduo presente na contextualização da sociedade em que vive.

273
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
ARNHEIM Rudolf, Arte & Percepção Visual - Editora Livraria Pioneira – 12ª edição

BECKETT Wendy, História da Pintura, Editora Ática – 1ª edição. 2006

DANGER Eric P. A cor na comunicação – Editora Forum 1ª edição 1973

DEMPSEY Amy, Estilos Escolas e Movimentos, Cosac e Naify. 2003

FARINA. Modesto, Psicodinâmica das cores em comunicação, Editora Edgar Blucher – 4ª


edição.

PEDROSA, Israel, Da cor à cor inexistente, Editora Universidade de Brasília – 3ª edição

RABELO, Arnaldo. Agora, a decisão é das crianças. Editora Ouro, 1989

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA
NA ALFABETIZAÇÃO
RESUMO: A trajetória da educação regular no Brasil, foi influenciada por diversos fatores,
econômico, social e político. O universo criado em torno do ambiente escolar é marcado por
conflitos que prejudicam progressivamente a educação brasileira. A alfabetização de crianças,
jovens e adultos é uma área que carece de maiores investimentos, tanto na disponibilidade
de recursos materiais apropriados, como na oferta de recursos financeiros para a formação
dos educandos e capacitação da classe trabalhadora docente. Foi feito pesquisa bibliográfica
e pesquisa de campo, através das indagações ao longo de toda pesquisa, foi de suma
importância as explicitações de Freire, bem como a história da educação infantil no Brasil e a
importância da literatura como ponte para a alfabetização de crianças, jovens e em especial
dos adultos.

Palavras-Chave: Exclusão; Desigualdade social; Analfabetismo; Alfabetização

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO A trajetória do ensino regular para a EJA


nasceria de um fator econômico, social
O analfabetismo no Brasil ainda alcança ou político. A realidade daquilo que não
dados alarmantes entre jovens, adultos. se conhece e que, portanto, torna-se uma
Criou-se um universo em torno do ambiente ameaça à continuidade da escolaridade,
escolar, marcado por acepções, conflitos, é marcado pelo desconhecido, para
família e adaptações que vão projetar a esclarecimento frente ao desconhecido.
educação brasileira internacionalmente. Analisaremos de que forma a desigualdade
social pode-se tornar um abismo na aquisição
A EJA teria sido criada com a intenção de do conhecimento.
ajudar na formação intelectual e moral da
nossa juventude, ou seria articulada sobre Porém, ainda que da ameaça constante surja
forte conotação política. Podemos perceber à desigualdade social como desencadeadora
diferentes brasis que até hoje, sobre de muitos males.
diferentes formas assombram as esquinas da
história da educação brasileira. Verificaremos quais interesses estão
associados às políticas da EJA, bem como
Este artigo procura trazer à tona questões especificar como se organizam e cumprem
que, embora tenham sido pauta de muitos o que foi determinado por lei em relação
encontros e conferências, ainda podemos à educação, incluindo a atribuição dos
subtrair de suas entranhas as mazelas que conteúdos, dados referentes a formação do
causam dor, exclusão e abandono. educador e sua prática profissional.

Contudo a proposta aqui é abordar as A educação de jovens e adultos


questões referentes à educação brasileira, teria contribuído para a erradicação do
em particular a trajetória de jovens e adultos. analfabetismo no Brasil, é fator que iremos
Essa é uma questão primordial, cujos esforços obter dados relevantes.
serão dirigidos no sentido de identificarmos
as verdadeiras razões que levaram o governo Sintetizaremos quais são os pontos
a criar a EJA-Educação de Jovens e Adultos. positivos e negativos na conclusão do
processo de alfabetização.
Mas simultaneamente à esta criação, no
contexto das adversidades de cada indivíduo,
compreender o por que não concluíram os O DOCE AMARGO RETORNO
estudos no tempo regular e diagnosticar AO AMBIENTE ESCOLAR
qual o papel da literatura nesse contexto de
aprendizagem. Localizado no conjunto das relações
sociais contraditórias, o retorno escolar é

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Revista Educar FCE - Abril 2019

marcado por uma série de desafios, sendo simplesmente com intuito de promover mão
que o principal, deveria ser entender a forma de obra especializada.
de aprender dos adultos, que é diferente das
crianças e do adolescente. Na década de 80 políticas públicas
estimulam a abertura de ONG’S em troca
O adulto tem uma vida mais complexa, do perdão de impostos, o foco já não era
com emprego, família para sustentar, alfabetizar os adultos, pois a demanda de
preocupações e estresse, fatores que adultos analfabetos tinha sido resolvido o
influenciam a aprendizagem. problema.

Não é possível continuar improvisando Mas a vinda das pessoas da zona rural
educadores alfabetizadores de jovens e adultos.
Não é possível continuarmos “Zarolhos”, olhando para cidade ocasionou um crescimento
enviesados como se a Educação e Alfabetização desordenado, pois a problemática que
de Jovens e Adultos fossem uma prática envolve a alfabetização não pode ser tratada
extemporânea e passageira. (MOURA,2008,
como uma prática passageira.
p.48)

Segundo Moura (2007):


Continuamos a conviver com a falta
de prioridade das políticas públicas para Permanece o silêncio e o vazio instrucional
na formação inicial de professores para
erradicar o analfabetismo e a evasão escolar modalidade. Permanece a improvisação de
de jovens e adultos, que alcançam dados professores e a transposição de professores do
preocupantes. Ensino fundamental de crianças e adolescentes
para atuarem na pratica pedagógica com
jovens, adultos e idosos, tal como se registrava
Esse é um problema que se arrasta por nos primórdios da história da educação. A
décadas, em 1970 houve uma iniciativa por consequência é o desenvolvimento de uma
pratica pobre para alunos tratados como
parte de igrejas, empresas e voluntários pobres cognitiva e culturalmente produzindo,
assumiram a princípio a tarefa de como resultado, a reprovação e |ou expulsão
alfabetização de adultos. dos alunos das escolas. Esse serão os jovens
e os adultos que buscarão a escola quando as
demandas socioeconômicos lhes exigir.(p.4)
As empresas entendiam que fazer o
processo de alfabetizar os adultos estariam O retorno ao ambiente escolar gera
promovendo a inclusão social. expectativas que se manifestam de
diversas maneiras, há de se destacarmos
A LDB não incluía o adulto frequentar a que muitas delas são devido a necessidade
escola. Entretanto o olhar dessas empresas socioeconômicas, mas existem também
e voluntários traz uma nuvem de duvidas, indivíduos que buscam o conhecimento
estaria eles preocupados com o bem estar para se sentir uteis, numa necessidade de
social ou as intenções estavam camufladas, satisfação do seu ego, querem pertencer

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Revista Educar FCE - Abril 2019

à uma sociedade alfabetizada, exercer a mudança nos atores envolvidos quando


cidadania sem sentir–se excluído. estes se apropriarem do ato de escrever e ler.

Simultaneamente à vontade de aprender Para o bom resultado, na tentativa de


dos educandos está o vazio institucional na romper paradigmas criados durante a vida
formação dos professores que se manifestam escolar, exige muito esforço, mas muitas
de forma imprópria e consequentemente ideias inadequadas se desenvolvem na escola
torna o retorno ao ambiente escolar amargo, e na sociedade, levando o indivíduo a um
construindo uma nova barreira dentro do bloqueio mental que o impede de aprender.
abismo que estão mergulhados essa parcela
da população que foram marginalizados pela Segue abaixo fragmentos de discursos de
sociedade. trabalhadores que traz o seguinte:

Uma importante citação da aluna A, Pra trabalhar nesta obra é preciso saber ler e
escrever, porque senão dá prejuízo pra firma.
que aponta a realidade do povo brasileiro, Os cabras analfabetos dão muito trabalho
extraída da entrevista realizada no primeiro porque não leem avisos e aí pinta acidente de
semestre de 2018: “Eu gostaria muito de trabalho. Por isto é que tem muito trabalhador
desempregado ou rodando no serviço. Digo sim,
aprender a ler e escrever, já tentei mais não pra eles: tem que ter cuidado, ler avisos. Não
entra na minha cabeça. (Aluna A)” pode ser analfabeto aqui. (MELLO,1997,pg.42)

Essa é uma realidade de uma grande Podemos perceber que estes indivíduos
parcela da população, onde pessoas que estão alienados em relação ao que é
abandonaram a escola porque foram alfabetização, o simples ato de escrever
reprovadas, ou tinham que trabalhar. Muitos ou ler não os torna cidadãos que possam
são os motivos e conflitos que dificultam aprimorar do conhecimento, que liberta e os
o retorno a rotina escolar, a falta de uma torna reflexivo capaz de lutar por condições
literatura que possibilite incluir os indivíduos melhores, notamos a exclusão eminente
de maneira a diminuir o analfabetismo. que marginaliza aqueles que não tiveram a
oportunidade de concluir a escolaridade ou
Entender quais as dificuldades de cada até mesmo frequentar a escola.
indivíduo é um fator que requer uma prática
docente diferenciada, pois aprender fora do O analfabetismo afeta todos os campos
período ideal, numa época inapropriada que da sociedade, cultural, econômico e afetivo.
acontece além do tempo determinado causa A identidade da EJA vem se forjando desde
transtornos que podem ser irreversíveis. 1990.

Dentro dessa perspectiva, a EJA é uma Tais características, entretanto, não alteram sua
marca histórica: ser uma educação política e
prática social, que pode provocar uma pedagogicamente frágil, fortemente marcada pelo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

aligeiramento, destinada, predominantemente,


à correção de fluxo e a redução de indicadores simultaneamente a esta criação, no contexto
de baixa escolaridade e não efetiva socialização das adversidades de cada indivíduo podemos
das bases do conhecimento. E comprometida perceber diferentes brasis que até hoje, sob
com a permanente construção e manutenção
da hegemonia inerente às necessidades diferentes formas assombram as esquinas da
de sociabilidade do próprio capital e não história da educação brasileira.
com a emancipação da classe trabalhadora.
(SOUZA,p.156)
Não queremos ditar regra para os docentes
Os objetivos do contexto em torno do e nem obriga-los a serem psicólogos, mas
aprimoramento das práticas pedagógica é imprescindível entender as causa que
são baseados em satisfazer as necessidades levaram estes alunos a abandonar o ensino
básicas como medida provisória de regular para posteriormente entrarem na
aparentemente controlar o analfabetismo EJA.
através de uma prática técnica de ensino
instrumental, onde a decodificação, enfim Muitos diálogos referentes a educação
o montar e desmontar de palavras não de jovens e adultos são pautas de muitos
estabelece uma relação entre a vivência de encontros e conferências.
mundo em relação ao cotidiano escolar.
Entretanto a organização do currículo
A educação nesse contexto, não se faz literário, dentro de uma perspectiva
libertadora e nem prepara o indivíduo para cientificista excessivamente tecnicista e
lutar pelos seus direitos, ela faz nascer uma disciplinar dificulta o estabelecimento de
nova categoria os analfabetos funcional – que diálogos entre as experiências vividas e
são aqueles que sabem ler e escrever, mas os saberes anteriormente tecidos pelos
que não consegue interpretar e refletir um educando e os conteúdos escolares.
simples texto, e se tornam demasiadamente
cidadãos manipulados e influenciados pelo O abandono escolar se repete também na
parasitismo da burocracia. EJA, porque a frustação de não conseguir
de adequar as normas da escola, onde
Isto porque a tendência predominante das textos que não condiz com a realidade e
propostas curriculares é a da fragmentação
do conhecimento e a da organização do que não serão usados no seu cotidiano,
currículo num perspectiva cientificista que não lhes pertence culturalmente e nem
excessivamente tecnicista e disciplinar, que economicamente.
dificulta o estabelecimento de diálogos entre as
experiências vividas, os saberes anteriormente
tecidos pelos educando e os conteúdos escolar. Os objetivos da conferência mundial
( MOURA,p.15) sobre educação para todos foram: satisfazer
as necessidades básicas de aprendizagem,
Podemos perceber que a criação da EJA expandir o enfoque, universalizar o acesso à
foi criada sob forte conotação política. Mas educação e promover a equidade, concentrar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a atuação na aprendizagem, ampliar os meios A ORIGEM DA EDUCAÇÃO


e o raio de ação da educação básica, propiciar INFANTIL NO BRASIL.
um ambiente adequado a aprendizagem,
fortalecer as alianças, desenvolver uma BREVE HISTÓRICO
política contextualizada de apoio, mobilizar De acordo com o portal da Educação o
os recursos, fortalecer a solidariedade. atendimento às crianças de 0 a 6 anos em
instituições especializadas teve origem com
Abaixo segue uma citação que vem as mudanças sociais e econômicas, causadas
contrapor-se aos objetivos da conferência pelas revoluções industriais no mundo todo.
mundial
Mulheres entram no mercado de trabalho,
Os indicadores macro- sociais confirmam atrelado a este contexto a busca por seus
as avaliações de aprendizagem do Brasil
alfabetizado, que revelam que a maioria dos direitos de ter os filhos nas creches a fim
ingressos do programa não adquire ou desenvolve de desenvolver suas profissões, foi sendo
suficientemente as habilidades de ler e escrever reivindicado os seus direitos, a princípio as
um pequeno texto, o que corresponde à definição
coerente de alfabetização em nosso país. Os creches tem um caráter filantrópico ou seja
escassos efeitos do Brasil alfabetizado tornam- assistencialista. Com a reformulação da
se ainda mais preocupantes quando combinado educação básica.
a outro indicador negativo dos resultados da
política da EJA: o declínio das matrículas no
primeiro ciclo do ensino fundamental(DALBEM, A educação infantil deixa de ser
2008,p.17) assistencialista e passa a ser reformulada de
maneira a ensinar as crianças.
Podemos perceber que os resultados
propostos para desenvolver as habilidades Novas leis foram criadas, conferências
dessa parcela da população que se matricula realizadas, com intuito de agregar novos
nas primeiras séries iniciais do ensino conceitos e métodos, a questão a qual
fundamental, vem se tornando cada vez mais nosso trabalho destaca é a literatura que
escasso. disponibilizada nesse processo de aquisição
do conhecimento, onde o que fica em
A problemática a qual levantamos para evidência e conseguir alfabetizar as crianças.
entender os motivos que ocasionam essa
situação estariam ligados à falta de ler uma A Constituição de 1988, reconhecimento
literatura que atenda as particularidades da educação em creches e pré-escolas como
de cada indivíduo. Contribuindo esse fator um direito da criança e um dever do Estado
para elevação do índice de analfabetismo no a ser cumprido no sistema de ensino, de 0 a
Brasil e uma maior apreciação pela leitura. 6 anos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Na década de 80 e 90 surgem programas Uma visão fragmentada desse processo


educativos como Projeto Curumim(1980), de exposição à textos nada significativos,
Rá- Tim –Bum(1990). muitas vezes essa incoerência pode resultar
numa decadência que ocasiona um fracasso
Em 1986 –Plano Nacional de na alfabetização.
Desenvolvimento, onde novas políticas para
creches foram incluídas, medidas de acesso Entretanto, as definições de alfabetizado
da população mais pobre à escola, novas e analfabeto introduzidas pela Unesco
programações pedagógicas, que buscam em 1958, para fins de padronização das
romper o assistencialismo, permanecendo estatísticas educacionais, estabelece
a aprendizagem, onde novas concepções
acerca da cognição e da linguagem onde foi É alfabetizada a pessoa que é capaz de ler e
escrever com compreensão um enunciado curto
criado um Referencial Curricular e Diretrizes e simples sobre a vida cotidiana. É analfabeta a
Nacionais para a Educação Infantil. pessoa que não é capaz de ler e escrever com
compreensão um enunciado curto e simples
sobre a vida cotidiana.(Unesco,1958,p.4)
AS MUITAS FACETAS DA
ALFABETIZAÇÃO Tais definições determinam quais
habilidades de leitura e escrita caracterizam
O conceito de alfabetização, é uma pessoa alfabetizada, ler e escrever com
abrangente é um processo permanente compreensão, entretanto o alfabetismo vai
que se estenderia por toda vida, que não além dessas questões de decodificação e
se esgotaria na aprendizagem da leitura e codificação.
da escrita. Esse processo complexo, possui
uma multiplicidade de perspectivas, que
engloba diferentes áreas do conhecimento DIMENSÃO DO ALFABETISMO
envolvendo professores e alunos e seus
contextos culturais, métodos, materiais e O alfabetismo é sobretudo uma prática
meios. uma prática social, onde conhecimentos de
leitura e escrita em determinados contextos
Alfabetizar designa tanto o processo da se integram a valores e as práticas sociais
língua escrita, quanto o seu desenvolvimento não se limita à posse de habilidades e
de habilidades de leitura. Assim sendo o que conhecimentos.
debatemos é o material que era destinado à
leitura, que tipo de obras literárias. Resulta É um conjunto de habilidades necessárias
daí o fracasso ou sucesso escolar dos alunos. para responder às práticas sociais em que a
leitura e a escrita são requeridas, configuradas
por processos sociais mais amplos, e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

responsáveis por reforçar ou questionar O GRANDE PRECURSOR DA


valores, tradições, padrões presentes no OBRA LITERÁRIA INFANTIL
contexto social.
BRASILEIRA
O principal problema que dificulta os
esforços para estudar o alfabetismo no Monteiro Lobato, toda sua vida e seu
passado, como também no presente, é o de trabalho estiveram dedicados à luta pela
reconstruir os contextos de leitura e escrita, preservação dos valores culturais e das
onde variável dimensão das restrições sociais riquezas naturais da Nação. Foi pioneiro na
na distribuição e difusão do alfabetismo e luta pela preservação de nossas florestas, de
as diferenças reais e simbólicas decorrentes nossos índios e de nossos bichos. Escreveu
da condição social do alfabetismo entre a para o público infanto-juvenil, com a intenção
população. de ajudar na formação intelectual e moral da
nossa juventude.
A alfabetização é um instrumento na
luta pela conquista da cidadania, é preciso Toda obra literária de Monteiro Lobato tem
também situar a alfabetização no tempo uma forte conotação política. Como jornalista
histórico e no espaço social e político em e como editor todo seu trabalho foi pautado
que ocorre ou deve ocorrer. por sua vocação político-literária. Publicou
livros onde podemos perceber diferentes
A linguagem da escola é a linguagem brasis que até hoje, sob diferentes formas,
das classes favorecidas: as funções que assombram as esquinas da nossa história.
predominam no uso que se faz da língua na
escolas são aquelas que predominam no uso Os contos contam do trabalho do menor,
da língua por essas classes. do parasitismo da burocracia, da violência
contra os negros, imigrantes e mulheres, da
A criança pertencente às camadas empáfia dos que mandam, do crescimento
populares traz para a escola uma linguagem desordenado das cidades, da degradação
que predominam outras funções, é onde progressiva da vida interiorana; enfim os
as diferenças afloram, a falta de acesso a contos contam o preço alto do surto de
livros por parte dessa camada da população modernidade.
vem ser um grande difusora do fracasso na
alfabetização. Além de escrever livros para crianças e
adultos – e de adaptar Grimm, Andersen e
Lewis Carroll, entre outros traduziu títulos
importantes, contribuindo para colocar o
leitor brasileiro em dia com o que se editava
no plano internacional.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Algumas obras famosas dos irmãos Grimm: transformou o jornalista no empresário


Rapunzel, Chapeuzinho vermelho, Branca de editor que revolucionou o mercado de livros
neve, Cinderela e o piolho e a pulga e etc. no Brasil.

Sua paixão pelas crianças resultou na Com base nas obras Monteiro Lobato,
elaboração de diversas obras literárias opondo-se ao conceito de que crianças
infantis.Com uma criação Literária complexa, eram adultos reduzidos em idade e estatura,
fascinante e misteriosa Lobato teve grande embora com a mesma psicologia. Pode-se
importância na Literatura Infantil brasileira. dizer que o escritor era militante da causa do
progresso e tinha convicção que através dos
Criou um universo para crianças enriquecido jovens seria possível apressar a modificação
pelo folclore. Buscou nacionalismo na ação do mundo.
dos personagens com textos marcados por
acepções relacionados ao contexto real da Misturando sonho e realidade, Lobato
criança com conflitos, educação, família e conquistava os pequenos fãs, que logo
adaptações. Textos que despertam para o passavam a dividir com ele o universo em
imaginário e conscientizam. que tudo era possível.

Sua genialidade foi sempre á frente de seu Captando a lógica e a estrutura do


tempo, acreditava piamente nas riquezas pensamento infantil ele não falava para elas,
naturais do país e suas ideias contribuíram mas como e no lugar delas. Por isso, pelas suas
na esfera pública. mãos o aprendizado virava brincadeira séria
e as lições escolares mais difíceis – em geral
Como escritor, editor ou empresário ele ministradas através de métodos e mestres
é um homem preocupado com seu país, antiquados ficavam claras e acessíveis.
um crítico social. É esse seu caráter que vai
projetá-lo internacionalmente. Do mundo infantil, para o dos adultos ele
se dedicava a resgatar os valores da cultura
Monteiro Lobato vivia permanentemente nacional e discutir os principais problemas
preocupado em revelar um Brasil do País.
desconhecido a que os intelectuais brasileiros
davam as costas. Essa preocupação aliada Monteiro Lobato, em vida esteve todo o tempo
à necessidade compulsiva de se comunicar ligado, direta ou indiretamente ao que houve
com o próximo, comunicar-se com o mundo de mais importante e de maior repercussão no
levaram-no ao jornalismo. universo editorial brasileiro, seja como jornalista,
seja como editor e principalmente como escritor.
Seu espírito empreendedor e a necessidade Seu estilo, simples e direto, repleto de ironia,
de liberdade absoluta para se expressar cativava os leitores.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

É lembrado pelos episódios da série O não pretendemos expor e nem causar


sítio do pica pau amarelo, muitos porém constrangimentos.
desconhece a sua Obra para adultos, tão
importante quanto sua literatura infanto- Nossa intenção é comparar as trajetórias
juvenil. Nestas obras discute grandes temas de na EJA (Educação de Jovens e Adultos) e
sua época, usa a literatura para se posicionar o retorno ao ambiente escolar a fim de
perante a sociedade brasileira. Nacionalista estabelecermos o que de fato acontece
e muitas vezes acusado de preconceitos, dentro da educação de jovens e adultos,
suas ideias provocam polêmicas ainda hoje e bem como constatarmos se é ou não
seus livros continuam sendo alvo de internos possível através dos currículo da EJA superar
debates entre pesquisadores e leitores as desigualdade social que desestrutura o
atentos. acesso e a permanência no ambiente escolar.

Foi um grande escritor, construindo Descrição das entrevistadas:


um legado que podemos dizer admirável,
suas obras alcançaram gerações, teve o A aluna A tem 53 anos, nascida na região
reconhecimento de ter seu livro reconhecido nordeste do país, durante a sua infância não
como livro didático. frequentou a escola, porque vivia em situação
de extrema pobreza. Não foi matriculada
Muitos questionamentos podem ter na escola, aos 11 anos teve sua infância
sofrido as suas obras, mas não se pode negar encerrada, começando então a trabalhar
que nelas há um encantamento que leva como empregada doméstica.
as crianças ao delírio e aos adultos viajar
no tempo, voltando ao mundo mágico do Por anos sua rotina foi morar na casa onde
faz de conta, da magia que é sonhar e viver trabalhava e seu pagamento era um prato
intensamente todo momento como se este de comida e uma cama para dormir e assim
fosse o ultimo a ser vivido. se findaram os dias de sua adolescência.
Vivendo a margem da sociedade, excluída do
ambiente escolar, a aluna casou-se e resolveu
PROCEDIMENTOS morar em São Paulo, continuou a trabalhar
METODOLÓGICOS como empregada doméstica recebendo um
pequeno salário.
A pesquisa realizada no presente artigo
envolveu pesquisa bibliográfica e pesquisa No entanto, mesmo sem ter o acesso à
de campo com entrevista. educação formal ela tinha consciência que a
situação em que se encontrava, sem instrução
Escolhemos as alunas descritas abaixo, e sendo analfabeto a impossibilitava de
omitimos sua verdadeira identidade, pois alcançar um conhecimento a qual desejava.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Ela queria muito ler e escrever, resolveu aprendizado, contribuir para propiciar a
matricular-se na EJA. identificação do que já é praticado pelo aluno
da EJA, o que se faz necessário é identificar
A aluna B tem 35 anos nascida no Paraná, esse conhecimento relacionando-o ao
mudou-se para São Paulo ainda pequena, método acadêmico que é aplicado no
devido a constantes desentendimentos ambiente escolar. Segundo Moura (2007):
familiares entre os pais, mudava-se
constantemente de moradia, atrapalhando Pensar na formação do professor de Jovens e
adultos, no atual contexto socioeconômico,
a conclusão do término do ano letivo e político e cultural, exige uma avaliação e uma
causando a sua repetência. De família de revisão da prática educativa e da formação
baixa renda, não tinha acesso a livros e inicial e continuada desses educadores,
principalmente se considerarmos as
frequentava pouco a escola, vivia em um especificidades e particularidade dos sujeitos-
ambiente conturbado de brigas e agressões. alunos-trabalhadores. (p.48).

Quando a família se estabeleceu em uma A diversidade que envolve os atuantes


residência fixa, sua mãe procurou matricular da EJA é um fator que a princípio pode
a aluna na escola, mas sua idade já era parecer um obstáculo dentro da sala de aula,
imprópria para cursar as primeiras séries mas se olharmos detalhadamente podemos
iniciais, sendo assim teve que frequentar a identificar que essas particularidades servem
Educação para jovens e adultos (EJA). como base para ingressar numa relação
proveitosa, com troca de experiências
A aluna C reside em São Paulo frequentou enriquecedoras para o processo de
a EJA nos anos finais do Ensino fundamental aprendizagem.
e o Ensino médio, cursou a Universidade e se
formou não tendo problemas que agrava-se Segundo Wallon uma relação de
sua vida escolar acadêmica. É de família de afetividade possibilita o desenvolvimento
classe média baixa. Diante das indagações das práticas pedagógicas transformando em
feitas por essas alunas, como meio de refletir atividades ricas em todo aspecto, causando
e levantar alguns apontamentos relevantes. benefícios para aqueles que procuram a EJA.
Somente após as concepções feita por Paulo
Freire que houve um novo questionamento, Ainda persiste contraditórias metodologias
voltado para considerar os conhecimentos que não agrega valores a educação de Jovens
prévios do educando, utilizando atributos e adultos, são poucos os conhecimentos em
condizentes com sua realidade social. relação a Andragogia –ciência que estuda o
modo de aprender do adulto.
Existe uma qualidade primordial que o
educador, como profissional deve assumir: Esses alunos são tratados como pobres
postura de libertador, valorizar cada cognitiva e culturalmente produzindo como

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Revista Educar FCE - Abril 2019

às suas possibilidades e necessidades reais.


resultado a evasão escolar, aumentando o (MOURA,2007,p.15).
índice de analfabetismo no brasil.
Um dos principais motivos da evasão
Entretanto destacamos que reformulações escolar, é porque o individuo sofre com o
curriculares dentro de uma perspectiva de padrão adotado pelas instituições escolares,
impulsionar a educação de jovens e adultos principalmente nas classes baixas, tendem a
vem caminhando a passos lentos. se agravar pela falta de acesso da população
aos livros, deixando-os em desvantagem
Por outro lado as Diretrizes Nacionais para com as normas aos quais eles culturalmente
Educação através do parecer CNE|CP009|2001 (
Brasil,2001),que vem tratar da Formação básica, desconhece.
em nível superior, curso de Licenciatura, de
Graduação plena, apoiada na nova LDB9394|96 Esse fator origina a evasão do ensino
aponta para uma nova proposta de formação de
professores. ( MOURA, p.4) regular e posteriormente quando a situação
socioeconômica lhes exigir, estes buscarão a
Seria uma conquista qualificativa, se EJA.
as concepções adotadas pelas Diretrizes
Nacionais fossem algo que reflita Portanto para que o retorno desses
positivamente no ambiente da EJA. indivíduos não venha resultar em um
novo abandono escolar, é necessário que
Aparentemente o discurso bonito em os educadores estejam preparados, para
suas entrelinhas parece querer mudar novos entender as questões que estes integrantes
horizontes na formação dos professores, vem trazer para a sala de aula.
entretanto ainda existe um caminho árduo
a percorrer. A luta por uma formação De acordo com Paulo Freire, não basta
continuada do corpo docente é uma ponte saber ler que Eva viu a uva. É preciso
para possibilitar uma conquista, a fim de compreender qual a posição que Eva ocupa
diminuir a evasão dos matriculados na EJA. no seu contexto social, quem trabalha
para produzir a uva e quem lucra com esse
Segue abaixo uma importante citação que trabalho.
reflete a face da EJA:
Somente após as concepções feita
Desaparecem, portanto, do campo de reflexão por Paulo Freire que houve um novo
da EJA os Jovens e Adultos que frequentam
a escola regular, seja no ensino médio seja questionamento, voltado para considerar
na universidade. Atualmente, muitos são os os conhecimentos prévios do educando,
educadores que buscam ampliar este conceito, utilizando atributos condizentes com sua
incorporando ao trabalho e a reflexão sobre o
tema os Jovens e os adultos que, estando no realidade social.
sistema de ensino regular, são submetidos a
propostas e práticas inadequadas tanto aos
seus perfis socioeconômico-culturais quanto

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Existe uma qualidade primordial que o Esses alunos são tratados como pobres
educador, como profissional deve assumir: cognitiva e culturalmente produzindo como
postura de libertador, valorizar cada resultado a evasão escolar, aumentando o
aprendizado, contribuir para propiciar a índice de analfabetismo no brasil.
identificação do que já é praticado pelo aluno
da EJA, o que se faz necessário é identificar Entretanto destacamos que reformulações
esse conhecimento relacionando-o ao curriculares dentro de uma perspectiva de
método acadêmico que é aplicado no impulsionar a educação de jovens e adultos
ambiente escolar. Segundo Moura (2007): vem caminhando a passos lentos.

Pensar na formação do professor de Jovens e Por outro lado as Diretrizes Nacionais para
adultos, no atual contexto socioeconômico, Educação através do parecer CNE|CP009|2001 (
político e cultural, exige uma avaliação e uma Brasil,2001),que vem tratar da Formação básica,
revisão da prática educativa e da formação em nível superior, curso de Licenciatura, de
inicial e continuada desses educadores, Graduação plena, apoiada na nova LDB9394|96
principalmente se considerarmos as aponta para uma nova proposta de formação de
especificidades e particularidade dos sujeitos- professores. ( MOURA, p.4)
alunos-trabalhadores. (p.48).
Seria uma conquista qualificativa, se
A diversidade que envolve os atuantes da as concepções adotadas pelas Diretrizes
EJA é um fator que a princípio pode parecer Nacionais fossem algo que reflita
um obstáculo dentro da sala de aula, mas positivamente no ambiente da EJA.
se olharmos detalhadamente podemos
identificar que essas particularidades servem Aparentemente o discurso bonito em
como base para ingressar numa relação suas entrelinhas parece querer mudar novos
proveitosa, com troca de experiências horizontes na formação dos professores,
enriquecedoras para o processo de entretanto ainda existe um caminho árduo
aprendizagem. a percorrer. A luta por uma formação
continuada do corpo docente é uma ponte
Segundo Wallon uma relação de para possibilitar uma conquista, a fim de
afetividade possibilita o desenvolvimento diminuir a evasão dos matriculados na EJA.
das práticas pedagógicas transformando em
atividades ricas em todo aspecto, causando Segue abaixo uma importante citação que
benefícios para aqueles que procuram a EJA. reflete a face da EJA:

Ainda persiste contraditórias metodologias Desaparecem, portanto, do campo de reflexão


da EJA os Jovens e Adultos que frequentam
que não agrega valores a educação de Jovens a escola regular, seja no ensino médio seja
e adultos, são poucos os conhecimentos em na universidade. Atualmente, muitos são os
relação a Andragogia –ciência que estuda o educadores que buscam ampliar este conceito,
incorporando ao trabalho e a reflexão sobre o
modo de aprender do adulto. tema os Jovens e os adultos que, estando no

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sistema de ensino regular, são submetidos a distinção entre o “eu” e o mundo através dos
propostas e práticas inadequadas tanto aos livros, de gravuras de objetos de seu meio. Entre
seus perfis socioeconômico-culturais quanto 4 a 6 anos a criança prefere a leitura do realismo
às suas possibilidades e necessidades reais. mágico: contos de fadas, lendas, mitos, fábulas,
(MOURA,2007,p.15). que podem oferecer mudança imaginativa, pois
nessa fase do seu desenvolvimento a criança é
essencialmente suscetível à fantasia(p.36)
Um dos principais motivos da evasão
escolar, é porque o individuo sofre com o O processo literário é fascinante em
padrão adotado pelas instituições escolares, todas as épocas, a literatura reforça o
principalmente nas classes baixas, tendem a desenvolvimento da criança através do seu
se agravar pela falta de acesso da população contato com livros e com a magia do faz
aos livros, deixando-os em desvantagem de contas, proporcionando a imaginação,
com as normas aos quais eles culturalmente a interação, a imaginação entre o real e o
desconhece. mundo da fantasia

Esse fator origina a evasão do ensino


regular e posteriormente quando a situação A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
socioeconômica lhes exigir, estes buscarão a NA ALFABETIZAÇÃO
EJA.
A Leitura é fundamental para aquisição da
Portanto para que o retorno desses aprendizagem, é através desse processo que
indivíduos não venha resultar em um enriquecemos nosso vocabulário, para tanto
novo abandono escolar, é necessário que se faz necessário apreciar uma obra literária
os educadores estejam preparados, para de qualidade.
entender as questões que estes integrantes
vem trazer para a sala de aula. Segundo Paulo Freire a leitura do
mundo precede sempre a leitura da palavra
De acordo com Paulo Freire, não basta (FREIRE,198). Aprendemos a ler o mundo
saber ler que Eva viu a uva. É preciso antes mesmo de decodificar os sinais gráficos
compreender qual a posição que Eva ocupa das letras. Aprende-se um pouco de uma
no seu contexto social, quem trabalha outra cultura, através dos textos.
para produzir a uva e quem lucra com esse
trabalho. O contato com o mundo das palavras,
acontece desde sempre.
De acordo com Bamberger (1977) afirma
que a fase dos 2 a 5 ou 6 anos: A todo momento, as crianças mesmo
antes a aquisição da fala, são bombardeadas
É a fase de mentalidade mágica, em que a criança por uma diversidade de palavras. Durante
faz pouca diferença entre o mundo externo
e o interno. A literatura vai ajuda -lá a fazer a um longo período sua participação é de ser

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Revista Educar FCE - Abril 2019

um ouvinte, entretanto é um ouvinte participativo, pois mesmo sem a aquisição completa da


fala, consegue demonstrar interesse através dos gestos corporais e faciais.

A partir do momento que adquire a linguagem verbal, mesmo antes de ser alfabetizado,
consegue transitar pelo mundo da leitura. Muitas vezes utiliza-se da imaginação para criar e
recriar histórias.

Assim, a educação escolar não pode ser pensada nem realizada senão a partir da ideia de
uma formação integral do aluno, segundo suas capacidades e seus talentos e de um ensino
participativo, solidário e acolhedor, que esteja presente nos textos literários disponibilizados
aos alunos.

É evidente que todo professor prepara sua aula, estas devem atender as necessidades
dos alunos, ou seja se o aluno tem dificuldade de leitura, o professor deve providenciar
atividades e materiais para sanar esse problema.

As limitações no comportamento adaptativo afetam não só a vida diária do indivíduo,


mas também as suas possibilidades de integração social, é um desafio incluir e ao mesmo
tempo obter uma aprendizagem significativa. Mas no entanto, é segmentado por discurso e
realidade, com uma estrutura mínima e deficitária.

É preciso reconhecer que a educação brasileira, visualmente, não atenta a todos os


detalhes e a exatidão que requer o processo de alfabetização. Nem sempre a intervenção é
bem realizada porque ainda profissionais não tem capacitação para tratar especificamente
desse processo de aprendizagem.

A grande problemática nesse contexto de alfabetização é que o trabalho se torna árduo,


pois a individualidade de cada criança, tende a ser único, por isso gera uma conduta única,
que deve atender uma só pessoa, a fim de obtenção de um aprendizado qualitativo e o
desenvolvimento da autonomia de cada pessoa envolvida no processo educativo.

Em síntese, a última finalidade do processo de ensino e aprendizagem é o aluno ser capaz


de aplicar o que aprendeu em situações novas da sua vida cotidiana.

Ainda nos dias de hoje muitas crianças têm dificuldade de linguagem, de interação social,
mas isso é uma variação de comportamento, e é difícil perceber o que é normal e o que não
é normal.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola não muda como um todo, mas os alunos têm de
mudar para se adaptar às suas exigências, o que pode ser
questionada nas entrelinhas da constituição, que garantem
o direito à educação de qualidade a todos.

A questão central da alfabetização é capacitar o docente,


a fim de que este organize as situações de ensino de modo a
tornar possível o maior nível de interação entre os estudantes
e participação de todos nas atividades propostas, sem ERIKA CRISTINA DE
perder de vista as necessidades concretas de cada um e em MATOS CARNAÌBA
particular daqueles com maior risco de exclusão em termos
Graduação em Pedagogia
de aprendizagem e participação. pela Universidade Cruzeiro
do Sul (2012); Especialista em
Significa romper com o esquema tradicional, no qual Psicopedagogia pela Faculdade
Campos Elíseos (2016) ; Professor
uma aula é planejada e organizada para todas as crianças de Educação Infantil na CEI Anita
ao mesmo tempo, ou seja, todas as crianças executam as Garibaldi
mesmas tarefas, da mesma forma e com os mesmos materiais.

Ainda existem muitas dificuldades para lidar com a


alfabetização de crianças, jovens e adultos, pois muitos
fatores não atendem a necessidade especifica de cada
indivíduo. Simultaneamente a essa questão permanece o silêncio e o vazio instrucional na
formação inicial de professores, o investimento do governo na área da educação.

A consequência é o desenvolvimento de uma prática sem qualidade, que compromete a


aprendizagem e a autonomia da criança, permanecendo assim por toda sua infância e vida
adulta. Para tanto é crucial entender suas necessidades e dificuldades em toda sua extensão.

Dentro do ambiente escolar deve-se reconhecer em cada criança uma pessoa única,
tornando-se, portanto, essencial estabelecer relações autênticas e adotar uma atitude de
abertura, promovendo auto estima e desenvolvimento emocional e intelectual do aluno,
fomentando o respeito e a valorização mútua entre todos os envolvidos no processo
educativo. Para tanto uma boa estratégia é a garantia do sucesso.

A inclusão de uma literatura variada, ajuda o aluno nos dias atuais ainda não pode-se dizer
que o analfabetismo ainda não foi extinto do território brasileiro.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Entretanto existe um longo caminho a percorrer e grandes expectativas e estudos e


pesquisa para se obter um retorno positivo. Porém, ainda desigualdade social é uma ameaça
constante na elevação da taxa de analfabetos no brasil, pois a falta de recursos financeiros
dificultam a permanência nas escolas.

A história da educação brasileira, e em especial a de jovens e adultos começou como se


fosse uma prática passageira, que seria resolvida em um pequeno espaço de tempo. O foco
do governo, ainda permanece em erradicar o analfabetismo principalmente nas crianças.

Currículos pobre, que não acrescentam nenhum critério significante para formação do
indivíduo. Mas entretanto, não podemos deixar de destacar que a EJA vem servir de ponte
para suprir o abismo que a evasão escolar propiciou. O universo em torno do ambiente
escolar é assolado por vários critérios que leva a levantar questionamentos. A formação,
convergências e tensões no campo da formação do trabalho docente.

Diferentemente das crianças, que têm o professor como figura modelo e que precisam
aprender o que é ensinado por ele, os adultos exigem do professor todo o conteúdo, do qual
tem interesse e dos quais precisa obter resultado na sua vida (prontidão para aprender /
orientação para a aprendizagem), eles aprendem a partir de suas experiências (assimilação).

O educador e filósofo Paulo Freire diz que o aprendizado para adultos é diferente, pois
eles já têm experiência de vida e um vasto conhecimento do mundo. Um fator determinante
enfatiza que o convívio com o outro é imprescindível ao exercício da cidadania, o precário
acesso à leitura e a escrita como causas da exclusão da cidadania oculta as causas mais
profundas dessa exclusão, que são as condições materiais de existência a que são submetidos
os excluídos.

O estudo serviu para identificarmos que a alfabetização depende exclusivamente de


promover o acesso a leitura e a uma literatura de qualidade que seja disponibilizada as
camadas populares.

Devendo portanto existir a conscientização dessas camadas populares, que incentivar os


seus filhos a ler, vai contribuir para a eficácia da sua alfabetização e a melhoria na qualidade
de vida e o crescimento pessoal, cultural e profissional.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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ALVES,N. Formação de Professores: pensar e fazer para todos São Paulo: Cortez 1ª Ed., 2006

BOSA,C.A, As relações entre Autismo,ComportamentoSocial-3 ed.,Artmed,2001, Porto


Alegre

BRASIL. Plano Nacional de Educação Lei n.º 10.172, 09/01/2001. Brasília: Diário Oficial da
União N.º 7, Ano CXXXIX, 10 de janeiro de 2001.

BRASIL. Projeto Escola Viva: Adaptações Curriculares de Grande porte.


MEC/SEF/SEESP. Brasília - DF, 2000.

BUORO, Ana Amélia Bueno O Olhar em Construção São Paulo: Cortez 1ª Ed., 1996

CANTARRELLI, Ana Paula Literatura Infantil: Instrumento educacional. UFMS,2006.


Disponível em www.unifra acesso 15|02|2018

DALBEM, Angela (et.al).Coleção Didática e Prática de Ensino-3 ed. ,autentica,2008, Rio de


Janeiro

SOUZA, Maria Antônia de, Educação de Jovens e Adultos-3 ed.,Ibpex,2011,Curitiba

MANTOAN,M.T.E, Caminhos pedagógicos da inclusão -1 ed. Memmon Edições


Científicas 2001, São Paulo

MOURA, Tania de Melo. A Formação de Professores para Educação de Jovens e Adultos. – 2


ed. Autentica,2007, Curitiba

MOURA, Tania de Melo, Currículo, Trabalho docente, Práticas de Alfabetização-1 ed.,


Autentica, 2008, Curitiba.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A PREVENÇÃO DE DOENÇAS TRANSMITIDAS


PELO CARAMUJO AFRICANO: EDUCAÇÃO
PARA A SUSTENTABILIDADE
RESUMO: O presente trabalho buscou evidenciar a importância da educação para a
sustentabilidade, ao abordar o problema da invasão da espécie A. fulica, molusco originário
da África que hoje ameaça espécies nativas de extinção, em razão de sua grande capacidade
adaptativa e rápida reprodução. Some-se a isso, o caramujo ser um agente transmissor de
doenças que podem, até mesmo, levar à óbito. Ele também causa grandes prejuízos à agricultura
e horticultura, sendo considerado uma praga doméstica. Ao analisar os danos ambientais,
econômicos e à saúde ocasionados pelo A. fulica, foi realizada uma pesquisa bibliográfica para,
com base no conhecimento sobre a espécie, suas características e os métodos de prevenção
e combate, conscientizar a população sobre os riscos de sua proliferação e de contágio. Para
tanto, foram utilizados artigos científicos e obras de autores especializados na temática, no
intuito de conferir ao trabalho confiabilidade quanto às informações apresentadas. Quanto à
questão da conscientização e fomento de práticas sustentáveis e de proteção ao meio ambiente,
a abordagem aqui apresentada defende a adoção da educação para a sustentabilidade como
disciplina nos cursos de ensino superior, sobretudo os que formam professores. No entanto,
torna-se essencial tratar sobre a sustentabilidade em todas as esferas educacionais, não de
forma esporádica ou informal, mas por meio da sistematização de saberes e integração com o
projeto pedagógico das escolas.

Palavras-Chave: Achatina fulica; Saúde; Educação para a sustentabilidade;

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Revista Educar FCE - Abril 2019

DEFINIÇÃO DE ARTE escolha é justificada pela necessidade de


utilizar fontes fidedignas, que tragam dados
A invasão biológica de espécies exóticas confiáveis, conferindo ao trabalho validade
ocorre de forma silenciosa, algumas vezes científica.
devastadora e é considerada, hoje, uma das
principais causas da extinção de espécies
nativas. Acontece quando animais, plantas O CARAMUJO AFRICANO
e micro-organismos de um determinado
lugar são levados para outro, onde não A União Internacional para a Conservação
há predadores para limitar sua população. da Natureza (International Union for
Assim, o meio ambiente, a economia e a Conservation of Nature – IUCN, 2009)
saúde do homem são afetados. define as espécies exóticas invasoras como
organismos introduzidos pelo homem em
Raut e Barcker (2002) alertam para lugares fora da sua área de distribuição
o problema causado quando, com o natural. Lá, eles se estabelecem e espalham,
estabelecimento de grandes populações em impactando negativamente no ecossistema
florestas primárias e secundárias, ocorrem local e suas espécies. Esse impacto pode ser
alterações no meio ambiente e consequências de grande, média ou pequenas proporção.
geradas na saúde humana com a entrada Em todo caso, sua ocorrência precisa ser
e disseminação dessa espécie exótica. É o estudada e corrigida. A IUCN ressalta ainda
caso do caramujo africano Achantina fulica, que as espécies invasoras são a segunda
espécie invasora, hoje presente em 23 maior causa da perda da biodiversidade
estados brasileiros. global, ao contribuir para a extinção de
espécies em todo o planeta. Coradin e Tortato
De abordagem quanti-qualitativa, este (2006) mencionam que, além causar grandes
estudo buscou, mediante da pesquisa danos aos ecossistemas e outras espécies, as
bibliográfica, conhecer melhor a espécie espécies exóticas invasoras afetam a saúde
e compreender o que favoreceu seu humana e a economia.
alastramento. A investigação procurou
responder às seguintes questões: Qual No Brasil, dentre essas espécies exóticas,
a relevância do caramujo gigante para a em razão dos prejuízos que causa ao meio
saúde pública? Como a educação para a ambiente, figura a Achatina fulica, espécie
sustentabilidade pode contribuir para a invasora conhecida popularmente como
conscientização sobre este problema? caramujo gigante, caramujo gigante africano
ou apenas como caramujo africano, foco de
A fundamentação teórica priorizou artigos grande preocupação no país, sobretudo por
publicados em revistas científicas e obras de ser agente transmissor de doenças, aspecto
especialistas e estudiosos do assunto. Essa que é objeto deste trabalho.

294
Revista Educar FCE - Abril 2019

ORIGEM Contudo, os evidentes impactos para a


biodiversidade não são a única preocupação
O Caramujo Africano é um molusco com relação à espécie. Os riscos à saúde
terrestre, oriundo do nordeste da África, pública também preocupam, uma vez que o
descrito pela primeira vez, fora do seu Achatina fulica é agente transmissor de um
habitat natural, em 1803, na Ilha Maurício, tipo de meningite.
sendo distribuído para diversos países como
Índia, Ceilão, Malásia, Austrália, Gana, Costa
do Marfim, Japão, Estados Unidos, Indonésia, IMPACTO À SAÚDE
diversos países insulares, inclusive o Havaí e
outros. O A. fulica pode transmitir zoonoses,
causar danos ao meio ambiente e prejuízos
No Brasil, foi trazido ilegalmente para econômicos.
Curitiba, capital paranaense, na década de
1980, em uma feira agropecuária, a fim de Conforme Zanol et al. (2010, p.448):
concorrer com espécies de escargot. Segundo
Coelho (2005), o que favoreceu a vinda da A.fulica pode transmitir zoonoses, causar danos
ao meio ambiente e prejuízos econômicos.
espécie foram três fatores: a alta taxa de Esses danos são geralmente elevados devido ao
reprodução, fácil adaptação a diferentes comportamento gregário e frequentes explosões
ambientes e ausência de predadores. populacionais da espécie (Mead 1961). Tal
infestação aumenta de importância quando
consideramos que esse caramujo é hospedeiro
De acordo Fontoura (2009), em estudo intermediário de larvas de nematódeos
para o Instituto Oswaldo Cruz, esta espécie Metastrogyloidea parasitos do ser humano, bem
como de felídeos, cães e outros mamíferos.
está presente em todas as regiões do país e é
preciso tomar providências urgentes, pois ele
possui uma alta capacidade de reprodução. Existem duas zoonoses que podem
ser transmitidas pelo caramujo africano.
Silvana Thiengo, responsável pelo Segundo Thiengo et al. (2007), as doenças
Laboratório de Referência Nacional em que o caramujo africano pode causar são as
Malacologia Médica do Instituto Oswaldo seguintes:
Cruz (IOC/Fiocruz) alerta “nos ambientes
urbanos as populações desses moluscos • Meningite eosinofílica, causada pelo
são densas, invadem e destroem hortas e verme Angiostrongylus cantonensis, que
jardins. Como são formadas por animais de passa pelo sistema nervoso central, antes
grande porte, com 10cm em média, causam de se alojar nos pulmões. O ciclo da doença
transtornos às comunidades das áreas envolve moluscos e roedores, porém, homem
afetadas” (FONTOURA, 2009, p. 1). pode entrar acidentalmente neste ciclo. O
A. fulica é considerado o mais importante

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Revista Educar FCE - Abril 2019

hospedeiro intermediário do A. cantonensis, • Angiostrongilíase abdominal, com


por ser o mais abundante. Mais de 2.820 casos já registrados no Brasil, mas não
casos foram relatados em aproximadamente transmitidos pelo caramujo africano. A
30 países, mormente na Ásia e nas Ilhas do angiostrangilíase abdominal, causada pelo
Pacífico. A infecção por A. cantonensis tem parasita Angiostrongylus costaricensis,
sido cada vez mais detectada em viajantes muitas vezes é assintomática, mas em alguns
que retornam de áreas endêmicas e agora casos pode levar ao óbito, por perfuração
é considerado um problema crescente de intestinal e peritonite. Em testes realizados
segurança alimentar. Foram detectados em em laboratório, o Achatina fulica não se
hospedeiros de várias localidades costeiras revelou um bom hospedeiro, sendo, portanto,
no Brasil, que vão do Pará a Santa Catarina considerado um hospedeiro potencial para
(COGNATO et al., 2013). o parasita, causador da angiostrongilíase
abdominal (TELES et al., 1997).
No Brasil, o caramujo gigante africano é
o vetor mais frequente do A. cantonensis. A Seus sintomas são: abdômen agudo, com
contaminação ocorre quando os caramujos dor nas regiões da fossa ilíaca, flanco e
ingerem fezes de roedores contaminadas com hipocôndrio direito, febre, cefaleia, fraqueza,
larvas do verme. Depois, ao se locomovem, déficit cognitivo, uma vez que o verme pode
liberam o muco que também contém larvas. acometer o sistema nervoso central.
O contágio humano pode ocorrer pela
ingestão de legumes, verduras, e frutas
mal lavados, por exemplo, que podem estar EDUCAÇÃO PARA A
infectadas com esse muco. Outra forma de SUSTENTABILIDADE
infecção é contato com plantas e vegetais
contaminados e depois levar a mão à boca O papel do professor ao abordar problemas
(THOMÉ, 2014). em relação ao desenvolvimento sustentável,
na escola, deve ser de articulador de
Os sintomas dessa doença são: dor conhecimentos nas diversas disciplinas, por
de cabeça frequente, febre alta e menos meio de projetos interdisciplinares.
frequente, e rigidez na nuca. Normalmente O tema objeto do presente estudo é de
a detecção da meningite é feito por meio grande relevância, pois alerta à população
de exame de liquor, líquido extraído entre sobre cuidados que deve ter com o Caramujo
as meninges, extraído por punção lombar. Africano, presente em quase todo o país.
Contudo, Cognato et al. (2013) informam Este trabalho tem como objetivo que o aluno
que o diagnóstico parasitológico da seja um agente multiplicador, difundindo
meningite eosinofílica é difícil porque as informações e o que aprendeu para sua
larvas raramente são encontradas durante casa e sua comunidade, promovendo o
exames de líquido cefalorraquidiano. conhecimento sobre assuntos importantes

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Revista Educar FCE - Abril 2019

para o meio ambiente e a saúde pública. Sobre a abordagem do controle, combate


e prevenção do A. Fulica, Silva (2009,
Oliveira (2011), cita Morin (2002), para p.13) dispõe que, a humanidade precisa se
defender a adoção de uma Educação enxergar como protagonista de processos
Ambiental (EA) mais concatenada com este ambientais, assim como já acontece em
século, imbuída pelo desejo de transformar a processos político-sociais. Por essa razão
realidade. Segundo a autora, essa perspectiva é que “é importante que a problemática
do processo educacional influencia o ambiental do caracol africano seja discutida
processo de aprendizagem e modificando nas escolas tanto quanto os problemas
os aspectos sobre a relação entre indivíduos sociais vivenciados pela população.
e o meio ambiente e nos comportamentos
cotidianos que afetam a qualidade de vida, A educação para sustentabilidade no
a educação ambiental. Com isso, estimula- ensino superior configura-se como um
se o uso de ferramentas para constituição desafio dentro do sistema acadêmico, uma
de uma visão crítica para o aluno, além vez que muitas universidades já buscam
de reforçar práticas que esclarecem a sua implementação, pautadas em vários
necessidade de levantar e atuar em relação estudos de caso e em pesquisas. Contudo,
aos problemas socioambientais, tendo em acabam esbarrando na burocracia gerada por
vista a conservação do meio ambiente e processos, documentos e diretrizes, o que
cuidados com saúde pública. demanda a busca por novas metodologias
que viabilizem a inserção da sustentabilidade
É inegável a capacidade que a educação nos currículos (BARTH; RIECKMANN, 2012).
tem como instrumento para a conservação
do meio ambiente. As crianças de hoje se Pautando-se nas resoluções da
veem muito mais como cidadãos do futuro Organização das Nações Unidas (ONU)
e, por isso, pensam num futuro sustentável. e na teoria de Jean Piaget, Nobre et al.
Diante do exposto, é preciso considerar (2012) caracterizam o processo de educação
que formação educacional não se limita a para sustentabilidade no ensino superior
apenas a apreensão de conhecimentos, ela numa perspectiva transversal, em que se
também envolve valores e habilidades que faz necessário desenvolver no aluno cinco
para a formação de indivíduos cônscios dimensões: a consciência, o conhecimento, a
de sua função social e da necessidade de altitude, a capacidade e a participação. Esses
envolvimento responsável em processos aspectos são fundamentais para promover
que impactam a vida como um todo, o que uma sociedade sustentável por meio de uma
inclui o meio ambiente, com todos os seus educação centrada no aluno que, de forma
elementos constituintes, e seus problemas autônoma, produz conhecimento e cultura
(PADUA et al., 2003). contribuindo para o processo de formação
do pensamento coletivo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Shrivastava (2010) destaca a importância da pedagogia da paixão, com o fito de ajudar os


estudantes a compreenderem e resolverem problemas numa abordagem holística, que une
aprendizagem física e emocional com o cognitivo. O autor ressalta também que as práticas de
ensino para uma gestão sustentável precisam incluir fatos científicos, ferramentas analíticas,
modelos de otimização e técnicas de gestão.

Percebe-se, então que, a educação para a sustentabilidade precisa ser contemplada na


educação em todas as suas esferas. Contudo, esse processo só alcançará êxito se os cursos de
formação de professores iniciarem esta mudança, ao considerar práticas de conscientização
em prol de um futuro sustentável.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou investigar a ação de espécies
exóticas no Brasil, mais especificamente da A. fulica, o
caramujo de origem africana. A identificação da causa que
originou a invasão e de suas consequências confirmou real
prejuízo que ela causa à biodiversidade da flora e fauna
nativa. Também se constatou danos à saúde da população,
já que o molusco não provoca apenas impactos ambientais,
mas também são conhecidos por serem hospedeiros de
duas espécies de verminoses que acometem os seres FÁBIO ROBERTO
humanos: a angiostrongilíase meningoencefálica, causada MANENTE DOS SANTOS
pelo Angiostrongylus cantonensis, e angiostrongilíase
Especialista em Gestão Escolar
abdominal, cujo agente é o Angiostrongylus costaricensis. pela Faculdade Campos Elíseos
Apesar da angiostrongilíase abdominal ser ocasionalmente (2018). Professor de Educação
diagnosticada no Brasil, geralmente ela está relacionada Básica – II Ciências Biológicas
na Rede particular de ensino no
com outros hospedeiros, entre caracóis e lesmas, que não Colégio Adventista
incluem o caramujo-africano. No entanto, estas doenças são
bons argumentos para que o controle do caramujo africano
seja mais efetivo.

A análise buscou ainda demonstrar, que a introdução


de espécies exóticas deve ser evitada ao máximo, só
sendo admitida, mediante estudo prévio que estabeleça claramente o possível impacto
ambiental causado, concluindo, de forma inexorável, pelas extraordinárias vantagens, não
só econômicas, mas sobretudo socioambientais, da entrada de determinada espécie exótica
no país. No caso do caramujo gigante africano, tal cuidado não existiu, uma vez que sua
proliferação ocorreu mediante descaso, após uma empreitada econômica frustrada de
oferece esta espécie como alternativa ao escargot. A inexistência de predadores naturais,
aliada à resistência e excelente capacidade de procriação desse animal, permitiram com que
esse caramujo se adaptasse bem a diversos ambientes, hoje encontrado em 23 estados.
Como são hermafroditas (possuem os dois sexos em um mesmo animal) e realizam a
autofecundação, basta apenas um indivíduo para que a praga se alastre.

Diante do preocupante crescimento da espécie A. fulica e considerando os prejuízos


econômicos, sociais e ambientais que provoca, esta pesquisa abordou a importância da
educação para a sustentabilidade como instrumento de conscientização da comunidade
sobre os perigos que o caramujo pode trazer à sociedade. Para tanto, foi realizada uma

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Revista Educar FCE - Abril 2019

pesquisa de bibliografia específica, fontes que comprovassem os perigos que o Achatina


fulica traz, de modo que todos possam conhecer melhor a espécie e, de forma crítica e
contextualizada, possam fazer a prevenção das doenças que ele transmite e minimizar os
danos que causa ao meio ambiente, sobretudo ao ameaçar espécies nativas de extinção.
Também se espera que, com a informação sobre este molusco, os prejuízos às plantações e
horticulturas sejam evitados.

Recomenda-se para a solução do problema do caramujo africano a ação conjunta entre


os moradores, a comunidade acadêmica e as autoridades locais. Para qualquer ação de
sucesso, primeiro é necessária avaliação e caracterização das populações de Achatina
fulica, reconhecimento da distribuição e locais de predomínio das infestações, seguido pela
integração comunitária de moradores locais diante da espécie invasora e a biodiversidade
nativa.

A conscientização dessas pessoas, considerando seus aspectos culturais um passo


fundamental para o sucesso de qualquer ação. A comunidade acadêmica, por sua vez, deve
contribuir com novas pesquisas que permitam conhecer melhor a espécie invasora e buscar
métodos alternativos ou novas tecnologias para o controle da praga. Mais que isso, é preciso
repensar a formação de professores, incluindo a educação para a sustentabilidade como
disciplina indispensável para garantir um futuro sustentável. Por fim, as ações destas três
parcelas da sociedade devem ser conjuntas, claras e frequentes.

300
Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

UMA ANÁLISE DA ALFABETIZAÇÃO


INCLUSA NA PROPOSTA DA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Esse artigo visa descrever as necessidades de iniciar a alfabetização mesmo que
superficialmente durante a educação infantil uma vez que o contato das crianças com o mundo
letrado acontece de maneira frequente, sendo necessário que o educador se preocupa em
apresentar letras e fonemas aos educando sem observar e ensinar o que está escrito por trás
das letras. Ensina-se a ler sem que a criança saiba o que está lendo, codificam-se os símbolos
sem que se entendam quais são seus reais significados, transformando o futuro leitores
em analfabetos funcionais, que conseguem decifrar os códigos, porém não entendem a
mensagem que se deseja transmitir. Procura-se expressar neste artigo então a necessidade
de alfabetizar realmente para a vida, contribuindo para a construção da autonomia da criança,
favorecendo seu desenvolvimento e a construção de seu conhecimento, uma vez que, com
a mudança de paradigma da alfabetização, busca-se suprir a necessidade de que, no mundo
globalizado, o indivíduo seja realmente letrado para entender as mais diversas informações
emitidas pelos meios de comunicação existentes.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Leitor; Comunicação; Livros.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO A criança na educação infantil antes


de desenhar as letras, ela desenha, e se
O homem necessita da leitura da mesma expressa por meio do desenho sendo assim,
forma que da escrita para comunicar- é possível afirmar que a criança convive com
se e receber informações exteriores. Tais a leitura e a escrita em todos os momentos,
informações estão presentes durante o seja manuseando um livro de histórias
processo de aperfeiçoamento das várias ou por meio de contato com embalagens
formas de registro (som, vídeo, TV, etc.). Todos diversas, ao visitar o supermercado, realizar
estes, para se tornarem possíveis de serem passeios, observar propagandas. Tudo isso
entendidos, dependem da leitura. Enquanto contribui para a convivência da criança
alfabetizar significa decifrar códigos e juntar com o mundo das letras contextualizadas,
fonemas para ler e entender as palavras, o muito importantes para o processo de
letramento vem neste como caminho para aprendizagem.
a construção da cidadania, colocando o
indivíduo em contato com o mundo, dando- Nesta perspectiva é possível afirmar que
lhe significado social (SOARES, 2001). alfabetizar é, mais do que decifrar códigos,
uma vez que ler e escrever baseiam-se
Ao iniciarmos o processo de alfabetização simplesmente no ato de unir as letras e
é muito difícil para o adulto com olhos emitir sons. Isso, teoricamente, nos permite
treinados entender as situações vividas considerar o indivíduo alfabetizado, uma vez
pelas crianças para iniciarem seu processo que para tal é necessário que se conheça a
de alfabetização. Este processo para ser língua utilizada (LANDSMANN, 2002).
entendido é muito complicado, pois nós já
temos o esquema de códigos interiorizados. Alfabetizar significa ensinar o real
Ao iniciarmos a proposta de leitura, recebemos significado da leitura e da escrita,
as informações e, sem percebermos ao certo desenvolvendo o senso crítico do aluno
como, já estamos lendo. para que este consiga interpretar tudo o
que se lê de maneira adequada, e isto ocorre
A criança, dentro do processo passa por um desde a primeira infância, o objetivo deste
processo diferenciado, pois ela testa, treina, artigo é então compreender que apesar
escreve, lê, não concorda, apaga, começa de da não obrigação de alfabetizar as crianças
novo, e busca informações exteriores para na educação infantil, o processo se dá de
conseguir entender o significado do que forma simples e involuntária, ao qual visa
está escrito, experimentando até conseguir garantir o contato com os livros e o mundo
construir o aprendizado que podemos letrado frequentemente, estamos ajudando
denominar de leitura (Ferreiro, 1998). as crianças a construírem seu processo de
alfabetização.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

UMA ANÁLISE DA criam hipóteses de como se lê. Durante


ALFABETIZAÇÃO INCLUSA NA este processo de construção, eles utilizam-
se de desenhos, garatujas e símbolos para
PROPOSTA DA EDUCAÇÃO expressar o que estão lendo. Em seguida,
INFANTIL ao descobrirem as letras, eles se utilizam
delas de forma desordenada, iniciando a
Vigotsky (1988) define estes rabiscos e construção do fonema, construindo as letras
desenhos como signos que contribuem para e oferecendo significado a eles.
que as crianças descubram um sistema de
representação próprio, no caso, as letras, Na educação infantil usamos a imagem, é
antecipando e facilitando a compreensão da certo que só a imagem e o seu reconhecimento
linguagem escrita. não é o suficiente para a construção da
leitura, porém ao usa-la levamos a criança a
Landsmann (2002) define estes leitores entrar em uma proposta de aprendizagem
que conseguem decifrar receitas, ler que favorece o reconhecer outros tipos de
outdoors, sinais de trânsito, etc, como linguagem, mas para alcançá-las é necessário
analfabetos funcionais, pois as informações exteriorizar o aprendizado, problematizando,
transmitidas entre eles são muito limitadas questionando, melhorando o processo de
entre si, não favorecendo de forma alguma à produção (Landsmann,2002).
leitura completa dos dados, não permitindo
ao leitor entender o que está por trás das É possível, portanto, afirmar que para
letras. construir a leitura e a escrita e, por sua
vez, ser alfabetizado, o indivíduo deve
Calegari (2001, p. 53) defende que possuir informações anteriores a respeito
“aprender primeiro a ler é muito mais dos assuntos tratados, devendo também
importante que escrever. Escrever é relacionar as linguagens não verbais, trazidas
decorrência do fato de uma pessoa saber ler”. de fora da escola, com a linguagem verbal
Com esta informação, portanto, é possível feita dentro da escola.
afirmar que a escrita é construída como
consequência, pois a leitura tem seu primeiro Haja vista que a criança, em seu processo
contato com a imagem, que desencadeia de alfabetização, não vem vazia, ela tem várias
um processo de decodificação dos textos, informações armazenadas. O espaço escolar
que se resumem em um emaranhado de deve valorizar o fato de o aluno conviver
informações processadas e entendidas pelo com diferentes formas de linguagem em seu
cérebro. cotidiano, não podendo, portanto, criar um
ponto exato para desenvolver o processo de
Segundo Emília Ferreiro (1998), ao leitura.
iniciarem a aprendizagem, os pequenos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Então é necessário refletir se é correto


afirmar que a data certa para a desenvolver A leitura além dos muros da escola possui
seria os seis, sete, oito ou outra idade. O um caráter de autonomia, de independência,
estímulo e o contato com livros, escrita, que permite que a criança seja dona do
desenhos, é muito grande, e crianças muito seu saber. É assim que deveria ser a escola:
pequenas possuem acesso a todo este um local de construção com textos que
material que as levam a ler mais cedo (NOVA possuíssem sentido e valores para os alunos
ESCOLA, 2004). leitores e pudesse ajudar na construção da
personalidade do indivíduo. O problema está
O papel da escola se torna, então, muito no fato de a escola ser mera reprodutora
mais importante do que possa se imaginar, dos saberes dominantes; ela não permite
pois os estímulos existem e estão presentes no ao indivíduo pensar por si próprio, pois
dia-a-dia das crianças a serem alfabetizadas. indivíduos pensantes criam cidadãos críticos,
A função escolar é a de organizar estes e estes causariam problemas, questionariam.
conhecimentos, permitindo-lhes apropriar- Seria, então, uma população bem mais difícil
se de informações que oferecem novos de controlar (FREIRE, 1995).
conhecimentos.
É difícil para o educador transferir as
É preciso, então, que estas teorias sejam oportunidades oferecidas no exterior da
esclarecidas para a instituição Educacional escola para seu interior, pois nem tudo o que
para que, assim, ela perceba como oferecer se experimenta fora pode ser reproduzido
instruções para a alfabetização, uma vez que dentro dos muros da escola, pois, lá fora, a
esta não significa apenas decifrar códigos leitura apresentada mostra-se desafiadora.
para construir a leitura. É necessário permitir É assim que ela deve ser, pois transforma o
que nosso pequeno e futuro leitor percebam leitor em um indivíduo confiante. O êxito do
a escrita por meio da leitura, transpondo o processo de disseminação de alfabetização
texto, refletindo, adquirindo o conhecimento, garante o processo a todos, porém as
e não simplesmente repetindo o que está metodologias oferecidas atingem a poucos,
escrito. dificultando o estado de construção do leitor
fluente. Pode-se chamar este processo de
Entende-se então que ser alfabetizado letramento.
é então uma prática social necessária a
todos os indivíduos, pois, fora dos muros O letramento, então, ocupa um importante
da escola, não se realiza a leitura apenas lugar na construção do conhecimento, tendo
para aprender a ler; aprende-se a ler para em vista que o processo de ler nos leva a
entender o mundo, sendo este um meio de o compreender a razão de todas as coisas.
indivíduo se socializar, obter as informações Podemos dizer que o processo utilizado
necessárias e se comunicar. para ler e escrever está intimamente ligado

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ao processo de aprender, obtendo um papel as hipóteses, criam-se os argumentos e


muito importante na vida do indivíduo, constrói-se um indivíduo com olhar sensível
pois este é um poderoso meio para a às necessidades (Orlandi, 2001).
transformação da realidade, criadora de um
indivíduo politizado, sabedor de seus direitos, As informações recebidas pelos registros
deveres e pensamentos. (Soares,2001). acessados nos vêm por meio dos olhos. Estes
portanto, são entendidos como importantes
Este processo é entendido então, como mecanismos para que se inicie o processo de
uma fonte de poder e força na vida da alfabetizar, pois permitem que as informações
pessoa, o que a leva a libertação do processo cheguem ao cérebro. No entanto, para tornar
de escravidão (social, político, econômico) a leitura possível, é necessário obter outras
que o mesmo está inserido, modificando os informações que podem ser definidas como
contextos sociais existentes ( Freire,1995) . um “pré conhecimento” do que os olhos
estão vendo; seria como uma imagem não
A criança que entra na educação infantil visual impressa nele (FERREIRO, 1998).
pode ser considerada um indivíduo letrado
pois mesmo sem saber ler, consegue A autora ainda afirma que este processo
entender as informações das mensagens se produz por meio da relação entre as
transmitidas, estas informações podem ser informações visualizadas e as não visualizadas,
consideradas tão importantes quanto o ato criando, assim, um intercâmbio entre elas
de realizar registros, estando presente em como se fossem arquivos. Observam-se
vários segmentos de comunicação (SOARES, tais afirmativas desde o descobrimento
2001). da escrita, quando homens das cavernas
desenhavam seus feitos para que outros
Observa-se tal afirmativa quando ela ve tomassem conhecimento dos seus registros,
um livro de histórias, por exemplo. O que a o que significava que, quanto mais se sabe,
torna engraçada é a forma com que a lemos, mais se tem a descobrir, pois para lermos
interpretamos e a entendemos; ou ainda, algo é necessário obtermos certa quantidade
quando pedimos a ela para recriar uma de informações pré-adquiridas.
obra, ela simplesmente desenha, deixando
sua visão clara e definida buscando que Para distinguir o que está codificado é
se entenda pelos seus olhos o que está preciso obter fragmentado, em nosso sistema,
impresso. certa quantidade de códigos, desenhos,
gravuras. A criança recebe no mundo letrado
Este exercício de observar, ler e interpretar mais informações pois tem tudo diante de
contribui para o desenvolvimento dos seus olhos. Este consegue visualizar também
sentidos, já que é por meio da forma com o que se encontra atrás deles.
que se vê a imagem é que se constroem

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Silva (1986), afirma que “o processo de o que pensa o leitor (FREIRE, 1995).
formação do leitor está articulado a um
cotidiano o qual existe é um intricado A construção realizada dentro dos muros
conjunto de mecanismos que acabam por escolares, então, pode ser definida segundo
neutralizar a prática da leitura”. (SILVA,1986, Silva (2002): é “de ledores”, que simplesmente
p.86). leem e aceitam o que está escrito, sem
questionar as verdades ali contidas. No
É unindo, portanto, tais informações entanto, esta deveria ser realizada para
visuais e as não visuais que nosso cérebro nos construir verdadeiros “leitores”, que pensam,
leva a caminhos que permitem desenvolver o discutem e debatem sobre o que está escrito.
significado do letramento, visualizando esta A união do processo de alfabetização e o
forma de leitura como o modo do homem letramento possuem esta função na vida
compreender-se, bem como compreender as do educando, pois, ao alfabetizar e letrar
coisas que estão à sua volta, transformando- o indivíduo, cumpre-se o papel social da
se em um ser alfabetizado e letrado. (Soares, alfabetização, que se condiciona ao processo
2001). de construção da Cidadania.

Nessa perspectiva, o percurso para Entende-se, portanto, que os alunos


compreender o processo de alfabetização brincam, fingindo que leem, e os
inicia-se na educação infantil e tem de ser professores fingem que acreditam no que
visto na escola como um segmento adequado está acontecendo, desmerecendo todo o
para desenvolver tais habilidades, apesar papel que a alfabetização e o letramento
de não ter sido construída para isto é lá na têm na construção do senso crítico destes
educação infantil que a criança se encontra indivíduos, que passam pelo processo de
cheia de medos e dificuldades, que permitem aprender a ler.
o desenvolvimento do individualismo,
desencadeado ideias que estão presentes Aprender a ler deveria ser visto com muito
nos livros, sendo possível debatê-las ou mais importância; deveria se dar o valor
questioná-las, numa perspectiva livre de deste processo para além dos olhos, pois é
preconceitos criando assim seres ativos por meio deste exercício de forçar o olhar
(TEBEROSKY, 2002). que se constrói o Cidadão Político capaz de
modificar a realidade inconsequente em que
Logo, a escola, que deve construir a estamos inclusos (SOARES, 2001).
cidadania, abrindo espaço para as discussões
do que se lê, desenvolvendo verdadeiros É preciso, porém, alfabetizar para que
leitores, eliminando a educação Bancária, se tenha esta conscientização e não
eliminando a ideia de que somente os livros continuarmos na submissão de nossa
expressem pensamentos, sem levar em conta realidade, pois ela já deveria ter sido mudada

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ao se criarem leitores realmente interessados e capazes de transformar a realidade em que


se encontram (Freire,1995).

O autor ainda afirma que o processo trilhado pela leitura é tão importante quanto o ato
de realizar registros, estando este presente em vários segmentos de comunicação. Como a
leitura se concretiza na escola e a criança, pequena leitora, passa a maior parte de sua vida
dentro de tal instituição, é necessário que está se adeque as necessidades de cada indivíduo
para que seu objetivo seja alcançado, ou seja, ensinar o aluno a ler. (Orlandi, 1988).

Baseado nesta afirmativa compreende-se que o primeiro passo a ser dado é o de transformar
o processo pedagógico de forma que este seja condizente com a proposta pedagógica da
unidade, permitindo que o trabalho a ser realizado seja flexível, utilizando-se do tempo
necessário para se alcançar o objetivo proposto.

O letramento sozinho não pode ser definido como o processo de alfabetizar, mas como
um processo de construção da leitura por meio do prazer e do lazer que este proporciona ao
ler diferentes informações e sob deferentes condições oferecidas pela escola, transmitindo
informações diversas. Usando a leitura e a escrita para orientar-se no mundo, para não se
perder neste letramento e alfabetização juntos permitem que o individue descubra o que
realmente pode ser (SOARES, 2001)

Alfabetizar uma criança na educação infantil é alfabetizá-la para que este tenha consciência
da leitura de mundo (FREIRE, 1995), compreendendo-se quanto ser formador de opinião,
favorecendo o novo e a solução de problemas que talvez só alfabetizado não fosse possível.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível comprovar que a criança aprende a ler por
meio de ações que lhe são significativas e estas ocorrem
desde a educação infantil. No primeiro momento, ela deve
experimentar, manipular e concretizar para ser capaz de
estabelecer relações por meio de pensamentos criativos e
autônomos, a construção destes pensamentos, favorecerão
o desenvolvimento das habilidades necessárias para se
construir o processo de alfabetização. FABIO VALIM
DOS SANTOS
Observa-se que o conhecimento é algo que se constrói
Graduação em Ciências Físicas
à medida que a criança toma consciência e supera as suas e Biológicas e Matemática pela
dificuldades. A alfabetização e o letramento dentro da FEOB - Faculdade Octavio Bastos
educação infantil acontecem de formas prazerosa, já que o (1997); Mestre em Educação,
Comunicação e Administração
trabalho, contribui para a construção da linguagem autônoma, pela Faculdade São Marcos
transformando a criança em senhora do seu saber e dando (2007); Coordenador Pedagógico
novo sentido ao verbo ler. Lê-se não pelo simples fato de - na EMEI Sena Madureira,
Professor de Educação Básica -
repetir palavras, mas entendendo o sentido que estas trazem Matemática- na E. E. Domingos
escondidos nas figuras, de forma mais profunda. Quirino Ferreira.

É papel da escola da e de seus participantes, portanto,


conhecer os problemas e analisá-los, estudando as
dificuldades dos alunos, verificando seus interesses, estudando a causa destes, desde a
primeira infância organizando um trabalho que busque corrigir, ou, pelo menos, diminuir
as dificuldades apresentadas favorecendo condições básicas para que o indivíduo possa
desenvolver uma vida produtiva e feliz, trabalhando atividades dinâmicas que favoreçam sua
participação buscando favorecer exercícios que lhe sejam importantes para toda a sua vida.

Percebeu-se que o lúdico, o ler em voz alta, o acesso à leitura diversificada, a acervos de
biblioteca, encontram-se presentes na formação de cada indivíduo desde seu nascimento,
uma vez que quando ele nasce, uma vez que se brinca, se ouve histórias, tem-se acesso
a livros, revistas desde sua primeira infância, interligando o homem ao seu ambiente por
meio de seus movimentos criando uma relação que facilita o processo de aprendizagem da
alfabetização desenvolvido na escola.

É preciso aproveitar todos os conceitos de construção de conhecimento para se obter


eficiência no desenvolvimento de habilidades criando e estimulando atividades que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

possibilitem trabalhá-las para que, com o passar do tempo, a criança consiga reparar seus
problemas de aprendizagem e alfabetização com a cooperação de todos que lidam com seu
processo de formação.

Este pode ser o caminho para que o a alfabetização no ensino fundamental seja realmente
produtora de conhecimento e trabalhe as habilidades específicas do indivíduo, permitindo
ao coordenador deste processo, seja ele o professor, o recreado ou o psicopedagogo,
atrelar o brincar ao diagnóstico oferecido, buscando, por sua vez, a solução dos problemas
de aprendizagem apresentados, corrigindo-os e facilitando o desenvolvimento do
trabalho.

311
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Maria Amélia / MARQUES, Maria Lucia: Alfabetização hoje. São Paulo; Ed.
Cortez, SP:1998.

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CAGLIARI, Gladis Massini; CAGLIARI, Luiz Carlos. Diante das letras. Campinas, SP: Mercado
das Letras – 2001

ELLIS, Andrew W. Leitura, escrita e dislexia. São Paulo: Artmed, 2001.

FERREIRO, Emilia. Alfabetização em processo. São Paulo: Cortez, 1998.

FREIRE, Paulo – Pedagogia do Oprimido – Paz e Terra- 1ª ed 1970, seqüenciada 1986,1995(


livro de bolso).

FOUCAMBERT, Jean. A criança, o professor e a leitura .São Paulo: Artmed, 2002.

GALVÃO, I. Henri Wallon. a concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Ed.


Vozes , 1995.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Unicamp,1988.

PIAGET, Jean. A formação do Símbolo na Criança: imitação, jogo e sonho, imagem e


representação. Rio de Janeiro: Zahar,1896.

SEBER, M. G. Piaget, o diálogo, com a criança e o desenvolvimento do raciocínio. São Paulo:


Scipione, 1997.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O DIREITO DA CRIANÇA DEFICIENTE


INTELECTUAL E A RESSIGNIFICAÇÃO
DA PRÁXIS PEDAGÓGICA
RESUMO: Construir uma sociedade inclusiva exige não apenas igualdade de direitos, mas
também o tratamento igual. No Brasil as construções: histórica e antropológica caracterizam
o preconceito ao negro, vítima do racismo; a mulher vítima do sexismo e violência doméstica; o
homossexual, vítima da proposição homofóbica; a impressionante invisibilidade das pessoas
indígenas como parte constituinte do povo brasileiro; e o deficiente na literatura clínica
e nas vivências sociais. Tratar as pessoas diferentemente pode enfatizar suas diferenças,
assim como tratar igualmente os diferentes pode esconder as especificidades e excluí-los
do mesmo modo. O presente estudo tem como tema central a análise do direito à inclusão
da criança deficiente intelectual e a ressignificação da deficiência nas práticas pedagógicas.
O principal método utilizado é a pesquisa e a revisão de estudos na área da pedagogia e
da educação especial, formulando problemas e buscando-se respostas através da literatura
científica.

Palavras-Chave: direito; educação; deficiência; cognição; aprendizagem; inclusão.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO deficiência categoriza-se como uma variação


anormal da espécie humana, uma restrição da
As pessoas que nascem com deficiências, funcionalidade e das habilidades. Enfatiza-
ou as adquirem ao longo da vida e são se sempre o caráter do cuidado e da pessoa
continuamente privadas na vida moderna deficiente o rótulo de sujeito dependente de
de oportunidades: de convivência com a outros, os considerados “normais”.
família, amigos, vida escolar, acesso ao
trabalho, à atividade de lazer e cultura. No Entretanto a concepção social de
âmbito educacional, dados oficiais (MEC/ deficiência iniciou-se na Inglaterra e nos
SEESP, 2008) indicam que as matrículas Estados Unidos, a partir da década de 1970;
estejam aumentando na rede pública de caracterizando a deficiência como o resultado
ensino, entretanto ainda verificamos que de uma estrutura social opressora ao estado
as condições educacionais mantêm-se orgânico do homem não perfeito à atividade
desiguais para as crianças com deficiências, laboral, ou seja, ao deficiente enquanto ser
através da discriminação, não aceitação e não produtivo.
preconceito.
A Convenção sobre os Direitos das
O que é a deficiência? Pessoas com Deficiência (CDPD) reconhece
ser a deficiência, in verbis:
No dicionário, a palavra deficiência, do
latim deficientia, significa em falta, falha, (...) um conceito em evolução e que a deficiência
resulta da interação entre pessoas com
carência, imperfeição, defeito. deficiência e as barreiras atitudinais e ambientais
que impedem sua plena e efetiva participação na
Na legislação, o Decreto nº 3.298, de 20 sociedade em igualdade de oportunidades com
as demais pessoas. (CDPD, Preâmbulo, letra e).
de dezembro de 1999, que regulamenta a
Lei nº 7.853/1989 e dispõe sobre a Política
Nacional para a Integração da Pessoa Fonseca (apud MARQUES, 2001, p.37),
Portadora de Deficiência, em seu artigo 3º, define uma linha de diferentes concepções
inciso I, conceitua deficiência, in verbis: que, ainda coexistem e exercem suas
influências em determinados períodos da
Toda a perda ou anormalidade de uma estrutura história. Essas concepções são:
ou função psicológica, fisiológica ou anatômica
que gera incapacidade para o desempenho da
atividade, dentro do padrão considerado normal • O preformismo, nem o meio nem o
para o ser humano. aspecto orgânico do sujeito têm qualquer
influência sobre a sua deficiência. Atribui-
Segundo a literatura médica na se à deficiência apenas causas de ordem
compreensão da deficiência, este conceito foi teológica e moral.
construído a partir do século XVIII, em que a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

• O predeterminismo, visão organicista A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL


em que o meio é considerado neutro e as
causas da deficiência são determinadas pelo A definição da nomenclatura adequada
aspecto biológico do sujeito. para se referir ao deficiente intelectual sofreu
várias modificações no percurso histórico da
• O envolvimentalismo, base empirista educação especial e da clínica médica, os
que propõe que o que determina as termos: “retardado mental”, “mongolóide”,
capacidades ou incapacidades intelectuais “inválido”, “débil mental”, “doente mental”,
são as experiências e oportunidades de foram expostos ao desuso, pelo fato de
exercício das funções intelectuais, centrando incidirem na projeção preconceituosa,
no meio ambiente as causas da deficiência e pejorativa e criminal. Já a expressão
não mais no sujeito. “portadora de deficiência” a partir da década
de 1980, se difundiu devido à terminologia
• O interacionismo, não privilegia nem adotada na Constituição Federal de 1988, às
o indivíduo, nem o meio, mas a interação pessoas com alguma deficiência.
de ambos, como forma de construção do
conhecimento. Assim, as habilidades mentais O termo, todavia, não extrapola as críticas
do indivíduo decorrem das trocas efetuadas de que o argumento de que ter deficiência não
entre ele e o meio ambiente. é uma condição facultativa, de quem porta ou
não. (FAVERO, p.22) “Os movimentos sociais
A visão fragmentada da deficiência não identificaram que a expressão “portador” cai
nos permite definir um conhecimento mais muito bem para o que a pessoa carrega e/ou
profundo, entretanto nesse sentido, é preciso pode deixar de lado, e não para características
atribuir lugar a uma forma de entendê-lo físicas, sensoriais ou mentais do ser humano.
de forma a produzi-lo diante da realidade Ainda, que a palavra “portador” traga um
destas crianças na escola brasileira. Para peso associado à doença, já que também é
Najmanovich(2001, p.22) “não é simples dar usada, para designar uma situação em que
lugar a novas metáforas para poder abrir alguém, em determinado momento, está
nosso espaço cognitivo às novas narrações.” portando um vírus, por exemplo. E não custa
Entretanto, podemos reconhecer que a lembrar, deficiência é diferente de doença.
corporalidade da criança deficiente esta Não aconselhamos o uso comumente do
em constante interação com a realidade, termo “pessoa com deficiência mental”, pois
transformando-a numa dinâmica criativa de ainda encontramos trabalhos acadêmicos
si mesma e do mundo com que ela esta em com esta referência; o termo correto é pessoa
permanente interação. “deficiente intelectual”. Segundo o Sistema
2002 da American Association on Mental
Retardation(AAMR), deficiência intelectual
pode se conceituada:

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Deficiência caracterizada por limitações


significativas no funcionamento intelectual e caput) e que a pessoa com deficiência deve
no comportamento adaptativo, como expresso ser integrada à vida comunitária.
nas habilidades práticas, sociais e conceituais,
originando-se antes dos dezoito anos de idade.
O direito à educação em seu Art. 205, “A
educação, direito de todos é dever do Estado
Tratamos aqui de uma concepção que e da família, será promovida e incentivada
explica a deficiência intelectual segundo as com a colaboração da sociedade, visando
dimensões básicas: habilidades intelectuais, ao pleno desenvolvimento da pessoa o seu
comportamento adaptativo, participação, preparo para o exercício da cidadania e a
interações e desempenho dos papéis sociais; qualificação para o trabalho” e ainda, reitera
a saúde e os contextos: dimensional e em seu Art. 206. “O ensino será ministrado
laborativo. com base nos seguintes princípios: I –
igualdade de condições para acesso e
O denominador comum de todas as permanência na escola. E assegura específica
categorizações é a “insuficiência intelectual”; e terminantemente no Art. 208. “O dever
ser insuficiente é claro que se relaciona ao do Estado com a Educação será efetivado
que falta para algo; se alguém é insuficiente mediante a garantia de: III- atendimento
intelectualmente é porque há a desproporção educacional especializado aos portadores
com um nível de produção acadêmica de deficiência preferencialmente na rede
comparativo a outro. Não podemos negar regular de ensino”.
que o nosso tempo é o tempo das diferenças
e que a globalização tem sido, mais do que Se a educação é direito de todos, o sentido
uniformizadora, pluralizante, contestada às de “todos” inclui a pessoa deficiente; sendo
antigas identidades. Temos o direito de ser, o Estado o efetivo promotor, de modo que
sendo diferentes e, se já reconhecemos que todos tenham acesso à educação inclusiva e
somos diferentes de fato, a novidade está em na escola. (MEC, 2004) “espaço no qual se
querermos ser também diferentes de direito. deve favorecer a todos os cidadãos, o acesso
(PIERUCCI, 1999) ao conhecimento e o desenvolvimento
de competências, ou seja, a possibilidade
de apreensão do conhecimento histórico
O DIREITO À EDUCAÇÃO produzido pela humanidade e de sua utilização
DA CRIANÇA DEFICIENTE no exercício efetivo da cidadania.” A escola
deve ser adaptada e equipada com recursos
INTELECTUAL arquitetônicos, humanos e pedagógicos para
A legislação brasileira prevê na Constituição receber todas as pessoas que compõem a
Brasileira os direitos fundamentais, a não diversidade dessa sociedade.
discriminação ou preconceito no (art.3º, IV),
que todos são iguais perante a lei (art. 5º,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A Lei nº 9.394/96 a LDB – Lei de Diretrizes o disposto no art.208, III, da C.F declara
e Bases da Educação Nacional, em seu Art. 58. quando refere o atendimento especializado;
”Entende-se por educação especial, para os esta escolha errônea induz a educação
efeitos desta Lei, a modalidade de educação especial à restritiva do “atender”, anulando
escolar oferecida preferencialmente na o direito subjetivo do aluno à educação, este
rede regular de ensino, os estudantes direito é próprio e único.
com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou Cabe ao Estado prover, subsidiar e
superdotação e deficiência auditiva e/ promover seguramente recursos para
ou surdez. Ratifica-se com a alteração atender ao deficiente como cidadão humano,
prevista pela Redação dada com a Lei nº adequando o ensino para que ele o faça parte
12.796 de 2013 – Art. 4º, III: “atendimento com ou sem a sua deficiência, fornecendo
educacional especializado gratuito às todos os recursos educativos possíveis às
crianças com deficiência, transtornos globais especificidades nas suas capacidades físicas,
do desenvolvimento e altas habilidades ou intelectuais, sociais e afetivas, e assim
superdotação, transversal a todos os níveis, possa conviver socialmente com efetiva
etapas e modalidades, preferencialmente na produtividade no âmbito escolar e social.
rede regular de ensino”
Na análise de (STAINBACK, pag.21),
A educação abrange os processos “educamos todos os alunos juntos, as
formativos que se desenvolvem na vida pessoas com deficiências têm oportunidade
familiar, na convivência humana, no trabalho, de se preparar para a vida na comunidade,
nas instituições de ensino e pesquisa, nos os professores melhoram as suas habilidades
movimentos sociais e nas organizações profissionais e a sociedade toma a decisão
da sociedade civil e nas manifestações consciente de funcionar de acordo com
culturais. (art.1º da Lei de Diretrizes e o valor social da igualdade para todas as
Bases da Educação Nacional – LDB). Assim, pessoas, com os conseqüentes resultados
verificamos que a educação é um processo de melhoria da paz social. Para conseguir
de formação da pessoa, e se inicia na um ensino inclusivo, os professores em geral
família, mas prossegue no convívio social, na e especializados, bem como os recursos,
escola, no trabalho e no lazer. A sociedade devem aliar-se em um esforço unificado e
é constituída pela diversidade humana, e as consistente.”
pessoas com ou sem deficiência lhes devem
ser conferidos os direitos a convivência Reitero neste estudo que não podemos
social. esquecer que o direito fundamental à
educação inclusiva é da criança e do
A inclusão escolar, tem o sentido que adolescente, e não tão somente do Estado,
ultrapassa o “preferencialmente” tal qual da sociedade ou da família.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A INCLUSÃO DA CRIANÇA a incompletude do processo educacional


COM DEFICIÊNCIA exigem conceber a igualdade de condição,
porém a valorização do diferente e diverso
INTELECTUAL NA ESCOLA humano ainda não é aceita pela sociedade
Como avanço das políticas públicas no moderna. (MANTOAN, 2006) “Conviver
Brasil, a Lei nº 13.146/15; a lei brasileira com o outro, reconhecendo e valorizando
que Institui a Inclusão da Pessoa com as diferenças é uma experiência essencial
Deficiência (Estatuto da Pessoa com à nossa existência, mas é preciso definir
Deficiência); determina em seu Art. 1o “É a natureza dessa experiência, para não se
instituída a Lei Brasileira de Inclusão da confundir o estar com o outro com o estar
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa junto ao outro.”
com Deficiência), destinada a assegurar e
a promover, em condições de igualdade, Atualmente nos contextos das práticas
o exercício dos direitos e das liberdades inclusivas, entendemos que os aspectos
fundamentais da pessoa com deficiência, qualitativos preponderam sobre os
visando à sua inclusão social e cidadania.” Em quantitativos no entendimento dos potenciais
seu Capítulo IV, DO DIREITO À EDUCAÇÃO; da criança com deficiência intelectual, visto
Art. 27. “A educação constitui direito da que a interação nos contextos escolares com
pessoa com deficiência, assegurados sistema seus pares lhe favorece significativamente.
educacional inclusivo em todos os níveis (MARQUES, p. 85) A pessoa com
e aprendizado ao longo de toda a vida, de deficiência não é inferior aos seus pares,
forma a alcançar o máximo desenvolvimento apenas apresenta um desenvolvimento
possível de seus talentos e habilidades qualitativamente diferente e único. A
físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, singularidade de seu desenvolvimento está
segundo as suas características, interesses e nos efeitos positivos da deficiência, ou seja,
necessidades de aprendizagem. nos caminhos encontrados para a superação
do déficit.
Mesmo sendo relacional, a identidade da
criança com a deficiência intelectual ainda É essencial que, as práticas inclusivas
e sempre ela é singular. Na perspectiva da desenvolvam a mudança de paradigma em
constituição do sujeito e das propostas todos os envolvidos nas aprendizagens, de
inovadoras da educação inclusiva, a ética é posições passivas ao acesso e apropriação
necessária dentre os objetivos exigidos pelas ativa do saber. (NAJAMNOVICH, 2001,
práticas educacionais. p.22) Os únicos modelos matemáticos
que a ciência aceitou foram os lineares. O
Sendo que conviver com o outro sujeito era pensado como uma superfície
reconhecendo-o e valorizando-o não é que se refletia capaz de formar a imagem da
suficiente, porque a formação coletiva e natureza externa, anterior e independente

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Revista Educar FCE - Abril 2019

dele. Conhecer era descrever e predizer. O relações entre alunos e professores, além da
sujeito não entrava no quadro que ele mesmo constituição de espaços privilegiados para
pintava. Colocava-se sempre imóvel, de fora a formação dos profissionais da educação,
seguindo metodicamente as leis eternas da para que venham a ser agentes também
perspectiva. responsáveis desse processo.

A escola é um espaço de criação, e a No Brasil, a Educação Especial


aceitação de que todas as crianças têm as se responsabilizou por este apoio
suas especificidades, e estas determinam principalmente nas escolas da rede pública.
o movimento curricular dos espaços (SOUSA, PRIETTO, p.123), afirma que,
educativos. A complexidade está num “tem-se previsto o ‘especial’ na educação
emaranhado de coisas que faz com que não referindo-se a condições que possam ser
possamos tratar as coisas, parte a parte. Isso necessárias a alguns alunos para que se
corta aquilo que une as partes e produz um viabilize o cumprimento do direito de
conhecimento mutilado. todos à educação”. Entendemos aqui, que o
propósito precípuo da educação inclusiva é
O problema da complexidade parece a educação para todos como um princípio
imenso porque nós estamos num mundo onde igualitário dentre o diverso que constitui o
só existem determinações, estabilidades, ambiente escolar.
repetições, ciclos, mas também perturbações,
obstruções, aparecimentos constantes do Constantes desta abordagem emergencial
novo. Em toda a complexidade existe a e analítica, e de inegável valor, ainda
presença de incertezas, sejam empíricas, observarmos que a educação inclusiva se
sejam teóricas, e mais freqüentemente ao fortalece desde os meados de 1990, mas na
mesmo tempo, empírica e teórica.(MORIN, prática é um modelo de interação escolar.
2003, p. 169) Entretanto, espera-se que sua efetivação não
se dê apenas através de caratê integrador, mas
de uma oferta contínua, em espaços sociais,
O ATENDIMENTO sendo um deles a escola. (MAZZOTTA. 1989,
EDUCACIONAL p. 43) “A interação, mediante a comunicação,
a assimilação, pela participação ativa e
ESPECIALIZADO reconhecida do excepcional como elemento
O direito ao atendimento escolar de do grupo de crianças “normais” e, finalmente,
crianças com deficiência não é tão somente a aceitação, refletida na aprovação da criança
o cumprimento da efetivação, ingresso e excepcional como elemento participante e
permanência da criança na escola. (PRIETTO, aceito no grupo, mediante relações regulares
2006, p. 36) É importante ainda uma atenção e espontâneas fazem com que o excepcional
especial ao modo como se estabelecem as se sinta parte natural do grupo.”

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O Decreto n. 6.571/98 define o AEE, como das salas de aula e espaços educativos, e
sendo “o conjunto de atividades, recursos de também nos atendimentos educacionais
acessibilidade e pedagógicos organizados especializados providos de instrumentos de
institucionalmente, prestados de forma acessibilidade ao aprendizado.
complementar ou suplementar à formação
dos alunos no ensino regular”. V(artigo 1º, As crianças com deficiência intelectual
parágrafo 1º). sofrem barreiras diferentes das demais
crianças em suas multiplicidades de
Ainda no art. 2º, prevê-se que os deficiências. Esse atendimento é
objetivos do AEE é prover aos estudantes complementar e necessariamente diferente
com necessidades especiais, a condição de do ensino escolar e destina-se a atender as
acesso, participação e aprendizagem no especificidades dos alunos com deficiência,
ensino regular, continuidade dos estudos abrangendo principalmente instrumentos
e desenvolvimento de recursos didáticos e necessários à eliminação das barreiras que as
pedagógicos que eliminem as barreiras no pessoas com deficiência têm para relacionar-
processo de ensino aprendizagem. se com o ambiente externo. (MANTOAN,
2004, p.42)
O atendimento educacional especializado
decorre de uma nova perspectiva da
Educação Especial, que sustenta a legislação A RESSIGNIFICAÇÃO DA
pertinente indicando que as práticas DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
escolares inclusivas independem do que a
criança deficiente aprende no currículo do
NA PRÁTICA ESCOLAR
ensino comum, ele tem caráter suplementar. INCLUSIVA
Memórias pedaços de acontecimentos,
resíduos de experiência, retalhos de vida Por que precisamos conhecer para
que escolhemos para lembrar. Mesmo que significar e ressignificar? A inclusão, como os
não tenhamos consciência desta seleção, demais movimentos provocados por grupos
fica o que significa, sons, cheiros, gostos, que historicamente foram excluídos da
sentimentos, imagens, registrados na escola e da cidadania plena, é uma denúncia
memória e reelaborados na e pela linguagem. ao que Hanna Arendt chamou de “abstrata
(PÈREZ, 2003, p.103). nudez”, pois é inovação incompatível com a
abstração das diferenças, para chegar a um
É importante que numa proposta inclusiva sujeito universal, na qual nunca teremos.
o direito à escolarização seja incondicional no
ensino regular; não existem nesta condição Se o que pretendemos é que a escola
dois distintos sentidos: o regular e o especial, seja inclusiva, é urgente que seus planos se
as crianças deficientes devem ser parte ativa re-definam para uma educação voltada à

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Revista Educar FCE - Abril 2019

cidadania global, plena, livre de preconceitos Em maio de 1999, quando realizado na


e disposta a reconhecer as diferenças entre Guatemala, a Convenção Interamericana
as pessoas e a emancipação intelectual. para a Eliminação de todas as formas de
Porque não basta uma educação para a Discriminação contra as Pessoas com
cidadania. “É preciso que se eduque para a Deficiência, da qual o Brasil foi signatário e
liberdade e nesse sentido, nenhuma forma de como a sanção da LDBEN/96 fora anterior
subordinação intelectual pode ser admitida.” a esta Convenção, a mesma revogou todas
(MANTOAN, 2006) as formulações contrárias a ela encontradas
em nossa legislação federal educacional. E
As propostas pedagógicas que objetivam com o objetivo de revogar todo e qualquer
a inclusão revelam na prática a existência motivo e princípio discriminador, a República
de dimensões conservadoras que persistem no Decreto n. 3956/2001 inseriu o proposta
como éticas baseadas nas leis naturais, na lei desta Convenção reafirmando o direito
descritas e promulgadas. O sentimento de inquestionável de todos os alunos ao acesso,
tolerância pode demonstrar-se afável, porém permanência em igualdade de direitos nos
o essencialismo generaliza a compreensão ambientes de ensino escolar.
dos sentidos das diferenças. Não temos
portadores de necessidades especiais, e sim O termo “discriminação contra as pessoas
seres humanos em suas condições e modos portadoras de deficiência” significa toda e
de vida próprios. qualquer diferenciação, exclusão ou restrição
baseada em deficiência, antecedente de
Devemos ter muito cuidado com os usos deficiência, conseqüência de deficiência
dos pressupostos jurídicos positivistas e anterior ou percepção de deficiência presente
instituições que julgam cuidar de seres ou passada, que tenha o efeito ou propósito
abnegados socialmente; estes segmentos de impedir ou anular o reconhecimento,
nada mais fazem que reforce a exclusão e o gozo ou exercício por parte das pessoas
engessamento da deficiência como algo que portadoras de deficiência de seus direitos
falta, ao contrário deveria enxergar o que humanos e suas liberdades fundamentais.
completa como fator enriquecedor. “A ética (GUATEMALA, art. 1, n.2, “a”).
em sua dimensão crítica e transformadora
referenda iniciativas em favor da inclusão De acordo com o princípio da não
escolar. Esta posição é oposta à anterior discriminação, trazido pela Convenção
e entende que as diferenças estão sendo da Guatemala, espera-se que na adoção
constantemente feitas e refeitas, pois “As da máxima “tratar igualmente os iguais e
diferenças vão diferindo” como nos lembra desigualmente os desiguais”, admitam-se
François Jacob.(MANTOAN, 2006) as diferenciações com base na deficiência
apenas com o propósito de permitir o acesso
ao direito e não negar-se o exercício dele.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Os alunos com deficiência, surdos, cegos, a opressão ao deficiente. A coletividade


com deficiência intelectual e múltipla, não abarca a singularidade das crianças
devem estar relacionados aos sistemas deficientes e nos traz a possibilidade de
hegemônicos das representações sociais. entendê-las em seu universo infantil e ímpar.
Fixar identidades, principalmente em Temos o direito a sermos iguais quando a
representações excludentes e taxativas, diferença nos inferioriza; temos o direito a
infere na implicação direta das práticas sermos diferentes quando a igualdade nos
escolares, em que estes podem ser vistos descaracteriza.(SANTOS, 1995)
como “incapazes de evoluir”, ao contrário as
crianças deficientes é que nos fazem crescer
e marcam a nossa história. CURRÍCULO, MOVIMENTO
E SIGNIFICADOS
A identidade não é fixa, estável, coerente,
unificada e permanente. A identidade, (EU-COGNOSCENTE)
tampouco é homogênea, definitiva, acabada, Os profissionais da área clínica, professores
idêntica, transcendental. Por outro lado, especializados e as escolas comuns em
podemos dizer que a identidade é uma muitos casos desconhecem técnicas e
construção, um efeito, um processo de conhecimentos específicos sobre a deficiência
produção, uma relação, um ato performativo. intelectual da criança no contexto escolar;
(SILVA,2005, p.96). nos ambientes escolares ainda acreditam
no ensino individualizado como o ideal e o
Contudo, diferença e igualdade têm melhor para as suas necessidades. No caso das
como origens processos psíquicos, sociais crianças deficientes intelectuais a situação
e afetivos dentre as ressignificações das é mais problemática porque a adaptação
correspondências dos estados de poder predefinida pelo educador restringe, limita
da escola e das relações humanas com as e nega à criança a capacidade de criação
crianças deficientes. A educação é mediadora de acordo com as suas funcionalidades nas
e viabiliza as descobertas dos meios que áreas: cognitiva, social, motora e física.
produzem a construção da identidade
do deficiente, através de estratégias que Devemos adaptar o currículo, reformulá-
enfatizam que ser igual não é ser e agir como lo, dar sentido real e revisitá-lo em constante
o outro, mas que a igualdade de direitos e mudança às atividades escolares; é precípuo
que te o faz aprender com o outro em sua que tenhamos clara a concepção da mudança
diversidade. do paradigma educacional de suporte do que
falta; nada falta, mas se completa e se refaz.
O mundo plural, em constante Ao reforçarmos o separar, simplificando
diferenciação multiplica infinitamente as meios e caminhos para as aprendizagens
possibilidades contra a desigualdade e curriculares, estamos discriminando as

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Revista Educar FCE - Abril 2019

crianças deficientes e tornando o ensino Não há padrão, pois a forma de conceber


segregado e sem significado. o ensino e currículo na educação inclusiva
esta atrelado às condições organizativas que
É necessária a reorganização geral das viabilizam o movimentos de apropriação e
práticas escolares: planejamento, formação construção dos conhecimentos.
contínua dos educadores, reorganização
dos conhecimentos e expectativas de Não há currículo hegemônico, as redes
aprendizagem, desenvolver a avaliação de saberes e fazeres da comunidade escolar
formativa, considerarem a gestão dos são inseridos nos objetivos e centros de
processos educativos na revisão permanente interesses; o aluno deficiente também navega
do projeto político pedagógico,e por diversos campos dos territórios dos
fundamentalmente as dinâmicas contextuais saberes mesmo aqueles que não adentram a
dos espaços educativos como meios de organização disciplina, porém participam de
transformação e construção dos valores maneiras subliminares.
humanos e éticos.
Rompemos com a ciência moderna,
Na educação inclusiva o sentido que pensa o conhecimento ser linear, o
da adaptação é produto da auto- currículo é multidimensional na condição
regulação dos envolvidos; o aluno se humana, não se restringe ao cognitivo
adapta ao conhecimento, de acordo apenas, mas também realiza conexões entre
com as potencialidades inerentes a sua conhecimentos muitas vezes ignorados e
funcionalidade. Aprender é uma ação que quando ressignificados são religados ás
humana e criativa, ímpar e diversa, regulada tessituras da criatividade, da auto expressão
pelos próprios sujeitos da aprendizagem, e da afetividade.
independente de sua condição intelectual ou
especificidade em relação a uma deficiência, Unidades complexas, como o ser humano
mas desde que tenhamos atribuição de ou a sociedade são multidimensionais: dessa
significado. forma o ser humano é ao mesmo tempo
biológico, psíquico, social, afetivo e racional. A
A aprendizagem não é previsível, não sociedade comporta as dimensões histórica,
categoriza e rotula; concebe que o aluno econômica, sociológica, religiosa...O
esta no constante movimento do vir a ser e conhecimento pertinente deve reconhecer
que necessita de liberdade para aprender e esse caráter multidimensional e nele inserir
produzir livremente o conhecimento no nível estes dados: apenas não se poderia isolar
em que for capaz de assimilar seja um tema uma parte do todo, mas as partes de uma das
ou conhecimento específico. outras[...].(MORIN, 2002, p.38).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A organização curricular e as adaptações das atividades escolares nas práticas inclusivas,


não deve se preocupar somente com as deficiências, mas também com as manifestações e
as expressões de cultura e com a subjetividade humana, na qual se expressa nitidamente à
diferença e a constituição do deficiente enquanto ser cognoscente.

O currículo não pode estar alheio ao contexto das culturas étnicas, raciais, lingüísticas,
religiosas, nacionais, de gênero e de orientação sexual. A pluralidade de sentidos e
significados materializa a construção dos saberes através da valorização do multiculturalismo;
pois a disciplinarização do conhecimento não mais constrói, apenas reproduz formas
comportamentais explícitas do esvaziamento do valor e respeito; e desmotivam todos os
alunos para o “aprender”, independente da condição intelectual.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em todos os meios que circundam a Educação Inclusiva,
identificamos a preocupação quanto à revisão conceitual
das influências causadas pelos paradigmas metodológicos
tradicionais. Estes ainda avaliam o desempenho escolar
através do imediatismo e ao menos apresentam a
preocupação com a revisão das concepções espontâneas que
os alunos deficientes trazem de seus cotidianos e vivências
significativas. FLÁVIA APARECIDA
MIRANDA
Os currículos escolares não são organizados em torno das
Graduação em Pedagogia pela
diferentes identidades; ao contrário ainda caracterizadas por Universidade Presbiteriana
ritos procedimentais, domínios obsoletos e desconectados Mackenzie (1992); Especialista
às experiências das crianças. A escola carece de significados em: Gestão Escolar pela
Faculdade de Educação da
e não se abstém da práxis sistêmica que processualmente Universidade São Paulo (1998);
desconsidera o aumento dos índices de crianças com Supervisão Escolar pela UNIBAN
deficiência nas classes regulares. (2001); Psicopedagogia Clínica e
Institucional pela Universidade
Nove de Julho (2011); Distúrbios
As práticas docentes ainda generalizam suas concepções do Desenvolvimento Infantil
de ensino de que a criança não aprende porque tem problemas pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie (2013); Educação
orgânicos e psicológicos. As igualdades e as diferenças não Especial com Ênfase na
são valores absolutos, entretanto apresentam relatividade Deficiência Intelectual pela
entre os fatores: biológico, geográfico, cultural, econômico UNIFESP- Universidade Federal
de São Paulo (2014); Educação
e educacional. Especial Inclusiva com Ênfase na
Deficiência Múltipla pela UnB -
As brasilidades marcam as diferenças na constituição Universidade de Brasília (2015);
Surdez e Deficiência Auditiva
real do nosso cenário escolar, entretanto ainda presume- pela Universidade Estadual “Julio
se a concepção de igualdade como condição geral de de Mesquista” – UNESP(2017);
comportamentos aceitáveis e premissas estabelecidas à Tecnologias para a Aprendizagem
(PMSP - SME – 2018); Professora
condição do “aprender”. Regente Titular do Ensino
Fundamental na EMEF “Plínio
A ressignificação das experiências nos espaços de Ayrosa” e CEU EMEF “Jardim
Paulistano”.
aprendizagem favorece a relação do conceito entre o
conhecimento e a experiência da criança. A capacidade do
ser humano em desenvolver a reversibilidade do pensamento e as habilidades construídas no
decorrer de um processo que chamamos de “aprendizagem”, esta intimamente relacionada
ao conhecer e conviver com o outro.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Ser diferente é um direito precípuo do ser humano. As diferenças naturais entre as pessoas
nos contextos educacionais demonstram que somos o que somos, devido constituição do
que nos distingue interna e externamente. As influências do meio são fatores intervenientes
do que presumimos poder controlar, mas não podemos. (Darwin, 1859) “A sobrevivência de
um organismo depende da sobrevivência de um outro”.

A desconstrução dos paradigmas escolares que reforçam o preconceito, e perpetuam as


desigualdades em escalas progressivas, sejam através das redes sociais, meios de comunicação
e modelos elitistas; impõe desafios a serem superados e que necessitam serem revistos para
a evolução do pensamento humano.

As práticas inclusivas tornam-se processuais e efetivas à medida que as pessoas concebem


que a justiça racial e social depende da concepção de cada um em relação ao conhecimento
do outro nos seus direitos. A escola transversal e multidisciplinar é um dos ambientes mais
produtivos para a produção dos saberes, espaço dinâmico em que a criança independente
da deficiência é construtora contínua da sua identidade, enquanto sujeito de direitos.

O direito à inclusão da criança deficiente intelectual ultrapassa a legitimação do próprio


direito, ela exige dos educadores a revisão contínua dos objetivos educacionais através dos
sentidos da criação humana, da criatividade, e da produção científica. Todas as estratégias,
técnicas, análise, legislações e teorias aqui estudadas para a ressignificação da concepção
da funcionalidade da criança com deficiência intelectual, se não forem organizadas como
apoios suplementares, serão ainda formas excludentes.

A criança deficiente, precisa ser compreendida, amada e respeitada entre todos como
parte significativa de uma totalidade escolar em que todos aprendem juntos.

326
Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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329
Revista Educar FCE - Abril 2019

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM


SÍNDROME DE DOWN NA VISÃO
DA PSICOPEDAGOGIA
RESUMO: Este estudo tem como objetivo evidenciar como a psicopedagogia tem contribuído
para a inclusão de alunos com síndrome de Down no sistema de ensino regular. A metodologia
teórico-histórica permite traçar um histórico sobre as legislações, brasileiras e internacionais,
sobre o tema da educação especial e as prerrogativas inerentes ao processo. Partindo-
se do fato de que a inclusão de alunos com necessidades especiais não se trata apenas
da inclusão, mas, sobretudo, da integração destes alunos, busca-se compreender como a
psicopedagogia pode contribuir para a consolidação de um ambiente escolar favorável, com
estrutura propícia e professores e funcionários especializados. Além da introdução e das
considerações finais, o artigo subdivide-se em três seções acerca do histórico da educação
inclusiva no Brasil, como um todo, e da inclusão dos alunos com Síndrome de Down, em
particular, e sobre a intervenção da psicopedagogia.

Palavras-Chave: Síndrome de Down, inclusão escolar, psicopedagogia.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Justifica-se a investigação devido à


necessidade de formar educadores e
Das diversas questões referentes à profissionais da área capazes de promover
delicada abordagem da inclusão de alunos um ambiente que garanta a inclusão e a
com algum tipo de deficiência na rede integração das crianças em uma escola
regular de ensino, o tema do ato de incluí- democrática, que reconheça e valorize as
los enquanto pessoas participantes da diferenças, dando oportunidades para as
sociedade, com direitos presentes e como crianças desenvolverem seus talentos e
cidadãos, ganha notoriedade. tornarem-se seres humanos mais completos.

Tal assunto, decorrente de vários Considerando-se que as escolas devem


movimentos históricos, não é recente, uma tornar-se um lugar de aprendizagem para
vez que a legislação sobre o tema vigora todos, não se pode criar apenas currículos
desde 1948, quando a Organização das que atendam somente uma parcela da
Nações Unidas (ONU) elaborou a Declaração comunidade, é preciso programas que
Universal dos Direitos Humanos, a qual tem invistam em educação de qualidade para
sido complementada, ao longo dos anos, todos. Para tanto, é preciso investigar de que
por diversos pactos, protocolos e tratados forma pode-se alcançar uma educação mais
internacionais (NAÇÕES UNIDAS, 2019). inclusiva.

A despeito da relevância do tema, ainda há Este artigo, portanto, tem como objetivo
muito o que se esclarecer quanto aos tópicos evidenciar como a psicopedagogia tem
que envolvem este paradigma, visto que, contribuído para a inclusão de alunos com
além de ser muito delicado, é um assunto Síndrome de Down, discorrendo sobre
que apresenta subjetividade de usos. Embora as legislações relativas aos direitos das
seja possível notar uma maior inclusão de pessoas com deficiências e sobre o que é
pessoas com deficiência, a inclusão não tem esta Síndrome. A discussão será dividida
integrado de maneira efetiva estes alunos ao em três seções, além desta introdução e
convívio escolar. das considerações finais: a primeira sobre
a consolidação da educação inclusiva no
Mais do que incluir, é preciso integrar a Brasil, a segunda sobre a inclusão dos alunos
criança portadora de deficiência. Adaptações com Síndrome de Down e a última sobre a
na estrutura da unidade escolar e mudanças nas intervenção da psicopedagogia.
práticas de professores, treinamentos de todos
os funcionários, bem como sensibilização de
todos os pais e outros membros da comunidade
escolar são não apenas necessários, mas
também fundamentais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES ACERCA Com o ano internacional das Pessoas


DA CONSOLIDAÇÃO DA Portadoras de Deficiência, em 1982, iniciou-
se o debate internacional sobre inclusão.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA Em 1993, a ONU adotou a resolução 48/96
NO BRASIL que decretava normas sobre o nivelamento
de oportunidades e, em 1994, foi adotada
Em tempos remotos, um portador de a Declaração de Salamanca, que definiu
deficiência era visto como erro do destino. princípios e práticas da educação inclusiva,
As crendices populares, o desconhecimento tanto a nível nacional quanto a nível
sobre o tema e o medo em relação àqueles internacional.
que eram diferentes alimentavam os
preconceitos em torno das pessoas com A Declaração Mundial de Educação Para
deficiência. Todos, adotada pela ONU na Conferência de
Jomtien em 1990, evidencia que, dadas as
Com as descobertas da medicina, por disparidades de acesso à educação, é preciso
volta do século XIX, passou-se a estudar garantir não apenas o acesso universal à
tratamentos e curas para os deficientes, educação, mas também, e principalmente,
ainda que muitos fossem colocados uma educação de qualidade com instrumentos
à margem da sociedade, em asilos e e conteúdos básicos de aprendizagem, mais
instituições filantrópicas. Simultaneamente, abrangente e equitativa, e sem discriminação
foram surgindo escolas especiais e centros no acesso às oportunidades educacionais
de reabilitação. (UNICEF BRASIL, 2019).

A terminologia educação inclusiva De acordo com a Declaração Mundial de


originou-se nos Estados Unidos, com a Educação Para Todos, toda criança tem direito
Lei Pública nº142 em 1975, a qual buscou à educação e ao acesso aos conhecimentos,
conciliar a educação inclusiva e a procura de modo que as escolas, na perspectiva
por uma escola de qualidade, garantindo da diversidade, devem acolher todos e
às crianças com deficiência educação todas, independentemente de raça, sexo,
pública adequada e efetiva, e assistência deficiência, condições físicas, intelectuais,
governamental a pais e alunos (MRECH, sociais e emocionais, língua, etnia, convicção
1998). A prática da Educação Inclusiva vem política, entre outras. No que diz respeito aos
sendo muito discutida, além de pensada e em alunos com deficiência, a Declaração coloca
alguns casos até realizada. Nesta educação, os portadores de deficiência, assim como
todas as pessoas, independentemente de os pobres, como categoria prioritária na
sua condição, convivem no mesmo espaço e elaboração dos planos nacionais e estaduais
organização educacional. para a educação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

As necessidades básicas de aprendizagem das


pessoas portadoras de deficiências requerem Amigos do Excepcional (APAE), a deficiência
atenção especial. É preciso tomar medidas que foi saindo da área da saúde para a área da
garantam a igualdade de acesso à educação educação, com muito êxito (MANTOAN,
aos portadores de todo e qualquer tipo de
deficiência, como parte integrante do sistema 1997).
educativo. (UNICEF BRASIL, 2019, s/p.).
As políticas públicas voltadas a tal fim
foram moldando-se nos anos 1970, quando
Destaca-se que a expressão “necessidades o Ministério da Educação e Cultura (MEC)
educativas especiais” refere-se a todas passou a ter mais precaução no assunto.
as crianças e jovens cujas necessidades Evoluindo um pouco mais no assunto, em
decorrem de sua capacidade ou de suas 1986, a expressão “alunos excepcionais”
dificuldades de aprendizagem. Encerra que passou a ser atribuída por “alunos portadores
as escolas devem encontrar a maneira de de necessidades especiais”. O artigo
educar com êxito todas as crianças, inclusive 208, inciso III da Constituição Brasileira
as com deficiências graves. dispõe sobre “o atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência,
No Brasil, o atendimento a portadores de preferencialmente na rede regular de ensino”.
deficiência iniciou-se em 12 de outubro de
1854, quando Dom Pedro II fundou o Imperial Além disso, a Lei Federal n°7853, sobre
Instituto dos Menores Cegos, no Rio de as diretrizes e bases da educação nacional,
Janeiro, para atendimento especializado aos dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras
portadores de deficiência visual. Em 1891, de deficiência, sua integração social,
o Instituto passou a chamar-se Instituto ressaltando o direito do acesso da pessoa
Benjamin Constant e, em 1942, começou com deficiência à educação especializada
a editar a Revista Brasileira para Cegos em e gratuita em todos os níveis de ensino. O
braile. Nesse período já existia no país 40 Capítulo V desta lei é inteiramente voltado
escolas públicas regulares com atendimento para a educação especial, entendida como “a
a portadores de deficiência mental, 14 que modalidade de educação escolar oferecida
atendiam outros tipos de deficiência, e 11 preferencialmente na rede regular de
escolas especializadas em atendimento a ensino, para educandos com deficiência,
portadores de deficiências (MANTOAN, transtornos globais do desenvolvimento
1997). e altas habilidades ou superdotação”.
Ressalta, ainda, a necessidade de formação
Paulatinamente, devido ao apoio e trabalho e especialização adequada dos professores,
de organizações não-governamentais a fim de que sejam capacitados para integrar
(ONG’s), como a Sociedade Pestalozzi, esses alunos (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,
a Associação de Assistência à Criança 2019).
Deficiente (AACD) e a Associação de Pais e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Somente em 1990 as políticas COMO OCORRE A INCLUSÃO


públicas direcionadas ao total apoio do DE ALUNOS COM SÍNDROME
desenvolvimento dos portadores de
deficiência começaram a se organizar, devido
DE DOWN AO SISTEMA
à participação do Brasil na Conferência REGULAR
Mundial sobre Educação para Todos,
mencionada anteriormente. A síndrome de Down é a mais ocorrente
e uma das mais conhecidas síndromes
A partir da Declaração elaborada durante a malformativas, foi descrita, em 1866,
Conferência, as práticas para educação para por Langdon Down e sua causa genética
todos baseiam-se no princípio de educação foi identificada pela primeira vez pelo
inclusiva como: aceitação das diferenças, geneticista francês Jérôme Lejeune, em
valorização da pessoa humana, convivência 1959. É decorrente de falha na distribuição
na diversidade humana, aprendizagem por de cromossomo, resultando em quantidade
meio da cooperação e solidariedade; além do extra, o que acomete 95% das pessoas
preparo do ambiente da instituição escolar, portadoras da síndrome (MINISTÉRIO DA
com rampas de acesso, banheiros adequados SAÚDE, s/d).
e salas espaçosas.
Todos os seres humanos são formados
Nesse sentido, ressalta-se a necessidade por células, as quais possuem em sua parte
de propostas curriculares reformadas e/ou central um conjunto de pequenas estruturas
adaptadas, com ênfase especial à prática denominadas cromossomos que determinam
da autodeterminação da criança portadora as características de cada um como cor dos
de deficiência. Para tanto, foram realizados cabelos, da pele, dos olhos etc. O número de
treinamentos às equipes técnicas das escolas, cromossomos presentes nas pessoas é 46
a fim de que pudessem dar assistência aos (sendo 23 provenientes do pai e 23, da mãe)
professores. dispostos em pares, em um total de 23. No
caso da síndrome de Down, as células têm
É importante salientar que integração 47 cromossomos (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
significa a introdução da pessoa portadora s/d).
de deficiência na sociedade, e inclusão, por
outro lado, é a conscientização e aceitação Como o cromossomo extra aparece no
da sociedade perante a presença de um par de número 21, é também chamada de
portador de deficiência, bem como sua Trissomia dos 21. Lejeune estudou muito
participação efetiva (dentro de seus limites) esta síndrome a fim de melhorar a qualidade
na comunidade, exercendo sua cidadania. de vida de seus portadores de Trissomia dos
21. Pode manifestar-se em três tipos, que são
detectados por meio do exame de cariótipo:

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Revista Educar FCE - Abril 2019

trissomia 21 simples (padrão), em que a e que irão favorecer o desenvolvimento


pessoa possui 47 cromossomos em todas as motor. Destaca-se que, quanto maior
células (95% dos casos); o tipo mosaico, que independência motora, melhor será a
é a alteração genética e compromete apenas integração da criança, o que permitirá seu
parte das células, ou seja, algumas células interesse pela aprendizagem. Dessa forma,
tem 47 e outras 46 cromossomos (2% dos juntamente a outras áreas da saúde e
casos); e a translocação, onde o cromossomo educação, a fisioterapia constrói um alicerce
extra do par 21 fica junto de outros, embora para ajudar a criança, possibilitando uma vida
a pessoa tenha 46 cromossomos, é portador comum e sua inclusão em quaisquer âmbitos
de síndrome de Down da mesma forma (3% (MOVIMENTO DOWN).
dos casos) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, s/d).
Não obstante as diferenças entre pessoas
No quadro clínico, as principais com a síndrome de Down, o atendimento das
manifestações são: hipotonia (pouca reação suas necessidades especiais, que se referem
no dia a dia aos comandos), protusão da principalmente às questões de aprendizagem e
língua, baixa estatura, deficiência mental, tratamento de eventuais problemas de saúde,
prega palpebral obliqua, nariz pequeno e vem proporcionando boa qualidade de vida.
achatado, dentes irregulares, pescoço curto Atualmente, devido aos cuidados, atenção
e largo, atraso no desenvolvimento motor). e atendimento às pessoas com síndrome de
Down, pode ser observado um aumento da
A fisioterapia, desde os primeiros meses expectativa de vida de seus portadores e, com
de vida, tem sido uma forma de tratamento todos os avanços da medicina, não se pode
da síndrome de Down. Além da estimulação dizer que o portador de síndrome de Down
do bebê, se faz fundamental a orientação não pode viver na sociedade.
da família como forma de favorecer o
desenvolvimento da criança e dar suporte. É uma pessoa com necessidades especiais,
Aspectos como sinais de compressão que precisa de tratamento e educação
medular, tônus postural, motricidade, fase dirigidas para tornar-se independente. Para
do desenvolvimento motor, coordenação, tal, tem sido de suma importância o empenho
fraqueza muscular dentre outros, podem de pais e profissionais, comumente atuando
ser observados, avaliados e melhorados por em associações, realizando campanhas e
meio da fisioterapia (MOVIMENTO DOWN, outras atividades de âmbito educativo.
2019). Ademais, a atual lei acerca da inclusão
permite que não só o portador de síndrome
No tratamento, deve-se estimular vários de Down, como qualquer outro portador
aspectos simultaneamente, promovendo de deficiência, seja matriculado em escolas
situações em que a criança possa ter normais e receba a mesma educação,
experiências que irão diminuir seu déficit favorecendo seu desenvolvimento.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O grande empenho tem resultado em com síndrome de Down e a ampliação de


conquistas fantásticas e mudanças na visão oportunidades nos vários ramos da atividade
social da síndrome de Down, já que está humana, aliada ao conjunto de valores e
sendo considerada por parte da população potencialidades, faz com que ousemos
como diversidade natural. afirmar que não podemos mais aceitar a
educação dessas pessoas fora da escola
Os termos integração e inclusão, para regular.
a família, tem noção apenas do ponto de
vista teórico. O importante é a prática do
processo de matrícula de uma pessoa com A INTERVENÇÃO DA
síndrome de Down na escola regular. Mas, PSICOPEDAGOGIA
para que isso se torne efetivo, é importante
que os professores sejam adaptados com Surgida na Europa, a psicopedagogia
formação continuada, a fim de não haver atua com fundamento em outras áreas do
discriminação. conhecimento, a fim promover o atendimento
às crianças com algum tipo de distúrbio
Todos os âmbitos que envolvem a questão de aprendizagem ou portadoras de alguma
da inclusão têm levado pais, especialistas deficiência, trabalhando, neste último caso,
e organismos nacionais e internacionais a em conjunto com especialistas na área
entenderem formas de como reestruturar o (TRINDADE; CERQUEIRA, s/d).
sistema para atender aos desafios, exigindo
postura e comprometimento. Observa-se que A psicopedagogia permite que o aluno,
os espaços de inclusão para essas pessoas, intrínseca ou extrinsecamente, seja poupado
dependendo do nível de comprometimento, do fracasso escolar, possibilitando-lhe meios
são variados, pois existem diferentes e estratégias de aprendizagem que condizem
intensidades para o processo. às suas necessidades; facilita sua socialização
com os colegas e permite que o aluno avance
As crianças, indiscriminadamente, devem em sua autoestima e autonomia individual
compreender as mudanças urgentes que (TRINDADE; CERQUEIRA, s/d).
devemos realizar na educação com vistas
a construção de uma pedagogia mais Estratégias de ensino aos alunos com
humanizadora, que represente os anseios do Down
cidadão desse tempo, onde o homem possa
ter uma postura crítica e ativa na vida social, Segundo Trindade e Cerqueira (s/d),
possibilitando a solidariedade, a justiça e o algumas práticas são primordiais ao processo
exercício pleno da cidadania. de desenvolvimento, como:
É importante refletirmos que o
comportamento cognitivo das pessoas Material Dourado – Montessori. O método
multissensorial Montessori (1948) busca

336
Revista Educar FCE - Abril 2019

combinar diferentes modalidades sensoriais no ensino da linguagem escrita às crianças. Ao usar as modalidades
auditiva, visual, sinestésica e tátil, esse método facilita a leitura e a escrita ao estabelecer a conexão entre
aspectos visuais (a forma ortográfica da palavra), auditivos (a forma fonológica) e sinestésicos (os movimentos
necessários para escrever aquela palavra). Informática. Sabe-se que uma pessoa com Síndrome de Down tem
limitações em sua capacidade de abstração e velocidade com que aprende principalmente comparada com
outras pessoas da sua idade. Isso não faz com que essa pessoa possua uma estrutura mental diferente, nem
que aprenda a partir de um processo diferenciado em relação às outras pessoas. Sendo isso verdadeiro, não
existe diferença entre software educacional (aberto ou fechado) utilizado por uma criança com Síndrome de
Down, na Educação Infantil. Brincadeiras em grupo. Por meio das brincadeiras, as crianças podem manifestar
certas habilidades que não seriam esperadas para a sua idade. (TRINDADE; CERQUEIRA, s/d, grifos nossos).

Ainda que o ritmo de aprendizado da criança portadora da Síndrome de Down seja mais lento do que o de
crianças sem a Síndrome e na mesma faixa etária, é possível, por meio de estímulos específicos e atividades
lúdicas, desenvolver a aprendizagem. Assim como entre as crianças que não apresentam a Síndrome, há
diversos níveis de desenvolvimento intelectual entre os portadores de Down (TRINDADE; CERQUEIRA, s/d).

O processo de ensino e aprendizado deve unir profissionais da saúde, professores e


família, de modo a propiciar tanto ambiente favorável quanto atividades adequadas ao
desenvolvimento das crianças com a Síndrome. Contudo, para transformar a realidade atual,
no que diz respeito à inclusão escolar, é preciso diagnosticá-la, interpretá-la e conhecê-la
a fundo. Identificar os mecanismos geradores dessa inclusão, implantar e propor políticas
públicas que atendam às necessidades da maioria das pessoas com necessidades especiais.

O portador da Síndrome de Down, e todo aquele com necessidades especiais, precisa,


antes de mesmo de estar em uma escola que o acolha, pertencer à sociedade, ser parte
integrante dela, e respeitado em suas limitações e alcances, sentindo-se livre para atuar na
comunidade escolar com sucesso. Isso é o que se espera para o futuro.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível incluir uma pessoa portadora de síndrome de
Down. Segundo os estudos realizados, existem variadas
formas e âmbitos em que a inclusão pode ocorrer. Foi
constatado também que este processo de inserção
aumenta as possibilidades dos indivíduos identificados com
necessidades especiais de estabelecerem significativos
laços de amizade, desenvolverem-se física e cognitivamente
e de serem participantes reais e ativos na construção do FLÁVIA CRISTINA
conhecimento. PEREIRA FIGUEIREDO
Graduação em Matemática pela
O grande desafio hoje é transformar as escolas especiais Faculdade de Filosofia, Ciências
atuais em centros de referência de educação especial, e Letras de São José do Rio
cujo objetivo seria fornecer apoio técnico e equipamentos Pardo (2000); Pós-Graduação em
Psicopedagogia pela Faculdade
adequados às escolas regulares. Isso, além de não ser Campos Elíseos (2018); Professor
tão oneroso, também significaria uma reformulação no de Ensino Médio na ETEC Arnaldo
pensamento a respeito da educação especial, a qual, até Pereira Cheregatti.

os dias atuais, tem sido confundida com escola especial.


Educação especial é um sentido muito mais amplo de escola
especial.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
ALONSO, M. R. Ensino para portadores de síndrome de Down. Correio Popular, Campinas,
05 out. 1997.

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portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/biologia/o-psicopedagogo-e-sua-intervencao-
na-aprendizagem-de-alunos-com-sindrome-de-down/30041. Acesso em 10 ago. 2018.

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movimentodown.org.br/ Acesso em: 15 jun. 2019.

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Desporto – Ano II- nº 20. Brasília, 1998.

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nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/ Acesso em: 16 jun. 2019.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm Acesso em: 16 jun. 2019.

UNICEF BRASIL. Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Conferência de Jomtien –
1990). Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-mundial-sobre-educacao-
para-todos-conferencia-de-jomtien-1990 Acesso em: 16 jun. 2019.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE
NA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA
RESUMO: O objetivo deste artigo é relatar sobre as contribuições da relação afetiva no
processo ensino aprendizagem, remetendo a compreender como ocorre a relação entre o
educando, professores e a família.Durante a vida escolar da criança pressupõe-se que haverá
várias situações, nas quais o afeto estará presente nas suas relações familiares e estudantil.
A escola deve preparar seus alunos para a vida, afetando seus educandos e contribuindo
positivamente na sua formação social e emocional a fim de formar cidadãos críticos,
conscientes e sujeitos de transformação social. As reações individuais, atitudes perante a
vida social e escolhas frente a inúmeras situações são afetadas por influências externas que
ao longo da vida resultará ou não em aluno brilhante.

Palavras-Chave: Afeto; Aprendizagem; Escola; Social.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Este artigo é um convite ao despertar de


um olhar atento e acolhedor das relações
Neste artigo, a intenção principal é mostrar humanas dentro das unidades escolares,
como os fatores afetivos se apresentam na sendo este o ponto de partida para afetar
relação professor – aluno - família e a sua positivamente as nossas crianças em idade
influência no processo de aprendizagem. escolar, possibilitando uma percepção da
importância do afeto na relação pedagógica
O interesse neste tema nasceu a partir de como fator relevante na interação com o
observações durante minha prática docente, aprendizado.
onde notei muitos alunos com baixo interesse em
aprender e com um sentimento de conformidade
em suas dificuldades pedagógicas. A IMPORTÂNCIA DA
AFETIVIDADE NA
Durante dois anos realizei um projeto
pedagógico com turmas do ensino FORMAÇÃO PEDAGÓGICA
fundamental I para acelerar a aprendizagem
de crianças com maior dificuldade e pude Compreender a afetividade como algo
perceber que em muitos casos a falta de inevitável e necessário é aceitar que
interesse estava intrinsecamente ligada sentimentos e emoções fazem parte do
a baixa estima, pouca afetividade ou indivíduo, daí nasce a importância de
afetividade negativa. conhecer as diferentes formas em que
o aluno é afetado pela família, colegas e
Destaco também sobre a importância professores e como nossas ações e emoções
da família dentro do desenvolvimento frente a situações adversas podem mudar o
pedagógico e como apoio escolar e sobre rumo das histórias de nossos alunos.
como o amor e o afeto deve transcender na
relação com os professores e com seus filhos. Avaliar as relações afetivas na sala de
aula a fim de estreitar laços positivos entre
Em face a crescentes dificuldades nas os alunos, eliminando os preconceitos
relações entre professor-aluno-família e conflitos, promovendo um ambiente
nasceu o interesse em abordar a questão motivador e enriquecedor ao aprendizado
da afetividade como fator relevante na é a melhor forma de acolher àquele que de
conquista do sucesso dessas relações, tendo alguma forma precisa ser notado.
em vista que elas são necessárias não apenas
para promover um bom ambiente escolar, A capacidade do pedagogo em perceber o
como também uma ferramenta que pode e afeto como uma ferramenta motivadora auxilia
deve ser utilizada para fortalecer o respeito em seu trabalho a ser desenvolvido dentro e fora
e o aprendizado. da sala de aula no processo de aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Quero salientar a importância da desenvolvimento da criança aparecem duas


observação constante do professor com vezes: primeiro no nível social, e depois
um olhar atento e perspicaz frente as no nível individual: primeiro entre pessoas
dificuldades de seus alunos e evidenciar (interpsicológica), e depois no interior da
sobre a importância da família dentro do criança (intrapsicológica)”.
desenvolvimento pedagógico e como apoio
escolar e sobre como o amor e o afeto deve Para o autor, a família é a primeiro
transcender na relação com os professores e contato social em que a criança é inserida,
com seus filhos. estabelecendo nessa relação os primeiros
estímulos de linguagem. Apoia-se na
Até que ponto a relação humana de boa concepção de um sujeito interativo que
qualidade pode colaborar na formação de elabora seus conhecimentos sobre os objetos,
nossos alunos dentro do ambiente escolar? em um processo mediado pelo outro.

Vygotsky (1994), ao abordar a importância Para Vygotsky (1985), a educação não


das interações sociais, traz a ideia da mediação tem nada de externo ao desenvolvimento: “A
e da internalização como fator imprescindível escola é o lugar mesmo da psicologia, porque
para a aprendizagem, defendendo que a é o lugar das aprendizagens e da gênese
construção do conhecimento nasce a partir das formações psíquicas”. E por isso que
de um intenso processo de interação social essa teoria pode eficientemente empregar
com demais pessoas. Logo, podemos afirmar para melhor compreender os fenômenos
que é através da inserção cultural e interação educativos, sobretudo seu papel no
social com demais pessoas que ocorre desenvolvimento para estimular pesquisas
o desenvolvimento. Vygotsky, destaca a pedagógicas e para se tentar aplicações
importância do outro não só no processo práticas.
de construção do conhecimento, como
também de constituição do próprio sujeito Ao analisar as observações relatadas
e de suas formas de agir. Nota-se a intenção pelo autor, podemos afirmar que o papel
de Vygotsky em enfatizar a importância das do outro no processo de aprendizagem
relações sociais e culturais como fatores torna-se fundamental, consequentemente, a
relevantes na formação do indivíduo, na sua mediação e a qualidade das interações sociais
forma de perceber o mundo e na forma em e de afeto ganham destaque na formação
que se estabelece no contexto social. das crianças.

Segundo o autor, o processo de interação Grandes estudiosos, como Jean Piaget


envolve uma série de transformações que (1896-1980) e Lev Vygotsky (1896-1934),
coloca em relação o social e o individual, já atribuíam importância à afetividade no
afirmando que “ todas as funções no processo evolutivo, mas foi o educador

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Revista Educar FCE - Abril 2019

francês Henri Wallon (1879-1962) que se e puberdade e adolescência. Ao longo desse


aprofundou na questão. Ao estudar a criança, processo, a afetividade e a inteligência se
ele não coloca a inteligência como o principal alternam. No primeiro ano de vida, a função
componente do desenvolvimento, mas que predomina é a afetividade. O bebê a
defende que a vida psíquica é formada por usa para se expressar e interagir com as
três dimensões - motora, afetiva e cognitiva pessoas, que reagem a essas manifestações
-, que coexistem e atuam de forma integrada. e intermediam a relação dele com o
“O que é conquistado em um plano atinge o ambiente. Depois, na etapa sensório-motora
outro mesmo que não se tenha consciência e projetiva, a inteligência prepondera. É o
disso”, diz Laurinda Ramalho de Almeida, momento em que a criança começa a andar,
vice-coordenadora do Programa de Estudos falar e manipular objetos e está voltada para o
Pós-Graduados em Educação, da PUC-SP. No exterior, ou seja, para o conhecimento. Essas
exemplo dado, ao andar, o bebê desenvolve mudanças não significam, no entanto, que
suas dimensões motora e cognitiva, com base uma das funções desaparece. Como explica
em um estímulo afetivo. Um olhar repressor Izabel Galvão no livro Henri Wallon: Uma
da mãe poderia impedi-lo de aprender. Concepção Dialética do Desenvolvimento
Infantil, “apesar de alternarem a dominância,
Wallon defende que o processo de afetividade e cognição não são funções
evolução depende tanto da capacidade exteriores uma à outra. Ao reaparecer como
biológica do sujeito quanto do ambiente, atividade predominante, uma incorpora as
que o afeta de alguma forma. Ele nasce conquistas da anterior.
com um equipamento orgânico, que lhe
dá determinados recursos, mas é o meio A dinâmica dos estágios segue o que Wallon
que vai permitir que essas potencialidades chama de predominância funcional, isto é,
se desenvolvam. “Uma criança com um “momentos predominantemente afetivos,
aparelho fonador em perfeitas condições, isto é, subjetivos e de acúmulo de energia,
por exemplo, só vai desenvolver a fala se sucedem outros que são predominantemente
estiver em um ambiente que desperte isso, cognitivos, isto é objetivos e de dispêndio de
com falantes que possam ser imitados e energia”(GALVÃO, 1995, p. 45).
outros mecanismos de aprendizagem”. Pode-
se afirmar, então, que o afeto é o despertar Segundo Wallon, é através da inserção na
para o desenvolvimento de habilidades cultura que o homem se desenvolve como
físicas, motoras e psíquicas. ser humano e assim o que antes eram efeitos
biológicos se tornam mais complexos,
Assim como Piaget, Wallon divide o afetividade e inteligência se fundem no
desenvolvimento em etapas, que para ele decorrer do desenvolvimento humano. No
são cinco: impulsivo-emocional; sensório- contexto sociocultural os pais e professores
motor e projetivo; personalismo; categorial; são importantes mediadores dos filhos como

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objetos culturais, tais mediações são afetivas é um princípio que só surgiu há algumas
e determinam as relações entre sujeitos e dezenas de anos. De fato, essas ideias se
objetos consagraram apenas no século 20, e assim
mesmo não em todos os lugares do mundo.
A importância da afetividade no Mas elas já eram defendidas em pleno século
desenvolvimento humano, segundo Wallon, 17 por Comenius (1592-1670), o pensador
baseia-se na afirmação que o ser humano tcheco que é considerado o primeiro grande
desde o seu nascimento é envolvido pela nome da moderna história da educação.
afetividade e que o afeto desempenha um
papel fundamental em seu desenvolvimento e Comenius destacou em sua obra a
no estabelecimento de boas relações sociais. importância da prática escolar em imitar a
O movimento é a base do pensamento e das natureza, considerando as possibilidades
emoções que dão origem a afetividade, sendo e os interesses da criança na relação
ela fundamental na construção do sujeito. professor-aluno. O autor acreditava em
Esse autor ilustrou essa ideia relatando que um aprendizado em todos os meios (social,
um bebê quando está com fome ou dor de profissional, familiar, religioso...). Com isso,
barriga chora para manifestar sua vontade, Comenius quer destacar a aprendizagem em
mesmo não tendo como se expressar pela vários contextos, seja ele formal ou informal.
fala ele induz a mãe a tentar entender sua Havendo ou não uma intenção, a relação
necessidade. Assim, o bebê simboliza através da pessoa com o meio sempre acarretará
de suas reações o afeto que necessita. O em algum tipo de aprendizagem, recriando
autor foi o primeiro a levar em consideração assim, novas possibilidades de interpretar e
não somente o corpo da criança, mas suas transformar o meio em que vive.
emoções para dentro da sala de aula.
Partindo desse pressuposto, através
Comenius - O filósofo tcheco combateu da ação educativa o meio social exerce
o sistema medieval. Defendeu o ensino influências sobre os indivíduos e estes,
“tudo para todos” e foi o primeiro teórico a ao serem afetos recriam essas influências,
respeitar a inteligência e os sentimentos da tornam-se capazes de estabelecer uma
criança. relação ativa e transformadora em relação
ao meio social.
Quando se fala de uma escola em que
as crianças são respeitadas como seres Para Pestalozzi (1746 – 1827), o principal
humanos dotados de inteligência, aptidões, objetivo da educação seria a humanização do
sentimentos e limites, logo pensamos em próprio homem, o desenvolvimento de todas
concepções modernas de ensino. Também as manifestações da vida humana, levada
acreditamos que o direito de todas as a plenitude e perfeição (Luzuriaga, 1978
pessoas - absolutamente todas - à educação p.175). Para o autor, estas manifestações

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ocorriam através de três capacidades do ser: o espírito, o coração e a mão. Ou seja, a vida
intelectual, moral e prática, devem ser desenvolvidas de forma integral e harmônica. Esta
ideia torna-se evidente quando Pestalozzi afirma que só é essencial e realmente educativo
o que influi nos homens no conjunto de suas capacidades. Tudo o que não toca a totalidade
do seu ser, não toca naturalmente e não é humanamente educativo na extensão da palavra.

Segundo Pestalozzi, não se aprende sem emoção e não se pratica o jogo social sem emoção.
A afetividade nasce dessa certeza de que o aluno aprende quando se sente valorizado,
acolhido e respeitado. Portanto, o resultado prático é a construção de um espaço mais
harmônico em que as heterogeneidades convivam em paz. E além disso, a real possibilidade
de aferir os resultados de uma educação com mais qualidade e significado para os aprendizes.

Pestalozzi, incorporou o afeto à sala de aula, pois para o educador suíço, os sentimentos
tinham o poder de despertar o processo de aprendizagem autônoma na criança. Segundo ele
“o amor deflagra o processo de auto- educação”, diz a escritora Dora Incontri.

Acredito que seria injusto falar sobre a importância da afetividade no processo de aprendizagem
sem destacar o educador em questão. Em seus escritos ele deixa transparente o quanto se faz
necessário o amor e o respeito com o outro no ato de educar.

Ao analisar as afirmações do autor, percebemos que ele evidencia a importância de


conquistar o aprendiz no ato educativo, e que esse ato só se faz com amor, com afeto,
pois só assim poderá encantá-lo a ponto de torna esse aprendizado amplo, natural e
indiscutivelmente pleno.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na sociedade burguesa a formação familiar era ligada aos laços
sanguíneos e a habitação em comum cujos membros se limitavam ao
pai, mãe e filhos, sendo que o pai era o provedor do sustento, tinha
contato com a vida social e o mercado de trabalho, já a mãe tinha
como obrigações os cuidados domésticos e com os filhos, desta forma
a esposa e filhos deviam obediência irrestrita ao seu provedor, esse
modelo de formação familiar era conhecido como patriarcal e nessa
época o casamento era ligado aos negócios e tido como união eterna.
FLÁVIA SALGUEIRO
Cominúmerasmudançassociais,essemodelosofreutransformações, MENEGASSI
diversas necessidades levaram a mulher a se introduzir no mercado
Graduação em Pedagogia pela
de trabalho, o que fez com que se tornasse peça importante no Faculdade UNICASTELO (1996);
provimento financeiro da família, não sendo raros os casos em que é a Pós- graduada em Psicopedagogia
única provedora. Tal fato, por sua vez, vem promovendo o afastamento e neuropedagogia pela FCE
(2017); Professor de Educação
precoce dos filhos do convívio familiar e assim fazendo com que Infantil e Ensino Fundamental I
dividam o compromisso de educar com a escola, com tudo isso a figura na Prefeitura de São Paulo EMEI
do pai passou a ser ou mais presente na educação dos filhos ou em Suzana Evangelina Felippe, Profª.

alguns casos a formação familiar não conta mais com essa figura, pois já
existem muitos casos de mães solteiras, viúvas ou separadas que comandam a família, o que não é diferente
com os pais que muitas vezes também estão frente de suas famílias sem a ajuda de uma companheira.

Outros aspectos culturais e de comportamentos ligados à família também mudaram, como por exemplo:
os casamentos passaram a ser realizados não mais como um negócio, mais sim por interesses individuais, ou
seja, do casal, a relação entre pais e filhos se tornou mais íntima, trazendo uma educação mais liberal e a figura
paterna passou a não ser mais vista apenas como o provedor do sustento fazendo com que fosse cobrado
dele mais participação na educação dos filhos e nos assuntos domésticos em geral.

Atualmente existem vários tipos de formação familiar em nossa sociedade, tendo cada uma delas suas
características e não mais seguindo padrões antigos, nos dias atuais existem famílias de pais separados,
chefiadas por mulheres, chefiadas por homens sem a companheira, a extensa, a homossexual, e ainda a
nuclear que seria a formação familiar do início dos tempos formada de pai, mãe e filhos, mas não seguindo os
padrões antiquados de antigamente.

Cabe ao professor a consciência de que seus alunos também são diferentes dos de antigamente, pois
se expressam muito mais e estão longe de serem considerados “tábuas rasas”, eles trazem consigo uma
história de vida, experiências, conhecimentos e vivências. Os alunos não são iguais, cada um traz consigo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

uma bagagem cultural, religiosa, afetiva e familiar. Deste modo, cabe ao educador a delicadeza, a sutiliza e
a ética de trazer novos conceitos sem interferir nas crenças e valores de cada família e ao mesmo tempo
ampliar seus horizontes a fim de se tornarem conhecedores de novos mundos e capazes de elaborar o
próprio pensar, recriando seus conhecimentos, ampliando seus saberes e principalmente sendo capazes de
fazer escolhas socialmente positivas. Terá o educando nesse nível, atingido o ponto de afeto necessário para
se tornar autônomo e capaz.

Em suma, somos sempre afetados, podendo ser bom ou ruim, mas certamente, o professor como adulto
e líder na relação com seus alunos sempre será o coautor da afetividade desta relação que poderá permear
o futuro social das futuras gerações.

Durante toda a pesquisa, teve-se a preocupação em discutir a influência da afetividade no processo de


aprendizagem, como um elemento motivador e facilitador desse processo na qual a escola é um ambiente
repleto de interações sociais.

Entende-se que os aspectos afetivos não são determinantes no processo de aprendizagem, mas um
facilitador em como trabalhar com a interação entre professor e aluno, buscando contribuições para que a
escola seja um ambiente de relações mais agradáveis.

Para que o professor conheça bem seus alunos, é preciso que não negligenciem os aspectos afetivos. É
necessário refletir sobre a importância da afetividade no contexto escolar, de modo que os alunos possam
ser aceitos, respeitados e compreendidos, e assim, os educadores possam entender seus sentimentos. É
preciso desenvolver a sensibilidade para ouvi-los, dialogar com eles e apoiá-los para que busquem superar
as suas dificuldades.

Foi possível também, perceber que quando os pais se fazem presentes, mostrando interesse pelo filho,
pela escola, pelo que ele está aprendendo, pelas coisas que está fazendo ou deixando de fazer e pelos
seus progressos e necessidades, as crianças apresentam maior motivação para aprender, pois se sentem
orgulhosas de seus feitos.

“A família é essencial para que a criança ganhe confiança, para que se sinta valorizada, para que se sinta
assistida”. (Gabriel Chalita, 2004, p. 26). Por isso é de extrema importância criar um elo de comunicação entre
a família e a escola. Ambas necessitam uma da outra.

Gabriel Chalita, ao ser entrevistado pergunta-se: há quem afirma que o computador irá substituir
o professor, e que nesta era em que a informação chega de muitas maneiras, o professor perdeu sua
importância. Ele responde com serenidade. “O computador nunca substituirá o professor.” Por mais evoluída
que seja a máquina, por mais que a robótica profetize evoluções fantásticas, há um dado que não pode ser

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Revista Educar FCE - Abril 2019

desconsiderado: “a máquina reflete e não é capaz de dar afeto, de passar emoção, de vibrar com a conquista
de cada aluno. Isso é um privilégio humano”.

Ele enfatiza ainda: pode-se ter todos os poemas, romances ou dados no computador, como há nos livros,
pode haver a possibilidade de buscar informações pela internet, cruzar dados num toque de teclas, mas falta
emoção humana, o olhar atento do professor, sua gesticulação, a fala, a interrupção, a construção coletiva
do conhecimento, a interação com a dificuldade ou facilidade da aprendizagem. A interação entre a família
e a escola não deveria ser reduzida meramente a reuniões formais, onde há reclamações e contatos rápidos,
mas ocorrer regularmente em momentos de maior troca de informações.

É de extrema importância ressaltar que o sucesso ou o fracasso no desenvolvimento escolar da criança é


influenciado por diversos fatores, sendo o envolvimento da família com essas crianças um fator essencial. As
expectativas de pais em relação ao futuro são fatores que podem cooperar ou não para que essas crianças
estejam motivadas para um bom desempenho no processo de aprendizagem e durante toda a vida escolar.

A afetividade manifestada na relação entre professor, aluno e família constitui um elemento inseparável
no processo de construção do conhecimento, uma vez que a qualidade da interação pedagógica vai conferir
um sentido afetivo para o objeto do conhecimento, logo, é num contexto educacional moderno onde a
criança possa ter voz e se expressar das mais diversas formas que a relação de afeto poderá se manifestar,
uma vez que o ensino tradicional separava o aluno do professor.

Quando há confiança e incentivo o ato de aprender ocorre com maior facilidade, quando o professor se
demonstra como uma pessoa aberta, flexível, tolerante e cordial, ele estabelece um vínculo que deve ser
usado a favor do cumprimento das regras e combinados de grupo.

O acolhimento precisa acontecer não apenas com as crianças de inclusão física ou limitações de
aprendizagem, o acolhimento deve acontecer com cada aluno dentro da sala de aula e isso pode acontecer
através de didáticas que promovem a autonomia e a identidade de cada aluno. A confecção do crachá do
ajudante do dia, o painel dos aniversariantes, a valorização da produção e expressão das atividades realizadas
pela criança, entre outras dinâmicas colaboram com que cada indivíduo se sinta parte do grupo.

É importante ter em mente que ao praticar o afeto com seus alunos, você estará aos poucos contagiando
a todos de tal forma que chegará um momento em que entre eles haverá o zelo e o carinho de se ajudarem,
diminuindo assim as desavenças e conflitos. Praticar o afeto é exercer uma didática contagiante de postura
equilibrada e de objetivos conscientes, não é apenas ser bondoso e carinhoso, é saber da necessidade
do acolhimento e o quanto isso pode mudar a realidade de um aluno, seja no momento atual ou no seu
desenvolvimento emocional futuro.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS

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WADSWORTH, Barry J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget. 5ª Ed. São


Paulo: Pioneira, 1997.

Professora sim, tia não: Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d’água, 1997.

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1997.

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Ética (Pensamento e ação no magistério)– ed.Spione

REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, Rio de


Janeiro: Vozes, 1995.

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Brasil escola: A família na atualidade: http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/psicologia/a-


familia-na-atualidade.htm

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONFLITO ESCOLAR
RESUMO: O presente artigo traz como objetivo principal analisar e repensar as práticas
que tem sido desenvolvida dentro do contexto escolar em situações de conflito. Um dos
objetivos da escola atual é contribuir para a formação de cidadãos autônomos, críticos,
conscientes de suas atitudes e de seu papel na sociedade. Muitos educadores preocupam-
se em como intervir nos conflitos interpessoais vivenciados pelos alunos. Por entendermos
que esta é uma questão ligada à evolução da moralidade dos educandos, buscamos na teoria
construtivista a compreensão de como se dá o desenvolvimento moral. Preparando esse
ambiente para que eles se sintam pertencentes a ele, podendo opinar, construir regras,
pensar em soluções dos problemas, planejar conjuntamente as próprias ações. Levar os
alunos a buscar a resolução dos conflitos interpessoais que enfrentam no dia a dia, leva-los
a uma reflexão e no encontro do se “eu” e na busca de serem protagonista de sua própria
história, conquistando uma autonomia moral foram reflexões que procuramos estabelecer
com o presente artigo.

Palavras-Chave: Conflito Escolar; Metodologia; Prática.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO por vezes se verem despreparados diante de


conflitos interpessoais.
Este trabalho tem como objetivo
demonstrar através de estudos de autores O conflito acaba sendo enxergado dentro
consagrados que o processo de mediação da escola muitas vezes como algo antinatural,
de conflitos se torna necessário dentro da já no construtivismo o conflito é visto como
realidade que vivemos no contexto escolar, algo necessário para o desenvolvimento, uma
o grande desafio que temos de lidar com oportunidade de se trabalhar valores, pois
problemas de comportamento, na relação são apontamentos do que os alunos precisam
professor-aluno, aluno- professor, entre aprender, eles demonstram oportunidades
os alunos e todos que estão envolvidos para auxiliar os alunos a reconhecerem os
no processo de educação. Nesse sentido, pontos de vista dos outros e aprenderem
faremos uma reflexão sobre os principais a buscar soluções aceitáveis (justas e
métodos aplicados nas mediações dos respeitosas) para as partes envolvidas.
conflitos, conceitos, metodologias e
procedimentos pedagógicos. Vinha (2007) pontua que se observam,
com frequência, tais conflitos sendo vistos
Baseando na teoria construtivista de Jean como negativos e nocivos. A autora diz que
Piaget, para se chegar à autonomia moral e é evidenciada essa concepção quando a
intelectual, é preciso ter a ação do objeto postura da escola é conter, evitar e ignorar,
sobre o conhecimento e a interação social. ou depois de algumas tentativas dentro do
A escola é o ambiente onde eles podem ambiente escolar passam assim a terceirizar
construir relações, trocar ideias, discutir, a solução desse conflito para os pais.
resolver conflitos, perceber pontos de vista
diferente e perceber que essas interações o O papel da escola acaba se limitando
formaram como um cidadão integral, capaz de somente a evitar, porque gastam boa parte
questionar, de refletir, de resolver problemas do tempo ocupando os alunos o tempo todo,
e também respeitar a opinião do outro e sua tanto dentro da sala como fora dela, passam
individualidade, sabendo conviver. A moral é inúmeras copias na lousa, trancam salas,
construída a partir de um processo de autor armários, fazem mapeamento da sala, fazem
regulação do próprio sujeito. regras e mais regras. A escola contém os
impulsos dos alunos, resolvem os problemas
Os conflitos podem gerar aprendizagem, rapidamente, excluem da sala de aula,
mas muitas vezes os pais são chamados utilizam punições, terceirizam o conflito,
para resolvê-los. Estudos demonstram buscando nos pais uma solução, ameaçam
que os educadores se sentem intimidados com provas surpresas, ou simplesmente
e desmotivados diante das constantes ignoram, porque não conseguem muitas
situações de indisciplina e conflitos, além de vezes de fato solucionar a situação.

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Dentro dessa realidade, o pensamento é uma das formas de resolução para verificar
para se restaurar o equilíbrio, os conflitos a tendência de escolha de cada estudante.
devem ser evitados, contidos ou são A maior parte dos participantes escolheu
necessários. Se o vemos como necessários a resolução de tipo assertivo o que de
cabe assumir a mediação para alcançar acordo com Leme (2004) mostra que alunos
valores. brasileiros são sensíveis desde muito cedo
a perceber condutas que são consideradas
Os alunos por sua vez usam estratégias socialmente desejáveis na resolução de
impulsivas, agressivas, submissas ou conflitos interpessoais.
desrespeitosas para lidarem com os conflitos.
Nestas situações devemos buscar métodos e Segundo Deluty (1981) o comportamento
meios para modificar este quadro que parece assertivo é aquele que caracteriza-se pelo
agravar-se a cada dia. As desavenças precisam enfrentamento da situação de conflito em
ser vistas como pedagógicas e encaradas comportamentos, “explícitos de defesa dos
como intervenções que precisam ser feitas próprios direitos e opiniões, porém sem
para que haja aprendizado. O contato e a apelar para qualquer forma de coerção, como
observação contínua deste cenário levaram- violência ou desrespeito ao direito e opinião
nos a buscar na teoria construtivista um alheios” (Leme, 2004, p.371).
possível norte para ações e reflexões sobre
nossa prática pedagógica no que diz respeito No segundo estudo ao invés de solicitar
à questão de conflitos. aos estudantes que escolhessem uma
Diversos pesquisadores vêm tratando alternativa preestabelecida, foi pedido que
dessa temática e contribuindo para narrassem o tipo de resolução que dariam à
ampliarmos nossa possibilidade de análise, situação descrita. Nesse caso e ao contrário
compreensão e proposição de ações do primeiro estudo, verificou-se maior
educativas que favoreçam a intervenção nos frequência de solução submissa e agressiva,
conflitos interpessoais de forma a propiciar a “confirmando a dificuldade, já apontada
busca da autonomia. por Deluty (1981), em encontrar soluções
alternativas para conflitos” (Leme, 2004,
Leme (2004) relata uma pesquisa p.378).
compreendida por dois estudos que
avaliaram três formas de os alunos brasileiros A maneira que a escola tem lidado com
resolverem conflitos interpessoais: alunos geradores de conflitos, é através
agressivas, submissas e assertivas. No de punições, bilhetes para os pais que
primeiro estudo foram apresentadas aos acabam gerando um sentimento de fracasso
alunos descrições de situações sociais, que e angústia neles, mas não resultam nas
envolviam provocações, perdas, frustrações, mudanças que se deseja ter. A escola ao invés
com alternativas que contemplavam cada de enviar bilhetes, notificações ou telefonar,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

seria mais construtivo fazer uma análise segundo a autora os conflitos são positivos e
profunda dos fatores responsáveis pelo necessários. Para Piaget (1998), autonomia
comportamento indisciplinado desses alunos é um poder que não se conquista senão de
e atuasse de forma que os conflitos fossem dentro e que não se exerce senão no seio
oportunidades de aprendizagem, tanto para da cooperação, dessa forma, um ambiente
os alunos, quanto para os educadores. cooperativo favorece um desenvolvimento
moral.
O desenvolvimento da moralidade está
relacionado à qualidade das relações que se Se olharmos que o conflito pertence aos
apresentam nos ambientes sociais nos quais alunos e valores não deve ser impostos,
o indivíduo interage, se mais cooperativos por mais positivo que possam ser, contudo,
ou autoritários. Independente se a família necessitam da participação dos alunos para
cumpre seu papel, a escola precisa educar que essa construção surta efeito. Não se
seus alunos para viverem em uma sociedade deve deixá-los soltos, com a livre escolha
democrática e contemporânea. e também não podem ser impostos. A
construção, no entanto, envolve a concepção
de que os alunos devem ter um papel ativo
QUAL A POSTURA DO de reflexão e de tomada de consciência no
PROFESSOR DIANTE DO processo de resolução do conflito.
CONFLITO A relação professor aluno é baseada na
Educadores tem se sentido intimidado interação e analisando a situação da sala de
e desmotivado diante das situações de aula como um encontro que acontece com
indisciplina e conflitos interpessoais, que cláusulas predeterminadas como frequência,
ocorrem constantemente dentro da escola, duração da aula, matérias a serem passadas,
Vinha (2007) fala que esses conflitos são pode-se citar (ABREU E MASETTO,1990,
vistos como negativos e nocivos pela p.113), “Nesse encontro, seres vivos, seres
sociedade educativa, em contraponto a humanos, confinados dentro dos limites
teoria construtivista de Piaget compreende da classe, se defrontam, se comunicam, se
os conflitos como oportunidades para influenciam mutuamente”, mesmo estando
trabalharmos valores e regras, explicando limitados por um programa, um conteúdo,
que eles são entendidos como apontamentos um tempo predeterminado, normas da
do que os alunos precisam aprender. instituição de ensino, etc. O professor e
aluno, interagindo, formam o cerne do
As ações dos professores muitas vezes processo educativo.
caminham no sentido de fazerem os alunos
se resolverem sozinhos, dão uma bronca e Conforme o rumo que tome o
assim rapidamente resolvem a situação, mas desenvolvimento desta interação, a

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aprendizagem do aluno pode ser mais ou A interpretação implica em uma via de


menos facilitada, orientada mais para uma dupla-mão e deve haver reciprocidade nos
ou outra direção. Por certo, uma relação diferentes lugares e papéis (AQUINO 1996,
tem dois polos e cabe a ambos determinar p. 23), “cabe ao professor tomar a maior
o clima de sua relação. O professor e aluno parte das iniciativas, dando, com isso o tônus
desempenham papéis diferenciados nessa do relacionamento”, a atuação do professor
relação na sala de aula, que está voltada para é primordial, senão integral, pois o modo de
aprendizagem e cabe ao primeiro tomar a agir dele em sala de aula, pode colaborar ou
maior parte das iniciativas, incluindo dar o tom não para aprendizagem do aluno. Portanto,
no relacionamento estabelecido entre eles. o professor deve ser o mediador, aquele
que vai serenar os ânimos, ajudar aos
Em qualquer relacionamento humano envolvidos a reconhecer seus sentimentos,
existe o conflito, isto é, a busca por auxiliá-los a escutar o outro, estimular a
interesses, ideias ou sentimentos opostos. contra argumentação e levarem as partes a
Dessa forma podemos olhar os conflitos buscarem solução para o conflito inicial.
com uma configuração de experiências
que são práticas, naturais e inevitáveis na A visão que o educador possui de sua ação
convivência das pessoas e servem para o pedagógica é fundamental para a construção
desenvolvimento moral e na construção de da relação educacional. Esta visão encontra-
valores. Ambos se defrontam, se comunicam se hoje marcada pela debatida contradição
e se influenciam, produzindo transformações liberdade/repressão, que de um lado temos
de conceitos, normas de conduta e mudança os educadores que muitas vezes entendem
de comportamento. a educação através da repressão, e reagindo
a esta concepção existem, no extremo
Para Vinha (2007), a ênfase de uma oposto, educadores que acreditam que o ato
educação que segue orientação construtivista educacional aconteça na liberdade total.
não está na solução do conflito em si, mas
no processo. A autora fala que a diferença Os primeiros constituem aqueles como se
está na maneira de se lidar com os conflitos diz “escola tradicional”, eles buscam, dentro
apresentados em sala de aula, que o adulto daquela pretensa contradição, privilegiar o
deve ensinar a importância de cada ação aspecto puramente repressivo do controle
que tomamos. Em vez de o professor gastar de alunos. Espera uma classe silenciosa e
tempo e energia evitando os conflitos, aparentemente atenta, o aluno submetido
deveria aproveitá-los como oportunidade ás regras formais de tratamento aluno-
para auxiliar os educandos a reconhecerem professor, que na verdade se passa uma
os pontos de vista dos outros e aprenderem falsa imagem de respeito. Este é o ideal
buscar soluções aceitáveis para todas as educacional destes professores, que veem
partes envolvidas. em qualquer espaço de liberdade para os

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Revista Educar FCE - Abril 2019

alunos um terrível monstro subversivo, pode agir na emoção. Uma ação violenta é,
corrosivo, que os aniquilará sem dó nem antes de tudo, uma forma de resolver um
piedade. conflito. Mas essa forma de uso de coerção
física ou psicológica é uma “intenção de
Contrapondo-se a essa prática, outros causar prejuízo ao outro, aliada à expectativa
professores vão para o lado da contradição. de que tal objetivo será atingido”. (LEME,
Levantam a bandeira da “liberdade” e, 2004, p.165) e leva-los a resolver de forma
em nome dela, permitem todo tipo de positiva é um caminho na busca a refletir
manifestações dos alunos. Muitos têm fobia nas maneiras distintas de restabelecer a
em relação a algumas palavras, ou a certos reciprocidade, de pensar no outro e não
significados que lhe são atribuídos, como somente em si.
por exemplo: autoridade, disciplina, limite,
poder, etc., muitos foram marcados pela O professor como mediador deve tomar
experiência do abuso de autoridade e poder. decisões justas, que não firam a integridade
Este modo de ser que denuncia o caráter de nenhuma das partes, muitas vezes os
errôneo dessa prática educacional, pois ela alunos tem uma melhor decisão do que
nasce apenas como uma reação imediata à a do professor, por isso a importância da
prática repressora. Ao querer ser “bonzinho” resolução do conflito ser uma construção
ele evita o acirramento do conflito com o com eles, levando-os a reconhecerem os
aluno, o que revela o medo ao compromisso próprios sentimentos e do próximo, construir
que isto implicaria. formas de se expressarem respeitosamente,
fortalecendo assim os sentimentos morais.
Esse método aparentemente só respeita a
natureza do educando e na verdade é, para ele, O pensamento é para se restaurar o
um abandono completo e para o educador a equilíbrio, as desavenças precisam ser
renúncia de educar, (VASCONCELLOS, 2010, vistas como pedagógicas e encaradas como
p. 37) diz que “é a corrupção pedagógica: a intervenções que precisam ser praticadas,
“compra” do aluno, seja pela falsa afetividade, desenvolvendo o hábito de conhecer os
pelo rebaixamento do nível de exigência sentimentos e as emoções, trabalhando o
[...]”, o final dessa história é conhecido por cognitivo, pois tal conhecimento implica
todos, pois o professor passar por omisso uma conscientização dos próprios estados
e é desmoralizado pelos próprios alunos emocionais, sabendo-se as possíveis causas
“libertados”, a sala se torna um verdadeiro e as consequências de suas ações.
caos pedagógico.
Gastar tempo nessa formação, por sua vez,
Quando ocorre um conflito na interação exige do professor um esforço, que é olhar
com o outro, o sujeito pode ser motivado para os conflitos escolares como um desafio.
pelo desequilíbrio causado pela situação, O professor deve pensar no cotidiano de suas

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ações, e não focar em intervenções pontuais qualquer trabalho educacional é acreditar


que funcionam como receitas na formação na possibilidade de mudança do outro”,
dos alunos. (VASCONCELLOS,2010, p. 85) a verdadeira
relação educativa não se faz sem um
O professor não é o único a produzir vínculo de confiança recíproco, o educando
construção de valores na formação dos confiando na competência do professor e
alunos, as amizades deles dentro da escola o professor confiando na capacidade de
também é uma forma dessa construção. A aprender do educando.
relação de pares e a amizade podem produzir
valores como generosidade, compaixão, pois
são elaborados nessa convivência, mais do DESENVOLVER UMA
que os ensinamentos que são transmitidos CONSCIÊNCIA DE QUEM
pelos adultos. Assim, se os alunos se
educam, a autonomia que tanto queremos QUEREMOS FORMAR
também é desenvolvida pela experiência da As sociedades se modernizaram e isso
participação coletiva, da discussão das regras, trouxe uma consequência, se tornaram mais
das oportunidades de ouvir o outro, de dizer alienadas e desumanas. A comunidade escolar
o que se pensa e chegar à necessidade da está diante de um novo contexto social e de
regulação da convivência. um novo aluno, que é bombardeado em seu
dia a dia por novidades tecnológicas, apelos
Só se pode transformar a realidade a partir consumistas e cenas de violência exacerbadas.
do momento em que se assume a existente. Inúmeros elementos estão refletindo nos
O professor tem de aceitar o aluno que tem. alunos na sua forma de ser, entender e
Primeiro aceitar, depois tentar mudar. O relacionar-se com o mundo a sua volta.
aluno deve sentir-se aceito para estabelecer
relações, caso contrário se fecha e não há Junto com as tecnologias, outras
forma de interação. modificações estão presentes no cotidiano,
trazidas pelos ventos da modernidade,
Outro elemento importante que se coloca tais como: imediatismo, superficialidade
para o professor é acreditar que as coisas das relações, excesso de tarefas, jornada
podem mudar. Uma das maiores agressões de trabalho ampliada, entre outras. Os
que uma pessoa pode fazer a outra é não educadores precisam estar atentos e
acreditar nela, a falta de confiança nos alunos considerar essas características na sua
é um sério problema, pois eles sentem e prática pedagógica, pois o conhecimento da
sabem que o professor não acredita nele realidade sociocultural da clientela escolar,
e isso de certa forma o autoriza a agir de suas contradições, conflitos, necessidades e
qualquer jeito já que não se espera o seu desafios se constituem como um elemento
melhor. “O pressuposto fundamental de norteador de todo processo educativo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Tem sido frequente o debate sobre se históricas, sociais e genéticas na atuação


cabe à escola educar moralmente os alunos. no “Eu” como gestor psíquico influenciam a
Diversos autores defendem a neutralidade, maneira como interpretamos cada estímulo.
mas é impossível, pois os valores se transmite Pequenas mudanças no ambiente podem
de várias maneiras. As escolas querem formar promover várias interpretações, a verdade
os alunos através de conteúdos passados, humana nunca é pura, mas interpretativa,
metodologias aplicadas, avaliações, mas pois depende do estado e das experiências
a necessidade apresentada tem sido na de cada um.
formação da psique, na visão de Cury (2008),
não somos treinados e educados para sermos Um sujeito ético é aquele para quem os
gestores da nossa psique, não somos os valores morais correspondem a um ideal
líderes do nosso “Eu”, não somos treinados de felicidade, de modo que esse sujeito
para sermos os protagonistas da nossa vida, experimenta um sentimento de satisfação
pra sermos agentes modificadores da nossa toda vez que cumpre o seu dever. Pautados
história. Assim, ainda que a formação moral na teoria piagetiana, sabemos que alcançar
não seja o objetivo dessa instituição, ela tão nobre fim é uma tarefa difícil que
influenciará no desenvolvimento de seus envolve o sujeito na sua relação com o meio.
alunos. O processo não depende só do meio ou só
do sujeito, mas a chave da questão está na
Devemos procurar soluções que ataquem interação. A escola é um local privilegiado
diretamente o problema. Precisamos mudar porque é um espaço por si só de convivência.
alguns pilares da educação e conhecer um
pouco sobre o funcionamento da mente. A partir desse momento, pode-se
Goleman (1995) comentou que informações desenvolver o respeito às características e às
são estímulos bioenergéticos originados nos diferenças individuais, ampliando a habilidade
órgãos sensoriais que chegam ao sistema das relações interpessoais, de modo a
nervoso central através dos nervos. Os se tornarem mais humanas e solidárias,
estímulos ao serem levados ao cérebro possibilitando o trabalho cooperativo em
são codificados e armazenados em áreas função dos interesses e das necessidades
específicas, onde se interpretam e se dos alunos. Uma estrutura cooperativa que
diferenciam as informações de um mesmo visa estabelecer um cotidiano de ações, em
órgão sensorial. que os alunos possam se sentir pertencentes,
opinar, construir regras, pensar as soluções
Os estímulos, assim como as palavras dos problemas, planejar conjuntamente
e as imagens, sofrem uma sequência de as próprias ações, trabalhando com a
processos para ser assimilado pelo córtex construção do conhecimento.
cerebral, camada mais evoluída do cérebro.
Atingindo o córtex as variações emocionais,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A cooperação participa da estrutura de Ao corrigir um aluno temos a tendência


pensamentos segundo Vinha (2007), diz a tratar a situação de forma superficial,
que ao buscarem um acordo, os indivíduos buscando assim uma resposta rápida para a
defendem o seu ponto de vista, sem cair resolução de uma determinada situação, mas
em contradições, pois quando isso ocorre, a se “perdermos” o nosso tempo, se gastarmos
outra parte aponta os equívocos, as lacunas, mais dos nossos minutos analisando a
os elementos não considerados, contribuindo situação junto com as partes envolvidas,
para que o pensamento seja reformulado. vamos reduzi-las significativamente, pois o
entendimento gera a compreensão e gerando
Ao tentar compreender a perspectiva assim conceitos.
alheia, os sujeitos fazem um esforço de
descentralização, fato que também contribui No processo de resolução de conflitos,
para a construção de novos esquemas de segundo Vinha (2007), os procedimentos
pensamento, ou seja, uma crítica mutua. empregados ou as regras que serão
Ainda de acordo com Piaget (1998), essas elaboradas não devem apenas atuar sobre
relações de cooperação permitem que a as consequências de um problema e, sim,
criança desenvolva o discernimento entre o sobre suas causa, visto que uma resolução
fato e opinião. Estabelecendo uma diferença considerada eficaz em um conflito é aquela
entre aquilo que se pensa e o que de fato é que elimina as causas que a geraram.
a realidade. Compreender as causas e pensar em soluções
a partir delas aumentam para os alunos
Menin (2007, p. 49) defende que na moral, as chances do problema ser solucionado.
assim como no campo intelectual, “uma Além disso, elas poderão evitar situações
consciência só se torna autônoma, livre da semelhantes, pois passam a ter mais recursos
influência cega de uma autoridade maior para se autorregularem.
de fazer descobertas na realidade, se puder
experimentar, na e com a prática das ações, Tomando por base o pressuposto que a
essa realidade”. A interação é fundamental, interação é um princípio construtivista e
pois na medida em que os conflitos vão que ética não pode ser ensinada por meio
surgindo e não são tratados “com pressa”, de lições de moral, falas repetitivas, mas
mas são vistos como uma oportunidade que o sujeito deve ser ativo no processo de
de aprendizagem, as mediações apontam construção do conhecimento, bem como
caminhos na descoberta de novos olhares da moralidade. A escola deve planejar suas
e de soluções que são construídas pelos ações de modo a contemplar o respeito a
alunos, fazendo usarem fatos reais para esses princípios e ficar atenta ao fato de que
produzir coletivamente aprendizado. em todas as relações as regras, os princípios
e os valores estão sendo transmitidos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A instituição escolar precisa refletir em quando ocorre um conflito é uma grande


que cidadão deseja formar, vamos treina- oportunidade de implantar os conceitos
los para serem introduzidos no mercado de de direitos e deveres, de se trabalhar as
trabalho, estimulando-os ao individualismo distinções, discriminações e preconceitos,
e ao egocentrismo. Formando-os para não só no plano material, mas também
competição ou para cooperação, para serem cultural, social e racial, que na maioria das
agressivos ou tolerantes. O queremos de fato vezes estão como base do conflito.
são jovens altruístas, tolerantes, solidários e
humildes. Nesse pensamento Vinha (2007) O professor exerce o papel de mediador,
fala da qualidade das relações interpessoais, favorecendo a construção/reconstrução
que se deve manter um respeito, que será do conhecimento, dos significados que
visto através do modo de se comunicar uns são transmitidos pelo grupo cultural, por
com os outros, estabelecendo vínculos de intermédio das reflexões, das práticas sociais
confiança, os conflitos sendo resolvidos e da utilização de instrumentos, signos e
pelos alunos e professores e as regras sendo linguagens empregados para interpretar o
elaboradas por ambos. mundo e tornar o aluno mais independente
Vygotsky (1984).
Temos como objetivo a formação
de cidadãos e o que é uma sociedade? Essa interpretação começa quando o
É organizada por meio de códigos, aluno passa a se conhecer, automaticamente
regulamentações e leis baseadas nos aprende a se valorizar e a ter autocrítica e
direitos fundamentais da pessoa humana, com isso, começa a aprender a debater ideias,
conjugando aspectos individuais e sociais a trabalhar com a diversidade, deixando
inerentes a cada ser. Segundo o sociólogo de ser pessimista, coitado, controlado pelo
Herbert de Souza (1996, p.65) “cidadão é medo e deixa de ter uma personalidade
um indivíduo que tem consciência dos seus comprometida. Cabe ao professor estabelecer
direitos e deveres e participa ativamente conexões entre os conceitos científicos e o
de todas as questões da sociedade.” O cotidiano, mediando o conhecimento num
cidadão que a escola deseja formar precisa processo de descoberta, produção, troca e
desenvolver a consciência desses deveres e cooperação.
direitos, entendendo que tudo que acontece
no mundo acontece também com ele, sendo O último lugar que alguns alunos querem
assim, ele precisa participar das decisões que estar é dentro de uma escola. Os professores
interferem em sua vida, trabalhando seus reclamam da falta de concentração, das
conceitos éticos. conversas paralelas, da agitação e dos
constantes conflitos. Os jovens estão
A cidadania deve ser desenvolvida na acostumados com estímulos rápidos, às coisas
sala de aula em todos os momentos, e se tornam desinteressantes em segundos,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

tornando-se preciso ensiná-los a melhorar o O ensino muitas vezes continua bancário,


nível de concentração, trabalhar a ansiedade não temos a capacidade de produzir
para expandir o desenvolvimento intelectual. pensadores e na perspectiva de Augusto
Segundo Cury (2003), a preparação do Cury (2008, pg 90) “para filtrar estímulos
ambiente para aula é fundamental, como ter estressantes é necessário desenvolver uma
uma música ambiente para aliviar a tensão, capacidade psíquica de digeri-los”, ele até
colocar a sala em formato “U”, para assim usa como exemplo o estômago, porque
ter o olho no olho e como resultado uma tem a capacidade de digerir os alimentos e
melhora na concentração. combate bactérias e microrganismos através
do suco gástrico. Para se filtrar os estímulos
O professor precisa ser mais próximo dos estressantes é preciso desenvolver a arte da
alunos, passando suas próprias experiências, dúvida e da crítica. Educamos muito mais
contando muitas vezes seus fracassos e pelo que somos do que pelo que falamos.
suas alternativas para solucionar situações,
isso torna o professor mais humano para os É preciso levar os alunos a serem reflexivos,
alunos e não um ser distante de sua realidade. respondermos suas perguntas com outras
Usar os autores estudados, o contexto que perguntas, instigando eles a duvidarem e
está sendo trabalhado não somente como criticarem até que cheguem a suas verdades,
fonte de conhecimento, mas falar de suas de maneira que respeitem as adversidades,
aventuras, das ousadias que estão por trás, os pensamentos diferenciados. É um
derrotas que foram vividas, êxitos, lágrimas, caminho constante e continuo que deve ter
rejeições, usar tudo que puder para humanizar como base o respeito.
o produtor de conhecimento, fazendo com
que o aluno de fato entre naquela situação Em conflito escolar é muito fácil um apontar
e consiga extrair dela conceitos e formações o erro do outro, o professor nessa situação
que tenham haver com a sua realidade. deve leva-los a pensar nas consequências
dos seus comportamentos, levando-os a se
Quando os alunos de fato conseguem se auto avaliarem. Ao se praticar o exercício da
identificar, sentimentos começam a mudar autocrítica passa-se a ponderar os próprios
e produzir transformações, levando-os a atos, julgando o próprio comportamento,
pensar, a refletir sobre suas atitudes e arcar ajustando-se, se corrigindo e refletindo
com suas consequências, são maneiras de sobre suas reações.
produzir maturidade e levá-los a aprender
com as situações, essa função de reflexão, A resolução dos conflitos precisa gerar
crítica, tolerância, sensibilização, precisa ser amadurecimento, mas muitas vezes
gerada dentro das salas de aula. acabamos impondo o respeito, através de
sermões, advertências e inúmeros conselhos,
pois queremos conquistar primeiro a razão e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

depois a emoção. Levar o outro a se criticar, se analisar e se corrigir é muito mais profundo e
gera uma mudança que não cabe somente pra uma situação, mas é uma lição pra vida inteira.

Dentro do contexto escolar existem situações que nos deixam sem palavras de tão
surreais que são, mas as pessoas têm agido pelo impulso, tem tomado decisões no calor das
situações, é um bateu levou, fiz porque ele falou ou fez isso ou aquilo comigo, mas pensar
antes de reagir é uma das ferramentas mais nobres para usarmos Cury (2008), relata que nos
primeiros trinta segundos de tensão, cometemos os maiores erros de nossa vida, falamos
o que não devemos, expressamos e agimos de forma a nos arrependemos depois, mas é
preciso ensinar essa nova geração a fazer a oração do sábio nos focos de tensão, que é o
silêncio, pois isso preserva a sabedoria quando ameaçados, criticados ou injustiçados.

No livro nos Labirintos da Moral, os autores De La Taille e Cortella, falam que as


comunidades se constituem a partir de um grupo de pessoas que possuem, “objetos
partilhados, mecanismos de autopreservação e estruturas de proteção recíproca (Cortella
e De La Taille, 2005), podemos dizer que a sala de aula é o ambiente ideal para se formar
o conceito de comunidade, o conflito é algo que faz parte da vida em comunidade, é um
momento de aprendizagem, pois percebo o outro, então desenvolvo o conhecimento da
relação eu-outro, passando a desenvolver o conceito que essa relação deve ter como base
o diálogo, a argumentação para conduzir a cooperação, permitindo assim a construção da
personalidade.

Voltando a Constituição Federal de 1988 onde no art. 205 diz que “a educação é um
direito de todos, um dever do Estado e da Família”, analisaremos a palavra “Potiron”, palavra
de origem Tupi, onde tiron significa “junto” e po que significa “mão”, juntando os dois
significados fica mãos juntas, transcrevendo para a Língua Portuguesa significa “Mutirão”,
ou seja, homens e mulheres, família, escola, educadores que se juntam no dia a dia para
construir uma outra realidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em síntese, a resolução de conflitos pode levar a um
ambiente cooperativo que é aquele que tem por objetivo
o desenvolvimento da autonomia intelectual e moral.
Isso mostra que esse trabalho tem o compromisso de
favorecer o desenvolvimento das estruturas e a formação da
personalidade ética, isto é da interação, dos valores morais
à identidade dos alunos. Esse processo é longo e árduo, pois
envolve o desenvolvimento da inteligência, da afetividade,
das noções de regras e de justiça. No presente artigo mostra
que é possível evoluirmos na prática docente com uma visão
de compreender o ambiente que essa sociedade está inserida, FLAVIANE FERREIRA
qual sua realidade e o que de fato são suas necessidades, GONÇALVES ARAÚJO
contribuindo para o desenvolvimento da autonomia e não de
Graduação em Licenciatura
uma obediência cega. Educar para a conquista da autonomia em Pedagogia pela Faculdade
de modo a possibilitar que os alunos evoluam em suas formas Anhanguera (2016); Especialista
de se relacionar com o outro, assim como em suas formas de em Educação a Distância pela
Faculdade Campos Elíseos (2017)
se posicionar diante de situações conflituosas. Compreender e Docência do Ensino Superior
os conflitos como promotores do desenvolvimento nos pela Faculdade Campos Elíseos
auxilia a assumir o papel de mediadores em situações nas (2017).
quais os alunos permanecem como protagonistas. Ou seja,
possibilita que os que estão envolvidos no conflito elaborem
soluções criativas e evoluam em sua capacidade de pensar e
agir moralmente. A qualidade da interação será determinante
na construção de valores, pois essas relações são formadas na reciprocidade e no respeito
mútuo. Desse modo, as práticas de resolução de conflitos se tornam coerentes na forma que
os sujeitos deste ambiente se relacionam tendo o meio como a promoção do desenvolvimento
moral. Restam-nos algumas palavras para reforçar a possibilidade de usarmos os conflitos,
que de fato estão todos os dias nos rodeando dentro das escolas, para reforçar a busca
pela construção do auto respeito, de se colocar no lugar do outro, de pensar antes de agir
e de buscar meios de solucionar os conflitos. Dessa forma formaremos cidadãos plenos no
exercício de sua cidadania.

A escola enquanto equipe, deve colaborar para a construção de valores, conceitos e
mudanças de comportamentos através de práticas concretas, aplicadas no dia a dia escolar,
trazendo mudanças significativas aos alunos, sanado de forma mais pontual problemas que
acontecem constantemente no ambiente escolar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Levar os alunos a desenvolver o hábito de pensar antes de agir, ensiná-los a serem líderes
do seu “eu”, colocar-se no lugar do outro, trabalhar suas perdas, suas frustrações, levando-
os a serem pensadores e não meros repetidores. Educarmos para aprenderem enfrentar os
desafios da vida e darmos suporte para construírem sua própria história.

Diversos documentos abordam o tema apresentado, porém a muitos desafios a serem
vencidos dentro do contexto escolar. Esse presente artigo vem com intuito de pensarmos
as práticas que têm sido desenvolvidas com intuito de buscarmos atitudes que despertarão
nos alunos a consciência da sua cidadania plena e seu papel como um transformador da sua
própria história.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Cury, augusto. Pais brilhantes, professores fascinates/augusto cury. – Rio de Janeiro:


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Deluty, r.h. children’s evaluation of aggressive, assertive, and submissive responses. Journal
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Revista Educar FCE - Abril 2019

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365
Revista Educar FCE - Abril 2019

BORBOLETAS DE ZAGORSK: UMA


REFLEXÃO ACERCA DA EDUCAÇÃO
ESPECIAL, SUAS PRÁTICAS E CONCEITOS
RESUMO: Ao pensarmos a educação especial de hoje, nota-se que é essencial ao
educador buscar soluções e práticas possíveis, que viabilizem a execução de ações para
uma transformação da realidade. Neste sentido, o presente artigo visa, a partir da reflexão
acerca do Filme Borboletas de Zagorsk, elencar alguns elementos importantes no que tange
à Educação Especial, com o intuito de buscar novas perspectivas para nossa prática.

Palavras-Chave: Educação Especial; Borboletas de Zagorsk; Educação Inclusiva;

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO seres humanos, igual a todos os outros, mas


com algumas limitações e necessidades.
O filme Borboletas de Zagork, produzido
pela BBC, se passa numa escola russa na Para tanto, a ignorância e o teor
cidade de Zagorsk. O mesmo apresenta o assistencialista existentes na educação
trabalho desenvolvido por tal unidade escolar, especial passam a ser transformados em
que atende crianças com necessidades novos ideais de promoção de integração,
especiais, mostrando diversas situações de de inserir o deficiente na sociedade e não
pessoas com diferentes deficiências. mais repudiá-lo. Nesse momento surgem
então as propostas de Inclusão, de Igualdade
A escola em questão tem como princípios de direitos para os deficientes, do direito a
norteadores os estudos de Lev Vygotsky, que cidadania.
afirma as funções mentais como relações
sociais internalizadas. Sendo assim, uma das É ai também que, por conta de tal
principais características a serem destacadas sensibilização, surgem as diversas declarações
é esta ênfase dada em como essas relações que lutam pelo direito dos deficientes, nos
interferem no desenvolvimento psíquico do levando a todo tempo a refletir sobre as
sujeito. atuais práticas e chamando atenção para o
fato de que, com a inclusão dos deficientes,
No decorrer do filme, são exibidos diversos não apenas eles seriam os beneficiados, bem
casos de pessoas com diferentes deficiências, como toda a sociedade.
como o de Natasha: cega e surda, que supera
suas limitações e torna-se mãe, esposa, dona Perante toda esta mobilização, começa
de casa, filósofa e psicóloga atuante. Natasha a existir uma mudança no âmbito legal,
enfatiza em seu depoimento a importância tendo o deficiente seus direitos declarados
da escola em sua vida, onde ela pode ter e assegurados por lei, sendo este um grande
um cauteloso acompanhamento, bem como avanço para a inclusão de fato dos mesmos.
a importância de seu marido, que foi de Entretanto, não se pode afirmar com
extrema relevância em seu desenvolvimento. propriedade que a integração dos deficientes
é hoje uma realidade incontestável, já que,
No século XX, época em que o filme é infelizmente, ainda existe muito descaso
retratado, o diferencial ocorrido no âmbito quanto aos mesmos, que enfrentam dia a dia
da educação especial se caracteriza no problemas de acessibilidade e aceitação.
processo de aceitação do deficiente. As
pessoas deixam de ter a concepção do No geral, era este o panorama histórico,
deficiente como um “pecador” que é uma no âmbito da educação especial, em que a
manifestação das forças dos deuses ou escola de Zagorsk estava inserida.
demônios, passando a enxergá-los como

367
Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO ESPECIAL: que o torna diferente dos outros em todos


PRÁTICAS E CONCEITOS os sentidos, o que exige do professor e da
própria escola uma flexibilidade quanto ao
currículo e quanto às expectativas postas
LINGUAGEM sobre cada aluno.

No sentido da linguagem, há uma ênfase Se a “diferença é comum a todos” e assumimos


a classe como heterogênea, é importante
a todo tempo no filme da importância de responder a essa heterogeneidade em termos
tal prática, conceituando a linguagem como de estratégias de ensino e aprendizagem.
poder, pela qual o aluno pode organizar seu Por outro lado, sabemos que o processo de
aprendizagem não é uma simples transmissão
pensamento, de forma a proporcionar seu de informação, mas antes uma transição entre
desenvolvimento e aprendizagem. diferentes paradigmas de conhecimento.
Podemos assim dizer que uma escola que
não diferencia seu currículo não usa modelos
Tal aspecto ressalta a perspectiva inclusivos e forçosamente não promove a
histórico-cultural da teoria de Vygotsky, de igualdade de oportunidades entre os seus
que as funções mentais são relações sociais alunos. (RODRIGUES, 2006, p.311)
internalizadas. É a partir da comunicação, do
interagir com o mundo, que o individuo pode Enfatiza-se então, a necessidade de
adquirir experiências e conhecimentos. se compreender cada aluno com suas
peculiaridades. No filme, por exemplo,
Destacando-se que, quando se trata de exibe-se uma aluna que, por conta de sua
linguagem, este conceito não se restringe a deficiência, demorou meses para conseguir
apenas a linguagem oral, sendo consideradas fazer um pequeno movimento, e quando a
também todas as formas de comunicação, mesma conseguiu concretizar tal ato, foi
como, por exemplo, a mostrada no filme, onde motivo para grande comemoração.
as crianças conversavam por uma linguagem
manual, que era como uma datilografia. Sendo assim, bem como o apresentado
no filme, é importante para o educador
estabelecer expectativas, porém sem criar
TEMPORALIDADE referências pautadas em sujeitos com
diferentes condições e limitações, para que
Quando se trata do tempo de aprendizagem se possa então acompanhar e propiciar de
do aluno com deficiência, o que nos fica fato o desenvolvimento e a aprendizagem
muito explicito no decorrer do filme é a idéia dos alunos.
de que a temporalidade da educação especial
depende impreterivelmente do aluno. Cada
indivíduo, seja ele deficiente ou não, possui
suas peculiaridades, sua subjetividade,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

MEDIAÇÃO Fato este que pode ser constatado com o


exemplo de Natasha, que mesmo perdendo
Ao se considerar o exemplo de Natasha, sua visão e audição, aprendeu a interpretar
pode-se perceber notadamente a importância o mundo pelo tato e consegue realizar
da mediação no processo de aprendizagem de atividades do cotidiano, bem como cozinhar
um individuo com deficiência. O marido dela, e fazer a limpeza da casa, sem maiores
que desempenhou este papel, foi o grande complicações.
impulsionador de seu desenvolvimento,
a apoiando e auxiliando no processo de Para tanto, pode-se afirmar que este
adaptação a vida de mãe, mulher e dona de aprimoramento de determinadas funções faz
casa. com que, mesmo que de maneira incompleta,
as funções que apresentam deficiência
Tal fato nos remete ao conceito de Vygotsky sejam de certa forma substituídas. Conceito
de Zona de desenvolvimento proximal, onde este presente na teoria de Vygotsky, que
há a consideração do que o sujeito pode diz que as pessoas com deficiência, através
fazer sozinho e o que o mesmo consegue de mecanismos compensatórios, passam a
realizar com a ajuda de um mediador. utilizar seus sentidos normais para substituir
seus sentidos perdidos.
Natasha tem segurança no que diz e faz,
é forte, porém para que ela conseguisse
alcançar este determinado ponto a presença FORMAÇÃO DE
do marido dela (mediador) foi fundamental. PROFESSORES E RECURSOS
Sendo assim, a análise do filme pode NECESSÁRIOS A INCLUSÃO
mostrar de maneira clara a relevância de Um aspecto importante a ser ressaltado na
um mediador na vida de um deficiente, análise do filme é a ênfase dada à formação
moderador este que pode ser tanto um dos professores. Em determinada cena, há o
familiar, como o próprio professor. relato de que, além da formação especializada
em defectologia, os professores desta área
recebiam 20% a mais do que os chamados
MECANISMOS COMPENSATÓRIOS “professores comuns”.

Algo muito explícito no filme é a ideia de Considerando tal fato, ressalta-se o cuidado
que, quando uma pessoa perde determinada necessário para com estes professores, que
função, a partir do momento em que aceita sua demandam uma formação que atenda as
nova condição, quase que automaticamente necessidades da função, devendo sua prática
aprimora outra. pedagógica ser constantemente refletida e
revisitada a fim de um aprimoramento, tendo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

também, essencialmente, um respaldo de diretamente nos resultados obtidos. No caso


toda equipe escolar. das escolas do Brasil, seria um grande avanço
se, quando promovida a inclusão numa sala
A gestão de uma classe (necessariamente) de aula, o numero de alunos seja restrito, para
heterogênea exige que esta gestão seja feita
com base numa permanente avaliação e que não se prejudiquem os alunos deficientes,
reflexão em grupo sobre as melhores estratégias bem como os demais alunos da classe.
a serem desenvolvidas. Assim, uma aquisição
de competências para a gestão de uma classe O número de alunos por turma é
inclusiva só poderá ser adquirida por meio de recorrentemente enunciado como um obstáculo
uma prática continuada, reflexiva e coletiva. ao desenvolvimento de práticas inclusivas. Se a
(RODRIGUES, 2006, p.307) regra é levarmos em conta a diferença do aluno
e adaptarmos o ensino às possibilidades, às
modalidades e os ritmos de cada um, então será
Sendo assim, deve se destacar não possível que um único professor desenvolva
apenas a necessidade de professores este trabalho para, por exemplo, 25 alunos?
devidamente capacitados (não apenas em Posto desta maneira, parece uma barreira
intransponível. (RODRIGUES, 2006, P.314)
instituições direcionadas apenas ao público
com deficiência, bem como especialmente
em instituições que promovem a inclusão), Com a ressalva de que, não se deve levar
que possam desfrutar de recursos de uma tal ponto ao extremo, desconsiderando-se a
formação continuada, bem como, acima de importância da interação com os colegas de
qualquer outra coisa, a urgência em se atentar classe no processo de inclusão:
para o proporcionamento ao professor da
oportunidade de partilhar com a comunidade Desenvolver uma gestão de sala de aula inclusiva
não pressupõe, pois, um trabalho individual, mas
escolar as mesmas visões e objetivos, que sim o planejamento e a execução de um programa
enriquecem ainda mais o cotidiano do aluno. no qual os alunos possam compartilhar vários
tipos de interação e identidade. (RODRIGUES,
O desenvolvimento de competências para a EI, 2006, p.315)
ainda que possa ter uma fase de sensibilização
na formação inicial, só poderá ser plenamente
assumido ao longo de uma prática em serviço – Quando se remete ao filme, mesmo com
isso também porque a em EI o comprometimento um atendimento individualizado, pode-se
com a educação de todos os alunos é de toda
a escola. Parafraseando o provérbio africano identificar diversos momentos de interação
“É preciso toda uma aldeia para educar uma e socialização com os demais alunos da
criança”, diríamos que “é preciso toda uma instituição de ensino.
escola para desenvolver um projeto de EI”.
(RODRIGUES, 2006, p.307)
Em suma, estes são alguns dos principais
No decorrer do filme, é interessante aspectos que podem ser notados no filme
observar também que o atendimento dos referentes a formação de professores e os
alunos, neste caso feito individualmente, afeta recursos necessários a inclusão.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao pensarmos a educação especial de hoje, a luz das
situações pelo filme apresentadas, podemos concluir que é
essencial ao educador tomar conhecimento destas questões
pelo filme elucidadas e, não apenas identificá-las, bem
como pensar soluções e práticas possíveis que viabilizem a
execução de ações para uma transformação da realidade.

Os conceitos especificados, bem como outros mais que


podem ser identificados no filme, mas não foram citados
no presente trabalho (bem como a importância de uma
avaliação diária do aluno, a importância da criação de uma GABRIELA LUISA OLIVEIRA
rotina, dentre outros) são de extrema relevância para o
Formada em pedagogia pela
proporcionamento para o aluno de seu desenvolvimento e Universidade de São Paulo
aprendizagem. (2014). Atua como professora
de Educação Infantil e Ensino
Fundamental I em escolas públicas
Por fim, diante das considerações e questões aqui das prefeituras de Suzano e São
analisadas, ressalta-se a importância de se analisar e refletir Paulo.
sobre a prática pedagógica diária, a fim de aperfeiçoar-se
constantemente em busca de alcançar o êxito no desempenho
de sua função, já que, para o docente, pensar e reavaliar
constantemente seus conceitos é algo fundamental.

371
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
AS BORBOLETAS de Zagorsk. Produção da BBC. 1992. 1 DVD (40 min), widescreen, color.
Baseado na escola russa localizada em Zagorsk.

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372
Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO INFANTIL: O
CURRÍCULO EM EVIDÊNCIA
RESUMO: Discutir o tema que versa sobre o currículo na educação infantil, leva-nos a busca
de entendimento sobre o que constitui o currículo e como cada sociedade o representa.
Qual significado que damos ao protagonismo infantil na elaboração que direciona a prática
educativa, prática essa que o constitui. De acordo com Sacristan, O currículo é a expressão
e a concretização do plano cultural que a instituição torna realidade dentro de determinada
condições que determinam esse projeto (Sacristán,2013,p10) Desse modo, refletir sobre
o currículo na educação infantil e olhar a infância como sujeitos de direitos e que sujeitos
desejamos formar no contexto educacional, repensar a infância e seus significados, na
tentativa de possibilitar vivencias e percursos de aprendizagens culturais, históricas e sociais.
Ao compreender a legislação que regem o currículo na educação infantil, consideramos a
forma como o mesmo é organizado. O texto também apresenta objetivos e os eixos da Base
Nacional Curricular Comum (BNCC) para educação infantil.

Palavras-Chave: infância; currículo; aprendizagem; educação infantil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A UTILIZAÇÃO DAS RODAS DE DANÇA


COMO UM RECURSO DIDÁTICO NA
APRENDIZAGEM DO BALLET CLÁSSICO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo pesquisar as possíveis contribuições das rodas
de dança, para o aprendizado do ballet clássico infantil com seus movimentos e propostas
lúdicas. O estudo foi direcionado na investigação da dança, em seus diversos aspectos, por
meio da história, benefícios, a inserção nas escolas como parte essencial nos conteúdos
da disciplina de Educação Física e o surgimento e uso das rodas nas aprendizagens. Foi
realizada uma revisão de literatura com base em livros e diversos artigos científicos. Houve
um embasamento em aspectos fundamentais na formação dos indivíduos, perspectivas
históricas da dança no mundo relacionando-se à diversos momentos importante da história,
a regulamentação da dança nas escolas com leis e parâmetros no âmbito nacional, como se
ocorre o desenvolvimento motor em crianças na educação infantil e os benefícios das rodas
de dança para os alunos do ballet clássico.

Palavras-Chave: Dança. Roda. Criança. Ballet Clássico.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO agradecimentos das colheitas, sedução, cura


de doenças, pedido de chuva, comemorar a
Este trabalho foi feito por meio da revisão morte (no caso dos combates), fertilidade,
de literatura, utilizando variados artigos conexão do homem com os elementos da
científicos e livros da história da dança, o natureza .
desenvolvimento motor em crianças de 3
à 6 anos, legislação escolar e as rodas nos Na Grécia a dança, formava o cidadão e
povos. tinha também o foco religioso, na educação
era incluída à partir dos 5 anos até a velhice,
Apreciaremos a história da dança no mundo, buscando atingir o ideal grego e enaltecer
suas transformações e a contextualização e seus deuses, criando assim variadas danças
inserção na escola. educacionais.

Trataremos sobre o desenvolvimento Na antiga Roma, à dança faz parte da


das crianças na fase da educação infantil, vida das famílias. Os romanos comparavam
marcado por transformações e mudanças a diferença entre sua dança e as dos
intensas e como o movimento acontece e gregos, investindo em “professores” no
evolui. ensino da dança de outros povos, criando à
institucionalização do ensino de dança.
Logo após conheceremos sobre as rodas
de danças e como o símbolo na forma circular No ensino de dança temos dois estilos:
faz parte da trajetória da humanidade. à aristocracia e seus movimentos mais
refinados realizando danças da sua classe
Verificaremos quais as possíveis social e as das comunidades campesinas em
contribuições das rodas de dança, com seus cultos secretos na tradição popular.
movimentos e propostas lúdicas para o
desenvolvimento do ensino de ballet clássico O ballet clássico nasce na Renascença,
das crianças, na educação infantil. corte dos Médicis, em que havia uma
influência humanista com a expressão da
beleza do corpo e do espírito, a dança acaba
HISTÓRIA DA DANÇA fazendo parte da educação da nobreza,
um espetáculo famoso foi apresentado
A dança surge como forma de comunicação “Ballet Comunique de la Reine”, realizado
e expressão das emoções das pessoas, por Balthazar de Beaujoleux, no Palácio
ao longo da história da humanidade. Bourbon de Paris em 15 de outubro de
Os povos apresentam marcas em sua 1581, influenciaram as futuras companhias
diversidade cultural: nascimento, influências de ballet.
educacionais, cerimônias religiosas,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O ballet utiliza sua nomenclatura em A dança folclórica, apresenta características


francês, com um enredo envolvido por músicas com base nas tradições do povo, mostrando
e coreografias teatrais, em movimentos e no meio ambiente que está inserido,
passos previamente estabelecidos. Na corte temperamento e expressões típicas daquele
de Luís XIV, o ballet atingiu seu ápice, na povo, cada país apresenta determinadas
criação da Académie Royale de la Danse, em danças nacionais em suas tradições, observa-
1661 Paris. se: Tarantela (Itália), Jorpo (Venezuela), Dabke
(Líbano), Merengue (República Dominicana),
O ballet e suas histórias de amores e Samba (Brasil), Marinera (Peru) etc.
idílicas, é tida como uma arte secular com
uma técnica bem específica, no século XVII No inicio do século XX, a dança Moderna
o ballet tornou-se acadêmico, ocorrendo aparece com uma autenticidade que
a sistematização do ensino, com regras revolucionou o sistema de regras rígidas
corporais e nomenclatura própria. da dança clássica, ampliando a liberdade
de movimentos, expressões, emoções num
O ballet transformou-se em clássico, contato com o chão em suas coreografias.
depois de um século de regras e tradições
permanentes, houve dificuldades dos Na década de 1960 surgiu a Dança
bailarinos acadêmicos na execução dos Contemporânea, com o interesse na reflexão
movimentos de forma precisa que o ballet do que as pessoas estão vivendo, sem se
exige eles foram modificando os figurinos preocupar com o belo e sim com o significado
para melhora na realização das técnicas. O no pulso interno do dançarino, com o contato
ballet clássico traz variadas possibilidades e a improvisação, e é uma dança solta para o
físicas, num estado emocional harmonioso chão.
entre músculos, ritmo e estética.

A esfera do ballet clássico profissional, visa CONTEXTUALIZAÇÃO E


uma constante busca da aproximação à técnica INSERÇÃO DA DANÇA NA
“perfeita” com ensaios exaustivos de 8 a 10
horas por dia, porém há uma preocupação ESCOLA
mantendo o corpo com formas alongadas e A concepção de dança que temos hoje teve
retilíneas, na estética clássica. Os atributos como embasamento os variados estilos de
essenciais para o bom desenvolvimento da dança presentes em sua trajetória histórica
dança, segundo Achcar (1998), são beleza, ao longo do tempo.
visão, precisão, coordenação, flexibilidade,
tenacidade, imaginação e expressão. No Brasil, o processo de colonização e
imigração, foi um fator determinante. Em
nossa colonização, os africanos colaboraram

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Revista Educar FCE - Abril 2019

bastante com o seu trabalho e suas para possibilitar o desenvolvimento cultural


danças presentes nos rituais religiosos. dos alunos.
Os imigrantes, também contribuíram com
diversas danças com uma cultura histórica A dança também é citada em dois dos
repleta de significados embasados nas suas Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte e
raízes. Educação Física. No PCN de Arte, a dança
contempla o desenvolvimento na criança
As danças são criadas a todo o momento e a sua compreensão da capacidade de
de acordo com o PCN, permitindo movimento. Já no PCN de Educação Física,
transformações com influências frequentes a dança têm com objetivos a manifestação
dos estilos e ritmos de danças feitas por da cultura corporal para se comunicar e se
muitos artistas anônimos, do funk, axé, expressar com gestos, incluindo estímulos
lambada, rap, hip hop, e entre outras. sonoros nas brincadeiras cantadas na escola..

A “Semana de Arte Moderna de São No PCN de Educação Física, verificamos


Paulo” (1922), foi muito significativa na como sugestão pesquisar as características
tentativa de desenvolver a arte fora das das danças e brincadeiras cantadas
escolas, nela diversos artistas participaram de regiões variadas, tais como: danças
desta manifestação cultural, as linguagens brasileiras, danças urbanas, danças eruditas,
artísticas como a dança, a música e o teatro manifestações musicais, escravo-de-Jó,
fizeram parte deste movimento artístico. lengalengas, brincadeiras de roda e cirandas.

Observamos a Lei de Diretrizes e Bases da No âmbito da Educação Infantil, o


Educação Nacional (LDB n° 5692∕71), que Referencial Curricular Nacional (RCN),
compreende o ensino de Arte∕Dança uma complementa à LDB 9394∕96, estabelece
responsabilidade limitadora de uma mera componentes curriculares para as crianças
atividade. Nas décadas de 80 e 90 essa visão de 0 à 6 anos, na matemática, artes visuais,
foi rediscutida e assim regulamentada pela movimento, música, linguagem oral e
LDB 9394∕96 e dos PCNs. escrita, natureza e sociedade. Foi à partir
da modificação introduzida na LDB em
A dança surgiu nas escolas por meio das 2006, que antecipou o acesso ao Ensino
aulas de artes, porém no princípio aconteciam Fundamental para os 6 anos de idade, a
em festas escolares e datas comemorativas Educação Infantil passou a atender a faixa
objetivando ensaios para apresentações etária de zero a 5 anos. Apesar da Educação
num trabalho rígido e focado. Infantil ser reconhecida como direito de
todas as crianças e dever do Estado, passa
A LDB (9394∕96), transforma a arte em a ser obrigatória para as crianças de 4 e 5
disciplina obrigatória na educação básica anos apenas com a Emenda Constitucional

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Revista Educar FCE - Abril 2019

nº 59/2009, que define a obrigatoriedade da Na Educação Infantil os eixos estruturantes


Educação Básica dos 4 aos 17 anos. Sendo (interações e brincadeiras), necessitam
incluída na LDB em 2013, consolidando as contemplar os seis direitos de aprendizagem e
matrículas obrigatórias de todas as crianças desenvolvimento, permitindo subsídios para
de 4 e 5 anos em instituições de Educação se desenvolverem e aprenderem: Conviver,
Infantil. Por meio desta inclusão da Educação brincar, participar, explorar, expressar e
Infantil na Base Nacional Curricular Comum, conhecer-se. Estes são organizados em cinco
houve um importante marco histórico na campos de experiências: o eu, o outro e o
Educação Básica. nós; corpo, gestos e movimentos; traço, sons,
cores e formas; escuta, fala, pensamento e
As Diretrizes Curriculares Nacionais da imaginação; espaços, tempos, quantidades,
Educação Infantil (DCNEI, Resolução CNE/ relações e transformações.
CEB nº 5/2009) em seu Artigo 4º, definem
a criança sendo um sujeito histórico e Nos campos das experiências, são
de direitos, com interações, relações e definidos objetivos de aprendizagem e
práticas cotidianas vivenciadas, construindo desenvolvimento e em alguns deles a música,
identidade coletiva e pessoal, narra, brinca, a dança, a expressão se destacam, utilizando
imagina, deseja, observa, fantasia, aprende, assim diferentes linguagens para criar suas
experimenta, questiona e dá sentidos sobre produções artísticas ou culturais.
a natureza e a sociedade, fazendo cultura,
com dois eixos estruturantes para as práticas
pedagógicas a brincadeira e as interações. DESENVOLVIMENTO
MOTOR DAS CRIANÇAS NA
A BNCC (Base Nacional Curricular
Comum), apresenta uma estrutura que das EDUCAÇÃO INFANTIL
competências que os alunos desenvolverão O desenvolvimento motor do ser humano
ao longo de toda a Educação Básica acontece durante toda a vida segundo et all
durante os níveis de escolaridade, como Tani (1988) de maneira maturacional, até os
expressão dos direitos de aprendizagem e 20 anos, num processo contínuo.
desenvolvimento de todos os estudantes,
numa formação humana integral focando No desenvolvimento motor sua
na construção de uma sociedade, inclusiva, característica está na direção céfalo caudal
justa e democrática. Sua organização geral é (direção cabeça – membros inferiores)
dividida em três etapas da Educação Básica e no domínio do movimento toma a
(Educação Infantil, Ensino Fundamental e direção próxima-distal (do centro para as
Ensino Médio). extremidades), segundo Gesell(1946) e Tani
(1988).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

As crianças possuem um ritmo biológico e experiências motoras muito singulares, desta


forma amadurecem o desenvolvimento motor com uma ampliação das possibilidades motoras
diversificando a progressão de criança para criança.

Para Tani (1998) existem algumas fases de desenvolvimento das crianças:

Os movimentos são reflexos (sugar) no início do desenvolvimento, uma vez que o sistema
nervoso é imaturo e com as experiências vão se alterando filogeneticamente, tornando-se
rudimentares (engatinhar), na sequência em fundamentais (correr, lançar, saltar, etc), chegando
na combinação de movimentos fundamentais ( ao dançar pode correr) e observamos os
movimentos de segurar o arco e puxar a corda para atirar a flecha, de acordo com Mattos e
Neira (1999).

Existe um desenvolvimento gradativo, que irá ampliando a percepção corporal e execução


dos movimentos, com base no quadro apresentado acima à criança precisa experimentar
muitas possibilidades motoras, para atingir os níveis de desenvolvimento.

As atividades feitas com crianças deverá ocorrer com embasamento nas habilidades
e movimentos específicos para o desenvolvimento motor respeitando as fases de
desenvolvimento, segundo Nanni(1989).

RODAS
A forma arredonda das rodas agrega tudo e todos, e saí de uma forma quadrada que permite
uma estrutura de organização, mas que também poderá estancar e aprisionar. Neste sentido
o círculo torna-se o princípio de tudo, ele bane as assimetrias, sem hierarquias e sem divisão.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

As danças circulares sagradas têm sua que morde a própria cauda o Oroboro, numa
origem nos diferentes povos, em que a continuidade, vida e morte, tempo infinito,
participação, o encontro e a reafirmação união, metade preto e metade branco, em
dos ciclos da vida reuniam e celebravam chinês Yin e Yang.
momentos muito importantes na história
dos grupos, atualmente as danças circulares As mandalas são círculos coloridos, que
compartilham os conhecimentos e músicas surgem na tradição oriental, elas significam
de diversos povos, dançando de mãos centro ou literalmente círculo. A mandala é
dadas, voltados para o centro da roda com formada por um círculo, com cores, formas
movimentos de abrir e fechar, e locomoções geométricas e muito usadas em meditações,
variadas. O essencial é a vontade de dançar rituais simbolizando a espiritualidade,
e todos podem entrar na roda, pois não há estimulando a concentração da mente e
um objetivo de se apresentarem para uma ampliando seus limites. No Ocidente as
plateia. mandalas foram usadas na Idade Média,
na tradição cristã, por Jesus no centro e os
O círculo dançante aparece nas danças quatro evangelistas nos pontos cardeais,
sagradas, durante a história, como uma aparecem ainda nos vitrais e arquiteturas
representação e significação de tempos e das construções das Igrejas. Segundo Jung
espaços distintos, na relação do homem (2001) a mandala leva os indivíduos ao
com a natureza, até mesmo nos desenhos centro pela força do símbolo.
mais antigos. No Sol e na Lua, nas plantas,
nas células, nos olhos, numa representação Na Índia existe dança mandálica, chamada
do universo e da totalidade, e no centro do mandala nritya, as pessoas se movem em
círculo temos a origem de tudo. círculos e em torno de sei mesmo envolvendo
todos os lados da personalidade.
Na cultura indígena oral Guarani, um ponto
ao centro significa o Sol, e é tido como o mito A história do Rei Arthur e os seus
da criação do universo chamado Ñamundu – cavaleiros, se reuniam em volta da távola
o Grande Mistério, o Imanifestado, o Um. redonda, dividindo princípios, na mesma
jornada da vida, com objetivos em comum,
Na geometria sagrada, o círculo simboliza na união da mesa circular, representando a
a transcendência, o espírito, a essência já o unidade, sem diferenças e hierarquias, pois
quadrado representa a solidez, a matéria, o todos eram iguais e bem vindos para estar
fenômeno e a estabilidade, o círculo torna- com o Rei e suas fiéis cavaleiros. O círculo
se um mistério e a fonte de toda a geometria. nos traz a perfeição e a ausência de divisões,
expandindo para a força do ilimitado.
No hermetismo, o círculo é um ideograma
da alquimia chamado uno, uma serpente

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Revista Educar FCE - Abril 2019

BENEFÍCIOS DAS RODAS forma harmoniosa entre o grupo para o


NO BALLET CLÁSSICO desenvolvimento do ballet clássico infantil.
PARA CRIANÇAS Para Madalena Freire (1983), a hora da
O ballet atinge os diversos níveis de roda em diferentes grupos de crianças é
desenvolvimento e posteriormente um uma fonte de inspiração, na construção de
aprimoramento da arte e técnica realizada rituais de constituição na identidade do
pelos alunos. grupo e ainda Cecília Warschauer (1993), a
roda possibilita a abertura para o novo, com
Segundo Achcar (1998), existe uma visão integração igualitária e encontro entre os
do homem como um todo que vai além da pares.
percepção motora durante a execução dos
movimentos da prática da dança,os atributos Ao nos encontrarmos na roda, estamos
atingem os mais diversos e desenvolvimentos estabelecendo uma conexão com os
no precioso trabalho para a criação de participantes em busca do conhecimento na
movimentos e interação com o espaço da prática de olhares, histórias, músicas, ritmos,
dança. danças numa prática educativa dentro da
circunferência.
A prática da dança permite vivenciar
situações motoras diversificadas entrando A dança é um componente curricular
em contato com as possibilidades físicas, do movimento, sendo uma estratégia para
intelectuais e emocionais dos alunos. alcançar objetivos previamente definidos, na
ampliação da expressividade do movimento,
Entrar na roda para dançar traz significados, com gestos e ritmo corporal em danças,
princípios de pensamento, fazendo uma brincadeiras, jogos e variadas situações.
educação com beleza por inteiro, integrando
as pessoas em busca do centro, incorporando Os conteúdos são possibilidades
as diferenças e acolhendo as dúvidas, no expressivas do movimento e também temos
processo de ensino aprendizagem, pois para o seu caráter instrumental, a dança faz parte
Paulo Freire todos se educam em comunhão. de diferentes grupos sociais desenvolvendo
as capacidades expressivas das crianças.
O círculo permite uma invenção de
percursos inteiros e intensos, na educação
múltipla dos conhecimentos, a dança circular
é um convite que nos fornece elementos
tão enriquecedores ao universo infantil
das crianças. Neste olhar observando o
outro e respeitando, novos saberes de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dança tem uma trajetória histórica ao longo do
surgimento da humanidade até a atualidade com influências
e a contribuição de cada povo.

Na educação à dança é citada em várias leis e documentos


que regulamentam sua inserção na escola e por meio de
experiências motoras a música, o ritmo e a expressividade
contribuem significativamente no desenvolvimento das
potencialidades e capacidades das crianças.

O uso das rodas de danças, num efeito espiral, une GIÓRGIA REGINA
todos na prática pedagógica, mergulhando no imaginário AGOSTINHO DO
infantil com prazer, sabor e paixão de conhecer ampliando NASCIMENTO
o conhecimento dos alunos e trazendo fundamentos que
Professor de Educação Infantil
valorizem e respeitem o protagonismo infantil num ballet e Ensino Fundamental I na Rede
encantador. Municipal de São Paulo
Artigo apresentado como
requisito parcial para aprovação
A roda de dança permitirá uma conexão entre os do Trabalho de Conclusão do
dançarinos, dentro do seu eixo que é o centro, integrando Curso de Especialização em
todos, pois todos estão participando deste momento por Educação Infantil.

inteiro, com passos e ritmos compartilhados.

Os círculos dançantes acolhem as singularidades, pois para


o poeta Manoel de Barros (1997) “a expressão reta não sonha”, e todos precisam sonhar,
ficando lado a lado, ligados pelo coração, marcando a história de cada um, harmonizando a
roda na dança da vida, vivenciando o ballet nas lições do círculo.

382
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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NANNI, D. Dança Educação – Pré –escola à Universidade. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INFORMÁTICA NA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
RESUMO: Atualmente o uso do computador tornou-se comum e necessário. Por
consequência, a escola de estar adaptada a novos métodos. É certo que há a necessidade de
capacitação de professores para que possam introduzir esta tecnologia em suas aulas como
ferramenta educativa, facilitando o ensino/aprendizagem. Neste artigo, citamos o contexto
histórico da informática educativa no Brasil, bem como a importância de sua utilização,
em uma abordagem voltada a envolver professores e alunos em aulas práticas digitais de
Matemática, por exemplo, com o software GeoGebra.

Palavras-Chave: Computador; Ferramenta Educativa; Software; GeoGebra; Matemática.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO dificulta a adequação, até porque boa parte


dos profissionais não tiveram formação
A informática na educação corresponde suficiente para o uso das TICs, como exposto
ao uso do computador por meio de neste artigo. É preciso trazer ao aluno, novos
softwares de apoio e suporte. O professor caminhos e métodos de aprendizagem para
de matemática deve utilizar os recursos reproduzir uma Matemática melhor disposta
informáticos disponíveis, explorando as e de maior compreensão e interesse.
potencialidades oferecidas pelo computador
e pelos softwares, aproveitando o máximo
possível suas capacidades para atingir seus UM POUCO DE HISTÓRIA
objetivos.
Encontramos na recente história da
A ideia de que a matemática oferece introdução do computador na educação que:
mais obstáculos à aprendizagem do que as
demais disciplinas, confirma-se em minha Teve início nos anos 70, a partir de algumas
experiências na UFRJ, UFRGS e UNICAMP.
experiência, deve ser superada, uma vez que Nos anos 80, estabeleceu-se [por intermédio]
há uma quantidade considerável de recursos de atividades diversas que permitiram que essa
metodológicos, dos quais destaco o uso área hoje tivesse identidade, raízes sólidas e
relativa maturidade. Apesar dos fortes apelos da
do computador. Apesar da disponibilidade mídia e das qualidades inerentes ao computador,
desses recursos, que vem crescendo no a sua disseminação nas escolas está hoje muito
ensino desse século, o ensino de matemática aquém do que se anunciava e se desejava.
A informática na educação ainda impregnou
continua sendo proposto de maneira as ideias dos educadores, por isto, não está
pouco atrativa em relação aos métodos de consolidada no nosso sistema educacional
abordagem e temas de ensino. (VALENTE e ALMEIDA, 1997; p.1).

A informática surgiu nas escolas na década A Informática na Educação no Brasil
de 1970 – restrita a algumas universidades nasce a partir do interesse de educadores de
– e deve ser utilizada como instrumento de algumas universidades brasileiras motivados
aprendizagem sem perder o foco educacional. pelo que na época já vinha acontecendo em
É excepcional porque pode dar uma visão outros países, como nos Estados Unidos e na
diferenciada ao educando, de forma a driblar França.
o estereótipo trazido pelos alunos desde a
infância, seja por experiência própria ou A implantação do programa de informática
alheia. na educação no Brasil inicia-se com dois
Seminários Nacionais de Informática em
É certo que há a necessidade de Educação, realizados respectivamente na
adaptação e preparo do professor. Muitos Universidade de Brasília em 1981 e na
ainda têm uma postura tradicional que Universidade Federal da Bahia em 1982.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Esses seminários estabeleceram um programa – mesmo que possam lhes faltar internet,
de atuação que originou o EDUCOM e infraestrutura ou capacitação – e devem se
uma sistemática de trabalho diferente de manifestar a favor da tecnologia, levando o
quaisquer outros programas educacionais aluno a outras dimensões, pois independente
iniciados pelo MEC, o qual tinha função da classe social, em maioria, tem acesso
de acompanhar, viabilizar e implementar ou algum entendimento sobre as novas
decisões que eram fruto de discussões tecnologias. Assim, hoje muito mais fácil
e propostas feitas pela comunidade de que antes, a educação oferece amplitude
técnicos e pesquisadores da área. de metodologias para tornar o aprendizado
mais prazeroso e eficaz.
Além deste, diversos programas foram
implementados para o uso da informática
nas escolas. Podemos destacar o Núcleo de INFORMÁTICA EDUCATIVA
Computação Eletrônica – NCE, o Núcleo de
Tecnologia Educacional para a Saúde – NUTES, O processo de ensino tem, nos últimos
o Centro Latino Americano de Tecnologia tempos, buscado um processo centrado no
Educacional – CLATES, que antecederam; a ensino cada vez mais personalizado, ou seja,
implantação dos seguintes centros de apoio: que atenda as necessidades individuais do
Centros de Informática Aplicada à Educação aluno com utilização de novas tecnologias
de 1º e 2º grau – CIED (centros de suporte nas possibilitando melhores condições, para
secretarias estaduais de educação), Centros trabalhar os conteúdos. Segundo os
de Informática na educação Tecnológica PCNEM (BRASIL, 2002, p.41), o impacto
– CIET (nas escolas técnicas federais) e os da tecnologia na vida de cada indivíduo vai
Centro de Informática na educação Superior exigir competências que vão além do simples
– CIES (nas universidades), Instituição do lidar com máquinas.
Programa Nacional de Informática Educativa
PRONINFE na Secretaria Geral do MEC; Dentro deste contexto, o uso da
Lançamento do Programa Nacional de informática na educação é indispensável,
Informática na educação – PROINFO, que tecnologias que há pouco tempo não estavam
desde o seu lançamento (até 2001) equipou disponibilizadas, já se encontram dentro do
mais de 2000 escolas e investiu na formação ambiente educacional entre elas citamos:
de mais de vinte mil professores por computadores, projetores multimídias,
intermédio dos 244 Núcleos de Tecnologia Internet e outros.
Educacional (NTE) instalados em diversas
partes do país. O computador pode ser uma ferramenta
educacional, de complementação, e de
Nos dias atuais, muitas escolas já possível mudança na qualidade do ensino,
desfrutam de laboratórios de informática pois como enfatiza (PAPERT, 1994; p.13)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

“a Informática, em todas as suas diversas do aluno são uma das vantagens para sua
manifestações, está oferecendo aos aplicação.
inovadores novas oportunidades para criar
alternativas”.
A ESCOLA E O USO DE
O trabalho com softwares educativos, COMPUTADORES
produzidos especialmente ou não para as
atividades de ensino pode ser uma alternativa Muito se tem dito a favor e contra a
para o uso da informática na educação, como utilização do computador na educação como
a utilização de softwares educativos pelas um meio de diminuir os problemas causados
escolas não só como ferramenta de auxílio ao pelo baixo desempenho dos alunos e os
professor, mas também de desenvolvimento, altos índices de repetentes e evadidos. Tem
no qual o aprendizado ocorre quando sido alvo de debates há algumas décadas
se executa tarefas por intermédio do no Brasil. O problema é que defensores e
computador. A grande quantidade de críticos, muitas vezes, podem não possuir
programas educacionais e as diferentes conhecimentos abrangentes da situação,
modalidades de uso do computador mostram opiniões concretas e também os métodos
que a tecnologia pode ser bastante útil no utilizados para garantir o sucesso no ensino-
processo de ensino-aprendizagem. aprendizagem.

A conceituação de informática educativa Há décadas os computadores estão
gerou muita discussão nos ambientes inseridos na educação, passando por
educacionais. As primeiras tentativas ampliações constantes. São conduzidas
baseavam-se no uso de programas voltados formações de professores multiplicadores
para temas específicos do currículo; alguns em TICs para o conhecimento de máquinas,
apresentavam o conteúdo trabalhado métodos e softwares educacionais, de modo
(tutoriais) e exercícios de fixação, porém não a investir na atualização dos profissionais da
passavam de verdadeiras “páginas de livros” área.
na tela do monitor. Outros apresentavam
apenas exercícios e seguiam uma linha de Um dos meios para isto são os cursos e
treinamento, criando hábitos mecânicos e plataformas online gratuitas disponibilizados
contribuindo pouco para a construção do pela Secretaria da Educação do Estado
conhecimento e para o desenvolvimento do de São Paulo (SEE–SP), como o Projeto
raciocínio e da criatividade. Mas, o fato de Currículo +, iniciativa que, a partir de uma
o computador poder apresentar o material plataforma online de sugestões de objetos
com outras características que não são digitais de aprendizagem, como vídeos,
permitidas no papel, como animação, som e animações, jogos digitais e infográficos,
a manutenção do controle do desempenho articuladas com o Currículo do Estado de São

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Paulo, visa estimular e incentivar o uso de para facilitar o cálculo, por exemplo, e
novas tecnologias como recurso pedagógico nunca fugir do cálculo. E é nesse contexto
complementar pelos professores e alunos que os educadores devem atualizar-se
da rede estadual. Também podemos citar constantemente para inserir de forma correta
o Programa M@tmídias – Matemática com e sem medo tecnologias modernas em suas
Multimídias, lançado em 2010 por meio da aulas (muitos não consideram o lápis, papel e
Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos borracha uma tecnologia). Precisam, também,
Professores do Estado de São Paulo “Paulo sair da chamada ‘’zona de conforto’’, uma vez
Renato Costa Souza” (EFAP) e composto que inovar é fundamental. Como Corbalán
de três cursos, com o objetivo de oferecer (1994) citando Alsina, p.14, menciona:
formação continuada aos professores de
Matemática do Ensino Médio da rede Ensinar e aprender Matemática pode e deve
ser uma experiência feliz. Curiosamente quase
estadual, discutindo metodologias para nunca se cita a felicidade dentro dos objetivos
o uso de objetos de aprendizagem em educativos, mas é bastante evidente que só
mídias diversas e dando oportunidade poderemos falar de um trabalho docente bem-
feito quando todos alcançarmos um grau de
para o professor utilizar na prática, com felicidade satisfatório - Traduzido da Língua
seus alunos, materiais desenvolvidos por espanhola por Fabiana Fiorezi de Marco.
outras instituições e que estão disponíveis
gratuitamente na internet. Contudo, muitos educadores têm, em
maioria, dificuldade para lidar com o uso
Essas iniciativas são ótimas medidas de computadores para fins pedagógicos.
para melhorias, pois segundo um estudo Há o receio de não conseguir focar na
realizado pelo IBOPE Inteligência e pelo LSI- aprendizagem, principalmente com
Tec nas capitais brasileiras, sob encomenda adolescentes. O que se vê nas escolas
da Fundação Victor Civita, em 2009, p.49: é, além do despreparo de profissionais,
a desatualização e falta de consideração
Na opinião dos profissionais envolvidos na acerca do que é realmente uma tecnologia.
gestão escolar (diretores e vice-diretores), o
curso de graduação não prepara o suficiente Perguntas como: ‘’Se o estudante do ensino
para o uso das TICs na Educação: 72% acham médio aperta a tecla do computador e
que seu curso preparou pouco ou nada para o gráfico da função já aparece, com ele
este fim. Entre os gestores, apenas 15% tem
conseguirá aprender a traçá-lo?’’ ‘’Se o aluno
formação específica em tecnologia na Educação.
usar calculadora, como ele aprenderá a fazer
Não se pode abrir mão da tecnologia conta?’’ tomam conta de diálogos entre
quando o que mais se vê é tecnologia. A professores e coordenadores pedagógicos.
matemática necessita de meios mais fáceis
para quebrar tabus e preconceitos. Os alunos Segundo a Proposta Curricular do Estado de
precisam ver que um software matemático São Paulo (SEE, 2008) a educação tecnológica
é uma ferramenta de aprendizagem e serve básica e uma das diretrizes que a LDB

388
Revista Educar FCE - Abril 2019

estabelece para orientar o currículo do Ensino Médio. A lei ainda associa a “compreensão dos
fundamentos científicos dos processos produtivos” com o relacionamento entre teoria e prática
em cada disciplina do currículo. E insiste quando detalha, entre as competências que o aluno deve
demonstrar ao final da educação básica, o “domínio dos princípios científicos e tecnológicos que
presidem a produção moderna”. Assim, cabe considerar que o ensino de Matemática pode ser
realizado em um ambiente divertido e sério, no qual atingir o conhecimento passa a ser fruto de
esforço e auto desafio. Nessa perspectiva, a Informática é um dos instrumentos que possibilita
uma aprendizagem mais prazerosa e produtiva tanto para o aluno quanto para o professor.

ATIVIDADE
GEOGEBRA

O GeoGebra é um software criado em 2001 por Markus Hohenwarter. Tem como objetivo
dinamizar e facilitar o estudo da Matemática, com ferramentas simples de Geometria e outras
mais relacionadas à Álgebra e ao Cálculo. Pode ser acessado livremente pelo endereço:
http://geogebra.org e explorado por professores e alunos de Ensino Fundamental II, Médio
e Superior.

O programa computacional oferece ao usuário trabalhar com pontos, segmentos, retas,


seções cônicas, equações e coordenadas (Visando a Geometria), podendo o educador utilizá-
lo como ferramenta de apoio na transmissão do conhecimento ou deixar que os educandos
o manipulem para uma aula investigativa.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

De fácil entendimento, possui um menu e uma lista com onze botões para construções.
Dentre as opções para o uso do software está a de poder inserir a malha quadriculada no
plano cartesiano para melhor compreensão de estudos feitos antes em sala de aula de
maneira tradicional, agora, em uma forma mais contemporânea.

ATIVIDADE

Situação-problema: Um vendedor de milho cozido de Mogi das Cruzes obtém lucro de


R$3,00 por prato de milho vendido. Seu custo médio mensal para trabalhar no segundo
semestre de 2014 foi de R$1829,00 (aluguel do ponto de venda, impostos, custo com a
compra de espigas etc.). Com o GeoGebra podemos ver a função do salário deste vendedor
no semestre e seu valor em cada mês, a partir dos seguintes dados:

Sabendo que se ele ganha R$3 por prato de milho vendido e no mês gasta R$1829 para
trabalhar, podemos concluir que a função f de seu salário será f(x) = 3x – 1829, sendo x a
quantidade de pratos de milho vendidos no mês.

• No GeoGebra, no campo Entrada, digite f(x) = 3x – 1829. Esta é a função do salário


deste vendedor;

• Continue agora criando os pontos que representarão a quantidade de pratos vendidos


e seu salário, no modelo (qtde de milho , f(qtde de milho)). Por exemplo: No mês de julho ele
vendeu 1410 pratos de milho, assim, digite no campo Entrada: (1410, f(1410)). Aparecerá
no campo Janela de Álgebra embaixo da função o ponto A = (1410, 2401). O número 1410
refere-se a quantidade de pratos de milho do mês de julho (valor de x) e 2401 refere-se ao
salário do vendedor neste mês (valor de y → y = f(x) = 3 * 1410 – 1829). Repita o processo
para os meses de agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro;

390
Revista Educar FCE - Abril 2019

• Ao término, você pode dar zoom na função (ctrl +) e movendo para visualizá-la melhor
e renomear os pontos criados descrevendo seus respectivos meses (Janela de Álgebra, clica
com o botão direito do mouse em cima do ponto e selecione a opção Renomear). Renomear
a função também, trocando o f(x) por “salário” e o x por m.

Agora você já obteve os salários do vendedor em nos meses do 2º semestre de 2014 e


pode organizar os dados:

Analisando a função, você pode notar a variação dos salários do vendedor no semestre,
como por exemplo, que ele ganhou mais no mês de agosto e teve menor salário em novembro.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso da informática tem um crescimento acelerado. Em
consequência, boa parte de produtos ligados à educação
tem sido muito usada em todas as áreas do ensino. Exemplo
disso são os softwares educativos, que usam novas formas
de aprendizado, mas com as mesmas funções pedagógicas
do método tradicional, adicionando a interação com a
tecnologia.

O software GeoGebra pode usar de forma interativa
os recursos da informática, possibilitando a fácil criação e
exploração de diversas figuras geométricas e funções. Já o GIRLEYDE BESERRA
computador é fundamental como instrumento de apoio para NUNES DA SILVA
a resolução de problemas. Com ele podemos contribuir de
Graduação em Matemática
forma significativa para atividades de aprendizagem. pela Universidade Nove de
Julho (2015); Professora de
A ausência de informação nas escolas sobre os resultados Ensino Fundamental II e Médio -
Matemática - na EMEF Saturnino
da investigação didático/pedagógica e a falta de ações de Pereira, Professora de Educação
formação sobre a utilização dos novos meios de ensino Básica – Matemática e Física - na
podem impedir a introdução e a implementação de novas EE Professor Carlos Molteni.

metodologias no processo de ensino/aprendizagem. Porém


os profissionais de ensino da Matemática têm que ser
críticos e terem um novo olhar sobre o uso da tecnologia
computacional na educação, saindo da chamada “zona de
conforto”, estando cientes das limitações e dificuldades pessoais e de infraestrutura que
possam ocorrer na implantação e uso de novos projetos educacionais. Os professores têm
demorado a perceber como aproveitar estas tecnologias como ferramenta de trabalho.
O grande desafio que isto impõe hoje em dia à disciplina de Matemática é saber se esta
conseguirá dar um atributo significativo para a escola ou se continuará a ser considerada
uma das piores disciplinas pela grande maioria dos alunos.

Decerto, investir no uso da informática para a educação matemática é renovar um ensino
estereotipado como trabalhoso, facilitando e modificando métodos para a transmissão de
conhecimentos fundamentais para a vida do educando. É fundamental que haja evolução
neste quesito, de modo a desfrutar de forma positiva da expansão da tecnologia atual.

392
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Abril 2019

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394
Revista Educar FCE - Abril 2019

O DESENHO E A SUA RELEVÂNCIA


NA PRÁTICA CLÍNICA
NEUROPSICOPEDAGÓGICA
RESUMO: O artigo apresentado tem como objetivo desenvolver uma pesquisa sobre o
papel do desenho diante do atendimento clínico Neuropsicopedagógico, o mesmo propõe
uma reflexão sobre a importância da expressão artítica do paciente e a contribuição para
desvendar problemas psicológicos. O desenho é uma ilustração livre, que surge por base da
necessidade do profissional, por meio dele pode-se identificar os anseios, angústias, medos
e possivelmente encontrar a raiz dos traumas do paciente. No ínicio analisa as partes do
desenho, linhas, traços, cores, personagens, cada parte é como uma peça do quebra-cabeça
que aos poucos quando juntadas formam a tão esperada imagem, que nesse caso revelará
a causa dos transtornos ou outras situações problemáticas que imperram a vida escolar e
familiar do paciente. O profissional deve interpretar e analisar cada desenho com muita
cautela, porque nem sempre o que está representado é o que pensamos ser, na dúvida
sempre abra espaço para o paciente comentar sobre sua produção, para enfim juntar as
partes e chegar a um diagnóstico.

Palavras-Chave: Desenho; Interpretação; Diagnóstico; Mediação; Fruição.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO O atendimento clínico deve oferecer


ao paciente um ambiente tranquilo, sem
O paciente no atendimento clínico fica barulhos aos arredores, uma sala arejada,
com medo, inseguro, quieto, quase nem abre sem poluição visual, assim o paciente ficará
a boca, para quebrar esse gelo é interessante mais a vontade para expressar suas emoções,
pedir para ele fazer um desenho de algo que medos e angústias.
mais goste, sobre um passeio ou até mesmo
sobre sua família ou outro que melhor atenda A expressão artística é uma possibilidade
a linha de investigação do profissional. de investigação, pode ser utilizada quando
houver necessidade, porém ao analisar,
O desenho revela um mundo escondido todo cuidado é pouco, nada de precipitação,
do inconsciente, memórias boas ou ruins observe cada detalhe minuciosamente
que são arquivadas como mecanismos de para entender o cenário que compõe essa
defesas, por esses motivos acreditam que é ilustração.
uma ferramenta muito eficaz para desvendar
bloqueios da vida escolar, profissional, O desenho é uma ferramenta cheia de
emocional e familiar do paciente. significados e possibilidades de interpretações,
uma verdadeira porta de entrada para
Durante as sessões é importante reservar o inconsciente do paciente. O olhar do
um espaço para o paciente desenhar o que Neuropsicopedagogo deve passar de um mero
quiser ou o que for determinado, os desenhos olhar passivo, para um olhar ativo e crítico,
colaboram no momento do fechamento do para enfim contribuir para o desenvolvimento
diagnóstico. psicológico e social do paciente.

No momento de criação o profissional


deve deixar o pacienta a vontade, assim ele A CONTRIBUIÇÃO DO
será capaz de desenvolver um desenho com DESENHO PRÉ – HISTÓRICO
vários ícones que são fundamentais para o
Neuropsicopedagogo analisar. PARA A CONSTRUÇÃO
SOCIOCULTURAL DO
O paciente pode ou não falar sobre seu SUJEITO
desenho, não imponha nada apenas faça
uma mediação, deixando ele confortável A imagem desperta no profissional a sua
para explicar o que desenhou, mais caso capacidade de percepção, é uma sensação
haja muita dúvida a respeito, é necessário de carga sensorial, psicológica, são emoções
perguntar ao invés de fazer conclusões escondidas e liberadas por meio das cores,
precipitadas. traços, formas, personagens e outros que
cabem ao mesmo desvendar.

396
Revista Educar FCE - Abril 2019

Por intermédio das imagens o paciente Desde o tempo da caverna podemos


constrói seu universo imaginário, abrindo afirmar que as imagens já existiam, o povo
caminho para liberdade de expressão e pré - histórico por meio delas relatavam o
fruição, para ele não existe certo ou errado, seu contexto sociocultural, hoje é possível
apenas um momento de reflexão, imaginação, conhecer todo a sua história em razão a esses
expressão de linhas, cores, formas e figuras. registros (desenhos), deixados por eles.

O profissional não irá criticar seu desenho, Desde o período pré - histórico o individuo
nem muito menos julgar, apenas usará possuía a necessidade de comunicação sejam
como uma peça que complementará a sua por meio de desenhos, símbolos ou outros,
linha de raciocínio em relação ao contexto precisavam deixar seus registros, hoje grandes
sociocultural do seu paciente. historiadores tentam decifrar esses enigmas
que constam nos interiores das cavernas.
A imagem artística existiu desde sempre –
e desde sempre, pelo menos em todos os
tempos históricos, suscitou um discurso, uma Esses registros significam que pela cultura o
interrogação fundamental sobre sua natureza, homem não só constrói padrões e crenças, mas
seus poderes, suas funções. É um discurso que manifestam suas experiências, ressignificando
se designa habitualmente pelo termo estético.
Forjado, na metade do século XVIII, a partir da raiz os elementos de uma cultura anterior, recriando
grega aisthésis, sensação, sentimento, a palavra assim um novo olhar, uma nova cultura.
designou primeiro, com precisão, o estudo das
sensações e dos sentimentos, produzidos pela
obra de arte. Hoje esse sentimento não é mais As manifestações culturais desse povo
o dominante, mas perdura em certos trabalhos, revelam muito sobre a sua cultura e seu
sobretudo de orientação psicológica, que se cotidiano, podemos compreender como viviam,
questionam sobre o porquê e como do prazer
específico ligado à contemplação das imagens as imagens rupestres registradas pelos homens,
artísticas ou não, mas artísticas na maioria das foram fotografadas e divulgadas por diversos
vezes, em razão da grande carga sensorial e historiadores e pesquisadores, estão imagens
afetiva (AUMONT, 2005, p.302).
que comprovam a existência desse povo.

Para entender melhor, Aumont nos A imagem abaixo descoberta por diversos
revela que a imagem é um universo de pesquisadores mostra um momento de caça ou
sensações, sentimentos que podem dizer algum ritual, não sabemos exatamente o que está
muito a respeito da vida de quem desenhou representado, mas prova a existência desse povo.
exemplo quando uma pessoa olha uma obra
de arte, poderá gostar ou odiar, dependerá Hoje é possível conhecer a história dos
do seu estado emocional no momento, essa homens primitivos, em virtude dos diversos
sensação também poderá estar presente na desenhos encontrados nos interiores das
hora em que o profissional analisar o desenho cavernas, que possivelmente serviam de
do paciente. abrigo para esse povo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A arte é uma atividade mental fundada em sistemas de regras que a definem, diferente do
desenho realizado pelo o paciente que é algo livre de qualquer julgamento formal.

Analisar desenhos é uma maneira de comportamento organizado e às vezes veem de


encontro com um olhar sensível, fazendo uma interação com a realidade interna em que vive
o individuo.

Para aprender bem a imagem contida em uma obra de arte, o espectador deve esforçar- se por aprimorar
sua capacidade de percepção. Esse aprimoramento, quando feito de modo empírico, consome um longo
tempo, pois a multiplicação de tentativas, característica do empirismo, torna moroso o processo. É possível,
porém, acelerar esse processo e abreviar o tempo necessário, desde que se obedeça a um roteiro adequado.
(COSTELLA, 1997, p.12).

O Neuropsicopedagogo pode deixar a disposição do paciente, folhas, lápis de cor, tintas,


pincéis ou outro material que preferir, não existe um padrão a seguir, o mais relevante é
deixar o paciente à vontade pra desenhar.

Todo ser humano tem capacidade para desenhar, basta ter a oportunidade para expressar
suas emoções, não devemos ficar preso à forma e sim aos detalhes que compõe o cenário.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A RELEVÂNCIA DA maneiras de expressar aquilo que de fato está


EXPRESSÃO ARTÍSTICA NO sentido no momento ou algum momento da
sua vida que mais marcou.
ATENDIMENTO CLÍNICO
NEUROPSICOPEDAGOGO Cada individuo combina a percepção,
imaginação ao seu repertório sociocultural
A interpretação dos desenhos ou das ao representar seu ponto de vista no desenho
palavras é um processo delicado requer por meios de formas transformam seus
habilidades e muita pesquisa, as informações sentimentos em algo significativo ou não,
contidas nas ilustrações são cercadas de depende do olhar do Neuropsicopedagogo.
diversas informações, o Neuropsicopedagogo
deverá ter muita responsabilidade ao A presença da mediação exige a presença
decodificar símbolos, formas, personagens, do sujeito fruidor como um todo, significa
cores, que configuram a multiculturalidade provocar o seu olhar para todas as nuances
humana. presentes no desenho.

O olhar sobre o desenho da criança deve O desenho revela as interpretações


ser sempre cuidadoso, assim como nos revela realizadas pelo o paciente do seu mundo
Rabello (2014, p.12): interior, são possibilidades que assimilam
e acomodam novas perspectivas de
Esta visão nos possibilita um olhar mais miúde experiências vividas por ele. Na visão de
sobre o desenho, como linguagem, uma forma
de contar o que está acontecendo, do que Pinto:
necessita, do que não gosta. Sendo assim, tudo
o que compõem o desenho é relevante: o espaço Os desenhos, por exemplo, podem ser toscos
usado, a pressão como desenha, o traçado, as e grotescos, ou sofisticados, com a técnica se
cores e as formas, todos estes elementos podem traduzindo em trabalhos bem elaborados. Ou
nos contar muito sobre a criança. podem expressar a maestria de grandes pintores
como Da Vinci, Renoir ou Picasso. O estilo
definitivo não importa. O que interessa é que
No processo de produção o paciente todas as pinturas e desenhos, desde as garatujas
mergulha nos caos criador, seu conflito entre de uma criança ao elegante e sofisticado traçado
o impulso para criar e a forma desejada, o de um arquiteto, podem revelar o mundo
interior de seu autor. A presença ou ausência do
mesmo acontece com o profissional, ele tenta domínio consciente da gramática e da sintaxe
dar sentido a criação, encaixar ao contexto da linguagem gráfica não impede a revelação da
cultural do paciente. vida psíquica da pessoa. (PINTO, 2014, p.7).

O paciente pode manifestar o seu O olhar sobre o desenho deve ser


próprio universo interior com base na cor, semelhante ao de um arqueólogo, que busca
no movimento dos traços, nas formas, nos decifrar atentamente cada descoberta feita,
personagens, ele descobrirá as possibilidades aberto e sensível a cada objeto identificado

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Revista Educar FCE - Abril 2019

no meio de diversas informações ilustradas possivelmente estará representada em seu


por seu paciente. desenho e dificultará a sua interpretação.

O sujeito não um ser que nasce pronto, Ambas as situações são válidas, porque
ele se constrói aos poucos, essa construção o que está sendo avaliado no momento é o
acontece pela troca de experiências uns desenho e não precisamente a postura do
com os outros, com o seu meio social e paciente, mas todos os detalhes devem ser
também com os resultados das suas próprias considerados na hora de fechar o diagnóstico.
realizações e conquistas que podemos
classificar como processo de identificação. O paciente sem perceber transferi para o
papel seu estado anímico, não é conveniente
Essa mediação entre o profissional que esse momento aconteça de maneira
e o paciente ocorre de maneira direta obrigatória, mas sim por prazer, para deixar
ou indireta, por meio dessa relação o sua imaginação, seus desejos, emoções
paciente traduz o ambiente em que vive, sejam canalizadas no papel.
construindo gradativamente a noção de si
e da sua realidade, suprir a expressão capaz Desde dezoito meses a criança já rabisca
de reconstruir individualmente o que foi pequenas bolinhas, no decorrer da sua vida
recebido do meio sociocultural. seus rabiscos vão criando formas, volumes e
significados. É uma fase de experimentação,
escolhem cores, sua capacidade de
O DESENHO COMO imaginação é forte, porque são cercadas
LINGUAGEM SIMBÓLICA DAS de contos de fadas que permeiam o seu
universo infantil.
PULSÕES QUE PERMEIAM
DIVERSAS TÉCNICAS GRÁFICAS Os traços fortes indicam que o paciente
experimenta uma característica que podemos
O desenho é uma ilustração implantada classificar como agressividade, já os traços
por diversa possibilidade de interpretação, leves podem significar ao contrário.
quando o paciente permanece em silêncio
durante a sua produção, nos revela que Estes nos transmitirão informações acerca da
sua rapidez de espírito, ou sobre suas dúvidas.
o mesmo é calmo e precisa manter-se Podemos detectar um espírito rebelde ou
concentrado para reproduzir. pacífico se analisarmos certos traços básicos;
conforme forem contínuos, oblíquos, se
estiverem manchados, etc. (BÉDARD, 2013,
Mas existem situações ao contrário,
p.19).
alguns preferem cantarolar durante esse
processo, o que implica na sua produção, No desenho existem as formas como:
porque nos revela uma desordem mental que triângulos, quadrados, retângulos e outros,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

podem ser considerados como algo universal As imagens são cheias de simbolismos que
com enfoques: psicológicos, filosóficos podem ser compreendidos quando as peças
e religiosos, que podem indicar aspectos começam a se encaixar uma nas outras,
positivos ou negativos da vida do paciente. podem inconscientemente trazer para os
desenhos seus desejos, sonhos, frustações,
Os temas escolhidos dos desenhos são angústias, etc.
variados, o que torna difícil achar o fio
condutor que nos levará a realizar uma boa O olhar que o Neuropsicopedagogo deve
análise. O profissional pode partir a sua utilizar ao analisar um desenho deve ser o
análise mediante as formas, cores, orientação mesmo de quem observe uma obra de arte
espacial, tamanho do desenho e a pressão no museu, porque considero os desenhos
dos traços. como obras importantes.

Os desenhos permitem-nos incrementar O paciente quando desenha acessa


consideravelmente nossos dados sobre o
temperamento, o caráter, a personalidade e as lembranças mentais e cria seu desenho, ele
necessidades da criança. Assim, ajuda-nos a transforma sua imaginação em uma expressão
descobrir e a reconhecer as diferentes etapas artística, tendo uma relação dialética entre o
pelas quais atravessa. (BÉDARD, 2013, p.59).
que imagina e o que desenha.

As cores nos desenhos nem sempre Os desenhos podem ser realizados em


correspondem ao realismo, exemplo: um diversos suportes, tais como: papéis, muros,
tronco de uma árvore, o paciente pode lousa, chão, madeira, tela, o profissional deve
pintar de vermelho e não marrom, esse escolher o suporte que lhe for conveniente e
detalhe não significa desequilíbrio, mas sim deixar em seu consultório.
uma mensagem plasmada consciente ou
inconsciente dele. Quando o paciente é uma criança sua
imaginação ainda é fértil, cheia de magia e
O desenho é uma forma de comunicação, encantos, no decorrer do tempo, quando se
ou seja, é um posicionamento dos fatos que torna um adulto, passa a não mais desenhar de
mais marcaram a vida do paciente e pode ser forma espontânea, fica preso tentando buscar
uma maneira de conhecer como ele se sente a melhor forma de representar sua vida.
no mundo.
Nos desenhos expressados na projeção,
O profissional ao agir de forma preventiva, é um convite para conhecer o mundo que
podemos aos poucos conhecer o interior cerca o paciente, qual o seu papel dentro
da vida obscura do paciente, acessar suas desse espaço, como se sente dentro deste
lembranças e assim ajuda-la a conviver contexto e quais são suas limitações e
melhor com os seus anseios e medos. frustações diante do mesmo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O atendimento clínico visa amenizar as angústias, problemas de aprendizagens, dificuldades


de relacionamentos com os colegas, professores, familiares e outros, porém é importante
ressaltar que quando a situação é grave, é fundamental o acompanhamento multidisciplinar,
o trabalho realizado em parcerias com outros profissionais de fato trará benefícios para a
vida do paciente.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizar essa pesquisa, foi possível concluir a importância dos
desenhos para o atendimento clínico e compreender os detalhes da
vida do paciente que o Neuropsicopedagogo pode extrair e com as
intervenções mediar suas angústias e frustações.

Esse tema envolve outras áreas do conhecimento, é um assunto


muito amplo, a ponto de ser fonte de diversas pesquisas de estudo,
no qual se comprova por meios de testes a sua funcionalidade na vida
do paciente no atendimento clínico e mediante o desenho podemos
desvendar um pedaço do inconsciente do paciente.

O sonho participa da esfera do consciente ou a uma simbologia


complexa, partindo da imagem que ficaram latentes nesse universo GISLANE MIGUEL
obscuro da criança, “o conteúdo manifesto do desenho seja centrado DE SOUZA
de maneira diferente de seu conteúdo latente; na maioria das vezes é
Graduação em Pedagogia
um detalhe que conduz á significação oculta, com a censura colocando pela Faculdade Unicid
elementos secundários no primeiro plano do conteúdo manifesto.” (2016); Especialista em
(MÈREDIEU, 2006, p.78). Neuropsicopedagogia pela
Faculdade Campos Elíseos (2018);
Professora de Educação Infantil –
Segundo o autor as imagens projetadas, oferecem aos profissionais na CEI Jardim Cotinha.
infinitas possibilidades de interpretações, cada detalhe pode nos revelar
quem é esse sujeito que estamos buscando compreender, para enfim
buscarmos alternativas que vão de encontro com as suas necessidades
e interesses.

Fica evidente a importância e os benefícios que os desenhos propõem a aprendizagem, por meio dela
podemos desvendar alguns bloqueios de aprendizagens e os seus respectivos responsáveis pelo o mesmo e
elaborar estratégias que minimizem essas dificuldades, dando ao paciente uma nova chance para recomeçar
e superar seus medos e limites.

Esse tema possibilitou compreender o quanto é importante o profissional estabelecer uma relação de
respeito, dedicação e de compromisso com o paciente e com a sua família, assim os pais sentem que o seu
filho está em boas mãos, o paciente sente confiança e contribuir com o atendimento.

Todo ser humano é capaz de aprender independente das suas dificuldades, o que de fato se faz necessário
é um uma intervenção adequada e acreditar que nós não transformamos as pessoas, mas podemos despertar
nelas o interesse em trilhar novos caminhos para conquistar a sua autonomia e a resgatar a sua autoestima.

403
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Abril 2019

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WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagogia Clínica: Uma Visão Diagnóstica dos Problemas
de Aprendizagem Escola. 14. ed. São Paulo: Rio de Janeiro, Lamparina, 2016.

405
Revista Educar FCE - Abril 2019

A INFLUÊNCIA DA ARTE AFRODESCENDENTE


NA CULTURA BRASILEIRA: UMA VISÃO SOBRE
A DIVERSIDADE E CIDADANIA NO ENSINO
FUNDAMENTAL
RESUMO: Esta pesquisa tem por objetivo ressaltar mudança de atitude das pessoas em
relação à con (vivência) na escola, baseando num sentimento de responsabilidade mútua
que poderá constituir o ponto de partida para uma importante mudança interior e exterior
na interação diferenciada que irá revelar uma visão de igualdade, e de valorização. O
principal intuito desta pesquisa foi deixar claro que cidadania é participação, é ter direitos e
obrigações, por isso o ensino é marcado por novas concepções assumidas no plano social,
buscando efetiva participação de todos os que compõem a instituição. A pesquisa foi
realizada por meio de diversos autores que defendem o estudo da igualdade étnico-racial e
da arte africana e afrodescendente sendo desenvolvida nas Instituições de Ensino. Tratou-
se esta pesquisa em destacar a Cultura Africana e Afrodescendente, buscando aprimorar a
cidadania e a diversidade através do conhecimento desta cultura no nosso País, construindo
uma educação que utiliza a Arte como ferramenta nas aulas de história, tendo como foco o
conhecimento, a investigação, a valorização de si e do outro respeitando as diferenças.

Palavras-Chave: Cultura; Diversidade; Arte; Cidadania;

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INTRODUÇÃO Ao longo desta pesquisa procuraremos


demonstrar que a escola é um espaço de con
Acreditamos que a arte no ensino (vivência) e de construção de conhecimento.
fundamental deve ser como um processo de
conscientização e reflexão sobre a evolução O ensino da arte na escola busca promover
histórica que o país recebeu e sofreu durante o desenvolvimento de potencialidades
sua trajetória por vários séculos até chegar individuais, do espírito de integração ao grupo
aos dias atuais. e da formação do individuo conhecedor da
humanidade, a influencia, em sua vida dentro
Essa temática sobre a importância da e fora da escola.
cultura africana e afrodescendente, sua
influência na cultura brasileira, a diversidade Resolvemos fazer uma pesquisa diante
evoluída nesta cultura, é o enfoque da necessidade de levar o aluno a conhecer
dessa pesquisa que será desenvolvida e a história de um povo de forma criativa,
incentivada pela Arte, tanto visual, quanto criadora, prazerosa, pois a arte é um
criativa, tornando o aluno além de criador, componente curricular obrigatório no Ensino
investigador de sua história, e como está Fundamental, garantido pela Lei de Diretrizes
envolvido na cultura de um povo, tornando- e Bases da Educação Nacional. Ela deve
se importante na busca do conhecimento, fazer parte do cotidiano escolar, pois são
resgatando valores e aprendendo o quanto é através da arte, que o sujeito exterioriza suas
importante conhecer o mundo, sua evolução emoções e sentimentos, representados de
e sua atuação nele. diversas maneiras como pintura, desenhos,
dramatizações, entre outras formas de
Pretende-se com essa pesquisa ampliar atividades artísticas.
os conhecimentos do aluno auxiliando-o no
desenvolvimento da aprendizagem escolar, e Os alunos por meio do conhecimento da arte
a apropriação que as diferentes linguagens dos diversos grupos étnicos que contribuíram
que surgem por meio da leitura de imagens, para a formação do povo brasileiro serão
música, dançam culinária, artes plásticas e estimulados a conhecer as diferentes etnias
tantos outros tipos de artes que fazem parte africanas, e, afrodescendentes, que irá levá-
da história, por meio de sua influência. lo a conhecer a real história do Brasil, desde
o tempo do Brasil colônia até a atualidade,
Destacamos a rica cultura que recebemos a cultura da África que chegou ao Brasil,
dos africanos e afrodescendentes que fazem em sua maior parte trazida pelos escravos
parte da história do Brasil, desde o início do negros e mesclada por outras culturas que
progresso econômico, de uma riqueza que também fazem parte da história do Brasil.
fez a história do passado que nunca será
esquecido.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

No desenvolvimento desta pesquisa A educação cidadã tem reflexo na vida das


levaremos o aluno ao reconhecimento da pessoas e da sociedade, pois suas práticas
influência dos africanos em nossa língua, associadas aos saberes desenvolvem e
segundo uma perspectiva intercultural, reafirmam os valores culturais e sociais num
delineando a educação como eixo de resgate contínuo do respeito às diferenças.
preservação da identidade cultural, criando
o espaço democrático que tornará possível A escola pode colaborar, trabalhando as
o encontro e o diálogo de culturas, reflexão metodologias que resgatem valores, afeto,
fundamental para viver a multiculturalidade desenvolvendo a cultura do acolher, da
que caracteriza as sociedades aprendizagem significativa, centrada no
contemporâneas. aluno e nas suas necessidades; no intuito
de respeitar a diversidade e promover a
acessibilidade à inclusão escolar.
INCLUSÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO NA A escola enquadra, ajusta, integra,
desestimula atividades antissociais, e ajuda
EDUCAÇÃO a transformar o aluno num ser social. Ao
A educação contemporânea é vista como passar valores específicos de uma região ou
um processo contínuo, visando à autonomia de um país, passa também comportamentos
do aluno, centrando a aprendizagem e e permite ao aluno, acesso ao patrimônio
no seu nível de interesse. A educação é cultural da humanidade.
responsabilidade de uma equipe e não pode
mais ser fragmentada. E os direitos e obrigações da cidadania
são partes integrantes desse patrimônio. Ser
Deve contemplar a todos respeitando a cidadão é simplesmente conhecer, e viver.
diversidade, unindo a dimensão ética com
a estética num processo inclusivo. Salienta Os educadores devem dar atenção
a importância da dimensão ética, pelo especial a uma questão que está presente
desenvolvimento dos valores e das virtudes. nas relações cotidianas de todos que deve
ser cuidadosamente tratada na escola, onde
A estética pelos estímulos à criatividade, se manifesta com mais frequência à questão
dando vazão às emoções e aos sentimentos, do preconceito e da discriminação nas mais
numa relação dialógica, os temas devem variadas formas.
ser discutidos, analisados e os saberes
divulgados, induzindo a uma postura ética A escola é um local privilegiado para
frente à questão de preconceitos que ainda trabalhar estes temas, atenuando a exclusão,
existe na escola. o afeto a solidariedade, frente a todos os
tipos de diferenças.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Definir estratégias para combater à para o futuro, sua história de vida, seu dia a
exclusão é as metas que a escola deve dia que faz parte fundamental do seu saber,
traçar pela frente, estimulando, a luz dos da construção do seu conhecimento que
seus conhecimentos, discussões sobre vai transparecer no coletivo, caracteres de
conceitos como “raça”, etnia, nação, racismo, sua personalidade e formação de sua con
preconceito, estereótipo, etnocentrismo, (vivência).
que são visões e crenças errôneas de tantas
culturas, “raça”, etnias, povos e religiões. É, portanto, no espaço cotidiano, para
compor uma “coletividade”, e para trabalhar
É importante criar um ambiente coletivamente que a realidade escolar vai
estimulante e acolhedor e incentivar sua revelando, não, diretamente na reflexão
participação nos acontecimentos históricos prática do trabalho do educador, mas na
e a sua distribuição para o desenvolvimento. reflexão sobre essa prática, na análise dos
aspectos que a compõem, que a mudança
Todos se beneficiarão na medida em vai sendo absorvida e se solidificando a
que estarão tomando conhecimento de transformação escolar.
outras culturas, outras visões de mundo e,
sobretudo, estarão aprendendo uma postura O mundo artístico compreende
de respeito ao seu semelhante, mesmo que uma quantidade imensa de materiais,
ele seja diferente ou considerado como tal. procedimentos, expressões, movimentos e
emoções, inseridos em um contexto histórico
Quando a relação do homem com esse e social, bem como de relações entre os
mundo se modifica, o próprio homem se homens, à sociedade e a natureza.
transforma, em seus valores, suas crenças,
seus conhecimentos, seus desejos. O homem A partir desse principio, observa que a arte
é histórico e historicamente tudo se atualiza. é fundamental para organizar, reorganizar e
expressar o pensamento, agindo sobre os
São no interior das escolas, na con (vivência) sentidos, a imaginação e criatividade.
diária entre educando, educadores e pais
que se descobrem no seio da comunidade Segundo TEPLOV (1991) A arte tem efeito
escolar, aspectos da realidade social, que profundo e de grande alcance nos diversos
sejam significativos para os alunos, a partir aspectos, não só sobre a imaginação, e os
dos quais será possível ingressar-nos mais sentidos, como também sobre o pensamento
complexos elementos da cultura humana. e a vontade. Daí a sua enorme importância
para o desenvolvimento da consciência,
O cotidiano no âmbito escolar é revelador. da autoconsciência e do autocontrole, da
Tanto professor com aluno traz sua bagagem autonomia. A educação artística é um dos
diária, inserido no presente abrindo caminhos mais poderosos meios para desenvolver

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Revista Educar FCE - Abril 2019

uma personalidade plena e harmoniosa. do ser humano, além de proporcionar a


Nesse sentido deve-se haver união entre a aproximação e compreensão de diferentes
expressão individual e a imaginação, e os culturas.
conhecimentos artísticos acumulados pelo
sujeito ao longo de sua história. (TEPLOV, A aproximação de culturas faz da arte
1991, p.12) um agente formador de opiniões. Os alunos
podem ampliar seus pontos de vista acerca
A arte tem um importante significado na do seu mundo, ao estabelecer interações
transformação interior dos alunos que está entre o visível e o oculto nas obras, ou seja,
sendo preparado para o enfrentamento do entre a obra criada e as inter-relações que
mundo que o cerca ao respeito e a valorização ela carrega consigo mesma.
das culturas que influenciaram a cultura do
seu país. As aulas de História em muitos casos,
ainda são vistas como o simples estudo do
passado, em que se exige a memorização de
A ARTE AFRODESCENCENTE fatos e datas. Quando a disciplina é assim
NA ESCOLA ensinada, os alunos acabam considerando os
fatos como algo perdido em algum momento
O homem, ser cultural e histórico, existe e distante da realidade atual. Reverter
num mundo societário, no qual há leis e normas esse quadro, criando condições para que
que são produtos das relações de sujeitos, elaborem novos sentidos e significados
numa construção coletiva, em relação à qual para os que estudam em classe, seja uma
cada um tem sua responsabilidade. questão desafiadora para os professores da
área, trabalhar artes na História. Um dos
A ideia de cidadania, nesse sentido, está eixos curriculares que permitem aos alunos
ligada à atuação do homem, membro coletivo, identificar uma proximidade de maior com
nesse principio, da solidariedade e o respeito sua vida é a História do Brasil.
ao outro em suas multiplicas possibilidades
de interação e convivência na sociedade. Pesquisas mostram que, para compreender
as sociedades antigas, eles utilizam as
A arte deve fazer parte do cotidiano informações que possuem sobre a vida atual
escolar, pois é através da arte, que o sujeito e a organização social que conhecem.
exteoriza suas emoções e sentimentos
representados de diversas maneiras. As orientações curriculares da Prefeitura
de São Paulo assinalam que à medida que os
A aprendizagem artística envolve alunos são estimulados a construir relações
diferentes tipos de conhecimentos que entre seu dia-a-dia, e aspectos mais amplos da
possibilitam a transformação e o crescimento vida social e histórica, começam a aprofundar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

as reflexões, não alem da realidade imediata, de políticas de ações afirmativas, isto é,


passando a generalizar conceitos. de reconhecimento e valorização de sua
história, cultura, identidade.
Essa familiaridade maior dos jovens com a
história do Brasil por meio da arte só garante “O ensino da arte na História do Brasil
o sucesso do trabalho. levará em conta as atribuições das diferentes
culturas e etnias para a formação do povo
É preciso encontrar formas de envolver brasileiro” (Brasil, 1988, p.68).
todos nas atividades e ajudá-los a perceber
o impacto de determinado momento O tema do racismo e da discriminação
histórico na sociedade e, ao mesmo tempo, racial é importante para quem se preocupa
as diferenças entre a vida do passado e a de com a educação que é um direito de todos,
hoje. partindo da tomada de consciência dessa
realidade, sabemos que os instrumentos de
A arte africana e adro-brasileira é a trabalho na sala de aula são fundamentais
expressão que estudiosos encontram para que o ensino tenha em conta a
para englobar toda a produção artística diversidade de culturas e, memórias coletivas
tradicional das centenas de povos que vivem dos vários grupos étnicos que integram nossa
nas dezenas de países da África Negra, sociedade.
povos diferentes, com culturas diferentes,
línguas e dialetos diferentes, estilos de vida
diferentes. Os conteúdos sobre o estudo da DIÁLOGO TRANSFORMADOR
História da África e dos africanos em terras E RESGATE DE VALORES
brasileiras, da cultura negra na formação da
sociedade nacional, foi regimentado em um A formação cultural do Brasil se caracteriza
parecer intitulado “Diretrizes Curriculares pela fusão de etnias e culturas, pela continua
Nacionais para a Educação das Relações ocupação de diferentes regiões geográficas,
Étnicos Raciais e para o ensino da História pela diversidade de fisionomias e paisagens,
e Cultura afro-brasileira e Africana”, cujo e também pela multiplicidade de visões
intuito é regulamentar a Lei 10.639/03, sobre a miscigenação em sentido amplo,
cumprindo o estabelecido na Constituição algumas ainda presas à desinformação e ao
Federal. Alem disso, insere, no calendário preconceito.
letivo, o dia 20 de novembro com “Dia da
Consciência Negra”. As trocas de valores culturais que incluem
relações marcadas pela negociação e pelo
O parecer procura oferecer uma resposta conflito são desde sempre, um atributo
entre outras, na área da educação à demanda fundamental das sociedades humanas; que
da população afrodescentende, no sentido articula as noções de identidade e alteridade,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

bem como a organização de toda uma serie para a formação de novas mentalidades,
de vínculos históricos, políticos, econômicos voltadas para a superação de todas que se
e estéticos responsáveis pela estrutura coloca, portanto, é o desafio de a escola se
ideal e, ao mesmo tempo concreta o que constituir em um espaço de resistência, isto
chamamos de sociedade. é, de criação de outras formas de relação
social e interpessoal mediante a interação
Diante disso, o sujeito em suas práticas entre o trabalho educativo escolar e as
coletivas tende a ecoar os diferentes questões sociais, posicionando-se critica e
momentos e processos que atravessam as responsavelmente perante elas”. (Secretaria
relações entre o eu e o outro. de Educação Básica – MEC).

A escola se torna inevitavelmente um lugar A complexidade desse enredo expõe,


privilegiado que reflete através de diferentes muitas vezes, através das práticas culturais,
perspectivas, o rico e desafiador enredo das que trazem à tona os modos possíveis de
relações sócias. Daí, a necessidade imediata apreensão do mundo e indicam que os
de educadores e educandos se articularem, a marcadores de status social variam de um
fim de estabelecer redes de convivência que grupo para outro.
resultem não só no ensino-aprendizado de
determinados saberes, mas para alem disso, Combater o racismo e as discriminações,
na percepção e da importância do conteúdo defendendo seus princípios, baseados na
foco deverá ser a educação voltada para a prevalência dos Direitos humanos, tiveram
conscientização da importância do negro no campo da Lei de Diretrizes e Bases da
para a constituição e identidade da nação Educação Nacional nº 10.639/03 que confere
brasileira e principalmente, do respeito à ao contexto educacional e especificidades
diversidade humana e a abominação do de articular com a diversidade, por
racismo e do preconceito desenvolvido por manifestações culturais, bem como um
meio um processo educativo do debate, do currículo que atenda as necessidades de
entorno, buscando nas próprias raízes, a todas as partes envolvidas na relação ensino
herança biológica e/ou cultural trazida pela – aprendizagem, divulgando e produzindo
influencia africana. conhecimentos, formando atitudes,
posturas, valores, educando cidadãos
”O documento de Pluralidade Cultural orgulhosos de seu pertencimento étnico-
trata da diversidade étnica e cultural; plural racial descendentes dos africanos, indígenas,
em sua identidade é índio, afrodescendente, europeus, asiáticos, para interagirem na
imigrante, e urbano, sertanejo, caiçara, caipira, construção de uma nação democrática, em
enfatizando as diversas heranças culturais que todos igualmente, tenham seus direitos
que convivem na população brasileira, garantidos e sua identidade valorizada.
oferecendo informação que contribuíam (Brasil, 2004, pg. 83).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Para Munanga (1996, p.32) “a negritude passa, a ter maior notoriedade, abandonada a
assimilação. A libertação do negro deve efetuar-se pela reconquista de si e de uma dignidade
autônoma”.

As ações da inclusão desencadeadas por órgãos governamentais e entidades civis são


de vital importância para que o patrimônio cultural de diferentes comunidades possa se
compreendido e valorizado como suporte teórico e pratico do ensino e da aprendizagem em
nossas redes escolares.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devemos considerar que o ensino da Arte abre, portanto
um leque de oportunidades para o uso das mais variadas
arte africanas e afrodescendentes, e que o professor saiba
utilizá-la problematizando conteúdos para desenvolver a
solidariedade, uma visão altruísta de respeito às diferenças;
que permitam ao aluno conhecer sua história e transcrevê-
la no contexto do cotidiano, envolvendo seus costumes,
suas raízes, aguçando sua capacidade artística, participativa,
construtiva e criativa.

Assim estaremos evitando qualquer tipo de racismo ou


preconceito na sala de aula, e estaremos construindo para GISLEINE FERREIRA
que todos os alunos se envolvam e participem de uma cultura DE FREITAS MELLO
extensa em arte visual, corporal, leitura das mais diferentes
Graduada em Licenciatura
formas de imagens, enriquecendo seu aprendizado, Educação Física pela Universidade
conhecendo a história de um povo e sua construção efetiva do Grande ABC (1999);
na cultura do país. Especialista em Coordenação
Pedagogica pela Faculdade
Campos Elíseos (2018); Professora
Dessa forma, o ensino deve ser um processo de relação de Ensino Fundamental I e II –
mútua entre o professor e aluno, caracterizado pela busca Arte / Educação Física - na EMEF
Deputado João Sussumu Hirata.
interativa de novas formas de aprendizagem que ajudem
a tornar a sala de aula um ambiente onde o aluno sinta
valorizado, tenha o prazer de estudar, ao mesmo tempo em
que está sendo incentivado à pesquisa, tornando dessa forma um investigador na busca
conjunta pelo conhecimento, cabe ao professor à tarefa de encontrar novos caminhos
para que essa visão acerca da cultura africana e afrodescendente e desperte nos alunos
a consciência de que arte é de suma importância, pois tem a capacidade de levá-los ao
entendimento da origem dessa cultura.

Esse processo que relaciona a História às Artes é também fundamental no desenvolvimento


da sociedade no repeito a diversidade de povos que tanto tiveram participação na cultura
que envolve nosso dia-a-dia.

Essa tomada de consciência é essencial se queremos um mundo mais digno. A Arte deve
respeitar uma reflexão diante das diferentes linguagens que surgem a cada pesquisa e cultura
de povos, contemplando o multiculturalismo e o avanço na trajetória de séculos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A arte deve fazer conhecer, exprimir, envolver o sujeito histórico, social, cultural, enredado
na linguagem, conduzido pela expressão mediada visão da mesma.

A construção do conhecimento se processa na solidificação das representações sociais e


pesquisas, tendo a linguagem com instrumento de interação e desenvolvimento. A produção
artística desloca o olhar, rompe com o limite do racional e o estigma da diferença, pois
ordena o pensamento, revela a expressão, convida a criação, constrói a forma, tornando-a
visível (imagem) e, enquanto construção se revela como linguagem e construção.

Se entendermos o conhecimento como ação do sujeito sobre a realidade, numa interação


mediada pela relação com os outros, então, a arte propicia a construção do conhecimento
e da própria consciência dessa ação que irá incorporar uma mudança de olhar alem das
diferenças.

A produção artística deve ser considerada sob a perspectiva da diversidade cultural, pois
o que faz a diferença é o olhar que se tem para a diferença.

Ser educador constitui um verdadeiro desafio, exigindo uma continua disponibilidade


e abertura para novas situações, alem de ter como responsabilidade fundamental incultir
em cada aluno a admiração e o valor pela cultura de um povo que tanto contribui para o
progresso do país.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
Brasil, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais. Temas Transversais. Brasileia: MEC/SEF, 1998.

BRASIL, Constituição; República Federativa do Brasil (DF). Senado Federal, Centro Gráfico,
1988.

LEI Nº 9394/96 - Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Brasília, Ministério da Educação,


1996.

Parecer CNE/ CP 003/2004. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações
Étnica – Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, Brasília:
MEC, 2004.

TEPLOV, R. M. Aspectos psicológicos de Educação Artística. In: Luria, et al Psicologia e


Pedagogia II, Lisboa: Editora Estampa, 1991.

MUNANGA, Kabengele. Estratégia de Combate à Discriminação (org.) São Paulo: editora da


Cidade de São Paulo. Estação Ciência, 1996.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO INFANTIL: O
CURRÍCULO EM EVIDÊNCIA
RESUMO: Discutir o tema que versa sobre o currículo na educação infantil, leva-nos a busca
de entendimento sobre o que constitui o currículo e como cada sociedade o representa.
Qual significado que damos ao protagonismo infantil na elaboração que direciona a prática
educativa, prática essa que o constitui. De acordo com Sacristan, O currículo é a expressão
e a concretização do plano cultural que a instituição torna realidade dentro de determinada
condições que determinam esse projeto (Sacristán,2013,p10) Desse modo, refletir sobre
o currículo na educação infantil e olhar a infância como sujeitos de direitos e que sujeitos
desejamos formar no contexto educacional, repensar a infância e seus significados, na
tentativa de possibilitar vivencias e percursos de aprendizagens culturais, históricas e sociais.
Ao compreender a legislação que regem o currículo na educação infantil, consideramos a
forma como o mesmo é organizado. O texto também apresenta objetivos e os eixos da Base
Nacional Curricular Comum (BNCC) para educação infantil.

Palavras-Chave: infância; currículo; aprendizagem; educação infantil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Observa-se na Sociologia e Pedagogia


das infâncias a possibilidade na construção
Historicamente podemos observar as e fundamentação teórica dos saberes e
mudanças educacionais e seu impacto estratégias de ensino.
significativo na sala de aula e fora dela.
Os avanços tecnológicos, e científicos O como olhamos a infância influencia na
contribuem na organização do pensamento definição dos currículos escolares. Diferentes
pedagógico e sua ação social. concepções de infância, ao longo da história,
e na atualidade influencia os modelos
Nota-se cada vez mais o desejo de proporcionar curriculares. De acordo com Sacristán:
às crianças desde tenra idade o acesso à cultura,
lazer e ao conhecimento. Educação como O valor de qualquer currículo, de toda proposta de
mudança para a prática educativa, se comprova
promotora de igualdade social, desenvolvimento na realidade na qual se realiza, na forma como
integral em suas diversas dimensões; intelectual, se concretiza em situações reais. O currículo
física, ética, moral e simbólica. na ação é a última expressão de seu valor, pois,
enfim, é na prática que todo projeto, toda ideia,
toda intenção, se faz realidade de uma forma ou
Ao analisar as bibliografias infantis, outra; se manifesta, adquire significado e valor,
constatamos o desejo de garantir os direitos independentemente de declarações e propósitos
de partida (SACRISTÁN,1998 ,p.201).
ao acesso e permanência dos bebês e crianças
a educação; o respeito às diferenças. Essa
diversidade constatada no contexto escolar Pautados nesses valores, o enfoque aqui
carece compreensão e reconhecimento, abordado pauta-se em princípios éticos, políticos
entendendo sua complexidade e necessidade e estéticos de acordo com diretrizes Curriculares
de um aprofundamento reflexivo por todos Nacionais (BRASIL, 2013, p107-108)
que estão inseridos no contexto educacional.

Pensar a educação é pensar na sua UM BREVE OLHAR SOBRE A


organização global, esse pensamento nos HISTÓRIA DO CURRÍCULO
remete a analisar a história do currículo
na educação infantil o que nos revela sua NA EDUCAÇÃO INFANTIL
amplitude e complexidade. Segundo SALLES E FARIA, uma
preocupação bastante antiga no meio
Nesse contexto a infância torna-se objeto educacional de nosso País tem sido o
de análise e reflexão em diferentes aspectos. currículo. Antes mesmo de a Educação
Neste artigo, pretendemos mostrar o Infantil ocupar o lugar de destaque atual, os
currículo como alvo influenciado pelas educadores já definiam como prioridade o
Sociologias e Pedagogias das infâncias e que ensinar; como ensinar e quando ensinar.
suas transformações históricas. (Salles e Faria,2012, p20)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O conceito de infância, com o passar das Art. 6º São direitos sociais a educação,
décadas, vem se transformando, embasado a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a
no fato de que as crianças sempre viveram previdência social, a proteção à maternidade
inseridas em uma formação social, onde cada e à infância, a assistência aos desamparados,
qual dá um significado a essa relação Na na forma desta Constituição.
Idade Média, a sociedade tinha uma ideia de
que crianças eram adultos em miniatura, não O Parecer CNE/CEB nº 20/09 e a
existia a consciência do significado e afeição Resolução CNE/CEB nº 05/09, que definem
a palavra infância, sendo assim poderiam as DCNEIs, fazem, em primeiro lugar, uma
realizar trabalhos e envolver-se com clara explicitação da identidade da Educação
atividades juntamente com as pessoas mais Infantil, condição indispensável para o
velhas. Na idade média, no início dos tempos estabelecimento de normativas em relação ao
modernos, e por muito tempo ainda nas currículo e a outros aspectos envolvidos em
classes populares, as crianças misturavam-se uma proposta pedagógica. Eles apresentam
com os adultos assim que eram considerados a estrutura legal e institucional da Educação
capazes de dispensar a ajuda das mães ou das Infantil – número mínimo de horas de
amas, poucos anos depois de um desmame funcionamento, sempre diurno, formação
tardio – ou seja, aproximadamente, aos sete em magistério de todos os profissionais
anos de idade. A partir desse momento, que cuidam e educam as crianças, oferta
ingressavam imediatamente na grande de vagas próximo à residência das crianças,
comunidade dos homens, participando com acompanhamento do trabalho pelo órgão de
seus amigos jovens ou velhos dos trabalhos supervisão do sistema, idade de corte para
e dos jogos de todos os dias. efetivação da matrícula, número mínimo de
horas diárias do atendimento – e colocam
alguns pontos para sua articulação com o
O CURRÍCULO E SUA Ensino Fundamental.
LEGALIDADE
As novas DCNEIs consideram que a função
Nossa Constituição prevê a garantia sociopolítica e pedagógica das unidades de
de direitos fundamentais, entre eles, a Educação Infantil inclui (Resolução CNE/CEB
dignidade da pessoa humana. Refletir sobre nº 05/09 artigo 7º): a. Oferecer condições
o currículo na educação infantil remete olhar e recursos para que as crianças usufruam
sua estrutura de modo permitir e assegurar seus direitos civis, humanos e sociais; b.
esses direitos. Em seu Título II capítulo II a Assumir a responsabilidade de compartilhar
Constituição de 1998 discorre sobre essas e complementar a educação e cuidado das
garantias e deveres individuais e coletivos. crianças com as famílias; c. Possibilitar tanto
Fundamentos esses que permeia todo nossa a convivência entre crianças e entre adultos
reflexão. Nota-se: e crianças quanto à ampliação de saberes

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Revista Educar FCE - Abril 2019

e conhecimentos de diferentes naturezas; agradáveis, estimulantes, que ampliem as


d. Promover a igualdade de oportunidades possibilidades infantis de cuidar de si e
educacionais entre as crianças de diferentes de outrem, de se expressar, comunicar e
classes sociais no que se refere ao acesso criar, de organizar pensamentos e ideias,
a bens culturais e às possibilidades de de conviver, brincar e trabalhar em grupo,
vivência da infância; e. Construir novas de ter iniciativa e buscar soluções para os
formas de sociabilidade e de subjetividade problemas e conflitos que se apresentam às
comprometidas com a ludicidade, a mais diferentes idades, desde muito cedo.
democracia, a sustentabilidade do planeta e O ambiente deve ser rico de experiências
com o rompimento de relações de dominação para exploração ativa e compartilhada por
etária, socioeconômica, étnico-racial, de crianças e professores, que constroem
gênero, regional, linguística e religiosa. significações nos diálogos que estabelecem.
Desses pontos decorrem algumas condições
Para orientar as unidades de Educação para a organização curricular das instituições
Infantil a planejar seu cotidiano, as Diretrizes de Educação Infantil. Elas devem, segundo
apontam um conjunto de princípios as Diretrizes: o assegurar a educação de
defendidos pelos diversos segmentos modo integral, entendendo o cuidado como
ouvidos no processo de sua elaboração e que algo indissociável do processo educativo; o
devem orientar o trabalho nas instituições combater o racismo e as discriminações de
de Educação Infantil. Dada sua importância gênero, sócio econômicas, étnico-raciais e
na consolidação de práticas pedagógicas religiosas; o conhecer as culturas plurais que
que atendam aos objetivos gerais da área, constituem o espaço escolar, a riqueza das
eles serão aqui apresentados em detalhes. contribuições familiares e da comunidade,
São eles: Princípios éticos – valorização suas crenças e manifestações, e fortalecer
da autonomia, da responsabilidade, da formas de atendimento articuladas aos
solidariedade e do respeito ao bem comum, saberes e às especificidades étnicas,
ao meio ambiente e às diferentes culturas, linguísticas, culturais e religiosas de cada
identidades e singularidades. Princípios comunidade; o dar atenção cuidadosa e
políticos – garantia dos direitos de exigente às possíveis formas de violação da
cidadania, do exercício da criticidade e do dignidade da criança; o cumprir o dever do
respeito à ordem democrática. Princípios Estado com a garantia de uma experiência
estéticos – valorização da sensibilidade, da educativa com qualidade a todas as crianças
criatividade, da ludicidade e da diversidade na Educação Infantil.
de manifestações artísticas e culturais. Para
garantir às crianças seu direito de viver a
infância e se desenvolver, as escolas que
atendem crianças nessa faixa etária (0 aos
5anos) escolas devem organizar situações

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O CURRÍCULO NA trabalho, à gestão das unidades e à relação


EDUCAÇÃO INFANTIL: com as famílias. Por outro lado, as instituições
de Educação Infantil, assim como todas
CAMINHOS A PECORRER as demais instituições nacionais, devem
Segundo Sacristán, o currículo, no sentido assumir responsabilidades na construção
que hoje costuma ser concebido, tem uma de uma sociedade livre, justa, solidária
capacidade ou um pouco de inclusão que nos e que preserve o meio ambiente, como
permite fazer dele um instrumento essencial parte do projeto de sociedade democrática
para falar, discutir e contrastar novas visões desenhado na Constituição Federal de
sobre o que acreditamos ser a realidade da 1988 (artigo 3, inciso I). Elas devem ainda
educação, como o consideramos no presente trabalhar pela redução das desigualdades
e qual valor ele tinha para a escolaridade no sociais e regionais e a promoção do bem de
passado (Sacristán, 2013, p.9). todos (artigo 3 incisos II e IV da Constituição
Federal). Contudo, esses compromissos a
As Diretrizes expõem o que deve ser serem perseguidos pelos sistemas de ensino
considerado como função sociopolítica e e pelos professores também na Educação
pedagógica das instituições de Educação Infantil enfrentam uma série de desafios,
Infantil. Tais pontos refletem grande parte como a desigualdade de acesso aos centros
das discussões na área e apontam o norte que educacionais entre as crianças brancas e
se deseja para o trabalho com as crianças. A negras, ricas e pobres, moradoras do meio
questão pedagógica é tratada pensando que, urbano e rural, das regiões sul/sudeste
se a Educação Infantil é parte integrante da e norte/nordeste. Também as condições
Educação Básica, como diz a Lei nº 9.394/96 desiguais da qualidade da educação oferecida
em seu artigo 22, cujas finalidades são às crianças em creches e pré-escolas
desenvolver o educando, assegurar-lhe impedem que os direitos constitucionais das
a formação comum indispensável para o crianças sejam garantidos a todas elas. Todos
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios os esforços então se voltam para uma ação
para progredir no trabalho e em estudos coletiva de superação dessas desigualdades.
posteriores, essas finalidades devem ser
adequadamente interpretadas em relação às As Diretrizes partem de uma definição de
crianças pequenas. Nessa interpretação, as currículo e apresentam princípios básicos
formas como as crianças, nesse momento de orientadores de um trabalho pedagógico
suas vidas, vivenciam o mundo, constroem comprometido com a qualidade e a efetivação
conhecimentos, expressam-se, interagem de oportunidades de desenvolvimento
e manifestam desejos e curiosidades de para todas as crianças. Elas explicitam os
modo bastante peculiares, devem servir de objetivos e condições para a organização
referência e de fonte de decisões em relação curricular, consideram a educação infantil
aos fins educacionais, aos métodos de em instituições criadas em territórios

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Revista Educar FCE - Abril 2019

não-urbanos, a importância da parceria com as famílias, as experiências que devem ser


concretizadas em práticas cotidianas nas instituições e fazem recomendações quanto aos
processos de avaliação e de transição da criança ao longo de sua trajetória na Educação
Básica.

DEBRUÇAR SOBRE A BASE NACIONAL CURRICULAR COMUM


A Base Nacional Curricular Comum, documento que esclarece o que todas as crianças e jovens
têm direito a aprender nas escolas e os objetivos que precisam alcançar. Para alcançar o que o
documento propõe, o currículo passa ser instrumento e caminho para garantir esses direitos. Proposta
e estratégias são propostas para orientar as atividades em sala de aula.

O que a Base Nacional Comum (BNCC), propõe para o desenvolvimento das crianças na Educação
Infantil, e como desenvolver essas diretrizes no dia a dia. O conteúdo esclarece o que são os direitos de
aprendizagem, uma novidade da BNCC, e explica um a um quais são os cinco campos de experiência
que vão reformular a organização curricular. O que a Base Curricular Nacional Comum, propõe para
o desenvolvimento das crianças na Educação Infantil, e como aplicar essas diretrizes no dia a dia?

O conteúdo esclarece o que são os direitos de aprendizagem, uma novidade da BNCC, e explica
um a um quais são os cinco campos de experiência que vão reformular a organização curricular.

A Base estabelece 5 campos de experiência fundamentais para o desenvolvimento das crianças.


Eles são: Eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala,
pensamento e imaginação; e Espaço, tempo, quantidades, relações e transformações.

Dentro dos Campos há objetivos de aprendizagem que são divididos em três grupos etários
(bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas).

Os campos de experiência e os objetivos não têm caráter de currículo, mas servem para auxiliar o
professor a planejar atividades com maior clareza do que deve ser desenvolvido em cada fase.

A Base estabelece cinco campos de experiência para a Educação Infantil, que indicam quais são
as experiências fundamentais para que a criança aprenda e se desenvolva. Os Campos enfatizam
noções, habilidades, atitudes, valores e afetos que as crianças devem desenvolver dos 0 aos 5 anos
e buscam garantir os direitos de aprendizagem das crianças. Ou seja, o conhecimento vem com a
experiência que cada criança vai viver no ambiente escolar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após ter realizado estudo sobre o currículo na educação
infantil, é chegado o momento de finalizar e reafirmar que o
presente trabalho não teve a pretensão de definir o currículo
na educação infantil, mas possibilitar a reflexão sobre o
assunto. O estudo proposto permite afirmar que se faz mais
que necessário o desenvolvimento de formação continuada
para todos envolvidos no ambiente escolar, principalmente,
os professores. Momentos de ações que permitam provocar
o comprometimento com ações educacionais para garantir
o direito às crianças à educação de qualidade. Que sejamos
sensíveis as atuais demandas educacionais e capazes de GIVANILDA VIEIRA
motivar, estimular e acreditar na construção coletiva do PINHEIRO DE SOUSA
currículo com suas expressões históricas.
Graduada em Pedagogia pela
Faculdade Universidade Paulista
UNIP (2003); Pós-Graduação em
Formação e Profissão Docente
pela Faculdade de Educação
Paulistana-FAEP (2019);
Professor de Educação Infantil e
Ensino Fundamental I -na EMEI
Dina Kutner de Souza-Dina Sfat.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
BARBOSA, Maria Carmem Silveira. Por amor e por força: rotina na Educação Infantil. Porto
Alegre: Artmed, 2016.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

BRASIL, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e base da nacional.


Brasília, DF, 1996.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum


curricular. Brasília, DF,2017.

EDUCAÇÃO, Ministério da. Parecer n° 20/2009. Disponível em http://portal.mec.gov.


br/index.php?option=com docman&view=download alias=2097-pceb02009&caregory
slig=dezembro-2009-pdf&Itemid=30192. Acesso maio de 2019.

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SACRISTÁN, José Gimeno. (Org.). Saberes e incertezas sobre o currículo. Porto Alegre.
Penso, 2013.

FARIA, Vitória Líbia Barreto de; SALLES, Fátima. Currículo na educação infantil: diálogo com
os demais elementos da proposta pedagógica. 2ª ed. São Paulo: ática, 2012.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE
NO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL
DOS EDUCANDOS
RESUMO: O presente artigo discorre sobre a importância de inserir a educação psicomotora
no cotidiano educacional desde os anos escolares iniciais como forma de prevenir possíveis
dificuldades de aprendizagens ocasionadas por um desenvolvimento com lacunas que pode
ocorrer com a oferta de atividades inadequadas. Para isso, o artigo inicia conceituando
a psicomotricidade, a definido como prática que articula a motricidade com as emoções,
sentimentos e psiquismo, fortalecendo a visão das interações com o meio e com o outro para
aquisição de aprendizagens. Em continuidade, pontua alguns dentre a gama de benefícios
que a psicomotricidade traz para o desenvolvimento integral dos educandos na escola. Em
sequência, demonstra a necessidade dos professores em se apropriarem de conhecimentos
inerentes à educação psicomotora para que sejam capazes de ofertar atividades condizentes
a esta. Conclui, evidenciando que a educação psicomotora deve estar presente em vários
momentos do cotidiano educacional, a qual deve ser iniciada ainda na primeira etapa da
educação, primando pelo desenvolvimento mais qualificado dos indivíduos. Traz por objetivo
conscientizar os professores da importância da educação psicomotora na escola por meio da
reflexão dos argumentos de autores que dissertam sobre ela. Trata-se de uma pesquisa de
revisão de literatura.

Palavras-Chave: Desenvolvimento do Indivíduo; Psicomotricidade; Educação Psicomotora.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Porém, para que este desenvolvimento


seja adequado é de fundamental importância
A psicomotricidade é o eixo norteador da que os professores se apropriem dos
pesquisa que compõem o teor deste artigo. A conhecimentos inerentes à educação
psicomotricidade definida como a relação do psicomotora, disponibilizando atividades
psiquismo humano (emoções, sentimentos, adequadas as especificidades da turma, em
sensações) e os movimentos humanos, prol do desenvolvimento integral e individual
ambos correlacionados com as interações do dos educandos. Com isso, o artigo traz
indivíduo com o meio e com outro. por objetivo conscientizar os professores
da importância da educação psicomotora
Assim, este artigo apresenta a na escola para o desenvolvimento dos
psicomotricidade como instrumento educandos em sua integralidade.
pedagógico que possibilita o
desenvolvimento integral dos educandos, Como metodologia de pesquisa foi
com melhor inferência nos anos iniciais de utilizada uma revisão de literatura com análise
vida, mostrando a importância da inserção de artigos científicos que exploram sobre
de práticas psicomotoras no contexto de a temática, procurando uma abordagem
educação formal para a constituição da qualitativa.
cidadania dos educandos.

As experiências que os educandos CONCEITUAÇÃO E


vivenciam na escola se dão pelas interações SIGNIFICAÇÃO DE
que realizam. Seu corpo é o ponto de
referência para a conscientização do papel PSICOMOTRICIDADE
do seu “eu” no meio social. Sendo assim, as Falar de psicomotricidade é partir da crença
respostas de ações as situações-problemas e de que o indivíduo é único com aspectos
aquisição das aprendizagens estão coligadas que regem o seu desenvolvimento e que se
a reação motora que o indivíduo tem com o trabalhos de maneira conjunta, propiciam
meio. ao indivíduo maximizar seus conhecimentos
pois facilitam suas interações com o meio
Vale ressaltar que para o desenvolvimento e com o outro proporcionando trocas de
integral indivíduo se deve desenvolver experiencias que favorecem a aquisição de
os aspectos motores, cognitivos e sócio- suas aprendizagens.
afetivos. A psicomotricidade propicia o
desenvolvimento equilibrado nas três áreas, Portanto, Fernandes et al (2018) concebem
fundamentando sua importância como a psicomotricidade como as integrações
prática pedagógica. entre o movimento corporal humano e as
emoções e sentimentos dos indivíduos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

toma como objeto de estudo o corpo e suas


que traz significado a tais movimentações, manifestações nas dimensões motora, emocional
ações estas observadas nas interações dos e cognitiva, demonstrando assim, uma profunda
indivíduos com o meio e com os objetos e relação entre a atividade psíquica e atividade
motora, bem como suas possibilidades de
indivíduos que estão neste meio. Eles partem perceber, atuar, agir com o outro, com os
da perspectiva de que não como dissociar objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao
os elementos proeminentes dos indivíduos, processo de maturação e é, portanto, um termo
empregado para uma concepção de movimento
como separar os sentimentos das ações, organizado e integrado devido as experiências
uma vez que as ações são resultado das vividas, pois para crescer e aprender a criança
sentimentalizações e moções propiciadas precisa conhecer seu meio e vivê-lo plenamente.
(TASSI, 2014, p. 6)
pelos estímulos exteriores que estão
contidos no meio social em que encontram
inseridos. Na ótica de Rossi (2012), a psicomotricidade
possibilita aos indivíduos percepções
Refletindo sobre a conceituação de positivas sobre sua autoestima, favorecendo a
psicomotricidade, Aquino et al (2012) expressão livre de sentimentos, pensamentos,
colocam que: conceitos, ideologias. Apontando isto, Rossi
(2012) aponta, ainda, que a psicomotricidade
A psicomotricidade é o estudo do homem possibilita desenvolver um trabalho voltado
e tem como objetivo contribuir para o
desenvolvimento integral da criança por meio as dificuldades de aprendizagens, não
de atividades que serão trabalhadas com as como solução única, mas como um meio
mesmas, deste modo, a criança desenvolve os que permite auxiliar os educandos no
aspectos mentais, psicológicos, sociais, culturais
e físicos. (AQUINO et al, 2012, p. 246) processo de ensino-aprendizagem nos seus
anos escolares. Com ela, é possível ofertar
Em continuidade, Aquino et al (2012) condições que favorecem seu desempenho
evidencia que a relação existente entre educacional mediante o aumento do seu
psiquismo e motricidade, pensando a desenvolvimento motor correlacionado a
motricidade como a ação resposta do sistema suas ânsias e sentimentos que delimitavam
nervoso aos estímulos exteriores produzidos sua cognição.
pela musculatura corporal humana e o
psiquismo como um grupo de sensações, A psicomotricidade, para Fernandes et
percepções, imagens, pensamentos e al (2018) não deve ser considerada como
afeto que regem as ações humanas, uma teoria, mas sim um processo reflexivo
são ao elementos que trazem sentido a (práxis) que referencia o corpo trazendo seus
psicomotricidade. elementos complexos como a existência,
expressão, emoção, identidade, entre outros,
E Tassi (2014) enfatiza que: articulado com as teorias de desenvolvimento
humano.
Quanto à psicomotricidade, vários autores,
estudiosos apontam como uma ciência que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

no campo intelectual, afetivo, social e motor


Dessa forma, Gonçalves e Maneira (2015) da criança dá-lhe segurança organizando
explanam que: suas relações com os diferentes meios em
que deve evoluir. Associa-se a estimulação
A Psicomotricidade como sendo uma área que do desenvolvimento psicomotor o despertar
tem por objetivo o desenvolvimento motor, da criatividade contribuindo para a formação
cognitivo e afetivo se faz importante para o integral ocasionando o desenvolvimento de
trabalho com crianças na etapa da Educação suas possibilidades levando o indivíduo à
Infantil, uma vez que é por meio de atividades tomada de consciência de seu corpo por meio
psicomotoras que a criança encontra a do movimento. (TASSI, 2014, p. 3)
possibilidade de desenvolver-se integralmente.
(GONÇALVES; MANEIRA, 2015, p. 16880) Para Gonçalves (2009 apud TASSI,
2014), a psicomotricidade é um importante
Conforme Tassi (2014), a educação instrumento auxiliar que infere na ação
psicomotora pode ser visualizada enquanto estruturadora do desenvolvimento do
uma técnica que traz etapas a serem seguidas indivíduo, correlacionando as vivencias
refletidas no desenvolvimento natural motoras, cognitivas e sócio-afetivas
humano. Sua origem, de acordo com Tassi fundamentais a sua constituição como
(2014) de deu pelos estudos que se voltaram sujeito. Nesta visão de ferramenta que
ao desenvolvimento motor dos indivíduos auxilia o processo de ensino-aprendizagem,
tendo como sequência pesquisas sobre os Tassi (2014) complementa mostrando que
diferenciais apresentados por indivíduos que a psicomotricidade pode ser utilizada para
propiciavam atrasos neste desenvolvimento prevenir que possíveis dificuldades motoras
em virtude de outros comprometimentos. se compliquem, atuando em áreas em que
Aos poucos a educação psicomotora foi foram formadas lacunas em virtude do
tomando forma, diante das correlações entre desenvolvimento maturacional individual,
desenvolvimento esperado e faixas etárias, o propiciando o equilíbrio entre os três
que gerou a reflexão em como intervir e quais aspectos desenvolvimentistas citado acima (
os pontos que traziam maior dificultações a cognitivo, motor e sócio-afetivo).
estes indivíduos que apresentavam atrasos Neste contexto, Aquino et al (2012)
e, assim, foi constatando a relação essencial enfatiza que a psicomotricidade no ambiente
existente entre os elementos motivacionais, escolar possibilita o desenvolvimento
sentimentais e emocionais e a inibição nas de um trabalho que traz o corpo e suas
tentativas de ações quando o indivíduos se movimentações como elementos propulsor
encontrava em grupo, aumentando o grau de das aprendizagens atuando nas áreas de
dificuldade. desenvolvimento cognitivas, motoras e
sócio-afetivas, formando indivíduos integrais
Diante de tal assertiva, Tassi (2014) e mais ativos no meio em que se encontram
acrescenta que: inseridos.

A Educação Psicomotora é uma educação


global que, além de permitir o desenvolvimento

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Revista Educar FCE - Abril 2019

BENEFÍCIOS DA educandos desde bem pequenos, uma vez


PSICOMOTRICIDADE que nesta etapa, o indivíduo está propicio a
receber diversos estímulos que consolidarão
NO DESENVOLVIMENTO seu desenvolvimento.
INTEGRAL
Em virtude deste pensamento, Rossi
Muitos são os benefícios que a (2012) pontua que:
psicomotricidade traz para o desenvolvimento
dos indivíduos. Segundo Rossi (2012), [...] a educação psicomotora abrange algumas
metas, sendo elas: a aquisição do domínio
todas as atividades que são ofertados aos corporal, definindo a lateralidade, a orientação
educandos possuem a psicomotricidade pois espacial, desenvolvimento da coordenação
o indivíduo aprende por meio das interações motora, equilíbrio e a flexibilidade; controle
da inibição voluntária, melhorando, o nível de
que tem com o meio e para interagir abstração, concentração, reconhecimento dos
necessita dos movimentos corporais. Estas objetos através dos sentidos (auditivo, visual,
atividades propiciam que o educando etc.), desenvolvimento sócio-afetivo, reforçando
as atitudes de lealdade, companheirismo e
construa conhecimentos e domínio do seu
solidariedade. (ROSSI, 2012, p. 8)
corpo o que lhe traz maior segurança em
realizá-las. Ainda na perspectiva de Rossi Em complemento, Rossi (2012) coloca que
(2012), a psicomotricidade infere em um o intuito da educação psicomotora não pode
desenvolvimento integral do indivíduo, estar restringido apenas a conscientização
com equilíbrio e uniformidade, trazendo corporal em que o indivíduo demonstre
uma base mais sólida para a aquisição de conhecimento dobre sua imagem, mas sim
aprendizagens. deve ser visualizada como um auxiliar no
descobrimento das estruturas relacionais
Conforme Lê Boulch (1988 apud entre as partes e a totalidade do corpo,
GONÇALVES; MANEIRA, 2015), a educação constituindo uma organização unificada
psicomotora é um instrumento pedagógico correlacionada a realidade do meio. Dessa
auxiliar que propicia a atribuição de forma, quanto antes for ofertadas atividades
significados as aprendizagens, devendo ser psicomotoras no ambiente educacional,
praticada desde os anos escolares iniciais, melhor serão as aprendizagens dos
ainda na Educação Infantil. Com isso, é educandos, o que gera maximização do
perceptível que o desenvolvimento de um desenvolvimento maturacional dos mesmos,
trabalho que envolva a psicomotricidade, implicando na inteligência adequada ao
oferte atividades que sejam conduzidas homem.
com perseverança, permitindo a prevenção
de inadaptações, dificilmente corrigidas A psicomotricidade, de acordo com Rossi
quando já estabelecidas pelo educando. Daí (2012), relacionada a ações educativas,
provem sua importância de ser destinada aos tem como pretensão o atingimento da

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Revista Educar FCE - Abril 2019

estruturação psicomotora das noções Conforme Aquino et al (2012), as


corporais diante de perspectivas espaciais características da educação psicomotora
e temporais, ocasionadas pela percepção envolvem o trabalho com diversos aspectos
do indivíduo do seu “eu” no meio em que se do desenvolvimento do individual, trazendo
encontra inserido. Tal perspectiva é essencial relevâncias diferentes em acordo com a
para o desenvolvimento processual da intencionalidade que é atribuída as atividades.
aprendizagem dos indivíduos, pois procura o Em complemento, Rossi (2012) evidencia
desenvolvimento do conhecimento corporal que por meio da psicomotricidade é possível
e suas variadas relações, percepções, favorecer a estimulação e reeducação dos
simbologias e conceitos constituintes movimentos do indivíduo. Esta estimulação
do esquema que representa as vivencias psicomotora na educação deve ser ofertada
integrativas fundamentais para a elaboração com as brincadeiras com enfoque a atividades
e expressão das ações intencionais. de motricidade. Quanto a reeducação
psicomotora, o autor pontua que deve ser
E, para Aquino et al (2012), com a utilização voltada com especial atenção aqueles que
da educação psicomotora é possível evitar apresentaram alguma deficiência motora, se
diversas problemáticas que o indivíduo diferenciando da estimulação neste aspecto,
pode apresentar no seu desenvolvimento visto que a estimulação é ofertada aqueles
como falta de concentração, confusão indivíduos que não apresentam qualquer
no conhecimento de palavras e entre tipo de deficiência. Esta última é mais
outras dificuldades relativas à construção aparente em tratamentos clínicos voltados
dos conhecimentos necessários para sua para indivíduos com deficiência.
constituição cidadã.
Dessa forma, Gonçalves e Maneira (2015)
De acordo com Gonçalves e Maneira enfatizam que a educação psicomotora,
(2015): quando desenvolvida com qualificação desde
a Educação Infantil, incide na prevenção
Por meio desse enfoque, permite-se observar das dificuldades de aprendizagens que
que o trabalho psicomotor auxilia de modo
significativo o processo de aprendizagem na podem aparecer posteriormente. Com
primeira infância, pois com o exercício de tais a diversidade de estímulos possíveis
atividades o professor terá a possibilidade de oferecidos pela educação psicomotora, o
interagir com a criança, de manter um contato
direto e afetuoso com esta. [...] a criança se indivíduo é capaz de estabelecer conexões
sentirá bem na medida em que seu corpo lhe cerebrais mais qualificadas, desenvolvem
obedece, em que o conhece bem, em que pode capacidades essenciais para o processo de
utilizá-lo não somente para movimentar-se, mas
também para agir. (GONÇALVES; MANEIRA, ensino aprendizagem de conhecimento mais
2015, p. 16882) complexos no futuro.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O EDUCADOR E A relacionados sobre psicomotricidade. Dessa


maneira, é interessante que o docente intere-
EDUCAÇÃO PSICOMOTORA se sobre a educação psicomotora, do que essa
trata essa prática pedagógica; conhecer sua
estrutura, o desenvolvimento psicomotor, as
A psicomotricidade, segundo Tassi implicações do sistema nervoso e a importância
(2014), é de suma importância para o meio da maturação neurológica; compreender como
educacional. Esta tem apresentam uma ocorre o desenvolvimento infantil (etapas do
desenvolvimento), as funções psicomotoras,
relação entre o desenvolvimento psicomotor as dificuldades de aprendizagem presentes
e as aprendizagens almejadas para a no ambiente escolar, para a organização,
constituição de sujeito inerentes a função planejamento e encaminhamentos acadêmicos.
(ROSSI, 2012, p. 10)
da escola na atualidade. Com a educação
psicomotora é possível ofertar aos educandos Ao refletir sobre os primeiros anos
aprendizagens que infiram na compreensão escolares dos indivíduos e a importância do
e conscientização do seu corpo no espaço desenvolvimento de um trabalho adequado
social, mostrando as formas de expressões e para a aquisição de aprendizagens bases
ações que este pode ter no meio em que se para a construção de conhecimentos
encontra inserido. futuros. Aquino et al (2012) afirmam que,
nesta fase, o indivíduo está construindo sua
Conforme Aquino (2014), a psicomotricidade com relação direta a sua
psicomotricidade tem seu espaço no maturação que vai evoluindo com o passar
meio educacional como um instrumento do tempo e com as relações que estabelece
pedagógico de auxílio ao processo de com o meio e com o outro. Dessa forma,
ensino-aprendizagem, primando pela a brincadeira é um interessante recurso
eliminação de distúrbios e preenchendo componente da educação psicomotora
lacunas que foram estruturadas com um e como tal deve ter valia no cotidiano
desenvolvimento integral não adequado. educacional, pois com ela o individuo é
A primeira visão da psicomotricidade era capaz de responder aos estímulos que lhe
voltada para os indivíduos com deficiência, são conferidos, elaborando ações motoras
porém, esta visão se modifica ao visualizar que sanem as situações-problemas com que
que a educação psicomotora traz muitos se deparam.
benefícios ao desenvolvimento integral de
qualquer indivíduo o que maximizou a sua Portanto, Aquino et al (2012) enfatizam
entrada no cotidiano escolar. que:

Nesta vertente, Rossi (2012) pontua que: [...] tem como objetivo desenvolver por
completo o ser humano em seus aspectos
motores, cognitivos e afetivos. Aquém-motora,
Entendemos que a educação psicomotora, as atividades de psicomotricidade podem ajudar
aplicada na Educação Infantil, é preponderante à criança no desenvolvimento do raciocínio, da
para o sucesso no sistema escolar. Entretanto, é imaginação, da criatividade, da afetividade e da
fundamental que a participação do o professor
socialização. (AQUINO et al, 2012, p. 247)
como pesquisador, principalmente nos assuntos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

profissionais capacitados nos espaços escolares,


Ao se movimentar, Gonçalves e Maneira é necessário que haja uma relação favorável
(2015) evidenciam, o educando interage entre criança e seu meio. Observou então que
com as atividades propostas, movimentos o desenvolvimento psicomotor não dependerá
somente do trabalho realizado pela escola, mas
estes propiciados pelas respostas aos também das relações estabelecidas entre a
estímulos por parte do sistema nervoso, criança, o seu meio familiar e seu contexto de
internalizando conceitos fundamentais para forma geral, compreendendo assim a relação
entre psicomotricidade e aspectos psicossociais.
o desenvolvimento de suas capacidades. A (AQUINO, 2014, p. 121)
aprendizagem dos indivíduos se dá por meio
destas interações em que o meio oferta Para que o indivíduo adquirida
estímulos e o cérebro busca informações aprendizagem, segundo Tassi (2014),
e acomoda as novas aprendizagens, é importante que seja construído um
construindo um conhecimento significativo. ambiente que possibilite condições de
ações dos educandos, interagindo com
De acordo com Tassi (2014), o professor seu lado emocional e sentimental, diante
deve se apresentar como modelo para os de interações que favoreçam construírem
educandos, demonstrando suas expressões um conhecimento significativo, pois,
corporais e posturas, mas não para que se ocorrer de forma contraria, muitas
os educandos sigam seus modelos, mas são as consequências negativas neste
sim para que se sintam à vontade para desenvolvimento, traumatizando e limitando
expor suas próprias sentimentalizações. seu educando.
Para isso, o professor deve se apropriar
de conhecimentos voltados para jogos e Neste contexto, Rossi (2012) afirma que:
brincadeiras, refletindo sobre como estes,
ludicamente, podem ser favoráveis ao Assim, podemos analisar que a educação
psicomotora junto com o auxílio dos pais e do
desenvolvimento dos seus educandos, de meio escolar, tem a finalidade não de ensinar
forma a propiciar um desenvolvimento a criança comportamentos motores, mas sim
integral e harmônico. A organização das de permiti-lhe, mediante o jogo, exercer sua
função de ajustamento, individualmente ou
atividades, também, é tarefa do professor com outras crianças. No estágio escolar, a
que deve planejá-las em conformidade com prioridade constitui a atividade motora lúdica,
as características especificas do grupo com fonte de prazer, permitindo a criança prosseguir
na organização de sua “imagem de corpo” ao
respeito as necessidades, anseios e desejos nível do vivido servindo de ponto de partida
dos educandos com quem tem contato na sua organização prática em relação ao
cotidianamente. desenvolvimento de suas atitudes de análise
perceptiva. (ROSSI, 2012, p. 9)

Em relação a isto, Aquino (2014)


evidenciam que: Com esta visão, Gonçalves e Maneira (2015)
observam a importância do desenvolvimento
No entanto, para que haja o desenvolvimento de um trabalho que envolva a educação
integral da criança, além do trabalho de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

psicomotora na prevenção de dificuldades de aprendizagens dos educandos. Para que


isto ocorra, é essencial que ocorra o desenvolvimento de atividades psicomotoras desde
a Educação Infantil, momento em que está se formando as primeiras formas de raciocínio
dos indivíduos, favorecendo a aquisição de habilidades provindas do desenvolvimento das
capacidades, o que gera um melhor desempenho no presente e no futura dos anos de vida
escolar que este individuo terá.

Portanto, Aquino (2014) trazem que e Educação Psicomotora deve ser utilizada na base
do desenvolvimento humano, no início da vigência escolar do indivíduo, mas que não deve
ser apenas nesta fase e sim acompanha-lo em muitos outros momentos escolares, pois o
desenvolvimento humano não se finda, ele acompanha o indivíduo por toda vida e o seu
aperfeiçoamento constante favorece construir um conhecimento que é fundamental para
sua vivencia social e a constituição de interações tanto com o meio quanto com o outro
harmoniosas que, com os estímulos certos, permitem que inadaptações sejam sanadas,
propiciando adquirir aprendizagens significativas, qualificada e mais efetivas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante os aspectos que foram expostos no decorrer do
desenvolvimento do artigo, foi possível observar que, devido
à sua importância no desenvolvimento integral e prevenção
das dificuldades de aprendizagens, a psicomotricidade deve
ocupar mais espaço no cotidiano escolar desde as séries
iniciais da educação.

Quando as práticas de educação psicomotora são correlatas


as suas especificidades os benefícios no desenvolvimento
dos indivíduos se qualificam e possibilitam ter bases para
conhecimentos mais complexos que terão contato em GLEICE CARVALHO
sua vida. As aprendizagens se ampliam, favorecendo a MARTINS
maximização de possibilidades de ações defronte a situações-
Graduação em Pedagogia pela
problemas, propiciando aos educandos se concebem como Faculdade Unasp – Centro
protagonistas na construção do seu conhecimento, devido a Universitário Adventista (2005);
se visualizarem como pertencentes ao meio. Especialista em Psicopedagogia
pela Faculdade Unasp – Centro
Universitário Adventista (2006);
Dessa forma, multiplicar esse conhecimento, se apropriar Professor de Educação Infantil
das características da psicomotricidade, buscar e organizar e Ensino Fundamental I na
EMEF João Amós Comenius e
práticas que incidem na educação psicomotora, é papel Professora de Educação Básica na
dos professores engajados em ofertar o desenvolvimento EE Prof. Maria Paula Marcondes
integral qualificado aos seus educandos. Domingues.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
AQUINO, Gisele Braga de. RELAÇÃO ENTRE PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO
INFANTIL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA. Revista Científica da FAMINAS, v. 10, n. 3, 2014.

AQUINO, Mislene Ferreira Santos de et al. PSICOMOTRICIDADE COMO FERRAMENTA


DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Revista Brasileira de Futsal e Futebol,
Edição Especial: Pedagogia do Esporte, São Paulo, v.4, n.14, p.245-257. 2012.

FERNANDES, Jorge Manuel Gomes de Azevedo et al. PSICOMOTRICIDADE, JOGO E


CORPO-EM-RELAÇÃO: CONTRIBUIÇÕES PARA A INTERVENÇÃO. Cad. Bras. Ter. Ocup.,
São Carlos, v. 26, n. 3, p. 702-709, 2018.

GONÇALVES, Elaine Cristina e MANEIRA, Fabiele Muchinski. A IMPORTÂNCIA


DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL. XII Congresso Nacional de
Educação – EDUCERE, 2015. Disponível em: <https://educere.bruc.com.br/arqui vo/
pdf2015/15878_7339.pdf>. Acesso em: 09 jun. 2019.

ROSSI, Francieli Santos. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO


INFANTIL. Revista Vozes dos Vales: Publicações Acadêmicas, Minas Gerais, n. 1, ano I, 2012.

TASSI, Silvia Regina Candêo Fontanini. PSICOMOTRICIDADE: POR UMA INTERVENÇÃO


COM CRIANÇAS EM IDADE PRÉESCOLAR COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS
ESPECIAIS. Os Desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor, 2014.
Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/
producoes_pde/2014/2014_uel_edespecial_pdp_silvia_regina_candeo_fontanini.pdf>.
Acesso em: 06 jun. 2019.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O IMPACTO DAS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS


NO COTIDIANO ESCOLAR: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIAS EM ESCOLAS DA PREFEITURA
DE CAIEIRAS E DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
RESUMO: A língua humana que é viva e plural apresenta configurações diferenciadas em
função de seu alto grau de diversidade e variabilidade. As variações linguísticas, frutos
desse cenário, tendem a revelar marcas peculiares em função da origem geográfica, situação
socioeconômica, idade, gênero, étnia, cultura, nível de instrução, dentre outros. É assim,
por exemplo, que o português falado no Nordeste se difere muito do Português falado no
sudeste do país. Na prática, entretanto, as dificuldades de comunicação entre os falantes
de uma mesma língua materna podem ser marcadas por grandes conflitos. Este artigo
traz um relato de experiências embaraçosas e na maioria das situações conflitantes, onde se
busca mostrar várias situações do cotidiano escolar nas quais podemos observar variações
no modo de falar e cujas diferenças encontram-se apenas nas palavras que utilizamos.
Evidenciamos, desta forma, que cada variedade equivale a uma língua totalmente diferente
e, no entanto, todas elas são “Português” – não havendo portanto certo ou errado, apenas
variedades linguísticas. Sob essa ótica cabe a escola enquanto instituição voltadas para a
educação e a cultura valorizar as diversas variações linguísticas abandonando, com isso, o
“mito” da unidade do Português brasileiro.

Palavras-Chave: Variações Linguísticas; Experiências Docente; Cotidiano Escolar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO falantes de uma mesma língua materna


podem ser marcadas por grandes conflitos.
Conforme sabemos, vivemos em uma
sociedade complexa na qual encontram- Fiz esta constatação quando deixei minha
se imersos diferentes grupos sociais que terra natal Recife-PE para residir em São
apresentam características variadas em Paulo. Minha primeira experiência vexatória
função de seu contexto geográfico, histórico foi com o Benjamin... encontravámos nos
e sociocultural. Nessa perspectiva, a língua professores em momento formação quando
humana que é viva e plural também ganha repentinamente o diretor entrou na sala de
configurações diferenciadas em função desse estudo e solicitou que nós os ajudasse a
alto grau de diversidade e variabilidade. Sob procurar o Benjamin, pois ele havia sumido!
essa ótica, podemos afirmar que a nossa Prontamente me levantei e saí desesperada a
língua é caracterizada por uma verdadeira procura dele. Busquei encontrá-lo em lugares
diversidade linguística seja em função da estratégicos como parque e banheiro. No
grande extensão territorial do país; seja meu processo de busca indagava-me aflita:
pela fusão de matizes tão diferenciadas; ou “Por que os demais docentes teriam ignorado
ainda, pela trágica desigualdade social que o pedido do diretor para que encontrássemos
ainda hoje assola nossa realidade brasileira. Benjamin?”;“Por que não mobilizar toda a
escola à sua procura?”; As minhas perguntas
As variações linguísticas são, por certo, foram respondidas quando o diretor olhou
decorrentes desse processo e, nesse sentido, para baixo de uma mesinha do corredor da
podemos observar que a língua enquanto um escola e gritou: “Achei o Benjamin!” Naquele
sistema flexível, mutável e dinâmico pode instante, eu permaneci em choque. A todo
sofrer diversas modificações por seus falantes o momento estava eu a procurar por uma
que relevam marcas peculiares em função da criança que nunca existiu... Eles procuravam
região e o grupo social na qual se manifesta, apenas um objeto: o “T”! O riso foi geral
o que denominamos de dialetos. De acordo quando todos descobriram o motivo do
com Bagno (2004), as variedades linguísticas meu estado emocional frente a procura do
acontecem porque o princípio fundamental “Benjamin”.
da nossa língua é a comunicação/interação
e, portanto, é compreensível que seus Outras situações semelhantes vivenciei
falantes façam rearranjos de acordo com junto ao grupo de docentes quando, por
suas necessidades comunicativas. É assim exemplo, em meio a uma conversa entre as
que o português que é falado no Sul do Brasil professoras, uma delas revela ter chamado
é diferente do falado no Sudeste e este, em a atenção de uma funcionária pelo fato
contrapartida, se difere do português falado da mesma ter esquecido a cândida em sua
no Nordeste do país. Na prática, entretanto, sala de aula. O grupo de docentes que
as dificuldades de comunicação entre os estava presente sugeriu que a supervisão

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Revista Educar FCE - Abril 2019

récem-nascidos, gordos, magros, bem-nutridos,


fosse acionada para ficar a par do caso. famintos, raquíticos etc. Cada um desses “gatos”
Nesse momento, eu interrompi a conversa é uma variedade do português brasileiro, com
e tentando ponderar a situação, afirmei sua gramática especifíca, coerente, lógica e
funcional (p.32) .
que embora fosse preocupante o fato da
funcionária ter esquecido uma criança em
sala de aula, acreditava não ser necessária a Os conflitos cotidianos causados em
presença da supervisão na unidade escolar função das diferentes variações linguísticas
já que a direção havia tomado as medidas permearam também minha relação com os
cabivéis. Nesse momento, o clima de tensão alunos. A situação mais embaraçosa que já
deu espaço ao riso em coro, foi quando vivenciei remete a um momento rotineiro de
descobri que “água sanitária” (alvejante) café da manhã com as crianças. Assim, após
também tinha nome de gente “Cândida” servi-las com achocolatado e bisnaguinha
assim como o “Beijamim” e muitos outros um dos meus alunos direcionando a minha
objetos dos quais eu ainda provavelmente pessoa, pedi repetição: “Prô...quero mais
nem conhecia a existência. pão!” Porém antes de servi-lo novamente
busquei me certificar de que realmente
Reiteramos, desta forma, que a Língua desejaria repetição, pois havia percebido que
Portuguesa embora seja predominante em seu pão encontrava-se no chão do refeitório.
grande parte do Brasil, ela mantém um alto A criança rebate: “Esse pão do chão não é
grau de diversidade causado pela grandeza do meu!” Após servi-lá novamente observei que
nosso país e, portanto, está longe de manter ele pegou o pão e arremessou no chão. Frente
uma unidade pois um rol de fatores (origem ao ocorrido, o indago: “Por que você jogou o
geográfica, situação sócioeconômica, idade, pão no chão?” Ele responde imediatamente
etc.), concorrem para a fala específica de um aos gritos: “Porque eu quis. Quero outro
indíviduo o que no meu caso, em particular, pão!” Eu repondo que não lhe darei outro
dificultava o processo de comunicação com pão e a criança começa a gritar: “Me dá
os professores. Sob essa ótica, torna-se outro pão!” Inconformada com a situação eu
premente que a escola enquanto instituição rebato de forma imponente: “Eu não vou te
voltada para a educação e a cultura reconheça dá outro pão e pode pegar o pão do chão!” A
a variedades linguísticas como válidas criança resisti: “Não!” Eu decisivamente digo:
abandonando, assim o mito de que a Língua “Você vai apanhar agora!” (referindo-me ao
Portuguesa possa apresentar uma unidade pão do chão). Nesse exato momento, todas
linguística. Nessa linha de pensamento, as pessoas presentes no refeitório me olham
Bagno (2011) afirma: com um ar de incompreensão e meu aluno
começa a chorar desesperadamente. Uma
Na verdade, como costumo dizer, o que professora que estava ao meu lado cochicha
habitualmente chamamos de português é um
grande “balaio de gatos”, onde há gatos dos mais com um riso timído:“Ele pensa que você vai
variados tipos: machos, fêmeas, brancos, pretos, bater nele!”
malhados, grandes, pequenos, adultos, idosos,

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Além da situação descrita acima, não raras universo da língua portuguesa ao não aceitar
foram as situações embaraçosas que vivenciei que a norma tida como “padrão” seja uma das
junto aos meu grupo de alunos. A título de muitas variantes linguísticas e sim a única
ilustração, vale a pena mencionar as práticas variedade possível no uso do português. É
rotineiras do cotidiano diante das quais era verdade que precisamos conhecê-la e a
comum as crianças permanecerem atônitas escola encontra-se aí para nos ensinar e
quando eu socilitava que elas pusessem a orientar quanto ao uso da normal padrão.
lição no “birô” (mesa do professor); olhassem Sendo assim, nós professores, devemos
para o “quadro” (lousa da sala); pegassem o possibilitar aos alunos compreender a
papel de “ofício” (sulfite) distribuíssem a folha complexidade, as lógicas e as regras dos
de “pautado” (almaço); que fossem no armário fenômenos de cada variedade linguística em
pegar “brochinha” (grampo/percevejo). As seus aspectos sintáticos, fonéticos, lexicais
incompreensões prosseguiam quando eu e semânticos. No entanto, devemos sempre
lhes pedia uma “lapiseira” (apontador) e eles reconhecer que a língua portuguesa não varia
me davam uma espécie de “lápis”; ou ainda, só de país para país, mas também de região
quando eu solicitava um “grafite” (lápis) e para região, de um falante para o outro, ou
as crianças traziam um (refil da lapiseira). até mesmo da zona rural para a zona urbana,
Frente a tais incompreensões eles muitas conforme ilustração do seguimento abaixo:
vezes contestavam entre si: “A professora
pedi uma coisa e quando a gente Primeiro, no Brasil não se fala uma só língua.
Existem mais de duzentas línguas ainda faladas
vai dá, ela quer outra!” Alguns retrucavam: em diversos pontos do país pelos sobreviventes
“É que ela não sabe falar direito...fala das antigas nações indíginas. Além disso, muitas
tudo errado!” Em contrapartida, outros comunidades de imigrantes estrangeiros mântem
viva a língua de seus ancestrais: coreanos,
saiam em minha defesa e imediatamente japoneses, alemães, italianos etc. (BAGNO,
rebatiam: “É isso não! É que a professora 2004,p.18)
Gleice não é desse mundo não (São
Paulo), ela veio de outro mundo (Recife) Meu contanto inicial com os pais dos
pra cá! Por isso, que ela não sabe falar meus alunos também não se deu de forma
as palavras direito”. diferente. Quanto aos pais, a minha maior
surpresa foi quando fui chamada pela direção
Frente aos falas das crianças expostas, a da escola porque havia dito que uma aluna
anteriori, podemos dizer que cabe a escola estava “assanhada”. Na ocasião, indaguei de
desmtificar a tradição educacional de que imediato qual seria o problema em dizer a
existe uma língua que seja “una”, uniforme uma criança que voltava do recreio que ela
e homogênia. Ou seja, de que existe uma deveria ajeitar seu cabelo por encontrar-
unicidade linguística no Brasil e cuja ideia se “assanhada”? (cabelo “bagunçado”).
surge, conforme sabemos, apenas para negar A questão é que dizer que alguém está
a existência de uma pluralidade dentro do “assanhada”, conforme a compreeensão

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revelada pela mãe até aquele momento e gestores, alunos, pais, etc.). Devo confessar
de acordo com uma das definições trazida que já sentia um certo incômodo no dia a
pelo dicionário Houaiss (2012), é sugerir dia quando apenas conhecia o “depósito”
que alguém “porta-se revelando excitação, (recipiente para alimentos) e não o
às vezes sem compostura ou comedimento” “tupperware”; quando ouvia alguém chamar
(p.73). Apesar de afirmar ter compreendido uma criança de “moleque” que para mim
naquele contexto o uso do termo “assanhada”, soava como um desprestígio já que no meu
a mãe de minha aluna deixou evidente entender moleque era sinônimo de “menino
em sua fala sua insatisfação; bem como seu de rua”, “trombadinha”, “maloqueiro”.
preconceito ao pedir que eu aprendesse a Ou ainda, quando eu me sentia um
falar “certo”, “direito” – referindo-se a forma extraterrestre no supermercado à procura
habitual do falar da região a qual ela pertence de mantimentos, tais como: “charque” (carne
– região sudeste. Vê-se assim que: seca); “macaxeira” (mandiaca); “jerimum”
(abóbora)”; “pinha” (fruta do conde); “bolo
Cada um de nós, professor ou não, precisa elevar de rolo” (rocambole); “mandioca” (aipim). Não
o grau da própria autoestima linguística: recusar
com veemência os velhos argumentos que diferente era quando eu pedia um “confeito”
visem menosprezar o saber linguístico individual ou um “tabu” (picolé no saco).
de cada um de nós. Temos de nos impor como
falantes competentes de nossa línhua materna.
Parar de acreditar que “brasileiro não sabe O sentimento de embaraço acompanha
português”, que “português é muito difícil”, que também minha vida amorosa. Meu marido,
os habitantes da zona rural ou das classes sociais que há oito anos atrás era meu namorado, não
mais baixas “falam tudo errado.” Acionar nosso
senso crítico toda vez que nos depararmos com suportando a dificuldade de comunicação,
um comando paragramatical e saber filtrar as decidiu-se por comprar um dicionário no
informações realmente úteis, deixando de lado intuito de ajudá-lo a lidar com os nossos
(e denunciando, de preferência) as afirmações
preconceituosas, autoritárias e intolerantes desentedimentos linguísticos. Foi o que
(BAGNO, p.140, 2011). aconteceu em certa ocasião, quando após
o término da organização de um evento e
Se a princípio a minha preocupação antes do início do mesmo, ele pedi que eu lhe
em residir em São Paulo era voltada traga uma camiseta limpa, pois encontrava-
exclusivamente com a adaptação do clima se suado e não havia tempo hábil de voltar
já que eu conhecia a cidade de São Paulo em casa. Eu prontamente dirijo-me a sua
como “A TERRA DA GAROA”; logo descobri casa e solicito a minha sogra: “(...) O Osmar
que isto não se caracterizaria como um pediu para eu pegar uma blusa para ele!” Ela
problema, mas que ele surgiria mais tarde, indaga: “Uma blusa?” Eu confirmo: “Sim, uma
sobretudo, quando iniciei minha carreira blusa!” Lá chegando, percebo a ansiedade
docente e comecei a vivenciar situações do meu namorado em se trocar, pois o suor
embaraçosas ao me comunicar e intergir lhe escorria pelo rosto. Ao abrir a sacola ele
com a comunidade escolar (professores, dispara bravo: “Não acredito nisso!” Você

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Revista Educar FCE - Abril 2019

trouxe uma blusa nesse calor? Eu pedi uma camiseta! Foi nesse momento que descobri que
“blusa” era uma espécie de vestimenta para o frio e que “camiseta” não era sinônimo de
“regata”, conforme imaginava. Os contantes desentendimentos se sucedem até hoje igual
quando perdemos o ônibus na madrugada em meio a uma discussão se o cobrador “trocaria”
ou “destrocaria” o dinheiro, mas isso já faz parte de outra história....

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das questões expostas, podemos afirmar que
as variações linguísticas, fruto das diferentes formas de
falar, podem ser decorrentes das variedades geográficas,
de gênero, socioecônomicas, etárias, urbanas, rurais,
culturais, idade, de nível de instrução, entre outros fatores.
Essa compreensão é de fundamental importância porque
ela significa que não há uma única forma de se expressar.
Existem inúmeras, e a que costuma ser considerada “correta”
é apenas uma das variantes linguísticas, qual seja: a variante GLEICE KELLY DE
padrão. No entanto, isso não significa que uma pessoa que SOUZA GUERRA
a desconheça fale errado, apenas fala diferente. Nessa
Gradução em Pedagogia
perpectiva, é importante que saibamos reconhecer que falar pela Universidade Federal de
diferente não significa falar errado; e que devemos sempre Pernambuco (2006); Mestre
respeitar a bagagem social e cultural que é reconhecida em Educação também pela
Universidade Federal de
através do “falar” de uma pessoa de modo que a língua não Pernambuco (2009); Porfessora
seja concebida como uma ferramenta de exclusão social, de Educação Infantil e Ensino
frente a qual os falantes urbanos mais letrados comumente Fundamental I pela Prefeitura
Municipal de Ensino de Caieiras
manifestam seu repúdio por meio de chacotas e de (2010 a 2012); e professora de
escárnios. Educação Infantil (2013 a 2017)
e de Educação Infantil e Ensino
Fundamental I (2015 a 2017) pela
É válido pontuar, entretanto, que apesar de muitas vezes também Prefeitura Municipal do
termos clareza teórica quanto a discussão que abarca a Ensino de São Paulo - PMSP.
mitologia do “Preconceito Linguístico” e que a superação Atualmente é Diretora de Escola
no CEU CEI Perus na rede
desses preconceitos é resultado de um trabalho lento, Municipal de Ensino de São Paulo
contínuo e profunda concientização, em muitas situações (2018 a 2019).
conflitantes e embaraçosas nas quais me encontrei foi
recorrente, à priori, me deparar com um sentimento de “inferioridade” de não pertencimento
ao grupo social no qual eu me encontrava inserida. Diante dessa situação, posso afirmar
que talvez esse tenha sido o sentimento mais aterrorizante que marcou negativamente,
sobretudo, minha carreria docente, pois eu apenas não estava me incomodando com o
preconceito que as pessoas estavam exercendo sobre mim; mas, sim punindo a me mesma
por na maioria das vezes não se encaixar nos padrões pré-estabelecidos socialmente.

Nesses momentos de dificuldades e embaraços, eu sempre buscava realizar leituras


referentes a temática e focava na ideia de que o preconceito linguístico é um verdadeiro
círculo vicioso o qual se fortalece diariamente e continua se perpetuando mundo afora,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

apesar das mudanças decorrentes das politícas oficiais de ensino, por exemplo. E, apesar
dos avanços no âmbito educacional, ainda hoje continua sendo um consenso entre muitas
pessoas de que “português é uma língua extremamente difícil”, ou que “nem todo mundo
sabe falar português corretamente”, ou ainda, que “a língua que falamos é toda errada”. A
verdade é que a variação linguística é contitutiva das línguas humanas e ela sempre
existiu e sempre existirá, independente de qualquer ação normativa que possa
existir. Assim sendo, nos resta o reconhecimento e a valorização da diversidade
cultural brasileira.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália – Novela Sociolinguística. 13ª Edição. São Paulo,
Editora: contexto, 2004;

BAGNO; Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 54ª edição. São Paulo,
Editora: Loyola, 2011.

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; e FRANCO, Francisco Manoel de Mello.


Minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 4ª edição. Rio de Janeiro, Editora: Objetiva,
2010.

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A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS


COOPERATIVOS NO
CONTEXTO ESCOLAR
RESUMO: Podemos perceber nos dias atuais uma grande inversão de valores que acabam
comprometendo a sociedade, a educação, a política e a economia da população. A tentativa
de sempre obter sucesso e o empenho para se manter um status acarretam em sentimentos de
individualidade e estimula a competição. As redes sociais, atualmente, estão sempre focando
em pessoas vencedoras, bem sucedidas, enfim valorizando a competição e desprezando a
cooperação. Este artigo tem como objetivo discorrer sobre a inserção dos jogos cooperativos
e a sua articulação no contexto escolar, bem como o desenvolvimento e autonomia do
indivíduo. É ressaltado também que os jogos cooperativos podem ser considerados como
uma ferramenta pedagógica que resgata os valores humanos e contribui na construção de
uma sociedade melhor, a qual as pessoas podem enxergar o outro como um companheiro,
ao invés de vê-lo como adversário.

Palavras-Chave: Jogos cooperativos. Interação social. Prática pedagógica.

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INTRODUÇÃO esta proposta, pois contribui para motivar,


trazer alegria, participação, respeito, união,
Atualmente vivemos em tempos que cooperação, criatividade, condições de
se propagam tanta violência, passamos envolvimento de empatia, tais características
por um período de eleição recentemente, promovem uma escola mais democrática e
ao qual houve muitas discussões de com cidadania.
políticos que defendiam o porte de arma,
e consequentemente difundia ideias O objetivo deste artigo é demonstrar
de violência, e que promovia muitas a importância de inserir no contexto
discussões sobre preconceitos, agressão e escolar jogos cooperativos como forma de
discriminação. As mídias, em âmbito geral, socialização. E os objetivos específicos são
estão sempre propagando noticias sobre discorrer sobre o caráter pedagógico do jogo,
sequestros, ataques terroristas, feminicídios, conceituar jogos cooperativos, diferenciar
infanticídios, enfim transformas estas jogos cooperativos e jogos competitivos,
relações sociais em convivência de respeito refletir sobre a contribuição social que os
e solidariedade é um desafio de todos os jogos cooperativos propiciam aos educandos.
cidadãos. E a escola tem um papel essencial
neste processo de promover uma cultura de Além de todos estes benefícios de cunho
paz e a socialização das crianças, precisam social e amistoso, o trabalho também
se comprometer em alcançar um amplo versará sobre as contribuições no físico do
aspecto para que se concretize o processo de educando em relação à estruturação espacial,
Ensino-aprendizagem, que não se abstenha autonomia do corpo em relação ao meio, o
apenas no conhecimento científico, mas que desenvolvimento das habilidades motoras,
promova um prospecto do educando integral, o cooperativismo, a vivência de trabalhar
que seja autônomo, íntegro, solidário, que em grupo e das capacidades físicas, para
tenha ética, cultura e valorize a democracia. que o educando compreenda o exercício da
Mas para tanto, a escola precisa refletir convivência e da cooperação podendo gerar
sobre as atuais concepções pedagógicas, um mundo melhor, menos competitivo e
principalmente aquelas que promovem mais cooperativo.
relações de preconceito, discriminação,
competição e individualidade.
O CARÁTER PEDAGÓGICO
Desta forma, a escola precisa resgatar DO JOGO
os valores que visam socializar e privilegiar
atitudes coletivas em detrimento de O jogo é uma atividade mais utilizada
individuais, que visem garantir a solidariedade no cotidiano, principalmente no contexto
e o respeito humano, assim a inserção de escolar. A espontaneidade que ele provoca
jogos cooperativos completa com excelência entre as crianças proporciona uma maior

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Revista Educar FCE - Abril 2019

motivação nas práticas pedagógicas, além de Em suma, a intencionalidade do jogo


integrar e a socializar os envolvidos. Ainda educativo é alcançar a estabilidade entre os
que seja um importante recurso nas práticas dois papéis, de outra forma, se acontecer
pedagógicas, ao passar dos anos o seu uso desequilíbrio e houver apenas jogo e não
vem diminuindo paulatinamente em muitas estudo, a importância lúdica predomina e
escolas, em razão à utilização de maneira se perde o significado metodológico. Ou se
incorreta, causando segregação e violência função lúdica for eliminada, quem sobressai
entre os alunos. é o papel educativo, restando apenas ensino.

KISHIMOTO (1999) comprova esta


concepção e reafirma que seu uso implica EXPLICITANDO OS JOGOS
na renovação de novas metodologias e COOPERATIVOS
solução para os problemas pedagógicos
que os professores possam encontrar pelo Os jogos cooperativos tiveram origem há
percurso. Ele reafirma que o contexto político milhares de anos atrás em algumas tribos
e educacional que oscila também podem indígenas, quando alguns nativos uniam-se
provocar diversas mudanças nestas práticas. para celebração da vida, cooperativamente,
Ainda sobre a importância da inserção de através de jogos, danças e rituais. Nas
jogos no contexto escolar, FRIEDMANN, comunidades indígenas não se mencionava
discorre que: competição, toda a estrutura era mantida
com a colaboração e participação de todos e
O jogo tem sido propósito, inclusive ultimamente, o trabalho e produção de bens era coletivo.
de estudos. A relevância do jogo na evolução
da criança é um assunto essencial no currículo A competição teve início com a distribuição
da Educação Infantil. Os professores deste das riquezas, quando a luta para se ter o
segmento devem levar em consideração que poder torna-se presente na sociedade.
dispor de um espaço é fundamental, tanto
físico quanto temporal, para inserir o jogo.
(FRIEDMANN 1992, p. 33) Eles possuem uma característica
alternativa, na qual prestigia o esforço
O jogo deve ser considerado como coletivo para se atingir um objetivo comum
atividade social específica e fundamental e não para finalidades exclusivas. Sendo
para garantia de vivências e construção de eles, reconhecidos como um processo, os
conhecimentos da realidade pelas crianças. educandos compreendem o reconhecimento
E, por isso, a brincadeira tem assegurado um da própria capacidade e a expressá-la
papel educativo importante, pois permite às de forma espontânea e criativa. O jogo
crianças o desenvolvimento e conhecimento cooperativo leva em consideração o outro
do mundo na e pela escola – através das como um parceiro, um solidário, em vez
trocas sociais que nela desenvolvem entre de tê-lo como adversário, trabalhando
pais, crianças, professores. para objetivos mútuos e priorizando a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

integridade de todos. Implicando que nos aos participantes vivenciarem a cooperação


jogos e esportes, bem como na vida, existem como uma alternativa que pode ser possível e
possibilidades para jogar além de competir. que favorece o estabelecimento de relações
sociais saudáveis.
Além do mais, as regras são flexíveis,
e os participantes podem contribuir para Por conseguinte, os jogos cooperativos
mudar o jogo, pois libertam da agressão tiveram início na preocupação de acabar
física e de qualquer sentimento de rejeição com o individualismo e supervalorização da
é descartado, pois o desejo de se envolver, competição na cultura moderna, o jogo pode
de pertencimento a um grupo é muito maior, ser uma alternativa que estimula o encontro
pois são compostos por uma proposta eu e a cooperação
envolve atitudes que permitem o respeito,
a valorização e a segurança de todos, como
também o reconhecimento do limite de OS PRINCÍPIOS E AS
cada um. O princípio mais importante nos CARACTERÍSTICAS DOS
jogos cooperativos é a prática, ao qual cada
sujeito pode ofertar o que existe de melhor JOGOS COOPERATIVOS
em sua individualidade, o saber conviver em Os Jogos Cooperativos possuem como
conjunto, a colaboração com os envolvidos princípios o interesse para compartilhar, a
em seu grupo. O essencial não é ganhar ou união pessoas, o estímulo da coragem para
perder, e sim a participação e a colaboração reconhecer os riscos, sem se preocupar com
com seu próximo. o fracasso e sucesso, reforçar a confiança em
si mesmo e nos outros, além de possibilitar
O autor Orlick define os jogos cooperativos, que todos participem de forma autêntica,
como: quando ganhar ou perder são apenas
referências para o contínuo aperfeiçoamento
[...] são exatamente como um exercício físico pessoal e coletivo
basicamente fundamentado na cooperação,
no assentimento, no comprometimento e
na distração, tendo como intencionalidade Brotto (1999), destaca algumas
a mudança das características que excluem características intrínsecas dos jogos
que são rigorosas e agressivas e competitivas,
que predominam na sociedade e nos jogos cooperativos como: os partícipes jogam aliados
tradicionais, os jogos cooperativos visam com os pares e não em oposição aos outros,
criar possibilidades para o desenvolvimento e o jogo privilegia o prazer da participação, e a
interação cooperativos. (ORLICK 1989, p. 5),
finalidade de superação de desafios e não o
intuito de vencer o outro, o trabalho em equipe
Já Para Soler (2006), os Jogos Cooperativos é fundamental, alcançar os objetivos comuns e
integram nas dinâmicas de grupo o despertar não finalidades exclusivas e extingue qualquer
da consciência de cooperação, possibilitando comparação de habilidades.

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Baseado na concepção de Orlick torna impossível a manipulação, amplia


(1989), os jogos cooperativos possuem as a transparência, tornando impraticável o
seguintes características: controle, o patrulhamento. Esta possibilidade
traz a um convívio social mais humano,
Os jogos semi-cooperativos: é um tipo concernente ao âmago humano e não mais
de jogo que proporciona uma outra visão como jogos com objetivos de competir, cujas
acerca da competição, pois inclui elementos intencionalidades individuais sobressaem às
de cooperação em meio a uma concepção comuns, ocasionando disputas que enfatiza
competitiva, mas que no final contempla a o individualismo.
ajuda mútua e o trabalho em grupo.

Os jogos de resultado coletivo: este DIFERENÇAS ENTRE JOGOS
envolve constituição de duas ou mais COOPERATIVOS E JOGOS
equipes que possuem o objetivo único de
favorecer o trabalho de parceria entre as COMPETITIVOS
equipes e em seu interior. A cooperação e a competição são
intrínsecas em nosso convívio diário. O
Os jogos sem perdedores: têm o único incentivo aos jogos cooperativos implica em
intuito de superar desafios e sentir o promover as opções de participação. Desde
prazer da participação, pois os resultados o nascimento, o ser humano passa por
são compartilhados, mudando de vez o situações que só lhes oferecem uma opção:
paradigma de competição, da gana de ser Competir, vencer alguém ou ganhar alguma
superior ao outro. coisa. A objeção da competição, em nossa
cultura considerada civilizada, não é apenas
Os jogos de inversão: possibilitam estabelecimento e reforço de uma relação de
a inversão de papeis, pois simulam dominação entre ganhadores e perdedores,
experiências de troca, o despertar da mas também a tentativa de justificativa e
consciência de interdependência, respeito, banalização dessa relação. (AMARAL, 2007)
empatia, valorização das parcerias de jogo
sem estimular a preocupação em resultados Estabelecendo diferenças ente a
individuais. competição e a cooperação, pode ser
constatado que o objetivo num jogo
Dentre estas características é necessário cooperativo passa a ser uma consequência
ressaltar a importância de favorecer e de todos os envolvidos e também atender a
assegurar as condições suficientes para que solicitação de todos, enquanto na competição
a cooperação exista, propondo desafios esta consequência é incompatível, pois sua
compatíveis com cada pessoa e grupo. Além intenção é o controle sem se preocupar
disso, o empoderamento de pessoas e grupos com as solicitações dos outros. Em relação

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Revista Educar FCE - Abril 2019

à participação, pode-se perceber que em cooperação em detrimento da competição,


um ambiente competitivo a tendência de considerando que os comportamentos
não ter homogeneidade é maior, pois as competitivos fazem parte de uma sociedade
participações e contribuições são limitadas, agressiva e, ao contrário, à cooperação
não visando à qualidade em suas produções, compreende ao protótipo de uma sociedade
atitudes contrária na cooperação que igualitária.
estimula homogeneidade de contribuições e
participações. Entretanto, a competição, quando
utilizada em excesso, desvaloriza a
Cooperar e competir podem possuir autoestima e intensifica o medo de fracassar,
características comuns, não devem ser desestimulando as capacidades pessoais e o
compreendidas como atitudes sociais desenvolvimento da criança, pois promove a
estagnadas. Até porque em diversas comparação entre as pessoas e a exclusão,
situações de competição são verificadas baseada em critérios obstrusos. Um ambiente
demonstrações de cooperação assim competitivo amplia o stress e a frustração,
como em atitudes cooperativas existam podendo ocasionar comportamentos
características competitivas (BROTTO, agressivos (MATTOS, 2010).
1999).
É importante considerar que a
Quando se pensa em jogo competitivo, competição nunca deixará de existir, mas
logo repercute ideais que buscam pelo os jogos cooperativos contribuem como
primeiro lugar, a vontade enorme da busca ferramentas importantes na formação do
de resultados suficientes, o que torna cidadão, pois além de não competirem por
análogo ao esporte competitivo. Os jogos qualquer circusntância, esses jogos ajudam a
cooperativos, por sua vez, são impulsionados desenvolver o respeito e a união entre todos.
à disposição de probabilidade de mudança Quando se joga de forma conjunta, com o
de posturas e de temáticas pertinentes intuito de auxiliar, passa-se a viver melhor
aos valores preconizados atualmente. em sociedade.
Nesse ínterim “ a palavra competição estão
articulados a acepções de luta, disputa,
rivalidade, enquanto que a cooperação traz OS JOGOS COOPERATIVOS
consigo significados de comum, colaboração, E A CONTRIBUIÇÃO NA
ajuda, auxílio, compartilhar algo” (BLANCO,
2007, p. 64). INTERAÇÃO SOCIAL
O comprometimento social é um fator
Os participantes de jogos cooperativos de muita importância em todas as esferas
anseiam possibilidades que ajam com da vida. Em especial, no que concerne ao
transformações e priorizam os valores da educando a evolução de sua aprendizagem,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

o elemento qualitativo do relacionamento interpessoal é fundamental para o sucesso ou o


fracasso de sua compreensão no contexto escolar.

Neste sentido, os jogos cooperativos contribuem na interação social do educando, pois o
mesmo passa a aceitar as diferenças e o reconhecimento do outro, passa a aceitar e tolerar o
amigo e acreditar em si próprio. O jogar é fundamental para que o educando possa expressar
sua criatividade e utilizar suas potencialidades, através do jogo se expressa o que realmente
somos e ou que gostaríamos de ser.

Além do mais, eles trazem propostas para a diminuição da agressividade dos sujeitos,
buscando a promoção de atitudes solidárias, sensíveis à cooperação, dialogicidade e
deleite. Dessa forma é compreendido que tais atitudes implicam diretamente no processo
educativo apontando a resolução de problemas de forma tranquila, benéfica e ética.
Evitando a competição e preferindo alcançar um mesmo e específico objetivo, respeitando
suas diversidades. Neste tipo de jogo todos participam, com a intencionalidade de manter
a segurança da equipe, considerando ou não suas habilidades ou capacidades (SCALON,
2004).

Segundo Soler (2006, p. 36), a competição e a cooperação são valores e atitudes


socioculturais, e são comportamentos orientados e assimilados por meio das relações
sociais, assim sendo através dos jogos e situações cooperativas a criança aprende a respeitar
e aceitar o seu colega, e relacionar com o próximo, pois quando se joga cooperativamente
todo o indivíduo se entregam e se respeitam totalmente, principalmente aquela criança que
se sentia excluída, ou como um alguém que atrapalhava o grupo dentro das atividades,
passa a se sentir incluída e como um alguém que está ajudando de alguma forma com sua
habilidade.

Os jogos cooperativos costumam ser divertidos para todos, não existe o fracasso e o
sucesso, todos os jogadores participam de sentimento de vitória, o indivíduo aprende a
respeitar os sentimentos dos outros, e o desejo de a sua vitória, pois se acredita que todos
fazem parte de uma única equipe e o sucesso de um será o sucesso de todos. Desenvolvem
a autoconfiança e a integração do grupo, e dentro do jogo todos encontram o caminho para
crescer e desenvolver.

E preciso um mundo mais humano, onde se é necessário promover a cooperação de todos,
onde o desafio é a superação coletiva, para conseguir superar os obstáculos é preciso à
colaboração de todos e a habilidade de cada um.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode ser constatado neste artigo que inexiste a exclusão
quando se joga cooperativamente, pois a parceria se torna
solidária, valoriza a diferença, desenvolve a empatia e a
capacidade de operar para interesses coletivos, priorizando
a integridade de todos. Servindo, portanto, uma importante
ferramenta para transformar hábitos e minimizar resistências
às mudanças.

É preciso entender os jogos cooperativos como um exercício
de oposição à competição, à dominação, às injustiças e às
desigualdades nas relações sociais a que as pessoas estão HELEN DE ARRUDA
submetidas na sociedade considerada civilizada.
Graduação em Pedagogia pela
Faculdade Camilo Castelo
O jogo tem o grande poder de abrir novas portas, permite Branco (2009); Especialista em
a quem joga entrar em contato com um novo mundo, sendo Educação de Jovens e Adultos
pela Faculdade Campos Elíseos
extremamente importante na formação do comportamento. (2018); Professor de Educação
Podemos também, por meio do jogo, construir uma sociedade Infantil - na EMEI Marechal
mais humana, cooperativa e pacífica ou, ao contrário, tornar Osvaldo Cordeiro.

essa mesma sociedade extremamente competitiva, violenta


e desumana.

Através do jogo, podem-se atingir diversos objetivos


educacionais, de forma prazerosa e divertida, mas é
importante ir além das regras e táticas; é preciso reforçar
entre os participantes a compreensão daquilo que está sendo
praticado. Aristóteles sugeria a utilização de jogos simbólicos
na educação das crianças, imitando a vida adulta como forma de preparo para a vida futura.

Por isso conclui-se que os Jogos Cooperativos desenvolvem o ser humano como um todo
e auxilia no processo de valorização do homem enquanto agente de transformação social
que para transformar o outro precisa se transformar, a partir da mudança de sua própria
vida. Transformar é acreditar que eu e todas as outras pessoas estamos construindo nossa
história, para que, no final de cada capítulo, nós possamos olhar para trás e rever o que já foi
construído, renovar forças e não ter medo do novo para continuar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
AMARAL, Jader Denicol do. Jogos Cooperativos. São Paulo: Phorte, 2007.

BLANCO, M. R. Jogos Cooperativos e educação infantil: limites e possibilidades. 2007.


Dissertação (Mestrado em Educação Física). Faculdade de Educação, Universidade Estadual
de São Paulo, São Paulo, 2007.

BROTTO, F.O. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência:


Dissertação de mestrado – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação
Física - Campinas, SP: 1999.

FRIEDMANN, Adriana. Brincar: crescer e aprender – o resgate do jogo infantil. São Paulo:
Moderna, 1992.

KISHIMOTO, T. M. O. Jogos infantis: o jogo, a criança e a educação. 6. Ed. Petrópolis: Vozes,


1993.

MATTOS, G. J. S. JOGOS Cooperativos Na Educação Física Escolar. Trabalho de conclusão


de curso de Licenciatura em Educação Física Universidade do Estado de Santa Catarina,
2010.

ORLICK, T.. Vencendo a competição. São Paulo: Círculo do livro, 1989.

SCALON, Roberto Mário. A psicologia do esporte a criança. Editora Edipucrs. 2004,

SOLER, R.. Brincando e aprendendo com os jogos cooperativos. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.

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ARTE E INFÂNCIA: ONDE ELAS SE


ENCONTRAM, QUAIS BENEFÍCIOS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo ressaltar a importância da Arte na Infância
evidenciando como é possível perceber a sua presença em várias situações e espaços. Procura
refletir sobre o encontro entre elas e a forma com que a criação emergente desse encontro
contribui para o desenvolvimento dos educandos e promove a interligação das diversas áreas
do conhecimento na educação infantil. Os dados da pesquisa foram coletados e analisados
por meio de uma abordagem metodológica e qualitativa, através dos referenciais de alguns
autores que elucidaram o conteúdo abordado de maneira bastante significativa valorizando
momentos e ambientes, assim como materiais diversos e experiencias que venham a favorecer
o desenvolvimento da sensibilidade e da percepção estéticas. Buscando através do ensino
da arte na educação infantil permitir que as crianças possam ler e interpretar, do seu modo,
o mundo que as rodeia, e assim, se transformarem e o transformarem simultaneamente.
Nesse universo escolar, ainda se faz necessário refletir o papel do educador. Ele deve, assim
como os seus alunos, ser um pesquisador e criador, indagando sobre o mundo e os assuntos
estudados – antes e com os alunos – orientando e conduzindo suas descobertas e apoiando
suas conclusões.

Palavras-Chave: Desenvolvimento do Indivíduo; Psicomotricidade; Educação Psicomotora.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Cada criança possui uma maneira de se


expressar. Uma rabisca porque tem muita
As crianças são sinestésicas, ou seja, energia e uma expressão mais contundente,
todos os seus sentidos estão atentos a cada enquanto outra, realiza um desenho
momento e são chamadas por aquilo que lhes delicado, utilizando a pontinha do lápis. E,
interessa, que de fato lhes provoca curiosidade em muitos momentos, não é possível olhar
e consequentemente movimento. Assim para isso, para tantas expressões, por isso é
como os artistas contemporâneos, elas não importante que o professor esteja atento as
estão preocupadas com as fronteiras entre as diferentes formas de expressões e interprete
linguagens. O que permite pensar que a Arte, as necessidades de cada criança.
como todas as outras áreas, permeia o dia a dia da
criança e que esta, do mesmo modo que o artista Essas interpretações se transformam em
contemporâneo, tem uma atenção ampliada e ações que oferecem ferramentas necessárias
pode perceber várias situações ao mesmo tempo. para que as crianças atuem no mundo, e a
arte é uma dessas ferramentas.
É preciso reconhecer que as crianças
pensam de uma maneira peculiar que precisa Com base nessas reflexões, a presente
ser considerada nas condições que se pesquisa busca evidenciar, assim como
oferece a elas na educação infantil. Quanto propõe a autora Stela Barbieri, que o acesso
mais disposição para a escuta e abertura, às várias linguagens artísticas na escola
propondo situações onde elas sejam propicia a expressão singular de cada um, ao
protagonistas, tanto mais é possível contar mesmo tempo em que exercita a participação
com o envolvimento e a alegria de cada uma coletiva. É uma experiência próxima à do
delas. O papel do professor então é o de cidadão que, guardando sua singularidade,
ajudar a criança a realizar suas ideias, pois participa ativamente da vida da comunidade
assim como os artistas contemporâneos elas a que pertence. E, que, segundo a mesma
sabem o que querem e têm necessidades autora, no universo escolar existem questões
poéticas, premências e urgências. de tempo, espaço, estrutura, mas que, sim, é
possível inovar com parcerias dentro de uma
Em seus trabalhos de arte as crianças instituição, de um sistema. É importante
trazem questões de suas vidas e ao desenvolver parcerias entre todas as
desenharem e pintarem contam histórias pessoas que estão na escola, pois todos são
misturando super-herói com pai, com vizinho. educadores e ensinam à sua maneira sobre
E é neste momento que a escola pode ser um como estar no mundo. E, ainda, que a arte
espaço para que a criança possa construir e é a singularidade da experiência e a cultura
reconstruir o mundo, possa falar sobre a vida é a experiência compartilhada, ambas se
e se expressar sentindo-se pertencente a construindo, bebendo das experiências
sua comunidade ampliando seus horizontes. singulares e criando experiências coletivas.

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A arte pode ajudar neste sentido, nos fazendo


Espera-se que a pesquisa possa responder olhar a realidade de outras formas. (BARBIERI,
ou trazer para reflexão a problematização de 2012, p.33)
onde a Arte e a Infância se encontram e quais
seus benefícios para a criança nesta fase. Para que o trabalho com as crianças seja
vigoroso, segundo a autora, é necessário
A pesquisa será feita por meio de uma manter viva a nossa curiosidade, como fazem
abordagem qualitativa, e terá como principal os viajantes.
teórica BARBIERI, Stela e alguns teóricos
que abordam o assunto. De acordo com LÉVIS-STRAUSS (2004),
o viajante constitui sua identidade com as
vivências que se acrescentam ao longo de
CONCEITUANDO sua trajetória, ao final da qual ele mesmo
EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS, será também outro. As experiencias vividas
são também experiências de deslocamento.
IMAGINAÇÃO E PROCESSO
DE CRIAÇÃO Portanto quem age como um viajante possui
uma experiência estética a cada instante e
É importante ressaltar que, quem vive na isso é muito natural para as crianças. Fazem
contemporaneidade está constantemente parte da experiência estética: cheiros, gostos,
em movimento. BARBIERI (2012) destaca sons, temperaturas, texturas e imagens. Se
que a atenção das pessoas está dividida todos têm experiências estéticas desde que
entre muitos assuntos que as requisitam nascem, que se criam ao se relacionarem
o tempo todo, lidam com várias coisas ao com o pensamento e com a percepção, tudo
mesmo tempo embora as realizem uma por que vivem e passam vai contribuindo para
vez, ficam sobrecarregadas e nem percebem esse manancial de possibilidades que são.
o tempo escapar por suas mãos. Seria o que Walter Benjamin concluiu, em
cada gesto está contida toda nossa biografia
São obrigadas a mudar de assunto (2009).
constantemente e no cotidiano vivem uma
infinidade de situações com experiências Ao chegar à escola a criança já traz
passageiras e outras marcantes que consigo um universo de experiências, cabe
contribuem para fazer delas o que são. ao educador criar possibilidades para que as
O mesmo ocorre com as crianças, por experiências estéticas sejam ricas e não se
isso é importante propiciar experiências transformem em uma equação pronta que
significativas e olhar o que a criança traz de acaba por empobrecer o universo da criança.
sua casa, suas vivências e assim enriquecer
o trabalho de aquisição de conhecimentos Se tudo que foi criado pelo homem foi
significativos. imaginado primeiro e que a imaginação e a

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memória, segundo Aristóteles, alimentam-se ONDE MESMO A ARTE E A


mutualmente, trazendo um novo conjunto de INFÂNCIA SE ENCONTRAM
relações entre o vivido e o imaginado, cabe
ao educador o papel de um artista porque lida Ao permitir que a criança tenha acesso à
com a possibilidade de criar novos sentidos, diversos tipos de materiais para manipulação,
tanto para os conteúdos curriculares, quanto assim como à arte espontânea, livre ou
à percepção e à informação por parte dos dirigida, a educação infantil, com suas
alunos. atividades artísticas, permite através dessas
oportunidades o desenvolvimento pessoal e
Informação sem imaginação não cria sentido e social do aluno.
tem pouca utilidade em nossas vidas. (BARBIERI,
2012, p.41)
Segundo o Referencial Curricular Nacional
Nessa reflexão não existe um encontro da Educação Infantil (RCNEI):
entre o professor e o aluno, e sim um entrave
no aprendizado. Para a autora, o professor A integração entre os aspectos sensíveis,
afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos, assim
deve imaginar e preparar suas aulas com como a promoção de interação e comunicação
intencionalidade e cuidado, possibilitando social, conferem caráter significativo às artes
que ele seja inventor de encontros, e esteja visuais. Tal como a música, as Artes visuais
são linguagens e, portanto, uma das formas
envolvido no que está vivendo. importantes de expressão e comunicação
humanas, o que, por si só, justifica sua presença
Com relação ao processo de criação, estes no contexto da educação, de um modo geral, e
na educação infantil, particularmente (p. 85).
podem ser individuais ou coletivos. Os sujeitos
criam regras e estratégias para que o processo
se desenvolva, mesmo de maneira intuitiva. Desse modo, é possível relacionar a
Escolhem materiais e circunstâncias ou diante mente da criança à de um artista, pois ambos
de circunstâncias dadas resolvem o que farão. percebem as coisas a sua volta de uma
maneira especial e diferente, uma vez que
Com as crianças, assim como com as apresentam uma percepção sensível e dão
obras dos artistas, é possível o surgimento novos significados aos elementos do mundo
de trocas de percepções, ideias, informações a que pertencem. Apresentam um universo
e conhecimentos. Como comenta, em sua de imaginação e do faz de conta, fantasiam
obra, BARBIERI (2012), “são verdadeiros tudo com facilidade.
momentos de experiências que podem ser
compartilhadas”. O lúdico, o teatro, a dança, a pintura, o
desenho, a criatividade, o conto de fadas,
O ensino da arte na educação infantil fazem parte de um momento em que
possibilita que as crianças realizem seus as crianças se expressam, comunicam e
processos de criação desde cedo. transformam a vida na relação com a arte,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ou seja, “somos potencialmente criadores, O AMBIENTE COMO UM


possuímos linguagens, fazemos cultura” “TERCEIRO EDUCADOR”
(PIRES, 2009, p. 47).
Segundo GANDINI (1999), o ambiente
Portanto, a educação deve privilegiar a é visto como algo que educa a criança; na
liberdade de manifestação das crianças. verdade, ele é considerado o “terceiro
Deve ser trabalhada em um universo lúdico educador”, juntamente com a equipe.
e mágico nessa faixa etária, sendo capaz
de produzir processos de aprendizagem Assim, pensar a organização dos espaços
significativos e não meramente para para as crianças é uma das intervenções
reproduzir algo já pronto. do professor, que precisa ser planejada,
conforme comenta BARBIERI (2012).
As Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil (2010) esclarecem Em seu Ateliê de Artes Stela, a autora
que essa proposta curricular deve garantir organizou um canto para o faz de conta de
experiências que explorem o conhecimento modo a favorecer mudanças no cenário por
de si próprio e do mundo, ao qual estão parte das crianças, para que as brincadeiras
inseridos, por meio de experiências corporais, pudessem acontecer. Da mesma forma,
sensoriais e expressivas, respeitando o ritmo criou um canto de arte, optando por usar
de cada criança, permitindo brincadeiras apenas materiais brancos e pretos, para que
que oportunizem o aprofundamento nas explorassem essas duas cores com diferentes
diferentes linguagens, sendo elas, verbal, materiais gráficos e suportes. Afirma que,
artística, musical e dramática. Dessa maneira, o espaço tem intenção e orienta a ação. É
cabe às instituições de Educação Infantil necessário que as crianças desfrutem dos
elaborar propostas que integrem essas espaços da escola sem muitas restrições e de
vivências. maneira respeitosa. O professor deve cuidar
do espaço e da organização do ambiente de
Refletindo sobre essas propostas, fica maneira que as crianças possam usufruir, se
a indagação: onde a arte e a infância se sujar e se expressar sem tantas restrições.
encontrariam? Em muitos lugares e momentos
com certeza, vale a pena investigar alguns Portanto, Stela afirma que, um ambiente
deles. com essa qualidade traz uma sustentação de
forças para a potência de nossa criação, seja
a criação de uma aula ou da arte.

Outro elemento importante e que caminha


ao lado do espaço, é o tempo. Este também
precisa ser organizado de modo a favorecer

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a criança condições para que possa explorar A ARTE E A INFÂNCIA SE


sua criatividade. Se ampliarmos a perspectiva ENCONTRARIAM TAMBÉM
da criança sobre seu trabalho – sem limitar
ou obrigar que fique sentada durante meia NOS MATERIAIS
hora –, oferecendo acesso aos materiais,
ampliamos sua concentração, a possibilidade Considerando os materiais como um dos
de ela se deter naquilo que faz sentido para meios possíveis para o encontro da arte e a
ela. (BARBIERI, 2012) infância, BARBIERI escreve que é fundamental
que as propostas e ações sejam preparadas
Da mesma forma, as paredes das escolas com carinho. A maneira como ela organizou
são fontes de reflexão, pois o que se percebe em seu canto de artes, citado anteriormente,
em muitas delas são desenhos que mais a distribuição dos materiais possibilitou
enfeitam as paredes do que espaços para que as crianças pudessem circular e usar a
apreciação dos trabalhos dos alunos. Por criatividade se utilizando de diversos tipos
isso, uma boa ideia para proporcionar uma de tamanhos de papel, assim como a posição
experiência estética no ambiente escolar é e o lugar em que estes estariam de maneira
expor a própria produção das crianças, o que muito prazerosa e enriquecedora.
contribui muito para a formação de todos na
escola, relata a autora. Para a autora, suporte é a base para uma
ação poética, podendo ser um papel, a lousa,
Aqui, é possível perceber que a arte e a a tela, a areia ou mesmo a bacia. Os lugares
infância de fato se encontram, uma vez onde o suporte pode ser colocado também
que a valorização do processo de criação variam, a parede, o chão, a mesa ou o próprio
acompanha a exposição, onde as crianças corpo da criança. As crianças podem, ainda
podem olhar o que fizeram, observar a segundo ela, experimentar outras formas de
produção umas das outras levando-as a desenhar, por exemplo, nas mesas, na parede
conversar, discutir e aprender umas com as ou no chão. O ideal é “dialogar com cada
outras, contribuindo para um aprendizado uma, escutando-as genuinamente”, conclui.
significativo. Contudo, como diz Stela,
“povoar constantemente a escola com a Da mesma forma, GUSMÃO (2012)
produção das crianças é mostrar a vida da considera que:
escola”.
Podemos desenhar no chão, na parede, num
pedaço de tecido, numa folha de jornal, numa
tampa de bueiro, numa caixa de supermercado,
no nosso próprio corpo... Podemos usar qualquer
suporte e utilizar os mais diversos tipos de
instrumentos. (GUSMÃO, 2012, p. 120)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A arte de desenhar é um universo amplo Segundo BARBIERI (2012), propostas de


e mágico, assim como a infância. Permitir cópia ou pintura de desenhos já feitos não
que a criança possa se expressar livremente são práticas educativas que provoquem
e criativamente favorece, também, um pleno o desenvolvimento, muito menos a
desenvolvimento estético. criatividade. Para ela, o papel do educador é
ajudar a criança a expressar-se apresentando
Muitas são as ferramentas possíveis para ferramentas e procedimentos que criam
que as crianças possam realizar suas obras condições para que ela se coloque no mundo.
artísticas entre elas os lápis; pincéis; palitos Afirma, ainda que, pesquisas realizadas
de sorvete e até o corpo e suas extensões. evidenciaram a importância do desenho
O professor apenas precisa saber como infantil como processo de desenvolvimento
explorar tais materiais, por isso a importância de linguagem e uma maneira singular de
de organizar suas aulas. BARBIERI (2012) comunicação.
cita muitas sugestões de trabalho em sua
obra, trabalhos que ela mesma desenvolveu O mesmo relata GUSMÃO (2012), ao
e são dadas para que sirvam de pistas para o considerar o desenho como o registro de um
professor, como ela mesma apresenta, possa olhar, um gesto, um pensamento, um projeto.
inventar seu próprio fazer. Afirma que desenhar é também uma forma
de se elaborar uma ideia.
A proposta é que as crianças tenham tempo e
oportunidade para experimentarem os diversos É comum vermos na produção de alunos
materiais, aprendendo-os à sua maneira. desenhos estereotipados, que seguem “modelos”
(BARBIERI, 2012, p.80) ou imitações de outros desenhos vistos em
histórias em quadrinhos, desenhos animados
ou ilustrações de livros, agendas ou cadernos.
O DESENHO COMO (GUSMÃO, 2012, p. 116)

MOMENTO DE ENCONTRO
Não que esteja “errado” esse tipo de
ENTRE A ARTE E A INFÂNCIA atividade, uma vez que esses desenhos
O desenho está presente em muitos também fazem parte do universo infantil,
momentos da nossa vida, principalmente na mas mostrar as crianças que existem outras
infância. Serve como forma de pensar, de maneiras de desenhar as coisas, os elementos
narrar, de planejar, de projetar, de inventar da natureza e as pessoas permite que elas
outros mundos, de organizar. As crianças encontrem “o seu jeito” de desenhar, o seu
ao desenharem, assim como os artistas, jeito de fazer arte, comenta a autora.
trazem imagens ao mundo, se expressam
constituindo uma linguagem. O desenho é Desse modo, a escola ao invés de priorizar
um jogo imaginativo, no qual é permitido a escrita em vez do desenho, com a chegada
experimentar vários caminhos. da alfabetização, ou em outras palavras,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de perceber o trabalho de arte como uma coloca BARBIERI (2012), “as escolas de
preparação para a aprendizagem da escrita, educação infantil devem privilegiar a ação,
deve evitar esse rompimento. BARBIERI o movimento, para que as crianças sejam
comenta: potentes”.

Cada momento de investigação e pesquisa das Cabe a escola oferecer então condições
crianças é relevante e não deve ser considerado
simplesmente uma preparação para momentos para que a integração da criança com o
que virão, mas devem ser encarados como mundo ocorra de fato. Hoje as crianças são
experiências relevantes entre si. (2012, p. 97) sinestésicas e na escola ouvem muitos nãos de
modo mecânico e sem reflexão. O professor
Nesse encontro entre a arte e a infância, deve ter a humildade de compreender que
em que o desenho está presente como não se controlam as aprendizagens, nem as
elo de ligação, é possível ver os benefícios suas próprias, muito menos as dos outros.
dessa relação, pois ele contribui para o Deve ajudar a criança a se conhecer, conhecer
desenvolvimento de diversos aspectos em os chamados, assim como as necessidades e
adultos e, principalmente, nas crianças. desejos de seu corpo.
Exemplos como a capacidade de síntese ao
pensar e visualizar o que temos em mente, Na arte contemporânea existe um espaço
privilegiado para discutiras questões relativas
assim como, a capacidade de planejar, pois ao corpo. Muitas obras utilizam o corpo do
desenha-se o que se tem como objeto de artista e a percepção corpórea do espectador
construção e a capacidade de desenhar um como participantes de sua constituição. O corpo
também é espaço privilegiado para as crianças
trajeto em uma cidade que se quer conhecer pequenas. Para elas nada é mais natural do que
elucidam esse processo. experimentá-lo. (BARBIERI, 2012, p. 111)

Pensar as crianças de educação infantil


OUTROS PONTOS DE como sendo crianças que devem permanecer
ENCONTRO sentadas durante horas está fora do novo
contexto de infância. Assim, propiciar o
É certo que o corpo da criança fala, encontro da arte e a infância permitindo
assim como suas expressões, por isso a locomoção do corpo, valorizando seu
pensamento e ação estão interligados, não movimento em espaços organizados de
existe um sem o outro. Sem o movimento, modo a favorecer que a criança sinta-se à
a criança não é capaz de se desenvolver de vontade para expressar seus desejos e sua
pensar e para comprovar isso as pesquisas imaginação, traz situações de aprendizagens
de Vygotsky e de Piaget tratam desse e desenvolvimento prazerosos e significativos
assunto, provando que o movimento é para a cultura da infância, em que nela se
fundamental para o crescimento saudável e encontra também o ensino da arte.
pleno desenvolvimento. Assim, como bem

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Ainda em sua obra, BARBIERI (2012) relata que todos os lugares são lugares de aprender,
cidades, florestas, quintais, territórios a serem investigados, com árvores, rios, clareiras,
praças e praias. Portanto a natureza é um manancial de possibilidades para a formação
estética, não só para as crianças, como para todos os seres humanos, segundo ela.

A natureza traz em si desafios físicos e estéticos que mobilizam as crianças a se aventurar. [...] Enfim um
universo de possibilidades a serem observadas e investigadas, a serem brincadas, que nos levam ao sentimento
de comunhão. Somos parte da natureza, e podemos e devemos nos religar a ela. (BARBIERI, 2012, p. 116)

Reforça ainda, que o contato com a natureza reconcilia a pessoa com o seu ser. O corpo
fica mais vivo e é chamado a restaurar a natureza que existe dentro de cada um e nos lugares
em que se vive.

Assim, sendo o professor fará toda a diferença se investir em seus projetos a natureza
presente na escola ou ao seu redor. Permitir que utilizem sua imaginação e materiais de
sua realidade, muitas vezes presentes na natureza pode contribuir para muitas atividades
artísticas que vão além de livros, filmes e outros materiais.

Pensar a arte e a infância integrada a natureza remete a uma reflexão maior, onde a
atividade desenvolvida é integradora e desafiadora, pois alimenta os sentidos e percepções
das crianças. E todo aprendizado aqui adquirido não se restringe às artes, mas ao contrário,
envolve outras áreas do conhecimento, como biologia, botânica, geologia, física. Como
afirma BARBIERI (2012):

Todas as experiências humanas são experiências de aprendizagem. O ser humano é único, inteiro. As
experiências não estão separadas em áreas e a natureza é uma ótima fonte de aprendizagem para a vida.
(BARBIERI, 2012, p. 127)

Nesse sentido as crianças criam, experimentam, vivenciam o tempo todo, interagindo


com a arte de forma implícita, portanto é importante a troca com o outro e com o meio
ambiente em espaços, em tempos e com materiais previamente organizados e pensados pelo
profissional que está contribuindo para o seu pleno desenvolvimento, que é o professor, mas
também todas as pessoas que trabalham na escola, para que possam diferenciar e perceber
características essenciais do processo de criação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho procurou abordar da melhor maneira
possível a importância da Arte na infância, como explorar a
imaginação e a criatividade na educação infantil usufruindo-
se de espaços, materiais e vivências de modo a permitir a
criança o gosto pela investigação e experimentação.

A pesquisa trouxe para a reflexão também os benefícios


que o ensino da arte traz para o desenvolvimento das
múltiplas linguagens, ampliando as formas de expressão por
parte das crianças. Ao explorar diversos materiais, espaços,
a natureza, o seu próprio corpo e em tempo satisfatório e ISABEL CRISTINA DE
de acordo com as suas necessidades, a criança na educação CASTRO TOMAZ
infantil, por meio da arte, descobre como é o seu mundo
Licenciada/Graduada em
de invenções, tem a porta aberta para novos conhecimentos Pedagogia pela UNINOVE-SP
aprendendo a imaginar e fazer, desenvolvendo sua (2002) Professora de Educação
sensibilidade e percepção estética, ao mesmo tempo em Infantil e Ensino Fundamental,
na Rede Educacional da cidade
que, trabalha outras áreas de conhecimento. de São Paulo, na EMEF OTONIEL
MOTA Artigo apresentado como
Através da pesquisa pôde-se concluir que de fato tanto requisito parcial para aprovação
do Trabalho de Conclusão do
na arte quanto na educação, pode haver muita vitalidade. Curso de Especialização em Arte
Aproveitar o olhar curioso, a imaginação fértil e a criatividade e Educação.
presente na infância com intencionalidade e cuidado traz
para o novo educador um papel de artista. Aquele capaz de,
através de pequenos e delicados gestos, permitir que ele e
seu aluno sejam pesquisadores e criadores de sua própria
história com princípios, estéticos, éticos e morais.

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REFERÊNCIAS
BARBIERI, Stela. Interações: Onde está a Arte na Infância. São Paulo: Blucher, 2012.

BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Editora
34, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares


Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010.

BRASlL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.


Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

GANDINI, Lella. Espaços educacionais e de envolvimento pessoal. In: EDWARDS, Carolyn


et all. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia. Porto Alegre: Artmed,
1999.

GUSMÃO, Celina. Interações: Diálogos entre o fazer e o olhar na arte. São Paulo: Blucher,
2012.

LÉVIS-STRAUSS, Claude. Tristes trópicos. São Paulo: Cia das Letras, 2004.

PIRES, E. Proposta Curricular da Educação Infantil. Campinas: Prefeitura Municipal de


Campinas, 2009.

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ESCREVER E LER COMO PARTES


INTEGRANTES DO PROCESSO EDUCATIVO:
INTERCONEXÕES E INFLUÊNCIA NO
DESENVOLVIMENTO DA ALFABETIZAÇÃO
RESUMO: Este artigo tem como objetivo refletir sobre a necessidade de estudos entre a inter-
relação da escrita e da leitura no domínio da linguagem e no desenvolvimento da alfabetização.
É necessário entender como os escritores e leitores, como indivíduos e membros de vários
grupos, abordam a leitura e a escrita como tarefas construtivas relacionadas às situações
da vida real, e que a compreensão adicional também exige que a leitura e a escrita afetem
uma a outra, enquanto cada uma delas são influenciadas pelos contextos sociais, culturais e
políticos em que surgem. Isso exigirá uma análise de vários gêneros. Ensinando características
de vários gêneros, devemos escolher trabalhar com os alunos aqueles que coincidam com as
necessidades comunicativas de um determinado grupo de educandos, e mudar conforme os
a necessidade de cada grupos. Para que o trabalho em sala de aula tenha sucesso e alcance
o máximo de resultados, é necessário organizar o processo de aprendizagem, levando em
consideração a diversidade de discentes e docentes que compõem a comunidade escolar, a
natureza dos grupos discursivos nos quais os alunos se comunicam e estudam, as habilidades
de alfabetização e os conhecimentos que devem ser formados.

Palavras-Chave: Alfabetização; Aprendizagem; Escrita; Leitura; Significado

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INTRODUÇÃO A carta, como um assunto acadêmico, está


enraizada na retórica clássica de Aristóteles
Durante a maior parte do século XX, a e foi focada em pessoas instruídas e foi
relação entre a escrita e a leitura não foi ensinada em universidades depois de
objeto de pesquisa teórica ou pragmática. dominar a parte principal do programa.
No entanto, durante um período de tempo Retórica focada em gramática, dicção,
relativamente curto, principalmente na escolha de palavras, etc. No final do século
década de 1980, a leitura e a escrita tornaram- XIX, os pontos de vista práticos e funcionais
se um importante assunto de estudo, sobre a escrita começaram a substituir as
enfocando vários aspectos da aprendizagem ideias tradicionais.
e vários níveis educacionais.
Os trabalhos de Piaget, Vygotsky e Wallon
Este estudo sobre a relação entre (La Taille, 1992) falaram da necessidade de
escrita e leitura também visa e analisa o uma educação experimental centrada no
impacto dessas relações no processo de aluno. O interesse no processo de escrita
aprendizagem e a criação de recomendações levou ao estudo da relação entre o processo
para a organização do processo educativo. de escrita, o aluno e o texto e, mais adiante,
Foi precedido e influenciado por uma análise ao estudo disso. Como cada aluno em um
intensiva de processos cognitivos. contexto particular usa escrita e leitura
para fins específicos de importância social e
Segundo Lerner (2002) na abordagem interpessoal.
construtivista a escrita e a leitura estão
associadas à linguagem e à comunicação, A história da leitura evoluiu de acordo
bem como à capacidade de pensar. O estudo com outro cenário. Atitudes progressistas
subsequente dos aspectos sociais da escrita que enfatizavam a educação específica do
e da leitura, suas funções e uso atuais aluno e a centrada no aluno influenciaram a
direcionaram o estudo para a aplicação leitura, mas a expansão da base de pesquisa
prática na vida real e em situações escolares e a aplicação dos princípios de gestão à
reais. organização escolar prevaleceram sobre a
influência de pesquisadores progressistas
Até a década de 1970, a escrita e a leitura no papel e funções da leitura. Na década
não eram consideradas integradas. Elas foram de 1970, sob a influência das ideias da
consideradas como processos de linguagem psicologia cognitiva e do construtivismo, a
separados, possivelmente relacionados. Em atenção começou a mudar para a formação
parte, isso é resultado do fato de que os de sentido, que ocorre no processo de leitura
conceitos de escrita e leitura nasceram de e interação entre o leitor e o texto.
diferentes tradições.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Como resultado das diferenças nos representação competente e capacidade de


estágios iniciais de desenvolvimento, os resolver problemas. Eles também insistem
pesquisadores tradicionalmente abordavam que a experiência, o uso e as funções de
a escrita e a leitura como áreas separadas de escrita e leitura não afetam apenas o processo
estudo. Mudanças ocorreram na década de de escrita e leitura, mas também a relação
1980. Os cientistas começaram a considerar entre eles. Ausubel (1982) afirmou que os
a relação entre escrita e leitura, analisando- alunos que escreviam bem eram capazes de
os como processos sociais e cognitivos. ler bem e vice-versa. Conforme os alunos
Essa abordagem tornou-se cada vez mais se mudaram para níveis mais avançados de
popular à medida que o interesse cresceu em estudo, esse relacionamento tornou-se mais
alfabetização e educação literária. pronunciado.

Neste momento, distinções são feitas Segundo Ferreiro (1995) quanto melhor
entre alfabetização como parte da escrita um aluno escreve, melhor e mais ele lê. Ela
e leitura e alfabetização como uma forma argumentou que, ao aprender a melhorar
de pensar e falar. O foco principal da as habilidades de escrita, a leitura “também
alfabetização é como a leitura e a escrita se é ou até mais eficaz do que as atribuições
encaixam em contextos sociais e culturais. gramaticais ou práticas escritas adicionais”.
A pesquisa moderna examina como, quando Ferreiro também observou que estudos
e onde a leitura e a escrita são usadas, por usando exemplos literários são de grande
quem são usadas e com que finalidade. A benefício para o desenvolvimento de
maioria das publicações dedicadas à “escrita habilidades de escrita.
e leitura” as estudam a partir da posição de
sua importância para o desenvolvimento da Muitos cientistas contribuíram para o
alfabetização em geral. conceito da relação entre escrita e leitura,
analisando o envolvimento dos alunos em
tarefas, descrevendo a relação entre as duas
ALFABETIZAÇÃO atividades, com base nas funções pragmáticas
UMA APRENDIZAGEM de cada uma delas. Através de tentativas
de comunicação através da escrita e da
SIGNIFICATIVA leitura, os alunos gradualmente dominam os
Escrever e ler há muito tempo são símbolos e condições de uso da linguagem,
consideradas atividades relacionadas. Além estruturas mestras e estilo imitado. Ambas
de ouvir e falar, eles são considerados os as atividades influenciam o arco umas sobre
principais componentes de toda a estrutura as outras e sobre os resultados do processo
da linguagem. Muitos estudiosos acreditam de aprendizagem como um todo.
que a escrita e a leitura são caracterizadas
por um nível mais alto de conhecimento de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A teoria e a pesquisa prática provam cognitivamente semelhantes em termos de


que a escrita e a leitura são atividades formação de significado, eles ainda diferem
baseadas na criação de significado. muito no tipo de atividade, estratégias
Quando uma pessoa escreve ou lê, há uma e objetivos. Eles também diferem em
formação contínua de significado e ideias. O abordagens e modelos comportamentais
desenvolvimento do texto em papel ou na utilizados, dependendo da idade dos alunos.
cabeça do aluno envolve linguagem, sintaxe
e estrutura. Formar significado, escrever e Um procedimento especialmente
ler são atividades construtivas que incluem desenvolvido permite analisar o
planejamento, modelagem e repensar comportamento, o processo de análise
significado e significado. Com base nisso, de informações, as conclusões lógicas e
alguns estudiosos, como Ausubel, “falam as estratégias utilizadas, inerentes aos
do escritor como leitor e do leitor como alunos nos diversos níveis de formação
escritor”. Criando uma obra ou passagem, no desempenho das tarefas de leitura e
o escritor sempre lê. Ele também tenta se escrita. Verifica-se que, embora os mesmos
colocar na pele de seus leitores e analisar o métodos de raciocínio, voltados para a
texto do ponto de vista deles. O leitor, por compreensão e formação de sentido, sejam
sua vez, não apenas lê, mas também tenta observados na leitura e na escrita, há certas
prever o desenvolvimento do texto, avalia a diferenças. Estamos falando de diferenças
estrutura e o estilo. nas abordagens e na frequência de uso de
tais métodos, dependendo do tipo de tarefa.
Em ambas as atividades, tipos similares Ao ler e escrever, a principal tarefa dos
de conhecimento são usados para criar alunos é encontrar e criar significado. Os
significado: conhecimento de linguagem, alunos se concentram em ideias, conteúdo,
conhecimento de conteúdo, estilística de criação e melhoria de significado. Estruturas
gênero, organização e estrutura, pragmática e estratégias mudam à medida que o aluno
(sobre os objetivos do escritor e leitor) e amadurece e se desenvolve. No entanto,
conhecimento da relação (entre escritor e existem outras diferenças. Ao realizar tarefas
leitor). Ferreiro e Taberosky (2008) sugeriram de escrita, o aluno está mais preocupado
que os vários tipos de conhecimento que com problemas subjacentes, como sintaxe,
podem ser obtidos no ensino da leitura texto e escolhas lexicais, do que ao ler.
podem ser transferidos para o ensino da
escrita. Ao realizar um trabalho escrito, os alunos
estão mais preocupados em encontrar
Pesquisadores, no entanto, notam não maneiras de transmitir significado,
apenas semelhanças, mas também diferenças estabelecer metas e objetivos. Ao ler, eles
entre escrita e leitura. Por exemplo, Ausubel estão mais focados no conteúdo e criação de
(1982), descobriu que, apesar de serem imagens criadas no texto.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Pode-se concluir que os processos de de textos e sua experiência como a fonte


trabalho sobre escrita e leitura refletem da formação e desenvolvimento de ideias
a estreita conexão entre esses tipos de para o trabalho escrito. A experiência e o
linguagem e atividade mental. As estruturas conhecimento transmitidos da escrita para
utilizadas por escritores e leitores para a leitura e da leitura para a escrita podem
organizar, memorizar e apresentar suas aumentar a capacidade do escritor de ler
ideias são muito semelhantes, no entanto, as e a capacidade do leitor de escrever. Os
estratégias para formular e organizar ideias resultados do estudo, realizado entre os
dependem de objetivos e, portanto, diferem estudantes, mostram claramente a troca de
em diferentes tipos de trabalho. conhecimentos adquiridos na implementação
dessas duas atividades.
Professores e cientistas envolvidos
nos sinais entre escrita e leitura também Parece que ler e escrever ressoam
observam como esses dois processos naturalmente quando pessoas alfabetizadas
inter-relacionados de escrita e criatividade usam ativamente a leitura e a escrita para
envolvem diferentes maneiras de usar a aprender. Este fato é importante para
linguagem e afetar a aprendizagem dos entender o que pode acontecer na sala de
alunos. Assim, um interesse começou a aula, o que incentivará o pensamento e a
tomar forma em como os processos de aprendizagem por meio da escrita e leitura
escrita e leitura se relacionam com a prática motivadas. Também ajuda a entender
real. Os cientistas consideram a influência exatamente quais públicos usarão esses
do conhecimento e habilidades no campo tipos de atribuições e manterão o vínculo
da escrita e leitura sobre a implementação entre a redação e a leitura.
desses tipos de atividade de fala diretamente
na plateia. Eles também estudam tipos
de contextos de sala de aula e tarefas que A RELAÇÃO ENTRE A
poderiam melhorar a escrita e a leitura como LEITURA E A ESCRITA
atividades mutuamente benéficas.
Estudos mostram que o aprendizado de
Se você abordar a escrita e a leitura sucesso para escrever e ler pode começar
como processos de escrita semelhantes nos estágios iniciais e é mais eficaz se
e relacionados, e não como habilidades ensinado em paralelo, e não separadamente
isoladas, poderá desenvolver e melhorar um do outro. Certamente, é possível usar
a capacidade dos alunos de ler, escrever diferentes gêneros textuais para melhorar
e pensar. Ao escrever, os alunos usam o as habilidades dos alunos em compreender e
conhecimento da linguagem, estrutura e assimilar textos legíveis informativos, ou para
estilo que adquiriram no processo de leitura. melhorar o processo de aprendizagem como
Eles se relacionam com seu conhecimento um todo, no entanto, grandes resultados são

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Revista Educar FCE - Abril 2019

alcançados se a atenção é dada à escrita e e criativos. O resultado desse trabalho deve


à leitura. Aprender um tipo de atividade de ser a formação da capacidade de pensar dos
fala não pode substituir a aprendizagem alunos.
de outro, se é necessário alcançar todos os
objetivos de linguagem. Com base no estudo da relação entre
escrita e leitura, iniciou-se uma pesquisa
Na sala de aula, os alunos aprendem mais sobre como a leitura e a escrita são usadas
sobre o material se tiverem uma constante para formar e transmitir pensamentos e
a capacidade de ler e escrever, e se eles ideias. Estes estudos visam estudar os efeitos
estudam literatura que representa vários da leitura e da escrita e como diferentes tipos
gêneros, temas e estilos. Proporcionar de tarefas de escrita moldam o pensamento
aos alunos a liberdade de escolher o que e a aprendizagem. Eles sugerem que a
ler e escrever, e a capacidade de escrever leitura e a escrita juntas provocam mais
sobre tópicos e ideias que lhes interessam pensamento crítico do que leitura, separadas
e que eles sabem, tem um efeito positivo da escrita ou combinadas com ativação de
na sua atitude em relação ao processo conhecimento ou respostas a perguntas.
de aprendizagem. Os professores apoiam No campo do conteúdo, escrever um texto
com maior êxito o desenvolvimento das mostrou-se mais útil do que responder
competências de escrita e leitura dos seus perguntas ou notas que não se relacionam e
alunos quando criam muitas opções para não levam em conta o conhecimento prévio
contextos de aprendizagem, como trabalhar dos alunos. Os alunos que fazem pequenas
em grupos ou pares, em que a discussão e anotações ou respondem a perguntas
o controlo satisfazem as necessidades dos de aprendizagem estão mais focados em
alunos. Nesses contextos, os professores memorizar e reproduzir certas informações
dão aos alunos a oportunidade de avaliar do texto. Escrever um texto, por outro lado,
as reações aos textos que criaram, bem oferece aos alunos a oportunidade de traçar
como comparar suas experiências anteriores paralelos e pensar mais sobre o assunto.
com o que leram ou escreveram. Os alunos Torna-se óbvio que a enorme variedade de
compartilham suas ideias e atitudes e operações mentais que ocorrem durante
sentem que são aceitos pelos membros do a redação de um ensaio sugere que esse
grupo de estudo. Deste ponto de vista, o tipo de atividade dá aos alunos tempo para
público serve como um contexto no qual pensar com mais flexibilidade na formulação
os leitores desenvolvem sua compreensão de suas ideias.
através de sua experiência como escritores e
vice-versa. A aprendizagem, que incentiva a Essas descobertas são apoiadas por
criação de significado através da escrita e da diferentes autores sobre a relação entre
leitura, baseia-se na compreensão de que a escrever e entender literatura. Considerando
leitura e a escrita são processos construtivos o efeito de uma carta bem definida, uma

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Revista Educar FCE - Abril 2019

carta analítica pessoal e uma carta analítica formal, eles descobriram que uma carta limitada
e bem dirigida pode impedir a compreensão de textos literários, porque tais tarefas não
permitem que os alunos estudem e desenvolvam cuidadosamente possíveis interpretações.
Ao mesmo tempo, escrever relatórios e textos sobre um tópico específico incentiva os alunos
a estudar várias fontes, analisar várias ideias e atitudes, pensar e formular seus próprios
pensamentos. Tudo isso significa que esses tipos de tarefas de escrita criam e desenvolvem
um vínculo entre texto e pensamento, o que significa que os alunos, juntamente com a
alfabetização, desenvolvem a capacidade de assimilar, analisar e reproduzir informações.
Assim, no processo de aprendizagem é a implementação de metas educacionais básicas.

Um dos principais objetivos do estudo da linguagem, de acordo com as tendências


científicas modernas, é a formação da alfabetização. A alfabetização, nesse caso, refere-se
à capacidade de usar a linguagem e o pensamento necessários para transmitir uma ideia
em diferentes situações; envolve uma variedade de maneiras de pensar, que são estudadas
em diferentes situações da vida. Como parte dessa compreensão da alfabetização e dos
objetivos do processo educacional, há um interesse crescente nas relações em torno do
texto e como as relações entre as pessoas, quem são e por que elas lêem e escrevem
influenciam a criação de significado. Ao mesmo tempo, a leitura e a escrita são consideradas
ferramentas de linguagem intimamente relacionadas e inseparáveis, envolvidas na formação
da alfabetização, juntamente com outros tipos de atividade da fala. Escrever e ler são
considerados parte integrante e importante do processo.

Lerner descreve estudos que mostram como os alunos pensam e raciocinam, quando estão
envolvidos no estudo da literatura e como as interações na sala de aula podem acelerar o
desenvolvimento da alfabetização. Ela descobriu que atividades literárias que incentivam o
desenvolvimento do pensamento figurativo ensinam os alunos a trocar ideias com outras
pessoas. Uma variedade de tarefas literárias oferece aos alunos a oportunidade de aprender a
compreender e discutir as diferenças linguísticas e discursivas e, ao mesmo tempo, aprender
a alfabetização. Como membros da comunidade escolar os alunos aprendem a discutir, usar
e controlar os fenômenos e formas da linguagem. Participando de diversas atividades, eles
estão constantemente e simultaneamente envolvidos na escuta, discussão, leitura e escrita,
enquanto a leitura e a escrita são inseparáveis no tempo e no propósito de uso. Os dados de
observação demonstram que a escrita e a leitura estão interligadas e fazem parte de todo o
processo de desenvolvimento da alfabetização.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É claro que o processo de ensinar os alunos deve ser visto a
partir da perspectiva de como certas tarefas e trabalhos em grupo
afetarão vários aspectos do desenvolvimento da alfabetização
e a possibilidade de usá-los em novas situações. Também é
necessário prestar atenção às habilidades e conhecimentos
específicos que os alunos aprendem nessas situações, o apoio
adicional necessário, com base no conhecimento e necessidades
do aluno e como isso pode ajudar o aluno no desenvolvimento
da alfabetização. A aprendizagem deve abordar como a
diversidade pode ser aproveitada em grupos heterogêneos e
permitir que os alunos se beneficiem da compreensão mútua. JENNIFER CARVALHO
FOSTER
Outra área de pesquisa deve ser dedicada ao currículo. Em
Graduação em Pedagogia pela
primeiro lugar, é necessário decidir quais das competências Universidade do Grande ABC
e temas devem ser incluídos, e quais deles são excluídos e - UniABC (2008); Especialista
como devem ser relacionados uns aos outros. As ferramentas em Alfabetização e Letramento
pelas Faculdades Integradas
de aprendizagem e o uso da alfabetização estão mudando Campos Salles (2017); Professora
rapidamente na sociedade moderna, forçando-nos a revisar os de Educação Infantil e Ensino
programas que estão em a base da estrutura do curso e dando Fundamental I - na EMEF
Imperatriz Dona Amélia.
significado a todo o trabalho dos alunos.

Neste caso, o estudo deve centrar-se no conhecimento


da alfabetização com que os alunos já chegam à escola, mas que não são reconhecidos como
tal (por exemplo, computadores e computação gráfica; a capacidade de usar a linguagem em
formas culturais ou socialmente reconhecidas, como o funk) e a diversidade de habilidades de
alfabetização que eles precisarão para participar com sucesso de nossa sociedade em mudança.
Além disso, é necessário entender que, quando e como um aluno deve ler e escrever, e em
algumas combinações, os textos podem ser usados para estimular um pensamento mais holístico
e níveis mais altos de alfabetização. Finalmente, estudar, repensar e rever o currículo requer
que o papel que esses programas podem desempenhar no desenvolvimento dos valores de
autoestima dos alunos como parte do processo de aprendizagem e ao mesmo tempo atender
às diversas necessidades dos alunos na tentativa de alcançar o mais alto nível de treinamento
seja explorado. À medida que o público educacional muda, os alunos se tornarão alfabetizados
e educados em certos contextos sociais, políticos e culturais em seu ambiente escolar, será
necessário entender como a diversidade dos textos que eles lêem e escrevem correlaciona-se
com o desenvolvimento de sua personalidade instruída. e a conquista de seus objetivos de vida.

472
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

473
Revista Educar FCE - Abril 2019

DIDÁTICA E METODOLOGIA: UM
OLHAR SOBREMÚSICA E LUDICIDADE
NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
DE CRIANÇAS AUTISTAS
RESUMO: Ressaltar a importância da educação lúdica como forma de estimulação ao
desenvolvimento de crianças autistas, ou seja, por meio do uso de jogos, brinquedos e
musicalização. Pode-se contribuir para que as crianças com autismo se desenvolvam e se
socializem com outras pessoas. O Autismo pode ser considerado um transtorno global do
desenvolvimento (TGD) que compromete o desenvolvimento da criança, sobretudo interferindo
no desenvolvimento de áreas da comunicação, da imaginação e da sociabilização; mesmo com
os mais recentes estudos em relação ao autismo, é correto afirmar que ainda não há cura, o
que existe são tratamentos e terapias que minimizam as dificuldades, proporcionando um
bom desenvolvimento e uma melhor qualidade de vida, como por exemplo, por intermédio das
atividades lúdicas que propiciam a essas crianças um agir espontâneo e faz com que percebam
suas habilidades e consigam desenvolver muitas outras.

Palavras-Chave: Transtorno de Espectro Autista (TEA); Atividades Lúdicas; Práticas


Pedagógicas Inclusivas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO implica, portanto, que todas as pessoas de


uma determinada comunidade aprendam
As crianças desenvolvem-se a partir de um em interação e de forma heterogênea,
contexto histórico e social. Nesse contexto, independente se sua origem, suas condições
ela cria e recria seu mundo por meio de suas pessoais, sociais ou culturais, incluídos
experiências de acordo com as interferências aqueles que apresentam qualquer problema
externas. Isto é, a partir do contato com de aprendizagem ou deficiência
outros sociais mais experientes, amplia
seu conhecimento e organiza suas ideias e
sentimentos a respeito de si mesmos. COMPREENDENDO O
TRANSTORNO DO
Investigar como elas aprendem, o que
trazem consigo, como se relacionam com ESPECTRO AUTISTA
seus pares e as condições do meio em que
vivem, devem ser preocupações constantes Segundo Cunha (2012), o termo autismo
do professor no contexto escolar; bem origina-se do grego Autós, que significa “de
como as situações que passam para chegar si mesmo”, sendo utilizado pela primeira
a determinados níveis de conhecimento e vez pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler em
serem capazes de estabelecer relações cada 1911, que observava a fuga da realidade nos
vez mais avançadas, desenvolvendo também pacientes, compreendendo um conjunto de
a sua autonomia. comportamentos. O autismo se caracteriza
a partida tríade: comprometimento na
Em outras palavras, é preciso conhecer os comunicação, dificuldades na interação
educandos buscando proporcionar condições social comportamento restrito-repetitivos.
favoráveis para a aprendizagem e seu
contexto, questionando: Quem são eles? Em Em 1943, o psiquiatra austríaco Leo
qual realidade social está inseridos? A quais Banner (1894-1981) publicou as primeiras
processos de humanização/desumanização pesquisas relacionadas ao autismo, definindo
estão cotidianamente expostos? Que como uma patologia que não se enquadrava
importância tem a educação em suas vidas? em nenhuma das classificações existentes na
Psiquiatria Infantil. Em 1944, outro médico
No dia a dia da escola, observa-se que austríaco chamado Hans Asperger (1906-
os educandos não são iguais, não há um 1980), descreveu características analisadas
tipo único de aluno. Por isso, quando em crianças que não tinham atraso cognitivo
se consegue detectar as necessidades e da linguagem, mas apresentavam condições
específicas e individuais de cada um, o semelhantes, sendo este quadro denominado
trabalho do educador torna-se muito mais Síndrome de Asperger.
eficaz e satisfatório. A educação inclusiva

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Ainda não há exames laboratoriais e de EDUCAÇÃO INCLUSIVA


imagens que possam diagnosticar a presença
do transtorno, sendo apenas observáveis Na perspectiva da educação inclusiva
os seus sinais e sintomas determinantes, integrada na proposta Pedagógica da escola
porém, sabe-se que o autismo é considerado regular, promovendo o atendimento às
como uma desordem no desenvolvimento necessidades educacionais especiais de alunos
neurobiológico, comprometendo, em com transtornos globais de desenvolvimento
níveis variados, três grandes áreas no e altashabilidades/superdotação, transtornos
desenvolvimento infantil: comunicação, funcionais específicos, a escola atua de forma
interação social e repertório de atividades e articulada com o ensino comum, orientando
comportamento restrito-repetitivas, sendo para o atendimento dessas necessidades
diagnosticado por psiquiatras infantis, especiais (MEC, 2010).
neuropediatras e psicólogos especializados
(WALTER,FERREIRA-DONATI; AFONSO, A partir de 1994, o autismo passou
2015). a integrar a categoria de portadores de
Condutas Típicas na Política Nacional de
A American Psychatric Association Educação Especial do MEC, elaborada ela
desenvolve um manual diagnóstico e Secretaria de Educação Especial, com a
estatístico de transtornos mentais – seguinte denominação: “manifestações
DiagnosticandStatistical Manual of de comportamentos típicas de portadores
MentalDisorders(DSM) - que descreve as de síndromes e quadros psicológicos,
características da criança com transtorno do neurológicos ou psiquiátricos que ocasionam
espectro autista, como déficits na comunicação atrasos no desenvolvimento e prejuízos no
e na interação social (déficits de reciprocidade relacionamento social, em grau que requeira
social e emocional; nos comportamentos e atendimento educacional especializado”
compreensão do uso da comunicação não- (BRASIL, 1994, p.14).
verbal e na formação e manutenção de relações
adequadas ao nível de desenvolvimento), O direito de todas as crianças à educação
padrões de comportamento, interesses e está proclamado na Declaração Universal
atividades restrito-repetitivas (estereotipias dos Direitos Humanos (1948). Segundo
motoras, ecolalia, manipulação de objetos, a Declaração de Salamanca (1994), esse
fixação à rotina; interesses restritos e princípio orientador consiste em afirmar
excessivos, zíper ou hipor reação a estímulos que as escolas devem se ajustar a todas
sensoriais); sendo que estas características as crianças, independentemente de suas
se apresentam na primeira infância, limitando condições sejam elas físicas, mentais ou
ou desabilitando para o funcionamento diário sociais. Neste contexto, as instituições de
(WALTER,FERREIRADONATI, FONSECA, ensino terão que encontrar formas de educar
2015). com sucesso estas crianças.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

De acordo com a Declaração de Salamanca, professor utiliza para a aprendizagem destas


existe o consenso crescente deque as crianças. Essas atividades são necessárias
crianças e jovens com deficiência devem para o desempenho sócio cognitivo, e no
ser incluídos nas estruturas educativas atendimento educacional especializado.
destinadas a maioria das crianças, o que Desenvolvimento e a aprendizagem das
conduziu ao conceito da escola inclusiva. crianças autistas precisam de tempo e
“Na escola inclusiva professores e alunos espaço para acontecer, porque sua realização
aprendem uma lição que a vida dificilmente não é fácil e nem imediata. Supõe entregar-
ensina: respeitar as diferenças. Esse é o se e confiar na possibilidade de promover
primeiro passo para construir uma sociedade atividades cotidianas que favoreçam a
mais justa”. (MANTOAN, 2005 p.24). aprendizagem, que só se confirmará pouco
apouco (COLL, 1995).
A escola, representada por sua equipe
profissional, deve ter consciência dossel Como o autismo trata-se de um transtorno
papel, compreendendo que é por meio do invasivo que não tem uma explicação
aprendizado que a criança pode adquirir definitiva e sim características específicas,
consciência do mundo e dela própria, e que para essa criança as dificuldades mais
esse aprendizado passa pelo desenvolvimento acentuadas estão relacionadas à “[...] a
da comunicação. aquisição de padrões linguísticos, a falta
de relações sociais e a inconsistência ou
Considera-se que as pessoas se modificam irregularidade nas reações comportamentais”
continuamente, transformando contexto no (CABEZAS, 2007, p. 321).
qual se inserem. Esse dinamismo exige uma
atuação pedagógica voltada para alterar Quanto às características comportamentais
a situação de exclusão, promovendo a Santos (2008), nos dá subsídios para
aprendizagem de todos os alunos. compreender os distúrbios da criança autista.

Distúrbios do relacionamento: Falta do


EDUCAÇÃO E LUDICIDADE desenvolvimento de uma relação interpessoal e
de contato visual. Tanto o relacionamento com
pessoas quanto com objetos inanimados está
Coll (1995, p. 11) “explica que ao lidar com alterado. Ausência de sorriso social, desinteresse
em participar de jogos e brincadeiras, preferência
uma criança autista, muitas vezes professor
por permanecer só, etc.
sente-se incompetente, pois cada criança
é como uma ilha praticamente inacessível, Distúrbios da fala e linguagem – comunicação:
Caracterizado por enorme atraso, com fixação
cada uma presa ao seu próprio mundo”.
e paradas ou total mutismo. A ecolalia comum,
sendo associada ao uso inadequado ou reversão
Existe uma relação entre o educando com do pronome pessoal. Quando a fala comunicativa
se desenvolve, ela é atonal, arrítmica, sem
autismo e o lúdico que é uma ferramenta que o
inflexão e incapaz de comunicar apropriadamente

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Revista Educar FCE - Abril 2019

as emoções. Na verdade, a comunicação como importante a intervenção rápida do professor,


um todo está comprometida: linguagem oral mesmo que para isso seja necessário segurar a
comunicativa, linguagem receptiva, linguagem mão da criança ou até mesmo dizer-lhe resposta.
gestual e expressão facial. (PEETERS, apud SANTOS 1998, p. 32).

Distúrbios no ritmo de desenvolvimento: O


ritmo mais comum é uma descontinuidade na As estratégias de sala de aula deverão ser
sequência normal do desenvolvimento. feitas em quatro áreas: área do aprendizado,
Distúrbios da motilidade: São os maneirismos, no qual a criança recebe instruções; área de
complexos e ritualísticos: exame dos dedos, trabalho independente, área de descanso
borboleta- “clipping”, caminhar na ponta dos ou lazer e área de rotina diária, sempre
pés, jogar-se para frente e para trás, ninar-se,
balançar (acompanhado de rolar ou balançar a respeitando as características da criança.
cabeça no ar ou no chão ou bater a cabeça contra
a parede),rolar ou girar objetos. (SANTOS, 2008, Para pensar em alguns encaminhamentos
p.18).
metodológicos para se trabalhar com
acriança com autismo serão consideradas as
Mediante tal informação é importante rotinas bem estruturadas que contemplem
ressaltar que o profissional da educação deve todo o processo de trabalho da criança.
estar atento a tais manifestações, procurando
identificar sob uma visão pedagógica, os Para auxiliar na compreensão dos melhores
recursos mais adequados para trabalhar o recursos e métodos a serem utilizados
processo ensino-aprendizagem com tais teremos como base os apontamentos de
alunos. Bereohff (1993) que afirma:

Gauderiar (1987), salienta que as crianças [...] a colocação de limites de forma clara,
através de uma atitude diretiva por parte do
com autismo, apresentam dificuldade em educador, contribui para o desenvolvimento de
aprender a utilizar corretamente as palavras, maior organização e autonomia desta criança,
mas quando participam de um programa fortalecendo sua capacidade para adaptar-
se aos ambientes domésticos, comunitários,
intenso de aulas parecem ocorrer mudanças escolar, etc.[...] a rotina diária estruturada
“significativas nas habilidades de linguagem, oferece uma previsibilidade de acontecimentos,
motoras, interação social e a aprendizagem”. que permite situar a criança no espaço e no
tempo, onde organização de todo contexto
se torna uma referência para a sua segurança
Partindo disso a escola deve oportunizar interna, diminuindo assim os níveis de
estratégias que permitam a esse aluno o angústia, ansiedade, frustração e distúrbios do
comportamento. (BEREOHFF, 1993, p.15).
desenvolvimento dos conteúdos e a interação
com as demais atividades escolares.
Partindo disso a escola deve oportunizar
O conteúdo do programa de uma criança autista estratégias que permitam a esse aluno o
deve estar de acordo com seu potencial, de
acordo com sua idade e de acordo com o seu desenvolvimento dos conteúdos e a interação
interesse. Se a criança estiver executando com as demais atividades escolares.
uma atividade nova de maneira inadequada, é

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O nível de desenvolvimento da aprendizagem do autista geralmente é lento gradativo, portanto, caberá


ao professor adequar o seu sistema de comunicação a cada aluno. O aluno deve ser avaliado para colocá-
lo num grupo adequado, considerando a idade global, fornecida pelo PEP-R, desenvolvimento e nível de
comportamento. É de responsabilidade do professor a atenção especial e a sensibilização dos alunos e dos
envolvidos para saberem quem são e como se comportam esses alunos autistas. (SANTOS, 2008, p. 30).

A criança autista que consegue obter um bom rendimento intelectual pode se tornar um
adulto independente. Os conteúdos trabalhados devem ser por intermédio da socialização
(SCHWARTZMAN & ASSUMPÇÃO, 1995).

Schwartzman & Assumpção (1995), afirmam ainda que algumas das crianças autistas
conseguem ajuda por meio de tratamentos medicamentosos. A participação de um psicólogo
é indispensável, inclusive para orientar a família e a escola.

Os objetivos da intervenção educacional dependerão do grau de comprometimento nas várias áreas de atuação.
Pacientes com prejuízos cognitivos importantes, os esforços deverão se dirigir deforma específica, no sentido
de se tentar a comunicação e a interação social, na redução de alterações comportamentais, na maximização
do aprendizado e independência nas atividades da vida cotidiana. Autistas com compreendimento intelectual
podem vir a chegar como adultos a ter uma vida independente. Autor traz em sua obra um esquema do
guia curricular, isto é, são conteúdo a serem trabalhados e objetivos a serem alcançados. Os conteúdos são:
socialização, comunicação, cuidados próprios, desenvolvimento cognitivo e motor. Os objetivos são: estimular
o desenvolvimento social e afetivo visando a participação ativa no grupo social; assimilar a linguagem e
desenvolver a compreensão de conteúdos verbais; escrever corretamente e usar a escrita como meio de
comunicação; desenvolver hábitos de vida diária e cuidados pessoais; estimular o desenvolvimento cognitivo
visando aprimorar a capacidade de resolver problemas na busca de uma melhor qualidade de vida e perceber
utilizar o próprio corpo; participar de atividades e competições.(SCHAWARTZMAN & ASSUMPÇÃO, 1995, p.
53).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pensar no autismo e no modo de como a criança autista
constrói seu conhecimento, nos revela várias questões que
perpassam o meio social e a forma como compreendemos o
mundo. A sociedade estabelece um padrão de indivíduo e tenta
enquadrá-los nesse padrão. Cada pessoa é um ser único dotado
de singularidades e potencialidades a serem descobertas. Assim, a
aprendizagem deve ser também diferenciada, configurada em um
ambiente estimulador, de interação com outros colegas, tornando-
os todos participativos. A ludicidade consegue favorecer essa
interação, no qual o aluno é um ser que descobre e constrói seus
conhecimentos. JORGE FERNANDO
INÁCIO
Para atender a criança autista, são necessários métodos e
Graduação em Letras pela
técnicas adaptadas para que a inclusão aconteça. Um planejamento Faculdade FAENAC – Faculdade
sistematizado em que as brincadeiras, jogos e música sejam Editora Nacional (2007); E
aplicados constantemente ajudando os alunos autistas a especialista em Ensino Superior;
Professor de Ensino Fundamental
reconhecerem o mundo ao seu redor que favoreça a interação II e Médio – Língua Inglesa na
entre os pares. Este trabalho confirmou a necessidade de um Rede Pública de Ensino – EMEF
ambiente lúdico não só para atender aos alunos com necessidades Vinícius de Moraes.

educativas especiais, mas a todos os alunos, independentemente


da realidade econômico, social ou racial, ou maturacional.

Ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que cada criança com desenvolvimento
atípico seja vista em sua singularidade e adquira autonomia. A escola é uma instituição formal que
deve promover orientações para as famílias a fim de garantir seus direitos e promover a independência
dos indivíduos com necessidades educativas especiais. Daí a importância do professor ressignificar a
sua prática docente, revisar suas concepções, pois está sempre a influenciar os alunos, uma prática
pedagógica reflexiva com vistas as especificidades do aluno. Elaborar aulas dinâmicas tendo o aluno
como foco norteador de suas ações.

É comprovada a importância do lúdico presente nas práticas pedagógicas na escola infantil, para o
desenvolvimento, aprendizagem, socialização e formação pessoal e social das crianças. É no brincar
que as crianças, tendo deficiência ou não, são incentivadas e estimuladas a aprender, propiciando
que tenham o conhecimento de suas próprias capacidades, a valorização do outro nas interações e
desenvolvimento da comunicação, enriquecendo o aprendizado e contribuindo com sua formação
pessoal e social

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
AMARAL, João J. F. Como fazer uma pesquisa bibliográfica. Ceará: Universidade Federal
do Ceará, 2007. 21 p. Disponível em :<http://200.17.137.109:8081/xiscanoe/courses1/
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Acesso em: 29 de Março de 2018.

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BRASIL. Ministério da Educação. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes


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Diretoria de Currículos e Educação Integral. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da
Educação Básica. Brasília: MEC/SEB/DICEI, 2013. Acesso em: 29 de Março de 2018.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

É BRINCANDO QUE SE APRENDE: A


IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA O
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
RESUMO: Dentre os vários aspectos ligados à infância, elegemos como objeto desta
investigação algumas questões presentes no ato de brincar da criança, atividade considerada
importante para o desenvolvimento infantil, segundo muitas perspectivas teóricas na
Psicologia. Focamos as análises nos conceitos desenvolvidos por Lev S. Vygotsky, percorrendo
suas principais contribuições sobre o tema. O presente estudo teve como objetivo analisar
a relação do lúdico com o desenvolvimento e a aprendizagem. Tratou-se de pesquisa
bibliográfica. Como resultado, foi possível mostrar o quanto o brincar é imprescindível para
o desenvolvimento infantil e o quanto fundamenta a aprendizagem por meio de avanços
sociais e cognitivos mediados pelo brinquedo.

Palavras-Chave: Brinquedo;aprendizagem;construção;significado;criança.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO proposta educacional para o enfrentamento


das dificuldades.
A brincadeira tem sido fonte de pesquisa
na Psicologia devido a sua influência no O presente artigo procura conceituar
desenvolvimento infantil e pela motivação o lúdico, demonstrar sua importância
interna para tal atividade. O brincar, tão no desenvolvimento infantil e dentro da
característico da infância, traz inúmeras educação como algo que possibilita mais
vantagens para a constituição da criança, vida, prazer e significado a aprendizagem,
proporcionando a capacitação de uma série tendo em vista que é particularmente
de experiências que irão contribuir para poderoso para estimular a vida social e o
o desenvolvimento futuro dela. Um dos desenvolvimento construtivo da criança.
pensadores que desenvolveu uma teoria
sobre o tema foi Lev S. Vygotsky, o qual buscou
compreender a origem e o desenvolvimento É BRINCANDO QUE SE
dos processos psicológicos ao longo da APRENDE : A IMPORTÂNCIA
história da espécie humana, levando sempre
em conta a individualidade de cada sujeito,
DO BRINCAR PARA O
o qual está imerso no meio cultural que DESENVOLVIMENTO
o define. Para ele, o homem constitui-se INFANTIL
enquanto ser social e necessita do outro
para desenvolver-se. Vygotsky, ao longo NOÇÕES GERAIS DO BRINCAR
de sua obra, discute aspectos da infância,
destacando-se suas contribuições acerca Ao consultar um dicionário, deparamo-
do papel que o brinquedo desempenha, nos com diversos significados para a palavra
fazendo referência a sua capacidade de brincar, e todos eles nos passam a idéia de
estruturar o funcionamento psíquico da diversão, distração, agitação, faz de conta.
criança. Vygotsky fala que o brinquedo A brincadeira é o lúdico em ação. Brincar é
ajudará a desenvolver uma diferenciação importante em todas as fases da vida, mas
entre a ação e o significado. A criança, com na infância ele é ainda mais essencial: não é
o seu evoluir, passa a estabelecer relação apenas um entretenimento, mas, também,
entre o seu brincar e a idéia que se tem dele, aprendizagem. A criança, ao brincar, expressa
deixando de ser dependente dos estímulos sua linguagem por meio de gestos e atitudes,
físicos, ou seja, do ambiente concreto que as quais estão repletas de significados,
a rodeia. O brincar relaciona-se ainda com visto que ela investe sua afetividade nessa
a aprendizagem. Brincar é aprender; na atividade. Por isso a brincadeira deve ser
brincadeira, reside a base daquilo que, mais encarada como algo sério e fundamental para o
tarde, permitirá à criança aprendizagens mais desenvolvimento infantil. As crianças utilizam
elaboradas. O lúdico torna-se, assim, uma o brinquedo para externar suas emoções,

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construindo um mundo a seu modo e, dessa estimula a auto-estima e ajuda a desenvolver


forma, questionam o universo dos adultos. relações de confiança consigo e com os
Elas já nascem em um meio pautado por regras outros. Colabora para que a criança trabalhe
sociais e o seu eu deve adaptar-se a essas sua relação com o mundo, dividindo espaços e
normas. Na brincadeira, ocorre o processo experiências com outras pessoas. “Nenhuma
contrário: são as normas que se encaixam em criança brinca só para passar o tempo, sua
seu mundo. Não é uma tentativa de fuga da escolha é motivada por processos íntimos,
realidade, mas, sim, uma busca por conhecê- desejos, problemas, ansiedades. O que
la cada vez mais. No brincar, a criança constrói está acontecendo com a mente da criança
e recria um mundo onde seu espaço esteja determina suas atividades lúdicas; brincar é
garantido. As pressões sofridas no cotidiano sua linguagem secreta, que devemos respeitar
de uma criança são compensadas por sua mesmo se não a entendemos.” (GARDNEI
capacidade de imaginar; assim, fantasias de apud FERREIRA; MISSE; BONADIO, 2004)
super-heróis, por exemplo, são construídas. Todos esses benefícios do brincar devem ser
(MELO & VALLE, 2005) Aberastury (1972) reforçados no meio escolar. Como já foi dito,
complementa enfatizando que a brincadeira a brincadeira facilita o aprendizado e ativa a
infantil é um meio de pôr para fora os medos, criatividade, ou seja, contribui diretamente
as angústias e os problemas que a criança para a construção do conhecimento.
enfrentou. Por meio do brinquedo, ela Portanto os professores devem estar
revive de maneira ativa tudo o que sofreu de atentos para essa prática lúdica e aprimorar
maneira passiva, modificando um final que lhe uma contextualização para as brincadeiras.
foi penoso, consentindo relações que seriam Por meio da observação do brincar, os
proibidas na vida real. “Brincar de forma educadores são capazes de compreender as
livre e prazerosa permite que a criança seja necessidades de cada criança, os seus níveis
conduzida a uma esfera imaginária, um mundo de desenvolvimento, a sua organização e,
de faz de conta consciente, porém capaz a partir daí, de planejar ações pedagógicas.
de reproduzir as relações que observa em Segundo Melo e Valle (2005), é por meio
seu cotidiano, vivenciando simbolicamente do brinquedo e de sua ação lúdica que a
diferentes papéis, exercitando sua capacidade criança expressa sua realidade, ordenando e
de generalizar e abstrair” (MELO & VALLE, desordenando, construindo e desconstruindo
2005, p. 45). A brincadeira proporciona à um mundo que lhe seja significativo e que
criança um contato com sentimentos de corresponda às necessidades intrínsecas
alegria, sucesso, realizações de seus desejos, para seu desenvolvimento global. O brincar
bem como o sentimento de frustração. Esse estimula a criança em várias dimensões, como
jogo de emoções a ajuda a estruturar sua a intelectual, a social e a física. A brincadeira a
personalidade e a lidar com angústias. O leva para novos espaços de compreensão que
brincar prepara para futuras atividades de a encoraja a prosseguir, a crescer e a aprender.
trabalho: evoca atenção e concentração,

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PRA QUE BRINCAR? centrados na busca do “eu”. É no brincar


que se pode ser criativo, e é no criar que se
Conforme Santos (1999), para a criança, brinca com as imagens e signos fazendo uso
brincar é viver. Esta é uma afirmativa do próprio potencial;
bastante usada e aceita, pois a própria
história da humanidade nos mostra que as ● do ponto de vista pedagógico, o brincar
crianças sempre brincaram, brincam hoje tem-se revelado como uma estratégia
e, certamente, continuarão brincando. poderosa para a criança aprender.
Sabemos que ela brinca porque gosta de
brincar e que, quando isso não acontece, A partir do que foi mencionado sobre
alguma coisa pode não estar bem. Enquanto o brincar nos mais diferentes enfoques,
algumas crianças brincam por prazer, outras podemos perceber que ele está presente
brincam para dominar angústias, dar vazão à em todas as dimensões da existência do ser
agressividade. humano e, muito especialmente, na vida das
crianças. Podemos afirmar, realmente, que
Vejamos o enfoque teórico dado ao brincar “brincar é viver”, pois a criança aprende a
por Santos (1999), dentre vários pontos de brincar brincando e brincar aprendendo.
vista :
A criança brinca porque brincar é uma
● do ponto de vista filosófico, o brincar necessidade básica, assim como a nutrição,
é abordado como um mecanismo para a saúde, a habitação e a educação são
contrapor à racionalidade. A emoção deverá vitais para o desenvolvimento do potencial
estar junto na ação humana tanto quanto a infantil. Para manter o equilíbrio com o
razão; mundo, a criança necessita brincar, jogar,
criar e inventar. Estas atividades lúdicas
● do ponto de vista sociológico, o brincar tornam-se mais significativas à medida que
tem sido visto como a forma mais pura de se desenvolve, inventando, reinventando e
inserção da criança na sociedade. Brincando, construindo. Destaca Chateau (1987, p.14)
a criança vai assimilando crenças, costumes, que “Uma criança que não sabe brincar, uma
regras, leis e hábitos do meio em que vive; miniatura de velho, será um adulto que não
saberá pensar.”
● do ponto de vista psicológico, o brincar
está presente em todo o desenvolvimento da Por meio da psicologia, temos
criança nas diferentes formas de modificação conhecimento que, além de ser
de seu comportamento; genético, o brincar é fundamental para o
desenvolvimento psicossocial equilibrado
● do ponto de vista da criatividade, tanto do ser humano. Por intermédio da relação
o ato de brincar como o ato criativo estão com o brinquedo, a criança desenvolve a

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afetividade, a criatividade, a capacidade de maturação do organismo, independentes da


raciocínio, a estruturação de situações, o informação do ambiente (a maturação sexual,
entendimento do mundo. A autora Wajskop por exemplo). Em Vygotsky, justamente
(1995, p.68) diz: “Brincar é a fase mais por sua ênfase nos processos sócio-
importante da infância - do desenvolvimento históricos, a idéia de aprendizado inclui a
humano neste período - por ser a auto-ativa interdependência dos indivíduos envolvidos
representação do interno - a representação no processo. (...) o conceito em Vygotsky
de necessidades e impulsos internos”. tem um significado mais abrangente, sempre
envolvendo interação social. (OLIVEIRA,
Brincando, o sujeito aumenta sua 1995, p. 57). Oliveira (1995)
independência, estimula sua sensibilidade
visual e auditiva, valoriza sua cultura popular, interpreta Vygotsky, afirmando que
desenvolve habilidades motoras, exercita sua o aprendizado é um aspecto necessário
imaginação, sua criatividade, socializa-se, para o desenvolvimento das funções
interage, reequilibra-se, recicla suas emoções, psicológicas, as quais são organizadas
sua necessidade de conhecer e reinventar e, pela cultura e, assim, caracterizam-se
assim, constrói seus conhecimentos. como especificamente humanas. Há o
percurso natural do desenvolvimento
RELAÇÕES ENTRE BRINCADEIRA E definido pela maturação humana, mas é o
APRENDIZADO aprendizado junto ao contato do indivíduo
com um ambiente cultural que possibilita
Para Vygotsky (1988), aprendizado e o acontecer dos processos psicológicos
desenvolvimento estão inter-relacionados internos. O desenvolvimento da pessoa está
desde o primeiro dia de vida. Assim, é fácil extremamente ligado a sua relação com o
concluir que o aprendizado da criança começa ambiente sócio-cultural e só irá vingar se tiver
muito antes de ela freqüentar a escola. o contato e o suporte de outros indivíduos
Todas as situações de aprendizado que são de sua espécie. O desenvolvimento fica
interpretadas pelas crianças na escola já impedido de ocorrer na falta de situações
têm uma história prévia, isto é, a criança já propícias ao aprendizado. Com isso, é
se deparou com algo relacionado do qual possível entender que o brincar auxilia a
pode buscar experiências. Aprendizagem criança nesse processo de aprendizagem. Ele
é o processo pelo qual o indivíduo adquire vai proporcionar situações imaginárias em
informações, habilidades, atitudes, valores, que ocorrerá o desenvolvimento cognitivo
etc. a partir de seu contato com a realidade, e irá proporcionar, também, fácil interação
o meio ambiente, as outras pessoas. É um com pessoas, as quais contribuirão para um
processo que se diferencia dos fatores inatos acréscimo de conhecimento. Dessa forma, é
(a capacidade de digestão, por exemplo, que imprescindível a utilização de brincadeiras
já nasce com o indivíduo) e dos processos de no meio pedagógico. Como coloca Ferreira,

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Misse e Bonadio (2004), o brincar deve ser um dos eixos da organização escolar: a sala de
aula fica mais enriquecida de desenvolvimento motor, intelectual e criativo da criança. Esse
fato se mostra ainda mais importante hodiernamente, tempo em que as crianças vivem mais
isoladas em seus apartamentos pequenos, onde os pais estão cada vez mais envolvidos com
seus trabalhos e raramente têm tempo para praticar alguma recreação.

AS TRÊS ETAPAS FUNDAMENTAIS DA BRINCADEIRA

De 0 a 2 anos de idade, a criança participa do que chamamos de Jogos de Exercício. Nessa


etapa, a criança está adquirindo suas competências motoras e desenvolvendo autonomia. Ela
demonstra alegria ao imitar a fala e demanda que os adultos a coloquem no chão. Também
revela prazer ao descobrir seu corpo através dos sentidos. E assim, as brincadeiras da criança
se desenvolvem em torno da exploração dos objetos através dos sentidos _ e é essencial ter
cuidado com artefatos pequeninos, que as crianças tendem a inserir nas narinas, na boca e
nos ouvidos! Com os chamados “jogos de manipulação”, a criança fortalece a autoestima.

Entre os 2 e os 7 anos de idade, a simbologia passa a exercer um papel fundamental


nas brincadeiras da criança. Daí a preferência por fantoches, desenhos, histórias e “faz de
conta”. Nessa fase, a criança já é capaz de produzir imagens mentais e, com a fala, substitui
objetos por símbolos. Através desta simbologia, a criança compreende os papéis sociais que
integram sua cultura, como o do pai, da mãe, professores, irmãos, entre outros.

A partir dos 7 anos de idade, a criança passa a ter um entendimento melhor sobre seguir
regras. Daí a importância de brincadeiras e jogos nos quais a

criança desenvolva estratégias para tomar decisões. Desse modo, as crianças interagem
socialmente, descobrindo que não são os únicos sujeitos envolvidos nas ações, desenvolvendo
a empatia e a capacidade de entender os objetivos de outras pessoas.

Através de jogos com regras, as crianças aprendem também a controlar o comportamento


impulsivo. Portanto, de acordo com cada jogo, a criança desenvolve competências para
adaptar seu comportamento. Dados os objetivos e a estrutura do jogo, a criança desenvolve
sua capacidade de pensar e refletir sobre seus próprios atos, fazendo uma autoavaliação de
seu progresso, habilidades e de seu comportamento .

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A brincadeira revela-se como um instrumento de extrema
relevância para o desenvolvimento da criança. Sendo uma atividade
normal da fase infantil, merece atenção e envolvimento. A infância
é uma fase que marca a vida do indivíduo e o brincar nunca deve
ser deixado de lado, mas, pelo contrário, deve ser estimulado, já
que é responsável pelo auxílio nas evoluções psíquicas. Os estudos
de Vygotsky contribuíram para a construção de conhecimentos
imprescindíveis no desenvolvimento da aprendizagem, entendendo
que o brincar satisfaz certas necessidades da criança e que essas JOSIVAN JOSE DE
necessidades são distintas em cada fase do desenvolvimento OLIVEIRA SILVA
da criança, pois as mudanças decorrem ao longo do processo
Graduação em Filosofia pela
de maturação. Com isso, o brincar toma novos contornos, Universidade Bandeirantes de
modificando-se, também, para atender às necessidades que irão São Paulo (2011);Graduação em
surgindo no contexto do desenvolvimento infantil . O crescimento Artes Visuais pela Universidade
Metropolitana de Santos (2014)
da criança vai evidenciar que, por meio do brinquedo, ela liberta seu Especialista em Psicopedagogia
pensamento para que não fique estritamente ligado aos estímulos Clínica e Institucional, e
perceptuais. Ela consegue imaginar uma situação, desligando-se Pedagogia, pela Faculdade de
Morro Agudo.(2014); Professor
do mundo material, concreto do qual tem contato, desenvolvendo de Ensino Fundamental II - Artes,
assim capacidade de se desprender do real significado do objeto, e Orientador de Ensino Integral
(da madeira, por exemplo), podendo imaginá-lo como um boneco. - na EMEF Senador Milton
Campos., Professor de Educação
Nesse momento, o pedaço de madeira passa a ter outro sentido, Básica – Filosofia - na E.E Dr.
indo além do seu aspecto e significado concreto. A relação entre Ubaldo Costa Leite
o desenvolvimento, o brincar e a mediação são primordiais para a
construção de novas aprendizagens. Existe uma estreita vinculação entre as atividades lúdicas e as
funções psíquicas superiores, assim pode-se afirmar a sua relevância sócio-cognitiva para a educação
infantil. As atividades lúdicas podem ser o melhor caminho de interação entre os adultos/criança, e
crianças x crianças a fim de gerar novas formas de desenvolvimento e de reconstrução de conhecimento.

O lúdico proporciona um desenvolvimento sadio e harmonioso, sendo uma tendência instintiva da


criança. Ao brincar, a criança aumenta a independência, estimula sua sensibilidade visual e auditiva,
valoriza a cultura popular, desenvolve habilidades motoras, diminui a agressividade, exercita a
imaginação e a criatividade, aprimora a inteligência emocional, aumenta a integração, promovendo,
assim, o desenvolvimento sadio, o crescimento mental e a adaptação social.

Enfim, a brincadeira é sinônimo de aprendizagens, mas cabe ao adulto potencializar em igual medida
experiências que impliquem em interações das crianças com os mais distintos conhecimentos e bens
culturais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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WAJSHOP, Gisela. Brincar na pré-escola. São Paulo: Cortez, 1995. WINNICOTT, D.W. O
Brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975

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Revista Educar FCE - Abril 2019

AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE


SUPERAM A INDISCIPLINA NA
ESCOLA
RESUMO: Este trabalho traz uma reflexão sobre quais práticas pedagógicas superam a
indisciplina. Acredita-se que este assunto interfere diretamente no processo de ensino-
aprendizagem, como fator agravante para o não aprendizado pelo aluno. A partir deste foco o
presente estudo será desenvolvido por meio de uma pesquisa bibliográfica. Será conceituada
indisciplina, analisaremos a relação entre professor aluno e família, apresentaremos possíveis
alternativas pedagógicas para a resolução deste problema e a importância da formação dos
professores. Por intermedio da pesquisa feita foi possível observar que não existe somente
uma causa geradora da indisciplina e sim, vários fatores que ocasionam essa situação, com
um bom trabalho entre a escola, família e sociedade é possível minimizar os efeitos da
indisciplina no ambiente escolar. Promove, portanto o entendimento e conscientização da
importância para a formação do cidadão que conheça e lute por seus direitos, mas que
também tenha ciência de seus deveres.

Palavras-Chave: Indisciplina; Intervenção; Educando; Educador; Família.

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INTRODUÇÃO não, supérfluo, e assim por diante. Quando


o limite é apresentado com afeto, a criança
Ser professor nunca foi uma tarefa simples, o aceita mais facilmente. Sem dúvida, não é
hoje, porém, novos elementos vieram tornar o um trabalho fácil, mas geralmente funciona.
trabalho docente ainda mais difícil, a disciplina Além da família, cabe à escola este papel.
parece ter se tornado particularmente Afinal, os educadores continuam a deter
problemática. parte considerável da responsabilidade pela
formação da criança.
Analisar as causas do problema é
preocupação sobre a qual, hoje, se debruçam As crianças aprendem a comportar-se em
todos os que estão envolvidos com educação, sociedade ao conviver com outras pessoas,
que desejam uma escola de qualidade. É principalmente com os próprios pais. A maioria
claro que são inúmeros, não apenas um, dos comportamentos infantis é aprendida por
os elementos que concorrem para a atual meio da imitação, da experimentação e da
situação educacional brasileira. invenção.

É necessário e essencial à educação saber Pretendemos refletir sobre os fatores


estabelecer limites e valorizar a disciplina, contribuintes para crianças indisciplinadas;
e para isso é necessária a presença de mencionar atitudes dos professores que
uma autoridade saudável. O segredo que contribuam para a melhoria da relação
difere autoritarismo do comportamento de professor-aluno; analisar o papel da escola
autoridade adotado para que outra pessoa se frente aos problemas de convivência dos
torne mais educada ou disciplinada está no alunos na escola.
respeito à autoestima.
Para aprofundamento ao tema, foi realizada
As instituições de ensino, cuja tarefa é uma pesquisa de caráter bibliográfico, com
introduzir as crianças nas normas da sociedade, abordagem qualitativa, a partir de leituras em
muitas vezes se omitem. Trazer e despertar o livros, revistas, artigos, e sites, enfocando os
interesse de pais e educadores é fundamental, autores Aquino, Passos, Piaget, Vasconcelos,
os limites da disciplina numa maneira lúdica e entre outros.
realista, mostrando que pai ou professor, é o
educador, e não pode se esquivar da tarefa de
apontar na medida certa, os limites para que INDISCIPLINA E O
os jovens se desenvolvam bem e consigam PROFESSOR
viver bem em harmonia.
A indisciplina é hoje uma das principais
A força dos pais está em transmitir aos problemáticas vivenciadas no interior da
filhos a diferença entre o que é aceitável ou escola e é discutida por muitos autores.

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Para Vasconcelos (2001), “é uma reação Esses alunos considerados disciplinados


dos alunos decorrente do uso incorreto e sempre são mais valorizados pelo docente.
do abuso da autoridade e superioridade do
professor em relação à sala de aula. ” Essa Esse bom comportamento, de certa forma,
reação muitas vezes é apenas o silêncio do está associado aos limites que o professor
aluno, mas também pode ser demonstrada considera correto. La Taille (2001), explica
por uma agressividade e rispidez que que “existem duas maneiras de enxergar os
desafiam e testam os limites do professor. limites. Uma delas é vê-lo como um obstáculo
Em alguns casos, brincadeiras brutas, de a ser vencido, transposto, outro é vê-lo de
caráter agressivo podem ser consideradas forma mais negativa, como uma barreira
agressivas sem o serem, uma vez que o ato que não deve ser ultrapassada”. De fato,
agressivo não envolve intenção de causar La Taille (2001) diz que “existem situações
dano ao outro. em que o limite deve ser visto como uma
barreira, como é o caso das regras, que são
Segundo Aquino (1996), “a indisciplina criadas para favorecer o convívio social, para
é o pesadelo da maioria dos professores. ” impor limites que impedem que o indivíduo
Ela está relacionada à agitação, a confusão e prejudique o outro”.
barulhos, ou seja, está ligada a uma ação que
causa algum tipo de transtorno na sala de No caso da sala de aula, o limite é
aula e ao desvio comportamental do discente. importante para manter a ordem e evitar
Ela deve ser controlada imediatamente pelo conflitos entre os alunos; são as regras, os
professor para evitar que se transforme uma limites citados anteriormente em forma de
desordem geral da sala. barreiras que não devem ser transpostas e, o
bom aluno, como dito anteriormente, seria,
“A disciplina dentro da sala de aula é para muitos professores, aquele que cumpre
essencial para ocorrer a harmonia necessária as regras estipuladas. No entanto, essas
para que o indivíduo possa utilizar todo o regras antes de construídas deveriam ser
seu potencial para organizar suas ideias e discutidas e não deveriam privar o aluno da
pensamentos” (VASCONCELOS, 2001). participação, pois como diz Furlani (1998),
“para construir o conhecimento o aluno deve
Segundo Aquino (1996): ter liberdade de se expressar e participar”.

Os professores definem disciplina como o Entende-se a indisciplina como uma


comportamento apresentado pelos bons
alunos que realizam todos os deveres de casa, temática fundamentalmente pedagógica,
que prestam atenção na aula participando talvez a compreendes como um sinal, um
da atividade proposta e que não se deixam indício de que a intervenção docente não
influenciar pelo tumulto causado pelos outros
alunos indisciplinados. está atingindo os objetivos esperados. O
trabalho docente é compreendido como a

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associação de duas “dimensões”, uma que é por meio de ações reflexivas, já que seu
a dos conteúdos específicos e outra é a dos maior desafio é formar o cidadão capaz de
métodos, a fórmula da intervenção docente atuar na sociedade, exercendo seus deveres
resume-se em “ensino algo de alguma forma”. e direitos com autonomia.

O docente tem autonomia em sala de Passos, diz que:


aula, portanto deve perceber se o que está
sendo proposto em sala de aula está sendo Na verdade, nossas escolas podem se constituir
em espaços onde a cultura e as experiências dos
compreendido pelo aluno, se tal conteúdo alunos e dos professores (seus modos de sentir
delimita o valor social da ação escolar, qual e ver o mundo, seus sonhos, desejos, valores e
relevância e o sentido da escola para seu necessidades) sejam os pontos basilares para a
efetivação de uma educação que concretize um
dia a dia. Estas indagações são inadiáveis projeto de emancipação dos indivíduos. (1996,
porque se o educador tiver ciência quanto p 121).
sua intervenção e o valor de seu trabalho, ele
encontrará estratégias para o enfretamento Ao valorizar o papel a escola, entende-
da indisciplina e do aluno desinteressado. se que um de seus objetivos é que os
educandos aprendem as posturas válidas na
De acordo com Aquino (1998): nossa cultura.

Curiosamente, essa ideia parece apontar na Nesse sentido,


mesma direção para a qual o aluno indisciplinado
está incessantemente nos chamando atenção?
Qual a relevância e o sentido do estudo, do A prática escolar cotidiana deve dar condições
conhecimento? É essa pergunta que ela está para que as crianças não somente conheçam
fazendo: para que a escola me transforma? E estas expectativas, mas também construam e
qual é meu ganho, de fato, com isso? interiorizem estes valores, e, principalmente,
desenvolvam mecanismos de controle
reguladores de sua conduta para que isto ocorra,
É sabido que é necessário a discussão a escola e os educadores precisam aprender
entre educador e educando sobre a adequar suas exigências as possibilidades e
função social da escola, ou seja, construir necessidades dos alunos (como por exemplo,
quanto a sua capacidade de concentração,
conhecimento cientifico e formação do possibilidades motoras, compreensão de
cidadão crítico e reflexivo. Vale ressaltar determinadas matérias, etc.) (REGO, 1996, p.99)
que a postura pedagógica do educador,
influência positivamente ou negativamente A indisciplina nos dias de hoje se tornou
no comportamento do educando. um dos maiores obstáculos pedagógicos.
Entende-se o ato indisciplinado, ações que
Faz parte da prática docente, a tarefa não estão de acordo com as leis e normas
educativa de adequar suas exigências no estabelecidas em comunhão.
que se refere à disciplina. Nesse sentido o
educador deve promover a conscientização,

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A indisciplina tem sido a preocupação educando e o descumprimento das normas


central dos educadores, e considerado como pré-estabelecidas.
principal causa do fracasso escolar.
A total responsabilização dos educandos
Sabido que o educador deve ser pelo que acontece de “errado” no contexto
pesquisador e deve repensar diariamente sua escolar, de mau rendimento a mau
prática educacional, deve-se buscar a melhor comportamento, faz pardo do discurso oficial
compreensão sobre o agir de educando, que e rotineiro de educadores. O educando é
se almeja encontrar as soluções para os rotulado como responsável pela desordem
problemas de indisciplina. da sala, rebaixando sua autoestima. Não se
trata de isenta-lo da culpa, mas de comunhão
Com intuito de descobrir as causas da professor/aluno, ocorrer um certo grau
indisciplina no agir infantil, faz-se essencial de tomada de consciência que tem por
a valorização do convívio em comunidade, finalidade, compreensão de tal postura.
e um ensino que estimule o diálogo entre
professor e aluno, para compreensão do ato Ao eleger o aluno-problema com um
indisciplinado. empecilho para o trabalho pedagógico,
o docente acaba criando armadilhas que
Neste sentido, considerados, como já apenas justificam o fracasso escolar;
colocamos anteriormente, um dos principais esquecendo assim o primordial “o aluno e
responsáveis pelo fracasso das aprendizagens sua aprendizagem”, não se deve ao educando
escolares - são o produto, de um lado, da a responsabilidade pela desobediência,
inadequação ou insuficiência do método senão continuará atuando com indisciplina
de ensino empregado; de outro, de uma e pouco ou nada se avançará. O educador
possível imaturidade psicológica da criança, deve intervir com estratégias diferenciadas.
imaturidade esta que, vale dizer, também
tem sido motivo de investigação e para qual A escola quando desenvolve ações educativas
oscilam como responsáveis , ora no meio de sucesso na sua prática profissional tende
social e/ou familiar no qual estão inseridas a reproduzi-las. Em situações de troca de
as crianças , ora a existência de uma falha experiências entre educador e educando,
na real do organismo, isto é, um problema ambos poderão testar suas hipóteses e opiniões,
biológico.” (MEDEIROS, 1997, p.93). buscando convencer o outro. Durante essa
troca de ideias a argumentação está presente o
Para superação da indisciplina faz-se diálogo entre educador e educando que contribui
necessáriaarevisãodasestratégiaspedagógicas, para troca de experiências conhecimento e a
o repensar os mecanismos escolares e da defesa de opiniões, cabendo ao educador dar
ação docente é de extrema importância para importância as opiniões e potencialidades do
compreender o mau comportamento do educando.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

“pronto”, sistematizado, outro, bem diferente, é


O diálogo exprime pensamentos, este conhecimento em movimento, tencionado
sentimentos e comportamentos em diversas pelas questões da existência, sendo montado e
circunstâncias. Para garantir o sucesso com desmontado (engenharia conceitual). Aprende-
se a pensar, ou, se quiserem, aprende-se a
o diálogo, faz se necessário que o educador
aprender”. (2003, p.58).
leve em consideração o contexto em que o
aluno está inserido.
O educador não pode usar de forma
De acordo com os autores Oliveira e abusiva sua autoridade em sala de aula,
Mazzotti (2000), o mesmo deve em comunhão com seus
educandos, fazer negociações em relação a
“A argumentação faz parte do diálogo entre as questão do cumprimento das regras.
pessoas no dia a dia, suas falas não emitem apenas
informações, possuem outras intenções, dentre
elas a de convencer, conquistar o interlocutor, Em suma, a negociação constante entre
convencê-lo de suas qualidades (inteligência, professor e aluno, quer com relação a
coerência, capacidade de organização, etc.), visa
inclusive a uma apreciação afetiva, em grande definição de estratégias de ensino e à
parte dos casos, o locutor quer que o interlocutor disciplina, pois esta, se autoritariamente,
goste dele”. (OLIVEIRA, MAZZOTI,2000, P.52) jamais será aceita pelos alunos.

Para superação da indisciplina, o Neste sentido:


educador tem que adotar o papel de
coordenador do processo educativo, À necessidade de as escolas desenvolverem uma
diretriz disciplinar de base pedagógica legitimada
usando da autoridade democrática, cria, pela comunidade escolar, consonante com seu
em conjunto com os educadores, espaços projeto político-pedagógico. Tal diretriz deve
pedagógicos estimulantes, interessantes e incluir o desenvolvimento de orientações (regras
e procedimentos) disciplinares. A participação
desafiadores, para que ocorra a construção dos alunos é um elemento importante, pois
de um conhecimento escolar prazeroso e favorece o sentimento de pertença e implica
significativo. A inquietação e a curiosidade o exercício de algum grau de poder sobre as
disposições coletivas, bases na criação de
infantil ou do jovem, que antes eram um senso de responsabilidade comum e um
reprimidas no cotidiano escolar, hoje podem elemento de motivação. (D.Antola, 1989, p.49-
ser encaradas como instrumentos para o 59).

trabalho em sala de aula. Só dependem do


manejo do educador. Vale ressaltar a necessidade de os
professores relembrarem as regras e
Vasconcellos diz que: estimularem o seu cumprimento, é preciso
lembra-los diariamente sobre a importância
“O professor desempenha neste processo o da disciplina, a conscientização por parte do
papel de modelo, guia, referência (seja para ser
seguida ou contestado), mas os alunos podem educando é de estrema importância nesse
aprender a lidar com o conhecimento também processo.
com os colegas. Uma coisa é o conhecimento

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Para combater a indisciplina, é necessário Segundo o autor:


explicar as regras e normas para todos
envolvidos. Portanto, a medida mais profícua A disciplina escolar não consiste em um
receituário para enfrentar os problemas de
é a seguinte: no início do ano letivo as regras comportamentos dos alunos, mas em um
de funcionamento da escola e sala de aula enfoque global da organização e da dinâmica
devem ser conhecidas, partilhadas e, se do comportamento na escola e na sala de aula,
coerente com os propósitos de ensino. Para isso,
possível, negociadas por todos. é preciso sempre que possível, antecipar-se ao
aparecimento de problema e só em último caso
Sendo assim, o envolvimento do reparar os que inevitavelmente tiverem surgidos,
seja por causa da própria situação de ensino, seja
educando no conselho de escola é a grande por fatores alheios à dinâmica escolar”. (Gotzem,
tarefa dos educadores brasileiros na atual 2003, p.22)
escola: ao interagir na elaboração de regras
e normas válidas em nossa cultura, serão Para prevenir o ato indisciplinado, é
transformados os modos usuais e rotineiros importante gerar modificações no clima e na
do agir do educando. É preciso dialogar sobre imagem da escola, por meio de atividades
objetivos e limitações, mostrando aos alunos extracurriculares envolventes que valorizem
o que a escola e a sociedade esperam deles. o papel social da escola diante dos alunos.
Segundo Piaget (1997) Neste sentido, Içami Tiba, 1996 p.189,
diz “que a prevenção não depende de
Define as normas morais como regras racionais informação recebida, mas do crédito dado a
de acordo mútuo”. Uma norma é boa quando
satisfaz as “leis da reciprocidade” e para essa informação”.
reconhecer se uma norma é boa, a criança terá de
colocar-se numa perspectiva que se harmonize Sabido que não há fórmulas já prontas
com outras perspectivas. (1997, p. 435)
para lidar com a indisciplina, e que tal
comportamento constitui-se em um desafio
É de extrema importância que o educador para o docente. A experimentação de novas
desenvolva estratégias para lidar com a estratégias de trabalho faz-se necessário.
indisciplina. É necessário fazer um trabalho É indispensável a intervenção do educador
em parceria com o educando, baseado no processo ensino-aprendizagem, já que a
em responsabilidades definidas, diálogo, escola tem com o objetivo formar cidadão
compreensão e conscientização de ambos crítico, e que o mesmo tenha acesso aos
sobre a importância de respeito ao próximo. seus direitos consciência de seus deveres.
A prática educativa se propõe a dirigir
as trocas educativas, influência as novas
gerações. Não há “receitas” para superação ESCOLA, ALUNO E FAMÍLIA
da indisciplina, o educador deve fazer
intervenções com estratégias diferenciadas A escola tem a função de se inter-relacionar
diante do problema. com a família de seus alunos. É indispensável

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Revista Educar FCE - Abril 2019

à participação da família na vida escolar do apresentação de conceito, ideias, estratégias


aluno, a mesma exerce forte influência no e técnicas de ensino; é uma forma de
comportamento do indivíduo. A família pode compreender o motivo da indisciplina,
colaborar com as investigações sobre as surgindo interesse para a busca de soluções.
causas da indisciplina por parte do aluno.

A discussão de limites leva ao problema FORMAÇÃO DE PROFESSORES


de transferência de responsabilidade entre
pais e escola. Para Vasconcelos (2001): Segundo Cavaco (1995), “a sociedade
atual está em um momento de mudança, no
Atualmente muitos pais optam por uma educação qual a imagem, a aparência, o isolamento, as
mais permissiva em contraposição a educação
autoritária que tiveram, resultando em crianças relações imediatas e superficiais e as posses
e adolescentes sem limites, já outros pais, cada são valorizadas”.
vez mais ocupados, dão prioridade ao trabalho,
depois a si mesmo e depois então à educação
de seus filhos, sendo que muitos pensam que a Essa valorização de posses e boa imagem
escola tem a obrigação de educar. ficam evidentes no pensamento de alguns
pais que acreditam que só se torna professor
A escola, por sua vez, culpa os pais pela aquele que não consegue um emprego melhor,
má criação dos alunos, ignorando que a que não tem capacidade para isso. Sucesso
indisciplina pode ocorrer devido à falta de profissional está associado exclusivamente
interesse e motivação do aluno (FREIRE, ao retorno financeiro (ESTEVE, 1995).
1996). Alguns educadores rotulam os
alunos como problemáticos, desajustados Segundo o mesmo autor, além da
transpondo assim a culpa da indisciplina para desvalorização resultante do salário do
qualquer outro fator independente da escola professor, também contribui para a falta
(VASCONCELOS, 2001) de motivação do profissional o fato de seu
sucesso ser pouco reconhecido. Quando
Neste sentido, “É impossível negar, o aluno é bem-sucedido na matéria é
portanto a importância e o impacto que a parabenizado pelo seu estudo, a participação
educação familiar tem (do ponto de vista, do professor no processo da aprendizagem e
cognitivo, afetivo e moral) sobre o indivíduo. desconsiderada, no entanto, quando não tem
Entretanto, seu poder não é absoluto e o desempenho esperado a culpa, na maioria
irrestrito”. (AQUINO, 1996, p.98). das vezes, cai sobre o professor.

Em suma é de extrema importância No entanto, apesar das transformações na


feedbacks entre escola, família, educando sociedade, o processo de formação de professores
e educadores. Envolver os participantes não sofreu grandes mudanças, deixando os
no processo ensino-aprendizagem, na despreparados para atender as novas expectativas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Esteve (1995) discorre sobre mudanças no processo de formação inicial para diminuir o
problema, sendo uma delas modificar a abordagem normativa para abordagem descritiva na
formação inicial. As abordagens descritivas consideram que o sucesso do professor depende
de um conjunto de acontecimentos que influenciam a relação professor-aluno. Nesse caso,
a culpa de fracasso não é exclusiva do professor, é uma falha no processo, não em sua
personalidade como alguns acabam acreditando.

Como defendido anteriormente por Aquino (1996) e também por Vasconcelos (2001), “a
indisciplina é o pesadelo de muitos professores, estando comumente relacionado a agitação
e o barulho, mas também o silêncio pode caracteriza-la. Ela causa transtornos a aula e deve
ser controlada pelo docente imediatamente para não agravar a situação e ter uma desordem
generalizada na sala”.

A indisciplina é um assunto que sempre está envolvido em múltiplas interpretações, além


de sua complexidade em definições e classificações, um dos principais problemas ao se
tratar deste assunto é que alguns professores não se interessam em discutir, pensar e achar
um meio adequado para resolver ou ao menos amenizar o problema em sala de aula.

Há duas frentes que investigam as inovações recentes da prática docente e da formação


dos professores, elas se encaixam na concepção de ensino como ciência aplicada ou com a
prática reflexiva. A primeira defende que os problemas da prática podem ser solucionados por
meio da aplicação de teorias derivadas da investigação acadêmica. Uma base de investigação
bem estruturada permite reformular inteiramente os programas de formação de professores,
inclusive da prática. A segunda concepção defende que os professores devem usar o seu
ensino como forma de investigação para mudanças na prática, ou seja, nela a formação de
professores devem estimular e apoiar que as próprias práticas dos docentes sejam usadas
como pesquisa para tal finalidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme as pesquisas bibliográficas realizadas, vimos
que a escola, na atualidade, tem enfrentado um grande
obstáculo para o andamento e desenvolvimento das práticas
escolares, em face dos índices crescentes de indisciplina. Isso
acontece porque a escola é um sistema aberto em interação
com o meio e não está imune às tensões e desequilíbrios da
sociedade que a envolve.

É fundamental a participação da família na educação, JOYCE SANTOS


pois é do ambiente familiar que os alunos refletem seus DE SOUZA FERREIRA
comportamentos em sala de aula. A escola e a família estão
Graduação em Pedagogia pela
diretamente ligadas ao processo de formação do indivíduo, Universidade de Guarulhos
As duas, juntas, poderão amenizar situações contrárias que (2010); Especialista em Educação
surgem nesse processo. De nada adianta uma culpar a outra Infantil pela Faculdade Campos
Elísios (2018); Professor de
por determinadas situações como a indisciplina. Ensino Fundamental I - na
EMEF Armando Cridey Righetti,
Podemos observar que para se desenvolver um trabalho Professor de Educação Infantil -
na EMEB Paulo Alexandre Mosca
eficaz em relação a “indisciplina”, é preciso que o educador Cintra.
utilize diariamente novas estratégias de ensino, diferencie
suas aulas sem abrir mão do objeto de trabalho, que é o
conhecimento. Utilizando conteúdo atitudinais, e não apenas
factuais e conceituais.

É importante o professor balancear seus atos educacionais procurando estabelecer uma


relação de diálogo e amizade com seus alunos, uma vez que o professor, como mediador do
conhecimento, deve utilizar o espaço privilegiado da escola para a construção da cidadania,
baseada em princípios de igualdade, tolerância e convivência.

Em suma, o problema da indisciplina, em sua complexidade, representa um desafio para


os professores, que deve intervir com diferentes práticas pedagógicas, para superação diária
da indisciplina em sala de aula. Para fazer intervenções de sucesso o educador deve ser
primeiramente um pesquisador.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Vygotshiana. IN: AQUINO, Julio Groppa (org). Indisciplina na escola 0 alternativas teóricas e
práticas. São Paulo. EdiTORA Summus, 1996.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS NO
PROCESSO DE APRENDIZADO
RESUMO: O objetivo desse trabalho visa em trazer a discussão à importância do conhecimento
a respeito da aprendizagem de cada criança, e o que a motiva no decorrer do processo de
ensino-aprendizagem. Pois, cada um aprende de forma diferente do outro, em decorrência de
suas inteligências. Assim, vem a ser de competência do professor o conhecimento de teorias
que venham a facilitar o seu trabalho cotidiano. A escola deve cuidar e ampliar as dimensões
dos conteúdos dos componentes curriculares, incluindo o estimular das inteligências. Nesse
contexto ressalta-se que o foco central vem a ser a teoria das “Inteligências Múltiplas de
Howard Gardner”, a qual vem a ser uma alternativa plausível, tornando todo o processo de
aprendizagem eficaz, possibilitando ao docente verificar os avanços ou não de seus alunos,
podendo assim alternar ou modificar a sua metodologia de trabalho, a fim de facilitar a
aquisição de novos conhecimentos bem como na ampliação dos pré-existentes, auxiliando o
aluno a ser o construtor de o seu próprio saber. Destacando-se, também, que a teoria é uma
alternativa de conceito de inteligências como uma capacidade que permite um desempenho
maior ou menor em qualquer área de atuação do indivíduo. Para atingir os pressupostos, a
metodologia adotada foi a de revisão bibliográfica de autores que elucidam o assunto de
forma clara e concisa.

Palavras-Chave: Aprendizagem. Docente. Aluno. Inteligências Múltiplas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO interesse do mesmo sobre o conhecimento


a ser aprendido.
Cada ser humano possui uma forma
especifica e subjetiva de ser e aprender, Assim, o presente se objetiva em
o que o conduz ao longo de sua vida a apresentar a teoria das Inteligências Múltiplas
adquirir conhecimentos e desenvolve-los e a importância da sua aplicabilidade em
de forma diferentes de outros. Sendo assim, sala de aula, a fim de nortear conhecimento
cada sujeito possui maior facilidade na a respeito da mesma, bem como ações que
compreensão e entendimento, facilitando possam auxiliar o docente em seu cotidiano.
a sua aprendizagem e desenvolvimento,
em determinada área do conhecimento em Ressaltando-se que, o conhecimento a
relação à outra. respeito de uma teoria que retrata de forma
ampla as várias formas de aprendizagens,
Nesse sentido, se faz necessário o por meio das habilidades vem a ser de suam
desenvolvimento das diferentes habilidades importância, pois muitas vezes certa gama
de uma criança, pois as mesmas determinam de alunos, que frequentam as instituições
as características que classificam o tipo educacionais, são considerados incapazes
de inteligência e as suas facilidades em de aprender determinados conteúdos, sendo
apreender e adquirir conhecimentos, que, na realidade apresentam dificuldades e
considerando-se que cada pessoa possui não incapacidades.
interesses e habilidades próprias.

Nesse contexto a teoria das Inteligências A APLICABILIDADE DAS


Múltiplas desenvolvidas por Howard Gardner INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
vem de encontro, pois de acordo com a teoria
uma pessoa possui várias habilidades, o que Em dias atuais muitas teorias vem a
difere é que cada um em decorrência de sua auxiliar o professor em sala de aula no
subjetividade desperta maior interesse em decorrer de seu cotidiano, contudo deve-
determinado assunto, o que não significa se considerar que cada docente possui
que não seja capaz de aprender outro. O que uma metodologia própria, geralmente,
se faz necessário é auxiliar lhe a despertar o construída com base em princípios próprios,
interesse em conteúdos os quais considera em decorrência de sua formação, vida
difícil ou desinteressantes. profissional e pessoal. Por outro lado, deve-
se considerar que o aprendente também
Para tanto o docente necessita conhecer possui suas particularidades, subjetividades
o seu aluno, de forma global, facilidades e e especificidades que o auxilia no decorrer
dificuldades, e por meio de metodologias do processo de ensino-aprendizagem.
inovadoras e transformadoras despertar o

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Assim destaca-se que o conhecimento a A teoria de Gardner, conforme a autora,


respeito de teorias que discutem e norteiam a veio em contrapartida descaracterizando os
aprendizagem, vem a ser de suma importância testes de QI, e introduzindo outras maneiras de
ao docente, bem como, compreender e avaliar as inteligências das pessoas. Segundo
respeitar a forma de aprendizagem do aluno. Gardner (1995), é necessário que sejam
Nesse sentido Pichurski (2012), vem a retratar revistas às competências e as habilidades
que: “(...) enquanto uns ouvem, outros falam, dos seres humanos (desconhecidas pelo
gesticulam, discutem, ou fazem “mil coisas” conhecimento científico), que se deixe de
ao mesmo tempo. Todos nós desenvolvemos supervalorizar os aspectos linguísticos e
maneiras diferentes de estudar e de nos lógico-matemáticos, e que se veja o ser
concentrarmos”. humano como um todo.

Em continuidade, a autora destaca que Ainda para Pichurski (2012), partindo do


ao longo dos anos, vão sendo criadas princípio de que todos nós somos diferentes
estratégias que possibilitam a memorizar na maneira de agir, sentir e pensar deveriam
ou aprender os conhecimentos que são então, serem consideradas as “habilidades”
adquiridos, de formas diferentes, tais como: ou “dons” de cada um como inteligências,
lendo em voz alta, com música, estudando além das capacidades linguísticas e lógico
em grupos, tendo explicações diretamente matemáticas.
com o professor, pesquisando em livros e em
matérias audiovisuais. Na opinião de Campbell, Campbell e
Dickinson (2000, pag. 22) as Inteligências
Nesse sentido destaca-se a Teoria das são “linguagens que todas as pessoas falam
Inteligências Múltiplas, vem a ser uma das e são, em parte, influenciadas pela cultura
formas de explicar de como o ser humano em que a pessoa nasceu. São ferramentas
compreende as coisas e a traduz em para aprendizagem, resolução de problemas
conhecimento. Não existe um consenso e criatividade que todos os seres humanos
entre os pesquisadores sobre os pontos podem usar”.
apresentados, mas serve de parâmetro para
entender um pouco quem é o ser humano. A Nesse ponto Pichurski (2012), vem a
Teoria das Inteligências Múltiplas foi criada retratar a principal característica de cada
pelo psicólogo norte-americano Howard uma dessas inteligências:
Gardner, na década de 1980. Para entender
a teoria, se faz necessário ter em mente • Inteligência Linguística: é a habilidade
o conceito de “Educação Tradicional”, a de articular bem as palavras, tanto na
qual separava, pelos famosos testes de QI linguagem escrita quanto na falada;
(quociente de inteligência), os inteligentes
dos não inteligentes. (PICHURSKI, 2012)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

• Inteligência Lógico Matemática: é a De acordo com a teoria desenvolvida por


habilidade de entender facilmente cálculos, Gardner, cada sujeito possui as inteligências
questões aritméticos e gráficos, bem como citadas em maior ou menor grau. Todas são
de fazer prognósticos e lidar com máquinas; igualmente importantes, contudo, a escola
geralmente prioriza a inteligência lógico-
• Inteligência Espacial: é a capacidade matemática e a linguística, em detrimento
de entender facilmente formas dos das demais. Sabendo que cada um possui um
objetos e descrevê-las, localizar-se em tipo de inteligência, é inconcebível pensar
locais desconhecidos, interpretar mapas que todos aprendem da mesma forma.
e diagramas. É a habilidade de desenhar e (PICHURSKI, 2012)
pintar;
Ainda conforme a opinião da autora, a
• Inteligência corporal-sinestésica: é a mesma disciplina pode ser compreendida
capacidade de usar o corpo para expressar de formas muito diferentes e permite aos
palavras. Por exemplo, uma pessoa pode estudantes partir de suas capacidades e
representar muito bem a arte da mímica seus pontos fortes. Estas são as habilidades
e não ter talento algum para o esporte ou apresentadas por Gardner e que podem
trabalhos manuais; ajudar a compreender ou descobrir como
o ser humano pensa e age no meio no qual
• Inteligência Musical: a pessoa com esta se encontra inserido e em relação às outras
inteligência tem a habilidade de identificar organizações sociais.
sons, melodias e volume. Tem voz agradável e
facilidade para tocar instrumentos musicais; Destaca-se que quando um ser humano
vem a ser incentivado de forma a explorar
• Inteligência Intrapessoal: é a as suas habilidades, que muita das vezes se
capacidade de se autoconhecer. A pessoa encontra, de certa forma, inibida ou reprimida,
com esta inteligência reconhece facilmente vem a ser de grande valia ao aprendente,
seus sentimentos, motivações, fraquezas, pois possibilita ao mesmo a externar o seu
desenhos e intenções; conhecimento prévio, bem como a estar mais
apto na aquisição de novos, possibilitando-o
• Inteligência Interpessoal: é a habilidade a construção de o seu próprio saber.
de conhecer e compreender os sentimentos,
motivações e intenções das outras pessoas. Em corroboração, segundo os inscritos no
Pessoas com esta inteligência são líderes natos; site Portal Educação (2013), para Gardner
(1982), o desenvolvimento cognitivo é uma
• Inteligência Naturalista: é a habilidade capacidade cada vez maior de entender e
de reconhecer e classificar animais, minerais expressar o significado em vários sistemas
e plantas. simbólicos, utilizados em um contexto

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Revista Educar FCE - Abril 2019

cultural que cada área do conhecimento tem Outro fator relevante destacado nos
seu sistema simbólico próprio, sendo que inscritos no Portal Educação (s/d) vem a ser
cada sociedade desenvolve competências, que o conceito de cultura é central na Teoria
valorizadas culturalmente para sua realidade. das Inteligências Múltiplas. A definição
de inteligência como a habilidade para
Nesse sentido, as habilidades humanas resolver problemas ou criar produtos, que
não são organizadas de forma horizontal, são significativos em um ou mais ambientes
mas sim, verticalmente: por isso, ao invés culturais, sugere que alguns talentos somente
de haver uma faculdade mental geral, como se desenvolvem porque são valorizados
a memória existe formas independentes de pelo ambiente. Para Gardner, cada cultura
percepção, memória e aprendizado, em cada valoriza certos talentos, que são passados
área do conhecimento. (GAMA, 1999 apud para a geração seguinte.
PORTAL EDUCAÇÃO, 2013)
O domínio, ou inteligência, são sequências
Portanto, as crianças têm mentes muito de estágios: enquanto todos os indivíduos
diferentes umas das outras, elas possuem normais possuem os estágios mais básicos
forças e fraquezas diferentes, e é um erro em todas as inteligências, os estágios mais
pensar que existe uma única inteligência sofisticados dependem de maior trabalho ou
em torno da qual tudo pode ser comparado. aprendizado.
Para Gardner, nossa inteligência é complexa
demais para que os testes comuns sejam Nessa nuance, cita-se Oliveira (2018) que
capazes de medi-la. (PORTAL EDUCAÇÃO, em seus registros vem a retratar que para
s/d) Gardner (1995) o ser humano tem muitos
tipos de inteligência, assim se deve afastar
Ainda conforme os inscritos no referido totalmente dos testes e das correlações entre
site, para Gardner, todos os indivíduos, em eles, observar as fontes de informações mais
princípio, têm a habilidade de questionar naturalistas a respeito de como as pessoas
e procurar respostas usando todas as e o mundo se desenvolve capacidades
inteligências. Todos os indivíduos possuem importantes para seu modo de vida.
como parte de sua bagagem genética, certas
habilidades básicas em todas as inteligências. Ainda conforme o teórico, citado por
A linha de desenvolvimento de cada Oliveira (2018), vem a ser importante que
inteligência, no entanto, será determinada se tire o maior proveito das habilidades
tanto por fatores genéticos e neurobiológicos individuais, auxiliando o aluno a desenvolver
quanto por condições ambientais. Cada uma suas capacidades intelectuais, e, para tanto,
destas inteligências tem sua forma própria ao invés de usar a avaliação apenas como
de pensamento, ou de processamento de uma maneira de classificar, aprovar ou
informações, além de seu sistema simbólico. reprovar, esta deve ser usada para informar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

o discente a respeito de sua capacidade e Em continuidade, Oliveira (2018)


informar o professor sobre o quanto está enfatiza a necessidade de avaliar as
sendo aprendido. diferentes inteligências em termos de suas
manifestações culturais e ocupações adultas
Em entrevista a Revista “Mente e Cérebro” específicas. Assim, a habilidade verbal,
(2007), o teórico vem a afirmar que: mesmo na pré-escola, ao invés de ser medida
por meio de testes de vocabulário, definições
A visão tradicional a respeito da inteligência, ou semelhanças, deve ser avaliada em
que prevalece há centenas de anos, sustenta manifestações tais como: a habilidade para
que em nosso cérebro existe um único contar histórias ou relatar acontecimentos.
computador, de capacidade muito geral. Ao invés de tentar avaliar a habilidade
Quando funciona bem, a pessoa é inteligente espacial isoladamente, ou seja, observar as
e capaz de destacar-se em qualquer atividade. crianças durante uma atividade, desenhos,
Se o desempenho for apenas razoável, o montagem, etc.
portador consegue resultado satisfatório em
diversas circunstâncias. Mas se funcionar A teoria de Gardner (1995) pluraliza o
mal, o dono desse equipamento é um tolo, conceito tradicional de inteligência, que é
incapaz de estabelecer relações coerentes. bem mais que responder questões ou resolver
Discordo disso tudo. Creio que a relação problemas dentro de uma determinada
cérebro-mente pode ser descrita como um cultura, ambiente ou comunidade.
conjunto de oito ou nove sistemas distintos (OLIVEIRA, 2018)
de elaborações fundamentais. Um deles pode
atuar muito bem enquanto outro apresenta A capacidade de resolver problemas
rendimento mediano e um terceiro funciona permite à pessoa abordar uma situação na
mal. (GARDNER apud OLIVEIRA, 2018) qual um objetivo deve ser atingido e localizar
a rota adequada para esse objetivo. Os
De acordo com a autora, Gardner (1995) problemas a serem resolvidos variam desde
sugere que a avaliação deve fazer jus à teorias científicas até composições musicais
inteligência, isto é, deve dar crédito ao para campanhas políticas de sucesso.
conteúdo da inteligência em teste. Se cada (GARDNER, 1995, p. 21 apud op. cit.)
inteligência tem certo número de processos
específicos, esses têm que ser medidos com Ou seja, conforme Oliveira (2018),
instrumento que permitam ver a inteligência Gardner considera que as inteligências como
em questão em funcionamento. Para ele a potenciais biológicos puros devem e podem
avaliação deve ser ainda ecologicamente ser visto numa forma pura, pois em quase
válida, isto é, ela deve ser feita em ambientes todas as pessoas as inteligências funcionam
conhecidos e deve utilizar materiais juntas.
conhecidos das crianças sendo avaliadas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O propósito da escola deveria ser o de Sedo assim, vem a ser importante


desenvolver as inteligências e ajudar as valorizar as diversas formas de pensamento,
pessoas a atingirem objetivos de ocupação os estágios de desenvolvimento das várias
e passatempo adequados ao seu espectro inteligências, a relação existente entre esses
particular de inteligências. As pessoas que estágios, a aquisição de conhecimento e a
são ajudadas a fazer isso se sentem mais cultura.
engajadas e competentes, e, portanto mais
inclinadas a servirem à sociedade de uma Para professores, por exemplo, o ideal é
maneira construtiva (GARDNER, 1993, p. 16 desenvolver avaliações que sejam adequadas
apud OLIVEIRA, 2018). às diversas habilidades humanas, assim como
a educação deve ser centrada na criança
Gardner (1995 apud Oliveira, 2018) com currículos específicos para cada área do
apresenta vários tipos de inteligências saber. Também é importante ter um ambiente
diferentes, para a educação infantil e pré- educacional amplo e variado, e que dependa
escola, muitas das quais não valorizadas menos do desenvolvimento exclusivo da
pela escola. É importante que os professores linguagem e da lógica. (OLIVEIRA, 2018)
proporcionem experiências de aprendizagem
diversificadas aos seus alunos. O que leva a considerar que cabe ao
professor valorizar aspectos dos alunos, em
Nesse momento, Oliveira (2018) vem que ele é realmente bom, para que, dessa
a destacar que, a teoria das Inteligências forma, a autoestima do estudante cresça e
Múltiplas é elaborada á partir das origens ele se sinta interiormente motivado a obter,
biológicas de cada capacidade de resolver também, um bom desempenho em outras
problemas. A tendência biológica nesta questões onde ele, provavelmente, poderia
participação deve também ser vinculada ao ter um pouco mais de dificuldade.
estímulo cultural de cada região e também ser
valorizada em um ou mais ambiente cultural. Nessa nuance Moreira (s/d) vem a
discorrer que as teorias de Gardner frente
Nesse momento vale destacar, nos inscritos às inteligências múltiplas são de extrema
da autora, que cada ser humano possui importância na sua compreensão e utilização
uma bagagem genética que traz consigo as em sala de aula, pois o professor deve
habilidades básicas em todas as inteligências, sempre estar atento a não rotular seu aluno
sendo que o desenvolvimento de uma ou ou mesmo não cair na falsa ideia de que o
outra inteligência será determinado tanto por mesmo é “fraco” em determinadas áreas do
fatores genéticos e neurobiológicos quanto por saber. Deve-se lembrar de que Gardner diz
condições ambientais. Assim sendo, o indivíduo que o papel da escola deveria ajudar o aluno
buscará, inconscientemente, desenvolver a a desenvolver suas habilidades.
inteligência mais valorizada na sua cultura.

507
Revista Educar FCE - Abril 2019

A saber, que os interesses dos alunos e habilidades são diferentes em cada indivíduo, em
sala de aula também se deve relevar esses fatos, percebendo que os alunos aprendem de
forma diferente e em momentos diferentes constroem seu aprendizado. Ele tem maior ou
menor afinidade com as áreas do saber, de acordo com seu tipo de inteligência. (MOREIRA,
s/d)

Um fator relevante a ser considerado deve-se evitar rotular o aluno em determinadas


áreas do saber, pois às vezes o que o desfavorece não vem a ser o conteúdo, mas sim a
metodologia e sistema de ensino que não o favorece. Precisa-se sim dar suporte para que ele
consiga junto com o professor a alcançar seu desenvolvimento, mesmo que seja necessário
modificar a forma de se trabalhar determinado conteúdo, amparando-o até que consiga
interiorizar esse conhecimento.

Nesse sentido Moreira (s/d) vem a ressaltar que: “O professor pode tranquilizar esse aluno
para que ele não se acanhe com determinada falha na área desse conhecimento. Muitas
vezes o aluno se sente frustrado e acanhado, achando que ele é o problema e isso não é
verdade”.

Em continuidade o autor vem a destacar em seus inscritos que caso o docente ter
conhecimento das inteligências múltiplas e os seus vários tipos, poderá conversar com esse
aluno e mostrar que é perfeitamente normal gostar de determinadas áreas do saber e sentir
mais dificuldade em outras. Exemplo: Se esse aluno gosta de exatas, vamos verificar que ele
possui alguma dificuldade, maior ou menor, sem prejuízo de sua formação, em outras áreas.

Nesse sentido pode-se destacar que esse fato vem a ser perfeitamente normal, assim
pode-se auxiliá-lo na construção desses conhecimentos, adequando às metodologias de
ensino, o apoiando e auxiliando em sanar suas dificuldades.

O ser humano é diferente por isso nos tornamos especiais e diferentes dos animais.
Direcionamo-nos no saber, de acordo com nossas habilidades e competências e seremos
úteis e produtivos na sociedade seguindo nossas habilidades inatas. Caso contrário esses
alunos serão infelizes nas áreas de trabalho que irão executar. (MOREIRA, s/d)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer da elaboração desse artigo, possibilitou
verificar a importância da teoria das Inteligências Múltiplas,
pois possibilita, por parte dos docentes a compreender
melhor como uma criança realiza a sua aprendizagem, por
meio de suas subjetividades.

Por outro lado, destaca-se que a partir desse conhecimento,


o docente pode desenvolver novas estratégias de ensino
ou modificar a sua própria metodologia, a qual pode se JULIANA CIRILLO COSTA
apresentar ineficaz para um grupo de alunos que frequentam
Graduação em Pedagogia pela
as salas de aula em dias atuais. Universidade Cruzeiro do Sul
(1999); Graduada em Artes Visuais
Destaca-se também, que não se pode medir ou mensurar pela Faculdade Mozarteum
(2018); Especialista em Educação
a inteligência de uma pessoa por meio de um simples do Ensino Fundamental I pela
questionamento escrito, para uma melhor compreensão e Faculdade Campos Elíseos
entendimento a respeito das reais habilidades do aluno, se faz (2018); Professora de Ensino
Fundamental I - na EMEF Frei
necessário observar e analisar como o mesmo se comporta Francisco de Mont’Alvrne.
no decorrer de uma atividade ou conteúdo que está sendo
explicado, ou seja, se atentar ao desempenho dos alunos, se
despertou ou não interesse, interação, etc.

Outro fator importante a ser retratado, se refere ao


sistema escolar atual que, infelizmente, ainda se prende a
conceitos de outrora, cabendo ao docente uma postura mais desafiadora e transformadora,
possibilitando mudanças em sua metodologia, vindo a ser um pesquisador de novas teorias
que o auxiliem em seu cotidiano escolar.

Assim, conclui-se que trabalhar com a teoria das Inteligências Múltiplas de forma a auxiliar
os alunos na construção do seu próprio saber, vem a ser de suma importância no decorrer
do processo de ensino-aprendizagem, pois não é apenas o ensinar ou aprender, é ir além
do imaginável, é possibilitar que um ser humano externe todas as habilidades, aptidões e
conhecimentos no decorrer de sua formação e desenvolvimento.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
CAMPBELL, Linda; CAMPBELL, Bruce; DICKINSON, Dee. Ensino e Aprendizagem por meio
das Inteligências Múltiplas. 2ª. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

MOREIRA, Michele Stanojev. O papel do professor e as inteligências múltiplas. Artigo


publicado em Brasil Escola - UOL, s/d. https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/
o-papel-professor-as-inteligencias-multiplas.htm. Acesso em 11.04.2019.

OLIVEIRA, Gislaine Silva de. As inteligências múltiplas e a afetividade no processo ensino-


aprendizagem da educação infantil. Artigo publicado em WEB Artigos, 08 de fevereiro de
2018. Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/as-inteligencias-multiplas-e-a-
afetividade-no-processo-ensino-aprendizagem-da-educacao-infantil/155947. Acesso em:
10.04.2019.

PICHURSKI, Vaudete de Fátima. A Aprendizagem e a Teoria das Inteligências Múltiplas:


Entendimento Necessário. Artigo Publicado em Portal Educação, 11 de agosto de 2012.
Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/nutricao/a-
aprendizagem-e-a-teoria-das-inteligencias-multiplas-entendimento-necessario/15564.
Acesso em: 10.04.2019.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A PSICOMOTRICIDADE E A AFETIVIDADE
FAVORECENDO A APRENDIZAGEM NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O presente artigo tem como finalidade analisar a importância da afetividade
como estimulação psicomotora na criança na Educação Infantil. A intenção é conhecer e
compreender a importância da Psicomotricidade, particularmente da Relacional, como
promotora da interação do indivíduo com o meio em que vive, favorecendo sua estrutura
corporal e construindo sua personalidade em busca de autonomia intelectual e afetiva.
Mediante Revisão Bibliográfica foi possível averiguar que o desenvolvimento do ser humano
depende de vários fatores, sendo a afetividade o primordial e tão importante quanto à
inteligência. Na aprendizagem estão envolvidos os aspectos cognitivos, biológicos, motores,
afetivos e emocionais, que funcionam de forma inter-relacionada, e ocorrerá, à medida em
que essas funções estiverem em harmonia. Sem a afetividade não há relação possível entre
educadores e educandos, não há comunicação eficiente, não há motivação para aprender
o que precisa e pode ser ensinado. A Psicomotricidade Relacional dá essa possibilidade, de
maneira lúdica, de entender quais as reais necessidades relacionais e afetivas das crianças
oportunizando espaços para que elas sejam trabalhadas e melhor desenvolvidas, tanto
individual quanto socialmente.

Palavras-Chave: Afetividade; Psicomotricidade Relacional; Educação Infantil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO É importante trabalhar e resolver a


complexidade dos problemas na estimulação
O ser humano é provido de desejos, psicomotora das crianças, pois, ela objetiva
vontades e sentimentos próprios que levar o indivíduo ao progresso, ao pleno
se iniciam já com o seu nascimento. No desenvolvimento de suas capacidades inatas
decorrer da infância acontece o processo de e adquiridas de forma constante e integradas.
desenvolvimento sócio afetivo da criança, no
qual são de grande importância as interações Dentro do universo da Educação Infantil,
que oferecem aprendizado afetivo. Nesse este trabalho é fundamentado numa
desenvolvimento, tanto a família quanto os concepção de aluno sujeito e não objeto,
educadores desempenham uma importante que possui autonomia para ser autor e
função, visto que são eles que organizam o construtor da sua própria história de vida,
processo de aprendizagem (ALVES, 2012). capaz de administrar as experiências, as
diversas crises do processo existencial.
Nesse sentido, o presente trabalho, que
tem como objetivo analisar a importância da Conforme Costallat (2012), a estimulação
afetividade como estimulação psicomotora psicomotora aplicada nessa fase do
na criança na Educação Infantil. desenvolvimento infantil tem o propósito de
auxiliar a criança a apropriar-se concretamente
Segundo o RCNEI – Referencial Curricular do mundo ao redor, relacionando-se com
Nacional para a Educação Infantil, “a Educação
Infantil tem como objetivo desenvolver a criança ele. Explorar as possibilidades de movimento
em seus aspectos físico, psicológico, intelectual do corpo, manusear objetos, exercitar
e social, complementando a ação da família e sensações e percepções, movimentar-se em
da comunidade”. Ela deve cumprir duas funções
indispensáveis e indissociáveis: cuidar e educar grandes e variados espaços e se relacionar
(BRASIL, 1998, p. 47). com outros grupos, facilita a interiorização
de um vocabulário sensório-motor, não-
O RECNEI deixa claro a importância do verbal.
elo cuidar/educar.
Procurou-se ainda nesta pesquisa,
Enfocando o desafio em favorecer embasamento em Wallon (apud NICOLA,
conquistas essenciais para as crianças 2004), que como pedagogo, se preocupou
nessa fase - cognitivas, motoras e afetivas -, com a relação psicomotora, afeto e emoção.
profissionais e pesquisadores da educação Para ele, o indivíduo precisa de contato
preocupam-se, cada vez mais, em equilibrar humano, afeto.
o modelo assistencialista e o modelo
educacional (BRASIL, 1998, p. 49). A emoção é determinante na evolução
mental: a criança responde a estímulos
musculares, viscerais e externos. Esse

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Revista Educar FCE - Abril 2019

movimento mostra como a sensibilidade Lapierre, pode contribuir na otimização


da criança se estende ao ambiente. Passa das relações humanas. (VIEIRA; BATISTA;
a reproduzir os traços dos estímulos do LAPIERRE, 2005).
ambiente, e o contato com o mundo tende a
afinar, tornar mais precisas, mais adequadas É preciso considerar o corpo como um
essas reproduções. local de sensibilidade, de afetividade, de
emoção, ou seja, corpo é lugar de desejo,
O presente estudo relata a importância de frustação, de lembranças positivas ou
da experimentação corporal por meio das negativas vivenciadas pela criança, na sua
sensações e emoções que resulta no equilíbrio relação com os outros (FONSECA, 2004).
tônico emocional, mediante a organização
funcional do cérebro. Considerando assim, Diante disso, é preciso compreender que a
a mente como fator fundamental para a Psicomotricidade Relacional oferece todas as
psicomotricidade, ou seja, “a tonicidade do oportunidades dentro do jogo simbólico, para
indivíduo”; a base de todo o processo de que o corpo consiga, de forma plena, realizar
aprendizagem formal. todos os seus circuitos vitais, ressignificando
sua própria existência afetiva.
A prática psicomotora na escola abre um Como metodologia foi utilizada a Pesquisa
novo espaço para outros desejos, além dos Bibliográfica, pesquisando-se em livros,
cognitivos, a fim de que a criança tenha revistas, sites da Internet, que abordem o
vontade de aprender e também possa assunto.
exprimir seus sentimentos em sua plenitude
(inteligência, pensamento, afetividade e
ação) (ALVES, 2012). ENTENDENDO A
PSICOMOTRICIDADE
A psicomotricidade consiste numa ciência
que tem como foco o indivíduo, tomando- Conforme Molinari e Sens (2019),
se por base seu corpo em movimento e em no princípio, a psicomotricidade era
relação ao seu mundo interno e externo. Está compreendida como o ramo da ciência
associada ao processo de maturação, no qual que tratava do corpo em seus aspectos
o corpo é a origem das aquisições cognitivas, neurofisiológicos, anatômicos e locomotores,
afetivas e orgânicas. Fundamentada por três coordenando-se e sincronizando-se no
conhecimentos básicos: o movimento, o espaço e no tempo, para emitir e receber
intelecto e o afeto. significados. Na atualidade, ela consiste no
relacionar-se por meio da ação, como um
Assim, procura-se neste trabalho, relatar e recurso de tomada de consciência que une
auxiliar as maneiras em que a Psicomotricidade, corpo, mente, espírito, natureza e sociedade.
particularmente a Relacional, criada por

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Segundo Vilar (2019), somente no século De acordo com Wallon (1995, p. 18),
XIX o corpo começou a ser estudado, Psicomotricidade “é a relação entre
primeiramente, por neurologistas, em Motricidade e a Inteligência permitindo
virtude da necessidade de compreensão relacionar o movimento ao afeto, à emoção,
das estruturas cerebrais e, em seguida, por ao ambiente e aos hábitos da criança”.
psiquiatras, para esclarecimento de fatores
patológicos. Conforme Gesell (2003), as primeiras
evidências de um desenvolvimento mental
Alguns estudiosos no campo neurológico, normal não são mais que manifestações
psiquiátrico e neuropsiquiátrico conferiram motoras. Durante toda a primeira infância
ao corpo significações psicológicas até os 3 anos de idade, a inteligência é
superiores. Contudo, é no campo patológico a função imediata do desenvolvimento
que surge o termo “Psicomotricidade”, neuromuscular.
conforme será visto a seguir.
A Psicomotricidade consiste numa
Alguns autores, como Pierre Vayer (1986), ciência relativamente recente que, por ter
dizem que a educação psicomotora é uma o ser humano como seu objeto de estudo,
ação pedagógica e psicológica que faz uso da abrange diversas outras áreas: educacionais,
educação física com o objetivo de melhorar pedagógicas e de saúde (BUENO, 1998).
o comportamento da criança.
Consoante Bueno (1998), o movimento
Ela não deve ser vista apenas como uma é o principal componente no crescimento
técnica cinestésica ou de educação física, e no desenvolvimento da criança. Toda
pois, o corpo vai além de um conjunto de ação está relacionada a um movimento e
músculos. Com fundamentos na relação todo movimento envolve uma ação e um
mútua entre o desenvolvimento cognitivo significado. Mesmo nas fases iniciais da
com o motor, a psicomotricidade é a criança, como a dos movimentos reflexos, ou
compreensão do corpo na sua totalidade, o seja, realizados instintivamente, é necessário
ser no mundo em todas as suas dimensões. que um estímulo origine essa ação.

A motricidade do ser humano, além de Ainda segundo o autor acima, serão as


ser voluntária, tem também a intervenção respostas que possibilitarão a interação do
da inteligência. Quando o indivíduo age, bebê com o meio e sua forma de sobrevivência,
forma planos em sua mente para solucionar sendo antecessores dos atos voluntários
um certo problema para se adequar a uma no futuro, isto é, são os atos reflexos que
situação, embora não haja no exercício motor caracterizarão os atos voluntários no futuro
um elemento formador e transformador da (BUENO 1998).
inteligência humana (FONSECA, 2004).

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Singer (1980 apud BRAGA; BRAIIDE, 2019) Coste (1997, p. 39) afirma que, para a
acredita que as crianças não acompanham as psicomotricidade, “o ser humano é o seu
mesmas experiências de acordo com a idade, corpo”. Assim sendo, é necessário atuar
mas de acordo com o que chama de estágios nesse corpo.
de desenvolvimento. Gallahue (2001) dividiu
as fases do desenvolvimento motor em Para que um indivíduo se expresse
movimento reflexo, movimento rudimentar, enquanto corpo que realiza de modo mais
movimento fundamental e movimento livre seus próprios desejos, é necessário
relacionado ao esporte. que ele cresça não em sua individualidade
absoluta, mas em suas relações com os
A bibliografia consultada permitiu outros e o mundo (COSTE, 1997, p. 39).
perceber que existem diversas definições a
respeito do conceito de psicomotricidade e Para Velasco (1994, p. 27), “a partir
seu estudo é recente. Na linha de evolução do momento em que estamos vivos, que
da psicomotricidade, no início, a sua noção existimos, somos seres psicomotores”.
se fixou, sobretudo, no desenvolvimento
motor da criança. Apenas posteriormente Conforme afirma Silva (2005), na infância,
foi estudada a relação entre o atraso do a psicomotricidade é primordial para o
desenvolvimento motor e o atraso intelectual desenvolvimento e aprendizagem da criança.
da criança. “O corpo é nosso universo particular. Nele nos
movemos, sentimos, agimos, percebemos e
Nesse sentido, despontaram várias descobrimos novos universos” (SILVA, 2005,
pesquisas acerca do desenvolvimento da p. 37). Tudo está devidamente gravado nesse
habilidade manual e de aptidões motoras corpo, e é na infância que se determina de
em virtude da idade até se chegar à posição quem ficou bem gravado e de quem nem
atual da psicomotricidade: ultrapassar os tanto.
problemas motores e trabalhar também
a relação entre o gesto e a afetividade e a Aprender, movimentar, sentir esse universo
qualidade de comunicação por intermédio e compartilhar com outros, será determinante
dos mesmos (BUENO 1998). na estruturação desse indivíduo que está
sendo constituído, e tudo isso respeitando
O desenvolvimento psicomotor ocorre as limitações de cada pessoa, visto que o
num processo conjunto de todos os aspectos: processo de desenvolvimento não é igual
motor, intelectual, emocional e expressivo, pra todos. A psicomotricidade auxilia esse
dividindo-se em duas fases: primeira infância universo a se descobrir por inteiro, por meio
(0 a 3 anos) e segunda infância (3 a 7 anos), da estimulação e exploração concreta do
completando-se maturacionalmente em mundo (SILVA, 2005).
torno dos 8 anos de idade (LAPIERRE 1984).

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Do mesmo modo que Bueno (1998), e pelo outro), nos progressos da atividade
também se acredita que a psicomotricidade de relação são encarados, conforme Wallon,
caminha para sua própria identidade e a como processos básicos de intervenção
clareza de atuação dos seus profissionais psicomotora. A importância da atividade
determinará o seu percurso e sua intelectual é eminentemente defendida na
concretização. perspectiva do desenvolvimento da criança
com os célebres estádios wallonianos:
Consoante Lapierre e Le Boulch (apud impulsivo tônico-emocional, sensório-
OLIVEIRA, 2001), a educação psicomotora motor, projetivo e personalístico. Wallon
precisa ser uma formação de base é o principal responsável pelo nascimento
indispensável a toda criança. Na visão de do movimento reeducação psicomotora,
Oliveira (2001), o movimento é um suporte posteriormente conduzido por Ajuriaguerra
que auxilia a criança a obter o conhecimento (GALVANI, 2002).
do mundo à sua volta por meio de seu corpo,
de suas percepções e sensações. Ainda para À luz de Wallon e de Ajuriaguerra, a
Oliveira, a psicomotricidade se propõe a psicomotricidade concebe os determinantes
possibilitar ao ser humano “sentir-se bem biológicos e culturais do desenvolvimento da
na sua pele”, permitir que se assuma como criança como dialéticos e não como redutíveis
realidade corporal, possibilitando-lhe a livre uns aos outros. Daí a sua importância
expressão de seu ser; visto que, o sujeito não para elaborar uma teoria psicológica que
é constituído de uma só vez, mas se constrói, estabeleça relações entre o comportamento
progressivamente, por meio da interação e o desenvolvimento da pessoa e a maturação
com o meio e de suas próprias realizações e do seu sistema nervoso, pois, só assim é
a psicomotricidade desempenha aí um papel possível construir estratégias educativas,
primordial. terapêuticas e reabilitativas adequadas às
necessidades específicas de cada educando
COMO A (GALVANI, 2002).
PSICOMOTRICIDADE ATUA
O conceito de Psicomotricidade ganha
NAS RELAÇÕES HUMANAS assim, uma expressão significativa, uma vez
De acordo com Galvani (2002), Henri que traduz a solidariedade profunda e original
Wallon contribuiu muito com o seu trabalho entre a atividade psíquica e a atividade
sobre o tônus e a emoção no campo do motora. O movimento é equacionado como
desenvolvimento psicológico da criança. parte integrante do comportamento. A
Psicomotricidade é hoje concebida como a
O papel da função tônica (sobre o qual integração superior da motricidade, produto
repousam as atividades e os alicerces da vida de uma relação inteligível entre a criança e
mental) e da emoção (como meio de ação sobre meio, e instrumento privilegiado por meio do

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qual a consciência se forma e se materializa reconhecimento do outro em seu limite, em


(GALVANI, 2002). sua afetividade, agressividade, frustração,
culpa, aspectos motores, relacionais, entre
É na integração transdisciplinar das áreas outros.
do saber que provavelmente se colocará no
futuro a evolução e atualização do conceito Na visão de Vieira, Batista e Lapierre,
de Psicomotricidade (GALVANI, 2002). (2005), a Psicomotricidade Relacional tem
como propósito desenvolver e aperfeiçoar
Dessa visão, nasce a Psicomotricidade os conceitos referentes ao enfoque da
Relacional (PR), uma ciência jovem, Globalidade Humana. Objetiva superar
desenvolvida por André Lapierre, que o dualismo corpo/mente, ressaltando
começou seus estudos com adultos e, a relevância da comunicação corporal,
progressivamente, observou que suas sobretudo em razão das relações psicofísicas
descobertas o conduziam às crianças, até e sócio emocionais do indivíduo. Possui um
mesmo as mais jovens. Após confirmar caráter preventivo, enfatizando a saúde e
algumas teorias de psiquiatras a respeito não a doença.
da construção da personalidade, voltou
a trabalhar com adultos, ampliando seus Os autores destacam que, trata-se de
estudos para as dimensões psíquicas do uma prática que possibilita à criança, ao
corpo. Esse estudo o levou ao inconsciente adolescente e ao adulto, expressar e superar
e à psicanálise. Nessa trajetória, acabou conflitos de relações, afetando de maneira
comprovando que a análise corporal da clara, preventiva e terapêutica, o processo
relação, realizada por sua filha Anne e alguns de desenvolvimento cognitivo, psicomotor e
seguidores, amenizava em grande escala o sócio emocional.
sofrimento psíquico do indivíduo, bem como
maximizava a qualidade afetiva (BATISTA, Assim, consiste numa metodologia que
2019). promove um espaço para legitimar os
desejos e os sentimentos do sujeito, no qual
Conforme Batista (2019), a ele pode se mostrar por inteiro, com seus
Psicomotricidade Relacional permite a medos, anseios, fantasias e incertezas, com
inserção da criança no meio das relações. relação a si mesmo, ao próximo e ao meio
As relações que estabelece com outras em que vive, melhorando o desenvolvimento
crianças, com o adulto e com os objetos integral, a aprendizagem, além de promover
fazem parte do brincar, componente o equilíbrio da personalidade e facilitar as
fundamental dessa prática. As sessões relações afetivas e sociais (VIEIRA; BATISTA;
ocorrem semanalmente e com hora agendada LAPIERRE, 2005).
previamente. São trabalhados aspectos de
rotina, disponibilidade corporal, socialização,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Para tanto, a PR faz uso de jogos e Portanto, a PR é uma prática que possibilita
brincadeiras, pois, são práticas que fazem a libertação do desejo e do prazer de ser, de
com que o corpo participe em todos os seus se comunicar, de estar vivo!
aspectos, enfatizando a comunicação não-
verbal, propondo situações que conduzam A fim de se tornar um profissional de
a expressar atitudes desencadeadas por Psicomotricidade Relacional é preciso
sentimentos muitas vezes reprimidos ou cursar uma Formação Especializada, que
inconscientes (VIEIRA; BATISTA; LAPIERRE, precisa ser lecionada por profissionais
2005). adequadamente preparados e reconhecidos
para desempenharem tal função (BATISTA,
Conforme Vieira, Batista e Lapierre 2019).
(2005), o foco da PR é o ser humano em
seus aspectos psicossociais e afetivos, A PR pode ser exercida na área escolar,
buscando compreender os diversos níveis de clínica e empresarial, com crianças,
comunicação corporal por meio de atividades adolescentes e adultos. Dá-se em grupo e é
lúdicas, considerando seu desenvolvimento por meio de jogos e brincadeiras que surgem
psicomotor e sócio histórico, com o intuito situações de jogo simbólico, no qual os
de atender às necessidades de indivíduo, nas indivíduos exprimem de modo autêntico seus
questões psicológicas, motoras e emocionais sentimentos. Assim, pode ser considerada
que, conjuntamente, afetam de modo direto como um recurso de trabalho revolucionário,
o desenvolvimento da personalidade. por sua forma de compreender e trabalhar
as relações e o desenvolvimento humano
Para os autores, a Psicomotricidade (BARBOSA, 2019).
Relacional consiste numa “psicomotricidade
que tem por objetivo favorecer a qualidade da Na perspectiva da instituição escolar, é
relação afetiva, a disponibilidade tônica, em possível afirmar que a finalidade central da
que o corpo e a motricidade são abordados PR é favorecer o desenvolvimento global
como unidade e totalidade do ser” (p. 110). dos educandos, abarcando as dimensões:
cognitiva, social, psicoafetiva e psicomotora
A prática da PR na escola disponibiliza um (VIEIRA; BATISTA; LAPIERRE, 2005).
tempo e um espaço para que o sujeito vivencie
seus medos, anseios, fantasias, agressividade, Nos dias atuais, a educação vivencia
criatividade, limites, desculpabilize a relação um período de transformação de seus
com o adulto, socialização, poder, prazer paradigmas. Inúmeros pesquisadores têm
no brincar, simbolismo, aspectos motores, reconhecido que não é mais possível que a
espontaneidade, autoestima, entre outros escola se limite apenas à transmissão dos
(COSTALLAT, 2012). conhecimentos socialmente construídos. É
preciso buscar também a formação de valores

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em seus estudantes (VIEIRA; BATISTA; A Psicomotricidade enfoca o


LAPIERRE, 2005). desenvolvimento da habilidade motora
em si mesma sobre a base de uma
Dessa maneira, observa-se que, para a comunicação corporal, por meio de
PR, a aprendizagem e o desenvolvimento situações de “comunicação-aprendizagem”
se acontecem por meio do relacionamento que possibilitam a conexão da criança com o
afetivo com o outro, conforme as ambiente que a rodeia (BATISTA, 2019).
possibilidades e limites de cada um.
Pretendendo proporcionar a expressão plena Quanto à Psicomotricidade Relacional,
de educadores e educandos, reestruturando é possível dizer que a aprendizagem e o
uma escola na qual se abra espaço para desenvolvimento são produzidos pelos
vivenciar aspectos afetivos, que abarcam modos de relação afetiva com o outro,
a evolução da personalidade e a inserção conforme as possibilidades e limites de cada
social (VIEIRA; BATISTA; LAPIERRE, 2005). um.

Segundo Barbosa (2019), a PR também Essa construção ocorre a partir do


atua auxiliando o educador e o educando momento em que é oferecido à criança um
na construção de valores necessários tempo e um espaço, no qual por meio do
ao processo de ensino-aprendizagem, jogo espontâneo e de atividades lúdicas,
trabalhando com o que existe de positivo ela vai integrando as suas habilidades,
nas relações pessoais, reforçando-as e encontrando soluções para suas dificuldades
aprimorando-as. e necessidades de maneira harmônica,
considerando as demandas advindas da
A autora acima ainda afirma que a realidade familiar e socioeducativa, isto é,
PR possibilita diversas experiências do meio no qual está inserida (BARBOSA,
psicomotoras que promovem a socialização, 2019).
a afirmação da identidade e a superação
de conflitos do desenvolvimento e das Para Barbosa (2019), motricidade e
dificuldades de aprendizagem, permitindo aprendizagem caminham de mãos dadas.
que o educando evolua para uma pedagogia Por intermédio do corpo (primeiro meio
da descoberta ao se sentir estimulado a de comunicação do ser humano), o sujeito
aprender e a buscar novos conhecimentos. descobre e conhece o mundo à sua volta.
Trabalhar as relações sociais na escola na
Conforme Piaget (1983, p. 67), “conhecer ótica da PR significa vivenciar e promover
não consiste em copiar a realidade, mas atuar a aprendizagem, no qual o afeto, a ação e
sobre ela para transformá-la”. o respeito à diversidade estão inseridos,
fundamentando-se no desejo e não apenas
na lógica do dever.

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Desse modo, educador e educando envolvidos no processo de educação a


consolidam relações de confiança e segurança refletirem acerca da sua prática e a tentar
necessárias à descoberta e ampliação do substituir o desprazer de aprender, o mal-
conhecimento e assumem a coautoria na estar pelo bem-estar, o medo pelo interesse,
construção do saber, legitimando a função desculpabilizando sentimentos, para assim
da educação e comprovando a teoria de reativar e desenvolver competências e
Lapierre (2004, p. 48) de que “o desejo de habilidades de comunicação, aprendizagem
aprender é um elemento secundário do e socialização.
desejo de agir, do desejo de SER”.

Assim, a PR busca fundamentar uma AS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS


relação entre adultos e crianças de modo mais NA OTIMIZAÇÃO DAS
verdadeiro, objetivando uma comunicação
participada, fortalecendo a noção de unidade RELAÇÕES HUMANAS NA
e globalidade do ser humano, argumentando EDUCAÇÃO INFANTIL
que assim á capaz de facilitar um melhor
desenvolvimento de ações intelectuais, Conforme Friedmann (2005), há algumas
sócios emocionais e comunicativas para a décadas atrás as crianças passavam por
construção de uma sociedade mais íntegra muitos desafios no brincar, uma vez que, na
(BARBOSA, 2019). maior parte das vezes, precisavam construir
os próprios brinquedos com os materiais
Trata-se de uma prática que busca disponíveis à sua volta, o que tornava
promover um espaço de liberdade no qual a as experiências ricas em criatividade,
criança pode se mostrar por completo, com adaptações e flexibilizações.
seu corpo, suas fantasias, podendo se exprimir
e jogar com seus conflitos, seus medos, Consoante Barbosa (2019), as novas
seus sentimentos, dentro de uma estrutura tecnologias trouxeram para o mundo
lúdica e nas relações que se estabelecem infantil novas maneiras de brincar, com
com outras crianças e com o adulto. Espaço os mais diversos objetos eletrônicos. No
de desenvolvimento pessoal e interpessoal, entanto, é preciso considerar que esses
de estruturação da criança como SER, de objetos restringem a criatividade das
investimento não em dificuldades e sintomas, crianças. Quando se trata de determinados
mas de suas possibilidades de ser e crescer brinquedos, é necessário questionar se
melhor. a criança irá brincar ou apenas executar
comandos pré-estabelecidos. A maior parte
Acreditando nessa proposta integradora dos objetos eletrônicos mais brinca com as
e com um olhar para além dos sintomas, é crianças do que lhe fornecem oportunidade
que se convocam todos os profissionais de brincar efetivamente. Para a autora,

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geralmente, esses objetos trazem ideias no dia-a-dia que não são compreendidas
definidas, com ideologias já elaboradas para por elas e, assim, colocam-se em situações
guiar o imaginário infantil. diversificadas com o intuito de compreendê-
las transformando os processos mais básicos
Conforme o Referencial Curricular de pensamentos em processos superiores. Em
Nacional - RECNEI (BRASIL, 1998), no sessões de psicomotricidade relacional, pode-
desenvolvimento infantil, a criança precisa se observar com facilidade esse jogo simbólico
brincar, ter prazer e alegria para crescer, ou faz de conta (BRASIL 1998).
precisa de atividades lúdicas como forma de
equilíbrio entre ela e o mundo. É por meio do Conforme Falkenbach (2003), para
lúdico que a criança se desenvolve. os objetivos dos fundamentos da
psicomotricidade, de um modo geral, a
Consoante Serapião (2004), a infância é psicomotricidade está subdividida em três
caracterizada por concentrar as aquisições grandes vertentes: a reeducação, a terapia,
essenciais para o desenvolvimento humano, e a educação. A primeira vertente se refere à
uma vez que é nesse estágio da vida que o soma do movimento, ao passo que a segunda
sujeito forma a base motora para a realização se preocupa com a psique do movimento. Já
de movimento mais complexo no futuro. a terceira vertente está orientada para a área
da Educação, sendo importante compreender
Ainda segundo o RECNEI, o brincar é que ela também possui uma divisão em
considerado o ato motor que as pessoas duas correntes principais: Psicomotricidade
realizam de modo consciente ou não, à Funcional e a Psicomotricidade Relacional.
procura de prazer. Brincar consiste na melhor
maneira de aprender, visto que brincando a Neste trabalho, utiliza-se a
criança desenvolve três pilares essenciais: o Psicomotricidade Relacional por se tratar
psíquico, o motor e o cognitivo, que lhe irá de um processo mais espontâneo por parte
assegurar um crescimento saudável e pleno dos envolvidos. Esse procedimento consiste
(BRASIL, 1998). em atividades mais livres que possui
modelos diversificados. Os indivíduos são
O RECNEI ainda afirma que, o trabalho livres, o que permite o desenvolvimento
fundamentado na ação do brincar possibilita da criatividade e da interatividade entre os
influenciar, por meio das observações seletivas alunos, constituindo um espaço que permita
efetuadas, nas construções de aprendizagens que os estudantes transfiram situações de
das crianças. A capacidade de imitação conflitos do mundo real para o imaginário
realizada pelas crianças indica a evolução da assumindo diferentes papéis e atitudes
capacidade perceptiva e do desenvolvimento assimilando a realidade. O educador não é
do pensamento. Valendo-se da imitação, o centro da atividade e sim um facilitador da
as crianças representam ações observadas mesma (FALKENBACH, 2003).

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De acordo com Negrine (1995), na PR, Nessa direção, os objetos também têm sua
o mais importante é trabalhar com o que a função relacional, fornecendo oportunidade
criança tem de positivo, o que ela sabe fazer, por meio do movimento, da relação com o
e não se preocupar com o que ela não sabe. outro. “Frequentemente, o objeto funciona
Muitos estudiosos acreditam que o melhor como facilitador das relações, sendo usado
método para auxiliar uma criança a superar como objeto relacional” (VIEIRA; BATISTA;
suas dificuldades é conseguir que ela esqueça LAPIERRE, 2005, p. 61).
suas inabilidades (NEGRINE, 1995, p. 58).
Todavia, na PR, o principal material
Para Rocha e Lírio (2019), analisando o ser utilizado nas sessões é o próprio corpo. Os
humano como um todo, a psicomotricidade demais materiais, na maior parte das vezes,
relacional é a mais apropriada. No entanto, servem apenas como forma de aproximação
em alguns momentos das aulas de educação para estabelecer vínculos (BARBOSA, 2019).
física, a psicomotricidade funcional serve
como alicerce para o aprimoramento de Ao relacionar o corpo como objeto, Vieira,
algumas habilidades específicas, isto é, irá Batista e Lapierre (2005, p. 68), alegam que:
depender dos objetivos que o educador
pretende atingir. Na opinião dos autores, O corpo do outro também funciona como
ambas devem ser trabalhadas dentro da objeto, pois brincar com o próprio corpo e
escola, visto que se complementam e com o corpo do outro é algo muito primitivo
aprimoram o trabalho do educador. que pode remeter ao comportamento
dos animais pela aproximação, simulação,
Nesse sentido, a PR recupera a liberdade entrosamento, ambivalência de agressão e
de criar algo por meio dos objetos, do espaço de acordo, gerando uma brincadeira corporal
e do corpo. Nas sessões são utilizados alguns conhecida como ‘regressão filogenética’.
materiais tradicionais, simples e que podem
ser explorados e manipulados pela criança, O corpo que brinca, troca, socializa,
proporcionando incontáveis possibilidades coopera, constrói, emociona-se, grita, fica
de jogo sensório motor e simbólico ansioso, aliviado, sente e ressente o prazer de
(BARBOSA, 2019). se exprimir por meio do jogo livre e simbólico;
passa a se comunicar com autenticidade e
Conforme Barbosa (2019), a forma liberdade. Na opinião de Almeida (2006, p.
de utilização desses materiais é que vai 41), “reconhecer o próprio corpo é a melhor
assegurar a liberdade de expressão por meio forma de encontrar o outro”.
do jogo livre, sendo mediado pelo adulto
que, inserido no grupo, brinca como parceiro Consoante Rocha e Lírio (2019), encontrar
simbólico imerso no mundo e na fantasia o outro numa relação mais autêntica e
juntamente com a criança. humanizada é um dos maiores desejos do

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Revista Educar FCE - Abril 2019

indivíduo, que é fundamentalmente relacional desde seu nascimento. Os alunos na Educação


Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental procuram frequentemente as relações
de parceria e reconhecimento, seja com o adulto ou entre elas mesmas. Na ausência dessas
relações, aparecem muitas dificuldades de comportamento em virtude da necessidade
de atenção e afirmação, uma vez que se encontram em pleno processo de aquisição da
autonomia e identidade.

Barbosa (2019) ressalta como estratégias da PR o uso do jogo espontâneo, a vivência do


jogo simbólico e a parceria do adulto que brinca.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio deste trabalho, verificou-se que a Psicomotricidade
pode contribuir para o desenvolvimento integral da criança,
oferecendo oportunidades para que sejam autônomos,
críticos, questionadores e capazes de cooperar.

A Psicomotricidade Relacional acontece com o brincar,


que tem papel importante em auxiliar na aprendizagem,
estimulando o desenvolvimento integral da criança, por
meio do trabalho em torno de desafios.É na brincadeira
que a criança encontra oportunidade de se comunicar, é um JULIANA DE OLIVEIRA
meio de perguntar e explicar, de se relacionar com outras RODRIGUES
crianças. Brincando as crianças aprendem com o mundo e
1Graduada em Pedagogia pela
interagem com ele. Com atividades prazerosas de forma Faculdade Sumaré (2013);
lúdica e autônoma a criança é estimulada a explorar, criar Professora de Educação Infantil
e desenvolver suas habilidades, com objetivo de expandir o na Rede Municipal de São Paulo
seu potencial em experiências motoras que vão lhe ser útil
para o desenvolvimento humano integral, fazendo do seu
corpo o único material.

Portanto, é necessário uma conscientização, uma reflexão


e comprometimento com a educação de qualidade. Ficou
claro que a Psicomotricidade Relacional atua no ajuste
positivo da afetividade por meio do jogo simbólico. Funciona
como uma tentativa de compreender o corpo em sua totalidade.

Assim sendo, conclui-se que a teoria da Psicomotricidade Relacional acerca da


ressignificação da afetividade pela comunicação tônica tem grande importância na boa
condução do profissional que trabalha na área, para permitir que a criança vivencie cada
situação corporal. É possível afirmar que não existe ação tão eficaz para a reorganizar as
emoções em seus sentidos anatômicos quanto à prática da Psicomotricidade Relacional, na
qual a afetividade é estimulada por meio da vivência, estabelecendo-se um vínculo de afeto
com o outro.

Ao final, espera-se que seja construído um entendimento cada vez mais claro dos benefícios
da Psicomotricidade Relacional no corpo que abriga a afetividade.

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Diante do exposto, pode-se observar o quanto a afetividade é importante para que


aconteça a aprendizagem, chegando, até mesmo, ao ponto de o aluno não aprender caso
não se sinta conectado com o educador, por meio de um vínculo afetivo, por menor que seja.

É importante entender que o aluno pensa e sente, assim como intui, deduz... interage com
e apreende o mundo por meio do sentir e do pensar. Entende-se que uma nova postura do
educador precisa ser a que trabalha com esse sujeito do modo como ele realmente entende
o mundo: integralmente e não em partes. É uma postura em que se trabalha conjuntamente
o sentimento e o pensamento, a emoção e a razão, evidenciando o quanto as estruturas
cognitivas são irrigadas pelos componentes emocionais.

Há uma estreita relação entre a afetividade, a motivação e o processo ensino-aprendizagem.


Uma relação dinâmica, cujos elementos são inseparáveis, indissociáveis, encontram-se
fundidos e perpassam todos os momentos da aula. O afeto é a mola propulsora de todas as
relações humanas, forte e intenso o bastante para quebrar preconceitos, vencer obstáculos,
suscitar desejos, fortalecer a autoestima, expressar sentimentos. Sem a afetividade não há
relação possível entre professores e alunos, não há comunicação eficiente, não há motivação
para aprender o que precisa e pode ser ensinado.

A capacidade de compreender e ser afetuoso, tanto com relação às posturas adotadas,


como na forma de dialogar, ensinar e avaliar os alunos marcará, sem dúvida, seu aprendizado,
sua motivação e a imagem que ele constrói de si mesmo, dos outros e do mundo à sua volta.

As instituições de Educação Infantil e Fundamental enfatizam o trabalho funcional realizado


com a criança como se ela fosse um robô, executora de funções sociais, sem questionar o
porquê e sempre de modo impecável.

Nesse sentido, questiona-se: Não sendo valorizada ou questionada, como a criança


aprende? Como fazer para que o aprendizado seja realizado de modo satisfatório e prazeroso?

A Psicomotricidade Relacional dá essa possibilidade, de maneira lúdica, de entender quais


as reais necessidades relacionais e afetivas das crianças oportunizando espaços para que
elas sejam trabalhadas e melhor desenvolvidas, tanto individual quanto socialmente.

Fazendo uso de um espaço, mesmo restrito, com materiais já existentes na escola e tendo
o corpo como principal objeto, é possível desenvolver um trabalho de psicomotricidade
relacional na escola com resultados satisfatórios para todo o grupo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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A RELEVÂNCIA DA LEITURA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este artigo apresenta uma reflexão sobre a importância da leitura na Educação
Infantil. Inicia-se com o estudo da prática educativa na perspectiva tradicional, passando
pela teoria construtivista e sócio- interacionista. Em seguida, aborda porque é fundamental
escolher bons textos para se trabalhar com as crianças e posteriormente dá algumas sugestões
de como trabalhar a leitura na sala de aula, dando a essa prática a ênfase que ela merece.

Palavras-Chave: Leitura; Aluno; Professor; Prática docente.

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INTRODUÇÃO A LEITURA NA EDUCAÇÃO


TRADICIONAL
A leitura é uma prática realizada desde
tempos remotos, tanto fora quanto dentro O ensino tradicional entendia o aluno
da escola, ela faz parte da sociedade e seu como um ser passivo que simplesmente
uso pode contribuir na inserção do indivíduo recebia o conhecimento do professor. Dessa
na mesma. A questão levantada nesse artigo maneira, o professor como detentor do saber
é como essa prática tem sido usada nas salas absoluto tinha o papel de transmitir seus
de aula, especificamente as de Educação conhecimentos.
Infantil.
Como as iniciativas cabiam ao professor,
o essencial era contar com um professor
As experiências da infância têm papel razoavelmente bem preparado. Assim, as escolas
fundamental na formação do ser humano, eram organizadas em forma de classes, cada
hábitos estimulados desde essa fase são uma contando com um professor que expunha
as lições que os alunos seguiam atentamente e
mais facilmente seguidos futuramente. aplicava os exercícios que os alunos deveriam
realizar disciplinadamente. (Saviani, 1991, p.18)
Ler sem saber ler é uma das reflexões
deste artigo, outra reflexão é a qualidade Dentro desta perspectiva o trabalho
dos livros apresentados aos alunos. Para relacionado com a leitura e a escrita
tanto, foi utilizada pesquisa bibliográfica que era norteado por ações repetitivas. O
aborda o tema em questão. pensamento estava relacionado à ideia
de que para ler era preciso primeiro saber
Durante o artigo são apontadas algumas escrever.
situações de aulas tradicionais que não
contemplam as possibilidades da leitura Sendo assim, a alfabetização acontecia por
e contrapondo são mencionadas algumas meio da repetição de exercícios e o aluno era
práticas que valorizam o espaço de leitura incentivado a decorar as famílias silábicas
e o tempo dedicado à mesma, pensando na para que dessa forma passasse a juntar as
formação de aluno leitor. letras, lendo palavras, frases, textos curtos e
posteriormente fazendo leituras mais longas
O objetivo deste trabalho é contribuir e complexas. Nesse caso não era preciso que
na formação de profissionais da área da a leitura fizesse sentido ou tivesse alguma
educação, sensibilizando educadores sobre função social, até mesmo porque ela estava
o quanto seu papel de mediador na sala de diretamente ligada com a decodificação de
aula pode contribuir nesse acesso ao mundo letras/palavras.
das letras, tornando a leitura algo prazeroso
e instigante desde seus primeiros contatos. Dentro desse contexto, durante muitos
anos, foram usadas cartilhas que continham

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frases e textos curtos com o objetivo de relação entre o desenvolvimento e a interação


trabalhar as famílias silábicas, por exemplo: das relações humanas, a criança é vista como
a bebê baba, o baú do bebê é belo, Mimi mia ser social que interage com o meio, com o que
muito. está a sua volta, sejam pessoas ou objetos.
Ou seja, o ambiente interfere diretamente
As leituras propostas por esse material no seu desenvolvimento.
tinham o objetivo de reforçar o pensamento
tradicional de que a criança aprende pela (...) o aprendizado desperta vários processos
internos de desenvolvimento, que são capazes
memorização. Não se observava preocupação de operar somente quando a criança interage
com a qualidade literária do conteúdo, nem com pessoas em seu ambiente e quando em
mesmo um contexto significativo. cooperação com seus companheiros. Uma vez
internalizados esses processos torna-se parte das
aquisições do desenvolvimento independente
No ensino tradicional as aulas, geralmente, das crianças (Vygotsky, 1984, p. 101).
eram expositivas com pouco espaço para
o aluno se expressar, pois esse era visto Freire outro teórico importante, diz
como uma tabula rasa que iria receber o que o indivíduo lê o mundo, portanto, sua
conhecimento de seu professor como se aprendizagem tem que ser significativa.
fosse um papel em branco. Sendo assim, não é necessário reduzir a
visão sobre o processo de aprendizagem a
Com a linha de pensamento construtivista simples decodificação, pensar que o aluno
em meados do século XX que tem Jean não é capaz de aprender quando, mesmo sem
William Fritz Piaget (epistemólogo suíço) saber ler convencionalmente, tem contato
entre seus maiores referenciais na área da com uma leitura com riqueza literária.
Psicologia educacional, a criança passa a ser
entendida como sujeito ativo que constrói Jolibert reforça essa ideia:
seu conhecimento. Nessa perspectiva
as fases de desenvolvimento da criança Ler é ler escritos reais, que vão desde um nome
de rua numa placa até um livro, passando por um
são respeitadas pelo professor, portanto, cartaz, uma embalagem, um jornal, um panfleto,
o conteúdo utilizado nas aulas precisa etc., no momento em que se precisa realmente
estimular novos conhecimentos é preciso deles numa determinada situação de vida,
“para valer” como dizem as crianças. É lendo de
repensar a prática pedagógica conservadora. verdade, desde o início, que alguém se torna
O educador passa a ser um mediador, leitor e não aprendendo primeiro a ler... (Jolibert,
incentivando e encorajando seus alunos a 1994, p.15).

novos conhecimentos.
Quanto ao processo de alfabetização,
Com o sócio interacionismo, cujo grande diferentemente do que se pensava no ensino
referencial é Lev Semenovitch Vygotsky, tradicional, Emília Ferreiro faz a seguinte
psicólogo que estudou especialmente a consideração.
O desenvolvimento da alfabetização ocorre,

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sem dúvida, em um ambiente social. Mas as linguagem oral e escrita, amplia seu vocabulário
práticas sociais, assim como as informações e principalmente aprende a procurar, nos livros,
sociais, não são recebidas passivamente pelas novas histórias para o seu entretenimento.
crianças. Quando tentam compreender, elas (Barcellos & Neves, 1995, p.18).
necessariamente transformam o conteúdo
recebido (Ferreiro, 1992, p.24).
Quando a leitura é introduzida nas aulas
Dessa forma, entende-se que a concepção de maneira instigante, faz com que os
de criança e aprendizagem foi mudando ao alunos sintam vontade de participar desse
longo do tempo, sendo necessário adequar momento, facilitando o processo de ensino-
às práticas docentes a essa realidade, logo, aprendizagem.
no caso da leitura é importante que os textos
lidos em sala, façam sentido para a criança, É lendo que nos tornamos leitores e não
aprendendo primeiro para poder ler depois: não é
despertem seu interesse e curiosidade pela legítima instaurar uma defasagem nem no tempo,
prática da mesma. nem na natureza da atividade entre “aprender a
ler” e “ler”... não se ensina a ler com a nossa ajuda...
A literatura infantil também deve ser desenvolvida a ajuda lhe vem do confronto com as proporções
na escola como arte, desenvolvendo a sensibilidade dos colegas com quem está trabalhando, porém
do aluno, com expressão de sentimentos, é ela quem desempenha a parte inicial de seu
como exercício de descobertas, estimulando a aprendizado (Jolibert, 1994, p.14).
curiosidade, despertando o fruir do pensamento,
não existindo o certo ou errado como uma única
É essencial respeitar o desenvolvimento
resposta. (Penteado, 2007, p. 42).
linguístico e intelectual dos alunos, bem como
cuidar do critério de seleção de textos. Um
autor que fala da importância de considerar
POR QUE LER BONS TEXTOS? a faixa etária é Aguiar:

A leitura, mesmo quando feita para quem Neste sentido, o interesse que a criança pode
manifestar pelo ato de ler está, sem dúvida alguma,
ainda não lê convencionalmente, aproxima relacionado ao fato de que a literatura deve estar
a criança do mundo da escrita, torna o de acordo com sua fase de desenvolvimento.
ambiente, juntamente com outras propostas, Importam, por isso, o constante uso de uma
linguagem simbólica como manifestações do
bastante alfabetizador. Além disso, amplia o mundo afetivo da criança e do próprio imaginário
repertório dos alunos, seu vocabulário, seu na literatura e, também, a escolha de textos com
conhecimento geral, desenvolve a imaginação estruturas linguísticas adequadas ao estágio
cognitivo do leitor. (Aguiar, 2001, p.58).
e a criatividade. Faz com que se conheçam
novos lugares e pessoas mesmo sem estar
presente, sendo um mundo riquíssimo a ser É importante que o professor, enquanto
explorado. Os autores Barcellos e Neves leitor mais experiente proporcione nas
afirmam: aulas momentos exclusivos para a leitura.
Ao escolher textos para se trabalhar com os
Além disso, a criança que ouve histórias com alunos é indispensável que seja analisada
frequência educa sua atenção, desenvolve a

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a qualidade do conteúdo, evitar versões cima para baixo, começa a fazer a leitura de
adaptadas e de preferência que o mesmo ajuste, virar as páginas na sequência, entre
seja oferecido em seu suporte real (jornal, outras ações. Sobre isso Lerner diz:
livro, revista, caixa de jogo, etc.).
Para que a instituição escolar cumpra com sua
missão de comunicar a leitura como prática social,
Uma boa história é definida pela trama, parece imprescindível uma vez mais atenuar a linha
pelo envolvimento que pode provocar no divisória que separa as funções dos participantes
leitor, não pelo tamanho do texto ou pela na situação didática. Realmente para comunicar
às crianças os comportamentos que são típicos
quantidade de ilustrações. Vale salientar do leitor, é necessário que o professor os encarne
que as ilustrações têm o seu valor, existem na sala de aula, que proporcione a oportunidade a
livros com imagens que complementam a seus alunos de participar em atos de leitura que ele
mesmo está realizando, que trave com eles uma
ideia do texto ou dão ênfase a algo que está relação ’de leitor para leitor’. (Lerner, 2002, p. 95).
escrito, além dos livros álbuns que mesmo
sem palavras escritas dão suporte para uma Vale lembrar que a leitura também mexe
excelente observação e discussão. com valores e sentimentos, como raiva,
alegria, alívio, dor, amor, medo e tristeza.
Na tenra idade, é comum que os alunos Pode ajudar a formar na criança a consciência
ainda não tenham autonomia e experiência de mundo, compreendendo aos poucos o
para escolher autores, por isso, cabe ao que a cerca e também como se sente.
professor selecioná-los e propiciar esse
contato. Pegar um livro qualquer da Diante dessas informações, fica claro que
prateleira para o momento da roda de leitura a leitura deve receber o mesmo tratamento
sem conhecer a história previamente é um de outros conteúdos da rotina escolar, ela
erro que o educador não pode cometer, não é simplesmente um passatempo, o aluno
deve-se planejar com cuidado e dedicação. aprende enquanto escuta e interage com
Alguns autores renomados que podem estar esse universo, logo, não é qualquer texto
na seleção dos professores são: Monteiro que serve para ler na escola. É importante
Lobato, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, trabalhar diferentes gêneros, mas é
Tatiana Belink, Eva Furnari, Elias José, indispensável conferir a qualidade deles e
Ziraldo, entre outros. claro garantir sua função social. Penteado
aborda essa reflexão:
Outro ponto interessante em relação
à leitura é a possibilidade de trabalhar o Um elemento essencial na formação da criança é
a leitura, ler nos proporciona ao longo de nossa
comportamento leitor (procedimentos, existência, as condições para o crescimento, pois
atitudes e valores), já que por meio de desenvolve a reflexão e o espírito crítico, com
propostas bem estruturadas a criança inesgotável fonte de assuntos. Leva-nos a viver
diferentes emoções para melhor compreender a
pequena percebe, gradativamente, que a
si e ao mundo (Penteado, 2007, p. 41).
leitura é feita da esquerda para a direita, de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

LEITURA NA ROTINA O professor é modelo de leitor para os seus


ESCOLAR alunos e deve assumir esse papel até porque
para se tornar um leitor é fundamental que
Antes de refletir sobre as atividades a criança seja estimulada pelo exemplo e
que envolvem a leitura na sala de aula, é também pelo contato permanente com os
importante salientar que existem diversos livros. O cuidado com o material também
estilos de leitura e intenções, entre elas: deve ser estimulado pelo educador. Mediar
ler para se divertir, para imaginar, para se essa relação da criança com o livro é essencial.
informar, para entender as regras de um Klebis destaca esse assunto:
jogo, para fazer uma receita, para conhecer
outras culturas e para estudar. Destaca-se a importância do papel mediador do
professor em relação à formação de leitores, no
sentido de criar condições para que as práticas
Em alguns momentos a intenção do mais significativas, sensíveis e humanas se realizem
professor pode ser permitir o contato com o nos espaços escolares de leitura, promovendo
o encontro com uma obra que é “dada a ler” ao
mundo mágico das histórias, pelo prazer de leitor sem necessidade de “medir”, em todos os
ouvi-las, ampliando o repertório dos alunos, momentos e que sujeitos e textos se encontram,
em outros momentos o professor pode ter o desempenho ou a competência de leitura dos
alunos. (Klebis, 2006, p. 126).
uma intenção mais específica relacionada a
algum tipo de aprendizagem, por exemplo,
alfabetização, oralidade ou identificação É importante salientar que o educador
da estrutura do gênero em questão. Vale pode fazer uso de diversos recursos, inclusive
ressaltar que as intenções podem se tecnológicos. Também há opção de recursos
misturar, nesse caso cabe ao professor saber lúdicos como fantasias, fantoches, dedoches
dosar para que esse momento não se torne e outros objetos que causam encantamento
cansativo e desmotivador. nos pequenos. Vale explorar diferentes
espaços da escola, por que não fazer uma
Ao refletir sobre a leitura na Educação roda de história no pátio, na casinha da
Infantil é fundamental entender que ela árvore do parque ou mesmo em uma cabana
deve se apresentar de diferentes formas, o construída com lençóis? Vale usar e abusar
prazer e a aprendizagem precisam caminhar da criatividade e nas entonações de voz,
juntos, pois isso garantirá maior qualidade transmitindo emoção, suspense, alegria e
no trabalho com os pequenos. surpresa, isso faz muita diferença para quem
ouve. A história precisa criar vida, envolver
A leitura precisa ser convidativa. Promover os alunos nesse universo é um dos papéis do
o gosto pela beleza da palavra. Ninguém professor.
toma gosto por algo que é somente imposto
ou obrigatório. Algumas sugestões de atividades são:
roda de leitura, leitura silenciosa, leitura

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Revista Educar FCE - Abril 2019

compartilhada, leitura feita pelo professor em voz alta, visita a biblioteca da escola, cantinho
da leitura na própria sala de aula, empréstimo de livros, sacola literária para levar para casa
e ler com a família. Quanto ao uso do espaço da biblioteca Alves fala:

(...) a biblioteca escolar deve oferecer atividades variadas, buscando proporcionar um ambiente dinâmico e atrativo
dentro da escola, destacando sempre a importância da leitura e estimulando sua prática como, por exemplo, a
hora do conto, a feira do livro, o encontro com autores, as exposições, as aulas de leitura, a divulgação de novas
aquisições, as visitas semanais, o recital de poesias etc.(Alves, 2008, p.100).

Mesmo as escolas que não possuem muitos recursos financeiros ou uma biblioteca
podem adaptar espaços com criatividade usando, por exemplo, almofadas, tapete e caixas.
Recursos são excelentes aliados para o professor, entretanto, sua falta não é desculpa para
o bom andamento do trabalho. É possível fazer um espaço aconchegante com pelo menos
um pequeno acervo na própria sala de aula. É indispensável deixar os livros para fácil acesso
das crianças, ou seja, com uma altura que consigam pegar com autonomia quando assim
desejarem.

Além das histórias, existem outros momentos na rotina da Educação Infantil que podem
favorecer a aprendizagem tendo a prática da leitura diária, por exemplo, o trabalho com os
nomes próprios. A leitura diária de placas com os nomes na hora da chamada faz com que
os alunos passem a reconhecer, mesmo não sabendo ler convencionalmente, seu nome e
também de outras crianças da turma.

Fazer leitura de ajuste com textos que conheçam de memória como cantigas, parlendas e
quadrinhas, também enriquece o processo de aprendizagem da leitura e escrita.

A autora Coelho dá algumas sugestões do que planejar para as crianças:

Pré-escolares até três anos: fase mágica – histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza
(humanizados) – histórias de crianças; de três a seis anos: fase mágica – histórias de repetição e acumulativas (Dona
Baratinha, A formiguinha e a neve etc.) – histórias de fadas. Escolares sete anos – histórias de crianças, animais e
encantamento, aventuras no ambiente próximo: família, comunidade, histórias de fadas; oito anos – histórias de
fadas com enredo mais elaborado, histórias humorísticas; nove anos – histórias de fadas, histórias vinculadas à
realidade; dez anos – aventuras, narrativas de viagens, explorações,
invenções, fábulas, mitos e lendas. (Coelho, 1995, p. 15).

Também é possível trabalhar com projetos literários que contemplem os campos de


experiências da Educação infantil. Já existem diferentes modelos encontrados, por exemplo,
em revistas, livros e sites da área da Educação, contudo, é imprescindível que o professor
escolha ou construa o seu projeto pensando no perfil da turma.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A maneira como a leitura é entendida no ambiente escolar, bem
como a importância atribuída à mesma no período da Educação
Infantil já teve avanços se compararmos com a Educação Tradicional
de anos atrás, prova disso é a quantidade de autores que discutem
esse assunto e a mudança da prática docente vista nas escolas,
entretanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Será que as práticas antigas não estão inseridas em nossas salas


de aulas ainda que de forma camuflada? Os alunos realmente têm
acesso a livros, podendo manuseá-los à vontade? A escolha das JULIANA
histórias segue critérios que priorizam verdadeiramente a qualidade? DOMINICHELLI HIGA
Ler todos os dias não é suficiente, isso pode ser apenas passatempo.
Graduação em Pedagogia pelo
Centro Universitário Fundação
É essencial cuidar para que a leitura escolar não seja enfadonha Santo André (2008); Especialista
e feita de qualquer maneira, sem planejamento e função social. A em Alfabetização pelo Centro
Universitário Barão de Mauá
criança presta atenção e fica mais motivada quando participa de um (2014); Professor de Educação
a leitura com sentido e significado. Infantil e Ensino Fundamental I -
na EMEF Rodrigo Mello Franco de
Andrade.
Entender que a leitura na Educação Infantil é uma prática
necessária e rica em aprendizado torna-se um desafio para os
gestores e professores. Se quisermos formar adultos leitores, temos
que incentivar e cultivar desde a mais tenra idade o hábito da leitura. É claro que esse não é um papel
apenas da escola, a família também deve estimular, porém a escola é um ambiente muito propicio para
essa aproximação com o universo da leitura e deve cumprir a sua parte. A criança chega na escola com
diversos conhecimentos prévios (produtos de suas experiências e vivências) e é lá que tem a possibilidade
de aflorá-los ou abafá-los.

O educador não é o único responsável por formar um indivíduo leitor, seria um fardo muito pesado para
se carregar, mas pode ser um semeador para que isso aconteça, sua prática precisa estar em consonância
com sua fala. Se o professor não atribuir à leitura a relevância que ela merece provavelmente seu aluno
também não o fará, o exemplo deixa marcas que não são vistas instantaneamente, mas que ao longo da
vida aparecerão.

Alguns adquirem o gosto pela leitura cedo, outros demoram certo tempo para adquirirem e existem
aqueles que passam uma vida inteira sem conhecê-lo. Que a prática docente possa auxiliar no crescimento
do primeiro grupo de pessoas que se aproximam e se apaixonam pela leitura ainda na infância.

536
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
AGUIAR, T. Vera (org.). Era uma... na escola formando educadores para formar
leitores. Belo Horizonte, MG. Formato Editorial, 2001.

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In: SILVA, Ezequiel Theodoro da (org.). Leitura na Escola. São Paulo. Global. ALB – Associação
de Leitura do Brasil, 2008.

BARCELLOS, Gládis Maria Ferrão; NEVES, Iara Conceição. A hora do conto: da fantasia ao
prazer de ler. Porto Alegre. Sagra - DC Luzzatto, 1995.

COELHO, Betty. Contar histórias uma arte sem idade. São Paulo. Ática, 1995.

FERREIRO, Emília. Alfabetização em Processo. 2ª edição. São Paulo. Cortez, 1992.

JOLIBERT, Josette. Formando Crianças Leitoras. Tradução de Bruno C. Magne. Porto Alegre.
Artes Médicas, 1994.

KLEBIS, Carlos Eduardo de Oliveira. Leitura e Envolvimento: A Escola, a Biblioteca e o


Professor na Construção das relações entre leitores e Livros. Campinas, 2006. Dissertação de
Mestrado - Universidade Estadual de Campinas – FE/UNICAMP – Faculdade de Educação.

LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre.
Artmed, 2002.

PENTEADO, Elisangela Cristina de Paula. Contos de Fadas e o Desenvolvimento da Criança.


Capivari – SP. CNEC, 2007. Monografia apresentada ao curso Normal Superior do ISECC/
CNEC.

SAVIANI, D. Escola e democracia. 24ª edição. São Paulo. Cortez, 1991.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente o desenvolvimento dos processos psicológicos


superiores. São Paulo. Martins Fontes, 1984.

537
Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
RESUMO: O objetivo deste presente artigo é de retratar a importância da utilização dos
recursos lúdicos para a aprendizagem na educação de jovens e adultos, expondo a relevância
em adotar métodos relacionados ao jogo no currículo escolar dentro de um planejamento
pedagógico de qualidade e que incentiva o aprender de uma maneira mais dinâmica e
criativa, no qual o aluno possa ver a escola como um local prazeroso, e não aquele que
causa um maior desinteresse, cansaço e obrigação, que valoriza apenas um ensino rígido,
maçante e intenso, a qual considera mais quantidade de conteúdo do que qualidade, um dos
maiores desafios apresentados. O jogo e as brincadeiras possuem uma grande influência
no desenvolvimento dos educandos de maneira que exista uma mediação agregadora dos
educadores. A metodologia utilizada foi a exploratória, baseada na pesquisa bibliográfica
que aborda o assunto.

Palavras-Chave: Educação de jovens e adultos; Lúdico; aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO de forma natural e agradável, essenciais para


o desenvolvimento motor, social, emocional,
O tema, “A importância do lúdico na cognitivo e intelectual, a brincadeira e o jogo
educação de jovens e adultos”, relata o jogo e passaram a ser considerados efetivamente
a brincadeira como recurso para proporcionar como necessidades básicas, em que o aluno
ao aluno uma aprendizagem menos rígida, desenvolve potencialmente sua criatividade,
transmitida de forma mais alegre, dinâmica e assim, o indivíduo criativo é um elemento
e divertida. importante para o funcionamento efetivo
da sociedade, pois é ele que faz e promove
Em consequência disso, pesquisadores mudanças.
começam a enxergam a possibilidade do
aluno em compreender o pensamento Com o objetivo de resgatar o ensino
e a linguagem do outro, percebem os lúdico para o planejamento pedagógico nas
efeitos do brincar e concluem que implica escolas, valorizar a capacidade em relação
uma relação cognitiva, que influencia de ao desenvolvimento cognitivo, social, motor,
maneira a interferir no desenvolvimento intelectual e afetivo através das atividades
da aprendizagem e o potencializar, além de lúdicas, dar importância aos jogos, ao brincar
ser um instrumento para a construção do e brincadeiras durante a aquisição de novos
conhecimento. conhecimentos de jovens e adultos de
maneira natural e espontânea, incentivar
O lúdico pode ser interpretado como um o ensino utilizando esses recursos lúdicos
trabalho de ação pedagógica com foco no para potencializar a capacidade imaginativa
desenvolvimento e construção da linguagem, e criativa dos alunos, aguçar o interesse ao
gesto, sons, imagens, fala e escrita, em forma conhecimento do lúdico e expressar a sua
de jogos e brincadeiras, o qual permite importância para a aprendizagem é que me
que o educando consiga desenvolver sua motivou a elaborar este artigo.
autonomia escolar, sua tomada de decisões
ao resolver problemas, raciocínio lógico e O ato de brincar faz parte da essência do ser
rápido, de maneira criativa, e acumule valores humano, com ele é possível adquirir iniciativa
que serão levados para fora do ambiente e autoconfiança, quando lhes é permitido ter
escolar. autonomia e liberdade. Também proporciona
o desenvolvimento da linguagem, do
As atividades lúdicas sempre foram pensamento e da concentração. As atividades
de grande necessidade para todo tipo de lúdicas, quando bem administradas, trazem
aprendizagem, como também para a educação diversos benefícios à vida dos alunos.
de jovens e adultos, porém nem sempre foi
visto dessa maneira, após o domínio de novos A metodologia utilizada neste trabalho
conhecimentos, desenvolvendo habilidades foi a exploratória, através da pesquisa

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Revista Educar FCE - Abril 2019

bibliográfica específicas em educação e uma didática com aulas mais prazerosas e


no tema abordado. No desenvolvimento levando em conta a importância do brincar
será falado sobre o que é o lúdico e a sua para a aprendizagem, a atividade lúdica se
importância para o aprendizado de jovens e confunde com a própria vida.
adultos.
Conforme Winnicott (1995), o lúdico
Verifica-se que é fundamental a completa é considerado prazeroso, devido a sua
compreensão em relação a atividade lúdica, capacidade de absorver o indivíduo de
para assim, usar de maneira efetiva como forma intensa e total, criando um clima de
recurso pedagógico, pois o professor que entusiasmo.
detém dessa técnica, poderá utilizar à
mediação de maneira legítima no processo O educando é um sujeito social, histórico
de obtenção de conhecimento e fomentar e faz parte de uma organização familiar,
o desenvolvimento do educando, o qual inserida em uma sociedade, que possui
deverá possuir os subsídios necessários determinada cultura, cada uma em um
que atendam as reais exigências de seus determinado momento histórico. Por meio
alunos com dificuldades de aprendizagem, do uso de recursos lúdicos, o indivíduo
se a metodologia for utilizada de maneira passa a ser a protagonista de sua história,
errônea, poderá causar malefícios e maiores podendo construir sua identidade, pois
limitações que possam complicar ainda mais consegue canalizar suas energias, vencer
o desenvolvimento. suas dificuldades e bloqueios, modificar sua
realidade, propiciar condições de liberação
da fantasia e a transformar em uma grande
O LÚDICO: UMA OCUPAÇÃO fonte de prazer, possibilitando o despertar
MUITO SÉRIA NA para aprender e o interesse no estudo e no
novo conhecimento.
APRENDIZAGEM
Mediante a falta de interesse em aprender A ludicidade é uma necessidade do ser humano
em qualquer idade e não pode ser vista apenas
e as decorrentes dificuldades durante como diversão. O desenvolvimento do aspecto
a aprendizagem, questionou-se sobre a lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento
utilização do lúdico como prática pedagógica: pessoal, social e cultural, colabora para uma boa
saúde mental, prepara para um estado interior fértil,
É possível ter garantia de uma aprendizagem facilita os processos de socialização comunicação,
mais significativa utilizando a ludicidade? expressão e construção do conhecimento
(SANTOS, 1997, p 12).
O objetivo deste artigo é apontar o
lúdico como proposta pedagógica para As brincadeiras facilitam o crescimento
ser trabalhado na educação de jovens e corporal, o aumento de força, de resistência
adultos em sala de aula, direcionando para física e de coordenação percepto-

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Revista Educar FCE - Abril 2019

motora; melhoram ainda a socialização e a O lúdico é de fundamental importância


formação de aspectos morais contribuem devido a vários fatores como potencializar o
para a vida afetiva, que permitem gerar desenvolvimento físico e mental, auxiliando
um clima harmonioso, assim, encorajam na construção do conhecimento e na
o desenvolvimento intelectual por meio socialização, englobando aspectos cognitivos
do exercício da atenção e do estímulo à e afetivos, além de ser um importante
imaginação, principalmente do faz-de- instrumento pedagógico, podendo melhorar
conta. As habilidades de comunicação, a autoestima, quando utilizado com objetivos
nas suas várias formas de expressão, são definidos, isso tudo entra em conflito com
potencializadas, facilitando a auto expressão o ensino tradicional das escolas, onde a
e a construção do próprio eu. educação formal, inibe a criatividade, a
liberdade, e até mesmo, a inteligência dos
Com a vida moderna, a qual os adultos alunos, o que os deixa desmotivados para a
quase não possuem tempo, sempre cheios aprendizagem.
de compromissos e reuniões no trabalho,
os momentos de lazer dificilmente existem As atividades realizadas em forma de
de maneira saudável, não desenvolvem produções, jogos, brincadeiras e montagens,
de maneira progressiva o aprender, os utilizadas na hora certa e de maneira correta,
industrializados, a televisão e as novas criam um ambiente de alfabetização concreto
tecnologias tomam conta da rotina e da e significativo, proporcionam também aos
realidade através das mídias sociais. Por jovens e adultos às condições necessárias de
esse motivo, desperdiçam oportunidades vida positivas e evolutivas, aprendendo a se
únicas de aflorar as próprias capacidades, conhecerem melhor e aceitarem a existência
de exercitá-las, de fazê-las crescer para e o jeito de cada um.
descobrir. Valores estão sendo perdidos,
mas não podemos parar de desenvolver e
estimular a participação ativa e a imaginação O BRINCAR
criadora de casa ser humano.
É possível que o educando desenvolva a
A brincadeira e saúde tornam-se sinônimos. sua capacidade de criar e reinventar o mundo
Segundo, as definições da Organização que vive, é no ato de brincar que se apropria
Mundial de Saúde, podem definir que saúde da realidade, dando-lhe significado.
é uma situação de completo bem-estar
físico, mental, social e espiritual. Quando um Por intermédio da atividade lúdica
indivíduo para de utilizar a ludicidade na sua é possível elaborar os seus conflitos e
vida, o mesmo fica apático, logo percebe-se ansiedades, demonstrando ativamente pelo
que algo está errado. brincar, o que sofre passivamente. Brincando
o ser humano constrói sua própria vivência,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

seus sentimentos, a sua autoestima e a CONCEITO DE JOGO


possibilidade de interação com os seus pares,
propiciando situações de aprendizagem que Tentar definir o jogo não é tarefa fácil,
desafiam as suas capacidades cognitivas, cada pessoa pode entendê-lo de uma
estimulando a sua inteligência. forma diferenciada, por exemplo no jogo
de faz de conta, há forte presença da
O brincar é uma realidade que deve ser situação imaginária; no jogo de xadrez,
praticada na vida do educando, e para que regras estabelecidas, porém contém as mais
eles brinquem é suficiente que não sejam autênticas manifestações sócio pedagógicas.
impedidos de exercitar sua imaginação, é
necessário que sejam vistos também como Com a utilização de jogos e brincadeiras
seres livres que precisam desenvolver seu na sala de aula, a escola deve garantir um
potencial criativo, unindo interesses pessoais clima de prazer fundamental, tanto para os
e suas necessidades com a realidade de um educandos quanto para o educador, o qual
mundo que pouco conhecem. deve utilizar esses recursos lúdicos para
a aprendizagem e desenvolvimento com
No ato de brincar, tanto o adulto quanto qualidade e dominando o assunto abordado.
a criança estão plenamente libertos para a
criação, é através dessa criatividade, que o Descrever o jogo é falar de atividades
indivíduo se torna pleno e sincronizado com que envolvem prazer e regras, vencedores
a vida, dando valor a esta, percebendo suas e perdedores, canaliza os ensinamentos
qualidades, além da importância das trocas sérios e importantes através do dinamismo,
entre si. do ato de descontrair e da alegria. Podemos
ver que por meio de jogos os indivíduos
Na alfabetização o brincar é essencial se relacionam espontaneamente, sendo
para resolução dos problemas emocionais capazes de respeitar o código estabelecido e
que fazem parte do desenvolvimento dos criar leis da própria atividade.
jovens e adultos, proporciona uma ética
de aprendizagem em que as necessidades Trabalhando com jogos o professor
básicas podem ser satisfeitas, e incluem contará com um ambiente descontraído,
as oportunidades de praticar, escolher, onde a aprendizagem acontecerá
preservar, imitar, imaginar, dominar, adquirir naturalmente e evitará certos desgastes que
competência e confiança, adquirir novos um procedimento mais rígido, duro e poderá
conhecimentos, habilidades, pensamentos, proporcionar uma maneira prazerosa de
entendimentos e de conhecer e valorizar a si ensinar e aprender, durante vários momentos
mesmo e as próprias forças, entendendo as dentro e fora da sala de aula.
suas limitações pessoais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Por intermédio da perspectiva de Haidt A BRINCADEIRA


(2003, p. 176) que enfatiza “o jogo tem um
valor formativo porque contribui para a A brincadeira é toda e qualquer ação que
formação de atitudes sociais: respeito mútuo, o indivíduo tem ao realizar as regras de um
solidariedade, cooperação, obediência à jogo de maneira lúdica, sendo o brinquedo
regras, senso de responsabilidade iniciativa, o suporte da brincadeira, ele é a ferramenta
pessoal e grupal”. estimulante para fazer fluir o imaginário.

O jogo pode superar os indesejáveis O brinquedo caracteriza-se, ainda, pela


métodos do conteúdo pronto, acabado presença do outro. Brincar é estar junto com
e repetitivo, que tornam a educação tão o outro, é ter companhia, aproxima os seres,
maçante, sem vida e sem alegria, sendo vista dando sentido a uma união, torna-os amigos,
mais como uma obrigação, o mesmo supõe propõe um mundo imaginário e desenvolve
relação social, por isso a participação em o senso social.
jogos contribui para a formação de atitudes
sociais, respeito mútuo, solidariedade, As brincadeiras facilitam o crescimento
cooperação, obediência às regras, senso de mental, o aumento da força, e de resistência
responsabilidade, iniciativa pessoal e grupal, física e da coordenação percepto-motora.
sendo modificador da sociedade, e devem ser Proporcionam a socialização, através dos
utilizados para fazer com que o aluno reflita, limites e a formação do aspecto social e moral,
ordene, desorganize, destrua e reconstrua o como o respeito ao outro. Contribuem para a
mundo a sua maneira. vida afetiva, através da satisfação e do prazer
em brincar. Encorajam o desenvolvimento
Por meio constrói dessa didática é possível intelectual por meio do exercício da atenção
que os alunos criem e desenvolvam seu e da imaginação. Favorecem o estímulo e o
raciocínio lógico paras as brincadeiras, nessa domínio das habilidades de comunicação,
relação descobre a necessidade de regular nas suas várias formas (oral, postural,
o comportamento, estabelecer limites, gestual, gráfica e artística) facilitando a auto
impor condições e assim subordina-se, cria expressão.
ou transforma às regras da cultura à qual
pertence, levam essas experiências com o As atividades lúdicas, como as brincadeiras
lúdico para fora do ambiente escolar, assim, e os jogos ajudam a descoberta do eu e do
vão fortalecendo outros aspectos de suas outro, contribuindo para a construção da
vidas no cotidiano. identidade pessoal, aprende a explorar, a
tomar decisões, a escolher melhor o tipo de
jogo e aprender novos conceitos exercitando
a sua criatividade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O brinquedo junto com o jogo tem o poder social de cada um, já que traz consigo alguns
de transportar os alunos para outra realidade conhecimentos adquiridos baseados na sua
que ainda não é vivenciada por ela, ao realidade e de dentro da sua própria família.
brincar eles se transportam para seu próprio
mundo, um mundo da imaginação onde ali É possível notar que por meio da brincadeira,
seus desejos são expostos, conforme seus o aluno aprende a seguir regras, experimenta
anseios. seu cotidiano e se socializa, assim, descobre
o mundo ao seu redor, e percebe que ao
Têm-se como evidente que a brincadeira, brincar com os outros educandos, encontram
contribui para o desenvolvimento e seus pares e desenvolvem relações afetivas
aprendizagem, é por ela que é possível e sociais, essa participação irá diminuir o
recriar, interpretar e estabelecer relações egocentrismo, além de assumir papéis e
com o mundo em que o aluno vive, isso representar seu mundo exterior, a brincadeira
acontece, porque o novo meio em que possibilita relacionamentos interpessoais
o educando está inserido, é composto profundos e qualitativos. Quando os mesmos
por novos conhecimentos, dando início interagem entre si formando pares, além do
a um desenvolvimento (cognitivo, social, desenvolvimento de socialização, também
afetivo) e está em constante expansão, internalizam a cultura dos outros, o que
desenvolvimento e evolução, o que lhe aflora outras questões importantes, como a
possibilita criar, agir, sentir, pensar, aprender empatia.
e além de tudo desenvolver-se integralmente.
O brincar não é visto ainda nos dias
Vale ressaltar que o brinquedo não atuais como algo importante para o
condiciona a ação, ou seja, não é necessário desenvolvimento intelectual dos educandos,
que se tenha o brinquedo para que exista principalmente pela família e pelos mesmos,
a brincadeira, ela pode existir apenas na poucos entendem a real influência positiva
imaginação criativa do educando. para a sua própria vida. A ideia que se tem,
popularmente, enfatiza que as brincadeiras
são apenas passatempo, sem funções
O BRINCAR, A importantes e que agregam valores.
APRENDIZAGEM E A
Nos dias de hoje, a maioria das escolas
MEDIAÇÃO ainda funciona com um sistema tradicional
As atividades lúdicas são de grande de ensino, o qual limita o desenvolvimento
importância, não são apenas uma forma de do aluno, não fortalecendo o conhecimento
divertimento, mas contribuem fortemente e aquilo que possui certo domínio, deixando
para a formação integral do indivíduo, e de incluir no planejamento educacional,
elas são transmitidas conforme o contexto atividades que valorizam os movimentos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

livres e espontâneos do educando, dessa fazer pedagógico, no qual a alfabetização


forma, o mesmo que detém enorme está ligada ás mudanças que podem ser
capacidade e diferencial, acaba por perder o implementadas no convívio social e na
interesse na escola e não a enxerga como um compreensão dos diferentes modos de vida,
local prazeroso de aprendizagem. dessa maneira, a educação deve ser “vista
como um dos meios capazes de proporcionar
A ideia principal do sistema educacional à classe trabalhadora um saber que seja
é de que a aprendizagem só se concretiza instrumento de luta, a fim de que possa
e fortalece com o acúmulo de conteúdo, de forma consciente, renascer enquanto
repassados de forma aleatória, rápida, homens e com eles uma nova escola”. (VALE,
progressiva e constante, nem sempre 2001, p. 46).
transmitida com qualidade, em que são
utilizadas técnicas e métodos duvidosos, ao Em particular, é preciso respeitar os níveis
exigirem imobilidade dos alunos, reprimem e as maneiras de compreensão de cada
as necessidades básicas que eles têm, de se aluno da EJA valorizando a sua realidade
movimentar, de se expressar e de vivenciar para o processo de ensino aprendizagem
corporalmente o ato educativo. seja realizado de forma construtiva e efetiva.
Ao passo que seja realizado de modo leve,
Ainda hoje, é fora da sala de aula que sem imposição e de maneira acelerada, pois
os alunos conseguem ser eles mesmos, um não se deve exigir nada e ninguém sabe
corpo que brinca, joga bola, sente, percebe, tudo, cada pessoa possui um conhecimento
expressa, descobre, experimenta e aprende inerente a suas convicções e experiências
na relação com o outro. vividas.

Em contrapartida, com a nova perspectiva O trabalho com recursos lúdicos, para


em relação aos jogos utilizados na além da recreação, deve englobar o
educação de jovens e adultos, educadores descobrimento de um novo sentido para a
e pesquisadores da educação, incentivam a leitura e a escrita, visando a aprendizagem
prática do jogo como forma de aperfeiçoar total e o desenvolvimento de toda capacidade
e aumentar o desenvolvimento com maior do educando. A dinâmica de alfabetização
qualidade e não apenas quantidade, alguns evidenciada por Freire (BRANDÃO, 1981) é
recursos lúdicos estão conquistando realizada através do trabalho com gravuras,
gradualmente um espaço no planejamento desenhos, imagens que estão sempre em
pedagógico, deixando de ser atividade contato com as formas lúdicas, por meio
secundária. desses recursos, os alunos conseguem
desenvolver a noção das palavras que fazem
É necessário enfatizar que a leitura parte do seu vocabulário.
crítica da realidade proporciona um novo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Em virtude disso é necessário que práticas e uma nova realidade, sobretudo


as atividades lúdicas sejam atualizadas criar um ambiente de integração e bom
conforme o momento e a realidade de cada relacionamento entre professores e aluno.
aluno, e assim, serem trabalhadas na EJA, a Incentivar o brincar não é sinônimo de
fim de modificar comportamentos, costumes simplesmente deixar que os alunos joguem
e atitudes para que a aprendizagem seja sem que seja feita qualquer mediação; com
significativa. Diante desse pensamento é base nas pesquisas de Ayoub (2001), quando
necessário que se verifique a educação o educador abre mão da sua mediação no
apresentada nos dias de hoje, de modo processo educativo, a situação pode ser
que precisa acompanhar as inovações e chamada de abandono pedagógico.
aproveitar a ludicidade em benefício de
todos, garantindo que os seres sociáveis Entendemos que o educador é um mediador, um
organizador do tempo, do espaço, das atividades
sejam agentes mais críticos e criativos, só [...] na construção do conhecimento. É ele quem
assim o aluno conseguirá integrar-se ao grupo cria e recria sua proposta pedagógica e para que ela
de forma consciente e crítica, construindo e seja concreta, critica dialética, este educador deve
ter competência técnica para fazê-la (SANTOS,
amadurecendo sua forma de pensar e de se
1997, p. 61).
relacionar.

Em consequência disso deve-se romper Quando se pensa em mediação, é


com o ensino tradicional, o qual existe um indispensável não pensar desde o momento
preconceito cultural, que discrimina, exclui de organizar e comprar recursos, arrumar
e trata com inferioridade e incapacidade os a sala, jogar no espaço externo, até o
alunos da EJA, esses educandos precisam ser momento em que o educador vai transmitir
reconhecidos e valorizados como indivíduos uma brincadeira para a turma.
com cultura e personalidade própria.
As formas de mediação são decisivas
Uma boa aprendizagem se dá através para garantir que os alunos realmente
da motivação estimuladora e criativa brinquem na escola, interajam com seus
proporcionando assim prazer em aprender, e colegas, imaginem, criem regras, utilizem
não por meio de uma alfabetização forçada. objetos diferentes, de formas diferentes, em
Ao pensar sobre a utilização do lúdico na ambientes que estimulem a imaginação.
EJA é preciso considerar que esse tipo de
ensino possui suas particularidades, as quais Relembrando que brincar é um direito
devem ser respeitadas integralmente. A EJA fundamental de todas as pessoas, cada
não pode mais ser vista como uma extensão uma deve possuir condições e ser inserida
do ensino regular que utiliza recursos para que possa aproveitar as oportunidades
meramente recreativos que não são usados educativas voltadas para satisfazer suas
para implementar novos hábitos, novas necessidades básicas de aprendizagem e a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

desenvolver todos os aspectos positivos, através de um currículo escolar que valorize o


próprio corpo do aluno.

A escola deve oferecer oportunidades para a construção do conhecimento através da


descoberta, invenção e imaginação, elementos indispensáveis para a participação ativa do
indivíduo no seu meio e de maneira natural, em que é primordial que o educando explora
muito mais sua criatividade, melhora sua conduta no processo ensino – aprendizagem e sua
autoestima.

É extremamente necessário que o educador tenha cuidado com a maneira que são fixados
os jogos em seus fins pedagógicos, para que não se transformem em atividade dirigida e
manipuladora, caso isso aconteça, o jogo deixa de ser jogo, pois não será caracterizado com
liberdade e espontaneidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se que o brincar é uma atividade muito séria na
vida de um ser humano, assim como precisam de alimento,
calor, carinho, precisam das atividades lúdicas para ampliar
a compreensão do mundo. Os jogos e o brincar estimulam
a explorar seu universo com inteligência, criatividade e
imaginação, ao fazer amigos amplia a sua socialização.

Brincar e jogar são coisas simples na vida de qualquer


indivíduo em sociedade e são atividades fundamentais na
sua formação e aprendizagem, por isso é necessário garantir JULIANA MARTINS
o direito do lúdico, sem que isso seja perdido. O educando PONTES
cria, age e pensa, assim, pode-se afirmar que estas atividades
Graduação em Pedagogia pela
contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento Faculdade Oswaldo Cruz (2005);
cognitivo, social, intelectual, moral e afetivo. Graduação em Artes Visuais
pela Faculdade UniJales (2015);
Especialista em Psicopedagogia
O jogo é uma ferramenta de trabalho muito proveitosa Institucional pelo Centro
para o educador, pois através dele o professor pode Universitário FIEO (2007);
introduzir os conteúdos de forma diferenciada, bastante Especialista em Alfabetização
e Letramento pela Faculdade
ativa e dinâmica, com um simples jogo o professor poderá IDEC (2016); Mestrado em
transmitir conteúdos de maneira agradável e o aluno nem Psicologia Educacional pelo
perceberá que está aprendendo. Centro Universitário FIEO (2016);
Professora de Ensino Infantil – no
CEU CEI Jaguaré, Professora de
Negar o papel importante do lúdico na escola é talvez Ensino Fundamental – na EMEF
renegar a nossa própria história de aprendizagem, embora Prof. Anezio Cabral, Professora de
Ensino Superior – Sociologia – no
ao passar dos anos tenha diminuído o espaço físico e o Centro Universitário FIEO.
tempo destinado ao jogo, provocado pelo aparecimento de
tecnologias e pela influência da televisão.

Com toda essa questão chegou-se à conclusão da necessidade de se retornar aos estudos
dos jogos, eles podem conduzir o conhecimento escolar de forma positiva, auxiliando
no redirecionamento de uma metodologia pedagógica dentro de um processo contínuo,
reflexivo e ativo tornando mais vivo o trabalho docente.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Resgatar o lúdico nas atividades pedagógicas é de extrema importância, a própria escola


deve ser um lugar onde se proporcione alegria, estímulo, criatividade, senso crítico e reflexão,
como também existe a necessidade de conhecer o aluno e seus estágios de desenvolvimento,
compreendendo que cada educando é único, e deve ser respeitado na sua individualidade.

É imprescindível que se conscientizem que para o processo de ensino/aprendizagem


tenha sucesso, é necessário que haja uma relação positiva e amigável entre professor e
aluno, de modo que o professor, suas técnicas, seus conhecimentos e sua prática pedagógica
crie condições para que o aluno explore sua imaginação e criatividade, para poder adquirir
recursos que possam reconstituí-lo interagindo uns com os outros na busca de resoluções
de problemas na aprendizagem. Em virtude disso, é importante resgatar o prazer de estudar,
pelo intermédio de práticas dinâmicas que possam despertar a satisfação, definindo e
atendendo às necessidades básicas e individuais de cada um.

Além disso é de extrema relevância a inserção ao uso de uma didática diferenciada que
utilize os recursos lúdicos na busca de motivação para uma aprendizagem mais significativa e
que proporcione novas experiências, procurando construir um ambiente produtivo, onde os
educandos possam aproveitar da melhor maneira o tempo dedicado ao brincar, na tentativa
de evitar o enfadonho, o comodismo, o desinteresse e o desânimo.

Decidir sobre o que, como, para quem e porque ensinar significa enfrentar um debate
difícil a respeito do valor, das necessidades básicas de cada pessoa, da relevância, da
objetividade, da universalidade dos conteúdos de ensino e da heterogeneidade da sala de
aula, é importante que exista um enorme respeito com o contexto social e a individualidade.

Apesar de tantas teorias defenderem uma aprendizagem por meio dos jogos e dos
movimentos espontâneos dos indivíduos, estão longe de usufruir de uma pedagogia
fundamentada na ludicidade, criatividade e na expressividade livre dos atos e da imaginação
dos alunos. Para que isso ocorra de maneira proveitosa torna-se necessário aperfeiçoar e
instruir professores, sendo que a utilização dos jogos de forma errônea é o principal ponto
negativo deste recurso.

Mediante as diferentes fontes de conhecimento, é o ato de brincar que impulsiona o


aluno a se descobrir e a descobrir o outro, a utilizar a sua imaginação e a sua criatividade,
nas diferentes competências cognitivas, afetivas, sociais e intelectuais, estimulando,
principalmente, o seu desenvolvimento, dessa maneira, potencializar os seus atributos e a
forma como podem viver e ver o mundo dentro do contexto social que vivem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Vozes, 1998.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. São Paulo:


Brasiliense, 1981.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, 6ª ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.

HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática Geral: O uso de jogos (cap.9). 7 ed. São
Paulo: Ática, 2003.

LE BOULCH, Jean. A Educação pelo Movimento. Artes Médicas, Porto Alegre, 1983.

LEBOVICI, S. & DIATKINE, R. Significado e Função do Brinquedo na Criança. Artes Médicas,


Porto Alegre, 1988.

MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Brincar: prazer e aprendizado. Petrópolis: Vozes, 2003.

SANTOS, Santa Marli Pires dos. O lúdico na formação do Educador. 6ª ed.


Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DAS BRINCADEIRAS


NA INSTITUIÇÃO: REVENDO OS
PROCESSOS NA DIFICULDADE DE
APRENDIZAGEM ATRAVÉS DOS JOGOS
RESUMO: Através de uma pesquisa realizada em livros e trabalhos acadêmicos que versem
sobre a temática ficou evidente que muitas crianças apresentam dificuldades de aprendizagem
durante o processo da alfabetização. O objetivo principal desta pesquisa foi o de investigar,
intervir, amenizar e estimular uma aprendizagem construtivista, envolto à afetividade,
com ações planejadas, dialogadas, significativas, e sistematizadas a partir do cotidiano e
dos interesses que envolvem duas instituições seculares: a família e a escola com o eixo
voltado às necessidades dos educandos. Todo este processo foi desenvolvido com leituras
e releituras de vários autores comprovadamente envolvidos com a problemática visando
que a criança apresente avanços com resultados positivos e significativos e família e escola
despertem para a importância de estreitar as relações no processo ensino aprendizagem.

Palavras-Chave: Dificuldade de Aprendizagem; Alfabetização; Criança; Família; Afetividade

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO poderiam estar solucionados a partir de


uma ação mais competente, eficiente e
Atualmente, no cenário educacional abrangente da escola. Hoje, para além do
brasileiro, existem paradigmas que afetam fracasso escolar dos nossos educandos,
diretamente a atuação dos principais atores a escola passa a ser responsabilizada por
sociais na relação ensino-aprendizagem. É não conseguir oferecer alternativas que
cada vez mais recorrente a culpabilização alterem este quadro negativo, inclusive no
da ausência da família no acompanhamento avanço, acesso e permanência de crianças
do processo educacional da criança, o que e adolescentes em idade de frequentar o
gera, em alguns casos, a justificativa pela ensino regular.
inatividade da ação pedagógica do professor,
que, equivocadamente, ao menos em minha Foi com base nestas reflexões que, após
opinião e na opinião de diversos autores, um debate que objetivava a realização do
como perceberemos no transcorrer da leitura Planejamento Escolar 2012, achei oportuno
deste trabalho de pesquisa, não se sente realizar o trabalho, ora apresentado, para,
responsável pelo todo que compreende este a partir dele, provocar a problematização
processo. Segundo a afirmação de parte de outro viés presente no universo escolar:
destes profissionais, à escola cabe permitir o um recorte necessário sobre as dificuldades
acesso à leitura e escrita e, por conseguinte, de aprendizagem que tal situação – relação
ao conhecimento e, portanto, a socialização família-escola – ajuda ou dificulta o pleno
do indivíduo, sua conduta ética e moral, seus desenvolvimento do escolar.
anseios e inserção no mundo em sociedade
estaria a cargo da família, corresponsável Como profissional que atua na Educação
inclusive, pelo processo de desenvolvimento Infantil, a qual está contida na LDB, Lei de
das habilidades mínimas na trajetória escolar Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
do aluno. como a modalidade que configura como a
primeira etapa da Educação Básica, a qual
Por outro lado, a divulgação de dados, deve ser considerada de suma importância
nas várias esferas de governo, geralmente e, justamente por isso está em perfeita
em forma de ranking, provoca um olhar consonância com o estudo deste tema,
desconfiado da sociedade para o universo acredito que esteja nela a possibilidade
escolar, ao mesmo tempo em que remete a em detectar vários problemas que possam
escola o rótulo de “salvadora da pátria”, vez facilitar a inserção da criança que realmente
que afirma que vários problemas sociais, possua alguma dificuldade e torne mais
econômicos, ambientais e de posturas branda a sua atuação no Ensino Fundamental.
mais sensíveis frente ao combate do
individualismo, dentre vários outros conflitos Desta forma, cumpre-me perguntar:
presentes na sociedade contemporânea, Como duas instituições que “supostamente”

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Revista Educar FCE - Abril 2019

trabalham em separado podem se unir Conforme consta em Polity (1998, p.73),


frente à facilitação do processo ensino o termo Dificuldade de Aprendizagem é
aprendizagem das crianças? definido pelo Instituto Nacional de Saúde
Mental (EUA) da seguinte forma:
E para responder a esta questão/problema
tratei de não especificar ou conceituar esta Segundo a autora, esse termo é definido
ou aquela dificuldade de aprendizagem de várias maneiras, por diferentes autores,
ou distúrbios, com suas semelhanças diferindo-se quanto à origem: orgânica,
e diferenças, como denominam alguns intelectual/cognitiva e emocional (incluindo-
estudiosos, mas tratá-la de forma ampla se aí a familiar). O que se observa na maioria
sem a presunção de elaborar uma receita dos casos é um entrelaçamento desses
infalível para uma convivência mais saudável aspectos.
e rentável, para o aluno, entre as duas
instituições. Para a compreensão das possíveis
alterações no processo de aprendizagem é
Sabemos que o processo de aprendizagem necessário considerar-se tanto as condições
é pessoal e a construção dessa internas do organismo (aspecto anátomo-
aprendizagem ocorre de diferentes maneiras funcional e cognitivo), quanto as condições
alterando-se de um sujeito para outro, as externas (estímulos recebidos do meio-
características individuais diferenciam-se ambiente) ao indivíduo. Fatores como
em particularidades pessoais que em alguns linguagem, inteligência, dinâmica familiar,
casos independem da aprendizagem. afetividade, motivação e escolaridade,
devem desenvolver-se de forma integrada
Esta dificuldade poderá acontecer por vários para que o processo se efetive (ROGERS,
motivos dentre eles destaco a metodologia 1988).
inadequada, ausência de afetividade familiar e
ou escolar e um olhar mais cuidadoso perante Este trabalho refere-se ao papel da família
as dificuldades apresentadas pela criança no desenvolvimento da aprendizagem da
durante o processo educacional. criança quanto ao aspecto psicológico,
emocional, social e de estimulação dos
As dificuldades de aprendizagem, aspectos cognitivos.
segundo Rogers (1988), podem significar
uma alteração no aprendizado específico Sabe-se que as crianças que apresentam
da leitura e escrita, ou alterações genéricas dificuldades de aprendizagem, geralmente,
do processo de aprendizagem, onde outros possuem uma baixa autoestima em função
aspectos, além da leitura e escrita, podem de seus fracassos e que esses sentimentos
estar comprometidos (orgânico, motor, podem estar vinculados aos comportamentos
intelectual, social e emocional). de desinteresse por determinadas atividades,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

tempo de atenção diminuído, falta de Sabe-se, também, que, muitas vezes, os


concentração e outros. conflitos familiares estão associados a essas
manifestações e que as relações familiares
A família, desconhecendo as necessidades são relevantes no desenvolvimento da
da criança e a maneira apropriada de lidar criança, havendo, portanto, a necessidade
com esses aspectos, muitas vezes, necessita de maior compreensão desse processo, por
de orientações que lhe dê suporte e lhe parte dos profissionais, para que possam
possibilite ajudar seu filho. Fatores como intervir de forma mais abrangente diante da
motivação, formas de comunicação, estresses problemática.
existentes no lar, influenciam o desempenho
da criança no processo de aprendizagem, e Em muitos casos, em um trabalho
os psicopedagogos, muitas vezes, sentem- especializado com crianças apresentando
se limitados quanto às orientações a dificuldade de aprendizagem, não é suficiente
serem dadas pela falta de conhecimento transmitir aos pais as atividades específicas a
aprofundado sobre os diversos aspectos serem realizadas; outros aspectos ligados à
familiares que podem contribuir para um família, à escola ou relacionados a dificuldades
resultado mais desejável. em outras áreas do desenvolvimento também
estão presentes, e é necessário ouvir os
Vários comportamentos manifestados pais, analisar a situação e buscar caminhos
pelas mães também levam a questionar que facilitem o desenvolvimento global da
a respeito da influência familiar sobre a criança.
aprendizagem. Segundo Marturano (1999), há
mães que demonstram excessiva ansiedade Alguns pais confiam seus filhos com
quanto a superação da dificuldade da dificuldade de aprendizagem aos professores
criança; outras que se mostram impacientes acreditando que o mau desempenho da
quanto ao desempenho insatisfatório que o criança seja proveniente apenas de si mesma,
filho apresenta; mães que atribuem todo o sem questionar sua possível participação
problema à criança e a caracterizam como nessas alterações.
“preguiçosa”, “lerda”, “distraída”; mães que
negam a dificuldade que a criança demonstra; A importância da participação da
mães que não acompanham as atividades de família no processo de aprendizagem é
seu filho e mães que punem a criança pela inegável e a necessidade de se esclarecer
seu fracasso nas atividades escolares. e instrumentalizar os pais quanto as suas
possibilidades em ajudar seus filhos com
Isso acontece pelo fato de os dificuldades de aprendizagem é evidenciada
pais desconhecerem como ocorre a ao manifestarem suas dúvidas, inseguranças
aprendizagem e, portanto, necessitam de e falta de conhecimento em como fazê-
orientações específicas a esse respeito. lo. Conforme Martins (2001, p.28), “essa

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Revista Educar FCE - Abril 2019

problemática gera nos pais sentimentos básicas necessárias para o desenvolvimento


de angústia e ansiedade por se sentirem na sociedade, como a linguagem, sistema
impossibilitados de lidar de maneira acertada de valores, controle da impulsividade. As
com a situação”. características da criança também são
determinadas pelos grupos sociais que
Acredita-se que um programa de frequenta e pelas características próprias,
intervenção familiar seja de fundamental como temperamento.
importância para o desenvolvimento e
aprendizagem da criança. O relacionamento As crianças possuem uma tendência
familiar, a disponibilidade e interesse dos natural, instintiva que as direciona ao
pais na orientação educacional de seus desenvolvimento de suas potencialidades.
filhos, são aspectos indispensáveis de ajuda Os pais devem ter conhecimento desse
à criança. Em um trabalho de orientação a processo para que não dificultem ou impeçam
pais, de acordo com Polity (1998), é possível o crescimento espontâneo da criança.
despertar a sensibilidade dos mesmos para Pela falta de compreensão da natureza e
a importância destes aspectos, dando-lhes a necessidades básicas do ser humano, os
oportunidade de falar sobre seus sentimentos, pais, muitas vezes, prejudicam a busca do
expectativas, e esclarecendo-lhes quanto às próprio desenvolvimento, pela criança. O
necessidades da criança e estratégias que modo como os pais lidam com seus filhos
facilitam o seu desenvolvimento. pode ajudá-los no desenvolvimento das suas
potencialidades e no relacionamento com o
Através das experiências e relações mundo, possibilitando-lhes o enriquecimento
interpessoais, a família pode promover o pessoal através das experiências que o meio
desenvolvimento intelectual, emocional e lhes proporciona.
social da criança. Ela pode criar situações no
dia-a-dia que estimularão esses aspectos, O processo educativo (desenvolvimento
desde que esteja desperta para isso. Além gradativo da capacidade física, intelectual
disso, a participação da criança nas atividades e moral do ser humano) familiar deve ser
rotineiras do lar e a formação de hábitos adequado para possibilitar à criança o
também são importantes na aquisição dos sucesso na aprendizagem, proporcionando-
requisitos básicos para a aprendizagem, lhe a motivação, o interesse e a
pois estimulam a organização interna e a concentração necessária para a apreensão
habilidade para o ‘fazer’, de maneira geral do conhecimento.
(MARTURANO, 1998).
A adequação desse processo compreende
A família tem um papel central no o atendimento às necessidades da criança
desenvolvimento da criança, pois é dentro quanto à presença dos pais compartilhando
dela que se realizam as aprendizagens suas experiências e sentimentos, orientação

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Revista Educar FCE - Abril 2019

firme quanto aos comportamentos a eles negar com firmeza e determinação


adequados, possibilidade de escolhas, certa as atitudes que possam contrariar o que
autonomia nas suas ações, organização desejam para a educação de seus filhos
da sua rotina, oportunidade constante de (TIBA, 1999).
aprendizagem e respeito e valorização como
pessoa. Dificuldades escolares apresentadas pelas
crianças, relacionadas à falta de concentração
A criança necessita de equilíbrio e indisciplina ocorrem e podem ser causadas
entre condutas disciplinares e diálogo, pela ausência de limites. A primeira geração
compreensão e carinho. Num processo educou os filhos de maneira patriarcal,
educativo os pais experienciam a isto é, os filhos eram obrigados a cumprir
necessidade de um trabalho de autoanálise, as determinações que lhes eram impostas
de reestruturação de seus comportamentos, pelo pai. A geração seguinte contestou
crenças, sentimentos e desejos. Os pais esse sistema educacional e agiu de maneira
precisam conquistar, em relação a si mesmos, oposta, através da permissividade. Os jovens
primeiramente, o que querem que os filhos ficaram sem padrões de comportamentos e
sejam: justos, disciplinados, honestos, limites, formando uma geração com mais
responsáveis (GRUNSPUN, 1985). Esse liberdade do que responsabilidade.
processo ocorre nas vivências do dia-a-dia,
na medida em que pais e filhos comunicam- Tanto na família quanto na escola,
se de maneira transparente e sincera, falando segundo Tiba (1999, p.45), há “a necessidade
de suas percepções, suas dúvidas, objetivos, de orientação às crianças quanto às
emoções, aprendendo uns com os outros. regras disciplinares, para que elas possam
desenvolver a capacidade de concentração e
Criar filhos não significa torná-los de apreensão dos conceitos”. A aprendizagem
perfeitos, pois os pais têm muitas dúvidas se dá de maneira gradativa e não será
e estão sujeitos a muitas falhas; mas o que possível sem a participação ativa do aluno,
é necessário é tentar identificar os conflitos de maneira disciplinada, orientada.
e desfazê-los, aprendendo a conviver com
essas situações. Através dos conflitos os Os pais devem preparar os filhos para
pais desenvolvem a percepção de si mesmos arcarem com suas responsabilidades. Na
e de seus filhos. Essas situações estimulam medida em que a criança vai aprendendo
pais e filhos a instalar um diálogo verdadeiro, a cuidar de si mesma, vai experimentando
expondo o entendimento e sentimento em a sensação gratificante da capacidade de
relação às experiências cotidianas. Por outro enfrentar desafios. E cada realização é um
lado, aspectos fundamentais do processo aprendizado que servirá de base para um
educativo revelam que os pais devem ter novo aprendizado. Assim, realizando suas
respeito sobre o que o filho sente, mas cabe vontades e necessidades, a criança vai

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Revista Educar FCE - Abril 2019

gostando de si mesma, desenvolvendo a já a dificuldade escolar está relacionada


autoestima. especificamente à um problema de ordem
ou origem de método de ensino. Contudo,
O relacionamento familiar também é Dockrell & McShane (2000) afirmam que
fundamental no processo educativo. A as dificuldades de aprendizagem podem
criança estará muito mais receptiva às ser decorrentes de déficits cognitivos que
instruções dos pais, se os membros da prejudicam a aquisição de conhecimentos
família se respeitarem entre si, procurando como também, na maioria delas, são apenas
conversar e colaborar um com o outro. resultantes de problemas educacionais ou
É importante a participação dos pais na ambientais que não estão relacionados a um
vida dos filhos, numa convivência como comprometimento cognitivo. Desse modo,
companheiros, compartilhando emoções, o faremos análises que não compreenderão
que contribui muito para a disciplina. uma diferenciação entre dificuldades de
aprendizagem ou dificuldade escolar e
Todos esses aspectos citados e muitos distúrbio de aprendizagem, embora existam
outros são fundamentais para que o autores que os diferenciem.
desenvolvimento da criança se efetive.
Portanto, a família necessita da ajuda Não se trata também de buscarmos
dos profissionais na aquisição desses aprofundamento nas questões voltadas a
conhecimentos básicos e essenciais para Dislexia, Disfasia, Disortografia, Disgrafia,
que possa cumprir seu papel de facilitadora Discalculia, Lesão Cerebral ou TDAH e sim
do processo de aprendizagem de seus levantarmos posicionamentos teóricos que
filhos, através de comportamentos mais envolvem a temática relacionada aos atores
adaptativos. – público alvo – deste trabalho, quais sejam:
pais, alunos e professores.

O PAPEL DA FAMÍLIA A aprendizagem é o processo por meio


NO PROCESSO ENSINO- do qual a criança se apropria ativamente do
conteúdo das experiências humanas, daquilo
APRENDIZAGEM que o seu grupo social conhece. Para que ela
Neste capítulo inicial é fundamental aprenda e supere as dificuldades precisará
delimitar como será entendido aqui, o interagir com outros seres humanos,
conceito “dificuldade de aprendizagem”, já especialmente com os adultos e com outras
que há na literatura científica, discordâncias crianças mais experientes. E esta primeira
e consensos entre distúrbio e dificuldade de convivência está inserida no contexto
aprendizagem. De acordo com Ciasca (2003) o familiar.
distúrbio de aprendizagem se caracteriza por
uma disfunção do sistema nervoso central, “A família é o lugar indispensável para a garantia da
sobrevivência e da proteção integral dos filhos e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

demais membros, independentemente do arranjo


familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a também afetam o ensino. Em relação aos
família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo irmãos, são ressaltadas as relações de
materiais necessários ao desenvolvimento e bem- competitividade e rivalidade. Os maus hábitos
estar dos seus componentes. Ela desempenha um
papel decisivo na educação formal e informal, e é (permitidos ou negligenciados pelos pais),
em seu espaço que são absorvidos o valor ético como assistir televisão demasiadamente e
e humanitário, em que se aprofundam os laços falta de descanso também contribuem.
de solidariedade. É também em seu interior que
se constroem as marcas entre as gerações e são
observados valores culturais”. (Kaloustian, 1988, Existem fatores socioeconômicos,
p.65) descritos pelos autores (Muñoz et. al,
2005) dos quais os pais participam, sem
A educação familiar é um elemento poderem facilmente modificá-los. Entre eles
imprescindível na formação da personalidade encontram-se as más condições de moradia,
da criança, pois, é no seio familiar que a falta de espaço, de luz, de higiene, assim
constitui-se e desenvolve-se valores como da alimentação mínima necessária para
morais, de juízo, éticos, sua criticidade o crescimento e desenvolvimento infantil
e cidadania que refletirá diretamente no adequado.
seu envolvimento escolar. É no contexto
familiar que se lapida e consolida na maioria Conforme afirma Del Prette & Del Prette
dos casos o caráter da criança que virá a (2005), os pais utilizam três alternativas para
tornar-se adulto. A família desempenha um promover a competência social dos filhos:
papel importante na formação do indivíduo, o estabelecimento de regras através de
pois permite e possibilita a constituição de orientações, manejo de consequências por
sua essencialidade. É nela que o homem meio de recompensas/punições e servindo
concebe suas raízes e torna-se um ser capaz como exemplo.
de elaboração alargador de competências
próprias. Autores citados por Bolsoni-Silva &
Marturano (2002) apontam habilidades
Muñoz, Fresnada, Mendoza, Carballo & parentais que interferem na aprendizagem
Pestun (2005) descrevem fatores familiares e socialização dos filhos. Dialogar com os
contribuintes citados por pesquisas filhos. Expressar os sentimentos dos pais
científicas para o transtorno da leitura, que para os seus filhos e aceitar os sentimentos
acreditamos serem importantes para as dos filhos. Evitar o uso de punições,
diversas dificuldades de aprendizagem. São privilegiando a utilização de recompensas
apontados como aspectos agravantes das aos comportamentos adequados. Ignorar
dificuldades na aquisição de conhecimentos o comportamento inadequado, não dando
o alcoolismo, as ausências prolongadas, as atenção a ele. Cumprir promessas, pois os
enfermidades e o falecimento dos pais. A pais ao prometerem e não cumprirem fazem
violência doméstica e a separação conjugal com que os filhos sintam-se enganados,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

prejudicando o relacionamento familiar e De fato, a família é o primeiro lugar que


servindo de exemplo de que não é obrigatório passa segurança, que acolhe a criança após
cumprir com a palavra. Entendimento do o nascimento. É importante que a criança
casal quanto à educação dos filhos e a encontre no lar proteção, segurança e apoio
participação de ambos os progenitores na psicológico. Para um bom desenvolvimento
divisão de tarefas educativas. Habilidade físico, mental e cognitivo, é necessário,
de dizer não, negociar e estabelecer regras mesmo que os pais tenham outros filhos,
para os filhos. Os pais precisam pedir tarefas outras atividades, que organizem um tempo
para os filhos de forma que sejam capazes mesmo que seja pouco, mas que seja um
de cumprir conforme idade e as habilidades tempo de qualidade, para uma relação com os
que possuem. A habilidade de desculpar- seus filhos de amor, respeito, compreensão,
se precisa ser considerada, pois os pais troca, socialização e crescimento. Neste
ao pedirem desculpas, estão admitindo sentido, precisam abrir mão da oferta de
os próprios erros e ensinando os filhos a brinquedos, televisão, videogame, para que
comportarem-se de forma parecida, o que é a atenção dessas crianças seja preenchida,
desejo dos pais. enquanto se ocupam com outras atividades
esquecendo-se de dar o carinho e o amor que
A participação dos pais nas atividades estas crianças necessitam tanto. E também,
escolares também é de suma importância, eles precisam ter a exata compreensão de
além das habilidades parentais. Sampaio, que não podem delegar para a escola o dever
De Souza & Costa (2004) acreditam que de educar com valores morais e afetivos, pois,
é relevante realizar um treinamento de além de propiciar fortes condições para as
pais para o auxilio do filho na realização dificuldades de aprendizagem, ainda trazer
adequada das tarefas de casa e com isso um grande prejuízo para a relação familiar.
estar atentos para condições antecedentes
aos comportamentos envolvidos no estudar,
os próprios comportamentos e as condições A CRIANÇA E SUA RELAÇÃO
consequentes a eles. As condições COM O UNIVERSO ESCOLAR
antecedentes são: ambiente organizado,
bem iluminado, silencioso, horário fixo de Muito tem se falado sobre as dificuldades
estudo, material escolar completo e atraente. de aprendizagem que as crianças enfrentam
As respostas envolvidas compreendem: na escola, os motivos que levam as mesmas
atenção aos prazos de entrega, postura a fracassarem e o papel fundamental da
corporal adequada e métodos adequados família. Mas e a escola? O que ela pode
de estudo. As condições após a execução do fazer para ajudar seus alunos? O professor, a
ato de estudar são consequências positivas, coordenação pedagógica e outros membros
como elogios e recompensas. da equipe da escola? A escola deve ser
um lugar onde as crianças sintam vontade

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de ir, que peçam aos pais para levarem e saberes em relação com o ensino dos
acima de tudo, um lugar que possibilite o conteúdos.
conhecimento, a aprendizagem. Por que
então a escola, com tantas obrigações com Como educadores devemos aproveitar
seus alunos é uma das causas das dificuldades e respeitar as experiências que trazem os
de aprendizagem? nossos alunos, aproveitar os contextos e
situações que se apresentam, em evidências,
Segundo Piaget, à medida que o ser se situa sejam elas situadas no campo ou na cidade,
no mundo estabelece relação de significações, lugares estes geralmente descuidados pelo
isto é, atribui significados à realidade em poder público, discutir sobre a poluição
que se encontra. Esses significados não são dos riachos, dos córregos, os baixos níveis
faculdades estáticas, mas, ponto de partida de bem-estar das populações, os lixões
para atribuição de outros significados. Hoje, e os riscos que oferecem à nossa saúde.
os grandes objetivos da Educação são: Questioná-los fazendo comparações com
ensinar a aprender, ensinar a fazer, ensinar a estruturas e vantagens que bairros nobres
ser, ensinar a conviver em paz, desenvolver têm sobre os de periferia, dentre outras
a inteligência e ensinar a transformar questões pertinentes ao assunto.
informações em conhecimento. Para atingir
esses objetivos, o trabalho de alfabetização Desenvolvermos e construirmos com
precisa desenvolver o “letramento” das nossos alunos reflexões críticas sobre os
situações reais que estão vivendo. acontecimentos que envolvem o nosso
planeta em todos os aspectos sejam eles:
“O letramento é entendido como produto da políticos, econômicos, educacionais,
participação em práticas sociais que usam a
escrita como sistema simbólico e tecnologia [...]. ambientais, questões de cunho racial, de
São práticas discursivas que precisam da escrita etnias, ações discriminatórias, regionais,
para torná-las significativas, ainda que às vezes sociais entre tantos outros aspectos
não envolvam as atividades específicas de ler
ou escrever (Parâmetros Curriculares Nacionais relacionados a esta questão. Toda esta
BRASIL, 1998, p.19)”. dimensão sistematizada e dialogada de
forma significativa irá ajudá-los a entender
Os PCNs propõem um currículo baseado o seu contexto, incitando-o a pensar e agir
no domínio das competências básicas e que como um cidadão consciente, crítico, ativo
esteja em consonância com os diversos e participativo perante a sociedade na qual
contextos de vida dos alunos. está inserido.

Segundo Freire (1996), Ensinar exige Muitos estudos defendem o papel


respeito aos saberes dos educandos, da interação social no processo da
precisamos como educadores discutir com aprendizagem. Consequentemente, os
os alunos a razão de ser de alguns desses aspectos afetivos emergem como dimensão

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Revista Educar FCE - Abril 2019

social do desenvolvimento humano. “acolhimento” tenha sucesso integralmente


é preciso que os profissionais que atuam
“Segundo GALVÃO (2000), Wallon diretamente com os discentes tenham uma
argumenta que as trocas relacionais da formação adequada.
criança com os outros são fundamentais
para o desenvolvimento da pessoa.” A Quando os profissionais são capacitados
afetividade, o diálogo, a liberdade de e possuem uma formação continuada, eles
expressão são elementos fundamentais para conseguem fazer uma leitura da corporeidade
os avanços que a criança pode apresentar e da expressão, percebendo dificuldades,
na sua forma de apreender a aprender. limitações. A partir de então estabelece
Sabemos que a realidade das salas de aula com este aluno uma relação de afetividade
nas escolas públicas, muitas vezes não nos facilitando a construção do conhecimento,
permite perceber simples gestos que podem tornando-o mais preciso e prazeroso.
tornar-se problemas futuros e ou até mesmo
presentes no contexto escolar, por isso, Wallon (1978) afirma que a criança acessa o
precisamos sempre nos auto-avaliarmos para mundo simbólico por meio de manifestações
não sermos cúmplices em alguns casos, das afetivas que se estabelece entre elas e os
dificuldades de aprendizagem apresentadas adultos. Para ele, à medida que o indivíduo se
pelos nossos educandos. desenvolve cria-se uma forma de expressão
mais complexa. O docente passa ser um
As ideias de mediação e internalização ponto de referência para o aluno, por isso
encontradas em Vygotsky (1994) permitem deve-se redobrar o cuidado na relação entre
defender, que a construção do conhecimento o professor e o aluno. É importante ressaltar,
ocorre a partir de um intenso processo de que toda relação pedagógica tem dimensão.
interação entre as pessoas.
“Na relação pedagógica, o que se aprende não
é tanto o que se ensina, mas o tipo de vínculo
O papel do outro tem uma importância educador/educando que se estabelece na relação”.
fundamental enquanto formação do sujeito, (GARCIA.1998, p.41).
já que o outro é importante na construção
do que sou, pois, sozinho não há conflito Pela relação que estabelece na sala
e não terá modificação. A interação com de aula, o professor ao ensinar, exerce
o outro, desperta no sujeito a capacidade significativa influência sobre o aluno que
de buscar novas significações e trocas de aprende, levando-o a alterar, modificar e
conhecimento. E indubitavelmente, é no transformar atitudes, ideias habilidades e
espaço escolar que esta relação se intensifica. comportamentos. Sua atuação ultrapassa,
no entanto, a simples transmissão de
As escolas devem estar preparadas conhecimentos. Como professor preciso me
para receber os alunos, mas para que esse mover com clareza na minha prática.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A relação ensinar e aprender não se limita Dessa forma, entendemos que o professor
ao espaço da sala de aula. Ela é muito mais deixa de ser o transmissor de conhecimentos
ampla, estendendo-se além da escola na numa relação vertical, e assume a condição
medida em que as expectativas e necessidades de educador que, num processo de interação
sociais bem como a cultura, valores éticos, dialogada com os alunos, na construção
morais e intelectuais, os costumes, as coletiva do saber valorizando a realidade
preferências, entre outros fatores presentes social do aluno.
na sociedade, tem repercussão direta no
trabalho educativo.
DIFICULDADES DE
(...) saber que ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua própria APRENDIZAGEM:
produção ou a sua construção . Quando entro em
uma sala de aula de aula devo estar sendo um ser
FAMÍLIA E ESCOLA
aberto a indagações, a curiosidade, as perguntas As estruturas familiares estão mudando a
dos alunos, as suas inibições: um ser crítico e
inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho cada dia e isto está trazendo alguns reflexos
– a de ensinar não de transferir conhecimento. para o desenvolvimento do aluno em sala de
(FREIRE. 1996, p 47). aula. Muitas vezes os pais delegam a função
de educar somente á escola se ausentando
Segundo Freire é necessário desmistificar que das reuniões e atividades escolares fazendo
a escola tem como função primordial transferir com que o aluno se desinteresse de sua
conhecimentos de uma geração a outra, o carreira estudantil.
oficio do professor vai, além disso. É importante
destacar que na relação professor/aluno o A família em conjunto com a escola deve
conhecimento é construído dia a dia, onde ensino buscar bastante esforço e empenho para
e aprendizagem acontecem concomitantemente. que a aprendizagem da criança seja em
sua totalidade beneficiada. Almeida (1999,
O discente no decorrer do processo p.107 apud Leite e Tassoni, 2002, p.127),
pedagógico precisa construir a capacidade diz que: as relações afetivas se evidenciam,
de perceber-se como ser atuante e não pois a transmissão do conhecimento implica,
apenas um ser passivo, sendo “sombra” do necessariamente, uma interação entre
professor. Os alunos de diferentes meios pessoas. Portanto, na relação professor
sociais chegam até a escola trazendo uma aluno, uma relação humana, o afeto está
bagagem de características culturais e presente.
pessoais, que influenciam diretamente na
sua relação pedagógica com o conhecimento, Pelo que foi citado acima, percebemos
e consequentemente determina a maneira que a intervenção com pais é essencial e
pela qual responde as exigências próprias do deve permitir com que eles analisem os seus
processo ensino aprendizagem. comportamentos. É importante, também,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que se façam intervenções com a criança envolvidos reflitam sobre a história vivida em
para que se aumente o repertório dela em relação à dificuldade escolar e ao estigma de
habilidades sociais. se ter ou de ser um filho que não aprendeu
na mesma velocidade que outras crianças.
A criança deve ser capaz de pedir e aceitar Assim se pode atribuir um novo significado
auxílio na realização das tarefas escolares. para as experiências de fracasso. É relevante
Iniciar, manter e terminar conversação que se percebam como únicos e valiosos,
com colegas, irmãos e pais. Expressar não necessitando se igualar a outros ou a
suas opiniões para professores, amigos e uma “normalidade”, mas sendo capazes de
familiares. Recusar-se a fazer o que não quer, aprender com as experiências vividas.
como: destruir materiais de outros colegas
e cabular aulas por influência de amigos. Os familiares comumente culpam a
Analisar situações conflitantes bem como criança pela dificuldade de aprendizagem.
formas de resolvê-las, tais como brigas entre Afirmam que os filhos são responsáveis
colegas e acusações injustas por parte de pelo problema, pois acreditam não eles não
professores e pais. tenham interesse pelos conteúdos escolares,
são preguiçosos para realizar as tarefas, são
O aumento das habilidades da criança distraídos, menosprezam os esforços que os
melhora não somente as relações familiares, pais fazem por eles e são “malcriados”.
como também o ser ajustamento em relação
à escola. Contudo, o trabalho com pais e Tal crença faz com que as crianças se
crianças, é comprometido por questões responsabilizem por algo que não compete
socioeconômicas ou pessoais. Há pais que somente a elas, o que prejudica a autoestima,
dizem: “Não posso faltar ao serviço para vir bem como gera reações emocionais de
toda semana, pois não terei dinheiro no final tristeza, irritabilidade, cansaço e, com
do mês.”, “Trabalhamos o dia todo, à noite, frequência, desinteresse pelo estudo. Além
cansados, é que não temos paciência para disso, essa ideia não oportuniza a busca de
ensinar ou ver as tarefas”. Outros pais ou auxílio adequado à criança, ou seja, uma
responsáveis, como avós, têm problemas de avaliação médica, psicológica e pedagógica
saúde, dentre tantos outros. Tais problemas que verifique os motivos da dificuldade e
comprometem o seguimento dos encontros, que direcione quais são as modificações
a execução das atividades pedidas, como necessárias, sendo estas no âmbito da
acompanhar a realização das atividades para família, da escola e da própria criança.
casa dos filhos, e conversar com professores
na escola. Os pais devem aprender a estabelecer
regras bem definidas e viáveis. É necessário
São informações que demonstram a que os pais dialoguem com a criança sobre
importância de se oportunizar que os sujeitos o motivo das regras, negociando com o filho

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Revista Educar FCE - Abril 2019

as que podem ser flexibilizadas. Os pais Para Fernandez (1990) quando o


devem também ser firmes na verificação fracasso escolar se instala, profissionais
do cumprimento delas. No caso da (fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos,
desobediência à regra, antes de aplicar uma psicopedagogos) devem intervir, ajudando
punição, como castigo ou bronca, deve-se através de indicações adequadas.
investigar com o filho quais foram as razões
para o não cumprimento dela, de modo José e Coelho (2002) colocam que as
que saibam evitar o desrespeito a norma. crianças não conseguem acompanhar o
Tais habilidades de refletir sobre as regras, currículo estabelecido pela escola e, porque
negociá-las e pensar sobre as consequências fracassam, são classificados como retardados
das mesmas no contexto da família, são mentais, emocionalmente perturbados ou
importantes para que a criança também simplesmente rotulados como alunos fracos
aprenda a respeitar as normas da escola, e multirrepetentes.
dialogar com os professores sobre elas e
explicarem-se e desculparem-se quando não Souza (1996) afirma que o ambiente de
foram capazes de cumpri-las. origem da criança é altamente responsável
pelas suas atividades de segurança no
Strick e Smith (2001) ressaltam que o desempenho de suas atividades e na aquisição
ambiente doméstico exerce um importante de experiências bem sucedidas, o que faz
papel para determinar se qualquer criança a criança obter conceito positivo sobre si
aprende bem ou mal. As crianças que mesma, fator importante para a aprendizagem.
recebem um incentivo carinhoso durante
toda a vida tendem a ter atitudes positivas, Para Garcia (1998) é possível conceber a
tanto sobre a aprendizagem quanto sobre si família como um sistema de organização, de
mesmas. Essas crianças buscam e encontram comunicação e de estabilidade. Esse sistema,
modos de contornar as dificuldades, mesmo a família, pode desordenar a aprendizagem
quando são bastante graves. infantil, o mesmo que podem fazer os fatores
sociais tais como a raça e o gênero na escola.
As autoras colocam que o estresse
emocional também compromete a O autor ainda refere que as dificuldades
capacidade das crianças para aprender. A de aprendizagem devem ser diagnosticadas
ansiedade em relação a dinheiro ou mudanças de forma diferente em relação a outros
de residência, a discórdia familiar ou doença transtornos próximos, ainda que, frente a
pode não apenas ser prejudicial em si mesma, presença em uma pessoa de uma dificuldade
mas com o tempo pode corroer a disposição de aprendizagem e de outro transtorno, seja
de uma criança para confiar, assumir riscos necessário classificar ambos os transtornos,
e ser receptiva a novas situações que são sabendo que se trata de dois transtornos
importantes para o sucesso na escola. diferentes.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o aumento do número de crianças nas escolas, as
estatísticas do fracasso escolar tornaram-se cada vez mais
evidentes. O que faz com que alguns alunos aprendam e
outros não? Encontrar explicações para o fato, bem como
os meios para sua superação constituíram-se em motivações
para a realização da pesquisa, ora em desenvolvimento,
concebida com os objetivos de detectar as causas geradoras
de dificuldades na área de leitura e de escrita em alunos de
5ª séries do Ensino Fundamental e verificar a eficiência das
atividades de reflexão e de operação sobre a língua como JULMARA DA SILVA
meios de superação dessas dificuldades, onde pretendemos RONCARI
provar que parte desse fracasso está diretamente relacionada
Licenciada em Psicologia em 2000
à questão socioeconômica, e a escola, como direito de todo pela UNG. Pós-Graduada em
cidadão deve desenvolver mecanismos que possibilitem o Educação Fundamental pela FCE
sucesso do aluno com dificuldades de aprendizagem. em 2018. Professora de Educação
Infantil e Ensino Fundamental
da Rede Pública Municipal e
O alcance social e prático deste trabalho está na Particular
possibilidade de se evidenciar que ao aluno de baixa renda,
de certa forma sofre uma espécie de exclusão pedagógica,
em função das suas dificuldades de aprendizagem oriunda
da sua condição social, que acaba tornado-se uma exclusão
social, pois este aluno, caso a escola, não assuma suas
responsabilidades acabará sendo vítima da evasão ou
repetência, em função do seu padrão linguístico, o que
resultará na reprodução da exclusão social a que ele já está
submetido.

A importância das intervenções nas dificuldades de aprendizagem e da participação familiar


é frequentemente apontada por outros projetos que buscam a família como mediadora e
ativa do processo de aprendizagem. Porém, há ainda um vasto caminho de enfrentamento
das dificuldades como recursos financeiros, preparo técnico e as próprias características das
constituições familiares, fatores estes fundamentais para a adesão e continuidade nestes
programas.

O presente trabalho nos mostrou que a construção do conhecimento através da


concepção construtivista, ou seja, que a educação deve acontecer a partir de um ato/ação

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de humanidade e de amor entre educador educando. Ambos são cúmplices neste processo,
no qual trocam saberes, conhecimentos contínuos e ambos vão descobrindo e construindo
novos valores, conhecimentos, experiências de vida e de mundo, dentro do contexto social,
cultural e político em que vivem.

O processo da alfabetização deve ser significativo e condizente com a realidade do


educando, pois, o educador deve conhecer o seu educando, investigá-lo e entender o seu
contexto. A aprendizagem deve vir de encontro com o que o aluno vivencia, partindo de
elementos do seu cotidiano e que estes saberes adquiridos lhes sejam úteis, proporcionado
ao mesmo enfrentar, conquistar, amenizar e superar obstáculos, desafios, expectativas de
oportunidades, objetivos almejados e principalmente que esta criança torne-se um adulto
consciente, ativo e participativo junto á sociedade, dentro de um universo complexo e
dinâmico em que vivemos, que este ser tenha uma vida digna, provedor de ações críticas,
possuidor de uma ótica clara e objetiva de mundo, sabendo respeitar e ser respeitado e
que o diálogo seja sempre sua principal ferramenta para o alcance de êxitos em sua vida,
almejando-se que esta criança, seja não só um indivíduo alfabetizado e sim “Letrado”.
Ficou evidente a importância da família e da afetividade neste processo, de acordo com as
dificuldades

Concluímos que a participação efetiva e afetiva dos educadores e da família no processo


de alfabetização é fundamental para que a criança desenvolva-se de forma positiva, cabendo
aos pais a tarefa de orientar seus filhos e encaminhá-los na vida escolar e do educador
auto avaliar-se constantemente em relação à sua postura e metodologia, proporcionando
experiências educacionais significativas de cunho qualitativo e servindo-lhes de espelho
com bons exemplos.

566
Revista Educar FCE - Abril 2019

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568
Revista Educar FCE - Abril 2019

JOGOS DE CONSCIÊNCIA
FONOLÓGICA: UM RECURSO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL PARA O
DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar os jogos fonológicos como recurso no
desenvolvimento da linguagem na Educação Infantil. Os jogos de consciência fonológica são
jogos que levam à consciência de que a fala pode ser segmentada, e que esses segmentos
podem ser manipulados. Quando aplicados na educação infantil, podem ser um instrumento
na construção do conhecimento acerca da linguagem oral e escrita, não só como ato de
aprendizagem significativa bem como uma atividade lúdica e prazerosa, fato que justifica a
importância desse tema no processo de alfabetização. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica
sobre os temas linguagem na educação infantil; consciência fonológica seus conceitos e
benefícios; jogos de consciência fonológica na alfabetização, relacionando esses temas ao
processo de alfabetização e construção do conhecimento da linguagem. Foi observado que
os jogos fonológicos podem estimular o prazer, a autonomia e a socialização das crianças,
além da assimilação e fixação do conhecimento acerca da alfabetização, auxiliando-as no
aprendizado da linguagem oral e escrita.

Palavras-Chave: Jogos de consciência fonológica. Educação Infantil. Linguagem

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO lúdicas que criem um ambiente alfabetizador,


que favoreça o processo de aquisição
O presente trabalho aborda o uso dos de autonomia e de uma aprendizagem
jogos de consciência fonológica como um significativa. Nesse sentido, este trabalho
recurso que, utilizados de modo adequado, se justifica porque pretendo explicar que as
é um instrumento de suma importância na crianças pelo brincar equilibram as tensões
construção do conhecimento acerca da provenientes de seu mundo cultural,
linguagem na educação infantil. Os jogos construindo sua individualidade, sua marca
são um recurso que possibilita à criança a pessoal e sua personalidade, desenvolvem
despertar para o mundo da leitura e escrita inúmeras habilidades que beneficiará para
não só como um ato de aprendizagem uma aprendizagem prazerosa e significativa.
significativa, mas também como uma Este trabalho trata-se de uma pesquisa
atividade prazerosa. Os mesmos contribuem bibliográfica, elaborada por meio de reflexões
também para a construção da inteligência, teóricas, referentes à utilização de jogos
desde que sejam usados em atividades fonológicos centrados na aprendizagem da
lúdicas prazerosas e com questionamentos leitura e escrita, com base nos seguintes
do professor, respeitando as etapas de autores ADAMS (2006), FREITAS (2004),
desenvolvimento intelectual da criança. KISHIMOTO (1999), MORAIS (2012),
A questão de pesquisa que se pretende MORGADO (2013), OLIVEIRA (2008),
responder é a seguinte: de que maneira os PULIEZI (2011), SIM SIM (1998) e
jogos de consciência fonológica aplicados SMANIOTTO (2012).
na Educação Infantil favorecem para o
desenvolvimento da linguagem? Desta O trabalho está composto por três seções
forma o objetivo geral do trabalho é o de que estão estruturadas da seguinte forma: na
analisar os jogos fonológicos como recurso primeira seção apresentarei a perspectiva do
no desenvolvimento da linguagem na ensino da linguagem na educação infantil a
Educação Infantil. Os objetivos específicos partir de um currículo integrador e baseado na
são: identificar o papel da linguagem na qualidade da educação infantil. Na segunda
Educação Infantil; conhecer a consciência seção analisarei a consciência fonológica
fonológica e o seu papel na alfabetização; seus conceitos e quais os benefícios para a
relacionar a aplicação de jogos fonológicos aprendizagem. Na terceira e última seção
no processo de alfabetização. Os jogos e descreverei a contribuição dos jogos de
atividades lúdicas são meios facilitadores na consciência fonológica na alfabetização de
descoberta da leitura e escrita, como também modo que possam contribuir de maneira
beneficiarão para o desenvolvimento significativa para o desenvolvimento da
intelectual, social e emocional das crianças. linguagem escrita.
Desta forma, a escola deve facilitar a
aprendizagem utilizando-se de atividades

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Revista Educar FCE - Abril 2019

LINGUAGEM NA entre si, expressando sentimentos e ideias


EDUCAÇÃO INFANTIL através da fala. Algumas ideias relacionam
o aprendizado da linguagem oral pelas
A aprendizagem da linguagem é um dos crianças como um processo natural
elementos importantes para as crianças da maturação biológica. Outros, que a
ampliarem suas possibilidades de inserção e intervenção direta do adulto é determinante
de participação na sociedade, a curto e longo para essa aprendizagem. Já a linguagem
prazo. A aquisição da linguagem integra um escrita é descrita como a compreensão
processo conjunto que se dá por etapas, de um sistema de representação e não
podendo servir como referência na evolução somente como a aquisição de um código
da linguagem durante a infância. Essas de transcrição da fala. É um processo de
etapas são caracterizadas pelo surgimento construção de conhecimento pelas crianças
de novas capacidades e aquisições fonéticas, por meio de práticas que conciliem o uso
sintáticas e semânticas pela criança. Segundo da linguagem oral com as práticas sociais
Sim Sim (1998), com 1-2 meses a criança de escrita (BRASIL, 1998). Para aprender
começa a distinguir os sons com base no essa linguagem as crianças têm um ritmo
fonema. Com 30 meses ela detecta eventuais próprio, e a conquista de suas capacidades
erros na produção do enunciado ou dos linguísticas se dá em tempos diferenciados.
interlocutores, podendo até se autocorrigir. A capacidade de se comunicar através
Com 36 meses, a criança passa a distinguir dessas linguagens ocorre gradativamente,
todos os sons da língua materna. Com 3-4 e a participação das crianças em conversas
anos, ela já possui capacidade de consciência cotidianas, situações de escuta e canto
fonológica ao reconhecer sons e produzir de músicas, brincadeiras, dentre outras
rimas mais facilmente. Com 4 anos tem a atividades, aperfeiçoam essa capacidade. O
capacidade de segmentar silabicamente trabalho com a linguagem se constitui um
unidades lexicais compostas por duas dos eixos básicos na educação infantil, por
sílabas. A criança possui domínio quase total ser fundamental para a formação do sujeito,
da capacidade de segmentação silábica aos para a interação com as outras pessoas,
6 anos de idade. Segundo o Referencial na orientação das ações das crianças, na
Curricular Nacional para a Educação Infantil construção de muitos conhecimentos e no
(RCN) a linguagem não é apenas vocabulário, desenvolvimento do pensamento (BRASIL,
lista de palavras ou sentenças, e sim, o meio 1998). A educação infantil abrange um dos
do diálogo em que a comunicação acontece espaços de ampliação das capacidades de
(BRASIL, 1998). comunicação e expressão e de acesso ao
mundo letrado pelas crianças, ao promover
O RCN separa a linguagem em oral e experiências significativas de aprendizagem
escrita. A linguagem oral está presente no da língua, por meio de um trabalho com a
dia a dia das pessoas ao se comunicarem linguagem oral e escrita. Essa ampliação

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Revista Educar FCE - Abril 2019

está relacionada ao desenvolvimento [...] as propostas pedagógicas devem dar


gradativo das capacidades associadas às maior importância a atividades que tenham
quatro competências linguísticas básicas: como foco a descoberta e exploração do
falar, escutar, ler e escrever. A leitura e a meio, o envolvimento em brincadeiras,
escrita possuem características próprias que o desenvolvimento da imaginação, do
precisam ser compreendidas pela criança raciocínio e da linguagem como instrumento
nos seus anos iniciais de alfabetização. O básico para a criança se apropriar de
ato de ler e escrever exige compreensão conhecimentos vividos em seu meio social,
de símbolos e a decodificação dos mesmos. buscando saber o que ocorre a sua volta
Segundo Oliveira (2008, p.46) as escolas de (MORGADO, 2013, p.22).
educação infantil são um local de transmissão
de conhecimento através da vivência do O Ministério da Educação afirma que
dia a dia das crianças com as pessoas, uma instituição de educação infantil
contribuindo para o desenvolvimento das de qualidade deve estar organizada de
funções psicológicas além de despertar forma a favorecer e valorizar a autonomia
diversas maneiras de a criança ver o mundo. da criança. Para isso, os ambientes e os
Nesse local as crianças podem se interessar e materiais devem estar dispostos de forma
aperfeiçoar o desenvolvimento da linguagem. que as crianças possam fazer escolhas,
desenvolvendo atividades individualmente,
O RCN divide os objetivos que a Educação em pequenos grupos ou em um grupo maior
Infantil tem para promover a capacidade de (BRASIL, 2009). Os professores devem
linguagem nas crianças de acordo com a atuar de maneira a incentivar essa busca
idade das mesmas. De 0 a 3 anos, as crianças de autonomia, auxiliando na interação das
devem participar de atividades que envolvam crianças e incentivando as mesmas nesse
a comunicação oral, como leitura de histórias processo. Eles devem planejar atividades
e vivências. De 4 a 6 anos, as atividades das variadas, disponibilizando os espaços e os
escolas devem fazer com que as crianças materiais necessários, de forma a sugerir
elaborem e respondam a perguntas, diferentes possibilidades de expressão,
familiarizem se com a escrita por meio do de brincadeiras, de aprendizagens, de
manuseio de livros e revistas, reconheçam explorações, de conhecimentos e interações
seu nome escrito e identifique-o nas diversas (BRASIL, 2009). Entende-se, portanto, que
situações do cotidiano, escolham livros a escola da educação infantil é um ambiente
para apreciação e leitura, além de envolver que promove o desenvolvimento da
as crianças em situações que permitam as aprendizagem, da autonomia, do respeito, da
mesmas ampliarem suas possibilidades de solidariedade e socialização das crianças. Os
comunicação e expressão (BRASIL, 1998). professores exercem um papel fundamental
Morgado (2013, p.22) afirma que: de integrar e auxiliar as crianças nesse
processo. A utilização de jogos fonológicos na

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Revista Educar FCE - Abril 2019

educação infantil poderá ser uma ferramenta operação que o sujeito realiza em sua
para o desenvolvimento da linguagem pelas mente (como separar, contar, comparar as
crianças. palavras quanto ao tamanho ou quanto à
semelhança sonora), mas também ao tipo
de segmento sonoro que o sujeito utiliza
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: (como rimas, fonemas e sílabas) (BRASIL,
CONCEITOS E BENEFÍCIOS 2012). Crianças que possuem consciência
dos fonemas avançam de forma mais fácil e
A capacidade de reflexão sobre sua produtiva para a escrita e leitura. No Brasil,
própria língua é de fundamental importância foram realizados estudos com objetivo de
para a aquisição e o desenvolvimento desenvolver a consciência fonológica em
da leitura e escrita. Uma das habilidades crianças, e demonstraram que ela é um pré-
metalinguísticas que propicia essa reflexão é requisito para a aquisição de leitura e escrita.
a consciência fonológica, isto é, a consciência Um estudo realizado por Puliezi (2010),
de que a fala pode ser segmentada, e que ao analisar a consciência fonológica em
esses segmentos (palavras, sílabas, fonemas) crianças no início da alfabetização, observou
podem ser manipulados. Segundo a que a habilidade em identificar rimas e
literatura, a consciência fonológica também fonemas estava intimamente relacionada
pode ser designada como habilidade com a facilidade de leitura pelas crianças.
metafonológica (PULIEZI, 2010). Segundo o Contudo, estudos evidenciam que uma
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade consciência fonológica mal desenvolvida é
Certa - PNAIC: dizemos que um indivíduo a principal dificuldade para muitas crianças
exerce uma atividade metacognitiva quando que apresentam dificuldades para aprender
ele, conscientemente, analisa seu raciocínio a ler. Esse fato gera uma grande repercussão
e suas ações mentais, ―monitorando‖ seu no futuro profissional e pessoal da criança,
pensamento. Quando a pessoa faz isso sobre tendo em vista que o acesso à cultura
a linguagem oral ou escrita, dizemos que ela escrita possibilita que o cidadão exerça de
está exercendo uma atividade metalinguística. forma integral os seus direitos e participe
Tal reflexão consciente sobre a linguagem efetivamente da sociedade em que vive
pode envolver palavras, partes das palavras, (PULIEZI, 2010). Ao longo do processo de
sentenças, características e finalidades dos aquisição e desenvolvimento linguístico, a
textos, bem como as intenções dos que criança descobre e apropria-se do sistema
estão se comunicando oralmente ou por linguístico em que está inserida, e prejuízos
escrito. Quando reflete sobre os segmentos na consciência fonológica dificultam as
das palavras, a pessoa está pondo em ação conversões letra-som, sendo um dos
a consciência fonológica (BRASIL, 2012). principais fatores de risco para os transtornos
As habilidades de consciência fonológica de aprendizagem. A progressão da idade e,
se diferenciam não só quanto ao tipo de principalmente, dos anos escolares, influencia

573
Revista Educar FCE - Abril 2019

o desenvolvimento e o aperfeiçoamento pois, além de envolverem naturalmente as


da habilidade de consciência fonológica crianças, também as instigam a encontrar
que depende, em parte, do contato com soluções para os problemas de escrita e
a escrita e do aprendizado formal. Essa avançarem na construção e exploração de
habilidade é desenvolvida gradualmente conhecimentos sobre o funcionamento da
conforme a criança experimenta situações língua. (KISHIMOTO, 1999; SMANIOTTO,
lúdicas, e é aprendida formalmente em 2012). Segundo Morais (2012), o autor
atividades grafofonêmicas na escola. A fim afirma que:
de se alcançar um ensino aprendizagem
eficiente, diferentes abordagens têm sido [...] a apropriação do uso de jogos de
propostas no campo da alfabetização e alfabetização é indispensável, afinal, com o
no Sistema de Escrita Alfabético (SEA). lúdico a criança tem mais facilidade e incentivo
Essas estratégias permitem maior sucesso para entrar no processo de alfabetização, pois
no aprendizado da língua escrita, bem estimula o prazer, autonomia, aceitação de
como a prevenção desses transtornos de regras, interação, auxiliando na assimilação
aprendizagem. Os jogos fonológicos são e fixação de conhecimentos e na reflexão
uma dessas estratégias. Eles são recursos fonológica, de forma a escrever com base
que possibilitam à criança o despertar para no conhecimento dos sons da fala (MORAIS,
o mundo da leitura e escrita não só como 2012, p. 52).
um ato de aprendizagem significativa, mas
também como uma atividade prazerosa. Ao Porém, apesar da consciência fonológica
relacionar o ambiente escolar com atividades aperfeiçoar-se gradualmente com a idade,
lúdicas, Smaniotto (2012) afirma que: deve-se considerar que a mesma não
aparece como uma maturação biológica do
[...] as práticas de leitura e escrita na escola desenvolvimento corporal, mas sim, depende
devem conciliar as atividades que propiciam das oportunidades e vivências que a criança
a aquisição da escrita ao lúdico. Ao brincar a tem para refletir sobre as palavras em sua
criança articula os conceitos e ensinamentos dimensão sonora (BRASIL, 2012). A influência
sobre o sistema de escrita apresentados de fatores ambientais como, por exemplo,
pelo professor aos usos e funções da escrita, as oportunidades socioeducacionais, é
formula hipóteses e testa-as, tornando fundamental para o desenvolvimento
a aprendizagem atrativa e interessante da consciência fonológica, devendo-se
(SMANIOTTO, 2012, p.2). considerar o contexto de vida da criança e
as experiências educativas vivenciadas na
Jogos que abranjam a consciência família e na escola durante seu aprendizado.
fonológica e que despertem o interesse da Segundo Morais (2012), os educadores
criança em avançar no processo de aprender a precisam assimilar a essencialidade de usar
ler e escrever são recursos lúdicos e eficientes, metodologias diversas para potencializar seu

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ensino e obter sucesso no ato de alfabetizar. facilitar a comunicação. Os grupos também


A consciência fonológica foi mostrada devem ser compostos de poucos integrantes,
como imprescindível para a aquisição e no máximo cinco crianças, também para
aperfeiçoamento da linguagem e escrita. Na facilitar o desenvolvimento do jogo (ADAMS,
próxima seção, será discutido como os jogos 2006). Já os jogos com rimas têm como
de consciência fonológica poderão contribuir objetivo direcionar a atenção das crianças
para esse processo no ambiente escolar. às diferenças e semelhanças entre os sons
das palavras, e desenvolver a atenção das
crianças para os sons da fala (ADAMS, 2006).
JOGOS DE CONSCIÊNCIA As crianças são convidadas a prestar atenção
FONOLÓGICA e a brincar com rimas de muitas formas
diferentes como, por exemplo, escutando
A seguir serão apresentados alguns histórias rimadas, cantando músicas e
jogos de consciência fonológica que recitando poesias com rimas. Um exemplo
poderão ser usados para contribuir com de jogos de rimas é o ―rima de palavras‖.
o desenvolvimento da alfabetização na Nesse jogo o professor produz uma palavra a
educação infantil. Os jogos são: jogos de ser rimada (por exemplo, mão) e sinaliza para
escuta; jogos de rimas; jogos de memória de que as crianças apresentem uma palavra que
rimas; jogos de consciência silábica; jogo de rime com ela (por exemplo, sabão, pão). As
letra inicial; entre outros. Os jogos de escuta crianças da educação infantil podem, muitas
têm como objetivo introduzir as crianças na vezes, inventar palavras; por exemplo, para a
arte de ouvir ativa, atenta e analiticamente. palavra amarelo a criança pode dizer farelo.
Um exemplo de jogo de escuta bastante Isso não é um problema porque o propósito
conhecido é o ―telefone sem fio‖. Nesse de exercitar a rima é fazer com que as
jogo as crianças são incentivadas a superar as crianças, antes de qualquer coisa, prestem
distrações, diferenças de pronúncia e assim atenção aos sons da fala (ADAMS, 2006).
por diante, enquanto escutam a fala (ADAMS, Para verificar se as crianças compreenderam
2006). Para executá-lo, as crianças devem o significado desse conceito, outro jogo
sentar em círculo, e o professor sussurra no fonológico de rimas, é o ―jogo de memória
ouvido da criança uma determinada palavra; de rimas‖. Essa brincadeira une o jogo de
essa criança irá sussurrar aquilo que ela memória, com a capacidade das crianças
entendeu a quem estiver à esquerda dela, e de reconhecer as unidades fonológicas das
assim por diante. Os sussurros continuam, palavras. A cada oportunidade, uma criança
criança por criança, em sentido horário, até vira duas cartas, onde as figuras/palavras de
que se chegue a última, que dirá em voz alta cada carta devem rimar. Caso elas acertem,
o que quer que tenha ouvido. As crianças as crianças ficam com as cartas para elas.
da educação infantil poderão tocar uma às Ao final do jogo, o aluno que tiver o maior
outras, ou passar um objeto adiante, para número de cartas, em mãos, ganha.

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As crianças também podem vincular a palmas (lá-pis). O professor deve perguntar


atenção à rima por meio do movimento. quantas sílabas foram ouvidas. Para o
Um jogo multissensorial é, em geral, um conhecimento sobre as sílabas iniciais, há
meio valioso de atrair a atenção de crianças o jogo ―dado sonoro‖. Esse jogo possibilita
pequenas. A tradicional música infantil ao aluno observar que a palavra é composta
―o sapo não lava o pé‖ oferece uma base por segmentos sonoros e que estes podem
excelente para experimentar movimentos se repetir em palavras diferentes (SILVA,
físicos no ritmo da rima (ADAMS, 2006). 2013). Para realizar esse jogo, o professor
Durante as rimas, as crianças podem fazer utiliza um dado com uma figura diferente
algum movimento que as represente, por em cada face. Além do dado, são necessárias
exemplo, bater os pés no chão quando outras cartas/figurinhas de outros objetos/
pronunciarem as palavras em negrito: ―o animais que comecem com a mesma letra.
sapo não lava o pé, não lava porque não Por exemplo, após jogar o dado, na face que
quer, ele mora lá na lagoa e não lava o pé ficou virada para cima há a imagem de uma
porque não quer, mas que chulé!‖. Adams vaca. Em seguida, a criança deve escolher
(2006) aborda os jogos de consciência uma carta que tenha a imagem de outra figura
silábica também como um tipo de jogo que inicia com ele ―som‖, por exemplo, a
fonológico para educação infantil. O objetivo figura de uma vassoura. Ganha a criança
desse jogo é apresentar aos alunos a ideia que conseguir o maior número de cartas.
de que palavras são formadas por unidades Antes da aplicação dos jogos de consciência
menores, as sílabas. A existência das sílabas é fonológica, o professor deve estar integrado
introduzida pedindo-se às crianças que falem e familiarizado com todas as atividades. As
seu nome batendo palmas. Os professores crianças devem se sentir brincando mesmo
podem convidar as crianças a dizer o nome quando estão aprendendo, tomando-se
dos colegas batendo palmas também. Depois cuidado com a forma que as atividades
de bater palmas para cada nome, o professor são apresentadas, de modo que nenhuma
pode perguntar: ―quantas palmas vocês criança se sinta fracassada e impaciente. Os
ouviram para esse nome? ‖. Essa brincadeira professores também devem se lembrar de que
pode ser feita com um canto rítmico, como: crianças não prestam atenção quando estão
―tome, tome, tome, qual é seu nome? ‖. A entediadas ou frustradas, e não aprendem
consciência silábica também pode ser feita quando não prestam atenção (ADAMS,
com o nome de objetos. Outro exemplo de 2006). De maneira geral, o professor não
jogo desse tipo é o ―pegue uma coisa da deve se esquecer de que o objetivo principal
caixa‖. Nesse jogo o aluno é convidado a dos jogos fonológicos é que as crianças
escolher um objeto que está dentro de uma prestem atenção aos aspectos fonológicos
caixa e nomeá-lo (por exemplo: ―isto é um da fala, ajudando-as a ouvir e perceber os
lápis‖). As crianças então repetem o nome do fonemas das palavras, e auxiliando-as no
objeto escolhido e separam suas sílabas com processo de alfabetização (ADAMS, 2006).

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Por fim, Freitas (2004) recomenda, particularmente, a realização de atividades que estimulem
a consciência fonológica em crianças que estão na Educação Infantil, pois esses jogos as
auxiliam na reflexão e manipulação sobre os sons das palavras e aquisição da linguagem.
Os jogos aqui apresentados poderão, assim, contribuir para o desenvolvimento de uma
linguagem bem estabelecida.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, a questão de pesquisa que se pretendia
responder era a seguinte: de que maneira os jogos de
consciência fonológica aplicados na Educação Infantil
favorecem para o desenvolvimento da linguagem? Após
análises reflexivas da literatura, foi observado que o
desenvolvimento da consciência fonológica é um pré-
requisito para a aquisição da leitura e escrita. Quando
aplicada no início da alfabetização, a consciência fonológica
pode facilitar a leitura pelo desenvolvimento da habilidade
de identificar os fonemas. Quando a consciência fonológica JUSSIARA RIOS DA SILVA
é aplicada de maneira lúdica, é despertado o interesse da SANDES FIGUEIREDO
criança em avançar no processo de aprender a ler e escrever,
Graduação em Pedagogia pela
pois, além de envolverem-nas naturalmente, também as Faculdade Centro Universitário
instigam a encontrar soluções para os problemas de escrita e Assunção - UNIFAI (2009);
avançar na construção e exploração de conhecimentos sobre pós-graduada pelo curso de
Alfabetização e Letramento,
o funcionamento da língua. Como as escolas de educação (2016) e pelo curso em
infantil são um local de transmissão de conhecimento Psicopedagogia pela Faculdade
através da vivência do dia a dia das crianças com as pessoas, do Centro Universitário Assunção
– UNIFAI. (2011); Professor
torna se um ambiente favorável para o aperfeiçoamento de Educação Infantil e Ensino
do desenvolvimento da linguagem. Os jogos de rimas, de Fundamental na EMEI Canal do
escuta, de consciência silábica, dentre outros, podem ser Cocaia, SP.

usados como recursos na educação infantil, pois ajudam e


contribui para o desenvolvimento da linguagem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Disponível em: <http://www.uepg.br/proex/anais/10/trabalhos/273.pdf> Acesso em 05 de
Julho de 2016.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSTRUINDO A EDUCAÇÃO
INCLUSIVA: UMA HISTÓRIA
INACABADA
RESUMO: A proposta da educação há muito deixou de passar apenas pela necessidade de
um indivíduo torna-se capaz de ler, escrever, aprender e integrar o quadro dos inúmeros
trabalhadores deste imenso país. Estudos e pesquisas acerca do tema educação vêm ampliando
as discussões e reflexões do conceito de educação, e mais atualmente, da educação inclusiva
para pessoas com necessidades especiais. Porém, através de uma ótica transformadora, visto
que a escola enquanto instituição de formação tem o poder de manter ou inferir o “status
quo” de sua sociedade, precisamos pensar quais aspectos se tornam fundamentais para
que a transformação oportunizada pela educação inclusiva, centrado no indivíduo, em suas
necessidades individuais e como estas podem realmente permitir que se transforme num
cidadão com autonomia e capacidade de exercer seus direitos. A partir desta reflexão, o que
se espera da educação inclusiva e do sistema educacional, mediante esta especificidade?
As reflexões acerca destes questionamentos ocorreram a partir de pesquisas bibliográficas,
explorando desde as raízes históricas e políticas da educação e os aspectos particulares em
embasaram a educação especial no Brasil, de modo a fundamentar a viabilidade e os obstáculos
que se interpõem ao projeto de inclusão para uma educação de resultados e qualidade.

Palavras-Chave: Políticas educacionais; Educação Inclusiva; Acessibilidade.

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INTRODUÇÃO inclusiva deve focar seus objetivos não


na deficiência; não em ações que possam
Os objetivos traçados para a educação minimizar as deficiências de indivíduos com
sofrem variáveis que envolvem, necessidades especiais. A escola precisa
especialmente, os modelos ideológicos refletir acerca de suas práticas pedagógicas
traçados pelas políticas governamentais. e do ranço de décadas de uma educação
Muito embora o planejamento educacional centrada na formação do indivíduo e na
siga os parâmetros de trabalho amparados aquisição de conhecimento. A escola inclusiva
em leis e decretos federais e estaduais precisa também atender às necessidades de
para a educação brasileira, na prática nem alunos especiais, mas precisa ter consciência
sempre isso basta para que o sistema de da importância de transformar-se pelas
ensino consiga atender às necessidades diferenças, valorizando a cooperação e a
sociais, o que traz grande frustração para integração que promovem a troca.
os profissionais, as famílias e especialmente
para os alunos, maiores interessados deste
processo. BREVE OLHAR SOBRE A
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Vivemos uma era de grandes revoluções
tecnológicas e as transformações trazidas NO BRASIL
pela revolução nos sistemas de comunicação Ao relembrar breves momentos históricos
através da Internet, trouxe também que permeiam a educação brasileira
novas responsabilidades para a educação. percebemos a dimensão política em cada fase
Antigamente, a escola era o maior centro da educação, e como isto foi determinante
de transmissão de conhecimento, de para os rumos que a educação brasileira
descobertas e trocas de experiências. Hoje, tomou. Em cada período político nota-se os
qualquer cidadezinha por mais afastada que aspectos em que se concebeu a educação
seja, pode estar conectar em segundos com brasileira, sob as influências e os interesses
outros continentes, trocando informações econômicos do modelo político vigente,
ou apenas interagindo com seus moradores. mesmo desde a colonização de nosso
país, onde objetivos lançados à educação
A escola moderna não pode ser uma deveriam servir aos interesses da “fé” e da
instituição segmentada, isolada destas coroa portuguesa, promovendo a conversão
transformações, precisa estar antenada e dos indígenas à fé cristã através da catequese,
possibilitar que seus alunos e profissionais facilitando a colonização e a aprendizagem
possam interagir, permitindo que as da língua portuguesa, favorecendo assim o
experiencias e as dúvidas individuais se trabalho indígena no cultivo da terra e na
transformem em conhecimento. Dentro exploração de riquezas. Este período ficou
desses preceitos, uma escola que se pretende conhecido como ”Jesuítico”, contemplando

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de 1500 até 1759, quando então a educação No período Imperial (1822-1930)


abandonou o cunho da igreja passando a preocupou-se em construir um sistema de
servir aos interesses do Estado de modo ensino que atendesse às necessidades da
a possibilitar a recuperação da economia nação para garantir seu desenvolvimento,
Portuguesa e a tentativa de equiparação suprindo a demanda de instituições, o
aos capitais estrangeiros. Este período, currículo básico (garantindo organização
conhecido como Pombalino, vai de 1759 até mínima para as escolas), salários, concursos
1808 e marca um rígido controle e fiscalização e escolas para meninas (Lei geral de 1827,
do currículo, tanto da gestão administrativa considerada a primeira lei da educação
como do colegiado e respectivos materiais nacional). Segundo Xavier “fazia-se
didáticos, como forma de não oferecer riscos necessário construir o edifício instrucional,
e resistência à coroa ou aos interesses do de que a jovem nação carecia, para tomar os
Estado, fazendo assim com que a educação rumos da civilização”. (1994, p.61)
priorizasse a formação aos filhos da elite
burguesa (acesso ao ensino superior) e Pós 1930, a educação fica dividida em
valorizando a manutenção do poder para a duas fases: Era Vargas (1930 a 1945) e Fase
burguesia, o controle do Estado e interesses do Nacional-desenvolvimentismo (1945 a
da coroa (LEITE, 1937). 1964), sendo que na primeira dessas fases, Era
Vargas, o país sofreu mudanças econômicas
No período Joanino a educação volta importantes e virtude da expansão industrial,
seus olhares e ações às necessidades da fator que possibilitou o desenvolvimento
evolução cultural e educacional, devido ao de grandes centros urbanos, expandindo as
desenvolvimento dos centros urbanos, sendo classes sociais com a ampliação do mercado
instituídos cursos visando à formação técnica de trabalho e consumidor. A educação
e profissional. A educação é dividida em níveis escolar, considerada forte instrumento de
(Primário, Secundário e Superior), sendo inserção social, tanto por educadores como
assim lançadas as bases de nossa evolução por ampla parcela da população, ganha ares
cultural, porém num ensino ministrado por de instrumento para a reconstrução nacional
padres, preceptores e familiares, de acordo e promoção social. Em 1932 o Movimento
com as posses e objetivos das famílias que da Escola Nova, comandado por educadores
demandavam instrução. De acordo com e intelectuais, apresenta um Plano de
Fávero apud Seco [...] “a centralização das Reconstrução Nacional, que ficou conhecido
decisões era mantida na Corte, incluindo as como Manifesto dos Pioneiros da educação
autorizações para se ensinar, as nomeações Nova.
dos professores e a abertura de escolas”.
(2006, p.16) Com a promulgação da Constituição de
1934 estabelecendo a necessidade de um
Plano Nacional de Educação, Gratuidade

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de ensino e Obrigatoriedade do ensino Essa preparação do profissional em


elementar, ocorrem mudanças formais e educação dentro de métodos científicos
substanciais na educação escolar, mantendo (bandeira do escolanovismo), repercutiram
a administração da educação como nas alterações dos cursos primários e de
responsabilidade do Estado. (GOMES, 2013) formação de professores, assim como foi
responsável pela inclusão da disciplina
Em 1945, ao final do Estado-Novo, “Organização Escolar”, nos currículos de
ganha corpo o projeto de desenvolvimento formação, com intuito de formar inspetores
econômico do país, em andamento desde a era escolares (supervisores de ensino),
Vargas, período reconhecido pelas liberdades delegados de ensino e diretores de grupo
democráticas e desenvolvimento social. escolar. Em 1933 o instituto responsável
Em 1946 é promulgada nova Constituição, por esta formação, até então de nível médio
porém, para a educação, pouco difere da é transformado em Instituto de educação
anterior, quando se esperava ampliação de nível superior, cujos objetivos eram
da possibilidade de acesso à educação. Em manter cursos de aperfeiçoamento e de
1959, um segundo documento (Manifesto divulgação para os membros efetivos do
dos Educadores mais uma vez convocados), magistério, sendo a formação de diretores
redigido por Fernando de Azevedo e assinado de grupos escolares com a duração de três
por mais 189 pessoas, enfatiza o dever do anos, dois para a formação geral e um para a
estado sobre a Educação, encaminhando-se administração escolar.
debates pela centralização e descentralização
dos sistemas de ensino (GOMES, 2013).
A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
A primeira LDB (nº 4024 de 1961) estabeleceu
o direito tanto do setor público como privado Como destaca Jannuzzi (1992), a
em ministrar o ensino no Brasil. As políticas educação especializada voltada ao deficiente
para formação de profissionais de educação teve início ainda no Brasil Colônia. No
sofreram também a influência do movimento período, eram considerados deficientes
de renovação educacional que denunciava a físicos aqueles que possuíssem qualquer
precariedade do atendimento escolar pelos tipo de diferença. Na metade século XIX,
poderes públicos, destacando-se a necessidade com intenção de normatizar as diferenças,
e importância da formação e qualificação iniciam-se as ações na área de Educação
dos profissionais da educação, destacando a Especial no Brasil, através do IBC – Instituto
falta de aplicação de métodos científicos aos Benjamin Constant, no Rio de Janeiro,
problemas da educação, assim como a falta de voltado para cegos e o Imperial Instituto de
espírito filosófico e científico nos problemas da Surdos-Mudos, posteriormente denominado
administração escolar, para a realização mais Instituto Nacional de Educação de Surdos –
eficaz da obra educacional. (SAVIANNI, 1997) INES/Rio de Janeiro. (Rampelotto, 2004).

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Mesmo diante das mudanças concebidas Segundo o autor, as ações mais efetivas
para a expansão do ensino primário, que se efetuaram isoladamente no Brasil,
secundário e com a fundação da USP – seja através de iniciativas particulares como
Universidade de São Paulo (décadas de por órgãos governamentais foram:
30 e 40), a educação especial permanecia • 1926: criação do Instituto Pestalozzi
renegada, sem ações efetivas que no município de Canoas;
acolhessem as crianças com necessidades • 1928: criação do Instituto de Cegos
especiais. Foi apenas a partir da década de Padre Chico;
50, influenciado pelo panorama mundial, que • 1929: criação do Instituto Santa
o Brasil iniciou sua estruturação voltada à Terezinha para pessoas com deficiência
educação especial, com instituições públicas auditiva;
e privadas sem fins lucrativos, com destaque • 1931: atendimento às pessoas
especial para a Sociedade Pestalozzi do com deficiência física na Santa Casa de
Brasil/1945 e a APAE - Associação de Pais Misericórdia de São Paulo;
e Amigos dos Excepcionais, que mais tarde • 1935: criado o Instituto Pestalozzi
em 1962 já com 16 instituições criou a sua de Minas Gerais, com a colaboração da
Federação (FENAPAES). Foi apenas em professora Helena Antipoff;
1957 que o governo instituiu a educação • 1943: criação do Lar-Escola São
inclusiva pública, através de classes especiais Francisco;
de atendimento exclusivo ao deficiente, • 1946: criação da Fundação para o
formadas em escolas regulares ou mesmo em Livro do Cego no Brasil;
escolas especializadas em educação especial. • 1948: surgimento da Sociedade
Mesmo com esta iniciativa, foi apenas em Pestalozzi do Estado do Rio de Janeiro;
1988, com a Constituição Federal, que o • 1950: criação da Associação de
Brasil traz alguma regulamentação própria Assistência à Criança Defeituosa - AACD;
sobre o tema (MAZZOTTA, 1993, p.36): • 1952: criação da Sociedade Pestalozzi
de São Paulo e do I Núcleo Educacional para
• Artigo 206, inciso I – Princípios que Crianças Surdas, atualmente denominado
regem o sistema de ensino brasileiro, tendo Escola Municipal Helen Keller, em São Paulo;
como premissa “a igualdade de condições • 1954: fundação do Instituto
para o acesso e permanência na escola”; Educacional São Paulo para crianças com
inciso IV – “gratuidade de ensino público em deficiência auditiva e da Associação de Pais
estabelecimentos oficiais”; e Amigos dos Excepcionais (APAE), no Rio de
• Artigo 208 – Inciso III – relaciona os Janeiro;
deveres do Estado com a educação, garantindo • 1957: primeira Campanha para a
o atendimento especializado às pessoas com Educação do Surdo Brasileiro;
necessidades especiais “preferencialmente na • 1958: Campanha Nacional de Educação
rede regular de ensino. e Reabilitação de Deficientes da Visão;

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• 1960: Campanha Nacional de • Atendimento obrigatório de programas


Educação e Reabilitação de Deficientes de Educação especial em unidades
Mentais; hospitalares, nas quais estejam internados
• 1961: elaborada a Lei 4.024, com pessoas com necessidades educativas
um capítulo destinado à Educação de especiais;
excepcionais; • Direitos de benefícios, incluindo
• 1971: Lei 5.692, apresentando a material escolar, merenda escolar e bolsa de
possibilidade do ensino regular; estudo;
• 1972: Grupo-Tarefa de Educação • Matrícula compulsória dos alunos
Especial; NEE em cursos de ensino regular público e
• 1973: Centro Nacional de Educação particular.
Especial (CENESP), transformado na
Secretaria de Educação Especial (SESPE), Além desta lei específica ao tema, a Lei
extinta em 1990 para a criação da Secretaria de Diretrizes e Bases da educação (LDB
Nacional de Educação Básica (SENEB); - nº 9.394/96) , destina um capítulo à
• 1973: Departamento de Educação Educação Especial (capítulo V), garantindo
Supletiva e Especial (DESE); aos indivíduos portadores de necessidades
• 1992: o reaparecimento da Secretaria especiais matrícula preferencialmente nas
de Educação Especial (SEESP). redes públicas de ensino, além de determinar
serviços de apoio especializado na rede
No entanto, foi apenas a partir de 1989, regular para atender às peculiaridades deste
o governo brasileiro estabeleceu normas indivíduo, de acordo com suas necessidades.
legais mais complexas voltadas à garantia Muito embora esteja aqui garantido a
dos direitos as pessoas portadoras de educação e direitos iguais, a legislação
deficiências físicas. A Lei nº 7.853/89 , que destaca a possibilidade de atendimento
em seu artigo 1º estabelece “normas gerais especializado para casos específicos,
que asseguram o pleno exercício dos direitos quando da impossibilidade de atendimento
individuais e sociais das pessoas portadoras nas escolas regulares (parágrafo 2º LBD
de deficiências, e sua efetiva integração 9394/96).
social” (Diário Oficial da União de 24/10/89),
abordando os seguintes aspectos: Mesmo estando determinado em lei,
cabendo ao estado o compromisso e
• Inclusão da Educação Especial como obrigatoriedade de oferecer e ampliar
modalidade no sistema educativo, abarcando o atendimento aos alunos com NEE na
todos os níveis de ensino; própria rede pública de ensino, a realidade
• Obrigatoriedade de oferta gratuita quanto às condições em que se concebe
da Educação Especial na rede pública de este atendimento deixam muito a desejar,
ensino; para um atendimento eficaz e de qualidade,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

pois desde a disponibilidade de recursos Questões relacionadas ao espaço


pedagógicos apropriados, a formação e físico e acessibilidade, despreparo e
qualificação docente para conhecer as desconhecimento das necessidades do
especificidades do atendimento inclusivo, aluno NEE, falta de material pedagógico,
como as próprias instalações físicas das ambientes e mobiliários inadequados,
escolas não condizem com o que a legislação falta de estrutura predial, são algumas das
apresenta para uma educação inclusiva de realidades enfrentadas cotidianamente nas
qualidade. escolas municipais, Brasil afora. Como nos
destaca Sassaki:
Entre avanços e retrocessos ao longo
da institucionalização da obrigatoriedade “A inclusão propõe um único sistema educacional
de qualidade para todos os alunos, com ou
da educação inclusiva, como por exemplo sem deficiência e com ou sem outros tipos
o maior acesso e matricula de indivíduos de condição atípica. A inclusão se baseia em
portadores de NEE, ainda há muito a ser princípios tais como: a aceitação das diferenças
individuais como atributo e não como obstáculo,
conquistado, especialmente no que diz a valorização da diversidade humana pela sua
respeito às condições de atendimento desde importância para o enriquecimento de todas as
indivíduo, da própria formação profissional pessoas, o direito de pertencer e de não ficar de
fora, o igual valor das minorias em comparação
do docente, como da preparação da com a maioria.” (2004, p. 07)
instituição e dos currículos de atendimento
a este aluno. Em geral, o que se percebe é o trabalho
diversificado que procura integrar a criança
com NEE ao cotidiano da classe, buscando
A ESCOLA INCLUSIVA: sua participação e atuação nas atividades
VERDADE OU UTOPIA? desenvolvidas através da adaptação
pedagógica, sem, no entanto, percebermos
Muito embora mais de duas décadas um projeto pedagógico realmente voltado à
separem o momento atual do início das sua realidade.
ações voltadas à inclusão na rede pública
de educação, ainda hoje podemos apontar Alguns estados apresentam projetos
dificuldades a serem discutidas e analisadas, específicos que são desenvolvidos
tanto no que se refere a formação do concomitantemente à escola regular
profissional em educação, quanto a aspectos (integrados à escola em horário extraclasse),
relacionados ao preparo das instalações, como é o caso da Prefeitura de São Paulo,
que em alguns casos, de acordo com as que sob o decreto nº45.415 de 18 de
especificidades da deficiência, se tornam Outubro de 2004 institui as diretrizes
um grande impeditivo para que realmente para a “Política de atendimento a crianças,
ocorra a “inclusão” em bases de igualdade do adolescentes, jovens e adultos com
indivíduo deficiente. necessidades educacionais especiais ”,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

onde fica estabelecido orientações quanto troca e a oportunidade de vivenciar valores


ao encaminhamento de crianças para tais importantes que perpassam a o aprendizado
serviços, a partir da avaliação do professor cognitivo. Como Mazzotta (1993), através
de classe, acompanhado pelo coordenador da integração no processo educacional,
pedagógico, do supervisor da unidade escolar permite-se ao indivíduo vivenciar a
e do professor de apoio e acompanhamento cooperação e a troca de valores, entendendo
à inclusão (PAAI), assim como pelo professor e aceitando as diferenças, além de demostrar
da sala de apoio e acompanhamento à a importância de cada indivíduo na mediação
inclusão (SAAI), com a integração da família e construção da sociedade. Para Kaufman
e de equipe multiprofissional disponibilizada (1975) e Warnock (1978) apud MAZZOTA,
pela rede municipal de ensino. (1982) e CARVALHO, (1997), este processo
de integração contempla três dimensões
Em cada diretoria regional de ensino abrangentes:
há um CEFAI - Centro de Formação e
Acompanhamento à Inclusão, responsável apresentava três dimensões abrangentes:
em atender às necessidades das escolas de
sua região, além de prestar apoio aos polos • Integração Física: envolve o espaço e o
de atendimento - SAAI’s, que recebe alunos tempo de convivência no mesmo ambiente.
das escolas próximas para atendimento Assim, quanto maior fosse a oportunidade
especializado, além dos próprios alunos de convivência, melhor seriam os resultados,
matriculados na unidade. Nesta iniciativa desde que a escola e o ambiente fossem
inovadora, percebe-se uma migração de preparados adequadamente e a integração
alunos com necessidades especiais para ocorresse de forma “gradativa”. A outra
escolas municipais da cidade de São Paulo, dimensão, “locacional”, é a de que crianças
como aponta o censo 2011 (MEC/Inep/ matriculadas na escola comum disponham
Deed) . de classes especiais ou salas de recursos
organizados para a educação especial, onde
Freinet (2001, p. 19/21) traz em sua seriam preparadas para a integração;
pedagogia a preocupação com a formação
social do indivíduo e cita que é importante • Integração Funcional: supõe a
uma educação através do trabalho mútuo utilização dos mesmos recursos educacionais
e da cooperação de todos. Já Morin (2002, disponíveis no ensino comum;
p. 19-20) defende a interligação de todos
os saberes, pois o conjunto beneficia o • Integração Social: diz respeito ao
ensino, proporcionando ao sujeito fazer processo de interação com o meio, à
relações obtendo assim uma aprendizagem comunicação e à inter-relação por meio da
significativa. Este modelo ressalta a participação ativa nos grupos, na escola e na
importância da diversidade, que privilegia a comunidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DA • Valentin Haui: Instituto Nacional dos


TEORIA À PRÁTICA Joves Cegos (Paris/1784);
• Louis Braille: elaboração método
Muitas iniciativas passam a destacar ações Braille (França/1829);
voltadas à educação de indivíduos com • Thomas Galludet: primeira escola
alguma deficiência física, desde Paris/1770, pública para surdos (Connecticut/
quando Charles Eppèe fundou uma EUA/1817).
instituição educacional para surdos-mudos,
dando origem ao que hoje conhecemos como A implementação de políticas inclusivas,
linguagem de sinais. Ou da Alemanha, quando de maneira efetiva, precisa ultrapassar
em meados de 1771 Samuel Heinecke cria os valores e objetivos descritos em leis
uma instituição semelhante, aprimorando e projetos, de modo a se tornar uma
os trabalhos de Eppèe, desenvolvendo um realidade nas instituições de ensino, “já
método oral para a educação de indivíduos que as práticas discriminatórias que elas
surdos, hoje denominado leitura labial produzem, extrapolam em muito os muros e
(SACKS, 1998). Charles Barbier, oficial do regulamentos dos territórios organizacionais
exército francês em 1819, adapta o código que as evidenciam” (MEC/SEESP, 2005 p. 8).
de mensagens usado pelo exército para
transmitir mensagens nos campos de batalha, Através de movimentos que incentivam
aprimorando-o para aplicação na educação a inclusão como uma ação política, cultural,
de jovens deficientes, e que mais tarde (em social e pedagógica, espera-se a integração
meados de 1829) foi aprimorado por Louis destes jovens em escolas regulares e sua
Braille – método Braille, utilizado até hoje na participação no mesmo processo educacional
educação de cegos. Como destaca Mazzotta que as demais crianças, sem nenhum tipo de
(1993), tais ações são expressivas para que, discriminação ou diferenciamento, apenas
entre os séculos XVII e XIX, a educação respeitando seu “tempo” e seus limites,
especial ganhe mais adeptos e as pesquisas pautado na concepção constitucional de
avancem para sedimentar a educação igualdade de direitos a todos os cidadãos.
especial. Dentre os autores, Mazzotta (1993)
destaca os seguintes: Historicamente, a educação brasileira se
caracterizou pela visão elitista da educação
• Jean Paul Bonnet: publicações como privilégio de um determinado grupo,
destinadas à educação de deficientes surdos- desde a época do descobrimento, onde
mudos (França/1620); tinham acesso à educação acadêmica
• Charles Eppèe: método de sinais e apenas os filhos de nobres e da elite colonial,
fundação da primeira instituição para a cabendo aos mais pobres o ensinamento de
educação de surdos-mudos (França/1770); ofícios técnicos ao trabalho, normalmente
braçal. Ao longo do tempo e com o progresso,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

algumas mudanças aproximaram a educação dos menos favorecidos, no entanto de maneira


excludente, limitando o acesso à educação de acordo com a classe social do indivíduo, através
de práticas legitimadas nas políticas educacionais reprodutoras da ordem social vigente em
atendimento aos interesses sócio-políticos (MANTOAN, 1997).

A educação especial surgiu sob o enfoque médico e clínico, com o método de ensino para
crianças com deficiência mental, criado pela médica italiana Maria Montessori, no início do
século XX. O “Método Montessori”, inspirado na rotina diária e na ação funcional, fundamenta-
se na estimulação sensório-perceptiva e autoaprendizagem, através da utilização de material
didático variado e estimulante, como blocos, cubos e barras em madeira, objetos variados
e coloridos, material de encaixe e seriação, letras grandes em lixa e outros. Respeitando-se
as diferenças e a diversidade como um elemento enriquecedor das relações humanas, do
desenvolvimento pessoal e social, Mantoan (1997) enfatiza que o funcionamento intelectual
deficitário pode ser ativado por ajudas que podem propiciar maior mobilidade cognitiva.

Em 1970 foi criado o Centro Nacional de Educação Especial – CENESP, responsável
pela gerência da educação especial no Brasil, impulsionando ações educacionais voltadas
às pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação, no entanto sob influência de
concepções assistencialistas, percebendo os alunos deficientes como indivíduos “treináveis”,
desconsiderando as políticas públicas de acesso universal à educação e promoção da
autonomia e independência .

O ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, lei nº8069/90, surge como um marco em
defesa das crianças e adolescentes, reforçando os dispositivos legais, ao determinar que "os
pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular
de ensino" (ECA, 2001, Art.55), assim como vimos no Tratado de Jomtien e Declaração de
Salamanca, documentos internacionais que tratam com cuidado e deferência este tema tão
singelo.

Diante de tantas ações diferenciadas, mas voltadas para o mesmo fim: cuidar melhor de
nossas crianças e adolescentes, percebe-se uma grande expansão do ensino fundamental
por volta dos anos 90. Parte disto se deve às mudanças promovidas pela LDB, destacando a
responsabilidade do poder público e da matrícula preferencial para alunos com NEE na rede
pública.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para que a inclusão se torne uma realidade, não basta
apenas que sejam elaboradas leis ou que renomados autores
apontem em seus trabalhos e pesquisas a importância de
ações e do reconhecimento do indivíduo mesmo em suas
fraquezas. É necessário que sejam derrubados paradigmas
e pré-conceitos relacionados às pessoas com deficiência,
assegurado a diversidade como eixo central para as práticas
pedagógicas e elaboração do próprio Projeto Político
Pedagógico e planejamento de ações, não apenas em belas
palavras escritas no papel, mas sim como projetos viáveis e KARINA ZANONI DE
abraçados pela equipe educadora. OLIVEIRA

Graduação em Pedagogia pela
A inclusão implica em uma transformação considerável Universidade de Guarulhos
no espaço escolar, em romper paradigmas, buscar atenção (2006); Especialista em Educação
à diversidade humana com a ajuda de recursos, materiais Infantil pela Faculdade FAATESP
(2018); Professora de Educação
humanos e financeiros e, superar a barreira do preconceito de Infantil na CEI Vila Constança
para com o diferente. e Professora de Educação Infantil
na EMEI Margareth de Fatima
Marques de Azevedo.
A escola, como primeiro ambiente fora do âmbito familiar,
recepciona e coloca o futuro adulto na esfera das relações
sociais. Por isso mesmo, sua importância nas primeiras
experiências vividas no seu interior será decisiva para a
construção do modo desse indivíduo se colocar no mundo,
nas relações com o outro, frente ao conhecimento e ao ato
criativo. E para o indivíduo com necessidades especiais,
o ambiente de troca que a escola proporciona, mais que
um local de ensinamentos acadêmicos, é um espaço de
crescimento individual, de desafios e superações.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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prorrogada pela Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.
br/images/revista_inclusao/docsubsidiariopoliticadeinclusao.txt> Acesso em: 10/05/2019>

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XAVIER, Maria Elizabete Sampaio Prado. História da Educação: a escola no Brasil. São Paulo: FTD,
1994.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA
ARTE NO PROCESSO EDUCACIONAL
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo principal analisar a importância do ensino
de artes nas escolas, além de observar as contribuições da arte para a formação humana
dos alunos. A arte é uma ferramenta importante para o desenvolvimento educacional,
psicológico e emocional dos educandos. Por meio da arte, são estimuladas nos alunos a
sensibilidade estética, a imaginação, a criatividade e também a capacidade cognitiva e a
coordenação motora. Sendo assim, esse estudo busca também tornar visível a necessidade
de aprimoramento dos educadores para que, assim como as outras áreas do conhecimento,
as artes sejam aplicadas em ambiente escolar de maneira satisfatória.

Palavras-Chave: Arte-educação; Educação; Pedagogia; Artes.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Assim, nesse estudo, é abordada a


importância da arte na educação, as
As expressões artísticas são inerentes contribuições das artes para a vida, para o
ao ser humano. Desde a Pré-História até a aprendizado e para a socialização do aluno,
atualidade, a arte está em toda a parte. Os assim como, a influência da arte na formação
diversos tipos de arte – visuais, literárias, intelectual e humana da criança. Buscando,
musicais, etc. – influenciam a cultura, a dessa forma, levantar um debate que eleve
sociedade, o comportamento, entre outras a arte ao patamar que merece na educação
facetas da vida humana. brasileira.

Naturalmente, uma manifestação tão


importante, deve estar presente nas escolas HISTÓRIA DA
como base da educação, desde os primórdios do ARTE-EDUCAÇÃO
ensino. O questionamento central desse artigo
gira em torno da importância da arte no sistema Ao contrário do que aponta o senso
educacional e, especificamente, disserta sobre comum, a arte nem sempre foi empregada
as influências e benefícios da arte-educação como ferramenta educativa. Na realidade,
para o desenvolvimento dos educandos. esse é um acontecimento relativamente
recente. Durante um longo período de tempo,
A arte precisa ser ensinada e estimulada as artes visuais foram utilizadas nas escolas
em ambiente escolar. Apesar de parecer um apenas como um recurso auxiliar no ensino
apontamento óbvio, ainda existem falhas de outras áreas, como a escrita, por exemplo,
no ensino de arte no Brasil, especialmente, e também como forma de entretenimento.
porque grande parte da sociedade ainda
enxerga a arte apenas como lazer, até mesmo Durante os séculos XVIII e XIX, tanto
como algo supérfluo. Segundo Jorge Coli, na Europa, como no Brasil, nas chamadas
professor de História da Arte da Universidade “academias de arte”, o ensino artístico se
Estadual de Campinas, baseava meramente em reprodução de cópias
e aperfeiçoamento das formas. A criatividade
A arte tem assim uma função que poderíamos e imaginação não eram estimuladas. O ensino
chamar de conhecimento, de aprendizagem. Seu
domínio é o do “não racional”, do “indizível”, da acadêmico de arte trazia o rigor e a precisão
sensibilidade: domínio sem fronteiras nítidas, muito da matemática e da anatomia.
diferente do mundo da ciência, da lógica, da teoria.
Domínio fecundo, pois nosso contato com a arte
nos transforma. Porque o objeto artístico traz em Em busca de revolucionar os moldes do
si, habilmente organizados, os meios de despertar ensino tradicional – não somente de arte,
em nós, em nossas emoções e razão, reações mas em todas as áreas do conhecimento –
culturalmente ricas, que aguçam os instrumentos
dos quais nos servimos para apreender o mundo surge, entre o final do século XIX e metade do
que nos rodeia. (COLI, 1995, p.109) século XX, um movimento que tomou força

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Revista Educar FCE - Abril 2019

nos Estados Unidos e Europa, conhecido um movimento que promovia a arte como
como Escola Nova ou Escola Progressiva. elemento essencial para o desenvolvimento
educacional. Read afirma,
O educador brasileiro Manoel Bergström
Lourenço Filho (1963, p.62), afirma que a Será minha intenção mostrar que a função
mais importante da educação diz respeito a
Escola Nova não é apenas “um só tipo de essa “orientação” psicológica, e que, por esse
escola, ou sistema didático determinado, mas motivo, a educação da sensibilidade estética
todo um conjunto de princípios tendentes a é de fundamental importância. [...] Deve ficar
claro, desde o principio, que o que eu tenho
rever as formas tradicionais do ensino”. em mente não é apenas “educação artística”
enquanto tal, o que seria mais adequadamente
No contexto da Escola Nova, a arte passa chamado de educação visual ou plástica: a teoria
a ser apresentada compreende a todos os modos
a ter uma nova finalidade: incentivar o de auto expressão, literária e poética (verbal),
aluno a expressar sentimentos e emoções. bem como musical ou auricular, e constitui uma
Apesar do avanço, nesse momento, a arte abordagem integral da realidade que deveria ser
chamada de educação estética – a educação dos
ainda não é ensinada, apenas expressada. O sentidos, nos quais a consciência e, em ultima
educador transforma- se em um facilitador estância, a integração e o julgamento do indivíduo
de experiências, que proporciona o humano estão baseados. É só quando esses
sentidos são levados a uma relação harmoniosa
ambiente e materiais necessários para o e habitual com o mundo externo que se constitui
desenvolvimento de arte nas escolas. uma personalidade integrada. (READ, 2013 p. 8).

Para entender o funcionamento da arte- Entre outros movimentos que lutaram


educação na época, basta uma comparação pelo reconhecimento e valorização da arte
simples entre o ensino de arte e ciências. na educação, pode-se destacar o DBAE
Nas escolas, a ciência era parte do universo (Discipline Based Art Education) da década
cognitivo, a arte pertencia ao universo de 1960, nos EUA e a Abordagem Triangular
das emoções. A ciência tinha utilidade e de Ensino da Arte, desenvolvida por Ana Mae
confiabilidade, a arte era apenas ornamental. Barbosa, no Brasil nos anos 1980. Sobre o
Não existia reflexão sobre a cultura da época assunto, a educadora Isabel Marques afirma,
e também não eram valorizadas as técnicas
artísticas. A arte continuava desvalorizada A causa da arte no currículo escolar, tanto do
DBAE norte-americano quanto da proposta
em relação aos outros saberes. triangular de Barbosa, aparece como uma
batalha epistemológica a fim de dissocia-la do
Pensar em arte-educação, como fazemos espontaneísmo e emparelhá-la às outras disciplinas
do currículo como forma de conhecimento, pois,
na contemporaneidade, tornou-se possível se arte não é tratada como conhecimento, mas
graças ao trabalho de diversos pensadores, como um “grito da alma”, não estamos fazendo
entre eles, o crítico de arte britânico educação cognitiva, nem emocional. (MARQUES,
1999, p. 34).
Herbert Read. Com o livro “Educação pela
Arte”, publicado em 1943, Read iniciou

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Segundo o arte-educador norte-americano elite. Entre os movimentos mais estudados


Elliot W. Eisner, o DBAE é uma metodologia e difundidos durante o período colonial
de ensino que abrange as quatro mais estavam o Barroco e o Rococó. O Barroco
importantes coisas que as pessoas fazem Europeu se tornou tão popular no país que foi
com arte, “elas a produzem, elas a veem, a base para o surgimento de um movimento
elas procuram entender seu lugar na cultura com características únicas, conhecido como
através do tempo, elas fazem julgamento Barroco Brasileiro ou Barroco Jesuítico.
acerca de sua qualidade”. (EISNER apud
BARBOSA, 2010, p. 36). Futuramente, no início do século XIX,
o Barroco foi substituído pelo estilo
Os inúmeros movimentos pedagógicos Neoclássico no Brasil. Novamente, a Europa
nascidos no século XX romperam com se torna a maior influência para os artistas
preconceitos em relação ao ensino da arte, brasileiros da época, em especial após a
além de avançar muitos passos no objetivo chegada da Missão Artística Francesa ao
de elevar a arte ao patamar de conhecimento país – que trouxe, entre outros artistas, o
necessário para a formação básica dos pintor francês Debret – e a criação da Escola
alunos. A arte passou a ser vista como uma Nacional de Belas Artes.
importante ferramenta de transformação
cultural e social dentro das escolas. Já durante a República, assim como
em outros países, a arte no Brasil não era
ensinada por si própria, mas usada apenas
ENSINO DE ARTE NO BRASIL para desenvolvimento técnico de outras
áreas do conhecimento. Com o ápice da
Durante o período colonial, o ensino Escola Nova, as influências do movimento
de arte já era uma realidade no Brasil. O passaram a incentivar os educadores, que
conhecimento em arte era trazido da Europa buscavam estimular a expressão artística
e reproduzido em terras brasileiras pelas dos alunos.
missões jesuítas. A princípio, a literatura era
mais valorizada e considerada de “alto valor”, Durante as décadas de 1930, 1940 e
já que estava diretamente ligada a capacidade 1950, influenciado pela Escola Nova e outros
intelectual. Em contrapartida, os trabalhos movimentos, o Brasil alcança um pequeno
artísticos manuais eram considerados de progresso na arte-educação. Mas, com a
“baixo valor” e tarefas para as classes sociais valorização da indústria e o surgimento das
mais baixas. primeiras escolas técnicas nos anos 1960,
ocorre um retrocesso e o ensino da arte é,
Fortemente influenciada pela arte mais uma vez, colocado em segundo plano.
europeia, sobretudo de Portugal, a formação
artística no Brasil era exclusividade da

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Para Ferraz e Fusari (2001, p.41), “[...] língua portuguesa, por exemplo. Segundo
a tendência tecnicista aparece no exato Guerra, Martins e Picosque,
momento em que a educação é considerada
insuficiente no preparo de profissionais, “Se a escola valoriza apenas o sistema de
linguagem oral ou escrita, não dará a oportunidade
tanto de nível médio, quanto de superior, para a realização de experiências que podem
para atender o mundo tecnológico em ampliar a competência simbólica. A arte tem
expansão”. um papel prioritário no desenvolvimento dessa
competência.” (GUERRA, MARTINS e PICOSQUE,
1998, p. 104).
Em 1971 é promulgada a Lei de Diretrizes
de Base da Educação Nacional, Lei nº A valorização das artes nas escolas traz
5292 de 11 de Agosto de 1971 (LDB nº resultados que podem ser observados em
5292/71)³, que introduz a educação artística diversos momentos da vida escolar. A arte
no currículo escolar, ainda não como uma promove o desenvolvimento de habilidades
disciplina oficial. Somente após 20 anos, em como a coordenação motora e a capacidade
1996, a arte-educação ganha novos rumos de criação e imaginação.
no Brasil, com a criação de uma nova e mais
moderna legislação. A arte possui um valor inerente à
construção humana, adiciona conhecimento
A Lei de Diretrizes de Base da Educação sobre o mundo e a sociedade em que vivemos
Nacional nº 9394/964, especifica que “o e, por se tratar de um patrimônio comum à
ensino da arte constituirá componente humanidade, deve ser apropriado por todos.
curricular obrigatório, nos diversos níveis
da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos”. (Art. O PAPEL DA ARTE
26 § 2º). Além disso, nela lê-se também E OS DESAFIOS DO
que “o ensino será ministrado com base
nos seguintes princípios: [...] II - liberdade ARTE-EDUCADOR
de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar As múltiplas linguagens artísticas aplicadas
a cultura, o pensamento, a arte e o saber;” durante o processo educacional oferecem
(Art. 3). infinitas possibilidades de evolução aos
educandos. Com o uso da arte, o aluno
A mudança na legislação tira de cena a aprende a interpretar as diversas linguagens
antiga educação artística, utilizada apenas que encontra ao seu redor e passa a manifestar
como passatempo ou distração entre o emoções por meio das representações
aprendizado de uma disciplina e outra. O artísticas. Além disso, a arte-educação
ensino da arte deve passar a atuar nas escolas estimula o desenvolvimento cognitivo e a
brasileiras como uma área do conhecimento, interação entre os alunos, tornando-os mais
assim como a matemática, a geografia e a sensíveis, críticos e participativos.

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Guerra, Martins e Picosque (1998, Apesar de se tratar de uma metodologia


p.21) afirmam que “a arte desempenha um aparentemente simples, a realidade das
papel extremamente vital na educação das escolas brasileiras nos mostra que o ensino
crianças. Quando a criança desenha, faz de artes ainda é falho. Um dos principais
uma escultura ou dramatiza uma situação, motivos é a desvalorização das artes em
transmite com isso uma parte de si mesma: relação às demais áreas de conhecimento.
nos mostra como sente, como pensa e como Segundo Guerra, Martins e Picosque (1998, p.
vê”. 29), “[...] a maioria de nossas escolas mantém
ainda um ensino tradicional responsável pela
Sendo assim, é imprescindível que o limitação da criatividade do aluno”.
professor trabalhe como mediador entre
a arte e os alunos. Permitindo que o Além disso, a falta de preparo dos
conhecimento seja disseminado de forma educadores de arte cria um abismo entre a
plena. Para obter a melhor metodologia no teoria e a prática. Nas salas de aula, práticas
ensino artístico é necessário que o educador tradicionais e tecnicistas são priorizadas,
aproxime os elementos teóricos das práticas o que impossibilita ao aluno a construção
escolares. Segundo Ferraz e Fusari, de conhecimento e o desenvolvimento da
sensibilidade artística. Como citam Ferraz e
[...] esses encaminhamentos metodológicos Fusari,
constituem-se em um conjunto de ideias e teorias
educativas em arte transformadas em opções
e atos que são concretizados em projetos ou no Apesar de todos os esforços para o desenvolvimento
próprio desenvolvimento das aulas de Arte. São de um saber artístico na escola, verifica-se que a
ideias e teorias (ou seja, posições a respeito de arte historicamente produzida e em produção pela
“como devem” ou “como deveriam ser” as práticas humanidade ainda não tem sido suficientemente
educativas em arte) baseadas ao mesmo tempo ensinada e apreendida pela maioria das crianças
em propostas de estudiosos da área e em nossas e adolescentes brasileiros. (FERRAZ e FUSARI,
práticas escolares em arte e que se cristalizam nas 2001, p.21).
propostas e aulas (FERRAZ e FUSARI, 2001, p. 98).
Uma solução para tal problema é a
Dentro do espaço escolar, o aluno deve ser implantação de ações efetivas em relação
incentivado a desenvolver todos os tipos de à educação dos profissionais de arte, como
atividades artísticas possíveis, como desenho, treinamentos, cursos e extensões que
pintura, modelagem, colagem, música, entre ofereçam aos professores bagagem teórica e
outras. Um método satisfatório de ensino intelectual, afim de que estes possam criar
da arte deve compreender: o conhecimento estratégias de ensino inovadoras.
teórico do professor; a escolha correta do
conteúdo específico a ser ensinado; boas Entre as teorias fundamentais para o ensino
condições práticas para a realização do de artes visuais, que devem ser difundidas
trabalho (materiais e infraestrutura) e a entre os professores de arte, pode-se
definição de um objetivo a ser alcançado. destacar a Abordagem Triangular do Ensino

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da Arte. Criada nos anos 1980 pela educadora Ana Mae Barbosa, essa proposta permite
construir na mente dos alunos um significado para as atividades de arte desenvolvidas em
sala de aula. Assim, a arte deixa de ser um mero passatempo e torna-se conhecimento. A
base da metodologia de Barbosa é fincada no tripé apresentado abaixo:

1. Conhecer arte: ensino da história da arte, contextualizando as obras de acordo com a


época e o local em que foram desenvolvidas;

2. Apreciar arte: oferecer a possibilidade de interpretação, análise e julgamento de arte,


desenvolvendo assim senso crítico e estético nos alunos;

3. Fazer arte: construção de obras artísticas próprias, englobando as diversas linguagens


existentes (pintura, escultura, desenho, música, etc.).

De posse das teorias metodológicas existentes, cada educador torna-se um facilitador


de conhecimento, com o propósito de ensinar arte com significado, construindo, assim, em
cada aluno o conhecimento cultural, o domínio das técnicas artísticas e, acima de tudo,
a admiração pela arte como uma das mais antigas formas de comunicação e expressão
produzida por seres humanos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sabe-se que os ensinamentos que aprendemos quando
crianças costumam ser levados para o resto da vida. Assim,
para que a arte e a cultura sejam realmente valorizadas
devem ser vivenciadas desde a infância. Torna-se necessário
então um novo olhar, mais cuidadoso, sobre o ensino da arte.

A educação por intermédio da arte pode ser uma das chaves


para a construção de uma sociedade mais consciente. Com
esse estudo, conclui-se que os benefícios da arte-educação
permeiam os âmbitos coletivos e individuais. Pelo ensino KAREN FERNANDES
consciente da arte é possível despertar novos anseios em OREFICE HERRERA
crianças e adolescentes, trazendo à tona a sensibilidade
Graduação em Pedagogia pela
e o senso crítico perdidos em nossa sociedade atual, tão Universidade Cidade de São Paulo
tecnológica e massificada. (2008); Professora de Educação
Infantil na EMEI Fernando de
Azevedo
Com a arte também é possível desenvolver a motricidade;
afinar as capacidades cognitivas e intelectuais; estimular a
criatividade; aumentar a capacidade de autonomia – afinal, a
criação é um ato espontâneo e de livre expressão; desenvolver
a socialização; entre outros inúmeros benefícios.

Durante o desenvolvimento desse artigo, ficou clara


a necessidade de uma renovação na forma como a arte é
ensinada nas escolas. Faz-se necessário um investimento
massivo em capacitação para os educadores, além de
uma conscientização de pais, alunos e sociedade sobre a
importância das artes para o desenvolvimento pessoal e da
sociedade.

600
Revista Educar FCE - Abril 2019

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601
Revista Educar FCE - Abril 2019

AFETIVIDADE - CONCEITOS E SUA


IMPORTÂNCIA PARA A APRENDIZAGEM E
DESENVOLVIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este trabalho tem como finalidade apresentar as práticas pedagógicas que
promovam a criação de vínculos na relação, professor, aluno. Como a família, a escola é uma
instituição essencial na formação dos indivíduos. Tem como papel contribuir não só para a
aquisição de conhecimentos do campo cognitivo, mas também na construção do caráter e
da personalidade, além de proporcionar o vínculo afetivo entre todos. É preciso reconhecer,
questionar e quebrar preconceitos, estimulando a generosidade, acolhimento e respeito.
Diante dessa realidade que não permite mais nenhum recuo. Será concluído abordado
as perspectivas inclusivas e sua aplicação de forma a alcançar a integração com inclusão
beneficiando a todos, uma vez que sentimentos de respeito á diferença, de cooperação e de
solidariedade podem ser desenvolvidos.

Palavras-Chave: Inclusão Escolar. Docência. Educação Infantil.

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INTRODUÇÃO de nossas vidas, influenciando no processo


de construção da identidade e personalidade
Este artigo traz o tema “a afetividade humana. Assim as ligações afetivas
na educação inclusiva”, busca transmitir a estabelecidas na sociedade, desenvolve
maneira que o professor e aluno se relacionam o outro e em nós mesmos, aspectos como
cria a afetividade. O ato de ensinar envolve condutas e emoções únicas que dão forma
grande cumplicidade do professor, a partir e características especificas no processo
do planejamento das decisões assumida, de criação e formação de identidade do
mas tal cumplicidade também se- constrói indivíduo.
nas interações, através do que é falado,
do que é entendido, do que é transmitido, O objetivo geral desta pesquisa
é captado pelo olhar, pelo movimento do é sensibilizar o corpo docente para
corpo que acolhe, escuta, observa e busca proporcionar autoconfiança, confiança,
a compreensão do ponto de vista do aluno. segurança, para a criança contribuir de modo
especial e ter um olhar diferenciado para
Desenvolvimento afetivo, procurar com suas necessidades especiais, um olhar
desenvolver suas dificuldades autonomia, de afeto de cuidado de ação, como uma
construção do humor, saudável, relação com escola adequada, e professores capacitados
figura de autoridade. É função, portanto, e preparados para o seu desenvolvimento
da educação promover a construção de mais que educar e valorizar a vida.
afetividade e a organização dessas funções
num complexo que chamamos sentimentos. Conhecer e aprender os benefícios da
inclusão, para com a educação inclusiva da
A dimensão afetiva pedagógica é criança, promovendo recursos para o seu
fundamental porque se envolve com o cotidiano e afetividade que contribui de
sentimento da criança, somente a educação modo especial. Olhar não é apenas dirigir
afetiva consegue organizar os sentimentos da os olhos para perceber o real fora de nós,
criança. Proporcionar confiança, segurança, pode ser muitas vezes, cuidar- zelar, guardar,
ter um olhar diferenciado para com suas abrigar, pôr os olhos sobre alguém, deitar um
necessidades, um olhar, de afeto de cuidado olhar.
de ação que possa proporcionar um apoio
emocional e facilitar o seu desenvolvimento A metodologia deste trabalho será
na escola com a aprendizagem. qualitativa bibliográfica, investigando livros,
sites, artigos, revistas que fundamentam a
Portanto, é importante antes de tudo inclusão no ambiente escolar.
entendermos a importância da relação social
como um todo, uma vez que a afetividade faz Esta pesquisa mostrará a abordagem da
parte da relação social construídas ao longo afetividade, conceitos e sua importância

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Revista Educar FCE - Abril 2019

para a aprendizagem e desenvolvimento na com a capacidade e estrutura durante o


educação infantil e apresentará as práticas desenvolvimento. A educação inclusiva é
pedagógicas que promovam a criação de preciso afeto e mais compreensão para
vínculos na relação, professor, aluno. facilitar seu desenvolvimento na escola com
a aprendizagem. No princípio me chamou a
Nesta direção, seguirá esta pesquisa atenção as diferenças dentro da escola, a falta
investigando autores que fundamentam de estrutura, planejamento escolar específico
a inclusão escolar no ambiente escolar, para o seu grau de dificuldade, é preciso que
ampliando novos conhecimentos para um cuidem com amor e dedicação a educação
trabalho pedagógico bem direcionado. inclusiva, é preciso afeto e mais compreensão
para facilitar o seu desenvolvimento na
escola com a aprendizagem.
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
E A AFETIVIDADE Observando todas estas necessidades para
com a inclusão dentro do ambiente escolar.
A educação inclusiva é um sistema de Escolhi fazer minha pesquisa na educação
educação e ensino em que todos os alunos inclusiva afetividade, pois vejo que o nome se
com necessidades especiais que necessitam dá inclusão, de certo antes de conhecer- eu
de um planejamento específico para as suas não teria ideia do que isso poderia significar
necessidades diárias, que possa proporcionar na teoria e na prática. Portanto fazendo
um apoio emocional e integrando no próprio esta pesquisa quero assim poder ajudar na
ambiente para se adaptar ao incluso de qualidade de vida dessa comunidade por
acordo suas necessidades. meio da produção cientifica. É importante
refletir toda a prática e ideia existente sobre
Há comodismo para a inclusão, para um a inclusão e sensibilização dos alunos.
espaço, que possa beneficiar a inclusão e
tudo e tudo que diz respeito ao assunto. Na sala de aula, a afetividade deve ser vista
Proponho uma mudança significativa para como uma ligação que aproxima educador e
com a inclusão disponibilizando recursos. educando e que contribui para o aprendizado
Há falta de interesse para com a educação e a inclusão. O afeto e as emoções são inatos
inclusiva, deveriam ter acesso a uma escola e servem como mediadores da aprendizagem.
de acordo suas necessidades especiais, ter A afetividade deve ser mais uma ferramenta
um olhar de afeto a inclusão. a ser utilizada na prática pedagógica, jamais
deixando de lado a racionalidade, caminhar
No processo educativo cada ato juntas de forma coerente. A afetividade
corresponde a uma estrutura e cada objeto deve estar presente em todos os momentos
absorvido de acordo com a capacidade e na sala de aula, não só para os alunos com
estrutura e cada objeto absorvido de acordo deficiências, mas para todos os alunos.

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O professor deve ser um mediador, deve isto, é necessário que o educador favoreça
estabelecer um contato maior com os um ambiente que não haja segregação e que
educandos entre eles, facilitando a interação não reforce as limitações do aluno, mas suas
e formação de vínculos. Promovendo o potencialidades através da afetividade que
conhecimento do outro e o respeito as suas sensibilizamos a aprendizagem.
dificuldades, características e possibilidades.
A afetividade defendida por Wallon, é um Esses são aspectos que fazem parte
dos caminhos para a inclusão escolar, pois das nossas relações sociais. Portanto, é
abrange os alunos com qualquer tipo de importante antes de tudo entendermos a
deficiência física, motora ou cognitivo dentro importância da relação social como um todo,
do ambiente escolar. uma vez que a afetividade faz parte da relação
social construídas ao longo de nossas vidas,
Para GOTTI (1998), a inclusão escolar não influenciando no processo de construção da
tem. somente problemas físicos, mentais ou identidade e personalidade humana. Cada
com características de super dotação, mas um de nós temos papel fundamental na vida
precisa incluir, também, o aluno ´´normal de outras pessoas. Assim as ligações afetivas
que é privado de estar em um ambiente estabelecidas na sociedade, desenvolve
escolar, que não tem acesso as escolas por o outro e em nós mesmos, aspectos como
uma cadeia de questões sociais, econômicas condutas e emoções únicas que dão formas
e culturais. e características especificas no processo
de criação e formação de identidade do
Mas a afetividade por si só, não é a resposta, indivíduo. A forma como nós seres humanos
mas sim um dos caminhos para uma educação e se nós relacionamos com o meio social,
mais inclusiva. Quando promovemos as organizamos as informações, fazem com
interações sociais que (GOTTI,1998), citava que, por meio da relação e os afetos que
em seus estudos, e a afetividade defendida as envolvem, possamos desenvolver certos
por WALLON (1971), damos espaços para comportamentos em relação ao meio em
que os alunos e educadores compreendam que vivemos e ás pessoas com quem nos
o diferente. A realidade social e cultural e relacionamos. Assim as ligações afetivas
que possam compartilhar conhecimentos estabelecidas na sociedade, desenvolvem
e experiências. A escola deve ser um o outro e em nós mesmos, aspectos como
ambiente rico em desafios deve estimular condutas e emoções únicas que dão formas
o desenvolvimento da aprendizagem, a e características especificas no processo
comunicação, a escuta, e o entusiasmo. O de criação e formação de identidade do
educando com ou sem deficiência quando indivíduo.
motivado, tem maior interesse, e se engaja
com maior propriedade das atividades A forma como nós seres humanos
escolares, pois quer tentar se superar. Por percebemos e se nos relacionamos com o

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meio social, organizamos as informações, saibamos lidar com o lado afetivo assim como
fazem com que, por meio da relação e lidar com os aspectos de natureza cognitiva,
os afetos que as envolvem, possamos como a escrita e as operações matemáticas.
desenvolver certos comportamentos em Cabe ao educador trabalhar com a criança
relação e ao meio em que vivemos e ás dando lhe afeto, carinho, e amor, cooperação,
pessoas com quem nos relacionamos. Assim solidariedade, tolerância, sempre
como nós adultos, as crianças também demonstrando respeito na sua relação com
organizam as informações vividas ao longo a criança, pois, é nessa relação de troca e de
de suas vidas conforme percebem o mundo interação do professor com o aluno que vai
e o meio social, apresentando constantes acontecendo, transformando e se superando
mudanças de atitudes, de comportamentos as dificuldades na aprendizagem que as
conforme vamos obtendo informações crianças possam ter resultando em pontos
novas e diversificadas, novos conhecimentos positivos e em melhorias para as crianças
e aprendizados. e para o professor. “Além de uma presença
afetiva, a relação do adulto oferece á criança,
A depender da perspectiva, há diversos modelos de referência e sentimentos de
significados para o termo afetividade, como, por
exemplo: atitudes e valores, comportamento segurança”. (VIEIRA, 2010,p. 34).
moral e ético, desenvolvimento pessoal e social,
motivação, interesse e atribuição, ternura, inter- Assim também é com as crianças na escola,
relação, empatia, construção da subjetividade,
sentimentos e emoções. Neste artigo, baseado em eles estão sempre em busca de aprovação, de
pesquisa bibliográfica e exploratória, a afetividade carinho e de atenção dos seus educadores.
é analisada no âmbito pedagógico, especificamente Eles anseiam por essa atenção sentem
na relação educativa que se estabelece entre
o professor e seus alunos na sala de aula, e é necessidade disso e quando se sentem
apresentado como sinônimo de dimensão afetiva correspondidos com este afeto acabam
e relação afetiva. Do nosso ponto de vista, a a apreciar mais as disciplinas ministradas
afetividade é impulsionada pela expressão dos
sentimentos e das emoções e pode desenvolver- por professores que agem afetivamente
se por meio da formação. (RIBEIRO,2010, p. 404). com elas e acabam se relacionando melhor
na escola e com seus colegas, Assim, a
A afetividade é extremamente importante conduta, a maneira de tratamento desses
para desenvolver a aprendizagem cognitiva profissionais para com as crianças, atribuem
das crianças como um todo, uma vez que é a eles certas influências, motivando-os, a
através da afetividade que a aprendizagem participarem mais, a se dedicarem mais a
se realiza e acontece de fato. A construção escola bem como aos estudos. Dessa forma,
dos saberes e conhecimentos são resultados o respeito e a dedicação em estabelecer e
das interações de natureza históricas, manter uma relação de afetividade com os
social e biológica do ser humano que vão alunos é extremamente importante para
se estabelecendo no dia a dia. Assim é o desenvolvimento e aprendizagem das
importante e extremamente necessário que crianças.

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Nós educadores devemos proporcionar compreender a perspectiva dos outros,


diferentes experiências a nossos alunos, usar etapas para resolver problemas criar
que possam enriquecê-los desenvolvendo expectativas, compreender normas de
suas capacidades bem como autoestima de comportamento.
forma que a criança possa sentir confiança
em si mesma para que possam construir
conhecimentos diversos. Outro fato AFETIVIDADE CONCEITOS E
importante a ressaltar aqui, é que o professor SUA IMPORTÂNCIA PARA A
deve tratar todos os alunos como iguais, não
fazendo diferença entre esse ou aquele. Uma APRENDIZAGEM E
boa relação professor/aluno é importante para DESENVOLVIMENTO NA
estabelecer posicionamento positivos frente EDUCAÇÃO INFANTIL
aos conteúdos, metodologias e avaliações
propostas aos alunos pelos professores A afetividade, é algo que nos acompanha
possibilitando um aprendizado melhor e mais desde os primórdios da humanidade, em
significativo. Essa relação produz resultados cada época se apresenta e desenvolve de
diversificados e inesperados tanto para nós acordo os costumes de um determinado
professores quanto para os alunos. povo. Já há alguns anos este tema vem sendo
bastante discutido no meio educacional.
Desenvolvimento afetivo procurar Educadores a fim de melhorar suas práticas
desenvolver suas dificuldades autonomia, buscam entender essa temática, como ela se
construção do humor, saudável, relação com dá e quais seus benefícios do mesmo para
figura de autoridade. É função, portanto, essas crianças, bem como tal processo se
da educação promover a construção de desenvolve nos diversos meio.
afetividades e a organização dessas funções
num complexo que chamamos sentimentos. Haja vista que, esse é um tema bastante
O desenvolvimento é doloroso sem uma problematizado, no meio social e educacional.
ação mediadora afetiva pode se fixar em Aqui vamos entender o que é afetividade
impulso agressivo e destruidores somente e qual sua importância e entende-la em
a educação afetiva consegue organizar os meio à educação. [...] Do ponto de vista, a
sentimentos da criança. afetividade é impulsionada pela expressão
Para aliviarmos o desenvolvimento dos sentimentos e das emoções e pode
a afetividade da criança podemos nos se desenvolver-se por meio da formação.
concentrar nos seguintes pontos, como a (RIBEIRO,2010, p.404).
criança procura desenvolver seus problemas
e dificuldades, o seu nível de autonomia, Muitos definem a afetividade como a
toda a avaliação de afetividade no expressão de sentimento de amor, carinho,
processo educacional é preciso considerar, amizade, paixão, admiração e outros,

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sentimentos esses que faz parte e se faz nas A partir de nós mesmos e de nossas
nossas relações sociais, desenvolvidas ao longo histórias de vida, compreendemos que
da vida, principalmente na infância. Por isso nós seres humanos somos seres emotivos
é importante entendemos a importância da e carregamos conosco marcas profundas
relação social na infância como um todo, pois, desde a gestação, marcas essas, que nós
essa se desenvolve desde cedo, afetividade mesmos ignoramos e mais para frente,
é parte fundamental na relação social que professores e outros também ignoram, por
construímos ao longo de nossas vidas, logo conta de conteúdos e ações que devemos
as relações sociais são fator primordial no cumprir em um tempo determinado.
processo de construção da identidade e Entendemos que, oportunizar aos alunos
personalidade humana. (...) ``Laços de afeto momentos que relatem as suas vidas, alegres
são fatores decisivos no desenvolvimento do ou tristes, são momentos ganhos em relação
aluno.” (ARAÚJO.2005, p.17). á aprendizagem. (ARAUJO: OLIVEIRA:
CAMARGO, 2005, p.17).
A maioria dos problemas que enfrentamos
hoje, nas escolas ,onde entre eles , se destaca Exercendo uma educação emocional
a indisciplina, que é resultado de algumas junto com nossa prática em sala de aula,
situações sócio afetivas, que não foram criamos vínculos afetivos significativos
resolvidas em momentos passados, anos e oportunizamos o aprendizado e
passados ocorrendo debilitações em muitas desenvolvimento ao aluno quando acontece
crianças, lhes causando, consequências que um comprometimento mútuo entre professor
na maioria das vezes são irreversíveis, na e aluno, onde ambos devem respeitar a
escola. individualidade um do outro enquanto
pessoa. As emoções, o afeto fazem parte da
É comum vermos na sala de aula, crianças vida, do cotidiano de todos nós em todos
entrarem em conflito uma com as outras por os momentos, principalmente no ambiente
muitos motivos, todos eles emocionam, seja escolar. A cada momento de nossas vidas,
vivenciado em casa ou na rua e até mesmo vivenciamos momentos, experiências
na própria escola e vemos também como emocionais que se manifestam de muitas
esses sentimentos são capazes de influenciar maneiras e com características diversas.
na aprendizagem das crianças seja de forma
negativa ou positiva. Aqui nesse momento,
cabe a nós educadores encontrar em O PROFESSOR E A CRIAÇÃO
nossa prática maneiras de significar o que DE VÍNCULOS AFETIVOS
passamos a eles e de chegarmos a eles de
forma amorosa e produtiva, assim não vamos O professor é um exímio criador de vínculos
desperdiçar a chance de chegar até eles e de em sua profissão, ele é aquele em que todos
fazer com que eles aprendam. se espelham, admiram e almeja um dia ser

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igual. E é por meio de estímulos recebidos do que ele passa para elas naquilo que ele passa
meio em que estão inseridos, que a criança para elas.
vai construindo laços com seu professor.
Por isso cabe a nós educadores usar esse A criança está bem sintonizada naquilo que
meio de aproximação para que o ensino/ gosta de fazer, isso ocorre seus sentimentos
aprendizagem seja de fato significativo e encontraram empatia pelo que está fazendo
benéfico para a criança. e logicamente por quem está conduzindo o
que ela está fazendo.
Conhecer as próprias emoções, tomar
consciência delas em relação a si mesmo O professor é aquele que media essa
e as outras pessoas, seus motivos, são os relação ensino/aprendizagem, ele deverá
primeiros passos para trabalhar a educação estar sempre disposto a desenvolver a
emocional com os alunos da escola. (ARAUJO, linguagem capaz de conduzir o pensamento
2005, P.18). do indivíduo. Isso deve ocorrer de maneira
que a criança se sinta acolhida pelo professor.
A afetividade contribui muito e de maneira
especial para qualquer processo de ensino/ O professor é o mediador desse processo de
aprendizagem, através desse processo a aprendizagem: as relações ensinar e aprender,
criança estabelece relações com o meio aprender e ensinar entre professor e aluno
cultural criando vínculos com o meio em que acontecem constantemente. O professor
vive e a partir daí constrói conhecimentos, e não precisa exercer uma autoridade explícita.
a relação professor e aluno, que possibilitam Sua autoridade docente é conquistada pela
o desenvolvimento da criança e favorece a sua cidadania, sua liderança e sensibilidade.
conquista da autonomia. Daí a importância (ARAUJO, 2005, p.18).
de a escola respeitar e aproveitar essas
relações de cooperação que muitas vezes A dimensão efetiva pedagógica é
acontecem de forma espontânea, nascidas fundamental porque se envolve com o
entre professor e aluno. As relações entre sentimento da criança, somente a educação
professor e o aluno precisam manter uma efetiva consegue organizar os sentimentos da
linguagem reciproca para que o aprendizado criança. Proporcionar confiança, segurança,
aconteça de fato e a criança aprenda. ter um olhar diferenciado para com suas
Até nós mesmos adultos, damos mais necessidades, um olhar de afeto de cuidado
atenção aquelas coisas em que sentimos de ação que possa proporcionar um apoio
prazer em fazer do que aquilo que fazemos emocional e facilitar o seu desenvolvimento
porque temos que fazer, quando a criança na escola com a aprendizagem.
gosta do que ver ela quer fazer sempre, é
ai que o professor deve buscar caminhos e A maneira que o professor e aluno se
meios de dar significado para elas naquilo relacionam cria afetividade que faz com

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que essa relação se fortalece ainda mais. O porque é através da prática que se constrói o
aprendizado desse aluno se dá no cotidiano, conhecimento.
porque são através da prática que o constrói
conhecimentos. A interferência do professor Como a família, a escola é uma instituição
essencial na formação dos indivíduos. Tem
deve ser sempre, o efeito dessa interferência como papel contribuir não só para a aquisição
é a confiança de verbalização, a certeza para de conhecimentos do campo cognitivo,
a criança de star sempre compreendida. mas também na construção do caráter e da
personalidade, além de proporcionar o vínculo
Quando o professor não entende a linguagem afetivo entre todos. (COSTA, 2011, p.20).
irracional do aluno e não responde aos
anseios que traz com relação à escola, pode A afetividade é algo que nos acompanha
frustrá-lo, o docente fará as interferências desde os primórdios da humanidade, em
necessárias, ajudando, principalmente cada época se apresenta e desenvolve de
valorizando, a relação de autoridade situa-se acordo os costumes de um determinado
muito mais na afetividade do que na relação povo. Já alguns anos este tema vem sendo
de poder, porque e inicia no vínculo com o bastante discutido no meio educacional.
docente. Educadores a fim de melhorar suas práticas
buscam entender essa temática, como ela
se dá e quais são seus benefícios do mesmo
O PAPEL DO PROFESSOR para as crianças, bem como tal processo se
DIANTE DA INCLUSÃO nos desenvolvem diversos meios. “Do nosso
ponto de vista, a afetividade é impulsionada
ESCOLAR pela expressão dos sentimentos e das
Mesmo com as escolas abrindo as portas emoções e pode desenvolver-se por meio da
para a inclusão nos dias de hoje, ainda há formação.” (RIBEIRO, 2010, P. 404).
muito no que avançar é claro respeitando
os limites e o seu modo de pensar e agir. Por isso é importante entendermos a
O planejamento do professor de educação importância da relação social na infância
especial, não deve ser diferente do professor como um todo, pois, essa se desenvolve desde
de classes regulares, pois, num sentido mais cedo, a afetividade é parte fundamental na
amplo, deve atender a todos. É importante relação social que construímos ao longo de
que os professores demais alunos e família se nossas vidas, logo as relações sociais são
adaptem ao meio que a criança inclusa está fator primordial no processo de construção
inserida, dando a devida importância para da identidade e personalidade humana, [.].
tamanha contribuição na vida escolar dessa
criança. A maneira que o professor e aluno “Laços de afeto são fatores decisivos
se relacionam cria afetividade que faz com no desenvolvimento do aluno.” (ARAUJO:
que essa relação se fortalece ainda mais. O OLIVEIRA: CAMARGO, P. 17).
aprendizado desse aluno se dá no cotidiano,

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A maioria dos problemas que enfrentamos PRÁTICAS PEDAGOGICAS


hoje, nas escolas, onde, entre eles, se destaca QUE PROMOVAM A CRIAÇÃO
a indisciplina, que é resultado de algumas
situações sócio afetivas, que não foram DE VINCULOS NA RELAÇÃO
resolvidas em momentos passados, anos PROFESSOR E ALUNO
passados ocorrendo debilitações em muitas
crianças, lhes causando, consequências que A afetividade se contribui como um fator
na maioria das vezes são irreversíveis, na de grande importância na determinação da
escola. É comum vermos na sala de aula, natureza das relações que se estabelecem
crianças entrarem em conflito uma com entre os sujeitos (alunos) e os diversos
as outras por muitos motivos, todos eles objetivos de conhecimento (áreas e
emocionais, seja vivenciado em casa ou na conteúdos escolares), bem como nas
rua e até mesmo na própria escola e vemos disposições dos alunos diante das atividades
também como esses sentimentos são capazes propostas e desenvolvidas.
de influenciar na aprendizagem das crianças,
seja de forma negativa ou positiva, Aqui nesse Relação com nossos pais e com o mundo
momento, cabe a nós educadores encontrar aqui fora e com as pessoas que fazem e que
em nossa prática maneira de significar o que farão parte do meio em que vivemos, assim
passamos a eles e de chegarmos a eles de já começamos a estabelecer vínculos com
forma amorosa e produtiva, assim não vamos aquela que nos concebe, aquela pessoa cuja
desperdiçar a chance de chegar até eles e de é a primeira voz em que ouvimos, sim, a
fazer com que eles aprendam. voz de nossa mãe é o primeiro vinculo que
estabelecemos. Dessa forma vemos que é
As relações entre professor e aluno muito importante a criação de vínculos em
precisam manter uma linguagem reciproca nossas vidas, pois, este serão fundamental e
para que o aprendizado aconteça de fato determinante ao longo de nossas vidas.
e a criança aprenda. A criança está bem
sintonizada naquilo que gosta de fazer, Aqui podemos perceber que falar de
isso ocorre porque seus sentimentos vínculos torna-se imprescindível falarmos em
encontraram empatia pelo que está fazendo interação, ou seja, da relação de articulação
e logicamente por quem está conduzindo o entre o interno e o externo e também entre o
que ela está fazendo. sujeito e o objeto, podendo estabelecer entre
eles, um diálogo e uma constante modificação
O professor é o mediador desse processo de de um e de outro, por meio de processo de
aprendizagem: as relações ensinar e aprender,
aprender e ensinar entre professor e aluno acontecem comunicação e aprendizagem. Assim nessa
constantemente. O professor não precisa exercer concepção, podemos ver e entender o vínculo
uma autoridade explicita. Sua autoridade docente como um facilitador de transformações no e
é conquistada pela sua cidadania, sua liderança e
do sujeito, dando-lhes possibilidades que, se
sensibilidade. (ARAUJO, 2005, P. 18).

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manifeste efetivamente, como um indivíduo O ato de ensinar envolve grande


que acontece a cada instante, tornando sua cumplicidade do professor, a partir do
construção algo continuo a partir do seu planejamento das decisões de ensino
processo de aprendizagem. assumida, mas tal cumplicidade também
se constrói nas interações, através do
A afetividade se contribui como um fator que é falado, do que é entendido, do que
de grande importância na determinação da é transmitido, é captado pelo olhar, pelo
natureza das relações que se estabelecem movimento do corpo que acolhe, escuta,
entre os sujeitos (alunos) e os diversos observa e busca a compreensão do ponto de
objetivos de conhecimento (áreas e conteúdo vista do aluno.
escolares), bem como nas disposições dos
alunos diante das atividades propostas e A atuação pedagógica, necessariamente,
desenvolvidas. precisa ser planejada, organizada e
transformada em objeto de reflexão,
Embora a escola seja um local onde o no sentido de buscar não só o avanço
compromisso maior que se estabelece é cognitivo dos alunos, mas propiciar as
com o processo de transmissão, produção condições afetivas que contribuem para
de conhecimento, pode-se afirmar que o estabelecimento de vínculos positivos
ás relações afetivas se evidenciam. Pois entre os alunos e conteúdos escolares.
a transmissão do conhecimento implica Portanto a qualidade das interações que
necessariamente, uma interação entre ocorrem em sala de aula, incluindo todas as
pessoas. Portanto, na relação professor- decisões de ensino assumidas, refere-se às
aluno, uma relação de pessoa para pessoa, relações intensas entre professores e alunos
o afeto está presente. (ALMEIDA, 1999, p. proporcionando diversificadas experiências
107). de aprendizagem, a fim de promover o
desenvolvimento dos alunos.
Essas relações vivenciadas extremamente
repercutem internamente através de atos de As dimensões efetivas são, portanto,
pensamento, emoções, sentimento e estado aspectos do processo de mediação
motivacionais possibilitando, por exemplo, pedagógica que não mais poderão ser
a contribuição de sujeitos motivados ignoradas, devem ser incluídos na agenda de
para enfrentar novas situações e mesmo, discussão dos professores comprometidos
superar desafios e eventuais fracassos. Isso com o processo educacional e com o
obviamente relaciona-se com a mediação desenvolvimento do s seus alunos. A criança
pedagógica desenvolvida pelo professor, ao se desenvolver psicologicamente, vai se
envolvendo objetivos, conteúdos e práticas nutrir principalmente das emoções e dos
de sala de aula. sentimentos disponíveis nos relacionamentos,
que vão definir as possibilidades de a criança

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buscar no seu ambiente e nas alternativas que a cultura lhe-oferece, a concretização de suas
potencialidades, isto é, a possibilidade de estar sempre se- projetando na busca daquilo que
ela pode vir a ser.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O afeto é um dos principais fatores que contribuem para o
aperfeiçoamento do método de ensino e aprendizagem.

O professor desempenha o papel do mediador no processo


educativo, cerca da importância da afetividade na educação
inclusiva, com base nas teorias, leva algumas considerações.
Na escola, um bom ajustamento afetivo se torna condição
necessária ao pleno desenvolvimento do aluno, ou seja, uma KÁTIA MEDEIROS
relação dialógica de respeito, amizade, valorização, estimulo DA SILVA
e participação para facilitar a aprendizagem. As pessoas
Graduação em Normal superior -
precisam vivenciar suas afetividades, para isto, é preciso Faculdade Uniararas (2007); Pós-
despertar em todas, as potencialidades que possuem. Faz-se graduação Em Psicopedagogia
necessário, proporcionar uma relação pedagógica interativa Institucional e Clínica- Faculdade
Brasil .(2014); Graduação em
entre professor e aluno, estabelecendo um clima de confiança Artes na Unijales (2016);Professor
e segurança entre sujeitos da educação. de Ensino Fundamental e
Educação Infantil CEI- Parque
Cocaia , Professora de Educação
Incluir o aluno com deficiência na escola é bem mais que Básica - na EE.Dr.Aniz Badra.
promover sua inserção no convívio com outras crianças,
sem que haja trocas interativas com plena aceitação das
diferenças, para valorização de sua autoimagem e autoestima.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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COMO TRABALHAR A
MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL?
RESUMO: Este trabalho tem como finalidade fazer um breve estudo sobre como a
aprendizagem e o pensamento matemático se desenvolve na primeira infância analisando
algumas das teorias da aprendizagem desenvolvidas por renomados estudiosos do tema
como Piaget, Vygostsky, Wallon, Gardner entre outros. Além de demonstrar a importância
do estudo da matemática desde a educação infantil se iniciando ainda na creche e centros
de educação infantil. Também procura fazer uma síntese de como a criança está inserida no
universo matemático em seu dia a dia de forma que mesmo intuitivamente traz conhecimentos
matemáticos prévios à escola, como o professor pode se utilizar deste conhecimento em
sala de aula por meio de atividades simples que podem ser realizadas de maneira prazerosa
e agradável para.

Palavras-Chave: Educação; Matemática; Aprendizagem; Infância

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A MATEMÁTICA NA levou a necessidade de exaustiva pesquisa


PRIMEIRA INFÂNCIA em busca de textos que mesmo de maneira
transversal abordasse a temática trabalhada,
O universo matemático está presente na para isso houve a necessidade de recorrer
vida das pessoas o tempo todo desde o seu a diversos autores que versavam sobre a
nascimento, a própria biologia do ser humano educação infantil com outros enfoques tais
tem conceitos matemáticos naturais como como o desenvolvimento da criança, psicologia
o próprio relógio biológico que orienta o e epistemologia genética, musicalização,
funcionamento do organismo, o crescimento, currículo na educação infantil etc.
os movimentos, o ritmo cardíaco entre outras
coisas.
TEORIAS DA APRENDIZAGEM
Com a criança pequena não é diferente,
ela está inserida no universo matemático Ao longo do tempo diferentes teorias
e faz parte dele, ela traz em si uma acerca de como o ser humano aprende foram
curiosidade natural acerca dos objetos apresentadas, em um primeiro momento se
que a rodeiam, analisa o tamanho, a cor, a via na biologia a explicação para a forma
forma, a quantidade, todos esses conceitos como se desenvolvem os processos de
são matemáticos e o professor de educação aprendizagem, nessa concepção a herança
infantil pode se utilizar desta necessidade genética era fator primordial e conforme o
natural da criança de explorar o mundo que indivíduo amadurecesse outros elementos
a rodeia para canalizar essa curiosidade comportamentais e cognitivos emergiriam.
em aprendizagem, mas de que forma esse
trabalho pode ser desenvolvido? Como Em outro momento surge a teoria
ensinar matemática para crianças pequenas? ambiental que se estruturou tendo como
base os modelos skineriano e pavloviano,
Esse trabalho tem por objetivo verificar nessa teoria por mais que a genética tivesse
como a criança aprende, quais os mecanismos uma certa importância do desenvolvimento
utilizados pela criança intuitivamente da aprendizagem do ser humano o aspecto
para explorar o ambiente e construir o seu ambiental e a adaptação a ele era o principal
conhecimento, também procura estabelecer mecanismo de aprendizagem, segundo
estratégias pedagógicas que auxiliem o ela, o ser humano aprenderia de acordo
professor a desenvolver atividades que com a resposta a suas ações em relação ao
favoreçam a aprendizagem matemática de meio, ou seja, se determinada ação gerasse
maneira natural pela criança. uma recompensa ela era reproduzida, e
o comportamento que não chegasse ao
Cabe salientar a dificuldade de encontrar objetivo da recompensa era abandonado
material bibliográfico acerca do tema, o que pelo indivíduo.

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Já no século XX entram em cena as defendem que a contribuição das outras


teorias construtivistas que valorizam a ação pessoas da comunidade gera a construção
entre o sujeito e o ambiente como motor do conhecimento das novas gerações.
da aprendizagem humana, nesse modelo,
segundo PIAGET (1964 p.7) Ainda cabe aqui mencionar a teoria das
múltiplas inteligências de Gardner que postula
Pode-se dizer que toda necessidade tende: que existem diferentes tipos de inteligências
1º a incorporar as coisas e as pessoas à
atividade própria do sujeito, isto é, assinalar o que dependendo do sujeito pode variar entre
mundo exterior às estruturas já construídas, inteligência lógico-matemática, musical,
2º a reajustar essas ultimas em função das linguística, interpessoal, intrapessoal,
transformações ocorridas, ou seja, acomodá-
las, aos objetos externos. Nesse ponto de vista, musical, espacial e corporal sinestésica, que
toda a vida mental e orgânica tende a assimilar também devem ser levadas em conta ao se
progressivamente o meio ambiente, realizando realizar um estudo sobre a aprendizagem.
essa incorporação graças a estruturas ou órgão
psíquicos, cujo raio de ação se torna cada vez
mais amplo. De acordo com BARBOSA e HORN (2008
p. 26), citando RINALDI (1994 p.13).
Nesse sentido, segundo Piaget (1964
p.7), a aprendizagem se dá por um processo A aprendizagem não pode mais ser vista
simplesmente como a transmissão ou
continuo de adaptação (assimilação e reprodução de conhecimentos, mas configura
acomodação), em que a equilibração se acima de tudo, como um processo de construção
realiza quando o processo de ajuste entre os das razões, dos porquês, dos significados, dos
sentidos das coisas, dos outros, da natureza, de
esquemas existentes e as novas experiências realização, de realidade, da vida. É um processo
acontece. de autoconstrução e de sócio-construção, um
ato de verdadeira e própria Co construção).
Vygotsky e Wallon trazem a teoria
sócio-construtivista a qual afirma que a Sendo assim, pode-se inferir que a
construção do conhecimento se dá por meio aprendizagem se dá interna e externamente
da socialização, ou seja, entre as interações ao sujeito e para que aconteça necessita
entre o indivíduo e o ambiente social no qual de estímulos tanto pessoais que partem do
está inserido. indivíduo em forma de curiosidade com o
ambiente e com o objeto do conhecimento
Já os teóricos culturalistas como Michael ao mesmo tempo em que acontece
Cole e Bárbara Rogof, postulam que a externamente por meio dos estímulos do
aprendizagem se dá entre a ação do indivíduo ambiente no qual o indivíduo está inserido.
sobre o ambiente, sendo assim a biologia e
a experiência tem papel fundamental e de
igual importância no desenvolvimento do
conhecimento ao mesmo tempo em que

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O DESENVOLVIMENTO DO muito passa a ser pouco, o que era grande


PENSAMENTO MATEMÁTICO passa a ser pequeno, o que era maior se
torna menor. Esse movimento entre formas,
A criança pensa, isso é um fato quantidades e tamanhos é um dos primeiros
inquestionável que deve ser o ponto de conceitos matemáticos que a criança começa
partida da proposta pedagógica do professor, a adquirir ainda pequena.
porém a criança pensa de forma diferente
da forma de pensamento do adulto. Com a Outro conceito importante que a criança
criança esse pensamento ocorre dentro da começa a interiorizar ainda pequena é a
esfera do real, do concreto, o pensamento ordenação, essas operações de ordem são
da criança se mistura com a ação, ou seja, derivadas das próprias ações da criança,
a criança pensa no momento que realiza a ela estabelece uma determinada regra e
ação segundo PIAGET (1964 p.68): coordena as suas ações de maneira a respeitar
a regra pré-estabelecida, por exemplo, a
(...) as ações constituem o ponto de partida das criança determina que a ordenação desejada
futuras operações da inteligência. A operação
é assim uma ação interiorizada que se torna seja pelo conceito cor, mesmo sem conhecer
reversível e que se coordena com outras em os nomes das cores, ela irá separar os objetos
estruturas operatórias de conjunto. em conjuntos da mesma cor, nessa proposta,
ela está ordenando os objetos tendo como
Ou seja, a criança precisa de experiências regra o conceito de cor e ao mesmo tempo
concretas para construir o seu conhecimento, desenvolvendo conceitos de igual e diferente.
o estudo das operações lógico- matemática De acordo com PIAGET (1964 p.71),
na infância introduz uma variável no
pensamento da criança, a reversibilidade, As operações lógico matemáticas derivam das
próprias ações, pois são o produto de uma
ou seja, nas operações matemáticas há a abstração precedente da coordenação das
possibilidade de realizarmos a operação ações, e não dos objetos.(...) as operações de
inversa, posso somar ou subtrair um elemento ordem são obtidas da coordenação das ações,
pois para descobrir certa ordem numa série de
do conjunto, adicionar ou remover, dividir objetos ou numa sucessão de acontecimentos, é
ou juntar determinado material, daí surge preciso ter a capacidade de registrar essa ordem
um novo conceito mental para a criança, por meio das ações.

que é segundo PIAGET (1964 p.69), “a não


conservação dos objetos, dos conjuntos, das Nesse sentido a criança ao estabelecer
quantidades etc., antes da não centralização um fator comum de agrupamento começa a
operatória.” construir mentalmente um esquema de ações
que no final do processo vai gerar o resultado
Nesse momento a criança passa a perceber esperado, ao estabelecer esse raciocínio a
que a ação dela sobre o objeto pode modificá- criança lança mão de diversos mecanismos
lo, mudar as suas propriedades, o que era mentais para auxiliá-la a desenvolver a tarefa.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Considerando ainda as contribuições de matemática, o próprio ritmo do coração


PIAGET (1964 p.75), no que se refere ao da mãe que acalma bebê, o ritmo dos
pensamento da criança: movimentos corporais da mãe ao embalar
a criança etc., logo nos primeiros meses de
Vê-se, assim, como o pensamento da criança, vida a criança começa a explorar o ambiente,
que apresenta atividades consideráveis, às
vezes originais e imprevistas, é rico em aspectos segundo PIAGET (1964 p.9):
notáveis, não somente por suas diferenças do
pensamento adulto, mas ais por seus resultados O período que vai do nascimento até a aquisição
positivos, que nos ensinam o modo de construção da linguagem é marcado por extraordinário
das estruturas racionais, permitindo mesmo, às desenvolvimento mental (...) é decisivo para
vezes, esclarecer certos aspectos obscuros, do todo o curso da evolução psíquica, representa
pensamento científico. a conquista, por meio da percepção e dos
movimentos, de todo o universo prático que
cerca a criança.
Cabe ao professor se utilizar de
metodologias e estratégias que auxiliem Ainda ao engatinhar começa a descobrir
a criança a explorar experiências que estratégias para resolver os seus problemas
desenvolvam o raciocínio lógico matemático, que envolvem o raciocínio matemático, por
estas atividades quando bem estruturadas e exemplo, ainda ao engatinhar e começar
dirigidas tem a possibilidade de desenvolver a explorar o ambiente e quer alcançar um
os primeiros conceitos matemáticos que a objeto que está longe, ao colocar um apoio
criança irá vivenciar. para subir em cima quando deseja alcançar
um objeto que está no alto, quando se agacha,
se levanta, dá os primeiros passos que muda a
POR QUE TRABALHAR A sua visão do mundo que a rodeia totalmente.
MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO
Ao longo do tempo, quando a criança
INFANTIL? já domina o ato de andar, ela começa a
O raciocínio lógico matemático desenvolve experimentar outros movimentos, correr,
as estruturas mentais das crianças, essa pular, subir, descer, ela está construindo
premissa nos ajuda a iniciar a discussão a sua percepção espacial, ela começa a
a respeito da importância do estudo da perceber que em determinados espaços ela
matemática na educação infantil. cabe em outros não, quando está no colo
do adulto ela tem um raio de visão diferente
Intuitivamente as crianças desenvolvem daquele de quando está no chão. Esse
ações matemáticas nas mais diversas momento é importante, pois é por meio dele
atividades que realizam durante a primeira que a criança começa a construir estruturas
infância, em um primeiro momento ainda no mentais que irão auxiliá-la a interagir com o
período pré-operatório a criança vivencia mundo que a rodeia de modo a construir o
experiências sensórias que tem uma raiz seu conhecimento.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Em um segundo momento, CONCEITOS MATEMÁTICOS


concomitantemente com a aquisição da fala, TRABALHADOS NA
a criança começa a ter as suas primeiras
experiências com números, quantidade,
EDUCAÇÃO INFANTIL
volume etc., nesse momento se inicia uma NOÇÃO ESPACIAL
nova fase do processo de raciocínio, pois a Movimento, essa é a palavra-chave ao se
criança começa a estabelecer relações entre falar em noção espacial, nessa fase da vida a
as coisas, começa um período que a criança criança está sempre em movimento, ela sobe
começa a fazer as primeiras representações em cima da mesa ou se esconde em baixo
abstratas, ela passa a entender conceitos dela, pula, corre, gira, dança, se esconde, ou
como maior, menor, mais, menos, cheio, seja, ela explora o ambiente que a rodeia
vazio, pequeno grande. De acordo com o tempo todo, essa necessidade de se
PIAGET (1964 p.13): movimentar ao invés de ser reprovada pelo
professor deve ser aproveitada para oferecer
Quatro processos fundamentais caracterizam atividades que, de forma planejada e dirigida
essa revolução intelectual realizada nos
dois primeiros anos de existência: são eles a tenha condições de auxiliar a criança a
construção de características do objeto e do explorar esse ambiente.
espaço, da casualidade e do tempo, todas as
quatro naturalmente a título de práticas ou de
Essas atividades ajudam a criança a
ação.
abrangendo a coordenação motora fina e
ampla, de acordo com SCHILLER e ROSSANO
Esses conhecimentos intuitivos que a (2008 p. 191)
criança vai desenvolvendo ao longo da
vida servirão de base para a aprendizagem Na primeira infância ela é importante para o
desenvolvimento físico e psicoemocional da
matemática, e a escola de educação criança. À medida que a criança vai explorando
infantil é espaço privilegiado para oferecer os espaços físicos começa a entender como seus
experiências para as crianças que possam próprios corpos funcionam no espaço.

favorecer a construção deste conhecimento,


na escola, por meio de planejamento, Alguns exemplos de atividades de
reflexão e ações intencionais o professor tem exploração corporal seriam circuitos de
condições de maximizar essa aprendizagem. atividades, varais com tecidos para se
esconder, bambolês, bolas, petecas, dança
dirigida com movimentos amplos, ritmos
variados, lento, rápido, labirintos, espelho,
túneis, imitação de animais, amarelinha,
transporte de objetos (atividade de
equilíbrio), caminhar sobre linha ripas, etc.,
cama de gato, entre outras.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

TEMPORALIDADE de atividades didaticamente organizadas


O tempo é uma das coisas que as crianças de forma a favorecer a internalização desse
se interessam bastante na educação infantil, conhecimento.
elas estão o tempo todo querendo saber
o que vai acontecer ele sempre anda para Para isso pode-se realizar atividades de
frente. Na faixa etária da educação infantil separação em conjuntos, classificação dos
ele é divido em momentos, o dia corresponde colegas a partir de critérios como o maior o
da hora de ir para a escola até a hora do sono, menor, a cor da roupa, livros de classificação
a tarde corresponde da hora de acordar até confeccionados pelas crianças com figuras,
o momento de ir para a casa e a noite é o por exemplo, plantas, animais, pessoas,
período que se está em casa. Confundem objetos etc., brincadeira de combinação
ainda o ontem, o hoje e o amanhã, mas já tem de gravuras, cor, objetos etc. Cadê o meu
uma noção que existe um ciclo constante de sapato? Atividade na qual se retira os sapatos
tempo até chegar o final de semana. das crianças e elas devem encontrar os pares
correspondentes etc.
Essa noção intuitiva que a criança tem
de tempo pode ser trabalhada em sala por FORMAS GEOMÉTRICAS
meio de quadro de rotina, contação de As formas geométricas são parte do nosso
histórias encadeando os fatos ocorridos (o dia a dia, tudo tem uma forma, e a criança
que aconteceu primeiro, e antes, e depois), é muito observadora e consegue distinguir
calendário, estações do ano, o tempo, o as diferenças entre essas formas, elas sabem
próprio crescimento da criança, cultivo de que a bola é diferente da caixa, mas ainda
plantas etc. precisa sistematizar este conhecimento, mas
para isso o professor precisa desenvolver
CLASSIFICAÇÃO, COMBINAÇÃO, atividades que ajudem a criança a expandir
CORRESPONDÊNCIA UM A UM E esse conhecimento para isso pode realizar
ORDENAÇÃO atividades como:
O mundo que nos rodeia é organizado em
classes, grande, pequeno, maior, menor, mais, Colagem, observação do ambiente,
menos, primeiro, segundo, terceiro, etc., nomeação e classificação das formas,
esse fato não é ignorado pela criança e ela caça as formas geométricas, massa de
naturalmente vai classificando a realidade de modelar, quebra cabeça, blocos de montar
acordo com suas próprias regras. Ela observa geométricos, etc.
o colega o colega que é maior ou menor
que ela, escolhe entre o carrinho grande e
o pequeno, começa a reconhecer as cores SISTEMAS DE MEDIÇÃO, VOLUME,
e classificá-las, na escola essa atividade COMPRIMENTO E VELOCIDADE
natural pode ser incentivada se utilizando Uma das coisas que as crianças observam

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sempre é o tamanho das coisas, estão sempre de símbolos que representam a ideia de
comparando que é menor ou maior, o que número, elas precisam ser apresentadas
tem mais ou menos, o que é mais rápido ou primeiramente ao universo dos números
mais lento, nesse ponto temos que observar naturais.
que a criança está fazendo comparações,
para isso ela busca um referencial, por Em um primeiro momento a criança vai
exemplo, para detectar que um carro está aprendendo a recitar os números de forma
rápido ele precisa ter um carro que está mais ordenada, um, dois, três, quatro, cinco e
lento e assim fazer a comparação, também assim por diante, nesta etapa ela ainda não
temos que observar que antes de realizar faz a relação entre o símbolo do número e a
a comparação ele precisa ter um prévio quantidade que ele representa, ainda nesta
conhecimento de quantidade que muitas etapa ela não consegue associar o número
vezes ele não traz formado para a escola e a quantidade e quando os números mudam
que deve ser introduzido em seu vocabulário a sua posição na sequência muitas vezes
pelo professor, ou seja, ele tem a noção de elas não conseguem estabelecer a relação
que existe uma diferença mas ainda não sabe entre a palavra e o símbolo, ou seja, ela não
nomeá-la. consegue relacionar a palavra cinco com o
número cinco. Cabe ao professor ajudar a
Para trabalhar esses conceitos em sala criança a fazer essa relação de forma que ela
de aula podem ser desenvolvidas atividades reconheça o número e consiga associar este
como a medição das crianças e a comparação número a respectiva quantidade.
entre seus tamanhos, divisão de materiais
como massinhas, blocos de montar etc., Essa operação parece simples, mas
culinária, horta pedagógica, corrida, etc. envolve um grande esforço mental por parte
da criança e muitas vezes serão necessárias
NUMERAÇÃO muitas tentativas e erros até se chegar a
A criança está o tempo todo exposta aos um resultado satisfatório, cabe ao professor
números, o relógio, o número da casa, do ter paciência e não desistir quando houver
ônibus, da sala de aula, de alunos na sala, dos dificuldade.
dias do mês, dos meses, do ano, etc., esse
universo dos números naturais faz parte Segundo PANIZZA (2006 p. 29):
da sua realidade e precisam também ser
trabalhados na educação infantil. O trabalho didático necessário é de longo prazo,
e compromete todos os níveis da escolaridade,
devendo começar nos primeiros anos. O critério
geral deveria ter presente tanto as questões
Neste tópico a criança está começando a especificas relativas à apropriação dos diversos
sistemas de representação, como as relações
conhecer o mundo simbólico dos números, que devem ser estabelecidas com os objetos que
ou seja, ela precisa internalizar um conjunto as representam.

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Para isso é necessário que o professor introduza os números dentro da prática nos mais
diversos momentos do dia, todos os dias a criança deve ser exposta aos números e aos
sistemas de significados que estes números representam. A contagem deve estar presente
em diferentes momentos do dia, a contagem dos materiais, da quantidade de alunos, etc.,
essa contagem deve ser sempre representada simbolicamente por meio do sistema de
numeração, ou seja, deve se apresentar os números em diferentes representações, verbais,
simbólicas e icônicas. Conforme PANIZZA (2006 p. 29) “(...) não só se deve ensinar conceitos,
como se deve ensinar a representar os números, o funcionamento do sistema (...)”

Além da exposição diária dos números e a demonstração da sua utilização por parte do
professor também podemos trabalhar os números de outras formas para auxiliar a criança
na internalização dos símbolos matemáticos.

Chocalho de tampinhas, neste brinquedo a criança pode brincar com o som e fazer a
contagem, com um arame galvanizado e dez tampinhas previamente perfuradas e colocadas
no arame, pode-se fazer diversas brincadeiras e combinações de objetos fazendo a respectiva
correspondência com o chocalho, ele funciona como um ábaco simplificado.

Cartões numerados, tabelas, separação em conjuntos de dez em dez, cartões numéricos


e correspondência com pregadores de roupas, clipes de papel etc. receitas simples, dança,
brincadeira de roda, brincadeira da cadeira, pular corda, resta um, rouba-rabo etc. lembrando
que em todas essas atividades deve-se fazer a contagem e a respectiva associação verbal e
simbólica do número.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aprendizagem humana foi objeto de estudo de diversos
pensadores ao longo do tempo, diversas teorias foram
propostas e desse estudo pode-se inferir que a aprendizagem
acontece tanto interna quanto externamente ao indivíduo,
ela se dá por meio de mecanismos próprios do indivíduo
destas experiências empíricas e sensoriais que a criança
experimenta ainda no seio materno, até as experiências
externas que são introduzidas pelo meio e pela sociedade.
KELLY CHRISTIANE
Nesse sentido a criança pequena se desenvolve DIAS MENDES
psicologicamente por meio dos estímulos que recebe do
Graduação em Pedagogia
meio em que está inserido, desde o meio familiar que é o pela Faculdade Anhembi
primeiro contato social do qual a criança participa chegando Morumbi (2016); Especialista
até a escola. Na escola a criança começa a receber os em Atendimento Educacional
Especializado e Educação
conhecimentos historicamente adquiridos e nesse sentido Inclusiva pela Faculdade Campos
a escola é espaço privilegiado para que a criança receba Elíseos (2017/2018); Professora
orientação para se desenvolver plenamente. de Educação Infantil na Prefeitura
Municipal de São Paulo no Centro
de Educação Infantil Yolanda de
A matemática deve fazer parte do currículo escolar Souza Santalúcia.
desde a educação infantil de forma a proporcionar a criança
experiências provocadoras, que a estimulem a agir e a pensar
sobre as suas ações construindo seu próprio conhecimento
de forma ativa e participativa, para isso deve-se procurar
atividades lúdicas e prazerosas com objetivos bem definidos
que busquem trabalhar conceitos matemáticos com
planejamento respeitando e aproveitando os conhecimentos
prévios trazidos pela criança.

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REFERÊNCIAS
BONDIOLLI. Anna, MANTOVANI. Susanna. Manual de Educação Infantil de 0 a 3 anos. 9ª
edição. Porto Alegre. Artmed. 1998.

OLIVEIRA. Zilda de M. Ramos. A criança e seu desenvolvimento. 1ª edição. São Paulo


PANIZZA Mabel. Ensinar matemática na educação infantil e nas series iniciais. Tradução
Antônio Feltrim. Porto Alegre. Artmed. 2006. Cortez. 2000

PIAGET. Jean. Seis estudos de Psicologia. Tradução Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo
Sergio Lima Silva. 25ª edição. Rio de Janeiro. Editora Forense Universitária. 2014.

RIZZO. Gilda. Creche. Organização, currículo, montagem e funcionamento. 4ª edição. Rio de


Janeiro. Bertrand Brasil. 2006.

SHILLER, Pam. ROSSANO Joan. Ensinar e Aprender Brincando. Tradução Ronaldo Cataldo
Costa. 2ª edição. Porto Alegre. Artmed 2008.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

MULTILINGUAGEM NA ARTE
DA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O seguinte artigo tem como objetivo, observar qual é a importância da
multilinguagem no ensino de artes da educação infantil. Para isso, fez-se uma revisão
bibliográfica baseada em livros, artigos e estudos de três linguagens específicas: O teatro,
a música e a dança. A partir daí, levantou-se uma breve história de cada linguagem, qual a
importância desta e como ela contribui para o desenvolvimento das crianças, observou-se
quais fatores restringem o uso destas linguagens em sala de aula, e por último, houve uma
reflexão sobre o que deve ser levado em conta para contornar adversidades e utilizar estas
linguagens em sala de aula de forma significativa.

Palavras-Chave: Multilinguagem; Educação; Infantil; Teatro, Música; Dança.

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INTRODUÇÃO transmitir ensinamentos de qualidade para


as crianças.
A arte é presente no cotidiano de todo
ser humano, independente da faixa etária ou Nos condicionados a relacionar a palavra
classe social. Seja no ambiente de trabalho “linguagens” à fala, e assim deixamos de
ou no momento de descanso, há arte desde a associá-la ao movimento, a dramatização,
decoração do lar até nas redes sociais. Como a brincadeira, a fotografia, a música e a
uma das primeiras formas de expressão que dança. Ficaríamos surpresos com a riqueza
aprendemos desde crianças, o fazer artístico de manifestações expressivas possíveis
ocupa grande espaço em nossas vidas. O quando deixamos de engessar nossa
ambiente escolar não é exceção. compreensão sobre linguagens. Vale lembrar
também, que saberes artísticos nunca são
A Educação Infantil é um período de isolados. Todas as linguagens se conectam
suma importância na vida de uma criança. e se complementam o que torna o trabalho
Através da arte, a criança brinca, aprende acima da multilinguagem artística ainda
e se comunica, explora o mundo, começa mais interessante e amplo para novas
a desenvolver senso crítico e exercita possibilidades. Basta estar disposto a olhar
suas funções motoras. Há aqueles que e estar atento a esse universo rico de
acreditam no ensino de artes como uma propósitos que reclama ser compreendido.
hora de relaxamento, onde há uma pausa
nas matérias técnicas para que a criança se Além da restrição que nós, adultos, temos
divirta desenhando, dançando ou cantando. em relação às linguagens artísticas, vale
Esse ponto de vista pobre ignora totalmente refletir também sobre uma questão que
o potencial das artes de transformar limita nossa visão sobre o fazer artístico:
conhecimentos importantes em brincadeiras Nossos parâmetros de bonito e feio, tal qual
e atividades interessantes, que prendam a a noção de certo e errado. Ao compreender,
atenção das crianças. mesmo que levemente, as técnicas artísticas,
acabamos nos prendendo a certos conceitos
O ensino de artes, portanto, não busca do que é certo e errado. Além de limitar o
uma visão lúdica apenas por prazer, mas sim, potencial criador das crianças, isso também
para despertar a curiosidade das crianças limita o olhar do educador.
sobre o mundo ao seu redor, transformando
a busca por conhecimento em algo prazeroso Para Peric (2013), em sua experiência como
e divertido. Por este motivo, as artes devem artista e educadora, “não existe certo ou
ser trabalhadas de forma significativa pelos errado, mas apropriações”. Com isso, a autora
professores. O educador deve ser capaz de nos traz uma importante lição sobre como
valer-se de diferentes linguagens artísticas, técnicas e saberes artísticos são importantes,
aplicando seus conhecimentos, para mas não leis inquebráveis. Mais importante

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Revista Educar FCE - Abril 2019

do que levar o aluno a compreender técnicas, manter a ordem. Para Gobbi (2010) o espaço
é promover um espaço para experimentação da padronização nem sempre reconhece
e compreensão. como direito as expressões das crianças.
Sendo assim, como se contrapor aos espaços
Segundo a BNCC (Base Nacional Comum cerceadores das capacidades criativas das
Curricular), a educação infantil tem por crianças?
eixo base proporcionar cinco campos
de experiências, que seriam os saberes Assim alcançamos o problema que este
e conhecimentos fundamentais a serem artigo busca responder: Qual a importância
estudados. São estes: da multilinguagem na educação infantil?

O eu, o outro e o nós: Compreende o Esta pesquisa tem como objetivo geral
autoconhecimento e as relações sociais; compreender por que esta restrição de
Corpos, gestos e movimentos: Compreende linguagens artísticas no ensino infantil deixa
todas as manifestações físicas e motoras; uma lacuna de importantes experiências na
Traços, sons, cores e formas: Compreende vida das crianças.
a produção e apreciação artística;
Escuta, fala, pensamento e imaginação: Como objetivos específicos, esta pesquisa
Compreende a comunicação, a expressão e busca abordar as singularidades de algumas
a criação; linguagens artísticas. Assim podemos melhor
exemplificar como essas linguagens são
Espaços, tempos, quantidades, relações e complementares entre si.
transformações: Compreende a percepção, e
reflexão e o pensamento crítico. O trabalho a seguir apresenta uma
revisão bibliográfica de livros, artigos e
Estes campos de reflexão estabelecidos pesquisas acadêmicas, onde trabalharemos
pela BNCC buscam compreender da sobre diferentes linguagens no ensino de
melhor forma possível todos os saberes artes na educação infantil. A escolha de
e possibilidades a serem abordados e um artigo de revisão bibliográfica se deve
trabalhados na educação infantil para uma ao fato desta pesquisa ser naturalmente
educação de qualidade. qualitativa. Ao tratar-se de um tema tão
abstrato quanto à multilinguagem das artes,
Infelizmente, o espaço escolar nem sempre dificilmente encontraremos uma resposta
compreende todas as manifestações como fechada e absoluta. A realidade se adéqua
válidas, por vezes condenando o excesso de aos conhecimentos do educador, aos alunos,
movimento ou de sons. Por este motivo, é ao contexto socioeconômico em que estes
comum que escolas restrinjam as práticas estão inseridos.
artísticas ao desenho, como forma de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Ao longo dos próximos capítulos vamos e moral da criança ao proporcionar


abordar as singularidades do ensino de novas experiências, um espaço livre para
teatro, música e dança na educação infantil. experimentação e exploração. Para Reverbel
É importante novamente lembrar que (1979), a importância da diversão provém
linguagens artísticas nunca são isoladas, do fato que imitar a realidade através da
sendo conectadas e dependentes umas das brincadeira aprofunda a descoberta do
outras. A opção de abordá-las singularmente mundo ao redor da criança. É uma das
é totalmente didática, para que possamos primeiras atividades a auxiliar o processo de
observá-las em suas singularidades. criação da personalidade e do imaginário.

A autora Juliana Cavassin (2008) ressalta


O TEATRO ainda a necessidade de brincar, jogar para
se orientar no espaço, pensar, comparar,
A palavra teatro deriva do termo grego compreender, perceber, sentir para descobrir
“théatron”, que significa assistir com atenção, o mundo, integrar-se com o meio, construir
contemplar em um sentido de promover o conhecimento e a socialização. “O jogo
uma experiência intensa. As práticas permite, assim, a criança reexperimentar
interpretativas acompanham o ser humano os acontecimentos e através da repetição
desde os primórdios de sua existência. ganhar o domínio sobre eles. “(CAVASSIN,
Segundo Staton e Banham, (1996, p. 241) o Juliana, 2008, p. 41).
primeiro registro de um teatro com falas data
por volta de 2500 AC, na região do antigo Segundo Freire (1989, p. 6), a liberdade
Egito, como rituais religiosos. O teatro que “é a matriz que atribui sentido a uma prática
conhecemos hoje recebeu importantes educativa que só pode alcançar efetividade
referencias gregas por volta de 500 AC e eficácia na medida da participação livre e
onde se tornou independente da religião, e crítica dos educados”.
desenvolveu-se suas mais variadas vertentes.
De acordo com Ingrid Koudela (1985), o jogo
Segundo Reverbel (1979), teatro é a teatral na educação infantil é uma importante
arte de manipular os problemas humanos, forma de aprendizagem cognitiva, afetiva
apresentando-os e equacionando-os. A e psicomotora, uma vez que a linguagem
autora destaca a função naturalmente teatral afasta-se da atividade singular,
educativa e reflexiva do teatro ao mesmo em gerando maior convívio participação social
tempo que nos traz a ideia de que a instrução entre os envolvidos. Para Cavassin (2008) a
ocorre através da diversão. criatividade dramática auxilia o pensamento
criativo e desenvolvimento social, pois efetiva
Esta educação faz-se presente no a passagem do teatro como ilusão para o
desenvolvimento emocional, intelectual teatro como realidade cênica.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Ao trabalhar com as crianças, é importante um avanço nas conquistas dos Educadores


compreender que não se pode apreender brasileiros. Isso porque essa é uma história
tudo. A cada uma caberá portar consigo o que de muita luta que até hoje se faz necessária.
mais chamou sua atenção, o que lhe marcou: É importante sempre lembrar da história
luzes, frases, músicas, enredo, atuação dos do ensino de artes no Brasil só tornou-se
atores, personagens, que tantas vezes nem obrigatório a partir de 1971, e desde então,
chamaram a atenção de outras crianças ou a educação sofreu incontáveis mudanças na
daqueles que lhe acompanhavam, mas que intenção de otimizar-se.
passarão a compor suas vidas a partir da
experiência com peças teatrais. Por este motivo, este trabalho não tem
como objetivo criticar o atual sistema. Apesar
Como um dos principais problemas para de haverem falhas estruturais, este trabalho
o desenvolvimento das múltiplas linguagens visa levar o leitor à reflexão sobre todos
em sala de aula, Juliana Cavassin (2008) nos os campos e saberes artísticos aplicáveis
aponta a falta de uma mínima estrutura nas à educação infantil, onde podem ser feitas
escolas que possibilite a atuação da prática melhorias e mudanças.
teatral de modo efetivo, tal qual demais
falhas estruturais que se desdobram em É fundamental a ampliação de discussões
outras questões, no que se refere ao ensino sobre os horizontes que propõe o
da arte, como: a carga horária destinada às desenvolvimento do Teatro na sala de aula
artes; a carência material; o despreparo de como prática pedagógica.
professores; a desvalorização da área em
relação às demais disciplinas do currículo. Muitas vezes o que os professores fazem
“Esses problemas específicos da área de artes quando atuam em sala é a reprodução de
agravam-se quando somados aos problemas práticas pedagógicas ligadas a modelos
da educação como um todo, como a baixa tradicionais por desconhecimento. Assim
remuneração do magistério, a falta de tempo acabam por enfatizar apenas a imitação
para a preparação do professor e preparação ou o espontaneísmo como “produção” ou
didática das aulas, a insuficiência e má “educação” artística. Por esse motivo, o
qualidade de material didático”. (CAVASSIN, professor deve buscar ir além do modelo pré-
Juliana, 2008, p. 43) estabelecido, aplicando valor à atividade. Criar
interesse, expandir possibilidades, aguçar os
Essa realidade pode ser criticada pelo sentidos, demonstrar técnicas, permitir a
ponto de vista de todas as linguagens experimentação, ouvir experiências e abrir
artísticas e mesmo das demais áreas do caminho para novos horizontes. É o objetivo
conhecimento. Apesar disso, a presença comum de uma educação libertadora que
do ensino de artes na educação como um vise à experiência da criança ao invés de sua
objeto de estudo e discussão representam produção.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A MÚSICA Para Loureiro (2008), explica que o


aprendizado de música deve ser um ato
A palavra musica se origina do termo grego de desprendimento prazeroso para as
musiké, que significa arte das musas – as nove crianças, que proporcione experiências sem
deusas gregas que regiam a arte da criação. ser uma imposição. Teca Alencar de Brito
Como tantas outras formas de arte, a música (2003), nos reafirma isto ao relatar sobre
teve grande ligação com as religiões. Ao longo sua longa experiência como arte educadora
da história, tal qual o teatro, a música acabou especializada no ensino de música. Descreve
por contemplar tantas outras esferas da vida como um processo contínuo de construção
humana. Hoje podemos dizer que a música que envolve perceber, sentir, experimentar,
se faz presente em praticamente tudo. Há imitar, criar e refletir.
música religiosa, popular e erudita, em
diferentes ritmos e com os mais diferenciados Nas brincadeiras infantis, as crianças
acompanhamentos. Há mais possibilidade do usam a música como forma de expressão e
que se pode imaginar. Atualmente o site Every também para estabelecer regras, relações
Noise at Once contabiliza mais de 1400 estilos sociais, diversão, alegria e aprendizagem.
musicais ao redor do mundo, e esse número Não é incomum usar a cantiga “uni-duni-tê”
tende a aumentar conforme a humanidade quando se está indeciso sobre algo e decide
cria. A música não é apenas um fazer artístico escolher aleatoriamente. Além das múltiplas
mais uma importante forma de expressão, aplicações da música, é muito interessante
de sensação e de comunicação. Pode ser observar também como ela pode ou não ser
objeto de entretenimento, de publicidade, temporal. As antigas gerações cresceram
de ambientação, de relaxamento, de reflexão ouvindo cantigas sobre um alecrim dourado
ou de educação, entre tanto outros usos da ou um gato a quem foi atirado um pedaço de
música ainda inexplorados. pau. Essas cantigas ainda hoje são cantadas
por crianças da nova geração, mas não se
Segundo Luiz Rodrigo Godoi (2011), restringem a estas antigas cantigas. Ao
existem muitas possibilidades de buscar as conviver com as crianças, você tanto pode
contribuições da música no desenvolvimento ouvi-las cantar sobre aquele mesmo gato,
da criança, uma vez que ela se faz presente como pode ouvi-las cantar sobre Jonny, um
em suas vidas antes de sua alfabetização. A garoto que adora comer doces. Esta é uma
música apresentar uma característica etérea, das mais incríveis características da música:
diferente da linguagem oral em gigantesca Ela nunca desaparece, ao contrário, novas
quantidade de palavras a serem aprendidas coisas são constantemente incorporadas.
e decoradas para formar uma única frase.
Com algumas notas ou sons, a criança pode Diante dessa realidade, onde informações
formar uma melodia que lhe seja agradável são criadas quase que diariamente, pode
aos ouvidos ou mesmo divertida. parecer preocupante a ideia de manter-se

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Revista Educar FCE - Abril 2019

atualizado. Para Godoi (2011), entende-se escolar é fundamentado no modelo escolar


a preocupação e o grande desafio que é a europeu, sob uma visão que predomina o
aplicação de música na educação infantil, de gosto pela música clássica e erudita. Ao
forma a colaborar com o desenvolvimento da adentrarmos uma escola pública, é natural
criança, almejando que essa não seja apenas que as crianças estejam familiarizadas com
uma prática descontextualizada. O objetivo músicas advindas de uma cultura popular.
é então a busca pelo equilíbrio para tornar a Ao trazer esta linguagem para dentro da
música um meio para o melhor entendimento sala de aula, é importante refletir: Há ali a
e trabalho das diversas atividades realizadas tentativa de impor uma supremacia entre
na educação infantil, que além de desenvolver determinada cultura ou gênero musical? O
a sensibilidade musical pode ainda ajudar no uso da linguagem musical acrescenta algo ao
desenvolvimento de outras potencialidades projeto pedagógico ou é apenas uma escolha
da criança. estética?

O gesto e o movimento corporal estão ligados Segundo Souza e Joly (2010, p. 102), o
e conectados ao trabalho musical. Implica tanto
em gesto como em movimento, porque o som é, professor – quando especializado em música
também, gesto e movimento vibratório, e o corpo – está em uma posição privilegiada, em
traduz em movimento os diferentes sons que contato com mestres e obras-primas, assim
percebe. Os movimentos de flexão, balanceio,
torção, estiramento etc., e os de locomoção como com as manifestações folclóricas e
como andar, saltar, correr, saltitar, galopar etc., culturais de seu povo. Com isso as autoras
estabelecem relações diretas com os diferentes querem dizer que, a mesma carga acadêmica
gestos sonoros. (BRASIL, 1998, p. 61).
que, supostamente poderia levar o professor
inadvertidamente a promover um gênero
Para Souza e Jolly (2010, p. 101), o ensino musical como principal acima dos demais,
musical na educação Infantil, pode contribuir também é o que levaria a educação musical
não apenas para a formação musical dos a um perfeito equilíbrio.
alunos, mas também como uma ferramenta
eficiente de transformação social, onde Um amplo e variado repertório promoveria
o ambiente de ensino e aprendizagem um enriquecimento cultural, onde, por meio
pode proporcionar o respeito, a amizade, a da experiência, poderiam conhecem outras
cooperação e a reflexão tão importantes e formas de produção musical.
necessárias para a formação humana. Dessa
forma, é interessante que ela esteja presente
no ambiente escolar.

Para as autoras, uma importante


reflexão deve ser feita sob o tipo de música
apresentado em âmbito escolar. O modelo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A DANÇA Para Laban, a escola tem a função


educadora, e jamais silenciadora, de
A dança acompanhou outras formas de levar os alunos a adquirir consciência dos
artes ao longo da história, como a música e princípios do movimento, preservando
o teatro, havendo registros que vão do Egito sua espontaneidade e desenvolvendo a
antigo à Grécia antiga. A dança se estabelece expressão criativa. O aprendizado da dança
pela execução de movimentos do corpo, deve integrar o conhecimento intelectual
em sequencias ensaiadas ou improvisadas. e criatividade do aluno, desenvolvendo os
Assim com a música, a dança é uma forma pilares da educação (Delors, 2000). Com um
de expressão abstrata, onde a ausência de pouco de encorajamento e assistência, as
linguagem oral permite a livre interpretação crianças brincarão e improvisarão com esses
do espectador. padrões básicos de movimento.

Segundo Ida Mara Freire (2001), o O principal objetivo da dança na educação


ensino de dança no Brasil até uma década infantil é promover e desenvolver todas as
atrás ocorria em locais privilegiados como suas habilidades naturais dos alunos. O
academias e escolas particulares de dança. adequado uso da dança na educação deve
Também ocorria em espaços públicos como oferecer oportunidades para as crianças
centros culturais, associações de bairros criarem sequências através da improvisação
e escolas de samba. É bastante notável a ou do ensaio e promover o convívio social.
visibilidade e a importância que o ensino de
dança vem adquirindo nos últimos anos. “O aluno imóvel nem sempre está envolvido
com o que ocorre na sala de aula, pode estar
internamente inquieto, querendo se movimentar
Para Scarpato (2001), o trabalho com o porque é insuportável permanecer muito tempo
corpo gera a consciência corporal. O aluno na mesma posição. É fundamental desenvolver
a corporeidade em todas as áreas, não nas áreas
começa a compreender o que passa consigo afins.” (SCARPATO, Marta Thiago. 2001 p.57).
e ao seu redor, torna-se um pouco mais
espontâneo e expressa seus desejos de modo O uso da dança na sala de aula, contudo,
mais natural. Para a autora, isso proporciona não visa apenas proporcionar a vivência do
certo choque com a prática pedagógica corpo e diminuir tensões decorrentes de
autoritária, que ainda acredita que o aluno esforços intelectuais excessivos. Ao pensar
só aprende sentado na carteira. em dança, é natural que em algum momento
se relacione com o balé clássico ou mesmo
A criança tem o impulso inato de realizar com coreografias complexas. Mas ao aplicar
movimentos similares aos da dança. Muitas isso no contexto da educação infantil, esse
vezes, usam os movimentos espontaneamente, conceito simplifica-se ao máximo. A dança
variando seus gestos e dinâmicas para não precisa ser necessariamente complexa,
expressar seus sentimentos e ideias. mas uma brincadeira sincronizada com

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Revista Educar FCE - Abril 2019

as mãozinhas das crianças, onde todas rodam ou pulam junto com a música. Tudo isso se
encaixa como dança.

A dança na escola não deve priorizar a execução de movimentos corretos e perfeitos


dentro de um padrão técnico. Scarpato ainda nos diz que a prática de dança em sala de aula
deve partir do pressuposto que o movimento é uma forma de expressão e comunicação do
aluno, objetivando torná-lo um cidadão crítico, participativo e responsável. Por este motivo
o critério avaliativo deve ser feito com cautela, pois o objetivo de inserir dança na educação,
deve ser sempre o de agregar valores aos alunos, e nunca o de limitar.

(...) Infeliz educação a que pretende, pela explicação teórica, fazer crer aos indivíduos que podem ter acesso ao
conhecimento pelo conhecimento e não pela experiência. Produziria apenas doentes do corpo e do espírito,
falsos intelectuais inadaptados, homens incompletos e impotentes. (Freinet, 1991, p. 42)

Outra coisa que deve ser levada bastante em conta, ao realizar um projeto pedagógico
que atribui a dança como linguagem, é a acessibilidade daquele projeto. Ao trabalhar com
crianças pequenas, ou crianças com qualquer tipo de deficiências física, motora ou cognitiva,
o mais importante de tudo é que a atividade não seja excludente.

No papel de educadores, é importante compreender que: Não há nenhum modelo pronto


no mundo que não possa ser adaptado. Dentro da escola, o mesmo vale. Basta um pouco de
criatividade e empatia para transformar algo que seria divertido para alguns alunos, em algo
que será divertido para todos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, podemos verificar alguns
aspectos curiosos do ensino de artes na educação infantil.
Aspectos estes que vão além do processo criativo de
desenhar. A vivência escolar nos apresenta a triste realidade
de que, em grande parte do tempo, o processo artístico
restringe a criança ao desenho e as artes plásticas. Muitas
vezes condenando o excesso de movimentos e sons em prol
da ordem.

Ao longo da pesquisa bibliográfica aqui realizada, pudemos


identificar alguns fatores comuns que podem levar ao
estrangulamento da liberdade criativa das crianças. Estes seriam:
A fala de um espaço adequado para práticas que requerem KELY DE CÁSSIA
uma ampla circulação das crianças; A ausência dos materiais VITIELLO SARTORI
adequados; O despreparo de professores para trabalhar com
Graduação em Educação Artística
diferentes linguagens; A direção escolar que limita as técnicas pelo Instituto de Artes – UNESP
aplicadas em sala; e a própria cultura tecnicista que categoriza 1990; Especialista em Artes
o ensino de artes como um tempo de descanso, e nega sua Plásticas pelo Instituto de Artes-
UNESP; Professor do Ensino
característica como uma disciplina escolar. Fundamental II e Médio de Artes
na EMEF Rodrigo Mello Franco
O desenho ser uma importante ferramenta de expressão de Andrade, da Prefeitura de São
Paulo.
e comunicação, só a prática de desenho como linguagem
artística não basta para cumprir todos os cinco eixos que a
BNCC estabelece.

Entre o saberes que a BNCC estabelece como essenciais


para o desenvolvimento infantil, alguns não são plenamente
desenvolvidos quando o ensino de artes é restrito às artes plásticas. Entre os quais podemos
citar três mais relevantes:

A noção de sons e músicas. Não há maneiras de se trabalhar este eixo arte sem a experiência
concreta com sons, músicas e barulhos.

A coordenação motora, embora haja outras disciplinas que façam uso de movimentos físicos, a
dança e o teatro permitem uma experiência diferenciada, ritmada e coreografada. Às vezes com
poucas partes do corpo e que darão às crianças ritmo, coordenação, firmeza nas mãos e nos pés.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A escuta e a fala. O teatro e a música contribuem não apenas para habilidades motoras,
mas também verbais. A criança pode exercitar as cordas vocais, perceber a diferença entre
seus diferentes tons de voz, desenvolver a fala.

Não apenas isso, o ensino de artes com estas diferentes linguagens também proporciona
outros campos de desenvolvimento. Como: a socialização, quando a criança passa a
desenvolver um trabalho em coletivo; a desenvoltura, quando a criança se vê com liberdade
para falar e se expressar em frente a outras pessoas; A noção de espaço e transformação, ao
observar mudanças de músicas, cenários, sons; e a própria expressão artística, que quando
não é limitada, se torna mais ampla e rica.

O emprego da multilinguagem no ensino infantil então seria indispensável para uma


educação plena e que possibilite todos os aprendizados e experiências previstos pela BNCC

637
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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640
Revista Educar FCE - Abril 2019

CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: A presente pesquisa traz o enfoque da contação de história na educação infantil
como ferramenta facilitadora no processo da construção dos leitores, trazendo para essa
discussão autores que defendem essa temática. As crianças, sobretudo da educação infantil,
têm tido uma atenção especial em todas essas mudanças propostas para a educação em
nosso país, sendo ressaltada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
9.394/96) como a primeira etapa da educação básica. Neste contexto, aliar o lúdico, os
jogos, a preparação do ambiente, se faz necessário, e neste sentido, a contação de histórias
na educação infantil, pode entrar como instrumento a fim de despertar o interesse pela
leitura. A contação de história é um ato que pode ter uma finalidade educativa, construtiva
ou simplesmente um momento de descontração, de relaxamento, de deleite, imprescindível
para todas as crianças, que vai de encontro com os preceitos dos PCN’s, do RCNEI e da
LDB, no diz respeito ao desenvolvimento dos seus aspectos psicológico, intelectual e social,
merecendo planejamento. Contar histórias é uma arte oral milenar mediante costumes,
tradições, culturas, são passadas de geração em geração. Abordar ou adaptar histórias que
estejam no contexto da vida das crianças, no seu cotidiano, utilizando gêneros como contos,
fábulas, poemas, poesias, traz significância ao aprendizado.

Palavras-Chave: Contação de História; Educação Infantil; Formação Leitora.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO e seus profissionais nos cuidados que


envolvem todo esse momento da educação
Esta pesquisa tem como princípio, a infantil como uma das mais importantes no
contação de história (ato de contar) como desenvolvimento psíquico, social e cultural
parte integrante na formação de leitores das crianças. Tais cuidados abordam a
competentes, autônomos e dinâmico. organização dos espaços, dos materiais
pedagógicos, a formação profissional, entre
O currículo, a metodologia e toda a forma outros, sempre enfatizando a importância
de ensinar estão em processo de mudança do brincar, dos brinquedos e brincadeiras
em nosso país. Mais e mais tem se falado em na construção da identidade da criança, no
uma educação construtivista, que dá ênfase desenvolvimento da autonomia e nas relações
ao aluno, em seus conhecimentos prévios, interpessoais. Entende-se que os centros de
em sua realidade, como sujeito da sua educação infantil devem primar não só pelo
própria aprendizagem, de uma construção cuidar com intuito de assistencialismo, mas
de conhecimento significativa de acordo também preparar essas crianças, sempre de
com sua realidade. As crianças, sobretudo forma lúdica, respeitando-as como sujeitos
da educação infantil, têm tido uma atenção subjetivos, como crianças - o que de fato são
especial em todas essas mudanças que estão - para as próximas etapas de sua educação
sendo estudas e implantadas no ensino formal.
brasileiro, com propostas de aliar o lúdico,
os jogos, os brinquedos e as brincadeiras, o A contação de história é um ato que pode
ambiente, e neste contexto, a contação de ter uma finalidade educativa, construtiva ou
histórias na educação infantil, entra como simplesmente um momento de descontração,
uma ferramenta facilitadora no processo de de relaxamento, que vai de encontro com os
ensino e aprendizagem e no despertar do preceitos dos PCN’s, Parâmetros Curriculares
interesse pela leitura. Muitos documentos, Nacional, do RCNEI e da LDB, no diz respeito
como o Referencial Curricular Nacional ao desenvolvimento do campo psicossocial
Educação Infantil, têm sido desenvolvidos das crianças, merecendo planejamento e
pensando nesta faixa etária. A Lei de todo um cuidado com a escolha do assunto,
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei do tema envolvente e adequado a cada
9.394/96) estabelece, pela primeira vez na idade, no cuidado na preparação do ambiente
história de nosso país, que a educação infantil que deve ser aconchegante, harmonioso,
é a primeira etapa da educação básica, tendo acolhedor, sem distrações externas, pois é
como finalidade o desenvolvimento integral um momento mágico, em que as crianças
da criança até seis anos de idade, com base têm a oportunidade de viajar sem sair do
em dois campos de atuação: o da formação lugar, um deleite para os ouvidos, sobretudo
pessoal e social e o do conhecimento de dos pequenos, que tem a imaginação livre
mundo, orientando assim as instituições das preocupações do mundo adulto.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A intenção de fazer com que as crianças, desde


cedo, apreciem o momento de sentar para ouvir Compreender como o ato de contar
histórias exige [...] um ambiente agradável e histórias na educação infantil favorece a
convidativo à escuta atenta, mobilizando a aprendizagem e contribui para a linguagem, a
expectativa das crianças. (BRASIL, 1998, p. 143)
atenção, a memória da criança, e a formação
de um leitor competente, autônomo e
A educação infantil, por intermédio da dinâmico é o intuito desta pesquisa. Visando
contação de história, é o espaço que pode explicitar quais foram os caminhos que
garantir que as crianças, oriundas das mais orientaram este trabalho, o próximo eixo
diversas classes sociais, especialmente das apresenta o capítulo teórico.
classes mais baixas, tenham direito aos
primeiros contatos com o mundo letrado.
Que em muitos casos, constituem a única A IMPORTÂNCIA DE
ligação com a cultura, sobretudo a literária. SE CONTAR HISTÓRIA
Segundo o Referencial Curricular Nacional Contar histórias é uma arte oral milenar
para a Educação Infantil (1998, v.3, p. 143), por meio da qual, costumes, tradições,
“A leitura de histórias é um momento em culturas, são passadas de geração em
que a criança pode conhecer a forma de geração. O mundo é marcado por histórias,
viver, pensar, agir e o universo de valores, desde a formação do universo à extinção
costumes e comportamentos de outras dos dinossauros, passando pelas etapas da
culturas situadas em outros tempos e lugares evolução do homem até os dias atuais. A
que não o seu”. história faz parte da humanidade. O homem
das cavernas já contava suas histórias por
A arte de contar histórias aprimora o intermédio de seus desenhos nas paredes
dom de usar a palavra e ouvi-las remete de suas habitações. A história do mundo é
a sensação de se viver num mundo contada também segundo a bíblia. É contada
imaginário e satisfatório, trazendo uma nova também pela ótica da ciência. A história da
interpretação do mundo. nossa família é contada por nossos avós.
A história de amor de nossos pais nos é
Desde os tempos mais remotos o homem contada. Nós contamos nossas próprias
conta histórias, sendo essa uma forma de histórias de vida. Como ensina Patrini (2005,
compartilhar experiências e de entender p.105), “o ato de narrar significa também o
os espaços que os cerca, ampliando e encontro com os mistérios que envolvem
resignificando suas vivências. o homem e a vida nos diversos momentos
de sua existência”. Enfim, histórias é que
Diante de tantos benefícios que a contação não faltam em nossas sociedades. E todas
de história traz, é possível também que possa elas nos atraem de uma maneira diferente
formar leitores? e especial. A contação de história é uma

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ferramenta importante, pois é por intermédio ou um cordeirinho, ser do bem ou ser do mal,
delas que sabemos de que lugar viemos, sem limites ou contestações. Abramovich
para que lugar iremos, e quem somos. Todas (1989) diz que “o livro da criança que ainda
elas transmitem conhecimentos e valores não lê é a história contada.” (p. 24).
fundamentais no desenvolvimento humano
e na formação do cidadão. Antes que possam ler sozinhas as crianças
devem escutar histórias, a fim de desenvolver
o interesse pelos livros e conscientizar-se da
[...] a voz constitui o mais antigo meio de variedade de livros disponíveis. Quando estão
transmissão. [...], preenche diferentes funções, aprendendo a ler, a escuta de histórias funciona
dando conselhos, estabelecendo normas e como uma influência modelizadora para a leitura.
valores, atentando os desejos sonhados e
(KUHLTHAU, 2002, p. 50).
imaginados, levando às regiões mais longínquas
a sabedoria dos homens experimentados.
(PATRINE, 2005, p.118). Para tanto é preciso uma preocupação
a mais com esse contar história para os
Temos também que, segundo o dicionário pequeninos. Ambiente acolhedor e seguro,
Michaelis (2008), a definição de história é: calma, paciência, entoação, respeito,
1 Narração ordenada, escrita, dos fatos fantasias, cores, sabores, cheiros, sons,
e dos acontecimentos (sociais, políticas, tudo isso é sentido, percebido e registrado
econômicas e culturais) na vida dos povos, pelas as crianças. “O narrador tem que
de uma localidade e da humanidade, em transmitir confiança, motivar a atenção e
geral, ocorridas no passado [...]. 2 Registros despertar admiração” (ELIZAGARAY apud
cronológicos desses acontecimentos (em ABRAMOVICH, p. 20). O faz de conta, conta
livros, principalmente). (MICHAELIS, 2008, e encanta quem as ouve. Histórias bem
p. 442). Há diferentes formas de se contar contadas fazem querer ouvi-las mais e mais.
uma história, o que diferencia uma da outra
é a sua intencionalidade. Umas são contadas É importante para a formação de qualquer
criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá –
para descrever fatos e acontecimentos las é o início da aprendizagem para ser um leitor,
importantes de tempos remotos, umas para e ser leitor é ter um caminho absolutamente
passar uma moral, uma ideia, outras para infinito de descobertas e de compreensão de
mundo [...]” (ABRAMOVICH, 1989, p. 16).
divertir, descontrair, imaginar, sonhar, se
deleitar. A autora faz uma reflexão pessoal e
intrigante, sobre o contar histórias para
Precisamos de todas elas e as crianças nossas crianças:
precisam ainda mais, desde muito cedo, para
embalar seus sonhos e encher de alegria Como falar mais de encantamento da história, das
emoções sentidas e vividas pelos personagens,
seus dias, pois, as histórias tem o poder de das sofrências e alegrias, dos sufocos e
encantar, fascinar, de nos apaixonar por deslumbrâncias, se eu deixei passar batido tudo
esse mundo da imaginação, na qual tudo é isso em mim? Como fazer a criança ou o jovem
lerem se eu leio tão pouco?(ABRAMOVICH,
possível: ser polícia e ser ladrão, ser um lobo 1989, p. 61)

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vacinar a criança contra a leitura para sempre.


Investir nesses momentos, envolver cada (ROCHA, 1983, p. 4)
vez mais os adultos nesse universo, dedicar
mais tempo na preparação e desenvolvimento
do ato de contar história é garantir um O PCN de língua Portuguesa, traz em seu
público fiel, apaixonado, criativos, felizes, texto que:
sonhadores, porém adverte que para contar
boas histórias “é bom evitar as descrições É preciso superar algumas concepções sobre o
aprendizado inicial da leitura. A principal delas
imensas e cheias de detalhes, deixando o é a de que ler é simplesmente decodificar,
campo mais aberto para a imaginação da converter letras em sons, sendo a compreensão
criança”. (ABRAMOVICH, 1989, p. 21). conseqüência natural dessa ação. Por conta
desta concepção equivocada a escola vem
produzindo grande quantidade de “leitores”
Encontrar nas histórias o prazer é buscá- capazes de decodificar qualquer texto, mas com
la cada vez mais e essa busca irá construir enormes dificuldades para compreender o que

em quem as escuta a necessidade de fazê-la tentam ler. (BRASIL, 1996, p.16).


sempre presente em sua vida.
Neste mesmo sentido,
Como a literatura infantil prescinde do imaginário
das crianças, sua importância se dá a partir do Ouvir e ler histórias é também desenvolver todo
momento em que elas tomam contato oralmente o potencial crítico da criança. É poder pensar,
com as histórias, e não somente quando se duvidar, se perguntar, questionar... É se sentir
tornam leitores. Desde muito cedo, então, a inquieto, cutucado, querendo saber mais e
literatura torna-se uma ponte entre histórias melhor ou percebendo que se pode mudar de
e imaginação, já que“ é ouvindo histórias que ideia... É ter vontade de reler ou deixar de lado
se pode sentir”... e enxergar com os olhos do de uma vez... (ABRAMOVICH, 1989, p.10).
imaginário... abrir as portas à compreensão do
mundo. (ABRAMOVICH, 1989, p.17).
Para Graidy e Kaercher (2001):
Ruth Rocha enfatiza a ideia de leitura
como um prazer e não uma obrigação: O ato de ouvir e contar histórias está, quase
sempre, presente nas nossas vidas: desde
que nascemos, aprendemos por meios das
[...] a leitura não deveria ser encarada como uma experiências concretas das quais participamos,
obrigação escolar, nem deveria ser selecionada, mas também através daquelas experiências das
vamos dizer, na base do que ela tem de quais tomamos conhecimento através do que
ensinamento, do que ela tem de ‘mensagem. os outros contam. Todos temos necessidade
A leitura deveria ser posta na escola como de contar aquilo que vivenciamos, sentimos,
educação artística, ela devia posta na escola pensamos e sonhamos. Dessa necessidade
como uma atividade e não como uma lição, humana surgiu a literatura: do desejo de ouvir e
como uma aula, como uma tarefa. O texto não contar para através dessa prática, compartilhar.
devia ser usado, por exemplo, para a aula de (GRAIDY e KAERCHER, 2001, p.81). (Grifo das
gramática, a não ser que fosse de uma maneira autoras)
muito criativa, muito viva, muito engraçada,
muito interessante, porque se assim não for
faz com que a leitura fique parecendo uma Para Abramovich (1989), “O ouvir histórias
obrigação, fique parecendo uma tarefa e aquela
velha frase de Monteiro Lobato – ‘É capaz de pode estimular o desenhar, o musicar, o

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sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o imaginar, interesse e o prazer de escutá-las, buscando-


o brincar, o ver o livro, o escrever, o querer as muitas e muitas vezes, fornecendo assim
ouvir de novo (a mesma história ou outra). ferramentas e facilitando a construção da
Afinal, tudo pode nascer dum texto!”. identidade pessoal de cada indivíduo leitor.

Zilberman (2003) defende que a formação Acredita-se que a contação de história,
da criança passa pela literatura não somente da forma como orienta os autores e os
pela sua ação pedagógica. documentos oficiais, com o cuidado e o
respeito que esses momentos exigem,
Abramovich (1989) defende que o escutar trazendo o imaginário infantil para dentro de
pode ser o início da aprendizagem para se cada uma delas, respeitando e incentivando
tornar leitor. a participação e o envolvimento das crianças,
seja essa uma ferramenta importante para o
As crianças, além de devotarem uma enorme sucesso na formação de leitores competentes
atenção à história (e o professor sabe o quanto
isso significa em termos de audição reflexiva, e autônomos, bem como, seja um facilitador
estímulo à imaginação e organização do no ensino e na aprendizagem que está sendo
pensamento!), sentem-se estimuladas a ler os proposto nesse momento da educação no
livros por si mesma sou a buscar outros sobre
o mesmo assunto. (SANDRONI e MACHADO, Brasil. Regina Zilberman (2003) fala deste
1986, p. 25). momento da educação:

A nova valorização da infância gerou maior união


A CONSTRUÇÃO familiar, mas igualmente os meios de controle
do desenvolvimento intelectual da criança e a
DOS LEITORES manipulação de suas emoções. Literatura infantil
e escola, inventada a primeira e reformada a
segunda, são convocadas para cumprir esta
Segundo os PCN’s: “A leitura é um missão. (ZILBERMAN, 2003, p. 13).
processo em que o leitor realiza um trabalho
ativo na construção de sentidos para o texto”. Buscar formas de introduzir a prática da
(BRASIL, 1997). leitura, de maneira prazerosa, constitui-
se um grande desafio para os profissionais
Ao contar histórias é possível fazer uma de educação. Compreende-se que não é
releitura e adaptá-la as circunstancias, ao apenas uma leitura decodificadora que se
momento, a realidade dos ouvintes, por espera de um leitor e sim uma leitura plena
meio da criatividade do contador, que de significados para a criança, formando
não somente deve investir no espaço, mas um leitor crítico e consciente. Procura-se
também em seu preparo, como em algumas na contação uma possibilidade, um veículo
vezes saber as histórias de memória, produtivo e transformador, na qual a criança
contornar incidentes, saber improvisar, para ouve e participa com sua imaginação, sua
que sua narrativa desperte a curiosidade, o fantasia, seu faz conta, seu interesse.

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descobrir verdadeiramente por si só. Ainda mais


Percebe-se que as histórias contadas importante: a forma e estrutura dos contos de
para as crianças, seja ela em quadrinhos, fadas sugerem imagens à criança com as quais
contos de fadas, fábulas, desperta nelas a ela pode estruturar seus devaneios e com eles
dar melhor direção à sua vida. (BETTELHEIN,
curiosidade por esse mundo letrado que 1980, p. 76).
as acerca, possibilitando-as a uma viagem
segura cheia de encantos, por limites que A contação de história além de proporcionar
só ela mesma poderá dar, para se divertir, momentos de descontração, conhecimento,
sonhar, dar asas a sua imaginação fazendo ao mesmo tempo, planta a sementinha do
com que busque, cada vez mais, essa prazer de se ler e ouvir histórias, nas atuais
forma de prazer, pois, se ainda não sabem e futuras gerações de leitores, o que trará
ler, autonomamente, cabe as instituições muitas construções novas e uma leitura de
oportunizar momentos e meios para que mundo mais ampliada e significativa.
as contações de histórias façam parte de
sua rotina, enriquecendo e ampliando seu Segundo o RCNEI (1998) “Isso evidencia
universo de oportunidades. “A criança que que a criança que escuta muitas histórias
ainda não sabe ler convencionalmente pode pode construir um saber sobre a linguagem
fazê-lo por meio da escuta [...]” (BRASIL, escrita”. (BRASIL, VOL. 3, p. 143).
VOL. 1998, p. 141).
A contação de história apresenta-se como
É importante às crianças perceberem os uma ferramenta importante para tornar as
livros infantis como parte de sua infância, aulas mais atrativas e dinâmicas, contribuindo
isso de modo a desenvolver a sua capacidade de forma ímpar para a construção da
leitora. Os adultos, e suas atitudes, sobretudo aprendizagem e de cidadãos mais criativos.
as atitudes leitores, podem ser os espelhos Ao utilizar esta prática também por
no qual as crianças enxergarão o seu futuro. professores, os alunos terão a oportunidade
de resgatar memórias e propor novas
As crianças, ao ouvirem histórias, significações. Então cabe aos professores e
se transportam a um mundo na qual o mediadores, a tarefa de elaborar estratégicas
identificam com o seu e assim conseguem e técnicas, desde a escolha do material até
resolver alguns de seus conflitos internos, o planejamento, de acordo com a idade das
como as decepções, e encontra suas próprias crianças e usar recursos que estimulem e
soluções e conquistas, uma vez que consegue motivem os ouvintes, como tom da voz, a
percebê-los, vendo-os nas trajetórias dos postura, a dinâmica, a teatralidade, a fim de
personagens das histórias que são contadas atingir seus objetivos de forma que venha a
para elas, com as suas próprias vivências. contribuir na formação destas crianças.

[...] os contos de fadas têm um valor inigualável, Nesse sentido é fundamental que o
conquanto oferecem novas dimensões à
imaginação da criança que ela não poderia contador de história seja prático e criativo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

para que visualize em diferentes materiais a bonecos ficam atrás de um cenário, como
oportunidade de se contar boas histórias, pois uma televisão, uma casinha. É interessante
cada uma exigirá conhecimento e domínio da deixar as crianças tocá-los. Possui uma face
técnica. Com base nesse pressuposto está com grande expressividade. A contação
claro que o cantador de história deve ter um de história por fantoches, palitoches e
repertório amplo de maneiras diferentes de dedoches, auxilia na contação de histórias,
contar histórias, respeitando e adequando- estimulando a curiosidade da criança e
as a cada faixa etária. proporcionando a interação. Para facilitar a
interpretação da história e manipulação dos
Abramovich (1989), afirma que as histórias: fantoches é interessante que o mediador
saiba as histórias de memória, assim elas
Chegaram ao seu coração e à sua mente, na fluirão naturalmente o que tornara o
medida exata do seu entendimento, de sua
capacidade emocional, porque continham esse momento atrativo e prazeroso.
elemento que a fascinava, despertava o seu
interesse e curiosidade, isto é, o encantamento, História no avental: A arte de se contar
o fantástico, o maravilhoso, o faz de conta.
(ABRAMOVICH, 1989, p. 37). história no avental é um instrumento versátil,
pois as figuras e imagens são manuseadas
de acordo com o momento que a história
vai acontecendo, é uma forma atrativa que
A PRÁTICA DE CONTAÇÃO faz com que a criança e o contator interajam
DE HISTÓRIA NA ESCOLA criando situações, usando o imaginário. É
importante abordar histórias que estão no
Existem várias formas de se contar história, contexto da vida das crianças, tais como
seja com objetos dentro de uma caixa surpresa, contos, fábulas, dentre outras que tragam
peça teatral, avental, dedoche, fantoche, prazer e identificação com sua vivencia, como
leitura de roda, leitura deleite, porém, todas ir para escola, passear no parque, interações
elas trazem a magia e o encantamento para familiares, amigos, brincadeiras.
os ouvintes. Para conduzir e dar mais vida
as belas histórias, destacamos e explicamos História com papel: O contador contará a
algumas ferramentas e possibilidades: história utilizando o papel para materializar
os pontos fortes da história. Pode-se utilizar
História com fantoche, palitoche e o papel também o moldando como uma
dedoche: É utilizado um ou mais bonecos, que dobradura, para que assim se transforme
são animados pelos contadores. O fantoche em algo após a finalização. Nesse sentido,
é manipulado internamente, seus braços podem ser apresentadas histórias com
e mãos são movimentados pelos dedos, interferência, na qual os personagens são os
assim como os dedoches. Os palitoches são próprios ouvintes.
manuseados pelas mãos. Geralmente esses

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Tapete de velcro: O tapete de velcro é composto por placas de tatame com o cenário das
histórias e forração apropriada para colar os personagens. Pode ser montado horizontalmente
ou verticalmente. Os personagens devem possuir velcro para que sejam fixados no tapete
no momento da contação.

Caixa surpresa: A caixa surpresa é um elemento mágico indispensável. Tanto para contar
histórias. Ela se presta a esse papel pela alta carga lúdica que contém. Uma caixa, qualquer
caixa, provoca o desejo, a expectativa, a curiosidade, o desafio de descobrir o há lá dentro,
que mistérios ela esconde. A caixa surpresa é como a caixa de pandora... que provoca.

Baú de histórias: O baú de histórias pode ser utilizado sempre que quiser. É preciso que
o organize de modo que possa transportá-lo com facilidade, mas que ao mesmo tempo
comporte diferentes tipos de acessórios. Procure enfeitar o seu baú para que possa ser
usado para diferentes narrativas. Evite colar personagens muito conhecidos e que possam
remeter a uma única história.

Compreende-se a importância no ato de contar histórias para crianças na educação


infantil, como um caminho no intuito de promover atitudes positivas, favorecendo tanto o
seu desenvolvimento intelectual como cultural, bem como, a criatividade, ferramentas essas
que complementam a formação da postura leitora.

Lobato (2008) afirma:

É através das histórias que a criança reflete sobre o seu próprio comportamento social e sobre o círculo em
que convive. Como já vimos, contar histórias é um manifesto cultural que é passado de geração em geração
e encontra-se marcada pelo interesse literário, proporcionando á criança a operosidade de sua fantasia, de
sua imaginação, despertando ainda exemplos morais e de prazer espiritual, além da efervescência do belo no
universo das palavras. Ao destacarmos um livro que possua todos esses atributos, podemos considerá-lo uma
ótima literatura para as crianças assim, Que reinações vamos ter hoje, narizinho? (Lobato 2008, p.14).

Quando se pergunta: Por que contar histórias para crianças? Encontram-se várias
respostas, e entre elas, simplesmente falar do prazer que ouvi-las proporciona já seria o
bastante, porém, os estudos realizados pelos teóricos mostram que vão mais além...

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa assumiu como objetivo a contação de história
como parte integrante na formação do leitor competente,
autônomo e dinâmico. O processo de desenvolvimento das
crianças se dá a partir das interações que vivenciam, sendo
assim, acredita-se que a contação de histórias na educação
infantil, contribui para este desenvolvimento, pois as histórias
que ouvem desde a mais tenra idade, permitem discutirem,
internalizar e externalizar valores morais, relacionamentos
familiares e o uso real da escrita, levando-as a conhecer LÍDIA CRISTINA ROLIM
novas palavras, a usarem a imaginação, desenvolvendo o DE PAULA PINHO
pensamento crítico, a oralidade, a criatividade, melhorando
Graduação em Pedagogia
seus relacionamentos afetivos interpessoais, auxiliando na pela Universidade Hermínio
construção da identidade do indivíduo, e abrindo espaço Ometto (2010); Professora de
para novas construções significativas e aprendizagens, que Educação Infantil no CEI Jocelyne
Guimarães Fernandes de Mello.
os motive e os inquietem na busca pelo conhecimento.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e bobices. 2 ed. São Paulo: Scipione,
1989.

BRASIL. MINISTERIO DA EDUCACAO. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros


Curriculares Nacionais. Brasília: SEF/MEC, 1997.

BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para educação


infantil. Brasília, DF: MEC, 1998.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1980.

CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis E. Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre:
Artmed, 2001.

KUHLTHAU, Carol. Como usar a biblioteca na escola: um programa de atividades para a pré-
escola e ensino fundamental. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

LOBATO, Monteiro. As reinações de Narizinho – volume 2, Monteiro Lobato, ilustrações


Paulo Borges- 2º Ed.- São Paulo, Globo, 2008.

MICHAELIS. Dicionário escolar língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2008.

PATRINI, Maria de Lourdes. A renovação do conto: emergência de uma pratica oral. São
Paulo: Cortez, 2005.

ROCHA, Ruth. Pra não vacinar a criança contra a leitura. Leitura: teoria & prática, v. 2, p.
3-10, out. 1983.

SANDRONI, Laura C; MACHADO, Luiz Raul. A criança e o livro: guia prático de estímulo a
leitura. São Paulo: Ática, 1986.

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O ENSINO DE ARTE
FRENTE ÀS TIC’S
RESUMO: O presente Artigo aborda “O Ensino de Artes Visuais frente as Tecnologias de
Informação e Comunicação”. Os objetivos foram pesquisar sobre o campo do ensino da
arte e suas relações com as tecnologias; oportunizar o estudo para os professores de arte
sobre o olhar para as tecnologias no ensino da arte e analisar como o uso das tecnologias de
informação e comunicação podem auxiliar no aprendizado dos alunos nas aulas de Artes. A
arte faz parte de to-das as transformações sociais e não teria como ficar fora dos avanços
tecnoló-gicos e ao mesmo tempo a escola também deve se adequar aos novos contex-
tos. O referencial teórico trouxe estudos sobre as tecnologias na educação e no ensino da
arte, as tecnologias da informação e comunicação, mídia e edu-cação. O estudo revelou que
os professores conhecem o termo referente às Tecnologias de Informação e Comunicação,
porém, não sabem transpor a seus alunos por isso pode-se concluir que é necessário
formação continuada, para que possam sempre se manter atualizados em seus estudos e
respecti-vamente ao surgimento de novas tecnologias para o ensino.

Palavras-Chave: Arte; Educação; Ensino; Tecnologias de Informação e Comunicação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO de aprendizagem. Para que a sala de aula


se torne um espaço de aprendizagens
A presente pesquisa tem como objetivo significativas, torna-se necessário que os dois
aprofundar estudos sobre as abordagens atores, professor e aluno, estejam presentes
teórico-metodológicas aplicadas à educação e atuantes, desencadeando o processo de
em arte no Brasil; analisar as possibilidades ensino e aprendizagem.
de utilização pedagógica das tecnologias de
infor-mação e comunicação disponíveis na A arte tecnológica está vindo com tudo
Rede Pública de Ensino. e com uma intimidade que as-susta e isso
é perceptível em nossa regência em sala de
A inserção das tecnologias em sala aula. Urge a necessi-dade do professor fazer
de aula deve ser acompanhada por uma a inserção desses recursos tecnológicos nos
metodologia adequada às necessidades dos diversos componentes curriculares para que
alunos, utilizando-as de maneira adequada e aprendizagem possa acontecer de forma
significativa, questionando o objetivo que se prazerosa e de forma que os alunos apreendam
quer atingir, levando-se em consideração o os conteúdos propostos de forma significativa
lado positivo e as limitações que apresentam e se tornem protagonistas do seu próprio
sempre com a mediação do professor que processo de aqui-sição de conhecimento.
propõe novos desafios através de situações-
problemas aos alunos para uma aprendizagem
significativa. AS TECNOLOGIAS DIGITAIS
NO SÉCULO XXI
Considera-se importante ao professor
conhecer as possibilidades meto-dológicas A utilização das tecnologias digitais
que as tecnologias trazem para trabalhar o representa o grande diferencial na educação
conteúdo, através de ati-vidades criativas, de e na produção artística. No que se refere à
um processo de desenvolvimento consciente produção Suzete Ventu-relli apresentou, o
e reflexivo do conhecimento, usando XXI Congresso Nacional da Federação dos
pedagogicamente os recursos tecnológicos, Arte-Educadores do Brasil, realizado em
com perspectiva transformadora da Brasília, um relato histórico sintético acer-ca
aprendizagem escolar. do surgimento de uma arte da tecnociência,
fundamentada no pensamento científico,
As Tecnologias de Informação e
Comunicação – TIC’s têm grande poder que compreendia propostas visuais, em que
intenções estéticas e pesquisas tecnológicas/
pedagógico, pois se utilizam da imagem. científicas, mostravam relações significativas
Assim, torna-se cada vez mais neces-sário entre experiências humanas – físicas, psicológicas
que a escola se aproprie dos recursos ou mentais – e os novos meios tecnológicos –
computadores e rede de telecomunica-ções
tecnológicos, dinamizando o pro-cesso
(VENTURELLI, 1998).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Não há como realizar um estudo da arte de ordem, [...] agora, passaram a ser: co-
ou da educação em arte, na atualidade, sem nectividade, interatividade e emergência”
considerar as possibilidades da utilização do (VENTURELLI, 1998, p. 181).
computar coo instrumento de aprendizagem
da arte ou, como um meio de produzi-la. Dessa forma, pesquisas realizadas no
campo pedagógico não podem ignorar o
Burgos (1995), afirma que os computadores potencial dos recursos do ciberespaço, como
auxiliam na formação de novas relações com espaço de desenvolvi-mento sensível da
o conhecimento, comunicação, por meio do qual brotam novos
conceitos de “partilha do conhecimento,
de maneira ‘a se eliminar a barreira que separa interatividade, extensão do pensamento e a
a ciência dos seres humanos, e estes do
conhecimento que têm de si mesmos’, alijando, cons-trução coletiva da obra, onde o autor
de forma definitiva, o analfabetismo científico, e leitor não se distinguem” (VENTU-RELLI,
uma vez que esta tec-nologia estabelece um 1998, p. 185).
contato íntimo com algumas das ideias mais
profundas da ciência, da matemática e da arte de
construir novos modelos intelectuais (BURGOS, Tais conceitos serão abordados na
1995, p. 1). terceira seção, que apresenta a pro-posta
de formação continuada dos educadores em
Fundamentada nessa premissa ela propõe arte. É importante ter em mente, ao propor
a criação de um museu vir-tual para a Arte estratégias de atuação nesse processo
Computacional, desenvolvido no Laboratório de formação, que os educadores estarão
de Imagem e Som da Universidade de Brasília, mediando o contato dos alunos com a cultura
com um meio de veiculação de produções que abriga essa nova forma de manifestação
artísticas construídas por mio de imagens e artística. Esses educadores deverão,
sonos sintéticos. portan-to, buscar no contato com a arte da
tecnociência, os conhecimentos necessá-
Este laboratório foi criado em 1989, rios ao desenvolvimento de experiências de
com o objetivo de possibilitar pes-quisas formação desses novos fruidores.
de professores e alunos de graduação e
pós-graduação do Departa-mento d Artes A próxima seção apresenta alguns fatores
Visuais, nas áreas de arte e design. relevantes para a continuida-de do processo
histórico da educação em arte. Antes, porém,
Em sua narrativa, Venturelli (1998), de dar prosse-guimento à contextualização
apresenta vários exemplos de cria-ção cultural histórica, apresentando a situação curricular
e interativa, fundamentada em comunicação atu-al, é importante destacar algumas
verbais, imagéticas, sonoras, instantâneas conclusões relevantes que deverão ser con-
entre várias pessoas distribuídas em várias sideradas na formulação da proposta.
partes do mundo ao afirmar que “as palavras

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Os estudos realizados deixam claro que o são períodos em que os protago-nistas da


processo histórico do ensino e aprendizagem história se envolvem em projetos em que
da arte articula-se com o da educação pode ser percebida a busca de uma identidade
geral, por meio de abordagens teórico- cultural nacional, ainda que desencadeadas
metodológicas, construídas com base nos por alguma influência estrangeira.
pressupostos ideológicos e filosóficos das
principais tendências pedagógicas, com as A partir do século XX podemos destacar
quais se identificam. dois momentos extremamente ricos em
experiências criativas, nas quais são visíveis
Podemos, então, concluir que as teorias tais características. O primeiro ocorreu na
educativas refletem as concep-ções filosóficas década de 20, prenunciando a revolução
que a sociedade anseia para a educação e de 30 e findou com a instalação do Estado
que seus pressu-postos sofrem, também, Novo; o segundo iniciou-se no final dos
influências de interferências socioculturais. anos 50 sendo interrompido com o golpe de
Assim, é o conhecimento dessas teorias que Estado de 1964.
instrumentaliza o educador para a constru-
ção das bases de sua filosofia de educação e Esta contextualização histórica objetiva,
que conduz sua prática pedagó-gica. ainda, contribuir com o debate iniciado por
educadores em arte que defendem uma
Apesar de recorrente nos textos e postura mais crítica em relação às práticas
discussões teóricas, principalmente nas pedagógicas desenvolvidas pelos professores
duas últimas décadas do século XX, essa de forma a desencadear interferências
argumentação não tem atingido, da forma positivas na sociedade.
esperada os professores de arte. Como já
foi dito anteriormente, é possível perceber Ao ressaltar a relevância de basear o processo
por meio das entrevistas realizadas e pela de formação dos profes-sores nesse eixo
observação das atividades desenvolvidas epistemológico,esperamosestarcontribuindopara
nas escolas que, muitos deles, por não a concre-tização das aspirações de educadores
procederem a estudos teóricos, desconhecem compromissados com a reconfiguração do
a origem das abordagens metodológicas por cenário educacional no qual a arte, certamente,
eles próprios aplicadas em sala de aula. desempenha um papel primordial.

Pela análise do processo histórico do ensino Gostaríamos de finalizar esta seção


da arte verificamos que al-guns períodos se reforçando um questionamento feito por
caracterizam por uma maior efervescência Ferraz & Fusari, em 1993 e acrescentando
cultural e um maior envolvimento de pessoas uma nova questão-desafio. A primeira
de diversas áreas do conhecimento em temas questão, feita por elas é: “que história da
educacionais e artísticos. Coincidentemente educação escolar em arte queremos fazer?

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EDUCAÇÃO EM ARTE NA Certamente as novas concepções estéticas e


PÓS-MODERNIDADE tendências da arte con-temporânea poderão
contribuir, conduzindo a docência em arte
A listagem das “interferências” relativas em direção a pedagogias capazes de orientá-
aos anos 80 e 90 citadas por Ferraz & Fusari la nesse sentido.
(1992), demonstram que grande parte dos
educadores aceitou o desafio contido na Dentre as interferências socioculturais de
questão por elas proposta: que história da maior relevância devem ser destacadas as
educação esco-lar em arte queremos fazer? novas formas de comunicação, possibilitadas
pelas tecnologias contemporâneas. Uma
O cenário sociocultural se encontra reflexão a respeito dessas novas formas de
ainda sob o impacto de algumas daquelas comunica-ção, acompanhada de uma breve
interferências, mas algumas alterações avaliação da utilização pedagógica das
devem ser registradas. A ba-talha mesmas, relacionando-as com a educação
empreendida pelos arte-educadores, em arte.
organizados em associações e mo-vimentos,
pela inclusão da obrigatoriedade da arte Doll (1997) situa a abordagem curricular
no currículo escolar, foi vencida. A reforma atual no vértice de paradigmas em modificação.
curricular aprovada tem sido implementada, Essa mudança, megaparadigmática, ocorre
submetida a diversas interpretações, como não apenas no campo das Ciências, como
veremos ainda nesta seção. Além disso, cada também das Humanidades e traz em seu bojo
vez mais se tem notícias de investigações, no-vas ideias na Cosmologia, Epistemologia
experiências pedagógicas, sistema-tizações e Metafísica.
de cursos ao nível de pós-graduação na área.
Utilizando a Ciência como referência
Barbosa (1999), apresenta em sua organizadora, ele categoriza a his-
pesquisa algumas questões em que afirma tória do pensamento ocidental em três
que os Cursos estariam “aceitando o ensino “metaparadigmas”, pré-moderno, mo-derno
contemporâneo da arte (pós-moderno) e pós-moderno. De maneira evidentemente
ou se estaria arraigada nos pressupostos resumida, suas ideias acer-ca destes
modernistas” (BAR-BOSA, 1999). paradigmas podem ser apresentadas da
seguinte forma: a ordem pré-moderna
Devido ao caráter flexibilizador da representa o antigo ideal grego de equilíbrio,
legislação, a atuação dos professores será fundamentados na Filosofia e na Ciência de
decisiva para a definição de abordagens Platão e Aristóteles, centrado na Terra, que
teórico-metodológicas capazes de vigorou até o Renascimento e contra o qual
“transfigurar a sociedade a serviço da o paradigma modernista lutou.
coletividade”, como sonhava Darcy Ribeiro.

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O pós-modernismo, como o hífen indica,


O modernismo “se concretizou nos presta atenção ao passado e ao mesmo tempo
trabalhos de Descartes e Newton, que, como transcende o passado. Isso significa que o novo
Platão e Aristóteles, representam os ramos é construído, muitas vezes, literalmente, a partir
do antigo. Neste re-lacionamento complexo, o
racionalista e empiricista do paradigma”. O futuro não é tanto um rompimento com ou uma
Pós-modernismo vêm agora lutando para síntese do passado como sua transformação. A
superar o moder-nismo, “na medida em que Arte e a Arqui-tetura pós-modernas têm assim
um “duplo código” ou duas caras, in-dicando um
desenvolveu seu próprio paradigma”. Doll presente entrelaçado com seu passado (DOLL,
(1997) aborda o assunto apresentando teses 1997, p. 23).
fundamentadas em Jürgen Habermas (1981),
Jean-François Lyotard (1984) e Charles A pós-modernidade descarta a esterilidade
Jencks (1987). da metodologia curricular adotada
modernismo, caracterizada por um sistema
Habermas (1981), segundo ele, acredita fechado, na qual “os fins são externos ao
no projeto da modernidade ba-seado na ideia processo, não existe uma dinâmica entre a
de que as “tradições da cultura, incluindo a teoria e o fato, a imaginação e a praticalidade;
Filosofia, a Arte e a Ciência, ainda podem tudo que é verdadeiro, fatual ou real é
desempenhar um papel importante neste descober-to, não criado” (DOLL, 1997).
projeto não cumprido, se conseguirmos
religar ‘cultura moderna com a práxis O currículo científico centrado no
do cotidiano de uma maneira dialógica” diagnóstico das lacunas, na medição dos
HABERMAS, 1981 apud DOLL, 1997, p. 13). déficits, com a finalidade de determinar
objetivos desejáveis, definidos em termos
Ao afirmar que Habermas estaria criando “precisos, práticos e mensuráveis”,
um metadiscurso baseado em narrativas preocupado em criar normas a se-rem
grandiosas, essência da Filosofia Ocidental seguidas para “transferir” o conhecimento e
desde Platão até o sé-culo XIX, doa qual o em detectar os erros dos alu-nos não mais
pós-modernismo deveria escapar. Lyotard, atende às necessidades pós-modernas.
na opinião do próprio Doll (1997), teria Jean Piaget e Noam Chomsky preocuparam-
ignorado o potencial transformador da se, também , em desenvol-ver estudos
conservação dialógica de Habermas, no visando diagnósticos das capacidades de
que diz respeito tanto os participantes linguagem, todavia, apesar da modernidade
quanto ao que está sendo discutido e, se sugerida pela rígida separação entre os
utiliza do discurso de Jenks para afirmar: estágios de desenvolvimento previsto por
“am-bos [Habermas e Lyotard] estariam Piaget e a categórica separação entre a
focando em seu debate formas extremas de mente e a matéria proposta por Chomsky,
modernismo” que ele rotula como “ultra, alto seus modelos são mais bem aceitos pelo
tardio ou arquimodernismo, mas não pós- pós-modernismo, tendo em vista que
modernismo” (JENKS, 1987). “ambos deixaram de lado os déficits de de-

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sempenho para focar os poderes potenciais como o “segundo dilúvio”, gerado pela
– a competência: poderes que po-diam tanto natureza exponencial, explosiva e caótica
transformar quanto ser transformados” das telecomunicações. Neste mar de
(DOLL, 1997, p. 66). informações navegam as arcas, que diferem
da arca do primeiro dilúvio por não serem
Ana Mae Barbosa (2001), vai mais além estanques. Elas trocam sinais e abrigam
na demonstração da pós-modernidade pequenas totalidades que não se pretendem
de Dewey, ao analisar duas posições universais. Apenas o dilúvio é universal
contraditórias acerca da arte: de um lado (LÉVY, 1999).
naturalista, em Experience and nature e, de
outro, pragmatista, em Art as experience. Tal Outro dilúvio é representado pelo
contradição seria o reflexo de uma grande crescimento demográfico. Os homens
ruptura ocorrida na história da arte, que inundam a terra. Frente a este novo dilúvio,
separa o contexto em que foram escritas as telecomunicações podem ser utilizadas
as duas obras: o salto da arte naturalista, para a exaltação do humano, valor maior,
considerada como representação da sem preço. Essa valoriza-ção implica a
natureza - contemporânea dos primeiros tecitura de relações, “o reconhecimento do
anos de Dewey como intelectual - para valor do outro, a acei-tação e ajuda mútuas,
uma arte liberta (no início do século XX) do a cooperação, a associação, a negociação,
“comando naturalista/realista”, porém, ainda para além das diferenças de pontos de vista
desvinculada do expressionismo modernista. e de interesses” (LÉVY, 1999, p. 14).

Segundo Barbosa (2001), justamente “[...] Nesse novo dilúvio universal se constrói
em função do modernismo e já respondendo uma nova forma de cultura, a cibercultura,
e se opondo ao conceito modernista de resultado do progresso das tecnologias
expressão que Dewey constrói a teoria da digitais de informação e comunicação “que
arte como experiência” (BARBOSA, 2001, p. se encontra em andamento e da mutação
19). global que dela resulta”. Esta nova espécie
de cultura revela um “conjunto de técnicas
(materi-ais e intelectuais), de práticas, de
O ENSINO DE ARTE atitudes, de modos de pensamento e de
FRENTE AS TECNOLOGIAS valo-res que se desenvolvem juntamente
com o crescimento do ciberespaço” (LÉ-VY,
DE INFORMAÇÃO E 1999, p. 17).
COMUNICAÇÃO – TIC’S
O ciberespaço, ou simplesmente rede,
Fomos invadidos por um dilúvio de segundo Parente (1999), é um novo
informações, denominado por Roy Ascott espaço de comunicação que integra a

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cibernética, a computação, a in-formação e a sob pena de exclusão dos novos modelos


comunicação. Ele surge da intercomunicação sociais por ela criados, sob pena de ficarmos
entre computado-res. Ele é o suporte da “à deriva no meio de suas correntes” (LÉVY,
inteligência coletiva, das redes digitais 1999, p. 30).
interativas, as quais reinventam o movimento
social e suscitam novas formas de saber e de A rede telemática representa, “um
pensar e pode ser definido. reservatório, uma matriz dinâmica a partir da
qual o navegador, participante, criador, leitor
Como o espaço do novo nomadismo, que não ou usuário, pode engen-drar documentos
é território geográfi-co, nem de instituições
ou de Estados, mas um espaço invisível de específicos, segundo as necessidades do
conhecimentos, de saberes, potências de momento” (VEN-TURELLI, 1998).
pensamentos que brotam e transformam
qualidades do ser, maneiras de se constituir
O ciberespaço, por meio das redes
sociedades (VENTURELLI, 1998).
telemáticas, tem sido utilizado para se
Segundo Venturelli (1998), as produzir educação a distância, pois amplia
telecomunicações passam a ter um papel as possibilidades de comunica-ção “de
chave como elemento catalisador no forma multidirecional entre estudantes, o
processo de troca de informações multidi- centro produtor dos cursos e toda a rede de
recionais, no qual as culturas locais e informações que possam contribuir para o
regionais adquirem nova dimensão, na desenvolvimento dos assuntos estudados”
medida em que pessoas de diferentes partes (VENTURELLI, 1998).
do mundo podem entrar em con-tato com
outras culturas, por meio de hipertextos Além das possibilidades de comunicação
(que são bancos de dados interligados de via correio eletrônica, que in-cluem as listas
estrutura não linear, idealizado nos anos de discussão, pode ser utilizada a tutoria em
60 por Ted Nelson, que permitia ao usuário tempo real, por meio de videoconferências
seguir trilhas associativas de pensamento ou de sistemas que utilizam Chat, ou mesmo
em um do-cumento. Trata-se de uma cadeia a Re-alidade Virtual (RV), “que compreende
de informações ligadas de maneira criativa, mundos virtuais tridimensional, com-
por meio de nós e de links entre estes nós, os postos de objetos, textos, imagens, sons
quais possibilitam a passagem de um nó para e foi criada para virtualizar o ciberes-paço,
o outro, conduzindo o leitor, o navegador a [possibilitando] uma grande interação
outro), sistemas es-pecialistas, simulações entre usuários da rede e o que está sendo
interativas e outros mundos virtuais. proposto”, permitindo uma percepção visual
de diversos pontos de vista, acarretando,
Essa movimentação, cada vez mais segundo Kerckhove (1997), mudanças
acelerada, torna necessária a inser-ção psicológicas decor-rentes da exteriorização
imediata de todos indivíduos na cibercultura, da nossa consciência pessoal comum.

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Além de verificar quais as possibilidades O diálogo verdadeiro, segundo Freire


de comunicação proporciona-das pelas (1987), deve ser um pensar crítico, que
Tecnologias de Informação e Comunicação, “não aceitando a dicotomia homens-mundo,
para a formação conti-nuada dos professores, reconhece entre eles uma inquebrantável
torna-se necessário pensar a respeito de como solidariedade [...]; que percebe a realidade
utilizá-las. Ao propor o desenvolvimento de como processo que capta um constante
um processo de formação continuada dos devenir [...] e ‘banha-se’ permanentemente
educadores em arte, torna-se necessário de temporali-dade cujos riscos não teme
apresentar os pressupostos da abor-dagem (FREIRE, 1987, p. 2). Quando o inesperado
construcionista que serão aplicados, bem como se manifesta, afirma Moraes (2000), o
proceder a reflexões acerca dos conceitos que formador, o mediador deve estar preparado
envolvem a mediação pedagógica. para rever suas teorias e ideias.

A mediação, segundo Moraes (2000) Aprender é, segundo Almeida (2000),

é um processo comunicacional, conversacional, descobrir significados, atuar em colaboração,


de co-construção, cujo objetivo é abrir e elaborar novas sínte-ses e criar elos entre a
facilitar o diálogo e desenvolver a negociação parte e o todo, unidade e diversidade, razão
significativa de processos e conteúdos a serem e emoção, advindos da investigação sobre
trabalhados, bem como incentivar a construção dúvidas temporárias, cuja compreensão leva à
de um saber relacional, contextual, ge-rado na elaboração de certezas provisórias ou a novos
interação professor/alunos (MORAES, 2000). questionamentos (ALMEIDA, 2000).

O conhecimento é, portanto, co-


construído, ensejando mudanças pro- Ainda que esse tipo de mediação seja,
porcionadas por reflexões originadas organizada a partir de uma visão complexa, tecida
do processo dialógico, fundamentado em conjunto, em uma associação entre indivíduos
em interações, em conversações que se e meio, como quer Morin (2000) é necessário
estabelecem de forma que cada elemento “que os contornos da proposta sejam mais ou
influencia a autopoiese do outro, gerando, menos definidos para que o aprendiz/aprendente
uma conversação voltada para o processo possa entregar-se à mediação em busca de novos
de construção do conhecimento em um significados geradores de mudanças em si mesmo
movimento espiralado, e no outro” (MORAES, 2000).

fundamentado em posturas reflexivas, as É na práxis que o homem centra o


quais geram um ambiente cooperativo e
estruturalmente solidário, e que evita a resposta movimento em que se re-faz. Ao se constatar
autori-tária, automática, centrada na certeza e como um ser inconcluso, vai buscar na
na posse da verdade, o que permite um olhar educação, na relação entre teoria e prática,
mais aprofundado do pesquisador, que facilita o
surgimento de novas visões e a co-construção a complementação do jogo permanência-
da realidade (MORA-ES, 2000). mudança, com o qual tenta se concluir.

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Ao refletir sobre a prática, o homem entra em ressonância com a teoria implícita,


permitindo que o conhecimento que a permeia se revele, se desdo-bre, e se transforme,
gradualmente, na busca de uma transcendência para es-tágios evolutivos superiores, em
função do processo de auto-organização sis-têmica (MORAES, 2000).

No campo educacional existe uma necessidade de conhecimentos aprofundados sobre as


Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC’s rumo à compreensão de suas múltiplas
relações com a cultura e com a arte, para que, a partir de sua análise e aplicação possam gerar
novas concepções do ensino da arte próprios da nova era digital, que suscita diversificadas
rela-ções humanas na constituição cultural da sociedade contemporânea.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As teorias educativas refletem as concepções filosóficas
que a socieda-de anseia para a educação e que, seus
pressupostos sofrem, também, in-fluências de interferências
socioculturais. É o conhecimento dessas teorias que
instrumentaliza o educador para a construção das bases
de sua filosofia de educação e que irá conduzir sua prática
pedagógica. É na reflexão funda-mentada na práxis que o
educador evolui e é na vivência/convivência que ocorre a
construção do conhecimento. LIDYANE RAFAELA
ALMEIDA SANTOS
É de fundamental importância basear o processo de
Graduação m em Pedagogia com
formação dos pro-fessores em um eixo epistemológico, habilitação com Administração
fundamentado na articulação entre teoria e prática, esperamos pela FICS – Facul-dades Integradas
estar contribuindo para a concretização das aspirações Campos Salles, 2006; Professora
de Ensino Fundamental na EMEF
de educadores compromissados com a reconfiguração do Júlio de Oliveira.
cenário educacional no qual a arte, certamente, desempenha
um papel primordial.

As tecnologias usadas com fim educacional/pedagógico


ampliam as possibilidades de o professor ensinar e o aluno
aprender. Quando utilizada com significado e critério, a
tecnologia pode contribuir para a produção do co-nhecimento
e a melhoria do processo ensino-aprendizagem.

O professor precisa buscar conhecer e estar consciente de que a ado-ção de tecnologias


da informação e da comunicação na área educacional tem reflexos na sua prática docente e
nos processos de aprendizagem, conduzin-do para a apropriação de conhecimentos.

Através da pesquisa realizada verificou-se, através do relato dos profes-sores, a importância


do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação pelo aumento do interesse, participação
e motivação dos alunos, a aprendiza-gem mais significativa e a aula produtiva e dinâmica,
facilitando a problemati-zação dos conteúdos.

Para um uso significativo das tecnologias, que traga resultados no pro-cesso de ensino e de
aprendizagem, evidencia-se a necessidade da formação e o aperfeiçoamento dos docentes
quanto ao uso das tecnologias da informa-ção e coamunicação.

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EDUCAÇÃO ESPECIAL DE ALUNOS COM


SÍNDROME ALCOÓLICA FETAL
RESUMO: A síndrome alcoólica fetal é uma condição em uma criança que resulta da exposição ao
álcool durante a gravidez da mãe. A síndrome alcoólica fetal causa danos cerebrais e problemas
de crescimento e dificuldades de aprendizado. Os problemas causados ​​pela síndrome alcoólica
fetal variam de criança para criança, mas os defeitos causados ​​pela síndrome alcoólica fetal
não são reversíveis, em casos específicos deve-se buscar atendimento especializado. Não há
quantidade de álcool que seja seguro consumir durante a gravidez. Se você beber durante a
gravidez, você coloca seu bebê em risco de síndrome alcoólica fetal. Com o diagnóstico precoce
podemos ajudar a reduzir o risco de problemas de longo prazo para crianças com síndrome
alcoólica fetal.

Palavras-Chave: Inclusão; Educação; Alcoolismo; Síndrome; Atendimento.


INTRODUÇÃO
Como definição, pode-se dizer que a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) ou Efeito Alcoólico Fetal é
a: “manifestação de defeitos neonatais específicos de crescimento, mentais e físicos associados ao
alto consumo de álcool pela mãe durante a gestação” (TANGO, 2000).
Apesar da associação de álcool com gravidez ser assunto de literatura médica há mais de
250 anos, foi somente em 1973 que Jones e Smith denominaram a Síndrome Alcoólica Fetal,
descrevendo oito casos de crianças nascidas de mães alcoólicas.A partir desta descrição foi possível
se constatar um padrão específico de atraso no crescimento (desenvolvimento pré e pós-natal) e
malformações em recém-nascidos de mães com consumo pesado de álcool durante a gravidez.
Outras características da SAF também foram descritas como: “hirsutismo, anormalidades cardíacas
(defeitos do septo ventricular), anomalias articulares (luxação congênita do quadril, limitação
dos movimentos do cotovelo), alteração da prega palmar, anomalias de genitália externa (vagina
biseptada, hipoplasia de grandes lábios), hemangioma capilar, disfunção respiratória, disfunção
metabólica (hipoglicemia, hiperbilirrubinemia), disfunção motora fina (tremores, sucção fraca)”.

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Pode-se, então, a partir destes critérios, com dificuldade de aprendizagem escolar,


fazer o diagnóstico, observando-se também delinquência juvenil, drogadicção, etilismo e
as características físicas apresentadas acima. alta taxa de desajuste social (SERRAT, 2001).
Mas, nem sempre isto é possível, visto que, No ano de 1991, a American Academyof
muitas vezes, a criança não apresenta nenhum Family Physicianpublicou uma estimativa de
defeito físico. Mais difícil ainda é detectar a que 50 a 70% dos recém-nascidos de mães
SAF em crianças recém-nascidas, quando não alcoólicas apresentavam sinais da SAF (PINHO,
há sinais físicos, já que, nesse momento, ainda PINTO & MONTEIRO, 2006), relacionando
não é possível detectar a deficiência mental. assim, o uso indevido de álcool por gestantes
Assim sendo, muitos casos são diagnosticados aos danos permanentes causados na criança
somente por volta dos três ou quatro anos que adquiriu a síndrome.
de idade. Ainda sobre a dificuldade de se Para complementar estes dados pode-se
diagnosticar a SAF, COSTA (2012) fala que: buscar informações nas pesquisas de Passini
Nestes casos, para se chegar ao diagnóstico, e Amaral (1995), que descrevem que o efeito
sem que se apresentem os sinais físicos, devem do álcool na gravidez está relacionado à
ser observados alguns fatores indicativos na idade gestacional, a concentração sanguínea
criança, desde o seu nascimento, como baixo do produto e a cronicidade do uso. O álcool
peso, irritabilidade e dificuldade de sucção. ingerido atravessa a placenta e os níveis no
Deve-se sempre levar em conta que a SAF tem feto são semelhantes aos do sangue materno,
causa ambiental, ou seja, é ocasionada e está ou seja, faz com que o bebê receba as mesmas
diretamente ligada ao comportamento dos concentrações de álcool que a mãe, sendo o mais
pais. Diante deste fato, o acompanhamento da sério efeito disto, a disfunção do sistema nervoso
gestante que faz uso abusivo de álcool deve central (SNC) com retardo no desenvolvimento
servir de parâmetro para oferecer o suporte mental e psicomotor, após o período pós-natal
necessário ao bebê, pois como já se sabe o (LITTLE et al., 1989). Além disto, o álcool age,
consumo de álcool por gestantes pode produzir inicialmente, no desenvolvimento cerebral do
danos físicos e mentais irreversíveis. feto que tem como consequência os déficits
Não há uma criança que reúna todas as cognitivos e os problemas comportamentais.
características da SAF, ou seja, cada criança
sofre de um determinado conjunto de efeitos. SINDRÔME ALCOÓLICA
Além disto, existem também casos em que os FETAL O ESTÁGIO DE
sinais citados acima são pouco visíveis e, nestes
casos, para se fazer o diagnóstico da síndrome, AMAMENTAÇÃO
deve-se usar o termo Efeito Alcoólico Fetal. Esta Na amamentação o álcool também é
síndrome também tem como causa, o consumo transferido para a criança através do leite
de bebida alcoólica durante a gravidez, porém materno, causando efeitos negativos como:
em menor proporção e está diretamente relaxamento e possível estimulação do sono,
relacionada a crianças ou adolescentes perturbações no sono, no desenvolvimento

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neuromotor e na aprendizagem (COSTA, 2012). possuírem a mesma síndrome e partilharem do


A quantidade de álcool permitida para mesmo contexto familiar, o perfil fonoaudiólogo
consumo por uma gestante, não está definida deles era diferente. Estes estudos mostram
na literatura, no entanto: “evidências recentes que dificuldades mais graves na capacidade
sugerem que mesmo uma dose por semana comunicativa podem estar associadas a períodos
está associada à possibilidade de dificuldades mais elevados de exposição ao álcool durante
mentais” (GRINFELD, 2005).Por isso, o as fases mais críticas de desenvolvimento
Ministério da Saúde recomenda a abstinência fetal. (GARCIA,ROSSI e GIACHETI, 2007).
total, desde a concepção e durante todo o Sendo assim, pode-se afirmar que os efeitos
período de gravidez e amamentação. do álcool se apresentam em diferentes graus
Em relação à maioria dos casos das crianças de comprometimento de acordo com a idade
com a SAF, suas mães são dependentes crônicas gestacional. Sobre sito, Costa nos fala que:
do álcool e beberam pesado durante a gravidez.
Estudos realizados constataram que no caso No primeiro trimestre da gravidez, o feto corre
de uma segunda gravidez, em que a primeira o risco de sofrer malformações e dimorfismo
gestaçãofoi afetada pelos efeitos nocivos do facial, uma vez que se trata de uma fase crucial
etanol,existe risco de 75% de surgir a SAF na da organogénese. No segundo trimestre,
segunda gravidez, com quadros mais graves aumenta a incidência de abortos espontâneos.
do que no primeiro filho (GRINFELD, 2005). No terceiro trimestre, outros tecidos do sistema
Infelizmente muitas mulheres, que consumiram nervoso são afetados, como o cerebelo, o
álcool na primeira gravidez,continuam fazendo hipocampo, o córtex pré-frontal; assim como se
o uso da bebida nas próximas gestações, muitas verifica um atraso no crescimento intrauterino
delas desconhecem até que o primogênito e há comprometimento do parto, aumentando
tenha a SAF. Essa condição é comum, já que a probabilidade de infecções, descolamento
estas mães não se atentam aos filhos, em função da placenta antes do tempo, parto prematuro
da dependência do álcool e, assim, muitos sinais e sofrimento do feto devido à presença de
acabam passando despercebidos, o que se mecônio no líquido amniótico. (Costa 2012,
repete com futuros filhos. p.35)
É importante ressaltar que a SAF não se Como descreve a autora acima o feto fica
apresenta da mesma forma em todos os exposto aos efeitos nocivos do álcool desde
indivíduos, ela apresenta diferentes níveis quando é concebido, correndo o risco de sofrer
de comprometimento que variam de acordo uma série de comprometimentos. É importante
com a quantidade de álcool ingerido e a idade ressaltar que o consumo do álcool na gravidez
gestacional na qual o bebê foi exposto. Ao é prejudicial à criança, não somente quando a
falarmos de efeitos distintos em irmãos com mesma está sendo gerada, mas por toda vida,
SAF, podemos citar o trabalho desenvolvido uma vez que a SAF é uma condição que a
por uma fonoaudióloga, que avaliou cada um acompanhará por toda a sua existência.
deles e constatou que apesar dos dois irmãos Devido a essa condição permanente, deve-

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se pensar na criança com a síndrome como neuromotor e na aprendizagem (COSTA,


todo, ou seja, como ser social, indivíduo este 2012).
que com apoio e suporte tem totais condições A quantidade de álcool permitida para
de se relacionar com o mundo ao seu redor, consumo por uma gestante, não está definida
mesmo com suas limitações. A escola tem papel na literatura, no entanto: “evidências recentes
fundamental nesse processo, pois é nela que os sugerem que mesmo uma dose por semana
alunos com Necessidades Especiais interagem está associada à possibilidade de dificuldades
com o outros, mostram seus potenciais e se mentais” (GRINFELD, 2005).Por isso, o
desenvolvem. Carneirocita que: Ministério da Saúde recomenda a abstinência
...os portadores de deficiência precisam ser total, desde a concepção e durante todo o
considerados, a partir de suas potencialidades de período de gravidez e amamentação.
aprendizagem. Sobre esse aspecto é facilmente Em relação à maioria dos casos das crianças
compreensível que a escola não tenha de com a SAF, suas mães são dependentes
consertar o defeito, valorizado as habilidades crônicas do álcool e beberam pesado durante
que o deficiente não possui, mas ao contrário, a gravidez. Estudos realizados constataram
trabalhar sua potencialidade, com vistas em seu que no caso de uma segunda gravidez, em
desenvolvimento. CARNEIRO (1997, p.33) que a primeira gestaçãofoi afetada pelos
Por esse motivo a escola deve estar preparada efeitos nocivos do etanol,existe risco de
para receber o alunocom necessidades 75% de surgir a SAF na segunda gravidez,
especiais, ter consciência da sua importância na com quadros mais graves do que no primeiro
vida deles. Este é um ponto chave que deve ser filho (GRINFELD, 2005).Infelizmente muitas
trabalho com os profissionais de educação, para mulheres, que consumiram álcool na primeira
que se possa atender as necessidades de todos gravidez,continuam fazendo o uso da
os alunos, respeitando suas particularidades e bebida nas próximas gestações, muitas delas
garantindo assim a permanência dos educandos desconhecem até que o primogênito tenha
na Rede Regular de Ensino. a SAF. Essa condição é comum, já que estas
mães não se atentam aos filhos, em função da
SINDRÔME ALCOÓLICA dependência do álcool e, assim, muitos sinais
FETAL O ESTÁGIO DE acabam passando despercebidos, o que se
repete com futuros filhos.
AMAMENTAÇÃO É importante ressaltar que a SAF não se
apresenta da mesma forma em todos os
indivíduos, ela apresenta diferentes níveis
Na amamentação o álcool também é de comprometimento que variam de acordo
transferido para a criança através do leite com a quantidade de álcool ingerido e a idade
materno, causando efeitos negativos como: gestacional na qual o bebê foi exposto. Ao
relaxamento e possível estimulação do sono, falarmos de efeitos distintos em irmãos com
perturbações no sono, no desenvolvimento SAF, podemos citar o trabalho desenvolvido

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Revista Educar FCE - Abril 2019

por uma fonoaudióloga, que avaliou cada álcool na gravidez é prejudicial à criança, não
um deles e constatou que apesar dos dois somente quando a mesma está sendo gerada,
irmãos possuírem a mesma síndrome e mas por toda vida, uma vez que a SAF é uma
partilharem do mesmo contexto familiar, condição que a acompanhará por toda a sua
o perfil fonoaudiólogo deles era diferente. existência.
Estes estudos mostram que dificuldades Devido a essa condição permanente, deve-
mais graves na capacidade comunicativa se pensar na criança com a síndrome como
podem estar associadas a períodos mais todo, ou seja, como ser social, indivíduo este
elevados de exposição ao álcool durante as que com apoio e suporte tem totais condições
fases mais críticas de desenvolvimento fetal. de se relacionar com o mundo ao seu redor,
(GARCIA,ROSSI e GIACHETI, 2007). Sendo mesmo com suas limitações. A escola tem
assim, pode-se afirmar que os efeitos do papel fundamental nesse processo, pois é nela
álcool se apresentam em diferentes graus de que os alunos com Necessidades Especiais
comprometimento de acordo com a idade interagem com o outros, mostram seus
gestacional. Sobre sito, Costa nos fala que: potenciais e se desenvolvem. Carneirocita
que:
No primeiro trimestre da gravidez, o
feto corre o risco de sofrer malformações ...os portadores de deficiência precisam ser
e dimorfismo facial, uma vez que se trata considerados, a partir de suas potencialidades
de uma fase crucial da organogénese. No de aprendizagem. Sobre esse aspecto é
segundo trimestre, aumenta a incidência de facilmente compreensível que a escola não
abortos espontâneos. No terceiro trimestre, tenha de consertar o defeito, valorizado as
outros tecidos do sistema nervoso são habilidades que o deficiente não possui, mas
afetados, como o cerebelo, o hipocampo, o ao contrário, trabalhar sua potencialidade, com
córtex pré-frontal; assim como se verifica vistas em seu desenvolvimento. CARNEIRO
um atraso no crescimento intrauterino e há (1997, p.33)
comprometimento do parto, aumentando a
probabilidade de infecções, descolamento da Por esse motivo a escola deve estar
placenta antes do tempo, parto prematuro preparada para receber o alunocom
e sofrimento do feto devido à presença de necessidades especiais, ter consciência da
mecônio no líquido amniótico. (Costa 2012, sua importância na vida deles. Este é um
p.35) ponto chave que deve ser trabalho com os
profissionais de educação, para que se possa
Como descreve a autora acima o feto fica atender as necessidades de todos os alunos,
exposto aos efeitos nocivos do álcool desde respeitando suas particularidades e garantindo
quando é concebido, correndo o risco de assim a permanência dos educandos na Rede
sofrer uma série de comprometimentos. Regular de Ensino.
É importante ressaltar que o consumo do

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ESCOLA COMO ESPAÇO DE com a inclusão escolar, todos, sem discriminação,


INCLUSÃO têm o mesmo direito, independente de suas
condições físicas e mentais, visando formar uma
Atualmente os alunos com deficiência mental sociedade justa e igualitária. Conforme Glat&
estão matriculados em escolas regulares e isso Oliveira (2003):
é um avanço em relação ao passado, onde a No modelo de inclusão propriamente dita,
maioria das pessoas com necessidades especiais esses alunos independente do tipo ou grau de
eram marginalizadas e excluídas socialmente. comprometimento, devem ser matriculados
A educação, no contexto segregacional, foi diretamente no ensino regular, cabendo à escola
substituída pelo contexto inclusivo, sendo que: se adaptar para atender às suas necessidades na
A educação, que era parte fundamental classe regular. (GLAT & OLIVEIRA, 2003, p. 12)
neste processo, teve que sofrer uma radical O conceito de inclusão é um desafio para
transformação. Em todo o mundo, até aquele educação, uma vez que define que o direito à
momento, as pessoas com deficiência haviam educação é para todos, entre eles o aluno com
sido colocadas á margem da educação: o aluno NEE. De acordo com a Declaração de Salamanca
com deficiência, particularmente, era atendido (BRASIL, 1994):
apenas em separado ou simplesmente excluído
do processo educativo que tinha por premissa As escolas devem acolher todas as crianças,
que os alunos deveriam obedecer a padrões de independentemente de suas condições físicas,
normalidade. (BRASIL, 2000, p. 83) intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou
A Educação Inclusiva fundamenta-se na outras. Devem acolher crianças com deficiência e
Constituição Federal de 1988, artigo 5, que crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas
garante a todos o direito à igualdade, e artigo e que trabalham; crianças de populações distantes
205 quefala da educação como um direito de ou nômades; crianças de minorias linguísticas,
todos, visando o “pleno desenvolvimento da étnicas ou culturais e crianças de outros grupos
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas.
e sua qualificação para o trabalho" (BRASIL, (SALAMANCA, 1994).
2004). Pode-se, a partir daí, promover a inclusão
educacional de pessoas com deficiência mental. Sabe-se que a escola deve estar preparada
Vários documentos vigentes amparam os alunos para receber e atender os alunos com NEE, mas
com Necessidades Educacionais Especializadas também que este é um grande desafio, pois
(NEE), priorizando a sua inserção na Rede Regular depende de uma reorganização do contexto
de Ensino. A Constituição Federal de 1988 prevê escolar. Quando se fala em inserção escolar
em seu artigo 208, inciso III, que “é dever do do aluno com SAF, criança esta que dentre
Estado, com a educação, garantir o atendimento os vários comprometimentos possui oatraso
educacional especializado aos portadores de mental, deve-se considerar a necessidade de
deficiência, preferencialmente na rede regular de uma reestruturação na escola e nas práticas
ensino” (CF, 1988). Neste sentido, entende-se que, pedagógicas. "Acreditamos, que ao incluir o aluno

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com deficiência mental na escola regular, estamos


exigindo desta instituição novos posicionamentos
diante dos processos de ensino e de aprendizagem,
à luz de concepções e práticas pedagógicas mais
evoluídas" (MANTOAN, 1997, p.120).
É através de reflexão e planejamento que
a escola regular consegue incluir e adaptar os
alunos com NEE, garantindo a permanência dos
mesmos. Quando Mantoan (1997) fala de práticas
pedagógicas evoluídas ela se refere ao professor
flexível, facilitador de aprendizagem, que tem a
sensibilidade de evidenciar em cada criança o seu
potencial, considerando o aluno um ser único e
respeitando a heterogeneidade de crianças em
sala de aula.

DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO DE ALUNOS
COM SAF
Levando em consideração que o processo
de aprendizagem não depende somente do
educador, mas também do aluno que possui
seu próprio tempo para aprender, o professor
deve ter sensibilidade e organizar um ambiente
propício para o avanço do aluno, respeitando
suas limitações e evitando qualquer atitude
discriminatória.
O professor que recebe uma criança com SAF
deve compreender que ela pode aprender e que a
escola é fundamental e útil para sua vida. Muitos
professores apresentam dificuldades em aceitar
alunos que não progridam a um ritmo tido como
normal, mostrando-se resistente a estes alunos
com SAF, por estes apresentarem dificuldades.
De acordo com Costa:

Um aluno com SAF apresenta deficiência em

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suas funções executivas, logo tem dificuldade em e as dificuldades do aluno com SAF para que
manter comportamentos dirigidos para metas, dessa forma faça a intervenção pedagógica
utilizando informações armazenadas na memória adequada. Deve ser observador e estar atento às
de trabalho. O professor pode adotar estratégias potencialidades dos seus alunos, bem como, às
baseadas na orientação visual externa para gerir suas individualidades. O papel do professor é de
seu comportamento (COSTA, 2012, p.56). suma importância, assim como relata Fernandes:

A adaptação do currículo se faz necessária para A educação, e o professor como agente da


que se obtenha êxito no processo de aprendizagem mesma, deverá ter em conta dimensões como:
do aluno com SAF e essa necessidade não se dá a necessidade de ter em consideração todas as
somente para respeitar a heterogeneidade da potencialidades dos educandos e não apenas a
sala, mas sim a particularidade de cada um. É sua inteligência ou memória; o desenvolvimento
impossível falar de inclusão escolar sem levar e fomento de equilíbrio afetivo, familiar e pessoal;
em conta a singularidade de cada aluno, já que a preparação dos educandos para o futuro,
essa diferenciação é imprescindível. “Não é tornando-os independentes e conscientes das
possível continuar a pensar a educação escolar suas responsabilidades; a criação de hábitos
como um projeto a ser desenvolvido através de trabalho e o desenvolvimento da iniciativa
de intervenções dissociadas dos contextos e e da criatividade dos alunos, da autonomia e
das pessoas que nele se encontram envolvidas” corresponsabilidade. (FERNANDES, 1997, p.52)
(COSME, TRINDADE, 2002, p.71).Não podemos
pensar em educação inclusiva sem levar em conta
o aluno dentro de sua totalidade, suas vivências e E, para que o desenvolvimento e preparação
realidade.Conhecer o aluno, seu contexto social, do futuro das crianças com SAF seja possível, a
bem como a sua realidade são pontos primordiais intervenção precoce se torna imprescindível, pois,
para se desenvolver um plano de ensino onde os quanto mais tarde intervimos no desenvolvimento
objetivos e os conteúdos se entrelacem. deste aluno, mais graves poderão se tornar as
O professor consegue mediar o aprendizado do suas dificuldades.Muitos desses danos podem ser
aluno com necessidades educacionais especiais suavizados pela intervenção precoce e sobre isto
quando ele se dá conta do seu papel no processo Paineira (2005) esclarece:
de inclusão, pois a partir dessa conscientização Acredita-se ainda que a estimulação
o educador começa a traçar metas para o precoce possa focalizar a melhoria do
educando, sendo flexível, fazendo adaptações e desenvolvimento sensório-motor e social do
intervenções pedagógicas necessárias para que bebê. Além disto, ela também influencia processos
esse aluno avance e se desenvolvade fato. mais complexos de aprendizagem. Através
de métodos, técnicas e materiais específicos,
INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS E AS INST procura explorar o potencial de cada paciente,
NCIAS NO APRENDIZADO objetivando o controle de atividade tônica, trocas
posturais, aquisição e manutenção de posturas,
O professor deve conhecer as características

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estimulando o desenvolvimento neuropercepto no processo de aquisição do conhecimento.


motor. (PAINEIRA, 2005. p.58) Levando em conta o comprometimento do
Apesar de a estimulação precoce atender aluno, o educador deve, sempre que necessário,
crianças de até seis anos de idade ela tem como designar-lhe um tempo maior para a realização
prioridade intervir com as crianças de zero a das atividades, estabelecendo um ritmo
três que apresentam deficiência ou risco de adequado para o mesmo. É importante também
atraso grave no desenvolvimento. O programa que o profissional de educação seja flexível e
de estimulação precoce conta com uma equipe que desenvolva estratégias que favoreçam o
multidisciplinar, que de acordo com a necessidade processo de ensino aprendizagem, considerando
das crianças atendidas, vão incorporando as limitações ou dificuldades do aluno com SAF.
profissionais das mais diversas áreas. Sobre a Em relação a algumas estratégias que podem
equipe multidisciplinar para estimulação precoce ser utilizadas em sala de aula com estes alunos,
de crianças com SAF, Paineira fala que: Costa descreve:
É bastante comum que durante o Por exemplo, para fazer face ao problema
acompanhamento de crianças com SAF, neste de concentração o aluno poderá sentar-se
programa especificamente, sejam demandadas a continuamente nos lugares da frente da sala;
ação de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, relativamente à informação a registrar, o ideal será
fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais e facultar uma cópia em papel ao aluno para evitar
pedagogos(PAINEIRA, 2005. p.65). que se distraia enquanto copia manualmente e
Além do atendimento com esses diversos para fazer face à geral deficiência da ortografia.
profissionais, a criança com SAF precisa de um Nesta última situação seria pertinente o acesso a
acompanhamento na escola e muitas vezes um computador na sala de aula.
o professor não sabe como inclui-la no grupo A melhor atitude a adotar pelo professor
com os colegas e nas atividades.Em relação ao como forma de lidar com os alunos com SAF
planejamento pedagógico, Costa ressalta que: em situações mais agressivas direcionadas aos
No que diz respeito à sala de aula ou das colegas é a de retirá-los da atividade em que se
atividades, o ambiente de aprendizagem deve encontram e calmamente integrá-los noutra,
possuir uma atmosfera calma, silenciosa e com em detrimento da aplicação de castigos, pois
poucas distrações. As atividades devem obedecer dificilmente entenderiam a razão dos mesmos.
a uma estrutura básica, começando com exercícios O professor deve ter em consideração o reforço
sensoriais que permitam ao aluno a reação de positivo como estratégia para motivar os alunos
informação que, por si só, ele não seria capaz de na continuidade das tarefas. Se por alguma razão
procurar. (COSTA, 2012, p.56) o aluno não mostra qualquer resultado há que
partir noutras direções e tentar algo diferente,
O professor deve ser um orientador e facilitador com base no pressuposto que o aluno aprende
da aprendizagem, sistematizando as atividades sempre, mesmo que em ritmos diferentes (COSTA,
desenvolvidas, definindo os objetivos imediatos 2012, p.57)
e estimulando a criança com SAF a cooperar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Estas são estratégias que fazem toda a diferença profissionais da educação vão favorecer essa
para o aluno com NEE, portanto, elas devem criança no processo de ensino e aprendizagem, se
ser repensadas e adequadas de acordo com a muitos deles não possuem informações suficientes
necessidade de cada um. Essas adaptações são sobre esse quadro clinico e social?Deve-se,
possíveis quando desenvolvidas por professores então, esclarecer suas causas e características,
flexíveis, que buscam meios de motivar o aluno para que possa contribuir de forma efetiva nas
mesmo quando ele parece não demonstrar práticas escolares e junto aos demais profissionais
interesse ou até mesmo quando o resultado envolvidos.
apresentado não é o desejado. Nesse contexto, o Em se tratando da escola, a mesma deve ter
professor atua como mediador e facilitador, não só mudanças significativas, não cabendo somente ao
do aluno especial, mas de todos os educandos.E, professor à responsabilidade do sucesso escolar
tal atitude favorecerá a inclusão e levará em conta dessa criança. O ponto fundamental é a relação
as particularidades, gerando assim um ambiente com a família dessas crianças acometidas pela
favorável ao aprendizado. SAF, que apesar da ausência devem ser acolhidas e
entendidas dentro de seu contexto biopsicossocial.
Muitas vezes nós professores nos esquecemos
CONSIDERAÇÕES FINAIS do papel que temos perante a sociedade, nos
esquivando de nossas responsabilidades, achando
O vicio alcoólico é um problema de saúde pública que isso não é um problema meu. "É através da
e mesmo com as diversas campanhas realizadas, escola que a sociedade adquire, fundamenta e
inclusive sobre o consumo da substância na modifica conceitos de participação, colaboração
gravidez, estas não foram suficientes para mudaros e adaptação. Embora outras instituições como
dados estáticos atuais. A importância desse tema família ou igreja tenha papel muito importante,
vai muito além do que uma simples aquisição de é da escola a maior parcela". MANTOAN (1997,
conhecimento. p.13).
Falar da SAF e expor sobre ela é indispensável, Não podemos fechar os olhos perante a um
já que a mesma pode ser prevenida, uma vez que fato tão importante, uma criança acometida pela
esta síndrome tem causa ambientalprovocada pela SAF precisa de apoio e suporte a vida toda. Assim
genitora. A maternidade deve ser um momento como já citamos nesse trabalho, outros órgãos
mágico na vida de qualquer mulherem que ela se devem ser acionados para melhorar aqualidade
prepara da melhor maneira possível, para receber de vida dessa criança como assistentes sociais,
o filho saudável, em um ambiente aconchegante, psicólogas, fisioterapeutas, médicos e etc., mas nós
com uma família presente ecom valores éticos. professores também temos nossa parcela nesse
Mas neste caso, infelizmente, não é isso que processo. Devemos ser facilitadores e buscar
ocorre e a preocupação com as crianças com a estratégias para favorecer a criança com SAF
SAF perpassam os muros de suas casas e acabam através de currículos adaptado e planejamento
chegando às escolas. só assim a escola irá garantir avanços na vida
Fica, neste caso, a pergunta: Comoos educacional e social do aluno com SAF.

674
Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A FERRAMENTA LÚDICA COMO


FERRAMENTA PEDAGÓGICA
RESUMO: A ferramenta lúdica como ferramenta pedagogica é de extrema importância pra
uma aprendizagem significativa na criança, visto que, é no brincar que a criança aprende.
È no brincar que a criança interage consigo, com o brinquedo, com as regras e com as
outras crianças. A ludicidade explora a criatividade da criança, promove o desenvolvimento
motor, cognitivo da criança , instintos competitivos e esportivo; desenvolvendo as primeiras
noções de postura e carater na criança que refletirá na vida adulta. Devemos entender como
ludicidade não apenas, jogos e brincadeiras, mas tudo que permite explorar a criatividade, a
entrega em sua plenitude, o seu autoconhecimento. Para desenvolver uma atividade ludica e
significativa com o discente; o docente precisa planejar suas aulas, adentrar nesse universo
lúdico, que requer não os tradicionais padrões conteúdistas de aula, mas uma didática: mais
afetiva, do aprender – brincando. Pensando nisso , a metodologia utilizada foi à pesquisa
bibliográfica, pois, é relevante todos os estudos a respeito do assunto; que viabilizem o
aperfeiçoamento da metodologia e didática docente em prol de um rendimento mais eficaz
e exitoso dos estudantes em processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-Chave: Ludicidade, Educação Infantil, Aprendizagem, Ludopedagogia.

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INTRODUÇÃO de forma predisposta, internalizada, em


que foi protagonista da aprendizagem, foi o
O presente trabalho tem como intuito aprender brincando.
dar embasamento teórico para uma prática
efetiva para professores de como é de extrema Refletindo sobre, veio à necessidade de
importância o uso das ferramentas lúdicas repensar a minha prática docente enquanto
e da ludicidade nas aulas ministradas nas professora do Ensino Fundamental II e Médio
escolas, que pode ser aplicada em qualquer - Por que não fazer do lúdico uma ferramenta
disciplina, promovendo um aprender- sinequanon da minha pratica pedagógica,
brincando ou brincando- aprendendo (vice- para atingir, inclusive, para aquele aluno que
versa), já que o brincar é algo internalizado, esta a beira do fracasso escolar por que se
que faz parte do universo da criança e que esgotaram todas as ferramentas avaliativas,
perpassa todas as fases da vida humana. metodológicas e didáticas tradicionais? –
então, iniciei os estudos em ludopedagogia,
O movimento lúdico, simultaneamente, torna- pois, a ludicidade é algo que está mais
se fonte prazerosa de conhecimento, pois
nele a criança constrói classificações, elabora inerente e evidente na educação infantil, a
seqüências lógicas, desenvolve o psicomotor e escola reserva o momento de brincar para
a afetividade e amplia conceitos das várias áreas as crianças, como parte constituinte da
da ciência. (RONCA,1989, p. 27)
aprendizagem, interação e socialização das
crianças.
Partindo de uma observação pessoal,
surgiu a necessidade de se estudar o tema, Porém, ao longo das etapas de formação
pois, percebi que meu sobrinho de dez anos acadêmica, vai se perdendo esse momento,
apresentava um domínio e fluência da língua quando a criança nos chega ao fundamental
inglesa maior do que crianças com a mesma II , o único momento do brincar é nas aulas
faixa etária e nível/série de escolaridade das disciplinas de arte e de educação física;
que ele. Vale ressaltar, que o mesmo não e, em escolas que disponibilizam aula de
sabia exatamente as regras gramaticais, mas informática e leitura, também a ludicidade
sua fluência e proficiência deviam-se a sua sobressai: nos jogos digitais, nos aplicativos e
vivência, ou seja, ao fato de jogar bastante nas contações de história, respectivamente.
videogame. A necessidade de saber o que os
personagens estavam falando, de utilizar as Assim, é perceptível que a partir do Ensino
ferramentas do jogo e de ter o melhor êxito Fundamental II, o lúdico deixa de fazer parte
no jogo, fazia com que portasse sempre do pedagógico de várias disciplinas e passa
um dicionário de língua inglesa enquanto a centrar-se, apenas, em algumas. Estas
jogava. Surpreendemo-nos e ele também; passam a serem as disciplinas “preferidas”,
com o sua fluência na língua inglesa, pois, em sua maioria pelos alunos. Essa adesão e
foi um conhecimento que foi se adquirindo preferencia pelas disciplinas que promovem

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maior ludicidade faz com que repensemos o professor precisa interagir com ludicidade,
nossa metodologia e que tenhamos a se permitir romper as fronteiras professor e
necessidade de em planejar nossas aulas aluno, tornando-se mais próximo e coautor
de forma a inserir o lúdico como pratica desse processo de aprendizagem e, também
pedagógica e metodológica. aprender a ensinar brincando.

A criança que estava na educação Infantil Segundo Luckesi (2005):


quando chega ao fundamental II , se choca
ao perceber que os professores não tem Tomando por base os escritos, as falas e os
debates, que tem se desenvolvido em
aquele olhar para o lúdico, são muitas, as torno do que é lúdico, tenho tido a tendência
crianças que chegam no 6ºano do ensino em definir a atividade lúdica como aquela que
Fundamental II, que trazem brinquedos propicia a plenitude da experiência. Comumente
se pensa que uma atividade lúdica é uma
para aulas e se deparam com professores atividade divertida. Poderá sê-la ou não. O que
que os contestam : “Pode guarda!”, “Por mais caracteriza a ludicidade é a experiência de
que trouxe esse carrinho?”, “Por que trouxe plenitude que ela possibilita a quem a vivencia
em seus atos. (LUCKESI, 2000, p. 2)
essa boneca?”, “Na minha aula não vai
brincar!”. Então, a criança se põe a aguardar
o momento do brincar, que ela tinha na
Educação Infantil, mas esse momento, nunca OBJETIVOS GERAIS
chega porque os professores não estão
preparados para vislumbrarem o lúdico como Promover subsídios teóricos para os
ferramenta pedagógica de trabalho, ou não professores planejarem suas aulas de forma
tem formação eficaz para aplicarem o lúdico a utilizar a ludicidade como ferramenta no
nas suas aulas com o objetivo de obterem processo de ensino-aprendizagem.
um ensino-aprendizagem significativo. Ou,
então a criança encontra esse momento do Compreender a importância do professor
brincar, como foi dito anteriormente, apenas se doar afetivamente e efetivamente a este
nas aulas de educação física, artes e, para universo lúdico, internalizado, de forma a
as escolas que apresentam salas de leitura e dirimir as possíveis barreiras de hierarquização
informática; nestas aulas também. e rotulações que envolvem professor, aluno,
universo lúdico e aprendizagem.
Partindo desses pressupostos e
sabendo que o lúdico não é apenas jogos e Pesquisar teóricos e estudiosos e
brincadeiras, mas, sim, uma postura afetiva aprofundar- me no assunto do uso do
do professor com o seu aluno; pois, para lúdico na sala de aula, fundamentando seu
adentrar no universo lúdico da criança uso de forma responsiva como ferramenta
e, obter um rendimento satisfatório do pedagógica.
lúdico como ferramenta de aprendizagem,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

OBJETIVO ESPECÍFICO PROBLEMA


Investigar os diferentes uso do lúdico Como inserir a cultura do lúdico em sala
como pratica pedagógica, identificando nos de aula para professores que culturalmente
diferentes teóricos as diferentes concepções acreditam que o brincar não faz parte de
do lúdico aplicado a sala de aula ao longo dos determinada idade e/ou série escolar?
anos . Descrevendo a colaboração histórica, Como instaurar o lúdico nas disciplinas e não
cultural, social, motora e cognitiva do uso centrar apenas em uma disciplina (educação
do lúdico na educação ao longo da história e física e/ou artes)? De que forma pode
formação cidadã do estudante. introduzir o brinquedo no planejamento das
aulas numa sociedade capitalista que rótula
Indicar os diferentes teóricos e estudiosos o brinquedo e, na sociedade de massa,
a respeito da ludopedagogia e servir manipula, segrega e restringe o acesso das
de embasamento para os professores crianças a determinados brinquedos?
repensarem a sua pratica e metodologia de
forma a inserir paulatinamente a ludicidade Ao longo desse trabalho tentaremos
no processo de aprendizagem de qualquer responder toda essa problemática enfrentada
disciplina de forma eficaz e responsiva. por diversos professores em diversas esferas
de formação acadêmica.

JUSTIFICATIVA
OS BRINQUEDOS, OS
A necessidade de inserir e reconhecer JOGOS, O BRINCAR PARA A
o lúdico como ferramenta pedagógica, em
que há a necessidade de professor e aluno CRIANÇA E PARA O ADULTO –
se doarem afetivamente e totalmente nesse CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS
processo de ensino e aprendizagem, dirimindo
a barreira professor- aluno e rotulações como: A origem dos brinquedos remontam as
“brinquedos não é coisa de escola”, “brinquedo civilizações antigas, há quem diga que um
é para professor matar o tempo”, “brinquedo brinquedo pode trazer toda uma cultura,
é só lazer, não se aprende nada”, etc. social e histórica de um povo. Outros, que a
origem dos brinquedos e do próprio homem
Precisamos repensar a nossa pratica, de forma está intrinsecamente relacionada, que não
a adaptar a nossa metodologia e didática, pois, o há como precisar a sua origem.
lúdico com os padrões convencionais de ensino não
compete. O professor precisa de forma responsiva Inicialmente os brinquedos eram
utilizar o lúdico em sala de aula, corroborando para produzidos em pequenas escala para
uma aprendizagem efetiva e significativa. atendimentos de necessidades particulares.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

movidas por suas necessidades, que determinam


Somente na segunda metade do século XIX, todos os brinquedos. Muitos dos mais antigos
passa a ser produzido em larga escala e em (a bola, o papagaio, o arco, a roda de penas)
série, perdendo o caráter individualizado, foram de certa forma impostos às crianças para
serem, ao longo da história, transformados em
artesanal e particular e, adentrando no brinquedos e produzidos em série. (BENJAMIN,
universo capitalista. 1985, apud MEFANO, 2005,P.20)

Inicialmente, os brinquedos não eram produzidos O brincar explora a imaginação e a


por fabricantes especializados, e sim nas oficinas
de entalhadores de madeira, de fundidores de criatividade da criança. O ato de brincar
estanho etc. Somente no século XIX a produção pode ocorrer de forma individualizada
de brinquedos será objeto de uma indústria ou de forma coletiva e lúdica por meio de
específica. O estilo e a beleza dos antigos tipos
só podem ser compreendidos se levarmos jogos e brincadeiras, promovendo a troca de
em conta a circunstância de que outrora os experiências e de diferentes perspectivas de
brinquedos eram subprodutos das atividades mundo na criança. Por exemplo, quando uma
produtivas regulamentadas corporativamente, o
que significava que cada oficina só podia produzir criança se põe a jogar um jogo de estratégias
o que correspondesse ao seu ramo. Quando ou desafiador, às vezes, a perspectiva que ela
durante o século XVIII começou a surgir uma tem do jogo é exatamente a completiva do seu
fábrica especializada, ela teve que enfrentar em
toda parte restrições corporativas. Elas proibiam colega, mas que ele não conseguiu perceber.
que os carpinteiros pintassem suas bonecas Dessa forma, atividades lúdicas promovem a
de madeira, e produção de brinquedos de valorização desse trabalho coletivo, do agir
várias indústrias a dividirem entre si o trabalho
mais simples, o que encarecia os brinquedos colaborativamente e coletivamente- “a união
(BENJAMIN, 1985, apud MEFANO, 2005,P.20). faz a força”, “duas cabeças pensam melhor
que uma”, etc.
Por muito tempo os brinquedos só fizeram
parte do universo adulto, por questões O jogo não é simplesmente um “passatempo”
para distrair os alunos, ao contrário, corresponde
culturais e ritualísticas. Podemos exemplificar a uma profunda exigência do organismo e
com as bonecas, que sua origem remonta ocupa lugar de extraordinária importância na
o Egito Antigo, em que foram encontradas educação escolar. Estimula o crescimento e o
desenvolvimento, a coordenação muscular, as
bonecas em tumbas, pois acreditavam que faculdades intelectuais, a iniciativa individual,
as crianças podiam brincar no além. Ainda favorecendo o advento e o progresso da palavra.
sobre as bonecas, na Grécia Antiga, as jovens Estimula o indivíduo a observar e conhecer as
pessoas e as coisas do ambiente em que vive
que iam se casar entregavam a deusa Artêmis
(TEZANI, 2006, p. 1).
suas bonecas e brinquedos simbolizando
o término da infância e o começo da fase
adulta. A terminologia Jogos e Brinquedos
diferem e/ou são tidos como sinônimos por
[...] pois, desde os tempos mais remotos, o muitos autores. Entretanto para Kishimoto
chocalho é um instrumento para afastar maus
espíritos, que deve ser dado justamente aos (1994) o jogo é algo mais limitador, que tem
bebês. Há um grande equívoco na suposição regras, já o brinquedo é um objeto que dá
de que são simplesmente as próprias crianças,

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graves, de curta ou longa duração e as mesmas


mais liberdade a criança para explorar sua exigem avaliações e intervenções e uma
inventividade e imaginação, inserindo-os em teorização dos modelos do funcionamento
contextos variados. cognitivo (Dockrell , 2000, p.11)

No faz-de-conta, há forte presença da situação O lúdico não cabe nos métodos tradicionais
imaginária, no jogo de xadrez, as regras externas
padronizadas permitem a movimentação das de ensino, mas assim como as TICs , se
peças. Já a construção de um barquinho exige mostram uma ferramenta necessária no
não só a representação mental do objeto processo de aprendizagem e para o docente
a ser construído, mas também a habilidade
manual para operacionalizá-lo. (KISHIMOTO, repensar a sua prática pedagógica.
1994,p.105).
O primeiro passo é reaprender a brincar,
Foi somente na segunda metade do século levando em conta que a brincadeira é algo
XIX que o brinquedo, que tinha sua origem na internalizado, afetivo e “sinequanon” para
indústria doméstica, passou a ser produzido quem deseja conhecer a criança:
em larga escala e ganhou caráter industrial.
Já no século XX, surgem os vídeo games, A brincadeira é a fase mais alta do
desenvolvimento da criança — do
com plataformas cada vez mais interativas desenvolvimento humano neste período; pois
(kinects, aplicativos, plataformas virtuais, ela é a representação auto-ativa do interno —
etc), em que torna-se possível romper a representação do interno, da necessidade e do
impulso internos. A brincadeira é a mais pura,
fronteira do virtual e real por meio de um a mais espiritual atividade do homem neste
simples objeto como: um óculos 3D, nos estágio e, ao mesmo tempo, típica da vida
transportando para uma realidade virtual tão humana como um todo — da vida natural interna
escondida no homem e em todas as coisas. Por
real que nos da uma sensação tênue dessa isso ela dá alegria, liberdade, contentamento,
barreira tempo/ espaço, realidade e ficção. descanso interno e externo, paz com o mundo.
Ela tem a fonte de tudo o que é bom. A criança
que brinca muito com determinação auto-ativa,
perseverantemente até que a fadiga física proíba,
O LÚDICO EM SALA DE AULA certamente será um homem determinado, capaz

NAS VISÕES DE TEÓRICOS do auto-sacrifício para a promoção do bem-


estar próprio e dos outros. Não é a expressão
mais bela da vida neste momento, uma criança
Segundo Dockrell (2000, p.11), as brincando? — uma criança totalmente absorvida
dificuldade de aprendizagem afetam boa em sua brincadeira? — uma criança que caiu
no sono tão exausta pela brincadeira? Como
parte das crianças , devendo passar por uma já indicado, a brincadeira neste período não
sondagem para desenvolver um projeto de é trivial, ela é altamente séria e de profunda
intervenção pedagógica a fim de sanar a significância. Cultive-a e crie-a, oh, mãe;
proteja-a e guarde-a, oh, pai! Para a visão calma
defasagem do aluno: e agradável daquele que realmente conhece a
Natureza Humana, a brincadeira espontânea
As dificuldades de aprendizagem afetam um da criança revela o futuro da vida interna do
número substancial de crianças em nossa homem. As brincadeiras da criança são as folhas
sociedade. São heterogêneas, leves, moderadas, germinais de toda a vida futura; pois o homem

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todo é desenvolvido e mostrado nela, em suas


disposições mais carinhosas, em suas tendências Segundo Freire (2002, p.119) “Quem
mais interiores. (Froebel, 1887, p. 55-56) vai ao jogo leva, para jogar, as coisas que
já possui, que pertencem ao seu campo de
Segundo Craidy e Kaercher (2001, p.104): conhecimento, que já foram aprendidas
anteriormente em procedimentos de
A brincadeira é algo que pertence à criança, adaptação, de suprimento de necessidades
a infância. Por meio do brincar, a criança
experimenta, organiza-se, regula-se, constrói objetivas”.
normas para si e para o outro (...) O brincar é
uma forma de linguagem que a criança usa para Por meio do jogo as crianças brincam
compreender e interagir consigo, com o outro, representando vários papéis, repetindo-os
com o mundo. e inovando-os, exercitando sua criatividade.
Quando elas cansam dessas variações,
Até mesmo produzir um jogo com materiais modificam e dificultam a maneira de jogar,
tornando-o mais interessante, fazendo com
recicláveis, a própria confecção promove que elas tomem decisões a respeito do jogo.
a iniciativa e o protagonismo da criança, Podemos dizer que este processo é muito
potencializando seu desenvolvimento importante, pois a criança se dá conta de que
não é um ser único e que há outras crianças
cognitivo, motor e de interação social (a que, assim como ela, também podem decidir.
criança pode trocar materiais). Ela aprende as Jogar pelo prazer de jogar. Aprender com erro.
regras e cria regras, socializa com as outras Descobrir várias respostas para a mesma dúvida.
Participar na resolução dos problemas. O jogo
crianças o seu jogo por meio do brincar e cooperativo é instigante, desafiador e motivador
percebe que suas capacidades vão além do levando os participantes a desenvolver e
que tinha como própria limitação. Ela aprende aprimorar atitudes, atos e comportamentos
solidários, além de resgatar valores necessários
a construir coletivamente a aprendizagem. para uma cidadania participativa. Eles visam à
inclusão e participação do grupo, incentivam
No desenvolvimento a imitação e o ensino o resultado coletivo ao individual, excluem a
desempenham um papel de primeira competitividade exagerada diminuindo assim
importância. Põem em evidência as qualidades as manifestações de agressividade. Promovem
especificamente humanas do cérebro e boas atitudes e facilitam o encontro consigo
conduzem a criança a atingir novos níveis de mesmo, com os outros e com o mundo em geral.
desenvolvimento. A criança fará amanhã sozinha No final, os jogadores, ganham com a experiência
aquilo que hoje é capaz de fazer em cooperação. que os jogos propiciam porque não há somente
Por conseguinte, o único tipo correto de vencedores e vencidos, mas companheiros na
pedagogia é aquele que segue em avanço diversão, e o importante serão a aquisição de
relativamente ao desenvolvimento e o guia; novos conhecimentos e comportamentos que
deve ter por objetivo não as funções maduras, facilitam a interação e a comunicação entre
mas as funções em vias de maturação (Vygotsky, todos (GOMES e FILHO, 2013).
1979:138).

Para Wallon (1981), na educação o lúdico


Neste sentido, o professor deve saber deve ser visto sobre o aspecto afetivo,
mediar ações na zona de desenvolvimento motor e cognitivo. Toda atividade que a
proximal, com o intuito de obter um melhor criança exerce principia pelo lúdico, ate
rendimento de aprendizagem dos seus alunos. a motricidade. A criança primeiramente

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exercício das atividades somente pelo prazer


deve brincar livremente, explorar todos de dominá-las e de extrais delas um sentimento
os sentimos para depois materializá-los, de virtuosidade ou potência. (NEGRINE, 1994,
intecionalizá-los e/ou estabelecer relação p. 4).

com o mundo adulto.


Para Vygotsky( 1991), é importante que a
A teoria do Wallon (1981) propunha que criança brinque, pois quando isso acontece,
a criança fosse vista em sua integralidade esta exercita o raciocínio, desenvolve a
e espontaneidade, que os jogos fossem motricidade, a criatividade. Vai aos poucos
introduzidos a rotina delas não com finalidades superando seus próprios conflitos e a
de conteúdistas, mas, sim, com o objetivo passagem do tempo, da própria infância.
de despertar os sentidos e descobertas Exercita a linguagem, apodera-se do que
da criança acerca do mundo que a cerca. está ao seu redor de forma leve, livre. Na
Ele divide as fases de desenvolvimento da Educação Infantil, a realidade é montada
criança em quatro etapas: jogos funcionais, por meio da imaginação e, a imaginação ou
jogos de ficção, jogos de aquisição e jogos fantasia, por meio da realidade.
de fabricação. E, necessariamente, para que
a criança alcance sua plenitude, ela precisa, Vygotsky(1991) aborda o jogo como
necessariamente, passar por todas as quatro processo para o desenvolvimento da criança,
fases de desenvolvimento. o jogo cria uma zona de desenvolvimento
proximal, que faz com que a criança, por
Segundo Piaget (1971), a criança meio da imaginação, se projete num estágio
vai adquirindo aprendizagem de forma acima do seu desenvolvimento. O autor
progressiva, por acomodação e assimilação enfatiza que a imitação não deve ser vista
em estágios de desenvolvimentos ordenados apenas como repetição mecânica e motora,
e previsíveis: sensório motor (0 a 2 anos), mas como aporte para a criança desenvolver
pré-operatório (2 a 7 anos), operatório- competências: motoras, afetivas, cognitivas
concreto (7 a 12 anos) e operatório-formal e sociais, pois, primeiro a criança imita o
(a partir dos 12 anos). Classifica os jogos em que vivencia no seu cotidiano, depois, passa
“três formas básicas de atividade lúdica que a agir conscientemente sobre suas ações,
caracterizam a evolução do jogo na criança, vivenciando combinações e possibilidades
de acordo com a fase do desenvolvimento sobre o que lhes é proposto.
em que aparecem”:
O lúdico não se aplica somente a educação
Piaget classifica os jogos em: de exercício, infantil, mas sim, a todas as esferas de
simbólicos e de regras. Para tanto é importante
lembrar que segundo este autor deve haver formação acadêmica e a todas as disciplinas:
uma variação de conteúdo dos jogos de acordo
coma realidade do meio físico e social da criança, O lúdico torna-se válido para todas as séries,
bem como [...] o jogo procede por relaxação do porque é comum pensar na brincadeira, no jogo e
esforço adaptativo, assim como por meio do na fantasia, como atividades relacionadas apenas

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infância. Na realidade, embora predominante Um dos aspectos que marcam a infância é o


neste período, não se restringe somente ao brinquedo, e este é para a criança aquilo que
mundo infantil”. (RONCA, 1989, p.99). o trabalho é para o adulto, isto é, sua principal
atividade. Toda criança brinca independente da
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO época, cultura ou classe social. O brinquedo é a
essência da infância, e o brincar, um ato intuitivo
COMO FERRAMENTA e espontâneo. (SANTOS, 2007. p, 9).

PEDAGÓGICA Devido à infinidade de cores, materiais,


Para uma aprendizagem significativa, faz- sons, formas e finalidades, o lúdico se
se necessário planejar o lúdico de forma mostra como ferramenta imprescindível
a despertar na criança o interesse pelo de aprendizagem, que estreita a relação
processo de aprendizagem, pelo aprender- professor – aluno e dirimi as barreiras de
brincando: aprendizagem. O professor deve se permitir
envolver nesse processo, porque para ter
Uma atividade de aprendizagem, controlada pelo um resultado satisfatório, precisa deixar
educador, toma o aspecto de brincadeira para
seduzir a criança. Porém, a criança não toma a de lado qualquer tipo de hierarquização,
iniciativa da brincadeira, nem tem o domínio qualquer rotulação e adentrar no mundo da
de seu conteúdo e de seu desenvolvimento. O imaginação, da criatividade da criança que a
domínio pertence ao adulto, que pode certificar-
se do valor do conteúdo didático transmitido ludicidade promove.
dessa forma. Trata-se de utilizar o interesse da
criança pela brincadeira a fim de desviá-la, de É na infância que a criança descobre e
utilizá-la para uma boa causa. Compreendemos
que aí só existe brincadeira por analogia, por uma potencializa seus sentidos, sem medo de
remota semelhança. (BROUGÈRE, 2001, p.96-7). ultrapassar limites, que ela forma referências
e amplia rapidamente seu repertório, pois,
De acordo com o Curricular Nacional não teme errar, desafiar, persistir, que
para Educação Infantil (1998, v1. p.27) “as aprender a lidar com as vitorias e derrotas. È
atividades lúdicas, por meio das brincadeiras na infância que começa a se traçar o caráter
favorecem a autoestima das crianças e a personalidade do futuro cidadão.
ajudando-as a superar progressivamente
suas aquisições de forma criativa”. Sobre isso, Kishimoto (1994) declara:

Um ensino significativo é aquele que traz O jogo como promotor da aprendizagem e do


desenvolvimento, passa a ser considerado nas
a associação da teoria com o conhecimento práticas escolares como importante aliado para o
de mundo da criança. Tendo isso em vista, ensino, já que colocar o aluno diante de situações
nos apropriamos do fato que o brinquedo e lúdicas como jogo pode ser uma boa estratégia
para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem
o ato de brincar fazem parte do dia a dia
veiculados na escola”. (1994, p. 13).
da criança, muito mais do que de um adulto,
tendo pra ela esse caráter de identificação, Atualmente, os jogos educativos,
de envolvimento, de afetividade: plataformas educativas e aplicativos

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educativos têm servido de aporte e embasamento para a prática de ferramentas mais


lúdicas em sala de aula. Visto que, a criança do século XXI já nasce inserida neste mundo
das mídias digitais. Mas, comete um erro, quem acredita que os jogos reais perderam espaço
para mídias virtuais. Eles coexistem no universo da criança. Há na criança a necessidade
de explorar todos os sentidos. Assim ela consegue brincar com uma bola, uma caixa, uma
boneca, um chocalho e, também, brincar com um jogo virtual.

Há situações em que a didática do professor não consegue atingir um determinado aluno


e, outro docente, com outra didática, consegue; existem plataformas virtuais que comprovam
isso. Há plataformas que oferecem vídeos com uma didática mais elucidativa e recorrem a
um aprendizado mais lúdico e interativo que conseguem atingir com êxito a aprendizagem
do aluno, superando a defasagem que tinha naquele conteúdo.

O padrão de comportamento para como bebê e para com a criança na primeira infância se modificaram, e as
crianças de hoje são mais espertas e mais inteligentes do que as crianças de algumas décadas atrás, gerando
situações inesperadas. Atualmente, pais trabalham fora , as famílias são menos numerosas, e as crianças
frequentam, desde cedo, berçários, creches e escolinhas maternais, na qual recebem estímulos diferentes
dos que recebiam aquelas que eram criadas em casa pelos irmãos e que só eram levadas para a escola aos
sete anos. É, portanto, com essas crianças que o educador tem que saber lidar, tem que reconhecer suas
necessidades e procurar atendê-las dentro do contexto educacional atual (COSTA, 2007, p. 14)

Neste sentido, podemos pensar no Origami (técnica japonesa de dobrar papel), aplicada
ao ensino da matemática, são infinitos os conceitos que a criança pode aprender brincando,
além de explorar sua competência motora e trabalhar pontos, retas e ângulos. Da mesma
maneira, são oferecidos infinitos sites e plataformas que introduzem conceitos matemáticos,
por exemplo, tidos como dificílimos na escola, ou como baixo rendimento de aprendizagem,
que por meio de jogos e plataformas digitais, a criança aprende, memoriza e estabelece
alguma relação conceitual de forma prática, em algum momento, da sua vida.

Ensinar uma receita para uma criança, simplesmente, lendo ou mostrando as características
do gênero é diferente de coloca-la como protagonista de todo o processo. Por exemplo,
ensinar a criança a fazer uma pizza, um bolo, a separar os ingredientes, a aplicar as unidades
de medida, conseguiu aplicar infinitos conceitos de forma lúdica e teremos um envolvimento
maior dos alunos, consequentemente um rendimento melhor de aprendizagem.

É importante a escolha de um jogo e dos meios adequados para oferecê-lo à criança, particularmente quando
visamos retirar dele o maior proveito educativo. Advém disso a necessidade de transferir à escola as mesmas
motivações que a criança encontra para jogar fora desse espaço. (PIMENTEL, 2004, p. 57)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O lúdico é tudo que é vivenciado e não encontre palavras
concretas para definir as sensações. Este trabalho, portanto,
por meio de embasamento teórico, tentou dar subsídios para
os professores melhorarem sua prática docente, aplicando
a ludicidade em sala de aula, em prol de um ensino-
aprendizagem significativo.

Que ao repensar a sua pratica o professor precisa planejar
suas aulas de modo a torná-las mais atrativas e motivadoras, LILLIAN MARIKO
mudar sua postura, se permitir envolver-se afetivamente e KAMISAKI
integralmente no processo de aprendizagem por meio do
Graduação em Letras pela
brincar. Faculdade de Filosofia Letras
e Ciencias Humanas da
Neste sentido, o jogo possibilita a integração do Universidade de São Paulo (2009);
Especialista em Ludopedagogia
pensamento, sentimento e ação, faz com se estimule, por .pela Faculdade Campos
meio da combinação: lúdico e pedagógico, a criatividade, a Elíseos (2018); Professora de
vivência e as interações sociais do discente. Ensino Fundamental II - Língua
Portuguesa - na EMEF Professora
Iracema Marquês da Silveira,
O lúdico se mostra como ferramenta pedagógica eficiente, Professora de Educação Básica –
que pode ser aplicada em qualquer idade, formação Língua Portuguesa - na EE Doutor
Francisco Brasiliense Fusco.
acadêmica e disciplina, pois, se mostra como uma ferramenta
transdisciplinar e transversal.

Por meio dos teóricos apresentados neste trabalho, podemos perceber que o lúdico é
uma questão inerente à criança, que está há tempos relacionado e centralizado na infância,
mas que perpassa em todas as épocas da nossa vida. E, se mostra como uma ferramenta
importantíssima para aprendizagem de qualquer disciplina, em qualquer formação acadêmica.
Devendo, portanto, romper-se as rotulações e limitações de que brincar e o lúdico é só
atividade para crianças.

Portanto, uma formação que recorra a ludicidade promove um maior envolvimento do
discente no processo de aprendizagem, pois, desperta afetivamente sentimentos e sensações
neste aprendizado do aprender- brincando e, quando o discente se envolve no processo
de aprendizagem, motivando-se a aprender, a aprendizagem se torna leve, prazerosa e
significativa.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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MEFANO, L. O design de brinquedos no Brasil: uma arqueologia do projeto e suas origens.


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WALLON,Henri, A Evolução Psicológica da Criança – Lisboa: edição 70, 1981.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A RELEVÂNCIA DA MÚSICA NO
CENÁRIO DA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O ensino de música nas escolas tem suas fundamentações em correntes filosóficas
contribuindo para o desenvolvimento de um cidadão. Com base na importância de uma
criança ter contato com diversas linguagens artísticas foi decretado por meio do art.26 da
LDB 9394/96 a inclusão no currículo da educação básica o ensino de arte, o que inclui a
música. Contudo, é preciso dar condições aos licenciados para lidar com as especificidades
do trabalho escolar nesta área e realizar as implementações curriculares nas instituições de
ensino.

Palavras-Chave: Conhecimento; Práticas Pedagógicas; Aprendizagem. Diversidade.

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INTRODUÇÃO A pesquisa deu início por meio da leitura


de livros e sites na internet, com a finalidade
O ensino de Música na escola no Brasil passou de obter embasamento teórico e com base
por períodos de valorização, com propostas nas leituras realizadas foram definidos os
pedagógicas ousadas e consistentes, como o questionamentos e os objetivos a serem
Canto Orfeônico, idealizado por Villa-Lobos, atingidos.
como por momentos em que a música ficou
apenas como um meio para desenvolver Logo, a escola é um importante espaço
temáticas relacionadas a outros ramos que se constrói diversos significados e
do conhecimento, sem uma proposta que aprendizagens, através de um processo de
valorizasse seu potencial educativo, como se interação e socialização no qual, os sujeitos
pode observar em muitas práticas educativas são os protagonistas. Ou seja, é necessário
na década de 1970. inserir esses educandos num mundo novo,
que amplie os seus olhares.
Este trabalho tem o objetivo geral nortear
aspectos favoráveis na qual o ensino de música
pode proporcionar às crianças da Educação A HISTÓRIA DA MÚSICA
Infantil e ensino fundamental e como a NO BRASIL
música pode auxiliar no desenvolvimento da
criança e em diversas atividades pedagógicas. O ensino de Música na escola no Brasil passou
Os objetivos específicos são: compreender os por períodos de valorização, com propostas
aspectos favoráveis que o ensino de música pedagógicas ousadas e consistentes, como o
pode proporcionar às crianças da Educação Canto Orfeônico, idealizado por Villa-Lobos,
Infantil e identificar as formas de interação da como por momentos em que a música ficou
música com os demais eixos de trabalho, ou apenas como um meio para desenvolver
seja, como a música pode auxiliar em diversas temáticas relacionadas a outros ramos
atividades pedagógicas na educação infantil. do conhecimento, sem uma proposta que
valorizasse seu potencial educativo, como se
A pesquisa partiu do questionamento. pode observar em muitas práticas educativas
Quais as contribuições que o ensino de música na década de 1970.
pode proporcionar no desenvolvimento e
aprendizagem do educando? Contudo, com o passar dos anos foram
instituídas Leis de Diretrizes e Bases da
A justificativa para o trabalho, partiu da Educação Nacional e Parâmetros Curriculares
verificação da importância da música como Nacionais possibilitando o aluno trazer música
uma linguagem que atrai os olhares curiosos para a sala de aula até que foi sancionada a
das crianças, por se tratar de uma linguagem LDB 9394/96 que considera a música como
não textual e diferente do cotidiano delas. conteúdo obrigatório, por meio da Arte na

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Educação Básica, pois os PCN definem que AS LEGISLAÇÕES QUE AMPARAM


ela é composta de quatro linguagens: artes O ENSINO DA MÚSICA
visuais, dança, música e teatro.
Segundo os PCNS – Arte (1998), o
A história da música no Brasil deu início modelo do Canto Orfeônico foi a proposta
na década de 1930 a proposta educacional educacional para o ensino de Música para
na área de Música foi modelo do Canto crianças que mais perdurou no Brasil, sendo
Orfeônico, idealizado pelo músico brasileiro desenvolvido por cerca de 30 anos.
Heitor Villa Lobos, que foi uma importante
referência por propor um projeto consistente O Canto Orfeônico só deixou de fazer parte
em educação musica a todo o país. do currículo das escolas com a implantação
da disciplina Educação Musical, por meio
Com o apoio do presidente da República da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Getúlio Vargas, em pleno Estado Novo, Nacional – Lei N°4.024, de 20 de dezembro
Villa Lobos foi convidado para assumir a de 1961.
Superintendência de Educação Musical
e Artística – SEMA, órgão fundado pelo Essa nova orientação, influenciada
educador Anísio Teixeira. por novos modelos de educação musical
propagados na Europa, provocou alterações
Por meio do SEMA, Villa Lobos criou, nas concepções e nas ações didático-
entre outras ações, o Curso Especializado pedagógicas de alguns professores, sendo
de Música e Canto Orfeônico, que visava que:
preparar professores especializados para
atuar nas unidades escolares, que tinha como Contrapondo-se ao Canto Orfeônico, passa a
existir no ensino de música um novo enfoque,
objetivo preparar os docentes para o ensino quando a música passa a ser sentida, tocada,
de Música nas dimensões técnicas, social e dançada, além de cantada. Utilizando jogos,
artística. instrumentos de percussão, rodas e brincadeiras,
buscava-se um desenvolvimento auditivo,
rítmico, a expressão corporal e a socialização das
No currículo do curso constavam os crianças, que são estimuladas a experimentar,
seguintes conteúdos: a regência, canto improvisar e criar. (PCN – Arte, 1998, p.27).
orfeônico, orientação prática, solfejo,
técnica musical, entre outros. Também foram A disciplina Educação Musical é excluída
contempladas no curso, pela primeira vem no do currículo do então ensino primário e
Brasil, o estudo da etnografia e do folclore, ginasial pela Lei de Diretrizes e Bases da
conteúdos até então não valorizados no Educação Nacional – Lei N°5.692, de 1971,
contexto da educação escolar. que reorganiza a estrutura formal do ensino
brasileiro e inclui no currículo escolar de
primeiro grau (da 1ª a 8ª séries) e no segundo

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Educação Artística como matéria, pois não há


grau (do 1º ano ao 3º ano), a disciplina conhecimento, não há sobre o que refletir e não
Educação Artística. há avaliação a ser feita. [...] A expressão em arte
na escola era sinônimo de fazer qualquer coisa
superficialmente polivalente em Artes Plásticas,
A Lei 5692/71 teve como orientação a Música e Artes Cênicas. Apreciar e não criticar;
concepção tecnicista para o desenvolvimento comunicar e não conhecer; aprender a sentir e
das aulas de Arte, o que desencadeou uma não apreciar. (PIMENTEL, 1999, p.96).
prática mecanicista dos docentes. Desta
forma: O ensino de Música, que passou a ser
ministrado na disciplina Educação Artístico
Nas aulas de Artes, os professores enfatizam com um viés tecnicista, mesmo com o avanço
um “saber construir” reduzido aos seus aspectos
técnicos e ao uso de materiais diversificados do debate, da pesquisa e de publicações que
(sucatas, por exemplo), e um “saber exprimir- defendia mudanças nas concepções e na
se” espontaneístico, na maioria dos casos ação educativa em música.
caracterizados poucos compromissos com o
conhecimento de linguagens artísticas. (FERRAZ
e FUSARI, 1993, p. 32). Com vistas a alterar esta situação, a
atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Os professores que já atuavam nas Nacional, Lei N° 9.394, sancionada em 20
disciplinas de Música, Desenho, Trabalhos de dezembro de 1996, e posteriormente
Manuais, Canto Coral e Artes Aplicadas que pela elaboração dos Parâmetros Curriculares
inicialmente iriam atuar como professores Nacionais para o ensino de Arte, de 1998,
de Educação Artística, pois só em 1973 que concebe a música como essencial na
o governo cria o curso de graduação em formação das novas gerações, possibilitando
Educação Artística. ao:

Desta forma, com um currículo que [...] aluno trazer músicas para a sala de aula,
acolhendo-a, contextualizando-a e oferecendo
abrangia as linguagens plásticas, musical acesso a obras que possam ser significativas para
e corporal, o que se mostrou inadequado, o seu desenvolvimento pessoal em atividades de
visto que é difícil que apenas um docente apreciação e produção. (PCN – Arte, 1998, p.75).

consiga desenvolver um trabalho consistente


nas áreas musical, teatral e plástica, Mais recentemente, foi publicada no Diário
principalmente estes profissionais que já Oficial da União, a Lei N°11.769, que dispõe
tinham uma formação inicial totalmente sobre a obrigatoriedade do ensino de música
focada em uma das linguagens. na educação básica (educação infantil, ensino
fundamental e médio), alterando o artigo
De acordo com Pimentel (1999) enfatiza 26 da LDB 9394/96, que inclui o parágrafo
que: 6° o seguinte texto: “A música deverá ser
A importância das atividades artísticas na escola conteúdo obrigatório, mas não exclusivo,
reside no processo e não nos seus resultados,
elimina-se a necessidade de se considerar a do componente curricular de que trata o §

692
Revista Educar FCE - Abril 2019

[...] desenvolvimento de cursos direcionados a


2° deste artigo”, ou seja, que “[...] o ensino aprendizagem e alfabetização musical em que
de arte constituirá componente curricular os estudantes são ensinados a ler e escrever
obrigatório, nos diversos níveis da educação música, a fim de serem introduzidos na prática de
instrumentos tradicionais. (MENDES e CUNHA,
básica” (Art. 2° da LDB Nº9394, 1996). 2001, p.85).

Segundo as autoras, este posicionamento


O ENSINO DA MÚSICA: supervaloriza as manifestações culturais da
TENDÊNCIA PEDAGÓGICA cultura hegemônica, tendo como referência
a raça branca, europeia, masculina, masculina
E TENDÊNCIA DIDÁTICA e, no universo da música, a estética do século
O ensino da música através da linguagem XIX.
artística, tem uma capacidade transformadora,
pois o fazer artístico e a fruição estética Esta perspectiva, segundo Mendes e
contribuem para o desenvolvimento de Cunha (2001), apesar de inadequada tem
crianças desde a educação infantil, porque boa aceitação, pois para os pais, políticos e
amplia o seu potencial cognitivo e assim autoridades educacionais,
conceber e olhar o mundo de modos
diferentes. [...] serve de perpetuação de algo estabelecido
e apresenta objetivos educacionais claros, assim
como critérios de avaliação: ensina-se ao aluno
Para Swanwick (1988), o ensino de Música a execução de um instrumento e, a seguir, testa-
tem suas fundamentações em três correntes se a execução. No entanto, tal processo fica mais
difícil quando se avalia a capacidade criativa do
filosóficas: ensino musical tradicional, ensino aluno. (MENDES e CUNHA, 2001, p.85-86).
musical centrado na criança e ensino musical
multicultural. A seguir, apresentaremos de A tendência tradicional no ensino de
forma sucinta as principais características de música concentra-se apenas na reprodução
cada uma dessas tendências pedagógicas. de conteúdo desvinculados do contexto
cultural, social e das diferenças individuais
Ensino musical tradicional – nesta dos educandos. O professor, sendo a
concepção acredita-se que o aluno deve figura principal do processo de ensino-
dominar certas habilidades e conhecer a aprendizagem, é que determina os
Música. Para isso, a ênfase deve estar no conteúdos a serem ensinados, geralmente
aprendizado e na prática do instrumento apresentados como verdades absolutas, com
musical, na teoria e na história da Música. posturas autoritárias e de práticas de simples
transmissão do conhecimento.
Ao professor cabe a tarefa de iniciar os
alunos nas tradições da música ocidental, ou Ensino musical centrado da criança –
seja, o objetivo era de educar músicos, o que concepção que surge no século XX, que tem
resultou no: como parâmetro a expressão e o sentimento.

693
Revista Educar FCE - Abril 2019

É conhecida como Pedagogia Nova, que teve portadoras de necessidades especiais,


como principais expoentes os educadores trabalhando com crianças cegas, surdas etc.
John Dewey, Bruner e Herbert Read.
A utilização de movimentos corporais
Na Escola Nova o centro do processo de para demonstração da percepção e da
aprendizagem é o aluno, seus interesses e compreensão dos ritmos contidos na
seu processo de trabalho, em que: proposta de Dalcroze, segundo Mendes e
Cunha (2001, p.89) estimula “livre-expressão
[...] o estudante passa a ser visto como descobridor da criança, incentivando-a a criar ritmos,
e criador do mundo e não como mero perpetuador
de valores estabelecidos. Trabalha-se, agora, com melodias, movimentos simples e coreografias”
o aluno como construtor de seu conhecimento e como também utiliza o treino do solfejo e da
com preocupação com o processo de aquisição improvisação para desenvolver sua proposta.
do conhecimento. (MENDES e CUNHA, 2001,
p.86).
Edgar Willems – nascido em 1890
Nessa tendência da educação musical a em Lanaken, na Bélgica. Foi discípulo de
orientação pauta-se na experiência musical Dalcroze e seu trabalho também valorizou
intuitiva. A alfabetização musical, que tem os movimentos corporais.
vários representantes e, entre eles, os
precursores são: Para Willems (1966), o ritmo está presente
no ser humano em suas manifestações
Émile Jacques-Dalcroze – nascido em básicas, como no andar, no respirar, no
Viena em 1865. Mudou-se para a Suíça, pulsar do coração, nos movimentos sutis
na cidade de Genebra, onde se formou em causados pelos sentimentos, emoções ou
piano no Conservatório de Genebra. Após pensamentos etc.
este período, dedicou-se a consolidar sua
carreira como artista com breves temporadas Defende que esses movimentos instintivos
em Viena e Paris, para aprofundar seus presentes na existência humana devem ser
conhecimentos. utilizados pelos professores, como forma de
despertar no educando a vivência interior de
Passa a lecionar a disciplina Harmonia ritmo.
Teórica no Conservatório de Genebra a
partir de 1892, e nos primeiros dez anos Segundo Mendes e Cunha (2001, 89),
de atividade, desenvolveu uma proposta de o método de Willems defende o “ensino
educação musical baseada em exercícios musical para crianças, desde os dois anos de
corporais, que teve como fundamentos: idade, com atividades práticas como cantar,
percutir e movimentar-se, sem preocupação
Na década de 1920 dedicou-se a com a racionalização e sistematização de
desenvolver atividades rítmicas com crianças conceitos”.

694
Revista Educar FCE - Abril 2019

Carl Orff – compositor e maestro alemão, Murray Schafer – nascido no Canadá, em


nasceu em 1895 e faleceu em 1982 em 1933, Schafer defende uma nova postura
Munique, na Alemanha. frente aos sons, proposta que constitui o
desenvolvimento de um novo “olhar” perante
A pedagogia de Orff utiliza o movimento o mundo. Seu objetivo pedagógico-musical
corporal como uma ferramenta essencial consiste em considerar o corpo de forma
para a aprendizagem musical, que aborda o integrada em uma perspectiva rítmica.
movimento não como um fim em si mesmo,
mas com um significado que objetiva Desta maneira, defende a integração de
direcionar o crescimento musical e emocional todos os sentidos, em vez de fazer uma análise
do educando. Entende que a criança está particularizada de cada um. Embora entenda
sempre em movimento, e propõe aproveitar que os estudos sobre os sentidos de forma
esta característica do universo infantil para particularizada tenham nos propiciado um
desencadear um processo de aprendizagem avanço no conhecimento sobre os sentidos,
em música. Schafer (1991) entende que esse avanço
também proporcionou uma fragmentação
entre a audição, a visão, o olfato, o paladar
A MÚSICA O e o tato.
DESENVOLVIMENTO
Assim, propõe que nos processos
DO EDUCANDO educacionais o ser humano seja visto de
A música tem como princípio desenvolver forma integral, por meio de uma visão global
habilidades e conceitos de música com vistas dos sentidos humanos.
a propiciar o desenvolvimento de quatro
níveis de aprendizado: imitação, exploração, Em sua obra “O ouvido pensante”, postula
alfabetização e improvisação. que por intermédio do movimento corporal
a música auxilia o desenvolvimento da
Mendes e Cunha (2001) destacam que a percepção e da coordenação motora dos
proposta de Orff não chega a se constituir um ritmos do corpo, visto que:
método de ensino, e sim uma diretriz inicial
para ser adaptada à realidade do professor e A música pode também correr, saltar, claudicar,
balançar. Pode ser sincronizada com bolas que
as manifestações folclóricas do país. pulam, com ondas do mar, com galopes de
cavalos e com centenas de outros ritmos cíclicos
Também é importante destacar que, para ou regenerativos, tanto da natureza quanto do
corpo. (SCHAFER, 1991, p. 295).
Orff, a música deve ser propagada para
todas as pessoas e não somente para as Para Schafer (1991), o mundo
que apresentarem habilidades e tendências contemporâneo, a vida sedentária e os
especiais na linguagem musical. avanços da tecnologia, entre outros aspectos,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

estão atrofiando os senso-receptores de crianças, jovens e adultos, e cabe aos educadores


ativá-los para que tenham maior consciência corporal e para isso:

Propõe que os alunos tenham uma vasta experiência exploratória do som antes de registrá-lo graficamente e
dedicarem-se ao estudo de um instrumento. Tem uma grande preocupação com a “paisagem sonora” na qual
estamos inseridos: com sons agradáveis ou desagradáveis aos nossos ouvidos e como nos relacionamos com tais
sons. (MENDES e CUNHA, 2001, p.90).

Para as autoras, a proposta educacional de Schafer é viável em qualquer contexto


educacional, pois não se apresenta como um método, e sim como um estímulo para ampliar
o assunto tendo como referência a experiência do autor.

O ensino de música e o multiculturalismo – o contato com outras culturas proporciona ao


educando a tomada de consciência de nosso percurso histórico, de nossa identidade cultural
e de outros povos e culturas. Um importante elemento na educação das novas gerações,
visto que:

O domínio de outras formas de conhecimento não tira as nossas raízes, mas assegura o acesso a esse pensamento
crítico e permite estabelecer outros modelos de sociedade. Isso significa ouvir sons e escutá-los, percebê-los
sem julgá-los, apreciando-os por sua forma e textura, sem preconceitos. (MENDES e CUNHA, 2001, p.96).

Nessa perspectiva, é preciso contemplar no processo educacional em música o


conhecimento sonoro das várias culturas, principalmente as que constituíam a cultura
brasileira, com seus ritmos, instrumentos musicais etc.

Já no pensar das autoras Martins, Picosque e Guerra (1998) nesse período é importante
que a criança aprenda uma música que goste e que esteja no seu meio social. No entanto,
cabe ao professor apresentar a criança o universo musical das diversas culturas para que ela
desenvolva a “escuta ativa” e perceba os diferentes aspectos estruturais e emocionais da
música.

Portanto, a criança desenvolverá novos conhecimentos por meio do incentivo, da


mediação, da escuta, da interação e da participação ativa.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do trabalho desenvolvido percebeu-se que o
ensino de artes e música na educação infantil é uma parte
tão essencial do currículo quanto as demais disciplinas, e
não apenas uma mera pausa inserida no estudo de conteúdo
de disciplinas ditas como mais importantes. Pois esta serve
para se aprofundar e explorar nas salas de aula os meios mais
diversificados de mostrar para as crianças que arte não é só
“pintura”, é algo que está inserido em nossas vidas desde o
nascimento, a partir do momento em que demonstramos
nossos gostos e preferências.

E com a música não é diferente, através de um estágio, LUCI BARRETO
encontramos professores, que inseriam a música clássica em DE ARAÚJO
sala de aula, e por fim, seus alunos tiveram um rendimento
Graduação em Pedagogia pela
escolar muito positivo, sendo a sala escolhida como a que Faculdade UNIARARAS em 2008,
obteve o melhor aprendizado em comparação as outras Professor de Ensino de Educação
classes, tendo um melhor desempenho nas atividades. Infantil na CEI Cidade Pedro José
Nunes.

Dessa forma, ainda temos um longo caminho a percorrer
para que a mesma seja reconhecida como sendo essencial
para o desenvolvimento do alunado, e principalmente,
mostrar seu valor intrínseco como construção humana, como
patrimônio comum a ser apropriado por todos.

Enfatizar o ensino da Arte na sua essência, pois existem vários caminhos de se fazer arte,
então procuramos seguir um foco e abrir caminhos para novos projetos e também de novas
perspectivas de melhoras.

Sendo que a escola é a mola propulsora para grandes voos, para isso precisamos trabalhar
com as crianças novas maneiras de se acreditar em um futuro promissor, é através da
educação que plantamos a semente da sabedoria, tendo crianças preparadas para um futuro
de sucesso.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares

FERRAZ M. H. C. de T. e FUSARI M. F. de R. Metodologia do ensino de arte. São Paulo:


Cortez, 1993 (Coleção Magistério 2º grau. Série formação de professores).

GUERRA, M.T.T.; VENTRELLA, R.C. O Ensino de Arte nas Series Iniciais – Ciclo I São Paulo –
Governo do Estado de São Paulo, 2003

LIMA, Elvira Souza. Como a criança pequena se desenvolve. São Paulo: ed. Gedh, 2001.

MADUREIRA, José R. e LEITE, Luci B. Jaques-Dalcroze: música e educação. Pro-posições,


vol.21, n.1. Campinas, Jan/Abr 2010.

MARTINS, Mirian C.; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do ensino de
arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte, São Paulo: FTD, 1998.

CUNHA, G.; MENDES, A. Um universo sonoro nos envolve. In. FERREIA, Sueli (Org.) O
Ensino das Artes: construindo caminhos. 1 ed. Campinas, SP. Ed. Papirus, 2001.

ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde et al. Os Fazeres na Educação Infantil, ed. São Paulo:
Cortez, 2011.

SCHAFER, R. Murray. O Ouvido pensante. Tradução: Marisa Trench de O. Fonterrada et al.


São Paulo: Ed. UNESP, 1991.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A INCLUSÃO ESCOLAR E A GARANTIA


DE DIREITOS EDUCACIONAIS
RESUMO: Este artigo traz uma revisão bibliográfica com o foco voltado à Inclusão Escolar. Neste
sentido temos como objetivo geral apresentar os principais conceitos que permeiam o processo
de Inclusão Escolar e como objetivos específicos, abordar alguns elementos da legislação em vigor
e apresentar um breve histórico da garantia de direitos educacionais e do processo de inclusão
escolar em si. A inclusão escolar demanda a revisão das dinâmicas de funcionamento e dos
paradigmas para assim favorecer a criação de ambientes inclusivos. Para que estas modificações
ocorram é necessário romper algumas barreiras existentes no âmbito escolar, partindo para o
princípio de igualdade, lidando e convivendo com as diferenças e buscando alternativas para a
construção de uma escola inclusiva. O direito à educação é reconhecido como um dos direitos
fundamentais do homem, e é respaldado em toda a legislação brasileira, quando analisamos
a educação infantil e a sua história temos que o contexto histórico traz marcantes diferenças
entre as definições, propósitos e objetivos do atendimento. O enfoque atual da inclusão escolar
pressupõe que todos tenham as mesmas condições de acesso e permanência, não há espaço para
a segregação, para a integração ou para a exclusão escolar. A mudança de paradigma para uma
educação inclusiva e a garantia de inclusão e sucesso educacional de todas as crianças, sejam
elas deficientes ou não, trouxe avanços significativos no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-Chave: Depressão; Contexto Escolar; Olhar diferenciado.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO de suas capacidades ou de suas deficiências.


Um dos grandes desafios como educadora é
A mudança de paradigma para uma saber como lidar com os desafios que a sala
educação inclusiva, a garantia de direitos de aula nos traz atualmente.
educacionais para todas as crianças, sejam
elas deficientes ou não, trouxe avanços Atualmente, os conceitos foram revistos
significativos no processo de ensino e e todos os alunos devem ter as mesmas
aprendizagem. Neste paradigma todas as possibilidades de acesso e permanência na
crianças devem ter a garantia de acesso e escola, o que acabou causando um grande
permanência no âmbito escolar e todos os desconforto na maior parte dos educadores.
esforços devem ser dispensados para que a Para que a inclusão aconteça, os profissionais
sua aprendizagem seja satisfatória. devem estar capacitados e preparados a lidar
com as diferenças. Para isso é necessário
As crianças são diferentes entre si, e como conhecer quais são as necessidades dos
tais, possuem diferentes necessidades que alunos e até que ponto as “deficiências”
devem ser abordadas de diferentes formas, devem ser vistas como um empecilho à
nem sempre o método utilizado para tal aprendizagem.
criança com algum tipo de deficiência será
satisfatório para outra criança, partindo
deste princípio, todos os alunos devem ser
tratados em suas especificidades e se deve
buscar os meios e materiais necessários para
o sucesso educacional.

A exclusão escolar não se refere apenas


aos deficientes e sim a todos aqueles que não
ingressam na escola ou que não conseguem
nela permanecer e nem tampouco se
apropriar dos conhecimentos ali oferecidos.
A educação especial e inclusiva deve deixar
de ser vista como uma forma de atendimento
somente aos alunos com deficiências, deve
ser encarada como uma maneira de “unir”
serviços e apoios especializados que servirão
para todos os alunos.

A escola deve oferecer uma educação de


qualidade para todos, independentemente

700
Revista Educar FCE - Abril 2019

A LEGISLAÇÃO E A GARANTIA DE DIREITOS EDUCACIONAIS

A preocupação em garantir os direitos para o atendimento da pessoa deficiente se torna


mais efetiva a partir da Constituição Federal (1988) quando promulga que o atendimento
educacional especializado à estas pessoas deve ser realizado preferencialmente na rede
regular de ensino.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/1990) estabelece o conjunto de direitos e


deveres para toda criança e adolescente, portadora de deficiência ou não. A Política Nacional
de Educação de 1994 estabelece objetivos gerais e específicos para atender as pessoas
com deficiência e revisa os conceitos dos termos que são utilizados para definir a educação
especial.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/1996) caracteriza a educação


especial como modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular
de ensino. Quando necessário serão utilizados serviços de apoio especializado, na escola
regular e o atendimento será realizado em classes especiais quando não for possível a
integração nas classes comuns.

[...] o modo mais violento de fazer a invisibilização das desigualdades, diversidades e diferenças é pela segregação,
isto é, retirar do espaço público aqueles que apresentam características diferenciadas e que não são desejadas
pelos grupos majoritários. As deficiências físicas, intelectuais, mentais, sensoriais foram tratadas muitas vezes
com segregação na educação. O primeiro passo – mas não suficiente – para superar a exclusão educacional
é reconhecer que existem grupos e populações que foram (e ainda são) desconsiderados como sujeitos de
direitos. (SÃO PAULO, 2019, p. 33)

701
Revista Educar FCE - Abril 2019

O Plano Nacional de Educação e a Na Antiguidade Clássica, as pessoas com


Proposta da Política Inclusiva de Ensino deficiência eram eliminadas, abandonadas
(2001) concebe a educação escolar como ou confinadas. No Egito a deficiência era
um instrumento fundamental para o vinculada à ideia de maus espíritos e a
desenvolvimento econômico, social, cultural pecados. Na Grécia era considerada um
e político de um país e de seu povo. castigo ou vingança dos deuses e em Roma
como impureza ou pecado do deficiente ou
As Diretrizes Nacionais para a Educação de seus pais.
Especial (2001) mencionam o grande desafio
que é imposto à educação, ou seja, os Nos séculos XVIII e XIX, surge a
sistemas de ensino devem se organizar para institucionalização da Educação Especial,
atender a todos os alunos se fundamentando oferecendo-lhes uma educação à
nos princípios que buscam a preservação parte. São indicados quatro estágios no
da dignidade humana, da identidade e do desenvolvimento de formas de atendimento
exercício da cidadania. à pessoa com deficiência.

As Unidades Escolares comprometidas A fase de negligência, na era pré-


com a educação no sentido da igualdade e cristã se caracteriza pela ausência total
da equidade vivem o desafio de enfrentar de atendimento. Os deficientes eram
essa situação procurando modos de abordar abandonados e eliminados. O tratamento
e construir respostas. Durante muitos era concedido pelas concepções de caridade
anos, a abordagem mais usual aos temas ou castigo. Na fase de institucionalização os
relativos à diferença e à diversidade foi a de deficientes eram segregados e protegidos
não reconhecer os processos de exclusão em instituições residenciais. Na terceira
social. Assim, as pessoas que viviam essas fase surgem as classes especiais em escolas
situações acreditavam que isso deveria ser regulares visando oferecer ao deficiente uma
um “problema” pessoal. (SÃO PAULO, 2019, educação à parte.
p. 32-33)
No quarto estágio o movimento de
As raízes históricas e culturais se tratando integração dos indivíduos com deficiência
de “deficiência” sempre foram marcadas por aumenta e tem como objetivo integrá-los
fortes rejeições, discriminação e preconceito. em ambientes escolares aproximando-os das
Desde a Idade Antiga, existia uma política pessoas “normais”. O deficiente deveria ser
extrema de exclusão de pessoas deficientes. educado até o limite de sua capacidade.
Na Grécia Antiga, crianças deficientes eram
abandonadas nas montanhas. Em diversas As primeiras instituições voltadas ao
obras aparecem relatos que sugerem a atendimento dos deficientes mentais,
exclusão. surgiram anexadas aos hospitais psiquiátricos,

702
Revista Educar FCE - Abril 2019

a primeira instituição apareceu em 1874 no ainda, escolas privadas com alta qualidade
Hospital Juliano Moreira, em Salvador, no técnica para crianças com problemas de
estado da Bahia e em 1887, a Escola México, comportamento, para deficientes mentais,
era criada no Rio de Janeiro oferecendo deficientes neuromotores graves e com
o ensino regular para deficientes mentais, distúrbios neuropsicomotores pouco
visuais e físicos. acentuados.

A história da educação especial no A década de 1980 é conhecida por


Brasil está intimamente ligada à história da estimular a garantia dos direitos sociais das
psiquiatria. Em 1907, foi criada a Sociedade pessoas com deficiência e o ano de 1981
Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e foi eleito pela ONU, Organização da Nações
Medicina Legal. Esta psiquiatria não Unidas como a ano internacional das pessoas
correspondia a uma prática coerente, embora deficientes.
houvesse esforços neste sentido, as ações e
práticas ficavam por conta de pessoas leigas
e/ou religiosos. O PROCESSO DE
INCLUSÃO ESCOLAR
Em 1932, Helena Antipoff fundou a
sociedade Pestalozzi, visando o amparo O conceito de integração escolar se refere
e educação das crianças e excepcionais. às mudanças administrativas e técnicas que
Segundo Mazzotta (2001) por iniciativa de ocorreram entre as escolas comuns e as
Antipoff, foi também fundada a Sociedade escolas especiais, os alunos considerados
Pestalozzi do Estado do Rio de Janeiro, em “aptos” podem frequentar a escola comum
1948, destinada ao amparo de crianças parcialmente ou provisoriamente. A
e adolescentes deficientes mentais. Esta segregação está inerente à integração
instituição foi pioneira na orientação escolar na medida em que somente os
profissionalizante de jovens deficientes alunos que conseguem a adaptação aos
mentais e responsável pela instalação sistemas regulares de ensino, permanecem
das primeiras oficinas pedagógicas para e frequentam as classes comuns, os demais
deficientes mentais no Brasil. são encaminhados às classes especiais e/ou
escolas especiais.
Em 1954, era criada no Rio de Janeiro
a 1ª Associação de Pais e Amigos dos Durante muito tempo, o acesso ao conhecimento
foi ofertado para uma parcela muito pequena da
Excepcionais (APAE). Além das instituições sociedade. A educação como direito defende o
de caráter assistencial, surgiram centros de pressuposto de que igualdade de oportunidades
reabilitação e clínicas privadas, com elevado entre as pessoas é fundamental para a construção
de uma sociedade justa e democrática e que ela,
nível técnico para o atendimento a crianças por ser um dever do Estado, pode ser partilhada
deficientes com alto poder aquisitivo e, por todos. A escola pública é a possibilidade de não
apenas oferecer para todos igual oportunidade de

703
Revista Educar FCE - Abril 2019

ingresso, independentemente de suas origens, diferenças e diversidades, mas garantir que todos possam ter o
seu lugar como sujeito, cidadão e aprendente igualmente assegurado. A hipótese de que todos os que estão
presentes na U.E podem aprender é fundamental para que ela possa cumprir com a promessa de igualdade. (SÃO
PAULO, 2019, p. 30)

A integração no ensino regular visa integrar totalmente ou parcialmente. A integração


total se refere ao encaminhamento do aluno para o ensino regular, em uma sala comum, a
integração parcial encaminha o aluno à uma classe especial. Na integração escolar o aluno
deve estar preparado para conviver com os demais, as características são pré-estabelecidas
e o aluno é avaliado, podendo ser aceito ou não, se adaptar ou não, ao grupo das “maiorias”.
Aquele que não se enquadrar nos padrões terá um atendimento à parte, separado dos demais.

O conceito de inclusão, apesar de estar profundamente vinculado as deficiências das crianças, ampliou-se nos
debates e nas políticas educacionais. A concepção de diversidade e singularidade das pessoas mostra que cada
bebê e cada criança devem ser vistos como uma pessoa diferente das demais, com interesses e necessidades
próprias e que precisa de uma intervenção pedagógica construída a partir das suas características e de seu
grupo de colegas. Se uma Unidade Escolar consegue incorporar em suas práticas o respeito à alteridade humana,
certamente conseguirá atender as necessidades de todos os bebês e crianças. (SÃO PAULO, 2019, p. 33)

O conceito de inclusão escolar surge em interrupção ao processo de integração escolar, o


foco é modificado e o problema passa do indivíduo para a sociedade. A inclusão de todos os
alunos requer uma mudança gradativa, da integração à inclusão, com recursos especializados,
sala de recursos e propostas de práticas alternativas, evitando uma mudança brusca nos
sistemas de ensino, dando tempo para a assimilação deste novo paradigma e de uma nova
concepção de aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Nesta nova concepção de aprendizagem, na educação inclusiva, todos os alunos são


capazes de aprender juntos, participar das mesmas atividades e compartilhar o mesmo
espaço. As deficiências devem ser respeitadas e o acesso às oportunidades devem ser as
mesmas, nesta visão incluem todas as crianças que possam ter alguma dificuldade de acesso
e permanência à escola e não só os deficientes.

O desafio que o Parecer das Diretrizes Nacionais traz para a educação é o de promover a
inclusão escolar para todos os alunos, independentemente de suas diferenças. O movimento
para a inclusão escolar está ligado a uma reforma no sistema educacional, prevista em
legislação específica, que promova uma educação de qualidade para todos.

Enfrentar o desafio da convivência e da aprendizagem na diversidade exige da(o) professora(o) e da instituição


construir uma cultura equitativa, que possa oferecer recursos, materiais ou tecnologias diferenciadas, rompendo
preconceitos. Porém, não é somente em agrupamentos de crianças com deficiência ou altas habilidades/
precocidade que o tema da inclusão deve ser abordado. Utilizar literatura, filmes, desenhos animados, brinquedos
e imagens, sair em visitas a certos espaços sociais ou ainda convidar pessoas com deficiência para comparecer
às Unidades Escolares pode ser uma boa alternativa para conversar sobre esses temas que são importantes na
formação de todos. (SÃO PAULO, 2019, p. 54)

Com base na Declaração de Salamanca as escolas devem se ajustar a todas as crianças,


independentemente de suas condições físicas, intelectuais, linguísticas ou outras. Neste
conceito terão de se incluir crianças com deficiência ou superdotadas, crianças de rua ou
crianças que trabalham, crianças de populações remotas ou nômades, crianças de minorias
linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou “marginais”.

O enfoque atual da inclusão escolar pressupõe que todos tenham as mesmas condições de
acesso e permanência, não há espaço para a segregação, para a integração ou para a exclusão
escolar. A efetiva inclusão escolar traz um conceito muito amplo e exige modificações de
conceitos e paradigmas, não é o aluno que deve se ajustar aos padrões estabelecidos na
escola ditos como “normais”, com a mudança de paradigma a escola tem o compromisso de
realizar os ajustes necessários aos alunos, atendendo as suas dificuldades e diversidades e
garantindo o sucesso na aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história da educação especial sempre foi marcada por
discriminação e rejeição. Os deficientes eram excluídos da
sociedade e não havia a preocupação com a sua escolarização.
Somente a partir do século XVIII os deficientes passam a ser
integrados à sociedade e as preocupações com a educação
desta clientela passam a ser discutidas. Ao longo dos anos
foram criadas instituições especializadas no atendimento
ao deficiente e as escolas especiais e/ou classes especiais
funcionavam como um preparatório para a criança acessar a
escola regular.

O aluno aprende com a convivência e com a troca de LUCIANA DONATO


experiências com o outro, a escola neste contexto possui o OLIVEIRA
caráter de auxiliar o aluno nesta troca de conhecimentos e
Graduação em Pedagogia pela
em sua convivência social. As pessoas são diferentes entre Universidade Metropolitana
si e a escola deve contribuir para o respeito as diferenças e de Santos (2014); Especialista
promover uma educação para a inclusão e para o respeito a em Formação Docente pela
Faculdade de Ciências e
diversidade. Tecnologia Paulistana (2018);
Professora de Educação Infantil e
O conceito de integração escolar se refere às mudanças Ensino Fundamental I - na EMEI
Felipe Mestre Jou.
administrativas e técnicas que ocorreram entre as escolas
comuns e as escolas especiais, os alunos considerados
“aptos” poderiam frequentar a escola comum parcialmente ou provisoriamente.

O conceito de inclusão escolar pressupõe que todos os alunos são capazes de aprender
juntos, participar das mesmas atividades e compartilhar o mesmo espaço. As deficiências
devem ser respeitadas e o acesso às oportunidades devem ser os mesmos, nesta visão
incluem todas as crianças que possam ter alguma dificuldade de acesso e permanência à
escola.

O desafio da escola é criar espaços inclusivos para que todos os alunos possam aprender
independente de qualquer diferença, buscando uma escola de qualidade para todos. As ações
educativas devem ser pautadas no objetivo de proporcionar ao aluno com deficiência o
sucesso na aprendizagem e o direito à igualdade de oportunidades de acesso e permanência
na escola.

706
Revista Educar FCE - Abril 2019

Com base nos aspectos observados e analisando a legislação em vigor, a escola como
órgão do Estado e tendo o dever de cumprir e desenvolver a sua função social, deve
trabalhar no sentido de difundir as práticas de respeito e tolerância as diferenças, sejam
elas de qualquer espécie, e promover a conscientização para a formação de alunos para a
diversidade, desenvolvendo ações de maneira democrática e construído uma cultura escolar
pautada em tais princípios.

A garantia de acesso ao sistema educacional a todos os alunos é uma das propostas


da educação inclusiva e a legislação pertinente garante esta inclusão por meio de suas
deliberações. Inserir o aluno com deficiente nas classes comuns, não garante a efetiva
inclusão, é necessário planejamento, oportunidades, respeito às diferenças e a criação de
práticas sociais e educacionais que contribuam com o processo de inclusão escolar.

707
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de
1988. Brasília, 1988.

BRASIL. Decreto nº 3298 de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a lei nº 7853/89, dispõe


sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Brasília,
1999.

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Brasília, 2001.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN 9394, de 20 de dezembro


de 1996.

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BRASIL. Parecer CNE/CEB nº 17 de 3 julho de 2001. Diretrizes Nacionais para a Educação


Especial na Educação Básica. DOU em 17/08/2001. Seção 1. p. 46. 2001.

BRASIL. Resolução nº 2 de 11 de setembro de 2001. CEB/CNE. Institui Diretrizes Nacionais


para a Educação Especial na Educação Básica. DOU em 14/09/2001. Seção 1E, p 39-40,
2001.

BUENO, José Geraldo Silveira. Educação Especial Brasileira: a integração - segregação do


aluno diferente. São Paulo: EDUC, 1993.

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Brasília: CORDE, 1994.

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uma reflexão sobre o tema. 1. Ed. São Paulo: Memnon: Editora Senac, 1997.

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da Cidade: Educação Infantil. São Paulo. SME. COPED. 2019.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A DEPRESSÃO NO CONTEXTO
ESCOLAR: UM OLHAR DIFERENCIADO
RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar e discutir a depressão no contexto escolar
com um olhar diferenciado, levando em consideração o fato de que a Escola tornou-se um
espaço estratégico, democrático e privilegiado na promoção e prevenção contra problemas
de saúde mental como é o caso da depressão. É importante ressaltar que as Unidades
Escolares são mais acessíveis à população e proporcionam a realização de intervenções
sociais com menos estigma tanto para alunos como familiares. Os conflitos, situações
de bullying, indisciplina, falta de cooperação e desrespeito são fatores que desgastam as
relações e influem o clima escolar. Nesse contexto, alunos, gestores, professores e outros
profissionais da escola possuem a responsabilidade social de tornar o ambiente escolar um
espaço mais acolhedor e inclusivo não excludente. A célebre frase de William Shakespeare
que diz que todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente resume bem o
tema abordado nesse artigo.

Palavras-Chave: Depressão; Contexto Escolar; Olhar diferenciado.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO achar que a quilo seja real, em casos mais


estaremos levando a cometer assassinato.
O presente artigo tem por objetivo
discutir e alertar como a depressão, doença Não se sabe exatamente o que pode causar
que já é considerada uma epidemia e um a depressão, pois até hoje ela permanece
grave problema de saúde pública, deve ser como um grande quebra-cabeça incompleto,
abordada no contexto escolar, o que inclui visto que só se tem hipóteses sobre o que
uma união entre a escola e familiares e/ou pode desencadeá-la, pois não existem
responsáveis dos alunos para o diagnóstico verdades absolutas acerca da doença.
precoce e tratamento eficaz.
É consenso entre os profissionais da
A esse respeito vale lembrar que o área de saúde mental a necessidade de
processo de evolução e desenvolvimento construir e desenvolver um pensamento
do ser humano é dinâmico e, portanto, educacional que venha ao encontro das
sujeito a mudanças contínuas. Hoje em reais necessidades desses adolescentes, seja
dia, um adolescente que demonstra um dando ferramentas aos professores a fim
comportamento depressivo, com um bom de que possam identificar uma criança que
diagnóstico e tratamento adequado, poderá esteja vivenciando um episódio depressivo,
reverter o caso, ao ajustar-se e ter uma boa seja adaptando os métodos de ensino e os
qualidade de vida. Do contrário, poderá conteúdos programáticos às possibilidades
ter seu quadro depressivo agravado ou desses alunos, considerando o momento
poderá ter sucessivos episódios depressivos, atual de sua vida.
tornando-se posteriormente um adulto
infeliz e frustrado. Inúmeros fatores estão relacionados à
manifestação dessa doença clínica, entre
A depressão é uma doença psicológica e eles estão: fatores genéticos, biológicos
altamente incapacitante que possui relação (alterações corporais que atingem o cérebro
complexa com outras doenças crônicas e que, e diversos outros sistemas do organismo) e
no entanto, é subdiagnosticada e subtratada, psicológicos e/ou ambientais.
afetando várias pessoas de todas as faixas
etárias, classes sociais atingindo também Não se sabe exatamente o que pode causar
o contexto escolar. Ela pode se manifestar a depressão, pois até hoje ela permanece
de várias maneiras e formas. Existem como um grande quebra-cabeça incompleto,
vários subtipos de depressão, alguns com visto que só se tem hipóteses sobre o que
sintomas diferentes e, em casos mais graves, pode desencadeá-la, posto que não existem
a depressão pode levar a atitudes extremas verdades absolutas acerca da doença.
como o suicídio. Dependendo do tipo de
depressão a pessoa pode ter alucinações e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Inúmeros fatores estão relacionados à da depressão, pais e professores não a


manifestação dessa doença clínica, entre reconhecem, dificultando o diagnóstico
eles, estão: fatores genéticos, biológicos precoce e o tratamento adequado.
(alterações corporais que atingem o cérebro
e diversos outros sistemas do organismo) e Nos últimos anos, a escola tornou-se
psicológicos e/ou ambientais. O tratamento da um espaço de inclusão social, de caráter
depressão é o conjunto de acompanhamento estratégico e privilegiado, portanto, não se
com o psicólogo, atividades físicas ou passa pode falar de aprendizagem e comportamento
tempo e medicamentos antidepressivos. socioemocional como aspectos separados.
Dependendo do tipo de depressão é preciso Em outras palavras, no contexto atual da
recorrer a tratamentos mais rigorosos, com educação para a inclusão, problemas de
tratamento de eletro choque. saúde mentais como a depressão tornaram-
se uma questão escolar, pois no dia a dia
A Escola, educadores, gestores e professores, coordenadores e gestores
coordenadores estão um passo à frente enfrentam dificuldades para lidar com
na identificação de sinais que exijam situações em que alunos se cortam, tentam
encaminhamento para avaliação de suicídio, apresentam baixo rendimento
profissionais da área de saúde mental ao escolar, deixam de freqüentar a escola e
contribuir para uma intervenção precoce assim por diante.
por meio da implementação de políticas de
saúde pública para crianças, adolescentes O professor está em uma posição
e jovens, posto que o processo de diferenciada por poder observar os alunos em
ensino-aprendizagem e comportamento diversos contextos por períodos de tempo
socioemocional não podem ser tratados mais longo, ter experiência com alunos de
como esferas independentes. diferentes faixas etárias, podendo utilizar-
se da flexibilidade curricular para tratar de
assuntos relacionados à promoção da saúde
PROMOVENDO A SAÚDE mental no contexto escolar.
MENTAL NA ESCOLA
A falta de informações confiáveis e de
A depressão no contexto escolar é um orientação especializada causa uma visão
assunto muito pouco discutido e, por distorcida do professor em relação ao aluno,
isso, alguns pais não sabem dizer se o visto que o professor bem informado, sensível
adolescente tem depressão ou se isso é e com um olhar mais humanizado pode atuar
apenas coisa da idade, já que a adolescência tanto na promoção como na prevenção de
é uma fase turbulenta, com oscilações doenças mentais como a depressão, que é
de humor e emoções à flor da pele e, pela tão comum e presente nas escolas.
falta de entendimento acerca dos sintomas A escola ao suspeitar de depressão em um

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Revista Educar FCE - Abril 2019

aluno deve, de forma sensível e cuidadosa, desenvolvimento de vínculos com base


aproximar-se da família; buscar um na afetividade, empatia, escuta reflexiva e
profissional da área da saúde mental para que respeitosa, na consideração das qualidades
seja feita uma avaliação e, se necessário, um dos educandos procurando fortalecer a
tratamento; enfrentar pronta e diretamente autoestima.
o problema e rejeitar interpretações do
comportamento do jovem como “frescura” Deve-se deixar claro que esse artigo não
ou “falta de limites”. sugere ou pretende que os professores
assumam a responsabilidade pelo diagnóstico
Porém, a família não pode ser omissa da depressão ou mesmo que apliquem
e deixar tudo nas costas da escola, já que qualquer tipo de conhecimento que não
o ambiente familiar é um dos principais seja da área de educação, pois o diagnóstico
alicerces da formação da personalidade e médico da depressão é complexo e deve ser
caráter dos alunos. Para que a aliança entre feito por psicólogos ou psiquiatras. Trata-se
a escola e a família ocorra de forma efetiva de uma avaliação cuidadosa dos sentimentos,
e eficaz, é necessária uma boa comunicação, pensamentos e comportamentos da pessoa;
que consista em um diálogo harmonioso portanto, pode levar tempo.
pautado no respeito e colaboração.
Porém, como a questão de saúde mental
Quanto mais cedo a intervenção de dos alunos nas escolas tornou-se assunto
aproximação da escola com a família do aluno, recorrente nas reuniões e no cotidiano
melhores são as chances de recuperação, escolar, a figura do educador na promoção
pois muitos adolescentes sem o diagnóstico e prevenção da saúde mental pode ser de
por causa dos sintomas se parecerem com os grande vantagem na prática educativa, uma
problemas da idade apenas. vez que muitas vezes os alunos passam mais
tempo com os professores do que com os
A falta de informações confiáveis e de próprios pais e/ou responsáveis.
orientação especializada causa uma visão
distorcida do professor em relação ao aluno, A Escola ao suspeitar que um aluno
visto que o professor bem informado, sensível esteja deprimido deve, de forma sensível
e com um olhar mais humanizado pode atuar e cuidadosa, aproximar-se da família;
tanto na promoção como na prevenção de buscar um profissional da área da saúde
doenças mentais como a depressão, que é mental para que seja feita uma avaliação
tão comum e presente nas escolas. e, se necessário, um tratamento; enfrentar
pronta e diretamente o problema e rejeitar
Os professores já interagem na questão interpretações do comportamento do jovem
e no processo “saúde-doença” dos alunos como “frescura” ou “falta de limites’.
de maneiras variadas, por exemplo, no

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Os sintomas da depressão no contexto para ajudar na recuperação do aluno e


escolar são parecidos com os problemas na comunicar a escola sobre o que eles devem
infância e adolescência e, por isso, torna fazer para que o aluno não tenha recaída
difícil o diagnóstico. Os principais sintomas durante o tratamento ou o abandone, a fim
são: de para recuperar o rendimento escolar e a
sensação de bem-estar.
● Queda no rendimento escolar;
● Isolamento dos colegas de classe e Por isso, é preciso entender que a depressão
amigos; é uma doença psicológica que prejudica a
● Falta de concentração nas matérias e produção de hormônios e o modo como eles
atividades; agem no corpo. Durante muitas décadas
● Desinteresse pelas tarefas escolares; a depressão foi diagnosticada de forma
● Diminuição da freqüência a escolar; imprudente por não ser tão reconhecida
● Desrespeito com professores e colegas pela sociedade. Depois de alguns anos, a
de classe; depressão foi começando a ser reconhecida
● Sentimento de exclusão em relação por especialistas e pela sociedade com o
aos outros colegas de classe; aumento de casos de pessoas com depressão
● Automutilação; e com o surgimento de antidepressivos.
● Pensamentos negativos.
Não se sabe ainda o que realmente pode Existem vários tipos de depressão que
causar a depressão no contexto escolar, mas podem se manifestar de diversas maneiras
os psicólogos e psiquiatras têm algumas em cada pessoa com diferentes sintomas
hipóteses sobre suas causas que são: e, consequentemente, isso dificulta o
● Problemas familiares; diagnóstico da depressão.
● Pressão da família sobre o adolescente;
● Bullying, racismo e preconceito na Quando o diagnóstico é confirmado, o
escola; psiquiatra ou psicólogo recomendam alguns
● Pressão dos professores sobre o aluno; tipos de tratamento como: atividade física,
● Estrutura familiar não favorável; passa tempo, fazer algo que goste, ou em
● Sentimento de exclusão em relação último caso, recorrer a medicamentos como
aos colegas de classe e familiares, entre antidepressivos ou psicoterapia.
outros.
Algumas pessoas são mais vulneráveis
Na maioria dos casos, quando o para entrarem em depressão e não precisam
adolescente é diagnosticado com depressão, de motivos para isso, pois elas já têm
o psiquiatra ou psicólogo recomendam um uma tendência para entrar em depressão
tratamento para o adolescente e conversam (histórico familiar).
com os pais sobre o que eles devem fazer

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Segundo as estatísticas divulgadas pela doenças mentais como a depressão, que é


Organização Mundial da Saúde (OMS), a tão comum e presente nas escolas.
depressão afeta 4,4% da população mundial
e no Brasil 5,8% segundo. No mundo, a
depressão afeta 322 milhões de pessoas, A PROMOÇÃO E PREVENÇÃO
dados referentes a 2015. De 2005 a 2015 DA SAÚDE MENTAL NAS
esse número cresceu 18,4%.
ESCOLAS BRASILEIRAS
No Brasil, esse problema afeta um total E NO MUNDO
de 11,5 milhões de pessoas, conforme os
dados da OMS, e é o país com mais casos As iniciativas de promoção de saúde e
de depressão da América Latina, e o segundo prevenção nas escolas do Brasil iniciaram-
com maior índice nas Américas e fica atrás se em 1996 com a publicação da Lei de
somente dos Estados Unidos, que têm 5,9% Diretrizes e Bases da Educação Nacional
de pessoas que sofrem de depressão. Além (nº 9.394), também conhecida como LDB, e
disso, os países que têm casos de depressão da elaboração dos Parâmetros Curriculares
maiores do que no Brasil são: Austrália (5,9), Nacionais (PCNs), o tema Saúde ganhou
Estônia (5,9) e Ucrânia (6,3). mais importância nas escolas, já que estão
alinhados aos princípios de promoção de
O Brasil é o quinto país no mundo com saúde nas escolas indicados pela Organização
o maior Índice de depressão no mundo. Mundial da Saúde (OMS).
Segundo as estatísticas da OMS, a partir
2020 a depressão vai ser a segunda doença Os professores já interagem na questão
que causa mais mortes no mundo, atrás e no processo “saúde-doença” dos alunos
apenas de doenças cardíacas. A depressão de maneiras variadas, por exemplo, no
é mais comum nas mulheres do que nos desenvolvimento de vínculos com base
homens. na afetividade, empatia, escuta reflexiva e
respeitosa, na consideração das qualidades
Segundo a OMS, a cada dia no Brasil 33 dos alunos procurando fortalecer a
pessoas cometem suicídio e isso resulta em autoestima.
12.000 mortes por ano.
Deve-se deixar claro que esse artigo não
A falta de informações confiáveis e de sugere ou pretende que os professores
orientação especializada causa uma visão assumam a responsabilidade pelo diagnóstico
distorcida do professor em relação ao aluno, da depressão ou mesmo que apliquem
visto que o professor bem informado, sensível qualquer tipo de conhecimento que não
e com um olhar mais humanizado pode atuar seja da área de educação, pois o diagnóstico
tanto na promoção como na prevenção de médico da depressão é complexo e deve ser

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Revista Educar FCE - Abril 2019

feito por psicólogos ou psiquiatras. Trata-se pois programas de educação em saúde mental
de uma avaliação cuidadosa dos sentimentos, voltados aos professores, coordenadores,
pensamentos e comportamentos da pessoa; gestores, aos alunos ou a todos podem levar a
portanto, pode levar tempo. intervenções direcionadas aos alunos podem
ser colocadas em prática por professores
Porém, como a questão de saúde mental treinados ou por profissionais da área da
dos alunos nas escolas tornou-se assunto saúde. O fortalecimento da “alfabetização”
recorrente nas reuniões e no cotidiano em saúde mental da comunidade escolar
escolar, a figura do educador na promoção ocorre por meio da disseminação do
e prevenção da saúde mental pode ser de conhecimento e das mudanças de atitudes
grande vantagem na prática educativa, uma adquiridas pelos profissionais da área da
vez que os alunos convivem mais tempo com Educação.
os professores do que com os próprios pais
e/ou responsáveis. Para ilustrar melhor tudo o que foi
mencionado até aqui, vale citar alguns
Cabe destacar também que o envolvimento programas de capacitação em saúde mental
da família com a educação dos filhos é um de educadores que abordam a identificação,
fator fundamental não apenas para o bom o encaminhamento e o apoio ao aluno,
rendimento escolar do aluno como também e podem ser adaptados para aplicação
para seu desenvolvimento socioafetivo. A em qualquer ambiente escolar, são eles:
família e a escola devem funcionar como Teen Mental Health, que é um programa
uma equipe, que se complementa, valoriza e canadense disponível em inglês no site: www.
oferece suporte, para enfrentar e saber lidar teenmentalhealth.org, e o REACH (Response
da melhor maneira possível com as questões Early Intervention Assessment Community
conflituosas dos alunos. Mental Health), em Singapura, no sudeste
Asiático. As avaliações desses programas
A promoção em saúde mental e prevenção demonstraram avanços significativos no
de doenças mentais como a depressão conhecimento e nas atitudes dos educadores
vêm ganhando mais espaço e um número treinados, bem como na agilidade na busca
cada vez mais maior de pessoas passou a por atendimento das pessoas acometidas
enxergar as questões de saúde mental de por problemas de saúde mental.
modo mais consciente, responsável e menos
preconceituosa. A comunidade escolar internacional
preocupada com os prejuízos atrelados
Sendo assim, a escola por ser considerada o aos transtornos mentais como a depressão
local ideal para a educação em saúde mental, passou a ressaltar a necessidade de ações
não só pela construção de conhecimentos intervencionistas sobre esse assunto no
como também pelo tempo de permanência, ambiente escolar. O chamado Pacto Europeu

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Revista Educar FCE - Abril 2019

para a Saúde Mental e o Bem-Estar (em tradução livre de “European Pact for Mental Health
and Well-Being”) estabeleceu a introdução estratégicas de políticas de promoção e
prevenção da saúde mental em atividades curriculares e extracurriculares nas escolas.

Quanto mais cedo a intervenção de aproximação da escola com a família do aluno,


melhores são as chances de recuperação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo abordou-se o tema: “Depressão no contexto
escolar: um olhar diferenciado” e, após diversas leituras,
discussões e reflexões, concluiu-se que a depressão ainda é
um assunto considerado tabu, por isso, uma doença muito
pouco discutida pela nossa sociedade, apesar de constituir
um grave problema de saúde pública, não só no Brasil como
no mundo inteiro.

As pessoas acometidas pela depressão são estigmatizadas,


ou seja, sofrem um preconceito velado, já que grande parte
das pessoas consideram a doença como “frescura” ou LUCIANA DONEGATTI
algo sem muita importância, por terem pouco ou nenhum DE LIMA
conhecimento acerca do assunto.
Graduação em Letras, habilitação
tradutor/intérprete português e
A depressão é uma doença muito grave e de difícil inglês pelo Centro Universitário
diagnóstico, que se não diagnosticada de forma precoce Ibero-Americano (2002);
Especialista em Docência do
pode levar a pessoa deprimida a cometer suicídio ou, em Ensino Superior pela PUC/SP
casos mais graves,assassinato. (2006); Professor de Ensino
Fundamental II e Médio - Língua
Inglesa - na EMEF Profa. Áurea
É importante lembrar que a depressão é uma doença Ribeiro Xavier Lopes.
clínica, já considerada uma epidemia pela OMS (Organização
Mundial da Saúde) que afeta qualquer pessoa em qualquer
fase da vida, independentemente, de classe sua social, faixa etária, gênero, credos ou culturas.

Durante a realização desse artigo, pode-se observar que diversos estudos apontam as
melhorias que o clima escolar positivo acarreta, pois elas não promovem apenas o bem-estar
emocional dos alunos mas também de educadores, funcionários e até das famílias. Com
espaços de acolhimento, equipe preparada e bem informada e parceiros mobilizados, os
indivíduos se sentem seguros, apoiados, engajados, pertencentes à escola e respeitosamente
desafiados.

Sendo assim, percebe-se que a escola representa um importante espaço de convívio social,
pois representa inúmeros reflexos dessa realidade exposta acima, além de os alunos muitas
vezes passarem mais tempo na escola do que em casa. A família e a escola devem funcionar
como uma equipe , que se complementa, valoriza e oferece suporte para proporcionarem
soluções ou alternativas eficientes e eficazes para situações problema que surgirem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

De acordo com a psicopedagoga Denise Caramori de Souza, o trabalho psicoeducativo


com pais e professores é fundamental, pois nos deparamos com pessoas resistentes quanto
ao diagnóstico e quanto à necessidade de tratamento da depressão. Informações sobre as
características da doença, seus sintomas, prejuízos e consequências é fundamental para que
uma rede de apoio social seja formada em beneficio da criança ou do adolescente.

Concluo esse artigo com a seguinte frase: “O conhecimento sobre saúde mental é a
maior arma contra o preconceito”, não tenha vergonha de procurar ajuda de um profissional
especializado em saúde mental, seja um psiquiatra ou psicólogo, afinal, você não está sozinho
nessa jornada!

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/759437/depressao-
psicotica-versus-depressao-maior-quais-sao-as-diferencas.htm>. Acesso em: 25 out. 2018.

Bressan,Rodrigo Affonseca; Gustavo M. Estanislau. Saúde Mental na Escola: O Que Os


Educadores Devem Saber. São Paulo: Artmed, 2014.

Camargo, Wanda. Depressão no contexto escolar. Disponível em: <https://meuartigo.


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Coleman, Daniel. Inteligência Emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser
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Equipe IPAN. Depressão: a doença que afeta o humor. Disponível em: <http://hwww.ipan.
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Equipe Psicologias do Brasil. Depressão atípica: sintomas do transtorno mais difícil de


diagnosticar. Disponível em: <https://www.psicologiasdobrasil.com.br/depressao-atipica-
sintomas-transtorno-mais-dificil-de-diagnosticar/>. Acesso em: 11/09/2018.

Equipe SBie. Conheça os sintomas de uma depressão reativa e como evitá-la. 2017. Disponível
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Equipe SBie. Entenda como a psicologia explica a depressão bipolar e o seu tratamento.
Disponível em: <www.sbie.com.br/entenda-como-psicologia-explica-depressao-bipolar-e-
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719
Revista Educar FCE - Abril 2019

Equipe A Mente é Maravilhosa. Depressão reativa: quando os acontecimentos externos nos


atingem. Disponível em:<https://amenteemaravilhosa.com.br /depressao-reativa/>. Acesso
em: 15/09/2018.

Neto, Tito Paes de Barros. Depressão psicótica: culpa e hipocondria. Disponível em: <http://
www.medosefobias.com.br/depressao-psicotica/>. Acesso em: 04/09/2018.
Souza, Denise Caramori de. Depressão na Escola. 2017. Disponível em:< www.progresso.
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Revista Educar FCE - Abril 2019

SUSTENTABILIDADE UM
DESAFIO PARA A ESCOLA
RESUMO: A realidade socioambiental com a qual nos deparamos em nossos dias atuais,
nos faz repensar na formação dos professores, quanto a sua postura crítica e reflexiva. O
trabalho pedagógico desenvolvido de sustentabilidade nas escolas, deve valorizar o diálogo,
assim como as vivências individuais de cada um, para que as ações dos professores junto
a seus alunos, possa ter a possibilidade de tornar no futuro, uma sociedade mais justa e
equilibrada ecologicamente. A escola deve ser sede de um espaço, onde professores e alunos
se tornem cada vez mais sujeitos ativos, trabalhando dentro do âmbito escolar, problemas
reais, concretos e trazendo para dentro do ambiente escolar dificuldades do cotidiano
socioambiental.

Palavras-Chave: Formação; Realidade; Socioambiental;

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO sua própria qualidade de vida, os estudos


quando baseados em vivência real, facilita
Esse artigo tem por método a base ao professor articular conteúdos escolares
bibliográfica. Deu-se através de leituras entre a realidade local e o objeto de estudo,
diversas, para tornar possível uma visão produzindo um conhecimento original e
ampla sobre a educação socioambiental. inesquecível.

O presente artigo, visa a formação A escola é um espaço socializador e quando
continuada dos profissionais de ensino, para através de seus projetos, consegue promover
a melhoria da educação ambiental, junto ao além de novos conhecimentos, também
ambiente escolar, visando a amplitude de novos comportamentos, entre professores e
projetos escolares baseados na educação alunos, fazendo o uso da pesquisa, torna-se
ambiental, valorizando as diversas vivencias eficaz e tem seus objetivos alcançados.
do educando.

A formação de professores investigadores REFLEXÃO SOBRE MEIO
é fundamental para a elaboração de AMBIENTE NO ÂMBITO
projetos escolares baseados na educação
socioambiental, que priorize em seu ESCOLAR
planejamento o trabalho de campo, junto ao A aprendizagem social promove o
educando e dos problemas socioambientais, repensar de conceitos, a construção de
valorizando o diálogo professor aluno, novos conhecimentos e valores capazes de
promovendo a transformação da dificuldade contribuir para a transformação de práticas,
em desafios com objetivos traçados a serem e o desenvolvimento de novas competências,
alcançados. visando à participação de forma plena e eficaz
na solução de problemas socioambientais,
O projeto escolar quando aplicado de na tomada de decisão em relação a eles e na
forma eficaz, possibilita a transformação da gestão de conflitos por meio de processos
realidade do educando, contribuindo para de coaprendizagem (WALS 2007).
o exercício da cidadania, onde o trabalho
professor aluno concede subsídios até A educação socioambiental deve se fazer
mesmo para a melhoria da qualidade de vida conhecer para que ocorra uma total interação
dos cidadãos. entre alunos, professores e ambiente escolar,
embora os ecologistas discutam há mais
O aluno quando vivencia aquilo a de meio século o efeito da ação do homem
que estuda, torna o estudo significativo, sobre o planeta, está ainda é uma temática
tornando-se sensibilizadores, tecendo um recente em sala de aula.
elo entre conhecimento e melhoria da

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A educação socioambiental é um termo pode ser um bom caminho para se iniciar o


bastante utilizado nos últimos anos, debate sobre o papel e o futuro das escolas
para definir o conceito por debater as e até mesmo de futuros negócios.
responsabilidades dos indivíduos e as
consequências de suas ações. Os projetos escolares de educação
ambiental em desenvolvimento, como
Os projetos escolares de educação práticas político-pedagógicas, significam,
ambiental devem contribuir para a antes de uma possibilidade educativa, uma
construção de uma visão sistêmica das necessidade social e um compromisso
questões socioambientais e propiciar, por político com a construção de um lugar melhor
meio da integração dos recursos utilizados para viver. Buscam sensibilizar e mobilizar
em atividades didático-pedagógicas, a diferentes atores sociais a partir da escola a
compreensão das inter-relações entre fim de que participem na transformação de
ambiente e sociedade. Contribuindo propostas e sugestões escolares focadas na
tanto para a formação de alunos críticos melhoria da vida em projetos da comunidade
e participativos, capaz de compreender organizada.
o mundo em que vivem e dessa forma
contribuir no amanhã para uma melhoria da A formação socioambiental exige uma
qualidade de vida. sensibilização de professores, alunos e
comunidade por meio da consolidação dos
A educação ambiental como formação de espaços de aprendizagem social, nesse
cidadania, ou como exercício da cidadania, processo a escola contribuirá para enfrentar o
tem a ver com uma nova forma de conceber a desafio político-ético de educação ambiental,
relação entre sociedade e natureza em busca no enfrentamento de uma sociedade
da construção de sociedades mais justas e mais consciente e justa ecologicamente,
ecologicamente equilibradas. Isso implica exercendo a cidadania.
um processo de aprendizagem permanente
e exige a consecução de políticas públicas
transparentes, definidas e discutidas com o DECRETO DE
conjunto da sociedade, e voltadas à melhoria SUSTENTABILIDADE
da qualidade de vida (JACOBI, 2005).
NO BRASIL
A educação escolar deve caminhar em DECRETO Nº 7.746, DE 5 DE JUNHO DE
busca de um ensino que faça a diferença 2012
para a sustentabilidade, não somente na
educação escolar, mas para que os educandos Regulamenta o art. 3o da Lei no 8.666, de 21
carreguem esse aprendizado no decorrer de de junho de 1993, para estabelecer critérios,
suas vidas. As questões de sustentabilidade práticas e diretrizes para a promoção do

723
Revista Educar FCE - Abril 2019

desenvolvimento nacional sustentável nas Art. 3o Os critérios e práticas de


contratações realizadas pela administração sustentabilidade de que trata o art. 2o serão
pública federal, e institui a Comissão veiculados como especificação técnica do
Interministerial de Sustentabilidade na objeto ou como obrigação da contratada.
Administração Pública – CISAP.
Parágrafo único. A CISAP poderá propor
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das à Secretaria de Logística e Tecnologia da
atribuições que lhe confere o art. 84, caput, Informação do Ministério do Planejamento,
incisos IV e VI, alínea “a”, da Constituição, e Orçamento e Gestão o estabelecimento
tendo em vista o disposto no art. 3o da Lei de outras formas de veiculação dos
no 8.666, de 21 de junho de 1993, critérios e práticas de sustentabilidade nas
contratações.
DECRETA:
Art. 4o São diretrizes de sustentabilidade,
Art. 1o Este Decreto regulamenta o entre outras:
art. 3o da Lei no 8.666, de 21 de junho de I – Menor impacto sobre recursos naturais
1993, para estabelecer critérios, práticas como flora, fauna, ar, solo e água;
e diretrizes gerais para a promoção do II – Preferência para materiais, tecnologias
desenvolvimento nacional sustentável e matérias-primas de origem local;
por meio das contratações realizadas III – maior eficiência na utilização de
pela administração pública federal direta, recursos naturais como água e energia;
autárquica e fundacional e pelas empresas IV – Maior geração de empregos,
estatais dependentes, e institui a Comissão preferencialmente com mão de obra local;
Interministerial de Sustentabilidade na V – Maior vida útil e menor custo de
Administração Pública – CISAP. manutenção do bem e da obra;
VI – uso de inovações que reduzam a
Art. 2o A administração pública federal direta, pressão sobre recursos naturais; e
autárquica e fundacional e as empresas estatais VII – origem ambientalmente regular
dependentes poderão adquirir bens e contratar dos recursos naturais utilizados nos bens,
serviços e obras considerando critérios e práticas serviços e obras.
de sustentabilidade objetivamente definidos no
instrumento convocatório, conforme o disposto Art. 5º A administração pública federal
neste Decreto. direta, autárquica e fundacional e as empresas
estatais dependentes poderão exigir no
Parágrafo Único. A adoção de critérios instrumento convocatório para a aquisição
e práticas de sustentabilidade deverá ser de bens que estes sejam constituídos por
justificada nos autos e preservar o caráter material reciclado, atóxico ou biodegradável,
competitivo do certame. entre outros critérios de sustentabilidade.

724
Revista Educar FCE - Abril 2019

Art. 6º As especificações e demais Art. 9o Fica instituída a Comissão


exigências do projeto básico ou executivo Interministerial de Sustentabilidade na
para contratação de obras e serviços de Administração Pública – CISAP, de natureza
engenharia devem ser elaboradas, nos termos consultiva e caráter permanente, vinculada
do art. 12 da Lei nº 8.666, de 1993, de modo à Secretaria de Logística e Tecnologia da
a proporcionar a economia da manutenção e Informação, com a finalidade de propor
operacionalização da edificação e a redução a implementação de critérios, práticas e
do consumo de energia e água, por meio de ações de logística sustentável no âmbito
tecnologias, práticas e materiais que reduzam da administração pública federal direta,
o impacto ambiental. autárquica e fundacional e das empresas
estatais dependentes.
Art. 7o O instrumento convocatório poderá
prever que o contratado adote práticas de Art. 10. A CISAP será composta por:
sustentabilidade na execução dos serviços I – dois Representantes do Ministério do
contratados e critérios de sustentabilidade Planejamento, Orçamento e Gestão, sendo:
no fornecimento dos bens. a) um representante da Secretaria de
Logística e Tecnologia da Informação, que a
Art. 8o A comprovação das exigências presidirá; e
contidas no instrumento convocatório b) um representante da Secretaria de
poderá ser feita mediante certificação emitida Orçamento Federal;
por instituição pública oficial ou instituição II – Um representante do Ministério
credenciada, ou por qualquer outro meio do Meio Ambiente, que exercerá a vice-
definido no instrumento convocatório. presidência;
§ 1o Em caso de inexistência da III – um representante da Casa Civil da
certificação referida no caput, o instrumento Presidência da República;
convocatório estabelecerá que, após a IV – Um representante do Ministério de
seleção da proposta e antes da adjudicação Minas e Energia;
do objeto, o contratante poderá realizar V – Um representante do Ministério do
diligências para verificar a adequação do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
bem ou serviço às exigências do instrumento Exterior;
convocatório. VI – Um representante do Ministério da
§ 2o Caso o bem ou serviço seja considerado Ciência, Tecnologia e Inovação;
inadequado em relação às exigências do VII – um representante do Ministério da
instrumento convocatório, o contratante Fazenda; e
deverá apresentar razões técnicas, VIII – um representante da Controladoria-
assegurado o direito de manifestação do Geral da União.
licitante vencedor. § 1o Os membros titulares da CISAP
deverão ocupar cargo de Secretário, Diretor

725
Revista Educar FCE - Abril 2019

ou cargos equivalentes no órgão que SUSTENTABILIDADE ALÉM DOS


representam, possuindo cada um deles um LIMITES DA LEI, MAS PRESENTE
suplente.
§ 2o Os representantes, titulares e NO EXERCÍCIO DA CIDADANIA
suplentes, dos órgãos referidos nos incisos A sustentabilidade precisa sair dos
II a VIII do caput serão designados, no prazo âmbitos da lei e ir para prática, mas para isso
de trinta dias contado da data de publicação precisa passar pelos muros das escolas, ou
deste Decreto, por ato do Ministro de Estado seja, precisamos tirar a lei do papel, educar
do Planejamento, Orçamento e Gestão. nossas crianças, para construirmos cidadãos
conscientes a exercer uma cidadania de
Art. 11. Compete à CISAP: sustentabilidade. Nesse contexto tanto a
I – Propor à Secretaria de Logística e escola, quanto os professores devem fazer
Tecnologia da Informação: a diferença, propondo desafios, de modo
a) normas para elaboração de ações de que os educandos passem a observar mais,
logística sustentável; seguindo também seus interesses, fazendo
b) regras para a elaboração dos Planos novas descobertas.
de Gestão de Logística Sustentável, de que
trata o art. 16, no prazo de noventa dias a A formação do cidadão de amanhã, pede
partir da instituição da CISAP; que ele se torne crítico, pois sua inserção na
c) planos de incentivos para órgãos e sociedade, exige um conhecimento científico
entidades que se destacarem na execução e tecnológico que é cada vez mais valorizado.
de seus Planos de Gestão de Logística O homem deve se situar com um indivíduo
Sustentável; participativo e integrante do Universo do
d) critérios e práticas de sustentabilidade qual faz parte integrante.
nas aquisições, contratações, utilização dos
recursos públicos, desfazimento e descarte; A sustentabilidade deve ser utilizada na
e) estratégias de sensibilização e escola como um tema transversal, não apenas
capacitação de servidores para a correta como abordagens de temas, não somente
utilização dos recursos públicos e para para o mero cumprimento de conteúdos.
a execução da gestão logística de forma
sustentável; A sociedade exige cada vez mais um
f) cronograma para a implantação de volume maior de informações do que em
sistema integrado de informações para épocas anteriores, seja para realizar tarefas
acompanhar a execução das ações de corriqueiras e opções de consumo, seja
sustentabilidade; e para incorporar-se ao mundo do trabalho,
g) ações para a divulgação das práticas de seja para interpretar e avaliar informações
sustentabilidade; científicas veiculadas pela mídia.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A mídia nas últimas décadas divulgou a problematizarão da sustentabilidade, levantado


debates importantes, alertando a sociedade, mas isso não é o suficiente para assegurar a
aquisição de informações e conceitos necessários.

A escola tem um papel fundamental em provocar a revisão dos conhecimentos, valorizando


enriquecer informações cientificas, partindo do senso comum dos educandos.

A sustentabilidade na escola, deve formar cidadãos conscientes sobre os problemas do


meio ambiente. Mas para que haja essa formação e ocorra uma mudança real da situação
é imprescindível à união do governo, da sociedade e da escola. Afinal uma andorinha só
não faz verão. Seguindo esse pensamento a lei deve ser a base e a união entre sociedade e
escola imprescindível e determinante.

A educação está altamente atrelada às atitudes sociais, sendo que a escola é tida como
base para formação de indivíduos conscientes e responsáveis. Portanto, um aprendizado
focado na educação sustentável pode gerar cidadãos preocupados com os problemas
ambientais e com suas devidas soluções. Mas para isso, é preciso difundir a importância
da sustentabilidade na escola e como ela interfere na formação dos alunos, seja no ensino
infantil ou na universidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Qualquer tema quando abordado na educação escolar,
faz-se necessária uma pesquisa, para saber o que e como
está sendo trabalhado, o teor da qualidade e quais os
recursos utilizados para que os alunos o compreendam
verdadeiramente.

As escolas de um modo geral trazem em seu currículo
o tema ecologia, mas cada uma diferencia à sua maneira o
assunto como lhe convém.

Felizmente existem escolas que se tornam modelos LUCIANA ESTEVES
a serem seguidos devido aos seus exemplos e práticas DE FARIA
sustentáveis, levando seus alunos a participarem ativamente
Graduação em Pedagogia pela
desse processo escolar e ainda disseminando a ideia em seus Faculdade Unifeob (2009);
lares. Especialista em Orientação
Escolar pela Faculdade Finom
(2011); Especialista em Educação
A maioria das escolas não se preocupam em trabalhar esse Inclusiva pela faculdade Finom
tema todos os dias, nem tão pouco se preocupam em fazer (2010); Professora de Educação
da sustentabilidade um tema transversal, apenas trabalham Infantil e Ensino fundamental 1 -
na Emei Profª Dinah Galvão.
o que acreditam ser o essencial para o mero cumprimento do
currículo, o que não tornam essas escolas exemplos a serem
seguidos por seus alunos.

Existem escolas ainda que infelizmente lembram-se da sustentabilidade uma vez por ano,
apenas na semana da Ecologia. Os alunos procuram demonstrar tudo nessa semana o que
sabem apresentando trabalhos maravilhosos, ouvindo palestras, participando de debates e
gincanas.

Quando acaba a semana da Ecologia, o que foi trabalhado e divulgado nela também se
acaba, como se fosse apenas uma comemoração, algo para ser lembrado de tempos, em
tempos, como se fosse uma data comemorativa. Aí volta tudo a ser como era anterior a
essa semana "Ecológica", papeis e restos de lanche espalhados pelo pátio. Carteiras ganham
novamente desenhos e rabiscos, e nada mais do que aprenderam é lembrado.

Até mesmo as escolas, apagam os seus ensinamentos, que foram ensinados durante a
semana da Ecologia, pois as luzes continuam acesas, torneiras continuam a pingar e seus

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Revista Educar FCE - Abril 2019

alunos agem como se apagassem a tudo que aprenderam e pregaram até então, voltando
aos velhos hábitos, tanto dentro, quanto fora dos muros escolares, alunos continuam agindo
como antes tanto dentro da escola, quanto fora dela.

As crianças e os adolescentes quando não vivenciam um ensinamento e não são
sensibilizados a ponto de tornar o assunto significativo para eles, com um assunto tão
importante como o meio ambiente, demonstra que a escola não despertou seu papel principal
o de educar todos os dias e não simplesmente uma vez por ano.

O estudo da sustentabilidade nas escolas não pode se tornar uma bola de neve para a
sociedade, que forma a cada dia, mais e mais educandos que se tornaram cidadão adultos
que continuarão a poluir a natureza.

As escolas devem ter por meta a educação da sustentabilidade como meta a educação
por um todo, citando exemplos, ensinando e cobrando atitudes de respeito a si próprio, à
sociedade e ao meio ambiente.

As escolas devem dar mais importância a educação ambiental e a ecologia com um todo,
pois sem equilíbrio ambiental não haverá mais vida em nosso magnânimo planeta Terra.

729
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
JACOBI, Pedro. Educar para a Sustentabilidade: complexidade, reflexividade, desafios- In:
Revista Educação e Pesquisa- vol. 31/2- maio-agosto 2005, FEUSP. WALS 2007

ABREU, Poliana. Os desafios da educação para a sustentabilidade.


Ideia sustentável. Disponível em: <https://www.ideiasustentavel.com.
br/?s=os+desafios+da+educa%C3%A7%C3%A3o+para+sustentabilidade>. Acesso em: 01
de fev de 2019.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA DA CASA CIVIL. Decreto n 7.746 de 05 de junho de 2012.


www.planalto.gov.br. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2012/Decreto/D7746.htm>. Acesso em 01 de fev de 2019.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

AVALIAÇÃO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: A avaliação é contínua, o tempo inteiro está observando os alunos, para avaliar
devemos ter um olhar sensível voltado á criança, verificando se estão se desenvolvendo
e atingindo os objetivos estabelecidos pelo plano pedagógico. Trata-se de um trabalho
constante e complexo. O trabalho deve ser aperfeiçoado para se tornar ainda mais
minucioso, mais objetivo e, também, mais claro para as famílias entenderem o processo e
os critérios pelos quais seus filhos são avaliados. A avaliação na educação infantil parte de
um importante processo ensino-aprendizagem, tem se tornado tema de muitas pesquisas,
debates e discussões acadêmicas.

Palavras-Chave: Avaliação da Aprendizagem; Professores; Formação de Professores; Poder;


Estudos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO AVALIAÇÃO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Considerando-se que as crianças se
desenvolvem de forma aceleradíssima em É imprescindível que o professor busque
termos da oralidade, da evolução motora e de constantemente mecanismos que o tornem
novas descobertas, em tempos e em aspectos observador, não só do aluno como de si próprio,
muito diferentes de uma criança para outra, analisando a sua prática pedagógica e o que
a avaliação da aprendizagem contempla ela influencia no desenvolvimento do aluno.
várias interrogações e indefinições quanto É necessário que o professor tenha, além
à efetivação, na prática, de uma concepção de um alicerce teórico, autoconhecimento,
que tenha por intenção a melhoria da ação senso crítico e humildade para reconhecer
educativa. seus erros, suas falhas e estar aberto a novas
tentativas, sempre visando ao melhor para
Segundo Jussara Hoffmann, no seu livro seus alunos.
realizado sobre Avaliação e Educação Infantil
– Um olhar sensível e reflexivo sobre a Em relação à escolha do tema de estudos,
criança, avaliação refere-se a um conjunto de um assunto não surge de maneira espontânea,
procedimentos didáticos que se estendem é decorrente de situações e interesses que
por um longo tempo e em vários espaços influenciam as escolhas do pesquisador.
escolares, de caráter processual e visando, A fim de relevar a escolha pelo tema há
sempre à melhoria do objeto avaliado. três vertentes que justificam a opção pelo
objeto de estudo: o interesse profissional
Avaliar tem por conceito: não julgar, não e pessoal, a relevância para a educação
apontar, mas acompanhar um percurso brasileira e o preenchimento das lacunas
de vida da criança, através de registros e do conhecimento. Esta pesquisa ajuda
olhares, durante o qual ocorrem mudanças profissionalmente professores a refletirem
em múltiplas dimensões com a intenção sobre sua prática e sobre concepções de
de favorecer o máximo possível seu avaliação até refutadas pelos mesmos, mas
desenvolvimento. assim mesmos empregados no cotidiano
escolar. Além da questão profissional, o
Falar de avaliação é algo que mexe interesse pessoal, pois a vida escolar é
instantaneamente com todos os sujeitos cercada de práticas avaliativas desvinculadas
envolvidos no processo ensino aprendizagem. da aprendizagem.
Usando uma expressão popular, discorrer
sobre o tema é “cutucar a ferida” de muitos Apesar de haver muitos estudos
professores e provocar reações distintas e acadêmicos pertinentes a avaliação escolar e
conspícuas em alunos. a relação professor-aluno, não há trabalhos,
de acordo com os bancos de pesquisa

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Revista Educar FCE - Abril 2019

analisados, que articule avaliação, poder, e o novo conteúdo. Sabe o que realmente
punição e perpetuação de um ciclo. conta? Um professor criativo e amável, que
tem paciência e percebe quais as diferenças
Além de apresentar as possíveis cognitivas de cada um e age para que todas
concepções de avaliação dos professores e as dificuldades sejam superadas.
alunos, as relações de poder legitimadas pela
avaliação e as percepções e sentimentos dos A Avaliação é um instrumento para
sujeitos quanto à avaliação, temos a questão Aprendizagem Professor/Aluno ambos
das conseqüências da perpetuação de uma aprendem juntos e assim vão construindo e
avaliação independente do processo ensino- adquirindo conhecimentos. È um processo
aprendizagem, e a perpetuação de um ciclo de constantes acontecimentos e é nesses
aparentemente infindável. acontecimentos que se constrói que se
aprende que se realiza que se conquista
Seguindo o Parecer CNE/CEB nº que enfrenta desafios e se supera conflitos.
20/2009 a avaliação deve acontecer da È durante este tempo/ momentos que se
seguinte maneira: A avaliação interna seria busca o esperado e até mesmo o que não se
a avaliação da aprendizagem e está voltada espera.
para os acontecimentos e experiências que
acontecem na sala de aula e na escola como Avaliar nunca foi fácil. Este texto contribui
um todo, onde os sujeitos envolvidos são para a reflexão de nossa prática docente.
aqueles que fazem parte do processo ensino Rever alguns conceitos sobre “Avaliar”. No
aprendizagem. É por meio desta avaliação que contexto acima ficou evidente que a avaliação
se pode avançar e construir conhecimento a não é meramente uma forma de quantificar
partir do erro. A avaliação externa seria a a aprendizagem, mas um processo imbuído
avaliação de sistemas educacionais. nesta. A relação professor/aluno também é
edificada neste processo e o docente deve
estar atento às diversas formas de aprender,
A AVALIAÇÃO DA respeitando a diversidade na turma.
APRENDIZAGEM
Todos os dias nós passamos por avaliações
Apesar de toda a subjetividade das e ao mesmo tempo avaliamos, portanto, a
avaliações, não podemos nos eximir da avaliação no decorrer da aprendizagem é
responsabilidade de avaliar o quanto o aluno essencial para que possa ter evolução no
efetivamente aprendeu de determinado crescimento escolar, profissional e social, já
assunto. O progresso acadêmico depende do que, a avaliação é um instrumento e o fator
aprendizado linear, caso contrário, o aluno principal para que se tenha a certeza que está
chegará em um estágio muito defasado e havendo o conhecimento e a aprendizagem.
não conseguirá acompanhar o raciocínio Porém a avaliação é uma prática complexa por

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Revista Educar FCE - Abril 2019

não ter uma definição, mas sim uma forma de para o desenvolvimento, para o aprendizado;
ajudar o desenvolvimento da aprendizagem o papel do avaliador é de testar e estimular os
do aluno, averiguando os pontos fortes e sujeitos a serem testados; e os métodos são
fracos, para chegar ao objetivo proposto. objetivos, técnicos, enquanto na avaliação
Onde sabemos que existem outras formas responsiva não há prazo, pois a avaliação
que levam a punição, autoritarismo, retenção é contínua, o avaliador é estimulado pelos
e outras que serve de medidas e controles. sujeitos e suas atividades e os métodos
Todavia, a avaliação é um trabalho minucioso não são objetivos e formais, são subjetivos,
que requer conhecimento quando se trata de não estão centrados em exames ou testes,
avaliar alguém, nos aspectos quantitativos mas na contínua observação. A avaliação
ou qualitativos. formativa descrita por Scriven (1978 apud
Depresbiteris, 1989) seria aquela que fornece
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a informações importantes para a melhoria
Educação Infantil (DCNEI) determinam, desde de um programa no todo como também em
2009, que as instituições que atuam nessa partes, seções ou até parcelas do programa
etapa de ensino criem procedimentos para a que podem ser melhorados.
avaliação do desenvolvimento das crianças.
Esse processo não deve ter como objetivo Afonso (2000) afirma que a avaliação
a seleção, a promoção ou a classificação formativa é a avaliação contínua, que pode ser
dos pequenos e precisa considerar “a realizada por “uma pluralidade de métodos e
observação crítica e criativa das atividades, técnicas”. Estes métodos e técnicas incluem
das brincadeiras e interações das crianças observação livre e sistemática, auto-
no cotidiano” e empregar múltiplos registros. avaliação, entrevista, trabalho em grupo,
Tais apontamentos, no entanto, ainda geram dentre outras atividades. Perrenoud (1999)
dúvidas e interpretações equivocadas. utiliza-se desta avaliação formativa para
descrever a lógica de uma avaliação voltada
A avaliação tradicional é formal, é única e para a aprendizagem.
não há espaço para conflitos e debates ao
contrário da avaliação sensível e responsiva Avaliar é construir e reconstruir o
que é informal e que admite o conflito, não conhecimento. É buscar estratégias que
é apenas consensual. A base do design, permitem a formação do aluno para sua
ou seja, a base da criação, idealização e inserção na sociedade com conhecimento
desenvolvimento na avaliação tradicional prévios, ou seja, que o aluno tem a condição
é objetiva e técnica enquanto na avaliação de prosseguir sua caminhada com a base
responsiva a base deste desenvolvimento alicerçada. Para que o sistema avaliativo
está relacionada aos sujeitos envolvidos. venha ao encontro da realidade a “rede”
Ainda confrontando as diferenças, na precisa contribuir (família, equipe diretiva,
avaliação racional há um prazo estabelecido professores, SME, conselho tutelar,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

assistência social, psicólogos ....) cada um se questionarem, o porque o educando se


cumprindo o seu papel de forma cooperada encontra em determinada maneira e assim
visando sempre o processo avaliativo de ,traçar planos e projetos para resgatar a
cada aluno. tenção do mesmo.Por fim poderíamos propor
aos professores uma mudança: trabalhar
com a avaliação formativa, diagnóstica,
PROPOSTAS PARA mediadora e dialógica durante um período
MUDANÇAS determinado, seguindo a orientação de um
grupo de gestão.
Muitos estudiosos que tem se dedicado a
estudar avaliação atrelada a aprendizagem, é Para Ariés (1981), historicamente, a
preciso que estes professores em formação infância realmente foi determinada pelas
conheçam, discutam práticas para que a viabilidades dos adultos, modificando-se
incidência que o ciclo se perpetue diminua ou bastante ao longo da história. Até o século XII,
se acabe. O curso de formação de professores as condições gerais de higiene e saúde eram
possui uma grade curricular centrada em muito precárias, o que tornava o índice de
algumas disciplinas pedagógicas, comumente mortalidade infantil muito alto. Nesta época
a disciplina que trata de avaliação é a Didática. não se dava importância às crianças e com
Como no curso de Formação de professores, isso o índice de mortalidade só aumentava,
há disciplinas didáticas separadas por pois não existia nenhuma preocupação com
segmentos, a cada etapa de ensino o tema a higiene das crianças.
avaliação deveria ser trabalhado, contudo
pelo que se percebe pouco se dedica a este Conforme Ariés (1978) a percepção
assunto. Para que um ciclo seja quebrado, de infância e seus conceitos nem sempre
é preciso, inicialmente, que os professores existiram, em prol da criança, foram sendo
e alunos conheçam a história da avaliação, construídos de acordo com as modificações
percebam a diferença de concepções. O e com a organização da sociedade e das
segundo passo seria uma autoanálise, estruturas econômicas em vigor.
onde o professor pudesse se ver na sala de
aula, perceber seu comportamento e suas Para Kramer (1999), a concepção de
atitudes. E o terceiro passo seria confrontar infância da forma como é vista hoje é
a realidade com uma possível transformação. relativamente nova. Segundo a autora
Estes passos seriam essenciais para que todo podemos localizar no século XVIII o início
professor pudesse analisar sua prática. da ideia de infância compreendida como
uma fase amplamente singular que deve ser
A primeira proposta para um professor respeitada em suas particularidades.
avaliar sua prática , seria discutir avaliação
com outros professores da instituição, e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Segundo Ariés (1981), as modificações era logo introduzido meio dos adultos,
ocorreram a partir de mudanças econômicas compartilhando de todos os seus trabalhos
e políticas da estrutura social. Com o passar e jogos. De uma criança inocente e pequena,
do tempo, como demonstra a história, está se transformava rapidamente em um
encontramos diferentes concepções de jovem, deixando passar as etapas da infância.
infância. A criança era vista como um adulto
em miniatura, e seu cuidado e educação A transferência de valores e dos
eram realizados somente pela família, em conhecimentos, e de modo mais amplo, a
especial pela mãe. Havia algumas instituições socialização da criança, não era, portanto de
alternativas que serviam para cuidado das nenhuma forma assegurada nem direcionada
crianças em situações prejudicadas ou pela família. Esta criança se distanciava
quando rejeitadas. rapidamente de seus pais, e podemos dizer
que durante muitos séculos a educação e
Ariés (1981) relata que até por volta do a aprendizagem foram garantidas graça a
século XVI, não havia nenhum sentimento convivência da criança ou do jovem com
com relação ao universo infantil. A concepção outros adultos. Neste sentido a criança era
de infância, até este momento, baseado inserida em meio aos adultos para aprender
no abandono, pobreza, favor e caridade, as coisas que devia saber ajudando os adultos
neste sentido era ofertado um atendimento a fazê-las.
precário às crianças; havia ainda grande
número de mortalidade infantil, devido Naquela época, a criança era levada
ao grande risco de morte pós-natal e às à aprendizagem através da prática. Os
péssimas condições de saúde e higiene da trabalhos domésticos não eram considerados
população em geral. Em virtude dessas humilhantes, era constituído como uma
decorrências e dessas condições uma criança maneira comum de inserir a educação tanto
que morria era logo substituída por outra em para os mais abastados, como para pobres.
sucessivos nascimentos, pois na época ainda Porém pelo fato da criança sair muito
não havia, como hoje existe, o sentimento cedo do seio da família, fazia com que ela
de cuidado, ou paparicação, pois as famílias, escapasse do controle dos pais, mesmo que
naquela época, entendiam que a criança que um dia voltasse a ela, tempos mais tarde,
morresse não faria falta e qualquer outra depois de adulta, o vínculo primordial havia
poderia ocupar o seu lugar. se quebrado.

Para o autor o período da infância era Durante muito tempo segundo o Ariés,
minimizado a seu período mais frágil, a infância foi colocada à margem pela
enquanto a criança ainda não conseguia sociedade e do seio familiar, exposta à
bastar-se; ficava no seio da família, porém, vontade e as ordens dos adultos, ficando
mal adquiria algum desembaraço físico, até mesmo numa situação de invisibilidade

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Revista Educar FCE - Abril 2019

social. A observação em prol da infância Le Goff (1984) afirma que no universo


deu-se de maneira lenta, em um processo de romano, a criança dependia do pai para sua
construção social. formação. O domínio do pai era completoe
a criança que rejeitasse seu patrio poder era
Conforme Kramer (1995) as crianças desprezada. A dependência do pátrio poder
foram vistas por muito tempo como seres seria capaz de acolher ou enjeitar segundo
imperfeitos e incapazes, e se encontravam os atributos físicos que mostrava, se
em meios aos adultos sem qualquer capricho apresentasse alguma deficiência, geralmente
e atenção diferenciada. Esse olhar só mudou era recusado.
a partir do século XII. No que cabe ao respeito
à infância, pode-se perceber que esta não Conforme Price (1996), na Idade Média
tinha valor algum para a sociedade da época, prevaleceu o hábito cristão, dando uma nova
pois sua própria família mantinha as crianças visibilidade para a infância, neste período
em segundo plano, não ofereciam a menor histórico, novos argumentos sobre a infância
atenção, carinho, valor e respeito. irão beneficiar uma condição melhor para as
crianças. Ao poucos surgiu o entendimento e
Para a sociedade medieval, o mais sentimento de que as crianças são especiais
importante era que a criança crescesse e diferentes, e, portanto, dignas de ser
rapidamente para poder participar e ajudar estudadas.
no trabalho e nas demais atividades do
mundo dos adultos. Neste período todas Ariés (1981) ressalta que, até o início da
as crianças por volta dos sete anos de época moderna ainda não existia um olhar
idade, não importando sua condição social, direto para a infância, esse período era
eram inseridas em famílias estranhas para considerado como um período de transição,
aprenderem a fazer os serviços domésticos. sem maiores considerações, ou seja, a criança
tinha uma infância curta, e sua passagem era
Segundo o autor até mesmo perante a arte pouco valorizada. Foi a partir do século XVII
a infância foi ignorada. Por volta do século que a criança começou a ser valorizada e
XII, a arte medieval não conhecia a infância passou a ter o seu próprio espaço nas imagens
como uma fase da criança, e nem ao menos por ele analisadas. A partir deste momento
demonstrava interesse em representá-la. É surgiram determinados sentimentos com
impossível compreender que essa ausência relação à infância e os devidos cuidados
se deva tão somente à incapacidade ou a falta com a dignidade e moral da criança também,
de habilidade das crianças. O mais provável este fato foi relacionado com a chegada da
é que não houve um lugar reservado no burguesia começando com as famílias dos
pensamento das pessoas neste período, para nobres da sociedade, para os mais pobres.
a criança.

737
Revista Educar FCE - Abril 2019

Segundo Ariés (1981), a aparição da A CRIANÇA E SUA HISTÓRIA


criança como parte da sociedade acontece DENTRO DA EDUCAÇÃO
de forma paulatina durante os séculos XII
e XVII, o autor destaca esse fator através INFANTIL PARA AVALIAÇÃO
do estudo de temas metafísicos religiosos Segundo Zilma de Oliveira (1994),
presentes na iconografia medieval. No início antigamente não existia um olhar afetivo
a criança aparece em símbolos religiosos para criança e não havia preocupação com
representando os anjos e o menino Jesus, seu desenvolvimento, ela era vista como um
depois retratando à infância da Virgem adulto em miniatura e o que a diferenciava
Maria e dos outros santos. Nos séculos XV e era apenas a força e o tamanho. Não existiam
XVI, a criança aparece em retratos reais que valores que fossem assegurados pela família,
são encontrados inicialmente nas esfinges mas sim pelos adultos do seu convívio.
funerárias.
De acordo com Oliveira (1994),houve
De acordo com Kuhlmann (1998), um questionamento impulsionado pelo
podemos compreender que toda criança tem Movimento da Escola Nova de como essa
infância, porém não se trata de uma infância criança deveria se desenvolver, foi então no
idealizada, e sim concreta, histórica e social. século XX que surgiram grandes teóricos
A questão central não é se a criança teve ou como Comenius, Pestalozzi, Froebel, Maria
tem infância, mas sim compreendermos se a Montessori e Rousseau, Piaget e Vygotsky
criança vivenciou ou vivencia a mesma. com ideias inovadoras que contribuíram
para que essa criança tivesse um bom
A concepção de infância, então, configura- desenvolvimento nos anos iniciais, sabendo
se como um aspecto importante que aparece que é no início da vida que construímos
e que torna possível uma visão mais ampla, grandes homens, e dessa maneira ele poderá
pois a ideia de infância não está unicamente ser inserindo na sociedade sabendo dos
ligada a faixa etária, a cronologia, a uma etapa seus direitos e deveres. Com a contribuição
psicológica ou ainda há um tempo linear, mas de Comenius, Pestalozzi, Froebel, Maria
sim a uma ocorrência e a uma história. Montessori, Rousseau, Piaget e Vygotsky
ideias foram adiante, e até hoje essas ideias
Neste sentido considerar a criança hoje estão inseridas na Educação Infantil com
como sujeito de direitos é o marco principal propósito de ajudar no desenvolvimento da
de toda mudança legal conquistada ao longo criança.
do tempo, porém antes dessa mudança
podemos perceber que muitas coisas Comenius (apud MORUGGI, 2002) foi
aconteceram, muitas lutas e desafios foram quem elaborou o plano da escola maternal
travados no decorrer da história para que se no ano de 1637, ele trazia a ideia de educar
chegasse a concepção atual. as crianças menores de 5 anos, pois sua

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Revista Educar FCE - Abril 2019

proposta era de algum modo auxiliar Como afirma Aranha (2006), a infância
as crianças para futuramente levá-las a nem sempre foi concebida como nos dias
fazerem aprendizagens abstratas e para atuais, pois esteve sujeita as mudanças
isso, suas recomendações eram que, as socioeconômicas, políticas culturais que
crianças deveriam desfrutar de materiais as sociedades passaram. A composição da
e atividades que sejam diversificadas, família, os registros familiares e eclesiásticos,
materiais pedagógicos ricos em um ambiente entre outros aspectos, também não foram
que fossem favoráveis para educação das os mesmos, as mudanças demonstram que
crianças ,Comenius responsabilizou os pais ocorreram transformações, não se podendo
pela educação antes dos 7 anos de idade, tomar cada período como algo acabado.
pois afirmava que dentro dos lares que inicia
o ensino. No ano de 1657 usou a palavra Dessa forma, nesta época a criança era
Jardim da Infância para nomear o local de considerada um pequeno adulto, que podia
aprendizagem das crianças. executar as mesmas tarefas de um adulto.
A rápida passagem da infância para a vida
Portanto, Aranha (2006) fala da pouca adulta era o que importava. Nesse sentido,
discussão sobre a infância e sua educação, havia necessidade de distinção entre essas
limitando a organização de um sistema de duas etapas da vida, crianças e adultos
ensino e de propostas metodológicas para usavam o mesmo traje.
o ensino das crianças pequenas. Isso limitou
as potencialidades e as oportunidades de De acordo com LeGoff (1984), a partir do
desenvolvimento, comprometendo a visão século XVII, há um crescimento das cidades
educacional na infância e dos trabalhadores devido ao comércio, a Igreja Católica perde o
nesse nível educativo. poder com o surgimento da burguesia, sendo
a Igreja a responsável pela assistência social
De acordo com Aranha (2006), desde a e educação.
Idade Moderna existe o entendimento de que a
criança é um ser diferente do adulto,portadora No período seguinte, época moderna, a
de características específicas, psíquicas educação passa por transformações, novos
e comportamentais.Contudo, isso não é métodos educacionais são propostos.
uma característica natural, que sempre se E segundo Aranha (2006), João Amos
manifesta da mesma maneira, ao contrário, Comenius (1592-1670) se tornou o grande
existe entre o período infantil e o adulto uma educador da época, pois defendeu novas
concepção cultural e histórica, que determina práticas educativas além de uma educação
os papéis das crianças e dos adultos, sendo em total para todos, “ensinar tudo a todos”, para
virtude disso, necessário estudar a educação que todos possam atingir o ideal da pansofia.
infantil dentro dos contextos próprios e não
pela natureza da infância.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Aranha (2006) afirma que o objetivo em alguns Estados da Confederação


central da educação de Comenius era formar Germânica, onde se instituiu a educação
o bom cristão, um homem moral, devendo obrigatória dos6aos 12 anos.
ser sábio nos pensamentos, dotado de
verdadeira fé em Deus e capaz de praticar No século XIX, influenciados pelas
ações virtuosas, estendendo-se a todos: os mudanças econômicas e sociais, surge uma
pobres, os portadores de deficiências, os nova concepção de educação com Pestalozzi,
ricos e às mulheres. Froebel, Montessori e Rousseau, como
afirma Aranha (2006). Para os pensadores,
Segundo Luzuriaga (1976), as concepções a pré-escola era encarada como uma forma
teóricas de Comenius apresentavam de superar a miséria, a pobreza, a negligência
consistência, mas sempre procuraram das famílias. Mas sua aplicação ocorreu
articular dois campos: do filosófico ao efetivamente no século XX, depois muitos
religioso, onde a educação para todos seria movimentos que indicavam o precário
possível através da organização e divulgação trabalho desenvolvido nesse nível de ensino,
do saber. Mas, nem o caráter inovador da prejudicando a escola elementar.
sua proposta pode garantir que elas fossem
postas em prática de uma maneira mais Pestalozzi 1746-1827, (Nova Escola
ampla, logicamente no contexto histórico 2008), traz seu pensamento como proposta
da época e também da trajetória de vida do na crença da bondade do ser humano,
autor. e na caridade praticada em torno das
classes menos favoráveis, ele entusiasma
Para Aranha (2006), é a partir do século XVI, empresários a construir creches para os
que surgiram as descobertas científicas, as filhos dos operários, pregou que a principais
quais provocaram o prolongamento da vida, funções para o desenvolvimento das crianças
ao menos da classe dominante. No mesmo são suas habilidades naturais e inatas,
século, surgem duas atitudes contraditórias dizia que a criança tem que ser educada
no que se refere à concepção de criança: em um ambiente o mais natural possível
uma a considerava ingênua, inocente e é colocando para fora o que tem dentro de
traduzida pela “paparicação” dos adultos; si, sendo assim favorável para construção
enquanto a outra a considerava imperfeita do desenvolvimento do caráter infantil.
e incompleta e é traduzida pela necessidade Discípulo de Pestalozzi, Froebel (1782-
do adulto moralizar a criança. 1852) foi considerado o primeiro educador
a apostar nos brinquedos, ele mostra a
De acordo com Aranha (1998), no século importância dos desenhos e das atividades
XVII a educação ainda não tinha conseguido que requeremos movimentos corporais.
se firmar de maneira universal e pública. Mas
algumas mudanças puderam ser observadas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Em 1837, na Alemanha, Froebel cria o preconceito. Defensor de uma aprendizagem


jardim da infância tendo como base as ideias que deveria ocorrer por experiências, de forma
de Pestalozzi. Froebel era influenciado por diferenciada, ele enfatiza que a infância é uma
um ideal político de liberdade, quando ele traz fase que se pensa, se vê e se sente um mundo
esse espaço relacionado ao desenvolvimento de maneira própria. Segundo Rousseau a
da criança ele propõe condições que infância não era apenas uma preparação para
favoreçam esse desenvolvimento, e vida adulta, existia um valor, e para ele, seria
assim as crianças se tornavam livres nesse momento que a atitude do educador
para compreender a si própria, através de deveria de ser a mais natural possível.
ambientes diversificados com recursos
pedagógicos, elas poderiam se expressar de Com seu pensamento Rousseau teve um
diferentes maneiras com atividades ricas para papel importante na educação moderna,
construção do desenvolvimento, segundo ele era a favor de ensinar a criança a viver
Froebel o conhecimento chega através de para então trazer a ela uma aprendizagem
manuseios de objetos, e participação em que poderia levá-la ao exercer sua liberdade.
diversas atividades de livre expressão.Maria Como observa, o contexto socioeconômico
Montessori 1870-1952, (Nova Escola 2008), influenciou o início da Educação Infantil, que
é um dos grandes nomes, que aparece não possuía uma proposta concreta voltada
como construtores de ideias na educação para a instrução, ligava-se a tradição da
infantil, Montessori defendia que uma das educação informal familiar.
funções da educação era de certa forma
favorecer o progresso infantil de acordo com As mudanças econômicas, sociais e culturais
as necessidades de cada criança. Sua marca que ocorriam na Europa, no campo educacional
foi trazer materiais de uso pedagógico que repercutiram em alguns intelectuais brasileiros,
beneficiava o desenvolvimento da criança, que tentaram apresentar propostas para
foi ela a própria responsável pela diminuição imprimir novos rumos à educação brasileira.
do tamanho da mobília usada pelas crianças
na pré-escola, desenvolveu jogos e materiais Essa etapa da história em que a concepção
essências para uso educativo, com materiais de infância se construiu transformou a visão
apropriados para estimular e desenvolver, que se tinha das crianças. Os pequenos
colocando a criança diante de situações passaram a ter lugar de destaque na sociedade,
que poderiam colaborar para evolução de que passou a valorizar a infância. Essa
diversas funções psicológicas. valorização contribuiu para o desenvolvimento
do olhar pedagógico dentro da educação,
Outro grande pensador foi Rousseau preocupada com as novas adaptações de
1712-1778, (Nova Escola 2008),que métodos educacionais que satisfizessem as
colaborou para educação infantil criando uma novas demandas desencadeadas por estas
proposta educacional contra autoritarismo e transformações.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Aranha (1998), afirma que atualmente a concepção de que a criança é um ser com
características bem diferentes dos adultos, um ser particular e de direitos, tem gerado as
maiores mudanças na Educação Infantil. Essa nova concepção tem tornado o atendimento às
crianças de 0 a 5 anos ainda mais específico, exigindo do educador uma postura consciente
de como deve ser realizado o trabalho com as crianças pequenas, mostrando as suas
especificidades e as suas necessidades enquanto criança e enquanto cidadão.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI 1998) traz a concepção
de infância como construída historicamente e a ideia de que atualmente não há apenas uma
maneira de se considerar a criança, pois há múltiplas diversidades de realidades sociais,
culturais, étnicas e etc. que podem interferir nessa noção de infância. Sabemos que existem
crianças que trabalham que são exploradas, que sofrem maus tratos e abusos, que não
possuem seus direitos garantidos.

As pesquisas feitas por (RCNEI-1998), relativas à infância apontam que ao propormos algo
às crianças devemos aproximar nosso ponto de vista ao delas. Não existe um método ideal
de relações entre adultos e crianças, porém devemos levar em consideração as diferentes
condições de vida de um grupo escolar e perceber a criança como sujeito de direitos e capaz
de criar seu próprio espaço.

A concepção de infância (RCNEI-1998), que temos nos dias atuais é uma visão construída
historicamente, em que é possível perceber o contraste existente entre a atualidade e
algumas décadas atrás. A criança passou a ocupar um local de destaque na sociedade muito
diferente da época em que sua presença era praticamente imperceptível. Nesta época na
sociedade medieval, as crianças eram inibidas de participar socialmente da vida comunitária
e eram tratadas como um pequeno adulto, passando despercebidas suas características e
peculiaridades.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com todas essas considerações, a avaliação
deverá ser realizada para observar, registrar, acompanhar e
interferir no processo de apropriação do conhecimento da
criança, e o professor deverão e acompanhar o grupo de
crianças e também cada criança individualmente. Pudera fazer
parte de um filme, mas longe disso a poderosa avaliação está
não é atriz, nem personagem, mas garantiu sua personificação
na realidade das salas de aula. Para muitos o sentido e a
função da avaliação é de salvadora e heroína por garantir LUCIANA SANTOS
benefícios a quem abraça um instrumento que legitima poder.
Professora de Educação Infantil
Para outros, o medo e o poder de palavras que os limitam na Rede da Prefeitura de SP.
fazem da avaliação uma vilã. Ao longo de séculos o sentido Artigo apresentado como
da palavra avaliação, exame ou teste foi se modificando. requisito parcial para aprovação
do Trabalho de Conclusão do
Denominações como avaliação classificatória, verificação, Curso de Especialização em
avaliação tradicional, racional, responsiva, criterial, somativa, Ludopedagogia.
formativa, mediadora e emancipatória são algumas das que
são utilizadas por autores que discorrem sobre o tema.
Perante algumas situações presenciadas ao longo de quatro
meses e meio em um estágio no magistério, algumas questões
surgiram tais como: Quais são as concepções que professores
e alunos tem sobre avaliação? Ela é uma forma de legitimar
o poder? A avaliação é considerada ainda em pleno século
XXI uma forma de punir, disciplinar, certificar e excluir? Como quebrar este ciclo? Ao longo
do estudo pode-se observar que a concepção de avaliação presente na atmosfera escolar, e
está vinculada a classificação, seleção e punição se tornando uma forma de legitimar o poder
e autoridade dos professores. A punição está atrelada a avaliação e também a disciplina
dos alunos. Podemos concluir então que, a avaliação na Educação Infantil não é utilizada
como instrumento de retenção das crianças, mas ela é usada para observar constantemente
de maneira crítica o seu envolvimento e desenvolvimento nas atividades promovidas pelo
educador no que diz respeito às brincadeiras e as interações ocorridas no cotidiano, em
seu processo de ensino e aprendizagem. O olhar do professor sempre deve estar atento e
voltado para o progresso da criança.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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maio de 1984 p. 51-54.

AFONSO. Almerindo Janela. Sociologia da Avaliação: problemas de delimitação de um campo


teórico-conceptual e de investigação. In___________ Avaliação Educacional:
Regulação e emancipação: Para uma sociologia das políticas avaliativas contemporâneas.
São Paulo: Cortez, 2000, p 13- 51.

AQUINO, Júlio Groppa. A violência escolar e a crise da autoridade docente. São Paulo:
Caderno Cede ano XIX, nº 47, dezembro/1998.

BARRIGA. A.D. Uma polêmica em relação ao exame. In ESTEBAN. M.T (org). Avaliação: uma
prática em busca de novos sentidos. 2ª ed. Rio de Janeiro: DP&A,2000, p 51-82.

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de 1971. BRASIL. Planalto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394 de 20
de dezembro de 1996.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução


aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

744
Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO COMPARADA NA
CONTRIBUIÇÃO DA CONSTRUÇÃO DO
PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
RESUMO: O presente trabalho traz a concepção da situação atual da educação comparada
como ramo de estudos e a presença do pensamento comparado nas falas sobre educação
na comunidade e sociedade em geral. Parte-se de algumas exemplificações em que esse
raciocínio está presente hoje, para, em seguida, examinar o percurso dos estudos e seu
papel no plano das organizações internacionais e na formulação das políticas públicas de
educação em todo o mundo. Desde o início, a educação comparada se ocupou de observar
e descrever os sistemas educativos dos países vistos como mais avançados, com o propósito
de ofertar subsídios para a reforma do sistema escolar nacional e, ao mesmo tempo, para
constituir uma ciência da educação. Porém, na atualidade, a Educação Comparada pode
seguir novos caminhos diante dos estudos e comparações, tirando objetivos de equidade
social e promoção de competitividade, a Educação Comparada pode trazer um consenso de
caracterização regional ou social, específica de cada civilização.

Palavras-Chave: AAprendizagem; Educação comparada; Sistema educacional

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO como forma de reconhecimento de cada


cultura.
Quando se fala hoje sobre a educação no
Brasil, quase sempre aparecem na mesma Ao certo que, diante dos estudos da
conversa menções à situação do ensino educação, como é possível contribuir para
e da aprendizagem no âmbito nacional e construção de aprendizagem dentro do
estrangeiro. Ao se apontar a má qualidade enfoque da educação comparada?
do ensino oferecido nas escolas brasileiras,
parece haver um consenso na mídia, no O trabalho foi realizado por meio da
discurso político e nas falas dos ditos metodologia da pesquisa bibliográfica dentro
cidadãos comuns que leva necessariamente dos conceitos da educação comparada e
a uma comparação com uma suposta boa aprendizagem.
qualidade da educação nos países ditos
desenvolvida.
EDUCAÇÃO COMPARADA:
O trabalho tem como objetivo geral CONCEITO, IMPORTÂNCIA
de analisar a perspectiva da educação
comparada na contribuição para o processo E ORIGEM
de ensino e aprendizagem e tem como As formas comunicativas de educação
objetivos específicos analisar a educação trazem conceitos e diretrizes para uma
comparada dentro do conceito, importância educação como igualitária e semelhantes.
e origem, analisar as políticas de educação Desta forma, o temo “Educação Comparada”
dentro de modelos internacionais e verificar aparece como forma de distinguir questões
a educação comparada no tempo de uma comparativas da educação de cada sociedade,
aprendizagem significativa. para poder entender melhor o conceito,
Lourenço Filho (2004, p. 17) coloca:
A justificativa do trabalho é que diante
das abordagens que fala da educação e suas O nome Educação Comparada reserva-se, no
entanto, a designar certo ramo de estudos que
problemáticas, muitas ideologias falam da primeiramente se caracterizam pela vasta escala
educação nacional em comparativa com a de observação de que se utilizam, por força de
internacional, sem respeitar a regionalidade seu objeto. Esse objeto são os sistemas nacionais
de ensino. Cada um deles se apresenta como um
de cada situação, colocando objetivos focados conjunto de serviços escolares e para-escolares,
no internacional, sem o reconhecimento das devidamente estruturados e com sentido peculiar
questões culturais, sociais e econômicas em cada povo. A Educação Comparada começa
por descrevê-los e confrontá-los entre si, para
de cada lugar ou região, para resolver cada assinalar semelhanças e diferenças quanto à
problemática educacional do seu lugar, nos morfologia e às funções, estejam estas apenas
quais as comparações não devem servir como previstas em documentos legais ou alcancem
efetiva realização.
formas de objetivos a serem alcançados, mas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Desta forma, a Educação Comparada Diante disso, a Educação Comparada tem


trabalha em cima de estudos dos Sistemas sua origem na Antiguidade, mas, conforme
Nacionais de Ensino com objetivo de mostrar Ferreira (2008) começaram a se afirmar no
resultados educativos diante dos propósitos século XIX. Na Antiguidade, conforme o autor,
educacionais de dentro do sistema nacional. a Educação Comparada teve seu aspecto
não-sistemático encontrado indícios, pois,
Lourenço Filho (2004) exemplifica que Tucídides, Heródoto e Xenofonte fizeram
a Educação Comparada tem o objetivo, comparações que nos permitem distinguir o
partindo das formas institucionalizadas do modo educativo ateniense do espartano e a
ensino, aprofundar uma análise de processos educação grega da egípcia e da persa. Porém,
de vários grupos sociais e sua integração a Educação Comparada esteve vocacionada
na sociedade nacional, nos quais algumas para compreender a dinâmica dos sistemas
dessas circunstâncias traz a caracterização de educacionais ou de aspectos com eles
espaço do país, da geografia, da composição relacionados por via da comparação, essa
e distribuição da população respectiva, das ambição não se modificou até ao presente.
ocupações a que se entreguem diferentes
grupos, e, com isso, das formas primárias De acordo com Lourenço Filho (2004) a
de agregação, cooperação e competição educação é uma parte das condições da vida
econômica. social, nos quais a Educação Comparada pode
trazer uma auto direção pelo esclarecimento
A Educação Comparada, conforme de cada indivíduo, e, em consequência, aos
Lourenço Filho (2004), traz um objetivo grupos que componham, a respeito das
especial de indagação dependendo de cada necessidades da vida coletiva, desde as de
época, nos quais possam caracterizar as forças natureza primária (alimentação, habitação,
sociais, podendo estabelecer hipóteses e conservação da saúde, produção geral de
compor modelos para cada sistema afins ser bens e utilidades) até os de esclarecimento
compreendido, logo, a Educação Comparada dos sentimentos de coesão e solidariedade,
está relacionada aos estudos sociais. aos membros de cada grupo particular
(organização familiar, vida comunitária em
Todavia, a Educação Comprada não pode suas formas mais simples, vida cívica) e até
deixar de ser um produto duma história e de os da evolução histórico-cultural de cada
uma sociedade. A comparação sempre deve povo, a ser coordenada por instituições de
ter marcado a evolução do pensamento maior sentido de previsão, nelas incluídas as
humano e, por isso, sempre esteve presente do ensino.
na própria construção do saber. (FERREIRA,
2008, p. 125). Dourado e Paro (2001) coloca que no que
diz a respeito às relações sociais escolares,
é necessário refletir sobre as políticas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

educacionais, mesmo que as práticas século XXI, constituindo um documento


escolares não deixam de ser configuradas fundamental para compreender a política
por condicionantes mais próximos e educacional de vários países na atualidade,
imediatos que não podem ser aprendidos nos quais, o documento faz um diagnóstico
sem considerar a realidade concreta onde sobre o atual contexto planetário.
elas se manifestam. “Trata-se na verdade de
estar atento para as formas concretas que os Lourenço Filho (2004) coloca que a Unesco
determinantes sociais, políticos, econômicos, considera que a política internacional deva
ideológicos, etc. assumem na realidade levar em conta os elementos programáticos
escolar.” (DOURADO; PARO, 2001, p. 33). da Carta das Nações Unidas, entendendo
também que eles sejam esclarecidos por
Dourado e Paro (2001) considera que o constante informação, investigação e difusão
conceito de homem não inclui apenas suas de seus resultados, nos quais a Educação
características naturais, mas também aquilo comparada entra como meio, colocando
que ele constrói em seu desenvolvimento como elemento essencial as condições
histórico, nos quais não se realiza pelo homem da política internacional, tendo a Unesco
isolado, mas exige sua relação com outros como centro de estudos comparativos para
seres humanos e nessa construção social, os fornecer base.
homens produzem conhecimentos, valores,
técnicas, ciência, arte, crenças, tudo que Sobre os sistemas nacionais de educação – sistemas
estatais e sistemas propriamente nacionais, pelo
constitui o saber historicamente produzido. que incluam da observação dos costumes, tradições
e outros componentes da cultura –, a Unesco não
se propõe estabelecer um sistema administrativo
POLÍTICAS EDUCACIONAIS supranacional, de especial interesse já na ação
política, como alguns autores querem admitir,
NACIONAIS BUSCANDO mas deseja ser um centro de investigação política
racional, esclarecida por uma filosofia indutiva
MODELO INTERNACIONAL da educação, como outros também propugnam.
(LOURENÇO FILHO, 2004, p. 29).
As Políticas da Educação buscam
referências como modelos para padronizar Desta maneira, a Unesco estabelece um sistema
as bases educativas. As políticas de educação de ação política com uma filosofia indutiva da
dentro do processo histórico, mostram educação com normas de vida internacional.
durante as fases de desenvolvimento dos
currículos, referências e comparações com a Os elementos empíricos não são assim
desprezados, no estudo das condições políticas
educação internacional. e econômicas, com a pesquisa de elementos
Shiroma e Moraes (2004), coloca que instrumentais, ou técnicos, e, ainda, no do
a Unesco convocou especialistas de ambiente geográfico, o contexto social-histórico
interno, e a filiação cultural, inclusive as normas
todo o mundo para compor a Comissão de vida internacional a ela incorporadas.
Internacional sobre Educação para o (LOURENÇO FILHO, 2004, p. 29).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Lourenço Filho (2004) questiona que no aprendizagem e acolhimento conforme


Brasil os documentos legais da ordem geral desempenho.
e da legislação escolar indicam critérios da
distribuição geográfica dos serviços e dos Conforme Dourado e Paro (2001), se a
recursos para o ensino dentro da organização qualidade do ensino é determinada por todas
político-administrativa de cada país, as ações que o constituem ou lhe servem de
estabelecendo esferas de responsabilidades mediação, não se pode colocar importantes
e níveis de autoridade nos serviços das componentes dentro dessa qualidade, como
escolas, fundando a concepção do sistema por exemplo, o desenvolvimento de valores,
nacional, não se importando com sistemas posturas e hábitos democráticos ou o fazer
regionais ou sistemas locais. gostar de artes ou aptidão para seu usufruto
sejam feitos pelos conteúdos dos currículos,
Brasil (1993) coloca que em 1990 a CEPAL muitas questões de problemas de educação
apresentou uma proposta para educação com que são tratados de forma superficial, sem
um documento de Transformação Produtiva se perceber as reais implicações para as
com Equidade, apresentando uma ideia políticas que de fato procurem dar conta
central, incorporando a difusão de progresso competentemente dos reais problemas da
técnico como fator fundamental, mostrando educação básica.
uma competitividade a nível mundial. Ou seja,
uma equiparação da educação, colocando
uma concorrência como forma produtiva da A EDUCAÇÃO COMPARADA
educação para economia. O resultado disso, NO TEMPO DE UMA
é a avaliação da qualidade da educação em
cima dos fatores considerados para uma APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
competitividade com foco internacional. De acordo com Lourenço Filho (2004) o
processo educacional decorre de numerosas
Em consequência, lamentavelmente, a restrição condições da vida coletiva, materiais e
da concepção de avaliação da aprendizagem à
medida de desempenho do aluno tende a ter histórico-culturais, nos quais se procede
acolhimento no contexto escolar, abrigando, no seio da família, dos grupos de trabalho e
inclusive, a ideia de repetência como uma recreação, das instituições e modalidades da
medida apropriada a um sistema educacional
que se pretenda de qualidade, admitindo-se vida social que envolvem sentimentos, ideais,
a seletividade e a exclusão como inerentes à técnicas, aspirações que estão presentes e
dinâmica escolar e social. (SOUSA, 2014, p. 412). transmitam de uma geração para outra.

Ao passo que, dentro dessa concepção Dentro da Educação Comparada, conforme


aparece o fracasso escolar e a exclusão o autor, as unidades podem ser totalizadas,
social, subjugado em cima de uma sistema separadas em grupos, manipuladas por
educacional que não tem a pretensão da diferentes modos, nos quais sua importância

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Revista Educar FCE - Abril 2019

básica para a análise e interpretação dos oferta do ensino, a qual é respondida, ou


dados a que se reportem, em relação ao que se não, pela demanda, nos quais, o equilíbrio
pretenda descrever, devendo ter propriedade, instável entre uma e outra dessas realidades
clareza, mensurabilidade e comparabilidade. funcionais reflete-se nas diferentes partes
A propriedade é determinada pelo propósito de cada sistema e todo o seu conjunto,
de descrição que se tenha em vista. por maior ou menor coesão, nos quais é
apreciado em conexão com certas condições
O critério de clareza implica precisão e da vida social, satisfatoriamente definidas.
simplicidade de definição das realidades
que se queiram descrever, pois devem ser
facilmente compreendidas por todos, ou ter Desta forma, o autor coloca a Educação
um só sentido. A mensurabilidade resulta desse Comparada pode ser trabalhada em casos
requisito fundamental pelo qual possamos
reunir quantidades homogêneas, totalizando- particulares pela oferta de ensino ou demanda
as dentro de cada grupo de realidades a educacional, estando conectadas com
distinguir, mediante critérios bem estabelecidos. as condições da vida social. Cervi (1986)
(LOURENÇO FILHO, 2004, p. 38).
já colocava que a Educação Comparada
dentro da sua conotação de estudo de
Ferreira (2008) menciona que a contextualização, está dentro de áreas de
importância da Educação Comparada vem estudo como Estrutura e Funcionamento do
da generalização do modelo escolar e de Ensino, Currículos, Legislação do Ensino, mas
este se ter constituído como um indicador ela é apreciada como uma meta disciplina das
de desenvolvimento, mas se, por um lado, abordagens de contextualização, ela pode
essa generalização se deveu a uma ideia de chegar, por meio de confrontos e síntese
civilização, esta tem-se concretizado sobre analítica de todas práticas educacionais em
condições específicas, originando dinâmicas contextos múltiplos:
educacionais mais ou menos diferentes,
uma abordagem sócio dinâmica requer que Didaticamente, os conteúdos da EC comportam
estudos chamados de área (estudo de sistemas
a interpelação se faça tomando sempre em educacionais, locais, regionais e nacionais),
consideração a relação da educação ou de estudos de problemas educacionais, estudos
um seu aspecto com o tempo, o espaço, as comparativos propriamente ditos, estudos das
relações internacionais no campo da educação e
condições e os efeitos seus sub-produtos (transferência em educação,
dependência, cooperação internacional,
Conforme Lourenço Filho (2004) em inovação, ...) e, natural e necessariamente,
a própria revisão epistemológica da EC, é
relação aos sistemas nacionais de ensino, pronunciada a dimensão política das abordagens.
não haverá outra forma de investigação (CERVI, 1986, p. 48).
producente como em plano formal, que se
definem pelas prescrições das leis, que lhes Desta maneira, Ferreira (2008) a Educação
traçam uma morfologia e funções ideais, Comparada deve encontrar sentido para
em cada caso particular, estabelecem uma os processos educacionais, que apesar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

das diferentes globalizações, ideologias transacionais e consequências de imposições de


modelos civilizacionais, não acontece tudo da mesma forma, do mesmo ritmo em todas as
sociedades.

Assim, Ferreira (2008) coloca que Independentemente das possibilidades de estudos para
marcar as diferenças, a Educação Comparada tem tido por especial preocupação e referência
a dimensão escolarização, ou seja, ela está omnipresente nos muitos e muitos estudos das
diferentes abordagens, porque é na relação com a aprendizagem que definem o objeto a
estudar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Comparada traz objetivos dentro do ensino,
fazendo vários processos dos grupos sociais, integrando
dentro da sociedade nacional, caracterizado por cada
região, considerando o pensamento humano e seu processo
histórico na sociedade. Desde a Antiguidade, a Educação
Comparada manteve essa compreensão da dinâmica dos
sistemas educacionais e as relações por comparação.

Desta forma, é necessário refletir também em cima das LÚCIO RODOLFO ROSA
políticas educacionais, e no Brasil, as políticas públicas
formaram um caminho de uma educação para produção em
Doutorando em Ciências da
vista a uma competitividade com base de uma Educação Educação pela Universidad
Comparada com o modelo internacional. Assim, criaram Columbia del Paraguay; Mestre
mecanismos de avaliação em cima dessa perspectiva para em Ciências da Educação pela
Universidad Columbia del
qualidade da educação, ocasionando o fracasso escolar Paraguay (2018); Graduação em
devido perder o foco para aprendizagem. Matemática pela Universidade
do Vale do Paraíba (2015) e em
Pedagogia pela Faculdade Casa
Logo, a educação comparada deve seguir seus objetivos Branca (2016); Especialista em
de valorizar cada região específica socioeducativa, criando Novas Tecnologias para o Ensino
critérios específicos da escolarização e aprendizagem. E de Matemática pela Universidade
Federal Fluminense (2012) e
mesmo que traga resultados para uma realidade nacional ou em Gestão Empresarial pela
comparativa para modo mundial, é preciso dentro do tempo, Universidade do Vale do Paraíba
o espaço, as condições e os efeitos, buscar o equilíbrio (2014); Professor de Ensino
Fundamental II - Matemática
mediante a análise educacional com apontamentos de - na EMEF Profª Célia Regina
melhoria para uma aprendizagem significativa. Lekevícius Consolin.

752
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Abril 2019

O PROFESSOR E AS IDENTIDADES
A ELE ATRIBUÍDAS
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise em torno das identidades
atribuídas aos professores e ao mesmo tempo verificar a natureza delas: são positivas ou
negativas? Ou será que as duas ao mesmo tempo? Ter uma identidade é de suma importância
para o indivíduo, principalmente para o professor, uma vez que este é o principal responsável
pela formação de indivíduos capazes de exercer sua plena cidadania e cujo exercício dela
deve ocorrer de forma satisfatória. Então, como proporcionar algo positivo se o próprio
formador não a possuir? Vivemos em uma sociedade que não valoriza a educação e que não
obstante também não valoriza o professor, sendo assim atribuem muitas identidades aos
mestres e é fácil percebermos que a maioria delas é negativa. Além disso, o professor ainda
sofre com atribuições identificativas promovidas pela mídia, pelos alunos e muitas vezes por
ele mesmo, sendo que algumas são intrínsecas, outras são formadas inconscientemente,
enquanto outras são reveladas conscientemente, mas tudo é identidade, algo passivo de
estudos.

Palavras-Chave: Professor; Identidades; Sociedade e Indivíduo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Como se sabe, a identidade do sujeito é


múltipla e sua construção se dá em torno
A Identidade do Professor é algo bastante de múltiplas vozes, por isso, diz-se que a
recorrente no meio da sociedade e porque identidade é heterogênea, uma vez que,
não dizer entre os profissionais da educação, dependendo da visão de cada sujeito, é
principalmente entre os próprios professores. possível atribuir uma ou mais identidades.
Essas identidades são motivos de inquietudes
muitas vezes inconscientes no cotidiano dos Dessa forma, a identidade do professor
mestres e presentes no discurso deles, sejam como sujeito perpassado por muitas vozes
orais ou escritos. Então, como se trata de também é heterogênea. Assim, a ele é
educador a revista “Nova Escola” é de suma atribuída muitas identidades: de herói, de
importância para verificar como é construída mãe, pai, psicólogo, carrasco, irresponsável,
a identidade atribuída pelo discurso dessa preguiçoso, conselheiro, professor, educador,
mídia escrita, nas cartas de leitores, aos facilitador, dono do saber e “libertador”.
professores, seu público alvo. Uma vez
que ela possui sua forma de enxergá-los Essas identidades muitas vezes são
e “apresentá-los” enquanto profissionais atribuídas pelos próprios professores ou
atuantes no ensino. Além disso, ser professor, pelos alunos, uma vez que é quase impossível
no Brasil, constitui-se um “desafio”, já que falar em identidade de professor sem lembrar
fazemos parte de uma sociedade onde a relação entre professor/ aluno, bem como
praticamente não existe valorização para a pela sociedade na qual o sujeito professor
educação, uma vez que as esferas políticas está inserido.
valorizam o desenvolvimento econômico em
detrimento do educacional e esperam que Porém, é interessante notar que muitas
haja um “milagre econômico” para, a partir daí, dessas identidades a eles atribuídas possuem
investir em educação e consequentemente relação direta com a função que ocupam,
no professor. sendo que muitas vezes são equivocadas,
principalmente quando se leva em consideração
É interessante perceber que muitas a identidade de “professor preguiçoso”, pois
dessas identidades são construídas essa é fruto do senso – comum resultado da
inconscientemente, e, apesar disso, tornam- desvalorização do magistério e do equívoco
se intrínsecas, passando a fazer parte de que qualquer sujeito detentor do mínimo
da vida e do cotidiano dos professores grau de escolaridade poderia atuar como
como sujeito subjetivo que são, não professor, ou seja, poderia lecionar nas séries
obstante a subjetividade ser construída iniciais do antigo “ginásio”. Essas marcas
inconscientemente, não por si só, mas com o perduram no meio da sociedade, levando
outro e pelo outro. o professor a ser muitas vezes vitimado por
aquilo que não merecia.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

SUJEITO E IDENTIDADE Como detentor da capacidade de entender


as suas peculiaridades, o sujeito se torna um
Quando se fala em identidade logo se ser indivisível, já que essas características que
pensa em diferenciação, uma vez que algo formam a unicidade individual de cada ser não
que nos identifica também nos diferencia da podem ser separadas. Coracini (2003, p.240)
multidão. Se pensarmos em nossas digitais escreveu, “esse sujeito indivisível (indivíduo)
podemos entender o quanto essa questão constitui, assim, uma entidade unificada em
é interessante, pois como diferentes que seu próprio interior, uma entidade singular,
somos, jamais podemos encontrar alguém distintiva, única, consciente”.
com as mesmas digitais nossas e com nossas
próprias características, assim, nos tornamos A partir desses comentários podemos
únicos. apreender que o próprio nome “indivíduo” já
nos remete a essa noção de indivisível, de
Porém, a identidade não é algo inato, ela unicidade que está presente em cada ser,
é formada a partir das nossas relações com ou melhor, nos seres humanos, uma vez que
o outro e do nosso contato com o mundo apenas eles são dotados da capacidade de
a nossa volta, uma vez que permanece raciocinar, portanto, da consciência de que
incompleta durante toda a nossa vida, já são únicos com aquelas características, pois
que constantemente estamos em contato como se sabe, é a razão que nos diferencia
com o outro e, assim, adquirindo novas dos outros seres vivos e nos tornam mais
experiências. Dessa forma, pode-se perceber especiais.
que as nossas características individuais
não aparecem conosco no momento do Mas, cabe salientar, que o sujeito racional
nascimento, mas vão se formando ao longo o qual me refiro, não é aquele sujeito
da vida, enquanto estamos nos relacionando centrado, controlador, detentor das verdades
com aqueles que nos rodeiam. Nos dizeres de absolutas, mas aquele sujeito pós-moderno,
Eckert-Hoff (2003, p.273), “as identificações constituído por esfacelamentos e “dono”
são incessantemente (re) construídas por de um discurso imbricado por outras vozes.
meio da diferença, por meio da relação com Dessa forma, ele deixa de ser um sujeito
o outro e emergem através da linguagem.” indivisível para se tornar divisível, “falto”, o
qual está constantemente buscando a sua
Portanto, é essa unicidade que nos completude a fim de preencher esse “vazio”
tornam especiais, dotados de capacidades e que o maltrata. Sobre isso, descreveu Eckert-
de sentimentos que compõem a diferença, Hoff (2003, p. 271):
a identidade de cada um. Esse conjunto de
diferença que podemos perceber nos está O sujeito é visto como descentrado, que se
constitui de pequenos fragmentos, fragmentos
intrínseco, portanto, o sujeito é consciente esses que formam um aparente tecido
de suas diferenças. homogêneo que, na verdade, é constituído
de pequenas unidades faturadas, esfaceladas,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

fragmentadas, o que evidencia a heterogeneidade


Nessa busca incessante de interesses,
que o constitui (Eckert-Hoff, 2003, p.271)
o sujeito acaba controlando a si e ao
É essa heterogeneidade apresentada por outro, através do seu discurso. Mas, esse
Eckert-Hoff (2003) que indica o quanto o controle não se dá na totalidade, pois os
sujeito não é absoluto e nem dono de um sujeitos não são totalmente assujeitados,
discurso autônomo, mas possuidor de um pois dependendo da relação que se possa
dizer formado por outros dizeres, dizeres estabelecer ele pode ou não se mostrar
esses provenientes de outro, adquiridos controlado, ou melhor, incapaz de sozinho
através da escrita ou mesmo da oralidade. tomar determinadas atitudes. Porém, como
Isso porque nenhum discurso é neutro, se sentem incompletos estão sempre à
mas, é perpassado por outros dizeres, procura da completude, portanto, vivem
é constituído, imbricado pelas palavras sempre no estado de movimento entre
do outro e fruto de um já-dito na fala do completude/incompletude.
outro. Então, assim, como o sujeito não tem
controle sobre o seu dizer, também não tem Essas relações de poder não existem por
controle sobre os efeitos de sentidos que si só, mas são formadas através do saber,
esses dizeres podem provocar no outro. Por uma vez que constantemente somos pegos
isso, muitas vezes nos pegamos redizendo ou buscando novos saberes para, assim, nos
refazendo o nosso dizer a fim de desfazer um tornarmos “superiores”. O que não dizer
mal-entendido. Constantemente estamos das especializações, mestrados, doutorados
falando ao nosso interlocutor: “Não foi isso e pós-doutorados que tem atraído tantas
que eu quis dizer!” E assim, reformulando o pessoas com o desejo de se destacarem
seu discurso consegue se “safar”, ou melhor, entre os demais? Portanto, saber e poder
evitar determinados problemas. formam um laço de unicidade onde um
implica o outro, onde um subjaz o outro e
Como podemos perceber, muitas vezes o assim, dependentes entre si.
sentido que determinado falar pode ter para
um sujeito não necessariamente será para
o outro, não obstante esse ainda poderá O DISCURSO E OS
encontrar sentidos além daquele que se PROCESSOS DE
esperava que pudesse ser identificado por
aquele que se constitui o nosso interlocutor. IDENTIFICAÇÕES
E essa “ação” como resultado do dizer Falar em discurso é remeter-nos à ideia
pode transformar o mundo e tudo que nos de que os nossos dizeres, ou seja, as nossas
rodeia, constituindo-se assim, uma relação palavras são constituídas de sentidos e que
de poder em que cada sujeito busca seus esses sentidos são construídos através dos
próprios interesses busca superar os seus dizeres alheios, pois nenhum dizer é neutro,
semelhantes. mas atravessado por outras vozes. Daí, a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

noção de heterogeneidade e multiplicidade Portanto, pode-se perceber que os


discursiva. nossos dizeres são sempre passíveis a
completude a serem reformulados e capazes
Como múltiplo que é o nosso discurso, de expressarem novos sentidos, mas nem
implica dizer que sempre dizemos mais do sempre para isso é preciso refazer, pois
que sabemos e que nenhum dos nossos novas leituras em um mesmo discurso nos
falares é “inocente”, pois todos os nossos permitem essas nuanças.
dizeres estão imbricados por ideologias e
mascarados por interesses próprios ou de Sobre essas reflexões acrescentou Eckert-
um determinado grupo que se encontra o Hoff (2003, p.288), parafraseando Derrida
jogo. (1973):

É o nosso discurso que nos diferencia ou Se um texto é colocado no papel e lido por
outra pessoa em outro momento, será uma
nos identifica. Isso quer dizer que a nossa nova escritura, pois a primeira trama sempre
identidade, ou porque não dizer a nossa será desfeita e, ao mesmo tempo, será tecida
identificação, é resultado da forma e do novamente, mas formando outros fios, tecendo-
se, a cada fio, a ilusão de se prender os sentidos
conteúdo que usamos para nos expressar desejados na nova malha (ECKERT-HOFF, 2003,
aos nossos semelhantes. É o estilo de cada p.288)
um que o diferencia, que o torna objeto
de apreciação, mesmo sabendo que esse Através dessa reflexão, entendemos que
discurso não é construído do nada, mas é cada discurso se transforma em um novo
resultado das relações que estabelecemos no momento que fazemos novas leituras
ao longo da vida e que nos permitem adquirir ou quando esse é apreciado por um outro
novas experiências, experiências essas que sujeito que ainda não tenha tido contato
nos transformam no que somos. com tal texto, portanto, os discursos nunca
“envelhecem”, mas são renovados a cada
Dessa forma se pode perceber que nova leitura que fazemos e composto por
nem sempre expressamos apenas aquilo novas utilidades.
que queremos, mas como o nosso falar
é perpassado por outros falares, então Esses dizeres são formados por ditos ou
acabamos expressando os nossos desejos não ditos e que muitas vezes levamos o outro
e os desejos daquele(s) que fazem parte a criar a nossa própria identidade. Digo não
do nosso dizer. Daí, resultar o que Eckert- dito, pois muitas vezes em um processo de
Hoff (2003, p. 287) esclareceu: “os sentidos negação de algo acabamos por transmitir
nunca são únicos, nem definitivos: há sempre inconscientemente determinados fatores
pontos de deriva possíveis”. que não gostaríamos que viesse à tona, uma
vez que o sujeito tenta se defender por meio
da ocultação daquilo que de certa forma

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Revista Educar FCE - Abril 2019

iria comprometer a sua imagem. Portanto, Ser professor, no Brasil, nunca foi ocupar
se torna a verdade do inconsciente, daquilo lugar de honra, de valorização. Desde os
que não é declarado abertamente, mas primórdios da educação nacional até hoje, a
é resultado de um “dito não dito”. Para realidade sempre foi à mesma - ocupar o lugar
Eckert-Hoff (2003, p.290), esse processo é de desprestígio, função sem credibilidade.
considerado denegação. Basta lembrarmos que quem ocupava o
cargo de professor era, na maioria das vezes,
Aponta-se como denegação, uma vez que aquele sujeito sem formação, alguém que
“a verdade é revelada e ocultada ao mesmo não havia frequentado uma academia e que
tempo”. Ela é transmitida através de uma não possuía conhecimentos necessários e
negação que se faz no intuito de levar o outro nem metodologias apropriáveis para cumprir
a perceber e a criar uma imagem positiva de tal função. Mesmo assim, como o número
si como resultado do dito, entretanto, acaba de pessoas que lecionavam ainda era muito
resultando no contrário, pois na maioria pequeno, o nível de desvalorização não
das vezes as identificações formuladas são chegava a tanto. A partir dos anos 70, com a
resultado do não revelado, daquilo que se universalização do ensino, o quadro piorou.
pretendeu ocultar, uma vez que revelado
acarretaria a formulação de imagem Essa perda de prestígio que surgiu com o
negativa, indesejada pelo eu. Dessa forma, o aumento do número de alunos se deu porque
dito transforma-se numa dissimulação onde ocorreu uma banalização do processo de
a outra voz encontra-se mascarado com o ensino do país e com ele caiu também à
revelado. imagem do professor. Se antes quem tinha
acesso ao conhecimento eram apenas as
pessoas da classe alta, com o intermédio
O PROFESSOR E AS de professores particulares nos próprios
IDENTIDADES domicílios, a partir dessa década o ensino foi
expandido para dar oportunidades aos mais
Há muito tempo, ser professor era sinônimo carentes, então, foi necessário que o governo
de poder, pois como mestre, era aquele que passasse a ofertá-lo, daí começou o aumento
detinha nas mãos o saber, ensinava técnicas, da desvalorização do professor. Isso nos faz
artes, matérias e transmitia conhecimentos. perceber que os governantes de nosso país
E como possuidor dessas imagens devia ser nunca deram prioridade à educação e resta a
respeitado, valorizado e imitado por todos, nós, ainda hoje, sofremos os reflexos desse
mas principalmente pelos discípulos. Porém, processo.
nem sempre funcionou dessa maneira,
principalmente em nosso país. Se fizermos uma Porém, foi a partir da década de 80 que
retrospectiva ao longo do tempo chegaremos à essa desvalorização passou a ser mais visível.
conclusão de que a realidade era bem diferente Foi quando surgiram outros profissionais na

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educação, a exemplo do diretor e orientador a sociedade tem olhado o professor. Nos


que possuíam salários maiores e assim, anos 70/80 cabia ao pai o dever de construir
eram mais valorizados. Então, restou ao na criança a imagem de que o professor era
professor, ou melhor, à professora, uma vez merecedor do carinho e do respeito do filho,
que nessa época quem atuava na educação hoje se ver o contrário, pais que parecem se
eram as mulheres, a função de “tia”. Assim, esforçar em conduzir a criança ao caminho
a professora passou a ser identificada como da desvalorização e do desrespeito ao
um membro da família e foi deixada de lado educador. Se antes o professor era aquele
a mestra, a dona do saber, aquela que tinha que conduzia o sujeito para o caminho
apenas a responsabilidade de transmitir do bem, hoje ele parece ser visto como
conhecimentos. o vilão-incompetente, desocupado, mal-
educado, insuportável, autoritário, aquele
Não obstante, cabe a cada professor lutar ser “humilhado, incompreendido, esnobe,
para que ocorra a mudança desse quadro sofredor, frustrado, desiludido, vítima de
e que as pessoas sejam conscientizadas uma sociedade ingrata e injusta”. (CORACINI,
de que a educação é parte fundamental 2003, p. 248)
para o desenvolvimento de um país. E, se
quisermos um país desenvolvido é preciso Entretanto, o professor não possui apenas
que juntos lutemos pela valorização do identidades negativas. Ele carrega consigo
professor, pela mudança da identidade uma diversidade de identidades que se
de “tia” para a facilitadora do processo de manifestam muitas vezes de acordo com
ensino-aprendizagem. a função que exercem no dia-a-dia. Essas
identidades aparecem ao lado da tarefa
Pensando nas identidades atribuídas de transmitir conhecimentos e acaba por
aos professores é interessante notar que sobrecarregá-lo.
muitas vezes estas são por eles mesmos
atribuídas, uma vez que em meio aos Hoje, o professor não é apenas aquele
educadores é comum existir a disseminação mestre do passado, mas aquele profissional
da imagem do colega. Essa disseminação que precisa a todo o momento estar se
ocorre principalmente se ao mestre couber atualizando, buscando novos conhecimentos
a identidade negativa, aquele profissional para poder acompanhar o processo de
relapso, faltoso, que não se esforça para globalização, e assim, obter condições de
cumprir sua função dando o melhor de si, ofertar um ensino de qualidade. Além disso,
exercendo, portanto, a responsabilidade ele precisa ter conhecimentos de psicologia,
como educador. de sociologia e de outras áreas afins para
poder ter sensibilidade necessária para
Outro fator que tem ajudado na propagação compreender as necessidades do aluno e,
das identificações negativas é a forma como dessa forma, poder ajudá-lo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Cabe salientar que, além desses e sentia-se capaz de realizá-la, mas como
conhecimentos, é necessário que o professor um homem frágil, carente do apoio e da
esteja preparado para exercer as diferentes compreensão daqueles que lhe rodeiam. É
funções a ele atribuídas e com elas as suas nesse sentido que muitas vezes ouvimos
identidades. O professor que não é apenas os professores afirmarem: “É uma missão
o mestre, é o pai, mãe, psicólogo, amigo, árdua, mas é prazerosa quando percebemos
companheiro, médico, enfermeiro, ator, nos olhos dos nossos alunos algum gesto de
sábio, modificador de destinos, modelo, agradecimento”.
paciente, responsável enfim, uma série de
outras funções que lhe acarretam um árduo Como ator, o professor é aquele que tem
trabalho, mas que é fruto de sua história e de como função transformar a sala de aula em
sua formação. palco para poder competir com as tecnologias
que avançam a cada dia e que tem se tornado
Também é interessante frisar que, ao seus principais “oponentes”. São elas que
lado dessas identidades, surge também a de têm roubado a cena e como se mostram
herói, de batalhador, muitas vezes atribuída mais interessantes, mais prazerosas, ocupam
ao professor por ele próprio e que é fruto da o lugar do mestre, por isso é necessário que
ação da disposição para ajudar o aluno não só o professor, principalmente os das séries
na aprendizagem, no exercício da cidadania iniciais, muitas vezes se transforme em
e na busca por um futuro brilhante, mas em ator, para contracenando manter os alunos
ajudá-lo a ser uma pessoa melhor, a libertá- frequentando suas aulas.
lo dos traumas, das drogas e dos inúmeros
vícios que lhe perturbam a alma. Muito Coracini (2003, p.247), nos faz entender
embora o professor perceba que cumprir que “paralelamente as outras identificações,
essas tarefas não é tão simples e que muitas emerge a imagem de professor como ator,
vezes lhe é doloroso, persegue esse sonho tarefa herdada, provavelmente, do papel de
em busca de contribuir para a mudança de animador que o professor conquistou graças
vida dos seus aprendizes. É um tipo homem/ aos métodos audiovisuais.” No entanto,
herói, a exemplo dos missionários, como bem a meu ver essa imagem de ator não lhe é
expressou Coracini (2003, p. 246): atribuída apenas pelos métodos audiovisuais
que adentram a escola, mas principalmente
Assim, muito embora o professor se intitule pelas tecnologias que habitam o mundo fora
herói, diante de determinadas situações dos muros escolares: televisão, computador,
é um ser fragilizado, muitas vezes incapaz internet, jogos em rede, games, entre outros.
de cumprir as tarefas a que lhe atribuem e
que no íntimo se sente na responsabilidade Se voltarmos os nossos olhares, dando
de realizá-las. Não como Cristo que a todo ênfase a professores das séries iniciais,
o momento estava convicto da sua missão encontraremos também a identidade de

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vigia, de guardião-aquele que cuida e protege; que se sente na responsabilidade de manter os


alunos distantes dos perigos que os cercam. Porém, esse cuidado e essa vigilância podem ir
além da tarefa de protetor como pode também ser compreendido como aquele que distribui
tarefas, que controla o tempo, que se preocupa em distinguir níveis de aprendizagens e
também aquele controlador das ações individuais e coletivas dos sujeitos-alunos.

Todas essas identidades estão presentes no inconsciente de cada um, seja-nos próprios
professores, alunos ou em outro sujeito que componha a sociedade, a qual o professor
está inserido, e são expressas voluntárias ou involuntariamente através da linguagem. São,
portanto, manifestadas pelos nossos discursos, pela heterogeneidade de vozes que compõem
o nosso falar, ou seja, pela pluralidade de vozes que perpassam o nosso dizer.

Porém, cabe ressaltar que inúmeras outras identidades que não mencionei nesse texto
são atribuídas aos professores e que, muito embora muitas das identidades mencionadas
nesse presente trabalho sejam utópicas e idealizadas, o professor continua na luta para
cumprir a sua missão.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todas as leituras feitas durante o curso e
principalmente das bibliografias selecionadas para o presente
artigo é perceptível que o professor é sujeito formado por
diversas identidades, sendo muitas delas intrínsecas, outras
formadas conscientes e outras inconscientemente, além
daquelas atribuídas por outros.

Entretanto, cabe salientar que como apresentadas nos LUIZA MARIA MOURA
autores citados ao longo dessa pesquisa, essas identidades
Graduação em Letras pela FESPE
podem ser positivas e negativas e que muitas delas são, (FUNDAÇÃO DE ENSINO
como supunha, resultado do discurso da sociedade em que SUPERIOR DE PERNAMBUCO
ele está inserido, bem como fruto das relações que possui 1986); Graduação em Pedagogia
UNIBAN (1986)
com os próprios colegas de profissão, dos seus superiores ou
até mesmo dos educandos.

Quanto ao tipo de sujeito apresentado na pesquisa, esse


pode ser entendido como aquele indivíduo multifacetado,
resultado a partir de formações discursivas diversas. Sendo,
portanto, o sujeito-professor constituído de discursos
diversos: Sistema Educacional Brasileiro, senso-comum,
discurso dos próprios colegas, da mídia, seja audiovisual ou
impressa, dos manuais didáticos, da sociedade como um
todo, enfim, o sujeito-professor é o profissional fruto das ideologias vigentes no país e das
ideologias dos grupos sociais nos quais está inserido.

Portanto, como apontei no início dessa pesquisa, ser professor, no Brasil, não é tarefa fácil,
tendo em vista as constantes discriminações sofridas por esse profissional, na sociedade
em geral e na mídia. Assim, como fruto dessa discriminação, o professor, muitas vezes é
identificado injustamente e de forma negativa.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Editora da UNICAMP. Chapecó: Argos Editora Universitária, 2003.

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ser alguém. Análise do discurso de uma narrativa de professor. Lima, Pachoal de Carvalho
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Campinas: Editora da UNICAMP. Chapecó: Argos Editora Universitária, 2003.

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2002.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM
OLHAR SOBRE AS PRÁTICAS
RESUMO: Todos os indivíduos nascem com seus direitos inalienáveis a vida, mas há aqueles
que nascem também características fora do padrão social. O direito fundamental a educação
passou por modificações para garantir à pessoa com deficiência o direito do convívio em
sociedade. A escola inclusiva tem esse objetivo de integrar a pessoa com deficiência ao
mesmo ambiente que a pessoa sem deficiência. Este artigo em discorre o que os autores
falam a respeito da forma que a escola inclusiva está sendo criada através de atos de políticas
públicas. Buscando enxergar o quanto cada umas dessas políticas estão sendo aplicada na
sociedade, elenca-se alguns fatos e estudos que ampliam essa visão seguida da análise entre
o que está sendo escrito para a efetivação da inclusão e o que a realidade está mostrando.
Conclui-se que o caminho precisa de novos e melhores esforços para uma escola inclusiva.

Palavras-Chave: Inclusão. Educação Inclusiva. Inclusão por Deficiência. Inclusões.

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INTRODUÇÃO Na história vemos a educação para


pessoas com surdez com esforços melhores
Na Declaração Universal dos Direitos a partir do século XVIII, culminando com
Humanos são elencados vários direitos que as primeiras práticas educacionais para o
buscam a concretização da igualdade entre ensino de linguagem de sinais e a oralização.
os seres humanos independente de qualquer A Abordagem Total para o ensino de surdos
condição. Ainda é possível ler a importância chegou nas últimas décadas do século XX e,
da educação para a formação do ser humano atualmente, a proposta está no bilinguismo
e a concretização de uma sociedade pacífica (CARNEIRO, SCHIAVON, CAPELLINI, 2014).
(ONU, 1948). Ao falar-se de educação é Essas mudanças fazem parte de diversas
impossível universaliza-la sem a devida melhorias que ocorreram durante o século
atenção as especificidades de cada pessoa. passado:

Na atualidade existem vários esforços para “Somente a partir da segunda metade do século
XX, em função de vários fatores, como os
que as pessoas sejam incluídas no ambiente econômicos, os políticos, os sociais e os referentes
escolar. A educação inclusiva quebra com a aos direitos humanos e educacionais, é que se
educação tradicional para que o estudante inicia outro modelo que tem como premissa
básica a integração de pessoas com deficiências
com necessidades especiais seja objeto das em ambiente comuns, baseado no paradigma de
práticas educativas (BATISTA, ENUMO, 2004). serviços.” (CARNEIRO, SCHIAVON, CAPELLINI,
2014, p.6)
O objetivo desse estudo é encontrar as
práticas educativas inclusivas que as Leis Como elucidado acima, o ideal da
brasileiras e os acordos internacionais tem integração de pessoas com deficiência
ditado e verificar os resultados obtidos em ganhou força e vem ganhando cada vez
outras pesquisas sobre o assunto. mais destaque. O princípio norteador é o da
normalização que visa “introduzir a pessoa
com deficiência na sociedade, ajudando-a a
REVISÃO DE LITERATURA adquirir as condições e os padrões da vida
cotidiana o mais próximo do normal, quanto
No 26º artigo da Declaração Universal dos possível” (ARANHA, 2001, p.14).
Direitos Humanos, podemos ler:
Como destacado por Batista e Enumo, há
“2.A educação deve visar à plena expansão da uma diferença entre integração e inclusão.
personalidade humana e ao reforço dos direitos
do Homem e das liberdades fundamentais e deve Para eles, ambos se propõem a integrar o
favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade estudante com deficiência na sala regular,
entre todas as nações e todos os grupos raciais mas “inclusão remete-nos a uma definição
ou religiosos, bem como o desenvolvimento das
atividades das Nações Unidas para a manutenção maisampla, indicando uma inserção total e
da paz.” (ONU, 1948) incondicional” (BATISTA, ENUMO, 2004, p.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

2). “A inclusão, implica mudança desse atual seus direitos a educação e alicerça o ideal da
paradigma educacional, para que se encaixe escola inclusiva:
no mapa da educação escolar” (ROMITO et
al, 2011, p. 1). Como pode ser visto nessas “Escolas regulares que possuam tal orientação
inclusiva constituem os meios mais eficazes de
afirmações, a busca da inclusão vai além combater atitudes discriminatórias criando-se
de simplesmente integrar o estudante com comunidades acolhedoras, construindo uma
necessidades especiais ao ambiente escolar, sociedade inclusiva e alcançando educação
para todos; além disso, tais escolas proveem
é preciso mudar a forma com a educação uma educação efetiva à maioria das crianças e
é realizada para atender o estudante com aprimoram a eficiência e, em última instância, o
deficiência em condição similar aos demais custo da eficácia de todo o sistema educacional.”
(ONU, 1996, p.1)
estudantes.

Parte desse esforço pôde ser sintetizado Também proclama o que os governos
na Declaração de Salamanca que proclama os precisam mudar em sua educação para
direitos dos estudantes com deficiência e em priorizar a educação inclusiva e como os
seu texto direciona mudanças na estrutura organismos internacionais podem cooperar
do sistema educacional a ser adotado nos para atingir e melhorar as bases da educação
países signatários e modos de cooperação inclusiva.
entre eles. Uma parte muito significativa
está na forma em que a Declaração elenca Na parte seguinte, ela torna claro para
os pontos a serem aprimorados na escola e todos os atores envolvido o papel que
na formação dos profissionais envolvidos na cada um terá de fazer para universalizar a
educação especial (ONU, 1996). educação inclusiva. De modo prático, ela
lista desde o que o governo até as escolas,
professores e demais profissionais em como
A DECLARAÇÃO atuar e se instruir para estar preparado para
DE SALAMANCA os anseios de todos os estudantes.

A Declaração está dividida partes, “O currículo deveria ser adaptado às


seguindo pontos a serem estabelecidos nos necessidades das crianças, e não vice-versa”
diversos atores que estão ligados a educação (ONU, 1996, p. 8) é, em si, uma quebra de
inclusiva. paradigmas sobre o que antes era aceito
como inclusão, pois “Se antes cabia ao aluno
Em sua primeira parte, é listado os com deficiência se adaptar a escola, agora,
diferentes atores ligados a educação dentro da concepção da escola inclusiva, é ela
inclusiva. Nessa parte, voltada aos governos quem deve se adaptar ao aluno” (ROMITO,
dos países signatários, ela proclama os ideais et al, 2011, p. 3). Cada escola pode ter a
para o estudante com deficiência exercer os oportunidade de receber diferentes alunos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

com características muito diferentes e A Lei nº 13.146/15 foi um passo além


diversas deficiências, mas ao invés de serem da anterior criando dispositivos para
alvo de currículos diferentes, esses alunos assegurar a igualdade e a não discriminação
com necessidades especiais necessitam da pessoa com deficiência e reconhecendo
de apoio adicional para terem a educação as necessidades que elas possam ter.
equiparada aos demais alunos. Em especial sobre educação, ela institui
nacionalmente a escola inclusiva que permite
“Preparação apropriada de todos os a pessoa com deficiência “alcançar o máximo
educadores constitui-se um fator chave desenvolvimento possível de seus talentos
na promoção de progresso no sentido do e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais
estabelecimento de escolas inclusivas.” e sociais, segundo suas características,
(ONU, 1996, p. 10). Na Declaração é interesses e necessidades de aprendizagem”
perceptível o cuidado em incluir o estudante (BRASIL, 2015) e reconhece as diferenças que
com deficiência de modo natural à escola o estudante com deficiência possa necessitar
com profissionais bem preparados e em relação aos demais estudantes.
estruturas adicionais de apoio. Além disso, é
possível enxergar as fases que a pessoa com
deficiência passa até a vida adulta e como DISCUSSÃO
a educação inclusiva vai além do ambiente
escolar e entra na vida familiar e social de A Educação Especial por um extenso
cada pessoa. período foi restritamente dependente das
instituições especializadas, intrinsecamente
segregadas. A forma como a escola inclusiva
AS LEIS SOBRE INCLUSÃO tem sido vista no Brasil está mudando com o
tempo. Há anos atrás não havia tantas formas
O Brasil, como um dos países que assinaram de proteger as pessoas com deficiência em
a Declaração de Salamanca, vem adaptando relação aos seus direitos mais básicos. Tanto
as suas Leis para criar os dispositivos legais a esses direitos como a escola inclusiva tem
suportarem a escola inclusiva. sido temas cada vez mais em alta no mundo
acadêmico, com inúmeros trabalhos sendo
Cabe destaque a Lei nº 10.098/00 que estudados a cada dia. Se falarmos também
criou princípios de acessibilidade às pessoas na forma de Leis, percebemos que nossas
com deficiência. Mudanças importantes Leis estão iguais ao que está escrito tanto na
como ter a obrigatoriedade de eliminar Declaração Universal dos Direitos Humanos
barreiras e de ter elementos que facilitem a quanto na Declaração de Salamanca. Com as
circulação da pessoa com deficiência foram novas políticas e orientações educacionais
legalizados. atuais se busca elucidar a concepção de
uma Educação Especial Inclusiva, e esta

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Revista Educar FCE - Abril 2019

abordagem passa a ser substituída por uma educação oferecida no contexto regular de
ensino. Esta percepção é vigorada no cenário brasileiro com a Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva Inclusiva(BRASIL, 2008), que orienta que seja oportunizado o acesso
ao ensino comum para as pessoas com NEE, considerando a importância de ambientes
heterogêneos e que promova uma educação a todos.

No último Censo mostrou-se que ainda há uma menor porcentagem de pessoas com
deficiência alfabetizada comparada com a média geral e essa tendência foi observada em
todos os níveis de instrução (BRASIL, 2012), pois muitos dos adultos não tiveram a proteção
de direitos que as Leis atuais garantem.

Os esforços atuais estão mostrando a direção da escola inclusiva e, pelo menos, 81% dos
estudantes com deficiência estão estudando em salas comuns (TENENTE, 2016). A Sala
de Recursos Multifuncionais e a forma com a escola estrutura o apoio do estudante (SÃO
PAULO, 2016) está em conformidade com a Declaração de Salamanca.

Como é destacado por Enumo e Batisa (2011, p. 9) “Não é só pela proximidade que alguém
se acha pertencendo ao grupo, ele tem de se identificar com este, pois é esse o processo
básico de formação do grupo.” Ainda que estejam sendo postos em pratica, há caminhos a
trilhar pelos relatos expostos sobre a exclusão que os estudantes com deficiência sofrem
dentro da escola. Some-se a essa exclusão a falta de preparo dos profissionais que ainda
são temas recorrentes quando se fala sobre inclusão (TENENTE, 2016 e GUADAGNIN,
DUARTE, 2016) e teremos um ambiente fora do ideal para o desenvolvimento do estudante
com deficiência. A evolução dos alunos que apresentam dificuldades na escola ressalta os
desafios das relações entre psicologia e educação, numa perspectiva de ação para todos,
uma vez que fatores da diversidade apresentada favorecerá e enriquecerá o ambiente
educacional, daí a importância do permanente diálogo acerca dos meios e sistemas escolares
que permeiam a sociedade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao pensar e refletir o processo de escolarização de alunos
com NE, considerando as políticas públicas que tratam do
segmento, percebe-se, na maioria das vezes que a inclusão
é reduzida ao acesso a sala de aula do ensino regular. O que
presume a inexistência de um compromisso com o ensino
acadêmico e sistematizado de conteúdos, uma vez que
a educação escolar ocupa um espaço secundário em seu
processo de formação, se mostrando incapaz de auxiliar
na construção de uma concepção crítica de mundo. Nesse LUIZ FERNANDO
sentido há recorrentes discussões, nas quais se interrogam NOGUEIRA OLIVEIRA
como as dinâmicas inclusivas estão se estruturando.
Graduação em Letras pela UNESP
(2003); Graduação em Pedagogia
A educação inclusiva insere-se no contexto de respeitar a pela UNIBAN. (2007); Supervisor
individualidade de cada pessoa e garantir o direito universal a Escolar na Prefeitura de São
Paulo.
educação. O fato de ainda termos profissionais sem o devido
preparo para atender a esse público da educação inclusiva
gera insegurança nos professores durante as aulas e de todos
os profissionais envolvidos. A escola em si acaba sendo a
porta da inclusão ao aceitar o aluno em sala de aula regular e
a porta da exclusão por não ter profissionais preparados para
esse atendimento.

As políticas públicas estão melhores, mas ainda há uma lacuna entre a teoria e a prática
dentro das escolas para garantir a permanência e o desenvolvimento do estudante com
deficiência. Ainda é importante ressaltar a necessidade de melhorar a preparação dos
profissionais com cursos dedicados ao tema e também dos recursos disponíveis para esses
profissionais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
ARANHA, M. S. F. Paradigmas da relação da sociedade com as pessoas com deficiência.
Artigo publicado na Revista do Ministério Público do Trabalho, Ano XI, n. 21 março, 2001.
pp.160-173. Disponível em:<http://www.adion.com.br/mznews/data/paradigmas.pdf>.
Acesso em: 28 março 2019.

BATISTA, M. W., ENUMO, S. R. F. Inclusão escolar e deficiência mental: análise da interação


social entre companheiros. In: Estudos de Psicologia, vol. 9(1), 2004, p. 101 - 111.

BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000.Estabelece normas gerais e critérios


básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/L10098.htm>. Acesso em: 26 março 2019.

______. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso em: 26 março 2019

______. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Cartilha do Censo


2010: Pessoas com Deficiência. Brasília, 2012.

CARNEIRO, R. U. C., SCHIAVON, D. N., CAPELLINI, V. L. M. F. Breve relato histórico sobre


pessoas com deficiência auditiva/surdez e as implicações educacionais. Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 2014.

GUADAGNIN, L., DUARTE, M. Conhecimento dos professores frente à inclusão escolar de


alunos com deficiência intelectual no ensino fundamental e médio. In: Políticas Educativas,
Santa Maria, v. 10, n. 1, p. 1-17, 2016

ONU. Declaração de Salamanca. Salamanca, 1996

_______. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Paris, 1948


ROMITO, M. P. S., et al. Inclusão: um Compromisso da Escola e da Sociedade. In: Simpósio
de Excelência em Gestão e Tecnologia, VIII, 2011, 19, 20, 21 out., Resende, RJ.

SÃO PAULO. Decreto nº 57.379, de 13 de outubro de 2016. Institui, no âmbito da Secretaria


Municipal de Educação, a Política Paulistana de Educação Especial, na Perspectiva da

771
Revista Educar FCE - Abril 2019

Educação Inclusiva. Disponível em: <http://legislacao.prefeitura.sp.gov.br/leis/decreto-


57379-de-13-de-outubro-de-2016/>. Acesso em: 26 março 2019

TENENTE, L. Total de alunos com deficiência em escolas comuns cresce 6 vezes em 10


anos. G1, São Paulo, 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/noticia/total-
de-alunos-especiais-em-escolas-comuns-cresce-6-vezes-em-10-anos.ghtml>. Acesso em:
01 jun. 2018.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A INCLUSÃO NO MERCADO
DE TRABALHO: UMA
CO-EMANCIPATÓRIA
RESUMO: “A Inclusão no Mercado de Trabalho: promovendo uma condição emancipatória”
tem como objetivo fazer uma reflexão a partir da inclusão das pessoas portadoras de
deficiências no Mercado de Trabalho. Essa atividade vem sendo considerada um ambiente
importante para as pessoas com deficiência por representar a possibilidade de construção
da identidade, desenvolvimento social e emocional condição necessária para promoção
emancipatória da cidadania. Objetivou-se analisar o processo de inclusão no mercado de
trabalho de pessoas com deficiência com base em suas aptidões e qualificações necessárias
na obtenção da tão sonhada vaga e assim, a partir do trabalho ter sua dignidade humana
reconhecida. Os resultados da nossa pesquisa demonstraram que a inclusão no mercado de
trabalho é um direito e um meio de capacitação das habilidades. Porém, ainda há falta de
oportunidades, de profissionalização, de vagas de emprego e de valorização da pessoa com
deficiência. Ressalta-se a importância da inclusão no trabalho para o desenvolvimento das
pessoas com deficiência e a necessidade de aprimoramento desse processo.

Palavras-Chave: Leitura; Escrita; Aprendizagem; Cidadania.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO a distância entre a promessa igualitária,


acenada pela lei, e a realidade cotidiana das
A inclusão social é geralmente almejada desigualdades e discriminações. Existe uma
não só pelas pessoas portadoras de grande defasagem entre o ideal contido na
deficiência, mas por todo indivíduo que se legislação e a realidade da discriminação da
sente excluído de alguma forma, do convívio segregação vividas por essas pessoas.
social. Os parâmetros para definir o que
seja essa inclusão são vagos ou de difícil O convívio com a diversidade envolve
quantificação, mas parece evidente que a aspectos diversos que condicionam as
inclusão social significa mais do que a mera relações entre pessoas e grupos, entre
sobrevivência. os quais tem-se de listar, a um só tempo,
fenômenos de ordem psíquica e social. No
Uma das definições da inclusão da pessoa texto O Mal estar da Civilização (1930), Freud
portadora de deficiência pressupõe um assinala a existência de uma agressividade
“processo de um movimento dinâmico e que é estrutural, presente em todo indivíduo
permanente que reconhece a diversidade e nas relações entre os homens, o que coloca
humana e tem como fundamento a igualdade obstáculos à busca por uma sociedade mais
na participação e na construção do espaço igualitária.
social, compreendida como um direito”
(KAUCHAKJE, 2000, p. 204). A partir da teoria freudiana, pode-se
afirmar que as premissas psicológicas para
Tanto essa definição quanto a definição uma sociedade mais igualitária, baseada
de Sposati (1997) deixam claro que a busca apenas na distribuição da riqueza e da defesa
pela inclusão social das pessoas portadoras de direitos, são insustentáveis. Além disso,
de deficiência significa, ao mesmo tempo, a para a psicanálise existe uma dificuldade
busca por uma sociedade mais evoluída, em do homem em identificar-se com o que lhe
que a justiça social se concretiza. parece estranho, o que dificulta o convívio
com a diversidade. A inclusão das pessoas
Com relação à inclusão das pessoas portadoras de deficiência supõe a superação
portadoras de deficiência, existe uma dessas características estruturais, presentes
legislação extensa, tanto no âmbito em todo ser humano.
internacional, quanto nacional para defender
e garantir a sua efetivação. No entanto,
mesmo se, do ponto de vista da declaração de POLÍTICAS PÚBLICAS PARA
direitos, as pessoas portadoras de deficiência PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
estejam amparadas pelo ordenamento
jurídico; e mesmo que sejam crescentes os Inclusão busca remover, exterminar as
movimentos relativos à sua inclusão, é notável barreiras que sustentam a exclusão sem seu

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sentido pleno. Aplica-se a todos os que se excluir, discriminar e agir com preconceito
encontram permanente ou temporariamente segregando as pessoas portadoras de
incapacitados pelos mais variados motivos necessidades especiais.
para que possam agir e interagir com
autonomia e dignidade no meio em que Sem dúvida, basta atentar para o cotidiano de
nossa sociedade para se ver que pessoas com
vivem. necessidades especiais não circulam pelos
espaços sociais – supermercados, farmácias,
A melhoria da qualidade de vida humana cinemas, shopping’s etc. – os que ocupam algum
espaço, são geralmente cegos vendendo bilhetes,
tem sido foco da ciência e de profissionais deficientes físicos graves expondo sua condição
voltados a ela com o desafio de obtenção para a mendicância. Essa observação demonstra,
de propostas, projetos sem se deixar mais uma vez, que o objetivo dos serviços em
Educação Especial não tem sido alcançado (SILVA,
“homogeneizar” soluções, mas criar, dar
2001, p. 183).
condições para que avancemos deixando
de lado os preconceitos e as discriminações
que permeiam nossas ações diárias a fim A partir do século XIX houve a criação
de atingir soluções para as pessoas com de Escolas Especializadas residenciais,
portabilidades especiais sejam incluídas e consideras como marco inicial da Educação
não excluídas como na maioria dos casos. Especial em que as pessoas portadoras de
deficiência passaram a serem contempladas
Reconhecer o processo de inclusão educacionalmente.
com pessoas com deficiência requer a
compreensão do que aconteceu ao longo A Educação nesse período esteve relegada
da história e como as pessoas portadoras de a uma postura terapêutica, ou seja, médico-
deficiência foram tratadas. Por outro lado, pedagógico, em que as pessoas portadoras
requer a compreensão do contexto histórico de deficiência eram consideradas como
da educação e as concepções pedagógicas “doentes incapazes”, ou seja, estavam fora
acerca da deficiência em cada época e como dos padrões da normalidade da sociedade.
se deu o seu processo de desenvolvimento. Há uma visão de que a pessoa com deficiência
precisa ser transformada e não a sociedade.
Trata-se, portanto se situar o processo de
desenvolvimento da Educação Inclusiva e a A partir da metade do século XIX há
sua aplicabilidade das leis para a inserção uma expansão para os recursos destinados
dos portadores de necessidades especiais à Educação Especial, mas ainda com uma
foram conquistando em nossa sociedade, visão segregacional. Só que o foco, com a
garantindo-lhes direitos e estabelecendo finalidade de normalização relacionava-se
o respeito devido às diversidades sem a com a ideia de [...]aceitação das diferenças
preocupação com os princípios normativos à condição da deficiência (BARBOS, 2006, p.
impostos pela sociedade que continua a 25).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Com base neste contexto, iniciativas de Essa Lei não apresenta uma proposta de um
âmbito nacional se iniciam com a criação ensino capaz de atender às especificidades
de Campanhas voltadas para essa finalidade educacionais dos alunos com deficiência
especificamente. Em 1957, acontece a encaminhando-os para Classes e Escolas
Primeira Campanha para a Educação do Especiais (BRASIL, 2008a). Novamente
Surto Brasileiro – C ESB – pelo Decreto a segregação está presente impedindo
Federal Nº 42.728. Em 1958, segundo o o convívio com os demais determinados
Decreto Nº 44.236 de 1 de Agosto, foi “normais” pelos padrões vigentes na
realizada a Campanha Nacional de Educação sociedade.
e Reabilitação de Deficientes da Visão.
Ressaltamos a Campanha de 1960, com a Em 1973, o MEC cria o Centro Nacional
influência de Movimentos liderados pela de Educação Espacial – CENSP, responsável
Sociedade Pestalozzi e Associação de Pais e pelo acompanhamento da Educação Especial
Amigos dos Excepcionais (APAE) no Brasil, impulsionando ações educacionais
voltas às pessoas dom deficiência e às
No século XX, por volta de 1960, de forma pessoas com superdotação. Foram iniciativas
mais intensa nos anos de 1970, com as isoladas do Estado.
Reformas Educacionais contempla a Educação
Especial com uma perspectiva de integração Não se tem uma preocupação específica
e normalização. O atendimento educacional e efetiva com uma Política Pública
às pessoas portadoras de deficiência passou comprometida com o acesso universalização
a ser definido pela Lei de Diretrizes e Bases à educação, permanecendo a concepção de
da Educação Nacional – LDBEN, Lei Nº “Políticas Especiais” para tratar da Educação
4.024/61, que afirma a respeito do direito à de Alunos com Deficiência (BRASIL, 2008).
educação dos “excepcionais” porque ainda se
mantinha arraigada a visão de que as pessoas A década de 1980 é marcada pela
portadoras de deficiência eram inferiores integração das pessoas com deficiência
em relação aos membros da sociedade na Rede Regular de Ensino e há também a
considerados pelos padrões “normais”. criação de Movimentos que consolidam o
grupo de pessoas portadoras de deficiência
Em 1970, com a promulgação da LDBEN com identidade única.
– Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei Nº 5.692/71 avança e define Em 1981, a ONU – Organização das
o atendimento educacional especializado Nações Unidas – declara “Ano Internacional
como “tratamento especial” destinado às das Pessoas Deficientes – AIPD”. Esse
pessoas portadoras de deficiências físicas ou acontecimento converge em ações para
mentais e aos superdotados. efetivação de igualdade de oportunidade
para todos(as) com deficiência de forma

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a garantir a plena participação social das sobre Educação Para Todos e o documento
pessoas portadoras de deficiência na final “Declaração Mundial sobre Educação
sociedade. para Todos” traça um Plano de Ação para
satisfazer as necessidades básicas da
O processo de integração ocorre dentro Aprendizagem. Esse assunto abordaremos
de uma estrutura educacional que oferece no próximo capítulo de nossa Reflexão.
ao aluno(a) a possibilidade de estar inserido
na classe regular, mesmo assim ainda é
uma inserção parcial até porque o sistema A INCLUSÃO NO
educacional sempre segregacionou pessoas. MERCADO DE TRABALHO
Muitas tentativas de integração das A inserção de pessoas portadoras de
pessoas portadoras de deficiência acabavam necessidades especiais no Mundo do Trabalho
por excluir as pessoas deficientes ao invés é necessária e exige preparação e qualificação
de inclui-las e hoje ainda vivemos esse tipo profissional, elementos fundamentais para
de situação nas Escolas. Não há recursos preencher a vaga almejada dentro das Empresas.
necessários para que os portadores de
necessidades especiais sejam atendidos em A Lei Nº 8.213/91, também conhecida
sua especificidade. como Lei de Cotas, estabelece a reserva
de vagas de emprego para pessoas com
A proposta de integração das pessoas com deficiências habilitadas ou para pessoas que
deficiência no sistema educacional não atendia
ao que era proposto, nem tampouco ao que sofreram acidente de trabalho, beneficiários
era esperado pelo movimento. Os alunos que da Previdência Social reabilitados.
não conseguiam sozinhos superar as barreiras
ali encontradas eram excluídos das classes
regulares, e aqueles que conseguiam permanecer A Legislação é utilizada no caso das
na Escola, foram, muitas vezes, esquecidos pelos empresas que tem em seu quadro de
Professores num cantinho de suas classes. A funcionários tomando-se por base 100
integração, pois, pouco contribui para a superação
da discriminação e preconceito desses alunos empregados, sendo aplicada a cota de 2 a
(BARBOSA, 2006, pp. 28-29). 5% a depender dos postos de trabalho que a
empresa disponibiliza.
A Escola que deveria ser a promotora de
condições igualitárias, acabava contribuindo A inclusão de pessoas com deficiência no
para a exclusão desses alunos. Portanto os Mercado de Trabalho ainda gira em torno do
alunos continuam a serem segregados no preconceito mesmo com as Leis que terminam
Ensino Regular. a contratação e a manutenção desses
trabalhadores existem muitas dificuldades
Em 1990 acontece em Jomtien, Tailândia, entre elas: a falta de oportunidades e a
de 5 a 9 de Março a Conferência Mundial qualificação que faz a diferença.

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A partir do momento que a empresa tem 100 funcionários ela já está susceptível sofrer uma
fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho Emprego uma vez que é convidada a
colocar em seu quadro de funcionários, pessoas com deficiência.

Existe um conflito ideológico dentro da Empresa de duas naturezas com relação à inclusão
de pessoas portadoras de necessidades especiais no Mundo do Trabalho:

1º) A inclusão numérica que é aquela que a empresa coloca os 5% de empregados
independente da deficiência.

2º) O desenvolvimento da inclusão qualitativa na qual a empresa absorve todas as
deficiências, fazendo o processo seletivo e beneficiando para que a deficiência seja uma
característica e não uma qualidade ou um defeito profissional.

Portanto, a Lei de Cotas existe, mas ela precisa ser cumprida com mais responsabilidade,
sobretudo no que se refere à inclusão qualitativa.

Não existe uma determinação da Lei quanto ao tipo de deficiência. Existem empresas
que proporcionam as vagas, mas, por outro lado, não incluem o portador de necessidades
especiais ou selecionam o tipo de deficiente à possível contratação e isso não leva a uma
mudança de comportamento social. As empresas precisam entender a amadurecer sua
compreensão de forma diferenciada sobre a questão da inclusão da pessoa com deficiência.

Há todo um trabalho de sensibilização para que a empresa acolha, inclua sem limitar a
pessoa com deficiência, caso contrário a inclusão não acontece. É preciso que a empresa
tenha um novo olhar sobre essa nova contratação. É imprescindível escolher trabalhadores
com diferencial, colocando por potencial e não pela deficiência em si.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A inclusão numérica deixa fora do história. Erros que continuam a se perpetuar


Mercado de Trabalho grandes profissionais. em nossas relações que estabelecemos em
A empresa precisa gerar recursos humanos nosso cotidiano.
para provocar uma mobilização interna
de sua responsabilidade social em que as Precisamos evoluir e conceber novas
diferenças humanas sejam consideradas com relações humanas, uma vez que o
naturalidade. relacionamento humano é indispensável
à inclusão social. A diversidade humana
A inclusão de pessoas com deficiência precisa de um entendimento amadurecido e
não é a curto prazo e sim a longo prazo, isso é um longo caminho a se percorrer.
porque envolve uma mudança social e uma
capacitação que precisa ser iniciada na Existem Políticas Públicas favoráveis
infância. a inclusão de pessoas portadoras de
deficiências no mundo do trabalho. Existe
Existe uma grande parte de pessoas com por outro lado, um espaço de gestão
deficiência que estão envelhecendo dentro desfavoráveis às Políticas Públicas voltadas
de casa. Temos que começar pela família aos portadores de deficiência. Não se tem
inclusiva, a escola inclusiva, a educação continuidade nos Projetos, ou seja, o governo
inclusiva. É preciso uma mudança cultural que entra não aproveita os Projetos bons
com relação a inclusão das pessoas com feitos pelo governo anterior.
deficiência, porque nenhuma política pública
no Brasil vai funcionar se ela não tiver uma A inclusão precisa de uma continuidade
proposta de mudança social muito profunda evolutiva porque ela é muito dinâmica. A
nos relacionamentos humanos. pessoa portadora de deficiência já carrega
em si o estigma de ser um ser inferior. Por
Quando aprofundamos nossa reflexão exemplo, é comum ouvirmos de alguns
sobre inclusão social, diversidade humana, não empresários: Me mande um funcionário
nos referimos só as pessoas com deficiência, eficiente, mas não me mande um funcionário
mas da homo afetividade, as pessoas ditas com deficiência. Essa vulgarização de palavras
“feias”, às pessoas “gordas demais”, “magras é também vulgarização de comportamento e
demais”. Toda essa diversidade exige em de preconceito.
contrapartida uma sociedade que ainda vê
como utópica esse tipo de mudança social. A questão da inclusão no Mercado de
Trabalho é uma questão de cidadania. O
O preconceito é o maior entrave da inclusão preconceito que dificulta a inclusão social do
social não só com pessoas com deficiência. portador de deficiência é milenar, vem desde
Precisamos combater e trabalhar a fim de à antiguidade e continua a se repetir apesar
corrigir os erros arraigados ao longo da de estarmos no século XXI.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Portanto, a pessoa portadora de deficiência Aopção pela inclusão, no mundo do trabalho,


precisa superar-se sendo forte. Se não for também se deu pelo significado simbólico
forte suficiente o preconceito a anula, a e social do trabalho. Um dos conceitos de
engole. Esse padrão de comportamento e cidadania implica num significado político e
de relacionamento que a gente vive tem o cultural de pertencimento à sociedade como
preconceito com uma coisa extremamente cidadão capacitado.
legalizado. Precisamos capacitar as pessoas
uma vez que a inclusão social é um caminho A inclusão no trabalho poderia garantir o
sem volta. suposto reconhecimento de capacitação a
todo cidadão, inclusive as pessoas portadoras
A inclusão de pessoas portadoras de de deficiência, o que aparentaria a aquisição
deficiências no mundo do trabalho é uma do padrão básico de inclusão, descrito por
questão não só assegurada por lei, mas por Sposati (1997).
outro lado, é uma questão de humanização
da própria pessoa portadora de deficiência O trabalho possibilita que o sujeito se
uma vez que, a mesma sente-se útil e o insira em uma rede de pertencimentos
diferencial não está no fato de ser “especial” e de identificações. O homem se vê e se
mas de poder com base em suas qualidades e reconhece no objeto que constrói e o seu
aptidões dar a sua parcela de contribuição na trabalho é uma forma de se relacionar com o
empresa, a partir das funções que exercerá e outro e de simbolizar o seu mundo. A pessoa
a partir das quais se realizará como pessoa portadora de deficiência, não tendo acesso ao
humana e terá sua dignidade assegurada. trabalho, estaria privada dessa possibilidade
de simbolização e de reconhecimento social.
A Inclusão formal no Mercado de Trabalho
é, ao mesmo tempo um desafio, uma A escolha da inclusão no trabalho pela
necessidade e uma grande oportunidade via do mercado formal foi orientada pelo
para as empresas. significado simbólico de se estar empregada
formalmente. Santos (1998) desenvolve o
conceito de cidadania regulada que ressalta
A INCLUSÃO NO MERCADO esse significado e a importância desse tipo
FORMAL DE TRABALHO de colocação para a nossa sociedade:

Por se tratar de uma experiência recente, Por cidadania regulada entendo o conceito de
cidadania cujas raízes encontram-se, não em um
existem poucos estudos acadêmicos sobre a código de valores políticos, mas em um sistema
inclusão da pessoa portadora de deficiência de estratificação ocupacional, e que, ademais, tal
no mercado formal de trabalho. Este foi um sistema de estratificação ocupacional é definido por
forma legal. Em outras palavras, são cidadãos todos
dos motivos que orientou a realização deste aqueles membros da comunidade que se encontram
estudo. localizados em qualquer uma das ocupações
reconhecidas definidas em lei” (SANTOS, 1998, p. 75).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O autor utiliza a expressão pré-cidadãos a) Portador de Necessidade Especial


para definir as pessoas que estão fora das é um termo mais genérico que abrange
ocupações reconhecidas, como se ainda não toda pessoa que necessita de uma atenção
tivessem adquirido a cidadania. Segundo o especial, como o idoso, o obeso, o portador
autor, a regulamentação da cidadania passa de alguma doença crônica, dentre outros,
pela regulamentação da profissão e pela e não só a pessoa que possui alguma
aquisição de símbolos que a caracterizam, deficiência. Como não se pretendeu realizar
tais como a “carteira de trabalho”. A cidadania um estudo que abranja a inclusão de todos
regulada é, portanto, restrita ao trabalhador esses grupos, não se considerou que
e ao trabalhador de carteira assinada. portador de necessidades especiais seria a
melhor denominação para definir as pessoas
Estar empregado no mercado formal que são objeto do presente estudo;
possibilita fazer parte de uma organização e,
ao mesmo tempo, obter o reconhecimento b) Considerou-se de fundamental
por meio da legalização e dos processos importância utilizar o significado deficiência,
ideológicos implícitos nesse tipo de por todo o significado simbólico que ele
contratação. A estrutura de uma organização contém, e não se poderia furtar de adotá-lo
pode possibilitar a formação de identificações para abordar a questão da discriminação;
sociais e representações coletivas. Assim,
pertencer a uma organização é também uma c) Pessoa Portadora de Deficiência é a
maneira de o sujeito obter reconhecimento terminologia utilizada pelos documentos
social. Por esse motivo, o estudo da inclusão e artigos dos órgãos oficiais. Ela é a
no trabalho em organizações formais é nomenclatura adotada pela Coordenadoria
também um objeto importante da presente Nacional para Integração da Pessoa
pesquisa. Pretende-se contemplar aqui, o Portadora de Deficiência – CORDE, órgão da
papel das organizações, frente à inclusão Secretaria Nacional dos Direitos Humanos,
das pessoas portadoras de deficiência e de do Ministério da Justiça.
como elas podem facilitar, ou dificultar esse
processo. Para caracterizar deficiência, optou-se por
adotar a definição estabelecida no Decreto
A nomenclatura ou o termo portador de Nº 3.298 de 1999 que dispõe sobre a
necessidade especial pode ser considerada Política Nacional para a Integração da pessoa
menos estigmatizante, optamos por utilizar o portadora de deficiência. Este decreto, no
termo pessoa portadora de deficiência para seu Art. 3º, inciso I, considera a deficiência
caracterizar as pessoas que fazem parte do como toda perda ou anormalidade de uma
objeto do presente estudo. São três fatores estrutura ou função psicológica, fisiológica
que norteiam essa opção: ou anatômica que gere incapacidade para o
desempenho de atividade, dentro do padrão

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Revista Educar FCE - Abril 2019

considerado normal para o ser humano todo o processo de sociabilidade desses


(BRASIL, 1999). indivíduos, igualmente em outros ambientes.

No seu artigo 4º, esse decreto estabelece


as seguintes categorias para a deficiência: GLOBALIZAÇÃO E
RESPONSABILIDADE SOCIAL
I - Deficiência Física, (DF) – Alteração
completa ou parcial de um ou mais NAS EMPRESAS
segmentos do corpo humano, acarretando o A globalização não pode ser reduzida a
comprometimento da função física; um fenômeno de ordem econômica; existe
uma multiplicidade de fatores que ditam
II - Deficiência Auditiva, (DA) – Perda novas regras de ordem sociocultural, política
parcial ou total das possibilidades auditivas e econômica. Isso implica em uma nova
sonoras, variando de graus e níveis; forma de agir, pensar e realizar negociações.
Giddens (1991) define globalização “como
III - Deficiência Visual, (DV) – Perda parcial a intensificação das relações mundiais que
ou total da visão; ligam localidades distantes, de tal maneira
que os acontecimentos locais são moldados
IV - Deficiência Mental, (DM) – por eventos que estão a muitos quilômetros
Funcionamento intelectual inferior à média, de distância e vice-versa” (GIDDENS, 1991,
com manifestação antes dos dezoito anos e p. 69).
limitações associadas a duas ou mais áreas Para Castells (1999a), conforme citação
de habilidades adaptativas; anterior, a economia global tem uma
natureza dialética altamente excludente e
V - Deficiência Múltipla, (DMU) – includente, ao mesmo tempo: inclui tudo
Associação de duas ou mais deficiências. que é valorizado e que tem valor, e exclui
o que não tem valor, como por exemplo,
Independente da obrigatoriedade este os setores sociais, territórios e países. Uma
processo de inclusão tem uma série de das características da economia global é a
impactos tanto do ponto de vista social quanto valorização da alta tecnologia e esta pode
econômico. Para os portadores de deficiência, reforçar as desigualdades, uma vez que é
a atuação nas empresas significa uma forma valorizado só o indivíduo que tem acesso a ela
de exercer uma atividade laboral remunerada ou que pode produzi-la. Sobre este aspecto,
de maneira digna. É ainda, a possibilidade de pode-se dizer que o fator desenvolvimento
estabelecerem uma interação constante com tecnológico é inversamente proporcional
outros profissionais. Trata-se de um caminho à igualdade social. Essa nova economia
para a independência e construção de uma mantém segregados alguns segmentos e
autoestima mais saudável, o que favorece classes, antes já explorados, e de uma maneira

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ainda mais excludente, já que passam para (econômico, político e sociocultural) os


uma categoria que Castells denomina de mecanismos do processo de igualdade e
“irrelevância estrutural”. desigualdade da globalização. Sob o aspecto
econômico, ela afirma que o mecanismo
Não se pode dizer que a dualização de produtividade e de estruturas de
da estrutura social tenha como única oportunidades iguala os indivíduos e as ações
causa a globalização. Muitas vezes, ela é mais produtivas, criando oportunidades para
efeito da continuidade de uma trajetória. os mais bem preparados. Esse modelo exige
As desigualdades sociais podem ser, na mobilidade e atualização permanentes e
verdade, consequência de um processo que aqueles que não conseguem acompanhá-lo
já vinha sendo desencadeado, derivando terão suas chances completamente anuladas
muitas vezes de uma estagnação interna, e estarão ainda mais excluídos. As chances
conflitos destrutivos e falências econômicas da pessoa portadora de deficiência, diante
(THERBORN, 2000). Dessa maneira, as desse quadro, são mínimas, uma vez que,
desigualdades significam um somatório como foram relatadas anteriormente, as
de antigas tendências nas transformações oportunidades de qualificação e atualização
econômicas recentes. profissional para esse grupo são ínfimas
e não atendem à demanda de mercado.
Apesar de alguns autores discordarem A globalização influenciou na maneira do
que a globalização seja a responsável pelo mercado e de suas organizações atuarem
aumento da desigualdade social, o termo tendo como consequência toda uma
globalização não significa integração global, reestruturação produtiva, o que interfere
pelo contrário, pode significar polarização na forma de contratação dessas pessoas,
global (THERBORN, 2000). criando oportunidades por um lado e
fechando portas por outro.
Na verdade, a única tendência
considerada como inevitável é que a atual No aspecto político, Therborn (2000)
forma de globalização do mercado não afirma que o poder de ordem estatal é que
registra nenhuma tendência de “igualização” define a distribuição igual ou desigual do
econômica. Percebe-se que o antigo sistema social. Na ordem global, o Estado é
proletariado industrial está sendo substituído pressionado para adotar medidas corretivas
por um proletariado do setor terciário, para as desigualdades criadas. Neste sentido,
com um crescimento de serviços de baixa a ação global combinada é realizada mediante
qualificação. E é neste contexto que estão as ações da ONU, quando esta organização
sendo empregadas as pessoas portadoras de opera na defesa dos direitos humanos e das
deficiência. minorias. A legislação elaborada em defesa de
direitos da pessoa portadora de deficiência é
Therborn (2000) analisa sob três aspectos um exemplo desse tipo de medida.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Segundo Therborn (2000), a “igualização” direitos conquistados pelos trabalhadores,


na globalização surge em particular no têm proporcionado acesso do trabalhador
aspecto sociocultural. Na globalização portador de deficiência ao mercado de
existe uma grande valorização da mídia e da trabalho, via terceirização.
imagem. A comunicação de massa tem criado
uma linguagem universal, com expressões A pessoa portadora de deficiência passa
reconhecidas em quase todas as partes do a ser aceita e a fazer parte do mercado
planeta, em função da maior difusão do de trabalho pela via da terceirização/
conhecimento e da criação de identidades subcontratação. Algumas cooperativas
padronizadas, com os mesmos valores e são criadas mediante da mão-de-obra das
formas simbólicas. pessoas portadoras de deficiência e de seus
familiares, muitas vezes por intermédio das
Por um lado, este padrão de modelo e de Organizações Sociais da Sociedade Civil.
imagem valoriza o que é considerado belo e
o harmonioso, excluindo a pessoa portadora Muitas dessas Organizações Sociais da
de deficiência. Por outro, as organizações Sociedade Civil especializadas, que realizam
são submetidas às exigências de assumir a educação profissional da pessoa portadora
determinadas atitudes e valores globais. de deficiência, utilizam o subcontrato e
a terceirização para realizar prestação
O desenvolvimento de ações voltadas de serviços nas suas oficinas protegidas.
para o social e de ações consideradas éticas Geralmente são transferidas para essas
dentro das empresas, correspondem a oficinas as tarefas que exigem baixa
uma das consequências deste processo de qualificação.
globalização. Dentre as ações sociais e éticas
destaca-se a valorização da diversidade Os empregadores aceitam com mais
no ambiente de trabalho. Esse conceito facilidade delegar à pessoa portadora de
é ampliado e passa a ser uma exigência deficiência alguma atividade considerada
mundial, o que favorece a contratação da menos importante, como atividades simples
pessoa portadora de deficiência. e repetitivas, o refugo ou o retrabalho
das empresas. Pode-se considerar que
tal política de gestão representa uma
CONTRATAÇÃO E atitude preconceituosa, por desconhecer a
RESPONSABILIDADE SOCIAL capacidade de trabalho da pessoa portadora
de deficiência.
DAS EMPRESAS
As novas práticas de gestão, intensificadas Na contratação de prestação de serviços
pela reestruturação produtiva, apesar de, ou mesmo na efetivação de um contrato
muitas vezes, representarem retrocesso nos formal, percebe-se que, na maioria das vezes,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a qualidade dos serviços é vista inicialmente têm procurado agregar valor para garantir a
com desconfiança e resistência. Muitas identificação do consumidor ao seu produto.
vezes, a empresa quer primeiro verificar As ações sociais das empresas surgem
a qualidade de serviços e como serão as muitas vezes como parte dessas ações que
relações de trabalho. agregam valor ao produto e possibilitam uma
identificação do consumidor com ele.
O que se percebe é que esta prática que,
a princípio, é altamente discriminatória, pode A chamada solidariedade pode ser
ser revertida em vantagens, por possibilitar desenvolvida como mais uma estratégia da
uma inserção ou uma primeira participação da economia de aglomeração e esse trabalho
empresa e do próprio portador de deficiência social gera um lucro secundário. Na busca de
no processo. Diante da total exclusão, abre-se produtos mais personalizados, que marcam
a possibilidade de uma inserção no processo de uma diferença, os consumidores procuram
trabalho, mesmo que seja pela via do trabalho comprá-los de empresas que agregam à sua
informal, percebida como uma conquista pela marca tal diferença. Nesse caso, as ações
pessoa portadora de deficiência. sociais da empresa fazem essa diferença.

Esta prática está sendo utilizada pelas [...] Num mundo altamente competitivo,
não são apenas os produtos, mas a imagem
empresas para fortalecimento da sua corporativa que tem caráter essencial, não
imagem idealizada e que surge como uma somente em termos de marketing como no
das consequências (direta ou indireta) tocante a levantar capital, realizar fusões e
obter vantagens no campo da produção de
da globalização e dos novos modelos de conhecimento, das políticas governamentais e
produção é a chamada responsabilidade da promoção dos valores culturais. O patrocínio
social. corporativo das Artes, de universidades e de
projetos filantrópicos é o lado prestigioso de
uma escala de atividades que inclui tudo, de
As ações das empresas voltadas para perdulárias brochuras, relatórios sobre empresas
o social vêm crescendo nos últimos anos e promotores de relações públicas a escândalos
– desde que se mantenha constantemente o
em nível mundial. Um dos aspectos dessa nome da empresa diante do público (HARVEY,
prática é a necessidade de se agregar valor ao 1992, p. 152).
produto. O modelo de produção mais flexível
trouxe a obrigação de inovação constante do
produto para se atenderem às exigências de Tal situação leva a uma preocupação da
uma economia em constante mutação. empresa em desenvolver sua imagem de
mercado e lhe dar cada vez mais publicidade.
A inovação tecnológica cria sua própria Muitas empresas incorporam no seu marketing
demanda; existe uma busca pelo produto este tipo de ação, com a denominação de
personalizado em substituição ao produto marketing social, associando o trabalho de
barato da economia de escala. As indústrias solidariedade à imagem da empresa.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A teorização de Castells (1999b) sobre a e atomização é a tentativa da parte de


identidade esclarece um outro fator, além alguns atores sociais, de se agruparem em
deste de agregar valor para a disseminação organizações sociais que podem gerar um
dessa prática no meio econômico atual. A sentimento de pertencimento e criar uma
busca pela identificação justifica a expansão identidade coletiva. Segundo o autor, as
da prática de ação social no mundo pessoas sentem necessidade de participar
globalizado. Para Castells, a revolução da de movimentos urbanos, compartilhando
tecnologia tem introduzido uma sociedade interesses comuns e construindo novos
organizada em rede, criando um sistema significados. É uma maneira de criar novos
de fluxo. Para a maioria dos indivíduos e ideais e de se organizar em grupos com um
grupos sociais, esta sociedade globalizada ideal em comum.
é massificante. Este sistema produz uma
massificação, uma “igualização” das pessoas, A identidade referida por Castells (1999b,
dissolve a autonomia e interfere na dinâmica p. 22) é a identidade coletiva diferente da
da formação de identidades. noção de identidade individual. “Identidade é
o processo de construção de um significado
Os efeitos da globalização no indivíduo com base em um atributo cultural, ou ainda
também são destacados por Koltai (2000), um conjunto de atributos culturais inter-
“uma uniformização cada vez maior da vida relacionados, o(s) qual(is) prevalece(m) sobre
cotidiana que, com a globalização em curso, outras fontes de significado” (CASTELLS,
vai atingindo todo o planeta; uniformização 1999, p. 22). A identidade coletiva é
de todos os modos de vida, inclusive as caracterizada como fonte de significado em
formas de desejo e de gozo” (KOLTAI, 2000, que o autor define como a “identificação
p. 111). A autora destaca que esta é a razão simbólica por parte de um ator social,
pela qual a ciência tem reforçado e até da finalidade da ação praticada tal ator”
mesmo produzindo novos sintomas pode-se (CASTELLS, 1999b, p. 23) e de experiência
incluir a segregação. de um povo.

Acerca do racismo, no contexto atual, Para Castells (1999b), a identidade


declara que coletiva é construída pelos indivíduos e
grupos sociais, valendo-se de sua história,
[...] o discurso racista vem se inserir, onde faltam cultura, religião, e de suas relações de poder.
projetos de vida que façam laço entre o singular
e o social. É nesses momentos que o discurso Este autor propõe três formas de construção
racista se torna projeto coletivo e camufla o de identidade: identidade legitimadora, de
vazio do projeto subjetivo (KOLTAI, 2000, p. 25). resistência e de projeto.

Para Castells (1999b), uma forma de a) A identidade legitimadora é introduzida


reação ao processo de individualização pelas instituições dominantes para manter a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

dominação, aplicando-se às diversas teorias Este autor acrescenta que, em resposta


do nacionalismo; a esse sistema de redes, existe um avanço
de expressões poderosas de identidades
b) A identidade de resistência é criada por coletivas, induzindo as novas formas de
aqueles que se encontram marginalizados transformação social. Em geral, ocorre uma
do processo de dominação, criando grupos perda da identidade legitimadora, à qual se
de resistência, à maneira de uma identidade segue a busca por uma nova significação.
defensiva para garantir sua sobrevivência; Essa construção teórica de Castells esclarece
como a prática da “responsabilidade social”
c) A identidade de projeto pressupõe pode ser uma forma de construção de
uma reconstrução de identidade, por meio da identidade de projeto, assim como o próprio
qual o indivíduo busca redefinir sua posição movimento da inclusão. É uma forma de o
na sociedade. indivíduo realizar um laço entre o singular e
o social e construir um projeto de vida.
Estas formas de identidades, segundo
Castells (1999b), são dinâmicas, podendo As pressões externas em busca de uma
passar de uma modalidade a outra. economia solidária contribuem para expandir
Geralmente, para se chegar a uma identidade este movimento. A própria comunicação em
de projeto, passa-se antes pela identidade rede provoca uma mudança em série, uma vez
de resistência. Cada processo de construção que se copiam experiências bem-sucedidas.
de identidade leva a um resultado distinto As empresas são pressionadas a estar sempre
que intervém na construção da sociedade: inovando, criando novos produtos, novas
a identidade legitimadora dá origem à tecnologias, novas estratégias de gestão, sob
sociedade civil, entendida como um conjunto pena de perda de mercado. A procura por se
de organizações e instituições. agrupar em organizações comunitárias, bem
como a busca de produtos que transmitam
A identidade de resistência leva à formação uma identificação, são respostas do
de “comunas” que, segundo Castells (1999b, consumidor à massificação provocada pela
p. 25), marcam uma “exclusão dos que globalização. Neste sentido, a prática de
excluem pelos excluídos”, ampliando todos Responsabilidade Social é produto, direto ou
os processos de segregação. Trata-se da indireto, da globalização.
construção de uma identidade defensiva,
muitas vezes reforçando o limite das O mercado passa a cobrar esse tipo de
resistências. De forma inversa, a identidade ação das empresas. Nos Estados Unidos, um
de projetos produz sujeitos, que Castells estudo recente da Universidade de Harvard
diferencia de indivíduos. Segundo o autor, mostra que as empresas preocupadas em
sujeito é aquele que dá significado à sua manter relação equilibrada entre lucro e
história e passa a ser ator social. responsabilidade social crescem, em média,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

quatro vezes mais do que as empresas A prática da responsabilidade social é


voltadas apenas para a obtenção de caracterizada pela permanente preocupação
resultados para seus acionistas (VASSALO, com a qualidade ética das relações da empresa
2000, p. 9). com seus diversos públicos - colaboradores,
clientes, fornecedores, meio ambiente,
Em 1999, as organizações internacionais comunidades onde estão inseridas, e poder
Environics International, The Prince of Wales público (ETHOS, 2001a, p. 59).
Busines Leaders Forum e The Conference
Board realizaram uma pesquisa com 25.000 A prática de responsabilidade social
pessoas, em 23 países. O objetivo era contempla a questão da diversidade nas
verificar a reação dos consumidores, quanto empresas e, desta forma, incentiva a inclusão.
à prática de cidadania corporativa. Cerca de Tal prática é muito valorizada e incentivada,
17% dos pesquisados afirmaram que não declarando que esta estimula uma
comprariam produtos de companhias vistas competição interna entre as organizações,
como não éticas (VASSALO, 2000, p. 9). com premiação para aquela que conseguiu
uma ação social mais eficaz com maior
mobilização da comunidade.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
COMO POSSIBILIDADE DE A prática de responsabilidade social pode
ser uma maneira de permitir um trabalho
INCLUSÃO menos alienante e menos agressivo para
Em resposta a esse movimento mundial, a o trabalhador. A ação social possibilita
partir dos anos 80, verifica-se um movimento o reconhecimento demandado por cada
nacional para investir em projetos sociais, sujeito, permite a sublimação e a construção
por parte das empresas. Esse tipo de ação de identidade de projeto, na concepção
teve várias definições no Brasil, como: de Castells. Todos querem e necessitam
“filantropia empresarial” (tradução da ser reconhecidos pelo outro, ser amados e
denominação americana, que não é bem valorizados, e a prática de responsabilidade
aceita pelas empresas brasileiras, pela social pode abrir caminhos para essa
própria simbologia contida no significante realização. Por meio das ações sociais, o
filantropia), “responsabilidade empresarial”, trabalhador, que sempre foi colocado no lugar
“cidadania empresarial”, “investimento de objeto e tratado como mercadoria, pode
social”, entre outros. Essa prática é definida ver modificar essa posição. O trabalhador
pelo Instituto Ethos, uma organização de tem, assim, a chance de deixar de ser
empresas e fundações que tem o objetivo apenas produtor de objetos para o outro, ou
de desenvolver ações para promover a consumidor desses mesmos objetos.
“responsabilidade social” nas empresas, da
seguinte maneira:

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Tal política significaria, alguma possibilidade de realização para os trabalhadores e também


para os dirigentes empresariais, uma possibilidade de participação social e possibilidade até
de certo alívio ante ao sentimento de culpa diante das desigualdades sociais. Essas ações,
como se viu nos resultados das pesquisas, possibilitam maior satisfação com o trabalho e
menor rotatividade, o que se traduz em maior produção e lucratividade para a empresa.

Os aspectos aqui considerados sobre a prática de responsabilidade social se referem a


dois lados de um mesmo objeto. O fato de uma empresa querer desenvolver ações sociais,
não significa que ela esteja realmente sensibilizada com as questões sociais, no seu entorno,
ou mesmo para o público interno, com sua política de Recursos Humanos. Por outro lado,
se existe essa real preocupação com o social, a empresa não pode deixar de ser competitiva
ou de gerar lucros, até por uma questão de sobrevivência. São ações que têm de ser
contrabalançadas para garantir a sobrevivência da empresa e a efetivação das ações sociais.
Não haveria, assim, uma antítese entre as duas possibilidades, mas uma complementaridade
das ações.

A inclusão de pessoas portadoras de deficiência faz parte do processo da empresa aderir a


Responsabilidade Social. O documento de 2002 do Instituo Ethos ressalta essa ambiguidade
na inclusão das Pessoas Portadoras de Deficiências, mas destaca as vantagens comerciais
e de fortalecimento da Imagem das empresas. Algumas vezes, esses dilemas foram citados
pelos diretores, mas como se trata de um processo relativamente novo, pode-se dizer que é
um caminho a ser ainda percorrido pelas empresas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estilo de vida independente é fundamental no processo
de inclusão, uma vez que com ele as pessoas com deficiência
terão maior participação de qualidade na sociedade, tanto na
condição de beneficiários dos bens e serviços que ela oferece
como também na de contribuintes ativos no desenvolvimento
social, econômico, cultural e político da nação.

Em outras palavras, vida independente e exercício da
cidadania são os dois lados dessa mesma moeda. Uma LUIZELINA FARIAS LIMA
empresa inclusiva é, então, aquela que acredita no valor da
Graduação m em Pedagogia
diversidade humana, contempla as diferenças individuais, com habilitação com Supervisão
efetua mudanças fundamentais nas práticas administrativas, Escolar e Administração Escolar
implementa adequações no ambiente físico, adequa pela UNIP – Universidade Paulista,
2002; Professora de Educação
procedimentos na questão da inclusão, etc. Infantil CEI Jardim Taipas.

Uma empresa pode tornar-se inclusiva por iniciativa e
empenho dos próprios empregadores que para tanto buscam
informações pertinentes ao princípio da inclusão, e/ou com
consultoria de profissionais inclusivistas que atuam em vários
segmentos e/ou entidades sociais.

A inclusão no mercado de trabalho competitivo não é
um sonho impossível de ser realizado, desde que os empregadores sejam tratados como
parceiros. Ou seja, as pessoas com deficiência têm encontrado sua realização profissional
em vários tipos de trabalho.

Para a efetivação de pessoas portadoras de deficiência no mercado do trabalho são
necessárias cada vez mais leis de caráter inclusivista, caminho ideal para que todas as
pessoas, com ou sem deficiência, possam sentir que realmente pertencem à sociedade,
como oportunidades iguais de participação como cidadãos de nosso país.

790
Revista Educar FCE - Abril 2019

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792
Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DA CRITICIDADE:
A VISÃO DE PAULO FREIRE
RESUMO: Este artigo visa integrar as noções adquiridas com o posicionamento de Freire a
cerca da importância a crítica de educação no Brasil, representada pelo educador e filósofo
Paulo Freire. Tendo como principal objetivo elucidar a importância da formação crítica e a
desconstrução a cerca de relações de poder e desigualdade econômica. Visando a importância
da formação de sujeitos questionadores sejam eles educadores e/ou educandos, permitindo
que todo este processo reflexivo se permeie frente a esta sociedade dominadora a qual
estamos inseridos. Através do pensamento busca a libertação dos indivíduos e os auxilia
na luta pelos seus direitos enquanto cidadãos, para que haja uma sociedade mais justa e
democrática. Sendo Paulo Freire e Henry Giroux (1968) os principais referenciais utilizados
para a elaboração deste estudo.

Palavras-Chave: educação crítica; criticidade freiriana; educação emancipadora; Paulo


Freire.

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INTRODUÇÃO A VISÃO ACERCA DA


CRITICIDADE
Educação crítica é uma expressão, que teve
como ideia original fundamentada através Os educadores e filósofos críticos
de Henry Giroux, Ira Shor, Michel Apple, radicais concordam em um aspecto de
Paulo Freire, Antonio Gramsci, John Dewey, caráter irrevogável que os educacionais
Michel Foucault, Pierre Bourdieu, entre tradicionalistas deliberadamente ignoram a
outros. Eles criaram estudos para que noções importância do aspecto da conscientização
de entendimento sobre poder, dominação, do “EU’ no mundo, a importância da colocação
opressão, justiça, igualdade, identidade, do educando enquanto um cidadão de
conhecimento e cultura pudessem integrar o direitos e deveres e de uma construção de
conhecimento popular, permitindo assim que pensamento próprio. Concordam também
o conhecimento seja transmitido de maneira que a escola é a maior ferramenta e a melhor
igualitária. A pesquisa a seguir, tem como para ser usada para uma efetiva mudança
objetivo apresentar a perspectiva crítica de neste processo afinal nela o processo
educação no Brasil, sendo baseada em estudos de formação dos educandos ocorre, e
realizados a respeito do educador e filósofo os educadores criticamente formados
Paulo Freire. que disponham desta ferramenta para
trabalhar, formarão cidadãos pensantes, não
Visando de modo geral, expor as relações de educandos engessados em métodos arcaicos
poder, desigualdade econômica, social e política de aprendizagem. Essas metodologias são
problematizando-as nos espaços de formação ignoradas pelo simples fato de que os teóricos
docente sejam eles, formais ou não formais. A tradicionalistas educacionais reproduzem e
educação crítica busca realizar conexões entre legitimam as ideologias capitalistas. isso fica
as práticas educacionais e culturais, a luta pela claramente elucidado quando observamos o
justiça social e econômica, direitos humanos e discurso positivista, onde as preocupações
uma sociedade democrática. Este estudo, ao mais importantes são, “o domínio das
apresentar o pensamento freiriano acerca de técnicas pedagógicas e a 38 transmissão de
uma abordagem crítica dentro dos processos conhecimento instrumental para a sociedade
educacionais sendo eles de formação ou existente. Na visão do mundo tradicional, as
implementação, busca contribuir para que escolas são simplesmente locais de instrução”
uma educação voltada à libertação do sujeito (GIROUX, 1997, p.148). Além disso, os
de tudo aquilo que o prende dentro deste teóricos educacionais críticos argumentam
nosso contexto social atual. E a noção do papel que a teoria tradicional suprime questões
básico que o mesmo exerce enquanto cidadão, importantes com relação ao conhecimento,
formando além de críticos, pessoas cientes da dominação e poder, sendo que a escola não
importância da própria cidadania e seu papel oferece oportunidades de fortalecimento
democrático. próprio e social na sociedade como um todo,

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ou seja apenas determinados possuem o metódica com que devem se “aproximar” dos
conhecimento que carrega consigo a maior objetos cognoscíveis. A visão do educador é
chance de sucesso, quando tudo isso foi o que diferencia a maneira do aprender do
inicialmente estudado, meados do século educando. E esta rigorosidade metódica não
XX, percebeu-se que este processo de tem nada que ver com o discurso “bancário”
formação arcaica começou a muito tempo meramente transferidor do perfil do objeto
atrás e obviamente tem sido mantido para ou do conteúdo. É exatamente neste sentido
evitar que as grandes massas levantem que ensinar não se esgota no “tratamento”
questionamentos que possam ameaçar o do objeto ou do conteúdo, educar é o abrir
poder daqueles que os detém: “A teoria sem de “portas” para o inimaginável, e isto, jamais
a prática vira ‘verbalismo’, assim como a deve ser obscurecido pelo engessamento
prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, educacional, mas se alonga à produção das
quando se une a prática com a teoria tem-se condições em que aprender criticamente
a práxis, a ação criadora e modificadora da é possível. Condições essas que implicam
realidade” (FREIRE, 1969, p.19). ou exigem a presença de educadores e
de educandos criadores, instigadores,
Defende a criticidade como premissa de inquietos, rigorosamente curiosos, humildes
que todo conhecimento adquirido tem valor e persistentes. Faz parte das condições
e todos podem e devem aprender sobretudo, em que aprender criticamente é possível a
adequando-se ao educando então o educador pressuposição por parte dos educandos de
e a instituição a qual ele pertence. que o educador já teve ou continua tendo
experiência da produção de certos saberes e
O educador tem como ideologia originaria que estes não podem a eles, ser simplesmente
o dever de ser democrático não podendo transferidos.
negar-se ao dever de, na sua prática docente,
reforçar a capacidade crítica do educando, Sendo os educadores os responsáveis
sua curiosidade, sua insubmissão, cabe ao pela oferta das devidas condições de
educador formar uma sociedade consciente aprendizagem dos educandos que os
de seu próprio espaço e fazer com o que transformam em reais sujeitos da construção
ele aproprie-se de todos os conhecimentos e da reconstrução do saber ensinando e
necessários para sua evolução. Despertar aprendido pelos educandos.
este processo de interesse educacional é
o verdadeiro obstáculo do educador, assim Seus estudos tiveram como base
sendo preparar-se para amparar de adequada entender este processo de alienação das
maneira seus educandos, é o que deve motivar classes excluídas, assim sendo, Freire
seus objetivos a serem atingidos dentro de explorou a natureza reprodutora da cultura
sala de aula. Uma de suas tarefas primordiais dominante, analisando sistematicamente
é trabalhar com os educandos a rigorosidade como ela funciona, por meio de práticas

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sociais e textos específicos, visando criar Durante a escrita do livro a pedagogia


um padrão de atuação antes da elaboração do oprimido (2005) Freire afirma que a
da prática educacional libertadora, que visa escola tem uma função conservadora,
desfragmentar estes sistemas tão enraizados. refletora e reprodutora das desigualdades
Essa cultura objetiva cumprir a função de e injustiças sociais. Sendo também a maior
produzir e preservar uma “cultura do silêncio” influenciadora ao resgate destas mesmas
(GIROUX, 1997, p.148). A pedagogia crítica práticas. Somente a educação pode ajudar
de Freire pauta-se na capacitação dos a unificar os “excluídos” assim sendo cabe
estudantes e professores a desenvolverem a mesma ser libertadora, reflexiva, crítica e
uma compreensão crítica consciente de sua dirigida à responsabilidade social e política.
relação com o mundo, seu entendimento
sobre quem são e sua importância social, Não há maneira de exercer a docência sem
não apenas o entendimento básico das discência. Freire (1968) aponta que existem
disciplinas como teoricamente deve ser diferentes tipos de educadores: críticos,
ensinado. De acordo com Au (2011) essa progressistas e conservadores, mesmo
pedagogia ao desenvolver a conscientização dentro os diferenciais existem norteadores
do sujeito, auxilia na capacitação de que todos os educadores tem em comum:
professores e alunos a se tornarem pessoas
cada vez mais conscientes de seu contexto e • conseguir dosar a relação teoria/prática; é
de sua condição enquanto ser humano, sua necessário criar possibilidades para o educando
importância social, seu papel democrático e a produzir ou construir conhecimentos, a práxis
fragmentação das barreiras que determinam sempre será um dos maiores meios de se
o sucesso que pode ser obtido por cada ensinar, quer seja letrando, alfabetizando
sujeito. ou em qualquer outro segmento da vida do
educando ao invés de simplesmente transferir
A tarefa coerente do educador que pensa os mesmos; reconhecer que ao ensinar, se
certo é, exercendo como ser humano a está aprendendo; e não desenvolver um
irrecusável prática de interligar, desafiar o ensino de “depósito bancário”, onde apenas se
educando com quem se comunica, a quem injetam conhecimentos nos alunos, o processo
comunica, a produzir sua compreensão do ensinar é enriquecedor tanto para quem o
do que vem sendo comunicado. Não há pratica quanto para quem o recebe a troca de
inteligibilidade que não seja comunicação experiência enriquece a ambos e isso nunca
e intercomunicação e que não se funde a pode deixar de ser valorizado, evitando assim
dialogicidade. O pensar certo, por isso, é o enfadonhamento tanto do ato de ensinar
dialógico e não polêmico (FREIRE, 2015, p. quanto do ato de aprender Saber “despertar no
39). aluno a curiosidade, a busca do conhecimento,
a necessidade de aprender de forma crítica”.

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Elucidando a necessidade de uma que nasça da debilidade dos oprimidos será


reflexão crítica sobre a prática educativa, suficientemente forte para libertar a ambos.”
pois sem ela a teoria pode ir virando apenas
discurso; e a prática, ativismo e reprodução Henry Giroux baseou seus estudos na
alienada. Quando diz que não há docência perspectiva freiriana de educação e alega
sem discência, significa que: quem ensina que “a obra de Paulo Freire continua a
‘aprende o ensinar’, e quem aprende ‘ensina representar uma alternativa 39 teoricamente
o aprender’, sendo este posicionamento renovadora e politicamente viável para o
muito importante para Freire. Ensinar não atual impasse na teoria e prática educacional”
é transferir conhecimento, sim permitir aos (GIROUX, 1997, p.145). Freire descartou as
educandos criar as possibilidades para a ideias emancipadoras em suas versões de
sua produção ou a sua construção. “Seria filosofia seculares religiosas encontradas
uma atitude ingênua esperar que as classes no pensamento burguês e o inseriu de
dominantes desenvolvessem uma forma de maneira crítica em seu trabalho como o
educação que proporcionasse às classes legado do pensamento radical, unificando
dominadas perceber as injustiças sociais de a ideia de linguagem crítica com linguagem
maneira crítica”.(FREIRE,2015,p41) da possibilidade, não é preciso abrir mão
do que existe este processo de adaptação
Segundo Freire (Pg. 41. Editora Paz e Terra), pode e deve ocorrer com o intuito de
“A luta pela humanização, pelo trabalho livre, agregar os conhecimento não fragmentá-los
pela desalienação, pela afirmação dos homens A prática educacional segundo Paulo Freire
como pessoas, como ‘seres para si’, esta representa um discurso teórico de defesa
luta pela humanização somente é possível de interesses, visando acabar com as formas
porque a desumanização, mesmo que um de dominação objetivas e subjetivas “formas
fato concreto na história, não é, porém, de conhecimento, habilidades e relações
destino dado, mas resultado de uma ‘ordem’ sociais que promovam as condições para
injusta que gera a violência dos opressores a emancipação social e, portanto, a auto
e esta, o ser menos. (…) O ser menos leva emancipação”. (GIROUX, 1997, p. 146)
os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra
quem os fez menos. E esta luta somente tem O olhar de Freire sobre a educação
sentido quando os oprimidos, ao buscarem torna-se uma forma de ação que tem como
recuperar sua humanidade, que é uma forma característica principal, unir a linguagem
de criá-la, não se sintam opressores, nem se crítica da possibilidade e enaltece o
tornem, de fato, opressores dos opressores, processo existente entre o educador e
mas restauradores da humanidade em educando, forjando um vínculo além do
ambos. E aí está a grande tarefa humanista previamente estabelecido. Tornar o político
e histórica dos oprimidos – libertar-se a si mais pedagógico, ou seja, fragmentar este
mesmos e aos opressores. (…) Só o poder processo opressor e tornar isso um projeto

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que valoriza uma prática social, vinculando sujeito à abertura de todo um leque de novos
assim todas as classes a um único objetivo, questionamentos que permitirão que ainda,
a superação das injustiças sociais na busca mas conhecimentos sejam adquiridos.
da humanização da própria vida. Estes são os
principais marcos objetivamente elaborados Freire defende ainda que existem analogias
das teorias educacionais defendidas por sobre o empoderamento das classes, e suas
Freire (1972), Giroux (1966) segue a mesma concepções a cerca do poder que o ensino
diretriz, a qual se mantém sobre a afirmação lhes trás sendo elas:
de que retirar do sujeito a sua consciência
e remover o seu direito de transformar o Conquista: A necessidade de conquista
mundo, é opressivo. Retirar o poder de se dá desde as mais duras às mais sutis; das
crítica de um ser humano é o mesmo que mais repressivas às mais adocicadas, como o
retirar seu cerne, fazer com que ele se torne paternalismo.
uma sombra do que poderia ser. Este nunca
será o papel de um educador, e sim, auxiliar Divisão: Na medida em que as minorias,
o educando a alcançar o máximo de seu submetendo as maiorias a seu domínio, as
potencial e o que os define. Freire veemente oprimem dividi-las e mantê-las divididas são
afirma que práticas como estas praticadas condições indispensáveis à continuidade de
na educação tradicionalista, impedem que seu poder.
as pessoas alcancem seu máximo potencial
e permaneçam fixas apenas naquilo que Manipulação: Através da manipulação, as
lhes foi previamente determinado pelos elites dominadoras vão tentando conformar
dominantes sociais, sendo estes que as massas populares a seus objetivos. E
controlam os grandes poderes, qual a melhor quanto mais imaturas politicamente estejam,
forma de agir, se não, através da educação. tanto mais facilmente se deixam manipular
É preciso entender antes de qualquer coisa, pelas elites dominadoras que não podem
que este processo entra mais como uma querer que se esgote seu poder.
vinculação ao sistema já existente, do que
uma nova adoção. Não é abrir mão sobre Invasão cultural: a invasão cultural é
o que se ensina, é ensinar de uma maneira a penetração que fazem os invasores no
que criem-se cidadãos críticos, capazes de contexto cultural dos invadidos, impondo
formar suas próprias opiniões e concepções a estes sua visão de mundo, enquanto lhes
a cerca de qualquer tema, evitando assim, freia a criatividade, ao inibirem sua expansão.
que estes permaneçam alienados e presos
a uma roda que constantemente os manterá Uma educação autenticamente é
presos a aquilo que querem que eles saibam. necessário uma ação consciente a fim
Expandir os conhecimentos vai além de uma de transformar a realidade em que nos
prática educacional, é a conscientização do encontramos, é preciso modificar todo um

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pensamento longamente construído e este processo não se dá de uma hora para outra,
Au (2011, p.251) elucida que, Freire gira em torno de uma ideia central de , em que os
estudantes e professores tornam-se sujeitos que sabem ver a realidade, refletir criticamente
sobre a realidade e assumir uma ação transformadora para mudar essa realidade. Para que
a práxis seja desenvolvida, Freire toma como ponto de partida duas diferentes abordagens:
a problematização e o diálogo, os quais se configuram como condições indispensáveis para
o exercício da liberdade. A problematização do diálogo é outro ponto central na pedagogia
crítica e libertadora de Freire. Em termos gerais, para o autor, o diálogo é parte da história do
desenvolvimento da consciência humana, sendo ele, o momento em que os seres humanos
se encontram para refletir sobre a realidade. Pelo fato do diálogo acarretar uma reflexão
ativa com relação a outros seres humanos, ele é fundamentalmente social, exigindo um
pensamento crítico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo da pesquisa, busco apresentar a perspectiva
crítica de educação, longamente estudada abordada e
praticada por Paulo Freire. Desse modo, considero que as
formas tradicionais de educação, alienam todo o sistema de
ensino educacional Brasileiro e que a problematização sobre
a qual tão amplamente falamos é a maneira de se “fugir”
a este modo de educação, ao qual somos constantemente
submetidos. Através da ideologia educacional freiriana
é possível entender a maneira de superar a dominância
educacional dos superiores, ou seja, criar cidadãos conscientes
de seus próprios direitos críticos dentro de suas noções e
tudo isso, tem início dentro da educação. Os professores MAGDA DE SOUZA
moldam caráter, educam, além do letrar e alfabetizar, abrem FERREIRA
portas para o conhecimento não só daquele instante, mais
Graduação em Matemática pela
também do futuro. O engessamento educacional ocorre, e Universidade Uniban 2009;
este despreparo tradicionalista impede que uma supremacia Especialista em Pedagogia pela
do saber seja adquirida. Pessoas que questionam aprendem Faculdade Associada Brasil 2015;
Professor de educação infantil na
mais, pois criam autonomia dentro de todo seu contexto CEI JARDIM NAKAMURA.
social e a partir disso, entende-se a importância do educador
de formação crítica, do entendimento de que toda forma de
conhecimento é válida e tem seu próprio valor. O exercício da
emancipação e da transformação social deve ocorrer desde
o mais tenro processo de formação não só do educando, mais também do educador. Em
suma, a pedagogia crítica abre caminhos e possibilidades para o sujeito conhecer e exercer
a liberdade, tornando-se apto a construí-la responsavelmente buscando a igualdade social,
a garantia de seus direitos, o respeito à dignidade humana, o fim das injustiças sociais e da
opressão.

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REFERÊNCIAS
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GADOTTI, Moacir. Crítica à escola capitalista e democratização do ensino. Pensamento


pedagógico brasileiro. São Paulo: Ática, 1995. pp. 74-86..
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TEITELBAUM, Kenneth. Recuperando a memória coletiva: os passados da educação crítica.


In: APPLE, Michael W; AU, Wayne; GANDIN, Luís A. Educação crítica: análise internacional.
Porto Alegre: Artmed, 2011.

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ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO
DO DESENHO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
RESUMO: O desenho infantil é muito importante para o desenvolvimento da criança,
inclusive durante o processo de alfabetização. No início, o que se vê é um emaranhado de
linhas, traços leves, pontos e círculos, que, muitas vezes, se sobrepõem em várias demãos.
Poucos anos depois, já se verifica uma cena complexa, com edifícios e figuras humanas
detalhadas. O desenho acompanha o desenvolvimento dos pequenos como uma espécie
de radiografia. Nele, vê-se como se relacionam com a realidade e com os elementos de
sua cultura e como traduzem essa percepção graficamente. O presente artigo tem como
finalidade apresentar um estudo sobre essa importância evidenciando as fases do desenho
infantil e demonstrando sua relação com a alfabetização. Para tanto, a metodologia utilizada
foi o levantamento bibliográfico de livros, periódicos e sites que abordam o tema e a reflexão
e análise desse material.

Palavras-Chave: Desenho; Crianças; Alfabetização.

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INTRODUÇÃO Assim, na minha trajetória acadêmica, tive a


possibilidade de confrontar as teorias sobre o
Durante o processo de alfabetização desenho infantil e a realidade vivida em sala
costumam surgir algumas dúvidas com de aula e, ao longo do Curso de Pedagogia,
relação ao que se deve ensinar. Os rabiscos começou a aflorar algumas perguntas sobre
realizados pelos menores, denominados o desenho infantil, tais como: “Por que a
garatujas, tiveram o sentido ampliado sob criança desenha?” “Qual o significado do
o olhar da pesquisadora norte-americana desenho para ela?”, “Por que a escola trata
Rhoda Kellogg, que observou regularidades o desenho como uma atividade para passar
nessas produções. Observando cerca de 300 o tempo?”, dentre outras indagações. Uma
mil produções, ela analisou principalmente das principais funções do desenho no
a forma dos traçados (rabiscos básicos) e desenvolvimento infantil é a possibilidade
a maneira de ocupar o espaço do papel que oferece de representação da realidade.
(modelos de implantação) até a entrada da Trazer os objetos vistos no mundo para o
criança no desenho figurativo, o que ocorre papel é uma forma de lidar com os elementos
por volta dos 4 anos. Sabemos que muitas do dia a dia. “Quando a criança veste uma
vezes a brincadeira fica de lado, o conteúdo roupa da mãe, admite-se que ela esteja
fica restrito e existe uma priorização da procurando entender o papel da mulher”,
língua portuguesa, esquecendo-se de outros explica Maria Lúcia Batezat, especialista em
conteúdos que também fazem parte desse Artes Visuais da Universidade Estadual de
processo e que são de suma importância Santa Catarina (Udesc). “No desenho, ocorre
para a vida do aluno. Pensando nisso, essa a mesma coisa. A diferença é que ela não usa
pesquisa procurou estudar o desenho o corpo, mas a visualidade e a motricidade.”
infantil, que muitas vezes é deixado de lado Esse processo caracteriza o desenhar como
durante a alfabetização, a fim de mostrar um jogo simbólico.
a sua importância e contribuição para a
formação do sujeito, assim como para o Ao longo desta convivência, percebi que
próprio processo de ensino aprendizagem, no processo de alfabetização as crianças
especialmente para alfabetização. não tinham tempo para desenhar devido
à quantidade de exercícios que visavam à
aquisição da leitura e escrita e, mesmo quando
O DESENHO E A sobrava tempo, a educadora promovia uma
ALFABETIZAÇÃO atividade extra como contação de histórias.

Na adolescência, o desenho esteve imbuído Após a leitura, era solicitado aos alunos
nas minhas confissões pessoais, na expressão que realizassem uma produção de desenhos
das minhas vontades e desejos, nas aulas no baseado no que foi lido. O resultado era
colegial e na escolha do curso de vestibular. que muitas crianças não participavam deste

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momento, pois diziam que não sabiam sentido, para atingir o intento proposto nesta
desenhar. Desse modo, durante minha investigação, estruturamos este trabalho
observação, percebi que no processo em três capítulos. No primeiro capítulo,
de alfabetização existe uma inibição do intitulado “O desenvolvimento da linguagem
desenho infantil, pois é dado mais ênfase da criança na alfabetização”, discutimos
na aprendizagem da escrita. Mais cedo inicialmente a construção histórica do
ou mais tarde, todos os pequenos se conceito de infância, a partir das concepções
interessam em registrar no papel algo que teóricas dos autores Philippe Ariès (2006) e
seja reconhecido pelos outros. No começo, Bernard Charlot (1979).
é comum observar o que se convencionou
chamar de boneco girino, uma primeira Diante das inquietações sobre o tema
figura humana constituída por um círculo de abordado, investigamos o seguinte problema
onde sai um traço representando o tronco, de pesquisa: Qual a contribuição do desenho
dois riscos para os braços e outros dois para infantil para a aquisição da língua escrita da
as pernas. Depois, essa figura incorpora cada criança na alfabetização? Para desenvolver
vez mais detalhes, conforme a criança refine este estudo a metodologia, utilizada
seu esquema corporal e ganhe repertório constituiu-se da pesquisa bibliográfica
imagético ao ver desenhos de sua cultura e com base nos pressupostos de autores
dos próprios colegas. considerados renomados e que analisam
o conceito de infância e as suas diferentes
Por isso, acreditamos que a temática linguagens. Entre os principais estudiosos,
abordada neste trabalho monográfico é há uma cizânia. Há os que defendem que o
relevante para os fins acadêmicos e também desenho é espontâneo e o contato com a
para a atuação do educador em sala de aula, cultura visual empobrece as produções, até
visto que é necessário o conhecimento que a criança se convence de que não sabe
da essência do desenho infantil como desenhar e para de fazê-lo. E há aqueles que
linguagem gráfica e seu papel na construção depositam justamente no seu repertório
do conhecimento da criança. Assim, para visual o desenvolvimento do desenho. Nas
que pudéssemos compreender o processo discussões atuais, domina a segunda posição.
de aquisição da língua escrita da criança na “A única coisa que sabemos ser universal no
alfabetização, utilizamos como referenciais desenho infantil é a garatuja”.
teóricos os estudos de autores como:
Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1999), Ainda neste capítulo, discutimos sobre as
Suely Amaral (2005), Maria Graça Azenha diferentes formas de linguagens da criança
(1993) e Analice Pillar (1996). Vale ressaltar na alfabetização, destacamos as principais
que também consultamos os documentos formas de expressões que fazem parte da
oficiais do Ministério de Educação sobre o vida da criança e aquelas que se encontram
Ensino Fundamental de Nove Anos. Neste imbuídas neste processo. Os desafios e as

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propostas inteligentes são fundamentais no constitui o modo de expressão particular da


desenvolvimento adequado e saudável das criança, o qual revela os seus sentimentos,
crianças dentro da sua cultura. Segundo o PCN seus desejos, as suas ideias, suas vontades
(2000), a arte de cada cultura revela o modo e as suas experiências, como também
de perceber, sentir e articular significado e exprime a sua concepção de mundo através
valores que governam os diferentes tipos de das diferentes maneiras de representar o
revelação entre os indivíduos na sociedade. ambiente a sua volta.
A arte solicita a visão, a escuta e os demais
sentidos como portas de entrada para uma Desse modo, o desenho apresenta uma
compreensão mais significativa das questões natureza transitória e tão versátil, utilizado
sociais. O desenho é uma dessas formas em vários momentos de nossas vidas.
incitadoras para a construção de olhares (DERDYK, 1993, p.10) O desenho é uma
estéticos e artísticos da criança social. Além linguagem muito antiga e “permanente,
disso, o desenho ainda permite à criança sempre esteve presente desde que o homem
desenvolver o senso de observação, os inventou o homem. Atravessou fronteiras
mínimos detalhes, a diversidade de cores, espaciais e temporais, e por ser tão simples,
formas, texturas, e, também, entrar em teimosamente acompanha a nossa aventura
contato com grande variedade de materiais, na terra”. (DERDYK, 1993, p.10). Nas palavras
muitas vezes utilizados para realização de da autora Edith Derdyk, analisamos que o
atividades artísticas, seja no ambiente da desenho faz parte da vida humana desde
escola, ou fora dela. a invenção da humanidade, sendo assim
perpassou por diferentes caminhos ao longo
Já no segundo capítulo, “O desenho da história e evolução do homem.
no universo infantil”, tratamos sobre
as especificidades do desenho infantil, Com o passar do tempo e a partir das
apresentando as fases de desenvolvimento transformações sociais, esses desenhos se
do desenho da criança nas perspectivas de aperfeiçoaram e adquiriram formas mais
diferentes autores. elaboradas. Em cada sociedade, o desenho
assumiu um papel diferente. Por exemplo,
no Egito era usado como meio de expressão
DO DESENHO À manifestado nos antigos templos e túmulos
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS construídos pelos povos desta região. Em
outras civilizações, como na Mesopotâmia, o
De um modo geral, associamos a palavra desenho beneficiou a elaboração de mapas
desenho à representação de objetos, ideias, cartográficos que facilitaram as atividades
à reprodução de alguma imagem ou figura, e comerciais desenvolvidas pelos povos
até mesmo, a uma atividade gráfica reduzida ocidentais e orientais.
ao lápis e papel. No entanto, o desenho

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Aos poucos, o desenho passou a ser o mundo à sua maneira. Desse modo, o
representado em diferentes materiais, como: desenho assume várias possibilidades para
barro, pedras, argilas, madeiras e finalmente, a criança, a “possibilidade de brincar, o
no papel conhecido atualmente. (ZATZ, desenho como possibilidade de falar (...)”
2002, p.20) Do passado ao presente, vemos (MOREIRA, 2009, p.26), o desenho como
que “o homem sempre desenhou. Sempre possiblidade de criar, cantar, sonhar, e outras
deixou registros gráficos, índices de sua finalidades. Esta linguagem gráfica “marca
existência, comunicados íntimos destinados o desenvolvimento da infância, porém em
à posterioridade” (DERDYK, 1993, p.10). cada estágio, o desenho assume um caráter
Como aponta a autora, o desenho sempre próprio” (Ibidem).
foi significativo para a trajetória humana,
e ainda contribuiu para o desenvolvimento Levando em consideração essas
da linguagem nas antigas civilizações, como especificidades do desenho infantil, e por esse
também propiciou o nascimento da escrita. ser uma forma de revelar o desenvolvimento
Da mesma forma que o desenho constituiu-se cognitivo, emocional e expressivo da
como forma de expressão para as civilizações criança, ele tem sido um objeto de estudo
primitivas, ele continua sendo a primeira abordado por diferentes profissionais, tais
manifestação gráfica da criança. Desde a como: psicólogos, sociólogos, psiquiatras,
pré-história que os homens “(...) tinham a educadores, psicanalistas e outros
mesma necessidade que nós de comunicar especialistas. Nesta perspectiva, diversos
o que estavam pensando e sentindo. Devem teóricos se dedicaram especialmente
ter feito isso de várias formas. Umas delas ao estudo do desenvolvimento gráfico
foi desenhando e pintando” (ZATZ, 2002, infantil, entre eles podemos nos referir, por
p.16). Dentre as diferentes linguagens exemplo, Georges Henri Luquet (1969),
utilizadas pelas sociedades primitivas para Viktor Lowenfeld e Brittain (1977), Florence
se comunicar, consideramos que o desenho de Mèredieu (1994), Edith Derdyk (1993),
foi o primeiro registro produzido pelo ser Analice Pillar (1996), Angélica Albano (2009).
humano para se expressar graficamente. O Alguns desses estudiosos propuseram
homem pré-histórico fez uso dos desenhos diferentes estágios para classificar a evolução
registrados nas paredes das antigas cavernas do desenho na criança. Apresentaremos
que se constituíram como meio de expressão a seguir as concepções teóricas sobre os
para revelar a sua forma de viver e a maneira estágios de desenvolvimento gráfico infantil
com que transmitiam os seus conhecimentos abordado pelos autores Georges Henri
e as experiências vividas naquela época. Luquet (1969), Viktor Lowenfeld e Brittain
(1977).
Ao desenhar, a criança registra as suas
marcas, suas alegrias, suas descobertas, A escolha por esses autores pode ser
suas fantasias, tristezas e também escreve justificada pela importância dessas obras

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para o estudo e o desenvolvimento das Como esclarece o autor, o termo realismo


pesquisas sobre o desenho infantil. Georges é utilizado para justificar que o desenho
Henri Luquet (1969) foi um dos primeiros infantil é realista, pois a criança, ao desenhar,
estudiosos a se dedicar ao estudo do desenho tem a intenção de representar fielmente um
da criança, no que se refere a sua evolução objeto, como ela o vê. Desta forma, a criança
cognitiva. revela em suas representações gráficas
muitos detalhes e características minuciosas
Em seu estudo buscou entender como a do objeto visualizado por ela, os quais muitas
criança desenha, elaborando assim os estágios vezes são imperceptíveis aos olhos de um
de desenvolvimento do desenho infantil. São adulto. O primeiro estágio proposto por Henri
quatro os estágios propostos por ele, os quais Luquet, denominado de realismo fortuito,
veremos a seguir: realismo fortuito, realismo é subdividido em duas etapas: o desenho
falhado, realismo intelectual e o realismo involuntário e desenho voluntário. Até então,
visual. Em sua concepção, Georges Henri a criança não atribui nenhum significado ao
Luquet acredita que o desenho da criança seu desenho. Entretanto, na etapa seguinte,
“não mantém as mesmas características do chamada de desenho voluntário, ela começa
princípio ao fim. De acordo com a autora, a a perceber “certa analogia entre alguns dos
criança, ao desenhar, pode utilizar também seus objetos traçados e um objeto real, e
outras linguagens, como: o brincar, cantar, enuncia a interpretação que lhe dá” (LUQUET,
falar, dentre outras formas de expressão. 1969, p.139). De acordo com o autor, de
início, a criança desenha sem nenhuma
À medida que a criança cresce, intenção de representar algo, no entanto, ao
constantemente notamos as mudanças terminar a sua atividade gráfica, já consegue
ocorridas em seus desenhos. Desta estabelecer alguma interpretação sobre o
forma, em cada idade, a criança apresenta que desenhou, atribuindo-lhe algum nome.
características peculiares e diferentes No segundo estágio, o realismo falhado,
maneiras de desenhar. Estas maneiras de também chamado de incapacidade sintética,
desenhar não são idênticas em todas as a criança tenta ser realista ao desenhar um
crianças. Temos que levar em conta, além objeto, no entanto “não sabe ainda dirigir
das suas características individuais, os e limitar os seus movimentos gráficos de
fatores biológicos, sociais, econômicos e modo a dar ao seu traçado aspecto que
culturais de cada criança. Sendo assim, quereria” (LUQUET, 1969, p.147). Para
algumas classificações, a qual verá mais o autor, este estágio caracteriza-se pela
adiante, foram elaboradas para nomear as imperfeição gráfica, pois a criança enfrenta
etapas e os estágios evolutivos do desenho algumas dificuldades para representar o
infantil, tendo como base os aspectos sociais, objeto desejado, por exemplo, apresenta
culturais e psicológicos da criança. descontrole nos seus movimentos. Isto
significa que por mais que a criança tente,

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não consegue perceber os pormenores momento sem se preocupar com a sua


gráficos de um objeto, e assim exagera nas estrutura visual.
dimensões em qualquer parte do objeto
realizado. Já no terceiro estágio, o realismo Partilhando da afirmação dos autores,
intelectual, a criança consegue superar a podemos dizer que a criança inicia as suas
incapacidade sintética e agora nada impede experiências gráficas através de simples
que o seu desenho seja realista. riscos, rabiscos e garatujas. Logo após o
estágio das garatujas, surge o estágio pré-
Assim, a criança começa a representar esquemático, que se inicia aos quatro
fielmente o objeto como o vê, e também anos e dura até aos sete anos de idade.
apresenta em seu desenho “não só os Diferentemente das garatujas, neste estágio,
elementos concretos invisíveis, mas mesmo a criança possui o intento de realizar as suas
os elementos abstratos que só tem existência representações gráficas.
no espírito do desenhador” (LUQUET,
1969, p.160). No desenho involuntário, a A partir das considerações dos autores,
criança inicialmente realiza linhas e traços notamos que neste momento a criança começa
espontâneos, pois ainda não tem a intenção a representar o ambiente à sua volta, como
de representar a imagem de um objeto em também os objetos, as pessoas significativas
suas atividades gráficas, como também não para ela, ainda que de modo desordenado no
estima nenhuma interpretação figurativa papel e com certa instabilidade no tamanho
as suas produções. Segundo o autor, o das suas representações figurativas. Embora,
importante para a criança “é executar quanto maior for à interação da criança com
movimentos com a mão que estando munida o meio em que vive e com os objetos de
de acessórios variados, deixa num suporte, conhecimento ao seu redor, mais ricas serão
tal como uma folha de papel, traços que não as suas produções gráficas. Os desenhos das
existiam antes” (LUQUET, 1969, p. 136). A crianças “são mais detalhados do que suas
partir da reflexão, consideramos que nesta obras anteriores, e já não coloca os objetos
etapa, a atividade gráfica da criança é movida em filas ordenadas, em toda a largura do
essencialmente pelo prazer provocado pelos fundo do papel” (LOWENFELD; BRITTAIN,
movimentos de suas mãos em diferentes 1977, p.56). Assim, a criança “(...) passa a se
superfícies, tais como: areia, lama, lápis sobre interessar agora muito mais pelas minúcias e
o papel, entre outros. deixa de fazer os desenhos grandes e livres
que eram seus prediletos de anos anteriores”
Como bem lembra o autor, a criança revela (Ibidem).
em suas produções gráficas os pormenores
e detalhes que lhe convém representar. Com base na explanação dos autores,
Além disso, a criança desenha com base na podemos observar que o desenho infantil
concepção que tem sobre o objeto naquele sofreu algumas modificações. Neste último

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estágio, ele apresenta mais detalhes, pois a escrituras imaginárias e também se comunicar
criança agora começa a ter maior consciência do seu jeito com o mundo do adulto. Assim,
do mundo à sua volta, já que o compreende e observamos que no decorrer de cada estágio do
o interpreta ao seu modo. Apesar dos autores desenho infantil, a criança evolui graficamente,
Viktor Lowenfeld e Brittain apresentarem pois quando se apropria desse sistema
os estágios evolutivos do desenho infantil de representação gráfica, adquire a maior
através da delimitação pela faixa etária capacidade de representar os seres humanos,
da criança, estes tiveram a dificuldade de as figuras geométricas e outros sinais gráficos.
demarcar precisamente quando começa e Chega um momento que as letras se misturam
termina cada estágio aqui apresentado, pois e se entrelaçam aos desenhos da criança, que
o desenvolvimento do desenho na criança é elabora diferentes representações gráficas até
um processo contínuo, cheio de idas e vindas, atingir a escrita alfabética.
mediado por constantes transformações.
Foi feito um breve levantamento inicial
Muitos autores acreditam que ao se para elaboração do projeto de pesquisa a
desenvolver os estágios de evolução respeito dos Contadores de Histórias para
do desenho na criança, ocorre também que possamos verificar a importância destes
paralelamente o desenvolvimento da sua contadores para o publico em geral, no banco
escrita. A expressão esquema citada pelos de teses e dissertações biblioteca digital
autores refere-se às diferentes formas da USP, usando os seguintes descritores,
utilizadas pela criança para desenhar uma contação de histórias, a arte de contar
figura. Segundo os autores, neste estágio histórias. Encontramos um trabalho de Vivian
a criança elabora os seus desenhos com Munhoz Rocha (2010), “Aprender pela arte e
riquezas de detalhes. Por exemplo, a figura arte de narrar: educação estética e artística
humana adquire formas, como: boca, nariz, na formação de contadores de histórias”.
olhos, duas pernas, dois braços, cabeça agora Rocha (2010) nos mostra o encanto de
com cabelo. um contador de histórias, que através de
musica, dança, objetos e narrando de mil
A escrita aparece como uma imitação das formas diferente leva as crianças ao mundo
atividades do adulto”. Diante das posições imaginário onde tem o talento de direcionar
destes autores, ressaltamos que o desenho e e encantar todos os seus ouvintes.
a escrita são duas linguagens que apesar de
serem distintas, se interagem, e muitas vezes É necessário que os contadores pesquisem,
se complementam, pois cada uma tem a sua tenham conhecimento e preparem-se para
especificidade e a sua derivação particular. poder contar e encantar seu publico.
Contudo, acreditamos que o desenho é a
primeira escrita da criança, pois ela se serve Pensar deste modo significa entender que
desta linguagem para inventar mensagens e por meio do desenho a criança terá acesso

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às outras formas de linguagens expressivas Paralelamente, os contadores, em


presentes no seu cotidiano, assim como a configuração mais despojada, usando o corpo
escrita, que até então, é desconhecida para e a voz exclusivamente, conviveram com
ela. Desse modo, através do desenho, a artes mais elaboradas. Transportaram-se a si
criança adquire as primeiras noções sobre o mesmos e a sua arte para todos os espaços
que realmente a escrita representa. Simões possíveis. Fizeram de todos os momentos
(2000) nos mostra a importância que se tem da vida o instante próprio e sedutor da
na contação de histórias que mesmo antes contação. Presentes em todas as sociedades,
das crianças desenvolverem os aspectos hoje, representam uma espécie de crônica
de escrita e oral, eles já conseguem uma viva das histórias dos mais diferentes povos.
interação social, através da fantasia e Comunidades ágrafas convertem seus
imaginação. Pra isto é muito importante contadores em históriadores e sacerdotes
estimular o interesse das crianças, para que porque eles conservam em suas narrativas os
estes aprendizados venham carregados de saberes do povo. Comunidades detentoras
significados e não se aprenda por aprender, da escrita veem nos contadores a vivificação
através dos contos eles iram levar estes da história. São eles os mensageiros
ensinamentos durante toda sua vida. vivos de saberes registrados e muitas
vezes desconhecidos. Atores e artistas da
Desde os primórdios as histórias fazem oralidade, os contadores articulam a ficção
parte da vida das pessoas através delas é e o público; os pensamentos, expressos
contada fatos culturais, familiares, sociais. nos textos, com a reflexão momentânea
Esta pratica vem se reproduzindo através de dos ouvintes; os sentimentos, registrados
muito tempo mesmo sendo de maneira não na escrita, com as emoções despertadas
intencional, mesmo assim alguns estudos no calor da contação. Leitores especiais, os
mostram a importância deste fato, pois as contadores transcendem o texto na intenção
crianças começam seu desenvolvimento de disseminá-lo por um público maior.
da linguagem neste período mais Além destas qualidades, é preciso acentuar
significativamente quando ouvem histórias que o contador tem de ser, sobretudo, um
desde pequenos. É nesta fase também que leitor plural e crítico. Eliana Yunes salienta,
as crianças necessitam de conviver com ainda: [...] sabemos, na carne, que ninguém
alguns fatos da vida, como nascimento, vira contador de histórias da noite para o dia,
separação e até mesmo a morte e as histórias e que esse processo de formação somente é
neste momento são utilizadas como uma possível se estiver centrado numa reflexão
ferramenta para que se possam superar estes que envolva nossas histórias de leitores,
momentos e ver que estes fatos fazem parte nossas necessidades de comunicação
da vida de todos nos e que é necessário que artística, nossa opção pela palavra como
aprenda a se conviver com eles. agente sensível, lúdico, estético, enfim,
transformador, e que, sobretudo, respeite o

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fluir natural do tempo, o exercício constante, Contar apenas para preencher os vazios do
sem a pressa tão comum a quem quer sair tempo é como usar anéis e pulseiras de ouro
por aí, fazendo, antes de observar os sinais para trabalhar a terra.
de maturação das coisas (até das palavras-
histórias!) Essa visão idealista e humanista da
arte de contar histórias integra nossa
Há, contudo, uma omissão imperdoável história mais íntima: a memória guardou
nessa crença de que apenas as crianças em envoltórios de seda pura, presos pelos
gostam e devem ouvir histórias. Os adultos laços da afeição, aquelas narrativas que
recebem, com igual prazer, encantamento e nos tocaram profundamente o coração e
curiosidade. que representaram um conhecimento todo
especial da vida e dos homens. Foi o leite
Não se trata, portanto, de encarar a imaginário, que fortaleceu nosso crescimento
formação de um repertório de narrativas rumo à maturidade.
populares pelo atrativo exótico ou
nacionalista. Essas histórias são documento Através do texto “A Contação de Histórias
vivo e seu contador, o guardião dessa riqueza. da Vídeo Livraria”, Eliana Yunes (1998),
Da mesma forma, a manutenção da infância podemos observar a importância de um
e dos valores nela aprendidos encontra contador de histórias, que nos remete as
nesses relatos uma forma de fixação e, nossas mais remotas lembranças, ele nos
simultaneamente, de resgate. Contá-los empresta seu corpo sua voz para recriar
é reviver a aprendizagem, cristalizada nos momentos, dos quais muitas das vezes
acontecimentos da ação, nas características guardados em nossas remotas lembranças.
das personagens, na significação do conjunto Mas é através deles também que conhecemos
textual. nosso passado, aonde muitas vezes, não
A seleção dos textos será, sempre, a pedra se tem registros escritos, estes contadores
de toque do contador. O repertório deverá foram enaltecidos e idolatrados, mas com
compreender uma diversidade de histórias, a evolução dos tempos as histórias foram
não apenas quanto à temática, mas também utilizadas nas escolas como um meio de
quanto à forma escrita. Não se deve, porém, incentivo ao aprendizado, e por este motivo
sacrificar a identidade do narrador com passou-se a acreditar que as histórias era
as histórias em favor de uma variedade somente um reforço nas praticas pedagógica.
desencontrada. Inventando ou reproduzindo
as palavras mesmas do escrito, ao narrador Embora realmente sejam utilizadas
compete, acima de tudo, dar vida às palavras nas escolas para reforço e incentivo
e às ideias suscitadas a partir do texto. A ao aprendizado, mas o principal papel
escolha dos textos deve passar ainda pela não somente das histórias, mas sim dos
qualidade poética e humana do relato. contadores que hoje além de ensinar de

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uma forma prazerosa as crianças, encantam O ambiente, mesmo que simples, deve ser
também os adultos e mostra a importância favorável à “contação de história”. Pode ser
que eles têm e tiveram em nossa evolução ao ar livre ou em locais fechados, porém é
humana e social. necessário estar livre de qualquer distração
ou desconforto. Ruídos, pessoas transitando,
O primeiro contato da criança com o excesso de sol, muito frio, muito calor, muito
texto, geralmente, é por meio das histórias iluminado, pouco iluminado… tudo isso
apresentadas, oralmente, por pais e poderá dificultar o trabalho do “contador”.
familiares. Elas podem ser contadas em Procure o ambiente e o momento ideais para
diversas ocasiões, como, por exemplo, ao contar suas histórias.
acordar, durante uma tarde chuvosa, antes de
dormir, preparando para um sono tranquilo e Como em qualquer área, é importante
restaurado. que o “contador” busque aperfeiçoamento
contínuo. Algumas universidades, como,
Em seu livro Contar Histórias: Uma arte por exemplo, a Faculdade Paulista de Artes,
sem idade, COELHO (1999, p.47) nos ensina possuem cursos de especialização em
que “antes de narrar a história deve-se abrir “contação de histórias”.
espaço para uma boa conversa. Por exemplo,
se a história gira em torno de animais A escritora e pedagoga Fanny Abramovich
domésticos e começa-se diretamente, os (1989, p. 17) nos diz que “é ouvindo
ouvintes poderão interromper dizendo: eu histórias que se pode sentir (também)
também tenho um gato, um cachorro, um emoções importantes como: a tristeza, a
passarinho, o que for”. A autora reforça que raiva, a irritação, o medo, a alegria, o pavor,
o espaço para as crianças falarem antes da a impotência, a insegurança e tantas outras
narração é indispensável. Neste momento mais, e viver profundamente isso tudo que
o “contador” conhece melhor as crianças as narrativas provocam e suscitam em quem
e concede a oportunidade aos pequenos as ouve ou as lê, com toda a amplitude,
de falarem. Isto acalma e os prepara para a significância e verdade que cada uma delas
aventura. faz (ou não) brotar”.

O “contador” precisa ser habilidoso, é Através das gerações são transmitidas as


necessário “entrar” na história e levar junto histórias de uma forma carinhosa entre as
todos os ouvintes. Diversos recursos, como, famílias, para que se possam criar laços de
imagens, sons, instrumentos musicais, afeto e amor. Mas as histórias vão muito, além
materiais alternativos, devem ser utilizados disto, não somente como expressão de amor
para que o momento seja ainda mais entre familiares, ela desenvolve aspectos
aprazível. necessários na infância, por intermédio das
histórias as crianças começam a criar seus

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valores de conduta, e até mesmo começar já é reconhecida, mas ainda esta começando
a formar seu caráter, aprendendo com os uma longa caminhada, para mostrar o quanto
próprios personagens que são apresentados é importante, mostrando que a educação
nestas histórias. não se faz somente em salas de aulas, que a
educação acontece em todos os ambientes,
Entretanto quando estas histórias são e que mesmo em um ambiente informal
apresentadas fora do ambiente familiar, como é o SESC onde as pessoas acreditam,
através de contadores, que parece somete que ali somente é um lugar de laser e
um ambiente de laser, é um grande descanso, acontece um dos momentos mais
equivoco esta visão do publico a respeito importantes de muitas crianças e adultos
dos contadores, pois estes não somente onde deparam e conhecem uma maneira
preparam o ambiente para que a contação prazerosa de aprendizado sem muros, sem
aconteça de uma maneira prazerosa, mas regras tão formais, de uma maneira lúdica,
também, preocupam-se com os valores acolhedora e sem perceber o quanto estes
que estão transmitindo com suas histórias, indivíduos estão aprendendo verbalizando,
estes contadores buscam sempre ampliar seus próprios anseios.
seus conhecimentos, alguns fazem cursos
especializados nesta área, já existem muitos, O campo de atuação destes contadores já é
outros tem nível superior em várias áreas. bastante amplo, mas ainda não os enxergam,
Eles sabem o quanto é importante sua como parte integrante da educação de nossas
atuação, pois além de divertir, eles têm crianças aliás estes contadores atuam na vida
importante papel na formação destas de muitas pessoas adultas também que por
crianças, mesmo não estando voltados para influencia deles voltam a se interessar pelo
o aprendizado dentro das salas de aulas. o mundo da leitura e escrita para que como
eles possam fazer diferença na vida de muitas
Os contadores de histórias cada vez mais pessoas. A arte de contar histórias, que
mostram a sua real importância na nossa chegou a ter seu desaparecimento anunciado
sociedade, através deles, podemos dizer devido às modernas formas de comunicação
que estão sendo criada uma nova geração e mesmo à alteração dos hábitos familiares,
de pessoas, com a capacidade de unir sua vem sendo revigorada no Brasil e no mundo
história no passado, ao presente para que inteiro por uma nova geração de contadores.
possa fazer um futuro melhor para todos. A Influenciados pela literatura escrita e
importância deles é tão grande que o SESC, pelo teatro, com técnicas aprimoradas em
se uniu e fez parceria com estes contadores, oficinas e cursos, trabalhando em grupo
para que sua história pudesse também ou individualmente, eles recriam no meio
ser modifica, e com isso através de seus urbano uma prática que também é objeto de
cursos de formação e uma ação conjunta, a estudo nas universidades, tema de grandes
contação de histórias hoje é uma profissão, eventos nacionais e internacionais e que já

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ganhou até espaços específicos nos cadernos cultura. Passei a narrar para crianças em
de programação cultural dos grandes jornais. escolas públicas e privadas histórias que
Um bom exemplo da nova fornada de aprendi com meu pai, meus avós. Com isso
narradores é o Tapetes Contadores de resgatei uma tradição que morava em mim e
Histórias, formado em 1998 por alunos da me tornei um contador.
escola de teatro da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Warley No Brasil, como em qualquer país que
Goulart, um dos coordenadores do grupo, tenha uma cultura rural, existem ainda
que participou do Simpósio Internacional ativos contadores de histórias tradicionais.
de Contadores de Histórias, realizado pelo A antropóloga, escritora e pesquisadora de
SESC do Rio de Janeiro em julho deste literatura Heloisa Pires Lima lembra que na
ano, revela que a primeira inspiração veio África, ainda que abalada pelo colonialismo,
do artesão francês Tarak Hammam, que também permanece viva e atuante a tradição
há mais de 20 anos utiliza tapetes como da narrativa.
cenários de suas narrativas – característica
adotada por Warley e seus colegas nas Ao pesquisar a literatura oral como forma
apresentações em escolas, centros culturais de enriquecer a escrita, ela descobriu naquele
e outras instituições. Ele diz que no início continente contadores tradicionais em
seus temas eram relacionados a tapetes, países como Mali, Costa do Marfim, Senegal
mas que viagens pelo Brasil e pela América e Cabo Verde, entre outros. “No sudoeste da
Latina e o estudo de narrativas tradicionais e África há festivais dedicados à arte de contar
da literatura infanto-juvenil permitiram que histórias”. É uma prática muito forte daquela
o grupo ampliasse seu repertório. região, mas que não se restringe a ela.

Ouço histórias desde criança, faz parte da Com o avanço das tecnologias acreditou-se
minha tradição, que é a dos povos indígenas. que os contadores tenderiam a desaparecer,
“Através delas a gente vai aprendendo coisas mas neste momento alguns jovens
significativas da nossa vida, para entender o universitários viram a necessidade de não se
mundo, o sentido, enfim, da nossa própria deixar esta arte morrer e assim criaram-se
existência”, diz Daniel Munduruku. Contador novos grupos de contadores, durante este
e escritor, com vários livros publicados, ele processo surgiu também um encontro entre
deixou há muitos anos a aldeia mundurucu no contadores de História que ficou conhecido
Pará e veio para São Paulo estudar filosofia como Boca do Céu, que acontece a cada dois
na USP. Daniel leva para crianças e jovens anos, com a presença de vários contadores,
da cidade um pouco do modo de vida de oficinas entre outros, costumam se apresentar
seu povo. “A necessidade de contar histórias em vários locais para que todos tenham a
aflorou em determinado momento de minha oportunidade de presenciar este evento, mas
vida, como uma forma de voltar para minha um dos principais locais é no SESC.

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Mas o que os contadores trazem em suas bagagens é um repertorio de aprendizado,


e tradições culturais, além de mostrar a este publico o quanto é importante preservar a
cultura de cada um, respeitando e entendendo todo o processo de crescimento de cada
povo, e desta forma de um modo lúdico e divertido as crianças aprendem a conviver com as
diferença e as limitações de cada um, seguindo os passos destes contadores, estas crianças
adquirem o habito da leitura ou por curiosidade ou por querer conhecer cada vez mais suas
próprias histórias.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor precisa primeiramente se educar, em outras
palavras, se o educador não valoriza o seu ato de desenhar,
não se acha capaz de experimentar as diversas linguagens
(gesto, música, dança...), não levará em consideração, os
desenhos feitos pelas crianças e o sentido desta construção
para o desenvolvimento da sua linguagem gráfica.

O olhar do professor para o desenho infantil tem um grande


significado para criança, pois a depender de como este reaja MAÍSA MOREIRA
em relação a esta linguagem, a criança pode ser encorajada DE SOUZA
a se expressar e demonstrar o seu potencial criativo. Se o
Professora de Ed Inf., (PEI), Ed.inf
educador demonstrar uma postura insatisfeita perante e Ensino Fundamental (PEIF).
sua produção - o desenho, a criança pode se desestimular. Pedagoga, pós-graduada em
Dessa forma, a importância do desenho na construção da Neuropsicopedagogia, cursando
Artes Visuais, FCE 2019.
linguagem escrita da criança na alfabetização precisa ser
valorizado pela escola. Os contadores de história nasceram
com a humanidade. Falar sobre e encadear acontecimentos,
acrescentando-lhes uma interpretação, são atributos
humanos. Usar o corpo para acentuar e definir a expressão
do pensamento pertence aos artifícios da comunicação entre os seres. O contador reúne
essas duas qualidades: a capacidade de narrar e de representar – com a voz, o olhar e os
gestos – essas narrativas.´

À medida que a civilização evoluiu, os recursos refinaram-se, a arte de contar ganhou


formatos e intenções diferentes. Nasceu o teatro dos rituais religiosos, ocupou praças e
edifícios ao longo dos séculos. À narrativa dos fatos, pensamentos e sentimentos do homem
somaram-se os recursos da encenação teatral: o palco, o cenário, a música, o figurino. Assim,
a partir dos estudos apresentados e discutidos anteriormente, torna-se possível concluir
que o desenho infantil enquanto linguagem gráfica e artística contribui significativamente
não só para o desenvolvimento da escrita, como também auxilia na coordenação motora da
criança na alfabetização. O desenvolvimento deste trabalho nos possibilitou refletir sobre a
importância do desenho infantil para a aprendizagem da língua escrita. Desse modo, quando
a criança encontra-se inserida no processo de alfabetização, observamos claramente a
redução do seu ato de desenhar. Isto ocorre devido à ênfase dada pela escola a aprendizagem
do sistema gráfico convencional, neste caso, a escrita. Vale lembrar que não estamos aqui
hierarquizando o desenho e a escrita.

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A partir desta afirmação, a escola necessita reconhecer a importância do desenho infantil


para o desenvolvimento não só escolar, mas também atribuir o verdadeiro significado que
ele tem na vida de uma criança. Portanto, sabemos que a necessidade de se expressar é
inerente ao ser humano, por isso é necessário pensar no desenho infantil não só como
uma forma de expressão, mas como uma linguagem que servirá como alicerce para o seu
desenvolvimento gráfico e também como primeira escrita produzida por ela, a qual encontra
a necessidade de emitir as suas marcas pessoais.

O intento desse trabalho foi analisar a contribuição do desenho infantil na aquisição da


língua escrita da criança na alfabetização. Para isso verificamos a importância das diferentes
manifestações expressivas para o desenvolvimento da linguagem escrita da criança na
alfabetização, entre elas podemos nos referir: ao brincar, ao desenho, à música, à dança, dentre
outras. Essas linguagens associadas às aprendizagens escolares facilita o desenvolvimento
natural da língua escrita da criança. Desta forma, tratando em especial do desenho infantil,
vimos ao longo das nossas discussões que o desenho antecede à aprendizagem da escrita
convencional e, por isso, ele é a primeira forma de expressão gráfica utilizada pela criança
para se comunicar.

O que pretendemos abordar é que essas duas linguagens, apesar de serem distintas, se
complementam e são fundamentais para o processo de alfabetização da criança. Sendo
assim, é necessário entender que o processo de alfabetização se dá a partir da interação
das diferentes formas de expressão apresentadas ao longo deste trabalho e não apenas na
aprendizagem de um tipo de linguagem.

Assim, não dá para falar de um momento tão importante na vida de uma criança, que
é aprender a escrever, sem pontuar sobre a atuação do professor neste processo. Neste
aprendizado, o docente tem um papel fundamental de desenvolver as propostas e atividades
educativas, as quais valorizem os conhecimentos e as diferentes linguagens já vivenciadas e
construídas pela criança, como também, criar um ambiente que possa valorizar as produções
gráficas infantis e o desenho produzido por ela.

Diante do exposto, é necessário repensar sobre a postura de alguns profissionais de


educação que consideram o desenho realizado por uma criança como uma atividade que não
tem muito valor. Entretanto, ressaltamos que o desenho infantil não pode ser considerado
como uma atividade para passar o tempo destituído de significados, mas como uma linguagem
peculiar à criança, que faz parte do desenvolvimento da sua infância.

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É importante compreender que é através do desenho que a criança pode se expressar,


comunicar e atribuir sentido aos seus sentimentos, pensamentos e sensações. Por fim, é
essencial que a escola promova a alfabetização em confluência com o mundo vivido pela
criança, respeitando as suas peculiaridades, as suas brincadeiras, os seus desejos pessoais e
principalmente, o seu jeito de aprender. É a partir desse olhar que estaremos promovendo
o desenvolvimento gráfico infantil e consequentemente o processo de alfabetização da
criança.

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820
Revista Educar FCE - Abril 2019

OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL E A BASE NACIONAL COMUM
CURRICULAR PARA ENSINO FUNDAMENTAL
RESUMO: Este estudo, através de revisão bibliográfica, tem por objetivo verificar de que
forma e em quais momentos os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2017)
permeiam a Base Nacional Comum Curricular, de forma a estudar, como a Educação Nacional,
através de seu currículo obrigatório, planeja auxiliar na formação de pessoas capazes de
alcançar estes Objetivos e a Agenda 2030 (BRASIL, 2019). O texto foi estruturado em
introdução e 17 itens cada um relativo a um Objetivo para o Desenvolvimento Sustentável,
onde se identifica no currículo de qual componente da BNCC este objetivo é tratado e Unidade
Temática, assim como, se este objetivo aparece nas competências a serem desenvolvidas
pela BNCC.

Palavras-Chave: objetivos de desenvolvimento sustentável; base nacional comum curricular.

821
Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Dentro desta meta, busca-se agir em 6


diferentes frentes: mercado de trabalho,
Com a publicação da Base Nacional proteção social, demografia, educação,
Comum Curricular em 2018, muitos estudos exclusões sociais e eventos adversos. Na
vêm sendo realizados para discutir a forma área da educação, temos a preocupação em
de implementação desta proposta, assim garantir educação para todos como forma de
como sua coerência com a agenda brasileira erradicação da pobreza.
internacional e as propostas mundiais na
área social e da educação. Os Objetivos para Através do estabelecimento de relação
o Desenvolvimento Sustentável, elaborado entre educação para todos e erradicação da
pela ONU (2017), assinado pelo Brasil e pobreza, as Organizações das Nações Unidas
outros países signatários, visam a elaboração (ONUBR, 2017) indicam que maior acesso
de uma agenda abrangente que permita uma à educação pode facilitar a erradicação da
transformação e melhoria mundial em termos pobreza.
de condições de vida, utilização de fontes
renováveis de energia, desenvolvimento Conforme o site do MEC:
econômico sustentável.
“A Base Nacional Comum Curricular
Desta forma, verificar no Currículo proposto (BNCC) é um documento de caráter
pela BNCC (MEC, 2018), como e onde as normativo que define o conjunto orgânico
ODS aparecem, permite contextualizar as e progressivo de aprendizagem essenciais
BNCC com o que ocorre de mais atualizado que todos os alunos devem desenvolver ao
no mundo e pode facilitar o fazer do professor longo das etapas e modalidades da Educação
no sentido de significar suas práticas com o Básica” (MEC, 2019)
que ocorre mundialmente.
A BNCC tem por objetivo promover a
educação para todos, além disto outras
ERRADICAÇÃO DA POBREZA frentes nas ODS que são tratadas pela BNCC:
Reduzir a proporção de jovens sem emprego,
A primeira ODS proposta pela ONUBR educação ou formação (Meta 8.6), Assegurar
(2017) é a erradicação total da pobreza e vidas saudáveis (ODS 3), Urbanização
da extrema pobreza até 2030, para tanto sustentável (Meta 11.3), Inclusão para todos
é necessário discutir quais parâmetros (Meta 10.2), Educação sobre diversidade
localizam uma família na linha de pobreza e cultural (Meta 4.7), Reduzir os efeitos dos
extrema pobreza e buscar uma agenda que desastres (Meta 11.5), Reforçar a resiliência
proponha a superação da pobreza. a desastres naturais (13.1)

822
Revista Educar FCE - Abril 2019

FOME ZERO E AGRICULTURA Em relação à Saúde Sexual e Reprodutiva,


SUSTENTÁVEL localizamos esta temática nas BNCCs, no
Componente Curricular de Ciências, 8º ano,
Asegunda ODS proposta pela ONUBR (2017) na Unidade “Mecanismos reprodutivos e
tem por objetivo “acabar com a fome, alcançar sexualidade”. Não sendo localizado em outra
a segurança alimentar e melhoria da nutrição Unidade. É possível questionar, se apenas
e promover a agricultura sustentável”. Em uma Unidade, tratada de forma objetiva e
relação a esta questão, observamos na BNCC desprovida do contexto histórico e cultural,
no Componente Curricular de História, para poderia promover o conceito de Saúde
o 2º ano do Ensino Fundamental, a Unidades Reprodutiva e Sexual, que prescinde de
Temáticas “O trabalho e a sustentabilidade na outras discussões de valores sociais e cultura
comunidade”, com o objetos de conhecimento humana.
“A sobrevivência e a relação com a natureza”.
No Componente Curricular de Geografia,
para o 2º ano, observamos esta temática na EDUCAÇÃO DE QUALIDADE
Unidade “Natureza, ambientes e qualidade de
vida”, no objeto de conhecimento “Os usos Educação de qualidade seria o objetivo da
dos recursos naturais: solo e água no campo Base Nacional Comum Curricular conforme
e na cidade”. Já no Componente Curricular trecho (MEC, 2019):
de Ciências, para o 5º ano, “Vida e evolução”,
com o objeto de conhecimento “Nutrição do “Nesse sentido, espera-se que a BNCC
ajude a superar a fragmentação das políticas
organismo, hábitos alimentares, integração educacionais, enseje o fortalecimento do regime
entre os sistemas digestório, respiratório e de colaboração entre as três esferas de governo e
circulatório” seja balizadora da qualidade da educação. Assim,
para além da garantia de acesso e permanência
na escola, é necessário que sistemas, redes
e escolas garantam um patamar comum de
SAÚDE E BEM ESTAR aprendizagens a todos os estudantes, tarefa
para a qual a BNCC é instrumento fundamental.”
(MEC, 2019)
Esta ODS (ONUBR, 2017) visa “assegurar
uma vida saudável e promover o bem-estar Desta forma, entende-se que qualidade
para todos em todas as idades”, que envolve está atrelada a um patamar comum mínimo
os conceitos: Saúde Sexual e Reprodutiva, de aprendizagens de todos os estudantes,
Mortalidade Materna, Assistência à Saúde que seja alcançada, em qualquer escola do
Reprodutiva, HIV/Aids, Tratamento para país.
o HIV, Vírus Zika, Aleitamento Materno,
Abuso de Substâncias, Consumo de Tabaco,
Morbimortalidade no Trânsito, Atenção
Primária em Saúde.

823
Revista Educar FCE - Abril 2019

IGUALDADE DE GÊNERO ÁGUA POTÁVEL E


SANEAMENTO
A meta relativa à Igualdade
de Gênero dos Objetivos para o O Objetivo de Desenvolvimento
Desenvolvimento Sustentável (ONUBR, Sustentável 6 - Água Potável e Saneamento
2019) prevê a ação em diferentes visa: Assegurar a disponibilidade e gestão
circunstâncias nacionais: empoderamento sustentável da água e saneamento para
econômico, empoderamento político e todas e todos. Este objetivo considera as três
representatividade, educação, saúde e dimensões que envolvem a disponibilidade
enfrentamento à violência doméstica. de água potável e saneamento: dimensão
ambiental, econômica e social. A ONU
Ao analisar a BNCC do Ensino Fundamental (2019b) alerta que a escassez de água afeta
não foi localizado uma única menção à mais de 40% da população mundial, “número
igualdade de gênero ou ao tratamentos das que deverá subir ainda mais como resultado
circunstâncias nacionais que promovem da mudança do clima e da gestão inadequada
desigualdade entre homens e mulheres. dos recursos naturais”.
Neste aspecto, pode-se realizar a crítica de
que a construção da Base Nacional Comum Nas Bases Nacionais Comum Curriculares,
Curricular desconsiderou as ODS construídas a temática da água aparece no Componente
democraticamente e com representatividade Ciências, para o 5º ano, em Unidade Temática
de muitas nações em seu currículo. Matéria e Energia, objetos do conhecimento
“Propriedades físicas dos materiais,
Quando pensamos em currículo, pensa- Ciclo hidrológico, Consumo consciente,
se em projeto de mundo e de sociedade, a Reciclagem” com abrangência ampla e visão
sociedade pensada a partir das BNCC, não sistêmica, abordando as habilidades:
está coerente com o que mundialmente se
pensa sobre educação e sociedade justa “Selecionar argumentos que justifiquem
a importância da cobertura vegetal para a
e democrática. O Brasil que está pensado manutenção do ciclo da água, a conservação
para o futuro, inferido a partir da proposta dos solos, dos cursos de água e da qualidade
de currículo nacional, não é um Brasil onde do ar atmosférico; Selecionar argumentos
que justifiquem a importância da cobertura
mulheres e homens são iguais, mas sim onde vegetal para a manutenção do ciclo da água, a
a diferença persiste. conservação dos solos, dos cursos de água e
da qualidade do ar atmosférico; Identificar os
principais usos da água e de outros materiais
nas atividades cotidianas para discutir e propor
formas sustentáveis de utilização desses
recursos.” (MEC, 2019)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Comparando o ODS 6 e a BNCC é TRABALHO DECENTE E


possível analisar coerência e congruência CRESCIMENTO ECONÔMICO
das propostas em termos de alcance de
objetivos comuns. O Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável 8 trata de: “promover o
crescimento econômico sustentado,
ENERGIA LIMPA E ACESSÍVEL inclusivo e sustentável, emprego pleno e
produtivo e trabalho decente para todos.”
O Objetivo de Desenvolvimento (ONUBR, 2019). Esta ODS sobre trabalho
Sustentável número 7 busca “assegurar o e crescimento relaciona a desigualdade de
acesso confiável, sustentável, moderno e a renda e de oportunidades há um crescimento
preço acessível à energia para todos” (ONUBR, econômico prejudicado, que impossibilita o
2019). Este objetivo está relacionado a desenvolvimento sustentável.
redução de utilização de combustíveis
fósseis, considerando suas emissões de gases Um dos princípios da Educação pela Lei
de efeito estufa, assim como às necessidades de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
das pessoas em situações de maior é que o ensino esteja relacionado com o
vulnerabilidade. (AGENDA 2030, 2019). trabalho e as práticas sociais. (BRASIL, 1996).

No currículo de Ciências, da Base Nacional A BNCC (MEC, 2018) apresenta um


Comum Curricular, o estudo das fontes de currículo voltado para o desenvolvimento
energia é contemplado na Unidade Temática de competências que resolvam demandas
Matéria e Energia: complexas do mundo do trabalho. Sua
competência 6 é voltada para esta questão:
“Dessa maneira, nessa unidade estão envolvidos
estudos referentes à ocorrência, à utilização “Valorizar a diversidade de saberes e vivências
e ao processamento de recursos naturais culturais e apropriar-se de conhecimentos e
e energéticos empregados na geração de experiências que lhe possibilitem entender as
diferentes tipos de energia e na produção relações próprias do mundo do trabalho e fazer
e no uso responsável de materiais diversos. escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao
Discute-se, também, a perspectiva histórica seu projeto de vida, com liberdade, autonomia,
da apropriação humana desses recursos, com consciência crítica e responsabilidade” (MEC,
base, por exemplo, na identificação do uso de
2018)
materiais em diferentes ambientes e épocas
e sua relação com a sociedade e a tecnologia.”
(MEC, 2019) Comparando o ODS 8 e a BNCC, podemos
afirmar que existe uma coerência entre as
Comparando o ODS 7 e a BNCC, podemos duas propostas em relação às competências
afirmar que existe uma coerência entre as a serem desenvolvidas na educação para o
duas propostas em relação à energia limpa mundo do trabalho.
e acessível.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INDÚSTRIA, INOVAÇÃO E A questão da desigualdade social permeia


INFRAESTRUTURA toda a BNCC a partir de sua introdução
(BRASIL, 2018), sendo explicitada no
O Objetivo do Desenvolvimento Componente Curricular de Geografia,
Sustentável 9 busca: “Construir Unidade Temática “O Sujeito e seu lugar
infraestruturas resilientes, promover a no mundo”, Objeto de Conhecimento
industrialização inclusiva e sustentável e “Diferenças étnico-raciais e étnico-culturais
fomentar a inovação”. e desigualdades sociais”. Procurando atingir
que os alunos tenham a habilidade, em
Em relação a esta ODS observamos nas Ciências Humanas, de:
BNCCs no Currículo de Geografia, nas Unidade
Temáticas O Sujeito e seu Lugar no Mundo, “(EM13CHS403) Caracterizar e analisar os
Mundo do Trabalho, Natureza, ambientes e impactos das transformações tecnológicas
qualidade de vida o tratamento desta questão nas relações sociais e de trabalho próprias
em relação às infraestruturas de moradia e da contemporaneidade, promovendo ações
saneamento básico, industrialização, inovação voltadas à superação das desigualdades
na utilização de recursos. sociais, da opressão e da violação dos
Direitos Humanos.”
Comparando o ODS 9 e a BNCC, podemos
afirmar que existe uma coerência entre as Desta forma, podemos concluir que este
duas propostas em relação às competências objetivo para o desenvolvimento sustentável
a serem desenvolvidas na educação para está abordado nas BNCCs.
a inovação, assim como, em propostas
de Unidades Temáticas que abranjam o
processo de industrialização, infraestruturas CIDADES E COMUNIDADES
e inovações. SUSTENTÁVEIS
O Objetivo para o Desenvolvimento
REDUÇÃO DAS Sustentável “Cidades e Comunidades
DESIGUALDADES Sustentáveis” visa: tornar as cidades e
os assentamentos humanos inclusivos,
O objetivo pelo desenvolvimento seguros, resilientes e sustentáveis. Tratando
sustentável 10 (ONUBR, 2019) pretende desde a oferta de moradia nas cidades, sua
reduzir a desigualdade dentro dos países e sustentabilidade e inclusão.
entre eles. Neste objetivo, estão destacadas
o aumento de renda da população mais pobre, Em nenhum momento das BNCCs
empoderamento, inclusão social, econômica aparece a expressão “cidades sustentáveis”
e política, igualdade de oportunidades. ou “comunidades sustentáveis”. Porém, a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sustentabilidade permeia todo o currículo, AÇÃO CONTRA MUDANÇA


inclusive nos componentes curriculares de GLOBAL DO CLIMA
Ciências da Natureza e Matemática.
O Objetivo para o Desenvolvimento
Poderíamos ponderar se não seria desejável Sustentável 13 indica a necessidade de tomar
que nas Bases Curriculares Nacionais ocorre medidas urgentes para combater a mudança
a abordagem sistemática de soluções de climática e seus impactos, preparando as
problemas de sustentabilidade nas cidades comunidades para possíveis riscos relacionados
e comunidades, facilitando o alcance deste ao clima e às catástrofes naturais, reduzir
objetivo. impacto ambiental. (ONUBR, 2019)

A temática de mudança climática é


CONSUMO E PRODUÇÃO abordada no Componente Curricular de
RESPONSÁVEIS Ciências, 8º ano, Unidade temática, Terra e
universo, Habilidade
O Objetivo de Desenvolvimento
Sustentável “Consumo e produção “Discutir iniciativas que contribuam para
restabelecer o equilíbrio ambiental a partir da
responsáveis” busca: “Assegurar padrões identificação de alterações climáticas regionais
de produção e de consumo sustentáveis”. e globais provocadas pela intervenção humana.”
Com metas que abrangem desde redução MEC, 2018
do desperdício de alimentos, “manejo
ambientalmente saudável dos produtos Assim como é abordado no Componente
químicos” e outros resíduos, redução de Curricular de Geografia, 6º ano, Unidade
geração de resíduos por meio da “prevenção, Temática, “Natureza, Ambiente e Qualidade
redução, reciclagem e reuso” (ONUBR, 2019) de Vida”, Objeto do Conhecimento, Atividade
Humana e dinâmica climática” Habilidade:
Na Base Nacional Comum Curricular “Analisar consequências, vantagens e
(MEC, 2019), é possível observar a temática desvantagens das práticas humanas na
penetrando todos os Componentes e dinâmica climática” (MEC, 2018)
anos, como por exemplo, no Componente
Curricular Matemática, 6º ano, na habilidade: Em relação, às catástrofes naturais, a
abordagem do tema existe, porém não de
“Interpretar e resolver situações que envolvam forma a preparar a população para possíveis
dados de pesquisas sobre contextos ambientais,
sustentabilidade, trânsito, consumo responsável, catástrofes e redução de danos em acidentes
entre outros, apresentadas pela mídia em tabelas naturais provocados por mudança climática.
e em diferentes tipos de gráficos e redigir textos Tratado no Componente Curricular de
escritos com o objetivo de sintetizar conclusões.”
(MEC, 2019) Ciências, 7º ano, Unidades Temáticas, Vida e
Evolução, Habilidade:

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Revista Educar FCE - Abril 2019

“Avaliar como os impactos provocados


por catástrofes naturais ou mudanças nos de promover a melhor “conservação e uso
componentes físicos, biológicos ou sociais de um sustentável dos oceanos, dos mares e dos
ecossistema afetam suas populações, podendo recursos marinhos” pela população brasileira.
ameaçar ou provocar a extinção de espécies,
alteração de hábitos, migração etc” (MEC, 2019

VIDA TERRESTRE
VIDA NA ÁGUA O objetivo 15 para o desenvolvimento
sustentável visa:
O Objetivo do Desenvolvimento
Sustentável “Vida na Água” busca: a “proteger, recuperar e promover o uso
sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir
“conservação e uso sustentável dos oceanos, de forma sustentável as florestas, combater a
dos mares e dos recursos marinhos para o desertificação, deter e reverter a degradação
desenvolvimento sustentável” (ONUBR, da terra e deter a perda de biodiversidade”
(ONUBR, 2019)
2019). Abrangendo a prevenção e redução
da poluição marinha, assegurar oceanos
saudáveis e produtivos, combater a Este objetivo proposto aborda os
acidificação dos oceanos, acabar com a ecossistemas terrestres, sua conservação,
sobrepesca ilegal, aumentar benefícios utilização sustentável, reduzindo e eliminando
econômicos aos pequenos estados para formas de utilização predatórias. Em relação,
a pesca sustentável e cuidados marinhos, à Base Nacional Comum Curricular, este tema
implementação do direito internacional a é tratado de forma transversal no currículo
este respeito. do componente de Geografia e Ciências.
Entretando, não foi possível localizar uma
Esta ODS é abrangida por todo o abordagem sistemática e contextualizada
currículo proposto na Base Nacional Comum deste objetivo.
Curricular, como objeto de estudo de
alguns componentes curriculares - Ciências,
Geografia - e transversalmente todo o PAZ, JUSTIÇA E
currículo (MEC, 2019). Não foi possível INSTITUIÇÕES EFICAZES
localizar um tratamento mais aprofundado do
assunto, através da discussão dos recursos O Objetivo para o Desenvolvimento
oriundos do oceano e a degradação de sua Sustentável 16 propõe:
coleta, considerando que o Brasil é um país
costeiro e que a utilização do Oceano impacta “Promover sociedades pacíficas e inclusivas para
o desenvolvimento sustentável, proporcionar
economicamente o país. Poderia-se entender o acesso à justiça para todos e construir
que o tratamento deste Objetivo pela Base instituições eficazes, responsáveis e inclusivas
Nacional Comum Curricular não daria conta em todos os níveis”. (ONUBR, 2019)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Este objetivo trata da promoção do Estado de Direito, do respeito aos Direitos Humanos,
redução da corrupção e do suborno, direito a registro de identidade e certidão de nascimento
para todas as pessoas.

Em relação a cultura da paz, foi localizado na Base Nacional Comum Curricular,


Componente Curricular de História, 9ºano, objeto de conhecimento “A questão da violência
contra populações marginalizadas”, no Componente Curricular de Ensino Religioso, como
competência específica em relação a tolerância religiosa e cultura da paz.

Em relação à justiça, este conceito é abordado na Base Nacional Comum Curricular,


Componente Curricular de Educação Física, 3º a 5º ano, na Unidade Temática Dança, no 6º
e 7º ano, na Unidade Temática Lutas. Assim como princípio a ser discutido do Componente
Curricular de Ciências Humanas para os anos iniciais do Ensino Fundamental, e em diversos
momentos do Componente Curricular de Geografia e História.

A partir da análise do Currículo Proposto pelo MEC (MEC, 2019), podemos inferir que a
Base Nacional Comum Curricular trata das temáticas relacionadas a este Objetivo para o
Desenvolvimento Sustentável de forma sistemática e incisiva.

PARCERIAS E MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO


O Objetivo para o Desenvolvimento Sustentável 17 visa fortalecer e implementar os ODS
(ONUBR, 2019). Desta forma, não foi analisado frente a BNCC.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir deste estudo, foi possível verificar que a Base
Nacional Comum Curricular está parcialmente alinhada
com a Agenda 30 e os Objetivos para o Desenvolvimento
Sustentável. Alguns objetivos são totalmente contemplados
com abordagem multidisciplinar, transversal e sistemática
ao longo da escolarização dos alunos, enquanto outros são
abordados de forma pontual e alguns não são abordados.

MARCELA MOREIRA
CERENCIO

Graduação em Educação Física


pela Universidade de São Paulo
(2005); Graduação em Pedagogia
pela Universidade Paulista (2012);
Especialista em Gestão Escolar
pela Universidade da Cidade
de São Paulo (2012); Diretor de
Escola efetivo na EMEF Francisco
Alves Mendes Filho - Chico
Mendes; Supervisor Escolar
designado na Diretoria Regional
de Ensino Penha.

830
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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de fevereiro de 2019.

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Disponível em: http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home /library/ods/documentos-
tematicos--ods-1--2--3--5--9--14.html, acesso em 11 de dezembro de 2018.

ONUBR. Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://nacoesunidas.


org/, acesso em 02 de maio de 2019.

831
Revista Educar FCE - Abril 2019

TRANSTORNO DE DÉFICIT DE
ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
E O PROCESSO EDUCACIONAL
RESUMO: O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, doravante, TDAH tem
sido o foco de inúmeros estudos científicos, buscando convergir para um ponto comum
às diversas opiniões divergentes sobre como ela se relaciona com a escola, família, suas
características e os danos causados no indivíduo. O TDAH não é considerado um transtorno
de desenvolvimento infantil por toda a sociedade. Este estudo evidencia o papel importante
que a sociedade e a família exercem sobre a vida de uma criança que desenvolve traços
característicos de TDAH, são tão importantes quanto o papel do educador que lida com esta
criança e tem a responsabilidade de educá-la formalmente, e que precisam de uma prática
pedagógica sistematizada. Serão apresentadas leis que amparam a criança com TDAH e
processos avaliativos que contribuem no processo de diagnóstico realizado por profissionais
especializados.

Palavras-Chave:Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); Prática do


Ensino; Pedagogia.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO os aspectos relevantes do TDAH para melhor


conduzir o processo educativo.
Um dos fatores que se relaciona diretamente
com a dificuldade de aprendizagem é o Este artigo é dividido em duas partes
TDAH. Crianças que apresentam traços principais que se correlacionam entre si, não
característicos de hiperatividade e sendo uma divisão, mas parte integrante
desatenção em via de regra apresentarão em de um todo. A primeira parte trata de uma
algum momento dificuldades para aprender. contextualização do TDAH, envolvendo
Porém, é importante salientar que as conceito, comorbidades e suas características,
dificuldades nos processos de aprendizagem visando sempre apresentar informações com
não são características incontestáveis em embasamento científico. E a segunda trata
indivíduos portadores de TDAH, ou seja, prioritariamente dos processos educativos,
as dificuldades que surgem por meio da orientações educacionais e as leis que
falta de atenção podem ser superadas amparam os portadores de TDAH.
em consequência de uma boa capacidade
intelectual da criança, seu próprio interesse
em aprender, e também uma didática de CONCEITO DE TRANSTORNO
ensino adequada para o mesmo. DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E

“Toda criança tem direito a educação e HIPERATIVIDADE (TDAH)
ao acesso ao conhecimento.” Essa é uma Antes de adentrar na relação entro TDAH
frase retirada da Declaração de Salamanca e o processo de aprendizagem, é essencial
de Princípios, Políticas e Práticas das distinguir o que é o transtorno.
Necessidades Educativas Especiais (1994
– Espanha). Ainda de acordo com o MEC, O Transtorno de Déficit de Atenção e
a educação formal de portadores de TDAH Hiperatividade conhecido como TDAH
se dá por meio das instituições públicas ou gera muitas discussões entre estudiosos e
privadas de ensino, que pressupõe nivelar os educadores são estimados que cerca de 3 a
modos e condições o mais próximo possível 6% das crianças em fase escolar apresentam
dos modos e condições das crianças não sintomas de TDAH, e muitas delas não tem
portadoras do transtorno. (MEC, Secretaria um diagnóstico fechado e acabam sendo
de Educação Especial, Livro 1,1994, p.66). rotuladas e estereotipadas, causando vários
problemas emocionais e de autoimagem.
Baseado no princípio acima mencionado é
ideal que se assegure o direito das crianças De acordo com Sena & Neto (2007, p.21)
portadoras de TDAH o acesso a um ensino o TDAH pode ser definido como:
formal de qualidade, para que este direito
seja assegurado é imprescindível conhecer A dificuldade de prestar atenção a detalhes ou
errar por descuido em atividades escolares e

833
Revista Educar FCE - Abril 2019

de trabalho; dificuldade para manter a atenção


em tarefas ou atividades lúdicas; parecer somente em crianças, mas também em adultos,
não escutar quando lhe dirigem a palavra; tais como o TDAH com hiperatividade, sem
não seguir instruções e não terminar tarefas hiperatividade, do tipo desatento e assim
escolares, domésticas ou deveres profissionais;
dificuldade em organizar tarefas e atividades; por diante. “A determinação final de que uma
evitar, ou relutar, em envolver-se em tarefas criança se enquadra ou não nesse diagnóstico
que exijam esforço mental constante; perder precisa estar baseada na integração de todos
coisas necessárias para tarefas ou atividades; e
ser facilmente distraído por estímulos alheios à os dados coletados.” (PHELAN, 2005, p.97)
tarefa e apresentar esquecimento em atividades
diárias. (SENA & NETO,2007,p.21) De acordo com Rohde et al (2003) os
sintomas são decorrência de problemas de
Além das características de falta de funcionamento do cérebro e que a origem
atenção, existem outros fatores como provável destes sintomas sejam a alteração
a hiperatividade e a impulsividade, que dos neurotransmissores localizados no
segundo Sena e Neto (2007, p.22) podem lobo frontal, região responsável pelas
ser definidos como: funções cognitivas: atenção, percepção,
planejamento, organização e etc. Que são
Agitar as mãos ou os pés ou se remexer na totalmente comprometidas pelo distúrbio.
cadeira; abandonar sua cadeira em sala de
aula ou outras situações nas quais se espera
que permaneça sentado; correr ou escalar
em demasia, em situações nas quais isto é CAUSAS E DIAGNÓSTICO
inapropriado; pela dificuldade em brincar ou
envolver-se silenciosamente em atividades de DO TDAH
lazer; estar frequentemente “a mil” ou muitas
vezes agir como se estivesse “a todo o vapor”; e Os estudos mais criteriosos sobre o TDAH
falar em demasia. Os sintomas de impulsividade
são: frequentemente dar respostas precipitadas datam a partir da década de 90. Um grande
antes das perguntas terem sido concluídas; com número de pesquisas já foi realizado, mas
frequência, ter dificuldades em esperar a sua ainda não é possível determinar precisamente
vez; e frequentemente interromper ou se meter
em assuntos dos outros. (SENA & NETO, 2007, a causa do TDAH.
p.22)
As causas, de acordo com estes estudos,
Para Phelan (2005 p.68) a herança genética podem ser genéticas, biológicas e ambientais,
não é o único fator determinante para o e este último está diretamente ligado a
desenvolvimento do TDAH, mas é o de fato fatores como ambiente familiar violento ou
mais relevante. A hereditariedade não pode desestruturados, problemas decorrentes da
ser a única explicação para todos os casos de classe social mais baixa, por exemplo.
pessoas portadoras do transtorno.
Como causas genéticas, Gaião e Barbosa
É um distúrbio que apresenta vários tipos et al (2005, p. 15) cita:
de intensidade e pode se apresentar não

834
Revista Educar FCE - Abril 2019

O comportamento dos pais, aflitos e agitados,


pode proporcionar que uma criança tenha obtenha o máximo de dados possíveis para
hiperatividade, e esta criança, mesmo não que o diagnóstico possa ser feito de forma
existindo outros membros na família com TDAH, segura.
pode desencadear problemas comportamentais
em outros membros, pela difícil convivência
e pelo ambiente caótico que geram. (GAIÃO E Alguns estudos apontam que a taxa de
BARBOSA et al, 2005, p.15) prevalência do TDAH se dá em maior grau em
meninos do que em meninas. Em meninas,
Causas biológicas: de acordo com Rohde et al (2003), os
estudos apontaram que o tipo mais comum
1. Altos níveis de chumbo no sangue é o desatento e possuem um risco menor de
podem produzir transtornos cognitivos. desenvolver comorbidades como transtorno
(Barkley,2002) bipolar, transtorno de conduta e transtorno
desafiador de oposição.
2. Crianças que são expostas a perdas
ou separações precoces. Os estressores O estudo também aponta que em meninos
sociais devem de alguma forma acentuar os a taxa de distúrbios de aprendizagem e
sintomas de TDAH. problemas comportamentais são maiores em
relação às meninas.
3. Substâncias ingeridas na gravidez
Barkley (2002) descreve que crianças Portanto, o diagnóstico de TDAH deve
nascidas de mães alcoólatras apresentam ser feito por um profissional especializado
maior risco de comportamentos hiperativos. e envolve uma observação sistemática
acompanhando de diversos instrumentos de
Na visão de Phelan (2005) o diagnóstico avaliação.
de TDAH não é comum e não se faz por meio
de testes físicos e psicológicos em clínicas
especializadas, uma vez que não existe um TIPOS DE TDAH
teste específico que comprove a existência
do transtorno no paciente. Mesmo no De acordo com o IPDA – Instituto Paulista
momento da entrevista a criança pode ter um de Déficit de Atenção, O TDAH pode ser
comportamento totalmente diverso do que dividido em três classificações:
costuma apresentar em outros ambientes.
1) Desatento
Segundo Rohde et al (2003), a dificuldade • Desvia facilmente a atenção do que
em lidar com o TDAH está diretamente está fazendo. Distrai-se com qualquer
relacionada a impossibilidade do profissional estímulo seja interno ou externo.
da área médica em dar um diagnóstico com • Dificuldade de concentração em
precisão. É importante que a equipe médica palestras, aulas e leituras de livros.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

• Às vezes não parece ouvir quando são COMORBIDADES


chamados.
• Durante uma conversa em grupo Para adequar a melhor prática pedagógica,
costuma se distrais. é importante reconhecer o transtorno e suas
• Reluta em iniciar tarefas que exijam comorbidades.
longo esforço mental.
• Dificuldade em seguir instruções. É um transtorno que raramente se apresenta
• Dificuldade em organizar-se com de forma isolada, vem sempre acompanhado
objetos e planejamento do tempo. de outros distúrbios/transtornos. Segundo
• Problemas com memória de curto Souza e Pinheiro (2003, p.85) “co-morbidade
prazo. é o termo utilizado para designar a ocorrência
de dois ou mais transtorno em um mesmo
2) Hiperativo- Impulsivo indivíduo”.
• Inquietação: Musculatura tensa,
sempre agitado mesmo sentado. Dificuldade As comorbidades mais frequentes são:
em permanecer parado. 1- Transtorno de Ansiedade
• Realiza várias tarefas ao mesmo 2- Depressão
tempo. 3- Transtorno Obsessivo Compulsivo
• Consegue ler, assistir televisão e ouvir 4- Tics Motores
música ao mesmo tempo. 5- Síndrome de Tourrete
• Come, fala e compra compulsivamente. 6- Transtorno de Humor Bipolar
São estressados e ansiosos. 7- Transporto Opositor Desafiador
• Tendem para o álcool, drogas, jogos, 8- Transtorno de Conduta
internet e etc. 9- Transtorno de Aprendizagem
• Interrompem a fala do outro.
• Prolixidade ao falar. Dentre a lista acima, o que mais interessa
• Impaciência. a este estudo diz respeito aos transtornos
• Instabilidade no Humor. de aprendizagem. De acordo com Rohde et
• Dificuldade em expressar-se. al (2003), os transtornos de aprendizagem
• Temperamento Explosivo. são abordados pelos principais manuais
• Sexualidade Instável. internacionais de diagnóstico, sendo eles:
• Hipersensibilidade: Melindroso. CID-10 da Organização mundial de Saúde
(OMS) e o DSM-IV da Associação Psiquiátrica
3) Compulsivo Americana.
• Apresenta as características do
desatento, hiperativo e impulsivo. [...] Os Transtornos de Aprendizagem são
diagnosticados quando os resultados em testes
padronizados e individualmente administrados
de leitura, matemática ou expressão escrita
estão substancialmente abaixo do esperado

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Revista Educar FCE - Abril 2019

para sua idade, escolarização ou nível de


inteligência. Os problemas na aprendizagem ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
interferem significativamente no rendimento
escolar ou nas atividades da vida diária que
A FAMÍLIA E A ESCOLA
exigem habilidades de leitura, matemática ou
escrita. Em presença de um déficit sensorial, as O papel da família no processo de
dificuldades de aprendizagem podem exceder aprendizagem é essencial. Uma criança
aquelas habitualmente associadas com o déficit independente de ser portadora ou não de
de atenção. Os transtornos de aprendizagem
podem persistir até a idade adulta. (ROHDE ET necessidades especiais precisa se sentir
AL, 2003, p. 109) amparada, amada e protegida, um papel que
deveria ser desenvolvido no seio da família.
Segundo os dois documentos, os
transtornos de aprendizagem podem ser Existem diversas leis que amparam não
classificados dentro do universo: da leitura, somente as crianças, mas as crianças com
da escrita e das habilidades matemáticas. necessidades especiais. Junto com a família,
a escola é o local em que a criança receberá
A complexidade dos transtornos exige educação formal. De acordo com o artigo
uma avaliação neurológica, psiquiátrica, 4º da lei de Diretrizes e Bases da Educação
visual, auditiva, intelectual e emocional para Nacional (LDBEN), paragráfo III, (p.2) que “
saber se o prejuízo em outras áreas justifica o atendimento educacional especializado
o mau desenvolvimento escolar. Os níveis gratuito aos educandos com necessidades
de comprometimento que os transtornos especiais, preferencialmente na rede
causam são classificados como leves regular de ensino”. Desta maneira, o aluno
moderados ou graves. desenvolverá os quatro pilares de educação:

O fato de as crianças apresentarem TDAH, não a) Aprender a conhecer


significa que ela terá dificuldade no processo de b) Aprender a fazer
aprendizagem. No entanto, a escola independente c) Aprender conviver com outros
da dificuldade do aluno, deve promover o acesso d) Aprender a ser
ao conhecimento, entendendo as dificuldades
e buscando meios para que todos alcancem E desta forma formaremos um cidadão
resultados satisfatórios. com opinião e pensante. A criança portadora
de TDAH precisa que os pais e a escola
Compreender e conhecer o TDAH não tem trabalhem unidos a fim de que o aluno
um fim diagnóstico, mas o objetivo de obter alcance sucesso em sua empreitada.
conhecimento para lidar com um problema
tão comum, conhecendo e viabilizando Segundo o Estatuto da Criança e do
medidas e planos de ação e atuação Adolescente (ECA), no artigo 53:
pedagógica coerente com a realidade e
necessidade de cada um dos alunos. A criança e o adolescente têm o direito à
educação, visando ao pleno desenvolvimento de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:
I) Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II) Direito de ser respeitado por seus educadores
III) Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores
IV) Direito de organização e participação em entidades estudantis
V) Acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar
da definição das propostas educacionais. (ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE, ARTIGO 53)

De acordo com Martins (2008), não é possível pensar em apenas um tipo de ensino padrão
e universal, não há apenas uma forma de ensinar indivíduos tão particulares e diversos entre
si. Essas diferenças devem ser atendidas e respeitadas. No tocante ao direito de educação
igualitária, as crianças com TDAH, são amparadas por lei que regem os princípios da Educação
Especial.

As crianças com TDAH tem o direito de serem tratadas como cidadãos, com acesso ao
conhecimento de forma igualitária sem serem estereotipadas e /ou rotuladas simplesmente
como incapazes. Em 1994, um dos documentos mais importantes no que diz respeito a
pessoas com deficiência foi criado, trata-se da Declaração de Salamanca, e com respeito a
educação igualitária afirma:

[...] As escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais,
sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem dotadas;
crianças que vivem nas ruas ou que trabalham; crianças de populações nômades; crianças de minoria
linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas, desfavorecidos ou marginalizados.
(DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p.18)

É necessário que a criança receba todo o apoio necessário para realizar suas atividades,
mesmo com suas limitações. As lições de casa, geralmente, não são concluídas pelo portador
de TDAH, mas os pais podem auxiliá-los, incentivá-los e apoiá-los de modo que o lar seja uma
extensão da escola. Um trabalho em conjunto permitirá que esta criança se sinta segura e
amparada, desenvolvendo uma relação de confiança entre os envolvidos que impulsionarão
seu desenvolvimento.

É essencial também, que educadores, sejam professores, coordenadores e psicopedagogos


reflitam sobre a sua prática pedagógica: a maneira como falam com os alunos, a forma como
conduzem a sala, as relações interpessoais entre os alunos e as práticas de ensino, isso é
determinante para uma experiência prazerosa ou um trauma profundo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo demonstrou que uma criança portadora
de TDAH pode passar por diversos tipos de dificuldade em
sua vida escolar; com isso um trabalho em conjunto entre
escola e família faz toda a diferença no sucesso de formação
deste indivíduo.

Levar em conta habilidades pessoais, forma de aprendizado


diversificada e respeito às limitações dos portadores de
TDAH pode influenciar positivamente o desenvolvimento do MARCIA AMANDA
educando. Não obstante, os pais devem oferecer o suporte PAULA TEIXEIRA
necessário para que a criança tenha o impulso e apoio
Licenciatura em Ciências
necessários para enfrentar suas dificuldades que ultrapassam Biológicas, pela Universidade
além das dificuldades formais de apenas aprender ler e Guarulhos, 2018; Licenciatura
escrever. em Pedagogia pela Universidade
Cidade de São Paulo, 2013;
Especialista Educação Inclusiva
As comorbidades relacionadas ao transtorno também pela Universidade Centro
trazem grandes obstáculos a este indivíduo que deve Universitário Adventista de São
Paulo, 2009; Professora de Ensino
superar e conseguir realizar os estudos de forma completa Fundamental II na disciplina de
e satisfatória. Ciências, no Colégio Adventista
de São Miguel Paulista. Professora
de Ensino Fundamental I na Escola
A escola também tem um papel fundamental de amparo e Municipal de Ensino Fundamental
realização de diversas atividades que auxiliem esta criança a Professor José Bento de Assis.
superar suas dificuldades e obter êxito ao final de sua vida
escolar. Um pensamento muito sugestivo de Augusto Cury
(2003, p.69) “a memória humana é um canteiro de informações e experiências para que
cada um de nós produza um fantástico mundo de ideias” este deve ser o alvo maior nos
envolvidos na formação educacional de uma criança com necessidades especiais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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1- MEC, SEESP. Brasília, 1996. Disponível no site: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/
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Básica, Brasília, DF,2001. Disponível no site: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-
perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192. Acesso em 18 FEV;2019

BRASIL. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional dos Direitos Humanos. Declaração de


Salamanca e linha de ação, Brasília, DF, CORDE, 1994. Disponível em: http://portal.mec.gov.
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Acesso em 18 FEV; 2019

BRASIL, Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência. Brasília, DF, CORDE, 2007. Disponível no site: http://www.
pessoacomdeficiencia.gov.br/app/publicacoes/convencao-sobre-os-direitos-das-pessoas-
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CURY, Augusto Jorge,1958 – Pais Brilhantes, Professores Fascinantes/Augusto Cury. – Rio


de Janeiro: Sextante, 2003

MARTINS, Stadler Mikoski Cláudia. Discussões Internacionais e a Legislação Nacional em


relação á Educação Especial. In: Políticas Publicas de Educação Especial e o Transtorno
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Universidade Tuiuti Paraná, Curitiba, 2008. p. 41-48. Disponível no site: http://www.unifan.
edu.br/files/diracademica/TCC%20Pedagogia%20Camila%20Caetano%202011%201.pdf .
Acesso em 18 FEV; 2019

PHELAN, Thomas. TDA-TDAH. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. São


Paulo: Ed. M, Books do Brasil, 2005.

RHODE, Luis Augusto. Princípio e práticas em transtono de deficit de atenção/hiperatividade


/ Luis Augusto Rohde e Paulo Mattos... [et al]. Poto Alegre: Artmed, 2003

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Revista Educar FCE - Abril 2019

SENA, Simone da Silva. Distraído e a 1000 por hora: guia para familiares, educadores e
portadores de transtorno de deficit de atenção/hiperatividade/ Simone da Silva Sena,
Orestes Diniz Neto. – Porto Alegre: Artemed, 2007

UNICEF. Declaração Universal dos Direitos das Crianças. 1959. Disponível no site: http://
www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/c_a/lex41.htm Acesso em 18 FEV; 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A INTERAÇÃO DAS
CRIANÇAS COM A ARTE
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo trazer o papel do professor dentro da sala de
aula, que é observar e escutar o que as crianças deixam transparecer ao longo do percurso,
pois cada criança é um universo de expressões, oferecendo diferentes pontos de partida para
o professor criar diversas ações poéticas e momentos de interação, ampliando as ideias e a
imaginação das crianças, encorajando-as a fazer perguntas, por meio de projetos, buscando
sua realização. Sendo importante que o professor crie oportunidades que ofereça tempo
para que as crianças consigam realizar seus trabalhos. Diversas criações artísticas marcaram
a história da humanidade, por vezes influenciando toda uma geração. As pessoas que se
envolvem com a linguagem das artes geralmente são mais sensíveis e observadoras, por
isso é tão importante levar a arte para dentro das salas de aula de educação infantil. Somos
intérpretes dos cenários sociais e de diferentes manifestações culturais.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Arte; Desenvolvimento; Educação; Interações.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Não somos apenas professores,


somos filhos, pais, tios, avós e até por
Vivemos num mundo repleto de vezes profissionais de outras áreas para
informações visuais, que podem se complementarmos a nossa renda, e não
transformar em possibilidades de podemos separar todas essas características
investigação para a formação em arte. para sermos apenas professores, nem por
algumas horas do dia.
Quando observamos, organizamos e
desorganizamos o mundo, podemos trazer Quando convivemos com crianças
diversos elementos para estudarmos, desde pequenas há um mundo de inspiração para
aspectos relativos à natureza ou até a mais muitas realizações, pois nos influenciam
ampla expressão até sua selvageria, com diretamente qualquer percurso criador como
riqueza em referências e materiais. artista, ao convivermos com elas nossos
pensamentos e percepções são cada vez
Estamos expostos diariamente e a maneira mais elevadas.
como cada um as observa e seleciona o
que ver são outras formas de despertar Tanto na educação como nas artes pode
o interesse e o envolvimento no ensino e haver muita vitalidade, ao escolarizar
aprendizagem de arte. mecanicamente a arte, acabamos criando
diversos núcleos de desvitalização, que
Dentro do universo infantil uma mera acabam contaminando lugares com rigidez e
folha caída pode evoluir e render diversas aridez.
brincadeiras, conversas e trabalhos.
O objetivo desse trabalho é fazer com
O envolvimento do professor é que não enrijecemos a educação, a alegria
indispensável para que o ensino da arte acaba não entrando mais na escola, ficamos
proporcione às crianças momentos de fechados sem ouvirmos as crianças, havendo
interação e um aprendizado significativo. uma grande perca da alegria e vitalidade das
mesmas, os seus olhares curiosos, as suas
Como cada indivíduo é um ser único, fantasias, diminuindo os seus pensamentos
trazendo diversas vivências que se expressam criativos.
na forma como interagem com os demais.
É preciso mostrar aos professores que
Novas ações estão sempre relacionadas à devem aproveitar ao máximo quando as
nossa memória às nossas experiências já vividas, crianças ainda são pequenas, pois o tempo
sentimentos em todas as áreas de nossa vida, voa e precisamos usar a chance de vivermos
assim como nossa respiração, circulam, estando momentos de cumplicidade com elas.
sempre em movimento, não conseguimos separar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Esse trabalho tem como objetivo de A EDUCAÇÃO E A ARTE


ampliar e desafiar os profissionais que
trabalham com educação de crianças A arte consegue dialogar com as crianças,
pequenas, a arte precisa ser habilitada não por meio dela podemos tratar de todos os
só por quem trabalha com ensino, pois está assuntos do mundo, assim como os artistas as
presente no mundo, em que tudo que nos crianças não se preocupam com as fronteiras
rodeia, nos tocando e influenciando. entre as linguagens.

Esse trabalho tem como objetivo O trabalho com artes acaba por oportunizar
específico mostrar a importância da arte para diversas vivências em autoestima e
as crianças, pois elas criam arte brincando, e diferentes aprendizagens, por meio de vários
tanto a brincadeira como a arte desenvolvem procedimentos, inúmeras atividades que
diversos aspectos nas crianças. podemos trabalhar com nossas crianças,
jogos lúdicos e brincadeiras coletivas.
Esse trabalho se justifica pela importância Conseguimos coletar muitas atividades só
que a arte tem nas nossas vidas, pois desde observando as crianças quando brincam, e
uma simples embalagem tem alguma arte, com isso elas aprendem a utilizar diversos
até mesmo obras de museu, tudo é pensado materiais, sendo capaz de resolver diversos
de forma criativa, artística, tentando fazer problemas, utilizando a criatividade e
com que determinado produto seja perfeito abstraindo; sendo capaz também de expressar
na foto, precisamos trabalhar mais arte seus sentimentos, e suas opiniões, além de
dentro das escolas, mostrando o quanto fazer inúmeras perguntas complexas para
erámos enganados nas pinturas de fatos conseguir e aprender as opções disponíveis
que ocorreram à muito tempo e descrever na resolução de algum problema que surgiu
corretamente a história. no seu brincar.

Infelizmente a arte ainda é tratada como A educação deve se conectar com o tempo
matéria curricular, mas que não tem tanta em que esta, assim como a arte que vai
importância como Português, Matemática trabalhando com aquilo que tem, com os mais
e algumas outras, sendo tratada como uma variados aspectos da vida dos indivíduos,
distração para as crianças e não tendo a ressoando nas poéticas dos artistas,
importância correta. nos aspectos sociológicos, científicos,
antropológicos e do cotidiano, qualquer
Muitas famílias desconsideram a aula assunto pode ser trabalhado dentro da arte,
de arte dentro da escola, por não se tratar como todas as outra áreas, permeando o dia
de nada que fará com que a criança ganhe a dia das crianças e a comunidade em que
dinheiro, é mais importante que saiba ler, vive.
escrever e fazer contas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A arte como um todo tem muito à ensinar simultaneidade nos acontecimentos, muitos
sobre como lidar tanto com o passado que acontecimentos acontecem ao mesmo
foi sendo registrado em diversas obras e tempo, podendo interferir uma nas outras.
até mesmo o nosso presente, percebendo
caminhos de diálogos e formas de devaneios, Com as crianças acontece o mesmo, elas
que nos levem a diferentes possibilidades de cantam enquanto desenham, levantam para
agir, e maneiras de olharmos para as questões dançar e possuem uma atenção ampliada
para as questões para poder solucionar podendo perceber diferentes situações
problemas atuais das formas mais inusitadas. ao mesmo tempo e até ouvirem conversas
paralelas e comentarem essa conversa.
As crianças pequenas são sinestésicas,
pois seus sentidos estão despertos a cada Infelizmente em algumas escolas o
momento, tudo é interessante, a curiosidade impulso das crianças acaba sendo represado,
é uma característica muito importante nas há nas crianças uma necessidade potente,
crianças, fazendo com que elas façam diversas conectada, presente de movimento
indagações sobre o que as rodeia, colocando- constante, não tendo espaço e nem lugar
as sempre em movimento. As crianças são para desenvolverem suas habilidades.
tomadas por inúmeros interesses, adoram
escalar, correr, abrir e fechar caixas e garrafas, Os professores precisam reconhecer que
o brincar é muito importante, ver animais as crianças pensam de forma peculiar que
de jardim, animais livres e até mesmo um precisa ser levada em conta nas condições
avião é demasiadamente interessante para a que oferecemos a elas dentro das escolas de
observação das crianças. educação infantil.

Para as crianças arte geralmente significa Dentro das Leis de Diretrizes e Bases (LDB
uma bagunça, pois muitas são chamadas 9394/96) que estabelecem orientações
pelos adultos de arteiras, mas se formos para a educação nacional e relacionam-
pensar tanto a arte como as crianças são se diretamente com o Ensino das Artes ao
pura expressão, tendo uma afinidade enorme afirmarem os princípios de que:
por conta da espontaneidade, da capacidade
de comunicação, do diálogo como o mundo, A educação deve ter abrangência de processos
formativos pelas manifestações culturais; que é
com a vida e ambas se alimentam da mesma um fim da educação “a liberdade de aprender,
fonte. ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber”. (GOVERNO
FEDERAL, 1996).
Os artistas plásticos na sua maioria não
colocam fronteiras em seus trabalhos,
construindo diferentes obras com diferentes As criticas pelo ponto de vista de todas as
materiais, mas na vida, há permeabilidade e linguagens artísticas, acaba se tornando uma

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Revista Educar FCE - Abril 2019

realidade. Podemos pontuar uma falha que tentando transmitir pelo seu desenho, como
reflete na distância entre a teoria descrita e as obras de arte as crianças também pedem
a prática na linguagem específica do Teatro. uma interpretação ativa, solicitando que
o professor seja um interprete para seus
O professor deve ajudar as crianças a desenhos e trabalhos.
realizarem suas ideias, as crianças assim
como os artistas sabem o que querem e o que Muitas crianças perguntam se ficou
precisam para concluírem seus trabalhos. bonito, se o professor conseguiu descobri
o que ela desenhou, essas interpretações
Pelos desenhos das crianças podemos se transformam em ações que oferecem
observar algumas questões sobre suas vidas, ferramentas necessárias para que as crianças
geralmente contam algo seus desenhos, interajam com o mundo e a arte é uma
misturando fantasia com realidade. ferramenta muito importante.

A escola precisa se tornar um espaço É interessante que a criança seja


para construção e reconstrução do mundo, apresentada às diferentes linguagens
podendo falar sobre sua vida e se sentir artísticas, propiciando a ela uma expressão
pertencente a essa comunidade, um lugar singular de cada indivíduo, ao mesmo tempo
para livre expressão, para ampliação dos em que exercita as atividades coletivas,
horizontes infantis. participando da vida dentro da comunidade
a qual pertence.
O professor precisa estar atento a como
são diferentes das crianças, com maneiras O mundo em que vivemos não diferencia
singulares de se expressar, uns utilizam a mais os mundos (das crianças e dos adultos),
pontinha do lápis para desenhar enquanto as crianças estão perdendo muito com tudo
outro precisa rabiscar, por ter tanta energia isso, a infância esta desarticulada do seu
acaba precisando se expressar dessa forma sentido.
mais contundente e precisamos olhar esses
diferentes territórios com diferentes formas Pelo menos as escolas e os professores
de se expressarem, não tendo a maneira de precisam preservar o universo da criança,
certa de se fazer um desenho, sem criticar e para que essa possa brincar e exercitar a sua
sem dar opiniões que possam fazer com que potência de inventar e construir.
as crianças se fechem numa ostra.
No universo escolar, temos questões de
Quando o professor cria o território tempo, espaço, estrutura e falta de materiais,
de pertencimento, acaba ficando mais mas é possível inovarmos com parcerias
sensível às necessidades de cada criança, dentro de uma instituição, de um sistema,
escutando, percebendo, o que ela esta desenvolvendo, costurando parcerias,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

dando a qualquer professor a chance em ser seu currículo, compartilhando e ensinando


um professor, pois para ser um docente é toda essa variedade cultural para as crianças.
necessário mais de um indivíduo. Dentro da
escola todos são educadores pois ensinam à Todos os adultos precisam aprender
sua maneira sobre como estar e se portar no que as crianças possuem um frescor uma
mundo. comunicação direta.

A relação entre arte e cultura é muito As aulas de arte tem objetivos conceituais
peculiar, a arte é a singularidade da que desenvolvem as capacidades para
experiência e a cultura é compartilhada da trabalhar com artes visuais na educação
sociedade. infantil; reconhecendo a importância de
apresentar obras de artistas importantes,
A cultura acaba integrando as propondo as crianças uma releitura de
singularidades e vai muito além delas. determinada obra; fazendo com que
adquiram conhecimentos que proporcionem
A arte e a acultura vão se constituindo, diversas experimentações em desenho,
de alimentando das experiências singulares, pintura, escultura, recorte e colagem, pois
criando experiências coletivas. a releitura não necessariamente precisa
utilizar o mesmo material que a obra foi
Toda crianças é rica em cultura e dentro feita, fazendo com que seja uma experiência
da escola toda essa cultura trazida por cada muito rica em detalhes e sensações para as
indivíduo pode ser incluída no currículo, crianças.
fazendo com que o trabalho acabe singular,
sendo um currículo vivo, feito por todas as
crianças e pessoas da escola. OS BENEFÍCIOS DO
TRABALHO COM ARTES
As cantigas, as histórias, os brinquedos
e as brincadeiras da cultura na infância são As oportunidades e vivências em
trazidos por todos adultos que trabalham autoestima e as aprendizagens, por meio de
na escola por isso que há diferenças nos procedimentos, atividades de artes, jogos
repertórios das canções entre as escolas pois lúdicos e brincadeiras coletivas. Podemos
cada professor apresenta o que conhece, e coletar muitas atividades que a criança de
cada criança traz o que aprendeu em outros cinco anos pode aprender e utilizar; ela
lugares, com pessoas da família geralmente. será capaz de resolver problemas criativos e
abstratos; também é capaz de expressar suas
Cada indivíduo tem um repertório que fica opiniões e de fazer perguntas complexas
perdido na memória, é preciso que a escola para saber as opções disponíveis.
utilize esse repertório para fortalecer assim

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A criança prefere realizar atividades o resultado das releituras de obras de arte


que envolvam outras crianças, porque pelas crianças.
são sociáveis, nesta etapa de seu
desenvolvimento. Pode falar com clareza Uma das vivências propostas para
orações complexas e compostas; apresentam se incrementar e tornar a história mais
um bom vocabulário. Sabe esperar a sua encantadora consistia em dividir a turma em
vez e ter conversas com uma pessoa ou em duplas, nas quais cada criança contaria de
grupo, quando bem orientadas e conseguem improviso um relato fictício em um ambiente
já traduzir em palavras algumas sensações. escolhido, dentre os propostos: praia, circo,
parque, fazenda, cidade, etc.
Os objetivos conceituais das aulas de arte
são desenvolver capacidades para trabalhar Vygotsky (1998) considerou que, criança
com artes visuais na educação infantil; avança muito bem na linguagem oral, uma
reconhecer a importância de apresentar preparação para sua fase posterior que será
obras de artistas importantes, propondo as a da leitura e escrita. Sabe que as letras
crianças a releitura dessas obras; adquirir representam sons nas palavras faladas. Por
conhecimentos para proporcionar as crianças isso, pronunciará com precisão a maioria das
experimentações em desenho, pintura, palavras.
escultura, recorte e colagem.
Passam a identificar alguns pontos e
Os objetivos procedimentais que situações que estão em seu cotidiano e
esperamos das crianças é que saibam: parcialmente, como as coisas e objeto
organizar materiais e suportes que funcionam. Começam a dizer e a entender
proporcionem as crianças uma diversidade a hora e o conceito social de tempo. Nessa
de experimentações; demonstrar interesse idade, a criança tem a motricidade grossa e
em ampliar seus conhecimentos e atividades fina bem controlada, por isso pode aprender
de artes visuais; trabalhar conceito de a andar de bicicleta, nadar, pular corda, jogar
releitura de uma obra artística de acordo com bola, correr e também, pintar vestir e tirar
o entendimento infantil a partir de materiais a roupa das bonecas, desmontar e montar
diversos. brinquedos.

Com relação às atitudes que esperamos Segundo Vygotsky (1998), as crianças
que as crianças aprendam estão: contribuir podem entender de forma mais distinta
para o desenvolvimento da imaginação, alguns sentimentos e gerenciá-los com mais
atenção, criatividade, concentração, independência. Sendo assim, serão capazes
expressão artística, percepção visual, noção de se acalmarem sozinhas, resolver alguns
espacial; apreciar e expor os resultados dos conflitos, antes de buscar a ajuda de um
trabalhos artísticos das crianças; valorizar adulto.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Toda criança é curiosa por natureza, e, diante de tudo o que acontece a sua volta, pergunta
às pessoas tudo que observa; necessidades iniciam a fase dos “porquês”, e querem saber
sobre tudo, situações que não se pode coibir e sim, saber lidar, com determinados assuntos
que ainda não são pertinentes a sua idade.

Todas as atividades ministradas por meio das programações e planejamentos sobre


a Arte e suas significações; podem enriquecer sua circulação, suas produções, mostrou-
nos que as mesmas serviram de função social, para apreenderem o mundo e confirmarem
suas abstrações e pensamentos sobrea leitura das imagens das Artes visais, num mundo
de adultos, por vezes cinzento e concreto demais, na qual a cultura oral e, especialmente,
a escrita é importante para a formação ideológica e alcance do sonho de ascensão, social
diante da transformação de suas realidades, por meio da educação.

Potencializando outros aspectos de sua inteligência, para que futuramente possam
continuar pensando e desenvolvendo sua criticidade. Neste momento se faz necessário
ensiná-las a expressar seus sentimentos, para que possam também, compreender aos dos
outros.

Entendendo suas emoções e à medida que vão crescendo, sejam capazes de controlar
seus impulsos e expressá-las diante de determinadas circunstâncias.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os professores precisam aproveitar quando as crianças
estão concentradas em alguma ação, pois é por meio desses
momentos que trazem a eternidade consigo, as crianças
se entregam por inteiro, fazendo dessa atividade a mais
importante naquele momento, vivendo a eternidade, com
plenitude.

É necessário que o professor aproveite esses momentos


para contribuir para a formação das crianças, pois essas MÁRCIA BORAGINA
experiências se impregnam nelas, sendo por isso que o
Graduação e Bacharelado em
ensino da arte na educação infantil precisa de uma maior Educação Artística pela Faculdade
atenção, precisando de estudos sobre o assunto, e mesmo São Judas Tadeu (1994).
que a escola não tenha um espaço adequado, adequar a Especialista em Psicopedagogia
Clínica e Institucional pela
sala de aula para que a criação artística das crianças possa FATECE (2013). Especialista em
acontecer. Arte Educação pela Faculdade
Campos Elíseos (2018). Professor
de Fundamental II ARTES - EMEF
O professor precisa meio que se colocar no lugar do HELENA LOMBARDI.
artista, lidando com as possibilidades de criar novos sentidos,
podendo perceber as crianças como artistas e que vai se
aprofundando em suas investigações.

Quando o professor escreve e desenvolve seu planejamento


e seu modo de ação, permitindo também que o conteúdo
trabalhado e transforme e se atualize a cada aula, por meio
da relação que estabelece com suas crianças.

É preciso que aconteça diálogos com as reflexões e os questionamentos dos professores


sobre como trabalhar arte dentro da educação infantil, pois as crianças levam seus
aprendizados para a vida, suas escolhas futuras e a arte gera diversos questionamentos.

Nessas aprendizagens, que se consideram significativas, muito mais que a decorrência


de um processo de maturação intelectual, permitindo a construção de um processo de
autodescoberta e um exercício de vontade de constituir-se uma via de acesso aos bens
culturais e ao exercício da cidadania, por crianças das classes populares por meio da
interdisciplinaridade.

850
Revista Educar FCE - Abril 2019

A permanência do professor especializados em Artes, por meios diversificados será


sempre considerado conveniente e benéfica, do ponto de vista pedagógico, pois, propicia a
oportunidade de se utilizar sequências didáticas noprocesso de ensino-aprendizagem.

A retomada de conteúdo é imprescindível, pelos alunos defasados, além disso, levando-


se em consideração, a criança como um ser que já chega à escola com um potencial e
vocabulários heterogêneos tanto de letramento como artístico.

Registra-se empotencial as práticas inovadoras, as explorações desta pesquisa, de cunho


monográfico e por meio das referências bibliográficas sobre as Artes Visuais, sendo esta
uma importante contribuição e intervenção de uma forma mais rápida e conveniente de
transformar o processo de aprendizagem em conteúdo de ensino realmente apreendido.

Em síntese, para que os novos caminhos descobertos se tornassem um processo evolutivo


de aprendizagem, realmente efetivo, acredita-se ser o professor o mediador, no momento
de transformar a teoria em prática, orientando os educandos na maneira de interferir
no processo de aquisição de inúmeros saberes, por meio de mudanças na sua postura e
metodologia em sua prática, na sala de aula, contribuindo cada vez mais nos processos de
ensino e aprendizagens.

851
Revista Educar FCE - Abril 2019

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854
Revista Educar FCE - Abril 2019

ALFABETIZAÇÃO E AS DIFICULDADES
DE APRENDIZAGEM NA LEITURA: UM
DISTÚRBIO CHAMADO DISLEXIA
RESUMO: Esse trabalho discute as causas sobre as dificuldades de aprendizagem sintetizando
a dislexia. A caracterização da pesquisa se deu por meio de pesquisa bibliográfica sobre
dificuldades de aprendizagem e dislexia, apresentando os distúrbios de e na leitura, escrita
e articulação. Iniciou-se apresentando a origem do problema relativo às dificuldades de
aprendizagem, a partir daí apresentou-se os problemas que interferem na alfabetização,
argumentando-se segundo as teorias dos vários autores pesquisados, sobre as dificuldades
na leitura, além de dissertar sobre algumas concepções pedagógicas sobre alfabetização.
Aponta o texto como ferramenta para a aprendizagem mostrando concepções sobre
leitura e escrita e como compreender um texto. A dislexia aqui é vista como um tormento
na aprendizagem da alfabetização sobre o ponto de vista psicopedagógico que aponta os
desafios, dificuldades e transtornos na aprendizagem, contudo mostra a importância da
relação professor aluno nesse processo de alfabetização.

Palavras-Chave: Alfabetização; Dislexia; Distúrbios de Aprendizagem; Dificuldades de


Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO com a escola, bem como discutir os porquês


de as crianças na atualidade deixarem sua
Desenvolvido por meio da pesquisa inteligência de lado pela baixa autoestima
bibliográfica fazendo-se a discussão sobre e sentimento de incapacidade, deixando
as ideias de diferentes autores procurou- assim, não só de tirarem boas notas, mas
se discutir as dificuldades de aprendizagem de fazer amigos ou serem sociável com os
e a dislexia, apresentando os distúrbios na amigos que já possuem.
leitura, escrita e articulação.
Se que dislexia se refere à dificuldade
A escolha do tema, “Alfabetização e as extrema na aquisição das competências
dificuldades de aprendizagem na leitura: leitoras, refletindo-se nas dificuldades
um distúrbio chamado dislexia” surgiu com o próprio ato de ler e compreender
por entendermos que as dificuldades a leitura, tendo suas manifestações mais
de aprendizagem podem significar uma comuns na pronúncia com arritmia,
alteração no aprendizado específico da sincopada, silabada; entoação inadequada;
leitura e escrita, ou, alterações genéricas do palavras mal agrupadas; cortes, hesitações
processo de aprendizagem. e pontuação não respeitada; interpretação
impossibilitada ou prejudicada; análise e
Como objetivo buscou-se, informações síntese impossibilitada ou prejudicada;
e orientações, sobre como a pedagogia e a reconto ou resumos dificultados.
psicopedagogia pode ajudar na resolução dos
problemas, visto que conforme Neves (1992) Observou-se que a literatura a respeito
apud Bossa (2011, p. 19) a mesma estuda o de diagnósticos e tratamentos de distúrbios,
ato de aprender e ensinar, levando sempre transtornos, dificuldades ou problemas de
em consideração as realidades internas e aprendizagem é vastamente, fundamentado
externas da aprendizagem, tomadas em em concepções, muitas vezes, divergentes
conjunto e, mais, procurando estudar a entre si, e, por essa razão, muitas vezes cabe
construção do conhecimento em toda a ao professor perceber a agitação do aluno
sua complexidade; procurando colocar em e se ela persistir deverá procurar ajuda da
pé de igualdade os aspectos cognitivos, escola e posteriormente encaminhar para
afetivos e sociais que lhe estão implícitos, outros especialistas da área.
partindo desses pressupostos, podemos ver
o quanto a psicopedagogia tem auxiliado nos Partindo da alfabetização e suas dificuldades
problemas de aprendizagem (SILVA, 2011). no ensino e aprendizagem, pode-se discutir
sobre a dislexia como sendo um distúrbio
Pretendeu-se ao longo desta pesquisa de aprendizagem e as causas e dificuldades
mostrar como acontece o desenvolvimento na aprendizagem da leitura apontando suas
cognitivo e afetivo da criança e sua relação principais concepções psicopedagógicas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Em seguida discutiu-se sobre a dislexia Para as autoras, as dificuldades de leitura


como sendo uma das principais causas pelas acontecem na discrepância entre a idade
dificuldades de aprendizagem, bem como para leitura e a idade cronológica.
as intervenções que podem ser realizadas
pelo psicopedagogo destacando os desafios Já Yule & Rutter (1976) dizem haver
enfrentados durante o trabalho com medidas que comparam a idade para a
pessoas disléxicas e com dificuldades de leitura com a idade mental ou medem a
aprendizagem. discrepância entre os escores de leitura
de leitura previstos com base no QI com
Por fim concluiu-se ao trabalho e outros escores obtidos, permitindo efeitos
apontaram-se as referências utilizadas. da regressão. As diferenças entre critérios,
medidas e populações, apresentam diversas
variações na prevalência das dificuldades
AS CAUSAS E DIFICULDADES de leitura. O estudo mais abrangente sobre
NA APRENDIZAGEM a prevalência das dificuldades de leitura foi
realizado por Rutter e colaboradores (1970)
DA LEITURA na ilha de Wight, com toda população de 9
Pelas palavras de Dockrell e Mcshane a11 anos (FONSECA, 2008).
(2000) a leitura consiste em um complexo
conjunto de habilidades que incluem O estudo concluiu que 6,6% eram de
reconhecimentos de palavras impressas, “leitores atrasados” definido como escore
determinação do significado de palavras no teste Neale Analysis of Reading Ability
e frases e coordenação dos significados com 28 meses ou mais, abaixo da idade
dentro do contexto geral do tema. Esses cronológica sobre precisão ou compreensão.
processos operam em diferentes níveis Eles constataram que a vasta maioria, (88%)
de representação, incluindo letras, frases, dos casos, era de leitores atrasados, que
sentenças e unidades maiores de texto. apresentavam discrepâncias entre a idade
cronológica e a idade para leitura.
As dificuldades envolvam a incapacidade de
reconhecer ou compreender o material escrito. O
reconhecimento é mais básico nesses processos, Velluti (1979 apud DOCKRELL e
e as dificuldades de compreensão, em geral, MCSHANE, 2000, p. 14) apresentou uma
não estão no nível de sentenças e frases, ou a lista de critérios que excluía crianças com
integração dentro das frases. As dificuldades de
leitura impedem o progresso educacional em dificuldades em aprender a ler, porém
várias áreas porque a leitura é a via de acesso não sendo disléxicas. Este diagnóstico de
para uma grande variedade de informações exclusão evitava que várias crianças fossem
(DOCKRELL e MCSHANE, 2000, p. 85).
consideradas disléxicas. Essa lista de critérios
constitui-se em seis tópicos a seguir 1. Um
Quociente de Inteligência - QI de 90 ou

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Revista Educar FCE - Abril 2019

acima nas escalas verbais ou de desempenho o fator ambiental que influencia a dislexia é
do teste Wechsler Intelligence Scale for o tipo de instrução para a alfabetização que
Children; 2. Visão e audição adequada; 3. a criança recebe, pois, são dois métodos
Ausência de deficiências neurológicas ou de alfabetização especialmente indicados
físicas graves; 4. Ausência de problemas para os indivíduos disléxicos: o método
sociais ou emocionais significativos; 5. multissensorial e o método fônico (SALES,
Padrão socioeconômico favorecido; 6. 2011).
Oportunidades adequadas para aprender a
ler. Nas crianças disléxicas, os canais da visão,
audição, fala e sinestésico-motor, não estão
Os leitores atrasados embora integrados entre codificação e decodificação
apresentem problemas cognitivos, devido dos estímulos. Por essa razão, nos métodos
suas capacidades já internalizadas e o alfabetizadores para crianças disléxicas,
conhecimento de mundo individual sejam prevalecem, a reelaboração da diversidade
diferentes, não são considerados disléxicos. metodológica e os estímulos a todos os
canais, sensoriais e motores, para que sejam
O conceito de dislexia implica a existência de adequados e organizados para a aquisição
uma síndrome de comportamentos que distingue
a dislexia dos outros tipos de dificuldades de e desenvolvimento da linguagem falada e
leitura além de conferir a ideia de se trata de escrita.
uma síndrome de origem genética (DOCKRELL
e MCSHANE, 2000, p. 89).
Priorizando o desenvolvimento e inclusão
do educando a principal meta, já que o ser
De acordo com a Associação Brasileira humano é ser de múltiplas dimensões e que
de Dislexia (ABD) a Dislexia é definida aprende em tempos e ritmos diferentes, e
como sendo um distúrbio ou transtorno de também, o desenvolvimento humano é um
aprendizagem na área da leitura, escrita e processo contínuo que se desenvolve na
soletração, tornando-se o distúrbio de maior escola comprometida com a aprendizagem
incidência nas salas de aula. Justificam-se inclusiva, que respeita as características
ainda dizendo que pesquisas realizadas em etárias, sociais, psicológicas e cognitivas,
vários países do mundo apontam que entre considerando o desenvolvimento e
5% e 17% da população é disléxica. aprendizagem do educando (CAPOVILLA,
2012).
Seguindo a divisão feita por Jardini (2003),
a dislexia faz parte do grupo de Distúrbios Zorzi (2004) destaca as seguintes
de aprendizagem, com características dificuldades quanto ao domínio da leitura:
próprias e peculiares e que pode também ser Emprego de estratégias inadequadas
chamada de Distúrbio específico da leitura de interação com o texto. Leitura
e da escrita. Já Capovilla (2011) ressalta que acentuadamente dedutiva procurando

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Revista Educar FCE - Abril 2019

adivinhar o que está escrito; leitura Portanto, ele distinguirá estes dois
estritamente limitada ao sentido literal mundos como sendo o da natureza e o da
das palavras. Conhecimento elementar cultura; o papel do homem na realidade e
das relações entre sons e letras. Falta de com ela; as relações entre a natureza e a
compreensão ou de domínio do sistema comunicação dos homens; a cultura como
ortográfico. Desconhecimento ou pouca resultado de seu trabalho, de seu esforço (re)
familiaridade com os símbolos gráficos, o criador. O analfabeto aprende criticamente
que provoca dificuldades de reconhecimento a necessidade de aprender a ler e a escrever.
e diferenciação entre eles. Falta de fluência. “É entender o que se lê escrever o que se
Velocidade na leitura. Não compreensão ou entende” (FREIRE, 2011, p. 72). Por isso,
desconhecimento do sistema de pontuação a alfabetização não pode ser como uma
e seu papel na estrutura do texto. Falhas na doação, de fora para dentro, mas de dentro
compreensão. Dificuldade na organização para fora, pelo próprio analfabeto, ajustado
espacial do texto, e emprego de pontuação. pelo professor.
Ausência de clareza e coerência, dificuldade
de explorar um tema, limitações de ordem Ler é um conjunto de habilidades e
comportamentos que se estendem desde
gramatical Não conhecimento ou domínio simplesmente decodificar sílabas ou palavras até
elementar dos estilos próprios da escrita. ler Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa.
Uma pessoa pode ser capaz de ler um romance
um bilhete, ou uma história em quadrinhos, e
não ser capaz de ler um romance, um editorial de
AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES jornal. Assim ler é um conjunto de habilidades,

PEDAGÓGICAS SOBRE comportamentos, conhecimentos, que compõem


um longo e complexo continuo (SOARES, 2009,
ALFABETIZAÇÃO p. 48).

Conforme as palavras de Magda Soares


(2009) julgam-se imprescindível haver uma Solé (2008, p. 18), defende que
conscientização sobre a importância da compreender e interpretar textos escritos
alfabetização para esse novo milênio, visto de diversos tipos com diferentes intenções
que num mundo em rápida e crescente e objetivos contribui de forma decisiva para
evolução como o qual em que vivemos é a autonomia das pessoas, na medida em que
necessário que o adulto que não conseguiu a leitura é um instrumento necessário para
ser alfabetizado na época adequada, que nos manejemos com certas garantias em
incorpore que nunca é tarde para começar uma sociedade letrada (apud SALES, 2012).
e como ele faz parte do mundo, deve ser
sujeito deste mundo e não simplesmente Assim como outras coisas, ler é uma questão de
compartilhar. Compartilhar objetos, compartilhar
espectador. tarefas compartilhar os significados construídos
em torno delas. No entanto, nessa atividade
compartilhada a responsabilidade é diferente
para o professor e para os alunos, pois o primeiro

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Revista Educar FCE - Abril 2019

pode se colocar ao nível dos segundos, para


ajudá-los a se aproximar dos objetos perseguidos de decodificar palavras simples, resultando
(SOLE, 2008, p. 173 apud SALES, 2012, p. 3), em problemas como dificuldades de leitura
e aquisição de linguagem, além de falhas na
Acredita-se que o desenvolvimento da capacidade de escrever e soletrar.
competência leitora não finalize quando
o aluno domina o sistema de escrever e Dislexia é uma dificuldade duradoura na
ler; o processo é contínuo e conta com a aquisição da leitura, e para ser constatada
participação do aprendiz nas práticas que devem-se descartar situações que não devem
se envolvem a língua escrita e que se traduz ser confundidas como o fato de a criança não
na competência de ler e produzir textos dos ter bloqueios emocionais impedindo-a de
mais variados gêneros. aprender; deve ser ter idade adequada para a
alfabetização, ou seja, exclui-se a imaturidade;
Quanto maior o acesso à cultura escrita, deve ter tido pelo menos dois anos de
maiores as possibilidades de construção escolaridade, com uma didática adequada. Isto
de conhecimentos sobre a língua, mais se significa que apenas aos 8-9 anos podemos
estabelece a comunicação com os textos afirmar que a criança é disléxica.
impressos, por meio da busca da compreensão;
constituindo uma tarefa permanente, que se Fazendo nossas as palavras de Sales
enriquece com novas habilidades à medida (2011) acreditam-se que com a criança que
que se manejam adequadamente textos cada apresenta algum distúrbio ou dificuldade
vez mais complexos, “sabe-se que ler é um de aprendizagem, o professor deve dar-lhe
processo que se desenvolve ao longo de toda maior atenção em sala de aula; colocando-a
escolaridade e de toda vida” (ZILBERMAN, mais próximo do quadro de giz, falar-lhe com
2005, p. 13 apud SALES, 2012, p. 3). clareza, meiguice e paciência.

No quadro da dislexia pode haver variações


UM TORMENTO NA desde a incapacidade quase total em aprender
APRENDIZAGEM a ler, até uma leitura quase normal, porém
silabada, sem automatização, surgindo entre 7%
CHAMADO DISLEXIA a 10% da população infantil, independente de
A dislexia é definida como sendo uma classe sócio econômica, pois se exclui a didática
dificuldade na leitura e escrita, não sendo deficiente. Já o quadro básico é de uma criança
considerada como uma doença, pelos que apresenta dificuldade para identificação
estudiosos, portanto não é possível falar em de símbolos gráficos. O distúrbio se encontra
cura. Contudo para a International Dyslexia em nível de funções de percepção, memória e
Association – IDA é entendida como um análise visual. No entanto as áreas do cérebro
distúrbio específico da linguagem, de origem responsável por estas funções se encontram em
genética, e caracterizado pela dificuldade nível do lobo occipital e parietal, principalmente.

860
Revista Educar FCE - Abril 2019

As principais dificuldades apresentadas pela criança disléxica, de acordo com a Associação Brasileira de
Dislexia (ABD) seriam a demora a aprender a falar, a fazer laço nos sapatos, há reconhecer as horas, a pegar e
chutar bola, a pular corda (JOSÉ & COELHO, 2004, p. 90).

Tem dificuldade para escrever números e letras corretamente, ordenar as letras do alfabeto,
meses do ano e sílabas de palavras compridas, distinguir esquerda e direita. Necessita usar
blocos, dedos ou anotações para fazer cálculos. Apresenta dificuldade incomum para lembrar
a tabuada. Sua compreensão da leitura é mais lenta do que o esperado para a idade.

O tempo que leva para fazer as quatro operações aritméticas parece ser mais lento
do que se espera para sua idade. Demonstra insegurança e baixa estima sobre si mesma.
Confundem-se às vezes com instruções, números, lugares, horários e datas. Atrapalham-se
ao pronunciar palavras longas. Tem dificuldade em planejar e fazer redações.

Conforme José & Coelho (2004, p. 92) muitas vezes uma dificuldade na aprendizagem
da Matemática está mais relacionada à compreensão do enunciado do que ao processo
operatório da solução do problema. Os disléxicos, em geral, sofrem também de discalculia
(dificuldade em calcular) porque encontram dificuldade de compreender os enunciados das
questões.

Dessa forma se faz necessário um diagnóstico precoce da dislexia, já nos primeiros anos
da Educação Infantil, onde, pais e educadores devem se preocupar em encontrar indícios de
dislexia em crianças de 4 a 5 anos aparentemente normais. Uma criança disléxica encontra
dificuldade para ler e as frustrações acumuladas podem conduzir a comportamentos
antissociais, à agressividade e a uma situação de marginalização progressiva.

Diante do exposto percebe-se que pais, educadores e professores devem atentar-se


a dois indicadores diagnósticos precoce da dislexia, o histórico pessoal do aluno e suas
manifestações linguísticas nas aulas de leitura e escrita.

Diante de crianças saudáveis e inteligentes, porém com dificuldades em ler e entender


o que leram, o professor deve investigar se há existência de casos de dislexia na família,
ou seja, em geral, a história pessoal de um disléxico traz traços comuns, como o atraso na
aquisição da linguagem, atrasos na locomoção e problemas de dominância lateral.

O histórico de dificuldades na família e na escola pode ser de grande utilidade para


profissionais como psicólogos, psicopedagogos e neuropsicólogos que atuam no processo
de reeducação linguística das crianças disléxicas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Melhorar a pedagogia da leitura e escrita é, em longo
prazo, uma questão política, vinculada a um desejo de
mudança. Mesmo que o professor não possa mudar o
mundo, poderá realizar o trabalho melhor se compreender o
que é a leitura e como as crianças aprendem a ler. Contudo,
é preciso lembrar que o domínio da leitura envolve uma série
de habilidades complexas que precisam ser desenvolvidas
progressivamente. Muitas são desenvolvidas fora da escola,
mas a maioria precisa da escola para realizar tal tarefa. MARCIA SILVÉRIO
PEREIRA SETE
Embora haja grande quantidade de pesquisas sobre o tema,
Graduação em PEDAGOGIA
ainda não foram desvendados completamente os mistérios pela Faculdade UNIP (2014);
da leitura e a diversidade de fatores que nela interferem. Professora de Educação Infantil
e Ensino Fundamental no CEI JD
DIONISIO.
A criança não se transforma em um leitor de um dia para
o outro, com a ajuda de um método: ela percorre um trajeto
cujas bases são as concepções iniciais sobre o que é ler.
E esse trajeto tem início, a partir do momento em que as
condições do meio lhe sejam favoráveis.

Conclui-se que a leitura não é somente a apropriação do


ato de ler e escrever; ela envolve um domínio de um conjunto
de práticas culturais que envolvem uma compreensão do
mundo diferente daquele que não tem acesso à leitura, tem
em si um papel tão importante e significativo na sociedade que podemos dizer que ela
cria novas identidades, novas formas de inserção social e novas maneiras de pensar e agir,
através do direito educacional.

862
Revista Educar FCE - Abril 2019

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863
Revista Educar FCE - Abril 2019

O ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA


RESUMO: O artigo se constitui em uma pesquisa quantitativa de amostra por meio de
questionário com coordenadores da rede pública de ensino sobre a aplicação do Ensino
Religioso. O objetivo é verificar se há o conhecimento e a aplicabilidade da disciplina do
Ensino Religioso nas escolas pesquisadas, conforme prescrito na LDB nº 9.394/96. O Ensino
Religioso atua como auxiliador na formação dos alunos, discutindo e analisando costumes,
valores e doutrinas, proporcionando melhor convivência com o outro e amenizando
preconceitos e discriminações.

Palavras-Chave: Integração; Escola; Família; Comunidade; Gestão Democrática.

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INTRODUÇÃO o “Ensino Religioso de matrícula facultativa,


constituirá disciplina dos horários normais das
Presentes em todas as culturas, entre todos escolas públicas de Ensino Fundamental”.
os povos de todos os tempos e assumindo A LDB de 1996 abre espaço para o Ensino
diversas formas de devoção, doutrinas e Religioso, conforme previsto no artigo 33,
princípios éticos, buscando o sentido da para assegurar o respeito à diversidade
vida, as religiões têm suas especificidades, cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer
mas compartilham a premissa comum de formas de proselitismo, assegurando que:
moralidade e aprimoramento humano, onde
é possível estabelecer um diálogo respeitoso O ensino religioso, de matricula facultativa, é
parte integrante da formação básica do cidadão,
e solidário.O reconhecimento de uma raiz constitui disciplina dos horários normais
comum, profundamente humana e, por isso das escolas públicas de ensino fundamental,
mesmo divina, é vital para que o diálogo se assegurado o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas
projete além de uma conversa cordialmente de proselitismo. Parágrafo 1º: Os sistemas de
superficial, para se tornar uma vivência ensino regulamentarão os procedimentos para
enriquecedora. A metodologia apoia-se na a definição dos conteúdos do ensino religioso
e estabelecerão as normas para a habilitação
pesquisa bibliográfica e no estudo de campo e admissão dos professores. Parágrafo 2º:
por amostragem com um questionário Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil,
desenvolvido com dez coordenadores de constituídas pelas diferentes denominações
religiosas, para a definição dos conteúdos do
instituições públicas com a intenção de ensino religioso (LDB 1996, art. 33).
verificar o conhecimento e a aplicabilidade
da disciplina do Ensino Religioso nas escolas Atentando-se para o termo “proselitismo”,
pesquisadas. segundo o dicionário Houaiss, é a ação ou
empenho de tentar converter uma ou várias
pessoas em prol de determinada causa,
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA doutrina, ideologia ou religião, com o objetivo
de criar prosélitos. Proveniente do grego
O Ensino Religioso como disciplina “prosélytos”, que designa pessoas que foram
facultativa ministrada no espaço escolar se convertidas para uma nova religião, doutrina,
confunde com a própria história da educação ideologia, filosofia ou causa, mesmo sem
brasileira. Seu nome como componente haver interesse inicial para esta conversão.
curricular foi alterado na Assembleia Dessa forma, os proselitistas são conhecidos
Constituinte de 1988, passando para por usar técnicas de persuasão antiéticas
“Educação Religiosa”. Porém, de 1980 até para o convencimento. O Ensino Religioso
os dias atuais, o Ensino Religioso permanece visa contribuir para o desenvolvimento da
indefinido como disciplina. A Constituição capacidade de aprender, tendo em vista a
de 1988 garante a liberdade de culto em seu aquisição de conhecimentos, habilidades
artigo 5, inciso VI e o artigo 210 prevê que e a formação de atitudes e valores. Além

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Revista Educar FCE - Abril 2019

disso, a aprendizagem deve culminar com potencialidades pessoais e a convivência


o fortalecimento dos vínculos familiares, harmoniosa com o próximo. Nesta
dos laços de solidariedade e o respeito à perspectiva, Bert (2000, p. 33) ressalta a
diversidade cultural e religiosa em que se relação existente entre a Ética e a Religião.
assenta a sociedade. O interesse dos alunos White (2003, p. 13) afirma que a verdadeira
pelos conteúdos da disciplina é o que norteia educação significa mais do que a preparação
as aulas e sua produtividade, pois um dos para a vida, visando o todo no ser humano
principais pontos do Ensino Religioso são com o desenvolvimento harmônico das
as discussões, conversas e as interações faculdades físicas, intelectuais e espirituais.
entre os participantes. Assim, desprovido de
propósito doutrinante, de maneira respeitosa Para Bobbio e Viroli (2002, p. 52), a falta do
para com o domínio de cada doutrina, o Ensino Ensino Religioso como disciplina nas escolas
Religioso deve incentivar e desencadear não impede que a cultura religiosa possa ser
no aluno um processo de conhecimento de inserida e trabalhada de outras formas, como
sua própria religião e o respeito por outras por meio de projetos inter e transdisciplinares.
formas de religiosidade. Entende-se que Todavia, Santoro (2003, p. 34) alerta
o conhecimento religioso se constitui em que “quando se pretende estabelecer a
patrimônio da humanidade e que, legalmente importância do Ensino Religioso, de modo
se estabelece na escola com o intuito de nenhum o proselitismo pode estar presente”.
promover a compreensão dos movimentos O Ensino Religioso não tem como pretensão
específicos das diversas culturas. Desse a conversão do educando, nem obrigá-lo a
modo, o substantivo “religioso” se apresenta se tornar membro de uma religião, ou ainda,
como um elemento de colaboração com a ensiná-lo a ter fé, mas principalmente busca
formação de um cidadão multiculturalista, valorizar e respeitar as diferenças crenças e
implicando a reflexão do reconhecimento suas contribuições para a humanidade, prima
da justiça e dos direitos de igualdade civil, pelo ensino do respeito e repúdio a qualquer
social, cultural, político e econômico, bem tipo de discriminação religiosa, pois no
como a valorização da diversidade dos Brasil, devido à história de sua colonização
componentes histórico-culturais brasileiros. e, por conseguinte, sua miscigenação e
Para Biaca (2006, p. 23), a religiosidade é multiculturalismo, diversas culturas e
algo fundamental para a formação de uma crenças se encontram e se intercruzam,
sociedade. Em toda a história da humanidade, constituindo-se em um país “pluri” e “multi”
os valores religiosos sempre promoveram em diversidade, mas único nessa miscelânea
adversidades, demonstrando a intolerância e cultural. Neste sentido, Correa e
o repúdio ao diferente. Junqueira (2006, p. 45) lembra que é por
meio do sincretismo religioso existente no
O Ensino Religioso proporciona os Brasil que as culturas se encontram, porém,
mecanismos para a pessoa desenvolver suas sabe-se que, muitas vezes, esse contato sofre

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Revista Educar FCE - Abril 2019

preconceitos e discriminações, emergindo pelos conteúdos da disciplina é o que norteia


assim as adversidades culturais e religiosas as aulas e sua produtividade, pois um dos
existentes pelo mundo. Sendo a religião um principais pontos do Ensino Religioso são
fenômeno humano abrangente, entranhado as discussões, conversas e as interações
em todas as áreas da cultura, suas diversas entre os participantes. Assim, desprovido
facetas permitem a interdisciplinaridade no de propósito doutrinante, de maneira
seu tratamento. Assim, ao mesmo tempo em respeitosa para com o domínio de cada
que o Ensino Religioso serve para ampliar o doutrina, o Ensino Religioso deve incentivar
universo cultural, este ensino se torna mais e desencadear no aluno um processo de
consistente por enraizar-se nas múltiplas conhecimento de sua própria religião e o
áreas do conhecimento (FONAPER, 1998). respeito por outras formas de religiosidade.
Afirmando sua importância histórica, os Para ser eficaz, o Ensino Religioso deve
Parâmetros Curriculares Nacionais para o possuir uma linguagem própria, favorecer
Ensino Religioso (1998), afirmam que “pela a compreensão do fenômeno religioso na
primeira vez, pessoas de várias religiões sociedade e possibilitar que o estudante
conseguiram encontrar o que há de comum enfrente situações em seu cotidiano, a partir
numa proposta educacional que tem como da construção de argumentos que façam
objeto de estudo o transcendente”. Nesta surgir propostas para seu grupo social.É
premissa, o objetivo do Ensino Religioso é: notório que os valores de cada um vão se
Valorizar o pluralismo e a diversidade cultural formando e se transformando ao longo do
presente na sociedade brasileira, facilitando tempo e, é nesse contexto que o Ensino
a compreensão das formas que exprimem Religioso dá sua parcela de contribuição,
o transcendente e o processo histórico da trabalhando com a educação de valores.
humanidade; Subsidiar o aluno na formação Todavia, não é só a escola a responsável pelo
do questionamento existencial para dar sua desenvolvimento educacional do indivíduo,
resposta fundamentada; Analisar o papel mas deve haver uma complementaridade
das tradições religiosas na estruturação entre Escola e Família na formação humana,
e manutenção das diferentes culturas e educacional e social do jovem. Cortella
manifestações socioculturais; Facilitar a (2005, p. 28) explica que os valores não têm
compreensão do significado das afirmações “existência autônoma”, uma vez que estão
e verdades de fé das tradições religiosas; na dependência do ser humano para serem
Refletir o sentido da atitude moral, como elaborados, realizados e manifestados. Eles
consequência do fenômeno religioso e se configuram de acordo com a sociedade
expressão da consciência e da resposta pessoal e a cultura nos quais estão inseridos, mas
e comunitária do ser humano; Esclarecer cada um os interioriza de forma diferente,
sobre o direito à diferença na construção de pois isso depende de suas experiências,
estruturas religiosas que têm na liberdade o estímulos e interesses, mas a construção
seu valor inalienável.O interesse dos alunos desses valores ocorre coletivamente, e isso

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Revista Educar FCE - Abril 2019

se explica porque os indivíduos convivem Este artigo objetivou verificar se há


em sociedade. Sabe-se que a legislação o conhecimento e aplicabilidade da
prevê o Estado laico, assim como a escola disciplina do Ensino Religioso, conforme
laica, nas quais aos estabelecimentos de prescrito na LDB nº 9.394/96, através
ensino não são permitidos mencionar dos coordenadores de dez (10) escolas
conteúdos de determinada religião ou exibir públicas da zona sul do município de São
imagens, quadros ou frases que remetem Paulo. A grande problemática foi entender
à expressão religiosa. Por isso, para Sena a legislação referente à aplicabilidade do
(2007, p. 41), isso dificulta ainda mais a Ensino Religioso, quais fatores contribuem
aplicabilidade do Ensino Religioso, que já para que a disciplina de Ensino Religioso não
há tempos vem perdendo sua importância seja ministrada nas escolas públicas e em
nas escolas, não encontrando seu espaço que medida o Ensino Religioso contribuiria
de trabalho por falta de apoio, de condições para o bem da sociedade na construção de
políticas e por se tratar de uma disciplina valores morais e éticos.
facultativa. Segundo Oliveira (2005, p. 253),
o Ensino Religioso enfrenta muitos desafios
para sua aplicabilidade nas escolas devido à RELEVÂNCIA DO TEMA
problemáticas como: Para as escolas ainda é
dificultoso encontrar docentes preparados Por incluir em seu conteúdo programático
nesta área e que represente em sala de aula a ênfase em valores como disciplina, respeito
o intercâmbio entre as culturas religiosas; ao próximo, cooperação, tolerância, entre
O educador precisa ser um pesquisador, outros, espera-se que a disciplina de Ensino
pois deve buscar informações a respeito Religioso contribua para o estabelecimento
das outras religiões, com que se defrontará de um ambiente de convívio humano mais
em sala de aula; O profissional deve estar pacífico e respeitoso tanto na escola, como
pautado na ética como patamar máximo em qualquer outro ambiente.A relevância
de encontro das religiões. Não a ética do tema se evidencia na contribuição
entendida como conjunto de regras, mas da articulação entre os protagonistas
como imanência na consciência humana, envolvidos na pesquisa e na formação do
como lei natural que se manifesta em todas conhecimento. Além disso, o tema suscita a
as culturas e povos e que são captadas de discussão entre educadores de todas as áreas
diversas formas; A escola pode constituir- por envolver denominadores comuns em seu
se em um espaço inter-religioso para troca, conteúdo na busca por um convívio humano
diálogo e convivência, onde se trate o tema saudável, resgate do equilíbrio espiritual e
de forma ecumênica e se entenda a religião ligação entre o indivíduo e o transcendente.
como um fenômeno humano autêntico. Lembrando que, inevitavelmente, a
dinâmica educacional está voltada não só
para a formação acadêmica, como para um

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Revista Educar FCE - Abril 2019

conjunto de valores humanos, que envolve o manipulação dos dados em uma análise
constante processo de educação entre todos percentual e comparativa. Os dados foram
os indivíduos. A educação de um país reflete coletados em dez (10) unidades escolares da
a sua sociedade e vice-versa, pois os valores rede pública da zona sul do município de São
de cidadania, as responsabilidades sociais, Paulo por meio de questionário com 08 (oito)
o respeito ao próximo e o desenvolvimento questões junto aos coordenadores.
cognitivo e emocional também são formas
de educação.
ORGANIZAÇÃO E
ANÁLISE DOS DADOS
PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS A pesquisa foi organizada tendo com
suporte o questionário apresentado aos
Por meio de questionário, a abordagem coordenadores das escolas. Os resultados
da pesquisa está direcionada em saber dos dados são apresentados através de
como os coordenadores escolares avaliam a gráficos de barras. Dessa forma, os gráficos e
inserção da disciplina do Ensino Religioso na comentários abaixo representam a avaliação
matriz curricular do Ensino Fundamental e realizada sobre os dados coletados.
se esta contribuiria para o ensino de valores
na escola e na comunidade. Os sujeitos da
pesquisa são dez (10) coordenadores de QUESTÃO 1
escolas de Ensino Fundamental da rede
pública, localizada na região sul do município Você tem conhecimento que a LDB de
de são Paulo. Os resultados são apresentados 1996 estabelece que o Ensino Religioso
observando-se a questão, a apresentação do faça parte da matriz curricular em todo o
percentual dos dados obtidos no formato de território nacional?
gráfico de barras e a análise dos resultados Resultados: Sim 100%
correspondentes a cada questão.

INSTRUMENTOS E
COLETA DE DADOS
O instrumento de pesquisa é um
questionário escrito com questões fechadas,
permitindo o recolhimento de dados que
podem ser mensurados de forma quantitativa Gráfico 1 – Conhecimento do Ensino
e percentual, facilitando a tabulação e Religioso na LDB de 1996

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Todos os entrevistados (100%) foram QUESTÃO 3


unânimes em afirmar conhecer que o Ensino
Religioso consta na LDB de 1996, como Nesta escola, os pais já foram informados
indicação que a disciplina deve constar na que o Ensino Religioso também é uma
matriz curricular das unidades educacionais disciplina curricular?
brasileiras.
Resultados: Sim 50%, Não 40%, Nulo 10%

QUESTÃO 2
Esta escola consta da disciplina de Ensino
Religioso em sua matriz curricular?
Resultados: Sim 10%; Não 80%; Nulo 10%

Gráfico 3 – Conhecimento dos pais sobre


o Ensino Religioso na escola

De todas as escolas entrevistadas,
em metade do total (50%), os pais estão
informados de que a disciplina de Ensino
Gráfico 2 – A disciplina de Ensino Religioso Religioso deveria ser oferecida aos seus
na unidade escolar filhos. Em 40% das escolas pesquisadas, essa
informação não foi comunicada aos pais. A
Enquanto no Gráfico 1, os coordenadores coordenação de uma unidade preferiu não
estão cientes da indicação que o Ensino se pronunciar sobre essa questão.
Religioso pode ser oferecido nas escolas, a
prática está longe do que é previsto. Nota-
se que em apenas 10% das escolas, ou seja, QUESTÃO 4
uma (1) escola oferece a disciplina de Ensino
Religioso. Em oito (8) unidades escolares, Os pais estão cientes que podem optar
(80%) do total de escolas, a disciplina não pelo oferecimento da disciplina de Ensino
está inclusa na matriz curricular. Apenas uma Religioso aos seus filhos?
(1) unidade escolar preferiu não fornecer
informação sobre o assunto. Resultados: Sim 40%; Não 60%; Nulo 0%

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Gráfico 5 – Existência de professores


habilitados para lecionar Ensino Religioso

Nota-se o desconhecimento dos pais
pela opção do oferecimento da disciplina de
Ensino Religioso. Em apenas três unidades
(30%), há professores preparados para lidar
com conteúdos religiosos em sala. Nas
demais unidades educacionais (70%), não
há no quadro de docentes, profissionais com
Gráfico 4 – Ciência dos pais pelo preparo para ministrar a disciplina.
oferecimento do Ensino Religioso aos filhos

Verificou-se que em menos da metade da QUESTÃO 6
escolas (40%), os pais estão informados de
que poderiam optar pelo oferecimento do Você acredita que a disciplina de Ensino
Ensino Religioso aos seus filhos. Nas outras Religioso se constitui num importante
seis unidades educacionais (60%), os pais componente para desenvolvimento integral
sequer têm conhecimento de que podem do aluno?
optar pelo oferecimento do ensino religioso
aos filhos. Resultados: Sim 40%; Não 50%; Nulos
10%

QUESTÃO 5
Há professores habilitados para ministrar a
disciplina de Ensino Religioso nesta unidade
escolar?

Resultados: Sim 30%; Não 70%; Nulo 0%

Gráfico 6 – Influência do Ensino Religioso


no desenvolvimento integral do aluno

Como a maioria dos coordenadores não
lidam com o oferecimento da disciplina
de Ensino Religioso em suas escolas,
certamente não têm ciência do efeito

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Revista Educar FCE - Abril 2019

positivo que ela exerce. Tanto é verdade, que dos professores, 60%, não manifestaram
metade dos coordenadores (50%) não têm nenhum interesse que a disciplina constasse
a percepção da influência positiva que os na matriz curricular de suas escolas. Mas,
conteúdos religiosos poderiam exercer sobre 40% dos coordenadores apoiam que a
seus alunos. Os coordenadores de quatro disciplina conste da matriz curricular de suas
escolas (40%) demonstraram crer que se a escolas.
disciplina fosse oferecida, contribuiria para
o desenvolvimento integral dos seus alunos.
O coordenador de uma escola (10%) não se QUESTÃO 8
manifestou quanto ao assunto.
Com a democratização da gestão escolar,
não seria óbvio a participação da comunidade
QUESTÃO 7 escolar na decisão da implantação da
disciplina de Ensino Religioso?
No seu ponto de vista, os professores
desta escola concordariam, com facilidade, Resultados: Sim 50%; Não 10%; Nulos
com a implantação da disciplina do Ensino 40%
Religioso?

Resultados: Sim 40%; Não 60%; Nulos 0%

Gráfico 8 – Participação da comunidade


na decisão de implantação da disciplina de
Ensino Religioso

Gráfico 7 – Adesão dos professores à Observa-se que quando é submetida
disciplina de Ensino Religioso aos coordenadores a participação da
comunidade nas reuniões que decidem sobre
Não há unanimidade dos professores a implantação do Ensino Religioso na matriz
quanto ao oferecimento da disciplina em suas curricular, o resultado sofre significativa
escolas. Num mundo onde a religiosidade alteração. Metade dos coordenadores (50%)
ocupa lugar secundário, ficou muito claro concorda que a comunidade deve ter voz
a ausência de apoio dos professores ao ativa nessas decisões. O coordenador de uma
oferecimento da disciplina. Mais da metade escola (10%) entende que não há necessidade

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Revista Educar FCE - Abril 2019

da participação da comunidade no assunto. Menos da metade dos coordenadores (40%)


posicionou-se de forma neutra, o que é um indicativo de que também a escola é auto-
suficiente para administrar o assunto, sem necessitar do envolvimento dos membros da
comunidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo com sua aprovação para inclusão na matriz
curricular nacional, há grandes dificuldades para fazer com
que o Ensino Religioso seja oferecido e efetivado nas escolas.
Desmistificar a associação entre ensino religioso e religião,
ou seja, de que irá se ensinar religião na escola constitui-
se em uma das saídas para atenuar o problema do Ensino
Religioso no Brasil. Mas, a saída para a sua efetivação vai
além de transformá-la em disciplina de matrícula facultativa
como tem sido legislado. Conforme visto na pesquisa por MARIA ANUNCIAÇÃO
amostragem, entre os fatores que dificultam a inserção da DE SOUZA
disciplina nas escolas, estas alegam não dispor de docentes
Graduação em Pedagogia pela
preparados para conduzir seu conteúdo em sala de aula. Universidade Metropolitana
Também há a preocupação da escola em não criar impasses Unidas (2011); Professora de
com os alunos e seus responsáveis, uma vez que muitos Ed.Infantil e Ensino Fundamental
I no CEU – Emef. Prof. Antonio
não compreendem a abordagem pedagógica do ensino Carlos Rocha.
da disciplina, podendo gerar equívocos, na concepção
dos coordenadores. Portanto, das dez unidades escolares
pesquisadas, apenas uma escola oferece aos alunos o Ensino
Religioso.

O Ensino Religioso praticado nas escolas tem a intenção
de conduzir o estudante a desenvolver a criticidade quanto à
religião e à religiosidade, no discernimento das suas atitudes
e escolhas e o respeito ao próximo e à diversidade, sem abrir
espaço para o predomínio de julgamento e discriminação das várias concepções religiosas
existentes. A formação de um profissional devidamente qualificado para o exercício do Ensino
Religioso é o ponto de partida para o enfrentamento do desafio de exercer a disciplina sem
proselitismo. No Brasil, ainda não existem cursos de licenciatura em Ensino Religioso e nem
uma posição do Ministério da Educação e Cultura (MEC), órgão regulador da educação no
país, sobre a criação de uma licenciatura específica para a disciplina.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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WHITE, Ellen G. Conselhos sobre educação. 9ª ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO
FÍSICA NO DESENVOLVIMENTO
PSICOMOTOR NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
RESUMO: Este artigo teve como objetivo verificar a importância da Educação Física no
desenvolvimento psicomotor de crianças de três a seis anos de idade. Foi possível verificar
que, quando bem estimulados, os alunos tendem a ter um melhor desenvolvimento motor,
além de ter um bom convívio em grupo. A criança que possui um bom controle motor poderá
descobrir o mundo exterior, fazer experiências concretas, obter diversas noções básicas para
o próprio desenvolvimento da mente, o que possibilitará tomar conhecimento de si mesmo
e do mundo que a cerca. Vale ressaltar a importância do professor de Educação Física como
mediador nesse processo de desenvolvimento motor, visto que todas as crianças que têm
um estímulo aplicado corretamente tendem a desenvolver melhor o seu potencial físico e
psicológico. Portanto, concluiu-se o quanto a Educação Física escolar se faz importante
quando iniciada na Educação Infantil, em se tratando do desenvolvimento psicomotor e
desenvolvimento motor. Suas características levam a criança a um desenvolvimento mais
amplo, que forma indivíduos com autonomia de movimento, execução e expressão física,
cujos resultados serão observados na fase adulta.

Palavras-Chave: Psicomotricidade; Educação Física; Educação Infantil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Dentro desse contexto, é importante


destacar as características de cada área de
Para que se possa entender melhor desenvolvimento que perpassa a criança no
sobre o desenvolvimento motor infantil, período da infância entre 3 e 6 anos de idade.
é preciso conhecer sobre as fases da
infância. O desenvolvimento, no período da Conforme Machado (2011), é na Educação
infância, é marcado por alterações estáveis infantil que a criança busca experiências
e progressivas das áreas cognitiva, afetiva e em seu próprio corpo, formando conceitos
motora (CAMPÃO, 2019). e organizando seu esquema corporal. A
Psicomotricidade tem a função de levar a
A infância é caracterizada por criança a tomar consciência do seu corpo
englobar as aquisições essenciais para o e de suas possibilidades de expressão, por
desenvolvimento humano integral, visto meio desse corpo, e assim se localizando no
que é nessa fase que o sujeito forma a tempo e no espaço.
base motora para futuramente ser capaz
de realizar movimentos mais complexos. A educação psicomotora precisa ser
Nesse momento, é imprescindível que a avaliada como uma educação de base na
criança tenha um bom acompanhamento escola infantil. Ela condiciona o processo
no seu desenvolvimento físico, cognitivo e de alfabetização; conduz a criança a tomar
psicossocial (PINTO; SANTOS, 2019). consciência de seu corpo, da lateralidade, a
se situar no espaço, a controlar seu tempo,
A fase da Educação Infantil é muito a conquistar como hábito a coordenação
importante para a constituição completa de seus gestos e movimentos (MOLINARI;
do indivíduo. É quando ele constrói as SENS, 2019).
principais ferramentas interiores de que
se valerá, primeiramente de maneira De acordo com Molinari e Sens (2019),
inconsciente e posteriormente de maneira o alicerce do trabalho com as crianças
consciente, para que se possa relacionar na Educação Infantil está na estimulação
com a realidade exterior. Apesar de muitos perceptiva e no desenvolvimento do esquema
adultos discordarem disso, esse é certamente corporal. A criança organiza gradativamente
o período mais decisivo da vida, no qual a o seu mundo por meio do seu próprio corpo.
criança o tempo inteiro age descobrindo,
inventando, questionando, retrucando, O objetivo principal da educação
refazendo, socializando-se. Diante disso, pelo movimento é colaborar com o
é fundamental que ela tenha um bom desenvolvimento psicomotor da criança,
acompanhamento no seu desenvolvimento de quem depende, simultaneamente, o
físico, cognitivo e psicossocial (RODRIGUES, desenvolvimento de sua personalidade e o
2008). êxito escolar (SILVEIRA, 2014).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Desse modo, a Educação Física tem motor, seu esquema corporal além de
uma função fundamental nesse processo habilidades psicomotoras. E nas aulas de
de desenvolvimento motor, que servirá Educação Física isso pode ser amplamente
como mediador entre o aluno e seu trabalhado (PINTO; SANTOS, 2019).
desenvolvimento completo, no qual cada
uma das etapas a serem passadas pelo aluno De acordo com o Referencial Curricular
devem ser marcantes em sua vida de forma Nacional (1998), a criança precisa brincar,
positiva, haja vista que todos os estímulos ter prazer e alegria para crescer, precisa do
servirão de base para futuros movimentos jogo como forma de equilíbrio entre ela e
mais complexos e para que o indivíduo possa o mundo, pois, é por meio do lúdico que a
alcançar o desenvolvimento pleno (PINTO; criança se desenvolve.
SANTOS, 2019).
Diante desses aspectos, entende-se por
Nesse sentido, este trabalho tem como Gonçalves (2010), que a Educação Física
objetivo central verificar como funciona o e a Psicomotricidade são metodologias
desenvolvimento psicomotor de crianças na contextualizadas, perceptivas, em que
Educação Infantil e como a Educação Física o desenvolvimento dos aspectos motor,
pode contribuir para esse desenvolvimento, social, emocional e lúdico da personalidade
e porque se torna importante a atuação e o e a destreza dos movimentos corporais são
estímulo psicomotor na vida de crianças com vivenciados, por meio de atividades motoras
idades entre três e seis anos. organizadas e sequenciais, desenvolvidas
individualmente e em grupo.
Assim, por meio de Revisão Bibliográfica,
este estudo visa apresentar como a Educação
Física contribui para a formação da criança, PERÍODO INICIAL
como deve ser desenvolvido todo o processo DA INFÂNCIA:
de estímulos nas aulas, bem como a atuação
do professor como mediador do processo, DESENVOLVIMENTO FÍSICO,
planejamento e desenvolvimento das COGNITIVO E PSICOSSOCIAL
aulas, fazendo assim com que o trabalho se
torne sério e que efetivamente apresente O desenvolvimento, no período da
benefícios e resultados para as crianças. infância, é marcado por alterações estáveis
e progressivas das áreas cognitiva, afetiva
Uma maneira usual de desenvolver a e motora. O período da infância pode ser
psicomotricidade num ambiente escolar é dividido em período inicial da infância, de
por intermédio de jogos e brincadeiras, que 2 a 6 anos de idade, e período posterior
levam a criança a se socializar, expressar, da infância que vai dos 6 aos 10 de idade
desenvolver seu equilíbrio, coordenação (VALLE, 2019).

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Conforme Gallardo (2009), a infância 2. As crianças geralmente têm medo de


consiste num período caracterizado por situações novas e são tímidas, introvertidas
englobar as aquisições essenciais para e não desejam deixar a segurança do que
o desenvolvimento humano pleno e lhes é familiar.
satisfatório, visto que é nessa fase da
vida que o sujeito forma a base motora 3. Elas estão aprendendo a distinguir o
para futuramente ser capaz de realizar certo do errado e começando a desenvolver
movimentos mais complexos. suas consciências.

Dentro desse contexto, é importante 4. Crianças de 2 a 4 anos têm


destacar as características de cada área de comportamento incomum e irregular, ao
desenvolvimento que perpassa a criança no passo que as de 3 a 5 anos de idade são
período da infância entre 3 e 6 anos de idade. estáveis e bem adaptadas.
Consoante Gallahue e Ozmun (2013, p. 207),
as características do desenvolvimento físico 5. O autoconhecimento está se
e motor nessa fase se dão da seguinte forma: desenvolvendo rapidamente. Uma orientação
criteriosa, experiências voltadas ao sucesso
As habilidades perceptivo-motoras estão se e encorajamento positivo são especialmente
desenvolvendo rápido, mas frequentemente
existe confusão na consciência corporal, importantes nesses anos.
direcional, temporal e espacial. As crianças, nesse
período, estão rapidamente desenvolvendo uma Na visão de Papalia e Olds (2013), as
variedade de habilidades motoras fundamentais.
Movimentos bilaterais, como pular, entretanto, transformações ocorridas no período da
frequentemente apresentam mais dificuldades infância são mais vastas e rápidas do que
do que movimentos unilaterais; as crianças são qualquer outra que venha a acontecer nos
ativas e enérgicas e preferem correr e andar, mas
ainda precisam de período curto de descanso demais períodos da vida do ser humano.
(GALLAHUE; OZMUN, 2013, p. 207). Segundo os autores, dos três aos seis anos
de idade, as crianças vivenciam a segunda
Com relação às características do infância, fase que equivale à Educação
desenvolvimento cognitivo, os autores acima Infantil. Nesse estágio, a aparência da
salientam que: criança muda, suas habilidades motoras e
mentais desabrocham e sua personalidade
1. Nessa fase, as crianças são fica mais complexa. Todos os aspectos
egocêntricas e supõem que todas as pessoas do desenvolvimento – físico, cognitivo e
raciocinam da mesma maneira que elas. psicossocial – permanecem vinculados. A
Como resultado, frequentemente, parecem partir do momento em que os músculos
ser briguentas e relutantes em compartilhar começam a ter maior controle, as crianças
objetos e sentimentos e em se socializar com passam a ter maior autonomia, atendendo
as outras. mais suas necessidades pessoais, como

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de higiene, conquistando maior senso de diferenças entre os objetos conhecidos, e


competência e independência. seu tempo de atenção e concentração para
as atividades que a agradam pode chegar
De acordo com Rodrigues (2008), o até trinta e cinco minutos. Seu pensamento
período que corresponde à Educação Infantil ainda não é reversível, ou seja, não pode
é a época que as crianças adquirem as compreender os processos de transformação.
habilidades motoras básicas. A capacidade Por exemplo, ao observar a transferência de
para se mover cada vez de modo mais um líquido de um recipiente alto e fino para
autônomo está associada com vários fatores, um baixo e largo, assumirá que o primeiro
como a maturação neurológica, que torna recipiente tinha mais líquido, já que sua altura
possível movimentos mais completos, e o era maior (LEGARDA & MIKETTA, 2009).
crescimento corporal, que irá gerar maior
possiblidade de domínio do corpo, tornando Quanto ao desenvolvimento motor, a
mais fácil o movimento e a disponibilidade criança está interiorizando seu esquema
para realizar atividades motoras. corporal, ou seja, localiza a si mesma com
relação ao espaço e aos objetos: em cima-
A idade que compreende a fase da embaixo, em frente atrás, esquerda-direita
educação infantil (3-5 anos) é aquela no qual e diagonais. Permitindo-se estabelecer
se consolidam muitas habilidades motoras relações espaciais em seu plano corporal.
trabalhadas desde o nascimento. A criança Seu conhecimento do esquema corporal se
pula em um pé só, bem como imita pulos de reflete em seus desenhos da figura humana
vários animais (sapo, coelho, canguru etc.) e no amplo vocabulário referente ao tema.
ou até mesmo pula brincando com corda. Também já consegue nomear cada uma das
Caminha sobre os calcanhares ou pontas dos partes de seu corpo e expressa a sua função
pés, dá cambalhotas, é uma especialista em de forma lúdica e diminutiva (SILVEIRA,
jogos/brincadeiras de quintal e arremessa 2014).
uma bola e a agarra com pouca destreza.
Sente-se segura de suas possibilidades e sabe De acordo com Silveira (2014), as
quais são os riscos que podem assumir. Tem atividades motoras devem ajudar as crianças
consciência de perigo (LEGARDA; MIKETTA, a conhecerem seu corpo eficientemente
2009). e a dominarem uma ampla variedade de
habilidades fundamentais, contribuindo
No que diz respeito ao desenvolvimento positivamente para o desenvolvimento
cognitivo, aos seis anos se definirá sua de suas capacidades físico-motoras, sócio
lateralidade (se a criança será destra ou afetivas e percepto-cognitivas.
canhota), mas para alguns autores ela se
inicia por volta dos 4 anos. A criança terá a Assim sendo, a fase da Educação Infantil
capacidade de procurar e encontrar pequenas é a mais importante para a constituição

880
Revista Educar FCE - Abril 2019

completa do indivíduo. É quando ele consequência da interação de seu corpo


desenvolve as principais ferramentas com os objetos à sua volta, com as pessoas
interiores de que se valerá, primeiramente com quem convive e com o mundo no qual
de maneira inconsciente e posteriormente desenvolve ligações afetivas e emocionais.
de maneira consciente, para seja capaz Logo, o corpo é seu modo de ser. É por meio
de se relacionar com a realidade exterior. do corpo, que a criança institui contato com
Apesar de muitos adultos discordarem, o ambiente, que se coloca no mundo, que
esse é certamente o período mais decisivo compreende o outro. Todo indivíduo possui
da vida do ser humano, no qual a criança o seu universo construído por meio de suas
tempo inteiro age descobrindo, inventando, próprias experiências corporais. Portanto, a
questionando, retrucando, refazendo, criança terá maior habilidade para se distinguir
socializando-se. Diante disso, é fundamental e para sentir tais diferenças, uma vez que é
que ela tenha um bom acompanhamento por meio do seu corpo que ela estabelecerá
no seu desenvolvimento físico, cognitivo e contato com o meio, interagindo em nível
psicossocial (RODRIGUES, 2008). psicológico, psicomotor, cognitivo e social.
Assim sendo, por meio das experiências de
Para Valle (2019), a aprendizagem e o aprendizagem, a criança desenvolve seu
desenvolvimento estão ligados a partir esquema corporal e aumenta seu repertório
do momento que a criança começa a ter psicomotor, conquistando autonomia e
contato com o mundo. Interagindo com segurança.
o meio externo, a criança começa a se
desenvolver de modo mais abrangente e As transformações que se referem ao
eficaz, o que implica que, por intermédio desenvolvimento motor promovem uma
de seu envolvimento com o meio físico e ininterrupta mudança no comportamento
social serão desencadeados vários processos no decorrer da vida. Ele se torna possível
internos que irão possibilitar um novo estágio tanto pelo processo evolutivo biológico
de aprendizagem. quanto pelo social. Assim, acredita-se que
um avanço neural propicia o avanço ou
Por meio da observação, imitação e integração sensório-motora, que se dá por
experimentação das orientações recebidas meio do Sistema Nervoso Central (SNC)
de indivíduos mais experientes, a criança em atividades cada vez mais complexas
vivencia inúmeras experiências físicas e (FONSECA, 2008).
culturais, construindo, assim, o conhecimento
acerca do universo que a rodeia (FERREIRA; Fonseca (2008) afirma que, em cada faixa
FERNANDES, 2019). etária o movimento assume características
expressivas e a aquisição ou o surgimento de
Conforme Silveira (2014), o certas atitudes motoras tem consequências
desenvolvimento de uma criança é relevantes no desenvolvimento infantil.

881
Revista Educar FCE - Abril 2019

Cada aprendizagem influencia na anterior, Nesse sentido, a Educação Física


tanto no domínio mental como no motor, a adquire um papel muito relevante a partir
por meio da experiência e da troca com o do momento em que pode estruturar o
meio. ambiente apropriado para a criança. Ela
pode proporcionar experiências capazes
O desenvolvimento infantil sob uma de auxiliar e promover o desenvolvimento
perspectiva da psicomotricidade deve ser integral do educando, desenvolvendo suas
estabelecido em nosso trabalho docente e habilidades motoras e sua socialização,
em nosso cotidiano, estabelecendo assim tornando possível trabalhar o corpo de forma
ligação entre corpo e aprendizado. harmônica em seus aspectos físico, cognitivo
e psicossocial.
O corpo surge, portanto, mais uma
vez, como o componente material do ser
humano, que, por isso mesmo, contém o A EDUCAÇÃO FÍSICA NA
sentido concreto de todo o comportamento EDUCAÇÃO INFANTIL:
sócio histórico da humanidade. O corpo não
é, assim, o caixote da alma, mas o endereço ESPAÇO DE DESENVOLVIMENTO
da inteligência. O ser humano habita o PSICOMOTOR DA CRIANÇA
mundo exterior pelo seu corpo, que surge
como um componente espacial e existencial, A legislação brasileira determina que
corticalmente organizado, no qual e por meio a Educação Básica abrange três níveis
do qual o ser humano concentra e diverge de ensino: a Educação Infantil, o Ensino
todas as suas experiências e vivências Fundamental e o Ensino Médio. A Educação
(FONSECA, 2008). Infantil, foco deste estudo, diz respeito às
instituições que atendem às crianças de 0 a 6
Diante disso, a escola possui um anos de idade, e são geralmente conhecidas
papel fundamental como facilitadora como creches e pré-escolas (BRASIL, 2019).
das aprendizagens, incentivando o
desenvolvimento pleno da criança por meio A educação infantil consiste num
do trabalho desafiante, conduzindo-a a espaço de descobertas e de ampliação das
explorar, a criar, a desenvolver sua habilidade experiências individuais, culturais, sociais e
com a finalidade de ampliar seu potencial. educativas, quando as crianças são inseridas
Sendo assim, disponibiliza um espaço no em ambientes diferentes dos da sua família.
qual a aprendizagem possa acontecer, Trata-se de um local no qual são integrados
contribuindo com a constituição do indivíduo o desenvolvimento de criança, seu universo,
em cada estágio do seu desenvolvimento sua subjetividade, com os contextos
(FONSECA, 2010). sociais e culturais que a envolvem por
meio das incontáveis experiências, além de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

oportunidade e estímulo de vivenciar nesse Educação Infantil deveria ser uma escola
espaço. Nesse sentido, Gallahue e Ozmun de símbolos, de imaginação e fantasia.
assinalam que: Raramente encontramos uma criança menor
de 7 anos de idade realizando uma atividade
As crianças na Educação infantil livre que não seja a de fantasiar, isto é, brincar
rapidamente ampliam seus horizontes, com símbolos” (p. 14).
consolidando suas personalidades,
desenvolvendo habilidades e testando seus Quando se fala em Educação Infantil, é
próprios limites e os da família e de outros importante compreender que ela precisa
à sua volta. Em síntese, estão ambientando- ser um espaço socioeducativo no qual é
se no mundo de modo complexo e primordial possibilitar que o educando tenha
extraordinário. Os responsáveis pelas crianças acesso a elementos da cultura universal e
devem compreender suas características da natureza, com trocas de experiências
desenvolvimentistas da Educação Infantil, com outras crianças e com mediação do
suas limitações e potenciais. Apenas educador, para que assim possa construir
assim poderemos estruturar experiências e elaborar hipóteses para compreender
desenvolvimentistas que, efetivamente, e intervir no mundo, vivenciando, desse
possam atender às necessidades e aos modo, um processo de desenvolvimento
interesses das crianças, respeitando seu e aprendizagem mais rico e significativo
nível de habilidade (GALLAHUE e OZMUN, (PINTO; SANTOS, 2019).
2013, p. 206).
Acredita-se que, se a habilidade de
Por ser uma instituição social inserida num representação mental é tão importante e se
contexto histórico-cultural que influencia e ela é construída no período correspondente
é influenciada por esse contexto, a escola é à Educação Infantil, a escola deve investir no
um local no qual acontece uma intervenção exercício dessa habilidade por meio de uma
pedagógica intencional que produz processos atividade simbólica por excelência: o jogo.
de ensino e de aprendizagem entre os Quem, quando criança, nunca brincou de faz
indivíduos que lá se encontram. Diante disso, de conta? (FREIRE; SCAGLIA, 2009, p. 16).
a função pedagógica tem como propósito
promover estímulos auxiliares e ajudas Porém, esse processo de mediação e de
externas aos educandos durante a Educação intervenção não é nada simples, uma vez que é
Infantil, confirmando uma aquisição que preciso identificar as construções simbólicas
não ocorre de modo natural (GALLAHUE; que as crianças possuem nesse momento e
OZMUN, 2013). que serão a base para o desenvolvimento
das funções psicológicas superiores. Esse
Dentro dessa perspectiva, Freire e Scaglia processo de desenvolvimento das funções
(2009) ressaltam: “podemos dizer que a psicológicas superiores ocorre, consoante

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Vygotsky (1998 apud DANIELS, 2015), do educando, mediando entre o mesmo e o


passando por dos níveis: primeiramente no mundo que o cerca, incentivando e adiantando
nível interpessoal, isto é, parte das relações progressos no seu desenvolvimento por
interativas entre o indivíduo e o meio/outros intermédio de uma interferência na Zona
indivíduos, para o nível intrapessoal, ou seja, de Desenvolvimento Proximal (ZPD). Isto é,
partindo das interações, o indivíduo constrói a partir do conhecimento que o educando
ou (re)significa seus conceitos prévios, tem e dos recursos dos quais dispõe para a
tornando-as parte do seu mundo, dando a realização da atividade, o educador poderá
esse nível um caráter subjetivo. A passagem auxiliá-lo a atingir a ZPD, tornando-a real,
de nível ocorre por meio de um processo de dando sequência ao aspecto espiralado do
internalizar novas compreensões. processo (DANIELS, 2015).

Segundo Rego Nesse processo, consoante Campão


(2019), o educando passa a ser não apenas
[...] de acordo com sua definição, entendemos o sujeito que aprende, mas aquele que
por funções mentais, ou funções psicológicas
superiores, processos voluntários, ações aprende, com o outro, o que seu grupo social
conscientemente controladas, mecanismos produz, ou seja, valores, linguagem, símbolos,
intencionais, tais como: pensamento, memória, signos, sinais e o próprio conhecimento.
percepção e atenção; que dispõe de maior grau
de autonomia em relação aos fatores biológicos, Os processos pedagógicos passam a ser
sendo antes resultado da inserção do indivíduo fundamentais na construção dos conceitos,
em um contexto sócio-histórico (REGO, 2010, visto que a constituição dos conceitos
P39.)
espontâneos que a criança desenvolve na
interação com uma determinada cultura, não
Conforme a teoria vygotskyana, para que ocorre da mesma maneira que a constituição
a internalização aconteça, é essencial um dos conceitos científicos, que para serem
processo de mediação que parta da noção adquiridos necessitam de um contexto
de que o indivíduo não tem acesso direto organizado e sistematizado de ensino, e da
ao conhecimento, se não mediado por interação com outros contextos, para que
outros indivíduos, e pelo uso de ferramentas a criança possa conhecer os significados e
psicológicas, produzidas de forma cultural possa criar sentidos para os conceitos por
ao longo da história do indivíduo, que geram meio de suas vivências.
uma reestruturação das funções naturais.
Assim, sendo a criança um ser humano em A maioria das crianças que são atendidas
processo de desenvolvimento, ela precisa de pela Pré-escola e pelas quatro séries iniciais
um adulto para mediar suas necessidades de do 1º Grau são crianças que se encontram na
cuidado e educação (CAMPÃO, 2019). faixa etária dos quatro aos dez anos de idade.
Diante disso, o educador é o responsável De acordo com evidências dos estudos sobre
por intervir no processo de aprendizagem desenvolvimento motor, por exemplo, no

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Revista Educar FCE - Abril 2019

modelo de desenvolvimento de Gallahue e A Zona de Desenvolvimento Real seria o


Ozmun (2013, p. 87), “essas crianças devem nível atual, ou seja, os conhecimentos que
ser trabalhadas no sentido de desenvolver o indivíduo já tem constituídos, tornando
ao máximo suas habilidades básicas, sem possível que ele tenha autonomia para agir. A
preocupação com as habilidades específicas Zona de Desenvolvimento Proximal abrange
[...]”. a junção da dimensão atual e potencial do
desenvolvimento humano, visto que se
A fim de que a prática pedagógica refere ao conhecimento já adquirido e aquele
colabore esse desenvolvimento, ela deverá que ainda vai se concretizar, necessitando
proporcionar ao educando a aquisição de uma da intervenção de outro indivíduo. E a Zona
linguagem, como meio de comunicação entre de Desenvolvimento Potencial aborda os
os indivíduos. Como elemento essencial, a conhecimentos que o indivíduo possa vir a
linguagem é um sistema simbólico que nos construir, do potencial para o aprendizado
fornece os conceitos e as formas psicológicas (CAMPÃO, 2019).
superiores e a categorização do mundo,
por meio da produção de conhecimentos As zonas de desenvolvimento estão
(CAMPÃO, 2019). vinculadas à construção de conceitos
por meio do processo de aprendizagem.
Para Vygostky (apud DANIELS, 2015), Em conformidade com as zonas de
ao relacionar o conceito de atividade no desenvolvimento, essa associação ocorre,
ambiente escolar, há dois tipos de atividade: primeiramente, por intermédio da percepção
a atividade educacional amplamente da palavra como signo individual, na
organizada, que possibilita que a criança sequência, torna-se um nome familiar,
adquira conceitos científicos e a atividade dando especificidade aos objetos e, por
espontânea, derivada da reflexão da criança fim, constroem-se os conceitos abstratos
acerca de suas experiências cotidianas. (DANIELS, 2015).

A compreensão do processo de É nessa direção que Vygotsky afirma que a


aprendizagem, na visão de Vygotsky, aprendizagem precisa ser vista sob uma ótica
pode ocorrer por meio da noção de prospectiva, ou seja, não deve ser baseada
Zonas de Desenvolvimento (mencionadas no que a criança aprendeu, mas como ela
anteriormente), elaboradas com uma está aprendendo e o que poderá aprender, É
metáfora para auxiliar a esclarecer isso que assegura, efetivamente, a prática do
como acontece a aprendizagem social e educador no avanço constante da trajetória
participativa. As zonas de desenvolvimento dos educandos (DANIELS, 2015).
são três: a zona real, a proximal e a potencial
(DANIELS, 2015).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A EDUCAÇÃO FÍSICA trata-se de um espaço no qual situações de


COMO INSTRUMENTO DE experiências com o corpo, com materiais e de
interação social, possibilita que as crianças
DESENVOLVIMENTO INFANTIL descubram os próprios limites, enfrentem
Cada criança possui incontáveis formas de desafios, conheçam e valorizem o próprio
pensar, de agir, de jogar, de brincar, de falar, corpo, relacionem-se com outros indivíduos,
de ouvir e de se movimentar. E é a por meio percebam a origem do movimento,
dessas diversas linguagens que as crianças se expressem sentimentos, fazendo uso
expressam no seu cotidiano, no seu convívio da linguagem corporal, localizem-se no
familiar e social, construindo sua cultura e espaço, entre outras situações orientadas
identidade infantil. A criança se expressa com ao desenvolvimento de suas capacidades
seu corpo, por meio do movimento. O corpo intelectuais e afetivas, numa atuação
possibilita que a criança aprenda a explorar consciente e crítica (GONÇALVES, 2010).
o mundo, estabelecendo relações com os
outros e com o meio (PINTO; SANTOS, A Educação Física na Pré-escola e nas
2019). quatro séries iniciais do 1º Grau deve
proporcionar às crianças oportunidades
Na opinião de Soares e Porto (2019), com que possibilitem um desenvolvimento
o intuito de que as habilidades motoras hierárquico do seu comportamento motor.
sejam desenvolvidas é preciso oferecer às Esse desenvolvimento hierárquico deve,
crianças oportunidades de desempenhá- por meio da interação entre o aumento da
las. O movimento faz parte da natureza do diversificação e complexidade, possibilitar
ser humano, sendo de grande relevância a formação de estruturas cada vez mais
biológica, psicológica, social e cultural, uma organizadas e complexas (GONÇALVES,
vez que é por intermédio da execução dos 2010).
movimentos que os indivíduos interagem
com o meio ambiente, relacionando-se com Assim sendo, essa área do conhecimento
os outros, apreendendo sobre si, seus limites, poderá efetivar um programa de Educação
capacidades e resolvendo problemas. Infantil comprometido com os processos
de desenvolvimento da criança e com a
Desse modo, compreende-se, então, que a formação de indivíduos emancipados. Nesse
Educação Física tem uma função primordial sentido, Rodrigues (2008) afirma que: “A
na Educação Infantil, em virtude de permitir principal ferramenta da Educação Física
às crianças uma gama de experiências por é o movimento, por ser o denominador
meio de situações nas quais elas possam comum de diversas áreas sensoriais. O
criar, inventar, descobrir movimentos desenvolvimento de ser humano ocorre por
novos, reelaborar conceitos e ideias sobre meio da integração entre a motricidade, a
o movimento e suas ações. Além do mais, emoção e o pensamento” (p. 61).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

É fundamental que os profissionais de tornar a educação coisa fácil. Coitados! Não


Educação Física conheçam o campo de sabem o que é brincar! Brinquedo fácil não
investigação que estuda o comportamento tem graça. Brinquedo para ser brinquedo
psicomotor (habilidades padrões, tem que ter desafio” (ALVES, 2008, p. 42).
generalizações motoras, cognição,
pensamento e capacidades físicas) em A brincadeira e o jogo não são apenas
populações normais ou não em diferentes passatempo pra criança. Trata-se de um
faixas etárias. Esse conhecimento favorecerá momento no qual a criança aprende aquilo
o estudo e a compreensão das teorias que que ninguém pode ensinar. É o momento em
fundamentam o sentido do movimento que a criança se descobre e assim descobre
humano no processo de desenvolvimento as pessoas e mundo que a cerca. É também
e aprendizagem humana (SOARES; PORTO, o momento em que ela faz uso da abstração
2019). para construir pela imaginação o seu mundo
(PINTO; SANTOS, 2019).
O profissional de Educação Física possui
instrumentos valiosos para promover Conforme Gonçalves (2010), o que
estímulos que conduzam ao desenvolvimento diferencia uma estimulação psicomotora
de modo bastante prazeroso: a brincadeira, de uma atividade simplesmente motora, é
o jogo e o esporte (GONÇALVES, 2010). Por o planejamento, é a intenção de se chegar
meio do uso da imaginação, a criança deixa a um fim. Na psicomotricidade, a criança é
de considerar as características reais do provocada a se desorganizar corporalmente
objeto e se detém no significado instituído para buscar respostas mais certas ao estímulo
pela brincadeira. que lhe foi apresentado. A criança busca em
seus conhecimentos prévios uma partida para
Para impulsionar os conceitos e processos a resolução das tarefas e, com a mediação ela
de desenvolvimento, a Educação Física vai reestruturando sua ação, reorganizando
poderá trabalhar com jogos e brincadeiras de forma ajustada. Na atividade motora, a
que, de forma intencional, incentivem a criança reproduz movimentos muitas vezes
imaginação e a criatividade. Além disso, o simples e já conhecidos, já experimentados
desenvolvimento dos seres humanos está anteriormente, sem que a leve a novas
relacionado diretamente com seu ambiente aprendizagens. Na psicomotricidade, à
sociocultural e eles não se desenvolveriam medida em que se colocam formas e maneiras
de maneira plena sem o auxílio de outras diferentes de executar o movimento já
pessoas da mesma espécie (FERREIRA; conhecido, ela se vê desorganizada; é o
FERNANDES, 2019). momento em que o sistema cerebral é
ativado, buscando na cognição uma forma de
“É brincando que a gente educa e aprende. executar o novo movimento. Portanto, um
Alguns, ouvindo isso, pensam que quero movimento repensado, recriado é movimento

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Revista Educar FCE - Abril 2019

psicomotor. E quanto mais a criança é A intervenção de outras pessoas (educador


exposta a situações de desenvolvimento, e outros educandos) é essencial para o
nas quais ela tem que buscar uma solução, desenvolvimento da criança. O papel do
mais seu cérebro é estimulado, onde serão educador precisa ser de mediador intencional,
formadas novas sinapses. estimulando o educando a evoluir em seus
conhecimentos e habilidades por meio de
Machado (2011) ressalta que o jogo propostas desafiadoras que o conduza a
psicomotor tem como característica procurar soluções, partindo de sua própria
colocar em funcionamento a organização vivência e das relações interpessoais. Isso
do sistema funcional humano. O objetivo não representa uma educação autoritária,
principal da prática de jogos psicomotores mas sim uma educação que permita ao
nas aulas de Educação Física é colocar a educando, por intermédio de estratégias
criança em constante ação e reflexão de estabelecidas pelo educador, construir o seu
sua ação, proporcionando novas formas próprio conhecimento, com a reestruturação
de aprendizagem e ao mesmo tempo, e reelaboração dos significados que são
possibilitando que a criança se desenvolva transmitidos ao indivíduo pelo seu meio
num corpo relacional, reflexivo e estruturado. sociocultural (CAMPÃO, 2019).

O processo de formação vivenciado pela Conforme Valle (2019), para ser eficaz,
criança permite vivenciar, experimentar qualquer processo de ensino precisa
situações diferenciadas e desafiadoras considerar o nível de desenvolvimento efetivo
que contribuem diretamente para com da criança (os conhecimentos e as habilidades
sua maturação não só de suas habilidades que já ela já possui) e mensurar seu nível
motoras quanto às intelectuais. Tanto de desenvolvimento potencial apropriado
maturação quanto experiências ambientais para sua idade (as habilidades que pode
são importantes para o processo de aquisição vir a desenvolver com o estímulo do meio).
e desenvolvimento de habilidades motoras, Na Educação Infantil, é fundamental que o
no entanto, adquirir um estágio maduro profissional de Educação Física compreenda
das habilidades motoras fundamentais e os estágios de desenvolvimento desse nível
especializadas só será possível se a criança de ensino com o intuito de promover os
receber oportunidades diversificadas de estímulos apropriados. Atuando assim, o
movimento (CAMPÃO, 2019). desenvolvimento será mais harmônico nas
áreas motora, cognitiva e psicossocial, isto é,
Nesse sentido, percebe-se que a abrangendo o indivíduo de uma forma plena.
Educação Física tem um papel primordial
na aprendizagem e, consequentemente, no De acordo com pesquisas de Keogh
desenvolvimento dos educandos, desde que (1977) e Hebb (1949) apud Campão (2019),
sejam estabelecidas situações desafiadoras. é primordial que o profissional de educação

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Revista Educar FCE - Abril 2019

conheça e respeite as peculiaridades, necessidades e interesses das crianças. Porém, não se


deve trabalhar o desenvolvimento de habilidades de modo finalista. Nessa perspectiva, o
papel do educador é promover diversas situações em que a habilidade possa ser praticada,
conduzindo o educando não apenas à consistência do movimento, mas também à constância.

Geralmente, o avanço infantil segue uma sequência motora, cognitiva e psicossocial que
se dará mais lentamente ou rapidamente, conforme estímulos recebidos. Na idade de um
ano e meio ou dois anos, a criança age sem pensar, isto é, o ato antecede o pensamento.
Após esse período, ela já começa a adquirir duas funções importantíssimas: o andar e o falar.
O pensamento passa a ser exteriorizado por meio dos movimentos e da fala, possibilitando
maior relação com o meio. A ação da criança sobre o meio incentivará sua atividade mental.
Na sequência, ela passa a ter maior consciência sobre si mesma, dando início à formação
de sua autoimagem. A partir daí, começa sua vida social ao constituir pequenos grupos,
contudo, acontece uma troca frequente de amizades e de grupos (escola, igreja, clubes, etc.).
Esse intercâmbio social é fundamental, visto que conduz a criança a se adaptar a diferentes
papéis, reconhecendo-se como indivíduo (CAMPÃO, 2019).

Fica claro que, para que a criança consiga obter êxito na sua vida escolar, é preciso na
Educação Infantil, fase assinalada pela organização psicomotora e estruturação da imagem
corporal, sejam desenvolvidos trabalhos que envolvam seu desenvolvimento motor,
promovendo situações em que ela possa ter segurança em seu corpo e em suas potencialidades
(SILVEIRA, 2014). Assim sendo, a Educação Física permite trabalhar a psicomotricidade e
desenvolver o potencial da criança, proporcionando uma base para uma boa aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, é possível constatar que a Educação
Física é de suma importância na fase inicial da vida do ser
humano, na qual ele está em processo de transformação,
descobrindo diferentes formas de conhecer o corpo. E
é nessa fase que ele mais precisa de orientação, para que
seu corpo e mente se desenvolvam sem nenhum problema
motor.

Assim, a criança em sua fase inicial se encontra no melhor MARIA BEATRIZ


momento para receber estímulos, pois, trata-se de uma fase ALMEIDA SPOSITO
em que estímulos e orientações bem definidas são primordiais
Especializada em Arte-Educação
para um desenvolvimento motor e cognitivo com resultados pela Escola Superior de
efetivos. Administração – HSM (2016);
licenciada em Educação Artística
pelo UNAR- Centro Universitário
Sabe-se que a evolução da criança segue uma sequência de Araras (2007); Professora de
motora, cognitiva e psicossocial que se dará de maneira mais Artes no Estado; Professora de
lenta ou mais acelerada, conforme estímulos recebidos. Educação Infantil da Prefeitura de
São Paulo

Para que a criança consiga obter êxito na sua vida


escolar, é preciso que durante a infância, na fase assinalada
pela organização psicomotora e estruturação da imagem
corporal, sejam desenvolvidos trabalhos em torno de seu
desenvolvimento motor, proporcionando-lhe situações nas
quais possa ter toda a confiança em seu corpo e em suas
potencialidades.

A criança que possui um bom controle motor poderá descobrir o mundo exterior, fazer
experiências concretas, obter diversas noções básicas para o próprio desenvolvimento da
mente, o que possibilitará tomar conhecimento de si mesmo e do mundo que a cerca.

Daí a relevância da Educação Física estar presente na Educação Infantil, para que as crianças
possam ter a oportunidade de experimentar diversas formas de movimentos importantes
para a educação de seu corpo e mente, fazendo com que a mesma possa alcançar o ápice do
desenvolvimento psicomotor de seu corpo.

890
Revista Educar FCE - Abril 2019

A Educação Física, em suas várias vias de estímulos para o desenvolvimento da criança, tem
uma influência significativa, sobretudo na fase inicial de sua vida. Nesse sentido, os jogos e
brincadeiras têm uma grande importância, pois, é por meio de um estímulo psicomotor que a
criança recria suas próprias formas de movimento de modo organizado que posteriormente
levará pra vida cotidiana.

Analisou-se ainda que a psicomotricidade utilizada nas aulas de Educação Física como
forma de ampliar as práticas pedagógicas, em especial, na primeira infância, proporciona à
criança um ganho de autonomia em suas ações de movimentos corporais e coordenados,
ultrapassando o que lhe é proposto, fazendo com que seus limites sejam superados por
intermédio de um repertório de atividades diversificadas e direcionadas, tendo planejado
um objetivo final.

Nesse contexto, deve-se oferecer à criança a possibilidade de se desenvolver nessa área


tão importante e gratificante para si, permitindo-lhe assim satisfazer a sua necessidade
natural de se movimentar, mediante uma prática pedagógica orientada pelo professor, na
qual se pode aperfeiçoar e superar no domínio das habilidades físicas e motoras. Assim, uma
das grandes finalidades do desenvolvimento motor é a necessidade da elevação da aptidão
física na perspectiva da melhoria da qualidade de vida, saúde e bem-estar.

É precisamente nas idades dos 3 aos 9 anos que se situa a maior receptividade para as
aprendizagens motoras. A prática da atividade física nessas idades deve ser diária, pois, além
de proporcionar grandes benefícios nos aspectos morfológicos, promovem também, ganhos
no plano de saúde, formação pessoal e social e na eficácia das aprendizagens cognitivas.

Assim, por intermédio do trabalho da Psicomotricidade, as crianças realizam aquisições e


aprendizagens com gosto e prazer, capazes de desenvolver hábitos, atitudes e valores, por
meio do desenvolvimento da área motora. Como pedagogia do comportamento motor, a
psicomotricidade faz parte inevitável da educação global, como forma de relação da criança
consigo própria, com os outros e com o mundo que a rodeia.

Portanto, concluiu-se neste estudo o quanto a Educação Física escolar se faz importante
quando iniciada na Educação Infantil, em se tratando do desenvolvimento psicomotor e
desenvolvimento motor. Suas características levam a criança a um desenvolvimento mais
amplo, que forma indivíduos com autonomia de movimento, execução e expressão física,
cujos resultados serão observados na fase adulta.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ESCOLA E COMUNIDADE NO DIVÃ


COM A GESTÃO DEMOCRÁTICA
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo a reflexão basilar sobre a participação
do tripé escola-família-comunidade para a construção do desenvolvimento do educando.
Observamos que a instituição de ensino, família e comunidade apresentam resistência em
caminhar, rumo a mesma direção, na tenção de proporcionar um ensino-aprendizagem
eficiente, isto posto, prejudicando a formação acadêmica das crianças, adolescentes e jovens
em sua integralidade. Raramente, as famílias, de maneira espontânea, vão à escola para tratar
de assuntos referentes à educação de seus filhos; não participam dos conselhos escolares
porque julgam desimportante as pautas de discussão. Por outro lado, a escola também
falha quando não apresenta práticas para trazer a família à reflexão da sua importância no
convívio escolar. A escola, a família e seu entorno compõem um constituinte imprescindível
na elaboração do projeto político-pedagógico e, ciente deste fato, o gestor democrático
carece de perscrutar as razões que levam as famílias se distanciarem da instituição escolar.
A simbiose família-escola é uma parceria impostergável na construção coletiva dos projetos
de educação para um ensino de qualidade; envolver os pais no cotidiano pedagógico dos
filhos é uma condição sine qua non para a constituição de uma educação mais democrática,
sem ela, qualquer projeto está fadado ao fracasso.

Palavras-Chave: Integração; Escola; Família; Comunidade; Gestão Democrática.

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INTRODUÇÃO ambiente escolar necessitam manter uma


relação de reciprocidade para uma educação
(...). Inventar modos novos de trazer os
professores e os pais para uma relação de de qualidade, pois, a escola forma o indivíduo
trabalho melhor é válido para a própria causa para sua inserção integral na sociedade. É
e também beneficia todas as crianças, os pais consenso de todos os envolvidos na educação
e professores. Além disso, pode provocar um
impacto sobre a aprendizagem das crianças de que se faz necessário um aparceiramento
e promover a inclusão social, assim como a entre a comunidade escolar, comunidade
inclusão escolar(...). (MITTLER, 2003, p.205). local e as secretarias de educação a qual as
unidades educacionais estão inseridas.
A educação tem como desígnio fomentar
procedimentos que corroborem para a A prática de educar demanda habilidades
formação do cidadão e, por conseguinte, próprias das relações humanas, pois nós, os
a prática da cidadania. Ao perceber que profissionais de educação, confrontamo-nos
os objetivos não foram alcançados, é cotidianamente com uma diversidade de
necessário ponderar as práticas e atitudes indivíduos com maneiras diferentes de agir,
que foram postas em ação para resolução da pensar e participar das atividades propostas
problematização do ensino-aprendizagem. pelos educadores, eles são influenciados por
Nós, os profissionais da educação, nos diversos fatores como: ambiente familiar,
questionamos cotidianamente sobre qual classe social, moradia distintas, crenças
a importância da relação família-escola no religiosas, redes sociais; em razão disso, é
processo educacional? Como está relação fundamental que o ambiente escolar seja
família-escola-comunidade pode contribuir um espaço em que prevaleça a práxis
para o desenvolvimento da identidade da democrática, capaz de abarcar o respeito às
criança? diferenças de gênero, a pluralidade cultural
e a consciência ética; suscitar ocasiões
Para o professor, a escola não é apenas lugar de oportunas à participação da família e da
reprodução de relações de trabalho alienadas
e alienantes. É, também, lugar de possibilidade comunidade local dentro e fora dos muros
de construção de relações de autonomia, de da escola afrontando as adversidades da
criação e recriação de seu próprio trabalho, de vida com resiliência.
reconhecimento de si, que possibilita redefinir
sua relação com a instituição, com o Estado, com
os alunos, suas famílias e comunidades. (PCN, Este estudo tem a intenção de compreender
1998, p. 32) a magnitude da gestão democrática no
dia-a-dia da comunidade escolar e o seu
A escola é uma instituição que tem como entorno. Tornaremos explicito a pertinência
princípio o de formar sujeitos críticos, que tem o Conselho Escolar e o Projeto
autônomos que serão incluídos na sociedade Político Pedagógico no que diz respeito
para transformá-la de maneira assertiva. à gestão democrática, salientaremos a
A família, a comunidade ao de redor e o atuação e significância na integração da

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Revista Educar FCE - Abril 2019

instituição de ensino com a comunidade docentes, funcionários, alunos e familiares.


local, e apresentaremos quais são as medidas Para os educadores-poetas o Projeto Político
práticas que propiciam essa inter-relação. Pedagógico é a alma da escola, pois por meio
dele e de maneira participativa de todos os
O estudo dialogou com a comunidade envolvidos na educação desenvolvem um
escolar e com um conjunto de pensadores conjunto de métodos e procedimentos que
que tomaram como objetivo de análise nortearão os trabalhos escolares durante
as diversas discussões no que concerne à o ano letivo. Enfatizamos, mais uma vez
gestão democrática escolar, enfatizaram à que é imprescindível a participação de
sua relação com a família, comunidade local e todos. Tendo em vista como meta uma
sociedade; e a idealização do Projeto Político aprendizagem efetiva, o desenvolvimento do
Pedagógico como uma ferramenta vital à ser na sua plenitude e o empoderamento dos
democratização da educação, valendo-se do educandos.
Conselho Escolar como um pilar que avalize a
concretização do Projeto Político Pedagógico “A participação é condição básica para a gestão
democrática. Uma não é possível sem a outra.
e, exibições de vídeos de experiências É desse modo que a gestão democrática é
bem sucedidas sobre os impactos positivos concebida como projeto coletivo” (SEDUC,
da parceria entre a escola, a família e a 2012, p. 7).
comunidade na vida dos educandos.
No segundo segmento, trataremos da
A pesquisa “Escola e Comunidade importância da família e da comunidade
no divã com a Gestão Democrática”, foi local adentrando os muros da escola e
desmembrado em dois segmentos: participando das decisões tomadas sobre a
vida dos alunos, no que diz respeito ao ensino-
No primeiro segmento, abordaremos aprendizagem, e o rumo da escola enquanto
a relevância que tem o Conselho Escolar espaço físico público. Conduzi-las a perceber
e o Projeto Político Pedagógico na o quanto sua participação contribuirá ativa
democratização da instituição de ensino. e efetivamente para o desenvolvimento
Ambos são esteios que amparam a natureza das práticas educacionais de seus filhos e,
democrática da gestão escolar, sem uma ensinando-os a serem cidadãos críticos e
conduta eficaz destes dois princípios, consciente de suas responsabilidades com
dificilmente, idealizaremos uma gestão a comunidade a qual estão inseridos, e
democrática na prática. O Projeto Político consequentemente, com toda a sociedade.
Pedagógico tem por finalidade incutir à O protagonismo da comunidade se dá ainda
gestão o fazer democrático por meio da na participação nos Conselhos Escolares, nos
elaboração do documento que representa Projetos Políticos Pedagógicos, nas Reuniões
a identidade da escola; indica a direção, de Pais e Mestres, nas Manifestações e
o norte, o rumo a seguir pelos gestores, Paralisações dos profissionais de educação.

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Promover a integração da comunidade seleciona as estratégias e métodos mais


escolar com a família e a comunidade local é apropriado para as práticas escolares e
uma meta que pode vir a ser na prática, porém extraescolares, haja vista, a autonomia de
a gestão escolar necessita de trabalhar com todos os envolvidos na tomada de decisão
o escopo de assegurar essa inter-relação de dos projetos homologados pelo Conselho de
colaboração e ajuda mútua, isso ocorrerá de Escola.
forma mais harmônica se o gestor priorizar
os paradigmas de uma gestão escolar “O planejamento participativo propõe e deve
implementar intervenções coletivas sobre o
democrática. social, refletidas e conscientes. Ainda que venha
desenvolver-se em micro espaços do social,
pode desempenhar uma atuação estratégica
CONSELHO ESCOLAR e construir sentido” (FALKEMBACH, 2008, p.
135).
E PROJETO POLÍTICO
O Conselho Escolar é um mecanismo que
PEDAGÓGICO: SINFÔNIA outorga à escola um cunho democrático,
HARMÔNICA ORQUESTRADA por intermédio dele, estabelece o diálogo
PELA GESTÃO DEMOCRÁTICA e a conexão entre os agentes diretos
da comunidade escolar (gestores, corpo
(...) a complexidade da sociedade atual e
o processo de democratização do público docente, corpo discente e administrativos) e
impuseram a ampliação dos mecanismos de os agentes indiretos (família e comunidade
gestão das políticas públicas, criando as políticas local). Há relação entre Conselho escolar e
setoriais, com definição discutida em conselhos
próprios, com abrangências variadas: unidades o Projeto Político Pedagógico é de extrema
da federação, programas de governo, redes relevância, pois, o conselho é incumbido de
associativas populares e categorias institucionais consumar o Projeto Político Pedagógico,
(MEC, 2004, p. 18).
pois, tem a responsabilidade de assegurar
que as deliberações descritas no projeto
A gestão escolar não pode ser considerada, sejam de fato cumpridas; fiscalizam as
simplesmente, como um conjunto de questões financeiras da escola e dispõe de
práticas burocráticas dirigidas à escola, mas cunho deliberativo e decisório.
é necessário ser compreendida como uma
abertura à promoção da cidadania e do “O Conselho será a voz e o voto dos diferentes
atores da escola, internos e externos, desde os
exercício da democracia. diferentes pontos de vista, deliberando sobre
a construção e a gestão de seu projeto político
A Gestão Escolar Democrática tem como pedagógico” (MEC, 2004, p. 36).
princípio fundamental o Planejamento
Participativo que traz relevantes O Conselho Escolar na sua formação tem
contribuições ao processo de democratização o compromisso de empenhar –se de forma
da educação. O planejamento participativo autêntica na construção de uma equipe

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comprometida com a melhoria da educação. O Projeto Político Pedagógico não pode


Constatamos a importância que há em instituir ser concebido com uma mera formalidade,
um Conselho com partícipes que aspiram que será engavetado após o cumprimento da
melhorias para a comunidade escolar, pois obrigatoriedade da sua feitura por exigência
o Conselho Escolar está correlacionado ao legal, mas como uma diretriz que norteará
Projeto Político Pedagógico e, se por ventura, a escola rumo as realizações das ações
o Conselho Escolar for constituído por uma acordadas no projeto.
equipe que não tenha a compreensão da
dimensão das atribuições de um conselho, O planejamento do Projeto Político
indubitavelmente, os projetos e ações Pedagógico requer dos seus integrantes um
propostas para a escola estarão destinadas dos principais atributos: sejam sonhadores,
ao fracasso. visionários, democráticos e que sejam
capazes de visualizar estratégias eficazes
A idealização do Projeto Político para que, num futuro próximo, a escola que
Pedagógico fundamenta-se na dinâmica imaginaram para os seus filhos e educandos
social que envolve a comunidade escolar, se concretize.
família e a comunidade local, pois são estas
relações que influenciam diretamente o É indiscutível que a questão da
trabalho escolar no tocante às funções democratização da educação é propícia às
pedagógico-administrativas. Portanto, a instituições de ensino e, em contrapartida
participação da família e da comunidade resulta em ganhos imensuráveis para
deve ser incentivada e ouvida com respeito, a sociedade como um todo, pois, as
pois a comunidade atua de maneira consequências oriundas de uma educação
pertinente quanto a concepção de ações de qualidade favorecerá ao aluno a
que estão justamente associadas aos fatores construção de sua identidade, autonomia
extrínsecos das instituições de ensino. para tomadas de decisões de maneira
responsável; pensadores críticos, reflexivos
Ao se constituir em processo democrático, o e construtivos para o exercício da cidadania;
projeto político-pedagógico preocupa-se em
instaurar uma forma de organização do trabalho distanciará o fracasso escolar, a evasão e
pedagógico que supere os conflitos, buscando a violência que assombra a comunidade
eliminar as relações competitivas, corporativas escolar todos os dias. Todas as estratégias
e autoritárias, rompendo com a rotina do
mando impessoal e racionalizado da burocracia desenvolvidas pelo coletivo visam melhorar
que permeia as relações no interior da escola, as condições de ensino-aprendizagem do
diminuindo os efeitos fragmentários da 10 aluno. Portanto, o educando precisa ser
divisão do trabalho que reforça as diferenças
e hierarquiza os poderes de decisão (VEIGA, ouvido sempre, pois, o aluno tem histórias
2008, p. 13). individuais, sonhos; o aprendizado deve fazer
sentido na vida do aluno, pois o mesmo é
um ser ativo de opiniões, ideias e ideologias.

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Compreender a realidade dos educandos


e fomentar a participação de todas as “O ponto de partida é a família (...) É o espaço
onde aprendemos a obedecer a regras de
crianças, adolescentes e jovens, mesmo dos convivência, a lidar com a diferença e a
anos iniciais, no Projeto Político Pedagógico diversidade”. (TOMAZI, 2010, p. 20).
manifestando a responsabilidade, o cuidado
e o desejo da comunidade escolar, da família A escola não deve distanciar-se da
e da comunidade local de transformá-los realidade da família e, não pode ser vista pela
em protagonistas que atuarão individual e família como um órgão público obrigatório
coletivamente na sociedade, transmutando e imposto por lei, no entanto deve ser
a trajetória que ela seguirá. entendida como um pilar fundamental
para a construção de uma sociedade justa
e democrática. No momento presente, a
INTEGRAÇÃO ESCOLA, família é vista como um enorme entrave,
FAMÍLIA E COMUNIDADE: pois a família atualmente vai na contramão
da educação; em conclusão, não é fácil
UMA REALIDADE POSSÍVEL enfrentar as situações dificultosas em relação
A colaboração ínfima da comunidade local as questões familiares no ambiente escolar,
e da família nas questões relacionadas à é extremamente delicado e torna-se mais
educação, sem mencionar o desinteresse da árduo quando a família se ausenta da escola.
família em participar da vida escolar dos filhos,
delegando para a escola o papel de educar. Faz O contato e a parceira para trabalhos
conjuntos com as instituições e organizações
a comunidade escolar questionar o papel da compromissadas com as questões apresentadas
família na educação, pois acreditamos que as pelos Temas Transversais e que desenvolvem
primeiras formas de educação se dá no âmbito atividades de interesse para o trabalho
educativo (tais como postos de saúde,
familiar; portanto, quando o aluno adentra o bibliotecas, organizações não-governamentais,
ambiente escolar ele traz consigo experiências grupos culturais etc.), é uma rica contribuição,
adquiridas na convivência familiar, assim sendo, principalmente pelo vínculo que estabelece com
a realidade da qual se está tratando. (PCN, 1998,
para a escola é fundamental a participação p.32).
da família no decurso do andamento de suas
práticas, pois o trabalho em conjunto família- Família e comunidade local precisa
escola é uma das ferramentas mais eficiente adentrar-se no ambiente escolar de maneira
para o bom desenvolvimento das atividades a promover e assegurar o desenvolvimento
escolares; no momento em que a família se integral dos educandos, fazendo-os a atuarem
envolve de modo ativo na escola, fica mais como coautores de sua aprendizagem,
acessível envolver toda a comunidade, em suma, garantindo aos estudantes que se capacitem
a família é o núcleo vital de uma sociedade. A para o futuro de forma efetiva e consolidada,
família pode ser compreendida como um elo estimulando-os a descobrir quais são os seus
que conecta a escola e comunidade. objetivos e de que forma perseverar para

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e aceita por todos. A participação do grupo


alcançá-los. O propósito da comunidade na tomada de decisões é a garantia de maior
escolar, particularmente da gestão escolar identificação de todos com o trabalho a ser
democrática é mobilizar a família e a realizado (DIAS, 1998, p. 278).
comunidade local no processo de definições
de projetos que ressoam dentro e fora dos É fundamental para uma gestão
muros da escola, isso só será possível com democrática aproximar-se do meio
a participação ativa nos encontros dos comunitário, envolvendo-o de fato nas
conselhos, nas reuniões pedagógicas, na atividades escolares pedagógicas bem
semana de planejamento e, em particular na como nas administrativas. Os profissionais
concretização do Projeto Político Pedagógico. da educação precisam conversar com a
comunidade sobre os problemas que a
Conforme afirma Valérien: escola está enfrentando como: indisciplina,
evasão, aumento expressivo da violência
[...] o diretor é cada vez mais obrigado a levar em escolar, fracasso escolar, o alto índice de
consideração a evolução da ideia de democracia,
que conduz o conjunto de professores, e mesmo ausência dos docentes em decorrência
os agentes locais, à maior participação, à maior deste fatores; solicitar a colaboração e
implicação nas tomadas de decisão. (VALÉRIEN, participação nos eventos patrocinados
1993, p.15)
pela instituição escolar; participação e
implantação nas ações voltadas à cidadania
O protagonismo entre a família e e ao meio ambiente como: projetos da horta
a comunidade local na escola dá-se, comunitária, mapear áreas que precisam de
primeiramente quando a mesma percebe que acessibilidade na comunidade e na escola;
o dia a dia das escolas e salas de aula vai além criar debates sobre o consumo sustentável,
dos conteúdos escolares apresentados pelos coleta de lixo e reciclagem seletiva e meio
educadores; o convívio escolar cria condições ambiente e, muitas outras formas de
propícias à promoção da cidadania atuante e trabalhar em prol da própria comunidade
participativa; gera cidadãos conscientes de mas beneficiando a sociedade como um
sua responsabilidade social na construção todo. Dessa forma, é importante dar voz
de um mundo mais sustentável ; estimula as e ao mesmo tempo auscultar os alunos e
crianças, adolescentes e jovens a reflexão colaboradores, assim se dá o relacionamento
crítica das mudanças socioculturais e no ambiente escolar mediante uma gestão
socioambientais e conscientiza os educandos democrática participativa.
sobre seu pertencimento na comunidade em
que vivem. Segundo Werle: (2003, p.24):

Um bom diretor tem sempre a preocupação de Só se pode aprender a democracia por meio
auscultar os demais participantes, colhendo suas do fazer e da vivência de processos e espaços
sugestões, ideias, contribuições espontâneas. participativos avaliados, constantemente, em
Não põe em execução uma decisão, sem antes sua qualidade democrática: a aprendizagem
certificar-se de que foi bem compreendida conceitual e teórica da democracia tem, na

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verdade, menor relevância nesse processo. A participação adulta pode ser prognosticada pela participação
como estudante, daí a importância de a escola dedicar tempo para fazer democracia e promover a participação.
(WERLE, 2003, p.24)

O conceito de democratização da gestão é afetado no momento em que a família e a


comunidade não participam da instituição escolar, é impreterível seduzir a comunidade para
dentro da escola e também o inverso, isto é, a escola presente no cotidiano da comunidade,
pois compete ao gestor democrático desburocratizar o ensino-aprendizagem; tornar
flexível a educação para atender à adversidade e à pluralidade com diferentes formas de
aprendizagem; cabe, ainda, ao gestor ser um líder a serviço da sociedade educativa. Assim,
todos serão protagonistas no desenvolvimento de uma educação inclusiva e equitativa
de qualidade para todos. Somos uma nação que acredita que a educação é o esteio para
uma sociedade igualitária, fraternal e soberana. A educação é para todos e, portanto, é de
responsabilidade de todos. Afinal das contas, somos ou não uma pátria educadora?

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em vista dos argumentos apresentados sobre a tríade
Escola-Familia-Comunidade, concluímos que para a escola
alcançar seus objetivos que é a formação humanista e
integral dos seus sujeitos, é necessário que a comunidade
escolar esteja alinhada de forma harmônica com a família do
aluno, em sintonia com a comunidade na qual está inserido
e ser orquestrado por um gestor educacional democrático.

Nas discussões que ora realizamos, percebemos que


a idealização do Projeto Político Pedagógico da escola é MARIA CLEUSA RIBEIRO
pertinente, pois determina de modo preciso os objetivos DE SOUZA MORENO
aspirado, sonhado e almejado por todos os profissionais da
Graduação em Letras pela
educação, deste modo, fomentando o ensino e a formação Faculdade da Zona Leste de São
do cidadão na sua integralidade, refletindo a existência do Paulo (1991); Especialista em
educando como protagonista para além dos muros da escola; Português e Inglês; Professora de
Ensino Fundamental II - Língua
ou seja, para a vida. Portuguesa - na EMEF Rodrigo
Mello Franco de Andrade.
Enfatizamos ainda, neste estudo, que o compromisso de
uma gestão democrática é projetar uma escola democrática
de qualidade com o objetivo real de uma educação de
qualidade para todos, na qual todos os responsáveis pela
educação sejam capazes de experiênciar ações democráticas.
O gestor democrático tem que ser um líder, um articulador
a favor da comunidade educativa; ser capaz de assegurar
uma liderança compartilhada no âmbito administrativo, financeiro e pedagógico; delegar
atribuições de responsabilidades; ser um dinamizador de vivências pedagógicas inovantes
e de boas práticas. Todavia, isso acontecerá de fato se o gestor estiver fundamentado nos
princípios da autonomia, da participação coletiva, do diálogo e do respeito às opiniões
divergentes.

Sabemos, entretanto que o estudo ora apresentado se encontra aberto para novas reflexões,
visto que, o Projeto Político Pedagógico é como um instrumento musical desafinado, ou
seja, ele está em constante processo de afinação, aprimoramento e harmonia de ideias do
compromisso assumido pela instituição escolar e a comunidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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904
Revista Educar FCE - Abril 2019

FORMAÇÃO CONTINUADA
RESUMO: Neste artigo propõe se uma reflexão a respeito das constantes mudanças e avanços
da sociedade e a necessidade de os profissionais estarem atualizados e informados, aptos a lidar
com múltiplas realidades. A forma de interação e comunicação transformou-se drasticamente
com as novas pesquisas e os avanços tecnológicos, contudo essas mudanças não impactaram
o ambiente escolar da mesma maneira que revolucionaram o cotidiano. Diversas vertentes
dificultaram a apropriação significativa desses novos conhecimentos pela escola. Em alguns
casos, acreditava-se que a aquisição de maquinário tecnológico como computadores, projetor,
lousa digital entre outros bastava para que a escola estivesse pronta a atender e provocar
rupturas com a forma de ensino tradicional e fragmentado. No passado pouca importância se
deu a atualização e formação de todos os atores do ambiente escolar. Mesmo esse tema sendo
previsto em leis e orientações pedagógicas, era comum a prática da capacitação profissional
individualizada e pessoal, não favorecendo a troca de saberes e vivencias, apresentando
assim numa mesma escola docentes atualizados e outros ainda dependentes de uma forma
de ensino baseado na transmissão de conteúdos. Atualmente é notória a necessidade de
constante aprimoramento profissional, que amplie as oportunidades e ressignifique o trabalho
docente. Este aprimoramento pode acontecer no ambiente escolar, pois ele não se vincula
pela quantidade de cursos que um profissional é capaz de fazer, mas sim nas mudanças que
esta provoca na busca por impulsionar e motivar a melhoria constante.

Palavras-Chave: Educação de Qualidade; Formação Continuada; Aperfeiçoamento;


Legislação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Diante desse dinamismo, torna-se


imprescindível que todo profissional se
Os avanços tecnológicos revolucionaram mantenha atualizado. Professores, enquanto
a troca de informações e o acesso ao profissionais responsáveis por mediar
conhecimento, permitindo comunicação a aquisição do saber, transformam as
e trocas em tempo real entre indivíduos informações disponibilizadas e possibilitam a
em distantes localizações, sendo essencial construção do conhecimento. Nesse sentido,
uma constante atualização de qualquer a formação continuada surge como um
profissional que busque o sucesso em sua mecanismo que auxilia o aperfeiçoamento
área de atuação. das habilidades do indivíduo.

Há algum tempo, a aquisição de um O conceito de formação continuada


diploma de nível superior era suficiente para relaciona-se à ideia de uma formação
se obter uma boa colocação profissional. suplementar, quando se almeja a constante
Atualmente, contudo, o desenvolvimento atualização do saber, interligando os
de novos conceitos e habilidades faz com conhecimentos da formação inicial com
que a formação contínua seja um requisito a realidade presente, com o objetivo de
fundamental para todos. atender as demandas e os desafios.

A formação continuada veio atender as O contínuo aperfeiçoamento deve


novas demandas da sociedade e do mercado valorizar o contexto e os saberes prévio, pois
de trabalho como uma resposta aos novos o passado mostra as práticas que tiveram
desafios. êxito e as que precisam ser modificadas e/
ou aprimoradas, levando em consideração
No ambiente escolar essas demandas a história e percurso feito até chegar à
aparecem de forma mais significativa já realidade atual.
que a internet revolucionou o acesso à
informação. Entretanto, a construção do Os profissionais da educação precisam
conhecimento não se trata apenas de manter-se atualizados, buscando
encontrar a informação, mas ser capaz de informações, capacitações e atualizações,
transformá-la, ressignificando-a. principalmente, em relação aos aspectos que
envolvem o campo educacional. A formação
continuada possibilita ao professor refletir
FORMAÇÃO CONTINUADA e aperfeiçoar suas práticas, impulsionando
a qualidade do processo de ensino
A sociedade atual é muito dinâmica aprendizagem. Quando o educador se
e informações e conhecimento chegam aprimora, desenvolve aulas mais envolventes,
rapidamente aos mais diversos lugares. conquista maior comprometimento dos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

alunos com as atividades propostas. A A oferta de uma educação de qualidade


formação continuada transforma educadores, deve pautar-se na formação do professor.
capacitando-os A formação continuada possibilita o
aperfeiçoamento do trabalho do professor,
A Lei de Diretrizes e Bases conceituou que na sociedade atual recebeu a
a formação continuada e estabeleceu a responsabilidade por transformar a maneira
possibilidade de realização no próprio como o aluno compreende o mundo,
ambiente de trabalho, em cursos influenciando possíveis mudanças de
preferencialmente presenciais, mas que comportamento. O professor, então, precisa
também podem ocorrer a distância, em estar apto a interagir com a nova realidade
instituições públicas ou privadas. O artigo social a qual o aluno pertence e conhecer as
62 da Lei de Diretrizes e bases estabelece: novas formas de aquisição do conhecimento,
sendo capaz de incluí-las no cotidiano da
§ 2º A formação continuada e a capacitação sala de aula.
dos profissionais de magistério poderão utilizar
recursos e tecnologias de educação a distância
A formação continuada é, portanto,
§ 3º A formação inicial de profissionais de um processo contínuo de construção e
magistério dará preferência ao ensino presencial,
subsidiariamente fazendo uso de recurso s e aperfeiçoamento do conhecimento que
tecnologias de educação à distância. possibilita aos profissionais da educação
aperfeiçoar as estratégias empregadas com
E continua no artigo 62-A: o intuito de melhorar a qualidade de ensino
e proporciona possibilidade de alterações
Parágrafo único. Garantir-se-á formação significativas sempre que se fizer necessário.
continuada para os profissionais a que se refere
o caput, no local de trabalho ou em instituições Nesse sentido, educadores analisam suas
de educação básica e superior, incluindo cursos práticas e, diante das respostas oferecidas
de educação profissional, cursos superiores pelos alunos, desenvolvem novas propostas.
de graduação plena ou tecnológicos e de pós-
graduação.
Rosa e Schnetzler (2003), a respeito da
formação continuada, afirmam:
A legislação brasileira estabelece a
formação continuada como uma maneira [...] a necessidade de contínuo aprimoramento
profissional e de reflexões críticas sobre a própria
de garantir que o docente mantenha- prática pedagógica, pois a efetiva melhoria do
se atualizado, transformando-se em um processo ensino-aprendizagem só acontece pela
facilitador da aprendizagem, apto a se ação do professor; a necessidade de se superar o
distanciamento entre contribuições da pesquisa
adequar as constantes mudanças e a superar educacional e a sua utilização para a melhoria
as dificuldades comuns ao contexto da sala da sala de aula, implicando que o professor seja
de aula. também pesquisador de sua própria prática; em
geral, os professores têm uma visão simplista
da atividade docente, ao conceberem que para

907
Revista Educar FCE - Abril 2019

ensinar basta conhecer o conteúdo e utilizar


algumas técnicas pedagógicas. (SCHNETZLER; limitada aos docentes, como se apenas estes
ROSA, 2003, p.27) influenciassem a melhora do processo de
ensino aprendizagem de forma significativa.
Atualmente vivemos uma realidade social A oferta e a qualificação precisam ocorrer
multicultural em que se busca a democracia de modo coletivo. Assim, não apenas
e participação ativa dos cidadãos. Inserida educadores, mas todos os envolvidos
neste cenário, encontra-se a escola, com a educação precisam participar de
incumbida do desenvolvimento do processo processos de capacitação, uma vez que, de
de ensino-aprendizagem, priorizando as alguma maneira, todos podem influenciar na
competências e as habilidades de seus formação do educando. Falsarella afirma:
educandos.
Sabe-se que o exercício de opinar, argumentar
e ouvir, sendo instrumento de reflexão estimula
A gestão escolar democrática precisa ser a organização tanto do pensamento individual
implantada de forma que possa contribuir quanto coletivo, o que concorre para a superação
para o sucesso da educação e que, de forma de práticas autoritárias e individualistas,
tão enraizadas no modo de ser da escola.(
integrada, viabilize e assegure momentos
FARSARELLA. 2009,p)
que favoreçam e facilitem o aperfeiçoamento
individual e coletivo, valorizando a troca Dada a natureza da instituição em que
de experiências que, de alguma maneira, exercem o seu trabalho, educandos e
contribuam com o enriquecimento do saber. profissionais de uma instituição de ensino
Luck afirma: precisam se conscientizar dos objetivos e
metas a serem alcançados, para que possíveis
A gestão escolar dos sistemas de ensino e de obstáculos que apareçam sejam discutidos
suas escolas constitui uma dimensão e um
enfoque de atuação na estruturação organizada coletivamente, com o propósito de se
e orientação da ação educacional que objetiva encontrar soluções e para a concretização
promover a organização, a mobilização e a dos objetivos estabelecidos. Libâneo,
articulação de todas as condições estruturais,
funcionais, materiais e humanas necessárias Oliveira e Toschi esclarecem que organizar a
para garantir o avanço dos processos sócios escola, envolve todos os aspectos que direta
educacionais. (LUCK, 2006, p.26) ou indiretamente influenciem a qualidade do
ensino oferecido:
A escola é uma instituição diferenciada,
composta e alicerçada sobre características Assim, a organização escolar refere-se aos
princípios e procedimentos relacionados à ação
singulares, em que estão contemplados um de planejar o trabalho da escola, racionalizar
grande número de pessoas com opiniões e o uso de recursos (materiais, financeiros,
histórias divergentes A busca pelo ensino de intelectuais) e coordenar e avaliar o trabalho
das pessoas, tendo em vista a consecução de
qualidade, portanto, precisa ser a meta de objetivos. (LIBÂNEO, OLIVEIRA & TOSCHI,
todos os integrantes da comunidade escolar. 2009, p. 316)
A capacitação profissional não deve estar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A escola precisa estar apta para, além de Numa tentativa de sanar essa dificuldade,
proporcionar a busca pelo desenvolvimento o artigo 67 da Lei de Diretrizes e Bases da
pleno das competências e habilidades dos Educação (LDB) assegura aos professores da
alunos, assegurar uma educação de qualidade rede pública o direito a um período reservado
para todos. Essa educação envolve satisfazer para estudo, planejamento e avaliação dentro
as novas demandas da sociedade que exige da carga horária semanal de trabalho:
cada vez mais profissionais que possuam
conhecimento de negócio, sejam flexíveis, Os sistemas de ensino promoverão a valorização
dos profissionais da educação, assegurando-
saibam trabalhar em equipe, tenham visão lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos
geral de tudo que o cerca e estejam inteirados planos de carreira do magistério público:
a respeito do universo tecnológico.
V - período reservado a estudos, planejamento e
avaliação, incluído na carga de trabalho.
Frente a isso, torna-se impossível aceitar
que a escola se apresente ainda como um Nas escolas do Estado de São Paulo,
ambiente de mera transmissão de conteúdos dois terços da jornada do professor devem
fragmentados e desconexos. Paro destaca ser cumpridos em sala de aula e o terço
que a educação envolve tudo aquilo que o restante deve ser utilizado para atividades
indivíduo produz: pedagógicas extraclasses e aperfeiçoamento,
enriquecimento e atualização de suas
[...] entendida como agência educativa, em práticas pedagógicas.
seu sentido mais radical, tomada a educação
como apropriação da cultura, e entendida esta
como o conjunto de conhecimentos, valores, Nas escolas estaduais de São Paulo há
crenças, arte, filosofia, ciência, tudo, enfim, que períodos denominados aula de trabalho
é produzido pelo homem em sua transcendência
da natureza e que constitui como ser histórico. pedagógico coletivo (ATPC), antigo HTPC,
(PARO, 2007, p.33) regulamentado pela resolução Resolução
SE 8, de 19-1-12, que visa a realização
Apesar de conhecerem a importância de reuniões, com o objetivo de propiciar
de aperfeiçoamento contínuo, muitos momentos democráticos para estudos,
educadores não possuem disponibilidade discussões, formações e outras atividade
de tempo para participar de programas de pedagógicas, como atendimento a pais de
formação, pois a demanda do trabalho em aluno, com a intenção de alcançar melhorias
sala de aula, a necessidade de acumular no processo de ensino aprendizagem. Dois
diversos empregos, o excesso de trabalho terços da jornada do professor, portanto,
extra que são obrigados a levar para suas deve ser cumpridas em sala de aula e o terço
residências, impede-os de assumir mais restante deve ser utilizado para atividades
um compromisso, mesmo que o objetivo pedagógicas extraclasses e aperfeiçoamento,
seja e melhoria do trabalho ofertado aos enriquecimento e atualização de suas
educandos. práticas pedagógicas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), em 2009, com o intuito de


orientar a organização e funcionamento dos momentos em que professores e coordenadores
reúnem-se, encaminhou as seguintes instruções:

2 - As Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo - HTPC deverão ser planejadas e organizadas pelo Professor
Coordenador de cada segmento do ensino fundamental e médio, em sintonia com toda equipe gestora da
escola, com vistas a integrar o conjunto dos professores do respectivo segmento, objeto da coordenação.

4 - No planejamento, na organização e na condução das HTPCs, é importante:


- considerar as demandas dos professores frente às metas e prioridades da escola;
- elaborar previamente a pauta de cada reunião, definida a partir das contribuições dos participantes;
- dividir entre os participantes as tarefas inerentes às reuniões (registro, escolha de textos, organização dos
estudos);
- planejar formas de avaliação das reuniões pelo coletivo dos participantes;
- prever formas de registro (ata, caderno, diário de bordo, e outras) das discussões, avanços, dificuldades
detectadas, ações e intervenções propostas e decisões tomadas;
- organizar as ações de formação continuada com conteúdos voltados às metas da escola e à melhoria do
desempenho dos alunos, com apoio da equipe de supervisão e oficina pedagógica da DE.

5 - O horário do cumprimento das HTPCs, a ser organizado pelo Professor Coordenador, deverá assegurar que
todos os professores do respectivo segmento de ensino participem num único dia da semana, em reuniões de,
no mínimo, duas horas consecutivas;

Atualmente, além de ensinar o professor precisa estar aberto a aprender continuamente. A


formação inicial de muitos professores está inserida em um contexto que hoje é considerado
defasado. A formação continuada permite a conexão entre o que esse professor aprendeu
durante seu período universitário e a nova realidade encontrada nas situações diárias, e
impostas a ele no atual contexto da sala de aula. Ela capacita professores, coordenadores e
gestores a enxergar as dificuldades diárias com uma nova visão, refletindo em conjunto sobre
os problemas com os quais se deparam, para que descubram as ferramentas adequadas que
os auxiliem na superação de possíveis obstáculos e possibilitem a busca por alternativas que
ofereçam melhorias na promoção da qualidade de ensino, pois é por meio da educação que
ocorrem mudanças no sujeito que favorecerá toda a sociedade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola e, consequentemente, a educação enfrenta uma
nova realidade, e o ensino não pode mais basear-se apenas
em giz, lousa e aulas exclusivamente expositivas. O aluno
leva para o ambiente escolar vivências e experiências que
precisam ser absorvidas pela comunidade escolar e que faz
parte do cotidiano que enfrenta diariamente.

A formação continuada não é uma determinação recente,


pois foi estabelecida na Lei de diretrizes e Bases de 1996 e é
alvo da administração pública, com maior ênfase em alguns
governos do que em outros.

O contexto em que a escola está inserida deve sempre MARIA CRISTINA


ser avaliado para que as formações continuadas auxiliem TELES DE OLIVEIRA
o desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem e Graduação em Matemática pela
haja busca constante da elevação os níveis de qualidade do Universidade de Santo Amaro
ensino ofertado. - UNISA (2002); Professora de
Ensino Fundamental I na EMEF
Brasil Japão, Professora de
A formação continuada, precisa ser vista como aliada dos Educação Básica – Matemática -
educadores, pois propicia novas práticas e ressignificação na EE Rosa Bonfiglioli.
das práticas pedagógicas, possibilita a troca de vivencias e
saberes, permitindo que a realidade escolar seja avaliada e
interferências sejam realizadas na construção de uma escola
participativa que valoriza seus profissionais e contribui de
forma concreta para a sua atualização.

A atualização permanente é de suma importância para uma escola democrática, que enxerga
o aluno o como protagonista do saber, possibilita a avaliação das práticas adotadas frente
aos novos conhecimentos adquiridos na formação. Trata-se, portanto, de um mecanismo
de socialização, interação e autonomia que envolve todos os integrantes da comunidade
escolar.

A busca pelo continuo aprimoramento é um desafio diário. As demandas escolares


são muitas e bastante diversificadas, sendo impossível apontar um único caminho para a
obtenção do sucesso escolar. A formação continuada permite a constante reflexão, avaliação
e reavaliação das metas estabelecidas, com o intuito de alcançar o pleno desenvolvimento

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Revista Educar FCE - Abril 2019

do educando, transformando-se em um instrumento que, se empregado adequadamente,


auxilia o trabalho docente e facilita o processo de ensino aprendizagem.

A formação continuada apresenta-se, portanto, como um caminho de extrema relevância


na construção da escola como espaço de ensino aprendizagem participativo e colaborativo,
podendo ser um marco transformador das práticas pedagógicas motivado pela busca de um
ensino de qualidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
Comunicado CENP, de 06/02/2009. http://www.sindicatoapase.com.br/ler-legislacao/101-
comunicado-cenp--de-06-02-2009. Acesso em 25 de fev. 2019.

FALSARELA, Ana Maria. Escola, qual é o seu projeto? Presença Pedagógica. v.19.n.110 –
mar/abr.2013

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Lei de Diretrizes e Bases. http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm. Acesso em 18 de fev. 2019

LIBÂNEO, J.C.; OLIVEIRA, J.F.; TOSCHI, M.S. Educação Escolar: políticas, estrutura e
organização. 8.ed. São Paulo: Cortez, 2009 (Coleção Docência em Formação).

LUCK, Heloisa. Concepções e Processos Democráticos de Gestão Educacional. volume 2.


Rio de Janeiro: Vozes, 2006.

PARO, Vitor Henrique. As funções da escola, a estrutura didática e a qualidade do ensino.


In: PARO, V. Gestão escolar, democracia e qualidade do ensino. São Paulo: Ática. 2007, p.
33- 81.

Resolução SE nº 08, de 19-1-12. Dispõe sobre a carga horária dos docentes da rede estadual de
ensino. http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/08_12.HTM?Time=25/02/2019%20
07:52:35. Acesso em 25 de fev. 2019

ROSA, M. I. F. P.; SCHNETZLER, R. P. A investigação-ação na formação continuada de


professores de Ciências. Ciência & Educação, Bauru, v. 9, n. 1, p. 27-39, jun. 2003.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

PRÁTICAS ARTÍSTICAS NO ENSINO


FUNDAMENTAL ARTES NA
EDUCAÇÃO ESCOLAR
RESUMO: Diferentes momentos históricos ajudam a compreender melhor a questão do
processo educacional e sua relação com a própria vida, a preocupação com a educação em
arte tem mobilizado pesquisadores, professores, estetas e artistas, os quais vêm procurando
fundamentar e intervir nessas práticas educativas, a educação em arte acontece a partir
das práticas sociais, visando a melhoria de qualidade de escolarização desde a infância, os
métodos de ensino não partem de um saber espontâneo, mas de uma relação direta com
experiências do aluno confrontada com o saber trazido de fora, o diálogo com a cultura
acumulada historicamente, sem perder de vista a sistematização lógica do conhecimento,
professor e aluno são tomados como agentes sociais.

Palavras-Chave: Habilidade manual; Cultura acumulada, Sistematização lógica; Práticas


sociais.

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INTRODUÇÃO A organização de um trabalho de


educação escolar que contribua nesse rumo
O ensino de arte na escola cumpre um é um desafio para o coletivo dos professores
papel fundamental que vai além da execução compromissados em conseguir escolas de
de uma simples disciplina curricular, melhor qualidade para toda a população.
acontece com as práticas sociais vividas pela
sociedade. Neste sentido criam-se possibilidades de
contato direto com materiais bibliográficos,
Neste sentido verifica-se uma necessidade iconográficos, sonoros, ampliando
de mudança da formação do educador em assim o processo educacional durante a
arte, visando à melhoria da qualidade de aprendizagem no ensino fundamental.
escolarização desde a infância.
Pode-se dizer que a união desses
Como não dicotomizar a formação teórica compromissos com um projeto educativo
e prática no ensino de arte? que vise reformulações qualitativas na
escola precisa do desenvolvimento e
Com Investimentos e aperfeiçoamento na saberes necessários para um bom trabalho
formação pedagógica dos educadores com pedagógico.
atuação nas escolas de ensino fundamental
e médio, ultrapassando assim os limites dos No caso do professor de Arte, a sua
cursos e licenciaturas em educação artística. prática-teórica, artística e estética devem
Segundo as ideias da Escola Nova e da estar conectadas a uma concepção de arte,
Educação através da Arte, destacam-se Ana assim como a propostas pedagógicas.
Mãe Barbosa com a obra, John Dewey e o
ensino da arte no Brasil e Arte-Educação; O professor de arte é um dos responsáveis
leitura no subsolo, Anamelia Bueno Buoro, o pelo sucesso desse processo transformador,
olhar em construção, Graça Proença, História ao ajudarem os alunos a melhorarem suas
da arte, Maria F. de Rezende e Fusari com sensibilidades e saberes práticos e teóricos
Maria Heloisa C. de T. Ferraz com Arte na em Arte.
educação escolar.
O que nos leva a pensar que a Arte-
Pode-se dizer que os conhecimentos Educação vem se apresentando como um
amplos e aprofundados da arte, incorporando movimento que busca novas metodologias de
ações como: ver, ouvir, mover-se, sentir, ensino e aprendizagem de Arte nas escolas.
pensar, descobrir, exprimir, fazer, a partir dos Valorizando o professor da área, discutindo
elementos da natureza e da cultura, pode ser e propondo um redimensionamento do seu
realizado em sala de aula. trabalho, conscientizando-o da importância
da sua ação profissional e política na sociedade

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Na obra de Maria F. de Rezende e Fusari despertar o indivíduo no seu processo de


com Maria Heloisa C. de T. Ferraz, elas alfabetização, despertando a sua atenção
fizeram o seguinte comentário: particular de sentir.

“A Educação Através da Arte é, na verdade,


um movimento educativo e cultural que busca APRESENTAÇÃO
a constituição de um ser humano completo, SOCIOCULTAL DA
total, dentro dos moldes do pensamento
idealista e democrático. Valorizando no ser EDUCAÇÃO EM ARTES
humano, os aspectos intelectuais, morais e Com o decorrer das pesquisas foi possível
estéticos, procura despertar sua consciência observar que passamos a entender o mundo
individual, harmonizada ao grupo social ao através da linguagem, ou seja, por código
qual pertence” (FUSARI: FERRAZ, 1993, linguístico da comunidade em que vivemos
p.15). em decorrência de um processo educativo
assim nos tornamos humanos.
Segundo as escritoras é necessário que
educando e educador caminhem juntas Por isso, seu estudo nos ajudou a
com um mesmo objetivo, uma educação de compreender o discurso da criança e os
qualidade valorizando o ser humano. sentidos em que ela realiza sua atividade.
Esses sentidos não são uma vivência
exclusivamente pessoal. A vivência combina
COMO A ARTE SE APRESENTA a experiência vivida com uma multiplicidade
EM SALA DE AULA de referencias cultural pelos sujeitos, cada
um a seu modo. Desse modo os sentidos
Neste capítulo pretendemos mostrar vivenciados pelas crianças não estão
os novos caminhos que o ensino de artes desvinculados dos sentidos que existem que
vem adotando na educação fundamental e existem na sociedade e que se relacionam
como vem atuando em nossa sociedade nos com a realidade vivida em sala de aula.
tempos atuais.

Podemos observar que o ensino de arte EM BUSCA DA


na escola cumpre um papel fundamental REPRESENTAÇÃO ARTÍSTICA
que vai além da execução de uma simples
disciplina curricular. Durante o período Nesta busca de um processo formativo, à
escolar buscamos significações para as aprendizagem durante o ensino fundamental
nossas experiências, através dos símbolos, se baseia no fazer e na apreciação ligada a
da palavra, constituindo maneiras de se atividades lúdicas ficando evidenciados
exprimir os sentimentos, maneiras de a observação e o contato com formas e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

diversos materiais artísticos em que se desenvolvimento espontâneo da expressão


destacam principalmente as expressões artística da criança.
que por consequência desenvolvem suas
potencialidades estéticas.
ARTE COMO EXPRESSÃO
Esse estudo e vivência de vários aspectos NA ESCOLINHA DE
da cultura, tanto das culturas tradicionais
locais, como da mídia e da herança ARTE NO BRASIL
histórica e erudita devem ser exercidos em Em 1947, por iniciativa do caricaturista
uma perspectiva crítica, de modo que os Augusto Rodrigues, foi criado, no Rio de
estudantes “ultrapassem o senso comum e Janeiro, a escolinha de Arte do Brasil,
adquiram posicionamentos mais críticos” orientada, principalmente, pela intenção
(Fusari e Ferraz, 1993, p.58). Deve haver de fazer a educação através da arte,
uma educação de sua capacidade de julgar fundamentando a atividade artística na
e avaliar todas as produções artísticas e livre expressão. Essa proposta rapidamente
comunicativas (Fusari e Ferraz, 1999, p. difundiu-se pelo Brasil constituindo um
44). Para as autoras o ensino de Arte tem o movimento, o sentido de ensino de Arte
sentido de desenvolvimento de uma postura como expressão continua presente até
crítica em relação aos produtos e atividades os dias de hoje e aparece em diferentes
artísticas e aos meios de comunicação. propostas contemporâneas para o ensino de
Arte, embora sem caráter de centralidade
que recebe no Movimento Escolinhas de
ARTES NOS PARÂMETROS Arte.
CURRICULARES
Neste capítulo vamos observar a O TECNICISMOS NO ENSINO
caracterização da área de Arte na escola, DAS ARTES VISUAIS
como se formulou a proposta geral e a
importância de sua função. Em 1º. De abril de 1964 um golpe militar
depõe o presidente João Goulart e põe fim a
Pesquisaremos as dimensões sociais das 15 anos de experiência democrática no Brasil.
manifestações artísticas, a importância no Os educadores socialistas e muitos entre os
mundo do trabalho e do desenvolvimento democratas são intensamente perseguidos.
profissional dos cidadãos. Milhares são demitidos e impedidos de
lecionar e outros são expulsos do país. Paulo
Para melhor entender, a pesquisa irá Freire e Anísio Teixeira estão entre eles. O
relatar alguns momentos ocorridos com as intenso debate que havia sobre os rumos
novas tendências, questionando a ideia do para a educação brasileira foi interrompido.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A ditadura militar centraliza as decisões e no currículo escolar, mas ainda considerada


reprime duramente aqueles que se opõem. “atividade educativa” e não disciplinar, mas
A educação brasileira é enquadrada no diante de mobilizações de grupos de professores
projeto político da ditadura que se instalou de arte a partir dos anos 80 constitui-se o
e permaneceu no poder político por mais movimento Arte-Educação. (PCN, 2001 p. 25 e
de 20 anos, ficando sob a égide da Doutrina 26). Assim em 1988 iniciam-se as negociações
de Segurança Nacional, desenvolvida na sobre a nova Lei de Diretrizes e Bases da
Escola Superior de Guerra, fundamentada no Educação Nacional, sendo sancionada apenas
binômio segurança e desenvolvimento. em 20 de dezembro de 1996.

Mesmo o chamado Desenho livre tem


seu sentido distorcido, pois muitas vezes, O SENTIDO DO ENSINO
é apresentado como prêmio ou recreação. DE ARTES
Modelos pré-impressos são apresentados
para atividades de cópia e de colorir. Atividades Além do professor, toda a comunidade
programadas de recorte, colagem e dobra, escolar carrega essas influências. Os
além do uso de uma grande diversidade de professores de Arte anteriores, que já não
materiais também caracterizam a tendência estão na aula com aqueles alunos, deixaram
tecnicista no ensino de arte. Os alunos sua marca, sua influência. Os professores das
devem aprender superficialmente as técnicas outras disciplinas também se manifestam
de uso de uma grande variedade de matérias sobre o ensino de Arte. Da mesma forma,
com o uso de procedimentos padronizados familiares, direção e equipe técnica das
(FERRAZ e FUSARI, 1999, p. 32). escolas, funcionários operacionais, outros
alunos, irmãos e outras crianças. Essas
propostas, carregados dos sentidos neles
ARTES NOS PARÂMETROS expressos, chegam aos alunos por todos
CURRICULARES NACIONAIS esses caminhos e não exclusivamente pelo
seu professor no momento da aula.
Neste capítulo vamos observar a
caracterização da área de Arte na escola, como Esse fazer diferencia-se do trabalho e
se formulou a proposta geral e a importância de do brincar. O brincar também é atividade,
sua função. Pesquisaremos as dimensões sociais mas não precisa criar uma obra. O trabalho
das manifestações artísticas, a importância precisa produzir um objeto, mas não precisa
no mundo do trabalho e do desenvolvimento criar, pois, muitas vezes, visa um resultado
profissional dos cidadãos. já esperado. A atividade artística é um fazer
especial, que deve chegar ao inesperado, ao
Somente em 1971, pela Lei de Diretrizes e não estabelecido. Por isso, é um fazer que
Bases da Educação Nacional, a arte é incluída deve criar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ARTE COMO LIBERDADE DE EXPRESSÃO


No discurso das crianças sobre sua atividade, há um sentido de libertação. Elas parecem
buscar uma dimensão da existência que não seja marcada pelas limitações do dia-a-dia. E
a arte proporciona essa dimensão, libertando-as, por alguns instantes, das exigências do
mundo social em que vivem. A arte se mostra, assim, como uma dimensão da existência
humana que liberta ao proporcionar vivências não condicionadas ao cotidiano, outras
dimensões da existência outros modos de se.

Sentidos semelhantes podem ser encontrados em alguns autores. Machado (apud


Barbosa. 1999 a, p. 29-30) refere-se à criação artística como elemento que pode colaborar
na superação da crise da adolescência, (LOWENFELF e BRITTAIN. 1977, p. 26-30 e 37-
46) destacaram a importância da arte na constituição da identidade e no desenvolvimento
psicológico. E os PCN-ARTE (BRASIL. 2000, p. 21) atribuem à arte o papel do constituir o
próprio sentido da vida, ampliando a vida para a sua dimensão de sonho e poesia.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo assim, o ensino das artes deve ser considerado
na educação escolar da mesma forma que outras áreas do
conhecimento, como a matemática, a língua portuguesa, a
história, etc. Em nossas pesquisas para a elaboração desse
trabalho pudemos constatar que a artes está presente em
nossas vidas desde muito cedo.
MARIA DA GLÓRIA
A nova LDB vem dar essa garantia na medida em que torna MOREIRA BASTOS
o conhecimento artístico obrigatório no currículo do ensino Licenciatura em Pedagogia com
fundamental e médio. O difícil é sair do papel, chegar ate Habilitação em administração,
as escolas, ser incluído no currículo e oferecido aos alunos Educação Infantil, ensino
Fundamental e Supervisão Escolar
no horário escolar. Isso requer um maior, interesse por parte pelas Faculdades Integradas
dos administradores escolares e dos próprios docentes, e Torricelli-. (2010). Professora de
uma infraestrutura física, técnica e de serviços necessários Educação Infantil- Cei Santa Inês.
ao desenvolvimento de todas as etapas de educação básica,
caso contrário, ficará mais uma vez, só no papel ou na boa
intenção de alguns.

A educação artística não pode ser separada do dia-a-dia dos discentes, pois o canto, a
dança, as brincadeira, o movimento, o improviso, já fazem parte do ambiente da criança
e jovens, seja no ambiente familiar ou fora dele. São manifestações de grande valor que
merecem ser considerados na formação cultural e educativa dos alunos

Sabemos que muitos professores não possuem conhecimentos suficientes para desenvolver
um bom trabalho, mas considerando a importância da educação artística no desenvolvimento
humano, o governo poderia investir em curso de formação para a capacitação dos mesmos,
na formação de professores com especialização na educação de artes.

A atual lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº. 9.394.146, a disciplina de artes
é a junção de conhecimentos de diferentes áreas do saber, construindo um único espaço
para o teatro, música e artes plásticas. A tendência dos docentes é optar por uma dessas
áreas, geralmente a que ele domine.

Resgatar o ensino das artes no currículo escolar é defendê-lo como uma área de
conhecimento sério e dotada de valor e significado.

920
Revista Educar FCE - Abril 2019

As artes no currículo escolar, valendo-se do espírito criativo, emancipado, buscam ensinar


os alunos a serem construtores ativos de um conhecimento criativo e transferível para outras
situações e problemas, indo além do conhecimento artístico, ajudando-os a interpretar e agir
no mundo em que vivem, tornando-o cada vez melhor e mais belo. Os alunos podem criar e
transformar o conhecimento, pensando em melhorar sua qualidade de vida, hoje e no futuro.

Na verdade, não há um único caminho a ser seguido que possa garantir, com segurança, a
eficiência da prática da educação artística.

921
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Paulo: Autores Associados, 2001.

923
Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este trabalho, de abordagem teórico-empírica, tem como objetivo principal a
apresentação da discussão da importância do ato de brincar para o desenvolvimento das
crianças na Educação Infantil. A importância de abordar esta temática é atual e necessária,
pois, o ato do brincar deve ser visto com uma ferramenta em potencial para o melhor
desenvolvimento das crianças tanto no contexto educacional quanto no social. A educação
e o brincar devem ser considerados paralelamente eficazes e potentes no processo de
aprendizagem e construção de conhecimento. Portanto, este artigo compõe-se pela
fundamentação teórica do ato de brincar, por meio da abordagem da concepção de vários
autores, seguida pela apresentação da conceituação do ato de brincar propriamente dito
e a seguir, pela apresentação de uma abordagem histórica do brincar, assim como a sua
importância dentro da aprendizagem na Educação infantil.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Brincar; Educação Infantil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO ferramenta eficiente para os profissionais da


Educação Infantil.
A importância da necessidade de
proporcionar às crianças da educação
infantil uma aprendizagem significativa, O ATO DE BRINCAR:
de qualidade fez com que o tema brincar CONCEPÇÕES
fosse selecionado para o presente artigo
O brincar faz parte da vida da criança. É
devido à sua utilização pelos profissionais brincando que ela inicia, desde a mais tenra idade,
da educação como estratégia no processo sua interação com o mundo, estabelecendo
formas de comunicação, relacionamento
de aprendizagem pois, além de estimular
e experimentação. O brincar é atividade
o raciocínio e de sua correspondência com constante e natural, que estimula o aprendizado
o dia a dia infantil, dialoga com a BNCC e a apreensão de valores culturais e sociais. O
adulto de maneira geral vê as atividades lúdicas
(Base Nacional Comum Curricular), já que,
quando praticadas por ele como atividades de
atualmente, brincar é um dos eixos estruturais lazer e ócio e quando se trata da criança, acredita
da Educação Infantil. A motivação para a que a brincadeira tem sempre valor educativo.
Nem sempre é assim. O brincar é livre. Tem
seleção deste tema repousa na necessidade
valor essencial no desenvolvimento dos seres,
de atribuir intencionalidade às brincadeiras mas é também atividade criativa, de diversão e
dentro do processo de aprendizagem na descontração. E, ainda assim, é no brincar que
a criança tem a possibilidade de desenvolver
primeira infância, impulsionando assim, a
habilidades motoras, perceptivas e cognitivas.
educação integral, pautada por uma visão Muitos estudos com crianças sugerem que o
integral das crianças, considerando-as como brincar da criança requer estratégias sociais de
grande complexidade. A criança não se limita à
sujeitos de direitos, potentes e produtores
imitação do mundo adulto, elas reinventam a
de cultura. todo tempo, um novo mundo. Esse mundo tem
um pouco do que recebe de informação e um
pouco dela mesma e de seus gostos e paixões
Este trabalho tem como objetivo geral
próprias. (MORAIS E PÚBLIO 2019, p.13)
ratificar a importância do resgate da
intencionalidade do ato de brincar no dia a
dia da educação infantil, como propulsor do A Educação Infantil vem atravessando um
desenvolvimento globalizado das crianças momento de ampla revisão de concepções e
da primeira infância. conceitos sobre as práticas pedagógicas e na
organização de um currículo que contemple
O presente artigo terá seu início através da o desenvolvimento integral das crianças,
apresentação das abordagens teóricas sobre porém com um currículo próprio, sem
a concepção do ato de brincar, seguindo antecipação de conteúdos que devem ser
pela apresentação das perspectivas sobre trabalhados apenas no ensino fundamental,
o seu aparecimento e trajetória mundial, considerando as interações e brincadeiras
com destaque especialmente no nosso país, como atividades primordiais, cuja valorização
além de destacar a sua importância como de todas as experiências que culminem no

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Revista Educar FCE - Abril 2019

desenvolvimento integral da criança. Através Segundo Kishimoto (2006), em meio a


do brincar é que as crianças potencializam seu várias formas de brincar, a criança pode optar
desenvolvimento, adquirindo as habilidades por brincar de amarelinha, pião, carrinho,
de memória, atenção, imitação, imaginação boneca, pega-pega, corda, bambolê, com
e habilidades motoras tais como o equilíbrio bola, jogo de tabuleiros, jogos pedagógicos
e a coordenação. Quando brinca a crianças ou brincadeira de imitação. Por exemplo,
aprende a conhecer, a fazer e a conviver, podemos destacar quando a criança pega
estimulando a curiosidade, a autoconfiança uma boneca e brinca de “filhinha” ou de
e autonomia, desenvolvendo a linguagem, o fazer comidinha em um fogão de brinquedo,
pensamento e a atenção. em todas estas brincadeiras a criança irá
aprender e desenvolver diversas habilidades.
O brincar não é o objeto em si, mas um Quando brinca, a criança entra no mundo
conjunto de estratégias e habilidades que da imaginação, saindo da sua vida cotidiana.
mobilizam experiências reveladoras sobre o Existem também os jogos tradicionais
mundo. infantis, que enfatizam o folclore e a
cultura brasileira, atividades transmitidas de
Vários autores se debruçaram sobre a geração em geração. Temos também os
questão do brincar. Brincar, segundo o jogos de construção possibilitam às crianças
dicionário Ferreira (2003), é “divertir-se, transformarem e destruírem por meio do
recrear-se, entreter-se, distrair-se, folgar”. manuseio de peças, expressando suas
Podendo também ser: “entreter-se com alegrias, tristezas e problemas, possibilitando
jogos infantis”, ou seja, brincar é alguma que o professor identifique as dificuldade e
coisa bastante presente nas nossas vidas, necessidades de cada criança.
ou pelo menos deveria ser. Ainda de acordo
com o dicionário Ferreira (2003) brinquedo Para Kishimoto (2002) o brinquedo difere
é “objeto destinado a divertir uma criança, do jogo, por estabelecer uma ligação de
suporte da brincadeira”, portanto, estimula maior intimidade com as crianças, devido à
a representação que traz aspectos da ausência de regras na organização de seu uso.
realidade. Ainda segundo Kishimoto (2002, p. 21), “o
vocábulo brinquedo não pode ser reduzido à
De acordo com Freinet (1996), a criança pluralidade de sentidos do jogo, pois conota
aprende pela experimentação concreta no criança e tem dimensão material, cultural
mundo real, na relação com o mundo, com e técnica.” O brinquedo é um suporte para
as pessoas, enfim, com o meio social. Freinet a brincadeira. Portanto, pode-se concluir
acreditava que um experimento, qualquer que brinquedo e brincadeira se relacionam
que seja, imprime uma marca permanente e é diretamente com a criança, e não podem
através destas marcas que a criança constrói ser confundindos com o jogo propriamente
conhecimento. dito. Já Oliveira (2000) destaca o ato de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

curso do desenvolvimento da inteligência da


brincar, como um processo no qual a criança criança, já que ela se modifica de ato puramente
tem a oportunidade de aprender a conciliar transmissor a ato transformador em ludicidade,
a brincadeira efetivamente, estabelecendo denotando-se, portanto em jogo. Carvalho
(1992, p. 28)
vínculos mais duradouros. É pelo ato de
brincar que a criança aprende a respeitar
regras, a amplificar seu relacionamento Ao brincar a criança, fornece várias
social, respeitando a si e ao outro. informações ao seu respeito sem perceber. O
brincar é considerado extremamente útil para
De acordo com Zanluchi (2005, p. 91): “a estimular o desenvolvimento integral, tanto
criança brinca daquilo que vive; extrai sua no ambiente familiar, quanto no ambiente
imaginação lúdica de seu dia-a-dia”, portanto escolar. Através do ato de brincar, a criança
tendo a oportunidade de brincar, as crianças exercita suas potencialidades e se desenvolve,
estarão mais preparadas emocionalmente através dos desafios que provocam e
para controlar suas atitudes e emoções em estimulam o pensamento, conduzindo-a
sociedade. atingirem níveis de desenvolvimento que
somente as motivações essenciais são
Segundo Vygotsky (1998), o jogo capazes de suscitar. As crianças passam a agir
simbólico é uma atividade própria da infância e esforçam-se sem perceber o aparecimento
e essencial para o desenvolvimento infantil, de cansaço ou estresse devido à liberdade
consolidando-se a partir da representação quanto à cobranças e expectativas,
simbólica, permeada pela imitação. Portanto, avançando, ousando, descobrindo,
pode ser considerada uma atividade muito realizando com disposição, sentindo-se cada
importante, na elaboração do pensamento vez mais capazes e, portanto, mais confiantes
infantil, pois é brincando que a criança em si mesmas e predispostas a aprender.
demonstra seus níveis cognitivo, visual, Portanto, os processos de desenvolvimento
auditivo, tátil, motor e seu modo de aprender, infantil ressaltam que o ato de brincar é um
além de entrar em uma relação cognitiva importante processo ativador psicológico,
com o mundo de eventos, pessoas, coisas e impulsionador de desenvolvimento e
símbolos. De acordo com Vygotsky (1998), as aprendizagem. Segundo Vygotsky (1998), o
brincadeiras e jogos, são fontes inesgotáveis ato de brincar é uma atividade criadora, na
de interação afetiva e lúdica, e vão surgindo qual a imaginação, a fantasia e a realidade
gradativamente na vida da criança, desde os interagem produzindo novos formatos
mais funcionais até os de regras, viabilizando de construir relações sociais com outros
a conquista e a formação da sua identidade. sujeitos, crianças e/ou adultos. Tal ponto
de vista se distancia bastante da visão
Carvalho (1992, p. 28) destaca que: predominante e unilateral de conceber o ato
de brincar como simples atividade restrita à
[…] o ensino absorvido de maneira lúdica, passa assimilação de papéis sociais e culturais, cuja
a adquirir um aspecto significativo e afetivo no

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Revista Educar FCE - Abril 2019

função principal seria facilitar o processo de revelam importantes traços de caráter e


socialização da criança e a sua integração à personalidade. Já as emoções são altamente
sociedade. orgânicas, de maneira que contribuem para
que o ser humano se conheça melhor. A raiva,
Segundo Oliveira (2000), o ato de brincar o medo, a tristeza, a alegria e os sentimentos
não significa necessariamente apenas mais profundos, possuem uma função de
recreação, mas sim o desenvolvimento grande relevância no relacionamento da
integral, caracterizando-se como uma das criança com o meio. O movimento tem um
formas mais complexas que a criança tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do
de comunicar-se consigo mesma e com gesto e do movimento quanto pela maneira
o mundo, ou seja, o desenvolvimento com que ele é representado. A escola ao
ocorre através de trocas recíprocas que se insistir em manter a criança imobilizada,
estabelecem durante toda a vida. Portanto, acaba por limitar o fluir de fatores necessários
através do brincar a criança pode intensificar e importantes para o desenvolvimento
o desenvolvimento de capacidades completo da pessoa. E, por fim, a formação
importantes como a atenção, a memória, a do eu está diretamente relacionada à
imitação, a imaginação, impulsionando ainda construção da personalidade da criança,
o desenvolvimento de áreas da personalidade a qual depende essencialmente do outro,
como afetividade, motricidade, inteligência, com maior ênfase a partir de quando ela
sociabilidade e criatividade. começa a vivenciar a “crise de oposição”,
na qual a negação do outro funciona como
Segundo Piaget (1976), “... os jogos não uma espécie de instrumento de descoberta
são apenas uma forma de desabafo ou de si própria. Isso acontece mais ou menos
entretenimento, para gastar energias das em torno dos três anos, quando é a hora de
crianças, mas meios que contribuem e saber que “eu” sou. Atividades de imitação
enriquecem o desenvolvimento intelectual”. e manipulação são características comuns
Para Kishimoto (2002) o brinquedo é diferente nesta fase.
do jogo. Brinquedo é uma ligação intima
com a criança, na ausência de um sistema
de regras que organizam sua utilização. O BRINCAR NA
Ainda segundo o dicionário Ferreira (2003) EDUCAÇÃO INFANTIL
brinquedo é “objeto destinado a divertir uma
criança, suporte da brincadeira”, sendo assim, Quando brincam, as crianças
estimula a representação e a expressão de potencializam e praticam os quatro pilares
imagens que evocam aspectos da realidade. da educação propostos por Jaques Delors
(1996) à UNESCO, como forma integral de
De acordo com Wallon (2007), as desenvolvimento: ela aprende a conhecer,
transformações fisiológicas de uma criança aprende a fazer, aprende a conviver e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

aprende a ser. Através da brincadeira, a infantil. Não há necessidade de brinquedos


criança aprende a seguir regras, experimenta extremamente elaborados para as crianças
formas de comportamento e se socializa, para que os tornem instrumentos, suportes
descobrindo o mundo ao seu redor. Brincando auxiliares para sua atuação no mundo que a
com outras crianças, encontra seus pares e envolve. Vários objetos como pente, cadeira,
interage socialmente, descobrindo, desta potes, recipientes, serão parte de seu mundo
forma, que não é o único sujeito da ação, de fantasia e imaginação. Elas desenvolverão
e que para atingir seus objetivos, necessita um mundo de imaginação, memória, atenção
considerar o fato de que outros também têm e criação. Através do brincar as crianças
objetivos próprios (TEIXEIRA, 2010, p. 49). desenvolvem o pensar, as ideias, as posturas
em relação aos objetos, refletindo a cultura na
De acordo com as Diretrizes Curriculares qual estão inseridas. É através das brincadeiras
Nacionais da Educação Infantil que definem que a criança cria seu mundo, o transforma e
a criança como: se apropria dele. A interação durante o brincar
caracteriza o cotidiano da infância, trazendo à
sujeito histórico e de direitos, que, nas tona muitas aprendizagens e potências para
interações, relações e práticas cotidianas o desenvolvimento integral das crianças.
que vivencia, constrói sua identidade Ao observar as interações e a brincadeira
pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, entre as crianças e delas com os adultos, é
deseja, aprende, observa, experimenta, possível identificar, por exemplo, a expressão
narra, questiona e constrói sentidos sobre a dos afetos, a mediação das frustrações, a
natureza e a sociedade, produzindo cultura resolução de conflitos e a regulação das
(BRASIL, 2009). emoções. Ao assumir a função lúdica e
educativa, a brincadeira promove diversão,
A educação infantil é o espaço privilegiado prazer, potencializa a exploração, a criação, a
do brincar. E nesse espaço que serão imaginação e a construção do conhecimento.
disponibilizados objetos, brinquedos para Brincar é fundamental para qualquer idade,
que possam interagir com outras crianças e principalmente para as crianças da Educação
principalmente para que possam aprender, Infantil. Assim, a brincadeira não deve ser
pois o brincar é uma importante forma de mais encarada como atividade utilizada pelo
comunicação e aprendizagem. O lúdico auxilia professor apenas para recrear as crianças e
na aprendizagem, pois ajuda na construção sim, como atividade em si mesma, cabendo
da reflexão, autonomia e da criatividade. ao educador proporcionar um ambiente
Conforme as Diretrizes Curriculares que congregue os elementos de motivação
Nacionais, as práticas pedagógicas têm para as crianças. Elaborar atividades que
como eixos norteadores as interações e proporcionem conceitos que preparem para
brincadeiras. Existem situações e brincadeiras a leitura, para os números, conceitos de
que estimulam cada fase do desenvolvimento lógica que envolvam classificação, ordenação,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

seriação, dentre outros; além de impulsionar a são altamente orgânicas, de maneira que
motivação para trabalhar em equipe na busca contribuem para que o ser humano se
pela resolução de problemas, aprendendo conheça melhor. A raiva, o medo, a tristeza,
a expressar seus próprios pontos de vista a alegria e os sentimentos mais profundos,
em relação ao outro. A atividade lúdica é, possuem uma função de grande relevância
portanto, uma das formas pelas quais a criança no relacionamento da criança com o meio. O
se apropria do mundo, e pela qual o mundo movimento tem um caráter pedagógico tanto
faz parte de seu processo de constituição, na pela qualidade do gesto e do movimento
qualidade de sujeito histórico. No entanto, quanto pela maneira com que ele é
é comum em muitas instituições de ensino, representado. A escola ao insistir em manter
uma atmosfera pautada pela ordem e a criança imobilizada, acaba por limitar o fluir
pela harmonia, cujas práticas educativas de fatores necessários e importantes para
simplesmente buscam suprimir o movimento, o desenvolvimento completo da pessoa. E,
impondo às crianças de diferentes idades, por fim, a formação do “eu” está diretamente
restrições bastante rígidas. Podemos relacionada à construção da personalidade da
exemplificar com os longos momentos de criança, a qual depende essencialmente do
espera em fila ou sentados, nos quais as outro, com maior ênfase a partir de quando
crianças precisam ficar quietas realizando ela começa a vivenciar a “crise de oposição”,
atividades mais sistematizadas, escrevendo na qual a negação do outro funciona como
ou lendo, e qualquer deslocamento ou uma espécie de instrumento de descoberta
alteração de posição pode ser visto como de si própria. Isso acontece mais ou menos em
uma desordem ou indisciplina. Isso é comum torno dos três anos, quando é a hora de saber
também nas creches nas quais os bebês devem que “eu” sou. As atividades e brincadeiras de
permanecer em espaços cujas limitações imitação e manipulação são características
os impedem de expressar ou explorar seus comuns nesta fase.
recursos motores. O brincar, o lúdico e o
brinquedo na educação infantil são quase tão
importantes como dormir, comer e cuidados O PAPEL DO PROFESSOR
de higiene. É através desses instrumentos que NO BRINCAR
o indivíduo desenvolverá sua personalidade e
demostrará suas habilidades. Os ambientes O papel do professor dentro do processo
de bonecas e brinquedos para as crianças não de aprendizagem vai muito mais além do que
são meros decorativos são fundamentais para o mero repassar de conteúdos e informações
que as crianças possam elaborar seu mundo e ou indicar caminhos, mas auxiliar a revelar às
sua forma de interagir com ele. De acordo com crianças, quem são e do que são capazes. De
Wallon (2007), as transformações fisiológicas acordo com Referencial Curricular Nacional
de uma criança revelam importantes traços da Educação Infantil:
de caráter e personalidade. Já as emoções

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Revista Educar FCE - Abril 2019

o professor é mediador entre as crianças e


os objetos de conhecimento, organizando e
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
propiciando espaços e situações de aprendizagens
que articulem os recursos e capacidades
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de
cada criança aos seus conhecimentos prévios e Ao assumir as funções educativa e lúdica,
aos conteúdos referentes aos diferentes campos o brincar deve propiciar diversão, prazer,
de conhecimento humano. (BRASIL, 1998, p. 30) potencializando a exploração, a criação, a
imaginação e a construção do conhecimento.
O professor deve ser considerado o Brincar deve ser considerado como uma
mediador no aprendizado das crianças, e experiência vital em qualquer faixa etária,
deverá ter sempre em mente que, o ato de principalmente para as crianças da Educação
brincar dá significado ao brincar, e quando Infantil, não devendo ser apenas uma
a criança se apropria desse objeto ela atividade utilizada pelo professor com
utiliza-o na construção de sua forma de ver finalidade recreativa, mas como atividade
e agir no mundo, fomentando nas crianças intencional, que faça parte do planejamento
aspectos e habilidades que constituirão da escola. Portanto, cabe ao educador
sua personalidade, portanto a oferta dos criar um ambiente que reúna os elementos
jogos e brincadeiras deve oportunizar motivadores para as crianças, elaborar
condições para que a criança desenvolva atividades que proporcionem conceitos que
aprendizagens diversas e se torne um adulto preparem para a leitura, para os números,
capaz de solucionar problemas, de trabalhar conceitos de lógica que envolve classificação,
em equipe, de expressar seu ponto de ordenação, dentre outros, motivando as
vista e acima de tudo, capaz de respeitar crianças a trabalhar em equipe, na resolução
a opinião do outro. O professor também é de problemas, aprendendo assim, a expressar
responsável pela organização do espaço, já seus próprios pontos de vista em relação
que o espaço na instituição de educação ao outro e a si próprios. Portanto, estar
infantil deve propiciar condições para que ao lado das crianças, acompanhando sua
as crianças possam usufruí-lo em benefício evolução, no levantamento de problemas
do seu desenvolvimento e aprendizagem. que as levem a desenvolver hipóteses, como
Os professores devem sempre oferecer também, a disponibilização de brinquedos
oportunidades para que a criança desenvolva apropriados para a idade, com objetivo de
atitudes e aprenda procedimentos que promover o desenvolvimento infantil e a
valorizem seu bem-estar. Caso o professor conquista de conhecimentos em todos os
escolha de maneira equivocada as atividades, aspectos. O contexto contemporâneo da
os brinquedos e as brincadeiras não estará Educação Infantil exige do professor tanto
oferecendo às crianças desafios a serem conhecimento teórico quanto prático com
superados gradativamente, de acordo com a relação à influência da dimensão lúdica no
maturidade de cada uma, poderá ocasionar processo de aprendizagem e de construção
barreiras de autoestima. do conhecimento da criança.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Segundo Kishimoto (1994) o jogo está do pensamento e da atenção podem ser


vinculado ao sonho, à imaginação, ao prejudicados. Neste sentido, o brincar deve
pensamento e ao símbolo. A concepção ser considerado a maior especificidade da
de Kishimoto sobre o homem como ser criança, representando um vasto mundo de
simbólico, que se constrói coletivamente e cultura infantil, repleto de imaginação, jogos
cuja capacidade de pensar está conectada à e consequentemente, movimentos, que
capacidade de sonhar, imaginar e jogar com a necessitam ser valorizados pelas instituições
realidade, sendo preponderante para propor de ensino. Quanto menor a criança, maior a
uma nova “pedagogia da criança”. Kishimoto responsabilidade do professor em organizar
vê o jogar como gênese da “metáfora” humana. atividades que favoreçam a construção
Ou, talvez, aquilo que nos torna realmente da sua corporeidade, respeitando as
humanos. A ludicidade é uma necessidade peculiaridades de cada um. É através do
do ser humano em qualquer idade e não brincar, segundo Vygotsky (1998) que, a
pode ser vista apenas como diversão. O criança consegue equilibrar as tensões
desenvolvimento do aspecto lúdico facilita provenientes de seu mundo cultural,
a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, construindo sua individualidade, sua marca
social e cultural, colaborando para uma pessoal, sua personalidade. Vygotsky
boa saúde mental, facilitando os processos (1998), ainda destaca o papel do ato de
de socialização, comunicação, expressão e brincar como impulsionador na constituição
construção do conhecimento. do pensamento infantil, pois é brincando
que a criança revela seu estado cognitivo,
De acordo com Kishimoto (2002), uma visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de
das características mais marcantes da aprender e entrar em uma relação cognitiva
infância é a forte intensidade da atividade com o mundo de eventos, pessoas, coisas
motora e da fantasia que surgem nesta e símbolos. Permitir que a criança brinque
etapa, possibilitando à criança reconhecer nunca será perda de tempo, porque enquanto
e controlar progressivamente o próprio ela brinca, desenvolve também os aspectos
corpo, ampliando suas possibilidades de emocional, social, cognitivo e motor, com os
interação com o meio que a cerca, sendo quais a criança mostrará sua criatividade e
que a contenção de movimentos ainda imaginação.
imposta por muitas instituições de educação
infantil, pode estar diretamente relacionada Nicolau (1986) postula que quando a
com a não aprendizagem, ancorada na ideia criança está brincando, libera e canaliza suas
de que o movimento impede a manutenção energias, podendo transformar, portanto,
da concentração e da atenção da criança. uma realidade difícil em algo mais leve,
No entanto, as pesquisas demonstram o trazendo abertura à fantasia, enfrentando
contrário, é justamente pela impossibilidade os desafios, imitando e representando as
de mover-se ou de gesticular que o controle interações presentes na sociedade na qual está

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Revista Educar FCE - Abril 2019

inserida, atribuindo aos objetos significados programados e não despertarem, nem


diferentes, definindo e respeitando as estimularem a criatividade, os professores
regras estipuladas. A criança decide desta são unânimes em afirmar que o interesse
forma, sobre o que, com quem, onde, com torna-se efêmero e passageiro, uma vez que
o que, como brincar e o tempo em que a própria criança acaba por rejeitá-los, pois
brinca, constrói a brincadeira no momento não pode produzir nada com eles, ou então,
de brincar, brincando sem finalidades ou termina por quebra-los propositalmente,
objetivos explícitos, aprendendo a lidar com para entender seu funcionamento. Às vezes,
suas angústias, criando e deixando fluir sua uma simples brincadeira em um tanque de
capacidade e liberdade de criação. De acordo areia em um parque pode proporcionar
com Kishimoto (2006), existem inúmeras mais entusiasmo e conhecimento para a
formas de brincar. A criança pode brincar criança, pois ali, ela pode construir castelos,
de amarelinha, pião, carrinho, boneca, sentir como a areia escorrega entre seus
pega-pega, corda, bambolê, com bola dedos, escrever com um graveto sobre a
arremessando ou em um jogo disputando areia e infinitas atividades que vão viabilizar
com outras crianças, jogo de tabuleiros, jogos aprendizagem tanto individual como social.
pedagógicos ou simplesmente brincadeira
de imitação. Como exemplo, pode-se citar Segundo Vygotsky (1998), o educador
quando a criança pega uma boneca e brinca poderá utilizar jogos, brincadeiras, histórias
de “filhinha” ou de fazer “comidinha” em e outros, para que de forma lúdica a criança
um fogãozinho de brinquedo, em todas seja desafiada a pensar e resolver situações
estas brincadeiras a criança aprenderá e problemáticas, para que imite e recrie
desenvolverá habilidades. Existem também regras utilizadas pelos adultos. O lúdico
os jogos tradicionais infantis, que dão ênfase pode ser utilizado como uma estratégia de
ao folclore e à cultura brasileira, atividades aprendizagem, portanto, o ato de brincar na
transmitidas de geração em geração. Os escola sob a perspectiva de Santos (2002)
jogos de construção também constituem está relacionado ao professor que deve
opção, sendo uma prática que possibilita às apropriar-se de subsídios teóricos que o
crianças transformarem e desconstruírem convençam e sensibilizem sobre a importância
através do manuseio de peças, expressando dessa atividade para aprendizagem e para a
suas alegrias, tristezas e problemas, evolução das crianças. É importante que as
possibilitando que o professor identifique ações pedagógicas, na Educação Infantil,
dificuldades e necessidades de cada possibilitem o desenvolvimento de gestos
criança. Segundo Kishimoto (apud ARTONI, e ritmos criativos e estéticos, favorecendo
2003), existem também os brinquedos o acesso ao repertório cultural que envolve
tecnológicos, desenvolvidos em série nas as manifestações corporais, impulsionando
grandes indústrias, como bonecas mecânicas a construção da autoestima pelas crianças
e animais eletrônicos, que por serem muito e ao desenvolvimento no grupo de atitudes

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de respeito, confiança, cooperação e tolerância. Assim, a brincadeira não deve ser utilizada
apenas com divertimento, mas o professor pode e deve inclui-la em seu planejamento.
Portanto, é responsabilidade do professor proporcionar atividades significativas que facilitem
a construção de ideias, e também invistam na preparação para trabalhar futuramente com
a leitura, números, que envolvem a classificação, a seriação, a ordenação e lógicas, dentre
outras habilidades.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente com as grandes transformações pelas quais
nossa sociedade vem passando, dentre elas, as mudanças de
hábitos, a falta de tempo dos pais em proporcionar atividades
lúdicas e de lazer aos filhos, a imensa oferta de brinquedos
industrializados e as novas tecnologias tais como: tabletes,
videogames, internet, celulares etc., terminam interferindo
na saúde e qualidade de vida de todos, principalmente das
crianças e adolescentes. Portanto, a responsabilidade da
escola e dos pais no incentivo de práticas que envolvam o MARIA DE FATIMA
corpo em movimento, incluindo brinquedos, brincadeiras e QUINTANILHA DE
jogos são de fundamental importância. Inúmeras pesquisas ALMEIDA
garantem que, a criança que pratica atividade física, que
Licenciatura em Pedagogia e
brinca, corre, anda de bicicleta, apresenta mais chances de Especialização em Gestão e
tornar-se um adulto mais ativo e saudável. Evidencia-se Ensino de Projetos na Ed. Infantil.
também que o professor assume papel de grande relevância
no espaço escolar, sendo o principal responsável pela
organização das situações de aprendizagem significativa,
atuando como mediador, possibilitando às crianças atuarem
de forma crítica, reflexiva e sensível, utilizando jogos,
brincadeiras e atividades lúdicas, como um ato intencional
de aprendizagem relevante para o desenvolvimento integral
das crianças, pois favorece o maior conhecimento de seus
próprios corpos, ampliando as possibilidades motoras,
cognitivas, afetivas e sociais, além de introduzir e integrar
as crianças no mundo da imaginação e do conhecimento, estimulando cada vez mais novas
formas de aprendizagens e construção de conhecimento.

935
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Educação Infantil. Volume 3. Brasília: MEC/SEF, 1998.

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937
Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL
E CURRÍCULO
RESUMO: Esse artigo tem como objetivo principal contribuir com processos formativos que
desencadeiem maior compreensão do papel de cada um na melhoria da gestão de políticas
de educação na cidade. Também objetiva promover o fortalecimento de conceitos e práticas
curriculares na ação educacional, corroborando para a construção coletiva dos Projetos
Escolares. Outro grande objetivo é proporcionar maior acesso e condições de análise de
conhecimentos e práticas relacionadas ao tema orientação curricular e criatividade, bem
como buscar maior compreensão e análise de conceitos e práticas que instituem os processos
de construção curricular das escolas. Como decorrência importante, esse artigo busca
contribuir para o debate, reflexão e pesquisa, ampliando a capacidade dos profissionais da
educação junto aos seus locais de atuação a fim de favorecer a consolidação de propostas
curriculares que desenvolvam qualidade de educação, maior equidade e participação da
comunidade escolar. O tema aqui proposto reveste-se de significado especial uma vez que
se dedica ao principal aspecto que media as relações entre os educadores e estudantes:
currículo. As ações escolares estão todas marcadas, reguladas e legitimadas por uma noção
ou orientação curricular construída em nossa sociedade e motivo de preocupações e
reformulações envolvendo a todos.

Palavras-Chave: Currículo; Cultura; Conhecimento.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO necessárias para que isso aconteça. Ao


olhar para o currículo é importante notar
Iniciamos esse estudo a partir dos sua face de potência seja pelo seu plano
elementos presentes no texto do Ministério notório e definido em documentos, seja
da Educação intitulado “Indagações sobre em sua ocorrência expressa pelos rituais,
Currículo: Currículo, Conhecimento e simbologias, crenças etc. expressas em
Cultura”, elaborado por Antonio Flavio toda a sua modelagem. O currículo, nessa
Barbosa Moreira e Vera Maria Candau perspectiva, constitui um dispositivo em que
(2007). Nesse material encontramos uma se concentram as relações entre a sociedade
valiosa reflexão sobre a produção curricular e a escola, entre os saberes e as práticas
nas redes educacionais dos últimos anos com socialmente construídos e os conhecimentos
análises críticas e indicações para superação escolares. Em outras palavras, os
na realidade brasileira. Discussões sobre conhecimentos escolares provêm de saberes
conhecimento, verdade, poder e identidade e conhecimentos socialmente produzidos
marcam, invariavelmente, as discussões nos chamados “âmbitos de referência dos
sobre questões curriculares (SILVA, 1999). currículos”.
Entendemos currículo como as experiências
escolares que se desdobram em torno do Os âmbitos de referência dos currículos
conhecimento, em meio a relações sociais, implicam os sujeitos em sua realização,
e que contribuem para a construção das deixando claro que não existente
identidades de nossos estudantes. Currículo tecnicamente uma perspectiva neutra para
associa-se, assim, ao conjunto de esforços a sua concepção e prática. Claramente é
pedagógicos desenvolvidos com intenções necessário observar o caráter plural das
educativas. A construção do conceito de construções curriculares inevitavelmente por
currículo escolar tem de ser considerada sua natureza polivalente no tocante às bases
tomando-se por base sua relação inequívoca que oferecem suporte aos objetivos locais,
com os compromissos e projeções feitos mais ainda pelo seu compromisso com uma
pela sociedade de acordo com referenciais dada cultura local comunitária ou pelo traço
de conhecimento, identidades e, marcante estabelecido pelas identidades de
fundamentalmente, da organização social seus protagonistas.
imaginada para os seus sujeitos: uma espécie
de projeção para o futuro. Entendemos Mas o que são esses âmbitos de referência?
relevância, então, como o potencial que o Segundo Terigi (1999), podemos considerá-
currículo possui de tornar as pessoas capazes los como correspondendo:
de compreender o papel que devem ter na
mudança de seus contextos imediatos e da a) Às instituições produtoras do
sociedade em geral, bem como de ajudá-las conhecimento científico (universidades e
a adquirir os conhecimentos e as habilidades centros de pesquisa);

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Revista Educar FCE - Abril 2019

b) Ao mundo do trabalho; PRINCÍPIOS PARA A


c) Aos desenvolvimentos tecnológicos; CONSTRUÇÃO DE
d) Às atividades desportivas e corporais;
e) À produção artística; CURRÍCULOS
f) Ao campo da saúde; MULTICULTURALMENTE
g) Às formas diversas de exercício da ORIENTADOS
cidadania;
h) Aos movimentos sociais. Elaborar currículos culturalmente
orientados demandas uma nova postura, por
Fazem parte do currículo oculto, assim, parte da comunidade escolar, de abertura
rituais e práticas, relações hierárquicas, às distintas manifestações culturais. Faz-se
regras e procedimentos, modos de organizar indispensável superar o “daltonismo cultural”,
o espaço e o tempo na escola, modos de ainda bastante presente nas escolas. O
distribuir os alunos por grupamentos e professor “daltônico cultural” é aquele que
turmas, mensagens implícitas nas falas dos não valoriza o “arco-íris de culturas” que
professores e nos livros didáticos. encontra nas salas de aulas e com que precisa
trabalhar, não tirando, portanto, proveito da
riqueza que marca esse panorama.
CURRÍCULO, DIFERENÇA
CULTURAL E DIÁLOGO É aquele que vê todos os estudantes
como idênticos, não levando em conta
Quando um grupo compartilha uma cultura, a necessidade de estabelecer diferenças
compartilha um conjunto de significados, nas atividades pedagógicas que promove
construídos, ensinados e aprendidos nas (STOER; CORTESÃO, 1999).
práticas de utilização da linguagem. A palavra
cultura implica, portanto, o conjunto de Para Moreira e Candau (2007), a escola
práticas por meio das quais significados são sempre teve dificuldade em lidar com a
produzidos e compartilhados em um grupo. pluralidade e a diferença. Tende a silenciá-las
e neutralizá-las. Sente-se mais confortável
Se entendermos o currículo, como propõe com a homogeneização e a padronização.
Williams (1984), como escolhas que se fazem
em vasto leque de possibilidades, ou seja, como No entanto, abrir espaços para a
uma seleção da cultura, podemos concebê- diversidade, a diferença e para o cruzamento
lo, também, como conjunto de práticas que de culturas constitui o grande desafio
produzem significados. Cabe também ressaltar que está chamada a enfrentar. A escola
a significativa influência exercida, junto às precisa, assim, acolher, criticar e colocar
crianças e aos adolescentes que povoam nossas em contato diferentes saberes, diferentes
salas de aula, pelos “currículos” por eles “vividos”. manifestações culturais e diferentes óticas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A contemporaneidade requer culturas que se misturem e ressoem mutuamente, currículo,


conhecimento e cultura que convivam e se modifiquem. Que se modifiquem modificando
outras culturas pela convivência ressonante, ou seja, um processo contínuo, que não pare
nunca, por não se limitar a um dar ou receber, mas por ser contaminação, ressonância
(PRETTO, 2005).

CONCEPÇÃO E PRÁTICA
Claramente é necessário observar o caráter plural das construções curriculares
inevitavelmente por sua natureza polivalente no tocante às bases que oferecem suporte aos
objetivos locais, mais ainda pelo seu compromisso com uma dada cultura local comunitária
ou pelo traço marcante estabelecido pelas identidades de seus protagonistas subalternizadas
precisam integrar o currículo e ser objeto de apreciação e crítica.

A crítica de diferentes artefatos culturais na escola pode, por exemplo, levar-nos a


identificar e a desafiar visões estereotipadas da mulher propagadas em anúncios; imagens
desrespeitosas de homossexuais difundidas em programas cômicos de televisão; preconceitos
contra povos não ocidentais evidentes em desenhos animados; mensagens encontradas
em revistas para adolescentes do sexo feminino (e da classe média) que incentivam o uso
de drogas, o consumismo e o individualismo; estímulos à erotização precoce das meninas,
visíveis em brinquedos e programas infantis; presença e aceitação da violência em filmes,
jogos e brinquedos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO orientação para o Currículo da Cidade. Esse


SOCIOEMOCIONAL documento traz habilidades indicadas para o
desenvolvimento curricular que se organizam
E CURRÍCULO em torno das chamadas competências
As reflexões necessárias sobre os desafios socioemocionais. Considerando os estudos
da construção curricular em nossas escolas de Otawa, adotaram ainda um grande campo
nos provocam a fim de compreender alguns que deve orientar as habilidades, chamado de
elementos desse processo, ampliando o “A Teoria dos Big Five”. Essa teoria organiza
conceito de currículo e orientando seu as competências socioemocionais em cinco
foco para uma educação mais voltada para dimensões:
o autoconhecimento, a colaboração e a
resolução de problemas. a) Abertura a novas experiências
(tendência a ser aberto a novas experiências
Tendo por base uma reflexão profunda estéticas, culturais e intelectuais);
sobre as atitudes e habilidades que permitem b) Consciência (inclinação a ser
aos indivíduos enfrentar os desafios do século organizado, esforçado e responsável);
21, e aproveitando o que o Departamento de c) Extroversão (orientação de interesses
Educação de Ottawa realizou em sua rede de e energia em direção ao mundo externo,
ensino local, verificou-se que competências pessoas e coisas);
socioemocionais são mais relevantes para d) Amabilidade (tendência a agir de modo
cada contexto ou comunidade. cooperativo e não egoísta);
e) Estabilidade Emocional (previsibilidade
As orientações oferecidas à rede e consistência de reações emocionais, sem
municipal de ensino da cidade de São Paulo mudanças bruscas de humor).
permitem um estudo bastante rico da ideia
de desenvolvimento curricular pensado Os participantes da série de diálogos
a partir da perspectiva de criatividade e realizada pelo Inspirare, Porvir e Instituto
formação para o futuro da sociedade. Escolas Ayrton Senna também produziram uma
municipais terão de considerar as chamadas relação prioritária de competências
habilidades socioemocionais, que incluem (autoconhecimento, amabilidade,
criatividade e empatia. autoconfiança, autocontrole, autonomia,
intencionalidade pedagógica) para que o
A partir da parceria com os Institutos Porvir processo não se torne uma abstração ou
e Ayrton Senna, e com base nas pesquisas algo sem consistência.
e experiências da Universidade de Otawa, a
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo Na prática pedagógica, o trabalho com
apresentou em documento introdutório suas projetos e o incentivo à realização de pesquisas
premissas para o que tem chamado de nova sobre temas relevantes potencializam a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

mediação do professor e o desenvolvimento das competências socioemocionais. Já na área de


gestão, os gestores criam um ambiente favorável para o desenvolvimento das competências
socioemocionais quando promovem reuniões pedagógicas que contribuem para a integração,
coesão e coerência da equipe escolar, a articulação das disciplinas, a coleta de evidências claras
de resultados e a sistematização de experiências que podem ser utilizadas por outros professores.

COMO AS COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS ENTRAM


NOS TEMPOS E ESPAÇOS CURRICULARES?
As competências socioemocionais podem ser desenvolvidas nos vários espaços e ao longo dos
diversos tempos da escola, para além dos horários de aula, de preferência de forma transdisciplinar.

Em meio ao ensino das disciplinas tradicionais, o trabalho acontece a partir da incorporação de


metodologias voltadas à realização de projetos e à iniciação científica, que valorizem práticas colaborativas.

O processo também pode acontecer por meio de atividades específicas, mas não
desconectadas de outras disciplinas, como a orientação para projeto de vida e para mercado
de trabalho ou a realização de intervenções sociais e comunitárias.
O trabalho também demanda a redefinição de papéis entre professores e alunos. Ao
passo que os estudantes assumem maior nível de protagonismo nos processos e práticas
pedagógicas desenvolvidos na escola, os docentes transformam-se em mediadores e adotam
práticas mais inovadoras de ensino-aprendizagem.

Importante observar nessas orientações a relevância assumida pela ação dos estudantes
como fundamental para os processos de parceria na aprendizagem com os professores.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As redes também devem estimular que os gestores escolares
promovam a utilização de outros espaços e estabeleçam
parcerias com organizações e agentes da comunidade, a fim de
que os alunos também vivenciem experiências fora dos muros da
escola que impactem o seu desenvolvimento socioemocional.

Um outro relevante questionamento diz respeito à realização


de avaliações de tal proposta. Nesse sentido, a Secretaria
aponta suas diretrizes para o assunto considerando que os MARIA HELENA
dados gerados devem ser capazes de: OTTONI BUZATO

Graduação em Matemática pela


a) Aferir o que deu certo e o que não funcionou, apontar Faculdade PUC (2000); Professora
causas e subsidiar a busca de soluções; de Ensino Fundamental II -
b) Embasar o estabelecimento de prioridades; Matemática - no CEU EMEF
JAÇANÃ.
c) Subsidiar a criação de projetos para melhorar os
resultados da escola;
d) Sinalizar o papel dos agentes envolvidos no
desenvolvimento das competências socioemocionais;
e) Orientar a formulação de programas de formação
continuada de professores e materiais pedagógicos;
f) Referendar a atuação dos funcionários da escola.

O documento também especifica práticas que recomenda serem desenvolvidas nas escolas,
tais como:
a) Desenvolvimento de projeto de vida;
b) Tutoria;
c) Assembleias e fóruns democráticos para resolução de conflitos;
d) Fortalecimento das instâncias de participação estudantil, para trabalhar o coletivo, o bem
comum, desenvolver habilidade de negociação e resolução de problemas reais;
e) Contação de histórias de vida com base em metodologia do Museu da Pessoa;
f) Cursos criados pelos próprios alunos, em que eles são multiplicadores dentro e fora da
escola;
g) Empresa Júnior, que ajuda o estudante a desenvolver autonomia, tomada de decisão e
gestão;
h) Práticas esportivas, artísticas e culturais com participação da família, incluindo oficinas,
cursos, aulas etc.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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para a elaboração dos regimentos educacionais das unidades integrantes da Rede Municipal

945
Revista Educar FCE - Abril 2019

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Reorganização Curricular e Administrativa, Ampliação e Fortalecimento da Rede Municipal
de Ensino de São Paulo – Mais Educação São Paulo. Diário Oficial da Cidade de São Paulo,
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SÃO PAULO (SP). Portaria n.º 5.941, de 15 de Outubro de 2013. Estabelece normas
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946
Revista Educar FCE - Abril 2019

DESENHO INFANTIL E AS RELAÇÕES


COM AS ARTES: DESENVOLVIMENTO
E DIVERSÃO
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo lançar luz a inquietações que nasceram
desde o primeiro momento em que lançamos a entender e universo das artes. Entendemos
que a educação infantil representa um ramo dos estudos do desenvolvimento que tem como
fulcro as potencialidades humanas. Para alcançarmos êxito em nosso trabalho fizemos uma
pesquisa em diversas áreas para que com uma visão multifacetada pudéssemos refletir
em diversos ângulos afinando a percepção e ampliando o lócus investigativo. Definimos
como meta analisar a estrutura do conhecimento tendo como impulso o desenho infantil
e o desenvolvimento do aprendizado por meio de estudos da arte, entretanto não nos
limitamos em fechar o campo em torno de análises de obras, mas da representação que as
manifestações artísticas podem trazer para o desenvolvimento do cérebro. Esperamos que
nosso modesto trabalho possa contribuir para o estudo científico do tema.

Palavras-Chave: Criança; Arte; Desenvolvimento; Desenho.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO entre outras, que fizeram suas contribuições


significativas no que diz respeito às
Um dos grandes desafios da Educação regularidades do desenvolvimento infantil.
Infantil hoje, a educação inicial é para
aperfeiçoar o processo de formação e Essas contribuições devem constituir
desenvolvimento de crianças 0 a 6 anos, a base para ações educativas no nível de
tentando fazer dos educadores mediadores educação inicial. Daí a importância da
eficazes entre o mundo e estes. Um mediador atenção educacional nos primeiros anos
professor deve promover o desenvolvimento, da vida do ser humano, devem constituir o
não o impedir, para o qual propõe, mas mais importante desta reflexão teórica. Um
não impõe demandas, não satura, ele aspecto fundamental no desenvolvimento
deve ser firme, mas não agressivo, estará infantil é o relativo desenvolvimento
presente quando a criança dele precisar e intelectual e psíquico, a determinação do
vai embora quando a presença dele o inibe. que pode ser atribuído às estruturas e
Em consequência, as ações educativas nos funções biológicas que são geneticamente
primeiros anos de vida, deve ser destinado dadas, e que corresponde às condições de
a estimular o desenvolvimento cognitivo, vida e educação, significa o eixo central de
emocional, da linguagem, comportamento qualquer concepção sobre isso.
físico, motor, social, moral e sexual das
crianças, de tal forma que possa ser exitoso o E, consequentemente, do que pode ser feito
espaço mais relevante na vida do ser humano para permitir o desenvolvimento máximo de
para desenvolver suas potencialidades. todas as potencialidades do indivíduo, neste
caso dos meninos e meninas. A Educação
Neste sentido, é importante levar a Inicial torna-se um nível educacional
educação ao norte da primeira infância hoje, Fundamental em relação ao desenvolvimento
então, parece que não encontrou ainda sua das crianças, sua atenção não é poder limitar-
direção, sua identidade e, então se move se aos cuidados e custódia, ou à interação
de acordo com as modas de diferentes da criança com outros e com os materiais,
pedagogias, de diferentes propostas, sem deve-se se concentrar na mediação dos
encontrar uma maneira de se situar com recursos cognitivos e na estimulação de
uma intencionalidade definida. A este todas as áreas de desenvolvimento. Avanços
respeito, investigações feitas por pesquisas na neurociência e psicologia alcançaram
bibliográficas mostram que não há diretrizes duas elaborações fundamentais, o primeiro é
precisas sobre o que se desenvolvem. Por que sem a presença de um cérebro humano
outro parte o desenvolvimento das crianças não é possível o surgimento de qualidades
depende de múltiplas condições e esclarecê- psíquicas humanas e o segundo, que o
los é uma tarefa fundamental de muitas cérebro humano por si só não determina
ciências: Psicologia, a Pedagogia e Neurologia, o surgimento de qualidades psíquicas. É

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Revista Educar FCE - Abril 2019

digamos o psiquismo humano não surge sem que reforça o esforço intelectual e conexões
condições humanas de vida. sinápticas que estimular o desenvolvimento
do pensamento.
A realidade é que as principais tendências
existem atualmente respeitando às
concepções de desenvolvimento psíquico, OBJETIVO DA SITUAÇÃO
coincidem e apontam ao todo, à consideração E REFLEXÃO ACERCA DA
de que, no desenvolvimento psíquico
humano, eles têm papel importante tanto EDUCAÇÃO INICIAL
nas estruturas internas, constitucionais, O desenho espontaneamente iniciado
biológicas e funcionais, como condições mostra processos de crianças durante a
externas, sociais, culturais e educacionais. inscrição progressiva em seu ambiente
O essencial deve ser tentar avaliar em que social. Toda interação humana tem um
medida o biológico e o social são inter- correlato psicofisiológico que estabelece
relacionados na educação da criança, em e reflete as capacidades em cada domínio
que sentido os fatores internos, basicamente da vida cotidiana. Essa estrutura primordial
constituídos pelo sistema nervoso central e é constituída a partir do surgimento do
atividade nervosa superior, exerce influência indivíduo, até mesmo das mensagens
sobre o que é determinado pelos fatores intrauterinas, na troca entre estímulos
externos, e em que a educação desempenha filtrados pela mãe e as respostas do embrião.
um papel crucial.
Entretanto, esses signos primitivos
Não há dúvida que todas as crianças não poderiam ser decifrados dentro de
nascem com grande potencial cognitivo, códigos de comunicação sem a elaboração
se a estimulação desse potencial depende simbólica, já que antes do advento da
ou não, em grande medida, do seu linguagem articulada, porque a simbolização
desenvolvimento. Por esta razão, é de é responsável por organizar as interações
grande importância que os professores de a partir dos significados, inscrevendo a
Educação Inicial sejam conscientes de sua experiência concreta na memória e na
intencionalidade educacional, porque suas fantasia.
ações poderiam parar e inibir e mesmo
impedir o desenvolvimento de bebês. Nesse Meninos e meninas recriariam
entendimento, é fácil de observar as crianças progressivamente uma forma relativamente
em algumas salas de aula pré-escolares para passiva de interação (direta com a mãe),
realizar repetidamente atividades simplistas por meio de uma forma mais proativa
como colagem, desenho de silhuetas e (reencenação de situações e brincadeira
preenchimento de figuras, entre outros, com objetos), o segundo revela o significado
ações que não vão além do exercício motor, do primeiro, sempre baseado em interações

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Revista Educar FCE - Abril 2019

concretas com seu ambiente, e inaugura a com as figuras linguísticas, entrando em


individuação. contato com os significados coletivos.

A cognição, o afeto e as habilidades Objetos são veículos de significado sob


se entrelaçam para colaborar com uma acordo coletivo, que são disponibilizados
simbologia de apresentação, mesmo sob para a criança dentro de uma modalidade
o subsequente domínio da linguagem, e imediata e sensorial. Esta proximidade
assim permanecer como uma organização proporciona abertura ao confronto entre o
essencial, próxima da sensibilidade, ao meio ambiente e o indivíduo. Além disso,
inconsciente. Essa colaboração demonstra certos objetos transmitir um significado
a posição central nos processos precursores livre de propósito, como no conceito de
da capacidade simbólica. "arte" e independente do uso instrumental,
constituindo esboços comportamento social.
A criança aprende ainda sobre sua própria Estes símbolos diferem de linguagem para
humanidade, na medida em que, ao desenhar,
a criança está realizando – reafirmando e ser integrada a interação sensorial imediata,
atualizando – algo ancestral de sua humanidade: moldando os símbolos.
a capacidade e a necessidade dos seres humanos
de se deixarem em marcas. Foram os seres O que está fundamental em causa da educação
humanos que inventaram o desenho e, ao fazê- artística são valores do meio ambiente, a
lo, puderam dizer algo de si por meio de imagens, qualidade de vida. Por meio ambiente devemos
puderam se ver representados graficamente em entender os valores sensíveis do panorama da
aspectos de sua humanidade; deixaram-se em vida dos objetos naturais e artificiais, sendo
marcas que contribuíram para a produção de sua o conjunto dos estímulos sensoriais, formas,
humanidade, de sua história; que contribuíram cores, cheiros, sabores, movimentos e ruídos,
para a demarcação, comunicação e significação através das quais o espaço se acha ocupado,
de sua passagem pela vida, pelo planeta Terra, diferenciado, determinado como espaço familiar
pelo mundo. (JUNQUEIRA FILHO, 2005, p. 54). para quem o habita (PORCHE 1982, p.25.)

Na socialização precoce, a interação com Área representativa de derivados,


objetos é uma forma de apropriação cultural, correspondente ao intercâmbio com o
manipulando-os para incorporar seus mundo exterior e em contraste com símbolos
atributos. Graças ao objeto, a criança entra linguísticos correspondentes aos sinais
na práxis coletiva, sem mediação adulta, externos de linguagem.
como uma experiência no jogo interativo nos
contextos da vida. Este mundo lúdico inclui Antes do advento da linguagem, surge
roupas, utensílios domésticos e espaços, então um andaime de significados (de
arquitetura, ambiente urbano e natural, figuras de práxis) que preservam formas
moldados pelo ser humano. A individuação de socialização culturalmente mediadas.
resultante subtrai o bebê do domínio da Portanto, as representações plásticas, das
díade, envolvendo-o na coletividade, antes quais os objetos são tributários, estão mais
do advento da linguagem e em alternância próximas das emoções do que as figuras

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Revista Educar FCE - Abril 2019

da linguagem e seus significados estão Nessa idade, você pode mudar os padrões
ancorados em um nível mais profundo da básicos de desenho (uma pessoa que não
personalidade. pode existir, não pode ser) há números
existentes, por "distorções" (várias cabeças,
muitos dedos) ou "substitutos" (fantasma,
AS IMPLICAÇÕES DA palhaço) ou ao solicitar um objeto familiar,
INTERFERÊNCIA ADULTA mas pouco frequente em seus desenhos
(bicicleta), sucedidos pelo slogan de desenhar
NAS INTERAÇÕES GRÁFICAS uma bicicleta que não existe, não pode ser,
Os valores e expectativas dos adultos com resultados semelhantes, evidência de
medeiam à interação gráfica, como sua mudança, permanência de estruturas básicas
importância e sua relação com as habilidades e capacidade de pensar antecipadamente
posteriores (por exemplo, escrita), bem como e variar padrões; a história discrimina a
o ensino do desenho. Ao produzir recursos capacidade inicial de variar os temas.
básicos, o novo designer deve combinar
habilidades simbólicas. Primeiro novos As variantes preferidas (distorção
esquemas gráficos são produzidos em conjunto ou substituição) mostram a construção
com outros incorporados como um repertório. de soluções. A importância da história
associada também tem sido estudada, com
Desde o início da história da humanidade a base no motivo de entrada nas aulas, e com
arte sempre esteve presente em praticamente
todas as formações culturais. O homem que resultados semelhantes.
desenhou um bisão numa caverna pré-histórica
teve que aprender, de algum modo, seu ofício. A arte na educação como expressão pessoal e
E, da mesma maneira, ensinou para alguém o como cultura é um importante instrumento para
que aprendeu. Assim, o ensino e a aprendizagem a identificação cultural e o desenvolvimento
da arte fazem parte, de acordo com normas e individual. Por meio da arte é possível desenvolver
valores estabelecidos em cada ambiente cultural, a percepção e a imaginação, aprender a realidade
do conhecimento que envolve a produção do meio ambiente, desenvolver a capacidade
artística em todos os tempos. No entanto, a crítica, permitindo ao indivíduo analisar a
área que trata da educação escolar em artes tem realidade percebida e desenvolver a criatividade
um percurso relativamente recente e coincide de maneira a mudar a realidade que foi analisada
com as transformações educacionais que (BARBOSA, 2002 p. 18.)
caracterizaram o século XX em várias partes do
mundo (BRASIL, 2001, p.21).
Agora, descrição tridimensional interna
Os primeiros rabiscos são explorações da durante a cópia de objetos familiares ou
realidade, forma e movimento, para crianças não familiares como a chave para a nitidez
até aos cinco anos de idade, retirados do da imagem e sua representação linear que o
realismo intelectual (não "visual"), a partir de fator reflete ao conhecimento e familiaridade
suas cabeças, não do observado, porque são sobre os objetos que contribuem para o
"principalmente simbolistas". seu significado e gráficos, favorecendo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a combinação e estruturação dos dados que melhoram a atenção e eles seriam


disponíveis. O significado direciona a negligenciados em desenhos sobre objetos
atenção dos detalhes da necessidade ou não desconhecidos.
de sua presença em função da fidelidade
da produção em relação ao objeto. Esse [...] Estamos acostumados a oferecer cadernos,
lápis e canetas e estimulá-las a desenhar. E
tratamento combinado de dimensionalidade quando fazem uma coisa redonda, com alguns
e significado é fortalecido à medida que pontos dentro e umas linhas retas que saem
o desenvolvimento das crianças progride, dessa bola dizemos: “Já começou a desenhar. É
uma figura humana!”. Vemos com olhos positivos
enfatizando a familiaridade com os objetos. essa produção que, de outro ponto, poderia ser
considerada feia, ruim. Quando dessas linhas
As propriedades dos objetos, por sua retas saem outras, dizemos: “Já colocou dedos,
olhos, cabelos”, ficamos fascinados diante da
descrição tridimensional, obstruem a produção e não pensamos que ela pode começar
perspectiva visual que captura apenas sua a escrever. Se as letras não são convencionais,
aparência, uma vez que a primeira é ativada dizemos: “Melhor que não escreva”. Aprender
a escrever não é um processo idêntico, mas é
quando se trata de alcançar a segunda, mesmo parecido com aprender a falar. Se nos dissessem
quando reproduz objetos inexistentes que para não falar até pronunciarmos corretamente
sugerem uma representação tridimensional. todos os sons, seriamos todos mudos. Faz
sentido dizer que se aprende a ler lendo e que
se aprende a escrever escrevendo, na medida
A linha, elemento essencial da linguagem gráfica, em que enxergamos isso como um processo. Há
não se subordina a uma forma que neutraliza uma maneira de escrever aos 3,4 e 5 anos como
suas possibilidades expressivas. A linha pode há uma maneira de falar aos 3,4 e 5 anos. Para a
ser uniforme, precisa e instrumentalizada, fala, não exigimos perfeição desde o início, mas
mas também pode ser ágil, densa, trepidante, fazemos isso com a escrita (FERREIRO, 2013,
redonda, firme, reta, espessa, fina, permitindo p.2).
infindáveis possibilidades expressivas. A linha
revela a nossa percepção gráfica. Quanto
maior for o nosso campo perceptivo, mais Sobre o conhecimento implícito e sua
revelações gráficas iremos obter. A agilidade
e a transitoriedade natural do desenho manifestação em desenhos infantis, estes
acompanham a flexibilidade e a rapidez mental, compreendem um modo adaptativo do
numa integração entre os sentidos, a percepção comportamento da criança, sensível às
e o pensamento” (DERDYK, 1989, p.24).
características estruturais de qualquer
A importância fornece facilitação pelo situação vivenciada sem recorrer
conhecimento disponível e não pela deliberadamente para qualquer aspecto do
interferência. Além disso, promove o conhecimento explícito sobre o assunto.
processo de planejamento, ao encerrá-lo em Abrange campos importantes de aquisições
unidades analisáveis e certas características perceptivas, cognitivas e motoras, incluindo
da comunidade com outra memória anterior aspectos associados à aprendizagem de
e disponível a longo prazo em integração línguas primárias e secundárias, levando à
progressiva, com destaque significativo, elaboração categórica, bem como à leitura
identificável nos detalhes básicos unidades e escrita. O processo começa com o recém-

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nascido e só mais tarde ativará um dispositivo Como linguagem visual primária, essencial
endógeno, responsável pelo conhecimento para comunicação e expressão, o desenho é
explícito, resultante da (re-) descrição tão importante quanto o desenvolvimento de
representacional. Este dispositivo favorece habilidades verbais e escritas. A necessidade
a sensibilidade a estruturas complexas no de entender o mundo através de meios
ambiente. visuais pareceria mais aguda do que nunca;
as imagens transcendem as barreiras da
linguagem e aprimoram as comunicações em
O DESENHO ENQUANTO um mundo cada vez mais globalizado.
ATIVIDADE CENTRAL “[...] porque o desenho é para criança uma
NO DESENVOLVIMENTO linguagem como o gesto e a fala. A criança
desenha para falar e poder registrar sua fala. Para
INFANTIL escrever. O desenho é sua primeira escrita. Para
deixar sua marca, antes de aprender a escrever, a
criança se serve do desenho. A criança desenha
O desenho continua a ser uma atividade para falar de seus medos, suas descobertas, suas
central e fundamental para o trabalho de alegrias e tristezas.” (MOREIRA, 2009, p. 20).
muitos artistas e designers - uma pedra
de toque e uma ferramenta de exploração Juntamente com a necessidade de
criativa que informa a descoberta visual. Ele habilidades de desenho para aqueles que
fundamentalmente permite a visualização entram em emprego identificados por
e desenvolvimento de percepções e ideias. uma variedade de indústrias nos setores
Com uma história tão longa e intensa quanto criativos – animação, arquitetura, design,
a história de nossa cultura, o ato de desenhar moda, cinema, teatro, desempenho e as
continua sendo um meio fundamental para indústrias de comunicação – o desenho
traduzir, documentar, registrar e analisar os também é amplamente utilizado dentro de
mundos que habitamos. O papel do desenho uma variedade de outras profissões como
na educação permanece crítico, e não apenas meio de desenvolver, documentar, explorar,
nas disciplinas criativas da arte e do design, explicar, interrogar e planejar. Isso inclui os
para as quais é fundamental. campos da ciência, tecnologia, engenharia,
matemática, medicina e esporte.
“A passagem da produção de imagens involuntárias
à execução de imagens premeditadas faz-se por
intermédio de desenhos em parte involuntários Focando no processo de desenhos das
e em parte voluntários. A semelhança fortuita crianças, chama a atenção para a narrativa
entre o traçado e o objecto a que a criança dá que acompanha as marcas feitas no papel
o nome é das mais rudimentares, e a criança, ao
mesmo tempo que percebe isso, reconhece sua antes de escrever: Reconsiderando os
imperfeição” (LUQUET, 1969, p. 141). caminhos para a alfabetização ligando o
significado das crianças às marcas feitas
à medida que desenham (MÈREDIEU,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

2004). Os desenhos e as narrativas que processo de desenho e, em segundo lugar, as


acompanham não são entidades separadas – implicações de registrar ou fixar o significado
ambas são partes integrantes do processo de do desenho ao rotulá-lo.
criação de significado.
Se a narrativa das crianças sobre o
Devemos considerar tanto o comentário processo de desenho registra a jornada de sua
como o desenho, pois ambos reconhecem a construção de significado, é isso, assim como
construção social do sentido e direciona os o próprio desenho, que fornecerá insights
adultos para os significados que as crianças sobre as compreensões e perspectivas das
procuram transmitir nos seus desenhos, em crianças. Torna-se então importante que os
vez do que eles contêm. O desenvolvimento pesquisadores se envolvam com as crianças
da representação específica da visão ou, pelo menos, estejam cientes desse
considerada do ponto de vista socio processo, a fim de entender as intenções das
cognitivo, em ordem visual, a natureza e crianças nos desenhos. No entanto, grande
desenvolvimento da representação pictórica parte da atenção dada aos desenhos tem
são abordagens que reconhecem a fluidez sido no produto acabado e na sua rotulagem.
e flexibilidade do significado de crianças –
mudanças que ocorrem em desenhos como Palavras ancoram significados, como
resultado de comentários, ou desenhos que evidenciado na forma como as legendas
geram comentários diferentes são todos servem como interpretações de fotografias.
reconhecidos como parte da construção Assim, uma vez que um rótulo é anexado a
do significado. Intenção e significado no um desenho, o significado é atribuído. As
desenho de crianças pequenas (MÈREDIEU, crianças no início da infância estão bastante
2004). familiarizadas com este processo – elas
desenham algo, dizem o que é e o adulto
Tais transformações não são percebidas escreve o texto. Embora o objetivo de pedir
como limitações que refletem deficiências de às crianças que expliquem seus desenhos
desenvolvimento. Em vez disso, elas refletem pode ser evitar a interpretação adulta.
o controle das crianças sobre o processo: as
mudanças mentais são centrais para o que Este processo altamente ritualizado
a criança está intencionalmente envolvida não resulta necessariamente em crianças
ao desenhar – o processo de decodificar e a partilhar o seu significado pretendido:
codificar a marca e o significado (MÈREDIEU, as crianças podem tornar-se muito hábeis
2004). em dar a informação que é necessária para
completar a tarefa.
Duas consequências imediatas dessa visão
emergem – em primeiro lugar, a importância O discurso do desenho como significado é
de notar a narrativa das crianças ao longo do evidente em pesquisas recentes envolvendo

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crianças pequenas. Por exemplo, crianças ARTE, DESENHO E A


pequenas através do desenho e contam EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO
analogias e características textuais. A
complexidade dos desenhos das crianças, CONTEXTO PEDAGÓGICO
pois os sinais verbais e não verbais O cuidado na primeira infância estabelece
são usados para transmitir significado. as bases para o desenvolvimento humano
Desenhos infantis representam uma forma e ajuda a equalizar as oportunidades de
de documentar fenômenos educacionais e desenvolvimento para todos, desde o
obter insights sobre as perspectivas de vida nascimento. Primeira infância, educação e
das crianças em escolas e salas de aula. O integralidade.
desenvolvimento de ideias infantis sobre o
seu corpo. Nos primeiros anos de vida, o atendimento
oportuno e relevante tem grande impacto.
[...] a criança desde bebê mantém contato Vários estudos mostraram que as interações
com as cores visando explorar os sentidos e a
curiosidade dos bebês em relação ao mundo que as crianças estabelecem com mãe, pai,
físico, tendo em vista que, nesse período, irmãos, avós e outros adultos responsáveis
descobrem o mundo através do conhecimento têm consequências fundamentais para o
do seu próprio corpo e dos objetos com que eles
têm possibilidade de interagir (CUNHA, 1999, p. desenvolvimento do cérebro. Mas também
18). essas experiências educacionais devem
envolver outros fatores, como saúde,
O desenho para ajudar a acessar seus cuidado e boa nutrição, como complementos
conhecimentos sobre o corpo e re-conceituar essenciais para alcançar um desenvolvimento
a educação na primeira infância, desafiando infantil adequado.
as ideias tomadas por garantidas. Podemos
usar desenhos infantis para ajudar os Quando essas condições são satisfeitas,
professores a examinar as crenças e valores os efeitos são decisivos para o presente
subjacentes às suas práticas pedagógicas. desenvolvimento e para o futuro. As
Além disso, o estudo longitudinal de crianças crianças que recebem cuidados adequados
jovens desenhando em contextos de casa, durante a primeira infância aumentam suas
pré-escola e escola pode causar impacto nas oportunidades de ingressar na educação
crenças de outras pessoas importantes em formal a tempo, realizam com mais sucesso
casa e na escola. Apoiar o desenho infantil ao longo de seus estudos, melhoram seu
pode ampliar nossa compreensão do mundo acesso ao ensino superior e, finalmente,
da criança como uma ferramenta para têm mais capacidade de desempenhar
construir e compartilhar significado. com competência em sua vida profissional,
melhorando assim suas possibilidades
econômicas e, portanto, a qualidade de vida
de sua família e de sua comunidade.

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Ora a arte se constitui num estímulo permanente


para que nossa imaginação flutue e crie mundos termina em um estágio posterior. Há sempre
possíveis, novas possibilidades de ser e sentir- condições prévias a partir das quais a criança
se. Pela arte a imaginação é convidada a atuar, constrói o conhecimento, tornando o seu
rompendo o estreito espaço que o cotidiano lhe
reserva. A imaginação é algo proibido em nossa desenvolvimento um processo contínuo
civilização racionalista, que pretendeu bani-la ao longo da vida. Essas pré-condições
do próprio campo das ciências, por ver nela uma estão reorganizando experiências que
fonte de erros no processo de conhecimento
da “realidade”. Devemos nos adaptar às “coisas transformam a maneira como elas veem o
como são”, à “realidade” da vida, sem perdermos mundo e abrem novos horizontes para o seu
o nosso tempo com sonhos e visões utópicas desenvolvimento (DUARTE JÚNIOR, 2012).
(DUARTE JÚNIOR, 2012, p.67-68).

Quando as crianças interagem com o


Além disso, a atenção à primeira infância ambiente que as rodeia, vivem experiências
afeta diretamente a família, principalmente através das quais mobilizam habilidades e
as mulheres. Quando as mães estão em conhecimentos que lhes permitem "fazer",
boas condições físicas, nutricionais e depois "saber fazer", até chegarem a "poder
emocionais durante a gravidez, as taxas de fazer". Essa mobilização de recursos (cognitivo,
mulheres e crianças que morrem durante afetivo, físico e social) é denominada
o nascimento diminuem, as taxas de peso competência e é adquirida para enfrentar
ao nascer aumentam e as condições para o processos cada vez mais complexos em
bom desenvolvimento cerebral de crianças. relação ao seu desenvolvimento e contexto
O quadro acima aumenta as chances de (FONTANA; CRUZ, 1997). As habilidades
sobrevivência nos primeiros anos de vida e tem adquiridas na primeira infância permitem
efeitos diretos sobre o seu desenvolvimento que as crianças tenham um conhecimento
(DUARTE JÚNIOR, 2012). Por outro lado, de si mesmas, de seu ambiente físico e social,
os programas de atenção à primeira infância estabelecendo a base para o aprendizado
facilitam a inserção das mulheres no mercado posterior e o enriquecimento pessoal e
de trabalho, situação que melhora a renda do social.
núcleo familiar e equaciona oportunidades de
desenvolvimento a partir de uma perspectiva Independentemente do contexto em
de gênero. que vivem, todas as crianças adquirem
progressivamente habilidades que as
Um novo olhar sobre o desenvolvimento da ajudam a transformar sua relação com o
criança envolve conceber como um processo meio ambiente. É aí que eles encontram as
não linear abrangente social, emocional possibilidades de desenvolvê-los e é a partir
cognitiva, contínuo e, como resultado das daí que os utilizam e os consolidam. Essas
experiências do corpo, e começam a interagir possibilidades são maiores na medida em que
com o mundo ao seu redor. O desenvolvimento são desenvolvidas em espaços desafiadores
infantil não começa em um ponto zero, nem e ricos em interação, consigo mesmas, com

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os outros e com o meio ambiente. Esses espaços são evidentes em uma educação inicial de
qualidade. A educação inicial é um processo permanente e contínuo de interação e qualidade
de relações sociais, pertinentes e oportunas, que permitem que as crianças melhorem suas
habilidades e desenvolvam aquelas baseadas em seu pleno desenvolvimento como sujeitos
de direitos.

Ao indivíduo criativo torna-se possível dar forma aos fenômenos, porque ele parte de uma coerência interior
que absorve os múltiplos aspectos da realidade externa e interna, os contém e os compreende coerentemente,
e os ordena em novas realidades significativas para o indivíduo (FAYGA, 1977 pg.132).

A partir desta perspectiva, todos os atores responsáveis pela educação na primeira infância
(pais, cuidadores, professores e agentes especializados no campo do desenvolvimento da
criança) para fazer um acompanhamento com a intenção, relevante e oportuno é convidado
a com base nos interesses, características e capacidades das crianças. Este acompanhamento
implica liderar uma mudança cultural que promove práticas pedagógicas baseadas nas
linguagens expressivas de crianças, como jogos, arte e literatura.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, nos acostumamos a um mundo onde as
mudanças ocorrem com velocidade sem precedentes. Isso nos
força a questionar a noção de nosso conhecimento em suas
várias esferas. A teoria desenvolvida a partir da objetividade
do quantitativo e, além disso, as ciências naturais com base
no pensamento científico, incorporou outros conhecimentos,
a construção de um pensamento crítico baseado em
fenômenos incluindo o conceito de interpretação. É uma
extensão do paradigma cognitivista, que posiciona a
subjetividade em um lugar mais relevante. O conhecimento
que é construído a partir da experiência e pensamento das MARIA MAURA MOREIRA
Artes Visuais é configurado a partir do interpretativo e da
Graduação em Pedagogia pela
práxis. Essa expansão é largamente inspirada nas possíveis Unisa (1992); Professora do
leituras da produção artística baseadas na interpretação Ensino Fundamental II - na EMEF
hermenêutica. É essa mesma interpretação que nos permite Prof.ª Marina Melander Coutinho
– DRE Capela do Socorro
inserir um pensamento sobre o fenômeno estético como um
evento que não é isolado ou restrito a formas sensíveis não
condicionadas pela racionalidade. Trata-se mais de considerar
o ensino das artes visuais como um conjunto de fenômenos
que podem ser experimentados a partir de diferentes abordagens de pensamento e ação.

Esse tipo de problema alude a uma necessidade: encarar a realidade do mundo


contemporâneo com clareza em relação aos pressupostos epistemológicos que constituem
o quadro de referência da ação docente. Superando o binário de oposição entre conceitos
levou a uma desconstrução que enfatiza a identificação dessas oposições, mas também
procura apontar como seus componentes não são exclusivos, mas formam um conjunto que
nos permite compreender a sua complexidade.

Por fim, propõe alguns princípios que devem ser considerados na educação artística e,
com ela, o que podemos chamar de experiência artística. O primeiro princípio é em relação
ao objetivo primário da educação artística visual, que é colocar em primeiro plano o que as
artes têm de diferente, o que significa que nenhuma justificativa deve ser buscada ao que as
artes existem, mas valorizá-las por aquilo que diferem das demais disciplinas e por seu valor
intrínseco, o que permite evidenciar aspectos do mundo com recursos plásticos e visuais,
mostrando aos alunos o caráter significativo da própria arte.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O princípio está relacionado com a inteligência artística, que deve ser promovida a
partir da reflexão que ocorre como uma condição fundamental para a criação, professores
de arte devem ajudar seus alunos a se tornar mais inteligível a relação com todas as suas
manifestações, incluindo a cultura popular. Essas conquistas entregam cognição sobre as
artes e seu desenvolvimento histórico, técnico e cultural, possui potenciais ferramentas que
orientam o esclarecimento dos atributos estéticos das obras produzidas, ou seja, aqueles
atributos que demonstram as características visuais sustentar elementos cognitivos extra-
artística

À visualidade, a educação artística deve ajudar os alunos a aprender a criar e experimentar


as características estéticas das imagens e a entender sua relação com a cultura da qual
fazem parte. Os programas escolares devem considerar uma concepção do visual de forma
integrada e, assim, observar a estética que considera as diferentes formas visuais que estão
na cultura.

Os próprios estudantes para as artes tornam uma oportunidade para que sejam
conscientes de sua própria individualidade, que pode contribuir para criar uma visão pessoal
de desenvolver observando sutilezas de suas próprias obras. A experiência estética ocorreria,
nesse contexto, na medida em que o sensível estivesse diretamente ligado a si mesmo.

Os programas de educação artística devem garantir que os alunos tenham experiências


estéticas da vida cotidiana. Seu objetivo é resgatar, do mundo geral que os estudantes
possuem o potencial de deleite e fonte de significado. Considera que a escola pode oferecer
um quadro para contemplar o mundo com conceitos muito mais amplos e diversos.

Cada uma das abordagens envolve uma perspectiva teórica potencialmente aplicável ao
mundo educacional e, dentro dessa perspectiva, uma postura do que é esperado na formação
artística visual de crianças e jovens. O que este texto quer enfatizar é a ausência de uma
abordagem predominante para outro: a chave é a de considerar a sua aplicação em sala de
aula, desde a sua coerência com os objetivos e conteúdos perseguidos, as características
dos alunos que irão acessar a educação artística visual e as concepções subsequentes do
fenômeno estético que ocorre a partir das ações realizadas em sala de aula.

Um professor flexível e consciente das diferentes aprendizagens que ocorrem na produção


artística na escola saberá mover-se e transitar entre as diferentes abordagens de ensino das
artes visuais, de modo a gerar uma compreensão profunda das artes e suas possibilidades
expressivas, crítica e analítica. Trata-se de posicionar, em primeiro lugar, como facilitador
de determinados conteúdos, provenientes de um modelo curricular que prescreve o que

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os alunos devem aprender. Em segundo lugar, trata-se também de o professor ser capaz de
deslocar-se em relação às suas próprias inclinações metodológicas, seus preconceitos em
relação ao que ele considera uma experiência válida para produções artísticas particulares,
e que, em suma. Ser capaz de entender o que significa ensinar as artes visuais na esfera do
desenho infantil.

Talvez seja para saber que na transição de uma abordagem para outra desempenha um
quadro de referência que dá propósito, compreensão e significado à obra de arte, que por
sua vez representa uma diversidade cultural em que os alunos estão imersos. A fim de dar à
educação a abordagem, metodologia e didática mais adequadas aos contextos, necessidades
e possibilidades de transformação que a arte pode trazer de uma perspectiva formativa e
transformadora da experiência individual, social, escolar e comunitária.

960
Revista Educar FCE - Abril 2019

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962
Revista Educar FCE - Abril 2019

O AUTISMO NAS ESCOLAS PÚBLICAS


RESUMO: Saber mais sobre a síndrome do autismo foi algo muito agradável. Neste
artigo, aprenderemos mais sobre seu comportamento, suas necessidades, seus hábitos e
conflitos. Também iremos aprender sobre as dificuldades de integração no contexto social
e educacional. Pudemos observar que o número de autistas cresceu de forma alarmante,
exigindo atenção e dedicação de educadores, escola e família. Eu enfatizo que a mudança
de paradigma necessária nas escolas, como deveria acontecer em práticas de inclusão e
envolvimento do aluno com autismo. É necessário neste contexto, parcerias para soluções
de problemas, aumento do conhecimento sobre o autismo.

Palavras-Chave: Estratégias; Sinais; Dedicação;Escolas.

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INTRODUÇÃO Salamanca, e a História da Educação Especial


e sua Políticas Públicas e bibliografias já
Neste artigo iremos analisar os indicadas nas referências bibliográficas em
desdobramentos ocorridos na política/ anexo e em artigos da Internet – google
legislação de educação especial no Brasil, acadêmico e scielo.
no que se refere ao Autismo na Educação
Infantil, após a Declaração de Salamanca Optou – se por selecionar artigos sobre
realizada em 1994, na Espanha. Este trabalho Leis e Políticas Públicas no período entre
faz uma reflexão sobre a inclusão que tem 2000 a 2010. Para identificar os artigos foi
sido objeto de discussão e analises no campo utilizados os seguintes descritos de assunto:
geral da educação escolar. Para isso, busquei A Inclusão de Crianças com Deficiência na
contribuições teóricas em Mazzota (1996), Educação Infantil.
Albuquerque (2007) e Mantoan (1997). Estes
teóricos apontam que a educação inclusiva Algumas referências foram obtidas na
não funciona na prática em virtude do íntegra pelas bases de dados acessados
despreparo do sistema escolar para lidar com por internet – Scielo, Google Acadêmico
a diversidade. Com esta pesquisa conclui- e acervos pessoais de docentes de uma
se que a escola precisa fazer mudanças unidade escolar de uma cidade no interior
urgentes, na maneira de ensinar, de planejar, de São Paulo.
de executar e de avaliar. Pensar em construir
uma outra escola, não para atender e
incorporar os alunos com deficiência, mas A EDUCAÇÃO INCLUSIVA
uma escola com projeto pedagógico flexível, NO BRASIL
aberto, dinâmico para incluir a todos com
suas qualidades e diferenças. Um projeto Nesse trabalho de pesquisas foi
capaz de envolver toda a comunidade apresentado um histórico da Inclusão de
escolar e ousar na busca de novas formas de crianças com Autismo em Educação Infantil,
educação, fazendo a ruptura com a educação conforme bibliografia em anexo, no qual
reprodutora. nota-se que em tempos não muito distantes
as crianças que nasciam com alguma
Esse Projeto partiu da abordagem anomalia eram consideradas doente mental,
específica . Tendo em vista os objetivos do independentes da doenças acometida, e
estudo, foi realizado uma revisão bibliográfica por esse motivo eram rejeitadas por seus
em livros sobre Diretrizes e Parâmetros familiares e pela sociedade e muitas vezes
Curriculares Nacionais e a Educação Especial, internadas em manicômios sem nenhum
a Constituição da República Federativa do tratamento, segregadas e afastadas da
Brasil, Ministério da Educação e Cultura que sociedade .
se trate da Educação Inclusiva, Declaração de

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Após as duas grandes guerras mundiais Em 1948 a Declaração dos Direitos


que aconteceram, começa a aparecer Humanos assegura o direito a todos na
alguns resultados em relação a pessoas educação gratuita.
com deficiência. As sequelas dessas guerras
marcaram a humanidade e em 1925 na OMT – Logo, em 1950 foi fundado a AACD
Organização Mundial do Trabalho foi adaptada mantendo um dos mais importantes centros
a recomendação nº 22que reconheceu as de reabilitação do Brasil.
necessidades a cercado trabalho das pessoas
portadoras de deficiência. A formação dessas instituições foi muito
importante para o desenvolvimento da
Efetivamente nos períodos pós guerra educação especial no Brasil, quando começa
a ideia de habilitação e reabilitação dos a surgir ideias de incluir pessoas segregadas
mutilados de guerra era chamado “ heróis nessas instituições em escolas comuns.
Sobreviventes “.
Em 1961 foram feitas leis efetivas para
Verifica-se assim que a 2ª guerra mundial a educação especial e na década de 70 as
trouxe a necessidade de políticas públicas e escolas comuns começaram a aceitar crianças
leis que tratassem a pessoa com deficiência e adolescentes com deficiências em classes
como indivíduos aptos ao trabalho, e então comuns e em 1971 foram regulamentados
o movimento e interesse por pessoas que os conselhos de educação e finalmente em
nasciam com algum tipo de deficiência 1980 surge a educação inclusiva.
começa a surgir. A medicina começa estudos
mais detalhados sobre as deficiências, Na década de 90 surge a Declaração de
observações, criações de métodos, tudo para Salamanca e em 1998 a nova promulgação da
melhorar a vida de pessoas com deficiência, Constituição Brasileira concebe a educação
onde surgem tratamentos diferenciados para no artigo 208 garantindo o entendimento
cada necessidade. educacional especializado aos portadores de
deficiência preferencialmente na rede regular
As pessoas que eram portadoras de de ensino. Em 1994 o Brasil reestrutura a
necessidades especiais não se encontravam sociedade para possibilitar a convivência dos
mais envolvidas pelo medo, tampouco diferentes.
excluídos desumanamente da sociedade.
A partir daí surgem indicadores da
No século XIX começa a surgir o interpretação da educação especial como
assistencialismo e os primeiros programas modalidade de ensino. O Brasil concordou
para prover cuidados e atenção à saúde e se comprometeu com os argumentos
dessa parcela da população excludente, e as produzidos em Salamanca ( Espanha em
escolas especiais começam a surgir. 1994 )e assim começa o aumento gradativo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

das matrículas de alunos com deficiências no Nos primeiros anos de vida da criança, o
ensino regular. aprendizado é muito importante para o seu
desenvolvimento ao longo da vida. Para isso, a
A LDB da Educação Nacional 9394/96 Educação Infantil tem seu papel fundamental
foi aprovada se pronunciando favorável aos utilizando métodos que possam de certa
artigos 58 e 59 de inclusão, assim o Brasil forma facilitar a absorção de todo o conteúdo
caminha em prol a inclusão. ensinado. O lúdico é um dos primeiros
métodos utilizados para o desenvolvimento
da criança, pois brincando, a criança
A CRIANÇA E O MOVIMENTO desenvolve a identidade e a autonomia,
assim como a capacidade de socialização,
A Psicomotricidade é a ciência que tem através da interação e experiências de
como objeto de estudo o homem por meio regras perante a sociedade. O brinquedo
do seu corpo em movimento e em relação é um item essencial e dinâmico onde
ao seu mundo interno e externo, bem como possibilita o surgimento de comportamentos
suas possibilidades de perceber, atuar, agir espontâneos, é um transporte para o
com o outro, com os objetos e consigo desenvolvimento e crescimento, onde leva a
mesmo. Está relacionada ao processo de criança a descobrir seus sentimentos e sua
maturação, onde o corpo é a origem das forma de agir e reagir.
aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.
(S.B.P.1999) Psicomotricidade, portanto, é Outra etapa a se cumprir na Educação
um termo empregado para uma concepção Infantil é a alfabetização que surgiu através
de movimento organizado e integrado, em de uma necessidade de comunicação no
função das experiências vividas pelo sujeito dia a dia da humanidade, ensina o aluno a
cuja ação é resultante de sua individualidade, decifrar símbolos formando palavras, ou seja,
sua linguagem e sua socialização. uma pessoa alfabetizada é aquela pessoa
que domina habilidades básicas para fazer
Por ser uma ciência ainda em busca de bases uso da leitura e escrita. Já o letramento, que
mais sólidas, o psicomotricista ainda não tem acompanha esse método indispensável, é
todos os seus papéis definidos. Sabemos levado para o lado cultural, onde ensina a
que ele pode atuar em conjunto com outras criança a se desenvolver lendo, tendo prazer
especificidades, mas também percebe- em fazer leituras de livros, notícias e ter
se sua atuação clínica e institucional. Já é ideias próprias como um uso social para a
possível compreender que psicomotricista é escrita e leitura.
o profissional da área de saúde e educação
que pesquisa, ajuda, previne e cuida do A educação tem por finalidade propiciar
homem na aquisição, no desenvolvimento e o desenvolvimento pleno da criança, o jogo
nos distúrbios da integração somapsíquica. e a brincadeira são fundamentais para o

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Revista Educar FCE - Abril 2019

desenvolvimento sensório-motor, afetivo; Brasil (1996) a LDB estabelece o


cognitivo e sociocultural da mesma. Além atendimento às crianças de 0 a 6 anos, tendo
de ser uma necessidade tanto física como como finalidade o desenvolvimento integral
emocional da criança, portanto, neste da criança em todos os seus aspectos
contexto a legislação visa assegurar que tais físicos, psicológicos, intelectuais e sociais.
necessidades e direitos sejam garantidos e Afirmando ainda ser dever do Estado garantir
respeitados em sua totalidade. o atendimento gratuito em creches e pré-
escolas.
Brasil (1961) instituiu-se a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional, que incluiu as Brasil (1998) a elaboração do Referencial
escolas maternais e os jardins-de-infância no Curricular Nacional para a Educação Infantil,
sistema de ensino. tem a finalidade de estruturar a educação e
fundamentar as concepções de crianças, e
Kuhlmann (1998) afirma que as políticas visa contribuir para a construção de propostas
educacionais na década de 70, pautaram-se educativas que considerem a pluralidade,
na educação compensatória, ainda com um diversidade étnica, religiosa, de gênero, social
olhar voltado para suprir as necessidades e cultural. Lima (2009) afirma que durante
básicas de cuidar, proteger e compensar as muito tempo a infância no Brasil era vista
defasagens afetivas. como uma fase de necessidades, portanto
era tratada em instituições assistencialistas
Brasil (1988) a Constituição Federal afirma a partir da Constituição Federal de 1988 e
o dever do Estado com a educação, garantindo a LDB 1996, essa visão começou a mudar,
o atendimento em creches e pré-escola as pois em seus artigos traz uma perspectiva
crianças de 0 a 6 anos de idade. Assim a educativa para essa faixa etária, essa nova
educação infantil passa a ser considerada visão coloca a educação infantil como a
como a primeira fase da educação básica, e primeira fase da educação básica. Vários
o Estado e os municípios passam a oferecer estudos trazem à tona a importância da
creches e pré-escolas como melhoria da educação infantil do desenvolvimento das
qualidade de vida da população. crianças. Lima (2009) a educação infantil
detém a função de oferecer e favorecer um
São Paulo (2008) indica que o Estatuto da processo significativo de aprendizagem e
Criança e do Adolescente, Lei n°8.069, de desenvolvimento para essa faixa etária, visto
13 de Julho de 1990, traz em seus artigos que educar e cuidar faz parte do mesmo
a explicitação dos direitos da criança e processo de construção do saber.
do adolescente referentes a vida, saúde,
alimentação, educação, esporte, lazer, cultura, Crianças em fase de desenvolvimento;
dignidade, respeito, liberdade, convivência bebês de alto risco; crianças com
familiar e comunitária e profissionalização. dificuldades/atrasos no desenvolvimento

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global; pessoas portadoras de necessidades É muito preocupante o que temos


especiais: deficiências sensoriais, motoras, visto em relação a este comportamento.
mentais e psíquicas; pessoas que apresentam Para piorar esta situação, a Psicomotricidade
distúrbios sensoriais, perceptivos, motores necessita de um mínimo de objetos para que
e relacionais em consequência de lesões as intervenções possam ser desencadeadas.
neurológicas; família e pessoas da terceira Isto por si só já causa uma reflexão primária
idade. naquele professor que necessita desenvolver
os trabalhos psicomotores nos espaços
Em que mercado de trabalho o de educação infantil e nas séries iniciais.
psicomotricista atua? Creches, escolas, Para ele, se não houver materiais, se não
escolas especiais, clínicas multidisciplinares, houver recursos, não poderá haver trabalho
consultórios, clínicas geriátricas, postos de psicomotor, e isso não é verdade. Um bom
saúde, hospitais e empresas. trabalho de Psicomotricidade na escola
básica precisa de uma junção de fatores:
A razão dos insucessos de muitas concepção, comportamento, compromisso,
experiências educacionais pode estar na materiais e espaços.
dificuldade de a escola construir ambientes
educativos com as características peculiares A - concepção: todo e qualquer trabalho
de seu corpo docente, com as estruturas precisa primeiramente ser planejado.
apresentadas por suas localidades e com O não planejamento do trabalho leva o
os recortes de cada método ou teoria de executor a sérios problemas de condução,
ensino em prol de sua escola. É urgente de direcionamento das práticas e perda
que profissionais de educação descubram do foco. Se não houver objetivos claros, se
a importância e as diferenças entre espaços não houver uma linha de pensamento para
de educação formal e ambientes educativos seguir, o professor poderá começar a pegar
(formais e informais). Tem-se difundido tudo que aparece e assim acabar perdendo
enormemente a ideia de que os recursos e efetivamente a direção e os objetivos que
os insumos precisam chegar cada vez mais deveriam ser propostos. O resultado disso
e, em grandes quantidades, à escola. Isto é quase sempre caótico: o professor não
é importante. No entanto, é importante consegue avaliar se o trabalho que ele
lembrar que recursos físicos não se educam executou foi bom ou não, se as ações que
sozinhos. Por trás dos recursos, por trás dos ele desencadeou valeram ou não a pena e
materiais, é preciso ter um grande profissional. se deve ou não uma prática ou outra. Toda
Profissional este capaz de usá-los, de explorá- esta problemática surge e acaba levando
los e de interferir nas práticas diárias, fazendo fatalmente o professor ao desânimo.
uso destes recursos todos, sempre pensando
e buscando o desenvolvimento global das Afinal, como ele não percebe nenhuma
modificação de comportamento, sobra-lhe
crianças. (SANTIN, 1987, p. 35). somente desqualificar a teoria e a técnica que

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advêm dali. Outro problema considerável neste


caso é a busca exagerada do professor por as especificidades daquele clima e, portanto,
técnicas. Técnicas sozinhas não transformam. será sempre melhor absorvida por todos. O
Além disso, as técnicas usadas mecanicamente comportamento é o combustível que move
acabam por se esgotar e, neste caso, o professor
volta desesperado à fonte querendo mais as relações diárias de um professor que quer
uma novidade. Esta prática vira um saco sem construir coletividade na multiplicidade dos
fundo. Todos os dias, o professor quer uma seres com as diferenças de cada um.
ideia inovadora, uma técnica diferente, mas
sua concepção não foi transformada, tampouco
constituída. É imprescindível que construamos B - comportamento: o comportamento
concepções, estas sim são perenes e verdadeiras. de um professor que quer trabalhar
Quando existe uma concepção na cabeça do
professor, ele sempre irá encontrar no seu com Psicomotricidade é sempre de um
cotidiano uma forma de executar seu trabalho observador, afinal, é nas atividades diárias
diante daquela realidade. É como se o olhar que este profissional vai introduzindo
daquele professor estivesse tão comprometido
que as respostas vão surgindo nestes encontros. práticas com objetivos psicomotores. Não se
Desta dinâmica perfeita, é que surge a podem dissociar as execuções. Motricidade
verdadeira construção do professor, aquele deve estar ao lado de afetividade. São estes
observador, que já possui a cabeça dentro da
concepção, faltando-lhe apenas que suas mãos dois aspectos que se juntam para formar uma
comecem a executar. No entanto, o contrário concepção maior que chamamos de trabalho
é sempre mais triste. O professor, apenas com psicomotor. Portanto, o comportamento é
suas mãos comprometidas, executa muito, mas
sem a menor concepção do que está fazendo. uma atitude de o professor não
(SANTIN, 1987, p. 45).
C - compromisso: o compromisso é sempre
Qualquer que seja o movimento realizado muito questionável. Alguns acham que
pelas crianças, eles acontecem em um espaço ele trabalhado demais vira opressão, uma
específico, com pessoas específicas e de um maneira de forçar o trabalho acima daquilo
jeito também específico. Desta maneira, que se considera adequado. No entanto,
jamais podemos deixar toda esta riqueza de dada as atuais situações da escola infantil
lado. O aluno precisa encontrar o outro aluno e da escola primária, precisamos relembrar
nas relações diárias. É este encontro que que, até bem pouco tempo, escassas eram
possibilitará a socialização e a humanização as atitudes verdadeiramente brasileiras
das relações. Para isto acontecer e para aplicadas nos ambientes educativos.
que o aluno possa viver os problemas e as
conquistas destes atos, é imprescindível que Como educadores olhamos o brincar como
o comportamento do professor seja de um uma possibilidade de intervenção que auxilia
observador/interventor, nunca de um bedel, de forma significativa no desenvolvimento da
que policia e castiga. O observador chama criança, e em especial, das que se encontram
a atenção, provoca a intervenção e continua na mais tenra idade. Muitas vezes, o que
a observação. Se houver necessidade de para a criança é um simples ato de brincar,
repreensão, ela se dará naquele contexto, com para nós é muito mais, é um momento de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

aprender, de experimentar, vivenciar e Ainda para Bueno (2001) esta desordem


desenvolver. faz parte de um grupo de síndromes chamado
transtorno global do desenvolvimento
Quando a criança brinca, ela desenvolve (TGD), também conhecido como transtorno
os domínios cognitivo, afetivo e motor. Além invasivo do desenvolvimento (TID), do
de ser um momento repleto de processos e inglês pervasive developmental disorder
situações que privilegiam o desenvolvimento (PDD). Entretanto, neste contexto, a tradução
de ações internas e externas para ela. Outro correta de “pervasive” é “abrangente” ou
fato de destaque refere-se à questão de “global”, e não “penetrante” ou “invasivo”.
que, por meio do brincar, a criança aprende Mais recentemente cunhou-se o termo
a conviver em grupo (relações sociais), a Transtorno do Espectro Autista (TEA) para
respeitar regras, a aceitar o outro e a suas englobar o Autismo, a Síndrome de Asperger
próprias limitações (emoção e afeto). e o Transtorno Global do Desenvolvimento
Sem Outra Especificação O Autismo Infantil
Ao brincar a criança estabelece a relação foi descrito inicialmente por Kanner em 1943
corpo e movimento, sendo traduzidos e quando ele identificou crianças apresentando
expressos, por meio da gestualidade, e essa, prejuízos nas áreas da comunicação, do
por sua vez, refere-se a representação, o comportamento e da interação social, e
entendimento e percepção de mundo que a caracterizou essa condição como sendo única
criança tem. e não pertencente ao grupo das crianças com
Deficiência Mental.

AS DEFINIÇÕES Desde 1938 nossa atenção foi atraída


SOBRE AUTISMO por certo número de crianças cuja condição
difere tão marcada e singularmente de
O autismo segundo a O.M.S Organização tudo que foi relatado até o momento, que
Mundial da Saúde é uma disfunção global cada caso merece, e espero que acabe por
do desenvolvimento. receber. Uma detalhada consideração de
suas fascinantes peculiaridades. Neste artigo,
Para Bueno (2001), é uma alteração a limitação necessariamente imposta pelo
que afeta a capacidade de comunicação espaço pede uma apresentação resumida
do indivíduo, de socialização (estabelecer do material clínico; pela mesma razão as
relacionamentos) e de comportamento fotografias também foram omitidas. Como
(responder apropriadamente ao ambiente nenhuma das crianças deste grupo atingiu
— segundo as normas que regulam essas ainda uma idade superior a onze anos, este
respostas). relato deve ser considerado preliminar, a ser
ampliado à medida que os pacientes forem
crescendo e mais observações sobre seu

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Revista Educar FCE - Abril 2019

desenvolvimento sejam feitas. Em 1943 (primários ou secundários), bem como sobre


publicou a obra que associou seu nome ao os mecanismos desencadeadores de tal
autismo: “Autistic disturbances of affective quadro.
contact”, na revista Nervous Children,
número 2, páginas 217-250. Nela, descreveu
o“isolamento extremo desde o início da vida ESTATÍSTICAS E AS
e um desejo obsessivo pela preservação da HIPÓTESES
mesmice”, denominando-as de “autistas”.
Caracterizado como um distúrbio profundo Dados preliminares do Censo Demográfico
do desenvolvimento, o autismo foi pela de 2010, divulgados recentemente pelo
primeira vez descrita cientificamente, em IBGE, apontam que o numero de pessoas
1943, no artigo “Distúrbios autísticos de com deficiência no Brasil é de 45 milhões, ou
contato afetivo”, do psiquiatra austríaco Leo seja, quase 24% da população. Dentre estas,
Kanner. Neste artigo, Kanner não definiu quase 3 milhões são pessoas com deficiência
especificamente o termo autismo, mas intelectual. Entretanto, o numero pode ser
descreveu o quadro clínico de 11 crianças, ainda maior, já que não foram consideradas
de onde foi possível extrair características pelo IBGE, patologias e síndromes como
comuns consideradas essenciais, cada uma perturbações, neuroses, esquizofrenia e
das quais nos sugere, neste momento, autismo. O autismo – síndrome sem cura,
algumas indagações. afeta o desenvolvimento de atividades como
interação social, comunicação e contato –
Destaca-se nesse quadro, o papel segundo a Organização das Nações Unidas
atribuído ao “isolamento autístico”, descrito (ONU) o autismo atinge 70 milhões de
por Kanner (op. cit.), como presente desde pessoas no mundo.
o início da vida da criança, sugerindo assim,
um caráter inato. Mais tarde, observa Uma nova perspectiva sobre a pesquisa do
que o distúrbio pode aparecer, após um autismo com o desenvolvimento de “Teoria
desenvolvimento aparentemente normal, bacteriana” do autismo. O distúrbio de
até aproximadamente os 30 meses de vida. crescimento mais rápido desenvolvimento
no mundo industrializado, o autismo tem
A grande contribuição de Kanner, ao aumentado um espantoso 600 por cento nos
caracterizar o autismo como uma síndrome últimos 20 anos. A ciência não pode dizer
independente, com um quadro clínico que a por quê. Alguns dizem que é desencadeada
diferencia de outras síndromes psiquiátricas por fatores ambientais e apontam para
(como debilidade, esquizofrenia, etc.), não outra estatística intrigante: 70 por cento
foi suficiente para possibilitar uma definição das crianças com autismo também tenham
precisa do autismo. Não há consenso sobre sintomas gastrointestinais graves. Poderia
os instrumentos avaliativos, seus sintomas autismo realmente começar no intestino.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

É importante que o tema autismo seja estudado de uma forma bastante abrangente e
com bastante flexibilidade, aceitando a diversidade de abordagens, a fim de poder interagir
e unir todas as visões distintas, pois, é desta maneira que se poderá contribuir para o
desenvolvimento do conhecimento sobre o autismo. Antes mesmo de iniciar uma analise
com maior profundidade da difícil trajetória do aluno com autismo, é importante conhecer
o universo que envolve o aluno com autismo e não limitar seu funcionamento mental e suas
capacidades de aprendizagem.

No texto acima Vigotski estabelece num processo de relação com o outro, partindo
do pressuposto que as relações pessoais constituem o sujeito e potencializa o seu
desenvolvimento. No caso do autista essa relação com o outro se torna um motivo de
intrusão, sendo que o autista quase nunca estabelece uma relação com o outro.

Conforme RIBEIRO e KANNER (2006) ―tudo que é trazido para a criança do exterior,
tudo que altera seu meio externo ou interno, representa uma intrusão assustadora.

Continua Ribeiro ―concluem pelo inatismo da síndrome, já que o fechamento


autístico extremo destas crianças se apresenta desde o inicio da vida, não podendo ser
atribuído á influência dos pais. Sua Hipótese é que ―estas crianças vieram ao mundo com
uma incapacidade inata de estabelecer contato afetivo. Enfim uma incapacidade para
construir um contato afetivo.

Neste contexto é possível observar algumas características


comportamentais nos autistas; solidão extrema.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desenvolver uma escola de qualidade para alunos,
professores e colaboradores, incluindo alunos autistas é
responsabilidade de todos, isso inclui; estado, município,
comunidade, familiares, educadores, alunos, e corpo docente.
A tarefa é de todos (....) construir uma escola democrática
sem privações culturais, elaborando uma educação
com a finalidade de ensinar sem desconsiderar a visão
ideológica da realidade do autista. Trabalhar na construção
de uma Pedagogia inclusiva mostra alguns argumentos MARIA ODELICE
que beneficiam todos os alunos, independente das suas MAGRO PEREIRA
habilidades ou dificuldades, a função primeira do educador
Graduada pela PUC/SP, em
deve ser identificar as necessidades de todos e promover o Língua e Literatura Inglesa-1989.
seu autodesenvolvimento. Graduada em Pedagogia pela
Uninove-2000; Professora de
Língua Inglesa da Rede Municipal
Quanto aos professores, saber reconhecer as dificuldades de Ensino.
da síndrome de autismo é reconhecer suas limitações. Cabe
também ao professor, compartilhar com outros professores
sobre novas técnicas e soluções para aprimorar seus
conhecimentos. Para o educador entender o comportamento
do autista favorece na aprendizagem e no diagnóstico. Identificar o aluno com autismo não
é tarefa muito fácil, pois, algumas crianças em seus aspectos são muito sutis e costumam ser
mal interpretados como mau comportamento.

O Pedagogo deve ter em mente que cada interação com o aluno autista parece o primeiro
contato, e necessita ser aprendidos todos os dias. A vida estudantil do autista é ampla
e minuciosa e deve ser elaborada com cautela e dedicação, sabemos que muitos alunos
autistas têm uma compreensão precária dos sentimentos dele mesmo e das outras pessoas.
Ensinar crianças autistas a se comunicarem é um processo lento e difícil, entender palavras,
figuras e símbolos em geral é muito complicada e complexa.

Falamos muito em comportamento e desenvolvimento, porém, se observarmos o


comportamento das crianças , não se difere das demais crianças tidas como “normais”.
Qualquer criança faz birras, têm manias, são instáveis no seu humor, querem atenção
exclusiva, têm rotinas próprias, a maioria tem déficit de aprendizagem e outros problemas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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975
Revista Educar FCE - Abril 2019

A BAIXA AUTOESTIMA COMO


GERADORA DE DIFICULDADES
DE APRENDIZAGEM
RESUMO: O presente estudo trará informações sobre os conceitos de autoestima de forma
mais aprofundada e sua relação com as dificuldades de aprendizagem, que geralmente
ocorrem como forma da criança sinalizar que algo não vai bem com ela. Por uma linha
humanista, mostrar que o trabalho se dá tanto com a criança, como com a família, e que
cabe ao psicopedagogo atentar-se na reconstrução dessa autoestima perdida, mediante o
trabalho com as capacidades e habilidades individuais desse aluno, mostrando assim seu
potencial.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Baixa autoestima; Dificuldade; Aluno; Intervenções


psicopedagógicas;

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INTRODUÇÃO Põem-se em questão certas visões


pré-concebidas que até hoje prevalecem
A ideia da baixa autoestima como ao se tratar dos assuntos relacionados à
geradora de dificuldades de aprendizagem, aprendizagem. Discute-se como este aluno
tem sido muito analisada por profissionais pode ser identificado de forma errônea por
que tratam com crianças, principalmente meio de atitudes que não são aceitas pela
os pedagogos e psicopedagogos. Fica sociedade; é abordada ainda a importância
evidente a necessidade de ajudar a criança dos professores e dos pais na convivência do
a desenvolver sua autoestima para garantir educando com dificuldade de aprendizagem,
um bom desempenho escolar, além de bom de forma que a escola possa se tornar um
desenvolvimento em sua vida pessoal e local de esperança para quem se sente
educacional. frustrado com sua incapacidade de aprender
normalmente.
A aprendizagem sempre enfrentou
problemas em desenvolver um cidadão Visto como um resumo da personalidade,
autoconfiante e capaz, já que a condição as escolas deveriam primar pelo
básica oferecida para conviver com os riscos, desenvolvimento da autoestima do aluno,
as incertezas e os conflitos de qualquer visto que o seu adequado crescimento se
sociedade e sobretudo a pós-moderna faz necessário para formação de um cidadão
são insuficientes e inadequados. Além da seguro e com condições de lutar pela
autoestima ser um componente emocional, conquista de seus direitos.
tem uma grande função social, uma vez que
os indivíduos precisam desenvolver uma Do ponto de vista da Psicopedagogia de
efetiva comunicação entre si e o meio em forma interdisciplinar, se faz necessário criar
que vivem. um vínculo entre os envolvidos no processo
de reconstrução da segurança em si e na
A falta de recursos, no âmbito educacional, capacidade da criança; vínculo esse, em que
dificulta as discussões abertas, geram o um tripé – psicopedagogo, profissionais da
afastamento dos indivíduos e os impede de escola e pais – trabalharão em conjunto com
vislumbrar o progresso. o mesmo objetivo comum: a autoestima da
criança.
Busca-se conseguir maior compreensão
sobre a relação entre autoestima e a Os problemas citados retratam um país
dificuldade de aprendizagem, fatores estes no qual a preocupação com o cidadão é
que estão ligados e, que se bem trabalhados tão somente lembrada focando interesses
geram um resultado satisfatório na formação políticos e não a construção de uma
pessoal e educacional do indivíduo como um sociedade melhor, mais inclusiva e humana.
todo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

AS DIFICULDADES DE Com frequência essas crianças e


APRENDIZAGEM E O adolescentes com dificuldades de
aprendizagem vêm sendo deixados de lado, e
FRACASSO ESCOLAR: O rotulados como desinteressados. Tal fato vem
CENÁRIO CRIADO PELA sendo um dos problemas mais preocupantes
BAIXA AUTOESTIMA no âmbito escolar.

O conceito de dificuldade de aprendizagem O que temos em nossas escolas hoje


apresenta diversas definições, mas há é uma educação sem frutos, um modelo
alguns aspectos que tornam coerente dizer bancário de educação (FREIRE, 1996), em
que determinado individuo possui ou não que as crianças são vistas como depósitos
dificuldades de aprendizagem. de informações e conhecimentos. Não
são levadas em consideração as vivências
Atualmente a educação vem sendo alvo de anteriores de cada criança para a construção
inúmeras críticas, visto que está passando por do conhecimento.
grandes dificuldades em todos os âmbitos: os
alunos estão cada vez mais imersos em uma De um modo geral, alunos com dificuldades
realidade difícil, na qual a grande maioria não de aprendizagem incluem problemas mais
possui uma boa estrutura familiar e estão a localizados, como por exemplo, em relação
cada dia que passa sendo globalizados mais atividade motora pode apresentar dificuldade
cedo (são cobrados em relação a ter uma de coordenação motora; em Matemática,
postura, linguagem e até vestimenta que problemas em seriações, inversão de
não condiz com sua idade/maturidade). números; na área de Língua Portuguesa,
Além disso, dentro da escola encontramos problemas de codificação/decodificação
professores que não se preocupam com a simbólica. Inúmeros tipos de dificuldades
realidade de seus alunos, não se atualizam e podem ser reflexo de desajustes emocionais,
que ainda transmitem conhecimento. como baixa autoestima e problemas de
sociabilidade, que estão interligados entre
Dentro de todo esse contexto é claro, si e tem como resultado em alguns casos, o
surgem as dificuldades de aprendizagem fracasso escolar.
que ocorrem por inúmeras causas. Ao
analisar a etimologia da palavra “fracasso”, A sociedade como um todo, busca por
encontramos “desgraça”, “desastre”, “mau explicações para o fracasso escolar, ora
êxito” “perda”, “falhas”, “insucesso”, tais responsabilizando os alunos e suas famílias,
adjetivos estão embutidos na vida escolar e ora responsabilizando a instituição escolar e
social de muitos indivíduos, sendo um fator o corpo docente.
preocupante na Educação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Muitas das dificuldades de aprendizagem Antes mesmo da existência ou da


e do próprio fracasso escolar estão ligadas as invenção da escola, os seres humanos
desigualdades sociais e culturais. criaram e definiram normas e formas para
comparações e classificações, as quais
Entende-se que desigualdade social alimentam estratégias de distinção que estão
ou diferenças de classes, pressupõem, associadas às hierarquias sociais.
desigualdade cultural, visto que cada
aluno convive, experimenta e vivencia Essas hierarquias promovem desigualdades
uma determinada realidade, internalizando socioculturais, e estas ocorrem em áreas
situações, regras ou normas que adquire em esportivas, de lazer, culturas confessionais,
contato com a mesma. étnicas, sindicais, políticas, não ficando de
fora o ambiente escolar.
Em todas as sociedades nos deparamos
com desigualdades de ordens diversas, com A escola acaba reproduzindo essas
o fenômeno da globalização as mais comuns desigualdades socioculturais, adquirindo
e abordadas são as desigualdades sociais e valores e costumes em processo recíproco.
culturais. A primeira também conhecida como A instituição escolar não é neutra, ou seja,
desigualdade econômica, está diretamente ela sofre influência da sociedade a qual
ligada a distribuição de renda e a segunda está inserida, destaca-se com importância e
surge como consequência da primeira, gravidade o problema da Educação, um sistema
quanto menor for o poder econômico de ainda fragmentado e desarticulado, um
uma sociedade, de uma família, menor será sistema educativo que herdou transferências
seu acesso à cultura em geral, ou seja, ambas de modelos de uma sociedade capitalista ou de
caminham juntas. produção e gestão econômica, o qual exerce
sobre seus cidadãos, disciplina ou submissão,
Com isso, cada vez mais nos deparamos uma cultura de conformismo e aceitação, e
nas escolas com as capacidades desiguais de não a transformação de sua realidade.
compreensão e ação entre os indivíduos, ou
seja, a capacidade de poder ser diferenciado Além disso, a precariedade das condições
que cada indivíduo possui e exerce sobre as de uma Educação de qualidade que estes
coisas, seres e ideias. sistemas educativos, ligados ao capital
humano oferece, sendo eles a situação
“(...) Nem todos os indivíduos coexistem em uma atual do corpo docente, pobreza dos meios
sociedade, tanto as crianças como os adultos,
enfrentam as situações da vida, sejam elas didáticos e o próprio fracasso escolar,
banais ou extraordinárias, com os mesmos meios servirão apenas para a reprodução social,
intelectuais e culturais. Essas desigualdades a qual é encarar o homem como objeto de
existem tanto nas sociedades sem escolas como
nas sociedades altamente escolarizadas (...)” produção, e não ser capaz de transformar
(Perrenoud, 2000, p. 18). sua realidade, até mesmo a sociedade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Infelizmente, os programas escolares Passou-se, então, a repensar em projetos


traduzem uma vontade política e escolhas educacionais que visam a participação
culturais, ou seja, a escola por meio desta de todos, formando cidadãos capazes de
reprodução cria seu próprio ambiente conviverem em um mundo pluralizado, com
hierárquico, que possui categorias e critérios respeito de credos e culturas pessoais, e,
estereotipados e embutidos em uma por isso, os modelos atuais apresentam
carreira escolar a serem desempenhadas uma estrutura curricular completa, sendo
pelos alunos, baseadas em aprovações e flexível e aberta, que não ocorrem de forma
reprovações, relacionados a um padrão de homogênea, mas sim, parâmetros que
saberes e de comportamentos tradicionais e acompanham características e desigualdades
conservadores de uma sociedade. culturais, econômicas e sociais de um país
tão diversificado em suas regiões.
“(...) Se essas desigualdades desempenham
um papel no fracasso escolar, é porque,
indiretamente, constituem recursos na vida, no Porém, a instituição escolar e o corpo
trabalho, e na competição escolar, porque fazem docente, sem auxílio de profissionais de
parte da identidade ou de maneiras de ser que outras áreas, como a Psicopedagogia não
influenciam a relação pedagógica.” (Perrenoud,
2000, p.22). possuem condições, nem mesmo a visão de
como trabalhar com as desigualdades ou a
Durante as décadas de 70 e 80, os índices heterogeneidade de seus alunos.
de repetência e evasão, o fracasso escolar,
evidenciou a insatisfação com trabalho Não podemos generalizar, mas alertar, que
realizado pela escola. Segundo os Parâmetros ainda hoje, a maioria das escolas promove o
Curriculares Nacionais “(...) a grande maioria fracasso escolar por abusarem do poder de
da população estudantil acaba desistindo da julgar, de classificar e de declarar um aluno
escola, desestimulada em razão das altas fracassado, referente a seu projeto pessoal
taxas de repetência e pressionada por fatores e seu desempenho sobre as exigências da
socioeconômicos(...)”. (PCN, 1997, p.19). escola.

Essas taxas de repetência e evasão escolar No início do século XX, médicos, terapeutas
evidenciam a baixa qualidade de ensino. E e educadores eram orientados por um
para combater tais situações na educação. A conceito de anormalidade nas questões de
Lei de Diretrizes e Bases (LDB), fundamenta- dificuldades de aprendizagem.
se em princípios e ideais constitucionais,
nos quais estabelecem oportunidades de Esse conceito era fundamentado ou
instrução em todos os aspectos para todas baseado em testes de inteligência, que
as pessoas, valorizando e respeitando as buscavam comprovar que a capacidade
diversidades, a heterogeneidade de cada intelectual é fruto de aptidões naturais
indivíduo, garantindo sua dignidade. e humanas, herdadas geneticamente.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

E, sendo este conhecimento produzido Portanto, desde então o aluno deixa de


cientificamente, tido como único e ser o principal e único protagonista das
verdadeiro, era a base do pensamento a dificuldades de aprendizagem e fracasso
respeito das causas do fracasso escolar, ou escolar, passando a possuir uma parte culposa
seja, a criança que não conseguia aprender no fator da incapacidade de adaptação social
era taxada como “anormal”. e, a outra parte destinada à instituição,
no fato de não conseguir ensinar o aluno
Na década de 30, RAMOS (1939) por a se conformar e aceitar sua realidade,
meio de seus estudos psicanalíticos, divulga adaptando-o e adequando-o a realidade
que as crianças consideradas anormais escolar, desenvolvendo uma abordagem nas
são “crianças problema” que não possuem diferentes linguagens culturais da criança.
anomalia mental, porém são “anormalizadas”
por causas externas, julgando ser a família o Apesar de mais de 20 anos de estudos e
principal meio desequilibrador. debates, muitas escolas ainda tratam com
indiferença as desigualdades socioculturais,
Na década de 70, surgem os elas utilizam os mesmos métodos, as mesmas
psicopedagogos que se dedicam ao técnicas de transmissão de conteúdo e os
atendimento das capacidades e diferenças mesmos critérios de avaliação para todos
individuais da criança. E com a parceria dessa os alunos, descartando a possibilidade da
nova categoria profissional, são divulgadas heterogeneidade, pretendendo aumentar
duas teorias para explicar o fracasso escolar. a homogeneidade entre os mesmos,
A primeira, Teoria da Carência Cultural (Maria ou querendo fazer o assunto passar
Helena A. S. de Queiroz Patto), a qual relata desapercebido. Assim, “(...) instala-se nas
que as crianças fracassadas são de classes escolas públicas e privadas, um quadro
populares, portanto, suas deficiências seriam difícil de ser solucionado: de um lado índices
fruto ou consequência do ambiente cultural crescentes de malogro escolar; do outro, um
desfavorecido em que estão inseridas. corpo docente perplexo diante das tarefas
de ensino”. (MANTOVANNI, 2001, p.32)
Sendo assim, foram realizadas, no Brasil,
projetos de Educação compensatória; porém, E quando detectam um aluno
não apresentaram resultados satisfatórios, predeterminado às dificuldades, a escola,
e, do contrário, serviram para marcar ainda utiliza recursos que as distanciam do
mais a seletividade social. reconhecimento dessa futura culpa. A escola
detecta o problema, mas não o soluciona
E, a segunda, Teoria Crítico- Reprodutivista sozinha, por ser algo tão complexo e difícil de
(Louis Althusser) que se limitava a explicar o se resolver, que atinge a instituição como um
fracasso escolar como um instrumento de todo, sobretudo o corpo docente, até porque
reprodução (sociedade capitalista) da escola. em determinados casos, a escola, não tem

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Revista Educar FCE - Abril 2019

autonomia para lidar sozinha, necessitando A BAIXA AUTOESTIMA


de parcerias, como a do psicopedagogo e E SUA RELAÇÃO COM
outros profissionais.
AS DIFICULDADES DE
Outro ponto importante é levar em conta APRENDIZAGEM
a realidade do aluno, visto que muitos
professores atuam dentro da sala de aula Um ser humano que não se ama, não se
tendo em mente um aluno ideal, sendo esta respeita, não se admira, não sonha é um ser
a primeira questão a ser diagnosticada e humano que não tem autoestima.
trabalhada.
Estudos de sintetizam a autoestima em
Dentro da sala de aula, o professor exerce três palavras: o amor a si mesmo, a convicção
uma diferenciação involuntária, que é a do que se é e a certeza de que competências
aceitação e a privilegiação de alguns, e a não jamais nos faltará.
aceitação de outros. Isso quer dizer que é mais
fácil trabalhar com quem quer aprender do A autoestima começa a se processar
que com aqueles que possuem dificuldades inicialmente pelo contato com o mundo
e necessitam de muitas motivações, já que externo. Cada criança tem seus aspectos
neste processo de ensino-aprendizagem já internalizados e esses podem ser melhorados
se desinteressaram totalmente. ou piorados, e, ser ou não ser amado nas
relações primárias, ou seja, nas relações que
Muitas vezes temos que trabalhar com estabelece com seus pais, núcleo familiar
aqueles alunos desmotivados, podendo ter e/ou de convivência, faz grande diferença,
a impressão de “nadar contra a maré”, de visto que contribuirá para que o indivíduo
fazer tudo por nada, porque essas questões seja seguro ou inseguro.
manifestam-se dentro da sala de aula, levadas
até os consultórios, estão relacionadas às A autoestima interfere diretamente nas
questões de fora. Tais problemas devem relações com o outro, e nos ambientes em
levar em consideração as expectativas e que o indivíduo está inserido, como trabalho,
experiências da comunidade e da família. escola, família, enfim, em todos os segmentos
de atuação desse ser humano.

A autoestima elevada aumenta a


possibilidade de sucesso, do direito de ser
feliz, respeitando e defendendo os seus
próprios interesses e necessidades, ao
passo que uma autoestima baixa induz a um
sentimento de inadequação à vida, fazendo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

com que esse indivíduo tenha dificuldade A criança precisa do afeto da família para
em atingir seus objetos e superar obstáculos. que tenha um desenvolvimento saudável e
feliz, sendo a segurança um dos fatores da
A autoconfiança é definida pela forma autoestima, visto que quanto mais segurança
como a família encara os fracassos e sucessos a criança tiver, mais probabilidade de êxito,
de cada um ao passo que estamos na fase de para isso é necessário que a família e a escola
formação de personalidade. contribuam positivamente, desenvolvendo a
vontade e o prazer físico.
A autoestima pode ser dividida
basicamente em quatro categorias: A criança segura, não depende do outro
para ser ela mesma, ela beija, abraça, dá a
1. Autoestima estável: pessoas que estão mão, assume riscos e busca alternativas. Esse
preparadas para o sucesso ou fracasso sem processo leva a criança ao autoconceito, ou
abalar sua autoconfiança. seja, a percepção que ela tem de si mesmo
2. Autoestima instável: pessoas que só a partir de seus desempenhos intelectuais,
estão preparadas para o sucesso e, portanto, das nossas habilidades, da identidade e do
quando fracassam sua autoconfiança se social e isso permite uma confiança de si
abala; mesma e dos outros (MOYSÉS, 2001). Esse
3. Baixa autoestima estável: pessoas que auto- conceito desenvolve mecanismos que
acreditam que o fracasso é o seu troféu, a levam a ter liberdade e se sentir à vontade
já que julgam não ter competência para quando observada, aceitando críticas e
alcançar o sucesso; mudanças.
4. Baixa autoestima instável: pessoas que
acreditam que caso alcancem o sucesso, o O processo de integração está ligado a
acaso foi o responsável. esta etapa, na qual a criança sente-se parte
do grupo, contribuinte no compartilhar
A família tem um papel marcante na dos seus conhecimentos e a partir daí
construção da autoestima da criança, o trocar ideias, experiências e fazer novas
amor será um importante ponto, com a elaborações, construindo novos conceitos
responsabilidade de educar, na qual o afeto e conhecimentos. Constrói a sensibilidade
venha de exemplos e não de palavras com e compreensão com os integrantes,
atitudes contrárias. desenvolvendo a ação de participar,
colaboração, entrelaçando os elos de
A família é a célula-mãe da sociedade, é amizade, levando a criança à motivação,
ela que deve preparar para a vida, formar o pela própria segurança no ato de agir e
caráter, assim como, perpetuar os valores compartilhar ideias.
éticos e morais.
Desta forma a criança constrói a liberdade

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Revista Educar FCE - Abril 2019

e responsabilidade pelas suas próprias ações, À escola, em especial, ao profissional da


refletindo que ninguém existe para servir, educação, não basta ter amor ao que faz
mas para obter relações com o outro. e por quem faz, mas atitudes e atividades
pensadas e com objetivos bem determinados,
A partir do momento em que a condição buscando valorizar as habilidades que cada
dessa criança ao passo que indivíduo aluno possui, trabalhando sempre com aquilo
não permite a integração e consequente que o aluno já adquiriu, e não reforçando
construção de conhecimento, começa-se aquilo que está faltando ou esperando que
a perceber a baixa autoestima refletida em todos alunos sejam iguais. É preciso que se
dificuldades de aprendizagens, em alguns respeite e se conheça a individualidade de
casos são difíceis de superação, acreditando cada um.
realmente no fracasso escolar daquela
criança. A aprendizagem deve ser prazerosa e
construtiva, no qual os valores do aluno
A aprendizagem da autoestima é possível sejam respeitados; com construção do
para qualquer indivíduo, seja qual for o conhecimento coletivo e individual.
momento, ambiente ou idade.
Deve-se pensar em como organizar as
A escola, assim como a família, tem atividades do cotidiano para viabilizar esse
um importante papel na construção da tipo de aprendizagem. De acordo com a
autoestima da criança, devendo viabilizar teoria de Kurt Lewin, (1890-1947) psicólogo
meios e projetos para a construção da alemão, conhecido como “Pai da Psicologia
mesma. Social”, três formas básicas de organizar as
atividades remetem ao professor: tipos de
Em alguns casos, uma dessas entidades aprendizagem cooperativa, competitiva e
não consegue perceber que determinadas individualista. No resultado dessas pesquisas,
“dificuldades de aprendizagem”, ou mesmo verificou-se que a aprendizagem cooperativa
aquilo que foi denominado como fracasso abrange melhores resultados, já que não
escolar, são o mais puro reflexo de falha só alcança os objetivos conteudistas, mas
na construção do processo de autoestima, também um modo de encarar a cooperação
cabendo ao profissional da Psicopedagogia, entre os alunos.
além de desenvolver intervenções
psicopedagógicas que favorecem tal A aprendizagem cooperativa alcança
construção com o indivíduo, como veremos maiores índices de rendimento, permitindo
a seguir, orientar família e escola, para obter maior participação e produtividade de
maior êxito em suas intervenções e na todos os participantes. Quando existe
formação da autoestima desse indivíduo. a aprendizagem cooperativa, os alunos
não são vistos como seres isolados, mas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

como produtores da sua construção no A escola precisa ampliar nos alunos uma
meio social, assim como, da aquisição do visão que favoreça o enxergar o outro,
conhecimento, esse tipo de aprendizagem não como objetos, mas como sujeitos
permite que os alunos explorem suas corresponsáveis no processo democrático.
habilidades, aprendendo e construindo E o caminho é defender as conquistas e os
novos conhecimentos juntos, sem exposição direitos adquiridos da democracia, ampliando
de suas dificuldades, e sim com valorização e aprimorando para uma sociedade mais
das potencialidades de cada um, como forma democratizada.
de contribuição para o grupo.
A educação tem um importante papel na
A construção do conhecimento implica vida do homem, o de despertá-lo. Baseada
não só estabelecer relação entre os numa visão humanista, todos os indivíduos
conhecimentos prévios e os novos que têm capacidades a serem desenvolvidas,
foram adquiridos, mas, em introduzir novas saberes a serem construídos.
atitudes na vida do educando diante do novo
conhecimento. A Pedagogia Humanista (corrente
pedagógica fundamentada em uma concepção
de natureza humana, surgida na Grécia que
A ESCOLA COMO ESPAÇO teve como grande precursor Platão) não
DE FORMAÇÃO DA AUTO- objetiva educar a criança para simplesmente
oferecer-lhe algo para ser acrescentado à sua
ESTIMA, NUMA PERSPECTIVA vida, à parte consciente, à sua personalidade.
HUMANISTA Objetiva sim, inspirar, despertar e motivar o
poder que a criança já possui; é ajudá-la a
A escola precisa formar para a vida, para crescer interiormente e, em consequência, a
uma sociedade melhor, mais do que o papel expressar-se exteriormente, para que possa
da escola vai além dos conteúdos, a escola ajudar a si mesmo e ao outro, convivendo
deve se preocupar em formar cidadãos em harmonia com os cidadãos da sociedade
críticos e conscientes da possibilidade de em que está inserida. O trabalho docente em
intervenção social. É preciso que tenhamos uma perspectiva humanista vai além do ato
claro, que a escola tem como missão preparar ensinar. É preciso tratar as crianças com muito
para a liberdade, ajudando as vítimas das amor, disciplina, compreensão e firmeza,
várias formas de escravidão. sem perder de foco de que ensinar também
é aprender. Baseado nisso, o professor irá
Segundo RIOS (2002), a escola tem proporcionar o bem-estar na sala de aula e o
como função ser um lugar de construção “estar bem” de cada aluno, criando assim um
da “felicidadania”, devendo ser o objetivo clima amoroso e evitando a discriminação e
principal dos educadores. exclusão, num ambiente propicio ao respeito

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Revista Educar FCE - Abril 2019

e valorização das características de cada a discriminação e exclusão, promovendo a


indivíduo. compreensão, tolerância, os princípios de
coleguismo e amizade entre os alunos. Faz-
Há, portanto, necessidade de se promover se necessário: competência, habilidade e
no processo educativo, condições de bom tomada de atitude.
desenvolvimento, não só de seu corpo físico,
como de seu corpo intelectual, cuidando de Com tal ambiente é possível fortalecer os
sua reparação para um determinado período vínculos afetivos, ajudando os indivíduos a
de vida na Terra e solidificando também os formarem sua autoestima, uma boa imagem
alicerces de sua preparação para a vida em de si e confiança em si, que será fundamental
sociedade. Daí a importância da escola em para o favorecimento do processo de
se enquadrar dentro do novo contexto social aprendizagem.
para atender à formação das crianças, de
modo a que possam viver dentro de uma
sociedade mais justa, mais humana e que AS INTERVENÇÕES
comecem a aprender a trilhar o caminho da PSICOPEDAGÓGICAS
democracia.
POSSÍVEIS, BUSCANDO
A responsabilidade do professor no CONSTRUÇÃO DA AUTO-
processo de ensino-aprendizagem e ESTIMA
formação do cidadão, sem dúvida, é de
suma relevância. O trabalho docente numa Diante desse contexto escolar citado cabe
perspectiva humanista vai além do ato de a intervenção do psicopedagogo para ajudar
ensinar. É preciso tratar as crianças com professores, alunos e a família.
muito amor, disciplina, com compreensão e
firmeza, sem perder o foco de que ensinar, A construção da autoestima inicia com o
também é aprender. convívio familiar, mas quando esta instituição
falha em partes ou de maneira integral, cabe
A observação e registro do a escola identificar, de alguma forma, essa
acompanhamento cognitivo de seus alunos defasagem para encaminhar esta criança
permitem não só a reflexão do professor, ao profissional da Psicopedagogia, mesmo
mas a oportunidade de se fazer os ajustes e que encaminhe a mesma, com uma queixa
correções, quando necessários. de alguma dificuldade de aprendizagem
que esteja encobrindo temporariamente o
O trabalho docente numa perspectiva problema real: a baixa autoestima.
humanista precisa proporcionar o bem-estar
na sala de aula e o “estar bem” de cada aluno, (...)” o maior percentual de fracasso na
criando assim, um clima amoroso e evitando produção escolar, de crianças encaminhadas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a consultórios e clínicas, encontra-se no reforcem seu sucesso.


âmbito do problema de aprendizagem
reativo” (...) (WEISS,1999, p. 45) Listar seus pequenos progressos e realizar
auto avaliações, podem ter um papel ativo
Os atendimentos psicopedagógicos na mudança da autoestima.
devem ser realizados de forma a identificar o
que está impedindo o avanço do educando, Esses conjuntos de ações, aliados a uma
geralmente, tal constatação irá ocorrer por boa orientação para escola e família, são
meio da investigação do sujeito, ou seja, fundamentais para que todos caminhem
conhecendo a interação entre seu cognitivo em um só sentido: a superação da baixa
e afetivo. autoestima desse indivíduo que o leva
ao fracasso escolar ou as dificuldades de
As intervenções psicopedagógicas irão aprendizagem.
acontecer de modo a levar o indivíduo a
descobrir que é capaz de aprender e assim O psicopedagogo como a instituição
recuperar sua autoestima. escolar tem um papel importantíssimo e tem
muitas intervenções a fazer ao passo que
Nos atendimentos serão propostas parceiro de professores (instituição), aluno e
atividades que entre outras coisas, família.
incentivem o aluno a confiar em suas
ideias, que o ajude a encontrar a felicidade O profissional da Psicopedagogia pode
e pequenos prazeres. Que ajude o aluno a ser essencial dentro da instituição, visto que
estabelecer relações vinculares, a expressar- todos (escola, aluno e família) veem o “caos
se sobre relações familiares, saudade, medo, instaurado” e não conseguem intervir de
afeto. A expor suas dificuldades e trabalhar maneira eficaz.
com elas, vendo que é possível superá-las.
Cabe ao psicopedagogo ajudar os
As atividades que enfatizem e reforcem professores e a própria instituição a
aquilo que o aluno já possui, já adquiriu na enxergarem o aluno real, a perceber o quão
busca daquilo que ainda falta como caminho importante é que esqueçamos o aluno/ sala
a ser percorrido como o apoio de suas de aula ideal e que passemos a enxergar o
habilidades e conhecimentos e não como aluno como ele é, com toda a sua bagagem
obstáculo intransponível. anterior, seus problemas familiares, suas
qualidades, medos e defeitos.
Nesse processo, cabe ao psicopedagogo,
oferecer atividades que façam o indivíduo O profissional da Psicopedagogia ajudará
pensar sobre si, suas qualidades, habilidades, o professor/instituição a entender melhor
em alguns casos propondo atividades que seu aluno, a olhar para ele como ser único

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que tem sua história e traz consigo não preparado para mudanças e transformações.
apenas a sua história, mas também suas Essas transformações devem acontecer
expectativas e necessidades, cabe ao no ambiente favorável e afetivo, no qual
professor ter a sensibilidade para olhar isso, o professor se coloca no lugar do aluno,
dar atenção a esse aluno, pensando em seu atendendo seus anseios e necessidades.
processo de ensino aprendizagem, ajudando
com que ele expresse e se relaciona com a Os professores serão orientados pelo
sua aprendizagem. O professor estimulará o psicopedagogo a promover a interação
aluno a estabelecer relação com os saberes social nas salas de aula e encorajar o
e seu cotidiano no processo de ensino- questionamento e o exame de qualquer
aprendizagem, durante esse processo é problema que pode ser levantado pele
importante que o aluno saiba se auto avaliar criança. Existe valor intelectual em trabalhar
na escola e, consequentemente diante de com os interesses intelectuais espontâneos
outras situações: da compreensão, do amor, da criança e, para o desenvolvimento moral
do agir, a auto avaliação é levada para a vida. dela, é igualmente valioso lidar com as
questões morais espontâneas. Isso cabe
É preciso também que seja trabalho a também aos pais.
questão do vínculo entre professor e aluno,
afinal é este que proporcionará que os O papel do psicopedagogo é promover
“caminhos da aprendizagem” se abram, a reflexões nas quais os professores e
aproximação entre professor e aluno, além família percebam que a responsabilidade, a
de ser muito enriquecedora para ambas cooperação e a autodisciplina não podem
as partes, proporciona que o professor ser transmitidas à criança autoritariamente.
consiga ajudar esse aluno ainda mais em Tais conceitos devem ser construídos por ela
suas dificuldades (abre espaço para a valendo-se de suas próprias experiências,
investigação) e para que assim faça também para o quê as relações de respeito mútuo
pequenas intervenções a fim de trabalhar a são essenciais. Pais e professores são os
baixa autoestima dessa criança no ambiente que, em geral, organizam o meio social ao
escolar. qual a criança se adapta e a partir do qual ela
aprende. É discutível a ideia de que a criança
As interações entre professores e pode desenvolver os conceitos de justiça,
alunos devem se aprofundar no campo de baseados na cooperação, em um ambiente
ação pedagógica, no qual os professores cujo o sentido de justiça tenha por base
precisam ter um olhar voltado para o apenas a autoridade.
ensino-aprendizagem, procurando envolver
os alunos em seus trabalhos, sendo um O trabalho com as famílias é essencial,
professor articulador, que desenvolva mas sei o quão árduo é. Atualmente, a família
o seu trabalho com interação, estando encontra-se afastada da escola, ou por

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desinteresse, ou por falta de abertura do próprio ambiente escolar, cabe ao psicopedagogo


nas oportunidades que surgem e que ele terá de criar (reuniões de pais, encontros, etc.),
mostrar/conscientizar os pais que a aprendizagem e a autoestima é construída por meio do
contato social e que esse primeiro contato acontece com a família. É preciso que se resgate
o papel da família dentro do processo de aprendizagem e dentro do processo de formação
do indivíduo, o que diz respeito a sua autoestima e autoconceito, já que devido às mudanças
na sociedade atual, esta acabou transferindo grande parte de suas responsabilidades para
a escola. Os pais precisam entender que o processo de aprendizagem não para quando
a criança sai da escola e vai para casa. Além disso, sabemos que só o desejo de aprender
permite que a aprendizagem ocorra, por isso os pais precisam demonstrar para seus filhos o
desejo que tem que eles aprendam, compartilhar isso com as crianças. É preciso fazer que
esses pais passem a ser agentes no processo de aprendizagem de seus filhos, o acompanhem,
incentivando esse aluno.

Os pais e professores devem assumir relações de respeito mútuo com as crianças, e não
autoritárias, pelo menos alguma parte do tempo em que permanecem juntos. Os pais podem
encorajar as crianças a resolver problemas, por si mesmas e a desenvolverem a autonomia.
Pais e professores precisam respeitar as crianças.

O psicopedagogo precisa orientar a família deste individuo com baixa autoestima, para
que esses consigam construir um vínculo afetivo, uma relação de confiança, em que os pais
elogiem e valorizem os pequenos progressos que seus filhos irão ter, melhorando a sua
autoestima dessa criança que em muitos casos, era desassistida pela família.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A autoestima é o sentimento de querer-se bem, de
apreciar-se, de sentir e, ao mesmo tempo amar a si mesmo,
visão do próprio eu e autoconfiança. É a saborosa emoção
da felicidade de ser.

Quem não a possui, ou seja, os indivíduos com baixa


autoestima refletem de alguma forma a falta desse sentimento
de querer-se bem, como já acreditam em seu fracasso,
não conseguem obter êxito em suas atividades, também
nas atividades escolares, gerando assim as dificuldades de
aprendizagem.
MARIANA BATISTA NUNES
O trabalho do psicopedagogo não se relaciona apenas
Graduada em Licenciatura Plena
com questões cognitivas, com ações que visem sanar as em Pedagogia, pela Faculdade
lacunas escolares com atenção especializada, é preciso Tijucussu (2007). Pós- graduada
preocupar-se em conectar ações de aprendizagens, de forma em Psicopedagogia pela Faculdade
Anhanguera São Caetano (2011);
a trabalhar como mediador da construção ou reconstrução pós-graduada em Docência do
as aprendizagens da criança, buscando ainda com dificuldade Ensino Superior pela Universidade
uma parceria com a família e escola. Iguaçu (2013); pós-graduada em
Educação Especial e Inclusiva pela
Faculdade Campos Elíseos (2014);
Nesse contexto, cabem as intervenções psicopedagógicas pós- graduada em Arte, Educação
que além de trabalhar essas dificuldades irão trabalhar o e Terapia pela Faculdade de
Educação e Tecnologia Iracema
autoconceito do indivíduo. (2017). Atualmente é professora
de Ensino Fundamental I da Rede
Pensando que o trabalho psicopedagógico dá-se de forma Municipal de São Paulo e na Rede
Municipal de São Caetano do Sul.
interdisciplinar, temos que o papel da escola, professor e
família são fundamentais para a autoestima do indivíduo
e que cabe ao psicopedagogo orientá-los de modo a auxiliar o indivíduo a melhorar sua
autoestima.

O psicopedagogo em parceria com escola e professor, buscará metodologias e recursos


para receber alunos que precisam ser ajudados na elevação de sua autoestima, afim de que
no futuro não sejam renegados e excluídos pela sociedade.

É preciso que o professor se torne um profissional capaz de contribuir para uma escola
de afeto e amor com o ato de ensinar. Deve-se ter compromisso ético e político com a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

promoção e o fortalecimento da cidadania, assim consequentemente o professor atingirá


a formação de seu aluno, do indivíduo, da formação de sua personalidade como um todo,
incluindo sua autoestima.

O educador como facilitador e mediador do processo ensino- aprendizagem precisa


administrar a progressão das aprendizagens, precisa saber avaliar seu aluno nas diferentes
atuações proposta por ele, para acompanhar a evolução e mudar de estratégia, quando se fizer
necessário. Buscando parceria com a família dessa criança e demais profissionais envolvidos
nesse processo, assim, quase que simultaneamente atingindo resultados na aprendizagem,
no auto conceito e auto estima desse aluno.

É preciso que se leve em consideração toda a realidade do aluno, para que tudo seja
planejado e não feito sem propósito, planejando e replanejando baseado nos resultados das
ações, identificando as necessidade e dificuldades desse aluno nos aspectos emocionais,
sociais e intelectuais.

O psicopedagogo pode ser a chave fundamental para desenvolver as capacidades e


habilidades dos alunos, levando-os a pensarem sobre o conhecimento, envolvendo-os de
modo a confiarem e terem segurança em suas capacidades, portanto, dando importância a
sua autoestima.

Diante das pesquisas, conclui que se a autoestima for bem trabalhada, com responsabilidade
e compromisso, pela família, escola e se preciso pelo psicopedagogo, dificilmente iremos nos
deparar com o fracasso escolar e muitas das dificuldades de aprendizagem serão superadas,
se não extintas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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WEISS, Alba Maria Lemme, CRUZ, Maria Lúcia R. A Informática e os Problemas Escolares de
Aprendizagem. Rio de Janeiro: Ed. DP&A, 1999.

992
Revista Educar FCE - Abril 2019

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO


INFANTIL- SUA RELAÇÃO E IMPORTÂNCIA
PARA O DESENVOLVIMENTO
RESUMO: A Lei 9394/96, no artigo 26, 3º parágrafo garante que deve ser ensinado
educação física nas escolas, até mesmo para as crianças menores de seis anos, portanto, a
educação física na educação infantil mesmo arguida por algum tempo, e tema de diversos
debates, é coberta por lei. “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola,
é componente obrigatório na Educação Básica[...]” (BRASIL, 1996). As reflexões sobre o
assunto em questão iniciam-se por um breve resgate histórico da diferenciação da criança,
a infância e alguns aspectos do desenvolvimento, em seguida, relaciona-se a importância
do lúdico nos processos de Educação Física Infantil a partir de teóricos que anuem que:
“De forma que os domínios psicomotores constituem pressupostos básicos para a leitura
e a escrita”, (Freire, 1997, LE BOULCH, 1986; GALLAHUE,2005 et al ); e por fim, a análise
conceitual entre atividades cooperativas e competitivas , Brotto (1995), que podem ser
úteis para o fomento do desenvolvimento global, que incluem em si, aspectos físicos
(motores), psicológicos, intelectual e social” o que não pode ser entendido como imediato,
mas contínuo se, bem estimulado, ininterrupto e afinal, para toda vida.

Palavras-Chave: Educação física; Educação Infantil; Desenvolvimento infantil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO as mudanças mais acentuadas ocorrem


nos primeiros anos de vida. A lei 9394/96,
O presente artigo tem como objetivo no artigo 26, 3º parágrafo garante que deve
abordar brevemente a educação física infantil ser ensinado educação física nas escolas,
até os seis anos de idade e demonstrar de inclusive para as crianças abaixo de seis anos
maneira sucinta como se manifestam as (Brasil, 1998). Dentre os vários objetivos
atividades físicas nos diferentes momentos explicitados da atividade física infantil
decorrentes dentro do cenário histórico destaca-se: o domínio; a noção de espaço e
e contemporâneo. Em seguida relatar a tempo: melhorar o desempenho em várias
importância do advento da educação física atividades de força, resistência, flexibilidade
no desenvolvimento humano nos anos velocidade; e cooperar em atividades de
iniciais de vida e finalmente desenvolver grupo o desenvolvimento integral da criança
uma reflexão a respeito dessa prática no e claro a exploração do brincar.
ambiente e currículo escolar, enfatizando
e defendendo a ideia da valorização da
espontaneidade de forma prazerosa no INFÂNCIA, EDUCAÇÃO FÍSICA
emprego dessas atividades no currículo da E DESENVOLVIMENTO
Educação Infantil.
Historicamente no contexto Greco-
De acordo com a Lei de Diretrizes e romano a importância do brincar e jogar eram
Básicas (LDB, 9394/96), a Educação Infantil, considerados fatores para o desenvolvimento
e a primeira etapa da Educação Básica, motor e cognitivo, foventes dos laços afetivos
período em que é notoriamente sabido que é e sociais, os quais viabilizam a convivência
primordial e essencial para desenvolvimento em sociedade, os jogos e exercícios físicos
motor, cognitivo e socioafetivo, para toda eram usados como instrumentos de ensino,
vida, “tem como finalidade o desenvolvimento tinham como característica principal o caráter
integral da criança menor de seis anos de militar, valorizava-se o desenvolvimento
idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, mental e físico de seus aprendizes. Na idade
intelectual e social”, (Brasil, 1998). média já com seis ou sete anos de idade,
considerava-se que a criança já compreendia
Para Oliveira, (2003): “A educação o que os adultos falavam, portanto, a partir
infantil atualmente compreendida como daí, já se poderia dar início na vida adulta,
o atendimento institucional educacional executando de forma parecida as mesmas
às crianças de zero a cinco anos de idade atividades do mundo dos adultos.
em creches e pré-escolas passou a ser
considerada a primeira etapa da Educação Segundo Kishimoto (2000), nas antigas
Básica no Brasil”, O desenvolvimento motor concepções, a criança era vista como homem
é um processo contínuo e demorado, pois em miniatura, porém revelava uma visão

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Revista Educar FCE - Abril 2019

negativa, pois era um ser inacabado, sem observação da infância foi essencial nesse
nada específico e original, sem valor positivo. momento para aquisição de um olhar mais
Mas com o passar dos anos, a partir do século cuidadoso em relação ao desenvolvimento,
XVIII, Rousseau, defende a especificidade principalmente no âmbito infantil. Froebel ao
infantil, sendo assim, a criança passou a perceber a unidade ou a continuidade entre
ser vista como portadora de uma natureza a infância, juventude e maturidade, verifica a
própria que deve ser desenvolvida. A criança necessidade de educar a criança desde que
é, como adulto, um sujeito histórico social, e, nasce para garantir o pleno desenvolvimento
inserida em determinada sociedade e cultura do ser humano. (Kishimoto, 2002, p. 60).
em um determinado momento histórico, faz
parte de uma organização familiar (Brasil, As primeiras instituições brasileiras de
1998). De acordo com o (RCNEI), Referencial atendimento às crianças de zero a seis anos
Curricular para a Educação Infantil: de idade surgiram no Império, com o intuito
de amparar, o objetivo exclusivo de atender
As crianças possuem uma natureza singular, às famílias de baixa renda e as crianças
que as caracteriza como seres que sentem e
pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas abandonadas, A inclusão das pré-escolas na
interações que estabelecem desde cedo com as Educação Básica, intenção concretizada na
pessoas que lhe são próximas e com o meio que Constituição de 1998. A Lei de Diretrizes e
as circunda, as crianças revelam seu esforço para
compreender o mundo em que vivem. (RCNEI, Bases da Educação Nacional, de 1996, dá
1998). início ao cenário da educação física infantil,
enfatizando que a educação é um direito da
Kuhlmann (2004), expõe que as pré- criança e que deve, portanto, ser universal.
escolas surgiram a partir de mudanças (LDB, 9394/96).
econômicas, políticas e sociais que
ocorreram na sociedade: pela incorporação Segundo Tani (1988) o período do
das mulheres, revolução industrial, à força nascimento aos seis anos de idade é
de trabalho assalariado, e também pelo considerado cruciais para o indivíduo, neste
fato de relação que se identificam com um processo que ocorre durante toda a vida do ser
conjunto de considerações novas sobre humano as experiências das habilidades básicas
a infância, o vislumbre sobre o papel da que acontecem principalmente na infância
criança na sociedade e de como permiti-la, são fundamentais. A Educação Física adquire
por intermédio da educação, um indivíduo um papel importantíssimo à medida que ela
produtivo e ajustado ás exigências desse possa estruturar o meio ambiente adequado
meio social. para a criança, oferecendo experiências,
resultando num grande auxiliar e promotor
Segundo Kishimoto (2002), em 1870 do desenvolvimento humano, em especial
Friedrich Froebel, um médico, foi o ao desenvolvimento motor e ao garantir a
idealizador dos Jardins de Infância. Sua aprendizagem de habilidades específicas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A Educação Física infantil não é apenas corporal. Não são poucos os autores que
educação do ou pelo movimento, um enfatizam a relevância do desenvolvimento
fragmento deste ou daquele, configura como integral do indivíduo, compreendendo os
a educação de corpo inteiro, é um corpo aspectos motor, cognitivo e afetivo-social,
em relação com outros corpos e objetos, e havendo uma interdependência entre esses
sua correlação e inter-relação no espaço. aspectos, daí a emergente necessidade de
Segundo Gallahue (2005): os aspectos do entendimento, valorização e apropriação
desenvolvimento infantil estão definidos na da prática de educação física já na primeira
fase dos movimentos fundamentais. Refere- infância.
se aos atos de pegar, gatinhar, andar, correr,
saltar, girar, rolar, são esses movimentos que
constatamos na fase de educação infantil. E A EDUCAÇÃO FÍSICA
assim define: INFANTIL E O PROFESSOR
a. 3 a 4 anos as atividades das crianças são Sumariamente, devemos compreender
tarefas motoras de estabilização, locomoção que as crianças brincam, o fazem por
e manipulação podendo ser coordenadas por necessidade de aprender, compreender,
movimentos. adaptar-se e adquirir mecanismos de
sobrevivência e socialização, o brincar e
b. 4 a 5 anos nas atividades as crianças jogar, além do prazer que as proporciona
começam, aceitar melhor as regras e é uma importante ferramenta de registro
compreendê-las, elas já começam a e replicação, por meio dos caminhos da
apresentar maior atenção e concentração, sensação e percepção, para, além disso, um
começam a se organizar em grupos e, esse modo excelente de como se conhecer, ir se
é um elemento muito importante nessa fase, descobrindo, explorar suas potencialidades,
a de aceitarem as outras crianças, (Gallahue, também com os objetos, os outros e o mundo
2005). (ambiente). Kishimoto (2002) aponta que
para Froebel as brincadeiras são o primeiro
A experiência motora adequada reflete-se recurso no caminho da aprendizagem. Não
também na alfabetização e raciocínio lógico- são apenas diversão, mas um modo de criar
matemático (Freire,1997). A criança tem a representações do mundo concreto com a
capacidade de transformar o mundo simbólico finalidade de entendê-lo. Quando brinca,
em experiência corporal. O movimento na a criança assimila o mundo à sua maneira,
educação infantil seria um instrumento sem compromisso com a realidade, pois
utilizável para facilitar a aprendizagem de sua interação com o objeto não depende
outros conteúdos. (Freire, 2003, p. 36). Não da natureza do objeto, mas da função que
se passa do mundo concreto à representação a criança lhe atribui (PIAGET, 1971, apud
mental senão por intermédio da ação KISHIMOTO p. 59).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Dessa forma o professor deve lançar mão uma forma descontraída. As aulas podem ser
das atividades na educação física infantil ministradas através de brincadeiras e jogo
sem o caráter restritivo, militarista e/ou de tendo o foco a ludicidade, fazendo com que
imposição de regras dos jogos. Deve não estas não sejam “mecanizadas”, pois sendo
se preocupar tanto com que formulações trabalhadas de forma repetitivas, tornam-
e execução de regras dos jogos tenham se monótonas, causando o abandono e
fluência, mas dar fato, principalmente ao desinteresse por parte dos alunos, que nada
prazer. É importante que o professor elabore mais seriam se não objetos, sem expressão
atividades de caráter educativo e ao mesmo voluntária, e provavelmente desestimularão
tempo lúdico, pois na fase de 4 a 5 anos, o profissional, e é justamente isso que
a criança brinca e tem o maior prazer de devemos evitar em se tratando de crianças.
brincar, cabe a ele desenvolver brincadeiras,
jogos educativos com o intuito de ampliar Segundo Kishimoto: “o jogo visto como
o conhecimento da criança não somente recreação, desde a antiguidade greco-
corporal, mas também como um todo. É nesse romana, aparece como relaxamento
período de 4 a 5 anos que se possibilita na necessário a atividades que exigem esforço
criança a melhor compreensão do mundo ao físico, intelectual e escolar. “Por longo tempo,
redor, a percepção de que sua atuação pode o jogo infantil fica limitado a recreação”
surtir efeitos no mundo social e diminuição (1999, p. 28). Não se pode esquecer uma
do egocentrismo. das máximas de PIAGET (1978), que reza
que o desenvolvimento da criança acontece
É necessária a compreensão que nesta através do lúdico, “existe a necessidade de
fase do desenvolvimento o cunho das brincar para crescer”.
atividades deve levar em conta para além,
do implementar dos objetivos pedagógicos, O professor deve levar em conta também o
esses devem ser permeados justamente pela momento da recreação e definir claramente o
necessidade da fase, devem acima de tudo ser seu objetivo, respondendo à pergunta: oque
atividades prazerosas e divertidas; atividades a escola pretende com a educação física? “O
que possam empreende as potencialidades que a escola deve buscar não é que a criança
das crianças, propor desafios cada vez mais aprenda mais esta ou aquela habilidade para
estimulantes, explorar novos mundos e inter- saltar ou escrever, mas que, por meio dela,
relações. Posteriormente darei conceitos de possa se desenvolver plenamente” (Freire, J.
atitudes grupai que considero essenciais B., 1991, p. 76).
para o trabalho em grupo.

Os profissionais educadores podem


encontrar diversas formas de promover
estímulos que levam ao desenvolvimento de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO FÍSICA E JOGOS desenvolvimento infantil, babá, pajem, monitor,


recreacionista, etc”. (BRASIL, 1998, p. 30).
E BRINCADEIRAS
Nesta fase a Educação Física tem um
Com as brincadeiras, a criança estimula a importante papel, seu objetivo é promover o
imaginação, aprende a respeitar as regras, com desenvolvimento integral por meio de seus
os profissionais conscientes da importância conteúdos e seu caráter lúdico. Ao apropriar-
das primeiras comunicações não verbais, o se do universo infantil as potencialidades da
desenvolvimento, a promoção da evolução criança serão desenvolvidas nas aulas a partir de
da criança por intermédio das manifestações sua própria cultura corporal. O conhecimento
corporais, do movimento, do jogo e nas adequado se faz necessário aos educadores
atividades lúdicas, corroborando através disso para fomentar habilidades adequadas para cada
nas dimensões da compreensão, a leitura, a uma das faixas etárias na qual estão atuando,
interação e o envolvimento. auxiliando na avaliação de habilidades adquiridas
em fases anteriores.
Do nascimento aos seis anos de idade, são anos
cruciais para o indivíduo. As experiências que a Mesmo sabendo que a curiosidade nata
criança tem durante este período determinarão, de explorar um mundo desconhecido ocorra
em grande extensão que tipo de adulto a pessoa naturalmente que poderíamos por esse motivo
se tornará (HOTTINGER, 1980, apud TANI, 1998, apenas monitorar as crianças em um ambiente
p. 65). O que sabemos por própria experiência seguro, de deixá-las interagir por si só, o uso
que levaremos com certeza para o restante da do imaginário, do faz de conta, de atividades
vida tratando-se de conteúdo escolar são as lúdicas, são possibilidades importantes
ações que envolveram prazer, os conteúdos que para o desenvolvimento dessas habilidades
evocam lembranças mais agradáveis serão mais rudimentares, ressaltando que em paralelo
facilmente lembrados. teremos aspectos sociais e afetivos envolvidos
desse período.
O profissional envolvido com a área de
educação física ensino/aprendizagem precisa ter Quanto ao conteúdo e objetivos latentes dos
a linguagem e entender a relação entre criança/ jogos, Brotto (1995) explica que as vivencias
adulto e criança/criança. No entanto este trabalho motoras realizadas no âmbito escolar podem ser
só pode ser realizado com profissionais que vivenciadas de dois modos, caracterizadas como
sejam capazes de adentrar ao mundo da criança, competitivas ou cooperativas.
acessar suas fantasias, que estejam ativos, sejam
dinâmicos, realizadores e transformadores. Define e caracteriza assim: atividades
competitivas: quando um realiza sua tarefa
“Se na pré-escola, constata-se, ainda hoje, uma contra o outro; para que o objetivo de alguém
pequena parcela de profissionais considerados
leigos, nas creches ainda é significativo o número seja alcançado, todos os outros devem ser
de profissionais sem formação escolar mínima incapazes de conseguir seus objetivos. O que (A)
cuja denominação é variada: berçarista, auxiliar de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

faz só beneficia a si próprio e pode até prejudicar (B); o que (B) faz também pode ter o mesmo efeito.
A competição surge quando nosso objetivo é conseguir um resultado melhor, gerando oposição
com outros; há menor sensibilidade às necessidades dos outros e as pessoas se ajudam com pouca
frequência.

A vivência é possível só para um ou poucos; existe a interdependência e vontade de continuar o


jogo, a vivência é, “devemos ganhar do outro”, “somos adversários e inimigos”, há rivalidade e vontade
de acabar logo o jogo.

São divertidos apenas para alguns e a maioria tem sentimento de derrota; alguns são excluídos,
ficando de fora por sua “falta” de habilidade, e todos aprendem a ser desconfiados. Os perdedores
ficam de fora do jogo e simplesmente se tornam observadores. Os jogadores não se solidarizam,
ficando até felizes quando “algo de ruim” acontece aos outros. Há pouca tolerância com a derrota e
isso desenvolve um sentimento de resistência diante das dificuldades, e finalmente poucos tornam-
se melhor sucedidos nos jogos.

As atividades cooperativas? Para que o objetivo de cada um seja alcançado ou; quando um realiza
sua tarefa com o outro; jogar com o outro, “ o objetivo de todos também deve ser”; o que a pessoa (A)
faz beneficia a ela própria e também a pessoa (B); e o que a pessoa (B) faz beneficia ambas também.

A cooperação surge quando trabalhamos juntos para conseguir um objetivo comum, com êxito
para todos.

Há maior sensibilidade às necessidades dos outros e todos se ajudam com frequência; a qualidade
das produções coletivas é maior.

A vivência é possível para todos: “devemos ganhar juntos; somos parceiros e amigos”. São atividades
divertidas para todos, existe um sentimento de vitória. Existe a mistura de grupos que brincam
juntos, e ninguém é rejeitado ou excluído. Os jogadores aprendem a ter um senso de unidade e a
compartilhar o sucesso. Desenvolvemos autoconfiança porque todos são aceitos e a habilidade de
continuar tentando é fortalecida diante das dificuldades.

Para cada um, o jogo é um caminho coletivo de evolução. Os aspectos cooperativos são capazes
de proporcionar às crianças características que fomentem um ser social com pensamento coletivo,
sem deixar de lado a importância individual de sua ação para o sucesso geral. Essas características
devem ser fortalecidas nas atividades propostas no âmbito escolar, buscando, assim uma estrutura
social que facilite a relação ensino/aprendizagem dos conceitos, dos procedimentos e das atitudes. E
assim a importância da ação individual para o sucesso coletivo. Adaptado de Brotto (1995).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste texto não é de forma alguma incitar a
inclusão da educação física infantil como regra curricular, ou
qualquer outra regra, mesmo por que não é nosso objetivo
nessa fase da infância (o de alfabetizar no sentido restritivo do
termo), tampouco ser a premissa definitiva sobre o assunto,
mas trazer novamente à pauta a valorização da questão e
a necessidade de que os professores da educação infantil MARILDA PEREIRA DA
tenham minimamente conhecimento e curiosidade sobre SILVA DE LEÓN ALVEZ
o assunto em questão para o melhor desenvolvimento do
Graduação em 2001 pela
trabalho, a fim de poder desenvolver no seu trabalho diante Faculdade Integradas de
de tantas vicissitudes e revezes no processo de ser educador. Guarulhos (2001); Especialista
O professor deve ser o interventor, ajudando o aluno a em Pedagogia pela Faculdade
Integradas de Guarulhos (2001);
desenvolver seus conhecimentos, habilidades e relações Professor de Ensino Fundamental
sociais; precisa entender cada estágio de desenvolvimento, I e Educação Infantil – Educação
para estimular corretamente cada etapa. Esses estímulos Infantil - na EMEI. Professora
Célia Ribeiro Landim.
podem fazer a criança se desenvolver de uma forma mais
acelerada.

A partir de brincadeiras e jogos podemos aprimorar as


capacidades físicas básicas como: saltar, correr, arremessar,
pular, subir, etc. O cognitivo como lógica, situações em que
os professores colocam os alunos para que eles achem a
solução e a parte afetiva, como trabalhar em equipe, saber
lidar com uma situação desagradável e estressante.

Diferentes profissionais podem atuar num mesmo currículo


com as crianças pequenas, desde que assumam a ideia de
uma formação interdisciplinar, propondo parcerias entre diretores, professores polivalentes,
professores de Educação Física e pais, no sentido de uma melhor qualidade da Educação
Infantil, o que irá sem dúvida repercutir, influenciar e possivelmente elevar a formação de
cidadãos mais humanos, saudáveis e felizes.

1000
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Editora: Ibpex Série: Dimensões da Educação Ano: 2011.

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São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).

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1002
Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO INFANTIL
E ARTES VISUAIS
RESUMO: Este artigo irá analisar a relevância e importância do ensino de artes visuais na
educação infantil. Assim como a magnitude do professor nesse processo de formação, para
que o aluno aprimore sua capacidade de expressão e percepção de mundo. As artes visuais é a
linguagem da primeira infância, e se constitui em um relevante meio para o desenvolvimento
da aprendizagem, visto que o conhecimento da imagem é subsídio para o desenvolvimento
cognitivo, afetivo, motor e perceptivo da criança, bem como na ampliação do conhecimento
e formação, dessa forma desperta sua sensibilidade. Diante da nova concepção de educação,
o educador é um interlocutor, mediador da relação da criança com o conhecimento, um
colocador de limites, apoiador afetivo em inúmeras ocasiões, organizador do espaço físico e
de muitas atividades que despertem o interesse do aluno, e, que o leve a enfrentar desafios
que contribuirão para o processo de construção do seu conhecimento. Para atingir essa
finalidade, é preciso que os educadores repensem o conteúdo e sua prática pedagógica
substituindo a rigidez, a passividade, pela alegria, entusiasmo de aprender, maneira de ver,
pensar, compreender e reconstruir o conhecimento.

Palavras-Chave: Educação física; Educação Infantil; Desenvolvimento infantil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Serão abordados os benefícios que o


contato com as artes visuais durante a infância
As artes visuais têm sido consideradas trás para o período escolar, o processo de
como o retrato da sociedade, o contexto em conhecimento da arte envolve inteligência
que está inserida, é por ela que a criança se e raciocínio, aspectos afetivos e emocionais
expressa, expõe seus sentimentos e ideias, que não aparecem no planejamento da
expande sua relação com seu entorno ou secretaria da educação.
com o mundo.
O pensamento do indivíduo, suas
Na formação da criança as artes visuais sensações, anseios, história e cultura, é o
vêm ser uma ferramenta de assessoria, como que irá desenvolver sua identidade perante o
forma de aprendizagem com finalidades povo e sua classe social. Por meio disso pode
importantes para que o aluno adquira se extrair vários trabalhos e temas junto com
sensibilidade e competência para lidar com as artes visuais. Este trabalho irá trazer a
formas, cores, imagens e gestos. As artes importância do ensino de artes visuais na
visuais compreendem desenho, pintura, educação infantil.
escultura, gravura, design, artesanatos,
fotografia, vídeo, produção cinematográfica,
arquitetura, e ainda mais, muitas disciplinas ARTES VISUAIS NA
artísticas, como artes cênicas, arte conceitual EDUCAÇÃO INFANTIL
e artes têxteis, por exemplo, envolvem seus
aspectos. Comunicação é o processo de troca de
informações entre um emissor e um receptor.
Sob essa ótica, a área de Arte que se está Um dos aspectos que pode interferir nesse
delineando neste documento visa destacar os artifício é o código a ser utilizado, que deve
aspectos essenciais da criação e percepção ser entendível para ambos.
estética dos alunos, e o modo de tratar a
apropriação de conteúdos imprescindíveis Linguagem não verbal é o uso de imagens,
para a cultura do cidadão contemporâneo. figuras, desenhos, símbolos e outros gestos
As oportunidades de aprendizagem de como meio de comunicação. Essa linguagem
arte, dentro e fora da escola, mobilizam pode ser percebida até nos animais, por
a expressão e a comunicação pessoal, exemplo: quando um cachorro balança a
ampliando a formação do estudante como cauda, quer dizer que está feliz e quando a
cidadão, basicamente por intensificar as coloca entre as pernas, medo ou tristeza.
relações dos indivíduos, tanto com seu
mundo interior, como com o exterior. O objetivo de uma linguagem não verbal é
fazer com que se descubra a mensagem que o
texto deseja mostrar. Vale ressaltar que essa

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Revista Educar FCE - Abril 2019

linguagem precisa ser bem elaborada (em palestras e danças, exposições de pintura,
caso de um anúncio de produto em especial), escultura e arquitetura, no intuito de renegar
para não ocorrer ambiguidade ou que corra a arte europeia e determinar autenticidade
o risco de não ser passada realmente. A identitário-brasileira.
Linguagem não verbal tem o grande poder
de prender a atenção do leitor bem mais do Segundo Pimentel (1999), a partir dessa
que um texto verbal. semana, no que se refere ao ensino de arte,
duas são as tendências que se tornam mais
O ensino de Arte no Brasil passou por relevantes, passando a apreciar a expressão
diversas mudanças em toda sua história infantil: a valorização do desenho como
até os dias atuais, e certamente continuará técnica voltada para o trabalho e uma forte
transformando-se ao longo dos tempos. identificação com o estudo do desenho
Tais alterações ocorreram em razão de geométrico.
situações e necessidades vividas em cada
época: a educação vai se renovando, e, por Ferraz e Fusari (2009) afirmam que o
conseguinte o ensino de arte. Segundo Ferraz significado da Arte na Educação se dá desde
e Fusari (2009) “[...] assim como outras áreas os primórdios da civilização, o que a torna
do conhecimento, surgem de mobilizações um dos fatores eficazes de humanização.
políticas, sociais, pedagógicas, filosóficas, É essencial, portanto, perceber que ela
e, no caso da arte, também de teorias e se institui com modos específicos de
posições artísticas e estéticas”. manifestação da atividade criativa dos seres
humanos, ao interagirem com o mundo em
Com a fundação de centros artísticos, como que vivem e ao conhecerem a si próprios.
a Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro e o
Conservatório Dramático em Salvador, bem De acordo com a Lei de Diretrizes e
com a presença da Missão Francesa e de Bases da Educação Nacional (LDB), a
artistas europeus, elencou-se um momento disciplina é obrigatória nos diversos níveis
determinante na formação de profissionais da Educação Básica, de forma a promover o
da arte. No século XX, por exemplo, foram desenvolvimento cultural dos alunos. Para
muitos os fatores sociais, educacionais e além da lei, o próprio conceito de ensino de
culturais a se expandirem no ensino dessa arte evoluiu com o tempo. Só que durante
disciplina. Começa consequentemente, muitos anos, o ensino de Arte resumiu-se
com o movimento modernista da “Semana a tarefas pouco criativas e marcadamente
de Arte Moderna”, em 1922. O marco do repetitivas, que além de serem desvalorizadas
modernismo no Brasil: quando um grupo perante a grade curricular, dificilmente havia
de artistas plásticos e intelectuais reuniu- continuidade de aulas ao longo do ano
se no Teatro Municipal de São Paulo, para letivo. “As atividades iam desde ligar pontos
proporcionar recitais de música e poesia, até copiar formas geométricas. A criança

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Revista Educar FCE - Abril 2019

não era considerada uma produtora e, por Tem a função de favorecer a ação
isso, cabia ao professor dirigir seu trabalho espontânea, facilitar a livre expressão e
e demonstrar o que deveria ser feito”, permitir a comunicação. Ela contribui para a
afirma Rosa Lavelberg, diretora do Centro formação intelectual da criança e desenvolve
Universitário Maria Antônia, em São Paulo, conhecimentos e habilidades, utilizando as
e coautora dos Parâmetros Curriculares mais diferentes linguagens para expressar
Nacionais (PCNs) sobre a disciplina. experiências. A Arte na escola não se
preocupa em formar artista. Dewey escreve
Segundo Vygotsky (1987), a Arte “surge que:
inicialmente como o mais forte instrumento
na luta pela existência, e não se pode admitir É comum nas crianças o desejo de se expressarem
pelo desenho e pela cor. Se nos limitarmos a
nem a ideia de que o seu papel se reduza a deixá-las dar vazão a esse instinto permitindo
comunicar sentimentos e que ela não implique que atue sem controle, o desenvolvimento da
nenhum poder sobre eles.” (2001; p.310). criança será puramente ocasional. É necessário,
mediante crítica, sugestões e perguntas, excitar
Aponta-nos o autor a experiência grandiosa nela a consciência do que já fez e do que deve
e excepcional que a humanidade acumulou fazer. Suponhamos: uma criança desenha uma
na Arte - a educação estética, assim como o árvore. Seu desenho será típico de uma criança:
uma linha vertical e retas horizontais de um e
sistema da educação em geral, visa “ampliar outro lado. Levemos agora a criança a observar
ao máximo os âmbitos da experiência as árvores para compará-las com o desenho
pessoal e limitada, estabelecendo contato feito e, assim, examinar conscientemente seu
trabalho. Ela estará agora apta a desenhar
entre o psiquismo da criança (ou do adulto) árvores observadas e não convencionais, porque
e as esferas mais vastas da experiência, a observação obriga ao trabalho combinado
acumulada na rede mais ampla possível da da memória e da imaginação, produzindo
expressões gráficas de arvores reais. (DEWEY
vida”. (2001; p.323-363).
apud BARBOSA, 2002, p.79).

O ensino de Artes Visuais deve ir além da


orientação do aluno para com o desenho, Artes Visuais abrange especificidades
tendo que focar também nas discussões artísticas voltadas à cerâmica, ao desenho,
sobre o patrimônio cultural - ressalta a pintura, escultura, fotografia, ao vídeo,
coordenadora. “Até entrar em vigor a Lei de produção cinematográfica e arquitetura.
Diretrizes e Bases (LDB), a arte não tinha o Muitas disciplinas, como artes cênicas,
rigor de disciplina, agora tem, mas alguns conceitual, e têxteis, por exemplo, envolvem
professores ficam um pouco perdidos na hora aspectos das Artes Visuais, bem como artes
de dar aula, porque o ensino de arte não possui de outros tipos. Todavia, esta pesquisa
paradigmas claros. Por isso é importante à delimitará a já referida particularidade
formação continuada e a vivência da arte. O da área, bem como o estreitamento dos
acesso à arte é um direito de todos, mas não benefícios do uso das imagens em sala de
o acesso passivo, e sim o ativo, crítico”. aulas.

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Levar as Artes Visuais à escola e à compreensão de diferentes referências


educação talvez seja a grande chave para culturais: eis o grande desafio para a
criar um significado que possibilite ao aluno educação, o qual poderá ser superado por
uma leitura verdadeiramente significativa da esse intermédio. Hernandez (2000, p.89),
vida: letras, palavras, figuras, livros, mapas, afirma que:
gestos, olhares, enfim, o mundo e suas
infinitas imagens. Se o ensino da arte quiser chegar a ser um
veículo de conhecimento e contribuir para
uma visão intercultural e alternativa diante
IMAGENS ARTÍSTICAS da homogeneização da atual cultura global e
EM SALA DE AULA tecnológica, é necessária uma mudança que
se vincule à transformação da formação dos
A imagem encontra-se presente na vida professores e que possa voltar a pensar a
dos seres humanos desde a pré-história. “A função da escolaridade.
experiência visual humana é fundamental
no aprendizado, para que possamos Interpreta-se como intermediário desse
compreender o meio ambiente e reagir a ele; processo o professor de artes das escolas,
a informação visual é o mais antigo registro dado que sua atuação pode estimular e
da história humana. [...]”. (DONDIS, 1997, desempenhar a função de mediação na
p. 7). Ou seja: o homem sempre buscou a alfabetização dos alunos, “[...], é necessário
expressão por meio de imagens. Podemos começar a educar o olhar da criança desde
citar como exemplo, a pictografia, que é a a educação infantil, possibilitando atividades
primeira forma de escrita, representação de de leitura [...]”. (PILLAR in BARBOSA, 2002,
seres e ideias por meio do desenho. A presença p. 81). Assim, compreende-se também que
constante das imagens na vida humana os educandos poderão desenvolver um
ressalta a importância da alfabetização visual aprendizado sobre os elementos visuais, e, a
desde o início da vida escolar, para que o partir dele realizar a interpretação crítica de
indivíduo possa desenvolver a capacidade imagens. De acordo com Dondis (1997):
de interpretar e ler as imagens presentes no
seu contexto. [...] Os elementos visuais constituem a
substância básica daquilo que vemos, e seu
número é reduzido: o ponto, a linha, a forma, a
O estudo da leitura de imagens começa direção, o tom, a cor, a textura, a dimensão, a
a fazer parte dos currículos no Brasil escala e o movimento. Por poucos que sejam,
são a matéria-prima de toda informação visual
especialmente, a partir dos anos 90. Por em termos de opções e combinações seletivas.
conseguinte, os pedagogos da atualidade [...]. (DONDIS, 1997, p. 51).
devem se conscientizar da nova realidade
posta, reconhecendo que as imagens O ser humano é um sujeito histórico,
são códigos capazes de levar os alunos à formado pelo seu convívio social e por sua

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trajetória. Deste modo “o homem ao nascer Essas produções são uma importante
não passaria de um candidato à humanidade, ferramenta para saber se o aluno está
cada indivíduo aprende a ser um homem, não desenvolvendo ou não o seu aprendizado,
bastando viver em uma sociedade e sendo já que o desenho evolui de acordo com a
necessário adquirir o que foi alcançado no criança, os traços ficam mais firmes, mais
percurso do desenvolvimento histórico mensagens do consciente e do inconsciente
da sociedade humana” (LEVONTIEV, também. “A Arte é uma mentira que nos
1978:267). Isto é, a comunicação é faz compreender a verdade”. Lembremos,
essencial à aprendizagem, é por intermédio portanto, que as representações artístico-
da comunicação que as interações são visuais são apenas uma representação. E que,
constituídas, e os objetos vão ganhado no entanto, estabelece uma correspondência
significado. Para ele, toda aprendizagem é com a realidade. A verdade, desse modo,
mediada, seja por um livro ou uma pessoa. pode ser compreendida observando relações
entre o objeto e a sua representação, bem
O desenho é uma linguagem que a criança como na mente e no contexto do observador.
domina até mesmo antes da escrita, pois Dessa forma, trabalhar com imagens
expressam coisas que jamais diriam, assim produzidas pelos alunos faz com que haja
como demonstram suas ideias, sentimentos, exploração do dia a dia, de cada qual, e, que
história de vida. O desenho na educação os incentive ao efetivo aprendizado. Em razão
infantil como forma de linguagem e expressão disso que muitos teóricos defendem o uso
da subjetividade da criança, perpassando por de tais produções no contexto escolar, desde
processos de maturidade durante a jornada que os arte/educadores tenham consciência
de desenvolvimento de suas produções. de como explorarem, e, que estejam
preparados para facilitarem a aquisição
As produções visuais são instrumentos dessa habilidade, tão em voga mediante o
primordiais ao desenvolvimento infantil, seguimento contínuo do espaço-tempo: a de
e por intermédio destas a criança retrata se ter uma atitude crítico-reflexiva diante dos
seus mais íntimos conflitos, além de ser uma milhões de possibilidades interpretativas em
maneira muito relevante de difusão e de relação às leituras do universo, da natureza,
subjetividade, por trata-se de uma ferramenta das sociedades, de seu entorno e de si
lúdica de expressividade emocional. Por isso, mesmo.
a sua análise é tão importante, uma vez que
revela a complexidade, e flexibilidade do
emblemático procedimento de adaptação ALFABETIZAÇÃO VISUAL: AS
ao meio, visto que a criança participa às CORES JUNTO AO TRAÇADO
incitações recebidas do meio e das inter-
relações que funda com ele. Muitos são os autores que defendem a
presença das Artes Visuais na educação

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(entre eles BARBOSA, DUARTE JR., visual do sujeito desde a infância. O professor
MARTINS, ALMEIDA), e a respeito do que de Artes, munido do conhecimento sobre
se pode denominar Educação Estética, Arte- essa importância, pode e deve estimular
educação, ou Educação por intermédio da a apreensão de seus alunos, visando à
Arte. Ana Mae Barbosa, por exemplo, que preparação destes para a leitura de um
é precursora da arte-educação no Brasil, mundo repleto de perspectivas que nem
afirma que “não se alfabetiza fazendo apenas sempre são abrangidas no seu contexto,
a junção das letras. Há uma alfabetização já que na atualidade é uma exigência da
cultural sem a qual a letra pouco significa” sociedade que o indivíduo saiba ler figuras,
(BARBOSA, 1991, p. 27-28), assim como, visto que estas trazem quantidades absurdas
para Paulo Freire, “a leitura de um texto, de informação cultural.
tomado como pura descrição de um objeto
e feita no sentido de memorizá-la, nem é A principal meta da educação com Arte
real leitura, nem dela, portanto, resulta o Visual é a de desenvolver seres humanos
conhecimento do objeto de que o texto fala” capazes de, por eles próprios, darem sentido
(FREIRE, 1993, p. 17). Ana Mae acrescenta e direção às suas vidas, desenvolvido por
ainda que “as artes plásticas também intermédio de um currículo que balanceia as
desenvolvem a discriminação visual, que atividades escolares. Assim, os professores
é essencial ao processo de alfabetização: buscam despertar o gosto pelo aprendizado,
aprende-se a palavra visualizando”, visto fazendo desta uma atividade criativa, sendo
que “a representação plástica visual ajuda a partir da análise de dimensões específicas
na comunicação verbal” (BARBOSA, 1991, do ser humano, como o pensar, o sentir e o
p. 28). A autora propõe a Metodologia querer, Rudolf Steiner firmou as bases de
Triangular, utilizada por ela no Museu de uma educação que tende a responder às
Arte Contemporânea da Universidade de necessidades atuais e futuras da humanidade.
São Paulo, que integra três pontos principais: Segundo ele, uma sociedade só pode
a leitura da obra de arte, a história da arte configurar-se e desenvolver-se de forma
e o fazer artístico. Nessa metodologia, “o sadia e adequada às solicitações da época
conhecimento em artes se dá na interseção em que está inserido, se levar em conta as
da experimentação, da decodificação e da dimensões essenciais do ser humano.
informação” (1991 p. 31-32).
Assim sendo, o alfabetismo visual, além
Saber interpretar e organizar as de despertar/aprimorar a inteligência ótica
informações visuais presentes numa imagem e a experiência já existente, ainda oferece
é de extrema relevância para a compreensão subsídios para que o indivíduo desenvolva
das mensagens presentes na sociedade habilidades que poderão vir a ser úteis no
contemporânea. Por isso, entende-se que seu convívio com os meios e informações
se faz necessária a educação/alfabetização presentes e/ou integrantes na sociedade a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

qual se esteja inserido. É por esta razão, e por fatores apontados pelos teóricos consultados,
que se institui a importância da alfabetização visual do sujeito para seu aprimoramento
pessoal e profissional. Isso tornará possível e completo, o processo de leitura e interpretação
da transmissão de mensagens por meio de imagens. É necessário perceber também, que
esse é um processo veloz, e em decorrência disso, o alfabetismo visual faz-se imprescindível.
Sabe-se que a percepção é inata no ser humano, mas não só pode como deve ser aprimorada
com estudos. Em consequência, haverá o conhecimento dos elementos visuais que compõe
qualquer imagem.

Olhar o mundo apresenta-se, portanto, como uma interação entre a visão do sujeito e
a experiência de quem observa, de acordo com Arnheim (1986). Isto é, ao mesmo tempo
em que não existe uma norma, também é preciso entender que o processo de ler imagens
depende de vários fatores, entre eles culturais, psicológicos, ambientais, etc. Mas alguns
elementos básicos da visualidade como: cor, textura, proporção, forma, movimento e outros
são usados como matéria-prima para todos os níveis de inteligência visual, e também "a
partir deles que se planejam e expressam todas as variedades de manifestações visuais,
objetos, ambientes e experiências” (DONDIS, 1991, p.23).

A apreensão desses elementos visuais ressalta a importância da utilização de imagens


oferecidas dentro das escolas com as aulas de artes, as quais nem sempre foram reconhecidas,
“[...] Após décadas de ausência na escola, à imagem retorna para ocupar o lugar central nas
aulas de artes. [...]” (ROSSI, 2003, p. 12). Na contemporaneidade, a utilização de imagens
nas aulas de artes aumentou significativamente, mudando também a postura e o interesse
docente em relação à alfabetização visual dos alunos. Realizou-se essa observação após
várias leituras ligadas à temática.

Desse modo, é importante também agregarmos outros saberes junto à dita alfabetização
exposta neste item, uma vez que o ensino de Artes Visuais engloba outros conteúdos de
grande acuidade, como é o caso das culturas de outros locais e épocas. Saber a respeito
delas sempre será útil, sobretudo para estabelecer um paralelo das mentalidades de cada
povo, que imprescindivelmente vêm intrínsecas nas cores, nos traços e nas formas dos seus
trabalhos artísticos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É proveitoso que a alfabetização se desenvolva em um contexto de
letramento cujo início seja a aprendizagem da escrita e o incremento
de habilidades que promulguem o uso da leitura nas práticas sociais.
Com atitudes de caráter prático em relação a esses aprendizados,
entende-se que a alfabetização e o letramento devem ter tratamentos
metodológicos diversificados entre si, o que propiciará o alcance do
sucesso nos processos de ensino e aprendizagem da língua escrita,
falada e contextualizada nas escolas. É no recinto escolar que a criança
deve ser incentivada a interagir firmemente com o caráter social da
escrita, lendo e escrevendo textos significativos, sejam eles verbais ou
não.
MARILEIDE SANTOS
Na alfabetização há a aquisição da escrita pelos indivíduos, o LEITE DA SILVA
letramento trabalha os aspectos sócios históricos desta aquisição por
Graduação em Pedagogia pela
uma sociedade, incluindo as imagens deixadas por todos os povos em Faculdade Sumaré (2015); Pós-
todas as áreas. graduação em Educação Infantil
pela Faculdade Campos Elíseos
(2018); Professora de Educação
Desde cedo se aprende a valorizar a cultura de uma sociedade, Infantil no CEI Mitiko Matsushita
portanto pede-se um novo olhar neste ensino nas escolas, com uma Nevoeiro.
aprendizagem significativa, com o comprometimento do educador,
planejamento e atividades coerentes, ter bem definido os objetivos e metas a serem alcançadas e com
materiais e aulas diversificada.

Pontua-se a importância do professor como o principal mediador da aprendizagem em artes visuais,


tendo o papel de motivar os educandos a desenvolverem gosto e alegria na produção de arte, despertando
interesse pelas atividades artísticas.

Conforme recomendam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's), as aulas de Arte devem contemplar
as linguagens das Artes Visuais. Observa-se que umas das grandes dificuldades encontradas nesse tipo de
ensino são os profissionais sem a devida formação necessária para que uma interação aconteça, bem como
a compreensão dos objetivos a serem alcançados.

Para que uma aprendizagem eficiente ocorra, é importante que o educador labore com a criança como
um mediador, capaz de proporcionar situações que possam dilatar a compreensão e a leitura da sua
cultura particular ou de outras estirpes, com o intuito de estreitar a relação entre Arte e universo infantil.
Do mesmo modo, proporcionar que o educando obtenha o conhecimento de Arte enquanto faz a própria

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Arte, trabalhando conectado com o lúdico, por via de diversas experiências artísticas, visto que é na fase
da Educação Infantil que as crianças têm mais facilidades de aprender com as atividades recreativas, em
relação aos quais possam interagir e desenvolverem a imaginação, a criatividade e o raciocínio, sendo
vantajoso também para o desenvolvimento afetivo, mental, social, e intelectual, integralizando as habilidades
da criança e possibilitando-as de superior capacidade de criação. Portanto, nota-se que as Artes Visuais
podem proporcionar profusos caminhos nos quais a peregrinação possibilita cada vez mais a criança ao
desbravamento de novidades.

Um dos itens importantes para que as aulas procedam de maneira eficaz, é articular a concepção da língua
escrita como sistema formal (de regras, convenções e normas de funcionamento) com as múltiplas leituras
passíveis em imagens artísticas, já que esse artifício se legítima pela possibilidade de uso efetivo nas mais
diversas situações, e para diferentes fins. Desse modo, somos levados a admitir o paradoxo inerente à própria
língua: por um lado, uma estrutura suficientemente fechada que não permite transgressões, sob pena de
perder a dupla condição de inteligibilidade e comunicação; por outro, um recurso suficientemente aberto
que permite dizer tudo, isto é, um sistema permanentemente disponível ao poder humano de criação.

O ensino de Artes Visuais é tão importante quanto lecionar, em relação a ler e escrever instruir o aluno
a observar o mundo; a ver e sentir o que a natureza e a sociedade lhes oferecem. Não se pode de maneira
nenhuma fechar os olhos diante de tais conhecimentos, faz parte do crescimento individual e coletivo
interagir-se com aquilo que estiver ao redor.

Sob essa ótica de interação, constatou-se, que é justo e considerável reconhecer o Ensino de Artes
Visuais na Educação Infantil como de fundamental importância por causa de seus aspectos emocional,
social, cultural, cognitivo e intelectual. E que se evidencia a necessidade de melhoria nas práticas educativas,
bem como, investimento em capacitação e formação continuada para os profissionais da área, na intenção
de buscar aulas mais diversificadas e significativas, que realmente alcancem objetivos educacionais, já que
para a transformação efetiva da sociedade, é preciso que o indivíduo esteja inserido em um quadro no qual
a atuação de qualidade seja prioridade. É desse modo que, em momentos posteriores, as desigualdades
sociais poderão ser amenizadas, gerando uma sociedade mais justa e igualitária, uma vez que a alfabetização
e o letramento tanto de textos verbais, quanto voltados à apreensão figurativa, são processos muitíssimo
relevantes para a inclusão social.

A disciplina de Arte na educação infantil é importante para que ocorra a ampliação do conhecimento,
do desenvolvimento e pensamento criativo-estético do mundo, já que a alfabetização visual condiciona a
criança a conhecer melhor a sociedade em que vive e as outras com quais se relacionam. O aluno descobrirá
as próprias concepções e emoções ao apreciar ou criar uma imagem, dessa maneira é muito relevante o
professor despertar o seu olhar curioso, para que desvende, interrogue e produza alternativas frente às
representações do universo visual.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A RELEVÂNCIA DA MÚSICA
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este trabalho tem como foco a musicalização na educação infantil, assim,
é importante compreender que a abrangência e o compromisso dessa fase da educação
escolar é cuidar e educar crianças entre zero e cinco anos e o educar está associado à
garantia de aprendizagens em todos os momentos, através de atividades lúdicas com base
nos eixos do currículo para educação infantil, propostos pelo Referencial Curricular da
Educação Infantil. Esses eixos são norteadores da prática das instituições e dosprofessores,
contribuindo para o desenvolvimento psicomotor, afetivo, cognitivo e social da criança por
meio das interações com outras crianças e adultos. A linguagem musical é um dos eixos
norteadores da educação infantil, portanto, necessita ser assegurada na faixa etária entre
zero e cinco anos para contribuir efetivamente no desenvolvimento integral da criança. Em
muitas instituições de educação infantil há uma lacuna na integração da linguagem musical
aos trabalhos pedagógicos, pois a música éapenas utilizada para controle comportamental
das crianças ou na memorização de conteúdos de outras áreas do conhecimento. Por isso,
a realização deste artigo tem como objetivo principal analisar e discutir a importância da
efetiva presença da música como atividade pedagógica intencional e eficientena educação
infantil.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Desenvolvimento Integral; Música.

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INTRODUÇÃO acessarem e usufruírem da riqueza cultural


musical, contribuindo na construção de
A importância daeducação musical foi significados diversos de forma ativa e lúdica,
escolhida como tema para o presente artigo ampliando conhecimentos e aprendizagens
em razão da existência de uma lacunana para a vida.
sua integração aos trabalhos pedagógicos
dentro da área da educação da primeira
infância. Atualmente a educação musical MÚSICA NA ESCOLA
como um dos eixos norteadores da
educação infantilnecessita estar assegurada De acordo com Souza (2000, p. 17),
sua utilização em todas as instituições do “A tarefa básica da música na educação
país. A maior motivação para a escolha é fazer contato, promover experiências
deste tema reside no fato da necessidade com possibilidades de expressão musical
de restruturação das práticas pedagógicas e introduzir os conteúdos e as diversas
da educação infantil atual, visando uma funções da música na sociedade, sob
aprendizagem significativa e globalizada, condições atuais e históricas”. Jeandot (2002)
utilizando também, a linguagem musical destaca que “nem todas as crianças nascem
como veículo pedagógico eficientena obrigatoriamente com dotes artísticos, mas
garantia de uma aprendizagem de qualidade todas têm direito ao conhecimento da arte
para todos, considerando individualidades, e a serem despertadas e encaminhadas,
vivências e experiências para ampliação de por cuidados especiais, nesse sentido”
conhecimentos e viabilizar a construção de (JEANDOT, 1997, p. 132). De acordo com
cidadãos críticos e autônomos. Brito (1998), a música é uma forma de
linguagem que faz parte da cultura humana
Este trabalho tem como objetivo geral desde tempos remotos, sendo considerada
apresentar a relevância da musicalização uma forma de expressão e comunicação
dentro da educação, especificamente da que se efetiva por meio da apreciação e do
primeira infância, buscando o favorecimento fazer musical. A música é parte integrante
de uma aprendizagem significativa e da formação humanaque concebeu e
globalizada. confeccionou instrumentos variados, criou e
exercitou diferentes cânticos, desenvolvendo
O presente artigo terá início através da com a linguagem musical, uma relação cada
apresentação da história da música, seguirá vez mais rica e múltipla, sempre interagindo
abordando o surgimento música no mundo e, com seu entorno. Dentre as características
particularmente no Brasil, além de destacar a da linguagem musical, podemos destacar a
sua importância na educação e, em especial, ludicidade, enfatizando que a música é um
na educação infantil aqui abordada, como jogo de relações entre o som e o silêncio.
forma de oportunidade às crianças de Durante o processo de musicalização,

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a criança desenvolve a capacidade de na exploração dos sons, produzindo novos


expressar-se de modo integrado, realizando objetos artísticos e musicais, novas técnicas
movimentos corporais enquanto canta ou e, principalmente, novas atitudes estéticas e
ouve uma música. Essa perspectiva destaca a filosóficas diante do fato criativo (SCHREIBER,
necessidade de conhecimentodas realidades 2008). Para melhor compreensão da música
dascrianças e de compreensão da maneira é necessário o desenvolvimentodo hábito de
como se relacionam com a música além dos ouvir os sons com muita atenção, de modo
muros da escola, em quemomentos, sob que que se possam identificar os seus elementos
formas, por quais processos e procedimentos, formadores, as suas variações e as maneiras
com que objetivos, com quais expectativas e como são distribuídos e organizados numa
interesses, para que seja possível construir composição musical, podendo-se reconhecer
práticas pedagógico-musicais. De acordo como a música se organiza. De acordo com
com as autoras Hentschke e Del Ben (2003, Wisnik (2002):
p. 181):
Os sons preenchem cada minuto do dia e as
A educação musical escolar não visa à formação pessoas vivem imersas num mundo de vibrações
do músico profissional. Objetiva, entre sonoras, cujos apelos produzem nelas, efeitos
outrascoisas, auxiliar crianças, adolescentes e diferenciados dos outros estímulos sensoriais.
jovens no processo de apropriação, transmissão Isso se deve ao fato de que a música “fala ao
e criação de práticas músico-culturais como mesmo tempo ao horizonte da sociedade e ao
parte da construção da cidadania. Hentschke e vértice subjetivo de cada um, sem se deixar
Del Ben (2003, p. 181). reduzir às outras linguagens” (WISNICK, 2002,
p. 12).
A finalidade do ensino de música na
escola, não pode ser considerado como mera Souza (2000) defende que as diretrizes
transmissão de uma técnica particular, mas educacionais das escolas devem adotar
sim o desenvolvimentodo gosto pela música uma visão ampla, abrangendo as famílias e
e a aptidão para captaçãoda linguagem valorizando a colaboração entre colegas,
musical e da capacidade de expressar-se proporcionando uma estrutura que permita
através dela, além de viabilizar o acesso ao que professores e crianças tenham tempo
patrimônio musical diversificado, construído suficiente para exploraçãode ideias para
pela humanidade.Muitas transformações produzir ambientes de aprendizado musical
ocorreram no ensino da música desde o desafiadores e, portanto, significativos para
século passado. A partir dos anos 60 foram a aprendizagem para as crianças.
desenvolvidas novas vertentes para o ensino
da música, trazendo inovações na linguagem,
tornando-a mais livre na exploração sonora, MÚSICA: BREVE HISTÓRIA
na utilização de novos instrumentos e de
materiais não convencionais. Atualmente, Os sons da natureza inspiraram o primeiro
a arte musical se empenha cada vez mais sinal de música reproduzido, durante a

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Pré-História. A origem da palavra Música o uso do órgão, e na sua forma popular,


é grega – proveniente de musikétéchne, permitia-se o uso de todos os instrumentos
a arte das musas – e está constituídapor conhecidos. Os menestréis, companheiros
uma sucessão de sons, entrelaçados por dos saltimbancos que andavam de terra
curtos períodos de silêncio, organizada ao em terra, tiveram papel importante nessa
longo de um determinado tempo. Assim, época, bem como os trovadores, nobres
é uma combinação de elementos sonoros compositores que tinham o amor como
que são percebidos pela audição, incluindo tema principal de seuspoemas e músicas.
variações nas características do som, tais Nesse mesmo período, surgiu a notação
como duração, altura, intensidade e timbre, musical, inicialmente feita por neumas
que podem ocorrer em diferentes ritmos, (símbolos que ajudavam os compositores a
melodias ou harmonias. Embora nenhum não se esquecerem das músicas) e somente
critério científico permita estabelecer seu algum tempo depois, foram introduzidas as
desenvolvimento de forma precisa, a história linhas até alcançar o conjunto das quatro
da música confunde-se com a própria que foram inventadas por Guido D’Arezzo,
história do desenvolvimento da inteligência grande teórico da música e, somente a partir
e cultura humanas. Na Antiguidade, até do século XI, passou-se a utilizar a pauta,
400 D.C., a música assumiu um papel de habitual conhecida até hoje. Durante o
destaque nas atividades diárias das grandes período do Renascimento, a Igreja tornou-se
civilizações do Egito, Grécia e Roma. Com a menos rígida em relação aos instrumentos
queda do Império Romano, a igreja teve um musicais, e os nobres contratavam músicos
papel fundamental para o desenvolvimento para animação de eventos festivos e as formas
e evolução da música, pois os monges vocais mais importantes destaépocaeram:
continuaram a desenvolver a escrita e a os madrigais, a missa e o motete. No
teoria musical na Idade Média. Como por período Barroco, Johann Sebastian Bach
exemplo, podemos citar o monge e papa São foi o grande destaque, considerado como
Gregório Magno que reuniu alguns cânticos umnotável compositor, sua obrafoi de
já existentes e outros de sua própria autoria grande importância, juntamente com o
numa coletânea que intitulou de Antifonário, surgimentoda orquestra, da ópera e do ballet
e a esta forma de cantar deu-se o nome também considerados grandes destaques
do famoso Canto Gregoriano, que possuía musicais deste período, gerando enormes
uma melodia simples que seguia o ritmo contribuições para a humanidade. A época do
das palavras e era utilizado como forma Classicismo contribuiu com um tipo de música
de oração. Chega então, o momento da mais suave e com uma perfeição estética,
separação entre a música popular e religiosa, cujas frases melódicas eram curtas, claras e
bem como os instrumentos usados em bem definidas, com princípio, meio e fim com
ambas que eram já, bem distintos. Na música uma maior variação em relação à dinâmica
de cunho religioso, permitia-se apenas das obras musicais e surgiram também,

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o sforzatto, o crescendo e diminuendo. E influência que alcançou o território brasileiro


paralelamente, desenvolveram-se também, na época da colonização. Os colonizadores
grandes gêneros instrumentais como: europeus também contribuíram, trazendo
asonata, o quarteto de cordas, a sinfonia e o o erudito, a dança de salão, os saraus e a
concerto.Já os compositores do Romantismo, música religiosa, totalmente contrastante
tais como: Schubert, Chopin, Liszt e Pagnani com os cantos geralmente uníssonos
buscar demonstrar os seus sentimentos em e responsórios dos índios. Enquanto,
relação à sociedade da época utilizando a na opinião de alguns historiadores, a
música. As melodias românticas eram mais mestiçagem dos povos foi uma tragédia para
líricas e as harmonias mais contrastantes, nosso país, por outro lado, foi basilar para sua
com uma maior variedade de sonoridades, formação cultural, e somente teve seu início
dinâmicas e timbres com maior tempo de oficial após a abolição da escravatura em
duração. Neste período, a literatura exerceu 1888. A miscigenação entre essas diversas
grande influência sobre a música romântica, culturas, com certeza foi responsável
contribuindo com o surgimentodo Lied e pelo que atualmente conhecemos como
do poema sinfônico. Enfim, ao chegarmos música brasileira. O primeiro ritmo musical
à música Moderna, a sociedade deparou-se considerado originalmente brasileirofoi o
com novas experiências no aspecto musical, maxixe, formado a partir de uma mistura entre
marcadas pela tecnologia dos instrumentos o "lundu" (este termo significa umbigada,
e diferentes formas de compor. Com várias um tipo de samba muito sensual praticado
mudanças em relação à sonoridade, a guitarra nas rodas dos escravos) e a "modinha"
elétrica e o sintetizador são relacionados, portuguesa (composição suave, geralmente
numa primeira fase, à música Pop e Rock e romântica, tocada na viola e dançada em
numa segunda, a outros gêneros musicais. salões). Juntamente com a umbigada do
A gravação surge e revoluciona totalmente lundu e a poesia da modinha a identidade
o mercado, juntamente com as produções musical brasileira ganhava forma. Por volta
musicais, cujo timbre é o parâmetro mais dos anos 1880, surgia uma novamaneira
valorizado deste período, e por isso renovou- de se fazer música no Brasil, no subúrbio
se a linguagem musical em busca de novos da então capital Rio de Janeiro, sendo uma
timbres, harmonias, melodias e novos ritmos. forma mais charmosa e chorosa de se tocar
as canções populares vindas da Europa, o
que começou a ser chamado de “choro”. O
A MÚSICA NO BRASIL Choro surgiu mais exatamente como uma
forma musical (utilizava-se frequentemente
A música brasileira tem sua maior influência a forma de Rondó, de origem francesa) do
na música africana, trazida pelos escravos, que como um gênero de fato. O virtuosismo
com seus ritmos frenéticos e instrumentos e o reconhecimento dos músicos eruditos na
rudimentares. Porém, esta não foi a única época eram notáveis, tanto que os músicos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

brasileiros também queriam executar década de 30. Com o crescimento do rádio


tais obras, mas à sua maneira. O jeitinho e da gravação elétrica no final dos anos
brasileiro de fazer música foi tomando forma, 20, ser músico ganhou status oficial de
a versatilidade, a improvisação e a habilidade profissão. Assim que a televisão chegou ao
dos músicos se tornaram características do país, enquanto ia tomando o lugar do rádio
"choro". nas casas das classes sociais mais altas, na
década de 50, um novo movimento nascia
As primeiras gravações musicais no no Rio de Janeiro. Eram músicas inovadoras,
país datam do início de 1900 e acabaram pois suas composições traziam assuntos
impulsionando a música como negócio com caráter apreciativo, exaltação da beleza,
e como objeto de consumo e lazer. Os criadas a partir de associações entre palavras
primeiros encontros sociais para apreciação semelhantes esteticamente, e sua elaboração
de música transcorriam nas confeitarias, harmônica era muito desenvolvida, abusando
onde a alta sociedade se reunia para tomar de escalas e sonoridades não usadas nos
chá, enquanto ouvia grandes músicos da outros estilos brasileiros. Era a bossa
época. Também entre as décadas de 10 e 20 nova que se tornaria referência nacional.
marcou forte presença uma música produzida Paralelamente ao sucesso da bossa nova,
afastada dos grandes centros: a sertaneja. um novo gênero chamado de rock vindo do
exterior, despertava o interesse dos jovens
No final do século XVIII, foi trazido pelos no país.
europeus para o Brasil o entrudo, como era
chamado o carnaval de rua, originalmente.
Enquanto as classes média e alta faziam sua A MÚSICA NA EDUCAÇÃO
folia dentro de salões, com passeios e bailes INFANTIL
de máscaras que imitavam os grandes bailes
de Paris, a classe baixa organizava "cordões A partir da publicação da Lei 11.769 de
carnavalescos" nas ruas, fazendo marchas 18 de agosto de 2008, fica estabelecida a
pelas ruas e criando, consequentemente, o obrigatoriedade do ensino de música nas
samba. Diferente do samba que conhecemos, escolas de Educação Básica e, segundo a LDB
o samba das marchinhas de carnaval era 9.394/96 Art. 21, inciso I, a Educação Básica
chamado de "marcha rancho" e inicialmente compreende a Educação Infantil, séries/anos
era tocado com instrumentos de sopro. iniciais e finais do Ensino Fundamental e
Ainda com a abolição da escravatura, muitos Ensino Médio. Compreendendo a instituição
negros saíram da Bahia para viver no Rio de educação infantil como espaço educativo,
de Janeiro, sendo que essa movimentação é de extrema importância que a oferta de
foi fundamental para a criação do samba situações de interação entre as crianças
por volta dos anos 1910, que atingiu seu e adultos, assim como momentos de
auge com a época de ouro do rádio, na exploração do meio à sua volta, trazendo

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sempre o lúdico, a fantasia, o faz-de-conta. linguagem fundamental para o processo


Infelizmente, ainda se observa a prática de aprendizagem das crianças e jovens.
assistencialista em muitas instituições de Conforme Brito (2010, p.91), o ensino de
educação infantil ou o descaso com a criança música,
neste nível de educação, ao menosprezar
suas potencialidades, habilidades e [...] é importante na educação porque a música
é importante no viver, como uma das formas de
vivências. Através das interações criança/ relação que estabelecemos conosco, com o outro,
criança, criança/adulto e criança/meio, ela com o ambiente. Somos seres musicais, dentre
constrói significados diversos de forma ativa, outras características que nos constituem, e o
jogo expressivo que estabelecemos com sons e
ampliando conhecimentos e aprendizagens silêncios, no tempo/espaço, agencia dimensões
para sua vida. O educador/professor tem que por si só são muito significativas. Fazendo
imensa relevância nesse processo, pois, música trabalhamos nossa inteireza, o que é
essencial. Brito (2010, p.91)
segundo Oliveira (1999, p. 73), devemos ser
capazes de observar, reconhecer e avaliar o
nível de desenvolvimento das crianças e suas Atualmente a música é considerada uma
necessidades. Fundamental nesse processo linguagem que tem enorme contribuição
é a atitude de colocar-se no lugar da criança na formação dos indivíduos no que tange
para captar sua forma de ser e as hipóteses aos conhecimentos sensíveis, criativos e
que está construindo sobre o mundo em cada reflexivos. Pesquisas comprovam que as
momento. Segundo o autor (OLIVEIRA, 1999), vivências sonoras ocorrem desde quando o
a educação infantil deve ser respeitada, pois estamos no útero materno. De acordo com
contribui no desenvolvimento integral da Ilari (2002, p. 84), “a aprendizagem musical
criança, sendo a primeira etapa da educação pode iniciar ainda no útero, quando os bebês
básica. Entretanto, esse respeito parte são expostos à música durante a gestação”.
primeiramente dos educadores que, na sua Tanto Ilari (2003) como Beyer (1988) referem-
prática, necessitam ter a responsabilidade se a diversos trabalhos que notificaram que
de cuidar e educar cada criança como única, bebês expostos à música durante a gravidez
considerando suas individualidades, suas exibem mudanças nos batimentos cardíacos
potências, suas vivências e experiências e nos movimentos corporais quando ouvem
para que possam ampliar conhecimentos a mesma música após o nascimento, o que
e se construir como cidadãos críticos e indica que eles a reconhecem. Estudos
autônomos. Mais recentemente, em 2008, confirmam que o desenvolvimento auditivo
a Lei 11.769, estabeleceu a obrigatoriedade nos seres humanos é o único que começa
do ensino de música nas escolas de Educação a funcionar na 25ª semana da gestação,
Básica e, a partir dessa lei, iniciou-se no sendo que na 32ª semana o sistema auditivo
país, movimentos de reestabelecer a música estará completo, enquanto que, os outros
no currículo escolar e na consciência dos órgãos sensitivos ainda se encontram em
brasileiros como área de conhecimento e desenvolvimento. (ILARI, 2002). Ao longo

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dos primeiros anos de vida, o bebê apresenta as ideias das crianças e possibilitando que
um ritmo de desenvolvimento muito elas sejam colocadas em prática, através do
acelerado (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, planejamento de atividades diversificadas que
2006), sendo os ganhos desenvolvimentais oportunizem a ampliação de conhecimentos.
potencializados em função da maior Para que isso ocorra, é necessário a
plasticidade cerebral e aumento das redes promoçãode sua interação e envolvimento
neurais (GABBARD, 1998). Os principais em diferentes atividades musicais. Na faixa
movimentos que o indivíduo apresenta etária entre zero e cinco anos, é interessante
nessa fase são os movimentos reflexos, as que a música seja apresentada de forma
estereotipias e os movimentos voluntários lúdica, estimulando a participação das
(GALLAHUE, OZMUN, 2005; HAYWOOD, crianças de maneira significativa, ou seja,
GETCHELL, 2004; PAYNE, ISAACS, 2007).A proporcionando atividades que propiciem
criança manifesta espontaneidade ao se relações com as suas vivências. É por
expressar, é sincera ao demonstrar se gosta meio da exploração de diferentes sons,
ou não de algo. A aprendizagem ocorre pela interação, pelo canto, brinquedos e
realmente quando faz sentido e a música está jogos cantados, sonorização de histórias,
presente em todos os lugares, estabelecendo apreciação e reflexão da produção musical
relações diretas com as diversas sensações e que a criança experiencia e vivencia a música,
emoções. Infelizmente a música é utilizada tornando-a parte de sua vida, incorporando
na educação infantil formal, na maioria das estes conceitos, naturalmente. Segundo
vezes, como uma mera reprodução de cantos, Schroeder (2011, p. 108), é possível observar
não oportunizando a possibilidade da criação o processo de apropriação da linguagem
das crianças. O “cantar da rotina” é o que mais musical, nessa faixa etária, também, ou talvez
é utilizado, talvez pela falta de conhecimento principalmente, em situações nas quais as
musical dos educadores ou pela ausência crianças não estão propriamente “fazendo
de propostas musicais que envolvam a música”, mas vivenciando-a de diversas
criança e auxiliem no seu desenvolvimento, outras formas: dançando, representando,
brincando. Trazer a música para o ambiente imitando, fazendo gestos, brincando. O
de trabalho exige, prioritariamente, uma lúdico contribui para que a música seja
formação musical pessoal e também vivenciada pela criança ao envolvê-la por
atenção e disposição para ouvir e observar meio da brincadeira, da dramatização, do
o modo como bebês e crianças percebem teatro, da dança, do movimento. Através
e se expressam musicalmente em cada do brincar, a criança submerge na fantasia
fase de seu desenvolvimento, sempre com e na imaginação, englobando suas vivências
o apoio de pesquisas e estudos teóricos e experiências reais e criando suas próprias
que fundamentam o trabalho. (BRITO, regras. Isso ocorre com a música, pois segundo
2003, p. 35) O professor deve favorecer as Schroeder (2011, p. 110), “os processos de
iniciativas individuais e coletivas, acolhendo apropriação da linguagem musical passam

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necessariamente pela possibilidade de seu processo de musicalização. Escutando


expressão individual da criança em diversas os diferentes sons de brinquedos, dos
linguagens, não apenas na música”. Quando objetos, do ambiente e do próprio corpo, há
o educador está diante de uma turma de observação, descoberta e reações. (UNESCO,
crianças, depara-se com uma diversidade 2005). A música está presente em todas
de pensamentos, experiências e ações que as culturas e pode ser utilizada como fator
precisam ser interpretadas e consideradas determinante nos desenvolvimentos motor,
para a construção do planejamento e das linguístico e afetivo de todos os indivíduos.
relações estabelecidas, com o objetivo de (MARTINS, 2004).
contribuir para um aprendizado significativo.
Essas discussões nos levam a refletir também As atividades de musicalização permitem
sobre o papel crucial das relações instituídas que a criança conheça melhor a si mesma,
no processo de ensino/aprendizagem desenvolvendo sua noção de esquema
e a necessidade de que o professor se corporal, e também permitem a comunicação
coloque na posição de interlocutor nesse com o outro. Weigel (1988) e Barreto (2000)
processo, prestando atenção não apenas ao afirmam que atividades podem contribuir
conhecimento musical a ser ensinado, mas, de maneira indelével como reforço no
sobretudo olhando para a criança, tentando desenvolvimento cognitivo/ linguístico,
fazer um esforço de interpretar suas ações psicomotor e sócioafetivo da criança, da
de uma maneira mais global. (SCHROEDER, seguinte forma:
2011, p. 116-117). O ensino de música
na escola não tem como meta final tornar • Desenvolvimento cognitivo/
as crianças músicos e/ou musicistas, mas linguístico: a fonte de conhecimento da criança
despertar um olhar crítico sobre a música são as situações que ela tem oportunidade
que está ao redor, trabalhando elementos de experimentar em seu dia a dia. Nesse
musicais ludicamente, de maneira prazerosa sentido, as experiênciasrítmico musicais que
e enriquecedora. Gainza (1988, p. 88) justifica permitem uma participação ativa, favorecem
que, “a educação e, portanto, a educação o desenvolvimento dos sentidos das crianças.
musical, deve ser considerada como uma Ao trabalhar com os sons ela desenvolve sua
contribuição sistemática ao processo de acuidade auditiva; ao acompanhar gestos ou
desenvolvimento integral (biopsicossocial) dançar ela está trabalhando a coordenação
do ser humano”. A música é uma área do motora e a atenção; ao cantar ou imitar sons
conhecimento como qualquer outra (ciências, ela, está descobrindo suas capacidades e
história, matemática, português, etc.) e tem estabelecendo relações com o ambiente em
sua importância e função educativa. Ao que vive.
oferecermos música e um ambiente sonoro
em diferentes situações, permitimos que • Desenvolvimento psicomotor: as
bebês e crianças iniciem, intuitivamente, atividades musicais oferecem inúmeras

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oportunidades para que a criança aprimore atividades que relacionam sons e gestos.
sua habilidade motora, aprenda a controlar A criança pode fazer gestos para produzir
seus músculos e mova-se com desenvoltura. sons e expressar-se corporalmente para
O ritmo tem um papel relevante na formação representar o que ouve ou canta; Simbólico:
e equilíbrio do sistema nervoso. Isto porque a busca por representar o significado da
toda expressão musical ativa age sobre a música, o sentimento, a expressão. O som
mente, favorecendo a descarga emocional, tem função de ilustração, de sonoplastia e,
a reação motora e aliviando as tensões. Analítico ou de Regras: jogos que envolvem
Atividades como cantar fazendo gestos, a estrutura da música, nos quais são
dançar, bater palmas, pés, são experiências necessárias a socialização e organização.
importantes para a criança, pois elas Ela precisa escutar a si mesma e aos outros,
permitem que se desenvolva o senso rítmico, esperando sua vez de cantar ou tocar.
a coordenação motora, fatores importantes (CHIARELLI; BARRETO, 2005). A música
também para o processo de aquisição da está bastante ligada ao lúdico e ao brincar.
leitura e da escrita. Em todos os povos, as crianças brincam com
a música. Jogos e brinquedos musicais, como
• Desenvolvimento sócioafetivo: a as rodas cantadas, são encontrados nos
criança aos poucos vai construindo sua lugares aonde houver crianças. (UNESCO,
identidade, percebendo-se diferente dos 2005). As brincadeiras de roda integram
outros e ao mesmo tempo buscando poesia, música e dança, sendo também muito
integrar-se com os outros. Através do apreciadas pelas crianças, principalmente
desenvolvimento da autoestima, ela aprende por causa do movimento. (FERREIRA et al,
a se aceitar como é, com suas capacidades 2007). Rosa (1990) destaca a importância de
e limitações. As atividades musicais se proporcionar momentos eficazes para que
coletivas favorecem o desenvolvimento da a criança descubra, analise e compreenda
socialização, estimulando a compreensão, a os ritmos do mundo, através da observação
participação e a cooperação. e do contato com instrumentos musicais,
com a dança, com o folclore, etc. Devemos
Dessa forma a criança vai desenvolvendo o estar atentos a valorizar todas as formas de
conceito de grupo. Além disso, ao expressar- expressão escolhidas pelas crianças, pois a
se musicalmente em atividades que lhe deem mesma comunica-se principalmente através
prazer, ela demonstra seus sentimentos, do corpo. No interior do Brasil existem
libera suas emoções, desenvolvendo um inúmeras danças, cantigas de roda e ciranda
sentimento de segurança e autorrealização. que incentivam movimentos de diferentes
(CHIARELLI; BARRETO, 2005). Bréscia qualidades expressivas e rítmicas realizadas
(2003) ressalta que os jogos musicais podem em grupo, que possuem um rico sentido
ser de três tipos, correspondentes às fases do socializador, estético e transcendentes, mas
desenvolvimento infantil: Sensório-Motor: que, infelizmente ainda não são devidamente

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valorizados no dia a dia das escolas. Estas músicas que cantam histórias, dançam mitos e
falam da memória e da alegria do povo são rituais vivenciados por todas as idades que
podem se tornar o vínculo afetivo e cultural entre a escola e a comunidade. (GÓES, 2009).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Investir na educação infantil tanto na música como nas
diferentes linguagens culturais não significa apenas preparar
a criança para o futuro, mas ofertar possibilidades de
conhecimentos diferenciados, de ampliação de conceitos e
proporcionar meios de reflexão para que a criança construa
sua criticidade e autonomia. A educação infantil e, em especial,
a educação musical, necessitamofertar oportunidades às
crianças para que tenham acesso e usufruam da riqueza
cultural musical. Para que isso ocorra de forma efetiva e
significativa, o professor necessita aprimorarsempreseus
conhecimentos, tanto didáticos quanto pedagógicos, com o
objetivo de estimular as crianças a aprenderem e conhecerem MARIZETE PEREIRA
sobre as diferentes manifestações musicais, tornando o DE SOUSA SANTANA
aprendizado interessante, envolvente e significativo. A
Graduação em Pedagogia pela
música, como área de conhecimento e linguagem, possui Faculdade UNIESP (2009);
imensa relevância no desenvolvimento psicossocial, Especialista em Alfabetização
cognitivo, afetivo e motor das crianças. Por meio da música, e Letramento pela Faculdade
Sumaré (2011); Professora de
a criança expressa seus sentimentos, suas emoções, troca Educação Infantil no CEI Parque
informações e amplia conhecimentos. Ao possibilitar Bristol.
o acesso e a vivência da criança com a música na escola,
estaremos oportunizando a ampliação de seu repertório sobre “músicas”, exponenciando suas
experiências e escolhas. Infelizmente a música está presente nas instituições de educação
infantil, mas ainda é tida pelos profissionais da educação como uma ferramenta apenas para
contribuir nas aprendizagens das demais áreas, não como potência, como linguagem e área
do conhecimento. Os educadores continuam demonstrando insegurança para trabalhar em
uma área do conhecimento que não seja sua especialidade ou que não tiveram nenhum
contato. Por isso a relevância do educador musical estar atuando desde a educação infantil,
proporcionando maior variedade de experiências musicais para a criança entre zero e cinco
anos, ofertando a educação musical como prática pedagógica qualificada a ser desenvolvida
também nesta faixa etária, abrindo-se um espaço para o trabalho com de exploraçãoda
linguagem musical das mais diversas maneiras. É preciso preocupar-nos em relação à
formação das crianças, não apenas com o ensino dos conhecimentos sistematizados, mas
também com o ensino de expressões, movimentos corporais e percepção. (SILVA, 2010).

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WISNIK, José Miguel. O Som e o Sentido: uma outra história das músicas. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002.

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EDUCAÇÃO FÍSICA E ALUNOS COM


NECESSIDADES ESPECIAIS: INCLUSÃO
RESUMO: O processo de inclusão em relação à Educação Física escolar encontra dificuldades
para se efetivar, dada a má preparação e formação docente. As observações junto aos
estudantes deficientes visuais também demonstraram o quanto esses (as) estão insatisfeitos
com o tratamento que os (as) docentes dispensam, com o objetivo de participar das atividades
físicas esportivas e de lazer planejadas nas escolas pelos profissionais que ministram aulas
nesse componente curricular. Nossas reflexões são as de que o processo de inclusão na
Educação Física escolar poderá demorar muito para ocorrer nas escolas. Os professores
das séries iniciais da escola pública precisam estar cientes de que é necessária a formação
continuada em serviço, para a inclusão. Mas, quanto à formação devem entender também,
que é preciso desconstruir concepções tais como a ideia de que a escola inclusiva requer
muito treinamento e só é possível concretiza – La com especialistas em educação especial,
a ideia de que somente turmas homogêneas de alunos garantem o desenvolvimento de um
bom trabalho. A inclusão é um direito de todos.

Palavras-Chave: Inclusão Escolar; Educação Física; Formação Docente.

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INTRODUÇÃO deficientes visuais. Para que aconteça de


fato a inclusão deve se renovar e atualizar
Mais do que avaliar as políticas educacionais os métodos de ensino. Neste sentido, os
inclusivas, precisamos valorizar este aluno e jogos e brincadeiras poderiam proporcionar
tratá-lo com respeito, para garantir o acesso aos alunos a liberdade de expressar sua
e a permanência na escola, sem segregá-los. criatividade, sua alegria, independente de
Há a necessidade de reflexões a respeito da suas limitações e construir a vida escolar
viabilidade da inclusão do aluno deficiente saudável e responsável.
visual nas aulas de Educação Física, suas
possíveis adaptações e como a escola pode O objetivo do trabalho foi compreender
se organizar para que ele seja inserido no como vem se dando o processo de Inclusão
ensino regular sem restrições e diferenças, na Educação Física Escolar dos estudantes
respeitando a diversidade humana existente deficientes. É preciso que o professor
em toda a sociedade. esteja preparado para enfrentar possíveis
obstáculos e preconceitos, viabilizando
Dentre um conjunto de atitudes e uma educação para todos, respeitando
comportamentos a serem desenvolvidos no individualidades.
ensino da Educação Física estão os jogos e
brincadeiras. Eles podem ser considerados Necessita-se, então, ressignificar a prática,
como recursos didático-pedagógicos, que porque e da diversidade é que podemos
podem contribuir no grande desafio do chegar uma educação rica na sua essência.
processo de ensinar e aprender nas aulas Para isso, o conteúdo metodológico deverá
de Educação Física. A prática de jogos e ser adaptável e flexível, criando alternativas
brincadeiras, especificamente aos deficientes de inovar e atender a todos para que ocupem
visuais (DV), pode levá-los à aproximação do o seu espaço na sociedade atual.
mundo real e lúdico.
Como objetivos específicos. O estudo e
Assim, os jogos e brincadeiras poderiam investigação das ações desenvolvidas nessa
proporcionar aos alunos a liberdade de vivência, buscando minimizar as dificuldades
expressar sua criatividade, sua alegria, detectadas pelos professores de Educação
independente de suas limitações e construir Física face à política de inclusão.
a vida escolar saudável e responsável.
A ampliação de conhecimentos dos Como Justificativa a Inclusão é algo que
professores pode servir como subsídio para está além da inserção ou integração, fazendo
atuação profissional e orientar pessoas com que o indivíduo seja compreendido,
que busquem saber mais como incluir os independente de suas diferenças.
jogos e brincadeiras nas aulas de Educação
Física, para melhor contribuir, com alunos

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Diante dessa problemática é possível da saúde, da formação cultural, da educação


aferir que na Educação Física escolar, estão e da reeducação motora, do rendimento
presentes os traços da segregação, exclusão físico-esportivo, do lazer e de outros campos
e marginalização social. que oportunizem ou venham a oportunizar
a prática de atividade atividades físicas,
recreativas e esportivas (BRASIL, 2004).
O DIREITO DOS ALUNOS
COM NECESSIDADES Essas recomendações legais em
relação às pessoas com deficiência foram
ESPECIAIS FREQUENTAR reafirmadas no Decreto 6755, no qual se
UMA CLASSE COMUM DA instituiu a Política Nacional de Profissionais
ESCOLA REGULAR do Magistério da Educação Básica e
estabeleceu, como um de seus objetivos, a
O direito dos alunos com deficiência ampliação das oportunidades de formação
frequentar uma classe comum da escola para o atendimento das políticas de educação
regular tem sido uma prática cada vez mais especial, alfabetização, educação de jovens
defendida na ampla maioria dos países e e adultos, educação indígena, educação do
muitas reformas educacionais nos sistemas campo e de populações em situação de risco
educacionais públicos estão sendo conduzidas e vulnerabilidade social (BRASIL, 2009).
para assegurar isso. Nesse contexto,
Firmou-se também, o papel da Universidade
[...] parece não haver mais dúvidas, entre a maioria como responsável pela formação inicial
dos estudiosos e profissionais da área da educação
sobre a necessidade de se garantir a democratização de professores. Dessa forma, os cursos
do acesso de crianças e jovens com deficiência aos de graduação em Educação Física devem
saberes escolares. (LIMA, 2009) garantir a preparação dos futuros professores
para atuar na educação inclusiva. Destaca-
O Parecer do CNE/CES nº 0058/2004 entre se que a inserção de conteúdos referentes à
as competências e habilidades específicas do Educação Física com pessoas com deficiência
graduado em Educação Física determinou: é fruto de um movimento que se iniciou nos
diagnosticar os interesses, as expectativas e anos 1980, e que possibilitou a abertura de
as necessidades das crianças, jovens, adultos, novos campos de trabalho e estudos, a partir
idosos, pessoas com deficiência, de grupos e dos anos 1990. Segundo Carmo,
comunidades especiais de modo a planejar,
prescrever, ensinar, orientar, assessorar, [...]ao passo que as outras áreas de conhecimento
conseguem com pequenos arranjos
supervisionar, controlar e avaliar projetos e metodológicos trabalhar com a diversidade
programas de atividades físicas, recreativas humana no mesmo espaço e tempo, a Educação
e esportivas nas perspectivas da prevenção, Física somente tem conseguido este feito em
espaços e tempos diferentes. (CARMO, 2001, p.
da promoção, da proteção e da reabilitação 106)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Para ele o conhecimento veiculado por


essa área foi historicamente construído tendo A educação, direito de todos e dever do Estado
e da família, será promovida e incentivada
como modelo um tipo de homem e de corpo, com a colaboração da sociedade, ao pleno
não considerando a existência concreta desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
e o estatuto histórico das pessoas com exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho. (BRASIL, 1988, p. 132).
deficiência. Em função disso os professores
não avançam além das adaptações, arranjos
e improvisos dos conhecimentos existentes De acordo com este dispositivo, a
aos alunos com deficiência. ninguém pode ser negado o acesso à escola
e nenhuma escola pode excluir ninguém,
Os profissionais “adaptam tudo, de princípios já que estará ferindo nossa Carta Magna.
a regras e à medida que os problemas vão Além do direito de acesso, que deve ocorrer
surgindo no interior das práticas novas em igualdade de condições, há o direito de
mudanças vão sendo realizadas a adequar o permanência e a garantia de um padrão de
inadequado” (Carmo, 2001, p. 107). Dessa qualidade (art. 206).
forma, atualmente o grande desafio colocado
para os profissionais de Educação Física, Antes mesmo de pensarmos nesse acesso e nessa
permanência em igualdade e com qualidade para
especialmente os que trabalham em escolas pessoas com necessidades educativas especiais,
comuns, é o de “[...] conciliar os princípios da perguntamos: de que forma isto pode ocorrer,
educação física adaptada com os princípios da se nem mesmo o ensino regular é contemplado
com estas características? A Constituição
inclusão escolar [...]” (Carmo; Silva, 2002, p. 17). ainda apresenta, no seu art. 208, inciso III,
“atendimento educacional especializado aos
A inclusão de alunos com necessidades portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino” (BRASIL, 1988, p. 133).
educativas, na rede regular de ensino, é um
direito assegurado pela LDB n. 9.394/96 e
por todo um conjunto de leis, diretrizes e De acordo com Mantoan (2003), este
orientações oficiais que compõem a reforma preferencialmente quer dizer atendimento
da educação no nosso país, ate em nossa educacional especializado e não educação
lei maior, que é a Constituição Federal. especial como instituição segregatória. Esta
Na Constituição de 1988, temos grandes autora afirma: A Constituição admite que
avanços em relação ao direito à educação. o atendimento educacional especializado
Primeiramente, temos o direito à igualdade também possa ser oferecido fora da rede
(art. 5º): somos todos iguais perante a lei, sem regular de ensino, em qualquer instituição,
nenhuma distinção de qualquer natureza, já que seria apenas um complemento, e não
incluindo aí as necessidades especiais. Em um substitutivo, do ensino ministrado na
seguida, temos assegurado o direito de rede regular para todos os alunos. (p. 39)
educação para todos, garantido no art. 205,
que preceitua:

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Portanto, observamos que se trata apenas sistema educacional vigente, estabelecendo


de uma segunda opção, um apoio, para mudanças de mentalidade, de posturas, de
alguns casos que se fizerem necessários. Em atitudes, de organizações de espaços e de
1994, foi realizada em Salamanca (Espanha) práticas pedagógicas.
a Conferência Mundial de Educação Especial,
quando foi elaborada e assinada pelos O referido documento também aborda
signatários a Declaração de Salamanca, a importância de adequada preparação
que trata de princípios, política e prática da do pessoal que trabalha com a educação,
educação especial, incluindo-se desse modo sobretudo dos professores, e ressalta a
no contexto da disseminação das orientações necessidade dos serviços de apoio, duas
neoliberais a serem efetivadas sob a forma adequações fundamentais para o sucesso
de políticas públicas. A estrutura de ação na da educação inclusiva. Infelizmente, ainda
educação especial é que define as linhas de nos falta preparação no nível de graduação
ação a serem desenvolvidas. e pós-graduação, e os serviços de apoio,
quando oferecidos, o são de forma precária
De acordo com esta declaração, a escola (Corde, 1994).
comum deve preparar-se para receber o aluno
com necessidades educacionais especiais e Conforme Zanata (apud Mendes, 2002),
não o contrário; as escolas devem adequar- não há como ignorar que nosso sistema
se a essa nova realidade, providenciando de ensino não esteja apto a oferecer
rampas, corrimão, material pedagógico para possibilidade de escolhas ou qualidade de
portadores de deficiências visuais, entre serviços e, na maioria das vezes, os alunos
várias outras coisas (Corde, 1994). com necessidades educativas especiais têm
acesso apenas a uma carteira comum, em uma
No entanto, o termo “escola para todos” escola comum, com uma professora comum,
previsto na declaração de Salamanca, em que tomando um lugar que nem sempre foi por
se idealiza o respeito às diversidades, é uma ele desejado e devidamente planejado, sem
realidade exposta ainda apenas no papel, garantia alguma de bem-estar físico e social
uma vez que, sem nem mesmo mencionar e em , especial, de acesso a um ensino de
a inserção de educandos com necessidades qualidade.
educacionais especiais, a escola já vive uma
pedagogia de exclusão, visto que o processo Surge então, em 1996, a nova Lei de Diretrizes
e Bases da Educação (LDB), que traz no seu
educacional como um todo é um reforçador contexto um capítulo sobre a educação especial.
das desigualdades sociais. O art. 58 entende a educação especial como
“modalidade de educação escolar, oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino,
Portanto, antes mesmo de se falar em para educandos portadores de necessidades
educação inclusiva de qualidade para todos especiais” (BRASIL, 1996, p. 46).
é necessário que se reflita e se reorganize o

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Já no seu parágrafo 2º, a LDB dispõe: na efetivação desse processo de fundamental


“O atendimento educacional será feito em importância para toda a sociedade que a
classes, escolas ou serviços especializados, inclusão educacional aconteça de forma
sempre que, em função das condições efetiva e com qualidade.
específicas dos alunos, não for possível a
sua integração nas classes comuns de ensino Mas, para que isso ocorra, é necessária
regular” (Brasil, 1996, art. 58, p. 46). Neste uma grande reflexão sobre a prática
artigo existe a inadmissível idéia de que, se o pedagógica vigente sobre os espaços
educando não pode ser incluso, é em função oferecidos, a preparação da equipe a
de suas incapacidades e inadequações e não trabalhar com a diversidade, o apoio de
da escola e do sistema educacional vigente, equipes especializadas e o envolvimento real
como nos mostra Carvalho (2003): do Estado, no intuito de fazer com que tudo
isso aconteça de forma concreta, saindo dos
A nova Lei, por sua vez, adota uma visão papéis para se consolidar na sociedade que,
unilateral das dificuldades de aprendizagem,
focalizando exclusivamente suas origens nas a partir daí, dará um grande passo rumo à
condições e necessidades do aluno. Essa visão sociedade inclusiva.
tradicional vem prevalecendo em decorrência
das influências clínicas e patologicistas
historicamente vinculadas às pessoas com
necessidades especiais. (CARVALHO, 2003: p. DOCÊNCIA E FORMAÇÃO
90).
COM ADERÊNCIA AO
Foi celebrada em 1999, na Guatemala, a PROCESSO DA INCLUSÃO
Convenção Interamericana para Eliminação As orientações de Vygotsky previamente
de Todas as Formas de Discriminação contra apresentadas necessitam estar no decurso
as Pessoas Portadoras de Deficiência, que da formação docente para o processo da
revoga as disposições anteriores que lhe são inclusão. É verdade que os obstáculos podem
contrárias. Este documento foi aprovado ser inúmeros, mas sem o envolvimento de
pelo Congresso Nacional e promulgado, em toda a comunidade escolar, tornam ¬se ainda
2001, pelo Decreto n. 3.956 da presidência mais numerosos. Freitas (2006) explica que a
da República, sendo o Brasil, portanto, formação dos professores voltada ao tema
signatário deste documento (Guatemala, da inclusão é insuficiente. A inclusão sem
2005). o com essa convenção, as pessoas disponibilizar profissionais especializados,
portadoras de deficiência têm os mesmos somada ao desconhecimento, pode contribuir
direitos humanos que outras pessoas. com uma realidade em que as escolas
recebam alunos com deficiências e que, em
No entanto, apesar de a educação inclusiva consequência os docentes podem descobrir,
ser uma temática bastante discutida nas na prática, como atuar com diferentes alunos
últimas décadas, nosso país ainda engatinha com deficiências.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Frente à necessidade de adaptar o ambiente a partir das produções na área em pesquisa


escolar e de lidar com a novidade recente na página eletrônica da CAPES demonstram
da inclusão, alunos e docentes apresentam distância da Educação Física com o tema
como consequência a desmotivação, da inclusão e maior número de produções
a conformidade e, somente durante a na área do desporto adaptado (Falkenbach,
convivência diária, descobrem o que deveria Batistelli e Eloy, 2006).
ser a base da preparação profissional, ou
seja, da formação inicial e permanente. Esse indicativo oportuniza refletir que
poucos são os deficientes visuais que
“[...] face ás correntes mais atualizadas de participam de atividades regulares da
formação de professores, recomenda ¬se a
experiência de casos com recurso a análises Educação Física na escola comum O estudo
críticas resultantes de observações e de de Melo (2004) na área da Educação Física
reflexões nos seguintes domínios: teorias escolar para alunos com deficiência visual vai
do comportamento (Erikson); modelos de
desenvolvimento (Piaget, Wallon, Luria); chamar a atenção para o espaço educativo
observação e caracterização psicopedagógica” com que a prática dessa disciplina pode
(FONSECA, 1995, p.64). contribuir na escola especial. Porém somos
da opinião que a presença de alunos com
Os conteúdos na formação de professores deficiência visual na escola comum também
são os mais diversos, mas há a compreensão é um diferencial que faz avançar as relações
de que aqueles voltados ao desenvolvimento de aprendizado tanto motriz como social dos
humano são fundamentais, porque ajudam alunos, uma vez que alunos que enxergam
os futuros professores a compreenderem podem ser sensibilizados com a presença e
o papel das diferenças no processo relação de alunos com deficiência visual e
de aprendizagem e desenvolvimento. os últimos aprenderem com a convivência e
Freitas (2006) é da opinião de que a auxílio dos colegas.
primeira mudança na formação docente
é o conhecimento de como o ser humano Atualmente sabemos que há uma oferta
aprende e se desenvolve independente de capacitação e de cursos voltados para
de sua diversidade ou deficiência. Assim, que professores possam atender diferentes
verificamos que novamente os preceitos de alunos em uma prática inclusiva. Juntam¬
Vygotsky são necessários aos processos de se às capacitações o envolvimento da
aprendizagem. comunidade que requisitam familiares,
amigos, profissionais dedicados para que a
Quando a área pedagógica é a Educação capacitação possa ser valorizada durante todo
Física fica evidenciada a relação da deficiência o processo, reforçando assim, conhecimentos
visual e o desporto adaptado, cuja cultura na área da inclusão. São iniciativas relevantes
desportiva é representativa na prática da e quando a deficiência em questão é visual
Educação Física. Os estudos que realizamos o programa de educação inclusiva do MEC/

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Revista Educar FCE - Abril 2019

AEE Atendimento Educacional Especializado necessidades especiais possa buscar seu


(AEE) orienta aos professores estratégias de desenvolvimento e exercer a cidadania
ensino. (Sassaki, 1997).

A orientação básica é de que as crianças Segundo o autor, a inclusão é um processo


com DV operem com dois tipos de amplo, com transformações, pequenas
conceitos: a) conceitos com significado real e grandes, nos ambientes físicos e na
para elas com base em suas experiências; b) mentalidade de todas as pessoas, igualmente
conceitos que fazem referência a situações da própria pessoa com necessidades
visuais importantes, mas que podem não especiais.
ser adequadamente compreendidas ou
decodificadas, ficando desprovidas de Para promover uma sociedade que aceite
sentido. Em relação aos conceitos que se e valorize as diferenças individuais, aprenda
referem a situações visuais, as crianças a conviver dentro da diversidade humana,
podem utilizar palavras ou expressões da compreensão e da cooperação (Cidade e
descontextualizadas, sem nexo ou significado Freitas, 1997).
real, por não basearem ¬se em experiências
diretas e concretas. Na escola, "pressupõe, conceitualmente,
que todos, sem exceção, devem participar
Esse fenômeno é denominado verbalismo da vida acadêmica, em escolas ditas comuns
e sua predomínio pode ter efeitos e nas classes ditas regulares que deve ser
negativos em relação à aprendizagem e desenvolvido o trabalho pedagógico que
ao desenvolvimento. As informações em sirva a todos, indiscriminadamente" (Edler
relação ao ambiente, quanto aos materiais Carvalho, 1998, p.170).
existentes no espaço, são importantes
referências nas quais o deficiente visual terá
a mobilidade e orientação, uma vez, sentindo EDUCAÇÃO FÍSICA
¬se seguro, poderá explorar o ambiente. Sem E A INCLUSÃO
esgotar estratégias ou orientações de ensino
e de inclusão aos professores de alunos com A Educação Física começa a se preocupar
deficiências, passamos ao procedimento com a atividade física e o esporte para pessoas
metodológico desenvolvido. com NEEs apenas, aproximadamente, no
final dos anos de 1950, e o enfoque inicial
A Inclusão, como processo social amplo, para a prática dessas atividades foi o médico.
vem acontecendo em todo o mundo, fato Os programas eram denominados ginástica
que vem se efetivando a partir da década de médica e tinham a finalidade de prevenir
50. A inclusão é a modificação da sociedade doenças, utilizando para tanto exercícios
como pré-requisito para que pessoa com corretivos e de prevenção, ou seja, eram

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Revista Educar FCE - Abril 2019

relacionados com a reabilitação (Costa; Educação Física para os cursos primário


Sousa, 2004). e médio, até a idade de dezoito anos.
Essa medida consolidou definitivamente a
Para uma melhor compreensão da história da introdução da Educação Física no sistema
Educação Física Adaptada, procuramos buscar
sua origem conceitual. Podemos dizer que escolar brasileiro de 1º e 2º grau.
essa expressão, “Educação Física Adaptada”,
surgiu na década de 1950 e foi definida pela No que concerne aos direitos da pessoa
American Association for Health, Physical
Education, Recreation and Dance (AAHPERD), com NEEs no Brasil, segundo Jannuzzi (1989),
como Um programa diversificado de atividades é nessa lei que consta a primeira referência
desenvolvimentistas, jogos e ritmos adequados a esses indivíduos em texto legislativo. A lei
a interesses, capacidades e limitações de
estudantes com [NEEs] que não podem se descreve, no art. 88, que “[...] a educação
engajar com participação irrestrita, segura e dos excepcionais deve, no que for possível,
bem-sucedida em atividades vigorosas de um enquadrar-se no sistema geral de educação a
programa de educação física geral (PEDRINELLI,
1994 apud COSTA; SOUSA, 2004, p. 29). fim de integrá-los na comunidade” (BRASIL,
1961, p. 248).
Em outras palavras, podemos dizer que
um programa de Educação Física geral não Desde então, as conquistas legais das
conseguiu abranger a especificidade das pessoas com NEEs vêm se ampliando, a fim
pessoas com NEEs e, então, a Educação de lhes serem asseguradas condições de viver
Física Adaptada veio para suprir essa lacuna em um ambiente o menos restritivo possível
existente, realizando uma ação paralela e integrada à sociedade. Na Educação
à Educação Física geral, desenvolvendo Especial, a década de 1980 é marcada com
programas de atendimento às pessoas com a promulgação, pelas Nações Unidas, do
NEEs em ambientes segregados e em espaço- Ano Internacional das Pessoas Portadoras
tempo diferentes dos trabalhos realizados de Deficiência, em 1981, que culminou com
com pessoas que não apresentam NEEs. a criação de setores específicos para cuidar
dessa questão nos Ministérios públicos de
Até porque, como a Educação Física vários países.
poderia lidar com corpos imperfeitos,
mutilados, improdutivos, convivendo com A escola como espaço inclusivo têm sido
corpos considerados bonitos, perfeitos, alvo de inúmeras reflexões e debates. A idéia
saudáveis, se teve a sua história e pela da escola como espaço inclusivo nos remete às
concepção biologicista de eugenização da dimensões físicas e atitudinais que permeiam
raça? Em 20 de dezembro de 1961, entrou a área escolar, e diversos elementos como a
em vigor a Lei n. 4024, de Diretrizes e Bases arquitetura, engenharia, transporte, acesso,
da Educação Nacional (LDB), apresentando, experiências, conhecimentos, sentimentos,
como acontecimento mais importante para comportamentos, valores etc. coexistem,
a área, a definição da obrigatoriedade da formando este locus extremamente complexo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A partir disto, a discussão de uma escola Segundo Bueno e Resa (1995), a Educação
para todos tem suscitado inúmeros debates Física Adaptada para portadores de
sobre programas e políticas de inserção de deficiência não se diferencia da Educação
alunos com necessidades especiais. A grande Física em seus conteúdos, mas compreende
polêmica está centrada na questão de como técnicas, métodos e formas de organização
promover a inclusão na escola de forma que podem ser aplicados ao indivíduo
responsável e competente. deficiente.

Quanto a área da Educação Física, a É um processo de atuação docente com


Educação Física Adaptada surgiu oficialmente planejamento, a atender às necessidades de
nos cursos de graduação e da Resolução seus educandos. A Educação Física na escola
3/87 do Conselho Federal de Educação e que se constitui em uma grande área de adaptação
prevê a atuação do professor de Educação ao permitir, a participação de crianças e
Física com o portador de deficiência e outras jovens em atividades físicas adequadas às
necessidades especiais. suas possibilidades, proporcionando que
sejam valorizados e se integrem num mesmo
Por isso sabemos que, muito professores de mundo.
Educação Física e hoje atuantes nas escolas
não receberam em sua formação conteúdos O Programa de Educação Física quando
e/ou assuntos pertinentes a Educação adaptada ao aluno portador de deficiência,
Física Adaptada ou a Inclusão. Sabemos possibilita ao mesmo a compreensão de suas
também que nem todas as escolas estão limitações e capacidades, auxiliando-o na
preparadas para receber o aluno portador de busca de uma melhor adaptação (Cidade e
uma deficiência e por vários motivos, entre Freitas, 1997).
eles, porque os professores não se sentem
preparados para atender adequadamente as Pedrinelli (1994: 69), "todo o programa
necessidades daqueles alunos e porque os deve conter desafios a todos os alunos,
escolares que não têm deficiência não foram permitir a participação de todos, respeitar
preparados sobre como aceitar ou brincar suas limitações, promover autonomia e
com os colegas com deficiência. enfatizar o potencial no domínio motor".

A Educação Física Adaptada "é uma área da A autora coloca que o educador pode
Educação Física que tem como objeto de estudo
a motricidade humana para as pessoas com selecionar a atividade em função do
necessidades educativas especiais, adequando comprometimento motor, idade cronológica
metodologias de ensino para o atendimento às e desenvolvimento intelectual. Na escola, os
características de cada portador de deficiência,
respeitando suas diferenças individuais" educandos com deficiência leve e moderada
(DUARTE E WERNER, 1995: 9). podem participar de atividades dentro do
programa de Educação Física, com algumas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

adaptações e cuidados. A realização de atividades com crianças, em especial aquelas que


envolvem jogos, devem ter um caráter lúdico e favorecer situações que a criança aprende a
lidar com seus fracassos e seus êxitos.

A variedade de atividades também prevê o esporte como um auxílio no aprimoramento da


personalidade de pessoas portadoras de deficiência (Bueno e Resa, 1995). As crianças com
algum nível de deficiência (auditiva, visual, física e mental) podem participar da maioria das
atividades propostas.

É importante que o professor tenha os conhecimentos básicos relativos ao seu aluno como:
tipo de deficiência, idade em que apareceu a deficiência, se foi repentina ou gradativa, se é
transitória ou permanente, as funções e estruturas que estão prejudicadas. Implica, também,
que esse educador conheça os diferentes aspectos do desenvolvimento humano: biológico
(físicos, sensoriais, neurológicos); cognitivo; motor; interação social e afetivo-emocional
(Cidade e Freitas, 1997).

Na educação física, particularmente na chamada Educação Física Adaptada ou Especial


vê que:

[...] falam e lutam por uma sociedade; todos sejam iguais, as pessoas tenham as mesmas condições, os mesmos
direitos e deveres. Porém, trabalham com o Homem concreto, diferente, discriminado e desigual, e uti como
instrumental os conhecimentos (adaptados) gerados historicamente para atender a características e valores
dos homens iguais (CARMO, 2006, p. 55)

A atuação profissional vai nesse sentido, muito além do conhecer, visto que nos coloca
como autor e ator da singularidade das intervenções. A educação física historicamente
carrega as marcas de conteúdos rígidos esportivizados e competitivos e inúmeras dispensas
médicas que sustentam a constatação do não enfrentamento dos professores diante da falta
de conhecimento sobre o outro e suas possibilidades.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta nova situação, a Inclusão, é preciso como forma
adicional, considerar as peculiaridades da população
associadas as estratégias que serão utilizadas. Com base
no que foi colocado, o professor de Educação Física poderá
conhecer a necessidade, os interesses e as possibilidades de
cada aluno e de cada grupo com que trabalha (o que já têm
sido feito por ele).

Existe uma infinidade de fatores que influem na


aprendizagem de portadores de deficiência entre elas as
características das tarefas motoras, o sujeito que aprende MARLENE TAIRA MELO
aprendizagem prévia, o contexto da aprendizagem, o tipo
Graduação em : Pedagogia pela
de informação, etc. Não existe nenhum método ideal ou Faculdade de Pinhais (2008); Pós
perfeito da Educação Física que se aplique no processo em: Metodologia da Educação
de Inclusão, porque o professor sabe e pode combinar Física; Pela Faculdade Campos
Elíseos, 2018. Professora de
numerosos procedimentos para remover barreiras e Educação Infantil e Ensino
promover a aprendizagem dos seus alunos. A reconstrução Fundamental I Da EMEI Profª
dos conhecimentos para enfrentamento situacional no Leila Maria Fonteles Farias; da
Rede Municipal; de São Paulo.
qual se insere e a descoberta na prática pedagógica da
possibilidade das novas ações – pesquisador reflexivo, nos
leva a uma ação de enfretamento da realidade com aquilo
que ela nos impõe, apresenta e é. Esse aspecto requer o
abandono do planejamento rígido para uma construção
reflexiva e inacabada.

Nessa direção, entendemos, como Costa e Sousa (2004), que é preciso romper com a atual
organicidade escolar e buscar novos princípios filosóficos como diretriz para a Educação/
Educação Física, procurando entender que os homens são diferentes e é na diferença que
ocorre a compreensão dos seus limites e possibilidades. É preciso redimensionar o tempo e o
espaço do trabalho escolar, flexibilizar os conteúdos, rompendo com a compartimentalização
dos saberes, e ainda aprender a lidar com o uno e o diverso simultaneamente, que é, em
nosso entendimento, o grande desafio para a Educação/Educação Física neste século X.

1040
Revista Educar FCE - Abril 2019

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CONTRIBUIÇÃO DA ARTE
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este trabalho teve o objetivo de pesquisar o papel que a arte desempenha
na Educação Infantil e discutir sua contribuição para o desenvolvimento infantil –
desenvolvimento este pautado na expressão e na autonomia da criança. Apesar de a arte
estar presente de diferentes maneiras no cotidiano e na vida das pessoas; a sociedade, assim
como a escola, ainda estão acostumadas a compreendê-la somente como uma fonte de
lazer e de entretenimento. Para o desenvolvimento deste trabalho, foi realizada uma revisão
bibliográfica de alguns trabalhos que abordam a importância da arte, especialmente no que
diz respeito à Educação Infantil. Buscou-se discutir o verdadeiro significado de incluir a Arte
no Currículo Escolar, na formação dos docentes e na prática docente. Em síntese, conclui-se
que a arte constitui elementos que despertam e expressam sentimentos, sentidos, imaginação
e criação, elemento de suma importância para o processo de educação de crianças de 0
a 6 anos, pois possibilita a construção de conhecimentos embasados na sensibilidade, na
criatividade, na expressividade, na autonomia e na ampliação cultural.

Palavras-Chave: Arte; Educação Infantil; Desenvolvimento

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INTRODUÇÃO diz respeito à educação das crianças. A seguir,


apresento uma breve revisão bibliográfica
A arte está presente em nosso cotidiano sobre o assunto.
de diversos modos, seja através da dança, da
literatura, da música, do teatro, da pintura, Reis (2003) afirma que a arte possibilita
da arquitetura e de tantas outras formas de o desenvolvimento daquilo que é inato aos
representação. Nesse sentido, a arte é um indivíduos. Dessa maneira, considera que
importante elemento cultural. o ensino da arte e das expressões deve ser
parte integrante da formação dos indivíduos
A escola, enquanto instituição desde os primeiros momentos.
corresponsável pela formação intelectual e
humana de seus alunos deve estar atenta para Freire (2002) indicou que somos os únicos
a necessidade de se incorporar, na educação seres que, social e historicamente, nos
dos mesmos, criação, exploração cultural, tornamos capazes de aprender. Aprender
sonhos, sentidos e formas de expressão, que para nós é construir, reconstruir, constatar
são construídos justamente com a arte. para mudar, o que não se faz sem abertura
ao risco e à aventura de espírito.
Este trabalho teve o objetivo de pesquisar
o papel que a arte desempenha na educação A criança revela, por meio do seu modo
de crianças de 0 a 6 anos de idade e discutir de pensar, agir e interagir com os outros, a
sua contribuição para o desenvolvimento capacidade imensa que possui de buscar,
infantil, pautado na expressão e na autonomia explorar, criar e aprender. No contexto
da criança. escolar, ela precisa vivenciar situações que
estimulem e despertem ainda mais a sua
O estudo desse tema é de extrema curiosidade, para que possa revelar as suas
relevância, pois pode colaborar para a características, externar as suas dificuldades,
formação do profissional da Educação os seus sentimentos, talentos e expressões
Infantil, auxiliando-o em sua atuação e próprias.
desencadear reflexões e atitudes que se
traduzam como melhoria da qualidade do A arte tem um papel importante no
ensino das crianças. processo de educação da criança, por
incorporar sentidos, valores, expressão,
movimento, linguagem e conhecimento de
A ARTE NA EDUCAÇÃO mundo, em seu aprendizado.
INFANTIL
Para Gullar (2006), o que o artista cria
Diversos autores discorreram sobre a vem de suas experiências, daquilo que
importância da Arte, especialmente no que ele consegue enxergar no mundo, em

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da formação do professor, pois, assim como


sua cultura. Sendo assim, a arte parte todo cidadão, ele tem direito de vivenciar
sempre de dentro do indivíduo, trazendo conhecimentos múltiplos da sua e de outras
um repertório de sentimentos, interesses, culturas.

valores e conhecimentos. Nesse sentido, é


importante considerar toda forma de Arte O educador, em sua formação, deve
para o desenvolvimento educacional e social ampliar seu entendimento sobre as diversas
das crianças, permitindo assim um grande formas de arte, sensibilizando o seu olhar
resgate de sentimentos e ideias traduzidos estético, permitindo-se novas experiências
por meio da Arte. e potencializando a sua criação. Ao
desenvolver o gosto pela arte, além de apurar
É importante ressaltar que envolver a sua sensibilidade, o proafessor entrará em
Arte no processo educacional de crianças contato com diferentes obras e conhecerá o
com o intuito de propiciar uma educação material utilizado para a criação das mesmas.
significativa a elas não se limita apenas à Sendo assim, é possível que o docente se
mera inclusão desta no projeto pedagógico forme e se construa culturalmente para uma
e/ou no currículo escolar - deve-se ir muito atuação que integre, em seu cotidiano com
além do “papel”. as crianças, um envolvimento maior com o
patrimônio cultural, com a criação, com a
Para realizar um trabalho de qualidade expressão, com o olhar curioso e sensível,
com as crianças, os professores de Educação enfim, com a liberdade.
Infantil precisam estar em constante
formação teórica e metodológica, em busca
do aprimoramento de suas práticas. Sua O ENSINO DA ARTE
formação se dá ao longo da sua vida docente,
de suas vivências na prática pedagógica, assim O ensino da Arte foi incluído no Currículo
como nas relações e desafios que encontra em Escolar pela Lei de Diretrizes e Bases de
seu trabalho com as crianças, nas interações 1971, com o nome de Educação Artística,
culturais, nas trocas de experiências com ainda como “atividade educativa” e não
seus pares e na conscientização progressiva como uma disciplina. Em 1988, ano em
sobre o que é realmente importante que as que foi promulgada a Constituição Federal,
crianças vivenciem, aprendam e construam em meio às discussões sobre a Educação, a
como sujeitos da história e da cultura. Educação Artística sofreu sério risco de ser
excluída do Currículo Escolar, fato que levou
Guimarães et al.(1999) consideraram a muitos educadores da área a organizarem
pertinência da arte na formação do docente: manifestações, com o intuito de garantir a
permanência do estudo das artes nas escolas.
(...) experiências com artes plásticas, teatro,
dança, música, fotografia, cinema, literatura,
entre outras, não podem estar desvinculadas

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Com a atual Lei de Diretrizes e Bases, O terceiro volume do documento,


foram revogadas disposições anteriores denominado “Conhecimento de Mundo”
e a matéria “Artes” foi reconhecida como foi organizado por eixos de trabalho, quais
disciplina, tendo seu ensino se tornado sejam: Linguagem Oral e Escrita, Movimento,
obrigatório na Educação básica, conforme Natureza e Sociedade, Matemática, Música e
dispõe o parágrafo 2º do artigo 26: “O Artes Visuais.
ensino da arte constituirá componente
curricular obrigatório, nos diversos níveis Ao discorrer sobre a música na educação
da educação básica, de forma a promover o infantil, Ávila e Silva (2003) ressaltam que
desenvolvimento cultural dos alunos”. a música é inerente à natureza do homem.
Desde recém-nascido, o indivíduo começa a
A Educação teve um grande ganho emitir sons e a organizá-los como pequenas
com o reconhecimento da Arte em sua melodias. Também o Referencial Curricular da
grade curricular. Foi o primeiro passo para Educação Infantil aponta que precocemente
a sociedade e, principalmente, para os a criança estabelece contato com a música,
educadores refletirem sobre o impacto da por meio das canções de ninar, cantaroladas
Arte na formação dos indivíduos. por membros da família, por exemplo.
Sendo assim, já na mais tenra idade, em
Os Referenciais Curriculares Nacionais seu cotidiano, a criança internaliza noções
para a educação Infantil compõem-se de de linguagem musical, que passam a fazer
três volumes. Com a implantação desse parte da sua bagagem de conhecimentos.
documento, as escolas e os educadores Na Educação Infantil, é muito comum as
passaram a ter um direcionamento para a crianças cantarem juntamente com seus
formação de sua documentação pedagógica. colegas e com as professoras – em diversas
situações (no momento em que chegam na
Segundo o Referencial Curricular escola, antes das refeições, em atividades
Nacional para a Educação Infantil (1998), específicas).
a educação das crianças deve ocorrer em
um contexto capaz de propiciar o acesso a Com relação ao trabalho com as Artes
elementos culturais que contribuam para Visuais na educação infantil, pode-se dizer
o desenvolvimento das mesmas e para a que este requer profunda atenção no que
interação destas em sociedade. Somente diz respeito às peculiaridades e esquemas de
um processo educacional embasado na conhecimento próprios a cada faixa etária e
interação social poderá contribuir para a nível de desenvolvimento. Isso significa que o
construção da identidade do indivíduo, pois pensamento, a sensibilidade, a imaginação, a
se fundamenta no desenvolvimento afetivo, percepção, a intuição e a cognição da criança
emocional e cognitivo. devem ser trabalhadas de forma integrada,
visando a favorecer o desenvolvimento

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das capacidades criativas das crianças. fazer, a partir de dois ou três anos de idade,
(EDUCAÇÃO, 1998, p. 91). uma série de perguntas, como “O que está
escrito aqui?”, ou “O que isto quer dizer?”,
Os trabalhos realizados com recursos das indicando sua reflexão sobre a função e o
artes visuais, na educação infantil, via de regra, significado da escrita, ao perceberem que
trabalham apenas as datas comemorativas, ela representa algo. (EDUCAÇÃO, 1998, p.
produzindo e/ou reproduzindo lembranças 127).
paras as mães, pais, dia do índio, dia da árvore,
páscoa, cartões de Natal, entre outras. Sendo A oferta de diferentes materiais e gêneros
consideradas como “arte”, estas atividades literários proporciona à criança um amplo
não exploram a criatividade das crianças repertório social e cultural, propiciando
e são meras reproduções de modelos pré- momentos de interação, exploração, a partir
produzidos, não produzem significado para de um processo ativo de construção de
as crianças. conhecimento e troca de experiências.

Com essa visão errônea da arte na Vivenciar juntamente com grupo momentos
educação infantil, desvaloriza-se o fazer da de trocas e exploração contribui para a
criança, não dando importância à capacidade ampliação do conhecimento. O educador
que ela tem de criar. Para que as artes visuais pode gerar meios para que as crianças
propiciem contribuições, faz-se necessário tenham acesso a obras de arte, instigando
que as atividades sejam espontâneas, ativem na criança o interesse e a curiosidade, por
a criatividade e valorizem a auto expressão. meio do abstrato e o concreto. A ampliação
Um trabalho assim irá integrar o pensamento, do seu repertório artístico contribuirá para
o sensibilidade, a imaginação, a percepção, que a criança desenvolva sua linguagem oral
a intuição e a cognição, favorecendo o e escrita, conhecendo a si mesma por meio
desenvolvimento de criatividade na criança. de produções próprias; desenvolvendo o
gosto, o cuidado e o respeito pelo processo
Com relação à linguagem oral e escrita, de criação própria e pelo de outras pessoas.
parece ser válido mencionar que, nas
sociedades letradas, as crianças, desde os
primeiros meses, estão em permanente ARTE E A CONSTRUÇÃO DO
contato com a linguagem escrita. É por CONHECIMENTO
meio desse contato diversificado em seu
ambiente social que as crianças descobrem Na perspectiva de Piaget (1985), o
o aspecto funcional da comunicação escrita, conhecimento configura-se como uma
desenvolvendo interesse e curiosidade por construção contínua de mediação entre o
essa linguagem. Diante do ambiente de sujeito e o objeto, ou seja, entre o meio físico
letramento em que vivem, as crianças podem e o social. Nessa ação, o indivíduo constrói

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novas estruturas mentais, estabelecendo Por mais que uma pessoa tente fazer uma
condições e capacidades próprias de pintura igual à outra, nunca será, sempre
conhecer. apresentará algo diferente. Como processo de
criação do novo, a arte favorece a superação,
Se os antigos teóricos da inteligência do que é igual, da reprodução, favorece o
(empirismo associacionista etc.) punham em desenvolvimento de uma aprendizagem
evidência a compreensão (assimilando-a a mais significativa e criativa. Por esta razão,
uma redução do complexo ao simples sobre a arte tende a desencadear, na educação de
um modelo atomístico, na qual a sensação, crianças, um processo de fazer próprio, de
a imagem e a associação desempenham os almejar o que está dentro de si, a partir do
papéis essenciais) e consideravam a invenção que se vivencia socialmente, de buscar não
como uma simples descoberta de realidades somente a memorização e repetição do que
já existentes, as mais recentes teorias, se ouviu ou leu, mas a criação.
cada vez mais controladas pelos fatos,
subordinam, inversamente, a compreensão à A arte se constitui num estímulo
invenção, considerando a última a expressão permanente para que nossa imaginação
de um organismo contínuo de estruturas de flutue e crie mundos possíveis, novas
conjunto. (Piaget, 1985, p. 35). possibilidades de ser e sentir-se. Pela arte a
imaginação é convidada a atuar, rompendo o
Para o autor, o indivíduo é sujeito do estreito espaço que o cotidiano lhe reservava.
processo de construção do seu conhecimento (Junior, 1985, p. 67)
e esse processo só é possível mediante a
sua ação. É importante ressaltar que um Liberar as potencialidades criadoras do
trabalho artístico sempre carrega a marca do indivíduo é condição fundamental para
seu criador, ou seja, traz embutida, em si, a uma verdadeira educação. O ato de criar
ação do sujeito que a criou, que é fruto de pressupõe um ato de autonomia, pois não
sua interação com o meio e com o próprio há como criar sem autonomia. As atividades
objeto criado. Nesse processo, o indivíduo é artísticas provocam o “pensar com
capaz de construir o entendimento de novos autonomia”, portanto, as artes desempenham
conceitos referentes a materiais e a técnicas um papel importante para o desenvolvimento
utilizadas, o que se dá nas artes plásticas, na autônomo da criança.
dança, no teatro, na música, e na produção
de poesias. As Artes constituem atividades Se o processo educacional se estagna
pelas quais o indivíduo é despertado para a no que diz respeito a ideias e propostas de
criatividade, a qual se acentua com a prática. aprendizado, isso implica em pobreza, sua
morte, ou seja, ele não terá sentido de existir
O ato criativo é um processo que sempre em uma sociedade que está em constante
traz algo singular da pessoa que o executa. mudança, mudança esta gerida pelo próprio

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homem. Tendo a educação a função de possibilitar ao homem o viver e o transformar a


sua sociedade, deve-se, então, caminhar para a transformação e não para a estagnação.
Portanto, o conhecimento e o investimento na autonomia infantil, geram uma sociedade
capaz de realizar escolha, multiplicar culturas e ampliar conhecimentos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho fez uma breve explanação sobre o processo
de inclusão da arte no currículo nacional e sua estruturação
na historia brasileira. Chegamos ao Referencial Curricular
da Educação Infantil, que assegura o ensino de arte desde
a tenra idade, em pró ao direito à dignidade da formação
humana. O direito da criança em ter a liberdade de se
expressar socialmente e culturalmente, fortalecendo como
ser criativo, ativo e autônomo. Concluo que todos estes MARLY APARECIDA
“direitos” fortalecem uma educação e um ensino que devem CORSINI ALVES
caminhar juntos nesta sociedade que exige um cidadão
Graduada em Pedagogia pelo
instruído, participativo e livre para exercer sua criatividade Centro Universitário UNIFIEO
e explorar as diferentes culturas que miscigenam nosso (2007); Especialista em
mundo. Psicopedagogia pela Faculdade
Integrada da Grande Fortaleza
(2013); Professora de Educação
Assim, é solidificada a importância da arte na educação Infantil e Ensino Fundamental I
brasileira, sendo uma condição necessária e essencial para o na EMEI Educadora Nida Maldi
Corazza - DRE Butantã.
desenvolvimento humano por meio das diversas linguagens,
musical, corporal e social. Garantida pelo RCNEI e pela LDB,
que determina a suma importância da expressão artística,
sendo ela ampliada com qualidade a todos, capaz de
contribuir para o avanço social de uma nação.

Meu maior objetivo foi mergulhar na história sobre a arte e educação, e contribuir para
outras reflexões sobre o tema, na medida em que a prática perpassa pela teoria.

A escola tem a sua parcela de responsabilidade na formação humana, na construção


sensível do olhar sobre o pensar e do olhar sobre o mundo. A escola não é somente espaço
para se aprender a ler, escrever e fazer contas - deve ir além do que é imediatamente utilizável.
Assim, é preciso que a escola se comprometa com a sensibilização das crianças, ou seja, que
oportunize experiências novas de descobertas e que possibilite a expressividade do aluno,
permitindo que ele conheça a si mesmo e olhe para aquilo que o cerca, com curiosidade e
sentimento.

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REFERÊNCIAS
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PRÁTICAS DE LETRAMENTO E
CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Esta pesquisa traz uma revisão bibliográfica cujo tema aborda as práticas
pedagógicas na educação infantil na perspectiva do Letramento. O termo Letramento é
bem recorrente na área educacional nos dias atuais e é de suma importância a compreensão
deste conceito quando pensamos em alfabetização e aprendizagem na escola de Educação
Infantil. Neste sentido apresentamos como objetivo geral para estudo pesquisar e conhecer
as teorias e metodologias que englobam este tema e podemos destacar como objetivos
específicos: descrever algumas práticas pedagógicas que ocorrem na educação infantil
e evidenciar as práticas de letramento na educação infantil. Brincando de ler as crianças
desenvolvem habilidades e aprendem a refletir sobre a língua, familiarizando-se com os
textos literários, ampliando o repertório textual e apropriando-se da linguagem escrita e
oral. As brincadeiras com palavras incluem brincadeiras de roda, adivinhas e jogos de regras.
A escola deve considerar as práticas de leitura e escrita que são vivenciadas fora do espaço
escolar para que as práticas de letramento realmente sejam contextualizadas e não apenas
uma forma de aprendizagem em que a escrita e as produções de texto servem apenas para
demonstrar habilidades e competências totalmente desvinculadas da função social que a
leitura e a escrita possui na vida social e nas práticas cotidianas.

Palavras-Chave: Letramento; Alfabetização; Educação Infantil; Práticas Pedagógicas.

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INTRODUÇÃO práticas sociais e nas práticas de letramento


na sociedade.
O trabalho do professor consiste em
propor atividades que permitam à criança A escola possui o papel de promover as
manifestar-se por escrito e oralmente de práticas de letramento, em muitos casos,
modo livre, sem perder de vista a necessidade as pesquisas na área educacional apontam
de se apresentarem situações que levam para o fato de que os alunos saem da escola
ao aprendizado de novas regras de leitura dominando algumas habilidades básicas
e escrita, elaboradas pela própria criança. de codificação e decodificação de signos,
Neste sentido as práticas de leitura e escrita porém quando se deparam com as práticas
na Educação Infantil devem proporatividades sociais nas quais é necessário que as práticas
nas quais a criança possa utilizar a escrita, de letramento tenham sido apreendidas,
reproduzindo aspectos da cultura escrita e muitos alunos tornam-se incapazes de
ampliando o seu conhecimento sobre este ler, compreender e escrever de maneira
aprendizado. funcional.

Podemos elencar como objetivo geral A observação dos momentos de contação


para estudo, pesquisar e conhecer as de histórias e roda de leitura evidencia
teorias e metodologias que englobam este que as crianças aprendem a distinguir,
tema e podemos destacar como objetivos progressivamente, a leitura em voz alta e
específicos: descrever algumas práticas a contação de uma história sem o suporte
pedagógicas que ocorrem na educação do livro ou de outro impresso. O professor
infantil e evidenciar as práticas de letramento ao conduzir o processo de leitura de
na educação infantil. histórias, deve conversar com as crianças
contextualizando a história, observando
O termo Letramento passou a ser utilizado a reação das crianças e respondendo
constantemente quando falamos em as questões que elas trazem de forma
Alfabetização e Aprendizagem, é necessário espontânea sobre o texto.
que o educador conheça tais concepções
e conceitos e saiba como “alfabetizar
letrando” na sociedade atual, em que cada PRÁTICAS DE LETRAMENTO
vez mais se faz necessário o uso social da NA EDUCAÇÃO INFANTIL
leitura e da escrita. A escrita e a leitura são
fundamentais para o sucesso nas interações A escrita e a leitura são fundamentais para
entre os indivíduos e para a convivência em o sucesso nas interações entre os indivíduos e
uma sociedade letrada, além destes aspectos para a convivência em uma sociedade letrada,
temos a formação profissional e acadêmica além destes aspectos temos a formação
do sujeito ,como elemento fundamental nas profissional e acadêmica do sujeito como

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elemento fundamental nas práticas sociais Alfabetizar letrando é uma abordagem


e nas práticas de letramento na sociedade. bastante atual no cenário educacional e
Podemos elencar diferentes definições a sociedade do conhecimento exige do
sobre o letramento, exemplo: letramento indivíduo que além de ler e escrever ele
tecnológico, letramento literário, letramento consiga dominar as práticas sociais que
religioso, letramento musical, etc. envolvem a leitura e a escrita, que ele
possa integrar-se socialmente e exercer a
Pode-se definir alfabetização como o processo sua cidadania, o indivíduo deve saber ler,
específico e indispensável de apropriação do
sistema de escrita, a conquista dosprincípios escrever, interpretar e conhecer o significado
alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno das palavras que o rodeiam em seu meio
ler e escrever com autonomia. Noutras palavras, social.
alfabetização diz respeito à compreensão e ao
domínio do chamado “código” escrito, que se
organiza em torno de relações entre a pauta Um aspecto importante a ser levado em conta
sonora da fala e as letras (e ouras convenções) nessas preocupações refere-se à concepção que
usadas para representá-la, a pauta, na escrita. as crianças têm e formam sobre a escrita. Daí
(VAL, 2006, p. 19) sentirmos urgência em recolocar a discussão
sobre alfabetização sob novos ângulos. Do
mesmo modo, é preciso rever formas tradicionais
O trabalho do professor consiste em de trabalho em classe e o tratamento que tem
propor atividades que permitam à criança marcado a relação professor / aluno, de forma a
manifestar-se por escrito e oralmente de aumentar as oportunidades de a criança ser bem
sucedida na escola. (MORTATTI, 2000, p.252).
modo livre, sem perder de vista a necessidade
de se apresentarem situações que levam
ao aprendizado de novas regras de leitura Para que a alfabetização ocorra é
e escrita, elaboradas pela própria criança. necessário que as práticas de letramento
Atualmente o indivíduo que sabe apenas sejam contextualizadas e tenham êxito,
ler e escrever torna-se insuficiente para as neste sentido, torna-se fundamental a
demandas da sociedade moderna é preciso valorização do conhecimento que o aluno
ir além da aquisição e da decodificação de que já traz consigo e a contextualização
signos, o sujeito deve fazer uso da escrita e do meio social no qual o este aluno está
da leitura em seu dia a dia tendo consciência inserido. As situações cotidianas e o meio
de sua função social. social trazem características importantes e
são fundamentais para o sucesso no processo
Alfabetização e letramento se somam, o de ensino e de aprendizagem, com base na
ato de alfabetizar é dar condições ao sujeito perspectiva do letramento, da troca de ideias
de ser capaz de ler e decodificar, de escrever e saberes e experiências entre professores e
e codificar, bem como fazer o uso adequado alunos.
da língua escrita, neste sentido significa
uma orientação a criança para o domínio da O papel do professor no processo de
tecnologia da escrita. aprendizagem é fundamental, no intuito de

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mediar e levar o aluno a buscar e construir não deve esquecer da especificidade da


conhecimentos. Para que o professor seja alfabetização como domínio do sistema de
capaz de desempenhar a sua função deve escrita e no caso do letramento que também
ser capacitado e apropriar-se dos conceitos possui uma especificidade cujo objetivo é
que envolvem os termos alfabetização e que o aluno possa apropriar-se e desenvolver
letramento, neste sentido, será capaz de as práticas sociais fazendo uso do sistema de
favorecer a formação do aluno de maneira escrita e leitura.
significativa, levando em consideração o seu
contexto social e econômico e as práticas A alfabetização e o letramento são
que fazem parte do cotidiano deste aluno. consideradas duas ações distintas, porém
são inseparáveis, o ideal é que se alfabetize
Quando falamos em proposta construtivista letrando, isto significa, ensinar a ler e
e letramento temos que o falar, o ler e o escrever no contexto das práticas sociais
escrever devem estar reunidos em um único que envolvem a leitura e a escrita, tornando
processo, que tenha em vista as práticas o indivíduo alfabetizado e letrado.
sociais de leitura e escrita, a fim de permitir
à criança que a alfabetização e o letramento
ocorram juntos. As atividades de análise e CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM
síntese são trabalhadas cognitivamente pelo E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
aluno quando faz e refaz hipóteses sobre a
leitura e a escrita e estabelece relações entre SIGNIFICATIVAS
significado e significante. No trabalho cotidiano com as crianças
existem diversas situações em que a
De acordo com as ideias de Kleiman professora lê em voz alta para as crianças
(1995) pode-se definir o Letramento como e escreve textos com a sua participação.
o conjunto de práticas sociais que usam A professora atua como escriba e quando
a escrita, em diferentes contextos e com participam destas práticas, as crianças
objetivos definidos. Ainda conforme a tomam contato com as diferentes funções
autora, este conjunto de práticas envolve os sociais da leitura e da escrita, apropriando-
indivíduos e o meio social, relacionados com se de suas características e dos diferentes
a escrita e a leitura, em práticas sociais. gêneros textuais.

Para o professor que trabalha na educação As práticas de leitura, escrita e de produção


infantil torna-se necessário que haja uma de textos que são desenvolvidas no ambiente
formação específica e significativa para que escolar não são capazes de contemplar as
ele possa compreender essa nova concepção práticas de letramento necessárias para a vida
de alfabetização que surge na perspectiva em sociedade e para as práticas cotidianas. O
do letramento o professor alfabetizador método tradicional de aprendizagem, por si só

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não é capaz de garantir que o aluno seja capaz de No conceito de alfabetização defendido
comunicar-se socialmente e possa estabelecer pela autora, as atividades que têm o foco
relações no meio social no qual está inserido. na coordenação motora fina, o controle
da pressão do traço no papel ou o
É possível propor atividades para as tamanho do traçado são importante para o
crianças em que elas utilizem a escrita, fazendo desenvolvimento da escrita mas assumem
de conta que está lendo e escrevendo. O um papel secundário, que representa
professor deve estimular estas práticas para apenas uma parte entre as tantas outras
ampliar os conhecimentos da criança sobre a aprendizagens relativas à leitura e a escrita.
leitura e a escrita.
É importante trabalhar as habilidades
Segundo Brandão (2011) na brincadeira motoras em contextos lúdicos como
de faz de conta pode-se fazer uma lista de atividades de passatempo, labirintos,
compra ou de convidados para uma festa, construindo brinquedos com sucatas,
deixar recados escritos, anotar nome de desenhando e pintando e nas atividades de
remédios para o filho doente, dentre outras modelagem. O contato das crianças com a
situações em que a escrita se faz presente história é mediado pela voz da professora
com diferentes finalidades. aproximando a criança e situando-a no
mundo simbólico.
É possível ainda estimular as crianças a fazer
“leituras” diversas, tentando antecipar o que A relação que se dá entre o adulto e a criança
está escrito em notícias, anúncios, embalagens, durante a roda de histórias é, portanto,
convites, legendas e outros textos ou propor mediada pela linguagem. Assim, considerando
às crianças a “leitura” de livros de literatura já que as crianças estão numa etapa da vida cuja
conhecidos e de textos memorizados como principal “tarefa evolutiva” é a emergência
parlendas, poemas e canções. Temos visto da função simbólica, a professora lê ou conta
que, embora esses textos rimados estejam há histórias na Educação Infantil está contribuindo
muito tempo presentes nas salas de Educação para o desenvolvimento da linguagem e para
Infantil, nem sempre as professoras permitem a socialização de seu grupo, ampliando seu
que as crianças visualizem suas formas escritas, repertório de experiências e sua competência
sendo incentivadas a imitar a leitura feita pela sócio comunicativa. Ser capaz de ouvir traz o
professora. (BRANDÃO, 2011, p. 26) potencial de ser capaz de dizer. (BRANDÃO,
2011, p. 36-37)
De acordo com Brandão (2011) os jogos
e atividades de análise fonológica chamam Ainda de acordo com a autora a participação
a atenção da criança sobre sílabas, rimas, das crianças em rodas de história oportuniza
fonemas, e tais propostas são importantes a formação de uma comunidade de ouvintes,
na Educação Infantil que levam a criança ampliando o repertório de narrativas e
a pensar sobre os sinais gráficos que têm manifestando seus gostos, personagens e
relação com a pauta sonora e não com as histórias favoritas.
propriedades físicas do objeto.

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É fundamental que as rodas de história


aconteçam de diferentes maneiras Brincando de ler as crianças desenvolvem
propiciando às crianças o direito de escolher habilidades e aprendem a refletir sobre
os livros, organizar o espaço, realizar o reconto a língua, familiarizando-se com os textos
de histórias conhecidas para os colegas da literários, ampliando o repertório textual
turma, mesmo não sabendo ler ou escrever. e apropriando-se da linguagem escrita e
As brincadeiras de faz de conta são aquelas oral. As brincadeiras com palavras incluem
em que as crianças assumem situações brincadeiras de roda, adivinhas e jogos de
diversas e para tanto, utilizam a linguagem regras.
oral e a escrita, exercendo diferentes papeis
observados na sociedade. Segundo Brandão (2011) brincando
com as palavras, as crianças podem
Embora também reconhecendo a importância desenvolver a consciência fonológica, que
do apoio do adulto nas brincadeiras infantis,
individuais ou em pequenos grupos, não envolve capacidades variadas de refletir
minimizamos a relevância do brincar livre, conscientemente sobre unidades sonoras. Tal
espontâneo no desenvolvimento social, afetivo desenvolvimento é especialmente relevante
e cognitivo da criança. Assim, entendemos que
tanto as brincadeiras livres ou espontâneas porque, além de resgatar experiências
quanto aquelas apoiadas pelos adultos podem culturais, contribuem para o próprio processo
ter um efeito positivo no desenvolvimento de alfabetização. A inserção de jogos e
infantil e devem estar presentes na educação de
crianças pequenas. (BRANDÃO, 2011, p. 54) brincadeiras que proporcionam o contato
com a linguagem oral e escrita na educação
infantil não visa a alfabetização precoce,
Segundo Leite (2006) ao falarmos nas mas sim poder oportunizar às crianças que
regras, nos jogos de enredo, não estamos aprendam sobre as palavras no momento em
minimizando sua importância, quando as que brincam.
crianças brincam de escola, elas obedecem
às regras institucionais que funcionam nessa A concepção e o conceito de infância
esfera, quando brincam de organizar uma e criança que temos atualmente, não
festa, elas atendem às regras que são ditas existia em outras épocas, antigamente as
na sociedade e assim por diante. crianças eram tratadas como adultos e não
existia o conceito “sentimento de infância”
Neste contexto, a linguagem verbal se abordado por ARIÈS (1981) em que traz a
torna extremamente importante, as crianças problematização do conceito de infância e as
representando tais papeis imitam o modo de construção sociais dos diferentes períodos
falar e o vocabulário utilizado na sociedade, históricos, assim subdivididos: Antiguidade,
elas brincam de falar como se fossem outras no século XIII ao século XVIII e no século
pessoas, revelando a atenção que elas XVIII a atualidade.
prestam à língua.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Com base nas ideias de ARIÈS (1981) analisando o material existente sobre a história da infância
é possível afirmar que a preocupação com a criança passa a aparecer somente a partir do século
XIX, tanto no Brasil como em outros lugares do mundo e no campo da pesquisa não existiam
estudos sobre a infância.

Na Antiguidade, a criança era considerada um adulto em miniatura e não havia distinção entre
as atividades e ações no mundo adulto e no mundo infantil, a criança desde muito pequena fazia
parte do contexto social do adulto. Neste período os estágios não eram definidos de acordo com a
idade das pessoas, passando a fase de dependência da física da mãe, as crianças passavam a fazer
parte do mundo dos adultos. Antes de iniciarem na escola, as crianças participavam de todas as
situações da vida cotidiana com o adulto, em casa, no trabalho ou nas festas.

O reconhecimento da educação infantil como a primeira etapa da educação básica, surge com a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN 9.394/96, de acordo com a Constituição
de 1988, as instituições de educação infantil, expressa como parte dos deveres do Estado com
a Educação, trata-se de uma formulação almejada por aqueles que lutaram pela implantação de
creches e pré-escolas para que os direitos das crianças sejam respeitados.

A escola possui o papel de promover as práticas de letramento, em muitos casos, as pesquisas


na área educacional apontam para o fato de que os alunos saem da escola dominando algumas
habilidades básicas de codificação e decodificação de signos, porém quando se deparam com as
práticas sociais nas quais é necessário que as práticas de letramento tenham sido apreendidas,
muitos alunos tornam-se incapazes de ler, compreender e escrever de maneira funcional.

Segundo Stemmer (2007) a aprendizagem da leitura e da escrita não tem sido sequer
considerada na Educação Infantil, existindo um desconhecimento sobre o assunto. O resultado é
que os professores diante do evidente interesse das crianças em querer aprender a ler e a escrever
ficam sem saber o que fazer e acabam reproduzindo práticas de ensino a que eles mesmos foram
submetidos, sem subsidio teórico para alicerçar suas práticas.

Na promoção de atitudes e práticas de alfabetização e letramento o professor e educador da


infância atua como o escriba das crianças, registrando as falas das crianças e realizando observações,
ajudando-a formar uma linha de raciocínio e compreender o que o professor escreve e de que
forma a escrita funciona no meio cultural em que vivemos. Ao observar o professor como escriba,
a criança mesmo que não alfabetizada, vai compreendendo as formas de registro, como se escreve
e para que se escreve, compreendendo o uso social da escrita.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As contribuições dos estudos sobre a psicogênese da língua escrita,
desenvolvidos por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, são de fundamental
importância para o entendimento das relações entre os termos
alfabetização e letramento, no qual um termo complementa o outro
e onforme as ideias das autoras é necessário alfabetizar letrando e o
ensino deve prever ações para que o indivíduo possa comunicar-se em
sociedade e participar das práticas sociais no meio no qual está inserido.
MARTA ALMEIDA
A escola deve considerar as práticas de leitura e escrita que são DE OLIVEIRA
vivenciadas fora do espaço escolar para que as práticas de letramento
Graduação em Pedagogia pela
realmente sejam contextualizadas e não apenas uma forma de Faculdade das Américas - FAM
aprendizagem em que a escrita e as produções de texto servem apenas (2013); Pós-graduada em
para demonstrar habilidades e competências totalmente desvinculadas Formação Docente pela Faculdade
de Ciências e Tecnologia
da função social que a leitura e a escrita possui na vida social e nas Paulistana – FACITEP (2018).
práticas cotidianas. Atua como Professora de
Educação Infantil na Prefeitura do
Município de São Paulo no Cei
Com a perspectiva de Letramento temos um desafio aos educadores, Maria da Costa Barboza.
que possam desenvolver uma prática de aprendizagem em que o
aluno se torne um cidadão consciente e crítico que possa contribuir
nas práticas sociais e posicionar-se em seu meio social, nas relações sociais de uma sociedade letrada.
Quando a escola cria condições de oferecer diferentes espaços buscando favorecer os alunos em relação
a aprendizagem, está contribuindo para a construção do conhecimento e aprendizagem significativa, nesta
perspectiva o ambiente alfabetizador traz diversas possibilidades de interação e aprendizagem.

As práticas de leitura, escrita e de produção de textos que são desenvolvidas no ambiente escolar não
são capazes de contemplar as práticas de letramento necessárias para a vida em sociedade e para as práticas
cotidianas. O método tradicional de aprendizagem, por si só não é capaz de garantir que o aluno seja capaz
de comunicar-se socialmente e possa estabelecer relações no meio social no qual está inserido.

Ao longo dos anos os conceitos e concepções que envolvem o tema Letramento foram esclarecidos e as
práticas pedagógicas baseiam-se nesta concepção de “alfabetizar letrando”, dando oportunidades para que
as crianças tenham contato com o mundo da leitura e da escrita já na educação infantil.

O trabalho do professor consiste em propor atividades que permitam à criança manifestar-se por escrito
e oralmente de modo livre, sem perder de vista a necessidade de se apresentarem situações que levam ao
aprendizado de novas regras de leitura e escrita, elaboradas pela própria criança.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1981. 279 p.

BRANDÃO, Ana Carolina Perrusi; ROSA, Ester Calland de Sousa. Ler e Escrever na Educação
Infantil: discutindo práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

BRASIL, MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN 9394, de 20 de


dezembro de 1996.

FERREIRO, Emília. Alfabetização e cultura escrita. Entrevista concedida à Denise Pellegrini


In Nova Escola – A revista do Professor. São Paulo, 2003.

FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2006.

KLEIMAN, A. B. (Org.). Os significados do Letramento. Campinas: Mercados da Letras, 1995.

LEITE, Tânia M. S. B. R. Alfabetização – consciência fonológica, psicogênese da escrita e


conhecimento dos nomes das letras: um ponto de interseção. 2006. Dissertação (Mestrado
em Educação). Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2006.

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Os sentidos da alfabetização. São Paulo: Ed. UNESP;
CONPED, 2000.

STEMMER, Márcia Regina G. S. A educação infantil e a alfabetização. In: ARCE, Alessandra;


MARTINS, Ligia Maria (Orgs). Quem tem medo de ensinar na Educação Infantil? Em defesa
do ato de ensinar. São Paulo: Alínea, 2007.

VAL, Maria da Graça Costa. O que é ser alfabetizado e letrado? 2004. In: CARVALHO, Maria
Angélica Freire de (org.). Práticas de Leitura e Escrita. 1. Ed. Brasília: Ministério da Educação,
2006.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O DESENHO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
RESUMO: Este trabalho surge da necessidade em entender a importância do desenho na
construção da aprendizagem infantil, principalmente na construção da escrita. Será abordado
a importância do desenho e o desenvolvimento da criança, considerando as fases do desenho
na Educação Infantil, o contexto escolar e o papel do professor diante das descobertas. A
pesquisa bibliográfica e este artigo foi estruturado em quatro capítulos: O desenho e o
desenvolvimento da criança, a importância do desenho na aquisição da linguagem escrita, o
desenho e a escrita no contexto da Educação Infantil e o Papel do professor. O
desenho na Educação Infantil, enquanto linguagem gráfica e artística contribui não só na
aquisição da escrita, mas também como forma da criança se expressar, brincar e vivenciar o
mundo em que vive.

Palavras-Chave: Desenho; Escrita; Educação Infantil

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO O DESENHO E O
DESENVOLVIMENTO
A criança desde muito pequena começa
utilizar o desenho como forma de expressão DA CRIANÇA
da realidade, representando sentimentos A criança desde a mais tenra idade
e emoções; num certo momento as letras começa a utilizar o desenho como forma de
se misturam e se entrelaçam aos desenhos expressão da realidade, representando assim
da criança, que a partir de diferentes seus sentimentos, emoções e pensamentos.
representações gráficas passa a atingir a
escrita, e tem a oportunidade de desenvolver É na interação da criança com o seu meio
as suas habilidades e construir este que a aprendizagem se inicia e a expressão
conhecimento devido às suas experiências artística, antes mesmo do primeiro rabisco,
vividas dentro e fora do ambiente escolar. com as experiências sensoriais, como tocar,
cheirar, ver, manipular, saborear, escutar,
O processo de aquisição e compreensão enfim, qualquer modo de perceber o meio e
da língua escrita possibilita a inclusão e a agir sobre ele.
participação da criança no mundo letrado.
Assim, ao vivenciar situações de escrita, Quando nos referimos ao desenho, como
a criança se arrisca e até mesmo constrói forma de representação, assim como a
hipóteses sobre o que supostamente linguagem, temos que destacar Vygotsky (1988),
escreveu e desenhou. pois segundo o autor o desenho é um percurso
do desenvolvimento da linguagem escrita para
Este trabalho tem como finalidade analisar a base de outros sistemas de signos.
a contribuição do desenho infantil para a
aquisição da língua escrita da criança na A fala é o ponto de partida para a formação
Educação Infantil. A escolha por esta temática de esquemas de significação, entre esses
baseou-se nas inquietações pessoais sobre o esquemas há também o desenho. Ainda
desenho infantil e sua relação com a escrita. segundo o autor o desenho é uma linguagem
gráfica que surge tendo por base a linguagem
O presente trabalho é relevante para os verbal. Neste sentido, os esquemas que
fins acadêmicos e também para a atuação caracterizam os primeiros desenhos infantis
do educador em sala de aula, visto que é lembram conceitos verbais que comunicam
necessário o conhecimento da essência do somente os aspectos essenciais dos objetos.
desenho infantil como linguagem gráfica e “Esses fatos nos fornecem os elementos
seu papel na construção do conhecimento para passarmos a interpretar o desenho
da criança. das crianças como um estágio preliminar
do desenvolvimento da linguagem escrita”
(VYGOTSKY, 1988, p. 127).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O autor afirma ainda que, o processo de Brincando, a criança adquire novas


aquisição da língua escrita passa por três experiências, busca satisfazer as suas
tipos de representações: A primeira é que a curiosidades, realiza as suas fantasias e
criança forma o conceito de que o desenho experimenta diferentes sensações. De
representa algo e há a necessidade de falar acordo com a autora Leni Vieira:
o que está sendo representado no papel,
portanto, existe a relação objeto e fala e o Através do brincar a criança experimenta,
organiza-se, regula-se, constrói normas para
fato de que esse objeto precisa ser visto ou si e para o outro. Ela cria e recria, a cada nova
imaginado. brincadeira, o mundo que a cerca. O brincar é
uma forma de linguagem que a criança usa para
compreender e interagir consigo, com o outro,
A segunda representação, é a tentativa de com o mundo. (VIEIRA, 2001,p.104).
escrita, no qual será necessário que a criança
desenvolva o processo mnemônico, que se A criança inventa e recria diferentes
refere à memória, pois mesmo na ausência formas para experimentar e compreender
do objeto possa ser representado. a realidade que está inserida. É nesse
momento que o ato de desenhar pode ser
E, por fim, a criança adquire a livre e cheia de sentimentos, a interferência
representação direta, pois não será mais do adulto pode direcionar ou anular um
necessário a presença do objeto ou o seu processo criador, pode ser negativa quando
nome para escrever. A partir disso ela começa o adulto determina cores e formas muitas
a utilizar sinais escritos específicos para vezes prontas, e positiva quando o processo
escrita, que agora não são mais escolhidos criador for livre e/ ou intencional e a criança
indistintamente por cada criança, mas sim possa explorar diversas formas, cores e
códigos que podem não representar lógica matérias como: papel, tintas, pincéis, etc.
com as coisas, porém foram convencionados conforme sua vontade.
como aqueles que serão usados por todos.

O jogo, o brinquedo, o desenho e a escrita A IMPORTÂNCIA DO
permitem a formação da função simbólica, DESENHO NA AQUISIÇÃO
que possibilita a aprendizagem da última,
além de ser de fundamental importância na DA LINGUAGEM ESCRITA
relação de aprendizagem a interação com o A criança traz consigo as suas marcas
outro, que acarretará no desenvolvimento pessoais e suas experiências gráficas
do sujeito. Quando referimos ao brincar e representadas na sua primeira escrita, o
o desenho vale destacar que ambos estão desenho. Esta linguagem é encantadora para
inteiramente ligados. o universo infantil, que “dotada de prestígio
por ser secreta, “(...) exerce uma verdadeira
fascinação sobre a criança, e isso bem antes

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Revista Educar FCE - Abril 2019

dela própria poder traçar os verdadeiros seus registros e por meio dela transmitem os
signos” (MÈREDIEU, 2006, p.10). seus conhecimentos.

Assim, como apresenta o autor o desenho Aliada à criatividade, os desenhos
é essencial na vida de qualquer criança, pois traduzem o pensamento da criança, ela
é a ponte para instigar a sua imaginação e expressa no papel a sua subjetividade, os
permite que ela conheça as regras e práticas seus ideais, manifesta as alegrias e tristezas,
adotadas na sociedade em que vive. Acima impulsos e curiosidade.
de tudo, revela-se como a sua primeira
representação gráfica. Antes de aprender convencionalmente a
escrever, a criança se serve da sua produção
O interesse da criança em grafar sinais gráfica para se comunicar, o desenho é um
gráficos surge da observação do mundo alicerce importante para a aquisição da
adulto e da vontade de imitá-lo, sendo que: língua escrita da criança.
“[...] o meio em que a criança se desenvolve
é o universo adulto, e esse universo age O professor passa a ter uma importância
sobre ele na mesma maneira que o contexto significativa no processo educativo e na
social, condicionando-a ou alienando-a” criação artística, a criança passa a ter
(MÈREDIEU, 2006, p. 3). outros modelos gráficos e é nesse momento
que o professor deve propor atividades
O desenho aparece no mundo infantil significativas para o desenvolvimento
muito antes da criança ir à escola, é possível artístico e intelectual da criança.
que mesmo antes de entrar na escola a criança
já tenha tido contato com desenhos de seus O desenho realizado pela criança é o
familiares, com livros com gravuras, revistas, registro do gesto, o que constitui a passagem
jornais e outros meios de representação do gesto à imagem, que diz respeito ao
gráfica, portanto, grande maioria das crianças processo de representação.
já entra na escola com contato com os mais
variados tipos de desenhos (SILVA, 2002). Em seguida ocorre a nomeação, antes da
realização do desenho, transforma-se assim
Desde muito cedo, a criança utiliza o em simbólico por meio da linguagem oral.
lápis e o papel ou qualquer outro material
e superfície semelhante para registrar Neste momento de transição a criança
graficamente as suas marcas, seus traços, ou se dá conta de que é capaz de criar
imitar a escrita de um adulto. A imitação surge graficamente uma ideia mediante marcas
não como uma cópia, mas revela o desejo da deixadas no papel ou num suporte qualquer,
criança em produzir a sua própria escrita. aos poucos a criança introduz modificações
Desta vontade de representar, nascem os no desenho em razão do domínio crescente

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Revista Educar FCE - Abril 2019

dos movimentos, mas principalmente dos a Educação Infantil passa a fazer parte do
progressos representativos. currículo escolar da Educação Básica, junto
com o Ensino Fundamental e o Médio,
desligando-se, assim das secretárias de
DESENHO E A ESCRITA NO assistência social e atrelando-se as secretarias
CONTEXTO DA EDUCAÇÃO de educação municipais e partindo da ideia
da criança ser completo, singular e único.
INFANTIL
A educação e os cuidados das crianças Atualmente, a criança vai à escola cada
por muitos séculos ficaram somente sobre a vez mais cedo, a independência financeira
responsabilidade da família, principalmente das mães e a ascensão no âmbito profissional
das mães ou mulheres da família. Com as deixa a cargo da escola a responsabilidade
mudanças sociais, principalmente a revolução de educar integralmente o seu filho.
industrial, as mulheres foram levadas a sair de
casa em busca de trabalho, surgindo assim, No ambiente escolar ou familiar que a
a necessidade de um espaço que pudesse criança ficará boa parte do seu tempo, e
amparar os filhos das mães trabalhadoras. são estes lugares que deverão proporcionar
experiências significativas para o seu
[...] a concepção de infância é, portanto, uma desenvolvimento.
construção social e histórica e varia de acordo
com a organização da sociedade. As mudanças
ocorridas na Educação Infantil estão ligadas a Nesse processo de aprendizagem e
fatores políticos e econômicos, nos séculos XV e processo criativo, o desenho será o ponto de
XVI, novos modelos educacionais foram criados
para contrapor aos desafios constituídos pelo partida. Desenhar, para uma criança torna-se
modo como a sociedade europeia se desenvolvia algo tão natural e prazeroso quanto o brincar.
(OLIVEIRA, 2002, p 28).
E é do entusiasmo do educador que nasce o
Nesse período a educação torna-se área brilho dos olhos das crianças, “Pois o educador
de pesquisa e debate teórico. Podemos é aquele que prepara uma refeição, que propõe
destacar a promulgação da Constituição a vida em grupo, que compartilha o alimento,
Federal (BRASIL, 1988) do Estatuto da que celebra o saber. “(MARTINS, 1998 p. 129)
Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990)
e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Diante dessa afirmação o principal papel
Nacional LDB nº 9.394/96 (BRASIL, 1996). nesse processo é do professor, pois as
crianças estão em constante procura do novo,
A Constituição Federal (BRASIL, 1988) experimentam, inventam, têm seus olhares
passa, então, a reconhecer o dever do Estado curiosos a respeito do mundo, descobrem
e o direito da criança a ser atendida, em novas possibilidades, tem necessidade de tocar
creches e pré-escolas, e consequentemente em objetos e descobrir diferentes sensações.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Na Educação Infantil desenhar é o ponto de partida da aquisição da linguagem escrita,


mas também de um processo artístico.

Para Vygotsky “(...) desenhar e o brincar deveriam ser estágios preparatórios ao
desenvolvimento da linguagem das crianças” (VYGOTSKY, 1988, p.134), o desenho da criança
é o seu meio de expressão, ele é necessário para aquisição da escrita, mas a alfabetização
deve ser introduzida naturalmente a este processo, pois assimilam com mais facilidade a
relação existente entre o desenho e a escrita.

Entretanto, nenhuma criança desenha para passar o tempo, embora muitos adultos
pensem assim.

O que se passa na mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem
secreta, que devemos respeitar mesmo que não a entendemos (BETETTELHEIM,1988, p.65).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve a intenção de analisar a
contribuição do desenho infantil na aquisição da escrita da
criança na Educação Infantil.

Salientando a importância das diferentes linguagens para
o desenvolvimento integral da criança e o desenho é o ponto
de partida para a aquisição da escrita, surge como a vontade
de imitar o adulto.
MAYRA ROSANNA
O desenho na Educação Infantil, antecede à aprendizagem AMADASI
da escrita convencional e, por isso, ele é a primeira forma
Graduação em Pedagogia pelo
de representação gráfica utilizada pela criança para se Centro Universitário Fundação
comunicar. Santo André (2003); Especialista
em Educação Infantil pela
Faculdade Campos Elíseos (2018);
A partir dos estudos apresentados e discutidos Professora de Educação Infantil
anteriormente, é possível concluir que o desenho infantil no CEI Santa Teresa.
enquanto linguagem gráfica e artística contribui não só para
o brincar, como também para o desenvolvimento da escrita.

Este trabalho nos possibilitou refletir sobre a importância do desenho para a aquisição da
escrita, e a redução do mesmo quando a criança está no processo de alfabetização, devido
à importância que a escola atribui à alfabetização.

Vale destacar que esse processo de aprendizagem, no qual as duas linguagens são
inseridas, não se pode deixar de lado o papel do professor e sua metodologia, que tem um
papel fundamental de desenvolver as propostas e atividades educativas, as quais valorizem
os conhecimentos e as diferentes linguagens já vivenciadas e construídas pela criança, como
também, criar um ambiente que possa valorizar as produções gráficas infantis e o desenho
produzido por ela.

É importante compreender que é por meio do desenho que a criança pode se expressar,
comunicar e atribuir sentido aos seus sentimentos, pensamentos e sensações.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.
BRASIL. Lei de Diretrizes e bases da educação brasileira LDB 9694/96.1996

BETTELHEIM, Bruno. Uma vida para seu filho: Pais bons o bastante. Rio de
Janeiro:Editora Campus, 1988.

MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Mª. Terezinha Telles. Didática do
ensino de arte: a língua do mundo: Poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998.

MERÉDIEU, Florende de. O desenho infantil. São Paulo: Cultrix, 2006.

OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,
2002.

SILVA, S.M.C. A constituição social do desenho da criança. Campinas: Mercado das Letras,
2002.

VIEIRA, Leni Dornelles. Na escola infantil todo brinca se você brinca. In: CRAIDY, Carmem
Maria; KAERCHER, Gládis Elise. Educação Infantil: Pra que te quero? Porto Alegre: Artmed,
2001.

VYGOSTKY, Lev. Linguagem e desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone/EDUSP,


1988

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Revista Educar FCE - Abril 2019

JOGOS TEATRAIS NA SALA DE AULA:


AFETIVIDADE, CRIATIVIDADE E
APRENDIZAGEM
RESUMO: Os jogos teatrais envolvem a contação de histórias, o faz-de-conta, a imaginação,
a criatividade, a afetividade, além de outros elementos importantes para a formação do
indivíduo no seu contexto geral. Em se tratando da criança, a capacidade de imaginar e
criar favorece a construção da aprendizagem de forma interativa e dinâmica. Por meio das
dramatizações, a criança aprende a lidar melhor com suas ansiedades, favorecendo sua
autoconfiança, as relações sócio-afetivas e consequentemente a aprendizagem. Na transição
do ensino infantil para o ensino fundamental I e em seguida para o ensino fundamental II
ocorrem mudanças metodológicas e pedagógicas que restringem as possibilidades da criança
construir seu conhecimento por meio de atividades lúdicas e arte-educativas. Devido a isso,
se faz necessário conhecer e descobrir o teatro como forma de expressão artística e cultural,
com sua função transformadora e educativa. Para entender como os jogos teatrais podem
ser utilizados para favorecer a aprendizagem, a criatividade e a socialização da criança no
ambiente escolar, é necessária pesquisa bibliográfica em várias fontes. Os tópicos desse
artigo de revisão se dividem de acordo com a problematização do assunto, enfocando
inicialmente como a afetividade pode interferir no processo educacional de crianças do 1º ao
7º ano do ensino fundamental e a importância do jogo para essa faixa etária. Finalmente será
abordada a utilização de jogos teatrais no ambiente escolar, como recurso para intervenção
e superação das dificuldades de relacionamento e aprendizagem.

Palavras-Chave: Jogos teatrais; Criatividade; Afetividade; Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O TEATRO E O UNIVERSO Iniciamos este trabalho com as abordagens


INFANTIL dos principais autores que influenciaram as
teorias de aprendizagem, principalmente no
O amplo repertório de jogos tradicionais que concerne à aprendizagem infantil e a
populares, como brincadeiras de rua, cantigas importância da afetividade nesse processo.
de roda, jogos, charadas e advinhas sempre Em seguida são apresentadas relações entre
representou um importante instrumento teatro, infância e educação, enfatizando
de aprendizagem através da ludicidade na o faz-de-conta como meio através do qual
infância, desenvolvendo também as relações a criança interage com o mundo real e
interpessoais (KOUDELA e SANTANA, imaginário.
2005). Com o advento da tecnologia,
ocupação dos espaços livres e o aumento Para introduzir os estudos sobre os jogos
da violência nas cidades, essas atividades teatrais na sala de aula, é necessário ter a
foram substituídas por jogos eletrônicos, dimensão da importância do jogo para a
diminuindo a interação entre as crianças. criança. Esse tema foi amplamente estudado
Assim, a escola se constituiu em um espaço por pesquisadores como Jean Piaget, que
privilegiado para o desenvolvimento de relacionou o desenvolvimento cognitivo do
atividades lúdicas com o intuito de favorecer indivíduo com a formação do símbolo, ou
o processo de aprendizagem, desenvolver a seja, com a função simbólica ou semiótica.
criatividade e incentivar a socialização e a
cooperação. As obras de Viola Spolin, Olga Reverbel e
Ingrid Koudela, permitem a abordagem de
Foi imprescindível, neste artigo, mostrar a jogos teatrais e das atividades relacionadas
importância das atividades arte-educativas do ponto de vista de suas possibilidades
e o quanto estas desenvolvem os aspectos práticas no cotidiano escolar. As atividades
afetivo, psicomotor e cognitivo do indivíduo, propostas por essas autoras são flexíveis,
assim como sua autoexpressão, para que permitindo que o professor possa adaptá-
possa atuar efetivamente no mundo de las de acordo com as necessidades dos
forma a opinar, criticar e sugerir (REVERBEL, alunos. Segundo Spolin (2008, p. 20) “as
1989). As histórias e o faz-de-conta também habilidades de comunicação, desenvolvidas
são elementos que fazem parte do imaginário e intensificadas por meio de oficinas de
infantil, por isso não é exagero afirmar que jogos teatrais com o tempo abrangem outras
o teatro está intimamente relacionado com necessidades curriculares e a vida cotidiana”.
o universo da criança. Isso ocorre porque a
sensibilidade infantil para com as histórias e Esse artigo objetiva, fundamentalmente,
para com as artes cênicas é muito aguçada verificar as possibilidades de utilização de
jogos teatrais no ambiente escolar, como
ferramenta importante no processo ensino-

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Revista Educar FCE - Abril 2019

aprendizagem de crianças do 1º ao 7º ano do O INTERACIONISMO


ensino fundamental, tendo como referência CONSTRUTIVISTA DE PIAGET
a formação de um sujeito afetivo, autônomo,
cooperativo, crítico e solidário. Jean Piaget é o representante de um novo
paradigma que entende o desenvolvimento
humano como uma construção que ocorre
AFETIVIDADE E EDUCAÇÃO em etapas, de acordo com a maturação
do sistema nervoso do indivíduo e da
Na pedagogia tradicional, alunos e sua interação com o meio físico e social
professores tinham seus papéis definidos. (MEC, 2005). “Para ele, o homem aprende
O diálogo ocorria na vertical e o professor assimilando a realidade e acomodando os
atuava como detentor do saber com o papel esquemas e operações de sua mente para
de transmitir o conhecimento para os alunos; novas assimilações” (FALCÃO, 1995, p. 201).
estes o recebiam de forma passiva, sem que
sua capacidade de sentir, compreender, Sobre a afetividade na teoria piagetiana,
raciocinar, contestar, deduzir, fantasiar, Battro (1976, p. 36) afirma que “Piaget
ter desejos, imaginar, fosse considerada. apresenta o desenvolvimento da afetividade
Já a pedagogia nova, deslocando o centro em íntima correlação com o da inteligência”.
de interesse para o aluno, questionou O autor explica ainda que:
profundamente o princípio da autoridade
da pedagogia tradicional (MEC, 2005; O interesse maior da teoria piagetiana é que
nas condutas relativas a objeto quaisquer e
GADOTTI, 2002). nas condutas relativas a pessoas, se encontram
elementos e operações tanto cognitivas como
Com as concepções sobre aprendizagem afetivas. Nas condutas relativas a objetos
quaisquer, descobrimos todas as estruturas
e desenvolvimento e as mudanças de próprias da inteligência e também os elementos
paradigma de infância, a educação se energéticos, interesses, esforços, etc., que
transformou. Para podermos estabelecer os constituem os afetos intraindividuais. Nas
condutas relativas a pessoas observamos a
parâmetros educativos da criança de hoje, estruturação lógica das relações inter-individuais,
“precisamos enxergá-la em três dimensões: tomada de consciência, descentração, etc., que
a corporal, a afetiva e a cognitiva, que se expressa afetivamente pelas estruturas de
valor. (BATTRO, p.342).
devem desenvolver-se simultânea e
concomitantemente” (LOPES, 2002, p.19).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O INTERACIONISMO processo existem predominância afetivas


HISTÓRICO-SOCIAL DE e cognitivas de forma alternada (GALVÃO,
1995).
VYGOTSKY
A interpretação do desenvolvimento Dantas (apud LA TAILLE, 1992, p. 85)
do ser humano na abordagem histórico- esclarece que “na psicogenética de Henri
social, permite uma nova perspectiva dos Wallon, a dimensão afetiva ocupa lugar
aspectos afetivos e cognitivos. De modo central, tanto do ponto de vista de construção
que pensamento e sentimento não estão da pessoa quanto do conhecimento”. Na obra
se desenvolvendo de forma isolada e walloniana, a afetividade e a inteligência
independente (LEITE e TASSONI, s/d). constituem um par inseparável na evolução
psíquica, pois ambas têm funções bem
Vygostky denunciou a distinção que havia definidas e quando integradas, permitem a
entre emoção e cognição, demonstrando criança estabelecer níveis de evolução cada
a necessidade de se fazer estudo sobre o vez mais elevados (ALMEIDA, 1999, p.51).
desenvolvimento da afetividade. Tomou
como base de seus estudos sobre o tema, Segundo Leite e Tassoni (s/d)
experimentos de pesquisadores da época,
através dos quais procurou traçar uma nova Observa-se que Wallon e Vygotsky têm
muitos pontos em comum, em se tratando da
forma de entender as emoções humanas afetividade. Ambos assumem o seu caráter social
(LEITE e TASSONI, s/d) e têm uma abordagem de desenvolvimento para
ela, demonstrando, cada um à sua maneira,
que as manifestações emocionais, portanto de
caráter orgânico, vão ganhando complexidade,
A CONCEPÇÃO HUMANISTA passando a atuar no universo do simbólico.

DE WALLON Dessa maneira, ampliam-se as formas de


manifestações, constituindo os fenômenos
afetivos. Da mesma forma, defendem a íntima
Henri Wallon desenvolveu a psicogênese relação que há entre o ambiente cultural/social
da pessoa completa, pois propõe o “estudo e os processos afetivos e cognitivos, além de
afirmarem que ambos interrelacionam-se e
integrado do desenvolvimento, ou seja, que influenciam-se mutuamente.
este abarque os vários campos funcionais
nos quais se distribui a atividade infantil
(afetividade, motricidade e inteligência)” É muito importante para o
(GALVÃO, 1995, p.32). desenvolvimento afetivo e cognitivo do
indivíduo a implementação de ações que
Para Wallon o desenvolvimento do permitam sua autonomia e pensamento
indivíduo se dá como uma construção crítico independente, no decorrer da sua
progressiva, constituída por fases ou estágios interação com o meio e com o grupo. A
de modo descontínuo e assistemático. Nesse partir dessa interação a criança desenvolve

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sua identidade, personalidade e autoimagem TEATRO E EDUCAÇÃO


positiva (FRIEDMANN, 1996).
Ao longo da história ocidental há registros
Com relação aos meios sociais de da utilização do teatro como “entretenimento,
desenvolvimento da afetividade, Almeida expressão cultural, transmissão de
(1999, p.104) afirma que a família representa informações para doutrinação religiosa ou
um papel singular no desenvolvimento reflexão política, estímulo da criatividade,
infantil; “precedendo sua capacidade de técnica psicoterapêutica e ferramenta
escolha, constitui-se no primeiro grupo da pedagógica” (NEVES e SANTIAGO, 2010,
criança no qual ela satisfaz suas necessidades p.16).
básicas e obtém as primeiras condutas
sociais”. Neves e Santiago (2010, p.27), destacam
ainda:
Como um ambiente social importante
e diferente da família, a escola representa Historicamente, ao que consta, o teatro
brasileiro nasceu à sombra da religião católica.
um espaço legítimo para construção da O grande representante desse movimento foi
afetividade, pois propicia interações e o padre jesuíta José de Anchieta, através de
experiências diversas entre as crianças. seus textos dramáticos, geralmente escritos
em versos de ritmo popular e mesclados pelo
Essas interações diretas e indiretas são idiomas, espanhol, português e tupi, devido a
muito importantes para o desenvolvimento heterogeneidade de seu público.
global do indivíduo. De outra forma, a escola
estaria negligenciando e subestimando seu As autoras Neves e Santiago (2010, p.27),
papel de formação do indivíduo, sujeito do ressalvam a importância das manifestações
conhecimento e do afeto (ALMEIDA, 1999). dos povos indígenas da costa do Brasil,
mesmo antes da chegada dos Jesuítas
Diante desse contexto “O professor deve
procurar utilizar as emoções como fonte de Estes por meio de ritos e encenações míticas
que exerciam sua funções culturais, no âmbito
energia e, quando possível, as expressões da tradição, transmitiam (e ainda transmitem)
emocionais dos alunos como facilitadoras conhecimentos e comportamentos aos membros
do conhecimento. É necessário encarar o mais jovens das tribos, caracterizando, assim, um
comportamento dotado de função educativa.
afetivo como parte do conhecimento já que
ambos são inseparáveis” (ALMEIDA, 1999, “Em um estágio posterior, iniciou-se
p.103). a integração entre a arte e a prática da
religião por meio das festividades, com a
interpenetração da cultura europeia, por
meio do teatro, e com a cultura indígena,
por meio da música e da dança” (NEVES e
SANTIAGO, 2010, p. 28).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Com a chegada da família real no Brasil, Segundo Oliveira (1997, p. 66)


inicia-se a fundação de escolas que incluem
o ensino de artes, como mostram Neves e Quando Vygotsky discute o papel do brinquedo,
refere-se especificamente à brincadeira de faz-
Santiago (2010, p. 29): “Em 1816 é criada de-conta, como brincar de casinha, brincar de
a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, escolinha, brincar com um cabo de vassoura
transformada em 1820 na Academia de Artes, como se fosse um cavalo. Faz referencia a outros
tipos de brinquedo, mas a brincadeira de faz-de-
dedicada ao ensino, produção e estudo das conta é privilegiada em sua discussão sobre o
artes plásticas”. papel do brinquedo no desenvolvimento.

Jupiassu (1998, p. 3) diz que “o ensino do A construção de significados sociais,


Teatro na educação escolar básica nacional por meio do faz-de-conta, faz parte de
foi formalmente implantado há cerca de um complexo processo de elaborações
quase trinta anos no âmbito dos conteúdos internas da criança. Esse importante
abrangidos pela matéria Educação Artística”, instrumento para a cultura da infância e do
oferecida obrigatoriamente por força da Lei ser criança é essencial para a representação
5692/71. e a compreensão do mundo que a cerca
(JUPIASSU, 2007).
Com a ampla divulgação do novo
paradigma do desenvolvimento humano, por Sobre isso, Courtney (apud Neves
volta da década de 1990, o modelo histórico- e Santiago, 2009, p.15) sugere que “a
cultural de Vygostky influenciou as práticas dramatização se inicia na infância, logo
pedagógicas formais e não-formais no meio quando a criança entra em contato com os
educacional brasileiro. Fato este que se desconhecidos do mundo externo, jogando
refletiu nos estudos sobre as interrelações com ele até que possa compreendê-lo”.
entre Teatro e Educação (JUPIASSU, 1998,
p. 4). Jupiassu (2007, p. 29) explica “a
inexistência de uma terminologia unificada
e consensual para designar o faz-de-conta”.
O TEATRO E A INFÂNCIA
Termos como “jogo infantil” (Freud), “jogo
simbólico” (Piaget), “brinquedo” (Vygotsky), “jogo
Para Jupiassu (2007, p.45): de papéis” (Elkonin), “jogo dramático” (Peter
Slade), “dramatização” e até mesmo, “teatro
A compreensão das origens histórico-culturais infantil” têm sido utilizados para se referirem
do faz-de-conta permite visualizar, com clareza, as ações representacionais cênicas de natureza
a importância dessa forma de atuação lúdica lúdica da criança.
na impregnação cultural da criança. Esse tipo
de brincadeira conduz ao aprendizado social e,
consequentemente, implica desenvolvimento
cultural (grifo do autor).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

E ainda complementa: Para Rosseau (apud Almeida, 2003,


p.18) “seria conveniente dar à criança
O faz-de-conta é uma atividade psicológica a oportunidade de um ensino livre e
altamente complexa, apoiada em uma função
psíquica superior; a imaginação criadora espontâneo, pois o interesse geraria alegria
é acionada nessa atividade lúdica pela e satisfação”. Sobre o papel do jogo na teoria
impossibilidade de satisfação instantânea de piagetiana, Neves e Santiago (2009, p. 57)
desejos do sujeito; o faz-de-conta articula,
no sujeito, as dimensões: afetivo-emocional, explicam que:
psicomotora, sociocomunicativa e cognitiva; a:
o mesmo tempo em que a imaginação criadora O jogo está diretamente ligado às fases do
é condição necessária para O faz-de-conta, ela desenvolvimento da criança e à sua relação
é constituída, fortalecida e ampliada por ele com o mundo do conhecimento, uma vez
(JUPIASSU, 2007, p. 33-34). que propõem constantes desequilíbrios e
adaptações, caracterizando o mecanismo
denominado por Piaget como equilibração
Slade (apud Jupiassu, 2007, p. 34) “refere- majorante. Neste sentido, as contribuições de
se a duas formas distintas de conduta lúdica Piaget atingem muito mais o âmbito pedagógico
da criança. Essas modalidades de faz-de- que o terapêutico (da subjetividade).

conta foram denominadas por ele de: jogo


pessoal e jogo projetado”. O autor esclarece Complementam Koudela e Santana (2005,
que em sua obra: p. 148)

O jogo pessoal “se denomina faz-de-conta com A evolução do jogo na criança se dá por fases
personificação e diz respeito ao engajamento que constituem estruturas de desenvolvimento
ativo (corporal) da criança em papéis de da inteligência: jogo sensório-motor, jogo
representações cênicas de natureza lúdica, simbólico e jogo de regras. O jogo de regras
tanto solitárias como em grupo. O faz-de-conta aparece por volta dos sete/oito como estrutura
projetado refere-se à brincadeira na qual a de organização do coletivo e se desenvolve até a
criança se utiliza de brinquedos “animados” por idade adulta nos jogos de rua, jogos tradicionais,
intermédio de manipulações (JUPIASSU, 2007, folguedos populares, danças dramáticas. O
p.35). jogo de regras favorece a aprendizagem da
co-operação, no sentido piagetiano. Na teoria
biológica de Piaget, o processo de equilibração
é promovido pela relação dialética entre a
A IMPORTÂNCIA DO JOGO assimilação da realidade ao eu e a acomodação
do eu ao real.
NO DESENVOLVIMENTO
DA CRIANÇA Tomando como referência a visão do
“Na Grécia antiga um dos maiores construtivismo sócio-histórico, Neves e
pensadores, Platão, afirmava que os primeiros Santiago (2010, p. 59) destacam que se
anos da criança deviam ser ocupados com pode pensar a função educativa do jogo em
jogos educativos praticados em comum “sua possibilidade em mediar oportunidades
pelos dois sexos” (ALMEIDA, 2003, p. 19). de desenvolvimento cognitivo (funções
psicológicas superiores) por meio de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

elementos simbólicos, oferecidos pela troca ESTRUTURA DOS JOGOS


social, no seio da cultura”. TEATRAIS
Elementos importantes para a construção “Onde: cenário e ou ambiente; Quem:
da autonomia, criticidade e cooperação personagem e ou relacionamento; O que:
podem ser fomentados por meio de jogos. ação de cena atividade”. (Spolin, 2008, p. 48).
Particularmente o jogo partilhado representa Outro importante conceito nos jogos
uma possibilidade de maior interação teatrais de Spolin é o foco, que está
entre as crianças, pois essa prática propicia relacionado ao problema apresentado na
comunicação de forma verbal e não verbal, área do jogo, tanto aos jogadores atuantes
além de oportunizar a assunção de vários quanto aos jogadores da plateia. Os jogadores
papéis, inclusive o de se colocar no lugar do da plateia expõem suas observações sobre
outro (FRIEDMANN, 1996). o jogo, o que fomenta debates entre todos.
Nesse processo o jogo teatral favorece o
desenvolvimento de habilidades físicas,
JOGOS TEATRAIS mentais e perceptivas, além disso, a formação
de pessoas críticas, cooperativas e abertas ao
Tomando como base a estrutura dos jogos diálogo, pois a solução do problema deve ser
com regras, a autora americana Viola Spolin encontrada em grupo e não solitariamente
elaborou e aplicou técnicas de ensino do (SANTOS e FARIA, 2010; SPOLIN, 2008).
Teatro, em contextos formais e não-formais
de educação. Através dos seus livros, de suas Sobre isso, Lemos (1968) afirma que as
práticas e de suas pesquisas com indivíduos crianças têm a oportunidade de vivenciar a
de diversas faixas etárias, Spolin demonstrou cooperação; partilhar ideias, informações
que seu sistema de aprendizagem teatral, e materiais. Além disso, desenvolvem a
denominado jogos teatrais pode ser ensinado tolerância recíproca e o hábito de saber ouvir
e aprendido por qualquer pessoa (JUPIASSU, e opinar, de fazer crítica com objetividade e
1998). recebê-las com discernimento. Hábitos esses
despertados pelo interesse de realizar uma
Sobre isso explicam Koudela e Santana tarefa em comum, onde é necessário debater
(2005, p. 149): e decidir questões relativas a planejamento,
execução e avaliação dos trabalhos.
No jogo teatral, pelo processo de construção
da forma estética, a criança estabelece com
seus pares uma relação de trabalho em que a Os jogadores são organizados em times
fonte da imaginação criadora – o jogo simbólico para a execução dos jogos teatrais. De
– é combinada com a prática e a consciência acordo com a atividade exigem um número
da regra de jogo, a qual interfere no exercício
específico de jogadores por time. Os times
artístico coletivo.
devem ser escolhidos aleatoriamente com

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o teatro aplicado à educação possui o papel de


o intuito de evitar sofrimento, a dúvida e mobilização de todas as capacidades criadoras
a solidão que, na maioria das vezes, surge e o aprimoramento da relação vital do indivíduo
quando os jogadores aguardam o chamado com o mundo contingente.

do professor ou do capitão do time (SPOLIN,


2008, p. 40). Com relação às diferenças entre jogos
teatrais e jogos dramáticos Neves e Santiago
A comunicação é bastante privilegiada (2010, p.74) entendem que “tanto no jogo
durante os jogos teatrais, pois o jogador dramático, quanto no jogo teatral o processo
precisa utilizar não somente as palavras, mas de representação dramática ou simbólica, na
também o corpo para se expressar e se fazer qual se engajam os jogadores desenvolvem-
entender. Nesse processo é necessária a visão se na ação improvisada” e argumentam que
analítica e global dos fatos e sentimentos, pois na sua obra usam o termo jogos teatrais por
para a representação é preciso criar gestos, serem direcionados aos observadores, ou
ritmos, sons e movimentos próprios. Assim, seja, a plateia. Já nos jogos dramáticos todos
a criança tende a respeitar o outro, pois se participam da ação criadora, ou seja, todos
habitua a ver e ser vista, a ouvir e a responder, são atores.
a compreender e ser compreendida (FAURE,
1982; LEMOS, 1968). Merece destaque certa polêmica com
relação aos conceitos e métodos que
envolvem jogos dramáticos e jogos teatrais.
OS JOGOS DRAMÁTICOS Alguns autores, pesquisadores e professores
da área teatral defendem que eles são
A pedagoga, diretora, atriz e teatróloga, sinônimos, outros acreditam que os jogos
Olga Reverbel desenvolveu a chamada dramáticos estão mais relacionados à
“Pedagogia da Expressão” com orientações improvisação. Apesar de constatar diferenças
práticas para estimular o aluno a expressar conceituais e procedimentais entre jogos
suas ideias, pensamentos, desejos e anseios. dramáticos e jogos teatrais a professora
Segundo Reverbel, dessa forma é possível Olga Reverbel, usa o termo jogos dramáticos
explorar a capacidade de relacionamento, (REVERBEL,1989).
espontaneidade, imaginação, observação e
percepção (NEVES e SANTIAGO, 2010). Recorrendo às definições de vários autores
a respeito de jogos dramáticos, Reverbel
Cavassin (2008, p. 41) explica: conclui que os pontos em comum entre
eles, diz respeito à importância dos jogos
Olga defende ainda que na infância tem- dramáticos para facilitar a capacidade de
se a necessidade de brincar, jogar para
se orientar no espaço, pensar, comparar, comunicação e expressão dos alunos; verifica
compreender, perceber, sentir para descobrir também que a base dos jogos dramáticos é a
o mundo, integrar-se com o meio, construir o improvisação (REVERBEL, 1989).
conhecimento e a socialização. Nessa concepção,

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ATIVIDADES TEATRAIS NA “teatro, música, artes plásticas, dança,


SALA DE AULA mímica, literatura, história, geografia, assim
como temas religiosos, políticos e sociais”
Segundo Spolin (2008, p.75) (REVERBEL, 1989, p. 40).

Jogar unifica e aprimora o instrumento de Segundo Lemos (1968, p. 5), é possível
corpo e mente como um todo. Permitindo o fazer representação dramática “aproveitando
confronto consigo mesmo e com os outros. todas as matérias do currículo, até matemática
Um ser humano único caminha galgando e ciências naturais; e não há dúvida de que
novos degraus na vida onde vemos, tais disciplinas adquirirão outro interesse
ouvimos, cheiramos, tocamos, pensamos, para o aluno, se precedidas por tal recurso
comunicamos, trabalhamos, vivemos, somos! motivador”.
Os jogos teatrais podem intensificar e alertar
a percepção, servindo às necessidades Mas o que, sobretudo a torna valiosa, nesse
curriculares. sentido, é a oportunidade que oferece de
fixar o hábito de pensar reflexivamente, com
“Jogos teatrais experimentados na sala de aula lógica, bom senso e profundidade; partindo do
devem ser reconhecidos não como diversões
que extrapolam necessidades curriculares, mas problema, procurando soluções, testando-as
sim, como suportes que podem ser tecidos no e chegando a generalização (LEMOS, 1968).
cotidiano, atuando como energizadores e/ou
trampolins para todos” (SPOLIN, 2008, p. 20).
Para introduzir essas atividades no
ambiente escolar, deve-se pensar também,
Os jogos dramáticos podem começar no espaço adequado para que as atividades
na educação infantil através de atividades não fiquem restritas, inclusive devido ao
relacionadas ao desenvolvimento psicomotor, ruído produzido. Os jogos devem ocorrer
pois a expressão corporal é essencial não num ambiente que propicie a liberdade que
somente para o aquecimento, mas também as atividades pedem. É necessário espaço
para o desenvolvimento experiências para, correr, gritar e acomodar os jogadores
dramáticas (FAURE, 1982). atuantes e jogadores na plateia. A área do jogo
irá variar de acordo com as necessidades do
Reverbel (1989) explica que por meio jogo escolhido, ou seja, os jogos dramáticos
das atividades de expressão como jogos e suas atividades relacionadas não podem
dramáticos, musicais ou plásticos, o aluno ocorrer em ambientes constrangidos (FAURE,
poderá expressar seus pensamentos e 1982; SPOLIN, 2008).
sentimentos, de forma mais eficiente,
utilizando a expressão corporal e vocal. A Faure (1982, p.15) explica como o papel
autora demonstra ainda que as chamadas do professor, a partir da prática de jogos
atividades globais de expressão congregam dramáticos na sala de aula, é redimensionado

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Dá a matéria prima e o ponto de partida, organiza


o espaço, distribui eventualmente os papeis, no tempo-limite estabelecido e com os
colabora na procura de vestuário e adereços, focos previamente combinados (REVERBEL,
acompanha e corrige o desenvolvimento do 1989).
jogo interior (principalmente com os pequenos),
dirige-se à personagem que a criança representa
e não ao aluno. Se o jogo se prolonga demasiado “A avaliação não é crítica. Avaliação (assim
ou as crianças se enervam, deve interromper como a instrução) cresce a partir do foco que
com suavidade e restabelecer cuidadosamente
a calma. é restabelecido a partir de perguntas dirigidas
tanto para os jogadores atuantes quanto
É necessário que o professor conduza o para os jogadores da platéia” (SPOLIN, 2008,
processo do jogo teatral, pois também se p. 32).
configura uma oportunidade de participação
no jogo. Para isso, deve eliminar os excessos Existem vários tipos de jogos teatrais:
de comentários e direcionamentos que
podem confundir os jogadores, inibir a ação Jogos de aquecimento: são importantes
e a espontaneidade. É importante enfatizar principalmente para início das atividades.
também a importância de diferenciar os Favorecem o entrosamento do grupo.
barulhos gerados pela canalização da energia
liberada através do jogo e o barulho que Jogos de movimentos: esses jogos
nasce da desordem (SPOLIN, 2008). permitem a exploração do ambiente, a
liberação de gestos e de energia. Com isso a
No livro, “Jogos teatrais na escola - liberação do pensamento e das ideias ocorre
Atividades globais de expressão”, Olga pela necessidade de criar movimentos e
Reverbel expõe seu rico trabalho que gestos.
consiste na utilização de conjuntos de
atividades (relacionamento, espontaneidade, Jogos de transformação: esses jogos
imaginação, observação e percepção) com tornam o invisível, visível. Os jogadores
crianças e adolescentes. A autora orienta a criam através imaginação objetos, coisas ou
aplicação gradual das atividades no cotidiano personagens com os quais devem interagir de
escolar, além de reforçar que o professor improviso, de forma que a plateia identifique
poderá aplicar as atividades com liberdade perceba o que o jogador pretende transmitir.
de estabelecer outra ordem que melhor
atenda às necessidades e características dos Jogos sensoriais: pretendem desenvolver
alunos (REVERBEL, 1989). concentração e a consciência sensorial, a fim
de compreender o foco daquela situação.
Quanto à avaliação, a discussão após
as atividades é muito importante, através Jogos parte de um todo: Esse tipo de
dela, os jogadores perceberão se o tema jogo teatral funciona como um fio condutor
proposto foi desenvolvido com coerência, do processo de jogos teatrais. Quando

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Revista Educar FCE - Abril 2019

os jogadores entendem que fazem parte de um todo, são envolvidos pelo jogo junto aos
jogadores da plateia. Dessa forma colabora-se com a formação de um cidadão cooperativo,
tolerante e crítico (SANTOS e FARIA, 2010; SPOLIN, 2008).

A partir do desenvolvimento dessas atividades percebe-se que o teatro aplicado à educação


possui o papel de mobilização e fomentação de todas as capacidades criadoras. As atividades
dramáticas humanizam o indivíduo e propiciam a aplicação e a integração do conhecimento
adquirido nas demais disciplinas da escola e, principalmente, na vida (CAVASSIN, 2008).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a obrigatoriedade do ensino fundamental de nove
anos e o novo paradigma sobre como ocorre a aprendizagem
na infância, a escola precisa rever suas práticas, tempos e
espaços.

As crianças estão entrando nessa modalidade de ensino


com seis anos de idade e ainda precisam atuar em seu
mundo real por meio da fantasia, através da qual aprendem
a se expressar. Por isso, na educação infantil os jogos e
brincadeiras são muito utilizados. Através deles as crianças
descobrem e experimentam novas habilidades importantes MICHELINE SALIME
no domínio do mundo que a cerca, além de influenciar SOUZA CORRÊA
positivamente nas suas relações interpessoais
Graduação em Ciências, com
habilitação em Química, pela
Esses fatos exigem um olhar atento para a questão da Universidade Federal do Pará
aprendizagem de crianças, assim como o cuidado que se deve (1998); Graduação em Pedagogia
pela UNIBAN-SP (2010);
ter para que o processo de migração da educação infantil Especialista em Psicopedagogia,
para o ensino fundamental não se torne traumático. Devido pela UNINOVE-SP (2012);
a isso, entende-se que existe a necessidade de explorar a Professora de Ciências do Ensino
Fundamental II, da prefeitura de
utilização de jogos teatrais nas escolas, com o intuito de São Paulo, desde 2002.
entender e intervir no universo infantil, para ajudar a criança
no processo de aprendizagem e socialização.

Para que o brincar cumpra sua função pedagógica, é essencial que a escola intervenha
nesse processo por meio de situações planejadas, otimização do espaço físico e estratégias
que proporcionem liberdade para que o professor possa abordar os componentes curriculares
através de jogos teatrais.

A inserção do teatro dentro da escola pode ocorrer inicialmente em forma de oficinas


teatrais, com caráter multidisciplinar. Assim será possível a transformação, não somente da
sala de aula, mas também de vários espaços da escola em espaços cênicos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
NA FORMAÇÃO DE LEITORES
RESUMO: Esta pesquisa teve como objetivo compreender de que forma a contação de
histórias contribui no processo formação de leitores a partir do questionamento de como
esta prática colabora de forma significativa na apreciação pelo ato de ler. Para tanto, foi
realizado um estudo bibliográfico a partir de análises e estudos. Regina Machado, Gislayne
Avelar de Matos, Paulo Freire entre outros autores e autoras fundamentaram as concepções
apresentadas neste estudo. Foi possível concluir que as crianças, a partir do momento de
contar histórias, se constroem, produzem culturas e tem acesso ao mundo do imaginário,
se repertoriando contribuindo para que elas construam seu significado de mundo, e isso
proporciona o gosto pelo ler, estimulando esta pratica. As crianças, por meio da contação
de histórias, podem organizar maneiras diferentes de pensar o mundo que as cerca, dar
“lugar” à imaginação, ao lúdico, às brincadeiras, as formas de organização entre elas. Ouvir
histórias é essencial na formação das crianças e do adulto leitor, pois é um dos primeiros
contatos que elas estão tendo com o mundo letrado, mesmo que não saibam ler as palavras
convencionalmente.

Palavras-Chave: Criança; Contação de história; Leitor; Leitura.

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INTRODUÇÃO Considerando que contar histórias é uma


atividade inerente as atividades educativas,
O processo de construção e formação de a pesquisa visa como objetivo identificar
leitores se inicia muito antes da efetivação quais os efeitos da contação de história para
da leitura convencional. As relações que as aprendizagens dos alunos e como esta
a criança estabelece com o meio e com atividade contribui no processo de formação
o outro, são bases importantes para que de leitores.
essa construção da escrita seja aprimorada
cada vez mais. O momento da leitura e da Para dar aporte teórico a esta pesquisa
contação de história, é uma atividade que faz buscou-se autores que sistematizam o tema
parte de forma quase obrigatória da rotina aqui exposto, de forma a contribuir de forma
escolar. E essa prática por vezes é tida como significativa no processo de estudo. Entre
algo meramente rotineiro e realizada de estes, Fanny Abramovich (1997) Lajolo
forma automática. Mas a prática de contar Zilberman (2007), Regina Machado(2004),
histórias, quando pensada e pautada no Gislayne Avelar Matos(2005).
fundamento de que as histórias contribuem
na aprendizagem, traz grandes significados Educar é um processo, porém o
para a criança que a escuta. imediatismo imposto pelas escolas impede
que muitas crianças tenham acesso a essa
Quando a criança está no processo de palavra do contar histórias. O(a) professor(a)
aprender a ler, ela precisa ser repertoriada para deve compreender e construir possibilidade
que consiga construir a sua aprendizagem, e para que as histórias estejam presentes
é nesse sentido que a contação de história, no dia a dia escolar, mas de forma que
contribui de forma significativa, promovendo seja prazeroso primeiro para ele(a) como
momentos prazerosos, ampliando e profissional e como pessoa, para depois
alimentando a capacidade de imaginação. transmitir às crianças. E ter a percepção que
as histórias fazem a criança produzir cultura
Com a realização desta pesquisa espera-se e não somente reproduzir conceitos. Não se
que a contação de histórias seja uma ferramenta pode abrir mão de contar histórias para as
que contribua de forma significativa no crianças, pois ouvi-las, incorpora, invade, nos
processo de formação de leitores, por meio do coloca no centro do nosso próprio mundo e
simbólico e do imaginário, cooperando com nos faz ter a sensação de ter o fantástico e
a construção do real. A criança estabelece o maravilhoso interiorizado nele e na nossa
novas aprendizagens, desenvolvendo sua existência; podemos mergulhar nos enredos
concentração, socialização,despertando a e nos personagens, e unir nossas vidas e
curiosidade, criatividade, prazer pela leitura e, nossas experiências entre aquilo que existe,
assim, ampliando o vocabulário e repertório o que não existe e o que pode vir a existir. E
letrado e oral. isso, enriquece a aprendizagem, facilitando

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o processo de alfabetização, e o tornando O processo de construção de leitura se


mais prazeroso. inicia muito antes da leitura convencional.
As crianças aprendem desde cedo a ler
Nesse sentido, o estudo se mostra como o mundo que as rodeia, a compreender
uma ação necessária para aprofundar e situações, ler imagens. As relações que a
exemplificar a contação de história como criança estabelece com o meio e com o
uma ferramenta no processo de formação outro, são bases importantes para que essa
de leitores. É um trabalho, que busca trazer construção da leitura aprimorada a cada
considerações pertinentes a prática docente, vez mais. Portanto, não pode dizer que
contribuindo de forma significativa no uma criança chega à escola sem saber nada
aprendizado dos alunos. sobre leitura, pois cada um a seu modo vai
adquirindo saberes, que contribuem para
o processo de formação de leitores, e que
O PROCESSO DE FORMAÇÃO organizam o pensamento, presente desde
DE LEITORES quando nascem.

A leitura é uma das atividades presente Existem diferentes níveis e tipos de


na sociedade desde os tempos primórdios. letramento, pois isso demanda e depende das
O homem, sempre procurou se comunicar e necessidades de cada criança, do meio em
marcar presença no mundo, e com a oralidade que esta vive do contexto social, do contexto
surgiu também a escrita e a leitura, uma cultural, e de tudo mais que permeia a vida
forma de registrar a fala e perpetuá-la no da criança. Percebe-se nesse sentido, que o
tempo, usando-se para isso vários recursos problema educacional não se restringe mais a
da época. A leitura surge com a necessidade ensinar a ler e escrever, mas sim levar a cada
de registrar e transmitir para gerações futuras aluno, a utilizar a leitura e a escrita em seu
os valores, tradições, culturas e informações. contexto real de vida, fazendo uso e envolvendo
A leitura se consolida como uma forma de as práticas sociais da leitura e escrita dentro da
comunicação em prol da escrita, e passou realidade vivida (SOARES, 2002).
por muitas fases e funções.
A leitura tem como objetivo principal a
Hoje o ato de ler se considera como compreensão do que se lê, e não somente ler
ferramenta de modificação, possibilitando ao as palavras, daí que se denomina letramento,
leitor uma visão de mundo própria, a partir e para chegar nessa compreensão, o leitor
das traduções do que é escrito, promovendo perpassa por vários processos cognitivos
novos conhecimentos acerca do mundo, das em consonância com o social. A leitura é o
pessoas e até de nós mesmos. resultado das relações sociais e cognitivas,
em uma troca de conflitos, que resultam na
compreensão do texto escrito.

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Existem algumas teorias de leitura, que ato de ler. Inicia-se com a decodificação,
buscam retratar como o leitor faz a aquisição posteriormente passa a compreender o
da captação das informações obtidas em texto de forma central, e por fim unifica
uma leitura. Cosson (2009) divide essas essas práticas, compreendendo que a leitura
teorias em três grupos, que se aproximam exige a união do leitor e do texto, e que não
pela forma de compreensão dos textos. podem sem dicotomizados.

O primeiro grupo se concentra no texto, O admirável neste processo é promover


e o ponto de partida da compreensão da sempre estímulos e repertórios, para que o
leitura são as palavras escritas, fazendo uma leitor avance nessas teorias, e aprimore a sua
extração do código para a compreensão leitura, sempre na prática de ler. “Quem gosta
do significado, leitura por decodificação. de ler, tem nas mãos a chave do Mundo”
O segundo grupo tem por foco o leitor, (ALVES, 2004, s/p)
e nesta teoria, o leitor elabora hipóteses
sobre o texto escrito, relacionando sua
compreensão diretamente com as vivências AS CONTRIBUIÇÕES DA
que já conhecem sobre o tema do texto e CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NO
de mundo, nesta teoria abre-se espaço
para a não compreensão do que realmente PROCESSO DE FORMAÇÃO
está escrito, pois o leitor pode interpretar a DE LEITORES
informação da forma com desejar, podendo
não fazer relação com a informação real A vida corrida da grande sociedade, quase
que o texto deseja passar. O terceiro grupo não permite que avós contem histórias para
considera tanto texto como o leitor, e nesse seus netos, ou que as pessoas se reúnam
sentido promove um diálogo e uma interação depois do jantar para relembrar histórias
entre o texto escrito e as vivências do leitor, vividas, ou inventarem novas histórias... E
promovendo uma troca, e tornando a leitura assim as histórias vão se perdendo. Cada
o resultado dessas trocas. (COSSON, 2009) vez mais essa atividade está ficando para a
escola e para os (as) professores (as), e deve
Considera-se nesse sentido, que a leitura partir deles (as) essa construção, pois são as
é um processo flexível e de interação com histórias que contribuem para a capacidade
o interno e o externo do leitor, sempre em de criar e imaginar da criança. Um mundo
processo de diálogo com o texto escrito. sem histórias é um mundo sem criatividade,
Aprender a ler, torna-se então o resultado da sem sonhos, sem expectativas.
relação humana mediados pela informação
transmitida. Todas essas teorias se encontram A pesquisa se destinou a elencar a
na formação de um leitor, que perpassa contação de histórias como uma ferramenta
por elas, até chegar à compreensão real do necessária à formação de leitores, de forma

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a repertoriar e promover apreciação pelo profissional e como pessoa, para depois


gosto de ler. transmitir as crianças. E ter a percepção que
as histórias fazem a criança produzir cultura
Considerando os pontos elencados sobre e não somente reproduzir conceitos.
a contação de história pode-se considerar
que a contação de história contribui para a É na medida em que o aluno passa à condição de
produtor que nos afastamos de uma concepção
construção do imaginário e repertório das molecular e transmissiva da aprendizagem,
crianças refletindo de forma significativa no evoluindo da repetição de informação para
processo de formação de leitores. a produção de saber (...) é preciso caminhar
no sentido de delinear o trabalho escolar,
favorecendo o seu exercício como uma
Mas mesmo com todas essas contribuições, “expressão de si”, quer dizer, como uma obra,
a contação de história por vezes é vista pelos o que permitirá passar do enfado ao prazer
(CANÁRIO apud MATOS, 2005, p. 143).
educadores (as) como uma atividade para
passar tempo, e que por vezes se encontra
confundida com o ato da leitura ou então E para ter esse acesso às crianças, o(a)
como um pretexto para se ensinar algum professor(a) deve ser imaginativo, e vivenciar
conteúdo. as experiências que a história consegue
fazer-se vivenciar. Não se pode abrir mão
Elas [as escolas] abrem um pouco na medida em de contar histórias para as crianças, pois
que favorece essa presença, essa possibilidade
[de contar histórias], mas é como se aquilo fosse ouvi-las, incorpora, invade, nos coloca
uma coisa eventual, ao acaso, uma bobagem, no centro do nosso próprio mundo e nos
e vamos voltar para a matemática, vamos faz ter a sensação de ter o fantástico e o
voltar para a necessidade. E a necessidade, o
imediatismo é isso, tudo acaba sendo para o maravilhoso interiorizado nele e na nossa
agora, o que interessa agora, nada para depois existência; podemos mergulhar nos enredos
(...). Quando eu me lembro da minha tia, e das e nos personagens, e unir nossas vidas e
possibilidades que ela me abriu [através dos
contos], mas é um trabalho de formiguinha nossas experiências entre aquilo que existe,
que passa pelo nosso processo de formação o que não existe e o que pode vir a existir. E
(ROBERTO FREITAS apud MATOS, 2005, p. isso, enriquece a aprendizagem, facilitando
136).
o processo de alfabetização e de leitura, e
o tornando mais prazeroso. (MACHADO,
Educar é um processo, porém o 2004)
imediatismo imposto pelas escolas impede
que muitas crianças tenham acesso a essa Durante a leitura ou escuta de uma história
pode haver uma variedade muito grande de
palavra do contar histórias. O(a) professor(a) experiência misteriosas que, quando pequena
deve compreender e construir possibilidades a criança conhece muito bem e com as quais
para que as histórias estejam presentes tem familiaridade. Tais experiências vão aos
poucos constituindo as árvores do fundo de
no dia-a-dia escolar, mas de forma que sua floresta interior. À medida que ela cresce
seja prazeroso primeiro para ele(a) como começa a aprender a relevar apenas aquele tipo
de experiência que chamei de árvores da frente

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da floresta, que “faz sentido para o mundo as histórias tal quais estão escritas, imprimindo
socialmente aceitável” de modo tão correto ritmo à narrativa e dando a criança a ideia de
como dois e dois são quatro. (MACHADO, 2004, que ler significa atribuir significado ao texto e
p. 28) compreende-lo (BRASIL, 1998, p. 144).

A contação possibilita a descoberta de um O “Era uma Vez”, parece ter acontecido há


mundo de emoções, que permite à criança tanto tempo e é tão longe, mas ao mesmo
entrar em contato com os conflitos existentes, tempo tão perto. É um local vago, onde
os impasses, as soluções que todos vivemos acontecem as emoções e os conflitos e
e atravessamos, aproximando as histórias que de forma inconsciente vai introduzir a
das vivências de quem escuta, mediante dos quem ouve a história no mundo mágico, e
problemas que vão sendo apresentados nos compelir que seus conflitos interiores sejam
enredos narrados. resolvidos.

É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso Ouvir histórias é viver um momento de


dos conflitos, dos impasses, das soluções que gostosura, de prazer, de divertimento dos
todos vivemos e atravessamos – dum jeito ou melhores... É encantamento, maravilhamento,
de outro – através dos problemas que vão sendo sedução... O livro da criança que ainda não lê é a
defrontados, enfrentamos (ou não), resolvidos história contada. E ela é (ou pode ser) ampliadora
(ou não) pelos personagens de cada história de referências, poetura colocada, inquietude
(cada uma ao seu modo) (ABRAMOVICH, 1997, provocada, emoção deflagrada, suspense a ser
p.17). resolvida, torcida desenfreada, saudade sentida,
lembranças ressuscitadas e as mil maravilhas
mais que uma boa história provoca... (desde que
A contação de história a partir da seja boa) (ABRAMOVICH, 1997, p. 24).
participação das crianças possibilita que
elas recriem elementos, revivam episódios, O conto age diretamente sobre a
experimentem emoções; E por isto, que se imaginação, e sobre uma área interna de
observa que as crianças quando desejam difícil acesso, é um mundo fantástico, das
reviver estes momentos nos pedem para maravilhas e imprevisões, que de forma sutil
contarmos a mesma história novamente. nos remete a nossas vivências internas e
externas.
Recontar histórias é outra atividade que pode ser
desenvolvida com as crianças.Elas podem contar
histórias conhecidas com a ajuda do professor, E ouvir histórias não se restringe apenas
reconstruindo o texto original à sua maneira. à formação de leitores, mas possibilita um
Para isso podem apoiar-se nas ilustrações e na leque de aprendizados. Quando no referimos
versão lida. Nessas condições, cabe ao professor
promover situações para que as crianças a letramento com utilização da leitura e
compreendam as relações entre o que se fala, o escrita como função social, podemos ligar
texto escrito e a imagem. O professor lê a história, diretamente as contribuições da contação
as crianças escutam, observam as gravuras e,
frequentemente, depois de algumas leituras, de história nesse sentido, pois possibilita,
já conseguem recontar a história, utilizando uma visão de mundo a partir do que lhes é
algumas expressões e palavras ouvidas na voz contado. A contação de história estimula
do professor. Nesse sentido, é importante ler

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todos os saberes, é uma atividade ligada às trazem por vezes significados diferentes
emoções e sentidos, e voltando ao inicio do a determinados objetos e personagens. O
estudo, a aprendizagem se dá na interação mundo do “faz de conta”, leva às crianças
com externo e o interno, promovendo a para lugares “fora”, mas ao mesmo tempo
acomodação do conhecimento. dentro de si mesmo e da sua realidade.

O ouvir histórias pode estimular o desenhar, Sem imaginação não há desenvolvimento


o musicar, o sair, o ficar, o pensar, o teatrar, o possível dos indivíduos. Imaginação não é apenas
imaginar, o brincar, o ver o livro, o escrever, o devaneio, sonho, invenção do nunca visto; ela
querer ouvir de novo (a mesma história ou outra). intervém nos processos psíquicos e corporais e
Afinal, tudo pode nascer dum texto! No princípio antes de tudo na linguagem (MATOS, 2005, p.
era o verbo? (ABRAMOVICH, 1997, p.23). 28).

O brincar com as palavras das histórias, com


Diante dessa arte é possível derrubar os personagens, com o mágico e o fantástico,
barreiras, pode-se dizer que contar histórias sãos construções que as crianças realizam, e
é convidar os ouvintes a brincar com seu usando a imaginação conseguem: suprir as
interior, seus pensamentos e reorganizar os ausências afetivas, trazendo à tona anseios
elementos de suas experiências vividas que reprimidos e possibilitando a libertação
estão interiorizadas. afetiva por meio da simbologia, por meio do
domínio mental dos objetos que produzem
Matos (2005, p. 26), nos diz que: angustia; possibilitar a comunicação consigo
mesmo, uma vez que nas histórias e por meio
Primeiro ponto, claro, evidente, límpido: o do imaginário os desejos e as necessidades
conto permite o controle da angústia, porque
ele nomeia o inominável, permite à criança não estão explicitados; cria uma distância entre o
mais ficar a “mercê”. Desde o momento em que mundo objetivo e o idealizado, fazendo com
a angústia tenha um nome – feiticeiro, lobo, que a criança reflita sobre sua realidade sem
ogro -, ela é abordável e a criança pode atacá-la,
sobretudo nos contos tradicionais; o quem te a se afastar dela, podendo abordar situações
forma de angústia acaba mal... O lobo no poço, emocionais próprias do indivíduo mas em
a feiticeira na fogueira... Não estamos mais a outro objeto, o que permite uma melhore
mercê da angustia, a criança pode nomeá-la e,
a reflexão crítica; a imaginação também
sobretudo exteriorizá-la.
favorece a racionalidade, pois se aprende a
As histórias, contudo, contribuem manipulá-la. (MATOS, 2005).
para a construção da criança em suas
especificidades, e dessa forma constituem A contação de histórias favorece a
suas próprias culturas. Ao ouvir uma história, apreciação pela leitura. O gosto e apreciação
as crianças as interiorizam cada uma de pela leitura é uma atividade que deve ser
uma forma, dependendo do ponto de vista estimulada e incentivada na infância, para
e do lugar de onde estão socialmente e que a criança aprenda desde cedo a valorizar
economicamente, e ao recontar a mesma, os momentos de ler, para que quando cresça,

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torne-se um adulto critico, reflexivo e com os conflitos existentes, os impasses, as


consciente. Esses estímulos devem começar soluções que todos vivemos e atravessamos,
com a contação de histórias, uma das ações aproximando as histórias das vivências
necessárias para a formação de um leitor. de quem escuta, mediante dos problemas
Abramovich ressalta: que vão sendo apresentados nos enredos
narrados.
[...] Ah, como é importante para a formação de
qualquer criança ouvir muitas histórias... Escuta-
las é o inicio da aprendizagem para ser leitor, Liberato (2009, p.13), diz que “a leitura
e ser leitor é ter um caminho absolutamente funcional [...] não é a simples decodificação do
infinito de descobertas e de compreensão do sinal gráfico (que é aprendida nos primeiros
mundo... (1997, p. 16)
anos de alfabetização), mas a leitura com
compreensão”. A leitura nesse sentido não
Ouvir histórias é essencial na formação se restringe apenas a decodificar códigos
das crianças e do adulto leitor, pois é um dos e letras, é preciso ir além, e interpretar o
primeiros contatos que elas estão tendo com que o texto transmite. É nesse sentido que
o mundo letrado, mesmo que não saibam ler a contação de história se caracteriza como
as palavras convencionalmente. uma ferramenta nesse processo, pois ao
ouvir as palavras de uma história, a criança
A leitura é uma das ferramentas se transporta para o mundo imaginativo, e
responsáveis por contribuir, na formação quando esta entrar em contato com o texto
do indivíduo, de forma significativa e escrito, por meio da leitura, poderá se
integral, promovendo e possibilitando que transportar de mesmo modo, considerando
o leitor consiga analisar sua sociedade, os efeitos causados por essas vertentes.
suas vivências, e ampliando as visões e
interpretações sobre o mundo que o cerca. A O gosto e apreciação pela leitura é
leitura permite a compreensão do outro e do uma atividade que deve ser estimulada e
mundo. É por meio do texto que se adquiri incentivada na infância, para que a criança
uma postura de opinião, questionamento aprenda desde cedo a valorizar os momentos
e posicionamentos, nos conceitos lidos e a de ler, para que quando cresça, torne-se um
partir daí consegue-se fazer uma reflexão e adulto critico, reflexivo e consciente. Esses
formar os próprios conceitos estímulos devem começar com a contação de
histórias, uma das ações necessárias para a
A leitura e a contação de história, se formação de um leitor. Abramovich ressalta:
aproximam, pois possibilita à descoberta de
um mundo de emoções, ambas as atividades, Para promover a formação de um bom
estão ligadas ao texto, cada uma a sua forma, leitor, é preciso repertoriá-lo com muitos
e que se encontram no caminho. Ao ler e ao textos e de diferentes gêneros, para que em
ouvir histórias é possível entrar em contato cada situação de leitura, o individuo seja

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capaz de aplicar a estratégia adequada para compreender o que se lê. Um texto informativo
não se compreende da mesma forma que um conto de fadas, ambos têm características
especificas, e seus desafios de compreensão. Reforça-se que a única maneira de formar um
bom leitor é fazendo-o ler, além de destrinchar e estudar as especificidades de cada leitura
para que possam ser aprofundadas as diferentes maneiras de ler.

Ser professor, nesse processo demanda muitos desafios. É promover aprendizado


significativo, criando espaços e possibilidades para o aluno, pensar, refletir e buscar o
caminho de sua própria aprendizagem, promovendo um local de saberes e construções, e
abrindo espaço para que o aluno aprecie a leitura e as histórias e que este momento seja
prazeroso e significativo. Cada criança aprende há um tempo, e a sua maneira, mas como
mediadores, os professores e educadores têm o papel de guiar e estimular o aluno nessa
busca constante, tornando possíveis os caminhos existentes para que o aluno se desenvolva
de maneira integral.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa buscou identificar quais os efeitos da
contação de história no processo de formação do leitor.

A partir da bibliografia pesquisada, compreendemos que


esta prática está presente em inúmeras situações do nosso
cotidiano, sendo utilizado para contar casos corriqueiros,
manifestar determinadas expressões artísticas, ou contar de
forma pedagógica em sala com as crianças.

Com a realização desta pesquisa, considerou-se que a


contação de histórias contribui para que as crianças construam MILLENY ALAKSANY
seu significado de mundo, e ao mesmo tempo, reproduzam OLIVATO DO
e construam novas histórias e novos significados para as NASCIMENTO
mesmas. Constatou-se também, que o momento de contar
Graduação em Pedagogia pela
histórias para as crianças, traz grandes contribuições em seu Faculdade Instituto Superior
processo aquisitivo de conhecimento consequentemente no de Educação Eldorado (2014);
processo de formação de leitores. Percebe-se que as crianças Assistentea de Direção no CEI
Ângela Maria Fernandes.
ao ouvirem as histórias desenvolvam sua concentração,
socialização, ampliação do vocabulário, criatividade, prazer
pela leitura, ampliação do repertório letrado e oral e
despertam a curiosidade e interesse.

As crianças, por meio da contação de histórias, podem organizar maneiras diferentes de


pensar o mundo que as cerca, dar “lugar” à imaginação, ao lúdico, às brincadeiras, as formas
de organização entre elas, são também capazes de recriar outras histórias, que por inúmeras
vezes são baseadas em suas próprias experiências.

Pode-se concluir que contar história enriquece as crianças e insere-as no mundo letrado,
antes mesmo de saber ler. A contação de histórias promove um momento de apreciação,
de descoberta de mundo e saberes. É por meio do ler e do ouvir histórias que o indivíduo
adquire e constrói conhecimentos, se transforma e reflete sobre o mundo que o cerca.

Freire (1989, p.8), nos diz que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, ou seja, a
compreensão das palavras e do texto escrito se dá a partir de uma leitura crítica da vivência
de quem lê, fazendo uma relação entre o texto e o contexto. Portanto ouvir muitas histórias,
mesmo antes de saber ler, estimula o gosto e apreciação pela leitura faz com que a criança

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aprenda desde cedo a valorizar os momentos de ler, para que quando cresça, torne-se um
adulto critico, reflexivo e consciente. Esses estímulos devem começar com a contação
de histórias, uma das ações necessárias para a formação de um leitor e contribuir com os
processos de alfabetização e letramento.

Ouvir histórias é essencial na formação das crianças enquanto leitor e as práticas que
envolvem a leitura, a escrita e a comunicação, tornam o ambiente favorável ao letramento.
A inserção da criança ocorre de forma paralela, e por isso tem significados relevantes no
processo de aprendizagem do aluno.

O mundo das histórias oferece infinitas possibilidades de exploração, e a partir do ouvir,


uma criança pode ser estimulada a desenhar, musicar, teatrar, escrever, e querer viver
emoções de novo daquela mesma história, de formas diferentes.

Cabe aos docentes, saber introduzir esse material tão rico em detalhes na aprendizagem
da criança, de modo consciente, para que as histórias consigam despertar na criança o desejo
por ouvir e ler mais histórias futuramente, tornando-se assim, possivelmente, um amante
dos livros.

Afirma-se que a contação de histórias é uma das ferramentas que proporciona que as
crianças tenham acesso a um mundo novo, visando o uso da imaginação, criatividade e
proporcionando aos educandos um contato com o mundo da fala e da escrita, o que se torna
decisivo em seus processos aquisitivos de conhecimento. E cabe aos professores garantir o
acesso às diferentes modalidades da literatura para seus alunos, aproximando-os ao mundo
mágico das histórias.

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REFERÊNCIAS
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LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira: História e Histórias. 6. ed. São Paulo:
Ática, 2009.

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ZILBERMAN. Regina. A leitura na escola. In: ZILBERMAN, Regina (org). A leitura em crise na escola: as
alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado aberto, 1985.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO
RESUMO: O texto aborda a possibilidade de inserção dos significativos avanços da
neurociência, como constituintes de saberes disciplinares, nos cursos de formação de
professores. Na perspectiva adotada, esses saberes, que fundamentam um saber pedagógico,
proporcionam subsídios teóricos para a ação docente, uma vez que a compreensão de como
o cérebro funciona permite um melhor entendimento da aprendizagem e o consequente
aprimoramento da transposição didática. Como resultado, destaca-se a necessidade de
revisão das estruturas curriculares dos cursos de formação de professores, em especial das
licenciaturas, indicando como alternativa a inserção de disciplinas, ou a reestruturação de
disciplinas já existentes, com vistas a propiciar a interlocução entre neurociência, ensino e
aprendizagem.

Palavras-Chave: Neurociência; Aprendizagem; Cérebro, Formação,Professor

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INTRODUÇÃO sobre a função da percepção, emoções,


aprendizagem e memória mostraram
Diante das inúmeras mudanças na significativo progresso, especialmente
sociedade atual, geradas principalmente adotando abordagens da neurociência
pelos avanços tecnológicos que nos cognitiva. Aprendizagem e educação podem
disponibilizam informações, faz-se ser estudadas como um novo campo das
necessária uma cultura de aprendizado ciências naturais, variando de ambiente fetal
que gere conhecimento. Para tanto, há até a idade adulta avançada. A alfabetização
que se buscar um sistema educacional em neurociência reveste-se de importância
democrático o qual assuma o compromisso para o cotidiano, ajudando a população a ter
de promover situações de aprendizagem nas melhor entendimento de si e dos avanços
quais as exigências da sociedade moderna científicos, evitando especulações e a crença
sejam atendidas, para que todos possam em neuromitologias. São esquematizadas
desenvolver suas capacidades, mediante implicações educacionais a partir dos
uma educação que aceite a diversidade. princípios de neurociência A neurociência é
Para isso, é imprescindível explorar e uma das áreas do conhecimento biológico
estimular o potencial de aprender de todos que utiliza os achados de subáreas que a
os cidadãos. Torna-se obrigatório, então, compõem, por exemplo, a neurofisiologia,
promover a reconfiguração pedagógica nos e neurofarmacologia, o eixo psiconeuro-
ambientes educativos, pois o estímulo do endoimuno, a psicologia evolucionária, o
potencial dos estudantes oportuniza um neuroimageamento, a fim de esclarecer
melhor desempenho individual, diminuindo como funciona o sistema nervoso (Purpura,
a exclusão social. Assim, assumir a 1992; Purves et al., 1997; Kandel et al.,
necessidade de estratégias metodológicas 2000; Lent, 2001). O desenvolvimento
que garantam o desenvolvimento do de técnicas modernas para o estudo da
potencial cognitivo de cada aluno é uma atividade cerebral em crianças, adolescentes
condição para assegurarmos a participação e adultos, durante a realização de tarefas
efetiva do mesmo na sociedade. Emerge cognitivas, têm permitido uma investigação
desse panorama um questionamento: se a mais precisa dos circuitos neuronais
sociedade está em constante transformação durante seu funcionamento, que geram as
e se a educação, nela inserida, também capacidades intelectuais humanas, como
passa por mudanças. A neurociência é uma linguagem, criatividade, raciocínio (Rocha
disciplina recente agrupando neurologia, & Rocha, 2000). Os circuitos neuronais
psicologia e biologia. Nos últimos anos são responsáveis pelas funções básicas do
muitos aspectos da fisiologia, bioquímica, nosso sistema nervoso bem como de outros
farmacologia e estrutura do sistema nervoso animais. No caso humano determinam como
de invertebrados e o cérebro de vertebrados nos comportamos como indivíduos. Nossas
foram elucidados. Estudos fundamentais emoções vivenciadas como medo, raiva e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

as situações prazerosas da vida originam- 1973; Saavedra, 2002; Mari, 2002, Flores,
se da atividade dos circuitos neuronais no 2003). A neurociência investiga o processo
cérebro (Johnston, 1999; LeDoux, 2002). de como o cérebro aprende e lembra, desde
Nossa habilidade de pensar e armazenar o nível molecular e celular até as áreas
lembranças depende de atividades físico- corticais. A formação de padrões de atividade
químicas complexas que ocorrem nos neural considera-se que correspondam a
circuitos neuronais (Dudai, 1989; Rose, determinados “estados & representações
1992; Schacter, 1996; Fields, 2005). Os mentais” (Kelso, 1995; Shepherd, 1998).
circuitos neuronais existentes no cérebro e
medula espinhal programam todos nossos O ensino bem sucedido provocando
movimentos, desde colocar fio no buraco alteração na taxa de conexão sináptica,
da agulha até chutar uma bola na partida afeta a função cerebral. Por certo, isto
de futebol. Este entrelaçado de processos também depende da natureza do currículo,
neuronais também controla inúmeras da capacidade do professor, do método de
funções no organismo humano. ensino, do contexto da sala de aula e da
família e comunidade. Todos estes fatores
interagem com as características do cérebro
NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO dos indivíduos (Lowery, 1998; Westwater &
Wolfe, 2000; Ramos, 2002). A alimentação
O aprender e o lembrar do estudante afeta o cérebro da criança em idade escolar.
ocorre no seu cérebro. Conhecer como Se a dieta é de baixa qualidade, o aluno não
o cérebro funciona não é a mesma coisa responde adequadamente à excelência do
do que saber qual é a melhor maneira de ensino fornecido.
ajudar os alunos a aprender. A aprendizagem
e a educação estão intimamente ligados
ao desenvolvimento do cérebro, o qual é DINÂMICA DO
moldável aos estímulos do ambiente (Fischer FUNCIONAMENTO
& Rose, 1998). Os estímulos do ambiente
levam os neurônios a formar novas sinapses. CEREBRAL
Assim, a aprendizagem é o processo pelo qual Tanto em nível funcional como estrutural,
o cérebro reage aos estímulos do ambiente, esse tema tenta saber como o cérebro se
ativando sinapses, tornado-as mais “intensas”. organiza. Nos últimos anos ela foi mais além,
Como conseqüência estas constituem-se em querendo não apenas saber como funciona
circuitos que processam as informações, com o cérebro, mas também a repercussão que
capacidade de armazenamento molecular esse funcionamento tem sobre nossos
( Shepherd, 1994; Mussak, 1999; Koizumi, comportamentos, nossos pensamentos e
2004). O estudo da aprendizagem une a nossas emoções.
educação com a neurociência (Livingstone,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O objetivo de relacionar o cérebro com ciência. Inclui desde a pesquisa básica até a
a mente é tarefa da neurociência cognitiva. aplicada que trabalha com a repercussão dos
É uma mistura entre a neurociência e a mecanismos subjacentes no comportamento.
psicologia cognitiva. Essa última preocupa-se Dentro da neurociência cognitiva , os
com o conhecimento de funções superiores estudos visam entender como funcionam
como a memória, a linguagem ou a atenção. aspectos ligados ao sistema nervoso, como
Assim, o objetivo principal da neurociência a linguagem, a memória ou a tomada de
cognitiva é relacionar o funcionamento decisões.
do cérebro com as nossas capacidades
cognitivas e emocionais. A neurociência cognitiva tem como
objetivo principal estudar as representações
nervosas dos atos mentais. Ela se concentra
OBJETIVOS DA nos substratos neurais dos processos mentais.
NEUROCIÊNCIA Isto é, qual é a repercussão do que ocorre
no nosso cérebro em nosso comportamento
Para explicar o que a neurociência tem em e nossos pensamentos? Foram detectadas
mente, precisamos primeiro saber o que é a áreas específicas do cérebro encarregadas de
neurociência, de acordo com a Enciclopédia funções sensoriais ou motoras, mas somente
Larousse, descrevê-la como: Um conjunto de representam uma quarta parte do total do
disciplinas científicas e médicas que estuda córtex.
o sistema nervoso. Assim, a neurociência é
uma disciplina com muitos ramos, com os São as áreas de associação, que não
quais também terá objetivos diferentes. possuem uma função específica, as
encarregadas de interpretar, integrar e
O principal objetivo da neurociência é coordenar as funções sensoriais e motoras.
revelar o que é o funcionamento biológico Seriam as responsáveis pelas funções mentais
subjacente ao pensamento, emoções, superiores. Áreas cerebrais que governam as
comportamento e processos superiores da funções como a memória, o pensamento, as
mente humana (aprendizagem, memória, emoções, a consciência e a personalidade
atenção, linguagem ...). são muito mais difíceis de localizar.

A neurociência é responsável por descrever A memória está vinculada ao hipocampo,
a estrutura do sistema nervoso e o processo situado no centro do encéfalo. Em relação
de desenvolvimento que leva desde sua às emoções, sabe-se que o sistema límbico
formação antes do nascimento até a morte. controla a sede e a fome (hipotálamo), a
agressão (amígdala) e as emoções em geral.
O estudo científico do sistema nervoso No córtex, onde se integram as capacidades
abarca um espectro muito amplo dentro da cognitivas, é o lugar em que se encontra

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Revista Educar FCE - Abril 2019

nossa capacidade de ser conscientes, de que informam às outras pessoas sobre o


estabelecer relações e de realizar raciocínios nosso estado emocional. Foi demonstrada
complexos. a homogeneidade na expressão de alegria,
tristeza, ira… em diferentes culturas. É uma
A emoção é uma das características das maneiras que temos de nos comunicar e
essenciais da experiência humana que todos criar empatia com as pessoas.
nós às querendo ou não passamos por ela.
Todas as emoções são expressadas por meio
de mudanças motoras viscerais e respostas MEMÓRIA, O DEPÓSITO
motoras e somáticas estereotipadas, DO NOSSO CÉREBRO
sobretudo o movimento dos músculos
faciais. Tradicionalmente, as emoções eram A memória é um processo psicológico básico
atribuídas ao sistema límbico, o que continua que remete à codificação, ao armazenamento
se mantendo, mas sabe-se que há mais e à recuperação da informação aprendida.
regiões encefálicas envolvidas. A importância da memória em nossa vida
cotidiana motivou muitas pesquisas sobre
As outras áreas às quais se estende o esse tema. O esquecimento também é o
processamento das emoções são a amígdala tema central de muitos estudos, já que
e a face orbitária e medial do lóbulo frontal. A muitas patologias provocam amnésia, o que
ação conjunta e complementar de tais regiões interfere gravemente no dia a dia.
constitui um sistema motor emocional. As
mesmas estruturas que processam os sinais O motivo pelo qual a memória configura
emocionais participam de outras tarefas, um tema tão importante é que nela reside
como a tomada racional de decisões e, boa parte da nossa identidade. Por outro
inclusive, os julgamentos morais. lado, apesar do esquecimento no sentido
patológico nos preocupar, a verdade é que
Os núcleos viscerais e motores somáticos nosso cérebro precisa descartar informações
coordenam a expressão do comportamento inúteis para dar lugar a novos aprendizados e
emocional. A emoção e a ativação acontecimentos significativos. Neste sentido,
do sistema nervoso autônomo estão o cérebro é um especialista em reciclar seus
intimamente ligadas. Sentir qualquer tipo recursos.
de emoção, como medo ou surpresa, seria
impossível sem experimentar um aumento As conexões neuronais mudam com o uso
na frequência cardíaca, transpiração, ou desuso destas funções. Quando retemos
tremor… Faz parte da riqueza das emoções. informações que não são utilizadas, as
Atribuir a expressão emocional às estruturas conexões neuronais vão se enfraquecendo
cerebrais confere sua natureza inata. As até desaparecer. Da mesma forma, quando
emoções são ferramentas adaptativas aprendemos algo novo criamos novas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

conexões. Todos aqueles aprendizados que da linguagem estão localizadas no hemisfério


podemos associar a outros conhecimentos ou esquerdo.
acontecimentos vitais serão mais facilmente
lembrados. O hemisfério direito é responsável
pelo conteúdo emocional da linguagem.
O conhecimento sobre a memória O dano específico de regiões encefálicas
aumentou significamente o estudo de pode comprometer funções essenciais da
casos de pessoas com um tipo de amnésia linguagem, podendo causar afasias. As afasias
muito específico. Em particular, ajudou a podem apresentar muitas características
conhecer melhor a memória de curto prazo diferentes, como, por exemplo, dificuldades
e a consolidação da memória declarativa. O na articulação, na produção ou na
famoso caso H.M. reforçou a importância compreensão da linguagem.
do hipocampo para estabelecer novas
lembranças. Em contrapartida, a lembrança Tanto a linguagem quanto o pensamento
das habilidades motoras é controlada pelo não são sustentados por uma única área
cérebro, pelo córtex motor primário e pelos concreta, mas sim pela associação de
gânglios de base. diferentes estruturas. Nosso cérebro trabalha
de uma forma tão organizada e complexa
que quando pensamos ou falamos, ele realiza
LINGUAGEM E FALA múltiplas associações entre áreas. Nossos
conhecimentos prévios vão influenciar os
A linguagem é uma das habilidades que nos novos, em um sistema de retroalimentação.
diferencia do resto dos animais. A capacidade
de nos comunicar com tanta precisão e a
grande quantidade de nuances para expressar DICAS DA NEUROCIÊNCIA
pensamentos e sentimentos faz da linguagem PARA SALA DE AULA
nossa ferramenta de comunicação mais rica
e útil. Essa característica de exclusividade da Entendendo o grau de complexidade do
nossa espécie estimulou muitas pesquisas a sistema nervoso, e os estudos reconhecendo
se concentrarem no seu estudo. a interligação de várias estruturas cerebrais,
elencamos algumas dicas que trará ao
As conquistas da cultura humana se educador ferramentas para planejar, organizar
baseiam, em partes, na linguagem que e avaliar a trajetória do desenvolvimento dos
possibilita uma comunicação precisa. A educandos.
capacidade linguística depende da integração
de várias áreas específicas dos córtices de A aprendizagem resulta da reorganização
associação nos lóbulos temporal e frontal. da estrutura cerebral, o que produz novos
Na maioria das pessoas, as funções primárias comportamentos. Essa mudança que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ocorre no cérebro depende da atividade almejam. Ou seja, sabendo como o cérebro


de diferentes conjuntos de neurônios. O funciona, o que eu posso fazer em sala de
funcionamento desses neurônios resulta em aula para melhorar a aprendizagem dos
sensações, percepções, atenção, memória, alunos?
emoção, motivação, auto regulação,
motricidade, linguagem, raciocínio lógico-
matemático, ideias para resolver problemas, OFICINA DOS SENTIDOS
pensamentos e é influenciado pelos estímulos
que o ambiente proporciona ao indivíduo. Os Conhecer uma maçã vendo sua cor e
estudos mais recentes buscam saber como forma, sentindo sua textura, temperatura
as estratégias pedagógicas atuam sobre o e peso, apreciando seu cheiro, degustando
cérebro e suas funções mentais, levando à sua acidez e doçura e ouvindo seu barulho
aprendizagem. ao mordê-la é bem diferente de conhecê- la
por meio de uma fotografia. Aprender sobre
As descobertas da neurociência que o corpo humano ou qualquer outro assunto
esclarecem como o cérebro funciona num museu interativo tem efeito bem
durante a aprendizagem e indicam fatores diferente daquele de apenas ler a matéria
que influenciam esse funcionamento já no livro. Quando utiliza os vários sentidos,
têm sido mais bem divulgadas atualmente. ao ter uma nova experiência, o aprendiz
Atenção, memória, emoção, função constrói uma ideia mais completa, complexa
executiva, bases neurais da leitura e da e potencialmente mais duradoura daquela
escrita, mudanças cerebrais na adolescência, experiência.
desenvolvimento de habilidades sociais e
os efeitos da alimentação, meditação, sono, Os órgãos do sentido são as portas de
tecnologia e música sobre a cognição e a entrada para o cérebro. Cada uma das vias
aprendizagem, em especial, são exemplos de sensoriais têm neurônios com características
temas abordados por publicações voltadas específicas e, por isso, capazes de traduzir
não só para o professor, mas também para o diferentes tipos de energia, eletromagnética,
público em geral. Assim, o professor já conta como luz (visão), mecânica (pressão, tato,
com conhecimentos da psicologia cognitiva vibração, dor, audição), térmica (temperatura),
e da neuropsicologia da aprendizagem – química (gustação, olfação, dor) em atividade
estudo das funções mentais produzidas pelo neuronal. Esses neurônios sensitivos fazem
cérebro e envolvidas na aprendizagem – que sinapses, conectando-se e transmitindo essa
podem inspirar novas práticas educacionais, atividade (informação) para outros vários
confirmar outras já reconhecidamente neurônios, que constituem redes neurais
eficientes e criticar aquelas que não dão localizadas em diferentes regiões do cérebro,
resultado. É justamente essa inspiração para chamadas áreas primárias e secundárias,
a prática educacional que os professores específicas para cada um dos sentidos:

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Revista Educar FCE - Abril 2019

visual, auditivo, olfativo, tátil etc. Neurônios dúvida e se dá por satisfeito ao ouvir “não,
dessas áreas estabelecem conexões com um entendemos sim”, ele perde a oportunidade
terceiro grupo de neurônios que integram, de verificar se de fato os alunos estavam
assim, todas as informações relacionadas, atentos à aula e compreendendo o que ele
por exemplo, à referida maçã. explicava. Só temos certeza de que nosso
cérebro processa uma informação recebida
A rede neural que se estabeleceu, a partir passivamente se ele tiver de usá-la de alguma
da ativação de neurônios relacionados forma. O aluno pode ter ficado o tempo
às várias modalidades sensoriais, dá um todo olhando para o professor e pensando
significado mais completo, detalhado e rico no quanto ele o acha legal (ou não), sem
sobre a maçã e poderá ser mais facilmente sequer saber sobre o que o professor falava.
reativada por qualquer estímulo, seja ele o Ou pode ocorrer também que a aula tenha
cheiro, a evocação de sua forma ou de seu sido espetacular: o aprendiz consegue
gosto. Reativação mais frequente dessa compreender tudo o que o professor
rede neural levará a melhor consolidação da apresentava de forma muito didática e ficou
memória da fruta. As estratégias pedagógicas com a sensação de que entendeu tudo.
devem utilizar recursos multissensoriais,
para ativação de múltiplas redes neurais Qualquer que seja a situação, o professor
que estabelecerão associação entre si, deveria perguntar ao aluno “o que você
proporcionando um pensamento mais entendeu sobre o que eu falei?” ou poderia
complexo sobre o que se aprende e também solicitar a ele que explicasse para um colega
favorecendo a memorização do que foi o que entendeu da aula ou incentivar
aprendido. todos os aprendizes a elaborar um texto
relembrando as informações apresentadas,
ou ainda motivar, por meio de perguntas,
ESTIMULAR OS SENTIDOS a discussão de tópicos da aula entre os
colegas. Essas estratégias dariam aos alunos
Recursos multissensoriais ativam a oportunidade de usarem a memória
múltiplas redes neurais. Aprender sobre o operacional que ainda estiver processando a
corpo humano num museu interativo tem aula, para fazer associações e comparações
efeito bem diferente daquele de apenas ler com outros conhecimentos e experiências já
a matéria. armazenados na memória e relacionados ao
que foi apresentado. Assim, o aluno poderá
perceber lacunas no seu entendimento
RETOMAR O CONTEÚDO sobre o que foi abordado. O estudante só
aprenderá algo novo se o cérebro dele tiver
Quando um professor, ao finalizar a aula, oportunidade e for motivado a processar o
pergunta aos alunos se eles têm alguma que lhe é apresentado. Aprendizagem resulta

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Revista Educar FCE - Abril 2019

da reorganização de redes neurais espalhadas aluno estuda apenas na véspera da prova,


pelo cérebro. Essas redes neurais precisam mantendo as informações na memória
ser ativadas para que sinapses sejam feitas e operacional. Assim que as utiliza na prova,
desfeitas, levando à modificação da relação garantindo a nota, as esquece. Se ele não é
entre os neurônios – o que chamamos motivado a manter a atividade nessas redes
de neuroplasticidade – e, assim, a novos neurais, recordando o que foi estudado,
conhecimentos, ideias, atitudes, habilidades esquece o que “sabia”. É por isso, também,
motoras. Ver e rever, escutar, falar e voltar que apresentar conteúdos/experiências
a falar, escrever e reescrever, contar e considerando o contexto de vida do aluno é
recontar, experimentar e vivenciar, dando importante. Se o que aprende em sala de aula
significado ao que se faz, é importante para puder ser aplicado na sua vida, o aprendiz
o aprendizado. A repetição ou o uso de um utiliza mais a informação/experiência, e isso
comportamento, informação ou experiência, contribuirá para a consolidação de memórias.
em variadas situações, por muitas vezes e em O conjunto dessas memórias propiciará as
momentos diferentes, promoverá a atividade habilidades e competências, produzidas
mais frequente dos neurônios relacionados a pela aprendizagem, e necessárias à melhor
ele e produzirá sinapses mais consolidadas, adaptação e ao sucesso do aprendiz ao longo
mais firmes. de sua vida. Mas a memória não se forma de
imediato, “da noite para o dia”. A formação
de sinapses demanda reações químicas,
RECONTAR, REVER, produção de proteínas e tempo para que ela
REPASSAR ocorra. As redes neurais não se reorganizam
imediatamente a partir de um único contato
A consolidação das memórias e sua com algo novo. A fixação das memórias ocorre
preservação dependem da reativação dos pouco a pouco, a cada período de sono,
circuitos neurais. Experiências e informações quando as condições químicas cerebrais são
precisam ser repetidas para manter as propícias à neuroplasticidade.
conexões cerebrais relacionadas a elas.
Por isso, a aprendizagem requer
Esse conjunto de neurônios associados reexposição regular e frequente aos
numa rede é o substrato biológico da conteúdos/experiências, sob formas
memória daquele comportamento ou diferentes e níveis de complexidade
informação ou experiência. Os registros crescentes, e, claro, boas noites de sono e
transitórios – memória operacional serão cochilos diurnos, que também colaboram
transformados em registros mais definitivos para formação de memórias. Dormir é
– memória de longa duração – à medida que essencial para a aprendizagem. Enquanto
eles forem processados novamente pelo dormimos, o cérebro reorganiza as sinapses,
cérebro. Não é o que acontece quando o elimina aquelas em desuso e fortalece as que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

são importantes para comportamentos do sido bem diferente de uma aula expositiva
cotidiano do indivíduo. sobre o mesmo tema.

O cérebro se estruturou ao longo da
DORMIR BEM evolução, proporcionando ao indivíduo
aprendizagem e, portanto, aquisição de
Enquanto dormimos, o cérebro reorganiza comportamentos que possibilitem sua melhor
suas sinapses, elimina aquelas em desuso adaptação e sobrevivência aos contextos
e fortalece as que são importantes para
comportamentos do cotidiano do indivíduo.
DESPERTAR CURIOSIDADE
DESAFIAR O (DES) Aprendemos o que é significativo e
CONHECIMENTO necessário para vivermos bem e esquecemos
aquilo que não tem relevância para a nossa
Por que temos chulé? Por que temos vida.
espinhas? Por que os preços sobem? Toda
chuva tem trovão? Quais são os erros de A escola deve ser um local onde o
português na música Shopis centis? Despertar aprendiz se transforma, desenvolvendo
curiosidade, tornar o assunto interessante, suas habilidades para analisar situações,
fazer uso de conhecimentos prévios e dar identificar problemas e pensar em soluções.
significado ao que se aprende são estratégias Ele precisa sentir que a participação naquela
valiosas para promover aprendizagem. aula o tornará mais apto ao seu contexto de
Uma aula que começa com uma pergunta vida.
que se desdobra noutras que despertem
o interesse do aluno e desafiem seu (des) O cérebro, por meio da atenção, seleciona
conhecimento tem maior chance de recrutar as informações mais relevantes para o bem
a atenção do aprendiz. Para levar os alunos estar e a sobrevivência do indivíduo. E ignora
a responder às perguntas, o professor pode o que não tem relação com sua vida, seus
fazer uso de estratégias variadas, utilizando desejos e necessidades.
um vídeo para ilustrar e solicitando aos
grupos de alunos que busquem a resposta Dificilmente um aluno prestará atenção
em diferentes fontes – eles podem usar a em informações que não compreende,
biblioteca ou os computadores da escola não tenham relação com o seu arquivo de
ou até seus celulares. As respostas podem experiências, com seu cotidiano, ou não
ser comparadas com dados do livro-texto e, sejam significativas para ele. Sabemos que a
ainda, cada grupo pode apresentar a defesa atenção é imprescindível para o registro de
de sua “resposta”. Se assim for, essa aula terá memórias. A abordagem dos conteúdos das

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Revista Educar FCE - Abril 2019

disciplinas por meio de assuntos, exemplos descanso ou para contar um caso curioso ou
e ferramentas que estejam relacionados ao surpreendente.
cotidiano do aluno, ou que sejam novidade
e despertem sua vontade de conhecer,
motivará o aprendiz. Atualmente, o uso EMOÇÕES
bem planejado e dosado da tecnologia em
sala de aula, por meio de mídias variadas, São valiosas para a aprendizagem.
para contemplar objetivos de aprendizagem Influenciam funções importantes, como
interessantes e desafiadores, favorece o atenção e memória. O professor deve ser
engajamento do aprendiz na aula e previne perspicaz em relação às suas emoções, às
sua distração pela própria tecnologia. dos alunos e às da turma como um todo.
A abordagem de temas sob a forma de
problemas, que geram curiosidade, até pelo
desconhecimento que o aluno é levado a PRAZER EM APRENDER
perceber que tem, aumenta o interesse do
aprendiz, favorecendo sua atenção. Aliás, contextos, estratégias e conteúdos
que desencadeiam emoções favorecem a
No entanto, a atenção flutua ao longo do aprendizagem. As emoções influenciam
tempo, principalmente quando a atividade funções importantes para a aprendizagem,
em questão não é motivadora. Podemos nos como atenção, percepção, memória, funções
distrair pensando em situações passadas executivas. Aprendemos aquilo que nos
ou futuras ou mudando o foco de atenção emociona. As emoções indicam para o
para outro estímulo do ambiente, como cérebro o que é importante à sobrevivência
um ventilador, o colega ao lado ou uma do indivíduo e o que vale o esforço e gasto
mensagem no celular. O cérebro não energético necessários à aprendizagem. No
processa dois estímulos simultaneamente, e cérebro, áreas que regulam as emoções,
sim alterna sua atenção entre um estímulo relacionadas ao medo, ansiedade, raiva,
e outro, perdendo parte da informação, prazer, motivação, influenciam áreas
o que compromete a memória. Por isso, importantes para a formação de memórias.
é recomendável evitar aulas longas, sem Situações que favorecem a aprendizagem
intervalos e com conteúdos muito densos, são aquelas prazerosas, motivadoras,
pois muito da aula é “perdido” com essas que produzam curiosidade e expectativa,
distrações. Se longas, as aulas devem contar signifiquem desafios, seguidas de sensação
com alternância de atividades (exposição de bem-estar pela solução da questão,
de tema, perguntas que motivem discussão permeadas por afeto ou até mesmo por
do tema entre colegas, vídeos, produção pequeno e transitório estresse, como em
de textos, entre outros), de entonação de caso de tarefas difíceis, mas transponíveis.
voz e posição do professor e pausas para A ativação de circuitos neurais de prazer e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

recompensa no aprendiz o fará perder o medo sociais. O desenvolvimento das funções


de errar. Para isso, é importante que o aluno executivas é essencial para a capacidade de
perceba que o que ele aprendeu dá bons uma pessoa resolver problemas e avaliar o
resultados, transforma seu dia a dia, atende próprio comportamento, regulando-o para
às suas necessidades, facilita sua vida e a melhor adaptação a determinado contexto.
torna melhor. Isso o motivará a experimentar
mais, a repetir o que aprendeu, a fazer novas Em sala de aula, atividades baseadas em
tentativas com mais frequência. A empatia, o discussões em grupo e desenvolvimento de
ambiente de segurança, o conforto, o apoio projetos são ótimas para desenvolvimento de
e a afinidade entre pares, nas turmas, são funções executivas. Elas requerem iniciativa
importantes. O professor deve ser perspicaz dos alunos, dão a eles oportunidade de
em relação às suas emoções, às dos alunos escolha e proposição de temas a serem
e às da turma como um todo. A emoção é estudados e exigem planejamento de
valiosa para a aprendizagem e pode ser bem atividades – considerando estabelecimento
conduzida pelo professor. de prazos para sua execução, alteração de
planos quando um imprevisto acontece –,
criatividade para superação de obstáculos
MOTIVAÇÃO e regulação emocional para manutenção de
interação social produtiva. Elas demandam
Desafios e mesmo pequenas situações também busca de informação utilizando-
de estresse transitórias e transponíveis, nas se os recursos disponíveis, identificação
quais os alunos percebam que superaram um e seleção do que é mais relevante como
problema,ajudam a mantê-los estimulados e contribuição para o projeto e análise crítica
interessados em aprender mais. das informações.

É importante que o professor motive


PLANEJAR E ORGANIZAR os alunos reconhecendo o seu empenho
durante o desenvolvimento das atividades,
As funções executivas, relacionadas à fornecendo orientações quando necessário,
área pré-frontal, são funções cognitivas mostrando que erros são importantes para
envolvidas no estabelecimento de objetivos, reflexão sobre outras formas de resolver os
planejamento e organização da sequência problemas e indicando o seu sucesso.
de atividades voltadas para uma meta,
gerenciamento do tempo, atenção direcionada Tornar o aluno participante ativo, sujeito
ao objetivo, persistência em uma tarefa, responsável por sua aprendizagem, também
memória de trabalho, flexibilidade para mudar contribui para o desenvolvimento de suas
estratégias, tomada de decisão e, também, funções executivas. Para isso, o aprendiz
na regulação emocional e nas habilidades precisa ter um papel ativo e não se sentir

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Revista Educar FCE - Abril 2019

apenas um receptor de informações. O AMBIENTE


professor deve conhecer os interesses do
estudante, saber quem ele é, torná-lo figura A aprendizagem é um processo biológico
central nas atividades durante as aulas, que depende dos estímulos oferecidos.
reconhecer suas limitações e orientá-lo a A empatia, o ambiente de segurança, o
superá-las. Dependendo da faixa etária, conforto, o apoio e a afinidade entre pares,
é interessante explicar ao aluno o que são nas turmas, são importantes.
as funções executivas e ressaltar a sua
importância no cotidiano, incluindo o dia
a dia da escola. O professor deve orientá- PARTICIPAÇÃO
lo a tomar consciência e a refletir sobre
seus pensamentos, objetivos, decisões e O aprendiz não deve se sentir apenas
estratégias para atingir metas, incluindo um receptor de informações. Precisa ter
o sucesso na aprendizagem. O aluno papel ativo. O professor deve torná-lo figura
precisa reconhecer que aprende para ter central durante as aulas, reconhecer suas
mais habilidades para a vida, para ser um limitações e orientá-lo para superá-las.
indivíduo com melhores chances de se
realizar como pessoa, e não para atender a
uma expectativa dos pais ou do professor. TESTAR PARA AVALIAR
Devem-se propiciar ao aluno oportunidades
para atuar no seu processo de aprendizagem Avaliações são comumente usadas para
e sentir autoeficácia, percebendo que seu verificar o que se aprendeu. No entanto,
envolvimento com o estudo e a escola podem ser utilizadas como estratégia para
está valendo o seu tempo e esforço. Nessa a aprendizagem, facilitando a formação de
condição, ele precisará planejar as estratégias memórias. O aluno é apresentado a algum
que usa para estudar e autorregular seu conteúdo, sejam imagens, textos, vídeo,
comportamento a fim de atingir suas metas. lista de países, entre outros. Em seguida,
ele é submetido a um teste de recordação
por meio do qual deve recordar livremente,
TEMPO DAS AULAS ou orientado por perguntas, escrevendo,
recontando ou desenhando tudo o que ele
Aulas longas, sem intervalos e com estiver se lembrando do que foi trabalhado.
conteúdos muito densos são mais propensas Essa recordação pode ser realizada também
a distrações. Nesse caso, devem contar com por meio de pistas, como preenchimento de
alternância de atividades (como perguntas que lacunas. Supõe-se que o teste aplicado logo
motivem discussão e vídeos), de entonação após o estudo protege a memória operacional
de voz e posição do professor e pausas para contra interferências de informações
descanso ou para contar um caso curioso. apresentadas posteriormente e oferece mais

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Revista Educar FCE - Abril 2019

chances para a formação de memórias de Notas não deveriam ser a força motriz
longa duração. E é mais eficiente do que da aprendizagem. Avaliações, e as notas
o aluno apenas reler ou rever o conteúdo consequentes, deveriam funcionar como
apresentado. A recordação de determinada indicadores de que as estratégias de ensino
informação contribui para sua maior retenção e de estudo estão sendo eficientes ou não e
na memória, o que é chamado “efeito motivar o professor e o aluno para adoção de
testagem”. Uma aprendizagem baseada estratégias alternativas. Por isso, a devolução
em evocação do que foi apresentado ao das provas corrigidas é importante, pois
aluno melhora o desempenho dele. Isso é possibilita ao aluno constatar o erro e o
constatado quando, dias depois, o aluno é que o causou, quer seja uma dificuldade de
submetido a uma avaliação tradicional. O compreensão, retenção da informação ou
uso de testes do tipo “falso ou verdadeiro” distração. O aluno precisa saber por que
e de múltipla escolha também é uma está errando e onde está falhando para
forma de evocar a informação por meio poder refletir sobre o que ele pode fazer
de reconhecimento – o aluno compara a para melhorar. E, em alguns casos, precisa
informação armazenada na memória e os ter orientação sobre o que deve fazer, se não
estímulos apresentados durante o teste. No conseguir descobrir isso por conta própria.
entanto, esses testes não são tão eficientes Nem sempre o aluno sabe como estudar uma
quanto a recordação livre, porque o aluno matéria, como transformar o que lê em algo
pode, ao ser apresentado a uma afirmativa que faça sentido. Às vezes, uma orientação
falsa e considerá-la verdadeira, armazená-la sobre “como pensar” aquele conteúdo
como tal na memória. O feedback em relação específico pode ajudar. Na aprendizagem,
às questões ameniza esse efeito negativo e é imprescindível o estabelecimento de
dá oportunidade ao aluno de constatar o que uma relação de confiança entre professor e
interpretou de forma equivocada. Solicitar aprendiz, na qual este tem a convicção de que
a ele que justifique ou corrija afirmativas o outro está ao seu lado, não para escolher o
falsas também é uma forma de testar por caminho a trilhar, mas para orientá-lo sobre
evocação. Esse processo de apresentar como trilhar um caminho que lhe dê mais
conteúdos e dar oportunidade de evocação, condições de ser bem-sucedido.
aplicação, constatação de erros, dúvidas e
discussão do que não foi compreendido e
nova oportunidade de verificação do que AVALIAÇÕES
foi armazenado é a base da aprendizagem.
A partir desse fundamento, o professor pode As avaliações é um dos temas muito
criar estratégias de avaliação diversificadas discutido ao longo do século XX até os dias
que tenham como objetivo auxiliar a atuais. O aluno precisa saber por que está
aprendizagem ou verificá-la. errando e onde está falhando para poder
refletir sobre como melhorar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A neurociência oferece um grande potencial para nortear
a pesquisa educacional e futura aplicação em sala de aula.
Pouco se publicou para análise retrospectiva. Contudo,
faz-se necessário construir pontes entre a neurociência e a
prática educacional. Há forte indicação de que a neurociência
cognitiva está bem colocada para fazer esta ligação de
saberes. Políticas educacionais devem ser planejadas através
da alfabetização em neurociência, como forma de envolver o
público em geral além dos educadores. É preciso aprofundar
o estudo de ambientes educativos não tradicionais, que
privilegie oportunidades para que os alunos desenvolvam MIRIAM CRISTINA
entendimento, e que possam construir significado à partir DA SILVA SANTOS
de aplicações no mundo real.
Graduação em Pedagogia pela
Universidade Norte do Paraná
(2006).

1110
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Abril 2019

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ZABALZA, Miguel A. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre:
Artmed, 2004.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

UMA ANÁLISE HISTÓRICA A


RESPEITO DA INCLUSÃO
RESUMO: O aluno deficiente caracteriza-se como aquele que possui algum tipo de
impedimento físico, mental intelectual ou sensorial de longo prazo, e que de alguma forma,
pode afetar a sua participação na sociedade em igualdade de condições. No entanto, ainda
que possuam qualquer tipo de limitação, nenhum direito o excluí do direito ao acesso à
educação, sendo este, garantido pela legislação. Esse artigo vem buscar reflexões e fazer
uma análise a respeito da história da inclusão.

Palavras-Chave: Inclusão; História; Análise

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA


A escola obrigatoriamente precisa Segundo Morin (2004, p. 11) ‘’ uma
contemplar e oferecer todas as condições educação só pode ser viável se for uma
para proporcionar um aprendizado educação integral do ser humano. Uma
adequado para os seus alunos por meio de educação que se dirige à totalidade aberta
um atendimento educacional especializado, do ser humano e não apenas a um de seus
além do engajamento de toda a equipe componentes’’. Assim, a educação deve
escolar para efetivar a inclusão do aluno. contribuir para a tomada de consciência
além de permitir que esta se traduza em
Além disso, são vários os estudos que vontade de realizar a cidadania de forma
demonstram a importância da formação plena. (MORIN, 2004).
adequada do professor para oferecer todo
o suporte necessário no processo de ensino Dessa forma, a educação inclusiva diz
aprendizagem, sendo esta uma ferramenta respeito ao direito do acesso à educação, e
essencial e prioritária para que a inclusão permeia princípios como a preservação da
ocorra de maneira efetiva e eficiente. dignidade humana, exercício de cidadania e
busca de identidade.
De forma geral, os professores não estão
aptos para receber em suas salas de aula Há a necessidade de reflexão acerca
alunos especiais, nem tampouco a escola dos fundamentos da educação inclusiva,
apresenta estrutura física adequada para tal. procurando repensar o modo de seu
funcionamento, que atualmente é pautado
Com isso, é válido ressaltar que o na lógica de exclusão em favor da inclusão.
despreparo e a falta de conhecimento estão
diretamente ligados a falta de formação e Sassaki (1999), aborda a inclusão como
capacitação recebida. Ainda que o contexto um novo paradigma, considerando este
de inserção do aluno especial tenha “o caminho ideal para se construir uma
evoluído ao longo do tempo, há muito que sociedade para todos e que por ele lutam
ser melhorado e o resultado desta análise para que possamos – juntos na diversidade
contribuirão para que de fato o aluno especial humana – cumprir nossos deveres de
seja plenamente atendido e o processo de cidadania e nos beneficiar dos direitos civis,
ensino-aprendizagem ocorra da maneira mais políticos, econômicos, sociais, culturais e de
efetiva possível, explorando completamente desenvolvimento”.
a capacidade mental do aluno, e oferecendo
todo o suporte necessário neste processo. A preocupação com a inclusão no âmbito
educacional, de acordo com Mazotto
(1996), é recente, tendo início no século

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Revista Educar FCE - Abril 2019

XIX inspirando-se em experiências norte Ainda neste período, no ano de 1990, o


americanas e europeias. Seu histórico pode Brasil teve uma participação na Conferência
ser dividido em períodos como: Mundial de Educação para Todos, na Tailândia,
onde foi estabelecido os primeiros passos
1854: Até este ano, os portadores de de uma política abordando as questões
deficiência, sendo elas de natureza física, inclusiva, e desde então, a educação inclusiva
mental ou sensorial, eram excluídos da substituiu o conceito de educação especial
sociedade como um todo, inclusive da com base em uma declaração Salamanca,
própria família, e acabavam recolhidos que trabalhou o conceito defendendo a
em instituições de cunho filantrópico e necessidade de inclusão dos alunos que
religioso. Neste período, é válido ressaltar possuíam algum tipo de deficiência no
que não possuíam qualquer atendimento sistema regular de ensino, baseando-se
diferenciado que pudesse explorar e no princípio de uma educação para todos
trabalhar de maneira adequado a capacidade (MAZZOTA, 1996),
mental dos portadores.
Dessa forma, a proposta de educação
Já no período de 1854 a 1956, houve um inclusiva, refere-se a princípios éticos, nos
surgimento bem tímido de poucas instituições ideais de justiça e cidadania, sem inferioridade
de caráter privado, denominadas ‘’ escolas e qualquer tipo de desigualdade.
especiais’’, que prestavam atendimento
clinico especializado. Neste momento, a
sociedade começava a compreender que os A INCLUSÃO E A LEGISLAÇÃO
portadores de alguma deficiência poderiam
ser mais produtivos, e então o atendimento A inclusão apresenta-se como um processo
no âmbito da saúde foi se expandindo de adaptação social para a inserção em
também para o educacional (MANTOAN, seus sistemas sociais pessoas que possuem
2015). algum tipo de necessidade diferenciada,
preparando-as para assumir algum papel
Entre 1957 e 1993, ocorreram ações dentro da sociedade (SASSAZAKI, 1997, p.
oficiais no âmbito nacional, ou seja, a 41) afirma:
educação inclusiva se estabeleceu como
uma modalidade educacional, cuja proposta ‘’Incluir é trocar, entender, respeitar, valorizar,
lutar contra exclusão, transpor barreiras que a
assegurava serviços de apoio, complemento, sociedade criou para as pessoas. É oferecer o
suplemento ou até mesmo substituição desenvolvimento da autonomia, por meio da
plena dos serviços educacionais comuns. colaboração de pensamentos e formulação de
juízo de valor, de modo a poder decidir, por si
Neste caso, o objetivo era desenvolver as mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias
potencialidades do aluno, garantindo o acesso da via (SASSAZAKI, 1997, p.41)’’.
à educação formal (MANTOAN, 2015).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Almeida (2013), afirma que em inúmeros fóruns, o Brasil tem realizado compromissos
acerca dos direitos humanos, com seus respectivos mecanismos de proteção para assegurar
o seu exercício pleno.

O referido autor ainda mostra que a legislação educacional que trata sobre inclusão
baseia-se na Constituição Federal de 1988. Chamada de constituição cidadã, visto que
deu alta relevância aos direitos do cidadão, o artigo 208 – inciso III, diz que o Estado tem
como dever efetivar a educação através de medidas de garantia ao atendimento educacional
especializado aos alunos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino. Tal norma possibilitou a edição de diversas outras leis relacionadas ao atendimento
inclusivo especializado. Entre elas apresentam-se:

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A educação é um aspecto essencial de direitos humanos, e todos os indivíduos, ainda


que deficientes, devem fazer parte das escolas. Estas, por sua vez, devem modificar seu
funcionamento para incluir todos os alunos. Tais reflexões também foram transmitidas pela
Conferência Mundial de 1994 da UNIFEC sobre Necessidades Educacionais Especiais.

Porém, na prática, dados do IBGE em uma análise feita pelo UNIFEC (2000), mostram que
mesmo com todo embasamento, há uma necessidade de adaptação na prática, pois crianças
e os adolescentes com qualquer tipo de deficiência, com idades entre 7 e 14 anos, possuem
chances dobradas de estarem fora do ambiente escolar, em comparação com as crianças
que não possuem nenhum tipo de deficiência no nosso país. E aqueles com idade entre 12
e 17 anos, que apresentam paralisia, falta ou amputação de algum membro, ou aqueles que
apresentam deficiência mental têm quatro vezes mais possibilidade de estar fora da escola
do que os adolescentes sem nenhuma deficiência.

Ainda de acordo com dados divulgados pelo IBGE (2000), 32,9% da população sem
instrução ou com até três anos de estudo possuem alguma deficiência. Além disso, onze
milhões de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, na faixa etária dos 15 anos, não
possuem algum estudo ou baixíssima escolaridade.

Dessa forma, conforme afirma Mendes (2001, p.17), “ao mesmo tempo em que o ideal de
inclusão se populariza, e se torna pauta de discussão obrigatória, surgem às controvérsias,
menos sobre seus princípios e mais sobre as formas de efetivá-la.”

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REPENSANDO O SISTEMA DE necessárias para que de fato haja condições


INCLUSÃO de acesso ao espaço comum da vida na
sociedade, ambiente escolar, e assim
Se faz necessário analisar o sistema de aconteça verdadeiramente a educação
inclusão, repensando na maneira como as inclusiva.
instituições públicas adotam a prática da
educação inclusiva, visto que desconsideram Bueno (1999), enfatiza que,
fatores de extrema importância para que convencionalmente, as salas já sofrem de
ocorra, de fato, a inclusão. superlotação, e receber mais alunos com
problemas de disciplina a aprendizagem, que
Estes fatores são: espaço físico inadequado necessitam de uma atenção maior, torna
para receber aluno deficientes físicos, sendo a inclusão desafiadora e sistematicamente
que a adequação desses espaços resultada esses alunos são excluídos na tal prática
em um investimento muito grande em inclusiva.
equipamentos e infraestrutura, afirmando
ainda, que essas verbas possivelmente são Segundo Mantoan (2005), para que
inexistentes. Além disso, ressalta que a a educação inclusiva seja efetiva, são
comunicada não foi educada para acolher, necessárias mudanças nas propostas
integrar, recepcionar e estabelecer uma educacionais na maioria das escolas,
relação harmoniosa com o diferente. Assim, partindo para uma reorganização curricular,
há grandes chances de rejeição por parte dos dos professores, gestão, pais e alunos, e
demais alunos (ARANHA, 2001). todos que se interessem pela educação na
comunidade escolar.
Há também, um outro problema, que
é a maneira como o professor vai lidar Para que a inclusão de fato aconteça, é
com isso. Na prática, o professor precisa extremamente importante que os alunos
se comprometer com a qualidade de seu com deficiência tenham o apoio para que
trabalho, de forma a adequar suas práticas se desenvolvam no ambiente escolar,
pedagógicas a novos desafios voltados a através de espaço físico, equipamentos,
inclusão. tecnologias, entre outros. Além disso, é
valido ressaltar que a prática da Educação
Pensando nisso, a adoção de medidas Inclusiva pressupõe que haja um trabalho
de inclusão em curto prazo de tempo se conjunto entre família, professores e toda a
mostram inviáveis levando em consideração equipe escolar, onde todos compreendam as
os diferentes aspectos que implicam esta premissas da educação inclusiva, que serão
mudança, sendo estes, físicos, materiais, vistas ao longo do trabalho.
humanos, sociais, legais, entre outros,
mostrando a complexidade das reformas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O OBEJTIVO DA EDUCAÇÃO profissionais especializados no caso dos


INCLUSIVA deficientes, como psicólogos, interpretes
de língua dos sinais, psicopedagogos, entre
O objetivo da Educação Inclusiva é outros.
garantir que seus alunos participem Quando a inclusão acontece de maneira
ativamente de todas as atividades na efetiva, os preconceitos eminentes em
escola e na comunidade, considerando que relação a inserção de um aluno deficiente
são diferentes no que se refere ao estilo poderão ser eliminados ou reduzidos através
e ao ritmo do processo de aprendizagem de ações de sensibilização da sociedade
e construção de conhecimento. E essa (JESUS, 2005). O autor ainda mostra que
diferença é respeitada deve ser respeitada a convivência na diversidade humana seja
(UNICEF, 2000). em escolas inclusivas, empresas, programas
Os alunos com deficiência não devem ser de lazer, entre outros, possuem resultados
encarados como um problema no ambiente. eficazes que mostram que a inclusão
Na verdade, o grande problema está na proporciona benefícios como comportamento
falta de estrutura da escola e sua equipe adequado na escola, lar e comunidade como
para não recebe-lo adequadamente. Assim, um todo, resultados educacionais positivos
esta deve entender esses alunos possuem principalmente sobre o senso de cidadania,
peculiaridades que desafiam a atuação respeito mútuo, valorização das diferenças,
do profissional, porém, isto precisa ser entre outros.
considerado, lembrando que fracasso vem De acordo com a UNICEF (2000), quando
da falta de capacidade da escola, família professores de diferentes perfis optam por
e comunidade não conseguir atender e estudar juntos, todos podem se beneficiar,
compreender as necessidades destes alunos levando em consideração que a troca é um
(JESUS, 2005). processo positivo para o ser humano se
Além disso, a Escola Inclusiva deve desenvolver e aprender a conviver com a
ajudar o professor a desenvolver diversidade humana. Com essa possibilidade
metodologias educativas adequadas às de troca, é possível conectar-se com os
peculiaridades de cada um dos alunos, diversos graus de inteligência que cada
respeitando a potencialidade e respondendo um possui, onde cada profissional é capaz
adequadamente aos desafios apresentados de contribuir com suas potencialidades,
por eles. habilidades, etc.
Dessa forma, o aluno reproduz aquilo que De acordo com Aranha (2001), a Declaração
a escola é capaz de lhe proporcionar, e os de Salamanca aborda os Direitos humanos
professores são a peça chave do processo e a Declaração Mundial sobre a Educação
de ensino aprendizagem, e para melhorar para Todos e aponta os princípios de uma
ainda mais a qualidade do processo, é educação especial e de uma pedagogia
imprescindível contar com a ajuda de outros centrada na criança, apresentam propostas,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

recomendações da Estrutura de Ação em A inclusão da criança com Deficiência Múltipla,


Educação Especial, com orientações para por exemplo, não depende de seu grau de
ações em nível nacional e em níveis regionais severidade da deficiência ou do seu desempenho
e internacionais. As orientações e sugestões intelectual, e sim das relações, interações,
para ações em nível nacional são organizadas adaptação da criança e da modificação da escola
nos seguintes itens: para atende- lós (BUENO, 1999).

Política e Organização; Fatores Relativos Segundo a Lei das Diretrizes e Bases-1996


à Escola; Recrutamento e Treinamento (LDB), [...] Art. 58. Entende-se por educação
de Educadores; Serviços Externos de especial, para os efeitos desta Lei, a
Apoio; Áreas Prioritárias; Perspectivas modalidade de educação escolar oferecida
Comunitárias; Requerimentos Relativos a preferencialmente na rede regular de ensino,
Recurso, que por sua vez, são guiados nos para educandos com deficiência, transtornos
seguintes princípios: globais do desenvolvimento e altas habilidades
ou superdotação. (BUENO, 1999).
• Independente das diferenças
individuais, a educação é direito de todos; [...] Haverá, quando necessário, serviços de apoio
especializado, na escola regular, para atender às
• Toda criança que possui dificuldade peculiaridades da clientela de educação especial. [...]
de aprendizagem pode ser considerada com O atendimento educacional será feito em classes,
necessidades educativas especiais; escolas ou serviços especializados, sempre que, em
função das condições específicas dos alunos, não
• A escola deve adaptar–se às for possível a sua integração nas classes comuns de
especificidades dos alunos, e não os alunos ensino regular (BUENO, 1999, p. 15).
as especificidades da escola;
O MEC/SEESP, dispõe que no caso da inclusão
O ensino deve ser diversificado e realizado de alunos com Deficiência Múltipla na educação
num espaço comum a todas as crianças. infantil, por exemplo, para que a criança avance
nos processos de desenvolvimento é necessária
A Declaração de Salamanca enfatiza uma ação coletiva, das diferentes áreas do
que deve haver uma pedagogia centrada conhecimento (Neurologista, Fisioterapia,
na criança, que respeite as diferenças, Fonoaudiologia, Terapia ocupacional e Psicologia
assegurando uma educação para todos Escolar), quando necessário fornecendo
através de um currículo apropriado (JESUS, informações e orientações específicas para
2005). o atendimento das necessidades de cada
deficiência (JESUS, 2005).
Crianças com qualquer tipo de deficiência
tem a necessidade de aprender, brincar e As ações integradas de educação, saúde, e
participar do meio social interagindo com o assistência social são essenciais para que todas
mundo que a cerca (JESUS, 2005). as necessidades sejam atendidas (JESUS, 2005).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente, pode-se observar uma falência no sistema
público educacional, e neste sistema, o professor tem papel
fundamental no processo de ensino-aprendizagem. Em
geral, há muito o que ser melhorado, desde ambiente físico
à formação dos professores, números de aluno em classe,
participação da equipe gestora, entre outros. Ao pensar
no aluno especial, o assunto é muito mais delicado visto
que cada caso é extremamente especifico e cabe a equipe
educacional inseri-lo da melhor maneira para que toda sua
capacidade mental seja explorada.

Os professores, na maioria das vezes, demonstram não


possuir preparo algum para lidar com esses casos, e ainda
que tenha muita força de vontade, nota-se que o problema
tem uma raiz na formação destes profissionais. MIRLENE MICHELE
DA SILVA ROMÃO
As instituições não preparam suficientemente para oferecer
Graduação em Pedagogia pela
o suporte necessário para a construção do conhecimento, e Universidade Camilo Castelo
muito menos lidar com toda diferença imposta pela inclusão, Branco em 2014 e Pós Graduada
sendo que esses fatores são essenciais para que a inclusão em Psicopedagogia Educacional
pela Universidade Brasil desde
ocorra de maneira efetiva. Dessa forma, o maior desafio 2017. Professora de Educação
do profissional da educação é lidar com os sentimentos de Infantil e Fundamental pela
incapacidade frente a essas situações. Prefeitura Municipal de São
Paulo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o Censo Demográfico 2000.

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A MÚSICA DENTRO DO
CONTEXTO ESCOLAR
RESUMO: Esse artigo tem como objetivo mostrar que a música é uma forma de expressão
da humanidade, quando observamos que, por dificuldades diversas, a música vem perdendo
espaço dentro das escolas, sendo preciso que seja feita alguma coisa. É necessário estudar
sobre o trabalho com música em sala de aula, a inserir a música no contexto escolar e
dar a oportunidade das crianças de tomar contato, experimentar e vivenciar a música. A
música é muito importante para o ser humano, especialmente para as crianças, em fase de
desenvolvimento e aprendizado do mundo, sendo uma forma de se expressar suas emoções,
pela sociabilidade, pela disciplina, pelo raciocínio lógico, são valiosíssimos para toda a vida. É
interessante aos professores que busquem embasamento teórico e atividades práticas para
cada faixa do ensino fundamental, sendo uma porta que abre e apresenta um amplo campo
de sugestões para o desenvolvimento de um trabalho sério de música dentro da escola.

Palavras-Chave: Aprendizagem; Desenvolvimento; Educação; Música.

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INTRODUÇÃO Esse artigo tem como objetivo mostrar a


importância do trabalho com música dentro
Esse trabalho tem como objetivo ser uma de sala de aula, e o quanto pode auxiliar no
ferramenta útil aos professores que queiram desenvolvimento das crianças.
agregar valor ao trabalho com música dentro
de sala de aula, utilizando a música, fazendo Outro objetivo é aumentar o repertório
com que ela retome seu espaço dentro das das crianças, pois geralmente dentro da
escolas, e que num futuro próximo nós comunidade é só apresentado um estilo de
tenhamos mais crianças e adolescentes música.
ajudando a construir um mundo mais
harmônico e mais ritmado. O objetivo desse estudo foi discutir
atitudes e comportamentos do professor, em
O trabalho com música dentro da escola, formação inicial e que atuam na educação
possibilita uma variedade de modos de básica, em relação à música e a partir de
maneiras de percepção e sensações do sua experiência na participação em uma
aluno na sua relação com o mundo, por atividade lúdica, que utilize o som e com isso
meio de recursos expressivos de que dispõe trabalhe com os movimentos do corpo e as
o seu organismo para a comunicação e o sensações que a música transmite.
conhecimento do mundo em que vivemos.
O jogo e o brincar devem ser um tema
A música na escola não é apenas ornamental bastante estudado dentro das escolas tanto
para animar as festas, mas por meio da nas de educação infantil, como nas escolas
vivência das dimensões estéticas, sonoras, de fundamental dos anos iniciais, no qual a
visuais, plásticas e gestuais, desenvolvendo criança esta na fase para aprender diversos
a consciência crítica dos valores humanos, valores e com isso aprender de forma mais
encontramos meios de levar as crianças a significativa.
atuarem como cidadãos.
O professor que deixa as crianças livres
A educação, e modo geral e a artística, às vezes é visto como um marginal, pois
deve considerar as fantasias, os sentimentos não apresenta uma ordem dentro de sala de
e os valores, como também as habilidades aula, mas isso precisa ser trabalhado entre
cognitivas, a pesquisa, a descoberta, a criação, seus pares e superiores. Observar seus
a reflexão, levando as crianças a sentirem, movimentos, as músicas que ouvem, como
interiorizarem, para depois transmitir o pula, como segura, é de tamanha importância
que sabem por meio dos conteúdos que se para o desenvolvimento cognitivo como um
pretenda atingir. todo.

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LINGUAGENS, CÓDIGOS E de aprendizagem e de gestão pessoal, as


SUAS TECNOLOGIAS artes, incluindo a literatura, como expressão
criadora e geradora de significação de
A linguagem é considerada uma capacidade uma linguagem e de uso que faz dos seus
humana de articular significados coletivos elementos e de suas regras em outras
em sistemas arbitrários de representação, linguagens, como a música e de atividades
que são compartilhados e que variam de físicas e desportivas como domínio do corpo
acordo com as necessidades e experiências e como forma de expressão e comunicação,
da vida em sociedade. A principal razão de na dança.
qualquer ato de linguagem é a produção de
sentido.
UM POUCO DA HISTÓRIA
As linguagens que se inter-relacionam SOBRE A VOZ E A MÚSICA
nas práticas sociais e na história, fazendo
com que a circulação de sentidos produza No início os homens se comunicavam por
formas sensoriais e cognitivas diferenciadas, meio de ruídos bem rudimentares, como os
envolve a apropriação demonstrada pelo uso animais ainda fazem, o desenvolvimento
e pela compreensão de sistemas simbólicos da espécie humana e toda a evolução de
sustentados sobre vários suportes e de seus sua inteligência aperfeiçoaram as formas
instrumentos como sendo de organização de comunicação, possibilitando o uso da
cognitiva da realidade e de sua comunicação. voz como uma maneira de comunicação e
expressão.
Ocorrendo com isso um reconhecimento
de que as linguagens verbais, icônicas, Antigamente entre os gregos, a
corporais, sonoras e formais, dentre tantas declamação predominava sobre o canto, no
outras se estruturem de forma semelhante século IV, foi fundada em Roma pelo papa
sobre um conjunto de elementos (léxico) e de Silvestre a primeira escola para a formação
relações (regras) que são significativas, com do canto religioso, durante muitos anos o
isso a prioridade é para a Língua Portuguesa, desenvolvimento da música esteve atrelado
como língua materna geradora de significação à Igreja, independentemente das canções
e integradora da organização do mundo e da profanas dos séculos XII, XIII e XIV.
própria interioridade, dominar uma segunda
língua como forma de domínio de línguas No final do século XVI, surgiu a ópera
possibilita o acesso a outras pessoas, outras sendo uma forma musical, reunindo diversos
culturas e informações, o uso da informática cantores, bailarinos e declamadores,
como meio de informação, comunicação e acompanhados por diversos instrumentos
resolução de problemas, a ser utilizada no musicais. Sendo recebida com grande
conjunto de atividades profissionais, lúdicas, entusiasmo pelo público, estimulando o seu

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Revista Educar FCE - Abril 2019

desenvolvimento rapidamente e com isso ao processo fonatório, a produção da voz é


surgiu a necessidade do aperfeiçoamento o resultado de uma aprendizagem cultural
vocal para quem cantava, surgindo com realizada pelos recursos do próprio corpo,
isso as grandes escolas de canto, sendo a a laringe primitivamente era destinada à
maior em Roma, que apresentavam diversas nossa respiração, diante da necessidade
técnicas. de intercomunicação da espécie humana,
passou a desempenhar o papel de órgão
Quando falamos utilizamos geralmente fonador, sendo uma adaptação de um órgão
cinco tons, mas podemos chegar até oito primitivo a outra função.
tons na voz quando declamamos o quando
atuamos. Os bons cantores conseguem Outros órgãos como lábios, dentes, língua,
emitir, entre 16 a 24 tons. Com o nascimento palato duro e faringe, que são do nosso
da ópera foi exigida o desenvolvimento da sistema digestivo, têm além de suas funções
voz. Nem todos os cantores possuíam a voz biológicas relacionadas ao processo alimentar,
adequada, surgindo então a técnica vocal participação nas funções fonatórias, pois
que era apoiada no que se conhece sobre o esses órgãos são responsáveis também pela
funcionamento do aparelho fonador. produção vocal, nos aspectos da articulação
dos sons e projeção da voz, enquanto a
O desenvolvimento da voz foi um grande faringe também contribui como caixa de
desafio para a medicina, que pesquisou o ressonância.
funcionamento do aparelho fonador, sua
anatomia e suas deficiências.
GÊNEROS, FORMAS E
Em 1854 ainda não se sabia exatamente ESTILOS MUSICAIS
como a voz era produzida, quando o professor
de canto Manoel Garcia introduziu na sua Uma forma de conhecermos os objetos é
garganta um espelho de dentista, colocou-o por sua forma, podemos observar que dentro
contra o sol e observou com um segundo de uma mesma categoria, como árvores,
espelho o interior da laringe, provando que flores ou frutas, há uma enorme variedade
falamos e cantamos com as cordas (pregas) de elementos, com diferentes combinações
vocais. que enriquecem e especificam cada espécie.

Ao nascermos aprendemos a falar e a A música pode ser pensada quando o
cantar por termos uma necessidade de compositor tem diante de si diversos timbres,
comunicação. sons instrumentais e vocais. Uma composição
musical reúne um conjunto de elementos
O corpo humano não tem, na sua sonoros, tornando-se única, mesmo que faça
anatomia, constituição própria e adequada parte de uma categoria estrutural maior.

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As categorias reúnem obras musicais IMPORTÂNCIA DA MÚSICA


que compartilham elementos semelhantes, NO CONTEXTO ESCOLAR
organizadas por gêneros, e alguns gêneros
são definidos por regiões geográficas, como A música contribui para uma melhoria
a música indiana, argentina e até mesmo a no ambiente escolar, deixando-o mais
brasileira. alegre, pois oferece um efeito calmante,
especialmente depois de atividades físicas e
Podemos agrupar as composições atividades que exigem mais esforções como
considerando sua ordem cronológica, visitas a ambientes externos, que deixam as
pelos períodos da história ocidental, como crianças mais agitadas, reduzindo também
renascença, barroco, clássico etc. o estresse de algum momento avaliativo,
podendo ser utilizada como método de
Uma forma mais recente de agrupar as aprendizado de todas as disciplinas.
categorias referem-se aos estilos musicais
como rock, pop-rock, rap, reggae, samba, Os professores podem usar a música
jazz, valsa, tanto, eletrônica, new age entre como uma importante ferramenta de
tantas outras que vão surgindo. trabalho facilitando o aprendizado das
crianças, habilitando-as o suficiente para
Algumas peças musicais não se encaixam que possam realizar diversas funções
em nenhuma dessas tantas divisões, sendo motoras e intelectuais, além de melhorar o
caracterizadas por conterem elementos relacionamento com o meio social.
diversos, criando uma própria definição.
Uma maneira eficiente para trabalhar
As crianças têm sido apresentadas ao algum assunto pode ser escolher diferentes
universo sonoro - natural ou intencionalmente músicas que falem do mesmo tema, e
- ao serem expostas a uma “grande variedade trabalhar essas músicas dentro de sua alua,
de sons produzidos pela voz humana, pelos tornando a aula bem mais atrativa, dinâmica,
sons corporais, pela natureza, pelas máquinas ajudando a rememorar essas informações
e também pela música”, mas no início da repassadas para atividades posteriores.
vida essas informações sensoriais ainda
são confusas e a atividade sensória motora A música acaba se tornando uma
auxiliará a organizá-las. ferramenta muito simples, e de fácil acesso,
pois não necessita de muitos recursos
A escuta, portanto, é de importância materiais, e caso não tenha como reproduzir
significativa na educação infantil, pois todos a música por meio de um aparelho eletrônico
esses e outros conteúdos serão apresentados é só o professor ensinar a música para seus
e conectados uns aos outros por meio da alunos. O som acaba sendo produzido, tanto
audição e da percepção. por instrumentos, objetos ou pelo próprio

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corpo, com o acompanhamento de palmas, Ligar a música e o movimento, utilizando


transportando as crianças para um mundo a dança ou a expressão corporal, pode
enorme de aprendizado e a intensidade muda contribuir para que algumas crianças,
de acordo com as diversidades individuais. em situação difícil na escola, possam se
adaptar (inibição psicomotora, debilidade
Dentro da sala de aula, especialmente nos psicomotora, instabilidade psicomotora, etc.).
primeiros anos da educação fundamental Por isso é tão importante a escola a escola
as crianças acabam desenvolvendo se torna um ambiente alegre, favorável ao
suas perspectivas intelectuais, motores, desenvolvimento. (BARRETO, 2000, p. 45).
linguísticas e psicomotoras. Além de a
música poder ser praticada como disciplina A apreciação musical é de fundamental
em si, como uma linguagem artística, forma importância, como vimos acima e nos capítulos
de cultura e expressão. anteriores, mas as atividades relacionadas
à escuta musical devem ser encaminhadas
As músicas trabalhadas dentro da escola levando-se em conta, entre outras coisas, a
não devem ser voltadas para a formação de faixa etária em que a criança se encontra,
músicos, mas por meio da prática e percepção ou seja, proporcionar às crianças atividades
da linguagem musical, proporcionando a relativas à apreciação musical entendendo
abertura de canais sensoriais, facilitando a e respeitando a forma com que as crianças
expressão de emoções, aumentando com compreendem e se expressam musicalmente
isso a cultura auxiliando para a formação em cada fase do seu desenvolvimento.
total das crianças.
As crianças adoram ouvir e cantar,
Os professores precisam pesquisar, favorecendo muito o raciocínio lógico,
estudar e levar para dentro de suas salas de ajudando com isso na matemática, por meio
aulas práticas educativas com músicas de boa da música as crianças conseguem expressar
qualidade, pois as crianças atualmente são sentimentos, que muitas vezes desconhece
expostas à diversos tipos de músicas que não o nome, além de favorecer a socialização
favorecem em nada seu desenvolvimento, por conta da dança, ou quando cantam em
pois geralmente contém fundos apelativos, conjunto com as demais crianças.
sem melodia e que não tem conteúdo
adequado para estar dentro da escola. Nas escolas de educação infantil, as
atividades com música acabam sendo
É necessário que a escola amplie o desenvolvidas buscando diversas
conhecimento dos alunos, favorecendo especificidades na percepção aprofundando
a convivência com os diferentes gêneros e ampliando o repertório das crianças e
musicais, apresentando diferentes estilos, a capacidade de atenção e concentração
proporcionando um diagnóstico reflexivo. das mesmas, pois nessa idade o tempo

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de atenção é muito pequeno, e a música da cultura de sua comunidade e, ao mesmo


acaba fazendo gradativamente que isso vá tempo, buscar ultrapassar seus limites,
aumentando, para começar é sempre bom as propiciando às crianças pertencentes
músicas e contos que utilizam a repetição e aos diferentes grupos sociais o acesso ao
o complemento a cada etapa, para que ela conhecimento, tanto no que diz respeito
sempre saiba uma parte e vá se interessando aos conhecimentos socialmente relevantes
em cantar e aprender a letra da música, da cultura brasileira no âmbito nacional e
sendo bom utilizar a mímica e alguns sinais, regional como no que faz parte do patrimônio
podendo introduzir um pouco de LIBRAS universal da humanidade.
(Linguagem Brasileira de Sinais).
Referente às crianças um pouco maiores,
O trabalho com música pode proporcionar durante este tipo de atividades, elas devem
um enorme enriquecimento e ampliação ser incentivadas a guiar-se pela maneira, pela
dos conhecimentos de diferentes aspectos estrutura da composição, dessa maneira,
referentes à produção musical: os torna-se necessário uma escuta atenta
instrumentos que podem ser introduzidos, e abre margem para um diálogo com as
mostrar alguns profissionais que atuam e o crianças sobre o que ouviram, perceberam,
conjunto que formam um grupo, uma banda, identificaram e reconheceram.
uma orquestra, trazer diversos gêneros
musicais, estilos e perceber e registrar qual O desenvolvimento de capacidades, como
a preferência do grupo ou se algum aluno as de relação interpessoal, as cognitivas, as
gosta de um determinado gênero diferente afetivas, as motoras, as éticas, as estéticas
dos demais. de inserção social, torna-se possível por meio
de processo de construção e reconstrução
No Brasil há um grande repertório de de conhecimentos.
músicas com intuito de atender o mundo
infantil, incluindo diversas cantigas de roa As escolas para exercerem a função social
e ninar, músicas folclóricas, sendo essas necessária precisa possibilitar o cultivo
simples de serem trabalhadas e muito dos bens culturais e sociais, considerando
importante para serem trabalhadas na as expectativas e as necessidades de seus
educação infantil, esse contato musical não alunos, dos seus pais, dos profissionais
precisa ser restrito apenas a esse gênero, envolvidos nesse processo e dos demais
existe um vasto universo sonoro que pode membros da comunidade.
ser trabalhado, nosso país é rico de gêneros
que podem ser trazidos e levados a cada sala É necessário vincular o trabalho escolar
de aula, fazendo um intercambio de cultura. com algumas questões sociais e com os
A escola, na perspectiva de construção valores democráticos, não apenas do
de cidadania, precisa assumir a valorização ponto de vista da seleção e tratamento dos

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conteúdos, como da própria organização do ambiente escolar, da formação e da construção


de projetos que envolvam todos.

Os objetivos propostos pelos PCNs concretizam as intenções educativas em termos


de capacidades que devem ser desenvolvidas pelas crianças ao longo da sua vida escolar.
A decisão de definir os objetivos educacionais em termos de capacidades é crucial nesta
proposta, devem expressar uma variedade de comportamentos.

O professor, consciente de que condutas diversas podem estar vinculadas ao
desenvolvimento de uma mesma capacidade, tem diante de si maiores possibilidades de
atender à diversidade de seus alunos.

É interessante que o professor converse com seus alunos, para saber quais estilos de
música escutam em casa, quais eles gostam mais, quais gostariam de ter acesso, no Brasil
tivemos bons compositores e cantores que trabalharam com músicas voltadas para o público
infantil e que atualmente estão um pouco esquecidos, é interessante mostrar para as crianças
essas músicas, que são adequadas à faixa etária e o conteúdo é de excelente qualidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As crianças precisam estar em contato com diversos
estímulos sonoros, mas são necessários cuidados com o
que apresentamos para as crianças, para que a música seja
usada em diversas atividade, mas que não seja apenas um
fundo, deixando de usufruir e valorizar o silêncio, atividades
com fundo musical que acalme as crianças quando é preciso
que se façam uma atividade de avaliação, às vezes acaba
atrapalhando, precisamos valorizar a música e o silêncio para
que tudo flua da melhor maneira possível.

Os professores precisam focar na intenção em se trabalhar


com determinada música, conduzindo e propondo atividades
de uma maneira diferenciada.

As crianças estão propensas a querer se movimentar, MONISE FELIX DELPASSO


querendo sempre dançar, pulando fazendo roda ao ouvirem
Graduação em Pedagogia
qualquer tipo de som, para elas a música é percebida por pela Faculdade Presbiteriana
todos os seus sentidos, a música não é só para ser ouvida e Mackenzie, (2001),; Especialista
sim sentida por todo o corpo. em Educação Musical pela
Faculdade Campos Elíseos (2018).
Professora de Educação Infantil
Nas escolas quando colocam músicas sempre esperam no CEI Parque Edu Chaves.
a participação das crianças em situações que façam a
integração do corpo com a música, geralmente escolhendo
um repertório conhecido pelas crianças, para que despertem
o desejo tanto de ouvir quanto de interagir, dançando, pois
recebem a música de forma global, muitas utilizam a música nos intervalos, na entrada e
saída das crianças e nas festinhas.

Atualmente a realidade das escolas a música é desenvolvida de maneira resumida, por


meio de repetição e imitação, algo quase mecânico, sem um discernimento. A escola acaba
realizando um trabalho significativo com material reciclável para a confecção de instrumentos
para exploração de sons e de algumas outras atividades contribuindo para o desenvolvimento
da inteligência musical, fazendo com que a musica se torne uma boa ferramenta para o
trabalho dos professores, melhorando a qualidade da educação para as nossas crianças,
tornando-as críticas e pessoas com mais aceitação e participação cultural.

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TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS NO BRASIL
RESUMO: O objetivo principal deste trabalho é relatar a trajetória da Educação de Jovens
e Adultos, remontando-a desde o Brasil República até a contemporaneidade. Destacando
também a legislação na Educação de Jovens e Adultos, tais como: Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (LDB 9.394/96); Constituição Federal de 1988 e Parecer CEB 11/2000, que
foram de suma importância pela Educação de Jovens e Adultos chegar nos moldes atuais e
pela sua melhoria ao longo dos anos. Tem como principal objetivo mostrar como foi e como
se desenvolveu a trajetória da Educação de Jovens e Adultos desde o Brasil República até a
atualidade e as mudanças significativas que ocorreram com o passar dos anos. A metodologia
utilizada foi a qualitativa e como abordagem a pesquisa bibliográfica visando demostrar como
ocorria o processo de alfabetização antigamente e como ele se modificou ao longo dos anos.

Palavras-Chave: Educação de Jovens e Adultos; Alfabetização; Legislação.

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INTRODUÇÃO Para a realização deste artigo foi utilizada


pesquisa bibliográfica que permitiu a seleção
O presente artigo tem como foco de
a trajetória da Educação de Jovens e
Adultos desde o Brasil República até livros, artigos, legislações e trabalhos de
a contemporaneidade, dando ênfase a autores estudiosos do tema escolhido para
todos os movimentos educacionais que a ser trabalhado e aprofundado. Foi importante
Educação de Jovens e Adultos percorreu e as para adquirir maior conhecimento da
legislações pertinentes que foram de suma temática a ser desenvolvida e tendo como
importância para as mudanças e avanços base os referenciais pesquisados para dar
na alfabetização dos jovens e adultos, tais embasamento teórico ao trabalho.
como: Lei de Diretrizes e Base da Educação
(LDB 9.394/96), Constituição Federal de
1988 e Parecer CEB 11/2000. TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO
DE JOVENS E ADULTOS
O objetivo dessa pesquisa é verificar como
ocorreu a trajetória da Educação de Jovens Autores e pesquisadores que dedicam - se
e Adultos, desde os primórdios. No Brasil ao estudo da Educação de jovens e adultos
República os jesuítas eram os responsáveis em afirmam que essa é uma tarefa complexa, pois
alfabetizar os índios e crianças, já no século não se tem acesso a todos os acontecimentos
XIX a partir do Ato Adicional de 1834 essa ocorridos no passado, somente a alguns que
responsabilidade passou para as províncias foram registrados por nossos antepassados.
que ficaram responsáveis pelas instituições O processo de alfabetização de adultos no
primárias e secundárias, assim estendendo a Brasil remonta-se desde o período jesuítico,
alfabetização também aos adultos. A Educação quando os missionários exerciam uma
de Jovens e Adultos era vista como uma ação educativa missionária com crianças
forma de acabar com a “ignorância” dos não e adultos. Os jesuítas que antes eram
alfabetizados. Somente a minoria da população considerados os responsáveis em alfabetizar
tinha acesso a alfabetização, como por os Índios e adultos, no século XIX deixaram
exemplo as elites detentoras do poder. Com o de ser os únicos a assumir essa posição
passar dos anos e com a criação das legislações passando as províncias que a partir do Ato
pertinentes a Educação de Jovens e Adultos Adicional de 1834 tornaram-se responsáveis
a alfabetização passou a ser direito de todos pelas instruções primária e secundária e por
os cidadãos. Com a criação da Constituição extensão, também dos adultos.
Federal de 1988 o direito a educação se
estendeu para aqueles cujo ainda não haviam É importante ressaltar a questão de como
frequentado a escola e também aos que não acontecia à divisão do ensino para jovens e
tinham concluído o ensino fundamental. adultos. Galvão (2005) fala que, “O ensino

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deveria ser dividido em duas seções: uma 1891, pois eram vistos como incapazes de
para os que não tinham nenhuma instrução e decidirem por si próprios. A Constituição de
outra para aqueles que já possuíam alguma” 1891 não trouxe muitas mudanças para a
(p. 31). educação de jovens e adultos, ela continuou
pautada a uma orientação descentralizadora
O mesmo autor ainda complementa da educação popular. A única ação que
dizendo que: teve amplitude nacional ocorreu em 1913,
e foi realizada pelo Exército, em escolas
“O ensino para adultos parecia assumir, em alguns regimentais criadas, para proporcionar o
casos, um caráter de missão para aqueles que a eles
se propusessem, na medida em que os professores ensino educacional primário aos soldados
que ensinavam durante o dia não receberiam analfabetos, as aulas eram ministradas por
nenhum salário ou gratificação a mais para abrir professores civis. Mas foi uma ação que não
aulas noturnas” (p.31).
se expandiu e de caráter numérico pouco
expressivo.
Na metade do século XIX a educação de
jovens e adultos ainda era vista como uma “O Recenseamento Geral de 1940, um dos produtos
do processo de modernização do Estado, colocara
forma de acabar ou diminuir a “ignorância” em grande evidência a gravidade da situação
dos não alfabetizados, ou seja, iluminando educacional, revelando, entre outras realidades
suas mentes com o saber. No final do século inquietantes, que mais da metade da população
de maiores de 15 anos era constituída por jovens e
XIX ainda existiam restrições às questões adultos analfabetos” (p.208-209).
relacionadas à escolarização que fazia
com que somente a minoria da população Segundo Galvão (2005), muitos dos
tivesse acesso a ela. De acordo com a intelectuais brasileiros traziam consigo um
UNESCO (2008), “Até fins do século XIX, as sentimento de “vergonha”, devido ao grande
oportunidades de escolarização eram muito índice de analfabetos, onde cerca de 80%
restritas, acessíveis quase que somente da população se encaixava nessa situação.
às elites proprietárias e aos homens livres Sendo que, desses 80% analfabetos pode-
das vilas e cidades, minoria da população” se retirar o percentual de 02 a cada 10
(p.24). que conseguiam ler cartas, jornais, livros
e documentos, ou seja, um número muito
baixo de pessoas alfabetizadas e um altíssimo
A EDUCAÇÃO DE JOVENS índice de analfabetos
E ADULTOS NO BRASIL
Em 1946 com o retorno da democracia no
REPÚBLICA Brasil a lei que atendia ao Ensino Primário
De acordo com Beisiegel (1998), o direito expandiu-se para o ensino supletivo.
ao voto ainda não era admitido aos sujeitos Entretanto somente em 1947 a educação
analfabetos durante a Constituição de de adultos ganha força com a Campanha de

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Educação de Adultos lançada pelo governo no que diz respeito ao aprendizado, pois,
com o intuito de alfabetizar a população, eram efetivadas em um curto prazo, os
sendo que, um dos motivos para sua criação programas eram inadequados e os materiais
foi o alto índice de analfabetos com idade utilizados não levavam em consideração as
de 15 anos ou mais. O autor ainda diz que especificidades dos adultos nelas envolvidos
a Campanha criou uma infraestrutura para e nem as diferenças regionais. (UNESCO,
atender aos jovens e adultos, produziu 2008).
vários materiais pedagógicos para trabalhar
com os mesmos. Galvão (2005) diz que, “A
Campanha fez vários apelos ao engajamento DÉCADA DE 1960
de voluntários para erradicar o “mal
do analfabetismo” do País” (p.42). Essa No início da década de 1960 surgem os
Campanha tinha como objetivo erradicar movimentos de educação e cultura popular.
o analfabetismo, ainda tinha-se um olhar A educação de adultos passa a ser vista como
assistencialista para com a educação de um problema político, pois, mais de 50% da
adultos. população era constituída de analfabetos e
por esse motivo o direito ao voto eram-lhes
Os políticos e intelectuais da época vetado. De acordo com a UNESCO (2008)
republicana acreditavam que a alfabetização nessa época:
tinha o poder de regenerar a massa
populacional pobre como, brancos e negros “[...] a alfabetização de adultos compôs estratégias
de ampliação das bases eleitorais e de sustentação
libertos, fazendo com que houvesse a política das reformas que o governo pretendia
iluminação e disciplina dessas camadas realizar. A efervescência político-social do período
sociais consideradas incivilizadas e incultas. compôs o cenário propicio à experimentação
de novas práticas de alfabetização e animação
(UNESCO, 2008). Ainda na década de 1940, sociocultural popular, que em sua maioria adotaram
fica em grande evidência a grave situação a filosofia e o método de alfabetização proposto
educacional do país, em meio a outros por Paulo Freire” (p.26).

problemas.
Nesse período o analfabeto passa a ser
Nos anos de 1950 surgiram inúmeras e visto como construtor de seu aprendizado,
diversas outras campanhas de alfabetização, assim como diz Galvão (2005), “[...] a
mas nenhuma delas obteve resultados alfabetização de adultos deveria contribuir
concretos. Dentre elas destacam-se a CEAA para a transformação da realidade social”
(Campanha de Educação de Adolescentes e (p.44). Por isso Paulo Freire propunha que
Adultos), Campanha Nacional de Educação a produção do conhecimento tivesse como
Rural, em 1952 e a Campanha Nacional de ponto de partida a realidade do aluno e
Erradicação do Analfabetismo, em 1958. partisse de palavras geradoras que eles já
Essas campanhas eram de caráter superficial conhecessem.

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O documento da UNESCO (2008) relata ações do Plano Nacional de Alfabetização,


que, foram empreendidos vários programas, a escolarização de jovens e adultos ganhou
por intelectuais, estudantes e católicos que contornos de suplência, instituído pela
estavam engajados nas ações políticas, reforma do ensino de 1971, mesmo ano em
tais como: Movimento de Erradicação de que teve início a campanha denominada
Base, da Conferência Nacional dos Bispos Movimento Brasileiro de Alfabetização, que
do Brasil, estabelecido em 1961, com o ficou conhecida pela sigla Mobral.
patrocínio do governo federal; o Movimento
de Cultura Popular do Recife, a partir de No início da década de 80, a sociedade
1961; a Campanha de Pé no Chão Também brasileira viveu importantes transformações
se Aprende Ler, da Secretaria Municipal de sócio-políticas com o fim dos governos
Educação de Natal e os Centros Populares de militares e a retomada do processo de
Cultura, órgãos culturais da União Nacional democratização, basta lembrar-se da
dos Estudantes (UNE). campanha nacional a favor das eleições
diretas.
Em 1963 a Campanha Nacional de
Alfabetização que teve início em 1947 chega Em 1985, o MOBRAL foi extinto sendo
ao fim. No ano de 1964 com o Golpe Militar substituído pela Fundação EDUCAR. O
muitos dos movimentos de educação de contexto da redemocratização possibilitou
adultos foram extintos e os participantes dos a ampliação das atividades da Educação de
mesmos foram perseguidos e posteriormente Jovens e Adultos. Estudantes, educadores
exilados. Segundo Fávero (2004), O Golpe e políticos organizaram-se em defesa da
Militar desmobilizou praticamente todos os escola pública e gratuita para todos. A nova
movimentos de educação e cultura popular Constituição de 1988 trouxe importantes
ocorridos nos anos de 1960: avanços para a EJA: o ensino fundamental,
obrigatório e gratuito, passou a ser garantia
“Apenas o MEB, com sacrifícios, tentou superar a constitucional também para os que a ele não
crise até 1966, inclusive desenvolvendo criativa
proposta de animação popular, a ser realizada tiveram acesso em idade apropriada.
através de contatos diretos com os grupos
populacionais com os quais anteriormente havia Em março de 1990, com o início do
trabalhado com as escolas radiofônicas” (p.23-24).
governo Collor, a Fundação EDUCAR
foi extinta e todos os seus funcionários
colocados em disponibilidade. Em nome do
MOVIMENTO BRASILEIRO DE enxugamento da máquina administrativa, a
EDUCAÇÃO União foi se afastando das atividades da EJA
e transferindo a responsabilidade para os
Após o golpe militar de 1964 que Estados e Municípios.
interrompeu os preparativos para o início das

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Com a extinção da Fundação Educar em nacional. Dentre esses movimentos destaca-


1990, Ano Internacional da Alfabetização se o Movimento de Alfabetização (MOVA),
instituído pela UNESCO, o governo Federal que procurava envolver as iniciativas civis e
se omitiu do cenário de financiamento para também o poder público. Galvão (2005) diz
a educação de jovens e adultos, cessando que: ”Os MOVAS se multiplicaram como uma
os programas de alfabetização até então marca das administrações ditas populares,
existentes. tendo o ideário da educação popular como
princípio de sua ação: o “olhar” diferenciado
Naquele mesmo ano, realizou-se em sobre os sujeitos da alfabetização [...] o
Jomtiem, Tailândia, a Conferência Mundial vínculo Estado - sociedade” (p.48). A partir
de Educação para Todos, financiada pela das discussões e experiências de educação
Organização das Nações Unidas para de jovens e adultos na década de 1990, e por
a Educação e Cultura (UNESCO), pelo efeito das determinações legais advindas,
Fundo das Nações Unidas para a Infância foram promulgadas, em 10 de maio de 2000,
(UNICEF), pelo Programa das Nações as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) Educação de Jovens e Adultos, elaboradas
e pelo Banco Mundial, de modo que ficou pelo Conselho Nacional de Educação.
explícita a dramática realidade mundial de
analfabetismo de pessoas jovens e adultas,
bem como os baixos índices de escolarização A EDUCAÇÃO DE
básica e a evasão escolar de crianças e JOVENS E ADULTOS NA
adolescentes.
CONTEMPORANEIDADE
As políticas educacionais de 1990 O programa Alfabetização Solidária
não corresponderam às expectativas da fundada em 1997 tinha o intuito de reduzir
Constituição de 1988, pois, priorizavam o os índices de analfabetismo com o foco
acesso das crianças e adolescentes no ensino para os analfabetos de 18 a 24 anos, sendo
fundamental, ficando assim, a educação de dirigido aos municípios, com menos Índice
jovens e adultos em segundo plano. Nesse de Desenvolvimento Humano (IDH) e alta
contexto na segunda metade da década de porcentagem de analfabetos. Foi formulado
1990 evidenciou - se também a articulação dentro do Ministério da Educação, e seguia
de diversos segmentos sociais como: uma linha de terceirização de políticas
Organizações Não-Governamentais (ONGs), sociais, acreditava que era possível
movimentos sociais, Governos Municipais alfabetizar sem intervenção do governo
e Estaduais, universidades, organizações ou apenas com financiamento de parte
empresariais (Sistema “S”), com os objetivos dos gastos. Este programa mostra que o
de debater e propor políticas públicas para professor alfabetizador de adultos não
a educação de jovens e adultos em nível é necessário, colocou em prática que a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

alfabetização de adultos não é de caráter adultos passou a ser mantida pelos estados
profissional, podendo assim, qualquer um e municípios. Como pode ser observado na
com o mínimo de treinamento realizar essa citação seguinte referente a UNESCO (2008)
função. (BARREYRO). “[...] são os estados e municípios, que mantém
as redes escolares, capazes de acolher a
O Programa Brasil Alfabetizado, assim maior parte dos estudantes jovens e adultos
como o Alfabetização Solidária faz parte das [...] proporcionando-lhes a continuidade dos
políticas públicas recentes de educação de estudos e a consolidação das aprendizagens”
jovens e adultos, ambas assumem funções (p.42).
subsidiarias de financiamento e apoio aos
Estados, Municípios e organizações sociais. A partir do ano de 2004 o Ministério
O Programa Brasil Alfabetizado é uma da Educação (MEC) reuniu a gestão dos
iniciativa do Governo Federal do Brasil, criado programas de apoio à alfabetização e
em 2003 por Cristovam Buarque e ampliado ensino fundamental de jovens e adultos
em 2007 por Fernando Haddad, atualmente na Secretaria de Educação Continuada,
é instituído pelo Decreto 6.093/2007. Alfabetização e Diversidade (SECAD),
(CARDONA, 2010) que era uma nova secretaria, instituindo
uma Comissão Nacional para consulta aos
Foi um programa criado pelo Governo municípios, organizações e estados.
Federal, mas o MEC que é o responsável
por sua execução, tem como objetivo
alfabetizar jovens de quinze anos ou mais, A DÉCADA DAS NAÇÕES
adultos e idosos, com o intuito de promover UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO
a universalização do ensino fundamental e
assim tentar erradicar o analfabetismo no A Assembleia Geral da resolução de n°
Brasil. Possibilitando a todos os cidadãos 56/116 fala que a alfabetização é importante
o acesso a cidadania por intermédio da para a aquisição de habilidades essenciais
educação, sendo que, sua prioridade é para a vida. PAIVA et al. (2007):
atender aos municípios que apresentarem os
piores índices de analfabetismo. “[...] a alfabetização é de importância crucial para a
aquisição, por todas as crianças, jovens e adultos,
de habilidades essenciais para a vida, que os
Embora o Governo Federal tenha capacitem a enfrentar os desafios que eles podem
concedido, financiado e coordenado à vir a encontrar na vida, representando um passo
essencial para a educação básica, que consiste num
alfabetização de jovens e adultos durante meio indispensável para a participação efetiva nas
muito tempo, ele não é mais o responsável sociedades e nas economias do século 21.” (p.146).
em atender a essa modalidade de ensino.
Pelo fato da educação básica no Brasil ser De acordo com a visão aplicada na Década
descentralizada, a educação de jovens e da Alfabetização, a Alfabetização para Todos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

é o centro da educação para a sociedade Nela discutia-se que a educação de adultos


e abrange a todos os seres humanos no seria realizada de maneira a reintroduzir
contexto que ele estiver. A Alfabetização os jovens e adultos, principalmente os
para Todos terá êxito quando for planejada, analfabetos, no sistema formal de educação,
contextualizada e articulada PAIVA (2007), sendo entendida como “suplência” do ensino
“[...] a um conjunto amplo de políticas fundamental. A quarta foi realizada em 1985,
econômicas, sociais e culturais, perpassando em Paris, foram apresentados vários temas,
múltiplos setores.” (p. 148). todos de caráter educacional e dentre eles
estava à alfabetização de adultos.

AS CONFERÊNCIAS A quinta Conferência Internacional de


INTERNACIONAIS DA Educação de Adultos (V CONFINTEA) teve
espaço em Hamburgo, na Alemanha, em
EDUCAÇÃO DE ADULTOS 1997. Nesta V Conferência aprovou-se a
(CONFITEA) Declaração de Hamburgo e foi adotada
a Agenda para o futuro, entendendo a
Estamos na Década da Alfabetização educação de adultos como um direito de
2003-2012, proclamada pelas Nações Unidas todos. A sexta Conferência Internacional de
como um período de esforços concentrados Educação de Adultos foi sediada no Brasil, em
para assegurar a todas as pessoas o direito Belém, no ano de 2009. Antes de acontecer
de desenvolver as habilidades de leitura e de houve várias reuniões preparatórias em
escrita e as Conferências (CONFITEAS) tem todos os Estados, organizadas tanto pelo
contribuído de forma fundamental de acordo governo, quanto pelos Fóruns de EJA, tudo
com o objetivo de promover a educação de para apoiar a conferência. (UNESCO)
adultos como uma política pública no mundo.

A primeira Conferência Internacional A LEGISLAÇÃO E A EDUCAÇÃO


de Adultos realizou-se em Elsinore, na DE JOVENS E ADULTOS LEI
Dinamarca, em 1949, entendeu a educação
de adultos como uma espécie de educação DE DIRETRIZES E BASES DA
moral. A segunda ocorreu em Montreal, no EDUCAÇÃO (LDB 9.394/96)
Canadá, em 1960, nela a educação de adultos
apareceu com dois enfoques distintos A Educação de Jovens e Adultos é uma
que foram eles: concebê-la como uma modalidade de ensino que visa priorizar aqueles
continuação da educação formal e de cunho que na idade própria não continuaram os estudos
permanente, já de outro lado, a educação de ou não tiveram acesso a escola, com ensino
base comunitária. A terceira aconteceu em gratuito, dando-lhes acesso, permanência e
Tóquio, no Japão, no ano de 1972. oportunidades para profissionalização.

1142
Revista Educar FCE - Abril 2019

Os cursos e exames supletivos manter- § 1º Os exames a que se refere este artigo


se-ão habilitando ao educando e se realizará realizar-se-ão:
aos maiores de quinze anos para término do
ensino fundamental e maiores de dezoito I - no nível de conclusão do ensino
anos, para o ensino médio considerando os fundamental, para os maiores de quinze
conhecimentos informais. Como diz a Lei anos;
de Diretrizes e Base da Educação Nacional
(LDB): II - no nível de conclusão do ensino médio,
para os maiores de dezoito anos.
Art. 37. A educação de jovens e adultos
será destinada àqueles que não tiveram § 2º Os conhecimentos e habilidades
acesso ou continuidade de estudos no ensino adquiridos pelos educandos por meios
fundamental e médio na idade própria. informais serão aferidos e reconhecidos
mediante exames.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão
gratuitamente aos jovens e aos adultos,
que não puderam efetuar os estudos na CONSTITUIÇÃO DA
idade regular, oportunidades educacionais REPÚBLICA FEDERATIVA
apropriadas, consideradas as características
do alunado, seus interesses, condições de DO BRASIL DE 1988
vida e de trabalho, mediante cursos e exames. Em 1988, foi criada a nova Constituição
Federal que estendeu o direito à educação
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará para aqueles cujo ainda não haviam
o acesso e a permanência do trabalhador frequentado a escola e também aos que não
na escola, mediante ações integradas e tinham concluído o ensino fundamental.
complementares entre si. GALVÃO (2005) “Com a desobrigação do
governo federal em atender esse direito, os
§ 3o A educação de jovens e adultos municípios iniciam ou ampliam a oferta de
deverá articular-se, preferencialmente, educação para jovens e adultos” (p.47).
com a educação profissional, na forma do
regulamento. (Incluído pela Lei nº 11.741, de Não somente a LDB, mas também a
2008) Constituição Federal dá como direito a
educação a todos os cidadãos, como forma de
Art. 38. Os sistemas de ensino desenvolvimento pessoal e para a sociedade de
manterão cursos e exames supletivos, que modo geral, já que o conhecimento é importante
compreenderão a base nacional comum do e necessário ao homem para qualificação
currículo, habilitando ao prosseguimento de enquanto profissional e seu empenho como
estudos em caráter regular. cidadão compreendendo seus direitos e deveres.

1143
Revista Educar FCE - Abril 2019

Art. 205. A educação, direito de todos e Segundo Soares (2002):


dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, “É importante retificar, desde o início
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, que este parecer se dirige aos sistemas de
seu preparo para o exercício da cidadania e ensino e seus respectivos estabelecimentos
sua qualificação para o trabalho. que venham a se ocupar da educação de
jovens e adultos, sob a forma presencial e
semipresencial de cursos e tenham como
PARECER CEB 11/2000 objetivo o fornecimento de certificados de
conclusão de etapas da educação básica”
O parecer CEB 11/2000 relata sobre as (p.29).
diretrizes da Educação de Jovens Adultos
(EJA) e suas especialidades. Esse parecer Enfim, as diretrizes expostas no parecer
divide-se em vários tópicos, relata sobre CEB 11/2000 são obrigatórias em todas
os fundamentos e funções da Educação de as instituições que oferecem Educação
Jovens e Adultos (EJA), seu conceito que não de Jovens e Adultos (EJA), assim como a
deve ser restrito, as finalidades e funções formação docente dos profissionais, para que
especificas dessa modalidade de ensino, o se desenvolva uma educação de qualidade
reconhecimento da igualdade de direitos de atendendo todas as especificações dessa
todo ser humano. Faz um apanhado histórico modalidade de ensino.
das bases legais da EJA que vigoram hoje e
que dizem respeito à Educação de Jovens e Em 2007, foi instituído o Fundo de
Adultos (EJA). Desenvolvimento da Educação Básica
(Fundeb) que incluiu o ensino de jovens
A maneira que a Educação de Jovens e e adultos no sistema de financiamento
Adultos (EJA) é vista e tratada na atualidade público. O Fundeb tem como objetivo
também é tratada nesse parecer, cursos da ampliar as fontes de financiamento à parcela
EJA, exames educacionais, cursos à distância correspondente da União no provimento da
e no exterior, Plano Nacional de Educação, educação básica visa atender não somente
as bases históricas da Educação de Jovens ao ensino fundamental como acontecia no
e Adultos no Brasil, iniciativas públicas e Fundef, mas também à educação infantil,
privadas para EJA, indicadores estáticos da o ensino médio, a educação de jovens e
situação da EJA, formação docente para a adultos e todas as demais modalidades de
atuação na Educação de Jovens e Adultos ensino. (JUNIOR, 2006).
(EJA), as Diretrizes Curriculares Nacionais
da modalidade de ensino em questão e o
direito à educação, são todos elementos que
compõem o parecer CEB 11/2000.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base na presente pesquisa, foi possível notar que a
Educação de Jovens e Adultos passou por grandes e notáveis
avanços e mudanças. Por muitos anos a Educação de Jovens
e Adultos foi vista como uma forma de iluminar as mentes
com o conhecimento, somente pequena parte da população
tinha acesso a escolarização, ou seja, as elites detentoras do
poder eram privilegiadas.

No Brasil República os analfabetos não tinham direito NADIR BERBERT DA SILVA


ao voto, demorou longos anos para que esse direito fosse MELO VIEIRA
conquistado. Teve a criação de vários programas e campanhas
Graduada em Pedagogia pelo
para erradicação do analfabetismo. A educação era voltada Faculdade de Ensino Superior
para as crianças e jovens e com a criação da Constituição Anísio Teixeira (CESAT) no ano
da República Federativa do Brasil de 1988 a educação se de 2010; Professora de Educação
Infantil na Rede Municipal
expandiu aos jovens e adultos. A duras penas e depois de São Paulo: CEMEI Márcia
de muita luta os jovens e adultos que não conseguiram Kumbrevicius de Moura.
frequentar a escola e concluir os estudos em idade hábil
tiveram o direito a educação e a escolarização garantidos.

Os jovens e adultos são sujeitos que já chegam ao âmbito escolar com objetivos traçados
e metas a serem alcançadas, por isso os professores juntamente com a equipe pedagógica
deveriam planejar aulas diferenciadas que prendam e chamem a atenção dos educandos,
adaptando os conteúdos de acordo com o que eles vivenciam em sua realidade, em seu dia-
a-dia. Mostrar na prática como que as disciplinas escolares são importantes e auxiliam na
resolução de problemas. Por exemplo, as disciplinas de Matemática e Português poderiam ser
trabalhadas contextualizando o dia-a-dia dos alunos que em sua maioria são trabalhadores
do lar, comércio, construção civil e donas de casa, tendo como recurso panfletos de
lojas, supermercados, lista telefônica, receitas de culinária entre outros favorecendo o
desenvolvimento, competências de leitura, cálculos e resolução de problemas encontrados,
mostrando-lhes situações reais, de como comprar um produto à vista ou parcelado, quais
as vantagens e desvantagens de ambas as opções e partes, fazer com que eles percebam,
calculem e descubram quanto irão pagar de juros e assim sucessivamente. As outras
disciplinas também devem fazer parte desse planejamento que articuladas e dialogando entre
si por meio da interdisciplinaridade o resultado poderia ser melhor, com aulas prazerosas,
dinâmicas e produtivas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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do Estado: Artigo Científico. Disponível em: http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalhos/
trabalho/GT18-2586--Int.pdf. Acesso em: 11 maio 2010 as 22:30.

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Andrade. Gestão Democrática da Educação Desafios Contemporâneos. 2ª Ed. Petrópolis-RJ: Vozes,
1998.

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Edição. Barueri: Editora Manole, 2004.

CARDONA, Fernando. PBA-Programa Brasil Alfabetizado: Artigo Científico. São Paulo: 2010 Disponível
em: http://www.webartigos.com/articles/34649/1/PBA--Programa-Brasil-Alfabetizado/pagina1.
html. Acesso em: 11 maio 2010 as 22:50.

FÁVERO, Osmar. Lições da história: os avanços de sessenta anos e a relação com as políticas de negação
de direitos que alimentam as condições do analfabetismo no Brasil, In OLIVEIRA, Inês Barbosa: PAIVA,
Jane (orgs.) Educação de Jovens e Adultos. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

GALVÃO, Ana Maria de Oliveira: SOARES, Leôncio José Gomes. História da alfabetização de adultos
no Brasil, In ALBUQUERQUE, Eliana Borges Correa de; LEAL, Telma Ferraz. A alfabetização de Jovens
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JUNIOR, Luiz de Souza. FUNDEB: Avanços, Limites e Perspectivas: Artigo Científico. São Paulo, 2006.
ECCOS Revista Científica Disponível em: http://portal.uninove.br/marketing/cope/pdfs_revistas/
eccos/eccos_v8n2/eccosv8n2_2a01.pdf. Acesso em: 11 maio 2010 as 21:30.

PAIVA, Jane; MACHADO, Maria Margarida; IRELAND, Timothy (orgs.). Educação de Jovens e Adultos:
uma memória Contempôranea 1996-2004. Brasília: Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade do Ministério da Educação: Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura, 2007.

SOARES, Leôncio José Gomes. Educação de jovens e adultos-Diretrizes Curriculares Nacionais. Rio de
Janeiro: DP&A, 2002.

UNESCO. Alfabetização de jovens e adultos no Brasil: lições da prática. Brasília: UNESCO, 2008.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O ENSINO DE ARTES NA EDUCAÇÃO


INFANTIL: LEGISLAÇÃO E PRÁTICAS
RESUMO: Esta pesquisa traz um estudo sobre a legislação em Artes Visuais e o Ensino
de Artes na Educação Infantil. Para atingir tal objetivo elencamos os principais aspectos
da trajetória do Ensino de Artes e apresentamos os propósitos e fundamentos do ensino
de Artes na Educação Infantil, devido a especificidade da faixa etária em questão e as
peculiaridades da infância. O ensino de Artes, por muitas vezes é visto como um passatempo
ou uma mera atividade de desenhar ou pintar, descontextualizadas de aprendizado, outra
prática equivocada é considerar o trabalho com Artes como simples ilustrações de datas
comemorativas ou temas específicos não deixando lugar para a criação e criatividade das
crianças. A intervenção do professor, os temas abordados e a maneira como é desenvolvido
o trabalho com as Artes Visuais podem ser um recurso interessante desde que sejam
observados seus objetivos e função no desenvolvimento do percurso de criação pessoal
da criança. É preciso, no entanto, ter atenção quanto a programação de atividades para
as crianças para que ela seja capaz de criar e partir de suas próprias ideias, estimulando o
pensamento e a imaginação. A Arte na educação infantil pode ser vista de diferentes pontos
de vista, para a criança a arte é uma forma de expressão onde ela é capaz de utilizar o lúdico
e o imaginário como fontes de inspiração e o professor deve estar atento para fornecer os
elementos e as condições necessárias para auxiliar as crianças em suas criações, realizando
as intervenções necessárias.

Palavras-Chave: Educação de Jovens e Adultos; Alfabetização; Legislação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO diferentes tipos de linguagem, neste período


a formação de professores, bem como sua
O ensino de Artes, conforme previsto qualificação não era prevista nesta Lei.
na Legislação, é componente curricular
obrigatório na educação básica e deve A LDBEN 9394/96 em seu artigo 26
promover o desenvolvimento cultural dos define que o ensino de Arte é componente
alunos. Em seu texto original, previa a curricular obrigatório, presente em todos os
obrigatoriedade do ensino de música, artes níveis de educação básica, com o objetivo
plásticas e artes cênicas, com a posterior voltado ao desenvolvimento em nível cultural
alteração em seu texto o termo “artes visuais” dos alunos, promovendo aprendizagens
substitui "artes plásticas", e incluiu a dança, significativas.
a música e o teatro, nas linguagens artísticas
que deverão estar presentes nas escolas. O ensino de Artes, por muitas vezes é visto
como um passatempo ou uma mera atividade
A discussão sobre a criança, a infância de desenhar ou pintar, descontextualizadas
e a Educação Infantil é fundamental para de aprendizado, outra prática equivocada
estabelecer relações com o meio em que é considerar o trabalho com Artes como
vivemos, de acordo com Kramer (1999) simples ilustrações de datas comemorativas
em relação a esse período da vida escolar ou temas específicos não deixando lugar
da criança, que vai de zero a seis anos, para a criação e criatividade das crianças.
denominado Educação Infantil, temos uma
nova concepção de educação com base em Segundo Andrade (2009) o ensino da arte
um novo olhar sobre a infância. em espaços educativos carecem de propostas
que desafiem o imaginário da criança, que
Esta pesquisa trata de um estudo sobre explorem a linguagem visual, musical e
a legislação em Artes Visuais e o Ensino de corporal nas milhares possibilidades de
Artes na Educação Infantil. Para atingir tal criar com diferentes materiais e suportes e
objetivo elencamos os principais aspectos diferentes formas de produzir, entender e ler
da trajetória do Ensino de Artes. Além imagens, bem como investigar possibilidades
destes aspectos apresentamos os propósitos do próprio corpo e gestos com uma riqueza
e fundamentos do ensino de Artes na imensa de expressão.
Educação Infantil, devido a especificidade da
faixa etária em questão e as peculiaridades
da infância. A EDUCAÇÃO INFANTIL E O
ENSINO DE ARTES
Com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB)
5692/71 a Educação Artística passa a O ensino de Artes, por muitas vezes é visto
integrar o currículo escolar e deve reunir os como um passatempo ou uma mera atividade

1148
Revista Educar FCE - Abril 2019

de desenhar ou pintar, descontextualizadas com o objetivo de expressar-se livremente


de aprendizado, outra prática equivocada desenvolvendo seu potencial criador:
é considerar o trabalho com Artes como
simples ilustrações de datas comemorativas Tendo como base as orientações previstas
ou temas específicos não deixando lugar no RCNEI (1998) há várias intervenções
para a criação e criatividade das crianças. possíveis de serem realizadas e que
contribuem para o desenvolvimento do
Segundo o RCNEI (1998) a maneira como desenho da criança. Uma delas é, partindo das
a sala de aula é organizada e a disposição produções já feitas pelas crianças, sugerir-
dos locais nos quais estarão os materiais, é lhes, por exemplo, que copiem seus próprios
extremamente importante nesse processo desenhos em escala maior ou menor.
de aprendizagem. O local deve ser amplo
e agradável para o desenvolvimento das Esse tipo de atividade possibilita que a
atividades e os materiais devem estar de criança reflita sobre seu próprio desenho
fácil acesso para as crianças. e organize de maneira diferente os pontos,
as linhas e os traçados no espaço do papel.
Quando a criança começa a desenhar ela Outra possibilidade é utilizar papéis que
trabalha sobre a hipótese de que o desenho já contenham algum tipo de intervenção,
serve para imprimir tudo o que ela sabe sobre como, por exemplo, um risco, um recorte,
o mundo, expressando suas percepções e uma colagem de parte de uma figura etc.,
sentimentos, observando diferentes objetos para que a criança desenhe a partir disso.
simbólicos e as imagens que cria. Na fase de
simbolização, a criança vai incorporando as De acordo com o Referencial Curricular
regularidades e os códigos que representam para a Educação Infantil (1998) o professor
as imagens que a cercam e aprende a deve utilizá-lo como um procedimento de
considerar que o desenho serve para imprimir atividades lúdicas para crianças de 0 a 6
aquilo que ela vê. anos. Segundo esse documento, o professor
em sua prática deve garantir uma série de
Desde a primeira infância a criança utiliza o desenho elementos que possibilite o desenvolvimento
para a representação da realidade. Desenhar, pintar
ou construir constitui um processo complexo em da criança, favorecendo ao conhecimento e
que a criança reúne diversos elementos de sua a compreensão das mais variadas produções
experiência, para formar um novo e significativo com a manipulação de vários materiais, nesse
todo. (LOWENFELD, 1977, p. 13)
processo, as opiniões das crianças devem ser
Segundo Ayres (2012) a sistemática de ouvidas e respeitadas.
ensino aplicada à transmissão dos conteúdos
programáticos toma por base a adoção de Segundo Ayres (2012) a função do
técnicas por meio de atividades lúdicas segmento escolar compreendido como
e artísticas de comunicação e expressão, Educação Infantil deve estar configurado de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

uma forma que se componha de instrumentos contornos a partir dos séculos XVI e XVII. As
adequados que possam oferecer às crianças mudanças de sensibilidade que se começam
suporte suficiente para o seu desenvolvimento a verificar a partir do Renascimento tendem
biopsicossocial completo. A disponibilidade a deferir a integração no mundo adulto cada
destes instrumentos deve ter por meta a vez mais tarde e, a marcar, com fronteiras
atuação profissional qualificada para que bem definidas, o tempo da infância,
se constitua como elemento propiciador progressivamente ligado ao conceito da
de técnicas instrumentalizadas de forma a aprendizagem e de escolarização. Importa,
prevenir possíveis dificuldades no processo no entanto, sublinhar que se tratou de
de desenvolvimento infantil que possam um movimento extremamente lento,
ocasionar a defasagem na aprendizagem inicialmente bastante circunscrito às classes
escolar. mais abastadas.

Com base nas Diretrizes Curriculares Com a Constituição de 1988 teve início ao
Nacionais podemos definir a Educação reconhecimento da educação infantil, depois
Infantil como a primeira etapa da educação em 1990, com o Estatuto da Criança e do
básica, oferecida em creches e pré-escolas, Adolescente (ECA, Lei federal 8069/90), que
às quais se caracterizam como espaços dentre os direitos estava o de atendimento
institucionais não domésticos que constituem em creches e pré-escolas para as crianças
estabelecimentos educacionais públicos ou até os 6 anos de idade. Pela primeira vez
privados que educam e cuidam de crianças na história, uma constituição do Brasil faz
de 0 a 5 anos de idade no período diurno, referência a direitos específicos das crianças,
em jornada integral ou parcial, regulados e que não sejam aqueles circunscritos ao
supervisionados por órgão competente do âmbito do Direito da Família. Também pela
sistema de ensino e submetidos a controle primeira vez, um texto constitucional define
social. claramente como direito da criança de 0
a 6 anos de idade e dever do Estado, o
Nos séculos XV e XVI foram criados os atendimento em creche e pré-escola.
modelos educacionais surgindo assim as
concepções sobre a criança e como ela A partir destas Leis, a Educação Infantil
deveria ser educada. Neste novo cenário a foi colocada como a primeira etapa da
imagem da infância mudou, desencadeando Educação Básica no Brasil, abrangendo as
uma preocupação da sociedade em crianças de 0 a 6 anos, concedendo-lhes
estabelecer métodos de educar e escolarizar um olhar completo, perdendo seu aspecto
as crianças. assistencialista e assumindo uma visão e um
caráter pedagógico.
Segundo Pinto (1997) a infância constitui
As Artes Visuais estão presentes no cotidiano da
uma realidade que começa a ganhar vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, na

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Revista Educar FCE - Abril 2019

areia e nos muros, ao utilizar materiais encontrados


ao acaso (gravetos, pedras, carvão), ao pintar os Com isso, o professor estará criando
objetos e até mesmo seu próprio corpo, a criança possibilidade para que as crianças
pode utilizar-se das Artes Visuais para expressar desenvolvam relações entre as
experiências sensíveis. (BRASIL, 1998, p.85)
representações visuais e suas vivências,
enriquecendo seu conhecimento do mundo
A intervenção do professor, os temas e contribuindo para o desenvolvimento das
abordados e a maneira como é desenvolvido linguagens artísticas.
o trabalho com as Artes Visuais podem ser
um recurso interessante desde que sejam Segundo o Referencial Curricular Nacional
observados seus objetivos e função no para Educação Infantil – RCNEI (1998) as
desenvolvimento do percurso de criação pesquisas desenvolvidas a partir do início
pessoal da criança. É preciso, no entanto, ter do século em vários campos das ciências
atenção quanto a programação de atividades humanas trouxeram dados importantes sobre
para as crianças para que ela seja capaz o desenvolvimento da criança, sobre o seu
de criar e partir de suas próprias ideias, processo criador e sobre as artes das várias
estimulando o pensamento e a imaginação. culturas. Na confluência da antropologia,
da filosofia, da psicologia, da psicanálise,
A Arte na educação infantil pode ser vista da crítica de arte, da psicopedagogia e
de diferentes pontos de vista, para a criança das tendências estéticas da modernidade,
a arte é uma forma de expressão onde ela surgiram autores que formularam os
é capaz de utilizar o lúdico e o imaginário princípios inovadores para o ensino das
como fontes de inspiração e o professor deve artes, da música, do teatro e da dança.
estar atento para fornecer os elementos e
as condições necessárias para auxiliar as
crianças em suas criações, realizando as A LEGISLAÇÃO EM ARTES
intervenções necessárias.
No Brasil, o processo histórico em defesa do
É importante proporcionar para as ensino de Artes teve como grande influência os
crianças a apreciação de figuras, ao contato movimentos internacionais em defesa da Arte
com os personagens de uma história já Educação, esses movimentos direcionaram
conhecida, de um desenho e, até mesmo, o movimento interno do país em favor do
de alguns filmes, partindo desta apreciação ensino de Artes. Mais tarde na Reforma de
o professor poderá trabalhar com essas Fernando de Azevedo (1928), instituiu o
personagens por meio de jogos simbólicos, jardim de infância e incluiu a musicalização
fazendo pequenas dramatizações e para crianças e ensino de música nos diversos
aproveitando os objetos presentes em sala cursos. As concepções modernistas de ensino
de aula. de Artes ainda se encontravam fora do espaço
da escola regular no Brasil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

como fizera Mário de Andrade, mas uma utilização


De acordo com Saviani (2007) resgatar o instrumental da arte na escola para treinar o olho
movimento maior o qual a educação brasileira e a visão ou para liberação emocional (BARBOSA,
estava vivendo naquele período é necessário 2003, p. 2).

para compreender como esses pressupostos


chegaram até a escola. As primeiras décadas O Decreto 19.890, de 18 de abril 1931,
do século XX caracterizaram‐se pelo debate assinado pelo Presidente Getúlio Vargas,
das ideias liberais sobre cuja base se advogou instituiu o ensino de Canto Orfeônico
a extensão universal, por meio do Estado, como disciplina obrigatória nos currículos
do processo de escolarização, considerado escolares nacionais, permanecendo assim
grande instrumento de participação política. de 1930 a 1950. O Decreto Lei 4.993,
Esse movimento em busca de um ensino de 26 de novembro de 1942, instituiu o
universal, gratuito e laico, foi visto nos Conservatório Nacional de Canto Orfeônico
primeiros anos do século XX. (CNCO). Essa medida expandiu o movimento
para outros lugares do país, antes disso, os
Em 1932, um grupo de educadores cursos eram concentrados no Rio de Janeiro
publicou o Manifesto dos Pioneiros da e na Universidade do Distrito Federal.
Educação Nova, redigido por Fernando de
Azevedo, a reforma de Anísio Teixeira, de Durante os anos 1960 houve mudanças
1932, por exemplo, destacou o papel da na organização da educação nacional, a
música e das artes em geral, baseado na inclusão do ensino de Artes iniciou‐se com
Escola Nova. Segundo Fusari, Ferraz (1993) a a deliberação da Lei de Diretrizes e Bases da
Pedagogia Nova para a área de Artes estava Educação Nacional (Lei Federal nº 4.024, de
mais voltada para a preocupação de o aluno 20 de dezembro de 1961), que propôs, no
“exprimir‐se” de forma individual e subjetiva, artigo 38, § 4º, “Atividades complementares
centrando as aulas mais no processo por que de iniciação artística”.
o aluno percorria nas aulas de Artes do que no
produto. Assim, o ato de “aprender fazendo” Na década de 1960 e 1970 foram
seria adequado para capacitar o aluno a atuar publicados alguns livros sobre artes plásticas
na sociedade de forma cooperativa. na escola e as técnicas utilizadas eram lápis
de cera e anilina, pintura a dedo, recorte e
De 1937 a 1945, o estado político ditatorial colagem, dentre outras. Com a ditadura
implantado no Brasil, afastando das cúpulas
diretivas educadores de ação renovadora, entravou de 1964 o ensino e a prática de arte nas
o desenvolvimento da arte‐educação e solidificou escolas públicas eram baseadas na sugestão
alguns procedimentos, como o desenho geométrico do tema e desenhos que faziam referências a
na escola secundária e na escola primária, o
desenho pedagógico e a cópia de estampas usadas comemorações cívicas e religiosas.
para as aulas de composição em língua portuguesa.
É o início da pedagogização da arte na escola. De acordo com Barbosa (2003) Nos fins
Não veremos, a partir daí uma reflexão acercada
arte‐educação vinculada à especificidade da arte da década de 1960 e início de 1970 (1968 a

1152
Revista Educar FCE - Abril 2019

o guia curricular de educação artística do Estado.


1972), em escolas especializadas em ensino
(BARBOSA, 2003, p. 05).
de arte, começaram a ter lugar algumas
experiências no sentido de relacionar os
projetos de arte de classes de crianças e De acordo com Barbosa (2003) em 1977, o
adolescentes com o desenvolvimento dos MEC criou o Programa de Desenvolvimento
processos mentais envolvidos na criatividade, Integrado de Arte Educação (Prodiarte) com o
ou com uma teoria fenomenológica da objetivo de integrar a cultura da comunidade
percepção ou ainda com o desenvolvimento e da escola por meio de convênios com órgãos
da capacidade crítica ou da abstração e estaduais e universidades. Os objetivos dos
talvez mesmo com a análise dos elementos programas do Prodiarte eram: concorrer
do desenho (Escolinha de Arte de São Paulo). para a expansão e a melhoria da educação
artística na escola de 1º grau; enriquecer
Com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) a experiência criadora de professores e
5692/71 a Educação Artística foi instituída alunos; promover o encontro entre o artesão
no currículo reunindo todos os tipos de e o aluno; valorizar o artesão e a produção
linguagem, porém esta lei não previa a artística junto à comunidade.
formação e a qualificação dos professores.
De acordo com Barbosa (2003) em 1977, o
Na Reforma Educacional de 1971 foi MEC criou o Programa de Desenvolvimento
estabelecido a prática da polivalência no Integrado de Arte Educação (Prodiarte) com o
ensino de artes. A partir desta reforma, as objetivo de integrar a cultura da comunidade
artes plásticas, a música e as artes cênicas e da escola por meio de convênios com órgãos
deveriam ser ensinadas conjuntamente por estaduais e universidades. Os objetivos dos
um mesmo professor da 1ª à 8ª séries do 1ª programas do Prodiarte eram: concorrer
grau. Foram criados os cursos de licenciatura para a expansão e a melhoria da educação
em educação artística com duração de artística na escola de 1º grau; enriquecer
dois anos para preparar estes professores a experiência criadora de professores e
polivalentes. alunos; promover o encontro entre o artesão
e o aluno; valorizar o artesão e a produção
[...] Após este curso, o professor poderia continuar artística junto à comunidade.
seus estudos em direção à licenciatura plena,
com habilitação específica em artes plásticas,
desenho, artes cênicas ou música. Educação Com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB)
Artística foi a nomenclatura que passou a designar 5692/71 a Educação Artística foi instituída
o ensino polivalente de artes plásticas, música e
teatro. O Ministério de Educação, no mesmo ano no currículo reunindo todos os tipos de
(1971), organizou em convênio com a Escolinha de linguagem, porém esta lei não previa a
Arte do Brasil, um curso para preparar o pessoal formação e a qualificação dos professores.
das Secretarias de Educação a fim de orientar a
implantação da nova disciplina. Deste curso fez
parte um representante de cada secretaria estadual
de educação, o qual ficou encarregado de elaborar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Com a Reforma Educacional de 1971 foi educadores ligados à Arte têm empreendido
estabelecido a prática da polivalência no o movimento de resgate de sua valorização
ensino de artes. A partir desta reforma, as profissional e da valorização da Arte como
artes plásticas, a música e as artes cênicas um conhecimento que deve estar presente
deveriam ser ensinadas conjuntamente por nos currículos em todos os níveis de ensino.
um mesmo professor da 1ª à 8ª séries do 1ª Articulam, assim, diretrizes diferentes para a
grau. Foram criados os cursos de licenciatura presença desse conhecimento na escola.
em educação artística com duração de
dois anos para preparar estes professores Essas diretrizes emergem como fruto
polivalentes. da luta em defesa da presença da Arte no
currículo e de mudanças conceituais no seu
O processo de elaboração da LDBEN ensino. Mudança e valorização conceitual
9394/96 durou cerca de oito anos desde a no intuito de devolver Arte à educação e
sua proposta inicial até chegar ao documento favorecer a todos o acesso aos códigos
final que traz em seu texto: Art. 26, § 2º: artísticos e às possibilidades de expressão
“O ensino de Arte constituirá componente desses códigos. O objetivo daqueles que
curricular obrigatório, nos diversos níveis acreditam nesses pressupostos conceituais
de educação básica, de forma a promover é contribuir para a difusão da Arte na escola,
o desenvolvimento cultural dos alunos.” garantindo a possibilidade igualitária de
Com a LDBEN 9394/96 a denominação acesso ao seu conhecimento. É preciso
de “Educação Artística” foi substituída por levar a Arte, que está circunscrita a um
“Ensino da Arte”, assim, a Arte passa a ser mundo socialmente limitado a se expandir,
entendida não mais como uma atividade, um tornando-se patrimônio cultural da maioria.
mero “fazer por fazer”, mas como uma forma
de conhecimento. Não basta ensinar Arte com horário marcado,
é necessário ensinar interdisciplinarmente para
provocar a capacidade de estabelecer relações,
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, por assim como é recomendável introduzi-la
sua vez, contemplam a área de arte, dando-lhe transversalmente em todo o currículo provocando
a imbricação de territórios e a multiplicação de
mais abrangência e complexidade. Embora interpretações. (BARBOSA, 2003, p. 26)
não apresentem caráter de obrigatoriedade,
os Parâmetros Curriculares Nacionais vêm Na sala de aula, o tratamento da Arte
servindo para a elaboração de planos e baseia-se em três dimensões: Arte como
projetos pedagógicos nas escolas das redes linguagem, como expressão da cultura e
pública e privada em todos os níveis de como conhecimento. A Arte como linguagem
ensino. no sentido de realizar leituras e estabelecer
sentidos interpretando as relações da
De acordo com Barbosa (2003) nas mensagem artística; a Arte como expressão
últimas décadas do século XX, no Brasil, da cultura no sentido da preocupação com

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a influência cultural, observar a arte em sua Segundo Brasil (1998) o professor


relação com a cultura, melhor entendendo as deve utilizá-lo como um procedimento de
obras artísticas; a Arte como conhecimento atividades lúdicas para crianças de 0 a 6
no sentido de entendê-la como qualquer anos. Segundo esse documento, o professor
outra área do conhecimento, vivenciado e em sua prática deve garantir uma série de
refletido pelas crianças. elementos que possibilite o desenvolvimento
da criança, favorecendo ao conhecimento e
Segundo as orientações curriculares do a compreensão das mais variadas produções
MEC, a partir de 1995, são divididas as com a manipulação de vários materiais, nesse
especificidades do conhecimento artístico processo, as opiniões das crianças devem ser
em quatro modalidades: Música, Teatro, ouvidas e respeitadas.
Dança e Artes visuais. Assim, os Parâmetros
Curriculares Nacionais/Artes para o Ensino O trabalho com as Artes Visuais na
Fundamental, Referenciais Curriculares para Educação Infantil deve respeitar as
a Educação Infantil e Parâmetros Curriculares peculiaridades das crianças e o seu nível de
para o Ensino Médio trataram de explicitar desenvolvimento, favorecendo o processo de
os conteúdos de música, artes cênicas, criação das mesmas. O educador deve intervir
artes visuais e dança e suas metodologias proporcionando o contato com diferentes
específicas. objetos agindo de forma intencional com o
intuito de enriquecer a ação desenvolvida
Com a sanção da Lei 11.769 em agosto pela criança.
de 2008 o ensino de música tornou-se
conteúdo obrigatório, mas não exclusivo O educador deve conduzir o processo
no ensino curricular de Arte, alterando o educativo dando significado aquilo que a
Artigo 26º da LDBEN de 9394/96, trazendo criança aprende, incluir a Arte no currículo
a possibilidade da implantação efetiva do escolar, não é suficiente para a garantia de
ensino de música nas escolas de uma forma aprendizado, a Arte deve estar integrada
mais abrangente. as demais áreas do conhecimento e tornar
possível que a criança aprenda e compreenda
A educação em arte propicia o desenvolvimento do o seu conteúdo de forma relevante e
pensamento artístico e da percepção estética, que
caracterizam um modo próprio de ordenar e dar significativa.
sentido à experiência humana: o aluno desenvolve
sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao O trabalho com as Artes Visuais na
realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar
e conhecer as formas produzidas por ele e pelos Educação Infantil deve respeitar as
colegas, pela natureza e nas diferentes culturas. peculiaridades das crianças e o seu nível de
(BRASIL, 1997, p. 19) desenvolvimento, favorecendo o processo
de criação das mesmas. O educador
deve intervir proporcionando o contato

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Revista Educar FCE - Abril 2019

com diferentes objetos agindo de forma intencional com o intuito de enriquecer a ação
desenvolvida pela criança.

A Arte na educação infantil pode ser vista de diferentes pontos de vista, para a criança
a arte é uma forma de expressão onde ela é capaz de utilizar o lúdico e o imaginário como
fontes de inspiração e o professor deve estar atento para fornecer os elementos e as
condições necessárias para auxiliar as crianças em suas criações, realizando as intervenções
necessárias.

É importante proporcionar para as crianças a apreciação de figuras, ao contato com os


personagens de uma história já conhecida, de um desenho e, até mesmo, de alguns filmes,
partindo desta apreciação o professor poderá trabalhar com essas personagens por meio de
jogos simbólicos, fazendo pequenas dramatizações e aproveitando os objetos presentes em
sala de aula.

O educador deve compreender o desenho da criança como um processo de criação e


como uma forma de linguagem, deve deixar a criança livre para criar e representar aquilo
que deseja, as marcas deixadas pelas crianças são únicas e valorosas quando pensamos no
verdadeiro sentido de criação e arte.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino de Artes, por muitas vezes é visto como
um passatempo ou uma mera atividade de desenhar ou
pintar, descontextualizadas de aprendizado, outra prática
equivocada é considerar o trabalho com Artes como simples
ilustrações de datas comemorativas ou temas específicos
não deixando lugar para a criação e criatividade das crianças.

A intervenção do professor, os temas abordados e a maneira


como é desenvolvido o trabalho com as Artes Visuais podem
ser um recurso interessante desde que sejam observados NAIR FRANCISCA DE
seus objetivos e função no desenvolvimento do percurso de MACEDO ALONSO
criação pessoal da criança. É preciso, no entanto, ter atenção
Graduação em Pedagogia
quanto a programação de atividades para as crianças para pela Faculdade de Ciências
que ela seja capaz de criar e partir de suas próprias ideias, Econômicas Santa Rita de Cássia
estimulando o pensamento e a imaginação. (2013). Atua como Professora de
Educação Infantil na Prefeitura
do Município de São Paulo e
Professora de Educação Básica do
Estado de São Paulo.

1157
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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1988. Brasília, 1988.

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Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il.

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– contextos e identidades. Braga: Centro de Estudos da Criança/ Universidade do Minho –
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SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Autores
Associados, 2007.

1158
Revista Educar FCE - Abril 2019

NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM
RESUMO: O objetivo deste trabalho visa compreender as contribuições da neurociência
para os alunos que têm dificuldades de aprendizagem e para a educação de forma geral.
Inicialmente, será abordada uma visão teórica sobre o tema, estabelecendo algumas práticas
importantes que vêm sendo utilizadas com alunos de baixo rendimento de aprendizagem,
que são cada vez mais frequentes nas instituições de ensino. Este é um assunto de relevante
importância para psicopedagogos, psicólogos, professores, pais, diretores de escola, enfim,
todas as pessoas e profissionais direta e indiretamente relacionados com o trabalho educativo.

Palavras-Chave: Educação; Neurociência; Aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Entender o papel da escola atual requer


análise, já que a nossa sociedade vem
Desde que o ser humano nasce, deixando aquele antigo modelo de ensino e
vai constituindo um repertório de aprendizagem, para ter uma instituição que
comportamentos que dialogam com as atenda verdadeiramente às necessidades dos
suas necessidades diárias. Seja para fazer nossos educandos, indo de encontro com as
atividades relacionadas ao lazer e ao esporte, expectativas e superando as dificuldades.
como para as atividades que requerem um No entanto, algumas práticas retrógradas
pensamento estratégico para resolver algum ainda fazem parte do cotidiano de algumas
problema lógico. Sendo assim, o cérebro instituições, deixando o conhecimento
vai desenvolvendo a capacidade adaptativa como último objetivo e priorizando o ensino
de fazer conexões neurológicas de acordo tradicional (BARTOSZECK, BARTOSZECK
com a demanda de situações que vivencia. 2009).
Nesse processo de aprendizagem constante,
o indivíduo precisa aprender a aprender, de Entender como o cérebro funciona é uma
modo a ter um cérebro exercitado de maneira tarefa complexa, mas quando os profissionais
correta para que a aprendizagem ocorra. da educação têm essa intencionalidade
para melhorar a sua prática e fazer o ensino
Este artigo tem como principal acontecer para todos, todo o esforço vale a
finalidade descrever sobre a contribuição pena. O conhecimento sobre a funcionalidade
da neurociência para a educação. Para cerebral muito tem contribuído no processo
entendermos o complexo universo que educacional de maneira geral, visto que,
envolve a aprendizagem de nossas crianças, atualmente, uma sala de aula pode ser mais
a complexidade que envolve o momento complexa do que se imagina. Do modo
em que o estímulo é transformado em que não muito distante da nossa realidade,
significados resultando em uma mudança quando um aluno não conseguia aprender,
comportamental, seja acadêmica ou social, era porque tinha dificuldade e o assunto
outro universo precisa ser descortinado aos encerrava-se por ali, prolongando os anos de
nossos olhos. retenção do discente na mesma série.

A sala de aula desde muito tempo é um Atualmente, os educadores podem contar


espaço de aprendizagem, mas também é com a contribuição da neurociência, que
um espaço de muitos conflitos, seja para o tem como foco compreender as funções
aluno que não consegue aprender, seja para do cérebro e como ele se organiza. Com as
o professor que não consegue levar esse pesquisas realizadas, pode-se entender que
aluno a aprender, mesmo elaborando muitas o sistema nervoso é plástico, ou seja, com
estratégias para isso. as ações e estímulos do meio, ele pode se
modificar, de forma que os neurônios vão

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Revista Educar FCE - Abril 2019

criando novos circuitos e, assim, organizando Existem duas dificuldades básicas de


e reorganizando a sua capacidade de aprendizagem, de acordo com Parreira e
aprender, também, na esfera emocional e Marturano (1996). A primeira diz respeito
motora. Compreender e estudar o Sistema àquela que é uma dificuldade de ler e escrever,
Nervoso Central possibilita entender as que é concreta, já que o professor, ao analisar
novas possibilidades que a descoberta da as condições de aprendizagem deste aluno,
plasticidade neuronal nos trará frente às vai saber que o problema dele é relativo
diferenças e aos padrões “normais”, trazendo à leitura e à escrita. A outra dificuldade,
esperança aos que necessitam de outras com teor mais subjetivo, é aquela que se
formas de aprender. apresenta no raciocínio lógico, na relação
com os amigos, na relação com o próprio
Entender sobre como a aprendizagem conhecimento e, neste caso, é um pouco
ocorre, é o campo de trabalho da mais agravante, porque quando se procura
neurociência, que busca compreender como ajuda de algum profissional especializado
acontece o processo neuromaturacional, (seja um psicólogo, um neurologista, um
fornecendo embasamentos teóricos para a psicopedagogo, entre outros), não se
prática do professor, possibilitando ao aluno encontra uma razão específica, geralmente
a adaptação ao meio e as respostas internas não se sabe como ela se operacionaliza.
e externas, tendo em vista que aprender é
uma característica intrínseca do ser humano, As dificuldades de aprendizagem fazem
essencial para sua sobrevivência (Kolb; com que a escola saia do trilho rotineiro,
Whishaw, 2002, p. 78). porque ela está programada para exercer
por duzentos dias letivos um processo que
é quase fabril e qualquer coisa que a desvie
ASPECTOS RELEVANTES desse caminho, a desestabiliza e o problema
DA EDUCAÇÃO aparece (LIMA 2007). Medidas para gerenciar
os problemas na escola, especialmente
Na sala de aula é comum encontrar os de aprendizagem, são muito difíceis
alunos que têm facilidade em aprender e de serem coordenadas. A situação diante
compreender comandos, como também deste panorama tem se agravado mais
tem sido comum encontrar alunos que nos anos iniciais do primeiro e segundo
exigem um outro olhar, ou seja, aqueles que ciclos do ensino fundamental, porque no
possuem necessidade de um tempo maior ensino médio, o aluno com dificuldade em
para concluir o trabalho ou precisam de aprender já passou por todo o sofrimento
outra estratégia para que possam aprender o dos primeiros anos da educação básica e
que está sendo ensinado. ele já conseguiu criar ferramentas internas a
seu modo e autonomia para poder trabalhar
essas questões.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

De acordo com Scaldaferri e Guerra indicadores da aprendizagem do aluno, já


(2002), os educadores e os pais são os que ela está organizada por idade e não por
principais responsáveis pela aprendizagem dificuldade, logo, são processos incoerentes,
de crianças e adolescentes. Na escola existe uma vez que o papel da escola é gerenciar
o ensino formal e nas outras instituições há a aprendizagem, mas ela tem trabalhado
o ensino informal. Contudo, todos os atores gerenciando idades cronológicas.
desse processo, tanto no ensino formal como
no informal, atuam diretamente para que Cotidianamente, educadores, pais e
haja a mudança de comportamento, seja ele professores, atuam como agentes nas
no meio social ou seja na forma de pensar o mudanças neurobiológicas que levam à
mundo e interagir com ele. aprendizagem, embora conheçam muito
pouco sobre como o cérebro funciona
Porém, de acordo com os autores (Scaldaferri; Guerra, 2002; Coch; Ansari,
supracitados, tanto os pais como os 2009, p. 61).
educadores pouco sabem sobre o
funcionamento do cérebro e como ele
aprende, e ainda reforçam que, em algumas NEUROCIÊNCIA E
situações, crianças e adolescentes podem APRENDIZAGEM
ser prejudicados em razão de estímulos
errados, como por exemplo a criança que é Os estudos da neurociência muito têm
mal posicionada em sua carteira dentro da contribuído para a sociedade em geral, já
sala de aula ou como a pobreza de atividades que apontam que há a necessidade de um
e exercícios. diálogo constante com a educação. Neste
sentido, existe a possibilidade da utilização
Há crianças que aprendem melhor por das descobertas científicas em sala de aula,
meio do estímulo visual, ao passo que outras potencializando a aprendizagem dos alunos e
têm mais facilidade em aprender por meio melhorando a prática dos profissionais. Para
da audição, outras por meio da repetição, que isso ocorra, é preciso que os estudos
entre outros. Existem várias formas de que vêm sendo realizados no campo de
aprender e, na sala de aula, o ensino deve ser pesquisa sejam cada vez mais explorados e
democrático, de modo que consiga atender divulgados, bem como a aplicação adequada
às necessidades de todas as crianças. desse conhecimento no ambiente escolar.
Neste sentido, quando se tem alunos com
c De acordo com Muszkt e Mello (2008)
ompetências muito diferentes, a escola
que trabalha quase que numa produção A neurociência estuda o funcionamento do
cérebro, como ele é constituído, como se
fabril, se perde. Assim como também existe desenvolve e como se evolui. Por outro lado,
escola que não consegue perceber os a contribuição para a neurociência, são os
conhecimentos que são aplicáveis na vida, mas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

também em sala de aula. Vários professores


chegam por tentativa e erro, às mesmas práticas elas servem, fazendo o processo associativo
e conclusões que a neurociências chega, por e dependendo do sentido que a informação
meio de estudos e de testes e pesquisas de tem para o indivíduo em determinado
cunho científico (MUSZKT; MELLO 2008, p. 89).
contexto. Logo, não se aprende folheando
páginas do livro ou da internet; aprende-se
Se o professor já tem esses conhecimentos com base no sentido que se atribui àquela
de uma maneira organizada, a abordagem informação. Dessa maneira, o acesso às
científica muito tem a contribuir para a tecnologias trouxe novas possibilidades de
melhora do aprendizado dos alunos. o aluno descobrir qual é o melhor método,
e toda a revolução da nossa sociedade em
A importância metodológica se dá decorrência dela foi muito positiva, mas o
porque o sujeito sozinho, muitas vezes, problema de aprendizagem continuará se
não consegue elencar estratégias para não houver a intencionalidade e a motivação
resolver determinado tipo de situação, diante dessas ferramentas. Podemos usar
então a neurociência vem contribuir nesta como um exemplo disso a televisão, que é
operacionalização de conceber um método. uma ferramenta tecnológica, mas em nada
No entanto, é importante que o professor ela contribuirá para a aprendizagem se não
esteja atento, uma vez que um método pode tiver uma intencionalidade de ensino que
contribuir para um indivíduo e não significa faça o sujeito pensar.
que contribuirá de maneira universal para a
turma inteira. Reconhecer que uma forma de A inserção das teorias neurobiológicas na
ensino pode dar certo para um aluno e nem formação do educador muito pode contribuir
tanto para outro é fundamental para que para o processo ensino-aprendizagem,
todos possam ter as mesmas oportunidades. proporcionando reais avanços na área
educacional, assim como novas perspectivas
Assim, para aqueles que atuam nas escolas. “As
teorias de Piaget, Wallon, Vygotsky e mesmo
Sem o cérebro, não há aprendizagem nem a Pedagogia Inaciana estarão sujeitas a novos
educação. A educação altera o cérebro, e o
próprio cérebro é estruturado para ser capaz de significados sob o olhar das neurociências”
processar as informações e assim ser educado. (TOKUHAMA-ESPINOSA, 2008, p. 45).
Os educadores são os diretores da plasticidade
neuronal em suas salas de aula. Portanto, é
evidente que uma melhor compreensão da Por mais que alguns membros da área
função cerebral é informativa para os professores educacional enfatizem que a neurociência
(CHEDID 2007, p. 34). veio para sanar todas as dificuldades
enfrentadas pelos alunos, se faz importante
Um exemplo sobre isso são as tecnologias, esclarecer que ela não se constitui em uma
de forma que não basta ter acesso às nova pedagogia, tampouco em um milagre
informações, sendo preciso saber para que capaz de resolver todos os problemas da

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Revista Educar FCE - Abril 2019

escola. Desta forma, ela vem permeando Além disso, é necessário que se seja capaz
novas formas de aprendizagem, respeitando de dedicar a atenção àquilo que se está
a funcionalidade do cérebro do indivíduo, fazendo, e para Herculano-Houzel (2005), o
com base em experiências em sala de aula, fator principal é a motivação. É preciso que o
e ajudando na verificação dos espaços e sujeito tenha interesse por aquilo que ele está
ambientes que proporcionam ou não a fazendo, ou, caso contrário, pode até praticar,
aprendizagem. mas não haverá o aprendizado propriamente
dito. Esse é um dos conceitos que se aplicam
Segundo Stern (2005), a neurociência não somente em sala de aula, mas, de certa
fornece insights sobre a capacidade de forma, na vida, em todos os momentos, uma
limitação do cérebro diante do que se está vez que funciona com base no princípio de
ensinando e já existem contribuições das que quando o indivíduo reconhece que o
neurociências que fundamentam a prática que o move é o interesse, a motivação de
educacional. Sabe-se que não existem receitas fato, e que isso depende da oportunidade de
prontas para os problemas educacionais, experimentar coisas diferentes, ele aceita se
mas é evidente que a neurociência ajuda em expor a novas situações, se desafiando.
aspectos cotidianos relacionados às práticas
de ensino. Um dos fatores essenciais para que o
aprendizado ocorra é a atenção, que de certa
Desta forma, forma é limitante para todos. Logo, ela é a
porta de entrada para o aprendizado, visto
O aprendizado é um processo que depende que é mais fácil aprender em um ambiente em
fundamentalmente de experiências, vivências,
tentativas e erros. Já que o cérebro aprende que haja menos fatores e coisas diferentes
se modificando, se esculpindo conforme ele é acontecendo, que possam chamar para si a
usado, na medida em que o sujeito se expõe a atenção do aluno.
novas situações (HERCULANO-HOUZEL 2005,
p. 45).
Para que o indivíduo tenha interesse em
Para a neurociência é possível saber quais aprender, é preciso que seja algo interessante,
são os fatores importantes que influenciam o estimulante, ou que de certo modo, o cérebro
aprendizado. Além da prática, da experiência, seja capaz de criar expectativas sobre o que
é necessário dispor de métodos que melhor se pode vir a dar certo. Nesses casos, o sistema
adequem – sempre levando em consideração de recompensa é ativado por antecipação e
que não existe um método perfeitamente esse prazer antecipado que se tem pode ser
adequado –, já que cada indivíduo possui chamado de motivação, que é a expectativa
as suas idiossincrasias, as suas dificuldades de um resultado positivo.
particulares, e que cada um precisa de um
método diferente para aprender. De acordo com Herculano-Houzel (2007),
uma das grandes fontes do sistema de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

recompensa é o aprendizado, uma vez que tem oportunidade de praticar e, portanto, se


o aluno parte de uma situação em que se modificar por meio da prática.
tem um problema difícil de ser solucionado
e descobre que se tem condições para A neurociência considera que o
resolvê-lo. Dessa forma, descobrir que peças comportamento é o resultado do cérebro,
se encaixam para descobrir uma resposta logo, se o comportamento muda, é porque
para uma pergunta, uma solução para um o cérebro muda. E o cérebro, por sua vez,
problema, é por definição um dos grandes funciona junto com o corpo ao qual ele
estímulos do sistema de recompensa. pertence, sendo assim, o seu funcionamento
determinará a identidade do sujeito nos
O processo de avaliação, neste sentido, aspectos comportamentais, de forma que a
tem a função de sinalizar o que o aluno ainda troca entre as informações entre o cérebro e
não aprendeu. No entanto, a avaliação que o corpo resultará em todo o funcionamento
se limita somente a apontar os erros deixa do indivíduo de modo geral.
de compreender o seu papel maior, que é
justamente o de dar o retorno para o aluno e a Diante do exposto, Chedid (2007),
oportunidade dele encontrar motivação para
buscar alcançar o que ainda não aprendeu. Para a sala de aula, para a educação, as
Neurociências são e serão grandes aliadas,
identificando cada ser humano como único e
A avaliação é uma importante ferramenta descobrindo a regularidade, o desenvolvimento,
para que se possa entender o nível de o tempo de cada um. [...] em pleno século XXI,
nos deparamos com outras formas de informação
dificuldade, tanto na aprendizagem, além do letramento formal, é necessário
quanto no que foi proposto. O sistema de conhecer e ensinar outras linguagens que dão
recompensa em relação à avaliação tem acesso a informações imprescindíveis para a
comunicação. [...] precisamos conhecê-las e
ligação com o nível de dificuldade em que entender as modificações que estão ocorrendo,
o esforço vale a pena, ou seja, se a pessoa olhar estes cérebros para saber como eles
ainda não domina totalmente o assunto, funcionam e determinar mudanças em como
ensiná-los (CHEDID 2007, p.298).
mas considera que tem possibilidade de vir
a dominá-lo (HERCULANO-HOUZEL 2007).
Para Herculano-Houzel (2007), o talento, Ao se tratar de aspectos comportamentais
por sua vez, se faz com a prática. Não é e de aprendizagem, a neurociência vem
preciso invocar nenhum tipo de diferença apresentando estratégias, destinadas a
prévia ou talento inato que explique por auxiliar o professor na compreensão do
que algumas pessoas se tornam concertistas aluno, adequando diferentes estímulos para
extraordinários e outros apenas bons. Para o cotidiano em sala de aula.
alguns autores, o que faz essa diferença é
o acúmulo de horas de prática, ou seja, é o Muitas vezes, as dificuldades de
quanto se treina de fato e o quanto o cérebro aprendizagem apresentadas pelos alunos

1165
Revista Educar FCE - Abril 2019

não estão relacionadas diretamente a um no caso de algumas crianças que respiram


problema cerebral, mas na sala de aula ou pela boca, o que pode resultar em um sono
em qualquer situação de aprendizagem, mal restaurado, por conta das obstruções
ele irá necessitar de estratégias que vão de nas vias aéreas. Essa criança, que acabará
acordo com a forma com a qual ele tem mais não dormindo bem em razão de dificuldades
facilidade em aprender ou em compreender respiratórias, claramente chegará à escola
uma situação. com muito sono e indisposta a participar
das aulas. Fatores como esses acabam
dificultando diretamente a aprendizagem,
OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO como por exemplo na própria alfabetização,
fazendo com que o aluno demore mais do
Sabemos que um aluno não aprende como que o comum para aprender a ler e escrever.
o outro e cada pessoa passa por um processo
diferente em se tratando da aprendizagem. Com base em pesquisas realizadas
É por isso que a neurociência vem auxiliar a por Tokuhama-Espinosa (2008), foram
educação em alguns aspectos, como colocar enumerados 14 princípios básicos que
em prática, na escola, o que está sendo são fio condutores entre o cérebro e a
estudado a respeito do cérebro. Além disso, aprendizagem:
ela tem feito grandes contribuições, trazendo
elementos e subsidiando a prática em sala Estudantes aprendem melhor quando são
altamente motivados do que quando não
de aula que ajuda no desenvolvimento e têm motivação; Stress impacta aprendizado;
educação das crianças. Ansiedade bloqueia oportunidades de
aprendizado; Estados depressivos podem
impedir aprendizado; O tom de voz de outras
De acordo com os estudos recentes, pessoas é rapidamente julgado no cérebro
sabemos que existem muitas pesquisas como ameaçador ou não-ameaçador; As
realizadas sobre as questões que atrapalham faces das pessoas são julgadas quase que
instantaneamente (i.e., intenções boas ou más);
o rendimento escolar dos alunos. Entre elas, Feedback é importante para o aprendizado;
encontramos aspectos relacionados a várias Emoções têm papel-chave no aprendizado;
atividades do cotidiano às quais devemos Movimento pode potencializar o aprendizado;
Humor pode potencializar as oportunidades de
prestar atenção para que estas não interfiram aprendizado; Nutrição impacta o aprendizado;
nas aprendizagens, como por exemplo: o sono, Sono impacta consolidação de memória; Estilos
que tem relação com a memória, e por isso de aprendizado (preferências cognitivas) são
devidas à estrutura única do cérebro de cada
é importante que uma criança durma bem; a indivíduo; Diferenciação nas práticas de
alimentação, que é essencial para a energia, sala de aula são justificadas pelas diferentes
o sustento e o movimento do corpo; e até inteligências dos alunos. ” (Tokuhama-Espinosa,
2008: 78).
mesmo a respiração, que, quando executada
de maneira não adequada, pode acarretar em Nesse contexto, se mostra urgente
consequências negativas, como por exemplo a necessidade de mais pesquisas que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

apontem as observações acima e que o conhecimento que ele traz. Todo aluno,
possam levar a uma orientação de como o ao chegar na escola, já traz consigo alguma
ser humano deve ser ensinado, revelando bagagem – dos mais variados âmbitos da vida
as suas potencialidades individuais, a fim de –, ou seja, já sabe de algo, possui algum tipo
maximizar o seu aprendizado. de conhecimento. Sendo assim, é importante
que o professor ouça o seu aluno, tenha um
Há estudos que indicam que, associando o olhar individualizado sobre ele e perceba os
ensino com algumas práticas, a aprendizagem estágios em que ele se encontra, para tentar
tende a acontecer com mais facilidade, potencializá-los.
especialmente, por aqueles alunos que
apresentam maior dificuldade. Quando o Pelo fato de o cérebro ser o órgão primordial
aluno está em um processo de aprendizagem na aprendizagem, os estudos neurocientíficos
que tem como cenário um ambiente com vêm de encontro com a compreensão das
“alto desafio” e “baixa ameaça”, há processos regiões cerebrais e de como cada parte é
moleculares que controlam a comunicação responsável por uma função, seja a emoção,
entre células, ou seja, mudanças físicas a atenção, os comportamentos. Dentro desse
acontecendo nas sinapses, que mais tarde contexto, algumas tarefas são de extrema
podem ser usadas para se reconstruir importância durante o processo de ensino-
parcialmente o que foi armazenado. aprendizagem, como: regras durante as
atividades; rotina e objetivos; diálogo diário;
Existem inúmeras possibilidades de materiais que explorem a sensibilidade,
aprendizagem para o ser humano, do aguçando os sentidos; trabalhos coletivos;
nascimento até a morte. Nossa experiência espaço agradável; descanso e reflexão para
na inclusão de alunos com necessidades ativar o hipocampo; diferentes estratégias
especiais já sinaliza que não temos como para trabalhar o mesmo conteúdo; entre
afirmar até que ponto cada um deles pode outras.
chegar. No entanto, percebemos que, na
maioria das vezes, quando modificamos Segundo Lima (2007, p.33), “todas as
as estratégias de ensino os alunos acabam crianças são capazes de aprender, segundo
alcançando, total ou parcialmente, os a sua capacidade”, estando isso previsto
objetivos propostos. na Constituição Brasileira de 1988, no art.
A neurociência, por sua vez, vem fazendo 208, que diz que o dever do Estado com a
pesquisas do ponto de vista de como a educação será efetivado mediante a garantia
pessoa aprende, de forma que ela investiga de acesso aos níveis de ensino mais elevados,
como as possibilidades de aprendizagem da pesquisa e da criação artística, segundo a
acontecem nas salas de aula. Desta forma, capacidade de cada um.
Guerra (2002), aponta que é necessário
investigar aquilo que o aluno já sabe, ou seja,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Esse artigo da constituição chama a atenção A escola, por sua vez, diante dessas
no que diz respeito à afirmação de que o questões, tem como um dos seus maiores
ensino será garantido mediante a capacidade desafios tratar os alunos em suas diferentes
de cada um. Em vista disso, sabemos que dificuldades, de forma individualizada,
dentro de uma sala de aula cada criança tem porque ela os unifica diante da estrutura em
o seu próprio tempo e, sendo assim, existem que é organizada, especialmente no que diz
crianças que necessitam de um tempo maior respeito à estrutura física. Ou seja, em uma
do que o dos colegas para terminar uma mesma sala de aula, podemos encontrar os
lição ou até mesmo para compreender um mais distintos tipos de alunos: desde aqueles
determinado comando e aprender algum que chegam lendo e escrevendo e tendo
conteúdo. Portanto, o final de um bimestre, absoluto domínio sobre a leitura, a escrita
trimestre ou semestre acaba se tornando um e a matemática; passando por outros que
limitante da capacidade, já que se o aluno mal conseguem escrever seu próprio nome
aprender até o dia do fechamento das notas ou realizar um cálculo dos mais básicos;
ele terá um desempenho positivo, e se não passando também por aqueles que já viajaram
aprendeu, não o terá. o mundo com a família, ou por meio de leitura,
e que possuem um amplo conhecimento de
Essa visão conteudista da escola tradicional geografia a história, ao passo que outros
há muito tempo limitou a aprendizagem dos nunca sequer saíram de seu bairro. Logo,
alunos, uma vez que acaba abreviando o quando um aluno chega na escola, ele fará
tempo e as oportunidades de significação parte de um grupo diversificado, composto
do que é ensinado, deixando faltar, assim, a por pessoas que nem sempre compartilham
associação prática para que se compreenda das mesmas experiências e competências
a importância de se aprender determinado sobre determinados assuntos que ele tem.
conteúdo.
Neste contexto, quando se tem alunos com
Como mencionamos anteriormente, competências muito diferentes, a escola que
existem duas dificuldades básicas de trabalha quase que numa produção fabril,
aprendizagem: aquela que é uma dificuldade se perde. Da mesma forma que existem
de ler e escrever – que é “concreta”, já que escolas que nem conseguem perceber
o professor ao analisar as condições de essas diferenças entre os indicadores da
aprendizagem deste aluno vai saber que aprendizagem de seus alunos, já que estão
o problema dele é na leitura e na escrita – organizadas por idade e não por dificuldade.
e tem aquela que é uma dificuldade mais Logo, voltamos a questão de que essas
subjetiva, que se apresenta no raciocínio perspectivas são processos incoerentes,
lógico, na relação com os amigos, na relação uma vez que o papel da escola é gerenciar
com o próprio conhecimento. a aprendizagem, mas ela tem trabalhado
gerenciando idades cronológicas e séries.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O NEUROEDUCADOR
O neuroeducador atua com o objetivo de trabalhar os conhecimentos neurocientíficos com
o foco na sua relação com o processo de ensino-aprendizagem. O seu trabalho consiste em
atividades avaliativas e intervenções, de forma que se busque detalhar como a aprendizagem
ocorre em determinada pessoa. O trabalho que é feito neste âmbito é preventivo, já que
é por meio dos resultados dessas avaliações do processo que se pode buscar um auxílio
na didática e metodologia, assim como na dinâmica estabelecida pela instituição, com a
finalidade de alcançar a melhoria da aprendizagem.

Tamez (2006) define a neuropsicopedagogia como:

[...] um exercício de trabalho interdisciplinar sobre o processamento de informações e modularidade da


mente em termos de Neurociência Cognitiva, Psicologia, Pedagogia e Educação, que ocorre na formação
multidisciplinar de profissionais voltados à área educacional. O neuropsicopedagogo deve ter amplo
conhecimento dos diferentes modelos, teorias e métodos de avaliação, planejamento, currículo dos diferentes
níveis de ensino. Além disso, deve ter amplo conhecimento da base neurobiológica do comportamento psico-
educacional e da reabilitação neurocognitiva tanto em crianças, adolescentes, sujeitos idosos e pessoas com
necessidades especiais [TAMEZ, 2006, p. 28).

O professor conhecedor da neurociência, por estar mais próximo dos processos de


aprendizagem, pode detectar problemas em seu desenvolvimento. Desta forma, ele pode
solicitar a ajuda da instituição para que seja feito um trabalho em conjunto com outros
profissionais, a fim de que haja parcerias e trocas também com uma equipe multidisciplinar,
em que cada profissional consegue ver diferentes focos de ensino, de acordo com a
especificidade de cada um.

Por fim, quando há professores conhecedores da neurociência em uma unidade escolar,


é possível desenvolver metodologias de acordo com o foco de aprendizagem da criança,
evitando o caos durante esse processo, como os sentimentos de fracasso e frustração.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É fato que as dificuldades em sala de aula existem e que no
modelo de ensino atual se tenha certa atenção para o aluno
que não consegue aprender. Diferentemente do passado,
que nos propunha um ensino tradicional, em que se o aluno
não aprendesse ele simplesmente repetia o ano. Toda essa
dificuldade em aprender desses alunos gera desconforto aos
professores e isso muito tem angustiado os profissionais da
educação, fazendo com que eles busquem novas estratégias
e metodologias para ensinar.
NATIELE CAVALCANTI
A neurociência vem trazendo a possibilidade de um novo DE LIMA
olhar no processo de ensino, a fim de que ele se torne um olhar Licenciatura em Letras
mais individualizado para cada criança que tem dificuldade - Português/Inglês pela
de aprendizagem, possibilitando novas formas de ensinar, Universidade Presbiteriana
Mackenzie (2013); Professora de
sob as perspectivas de métodos que se enquadrem melhor a Ensino Fundamental II - Língua
cada indivíduo, tomando-se por base o que já foi visto. inglesa - na EMEF Professor
Franklin Augusto de Moura
Campos e na EMEF Dom Pedro I.
Sendo assim, é necessário compreender que o aluno é
um ser integral, que está em desenvolvimento em diversos
aspectos de sua vida, e que a aprendizagem escolar precisa estar conectada com a diversidade
presente na sala de aula. Portanto, cabe a todos envolvidos no processo de ensinar e aprender,
buscar novos caminhos para uma educação justa e eficaz.

Por fim, podemos concluir que essa relação entre a educação e a neurociência possibilita um
rico intercâmbio de experiências, de modo que ajuda o professor a conhecer como o cérebro
do seu aluno funciona, para que assim ele possa, de fato, direcionar uma aprendizagem
significativa com base nesse diálogo entre essas duas áreas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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TAMEZ, Alberto M. O. Definição de Neuropsicopedagogia. São Paulo: Cortez, 2006.

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desenvolvimento de normas no novo campo acadêmico da neuroeducação (mente, cérebro,
e ciências da educação). Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade de Capella, Mineapolis, Minnesota, 2008.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A LITERATURA DE CORDEL COMO UM


GÊNERO DE HISTÓRIAS E DE CULTURA
PARAALUNOS DO CICLO FUNDAMENTAL
RESUMO: O presente artigo tem como primíssima demonstrar a relevância da Literatura de
Cordel, como um gênero que busca resgatar sentidos e dizeres de histórias e de cultura para
alunos do Ciclo Fundamental, focando entre outros objetivos destacar a riqueza literária da
dita literatura popular, explorando as variantes linguísticas que estão presentes no discurso
de tais autores e que em muitos momentos não se fazem presentes na sala de aula. Embora
a leitura seja um importante meio para aquisição de saberes, e um mecanismo básico para o
sistema educativo, dentro do espaço da sala de aula não podemos nos limitar a ensinar a ler,
e para isso se faz imprescindível levar ao conhecimento dos educados gêneros diferenciados
como o que falaremos no presente artigo. Apresentar a poesia de cordel como um dos
elementos mais fortes da cultura nordestina que nos possibilita reflexões e discussões
acerca da exterioridade da língua(gem), seus contextos e produção, buscando despertar a
sensibilidade e senso crítico nos alunos.

Palavras-Chave: Literatura de Cordel, Leitura, Cultura, Poesia.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Literatura de Cordel, dando visibilidade e


possibilitando um contato prazeroso com
A literatura oral tradicional popular tal literatura valorizando a difusão dessa
permanece ativa mesmo com o passar do arte encantadora. A presença do cordel
tempo e com o surgimento da tradição no ambiente escolar traz a riqueza de tal
literária culta, a então conhecida como gênero nos levando a uma reflexão sobre
literatura de Cordel, teve início na Europa com o preconceito disseminado na sociedade
a imprensa e se difundiu. Uma característica em relação a falas regionais, que deve ser
deste gênero é que sua poesia narrativa enfrentado na escola, e devem ser um dos
e de caráter popular é apresentada pelos objetivos educacionais ampliando o conceito
cordelistas por meio de versos e suas histórias de respeito às diferenças. De acordo com
possuem riqueza de detalhes singular. A BRASIL (1997):
literatura de cordel traz consigo uma das
variantes linguísticas que se personifica no Para isso e também para ensinar Língua
Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns
discursado homem nordestino/camponês, mitos: o de que existe uma única forma “certa”
ao mesmo tempo em que se ausenta da de falar; a que se parece com a escrita, sendo
literatura dos livros didáticos, sendo assim assim, seria preciso “consertar” a fala do aluno
para evitar que ele escreva errado. Essa crença
consequentemente das salas de aula. produziu uma prática de mutilação cultural
que, além de desvalorizar a forma de falar
No nordeste, devido condições sociais e do aluno, tratando-o como incapaz, denota
desconhecimento de que a escrita de uma língua
culturais foram possíveis o surgimento da não corresponde inteiramente a nenhum de seus
literatura de cordel. De acordo com Melo dialetos por mais prestígio que um deles tenha
(1982, p.12), esse gênero obteve forte em um dado momento histórico.
expressão na região, e serviu de instrumento
de educação e informação, porém não Seguindo essa linha, a Literatura de
podemos deixar de citar que é perceptível Cordel é um gênero rico, cuja competência
a falta da literatura popular no contexto discursiva é capaz de levar aos leitores
teórico e metodológico escolar, não diferentes vertentes com relação a sua
desconsiderando o preconceito no espaço construção, sentido e historicidade. Sendo
didático, pedagógico, livros e salas de aula, assim, introduzir o gênero cordel no trabalho
não encontrando lugar expressivo em salas das aulas de Língua Portuguesa, buscando dar
de aula de literatura, em trabalhos que destaque ao contexto cultural tipicamente
envolva leitura ou interpretação textual, sua nordestino em contexto sociocultural.
presença se restringe ao interesse de algum
estudioso em projetos e monografias.

A utilização da literatura de cordel busca


fortalecer um suporte teórico acerca da

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Revista Educar FCE - Abril 2019

LITERATURA DE CORDEL: contadores de história por excelência, pois


QUE GÊNERO É ESSE? detém o conhecimento das tradições de
seu lugar e por adquirir por meio de suas
Quando o assunto é tradição da literatura constantes viagens. Em seguida esse papel
oral, nos recorremos a um tempo anterior, de propagador da literatura de Cordel foi
ou seja, essa é uma tradição oral popular é assumido pelos artesões na medida em
muito antiga porem permanece até os dias que seu contexto possibilitava, ao estre, o
atuais, mesmo com o surgimento da tradição conhecimento profundo das tradições de
literária culta. A literatura de cordel toma a sua região e experiências na qual passava.
forma de uma literatura universal que teve Segundo Walter Benjamim, na era moderna
seu surgimento na Europa por meio da surge a figura do operário, cujas atividades e
imprensa e que se difundiu desde então, uma atitudes divulgam tal cultura de massa.
das principais características deste gênero é
seu caráter narrativo e popular, uma vez que Nesse contexto o desenvolvimento
os cordelistas contam por meio dos versos e industrial modificou as ligações entre os
com riqueza de detalhes incomparáveis. homens. As transferências passaram a não
serem comunicáveis, ou seja, as trocas
Por volta dos séculos XI e XII, durante humanas foram diminuindo, com isso a
a Idade Média, esse gênero popular se narração de histórias tendia ao fim. Com esse
reproduziu por toda a Europa. Sua expansão contexto se formando as relações educativas
foi transmitida preferencialmente de forma e comunicarias ia aos poucos perdendo
oral, com o surgimento de várias línguas seu valor até chegar a atual sociedade de
nacionais, utilizadas pela população, em consumo, na qual a exacerbação do individual
objeção á língua das elites, o latim. Com o supera o coletivo tendo seu ápice.
uso de máquinas impressoras auxiliaram na
difusão desse tipo de literatura levando-o a Na atualidade, podemos exemplificar e
um maior público. Na Espanha, os folhetos de afirmar que o cordel se mantém, enquanto
Cordel impressos ganharam o nome de pliego narrativa, em sua grande maioria as
suelta; na Inglaterra, chapbook, na França, características de sua origem, e traz com
literatura de colportage e em Portugal tais sigo a função social e educativa, de ensino,
livretos ganharam algumas denominações aconselhamento, e não apenas recreação ou
como: folhetos, folhetos volantes, literatura fruição industrial. Uma grande quantidade
de cegos, e por fim cordel- Cordel, porque dos consumidores da literatura de cordel não
as folhas eram penduradas ou dobradas em é alfabetizada, porem devido à proximidade
barbantes para atrair aos leitores. dos textos a suas realidades adquirem os
livretos para que outra pessoa possa fazer a
Seu público alvo acabou sendo os leitura para eles. Atendendo a evolução da
camponeses e os marinheiros que são língua, o cordel absorveu algumas tendências

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Revista Educar FCE - Abril 2019

da modernidade. Esse gênero também depois surgiram os primeiros folhetos com


assume um sentido individual, deixando o autores brasileiros, na região Nordeste
tipo de texto e o leitor em contato direto por do país. O cordel se espalhou no nordeste
meio da leitura solitária ou silenciosa. brasileiro, uma região extremamente rica
em manifestações culturais. De acordo com
Na atualidade a literatura de cordel se Melo (1982, p.12):
alia os novos mecanismos de midiatização,
entre eles o uso do computador. Em Recife, No Nordeste, por condições sociais e culturais
peculiares, foi possível o surgimento da literatura
por exemplo, alguns folhetos foram editados de cordel, de maneira como se tornou hoje em dia
e impressos por computador. Assim, o característica da própria fisionomia cultural da
que ocorre não é a total integração dessa região. Fatores de formação social contribuíram
para isso; a organização da sociedade patriarcal,
produção, que poderia até ser vinculada o surgimento de manifestações messiânicas,
online, mas fazer o uso da informática o aparecimento de bando de cangaceiros ou
enquanto instrumento. Nesse sentido, não há bandidos, as secas periódicas provocando
desequilíbrios, econômicos e sociais, as lutas
uma fusão total mas a integração de forma a de famílias deram oportunidade, entre outros
respeitar a essência do gênero sem descartar fatores, para que se verificasse o surgimento
a base real adaptando por exemplo a capa que de grupos de catadores como instrumento do
pensamento coletivo, nas manifestações da
originalmente é confeccionada pelos artistas memória popular.
por meio de da xilogravuras, nesse novo
modelo são utilizadas imagens já prontas, Conforme as pressuposições de Melo
do próprio computador. Possivelmente essa (1982, p. 8-9), o cordel desempenhou um
”transfiguração” seja típica e traga a tona a importantíssimo papel na região nordeste,
versalidade inerente a essa arte, enquanto com fins educativos, políticos, veículo do
mecanismo de sobrevivência. Fato é que a campo, fins sanitários em campanhas, por
literatura de cordel continua a acompanhar exemplo, de vacinação, campanhas político-
as alterações e inovações no decorrer do partidárias, difusão de atividades artesanais.
tempo, incorporando alguns elementos Outro papel importante exercido pela
novos e mantendo outros. literatura de cordel é sua ligação com relação
ao auxilio no processo de alfabetização.
É sabido que há um número elevado de
O NORDESTE E SUA moradores da região nordeste carentes de
RELAÇÃO COM O CORDEL alfabetização, e com auxilio e acesso desses
folhetos cujas poesias se assemelham a fatos
Com a chegada dos portugueses ao de seu cotidiano facilita tal processo. Em uma
Brasil, veio também os primeiros folhetos época na qual cartilhas de alfabetização eram
de cordel tragos em suas bagagens no início escassas e o homem rural não possuía acesso,
da colonização. Após a chegada desses o folheto de cordel cumpria prontamente
livretos mais precisamente três séculos essa função social.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Desde sua chegada o cordel sofreu Sou um caboclo rocêro,


diversas transformações modificando seu Sem letra e sem estrução
formato desde a chegada dos portugueses, O meu verso tem o chêro
uma das mudanças foi que originalmente as Da poêra do sertão;
produções trazidas pelos portugueses eram Vivo esta solidade
escritas em prosa, às produções feitas em Bem distante da cidade
nosso território eram exclusivamente escritas Onde a ciência gunverna.
em versos carregados com características Tudo meu é natura,
próprias da cultura do território em que foi Não sou capaz de gosta
inserido mais especificamente na região
nordeste. Da poesia moderna. (PATATIVA DO
ASSARÉ, 2007).
Com o início da poesia popular nordestina,
impressa, que se deu início com o paraibano Com as mudanças sociais que foram
Leandro Gomes de Barros, o mais famoso ocorrendo, a poesia de cordel foi se
poeta popular. Isso porque “não há dúvida transformando. Historicamente, a temática
de que, até hoje, nenhum outro poeta da utilizada pelos cordelistas era extremamente
literatura de cordel conseguiu igualar-se quer diversificada, tratavam de temas como
em qualidade de versos quer em penetração romances tradicionais até assuntos
popular”. (LUYTEN 1992, p.53-54). históricos brasileiros, relacionados á religião,
ao misticismo, á vida do campo, desastres,
A propagação da literatura de cordel crimes, acontecimentos da atualidade
no nordeste se deu por meio dos folhetos, mundial. Luyten (1992, p. 67) caracteriza:
por volta de 1890. A partir de 1910, outros
autores foram surgindo como: Antônio Essa poesia, a literatura de cordel, ao longo dos
anos sofreu uma mudança, não na estrutura, mas
Guedes, João Martins de Athayde, Antônio sim na essência. Antigamente, ela era portadora
da Cruz, José Adão Filho, Laurindo Gomes de anseios de paz, de tradição e veículo único de
Maciel, Manoel Caboclo e Silva e Antônio lazer e informação. Hoje, ela é portadora, outras
coisas, de reinvindicações de cunho social
Gonçalves Dias, etc. Sendo um dos mais político.
populares e renomados poetas da literatura
cordelista nordestina Antônio Gonçalves Apesar das alterações as instituições
Dias, mais conhecido por Patativa do Assaré, responsáveis pela formação do leitor
que se se destacou por cantar em seus aparentemente não deram conta de
versos a vida dura do sertanejo, a diferença sanar desencontros demostrados entre
de classes e destaque as coisas de sua terra: o relacionamento poesia e escola. Nesse
festas, costume. sentido é importante ressaltar a integração
leitor-texto, poesia e escola. Então seguindo
essa linha de pensamento devemos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

considerar necessárias ações a fim de integrar linguagem, aprendizagem fundamental para


leitor-texto, essa interação é imprescindível o exercício da cidadania, pensando que
para que o poema seja enraizado no contexto essa é uma garantia para participação ativa
cultural e social do leitor, sendo assim o na vida social. Melhor dizendo, a escola é
cordel será destacado como indispensável o lugar na qual se deve provar um tipo de
no currículo escolar. Já que esse gênero é a ensino organizado de modo que o discente
concretização dos discursos que permeiam desenvolva seus conhecimentos linguísticos.
as mais diversas situações. Os textos orais
e escritos demonstram de forma concreta o Os conjuntos de práticas de linguagem
universo de seu autor: o que pensa, como englobam o sujeito que desenvolve suas
pensa, e como expressa esse pensamento. capacidades de uso da linguagem e de reflexão
Expressando a vivência do povo em toda sua em situações significativas de interlocução,
plenitude. portanto, as propostas de ensino de Língua
Portuguesa devem organizar-se, levando
em consideração a diversidade de textos
O CORDEL E SEU que circulam socialmente. Seguindo esses
ENVOLVIMENTO NO ENSINO parâmetros o ensino pode constituir-se em
fonte efetiva de autonomia para o sujeito.
DE LÍNGUA PORTUGUESA Bezerra sugere (in DIONÍSIO 2002, p.43):
Ao ressaltar o quadro educacional
brasileiro percebemos que este ainda Havendo, na sociedade atual, uma grande
variedade de textos exigidos pelas múltiplas e
apresenta descontentamento. Muitos complexas relações sociais, é necessário que o livro
fatores nos apontam para esse caminho que amplie variedade textual. Por isso, encontramos
busca qualidade. Nosso país ainda está em recomendações de que o ensino de Língua
Portuguesa gire em torno do texto, de modo a
desvantagem quando o assunto é educação se desenvolver competências linguísticas, textuais
comparado a outros países em equivalência. e comunicativas dos alunos, possibilitando-lhes
Porém estudos feitos denotam que a recente uma conveniência mais inclusiva no mundo
letrado de hoje (não no sentido de simplesmente
atuação dos sistemas de ensino demonstra aceita-lo, mas principalmente de questioná-
progressos significativos que se consistem lo, de imprimir-lhe mudanças). Assim, a ênfase
rumo á superação do atraso educacional. na leitura, [...] considerando seus aspectos
enunciativos, discursivos temáticos, estruturais
e linguísticos (que variam conforme as situações
Quando o assunto é língua portuguesa, comunicativas), caracterizando-se como uma
se faz necessário redefinir de forma clara das renovações mais apregoadas no ensino de
nossa língua, embora ainda insuficientemente
quais são os reais objetivos buscando uma praticada.
reflexão sobre o que, quando, como e para
que ensinar levando em consideração a Que o ensino é fragmentado o objetivo
língua materna, considerando a perspectiva não é alcançado. Portanto o conhecimento
de ampliação do domínio da língua e da reflexivo e crítico se faz necessário na

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Revista Educar FCE - Abril 2019

composição do cidadão. A UNESCO indica competem á escola transmitir. Os saberes


quatro premissas como sendo indispensáveis acumulados pelos educandos não abona
á educação no mundo contemporâneo: aquilo que aprendem cotidianamente.
Aprender a conhecer, aprender a fazer, Sendo assim a aquisição de competências
aprender a viver juntos e aprender ser. e habilidades não é garantia de globalidade
Portanto, “estes são saberes cuja conquista das aprendizagens dos educandos diante
ultrapassa a mera aquisição de informação, dos diversos desafios. Portanto, a conquista
uma vez que abarcam a formação humana e de conhecimentos tem como premissa levar
social do indivíduo”. (PCN MEC/SEF, 2002). os educandos a compreensão que tudo
que faz, aprende, estuda pertence a um
Tais conceitos traduzem os objetivos contexto, e adquirir tais habilidades não
da educação que vivenciamos hoje na apenas como expectador, mas também como
sociedade contemporânea. Assim sendo, as protagonista produtor de cultura, garantindo
competências almejadas para uma formação ao aluno autonomia no seu processo ensino
do sujeito responsável em sua participação aprendizagem. Nesse sentido, a língua
social estão fundamentadas no ato de materna não é descartada e se faz presente
comunicar-se e expressar-se socialmente. frente aos desafios da contemporaneidade
Sendo assim cabe ao conhecimento das para a compreensão das complexidades que
linguagens não resumir-se á consecução de envolvem as relações sociais e culturais.
objetivos instrumentais. Cabe, portanto aos
professores da área de Língua Portuguesa Cabe aos profissionais que atuam nessa
dirigirem o aprendizado de modo que o área participar de uma educação que
educando entenda o substrato comum, assegure aos educandos adentrar a vida
abrangente e articulado das línguas. Dessa adulta, aptos a frequentarem os mais diversos
forma, é imprescindível que o professor tenha contextos sociais, possibilitando seu acesso
conhecimento dos conceitos que estruturam e oferecendo possibilidade de construção
sua disciplina e correlacione estes conceitos de um pensamento autônomo, sendo parte
de forma que o educando estabeleça atuante inserindo personalidade própria,
vínculos necessários para a aquisição e democratizando o conhecimento em uma
desenvolvimento destas competências concepção de educação para a liberdade,
gerais pré-determinadas para a área, da que proporcione autonomia e desalienação.
mesma maneira é igualmente necessário que
o professor conquiste autonomia em relação
ao ensino e crie suas próprias estratégias e
métodos.

O desenvolvimento de competências não


descaracteriza a conquista de saberes que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A COMPOSIÇÃO DO LEITOR Portanto, se faz primordial o destaque


EM UMA CONJUNTURA nas práticas de leitura a ideia de apropriação
por parte dos alunos, por meio da escrita,
TEÓRICO-METODOLÓGICA dos conhecimentos acumulados ao longo
Diferentes e vastas propostas de trabalhos da história. (BEZERRA, in DIONISIO, 2002,
com a leitura foram utilizadas a fim de obter p.39). Alcançar o letramento envolve
um desempenho na formação de alunos inúmeras práticas sociais que influenciam
leitores consequentemente produtores de direta ou indiretamente a produção e/ou
textos. É visível o desequilíbrio de leitura leitura de materiais escritos. (SIGNORINI,
refletida na insuficiência presente em nossos apud DIONISIO, 2002:39). Sendo assim para
educandos, nos mostrando o fracasso alcançar o letramento envolve inúmeras
escolar presente atualmente em nosso práticas sociais que integram direta ou
sistema educacional. Fato esse que nos é indiretamente a produção e/ou leitura
apresentado em vários momentos: concursos de materiais escritos. (SIGNORINI, apud
mal sucedidos, redações mal elaboradas em DIONÍSIO, 2002, p.39). Pensando nesse
vestibulares, avaliações recorrentes em salas contexto pretendemos acertar os nossos
de aula, interpretações de textos confusas. alunos, para assim contribuir na formação do
Em frente a esse quadro, nós professores cidadão-leitor-crítico, agente do processo
enquanto leitores críticos repensarmos e conhecedor de seus direitos e deveres
nossa didática relacionada aos trabalhos de contribuindo assim para uma sociedade,
leitura desenvolvidos para a então formação levando-o a uma visão do meio social no
de alunos leitores críticos. qual está inserido.

Pensando que a formação de tal indivíduo


é essencial para que a disparidade não seja A HOSTILIDADE LINGUÍSTICA
perpetuada, evitando assim a exclusão social NO AMBIENTE ESCOLAR
que surge nesse contexto, no mundo e para o
mundo da leitura. Dentro desta perspectiva, Pensar que a linguagem é formada por
as Orientações Curriculares para o Ensino um conjunto de práticas e é o sujeito que
Médio (BRASIL, 2008) destacam: desenvolve sua capacidade de uso e reflexão
sobre as diversas situações significativas de
E na escola? Que leitor formar? Evidentemente interlocução, então cabe à reorganização das
qualquer pessoa comprometida com a educação
logo pensará que compete a escola formar propostas de ensino de língua portuguesa,
leitores críticos, e esse tem sido, efetivamente, considerando a vasta diversidade de textos
o objetivo perseguido nas práticas escolares que circulam socialmente. Por meio desse
amparadas pelos discursos dos teóricos da
linguagem e pelos documentos oficiais das sistema de organização, o ensino de língua
últimas décadas. portuguesa contribui para a efetivação da
autonomia do sujeito.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

socialmente relevantes da cultura brasileira no


Literatura de cordel é um gênero poético âmbito nacional e regional (PCN, MEC/SEF,
firmado na cultura brasileira, embora ainda 2001, p.41).
haja resistência devida á linguagem usada em
seus textos que prioriza o uso da linguagem Fundamentado nessa convicção que busca
local/ cultural não fazendo uso de uma língua valorizar a cultura brasileira nordestina por
padrão estabelecido ao longo dos séculos e meio da poesia cordelística, destacando e
propagado pelas unidades educacionais. É o incentivando a leitura como objeto de prazer
que MELO (1982, p.9) evidencia: e aquisição de cultura, surge a possibilidade
de maior incremento aos usos das variedades
Essas criações artísticas de ordem popular, pelo linguísticas.
imprevisto da imaginação, pela delicadeza da
sensibilidade pelo poder de observação, pela
força de expressão, pela instituição poética, Embora ainda impere uma atitude
pelo arrojo das imagens, pelo sentido de crítica, “corretiva” e preconceituosa quanto a forma
de protesto e de luta social que muitas vezes
apresenta, estão a exigir a atenção (...). não canônica de expressão linguística as
propostas de transformação de língua
portuguesa findam-se em práticas de ensino
A leitura de tais textos pertencentes a em que o ponto de partida e de chegada
esse gênero nos proporciona observações se difundem tendo como objetivo o uso
e discussões relacionadas aos aspectos da da linguagem. Sendo assim chega-se ao
língua(gem) e suas especificações, buscando consenso de que as práticas devem partir
despertar o senso crítico no educando e a do uso possível aos educandos permitindo
sensibilidade de “ler pelo prazer de ler”. a eles a aquisição de novas habilidades
Destacando a poesia de cordel como um dos linguísticas, associadas a padrões de leitura
elementos culturais mais fortes da cultura e escrita, lembrando que: o objetivo de
nordestina. Esse gênero mistura humor, ser das propostas de leitura e escrita é a
crítica social, vida religiosa e política para compreensão ativa e não a decodificação e
além de outros temas. O cordel traz consigo o silêncio.
a linguagem dita popular, envolvendo
elementos que levam a memorização: rimas e Perceber o contexto em que os educandos
musicalidade [...] características que marcam estão inseridos considerando-o para que
esse gênero poético e auxiliam o ouvinte a leitura transcenda o superficial em uma
no processo de memorizar o texto. Nesse perspectiva histórico-crítica, contextualizada.
sentido: De maneira que o ensino seja organizado, e
busque garantir aos sujeitos uma bagagem
É fundamental que a escola assuma a de conhecimentos discursivos e linguísticos,
valorização da cultura de seu próprio grupo
e ao mesmo tempo, busque ultrapassar seus assim como levar ao educando refletir
limites, propiciando as crianças e aos jovens sobre fenômenos da linguagem, variedade
de diferentes grupos sociais o acesso ao saber, linguística, contrariando a estigmatização,
tanto no que diz respeito aos conhecimentos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

discriminação e preconceitos relativos ao propondo aos leitores diferentes olhares ás


uso da língua. formas de construção, sentido e historiedade.

Quando refletimos sobre o ensino de Retomando ao que se remete a formação


modo geral, e em sala de aula, devemos levar de sujeitos-leitores-críticos trabalharem
ao sujeito possibilidades que o aproximarão com cordel na sala de aula deve ter como
dos diversos gêneros textuais. Uma vez que, objetivo proporcionar a socialização dessa
se apropriar dos gêneros é fundamental para leitura, bem como o compreender esse
a socialização, desenvolvendo e se inserindo gênero poético, demonstrando a vitalização
na prática de atividades comunicativas dessa então cultura popular e seus valores.
humanas. Os gêneros exigem espaço nas Nesse sentido, a ênfase dada ao cordel,
praticas das aulas de língua materna, e é está inserida nas Orientações Curriculares
necessário que professores e alunos e alunos Nacionais para o Ensino Médio (2008).
se reconheçam como interlocutores do
processo ensino-aprendizagem, explorando A lógica de uma proposta de ensino e
e priorizando práticas de leitura na qual de aprendizagem que busque promover
haja um envolvimento e enlace aspectos letramento múltiplo pressupõe conhecer
culturais, religiosos, políticos, econômicos a leitura e a escrita com ferramentas de
e sociais. Desse modo, Pinto (In: DIONISIO, empoderamentos e inclusão social. Some-
2002, p.50) destaca: se a isso que as práticas de linguagem a
serem tomadas no espaço da escola não
Á medida que passam a conhecer a fazer uso de se restringem á palavra escrita nem se
vários gêneros discursivos os alunos aprendem a
controlar a linguagem, o propósito da escrita, o, filiam apenas aos padrões socioculturais
contudo e o contexto. É necessário também que hegemônicos. Isso significa que o professor
se caracterizem de como a linguagem funciona deve procurar, também, resgatar do
para transmitir o conteúdo oralmente ou por
escrito. Devem, portanto, aprender a organizar contexto das comunidades em que a escola
os diferentes tipos de conhecimentos e de está inserida as práticas de linguagem e os
formação de acordo com a situação comunicativa respectivos textos que melhor representam
especifica.
sua realidade.

O cordel representado pelos autores Para que um sistema educacional atinja


Manoel Caboclo e Silva e Antônio Gonçalves com eficiência todos os sujeitos envolvidos,
Dias (Patativa do Assaré) tem fazendo uso sejam eles de diferentes realidades sociais
do artificio de “entrever equívocos da língua cabe ao educador partir de sua realidade
materializados na opacidade da linguagem” cultural considerando esse como um
(NOBREGA, 2004), considerando que este elemento primordial a fim de desabrochar
é um elemento discursivo fundador de o indivíduo como leitor, “integrar o homem
sentidos, de dizeres, de memórias, assim na sua comunidade sem sentir desprezo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

pelo ambiente que foi de seus pais e de seus As concretizações dos discursos que
avós em confronto com outros exemplos de permeiam as mais variadas situações estão
cidades de maior progresso e adiantamento”. inseridas nesses textos, e estão impregnados
(CAMPOS, 1977, p.67). de visão de mundo congruente pela cultura
e tem como resultado, necessariamente, das
A inclusão da poesia cordelística trouxe escolhas e combinações feitas no complexo
uma ressignificação nas aulas, a partir universo que é a língua. Isso porque, tais
dos olhares de notáveis pesquisadores, textos orais e escritos denotam de forma
como por exemplo, de Melo (1982, p.9). A concreta o cotidiano de seu autor: o que
literatura de cordel é tudo isso e muito mais. pensa, como pensa e, como expressa esse
É acontecimento da cultura brasileira que pensamento. Demonstrando seu universo em
vem sendo questionada em universidades sua plenitude. Este fato pôde ser observado
do país e no exterior – em simpósios, na entrevista que foi realizada com o senhor
seminários, conferências em nossos centros Catica de Suré, poeta popular, que por meio
culturais. Há vivo interesse pelo cordel de seu folheto narra acontecimentos reais
na própria chamada opinião pública, que ocorridos em sua comunidade.
acompanha, paralelamente, que ocorre no
país e no mundo por meio dos folhetos ou na Em 22 de agosto, dia dedicado ao folclore
apresentação dos contadores pela televisão, algumas unidades escolares preparam
no noticiário do dia-a-dia. atividades que trazem essa temática como
eixo a ser trabalhado, trazendo biografia
Nesse contexto a literatura de cordel se de cordelistas e apresentações deste
apresenta como um elemento riquíssimo gênero tão rico evidenciando assim sua
por meio do qual podemos alcançar o descrição de fatos cotidianos e produzidas
letramento, que envolve inúmeras práticas pelos educandos realidade cultural de cada
sociais que integram de forma direta ou cordelista. A escola tem papel fundamental
indireta a produção e a leitura de materiais na divulgação e difusão dessas tão
escritos. Nesse contexto, pretende-se importantes partes cultural de nosso país,
possibilitar nos discentes maior visão no apresentando aos educando esse gênero
sentido de levar a integração leitor-texto, que traz como premissa uma linguagem de
pois, é imprescindível que essa integração fácil compreensão, que permite a facilidade
some elementos constitutivos específicos na leitura e na interpretação textual. Cabe
do poema que estão enraizados no contexto destaque a algumas dicas de desenvolvimento
cultural e social do leitor, por isso a inclusão metodológico a ser ultizado:
deste gênero discursivo, o cordel, aqui se
destaca como indispensável no currículo • Leitura e exposição de vários folhetos
escolar. de cordéis na sala de aula;

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Revista Educar FCE - Abril 2019

• Slides sobre aspectos teóricos e históricos do cordel;

• Declamação e encenação teatral de narrativas cordealisticas;

• Exposição de vídeos com musicas relacionadas à poesia de cordel (exemplo “A triste


partida” na voz de Luiz Gonzaga, uma poesia de cordel de Patativa de Assaré);

• Entrevistas; e

• Apresentações de cordéis produzidos pelos alunos.

O objetivo de difundir o texto cordelístico não desvincula a aquisição de saberes


disciplinado que compete à escola transmitir. O foco é que os educandos acumulem saberes,
e que se enxerguem nesse processo como seres atuantes na qual suas vivencias reais
podem fazer parte de suas práticas escolares. A posse de tais competências e habilidades
pode garantir a globalidade do comportamento do aluno diante de desafios. Entretanto a
aquisição de conhecimentos tem como objetivo levar o educando a compreender que todas
as suas vivencias aquilo que ele faz, aprende e estuda faz parte de um contexto, assim sendo
o educando não apenas consome essas habilidades, mas também produz cultura, assim é
sujeito atuante aprendendo a aprender.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde meados dos anos 70 as discussões a cerca de
como oferecer uma melhor qualidade do ensino de língua
portuguesa. O ponto principal dessa discussão tem como
centralidade o enfoque na leitura e aponta esse como fator
responsável pelo insucesso escolar. Após varias propostas
de reestruturação das práticas de ensino da língua materna,
buscando ressignificação do então considerado erro
caminhando assim para uma admissão das variedades
linguísticas, que até então sofria descredito social. Assim
a poesia de cordel assume o papel de ressaltar o universo NIVALDA APARECIDA
cultural desta arte coletiva cuja riqueza poética destaca DA SILVA SOUZA
a ressignificação das aulas de língua materna, a partir dos Graduada em Pedagogia
olhares de pesquisadores como MELO (1982, p.9). - licenciatura plena pela
Universidade Bandeirante.
Professora da educação
A literatura de cordel é tudo isso e muito mais. É fundamental I e Educação Infantil
acontecimento da cultura brasileira que vem sendo na EMEF Professor Edivaldo dos
questionada em universidades no país e no exterior -, em Santos Dantas
simpósios, seminários, conferências em nossos centros
culturais. Há vivo interesse pelo cordel na própria chamada
opinião pública, que acompanha, paralelamente, o que ocorre no país e no mundo por meio
dos folhetos ou na apresentação dos contadores pela televisão, no noticiário do dia-a-dia.

Analisando do ponto de vista linguístico, a literatura de cordel apresenta características


próprias do território na qual está inserido (Região Nordeste, em sua maioria). “Ai está
palpitante o homem nordestino [...] O homem histórico em sua plenitude, com seus
problemas, lutas, sofrimentos, religiosidade, ideologia”, Melo (1982, p.8).

Firmados em uma sociedade que vê a linguagem como possibilidade de inclusão social,


recomenda-se aqui um modo de trabalho que apresenta diversas possibilidades de
abordagens como leitura e escrita envolvendo textos de cordéis, com o intuito de provocar
e despertar em cada educando o prazer pelo mundo da leitura, e como consequência o
interesse pela escrita, sendo assim destaca-se o trabalho com literatura de cordel, que é um
gênero poético capaz de levar os sujeitos a uma imersão literária, em um mundo cheio de
personagens, ritmo, rimas, imagens e variados temas.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Língua Portuguesa. Secretaria de Educação.
Brasília: MEC/SEF, 2001.

. PCN: Ensino Médio – Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros


Curriculares Nacionais. Secretaria de Educação. Brasília: MEC/SEF, 2002.

. Orientações Curriculares para o Ensino Médio: linguagens, códigos e suas tecnologias.


Secretaria de Educação. Brasília: MEC,2008.

CAMPOS, Renato Carneiro. A ideologia dos poetas populares.2 ed. Recife: MEC: Instituto
Joaquim Nabuco: FUNARTE, 1977.

DIONÌSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora. Gêneros,
textos e ensino. 2. Ed. Rio de Janeiro: Lucena, 2002.

LUYTEN, Joseph M. O que é literatura popular. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1992.

MELO, Veríssimo de. Literatura de Cordel: visão histórica e aspectos principais. In: LOPES
Ribamar. (org.). Literatura de Cordel: antologia. Fortaleza: BNB, 1982.

NOBREGA, M. In LUCENAm I, T; OLIVEIRA, M.A. de; BARBOSA, R.B. (org.) Análise do


Discurso: das movênciais de sentido as nuanças do (re)dizer. João Pessoa: Ideia, 2004.

PATATIVA DO ASSARÉ. Antologia Poética. Organização e Prefácio de Gilmar de Carvalho.


Fortaleza. Edições Demócrito Rocha, 2007.

SILVA, Manoel Caboclo e. Os Milagres da Estátua do Frade Frei Damião. Juazeiro. Abril de
1976.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

PSICOMOTRICIDADE
NA EDUCAÇÃO
RESUMO: Reaver a infância e o direito de ser criança dentro da escola, é nossa situação
atual. Antes, porém é preciso esclarecer que a escola não é só um ambiente de ensino,
devendo ser também um local prazeroso de trocas que promove a vivência da infância
em sua totalidade. Fatores individuais equivalem a uma das peças da intricada logicidade
do fracasso. A ação pedagógica, algumas vezes, leva ao fracasso porque não está bem
estruturada para lidar com a diversidade de contextos. É importante que os professores
entendam os elementos do movimento a ser usado, por isso, deve-se ter em mente as etapas
do desenvolvimento motor (psicomotricidade) e os estágios da aprendizagem. O profissional
da educação infantil necessita ter conhecimento concreto do domínio psicomotor que o
qualifique à organização das atividades próprias nesse domínio. Sendo assim, este trabalho
tem como objetivo evidenciar a importância da psicomotricidade no ambiente escolar a
partir da educação infantil, bem como o papel da escola e dos professores como mediadores
deste processo. A metodologia utilizada será a bibliográfica referenciada por obras, sites
de pesquisas acadêmicas como Google acadêmico, Scielo entre outros. Espera-se que este
estudo possa auxiliar os profissionais que trabalham com psicomotricidade a adentrarem
nos espaços escolares em um trabalho coletivo visando a aprendizagem global do aluno.

Palavras-Chave: Psicomotricidade; educação; criança.

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INTRODUÇÃO HISTÓRICO DA
PSICOMOTRICIDADE
A psicomotricidade é considerada
um campo transdisciplinar que estuda A história da psicomotricidade está ligada
e investiga as relações e influências à história do corpo, e, embora o seu estudo
recíprocas e sistêmicas entre o psiquismo seja recente, fez um percurso longo muitas
e a motricidade. Com uma visão holística vezes marcado por mudanças profundas
do ser humano, a psicomotricidade engloba e renovações decisivas, que acabaram
funções cognitivas, sócio emocionais, resultando em nossas avançadas perspectivas,
simbólicas, psicolinguísticas e motoras, bem como de entendê-las (COSTE, 1992).
promovendo assim a capacidade de ser e agir
em um contexto psicossocial. Vale ressaltar A viabilidade deste estudo tornou-
que na educação infantil (primeira etapa da se possível recorrendo-se a outras áreas
educação básica), o corpo é considerado do conhecimento, em especial as que
a primeira ferramenta pedagógica da pesquisavam o comportamento motor e
criança, já que é por meio dele que a mesma desenvolvimento humano.
começa ter a percepção de mundo, além de
proporcionar o saber se localizar no espaço, A história da psicomotricidade,
o qual está inserido. representada já um século de esforço de
ação e de pensamento, a sua cientificidade
Este estudo tem como objetivo evidenciar na área da cibernética e da informática, vai
a importância da psicomotricidade no nos permitir certamente, ir mais longe da
ambiente escolar desde a educação infantil, descrição das relações mútuas e recíprocas
bem como o papel da escola e dos professores da convivência do corpo com o psíquico.
enquanto mediadores deste processo. Esta intimidade filogenética e ontogenética
representam o triunfo evolutivo da espécie
O presente trabalho iniciará com um humana; um longo passado de vários
breve histórico da psicomotricidade, seus milhões de anos de conquistas psicomotora
conceitos, finalizando-o com o tópico: a (FONSECA; 1988, p.99).
educação psicomotora na escola, na qual
aborda a importância da psicomotricidade Podemos encontrar parâmetros sobre
neste ambiente. o tema já na Grécia antiga, posto que o
corpo humano foi algo sempre consagrado,
Desta forma, espera-se que estudo possa valorizando-se a devoção ao fulgor do físico,
auxiliar os profissionais que trabalham com justificando que o corpo exteriorizava a
psicomotricidade realizar um trabalho de beleza da alma, e que a saúde do corpo
parcerias entre professor, escola e família, era uma virtude. Estudava-se o dualismo
tendo como objetivo a aprendizagem. do corpo; movimento juntamente com as

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Revista Educar FCE - Abril 2019

emoções, sendo que a força do homem tinha A proposta da pesquisa neurológica,


o domínio de suas emoções. psicológica e a fisiológica, era determinar a
consciência de si, isto é, a consciência de seu
Afirmava Platão, filósofo daquela época, próprio corpo em relação à dos outros.
que existia duas realidades dentro do ser
humano, corpo e alma, demonstrando assim De acordo com Maire de Biran (1766
a dicotomia entre a psicomotricidade, sendo – 1824) o movimento é um elemento
que a alma é parte dominante. importante na organização psicológica do eu,
a atividade torna-se essencial na consciência
Aristóteles (384-322 a.C) também tinha que o indivíduo tem de si e do mundo
ideias sobre o dualismo corpo e alma: uma exterior, especificando o pensamento que
certa quantidade de matéria (seu corpo), o homem tem de seu corpo, a história da
adaptado numa forma (sua alma). psicomotricidade está concernente à história
do corpo. De acordo com Coste:
O progresso motor em sua história
atravessa várias fases, sendo que a primeira Psicomotricidade é resultante de um longo
processo, pois nasce com a história do corpo,
se baseia especialmente em duas grandes processo este muitas vezes marcada por cortes
preocupações, isto é, como se apresenta revolucionários e reformulação decisiva, mas
o progresso humano e por qual motivo culminam em concepção modernas, que nos
permitem compreendê-las (COSTE; 1978, p. 7).
acontece desta forma.

Os primeiros estudos em que os elementos A psicomotricidade chega no Brasil nos


motores passaram a ser evidenciados, anos 70, de início como uma maneira de
ocorreram no período maturacionalista, reaver e regenerar o respeito e a autoestima
datado dos anos 30 entre 1928 – 1946. Já no do corpo que padeceram com as amputações
ano de 1900, Werniok usa pela primeira vez ocorridas em guerra. A base utilizada nesta
o termo psicomotricidade, tendo em 1907, época era o trabalho com a coordenação
Dupré, que buscava compreender a razão motora, o equilíbrio, lateralidade e a
das perturbações motoras e tentava expor composição espaço-temporal. Sendo este
a relação entre o movimento, o pensamento um acréscimo que veio promover condição
e a afetividade. Somente a partir de suas importante para se atingir um melhor
pesquisas é que foram surgindo os primeiros crescimento cognitivo, promovendo início a
trabalhos sobre o movimento corporal, educação pelo movimento no Brasil.
os quais alicerçados em estudos clínicos,
demonstrando assim, de forma profunda
a debilidade e a instabilidade motora,
separando perturbações como tiques, as
sencinesias e as paratonias.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONCEITOS DA interno e externo, bem como suas possibilidades


de perceber, atuar e agir com o outro, com os
PSICOMOTRICIDADE objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao
processo de maturação, onde o corpo é origem
das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.
É por meio do corpo que o ser humano se
relaciona e conhece o mundo em que vive.
Conforme Fonseca (1988) explica que por De acordo com Coste (1978) o médico
meio dos conhecimentos adquiridos pelo psiquiatra Ajuriaguerra explica que:
estudo científico, determina-se o termo
“psicomotricidade” como ponto de partida. A Psicomotricidade se conceitua como ciência da
saúde e da educação, pois diferentes das diversas
palavra do grego psiquê = alma/mente e do escolas, psicológicas, condutistas, evolutistas,
verbo latino moto = mover, frequentemente, genética, etc., ela visa a representação e a
agitar fortemente, sendo um conjunto de expressão motora, através da utilização psíquica
e mental do indivíduo (COSTE; 1978, p. 33).
palavras que está unido ao movimento
corporal e a sua verdadeira razão da ação
que busca alcançar.
A EDUCAÇÃO PSICOMOTORA
Assim, Vayer (1977) define a NA ESCOLA
psicomotricidade:
Sabemos que o primeiro contato do ser
Sob o ponto de vista do ângulo reeducativo é uma humano com o mundo é pelo movimento.
ação pedagógica e psicológica que utiliza a ação
corporal com o fim de melhorar ou normalizar Afirma Jersild (1971) que ao longo de toda a
o comportamento geral da criança, facilitando o vida a pessoa adquiri uma visão de si própria
desenvolvimento de todos os aspectos de sua afetada pela compreensão do seu corpo e
personalidade (VAYER; 1977, p.30).
suas particularidades de força e capacidades
em atividades físicas.
Define Coste (1978), a psicomotricidade
como a ciência da encruzilhada, isto é, uma A psicomotricidade dá ao sujeito um melhor
técnica em que se cruza e se vê em múltiplas controle do seu corpo, sendo elemento
concepções, que se usa de obtenção de importante e necessário ao progresso global
outras ciências como: a biologia, psicologia, e uniforme da criança. Em suas pesquisas,
psicanálise, sociologia e a linguística (COSTE; Cunha (1990) explica a necessidade do
1978, p. 9). desenvolvimento psicomotor bem como do
desenvolvimento cognitivo.
AAssociação Brasileira de Psicomotricidade
(1999) define: Para Wallon (1995) a ideia da criança
e a elaboração de seu diagrama corporal
Psicomotricidade é a ciência que tem como consistem paralelamente, desde o
objetivo de estudo o homem por meio do seu
corpo em movimento e em relação ao seu mundo nascimento e nas demais fases, sendo que

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o pensamento só acontecerá com a relação Vygotsky (apud DAVIS e OLIVEIRA; 1994,


de suas ações físicas com o ambiente, na p. 56) relata que “[...] o desenvolvimento
mais tenra idade, a criança usa o corpo como e aprendizagem são processos que se
instrumento operacional e relacional. influenciam reciprocamente de modo
que, quanto mais aprendizagem, mais
De Meur (2001) define especificamente o desenvolvimento”. Enquanto Piaget, em suas
progresso das habilidades básicas que pode pesquisas, diminui o papel da relação social,
ser vista de uma maneira mais sistemática Vygotsky o engrandece.
na pré-escola e tem a função de fornecer a
criança os pré-requisitos necessários para Na visão de Vayer (1984):
a aprendizagem da leitura e da escrita (DE
MEUR; 2001, p. 78). Todas as experiências da criança (o prazer, a
dor, o sucesso ou o fracasso) são sempre vividas
corporalmente. Se acrescentarmos valores
Conforme Ferreira Neto (1995, p.27) “[...] sociais que o meio dá ao corpo e a coerção de
os padrões motores fundamentais parecem suas partes, este corpo termina por si investido
de significações, de sentimentos e de valores
adquirir formas maturas por volta dos 6/7 muito particulares e absolutamente pessoais
anos de idade desde que a criança tenha tido (VAYER; 1984, p. 76).
acesso a uma estimulação adequada”.
Meyer (2001), entende que a mobilidade
Já para Le Boulch: humana vai além da movimentação do corpo
no espaço, ele detém uma linguagem que
A educação psicomotora deve ser considerada possibilita às crianças atuarem sobre o meio
como uma educação de base na escola primária.
Ela condiciona todos os aprendizados pré- físico, agindo sobre o ambiente, e assim
escolares: leva a criança a tomar consciência de tendo mais propósitos nas ações. De acordo
seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, com Bastos Filho e Sá (2001, p. 36) “[...] a
a dominar seu tempo, a adquirir habilmente a
coordenação de seus gestos e movimentos. A psicomotricidade é coisa pensada como a
educação psicomotora deve ser praticada desde relação entre o pensamento e a ação, onde
a mais tenra idade: conduzida com perseverança, as emoções estão envolvidas”.
permite prevenir inadaptações difíceis de corrigir
quando já estruturadas (LE BOULCH; 1987,
p.11). Por isso Freire (1989) relata:

O domínio voluntário é tão complicado e Corpo e mente deve ser entendido como
componentes que integram um único organismo.
importante que levou mais de vinte anos para Ambos devem ter um assento na escola, não um
se desenvolver física e mentalmente. Para (a mente) para aprender e o outro (o corpo) para
alguns autores, dos 5 aos 10 anos, a criança transportar, mas ambos para emancipar. Por
causa dessa concepção de que a escola só deve
faz parte de uma situação centralizada, mobilizar a mente, o corpo fica reduzido a um
tanto no sentido biológico como no sentido estorvo que, quanto mais quieto estiver, menos
cultural. atrapalhará (FREIRE; 1989, p.13).

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É importante um trabalho sério que bem como, dá ao aluno melhores condições


contribua para o progresso dos alunos e na solução de atividades práticas e de ligação
que este possa ser principiado nas escolas entre os números. Portanto, àqueles que são
infantis, permitindo sua continuidade responsáveis pela escolarização precisam
em toda a escolarização da criança. Para buscar aprimorar a psicomotricidade (de
Alves (2008), o trabalho com a educação controle e aprimoramento dos movimentos),
psicomotora deve ser apoiado na educação, a percepção (diferenciações visuais e
visando o progresso das habilidades e auditivas), os diferentes tipos de linguagem
rendimento, objetivando à competência e e o discernimento coerente, além de motivar
adaptando aos diversos níveis de habilidade, a criatividade das crianças.
respeitando a personalidade, o desejo e os
estímulos do aluno. Para Meur e Staes (1989) as atividades
de psicomotricidade na escola, serão
Afirma Le Boulch (1988) que: essencialmente centralizadas em um
conceito, muito constantemente repetidas,
A educação psicomotora deve ser considerada em que elas manuseiam materiais de toda
como uma educação de base na escola primária.
Ela condiciona todas as aprendizagens pré- espécie. Para que se consiga um progresso
escolares e escolares; leva a criança a tomar apropriado nas escolas de primeiro grau é
consciência de seu corpo, da lateralidade, a importante um trabalho sério que se coopere
situar-se no espaço, a dominar seu tempo,
adquirir habilmente a coordenação de seus no desenvolvimento dos estudantes.
gestos e movimentos. A educação psicomotora
deve ser praticada desde a mais terna idade; O fator escola no progresso da criança, a
conduzida com perseverança, permite prevenir
inadaptações difíceis de conduzir quando já relação pedagógica, faz com que cada criança
instaladas (LE BOULCH; 1988, p. 11). alcance mais cedo e em melhores situações
aquilo que certamente seria de se esperar no
Independente do nível de ensino, a seu crescimento, que a deixar livre aos seus
educação precisa que em cada momento, investimentos e abrangências.
o estudante seja conduzido a um maior
grau de evolução. Os tópicos, as tarefas, as Observa Freire que:
atividades de aprendizagem, as relações com
o professor, todas as resoluções didáticas Toda ação torna-se possível porque houve uma
ação coordenada que ligou os movimentos
devem ser reconhecidas, segundo seu maior em função de um objetivo, ou seja, o gesto
ou menor grau de adaptação para atingir mecânico produz uma ação com o objetivo, e só
os propósitos, que é o da aprendizagem possível porque houve a coordenação, que nada
mais é que o saber corporal. A essa ligação entre
(PIAGET, 1975). o saber e a ação denomina-se psicomotricidade
(FREIRE; 1989, p.122).
A educação psicomotora no início da vida
escolar permite uma melhora organizacional,

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O incentivo à evolução motora é tão não aconteceriam se houvessem por parte da


necessário que quando acontecem as escola cuidado à educação psicomotora, isto
falhas no desenvolvimento motor podem é, a mesma precisa ter na escola a relevância
acontecer no regime de aprendizagem da que as outras disciplinas do currículo
criança, tais como: complicação na obtenção possuem. Assim, quanto mais breve for
da linguagem verbal e escrita. A ausência de incentivado a psicomotricidade da criança,
um repertório de vivências perceptíveis para melhor será seu resultado na aprendizagem.
a criança, que faça parte do mundo alegórico
estabelecido na linguagem, colaborará Conforme Mitra e Mogos (1982), não há
para influir no processo de aprendizagem. idade para o início do desenvolvimento das
Quando o desenvolvimento psicomotor é habilidades motoras. Para um bom trabalho,
mal organizado, a criança poderá demonstrar necessita-se técnicas e meios adequados.
problemas sérios no período de alfabetização.
Vygotsky (apud DAVIS; OLIVEIRA, 1994,
Sendo assim, a educação precisa ser p.56) “[...] postula que o desenvolvimento da
olhada como uma educação introdutória na aprendizagem é processo que se influenciam
educação infantil e séries iniciais. Ela interfere reciprocamente de modo que, quanto mais
e torna-se exigência para a metodologia de aprendizagem, mais desenvolvimento”.
alfabetização. Permite que a criança adquira
consciência do seu corpo, sua lateralidade, Ao proporcionar o movimento humano, a
situar-se no espaço, dominar seu tempo, psicomotricidade, quando contextualizada,
adquirindo sua prática de agir, bem como, ligado ao ambiente, à cognição, à emoção e
controle de seus gestos e movimentos. os conceitos, promove o progresso do ser.
Esta educação integral só acontecerá se a
Na visão de alguns psicólogos, quanto mais escola reconhecer seu ambiente.
cedo à criança frequentar a escola, melhor
seu progresso, pois, a mesma passa a ser O educador tem um papel fundamental,
uma prática engrandecedora para a criança, de acordo com Davis e Oliveira é de extrema
especialmente por ser uma fase onde sofre importância que o professor:
uma série de mudanças físicas, cognitivas
e afetivas, a escola deverá possibilitar o Procure estruturar condições para ocorrência de
interação professor-aluno, objetivo de estudo,
contato com o mundo. que levem à apropriação do conhecimento.
Estas considerações, em conjunto, têm sérias
Enfatiza Boulch (apud Gomes, 1988, p.16) implicações para a Educação: procede-se na
aprendizagem do social para o individual,
“[...] a necessidade da educação psicomotora através de sucessivos estágios de internalizarão,
baseada no movimento”. Sendo a educação com auxílio de adultos ou de companheiros mais
psicomotora preventiva, os obstáculos experientes (DAVIS; OLIVEIRA, 1994, p.22).
identificados e cuidados pela reeducação

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A aprendizagem acontece na rotina do central neste movimento. No período da


dia-a-dia, contudo, a escola sendo uma comunicação, é imprescindível a habilidade
instituição social que se coloca como de decifrar e interpretar informações,
tutora pela educação ordenada da criança, habilidades estas que consistem do domínio
jovens e adultos, deve ter compreensão cultural de áreas diferentes de saberes, o que
e segurança dos propósitos e atividades nos conduz instantaneamente à educação.
sugeridas. Um bom planejamento de ensino
leva em consideração a realidade do aluno, Hoje a formação de educadores em
a sua maturidade, suas necessidades, seus quantidade e qualidade para solucionar à
sonhos, seu preparo e a sua capacidade de variedade e à necessidade atual, é um dos
aprendizagem. grandes desafios para a sociedade.

Observa Davis e Oliveira o papel A pedagogia necessita adequar-se aos


fundamental que o professor como educador novos tempos, ajudar o educador, a saber
tem a desempenhar: gerenciar os devidos estímulos, falar
linguagens modernas, administrar recursos
Ele procura estruturar condições para tecnológicos avançados, acompanhar o
ocorrência de Introduções professor-aluno,
que levem à apropriação do Conhecimento... desenvolvimento psicomotor dos alunos,
Estas considerações em conjunto, têm sérias encarar dificuldades de aprendizagem, entre
implicações para a Educação: procede-se na outras atribuições. Já não se concebe mais
aprendizagem do social para o individual,
através de sucessivos estágios de internalização, fundamentar um curso de pedagogia para
com auxílio de adultos ou companheiros mais ensinar a transmissão do saber.
experientes (DAVIS; OLIVEIRA; 1994, p. 22).
Tanto no que diz respeito aos paradigmas do
ensino quanto no que tange aos meios e metas
O trabalho do professor é extenso e do ensino, o que está em jogo na formação de
complicado, tem como um dos objetivos professores é o desafio de substituir a lógica do
descobrir o caminho que o aluno está criando saber muito pela possibilidade de se lidar crítica
e significativamente com o conhecimento, tendo
para perceber e construir formas de auxiliá- em vista objetivos que certamente superam
lo a crescer, se conhecer como indivíduo, o aprendizado de conteúdos para alcançar o
incorporar-se à sociedade, apoderar-se dos desenvolvimento das capacidades mentais e
a autonomia de julgamento (COLELLO; 2003,
conhecimentos produzidos pela humanidade p.89).
e não somente mera repetição, e assim
promover um ambiente em que cada criança Observa-se que, para a educação atual e
possa aprimorar suas capacidades. futura, necessita conhecer o educando como
ser global, único, e assim é necessário que o
O mundo sofre uma transformação educador tenha base em psicomotricidade.
acelerada por meio do qual a informação É, por isso, importante uma modernização
e a comunicação desempenham papel da instituição de ensino e este novo meio

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de educar, exige um rearranjo relevante da as mudanças que o ambiente provoca no


profissão docente e que se acolham novas progresso da criança. A relevância dada ao
atribuições profissionais no quadro de um ambiente fomentou a tentativa de por em
conhecimento pedagógico, científico e prática tais instruções obtidas, utilizando-se
cultural. de uma interpelação ambiental.

Para que aconteça a evolução das Explica Oliveira (2000b) que:


capacidades motoras do aluno (educação
psicomotora) faz-se importante como método Um bebê sente o meio ambiente fazendo parte
dele mesmo. Não tem consciência do “eu” e se
pedagógico, especialmente na educação confunde com o espaço em que vive. A medida
infantil, a correlação entre as disciplinas, que cresce, com um maior amadurecimento
as brincadeiras e vivências corporais e de seu sistema nervoso, vai ampliando suas
experiências e passa pouco a pouco a se
profissionais com comprometimento na diferenciar de seu meio ambiente (OLIVEIRA;
aprendizagem dos seus alunos. 2000, p.58).

Muitos psicólogos argumentam o acesso Quando se cita movimento relativo ao ser


de todas as crianças na escola o mais cedo humano, refere-se também aos elementos
possível, a adequação escolar é importante mentais, tanto o psiquismo, quanto a
para o desenvolvimento do aluno. motricidade, que detém uma conexão mútua,
sendo que um necessita do outro para se
Para o Ministério da Educação e Desporto desenvolver.
(1998):
Na visão de Wallon (apud FONSECA;
Educar significa, portanto, propiciar situações 1993, p.23) “[...] o movimento não intervém
de cuidados, brincadeiras e aprendizagens,
orientadas de forma integrada e que possam só no desenvolvimento psíquico e nas
contribuir para o desenvolvimento das relações com o outro, mas também influência
capacidades infantis de relação interpessoal, de o comportamento habitual”.
ser e estar com os outros, numa atividade básica
de aceitação, respeito e confiança, e o acesso
pelas crianças aos conhecimentos mais amplo Ao nos referirmos ao desenvolvimento não
da realidade social e cultural. Neste processo, a podemos deixar de nos referir à coordenação
educação poderá auxiliar o desenvolvimento das
capacidades de apropriação e conhecimento das global, a qual corresponde à atividade dos
potencialidades corporais, afetivas, emocionais, grandes músculos, que necessita da ajuda
estéticas na perspectiva de contribuir para da habilidade e do equilíbrio postural do
a formação de crianças felizes e saudáveis
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DESPORTOS; indivíduo.
1988).
Conforme Oliveira:
Através de pesquisas das atividades
mentais e comportamentais observou-se A coordenação global e a experimentação levam
a criança a adquirir a dissociação de movimentos.

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Isso significa que ela deve ter condições de realizar múltiplos movimentos ao mesmo tempo, cada membro
realizando uma atividade diferente, havendo uma conversação de unidade do gesto (OLIVEIRA; 2009, p. 41).

É importante investir no progresso global da criança e para que o progresso aconteça


é preciso conhecer a real necessidade e desejo do indivíduo que está sendo educado e
entender o seu universo.

Todo ser humano tem seus direitos, especialmente o de fazer e entender, viabilizando
e fornecendo a criança condições de conhecerem, descobrirem, e de destinarem novas
convicções e relevância aos sentimentos, valores, ideias, costumes e papeis sociais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização deste trabalho possibilitou verificar que
embora não seja um assunto recente, ao contrário, bem atual,
pouco se fala em psicomotricidade no ambiente escolar.
Pode-se verificar que além de vários conceitos relatados
por diversos autores ressaltando suas especificidades, ainda
é muito baixa as tentativas de viabilizar meios para que a
psicomotricidade faça parte do currículo, principalmente na
educação infantil.

Conforme citado no texto, a educação psicomotora PÂMELA CESTARE


precisa ser olhada como educação introdutória na educação LISBOAS
infantil e séries inicias, pois permite que a criança adquira Graduação em Letras pela
consciência do seu corpo, sua lateralidade, situar-se no Universidade Camilo Castelo
tempo e no espaço adquirindo sua prática de agir e também Branco (2009), Graduação em
Pedagogia (2012) pela faculdade
o controle de seus gestos e movimentos. Aldeia Carapicuíba (2012),
especialização em Gestão
O texto esclarece que um dos grandes desafios é a Escolar pela Faculdade Aldeia
Carapicuíba (2010), Professora de
importância da formação dos educadores em quantidade e Ensino Fundamental II e Médio
qualidade para solucionar a variedade e necessidade atual na EMEF professor João de Lima
nos espaços escolares. Paiva e Professora de Ensino
fundamental II e Médio – Língua
Inglesa na EE Professor Pedro
Dessa forma, espera-se que a presente pesquisa possa Geraldo Costa.
auxiliar na ampliação de profissionais envolvidos no trabalho
com psicomotricidade, bem como, incentivar os professores
que já atuam nas escolas buscar formação nesta área.

1196
Revista Educar FCE - Abril 2019

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1198
Revista Educar FCE - Abril 2019

O TRABALHO DOCENTE NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Algumas instituições de educação infantil ainda demonstram dificuldades em
adequar seus espaços tradicionais para transformá-lo em espaços lúdicos. Por este motivo foi
pertinente desenvolver um estudo sobre espaços para as brincadeiras na educação infantil,
levando em consideração os espaços fora da sala de aula. Mediante a revisão da literatura,
foi possível discorrer acerca da interação entre crianças e adultos, bem como a construção
de ambientes educativos, especificamente no que se refere aos espaços. Contempla-se que
os espaços devem ser organizados com base na proposta pedagógica de cada instituição
favorecendo a ampla circulação das crianças organizadamente. Partindo deste pressuposto,
se faz necessário que as instituições de educação infantil tenham uma proposta curricular
que atenda às necessidades das crianças, configurando-se como um instrumento de apoio
a organização do espaço físico, a atuação dos professores, as práticas de cuidar e educar e
materiais específicos.

Palavras-Chave: Educador Infantil; Lúdico; Espaço.

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INTRODUÇÃO O adulto que trabalhará diretamente ou


indiretamente com a criança em seu dia-a-
Um grande desafio da escola é garantir dia, deverá ser um profissional com formação
uma das suas finalidades, o pleno pedagógica e que possibilite a criança a ver
desenvolvimento do educando, favorecendo dignamente seus direitos proclamados.
sua formação em todos os campos, para
uma aprendizagem bem-sucedida. Este A expectativa é que este trabalho
artigo tem como objetivo geral refletir sobre sirva de base para uma reflexão sobre as
as atividades e ambientes que contribuam dificuldades da escola em adequar seus
com a educação infantil, auxiliando no espaços tradicionais para transformá-lo em
desenvolvimento da criança. Diante disso, espaços lúdicos e especialmente responda
o professor e a escola assumem um papel de à pergunta: Como o espaço físico afeta o
extrema importância diante da organização desenvolvimento da criança?
e escolhas dos ambientes educativos.

Os objetivos específicos serão abordados A PRÁTICA DOCENTE NO
em três capítulos. O primeiro capítulo CONTEXTO DA EDUCAÇÃO
descreve a prática docente no contexto
da educação infantil, será abordada nos INFANTIL
capítulos seguintes, o espaço físico na escola, Hoje a proposta curricular de algumas
e por fim, tempo de criar, brincar e recriar. instituições de educação infantil é trabalhar
com projetos didáticos. Os projetos
A criança não pode ser um mero didáticos são temas geradores da cultura
expectador da aprendizagem, precisa e do cotidiano que procuram informar,
participar e praticar. No trabalho pedagógico advertir, criar e alertar, além de trabalhar
o que é proposto pelo adulto e vivido pelas as emoções, a linguagem o raciocínio
crianças deve levar em consideração as lógico. Dentro desta proposta o professor
manifestações das crianças, que é o seu planejará suas atividades por intermédio
tempo, suas necessidades e sua cultura. das brincadeiras, jogos, desenho, história,
música, entre outros em que as crianças irão
Os espaços físicos da instituição devem ser tecer redes de significações. Esses projetos
planejados coletivamente para que todos se são desenvolvidos mensalmente com a
assegurem do que podem ou não podem fazer e participação e avaliação das crianças.
qual o papel que cada um irá exercer (de acordo
com seus respectivos cargos). Até porque Seria um agradável ambiente de
havendo um imprevisto, um não espere que o aprendizagem para as crianças. Mas
outro lhe diga o que fazer, tendo autonomia acontece que nem sempre os professores
suficiente para decidir positivamente. desempenham o papel de mediador do

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Revista Educar FCE - Abril 2019

prática e a proposta pedagógica que a norteia.


conhecimento. Isso pode acarretar em (KRAMER, 1989, p. 86).
algumas armadilhas, pois o trabalho do
professor vai depender de como concebe Para atender às diversas necessidades das
a aprendizagem e os espaços para as crianças aos seus níveis de aprendizagem
brincadeiras. é importante atentar para o que sugere
o Referencial Curricular para Educação
Percebo que o direcionamento do Infantil. Cabe ressaltar que, a formação do
trabalho do educador condiz com aquilo que sujeito-criança e a sua compreensão em
ele carrega como “bagagem”. Acredito que relação às diferentes áreas do conhecimento
esta bagagem está relacionada com a sua ficará sob responsabilidade de uma proposta
trajetória de vida, ou seja, seus valores morais, pedagógica que alie uma concepção de
ideologias, costumes, sua educação familiar, criança como sujeito de direitos, cidadã, a
escolar, política, além das experiências de qual é um ser que pensa, age, reflete e está
sua profissão. situado em uma cultura, como também sob
responsabilidade do educador que fará a
Ensinar e educar são um ato que exercemos mediação com a criança do que se tenha
constantemente em nossas vidas. Todos sem planejado.
exceção podem ensinar. A grande diferença é
quando esta ação se torna uma profissão. Ser
educador no contexto escolar é diferente de O ESPAÇO FÍSICO
ser um educador por qualquer outro motivo. NA PRÉ-ESCOLA
Não pode ser uma atividade eventual e
mecânica, tem que ter intencionalidade. A educação infantil é um espaço de
vivência entre meninos e meninas de zero a
A relação com a criança não pode ocorrer cinco anos. Estarão presentes neste espaço o
dentro de um disciplinamento centrado comprometimento da instituição em garantir
nas normas e regras dita pelo professor. acesso aos diversos conhecimentos por meio do
A postura do professor tem que atender seu caráter educativo, que é o de compartilhar
as mudanças pedagógicas dos referencias com as famílias a responsabilidade de cuidar e
curriculares. Aquele olhar de desaprovação, educar das crianças.
o dedo indicador apontando para o rosto,
pegar pelos ombros, mandar baixar a cabeça, Para isso é importante implementar um
o castigo, já não deve (e nunca pôde) fazer projeto político pedagógico que garanta à
parte deste contexto educativo. criança a vivência digna de seus direitos
sendo protagonizadas e consolidadas dentro
Conhecer os próprios limites, enfrentar os dos espaços das unidades educacionais.
problemas e expô-lo aos demais colegas e à
equipe pedagógica são requisitos capazes de Acreditando que as crianças são portadoras
auxiliar os professores a perceber e a ultrapassar de histórias e construtoras de culturas.
algumas defasagens ainda existentes entre a sua

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Se contrapondo ao caráter assistencialista, valorização da ludicidade, do imaginário do


espontaneísta e compensatório, hoje no jogo das relações interpessoais, do convívio
mundo contemporâneo a educação infantil é com a natureza, da leitura de mundo e
vista como educação coletiva. letramento.

Podemos notar que nos últimos O que queremos ostentar neste trabalho
tempos a criança vem sendo notada é que o espaço sendo grande ou pequeno
como ser participativo pelo fato de suas seja transformado em ambiente que garanta
especificidades serem um referencial cultural. a interação entre adultos e crianças. Com
Elas conquistam aos poucos este espaço, e ou sem a presença do adulto deve ser
a nova proposta de trabalho pedagógico em um espaço que permita que as crianças
razão destas mudanças concede as crianças tenham criatividade, que se sejam criativas,
autoridade e respostas assegurando sua sujeitos ativos, formuladores de hipóteses,
competência nas relações sociais. Nesta transformadores, ou seja, que lhe deem com
nova construção social o espaço deve ser de os seus próprios saberes.
direito das crianças.
É preciso organizar os espaços de maneira que
permitam o descanso e, ao mesmo tempo,
Tomando-se por base que aja uma espaços que permitam uma atividade intensa e
separação em reconhecer que as escolas de enérgica. [...]. Espaços que seja muito semelhante
educação infantil não é uma preparação para ao lar e com muitos elementos familiares [...].
(ZABALZA, 1998, p. 252).
a próxima etapa do ensino, as realizações
arquitetônicas devem dar espaço para a
construção do ambiente infantil. Isso implica Neste caso, estamos pensando em um
em manter o foco nas relações pedagógicas espaço construído segundo a percepção
educativas no cuidar e educar e no direito e a participação da criança. A construção
das crianças em se considerar como atores concreta do espaço dependerá do infantil,
sociais. que se dará por meio da sedução ou da
rejeição (sem que se tenha consciência disto).
As escolas de educação infantil são
instituições que abrigam crianças de diversos Segundo Faria (1999, p. 40) Projetar, fazer
tipos de situações financeiras e sociais, arquitetura é uma das maneiras de relacionar
vários tipos de raça, sexo, crenças, culturas com o espaço, com o lugar e com o mundo.
além de atender crianças portadoras de
necessidades especiais. Além de serem As crianças passam a maior parte de seu
espaços privilegiados de convivências, na tempo na instituição, a cada mudança de
qual as crianças terão a oportunidade de ambiente em decorrer das atividades se
vivenciar experiências que as fizessem se identificarão ou não com os espaços e terão
sentir por inteiro, e necessário que haja a sensações boas ou ruins a respeito deste. A

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criança sentindo-se parte da construção do TEMPOS DE CRIAR, BRINCAR


espaço arquitetônico é capaz de usar sua E RECRIAR
imaginação e sua criatividade aproximando
as fronteiras do possível e do impossível. As crianças gostam de brincar sozinhas,
Esta concepção (que é próprio da criança) só com o adulto e bem mais entre elas, por
será permitida com base em uma proposta isso deve haver espaços flexíveis que
pedagógica diferenciada. correspondem com esta liberdade.
A apropriação de expressões orais ou
Portanto o profissional encarregado enriquecimento da linguagem da criança
da organização dos espaços deve ser resolver problemas e expressar sentimentos
“supostamente” consciente que os direitos por meio da fala, aproximando-se cada vez
das crianças devem ser vivenciados na mais das práticas de convivência social. Por
Instituição; o ambiente deverá garantir que todos estes motivos, torna-se essencial que
as crianças convivam com todas as diferenças o educador garanta um espaço em que o
(raças, etnias, gênero, religião, cultura, etc.) lúdico se manifeste.
se opondo a desigualdade e exercitando
a tolerância (e não o conformismo) a Não basta a criança estar em um lugar organizado
de modo a desafiar as suas competências: é
solidariedade, a compreensão e a cooperação preciso que ela interaja com este espaço para
aprendendo desta forma a arbitrariedade e vivê-lo intencionalmente (HORN, 2004, p.15).
provisoriedade da hierarquia social existente
na sociedade atual. Contudo, a criança tem Seu papel, nesta situação é o de estimular
a necessidade de ser ouvida, entendida e a linguagem e a livre expressão das crianças,
compreendida, pois sua satisfação em ser emprestando sua fala quando necessário
atendida e realizada estará estampada em e ajudando-as de forma clara a organizar
seus gestos sinceros. logicamente seus pensamentos.

É importante que este ambiente garanta o As brincadeiras e jogos com palavras


imprevisto, (e não a improvisação) o lúdico, são excelentes recursos para favorecer a
a fantasia, a imaginação, o faz de conta, as comunicação oral.
diversas linguagens e as brincadeiras, além
de conceder espaços que possam conviver As crianças costumam gostar de
com a natureza, que tenham liberdade para brincadeiras cantadas, pois essa linguagem
correr, gritar, dormir, comer, pular, desenhar, guarda semelhança com seu modo de pensar
representar, interpretar nas suas diversas e se expressar. Elas se envolvem e se divertem
funções, ver vídeos, tomar banho, mexer com ao brincar com as rimas, sonoridade e etc.
água, com a terra, o fogo e o ar; aventurar-se Portanto é importante trazer diferentes textos
no perigo sem se machucarem. para que as crianças possam memorizar
' balbuciar trechos, refrãos e sentir-se desafiada.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O repertório de cantiga, brincadeiras criança, nos anos seguintes, será sem dúvida
cantadas, trava-línguas, parlendas, um dos componentes mais importantes do
quadrinhas populares, joguetes e etc., seu desenvolvimento. Deixando de lado
possibilitam muitas oportunidades de o egocentrismo, a criança passa a usar a
brincar com as palavras. Estes textos são linguagem para coordenar atividades de
antigas manifestações da cultura popular, grupo visando algum objetivo comum.
universalmente, conhecida e mantida vivas
por meio da tradição oral. A criança que participa de atividades
grupais manifesta-se algumas vezes
Estes textos pertencem a uma longa por meio de comportamento agressivo,
tradição de uso da linguagem para cantar, mas gradativamente suas investidas
recitar e brincar. A maioria deles é de tornam-se mais aceitáveis. Por trás deste
domínio público, ou seja, não se sabe quem comportamento pode estar uma tentativa
inventou: foram simplesmente passados de de chamar atenção, uma necessidade de
boca a boca, das pessoas mais velhas para as conversa, demonstração de interesses,
mais novas, por isso podemos dizer que as estímulo ou afeição. Seus acessos de raivas
brincadeiras com palavras são experiências e seu “não” são essências para a formação
que contextualizam na cultura lúdica. do caráter e da autoafirmação. Aos poucos,
elas utilizarão meios mais socializados de
Nestes espaços também deverá ter lugares expressão.
para atividades em grandes ou pequenos
grupos com ou sem a presença do adulto. Desta forma o professor deve possibilitar
Espaços que lhe propiciem informações a criança vínculos para a exploração do
além das que obtém das suas famílias ou que mundo, no qual tanto o adulto como as
obterão na escola. crianças encontrem oportunidade de
desenvolvimento.
Participar das brincadeiras e dos jogos
organizados exige muito da criança. É É imprescindível que as crianças sejam
necessário que ela saiba respeitar a si divididas em pequenos grupos facilitando
mesma e aos outros. Precisam compreender a responsabilidade do professor no que diz
a lógica das normas e reconhecer o certo e o respeito ao cuidado. As atividades propostas
errado. O educador precisa ter claro que são pelo professor devem ter como finalidade
necessárias qualidades emocionais, sociais pedagógica às brincadeiras porque é por
e intelectuais para que a criança atinja esse intermédio delas que despertará nas crianças
estágio de desenvolvimento. a curiosidade em saber cada vez mais sobre
as coisas existentes que as rodeiam. No
O aspecto social compreende o elemento decorrer das brincadeiras o professor deve
mais marcante na atividade lúdica da ser flexível deixando as crianças escolherem

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Revista Educar FCE - Abril 2019

as atividades que irão realizar. O professor será somente um gerador de possibilidades (o


companheiro de jogo; de conversa; de construção; de elaboração de histórias e de significados)
garantindo que todas as crianças participem das atividades mantendo o ambiente em
harmonia.

Brincar é algo que deveria levar o brincante a desenvolver as suas próprias capacidades
de descoberta e de imaginação. Isso não significa que as situações de brincadeiras precisem
acontecer só de forma espontânea. A observação atenta dos educadores nas brincadeiras e
o respaldo teórico colaboram para que suas invenções sejam apropriadas, sobretudo no eixo
da comunicação oral.

A brincadeira promove o desenvolvimento oral e social das crianças e a intervenção do


educador nestes momentos é um dos elementos que pode favorecer a ampliação de suas
concepções comunicativas.

Mediante as atividades lúdicas as crianças podem se relacionar e conviver com diferentes


sentimentos que fazem da sua realidade interior.

As escolas devem dispor de espaços para que os professores possam trocar experiências
vivenciadas em salas de aula, fazer relatos e projetos, registrar experiências, avaliar seu
próprio trabalho e do grupo. Também devem dispor de recursos para que façam cursos de
aperfeiçoamento fora do seu ambiente de trabalho, incentivando-os na sua formação.

A participação dos pais e da comunidade nas tomadas de decisões é de extrema importância


para que o trabalho pedagógico proposto possa ser questionado constantemente. Este
acompanhamento pode ser feito periodicamente para trocar experiências, realizar pesquisas,
propor soluções e dar opiniões adequadas para atingir o aperfeiçoamento da educação das
crianças.

Contudo, a organização do espaço deve fazer parte do currículo da escola, pois organizar
o espaço é abrir novos horizontes para que as crianças possam se sentir à vontade para
realizar deferentes atividades.

O espaço educativo não deve ser considerado apenas como um local de trabalho e sim,
um recurso e um companheiro do professor. Neste espaço a criança deve se descentralizar
da figura do adulto e procurar se auto gerirem naquilo que mais os interessam.

1205
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos espaços da Educação Infantil, o atendimento
abrange crianças de zero até cinco anos de idade. Fase, que
a criança está em seu desenvolvimento pleno; mediante
as aprendizagens se constroem o real e o imaginário, por
isso, conclui-se que os espaços escolares visa a privilegiar a
qualidade de vida da criança em suas relações entre o corpo
e os movimentos, pois ela é integradora, por intermédio do
controle corporal, cognitivo e social.

Ao elaborar a sua proposta pedagógica, os profissionais PAMELA MEDEIROS
envolvidos com a Educação Infantil, devem estabelecer ALBUQUERQUE
objetivos que promovam o brincar, a criação, o desenvolvimento Graduação em Pedagogia
de suas habilidades, autonomia, incentivando a exploração, pela Universidade do Grande
a curiosidade e o questionamento. ABC (2011); Especialista em
Psicopedagogia pela Faculdade de
Monte Alto (2013); Professor de
O ambiente escolar precisa estar propício para que Ensino Fundamental I - na EMEI
isso aconteça, é importante a utilização de jogos, valioso Mario de Andrade, Professor de
Educação Infantil na CEI Jardim
instrumento para ativar o desenvolvimento infantil. Vera Cruz.

A sequência dos capítulos abordados permitiu uma visão
ampla de como a escola contribui para o desenvolvimento
global da criança, com a intenção de instigar os educadores
a verem seus educandos com outro olhar. Que eles possam
entender que os jogos, brincadeiras e atividades no âmbito
escolar, não é uma “bagunça”, mas sim, uma possibilidade de a criança interagir com o seu
mundo particular, proporcionando um desenvolvimento significativo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
FARIA, Ana Lúcia Goulart. Educação Infantil pós- LDB: rumos e desafios. Campinas: 1999.

HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, cores e aromas: a organização do espaço na Educação
Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

KRAMER, Sonia. Com a pré-escola nas mãos. 43º edição. São Paulo: Ática, 1989.

ZABALZA, Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. 8. edição. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS


RESUMO: Com o intuito de ampliar o meu olhar em relação ao tema abordado, na pesquisa
elaborada em questão as relações étnicas- raciais no Brasil, observa-se que ainda temos um
caminho árduo pela frente. Estamos cada vez mais avançando, porém, o trabalho é cansativo
e exaustivo, estamos nos deparando sempre com burocracias e questões de políticas públicas
onde muitas vezes não funcionam na prática e sim apenas na teoria. Novos paradigmas
precisam se fundamentar nessa construção pois a infiltração e a solidificação das relações
com a Consciência Negra precisam estar em um pressuposto dentro do âmbito escolar.
Portanto, a disparidade social e econômica no Brasil, precisam criar mecanismos onde a
assimilação desses elementos culturais de identidade possa se valorizar entre as diferenças
de cultura e diferentes identidades que infelizmente fazem no cotidiano escolar e social a
viabilização da coexistência intercultural.

Palavras-Chave: Diferenças; Social; Identidades; Raciais e Políticas Públicas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO ainda existe a discriminação, o racismo e o


preconceito onde fazem parte do cotidiano
Ao dar início ao trabalho de pesquisa buscando uma reflexão focando ainda mais
científica qualitativa, o tema abordado é nas mulheres, que infelizmente sofreram
uma questão difícil ainda para a população muito além de crianças e homens, onde
brasileira. Infelizmente a questão racial ainda todos até a atualidade sofrem, menos mais
traz debates polêmicos e uma população ainda sofrem com esta questão de cor, raça
que ainda não sabe dos direitos e deveres de e gênero em todo o Brasil.
cada cidadão.
Nas escolas é importante a educação da
A metodologia deste trabalho será o de racial, é importante além de saber colocar
informar na maioria das vezes o que podemos em prática, é importante levar para a
tirar de proveito em relação as políticas sociedade como é a história dos escravos,
públicas e sobre a relação étnico-racial no como chegaram, como viviam, mostrando
Brasil. sem cortes, sem demagogias.

Um exemplo do porque se fez esta pesquisa A introdução de Políticas Públicas,


ao longo do trabalho é poder mostrar a estabelece um conjunto de programas,
maneira como se tem enfrentado as grandes engajados as ações e atividades
e imensas problemáticas devidamente desenvolvidas pelo Estado diretamente ou
visando a utilização de conceitos que indiretamente, obtendo a atuação de órgãos
afirmam o preconceito, o racismo e de onde públicos ou privados, que se propõem a
parte estes estereótipos que transformam a garantir direitos da cidadania, de uma forma
palavra negro em um adjetivo infelizmente que seja difundida em um segmento social,
pejorativo diante de outras questões sociais. cultural, étnico ou econômico no estado.

O objetivo deste trabalho dará início A determinação de políticas públicas


primeiramente a inserção da História e da corresponde a direitos que a constituição
Cultura onde o ensino nas escolas brasileiras assegura e que afirmam ao reconhecimento
ainda muito enfraquecidas fundamentam da sociedade e poderes públicos.
respostas da cultura Afro-Brasileira e Africana
um problema onde são omissas da matriz
religiosa e nas implicações da marginalização QUANDO TUDO COMEÇOU,
da identidade cultural afrodescendente nos A HISTÓRIA E A CULTURA
parâmetros das Relações Étnico-Raciais.
Em meados de 1854, decretou-se naquela
A justificativa que se mostrará com a época uma Lei de nº 1.331 onde se legalizou
pesquisa ao longo da História do Brasil, onde a não admissão de escravos nas escolas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

públicas, anos depois mais ou menos perto No Brasil a complexidade que envolve
de 1878 houve mais um decreto o de nº a construção da identidade da raça negra
7.31, ainda em relação aos escravos, este é marcada por uma sociedade onde os
decreto determinou que os negros poderiam negros são constantemente discriminados,
apenas estudar no período noturno, isso desvalorizados de uma cultura riquíssima
foi decretado para que a dificuldade e que é a cultura Africana, poucos sabem,
a oportunidade para que muitos negros pois, nas escolas não se ensinam tudo o que
aprendessem a ler e escrever fossem para se passou naquela época, mas os aspectos
impedi-los, para que fosse estabelecido uma físicos herdados pelos descendentes
divisão étnico racial, onde foi implantado africanos são complexos, pois aqui no Brasil,
nos sistema escolares. as pessoas de pele clara e traços europeus
não são descriminalizadas, pois seus pais são
Anos depois buscaram alterar o quadro de peles brancas.
para mudanças a melhorar esta questão
dos estudos noturnos, mas infelizmente o Segundo Borges (2002),
preconceito e a desqualificação dos negros
eram muito difícil mudar esta situação. “o fato é que a sociedade brasileira encontra-se
marcada pela exclusão social e pela discriminação
racial. Essa situação reflete a existência
Décadas depois de muita luta passa-se de um racismo efetivo, com repercussões
então a obrigatoriedade de inclusão de História negativas na vida cotidiana da população negra,
principalmente quando cidadania é o tema em
e da Cultura Afro-brasileira e Africana como
questão”. (BORGES, 2002).
currículos da Educação Básica, tratando-se de
muito luta de decisões políticas, com imensas Ainda no pensamento de Borges, (2002),
repercussões pedagógicas. o Brasil tornou-se um pais multiétnico e
pluricultural, ou seja, na visão de Borges, é
Com a luta árdua de décadas para e com preciso de organizações escolares em que
a conquista do currículo, com esta medida, todas as pessoas estejam incluídas onde as
se reconhece que os negros precisam ser mesmas possam ter garantias e direitos de
inseridos com garantias nas escolas, onde aprender ampliando seus conhecimentos
são valorizados devidamente e a história igualmente.
e a cultura de seu povo, busca atualmente
reparar danos irreversíveis que ainda se A partir do princípio a inaptidão de um a
repetem há mais ou menos cinco séculos, favor de uma afirmação esteve atualmente
para que os negros possam ter dignidade nas relações étnico-raciais no Brasil, para
à sua identidade e a seus direitos assim Borges (2002), afirma que:
como todos os cidadãos do pais, o negro foi
pejorativamente rotulado naquela época, e “ainda na Antiguidade Heródoto (século V a.C.)
escrevia textos sobre os não-gregos, chamando-
até hoje eles são chamados desta forma. os de bárbaros, baseando essa denominação na

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Revista Educar FCE - Abril 2019

superioridade dos gregos e na inferioridade dos


estrangeiros, determinando a superioridade de uma delas, sendo assim, as definindo com o
sua cultura como justificativa das relações de termo raça.
dominação política, militar, econômica e cultural
a qual foram submetidos os povos estrangeiros "o resultado da crença de que não temos racismo
conquistados pela Grécia”. (BORGES 2002). foi, de acordo com muitos cientistas, um dos
piores tipos de racismo que se conhece. A forma
No contexto anterior Borges (2002) ainda mais eficiente de reforçar o preconceito é achar
menciona que, pelo ideologismo português que ele não existe, que é natural" (KENSKI, 2003
p.49).
das raças contaminados por outras raças,
como a dos índios, negros, judeus e mouros, a
história da colonização brasileira é apontada Certamente que todas essas colocações
pela diferença entre homens, e ajustada tem um propósito e a realidade atualmente
desde o início por princípios racistas de no Brasil destas crenças e absorções de
superioridade e inferioridade. divisões da sociedade em raças é um fato
irremediável, onde contraria a manifestação
De acordo com outro autor Kenski (2003), nacional da democracia racial, ou seja, os
a argumentação detalhada da invenção e brasileiros atuam de acordo com elas.
intenção de raça foi questionada por ele,
onde o mesmo havia dito sobre a referência Contudo no Brasil 45% da população
de Carolis Linnaeus um botânico sueco que é composta por negros, de acordo com a
na época criou a humanidade Homo Sapiens pesquisa levantada pelo IBGE (Instituto
dividindo-a em algumas partes: Brasileiro de Geografia e Estatística), uma
organização pública responsável pelos
• Os homens de cor vermelha que levantamentos e gerenciamentos dos
eram geniosos, despreocupados e livres, os dados de estatísticas brasileiras, afirma que
americanos; no Brasil os negros convivem de maneira
• Os homens de cor amarela, muito tensa, sem expectativa, a cultura e o padrão
ambiciosos e severos, denominados asiáticos; africano possuem um padrão estético pois
• Os homens negros, astutos e infelizmente não tem sido suficientes para
voluntários, os africanos e; eliminar as ideologias marcantes de um país
• Os homens de cor branca mais racista e preconceituoso a desigualdade
conhecidos e denominados como europeus, e estereótipos racistas, ainda na era da
sempre ativos, inteligentes e engenhosos. modernidade e da era cibernética persistem
em nosso pais, onde o imaginário étnico-
O autor possivelmente com este racial vem a prevalecer e os brancos se
procedimento denominando a cada raça sua valorizam com suas raízes, onde ignoram as
cor, e seus adjetivos pode abrir discussões outras raças e crenças.
sobre a existências de determinadas raças
humanas e também incluir o valor de cada

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RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS de exclusão, fundada em preconceitos e


NAS UNIDADES DE ENSINO manutenção de prestígio e privilégios para
uns em detrimento do desprestígio de muitos,
É considerável enfatizar a importância de tornou-se relevantes do estudo de alguns
se destacar que não se trata de mudanças temas interessantes decorrentes da Cultura
etnocêntrico de raiz europeia para um Afro-brasileira e da sua história.
africano, o importante é ampliar a questão
dos currículos escolares onde seja feita uma O art. 26 da Lei 9.394/1996, faz valer a
diversidade cultural, racial, econômica e colaboração das comunidades a que a escola
social brasileira. Nas escolas cabe a elas inserir atende, ao apoio direto e indiretamente de
atividades que abordam a todo momento a estudiosos e do Movimento Negro, onde se
importante contribuição da história cultural estabelece os canais atualmente vigentes
dos indígenas além das raízes africanas e de comunicação, onde poderão encontrar
europeias, não basta apenas mostrar uma determinadas formas de inserir as vivências
raça, é preciso fazer com que os currículos nas promovidas pela Unidade Escolar, buscando
escolas possam mostrar com clareza, o art. autonomia nas unidades de ensino para
26, com a Lei de nº 9.394/96, mostra como incluir os seus projetos pedagógicos, também
a inclusão de novos conteúdos contribuem podendo incluir as disciplinas, e os temas
com as exigências que se possa repensar nas atuais em questão.
relações étnico-raciais, entre elas, sociais e
pedagógicas, afim de tais procedimentos Com o art. 26 da Lei 9.394/196, competirá
de ensino, oferecendo sempre condições as Unidades de Ensino e aos profissionais,
de aprendizagem, oferecidas nas unidade baseado neste parecer, que poderão
escolares. estabelecer conteúdos didáticos de ensino,
também poderão inserir unidades de estudos
Portanto, de acordo com o Relatório aos alunos, além de projetos vigentes pela
do Conselho Nacional de Educação, no unidade escolar e programas voltados aos
momento de sua aprovação para que as temas, englobando diferentes currículos.
Diretrizes diretamente ligadas na Educação Também competirá aos administradores
das Relações Étnico-Raciais no ano de 2004, dos sistemas de ensino e das entidades
onde o Estado não teve intervenções, fez mantenedoras equipar as escolas com seus
se os postos à margem, entre eles os afro- materiais suficientes para o aprendizado e
brasileiros, dificilmente poderão romper o conhecimento, além de terem acesso aos
sistema que agrava desigualdades e gera materiais bibliográficos e de tantos outros
injustiça. materiais disponíveis, poderão acompanhar e
a fim de evitar maiores complexidades, tanto
Também, com o Relatório do Conselho na formação continuada como na formação
Nacional de Educação, ao reger-se por critérios inicial de cada aluno.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Resumindo, o art. 26 fará valer acontecer De acordo com Chiavenato (1999), o autor
onde os estabelecimentos de ensino, terá sua declara que acerca da cultura:
responsabilidade de diminuir ou extinguir o
falso moralismo, estipulado pela sociedade, " a entrada do negro no Brasil foi simultânea com
a descoberta do país. Ele conhecia a escravidão,
ou seja, poderá se tratar de uma contribuição cultiva-a, e praticava-a como um sistema
dos africanos escravos e seus descendentes político. A escravidão era praticada na própria
para uma sociedade melhor. África. Os próprios africanos transplantaram-na
para a América". (CHIAVENETO, 1999, p.11-13)

Seguramente, atribuir-se dessas


tais responsabilidades, provoca certos O autor defende a publicação no Caderno
compromissos que valerá a pena com o de Folclore nº 7, do Ministério da Educação
entorno sociocultural da escola, terá uma e Cultura, (MEC), onde foi publicada a
responsabilidade com a formação crítica de responsabilidade pela escravidão onde
cidadãos obtendo um forte compromisso com o processo educacional possa alcançar
a escola, onde serão cidadãos democráticos rapidamente seus objetivos das Diretrizes
e atuantes com opiniões e além de ser Nacionais para a Educação das Relações
capazes da compreensão as relações sociais Étnico-Raciais, onde é fundamental que
e a principal de todas as étnico-raciais de o sistema de ensino tenha bom senso
que participam e também auxiliam a manter em relação a dissipação de teorias que
capacitados ao realizar e decodificar as distorcem a realidade e acabam negando
palavras. aos descendentes africanos o direito de
reivindicar por reparações por qualquer
Medidas que repudiam, como prevê a construção de uma identidade nacional que
Constituição Federal em seu Art.3º, IV, o
“preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade propiciem o Relacionamento étnico-Racial e
e quaisquer outras formas de discriminação” intelectual.
e reconhecem que todos são portadores de
singularidade irredutível e que a formação escolar
tem de estar atenta para o desenvolvimento de Segundo Silva (2001),
suas personalidades (Art.208, IV).
Relações Étnico-Raciais, celebra a diferença
afirmando que o reconhecimento da importância
de uma educação pluricultural, pluriracial e não-
Portanto, para coordenar as ações eurocênctrica constitui-se em um dos pilares
propostas pelo artigo 26, fica estabelecido que de uma sociedade brasileira verdadeiramente
democrática, pedagogias de combate ao racismo
os sistemas de ensino e os estabelecimentos e a discriminações devem ser elaboradas com
além de professores terão como referência, o objetivo de fortalecer entre os negros e
as bases filosóficas e pedagógicas que despertar entre os brancos a consciência negra.
(SILVA, 2001)
assumem os princípios da ética e da moral
do cidadão.

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Na afirmação de Oliveira (2003), a unidade reeducação das relações étnico-raciais


escolar, caso pretenda ser democrática, não que infelizmente não são tarefas fáceis e
será necessário haver homogeneização de ainda não são exclusividade nas escolas,
saberes e crenças, também não é preciso a descriminação não é apenas escolar, a
impor um padrão cultural ao menos sem sociedade é desigual.
tentar perceber nuances culturais e étnicos
de todos os participantes do processo Contudo instituições de ensino para que
educacional. possam desempenhar o papel de se educar,
faz necessário que se constitua a democracia,
No Brasil, as Políticas Públicas vêm onde o conhecimento e acima de tudo
avançando e sendo um sucesso, institucional tenhamos postura para visar uma sociedade
e pedagógico, logicamente que é preciso mais justa para todos, a unidade escolar é
haver reparações, reconhecimento e a a principal instituição que proporciona a
valorização da identidade, pois a cultura eliminação da desigualdade, a eliminação
dos negros necessariamente depende de do preconceito e do racismo, é portando
condições abrangentes e favoráveis para na escola que parte das descriminações a
o ensino e para a aprendizagem. Todos os emancipação dos grupos discriminados.
envolvidos na Unidade escolar, precisam
estar sentindo-se valorizados. As educações das relações étnico-raciais
nas escolas brasileiras com seus professores
Também procede na afirmação onde é não podem improvisar quando se trata
necessário haver uma reeducação entre desta questão tão difícil e polêmica na
as raças, é preciso depender de o trabalho maioria das vezes quando se trata em uma
em conjunto obter articulações entre aula especifica ou não. É preciso desfazer
os processos educativos nas Unidades a mentalidade racista e discriminadora das
Escolares, políticas públicas e também pessoas, é preciso superar o etnocentrismo
necessário movimento sociais, onde se europeu, é preciso reestruturar as relações
vê constantes mudanças éticas, culturais, étnico-raciais e sociais.
pedagógicas e políticas.
Atualmente ser negro no Brasil, não se
Atualmente destaca-se que se entende limita às características físicas, trata-se
por raça a construção nas preocupantes além disso, é de uma escolha política, cabe
relações entre brancos e negros nas Unidades também a esclarecimento que raça é utilizada
Escolares. nas relações sociais brasileiras para informar
determinadas características físicas, como
Portanto, para extinguirmos o racismo, é um exemplo, a cor de pele, ou tipo de cabelo
preciso trabalhar pelo fim da desigualdade que determinam o destino social na nação
social e racial no mundo, executar a brasileira.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A INTRODUÇÃO DE está sinalizada por essas desigualdades, onde


POLÍTICAS PÚBLICAS aparentemente vivem cercadas por violência, é
preciso sempre escolher alguém individualizado
É necessário abrir espaços de discussões ou em grupo como inimigo.
para que as políticas públicas seja nossa
realidade, somos todos iguais, em uma É exatamente por ter esta visão este tipo
democracia racial, é assim que deve ser, é de comportamento ideológico-social que, a
preciso modificar os paradigmas construídos partir das Diretrizes Curriculares Nacionais
por alguns conceitos. para a Educação das Relações Étnico-
Raciais (2004), se compreende que é preciso
A introdução de Políticas Públicas, promover a reeducação das relações étnico-
estabelece um conjunto de programas, raciais, é importante fazer emergir as dores
engajados as ações e atividades e medos que têm sido gerados, com isso
desenvolvidas pelo Estado diretamente ou precisa-se entender que uns terão o preço
indiretamente, obtendo a atuação de órgãos da marginalização e outros não.
públicos ou privados, que se propõem a
garantir direitos da cidadania, de uma forma “Questionem relações ético-raciais baseadas em
preconceitos que desqualifiquem os negros e
que seja difundida em um segmento social, salientem estereótipos depreciativos, palavras,
cultural, étnico ou econômico no estado. atitudes que velada ou explicitamente violentas,
expressão sentimentos de superioridade em
relação aos negros, próprios de uma sociedade
A determinação de políticas públicas hierárquica e desigual” (Diretrizes, 2005, p. 12)
corresponde a direitos que a constituição
assegura e que afirmam ao reconhecimento Certamente que as Diretrizes
da sociedade e poderes públicos. Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais (2004) determina
As afirmações de Oliveira (2003) aprendizagens entre qualquer cor ou raça,
confirmam que tem sido difícil introduzir o institui a troca de conhecimento entre todos
tema afro na esfera das políticas públicas e e também estipula a quebra de desconfianças,
jurídicas, autor defende uma ideia onde para onde é preciso haver um projeto conjunto
se garantir a voz precisamos de uma cultura para construção de uma sociedade justa,
dominante, onde é preciso primeiramente igual e equânime.
aprender e compreender as diferenças e a
diversidade onde é essencial como fator de A introdução de Políticas Públicas para
inclusão e não de exclusão. Borges (2002):

Alguns autores, possuem visões diferenciadas a própria noção de identidade de uma cultura se
dá por meio da consciência de suas diferenças
e de acordo com Trevisan (1988) outro autor em relação às outras culturas, sem que, para
citado na pesquisa, qualquer sociedade que tanto, se criem juízos de valor que desqualifique
uma em detrimento de outra .(BORGES, 2002).

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As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étinico-raciais e para


o Ensino de História e de Cultura-Afro-brasileira e Africana, atingiram o pacto federativo,
pois na medida que se origina as leis constitucionais e os marcos legais nacionais o resgate
de uma comunidade que se tornou povoada e construiu uma nação.

Neste contexto, o Conselho de Educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
devem adaptar tais diretrizes, pois dentro do âmbito de uma colaboração e da autonomia de
entidades federativas, e seus sistemas, ofertando à importância para que seus planejamentos
futuros tenham valor, onde não é preciso omitir outras regiões e sim dar a participação dos
afrodescendentes.

As Diretrizes são dimensões que regulam certos caminhos são normas estabelecidas
para serem seguidas, são baseadas nas determinações iniciais, onde se possam tomar seus
rumos, oferecem referencias para as ações já implantadas e fazem reformulações quando se
é necessário, ela se adequa a realidade de fatos, é a partir deste pressuposto que as diretrizes
possuem competência dos órgãos executores, serve para definir estratégias, viabilizando
efetivo da Lei de Diretrizes e Base, onde está estabelece a formação básica a respeitos não
somente de valores mas também de princípios constitucionais da educação.

(inciso III do art. 1º), garantindo-se a promoção do bem de todos, sem preconceitos (inciso IV do art. 3º), a
prevalência dos direitos humanos (inciso II do art. 4º) e o repúdio ao racismo (inciso VIII do art. 4º). Cumprir
a lei é, pois, responsabilidade de todos, e não apenas do professor em sala de aula. Exige-se, assim, um
comprometimento solidário dos vários elos do sistema de ensino brasileiro, tendo-se como ponto de partida
o presente parecer, que, junto com outras diretrizes, pareceres e resoluções, tem o papel articulador e
coordenador da organização da educação nacional.( LDB)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil a relação étnico-racial, possui sua identidade,
analisando o trabalho e suas relações entre diversidade
tornou-se pertinente o valor que muitos possuem com essa
causa tão importante na sociedade.

A questão de reconhecimento a um determinado grupo


onde não há preconceitos é essencial para uma sociedade
livre democrática e acima de tudo consciente de suas
atitudes.
PATRICIA AMARAL
Todos possuímos nossas peculiaridades temos nossas CARVALHO CAVERSAN
particularidades, porém, é importante entender que a
Graduação em Pedagogia pela
homogeneização na sociedade se engana em relação a um Universidade Ibirapuera (1995);
padrão que ainda está longe de existir entre nós. Professor de Educação Infantil e
Ensino Fundamental I na EMEI
Cora Coralina
Portanto, ao concluir este trabalho de pesquisa qualitativa,
afirmo que cada grupo em nossa sociedade tem sua cultura,
seus costumes, suas regras e seus comportamentos, e
a escola é a principal instituição nesse processo, ela é
responsável com a socialização das crianças, ela é responsável pela integração social, e pela
diversidade que ali acerca todas as crianças, a escola possui uma imensa responsabilidade
para o conhecimento e o desenvolvimento de cada cidadão para que no futuro os tornem
cidadãos, críticos e conscientes da realidade em que se vive na atualidade.

Contudo, na Unidade Escolar, é um espaço aberto, onde suas opiniões são colocadas, é
um espaço de conflitos também, mas onde esses podem ser refeitos e construídos de uma
forma harmoniosa, o professor precisa entender e ter uma excelente didática para que seus
conhecimentos ao ser passado aos alunos, sejam completamente de certeza.

Finalizando a diversidade das relações étnico-racial, é um assunto bem polêmico, é preciso


estar entre os currículos escolares, pois é necessário ensinar e também aprender a saber
conviver com as diferenças das outras pessoas, é preciso saber respeitá-los, todos precisam
saber de seus direitos e deveres perante a nossa sociedade, pois somos um país de muitas
raças, cores, crenças e culturas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
BORGES, Edson, et al..Racismo, preconceito e intolerância. São Paulo: Atual, 2002. Acessado
em 20/02/2019. http://escoladadiversidade.blogspot.com/2011/03/insercao-da-cultura-
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OLIVEIRA, Iolanda (org.). Relações raciais e educação: novos desafios. Rio de Janeiro: DP&A,
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Brasília: SEEP, 2000.

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cultura-afrodescendente-no.html

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A ESCOLA COMO MEIO QUE


PREPARA PARA A VIDA
RESUMO: Na atualidade a educação está presenciando uma realidade que propõe grandes
desafios a serem enfrentados no âmbito do cotidiano escolar, tanto para os educadores,
quanto para os educandos. A escola é um espaço propício de formação acadêmica, entretanto
tornou-se um ambiente que reproduz de maneira descontextualizada um conteúdo que não
tem relação com a realidade do aluno. O objetivo desse trabalho é abordar as diferentes
relações interpessoais que premeiam esse importante e complexo espaço de aprendizagem.

Palavras-Chave: Sociedade; Escola; Educação; Relação Professor-Aluno

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INTRODUÇÃO criar, inventar, inovar, transformar. Diante


desse desafio, a escola não pode ficar presa
O Referencial Curricular Nacional de ao passado, ao antigo, à tradição. É preciso
Educação Infantil (1998, p.17) pontua que: O ter clareza desta ambiguidade da escola no
atendimento escolar era entendido como um trabalho educacional, pois esta ambiguidade
favor oferecido para poucos, selecionados ao mesmo tempo nos coloca a necessidade
por critérios excludentes. A concepção de estarmos presos à realidade social e de
educacional era marcada por características sermos críticos e inovadores. Esta é a brecha
assistencialistas, sem considerar as questões da escola transformadora. A escola faz a
de cidadania ligadas aos ideais de liberdade mediação entre o indivíduo e a sociedade.
e igualdade. Conhecer a sociedade, seus modelos e seus
valores é sua tarefa. Aprender os modelos
Ainda nos dias atuais nos deparamos nas como sociais (e não como naturais), que
escolas com a utopia que pressupõe que há respondem às necessidades do momento
um indivíduo a ser desenvolvido dentro de histórico, que variam no tempo e nos grupos
cada um de nós que, por natureza, é bom. Em sociais, é tarefa da escola que se pretende
tese prepara-se o indivíduo para, após um crítica. A vida escolar deve estar articulada
certo tempo, entregá-lo à sociedade com a com a vida social.
expectativa de que ele será bom e produtivo.
Esta é uma leitura possível, não resta BOCK (2002, p. 266) pontua uma visão
dúvida, entretanto é preciso cuidado com realista e persistente até os dias atuais em
tal concepção, pois permite pensar a escola algumas escolas: Nas teorias pedagógicas
como uma instituição que isola os indivíduos e no cotidiano escolar, a escola também é
para protegê-los, permite também pensá-la definida como um meio que prepara para a
de outra forma, ou seja, apropriando-se deste vida. Mas como pode fazer isso sendo um
discurso de proteção para criar indivíduos meio fechado, que volta as costas para a
à imagem e semelhança dos valores sociais realidade social? A escola tem se organizado
dominantes ou até mesmo apenas como um a partir, apenas e fundamentalmente, da
local onde as crianças passam o tempo. noção de cultura. Acredita que “cultivando”
o indivíduo, isto é, ensinando-lhe a cultura
A escola, como instituição social, acumulada pela humanidade, conseguirá
estabelece um vínculo ambíguo com a desenvolver o que nele há de melhor.
sociedade. É parte dela e, por isso, trabalha
para ela, formando os indivíduos necessários A escola surgiu para responder as
à sua manutenção. No entanto, é tarefa necessidades sociais de preparo do indivíduo
da escola zelar pelo desenvolvimento para a vida pública. A família ficou apenas
da sociedade e, para isso, precisa criar com a formação moral de seus filhos. Hoje,
indivíduos capazes de produzir riquezas, de a escola ocupa grande parte da vida de seus

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alunos. Ensina técnicas, valores e ideais, depositado. Professores podem ser vistos
ou seja, vem cada vez mais substituindo as como adultos autoritários que impõem
famílias na orientação para a vida sexual, atividades e conteúdos sem importância ou
profissional, enfim, para a vida como um valor. Estas duas visões dificultam a relação
todo. Talvez possa não estar preparada entre professores e alunos. Confrontos,
para essa tarefa, necessitando de mudanças violência e abusos de autoridade ou
consideráveis para alcançar a expectativa indiferença, são fatos que surgem no cenário
em torno da vida escolar da criança. Os da escola, lugar designado pela sociedade
professores muitas vezes, não dispõem de como de preparo para a vida social.
métodos e técnicas adequadas para cumprir
tal função, buscando formações fora do seu O vínculo professor-aluno é o
horário de trabalho e se submetendo a uma sustentáculo da vida escolar. Tal vínculo
jornada dupla de aula para poder se manter deve se estabelecer de forma a viabilizar
financeiramente. Algo que compromete a todo o trabalho de ensino-aprendizagem.
qualidade do trabalho e acaba refletindo Precisamos ter professores preparados, que
em sua prática docente. Observamos na estabeleçam uma parceria com seus alunos, a
realidade do ambiente escolar do dia a dia. qual permita o diálogo com o conhecimento.

Muitas vezes o aluno é visto como alguém


A RELAÇÃO que tem pouco a contribuir no processo
PROFESSOR/ALUNO educacional, devendo acompanhar, em
silêncio e atento, o que o professor ensina.
“Não se trata de descobrir e percorrer sozinho Como essa nova geração poderá ficar tão
uma única vez uma pista. Mas de traçar e de parada por tanto tempo? Um mundo de
concluir, para uso de muitos, uma larga pista”. silêncio e imobilidade tem caracterizado a
(LEBRET, 2006, p. 20)
escola.

Um dos obstáculos no espaço escolar Nada que se refira às brincadeiras e ao


refere-se à concepção de aluno. A maneira lazer tem lugar na sala de aula. A seriedade
como o professor vê esse aluno e como as deste espaço opõe-se ao brinquedo, à
famílias e os alunos veem o professor, são brincadeira, ao riso, ao lúdico. A escola vem
muito importantes para definir essa relação se tornando um lugar pouco agradável, e ela
de parceria e vínculo. A forma de significar é não precisa ser assim. Pode desenvolver seu
essencial para entendermos a relação que se trabalho, com autoridade, em um ambiente
estabelece entre professores e alunos. descontraído e alegre. Deve haver uma
possibilidade de o aluno se sentir bem na
Alunos podem ser vistos como escola.
receptáculos, onde o conhecimento deve ser

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Revista Educar FCE - Abril 2019

'É preciso trazer a realidade para dentro do diploma na hora de obter um emprego
das escolas, porém algo bom, proveitoso, melhor lhes dão a certeza de que é preciso
acolhedor, para que os alunos se sintam insistir.
pertencentes ao ambiente. Onde eles, possam
falar da vida cotidiana, pois o conhecimento A maior parte de nossas crianças
aprendido deve ampliar o conhecimento pobres são “evadidas” da escola. Uma
que temos do mundo e, consequentemente, sequência de tensões, dificuldades,
contribuir para torná-lo um lugar cada vez fracassos, desinteresses dos professores,
melhor para se viver. desencorajamento e reprovação afastam-
nas da escola - um mundo que fala coisas
As regras morais, são rigidamente estranhas, em linguagem estranhas,
cobradas, mesmo sabendo que não serão comandado por adultos estranhos. É preciso
cumpridas. Ao aluno cabe escutar, obedecer, fazer a escola para os alunos e não o inverso.
acreditar e submeter-se. Ao professor cabe
saber, ordenar, decidir, punir. Ambos estão As crianças não chegam às escolas em pé de
predestinados a papéis rigorosamente igualdade, pois tiveram experiências de vida
definidos. Sanções estão previstas para os diferentes. Os programas universais, com o
deslizes. As regras não podem ser ensinadas discurso da busca da igualdade, colaboram
como “acordos sociais” para melhorar nossas para a manutenção das desigualdades. Os
relações. Esta é a única função das regras programas escolares não levam em conta
sociais. Mas se elas tornam-se instrumentos as diferenças sociais. Exigem os mesmos
de tortura e fonte de conflitos, há que se produtos, avaliam da mesma forma, ensinam
perguntar se algo não está errado. da mesma maneira a crianças que têm vidas
muito diferentes. Ignorar as diferenças é
A escola tem sido uma continuidade da trabalhar para aprofundá-las. Hoje fala-se
vida das crianças das classes média e alta de em equidade!
nossa sociedade. Elas viajam, vão a museus,
conhecem outros países, outras línguas, têm
uma riqueza de informações e estimulações A RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA
que pode ser trabalhada e aprofundada
na escola. No entanto, para as crianças Segundo a editora Betriz Vichessi da
e os jovens que têm o mundo do trabalho revista Nova Escola, (2009, p.79) em geral,
como seu espaço cotidiano, a escola é uma a maioria dos professores imagina que
quebra. As rotinas escolares, as atividades e o trabalho de disciplinarização moral da
os conteúdos apresentados estão distantes criança (de introjeção das regras e, portanto,
de suas vidas e não há como ver na escola da constituição dos famigerados "limites"),
qualquer utilidade para seu desenvolvimento. é um pré-requisito para o trabalho de sala
Apenas o discurso da sociedade e a exigência de aula. Ou seja, acreditam que é função

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Revista Educar FCE - Abril 2019

dos pais educarem seus filhos em casa, para e do adolescente para que, só a partir
que os professores possam realizar um bom daí, ele possa desencadear o trabalho do
trabalho com essas crianças. pensamento. Um bom exemplo disso é um
outro tipo de máxima muito frequente no
Aquino (1996) destaca que quando meio pedagógico, porém equivocada, que diz
falamos genericamente em "educação" de "para ser professor, é preciso antes ser um
uma criança ou jovem, compreendemo-la pouco pai, amigo, conselheiro etc.". Esse tipo
como resultado conjunto da intervenção de enfrentamento do trabalho pedagógico é
da família e da escola. Embora essas desaconselhável por três razões, pelo menos:
duas instituições sejam complementares Trata-se de um desperdício da qualificação e
e possam chegar a se articular, elas são do talento específico do professor. No caso
bastante diferentes em suas raízes, objetos do professor, exige-se uma preparação lenta
e objetivos. O trabalho familiar diz respeito e especializada, devendo ele atuar de maneira
à moralização da criança, essa é a função semelhante aos seus colegas de profissão e
primordial dos pais ou seus substitutos. de modo diverso dos profissionais de outras
A tarefa do professor, por sua vez, não é áreas; Trata-se também de um desvio de
moralizar a criança. Acredita-se que o objeto função, porque ele não foi contratado para
do trabalho escolar é fundamentalmente o exercer tarefas parentais, e dele não se espera
conhecimento sistematizado, e seu objetivo, isso. Por mais que o trabalho em sala de aula
a recriação deste. O resto é efeito colateral, demande muitas vezes exigências adicionais
indireto, mediato. ao âmbito estritamente pedagógico, não
se podem delegar ao professor funções
Apesar do papel da família ser a formação para as quais ele não esteja explicitamente
de valores e a ordenação da conduta da habilitado. É preciso, então, que o trabalho
criança, atualmente a escola compartilha docente restrinja-se a um alvo específico: o
essa função, além da reapropriação do conhecimento sistematizado, por meio da
legado cultural, ordenação do pensamento recriação de um campo lógico-conceitual
e de se destacar como um espaço propício particular. Não confundir seu papel com o
para a socialização e integração social. de outros profissionais e outras ocupações:
eis uma tarefa de fôlego para o professor
Muitas vezes, a falta de postura de hoje em dia; Por último, trata-se de uma
identificadas nas crianças durante o trabalho quebra do "contrato" pedagógico, porque o
em sala de aula, se torna um empecilho para seu trabalho deixa de ser realizado.
a realização da prática docente. Aquino
(1996) relata que muitos professores,
diante das dificuldades do dia a dia, acabam
se colocando como tarefa principal a
normatização moral dos hábitos da criança

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Revista Educar FCE - Abril 2019

AS EXPECTATIVAS DOS De acordo com Aquino (1996) a razão da


ALUNOS EM RELAÇÃO AOS indisciplina pode ser entendida como energia
desperdiçada, sem um alvo preciso ao qual
PROFESSORES se fixar, e como uma resposta, portanto, ao
“Professores e alunos vivem juntos durante anos que se oferta ao aluno. Enfim, a indisciplina
dentro da sala de aula, mas são estranhos uns do aluno pode ser compreendida como uma
para os outros.” (Cury, 2003, p.12) espécie de termômetro da própria relação
do professor com seu campo de trabalho,
Nas diferentes relações existentes no seu papel e suas funções.
ambiente escolar, assim como em todas
as relações humanas, é necessário que se Nesse aspecto, valeria uma reflexão
estabeleça um conjunto de regras para sobre o envolvimento do professor com os
uma convivência harmoniosa. Aquino desafios do trabalho docente, a importância
(1996) identifica que é curioso constatar do posicionamento como agentes
que os próprios alunos têm uma clareza multiplicadores, buscando parceria das
impressionante quanto a essas balizas famílias e procurando propostas pedagógicas
contratuais do encontro pedagógico. Sem que contemplem as necessidades dos
dúvida nenhuma, eles sabem reconhecer educandos. Identificando a indisciplina como
quando o professor está exercendo suas um elemento norteador para a modificação
funções, cumprindo seu papel. O professor de um currículo integrador, que esteja
competente de seus deveres não é, em comprometido com a realidade do aluno
absoluto, um desconhecido para os alunos; e que dê voz aos desafios necessários
muito ao contrário. Estes sabem reconhecer e para modificar a realidade e desenvolver
respeitar as regras do jogo quando ele é bem a autonomia tornando a escola um local
jogado, da mesma forma que eles também desafiador intelectualmente.
sabem reconhecer quando o professor
abandona seu posto.
AS EXPECTATIVAS DOS
Diante dessa realidade a indisciplina se PROFESSORES EM
torna uma resposta ao ambiente pedagógico
que está sendo proposto em sala de aula, RELAÇÃO AOS ALUNOS
porque é só a partir de seu papel evidenciado Para César Coll (1995), outro fator que
concretamente na ação em sala de aula influência, indiretamente, o conceito que o
que eles podem ter clareza quanto ao seu aluno faz de si mesmo é o autoconceito do
próprio papel de aluno, complementar ao de professor. Parece que aqueles professores
professor. Afinal, as atitudes dos alunos são que possuem sentimentos positivos a
um pouco da imagem das próprias atitudes respeito de si mesmos tendem a aceitar os
dos professores. outros com mais facilidade. O professor

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Revista Educar FCE - Abril 2019

com um elevado sentimento de eficácia, segurança em suas execuções e pouca ansiedade,


formenta nos alunos o desenvolvimento de percepções positivas a respeito deles mesmos
e de seus colegas, incrementando a qualidade da interação em aula. Tanto as relações que
mantém com as crianças, como o modelo geral da atuação que apresenta em aula, possuem
um impacto positivo no êxito acadêmico e no autoconceito dos alunos.

De acordo com Rosent Hat e Jacobson (1968) a conduta do professor em relação ao


aluno será determinante para o autoconceito da criança, pois os sentimentos que um aluno
tem sobre si mesmo dependem, em grande parte, dos comportamentos que percebe que o
professor mantém em relação a ele. Uma atitude continuada e consistente de alta expectativa
sobre êxito de um aluno potencializa sua confiança em si mesmo, reduz a ansiedade diante
do fracasso e facilita resultados acadêmicos positivos. Pelo contrário, uma atitude de
desconfiança a respeito das capacidades do aluno ou de surpresa, diante de seu sucesso,
gera insegurança e reduz as possibilidades dele enfrentar os problemas, criando no aluno
um sentimento de incapacidade. Dessa maneira, as expectativas do professor em relação ao
aluno (assim como acontece com os pais), convertem-se frequentemente, em profecias que
se auto realizam.

Um ponto de atenção: o desrespeito do professor em relação aos alunos também alimenta


a indisciplina e torna a escola lugar conturbado. Quase 25% dos estudantes afirmam serem
vítimas disso de vez em quando e mais de 12%, que o fato ocorre com frequência. Outra
situação corriqueira é a da desconfiança. Que tipo de relação se espera formar com essas
atitudes? A análise do próprio comportamento é fundamental.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
“O senhor... Mire e veja que o mais importante e bonito do mundo é
isto, que as pessoas não estão sempre iguais, não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam...”
Guimarães Rosa

O movimento contínuo de construção e reavaliação de


regras, mais o respeito a elas, é a base de todo convívio em
sociedade. Da mesma forma que os conflitos nunca vão
desaparecer. Saber lidar com eles, faz com que os educadores
possam trabalhar melhor.
PATRICIA DE
Muitos professores esperam, sem razão, que a formação OLIVEIRA SANTOS
moral seja feita 100% pela família. Para Áurea de Oliveira Graduação em Pedagogia pela
(2009), do Departamento de Educação da Universidade Faculdade Universidade Paulista-
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus UNIP (2010); Especialista em
Letramento pela Faculdade
de Rio Claro, “Não se trata de destituí-la dessa tarefa, mas Campos Elíseos (2018); Professor
é preciso enxergar o espaço escolar como propício para a de Educação Infantil e Ensino
vivência de relações interpessoais”. Fundamental I - na EMEI Vargem
Grande I

As questões ligadas à moral e a vida em grupo devem


ser tratadas como conteúdos de ensino. Caso contrário
corre-se o risco de permitir que as crianças se tornem
adultos autocentrados e indisciplinados em qualquer
situação, incapazes de dialogar. Pesquisa de 2002 com 120
universitários, de Montserrat Moreno e Genova Sastre, da
Universidade de Barcelona, indagou sobre a utilidade do que eles aprendiam na escola
para a resolução de conflitos na vida adulta. Apenas 3% apontaram que os professores lhes
ensinaram atitudes e formas especificas de agir.

Por volta dos 9 anos, abre-se espaço para a moral autônoma, quando o respeito mútuo se
sobrepõe à coação. Mas a mudança não é mágica. O cientista suíço Jean Piaget (1896-1980)
questionava a possibilidade de a criança adquirir essa consciência se todo dever sempre
emana de pessoas superiores. Assim, é possível dizer que a autonomia só passa a existir
quando as relações entre crianças e adultos (e delas com elas mesmas) são baseadas, desde
a fase heterônoma, na cooperação e no entendimento do que é ou não moralmente aceito
e por quê. Sem isso, é natural que conforme cresçam, mais indisciplinados fiquem os alunos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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BOCK, A. M. B. Psicologia: uma introdução do estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo:
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1990.

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Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental – Brasília:
MEC/SEF, 1998.

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Porto Alegre, Al, Editora Artmed, 1995.

CUNHA, Maria Isabel da. O Bom Professor e sua Prática, 18° edição, São Paulo, SP, Editora
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CURY, Augusto Jorge, Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, Rio de Janeiro: Sextante,
2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. Rio de


Janeiro: Paz e Terra, 7° edição, 1998.

TIBA, Içami. Ensinar Aprendendo: Novos Paradigmas na Educação, 18° edição, São Paulo,
SP, Integrare Editora, 2006.

VICHESSI, Beatriz. Revista Nova Escola. Indisciplina, 226 edição, São Paulo, SP, Editora Abril,
2009.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A ÊNFASE DA MÚSICA INTRINSECAMENTE


ATRELADA AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS
DAS INFÂNCIAS
RESUMO: A Educação Infantil contemporânea tem despertado atenção mundialmente, e tem
sido tema de inúmeros estudos, pesquisas e investigações, que comprovam a contribuição
de suma importância dessa fase da infância para o pleno desenvolvimento para a vida inteira.
Porém, é necessário que tanto o professor como todos os educadores que convivem no dia
a dia com essas crianças e revejam sua formação inicial, e entendam a função e contribuição
da musicalidade como linguagem proporcionando inúmeras aprendizagens. Também há
necessidade de revisitarem as suas próprias infâncias e lembrem-se do maravilhamento e
da ludicidade que a música pode promover para a pequena infância, além da promoção na
socialização. Uma educação de qualidade na infância potencializa o pleno desenvolvimento
da criança, ou seja, a formação bio-psico e social da criança como melhor prover seu pleno
desenvolvimento. Assim, a busca das práticas pedagógicas na atualidade se encontra na
descoberta sobre como propiciar os direitos para a infância e o real papel da Instituição
de Educação Infantil do século XXI. Estabelecendo através da musicalidade entre tantos
benefícios favorecer os vínculos afetivos, as interações psicológicas, o desenvolvimento
biológico e a inserção sociocultural da criança pequena na Educação Infantil contemporânea.

Palavras-Chave: Linguagens; Música; Formação; Educação Infantil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO da criança no universo da comunicação não


apenas social como a existência da cultura
Ao examinarem os percursos da música, das diferentes infâncias.
verifica-se que a musicalidade caminha
concomitantemente com o ser humano. Tendo assim, essa pesquisa com o intuito
de elucidar a musicalidade como, linguagem
Em consequência disso, acreditamos ser fundamental da infância.
fundamental a presença da musicalidade
na infância, fomentando a ludicidade e o Sendo que, a observação crítica de fatos
desenvolvimento do indivíduo. históricos dos percursos da Educação
infantil, percebe-se que mesmo na
A observação crítica de fatos históricos contemporaneidade ainda há dificuldades
revelam o porquê da importância de por parte de professores e educadores da
se fomentar a presença da música pequena infância em trabalhar e reconhecer
cotidianamente como ferramenta de e introduzir a fundamental presença da
grande ênfase para contemplar o pleno música no cotidiano da Educação Infantil
desenvolvimento da criança pequena, na como ferramenta para que a criança fortaleça
Educação Infantil. a autoestima, autoconhecimento. Sendo a
música a grande promotora sociocultural das
Contudo, temos o intuito com este artigo infâncias.
de enfatizar e fomentar a importância da
presença da musicalidade na Educação
Infantil, tanto quanto, destacar a necessária PERCURSOS DA MÚSICA
formação e a mediação do professor da
pequena infância nessa fase. A trajetória da música iniciou-se
concomitantemente com os caminhos
Sendo assim, é mister a música como iniciais da humanidade. Por esses fatos,
linguagem intrinsecamente atrelada à podemos afirmar que a música exerce grande
Educação Infantil, fase em que a criança se influência para toda vida do ser humano.
encontra na educação.
Diversas teorias e pesquisas apontam a
Percebe-se que, na Educação Infantil nem presença da música desde os primórdios.
sempre a música é vista parte da infância Assim a compreensão do que é importante a
com a qual a criança se expressa, inclusive a presença da musicalidade desde a pequena
criança com necessidades especiais. infância é fundamental.

Assim essa, pesquisa justifica-se pela Teca Alencar de Brito (2003), a autora
importância de a música favorecer a inserção discorre que, desde os tempos mais arcaicos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

havia os sons, que paulatinamente será e necessidades diferentes. Além de ser


reconhecido como música e através da prazerosamente, enfatizando assim o início
crença transformaria “os seres humanos da música, e que reproduziam cotidianamente
em seres musicais” o qual produziam sons em suas tarefas.
significando-os no seu cotidiano, no qual se
acreditava mitologicamente. De acordo com Coelho (2006), a autora
destaca e também concorda que, simular a
Ainda a autora afirma que, a origem música é mágico; pois a música transforma
musical tem diferentes facetas culturalmente os sentimentos em positividade, ou seja,
na humanidade, sendo que a interpretação e “sempre de bem com a vida”.
entendimento e definição aconteceram de
variadas maneiras de acordo com a época, Sendo assim, os sons estão intrinsecamente
pensamentos, crenças, cultura e “concepções em todos os lugares do universo, sendo
estéticas” vigentes. que todos os animais da floresta pequeno
ou grande emitem um som. Também os
Contudo, teoricamente muitos elementos da natureza emitem sons, cada
pesquisadores afirmam que percursos qual mais grave ou mais agudo “... o vento
da musicalidade aconteceu de variadas parece estar querendo nos contar uma
maneiras, de acordo com a época e sociedade história...”
cultural de onde ocorria esse fenômeno.
A música começa dentro da gente. Quando
Para ter ideia de como era a música na nasce, cada criança já tem no próprio corpo,
antiguidade, é preciso coletar informações vários instrumentos musicais: a voz para cantar,
na forma de objeto, desenhos e textos. Esse as mãos para bater palmas, e o coração pulsando
trabalho, geralmente é feito por pesquisadores como um tambor; marcando o caminhar pela
que investigam, estudam e cantam para o vida com seu ritmo constante, acompanhada
mundo a história da música. Essas pesquisas pelo sopro leve da respiração. Para acompanhar
têm revelado um mundo para lá de fascinante. o som das palmas, o ser humano criou flautas,
Pois a história da música não é só a história dos tambores, guitarras, cuícas, violinos, trombones
instrumentos musicais: é também um relato entre outros. E aprendeu a criar conjuntos
social que nos fala muito sobre vários aspectos maravilhosos misturando vários deles, como
da vida das pessoas que viverem antes de nós fazem as baterias das escolas de samba, as
orquestras, os corais, os grupos de rock ou de
(Coelho, 2006, p.8). samba e tantos outros (Coelho, 2006, p.6).

Também Coelho (2006) enfatiza que é Portanto, a história da música está


inato a humanidade a experenciar os “sons, intrinsecamente atrelada ao próprio ser
barulhos”, consequentemente saber qual o humano, desde o seu nascimento poderá
som de vem de cada coisa. retirar do seu corpo variados sons musicais.

Já os primatas e as tribos iniciaram e Ainda Coelho (2006) p.8 destaca que,
experenciavam os sons por diversos motivos “... Conhecer a música de milênios atrás é

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Revista Educar FCE - Abril 2019

como montar um quebra-cabeça sem ter cultural de infância que a criança vivencia,
todas as peças”. Sendo que, nos primórdios ou seja, contexto em que essa criança vive.
dos primeiros seres humanos não houve
como fazer registro sonoro da música, por Portanto é fundamental para a criança
isso não temos ideia de como era tocado pequena a música, pois, promoverá não só
nesse período. Mas através de objetos, a socialização, mas também, descortinara
desenhos rupestres e textos podemos desde muito cedo o maravilhamento cultural.
abstrair informações, trabalho que é feito
por estudiosos que pesquisam, estudam
e compartilham para todos a “história da BENEFÍCIO DA
música”. MUSICALIZAÇÃO NAS
Através dessas pesquisas podemos DIFERENTES INFÂNCIAS
imaginar o universo maravilhoso da origem De acordo com o Referencial Curricular
da música, concomitantemente descrever a Nacional de Educação Infantil (RCNEI, 1998)
vida e hábitos em sociedade da época. A introdução da música na Educação Infantil
deve abordar a ideia de que é uma das
Coelho (2006) afirma: Em cada lugar do maneiras com a qual as crianças e os bebês
mundo a música é diferente dos demais. E podem se expressarem, incluindo as com
em cada canto os povos tem uma forma ou “necessidades especiais educacionais”. Ainda
maneira específica de cantar e tocar seus assim tem a ênfase na aquisição do equilíbrio
instrumentos musicais, paulatinamente da autoestima e autoconhecimento,
ocorrem as trocas e misturas entre as destacando a socialização que proporciona.
diferentes culturas, assim iniciando um novo
tipo musical. Ainda o documento citado, destaca o
objetivo para a proposta da musicalização
De acordo com as Orientações Curriculares na pequena infância, ou seja, a criança de
(2012): A criança pequena ao ser inserida (0 a 3 anos) inserida na Educação Infantil é
no contexto da Instituição de Educação desenvolver-se como ouvinte, a percepção
Infantil, já adentra esse novo ambiente e discriminação de sons como também a
com uma bagagem musical e cultural do realização que a criança desenvolve com a
contexto familiar em que se encontra música, sendo a brincadeira musical ao iniciar,
inserida. Assim, música e canções já estão ou seja, o maravilhamento através de toda
intimizado alfabeticamente através da voz ludicidade que a música pode proporcionar,
dos responsáveis, promovendo interações como a introdução de maneira prazerosa na
dos vínculos familiares. Concomitantemente, cultura concomitantemente intimizando com
essas músicas, canções e brincadeiras a produção e apreciação musical.
cantadas conectará a criança no universo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O RCNEI (1998) já para criança de (4 a proporcionar a escrita de diferentes ritmos


6 anos) contempla a criança com poder de musicais, contemplando as diferentes
explorar e identificar os elementos musicais, culturas das infâncias, como também destaca
sendo o documento indica a relação podendo o “conhecimento sobre a forma musical, com
promover a expressão e o conhecimento frases, partes e elementos que se repetem
através da percepção, destacando assim as além dos conhecimentos que contextualizam
ações, tais como a improvisação composição as produções musicais”.
e interpretação sendo, a música que
historicamente e culturalmente através de O trabalho com a música na pequena
sua produção musical sempre se destacando. infância é de suma importância para o pleno
desenvolvimento da criança, nessa fase em
O RCNEI (1998) sinaliza que no fazer que ela se encontra na Educação Infantil.
musical da criança da pequena infância, ou
seja, de (0 a 3 anos) podem proporcionar Gardner (1996) afirma, que há uma
a exploração dos sons e silêncios, sendo “inteligência musical” que seleciona com
o interpretar da música, ou experiêcniciar a competência de organização de sons
em jogos e ritmos do brincar. Nessa fase, de acordo com a criatividade e a forma de
destaca-se o apreciar, relacionar e se discriminar os elementos que constituem
expressar musicalmente. a música. A valorização da musicalidade
é essencial pedagogicamente, sendo a
Já para as crianças nas Instituições de “linguagem musical” fundamental na infância,
Educação Infantil de (4 a 6 anos) o RCNEI promovendo a significação de aprendizagens.
(1998) sinaliza que nesta fase se amplia
complexamente o fazer musical, sendo as Pesquisadores e estudiosos afirmam
ações para proporcionar o desenvolvimento, que é na infância que a criança pequena
destacando as características dos “sons e tem maiores números de aquisições do
silêncios”, que fazem parte da linguagem conhecimento. Que inclusive acompanhará
musical tais como “alturas dos sons, a criança pela vida inteira.
duração, intensidade e timbre como
também a velocidade da densidade das Para Vygotsky (1998), na estrutura da
produções musicais” devendo favorecer linguagem a criança inicia isoladamente
também, a ampliação do repertório musical palavra por palavra e paulatinamente inicia
e contemplando a ludicidade na infância pela pequenas frases, que tornar-se complexas,
música, através das brincadeiras com ritmos, e finalmente início “períodos completos”. É
danças e expressões corporais. mesmo falando inicialmente palavras soltas,
semanticamente corresponde uma oração
O RCNEI (1998), ainda destaca que por inteiro, através das suas significações.
nessa mesma fase de (4 a 6 anos) deve-se Igualmente acontece com a música, à criança

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Revista Educar FCE - Abril 2019

consegue se “expressar musicalmente” por contemporânea, através de atividades


partes da música isoladamente, porém, essas planejadas e brincadeiras.
partes da música está repleto de sentido.
Assim nessa fase da pequena infância que Assim Lima (2009) enfatiza que:
evidencia o quanto a criança já se apropriou Brincar na infância, é uma das maneiras
da “linguagem musical”. O autor afirma que de dar continuidade para humanidade,
concomitantemente a aquisição da música contemplando ações para o pleno
está para a criança a linguagem musical. desenvolvimento da criança pequena.

De acordo com o RCNEI (1998): O trabalho A autora enfatiza que, a “sobrevivência” da
com a música deve ser integrado com as humanidade não é apenas biológica, ou seja,
demais áreas de conhecimento especificas a a perpetuação da espécie e concomitante
cada faixa etária, como também enfatiza as com a cultura, e até biologicamente falando,
linguagens da infância (movimento, expressão a espécie humana precisam da aquisição das
cênica, artes visuais, etc.) contemplando a maneiras de se comunicar culturalmente. E
parceria com os demais projetos. a cultura promove essa comunicação, tais
como, a flexibilidade e tolerância das crianças
Contudo, é necessário destacar as maiores com relação as crianças menores,
especificidades do próprio trabalho com contemplando a “formação das novas
a música, sendo a música a maneira com a memorias. Assim acontece na brincadeira “A
qual a criança pequena poderá se expressar. linda rosa juvenil”.
Assim, a música possibilita acessibilidade
para crianças e bebês se expressarem A brincadeira utiliza a imitação (estratégia
principal de aprendizagem neste período),
contemplando ainda a criança com desenvolve a memória operacional pela
necessidades especiais. sequência de quadros e por ser uma brincadeira
coreografadas a memória auditiva (lírica da
cantiga, rima ou ritma) e contribui para o
Também, a musicalidade proporciona desenvolvimento da fala. Contribui ainda para
a ampliação da expressão, do equilíbrio, o movimento da circularidade e a percepção
da autoestima e autoconhecimento, de si mesmo e do outro no espaço (ligados ao
desenvolvimento espacial). Pela história cantada
favorecendo a socialização. e pela encenação, estruturas pela música, há uma
mobilização do sistema emocional, importante
Através do contato cotidiano com a música para a representação formação de imagens no
cérebro e da imaginação (Lima, 2009, p.15).
poderá proporcionar a criança na Educação
Infantil inúmeros benefícios, além de
contemplar a inserção social, as trocas entre
as variadas culturas de crianças advindas
das diferentes infâncias que convivem
concomitantemente na Educação Infantil

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Revista Educar FCE - Abril 2019

PROFESSOR DE EDUCAÇÃO De acordo com as Orientações Curriculares


INFANTIL CONTEMPORÂNEA (2012): quando o professor canta para a
criança estimula o despertar do “vinculo
O Professor da Pequena Infância emotivo”, e ênfase maior quando ela há
contemporânea teve que ressignificar o seu fisicamente. O professor poderá contemplar
“olhar” para novas infâncias, que convivem uma criança por vez contando em suas ações
concomitantemente na Instituição de de cuidados, e outros vezes para o grupo
Educação Infantil. todo estimulando a atenção e socialização
das crianças com seus pares.
Muito se tem a considerar sobre as diferenças
culturais e suas infâncias na formação dos
indivíduos que nela convivem. A diversidade Estando atento como cada um reage
de modelos culturais nos remete para a aos estímulos sonoros, o que mais apetece
importância do entendimento destas diferenças a criança e suas reações. Reações que
e a influência de alguns elementos na dinâmica
social. Os rituais, festas, costumes traduzidos, podem ser percebidas através “do choro”,
nas mais diferentes formas de comemorar, do olhar ou de como a criança se expressa
entristecer, lidar com cotidiano, nos mostram corporalmente.
que as sociedades são extremamente diferentes,
embora com alguns elementos bastantes
parecidos (Silva, 2005, p.23). Sendo que, o professor da pequena
infância é imitado pela criança, ou seja, ele se
Sendo que, nesta faixa etária o Cuidar e torna referência comportamental, é preciso
o Educar estão intrinsecamente atrelados. que o professor cante diariamente com as
E o professor tem que, assim como todos crianças, que as mesmas gostam muito,
na Instituição de Educação Infantil que são promovendo a ludicidade, e momentos
considerados educadores, pois participam que a criança pequena possa se comunicar
diariamente da convivência com essas e resolver consigo mesma, seus entraves
crianças ensinando e as educando-as diários de suas informações e do contexto
paulatinamente todos da comunidade de onde se encontram inseridas. Freire (2000)
ensino da pequena infância promoverem o p.58 “ninguém começa a ser educador numa
cuidado concomitantemente com educar, certa terça-feira às quatro horas da tarde,
sempre considerando as especificidades da ninguém nasce educador ou marcado para
criança pequena, e as singularidades das ser educador, a gente se faz educador, a
diferentes infâncias. gente se forma como educador, permanente,
na prática e na reflexão sobre à prática”.
Contudo, a música se coloca para
Instituição de Educação Infantil tal como, O professor é mister nas organizações
ferramenta que o professor poderá utilizá-lo de tempos e espaços que promovam não a
em inúmeros contextos cotidianos. compreensão exata da musicalidade, mas
sim, o maravilhamento e a sensibilidade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A cada fase do desenvolvimento a concomitantemente da comunicação é um


criança modifica, amplia e desperta de processo cotidiano. Na escola da pequena
maneira diferenciadas para a musicalidade, infância a criança experenciam diariamente
fomentado pelas ações do professor diferentes maneiras de testarem sua voz,
que deverá proporcionar o contato com sendo que a partir disso “criam e assumem
diferentes materiais musicais, ou até mesmo padrões de modelos e vocalização”.
canções contadas na rotina diária.
Ainda de acordo com o documento Rede
Percebe-se que na pequena infância, quais em Rede (2011) citado, o mesmo oferece
são as músicas que as crianças pequenas uma proposta para que os professores e
gostam, pois elas demonstram através de educadores da Instituição de Educação
suas expressões corporais, quanto mais Infantil pensem sobre como a musicalidade
houver estímulos musicais, mais as crianças é trabalhada com a pequena infância:
poderão avançar em seus conhecimentos,
podendo mediá-los na construção de 1 – Na Instituição de Educação infantil
“objetos sonoros e instrumentos musicais” tem um ambiente favorável com qualidade
significando e intimizando com a música de som? E o equipamento é adequado para
de diferentes formas, do experienciar a absorver os ruídos, que podem onerar a
convivência cotidiana com a musicalidade. audição de todos na Instituição de Educação
Infantil?
Também as crianças maiores já têm a 2 – É pensado ou planejado e fomentado
competência e poderão ser incentivadas em dentro da prática Pedagógica espaços para
formar frases musicais junto com seus pares, pesquisas sonoras feitas pelas próprias
sempre, com a mediação do professor. crianças?
3 - É oportunizado para crianças pequenas
De acordo com o Caderno do Rede- a compartilhar e escutarem as músicas dos
Formação de Professores da Prefeitura seus gostos?
Municipal de São Paulo (2011), o documento 4 – As crianças contempladas além
discorre sobre a voz e fundamental na do compartilhamento das músicas,
formação do ser humano. Assim a voz, que como também a oportunidade de serem
além de ser de origem filosófica e psíquica apresentadas as novas músicas?
ao mesmo tempo emocional. Sendo mister 5 – Diversidade de músicas que são
para que o ser humano possa se comunicar e oferecidas para o grupo são variadas “do
perpetuar os conhecimentos da humanidade, ponto de vista da origem da musicalidade”, ou
sendo elaborado como “a linguagem verbal”. seja, contempla a musicalidade de diferentes
origens, etnias e gêneros musicais?
Na Instituição de Educação infantil, 6 – Existe um planejamento prévio e
esse processo de aquisição da fala e intencionalmente propicio aos momentos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de escuta musicais para crianças com intuito que ensinam a criança pensar”, ou seja,
de auxiliá-las a reconhecer a qualidade dos significar e ressignificar as atividades
sons? cotidianas sempre planejadas e com as
7 – É criterioso a escolha musical interações com as linguagens da infância.
adequada para crianças pequenas? E essa
oferta musical acontece cotidianamente? É uma formação que fala da vida, dos sons do
mundo, dos gestos das pessoas, do movimento,
8 – Há a oportunidade de a criança escutar das cores, das luzes, dos espaços dos ambientes,
não só as músicas infantis, como também dos cheiros, das texturas e das percepções. Por
contemplar a criança com a experiência de exemplo como nossa mão percebe determinada
superfície? Como sentimos as coisas? Se
ouvir aspectos de qualidade dos sons e dos estivermos abertos para perceber e sentir,
diferentes instrumentos musicais? comunicaremos a nossos alunos, e eles vão se
9 – Dentro da Instituição de Educação sentir à vontade para isso também (Barbieri,
2012, p.147).
Infantil oportuniza-se para a criança pequena
a construção e a exploração de instrumentos
musicais com intuito de favorecer a escrita Ainda a autora afirma, ser fundamental
infantil. a reflexão ao ser professor na pequena
infância. Acredita-se que professores que
A importância do professor da pequena trabalham na Instituição de Educação
infância em planejar as ações cotidianas, infantil revisitem e pensem nas suas práticas
se questionando de que maneira a música pedagógicas, para que aconteçam inúmeras
será introduzida na sala de vivências das formas diferenciadas, contemplando e
Instituições de Educação Infantil, segundo o ampliando sua formação de educador. Apesar
critério de saber o que irá contemplar, através de historicamente existir uma tradição entre
da linguagem musical, o que favorecerá e os professores da Instituição de Educação
significará para essas crianças pequenas. Infantil e da observação e do incentivo para o
pleno desenvolvimento da criança pequena.
Sabendo-se que, a criança ao experenciar
a musicalidade cotidianamente poderá Assim, na contemporaneidade, ou seja,
ter o benefício do universo lúdico, do no século XXI a reflexão nas instituições de
sonho do impossível, podendo experenciar Educação Infantil se tornou-se de grande
outros universos muito diferentes de suas ênfase para o pleno desenvolvimento
realidades. da criança pequena e de acordo com
Oliveira (2002) p.43: De acordo com a
Barbiere (2012) confirma a necessidade visão Educacional, combater a “exclusão
de formação dos professores diferenciados, social e auxiliar a criança nas aquisições do
atentos à especificidades e singularidades conhecimento, desde a pequena infância,
da pequena infância, que crianças possam ensinando as “diferentes linguagens, valores
experenciarem com qualidade as “questões culturais, padrões estéticas e formas de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

trabalho baseados em preceitos científicos, além de propiciar-lhes o conhecimento de


algumas tecnologias presentes em suas culturas”. Sendo assim, e provendo a formação de
uma criança ímpar, de acordo com suas particularidades e especificidades.

As infâncias do novo século trouxeram no seu bojo, essas crianças diferenciadas, pois
advém de diferentes infâncias que necessita do professor mediador pronto para ressignificar
seus saberes e aprendizagens, procurando a melhor maneira de trabalhar na Educação
Infantil, afim de alcançar todas essas novas infâncias. Tendo como ferramenta de grande
alcance a música.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vivemos neste novo século XXI, o paradoxo de inúmeras
mudanças entre elas se encontra a Educação infantil, que
passou a fazer parte da Educação Básica. E foi consolidada
com novas políticas públicas que embasaram as instituições.

As diferentes infâncias na contemporaneidade, convivem
concomitantemente na escola da pequena infância, trazendo
cada criança na sua bagagem a história social e cultural de
cada uma.

E entre essas infâncias culturais a que mais se destaca é a
linguagem musical. Por contemplar através da musicalidade PATRICIA MEG
saberes socialmente construídos há milênios. Construindo AYRES SOUSA
através da música cotidianos das salas de vivências das
Graduação em Pedagogia pela
infâncias maneiras lúdicas de se comunicarem e expressarem Universidade Paulista UNIP
os seus reais sentimentos, inquietude e até sofrimento. (2006); Especialista em Pós
Docência Universitária pela
Universidade Paulista UNIP
Incentivando a todas as crianças, através da mediação (2012); Professora de Educação
consciente dos professores e educadores o pleno Infantil no CEI Ver. Laercio Corte.
desenvolvimento da criança da pequena infância.

1238
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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VYGOTSKY, L. S. O desenvolvimento psicológico na infância. São Paulo, Martins Fontes,


1998.

1239
Revista Educar FCE - Abril 2019

DESAFIO DE ALFABETIZAR TODAS AS


CRIANÇAS ATÉ O TERCEIRO ANO DO
ENSINO FUNDAMENTAL
RESUMO: Nas últimas décadas, muito se tem discutido a respeito do que conduz uma
criança a ler e a escrever, buscando encontrar as melhores estratégias para as crianças
com dificuldades de aprendizagem. Nesse sentido, este artigo pretendeu discutir acerca
do desafio de alfabetizar todas as crianças até o terceiro ano do Ensino Fundamental, haja
vista as diversidades existentes em cada educando e em cada situação. As dificuldades de
aprendizagem consistem num conjunto de problemas que podem afetar qualquer área do
desempenho escolar em determinado momento da vida escolar do educando, interferindo
no domínio de habilidades e rendimento. Assim, é preciso adotar uma “prática diferenciada”
com educandos que enfrentam dificuldades de aprendizagem, isto é, uma abordagem com
estratégias e recursos que alcancem a necessidade desse aluno. É necessário adaptar o ensino
às características de cada aluno. No entanto, acreditar que a dificuldade de aprendizagem
é responsabilidade exclusiva do educando, ou da família, ou apenas da escola é, no mínimo,
uma atitude ingênua diante da complexidade do aprender. Por isso, é preciso exercer uma
prática docente em parceria, em equipe, em que todos deverão voltar seu “olhar” e sua
“escuta” para o sujeito da aprendizagem.

Palavras-Chave: Dificuldades de Aprendizagem; Alfabetização; Ensino Fundamental.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO nesse contexto, por se constituírem como


espaços privilegiados para a ocorrência do
Ao tratar do tema alfabetização, tendo processo de mediação do educando com a
em vista a aprendizagem inicial da leitura e escrita (LEITE, 2001).
escrita ou aquisição do código alfabético,
passa-se em revista as bases teóricas e os Historicamente, a alfabetização esteve
procedimentos didáticos de diversos métodos embasada em abordagens teórico-
de alfabetização, e faz-se observações sobre metodológicas tradicionais, nas quais o
sua aplicação, extraídas da experiência foco do processo de ensino-aprendizagem é
prática, dos modos de pensar e de agir de centrado no eixo: “como se ensina”. Nessas
quem está com a mão na massa. Aqueles que perspectivas, a preocupação se volta às
estão se iniciando no ofício de alfabetizar têm técnicas e estratégias utilizadas para que a
muitas dúvidas e preocupações a respeito criança aprenda a ler e escrever com êxito.
dos métodos, até porque as questões
metodológicas da alfabetização têm sido Assim sendo, o presente trabalho tem como
relegadas a segundo plano nos cursos de objetivo direcionar o olhar para o processo
formação inicial e continuada, com prejuízo de alfabetização que deve ocorrer na escola,
para alunos e professores. de forma planejada e sistematizada, ou seja,
refletir sobre a proposta de alfabetização
A questão do processo de alfabetização e letramento na educação brasileira. O
escolar continua sendo um tema desafiador intuito é apontar e discutir os desafios de
para os pesquisadores e profissionais da alfabetizar todas as crianças até o terceiro
área da Educação. Embora, nas últimas duas ano do Ensino Fundamental, haja vista as
décadas, tenham se observado grandes diversidades existentes em cada criança e
progressos teórico-metodológicos na área, em cada situação.
a formação do aluno como um competente
leitor e produtor de texto, nas escolas públicas É um texto curto, que não se aprofunda
e particulares, ainda se coloca como um dos teoricamente, havendo, entretanto, a
grandes objetivos a serem alcançados. A preocupação de, ao abordar as questões,
relevância dessa questão pode se dar em indicar os aspectos nucleares em cada uma
parte pelo crescente reconhecimento da delas.
sociedade em geral e dos educadores em
particular, de que o envolvimento com as É sabido que existe uma grande crítica
práticas alfabetizadoras se trata de uma a um trabalho rígido de alfabetização no
condição necessária, apesar de não ser qual já se determina, antecipadamente,
suficiente, para o pleno exercício da cidadania. quais letras precisam aparecer primeiro e
Por outro lado, também se reconhece que em qual sequência, ou no qual se inventam
a família e a escola têm um papel essencial textos para fixar sílabas. Porém, não é dessa

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Revista Educar FCE - Abril 2019

organização que se está falando. Acredita- sintéticos, como por exemplo, a palavração.
se que não é possível trabalhar explorando Com o intuito de evitar as diferenças de
apenas o que aparece no contexto da sala cada ser humano na aprendizagem inicial
de aula, sem refletir sobre uma organização da leitura e da escrita e os possíveis
sistemática do trabalho. Nos dias de hoje, o fracassos que os métodos não conseguiam
que se recrimina é um planejamento rígido, contornar, estabeleceu-se uma série de pré-
que funcione independente dos educandos, requisitos para uma alfabetização efetiva,
de sua cultura, de suas preocupações, de privilegiando-se, sobretudo, uma sensatez
seus conhecimentos prévios e de suas dos fatores perceptuais e motores vinculada
conceituações acerca dos os conteúdos que a um domínio da linguagem oral.
aprendem.
Essa prática estava ligada a um conceito
Na elaboração da pesquisa, utilizou-se de alfabetização conforme o qual, a
como metodologia a revisão bibliográfica, aprendizagem inicial da leitura e da escrita
procurando levantar o máximo de informações tinha como propósito fazer o educando
a respeito do tema e um panorama sobre os reconhecer as palavras, assegurando-lhe o
trabalhos já realizados na área. domínio das correspondências fonográficas.
No máximo, procurou-se garantir que
esse conhecimento fosse construído num
ANÁLISE DAS ATUAIS conjunto de palavras que fossem expressivas
POLÊMICAS NA para o educando no seu espaço cultural,
como nas tradicionais cartilhas regionais. No
ALFABETIZAÇÃO entanto, de um modo geral, consistia numa
Com o passar do tempo, a alfabetização visão comportamental da aprendizagem
escolar passou a ser foco de incontáveis que era vista como de caráter cumulativo,
polêmicas teóricas e metodológicas, fundamentada na cópia, na repetição e
obrigando que a escola e, particularmente, no reforço. A grande prioridade estava
os profissionais relacionados com o desafio nas associações e na memorização das
de alfabetizar, situem-se quanto às mesmas, correspondências fonográficas, visto que
o que provavelmente gerará consequências era desconhecida a relevância do educando
para as práticas didáticas que irão utilizar. desenvolver o seu entendimento acerca
Segundo Militão (2019), por um longo de como funcionava o sistema de escrita
período, no Brasil, prevaleceu o debate alfabética e de como fazer uso dele desde
a respeito da eficiência dos métodos de o princípio em situações concretas de
alfabetização, provocando embates entre comunicação (MILITÃO, 2019).
os intitulados métodos sintéticos e métodos
analíticos, obtendo-se uma junção dos Na década de 80, a alfabetização escolar
dois nos denominados métodos analítico- no país gerou novas discussões. No entanto,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a ênfase dos debates estava na urgência de destacaram as diferenças entre as formas


novas visões de alfabetização, embasadas da língua oral e língua escrita e revelaram
em resultados de estudos no campo da como muitas crianças adquirem a linguagem
psicologia cognitiva e da psicolinguística que escrita a por intermédio da convivência com
mostravam a necessidade de se compreender diferentes tipos de textos, explorando a
como funcionavam os sistemas alfabéticos leitura e a produção de textos por meio de suas
de escrita e como fazer uso dele em situações interações com adultos, até mesmo antes de
concretas de escrita, evitando desde o estarem alfabetizadas convencionalmente.
princípio da alfabetização o analfabetismo Por outro lado, também havia aquelas
funcional (REGO, 2019). que, embora já fossem alfabetizadas, não
possuem o domínio da linguagem usada na
Com a propagação dos estudos a respeito forma escrita de comunicação (REGO, 1986).
da psicogênese da língua escrita, de
Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1986), a Bristol (apud REGO, 2019), apresentou
perspectiva construtivista passou a ser, com um estudo que revelou, de modo categórico,
toda certeza, uma das mais importantes e o valor das práticas com a leitura de histórias
atuantes na elaboração de novas propostas para alunos na Educação Infantil para alcançar
de alfabetização, visto que além de mostrar o êxito posterior na alfabetização da leitura
a evolução do conceito que as crianças e da escrita. Ficou claro que os educandos,
vivenciam até entenderem como opera cujos pais liam com certa frequência e
o sistema de escrita, agregou o conceito compartilhavam com eles os textos, não
sustentado por Goodmann (1967) e Smith apenas aprenderam a ler mais facilmente
(1999) de que ler e escrever fazem parte como também se mostraram ótimos
da comunicação humana e que, portanto, escritores ao final do Ensino Fundamental.
precisam se dar a por meio de textos
baseados na realidade, nos quais o leitor Grande parte da aprendizagem humana se
ou escritor faz uso de seus conhecimentos dá por meio da observação do comportamento
do idioma por consistir numa estrutura de outros indivíduos. Percebe-se, então, que
integrada, em que os fatores sintáticos, o exemplo é o meio mais eficaz de influência
semânticos e fonológicos se relacionam a fim comportamental (SILVA, 2004).
de que seja possível conferir sentido ao que
está representado graficamente nos textos Nessa época, também surgiram diversas
escritos. pesquisas, como as de Carreher e Rego
(1981), que analisaram a ligação entre o
A relevância das práticas sociais de leitura desenvolvimento de uma capacidade para
e escrita também contou com o auxílio das pensar acerca dos segmentos sonoros das
pesquisas que, no campo da linguística, palavras e das diferenças individuais no
da sociolinguística e da psicolinguística, aprendizado inicial da leitura e da escrita.

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Porém, segundo Rego (2019), na literatura êxito no aprendizado posterior da leitura e


científica, os vínculos existentes entre essa da escrita (BRADLEY; BRYANT, 1987).
capacidade conhecida como consciência
fonológica e o aprendizado da leitura e da Contudo, de certo modo, os resultados
escrita têm sido foco de muitas polêmicas. De desses estudos foram ignorados pelos
acordo com alguns estudiosos, a capacidade defensores da corrente psicogenética, visto
de examinar fonemas é resultante do contato que, apesar de reconhecerem que as crianças
com a aprendizagem de sistemas alfabéticos criam capacidades metafonológicas, ou seja,
de escrita, visto que sendo o fonema algo adquirem capacidade de pensar a respeito das
abstrato, as escritas alfabéticas somente unidades sonoras das palavras (FERREIRO,
poderiam ser assimiladas mediante o ensino 2004), alegam que grande parte das
claro sobre esses segmentos e sua ligação pesquisas acerca da consciência fonológica e
com as letras do alfabeto. sua ligação com a aquisição da língua escrita,
desconhecem o processo de evolução
Entre aqueles que defendiam essa retratado na psicogênese da língua escrita e
colocação se encontram os pesquisadores que seria por meio da atividade de escrita e
do grupo de Bruxelas, que realizaram da procura por adequar a segmentação oral
comparações entre adultos alfabetizados com a segmentação gráfica que aconteceria
e adultos analfabetos e em estudos de a tomada de consciência dos componentes
treinamento para ensinar crianças de quatro sonoros da palavra e o desenvolvimento da
a cinco anos a dividir fonemas. No entanto, consciência fonológica (REGO, 2019).
os resultados dessas pesquisas não foram
muito concludentes quanto às crianças mais Conforme Rego (2019), apesar de
novas, visto que eram fundamentadas no existirem evidências que comprovam que
argumento de que seria possível ensinar há uma ligação entre o desenvolvimento
sobre fonemas independentemente do nível da consciência fonológica e a psicogênese
de evolução do educando (REGO, 2019). da escrita em crianças que falam o inglês,
o espanhol e, mais recentemente, o
A justificativa do grupo de Bruxelas está português, não se deve desconsiderar os
enfocada no fonema, porém, existem outros resultados de duas pesquisas clássicas de
aspectos da consciência fonológica como intervenção que comprovaram os benefícios
são o caso das segmentações intra-silábicas, de uma estimulação precoce da consciência
que agregam o fonema inicial e a rima e a fonológica no aprendizado da leitura e da
segmentação silábica. A habilidade para escrita.
separar e, sobretudo, para categorizar tais
unidades, notando semelhanças e diferenças Assim sendo, os estudos que surgiram
entre as mesmas, se adquire antes de o aluno a partir da década de 1980 e os conceitos
se tornar alfabetizado e seria antecessora do adotados conduziram à apresentação

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de distintos modelos pedagógicos de equilibrado de palavras com base nessas


alfabetização. Alguns deles enfatizando com práticas seria a principal referência do aluno
muita veemência o processo de letramento: para a descoberta do sistema alfabético, visto
utilização de práticas de leitura e escrita que essa aconteceria por meio dos conflitos
em sala de aula, e outros, que avaliavam a vividos pela criança entre o seu conceito
necessidade de atividades específicas de original de escrita e a escrita convencional dos
alfabetização e que admitiram a relevância nomes. Para os seguidores dessa abordagem,
de respeitar os resultados provenientes não existiria necessidade de estudar
da literatura que examinou o efeito da sistematicamente as correspondências som-
estimulação à consciência fonológica acerca grafia nem de atividades de estimulação à
da aprendizagem da escrita consciência fonológica, visto que essa seria
uma consequência da própria evolução
A abordagem construtivista, influenciada do conceito da criança diante de uma
pelos estudos de Emília Ferreiro e Ana aprendizagem reflexiva da leitura e da escrita.
Teberosky (1986) e os modelos de leitura
sugeridos por Kenneth Goodmann (1967) Essa foi à proposta que se agregou
e Linda Smith (1999), intercedem por uma aos Parâmetros Curriculares Nacionais
alfabetização contextualizada e significativa para o Ensino Fundamental (PCNS) e aos
por meio do deslocamento didático das Referenciais Curriculares para a Educação
práticas sociais da leitura e da escrita para a Infantil (RECNEI).
sala de aula. Considera também a descoberta
do princípio alfabético como um dos efeitos Mais recentemente, Morais e Kolinsky
do contato com a leitura e a escrita, que (2004), juntamente com uma equipe de
precisa acontecer de um modo reflexivo, pesquisadores brasileiros, questionaram a
por meio da apresentação de situações proposta construtivista, afastando do foco
problema, em que os educandos revelem inicial da alfabetização a relevância das práticas
de maneira espontânea as suas hipóteses e sociais de leitura e escrita e estabelecendo
sejam conduzidos a raciocinar a respeito da como meta inicial da alfabetização o domínio
escrita, sendo função do educador intervir do sistema alfabético por meio de uma
de modo a tornar essa reflexão mais eficaz. metodologia orientada para o ensino claro
das relações entre fonemas e grafemas, até
Nessa perspectiva, a alfabetização mesmo de regras ortográficas contextuais.
aconteceria por meio de um profundo Tal proposta se fundamenta em abordagens
mergulho das crianças nas práticas sociais cognitivistas de processamento da informação
de leitura e escrita, rejeitando-se qualquer na leitura de orientação progressiva, nas
tipo de atividade didática que não estivesse quais reconhecer automaticamente as
associada a essas práticas. Segundo Teberosky palavras é o elemento que melhor esclarece a
(1994), a constituição de um vocabulário compreensão na leitura.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Em consequência dessa proposta, houve forma de comunicação, é preciso levar


um retorno evidente ao método fônico em consideração o fato indiscutível que
e a um modelo de alfabetização limitado apenas por meio da descoberta do princípio
ao reconhecimento de palavras, no qual alfabético e das convenções ortográficas
predomina o ensino direto, sem considerar é que se concebe um leitor e escritor
os níveis conceituais da criança, isto é, sua autônomo.
compreensão sobre o sistema alfabético
de escrita. Conforme essa proposta, as Assim sendo, Rego (1986) vem defendendo
diferenças existentes entre língua oral e uma proposta pedagógica que ofereça
língua escrita e a utilização que se faz da apoio ao desenvolvimento integral desses
comunicação escrita são irrelevantes. dois fatores envolvidos na aprendizagem
da leitura e da escrita desde o princípio da
Entretanto, na opinião de Militão (2019), alfabetização, dividindo o tempo pedagógico
é preciso ter cuidado com as controvérsias de modo equilibrado e individualizado
estabelecidas entre alfabetização e entre atividades que incentivem esses
letramento por meio das propostas dois elementos: a língua, por meio de sua
apresentadas anteriormente de forma utilização social, e o sistema de escrita,
resumida. De certo modo, é possível prever por meio de atividades que promovam a
que uma prática pedagógica fundamentada, consciência fonológica e tornem evidente
sobretudo no estudo das correspondências para a criança as relações existentes entre os
fonográficas, não seria suficiente para segmentos sonoros da palavra e sua grafia.
gerar uma alfabetização eficaz, visto que a
leitura e a escrita são instrumentos culturais É necessário considerar que a grande
praticamente inexistentes nas famílias maioria dos educandos brasileiros apenas
de uma grande parte das crianças que ingressa na escola após os 6 anos de idade.
frequentam muitas das instituições escolares Logo, não existe motivo para adiar a formação
do Brasil, em razão do nível de estudo dos de um leitor mais autônomo em virtude de
seus familiares. Assim, as práticas sociais de um longo processo de letramento, quando
leitura e escrita deveriam ser fundamentadas existem evidências de que, atividades que
no aspecto pedagógico, sob o risco de tornar incentivam de modo mais sistemático o
a aprendizagem da leitura e da escrita sem desenvolvimento da consciência fonológica,
sentido para a criança, negando-lhe o influenciam de forma positiva o aprendizado
acesso a formas de comunicação que apenas da leitura e da escrita, sobretudo, quando
constam nos textos escritos. esse estímulo vem vinculado à palavra escrita
por meio de jogos, brincadeiras e atividades
Se por um lado, não é possível ignorar a particularmente voltadas para tal (MILITÃO,
importância das práticas socioculturais da 2019).
leitura e a aquisição da língua escrita como

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Infelizmente, no Brasil, foram poucas as (2004, p. 31) e que parece muito sensata ao
pesquisas que examinaram as consequências afirmar que:
geradas pelas inovações pedagógicas
inseridas no processo de alfabetização a Alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando pela
integração e pela articulação das várias facetas
partir da década de 80. do processo de aprendizagem inicial da língua
escrita é sem dúvida o caminho para superação
Um desses estudos foi o de Nunes (1995), dos problemas que enfrentamos nesta etapa da
escolarização; descaminhos serão tentativas de
que comparou a atuação em leitura e escrita voltar a privilegiar esta ou aquela faceta como
de grupos de educandos de classe média se fez no passado, como se faz na atualidade,
alta alfabetizados por diferentes métodos. sempre resultando no reiterado fracasso da
escola brasileira em permitir às crianças acesso
Denominou de Escola A aquela que enfocava
efetivo ao mundo da escrita.
na aprendizagem das correspondências
fonográficas e de Escola B aquela que
combinava atividades de alfabetização e
letramento, dando prioridade às atividades ESTRATÉGIAS PARA
com leitura e produção de texto. Os resultados ALFABETIZAR CRIANÇAS
revelaram uma superioridade dos educandos
da Escola B para produzir texto e uma maior COM DIFICULDADES DE
relação entre leitura e compreensão de APRENDIZAGEM
texto. Já os educandos da Escola A, apesar
de revelarem um maior conhecimento da Neste momento, serão apresentadas
ortografia ao reconhecerem e escreverem algumas estratégias para aplicar em crianças
palavras, não mostraram melhor desempenho com dificuldades de aprendizagem, que
em compreender e produzir textos. precisam ser incentivadas para que venham
a ter um melhor desempenho na escola e,
Percebeu-se que, nesses estudos, as em consequência, em sua vida.
escolas inovadoras estavam experimentando
uma metodologia de caráter misto, na Nesse sentido, não somente a escola,
qual havia tanto atividades de letramento mas também a família e a sociedade
como de alfabetização, sem se priorizar precisam repensar, já a partir das séries
um ou outro. Assim, pode-se afirmar que iniciais, a possibilidade de transformações
existe alguma evidência dos benefícios tanto no sistema educacional como na vida
que uma metodologia mais abrangente da pessoal a fim de que se ajuste sempre ao
alfabetização tem sobre a qualidade do desenvolvimento dessas crianças, de forma
desempenho inicial dos educandos em leitura que sejam consideradas e respeitadas em
e escrita. São pesquisas dessa espécie, que suas particularidades e ritmo de aprendizado.
poderão fornecer o sustentáculo empírico
necessário à postura defendida por Soares

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Revista Educar FCE - Abril 2019

De acordo com Lombardi (2019, p. privilegiar o interesse e os anseios dos


02), uma das maiores diferenças entre os alunos com dificuldades na aprendizagem.
“estudantes eficientes e os não eficientes é a A mediação deve ser focalizada no processo
sua compreensão e o uso de boas estratégias cognitivo vivenciado pela criança, e não na
de aprendizagem”. Na opinião do autor, transmissão de informações (LOMBARDI,
uma estratégia é desenvolvida conforme 2019).
a "maneira como o aluno aborda a tarefa e
inclui o modo como o educador atua quando Consoante Perrotti (2006), podem
planifica, executa e avalia a realização da beneficiar a criança a compreender a escrita
tarefa e os seus resultados". e a leitura: a criação de textos coletivos, a
reescrita, o reconto, a leitura de poesias,
Para Lombardi, embora existam diferenças contos de fada, músicas ou outros textos
de modelos de estratégias de aprendizagem, significativos; nomeação de figuras; jogos
todas convergem em dois pontos: primeiro, com o alfabeto móvel, caça-palavras,
existe um grande número de crianças, cruzadinhas, adivinhas, entre outras
muitas vezes denominadas como "de risco", atividades de interesse do grupo tendo como
desmotivadas, imaturas, com dificuldades objetivo a percepção da escrita das palavras
de aprendizagem, que são deficientes na no seu todo e nas partes que as compõem,
utilização de estratégias de aprendizagem. isto é, as sílabas.
Esses educandos são encontrados tanto na
educação regular como na educação especial. Segundo Ferreiro (2001), por meio da
O segundo ponto é que tais educandos vivência com diversos tipos de textos
são capazes de aprender estratégias de impressos e com o meio em que vive, a criança
aprendizagem, o que irá auxiliá-los a abordar descobre os distintos valores fonéticos da
as tarefas com mais eficácia, ampliando as língua e acaba por incorporá-los em sua
possibilidades de sucesso. escrita por meio da mediação de um adulto.
Dessa forma, é criado o vínculo entre leitura
Em suas diversas pesquisas sobre e escrita, indicando o final da construção da
estratégias de aprendizagem, o autor base alfabética pela criança com dificuldade
acima não propõe soluções, mas apresenta na aprendizagem.
indicações para os professores que pretendem
melhorar o seu ensino de estratégias, cujo Alfabetizar crianças com dificuldade
enfoque consiste no "Como aprender" e não de aprendizagem requer um conjunto de
em "o que aprender". processos ou técnicas utilizadas para realizar
uma tarefa específica. Os inúmeros modelos
O trabalho em equipe também contribuirá de ensino de estratégias têm como propósito
para a interação e a socialização do saber substituir uma aprendizagem ineficaz e
pelos educandos e as atividades precisam pouco efetiva por estratégias que conduzam

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Revista Educar FCE - Abril 2019

o educando ao sucesso. Na essência de Sempre que aparecer uma oportunidade,


diversos modelos se encontra a utilização os educadores devem seguir e reforçar a
de bons princípios de ensino (LOMBARDI, utilização de estratégias de aprendizagem
2019). e os pais também devem ser encorajados a
fazer o mesmo em casa.
Na opinião de Lombardi (2019),
exigir o envolvimento dos educandos é Incentivar a adaptação e o
provavelmente o elemento mais relevante desenvolvimento do aluno com dificuldade
da orientação de estratégias para alfabetizar de aprendizagem é uma estratégia que pode
crianças com dificuldades de aprendizagem. ser aprendida e generalizada, devendo se
Existem muitos estudos a respeito das tornar numa parte do processo mental do
técnicas de motivação, no entanto, o objetivo educando. As alterações, a fim de adaptar
primordial é o de fazer que tais educandos fatores temporais, conteúdo, ou situações
entendam e acreditem que também são ambientais no processo de alfabetização
capazes de ler e escrever como as demais do aluno com dificuldade de aprendizagem,
crianças. são adequadas. O objetivo final é conseguir
que os educandos compreendam todo o
Conforme Carvalho (2005), é indispensável processo de aquisição de aprendizagem,
que o educador domine a estratégia usada sendo capazes de criar as suas próprias
de modo a aplica-la com confiança, para que estratégias para aprender (DIAS, 2005).
os educandos possam enxergar os passos
dados naturalmente e com conforto. O tempo para a aquisição dos passos numa
Ainda segundo o autor, é fundamental estratégia para alfabetização da criança com
reconhecer e recompensar o esforço do dificuldade de aprendizagem varia de acordo
educando, pois, geralmente, as crianças com a dificuldade da estratégia, bem como
com dificuldade de aprendizagem têm uma da média de aprendizagem do educando
história de insucesso e o educador precisa ser (DIAS, 2005).
sensível a isso e elogiar ou dar um feedback
positivo para suas realizações, mesmo que Lombardi (2019) afirma que os seguintes
sejam modestas. passos deverão ser seguidos no ensino de
estratégias de aprendizagem na alfabetização
As estratégias precisam ser utilizadas de alunos com dificuldades de aprendizagem:
numa grande variedade de situações a
fim de que os educandos não notem a sua 1 - Decidir se a estratégia é necessária:
relevância e não consigam generalizar a sua Existem diversas justificativas para que os
utilização (CARVALHO, 2005). educandos apresentarem dificuldades de
aprendizagem e uma estratégia ineficaz e
não efetiva é um dos motivos. Portanto, o

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Revista Educar FCE - Abril 2019

primeiro passo é averiguar se há realmente 7 - Moldar a estratégia: Os educandos


necessidade de uma estratégia. com dificuldade de aprendizagem devem
ser capazes de adaptar a estratégia de
2 - Expor a estratégia: Para que os alunos alguma forma. Isso significa que a estratégia
com dificuldade de aprendizagem percebem se interiorizou no processo de solução de
sentido para seus esforços. dificuldades do aluno a ponto de ter se
tornado automática.
3 - Evidenciar a estratégia: Este é o
passo mais importante. É preciso que os De acordo com Bernardino (2007)
educandos experimentem o processo que devem ser oferecidas aos educandos com
lhes é concedido, pois, eles precisam saber e dificuldades de aprendizagem atividades
ver como a estratégia funciona. que:
• Permitam o desenvolvimento
4 - Executar a estratégia: Os educandos biopsicossocial da criança por meio de jogos
precisam praticar a estratégia até que e brincadeiras;
consigam utilizá-la de modo automático. A • Desenvolvam, por meio do lúdico,
aprendizagem deve iniciar num nível fácil, e, conceitos de semelhanças e diferenças;
gradativamente, a partir do momento em que • Valorizem todas as atividades
vão se sentindo confortáveis com a tarefa, a desenvolvidas pelo educando colaborando
aprendizagem deverá elevar a dificuldade. para que seja reparada a ideia de insucesso e
elevando sua autoestima;
5 - Empregar a estratégia: Nesta fase, os • Incluam exercícios de psicomotricidade
educandos devem estar prontos para aplicar a fim de que sejam supridos os requisitos
a estratégia à tarefa ou situação na qual essenciais para o processo de ensino-
estejam sentindo dificuldades. Eles próprios aprendizagem;
deverão buscar as pistas necessárias, sem • Contribuem com o educador, propondo
dependerem do educador, que deverá estratégias para superar as dificuldades
acompanhar e averiguar o uso correto da apresentadas.
estratégia.
Assim sendo, na visão dos autores acima, é
6 - Tornar geral a estratégia: Para que o por intermédio de trabalhos com atividades
esforço empenhado e o tempo gasto com a diferenciadas como jogos, brincadeiras
estratégia sejam válidos, será necessário que e atividades psicomotoras, que serão
os educandos sejam capazes de generalizar desenvolvidas no educando as habilidades
suas conquistas a uma grande variedade de básicas para a alfabetização.
situações.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Existem diversas estratégias que podem ser utilizadas para lidar com todos os aspectos
da vida e no processo de alfabetização dos alunos com dificuldade de aprendizagem não
é diferente. Muitas vezes, determinam o sucesso ou insucesso da aprendizagem dessas
crianças. Infelizmente, muitos alunos com dificuldades de aprendizagem têm dificuldade em
adquirir e utilizar essas estratégias.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na sociedade contemporânea, a escrita está presente em
praticamente todos os lugares: nas paredes, nas camisetas,
nos computadores, nos rótulos e embalagens dos produtos,
nas placas de sinalização de trânsito e, para ser cidadão que
exerce seus direitos, é necessário estar capacitado para fazer
uma leitura crítica das mensagens escritas. Daí a importância
da alfabetização e da formação docente, que precisa buscar
metodologias adequadas que promovam melhores condições
de aprendizagem.

Há um número significativo de educandos que apresentam


baixo rendimento escolar. Esses alunos precisam de PATRÍCIA MOREIRA
intervenção individualizada, pois, muitas vezes, apresentam SARAIVA
baixa autoestima, indisciplina, falta de interesse, problemas
Graduada em Pedagogia pela
familiares, entre outros, sendo necessário lhes oportunizar Unicsul (2011); Professora de
recursos para superarem tais dificuldades. Educação Infantil e Fundamental
na Rede Municipal de São Paulo
A criança com dificuldades de aprendizagem somente
adquire o conhecimento se for capaz de atuar sobre ele, uma
vez que, aprender é descobrir, inventar, modificar. Assim,
é papel do educador promover a socialização, integração
e melhora da autoestima de seu educando e é função da
escola fornecer meios para que ele possa se identificar como
integrante de um grupo.

Da mesma forma, é necessário que os educadores compreendam as relações que os


educandos estabelecem no meio físico e cultural, além de reconhecerem e entenderem a
diversidade existente numa sala de aula.

O fator família é de suma importância para o bom rendimento escolar, podendo atuar
como principal motivador para o sucesso escolar. Do contrário, a má influência familiar pode
ser a grande causadora das reprovações, desinteresse e das dificuldades na aprendizagem.

No entanto, acreditar que a dificuldade de aprendizagem é responsabilidade exclusiva


do educando, ou da família, ou apenas da escola é, no mínimo, uma atitude ingênua diante
da complexidade do aprender. Buscar e encontrar alguém que assuma a culpa do fracasso

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Revista Educar FCE - Abril 2019

escolar dá a sensação de que está tudo resolvido. A atitude do não aprender traz em si o
subtexto da denúncia de que algo deverá ser feito. E esse feito não poderá jamais ser a duas
mãos.

É válido lembrar que equipes multidisciplinares constituídas por educadores, pedagogos,


psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos, médicos e demais profissionais envolvidos, cada
vez mais, encontram-se disponíveis para auxiliar nos casos de problemas de aprendizagem,
contribuindo para que as crianças com dificuldade de aprendizagem possam desfrutar sua
cidadania de forma plena.

Nesse sentido, a Psicopedagogia pode colaborar de forma considerável com todos os


componentes envolvidos no processo de aprendizagem, visto que desempenha seu trabalho
de forma multidisciplinar, numa visão sistêmica.

Por isso, a proposta exposta neste trabalho reforça o pensamento de que é preciso
exercer uma prática docente em parceria, em equipe, em que todos deverão voltar seu
“olhar” e sua “escuta” para o sujeito da aprendizagem. Não adianta refletir sobre o trabalho
docente e buscar de modo contínuo agregar valores à formação, ressignificar os conteúdos e
adotar novas posturas avaliativas, se não conhecer o ser que está sendo educado e a grande
responsabilidade que é a de participar da sua formação.

Ao realizar a prática docente elaborando vínculos afetivos com esse ser que aprende,
mesmo que ele não deseje aprender naquele momento, por algum motivo, certamente se
estará fazendo a parte que lhe cabe: prepará-lo para operar de forma autônoma seu futuro
utilizando sua mente para pensar em alternativas viáveis para os problemas da sua sociedade,
seu coração para sentir as exigências e apelos sociais e suas mãos para agir em prol do bem
comum.

Conviver com uma diversidade de educandos e suas dificuldades referentes à aprendizagem


leva os educadores a serem eternos aprendizes à procura de soluções e alternativas que
favoreçam a aprendizagem dos alunos em favor de uma educação de qualidade, auxiliando-
os em suas atividades, sendo o mediador hoje no que ele ainda não sabe fazer sozinho, mas
que num futuro próximo será capaz.

1253
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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1255
Revista Educar FCE - Abril 2019

A EDUCAÇÃO INFANTIL,
OS JOGOS E AS BRINCADEIRAS
RESUMO: O presente artigo analisa a aprendizagem na educação infantil estimulada por
meio de ações lúdicas, como os jogos e as brincadeiras, contribuindo para a formação de seres
críticos e ativos sobre a realidade do seu cotidiano e despertando uma maior consciência de
si mesmo. A psicologia provou que a participação dos jogos e das brincadeiras, no dia-a-dia da
criança, traz bons resultados na formação do “eu”, ou seja, brincando a criança além de estar
desenvolvendo diferentes aspectos como: o afetivo, o social, o físico e o cognitivo, estarão
ao mesmo tempo aprendendo a compreender o mundo que o cerca. Sabemos que o brincar
faz parte do cotidiano da educação infantil e das séries iniciais, mas não damos a devida
importância aos mesmos. Sem brincar a criança acabará perdendo etapas importantes para
o seu desenvolvimento, podendo consequentemente desenvolver estresse, agressividade e
lentidão mental.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Jogos; Brincadeiras

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO O lúdico é um assunto que tem


conquistado espaço no panorama nacional,
O ato de brincar é inerente ao homem. A pois por meio dos jogos e das brincadeiras
criança tem seu próprio corpo como objeto permite-se um trabalho pedagógico que
referencial para as atividades lúdicas e os possibilita a produção do conhecimento,
corpos do pai e da mãe não ficam fora dessa da aprendizagem e do desenvolvimento,
ação. sobretudo na educação infantil e nas séries
iniciais.
O homem é um ser que produz cultura e cria
história, passando aos seus descendentes, Quando brinca ou joga a criança representa
restringindo a sua ação no mundo, pois o seu interno, para o externo.
sua capacidade de inventar, de imaginar o
leva a estar sempre superando seus limites, Ao se trabalhar com os jogos e
buscando novos desafios e obstáculos. brincadeiras pode-se proporcionar a criança
uma aprendizagem prazerosa e significativa,
No âmbito educacional, os jogos e pois as atividades lúdicas são indispensáveis
as brincadeiras começam a ter sentido, para o desenvolvimento físico, emocional e
ganhando mais espaços. intelectual sadio das crianças.

No contexto escolar a ação lúdica propõe Os jogos e as brincadeiras começaram


manifestações que criame recriamapossibilidade a ter sentido há pouco tempo, ganhando
de imaginação e transformação da prática vivida mais espaços, devido à razão de serem
da criança, na qual o professor pode contribuir muito importantes no processo ensino
para o desenvolvimento da criança. Para isso é aprendizagem, fundamentais na educação
preciso manter a relação coerente entre prática infantil e nas séries iniciais.
e teoria traçando objetivos.
Por meio dos jogos e das brincadeiras
O brincar e o jogar são considerados a criança inventa novas manifestações
ações que induzem ao prazer, exercendo adequando-se a sua realidade, sendo capaz
poderes criativos, por meio de simbologias de entrar num estado de sonhos e fantasias,
originais inspiradas no universo de quem encontrando espaço para representar o
brinca, desenvolvendo na criança uma mundo de sua forma, descobrindo ao mesmo
aprendizagem significativa. tempo soluções para os obstáculos surgidos
no seu faz de conta e que servirá para sua
Quando os adultos insistem em afirmar vivência ao longo do seu desenvolvimento.
que brincar não é um ato sério, estão
enganados. Brincadeira é tão séria que não
deve ser interrompida brutamente.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

UM BREVE HISTÓRICO DOS modo que a definição deixou de ser o simples


JOGOS E DAS BRINCADEIRAS sinônimo de jogo, ultrapassando o universo
do brincar espontâneo, possuindo também
Historicamente, os jogos e as brincadeiras interferências nos âmbitos pedagógico e
foram alvos de diversas pesquisas, e sua social, além da brincadeira como um ato de
valorização deu-se a partir de teorias simples prazer.
propostas por filósofos e pedagogos com
estudos feitos no campo da educação ao O lúdico esteve presente em diversos
longo de vários anos. períodos históricos, desde a Grécia clássica,
Roma antiga, passando pela Idade Média
O uso de jogos e das brincadeiras está e pelo Renascimento, possuindo em cada
presente na vida humana desde os seus período características e interpretações
primórdios. Na Grécia antiga, assim como distintas sobre sua função.
na idade média já havia a utilização de
jogos. Durante esse período o lúdico era No início do séc. XIX com o fim da
visto apenas como sinônimo de jogo e de revolução francesa e o surgimento de novos
divertimento, possuindo um caráter não olhares pedagógicos, as escolas começam a
sério. trabalhar em seu dia a dia alguns princípios
práticos de Froebel (1820) e Pestalozzi
Posteriormente o lúdico foi trazido como (1822).
um forte instrumento da educação. Frobel
(1820), em sua proposta para a educação Entretanto, é Froebel (1820) quem inicia
infantil, realizou estudos nos quais foram os estudos para a evolução da criança por
atribuídas grande relevância aos jogos e as meio do lúdico. É com ele que o jogo passa a
brincadeiras. Estudiosos como Vygotsky e fazer parte da educação infantil, partindo do
Piaget fizeram análises de todo o processo pressuposto de que a criança ao manipular
do desenvolvimento infantil, mostrando materiais como bolas, cubos, brincando de
a importância da presença do jogo na vida montar e desmontar aprenderia as noções
humana demonstrando que eles favorecem matemáticas como forma, tamanho e encaixe.
não apenas a aprendizagem, mas também Sua proposta curricular para a educação
o desenvolvimento e a interação social do infantil apresentava grande relevância para
indivíduo. os jogos e brincadeiras.

Diversas linhas de estudo, em psicologia De acordo com Kishimoto (2001, p.14):


com Piaget e Vygotsky, em filosofia com
Froebel e Dewey, trouxeram essa vertente do Froebel concebeu o brincar como atividade livre
e espontânea da criança, e ao mesmo tempo
brincar como algo inerente à natureza humana referendou a necessidade de supervisão do
que também colabora para o aprendizado, de professor para os jogos dirigidos apontando
questões sempre no contexto atual.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Os jogos e as brincadeiras são ações que igual para todas as idades, não havia uma
estão intimamente ligadas à aprendizagem, ideia de estágios da vida.
não fazendo referência apenas a educação
dita formal, que trata de conteúdos, mas A infância tomou seu lugar na história
também a social, já que nela a criança acaba alcançado pelo avanço dos conhecimentos,
por reproduzir situações já vivenciadas. na valorização de seus direitos na vida
familiar e social e nas instituições de modo
Existe uma forte ligação entre a reflexão geral.
a respeito da criança e o surgimento da
educação infantil. Devido à concepção da O sentimento de infância nasce no
ideia de que a criança nem sempre foi aceita, é Brasil no século XIX, com a necessidade
possível afirmar que tal fato mostra-se como da instrução e da ampliação das escolas
um ponto de vista recente, se observados os para atender o avanço social da época. No
dados históricos. início, o atendimento à infância foi marcado
pelo assistencialismo e amparo às crianças
Na Idade Média as idades da vida humana necessitadas, com o objetivo de diminuir a
começaram a ter importância. Durante esta mortalidade infantil.
época, existiam seis etapas de vida. As três
primeiras, que correspondem à primeira idade A partir da década de 1970, criou-se um
(do nascimento aos sete anos), à segunda modelo voltado para a educação da camada
idade (dos sete anos ate os quatorze anos), menos favorecida, na qual a educação infantil
e a terceira idade (entre quatorze até vinte e passou a fazer parte da educação básica
um anos), eram etapas não valorizadas pela nacional, sendo motivo de preocupação dos
sociedade, uma vez que somente a partir da órgãos que legislam sobre educação, que,
quarta (dos vinte e um anos até os quarenta por sua vez, determinaram ser dever do
e cinco anos), os indivíduos começavam a Estado disponibilizar a educação ao infante,
ser reconhecidos socialmente. Ainda existia e a garantia de atendimento em creches e
a quinta idade (a senectude, considerando a pré-escolas para crianças de zero a seis anos,
pessoa que não era velha, mas que já tinha sendo este o grande marco na historia da
passado da juventude), e a sexta idade (a educação brasileira.
velhice, a partir dos sessenta anos até o fim
da vida). Tais etapas alimentavam, desde O conceito de infância, a partir do século
aquela época, a ideia de uma vida dividida em XIX, gerou um novo tipo de pensamento,
fases (ARIÉS, 1978). Na sociedade medieval a partir da observação dos movimentos de
antes da escolarização das crianças e os dependência das crianças muito pequenas.
adultos compartilhavam os mesmos lugares
e situações, fossem eles domésticos, de Apenas com a institucionalização da
trabalho ou de festa. A vida era relativamente escola é que o conceito de infância começa

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Revista Educar FCE - Abril 2019

lentamente a ser alterado. Na sociedade A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS


contemporânea, as gerações vivem E DAS BRINCADEIRAS NO
segmentadas em espaços exclusivos, as
quais facilmente constatam-se a separação DESENVOLVIMENTO
das faixas de idade. Crianças, adolescentes, DA CRIANÇA
adultos jovens e adultos velhos ocupam
áreas reservadas, como creches, escolas, Quando brinca a criança tem consciência
oficinas, escritórios, asilos, locais de lazer, de que entra em um mundo imaginário, cuja
entre outros. característica fundamental é sua relação com
a realidade.
O direito social das crianças à educação se
tornou assegurado a partir da Constituição De acordo com Leontiev (1991):
Federal da República Federativa do Brasil em
1988, que foi reescrito e editado pela Emenda A criança quer, ela mesma, guiar o carro; ela
quer remar o barco sozinha, mas não pode agir
Constitucional em 2006, reconhecendo a assim, e não pode principalmente porque ainda
educação infantil como dever do Estado, não dominou e não pode dominar as operações
sendo reafirmado por meio do Estatuto exigidas pelas condições objetivas reais da ação
dada (LEONTIEV, 1991, p. 121).
da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº.
8.069, de 13 de julho de 1990, e da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional Por meio da brincadeira, a criança projeta-
(LDB), Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de se nas atividades dos adultos procurando
1996. ser coerente com os papéis assumidos,
possibilitando o desenvolvimento de
Na medida em que recebem estímulos processos psíquicos por parte da criança
externos do mundo, a criança pode modifica- e servindo como um instrumento para
los e produzir novos significados aos objetos conhecer o mundo físico e seus fenômenos.
e ao mundo que a cerca.
Segundo Vygotsky (1989, p. 87), a
Portanto percebe-se a importância do “brincadeira no desenvolvimento infantil
brincar no desenvolvimento da criança de é um importante suporte para a mente,
zero a seis anos de idade, uma vez que, além contribuindo com as diferentes formas de
do surgimento da identidade, autoestima, pensar e realizar suas ações simbolicamente”.
autoconceito e das aprendizagens relativas Assim a criança se diverte, raciocina e
as interações com o meio, visto que neste aprende de maneira simples e descontraída
período se dá um maior desenvolvimento sem perceber cobrança da sua aprendizagem.
cognitivo da criança, resultando em um
maior crescimento e desenvolvimento do Para Piaget (1987, p. 6), “brincando a
cérebro humano. criança é capaz de assimilar o mundo exterior

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Revista Educar FCE - Abril 2019

às suas próprias necessidades, mesmo sem se Segundo o Referencial Curricular Nacional


adaptar às realidades que estão a sua volta”. para a Educação Infantil (Brasil, 1998, p.
27) “os jogos e as brincadeiras propiciam a
Os jogos e as brincadeiras não devem ser ampliação dos conhecimentos infantis por
simplesmente formas de passatempos, mas meio da atividade lúdica”.
sim, formas de contribuição na formação e
no desenvolvimento psicossocial da criança, O lúdico ajuda a criança a expandir seu
ajudando-a adquirir comportamentos que imaginário e desenvolver diversas formas de
lhe servirão de base para o desenvolvimento aprendizagem. Utilizar jogos e brincadeiras
das suas atividades na vida adulta. no cotidiano escolar não é somente uma
forma de diversão e, sim, um método de
Por meio dos jogos e das brincadeiras, ao aprendizagem e desenvolvimento.
assumir suas funções, a criança desenvolve
aspectos emocionais e intelectuais, agindo Atualmente as instituições de ensino vem
de modos diferentes de sua idade e de seu lutando para vencer todos os novos desafios
comportamento habitual. que surgem a cada geração, respeitando as
diversidades, de acordo com a sociedade e a
Quanto maiores forem as condições de cultura de cada povo.
uma criança de fantasiar e imaginar maior
será a possibilidade de ser um adulto mais De acordo com Gadotti (1992)
ágil, inteligente, criativo, com iniciativa e
incentivo para viver e trabalhar, pois terá A escola não deve apenas transmitir
conhecimentos, mas também se preocupar com
seu desenvolvimento integral, por meio das a formação global dos alunos, numa visão em
múltiplas e variadas situações vivenciadas. que o conhecer e o intervir no real se encontrem.
Mas, para isso, é preciso saber trabalhar com
as diferenças: é preciso reconhecê-las, não
Segundo Garcia (1997): camufla-las, aceitando que, para conhecer a mim
mesmo, preciso conhecer o outro. (GADOTTI,
O processo de aprender/conhecer/crescer é 1992, p. 82)
uma busca constante do novo que estimula
a curiosidade e expande a criatividade.
Uma relação pedagógica que permite as Por muito tempo, a escola foi vista pelos
manifestações das singularidades individuais, alunos como algo obrigatório, sem sentido
nas relações intersubjetivas, compreendendo e
valorizando a expressão apaixonada da criança e entediante, e quando os educadores
por descobrir e conhecer o mundo em que vive. ofereciam brinquedos e jogos eram
(GARCIA, 1997, p. 99) criticados pelos pais e mesmo por colegas de
profissão de estarem perdendo tempo. Após
Aeducação infantil e as séries iniciais são as fases a revelação de que os jogos e as brincadeiras
das brincadeiras, por meio delas, a criança satisfaz podem possuir intencionalidades educativas,
seus interesses e necessidades particulares. descobriu-se um processo que tornou

1261
Revista Educar FCE - Abril 2019

a aprendizagem atrativa e divertida para a criança, estimulando no processo ensino


aprendizagem.

Os jogos e as brincadeiras estão presentes em todas as dimensões do ser humano e, de


modo especial na vida das crianças. A criança aprende a brincar e a jogar brincando e brinca
e joga aprendendo.

Para estudiosos da Educação Infantil e de Séries Iniciais que estudam o comportamento do


brincar das crianças, o brinquedo é influenciado pela idade, sexo, presença de companheiros,
surpresa, portanto, cabe ao professor valorizar o brinquedo para encorajá-los nos educandos,
sem achar que está perdendo tempo.

As habilidades sociais reforçadas pelo brinquedo são muitas: cooperação, comunicação


eficiente, competição honesta e redução da agressividade. As crianças progridem com os
brinquedos.

Por meio dos jogos e das brincadeiras as crianças desenvolvem aspectos físicos e
emocionais, como expressão corporal, gestos, regras e posturas, estabelecendo uma relação
entre o corpo, a mente e o seu ambiente.
Segundo Luckesi (2002):

No estado lúdico, o ser humano está inteiro, ou seja, está vivenciando uma experiência que integra sentimento,
pensamento e ação, de forma plena. A vivência se dá nos níveis corporal, emocional, mental e social, de
forma integral e integrada. Esta experiência é própria de cada indivíduo, se processa interiormente e de forma
peculiar em cada história pessoal. Portanto, só o indivíduo pode expressar se está em estado lúdico. Uma
determinada brincadeira pode ser lúdica para uma pessoa e não ser para outra (p. 25).

Portanto o lúdico não advém apenas do mundo exterior a cada um de nós, mas, também,
do nosso mundo interior, que se relaciona com o exterior.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A visão dos jogos e das brincadeiras como estratégias
capazes de contribuir no processo de ensino aprendizagem
da educação infantil e das séries iniciais, tem sido muito
discutida e trazida aos poucos para os ambientes escolares.

Mesmo com todos os estudos que tratam da eficácia do


uso de jogos e das brincadeiras no cotidiano escolar, ainda
existe resistência por parte de alguns educadores.

Para que a inserção dos jogos e das brincadeiras no


cotidiano escolar seja uma ação de sucesso, é preciso que
os professores tenham seus objetivos de trabalho bem PATRICIA RODRIGUES
definidos, conheçam o nível de aprendizagem de sua turma DA SILVA
e o estágio de desenvolvimento em que os seus alunos se
Graduação em Pedagogia pela
encontram, principalmente na educação infantil e nas séries Faculdade Centro Universitário
iniciais. Assunção em 2001. Especialista
em Educação Especial: Área
de Deficiência Auditiva pela
Por meio da contextualização entre o conteúdo que se Faculdade Universidade Nove
pretende trabalhar e atividades envolvendo os jogos e as de Julho em 2008. Professor
brincadeiras, é possível acreditar no trabalho em educação de Educação Infantil – na EMEI
Armando de Arruda Pereira.
sem haver a dissociação entre o brincar e o aprender.

Por meio da educação podemos propiciar situações de


cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma
integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento significativo das capacidades
infantis de relação interpessoal, ampliando seus conhecimentos durante o processo ensino
aprendizagem.

Os jogos e as brincadeiras contribuem e influenciam na formação da criança, possibilitando


um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integrando-se ao mais alto espírito
democrático enquanto investe em uma produção significativa do conhecimento.

Conclui-se que pensar em educação é pensar no ser humano, em sua totalidade, em seu
corpo, em seu meio ambiente, nas suas preferências, nos seus gostos, nos seus prazeres,
enfim, em suas relações vivenciadas.

1263
Revista Educar FCE - Abril 2019

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1265
Revista Educar FCE - Abril 2019

A INCLUSÃO NO CONTEXTO DAS


POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo abordar os fundamentos da inclusão, conhecendo
as políticas publicas as ações pedagógicas e a formação dos professores no atendimento
as pessoas com necessidades especiais. O assunto merece um entendimento profundo da
questão de justiça, para fazer valer o direto a educação para todos não se limitando a cumprir
somente as pessoas ditas normais. Este trabalho vem demonstrar a organização pedagógica
escolar e, por seus parâmetros, o aluno diferente, desestabiliza o pensamento moderno da
escola, na sua ânsia pelo lógico, pela negação das condições que produzem as diferenças,
que são as matrizes da nossa identidade. Com a dissociação entre o pensar e o fazer e
tendo que improvisar muitas vezes pela falta de material no local de trabalho, evidencia-
se uma desarticulação entre planejamento e a prática pedagógica cotidiana, assim com o
que a escola tradicional determina como necessário para aprendizagem e a realidade vivida
pelos alunos com necessidades educacionais especiais. Assim este trabalho vem responder
as respostas as indagações em relação a educação inclusiva.

Palavras-Chave: Direitos; Educação; Exclusão; Inclusão; Sociedade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO e artigos que contribuem para a exploração


do assunto em questão da inclusão escolar,
Nos debates atuais sobre inclusão, o ensino que esta articulada a movimentos sociais
escolar brasileiro tem diante de si o desafio amplos, que exigem maior igualdade e
de encontrar soluções que respondam a mecanismos mais equitativos no acesso a
questão do acesso e da permanência dos bens e serviço.
alunos nas suas instituições educacionais.

Algumas escolas públicas e particulares já VISÃO HISTÓRICA DA


adotaram ações nesse sentido, ao proporem EDUCAÇÃO ESPECIAL
mudanças na sua organização pedagógica, de
modo a reconhecer e valorizar as diferenças Na antiguidade a vida de um homem tinha
sem discriminar os alunos nem segregá-los. valor em virtude de suas características
pessoais ou em função da utilidade pratica
Apesar das resistências, cresce a adesão de que este representava para a realização de
redes de ensino, de escolas e de professores, seus desejos e dos desejos da nobreza e o
de pais e de instituições dedicados a inclusão atendimento de suas necessidades.
de pessoas com deficiência, o que denota
o efeito dessas novas experiências e, ao Assim, a pessoa “diferente”, com limitações
mesmo tempo, motiva questionamentos. funcionais e necessidades diferenciadas
como, por exemplo, cegos, surdos,
Portanto, os objetivos deste trabalho deficientes mentais etc., era praticamente
são de conhecer e refletir a respeito dos exterminada por meio do abandono, o que
fundamentos da educação inclusiva de não representava, nessa época, um problema
pessoas com necessidades educacionais de natureza ética ou moral.
especiais, bem como apreciar a legislação
vigente em nosso país, analisando o contexto Havia nesse período dois grupos sociais:
em um ponto de vista critico e construtivo. Nobreza: senhores que detinham o poder
social, político e econômico. Opulacho:
O tema aqui apresentado justifica- considerados subumanos, dependentes dos
se, na conscientização da importância da nobres tanto na parte econômica quanto na
educação inclusiva em nosso dia -a – dia, propriedade.
em fundamentar, observar e comparar a
forma com que as pessoas com necessidades Segundo KANNER (1964, p.23),
especiais eram tratadas, até os dias atuais.
[.”.]”.a única ocupação para os retardados mentais
encontrado na literatura antiga é a de bobo ou
O presente trabalho procura elencar de palhaço, para a diversão dos senhores e de
informações baseadas em obras, documentos seus hóspedes.”

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Neste contexto, surgem os bobos da pessoas de estabelecimentos como


corte em desenhos animados, e eles sempre instituição de convento e asilos.
são caracterizados como personagens
desajeitados e com aparência diferente. Criou-se, então, a concepção de
integração, que se referia à necessidade
No período da Idade Média, com a vinda de modificar a pessoa com necessidades
do cristianismo e o fortalecimento da igreja educacionais especiais, de maneira que ela
católica, surgiu no cenário político o clero pudesse vir a se a semelhar, mais possível,
(conjunto de padres e bispos da igreja aos demais cidadãos, para então poder ser
católica), cujos membros foram assumindo inserida ao convívio em sociedade.
cada vez mais poder social, político e
econômico. O cristianismo trouxe grande Logo, as entidades educacionais
ganho para as pessoas doentes, defeituosas responsáveis por cuidar das pessoas com
e/ou mentalmente afetadas, em funções necessidades educacionais especiais
das ideias cristãs, não podiam mais ser fortaleceram-se por meio das escolares
exterminadas, já que também eram criaturas especiais, das entidades assistências e dos
de Deus. centros de reabilitação.

Apesar disso, elas continuavam sendo Porém, essas ideias começaram a sofrer
ignoradas à própria sorte e algumas chegavam criticas, pois se criou uma expectativa muito
a ser fonte de diversão, como bobos da corte, grande de que a pessoa com necessidades
como material de exposição etc. educacional especial se assemelhasse ao não
deficiente, como se fosse possível ao homem
Nessa época, a educação era ministrada “ser igual” a outro e como se o “diferente”
de duas formas e possuía objetivos distintos: fosse razão para que o ser humano tivesse
Natureza religiosa e militar. menor valia como ser humano.

O cristianismo firmou-se como uma Deste modo, negavam as diferenças


religião de origem divina. Seu fundador era o e desviavam as discussões do que era
próprio filho de Deus, enviado como salvador realmente importante, ou seja, quais atitudes
e construtor da história junto com o homem. e posturas a sociedade, de modo geral,
Essa religião espalhou-se rapidamente pela deveria ter para auxiliar no desenvolvimento
região do mediterrâneo, chegou ao interior das pessoas com necessidades educacionais
do império romano e difundiu-se, também, especiais, dando a elas a oportunidade de
pela Grécia e Ásia. conviver em sociedade.

No século XX, iniciou-se no mundo Surgiu, então, uma discussão a respeito


ocidental o movimento da retirada dessas desse tema. Optou-se por considerar que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

as pessoas com necessidades educacionais Entretanto, esse paradigma permaneceu


especiais necessitam de serviços de avaliação único por mais de 500 anos, sendo, ainda
e de capacitação oferecidos no contexto de hoje, encontrado em diferentes países,
suas comunidades, mas também que estas inclusive no nosso.
não são as únicas providências necessárias,
caso a sociedade deseje manter, com essa Caracterizou-se, desde o início, pela
parcela de constituintes, uma relação de retirada das pessoas com deficiência de suas
respeite, de honestidade e justiça. comunidades de origem e pela manutenção
delas em instituições residenciais segregadas
No século XX, especialmente a partir ou escolas especiais, frequentemente
da década de 20, iniciou-se a expansão situadas em localidades distantes de suas
das instituições de educação especial, famílias.
caracterizada especialmente pela
proliferação de entidades de natureza Somente no século XX, por volta de 1960,
privada, e de personalidade assistencial. é que o Paradigma da Institucionalização
começou a ser criticamente examinado.
No que se refere à rede pública de ensino,
esta atendeu, inicialmente, somente as pessoas Assim, muitos foram os autores
com deficiência mental, tendo se sistematizado que publicaram estudos enfocando a
e organizado para tal, com a criação de normas institucionalização. A maioria dos artigos
e a centralização do atendimento. apresenta uma dura crítica a esse paradigma e
sistema, baseando-se em dados que revelam
As instituições e seus paradigmas são um sua inadequação e ineficiência para realizar
ponto a parte. Entendendo-se por paradigma aquilo a que seu discurso se propõe a fazer:
o conjunto de ideias, valores e ações que favorecer a preparação, ou a recuperação
contextualizam as relações sociais, observa- das pessoas com necessidades educacionais
se que o primeiro paradigma formal a especiais para a vida em sociedade.
caracterizar a relação da sociedade com a
parcela da população constituí- da pelas O questionamento e a pressão contrária
pessoas com deficiência foi o denominado à Institucionalização, que se vinham
Paradigma da Institucionalização. acumulando desde fins da década de 50,
provinham de diferentes direções, motivados
Conventos e asilos, seguidos pelos pelos mais diversos interesses.
hospitais psiquiátricos, constituíram-se em
locais de confinamento, em vez de locais para Primeiramente, tinha-se o interesse do
tratamento das pessoas com deficiência. Na sistema, ao qual custava cada vez mais
realidade, tais instituições eram, e muitas manter a população institucionalizada, na
vezes ainda o são, pouco mais do que prisões. improdutividade e na condição crônica de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

segregação; assim, tornava-se interessante o reorganizar para oferecer às pessoas com


discurso da autonomia e da produtividade, necessidades educacionais especiais, os
para a administração pública dos países serviços e os recursos de que necessitassem
que se adiantavam no estudo do sistema de para viabilizar as modificações que as
atenção ao deficiente. tornassem os mais normais “possíveis”.

Dois novos conceitos passaram a A esse modelo de atenção à pessoa


circular no debate social: normalização e com deficiência se chamou Paradigma de
de institucionalização. Considerando que o Serviços. Este se caracterizou pela oferta
paradigma tradicional de institucionalização de serviços, geralmente organizada em três
tinha demonstrado seu fracasso na busca etapas: a primeira, de avaliação, em que
de restauração de funcionamento normal uma equipe de profissionais identificaria
do indivíduo no contexto das relações tudo o que, em sua opinião, necessitaria ser
interpessoais, na sua integração na sociedade modificado no sujeito e em sua vida, de forma
e na sua produtividade no trabalho e no a torná-lo o mais normal possível; a segunda,
estudo, iniciou-se, no mundo ocidental, de intervenção, na qual a equipe passaria a
o movimento pela de institucionalização, oferecer (o que ocorreu com diferentes níveis
baseado na ideologia da normalização, que de compromisso e qualidade, em diferentes
defendia a necessidade de introduzir a pessoa locais e entidades), à pessoa com deficiência,
com necessidades educacionais especiais na atendimento formal e sistematizado,
sociedade, procurando ajudá-la a adquirir as norteado pelos resultados obtidos na fase
condições e os padrões da vida cotidiana, no anterior; a terceira, de encaminhamento
nível mais próximo possível do normal. (ou reencaminhamento) da pessoa com
deficiência para a vida na comunidade.
Ao se afastar do Paradigma da
Institucionalização e adotar as ideias de Em consequência de tal debate, a ideia
Normalização, criou-se o conceito de da normalização começou a perder força.
integração, que se referia à necessidade Ampliou-se a discussão sobre o fato de a pessoa
de modificar a pessoa com necessidades com necessidades educacionais especiais ser
educacionais especiais, de forma que esta um cidadão como qualquer outro, detentor
pudesse vir a se assemelhar, o mais possível, dos mesmos direitos de determinação e
aos demais cidadãos, para então poder ser de uso das oportunidades disponíveis na
inserida, integrada, ao convívio em sociedade. sociedade, independentemente do tipo de
Assim, integrar significava localizar no sujeito deficiência e do grau de comprometimento
o alvo da mudança, embora para tanto se que apresentem.
tomasse como necessário a efetivação
de mudanças na comunidade. Entendia-
se, então, que a comunidade tinha que se

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO ESPECIAL Em 1905, as escolas públicas do Rio de


NO BRASIL Janeiro começaram a atender alunos com
deficiência mental. Em 1911, foi criada, no
Por volta de 1700 e 1800, os deficientes Serviço de Higiene e Saúde Pública do Estado
eram considerados um peso e eram de São Paulo, a inspeção médico-escolar, que
confinados em casa ou deixados à própria viria trabalhar conjuntamente com o Serviço
sorte. de Educação na defesa de Saúde Pública.

SILVA (1987, p. 43), também no Brasil a A partir da década de 50 aumentou o


pessoa deficiente foi considerada por vários número de entidades assistenciais privadas
séculos dentro da categoria mais ampla dos e o número de pessoas atendidas na rede
miseráveis, talvez o mais pobre dos pobres. pública.

Os mais afortunados que haviam nascido No Brasil, a partir da década de 60, surgiram
em ‘berço de ouro’ ou pelo menos remediado, centros de reabilitação para todos os tipos
certamente passaram o resto de seus dias de deficiência. Para regulamentar essas
atrás dos portões e das cercas vivas de suas ações, tornou-se necessário uma legislação
mansões, ou então, escondidos, voluntária especifica às pessoas com necessidades
ou involuntariamente, nas casas de campo educacionais especiais.
ou nas fazendas de suas famílias.
Em 1971, o Ministério da Educação e
Essas pessoas deficientes menos pobres Cultura propôs a criação de um grupo tarefa
acabaram não significando nada na vida para tratar da educação especial, e por meio
social ou política no Brasil, permanecendo da lei nº. 5. 692-71 foi introduzida a visão do
com um ‘peso’ para suas respectivas famílias tecnicismo para o atendimento da deficiência
” no contexto escolar.
O primeiro internato criado no Brasil foi o
Imperial Instituto dos Meninos Cegos, atual Na década de 90, o Brasil adotou a
Instituto Benjamin Constant, criado no Rio proposta de Educação para Todos na
de Janeiro pelo imperador D. Pedro 1º, por conferência mundial da UNESCO, assumindo
meio do Decreto Imperial nº 1.428, de 12 de o compromisso de transformação do sistema
setembro de 1854. educacional brasileiro, de maneira a acolher
a todos com qualidade e igualdade de
O segundo internato foi o Instituto dos condições.
Surdos Mudos, atual Instituto Nacional de
Educação de Surdos, também criado no Rio Em seguida, o Brasil adotou a proposta
de Janeiro e oficialmente instalado em 26 de da declaração de Salamanca, em 1994,
setembro de 1857. comprometendo-se com a construção

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de um sistema educacional inclusivo, a apropriação dos conteúdos escolares


especificamente no que se refere à população formais.
de alunos com necessidades educacionais
especiais. Nesse sentido, ele trata implicitamente
do caráter democrático do processo escolar,
Para orientar esses profissionais, em ao defender o acesso e a apropriação do
relação ao processo de ensino aprendizagem, conhecimento por meio de recursos e serviços
foram publicados em 1999 os Parâmetros suplementares ao aluno, cujas demandas
Curriculares Nacionais adaptações em seus processos de aprendizagem e
curriculares. desenvolvimento assim indicarem.

Assim, pode-se afirmar que só a partir da Para FERREIRA (1993, p. 34), a Educação
década de 90 o Brasil passou a entender e Especial:
a realizar ações que realmente condiziam
com a ideia de inclusão, respeito, dignidade [...] abrange, como principio, o conjunto de
serviços educacionais não disponíveis nos
e favorecimento do desenvolvimento de ambientes sócios educacionais “normais”
pessoas com necessidades educacionais ou “regulares”. Ela visaria o atendimento e a
especiais. promoção do desenvolvimento de indivíduos
que não se beneficiaram significativamente de
situações tradicionais de educação, por limitações
A conceituação de Educação Especial tem ou peculiaridades de diferentes naturezas.
levado a Diversos autores uma preocupação
com o estudo pedagógico, metodológico, Para esse autor, a natureza dos serviços
com a definição e conceituação dessa área. fornecidos aos alunos com necessidades
educacionais especiais deve ser diferenciada
MAZZOTA (1996, p.23) define a Educação e deve ter como objetivo o atendimento e a
Especial como: promoção dos alunos que a rede comum não
pode atender por meio de seus serviços.
[..] a modalidade de ensino que se caracteriza
por um conjunto de recursos e serviços
educacionais especiais organizados para apoiar, Pode-se notar que tal definição pode
suplementar e, em alguns casos, substituir apontar a democratização dos serviços
os serviços educacionais comuns, de modo a educacionais a um grupo de alunos não
garantir a educação formal dos educandos que
apresentem necessidades educacionais muito beneficiado potencialmente no ensino
diferentes das da maioria das crianças e jovens. regular, por meio de ampliação do quadro
de serviços de educação especial. Por outro
Segundo esse mesmo autor, os alunos lado, também pode reiterar a ideia de déficit
com necessidades educacionais especiais vinculado ao aluno diante da impossibilidade
podem ter apoio de um conjunto de recursos dos serviços de educação comum atenderem
e serviços organizados de modo a garantir à sua escolarização formal.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Cabe destacar, a vinculação da Educação


Especial ao Sistema Educacional e aos Utilizando-nos da perspectiva dialética,
objetivos da Educação Especial. Nota- perceberemos que cada ato ou papel assumido
se que o objetivo específico da Educação pelo individuo só será compreendido
Especial é promover o desenvolvimento das dentro de uma determinada situação, o
potencialidades da clientela (dos alunos) que se verifica a partir da totalidade como
considerada especial, e o objetivo geral, em ação indissociável. Essa postura nos leva a
convergência com os objetivos do sistema entender que será pelo confronto de ideias
educacional, apresentado como a formação e posições que se pode perceber a situação
de cidadãos conscientes e participativos. como um todo e, assim, construir alternativas
possíveis de significação e ressignificação
Essas diferentes definições sobre o mesmo para o grupo.
tema e área podem mostrar a abrangência
e a complexidade da educação especial As Diretrizes Nacionais para a Educação
que vem se constituindo, histórico-cultural Especial na Educação Básica, no seu artigo
e politicamente, na realidade e sociedade 2º (1994) orienta os sistemas para a prática
brasileira. da inclusão:

A partir de 1994, com a Declaração “os sistemas de ensino devem matricular a todos
os alunos, cabendo às escolas organizar-se para
de Salamanca, resultado da Conferência o atendimento aos educandos com necessidades
Mundial sobre Necessidades Educativas educacionais especiais, assegurando às
Especiais: Qualidade e Acesso solidificam-se condições necessárias para uma educação de
qualidade para todos”.
as metas do Congresso Mundial de Educação
para Todos, realizado em 1990, na Tailândia,
que previa a erradicação do analfabetismo O Plano Nacional de Educação destaca
e a universalização do ensino fundamental. no seu capítulo da Educação especial, que
Na Espanha, acrescentam-se os princípios o grande avanço que a década da educação
norteadores da Educação Inclusiva. deveria produzir seria a construção de
uma escola inclusiva que garantisse o
Se por um lado a educação inclusiva enfatiza atendimento à diversidade humana. Para
a qualidade de ensino para todos, por outro, a MAZZOTA (2002, p. 25):
escola precisa urgentemente de reorganizar
para dar conta da multiplicidade de questões “Na Educação Inclusiva serão também
obedecidos os princípios e igualdade de viver
inerentes ao trabalho educacional. Somente socialmente com direitos, privilégios e deveres
mediante a uma profunda revisão da pratica iguais; participação ativa na interação social e
pedagógica docente é que será possível observância de direitos e deveres instituídos
pela sociedade.”
ultrapassar os preconceitos que acabam
gerando a exclusão.

1273
Revista Educar FCE - Abril 2019

É exigida uma maior competência ensino se constrói na pluralidade e na certeza


profissional, projetos educacionais de que os alunos não são, em qualquer
bem elaborados, currículos adaptados circunstância, capazes de construir sozinhos
às necessidades dos alunos, surgindo, seus conhecimentos de mundo. O processo
consequentemente, uma gama maior de de aprendizagem se funde na interação, a
possibilidades de recursos educacionais. Isto partir da qual desenvolve uma forma humana
significa que há necessidade dos governos e significativa de perceber o meio.
manterem seus profissionais atualizados,
para que se tornem capazes de desempenhar
um papel fundamental na aprendizagem de INTEGRAÇÃO E INCLUSÃO
seus alunos.
Todos sabem que os alunos portadores
Este novo paradigma educacional procura de necessidades educativas especiais são
fazer que todos os alunos portadores atendidos pela Educação Especial. Um dos
de deficiência, independentemente do conceitos mais importantes é: a diferença
comprometimento, tenham acesso à entre integração e inclusão.
educação de qualidade, prioritariamente, na
rede regular de ensino, procurando a melhor A integração: incorporação física e social
forma de desenvolver suas capacidades. de pessoas que estão isoladas ou segregadas
das demais, tornando-as parte da sociedade.
O modelo da inclusão procura romper com O atendimento despe-se do caráter de
crenças cristalizadas pelo paradigma que o assistência, ao invés de terapêutico, torna-se
antecedeu: o da integração, baseado em um educativo, enfatizando-se as potencialidades,
modelo médico, na qual a deficiência deveria em vez das incapacidades, e a deficiência
ser superada para que o aluno chegasse o perde a condição de doença.
mais perto possível do parâmetro normal,
vendo os distúrbios e as dificuldades como O conceito de integração levou à
disfunções, anomalias e patologias. Esse tipo reestruturação da Educação Especial em todo
de visão tinha preceitos que segregaram mundo. No Brasil, infelizmente, as questões
as diferenças, norteando-se pelo principio ficaram mais em nível teórico (voltado para
da normalização, que privilegiava aqueles a produção cientifica dos estudiosos), que
alunos que estivessem mais preparados para prático.
inserirem-se no ensino regular, mais o aluno
estaria em condições de frequentar o ensino No final dos anos 1980, as tentativas
regular. de integração estavam calcadas,
fundamentalmente, em um principio
Portanto, a inclusão busca derrubar esse predominante: o mainstreaming, que
tipo de visão, defendendo a ideia de que o significa levar os alunos para serviços

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Revista Educar FCE - Abril 2019

o começo. As escolas inclusivas propõem um


disponíveis na comunidade. Estes serviços modelo de se constituir o sistema educacional
eram em classes regulares e/ou em aulas de que considera as necessidades de todos os
Artes, Música, Educação Física ou atividades alunos e que é estruturada em virtude dessas
necessidades. A inclusão causa uma mudança
extracurriculares. Muitas foram as criticas de perspectiva educacional, pois não se limita
a essa questão, especialmente a do não a ajudar somente os alunos que apresentam
pertencimento desses alunos a nenhum dificuldades na escola, mas apoia a todos:
professores, alunos, pessoal administrativo, para
grupo e a de que significava, na realidade, que obtenham sucesso na corrente educativa
a mera colocação dos alunos portadores de geral.
NEE em várias salas.
No Brasil, existe a coexistência de dois
Na década de 1990, as criticas atingiram paradigmas: o da integração e o da inclusão.
o máximo referindo-se ao fato de que O modelo de integração demanda um sistema
estas estratégias só integravam os alunos de serviços, uma rede de recursos centrada
que estivessem preparados para enfrentar no individuo, ao passo que o modelo de
diversos tipos de dificuldades delas inclusão requer um sistema de suportes,
decorrentes. uma rede de apoio, caracterizando uma
intervenção no próprio sistema. Pelo que foi
Um segundo paradigma surgiu, então, percebido, o modelo de integração ainda é o
para agitar ainda mais o cenário da prevalecente, mesmo que tenha recebido a
Educação Especial. Trata-se da inclusão, nova denominação de “inclusão”.
que não onerava apenas os portadores de
necessidades educativas especiais, mas Com a meta da universalização do ensino
exigia um esforço de toda a sociedade, tendo nos fins de 1980, chegavam à escola novos
em vista mudanças de atitudes, praticas conceitos, novos personagens, novas
menos discriminadora e mudanças físicas, crenças, novas tradições. A escola ficou sem
para acolher estas pessoas. saber como dar conta de tantas novidades!
Em muitas situações, passou a ignorar esse
Da mesma forma que em relação ao novo contingente que chegava. A verdade
paradigma anterior, vamos ver a definição de era que a escola e seus profissionais não
inclusão, segundo MANTOAN (1988, p. 56): sabiam lidar com sua nova clientela.

[...] questiona não somente as políticas e a Ancorada em concepções que


organização da educação especial e regular,
mas também o conceito de mainstreaming. A acreditavam ser papel da escola socializar
noção de inclusão institui a inserção de uma e transmitir os conhecimentos acumulados
forma mais radical, completa e sistemática. O pela humanidade, por meio de um caminho
vocábulo integração é abandonado, uma vez
que o objetivo é incluir um aluno ou um grupo cultural igual para todos, privilegiando o
de alunos que já foram anteriormente excluídos; esforço individual; a escola não percebeu
a meta primordial da inclusão é a de não deixar que esse caminho não encontrava eco na
ninguém no exterior do ensino regular, desde

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Revista Educar FCE - Abril 2019

vida de seus estudantes. Os planejamentos, A formação e a capacitação dos


motores da prática pedagógica, estabeleciam profissionais docentes é ponto fundamental
conhecimentos e valores que precisavam ser para o ensino que atende diferentes
passados como verdades inquestionáveis, especificidades educativas especiais e
fazendo com que seus conteúdos se que, para sua efetivação, necessitam de
encontrassem separados da experiência do profissionais comprometidos e competentes
aluno e da realidade social. na sua ação pedagógica.

O resultado desse processo explode com A escola necessita, portanto, adequar-se ao


os crescentes índices de retenção nas series/ aluno, providenciando meios e recursos que
anos e com as elevadas taxas de evasão garantam efetivamente a sua aprendizagem,
escolar, que resultaram na necessidade de se entendendo ser função dela essa garantia.
buscar a causa do fracasso escolar.
É esta concepção de escola, como espaço
Todos os aspectos externos e internos social que precisa ser criada, e é nela
a prática pedagógica foram apontados- a que precisam estar presentes a ousadia,
pobreza, a carência, a subnutrição, a família, a criatividade, os sonhos e as diferentes
os meios, os métodos e até os chamados falas, ou seja, é preciso criar uma escola que
especialistas em educação (supervisores e acredita nas possibilidades de seus alunos.
orientadores educacionais)- porém, não se
discute a questão fundamental- a concepção A convivência com a comunidade como
que dava origem aos trabalhos educacionais. um todo visa ampliar as oportunidades de
trocas sociais, permitindo uma visão bem
Atualmente, ainda sofremos os mesmos mais nítida do mundo. Quanto mais cedo for
problemas, evidenciando que o nosso dada a oportunidade de familiaridade com
caminhar foi muito pequeno. grupos diferentes, melhores e mais rápidos
serão feitos os processos de integração.
Embora vagaroso, é neste caminho que Dessa maneira o sentimento mútuo ajuda
começam as discussões sobre a escola, sua far-se-á quase que naturalmente e num
organização, sua estrutura, seu currículo tempo surpreendentemente mais rápido,
e, consequentemente, sobre a prática fazendo do ambiente escolar o principal
pedagógica. veicula para o surgimento do verdadeiro
espírito de solidariedade, da socialização e
O principio da Educação Inclusiva exige dos alicerces dos princípios de cidadania.
intensificação na formação de recursos
humanos, garantia de recursos financeiros e O principio da inclusão é um processo
serviços de apoio pedagógicos especializados educacional que busca atender a criança
para assegurar o desenvolvimento dos alunos. portadora de deficiência na escola ou na

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Revista Educar FCE - Abril 2019

classe de ensino regular. Para que isso alunos, apesar dos comprometimentos
aconteça, é fundamental o suporte dos que apresentam, para que as propostas a
serviços da área de Educação Especial por serem elaboradas sirvam de horizonte a ser
meio de seus profissionais. A inclusão é um atingido, indicado, ainda, as metas seguintes.
processo inacabado que ainda precisa ser
frequentemente revisado. O termo necessidades educativas especiais
nos leva a refletir sobre sua importância no
Dado ao pluralismo cultural do alunado contexto educacional.
faz-se importante a busca de respostas
que atendam às necessidades individuais e Diante destes novos posicionamentos
grupais desta nova clientela. educacionais é inevitável o aperfeiçoamento
das praticas docentes, redefinindo novas
A importância de um currículo que busque alternativas que favoreçam a todos os alunos, o
tornar os conteúdos vivos e de interesse que implica na atualização e desenvolvimento
do grupo é fundamental, pois o processo de conceitos em aplicações educacionais
educacional precisa estar de acordo com compatíveis com esse grande desafio.
os alunos concretos e não para uma visão
abstrata, na qual uns podem se desenvolver e Apesar de complexo, com uma proposta
outros não. É preciso pensar em um processo grandiosa, o processo de inclusão ainda galga
que desenvolva a capacidade critica e de os primeiros patamares de uma montanha a
construção de significado, sem perder de ser escalada. Isso, no entanto, não impediu
vista o ponto de chegada. que algumas escolas públicas e privadas
começassem a fazer esta escalada.
Um currículo para todos requer a
capacidade de apresentar adaptações aos que Na visão inclusiva, será também necessária
dele necessitam, porque é preciso lembrar a revisão do papel da avaliação, não cabendo
que alguns levarão mais tempo do que mais o caráter classificatório, por meio de
outros na execução das tarefas pedagógicas, notas, provas, que deverá ser substituído
o que não significa que deixarão de alcançar por diagnósticos contínuos e qualitativos,
o objetivo final proposto pela escola. É destinadas a depurar o ensino e torná-
tempo de se conhecer outros caminhos, que lo cada vez mais adequado e eficiente à
estarão sendo construídos nesse processo, aprendizagem de todos os alunos.
às vezes mais longo, porém com chegada em
uma determinada produção. Muito se tem falado e poucas escolas
conseguem elaborar o seu projeto político-
O trabalho pedagógico em uma escola pedagógico, considerando que o conceito e
inclusiva deve partir de uma avaliação as observações técnicas não foram, ainda,
que indique o caminho já percorrido por devidamente absorvidos pelo professorado.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Neste momento em que se discute a escola coerente com o compromisso de contribuir


inclusiva, é urgente que se organize a escola para a construção do processo de consciência
em prol deste projeto, a fim de buscar a e formação da cidadania, entendido como
sustentação política e pedagógica das ações exercício pleno e democrático de seus
que serão desenvolvidas na consecução de direitos e deveres.
implantar a escola inclusiva.
O principio da Educação Inclusiva exige
Como último aspecto, é feita a avaliação intensificação na formação de recursos
ao término dos períodos previstos e se humanos, garantia de recursos financeiros e
começa a verificar a concretização ou as serviços de apoio pedagógicos especializados
falhas existentes na programação. para assegurar o desenvolvimento dos
alunos.
É neste momento que se verificam quais
ações foram executadas, que atividades A formação e a capacitação dos
foram realizadas, se as propostas estavam profissionais docentes é ponto fundamental
de acordo com as necessidades do grupo e para o ensino que atende diferentes
se elas promoveram vivências previstas, bem especificidades educativas especiais e
como se ajudaram na construção de uma que, para sua efetivação, necessitam de
prática transformadora. profissionais comprometidos e competentes
na sua ação pedagógica.
Entendendo que a escola é o espaço social
que reúne profissionais distintos e recebe A realização do Congresso Mundial de
uma clientela igualmente distinta, guarda, Educação para todos, em 1990, na Tailândia,
em si, singularidades que lhes dão próprias, contribuiu para que fossem criadas duas
impedindo que o projeto elaborado por uma metas de importância capital para uma
determinada escola possa ser utilizado em sociedade democrática- a erradicação do
outra escola. analfabetismo e a universalização do ensino
fundamental, comprometendo-se as nações
É importante salientar que cada aluno faz que dele participaram como o Brasil, a
parte de um grupo social e que cada grupo é promover ações que visassem à erradicação
regulamentado por usos, costumes, tradições do analfabetismo em um prazo de dez anos.
e regras que precisam ser observados pelos
profissionais que irão trabalhar com eles. Mais Com a realização da Conferência Mundial
do que nunca será necessária a elaboração sobre Necessidades Educativas Especiais:
de um projeto político-pedagógico que dê Acesso e Qualidade, realizada em 1994, na
conta das necessidades locais, articulando Espanha, nasce a Declaração de Salamanca,
os diversos setores da escola com vistas que representa “os princípios, a política e a
à sustentação de um plano pedagógico prática em Educação Especial”.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Reforçando as metas do Congresso da • Expandir e melhorar a educação e


Tailândia, a Conferência assume o compromisso cuidados com a infância, em particular para
com a inclusão, por reconhecer que “inclusão as crianças em situação de vulnerabilidade;
e participação são essenciais à dignidade • Assegurar para todas as crianças,
humana e ao desfrutamento e exercício dos especialmente meninas, em circunstâncias e
direitos humanos” (BRASIL, 1994). provenientes de minorias étnicas, o acesso
a uma educação primária universal de
No entanto, dadas as dificuldades em qualidade;
programar as propostas anunciadas, a • Assegurar que as necessidades básicas
UNESCO chama para uma reunião, os de aprendizagem dos jovens sejam satisfeitas
ministros da Educação da América Latina de modo equitativo, por meio de acesso a
e do Caribe para a realização da VII Seção programas de aprendizagem apropriados;
do Comitê Intergovernamental Regional do • Atingir até 2015, 50% de melhoria
Projeto Principal para a Educação, em março nos níveis de alfabetização de adultos, em
de 2001. particular mulheres, em conjunção com
acesso equitativo à educação básica e
Em Cochabamba, na Bolívia, originou um continuada;
documento que reafirma a importância de se • Eliminar, até 2005, as disparidades de
consubstanciar as metas de universalização gênero na educação primária e secundária e
do ensino fundamental e a erradicação atingir até 2015, a igualdade de gênero no
do analfabetismo, ampliando o prazo de acesso à educação básica de qualidade;
execução para 2015, dando, assim, tempo • Melhorar todos os aspectos
para que os governos programem ações relacionados com a qualidade da educação,
que favoreçam a consecução de propostas de modo a atingir resultados reconhecíveis
necessárias à inclusão. e mensuráveis para todos, em particular na
alfabetização e nas habilidades. (UNESCO,
Este prazo já foi dado, no entanto, não 2003)
é suficiente para a sua plena execução
já que recursos são necessários para sua As propostas que visam tornar a educação
implementação. como um dos caminhos capazes de promover
a melhoria da realidade social brasileira tem
No Fórum Mundial de Dacar, em abril de recebido apoio direto da UNESCO, a fim
2000, foram levantados alguns aspectos de de fornecer ao governo cooperação para
relevância para o cumprimento das metas o desenvolvimento de ações direcionadas
estabelecida, passando a ser conhecida como ao aprimoramento e democratização da
“seis metas para a educação para todos”, educação em todos os seus aspectos.
adotadas pela UNESCO como bandeiras de
sua ação e que preveem:

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Neste sentido, duas questões são de fundamental importância para o êxito da escola
inclusiva: a formação dos professores e a proposta político- pedagógico da escola,
considerando que sem o conhecimento básico sobre as diversidades culturais e sociais
destes novos personagens que chegam à escola e sem uma proposta pedagógica definida,
não há como se manter as crianças na escola.

A política de acesso é muito fácil de ser exercida do que a política de manutenção das
crianças na escola, mesmo por um período considerado mínimo necessário para a aquisição
de uma escolarização bem-sucedida.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho conclui-se que uma das contratações
possíveis neste momento é que nossas tarefas são inúmeras,
mas devemos identificar prioridades, denunciar ações
reprodutoras de iguais atitudes sociais para com essas
pessoas, acompanhar ações do poder público em educação,
cobrar compromissos firmados pelos governantes, além de
ampliar e sedimentar espaços de participação coletiva para
defender uma política educacional inclusiva pautada em
praticas com apoio pedagógico teórico e pratico.

O papel do professor é fundamental no a fim de prover o


meio escolar dessas condições que difere das condutas do PAULA ANDREA
psicológico, ao salientar e mediar o exercício das funções DE AVILA PINHEIRO
cognitivas, porque a intervenção pedagógica acontece em
Graduada em Pedagogia pela
um contexto interacional de coletividade, tomando iniciativas Faculdade FASB – Faculdade de
em virtudes de suas necessidades e motivações. São Bernardo (2003); Especialista
em Docência do Ensino Superior
Pela UNIP (2009). Especialista
O papel do meio social é necessário no processo interativo em Ciência e Tecnologia Pela
de produção das incapacidades, porque eles têm o direito de UFABC (2012) e Psicopedagoga
se desenvolver como as demais pessoas, em ambientes que Clinica Pela Universidade de
Carapicuíba (2015); Professora
não discriminam, mas valorizam as diferenças. de Ensino Fundamental I - na E.E.
Jornalista Rodrigo Soares Junior
É nítido que não se pode mudar a escola com um passe de e Professora de End. Infantil e
Fundamental I na EMEF Cacilda
mágica, mas com a implementação das escolas de qualidade, Becker.
igualitária, justa e acolhedora para todos, é um sonho
possível.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Educativas Especiais. Brasília, 1994.

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União, nº 248 de 20/12/1996.

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1999.

CARNEIRO, Rogéria. Sobre a Integração de Alunos Portadores de Deficiência no Ensino


Regular. Revista Integração. Secretaria de Educação Especial do MEC, 1997.

FONSECA, Victor da. Educação especial: programa de estimulação precoce.


Porto Alegre. Artes Médicas, 1995.

FREIRE, Paulo. Educação: o sonho possível. Rio de Janeiro: Graal, 2000.

GONZALEZ TORRES, J. A. Educação e diversidade, bases didáticas e organizativas.


Porto Alegre: Artmed, 2002.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A TRAJETÓRIA DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL:


TRÁFICO NEGREIRO, REPRESENTAÇÕES DO
NEGRO E ABOLICIONISMO
RESUMO: Pretendeu-se, por meio desta pesquisa, realizar um levantamento sobre a questão
da Escravidão no Brasil Oitocentista, de modo que fosse possível aprofundar conhecimentos
relativos ao contexto do período em foco, bem como conhecer as formas de resistência
apresentadas pelos escravos negros. A partir de revisão bibliográfica, de caráter qualitativo,
foram abordados aspectos concernentes ao comércio de escravos, às representações sobre
o escravo negro, ao processo abolicionista, à herança dos quilombos e suas resistências,
bem como à luta da mulher negra.

Palavras-Chave: Direitos; Educação; Exclusão; Inclusão; Sociedade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO da herança colonial. A “cultura senhorial”,


marcada pela estrutura hierárquica do espaço
No século XIX e durante quase todo social e a verticalização das relações sociais,
o século XX, o escravo negro não era foi um dos símbolos da sociedade escravista
compreendido como sujeito histórico e ator colonial (CHAUÍ, 2001). As relações sociais
social na história do Brasil. Essa visão estava na sociedade colonial na América portuguesa
ancorada na ideia de que o escravo não tinha se alicerçavam basicamente na antinomia
vontade própria e não agia conscientemente entre senhores e escravos (NOVAIS, 1989).
devido a sua exposição constante à violência Os demais grupos sociais eram definidos
física, psicológica e simbólica no cativeiro. conforme o seu grau de aproximação ou
distanciamento desse núcleo fulcral. Senhores
A partir dessa interpretação, os escravos de engenhos, pequenos proprietários,
negros eram indivíduos amorfos que não comerciantes, funcionários do império,
ofereciam resistência ao domínio senhorial, lavradores, fidalgos, clérigos, soldados reais,
às vezes, o escravo africano era considerado entre outros, compunham o quadro social
um ser estático e indolente que necessitavam dos homens livres, ou seja, eram sujeitos
da generosidade de seus senhores, eram que eram investidos de liberdade jurídica
seres que precisam obrigatoriamente serem e privilégios socioeconômicos. Contudo,
ensinados pelos homens brancos e letrados – Novais salienta que, “no fundo, e em última
dotados de senso humanitário – as regras da análise, no âmbito da colônia, tudo depende
civilidade para só assim saírem da escravidão da camada senhorial, e a economia mercantil
que era o seu fardo histórico. se expande em função dela” (NOVAIS, 1989,
p.111).
Neste trabalho, será abordada a
substituição da mão-de-obra indígena pela Na outra extremidade, estavam os escravos
mão-de-obra africana, as representações que, contrariamente, eram propriedades e
religiosas e socioculturais sobre os africanos mercadorias compradas do mesmo modo
como elementos justificadores da exploração como se comprava um objeto ou um animal.
do trabalho escravo africano. Tanto a sua força de trabalho e a sua vontade
pessoal pertenciam ao seu proprietário. De
acordo com Chauí, a vontade pessoal do
O COMÉRCIO NEGREIRO NO senhor é lei, “tendo o poder de vida e morte
PERÍODO COLONIAL sobre todos os que formam seu domínio
(casa, em latim, se diz domus, e o poder do
A escravidão no século XIX no Brasil se pai sobre a casa é o dominium)” (CHAUÍ,
configurou doravante o entrelaçamento das 2001, p. 12). Como mercadoria, poderiam
relações político-econômicas e socioculturais ser vendidos, alugados, emprestados ou
que só podem ser compreendidas por meio mesmo doados, consoante o desejo de seu

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senhor. A posse de muito escravos conferia permanecendo, contudo, a ser empregado


status e reputação aos seus senhores que, principalmente nas capitanias do Sul e
constantemente, jactavam-se de seus cativos do Norte. Nessas regiões, os colonos
como símbolo de prestígio social. A posição organizavam as expedições batizadas de
de escravo transferia-se hereditariamente bandeiras, com o intuito de encontrar minas
até que, por disposição do proprietário, lhe de metais preciosos e capturar índios para
fosse outorgada a alforria, a forma jurídica lavoura e demais trabalhos de cultivação
de cessar a condição de cativo. da terra. Todavia, a escravidão indígena não
se articulava ao comércio mercantilista,
O escravo diferenciava-se, portanto, que no momento se estruturava em escala
de dois tipos de trabalhadores, o servo e internacional, e, portanto, não despertava
o assalariado. O servo, característico do o interesse dos grandes comerciantes e ao
feudalismo, não tinha liberdade, estava Estado absolutista lusitano. Para Novais,
recluso às terras de seu senhor e devia a
ele um conjunto de tarefas obrigatórias A colonização da época mercantilista conforma-
se ao sentido profundo inscrito nos impulsos da
que poderiam abranger desde o trabalho de expansão, ou seja, é o elemento ‘mercantilista’ –
alguns dias em suas terras até a entrega de quer dizer, mercantil-escravista – que comanda
parte de sua produção. O servo não era uma todo o movimento colonizador. Produzir para
o mercado europeu nos quadros do comércio
“coisa” que poderia ser vendido e comprado colonial tendentes a promover a acumulação
nos mercados medievais. O assalariado, por primitiva de capital nas economias europeias
sua vez, possuía a sua liberdade. Esse tipo exigia formas compulsórias de trabalho, pois do
contrário, ou não se produziria para o mercado
de trabalhador podia vender a sua força de europeu (...).
trabalho ao empregador pelo tempo e até
mesmo pelo preço que julgasse apropriado. Assim, desenvolveu-se a colonização do Novo
Mundo centrada na produção de mercadorias-
Sendo assim, ocorre uma troca entre o chaves destinadas ao mercado europeu,
trabalho do homem livre e o salário pago produção assente sobre formas várias de
pelo patrão. compulsão do trabalho – no limite, o escravismo;
e a exploração colonial significa, em sua última
instância, exploração do trabalho escravo
Desde início do processo de colonização (NOVAIS, 1989, p.102-103).
até o século XIX, a escravidão tornou-se o
pilar das relações de trabalho no Brasil. A A implantação da escravidão africana
escravidão dos povos indígenas permaneceu estava submetida aos interesses de ordem
durante todo o período colonial, sendo econômica. Os preconceitos acerca do
predominante nas plantações açucareiras trabalho manual e precipuamente os lucros
até o final do século XVI. A partir de então, elevados obtidos com o tráfico negreiro
com o emprego cada vez maior da mão de foram fundamentais nesse sentido. A
obra africana, passou a ser circunscrito produção açucareira foi, desde o princípio,
a um papel secundário no Nordeste, estruturada pela escravidão. A começar do

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momento em que se priorizou a mão de obra opuseram à catequese dos negros por isto se
africana, toda a economia de exportação da tornar um fator de perigo, pois se os escravos
colônia portuguesa passou a estar integrada aprendessem uma língua comum, poderiam
aos circuitos do mercado internacional e ao se comunicar com diferentes grupos étnicos
capital mercantil. africanos para se rebelarem contra o sistema
escravista (NOVAIS, 1989). Além dos negros
Fora a lucratividade, a implantação da serem considerados animais, cuja alma era
escravidão africana foi imprescindível para o pecaminosa e sem salvação. As relações
controle das terras americanas conquistadas. entre colonos e jesuítas nem sempre foram
Desde a instituição do Governo-Geral harmoniosa, embora fossem essências para
em 1548, a Coroa portuguesa pretendeu o funcionamento da colonização.
exercer uma vigilância mais efetiva sobre
os destinos da colonização. A limitação Após a travessia atlântica, praticada em
da escravidão indígena e a introdução da condições inumanas, com índices elevados
escravidão africana – o índio era tido como de mortalidade e enfermidade, ficavam à
“naturalmente indisposto” para a lavoura mercê de abusos sexuais e tinham suas
e o negro, ao contrário, tinha uma “afeição famílias dissolvidas com a venda de seus
natural” para ela – foi uma estratégia integrantes em separado. Os cativos sofriam
exitosa, pois os colonos e os donos de terras inúmeros tipos de violências físicas como
ficaram mais subservientes ao controle da as palmatórias, açoites, acorrentamento
Metrópole, se tornando mais dependente e vários outros tipos de castigos, sendo
do fornecimento contínuo da mão de obra muitas vezes mutilados para garantir a sua
necessária para manterem os seus negócios. submissão e disciplina. Em geral, os castigos
eram aplicados pelo feitor, que poderia ser
Nesse sentido, podemos destacar o papel um homem livre pobre, um índio, um negro
da Igreja e, principalmente, dos jesuítas na forro e até mesmo um escravo de confiança
colonização. Defensores de certo modo da do senhor. Na definição do jesuíta André João
causa indígena, interessados na direção Antonil, todos os feitores (do feitor-mor do
de seus braços e de suas almas, os jesuítas engenho aos outros feitores menores) eram
foram aliados importantes do Estado lusitano os “OS BRAÇOS DE QUE SE VALE o senhor
até o final do século XVIII. Ao reprovarem do engenho para o bom governo da gente e
e denunciarem as injustiças cometidas da fazenda” (ANTONIL, 1982, p. 47).
contra os indígenas e, simultaneamente,
defenderem o ingresso de africanos na Para o mesmo cronista, eram necessários
América, os membros da Companhia de três “p” para o bom desempenho do escravo
Jesus contribuíam politicamente com a e para manter a sua sobrevivência: “pau, pão
Coroa portuguesa no exercício de seu poder e pano”, ou seja, a dureza dos castigos devia
sobre os colonos. Os senhores coloniais se ser complementada pelo sustento e pelas

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vestimentas (ANTONIL, 1982, p. 3). No que los a serem mais eficientes, ao mesmo passo
tange aos três “p”, Candido realça que: que o senhor economizava com a “ração”
necessária para a manutenção e reprodução
(...) o que é próprio do homem se estende da força de trabalho. Esse tipo de relação não
ao animal e permite, por simetria, que o que
é próprio do animal se estenda ao homem. era pautada pela solidariedade ou compaixão
Pão para o homem e também para o burro; para com o escravo, e sim para auferir mais
pano para o homem e também para o burro; lucro e produtividade com a exploração do
pau para o burro e também para o homem.
Conclusão: equiparação do homem ao animal, e trabalho escravo mais eficiente.
não do animal ao homem, estendendo-se (e aí
está a chave de tudo) que se trata de homem
= trabalhador. O dito não envolve, portanto,
uma posição ontológica, mas sociológica, e visa
REPRESENTAÇÕES SOBRE
ocultamente a definir uma relação de trabalho
(ligada a certo tipo de acumulação de riqueza),
O ESCRAVO NEGRO
na qual o homem pode ser confundido com o
bicho e tratado de acordo com esta confusão Sobre os escravos africanos foram
(CANDIDO, 2002, p. 69-70). projetadas imagens e imaginários que
representavam os negros como seres
A confusão entre negro e animal era tônica inferiores, pecaminosos, demoníacos e
da relações senhor-escravo, assim como naturalmente propensos ao trabalho escravo.
usavam burros e jumentos para carregar A África era tida como o lugar do pecado, das
cargas a base da paulada e chicotada, o trevas e da infidelidade. Ao revés do que se
escravo deveria exercer o seu trabalho da projetava sobre os indígenas, não haveria
mesma forma, ou seja, a base da violência, nenhuma ligação dos negros da Guiné, como
da coação e opressão. eram identificados, com o paraíso terrestre.
Segundo o mito da danação, as origens
Nem sempre os senhores comportaram- bíblicas destes estariam relacionadas a duas
se conforme essa orientação, sendo maldições, ambas posteriores ao pecado
comum uma atenção maior aos animais, original. Eles seriam descendentes de Caim,
principalmente aos cavalos, do que aos aquele que por inveja matou seu irmão Abel,
cativos. Muitos senhores, ao contrário do e carregavam na pela a cor negra, marca do
que pregava a moral cristã pregada pelo sinal fixado por Deus, ou, então, membros
clero na colônia, abriram prostíbulos em da geração de Cam, filho de Noé, que
vilarejos, sítios e nas cidades, destinando difamou seu pai e por isso foi sentenciado e
suas escravas aos “trabalhos da carne”. Por amaldiçoado, juntamente com seus filhos, à
outro lado, em alguns engenhos brasileiros, escravidão.
os escravos podiam cultivar as suas roças nos
dias santos e nos domingos, delas tirando seu A retirada forçada dos africanos de seu
sustento e podendo até mesmo negociar o continente era, para as justificativas que se
excedente. Essa era uma forma de estimulá- elaboraram principalmente no século XVII,

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um milagre da Providência Divina. Pela autor, a existência de um Purgatório repousa


travessia atlântica e pelo batismo, o escravo na concepção de um juízo dos mortos que é
era submetido à fé e, dessa forma, o que instituído como uma situação intermediária
poderia ser entendido como injustiça era tido do destino escatológico de casa ser
como uma dádiva. Conforme aponta Ferreira humano a qual é marcada por um complexo
Jr. E Bittar (2003), o Padre Antonio Vieira procedimento judicial de “mitigação das
penas”. Para Le Goff,
visava convencer os negros de que a escravidão
era a única forma de salvação da alma, ou seja, A crença no Purgatório implica antes de tudo a
o milagre divino que possibilitaria a transposição crença na imortalidade e na ressurreição, uma
da condição de gentios em cristãos. Tornando-se vez que se admite que pode haver algo novo
cristãos teriam garantia de ingresso no paraíso para um ser humano entre sua morte e sua
celestial (FERREIRA JR; BITTAR, 2003, p. 43). ressurreição. É um suplemento de condições
oferecidas a certos humanos a fim de que
alcance a vida eterna. Uma imortalidade que se
Fora alguns poucos religiosos e teólogos ganha através de uma só vida (LE GOFF, 1989, p.
que achavam um absurdo a comercialização 14, tradução nossa).
de seres humanos, a maioria dos clérigos das
diferentes ordens não apenas assentia como A produção açucareira também fortalecia
encorajava e justificava a escravidão africana. o imaginário da colônia-purgatório. O melaço
Muitos deles atuaram diretamente da captura da cana era purgado de suas impurezas
e da comercialização de negros na costa da nas casas de purgar ao mesmo passo que
África, de onde estes eram despachados para os pecados atribuídos aos escravos eram
as mais variadas localidades do continente extirpados com os impiedosos ofícios da terra.
americano. Todavia, os castigos aplicados aos escravos
transpassavam em muito aqueles imaginados
A colônia portuguesa na América seria no purgatório. O engenho reproduzia mais o
o lugar da purgação dos pecados bíblicos inferno do que o purgatório. Segundo Mello
atribuídos aos africanos. Mais uma vez, e Souza (1986), esta percepção ambivalente
pelo trabalho e sofrimento, os impuros da colônia como um espaço marcado pelo
se purificariam e poderiam, após a morte, “embate entre o bem e o mal, o Céu – reino
adentrar ao reino de Deus. Nas palavras do de Deus – e o inferno – reino do demônio”,
Padre Vieira, em suas vidas na colônia tinham estava presente no imaginário europeu
“os escravos o seu Purgatório” (VIEIRA apud religioso. Por exemplo, frei Vicente do
FERREIRA JR; BITTAR, 2003). Salvador, conforme destaca Mello e Souza,
entendia que:
Le Goff (1989) assinala que o imaginário
sobre a existência de um Purgatório se instala O primeiro movimento – o de Pedro Álvares –
se fez no sentido do Céu: a este acoplar-se-ia a
na crença da cristandade ocidental entre colônia, não fossem os esforços bem sucedidos
1150 e 1250 na Idade Média. Segundo o de Lúcifer, pondo tudo a perder. O texto de nosso
primeiro historiador é extraordinário justamente

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por dar conta da complexidade subjacente às


duas possibilidades: enxergar-se a colônia como austero que castiga seus filhos, mas assegura-
domínio de Deus – como Paraíso – ou do Diabo lhes uma formação cristã digna. Na lógica
– como Inferno. Para frei Vicente, o demônio desse discurso, o escravo pertencia a uma
levou a melhor: Brasil foi o nome que vingou, e
o frade lamenta que se tenha esquecido a outra família cristã, mesmo sendo um filho menos
designação, muito mais virtuosa e conforme aos beneficiado. No que tange ao paternalismo,
propósitos salvacionistas da brava gente lusa Chauí analisa que:
(MELLO E SOUZA, 1986, p.28-29).

Antes da invenção histórica da nação, como algo


político ou Estado nação, os termos políticos
A colônia portuguesa na América deixou empregados eram “povo” (a que já nos referimos)
de ser paraíso para se tornar purgatório e “pátria”. Esta palavra também deriva de um
e depois de transforma em inferno. Os vocábulo latino, pater, pai. Não se trata, porém,
do pai como genitor de seus filhos - neste caso,
negros eram vistos como culpados desta ida usava-se genitor -, mas de uma figura jurídica,
para o inferno, uma vez que trouxeram da definida pelo antigo direito romano. Pater é o
África todos os seus pecados, maldições e senhor, o chefe, que tem a propriedade privada
absoluta e incondicional da terra e de tudo o que
impurezas, por mais que trabalhassem como nela existe, isto é, plantações, gado, edifícios
escravos, isto parecia surtir efeito para a (“pai” é o dono do patrimonium). (...) Pai se
redenção dos pecados dos povos africanos, refere, portanto, ao poder patriarcal e pátria é
o que pertence ao pai e está sob seu poder. É
era assim que parte do clero via a presença nesse sentido jurídico preciso que, no latim da
do negro africano na colônia. Igreja, Deus é Pai, isto é, senhor do universo e
dos exércitos celestes. É também essa a origem
da expressão jurídica “pátrio poder”, para referir-
A despeito de defender a escravidão dos se ao poder legal do pai sobre filhos, esposa e
africanos, tanto o clero católico quanto o dependentes (escravos, servos, parentes pobres)
protestante procuraram orientar e regrar (CHAUÍ, 2001, p.12-13).

o comportamento a ser praticado pelos


senhores e por seus cativos. Enfatizavam a Se para os negros africanos a colônia
igualdade espiritual de todos os fiéis cristãos, era um verdadeiro inferno, um outro grupo
mesmo que esta recaísse sobre o abismo da social, o dos “mulatos”, tinha uma sorte
desigualdade social existente na hierarquia supostamente diversa. A mestiçagem
da sociedade colonial. Perante Deus, perante produziu misturas as mais diversas entre
aos padres nas missas, tanto os escravos brancos, índios e negros denunciando que
bem como os senhores deviam obediência, as relações sexuais combatidas severamente
pois em tese eram irmãos em Cristo. pela Igreja na colônia eram praticadas por
todos de forma mais variada possível, ou
Além do mais, os religiosos procuravam seja, “a colônia incitava à transgressão”
impedir os pecados carnais e as violências (MELLO E SOUZA, 1986, p. 62). Entretanto,
abusivas contra os cativos. A escravidão era os costumes indígenas, o número restrito de
revestida com uma roupagem paternalista, mulheres brancas e, sobretudo, o poder que
como se o senhor fosse uma espécie de pai os portugueses exerciam sobre os escravos,

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fossem eles índios ou africanos, contribuiu viviam na colônia portuguesa passaram a


para que a moral cristã não fosse seguida à discutir a mestiçagem como uma estratégia
risca nos trópicos. Hoomaert frisa que: para suplantar as constantes revoltas e
rebeliões por parte dos escravos, este era o
"(...) Na teologia colonial, em Vieira, por principal medo que apavorava a elite branca
exemplo, a mestiçagem é comparada a um
purgatório entre o mundo negro (entregue às colonial, posteriormente, a elite imperial do
forças do mal) e o mundo branco dos cristãos. Brasil independente. Azevedo acentua que:
Uma espécie de 'paedagogia ad Christum'
(Clemente de Alexandria). Aliás, o sincretismo [...] o alvorecer do século XIX trouxe dois grandes
entre as formas 'pagãs' (africanas, indígenas) e acontecimentos que influíram grandemente
as formas 'cristãs' (leia-se européias) também é neste arraigado modo escravista. Por um lado o
interpretado assim, de forma pedagógica, como movimento emancipacionista tomava vulto nas
estádio intermediário entre o mal e o bem, entre ruas miseráveis, nos ricos salões e no parlamento
o pecado e a virtude" (Hoomaert, 1993, p. 27 da Inglaterra, determinando o início das pressões
apud TADEI, 2002 ,p.4) internacionais contra o secular tráfico de negros
da África para as colônias de além-mar. O Brasil
Associados aos pecados existentes, recém-independente herdaria por seu turno
estas incômodas pressões da nação capitalista
caracterizados pela cor tanto do branco mais poderosa de então, já consideravelmente
como do negro, os mulatos ficavam um aumentadas. Também caberia ao novo país
pouco à margem da oposição binária uma outra herança, igualmente decisiva para
que se começasse a pensar na necessidade de
senhor/escravo. Quando se tornavam se extinguir a escravidão. Era o grande medo
homens livres, por não serem brancos, eram sangrenta revolução em São Domingos, onde
discriminados pela herança africana em sua os negros não só haviam se rebelado contra a
escravidão na última década do século XVIII e
pele. Assim, carregavam a discriminação proclamado sua independência em 1804, como
na denominação “mulato”: proveniente de também – sob direção de Toussaint L’Ouverture
mula, animal resultante do cruzamento entre – colocavam em prática os grandes princípios da
Revolução Francesa, o que acarretou transtornos
cavalo e jumenta, ou entre égua e jumento. fatais para muitos senhores de escravos, suas
Segundo Tadei (2002), para os africanos, os famílias e propriedades (AZEVEDO, 1987, p. 34-
mulatos livres, por não serem escravos, não 35).

pertenciam à rigidez de seu meio social.


O jesuíta Antonil escreveu um provérbio A rebelião de escravos que levou
no século XVII no qual dizia: "O Brasil é o à independência do Haiti assustou
inferno dos negros, purgatório dos brancos decisivamente a elite branca que vivia nos
e paraíso dos mulatos" (RAMOS, 1962, p. 46 trópicos. O que se pensava na época era que
apud TADEI, 2002, p. 4). se em São Domingos os negros finalmente
alcançaram o que sempre almejaram, a
Conforme salienta Tadei, para controlar o liberdade e subverter a ordem colocando
grande contingente de escravos que chegava em xeque o poder dos ricos proprietários
a superar o número de homens brancos, de terra, no Brasil isso também poderia ser
administradores, políticos e intelectuais que possível, pois nada garantia que isso poderia

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ocorrer aqui também, já que “os quilombos, Coimbra, já chamava a atenção de D, João VI
os assaltos às fazendas,as pequenas revoltas para a “necessidade de se formar no Brasil
individuais ou coletivas e as tentativas de uma população homogênea e integrada
grandes insurreições se sucederam desde num todo social” (AZEVEDO, 1987, p. 37).
o desembarque dos primeiros negros em Segundo Moura, esse desejo de construir
meados de 1500” (AZEVEDO, 1987, p. 35). uma pátria levou o negro a participar nas
lutas pela independência. Conforme ressalta
O medo branco da onda negra, em Moura, o negro, seja ele escravo ou livre,
outras palavras, o perigo do “haitianismo”, participou da independência de quatro
foi reforçado no primeiro quartel do século maneiras fundamentais:
XIX com as sublevações baianas que foram
encabeçadas pelos haussás e nagôs, bem 1) aproveitou-se da confusão e fugiu para as
matas debandando dos seus senhores;
como a Revolta dos Malês ocorrida em 1835 2) aderiu ao movimento da Independência para
na cidade de Salvador. com isto tentar conseguir a sua alforria, como
fora prometida;
3) lutou por simples obediência aos seus
senhores; e
A ESCRAVIDÃO QUESTIONADA 4) participou ao lado dos portugueses (MOURA,

E O ABOLICIONISMO 1988, p. 49).

No horizonte das transformações políticas Entretanto, mesmo depois de usar os


e econômicas do século XIX figurava o fim negros como combatentes na luta pela
da escravatura, já abolida em praticamente independência do Brasil, a escravidão
todas as colônias e ex-colônias europeias. continuou a ser defendida pelos
Pilar de sustentação do Estado nacional, emancipacionistas. O autor destaca que:
o escravismo tinha seus dias contados. Se,
por um lado, fora ao ponto de convergência O liberalismo escravista, que marcou como
ideologia quase todos os movimentos de
entre a grande parte dos grupos oligárquicos mudança social quer no Brasil-Colônia, quer no
e a elite do Centro-Sul, por outro, constituía Império, declarava-se defensor da escravidão,
uma base inquieta, ameaçadora, que apesar das restrições de ordem filosófica que
fazia contra o conteúdo moral de sua existência.
arruinava a consolidação da cidadania e da Ao defender o direito de propriedade de um ser
nacionalidade brasileiras. humano sobre outro, automaticamente excluía a
classe escrava do direito à cidadania (MOURA,
1988, p. 48).
Todavia, como frisa Azevedo (1987), antes
mesmo da proclamação da independência
em 1822, a preocupação com o ordenamento A hegemonia da elite branca corria riscos
dos habitantes em termos nacionais começa a com a segregação e a violência resultante
ser colocada. Nesse sentido, Antonio Vellozo da existência do regime escravista, pois
de Oliveira, paulista formado em Direito em a percepção que ganhava cada vez mais

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espaço era de “uma país marcado por uma Em 1840, no período do Segundo Reinado
profunda heterogenia sócio-racial, dividido (1840-1889), o senador liberal Nicolau de
entre uma minoria branca, rica e proprietária Campos Vergueiro, endossando a perspectiva
e uma maioria não-branca, pobre e não- emancipacionista imigrantista, iniciou uma
proprietária” (AZEVEDO, 1987, p. 36). experiência de substituição de escravos
por homens livres. Patrocinando a viagem
Além do mais, a escravidão passou a ser de imigrantes alemães e suíços para as suas
colocada em questão pelos efeitos que fazendas em São Paulo, Vergueiro introduzia
produzia à economia brasileira, colocando o “contrato de parceria”, por meio do qual
obstáculos ao desenvolvimento da os trabalhadores tornavam-se “sócios” da
agricultura e da indústria, bem como pela produção cafeeira de suas propriedades.
degradação moral e social que provocava, Mendes (2009) sublinha que:
tanto nos escravos quanto em seus senhores,
desqualificando e desmotivando o trabalho Em 1840, o senador Nicolau Pereira de Campos
Vergueiro trouxe 90 lavradores da região do
manual, embrutecendo as relações sociais e Minho, Norte de Portugal, para trabalhar como
bestializando a maior parte da população. parceiros em sua Fazenda Ibicaba, próxima à
cidade de Limeira, na província de São Paulo
(Vergueiro [Carta], 1852). O contrato de
Conforme ressalta Azevedo (1987), parceria, firmado antes do embarque para o
foram várias as soluções que procuravam Brasil, estipulava que cada agricultor e sua
superar a heterogenia social provocada pelo família deveriam cultivar certa extensão de pés
de café na fazenda que os acolhesse, recebendo
escravismo e instituir uma nacionalidade. No em pagamento uma porcentagem do lucro
transcurso do século XIX, os reformadores líquido anual da venda do produto por eles
buscavam a criação de um povo mais coeso, e gerado. A parceria empenhava daquele modo,
por antecipação, o resultado do trabalho futuro
os emancipacionistas, no primeiro momento, do imigrante, com o qual ele deveria saldar os
enxergavam nos próprios habitantes do gastos feitos em seu benefício, desde a viagem
país, sendo eles escravos ou livres, um saída marítima até os adiantamentos para compra de
alimentos e subsistência (MENDES, 2009, p.
para um projeto de uma “sociedade unida, 174).
harmoniosa e progressiva”, mas para isto
teria que tirar esta gente das suas “vidas Teoricamente o negócio era vantajoso para
vistas como abjetas, inúteis e isoladas”. os trabalhadores: tinham viagem marítima
Já no segundo momento, a partir de 1840 e o transporte do porto de Santos até a
e 1850, os emancipacionistas passaram fazenda financiados; recebiam mantimentos
apoiar as “soluções imigrantistas” e viam nos e instrumentos para o trabalho, um número
estrangeiros europeus “o povo ideal para determinado de pés de café para plantio,
formar a futura nacionalidade brasileira” acompanhamento e colheita, um pequeno
(AZEVEDO, 1987, p. 36-37). pedaço de terra para o cultivo de gêneros
alimentícios e uma casa rústica para a sua
moradia. Em troca deviam dar ao proprietário

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metade da produção de seus pés de café e O fracasso do sistema de parceria decorria


não podiam deixar a fazenda até reembolsar principalmente do padrão escravista nas
todos os gatos assumidos pelo fazendeiro. relações de trabalho no Brasil (FRANCO, 1997;
Conforme enfatiza Franco: MENDES, 2009). As dívidas contraídas eram o
principal meio de que os fazendeiros dispunham
A dominação entre homens livres para obrigar seus trabalhadores a executarem
configurou-se num forte sistema autoritário, suas tarefas. No entanto, ao contrário do que
basicamente constituído por associações ocorria na Europa, na época, os proprietários
morais. Aí também a empresa mercantil não poderiam simplesmente despedir um
fez sentir os seus efeitos. Com a atividade trabalhador que considerassem inconveniente
lucrativa incorporada à vida das camadas ou preguiçoso e trocá-lo por outro disponível
dominantes, seus membros orientaram-se no mercado. Não havia uma reserva de mão de
de modo predominante por considerações obra livre no país que se dispusesse a executar
de interesses e foram levados a faltar aos as tarefas de negros escravos.
compromissos morais tacitamente assumidos
para com seus dependentes, assim expondo O cumprimento dos contratos, que
a contingência de sua dominação (FRANCO, acarretava uma limitação da liberdade desses
1997, p. 136). trabalhadores, e a dificuldade de saldar as
dívidas os desmotivava. Ao contrário do que
Na verdade o trabalhador já iniciava sua faziam com os escravos, os fazendeiros não
jornada no Brasil endividado. Durante quatro podiam usar a força e a violência para obrigá-
anos – tempo médio para primeira colheita los a trabalhar. Para Franco, “é certo que o
de um pé de café – o imigrante aumentava latifúndio trabalhado por escravos implicava
seu débito, sobre o qual eram cobrados juros, uma limitação das relações de troca” (FRANCO,
podendo contar apenas com a sua plantação 1997, p. 239). A autora também aponta que:
de gêneros alimentícios.
Ao lado do latifúndio, a presença da escravidão
freou a constituição de uma sociedade de classes,
Apesar de imitada por alguns fazendeiros não tanto porque o escravo esteja fora das
de São Paulo, a experiência de vergueiro não relações de mercado, mas especialmente porque
trouxe os resultados esperados. Na maioria excluiu delas os homens livres e pobres e deixou
incompleto o processo de sua expropriação.
das vezes o trabalho livre coexistia com a Ficando marginalizada nas realizações essenciais
escravidão, embora os fazendeiros tenham à sociedade e guardando a posse dos meios
estabelecido desde o início uma certa de produção, a população que poderia ser
transformada em mão-de-obra livre esteve salvo
divisão técnica das tarefas. O preparo do das pressões econômicas que transformariam
solo para a plantação de novos pés de café sua força de trabalho em mercadoria. Em outras
e de alimentos para o consumo da fazenda palavras, as relações entre proprietários e não-
proprietários não assumiram generalizadamente
continuava a ser realizada por escravos. o caráter de relações de troca (FRANCO, 1997,
p. 237).

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Em 1850, ao mesmo tempo que ocorriam 1827, cuja determinação era o término do
as experiências de parceria, o Estado nacional comércio ilegal transatlântico de africanos
anunciava duas medidas de forte impacto: o no período de três anos. Na tabela abaixo
fim do tráfico negreiro e a Lei de Terras. podemos conferir a movimentação de
escravos entre a África e o Rio de Janeiro.
Segundo Florentino (2014), até o término
oficial do tráfico negreiro pelo Atlântico O circuito Moçambique-Rio de janeiro,
(1830), era predominante o número de estabelecido tardiamente, foi um dos
adultos escravos que viviam nas cidades e responsáveis pelo incremento da população
no agro, as crianças atingiam uma cifra de cativa no Rio de Janeiro, o tráfico negreira
30% da população total de cativos, pois a nessa rota trouxe para província carioca
alta taxa de mortalidade entre os escravos cerca de duzentos mil moçambicanos entre
reduzia os índices de fecundidade. Havia a última década do século XVIII e o ano de
também um grande desequilíbrio entre o 1850. A importação de africanos ainda era
número de homens e mulheres escravos, cuja fundamental para assegurar a ampliação das
predominância era masculina. Florentino plantations de açúcar e de café no Sudeste,
aponta que: bem como para o aumento das estâncias de
gado no Sul do país, da economia urbana
[...] os dados acerca da evolução da população e a produtividade para o guarnecimento
escrava na província do Rio de Janeiro revelam
um extraordinário incremento na primeira (FLORENTINO, 2014).
metade do século XIX: de cerca de 82 mil cativos,
em 1789, passou-se para 150 mil em 1823. Nas Contudo, O fim do tráfico não
freguesias estritamente urbanas da cidade do
Rio de Janeiro, os escravos passaram de apenas representou o encerramento da escravidão:
1/3 dos 45 mil moradores contados em 1799, navios continuaram a descarregar,
para quase metade dos oitenta mil habitantes clandestinamente, contingentes de escravos
de 1821, alcançando cerca de 40% dos 230 mil
habitantes dessas freguesias (FLORENTINO, em portos brasileiros, ainda que em escala
2014, p.182) bem mais reduzida; o comércio interno era
incentivado e um grande número deles vinha
O comércio de africanos entre 1826 e do Nordeste para trabalhar nas rentáveis
1830 foi pautado, sobretudo, no processo de fazendas de café do Centro-Sul. Conforme
reconhecimento da independência do Brasil enumera Florentino, cerca de cinquenta mil
pela Inglaterra em 1822, no qual já previa o africanos desembarcaram no Brasil em cada
fim do tráfico de escravos. no período de 1846 a 1850. A venda de
escravos passou a ser uma alternativa para
As elites escravocratas do Sudeste algumas regiões brasileiras economicamente
compraram compulsoriamente o máximo enfraquecidas. De acordo com Peregalli
de africanos que podiam antes mesmo da (1997), mesmo com a emancipação do Uruguai
ratificação do tratado em 13 de março de em 1828, a importância da região fronteiriça

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Brasil-Uruguai para o tráfico atlântico era terras e capital, apesar das vastas extensões
significativa, pois muitos escravos eram territoriais não ocupadas.
transportados por este caminho e desviados
para o Império, principalmente a região Sul e Mesmo com o abastecimento interno de
Sudeste. escravos, o fim do tráfico provocou uma
relativa escassez de mão-de-obra e seu
Da mesma forma que os farroupilhas utilizaram respectivo encarecimento, o que incentivou
os portos de Montevidéu e Maldonado para
escoamento e aprovisionamento, entre 1849 e a busca de métodos de produção que
1853 o Uruguai foi uma alternativa para burlar dispensassem o maior número possível
o bloqueio que o almirante inglês Reynolds de trabalhadores. Assim, ampliou-se a
efetuava nas costas brasileiras para reprimir o
tráfego negreiro. Ainda após ratificar o convênio mecanização das atividades cafeeiras,
internacional de abolição do tráfego, em 1841, como o descaroçamento, a classificação e o
uma pequena frota de bandeira uruguaia fazia ensacamento do produto, o que acabou por
um estranho e velho comércio entre África
e o Rio da Prata. Os registros dos navios estimular a produção brasileira de máquinas
declaravam transportar colonos africanos, ainda cujo emprego generalizou-se no Oeste
que acorrentados e amontoados nos porões. A Paulista. Por se tratar de uma agricultura
fronteira foi efetivamente uma zona de tráfego
negreiro, espetáculo que levou o governo em expansão, quando da extinção do tráfico
uruguaio, em 1853, a declarar pirataria todo o os cafeicultores dessa região de São Paulo
comércio de seres humanos, abrindo ainda mais dispunham de capital para a aquisição desses
o conflito com o Império (PEREGALLI, 1997, p.
69). caros maquinários. No Vale do Paraíba, ao
contrário, o esgotamento do solo dava início
A Lei de Terras proibia a ocupação e ao declínio da produção, o que viria impedir
a doação de terras. Estas só poderiam sua modernização local (FRANCO, 1997).
ser adquiridas por compra. Com isso, os
imigrantes que viessem ao Brasil – pobres em Suspenso o tráfico e garantidas as limitações
sua esmagadora maioria –, os ex-escravos para a posse de terras, a elite dirigente do
e os homens livres brasileiros não teriam Estado nacional indicava sua tentativa de
acesso à base da agricultura e, portanto, branquear a população e aproximá-la dos
seriam forçados a trabalhar nas propriedades padrões europeus (AZEVEDO, 1987). Para
já existentes (MENDES, 2009). os fazendeiros, era necessário garantir um
fluxo imigratório contínuo e intenso que
As duas medidas estavam interligadas não dependesse de iniciativas isoladas
e deixavam explícito que a abolição da dos proprietários paulistas, ou seja, que o
escravatura seria lenta e gradual. Pela Estado arcasse com os custos do transporte
Lei de Terras, os fazendeiros tinham uma dos imigrantes e despejasse no Brasil um
contrapartida para essa previsível abolição: enorme contingente de trabalhadores livres.
a concentração da propriedade fundiária era Sem dívidas para desmotivá-los e sem
garantida para aqueles que já dispusessem de investimentos por parte dos proprietários,

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os imigrantes que não se adequassem aos econômica e dirigiam-se esperançosos para


padrões de trabalho vigentes no Brasil as fazendas de café. Na década seguinte,
poderiam ser substituídos por outros. apesar de muitos já estarem desiludidos
com as condições de trabalho no Brasil,
A disciplina e o controle dos trabalhadores o fluxo de italianos não parou de crescer.
seriam assegurados pelas restrições à Desembarcados no porto de Santos, eram
ocupação de terras e pela oferta de mão- levados até as hospedarias dos imigrantes em
de-obra livre. A lucratividade seria garantida São Paulo, para depois serem encaminhados
pelos baixos salários, decorrentes do alto para o interior, onde se dedicariam à
número de trabalhadores disponíveis. produção cafeeira.

O Estado assumiria, mais uma vez, No mesmo ano de 1871, a elite dirigente
sua vocação de agenciador de mão-de- continuou a implementação de seu projeto
obra. Fora fundamental até 1850 para a gradual de abolição, procurando uma forma
manutenção da escravidão e seria também o menos agressiva aos proprietários que ainda
avalista da abolição da escravatura e da sua não haviam substituído os escravos de suas
substituição pelo trabalho livre. Todavia, com fazendas. A Lei do Ventre Livre ditava que
impossibilidade de importação de escravos todos os filhos de escravas nascidos a partir
africanos, os latifundiários e fazendeiros de de então seriam livres, tendo o proprietário
café das províncias Sudeste pensaram em as opções de entregá-los ao governo, em
uma saída criativa para o problema, importar troca de uma indenização, ou de mantê-los
negro escravo de outras províncias: trabalhando até completarem 21 anos.

(...) os fazendeiros de café do Rio de Janeiro, São Em 1885, uma nova lei revelava a timidez
Paulo e Minas no início do surto [da proibição
do tráfico de africanos] usam o recurso de do projeto abolicionista. Pela Lei dos
importar o negro escravo de outras províncias Sexagenários, também chamada de Saraiva-
que já se encontravam decadentes, como Cotegipe, todo escravo que chegasse aos
Pernambuco, Bahia e Ceará. Essa necessidade
de importação interprovincial desarticulava 65 anos de idade adquiriria sua liberdade.
novamente a população negra, que é deslocada Devido aos maus-tratos e aos exaustivos
para novas áreas prósperas, muitas vezes vendo trabalhos, poucos conseguiam chegar a idade
fragmentada a sua família, pois os seus membros
podiam ser vendidos para senhores diferentes tão avançada e mesmo os que pudessem
(MOURA, 1988, p. 55). se beneficiar da medida teriam poucas
possibilidades de sobrevivência na sociedade
A partir de 1871, o governo provincial de brasileira. Apesar de tudo, a escravidão tinha
São Paulo passou a destinar recursos para a seus anos contados. Moura (1988) assinala
entrada de imigrantes na região, a maioria que:
composta por italianos que deixavam sua
terra natal devastada por uma profunda crise A Lei do Sexagenários, a do Ventre-Livre, a
extinção da pena de açoite, a proibição de se

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venderem para senhores diferentes membros da e, de outro, para justificar a política imigrantista
mesma família escrava e outras são mecanismos que era patrocinada por parcelas significativas
que protegem mais a propriedade do senhor do capitalismo nativo e pelo governo de D.
do que a pessoa do negro escravo. A Lei Pedro II (MOURA, 1988, p. 57, grifo do autor).
Sexagenária, por exemplo, serviu para descartar
a população escrava não produtiva, que apenas
existia como sucata e dava despesas aos Após o extermínio de grande parte da
senhores. A Lei do Ventre-Livre condicionava população negra na Guerra do Paraguai,
praticamente o ingênuo a viver até os vinte anos
numa escravidão disfarçada trabalhando para o o movimento abolicionista ganhou novo
senhor (MOURA, 1988, p.56-57). impulso no seio do Império brasileiro. Os
abolicionistas passaram a chamar a atenção
Ao mesmo tempo em que o governo para o exemplo dos Estados Unidos onde
procurava não descontentar a maioria dos a escravatura fora abolida em 1863. Da
proprietários, crescia no Brasil a campanha mesma forma, criticavam as tímidas leis
abolicionista. Iniciada nas grandes cidades governamentais que adiavam a resolução
por membros mais ilustrados da sociedade sobre o cativeiro dos negros. Para o deputado
brasileira, a mobilização levou à organização Joaquim Nabuco, um dos principais líderes
de clubes, associações e jornais com do movimento, era urgente implementar um
o intuito de alertar a população para a projeto que não só trouxesse a liberdade
necessidade de modernização das relações para os cativos, como também permitisse
no país e contou com a liderança de mulatos, integrá-los como cidadãos na sociedade.
como o farmacêutico José do Patrocínio e
o engenheiro André Rebouças. Para Moura As medidas parlamentares causavam
(1988), a crise do sistema escravocrata significativo descontentamento em
entrava em sua última fase: determinados grupos com características
mais radicais, na década de 1880, os quais
Do ponto de vista estritamente econômico, passaram a organizar associações que se
capitais de nações europeias mais desenvolvidas
no sistema capitalista investiam nos ramos encarregavam de auxiliar a fuga de escravos.
fundamentais, como transportes, iluminação,
portos e bancos, criando uma contradição Caifazes era o nome de um grupo
que irá aguçando-se progressivamente entre
o trabalho livre e o escravo. Tudo isto irá constituído por advogados, estudantes,
culminar com a Guerra do Paraguai, na qual os comerciantes e até mesmo ex-escravos.
negros serão envolvidos na sua grande maioria Tal grupo estimulava e realizava fugas
compulsoriamente, nela morrendo 90.000.
Aqueles que fugiram ao cativeiro, apresentando- de fazendas localizadas em São Paulo.
se como voluntários, acreditando na promessa Entretanto, Azevedo (2010) problematiza
imperial de libertá-los após o conflito, foram a imagem cristalizada dos Caifazes e do
muitos deles reescravizados. Essa grande sucção
de mão-de-obra negra, provocada pela Guerra do seu líder Antonio Bento, para autora, a
Paraguai, abriu espaços ainda maiores para que construção dessa imagem dos caifazes como
o imigrante fosse aproveitado como trabalhador. grupo pioneiro da luta pela abolição ganhou
Essa tática de enviar negros á guerra serviu, de
um lado, para branquear a população brasileira força a partir da construção de Luiz Gama

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como legendário abolicionista depois de sua morte. O Antonio Bento aproveitou-se da morte
de Gama para fazer dela um ato político e de propaganda abolicionista, cuja ideia era fazer
dele o “redentor da escravidão”. A partir daí, as interpretões posteriores que atribuem ao Luiz
Gama a figura de “herói da escravidão”, reduziram o movimento abolicionista – movimento
multifacetado de interesses e atores sociais – aos membros do movimento caifazes Luiz
Gama e Antonio Bento, destituindo de sentido a presença dos sujeitos escravizados no
processo abolicionista.

Após saírem do cativeiro, o destino da maior parte dos escravos era o quilombo do
Jabaquara, situado em Santos, o qual atingiu a marca de dez mil pessoas reunidas. Em 1886,
a cidade de santos não possuía mais escravos e isso fez com que o local fosse considerado o
lugar mais seguro para instalar um Quilombo. A província do Ceará, antes mesmo de Santos,
aboliu a escravidão em 1884, os jangadeiros, movimento abolicionista cearense liderado pelo
mestiço Francisco José do Nascimento, que ganhou força em 1881, foram imprescindíveis
para conquistarem a liberdade dos escravos (FRANCISCO, 2013).

A desestruturação do regime escravista tornou-se clara e irreversível com as frequentes


fugas, sabotagens, insurreições, atentados e assassinatos, ao longo da década de 1880. Esse
cenário obrigou os proprietários a admitirem a existência da rebeldia e a tentarem fazer
acordos com seus escravos.

A agitação abolicionista crescia na mesma medida da entrada dos imigrantes no país.


Cerca de 90% dos trabalhadores estrangeiros eram italianos, mas havia também alemães,
suíços, eslavos e espanhóis. O Brasil, na forma, começava a buscar uma aparência europeia.
Na verdade, como nos séculos coloniais, continuava a buscar a maior parte de sua mão-de-
obra fora das fronteiras do país. O trabalhador ainda seria, por muito tempo, um estrangeiro
sem direito à terra.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da presente pesquisa foi possível verificar que,
apesar de todas as condições desfavoráveis e dos discursos
legitimadores da escravidão, os negros cativos não deixaram
de apresentar formas de resistência à sua situação: sabotavam
a produção do açúcar; arranjavam fugas de modo individual
ou coletivo; promoviam assassinatos, tanto de senhores,
como de feitores; causavam revoltas e a própria morte.

Ocorria, também, um fenômeno chamado banzo, que dizia


respeito a uma atitude apática, que comprometia a eficiência
em relação ao labor. A depressão levava muitos a definharem
até a morte. PRISCILA ALMEIDA SILVA

Graduação em Pedagogia, pela


A preservação das crenças e rituais africanos configura-se Faculdade das Américas (2010);
como uma forma de resistência. Tais práticas eram mantidas Especialista em Educação e
a despeito da reprovação e atenção do clero colonial. Não Sociedade pela Universidade
Cidade de São Paulo – UNICID
havia, entre os negros trazidos para a América e partir (2012);
do século XVI, uma mesma religião ou ritual. O culto aos Especialista em Sociopsicologia
antepassados era um ponto em comum. Nele, os escravos pela Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo
solicitavam proteção. – FESPSP (2013);
Professor de educação Infantil e
Ensino Fundamental I na EMEF
Alferes Tiradentes.

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REFERÊNCIAS
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século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O JOGO NA EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR
RESUMO: Buscamos, por meio do método de revisão literária, refletir sobre o papel
do Jogo na Educação Física Escolar, visto que é uma das estratégias mais utilizadas em
aula, não só nesta disciplina, como também em outros componentes curriculares. Buscar
a origem da palavra Jogo, e os autores que refletiram sobre ela. Outro fator presente é
sobre os valores éticos intrínsecos ao jogo e se bem conduzido e orientado pode promover
mudança significativa no educando e, consequentemente, na sociedade. Porém, o contrário
é verdadeiro. A má condução do andamento do jogo e comportamento do educando no
mesmo, poderá produzir cidadãos extremamente competitivos e egocêntricos. Enfim, o Jogo
é um motivador por si mesmo, porém a condução do educador determinará um papel e
importância na vida do educando. Por fim o posicionamento em defesa do uso do Jogo na
Educação Física Escolar.

Palavras-Chave: Jogos; Educandos; Educação Física Escolar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Além do qual o jogo “ajuda-o a construir


suas novas descobertas, desenvolve e
O presente artigo busca por meio de enriquece sua personalidade e simboliza
revisão de literatura refletir sobre a origem do um instrumento pedagógico que leva
jogo, mesmo não sendo possível determinar ao professor a condição de condutor,
ao certo o surgimento do mesmo, podemos estimulador e avaliador da aprendizagem”
encontrar registros de 3.000 aC de situações (ANTUNES, 2008).
de jogos. O jogo como algo inerente ao
homem e à sociedade, sendo patrimônio
cultural e passado de gerações para gerações DEFINIÇÃO DE JOGO
e seus criadores anônimos.
O jogo apesar de não ser possível determinar
A escola é um espaço privilegiado na qual sua origem ao certo, ele aparece na história
a aprendizagem acontece através de diversos registrada mais ou menos uns 3.000 anos
meios. No processo de aprendizagem é o antes da era cristã quando começaram a ser
professor que possibilita a interação do aluno considerados dentro da cultura dos homens
com o conhecimento. Podemos observar e nos dias atuais podem ser observados em
o uso crescente de diferentes recursos todas as culturas conhecidas.
didáticos, porém focalizaremos os jogos nas
diversas disciplinas no contexto escolar. Nos dicionários o termo jogo provém do
latim “lócus, jócus, locare”, que quer dizer
Ao professor cabe a responsabilidade brinquedo, divertimento, passatempo, que
de ensinar e possibilitar ao aluno avançar, está sujeito a uma série de regras e normas
progredir no sentido de tornar-se diferente a preestabelecidas.
cada aula. Nesta perspectiva, o ensino pode
ser desencadeado por diversas práticas, No século IV, antes de Cristo, Aristóteles
inúmeras maneiras propícias à realidade da (384-322 a.C.), comparou o jogo à felicidade
turma, e a do próprio aluno. e à virtude, pois estas atividades não são
importantes como as que constituem o
Ressaltaremos os valores agregados trabalho e são “escolhidas por si mesmas”
no jogo na respectiva de formação de (Abbagnano,1998)
um cidadão ético, responsável, solidário,
cooperativo. Em uma sociedade que a Para Kishimoto (1992), ”Não se conhece
competição desenfreada já é tão estimulada, a origem dos jogos. Seus criadores são
o espaço da Educação Física Escolar pode anônimos. Sabe-se, apenas, que são
promover uma transformação no educando provenientes de práticas abandonadas por
por meio de atitudes e valores. adultos, de fragmentos de romances, poesias,
mitos e rituais religiosos”.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O jogo está presente desde épocas mais Araújo (1992) analisa o jogo como “uma
remotas, em diversos lugares e em diferentes atividade espontânea e desinteressada,
sociedades. O jogo é algo transcendente ao admitindo uma regra livremente escolhida,
homem o qual assemelha-se em uma fuga da que deve ser observada, ou um obstáculo
realidade que o cerca. deliberadamente estabelecido, que deve ser
superado”.
Para Huizinga ao analisar a transcendência
do jogo: Antunes (2003, p.11), define jogo:

“É uma função significante, isto é, encerra um “A palavra jogo provém de jocu, substantivo
determinado sentido. No jogo existe alguma masculino de origem latina que significa gracejo.
coisa “em jogo” que transcende as necessidades Em seu sentido etimológico, portanto, expressa
imediatas da vida e confere um sentido à ação. divertimento, brincadeira, passatempo sujeito
Todo jogo significa alguma coisa” (1992, p. 3). a regras que devem ser observadas quando
se joga. Significa também balanço, oscilação,
astúcia, ardil, manobra. ”
Para Moratori (2003), a origem dos jogos
é desconhecida, entretanto, sabe-se que os Kishimoto (1993, p.15), afirma que os
mesmos foram conservados e transmitidos, jogos foram transmitidos de pais para filhos:
oralmente, de geração em geração. Desta
feita, percebe-se que estes mantêm em “A tradicionalidade e universalidade dos jogos
assenta-se no fato de que povos distintos e
sua constituição, cognições de culturas, de antigos como os da Grécia e Oriente brincavam
formas de viver de um povo, mantidas e de amarelinha, de empinar papagaios, jogar
evoluídas em diferentes partes do mundo. pedrinhas e até hoje as crianças o fazem
quase da mesma forma. Esses jogos foram
transmitidos de geração em geração por meio
Segundo Gadamer (2002), “aquele que de conhecimentos empíricos e permanecem na
joga sabe, ele mesmo, que o jogo é apenas memória infantil. O jogo tradicional infantil é
considerado como parte da cultura popular, o
jogo, e que se encontra num mundo que é jogo tradicional guarda a produção espiritual de
determinado pela seriedade dos fins. Mas isso um povo em certo período histórico [...] e por
não sabe na forma pela qual ele, como jogador ser um elemento folclórico, esse jogo assume
características anônimas, tradicionalidade,
imaginava essa relação com a seriedade”. transmissão oral, conservação, mudança e
universalidade”
Para Huizinga,( 1999, p.53),

“O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária,


exercida num certo nível de tempo e espaço,
segundo regras livremente consentidas e
absolutamente obrigatórias, dotado de um
fim em si mesmo, atividade acompanhada de
um sentimento de tensão e alegria, e de uma
consciência de ser que é diferente daquela da
vida cotidiana”

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DO JOGO produz a criatividade, a dinâmica, lógica de


DA EDUCAÇÃO FÍSICA raciocínio, perspicácia e etc. pode ainda ser
um instrumento para promoção de atitudes
ESCOLAR cooperativas, com inclinação para o bem
O jogo está presente no cotidiano escolar comum, estimular a participação ética. Ou
e permeia diversos conteúdos e disciplinas, o contrário, dependendo da forma como é
apresenta-se como estratégia dinâmica e conduzido e estimulado junto aos educandos.
polêmica de trabalhar assuntos relacionados
à educação, possibilitando novas formas do Vygotsky nos deixa uma importante
trabalho docente que provocam discussões, consideração sobre a importância dos
críticas, reflexões, posicionamentos pessoais jogos e brincadeiras no desenvolvimento
e coletivos e levam às novas formas de da criança, tanto para conhecimento do
pensar e construir o conhecimento e superar mundo que a cerca, como prática cultural:
dificuldades. brincar possibilita criar novas relações tanto
entre situações do mundo real quanto nas
Ele corrobora com a construção novas imaginárias, que permitem conhecer a si
descobertas, estimula o desenvolvimento mesmo e ao outro.
da personalidade de quem os pratica e
simboliza um instrumento pedagógico. Para Piaget, os jogos são essenciais no
Os jogos podem ser motivadores e por desenvolvimento da criança, pois permite
isto é um instrumento muito poderoso na que ela se expresse livremente, pelo prazer
estimulação da construção do raciocínio, o que sente, e, assim, demonstra o estágio em
desafio proporciona ao praticante a busca que se encontra cognitivamente. Para ele, o
de soluções ou de formas de adaptação a jogo não deve ser visto como divertimento ou
situações de problema. brincadeira para simples desgaste de energia,
segundo ele a seriedade do jogo reside no
Kishimoto(1993, p.110), nos diz que: fato que ele favorece o desenvolvimento
físico, cognitivo, afetivo, social e moral do
“Brincando as crianças aprendem a cooperar indivíduo; assim o jogo é excelente forma de
com os companheiros, a obedecer às regras do
jogo, a respeitar os direitos dos outros, a acatar conhecer o mundo e entrar no contanto com
a autoridade, a assumir responsabilidades, elementos de sua cultura.
aceitar penalidades que lhe são impostas, a dar
oportunidades aos demais, enfim, a viver em
sociedade. ” Kishimoto (1992, p.38), afirma que:

“Em qualquer tipo de jogo a criança sempre


se educa, pois, todo jogo é educativo em sua
Provoca naqueles que se envolvem essência, trazendo inúmeros efeitos positivos
diversas ações e reações, como os na dominância corporal, moral e social da
sentimentos, alegria, tensão, além ainda que criança; sendo que para os adultos os jogos
são excelentes ferramentas que constroem e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

exercitam a paciência, amenizam a ansiedade,


promovem o respeito e a tolerância no trato O emprego de jogos e brincadeiras nos
dos diferentes pontos de vista das pessoas com anos iniciais do Ensino Fundamental pode
quem convivemos. ” ser justificado por quatro aspectos (Antunes,
1998), ressaltados a seguir. Capacidade de se
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituir um fator de autoestima do aluno,
de Educação Física do Ensino Fundamental para isto é preciso que os jogos não sejam
(1998, p.35), faz a seguinte constatação: extremamente fáceis causando desestímulo
e nem muito difíceis causando baixa
“Nos jogos, ao interagirem com os adversários, autoestima, de forma a representar desafios
os alunos podem desenvolver o respeito mútuo,
buscando participar de forma leal e não violenta. intrigantes e estimulantes, de acordo com a
Confrontar-se com o resultado de um jogo e com faixa etária de cada indivíduo.
a presença de um árbitro permitem a vivência e
o desenvolvimento da capacidade de julgamento
de justiça (e de injustiça). Principalmente nos Condições psicológicas favoráveis para
jogos, em que é fundamental que se trabalhe que cada aluno tenha confiança no que vai
em equipe, a solidariedade pode ser exercida realizar, de forma que encontre no professor
e valorizada. Em relação à postura diante do
adversário podem-se desenvolver atitudes de apoio para o momento em que necessitar.
solidariedade e dignidade, nos momentos em Condições ambientais para que a criança se
que, por exemplo, quem ganha é capaz de não sinta segura à realizar os jogos propostos
provocar e não humilhar, e quem perde pode
reconhecer a vitória dos outros sem se sentir com sucesso dentro de um ambiente que
humilhado. ” transmita segura e higiene. Fundamentos
técnicos as crianças dessa faixa etária
Para Carvalho: gostam de jogos com regras e é importante
que elas sejam seguidas para total harmonia
“Desde muito cedo, o jogo na vida da criança é do trabalho.
de fundamental importância, pois quando ela
brinca, manuseia e explora tudo aquilo que está
a sua volta, através de esforços físicos e mentais Os Parâmetros Curriculares Nacionais
e sem se sentir coagido pelo adulto, começa a (PCNs), direciona que “O jogo, em seu sentido
ter sentimentos de liberdade, portanto real valor
e atenção as atividades vivenciadas naquele integral, é o mais eficiente meio estimulador
instante” (1992, p.14). das inteligências. O espaço do jogo permite
que a criança (e até mesmo o adulto) realize
Mais adiante, acrescenta: tudo quanto deseja. Socialmente o jogo
impõe o controle de impulsos, a aceitação
“E o ensino absorvido de maneira lúdica, passa das regras. ”
a adquirir um aspecto significativo e afetivo no
curso do desenvolvimento da inteligência da
criança, já que ela se modifica de ato puramente A motivação intrínseca e inerente presente
transmissor a ato transformador em ludicidade, no jogo faz despertar o interesse do aluno
denotando-se, portanto, em jogo” (1992, p. 28).
transformando-o em uma ferramenta ideal
para aprendizagem, ajudando a construir

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Revista Educar FCE - Abril 2019

suas novas descobertas, desenvolve e enriquece e simboliza um instrumento pedagógico


que leva o professor a condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.

O jogo, além de prazeroso, pode ativar diversos esquemas de conhecimento necessários
para construção de saberes cognitivos e procedimentais tais como: observar, reconhecer,
identificar, comparar, localizar etc., além de habilitar ao raciocínio lógico, ao planejamento, à
tomada de decisão e à intuição.

Permite desenvolver habilidades atitudinais e sócio emocionais, como a cooperação, ao
trabalho em equipe, ao estabelecer e atender regras, aos relacionamentos interpessoais,
superação de conflitos, autoestima, autoconfiança, entre outros. Valores éticos tão
necessários à formação dos educandos.

Para Vygotsky, o ensino sistemático não é o único fator responsável por alargar horizontes
na zona de desenvolvimento proximal. Ele considera o brinquedo uma importante fonte de
promoção de desenvolvimento.

E para reforçar tais premissas, é conveniente citar Jean Piaget quando afirma: "O jogo é
um tipo de atividade particularmente poderosa para o exercício da vida social e da atividade
construtiva da criança".

Por intermédio dos jogos, é possível estimar a dimensão da contribuição para a formação
de cidadãos, responsáveis, conhecedores das regras sociais, com respeito e dignidade ao
próximo, solidários, éticos e cooperativos. Também observamos a presença de componentes
cognitivos como concentração, atenção, conhecimento e desafiando nossa criatividade e
testando nossos limites, oferecendo modelos de convivência grupal, sem falar do trabalho
da competência de lidar com o emocional.

Eiras e Eiras (2007, p.1), afirma que ”o homem é um ser social e, ao longo de sua vida vai
estabelecendo relacionamentos e desenvolve-se, também, por conta da relação com outras
pessoas”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso do Jogos na Educação Física Escolar é um dos
recursos que possibilita a promoção do conhecimento pelo
educando que forma lúdica e motivante. O educador, agente
de promoção do ensino e aprendizagem ao educando deve
manter em sua prática a utilização dos jogos como parte
do seu trabalho pedagógico na sala de aula, pois estes
desempenham o contato com o mundo da imaginação e no
estabelecimento da autonomia e formação de valores.

Assim como o Jogo em sua essência intrínseca de envolver
os participantes, o educador deve conduzir o andamento
do decorrer dos jogos, as regras tanto da flexibilização ou PRISCILA APARECIDA
manutenção rígida das mesmas, e orientar o educando na SPOLI ALBERTO
sua participação e o que se espera em relação as atitudes de
Professora de Educação Física
cooperação, respeito, participação e justiça social. na Rede Municipal de São Paulo,
Especialização em Gestão Escolar
Além do ponto crucial da condução na forma com esse
Jogo será jogado, destaque para a ação do Educador.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

(DES) EDUCAÇÃO
RESUMO: Este artigo apresenta a experiência de uma professora de educação infantil
utilizando as Linguagens da Arte no cotidiano de uma escola municipal de São Paulo
cheia de dificuldades, como: número elevado de crianças na sala, falta de materiais, falta
de infraestrutura adequada para as crianças, falta de cursos de formação e reciclagem e
falta de apoio ao trabalho do professor, e uma reflexão a respeito da realidade e da prática
pedagógica que a auxiliam na busca por sua identidade profissional.

Palavras-Chave: Linguagens das Artes; Educação Infantil; Prática Pedagógica

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INTRODUÇÃO O TEMPO DE ALUNA


NA ESCOLA
Por meio da vivência de uma professora
de Educação Infantil numa escola pública A vivência desta professora na escola não foi
precária, repressora e “conteudista”, será das mais alegres e prazerosas, pelo contrário,
feito um breve depoimento a respeito do as lembranças guardadas do seu tempo de
desafio que é romper com a ideia do que seja estudante era uma grande quantidade de
educação. livros e cadernos para carregar na mochila,
paredes frias e cinzentas, conteúdos para
Inicialmente, será falado sobre sua decorar e horas a fio sentada ouvindo em
vivência como aluna numa escola tradicional silêncio o que os professores tinham a dizer.
e num período educacional em que os
conteúdos eram privilegiados e valorizados. Na pré-escola, suas lembranças são a
Será feita uma breve reflexão sobre como cartilha, o caderno de caligrafia, o caderno de
esta professora se sentia dentro daquele desenho, os desenhos para colorir, o parque
ambiente e a influência que teve na sua e o pátio cinza e gelado. Não há lembranças
formação. Uma vez que os conteúdos de brincadeiras ou cantigas da época.
tinham maior importância, as aulas de
Educação Física e Educação Artística não No primário (atual Ensino Fundamental I), as
eram valorizadas, portanto, ela sentia falta recordações são as carteiras enfileiradas com um
de poder se expressar por meio do corpo ou sentado atrás do outro, cada um olhando para
da arte. Esta professora da rede pública de a cabeça do colega da frente e todos de frente
São Paulo contará um pouco da sua angústia para a lousa. A maior parte do tempo os alunos
diante das dificuldades que encontra no passavam sentados. O recreio tinha entre quinze
seu dia a dia para poder exercer da melhor e vinte minutos para lanchar e relaxar.
maneira possível sua profissão.
No ginásio (atual Ensino Fundamental II), a
Em seguida, será feito um breve mudança da parte de baixo e escura da escola
depoimento do seu trabalho como professora para a parte ensolarada e mais alta a fez ter
em que utilizou das Linguagens da Arte com esperança de que dias melhores estavam por
as crianças e fez uma reflexão sobre a sua vir. Pura ilusão. Houve um aumento do número
prática docente. de professores e disciplinas, ademais, houve
também um acréscimo da cobrança por parte
dos responsáveis. Era como se a mudança
de ano significasse, automaticamente, o
amadurecimento repentino e o aumento
do interesse e prazer em aprender dentro
daquele sistema disciplinar.

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Citando Michel Foucault em Vigiar e Punir: Nessas aulas de “menor importância”,


era possível se sentir mais viva, interessada
(...)Walhausen, bem no início do século XVII, e disposta a aprender. Era um alívio poder
falava da correta disciplina como arte do bom
adestramento. O poder disciplinar é com efeito movimentar seu corpo e relaxar, saindo da
um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, “prisão” que era a carteira da sala.
tem como função maior adestrar; ou sem dúvida
adestrar para retirar e se apropriar ainda mais
e melhor. (...) O sucesso do poder disciplinar se Foram anos de aprisionamento para que o
deve sem dúvida ao uso de instrumentos simples: corpo ficasse disciplinado, quieto e parado.
o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e Citando Silva em Alienígenas na Sala de Aula:
sua combinação num procedimento que lhe é
específico, o exame. (FOUCAULT, 2010: p.64)
(...) Na visão educacional tradicional, o corpo é
território exclusivo da Educação Física. Esquece-
se de que, assim como existe uma política do
Nesse período escolar, o conteúdo corpo, um biopoder, como demonstrou Foucault,
prevalecia sobre a experiência e, para existe também uma política educacional do
corpo, de alcance muito mais amplo (...). A
garantir que todos aprendessem, a postura moldagem dos corpos, seu disciplinamento
autoritária do professor, imposta por meio é não apenas um dos componentes centrais
de um sistema disciplinador, garantia que do currículo, mas, provavelmente, um de seus
efeitos mais duradouros e permanentes. (...)
os alunos permanecessem em seus lugares. A Teoria do Currículo tende simplesmente a
Isso não garantia aprendizagem, porém, ignorar a política educacional do corpo. (...)
como estavam condicionados a ficar ouvindo está preocupada com conhecimentos, matérias,
saberes, conteúdos, desenvolvimento cognitivo.
passivamente todo o conteúdo sentados, E o corpo? É ignorado, escamoteado, escondido.
para todos os efeitos, estavam aprendendo E, talvez, com isso, melhor controlado, melhor
e evitando uma punição maior: a reprovação disciplinado, mais sujeito a ser moldado
como identidade hegemônica, como corpo
nos exames. subalternizado. (SILVA,1995: p.203-204)

No Ensino Médio, foi transferida para uma


escola de ensino técnico, e acabou optando Esta educação formal é voltada para o
pela Publicidade. Nesse ambiente, em que a disciplinamento do corpo e para a valorização
arte estava mais presente, percebia o bem e dos conteúdos sobre as vivências. As
o prazer que as aulas de criação despertavam consequências deste sistema educacional
nela. Até então, sua vivência em artes são notórias: dificuldade de expressar as
havia sido nas aulas semanais de Educação ideias diante de um grupo e reação passiva
Artística, que, naquele sistema do ensino diante de situações impostas. Há muitas
fundamental, eram, assim como a disciplina conjunturas do sistema educacional que
de Educação Física, pouco consideradas e refletem na forma de ser e estar no mundo.
sem muita importância dentro do currículo
escolar.

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O TRABALHO DE com atividades dirigidas na sala, só podiam


PROFESSORA sair para o pátio se tivessem brincadeiras
dirigidas, por orientação da direção da escola,
Hoje na Educação Infantil, o professor vive para que elas não se machucassem. Porém
algo semelhante com os alunos. Diante do nem todas as crianças queriam participar,
número elevado de crianças, ele é obrigado a e acabavam dispersando-se, culminando
agir autoritariamente para conseguir ordem numa situação cujo “controle” ficasse
e poder realizar um bom trabalho. comprometido.

No ano de 2011, a professora ao trabalhar Nesse contexto, foi difícil para a professora
pela primeira vez numa EMEI e assumir uma fazer alguma atividade relacionada à arte,
sala de 1.º Estágio com 35 crianças na faixa e tornou-se mais viável reproduzir o velho
de cinco anos de idade, dentre as quais, e temido sistema educacional da qual foi
uma criança com necessidade educacional vítima, em que o aluno é aprisionado na
especial, tinha um desafio a ser superado. carteira escolar por horas, sem poder se
movimentar dentro da sala, e obrigado a
Já com alguma experiência docente em aprender conteúdos que lhe são impostos
algumas escolas particulares, em 2004, e que podem ser pouco significativos.
por meio de concurso de Professora de Ela se pergunta com frequência: de que
Desenvolvimento Infantil, ela ingressou em maneira ela pode trabalhar nesse sistema
um Centro de Educação Infantil (CEI). educacional diante de uma realidade adversa
e pode contribuir para que as crianças se
Em 2010, ela optou pela transformação desenvolvam de forma segura, respeitando
de cargo: de professora de CEI passou para suas condições de ser criança?
o cargo de professora de educação infantil e
fundamental I. No livro A Ética na Educação Infantil (1998),
Devries e Zan mostram três classes de jardim
A falta de uma infraestrutura que respeite de infância em um bairro de baixa renda a
as necessidades das crianças da faixa etária fim de ilustrar diferentes tipos de ambiente
da Educação Infantil, com um espaço seguro sociomoral. As autoras classificam-nas como:
para que elas possam se movimentar e brincar o campo de treino de recrutas, a comunidade
com liberdade, um parque com brinquedos e a fábrica. Em cada uma delas, reflete-
adequados, e a falta de conhecimento por se sobre a postura e a forma da professora
parte da direção da importância do brincar se relacionar com seus alunos e os efeitos
na educação infantil foram fatores que a psicológicos que isso gera nas crianças.
intimidaram a sair para fora da sala de aula.
Por meses, o parque não foi liberado para No campo de treino de recrutas, a
brincar e as crianças, quando não estavam professora, por ser muito autoritária, impede

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Revista Educar FCE - Abril 2019

seus alunos de expressarem-se. Não há diante delas. Por serem numerosas e ainda ter
interação entre as crianças, por causa do seu uma criança com necessidade educacional
controle. Com isso, a resolução dos conflitos especial, um silêncio absoluto por um certo
fica totalmente a cabo da professora, tempo na sala de aula é complicado de se
impedindo que as crianças exercitem sua conseguir. Ela tem que ser autoritária para
competência social e moral e desenvolvam ser ouvida por todos, a fim de comunicar
um comportamento que não depende da a atividade a ser realizada. Ela gostaria de
coerção do outro para se regular. ser mais democrática com seus alunos, mas
é impossível de se realizar qualquer coisa
Na comunidade, o ambiente sociomoral em alguns momentos em que ela dá mais
é de respeito e a professora permite que as liberdade. Talvez, por estarem acostumadas
crianças participem na tomada de decisões com essa postura mais autoritária, as crianças
para a resolução de um problema e aceita as não sabem se comportar de outra forma,
suas sugestões. Nesse tipo de ambiente, a somente respeitam e comportam-se diante
resolução dos conflitos se dá com o auxílio da do grupo em que se encontram se elas se
professora, de forma a permitir que a criança sentirem coagidas.
exercite o seu raciocínio para que passe de
ações mais impulsivas para negociações que A professora pode estar enganada
respeitem os direitos e sentimentos dos com relação a tudo isso, mas ainda não
outros. encontrou um jeito em que pode ser liberal
e, concomitantemente, manter a ordem,
Na fábrica, o que prevalece é a produção e fazendo que seus alunos compreendam que
a execução do trabalho dirigido às crianças. é impossível de se realizar qualquer atividade
O ambiente, apesar de ser mais relaxado do na bagunça e no barulho. Ela se pergunta
que o campo de treino de recrutas, ainda é se é culpa do sistema, da família em que
um ambiente em que as crianças têm pouca os alunos estão inseridos, da sua falta de
interação entre si, o que impede que haja um experiência ou se é da política da escola em
maior relacionamento entre elas. A resolução que está atualmente.
dos conflitos fica sob a responsabilidade da
professora e não há um incentivo de sua Em razão do elevado número de crianças
parte para que as crianças exercitem esse por sala, à falta de suporte ao trabalho do
tipo de atividade. professor e à visão de educação infantil
por parte da direção, fica angustiada por
Ao analisar esses modelos, a professora não poder ter uma postura mais liberal, de
se identifica com eles e percebe que a sua forma que contribua para que essas crianças
prática transita entre as posturas das três tenham mais autonomia na resolução dos
professoras. Para ser ouvida e conseguir conflitos e mais liberdade dentro do espaço
uma ordem com as crianças, precisa se impor que, teoricamente, foi planejado para elas,

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mas que, na prática, este ambiente não notório ver o prazer que elas sentem quando
favorece para que a aprendizagem ocorra desenham, fazem alguma atividade com
de forma mais natural, humana e prazerosa tinta, têm liberdade de se movimentar pelo
possível. espaço da sala ou do pátio, brincam com
massinha de modelar ou mesmo quando
VIVÊNCIAS COM AS podem criar, dentro do seu universo infantil,
LINGUAGENS DA ARTE possibilidades para explorar e descobrir, a
todo momento, outras formas de se fazer a
As atividades de artes nas linguagens de mesma coisa, só que de outra maneira, seja
dança, música, teatro e artes visuais facilitam nas brincadeiras, seja nas atividades, seja na
a comunicação com as crianças, pois estão forma de se relacionar com os colegas e com
mais próximas ao universo infantil. Elas os educadores da escola.
escutam melhor e sentem-se mais motivadas
e interessadas a participar das propostas. O Atualmente, é possível refletir sobre a
envolvimento acontece de forma natural e importância que a escola tem na formação da
espontânea. criança e que a convivência, a possibilidade
de experimentar e vivenciar de forma
O interesse que essas linguagens concreta os conteúdos são mais importantes
despertam nas crianças de dois anos já é que a teoria apresentada de forma mecânica.
perceptível quando se trabalha no CEI. Em
vários momentos em que ocorre atividades Por isso, é necessário propiciar vivências
de pintura, desenho, colagem e modelagem, é de brincadeiras dirigidas ou livres, a fim de
visível a forma como as crianças se entregam que as crianças possam ter mais momentos
à experiência de manusear os materiais, de socialização e convívio entre si. Apesar
arriscando e explorando as diversas de trabalhar com muitas crianças na
possibilidades que aquelas atividades sala, é possível refletir sobre a prática e
propiciam. Na hora da roda de música, por experimentar soluções para amenizar as
exemplo, a forma como elas participam e dificuldades do dia a dia. Fazer as mudanças
como seus corpos vão espontaneamente necessárias no planejamento para que a
acompanhando o ritmo é notável. Quando experiência escolar seja mais interessante,
se encena alguma peça de teatro, suas significativa e prazerosa.
atenções são captadas e as crianças mantêm
a concentração ao que é mostrado e, a seu Apesar de o sistema educacional municipal
modo, participam com risos, palmas, gritos e não favorecer a um trabalho mais voltado
outras demonstrações de que estão atentas. para a arte, é possível criar situações dentro
dessa realidade para que as crianças possam
Hoje na EMEI, essas linguagens também ter momentos que entrem em contato com a
atraem muito a atenção das crianças. É sua sensibilidade, espontaneidade e possam

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fantasiar e explorar seu imaginário, seja por Segundo o “Referencial Curricular Nacional
meio de um desenho com giz de lousa no chão para a Educação Infantil”:
do pátio, elementos da natureza do parque e
do uso de retalhos de tecidos e fantasias que (...) A observação e o registro se constituem
nos principais instrumentos de que o professor
podem ser usados como suporte para criar dispõe para apoiar sua prática. Por meio deles
suas próprias brincadeiras. o professor pode registrar, contextualmente,
os processos de aprendizagem das crianças;
a qualidade das interações estabelecidas com
No livro Vida de Professores (NÓVOA, outras crianças, funcionários e com o professor
1995), são levantadas algumas reflexões a e acompanhar os processos de desenvolvimento
respeito da influência que a vida pessoal e a obtendo informações sobre as experiências das
crianças na instituição.
formação inicial tiveram na vida profissional
das professoras que participaram da Esta observação e seu registro fornecem aos
pesquisa e como a vida pessoal e profissional professores uma visão integral das crianças ao
mesmo tempo que revelam suas particularidades.
misturam-se na prática pedagógica.
São várias as maneiras pelas quais a observação
No decorrer dos onze anos de exercício de pode ser registrada pelos professores.

sua profissão na rede pública, a professora A escrita é, sem dúvida, a mais comum e
se percebe em conflito entre o vivido – na acessível. O registro diário de suas observações,
sua formação inicial, sua experiência em impressões, ideias etc. pode compor um rico
material de reflexão e ajuda para o planejamento
escolas particulares – e a influência disso educativo. (Referencial Curricular Nacional para
na construção da sua identidade pessoal a Educação Infantil - volume 1,1998: p. 58-59)
e profissional, pois, numa expectativa de
transformar a realidade, busca uma nova
identidade profissional. Um bom planejamento não basta para
obter sucesso nos resultados. A forma
Em vários momentos em sala de aula, de se comunicar, a escuta atenta, o olhar
faz um questionamento se sua prática sensível, o conhecimento sobre as fases
está “correta” ou não. Procura seguir as do desenvolvimento infantil, a paciência,
orientações a respeito do currículo infantil e a tolerância para o tempo dos processos
busca aprimorar a sua formação acadêmica são ingredientes primordiais para facilitar a
para dar sustentação a sua prática. É aprendizagem das crianças.
necessária, entretanto, uma reflexão diária
sobre seus métodos de trabalho, sobre a O registro é uma ferramenta que auxilia
sua postura diante das situações de maior o professor a refletir sobre a sua prática,
dificuldade e, finalmente, uma análise dos a encontrar outras maneiras de agir e a
resultados obtidos. compreender melhor a realidade na qual ele
se encontra. E a partir daí, se necessário for,
mudar sua prática pedagógica.

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A escuta atenta e o olhar sensível também são bons instrumentos para o professor perceber
as necessidades dos seus alunos e, assim, desenvolver um currículo que seja interessante,
contribuindo para o desenvolvimento dos seus alunos e respeitando suas condições.

Na prática docente – em especial, na educação infantil –, não existe receita pronta. A


vivência, a observação e a reflexão diária do trabalho, aliadas ao estudo, são ferramentas
das quais o professor utiliza para que sua prática se torne cada vez mais eficiente e mais
rica. Desse modo, pode oferecer às crianças, mesmo diante de uma realidade adversa, um
pouco mais de alegria em aprender e estar na escola, fazendo desse período escolar uma
experiência positiva e de boas lembranças.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresenta retrospectivamente a trajetória
desta professora como aluna vigiada por uma estrutura
autoritária de ensino formal e a reflexão sobre sua prática
como professora de crianças de Educação Infantil e
Fundamental I.

Ela procurou apresentar como as marcas autoritárias da


sua educação se impregnaram na sua identidade pessoal e
profissional.

Foi destacada a importância das linguagens das artes


na prática escolar que a conduziram a uma prática mais PRISCILLA KONOMI
libertadora e foram apontados a observação e o registro TANAKA
como importantes aliados para o aperfeiçoamento da sua
Graduação em Pedagogia pela
prática. Universidade São Marcos (1998);
Professora de Educação Infantil
A construção da sua identidade profissional leva um tempo e Fundamental I - na EMEI
MONTESE
para ocorrer, especialmente sua mudança de atitude. É
necessário ter paciência para lidar com as próprias limitações
e as dos outros e com as contrariedades e adversidades que
ocorrem no dia a dia.

Outro dia, um plantador disse que suas frutas levariam um certo tempo para amadurecer,
por isso, ele poderia não ter a possibilidade de colher o que havia plantado. Na educação,
também é preciso dar esse tempo de espera para que o resultado do trabalho do professor
aconteça.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
FUNDAMENTAL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, volume 1. Brasília:
MEC/SEF, 1998.

DE VRIES, Rheta, ZAN, Betty. A Ética na Educação Infantil – O Ambiente Sócio-moral na


Escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 2010.

NÓVOA, Antônio (org.). Vidas de Professores. Porto: Porto Editora, 1995.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Currículo e Identidade Social: Territórios Contestados. In: ______
(org). Alienígenas em Sala de Aula: Uma Introdução aos Estudos Culturais da Educação.
Petrópolis: Vozes, 1995. p.190-207.

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A INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM VIRTUAL


NA PRODUÇÃO ESCRITA DO ALUNO EM
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
RESUMO: Sendo a internet um dos principais suportes atuais no processo de ensino-
aprendizagem, este trabalho tem como objetivo identificar influências da linguagem usada
na internet, o “internetês”, na sala de aula, no processo de alfabetização. Como metodologia,
foi utilizada a pesquisa bibliográfica. Analisar a linguagem virtual é crucial para abordar o
ensino de leitura e escrita, visto que o internetês tem se tornado cada vez mais frequente no
vocabulário dos alunos e assumido dimensões que transcendem a escrita e partem para a fala.
Essa realidade mostra a importância do professor em fazer interferências e buscar atualizar-
se quanto à linguagem utilizada pelos educandos em diversos ambientes. O domínio dessa
linguagem pelo professor terá impacto no processo de ensino-aprendizagem, visando um
ensino de leitura crítica e produção de texto mais contextualizada. Cada aluno está criando
o seu mundo virtual, ficando cada dia mais dependente dele; as mudanças estão vindo com
essa nova realidade e não vão parar.

Palavras-Chave: Internet; Influência; Linguagem virtual; Professor.

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INTRODUÇÃO Abreviações, troca de letras, representação


de sentimentos através de caracteres, foi
A influência que a Internet está causando algumas dessas transformações que surgiram
na sociedade tem sido motivo de muita para tornar a linguagem mais ágil e de fácil
discussão sendo considerado uma nova entendimento entre os usuários.
forma de linguagem que os alunos usam para
se comunicarem virtualmente. Essa transformação na linguagem está
ocorrendo de forma rápida e surpreendente.
A escrita tem passado por modificações, As pessoas, principalmente, crianças e
que ocorreram com a evolução da jovens, rapidamente dominaram a Internet
sociedade. A linguagem virtual apresenta e sua linguagem que está em permanente
uma simplificação da escrita e com isso modificação.
os educadores têm se preocupado com o
emprego dessa linguagem em seu cotidiano No Brasil, essa revolução linguística
escolar, principalmente, referente às normas recebeu o nome de “internetês”. Os principais
ortográficas e gramaticais. fenômenos observados são supressão de
vogais, consoantes e acentos, substituição
Com o advento da WWW, a internet de letras e diminuição das palavras.
tornou-se popular e com o correio eletrônico,
pessoas de toda parte do mundo puderam Como consequência desse mundo de novos
trocar informações em tempo real, como se conhecimentos e tecnologias, o letramento
mundo coubesse dentro de um computador, não se restringe apenas em ensinar o aluno
ou seja, para muitos, o mundo passou a ser a ler e escrever e sim compreender os meios
virtual. Surgiu então uma nova alternativa utilizados, antes de conhecer os grafemas,
para se comunicar e com isso muitas levando em consideração a bagagem cultural
mudanças ocorreram. da criança.

A criança de hoje, já nasce incorporada a Aliadas as novas tecnologias, é necessário


esse mundo digital. Utiliza desde pequena, conceber essa evolução tecnológica na qual
objetos como celular, tablet, notebook como a criança está inserida.
recursos tecnológicos, substituindo, muitas
vezes, a televisão, brincadeiras ao ar livre, Essa nova ferramenta tecnológica gera
leituras, momentos com a família, etc. diferentes tipos de letramento, o que sugere
que a palavra seja pluralizada (Soares, 1998
A comunicação virtual é quase que p61-125).
totalmente escrita. A exigência de agilidade
na troca de informação entre as pessoas Passou a ser então, um grande desafio
fez com que novas palavras surgissem. para a escola, educar esses alunos que estão

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repletos de informações, porém, muitas INTERNET – TECNOLOGIA


vezes, descontextualizadas e confusas. DE IMPACTO
Diante disso, o objetivo desse trabalho Com o surgimento da Internet, as
foi procurar identificar influências causadas mensagens passam a ser transmitidas de um
na linguagem escrita dos educandos em modo diferente, que valoriza a rapidez com
sala de aula, devido à constante utilização abreviações, troca ou omissão de letras, às
da Internet. A metodologia foi a Revisão vezes, até por símbolos. O aluno começa a
Bibliográfica, baseada em livros, artigos, entreter-se com as palavras, que são criadas e
sites, reportagens e entrevistas de alguns recriadas diariamente. É notável a velocidade
estudiosos do assunto. de inovações e adaptação que essa nova
modalidade de linguagem conseguiu em todo
o mundo. Aos poucos, perceberam que a
LINGUAGEM VIRTUAL Internet não era apenas uma nova variedade
linguística e sim uma nova possibilidade
Ocorreram inúmeras mudanças nas na comunicação que aproxima pessoas do
últimas décadas com relação às metodologias mundo inteiro (MENDES, 2017).
de alfabetização, pois a tecnologia é
introduzida freneticamente e torna-se cada O novo repertório de palavras é inovador.
vez mais relevante como uma ferramenta Palavras de uso tradicional ganharam novos
de incentivo, tudo isso, antes mesmo do significados, com uso de estrangeirismos
ingresso da criança na vida escolar. e neologismos, de forma tão significativa,
que hoje muitas dessas palavras já foram
A sociedade está passando por uma vasta introduzidas nos dicionários de língua
evolução tecnológica. Esta evolução está portuguesa, como por exemplo, palavras
exercendo uma considerável mudança na vida encontradas no Dicionário Aurélio
social das pessoas. Muitos costumes, inclusive (FERREIRA, 2001): site, link, web, mouse.
os meios de comunicação, estão se adaptando
com a difusão global da Internet pelo mundo. Objetivando simplificar a comunicação
e torná-la mais prática, as palavras são
Essas alterações ocorridas com a chegada constantemente abreviadas, valorizando
da Internet vieram para ficar, mesmo com a informação presente na mesma, em um
objeção de muitos que vêem nela uma processo onde apenas algumas letras são o
ameaça para a escrita tradicional. Nesse suficiente para o entendimento da mesma,
contexto, conforme Mendes (2017), é como nos seguintes casos: p/ vc (para você),
necessário um empenho maior dos pais e tbm (também), pq (porque). Existem aquelas
professores para que o mundo virtual não palavras que, ao invés de serem minimizadas,
atrapalhe a vida real de seus filhos e alunos. aumentaram em número de letras, como, por

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exemplo: naum (não). E há ainda aquelas que alfabetização, experimentações, desafios e


são escritas em maiúsculo, com repetições novas alternativas do uso social da leitura e
de letras ou sinais gráficos para acentuar o escrita.
tom de voz. Esse fenômeno é descrito por
David Crystal, em seu livro A revolução da Devido a isso, a inclusão no mundo digital,
linguagem: interfere nas práticas de letramento, levando
a exigência de um ensino mais dinâmico,
Tem havido esforços desesperados para interativo e contextualizado ao uso da
substituir o tom de voz na tela, sob forma de linguagem.
um uso exagerado de ortografia, pontuação,
letras maiúsculas, espaçamento e símbolos
especiais para ênfase . Os exemplos incluem FENÔMENOS DO
letras repetidas (aaaaahhhhh, claaaaro), INTERNETÊS
sinais de pontuação repetidos (quem????,
ei!!!) e convenções para expressar ênfase Na concepção de Marconato (2017),
(como a * verdadeira * questão) (CRYSTAL, o internetês é uma língua baseada na
2005, p. 85). simplificação informal da escrita, visando
maior objetividade e agilidade em troca de
Essa revolução linguística é conhecida no informações, que surgiu no ambiente virtual.
Brasil como internetês, conceituada por Silvia
Marconato (2017), em reportagem divulgada Nota-se que muitas palavras continuam
pelo site da UOL, como “um conjunto de sendo escritas da forma tradicional, porém,
abreviações de sílabas e simplificações de diversas delas ganham novas formas e
palavras que leva em conta a pronúncia e a significados. Esse fenômeno da linguagem
eliminação de acentos. De quebra, acrescenta deve ser entendido e estudado pelos
uma leve dose de humor às mensagens on- professores de Português, pois a língua pode
line”. estar passando por um momento histórico
de transformação.
Essa nova modalidade de linguagem e
grafia mais comumente usada em meios
eletrônicos deixa evidente tanto a economia SUPRESSÃO DE VOGAIS,
de caracteres a ser digitados, quanto uma ACENTOS E CONSOANTES
despreocupação com as regras gramáticas
e convenções ortográficas da Língua Um fenômeno típico do internetês é a
Portuguesa. supressão de vogais, acentos e consoantes.
Podemos citar como exemplo, “vc” (você),
A inserção no mundo tecnológico no qual ocorre a supressão das vogais “o” e
oportuniza ao aluno em processo de “e”; já em “la” (lá) ocorre a omissão do acento

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agudo (´); em “passa” (passar) a consoante a omissão de consoantes. Esse fenômeno


final (r) é suprimida. Frequentemente, duas ocorre principalmente por influência da
ou mais supressões ocorrem em uma mesma oralidade, desaparecimento do “r” no final
palavra, como é o caso de “tbm” ou “tb” dos verbos e de “s” no final de plural, como,
(também), onde ocorre simultaneamente o por exemplo, “cume” (comer), “doce” (doces)
desaparecimento de duas vogais “a” e “e”, (RECH, 2016).
e supressão do acento agudo (´) (MENDES,
2017). Na Internet, conforme Mendes (2017),
seus usuários procuram criar uma escrita mais
É notório que a supressão dessa vogal informal e espontânea, despreocupada com
é uma tendência do internetês, pois esse as normas que regem a grafia padrão, com a
fenômeno ocorre com muita frequência e finalidade de manter uma aproximação com
em algumas palavras podem ser omitidas sua comunidade virtual e assim expressar
mais de uma vogal “e” sem perder o sentido seus pensamentos e sentimentos da forma
(RECH, 2016). mais próxima da fala.

Ao ser analisada, a supressão parece ser


uma atitude sem fundamento e desregrada SUBSTITUIÇÃO DE LETRAS
dos usuários da Internet. Observando com
mais atenção, notamos que o predomínio de Outro fenômeno de grafia do Internetês
apagamentos diz respeito a vogais “a”, “e”, é a substituição de algumas letras por
“i”, “o”, “u”, onde algumas dessas elisões não outras equivalentes na grafia, ou ainda a
têm explicação sólida, como no caso de “td” substituição de um sinal gráfico ou sinal de
(tudo). É preciso que o usuário conheça o nasalação por alguma forma correspondente.
código para entender, mas, como no caso de Por exemplo, em “amu” (amo), a vogal “o”
blz (beleza), “vc” (você), “bjos” (beijos), ocorre é substituída pela vogal ”u”; em axo (acho),
predominantemente a supressão da vogal o ‘ch” é substituído pelo “x”; em eh (é), o
“e” sem a perda de sentido. Isso se dá devido acento agudo é substituído pela consoante
ao fato de grande parte das consoantes “h”. Existem ainda aquelas palavras que
sonorizarem o som de “e”. É notório que a substituem duas ou mais letras, como “ki”
supressão dessa vogal é uma tendência do (que) (MARCONATO, 2017).
internetês, pois esse fenômeno ocorre com
muita frequência e em algumas palavras As letras “o” e “e” são substituídas
podem ser omitidas mais de uma vogal “e” respectivamente pelas letras “u” e “i”. Esse
sem perder o sentido (SILVA, 2016). fenômeno é bastante forte e frequente, pois
essa ocorrência parece indicar a influência
Além do desaparecimento de vogais e da oralidade na escrita dos internautas. Para
acentos, o internetês apresenta também exemplificar, destacam-se as palavras, vamu

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(vamos), bunitu (bonito) (MARCONATO, Observa-se uma tentativa de tornar a


2017). palavra mais próxima da pronúncia, pois
em português o “m” pode representar o
A substituição do acento agudo (´) pelo som nasal e ao pronunciar-se o “o” átono
“h” é um dos fenômenos mais comumente ele frequentemente é substituído pelo /u/
encontrados nessa linguagem virtual. Esse (RECH, 2016).
caso não segue o princípio de economia
linguística, pois a quantidade de toques O dígrafo “ch” é substituído pela letra “x”,
é a mesma. O que pode explicar é a forte esse fenômeno é explicado pela economia
influência da oralidade, assim, supõe-se que de letra a serem digitadas, ou seja, são
vogal precedida por “h” tenha o som aberto. substituídas duas letras por uma. Assim, ao
Exemplo, “eh” representando “é” (SILVA, invés de grafar “acho”, é escrito “axo” ou
2016). “axu”.

A letra “k” ganhou destaque significativo.


Ela pode substituir o “qu”, o “c” e até mesmo DIMINUIÇÃO DAS PALAVRAS
duas letras “ca”. Ao substituir o “qu” por ”k”,
o usuário está tentando ser mais rápido e Um fenômeno muito comum no internetês
economizar tempo, isso porque ao invés de é a diminuição das palavras. Os usuários o
digitar duas letras vai digitar apenas uma fazem com o intuito de economizarem a maior
sem prejudicar o entendimento, pois o som quantidade de caracteres possíveis e assim
é o mesmo. Observamos esse fenômeno nas diminuir o tempo de digitação e aumentar a
palavras “aqui” e “quero”, que em internetês velocidade de comunicação. Exemplo: se um
tornam-se “aki” e “kero”. Quando o internauta usuário da Internet escrever a palavra “você”,
substitui o “c” por “k”, não está fazendo terá que tocar em cinco teclas, “v”-“o”-“c”-
nenhuma economia, como na palavra “fiko” “^”-“e”, ao digitar “vc”, ele deu apenas dois
(fico). Mas notadamente a maior ocorrência toques no teclado, “v” e “c”, ocorrendo assim
desse tipo de substituição acontece com uma economia de três toques. Analisando
as palavras com “ca”, que é a representação todo um texto é possível verificar uma maior
sonora d o sinal gráfico “k”, exemplo, “Ksa” economia de letras e sinais o que faz com
(casa), nunk (nunca), kbça (cabeça) (RECH, que a comunicação seja mais rápida (SILVA,
2016). 2016).

Nas letras “ão”, ocorre o fenômeno de Esse fenômeno de redução de palavras


substituição de letra e sinal de nasalização foi comentado por Ataliba de Castilho (2009
pelas letras “aum”. É notório que também apud SILVA, 2016), em reportagem para a
não ocorre redução na escrita, nesse caso revista Língua Portuguesa, disponível no site
o que acontece é a influência da oralidade. da UOL, como algo positivo para a língua.

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O autor afirma que “a Internet pode ajudar O letramento digital se dá através


a reduzir os excessos da ortografia, e bem da habilidade de usar as ferramentas
sabemos que são muitos. Como toda palavra tecnológicas e de relacionar-se no ambiente
é contextualizada pelo falante, podemos virtual, oportunizando ao aluno, o
dispensar muitos acentos. O interneteiro desenvolvimento da interação às demandas
mostra um caminho” (apud SILVA, 2016, p. sociais .
17).

A ESCOLA DO SÉCULO XXI


A INFLUÊNCIA DA INTERNET-
LETRAMENTO DIGITAL Os alunos do século XXI não são mais os
mesmos. Eles são cercados de informações
De acordo com Soares (2002), a a todo o momento, conhecem culturas e
apropriação da leitura e da escrita e a costumes de toda a parte do mundo, além
incorporação das práticas sociais que as de se relacionarem com centenas de pessoas
demandam, constituem o que se denomina de diversos lugares.
de letramento (SOARES, 1998 p.47).
Eles estão conectados à Internet e são
Desse modo, o processo de letramento adaptados a todo o tipo de tecnologia. Têm
não corresponde apenas à decodificação, uma vida cheia de compromissos, horários
mas tem relação às práticas sociais de leitura a cumprir. É nessa nova realidade que
e escrita em contextos sociais. vivem os alunos do século XXI, portanto a
escola precisa se adaptar, criando novos
Com a eclosão das novas tecnologias mecanismos para não perder seus alunos e
de informação e comunicação, as relações fazer com que os mesmos consigam adquirir
sociais têm modificado muito, e por conhecimentos explorando a curiosidade,
conseqüência, houve transformações nas através das capacidades de pesquisa e
práticas de letramento. seleção de conteúdo.

Soares (2002) defende a pluralização do Com a tecnologia, o internetês passou a


termo letramento, pois acredita que o uso fazer parte do vocabulário de muitos alunos,
das tecnologias, leva o aluno a contextos e a escola não deve fechar os olhos para essa
significativos do uso da leitura e da escrita, realidade, de acordo com o professor Pedro
com diversas práticas de letramento, Demo, em entrevista disponível no site Nota
principalmente, o denominado letramento 10:
digital.
Nós temos que restaurar a escola para ela se
situar nas habilidades do século XXI, que não
aparecem na escola. Aparecem em casa, no

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computador, na internet, na lan house, mas


não na escola. A escola usa a linguagem de
Gutenberg, de 600 anos atrás. Temos que cuidar O mundo contemporâneo, por ser cada
do professor, porque todas essas mudanças vez mais complexo, exige corpo docente
só entram bem na escola se entrarem pelo
professor – ele é a figura fundamental. Não há da escola constante atualizações. O aluno
com substituir o professor. Ele é a tecnologia das precisa ser o principal responsável pela
tecnologias, e deve se portar como tal (DEMO, aquisição de novos conhecimentos e não
2016).
mais o professor. Ao professor, cabe orientar,
guiar e facilitar o ensino-aprendizagem, ser
As escolas precisam de recursos para parceiro do aluno na busca e na interpretação
trabalhar a nova linguagem que é dominada crítica da informação. O professor precisa
pela maioria de seus alunos, e desconhecida estar em constante aprendizagem para poder
por grande parte dos educadores. O exercer o seu papel. Raul Junqueiro nomeia
internetês, variedade linguística empregada esse período da história e afirma que:
na Internet, não é simples, nem caótico. Mas
é temido por pais e professores. Uma das A criação de espaços de debate e aprendizagem,
com graus de liberdade superiores aos actuais,
razões está relacionada ao mito difundido constitui um imperativo, tanto maior quanto
sobre os aspectos da variedade da Internet mais protagonismo ganha o saber pensar,
influírem negativamente no ensino da norma reflectir. E aqui reside em boa medida, a
diferença crucial do sistema de ensino, antes
padrão, com a proliferação de abreviações e aristocrático e fechado sobre si mesmo, sem
o uso de semioses. qualquer utilidade prática. Aprender a lidar e
a compreender a realidade circundante, saber
transformar a informação em acção, através de
Conforme Garbin (2016), na Internet, desenvolvimento da capacidade de reflexão e de
o aluno tem liberdade para se expressar, pensamentos empoe-se como novos caminhos
para criar, vasta fonte de pesquisa, dúvidas as seguir, na senda da idade do conhecimento.
(JUNQUEIRO, 2002,p.303)
não ficam sem respostas, pois os alunos
têm grande facilidade para encontrá-las na
rede. E ao chegar na sala de aula, o aluno Na escola contemporânea, o aluno não
se depara com um ensino onde o professor pode receber o conhecimento pronto, o
apenas repassa conhecimentos e ele se professor deve saber questionar e utilizar o
torna um mero ouvinte e repetidor de ideias, conhecimento que seus alunos trazem para
sem a interatividade encontrada na Internet. sala de aula, para que assim o aluno possa
Com isso, a aula passa a ser um momento de ampliar seus conhecimentos, conectando o
pouca aprendizagem e cansativa, os alunos que aprendeu com outras situações da vida
passam horas sentados ouvindo o professor, prática. Deve orientar seus alunos quanto os
em seguida precisam responder uma série perigos de encontrar informações erradas na
de exercícios. Esse modelo na escola acaba rede.
sendo o pior período do dia para essas
crianças e jovens.

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O letramento é aliado as novas tecnologias, O professor alfabetizador não pode


pois as crianças já possuem aparelho celular, ignorar a interferência dessa linguagem –
tablet e já utilizam a Internet. É preciso oportunizada pela mídia eletrônica – que
conhecer e compreender essa bagagem na vem exercendo sobre os usos linguísticos
qual a criança está inserida fora do ambiente dos alunos.
escolar, pois é evidente que o contato com
as novas mídias tem ocorrido cada vez mais Na opinião de Silva (2016), se até o
cedo. momento a preocupação do professor era
distanciar a produção escrita dos alunos e a
Pensar em letramento é distinguir as oralidade (fala), agora essa nova linguagem
múltiplas formas de conceber a leitura sobre também merece atenção.
o mundo.
Para que o aluno possa fazer um emprego
A comunicação virtual é capaz de enriquecer pertinente da língua, nos mais diversos
as formas de conhecimentos e formas de ler e contextos em que ela pode estar inserida
escrever, gerando assim um novo letramento. – eletrônico, coloquial, culto, entre outros,
Para Soares (2003) “o letramento digital é segundo Garbin (2016), faz-se necessário
a utilização do computador e da internet e imprescindível propiciar situações em
de forma efetiva, praticando a leitura e que ele possa entrar em contato com todas
escrita, não apenas de textos, mas também essas variantes, sabendo reconhecer suas
de imagens, símbolos etc.” De acordo com características e usabilidades. Essa é uma
Luiz Eduardo Buzato, (2003), professor trajetória importante que o professor tem o
Livre Docente, o letramento digital define- dever de proporcionar aos seus alunos.
se como o conjunto de conhecimentos
que permite as pessoas participarem de Os educadores precisam acompanhar
práticas mediadas por computadores e essa evolução tecnológica e obter nela,
outros dispositivos eletrônicos, como o uso possibilidades de transformar as tradicionais
de teclados, interfaces gráficas e programas aulas em algo mais envolvente, participativo
de computador. Essa pluralidade de e dinâmico, onde eles passem do papel de
letramentos está à nossa volta. Temos uma detentores do conhecimento para o de
nova ferramenta com uma nova linguagem facilitadores do processo de aquisição do
e escrita que devemos considerá-la no conhecimento pelo próprio aluno.
processo de alfabetização.

Nessa concepção revela-se o letramento ALFABETIZAÇÃO DIGITAL


digital, e é preciso que os educadores
estejam concentrados a essa nova forma de No processo de alfabetização e
comunicação. letramento, a multiplicidade que a tecnologia

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oferece, colabora para o desenvolvimento do raciocínio e estimula o imaginário, através da


comunicação, socialização e informatização das informações.

O aluno é capaz de criar, recriar, escrever, reescrever, ler, reler, pesquisar, desde que sua
manipulação e utilização seja orientado e acompanhado pelo educador, com compreensão
de seu objetivo.

O processo de alfabetização transcorre no ambiente digital, se dá através de atividades
lúdicas e interativas, nas quais o aluno desenvolve habilidades na leitura e na escrita,
permitindo ao aluno buscar o que quer saber, o que lhe é interessante e necessário,
despertando maior interesse em aprender.

Atividades como enviar e-mail para colegas, utilizar o corretor ortográfico, usar dicionário
virtual, montar listas de palavras, atividades de completar com letras ou sílabas, ler/ ouvir
histórias, brincar com palavras de diversas maneiras e objetivos definidos, aprimoram o
processo de alfabetização do aluno.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, conclui-se que os progressos tecnológicos
transformaram a vida das pessoas em todos os sentidos. A facilidade
de informação fez com que o mundo se tornasse pequeno, acabando
com as barreiras geográficas. Mas, alguns problemas podem ser
identificados após essa liberdade criada pela internet.

A internet trouxe profundas transformações para a


sociedade em geral. A principal modificação ocorreu na forma
de comunicação humana que passou a ser uma conversa
basicamente escrita, com um grande diferencial, as palavras são
grafadas de forma que ocorra economia de tempo e represente
o mais próximo possível à linguagem falada. Portanto, PRISCILLA PAULA
abreviações e palavras modificadas são livremente usadas. OPUSCULO FARIA

Graduação em Pedagogia pelo


Neste sentido, o presente trabalho mostrou que o Centro Universitário UNIFIEO
internetês está ultrapassando os limites da internet e entrando (2001);
nas salas de aula. No entanto, um diagnóstico mais preciso Especialista em Alfabetização
e Letramento pela Faculdade
exige uma pesquisa mais ampla e maior acompanhamento Campos Salles (2017); Professora
desses alunos, tanto no ambiente virtual, quanto escolar. de Ensino Fundamental I – na
As principais ocorrências são de supressão de consoantes, EMEF Maestro Domingos Blasco
na Prefeitura Municipal de
vogais e acentos gráficos, ou seja, abreviações em geral. Osasco; Professora de Educação
Esse fato faz com que o internetês não pareça uma grande Infantil no CEU Emei Jaguaré na
ameaça à língua, pois consoantes isolados, “blz” (beleza), Prefeitura Municipal de São Paulo

“tbm” (também), não representam sons completos. Essas


supressões são tão visíveis que chegam a ser um exagero. Um novo código parece estar
sendo criado e como tal só há comunicação entre os que o conhecem.

A escola precisa aceitar essa realidade e buscar alternativas para não se perder diante do
mundo virtual, usando-o ao seu favor. É um desafio para a escola ensinar a língua padrão,
já que seus alunos passam a maior parte do tempo conectados e escrevendo sem nenhum
respeito às normas ortográficas. O maior perigo do internetês é que ele pode se tornar
um vício para seus criadores e usuários, que na maior parte são adolescentes com muitas
dificuldades ortográficas. A escola precisa estar atenta a esses acontecimentos. O educador
precisa investigar seus alunos e identificar quais variedades linguísticas os influenciam na
hora da escrita e sempre incentivar seus alunos a lerem com mais frequência e sempre que
possível escreverem a norma padrão na internet.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

É importante destacar que a tecnologia está presente e a disposição de todos (crianças,


jovens e adultos). Ela apresenta uma linguagem própria, que necessita fazer parte do processo
de alfabetização e letramento, cabendo ao educador mostrar essas linguagens existentes,
sem descriminá-las, considerando uma ferramenta valiosa nesse processo.

O educador deve conhecer os recursos digitais disponíveis aos seus alunos e oferecer
aos mesmos, de maneira enriquecedora e direcionada aos objetivos propostos, sendo um
facilitador do processo de apropriação da leitura e escrita no processo de alfabetização e
letramento.

Toda sociedade precisa estar atenta às mudanças que a Internet trouxe, considerando que
ela é uma nova forma de comunicação com constantes atualizações.

Com a pesquisa, o internetês mostrou-se essencialmente funcional. Foi criado baseado


nas normas de escrita já existentes, com o objetivo de agilidade de comunicação. E muitas
crianças e jovens acabam adotando tal linguagem para serem aceitos pelo grupo no qual
estão inseridos.

Portanto, não se pode impedir o avanço do internetês. Deve-se, então, transformá-lo em


objeto de estudo escolar e orientar os alunos sobre importância de dominar distintos níveis
de linguagem. Só assim a Língua Portuguesa ganhará mais forças diante de outras línguas
que dominam o mundo globalizado.

1331
Revista Educar FCE - Abril 2019

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1332
Revista Educar FCE - Abril 2019

PSICOPEDAGOGIA EM CONTEXTO
PERCURSO HISTÓRICO E O PAPEL DO
PSICOPEDAGOGO NA EDUCAÇÃO
RESUMO: O presente artigo pretende apresentar com brevidade, por meio de pesquisa
bibliográfica, o percurso histórico da Psicopedagogia na Europa, na Argentina e posteriormente
no Brasil, apontando fatores chaves que fizeram dela uma ciência comprometida em conhecer
pesquisar, analisar, compreender, buscar e prevenir, oferecendo possíveis alternativas para
corrigir problemas relacionados à aprendizagem e ao apresente desajuste comportamental
apresentado pelo indivíduo. Muitas vezes, a criança, por motivo orgânico ou não, não
consegue desenvolver-se cognitivamente, ele parece incapaz de aprender, de adquirir novos
saberes ou mesmo galgar os processos próprios da aquisição do conhecimento. Diante disto,
o Psicopedagogo, profissional multidisciplinar que pode atuar na área clinica ou institucional,
por meio de seus estudos e conhecimentos amplos das muitas outras ciências, tais como: a
Psicologia, Pedagogia, Psicanalise, Neolinguística, dentre outras, procura apresentar meios
para que o educando/paciente consiga se desenvolver em suas potencialidades. Cabe
ao Psicopedagogo viabilizar a inclusão social desse sujeito, que, devido sua dificuldade
de aprendizagem e aparente desajuste social, acaba vivendo a margem da sociedade. O
trabalho do Psicopedagogo juntamente com o profissional da educação permitirá que ocorra
a reeducação da criança, possibilitando que ela consiga reencontrar a alegria de aprender e
viver ativamente em sociedade.

Palavras-Chave: Educação. Educação Inclusiva. Psicopedagogia. História da Psicopedagogia.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO No âmbito escolar é comum a professora


se deparar com casos, nos quais o aluno,
O homem nasceu para aprender, e, desde o seja ele criança, adulto ou um adolescente
início da criação, ele logo sentiu os primeiros por razões biológicas ou não, demonstra-se
lampejos de sua necessidade nata de adquirir incapaz de acompanhar a dinâmica da classe
novos conhecimentos para, assim, viabilizar e realizar as atividades propostas juntamente
sua sobrevivência e sua evolução. com a turma e mesmo o acompanhamento
mais individualizado do docente não produz
Uma vez que a aprendizagem e a construção resultado positivo em sua evolução. Esta
do conhecimento constituem um processo criança costuma sentir-se excluída, com
individual, onde cada pessoa aprende a seu baixa autoestima, apresentando por vezes
tempo, ele compõem um processo ativo, algum problema de comportamento. O
que exige que o interlocutor, em sua mente, educador como mediador do processo
inicie um procedimento de investigação de aprendizagem, precisa buscar ajuda
ao que será efetivamente aprendido; para especializada para que ocorra a efetiva
isso, é necessário disposição, observação e reeducação do aluno e sua inclusão social.
investigação para gerar a evolução cognitiva Para isso, a instituição educacional busca o
do sujeito. Contudo, mesmo diante de um auxílio do Psicopedagogo.
processo tão natural, ainda existem sujeitos
que não conseguem realizar esse processo, O Psicopedagogo, profissional com
isso faz com que tenham atitudes e conhecimentos variados, que abarcam as
comportamentos não aceitos pela sociedade outras ciências cognitivas e conhece as
em que estão inseridos. muitas facetas do processo da aprendizagem
e da aquisição de novos conhecimentos e
Talvez por isso, a Psicopedagogia tenha atua, tanto no campo institucional, quanto no
nascido, para desvendar e compreender o clínico, para investigar a causa dos problemas
porquê de, mesmo a aprendizagem sendo de aprendizagem, e assim elaborar meios para
algo nato dos seres humanos, mesmo intervir e mesmo sanar essas debilidades.
ela constituindo uma necessidade para
a manutenção da vida e necessária para À vista disso, para melhor compreender
a sobrevivência da espécie, ainda assim, o campo de atuação desse profissional é
existem pessoas que, por motivos múltiplos, necessário conhecer o percurso histórico
às vezes claro, outras nem tão claro assim, pelo qual passou a Psicopedagogia, com suas
seja ele adulto, adolescente ou criança, nuances e caraterísticas em cada período e
apresenta-se aparentemente incapaz de país em que se desenvolveu, para só então,
adquirir novos conhecimentos. observar sua atuação nas clinicas e mais
precisamente no âmbito educacional onde,
através de muito empenho, trabalho, ética e

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amor, apresentar meio para que os indivíduos apresentar sugestões a fim de resolvê-las.
desenvolvam-se em suas potencialidades E, diante da complexidade apresentada por
cognitivas e assumam, na sociedade, um essas lacunas, somente os conhecimentos
papel atuante, autônomo e cidadão. advindos da Pedagogia e da Psicologia não
eram o bastante para saná-las.

PSICOPEDAGOGIA E SUA Nesse período, na Europa, tanto a


ATUAÇÃO NA EDUCAÇÃO Medicina, quanto a Psiquiatria e a Pedagogia,
já estudavam casos que comprometiam a
A princípio, a Psicologia procurou efetiva aprendizagem escolar. Estudavam-
desenvolver nas escolas pesquisas que se então as múltiplas singularidades que
procuravam analisar e compreender os poderiam afetar a aprendizagem, tais como:
diferentes níveis de aprendizados em comportamento fora dos padrões sociais,
educandos de uma mesma série. Essas deficiência cognitiva, dentre outros e,
pesquisas auxiliavam o trabalho de igualmente as situações em que, mesmo sem
pedagogos no âmbito escolar. Todavia, apresentar alguma deficiência, o indivíduo
conforme as pesquisas iam se aprofundando, não conseguia apropriar-se de novos
observou-se que era preciso conhecimentos saberes. Os médicos costumavam atribuir às
de outras ciências que estudavam a questões biológicas como responsáveis por
aprendizagem humana, nesse momento, a essas deficiências.
Psiquiatria mostrou-se eficaz, em parte, no
trato de alguns distúrbios de aprendizagem, As obras dos médicos no final do século XVII e
início do século XIX, na Europa, deram ênfase
porém, ainda assim, era preciso outros às causas orgânicas como responsáveis pelos
conhecimentos para o aprofundamento das comportamentos do aluno na área escolar.
questões referentes a problemas na aquisição Essa linha que procurava identificar no físico
daquele que aprende as determinantes de suas
do conhecimento. Inevitavelmente, todo o dificuldades nesse processo e pautava-se pela
fracasso da aprendizagem era atribuído ao ênfase ao diagnóstico pode ser encontrada no
educando, que, por alguma razão biológica histórico da Escola Especial e também no da
Psicopedagogia [...] (MASINI, 2015, p.18).
ou comportamental, não conseguia aprender,
por isso, era encaminhada a consultórios
médicos para então, se estudar a possível Na França, em 1946, surgem então novos
patologia que o tornava incapaz de aprender. estudos, dentre eles o da psicopedagoga
Janine Mery que procurou apontar e
Com isso, em torno do século XIX surgia conceituar a psicopedagogia, dentro das
na França uma nova ciência que, em seu ideias veiculadas médico George Mauco,
cerne buscou, desde o início, compreender a responsável pelo estabelecimento em solo
fundo questões relacionadas à dificuldade de Francês do, até então inexistente, Centro
aprendizagem, no âmbito escolar, bem como, Médico Psicopedagógico. Mauco procurou

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Revista Educar FCE - Abril 2019

unir os conhecimentos da Medicina, com equipes de médicos, psicólogos,


Psicologia, Psicanálise e da Pedagogia psicanalistas, pedagogos, reeducadores
para que juntas, encontrassem respostas de psicomotricidade, da escrita e grafia
para questões voltadas aos paradigmas (MASINI, 2015, p.20).
do processo da aprendizagem e do
comportamento humano. Bossa (2007, p.12) Em seu estudo ele buscou analisar a
por sua vez comenta que além das ciências criança em seu âmbito social para assim
acima citadas, hoje a “[...] Psicopedagogia vislumbrar possíveis formas de intervenções;
[...] busca na Psicologia, na Psicanálise, na nesse processo eram delimitados quais
Psicolinguística, na Pedagogia, na Neurologia grupos apresentavam dificuldade de
e outras os conhecimentos necessários para a aprendizagem, mesmo não portando algum
compreensão do processo de aprendizagem”. déficit cognitivo; os que apresentavam
indubitavelmente alguma debilidade mental,
Para viabilizar suas pesquisas, acrescenta sensorial e/ou física, bem como os grupos
Masini (2015) que Mauco também contou de indivíduos que eram considerados
com um grupo de médicos, psicólogos, pela sociedade como desajustados devido
psicanalistas e pedagogos, contudo seu comportamento destoar daqueles
somente o “[...] médico era responsável pelo socialmente aceitos. Entre seus testes, o
diagnóstico” (MASINI, 2015, p.20). mais utilizado e confiável constituía o teste
de QI, que apontava o Quociente Intelectual
Mauco, ao perceber a relutância dos do paciente. Masini (2015, p.20) comenta
responsáveis em buscar tratamento médico que “[...] essas crianças eram definidas como
para seus filhos, formou então o já citado aquelas que apresentavam doenças crônicas
Centro Psicopedagógico que foi bem aceito como diabetes, tuberculose, cegueira, surdez
e mais procurado por pais que necessitavam ou problemas motores, e cujo atendimento
de auxilio e tratamento para crianças que tinha em vista a melhora de seu estado
possuíam problemas de aprendizagem e/ geral de saúde”. Procurou-se nesses estudos
ou comportamental. Masini (2015) ainda realizar a reabilitação do sujeito para que esse
esclarece que: fosse novamente inserido ao âmbito escolar
e obtivesse sucesso em suas atividades,
Mauco (diretor dos Centros Pedagógicos minimizando o presente fracasso escolar,
Claude Bernard, da Academia de Paris), em como comenta abaixo Rubinstein (1999).
publicação [...], esclarece que a denominação
‘psicopedagógico’ foi escolhida, em vez Um dos objetivos do tratamento era fazer com
que o protagonista do fracasso alcançassem uma
de ‘medico-pedagógico’, porque os pais melhor adaptação escolar e bons resultados nos
enviariam com mais facilidade seu filhos testes pelos quais haviam sido avaliado no início
a uma consulta Psicopedagógica do que a do tratamento, para comprovar a eficiência dos
mesmos (p. 19).
uma consulta medica. Os centros contavam

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Todavia, sabe-se que mesmo antes dos profissionais que lá atuavam eram tanto
estudos realizados na área médica sobre o da área da saúde, quanto da educação e, a
desenvolvimento cognitivo do indivíduo e partir 1948, passou a propor a metodologia
acerca das dificuldades de aprendizagem psicopedagogia curativa, que procurava
por ele apresentadas, a própria instituição oferecer uma readaptação pedagógica
escolar, tentava, rudimentarmente, promover ao educando atendido. Essa metodologia
diagnósticos, e procurava apresentar buscava desenvolver a criança em suas
possíveis soluções para tais déficits, esses potencialidades, fazendo-a agregar novos
trabalhos eram realizados por professores conhecimentos aos seus, bem como
que, buscavam intuitivamente, promover desenvolver seu caráter. Rubinstein (1999)
uma educação igualitária, partindo do complementa que:
pressuposto de que todos são capazes de
aprender. Rubinstein (1999) acrescenta que: Jeanine Mery, em seu livro Pedagogia Curativa
(1985), faz um histórico bastante interessante
da definição do termo ‘pedagogia terapêutica’
Muito antes de se falar em Psicopedagogia, e do percurso dessa modalidade de intervenção
Educação Especial, Pedagogia Terapêutica, na Europa e especialmente na Franca. Segundo
Reeducação, já havia notícias de experiências a autora, já no século XIX havia uma intervenção
educacionais voltadas para situações especificas pedagógica curativa para atender a todas as
que envolviam limitações na aprendizagem áreas de desadaptação e deficiência infantil. No
de natureza orgânica ou mesmo social. Esse início do século XX, na Europa Central, também,
trabalho era desenvolvido algumas vezes de a atitude dos pedagogos modifica-se graças à
forma intuitiva por educadores que tinham o influência da Psicanalise: ‘O juízo é substituído
idealismo e a utopia como bandeira (p. 17). por uma atitude de compreensão’(p. 18 – grifos
do autor).
Diante do posto, surge então a
Psicopedagogia, ciência que procura
compreender como ocorre efetivamente PSICOPEDAGOGIA NA
a aprendizagem. Rubinstein (1999, p. 13) ARGENTINA
a define como “[...] disciplina que estuda e
trabalha com as aprendizagens humanas, Historicamente, existem estudos na área
oferece um campo de intervenção, cujos de Psicopedagogia que apontam que após seu
limites são amplos”. Rossi (2007, p. 12) a surgimento na Europa, a Argentina passou
sintetiza como “uma área do conhecimento a realizar ensaios que eram inicialmente
que se dedica exclusivamente ao estudo do oferecidos somente por psicólogos,
processo de aprendizagem e como os diversos posteriormente, por psicopedagogos que
elementos envolvidos nesse processo podem promoviam diversas investigações para,
facilitar ou prejudicar o seu desenvolvimento”. por fim, diagnosticar a crianças e então,
apresentar o tratamento destinado a cada
Voltando ao Centro administrado caso.
por Mauco, é viável salientar que, os

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Inicia-se, neste período, uma reeducação ganhar força e forma na Argentina. “Desta
do indivíduo, que, por meio do apoio forma a Psicopedagogia inscreve-se no
terapêutico, procurou-se distinguir os âmbito pedagógico, dada a necessidade de
problemas educacionais e apresentar a orientar o processo educativo, oferecendo
estes possíveis tratamentos e soluções. Para um conhecimento mais profundo dos
minimizar o atual fracasso escolar, buscou-se processos de desenvolvimento, maturidade
então oferecer um trabalho que, articulado e aprendizagem humana” (BOSSA, 2011, p.
entre a educação e a saúde, conseguisse ter 63).
sucesso em fomentar respostas às sérias
questões pedagógicas. Cada vez mais procurado agora, não
somente na Argentina, mas em várias outras
[...] a dinâmica histórico-social determinou a partes do mundo; em 1956, em Buenos
necessidade de um profissional que respondesse
aos graves problemas que a Pedagogia enfrentava: Aires, o curso de Psicopedagogia passa a
crise na escola, métodos inadequados, aumento ser oferecido. O Curso de Graduação, com
de matrículas diante da expansão demográfica duração de três anos, posteriormente, em
do pós-guerra, evasão escolar, repetência e
sérias dificuldades sistemática (BOSSA, 2011, p. 1969, ganha o acréscimo de mais um ano,
63). bem como, passa a oferecer um currículo
mais extenso, e recebe efetivamente o título
Os psicopedagogos argentinos, mais de Psicopedagogia (PERES, 1998).
precisamente de Bueno Aires, analisaram
e acompanharam as crianças durante A Psicopedagogia passa a despertar a atenção
de vários países que, preocupados com os
o período de um ano, e ao final deste, altos índices de fracassos escolares passam a
perceberam que a intervenção utilizada buscar novas alternativas de trabalho. Dentre
obtivera sucesso, quanto à aquisição e estes países, na Argentina, a psicopedagogia
tem recebido um enfoque especial, sendo
desenvolvimento da aprendizagem, porém, considerada uma carreira profissional (PERES,
surgiram outras sequelas e desvios no campo 1998, p.42).
comportamental das crianças assistidas.
Surge, pois, na Argentina, a necessidade A Psicopedagogia argentina atua tanto
de agregar os saberes da psicanálise para na educação – com o objeto de solucionar
melhor diagnosticar e tratar os distúrbios os problemas de aprendizagem, quanto
de aprendizagem, sem correr o risco de na saúde – como forma de diagnóstico e
desenvolver outras síndromes nas crianças prevenção dos fatores que levam a problemas
estudadas. relacionados à aprendizagem.

O oferecimento de cursos que propiciava


a reeducação nas áreas da motricidade,
memória, formulação do pensamento e
favorecimento da atenção começaram a

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PSICOPEDAGOGIA período, como um modelo engessado, que


NO BRASIL procurava oferecer uma sólida educação,
com conteúdo e conjecturas padronizadas.
No final dos anos 50, fundou-se no Esse fator muito prejudicava o diagnóstico e
Brasil um instituto que visava atender tratamento dos alunos que aprendiam com
professores e alunos, contudo, enfatizava o maior dificuldade e não se desenvolviam em
trato com o professor, procurando preparar suas potencialidades cognitivas.
esse profissional para melhor trabalhar as
potencialidades dos alunos com problemas A práxis Psicopedagógica brasileira
de aprendizagem. possuiu, desde o início, características
muito semelhantes à Argentina, talvez pela
No Brasil, em 1958, foi criado o Serviço de proximidade geográfica das duas e por seus
Orientação Psicopedagógica (SOPP) da Escola
Guatemala, na Quanabara (Escola Primária vocabulários dotados de alguma semelhança
Experimental do Inesp) cujos objetivos centrais fonética. Nesse período toda irregularidade
eram: melhora da relação professor-aluno; apresentada no momento da aprendizagem
criação de um clima mais receptivo para o
aprendiz, aproveitando sua ‘bagagem’. O SOPP era associada, ou mesmo diagnosticada como
trabalhava junto à professora, para que ela uma Disfunção Neurológica, um problema
pudesse ampliar suas próprias condições de no Sistema Nervoso Central, conhecido
respeitar e aproveitar a experiência do aluno.
O serviço contava inicialmente com uma como DCM - Disfunção Cerebral Mínima.
profissional formada em Pedagogia e Psicologia Como o diagnóstico de DCM tornara-se
e, posteriormente, recebeu a colaboração de comum entre os médicos e psicopedagogos
outro profissional com a mesma formação [...]
(MASINI, 2015, p.24). da época, por certo tempo, não se percebeu
que se tratava, em sua maioria, de problemas
sociopedagógicos.
Em meados dos anos 70, a Psicopedagogia
surge, no Brasil, de forma pouco clara e Bossa (2007) explica que:
repleta de indagações, que transitavam
desde a compreensão do conceito de [...] na década de 1970, foi amplamente
difundida, aqui no Brasil, a ideia de que os
Psicopedagogia tanto dentro do campo problemas de aprendizagem teriam como causa
clinico, quanto no institucional, como ciência; uma disfunção neurológica, não detectável em
seus fundamentos e eficácia no tratamento, exame clinico, a chamada disfunção cerebral
mínima (DCM). Além do rotulo DCM, termos
até a necessidade de delimitação da atuação como dislexia, disritmia e outros, também
do Psicopedagogo em solo brasileiro eram foram utilizados pela psicologia individual para
fortemente questionados. camuflar os problemas sociopedagógicos, como,
por exemplo, situações de desigualdades, de
oportunidades educacionais da época (BOSSA,
Segundo os moldes impostos pela 2007. p.51).
industrialização, fim do século XIX, à sociedade
da época, a educação apresentava-se, nesse

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Contudo, o diagnóstico de DCM não era Foram profissionais como: Jorge Visca,
o único aplicado pelo médico da época, pois, Alicia Fernàndez, Sara Pain e Marina
ainda segundo Bossa (2011) esses “rótulos” Müller que viabilizaram a propagação do
em partes, davam uma resposta, mesmo conhecimento técnico, metodológico, psico
que erronia aos problemas de aprendizagem e pedagógico da Psicopedagogia no Brasil.
apresentados nas escolas:
No final da década de 1970, tanto no Rio
O rótulo DCM foi apenas um dentre os vários de Janeiro, quanto em Curitiba, os estufo
diagnósticos empregados para camuflar
problemas sociopedagógicos traduzido de Jorge Visca, psicopedagogo argentino,
ideologicamente em termos de psicologia começaram a fazer diferença na compreensão
individual. Temos como dislexia, disritmia e do aprendiz e de suas dificuldades de
outros também foram usados para esse fim
(p.77). aprendizagem.

Diante do apresentado, surgem no Brasil Na década de 1990, em Curitiba, os estudos


da visão Sistêmica por psicopedagogos que
os primeiros cursos de Psicopedagogia, possuíam a visão da Epistemologia Convergente,
contudo estes, ainda não se encontravam inicialmente na Síntese, bem como, no Rio de
no mesmo nível técnico apresentado pelos Janeiro, as contribuições de Alicia Fernàndez,
trouxeram um nova compreensão da dinâmica
cursos argentinos. Enquanto no Brasil os familiar e de suas relações com as dificuldades
cursos eram destinados à especialização de para aprender. (ZENICOLA et al. 2007, p. 36-37)
professores, na Argentina ela, já nos anos
70, constituía uma profissão chegando, por No ano de 1979, por fim, foi oficialmente
isso, a prestar assessoria aos brasileiros. instituído no Brasil o primeiro curso de
Visca (1987), importante psicopedagogo Psicopedagogia, como citado abaixo por
argentino, aponta que a psicopedagogia Bombonatto et al (2007):
argentina, em seu caráter experimental, partia
do pressuposto de oferecer atendimento às Inicialmente o Instituto Sedes Sapientiae
estatuariamente agregado à Pontificie Universidade
crianças com dificuldades de aprendizagem. Católica de São Paulo, gozava de autonomia
acadêmica e administrativa. Durante o ano de
A psicopedagogia nasceu como uma ocupação 1986, em meio às lutas de resistência estudantil,
empírica pala necessidade de atender as crianças diante da ditadura militar, o Governo brasileiro
com dificuldades na aprendizagem, cujas causas propôs uma reforma universitária que, entre outras
eram estudadas pela medicina e psicologia. Com medidas, estabelecia exigência que dificultavam
o decorrer do tempo, o que inicialmente foi uma a existência de Faculdades isoladas no País. O
ação subsidiária destas disciplinas, perfilou- Instituto então desligou-se da PUC/SP, mantendo
se como um conhecimento independente e a clínica Psicológica em atividade (p.21).
complementar, possuidor de um objeto de
estudo (o processo de aprendizagem) e de Portanto, o Instituto Sedes Sapientiae e a
recursos diagnósticos, corretores e preventivos
próprios (p. 33). Pontifícia Universidades Católica ofereceram
os primeiros cursos de especialização em
Psicopedagogia no Brasil.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Bossa (2011) complementa que, presentes dificuldades de aprendizagem e


atualmente o curso de especialização em realizar a inclusão social dos educandos. Seu
Psicopedagogia está presente em várias trabalho é analítico, resolutivo, preventivo e
faculdades/ universidades brasileiras e, em inclusivo.
2002, o curso foi também ofertado pela
FACED, do Rio de Janeiro na modalidade de Quando ao atendimento Clinico, Bossa
Bacharelado, cujos professores são mestres (2011) pontua que no atendimento clinico:
e doutores.
[...] que se dá em consultórios ou em hospitais,
o psicopedagogo busca não só compreender
o porquê de o sujeito não aprender algumas
AREAS DE ATUAÇÃO coisas, mas, também o que ele pode aprender e

DA PSICOPEDAGOGIA como. A busca desse conhecimento inicia-se no


processo diagnóstico, momento em que a ênfase
é a leitura da realidade daquele sujeito, para
A Psicopedagogia ramifica-se em duas então preceder à intervenção, que é o próprio
áreas de atuação, sendo elas a Institucional tratamento ou o encaminhamento (p. 150).

e a Clínica, podendo ela, portanto atuar


desde o âmbito escolar como o clinico, Na Clínica, o Psicopedagogo, apresenta
cujas metodologias diferem, seguindo as uma atuação de caráter terapêutico, pois
necessidades apresentadas pelos alunos ele irá trabalhar mais individualmente
e/ou pacientes. Bossa (2011) sobre a com o paciente, procurando conhecer e
Psicopedagogia Institucional apresenta que: compreender as situações desfavoráveis ao
aprendizado, de forma a paulatinamente
A Psicopedagogia institucional se caracteriza resgatar no paciente, sua autoestima, sua
pala própria intencionalidade do trabalho.
Atuamos como psicopedagogos na construção proatividade e sua autoconfiança. Estes
do conhecimento do sujeito, que neste resgates possibilitam que ocorra o reencontro
momento, é a instituição com a sua filosofia, do paciente com seu eu, fortalecendo, deste
valore e ideologia. A demanda da instituição
está associada à forma de existir do sujeito modo sua personalidade.
institucional, seja ele a família, a escola, uma
empresa industrial, um hospital, uma creche,
uma organização assistencial (p. 139).
PAPEL DO PSICOPEDAGOGO
NA ESCOLA
O Psicopedagogo Institucional, por tanto,
é o profissional que atua principalmente nas O Psicopedagogo, por princípio, precisa
escolas, sejam elas públicas ou privadas; caracterizar-se como um profissional
ele busca apresentar formas para combater multidisciplinar, que possui o Código de Ética
a o fracasso escolar através de sugestões que o fará continuamente refletir quanto à
geradas por seus conhecimentos em condição do ser humano. Para que ele consiga
Psicologia e Pedagogia para solucionar as realizar uma avaliação diagnóstica, é preciso

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que seus conhecimentos abranjam saberes problemas aprendizagem advindos do


de múltiplas áreas que estudam e pesquisam sentimento de inequação do indivíduo
o comportamento humano, bem como, seu diante do seu grupo social, isso inclui a
processo de aprendizagem. Esse profissional escola na qual estuda e estabelece seus
trabalha com todas as faixas etárias: criança, relacionamentos interpessoais assim como
adolescente ou adulto. em seu âmbito familiar.

É a Psicopedagogia, hoje, a área de Para auxiliar no diagnóstico o
conhecimento que mais propões a uma práxis
que atenda a estes requisitos e princípios éticos. Psicopedagogo precisará valer-se de várias
Também aqui vemos muitos profissionais que ferramentas lúdicas, como a utilização de
sequer conhecem seu código de ética. Á ética brinquedos, jogos e testes, a fim de, através
profissional é um compromisso social; não existe
bem-estar individual sem bem-estar coletivo da linguagem lúdica, observar e analisar
(GRIZ, 2007, p.78). aquilo que a criança/ educando, de modo
inconsciente esta externalizando durante a
Fica a cargo do Psicopedagogo Institucional, brincadeira.
primeiramente compreender de forma ampla
o modo como se forma a mente humana, com Os psicopedagogos são, portanto, profissionais
preparados para prevenção, o diagnóstico e o
todas suas nuances e transformações. Uma tratamento dos problemas de aprendizagem
vez que o ser humano a cada fase da vida escola. Através do diagnóstico clínico ou
apresenta pensamentos, questionamentos, institucional, dedicam as causas da problemática
e elaboram o plano de intervenção. Para realizar
atitudes e comportamentos diferentes; é o diagnóstico clínico, o psicopedagogo utiliza
necessário que o psicopedagogo mantenha recurso como testes, desenhos, histórias,
um olhar atento a cada caraterística própria atividades pedagógicas, jogos, brinquedos, etc.
Esses recursos se constituem num importante
de cada fase de desenvolvimento para instrumento de linguagem e revelam dados
melhor intervir de modo eficaz no processo sobre a sua vida, que muitas vezes são segredo
de aprendizagem quando necessário. para nós mesmos. Com base nesses dados é
elaborado o plano de intervenção. Na escola,
o psicopedagogo institucional vai atuar junto
Cabe a ele observar, diagnosticar, corrigir, aos professores e outros profissionais para
prevenir e ajudar o aluno, auxiliando assim melhoria das condições do processo ensino-
aprendizagem, bem como, prevenção dos
a sua aprendizagem. O diagnóstico, por problemas de aprendizagem (BOSSA, 2007,
sua vez, dar-se-á através de sua minuciosa p.12-13).
observação, que deverá ocorrer de forma
imparcial, contudo, de modo investigativo O que fora posto até o momento,
para se conhecer, ou ao menos pressupor a constitui tanto a prática a ser adotada
origem do déficit apresentado pela educando. na Psicopedagogia Clinica, quanto na
Institucional, porém, quando se fala em
Essa observação precisa ser detalhista, escola, acrescentam-se outras nuances
séria de aporte para a prevenção de futuros a postura do Psicopedagogo. No âmbito

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escolar, ele trabalhara conjuntamente com o docente, atuando tanto na descoberta e


aprofundamento do que determina a dificuldade de aprendizagem demonstrada pelo aluno,
bem como, por meio de seus conhecimentos técnicos e metodológicos, agregados aos
apontamentos pedagógicos do docente, buscar soluções para mudar essa condição.

É essencial que o psicopedagogo tenha em mente essa demanda e estabeleça com o professor uma relação
de troca. Ele tem muito a contribui no diagnóstico psicopedagógico e é personagem fundamental no processo
de intervenção. O inverso também é verdadeiro: o professor deve lembrar que o psicopedagogo muito pode
ajudar na difícil tarefa de ensinar (BOSSA, 2007, p. 16).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No percurso histórico da Psicopedagogia observa-se que a
Argentina constituiu o berço de seu maior desenvolvimento
e graças a isto, e talvez pela semelhança linguística, o
Brasil pode inserir em sua cultura e na área acadêmica os
conhecimentos, conceitos, metodologias dessa nova ciência,
que muito contribui para solucionar, em partes, o fracasso
escolar. Mas, para que o profissional possa executar seu
papel, é necessário que as instituições escolares permitam
que o Psicopedagogo realize suas investigações e aponte
as possíveis ações para corrigir determinado problema. O
educador precisa estar sempre atento para perceber que seu
aluno está dando indicativos de que, por alguma razão, não PRESCILIA BENTO
está aprendendo.
Graduação em Letras pela
No ambiente escolar, a criança realmente dá indícios de Faculdade “FASB – Faculdade
que algo não está caminhando como o esperado durante de São Bernardo” (1996);
seus processos de aprendizagem, ela não demonstra alegria, Especialista em Psicopedagogia
Clinica e Institucional pela
curiosidade e disposição em aprender, vive envolva ao Universidade “Cândido Mendes”
fracasso escolar. Sua atitude, observada pelo professor, (2016); Professor de Ensino
profissional encarregado de realizar a mediação entre o Fundamental II - Língua inglesa na
EMEF “Presidente Campo Salles”.
sujeito e a aquisição de novo saberes, mostra-se, muitas
vezes alheia a dinâmica escolar, não conseguindo realizar
atividades próprias de seu ano/serie ou, quando as realiza é
de modo sofrível e com grande lentidão. Cabe ao professor,
através de grande e minuciosa observação, buscar ajuda profissional para auxiliar na
reeducação desses educando, fazendo com que ela retome a alegria de aprender e esteja
aberta a realizar novas e continuas investigações para agregar aos seus, novos e importantes
conhecimentos.

O psicopedagogia assume então, um papel vital na vida desses educando, pois é ele que,
através de testes e atividades lúdicas, quem vai decodificar as mensagens apresentadas
durante as atividades para, então, compreender as lacunas presentes, que prejudicam sua
aprendizagem. Muitas vezes estes espaços são ocasionados por problemas neurológicos, ou
mesmo por problemas emocionais, como baixa autoestima, conflitos internos e sentimento
de desajuste social.

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Após suas análises e pesquisas, o Psicopedagogo deve apresentar as possíveis alternativas


de intervenção pedagógica, bem como soluções para o problema de aprendizagem.
Metodologias e técnicas, próprias do profissional Psicopedagogo serão aplicadas na procura
de modificar a condições do aprendente.

Em suma, o papel do psicopedagogo é de grande importância para compreender as


características, assim como as dificuldades de aprendizagem estudantil. Ele juntamente
com a equipe escolar busca alternativas para sanar as dificuldades presentes no ensino-
aprendizagem.

Para isso, o psicopedagogo deve ser um profissional ético, comprometido e apaixonado


por sua função, capaz de propagar seus conhecimentos e habilidades nas descobertas de
novos saberes, levando o educando a desenvolver-se cognitivamente, tornando para este a
aprendizagem prazerosa, norteando-o nos estudos e no desenvolvimento do seu raciocínio
logico. Trabalhando com o educando, dentro e fora do âmbito escolar, rompendo com o
sentimento de exclusão tão vivo e presente na criança com dificuldades de aprendizagem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E O
PROCESSO DE ENSINO
APRENDIZAGEM NAS AULAS DE ARTE
RESUMO: O objetivo geral deste artigo é aferir sobre a compreensão e possíveis maneiras
que o professorado de Artes pode utilizar as Histórias em Quadrinhos (HQs) em sala de aula.
Por meio dos conceitos da linguagem mista das Histórias em Quadrinhos e explanações
artísticas. Para tanto, em conformidade com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
os estudos propõem analisar os sistematicamente questões da leitura, interpretação e
produção de Arte. E a Abordagem Triangular será a teoria base para esta aferição e com
os fundamentos de diversos educadores bem como: Ana Mae Barbosa, Rama e Vergueiro,
Paulo Freire e Paulo Ramos. Seguiremos a metodologia de uma análise empírica a fim de
explanar as inferências que compõem o sentido educacional e artístico na linguagem das
HQs. Refletimos aqui as potencialidades do uso dos quadrinhos nas aulas de Arte como
um recurso pedagógico apropriado e metodologicamente sistematizado. A partir de uma
construção teórica e analítica, constatamos que entre essas potencialidades passíveis de
desenvolvimento estão o pensamento crítico, a leitura de mundo, a contextualização e a
imaginação.

Palavras-Chave: Processo de Ensino Aprendizagem; Metodologias; Histórias em Quadrinhos;


Ensino de Artes.

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INTRODUÇÃO e sua interação com o mundo colorido e


repleto de arte, criação e conhecimento.
A utilização dos HQs em sala de aula se
configurou um tabu durante muito tempo. O
ambiente escolar não era o “local” adequado A UTILIZAÇÃO DOS
para a inserção deste modelo de arte, pois este QUADRINHOS NA SALA DE
nem mesmo era considerado arte por muitos
educadores. Apresentado como portador de AULA- UMA CONSTRUÇÃO
uma linguagem informal e empobrecida as METODOLÓGICA
HQs permaneceram no campo popular e de
distanciaram da escola. A imaginação e a curiosidade são atributos
das crianças durante o processo de ensino
Encarar as HQs como instrumento aprendizagem na educação, assim os
pedagógico constitui-se ainda em um grande professores de Artes devem utilizar esses
desafio. Há um descompasso histórico na elementos para fomentar o desenvolvimento
educação brasileira, que ao apresentar do alunado. Para tanto, a linguagem mista das
novas metodologias que priorizam a histórias em quadrinhos deve ser considerada
contextualização, constrói-se uma resistência como recurso pedagógico que fomentem o
em aceitar outros instrumentos além do aprendizado, pois as Hqs possuem diversos
livro didático. Essa metodologia, por nós subsídios narrativos visuais que colaboram
apresentada neste artigo, busca estimular o para a construção de sentido e a leitura de
rompimento destas visões e a construção de mundo.
uma nova epistemologia e acentuada revisão
metodológica. O importante é observar que a linguagem
oferecida pelas Hqs não se resume a escrita,
O uso das HQs no ambiente escolar não se proporcionando um avanço significativo
resume somente ao ensino de artes, estende- em relação a contextualização de imagens
se a todas as disciplinas pois é uma ferramenta e significação de símbolos e linguagens. É
essencialmente interdisciplinar. No entanto, claro que se faz necessário que o docente
neste artigo, buscamos aprofundar o seu uso possa selecionar, nesta fase, quadrinhos que
no ensino de artes. sejam menos complexos, com características
objetivas, figuras curtas e interligadas,
Construindo uma problematização, favorecendo o entendimento do alunado em
elencamos alguns pontos que teorizam questão.
e sistematizam o uso das HQs como
ferramenta pedagógica possível em sala de Nessa perspectiva, o docente de
aula, ampliando os olhares interdisciplinares Artes pode contextualizar a curiosidade
e alçando estimular a imaginação dos alunos empírica dos alunos com a linguagem das

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“Nível Fundamental [...]: nos primeiros anos, não


HQs, bem como: desenhos, cores, balões, se pode identificar qualquer salto na capacidade
onomatopeias e arte sequencial a fim de expressiva dos alunos, que evoluem de forma
incentivar o gosto pela leitura ao decorrer do sistemática e gradual para maior reconhecimento
e apropriação da realidade que os circunda.
processo de alfabetização de maneira lúdica Aos poucos, a criança vai deixando de ver a si
e significativa: mesma como o centro do mundo e passa a
incorporar os demais a seu meio ambiente, ou
“Pré – Escolar: Os alunos se encontram nas seja, evoluindo em termos de socialização. Da
primeiras iniciativas de representação (etapa mesma forma, começa aos poucos a identificar
pré-esquemática), atendendo a necessidades características específicas de grupos e pessoas,
motoras e emocionais. Em seu trabalho com a podendo ser apresentada a diferentes títulos ou
linguagem, os resultados obtidos são menos revistas em Quadrinhos, bem como ser instada
importantes que o processo. A relação desses a realizar trabalhos progressivamente mais
estudantes com os Quadrinhos é basicamente elaborados, que incorporem os elementos da
lúdica, sem que interfira uma consciência crítica linguagem dos Quadrinhos de uma forma mais
sobre as imagens que aparecem nas Histórias intensa. ” (RAMA; VERGUEIRO, 2014, p. 28).
em Quadrinhos, tanto nas que recebem do
professor como naqueles que eles próprios
produzem. Nessa fase, é muito importante Contudo, no segundo ciclo de aprendizagem
cultivar o contato com a linguagem das HQs, do ensino Fundamental, o alunado entra
incentivando a produção de narrativas breves
em Quadrinhos, sem pressioná-los quanto a em uma face de transição entre a infância
elaboração de textos de qualidade ou a cópia de e a puberdade, nesse aspecto o docente de
outros modelos. ” (RAMA; VERGUEIRO, 2014, p. Artes deve possibilitar o uso da linguagem
27-28).
da HQs para contextualizar inúmeros temas
problemas com a finalidade de auxiliar a
Freire (2013, p. 33) versa “a curiosidade compreensão do alunado em relação ao seu
como inquietação indagadora, como lugar na sociedade:
inclinação ao desenvolvimento de algo, como
pergunta verbalizada ou não, como procura “Nível Fundamental [...]: os alunos se integram
mais à sociedade que os rodeia, sendo capazes
de esclarecimento”, assim a decorrer das de distinguir os níveis local e regional, nacional
aulas é importante que o educador estimule e internacional, relacioná-los entre si e adquirir
a curiosidade e criatividade dos alunos, a consciência de estar em um mundo muito mais
amplo do que as fronteiras entre sua casa e
principalmente na educação infantil. escola. O processo de socialização se amplia, com
inserção em grupos de interesse e a diferenciação
Todavia, no primeiro ciclo de aprendizagem entre os sexos. Têm a capacidade de identificar
detalhes das obras em Quadrinhos e conseguem
do ensino fundamental II é preciso asseverar fazer correlações entre eles e sua realidade
o desenvolvimento intelectual e cognitivo social. As produções próprias incorporam a
dos alunos, assim o professor pode utilizar sensação de profundidade, a superposição
de elementos e a linha do horizonte, fruto de
as HQs como uma maneira de produzir, sua maior familiaridade com a linguagem dos
externar e ressignificar a criatividade por Quadrinhos.” (RAMA; VERGUEIRO, 2014, p. 28).
meio da Arte.

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Aqui constrói-se a partir desta Construindo um diálogo interdisciplinar,


metodologia uma ferramenta de suma o professor de artes pode estabelecer
importância pedagógica. Os quadrinhos nesta idade uma ponte com as disciplinas
contribuem para a criação como um aspecto de história, sociologia e filosofia para
de desenvolvimento cognitivo, ampliam a contextualizar as ideologias presentes nos
leitura e os aspectos viso-espaciais e facilitam quadrinhos.
a troca de ideias e aumentam a sociabilidade
dos alunos. É recorrente que ao trazer esta Ao apresentar, por exemplo, a luta
ferramenta para a sala de aula, expressam- da personagem “Capitão América” e o
se atitudes de compartilhamento e troca de “Nazista”, é possível estabelecer vínculos
interesses como ressalta os autores acima contextualizados com fatos como a
citados. Segunda Guerra Mundial. As aulas tornam-
se significativas e estimulantes quando
Entretanto, no Ensino Médio, o alunado ousa-se trazer uma linguagem para além do
está ressignificando seus conhecimentos livro didático sem perder a importância do
em relação a sociedade, e com muitos conteúdo, tão urgente para esta faixa etária.
questionamentos buscam respostas em Assim, Freire (2013) versa a respeito da
relação ao que está aprendendo, por este importância de favorecer as experiências
motivo é importante que o professor de Artes individuais de cada aluno, a fim de promover
fomente as Hqs em suas sequencias didáticas o pleno desenvolvimento intelectual, por
para contextualizar e assim transformar a meio a relação entre alunos, professores e a
realidade dos alunos: sociedade.

“Nível Médio: Os estudantes dessa fase se Estimula-se de acordo com Freire (2013) o
caracterizam pela mudança de personalidade,
devido à passagem da adolescência para a pensamento crítico, a imaginação e a leitura
idade adulta. Passam a ser mais críticos e de mundo, que se amplia quando saímos do
questionadores em relação ao que recebem mundo “fictício” e interpretamos o “mundo
em aula, não se submetendo passivamente a
qualquer material que lhes é oferecido. Tendem real”.
também a ter uma desconfiança natural (e
saudável) em relação aos meios, demandando Dessa maneira, ao decorrer de todo
um tipo de material que desafie sua inteligência.
Por outro lado, são também, muito pressionados processo de ensino aprendizagem na
pelo coletivo perdendo às vezes um pouco da Educação Básica o professor de Artes deve
sua espontaneidade ao terem que confrontar afiançar a emancipação intelectual e cultural
suas opiniões pessoais com as do seu grupo.
Nas produções próprias, buscam reproduzir do alunado:
personagens mais próximos da realidade, com
articulações, movimentos e detalhes de “É isso que nos leva, de um lado, à crítica e
roupas que acompanham o que veem ao seu à recusa ao ensino “bancário”, de outro, a
redor. “ (RAMA; VERGUEIRO, 2014, p. 29). compreender, apesar dele, o educando a ele
submetido não está fadado a fenecer; em
que pese o ensino “bancário”, que deforma

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a necessária criatividade do educando e do educador, o educando a ele sujeitado pode, não por causa do
conteúdo cujo “conhecimento” lhe foi transferido, mas por causa do processo mesmo de aprender, dar, como
se diz na linguagem popular, a volta por cima esperar o autoritarismo e o erro epistemológico do “bancário”.”
(FREIRE, 2013, p. 27)

Portanto, a Linguagem das Histórias em Quadrinhos garante uma diversificada


possibilidade de usos pedagógicos em sala de aula, a fim de favorecer o processo de ensino
aprendizagem dos alunos. Por meio, das características visuais e verbais das Hqs, por exemplo:
onomatopeias, desenhos iconográficos, perspectivas, balões, cores, entre outros o professor
pode contextualizar de maneira crítica inúmeros temas problemas para os educandos desde
a alfabetização até reflexões sobre as mazelas da sociedade contemporânea.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo procurou elucidar estratégias a partir de
referenciais teóricos da utilização das Hqs como ferramenta
pedagógica, a ser utilizado em sala de aula com uma proposta
metodológica estruturada.

Verificou-se que é possível, através desta ferramenta
estimular a imaginação e o pensamento crítico do aluno
desde o ciclo de alfabetização (ensino fundamental I) até
o ensino médio, dada as especificidades de cada ciclo é
possível estimular as potencialidades de cada aluno através
de uma arte que muitas vezes se viu marginalizada no campo
educacional. RAFAEL DA
SILVA PEREIRA
Partindo de um princípio freiriano, que prioriza a
Graduação em Letras pela
significação e a contextualização como eixos norteadores Faculdade UNISANTANA (2014)
da ação pedagógica, propõe-se a partir do uso das Hqs uma e Artes Visuais pela Faculdade
construção metodológica, não só no campo do ensino das FAMOSP (2016); Especialista
em Especialista em Docência no
artes, mas em um contexto de interdisciplinaridade trazer ensino superior pela Faculdade
para a sala de aula um recurso que é estimulante e concreto FMU. (2015); Professor de Ensino
para o alunado. Fundamental II e Médio - Artes
- na EMEF Prof. André Rodrigues
de Alckmin.
Revisada as possibilidades teóricas e concretas do uso das
Hqs em sala de aula, elencamos que, de acordo com cada ciclo
se faz necessário as adaptações que requerem do professor,
com maior enfoque, o de artes, uma habilidade para reconhecer as reais necessidades de seu
público, que pode se dar por uma estimulação da criação de outras imagens, da ampliação
da linguagem, da escrita e leitura ou da ressignificação de sentidos históricos atribuídos ao
campo da ficção.

Em uma sociedade complexa, como a nossa, dita uma “sociedade das imagens” não se
pode negar a potencialidade deste recurso em sala de aula. Aponta-se como um possível
futuro diálogo para a linguagem “mimética” estabelecida no campo das redes sociais (não
discutido neste artigo), que incide no mesmo campos ideológico, discursivo que durante
muitos anos apresentou-se restrito ao mundo dos quadrinhos.

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Buscou-se construir então uma forma de exprimir uma ação pedagógica que se baseia
na criatividade e releitura de mundo, enxergando potencialidades em uma arte renegada
historicamente no ambiente escolar. Mais que um manual de orientações práticas o
que propomos neste artigo é estimular e inquietar a ação docente para explorar outros
instrumentos que superam as visões limitadoras do livro didático que aprisionam o sistema
escolar e empobrecem outras leituras e estímulos criativos no ambiente escolar.

Portanto, cabe ao professor de artes e também aos especialistas das demais áreas construir
um diálogo interativo com metodologias alternativas, e que a partir de uma elaboração
sistemática possam trazer para a sala de aula os quadrinhos como um recurso metodológico
e pedagógico transformador no ambiente escolar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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1356
Revista Educar FCE - Abril 2019

TGI- STRESS INFANTIL: CRIANÇA


COMO SUJEITO DO CONHECIMENTO
RESUMO: Esta pesquisa tem como objetivo estudar as causas e consequências do stress
infantil. Essa doença vem afetando várias pessoas, inclusive as crianças, fato que ainda é
pouco conhecido. Este trabalho visa alertar sobre a gravidade dessa doença, esclarecer as
dúvidas mais comuns, dar dicas de como tratar e como prevenir e mostrar a verdadeira
dimensão do problema aos profissionais da área de educação e aos pais.

Palavras-Chave: Educação Infantil, stress, pais, doença.

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INTRODUÇÃO Doenças como asma, bronquite, resfriados


constantes, dores de cabeça e alergias são
É praticamente impossível, nos dias de muitas vezes decorrentes do stress.
hoje, encontrar alguém 78que nunca tenha
ouvido falar sobre stress. Outra doença muito comum em crianças
hoje, é a gastrite, também considerada um
Algumas pesquisas nos EUA confirmam dos sintomas do stress.
que os níveis de stress aumentaram de
modo significativo e progressivo nas últimas As pressões da escola, agendas cheias e
décadas. Ao mesmo tempo, ocorre o aumento tensões familiares, fazem das crianças alvos
de muitas doenças provocadas pelo stress. fáceis para o stress.

Tal problema pode atingir em particular Segundo Marilda Lipp (1998, p.193) “o
as populações que estão passando por uma stress acontece quando a criança assume
transformação sócio cultural rápida e por papéis e tarefas inadequadas à sua idade”.
uma mudança de valores que causam a perda
de referenciais básicos à vida social. Em situações extremas, o stress pode
levar a criança a crises de depressão ou até
Posso citar como exemplo a situação mesmo ao suicídio.
econômica atual, que leva os pais a trabalhar
praticamente o dia inteiro e a deixar seus Esse fato fez com que a procura de pais
filhos nas mãos de babás ou escolas de aos especialistas terapêuticos triplicasse nos
período integral. Com toda essa correria do últimos cinco anos.
dia a dia, as crianças passam a ser lançadas
à própria sorte, tornam-se responsáveis por Mas a que se deve esse aumento de casos
coisas demais e acabam vítimas do stress. de stress infantil?

Frio excessivo, fome, falta de cuidados, Basicamente por causa de uma grande
superproteção, doenças, morte na família, mudança de comportamentos.
maus professores, brigas familiares, pais
neuróticos, viagens e nascimento de irmãos Antigamente as crianças ficavam mais
estão entre as causas mais comuns de stress soltas na rua e descarregavam a tensão em
infantil. brincadeiras que envolviam exercícios físicos,
nos quais se exigiam menos resultados que
No Brasil, pesquisadores da USP, nos esportes atuais. Era o esconde-esconde,
concluíram que dois terços das crianças entre a amarelinha, o pega-pega.
6 e 14 anos que vivem nas grandes cidades,
apresentam sintomas de stress.

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Hoje a maior parte das crianças brinca O que observamos como futuras
em condomínios ou com os vídeos-games e educadoras é o completo desrespeito com as
computadores. crianças e com suas fases de desenvolvimento
biológico e psicológico.
Essas novas maneiras de brincar quase
sempre envolvem competição e avaliação de E a fase das descobertas, e o respeito à
desempenho. individualidade de cada criança, onde ficam?

Podemos dizer com certeza que a infância O importante é tomarmos consciência


de antigamente não dá para ser comparada desse fato e trabalharmos a escola junto
com a de hoje. à família, atingindo assim a sociedade. Só
assim a criança será respeitada como cidadã
Mas o que mudou realmente? As crianças que é.
mudaram?

A resposta é não, e aí está o problema. A ANÁLISE


criança continua a mesma, curiosa, esperta
e com capacidade para aproveitar e explorar Conti (1997, p. 95), em seus estudos,
ao máximo o que o mundo a oferece. analisou o stress de um modo geral, como
um estado de desequilíbrio corpo e mente,
O conceito de infância foi totalmente e que acontece porque o organismo reage
esquecido, por todos. São pouquíssimas a estímulos externos. É considerado um
escolas que tratam crianças como devem ser estado perigoso.
tratadas, e em casa é ainda muito pior.
Lipp (1991, p. 63), afirma que o stress
Esse fato é que faz com que as crianças infantil é praticamente igual ao stress
se sintam perdidas em relação ao o que é já conhecido, o que o diferencia são os
realmente infância e como devem agir. sintomas.

A criança tem um monte de coisas a Oliveira (1998, p.192-3) cita como um


serem exploradas por nós, pedagogas, dos sintomas do stress infantil uma doença
e temos que saber também observar as muito comum hoje em dia, a gastrite. É cada
diferenças e dificuldades de cada uma. Tudo dia mais normal, encontrarmos crianças que
que está em sua volta acaba de uma forma sofrem de gastrite, mesmo com pouca idade.
ou de outra afetando ou auxiliando em seu
desenvolvimento natural. Concordamos com os autores, o stress
deve ser considerado muito ofensivo à saúde,
ele afeta nosso organismo de forma brusca e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

inesperada e sua ação ainda não está clara Novamente concordamos com a autora:
à população, muito menos em relação ao a prevenção do stress infantil é a única
mal causado às crianças, por isso a atenção maneira de eliminarmos de uma vez esse
com que devemos observa-las deve ser mal. O que nos preocupa realmente é que
redobrada. não há um esclarecimento sobre o tema aos
pais e professores, principalmente, sendo
Lipp (1991, p.58) concluiu que mudanças assim, normalmente não sabem como agir
radicais, brigas, morte e atividades em nesses casos, agravando ainda mais o quadro
excesso, são as causas mais evidentes de de stress da criança. É necessária uma troca
stress infantil, mas a escola ocupa um lugar de informações, conhecimento do assunto
privilegiado entre elas. A escola é o primeiro e comprometimento com o bem-estar da
agente socializante fora da família o que criança para que essa prevenção ocorra de
assusta praticamente todas as crianças, pois fato e o stress infantil seja exterminado da
elas têm que seguir regras com as quais não nossa sociedade.
estão acostumadas e impostas por pessoas
“estranhas” (os professores).
A PALMADA EDUCA
Concordamos com a autora, há fatos que
acontecem no cotidiano que nos influenciam Os pais e mães de hoje que viveram com
de forma boa ou ruim. É importante sabermos intensidade a liberação dos costumes nos anos
que isto também acontece com as crianças, 60 e 70 estão tendo dificuldade em educar
que por serem mais frágeis, acabam sofrendo seus filhos. Muitos deles simplesmente não
muito mais que os adultos. sabem se devem disciplinar as crianças.

Lipp (1991, p.58) nos alerta sobre a Não sabem quando dizer não, ou mesmo se
importância da prevenção do stress nos devem fazê-lo. Isso ocorre porque associam
dois ambientes mais frequentados pelas autoritarismo a educação. Só que disciplina
crianças, a casa e a escola, e para que isso é fundamental na criação dos filhos e, em
de fato ocorra, é necessário que os pais e alguns casos, pode-se e deve-se recorrer às
os professores tenham claro como podem tradicionais palmadas como meio de educar.
ajudar seus filhos e alunos caso tenham que
enfrentar esse problema. O problema é mais grave do que parece. Para
que a criança aprenda a viver em sociedade,
Sabemos como é importante o trabalho ela necessita que os pais lhe mostrem os
preventivo, e acima de tudo, como esse limites, as fronteiras entre o certo e o errado.
trabalho pode diminuir o número de casos Quando eles não o fazem, a criança se torna
de stress infantil que vem alarmando os instável e insegura. Esse comportamento
especialistas. frouxo não faz com que ela ame mais os pais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Ao contrário, ela os amará menos, porque da criança e devemos impor um sistema de


começará a perceber que eles não lhe deram disciplina ligado ao seu comportamento. Por
estrutura, se sentirá menos segura, menos exemplo, se a criança não fez o dever de casa,
protegida para a vida. não poderá ver televisão. Se desobedeceu
Muitos pais até tentam delimitar as ações ou foi malcriada, não sairá por uma semana.
dos filhos, mas ficam com sentimento de
culpa quando proíbem algo. Mas a criança não deve ser punida na
primeira vez que comete um erro. Antes disso,
Essa atitude ambígua dos pais tem os pais devem explicar por que determinado
contribuído para provocar o stress infantil comportamento é errado e alertá-la sobre as
e pode ser o ponto de partida para a consequências de seus atos e as possíveis
desestruturação familiar. Na verdade, punições.
pessoas que não deixam claro para seus
filhos o que eles podem ou não fazer estão A insegurança dos pais nesse assunto
deixando de cumprir o papel de pais. pode levar a situações bastante perigosas.
Tive uma cliente cuja filha, uma menina
O castigo físico é visto com preconceito. de 12 anos, namorava um garoto de 15. A
É claro que a crueldade e a palmada a torto intimidade entre os dois era tanta que ela já
e a direito devem ser evitadas. Mas, quando estava achando o comportamento do garoto
a criança começa a engatinhar ou andar e um pouco excessivo. Mas a garota não
passa a mexer em tudo, uma palmada na mão conseguia, nem tinha ideia de como dizer
será mais eficiente do que repetir mil vezes não. Não havia aprendido com os pais qual
a mesma advertência. O recurso do castigo era o limite.
físico deve ser usado raramente. Quando a
vida do pequeno está em risco, por exemplo. Os pais, por seu lado, estavam
incomodados, mas não interferiam, apesar
Se a criança está aprendendo a atravessar de ter conhecimento de que o rapaz usava
a rua e insiste em cruzá-la sem respeitar drogas. Até que a mãe, aflita, decidiu buscar
o sinal, ela deve receber uma palmada. a minha ajuda. Ela questionava o direito
Esse comportamento dos pais tem de ser de proibir o relacionamento dos dois. Uma
sistemático, para fazer sentido. Ele não de suas dúvidas era: “Será que eu posso
traz prejuízo algum para a criança. Não vai determinar de quem minha filha vai gostar?
estressá-la nem traumatizar, vai mantê-la ”, respondi que ela tinha o direito de proibir
viva. O que não pode é os pais dependerem o namoro, porque a menina ainda não sabia
da disciplina física para educar a criança. proteger-se.

Precisamos entender que temos as rédeas Algum tempo depois, quando a garota
nas mãos, que controlamos tudo na vida voltou ao meu consultório, ela me disse: “Foi

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Revista Educar FCE - Abril 2019

um alívio meus pais terem me proibido de sair com ele porque eu não estava sabendo como
resolver essa situação”. Conclusão: a menina, ainda imatura, precisava de limites.

A criança não nasce sabendo, e o único meio que tem de aprender o que é certo ou errado
é por intermédio dos pais. Se não a ensinamos, ela poderá desenvolver um comportamento
estranho como forma de pedir socorro. Uma criança manhosa e agitada pode estar agindo
assim para chamar nossa atenção para seus problemas.

Enfim, os pais precisam dosar a liberdade que dão aos filhos. Essa liberdade deve depender
da habilidade que a criança tenha para lidar com responsabilidades. Quando os pais deixam
de punir convenientemente os filhos, muitas vezes pensam que estão sendo liberais. Mas a
única coisa que eles estão sendo é irresponsável.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa visou a investigação e a manifestação do
estresse infantil em crianças na sala de aula, e como ele é
percebido por essas crianças, por meio de uma pesquisa
bibliográfica, com análise de autores, indicando a manifestação
de pelo menos um sintoma físico de estresse e ao menos três
psicológicos nas crianças.

Este trabalho não permita a realização de um diagnóstico de


estresse, ele permite refletir sobre a análise que a própria criança
faz sobre condições de estresse em seu contexto escolar, no
qual demonstram por meio de sua fala uma necessidade de um
olhar atento e singular para que possam sentir-se capazes de RAFAELLA MENDES
aprender.
Graduação em pedagogia pela
Universidade paulista UNIP
Estudos que tratam de envolvimento dos pais, estilos (2013); Professor de Ensino
parentais e organização no lar, enfatizam os efeitos positivos Fundamental I, na EMEF Cecilia
Moraes de Vasconcelos.
de práticas e recursos promotores no desenvolvimento escolar
de seus filhos, o que evidencia a relevância familiar, coordenada
com outras condições, nesse processo do ensino-aprendizagem

A dificuldade de aprendizagem se caracterizou nesse estudo como algo que prejudica a criança
a se sentir integrada à sua escola. Além disso, o aluno que apresenta esta dificuldade traz o
sentimento de incapacidade, uma vez que acredita não conseguir atender os objetivos escolares.

Faz-se importante trabalhar de modo interativo no ambiente escolar, garantindo a atenção e


interesse das crianças no processo de aprendizagem. Também se deve garantir atenção a todos
os alunos de modo particular, atendendo às necessidades das mesmas. Almeida (2002, p. 57)
adverte que o uso de estratégias de aprendizagem é fazer aumentar o conhecimento do aluno em
relação às estratégias de aprendizagem existentes e dessa forma ajudá-lo a aplicar a estratégia
que mais combine com o seu estilo.

O estudo respondeu ao objetivo principal que foi de analisar como a criança se sente física e
psicologicamente no ambiente escolar, podendo trazer benefícios futuros para essas crianças,
seus pais ou responsáveis e para a escola, por meio do desenvolvimento de práticas de apoio
que permitam um desenvolvimento adequado no processo de ensino-aprendizagem, além de
equilíbrio de seus sentimentos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. S. Facilitar a aprendizagem: ajudar os alunos a aprender e a pensar. Psicologia
Escolar e Educacional, 6(2), 155-165, 2002.

BARRETO, Ângela M. Rabelo. et al. Caderno Cedes 37. São Paulo: Papirus,1995. 100 p.

BEGLEY, Louis. Infância de Mentira. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

COTTLE, Thomas J. O segredo da Infância. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

CONTI, Luiz Miguel Zangari –[on line]. Disponível: http://www.bristol.com.br/.

GRANATO, Alice. Baixinhos em crise. Veja, São Paulo: abril, p.84-7, 19 ago. 1998.

LIPP, Marilda Novaes. Como enfrentar o stress infantil. São Paulo: Ícone, 1991.

MEDO dos castigos de Deus lidera causas de stress entre crianças. Folha da Tarde, São
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OLIVEIRA, Thais. Gastrite Infantil. A causa: estresse. Cláudia, São Paulo: abril, p.192-3,
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PEREC, Georges. A memória da Infância. São Paulo: Companhia da Letras, 1995.

ROSA, Merval. Psicologia Evolutiva. 9 eds. Rio de Janeiro: Vozes, 1995.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O LÚDICO NO
PROCESSO EDUCATIVO
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo estudar o resgate do lúdico no processo
educativo, revelando práticas pedagógicas que desenvolvam um processo de aprendizagem
significativa na Educação Infantil. Por meio das atividades lúdicas pode se perceber com mais
naturalidade e liberdade à forma com que a criança comunica-se com ela mesma e com o
mundo, com as quais estabelece relações sociais, constrói conhecimentos, desenvolvendo-
se integralmente.

Palavras-Chave: Práticas Pedagógicas; Aprendizagem Significativa; Lúdico.

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INTRODUÇÃO Utilizar-se de dinâmica ao ensinar crianças


é buscar cada vez mais o seu interesse em
Ao longo dos tempos os Jogos e querer aprender, os jogos e as brincadeiras
Brincadeiras vêm sendo deixados de lado são maneiras de ensino diferente do
para serem substituídos por outros tipos comum. O lúdico na escola busca um meio
de conteúdos (ARIÈS, 2006), porém grande de aprendizagem prazeroso para a criança,
parte desses não faz sentido para as crianças e facilitadora do trabalho do educador,
que estudam na Educação Infantil (BORBA, pois, através dos jogos e brincadeiras, pode
2007). ser feita facilmente uma investigação do
modo de pensar dos alunos, para ajudá-los
A brincadeira na Educação Infantil é um a compreender os conteúdos escolares e
ato importante e indispensável que requer superar suas dificuldades. Para Le Boulch
planejamento. É através das brincadeiras (1987), a criança se expressa e se comunica
que as crianças vão exercitar sua por meio de seus gestos e mímicas, e interage
imaginação, seu corpo e aprender a respeitar utilizando fortemente o apoio do seu corpo.
as regras e as diferenças, tornando-se
importante ferramenta para construção do Tendo em vista a ausência de brincadeiras
conhecimento. Assim, as atividades lúdicas e jogos no cotidiano escolar é relevante
contribuem no papel social que o indivíduo na prática pedagógica pensar sobre como
vai desenvolver, logo, a brincadeira, na inseri-las (os)? Quais utilizar? Por que usá-las
escola, pode ser pensada além de uma prática (os)? E qual sua importância?
de lazer, que interfere em sua formação
integral (LE BOULCH, 1987). A brincadeira Desta forma, há a necessidade de voltar a
é um fenômeno sociocultural, ou seja, dela incluir os Jogos e Brincadeiras na Educação
emergem diferentes significados e sentidos Infantil, bem como desenvolver o lúdico nas
atribuídos pelos grupos que a praticam. outras atividades relacionadas ao processo
de ensino-aprendizagem, cuja inserção
Entende-se que o jogo ou brincadeira na pode dirimir as dificuldades de assimilação
escola apresenta benefício a toda criança, encontrada pelas crianças nos processos
um desenvolvimento completo do corpo e de letramento. Para tanto, a metodologia
da mente por inteiro. Por isso, na atividade de pesquisa adotada no presente estudo
lúdica, o que importa não é apenas o foi a pesquisa bibliográfica, que abrange a
produto da atividade que dela resulta, mas a leitura, análise e interpretação de textos
própria ação, momentos de fantasia que são e documentos de variadas fontes que
transformados em realidade, momentos de fundamentam a pesquisa.
percepção, de conhecimentos, momentos de
vida (ALMEIDA, [200-]). Para tanto, o artigo está organizado em
quatro capítulos. No capítulo 1, “O Lúdico”,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

[...] o jogo é uma atividade ou ocupação


trata o jogo e a brincadeira em diferentes voluntária, exercida dentro de certos limites de
conceitos sob a ótica de diferentes autores. tempo e de espaço, segundo regras livremente
No segundo capítulo, “O Lúdico na Educação consentidas, mas absolutamente obrigatórias,
dotado de um fim em si mesmo, acompanhado
Infantil”, ressalta-se a importância da de um sentimento de tensão e de alegria e
brincadeira e do jogo no desenvolvimento de uma consciência de ser diferente da “vida
da criança. O terceiro capítulo, “Por que quotidiana”.

Brincar?”, tem como proposta falar da


brincadeira como fenômeno de cultura. Por Outro autor que contribuiu decisivamente
fim, o capítulo “Jogos e Brincadeiras: século para o estudo sobre o Jogo foi Roger
XX e século XXI”, buscou-se entender como Caillois (1913-1978), que o definiu como
o brincar aparece ao longo do tempo e no uma atividade livre – no sentido de não
espaço escolar. obrigatória; delimitada – em termos de
espaço e tempo; incerta – já que o seu
desenvolvimento e seu resultado não podem
O LÚDICO ser previamente definidos; improdutiva –
porque não gera bens nem riqueza nem
A literatura especializada no tema não elementos novos; regulamentada – porque
registra concordância quanto a um conceito instaura momentaneamente uma nova
comum para o lúdico na educação. Porém, ordem em termos de regras; e fictícia –
alguns autores relacionam o lúdico ao jogo e porque pressupõe consciência de outra
estudam profundamente sua importância na realidade (CAILLOIS, 1990, p. 29-30).
educação.
No entanto, Kishimoto (1994) apesar
Johan Huizinga (1872-1945), filósofo de identificar, no Brasil, a utilização das
holandês, em sua obra Homo ludens: o palavras jogo, brincadeira e brinquedo como
jogo como elemento da cultura, destacava sinônimos para referirem-se às atividades
a importância do Jogo na sociedade e lúdicas, ela observa que a literatura
o relacionamento do homem com este especializada privilegia o termo jogo para
elemento (HUIZINGA, 2008). Para ele era no definir o comportamento lúdico organizado
“... jogo e pelo jogo que a civilização surge por regras estruturadas, pré-estabelecidas,
e se desenvolve.” (HUIZINGA, 2008, p. i). que caracterizam-se como, por exemplo, o
Logo, o Jogo é um elemento central nas jogo de xadrez. Para Friedman:
culturas, desde as mais longínquas até às
contemporâneas, em que o aspecto lúdico Brincadeira: refere-se basicamente à ação de
brincar, ao comportamento espontâneo que
desse fenômeno é de vital importância para resulta de uma atividade não estruturada. Jogo:
a composição de certa visão de homem e trata-se de uma brincadeira que envolve regras.
sociedade. Para o autor, é no Jogo que o Brinquedo: refere-se ao objeto de brincar.
Atividade lúdica: abrange, as anteriores (1996,
homem encontra a cultura lúdica, pois...
p. 28).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O termo atividade lúdica, conforme a No que diz respeito à Matemática, por


definição de Friedman (1996), abrange exemplo, a escola deve oportunizar situações
brincadeira, jogo e brinquedos, portanto de aprendizagem que ampliem e que
será utilizado nesse artigo uma vez que favoreçam novos conhecimentos, tornando
foi compreendido, após diversos autores o contato com a matemática curioso e
citados, que o jogo é a continuação da percebendo conceitos construídos a partir
brincadeira, porém que envolve regras. da atividade humana no próprio cotidiano. A
criança só se apropria desse conhecimento
por meio de sua ação sobre os objetos,
O LÚDICO NA explorando, observando, manipulando,
EDUCAÇÃO INFANTIL empurrando etc. (RAMOS, 2009).

O lúdico na Educação Infantil é uma O professor deve organizar situações e


maneira de aprender/ensinar, despertar o atividades que façam as crianças pensarem
prazer e, dessa forma a aprendizagem se e ordenarem várias relações, como
realiza. Através do lúdico é possível que a comparar, separar e ordenar os objetos, por
criança conheça seus limites e construa seus exemplo, jogos, construção com sucatas
conhecimentos. Kishimoto (2001, p. 83) é etc., que desafiem as crianças a fazer
enfática: agrupamentos com critérios próprios e
explicando posteriormente sua ação. Tendo
Ao permitir a manifestação do imaginário infantil, um planejamento que favoreça as crianças
por meio de objetos simbólicos dispostos
intencionalmente, à função pedagógica subsidia a percepção do espaço, oportunizando
o desenvolvimento integral da criança. Neste situações que permitam observar, descrever
sentido, qualquer jogo empregado na escola, e representar objetos. (BRASIL, 1998).
desde que respeite a natureza do ato lúdico,
apresenta caráter educativo e pode receber
também a denominação geral de jogo educativo. Já a literatura infantil é muito importante
para o aprendizado da língua materna,
escrita e falada, e também apresenta um
Entende-se que o jogo na escola apresenta forte potencial na construção do código da
benefício a toda criança, um desenvolvimento língua escrita. E apresenta-se como um jogo,
completo do corpo e da mente por inteiro. uma fantasia, mas está muito próxima do
Por isso, na atividade lúdica, o que importa real, uma manifestação que permite a ela
não é apenas o produto da atividade que dela inventar, renovar, criar. (AZEVEDO, 1999).
resulta, mas a própria ação, momentos de
fantasia que são transformados em realidade, O educador deve estimular a criança
momentos de percepção, de conhecimentos, pequena a desenvolver a linguagem
momentos de vida (ALMEIDA, [200-]). utilizando-se de músicas e melodias curtas,
com conteúdo criativo, que possibilitem

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sempre novas aprendizagens. Da mesma da corporeidade e interação social, enfim,


forma que faz ao brincar, a criança está um espaço educador em que as crianças
reorganizando o mundo em que vive. Revive são solicitadas a produzir linguagens e a
situações, muda percursos, age de maneira construir suas identidades (BRASIL, 1998).
diferente, reinterpreta histórias. Por isso é Já o Tempo é compreendido numa dinâmica
tão importante desenhar, colar ou pintar, da flexível, que se adapta aos ritmos da criança
mesma maneira que brincar (BRASIL, 1998). sem, contudo, perder de vistas as rotinas,
compreendidas como tempos didáticos que
O desenho da criança, suas pinturas, organizam as metas educativas de acordo
colagens etc. são narrativas visuais. Cada com as faixas etárias das crianças (BRASIL,
desenho contém uma história e uma dinâmica 1998). Assim, é respeitado, por exemplo, as
próprias ali relatadas. A criança tem uma necessidades de brincar da criança.
história de vida que é única, vive experiências
estéticas diferentes das de outras crianças, Em suma, para o documento Reorientação
se relaciona de maneira autônoma com Curricular da educação infantil e ensino
as obras que vê e, assim, constrói acervos fundamental – RECEI (OSASCO, 2011),
diversos em sua memória (BRASIL, 1998). elaborado pela Prefeitura de Osasco, a
Portanto, cada uma tem coisas diferentes organização dos espaços e dos materiais
a narrar, desta maneira seus desenhos não disponibilizados na escola constitui-se
serão iguais. como um instrumento fundamental para a
prática educativa. Isso significa que todas
Sustenta-se que os conhecimentos prévios as atividades realizadas com os alunos
constituem sistemas de interpretação e de devem ser planejadas, prevendo a forma
leitura a partir dos quais as crianças conferem mais adequada de organizar o mobiliário e
significados às situações de aprendizagem os materiais na sala de aula. É importante
escolar, portanto, estruturar o ensino a destacar que tal procedimento transcende o
partir desses conhecimentos é uma condição espaço da sala de aula para os espaços da
necessária para que os alunos obtenham área externa e outros da instituição.
uma aprendizagem significativa.

Neste sentido, tais ideias devem ser POR QUE BRINCAR?


permeadas por dois conceitos urgentes a
serem estruturados na Educação Infantil, O brincar é fonte de aprendizagem,
o Espaço e Tempo. O conceito de Espaço constituindo uma atividade que impulsiona o
ultrapassa a simples ideia de local, ele é desenvolvimento, pois a criança se comporta
redimensionado para englobar a ideia de de maneira mais avançada do que na vida
ambiente onde é possível realizar atividades cotidiana, exercendo papéis e elaborando
desafiadoras, de exploração, de exercício ações que mobilizam novos conhecimentos,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

habilidades e processos de desenvolvimento merecer ser analisado mesmo que não


e de aprendizagem. tivesse influência sobre outros processos
culturais mais amplos.
Para as crianças, de acordo com Santos
(1997), brincar é viver, pois desde os Segundo Kishimoto (2001) o jogo livre
primórdios elas brincam. Sabe-se que algumas oferece à criança a oportunidade inicial e
crianças brincam por prazer enquanto outras mais importante para atrever-se a pensar,
brincam para dominar angustias ou dar vazão a falar e ser ela mesma. Para a autora, o
à agressividade. jogo é também uma forma de socialização
que prepara a criança para ocupar um lugar
Para Dewey (1989, apud KISHIMOTO, na sociedade adulta. O conhecimento das
2001, p. 60) “sociedade é o processo de se modalidades lúdicas garante a aquisição de
associar de modo tal que experiências, ideias, valores para a compreensão do contexto.
emoções e valores sejam transmitidos e
tornados comuns”. Nessa perspectiva, o jogo Os jogos favorecem o domínio das
entra como fator decisivo para assegurar habilidades de comunicação, nas suas
o desenvolvimento natural da criança. O várias formas, facilitando a auto expressão.
valor educativo dessas brincadeiras torna- Encorajam o desenvolvimento intelectual
se óbvio, na medida em que eles ensinam às por meio do exercício da atenção, e também
crianças a respeito do mundo em que vivem. pelo uso progressivo de processos mentais
O sucesso na educação depende da relação mais complexos, como comparação e
estabelecida entre as atividades instintivas discriminação; e pelo estimulo à imaginação.
da criança, interesses e experiências Todas as vontades e desejos das crianças
sociais. Dewey inclui a dramatização como são possíveis de serem realizados através
oportunidade de as crianças se expressarem do uso da imaginação. Todas as vontades e
por meio de experiência compartilhada. desejos das crianças são possíveis de serem
Para o autor, é sempre possível encontrar realizados através do uso da imaginação, que
um assunto que oferecerá às crianças a criança faz através do jogo (KISHIMOTO,
oportunidade de desenvolver muito melhor 2001).
o aprendizado da leitura, escrita, etc, seja
por jogos ou representações. Brincar é fundamental para o
desenvolvimento da criança e isso não
Segundo o autor, é através do jogo que se aplica apenas no ponto de vista físico,
criança faz a experiência do processo mas também no desenvolvimento de
cultural, da interação simbólica em toda a sua inteligência. As brincadeiras infantis ajudam
complexidade. Seja como for, a experiência no desenvolvimento do cérebro, porque
lúdica aparece como um processo cultural a inteligência se desenvolve a partir da
suficientemente rico em si mesmo para interação da criança com o ambiente. Brincar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

é também raciocinar, descobrir, persistir, preservar, aprender, esforçar e ter paciência


(KISHIMOTO, 2001).

A brincadeira estimula, desenvolve, amadurece a criatividade. Por isso, brincar é viver
criativo no mundo. É importante ressaltar que cada criança é um ser único, dentro de seu
processo particular de desenvolvimento. Portanto, brincar é a fonte de autodescoberta,
prazer e crescimento.

JOGOS E BRINCADEIRAS: SÉCULO XX E SÉCULO XXI


A brincadeira na Educação Infantil é um ato importante e indispensável que requer planejamento.
É através das brincadeiras que as crianças vão exercitar sua imaginação, seu corpo e aprender
a respeitar as regras e as diferenças, tornando-se importante ferramenta para construção do
conhecimento (KISHIMOTO, 2001).

Assim, as atividades lúdicas contribuem no papel social que o indivíduo vai desenvolver, logo,
a brincadeira na escola, pode ser pensada além de uma prática de lazer, que interfere em sua
formação integral.

A brincadeira é um fenômeno sociocultural (HUIZINGA, 2008), ou seja, dela emergem diferentes


significados e sentidos atribuídos pelos grupos que a praticam. A partir do século XX e mais
evidenciadas XXI, tais práticas absorveram elementos das culturas midiáticas, tecnológicas etc.
que a transformaram (BETTI, 2003).

No século XX, por exemplo, eram comuns as brincadeiras como: batata quente, boca do forno,
corre cotia, ciranda, pega-pega, peteca, bola de gude, dentre outras. Atualmente a infância é
diferente, pois as crianças compõe um público muito especial com vontades próprias, altamente
consumistas possuindo incrível poder de decisão em produtos e brinquedos de alta tecnologia
influenciando as decisões da família. O contato com o outro e com o mundo dá possibilidades para
as crianças adaptarem e transformarem suas brincadeiras conforme o tempo e o espaço de vida.

No século XXI percebe-se que algumas brincadeiras caíram no esquecimento e foram substituídas
por jogos eletrônicos (videogame, Tablets, Notebooks, Mp3, Mp4, TVs, computadores, andar de
patins e/ou bicicleta). Vivemos a Era da infância da alta tecnologia, tanto para os que têm acesso
à ela economicamente e falando como aqueles que não têm. É imprescindível incentivar de forma
lúdica o desenvolvimento da imaginação das crianças na Educação Infantil, visando estimular as
crianças na sua formação enquanto indivíduos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da pesquisa bibliográfica realizada neste
trabalho, foi possível observar que na Educação Infantil é
relevante para as abordagens, descobertas, socializações
e aprendizados que somos capazes de proporcionar aos
nossos alunos. Instigando-os a tornarem-se cidadãos do
mundo, sempre abordando práticas diversificadas para total
o desenvolvimento (cognitivo, motor, afetivo e social) da
criança.

O presente artigo procura remeter reflexões sobre a


importância das atividades lúdicas na Educação Infantil,
revelando que a ludicidade é impulsiona o desenvolvimento RAPHAELA RACHEL
integral da criança. BAZÍLIO DIELLE

Graduação em Letras UNINOVE


A Educação Infantil, por ser um segmento da sociedade (2004); Pedagogia UNINOVE
que se organiza e se estrutura formalmente, deve (2014); Professora de Ensino
oportunizar o desenvolvimento da criança de acordo com Fundamental II – Língua
Portuguesa e Fundamental I –
suas potencialidades e seu nível de desenvolvimento, pois Língua Inglesa - na EMEF Tenente
a criança não inicia sua aprendizagem somente ao ingressar Moisés Elias e Souza.
na escola, ela traz consigo uma gama de conhecimentos e
habilidades adquiridas desde seus primeiros anos de vida em seu ambiente sociocultural.

As crianças precisam de tempo, espaço, companhia e material para brincar. Quanto mais
as crianças vejam, ouçam ou experimentem, quanto mais aprendam e assimilam, quanto
mais elementos reais disponham em suas experiências, tanto mais considerável e produtiva
será a atividade de sua imaginação. A escola pode e deve reunir todos esses fatores e o
papel do professor nesse processo é fundamental (ALMEIDA, [200-]; ARIÈS, 2006; BORBA,
2007; KISHIMOTO, 2001).

Atualmente, as crianças começam a frequentar cada vez mais cedo as instituições voltadas
para elas, como as creches e as escolas de Educação Infantil. Nesses espaços, o brincar é,
muitas vezes, desvalorizado em relação a outras atividades, consideradas mais produtivas
(BORBA, 2007). A brincadeira acaba ocupando o tempo da espera, do intervalo. Valorizar a
brincadeira não é apenas permiti-la, é suscitá-la.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

As brincadeiras desenvolvem aspectos motores e psíquicos, pois são utilizadas com


crianças que ainda não tem discernimento sobre regras e conteúdos, por sua pouca idade.
Na medida em que vão crescendo, trazem para as suas brincadeiras o que veem, escutam,
observam e experimentam, havendo, portanto, o interesse e a absorção efetiva dos
conhecimentos adquiridos, pois aprendemos com facilidade quando sentimos prazer no que
estamos fazendo (KISHIMOTO, 2001).

Os jogos são meios que a criança utiliza para se relacionar com o ambiente físico e social
de onde vive, despertando sua curiosidade e ampliando seus conhecimentos e habilidades.
Promovem o desenvolvimento cognitivo, sendo que, são utilizados em crianças que
começam entender a importância de regras, exercendo assim a heteronomia com autonomia
(KISHIMOTO, 2001).

Independente das definições de jogos e brincadeiras, não se esquecerá dele como elemento
da cultura lúdica, de onde emergem marcadores históricos, culturais, sociais etc. que o tornam
um tema importante de ser estudado na escola (DAOLIO, 2012), haja vista a necessidade da
compreensão da dimensão do aspecto lúdico na formação humana, e por que não dizer nos
processos de ensino–aprendizagem, os jogos são meios possíveis de facilitar esse processo,
bem como podem proporcionar o diálogo com diversas culturas e oferecer aos educandos a
possibilidade de mostrar um pouco de sua identidade e a produção de novas significações
(NEIRA; NUNES, 2009), favorecendo a prática, a crítica e a aprendizagem de manifestações
culturais significativas.

1373
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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1375
Revista Educar FCE - Abril 2019

ALFABETIZAÇÃO: PROCESSOS
E MODALIDADES APLICADAS À
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este artigo objetiva apresentar, por meio de revisão bibliográfica, os aspectos
cognitivos dos processos de alfabetização e letramento em crianças em idade pré-escolar,
sob a ótica de duas teorias: o construtivismo e o enfoque histórico-cultural. A escolha dessas
teorias deve-se à aproximação com as ideias de Vygotsky, quanto à importância de uma fase
precedente da apropriação do código linguístico escrito pela criança: o desenho. Enquanto
não domina o sistema de escrita de sua língua materna, a criança vai formulando hipóteses,
atribuindo nomes e funções aos objetos que, embora não correspondam à realidade,
encaixam-se nas ideias formuladas durante a brincadeira, a primeira forma de aprendizado.
A interação social, a riqueza de estímulos e o reconhecimento das conquistas em cada fase
de seu desenvolvimento mostram-se imprescindíveis ao sucesso do processo de ensino e
aprendizagem em ambas as teorias abordadas.

Palavras-Chave: Alfabetização. Letramento. Escrita. Linguística.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO A abordagem das ciências cognitivas


clássicas surgiu marcadamente a partir da
A linguagem oral é a maneira primordial déca¬da de 1950, para se sobrepor à visão
pela qual nos comunicamos. Segundo dominante de estudo que se propunha
Chomsky, os seres humanos são dotados considerar o ser humano a partir de um
de um conjunto de representações mentais, enfoque comportamentalista, behaviorista.
que o autor chama de “gramática interna de As explicações sobre a relação entre
natureza gerativa”. Segundo sua teoria, ao linguagem e cognição se davam sob o
adquirir a linguagem, o processo de aquisição ponto de vista externo, não recorriam a
da linguagem espelha as regras dessa explicações de ordem subjetiva, isto é, não
gramática gerativa pela criança. Augusto faziam referências aos estados mentais, às
(2005) aponta que in¬tenções, enfim, não observavam o ser
humano sob um ponto de vista interno ou
O fato de crianças dominarem uma língua natural subjetivo.
com surpreendente rapidez, apesar de evidência
negativa, da frequência com que sentenças
incompletas ou interrompidas são usadas pelos O advento das ciências cognitivas
adultos, somando ao fato de que o input a que influenciou as demais ciências em diferentes
a criança está efetivamente exposta é finito,
mas um falante nativo de uma dada língua pode aspec¬tos. Apesar disso, nem sempre um
potencialmente produzir uma gama infinita de diálogo entre essa “nova” ciência e as ciências
sentenças que pertencem à língua levaram os sociais, por exemplo, ocorria. Embora as
gerativistas a assumir a noção de GU (Gramática
Universal). capacidades cognitivas que interessavam
aos cognitivistas clássicos tivessem uma
Para autores como Piaget, Vygotsky, dimensão social, na maioria das vezes, os
Luria e Skinner, o desenvolvimento da aspectos sociais e cogni¬tivos da linguagem
linguagem é resultado de interações sociais foram colocados em lados opostos, gerando
e necessidades de comunicação. pontos de vista diferentes.

Skinner (apud SIM-SIM, 2017, p. 9), afirma Para esses estudiosos, a linguagem era uma
que a linguagem é produto da prática de representação das propriedades mentais,
reforço da comunidade que convive com mais do que um fenômeno social, embora
a criança. O domínio da língua, assim, é não negassem sua influência. Todavia, os
conseguido por meio da interação verbal, e os argumentos teóricos dos cognitivistas
pré-requisitos para a aquisição da linguagem clássicos não consideram relevantes os
não são linguísticos, estão associados à aspectos sociais da linguagem.
capacidade de associação entre o estímulo e
a resposta, à discriminação e à generalização Nos estudos de Vygotsky, os processos
dos estímulos. de aquisição de linguagem são parte de um
desenvolvimento de caráter cultural e social.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

É um processo cultural porque a criança se ENSINANDO E APRENDENDO


apropria da cultura em que está inserida, e COM O CONSTRUTIVISMO
social porque enfatiza o diálogo e as diversas
funções da linguagem no desenvolvimento Os métodos de ensino encaminham
cognitivo. a aprendizagem da escrita e da leitura
para o domínio mecânico da codificação
É durante a interação com outras pessoas dos sons orais em símbolos gráficos e da
que a criança internaliza o aprendizado, decodificação desses símbolos em sons,
criando a Zona de Desenvolvimento Proximal. para o domínio de uma técnica. Valorizando
os processos de aquisição, a aprendizagem é
A zona de desenvolvimento proximal define direcionada no sentido de a criança refletir
aquelas funções que ainda não amadureceram,
mas que estão em processo de maturação, mais sobre o sistema representativo da
funções que amadurecerão, mas que estão escrita, a fim de compreende-lo e domina-lo
presentemente em estado embrionário. conceitualmente.
(VYGOTSKY, 2010, p. 98).

Por valorizar processos ao invés de
Piaget estabeleceu o desenvolvimento métodos, a posição construtivista não se
infantil em quatro estágios, caracterizados preocupa com o fácil e o difícil. Para quem
pelo desenvolvimento das estruturas está construindo o sistema representativo
cognitivas: o sensório-motor, o pré- de escrita, fácil é aquilo que ele compreende
operatório, o operatório-concreto e o e difícil tudo o que é imposto sem que haja
operatório formal. Esses estágios são condições mínimas de interpretação.
integrados, isto é, as estruturas conquistadas
não se perdem, se integram às estruturas Para compreender o desenvolvimento do
posteriormente formadas. sistema representativo da escrita do ponto
de vista dos processos de apropriação,
De acordo com a teoria piagetiana, a é essencial procurar identificar como a
linguagem surge após o período sensório- criança passa de um nível de conhecimento
motor, quando a criança desenvolve a função para outros mais amplos. Cada nível é
simbólica. caracterizado por um modo de assimilar
a partir de suas experiências. O resultado
É por meio da representação simbólica é uma formulação e reformulação de
– principalmente nas brincadeiras – que a hipóteses, isto é, maneiras particulares de a
criança aprimora a cognição, pois separa o criança realizar e explicar o que escreve e lê.
campo visual da significação. A imaginação Nas sucessivas etapas dessa aprendizagem,
faz com que qualquer objeto torne-se outro, ela vai substituindo suas hipóteses, à medida
de acordo com a brincadeira que está sendo que compreende mais e mais o sistema de
exercida (Vygotsky, 2010, p. 115). escrita.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Na nossa sociedade, a participação social é


A evolução deve ser orientada para que intensamente mediada pelo texto escrito e os
os símbolos gráficos, gradativamente, se que dela participam se apropriam não apenas
aproximem do que é estabelecido pelas de suas condições linguísticas, mas, sobretudo,
das práticas sociais em que os diversos gêneros
regras convencionais da linguagem escrita. É
textuais circulam.
por isso que a criança precisa conquistar um
modelo de escrita estável que lhe sirva de
referência para refletir cada vez mais sobre o Antes de entrar na escola, a criança já
sistema representativo que deverá dominar. está em contato com um importante meio
alfabetizador: o ambiente que a cerca, com
O próprio nome é um bom ponto de partida. seus milhares de formas, cores e imagens.
Ao contrário do que ocorre com as escritas A escrita faz parte da paisagem urbana.
que acompanham os desenhos e figuras As crianças observam palavras escritas
impressas nos livros infantis, a significação em diferentes suportes, como em placas,
atribuída ao próprio nome independe de rótulos de embalagens, outdoors, jornais,
contextos. Quando já o reconhece, a criança livros, revistas, televisão, etc. Portanto, a
interpreta aquelas letras sempre da mesma alfabetização inicial ocorre em contextos
forma, qualquer que seja a situação. Nesse culturais e sociais determinados.
reconhecimento, interfere uma relação de
afeto que a criança manifesta bem com Contudo, para que este ambiente se torne
poucas palavras. efetivamente um instrumento alfabetizador,
a criança precisa estar preparada para
Para Piaget, inteligência e afetividade são percebê-lo e seu senso de observação e sua
aspectos indissociáveis. Daí deduz-se que o curiosidade precisam ser despertados.
aluno que se sente compreendido, valorizado,
irá apreender os conteúdos e estabelecer Nessas experiências culturais com práticas
maneiras de aperfeiçoar sua aprendizagem. de leitura e escrita, muitas vezes mediada pela
oralidade, as crianças vão se constituindo
como sujeitos letrados. Conforme relata
O PROCESSO DE BRASIL (2006, p. 70):
ALFABETIZAÇÃO Sabemos hoje que as crianças que vivem em
PELO ENFOQUE ambientes ricos em experiência de leitura e
escrita, não só se motivam para ler e escrever,
HISTÓRICO-CULTURAL mas começam, desde cedo, a refletir sobre
as características dos diferentes textos que
circulam ao seu redor, sobre seus estilos, usos
A linguagem ocupa papel de destaque nas
e finalidades.
relações sociais vivenciadas por adultos e
crianças. Segundo BRASIL (2006, p.76): É preciso compreender, que tais
experiências culturais por si só, sem

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Revista Educar FCE - Abril 2019

deslocamento do desenho de coisas para o


mediação, não garantem que as crianças se desenho de palavras (VYGOTSKY, 2010, p. 140)
apropriem do Sistema de Escrita Alfabética.
Portanto, essa transição deve ser
Muitos acreditam que qualquer trabalho propiciada pelo deslocamento da atividade da
com a leitura e a escrita na Educação Infantil criança do desenhar coisas para o desenhar a
é uma antecipação do Ensino Fundamental. fala, o que deve ser preparado e organizado
Observamos ainda hoje, muitos adultos, adequadamente. Para Vygotsky (2010, p.
inclusive professores que acreditam que 141), “o brinquedo de faz de conta, o desenho
a pré-escola seja um lugar apenas para a e a escrita devem ser vistos como momentos
criança brincar. Em contrapartida, muitos diferentes de um processo essencialmente
acreditam que os pequenos devam sair da unificado de desenvolvimento da linguagem
Educação Infantil alfabetizados. Então, o que escrita”.
os pequenos podem aprender na pré-escola
sobre leitura e escrita? Essa transição natural obviamente
deve ser incentivada. Segundo Vygotsky,
Nessa fase, se dá a introdução à cultura os processos mentais superiores, que
escrita, possibilitando que a criança entenda possibilitam ao ser humano a sua introdução
por que se lê o porquê se escreve. Segundo no mundo dos símbolos, são mediados pelas
BRASIL (2006, p. 70): influências socioculturais e regidos pelas
leis da internalização. Para que isso ocorra é
[...] é importante que, desde a educação necessário que a criança tenha uma relação
infantil, a escola também se preocupe com
o desenvolvimento dos conhecimentos de consciência com sua prática educativa
relacionados à aprendizagem da escrita escolar e passe a desenvolver controle
alfabética, assim como daqueles ligados ao uso sobre seus processos de aprendizagem e os
e à produção da linguagem escrita.
internalize.

Vygotsky aponta que a criança que ainda Para o enfoque histórico-cultural, a
não sabe escrever e usa símbolos de primeira escrita nos anos pré-escolares impõe,
ordem, denotando objetos ou ações, evolua necessariamente, uma segunda demanda,
no sentido do simbolismo de segunda ordem a leitura deve ser relevante à vida. Falando
que compreende a criação de sinais escritos sobre isso, Vygotsky (2010 p. 144) nos diz:
representativos da fala, ela precisa fazer
uma descoberta básica – a de que se pode [...] a escrita deve ter significado para as
crianças, que uma necessidade intrínseca deve
desenhar, além de coisas, também a fala. Em ser despertada nelas, e uma tarefa necessária e
relação a isso, ele diz: relevante para a vida.

No entanto, uma coisa é certa – o Para tanto, a leitura em voz alta para as
desenvolvimento da linguagem escrita nas
crianças se dá, conforme já foi descrito, pelo crianças permite que elas entendam as

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Revista Educar FCE - Abril 2019

funções e a estrutura da linguagem escrita. ter esse papel, quando a criança assume por
Além dos livros de história, que tem função inteiro a escrita, em uma dimensão discursiva
lúdica, a leitura de folhetos, cartazes ou que surge, possibilitando a compreensão da
jornais tem função de informação, e a leitura escrita dos outros. É pela presença da outra
de livros de receitas ou manual de instrução, pessoa que a criança percebe a necessidade
tem a função de orientar a ação. de produzir uma escrita compreensível, tanto
quanto deseja ler o que o outro produziu.
Seja qual for o tipo de leitura, ela serve Para isso, é necessária a apropriação de um
como ponte entre a linguagem oral e a código escrito.
escrita, pois atuam sobre as motivações
para aprender a ler e a escrever. As crianças As primeiras grafias que a criança faz no
devem ser encorajadas a pensar, a discutir, papel, para lembrar-se de algo que foi dito,
a conversar e, especialmente, a raciocinar permaneceriam como meros rabiscos, não
sobre a escrita alfabética. fosse a presença de outros sujeitos com
os quais ela convive. Essa forma gráfica
Nesse ponto, a participação da família tem uma significação e pode ser fixada
é fundamental. Crianças que vivem em convencionalmente devido aos elementos
ambientes onde os pais compreendem histó-rico-culturais que condicionam a vida
como se produz o desenvolvimento infantil da criança. Dito de outra forma: a criança faz
e assumem o papel que a família tem nesse algumas marcas ou rabiscos que têm sentido
desenvolvimento, onde o ler e o escrever para ela e fazem parte das suas experiências
são práticas habituais, têm mais facilidade e e cultura. A leitura, por sua vez, também não é
vontade de aprender. apenas decodificação nem apreensão de um
único sentido já estabelecido anteriormente.
Por meio dessas relações interpessoais, As primeiras experiências de “leitura” que a
momentos de rico aprendizado, a criança criança vive, certa-mente não atingem, nem
passa a ter controle sobre os processos mesmo se limitam, às convenções do sistema
de aprendizagem e passa a internaliza-los. alfabético. Ela não “lê” o que está escrito,
Assim, gradativamente a linguagem passa mas o que acredita estar escrito.
da esfera oral para a gramatical, ortográfica
e semântica, evoluindo para a escrita das Embora nas próprias representações
palavras de modo correto e compreendendo gráficas haja diferença quanto à materialidade
seu significado. dos traçados, e a criança já saiba muito bem
apontar o que desenhou e o que escreveu,
A compreensão da linguagem escrita vai as interpretações da escrita ocorrem a partir
ocorrer em função da linguagem falada que, do desenho.
ini¬cialmente, funciona como elo mediador
(entre a fala e a escrita) e que vai deixando de

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Apesar de não ser a única, a situação Tendo em vista que o letramento e a


de acompanhar o desenho com a escrita alfabetização são processos interligados,
favorece oposições entre os dois sistemas não há como compreender seus mecanismos
representativos. Além disso, a criança estará separadamente. Podemos entender o
escrevendo sobre algo que reflete suas processo de alfabetização como a apropriação
próprias intenções. Tanto quanto possível, do conhecimento do sistema alfabético,
o processo de ensino e aprendizagem deve com complexas elaborações de hipóteses a
unir de forma equilibrada certo nível de respeito da representação linguística.
direcionamento, por parte do professor, e de
liberdade, por parte da criança. O letramento corresponde ao uso efetivo
das técnicas de leitura e escrita de diversos
LETRAMENTO gêneros textuais.

Letramento é o resultado da ação de Não podemos considerar como
ensinar ou de aprender a ler e escrever, alfabetizado o indivíduo que apenas adquire
bem como o resultado da ação de usar a consciência fonética ao associar consoantes
essas habilidades em práticas sociais, é o e vocais. Da mesma maneira, não podemos
estado ou condição que adquire um grupo considerar como letrado o indivíduo que
social ou um indivíduo como consequência meramente consegue produzir a escrita, sem
de ter-se apropriado da língua escrita e compreender seu significado.
de ter-se inserido num mundo organizado
diferentemente: a cultura escrita. Como são Assim, não é possível dissociar o processo
muito variados os usos sociais da escrita e de alfabetização do letramento, pois um não
as competências a eles associadas (de ler um substitui o outro.
bilhete simples a escrever um romance), é
frequente levar em consideração níveis de A alfabetização pode ser considerada o
letramento (dos mais elementares aos mais primeiro passo para a apropriação do sistema
complexos). Tendo em vista as diferentes de escrita, da colocação correta das letras e
funções (para se distrair, para se informar da pronúncia correta dos fonemas e assim
e se posicionar, por exemplo) e as formas alcançar o letramento, que é a inserção
pelas quais as pessoas têm acesso à língua no sistema cultural da escrita. Ambos os
escrita – com ampla autonomia, com ajuda processos convergem para a leitura e escrita
do professor, ou mesmo por meio de alguém com desenvoltura, resultando na conquista
que escreve, por exemplo, cartas ditadas por da autonomia.
analfabetos –, a literatura a respeito assume
ainda a existência de tipos de letramento ou Algumas propostas pedagógicas priorizam
de letramentos, no plural. um ou outro processo. A alfabetização por
cartilhas é um exemplo disso. Utilizando o

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método de marcha sintética, a silabação e soletração, iniciava-se a alfabetização (leitura)


por meio da apresentação das letras – primeiro as vogais, depois as consoantes – e depois
pela junção dessas letras em sílabas. O passo seguinte era formar palavras e por fim, frases.
“Quanto à escrita, esta restringia-se à caligrafia e seu ensino, à cópia, ditados e formação de
frases, enfatizando a ortografia e o desenho correto das letras”, segundo Mortatti (2002, p.
43).

Atualmente, o processo de ensino-aprendizagem pauta-se pelos usos sociais da escrita e
da leitura. Quanto à teoria, aplicam-se os princípios do socioculturalismo, que preconiza a
interação entre o sujeito e seu ambiente social e cultural para a produção de conhecimento,
ao contrário de teorias anteriores que consideravam o aluno como um espaço vazio a ser
preenchido.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A alfabetização e o letramento contemplam aspectos muito
mais complexos do que o domínio das letras, sua junção em
sílabas e palavras, às quais não se atribui significado.

Assim, entende-se que a ação pedagógica mais adequada
e produtiva é aquela que contempla, de maneira articulada e
simultânea, a alfabetização e o letramento.

Importa considerar os conhecimentos prévios do aluno, seu
contexto social e cultural, além do desenvolvimento físico, RAYLANE RYARA DOS
intelectual e emocional – os estágios de desenvolvimento SANTOS MESQUITA
devem estar articulados com os processos de ensino.
Graduação em Pedagogia
pela Faculdade Brasil ( 2015),
Graduação em Letras pela
Pontifícia Universidade de São
Paulo( 2011).
Professor de Educação Infantil,
Ensino FundamentaI I- na EMEI
União de Vila Nova

1384
Revista Educar FCE - Abril 2019

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1385
Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO ESPECIAL X
EDUCAÇÃO INCLUSIVA
RESUMO: A educação inclusiva acontece quando o objetivo não é apenas de escolarizar a
criança com deficiência junto com as outras crianças, mas de promover a inclusão dessas
crianças na sociedade como um todo, dando a ela oportunidades semelhantes às de crianças
com desenvolvimento típico.A educação especial atende apenas alunos portadores de
deficiências ou altas habilidades. Consideram-se alunos com deficiência àqueles que têm
impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em
interação com diversas barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na
escola e na sociedade. Ambas se desenvolvem em torno da igualdade de oportunidades,
atendendo às diferenças individuais de cada criança através de uma adaptação do sistema
educativo, mas, comparando a Educação Inclusiva com a Especial, percebem-se diferenças
significativas. Esse artigo apresenta recortes de estudos baseados em Educação Inclusiva
e Educação Especial, fomentando reflexões que contribuam para a construção de práticas
pedagógicas inclusivas.

Palavras-Chave: Educação Especial; Educação Inclusiva.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Inclusão escolar significa remover todas


as barreiras, extrínsecas ou intrínsecas
A Educação Inclusiva vem, nos últimos aos alunos, que impedem ou dificultam a
anos, procurando romper com o conceito convivência, a participação ou o aprendizado
do desenvolvimento curricular único, com escolar.
a padronização do aluno com os moldes
da aprendizagem de transmissão, com a Entende-se por necessidades especiais
estrutura de reprodução de aprendizagem todas as deficiências, seja na ordem
apregoada nas escolas tradicionais. social, econômica, política, cultural, que
demandam mudanças e transformações no
Voltada para a cidadania global, plena, livre sistema educacional, de modo a garantir a
de preconceitos e que reconhece e valorizam aprendizagem.
as diferenças, a educação inclusiva prevê a
inserção escolar de forma radical, completa Uma escola que segue os princípios da
e sistemática. inclusão deve ter por função a promoção da
convivência entre as pessoas consideradas
Na educação inclusiva todos os alunos normais e as que apresentam necessidades
devem fazer parte da escola comum. Sendo educacionais especiais.
assim, todos os alunos, devem frequentar as
salas de aula do ensino regular. Nos últimos anos o sistema educacional
brasileiro passou por grandes mudanças e
Toda diferença na educação inclusiva vem conseguido cada vez mais respeitar a
precisa ser reconhecida e valorizada, sem diversidade, visando garantir a educação
preconceito. A verdadeira chave educação para todos.
Inclusiva está na valorização das diferenças.
Esse artigo apresenta recortes de estudos
O papel da inclusão não é só o de modificar baseados em Educação de Inclusiva e
as relações é também reconhecer o direito Educação Especialde grandes especialistas
de todos de serem diferentes e não cuidar nacionais, fomentando reflexões que
dos diferentes de forma à parte. contribuam para a construção de práticas
pedagógicas inclusivas.
“Educar na diversidade exige um
direcionamento para o estudo de práticas
pedagógicas que valorizem as diferenças e ASPECTOS CONCEITUAIS DA
a diversidade nas salas de aula” (ALONSO, EDUCAÇÃO ESPECIAL
2013).
A Educação Especial é um sistema separado
de educação das crianças com deficiência,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

no programa educacional, a fim de que possam


fora do ensino regular. Tal sistema baseia- atingir seu potencial máximo. Essas limitações
se na noção de que as necessidades dessas podem decorrer de problemas visuais, auditivos,
crianças não podem ser supridas nas escolas mentais ou motores, bem como de condições
ambientais desfavoráveis (ZACHARIAS, 2011,
regulares. p.1).

[...] considera-se pessoa com deficiência aquela É a presença de necessidades educacionais


que tem impedimentos de longo prazo, de
natureza física, mental ou sensorial que, em especiais que irá indicar se o aluno deve
interação com diversas barreiras, podem ter receber educação especial, e não apenas a
restringida sua participação plena e efetiva na presença de uma deficiência ou superdotação,
escola e na sociedade(MEC/SEESP, 2017, p.9).
pois, a existência de uma deficiência, não
torna obrigatória que seu portador não possa
Atualmente a Educação Especial é ser bem atendido mediante os processos
concebida como um conjunto de recursos comuns de educação.
que a escola regular deverá dispor para
atender à diversidade de seus alunos e não Os alunos com transtornos globais do
desenvolvimento são aqueles que apresentam
mais como um sistema educacional paralelo alterações qualitativas das interações sociais
ou segregado recíprocas e na comunicação, um repertório de
interesses e atividades restrito, estereotipado e
As escolas devem acolher todas as crianças, repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com
independentemente de suas condições físicas, autismo, síndromes do espectro do autismo e
intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou psicose infantil. Alunos com altas habilidades/
outras. Devem acolher crianças com deficiência superdotação demonstram potencial elevado
e crianças bem-dotadas; crianças que vivem nas em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas
ruas e que trabalham; crianças de populações ou combinadas: intelectual, acadêmica,
distantes ou nômades; crianças de minorias liderança, psicomotricidade e artes, além de
linguísticas, étnicas ou culturais e crianças apresentar grande criatividade, envolvimento na
de outros grupos ou zonas desfavorecidas aprendizagem e realização de tarefas em áreas
ou marginalizadas (DECLARAÇÃO DE de seu interesse (MEC/SEESP, 2017, p.9).
SALAMANCA, p. 17-18).

A Educação Especial encontra-se voltada A LDB (1996) em seu art. 58 cita a Educação
para o atendimento e educação de pessoas Especial como “[...] modalidade de educação
com alguma deficiência, preferencialmente escolar oferecida preferencialmente na
em instituições de ensino regulares ou rede regular de ensino, para educandos
ambientes especializados (como por com deficiência, transtornos globais do
exemplo, escolas para surdos, escolas para desenvolvimento e altas habilidades ou
cegos ou escolas que atendem a pessoas superlotação”.
com deficiência intelectual).
No Brasil, o Plano Nacional de Educação
Crianças com necessidades especiais são (PNE, 2011-2020)que norteia a organização
aquelas que, por alguma espécie de limitação
requerem certas modificações ou adaptação do sistema educacional, estabelece a função

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Educação inclusiva é o processo que ocorre


da Educação Especial como modalidade de em escolas de qualquer nível preparadas para
ensino que perpassa todos os segmentos da propiciar um ensino de qualidade a todos os
escolarização (da Educação Infantil ao Ensino alunos independentemente de seus atributos
pessoais, inteligências, estilos de aprendizagem
Superior); realiza o atendimento educacional e necessidades comuns ou especiais. A inclusão
especializado (AEE); disponibiliza os serviços escolar é uma forma de inserção em que a escola
e recursos próprios do AEE e orienta os alunos comum tradicional é modificada para ser capaz
de acolher qualquer aluno incondicionalmente
e seus professores quanto à sua utilização e de propiciar-lhe uma educação de qualidade.
nas turmas comuns do ensino regular. Na inclusão, as pessoas com deficiência estudam
na escola que frequentariam se não fossem
deficientes. (SASSAKI, 1998, p. 8).
A incorporação da Educação Especialem todas
as esferas (federal, estadual e municipal) reflete na
entrada de um número cada vez maior portadores Num contexto marcado pela exclusão
de necessidades no ensino regular. Todavia, escolar e social, a Educação Inclusiva se
muitos alunos portadores de deficiências ainda se configura em um grande desafio: possibilitar
encontram fora de salas de aula regulares. a todos, sem distinção, o acesso aos
conhecimentos produzidos historicamente
A atual Política Nacional de Educação pelos homens, fazendo a mediação entre os
Especial na Perspectiva da Educação sujeitos e o conhecimento, possibilitando
Inclusiva entende educação especial como ao aluno apropriar-se dos conhecimentos,
uma modalidade de ensino que perpassa utilizar-se deles para produzir novos
todos os níveis, etapas e modalidades, realiza conhecimentos e exercer a cidadania,
o atendimento educacional especializado, considerando, respeitando e valorizando a
disponibiliza os serviços e recursos próprios diversidade e atendendo às necessidades
desse atendimento e orienta os alunos e educacionais especiais de cada aluno.
seus professores quanto à sua utilização nas
turmas comuns do ensino regular. A inclusão educacional é um termo utilizado
em referência a todas as pessoas que foram de
alguma forma, excluídas no e do contexto escolar,
pois não encontraram oportunidades para
ASPECTOS CONCEITUAIS DA participar de todas as atividades escolares, ou se
evadiram, foram expulsos ou suspensos, ou não
EDUCAÇÃO INCLUSIVA tiveram acesso à escolarização, permanecendo
fora da escola (FERREIRA,2005, p. 43).
A educação inclusiva acontece quando
o objetivo não é apenas de escolarizar a Dentre estes desafios PRIETO (2006, p. 35-36)
criança com deficiência junto com as outras destaca aquele que considera como fundamental:
crianças, mas de promover a inclusão dessas “[...] não permitir que esse direito seja traduzido
crianças na sociedade como um todo, dando meramente como cumprimento da obrigação de
a ela oportunidades semelhantes às de matricular e manter alunos com necessidades
crianças com desenvolvimento típico. educacionais especiais em classes comuns”.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Segundo o mesmo, isso resultaria no DIFERENÇAS ENTRE


acesso e manutenção do aluno na escola EDUCAÇÃO ESPECIAL E
como cumprimento de uma exigência legal,
contudo sem sua efetiva aprendizagem e, EDUCAÇÃO INCLUSIVA
portanto, sem que se tenha reconhecido e Apesar da Educação Inclusiva e da
garantido sua igualdade de direitos. Educação Especial, apresentarem os mesmos
objetivos, possuem diferenças na forma do
Inclusão é uma filosofia que valoriza diversidade atendimento ao aluno. Ambas se desenvolvem
de força, habilidades e necessidades [do ser
humano] como natural e desejável, trazendo para em torno da igualdade de oportunidades,
cada comunidade a oportunidade de responder atendendo às diferenças individuais de cada
de forma que conduza à aprendizagem e do criança através de uma adaptação do sistema
crescimento da comunidade como um todo, e
dando a cada membro desta comunidade um educativo, mas, comparando a Educação
papel de valor (FERREIRA, 2005, p. 44). Inclusiva com a Especial, percebem-se
diferenças significativas.
Inclusão educacional significa, enfim,
oportunizar a todos os alunos a participação Na escola inclusiva o processo educativo
na comunidade escolar, sendo reconhecidos, deve ser entendido como um processo social,
valorizados e respeitados como elementos o termo “inclusão” é o que diferencia os dois
dessa comunidade e, portanto, fundamentais conceitos.
para seu funcionamento.
A educação especial atende apenas alunos
A Política Nacional de Educação Especial portadores de deficiências ou altas habilidades.
na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) Já a educação inclusiva é uma proposta na
conceitua a Educação Inclusiva como: qual as escolas devem disponibilizar o acesso
de alunos e alunas com deficiências ou altas
[...] um paradigma educacional fundamentado habilidades no ensino regular.
na concepção de direitos humanos, que
conjuga igualdade e diferença como valores
indissociáveis, e que avança em relação à MAZZOTTA (1999) considera a educação
ideia de equidade formal ao contextualizar especial como:
as circunstâncias históricas da produção da
exclusão dentro e fora da escola. (BRASIL, 2008,
[...] a modalidade de ensino que se caracteriza
p. 5). por um conjunto de recursos e serviços
educacionais especiais organizados para apoiar,
suplementar e, em alguns casos, substituir
os serviços educacionais comuns, de modo
a garantir a educação formal dos educandos
que apresentem necessidades educacionais
muito diferentes das da maioria das crianças e
jovens. Tais educandos [...] têm sido chamados
de ‘alunos com necessidades educacionais
especiais’. (MAZZOTTA, 1999, p. 11).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A educação especial atua nas específica que a escola regular não consiga
especificidades das deficiências e suprir durante sua jornada escolar, da
especificidades dos alunos no processo educação infantil ao ensino superior.
educacional passando a integrar a proposta
pedagógica da escola regular. A educação especial é aquela feita em
escolas especiais, em escolas que trabalham
A educação especial atua de forma articulada com especificamente com pessoas com
o ensino comum, orientando para o atendimento
desses estudantes. [...] [o atendimento deficiência, como as APAES, por exemplo.
educacional especializado] complementa e/ou A mesma pode acontecer também dentro
suplementa a formação dos estudantes com da escola regular mediante um atendimento
vistas à autonomia e independência na escola e
fora delas. (BRASIL, 2008, p. 11). especializado voltado às necessidades
individuais de cada um, como o trabalho
Diferente do ensino inclusivo, a educação realizado nas salas de AEE (Atendimento
especial se mostra em uma grande variedade Educacional Especializado), por exemplo.
de forma que incluem escolas especiais,
unidades pequenas e a integração das A presença de necessidades educacionais
crianças com apoio especializado. especiais irá indicar se o aluno deve receber
educação especial, e não apenas a presença
Esta interface, da educação regular com a de uma deficiência ou superdotação, pois,
educação especial, deve acontecer na escola
regular, mas com sala de recursos e pessoal a existência de uma deficiência, não torna
técnico para desenvolver ali, atividades que obrigatória que seu portador não possa
possam complementar o aprendizado de sala de ser bem atendido mediante os processos
aula. É com esta sala de recursos que se pode
evitar que o aluno seja desestimulado e acabe comuns de educação.
por evadir-se da escola (ANJOS, 2017, p.1).
A ausência de laudos periciais muitas vezes,
Não existem alunos sem deficiência na leva a escola classificar alunos indisciplinados,
educação especial. Já na educação inclusiva ou alunos que não conseguem acompanhar
todos os alunos com e sem deficiência tem a os seus o grupo/classe, como PNEE (Pessoa
oportunidade de conviverem e aprenderem com Necessidades Educacionais Especiais).
juntos. É o que MANTOAN (2015) chamou de
“cidadania global, plena, livre de preconceitos Isso justifica os desmandos e transgressões
e que reconhece e valoriza as diferenças”. ao direito à educação e a não discriminação
que algumas escolas e redes de ensino estão
De acordo com Plano Nacional de praticando, por falta de um controle efetivo
Educação, o aluno com deficiência está dos pais, das autoridades de ensino e da
matriculado na escola regular, mas tem a justiça em geral.
sua disposição o Atendimento Educacional
Especializado para qualquer necessidade O caráter dúbio da educação especial é
acentuado pela imprecisão dos textos legais que

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fundamentam nossos planos e nossas propostas educacionais e, ainda hoje, fica patente a dificuldade de se
distinguir o modelo médico-pedagógico do modelo educacional-escolar dessa modalidade de ensino. Essa
falta de clareza faz retroceder todas as iniciativas que visam à adoção de posições inovadoras para a educação
de alunos com deficiência (MONTOAN, 2015, p. 21).

Incluir não significa apenas garantir o acesso à entrada de alunos e alunas nas escolas.
O objetivo é eliminar obstáculos que limitam a aprendizagem e participação discente no
processo educativo.

Os fins da educação especial devem ser os mesmos da educação geral: a auto realização,
a qualificação para o trabalho e o exercício da cidadania.

Sendo assim, “é preciso que as instituições se preparem para receber qualquer indivíduo,
dando-lhe o atendimento educacional adequado” (BRASIL, 2008).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No Brasil políticas relacionadas às pessoas com deficiências
têm avançando, mas a escola ainda está baseada em moldes
tradicionais de ensino, no que tange a seleção dos alunos e
na forma de trabalho.

Os maiores desafios encontrados na escola, é repensar


as suas próprias regras, o próprio modo de atuar a partir
de práticas excludentes, que consideram as diferenças em
alguns e não em todos.
RÉGIA CHINELATO
Independente da forma de trabalho, o objetivo de DA SILVA HITOS
todas essas instituições é um só: promover a igualdade
Graduação em Pedagogia
de oportunidades, de forma que todos os indivíduos, pela Universidade Cruzeiro
independentemente das suas diferenças, tenham acesso a do Sul, 2006; Especialista em
uma educação de qualidade. Psicopedagogia pela Universidade
de Guarulhos, 2008; Professora
de Educação Infantil e Ensino
Fundamental I, na EMEF Prof.
Maestro Alex Martins Costa.

1393
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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ESCOLA, dezembro de 2013.

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SASSAKI, Romeu Kasumi. Inclusão: Construindo Uma Sociedade Para Todos. 3ª edição. Rio
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Especiais. Disponível em <http://www.profala.com/arteducesp49.htm>. Acesso em 19 de
fev. de 2019.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO AMBIENTAL
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo discorrer sobre as inúmeras mudanças que a
sociedade passa ao longo dos tempos e, muitas dessas mudanças, acarretam em destruição
e degradação do meio ambiente, ocasionando consequências devastadoras. Também aborda
uma ferramenta muito importante e que pode contribuir de forma muita positiva no ambiente
escolar: a educação ambiental. Apesar de constar na grade curricular, a educação ambiental
vai além de um conteúdo. Mais que isso, educar no tocante meio ambiente é educar para
mudanças de estilos de vida e dos modos como vivemos e vemos o mundo e tudo o que
está em nossa volta. Através desse trabalho, abra-se um caminho para a reflexão sobre o
quão fundamental é abordar esse tema e de como podemos mudar essa realidade a partir de
projetos sobre o tema meio ambiente, que possam de fato ocasionar mudanças nas atitudes
dos alunos e, consequentemente, na vida como um todo.

Palavras-Chave: Meio ambiente; Educação ambiental; Mudança de comportamento

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INTRODUÇÃO em tomar medidas que cessem o avanço


histórico e destruidor do planeta.
A vida em sociedade se transforma a todo
momento. Mudanças nos estilos de vida, Até os dias atuais, a população humana
nos modos de pensar e viver no mundo, nos já causou 83% de extinsão de todos os
modos de agir e enxegar o OUTRO e a vida mamíferos selvagens, e nos últimos 50 anos,
que cerca os seres humanos. A história da cerca de 60% da população de aves, répteis
humanidade é marcada por mudanças que e peixes diminuiu (BARBOSA, 2019). Ainda,
elevaram as mais diversas civilizações, como de acordo com Justin Adams, diretor geral do
também por mudanças que devastaram a Tropical Forest Alliance 2020, só no ano de
saúde, a tolerância e outros fatores que 2017, “o equivalente a 40 campos de futebol
trazem à vida dos seres humanos e de todos de florestas tropicais foi perdido a cada
os seres vivos, consequências catastróficas. minuto”, mesmo já sendo tomadas diversas
preucações e mudanças de conduta, o
O homem, com a sua evolução muda desmatamento continua e trará gravíssimas
sua cocepção de mundo e também do consequências ao meio ambiente, portanto,
ambiente em que vive. Os povos não medidas urgentes devem ser pensadas
letrados enxergavam a natureza e ainda a e aplicadas para garantir cadeias de
veem como divina e, portanto, para esses fornecimento livres de desmatamento
povos, a natureza deve ser temida e merece (ADAMS, 2019, s/p).
o respeito (DREW, 1989). Por outro lado, a
modernidade enxerga a natureza como algo Hoje, com tantas informações sobre
a ser conquistado, muitas vezes pelo bem o assunto, já se pode compreender que
individual, expressando uma concepção de a camada de ozônio está sendo atingida
fonte inesgotável de recursos e receptáculo de forma consistente por poluentes que
de resíduos (BUARQUE 1990; BURSZTYN, são lançados no ar, fazendo com que as
1993). temperaturas do planeta aumentem a cada
ano, assim como a escassez de água potável
De natureza antropocêntrica e muitas já é uma realidade em muitos lugares da
vezes gananciosa, o homem, no decorrer Terra. Além disso, podemos perceber como
de sua evolução, muitas vezes retirou e os fenômenos da natureza estão cada vez
ainda retira na totalidade os recursos da mais presentes e cada vez mais difíceis de
natureza, não pensando nas consequências serem domados (PNUMA, 2007).
que esse ato pode acarretar. Apesar de
inúmeras pesquisas na área ambiental e de As problemáticas ambientes devem ser
apelos globais, muitos países desenvolvidos, urgentemente vistas como uma questão a
geralmente os maiores responsáveis pelo ser preocupada por todos os seres humanos
excesso de poluição que causam, se recusam pois, da mesma forma que as graves

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consequências atigem a todos, os benefícios Mudanças climáticas podem ocasionar


de um ambiente de qualidade atingem à toda o derretimento de 1/3 das geleiras do
população. Himalaia, ameaçando fontes de água doce
para 1,9 bilhão de seres humanos. O estrago
A partir dos anos 60, uma conscientização está tão grande que, apesar de alguns atuais
social começou a abrir espaço para a gravidade esforços para reduzir o aquecimento global,
das consequências do uso desenfreado essa triste realidade será concretizada, ou
dos recursos naturais, desencadeada pelo seja, não há nada a se fazer para impedir.
progresso e desenvolvimento humano Em 2100, esse impacto pode ser pior,
(JOLLIVET E PAVÉ, 1992; BUARQUE, 1990). aumentando o derretimento dessas geleiras
Tal movimento atingiu o Brasil nos anos 70, para 2/3 (WESTER, 2019).
questionando a qualidade de vida, devido às A escola, como espaço social riquíssimo em
extinsões de inúmeras espécies biológicas, diversidade, torna-se um excelente local para
o alto índice de desmatamento, poluição de se trabalhar com a educação ambiental já nas
água e ar, erosão dos solos, etc (GOLÇALVES, primeiras fases da escolarização. De acordo
1990). com a UNESCO (2005, p.44), a “educação
ambiental é uma disciplina bem estabelecida
Desde insetos, até espécies de animais que enfatiza a relação dos homens com o
silvestres estão correndo o risco de extinsão ambiente natural, as formas de conserva-lo,
por conta das mudanças climáticas e no meio preserva-lo e de administrar seus recursos
ambiente, ocasionadas pelo uso indevido dos adequadamente”. Portanto, a educação
recursos naturais e também por descuidos ambiental deve fazer parte da rotina das
da natureza. Nas próximas décadas é muito crianças desde pequenas e se estendendo
provável que mais de 40% dos insetos do para todas as etapas da educação.
mundo venham a entrar na triste lista de
espécies em extinsão. É o que aponta uma Quanto antes o assunto for tratado com
pesquisa realizada pela Revista Biological as crianças, maiores serão as chances de
Conservation. Tal situação causará danos despertar a consciência pela preservação
terríveis ao meio ambiente, já que os insetos da natureza. É fundamental explorar o meio
são os responsáveis pelo “equilíbrio dos ambiente com curiosidade, fazendo com
ecossistemas, preenchendo funções críticas que as crianças se sintam parte integrante,
como a predação e a polinização” (BARBOSA, dependente, transformador e, acima de
2019, s/p). Dentre as razões dessa ameaça, tudo, que tem atitudes de conservação”
estão atitudes como a escassez de habitat (MARANGON, 2002, s/p). Porém, vale
para essa população, devido ao uso da terra lembrar que, essa educação também deve
para a agricultura intensiva, além da poluição ser apresentada nos lares, muitas vezes com
agroquímica e mudanças climáticas (idem, o exemplo que os adultos podem passar para
2019). as crianças no dia a dia.

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Além de estar presente nos conteúdos EDUCAÇÃO AMBIENTAL


escolares, a educação ambiental também NA ESCOLA
acontece quando fazemos e ensinamos a
respeitar a natureza, amar seu espaço, o espaço Meio oportuno de inúmeras manifestações
de todos, cuidar da vegetação e dos animais, culturais, diversidade e troca de
corrigir os atos errados que prejudicam o meio conhecimentos, o ambiente escolar torna-se
ambiente, assim como prestigiar ações que um local de grande importância no processo
ajudam na preservação da natureza. Entende- de formação social e ambiental. Como aponta
se dessa forma que, mais que um conteúdo Pontalti (2005), é na escola que o aluno dará
a ser apresentado aos alunos, a educação sequência ao processo de socialização que
ambiental deve ocorrer naturalmente, pois iniciou em casa, com seus familiares.
estamos nos referindo a algo que é de todos,
e que todos os seres vivos dependem de um Como dito anteriormente, muitos exemplos
ambiente com qualidade para sobreviver. as crianças tem em casa, com seus familiares,
mas na escola, ,cabe aos professores e demais
Como colabora ANGHER (2006) se funcionários, permancerem com os bons
referindo à Constituição Brasileira em seu exemplos, já que nesse ambiente social, os
artigo 225, ao mencionar que todos os seres alunos tem como “espelho” os adultos que os
tem direito ao meio ambiente equilibrado, cercam. Infelizmente, no dia a dia da escola,
um bem comum e essencial para uma vida podemos nos deparar com erros ambientais
saudável, tendo o Poder Público e a sociedade causados pelos adultos. Quantos professores
o dever de preserva-lo. que discursam sobre a importância de se
economizar água e, quando estão fora da
Existem inúmeras formas de se trabalhar sala de aula, deixam uma torneira aberta
o meio ambiente no espaço escolar. Uma enquanto escovam os dentes, no intervalo.
das mais utilizadas e que geralmente traz Ou mesmo os funcionários que realizam a
ótimos resultos é a sequência didática limpeza da escola, acabam deixando uma
em forma de projeto, permitindo a mangueira aberta por um excesso de tempo.
interdisciplinariedade. Para Japiassu (1976),
esse tipo de metodologia dispende atitudes É notória a importância do bom
de colaboração dos pesquisadores (alunos e exemplo, pois os alunos irão aprender que
professores) que, juntos, moverão esforços a responsabilidade é de todos e que, cada
para a solução de um problema, trazendo ato individual reflete na vida coletiva. Outro
novos conhecimentos. Visa a união de fator a ser considerado é o entendimento da
diversos especialistas de várias áreas do não desistência, já que muitos pensam que
conhecimento, sempre na perspectiva de atitudes isoladas (positivas), não acarretará
buscar respostas a novos desafios, por meio em melhoras ao meio ambiente, trazendo uma
de trocas de informações (FAZENDA, 1979). sensação de impotência. É necesssário que as

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se a adotar explicitamente a expressão


crianças compreendam que cada atitude, por “Educação Ambiental‟ para qualificar iniciativas
mais simples e pequena que possa parecer, de universidades, escolas, instituições
trará sim benefícios ao planeta. Digamos que governamentais e não governamentais por
meio das quais se busca conscientizar setores
seria, como diz o velho ditado popular: “de da sociedade para as questões ambientais. Um
grão em grão a galinha enche o papo”. Por importante passo foi dado com a Constituição
outro lado, muitos desistem por achar que de 1988, quando a Educação Ambiental se
tornou exigência a ser garantida pelos governos
o problema é secundário. Tais sentimentos federal, estaduais e municipais (artigo 225, § 1º,
devem urgentemente serem modificados, VI). (PCN’S, 1998, p. 181).
para que todos percebam que os cuidados
com o meio ambiente devem partir individual
e coletivamente, ou seja, cada um fazendo a Mesmo a educação ambiental sendo uma
sua parte e todos fazendo pelo planeta. exigência dos órgãos educacionais, a mesma
deve ser trabalhada não com o sentimento
Assegurados pelo Política Nacional de de obrigatoriedade, pois se depara com
Educação Ambiental (PNEA) e pela Lei de individualizades, culturas, modos diversos de
Diretrizes e Bases da Educação ( Lei 9.394, estabelecer as relações de estar no mundo de
de 20/12/1996 – LDB/96), em seu artigo todos os envolvidos. Por isso a importância,
32, discorre que o ensino fundamental terá desde os anos iniciais, de se trabalhar de
por objetivo a formação básica do cidadão forma prazerosa e envolvente, fazendo dos
mediante: (...) “II – a compreensão do ambiente bons atos algo natural, que será levado
natural e social, do sistema político, da por toda a vida, passando de geração para
tecnologia das artes e dos valores em que se geração e, entendida como uma importante
fundamenta a sociedade”. Na mesma direção, aliada no currículo da escola, buscando um
é essencial que as Diretrizes Curriculares conhecimento integrado. De acordo com
Nacionais do CNE auxiliem no dever atribuído Sato (2002), a educação ambiental envolve
constitucionalmente ao Estado de promover todas as atividades, transmitindo aspectos
a educação ambiental em todos os níveis de físicos, biológicos, sociais e culturais.
ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente (Constituição Apesar de todo um apelo visto nos dias
Federal., art. 225 § 1º inciso VI). de hoje em relação à importância do mundo
olhar com outros olhos para os problemas
De acordo com os Parâmetros Curriculares relacionados à degradação ambiental, não
Nacionais (PCN’s): é tarefa simples implementar a educação
ambiental no âmbito escolar, já que muitos
A preocupação em relacionar a educação com a fatores estão envolvidos como o local a ser
vida do aluno em seu meio, sua comunidade não
é novidade. Ela vem crescendo especialmente aplicado as atividades, número de alunos
desde a década de 60 no Brasil. (...) Porém, e professores, mudanças de paradigmas,
a partir da década de 70, com o crescimento alteração da rotina, entre outros (ANDRADE,
dos movimentos ambientalistas, passou-

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2000). Dias (1992) reforça essa problemática quando cita a Conferência de Tbilisi de 1977,
que já apontava uma preocupação a esse respeito e que pesquisas referentes a esses
obstáculos deveriam ser feitas, a fim de diminuir os inevitáveis conflitos quando tratamos
de assuntos que envolvam mudanças de comportamento.

Dessa forma, podemos evidenciar que o diálogo é uma ferramenta muito importante para
dar início a qualquer projeto que envolva mudanças no modo de agir das pessoas. Assim,
como cita Narcizo (2009):

Projetos impostos por pequenos grupos ou atividades isoladas, gerenciadas por apenas alguns indivíduos
da comunidade escolar – como um projeto de coleta seletiva no qual a única participação dos discentes seja
jogar o lixo em latões separados, envolvendo apenas um professor coordenador- não são capazes de produzir
a mudança de mentalidade necessária para que a atitude de reduzir o consumo, reutilizar e reciclar resíduos
sólidos se estabeleça e transcenda para além do ambiente escolar (NARCIZO, 2009, p. 98).

Por isso o constante trabalho com a reflexão de todos os indivíduos envolvidos no projeto
deve ser algo rotineiro, principalmente nos que mantem posições mais fechadas, fazendo
com que as mudanças não sejam apenas ilustrativas, mas que se tornem atitudes para toda
a vida. Essa é a verdadeira educação ambiental. É importante que a participação dos alunos
na construção do conhecimento não seja apenas trazida pelo professor, ou seja, é necessária
a participação coletiva através do diálogo e reflexão na solução dos problemas.

Tavares (2010) realizou um trabalho de educação ambiental com alunos do 4° ano do


ensino fundamental em uma escola municipal de Florianópolis e teve como resultado
a sensibilização pelos problemas da região, não só dos alunos, mas também de toda a
comunidade. Isso ocorreu após um grande trabalho de conscientização e também de prática,
onde os alunos puderam participar de todo o processo, estudando toda a região e seus
problemas, como também na tomada de decisões.

Outro projeto que faz a diferência é o de Bentes e Silva (2007), que realizam um trabalho
desde o ano de 2003 na cidade de Cerrados, onde discutem com os alunos do ensino médio,
através de uma base teórica, questões ambientais da região.

Inúmeros trabalhos são realizados nas escolas do Brasil. E podemos perceber que parte-
se sempre de um diálogo de conscientização e de troca de experiências.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos através desse artigo que o mundo vem pensando
de forma diferente a respeito do ambiente. No decorrer da
história, as mudanças, processo natural da evolução humana,
são consequências que naturalmente criam raízes na vida
dos seres humanos. Junto à essas mudanças, a natureza
vem sofrendo cada vez mais com a histórica evolução das
sociedades. Nesse momento, com tantas informações não
podemos, nós educadores, darmos as costas a um assunto
tão pertinente.
RENATA DE
A escola, sendo um ambiente social, é um local muito CARVALHO BARRA
apropriado para trabalharmos com a educação ambiental.
Graduação em Pedagogia pela
Processo que exige muito esforço, pois trata-se de mudanças Faculdade Anhembi Morumbi
de comportamento e de mentalidade. (2014); Especialista em
Educação de Jovens e Adulto
pela Faculdade Campos Elíseos
Temos o apoio dos PCN’S, da Constituição Federal do Brasil (2016); Professora de Ensino
e de tantos outros documentos que reforçam a importância Fundamental I e Educação
desse trabalho, como também serve de apoio para coloca-lo Infantil - na EMEF João Ramos
Pernambuco, Abolicionista
em prática. Mas, acima de tudo, as mudanças devem ocorrer
de forma individualizada para se disseminar no grupo, ou
seja, as atitudes devem servir de exemplo para que os alunos percebam que todo o trabalho
realizado não ficará somente exposto em um cartaz, mas será prioritariamente seguido na
prática, na sua rotina, e que levará por toda a vida.

Um dos pontos mais importantes da educação ambiental é abrir espaço para a reflexão e
diálogo que, através de um trabalho em conjunto (interdisciplinariedade) pode ser conquistado
e realmente posto em prática.

1401
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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1403
Revista Educar FCE - Abril 2019

CONTRIBUIÇÕES DA ARTE CONTEMPORÂNEA


DE FAYGA OSTROWER NO PROCESSO DE
ENSINO E APRENDIZAGEM EM ARTES
RESUMO: O propósito deste trabalho é demonstrar a Arte Contemporânea na produção
artística, na gravura abstrata de Fayga Ostrower e sua sensibilidade em captar o clima de
uma cena ou de uma narrativa, contribuindo para que os educadores e educandos possam
conhecer a técnica da gravura, a produção artística e as contribuições da Fayga Ostrower
para o processo de ensino e aprendizagem por meio da arte contemporânea. A gravura inicia
seu papel na história como um comunicar da imagem. Com o passar do tempo a gravura se
transforma, não se limita mais à simples existência de uma matriz e edição. Foi utilizado um
referencial teórico por meio de pesquisa bibliográfica buscando a análise do tema tratado,
sendo demonstrada a importância de Fayga Ostrower para a arte brasileira.

Palavras-Chave: Arte Contemporânea; Fayga Ostrower; Produção artística; Gravura.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO todo, por meio da releitura, citação ou


outros recursos, ela é múltipla, muitas vezes
A gravura é uma técnica com grandes incompreendida de acesso limitado muito
possibilidades estéticas, um meio de diferente em comparação a Arte Moderna.
expressão que sempre ocupou lugar de
destaque na produção da maioria dos Geralmente quem se aproxima dela
artistas. Por isso, ampliar o conhecimento sente-se confuso pela incompreensão, não
sobre gravura se faz necessário e enriquece aceitando o que parece estar bem longe do
muito as artes visuais. ideal de beleza em relação ao realismo nas
obras representativas de algumas fotografias.
A gravura contemporânea no Brasil é Por ser considerada de difícil acesso,
mais simples e direta, com artistas que necessita de conhecimentos específicos e
dialogam com a cultura mundial sem abrir muitas vezes de mediação.
mão das experiências do seu lugar e da
sua cultura, entre tantas e tantos artistas EssasdificuldadesafastamaArteContemporânea
contemporâneos pesquisaremos sobre Fayga do universo escolar, impossibilitando os
Ostrower que se dedica a gravura a mais de educandos de entrar em contato com as mais
50 anos e foi a primeira artista abstrata do diversas manifestações dessa Arte, que poderiam
Brasil, enfrentando muitos preconceitos. possibilitar-lhes uma verdadeira compreensão e a
Para Fayga, a gravura é uma linguagem, visto participação estética de seu tempo.
que exprime sensibilidade.
escolha não poderia ter sido outra,
Amigo da artista, o físico Luiz Alberto Fayga Ostrower, a autora escolhida como
Oliveira, afirma: “Para Fayga, todas as objeto de pesquisa deve-se ao fato da
pessoas tinham o direito a uma formação mesma ser arte-educadora contemporânea
que lhes possibilitasse apreciar e produzir contribuindo com as práticas pedagógicas
os frutos do conhecimento humano. Isso atuais no ensino básico na qual se percebe
sempre norteou Fayga, educadora, criadora, a necessidade de um trabalho mais voltado
escritora e pensadora.” à Contemporaneidade, já que o currículo de
Artes Visuais privilegia o período modernista.
Segundo Fayga, "A arte contemporânea é
bastante problemática, boa parte não tem “A Gravura, para mim, é a música de câmara
o mínimo valor artístico e a mediocridade é das Artes Plásticas”. (Fayga Ostrower).
muito grande".
Abordar Fayga Ostrower é perceber sua
Observa-se que uma das características contribuição para a arte brasileira e a forma
da Arte Contemporânea é a constante como ela conduziu a gravura à abstração, sua
referência ao passado da arte como um sensibilidade, lirismo e visão única.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Para Ostrower (2009, p.12), as produções Pode-se destacar a importância da


criativas estão intimamente ligadas à contribuição de Fayga para a arte brasileira
sensibilidade e esta “é patrimônio de todos por meio de um projeto estético – revelação
os seres humanos”. de uma experiência de vida – renovando a
gravura brasileira.
O ensino da arte contemporânea
proporciona o desenvolvimento da percepção Segundo Fayga Ostrower:
crítica e criativa dos alunos, despertando o
interesse e a curiosidade, aprendendo a ter “A criatividade é um potencial inerente ao
homem, e a realização desse potencial uma
consciência de si como alguém capaz de de suas necessidades… Criar é, basicamente,
aprender. formar. É dar forma a fenômenos que foram
relacionados de modo novo e compreendidos
em termos novos… Estamos falando da
A gravura no Brasil começa em 1906, mas “intencionalidade” da ação humana. Criando, o
é no final dos anos 40 e na década de 50 que homem toma consciência da sua capacidade de
se revela relacionada a movimentos maiores, transformar a natureza e a si mesmo… O criar só
pode ser visto num sentido global, como um agir
mais amplos. integrado em um viver humano. “De fato, criar e
viver se interligam.” (OSTROWER, 1988, p. 146).
Fayga Ostrower foi a artista que renovou
a gravura brasileira e, por isso é considerada
a dama da gravura nacional. Conclui-se que o ser humano precisa
explorar a criatividade nele existente, já
Sentia que tinha que ir para a arte abstrata. que a criação potencializa a capacidade de
Provocando uma mudança do olhar no transformar a natureza e a si mesmo.
homem moderno em sua pintura.
Fayga era uma defensora das artes visuais
Mas a artista foi além revelando-se uma como expressão subjetiva relacionada com a
teórica da arte, acrescentando, contribuindo vida cotidiana do ser humano.
com o mundo da arte por meio de palestras
e conferências dentro do nosso país e no A Arte mobiliza a criatividade. Para
exterior. compreender é preciso criar. “O ser humano
é, por natureza, um ser criativo. Ao perceber,
Sua gravura demonstra toda sua ele interpreta e esse interpretar já é criar.
experiência de vida. E por meio de uma visão Não existe um momento de compreensão
lírica do mundo amplia a compreensão de que não seja, ao mesmo tempo, criação.”
arte como um saber sensível, emprestando (OSTROWER, 1988, p. 167)
musicalidade e informalidade. Fayga defendia
que a arte era uma linguagem universal e A criatividade do homem se elabora no
vital para todos os homens. seu contexto cultural e está intimamente

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Revista Educar FCE - Abril 2019

relacionada às questões sociais, econômicas, Gravura é a técnica que consiste em


políticas e culturais. realizar uma série de incisões sobre uma
superfície ou matriz, que, uma vez entintada,
“Frente à realidade concreta e em qualquer se aplica sobre um papel ou material similar
situação de vida, o indivíduo é delimitado
por uma série de fatores (de ordem material, para obter-se uma imagem. Sua vantagem
ambiental, social, cultural, e de ordem interna está em permitir, a partir da matriz, uma
vivencial, afetiva) que se combinam em múltiplos infinidade de exemplares idênticos.
níveis intelectuais e emocionais, a parte
tornando-se conhecidos, conscientes e em parte
permanecendo desconhecidos, inconscientes. Segundo o Dicionário Oxford de Arte
Face à complexidade dos níveis e das (2001, p.234) gravura é o “termo aplicado a
qualificações mútuas, o equilíbrio interior é uma
conquista do indivíduo, já porque a multitude de vários processos de formar imagens por meio
limites em tempos e espaços vários, ele a vive. de incisões e talhos em placas ou blocos de
E, no viver, ele próprio se transforma e altera metal, madeiras, pedra etc., e às estampas
os componentes de seu equilíbrio interior. Mas
seja como for, são essas delimitações internas, resultantes de qualquer destes processos”.
relacionadas entre si e ordenadas em termos
qualificadores, que nos fornecem uma medida A partir de 1920, a gravura brasileira perde
de referência para avaliar a realização de nossas
potencialidades. São elas que permitem nossa a função única de reprodução gráfica e passa
orientação seletiva” (Ostrower, F., 1986, p. 149). a ter um maior comprometimento estético
por meio da via expressionista, com as obras
A arte é a linguagem natural da humanidade de Lasar Segall e de Oswaldo Goeldi.
e representa um caminho de conhecimento da
realidade humana (Ostrower, 1998, p. 25-26). Nos anos 30, a gravura foi utilizada
como principal técnica para os artistas na
Apresentaremos nos capítulos a seguir uma veiculação de imagens denunciadoras da
panorâmica da produção de gravura no Brasil opressão com temas como o homem, o seu
na primeira metade do século XX, situando o tempo, a sua luta, a sua vida, a sua realidade.
momento histórico em que Fayga Ostrower À medida que a situação política nacional
inicia sua produção artística, destacaremos e internacional se agravava (ascensão do
a produção artística de Fayga Ostrower no nazi-fascismo na Europa e a implantação
contexto artístico contemporâneo do Brasil. do Estado Novo entre nós), a arte moderna
também agregava ingredientes políticos.

A GRAVURA BRASILEIRA Para Farjado; Sessekind e do Vale (1999)
ENTRE 1920 E 1950 a gravura tem a possibilidade de refletir
e registrar, como uma memória viva, o
A gravura sempre foi um importante ambiente cultural da arte e os momentos
método de documentação da realidade e de mais significativos da história humana.
reprodução de imagens.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A explosão da Segunda Guerra Mundial A valorização da gravura brasileira nos


trouxe muitos artistas para o Brasil em anos 50 deve-se sobretudo à Fayga Ostrower,
busca de refúgio, onde contribuíram e se pioneira da abstração. "A gravura é a música
destacaram na arte da gravura. Entre esses de câmara das artes visuais", costuma dizer a
artistas refugiados estava Fayga Ostrower. artista Fayga Ostrower.

A década de 40 foi marcada pela Segunda A gravura artística no Brasil teve nos anos
Guerra Mundial com muita influência 1950/60 um momento de ativação e grande
expressionista e imagens da vida urbana experimentação. Depois da década de 1950
cotidiana retratada com lirismo pelos a arte brasileira evoluiu em novas e variadas
gravuristas da época. Nos anos 40, a gravura direções. Ganharam destaques importantes
não teve muito prestígio, mas foi importante gravuristas, pintores e fotógrafos que
para expandir a técnica e influenciar a década se ligaram a diferentes movimentos e
seguinte. experimentaram novos materiais.

O final da Segunda Guerra Mundial trouxe Novas contribuições a partir da década
ao Brasil, nos anos 50, modernização no de 1970, Fayga acrescenta ao trabalho
circuito artístico com a criação dos Museus à aquarela. Publica vários livros sobre
de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de questões de arte e criação artística, entre
Janeiro e a inauguração da Bienal de São Paulo eles "Criatividade e Processos de Criação",
que reuniu as principais obras do movimento 1978, "Universos da Arte", 1983, "Acasos e
modernista, dando início ao grande duelo entre Criação Artística", 1990, e "A Sensibilidade
movimentos abstracionistas e arte realista do Intelecto", 1998.
que marcou essa década. As gravuras nesse
período valorizavam os aspectos nacionalistas. Desde o início do século a gravura serviu
para a divulgação dos ideais da vanguarda
Depois da década de 1950 a arte brasileira artística, associadas ao que havia de mais
evoluiu em novas e variadas direções. moderno. “A gravura possui uma linguagem
Ganharam destaques importantes gravuristas, própria e a compreensão dessa linguagem é
pintores e fotógrafos que se ligaram a o que o artista deve buscar”. (Hersckovits,
diferentes movimentos, experimentaram 1986 p.37.)
novos materiais e renovaram a arte.

A gravura de origem expressionista, A GRAVURA
originária do sul e sudeste, passa a CONTEMPORÂNEA
interagir com a produção nordestina, de
forte influência popular, em especial as A Arte Contemporânea reuniu uma
xilogravuras de literatura de cordel. diversidade de estilos, movimentos e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

técnicas, sem ideologia política ou religiosa, plenamente seu papel como linguagem.
voltada para si mesma, a arte pela arte Buscam também novas técnicas e formas
com novos conceitos e materiais. A arte mais eficazes e econômicas de reprodução.
contemporânea rompeu com barreiras e
quebrou paradigmas, modificando a forma O uso artístico da gravura contemporânea
de ver e fazer. é caracterizado pela tendência do artista
em assumir pessoalmente todas as etapas
É a arte marcada pela quebra de padrões, do processo do trabalho como parte do
pela liberdade de criar, pela utilização de processo criativo.
métodos mecânicos de reprodução e uso de
novas tecnologias. Escreve Ferreira, (p.92) o próprio impressor
torna-se “uma figura que está rapidamente
Nesse período a obra de arte é objeto, desaparecendo: as gravuras se tornam tão
uma ideia e pensamento em busca da complexas, tão pessoais, com a mistura de
reflexão, sempre de forma original, criativa e processos e certos virtuosismos de impressão
contextualizada socialmente. que só mesmo o gravador é capaz de tirá-las
com resultados inteiramente satisfatórios”
Fazendo um breve histórico da gravura
nas últimas três décadas, Riva Castleman Em termos mais especificamente gráficos,
relembra que: a mesma ideia é expressa por Marco Buti, no
livro Gravura em Metal, (2002, p. 12):
“A experimentação com vários processos
associados à impressão ocorrida na década “Conforme os conceitos possíveis de arte, o
de setenta, vai gerar, entre outras coisas, a momento histórico e as estéticas vigentes,
incorporação de papel artesanal, muitas vezes identifica-se a técnica artística com a própria
produzido ou projetado pelo artista. A ideia de arte ou, no outro extremo, pode-se relegá-la a
gravura passou a incorporar muitas formas de uma posição secundária no processo de criação.
trabalho feito à mão, depois de um período (...)
prolongado de fastio com a produção Há trabalhos que devem ser realizados com
de edições impressas uniformemente” precisão mecânica, outros exigem a colaboração
(CASTLEMAN, p.11). sensível de uma equipe, alguns só adquirem
sentido se executados pessoalmente pelo
A gravura traz consigo o sentido da
artista”
reprodução deixando marcas por onde passa,
perpetuando-se até os dias de hoje. Na gravura, a valorização do fazer como
momento decisivo para a criação da obra de
A gravura nasceu associada à ideia de arte leva o artista a colocar-se subjetivamente
multiplicação da imagem, mas o que move em todos os aspectos da sua execução: a
os gravadores contemporâneos são a preparação da matriz, dos instrumentos e das
qualidade e a possibilidade de dialogar com ferramentas; a escolha do papel, os mínimos
outras linguagens, na qual a gravura assume detalhes do processo de impressão.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A gravura contemporânea é uma produção artística importante veiculada nos meios de


comunicação de massa, desde meados do século XX, por meio de técnicas gráficas como a
serigrafia, entre outras, o que aumenta seu potencial como meio expressivo.

A gravura produzida na contemporaneidade traz a conciliação de técnicas centenárias
aliadas a uma subjetividade e percepção das problemáticas atuais da arte observadas não
só no discurso visual do artista, ou no possível aspecto de interdisciplinaridade que sua
obra venha a possuir, mas também com a união de seus códigos plásticos a outros meios e
técnicas, rompendo com os limites da gravura a um mero procedimento técnico e preso às
características técnicas tradicionalmente possibilitadas pelo meio. Percebe-se a conciliação
de aspectos sócio-políticos de grande complexidade e que desafiam as sociedades
contemporâneas com um tratamento formal de forte vínculo com o desenho.

Segundo Ostrower (1988), o que exprime a excelência da humanidade do homem é sua
capacidade de compreender e (re)criar o mundo e a si próprio, e esta singularidade da espécie
desemboca nas "qualidades estéticas: ao senso de harmonia e de beleza que os homens
são capazes de entender nas ordenações universais."(p. 181). Essa capacidade de entender
as complexas relações presentes no real a partir do olhar permite ao homem interpretar e
expressar esse entendimento "visualmente pelas imagens de arte". (OSTROWER, Fayga. A
construção do olhar. In: NOVAIS, Adauto. O olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
p. 167-182.)

As gravuras de Fayga traziam inicialmente uma preocupação social, como a maioria dos
artistas da década de 40, aspectos do realismo social agregados a subjetividade expressionista
no retrato do drama humano trazendo lavadeiras, crianças de morro brincando e bares do
subúrbio. Nesse período Ostrower foi muito influenciada pelas obras de Kathe Kolwitz
(NIO mulher morreu (1903); A chamada da morte (1934); NOT (1897) entre outras obras),
expressionista alemã.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fayga Ostrower artista plástica, escritora e educadora,
sempre defendeu a arte como linguagem universal,
posicionando-se de forma ética perante o mundo e aos
problemas sociais. “A arte é a linguagem natural da
humanidade e representa um caminho de conhecimento da
realidade humana” (OSTROWER, 1998, p.25-26).

Para Fayga a sensibilidade e a criatividade são características
humanas, de qualquer pessoa. Não aceitava a arte como
manifestação elitista e objeto de luxo. "Não existe um RENATA MANFRA
momento ou compreensão que não seja ao mesmo tempo LUCENA DIAS
criação. O ser humano é por natureza um Ser Criativo. No
Graduação em Pedagogia pela
ato de perceber, ele tenta interpretar. Nesse interpretar, já Universidade Bandeirante de São
começa a criar." (OSTROWER, Fayga. Criatividade e processo Paulo (2009); Especialista em
de criação. Petrópolis: Vozes,1978). Artes Visuais pela Universidade
Metropolitana de Santos (2012);
Professora de Educação Infantil e
Fayga Ostrower (1987, p.224), admite que todos os Ensino Fundamental I - na EMEF
seres nascem com potencialidades sensíveis. Persegue o Octávio Pereira Lopes, atua como
Diretora de Escola no Centro de
lirismo sem limites, com grande densidade e uma visão Educação Infantil Cidade Nova do
única, investigando possibilidades, mantendo-se na Parque Novo Mundo.
essência da linguagem gráfica e priorizando a criatividade,
processo inerente ao ser humano, no qual o fazer artístico
é a possibilidade de o homem dar sentido a sua vida. Nos
processos criativos importam - percepção, formas, intuição
e imaginação, assim como o crescimento e a maturidade das pessoas.

Para Ostrower, as formas de arte representam a única via de acesso ao mundo interior,
de sentimentos, reflexões e valores de vida e representam, também, um caminho de
conhecimento da realidade humana.

Fayga elevou a gravura no cenário nacional, imprimindo uma natureza sensível e subjetiva,
tendo como ponto de partida sua visão estética e uma crescente preocupação com os
elementos constitutivos da obra, planos, linha e ritmos.

Buscamos no decorrer deste trabalho oferecer informações e despertar reflexões. Por


isso, ampliar o conhecimento sobre gravura se fez necessário para demonstrar a Arte

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Contemporânea na produção artística, na gravura abstrata de Fayga Ostrower e toda sua


sensibilidade.

Destacamos a importância do ensino da arte contemporânea que proporciona o


desenvolvimento da percepção crítica e criativa dos alunos, despertando o interesse e a
curiosidade, aprendendo a ter consciência de si como alguém capaz de aprender, contribuindo
também para desenvolver a responsabilidade e a cidadania, colocando o aluno no centro do
processo de aquisição e partilha de saberes, rumo a uma educação significativa e construtiva.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O PAPEL DO ESPAÇO NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este artigo tem como finalidade demonstrar o quanto os espaços são importantes
e contribuem para a aprendizagem das crianças na Educação Infantil. Sabe-se que nos
tempos atuais, a Educação Infantil vem sendo enxergada com outros olhos, um olhar voltado
para criança que muito tem a nos ensinar, protagonista da sua vivência no cotidiano escolar,
a qual aprende e desenvolve-se com tantos estímulos que a cerca, conforme pensadores
afirmam que aprendem de acordo com o meio em vivem, deixando de lado a ideia de que
é um papel em branco esperando ser preenchido. Tanto que faz valer, que tudo pode ser
aprendizado para criança e contribuir para seu desenvolvimento social, intelectual, emocional
e físico. Contudo, o espaço e o ambiente escolar são recursos imprescindíveis no processo
de aprendizagem na Educação Infantil.

Palavras-Chave: Espaço; Aprendizagem; Educação Infantil; Criança; Professor.

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INTRODUÇÃO Considerando um professor observador


e participativo, que atua em um território
A relevância deste trabalho é apresentar de possibilidades e descobertas. Passa
que atualmente a Educação Infantil é um lugar a ser responsável por criar ambientes
de cultura, onde a criança é reconhecida como desafiadores para criança adquirir novos
sujeito de direito, tornando-se prioridade na aprendizados. Esses espaços devem ser
Educação Infantil, não mais reproduz o que o organizados garantindo experiências
adulto exige e sim com vozes, potencialidades enriquecedoras e significativas, direcionando
as quais devem ser levadas em consideração o fazer pedagógico. Como por exemplo:
para que nos momentos de interação haja o parque, a sala de aula, brinquedoteca,
trocas de experiências. banheiro, refeitório até mesmo as paredes
com as produções das crianças, auxiliam na
O processo de aprendizagem ocorre aprendizagem. Pois é nesta fase, da Educação
devido motivações internas, experiências Infantil em que o cuidar está atrelado ao
pessoais, porque exige da criança construção educar. Tudo utilizado com planejamento
individual por envolver processos de escolha. adequado, torna-se aprendizado para as
crianças dessa faixa etária.
De acordo com a concepção Vygotskyana,
a criança aprende de acordo com interação
social, ou seja, de sua interação com outros A APRENDIZAGEM
indivíduos e com o meio. NO ESPAÇO ESCOLAR
O documento citado “reconhece que No que diz respeito a aprendizagem o
a infância como uma construção social documento afirma que “A aprendizagem é,
e histórica em que bebês e crianças são portanto, um processo complexo e dinâmico
sujeitos de direitos, autônomos, portadores que deve ser potencializado nos espaços
e construtores de histórias e culturas, institucionais dedicados à Educação a partir
produzem , em sua experiência com o das oportunidade de vivências múltiplas que
meio e com os outros, sua identidade considerem as diversas infâncias, as vozes
(sua inteligência e sua personalidade)”. e os tempos dos sujeitos de aprendizagem
(CURRÍCULO INTEGRADOR, 2015) e suas construções culturais no encontro
com a sociedade, o conhecimento e a
Nesse processo existem muitos fatores cultura.”(CURRÍCULO INTEGRADOR, 2015).
que contribuem para a aprendizagem,
no entanto o espaço será o foco, o qual Falar da relação entre espaço e
possibilita a criança conviver, explorar, criar desenvolvimento infantil não é apenas falar
e transformar o mundo em que vive. dos lugares onde elas comem, dormem,
brincam ou fazem atividades, mas é

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também falar das sensações vivenciadas Conforme o desenvolvimento do sistema


corporalmente, é falar das imagens mentais nervoso, a criança vai coordenando e
ou representações que foram se formando percebendo diversas sensações visuais,
através de suas experiências no meio físico táteis, auditivas e de seus próprios
e social. É também falar das possibilidades movimentos, favorecendo a distinção do seu
de autonomia, exploração e criação que são mundo interno e externo.
oferecidas a criança desde seu nascimento.
Com o passar do tempo, a criança vai
A autora analisa o espaço como um ampliando sua vivência corporal desde a
conceito que se desenvolve principalmente fixação do olhar a um objeto no espaço
no cérebro, pois construímos nosso mundo para tentar agarrá-lo, até quando adquire
espacial por meio da interpretação de grande maior independência para andar podendo se
número de dados sensoriais que possuem locomover até os locais e objetos que quer
relação direta com o espaço. (GALVÃO, alcançar.
1995).
Os autores abaixo consideram o espaço
Assim, ao mesmo tempo em que como um facilitador para a proposta
são realizadas as interpretações destas educacional, pois direciona o tipo de
informações sensoriais, são construídos intervenção educativa e a relação que se
também, conceitos espaciais frente ao estabelece na escola, não enquanto um único
ambiente que se está interagindo. fator determinante, mas sua organização
tem grande influência no bem-estar dos
Desta forma, “A criança aprende quando profissionais e das crianças que ali habitam
é sujeito na vivência, na experiência, isto (BASSEDAS, HUGUET E SOLE 1999).
é, quando participa nos processos vividos
com o corpo, a mente e as emoções e não Dentro do âmbito escolar existem
como executora do que foi pensado pelo muitos elementos que auxiliam no processo
educador e pela educadora”. (CURRÍCULO de aprendizagem, entre eles a rotina,
INTREGADOR, 2015). os projetos, integração com a família, o
aprimoramento profissional. Sendo que
Assim que nasce o bebê, ele ainda não aqui será focado o espaço físico como um
possui consciência corporal, mas começa suas elemento importantíssimo neste processo,
descobertas e explorações em um ambiente vendo-o como fundamental principalmente
que poderá favorecer essa consciência. Dada por ser um local habilitado por pessoas que
tal importância ao ambiente, organizado possuem capacidades para agir, pensar,
e pensado para criança explorar. Cabe ao transformar este espaço, caso o mesmo seja
professor propor estímulos para criança propiciador de tal interação.
interagir nesse ambiente.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Ao refletir sobre os bebês e suas De acordo com a autora Forneiro (1998,


potencialidades, surge a ideia de propor p.230) “ o espaço já não é o lugar onde
múltiplos espaços de acordo com a faixa se trabalha, nem tampouco é somente um
etária , rompendo as barreiras e mesmices elemento facilitador, mas constitui um fator
de muitas Unidades educacionais que não de aprendizagem”.
enxergam os bebês dessa maneira.
Uma escola de Educação Infantil voltada
De acordo com o documento “Isso significa para infância, deve transparecer isso na
que bebês e crianças aprendem quando estão organização, como por exemplo exposição
por inteiro nas interações que estabelece com das atividades realizadas pelas crianças,
as coisas, as pessoas, os objetos ao seu redor, brinquedos em estantes na altura ideal,
tanto os fenômenos da natureza como os brinquedos à disposição. Esse tipo de
objetos criados pelos seres humanos (quando atitude oportuniza experiências, favorece
observam, exploram, investigam, descobrem, o desenvolvimento da autoestima porque
ouvem, imitam, inventam)”(CURRÍCULO possibilita a livre escolha da criança.
INTEGRADOR, 2015)
Outro fator importante, o professor no
Uma proposta pedagógica, bem planejada momento de organizar o espaço deve propor
e que reflete sobre uma educação para essa arrumação para as crianças também,
infância, propõe o desenvolvimento de uma assim continua nesse processo de que a
criança autônoma, criativa, segura de si e criança é capaz e possui autonomia no
capaz de ter um bom nível de interação com processo de aprendizagem. Além disso, um
crianças e adultos, para isso necessita de professor observador favorece um ambiente
um ambiente que proporcione condições de acordo com as preferências das crianças,
de descobertas e novos conhecimentos, até intervindo quando necessário, promovendo
mesmo aprimorá-los. a interação e socialização.

Nesta concepção, é muito importante Na perspectiva de Forneiro “Os elementos


então que o ambiente favoreça a autonomia, do espaço transformam-se, assim, em
permitindo que ela vivencie desafios de componentes curriculares. Qualquer
acordo com as etapas de seu desenvolvimento, observador externo que tenha acesso a
implicando na possibilidade de escolha de uma sala de aula pode perceber quase de
atividades e de materiais, circulação nos imediato o ambiente de aprendizagem que
diversos ambientes (parte interna e externa existe na mesma. Praticamente poderíamos
da escola), independência e acesso quanto dizer: “diga-me como organiza os espaços de
ao uso de brinquedos, beber água, sem sua aula e lhe direi que tipo de professor(a)
necessitar por longa espera do adulto para você é e que tipo de trabalho você realiza”.
atende-la no que for necessário. (FORNEIRO, 1998).

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ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO A utilização adequada do espaço é de


grande valia, pois ao entrar numa escola
Segundo os autores, as crianças observa-se a maneira como está organizada
necessitam de espaços abertos e com pode-se perceber qual é a proposta
o mínimo de condições higiênicas e pedagógica, como a professora planeja e
físicas, como iluminação, ventilação, para encaminha as atividades, como concebe
se sentirem à vontade. Se o espaço for a criança no seu ser, sentir e pensar. Pois
muito pequeno, pouco iluminado e não o espaço não é uma estrutura neutra, nele
acolhedor provavelmente vai gerar apatia, compreende o conceito de infância.
agressividade, nervosismo e uma sensação
de incômodo nas crianças. (BASSEDAS, Considera-se uma escola preocupada
HUGUET E SOLE 1999). com a infância, quando organiza o espaço
de maneira que possibilita: a exploração de
Assim como parte do processo de diversos materiais (naturais e industrializados);
aprendizagem, o espaço necessita ser interação com o meio, o outro e si; acesso às
pensado, decorado e organizado para que diferentes espaços da unidade escolar e até
fique acolhedor e funcional. Afinal, um espaço mesmo a transformação do mesmo quando
acolhedor, garante na maioria das vezes um houver necessidade.
comportamento adequado das crianças.
Em qualquer que seja a abordagem de
Sendo assim conforme o documento “os ensino, o espaço será um elemento que
espaços são compreendidos como segundo mostrará os objetivos pretendidos pela
educador da turma, pois é, como a professora escola, ou seja, a cara da proposta pedagógica.
e o professor, um elemento essencial na
promoção das aprendizagens dos bebês e Visto que “Rever as nossas intenções
das crianças e de seu desenvolvimento.” educacionais, com a finalidade de
(CURRÍCULO INTEGRADOR, 2015). redefini-las ou modifica-las ou para
confirmar a sua importância. Planejar
Ao propor espaços com liberdade de novamente a organização do espaço,
ação para crianças e grande variedade levando em consideração os resultados
de brinquedos, oportuniza a criação de de nossas observações e análises e
brincadeiras enriquece as experiências e introduzindo novas ideias e recursos
deixa de lado os desentendimentos. Antes organizacionais.”(FORNEIRO, 1998).
de mais nada, para atingir o objetivo com
atividades intencionais de livre escolha, Desta forma, a autora confirma que há dois
devem ser estabelecidos regras e limites tipos de elementos que podem condicionar
compartilhados por todos, os quais as ações num espaço escolar, um focado
necessitam ser esclarecidos constantemente. no macro contexto sendo os “elementos

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contextuais” (ambiente e escola) e outro num micro contexto (sala de aula e espaços anexos).
(FORNEIRO, 1998)

Primeiramente faz-se necessário destacar o ambiente, o qual possui dois aspectos que
podem provocar condicionamento das ações e interações: as condições climáticas e os
recursos do ambiente.

O clima pode ser um condicionante na organização do espaço, uma vez que é preciso
contar com ambientes abertos para permitir a movimentação das crianças, cobertos por
período de chuva, áreas bem ventiladas para o período do verão.

Os recursos do ambiente podem fornecer espaços naturais ou construídos, podendo


ser usados como espaços alternativos para a realização de certas atividades intencionais,
podendo utilizar mesas dispostas no parque para realizar um desenho, ou então, realizar
uma pintura com as folhas anexadas às paredes externas da sala de aula.

A autora Forneiro (1998, p.232) difere espaço e ambiente no momento em que faz
referência aos espaços das salas de aula, apesar de considerar que estão intimamente
relacionados, diz que “o termo espaço se refere ao espaço físico, ou seja, aos locais para
a atividade, caracterizando pelos objetos, pelos materiais didáticos, pelo mobiliário, pela
decoração. Já o termo ambiente refere-se ao conjunto do espaço físico e as relações que
se estabelecem no mesmo (os afetos, as relações interpessoais entre as crianças, crianças e
adultos, crianças e sociedade).”
O ambiente pode favorecer também recursos materiais (naturais ou artificiais) muito úteis
para serem aproveitadas nas atividades, tais como pedrinhas, plantas, gravetos, pinhas,
ou até mesmo materiais fornecidos por alguma fábrica próxima da escola, uma oficina de
costura que forneça tecidos para montarem cabanas.

O papel do professor, é o de organizador, como forma de viabilizar a interação da criança


com o ambiente. Assim deve organizar espaços coletivos e privados, também diversificar
cantos, a criança precisa ter opções de escolhas.

Outra maneira de organizar o espaço e propor desafios, nessa trajetória de protagonismo


e livre escolhas é a disposição de cantos, assim a autora afirma “... com a chegada dos
“cantos” e a organização funcional das salas de aula aconteceu uma verdadeira revolução
na forma de conceber uma aula de Educação Infantil e na forma de organizar o trabalho da
mesma.”(FORNEIRO, 1998).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho pode-se concluir que a criança
na Educação Infantil está inserida em um ambiente rico em
possibilidades de aprendizagens, onde existe relações com
meio e o outro, promovendo interações.

Desse modo, a escola tem uma importante função nesse


processo, propondo diversos ambientes para ser explorado
garantindo a criança participar ativamente com autonomia.
Não deixando de lado, a educação inclusiva, havendo a
necessidade de um espaço arquitetonicamente adequado RENATA MARIA SOUZA
para atender as necessidades de todas as crianças. COSTA DE ALMEIDA

Professor de Educação Infantil na


É importante ressaltar, que espaço por espaço, não basta, Rede Municipal de São Paulo.
visto que pode ter uma construção e materiais maravilhosos, Trabalho entregue para Conclusão
visando a autonomia, socialização e identidade das crianças, do Curso de Educação Infantil.
mas isto passa a não valer nada caso as pessoas que ali estão
com as mesmas proíbam de conversar, interagir, explorar dos
os conceitos, não tendo uma concepção de criança, ensino e
aprendizagem que aproveite tudo isto de forma qualitativa.

Como vimos anteriormente, é um processo e a criança


sendo agente nele, o espaço torna-se de grande importância.
Um ambiente decorado com suas produções, organizado de
maneira autônoma, é mais significativo para criança e garante
seu protagonismo no processo de aprendizagem.

Contudo, esse ambiente para garantir a aprendizagem deve ser organizado adequadamente,
sendo de fácil acesso. O espaço deve ser legível e os objeto diversificados, para serem
utilizados com criatividade. E é de extrema importância a organização intencional para
provocar novos desafios as crianças.

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REFERÊNCIAS
BASSEDAS, Eulália. HUGUET, Teresa & SOLÉ, Isabel. Aprender e ensinar na educação
infantil. Porto alegre: Artes Medicas Sul, 1999.

FORNEIRO, L.I. A organização dos espaços na educação infantil. In: ZABALZA, M. A.


Qualidade em Educação Infantil/ tradução Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: Artmed,
1998.

GALVÃO, I. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis:


Vozes, 1995.

São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Currículo
integrador da infância paulistana. São Paulo : SME/DOT, 2015

SILVA, André Luís da Silva. Teoria de aprendizagem de Vygotsky. Dísponível em: <https://
www.infoescola.com/pedagogia/teoria-de-aprendizagem-de-vygotsky/> Acesso em: 03
mar. 2019.

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O BRINCAR COMO RECURSO


PEDAGÓGICO PARA O
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
RESUMO: O brincar, prática comum do contexto infantil, auxilia no desenvolvimento
das habilidades cognitivas e motoras da criança. Para muitos autores, filósofos e grandes
pensadores, como Platão, Frobel, Piaget, dentre outros citados neste artigo, tal prática
tão corriqueira deve ser valorizada e reconhecida como suporte educacional para o
desenvolvimento das competências necessárias para o convivio em sociedade. Tendo
interesse de elucidar o lúdico para o desenvolvimento infantil, o presente artigo aborda
algumas concepções teóricas sobre a importância do brincar como recurso pedagógico para
o desenvolvimento das crianças na Educação Infantil.

Palavras-Chave: Brincar; Recurso Pedagógico; Desenvolvimento das Crianças.

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INTRODUÇÃO influência no bom aproveitamento do brincar


pelas crianças, pensando na aprendizagem
Os jogos e brincadeiras, atividades decorrente dele. Não basta somente brincar,
corriqueiras e inerentes do universo infantil é preciso que seja com qualidade, e para isso
exercem grande capacidade influenciadora é importante prestar atenção aos agentes
para o desenvolvimento de muitas habilidades mediadores da atividade.
indispensáveis para o ser humano e suas
relações sociais na fase adulta. Fica impossível contestar a importância
do brincar, dos brinquedos e dos jogos para
Durante a infância, uma série de etapas o desenvolvimento e a aprendizagem da
preparam a criança para o seu processo de criança. Um assunto que assume um caráter
maturação e as brincadeiras fazem parte de grande seriedade tem merecido atenção
do alicerce no qual o lúdico permite adotar não só de psicólogos e educadores, como
práticas e iniciativas que influenciam na também de pesquisadores de outras áreas
formação do caráter, da compreenção de do conhecimento, que apontam o brincar
regras, do respeito mútuo, das habilidades como algo indispensável para o completo
motoras e cognitivas, da organização dos atendimento das necessidades das crianças.
pensamentos e do aperfeiçoamento da
liguagem verbal e corporal. Brincando, a criança aprende a se colocar
na perspectiva do outro, a representar papéis
Como visto e defendido por muitos autores, do mundo adulto que irá desempenhar mais
o brincar é atividade fundamental para as tarde, bem como desenvolver capacidades
crianças, pois brincando elas descobrem o físicas, verbais e intelectuais.
mundo, se comunicam e aprendem sobre a
importância das relações sociais. É importante entender do que se fala
quando se fala em brincar e perceber
Na educação infantil o brincar é um a relevância de um tempo no cotidiano
excelente recurso pedagógico para estímulo das crianças destinado a um brincar de
ao desenvolvimento infantil, além de ser qualidade, em um espaço adequado, com
um direito da criança, o brincar propcia materiais interessantes para as crianças e
um ambiente rico e prazerozo, no qual os que estimulem a criatividade
individuos interagem uns com os outros,
desenvolvem atividades e aprendem de A educação lúdica é uma proposta
maneira natural e espotânea. que uni o prazer do brincar com a fonte
do conhecimento. Além do exercício do
As diferentes formas de mediação adotadas desenvolvimento e aprendizagem, brincar
pelo educador, os materiais, brinquedos faz a criança assimilar papeis sociais que
e organização dos ambientes têm grande ocorrem em seu meio, fazendo assim do

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Revista Educar FCE - Abril 2019

jogo e da brincadeira situações em que a considerarmos a origem do termo “ludico”.


criança realiza, constrói e se apropria de Em fim, com base nos conceitos teóricos
conhecimentos. abordados para explanação da temática
central do presente artigo, nos deparamos
A atividade lúdica fornece informações com algumas reflexões.
elementares a respeito da criança como:
suas emoções, a forma como interage O lúdico em sua origem semântica, deriva
com seus colegas, seu desempenho físico- do latim LUDUS que consiste na prática de
motor, seu estágio de desenvolvimento, jogos, atividade muito exercida pelas antigas
seu nível lingüístico e sua formação moral. civilizações grega e romana, para a primeira,
Esses elementos, quando associados à como forma do individuo se expressar e
educação, promovem ao educador um amplo para a última, meramente em caráter de
conhecimento de seus alunos e o brincar entretenimento.
assume papel didático sendo explorado no
processo educativo. Com o passar dos anos, novas civilizações,
grandes filósofos e outros estudiosos viram
Essa proposta é uma contribuição, que na ludicidade algo a mais, compreenderam
sendo bem aplicada e compreendida, que durante as manifestações lúdicas, o
contribuirá para a melhoria do ensino. individuo adquiria habilidades e novos
Porque, brincando, a criança aprende conhecimentos.
com toda riqueza do aprender fazendo,
espontaneamente, sem pressão ou medo A ludicidade passou por transformações e
de errar, mas com prazer pela busca do ganhou novos significados, na modernidade
conhecimento. foi possível identificar oportunidades para a
prática de atividades para o desenvolvimento
do individuo.
A LUDICIDADE E SUA
CONTRIBUIÇÃO Se tornando centro das atenções de
grandes estudiosos, novas descobertas
PARA O ENSINO em torno da evolução humana puderam
Afinal, no que consiste o Lúdico, termo estabelecer a importante relação do ser
tão usualmente utilizado dentro e fora das humano como individuo em processo de
instituições de ensino com o propósito de transformação.
fortalecer a linha educacional na fase infantil?
Atuamente o ludico é bastante abordado
Antes de adentrarmos mais profundamente para as práticas voltadas para o processo de
nos conceitos e reflexões de Platão, formação da criança em idade pré-escolar,
Froebel, Piaget, dentre outros, é importante muitas instituições educacionais apreciam e

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valorizam condutas de ensino embasadas no Platão contribuiu para o senso reflexivo


conceito da lúdicidade, porém é preciso haver sobre a vida, despertando o interesse dos que
fundamentação teórica e prática pedagógica o rodeavam e dos leitores de suas obras, não
adequada para a correta aplicação dos jogos somente pelas crises existenciais sofridas
e brincadeiras fundamentos nos principios pela humanidade, mas como se dá a troca
da ludicidade como recurso impulsionador entre os pensamentos, ideias e sentimentos
no processo de ensino e aprendizagem. intrinsecos ao “homem” em relação ao
exterior, ao mundo em que há matéria, figuras
reais, seres humanos com ideologias distintas
PLATÃO ELUCIDANDO UM que em conjunto acumulam conhecimento e
DIÁLOGO SOBRE O LÚDICO carregam consigo sabedorias adquiridas ao
longo da sua existência e pós-morte.
PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
Platão, como assim ficou popularmente Em suas obras, Platão descreve a relação
conhecido, na verdade se chamava Arístocles, do lúdico com os processos educacionais,
nascido em Atenas na antiga Grécia no ano sendo indispensavel para a formação da
427 a.C., faleceu no ano 348 a.C, se dedicou moralidade, caráter e personalidade na fase
a filosofia e compreensão da moral e vida infantil. Na obra “República”, em um momento
social do indivíduo, aos vinte anos se se de reflexão entre Sócrates e Adimanto,
tornou discipulo de Sócrates, outro ilustre juntamente com Glauco e Aristócles, emergi
pensador e filosófo, o acompanhou durante a necessidade da prática educacional apoiada
seus estudos até o fim da sua vida. Ao no conceito lúdico, no qual a criança tenha a
término da sua jornada ao lado de Sócrates, possibilidade de se apropriar das condições
Platão finalmente retorna para Atenas e necessárias para o desenvolvimento motor
dedica toda a sua sabedoria em busca de e cognitivo por interseção das brincadeiras.
novas importâncias para a formação moral Ainda se tratando dessa obra, na página
do individuo, inaugurando uma espécia de número 108, Sócrates mantém diálogo com
escola filosófica cujo objetivo se destinava a Adimanto, citando a utilização da brincadeira
contemplação da verdade alcancada em meio como um costume benéfico ao individuo e
a dualidade dos pensamentos e reflexões sua formação social.
explicitadas durante o diálogo entre dois ou
mais indivíduos e suas teorias discursadas. “Sócrates - É a modo de brincadeira, e como
quem não faz nada de mal. Adimanto - Nada
Suas obras se resumem em trinta e cinco mais faz, na realidade, do que introduzir-se aos
diálogos e treze cartas, se destacando aos poucos, deslizando mansamente pelo meio dos
objetivos do presente artigo, as obras “A usos e costumes. Daí deriva, já maior, para as
convenções sociais; das convenções passa às
Republica” e as “Leis”. leis e às constituições com toda a insolência, ó
Sócrates, até que, por último, subverte todas as
coisas na ordem pública e na particular.
Sócrates - Seja! É assim mesmo?

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Adimanto - Parece-me.
Sócrates - Portanto, como dizíamos de início, indispensável para o desenvolvimento da
os nossos filhos devem logo participar em jogos alma e corpo da criança, participando dos
mais conformes com a lei, pensando que, se eles jogos e outras atividades lúdicas, em sua
lhe forem contrários, é impossível que daí se
forme homens cumpridores da lei e honestos. visão, o preparo para convivio em sociedade
Adimanto - Como não? ocorreria de maneira natural, em que a ética
Sócrates - Quando, portanto, as crianças e outras regras de convívio seriam práticadas
principiam por brincar honestamente, adquirem,
através da música, a boa ordem e, ao contrário de maneira lúdica como preparo para a fase
daqueles, ela acompanha-os para toda parte, e adulta.
com o seu crescimento, endireita qualquer coisa
que anteriormente tenha decaído na cidade.
Adimanto - É verdade. Diante de tantas reflexões, assim como
Sócrates - E sem dúvida descobrirão aquelas Platão, o dever da sociedade, das suas tarefas
leis, que pareciam pequenas e que os seus para formação dos futuros adultos requer
antecessores tinham deitado todas, a perder.
Adimanto - Quais? adotar conceitos que possam estabelecer uma
Sócrates - As seguintes: o silêncio que os mais linha de comunicação de fácil assimilação,
novos devem guardar perante os mais velhos; no qual a criança em seu universo criativo
o dar-lhes lugar e levantarem-se; os cuidados
para com os pais; o corte de cabelo, o traje, o possa adquirir conhecimentos e saberes
calçado, e toda a compostura do corpo e demais inerentes ao processo de crescimento do
questões desta espécie. Ou não achas? individuo, portanto, fazer dos momentos
Adimanto - Acho, sim.
Sócrates - Legislar sobre o assunto seria de brincadeiras, oportunidades de
ingênuo, a meu ver, porquanto as disposições aprendizagem e aperfeiçoamento das suas
estabelecidas não se realizariam nem se competências sociais.
manteriam, oralmente nem por escrito.
Adimanto - Como o fariam, efetivamente?
Sócrates - Parece-me, Adimanto, que o impulso
que cada um tomar com a educação, determinará
o que há de seguir. Ou cada ovelha não busca
FRIEDRICH FROEBEL E SUA
sempre sua parelha? [...] (PLATÃO, A Republica. CONTRIBUIÇÃO PARA A
Apud MACHADO, Daniel, p. 108 e 109, 2012)
EDUCAÇÃO INFANTIL
Do ponto de vista de ambos, ao analisarmos Friedrich Froebel, nascido na Alemanha
suas perspectivas, estes grandes pensadores em 1782, faleceu em 1852, adotou práticas e
e idealizadores da prática filosófica, artística e defendeu seus ideias de maneira que pudesse
cultural, defendem a verdadeira importância contribuir para a reflexão educacional em
do lúdico, ou seja, dos jogos e brincadeiras torno da primeira infância, período, segundo
para o desenvolvimento humano em suas ele, de importância indiscutível para a
capacidades para ativa participação na formação do indivíduo.
sociedade.
Conceitos abordados no contexto
Platão derramava ideologias e defentia educacional infantil se devem aos grandes
o brincar como um processo acertivo indealizadores, como Froebel que defendia

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as práticas lúdicas voltadas para o processo JEAN PIAGET E SUA


educacional. CONTRIBUIÇÃO PARA
Frobel considerava três fases do A EDUCAÇÃO
desenvolvimento infantil, o primeiro periodo Quando nos referimos à educação no
da vida humana, inerente as necessidades ensino infantil e sua contextualização logo
fisiológicas do bebê, a segunda fase infantil, nos voltamos para as observações pautadas
na qual a criança deve ser estímulada a pelo psicólogo e grande entusiasta pelo
compreender que é um individuo em processo desenvolvimento humano, Jean Piaget,
evolutivo, no qual existem direitos e deveres nascido na Suíça em 1896, dedicou grande
e, por fim, o último período, consequencia parte da sua vida para a compreensão das
do processo evolutivo das etapas anteriores relações da aprendizagem e desenvolvimento
em que a criança percebe que faz parte crítico e criativo da criança. Piaget sempre
de um sistema de relações entre o homem valorizou o acontecimento do aprendizado
e objetos, portanto, abordar práticas que de forma natural por meio dos estímulos
possam transformar o conhecimento em ocasionados pelo contexto no qual a criança
reflexão e consciência faz da sociedade, ou está inserida, favorecendo a autonomia da
seja, da familia, do Estado e demais cidadãos, aprendizagem.
responsáveis pelo plantio da sabedoria
no processo de formação consciente e Entre 1940 a 1945, Piaget escreve,
incociente da criança. considerando seus estudos e observações
realizados, sobre as teorias dos estágios
Na concepção “froebeliana”, as crianças de desenvolvimento, as quais nos fazem
se desenvolvem, cada uma, de acordo com compreender as necessidades da criança
suas necessidades e aspirações, cabendo a para o seu constante desenvolvimento
instrução necessária e ambiente promissor, sensório-motora, pré-operatória, operatório
em que a criança busque o desenvolvimento concreto e operatório formal ou abstrato e
por intermédio da compreensão de suas deste modo sugere reconfiguração do que se
necessidades e atividades práticas. Ao conhecia como “ensino tradicional”.
transferir sua técnica para o ambiente
educacional, o processo para absorção do Piaget (1999, p.25) sempre considerou
conhecimento na idade infantil requer das e defendeu a importância da interação do
instituições ambiente acolhedor, no qual a sujeito com o objeto para a construção do
criança seja capaz de experimentar vivencias conhecimento, sendo assim, a criança adquire
e novas descobertas, é preciso sensibilidade, saberes importantes para a complementação
compreender as necessidades de aprendizado das suas funções cognitivas por meio
e por fim, promover oportunidades para que dos estímulos práticos provocados pela
a criança desenvolva sua autonomia. linguagem, pelas brincadeiras, dentre outros,

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portanto, desenvolver métodos pedagógicos O LÚDICO E A CRIANÇA


voltados para as práticas e pensamentos NO PROCESSO DE
piagetianos reconhece a necessidade da
descentralização do conhecimento, em que o APRENDIZAGEM NA
educador é o principal detentor da sabedoria EDUCAÇÃO INFANTIL
imposta de modo inflexível, mas sim, no qual
o aluno possui habilidades e capacidades A Educação Infantil se refere a primeira
reflexivas e participativas em sala de aula. etapa educacional da criança, ou seja,
compete as crianças de zero a três anos
Jean Piaget faleceu em 1980 aos 84 anos, matriculadas na creche e dos quatro aos
deixou um grande legado para a assimilação e cinco anos matriculadas na pré-escola e é
compreensão dos fatores determinantes para dever do Estado oportunizar o direito ao
a construção do saber e desenvolvimento acesso à Educação Infantil.
psíquico da criança. Retornando ao estudo
voltado para as teorias dos estágios do A fase da Educação Infantil é tão
desenvolvimento cognitivo, abaixo tabela importante quanto qualquer outra que
descritiva: venha a seguir, é durante essa fase que
a criança descobre novos horizontes, a
Os estudos, de Piaget, suas obras literárias criança identifica oportunidades para a
e teorias são valorizadas até a presente data, apropriação do conhecimento de forma
dado o seu grande empenho voltado para a individual e coletiva, é preciso salientar
compreensão e características relacionadas que a escola da contemporaneidade
ao desenvolvimento cognitivo. corresponde a um ambiente voltado para o
acolhimento e o desenvolvimento de várias
Como mencionado, seu legado é de habilidades indispensáveis para o convivio
grande importância para nós educandos, em sociedade, em que o aluno recebe
porém durante a elaboração do presente estímulos e preparo para lidar com situações
artigo, apenas uma prévia do seu importante e problemas corriqueiros da rotina de vida
trabalho foi considerado para elucidarmos de qualquer indivíduo, portanto, veicular
as práticas pedagógicas na fase da educação planejamento pedagógico pertinente a faixa
infantil considerando o estágio pré- etária do aluno que contemple o cuidado, as
operatório que, conforme tabela acima, brincadeiras, a educação e aprendizagem são
se refere ao período entre 2 e 7 anos, fase fatores indispensáveis para a elaboração de
responsável pelo surgimento e apropriação qualquer processo pedagógico para o ensino
da linguagem e simbolismo e interiorização e aprendizagem nessa fase.
dos esquemas de ação, fatores importantes
durante o trabalho da leitura para o público Sabe-se que a aprendizagem da criança
infantil. se refere aos meios nos quais se recebe

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Revista Educar FCE - Abril 2019

inumeros estímulos responsáveis pelo a ensinar o tempo todo criativamente,


desenvolvimento das habilidades motoras, compor um planejamento escolar no qual a
sensoriais, cognitivas e sociais, sejam eles no criatividade possa ser explorada de forma
contexto familiar ou educacional, por meio natural é desafiador, requer sabedoria,
do contato estabelecido com seus pares capacitação e experiência docente.
é que surge a curiosidade para explorar e
compreender o mundo ao seu redor. Como O professor tem a oportunidade de ser
já citado no RCNEI (1995, pg. 21), a criança criativo em várias situações que se conderadas
percebe situações de uma forma singular. mutáveis favorecem a capacidade de
readequação ou utilização de novos recursos
Durante a concepção do conhecimento, competentes ao desenvolvimento de várias
a criança cerca a oportunidade e a explora habilidades. Se rejeita a "mesmice", isto é, a
de diversas maneiras, sendo perceptível alternativa de recair em uma ação habitual,
o seu comprometimento e construção do sem pensamento, e toma conscientemente
conhecimento. uma decisão baseada na análise de fatores
velhos e novos presentes numa situação,
Cada vez mais, pais e educadores estão estará se empenhando na implantação de
conscientes da necessidade de ajudar um processo criativo.
suas crianças no desenvolvimento de suas
habilidades mediante atividades lúdicas. Se tem uma reação incomum, que ajude
As crianças sonham e anseiam pelo novo e outros professores a desenvolver ação mais
pelas formas diferenciadas de aquisição do construtiva em situação semelhante, pode-
conhecimento, é fato a grande necessidade se dizer que o professor demonstrou mais
de interação social, de participação, de criatividade do que demonstrava antes ou
copiar a sua referência mais próxima. Não do que alguns outros professores haviam
podemos, jamais, desacreditar a grande revelado.
capacidade de obtenção do conhecimento
tida pelas crianças. É de se esperar que alguns professores se
dediquem a um processo criativo com mais
Ensinar não é uma tarefa fácil, tão pouco frequência e com mais êxito do que outros.
deve ser repetitiva, portanto, requer grande Não é de presumir, porém, que os professores
comprometimento e dedicado voltado possam dividir-se em dois grupos, os criativos
para orientação desses pequenos jovens e os não criativos.
carregados de energias e dúvidas sobre o
mundo ao redor. Na concepção de Horn (p. 71, 2004),
os brinquedos exercem grande influência
Não acredito ser possível e nem preconizo no processo de aprendizagem infantil, as
como desejável, que um professor vise crianças interagem entre si, imitam, fazem

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Revista Educar FCE - Abril 2019

escolhas, dominam situações, adquirem contribuem e enriquecem o desenvolvimento


competências e desenvolvem a confiança. intelectual. Sabemos que para manter o seu
equilíbrio a criança necessita brincar, jogar,
As brincadeiras são capazes de enriquer criar e inventar.
o ambiente, promovendo o encontro
entre o individuo e seu objeto de estudo, As rotinas são dispositivos espaço-temporais.
E podem - quando ativamente discutidas,
brincando a criança absorve o conhecimento elaboradas e criadas por todos os interlocutores
necessário para seu processo evolutivo e envolvidos na sua execução - facilitar a
de amadurecimento saudável, se tornando construção das categorias de tempo e espaço
Nas escolas o dia é tão programado que impede
responsável pelos seus atos e resultados as crianças de fazer, desabrochar e desenvolver
obtidos. suas competências. Não podem então
desenvolver-se como seres-sujeitos, agentes de
Brincando (e não só) a criança se relaciona, seu futuro. (MONTAGNER, 1993, p. 37)
experimenta, investiga e amplia seus
conhecimentos sobre si mesma e sobre o mundo
que está ao seu redor. Através da brincadeira Para Oliveira, a criança requer
podemos saber como as crianças vêem o mundo oportunidades para que possam agir
e como gostariam que fosse, expressando a
forma como pensam, organizam e entendem naturalmente e com isso adquirir aprendizado
esse mundo. Isso acontece porque, quando de acordo com suas experiências e
brinca, a criança cria uma situação imaginária necessidades criativas.
que surge a partir do conhecimento que possui
do mundo em que os adultos agem e no qual
A grande flexibilidade do pensamento da
precisa aprender a viver. (FANTIN, 2000, p. 53) criança e seu constante desejo de exploração
requerem a organização de contextos propícios
Se tratando do brincar, algo inerente ao de aprendizagem. A criatividade emerge das
ser humano, tão natural que até os bebês já múltiplas experiências infantis, visto que ela não
é um dom, mas se desenvolve naturalmente se
nascem sabendo, é importante considerar a criança tiver liberdade para explorar situações
sua contribuição para o desenvolvimento do com parceiros diversos. (OLIVEIRA, 2002, p. 33)
indivíduo.
A educação não pode continuar
Na infância, ele assume papel de destaque, reprodutora, tem de ser transformadora,
uma vez que permeia todas as relações da necessita criar outros compromissos
criança com o mundo. Estudos sobre o pessoais e sociais, outro jogo na relação dos
assunto revelam, ainda, que crianças que pais e professores para com as crianças e os
brincam tornam-se adultas mais ajustadas e jovens.
preparadas para a vida.
Assim, a brincadeira é cada vez mais entendida
como atividade que, além de promover o
As brincadeiras não são apenas uma forma desenvolvimento global das crianças, incentiva a
de divertimento, como recurso lúdico para interação entre os pares, a resolução construtiva
o desenvolvimento infantil, são meios que de conflitos, a formação de um cidadão crítico e
reflexivo (VYGOTSKY, 1987, p. 47).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Diante da importância que a educação exerce na sociedade, um dos grandes desafios


do professor é desvelar com pertinência, como seus alunos aprenderão aquilo que será
proposto em suas aulas.

Não basta apenas definir estratégias, aderir métodos é preciso comprometer-se em


desenvolver com competência as capacidades cognitivas, motoras, afetivas, de relação
interpessoal e de inserção social dos alunos.

Em relação ao aprendizado: gostaríamos que as crianças fossem alertas, curiosas, criticas e confiantes na
sua capacidade de imaginar coisas e dizer o que realmente pensam. Gostaríamos também que elas tivessem
iniciativa, elaborassem idéias, perguntas e problemas interessantes e relacionassem as coisas umas às outras.
(KAMII, 1991, p. 15.)

Segundo o Referencial Curricular Para a Educação Infantil (1998, vol 1, p. 28): “como
um meio de poder observar e constituir uma visão dos processos de desenvolvimento das
crianças em conjunto e de cada uma em particular, registrando suas capacidades de uso das
linguagens, assim como suas capacidades sociais e dos recursos afetivos e emocionais que
dispõe”.

“A educação infantil tem uma identidade que precisa considerar a criança como um sujeito de direitos,
oferecendo-lhe condições materiais, pedagógicas, culturais e de saúde para isso, de forma complementar à
ação da família”. (ROCHA, 2001, p. 69)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A brincadeira é um importante mecanismo para a
aprendizagem da criança, por meio da interação entre
crianças e brincadeiras ocorre troca de experiências e,
consequentemente, desenvolvimento das habilidades e
competências responsáveis pelo amadurecimento físico,
emocional e intelectual do indivíduo.

A criança adquire experiência brincando, a brincadeira é


uma parcela importante da sua vida, é por meio dela a criança
descobre o mundo à sua volta, e dessa forma se sente mais RENILDE SANTOS
segura para fazer novas amizades e para se comunicar com o DOS PASSOS
mundo dos adultos.
Graduação em Pedagogia pela
Faculdade Centro Universitário
Brincar funciona como um cenário no qual as crianças Hermínio Ometto (2008);
tornam-se capazes não só de imitar a vida como também Professora de Ensino Fundamental
I – Pedagoga - na EMEF Deputado
de transformá-la. A brincadeira é tão importante para o Caio Sergio Pompeu de Toledo;
desenvolvimento humano que até mesmo quando ocorrem às Professora de Educação Infantil
brigas elas contribuem para o crescimento e a aprendizagem. – Pedagoga - no CEI Zacarias
Mauro Faccio Gonçalves.
Uma vez que a criança irá negociar perspectivas, tentar
convencer seu adversário, tentar conquistar os coleguinhas
criando estratégias de convencê-los para unir-se a ela, às vezes cede, abre mão de algo ou
luta e defende um ponto de vista, com isso a criança aprende resolver situações que surgem
em sua vida.

Nessa perspectiva, idealizar um ambiente promissor, no qual a criança tenha a oportunidade


de atuar em conjunto com seu objetivo de estudo, requer dos profissionais dedicados a
transmissão do conhecimento, sensibilidade para compreender as reais necessidades básicas
para permitir o contínuo processo natural do desenvolvimento na fase infantil.

Portanto, o brincar se configura como atividade social e cultural da criança e é ação


que condiciona o infantil ao mundo real por meio de uma experimentação antecipada
dos fatos cotidianos. É uma fase fundamental no desenvolvimento cognitivo da criança e
precisa oferecer-lhe oportunidades de agir com liberdade, propiciando o desenvolvimento
global e harmônico da mesma, o desenvolvimento das suas capacidades física, emocional,
intelectual e social, favorecendo sua interação com a escrita, por intermédio de um ambiente
alfabetizador e cultural.

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Na educação infantil a ludicidade é uma grande aliada para o amadurecimento intelectual


do aluno, durante as brincadeiras ocorre uma entrega natural da criança e por meio do
recurso das atividades lúdicas o desenvolvimento transcende de forma integrada, em todos
os eixos de crescimento do indivíduo.

Platão, em suas reflexões, considera a ludicidade como caráter instrumental, ou seja,


constitui a base provedora das oportunidades voltadas para o ensino das crianças em fase
de aquisição de novas competências que lhes servirão para a compreensão da moral na fase
adulta. Muitos outros autores defendem a devida prática como função de orientar e propiciar
novas oportunidades para o desenvolvimento infantil, portanto, cabe resguardar os valores
obtidos e integrados nos jogos e brincadeiras para a construção do conhecimento.

Conclui-se ao termino do presente artigo haver coerência a respeito do lúdico e sua


contribuição para o processo de desenvolvimento do indivíduo, portanto, caberá aos
educadores estabelecer uma linha tênue entre a educação e as brincadeiras de modo que
uma possa complementar a outra, transformando a criança em um sujeito ativo do processo
de apropriação do conhecimento.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Abril 2019

A PSICOPEDAGOGIA PRESENTE
NO ENSINO FUNDAMENTAL I
RESUMO: O presente trabalho foi elaborado com o objetivo de trazer ao leitor uma visão
da importância da psicopedagogia no Ensino Fundamental I. A existência de um profissional
preparado para prevenir, diagnosticar e tratar dos problemas de aprendizagem escolar. O
conhecimento de uma metodologia específica de trabalho do profissional que tem a seu cargo
a condução de atividades didáticas. A questão torna-se significante, uma vez que relaciona
o contexto em que se desenvolve a ação pedagógica, a família, a escola e a comunidade.
Uma visão de que a psicopedagogia como complemento é uma ciência nova que estuda o
processo de aprendizagem e suas dificuldades contribuindo para explicar a causa destas
dificuldades de aprendizagem, tendo como objetivo central de estudo o processo humano
do conhecimento. A necessidade deste conhecimento profissional de uma forma ampla, nos
campos didático, psicológico e psicopedagógico para garantir uma contínua qualidade do
ensino, a formação do cidadão e do futuro professor do qual, em última análise, dependerá
a evolução do processo didático no Brasil.

Palavras-Chave: Psicopedagogia; Formação; Educação; Escola.

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INTRODUÇÃO A IMPORTÂNCIA DO
CONHECIMENTO
A psicopedagogia é uma área de estudos
recente no nosso tempo, que resultou De acordo com Bossa (2000), a
da união dos conhecimentos não só da psicopedagogia se ocupa da aprendizagem
psicologia e da pedagogia, mas também de humana, que adveio de uma demanda sobre
diversas outras áreas como fonoaudiologia, o problema de aprendizagem. Como se
medicina e psicanálise. Historicamente preocupa com este problema, deve ocupar-se
a psicopedagogia tem-se ligado mais a inicialmente do processo de aprendizagem,
educação do que a outras áreas. estudando assim as características da mesma.

A especificidade da psicopedagogia para É necessário comentar que a psicopedagogia
a educação, aliado a sua característica é comumente conhecida como aquela
interdisciplinar são os motivadores deste que atende crianças com dificuldades de
artigo de compilação. A necessidade deste aprendizagem. É notório o fato de que as
conhecimento específico para o ensino e a dificuldades, distúrbios ou patologias podem
aplicação de uma metodologia que possibilite aparecer em qualquer momento da vida e,
a obtenção de resultados mais positivos para portanto, a psicopedagogia não faz distinção
a aprendizagem são os objetivos a serem de idade ou sexo para o atendimento.
destacados.
O conhecimento é envolvente e abrange
Por meio de uma análise documental transtornos de aprendizagens aos quais os
bibliográfica entre autores de destaque, alunos vêm enfrentando e nas adversidades
procura-se mostrar, sequencialmente, que os professores encontram para lidar
a importância deste conhecimento e da com estes transtornos, sobretudo quando se
atuação do profissional neste processo; a deparam com alunos indisciplinados e sem
identificação de determinados problemas controle. Por essa razão a formação destes
que afetam a aprendizagem e; sem esgotar educadores deveria ser multidisciplinar,
o assunto, oferece a possibilidade de assentada em diversas ciências, abrangendo
acompanhamento dos problemas quer pelas a psicopedagogia.
habilidades do educador, pela observação
constante dos alunos ou pela existência de A psicopedagogia enfrenta um dos
material adequado. maiores desafios de nossa época, ou seja,
o lidar com o aprender do ser humano
O presente artigo também possibilita, num cenário em que o homem se debate
àqueles que já possuem uma bagagem inicial entre o real e o virtual, submerso cada dia
sobre o assunto e aos interessados sobre o mais em informações complexas. A busca
tema, o prosseguimento de suas pesquisas. de uma resposta demanda, em primeiro

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Revista Educar FCE - Abril 2019

lugar, a definição precisa de seu objeto de pedagógicas, psicológica, fonoaudiológica,


estudos e especificidade, como quadro neuropsicológica e psicolinguística para uma
referencial de delimitação dessa área. Isto compreensão mais integradora do fenômeno
requer aprofundamento de estudos, de da aprendizagem humana.
pesquisas e análise crítica das mesmas,
condição indispensável para discussão sobre Ressalta-se então, como objetivo, conhecer
a formação de profissionais. o foco de atenção do psicopedagogo e a sua
relação com os alunos diante das tarefas,
A aprendizagem deve ser olhada como a considerando resistências, bloqueios,
atividade de indivíduos ou grupos humanos, lapsos, hesitações, repetição, sentimentos
que mediante a incorporação de informações de angústias e, posteriormente, investigar
e o desenvolvimento de experiências, e analisar a importância da escola e dos
promovem modificações estáveis na professores diante dos problemas de
personalidade e na dinâmica grupal as aprendizagem.
quais revertem no manejo instrumental da
realidade. A psicopedagogia busca compreender e
solucionar os problemas de aprendizagem,
Para o psicopedagogo, aprender é um processo tendo em sua configuração institucional a
que implica pôr em ações diferentes sistemas
que intervêm em todo o sujeito: a rede de atribuição de pensar e refazer o trabalho
relações e códigos culturais e de linguagem que, no cotidiano da escola. O conhecimento de
desde antes do nascimento, têm lugar em cada uma formação psicopedagógica constitui-se
ser humano na medida em que ele se incorpora
para todo professor em uma oportunidade
a sociedade. (BOSSA, 1994, p. 51).
para entender o sujeito em suas múltiplas
O objeto central de estudo da dimensões e refazer suas concepções e
psicopedagogia está estruturado no atitudes perante o processo de ensino-
processo de aprendizagem humana: seus aprendizagem.
padrões evolutivos normais e patológicos e a
influência do meio (família, escola, sociedade) Do mesmo modo, fornece ao professor a
em seu desenvolvimento. instrumentalização necessária para atender
as demandas da escola no que concerne aos
alunos com dificuldades de aprendizagem,
A ATUAÇÃO DA foco principal do estudo e conhecimento da
PSICOPEDAGOGIA psicopedagogia.

Kiguel (1983) afirma que a psicopedagogia De acordo com o parecer do Conselho
encontra-se em fase de organização Nacional de Educação (CNE/CP 28/2001),
de um corpo teórico específico, cabe a cada curso de licenciatura, dentro das
destinado à integração das ciências diretrizes gerais e específicas pertinentes,

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dar a forma e a estrutura de duração, Desta forma, a Associação Brasileira de


da carga horária, das horas, das demais Psicopedagogia reconhece a importância
atividades selecionadas, além da prática de uma formação continuada para o
como componente curricular e do estágio. desempenho profissional do professor de
Cabe ao projeto pedagógico, em sua proposta Ensino Fundamental I e, portanto promove
curricular, explicitar a respectiva composição cursos e eventos na área, além de enfocar a
dos componentes curriculares das atividades participação dos psicopedagogos formados
práticas e científico-acadêmicas. em grupos de estudo e a busca sistemática
de supervisão com psicopedagogos e/ou
Visando dar conhecimento básico ao com outros profissionais que apresentem
professor o projeto pedagógico de um curso domínio da ação em questão.
deverá ser organizado tendo como referência
um repertório de informações e habilidades Parcialmente pode-se concluir que a
composto pela pluralidade de conhecimentos necessidade de formação técnica específica,
teóricos e práticos abordando, entre outros, neste caso, do psicopedagogo, deve ser
os seguintes eixos temáticos: efetivada, permitindo assim, que esta possa
- A especificidade da psicopedagogia e sua minimizar o fracasso escolar porventura
contextualização histórica; existente.
- ética no trabalho, metodologia científica
e bases epistemológicas da psicopedagogia;
- sociologia: a cultura, a sociedade e a PROBLEMAS PARA
ideologia do pensamento atual; A APRENDIZAGEM
- desenvolvimento sócio-afetivo:
implicações na aprendizagem; O profissional de ensino com o
- desenvolvimento cognitivo: aquisição de conhecimento da psicopedagogia deve atuar
conhecimento e habilidades; como mediador, intervindo entre o indivíduo
- desenvolvimento psicomotor: e suas dificuldades de aprendizagem, deve
implicações na aprendizagem; conhecer os problemas e interpretá-lo para
- aquisição e desenvolvimento da leitura e então intervir da maneira mais correta.
da escrita; Dessa forma, o profissional possibilita ao
- processos de pensamento lógico- indivíduo o retorno ao percurso normal da
matemático; aprendizagem, estabelecendo um vínculo
- aprendizagem e contextos sociais: positivo com o mesmo e com seus familiares,
família, escola e comunidade; objetivando resgatar o prazer de aprender.
- avaliação psicopedagógica da
aprendizagem individual e grupal; e Destaca-se que o período do Ensino
- intervenção psicopedagógica, no Fundamental I é de importância capital
contexto da aprendizagem. na identificação e tratamento dos mais

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Revista Educar FCE - Abril 2019

diversos problemas que possam influenciar - Dislalia, é a dificuldade na emissão da


a aprendizagem da criança. Este período fala, apresenta pronúncia inadequada das
é caracterizado pelas maiores aquisições palavras, com trocas de fonemas e sons
de conhecimento e prática didática, um errados, tornando-as confusas. Manifesta-se
acréscimo considerável na socialização do mais em pessoas com problemas no palato,
indivíduo com o ambiente escolar e, portanto, flacidez na língua ou lábio leporino.
a identificação de possíveis dificuldades
na aprendizagem precisam ser detectadas - Disortografia, é a dificuldade na linguagem
para que se possa iniciar, tão cedo quanto escrita e também pode aparecer como
possível, um tratamento adequado. consequência da dislexia. Suas principais
características são: troca de grafemas,
São elencados e descritos abaixo, alguns desmotivação para escrever, aglutinação
os problemas mais comumente enfrentados ou separação indevida das palavras, falta
pelos docentes: de percepção e compreensão dos sinais de
pontuação e acentuação.
- Dislexia, é a dificuldade que aparece na
leitura, impedindo o aluno de ser fluente, - Transtornos de Déficit de Atenção (TDA)
uma vez que faz trocas ou omissões de letras, e Hiperatividade, são problemas de ordem
inverte sílabas, apresenta leitura lenta, dá neurológica, que trazem consigo sinais
pulos de linhas ao ler um texto, etc. evidentes de inquietude, desatenção, falta
de concentração e impulsividade.
- Disgrafia, normalmente vem associada
à dislexia, porque se o aluno faz trocas e Hoje em dia é muito comum vermos
inversões de letras, consequentemente crianças e adolescentes sendo rotulados
encontra dificuldade na escrita. Além disso, como portadores de DDA (Distúrbio de
está associada a letras mal traçadas e ilegíveis, Déficit de Atenção), porque apresentam
letras muito próximas e desorganização ao alguma agitação, nervosismo e inquietação,
produzir um texto. fatores que podem advir de causas
emocionais e não as originais neurológicas.
- Discalculia, é a dificuldade para
cálculos e números, de um modo geral os Observa-se, que estas dificuldades para a
portadores não identificam os sinais das aprendizagem podem ter origem tanto por
quatro operações e não sabem usá-los, não disfunções fisiológicas quanto por problemas
entendem enunciados de problemas, não psicológicos associados, entre outros, à
conseguem quantificar ou fazer comparações, alimentação na infância, aos maus tratos
não entendem sequências lógicas. na primeira infância, ao uso de drogas por
parte dos pais, que aliados ao desinteresse
governamental são fatores desencadeantes

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Revista Educar FCE - Abril 2019

e mantenedores das diferentes dificuldades Deste modo, fica evidente que as relações
para o ensino em nosso país. interpessoais representam os ingredientes
essenciais para uma convivência harmoniosa
e saudável, uma vez que o aprender na
O ACOMPANHAMENTO escola envolve vários fatores, dentre eles os
DO PROFISSIONAL aspectos afetivos que influenciam tanto no
desempenho escolar, como na personalidade
Falar da relação professor x aluno implica, do sujeito que aprende. É imprescindível que o
inicialmente, relatar algumas considerações psicopedagogo/professor possa compreender
acerca das concepções de ensino- todo o corpo da estrutura organizacional da
aprendizagem visto que tal processo de escola, sem esquecer o meio em que vive o
ensinar e de aprender não ocorre de forma aluno e sua fase de desenvolvimento.
isolada, ou seja, fora de um contexto sócio-
histórico. Nestas circunstâncias, cabe refletir O material com o qual o profissional deverá
sobre como se dá a prática psicopedagógica, trabalhar deve estar, no mínimo, adequado
ou seja, como se dá a atuação do aos alunos. A elaboração de pesquisas quanto
psicopedagogo/professor segundo uma ao que se pode empregar durante uma
abordagem construtivista na qual o aluno atividade recreativa, lúdica, física e outras,
é considerado como sujeito ativo de sua são significativas e devem ser levadas adiante
própria aprendizagem. de modo que a instituição possa adquirir ou
adaptar os instrumentos necessários.
Convém destacar que a relação
psicopedagogo/professor, aluno e Considerando que o ensino, capaz de
conhecimento se dá por meio da interação formar outros profissionais, não está ao
destes três elementos no processo de alcance de muitos brasileiros, o professor tem
reeducação, sem esquecer sua história de o dever de dedicar-se no preparo daqueles
vida e seu meio sociocultural. Para que esta que vão lhe substituir, sob pena de ter-se
relação seja fecunda é essencial a presença plantado uma semente que não frutifique ou
das seguintes características: diálogo, que seus frutos, os alunos, não sejam de boa
participação, colaboração, respeito mútuo qualidade.
e, sobretudo, afetividade. Com base nessa
afirmação, é possível concordar com o Pelo que se pode constatar, não se
argumento de que “o aprender a viver juntos pensa no profissional ligado às atividades
representa, hoje em dia, um dos maiores didáticas, ou mesmo psicopedagógicas, sem
desafios da educação”. (KULLOK, 2002, o necessário preparo e desenvoltura em uma
p.18). sala de aula e sem associá-lo ao aluno como
elemento motivador, incentivador, formador
de personalidade e caráter.

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Existe a crescente necessidade do conhecimento dos problemas possíveis de ocorrer com


o aluno e a identificação destes com antecedência facilitariam o encaminhamento do aluno
a um especialista psicopedagógico ou não.

Os alunos mais bem orientados têm condições de apresentar uma melhora significativa
por poder conhecer seus problemas e como resolvê-los. O despreparo do professor, na
condução de suas atividades, pode acarretar um desvio irrecuperável na formação básica
necessária ao aluno para poder agregar conhecimentos e progredir em sua ascensão.

Problemas de organização como falta de material didático adequado ou superlotação


das salas de aula obrigam muitas vezes o professor a manter um acompanhamento não
personalizado sobre o aluno. As constantes avaliações requeridas pelo atual sistema de
ensino tornam alunos e mestres obcecados pela conquista ou apresentação de resultados
de uma eficiência que nem sempre é realidade e perde-se na qualidade do ensino. O ideal
seria um acompanhamento individualizado, ao mínimo no conhecimento dos problemas dos
seus alunos. A importância do educador é maior ou mais sentida quanto menor for o aluno,
ou seja, quanto maior for sua dependência afetiva, como ocorre nos primeiros anos de escola
(Ensino Fundamental I).

As habilidades do professor em operar as melhores técnicas de ensino tornam os alunos


mais detalhistas e questionadores. Uma das principais atribuições do professor é aproveitar
as lacunas, isto é, ocupar os espaços vazios deixados pelo aluno, fazer-se presente em todas
as tomadas de decisão, porém, aconselhando-o e orientando-o, deixando que o mesmo erre
e acerte sozinho.

O professor consciente deve estabelecer limites a serem atingidos pelos alunos, criar
situações problema para que a criatividade possa surgir, ouvir as propostas dos alunos para
a resolução de problemas e apreciar os acertos e erros para enriquecimento do aprendizado.

Para tal, a formação psicopedagógica, apresentando um caráter interdisciplinar, apresenta-


se como uma solução minimizadora das deficiências do professor.

A atuação do psicopedagogo se dá também, na escola inclusiva, sobretudo utilizando-
se das Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) por um entendimento básico: a diferença
entre uma Sala de Recursos e uma Sala de Recursos Multifuncionais que se dá em relação
ao aluno, à estrutura da sala e formação do professor. Este é o princípio para o estudo, a
análise e o entendimento das Salas de Recursos Multifuncionais, antigas Salas de Apoio ao
Aluno de Inclusão (SAAI).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dificuldade de aprendizagem é um problema que está
presente em todo o meio educacional e quando as dificuldades
não são identificadas, acaba se tornando um peso para
muitas crianças e adolescentes. Quando a dificuldade não
é diagnosticada a criança é taxada de preguiçosa e outros
adjetivos negativos. “A criança que se esforça, mas não
consegue obter êxito escolar é frequentemente rotulada
de “lenta, preguiçosa e burra”. Isto pode lhe causar danos”.
(GUERRA, 2002, p.15).
RITA MARIA SILVA TURA
Por vezes a deficiência do educador é fruto de uma
formação mal direcionada para a aplicação prática dos
Graduada em Letras (Português-
conhecimentos. Normalmente, a figura do educador, por Inglês) pela FMU (1987) e
estar à frente de seus alunos, é relacionada com o sucesso ou Pedagogia pela UNINOVE (2016);
insucesso deste aluno na escola. Este insucesso não deve ser Especialista em Supervisão Escolar
pela UFRJ-CEP (1998); Professora
considerado apenas como reprovação, mas também como do Ensino Fundamental II e Médio
motivo de abandono escolar, dificuldades da aprendizagem, - Língua Inglesa - na EMEF Cel.
problemas de adaptação e sociabilização entre outros. ROMÃO GOMES.

Sendo assim, cabe a reflexão sobre de que forma o
insucesso escolar deve ser visto pelos professores, pela escola, pela família e, em especial,
pelo psicopedagogo, como obstáculo a ser superado, uma vez que, quando o aluno fracassa
nos estudos estará caracterizado que todos, também, fracassaram na atribuição de educá-lo.

Com este objetivo, todos devem agir de forma consciente lembrando-se que é
responsabilidade de todos darem estímulos e motivação para que o aluno possa manifestar
seu desejo de aprender ao longo de sua trajetória escolar.

Saber lidar com o diferente; estruturar o sujeito, não é uma tarefa fácil, mas o psicopedagogo
deve ter sempre este compromisso social. E tomando-se por base as reflexões envolvidas no
processo de intervenção, contribuir para o esclarecimento destes déficits na aprendizagem,
que não tem como causa apenas deficiências do aluno, mas que são consequência de
problemas tanto na instituição escolar, quanto na família e outros membros da comunidade,
que interferem no processo. É importante que se tenha em mente, que o trabalho do
psicopedagogo se dá numa situação entre pessoas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O objetivo deste profissional é o de conduzir a criança ou adolescente, ou a própria


instituição a se reinserir no contexto correto do processo de ensino-aprendizagem.
Dificuldades sempre vão existir, mas só que agora há uma diferença, tem-se um olhar clínico
e mais amplo voltados para eles.

O olhar de um profissional que deve ser mais requisitado, e que não deixa de ser, de grande
relevância no âmbito escolar, enfim, o aluno não é uma folha em branco, mas um ser que já
vem com experiências e conhecimentos que podem ser acrescidos com as informações de
outros alunos.

Não cabe somente ao professor ficar na sala de aula, à frente, em um patamar maior,
como se fosse o detentor de todo o saber, mas como um mediador e facilitador de uma
aprendizagem que favoreça a todos, e ser, em especial, um observador para saber identificar
aqueles que precisam de mais atenção.

Um verdadeiro docente é o que se entrega a profissão, com amor e dedicação para que
a educação possa se transformar e ser vista como algo positivo e saudável para as crianças.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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KULLOK, M. G. B. Relação professor-aluno; Contribuição prática. Maceió: EDUFAL, 2002.

SCOZ, J. L. Psicopedagogia: contextualização, formação e atuação profissional. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1992.

VYGOTSKY, L. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: USP, 1988.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO INFANTIL E AS
PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM
EM ARTE E EDUCAÇÃO
RESUMO: Este estudo trata do tema Arte e Educação e das Práticas de Aprendizagem na
Educação Infantil. Para atingir ao pressuposto nesta pesquisa apresentamos os principais
conceitos relativos ao Ensino de Arte na Escola de Educação Infantil e como tais práticas se
tornam significativas na infância. Os conteúdos trabalhados e a maneira como se desenvolvem
as atividades são fundamentais para a aprendizagem da criança pequena e neste sentido as
práticas devem ser pensadas para atingir este objetivo. O trabalho com as Artes Visuais deve
respeitar as particularidades das crianças e o seu nível de desenvolvimento, favorecendo o
processo de criação e produção das mesmas. O educador deve intervir proporcionando o
contato com diferentes objetos agindo de forma intencional com o intuito de enriquecer
a ação desenvolvida pela criança. O educador é o responsável por conduzir o processo
educativo dando significado aquilo que a criança aprende, a simples inclusão do ensino
de Arte no currículo escolar, não é suficiente para a garantia de aprendizado, a Arte deve
estar integrada as demais áreas do conhecimento e tornar possível que a criança aprenda e
compreenda o seu conteúdo de forma relevante e significativa.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Arte e Educação; Aprendizagem; Ensino de Artes.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO A dança possui alguns conceitos que


podem ser trabalhados e o professor não pode
Esta pesquisa tem por objetivo principal limitar-se a mera reprodução estereotipada
abordar os principais conceitos sobre o Ensino de movimentos. Mesmo sem a formação
de Artes na Escola de Educação Infantil e especifica em dança, o professor pode
como objetivos específicos apresentar as promover e desenvolver atividades em que
principais práticas de aprendizagem em Artes as crianças possam explorar os movimentos
que podem ser desenvolvidas na escola e os e o corpo utilizando a música e a dança.
principais elementos que contribuem para
uma aprendizagem significativa em Artes na O educador deve conduzir o processo
escola. educativo dando significado aquilo que a
criança aprende, incluir a Arte no currículo
Este estudo está dividido em dois escolar, não é suficiente para a garantia de
capítulos, no primeiro capítulo aborda-se o aprendizado, a Arte deve estar integrada
tema Arte, Aprendizagem e Educação Infantil as demais áreas do conhecimento e tornar
e no segundo capítulo, o tema Contextos de possível que a criança aprenda e compreenda
Aprendizagem em Artes na Escola. Neste o seu conteúdo de forma relevante e
sentido, procura-se abordar as definições e significativa.
conceitos sobre o tema e as suas práticas na
escola atual.
ARTE, APRENDIZAGEM E
O trabalho com as Artes Visuais deve EDUCAÇÃO INFANTIL
respeitar as peculiaridades das crianças e o
seu nível de desenvolvimento, favorecendo o A finalidade da educação para a
processo de criação das mesmas. O educador infância tem por objetivo proporcionar
deve intervir proporcionando o contato o desenvolvimento integral da criança
com diferentes objetos agindo de forma nos mais diferentes aspectos, dentre eles
intencional com o intuito de enriquecer a destacamos, desenvolvimento intelectual,
ação desenvolvida pela criança. físico, social e afetivo. A escola é responsável
por complementar os aprendizados que a
O professor pode aproveitar situações em criança já possui quando chega na escola.
que há um maior interesse das crianças para Na escola ocorrem as interações necessárias
transformá-los em improvisos musicais, na para que a criança se desenvolva e aprenda
forma de jogos, que estimulam a memória com seus pares, tornando a aprendizagem
auditiva e musical, as crianças podem criar significativa.
pequenas canções e trabalhar com rimas
utilizando os elementos do dia a dia em sala Segundo Barbosa (2003) na década de 30
de aula. surgem as tentativas pioneiras em instituir

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Revista Educar FCE - Abril 2019

escolas especializadas para o ensino de arte para adolescentes e para crianças, surgindo
assim, o ensino de Artes como atividade extracurricular. Na Escola Brasileira de Arte de
Theodoro Braga, localizada em São Paulo, as crianças estudavam desenho, música e pintura,
a faixa etária das crianças atendidas era de 08 a 14 anos e o ensino era gratuito, apresentando
como orientação temas sobre a fauna e a flora brasileira.

Ainda com base na autora uma orientação baseada na espontaneidade e expressão livre
da criança surge com Anita Malfatti, na mesma época. A valorização da expressão infantil
em artes passa a ser sinalizada com a semana da Arte Moderna em 1922 onde os modelos
de educação técnica voltados para o trabalho com desenho clássico e geométrico são
contestados.

Mário de Andrade em seu curso de filosofia e história da arte na Universidade do Distrito


Federal contribuiu para que as produções das crianças fossem vistas com novos critérios
sob a ótica da filosofia e da arte e em seus artigos de jornal contribuiu para a valorização das
atividades artísticas da criança como linguagem.

A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção


estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana:
o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas
artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas,
pela natureza e nas diferentes culturas. (BRASIL, 1997, p.19)

O educador deve compreender o desenho da criança como um processo de criação e


como uma forma de linguagem, deve deixar a criança livre para criar e representar aquilo
que deseja, as marcas deixadas pelas crianças são únicas e valorosas quando pensamos no
verdadeiro sentido de criação e arte.

Quando a criança começa a desenhar ela trabalha sobre a hipótese de que o desenho
serve para imprimir tudo o que ela sabe sobre o mundo, expressando suas percepções e
sentimentos, observando diferentes objetos simbólicos e as imagens que cria. Na fase de
simbolização, a criança vai incorporando as regularidades e os códigos que representam as
imagens que a cercam e aprende a considerar que o desenho serve para imprimir aquilo que
ela vê.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Com base no RCNEI (1998) o trabalho com música nas práticas da Educação Infantil
auxiliam no desenvolvimento dos bebês e crianças e tais práticas vão iniciando o processo
de ambientação musical. Desde muito pequenas, as crianças convivem em ambientes nos
quais a música é parte do contexto, os adultos cantam, realizam brincadeiras com músicas,
histórias, rimas, etc., e nessas interações as crianças vão se familiarizando com este contexto
de aprendizagem musical permitindo que desde pequenos utilizem a música como uma
forma de comunicação.

Artes visuais, como um conjunto de manifestações artísticas, compreendem todo o campo


de linguagem e pensamento sobre olhar e sentido do ser humano. As Artes que normalmente
lidam com a visão como seu meio principal de apreciação costumam ser chamadas de Artes
Visuais. Porém as artes visuais não devem ficar restringidas apenas ao visual, pois, através
dessas manifestações artísticas (desenho, pintura, modelagem, recorte colagem entre
outros), há vários significados que o artista deseja passar. (SILVA, 2010. p. 97)

As crianças menores podem ter contato com a prática musical por meio das brincadeiras
e atividades lúdicas que desenvolvem a percepção, um exemplo deste tipo de atividade
e quando o professor canta para os bebês e a criança passa a imitar alguns sons e ruídos.
As canções de ninar, os brinquedos sonoros e as brincadeiras com sons e palmas também
contribuir para repertoriar a música na educação infantil, favorecendo a interação, por meio
da criação, dos gestos, da imitação e das expressões corporais.

As necessidades de contato corporal são importantes no momento do fazer musical, o


brincar, o dançar e o cantar com as crianças devem estimulá-las e levar em consideração tais
aspectos. As letras das músicas trabalhadas com as crianças menores devem ser mais fáceis,
com menos palavras, permitindo que as crianças se apropriem de forma mais tranquila não

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comprometendo a realização musical. Os atividade que deve ser trabalhada com as


gestos também não devem ser excessivos crianças resgatando a música tradicional e
para que as crianças não parem de cantar aproximando as crianças dos valores de sua
para tentar realizá-los. cultura.

Os conteúdos a serem organizados para As atividades que visam a linguagem


o trabalho com o movimento na educação musical devem ocorrer com frequência por
infantil devem respeitar as diferentes meio de jogos, interpretação e composições,
capacidades das crianças em suas faixas além destas atividades a construção de
etárias, além das diferentes culturas corporais instrumentos musicais pelas próprias crianças
presentes em cada região. O ambiente vivido proporciona a elas vivências relacionadas a
no dia a dia das crianças nas instituições de produção de sons, a exploração de materiais
educação infantil deve propiciar um diálogo diversos e o fazer música no momento em
com as diferentes linguagens, promovendo que os instrumentos são confeccionados e
novas experiências e aproximando as manuseados pelas crianças.
crianças de suas possibilidades de criação,
podemos citar como exemplo: a educação
física, as artes plásticas, a dança, a música, o CONTEXTOS DE
teatro, a poesia e a literatura. APRENDIZAGEM EM ARTES
Tão importante quanto ouvir a música é NA ESCOLA
a movimentação corporal já que as crianças Para o trabalho com a criança pequena
se expressam de uma maneira global. O todos os instrumentos musicais podem
repertório musical utilizado deve ser variado ser utilizados sendo importante valorizar
não apenas utilizando reproduções de aqueles presentes nas diferentes regiões e
músicas infantis veiculadas na mídia que aqueles construídos pelas próprias crianças.
em sua maioria apresentam contextos e As formas de utilização dos diferentes
movimentos estereotipados, é necessário instrumentos variando a força, intensidade
ampliar o repertório musical infantil, e os movimentos, propiciando as crianças
enriquecendo este universo com elementos novas experiências e diferentes percepções
diferentes que perpassem todos os gêneros dos sons produzidos.
e estilos musicais.
O movimento corporal e os gestos estão
As músicas instrumentais proporcionam estreitamente ligados ao trabalho com música.
à criança um contato musical diferenciado A música implica em gesto e em movimentos
abrindo possibilidades de novas formas e o corpo manifesta os diferentes sons que
de trabalho com a música. O resgate de vai percebendo. O professor pode aproveitar
músicas regionais se constitui em outra situações em que há um maior interesse das

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crianças para transformá-los em improvisos musicais, na forma de jogos, que estimulam


a memória auditiva e musical, as crianças podem criar pequenas canções e trabalhar com
rimas utilizando os elementos do dia a dia em sala de aula.

As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade
por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, além de volume,
espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados,
entalhes etc. O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a continuidade, a proximidade e a
semelhança são atributos da criação artística. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos,
estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo
às Artes Visuais. (BRASIL, 1998, p.85)

A dança na educação infantil é uma parte do trabalho que deve ser desenvolvido utilizando
a linguagem corporal, tornando-se significativo e respeitando a movimentação espontânea e
criativa da criança, sem uma mera reprodução de estereótipos.

Segundo Laban (1990) os movimentos na dança se manifestam na riqueza dos gestos e


nos passos utilizados no dia-a-dia: em qualquer ação o homem faz uso de movimentos leves
ou fortes, diretos ou flexíveis, lentos ou súbitos, controlados ou livres. A dança possui alguns
conceitos que podem ser trabalhados e o professor não pode limitar-se a mera reprodução
estereotipada de movimentos. Mesmo sem a formação especifica em dança, o professor
pode promover e desenvolver atividades em que as crianças possam explorar os movimentos
e o corpo utilizando a música e a dança.

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ao ensino de música no País, provando duas


A exposição das produções e dos trabalhos posturas opostas: a que adota um dos métodos
infantis permitem que a criança reconheça o acriticamente e de maneira descontextualizada
seu trabalho e a sua arte e contribuem para o descartando outras possibilidades, e a que ignora
seus procedimentos e investe em propostas
seu desenvolvimento artístico, colaborando pessoais, geralmente não acompanhadas de
para a autoestima das crianças e de seus reflexão, e baseadas em ensaio e erro que, em
familiares e para que ela desenvolva o prazer geral, privilegiam o ensino técnico instrumental
(leia-se treinamento dos olhos e das mãos) ou a
pela criação e pela arte. Poder observar o diversão, dentro do pressuposto de que a música
seu trabalho e permitir que outras pessoas é lazer (FONTERRADA, 2001, p. 122).
apreciem a sua produção é importante para
a criança e favoreça o seu crescimento Com a questão da avaliação em Artes
aumento a sua auto confiança. Visuais, segundo o RCNEI (1998), surge
inevitavelmente a discussão sobre a
Também é de fundamental importância possibilidade de realizá-la, posto que as
que o professor respeite os pontos de produções em artes são sempre expressões
vista de cada criança, estimulando e singulares do sujeito produtor e, desta
desenvolvendo suas leituras singulares e maneira, não seriam passíveis de julgamento.
produções individuais. Os momentos de
conversa e troca de experiências entre as Os conteúdos para o trabalho com música
crianças também são ricos momentos de na educação infantil com crianças menores,
aprendizagem e o prazer lúdico torna-se o devem abranger alguns conceitos, dentre
gerador do processo de produção. eles: a exploração de materiais e a escuta
de obras musicais para propiciar o contato
A linguagem musical possui uma estrutura e experiências com a linguagem musical; o
e algumas características próprias, entre som e o silêncio; a vivência da organização
elas temos a produção, que é centrada dos sons pelo fazer e pelo contato com
na experimentação e na imitação; a diferentes obras e a reflexão sobre a música
apreciação que trata da percepção tanto como produto cultural do ser humano.
dos sons e silêncios quanto das estruturas e
organizações musicais; e a reflexão que traz É importante instigar as crianças a
questões referentes à organização, criação, experimentar a dança sem preocupação
produtos e produtores musicais. com o certo ou o errado, as brincadeiras
devem estimular os improvisos das crianças
[...] mesmo nas escolas em que se investe em e aproveitar os espaços disponíveis para
aulas de musicalização, é comum que isso de
dê de maneira pouco consistente, ocorrendo, a realização de tais atividades, sem a mera
muitas vezes, mais como recreação do que como reprodução de sequencias passadas pelos
fonte de conhecimento, contando-se, é claro, professores.
com notáveis exceções. No entanto, é preciso
registrar que o esquecimento dos métodos
ativos de educação musical em muitos espaços
em que poderiam ocorrer vem sendo danoso

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De acordo com Andrade (2009) ensinar arte requer propostas desafiadoras que possam
despertar a imaginação da criança e permitir que ela explore as mais diferentes linguagens, a
linguagem corporal é uma das principais linguagens abordadas quando pensamos no ensino
de Arte e no movimento criativo na escola, tais práticas podem ser abordadas com o ensino
do Teatro, Dança e Música na escola. Os gestos corporais e os movimentos despertam
diferentes possibilidades de trabalho com o corpo na Educação Infantil.

Segundo o RCNEI (1998), a maneira como são organizados os materiais em sala de aula
e a qualidade destes materiais vão interferir diretamente na qualidade de aprendizagem e
na qualidade da “Arte” que se pretende desenvolver neste espaço educativo. As atividades
propostas devem ser planejadas considerando o espaço para a sua realização e execução
de maneira eficaz. O ambiente agradável e organizado favorece a aprendizagem e o
desenvolvimento das atividades.

Utilizando o movimento e o corpo, que são a base para um trabalho bem sucedido com
as crianças pequenas, os professores em conjunto com os demais profissionais é capaz de
introduzir a “dança” como “arte” proporcionando às crianças um desenvolvimento que vai
além da fala e da escrita.

As crianças menores podem ter contato com a prática musical por meio das brincadeiras
e atividades lúdicas que desenvolvem a percepção, um exemplo deste tipo de atividade
e quando o professor canta para os bebês e a criança passa a imitar alguns sons e ruídos.
As canções de ninar, os brinquedos sonoros e as brincadeiras com sons e palmas também
contribuir para repertoriar a música na educação infantil, favorecendo a interação, por meio
da criação, dos gestos, da imitação e das expressões corporais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formação dos professores que atuam nas séries iniciais e
na educação infantil ainda produz alguns equívocos de como
se trabalhar com este conteúdo, alguns profissionais não se
veem capazes de realizar determinadas atividades musicais,
justificando que é necessário ter certas aptidões para trabalhar
com música.

A educação em artes visuais requer trabalho e informação


sobre os conteúdos, as experiências, os materiais, técnicas,
etc., a escola tem um papel fundamental nesta aprendizagem RIZOLENE COUTINHO
promovendo acesso as mais variadas experiências, dando VALENÇA
ênfase a imaginação, a sensibilidade e o conhecimento. Os
Graduação em Pedagogia pelo
alunos devem ser convidados a transformar o conhecimento Centro Universitário Sant’Anna
em Arte, entendendo as diferentes relações e levantando (2012); Especialista em
hipóteses e possibilidades com os mais variados elementos e Alfabetização e Letramento pela
Faculdade Campos Salles (2017);
objetos. Professora de Educação Infantil
e Ensino Fundamental I – na
Aprender Arte deve considerar muito mais que uma mera Emei Coronel José Canavó Filho;
Professora de Educação Infantil –
atividade de diversão, o ensino de Artes engloba diferentes no CEI Maria José de Souza.
aprendizagens, que vão muito além de desenhar ou pintar,
descontextualizadas de aprendizado, outra prática equivocada é considerar o trabalho com
Artes como simples ilustrações de datas comemorativas ou temas específicos, sem levar em
consideração o processo criativo da criança, suas vontades e desejos.

O professor deverá garantir que a criança possa compreender a diversidade e variedade de


produções artísticas existentes, com o contato e manuseio de diferentes materiais, enriquecendo
o seu repertório, tais materiais podem ser livros de arte, revistas, visitas às exposições, contato
com artistas, filmes etc.; e garantir o uso de diferentes materiais pelas crianças, fazendo com
que estes sejam percebidos em sua diversidade, manipulados e transformados.

A exploração do ambiente ocorre com o movimento, desta maneira, é de extrema importância


que seja oferecido às crianças uma grande variedade de movimentos para que o seu corpo possa
experimentar diferentes ações e situações, aumentando gradativamente o conhecimento de
seu próprio corpo pela criança. A corporeidade da criança deve ser intensamente estimulada,
por meio da motricidade, experimentando, aprimorando e aperfeiçoando os seus movimentos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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Revista Educar FCE - Abril 2019

BULLYING: ASPECTOS TEÓRICOS


RESUMO: O presente artigo destina-se ao estudo bibliográfico do bullying lançando mão do
pensamento de alguns estudiosos sobre a temática. Além disso, a pesquisa busca sistematizar
a questão da violência no âmbito escolar, colocando a indisciplina como objeto de estudo,
estabelecendo a complexidade da mesma, no intuito de estabelecer um planejamento de
combate à prática de bullying. Busca-se com o trabalho abordar a origem e o signifcado
desse tipo de comportamento, afim de se compreender a problemática de forma mais
efetiva. Enfatizando a importância do norueguês Dan Olweus, o precursor dos estudos
diagnósticos do bullying, o trabalho faz um paralelo com o início da discussão do assunto no
Brasil e como tem sido encaminhado e tratado esse comportamento nas escolas brasileiras.
O trabalho traz alguns dados estatísticos sobre o assunto, afim de se traçar um panorama da
situação atualmente. Por fim, a pesquisa inclui em seu estudo diferentes projetos adotados
em escolas europeias e brasileiras, com intuito de demonstrar que, através de planejamento
e engajamento, atitudes simples transformam a realide escolar mundo a fora.

Palavras-Chave: Bullying. Violência. Escola. Estatística. Paz.

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INTRODUÇÃO aspectos: pessoal, acadêmico e profissional,


é o que justifica a presente pesquisa, pois
É de conhecimento notório que a violência segundo Ventura (2011, p. 15) “o bullying
é um fenômeno que se alastra nas diferentes é um fenômeno de grande relevância que
esferas da vida das pessoas. A todo instante ameaça o desenvolvimento saudável da
diversas manifestações de violência se infância e da juventude em todo o mundo”.
propagam, seja em casa, na escola, no
trabalho, no trânsito, e em diferentes níveis, A pesquisa apresentará ideias e reflexões
da falta de respeito à prática de crimes com o intuito de discutir e debater o assunto
hediondos. Vive-se em constante estado que, como será visto, ainda se trata de um
de alerta, de temor, de que algo aconteça problema que passa despercebido por pais
e traga algum tipo de malefício à vida das e educadores, por ser confundido com
pessoas. Esse constante estado de apreensão brincadeiras, indisciplina e atitudes escolares
gera uma situação de violência viciante. corriqueiras. Sobre isso Pereira (2009) afirma
As pessoas se incomodam com simples que:
olhares, com atitudes que pré-julgam serem
demonstrativas de uma violência iminente. este é um problema de difícil detecção, dada a
sua confusão com brincadeiras de mal gosto ou
próprias da idade” e salienta que “é imperioso
O ambiente escolar é um propagador que essa questão seja pesquisada e que estes
desse tipo de violência, não são raros os estudos auxiliem os profissionais da educação
a reconhecer os prováveis envolvidos, para que
casos de agressão iniciados por olhares sejam encontradas alternativas de minimização
não compreendidos, por esbarrões ou mesmo solução para o problema. (PEREIRA,
acidentais, situações inexplicadas que se 2009, p. 31).
perpetuam em violência gratuita por pura
necessidade de demonstração de poder. O objetivo precípuo da pesquisa é discutir
Essa relação entre poder e violência, como e refletir o bullying à luz da violência vivida no
será visto posteriormente, é um dos fatores ambiente escolar e o que é possível ser feito
determinantes do que se pretende discutir para diminuir esse tipo de comportamento.
nesse artigo, o bullying no ambiente escolar. Além de deixar claro que, muito embora seja
um problema vivido nas escolas, a família
Existem muitas formas do homem ser tem papel protagonista no combate dessa
violento, mas chama muito a atenção prática.
a capacidade dela, não só coexistir no
ambiente escolar, mas se manifestar tão cedo. A pesquisa fará um breve histórico sobre
Ainda em idade pré-escolar é facilmente o bullying, conceituando-o no tempo e
observável práticas de bullying. E sendo as no espaço, para então tratar do assunto
consequências do trauma causado a pessoa, propriamente dito. A partir daí será
vítima desse fenômeno, em diferentes discutida a situação desse fenômeno no

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Brasil, mostrando estatísticas da violência Sobre o exposto Mota e Santos (2016, p.3)
provocada por esse comportamento. afirmam que para entender o fenômeno da
violência nas escolas, devem-se considerar
Através de estudos e pesquisas fatores externos e internos ligados às
bibliográficas, o artigo trará uma discussão instituições de ensino. E que as escolas
sobre bullying e a indisciplina nas escolas, as reproduzem a violência vivida em sociedade,
correlações e implicações. Além disso, será o espaço que deveria ser de aprendizagem
discutido o papel da escola, da família e das e conhecimento, torna-se, cada vez mais,
mídias. a proliferação de atitudes violentas em
diferentes níveis.
E por fim, a pesquisa se concluí com ações
de intervenção com objetivo de reduzir o Onde nasce a violência escolar? A quem
bullying nas escolas. Serão mostrados casos de diga que as causas para a violência que
sucessos no combate à essa prática, assim como ocorre nas escolas venham da desmotivação
soluções, encontradas dentro e fora do Brasil, de alunos e professores, da ineficácia do
para a criação de uma consciência em toda sistema educacional, da falta de projetos
comunidade escolar do quão alarmantes são pedagógicos efetivos, das relações familiares
as consequências provocadas por quem sofre instáveis etc. A violência escolar pode
diariamente, vítimas de bullying nas escolas. também ser fruto da ausência de valores,
de limites, de regras de convivência, do
recebimento de punição através de violência
VIOLÊNCIA NO ou intimidação, levando à criança a resolver
ÂMBITO ESCOLAR seus problemas e dificuldades através de
violência, da reprodução da violência vivida
A violência é um fenômeno que se propaga no seio familiar.
na sociedade como um todo, um dos meios
de propagação letal desse fenômeno está a Mota e Santos assinalam que:
escola. Em maior ou menor grau, a violência
é fruto do cotidiano escolar e acompanha No espaço familiar quase não se impõe limites em
crianças e jovens. Com a liberdade de satisfazer
crianças e adolescentes interferindo em sua suas próprias vontades sem qualquer orientação
aprendizagem e comportamento. Contudo a de boa conduta, o público jovem acaba sendo
análise da violência escolar não pode ser feita espelho do próprio ambiente de origem, quase
sempre fazendo parte de uma rotina em que se
de maneira isolada, ela é parte de um grande desconhece que a educação começa em casa. A
processo, que vai além dos muros escolares, ausência do acompanhamento da família é um
abrangendo fatores que envolvem todo o fator agravante. (MOTA E SANTOS, 2016, p. 3).

contexto social. Assim como na sociedade,


as causas da violência no âmbito escolar são Muito embora haja legislação específica
múltiplas e complexas. para manutenção e garantia de direitos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

desses jovens, as crianças e adolescentes Diante de tantas possibilidades para a


são a parcela da sociedade que mais tem proliferação da violência no âmbito escolar
seus direitos violados, seja pela família, pelo o papel do professor é de suma importância.
Estado ou pela sociedade. E tal função torna-se prejudicada quando
o valor necessário a esse profissional,
Em seu artigo 18, o Estatuto da Criança responsável pela formação de pessoas, é tão
e do Adolescente (ECA), diz que é dever de deficitário.
todos velar pela dignidade da criança e do
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer Segundo Mota e Santos:
tratamento desumano, violento, aterrorizante,
vexatório ou constrangedor. Com o ECA, os Desmotivados com tal situação, os professores
também são vítimas da agressão de alunos,
procedimentos educacionais relacionados às chegando dessa forma, ao descontrole
medidas pedagógicas reeducativas previstas emocional. Sem qualquer orientação ou
no regimento escolar devem ser revistos, especialização pedagógica, muitos educadores
são submetidos a humilhações pelos alunos
observando o atendimento à integridade e à que, especificamente em escolas particulares,
dignidade da criança e do adolescente, assim são tratados como clientes, o que faz com que
como preceitua o artigo 222 da Constituição eles se sintam no direito de fazer o que bem
entender. (MOTA E SANTOS, 2016, p. 4).
Federal, "colocá-los a salvo de toda a forma
de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão".
BULLYING: DEFINIÇÃO
A mídia tem papel determinante no E ORIGEM
fenômeno da violência, como dito no início
da dissertação, a partir do momento em No contexto de diferentes formas de
que os meios de comunicação vendem a violência dentro das escolas, talvez o mais
violência de maneira gratuita, contribui para latente seja o bullying. O termo em inglês
a proliferação da mesma na vida de crianças originário de “bully” que significa tirano,
e adolescentes que a compreendem como brigão ou valentão, e que não possui
uma forma natural de agir em sociedade. correspondente em português, diz respeito
Sobre isso Mota e Santos afirmam que: às práticas de atos de violência intencionais
e repetidos que causam danos físicos e
Além de influenciar comportamentos, esses psicológicos às vítimas, quase sempre a
meios contribuem concretamente para a
construção da identidade desse público. intenção é intimidar e ridicularizar uma
Tendo em vista que os pais geralmente não se pessoa tida como mais fraca e indefesa em
preocupam em controlar os conteúdos a serem relação ao agressor.
vistos na TV, internet e outros meios, essas
crianças e jovens não têm sequer na família
modelos positivos para se espelhar. (MOTA E Fante (2011, p. 28) define bullying
SANTOS, 2016, p. 4). como “um conjunto de atitudes agressivas,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O governo norueguês atentou seu olhar para


intencionais e repetitivas que ocorrem sem essa violência institucional apenas após o
motivação evidente, adotado por um ou suicídio de três crianças entre 10 e 14 anos,
mais alunos contra outro(s), causando dor, que provavelmente foi influenciado por atos
de maus tratos dos colegas. A partir desse
angústia e sofrimento”. fato, a autoridade norueguesa, pressionada
pela população, realizou em escala nacional a
Ainda sobre a definição do termo bullying, Campanha Anti-Bullying nas escolas em 1993.
(QUINTANILHA, 2011, p. 37).
Silva (2010, p. 22) expõe “o termo bullying
pode ser adotado para explicar todo
tipo de comportamento agressivo, cruel, A autora Cleo Fante (2005) enfatiza a
proposital e sistemático inerente às relações importância do pesquisador norueguês por
interpessoais”. ter desenvolvido critérios para diagnosticar
o bullying:
Segundo Olweus e Limber (2010, p. 125),
“bullying se refere a comportamentos de “Dan Olweus, pesquisador da Universidade
uma ou mais pessoas intencionais, negativos de Bergan, desenvolveu os primeiros critérios
e repetidos contra outra pessoa que não é para detectar o problema de forma específica,
capaz de defender se”. Os autores indicam permitindo diferenciá-lo de outras possíveis
haver uma desigualdade de poder entre interpretações, como incidentes e gozações
vítima e agressor, e destacam que também ou relações de brincadeiras entre iguais,
que se utiliza a expressão “abuso entre próprias do processo de amadurecimento do
pares”, diferenciando o fenômeno de maus indivíduo”. (FANTE, 2005, p. 45)
tratos infantis e violência intrafamiliar.
No Brasil o termo bullying passou
O bullying tornou-se um fenômeno a ser compreendido como prática de
quase que inerente ao ambiente escolar, comportamento violento na década de 90,
praticamente todas as escolas brasileiras conforme informa o Relatório de Pesquisa
já enfrentaram ou enfrentarão situações “Bullying escolar no Brasil”, seguindo a linha
envolvendo essa prática. de pesquisas levadas a efeito por Cléo Fante,
nos seguintes termos:
Quando surgiu essa prática? Os estudos
do professor Dan Olweus na universidade de É também na década de 1990 que um novo
conceito passa a ser considerado no campo de
Bergan Noruega nos anos de 1978 a 1993 estudos sobre a violência entre pares: o bullying.
deram início às pesquisas a respeito desse Para fins deste estudo, o bullying é definido
fenômeno comportamental. Antes disso como atitudes agressivas de todas as formas,
praticadas intencional e repetidamente, que
pouca importância se dava a essa prática. ocorrem sem motivação evidente, são adotadas
por um ou mais estudantes contra outro(s),
Segundo Quintanilha (2011): causando dor e angústia, e são executadas dentro
de uma relação desigual de poder. Portanto,
os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o

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desequilíbrio de poder são as características


essenciais, que tornam possível a intimidação da os professores precisam apurar seu olhar
vítima. (PLAN BRASIL, 2010, pág. 4). diante da rotina escolar, sendo ele o agente
de trabalho direto com os alunos, precisa
Da mesma forma, no que diz respeito à manter uma escuta e um olhar ativos em
utilização exata da noção do termo bullying, relação aos alunos. Saber acolher as queixas,
aqui no Brasil ainda é muito confuso e e também, ter uma percepção ativa acerca
desconhecido pela maioria da população, da realidade que vivencia diariamente.
segundo o relatório citado no parágrafo
anterior, pois: Segundo Quintanilha (2011, p.38)
“faz-se importante destacar que para ser
A utilização do conceito apresenta algumas caracterizado como bullying é necessário
fragilidades. O próprio termo bullying causa
estranhamento nos ambientes acadêmico e ser um ato repetitivo. Percebemos falas
escolar, por se tratar de uma importação pouco cotidianas denominando atos “normais”
adaptada às questões próprias da violência no entre crianças e adolescentes como bullying”.
ambiente escolar brasileiro. Como resultado, o
bullying ainda não se encontra diferenciado no
fenômeno geral de violência entre pares, e os Sobre isso Beane (2010) afirma que:
critérios que tecnicamente o destacam, que se
referem à repetição do ato à falta de motivação É importante que você saiba diferenciar o
evidente, são de difícil aferição objetiva. Nesse bullying de um conflito normal. Alguns tipos
sentido, sua operacionalização conceitual de conflitos são parte da vida. Nem todo o
exigiria uma consistência ainda não atingida. conflito necessariamente fere, e lidar com essas
Por essa razão, o termo, que não tem correlato situações pode ajudar o seu filho para a vida
em português, é utilizado muitas vezes de modo de maneira positiva. Portanto, não se precipite
equivocado, referindo-se a episódios de conflitos quando observar conflito entre seu filho e as
interpessoais entre estudantes, os quais não se
caracterizam pelos critérios indicados. (PLAN outras crianças. (BEANE, 2010, p.17).
BRASIL, 2010, pág. 5).
As escolas, de maneira geral, parecem
É muito comum haver confusão na colocar o assunto bullying em pauta de
diferenciação do que é bullying e do que maneira genérica, sem planejamento. É
não é, na verdade tal confusão chega a ser necessária a criação de uma consciência
alarmante face o quão corriqueiro tornou-se pedagógica no sentido de imaginar que
essa prática, sobretudo nas escolas. Existe não é possível tratar o bullying como
uma banalização no uso do termo, e uma fenômeno social de violência gratuita sem
imensa dificuldade em saber a distinção pensar a construção de um projeto político
daquilo que é uma brincadeira entre alunos pedagógico que aja em consonância com
e um comportamento violento. Por mais que essa problemática.
faça parte do cotidiano escolar, professores
e demais educadores possui uma enorme Entre os diversos conflitos existente dentro
dificuldade em perceber e/ou agir afim de do âmbito escolar, o bullying é o mais grave
eliminar tal comportamento. Nesse sentido, e especialmente cruel pois tem a capacidade

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de causar danos psíquicos na vida de um ONU para o combate à violência contra a


sujeito. O autor Alan Beane (2010, p.18) criança e pelo Fundo das Nações Unidas
ressalta que “O termo bullying descreve uma para a Infância (UNICEF).
ampla variedade de comportamentos que
podem ter impacto sobre a propriedade, o Segundo dados do terceiro volume
corpo, os sentimentos, os relacionamentos, do Programa Internacional de Avaliação
a reputação e o status social de uma pessoa.” de Estudantes (Pisa) dedicado ao bem-
estar dos estudantes, em 2015, no Brasil,
O bullying não deve ser levado nem aproximadamente um em cada dez
tratado como uma brincadeira, tudo que fere estudantes é vítima frequente de bullying
e agride não pode ser assim denominado. nas escolas. São adolescentes que sofrem
Faz-se urgente uma formação mais inteligível agressões físicas ou psicológicas, que são
de toda a comunidade escolar, em especial, alvo de piadas e boatos maldosos, excluídos
dos professores, que precisam apurar sua propositalmente pelos colegas, que não são
escuta, torna-la mais ativa e compreender chamados para festas ou reuniões.
que é primordial uma noção consciente da
realidade que o cerca, tais requisitos são O relatório é baseado na resposta de
inquestionáveis ao professor, afim de se adolescentes de 15 anos que participaram da
tornar agente de combate ao bullying nas avaliação. No Brasil, 17,5% disseram sofrer
escolas. alguma das formas de bullying "algumas
vezes por mês"; 7,8% disseram ser excluídos
pelos colegas; 9,3%, ser alvo de piadas; 4,1%,
BULLYING NO BRASIL: serem ameaçados; 3,2%, empurrados e
DADOS ESTATÍSTICOS agredidos fisicamente. Outros 5,3% disseram
que os colegas frequentemente pegam e
Pesquisa realizada pela Organização das destroem as coisas deles e 7,9% são alvo de
Nações Unidas, a ONU, no ano de 2016, com rumores maldosos. Com base nos relatos dos
mais de 100 mil crianças e adolescentes pelo estudantes, 9% foram classificados no estudo
mundo, demonstrou que, em média, metade como vítimas frequentes de bullying, ou seja,
delas, já sofreu algum tipo bullying. E as estão no topo do indicador de agressões e
razões são variadas, aparência física, gênero, mais expostos a essa situação.
orientação sexual, etnia ou país de origem.
No Brasil esse percentual é 43%. A publicação faz parte das divulgações
do último Pisa, de 2015, avaliação aplicada
Os números constam no relatório “Pondo pela Organização para a Cooperação e
fim à tormenta: combatendo o bullying do Desenvolvimento Econômico (OCDE).
jardim de infância ao ciberespaço”, realizado Participaram dessa edição 540 mil
pelo representante do secretário-geral da estudantes de 15 anos que, por amostragem,

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representam 29 milhões de alunos de 72 à outra. E um dos atrativos do intimidador


países. São 35 países-membros da OCDE e ou do grupo é justamente a plateia que o ou
37 economias parceiras, entre elas o Brasil. os assiste. Segundo matéria do site BBC, o
modelo finlandês de combate ao bullying,
Em comparação com os demais países chamado de KIVA (acrônimo de Kiusaamista
avaliados, o Brasil aparece com um dos Vastaan, que quer dizer "contra o bullying"
menores "índices de exposição ao bullying". em finlandês) não passou despercebido na
Em um ranking de 53 países com os dados Europa, onde foi implementado em cerca de
disponíveis, o Brasil está em 43º. 20 países. De acordo com a matéria da BBC:

O programa leva em conta as pessoas que ficam


BULLYING: ATITUDES caladas e sofrem passivamente com os insultos.
Porque embora ninguém goste de participar
QUE DERAM CERTO de uma situação na qual uma pessoa é vítima
de violência, muitas crianças não sabem o que
fazer para sair do problema ou como defender
Países da Europa, como Holanda e a vítima.
Finlândia criaram projetos que reduziram
até 80% dos casos de bullying em suas Ainda que não haja um protagonismo
escolas. Projetos esses, que vem sendo dessas testemunhas nos casos de bullying,
implementados em diversos países da mas tanto o silêncio, quanto as risadas delas,
América Latina, como Argentina, Chile, creditam força ao agressor. Sendo assim,
Colômbia e Peru. Isso demonstra que, não um projeto em que traz para o outro lado
importa qual é o tipo de escola, se pública do problema a plateia que participa, cria
ou particular, e onde ela está inserida, se na um mecanismo de combate direto contra o
periferia de uma cidade pequena no Brasil, bullying. Ainda segundo a BBC, uma vez que
ou em bairros nobres da Europa, projetos as testemunhas deixam de apoiar o agressor,
implantados com planejamento e dedicação este não segue adiante com a intimidação.
são inquestionavelmente efetivos e eficazes
no combate ao bullying. Um outro fator importante do projeto
finlandês é a prevenção. Em entrevista à
Na Finlândia, por exemplo, desde 2009 os BBC Mundo, a coordenadora do projeto
números da violência nas escolas vêm caindo disse que “o projeto inclui lições e atividades
consideravelmente graças a implementação que acontecem duas vezes por mês, durante
de um projeto, o qual, atende não somente 45 minutos, onde não se fala de casos
as vítimas e o agressor do bullying, mas particulares, mas de conceitos gerais"
também as testemunhas. Como fora visto De acordo com a coordenadora todas as
no transcorrer desta dissertação, bullying se atividades praticadas no projeto servem
configura pela intimidação sistemática de uma para criar um clima de amizade e de respeito
pessoa ou um grupo de pessoas em relação entre os colegas. As crianças são ensinadas

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a diferenciar uma brincadeira de algo que aparece, as escolas tornam públicas para os
passou dos limites. Segundo a coordenadora demais alunos, provocando uma onda de
é mais que um projeto, e sim uma filosofia reflexão em toda a escola, o que, de acordo
de vida, visando o bem-estar, a criação de com a publicação, faz toda a diferença no
ambiente escolar onde os alunos sejam combate ao bullying.
tolerantes e respeitosos.
Aqui no Brasil, um dos mais tradicionais
Na Holanda, o projeto anti-bullying colégios particulares de São Paulo, o
implementado já tem cinco anos de existência Colégio Bandeirantes, adotou um projeto
e diminuiu em 50% os casos de bullying, intitulado Grupo de Apoio do Programa de
segundo dados do site Redes de Experiência. combate ao Bullying. No projeto, os próprios
Ainda de acordo com o site: alunos criaram uma espécie de rede de
proteção, onde funcionam como um grupo
Para conseguir essa transformação, desde 2015, de apoio para crianças e adolescentes que
o país realiza uma intensa política anti-bullying,
onde as escolas primárias e secundárias devem demonstram um isolamento maior em relação
seguir uma rigorosa lei de combate ao bullying. aos demais alunos. A intenção do projeto
Desde os quatro anos, as crianças aprendem é fazer os alunos participantes do mesmo
a sinalizar quando avaliam que uma situação
passou dos limites. Além disso, a orientação se aproximarem desses jovens, criando um
dada às crianças é de que conversem sobre o vínculo, estabelecendo uma relação de
problema com um adulto tão logo ele aconteça. confiança, para que eles se sintam seguros
para conversar ou desabafar. Os alunos do
O projeto não apenas vem reduzindo os projeto recebem uma formação, através de
números de situações envolvendo bullying, cursos com profissionais especialistas no
como também, está aproximando os alunos assunto, como psicólogos e advogados. Caso
uns dos outros. Uma pesquisa do Unicef, o a situação seja de maior gravidade, os alunos
Fundo das Nações Unidas para a Infância, repassam o caso à coordenação da escola.
revelou que os alunos holandeses possuem
o maior índice de satisfação em relação aos Em entrevista ao site da revista Isto é,
colegas, cerca de 85% delas acham seus a orientadora do Colégio Bandeirantes,
amigos legais. Marina Schwarz diz que: “A estratégia está
funcionando, observamos a redução de
Uma das estratégias do projeto holandês casos. Hoje temos mais acesso aos episódios
reside no fato de que os comportamentos de de provocação, que normalmente ocorrem
bullying não são mantidos em sigilo, a política por trás das autoridades.”
de atuação nas escolas geralmente é a de
manter o fato apenas entre os envolvidos De acordo com dados trazidos pelo site
e seus familiares, lá acontece justamente o em 2012 36,2% dos alunos sofreram algum
contrário. Quando uma situação de bullying tipo de intimidação ou perseguição, esse

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número subiu para 46,6% em 2015. Dados da pesquisa revelaram também que de cada 10
estudantes, 2 praticavam bullying. Segundo a revista, numericamente ainda são poucas as
escolas que tem adotado medidas específicas no combate à intimidação dos alunos, contudo
elas têm desenvolvido metodologias específicas nesse combate, diminuindo a propagação
do ódio nas escolas, o caminho é complexo, mas os resultados mostram que é possível coibir
essa prática.

Um aluno de uma escola pública de Paulínia, cidade do interior de São Paulo, não tinha
dinheiro para levar seu cachorro ao veterinário, os alunos da escola então organizaram
uma arrecadação de dinheiro para que o colega conseguisse realizar a consulta. A ideia de
arrecadar o dinheiro surgiu dentro do grupo de combate ao bullying existente na escola,
chamado de Equipes de Ajuda. Segundo matéria de Marina Estarque ao Jornal Folha de São
Paulo, o referido projeto fora implantado em 2015 em 11 escolas públicas e privadas em
quatro cidades do Estado de São Paulo. Esse modelo foi inspirado em escolas espanholas
e finlandesas, o projeto aposta no sistema de apoio entre os próprios colegas, ou seja, seus
pares. Segundo pesquisa realizada por uma das idealizadoras do projeto, 75% dos casos
de bullying em que a intervenção foi feita por outro aluno, ao invés de um adulto, tiveram
resolução positiva. Segundo a pesquisadora, quando um aluno diz ao outra para parar, pois
a pessoa não está gostando, o agressor tende a ouvir.

Os alunos são eleitos pelos colegas, baseados no critério da confiança, e não pela
popularidade, por isso pergunta-se para qual dos colegas candidatos à função, ele contaria
um segredo e assim é feita a eleição dos componentes do grupo, que assim como no exemplo
do Colégio Bandeirantes, também funciona como uma espécie de grupo de ajuda. No caso
relatado acima, o aluno que precisava de dinheiro para levar seu cachorro ao veterinário, era
membro do grupo de ajuda, mas sofria bullying, por ser catador de latinhas, era chamado de
lixeiro pelos colegas de escola. O caso do aluno foi debatido no grupo, que decidiu realizar
a arrecadação.

Exemplos como os citados acima deixa claro que através de projetos planejados com
seriedade, levando em consideração a cultura da escola e da comunidade, além do olhar
atento e da escuta ativa, e da necessidade de se implantar uma cultura de paz nas escolas, o
caminho para o combate ao bullying, pode ser complexo, mas os efeitos são extremamente
significativos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Viu-se ao longo do trabalho que a violência está inserida
na sociedade de tal forma que vem determinando a maneira
como as pessoas se comportam, vem transformando a maneira
de pensar a sociedade. Por estar presente na rotina diária das
pessoas, ela interfere diretamente na maneira de ser e de agir,
ou seja, a violência é hoje um problema sistêmico.

As práticas da violência existem desde a antiguidade e chega
nos dias atuais tomando as mais variadas formas. Ela está em
tudo, na televisão, nas rodas de conversa, nas brincadeiras das ROBERTA RODRIGUES
crianças, na internet, dentro das escolas, criando nesse espaço, DA SILVA
talvez uma de suas formas mais covardes, através do bullying, o
Graduação em Letras pela
objeto de discussão desse artigo. Faculdade Unipaulistana (2009);
Especialista em Administração
A escola, como espaço educativo e cheio de possibilidades em Educação com Ênfase em
Bullying na Escola pela Faculdade
para o desenvolvimento intelectual e social dos indivíduos Campos Eliseos (2018); Professor
humanos, muito embora reproduza os mais variados aspectos da de Ensino Fundamental II e Médio
sociedade, inclusive a violência, tem o dever de, se necessário, - Língua Portuguesa - na EMEF
Álvares de Azevedo.
se reinventar, enquanto espaço do saber. Não é admissível, que
ainda hoje, face a todas as comodidades tecnológicas e acesso
a toda gama de informações, seja nesse espaço que crianças e adolescentes sejam cruelmente
aniquilados enquanto indivíduos; tenham sua individualidade reprimida e violentada da maneira
mais covarde, isso pois são seus pares os algozes de todo esse mal. E o espaço onde elas poderiam
ser o que quisessem e que deveriam protege-las, acaba se tornando palco de tais atrocidades,
cujas consequências as acompanham por toda a vida.

Enfim, é preciso tomar os bons exemplos, como os citados neste artigo, e traçar um plano,
uma meta nas escolas, com o intuito de educar para a paz, nunca foi tão necessário esse tipo de
educação, haja vista, no ano de 2018 criou-se uma legislação específica de promoção da cultura
de paz e não violência nas escolas, com o objetivo de prevenir, refletir e agir no combate a todo
e qualquer tipo de violência no âmbito escolar. Segundo estatísticas abordadas nesse artigo, o
Brasil não está no topo dos países em que mais os jovens sofrem com bullying, ainda assim, quase
20% das crianças brasileiras padecem com essa prática, esse percentual pode e dever ser zero.
Na maioria das vezes as ações são simples, basta que a tríade escola-família-sociedade abrace a
causa, pois como dissera Paulo Freire: “De anônimas gentes, sofridas gentes, exploradas gentes,
aprendi, sobretudo, que a paz é fundamental, indispensável, mas que a paz implica lutar por ela”.

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REFERÊNCIAS
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maltratado por eles. Tradução: Débora Guimarães Isidoro, Rio de Janeiro, RJ: Ed. BestSeller,
2010.

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PEREZ, Fabíola. As escolas que venceram o bullying. Disponível em https://istoe.com.br/as-


escolas-que-venceram-o-bullying/. acesso em 31 de janeiro de 2019.

PLITT, Laura. O bem-sucedido projeto anti-bullying que a Finlândia está exportando à


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Revista Educar FCE - Abril 2019

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Disponível em: http://www.rededeexperiencias.com.br/atualiza/holanda-comemora-
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Brasil. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-04/um-em-
cada-dez-estudantes-no-brasil-e-vitima-frequente-de-bullying. Acesso em 28 de janeiro de
2019.

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A PSICOPEDAGOGIA E SUA
CONTRIBUIÇÃO NA ÁREA
HOSPITALAR
RESUMO: Esse artigo refere-se a prática do Psicopedagogo no processo do ensino
aprendizagem, no contexto hospitalar e a importância da formação interdisciplinar
juntamente com os profissionais da saúde, possibilitando uma melhor qualidade de vida
ao paciente pediátrico. O Psicopedagogo como mediador na recuperação de sentimentos
como: amor próprio, autoestima, aceitação, segurança e valorização da vida do paciente, a
fim de construir uma aprendizagem com comprometimento. Atualmente, a Psicopedagogia
vem ganhando espaço não só nas escolas como também em unidades clínicas, formando
uma parceria entre Universidades, através de estagiários e a instituição escolar de onde o
paciente/aluno é oriundo, dando continuidade ao desenvolvimento do ensino aprendizagem,
através de métodos diferenciados, que respeitem o quadro clínico de cada paciente. O lúdico
como ferramenta pedagógica, acrescido pela afetividade, e a base teórica de estudiosos que
contribuíram e contribuem na área da Psicopedagogia no Brasil e no mundo.

Palavras-Chave: História da Psicopedagogia; Psicopedagogia Hospitalar; Afetividade;


Humanização; Aprendizagem.

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INTRODUÇÃO A Psicopedagogia na Instituição


Hospitalar surgiu da necessidade de oferecer
Um olhar diferenciado, seu embasamento um acompanhamento psicopedagógico
nos estudos e sua prática voltada ao ser, aos pacientes internados, que possuem
sendo este, único, com vivências e dotado de patologias crônicas como as Hematológicas,
história. Vinculada as práticas pedagógicas Imunológicas e Psicopatológicas, aos quais
visando a necessidade de cada paciente e podem permanecer por longos períodos
auxiliando tanto a Instituição Escolar como hospitalizadas.
no Âmbito Familiar, o Psicopedagogo é de
suma importância na Área Hospitalar. Oferecer a criança hospitalizada, ou em longo
tratamento hospitalar, a valorização de seus
direitos a educação e a saúde, como também ao
A função do Psicopedagogo é desenvolver espaço que lhe é devido enquanto cidadão do
uma escuta apurada e um olhar sistêmico, amanhã. (MATOS MUGGIATI, 2001, p.16).
analisando e assinalando os fatores que
favorecem, intervém ou prejudicam uma boa
aprendizagem. Estabelecer um vínculo afetivo A HISTÓRIA DA
do sujeito com a aprendizagem possibilita PSICOPEDAGOGIA NO
que o Psicopedagogo possa realizar um
atendimento de qualidade e de aprendizado. BRASIL E NO MUNDO
A Psicopedagogia originou-se na Europa
A prática do Psicopedagogo na Instituição no século XIX, quando Janine Mery,
Hospitalar dar-se a de várias maneiras: nas Psicopedagoga francesa, adotou o termo
unidades de internação, na ala de recreação, “Psicopedagogia Curativa”, uma mistura de
com classe hospitalar de escolarização para psicologia e pedagogia, ou seja, tratamento
continuidade dos estudos entre outras. clínico e pedagógico para crianças com baixo
rendimento escolar. A corrente europeia
'A intermediação poderá ocorrer através influenciou a Argentina, que por sua vez
de diversas atividades como: contar histórias, influenciou o Brasil.
atividades recreativas, desenhos, pintura,
a continuação dos estudos do paciente/ Principalmente no sul do país, receberam-
aluno, através de avaliação didática, se os conhecimentos de renomados
analisando os métodos aplicados, visando profissionais argentinos como: Alícia
uma aprendizagem significativa tanto para a Fernandez, Jorge Visca, Sara Pain e outros,
criança como o professor. Essas práticas são que muito contribuíra para a construção do
as estratégias da Psicopedagogia Hospitalar nosso conhecimento psicopedagógico.
para auxiliar na adaptação, motivação e
recuperação do paciente, que por outro lado, Durante muito tempo no Brasil, acreditou-
também estará ocupando o tempo ocioso. se que o problema de aprendizagem era

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devido a fatores orgânicos, mas na década A classe hospitalar tem sua identidade
de 70 descobre-se que, a causa estava em formada na promulgação da lei 9394/96
uma disfunção neurológica não detectada (LDB), art.58 §§. II que cita:
em exame clínico, DCM Disfunção Cerebral
Mínima. O atendimento educacional será feito em classe,
escola ou serviços especializados sempre que,
em função das condições específicas dos alunos,
Ao final da década de 70, surgiram não for possível a sua integração nas classes
os primeiros cursos de especialização comuns de ensino regular.
em psicopedagogia no Brasil, a fim de
complementar a formação de psicólogos e Segundo a ABPp a psicopedagogia é a
educadores que buscavam uma solução para area de conhecimento, atuação e pesquisa
o problema do ensino aprendizagem. que lida com o processo de aprendizagem
humana, visando o apoio aos indivíduos e
Em 1980, é criada a ABPp, Associação aos grupos envolvidos neste processo, na
Brasileira de Psicopedagogia, e fica perspectiva da diversidade e da inclusão.
determinado que a Psicopedagogia é uma A Associação Brasileira de Psicopedagogia
área que estuda o processo de aprendizagem (ABPp), como órgão representativo dos
e suas dificuldades, tendo como objeto de Psicopedagogos, entende que o curso de
estudo o sujeito do conhecimento, como Psicopedagogia deve formar profissionais
as instituições e os agentes de transmissão para garantir a aprendizagem como direito
(Documento publicado em 1990, com o de todos.
número 19 de boletim).

PRINCÍPIOS NORTEADORES
PSICOPEDAGOGIA DA FORMAÇÃO, HABILIDADES
HOSPITALAR: FORMAÇÃO E COMPETÊNCIA
DO PSICOPEDAGOGO Segundo as diretrizes de formação de
O Psicopedagogo em uma instituição Psicopedagogia no Brasil, os princípios da
hospitalar tem que ter em mente que sua formação norteadora são:
atuação é diferente de um professor de
uma classe regular e também sua função a) Conscientização da diversidade,
não é de um professor particular. Unidos, respeitando as diferenças de natureza
psicopedagogos e a equipe de saúde, cultural e ambiental, de gêneros, de faixas
utilizando técnicas como reuniões e geracionais, de classes sociais, de religiões,
discussões, para conseguir a ressignificação de necessidades especiais, de orientação
do educador em relação ao aprendizado. sexual, entre outras;

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b) Priorização de ações que envolvam Para os familiares, a notícia de uma


os direitos humanos visando uma sociedade patologia e a internação do paciente
inclusiva e equânime, com ênfase nas pediátrico, faz com que no primeiro momento
potencialidades do sujeito da aprendizagem; não aceitem, acarretando uma depressão
que só um especialista pode orientar. O
c) Valorização do pensamento reflexivo, trabalho da equipe médica, é importante
crítico e transformador; na orientação não somente da criança, mas
também dos pais, prestando esclarecimento
d) Conscientização do trabalho coletivo sobre a doença, o tratamento e o processo
pautado pela ética e sigilo profissional; de tempo que envolve a internação. É direito
do paciente pediátrico, conhecer os motivos
e) Respeito aos saberes específicos das que o levaram a real situação. O perambular
áreas afins e dos profissionais. pelas salas do hospital (internação, terapia
intensiva etc.), em muito irão contribuir para
sua baixa estima, é nessa hora que se faz
A FAMÍLIA, O presente a atuação do Psicopedagogo com
PSICOPEDAGOGO atividades que possam despertar o interesse
da criança tais como: teatro, contação de
E O PACIENTE/ALUNO histórias, jogos entre outras.
Os pacientes que chegam a uma instituição
hospitalar, geralmente chegam assustados, A doença para a criança representa medo,
inseguros, agressivos com medo de morrer separação e abandono, no caso da mãe, que
ou de ficar com limitações. é quem geralmente acompanha a criança
no período de internação, é muito difícil
A separação dos amigos, familiares e entregar o filho (a), aos cuidados de pessoas
dos ambientes de convívio, podem causar estranhas, em um momento tão traumático
estresse. Em caso de internações muito e delicado.
longas, o Psicopedagogo deve entrar em
contato com a escola do paciente, para que Nesse contexto, a Psicopedagogia atuará
juntos possam auxiliar o aluno no processo não só para um bem-estar físico, mas também
de aprendizagem. cognitivo do paciente/aluno.

É necessário um ambiente propício,


criando-se programas de recreação que O AMBIENTE HOSPITALAR E
auxiliem na ajuda da angústia e depressão, A ABORDAGEM LÚDICA
facilitando o aprendizado e a recuperação.
Segundo a Legislação Brasileira, na
Resolução 41, são assegurados os direitos

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da criança e do adolescente em fase de A ludicidade tem sua contribuição nesses


hospitalização, através da recreação, e ambientes, como uma importante aliada
principalmente no que diz respeito ao no ensino aprendizagem, enriquecendo
acompanhamento do currículo escolar o desenvolvimento cognitivo, psíquico e
durante a permanência em ambiente intelectual.
hospitalar. Mas enquanto internada o que
dizer do emocional dessa criança...
A AFETIVIDADE
A unidade hospitalar é caracterizada por
ser um lugar frio, de sofrimento e dor, e na A afetividade é uma ferramenta
maioria das vezes, a criança internada, perde fundamental do desenvolvimento do trabalho
a identidade sendo tratada como leito x ou do Psicopedagogo na unidade hospitalar e
y. Entre paredes brancas, e pessoas também nessa mesma perspectiva temos o olhar de
vestidas de branco, o hospital para a criança Piaget e Wallon.
torna-se uma verdadeira prisão. Todos
esses fatores alteram completamente seu A afetividade possui papel fundamental no
desenvolvimento da pessoa, pois é por meio
desenvolvimento emocional. dela que o ser humano demonstra seus desejos
e vontades. (PIAGET,1995, p.37).
Alves (1987) discorre sobre a
transformação de nossas enfermarias em De acordo com Piaget não existem
ambientes acolhedores de ludicidade, e, comportamentos puramente cognitivos, ou
busca do aprendizado, proporcionando aos seja, a afetividade está ligada a cognição.
nossos pacientes/alunos, uma permanência
menos dolorosa, do que a realidade de suas Segundo Wallon, a afetividade desempenha
patologias. um papel central na consciência em si, ou
seja, é um fenômeno psíquico e social, além
Sendo o hospital um lugar impessoal, se de orgânico.
faz necessária uma abordagem pedagógica,
específica a fim de estreitar o vínculo afetivo Podemos observar através das falas
com as crianças. dos teóricos, a afetividade assume um
aspecto central na formação da pessoa
É nesse âmbito que o Psicopedagogo e no desenvolvimento cognitivo. O
assume o papel de agente transformador Psicopedagogo deve ter a sensibilidade, de
implementando uma visão humanizadora levar em consideração o lado emocional
em relação e no trato com o paciente/aluno, da criança internada, pois ao dar entrada
colaborando com a promoção da saúde do em uma unidade clínica, está entrando em
enfermo. um mundo desconhecido, por essa razão,
muitas vezes torna-se arredia, dificultando o

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Revista Educar FCE - Abril 2019

aprendizado. Em internações muito longas, o Psicopedagogo deve entrar em contato com


a instituição escolar do paciente/aluno, a fim de tomar conhecimento do desenvolvimento
escolar do mesmo, Ás vezes, a moléstia que acomete a criança, o faz perder o prazer até
pelas brincadeiras que lhe são oferecidas, desta forma o trabalho do Psicopedagogo terá
que ser subsidiado não só pelo cognitivo, mas também pela emoção que criará um vínculo
com o paciente, proporcionado a este uma estadia menos dolorosa durante o período que
se encontrar no hospital. Carinho e atenção são fatores relevantes para a recuperação dessa
criança.

Para Mello (2004, p.2), é importante que o Psicopedagogo interaja com uma equipe
multidisciplinar de profissionais como: psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas,
pedagogos e outros dentro da Instituição Hospital, a fim de que a criança hospitalizada através
da aprendizagem possa desenvolver uma relação entre a afetividade e o desenvolvimento
mental.

1474
Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O atendimento Psicopedagógico hospitalar vem a cada dia
abrindo caminhos para novas concepções de tratamento para
crianças que pode ser amenizado através de uma proposta
inovadora.

A função do Psicopedagogo no hospital é de suma


importância, pois atende tanto as necessidades pedagógicas,
quanto as necessidades psicológicas e sociais do paciente/
aluno. Através da sensibilidade, compreensão e criatividade o
profissional cria um vínculo afetivo, resgatando e integrando ROSANA KIRILAUSKAS
as crianças ao contexto educacional.
Graduação em Pedagogia pela
A Psicopedagogia Hospitalar é uma evolução para os Faculdade Universidade Cidade
educadores, pois ela serve como ponte entre o hospital e a de São Paulo - UNICID (2007);
escola, fazendo com que a criança se sinta mais familiarizada Especialista em Psicopedagogia
pela Faculdade Universidade
com esse ambiente tão assustador, possibilitando que o Cidade de São Paulo – UNICID
educador compreenda que não é o meio que qualifica a (2015); Professora de Educação
educação, mas sim a vontade de ir além de suas próprias Infantil e Ensino Fundamental I na
EMEI José Duarte.
resistências. Nesse contexto estará contribuindo para o
auxílio das tarefas cognitivas, restabelecendo o vínculo de
aprendizagem, facilitando a volta dos internados para suas escolas, e o convívio social.

Ao embasar nas falas de vários teóricos no decorrer desse trabalho, concluo que o
Psicopedagogo é essencial não só na vida das crianças hospitalizadas, como também de apoio
a pais desesperados que em um primeiro momento, não conseguem lidar com a situação.

Complemento com as ideias de Freire apud Matos e Migiatti (2006, p.68-69), quando
discorrem que o desenvolvimento de uma consciência crítica que permite ao homem
transformar a realidade se faz cada vez mais urgente. Na medida em que os homens, dentro
de sua sociedade, vão respondendo aos desafios do mundo, vão temporizando os espaços
geográficos e vão fazendo história pela sua própria atividade criadora.

1475
Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A CONTRIBUIÇÃO DA
LUDOPEDAGOGIA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este artigo busca refletir sobre a contribuição da Ludopedagogia na Educação
Infantil. E, tem base de estudo livros com autorias a respeito do tema, vivências de
professores e atividades desenvolvidas durante as docências. A importância dos jogos e das
brincadeiras, que de uma forma significativa, contribuem para a Educação Infantil, devendo
ambas articuladas aos conteúdos trabalhados em sala de aula. No decorrer deste artigo
será apresentada a necessidade do planejamento e da organização do tempo e do espaço
para a realização do jogo e da brincadeira de forma efetiva. O trabalho com os jogos e as
brincadeiras no período da educação infantil é extremamente importante, pois por meio
deles a criança apresenta vários aspectos sócios – emocionais. Considero que a realização
deste artigo proporciona inquietações e desencadeia pensamentos acerca das novas formas
de trabalho que associam os jogos e as brincadeiras à rotina em sala de aula.

Palavras-Chave: Contribuição; Jogos; Brincadeiras.

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INTRODUÇÃO A capacidade para imaginar, planejar,


apropriar-se de novos conhecimentos, surge
A Ludopedagogia, por sua vez, consiste nas crianças por meio do brincar. Brincando
em um método segundo o qual o processo a criança atua, mesmo que simbolicamente,
de ensino deve dar-se de maneira criativa, nas diferentes situações vividas pelo ser
lançando mão de jogos, brincadeiras e humano.
dinâmicas, afirma Carneiro (2007):
Para Oliveira (1993):
A cognição e o desenvolvimento intelectual são
exercitados em jogos onde a criança possa testar Numa situação imaginária como a da brincadeira
principalmente a relação causa-efeito. Na vida de faz-de-conta (...) a criança é levada a agir num
real isto geralmente é impedido pelos adultos para mundo imaginário o ônibus que ela está dirigindo
evitar alguns desastres e acidentes. Entretanto, na brincadeira, por exemplo, em que a situação
no jogo ela pode vivenciar estas situações e é definida pelo significado pela brincadeira o
testar as mais variadas possibilidades de ações. ônibus, o motorista, o passageiro, etc. e não
Suas ações interferem claramente no resultado pelos elementos reais concretamente presente
do jogo. É necessário então que a criança passe as cadeiras da sala onde estão, brincando de
a realizar um planejamento de estratégias para ônibus, as bonecas etc. (...) Mas além de ser uma
vencer o jogo. No jogo individual a criança pode situação imaginária o brinquedo é também uma
testar as possibilidades e vontades próprias e atividade regida por regras mesmo no universo
relacioná-las com as consequências e resultados. de faz-de-conta, as regras devem ser seguidas.
(CORDAZZO, 2007, p.95). (OLIVEIRA, 1993, p. 76).

O brincar e os jogos sempre estiveram Durante a minha docência na Educação


presentes na vida do ser humano. Desde Infantil sempre percebi a necessidade de
quando nascemos utilizamos as brincadeiras, apresentar os jogos para crianças pequenas,
sendo essas trabalhadas como estímulos não só em forma de competição, mas sim
pelos responsáveis pela criança, como como brincadeiras, porque é importante
apresentar um chocalho, ou mostrar outros que ocorra um prazer e não só a vontade
objetos aos quais para um bebê já é uma de ganhar do amigo. A concepção de jogo
brincadeira. está interligada à brincadeira, sendo o jogo
constituído por regras e sempre tem um
De acordo com Oliveira (2000): ganhador.

O brincar não significa apenas divertir-se sem Segundo Kishimoto (2010):


fundamento e razão, caracterizando-se como
uma das formas mais complexas da criança em
comunicar-se consigo mesma e com o mundo, Para a criança, o brincar é a atividade principal
ou seja, o desenvolvimento dá-se por meio de do dia-a-dia. É importante porque dá a ela o
trocas experimentais mútuas estabelecidas poder de tomar decisões, expressar sentimentos
durante toda sua vida. (OLIVEIRA, 2000, p. 20) e valores, conhecer a si, aos outros e o mundo, de
repetir ações prazerosas, de partilhar, expressar
sua individualidade e identidade por meio
de diferentes linguagens, de usar o corpo, os

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sentidos, os movimentos, solucionar problemas A representação, no desenvolvimento infantil,


e criar. (KISHIMOTO, 2010, p.01) nasce da imitação e a supera, visto que a
representação só ocorre no plano simbólico,
Atualmente os jogos, os brinquedos e enquanto a imitação permanece no plano motor,
como por exemplo: a criança se identifica com
as brincadeiras fazem parte da rotina das o objeto, imaginando um que é um outro ser.
crianças, especialmente na Educação Infantil, (WALLON,1981 p. 122)
como fontes de lazer e de entretenimento.
É importante que o professor reconheça
De acordo com Wajskop (1995 p.63): os jogos e as brincadeiras como elementos
essenciais no processo de ensino-
O prazer, característico da atividade de brincar, aprendizagem.
passou a ser visto como um componente da
ingênua personalidade infantil, como uma
atividade inata e que protegia dos males De acordo com Santini (1996):
causados pelo trabalho árduo e desgastante
do mundo adulto. A brincadeira passou a ser Brincar a cima de tudo é exercer o poder criativo
concebida como a maneira de a criança estar do imaginário humano construindo um universo,
no mundo: próxima à natureza e portadora da do qual o criador ocupa o lugar central, através
verdade. (WAJSKOP, 1995, p. 63) de simbologias originais inspiradas no universo
de quem brinca e, é nesta ação que a criança
desenvolve-se como ser criativo, pois a relação
Partindo da visão de criança como onírica com as situações do mundo em sua volta
ser pensante e produtor de sua própria permitem-na criar sua cultura, ao mesmo tempo
cultura, foram desenvolvidas concepções que identifica-se com a sociedade em que faz
parte. (SANTINI, 1996, p. 25)
de educação infantil pautadas em requisitos
distintos incorporando o cuidar, o educar e
suas brincadeiras de modo que os ambientes Por meio das brincadeiras, a criança está
contribuam para a socialização, ampliação sempre se comportando acima de sua idade,
dos conhecimentos e a construção da acima de seu comportamento usual do dia a
identidade das crianças. dia; ela está um pouco adiante dela mesma.

Brincando a criança cria, recria e inventa


A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS novas manifestações adequando-se a sua
E DAS BRINCADEIRAS NO realidade, sendo capaz de entrar num estado
de sonhos e fantasias, no qual encontra
UNIVERSO INFANTIL espaço para representar o mundo de sua
O brincar contribui para interação com o forma.
mundo e consigo mesma, contribuindo para
o seu desenvolvimento integral, devendo se Durante os jogos e brincadeiras a criança
tornar algo significativo e não apenas como aprende naturalmente e o professor deve
forma de recreação ou distração para as agira como mediador nesse processo de
crianças. interação entre brincadeiras e aprendizagem,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

trabalhando a motricidade, o cognitivo, o Ao brincar a criança estará aprendendo a


lado emocional e social de cada uma. compreender o mundo e a sociedade ao qual
está inserida, além de desenvolver diferentes
Kramer (1992) nos diz que a ludicidade é aspectos como: o afetivo, o social, o físico e
um traço da personalidade da criança até a o cognitivo.
fase adulta, com importante função no estilo
cognitivo. De acordo com Vygotsky (1989):

Para Brougère (1998): Um aspecto essencial do aprendizado é o fato


de ele criar a zona de desenvolvimento proximal;
ou seja, o aprendizado desperta vários processos
A brincadeira é então um espaço social, já internos de desenvolvimento, que são capazes
que não é criado por natureza, mas após uma de operar somente quando a criança interage
aprendizagem social, e supõe uma significação com pessoas em seu ambiente e quando em
conferida por vários jogadores (um acordo). [...] cooperação com seus companheiros. Uma
Esse espaço social supõe regras. Há escolha e vez internalizados, esses processos tornam-
decisão continuada da criança na introdução se parte das aquisições do desenvolvimento
e no desenvolvimento da brincadeira. Nada independente da criança.(VYGOTSKY, 1989,
mantém o acordo senão o desejo de todos os p.101)
parceiros. Na falta desse acordo, que pode
ser negociado longamente, a brincadeira
desmorona. A regra produz um mundo específico
marcado pelo exercício, pelo faz-de-conta, Sendo assim, a ludicidade torna-se
pelo imaginário. Sem riscos, a criança pode uma ação significativa para a criança, na
inventar, criar, experimentar neste universo.
[...] Portanto, a brincadeira não é somente um medida em que proporciona a articulação
meio de exploração, mas também de invenção. entre o novo confronto com a realidade,
(BROUGÈRE, 1998b, p.192-193). oportunizando situações de auto expressão
e de desenvolvimento.
Nas ideias do autor, há condição da
criança criar a brincadeira, pois essa situação A brincadeira e os jogos por si apresentam
comporta menos riscos e mais possibilidades uma série de alternativas que auxiliam na
de descobrir novas experiências e novos construção do conhecimento.
comportamentos.
A ludicidade está sendo um objeto de
Por meio do brincar a criança aprende a interesse de muitos pesquisadores, sobretudo
organizar seu campo perceptivo, suas ideias e o relacionado à psicologia e à educação,
suas experiências, e a entrar em contato com abordando o lúdico como instrumento
suas emoções e sentimentos, propiciando potencializador de conhecimentos e
dessa forma a integração dinâmica, auxiliador do desenvolvimento infantil.
respeitando o próprio ritmo e fortalecendo a
alegria de pertencer a um grupo. A brincadeira basicamente se refere à ação de
brincar, ao comportamento espontâneo que
resulta de uma atividade não estruturada; o

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jogo é compreendido como uma brincadeira


que envolve regras; brinquedo é utilizado para As práticas pedagógicas que utilizam
designar o objeto de brincar. A atividade lúdica do lúdico como ferramenta para aquisição
abrange de forma mais ampla os conceitos do conhecimento e aprendizagens são
anteriores, sendo utilizada como ferramenta
na área educacional, nas diversas fases do de fundamental importância para o seu
desenvolvimento”. (MORAES, 2012, p. 40). desenvolvimento global.

Para Fantacholi (2011):


É por meio do lúdico que as crianças
desenvolvem e potencializam suas É brincando que a criança aprende a respeitar
regras, a ampliar seu relacionamento social e a
competências relativas ao aprender a ser, respeitar a si mesmo e os outros, sendo parte
aprender a conviver, aprender a conhecer importante do jogo, o rico arsenal de causar
e aprender a fazer (os quatro pilares da modificações de regras e adaptações em
qualquer que seja a atividade, podemos dizer
educação). neste caso que as ações com o jogo devem ser
criadas e recriadas, para que sejam sempre uma
A ludicidade é uma necessidade do ser humano nova descoberta e sempre se transforme em
em qualquer idade e não pode ser vista apenas um novo jogo, em uma nova forma de jogar”.
como diversão. O desenvolvimento do aspecto (FANTACHOLI, 2011, p. 15).
lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento
pessoal, social e cultural, colabora para uma boa Para que a aprendizagem por meio
saúde mental, prepara para um estado superior
fértil, facilita os processos de socialização, do lúdico ocorra de maneira efetiva, o
comunicação, expressão e construção de professor como mediador do processo de
conhecimento (SANTOS, 1995, p. 12). ensino e aprendizagem deve ter ciência
do planejamento, como consequência
Teixeira (2010 apud MORAES, 2012) os objetivos, devendo oportunizar
descreve diferentes aspectos do lúdico: o desenvolvimento, aprendizagem,
conhecimento e a interação, sempre
Aspectos físicos: são os componentes de ordem prestando atenção nas limitações e
cognitiva, afetiva e social que acompanham o
ato motor, [...], as crianças, por meio dos jogos, particularidades de cada aluno, considerando
brinquedos e brincadeiras, exercitam seu corpo sempre os seus conhecimentos prévios.
como um todo, conhece seus limites, exploram
a realidade e coordenam seus movimentos. O educador lúdico deve ser um profissional
Aspectos emocionais: brincando a criança tem que estuda, que pensa, que pesquisa, que
a possibilidade de extravasar suas emoções, experimenta, dando um caráter de cientificidade
reproduzir situações que lhe foram traumáticas, a seu trabalho e ao mesmo tempo, uma pessoa
expressar seus desejos e suas angústias, assumir que vivencia, que chora, que ri, que canta e que
diversos papéis, reviver, refazer e reorganizar brinca, dando um caráter de humanização ao
situações indesejadas. Aspectos socioculturais: trabalho escola. (SANTOS, 2011, p.24)
os brinquedos e as brincadeiras são atividades
culturalmente pertencentes ao ser humano.
(TEIXEIRA, 2010 apud MORAES, 2012, p. 28) Segundo Maluf (2009 apud MORAES,
2012) existe três formas de atividades
lúdicas:

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Solitária: o brincar da criança é individual, nesse momento ela vivencia a exploração do mundo, as formas, as
texturas, os sons, as cores, os espaços, as possibilidades de seu corpo etc. a fim de conhecer e descobrir o seu
próprio eu. Solitária compartilhada: o brincar ainda é individual, porém surge o interesse nas atividades de outras
crianças. É através da observação que a criança demonstra seu interesse pelo brincar do outro. As atividades
nessa fase estão ligadas ao desenvolvimento psicomotor da criança. Cooperativa: o brincar da criança passa a
ser compartilhado. As atividades agora são realizadas em conjunto, há predominância do trabalho em grupo.
Nessa fase o brincar refere-se à ordenação dos aspectos corporais com os espaços temporais. Cooperativa
complexa: o brincar está relacionado à ideia de regra. E as atividades são realizadas em grupo, porém o bom
desempenho na atividade depende do conjunto do grupo. Nessa fase a criança apresenta uma motricidade
bem desenvolvida e brinca de faz de conta, manifestando suas ações numa esfera imaginativa que combina
situações reais com elementos fantasiosos. (MALUF, 2009 apud MORAES, 2012, p. 30)

De acordo com Froebel (2001)

O jogo constitui o mais alto grau de desenvolvimento da criança, a manifestação espontânea e natural do
mundo intuitivo, imediatamente provocada por uma necessidade anterior. Por isso, quando brinca, a criança,
está imersa em um mundo de alegria, contentamento, paz e harmonia, proporcionados pelo brincar espontâneo.
(FROEBEL 2001, apud TEIXEIRA 2012, p.38).

O lúdico é um poderoso instrumento de socialização, pois se constitui como fenômeno


cultural e social, oportunizando a troca de experiências entre os envolvidos no processo
de aprendizagem. Dessa maneira, a escola deve representar um ambiente estimulante e
motivador para a criatividade da criança.

Os educadores já perceberam que a atividade lúdica é uma das mais educativas atividades humanas e não
serve somente para aprender os conteúdos escolares, mas também para afiar as habilidades e educar as
pessoas a serem mais humanas. (SANTOS, 2011, p.07).

Kishimoto (2008, p.24) afirma que “Dispor de uma cultura lúdica é dispor de um número
de referências que permitem interpretar como jogo atividades que poderiam não ser vistas
como tal para outras pessoas”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atualmente percebe-se o quanto é importante a
Ludopedagogia, ou seja, olhar os jogos e brincadeiras como
formas de aprendizagens. O aprendizado deve ocorrer da
forma mais eficiente e produtiva.

As práticas lúdicas colaboram para que os alunos


mantenham a atenção e a concentração durante a
aprendizagem.

O brincar pode ser visto como uma atividade de estimulação ROSANGELA LUÍSA
para o desenvolvimento físico psicossocial, devendo o DOS SANTOS SILVA
professor criar e preparar espaços e materiais adequados
Graduação em Pedagogia pela
para o máximo de aproveitamento nesse processo. Universidade UniSantana.
Graduação em Artes Visuais pela
Por meio dos jogos e brincadeiras, a aprendizagem se Faculdade Faculdade Mozarteum
de São Paulo. Especialização
processa a partir das relações e na troca de experiências em Alfabetização e Letramento
gerando conhecimento. pela Faculdade das Conchas.
Especialização em Ludopedagogia
pela Faculdade de Educação e
A Ludopedagogia contribui para um melhor aproveitamento Tecnologia (FAETI).
dos conteúdos trabalhados em sala de aula, especialmente
na Educação Infantil.

Durante este artigo foi possível observar que as brincadeiras sempre estiveram presentes
na vida do ser humano, mas de formas diferentes, dependendo de fatores históricos elas
eram vistas só como recreação, e atualmente são vistas como aprendizagens.

O Lúdico na Educação Infantil representa um instrumento potencial para a construção do


conhecimento, uma vez que possibilita um aprendizado no qual o construir, o interagir e o
vivenciar são apreciados.

É por meio da brincadeira que a criança vive e reconhece a sua realidade. Pode-se dizer
que a brincadeira não é uma atividade que gera um significado social, no qual necessita de
aprendizagem.

Conclui-se então que as brincadeiras e jogos deve se tornar descontraídos e prazerosos,


fazendo parte de uma aprendizagem significativa e não só como forma de lazer ou recreação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

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1486
Revista Educar FCE - Abril 2019

PSICOPEDAGOGO:
SUAS COMPETÊNCIAS E DESAFIOS
NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES
RESUMO: Neste artigo pretende-se elencar as principais competências e desafios
do profissional Psicopedagogo nas Unidades escolares, apresentar brevemente o seu
surgimento, sua historicidade e, por conseguinte, sua formatação acadêmica nas últimas
décadas, além de apontar a importância e desafios no processo de diagnóstico da dificuldade
do docente, personalização do processo ensino-aprendizagem nas unidades escolares
viabilizando, assim, equalizar os meios disponíveis para sociabilizar e alcançar os objetivos
pedagógicos de forma satisfatória. Poder-se-ia concluir ao final deste estudo que a atuação
profissional do psicopedagogo em escolas é de grande valia estabelecendo a posteriori a
troca de experiências com o grupo docente, promovendo um novo espectro para com nossos
discentes, envolvendo neste processo os pais e responsáveis.

Palavras-Chave: Escola; Docente; Discente; Psicopedagogo; Aprendizagem.

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INTRODUÇÃO um profissional habilitado para compreender


e diagnosticar questões além do olhar do
O presente trabalho iniciará com um educador que por estar sobrecarregado com
breve resgate histórico sobre o início inúmeras questões em sala de aula, não tem
da psicopedagogia, abordará discussões a possibilidade e o tempo necessário para
acerca da importância da contribuição diagnosticar, portanto as questões além da
desse profissional nas unidades escolares. aprendizagem é necessário o apoio e atuação
Pretende-se, pois, discutir as questões que do Psicopedagogo.
se referem às dificuldades de aprendizagem
humana e a importância do apoio profissional
do psicopedagogo, que, conforme citou HISTORICIDADE DA
Miranda “O papel do psicopedagogo é de PSICOPEDAGOGIA
suma importância, porque ele vai agir como
um “solucionador” para os problemas de Na segunda década do Século XX, surgem
conduta e aprendizagem.” (MIRANDA, 2011, os primeiros centros de reeducação para
p. 01). delinquentes infantis nos Estados Unidos
e na Europa. Cresce o número de escolas
Ainda neste artigo, intende-se incorporar particulares e de ensino individualizado
uma visão específica e opinativa da autora para crianças consideradas de aprendizagem
a fim de estabelecer a melhor relação e lenta. Por volta de 1930, surgem na França os
efetividade na evolução do docente dentre primeiros centros de orientação educacional
as atividades propostas pelo profissional de infantil, com equipes formadas por médicos,
psicopedagogia. psicólogos, educadores e assistentes sociais
(MERY apud BOSSA, 2000, p.11).
Tem-se por objetivo abordar as dificuldades
de aprendizagem e os fatores decorrentes Esperava-se através desta união
delas. De acordo com Grigorenko; Psicologia-Psicanálise-Pedagogia,
Ternemberg, (2003, p.29): Dificuldade de conhecer a criança e o seu meio, para
aprendizagem significa um distúrbio em um que fosse possível compreender o caso
ou mais dos processos psicológicos básicos para determinar uma ação reeducadora.
envolvidos no entendimento ou no uso da Diferenciar os que não aprendiam, apesar
linguagem, falada ou escrita, que pode se de serem inteligentes, daqueles que
manifestar em uma aptidão imperfeita para apresentavam alguma deficiência mental,
ouvir, pensar, falar, ler, escrever, soletrar ou física ou sensorial era uma das preocupações
realizar cálculos matemáticos. da época. Em seu percurso inicial, observou-
se que a Psicopedagogia teve uma trajetória
Para que ocorra um diagnóstico eficaz significativa tendo primeiramente um caráter
acreditamos ser necessário intervenções de médico-pedagógico, do qual fazia parte uma

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Revista Educar FCE - Abril 2019

equipe do Centro Psicopedagógico: médicos, psicopedagogo argentino.


psicólogos, psicanalistas e pedagogos. A corrente europeia influenciou a
Argentina, que passou a atender as pessoas
Os primeiros Centros Psicopedagógicos portadoras de dificuldade de aprendizagem,
foram fundados na Europa, em 1946, por realizando um trabalho de reeducação. Os
J Boutonier e George Mauco, com direção conhecimentos da Psicanálise e da Psicologia
médica e pedagógica. Estes Centros uniam Genética, além de todo o conhecimento
conhecimentos da área de Psicologia, de linguagem e de psicomotricidade, eram
Psicanálise e Pedagogia, onde tentavam acionados para melhorar a compreensão das
readaptar crianças com comportamentos referidas dificuldades.
socialmente inadequados na escola ou no
lar e atender crianças com dificuldades de Na Argentina, a Psicopedagogia tem um
aprendizagem apesar de serem inteligentes caráter diferenciado da Psicopedagogia
(MERY apud BOSSA, 2000, p. 39). no Brasil. Naquele país são aplicados
testes de uso corrente, “alguns dos quais
Somente a partir da década de 50 é não são permitidos aos brasileiros por
que ela se configura na América do Sul. serem considerados de uso exclusivo dos
A Argentina, pioneira na América Latina, psicólogos” (BOSSA, 2000, p. 58).
dá início à formação universitária em
1956. Tendo como precursora a europeia A Psicopedagogia foi introduzida aqui
Arminda Aberastury, professora, pediatra no Brasil baseada nos modelos médicos de
e psicanalista e o argentino, Jorge Visca, atuação e foi dentro desta concepção de
considerado o pai da Psicopedagogia (criador problemas de aprendizagem que se iniciaram,
do Instituto de Psicopedagogia da Argentina, a partir de 1970, cursos de formação de
na década de 60) e responsável direto pela especialistas em Psicopedagogia na Clínica
definição oficial da Psicopedagogia como Médico-Pedagógica de Porto Alegre, com a
área de conhecimento. duração de dois anos (Id. Ibid., 2000, p. 52).

Na década de 70, surgiram em Buenos De acordo com Visca, a Psicopedagogia


Aires, os Centros de Saúde Mental, onde foi inicialmente uma ação subsidiada da
equipes de psicopedagogos atuavam fazendo Medicina e da Psicologia, perfilando-se
diagnóstico e tratamento. Estes profissionais posteriormente como um conhecimento
perceberam, um ano após o tratamento, que independente e complementar, possuída
os pacientes resolveram seus problemas de de um objeto de estudo, denominado de
aprendizagem, mas desenvolveram distúrbios processo de aprendizagem, e de recursos
de personalidade como deslocamento de diagnósticos, corretores e preventivos
sintoma. Resolveram então incluir o olhar e próprios (VISCA apud BOSSA, 2000, p. 21).
a escuta clínica psicanalítica, perfil atual do A psicopedagogia, portanto, no início da

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Revista Educar FCE - Abril 2019

sua atuação estava vinculada a prática de educando como um ser capaz de aprender,
reeducação, sem dar ênfase para as questões porem dentro do seu ritmo, ou seja,
psicológicas. repensando as dificuldades de aprendizagem,
levando-o a refletir sobre o processo da
Acredita-se que ao realizar intervenção linguagem. O papel do psicopedagogo é
esse profissional iria cuidar dos aspectos do promover o “querer aprender” é “despertar”
ensino aprendizagem somente, visto que o desejo e a descoberta de novos caminhos.
ainda não se tinha como objetivo um trabalho
investigativo sobre as causas da dificuldade A Psicopedagogia institucional acontece
de aprendizagem. nas escolas e tem por objetivo prevenir
as dificuldades de aprendizagem e,
Segundo a autora Alice Beatriz B. “Na consequentemente, o fracasso escolar.
década de 1980, em razão do fracasso escolar Atualmente, em função do novo contexto
extensivos aos alunos e aos docentes, pela educacional do ensino regular que recebe
falta de formação adequada, bem como em as crianças com necessidades educacionais
consequência das dificuldades encontradas especiais, a Psicopedagogia tem papel
nas instituições educacionais, os cursos importante auxiliando os professores, os
de Psicopedagogia voltaram – se para uma pais e a equipe escolar no trabalho com a
atuação clínica mais preocupada com os inclusão, pois entendemos que somente
aspectos preventivo e terapêutico das conceder a vaga à criança com necessidades
diversas dificuldades de aprendizagem”. especiais não é suficiente.

Nas instituições de Ensino as funções Podemos, contudo, afirmar que esse
do psicopedagogo eram utilizadas para profissional é de suma importância dentro
classificar os educandos e agrupá-los por das instituições, trabalhando em parceria
hipóteses de aprendizagem. Com o tempo, com a Equipe Gestora, educadores e
esse profissional foi construindo um olhar familiares, em um trabalho integrado,
amplo, dinâmico e investigativo, com articulando e apoiando na implementação
intuito de verificar as causas da dificuldade de projetos e discussões reflexivas que leve
de assimilação da aprendizagem, fazendo todos os envolvidos a pensar nos educandos
novas descobertas e busca de alternativas como capazes de aprender, apreender e
e estratégias para dar conta das situações interagir. Consolidando as premissas de que
adversas referente ao ensino aprendizagem. educar é “revelar saberes significativos” além
de “proporcionar momentos adversos para
Assim, tendeu-se a repensar a função construção humana”.
do psicopedagogo, relacionando-a com
o pedagógico e com o passar do tempo Portanto, aprender envolve desafios e
sistematizou-se a ideia que pressupõe o exercita-se num ato social, mas também

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Revista Educar FCE - Abril 2019

psíquico e deve ser trabalhado em sua alunos paralisados diante do processo de


integralidade. aprendizagem, e por conseguintes, acabam a
ser rotulados pela própria família, professores
Podemos constatar que se trabalharmos em e colegas.
equipe com todos os envolvidos com certeza
teremos sucesso em nosso ofício de mestre
e consequentemente formaremos indivíduos É importante que todos os envolvidos
capazes de atuar nessa sociedade que sofre no processo educativo estejam atentos
transformação diariamente e necessita
de cidadão ativos e protagonistas de sua a essas dificuldades, observando se são
aprendizagem. (BARREM, 2019). momentâneas ou se persistem há algum
tempo. As dificuldades podem advir de
fatores orgânicos ou mesmo emocionais e
DESAFIOS DO é importante que sejam descobertas a fim
PSICOPEDAGOGO de auxiliar o desenvolvimento do processo
educativo, percebendo se estão associadas
Vivemos em uma sociedade com padrão de à preguiça, cansaço, sono, tristeza, agitação,
famílias adversas, não podemos generalizar desordem, dentre outros, considerados
mas percebemos no nosso cotidiano a fatores que também desmotivam o
desestruturação de algumas famílias tanto aprendizado. A Aprendizagem é um processo
em recursos humanos como em recursos que se realiza no interior do indivíduo
emocionais, um dos fatores que ocorrem e se manifesta por uma mudança de
referente a dificuldade de aprendizagem é o comportamento relativamente permanente
número de alunos em sala de aula, que nem (BRASIL-ESCOLA).
sempre é possível o educador direcionar,
intervir e/ou perceber as necessidades do Segundo Silvia Ciasca, a Dificuldade
educando durante as aulas ministradas. de Aprendizagem é compreendida
Percebemos que alguns alunos têm facilidade como uma “forma peculiar e complexa
em compreender e apreender os conteúdos de comportamentos que não se deve
e outros que necessitam de atenção necessariamente a fatores orgânicos e que
diferenciada, ou seja, necessita-se de um são por isso, mais facilmente removíveis”. Ela
profissional que apoie e identifique caminhos ocorre em razão da presença de situações
possíveis para trabalhar e diagnosticar as negativas de interação social. Caracteriza-
enumeras questões relacionadas no ensino se fundamentalmente pela presença de
aprendizagem. dificuldades no aprender, maiores do que as
naturalmente esperadas para a maioria das
A área da educação nem sempre é crianças e por seus pares de turma e é em
cercada somente por sucessos e aprovações. boa parte das vezes, resistente ao esforço
Muitas vezes, no decorrer do ensino, nos pessoal e ao de seus professores, gerando
deparamos com problemas que deixam os um aproveitamento pedagógico insuficiente

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Revista Educar FCE - Abril 2019

e autoestima negativa. Essa dificuldade é


relacionada a questões psicopedagógicas HIPERATIVIDADE – Tem um tempo de
e/ou socioculturais, ou seja, não é centrada concentração curto, é incansável;
exclusivamente no aluno e somente pode
ser diagnosticada em crianças cujos déficits EXPLOSIVO – Não controla seus impulsos
na aprendizagem não se devam a problemas agressivos, tem atitudes destrutivas com
cognitivos. relação ao material escolar, resiste a
submeter-se a regras.

COMO OCORREM AS AUTISMO – caracteriza-se por respostas


INTERVENÇÕES DO anormais e estímulos auditivos ou visuais e
por problema grave quanto à compreensão
PSICOPEDAGOGO da linguagem falada.
É importante salientar que o professor
ao ministrar suas aulas muitas vezes fica AGRAFIA – Impossibilidade de escrever e
impossível o alhar nas diversas variantes reproduzir os seus pensamentos por escrito.
que ocorrem em sala de aula, levando em
consideração o número excessivo de alunos DISCALCULIA – Dificuldade para a
por classe, nesse sentido o educador atua nas realização de operações matemáticas
questões de aprendizagem e “indisciplinares”, usualmente ligadas a uma disfunção
que as vezes ocorrem devido as dificuldades neurológica, lesão cerebral, agnosias digitais
de aprendizagem. Neste sentido podemos e deficiente estruturação espaço-temporal.
dizer que o educador não avalia o educando
globalmente, ou seja nas diferentes variantes DISGRAFIA – Escrita manual extremamente
que podem ocorrer, muitas vezes essas pobre ou dificuldades de realização dos
dificuldades necessitam de investigação movimentos motores necessários a escrita.
para verificar-se as causas que podem ser
inúmeras, que somente a intervenção do DISLEXIA – A criança é inteligente e
educador não dará conta como por exemplo: criativa, porém, apresenta dificuldades de
leitura, escrita e soletração. Lê repetidas
ANSIOSO – caracteriza-se por ansiedade, vezes, mas não entende o texto. Tem
depressão, sentimento de inferioridade, dificuldades para colocar os pensamentos
solidão ou infelicidade. em palavras. Dificuldades de lateralidade.
Excelente memória para experiências,
IMATURO – é agitado, descuidado, passivo, lugares e rostos.
falta-lhe iniciativa e interesse. Apresenta
reações afetivas sem razão aparente, como DISORTOGRAFIA – Dificuldade na
chorar ou gargalhar; expressão da linguagem escrita, revelada

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Revista Educar FCE - Abril 2019

por fraseologia incorretamente construída, • Considerar a instituição hospitalar


normalmente associada a atrasos na como elemento fundamental na realização
compreensão e na expressão da linguagem de diagnósticos para a identificação de
escrita. dificuldades de aprendizagem;
• Favorecer a aprendizagem do sujeito
Educadores procuram atender essas ao assumir novas funções em seu contexto
questões, mas fica inviável pela falta de de trabalho.
tempo e formação, portanto a sua atuação
é pautada nas questões dos conteúdos O psicopedagogo, no Brasil, ocupa-se
propostos e avaliações internas e externas. das seguintes atividades conforme Lino de
Atualmente a psicopedagogia trabalha com Macedo:
uma concepção de aprendizagem de acordo
com a relação do sujeito com o meio, suas • Orientação de estudos – organizando
disposições afetivas e intelectuais. Como a vida escolar da criança quando esta não
já vimos anteriormente, na Psicopedagogia sabe fazê-lo espontaneamente como ler um
pode ser trabalhado o clínico e o preventivo. texto, como escrever, como estudar etc.
Como preventivo podem ser trabalhadas as • Apropriação dos conteúdos escolares
questões didático-metodológicas, bem como – propiciar o domínio de disciplinas escolares
a formação e orientação dos professores que a criança não vem atingindo bons
e aconselhamento dos pais. Diminuir e resultados;
tratar os problemas já instalados. Como • Desenvolvimento do raciocínio –
clínico, o psicopedagogo precisa conhecer o Os jogos são muito utilizados, criando um
sujeito, quais os recursos de conhecimento contexto de observação e diálogo sobre
que ele dispõe e como aprende e produz processos de pensar e de construir o
conhecimento. Assim, é preciso que o conhecimento.
psicopedagogo saiba aprender o que é • Atendimento a criança – Atende a
ensinar. deficientes mentais, autistas, hiperativos ou
com comportamentos orgânicos mais graves,
Leda Barone no II Encontro Psicopedagógico podendo até substituir o trabalho da escola.
enfatiza que o psicopedagogo deve assumir
a polaridade do seu papel como: Na sua função preventiva, cabe ao
psicopedagogo:
• Levar em conta o papel da família
como transmissor de cultura e, matriz dos • Detectar possíveis perturbações no
primeiros modelos de aprendizagem; processo de aprendizagem;
• Reconhecer a escola como um espaço • Participar da dinâmica das relações da
onde o sujeito adquire conhecimentos que comunidade educativa, a fim de favorecer o
se transformam em saber; processo de integração e troca;

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Revista Educar FCE - Abril 2019

• Promover orientações metodológicas Além disso, o profissional poderá


de acordo com as características dos diagnosticar os fatores decorrentes as
indivíduos e grupos; dificuldades de aprendizagem dos educandos
• Realizar processos de orientação sendo eles crianças, adolescentes ou até
educacional, vocacional e ocupacional, tanto mesmo adultos, identificando os fatores
na forma individual ou grupal. neurológicos, fonoaudiólogos, psicomotores,
estruturas familiares e até mesmo
comportamentais. Após o diagnóstico poderá
O QUE O PSICOPEDAGOGO criar possibilidades e acompanhamentos para
OBSERVA NO INDIVÍDUO “sanar” as dificuldades de aprendizagem.
“O Psicopedagogo deve sempre se dirigir
Coordenação motora ampla; Aspectos a criança ou adolescente com abordagens
sensório motor; Dinâmica lateral; novas, levando-a a acreditar que é capaz de
Desenvolvimento rítmico; Desenvolvimento realização nunca conseguidas” (GLIZ, 2009,
motor fino; Criatividade; Evolução do p.121).
traçado e do desenho; Percepção e
discriminação visual e auditiva; Percepção Trabalhando em conjunto a autoestima
espacial; Percepção Viso-motor; Orientação do estudante, auxiliando os educadores,
e relação espaço – temporal; Aquisição e familiares para que o mesmo alcance o
articulação de sons; Aquisição de palavras sucesso escolar, que fará parte no âmbito
novas; Elaboração e organização mental; pessoal e profissional por toda sua existência.
Atenção e concentração; Expressão plástica;
Aquisição de conceitos; Discriminação e “Assim, o psicopedagogo pode usar como
correspondência de símbolos; Raciocínio recursos:
lógico matemático. - entrevista com a família;
- investigar o motivo da consulta;
Portanto, se faz cada vez mais necessário o - procurar a história de vida da criança
estudo, a pesquisa e a ampliação de conceitos e realizando Anamnese;
teorias sobre o organismo e seu funcionamento, - fazer contato com a escola e outros
com o intuito de ajudar e melhorar o processo profissionais que atendam a criança;
de ensino – aprendizagem, acredito que o - manter os pais informados do estado
psicopedagogo, terá como atuar junto com a da criança e da intervenção que está sendo
Equipe escolar e seus familiares/responsáveis realizada;
para possíveis encaminhamentos ou - realizar encaminhamento para
intervenções pontuais para que o educando possa outros profissionais, quando necessário”.
desenvolver suas habilidades e competências (RUBINSTEIN,1996).
correspondentes a série/ano de estudos para
que ocorra uma aprendizagem significativa.

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Podemos afirmar que o psicopedagogo seria um profissional atuante no âmbito escolar


público/privado, pois atuaria pedagogicamente, para que os objetivos propostos fossem
atingidos e com certeza um trabalho em equipe com todos os envolvidos, seria um passo
para o sucesso, no que se refere a formação do indivíduo, e com certeza poderíamos no
futuro próximo termos uma sociedade com seres humanos atuantes, protagonistas da sua
própria aprendizagem.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos considerar que Psicopedagogia tem seu
papel fundamental dentro das unidades escolares,
independentemente de serem particulares ou públicas,
ou até mesmo em atendimento em consultórios. Embora
ainda não contemos com sua atuação diretamente dentro
das unidades públicas já que algumas Diretorias de Ensino,
contam com o apoio desse profissional que atuam dentro
das DREs e em atendimento as unidades, e nem sempre
atendendo às demandas das instituições escolares que
necessitam de apoio diariamente e em momentos pontuais. ROSELI FRANÇA BATISTA
FLOSE BARREM
Diante desses fatores, podemos considerar que as
Graduação em Licenciatura Plena
dificuldades de aprendizagem, agressividades, problemas em História pela Faculdade UNISA
indisciplinares e emocionais, sociais e até mesmo cognitivos (2003); Especialista em Pedagogia
são situações decorrentes dos seres humanos e surgem no e Administração Escolar pela
UNIBAN (2006); Professora
cotidiano e se evidencia nas rotinas escolares necessitando de Educação Infantil e Ensino
de intervenção pedagógica nos momentos pontuais, Fundamental I - na EMEI JARDIM
individuais e em grupo, com atividades de sondagem para LUCÉLIA - São Paulo – SP.
possíveis diagnósticos.

Para que o psicopedagogo reflita sobre o diagnóstico e assim possa realizar um trabalho
em equipe com todos os envolvidos nesse processo de ensino aprendizagem.

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REFERÊNCIAS
BARBOSA, Laura Monte Serrat. A História da Psicopedagogia contou também com Visca,
in Psicopedagogia e Aprendizagem. Coletânea de reflexões. Curitiba, 2002.

BARROS, Jussara de. "Dificuldades de Aprendizagem"; Brasil Escola. Disponível em <http://


brasilescola.uol.com.br/educacao/dificuldades-aprendizagem.htm>. Acesso em 25 de Abril
de 2017.

BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre,


Artes Médicas, 2000.

SEVERINO. Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23ª edição Revista e


Ampliada. São Paulo. Cortez, 2007.

SISTO, F.F. Aprendizagem e mudanças cognitivas em crianças. Petrópolis, Vozes, 1997.

GRIGORENKO, Elena L. STERNBERG, Robert J. Crianças Rotuladas - O que é Necessário


Saber sobre as Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2003.

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre,Artes


Médicas, 1987.

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APRENDER BRINCANDO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O presente artigo apresenta uma reflexão sobre ludicidade no qual procura
enfatizar a importância da aplicação das brincadeiras na educação infantil que está
embasado em autores estudiosos sobre o assunto como Almeida (1998) e Pozas (2014),
entre outros. Demonstrando como as brincadeiras e os jogos são de suma importância para o
desenvolvimento humano, considerando assim o lúdico fundamental para o desenvolvimento
cognitivo. A autonomia das crianças advém das brincadeiras que as crianças conseguem
desenvolver e a linguagem, a produção cultural. O presente material tem como principal
objetivo aguçar a capacidade profissional docente e apontar como finalidades de sua
pesquisa a especificação de aspectos para desenvolvimento prático e teórico de ações e
métodos para uma visão global de trabalho.

Palavras-Chave: Lúdico; Brincadeiras; Educação Infantil.

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INTRODUÇÃO proporcionar aprendizagens significativas


para todos.
O tema ludicidade tem ganhado
destaque e sido objeto de estudo dentre os Este artigo tem como objetivo em
pesquisadores. A justificativa desta pesquisa identificar a importância das brincadeiras e
é devido ao crescimento significativo, nesta dos jogos, como formas prazerosas para o
década de aprofundar os conhecimentos desenvolvimento da aprendizagem, fazendo
sobre os benefícios que as brincadeiras, com que o aluno se aproprie dela e contribua
na educação infantil oferece. Sendo assim, para que estes construam o conhecimento
torna-se necessário o desenvolvimento de forma significativa e efetiva e, ainda,
e o estudo de metodologias e práticas que ajudem profissionais em sala de aula
pedagógicas que possibilite os pedagogos a nas escolhas pelas atividades lúdicas, e logo
participarem, efetivamente, das atividades despertem nos alunos mais interessem, que
que ocorrem nos espaços escolares e do os deixem mais motivados.
processo de ensino e aprendizagem.
Reforçando assim o processo de
Os pesquisadores Almeida (1998), Pozas construção dinâmica e interativa entre o
(2014), Rosa (2008) Stoltz (2008), entre outros, aluno, o professor, o objeto de estudo e o
abordam em seus escritos a importância meio. Sendo assim o professor ao utilizar
para o aprendizado com o uso pelo professor brincadeiras e jogos nas atividades de
dos jogos e das brincadeiras, ou seja, das aprendizagem estará proporcionando aos
atividades lúdicas em concomitância com o seus alunos o prazer de aprender.
ensinar ler e escrever, especialmente, na fase
inicial da educação infantil. Para aprofundar o tema os métodos
abordados foram pesquisas em site,
Neste direcionamento a formação do documentos e leis buscando embasamento
professor para o processo da ludicidade em autores que contribuíram para a definição
nos primeiros anos da formação, é de suma dos principais conceitos envolvidos neste
importância na educação infantil, pois estudo.
eles precisam estar bem preparadas para
atender as especificidades dos estudantes, Nesta perspectiva da Froebel (1982-
sobretudo, diante das inúmeras atrações que 1852), discípulo de Pestalozzi, estabeleceu,
o mundo da jogos eletrônicos oferecem e que que a pedagogia deve considerar a criança
cativam diante das cores e velocidades dos como atividade criadora, e despertar
temas, por isso um professor bem preparado mediante estímulos suas faculdades próprias
pedagogicamente e escolas com boas para crianças produtivas.
estruturas físicas, os professores poderão
trabalhar com as diferenças existentes e

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Para concretizarmos este estudo foi deveriam ser preenchidos com jogos
utilizado a pesquisa bibliográfica para a educativos e também com prática comum ao
inicial construção efetiva usamos diversos sexo masculino e feminino.
estudiosos, de diferentes épocas, pois foi
necessária uma revisão bibliográfica do Almeida (1998) também relata que o
tema apontado. Auxiliando a escolha de pensamento grego da época de Platão era
um método mais apropriado, assim como de que a educação da criança deveria ser
num conhecimento das variáveis e na iniciada aos sete anos de idade.
autenticidade da pesquisa.
Foi a partir do século XVI que se iniciou
Logo, a pesquisa bibliográfica é definida a valorização dos jogos educativo, no Brasil,
Lakatos e Markoni (1993), como uma e iniciou com os “colégios jesuítas” os quais
sondagem, uma seletiva de documentos introduziram a prática na formação educativa,
em todo acervo que possa contribuir para o e desde passou a ser valorizada e respeitada
estudo, as ações detalhadas pelos autores pela sociedade dominante da época.
tem como objetivo posicionar o estudioso, no
tema, em contato direto com todo material Ariès (1960 apud ALMEIDA,1998)
disponível. pesquisou sobre a vida social da criança e da
família e explica que em relação aos jogos,
O trabalho procurou-se analisar materiais os padres - jesuítas, foram os primeiros a
cientificamente e, portanto, apoiando compreender a sua importância, por isso não
em notáveis contribuições teóricas que os suprimiu ou mesmo viam como proposta
permitiu a refletir sobre as diversas formas subversiva. Pelo contrário, eles sugeriram
de compreender o tema em questão, a absorção e a admissão oficialmente em
proporcionando um olhar mais amplo seus programas de ensino. Logo que foi
para ludicidade e sua contribuição na introduzido ao programa os jogos passaram
aprendizagem das crianças. a ser recomendado e considerados como
meios de educação tão estáveis como os
outros estudos.
OS ESTUDIOSOS DA
EDUCAÇÃO LÚDICA Os jesuítas editaram em latim tratados de
ginástica que forneciam as regras dos jogos
recomendados e passaram a aplicar nos
Nas inúmeras leituras sobre o tema para colégios: a dança, a comédia, e os jogos de azar,
este trabalho deparamos com o capítulo transformados em práticas educativas para
aprendizagem da ortografia e de gramática.
intitulado por Paulo Nunes de Almeida (ARIÈS, 1960 apud ALMEIDA, 1998, p. 21)
(1998) como “Gêneses da Educação Lúdica”,
que segundo o autor, Platão afirmou que Já Jean-Jacques Rousseau (1758, apud
os primeiros anos de vida de uma criança ALMEIDA,1998) concluiu que as crianças

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social que pressupõe relações e encontros, esta


têm maneiras de ver, de pensar e de sentir seria, certamente, a forma mais interessante de
que lhe são próprias. Demonstrou que não se viabilizar o desenvolvimento cognitivo da
se aprende nada senão por meio de uma criança (POZAS, 2014, p. 29).
conquista ativa.
No entanto a criança em sua tentativa
Para o pedagogo Dewey (1889, apud de igualar uma realidade, mas, ainda não
ALMEIDA, 1998) há diversas maneiras de possui ainda elementos mentais plenamente
transformar o ambiente natural da criança, desenvolvidas, por isso a criança utiliza as
no qual ela aprende a viver, em vez de ferramentas que dispõe para reconstruir
aprender simplesmente lições, que tenham o ambiente escolar o mais parecido com o
uma abstrata e remota referência a alguma ambiente do seu universo, com o qual convive.
vida possível que haja de localizar-se no
possuir. Em muitos casos, essa tentativa de reconstruir
a realidade acaba deformando-a de modo
“egocêntrico”, pois, “sob essas formas iniciais,
O pedagogo, ainda, defendia a ideia de constitui uma assimilação do real à atividade
que a verdadeira educação é aquela que própria, fornecendo a este seu alimento
necessário e transformado a realidade de
cria na criança o melhor comportamento acordo com as múltiplas necessidades do “eu”
para satisfazer suas múltiplas necessidades (ALMEIDA, 1998, p. 28)
orgânicas e intelectuais, necessidade de
saber, de explorar, de observar, de trabalhar, Paulo Freire dizia que como prática da
de jogar, de viver. A educação não tem outro liberdade devemos abordar nos estudos agir
caminho senão organizar os conhecimentos, em busca e apropriar-se dos conhecimentos
partindo das necessidades e interesses das para transformar. Neste caso exige do
crianças. aprendiz o esforço, a participação, a criação,
a reflexão, a socialização com prazer e
Almeida (1998) cita Jean Piaget quanto são as relações que fortalece a educação
a fatos estão relacionadas as experiências lúdica, porém é adversa a educação sem
lúdicas aplicadas em crianças e deixa a determinação de elaborações prévias
transparecer claramente seu entusiasmo pelo ao gracejo, à alucinação, à resignação, e a
novo processo. Segundo ele, as brincadeiras pedagogia paralisante.
não são apenas forma de desafogo ou
entretenimento para gastar a energia das Lembrando que a educação lúdica esteve
crianças, mas meios que enriquecem o presente em todas as gerações, em todos
desenvolvimento intelectual. os contextos escolares, também assediado
por muitos pesquisadores e atualmente uma
Na atividade lúdica, a criança ousa experimentar vasta rede de conhecimento não só no campo
o mundo realmente aquele que ela vem
compreendendo com a ajuda do adulto e que da educação, da psicologia, da fisiologia,
está imerso no cultural, no social e no histórico. como nas demais áreas do conhecimento.
Ao acreditar ser a brincadeira uma aprendizagem

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modo de se apropriar dessas práticas culturais


Uma vez que ela integra uma teoria profunda e o que o sujeito efetivamente consegue realizar
e uma prática atuante. Seus objetivos além a partir das possibilidades em seu contexto
de explicar a relações múltiplas do ser constitui uma trajetória única.

humano em seu contexto histórico, social,


cultural, psicológico, enfatizam a libertação É imprescindível compreendermos que
das relações pessoais passivas, das técnicas em educação os aspectos socioculturais são
para as relações reflexivas, das criadoras, das fundamentais para a eficácia, efetividade e
inteligentes, das socializadoras, fazendo do aprimoramento das ações educativas e suas
ato de educar um compromisso consciente conquistas.
intencional, de esforço, sem perder o
caráter de prazer de satisfação individual e
modificador da sociedade. BRINCADEIRAS E O
DESENVOLVIMENTO SOCIAL
A autora Rosa (2008, p. 41) afirma que:
“O lúdico é uma necessidade do ser humano As autoras (ACAMPORA, BIANCA;
em qualquer idade e não pode ser visto ACAMPORA, BEATRIZ, 2016), delineiam
apenas como diversão. O desenvolvimento em seu livro: Intervenção Psicopedagógica
deste aspecto facilita a aprendizagem, o com práticas de Ludeterapia e Arteterapia,
desenvolvimento social, pessoal e cultural, diversas sugestões de intervenções lúdicas,
colabora para uma boa saúde mental”. que podem ser utilizadas em sala de aulas,
dentre elas estão, o jogo de “Pescaria” e
As brincadeiras contribuem com o o “Twister”, as quais, segundo as autoras,
desenvolvimento cognitivo e o crescimento auxiliam no desenvolvimento emocional,
social, pessoal e cultural. Proporcionando psicomotora e cognitiva da criança, e, por
a aquisição de autonomia e autoestima. isso, exemplificaremos, rapidamente, sobre
Na construção de saberes é imprescindível eles, nas próximas linhas.
considerar a satisfação do indivíduo e,
sobretudo suas experiências, limitações e a A pescaria, necessita de pouco recursos
interação com seus pares na conquista de financeiros, neste jogo as crianças pescam os
um processo educativo efetivo e satisfatório. peixes que estão com quilograma nas figuras
do peixe, pode ser jogado em agrupamento,
Neste sentido Stoltz (2008, p.77) comenta que facilita o desenvolvimento em sala de
que: aula. Durante a brincadeira as crianças estarão
trabalhando as quatro operações matemáticas,
Isto sugere que somos o resultado da interação o perder e ganhar, e a administrar o tempo
com processos culturais de socialização
que têm na educação e na aprendizagem o
desenvolvimento de trajetórias semelhantes, Já o “Twister” consiste em um tabuleiro
porque ocorrem a partir de uma mesma cultura. contendo peças de cores diversas e divididas
Contudo, também são diferenciadas, porque o

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Revista Educar FCE - Abril 2019

em quatro partes, no qual a criança tentar equilibrar-se colocando cada mão e cada pé em
uma cor diferente e tem que mudar, uma parte do corpo de cada vez, sem cair. O jogo,
segundo as autoras, desenvolve a atenção, a autoconfiança, a lateralidade e o equilíbrio.

As autoras exemplificam que os jogos podem ser desestruturados, sem regras fixas, sem
competição, apenas o uso da criatividade do participante. O importante e que a criança ao
brincar, como participante espontâneo, possa criar opções vencer as dificuldades.

Já a autora Taciane M. C. Branco (2001) em sua dissertação de mestrado, sugere que é


uma das formas eficiente de conversar com a criança por meio dos contos de fadas, em se
tratando de sala de aula, é um instrumento de fácil acesso ao professor, que, por isso, vale
algumas linhas neste trabalho.

E o conto de fadas pode ser utilizado como instrumento de comunicação entre adultos
e crianças. Ela cita Coelho (1990, apud Branco,2001) no qual afirma que quando ouvimos
história ela tem força que nos sensibilizam a ponto de envolvermos com as personagens, e a
sucessão de acontecimentos, estruturados na história, que causa comoção quase indesatável
dos acontecimentos, pois os pensamentos estão concomitantes com as ações vividas pelas
personagens, nos adentramos aos seus problemas na história.

E, complementa com as palavras da mesma autora (COELHO,1990, apud BRANCO,


2001), dizendo que as histórias são bem recebidas pela a maioria das crianças, porque elas
ativam desenvolvimento cognitivo de acordo com fase da criança. Que devem ser escolhidas
histórias conforme interesse e a idade da criança, pois elas variam, como as com sete anos
de idade, por exemplo, as crianças preferem histórias com um enredo reduzido envolvendo
aventuras no ambiente próprio: família, comunidade e histórias de fadas. (Coelho,1990,
apud BRANCO, 2001, p.15).

Como toda arte significativa, o sentido mais profundo dos contos de fadas será diferente para cada pessoa,
e diferente para a mesma pessoa em momentos diversos de sua vida. A criança extrairá um sentido diferente
do mesmo conto de fadas ou da mesma história infantil, dependendo dos seus interesses e necessidades do
momento. Sendo-lhe dada a oportunidade, ela voltará ao mesmo conto ou história quando estiver pronta a
ampliar significados ou substituí-los por novos. (BRANCO, 2001, p. 74)

Os autores concordam que ao contarmos histórias para as crianças, especialmente, a


partir dos 3 anos de idade, ajuda as crianças a aceitarem a si mesmo criando uma identidade,
essencial para o desenvolvimento, é um recurso que favorece processo da lúdico.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a abordagem do tema, buscou-se pautar a
pesquisa numa abordagem cientifica de cunho qualitativo.
Procurando compreender a importância da ludicidade na
educação infantil.

Mediante esses aspectos a problemática pautou-se num


norteamento teórico no intuito de responder como um
educador pode desenvolver a prática educativa de forma
que os educandos consigam relacionar o que aprendem na
escola com o que eles aprenderam por das vivência e formas ROSEMEIRE URIOS
de linguagem extraescolar.
Graduação em Matemática
Uma vez que desde tenra idade a criança está aberta pela Faculdade Camilo Castelo
ao processo inserção ao mundo escolar pelo ‘seu olhar’ e Branco (2010); Pedagogia
escrevendo sua história, lendo a vida numa concepção crítica pela Faculdade Nove de Julho
(2012); Especialista em Docência
- reflexiva. do Ensino Superior (2015);
Especialista em Psicopedagogia
Considerando que sob o aspecto sociocultural temos Institucional pela Faculdade da
Aldeia de Carapicuíba (2016);
diante de nós um panorama diversificado construído Professora de Educação infantil
mediante transformações que geraram vários ângulos e Ensino Fundamenta I - na EMEI
antropológicos, daí a necessidade de a escola contemporânea José Mauro de Vasconcelos.
apresentar ações educativas, que proporcionem condições
de desenvolvimento epistemológico pautado numa consciência cultural que atenda às
necessidades do aluno.

O que determina a necessidade de objetivamente analisar e compreender a importância


do ensino por meio da ludicidade de forma a possibilitarmos aos educandos experiências na
educação infantil por meio de atividades que envolvam não apenas textos, palavras e letras,
mas que os mesmos pudessem construir um repertório com significado, que contribua para
o desenvolvimento significativo do processo educativo.

Visto que ao considerarmos a conexão escola e sociedade descobrimos que a educação


norteada por uma metodologia lúdica constrói saberes que proporcionam a interpretação do
que se lê motivando o exercício da cidadania por inteiro, contribuindo para o desenvolvimento
do “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser”.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Nesse contexto, percebe-se a necessidade de atualização dos professores proporcionando


uma ação didática, interdisciplinar facilitadora de vivências lúdicas, contemplando o
caráter lúdico do movimento humano como fonte de prazer e alegria, no ambiente escolar,
e, especialmente, no processo de desenvolvimento da construção dos saberes e do
conhecimento.

Se pensarmos que todos os seres humanos são agentes de transformação, assim, um


transforma o outro na relação intrínseca ensino e aprendizagem, por via do conhecimento
transformam a sociedade: aprendendo, ensinando, buscando e aperfeiçoando, sempre.

Vivenciarmos como na visão dos autores pesquisados que a criança se comporta de


forma mais avançada do que nas atividades da vida real, tanto pela vivência de uma situação
imaginária, quanto pela capacidade de subordinação às regras.

Sendo assim o professor como mediador do conhecimento, transformador da sua pratica


pedagógica, fazendo uma integração do lúdico e sua metodologia de ensino terá sucesso e
resultados satisfatórios.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
ACAMPORA, Bianca; ACAMPORA, Beatriz. Intervenção Psicopedagógica com práticas de
Ludeterapia e Arteterapia. Rio de Janeiro. Wak Editora. 2016.

ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: Prazer de estudar técnicas e jogos pedagógicos.
São Paulo: Edições Loyola, 1998.

BRANCO, Taciane Marques Castelo. Histórias infantis na ludoterapia; centrada na criança.


PUC-CAMPINAS –SP. pdf. 2001

FREIRE, Paulo. Pedagogia dos Sonhos Possíveis. São Paulo: UNESP, 2001.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia


científica. São Paulo: Atlas, 1993.

POZAS, Denise. Criança que brinca mais aprende mais: a importância da atividade lúdica
para o desenvolvimento cognitivo infantil. 1º ed. Rio e Janeiro: Ed.Senac. Rio de Janeiro,
2014.

ROSA, Adriana. Lúdico & Alfabetização. Curitiba: JURUÁ, 2008.

STOLTZ, Tania. As perspectivas construtivistas e histórico – cultural na educação escolar.


Curitiba: IBPEX, 2008.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

BULLING NA ESFERA ESCOLAR: O


PAPEL DA ESCOLA DIANTE
DESSE FENÔMENO
RESUMO: Este artigo objetiva compreender o que é o bullying e qual o papel da escola
diante de violência causada pelos alunos contra os seus pares. Tais violências podem trazer
consequências desastrosas as quais o aluno poderá levar para o resto da vida. Essa pesquisa
constata que a função da escola transcende o de ensinar conteúdos convencionais, ela deve
preparar o jovem para a vida, torna-los cidadãos consciente dos seus deveres e direitos.
Indica também algumas medidas a serem tomadas na comunidade escolar para a erradicação
do bullying nas escolas. Para esclarecer nossas dúvidas embarcaremos em uma pesquisa
bibliográfica.

Palavras-Chave: Bullying; Escola; Alunos; Violência.

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INTRODUÇÃO educandos. Violência que alarmantemente


está iniciando cada vez mais cedo, o
A escolha desse tema surgiu a partir da envolvimento de crianças pequenas com
observação, vivência e reflexões de situações o bullying está cada vez mais frequente e
que podem ser consideradas bullying. Mas precoce. Com essa pesquisa pretende-se
como identificar quando estamos em uma identificar o que leva a prática do bullying
situação de bullying ou de uma simples entre os escolares, quais são as consequências
brincadeira? O bullying são situações dessas ações, quem são os envolvidos, quais
constrangedoras e repetitivas onde alguns são os tipos de bullying e qual a incumbência
se divertem às custas dos outros, situações da escola diante desse ato.
essas, que causam muita dor e sofrimento a
quem está sendo exposto a elas.
O QUE INCITA A PRÁTICA
O termo bullying é oriunda da língua DO BULLYNG
inglesa que quer dizer tirano, brigão,
mandão. No Brasil, a Lei Federal 13.185/15 A prática do bullying se tornou uma
traduziu a palavra bullying para Intimidação realidade nas instituições escolares do
Sistemática e instituiu um programa de mundo inteiro. Para Cleo Fante (2010, p.44)
combate a Intimidação Sistemática em todo “O bullying é um fenômeno tão antigo quanto
o território nacional. a própria escola”. O fato de o tema não ter
sido antes estudado, pesquisado, trazendo
De acordo com Silva (2010), o termo a luz a identificação da problemática e
bullying pode ser utilizado para definir todo conceituando-o, não teve destaque até
tipo de comportamento agressivo, cruel e então na mídia.
metódico.
De acordo com Silva (2005) Esse fenômeno
A especialista em violência escolar Cleo só começou a ser estudado no ano de 1970
Fante (2005, p.30) afirma que: pelo professor de Psicologia na Universidade
de Bergen na Noruega Dr. Dan Olweus.
[...] O bullying é um conceito específico e
muito bem definido, uma vez que não se deixa
confundir com outras formas de violência. Isso se Os alunos que não correspondem ao
justifica pelo fato de apresentar características padrão de comportamento ou de estética
próprias, dentre elas talvez a mais grave, seja a imposto por determinados grupos, acabam
propriedade de causar traumas ao psiquismo de
suas vítimas [...]. sofrendo violências físicas ou psicológicas
no ambiente escolar.
A escola é um lugar de interação,
socialização, mas ultimamente o mundo Para Lopes Neto (2011, p.19):
está apreensivo com a violência entre os

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O comportamento violento resulta, portanto, da qual for, mas sempre notória e abrangente,
interação do desenvolvimento individual e seus envolvendo religião, raça, estrutura física, peso,
contextos sociais, como a família, a escola e a cor de cabelo, deficiências visuais, auditivas e
comunidade. Infelizmente em todas as escolas, vocais; ou uma diferença de ordem psicológica,
esse tipo de fenômeno aparece interferir em social, sexual e física; ou está relacionada
intensidades variáveis com os estudantes ao aspecto de força, coragem e habilidades
reproduzindo o que aprendem no mundo desportivas e intelectuais. (FANTE, 2005, p.62).
interior.

Sobre os motivos que levam os alunos a Monteiro (2010, p.109) nos diz que: “A
praticar o bullying Silva (2010, p.21) nos traz tirania observada no âmbito educacional
que: são a falta de clareza de papeis e do não
reconhecimento do “outro” como o “outro”
É fundamental explicitar que atitudes tomadas e não como um “eu” ou como um “si mesmo”
por um ou mais agressores contra um ou
alguns estudantes, geralmente, não apresentam nas relações do cotidiano institucional”.
motivações específicas ou justificáveis. Isso
significa dizer que, de forma quase que “natural”,
os mais fortes, utilizam os mais fracos como
meros objeto de diversão, prazer e poder, com
OS ENVOLVIDOS
o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e
amedrontar suas vítimas. E isso, invariavelmente, O bullying se faz presente em todas as
sempre produz, alimenta e até perpetua muita
dor e sofrimento nos vitimados. escolas sendo elas públicas ou privadas.
Os personagens dessa onda de violência
segundo Fante (2005) e Silva (2010) são: os
Não existe uma única causa determinante agressores, as vítimas e as testemunhas.
para as condutas violentas dentro das
instituições escolares. Geralmente • Os agressores: são classificados por
os agressores, possuem famílias bullies, o objetivo do agressor na maioria das
desestruturadas, vivem em um ambiente vezes, é obter o poder e ter autoridade sobre
permissivo com excesso de tolerância, suas vítimas através de atos de violência,
sofrem com a ausência dos pais, com a falta usando da força física e/ou psicológica que
de afeto e sofrem violência doméstica. ocorre de forma repetitiva e intencional.

A intolerância com as diferenças individuais • As vítimas:


é um dos fatores determinantes para a prática Vítimas típicas: são aqueles alunos que
do bullying. Qualquer indivíduo que fuja dos ficam isoladas, são inseguros, demonstram
padrões determinados por um grupo, está timidez, tem um aspecto físico fraco. São
sujeito a ser vítima de violência seja ela física aquelas que fogem do padrão imposto por
ou psicológica. um determinado grupo.

[...] O bullying começa frequentemente pela


recusa de aceitação de uma diferença, seja ela

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Vítimas provocadoras: na maioria das As pessoas precisam ter consciência que o


vezes são crianças imaturas, hiperativas ou bullying é um problema social e que precisa
impulsiva que provocam agressões para si e ser combatido. A comunidade escolar tem
em geral discutem ou brigam quando atacado que estar bem informada e preparada para
e insultado. lidar com esse fenômeno.

Vítimas agressoras: reproduzem as


violências sofridas em alguém mais frágil e VARIAÇÕES DO BULLYNG
vulnerável como uma forma de compensação.
As agressões praticadas por bullies
• As testemunhas: são os alunos neutros, podem ocorrer de forma direta e indireta.
são apenas espectadores, não sofrem nem Na forma direta os agressores se utilizam
praticam bullying, não se manifestam por de força física contra as vítimas e na forma
medo de vir a ser o próximo alvo. indireta o agressor denigre a imagem da
vítima espalhando rumores maliciosos a seu
Todos os envolvidos nessa prática respeito.
sofrem as consequências, porém a vítima é
a mais prejudicada uma vez que o reflexo De acordo com estudiosos sobre o assunto,
de toda a violência em que foi exposta, essas são algumas formas de práticas de
pode lhe acompanhar pelo decorrer da bullying:
vida e interferir negativamente em suas
relações interpessoais, na sua vida pessoal • Verbal: insultar, ofender, xingar, fazer
e profissional. Para Silva (2010), a prática gozação, fazer piadas ofensivas, colocar
do bullying pode vir a agravar problemas apelidos pejorativos, zoar...
preexistentes e também pode desenvolver
transtornos mentais e comportamentais. O bullying verbal tem início muito cedo
entre ambos os sexos.
Os agressores também sofrem as
consequências desses atos. Para Fante • Psicológica e moral: irritar, excluir,
(2005, p.81): humilhar, discriminar, intimidar, difamar,
aterrorizar, perseguir, causar intrigas,
O agressor (de ambos os sexos) envolvidos chantagear, tiranizar, chantagear, passar
no fenômeno estará propenso a adotar
comportamentos delinquentes tais como: bilhetes e desenhos entre colegas de caráter
agregação a grupos delinquentes, agressão sem ofensivo, fazer comentários depreciativos...
motivo aparente, uso de drogas, porte ilegal de
armas, furto, indiferença a realidade que o cerca,
crença de que é impondo-se com violência que Esse tipo de agressão é mais frequente
conseguirá obter o que quer da vida...afinal foi entre meninas.
assim nos anos escolares.

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• Física e material: bater, empurrar, que atendam. Segundo Fante (2005, p.67)
roubar, furtar ou destruir pertences das “[...] as condutas bullying não se referem a
vítimas, espancar, beliscar, ferir, chutar, uns casos isolados de tipos violência, de um
arremessar objetos contra as vítimas... fenômeno que se desenvolve e se alastra
em todas as escolas com menor ou maior
Essas agressões são mais comuns entre intensidade [...]”.
meninos.
Para inibir o surgimento do bullying
• Sexual: abusar, assediar, insinuar, nas escolas a figura do professor é muito
violentar... importante, pois é através dele que que os
alunos podem vir a apreender novas visões
Esse tipo de bullying pode acontecer de mundo, de sujeito e novas possibilidades
tanto entre meninos com meninas, quanto de convivência.
meninos com meninos.
Segundo Silva (2010, p.138) “Educar é
• Virtual (cyberbullying): uso de fornecer conteúdos e também preparar os
aparelhos e equipamentos de comunicação jovens para a vida [...]”.
(celulares, filmadoras e internet) que
podem propagar conteúdos caluniosos e Jamar Monteiro (2010, p.134) nos traz
comprometedores podendo afetar de forma que:
avassaladora a reputação das vítimas.
Educar para a vida é um processo contínuo e
permanente, que implica o aprimoramento e
desenvolvimento de habilidades específicas,
O PAPEL DA ESCOLA entre elas: conviver, ouvir, dialogar, interpretar,

DIANTE DO BULLYING comparar, analisar, refletir, transmitir, sintetizar,


coletar, pesquisar, etc.

As instituições escolares precisam ter


um olhar atento para a conduta dos seus É importante ressaltar que cada escola
discentes, reconheçam a existência da possui uma realidade diferente, e a partir
intimidação sistemática entre ele, atentem- dela, deve-se implantar estratégias e
se para os danos que ela pode causar no ações contínuas para combater a violência
desenvolvimento socio educacional e presente na escola, sempre respeitando
para a estrutura da personalidade desses as características sociais, econômicas e
educandos. culturais dos seus contemplados.

O bullying é praticado em todas as Lopes Neto (2011, p.63) nos diz que:
instituições escolares independente de onde
elas estejam localizadas e da classe social Todos os programas entendem as escolas como
um sistema dinâmico e complexo e que elas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

não podem ser tratadas de maneira uniforme.


Consequentemente, as estratégias e ações tolerância e solidariedade entre pares;
antibullying devem ser definidas individualmente, • Incitar o diálogo e o respeito mútuo;
observando suas prioridades, suas características • Valorizar as relações de cooperação de
ambientais, e, principalmente, as influências
culturais, sociais e econômicas exercidas sobre todos os envolvidos no processo educacional;
a comunidade atendida.
Fante (2005, p.91) afirma que:
Para o êxito das ações contra o bullying,
os especialistas sobre o assunto orientam as A intolerância, a ausência de parâmetros que
orientem a convivência pacífica e a falta de
escolas que é necessário: habilidades para resolver os conflitos são
algumas das principais dificuldades detectadas
• Saber o que é bullying, reconhecer no ambiente escolar. Atualmente a matéria
mais difícil da escola não é a matemática ou a
sua existência; biologia; a convivência para muitos alunos e de
• Ter consciência dos prejuízos que ele todas as séries, talvez seja a matéria mais difícil
pode trazer para os escolares de ser aprendida.

• Capacitar os profissionais da educação


para que saibam identifica, distinguir e Cleo Fante, uma das pioneiras em pesquisar
diagnosticar tal prática; o bullying no Brasil, como fruto de sua
• Estimular a participação dos pais no pesquisa idealizou o Programa Educar para a
combate a violência na escola; Paz, adotado em algumas escolas e apresenta
• Promover discussões amplas sobre o resultados animadores na erradicação do
assunto e envolver toda a sua comunidade, bullying escolar. Este programa é um conjunto
para que estratégias imediatas sejam traçadas de estratégia voltadas para o respeito as
e executadas para enfrentar a situação; diferenças, solidariedade e tolerância. A
• Trabalhar em sala de aula temas estratégia deste programa para sanar com o
transversais como ética, moral e cidadania; bullying no ambiente escolar envolve toda a
• Desenvolver estratégias mais amplas comunidade escolar que atuam em trabalhos
nas salas de aula e na escola como um todo; individualizados tanto com as vítimas, para
• Promover amizades que as mesmas venham se sentir incluídas
• Prevenir o isolamento; no grupo e fortalecer sua autoestima, quanto
• Impulsionar ações solidárias; com o seu algoz que são ajudados a canalizar
• Trabalhar com a valorização da a agressividade para ações proativas.
diversidade;
• Criar regras de convivência que Segundo Carpenter e Fergunson (2011),
promovam o entendimento entre todos para o bullying escolar ser combatido
e estabeleçam as formas de intervenções realmente, a instituição precisa se envolver
contra os atos agressivos; emocionalmente na questão não apenas
• Estimular o ensino e desenvolvimento seguir mecanicamente normas estabelecidas.
de atitudes que valorizem a prática da Todos os membros da comunidade escolar

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precisam se empenhar para proporcionar aos discentes um ambiente seguro e que lhes
garanta dignidade e respeito.

O bullying é uma realidade presente nas instituições e deve ser combatido severamente
com a participação de todos os atores educacionais, tornando assim a escola propicia para
se manter boas relações interpessoais e fértil no crescimento intelectual e pessoal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O bullying se faz presente em todas as escolas do mundo inteiro,
independente das classes social, públicas e privadas. O bullying
pode ser considerado como uma postura violenta sendo ela física
e/ou psicológica, de cunho intencional e repetitiva praticado por
um agressor contra uma ou mais vítimas que se encontram, por
algum motivo, impossibilitadas de se defender.

Não há uma causa específica ou determinante para desencadear


a prática do bullying, mas constata-se que esse ato geralmente
começa pela dificuldade de aceitação das diferenças independente
da natureza. Ocorre também pelo fato do agressor sentir prazer
em submeter suas vítimas a seu poder e autoridade. ROSIANE ARAUJO
COSTA SANTOS
São protagonistas dessa onda de violência as vítimas, que são
Graduação em pedagogia pela
aqueles alunos que não se encaixam no padrão estipulado por Faculdade de Tecnologia e
determinados grupos. As testemunhas, que são os espectadores Negócios Carlos Drummond
que não sofrem nem praticam bullying e se mantem neutros. E os de Andrade (2012); Cursando
Especialização em Gestão Escolar
agressores que se valem de força física e psicológicas contra seus pela Faculdade Campos Elíseos;
alvos. Os que praticam o bullying, em sua maioria, pertencem a Professora de Educação Infantil
famílias desestruturadas, sofrem violência doméstica, os pais são no Centro de Educação Infantil
Jardim Maria Alice.
ausentes, tolerantes e permissivos.

O bullying traz consequências negativa para a vida de todos os envolvidos, entretanto, a vítima é a
mais afetada, podendo levar o reflexo da violência sofrida por toda a sua vida interferindo no âmbito
familiar, social e profissional.

As instituições escolares ainda sentem dificuldade em identificar o que é bullying e o que é apenas
brincadeira entre pares e os profissionais da educação ainda se encontram despreparados para lidar
com essa situação. Para se combater a intimidação sistemática dentro da escola faz-se necessário
admitir a existência do problema e que todos busquem informação sobre o assunto para criar medidas
interventivas sempre considerando o contexto e a realidade da comunidade ao qual está atendendo.

A escola tem a brilhante missão de preparar o jovem para que vivam as relações interpessoais de
uma forma saudável, respeitando as diferenças e atuando com tolerância em relação ao próximo e
qualquer circunstância que cause ameaça a essa missão, deve ser precocemente combatida pela
comunidade escolar.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
BRASIL, Sandra. O Retrato da Mente de um Monstro. Veja, São Paulo: Abril, ano 44, Nº 16,
p. 94-95, abr.2011.

CARPENTER, Deborah; FERGUSON, Christopher J. PhD. Cuidado! Proteja seus Filhos dos
Bullies; tradução Yama Vick. São Paulo.Butterfly Editora, 2011.

FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: Como Prevenir a violência nas escolas e educar para a
paz. Campinas, SP. Verus, 2005.

LOPES NETO, Aramis Antônio. Bullying saber identificar e como prevenir. São Paulo,
Brasiliense,2001.

MONTEIRO, Jamar. Coletânea I. São Paulo. Editora Intersubjetiva, 2010.

PRESIDENCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos. Lei nº13.185,
de 6 de novembro de 2015.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13185.
htm. Acesso em:14/Mar/2019.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullyng: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro. Objetiva,
2010.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

AS ARTES VISUAIS COMO


INSTRUMENTO PEDAGÓGICO
RESUMO: Questiona-se como olhar hoje para a arte e potencializar a sua dimensão criativa
na escola? Por hipótese temos que a experiência artística pode influenciar o desenvolvimento
cognitivo e afetivo dos alunos, contribuindo para estruturar a sua vida interior, bem como
torná-los capazes de conhecer o Mundo por meio da arte. O objetivo deste artigo é contaminar
a classe docente com a vontade de buscar e pesquisar novas essências artísticas, para como
em efeito dominó este docente contamine seu discente para a busca de sua própria essência,
trazendo a tona toda intuição, percepção, imaginação e apreciação para trazer a consciência
artística para a realidade. Utilizou-se como metodologia a revisão bibliográfica em artigos,
teses, livros e internet.

Palavras-Chave: Artes; Aprendizagem; Criatividade; Desenvolvimento Humano.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO dos demais, tendo como referência inicial a


idade e o grupo social ao qual pertence.
O artigo fundamentou-se pela busca e
identificação sobre a influência das artes A metodologia desenvolvida neste artigo
visuais na educação. Para isso, realizou-se foi à revisão bibliográfica em artigos, teses,
uma revisão bibliográfica a fim de coletar livros e internet.
informações suficientes para a elaboração
das páginas do artigo. Iniciaram-se discutindo sobre a influência
das artes na educação e a partir daí pode-se
Como problema questiona-se como destacar a arte como linguagem sintetizando
olhar hoje para a arte e potencializar a sua assim o ensino da arte nas escolas brasileiras
dimensão criativa na escola? como instrumento pedagógico e sintetizador
do referencial teórico sobre a arte na
Objetivou-se contaminar a classe docente educação brasileira
com a vontade de buscar e pesquisar novas
essências artísticas, para como em efeito
dominó este docente contamine seu discente A INFLUÊNCIA ARTÍSTICA
para a busca de sua própria essência, trazendo DAS ARTES NA EDUCAÇÃO
a tona toda intuição, percepção, imaginação e
apreciação para trazer a consciência artística Na relação entre artes e contexto social,
para a realidade. é possível afirmar que a arte contribui
como mediadora entre o sujeito e o mundo
Pretendeu-se discorrer sobre a importância instigando a criatividade e a imaginação,
das artes na educação, enfatizando a contribuindo assim para o desenvolvimento
influência do trabalho artístico na educação e aprendizagem.
como ferramenta pedagógica.
A arte é vista como “um processo de comunicação
social, envolvendo sentidos e significados
Por hipótese temos que a experiência inteligíveis a qualquer pessoa”, combinando as
artística pode influenciar o desenvolvimento vivências individuais com a recepção do produto
cognitivo e afetivo dos alunos, contribuindo estético, percebido como produto social da
cultura (STUMM, 2007, p. 362).
para estruturar a sua vida interior, bem como
torná-los capazes de conhecer o mundo por
meio da arte. Nos Parâmetros Curriculares do Ensino
Fundamental (BRASIL, 1997, p. 15) intitulado
Essas especificidades são explicitadas na “Arte”, tem como objetivo expor o “significado
realidade da escola quando o aluno apresenta da arte na educação, explicitando conteúdos,
uma qualidade de aproveitamento escolar no objetivos e especificidades, tanto no que se
processo pedagógico diferenciado da maioria refere ao ensino e à aprendizagem, quanto

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orientação no cumprimento dos deveres


no que se refere à arte como manifestação escolares, prática de esportes, desenvolvimento
humana”. de atividades artísticas e alimentação adequada.
(BRASIL, 2001, p. 71).
Apesar dos Parâmetros terem a intenção de
não se configurarem em “um modelo curricular
homogêneo e impositivo, que se sobreporia Se forem desenvolvidos adequadamente,
à competência política executiva dos Estados os cursos de arte favorecem a apreensão
e Municípios, à diversidade sociocultural das desses princípios e podem abrigar outros
diferentes regiões do País ou à autonomia de
professores e equipes pedagógicas”, as múltiplas conhecimentos, atendendo as propostas de
iniciativas que seriam necessárias para que essa integração social e transição para futuras
intenção fosse alcançada parecem não terem se inserções profissionais. Os saberes cerca uma
concretizado. (BRASIL, 1997, p. 13).
educação para a experiência, a descoberta e
o autoconhecimento.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) de Arte visam principalmente ao A relativa importância do ensino da arte no
currículo escolar, que é fruto de um emaranhado
aprimoramento do aluno como indivíduo de interesses profissionais, políticos e
participativo e consciente de suas ideológicos, pode ser percebida ainda hoje
possibilidades e deveres sociais. A melhoria na organização disciplinar. A hierarquia do
conhecimento escolar explícita e implícita ainda
da qualidade do ensino é um desafio para mantém o ensino da Arte num escalão inferior
todos os docentes e os PCN procuram da estrutura curricular; porém, felizmente, não
mostrar que o valor da aprendizagem é mais decreta seu falecimento. (TOURINHO, 2003, p.
28).
evidenciado quando reflete em profundidade
o sentido e o fortalecimento da cidadania,
preparando os alunos para a vida (BRASIL, A verdade é que as artes ainda são
2001). entendidas pela nossa sociedade como
forma de distração, e não uma área que
Os procedimentos em arte são possui uma importância determinante para
direcionados para o conhecimento de saberes o desenvolvimento pessoal, social e cultural
artístico e estético, mas, também estão do aluno. Claro que, se a sociedade não
assentados em princípios que norteiam as confere uma função social e educativa à
práticas de inclusão social como a aceitação expressão artística, será extremamente difícil
das diferenças individuais, valorização de sensibilizar os diferentes intervenientes no
cada pessoa, respeito à própria produção e processo educativo para a sua importância.
à dos demais, aprendizagem com ênfase na
experimentação e cooperação mútua. Por meio da leitura das obras de artes plásticas
estaremos preparando a criança para a
decodificação da gramática visual, da imagem fixa
Nas diretrizes norteadoras do Ensino e, por meio da leitura do cinema e da televisão,
Fundamental descritas no Plano Nacional de a nos prepararmos para entender a gramática
Educação encontramos as atividades artísticas da imagem em movimento (BARBOSA, 2003, p.
relacionadas às intenções de futura ampliação do 34).
atendimento em tempo integral, oportunizando

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Pode ser mais um estorvo, que uma ajuda, já que


Os professores muitas vezes não sabem a criança não é capaz de aprendê-la, manusear e
que conteúdos trabalharem que objetivos tirar partido na elaboração dos seus trabalhos.
pretendem alcançar, quais metodologias Na maioria dos casos estas atividades tornam-se
elas próprias o eixo central da área, sem terem
devem ser utilizadas e acima de tudo, qualquer referência a objetivos e conteúdos
desconhecem como avaliar. Se a sociedade plásticos (ARNHEIM, 1999, p. 41).
não confere um valor cognitivo à expressão
artística, não são necessários profissionais Acredita-se que embora a arte seja
preparados para ensiná-la. sinônima da exteriorização de emoções
ainda que muitas correntes artísticas e
Muitas vezes as crianças mostram-se pensamentos contemporâneos rejeitem
desinteressadas pelas atividades propostas, este posicionamento, assumindo um caráter
outras vezes os exercícios exigem da exatamente oposto, estas emoções são
criança uma capacidade superior ao seu também umas formas de conhecer.
estádio de desenvolvimento, outras vezes
surgem trabalhos pouco interessantes Outro dos problemas que a arte possui
artisticamente. Esta situação traz consigo enquanto domínio específico passa pela sua
outro problema que tem a ver com a altura operacionalização no ensino. Durante muito
em que se introduzem essas técnicas. tempo as artes visuais estiveram confinadas
unicamente ao desenvolvimento da destreza
Muitas vezes o educador não atende ao manual e visual das crianças, cujo objetivo
estádio de desenvolvimento das crianças, era a expressão livre, explorando materiais
outras vezes ensinam técnicas de forma e técnicas.
isolada, como se de uma receita se tratasse,
em vez de integrá-las num projeto educativo Não existindo uma intervenção orientada por
parte do professor, este assumiu um papel
que pressupõe conteúdos e objetivos. passivo no âmbito deste domínio, pois, não havia
normas ou regras às quais as crianças tinham de
Quando analisamos a arte na educação obedecer, nem correções a fazer. “Não basta
pré-escolar e no 1º ciclo do ensino básico hoje em dia ter uma inclinação para a cultura;
constatamos que se dá mais importância ao é preciso sentir por ela uma verdadeira paixão”
fazer do que ao saber, ou seja, privilegia-se a (BRASIL, 2001, p. 33).
"visão expressionista da educação artística, em
detrimento da visão construtivista do saber",
sem que haja uma coordenação e articulação Para o educador, o aluno é sempre um
efetiva. (FROIS, 2001, p. 52). mistério a ser decifrado, pois cada um
tem suas características, sua essência e
Assim, esquecesse uma parte fundamental de experiências que já traz de sua vida para a
sensibilização artística que passa pela apreciação sala de aula, então o foco agora a busca de
e compreensão da arte e pela identificação e informações de como atingir esse individuo
organização dos elementos morfológicos da através da arte.
linguagem plástica que a compõem.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O homem constrói conhecimento socialmente e


Estamos inseridos em uma sociedade a troca é fundamental para seu desenvolvimento.
multifacetada, onde a educação faz parte de É na vida, no encontro com o outro que à
um grande processo político e econômico. aprendizagem se desenvolve. Esse processo se
dá tanto fora como dentro da escola. Todos nós
Dessa foram todos sofrem influências sociais temos, em nosso dia a dia, acesso a diferentes
e culturais cada um dentro do contexto em manifestações artísticas, de diferentes
que vive. produtores, dos mais populares aos mais
eruditos, mesmo que não sejamos moradores
das grandes cidades (MOURA, 1997, p. 29).
Assim na comunidade escolar observam-
se uma incongruência muito grande entre a
escola a comunidade e os alunos, em relação Esse acesso é hoje possível não só em
aos objetivos a serem alcançados. museus, teatros ou salas fechadas para esse
fim, mas também por meio da televisão, dos
Acredita-se que para esta situação jornais, revistas, enfim, de todos os meios
melhorar seja necessário criar um conjunto de comunicação, dos objetos presentes em
de estratégias e medidas educativas capazes nossa casa, na rua. (MOURA, 1997).
de minimizar as dificuldades relativas à
formação específica na área de artes, seja ela As artes visuais são linguagens e, portanto,
visual, plástica, educacional. uma das formas importantes de expressão e
comunicação humana, que estão presentes
Em suma julga-se necessário refletir no cotidiano da vida infantil. Quando a
sobre a criação de orientações e programas criança desenha, rabisca, utiliza materiais
curriculares que se ajustem às teorias de para construir algo, ao pintar objetos, entre
desenvolvimento e aos novos interesses outros, ela está se utilizando das artes visuais
socioculturais, relacionados ao fazer para expressar experiências sensíveis. As
pedagógico, e, estético das artes visuais. artes visuais expressam, comunicam e
atribuem sentidos e sensações, sentimentos
e pensamentos da realidade.
A ARTE COMO LINGUAGEM
Por isso, se faz questão de promover
Pensar sobre arte e infância traz momentos de descontração e confiança
recordações de uma experiência positiva onde o professor faz intervenções indiretas
de criança que pôde crescer numa família positivas, para que a criança possa se
e numa escola que sempre valorizaram a manifestar por meio de suas possibilidades
arte, incentivaram nossa expressão, que se artísticas livremente, podendo assim exercer
apresentaram num universo cultural amplo e seu direito de cidadão de expressar-se,
diverso e fomentaram uma paixão que, dia a bem como de ter contato e refletir sobre as
dia, cresceu e amadureceu. produções artísticas.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O desenvolvimento da imaginação o todo da vida, e nenhuma teoria da criança


criadora, da expressão, da sensibilidade e das será possível se não for também uma teoria
capacidades estéticas das crianças poderá que cubra o todo da relação da criança com
ocorrer no fazer artístico, assim como no a vida.
contato com a produção de arte presentes
na comunidade. Brincar é visto como a aplicação de todas as
atividades das crianças que são espontâneas
O desenvolvimento da capacidade artística e auto geradas; que são fins em si mesmos;
está apoiado também, na prática reflexiva e que estão relacionadas com as lições ou
das crianças ao aprender, que articula a ação, com as necessidades psicológicas normais e
a percepção, a sensibilidade à cognição e a diárias da criança.
imaginação.
Para que a escola se transforme num local
As artes visuais são linguagens que de produção cultural e de transformação
expressam, comunicam e atribuem sentidos social, ela não pode se restringir enquanto
a sensações, sentimentos, pensamentos e influência e interferência rica no universo do
realidade por meio da organização de linhas, aluno.
formas, pontos, cor, luz, sendo, portanto,
uma das maneiras mais importantes de De acordo com Bock (2008, p. 115) a
se expressar e se comunicar, o que, por si aprendizagem é “um processo de relação
só, justifica sua presença no contexto da do sujeito com o mundo externo e que tem
educação e de modo especial na educação consequências no plano da organização
infantil. interna do conhecimento”.

Devem ser concebidas como uma A arte é parte integrante no currículo


linguagem que tem características próprias no escolar desde o jardim da infância.
âmbito prático e reflexivo cuja aprendizagem
se dá por meio dos seguintes aspectos: fazer As artes são partes essenciais da experiência
humana. Não é uma frivolidade. Recomendamos
artístico, apreciação e reflexão. que todos os estudantes estudem as artes para
descobrir como os seres humanos usam símbolos
Por meio da leitura das obras de artes plásticas não verbais e se comunicam não apenas com
estaremos preparando a criança para a palavras, mas por meio da música, dança e das
decodificação da gramática visual, da imagem fixa artes visuais (BOYER, 1983 apud BARBOSA,
e, por meio da leitura do cinema e da televisão, 2008, p. 99).
a nos prepararmos para entender a gramática
da imagem em movimento (BARBOSA, 2003, p.
34). Segundo Reverbal (2007), o ensino em
nossas escolas é tradicionalmente voltado
Read (2001) diz que nas crianças, a para os aspectos cognitivos. Embora a
brincadeira é a expressão de sua relação com maioria das obras pedagógicas mencione os

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Revista Educar FCE - Abril 2019

aspectos afetivos e psicomotores e ressalte autor, existe uma “indissociabilidade entre


sua importância no desenvolvimento objeto, representação e palavra”.
da personalidade do educando, há uma
acentuada distância entre as teorias e a Tanto a representação quanto a fala
prática na sala de aula. “evocam as coisas”, reproduzindo, repetindo,
porém mantendo o significado. Dois níveis
No correr dos anos, trabalhando com de expressão ocorrem simultaneamente
expressão dramática em escolas de diferentes revelando um único discurso. Passa a existir
níveis, o autor observa, em cada novo grupo uma coesão entre a memória e a percepção,
de alunos, em grande bloqueio em relação à fazendo a figura do objeto, enquanto a
espontaneidade gestual e verbal. palavra o nomeia. Á partir da figura a cena é
vivenciada e o sentido se revela.
A capacidade de expressão e comunicação
inata no ser humano revela-se lentamente; Pode-se caracterizar o desenho como um
momento, e um movimento de acesso a
a criança somente se expressa com realidade, e como uma ação de pensamento. O
naturalidade, por meio da linguagem verbal desenho ali representa experiências concretas
e gestual, após algum tempo de prática de da vida. O desenho, ligado às atividades do
pensamento e à linguagem verbal, nomeia
jogos de expressão dramática, musical e objetos, qualifica personagens, descrevem
plástica. cenários, ou combinam cenários e personagens
demonstrando possibilidades de ações humanas
(DUARTE, 2001, p. 114).
Observa-se também, alunos de
alto nível intelectual, que dominavam
perfeitamente os conteúdos estudados, Para que esse objetivo seja plenamente
apresentam dificuldades para expressar tais atingido, são necessárias que o professor
conhecimentos por meio de um simples ofereça ao aluno várias oportunidades de
gesto ou discurso espontâneo. atuação espontânea, num clima de liberdade.
Somente assim, as atividades de expressão
As atividades de expressão artística são poderão concorrer para que o aluno libere
excelentes, recursos para auxiliar o crescimento,
não somente afetivo e psicomotor como sua espontaneidade e desenvolva sua
também cognitivo do aluno. O objetivo básico personalidade, assimilando a cultura.
dessa atividade é desenvolver a auto-expressão
do aluno, isto é, oferecer-lhe oportunidades de A questão central do ensino de Arte no Brasil
atuar efetivamente no mundo opinar, criticar e diz respeito a um enorme descompasso entre
sugerir (REVERBAL, 2007, p. 34). a produção teórica, que tem um trajeto de
constantes perguntas e formulações, e o
Duarte (2001) faz em sua tese de doutorado acesso dos professores a essa produção, que
é dificultado pela fragilidade de sua formação,
uma pesquisa com crianças de quinta série, na pela pequena quantidade de livros editados
qual um dos capítulos aborda a relação entre sobre o assunto, sem falar nas inúmeras visões
a palavra e a reprodução gráfica. Segundo o preconcebidas que reduzem a atividade artística
na escola a um verniz de superfície, que visa

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Revista Educar FCE - Abril 2019

às comemorações de datas cívicas e enfeitar o


de seus alunos. Conhecer os estudantes
cotidiano escolar (BRASIL, 1997, p. 22).
na sua relação com a própria região, com o
Brasil e com o mundo, é um ponto de partida
Dentro das artes existem teorias que imprescindível para um trabalho de educação
contribuem para o desenvolvimento estético escolar em arte que realmente mobilize uma
e crítico dos alunos, sobretudo, no que se assimilação e uma apreensão de informações
refere aos seus processos de produção e na área artística.
apreciação artística.
Nessa relação das artes visuais com o
A formulação de uma proposta de trabalhar a contexto social, é possível afirmar que a arte
arte na escola exige que se esclareçam quais
posicionamentos sobre arte e educação escolar contribui como mediadora entre o sujeito e o
estão sendo assumidos. Por sua vez, tais mundo. Segundo Rocha (2008) com base em
posicionamentos implicam também na seleção Vygotsky apud Stumm (2004):
de linhas teórico-metodológicas. (FUSARI e
FERRAZ, 2012, p. 19).
A arte é vista como um processo de comunicação
social, envolvendo sentidos e significados
Os conceitos sobre a arte têm recebido inteligíveis a qualquer pessoa, combinando as
diferentes interpretações como o de vivências individuais com a recepção do produto
arte como técnica, materiais artísticos, estético, percebido como produto social da
cultura (STUMM, 2004, p. 362).
lazer, processo intuitivo, liberação de
impulsos reprimidos, expressão, linguagem,
comunicação, entre outros. A arte instiga a criatividade e a imaginação,
contribuindo para o desenvolvimento e
A fantasia não está contraposta à memória, aprendizagem. O professor pode organizar
mas se apóia nela e dispõe de seus dados em um “mapeamento” cultural da área que atua,
novas e novas combinações. (VYGOTSKY, bem como das demais, próximas e distantes.
2006, p. 18).
É nessa relação com o mundo que
A concepção de arte que pode auxiliar na os estudantes desenvolvem as suas
fundamentação de uma proposta de ensino e
aprendizagem artísticos, estético, e atende a experiências estéticas e artísticas, tanto na
essa mobilidade conceitual, é que aponta para área da linguagem artística desenvolvida
uma articulação do fazer, do representar e do pelo professor (artes plásticas, desenho,
exprimir (FUSARI e FERRAZ, 2012, p. 20).
música, artes cênicas).

Segundo Fusari e Ferraz (2012) para Assim, pode-se organizar exercícios e atividades
como busca de soluções para problemas de arte
desenvolver um bom trabalho de arte o pensados a partir da realidade dos alunos. Esses
professor precisa descobrir quais são os trabalhos escolares podem levar o aluno ao ato
interesses, vivências, linguagens, modos de de comparar e contrapor produções artísticas
próprias e de outros autores (FUSARI e FERRAZ,
conhecimento de artes e práticas de vida
2012, p. 18).

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Ao serem propostos os exercícios ou as atividades práticas e teóricas devem-se observar


uma constante sintonia com o desenvolvimento das capacidades e habilidades artísticas e
estéticas que estão sendo trabalhadas.

Todos sabem que uma obra de arte causa um impacto e um interesse na criança na medida
em que ela própria busca automaticamente o significado da mesma.

Ela visa alcançar o tema da obra por meio de um conjunto de elementos que articula de
forma a conseguir explorar uma história, um acontecimento, etc. A análise desses elementos
potencia não só o aspecto cognitivo, como a ajuda a verbalizar comunicar e experiências
ideias, sentimentos e emoções.

Podemos afirmar que a dificuldade de aceitação da expressão artística passa essencialmente


pela difícil aceitação do seu valor na sociedade, pela falta de formação dos educadores, pela
dificuldade em definir a sua estrutura disciplinar e pela falta de investigação na área.

Para que esta situação melhore é necessário criar um conjunto de estratégias e medidas
educativas capazes de minimizar as dificuldades relativas à formação específica desta área.

Não podemos deixar de referir a urgência sobre as orientações e programas curriculares a


fim de melhor os ajustares às novas teorias de desenvolvimento infantil, aos novos interesses
socioculturais, bem como, aos novos fundamentos e propósitos pedagógicos e estéticos da
atualidade das artes visuais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A arte pode ser considerada uma expressão do universo
cognitivo e afetivo de cada um, pois revelamos o que
sentimos e pensamos, quando trabalhamos com ela. A arte
pode ser uma reelaboração da realidade, pois cada pessoa vê
uma mesma coisa de maneira diferente e reconstrói usando
formas, ritmos, linguagens e elementos diversos.

Já agressividade, em sua origem, é uma forma de vínculo


que busca encontrar algo externo a si como contraponto.
E a criatividade também se origina daí. Trata-se de uma ROSIMEIRE SANTOS
relação que se opõe ao submetimento na qual o mundo é DE OLIVEIRA
reconhecido só como algo ao qual é preciso encaixar-se, que
Graduação em Pedagogia pela
exige adaptação ou que envolve um sentimento de futilidade. Universidade Camilo Castelo
Aqui o indivíduo perde a capacidade de amar, aumenta a sua Branco - UNICASTELO (2009);
culpa e, consequentemente, o sentimento de onipotência Especialista em Arte Educação
pela faculdade São Luis de França
tende a se acentuar. (2013); Especialista em Estética e
História da Arte pela Faculdade
A aprendizagem artística envolve um conjunto de Mozarteum de São Paulo –
FAMOSP (2014); Professora
diferentes tipos de conhecimentos, que visam à criação de de Ensino Infantil - Língua
significações, exercitando fundamentalmente a constante Portuguesa na CEI Silva Telles.
possibilidade de transformação do ser humano, tornando-o
consciente por seus atos e inibindo também a agressividade.

Conclui-se que o conhecimento técnico, o uso das diversas técnicas de forma correta
permite a quem desenvolve um trabalho em arte uma capacidade infinita de possibilidades
diante das coisas e do mundo que o rodeia, ou seja, se oferecermos, desde a educação
básica, uma orientação adequada, com materiais, meios e suportes diversificados, mantendo
um diálogo constante sobre a importância das artes, dos artistas e do papel que ela exerceu
e exerce na construção do conhecimento, formaremos adultos melhores relacionados não
só entre si, mas com o fazer artístico.

Assim sendo, considerar a expressão artística da criança como um registro de sua


personalidade em formação é essencial para desenvolver qualquer trabalho de artes com
os pequenos, pois enquanto trabalhamos essas considerações, a criança está adquirindo
experiências importantes para seu desenvolvimento e sua própria experiência para a obra
artística, seja ela qual for.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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VIGOTSKY, L. S. et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone; EDUSP, 2006, 10 edição.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO
AFETIVO ENTRE PROFESSOR E
CRIANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: O presente trabalho tem como tema a importância do vínculo afetivo entre
professor e criança na educação infantil. Para isso foi feito um estudo sobre os conceitos
de afetividade, buscando entender como ela está presente no vinculo entre professor e
aluno, como este se constrói e os benefício que tem no processo de ensino-aprendizagem,
utilizando como base minha experiência em sala de aula e trazendo como referencial teórico
as teorias de Henry Wallon.O vínculo afetivo pode ser extremamente benéfico no processo de
aprendizagem, especialmente na educação infantil, em que a criança ainda está em processo
de formação e o sentimento de medo e insegurança faz parte de seus primeiros contatos
com a escola. Por isso cabe ao professor buscar transformar a relação aluno-professor em
um vínculo afetivo, tornando mais fácil para ambos o processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-Chave: Afetividade; Vínculo; Aprendizagem; Ensino;

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO ENTENDENDO O VÍNCULO


ENTRE PROFESSOR
Na observação do processo de
aprendizagem na educação infantil, pode-se E CRIANÇA
observar que os professores têm uma relação A criança, em seus primeiros anos de
afetiva muito grande com seus alunos, mas vida está cercada na maioria das vezes por
ao mesmo tempo tem a preocupação em seus familiares e amigos mais próximos,
passar a autoridade suficiente para que haja não costuma passar muito tempo com
respeito por parte dos alunos para com eles. pessoas diferentes daquelas de costume
e normalmente tem a atenção de toda sua
A educação infantil é na maioria dos casos família para si. Quando a criança inicia seus
a introdução da criança no meio social, visto primeiros dias na escola, ela sai de seu
que até então seu meio social era constituído ambiente conhecido e passa a frequentar um
por sua família e amigos mais próximos. Por novo meio social, com pessoas nunca vistas
isso, há muita insegurança por parte das antes, com uma rotina muitas vezes diferente
crianças no inicio de suas vidas escolares, da que vive em casa e mais assustador para
ainda mais quando percebem que ao seu elas: uma sala cercada de semelhantes, ou
redor estão muitas outras crianças e apenas seja, outras crianças as quais o responsável
um ou dois adultos cuidando deles. pelo local precisa dividir sua atenção, neste
momento dois sentimentos tomam conta da
O objetivo desta pesquisa é apontar a criança: a curiosidade e o medo.
importância do vínculo entre o professor
e o aluno no processo de aprendizagem Segundo Machado (1996), o ingresso da
na educação infantil, tendo como objetivo criança em uma instituição educativa o faz
especifico relacionar teoria e prática experimentar de forma forçada e sistemática
referente à temática, assim identificando a situações de interação diferentes das que
necessidade deste vínculo. vive com sua família, já que irá se separar
de seus familiares para interagir com outros
Para a produção deste artigo, utilizou- adultos e compartilhar espaço e brinquedos
se da metodologia qualitativa, baseada em com outras crianças.
pesquisas bibliográficas com base em livros,
artigos da internet e experiência vivida e Em meio a esta confusão, a criança irá
observada em sala de aula. buscar a figura protetora mais parecida com
a que tem em casa, ou seja, aquela que lhe
dá ordens, mas também lhe dá carinho.
Esta figura geralmente será o professor
responsável pela sala de aula, em que a
criança irá buscar segurança. Conforme

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Revista Educar FCE - Abril 2019

esse vínculo afetivo for aumentando e se Na teoria de Wallon a afetividade apresenta


tornando parte natural da rotina da criança, três momentos no decorrer de sua evolução,
a mesma ganha confiança no professor e se resultantes de elementos orgânicos e sociais:
sente bem-vinda naquele ambiente, assim
o processo de ensino-aprendizagem vai • Emoção: Ligada a fatores orgânicos,
acontecendo com êxito. a emoção exterioriza o afeto por meio do
corpo e de todo sistema motor (Exemplo: um
bebê pede um abraço para a mãe abrindo os
CONSTRUÇÃO DO braços). É o recurso que liga o orgânico e o
VÍNCULO AFETIVO social, criando os primeiros vínculos com o
mundo humano, físico e cultural.
A construção do vínculo afetivo se inicia • Sentimento: Os sentimentos
já no nascimento do bebê, sobretudo entre expressam a representação da afetividade
ele a mãe no momento da amamentação, do sem a instantaneidade da emoção, também
carinho e da atenção, em que ela irá atender de reprimir. Surge quando a criança começa
suas necessidades e passar segurança e a desenvolver o simbólico. Começa aqui a
confiança para o bebê. expressar o que sente por meio da linguagem.
• Paixão: A paixão é marcada pelo
Existem diversas teorias sobre afetividade surgimento do autocontrole das emoções
e vínculo afetivo, e um dos autores que mais em virtude de um objetivo. (Exemplo: O
estudou sobre este tema e sua importância sujeito controla seu medo para passar por
no desenvolvimento humano foi o psicólogo uma ponte.)
Henri Wallon. Para Wallon (1979), a
afetividade é a capacidade do ser humano A afetividade tem um papel nos diferentes
em ser afetado, pelo meio externo e interno estágios da vida humana, e para a criança ela
por sensações boas ou ruins. é extremamente importante no processo de
aprendizagem, porque esta é a fase na qual
Wallon sustenta a ideia de que a ela está se descobrindo diferente das outras
afetividade é extremamente importante para crianças e formando sua personalidade.
o desenvolvimento de uma criança e que a
vida psíquica de um ser humano é composta Conforme Wallon (1979), a dimensão
pelas dimensões afetiva, motora e cognitiva temporal do desenvolvimento está
e que estas atuam de forma conjunta. O distribuída em estágios que expressam
autor defende que o processo evolutivo algumas características do ser humano, em
não depende só da capacidade biológica de que o desenvolvimento do bebê ao adulto
um indivíduo, mas também do meio em que pode ser caracterizado da seguinte forma,
vive, se este vai dispor de recursos que irão do ponto de vista afetivo:
provocar o seu desenvolvimento ou não.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

• Estágio impulsivo-emocional (0 a 1 o mesmo e único ser: reconhece suas


ano) – A criança expressa sua afetividade necessidades, possibilidades e limitações,
por meio de movimentos desordenados, seus sentimentos e valores, assume escolhas
em respostas a sensibilidades corporais dos em decorrência de seus valores. Há um
músculos (proprioceptivas) e das vísceras equilíbrio entre “estar centrado em si” e
(interoceptivas) e do mundo externo “estar centrado no outro”.
(sensibilidade exteroceptiva), para satisfazer
suas necessidades básicas. Na educação infantil, estamos abordando
• Estágio sensório-motor e projetivo (1 crianças no estágio personalismo (3 a 6
ano a 3 anos) – Já dispondo da marcha e da anos), e quando o processo afetivo começa
fala, a criança volta-se para o mundo externo a ocorrer entre a criança e professor, sendo
(sensibilidade exteroceptiva), para o contato esta uma afetividade positiva, ela encontra
e a exploração de objetos e pessoas do seu no professor uma figura espelho, o qual
contexto. ela começa a admirar e confiar, o que pode
• Estágio personalismo (3 anos a 6 anos) influenciar totalmente no processo de
– É a fase de se descobrir diferente das outras aprendizagem.
crianças e do adulto. Compreende três fases:
oposição, sedução e imitação. Para que esse vínculo ocorra, exige de
• Estágio categorial (6 anos a 11 anos) – muita dedicação por parte do professor,
Com a diferenciação mais nítida entre o eu e visto que cada criança tem uma história e
o outro, há condições par expiração mental características diferentes, em que alguns
do mundo externo, mediante atividades de tinham muita atenção em casa, já outros são
agrupamento, classificação, categorização carentes de carinho. Por isso o professor
em vários níveis de abstração. precisa olhar atentamente para cada aluno
• Estágio puberdade e adolescência (11 e saber como abordá-lo para conquistar sua
anos em diante) – Aparece aqui a exploração confiança.
de si mesmo, na busca de uma identidade
autônoma, mediante atividades de confronto, Tanto o professor como o aluno são os
autoafirmação, questionamento. O domínio responsáveis por construir e manter esse
de categorias de maior nível de abstração, vínculo afetivo de forma positiva, mas é
entre as quais a categoria dimensão inegável que o professor é o responsável por
temporal, possibilita a discriminação mais conduzir essa relação, especialmente quando
clara dos limites de sua autonomia e de sua falamos de educação infantil.
dependência, acrescida de um debate sobre
valores. Porém antes deste vínculo ocorrer dentro
• Idade adulta – Apesar de todas da escola, é muito importante que o vinculo
as transformações ocorridas nas fases nos estágios impulsivo-emocional (0 a 1 ano)
anteriores, o adulto se reconhece como e sensório-motor e projetivo (1 a 3 anos)

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Revista Educar FCE - Abril 2019

tenha ocorrido com sucesso, já que por se Quando a criança confia e admira seu
tratar dos primeiros vínculos afetivos da professor, ela absorve melhor o que está
criança, este pode influenciar na construção aprendendo, além de desenvolver suas
dos vínculos dentro da escola e da sociedade. habilidades no meio social, visto que passa
a interagir com outros adultos e até com as
Se uma criança não receber em seu lar o outras crianças.
amor e atenção que lhe era devido, ela pode
ter passado pelos primeiros estágios de sua De acordo com Fernández (1991), é
vida, sem construir um vinculo adequado no decorrer do desenvolvimento que os
com aqueles que mais importam: sua família. vínculos afetivos vão se ampliando na figura
Desta forma, dificultando mais o papel do do professor e na importante relação de
professor, uma vez que o mesmo tem de ensino e aprendizagem na época escolar.
identificar em meio a vários alunos, aquele Diz também, que para haver aprendizagem
que terá de trabalhar de forma diferenciada é necessário que haja no mínimo dois
para construir um laço de afetividade. personagens, o ensinante e o aprendente.
Nessa relação é necessário confiança,
porque não aprendemos de qualquer um,
BENEFÍCIOS DO VÍNCULO mas aprendemos daquele a quem damos o
NO PROCESSO DE direito de ensinar.
APRENDIZAGEM Pode-se observar em sala de aula, que se
Aprendizagem é o processo pelo uma criança e seu professor não criam uma
qual os indivíduos adquirem ou mudam boa relação afetiva, a criança se fecha não
de competências, habilidades, valores, somente para o professor, o que já é ruim por
comportamentos e conhecimentos e tem si só, mas se fecha também para o ambiente
como consequência o ganho de experiências, escolar. O que pode impedir diversas
desenvolvimento do raciocínio e grandes experiências para ela. Já quando esse vínculo
contribuições para seu desenvolvimento existe, a criança se abre para participar das
intelectual. atividades e interagir, já que ela deixa de lado
o sentimento de medo e desconfiança, sente
O ato de aprender muitas vezes é atribuído que está segura naquele ambiente e inicia da
somente à aquisição de conhecimentos, melhor forma seu aprendizado, porque é por
mas não é só isso. É também a ampliação meio das interações sociais que se constrói a
dos conhecimentos adquiridos a partir da aprendizagem.
vivência em relacionamentos com o outro, o
que oportuniza ao indivíduo evoluir mediante Conforme Almeida (2008, p.147):
suas próprias experiências.
Uma educação que segue rumo ao
desenvolvimento da totalidade do individuo

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Revista Educar FCE - Abril 2019

está mais além de princípios que defendem propostas pedagógicas e currículos que apenas se ocupam das
competências básicas, dos conteúdos e das formas de transmissão da instrução em cada nível. O homem de
hoje e de sempre nunca de desenvolveu plenamente sem o concurso do desenvolvimento afetivo. Desenvolver
a totalidade humana deve ser a prática de uma educação que se diz humanista e libertadora.

O papel do professor é de mediador do conhecimento. Ele é um modelo em sua maneira


de expressar valores, resolver conflitos e se comunicar, na forma de ouvir, de falar e de
se relacionar com os outros professores e com os alunos. E a forma como o professor se
relaciona com o aluno se reflete nas relações do aluno com o conhecimento e na relação
aluno-aluno.

Nessa relação há um antagonismo entre emoção e atividade intelectual que Wallon


(1997) chama de antagonismo de bloqueio, ele também diz que quando não são satisfeitas
as necessidades afetivas, estas resultam em barreiras para o processo ensino-aprendizagem
e, portanto, para o desenvolvimento, tanto do aluno como do professor e que esses conflitos
são essenciais ao desenvolvimento da personalidade.

O professor que utiliza o afeto oportuniza aos alunos a vivenciarem valores, ética e
sentimento de amizade e amor desenvolvendo não só suas dimensões cognitivas, mas
também sociais e afetivas, contribuindo para o processo de aprendizagem e de formação de
uma criança que futuramente irá transparecer melhor sua forma de lidar com a escola e com
o meio social.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando todos os estudos realizados, confrontando-
os com a realidade da sala de aula, foi possível compreender
melhor o conceito e o processo de construção da afetividade
e entender seu benefício no processo de aprendizagem e na
relação professor-aluno.

É possível entender que criar um vínculo afetivo depende


de ambas as partes, mas que na educação infantil o
responsável por conduzir este vínculo é o professor, o qual
precisa olhar atentamente para cada aluno para entender SILVINA MARIA
suas necessidades e suas características e assim atender da DA SILVA SOUZA
melhor forma a expectativa da mesma, tornando a sala de
Graduação em pedagogia pela
aula um ambiente seguro e acolhedor para a criança. Universidade Bandeirante de
São Paulo (2009); Professora de
Ficou claro que quando a criança se sente segura e acolhida Educação Infantil na Prefeitura
do Município de São Paulo no CEI
em um ambiente, ela fica disponível para aprender, ela se Yvone Lemos de Almeida Fraga.
sente livre para perguntar e permite que o outro a ensine.
Quando a criança cria um vínculo com um adulto, seja ele
professor ou familiar, esta pessoa se torna uma espécie de
espelho para ela, alguém que ela irá observar e absorver
atitudes, expressões e admirar.

Também foi possível constatar que o desenvolvimento afetivo da criança com os adultos
e com outras crianças faz parte do desenvolvimento humano dela e não só o aprendizado
cognitivo.

Por fim, é importante ressaltar que o vínculo da criança com sua família é o primeiro
contato que ela tem com a afetividade e é muito importante para que os outros vínculos
venham a ocorrer de forma saudável dentro da escola e da sociedade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Ana. A vida afetiva da criança. Maceió: Edufal, 2008.

ALMEIDA., Laurinda. MAHONEY, Abigail. Afetividade e aprendizagem - Contribuições de


Henri Wallon. São Paulo:Edições Loyola, 2007.

ALMEIDA, Yndyne. O Vínculo Afetivo E Suas Contribuições Para A Relação Professor-Aluno.


SEPesq, 2015.

MACHADO, Maria de Lucia de A. Educação Infantil e Sócio-Interacionismo. In: OLIVEIRA,


Zilma Moraes Ramos de (Org.) Educação Infantil: muitos olhares. São Paulo: Cortez Editora,
1996. p. 25 – 50.

SILVEIRA, Elisete. A Importância da Afetividade na Aprendizagem Escolar: O Afeto na Relação


Aluno-Professor. Psicologado, 2014. Disponível em:< https://psicologado.com.br/atuacao/
psicologia-escolar/a-importancia-da-afetividade-na-aprendizagem-escolar-o-afeto-na-
relacao-aluno-professor> Acesso em 28 de mar. de 2019.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E DA
SOCIEDADE NO CONTEXTO FAMILIAR
E NO CENÁRIO EDUCACIONAL
RESUMO: O sistema educacional tem um processo de evolução, portanto quando os
resultados escolares não vão bem é porque à insuficiência no processo pedagógico, e deve
ser urgentemente corrigido. Nas escolas, verifica-se o emprego de um ensino “mecanizado”,
que remetem a época militar, em que o conceito de ensino é relacionado diretamente a uma
“cadeia de produção”, onde o professor é o detentor de todo o ensino dentro da sala de aula,
e o aluno não é educado a pensar criticamente sobre o mundo que o rodeia. O objetivo do
presente trabalho se encontra na necessidade de analisar mais profundamente a importância
da afetividade a escola, ressaltando conceitos segundo as ideias de Vygotsky que destaca a
importância das relações sociais no processo de aprendizagem. Em relação a problemática
tratada nesse estudo cabe realizar a seguinte indagação: de que maneira as relações afetivas
podem contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem? A metodologia do presente
trabalho será essencialmente, relacionada a pesquisa bibliográfica, que é desenvolvida por
meio de material já elaborado (livros, artigos, periódicos, jornais, etc)

Palavras-Chave: Educação; Afetividade; Professor.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO Vale salientar que as dimensões


estruturam-se, no fator sócio histórico que
O trabalho aqui apresentado abordará a é constituído de condicionantes culturais.
interação Professor-Aluno na aprendizagem Neste contexto será abordado o diálogo,
sob os enfoques literários, psicológicos, sócio condicionante fundamental para uma boa
históricos e afetivos, buscando compreender interação entre o professor e o aluno.
suas influências na aprendizagem do ensino
fundamental, já que, a educação é uma Segundo Paulo Freire (1967 p. 66):
atividade sócio-política na qual consiste a
relação entre sujeito: Professor e aluno na “[...] o diálogo é uma relação horizontal. Nutre-se
de amor, humildade, esperança, fé e confiança”.
sociedade.

Para que se entenda a dimensão desta Na fala de Freire, percebe-se o vínculo


relação faz-se necessário conceituar entre o diálogo e o fator afetivo que norteará
Interação: Processo interpessoal pelo a virtude primordial do diálogo, o respeito aos
quais indivíduos em contato modificam educandos não somente como receptores,
temporariamente seus comportamentos uns mas enquanto indivíduos.
em relação aos outros, por uma estimulação
recíproca contínua. A interação social é o As relações afetivas que o aluno estabelece
modo comportamental fundamental em com os colegas e professores são grande valor
grupo. (DICIONÁRIO DE PSICOLOGIA, p. na educação, pois a afetividade constitui a
439). base de todas as reações da pessoa diante
da vida.
Na interação Professor-Aluno, a escola
enquanto instituição educativa desempenha Sabendo que as dificuldades afetivas
um papel fundamental, sendo palco das provocam desadaptações sociais e escolares,
diversas situações que propiciam esta bem como perturbações no comportamento,
interação principalmente no que tange sua o cuidado com a educação afetiva deve
dimensão socializante, a qual prepara o caminhar lado a lado com a educação
indivíduo para a convivência em grupo e em intelectual.
sociedade.
A presente pesquisa buscará conhecer a
Assim, também é função da escola teoria acima descrita que poderá contribuir
a dimensão epistêmica, onde ocorre a a uma boa convivência no interior das
apropriação de conhecimentos acumulados, instituições educativas onde ocorrem, antes
bem como a qualificação para o trabalho, de tudo, um contato humano entre pessoas
dimensão profissionalizante. que pensam e agem e têm, sobretudo,
sentimentos. É preciso respeitar o outro no

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Revista Educar FCE - Abril 2019

seu modo de ser e assim, garantir um bom em ambientes com pessoas que não tiveram
relacionamento, possibilitando um clima de uma boa formação escolar, sua linguagem
confiança. terá muitas falhas. O estudante carente usa
uma linguagem pobre em vocabulário e em
sua estruturação. Seus colegas de famílias de
O ESPAÇO DA ESCOLA melhor posição social, que cresceram entre
pessoas com algum grau de instrução, teriam
O perfil da educação brasileira apresentou domínio de um proveitoso vocabulário.
significativas mudanças nas últimas décadas. COLL (1996:95) afirma que:
O desempenho dos alunos remete-nos à
necessidade de considerarem a formação do Os regulamentos e exigências escolares
professor, como sendo requisito fundamental também são vistos como causas dos
para a melhoria dos índices de aprovação, problemas que a educação enfrenta. Logo
repetência e evasão do ensino. de início há uma extrema falta de vagas, a
escola tem uma localização que dificulta
As expectativas do professor sobre o o trajeto de ida e volta dos alunos. Depois
desempenho dos alunos podem funcionar temos os horários estabelecidos pelas
como uma “suposição de autorrealização”. escolas, que são muito criticados por não
Isto é: o aluno de quem o professor espera atenderem a realidade da população. Outro
menos é o que realiza menos, ao passo fator que dificulta a permanência e o bom
que aqueles de quem se espera um bom desempenho dos alunos na escola são, as
desempenho acabam, na realidade, por despesas com materiais exigidos pela escola
apresentá-lo. Assim, as taxas de evasão como: uniforme, livros, taxas, etc..., Isso
evidenciam a baixa qualidade do ensino e a porque na maioria dos casos, os pais não
incapacidade dos sistemas educacionais e das podem comprar o que a escola exige.
escolas de garantir a permanência do aluno,
penalizando os alunos de nível de renda mais Todos esses regulamentos não são
baixos. Exatamente por fazerem parte de problemas para as crianças de classe média,
famílias desprovidas de recursos, as crianças cujos pais são bem empregados. No entanto,
não têm acesso ao mínimo de informações para as crianças de famílias pobres, estas
culturais no lar, e por isso, chegam à escola exigências representam grandes dificuldades
em situação de inferioridade em relação à e obstáculos para conseguir aprovação na
maioria dos estudantes de classes mais altas. escola.

Uma criança que faça parte de uma família A família é colocada como principal
de poucos recursos, sua alimentação será responsável pelo fracasso dos alunos, não
deficiente e, por isso, seu desenvolvimento sendo questionadas, as condições materiais
físico e sua saúde serão deficientes. Por viver de vida dessas famílias, nem sua participação

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Revista Educar FCE - Abril 2019

“Mas os tempos mudaram e mudaram muito.


nas relações sociais de produção que são o Hoje, uma suspensão transformou-se num
que determinam, em última instância, as prêmio, seja ela de um dia ou mais. Algumas
possibilidades de assistência aos filhos. escolas, mesmo mantendo o sistema de
suspensão, são mais esclarecidas, suspendem
Essas conclusões ideológicas eximem os os alunos de suas atividades didáticas e
professores de observar sua própria atuação recreativas, mantendo-o em seu recinto através
no contexto escolar, sua participação na da organização de trabalhos nas bibliotecas ou
coordenações, e aproveitam para encaminhá-lo
seletividade e, principalmente, a função aos serviços de orientação educacional. Nesses
da escola como reprodutora da sociedade casos, o prêmio não é tão grande”. WERNECK
desigual na qual se insere. (1999:60)

“A escola não pode ser propriedade de um A atitude do professor em sala de aula é


partido; e o mestre faltará em seus deveres
quando empregue a autoridade de que dispõe importante para criar climas de atenção e
para atrair seus alunos à rotina de seus concentração, sem que se perca a alegria. As
preconceitos pessoais, por mais justificados que aulas tanto podem inibir o aluno quanto fazer
lhes pareçam”. DURKHEIM (1978:49)
que atue de maneira indisciplinada. Portanto,
o papel do professor é o de mediador e
Em várias salas de aula nota-se a exigência facilitador; que interage com os alunos na
constante de disciplina, o estabelecimento construção do saber. Neste sentido, é muito
de uma relação autoritária entre o professor importante ajudar os professores a saberem
e seus alunos, o trabalho obrigatório e ensinar, garantindo assim que todos os
repetitivo. Um dos meios de controlar a alunos possam aprender e desenvolver seu
disciplina é a divisão do tempo. Há hora raciocínio.
determinada para entrar, sair, para o recreio,
a merenda, para tomar água, para ir ao Alguns professores sentem que seu
banheiro, etc. O cumprimento do horário relacionamento com os alunos determina o
é obrigatório, sem levar em conta o que a clima emocional da sala de aula. Esse clima
criança está fazendo ou qual é a sua vontade poderá ser positivo, de apoio ao aluno,
no momento. quando o relacionamento é afetuoso, cordial.
Neste caso, o aluno sente segurança, não
Há, por parte do professor, uma vigilância teme a crítica e a censura do professor. Seu
constante e ameaças, gerando um clima nível de ansiedade mantém-se baixo e ele
de tensão entre as crianças, por estarem pode trabalhar descontraído, criar, render
sempre antecipando as consequências de mais intelectualmente. Porém, se o aluno
seus “maus atos”: o aluno corre o rico de ficar teme constantemente a crítica e a censura
sem recreio, de ser retirado após as aulas, do professor, se o relacionamento entre
além de outras ameaças de castigo. Quem é eles é permeado de hostilidade e contraste,
“bem comportado” recebe recompensas e é a atmosfera da sala de aula é negativa.
apresentado como modelo aos colegas. Neste caso, há o aumento da ansiedade do

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Revista Educar FCE - Abril 2019

aluno, com repercussões físicas, diminuindo que acompanha e participa do processo de


sua capacidade de percepção, raciocínio e construção de novas aprendizagens.
criatividade.
Como bem destaca CECCON (1998),
Se a aprendizagem, em sala de aula, para que a sociedade possa mudar é preciso
for uma experiência de sucesso, o aluno que nós provoquemos mudanças de forma
constrói uma representação de si mesmo significativa para o indivíduo. Entende-se,
como alguém capaz. Se ao contrário, for uma portanto, que as escolas devem comparar
experiência de fracasso, o ato de aprender sua relação com a comunidade e ainda, criar
tenderá a se transformar em ameaça. O um clima favorável ao aprendizado, onde
aluno ao se considerar fracassado, vai buscar a contribuição e o compromisso são peças
os culpados pelo seu conceito negativo e fundamentais para obtermos a verdadeira
começa achar que o professor é chato e que escola, isto é, uma escola democrática, onde
as lições não servem para nada. todos tenham acesso a coletividade.

Procura-se, portanto, romper as diferenças “Somente uma outra maneira de agir e de pensar
pode levar-nos a viver uma outra educação que
de professor e aluno consagrados pela escola não seja mais o monopólio da instituição escolar
tradicional. Os papéis tradicionalmente e de seus professores, mas sim uma atividade
desempenhados pelo professor que é o de permanente, assumida por todos os membros
de cada comunidade e associada de todas as
ensinar, transmitir e dominar e pelo aluno dimensões da vida cotidiana de seus membros”.
que é o de aprender, receber passivamente FREIRE (1980:117)
e obedecer devem ser mudados. Só assim a
escola poderá efetivamente atender a sua
mais elevada finalidade: permitir o aluno a RESGATANDO A HISTÓRIA
chegar ao conhecimento. DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
Nesse contexto, a qualidade de atuação A História da Educação no Brasil é o
da escola não pode depender somente estudo da evolução da educação do ensino,
da vontade de um ou outro professor. É da instrução e das práticas pedagógicas no
preciso a participação conjunta da escola, da Brasil. Evolui em rupturas marcantes e fáceis
família, do aluno e dos profissionais ligados de serem observadas.
à educação, assim como, o professor deve
reorganizar suas ideias e reconhecer que o A história da educação no Brasil começa
aluno não é um sujeito que só faz receber em 1549 com a chegada dos primeiros padres
informações, suas capacidades vão além do jesuítas, inaugurando uma fase que haveria
conhecimento que lhes é “depositado”. Para de deixar marcas profundas na cultura e
tanto, o professor não mais será o “dono do civilização do País. Movidos por intenso
saber” e passará a ser um orientador, alguém sentimento religioso de propagação da fé

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Revista Educar FCE - Abril 2019

cristã, durante mais de 200 anos, os jesuítas Esta característica haveria de ter uma
foram praticamente os únicos educadores enorme influência na evolução da educação
do Brasil. superior brasileira. Acrescente-se, ainda,
que a política educacional de D. João VI, na
Embora tivessem fundado inúmeras medida em que procurou, de modo geral,
escolas de ler, contar e escrever, a prioridade concentrar-se nas demandas da Corte, deu
dos jesuítas foi sempre a escola secundária, continuidade à marginalização do ensino
grau do ensino onde eles organizaram uma primário.
rede de colégios de reconhecida qualidade,
alguns dos quais chegaram mesmo a oferecer Com a Independência do País, conquistada
modalidades de estudos equivalentes ao em 1822, algumas mudanças no panorama
nível superior. sócio-político e econômico pareciam
esboçar-se, inclusive em termos de política
Em 1759, os jesuítas foram expulsos de educacional. De fato, na Constituinte de
Portugal e de suas colônias, abrindo um 1823, pela primeira vez se associa sufrágio
enorme vazio que não seria preenchido nas universal e educação popular - uma como
décadas subseqüentes. As medidas tomadas base do outro. Também é debatida a criação
pelo Ministro de D. José I - o Marquês de de universidades no Brasil, com várias
Pombal - sobretudo a instituição do Subsídio propostas apresentadas.
Literário, imposto criado para financiar o
ensino primário, não surtiram nenhum efeito. Como resultado desse movimento de
Só no começo do século seguinte, em 1808, ideias, surge o compromisso do Império,
com a mudança da sede do Reino de Portugal na Constituição de 1824, em assegurar
e a vinda da Família Real para o Brasil-Colônia, "instrução primária e gratuita a todos os
a educação e a cultura tomariam um novo cidadãos", confirmado logo depois pela Lei
impulso, com o surgimento de instituições de 15 de outubro de 1827, que determinou
culturais e científicas, de ensino técnico e a criação de escolas de primeiras letras em
dos primeiros cursos superiores (como os de todas as cidades, vilas e vilarejos, envolvendo
Medicina nos Estados do Rio de Janeiro e da as três instâncias do Poder Público. Teria
Bahia). sido a "Lei Áurea" da educação básica, caso
tivesse sido implementada.
Todavia, a obra educacional de D. João
VI, meritória em muitos aspectos, voltou- Da mesma forma, a idéia de fundação
se para as necessidades imediatas da Corte de universidades não prosperou, surgindo
Portuguesa no Brasil. As aulas e cursos em seu lugar os cursos jurídicos em São
criados, em diversos setores, tiveram Paulo e Olinda, em 1827, fortalecendo o
o objetivo de preencher demandas de sentido profissional e utilitário da política
formação profissional. iniciada por D. João VI. Além disso, alguns

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Revista Educar FCE - Abril 2019

anos depois da promulgação do Ato 1932, documento histórico que sintetiza os


Adicional de 1834, delegando às províncias pontos centrais desse movimento de idéias,
a prerrogativa de legislar sobre a educação redefinindo o papel do Estado em matéria
primária, comprometeu em definitivo o educacional.
futuro da educação básica, pois possibilitou
que o governo central se afastasse da Surgem nesse período, as primeiras
responsabilidade de assegurar educação Universidades Brasileiras, do Rio de
elementar para todos. Assim, a ausência de Janeiro-(1920), Minas Gerais-(1927),
um centro de unidade e ação, indispensável, Porto Alegre-(1934) e Universidade de
face às características de formação cultural e São Paulo-(1934). Esta última constitui o
política do País, acabaria por comprometer a primeiro projeto consistente de universidade
política imperial de educação. no Brasil, daria início a uma trajetória cultural
e científica sem precedentes.
A descentralização da educação básica,
instituída em 1834, foi mantida pela A Constituição promulgada após a
República, impedindo o Governo Central de Revolução de 1930, em 1934, consigna
assumir posição estratégica de formulação e avanços significativos na área educacional,
coordenação da política de universalização incorporando muito do que havia sido
do ensino fundamental, a exemplo do que debatido em anos anteriores. No entanto, em
então se passava nas nações européias, nos 1937, instaura-se o Estado Novo outorgando
Estados Unidos e no Japão. Em decorrência, ao País uma Constituição autoritária,
se ampliaria ainda mais a distância entre as registrando-se em decorrência um grande
elites do País e as camadas sociais populares. retrocesso.

Na década de 1920, devido mesmo ao Após a queda do Estado Novo, em


panorama econômico-cultural e político que 1945, muitos dos ideais são retomados
se delineou após a Primeira Grande Guerra, e consubstanciados no Projeto de Lei de
o Brasil começa a se repensar. Em diversos Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
setores sociais, mudanças são debatidas e enviado ao Congresso Nacional em 1948
anunciadas. O setor educacional participa do que, após difícil trajetória, foi finalmente
movimento de renovação. Inúmeras reformas aprovado em 1961 (Lei nº 4024).
do ensino primário são feitas em âmbito
estadual. Surge a primeira grande geração No período que vai da queda do Estado
de educadores - Anísio Teixeira, Fernando Novo, em 1945, até a Revolução de 1964,
de Azevedo, Lourenço Filho, Almeida Júnior, quando se inaugura um novo período
entre outros, que lidera o movimento, tenta autoritário, o sistema educacional brasileira
implantar no Brasil os ideais da Escola Nova passará por mudanças significativas,
e divulga o Manifesto dos Pioneiros em destacando-se entre elas o surgimento,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

em 1951, da atual Fundação CAPES Mesmo que possamos não concordar


(Coordenação do Aperfeiçoamento do com a forma como foram executados alguns
Pessoal do Ensino Superior), a instalação do programas, temos que reconhecer que,
Conselho Federal de Educação, em 1961, em toda a História da Educação no Brasil,
campanhas e movimentos de alfabetização contada a partir do descobrimento, jamais
de adultos, além da expansão do ensino houve execução de tantos projetos na área
primário e superior. Na fase que precedeu a da educação numa só administração.
aprovação da LDB/61, ocorreu um admirável
movimento em defesa da escola pública, Até os dias de hoje muito tem se mexido no
universal e gratuita. planejamento educacional, mas a educação
continua a ter as mesmas características
O movimento de 1964 interrompe essa impostas em todos os países do mundo,
tendência. Em 1969 e 1971, são aprovadas que é mais o de manter o "status quo", para
respectivamente a Lei 5540/68 e 5692/71, aqueles que freqüentam os bancos escolares,
introduzindo mudanças significativas na e menos de oferecer conhecimentos básicos,
estrutura do ensino superior e do ensino para serem aproveitados pelos estudantes
de 1º e 2º graus, cujos diplomas estão em suas vidas práticas.
basicamente em vigor até os dias atuais.

A Constituição de 1988, promulgada após O SISTEMA EDUCACIONAL


amplo movimento pela redemocratização E A ESCOLA
do País, procurou introduzir inovações
e compromissos, com destaque para a A atual estrutura e funcionamento da
universalização do ensino fundamental e educação brasileira decorre da aprovação da
erradicação do analfabetismo. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei
n.º 9.394/96), que, por sua vez, vincula-se
Neste período, do fim do Regime Militar às diretrizes gerais da Constituição Federal
aos dias de hoje, a fase politicamente de 1988, bem como às respectivas Emendas
marcante na educação, foi o trabalho do Constitucionais em vigor.
economista e Ministro da Educação Paulo
Renato de Souza. Logo no início de sua Para Oliveira (2005) o sistema educacional
gestão, através de uma Medida Provisória geralmente impõe padrões de conduta que as
extinguiu o Conselho Federal de Educação escolas devem seguir. Esses padrões, muitas
e criou o Conselho Nacional de Educação, vezes, são fora da realidade particular de
vinculado ao Ministério da Educação e cada escola, o que gera tensão, desmotivação
Cultura. Esta mudança tornou o Conselho e incapacidade de realizar a contento o
menos burocrático e mais político. trabalho pretendido.

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A educação básica tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação


comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no
trabalho e em estudos posteriores (art. 22). Ela pode ser oferecida no ensino regular e nas
modalidades de educação de jovens e adultos, educação especial e educação profissional,
sendo que esta última pode ser também uma modalidade da educação superior.

Turmas numerosas, faltas de condições materiais, estrutura física inadequada, falta de


recursos financeiros. Com o crescente aumento da oferta de vagas nas escolas públicas para
o ensino fundamental e médio, não houve uma estruturação adequada que acompanhasse
esse crescimento.

Observando nossas escolas em seu cotidiano, nos deparamos corriqueiramente com


situações aceitas pacificamente como: salas inadequadas, com iluminação deficiente, carteiras
e cadeiras sem conforto, sucatadas, alunos de 7ª e 8ª séries, por exemplo, em cadeiras mais
apropriadas para a educação infantil, que mal cabem suas pernas, pátios pequenos e sem
cobertura, sem refeitório, quadras esportivas sem cobertura, isso quando elas existem, pois
nem toda escola conta com essa melhoria.

A própria organização do tempo escolar é desmotivadora. Horários rígidos, atividades


repetitivas, o intervalo fracionado, quando uns estão no pátio, outros estão estudando,
dependendo da logística do prédio escolar torna-se impossível qualquer aproveitamento
pedagógico, pois o trânsito e o barulho de alunos nos corredores e no pátio atrapalham e
causam ansiedade e indisciplina nos que ainda estão em sala.

As próprias relações entre seus membros se dão de cima para baixo; alunos que obedecem
ao professor que obedece ao coordenador, que obedece ao diretor, que obedece à secretaria
de estado e assim por diante. Isso acaba por gerar descontentamento, que inconscientemente,
ou não, reflete nas relações em sala de aula.

Sendo assim o comportamento indisciplinar não é simplesmente uma ação, mas uma
reação aos fatores externos ao aluno.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional define para a educação básica, nos níveis
fundamental e médio, a carga horária mínima anual de oitocentas horas, distribuídas por um
mínimo de duzentos dias letivos de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado
para os exames finais; para a educação superior, o ano letivo regular tem a duração de, no
mínimo, duzentos dias de efetivo trabalho acadêmico, também excluído o tempo destinado
aos exames finais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso considerar o fato de que o professor, quando
se torna comprometido com o aluno e com uma educação
de qualidade, fazendo do aluno alvo do processo ensino-
aprendizagem, e cumprindo seu papel de orientador e
facilitador do processo, legitima assim a teoria de uma
facilitação da aprendizagem, através da interação entre
sujeitos, ultrapassando, desse modo, a mera condição de
ensinar. SIMONE ALVES CARDOSO
Graduação em Pedagogia, pela
No entanto, muitos fatores levam a questionar se esta Faculdade, Faculdades Campos
prática educativa vem realmente acontecendo de maneira Elíseos (2012); Especialista
satisfatória nas instituições. Muitas vezes, as relações entre em História da Educação, pela
Faculdade, Universidade de
os sujeitos acabam por se contrapor, seja por motivos Guarulhos (2015); Professor de
econômicos, sociais, políticos ou ideológicos, demonstrando Ensino Fundamental I –Professor
falhas no cotidiano e lar, bem como limitações quanto de Ensino Infantil, Simone Alves
Cardoso, no CEI Parque Edu
à aquisição do conhecimento no processo ensino- Chaves.
aprendizagem.

Na realidade, a prática docente tem uma parcela não só


significativa na relação professor e aluno, mas quase que
definitiva em todo o processo. A arrogância didática do
detentor do saber e a "segurança" que o mesmo tem de
que seu poder, seu conhecimento ilimitado são suficientes, pode produzir um aprendizado
equivocado e covarde, uma vez que este acredita que a culpa é somente do aluno quando
os resultados não condizem com as suas expectativas.

Com toda essa mínima produtividade, o que ocorre é a morte da criatividade, reproduzindo
assim o que já existe.

Certamente, a simples mudança de paradigmas não garante de forma alguma uma


mudança de concepção pedagógica, ou seja, de prática escolar. A superação de valores tidos
como indispensáveis hoje, apesar de ultrapassados, já não são suficientes para os avanços
necessários na prática docente.

Para o educador, o ensinar deve ser uma arte, uma ciência e um conjunto de técnicas
que são utilizadas para se alcançar um objetivo. Através de alguns subsídios, toma-se fácil

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conduzir o processo de aprender a raciocinar, a refletir e usar a própria criatividade. No


momento em que o educador preocupa-se em educar com arte, toma-se comprometido com
o aluno e com uma educação de qualidade, fazendo do aluno um alvo do processo ensino-
aprendizagem e cumprindo seu papel de orientador no processo.

De fato, a teoria legitima a prática, embora esta, sem o constante aprofundamento teórico,
perca rapidamente sua consistência. Atualmente, o questionamento para a melhoria gira
em tomo de cursos de capacitação, materiais didáticos, melhores condições de trabalho e
remuneração. Felizmente, ainda existem professores que faz do ensino um ideal e lutam
para ajudar a construir um mundo melhor, onde se tenha acesso a uma educação digna e
extensiva a todos, sem fome emocional, educacional e física, sem drogas e sem miséria.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

REFERÊNCIAS
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1547
Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA
NA MODERNIDADE
RESUMO: A didática é entendida como a ferramenta em que se acontece o processo ensino-
aprendizagem, onde o professor consegue organizar de forma sistemática todo seu trabalho,
buscando oferecer meios que induzam o aluno a perceber suas necessidades e criar seus
mecanismos, a fim de adquirir novos conhecimentos sem excluir os anteriores. Assim, pode-se
afirmar que a didática deve ser como uma peça importantíssima na aprendizagem. A didática é
uma prática pedagógica que tem um papel importante na construção do conhecimento, pois
esse recurso transforma muitas vezes a dificuldade que um aluno poderia ter em entendimento.
Por meio de uma boa didática o aluno terá melhor apreensão do real dentro de conceitos que,
dependendo da série ou da realidade de cada escola, não teriam sentido para os alunos. Entre
as várias abordagens sobre didática neste artigo, demonstra-se a contribuição da didática para a
formação de um indivíduo crítico que se inquieta com o ritmo homogeneizante da globalização.
Nesse contexto, a Didática enquanto campo de estudo visa propor princípios, formas e diretrizes
que são comuns ao ensino de todas as áreas de conhecimento. Não se restringe a uma prática de
ensino, mas se propõe a compreender a relação que se estabelece entre três elementos: professor,
aluno e a matéria a ser ensinada. Ao investigar as relações entre o ensino e a aprendizagem
mediadas por um ato didático, procura compreender também as relações que o aluno estabelece
com os objetos do conhecimento. Para isso privilegia a análise das condições de ensino e suas
relações com os objetivos, conteúdos, métodos e procedimentos de ensino. Este artigo buscará
mostrar a importância da didática praticada nas escolas com suporte de autores referenciais.

Palavras-Chave: Didática; Alfabetização; Motivação.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO e diretrizes orientadoras aos trabalhos dos


nossos profissionais em suas atividades.
Nos dias atuais a didática é considerada
como uma disciplina que respeita e valoriza Podemos resumir a Didática da seguinte
o ser humano, dando-lhe condições de maneira: ela funciona como elemento
dialogar com o ensino e a didática. A didática transformador da teoria na prática.
não poderá reduzir-se e dedicar-se somente
ao ensino de meios e mecanismos pelos
quais desenvolvem um processo de ensino- A DIDÁTICA NA ATUALIDADE
aprendizagem. Deverá ser um modo crítico
de desenvolver uma prática educativa a Atualmente a didática tem sua
partir de um projeto histórico, que não será funcionalidade na educação e deve estar
feito tão somente pelo educador, mas por integrada ao currículo escolar, desta forma
ele conjuntamente com o estudante e outros favorece ao trabalho de sala de aula, e sua
membros da sociedade. multifuncionalidade no processo de ensino-
aprendizagem. Neste contexto a pedagogia
A palavra didática (didáctica) vem da e a didática não podem ficar à margem da
expressão grega (techné didaktiké), que contemporaneidade por correlacionarem
se pode traduzir como arte ou técnica de com a produção e a constituição do
ensinar. É a parte da pedagogia que se ocupa conhecimento escolar.
dos métodos e técnicas de ensino destinado
a colocar em prática as diretrizes da teoria Segundo Libâneo 1994, no contexto
pedagógica, estudando os processos de didático pedagógico devemos ter um olhar
ensino e aprendizagem. É, entretanto, com mais aguçado para nossos alunos, visando
Comenius 2016, por meio de sua Didática novos desafios impostos pela sociedade,
Magna, escrita no século XVII e considerada suas condições e recursos disponíveis.
marco significativo no processo de Tendo um olhar para possíveis estratégias de
sistematização da Didática, que se populariza inovação, percebendo as expectativas dos
na literatura pedagógica. alunos e o nível intelectual de cada indivíduo
suas condições socioeconômicas, ou seja: o
Desta forma a didática envolve vários retrato sociocultural do aluno.
interesses, que vão do professor ao aluno,
ou vice-versa, tendo a disciplina, matéria/ A pedagogia constitui-se como campo de
investigação específica cuja fonte é a própria
conteúdo dentro do contexto da sua prática educativa e os portes teóricos providos
aprendizagem, ela é uma das disciplinas pelas demais ciências da educação e cuja tarefa
da pedagogia que estuda o processo de é o entendimento global e intencionalmente
dirigido dos problemas educativos. [...]. Compõe
ensino por intermédio de seus componentes o conjunto das ciências da educação, mas se
tendo desta forma embasamento teóricos destaca delas por assegurar a unidade e dar
sentido à contribuição das demais ciências, já

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que lhe cabe o enfoque globalizante e unitário do


fenômeno educativo. Não se trata de requerer A Didática tem por objetivo analisar o
à pedagogia exclusividade no tratamento processo do aprendizado do aluno, no qual
científico da educação, quer-se, no entanto, passa a assumir um papel significativo na
reter sua peculiaridade em responsabilizar-se
pela reflexão problematizadora e unificadora dos formação do educador, ela não poderá
problemas educativos, para além dos aportes reduzir-se e dedicar-se somente ao ensino de
parcializados das demais ciências da educação. meios e mecanismos pelos quais desenvolver
Nossa posição é de que a multiplicidade de
enfoques e análises que caracteriza o fenômeno um processo de ensino-aprendizagem, e sim,
educativo não torna desnecessária a pedagogia, deverá ser um modo critico de desenvolver
antes ressalta seu campo próprio de investigação uma prática educativa transformadora, que
para clarificar seu objeto, seu sistema de
conceitos e sua metodologia de investigação, não será feito tão somente pelo educador,
para daí poder apropriar-se da contribuição mas, por ele conjuntamente com o educando.
especifica das demais ciências (LIBÂNEO, 2002
p.239).
A didática deve servir como mecanismo
de tradução prática, no exercício educativo,
As fontes de informação são infinitas, de decisões filosóficas – políticas e
as situações problemas surgem a cada epistemológicas de um projeto histórico
descoberta e é neste momento que a didática de desenvolvimento do povo. Ao exercer
do professor fará a diferença para seu aluno. seu papel específico estará apresentando-
Antes mesmo de ensinar o que é, cada vez se como o mecanismo tradutor de
mais, teremos de ensinar como encontrar, posturas teóricas em práticas educativas.
como chegar, para que os alunos caminhem Na atualidade, a perspectiva funcional da
com as próprias pernas. O papel da didática didática é assumir a multifuncionalidade do
passa a ser fundamental já que contamos processo ensino-aprendizagem e articular
com uma bela didática de ensino, onde tudo suas três dimensões: técnica, humana e
fica mais fácil no campo do aprendizado. política.
Visando que o professor possui técnicas
de ensino que facilitam o entendimento do Nesta perspectiva Comenius 2016
aluno. ressalta: “Quando se fala de uma escola em
que as crianças são respeitadas como seres
humanos dotados de inteligência, aptidões,
A DIDÁTICA NO CONTEXTO sentimentos e limites, logo pensaram em
ESCOLAR concepções modernas de ensino”. Também
acreditamos que o direito de todas as pessoas
“Ensinar exige do professor a capacidade de – absolutamente todas – à educação é um
aprender, não apenas para se adaptar, mas, princípio que só surgiu há algumas dezenas
sobretudo para transformar a realidade”. de anos. De fato, essas ideias se consagraram
(FREIRE, 1997)
apenas no século XX, e assim mesmo não
em todos os lugares do mundo. Mas elas já

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Revista Educar FCE - Abril 2019

eram defendidas em pleno século XVII por seu sistema de ações e operações exercem
Comenius (1592-1670), o pensador tcheco influências na formação de convicções para
que é considerado o primeiro grande nome o desenvolvimento humano do ser social e
da moderna história da educação. do ser individual.

Contextualizar a prática pedagógica, Pedagogia é, então, o campo do


explicitando seus pressupostos, o contexto conhecimento que se ocupa do estudo
em que surgem e a visão de homem, de sistemático da educação, isto é, do ato
sociedade, de conhecimento e de educação educativo, da prática educativa concreta
nas quais estão inseridas. Assumindo o que se realiza na sociedade como uns dos
compromisso com a transformação social ingredientes básicos da configuração da
da população. Compartilhando os saberes, atividade humana. (LIBÂNEO, J.C. 1999,
poderemos modificar a forma de ensinar e p.25)
de aprender. Um ensinar sem limites com
participação direta do aluno e do professor, A escola neste ponto de vista passa a ser
focado no aprendizado do ser humano. vista como instituição social, ela tem o poder
de influenciar na educação da sociedade,
na formação de novas gerações de seres
APRENDIZAGEM HUMANA humanos. Em contrapartida a família é
o núcleo básico da educação, sempre
A educação é um processo, categoria, lembrando que a escola jamais substitui a
fenômeno social, preparação, ou conjunto família.
de influências, e muitos conceitos mais.
Segundo a linha de pensamento de MARTINS Devemos analisar diferentes grupos,
1990, p.23, o mesmo coloca que, a educação pois não podemos julgar as pessoas como
tem os seguintes caracteres: É fato histórico, ignorantes, cada um tem algo a nos ensinar,
pois se realiza no tempo; é um processo que o que falta a essas pessoas é um saber
se preocupa com a formação do homem sistematizado. Com base no inacabamento,
em sua plenitude; busca a integração dos nasce o problema da esperança e da
membros de uma sociedade em benefício desesperança. Eu espero na medida em que
de seus membros; é um fenômeno cultural, começo a busca, pois não, seria possível
pois transmite a cultura de um contexto buscar sem esperança não é educação. Aqui
de forma global; direciona o educando nos diz sobre a importância da esperança na
para a autoconsciência; é ao mesmo educação, pois através dela haverá mudanças
tempo, conservadora e inovadora. Como (FREIRE, PAULO,1999 p.67)
podemos definir educação: A educação é
uma atividade social, política e econômica, Para Paulo Freire 1999, a razão pela qual
que se manifesta de diversas formas e que se faz necessária a educação é a percepção

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Revista Educar FCE - Abril 2019

humana do próprio inacabamento, da mudança comportamental persistente que


própria imperfeição, onde mediante a esta se constituem na maturação, que ocorre
reflexão, somente o homem é capaz de em quando o indivíduo responde e recebe
sua reflexão-ação, “distanciar-se de sua estimulação de seu ambiente externo, a
realidade para com ela ficar objetivando-a, maturação requer somente crescimento
transformando-a e, transformando, ver-se interno”.
transformado pela sua própria ação em seu
tempo e somente este pode comprometer- Atos de aprendizagem são precedidos,
se”. Freire 1979 ainda no seu livro Educação segundo Gagné 1983, por uma série típica
e Mudança, afirma ser o homem um ser de de eventos de aprendizagem a qual se
relações. E ainda, afirma a sua necessidade dá por meio de oito fases, cada uma com
da estimulação da consciência reflexiva um nome e que identifica o processo
no educando para que este reflita sobre interno envolvido na mesma. As fases são:
sua própria realidade, conseguindo assim motivação, apreensão, aquisição, retenção,
que as relações deste sejam reflexivas, rememoração, generalização, desempenho e
consequentes, transcendentes e temporais. retroalimentação.
Reflexiva à medida que busca contemplar
sua realidade, transcendente na sua reflexão Para Gagné 1983, a aprendizagem “é uma
conseguir projetar um futuro de acordo com mudança de estado interior que se manifesta
seus desejos, tornando assim sua relação por meio da mudança de comportamento e na
também consequente, e temporal por agir, persistência dessa mudança. Um observador
perceber-se e fazer-se em seu tempo um externo pode reconhecer que houve
ser social e histórico. Freire ressalta que aprendizagem quando observa a ocorrência
condiciona a implantação de seu método, de uma mudança comportamental e também
a uma prévia reflexão sobre o homem e de a permanência desta mudança” (MOREIRA,
uma análise sobre suas condições culturais, 1999 p.153).
condição esta, necessária mediante qualquer
ação educativa. Portanto, de acordo com Gagné 1983,
uma mudança comportamental pertinaz.
Seguindo uma reflexão crítica sobre Segundo ele as mudanças resultantes do
a aprendizagem humana, temos uma desenvolvimento de estruturas internas
contribuição de Gagné 1983, segundo o fundamentam-se na maturação. Já a
autor, “a mudança de estado interior que aprendizagem “ocorre quando o indivíduo
se manifesta por meio da mudança de responde e recebe instigação de seu
comportamento e na persistência dessa ambiente externo, a maturação requer
mudança. Um observador externo pode somente crescimento interno” (MOREIRA,
reconhecer que houve aprendizagem 1999).
quando observa a ocorrência de uma

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A aprendizagem humana está ligada que está o processo ensino-aprendizagem.


aos métodos de ensino que podem ser
aplicados a todas as áreas do conhecimento, Na didática renovadora é fundamental a
tendo conceitos específicos. No Brasil os motivação, parte dela a aprendizagem, que
principais métodos de ensino existentes exige esforço e interesse. Quando o aluno
são Waldorf, que está baseado em Rudolf está no estado emocional de interesse ele tem
Steiner, o construtivismo de Jean Piaget, uma atração para o objeto de aprendizagem
o Sociointeracionismo de Vygotsky, o que passa a ser sua motivação, que resulta
Pragmatismo de Dewey, Montessoriano, com em uma ação de aprendizagem.
base nos ensinamentos de Maria Montessori
e o método Tradicional ou Conteudista, que Neste trabalho já foi ressaltado que o
orientou nossa pedagogia nos anos 60 e 70 professor é o motivador de toda ação do aluno,
e que vem ganhando novamente nos últimos transformando-a em capacidade. O uso de
anos após ser considerado ultrapassado. métodos modernos de ensino, adequados ao
nível da turma e assunto abordado dentro do
currículo escolar, sala de aulas adequadas, boa
A DIDÁTICA MOTIVANDO A iluminação, ventilação, limpeza, mobiliário,
APRENDIZAGEM etc. estes fatores passam a serem fontes
intrínsecas que brotam do próprio sujeito.
“De nada adianta um profissional cursar
a melhor faculdade, mas não ter didática, O professor poderá utilizar-se de todos os
paciência e sensibilidade para respeitar instintos como motivos. Exemplos: aplicando
o tempo e as diferenças de cada aluno”. jogos, o professor está-se utilizando do
Secretária do MEC, Maria do Pilar Lacerda. instinto lúdico do ser humano, agrupando os
alunos para o trabalho em grupo. O professor
que dá prazer e satisfação em suas aulas
Motivação é a soma do motivo com o constitui uma fonte de motivação extrínseca,
incentivo. Incentivo é o processo externo nesta situação a influência do meio é muito
que vai despertar o “motivo” no indivíduo. importante.
Incentivo é ação de fora para dentro. Motivo
é a reação, neste caso, de dentro para fora. Porém cabe ao professor perceber que os
alunos têm tempos diferentes de absorção
Aprender é adquirir novas atitudes. Tudo de conteúdo, perceber as dificuldades e
que fazemos tem um objetivo ou motivo. Que a individualidade dos estudantes e assim
também é a força interior nos motivando a agir. desenvolver métodos de acessar cada um,
Nos dias atuais nossos alunos são motivados/ produzir materiais individuais, incentivar que
incentivados, isto depende do contexto em os alunos se ajudem entre si.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho procurou esclarecer alguns aspectos na
evolução da didática atualmente, já que ela é considerada
como uma disciplina que valoriza o ser humano. Pode-se ver
no decorrer do trabalho que a didática e a pedagogia tem
se misturado na história, que em alguns momentos, as duas
disciplinas se tornam uma. Também a multifuncionalidade da
didática que está integrada no currículo escolar favorecendo
as aulas.

Ao redigir cada subtítulo deste trabalho percebemos que SOLANGE GARCIA


a didática envolve vários interesses, que o professor deve TOPAN CARNEIRO
envolver o máximo dos alunos nas disciplinas para que
Pedagogia pela Faculdade Taboão
todos entrem no contexto da aula na didática renovadora da Serra (2005), especialista
é fundamental a motivação, que parte dela a aprendizagem, em Arte e Musicalidade
onde exigem esforço e interesse de ambas as partes, pela Faculdade de Conchas
(2017); Professora de Ensino
educando e educador. Fundamental I na EMEF Maria
Rita Lopes Pontes- Irmã Dulce,
Vimos um breve relato sobre a origem da didática segundo Professora de Educação Infantil -
CEU CEI Campo Limpo.
Comenius 2016, por meio de sua Didáctica Magna, escrita
no século XVII e considerada marco significativo no processo
de sistematização da Didática que se populariza na literatura
pedagógica. Que a mudança de estado interior se manifesta
por meio da mudança de comportamento de cada indivíduo segundo Gagné 1983.

Já para Paulo Freire 1979, a razão pela qual se faz necessária a educação é a percepção
humana do próprio inacabamento, da própria imperfeição, onde mediante a esta reflexão,
somente o homem é capaz de em sua reflexão-ação. Freire ainda no seu livro Educação e
Mudança afirma ser o homem um ser de relações. Desta forma com tantas contribuições
percebi que a didática transforma o indivíduo, fazendo uma transformação da teoria na
prática.

1554
Revista Educar FCE - Abril 2019

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O DESAFIO DA ALFABETIZAÇÃO
EM CONTEXTO DE LETRAMENTO
RESUMO: Vive-se em uma sociedade letrada e tecnológica. A contemporaneidade cria, a todo
momento, desafios que exigem uma visão crítica e ampliada sobre os novos acontecimentos.
Pensando assim é que foi dada a direção da pesquisa, já que é tempo de a escola adequar
a ação pedagógica a essa realidade, pois ela continua a ser um dos poucos espaços em
que a sociedade pode se comprometer com a democratização do acesso às linguagens que
constroem o pensamento e o cidadão. A escola tem o compromisso de formar cidadãos
solidários e conscientes. Baseado em pesquisadores como Mortatti, Kleiman, Geraldi, Seber,
Cunha e outros mais, o trabalho propõe a interação dos alunos entre si e com o educador
através de brincadeiras diversas, que adquirem sentido nos contextos sociais que lhe deram
origem e que são utilizados com diferentes intenções e propósitos comunicativos. Aborda-
se a estrutura alfabetizadora no Brasil como um todo até chegar a uma maturidade didática
de letramento atual no processo de desenvolvimento para crianças iniciantes do Ensino
Fundamental. Esse suporte pedagógico vem atender melhor o processo de aprendizagem,
para ambos desempenharem seu papel educacional.

Palavras-Chave: Intervenções Didáticas; Espaço Pedagógico; Alfabetização e Letramento.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO pensamento e o cidadão. O espaço escolar


tem o compromisso de formar cidadãos
A infância é uma fase primordial na solidários e conscientes de seu papel social.
formação do caráter e da personalidade, O trabalho propõe a interação dos alunos
caracterizada pelo desenvolvimento do entre si e com o educador, que adquirem
raciocínio topológico espacial (ele vai ajudar sentido nos contextos sociais que lhe deram
a resolver um jogo de quebra cabeça bem origem e que são utilizados com diferentes
elaborado na vida adulta) e do raciocínio intenções e propósitos comunicativos. Esse
formal dedutivo (será quando a criança deduz suporte pedagógico vem atender melhor
por hipóteses algo). Educar e alfabetizar são o processo de aprendizagem, para ambos
um desafio permanentes. Implica refletir desempenharem seu papel educacional.
sobre as práticas e as concepções adotadas,
analisa-se e recria-se novas metodologias de É preciso conciliar a alfabetização e o
ensino. letramento, assegurando ao aluno tanto a
apropriação do sistema de escrita como o
O desafio consiste em possibilitar que a domínio das práticas de leitura e de escrita.
alfabetização se desenvolva em um contexto Os PCN explicam que:
de letramento. O acesso às diferentes
concepções de linguagem, é notório para a A compreensão atual da relação entre a
aquisição das capacidades de redigir e grafar
formação discente. O trabalho escolar precisa rompe com a crença arraigada de que o domínio
levar em conta a maneira de cada aluno do bê-a-bá seja pré-requisito para o início do
apropriar-se dessas linguagens. Por meio ensino de língua e nos mostra que esses dois
processos de aprendizagem podem e devem
de expressões corporais, palavras, desenho, ocorrer de forma simultânea. Um diz respeito à
música, imagens e histórias, brincadeiras e aprendizagem de um conhecimento de natureza
jogos, os alunos podem experimentar uma notacional: a escrita alfabética; o outro se refere
à aprendizagem da linguagem que se usa para
realidade diversa da deles e vivenciar o escrever (BRASIL, 1997, p. 33).
lugar do sonho, da imaginação, da magia, da
fantasia e do prazer estético.
O espaço de construção de conhecimento,
O cidadão de hoje vive em uma sociedade de liberdade de expressão, de interação, de
letrada e tecnológica. A realidade cria, a todo entrecruzamento de vozes e realidades, de
momento, desafios que exigem uma visão encontro de diferentes linguagens, as salas
crítica e ampliada sobre os acontecimentos. É de aula colaboram para que as crianças
tempo de a escola adequar a ação pedagógica estabeleçam novas relações com a cultura
a essa realidade, pois ela continua a ser um e elaborem novas formas de adquirir
dos poucos espaços em que a sociedade informações e construir conhecimentos,
pode se comprometer com a democratização conceitos e valores.
do acesso às linguagens que constroem o

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Nas sociedades contemporâneas, cada através de exame de livros que abordam o


vez mais controladas na escrita, tornou- tema sobre a Alfabetização e Letramento.
se insuficiente ser alfabetizador, ou seja, Artigos, teses, blogs e sites foram necessários
saber ler e escrever. É preciso também, para para ajudar a contrapor as diversas variantes
se integrar socialmente e poder exercer de um único tema. Atente-se para o fato de
plenamente a cidadania, dominar as práticas que, conforme justifica:
sociais de leitura e de escrita. Cabe ressaltar
o quanto é imprescindível o letramento. A Não se trata de discutir métodos de ensino, mas
de se compreender o processo de construção,
alfabetização vai legitimar condições para por parte da criança, do conhecimento sobre a
o início do letramento; ambos devem andar língua escrita, para se buscarem procedimentos
juntos, de maneira simultânea e indissociável. didáticos e pedagógicos adequados a esse
processo (MORTATTI, 2000, p. 19).
Aqui fica claro que:

Aprender é um processo que pode deflagrar As práticas pedagógicas de linguagem


no aprendiz uma curiosidade crescente, que
pode torná-lo mais e mais criador. Quanto mais que ocorrem no espaço escolar diferem
criticamente se exerça a capacidade de aprender, das demais porque promovem a reflexão
mais se constrói e desenvolve a curiosidade por meio da qual se dará a construção de
do educando e essa curiosidade é despertada
quando o aluno gosta da escola e se sente bem instrumentos que permitirão ao sujeito o
em sala de aula (FREIRE, 1983, p.35). desenvolvimento da competência discursiva
para falar, escutar, ler e escrever nas diversas
Pode-se afirmar que a questão de ler, situações de interação.
escrever, produzir e compreender um texto
de maneira insuficiente, é uma falha na Por essa razão, o objetivo do artigo foi
formação do professor dos anos iniciais refletir sobre a ampliação de oportunidades
do Ensino Fundamental I? Se uma grande do uso da linguagem em diferentes situações
parte dos alunos tem dificuldades de leitura, comunicativas e, consequentemente, de
escrita e produção de textos, como mostrar- participação social efetiva, pensa-se em
lhes a importância desses em suas vidas? adotar uma metodologia voltada na prática
No processo de alfabetização e letramento constante de leitura e de produção de textos,
é importante se valorizar os conhecimentos associada a atividades que se destinam à
prévios do aluno em fase inicial do Ensino apropriação do sistema de escrita, bem como
Fundamental? a valorização do conhecimento prévio do
aluno em fase de alfabetização e letramento.
Na realidade, precisa-se de atitudes Ler, escrever, ouvir e falar são objetivos
estratégicas funcionais diante de tal fracasso, fundamentais da Educação Básica e devem
partindo do princípio que o aluno necessita se constituir em um dos eixos organizadores
ser encorajado para aumentar a confiança vinculados a proposta e prática pedagógicas.
em si mesmo. A pesquisa desenvolveu-se

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Revista Educar FCE - Abril 2019

alfabetização do filho pela janela da sala de


Tomando esses pressupostos como ponto aula, mesmo que saiba qual é a função das letras
de partida, o professor deve se propor a (KLEIMAN, 2007, p.14).
uma prática efetiva de desenvolvimento
da oralidade, da leitura e da produção de Para os padrões atuais, concebe-se a
textos que incentiva o diálogo, a troca e, por parceria entre alfabetização e letramento,
conseguinte, a interação. Ler é uma atividade ambas se complementam, trazem uma
complexa que envolve tanto a decifração do abordagem específica. Conforme observa-se
código ou a decodificação propriamente dita em:
quanto a construção de sentidos. A leitura
requer um leitor dinâmico, que compreende Como o desenvolvimento da competência de
ler e escrever, ampliando as possibilidades de
o que lê nas linhas e nas entrelinhas, pois comunicação e expressão, por meio de variados
consegue estabelecer relações entre si e gêneros orais e escritos e sua participação no uso
busca saber mais. social e cotidiano, ouvindo pessoas, elaborando
e respondendo a perguntas, conhecendo a
escrita por meio de manuseio de livros, revistas
e outros portadores de textos e da vivências
CONHECIMENTO PRÉVIO de diversas situações de uso da linguagem e
ainda escutando textos lidos, apreciando a
DO ALUNO leitura feita pelos outros, escrevendo palavras
e textos coerentes e coesos, enfim, usando o
Nos moldes atuais de alfabetização, conhecimento linguístico para o viver cotidiano
de sua comunidade (CÓCCO, 2000, p. 8).
é preciso considerar um ponto muito
importante que é o histórico de vida
do aluno, seu conhecimento de mundo, Dessa forma, o exercício da alfabetização
conhecimento prévio, que até então não e letramento exige do professor que
se considerava, era ignorado. O tratamento contextualize seu aluno socialmente, para ele
da alfabetização era mecânico e uniforme, não se sentir alheio historicamente, é preciso
contava com a memorização exaustiva e não apresentar-se inserido na sociedade, por
com o aprendizado essencialmente que é o isso a aprendizagem precisa ser significativa
letramento. O método era desmotivador na para o aluno. Como se verifica na fala de da
medida que enxergava a todos de mesma autora:
maneira, não interessava a capacidade
intelectual e de aprendizagem de cada aluno. A escola é, assim, um lugar social onde o contato
com o sistema de escrita e com a ciência enquanto
modalidade de construção de conhecimento se dá
A prática da alfabetização, que tem por objetivo de forma sistemática e intensa, potencializando
o domínio do sistema alfabético e ortográfico, os efeitos desses outros aspectos culturais sobre
precisa do ensino alfabético e ortográfico, os modos de pensamento. Além disso, na escola
precisa do ensino sistemático, o que a torna o conhecimento em si é objeto privilegiado da
diferente de outras práticas de letramento, nas ação dos sujeitos envolvidos, dependentemente
quais é possível aprender apenas olhando os das ligações desse conhecimento com a vida
demais fazerem. Um adulto que não sabe ler imediata e com a experiência concreta dos
e escrever não será considerado alfabetizado
sujeitos (KLEIMAN, 2007, p. 156).
se apenas ficar acompanhando o trabalho de

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Dessa forma, diante do processo de leitura pedagógicas devem oferecer condições do


e escrita, o aluno precisa encontrar sentido aluno ter um desenvolvimento motor, social,
naquilo que está fazendo, não pode ser dado psicológico, afetivo e cognitivo. Segundo os
mais uma atividade simplesmente mecânica, PCN (BRASIL, 1998, p. 56):
há necessidade de um envolvimento por
parte do aluno. Os Parâmetros Curriculares Para aprender a ler, portanto, é preciso interagir
com a diversidade de textos, testemunhar
Nacionais (BRASIL, 1998, p. 149) apontam a utilização que os leitores fazem deles e
que: participar de atos de leitura de fato; é preciso
negociar o conhecimento que já se tem e o que
O envolvimento do aluno no processo de é apresentado pelo texto, o que está atrás e
aprendizagem deve propiciar ao aluno encontrar diante dos olhos, recebendo incentivo e ajuda
sentido e funcionalidade naquilo que constitui o de leitores experientes.
foco dos estudos em cada situação de sala de
aula. De igual maneira, propiciar a observação À vista disso, é preciso que o aluno
e a interpretação dos aspectos da natureza,
sociais e humanas, instigando a curiosidade tenha consciência da dimensão daquilo que
para compreender as relações entre os fatores vai aprender, para isso é necessário estar
que podem intervir nos fenômenos e no motivado o suficiente para entendê-la.
desenvolvimento humano.
Ainda nos PCN (BRASIL, 1998, p. 58) estão
manifestos que:
Uma maneira do aluno se envolver com
o conteúdo dado, é contextualizando, Para tornar os alunos bons leitores – para
desenvolver, muito mais do que a capacidade
assim ele vai confrontar por si mesmo com de ler, o gosto e compromisso com a leitura –
a sua realidade, buscando dentro dele a escola terá de mobilizá-los internamente, pois
competências intelectuais e afetivas que aprender a ler (e também ler para aprender)
requer esforço. Precisa fazê-los achar que a
ele possui para novas chances de formular leitura é algo interessante e desafiador, algo
conhecimentos, como também ampliando os que, conquistado plenamente, dará autonomia e
que já adquiriu. independência.


As práticas didáticas devem ser É inevitável que o professor proporcione
engrandecidas pelas ferramentas condições dos alunos desenvolverem uma
pedagógicas, desde as coletivas quanto as leitura adequada, além deles já gostarem
individuais, o professor precisa elaborar a muito do ambiente escolar pela forma
melhor maneira de abordar seus alunos a fim como a escola conduz a aprendizagem e
de que ele processe bem a aprendizagem. principalmente respeitando a cultura e
Desse modo, o professor não pode estar conhecimento de mundo de cada um.
despreparado perante os alunos em uma
sala de aula, é preciso buscar sempre novos As análises feitas sobre os comportamentos
envolvidos nos processos de leitura, permitiram,
conhecimentos para enriquecer as aulas, a classificação das várias habilidades básicas
ser um pesquisador assíduo. As atividades ou conhecimentos prévios necessários à
alfabetização. Estes conhecimentos prévios

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Revista Educar FCE - Abril 2019

podem ser definidos como determinados que o próprio aprendiz realiza sobre seus
“conceitos” que a criança deve adquirir durante conhecimentos prévios [...] (MORAIS, 2002,
o período de educação infantil (refiro-me a todo p.53).
o período anterior à fase do ensino fundamental)
que facilitam e permitam a aprendizagem
da leitura e da escrita. A aquisição destas Diante do exposto, nota-se que o aluno
habilidades não se dá de forma espontânea utiliza dos recursos existentes para fazer suas
com o decorrer do tempo. É necessário que compreensões em suas leituras. O professor
a criança seja submetida a um treinamento
programado e especifico, de acordo com a precisa fazer as alterações necessárias para
fase de desenvolvimento em que se encontra que seu aluno consiga realmente ler, escrever
(MORAIS, 2002, p. 21). e interpretar os mais variados tipos de textos,
usando todos os recursos disponíveis a favor
Assim sendo, a importância de trabalhar do aluno.
na leitura, é acreditar na potencialidade que
ela pode realizar dentro de uma realidade
cultural e social, dentro de uma perspectiva A AFETIVIDADE EM
de mundo e de vida. O aluno fazendo AMBIENTE ESCOLAR
suas próprias leituras, ele vai elaborar sua
verdadeira história de vida. A autora diz que A aprendizagem envolve o aspecto
o aluno: social da criança, seu meio é um forte
influenciador, cada criança vê o mundo de
Aborda a leitura de mundo através da atuação do sua forma, à sua maneira, somando com tudo
conhecimento prévio, essencial à compreensão,
pois é o conhecimento que o leitor tem sobre já que experimentou na vida. Seu modo de
o assunto, mundo, que lhe permite fazer as adquirir conhecimento e refletir sobre suas
inferências necessárias para relacionar partes de observações, são únicos. O letramento vem
um texto num todo coerente (KLEIMAN, 2007,
integrar os saberes, as vivências, as práticas
p. 45).
sociais. A criança ao ter suas próprias ideias
ao longo da alfabetização e letramento, o
O professor dos anos iniciais do Ensino professor poderá ajudá-lo a acrescentar
Fundamental deve considerar o período de novos pensamentos e mediar esses saberes.
alfabetização e letramento, não como uma Sabe-se que cada aluno tem seu tempo
fase de memorização mas de valorização de aprender, pois não há homogeneidade
como pessoa, no âmbito cultural, social, na aprendizagem, em função disso que é
pessoal, religioso, entre outros. Nessa fundamental a mediação para a aquisição e
acepção, compartilha-se que: a constituição dos conhecimentos. O autor
elucida que:
Seguindo a perspectiva piagetiana, as autoras
da psicogênese da escrita assumiram que um Ao direcionar a atenção para os processos de
novo conhecimento sobre o sistema alfabético aprendizagem, em vez de focalizar os métodos
não surge, simplesmente, do exterior, a partir de de alfabetização, o professor toma consciência
informações transmitidas pelo meio (a escola, de que ninguém precisa correr atrás de nada nem
a professora), mas é fruto da transformação de ninguém. Isso significa professor e criança

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caminhando juntos. Ele se orienta por aquilo Em qualquer circunstância, o primeiro caminho
que vê a criança realizar, e ela, por sua vez, se para a conquista da atenção do aprendiz é o
deixa guiar pelos questionamentos, desafios, afeto. Ele é um meio facilitador para a educação.
contraexemplos e solicitações que lhe são feitos Irrompe em lugares que, muitas vezes, estão
(SEBER, 2010, p. 54). fechados ás possibilidades acadêmicas.
Considerando o nível de dispersão, conflitos
familiares e pessoais e até comportamentos
Ser professor alfabetizador é ser mediador agressivos na escola hoje em dia, seria difícil
encontrar algum outro mecanismo de auxílio ao
também, precisa vincular a sua prática com
professor mais eficaz (CUNHA, 2008, p.51).
sua teoria em sua aula. É um profissional
que exerce enorme influência sobre o
aluno em formação e por sua vez tem Dessa forma, deve-se analisar sempre a
que estar em constante aprimoramento criança contextualizada em correspondência
profissional. Melhorar constantemente com seu meio. A infância é um meio social
sua prática pedagógica, sua performance real, por isso cada uma tem o seu em
como profissional. Como bem esclarece o particular que difere do outro. Em cada um
pesquisador em: tem seu sentimento, idealismo, formação,
ilusão, criação, interação.
Na práxis pedagógica, o educador é aquele que,
tendo adquirido o nível de cultura necessário
para o desempenho de sua atividade, dá direção A afetividade tem uma função importante
ao ensino e à aprendizagem. Ele assume o no crescimento infantil. É por intermédio
papel de mediador entre a cultura elaborada, dela que a criança expressa suas vontades e
acumulada e em processo de acumulação pela
humanidade e o educando. O professor fará a conta suas vivências. O modelo tradicional
mediação entre o coletivo da sociedade (os não ouvia as crianças, pouco se importava
resultados da cultura) e o individual do aluno. o que elas tinham a dizer ou sentiam. Nos
Ele exerce o papel de um dos mediadores sociais
entre o universal da sociedade e o particular do moldes atuais, o professor tem obrigação
educando (LUCKESI, 2001, p.15). de inseri-la num contexto real e dar voz à
criança. Em suas palavras:
Uma metodologia adequada é o que
permite o professor solucionar uma falha A professora ou o professor é o guardião do seu
ambiente. A começar pelos seus movimentos em
didática, mas para corrigir, é preciso analisar sala, que devem ser adequados e gentis. A postura,
o contexto em que se estabelece o impasse, o andar, o falar são observados pelos alunos que
pois pode ser falta de empatia por parte do vê como modelo. Independentemente da idade,
da pré-escola à universidade, o professor será
aluno. Então, é preciso conquistá-lo para sempre observado. Então um bom ambiente na
frequentar a escola, pela integração do afeto, pratica do ensino começa por ele que canalizará a
pela socialização positiva. Essas são ações atenção do aprendente e despertará o interesse
em aprender (CUNHA, 2008, p.80).
que podem desfazer fatos embaraçosos que
podem estar atrapalhando a aprendizagem
infantil. Por esse fato, acrescenta-se que: Por essa razão que ao ser ampliado o Ensino
Fundamental para nove anos, um obstáculo

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A ampliação do ensino fundamental para nove


se mostrou para a formação dos currículos anos representa um avanço importantíssimo
e das propostas pedagógicas: quais seriam na busca de inclusão e êxito das crianças
os conteúdos específicos, as habilidades das camadas populares em nossos sistemas
escolares. Ao iniciarem o ensino fundamental
ou os desenvolvimentos esperados para a um ano antes, aqueles estudantes passam a ter
criança de 6 anos, que deixa de pertencer mais oportunidades para cedo começarem a se
ao universo da Educação Infantil com suas apropriar de uma série de conhecimentos, entre
os quais tem um lugar especial o domínio da
especificidades, e passa a fazer parte de escrita alfabética e das práticas letradas de ler-
outro universo em que as expectativas já se compreender e produzir textos (MORAIS, 2002,
apresentam de forma diferenciada. p. 101).

Certos eixos organizadores do processo de O lúdico pode simplificar o entendimento


alfabetização e letramento foram então incisivos
alterando profundamente a imagem do que da percepção de aprendizagem e assim
retrata alfabetizar, ao considerar a inserção real facilitando a alfabetização, fornecendo meios
da criança no universo das práticas letradas adequados para solução dos problemas
como essencial ao processo. “Aprendizagem
envolve risco, e não nos dispomos a correr ricos encontrados, isto é, funcionando como
com qualquer pessoa – se não conseguimos mediadora na relação dos sujeitos citados. O
desenvolver relações de confiança e afeto com professor tem que ter em mente o coletivo,
os alunos, dificilmente construímos uma relação
integrando todas as crianças, promovendo
de ensino-aprendizagem” (BRASIL, 2006, p. 84).
uma socialização salutar, respeitando o
conhecimento prévio de cada um e atribuindo
Concomitantemente, fez-se necessário significados.
repensar as singularidades de uma criança de
6 anos, suas especificidades e necessidades,
de modo a assegurar seu desenvolvimento FORMAÇÃO DA LINGUAGEM
físico, psicológico, in¬telectual, social,
emocional e cognitivo no contexto do início É bastante importante que as práticas
do Ensino Fundamental. didáticas nos anos iniciais do Ensino
Fundamental permitam aos alunos
Ao se formarem as peculiaridades que momentos de reflexão em que precisem se
caracterizam essa fase da infância, um assumir uma postura dialogada perante os
aspecto se apresenta como fundamental nas colegas e o professor. Elaborar atividades
reflexões que devem envolver as práticas que desenvolva a oralidade das crianças, é
pedagógicas destinadas a essa faixa etária sempre relevante, é preciso ouvir a voz deles,
e o ato de brincar corresponde a esses como se expressam verbalmente e como
interesses, pois ao se sentir acolhida pela pensam. Para viabilizar, o ponto de partida
escola, a criança deixa transparecer afeto e pode ser falar sobre a própria vivência de
sensibilidade através de atividades lúdicas cada um. Essa também é uma forma de
pedagógicas. Vale complementar que: interação.
A interação é um fator preponderante na relação

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desenvolvimento\aprendizagem. É através de
suas inter-relações com os outros sociais que a O autor acredita que o fenômeno
criança se desenvolve cultural e individualmente. linguístico por meio do discurso leva às
Por ser basicamente um ser social, a criança interações espontâneas. Para Geraldi (1997),
necessita do outro para o seu desenvolvimento
e aprendizagem (GARCIA, 1997, p.89) quanto mais natural a língua melhor, ele não
acredita na artificialidade das produções
O aprender a falar para expressar o próprio de textos ensinadas por grande parte dos
pensamento de cunho reflexivo e crítico professores. Para o autor, é preciso o
provoca os alunos a atuar sobre a língua e acompanhamento direto do professor junto
construir recursos naturais de defesa, como com o aluno caso faça uma leitura errada, é
entonação de voz, de repente aumenta a voz importante alertá-lo que fez uma estratégia
ou diminui, faz gestos, expressões faciais. equivocada de leitura. Explicando que “(...)
Utiliza espontaneamente ferramentas um ensino que não seja de reconhecimento,
linguísticas e levanta hipóteses. A construção mas de conhecimento; que não seja de
da linguagem cresce de forma regular, ora reprodução, mas de produção” (GERALDI,
falada, ora por desenho, ora por rabiscos, ora 1997, p.183).
por músicas.
É sempre interessante reforçar que quando
Portanto, é preciso ressaltar que o processo de o aluno chega na escola, ele já é um leitor de
construção da linguagem escrita é um processo
discursivo, marcado por uma rede de interações mundo. Tudo que está em sua volta a criança
que integra a criança ao seu meio sócio histórico observa e explora, reconhece de uma certa
cultural. A construção e a apropriação de forma, busca significado, quer entender tudo.
conhecimentos sobre a escrita pela criança não
são um processo gradual de transformações Ao ser alfabetizada, é o mesmo processo
isoladas, mas um processo totalizador, em que que acontece, ela tenta decifrar os códigos
desenvolvimento e aprendizagem constituem e compreender as letras. Como assegura a
uma unidade dialética. (GARCIA, 1997, p.89).
autora ao dizer que:

É indispensável fazer uma ressalva entre ler O conhecimento linguístico, o conhecimento


textual, o conhecimento de mundo devem ser
e aprender a ler. Ler é entender a convenção ativados durante a leitura para poder chegar
estabelecida nos códigos por algo que está ao momento de compreensão, momento esse
escrito. Já a aprendizagem da leitura é que passa desapercebido, em que as partes
discretas se juntam para fazer um significado.
adquirir uma habilidade de compreensão de O mero passar de olhos não é leitura, pois a
textos variados. O autor afirma que “não se leitura implica uma atividade de procura por
trata evidentemente de confinar a questão parte do leitor, no seu passado, de lembranças
e conhecimentos, daqueles que são relevantes
do ensino de língua portuguesa à linguagem, para a compreensão de um texto que fornece
mas trata-se da necessidade de pensá-lo à pistas e sugere caminhos (KLEIMAN, 2007, p.
luz da linguagem.” (GERALDI, 1997, p. 5) 26).

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Para Kleiman (2007), há o conhecimento prévio das crianças para fazer a leitura e
textual, de mundo e linguístico. Para fazer escrita de modo satisfatório, só assim se
bem uma leitura, é preciso que o professor fará o letramento com levantamento de
reconheça e aceite o conhecimento prévio perguntas em torno de um tema dentro de
do aluno, esse resgate ele vai precisar para um contexto trabalhado. Dessa forma, os
fazer uma boa leitura de textos variados. alunos poderão se utilizar das benesses da
Acrescenta dizendo que: alfabetização. A autora aponta que:

A ativação do conhecimento prévio é, então, O ensino inicial da leitura deve garantir a


essencial à compreensão, pois é o conhecimento interação significativa e funcional da criança
que o leitor tem sobre o assunto que lhe permite com a língua escrita, como meio de construir os
fazer inferências necessárias para relacionar conhecimentos necessários para poder abordar
diferentes partes discretas do texto num todo as diferentes etapas da sua aprendizagem. Isso
coerente. Este tipo de inferência, que se dá implica que o texto escrito esteja presente de
como decorrência do conhecimento de mundo forma relevante na sala de aula – nos livros, nos
e que é motivado pelos itens lexicais no texto é cartazes que anunciam determinadas atividades
um processo inconsciente do leitor proficiente [...] (SOLÉ, 1998, p. 62).
(KLEIMAN, 2007, p. 25).

Ainda para a autora, as estratégias


Dessa forma, a vontade de ler é adquirida permitirão que a criança organize sua leitura
aos poucos em casa e na escola, sendo com autonomia de maneira inteligente e
que na escola exerce uma função especial. lógica os mais variados textos. O resultado
É lá que se tem os recursos para tudo dar pode ser considerado razoável, por ser difícil
certo, ou espera-se isso. Cabe ao professor ou não tão bem feito. A autora sustenta que:
encantar seu aluno para que goste da leitura, Formar leitores autônomos também
não apenas que seja alfabetizado. É preciso significa formar leitores que sejam capazes
que se torne um leitor de fato. de aprender a partir dos textos. Para isso,
quem lê deve ser capaz de interrogar-se
A função do educador não seria precisamente a sobre sua compreensão, estabelecer relações
de ensinar a ler, mas a de criar condições para o
educando realizar a sua própria aprendizagem, entre o que lê e o que faz parte de seu acervo
conforme seus próprios interesses, necessidades, pessoal, questionar seu conhecimento e
fantasias, segundo as dúvidas e exigências que a modificá-lo, estabelecer generalizações que
realidade lhe apresenta. Assim, criar condições
de leitura não implica apenas alfabetizar ou permitam transferir o que foi aprendido para
propiciar acesso aos livros. Trata-se, antes, de outros contextos diferentes (SOLÉ, 1998, p.
dialogar com o leitor sobre sua leitura, isto é, 72).
sobre o sentido que ele dá, repito, a algo escrito,
ideias, situações reais ou imaginárias (MARTINS,
1994, p. 34). Nessa configuração, é bom reforçar a
ideia que esse é um excelente momento de
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, introduzir a criança no mundo literário, aqui
o professor deve aproveitar o conhecimento é o momento de encantá-lo pelos livros, para

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se tornar um bom leitor na vida adulta. As fases leitoras são valiosas e o professor não pode
deixar que passe nenhuma, pois ali se instala a fantasia, imaginação, afetividade, sonhos,
sentimentos. A criança vai formando seu gosto e predileções textuais. Os livros têm magias,
contam histórias, têm sua linguagem escrita e visual. Se forem coloridos, as gravuras ajudam
muito na imaginação infantil, são atrativas.

Várias propostas de atividades podem ser feitas na escola que vão ajudar muito a
desenvolver a linguagem infantil em fase de alfabetização e letramento. A contação de
histórias nos anos iniciais do Ensino Fundamental é benéfico em sua formação leitora,
podendo refinar a escuta, o desenvolvimento cognitivo e ilusório, estimula a memória, aguça
a afetividade, aperfeiçoa a oralidade, promove a socialização, integra melhor os colegas e
professores.

Nesse sentido, para cada criança aprender a ler e escrever ocorre num momento, pois
não há um padrão a ser obedecido nem um momento predestinado. Seja quem for, tem seu
ritmo diante de diferentes estímulos e é preciso respeitá-lo. Ao chegar à escola, a criança já
tem sua bagagem cultural e de vida em formação, igualmente a escola não pode deixar de
lado, ignorá-la. Tem-se que incorporar esses fatos aos novos conhecimentos que o aluno vai
passar a apreender. Como o pesquisador indica que:

Existentes, estando no mundo, eles nos fornecem, é claro, o resultado de um trabalho de construção sobre o qual
nos debruçamos, com os quais convivemos e dos quais nos apropriamos. Mas não é para serem “modeladores”
que se tornam modelos inspiradores: inspiram porque convivendo com eles vamos aprendendo, no e com o
trabalho do outros, formas de trabalharmos também (GERALDI,1997, p. 81).

Portanto, alfabetizar e letrar depende de muitos fatores e um deles está entre o coletivo
e o individual, quando se fundem numa sala de aula, o professor deverá ter uma percepção
aguçada para conduzir satisfatoriamente a aprendizagem de diferentes alunos com suas
formações, origens, etnias, valores, religiões, linguagens únicas dentro de um único universo
na escola.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao iniciar a alfabetização e letramento do aluno iniciante no
Ensino Fundamental, jamais pode-se esquecer os antecedentes
de vida dele, pois o conhecimento prévio precisa ser prestigiado
pela escola. É desse historial que vai favorecê-lo na fase de
letramento, já que é necessária uma bagagem de conhecimento
para fazer as leituras possíveis. O domínio do sistema ortográfico
é relevante, mas paralelo à leitura tem que haver a compreensão
textual. SONIA MARIA PEREIRA

Conhecer a escrita e saber para que serve, como funciona,


Graduação em Ciências Biológicas
qual sua finalidade, entre outras proposições, é a participação de pela Faculdade Integrada de
uso social que a escrita e a leitura exigem do aluno, no entanto, Guarulhos (2000); Especialista
cabe à escola apresentar meios para que a aprendizagem e o em Psicopedagogia pela
Unicamp (2003); Alfabetização
ensino aconteçam de maneira prazerosa e condizente com a e letramento pela Facon (2018),
idade deles. O aluno tem que estar historicamente inserido na Professora de Educação Infantil
sociedade para que a aprendizagem passe a ter sentido e seja no Ceu CEI Pera Marmelo,
Professora de Educação Básica na
expressiva para ele, caso contrário se sentirá desmotivado e a E. E. Ana Siqueira da Silva, E. E.
alfabetização será um fracasso. Ministro Oscar Dias Correia.

O professor é alfabetizador e também mediador de


conhecimentos, pois ele articula e influencia seu aluno em sala de
aula. Dessa maneira, o professor tem uma responsabilidade muito
grande na formação dessas crianças e precisa sempre de avanços profissionais a fim de aperfeiçoar
sua performance didática, inovando, criando, motivando seus alunos. Assim, o professor também
é um incentivador, por isso deve estar voltado ao coletivo, evitando comparações de níveis de
compreensão linguística, desfazendo estigmas sociais, tentando compatibilizar o espaço escolar,
estimulando o conhecimento de mundo de cada aluno e procurando conhecê-los um pouco mais.

Portanto, para autores como Geraldi (1997), Cunha (2008) e Kleiman (2007), depois que a criança
souber ler os códigos escritos, é preciso verificar se está conseguindo compreendê-los, se não está
fazendo uma leitura errônea, tem que ter cuidado nessa fase pois também está desenvolvendo a
escrita. Cada aluno tem sua regularidade de aprendizagem a ser respeitada, porque cada um ao
chegar à escola, tem seu momento diferente de conhecimento. Por todos esses motivos, há de
entender e observar o desenvolvimento motor, afetivo, psicológico, educativo, intelectual e social
de cada criança em sala de aula, pois ele é o protagonista da educação.

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REFERÊNCIAS
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GARCIA, Regina Leite. Revisitando a Pré-Escola. São Paulo: Cortez, 1997.

GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

KLEIMAN, Ângela Borba. Ministério da Educação. Preciso “ensinar” o letramento? SEB/


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LUCKESI, Cipriano. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 2001.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

MORAIS, Antonio Manuel Pamplona. Distúrbios da aprendizagem. São Paulo: Edicon, 2002.

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Educação e letramento. São Paulo: UNESP, 2000.

SEBER, Maria da Glória: A escrita infantil: O caminho da construção. São Paulo: Scipione,
2010.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Artimed,1998.

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PSICOPEDAGOGIA, ESCOLA
E A MODERNIDADE LÍQUIDA
RESUMO: Este artigo traz reflexões acerca das implicações pós-modernidade no
atendimento das múltiplas necessidades de alunos em instituições escolares e busca reforçar
a necessidade da psicopedagogia para auxiliar a comunidade escolar no desafio de contribuir
para o desenvolvimento integral do educando. A pesquisa é de cunho teórico, baseada
nos autores Oliveira (2005), Visca (1987), Morrin (2000), Ferreira (2008) e observações da
prática docente. O conceito de modernidade líquida e suas consequências na atualidade são
trabalhados a partir de Bauman (2001; 2010; 2013).

Palavras-Chave: Psicopedagogia; Contexto escolar; Aprendizagem; Pós-modernidade;


Modernidade líquida.

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INTRODUÇÃO como: Quais desafios postos pela


Modernidade Líquida no âmbito escolar?
A contemporaneidade traz desafios à Qual a contribuição que a psicopedagogia
sociedade que são refletidos na escola. pode dar para que a aprendizagem se dê
Para Bauman (2013, p. 22), se a vida pré- em um sentido mais amplo e para que o
moderna presumia a duração de todas as ambiente escolar se torne mais relevante
coisas, com solidez e a crença na ciência e no desenvolvimento dos educandos? Este
na racionalidade, a vida na modernidade artigo tem por objetivo colocar em debate
líquida é caracterizada pela transitoriedade alguns pontos fundamentais para a educação
universal, pela fluidez instantânea e crise nas dos novos tempos a partir de referências
instituições, incluindo a escola. Enquanto a bibliográficas de autores das áreas da
tecnologia avança avassaladoramente, o educação, psicopedagogia e sociologia.
ambiente escolar sofre poucas mudanças.
O engessamento do modelo de escola
não permite que as demandas do aluno A PÓS-MODERNIDADE E
pós-moderno sejam atendidas de maneira SUAS IMPLICAÇÕES
integral. As dificuldades de aprendizagem
que hoje são apresentadas já não podem ser NA SOCIEDADE:
enfrentadas apenas na sala de aula. Os intelectuais da pré-modernidade
acreditaram possuir a explicação de todas
A escolha do tema se faz necessária diante as coisas na sociedade baseados na ciência
da grande demanda de alunos com transtornos e na racionalidade. A partir do século XX,
de aprendizagens e das adversidades que os a modernidade começa a dar os primeiros
professores e a instituição escolar encontram sinais de crise. A Modernidade Líquida coloca
em lidar com a indisciplina, a falta de interesse em cheque a capacidade da modernidade
na aprendizagem, a violência e a rápida dar conta de dar respostas às perguntas
veiculação de informações. A informação existenciais do ser humano e de resolver os
está cada vez mais acessível, mas esta não problemas atuais da sociedade. A consciência
garante aprendizagem e transformação pós-moderna é de que a modernidade
das perspectivas de vida. A complexidade fracassou nas utopias que ela prometeu.
dos tempos modernos exige repensar as As instituições como o casamento, a igreja
práticas pedagógicas em um contexto inter e seus sistemas de valores, encontram-se
e transdisciplinar. Morais (2001) esclarece em crise. Além disso, o mundo tenta trazer
que aprender é um processo complexo, soluções a questões que parecem fugir de
cujo resultado não é fixo e depende de nosso controle, como a probabilidade de uma
vários fatores, muitos deles que extrapolam guerra nuclear, a falta de perspectivas de um
o universo escolar. Neste cenário, este planeta preservado que tenha condições
artigo busca trazer alguns questionamentos de manter a vida nos próximos séculos.

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Esta liquidez também pode ser percebida e pós-moderna, origina-se do trabalho


nas relações e nos vínculos humanos, que de profissionais das mais variadas áreas
podem ser descartados em um clique, uma do conhecimento (sociologia, educação,
vez que as ideias são mais defendidas do que medicina, psicologia, linguística) que se
as relações. dedicaram na busca de compreender as
dificuldades de aprendizagem e de adaptação
aos modelos homogêneos de educação.
A MULTIDISCIPLINARIDADE A Psicopedagogia pode contribuir para
COMO CAMINHO PARA UMA enfrentar o desafio de criação das propostas
multidisciplinares e interdisciplinares, a
NOVA APRENDIZAGEM: integração dos vários conhecimentos sobre
Diante de uma realidade tão complexa, há o homem, suas relações suas potencialidades
uma dificuldade de integrar os conhecimentos de enfrentamento dos obstáculos ao
que outrora foram fragmentos para que seu desenvolvimento como ser humano.
possam ser analisados na sua totalidade e A psicopedagogia consiste numa nova
nas múltiplas áreas. A multidisciplinaridade área do conhecimento que, através da
surge como um caminho para se pensar o interdisciplinaridade, recorre a aspectos
conhecimento por meio da justaposição de específicos da psicologia e da pedagogia,
disciplinas diversas de com o objetivo de dentre outras áreas, para permitir uma
analisar o conhecimento de modo mais amplo apreensão mais efetiva da aprendizagem e
e, num passo além, a interdisciplinaridade faz de suas peculiaridades (BOSSA, 2000).
um esforço para que haja um diálogo entre as
disciplinas e não apenas uma sobreposição A era do capitalismo, do consumo
destas. desenfreado, da falta de perspectivas de um
mundo com recursos naturais e essenciais
Nas instituições escolares, em sua para a vida trouxe à tona um sentimento
maioria, não há o investimento necessário de “vazio” e doenças mentais, psicológicas
para que uma rede de profissionais das e psiquiátricas são muito mais comuns do
diferentes áreas seja criada. Ainda há a ideia que eras passadas. A crise nos valores e no
de que o professor em sala de aula deve conceito do “certo” e “errado” também traz
sozinho, dar conta de atender às complexas implicações à aprendizagem de normas e
demandas dos alunos. As salas continuam regras que são deslegitimadas pela ideia de
numerosas, os conteúdos massificados e o que não há princípios éticos de convivência e
professor não encontra suporte de outras de sociabilidade uniformes. Na ânsia de lidar
áreas de conhecimento e profissionais que com as dificuldades de aprendizagem, há um
possam auxiliá-lo nos desafios da educação desenfreado movimento de encaminhamento
contemporânea. A Psicopedagogia, nascida de alunos para avaliação especializada e
neste período transitório entre a era moderna estes, muitas vezes, são taxados de disléxicos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ou hiperativos, sem que a escola saiba como Em tempos sólidos, a educação era
lidar com as implicações de tais diagnósticos. um projeto para o sucesso profissional
e financeiro, mas em tempos líquidos
A maneira como o conhecimento é estas certezas caem por terra e é preciso
ensinado em nossas instituições escolares ressignificar o papel da educação. De acordo
também precisa ser repensado para atender com Bauman (2009b, p.157-158),
os anseios de aprendizado do aluno pós-
moderno. A aprendizagem, mais do que [...] para ser de alguma utilidade, a educação
e a aprendizagem devem ser contínuos e,
nunca, precisa ser significativa e relevante. inclusive, estender-se por toda a vida. Não é
A repetição mecânica produz pouca concebível nenhuma outra forma de educação
incorporação e atribuição de significado do e/ou aprendizagem; é impensável que se possam
“formar” pessoas ou personalidades de outro
novo conteúdo. Segundo Ausubel (1982), modo que não seja por meio de uma reformação
para haver aprendizagem significativa, continuada e eternamente inacabada
são necessárias duas condições: o aluno
precisa ter uma disposição para aprender e
o conteúdo escolar a ser aprendido tem que
ser potencialmente significativo. A educação, O PAPEL DO
inserida na modernidade líquida, segue o PSICOPEDAGOGO NA
exemplo do mercado. Há um acúmulo de
informações sem precedentes, mas estas são ERA PÓS-MODERNA:
desconexas e descartáveis. A sabedoria dos A educação precisa ultrapassar os muros da
mais antigos perde seu valor pragmático. O escola e ser feita na vida e para a vida. Nesta
que importa é aprender depressa para suprir perspectiva, qual seria o sentido de manter o
uma demanda, mesmo que o conhecimento ambiente escolar nos moldes do modernismo,
seja esquecido rapidamente (BAUMAN, se ela já não é relevante? Assim, é necessário
2010). Como afirma Bauman (2008, p.225), pensar em práticas que venham apoiar este
aluno em um contexto inclusivo, que acolha
O traço distintivo da sociedade de consumo e as dificuldades e diferenças em um lugar
de sua cultura consumista não é, no entanto,
o consumo como tal; nem sequer o elevado e de pertencimento e que abranja o saber de
cada vez mais crescente volume de consumo. maneira mais ampla. A Psicopedagogia pode
O que diferencia aos membros da sociedade de auxiliar no entendimento das estruturas
consumo de seus antepassados é a emancipação
do consumo da antiga instrumentalidade que e estágios de aprendizagem, para que
marcava seus limites: o desaparecimento das haja conflitos cognitivos que representem
‘normas’ e a nova plasticidade das ‘necessidades’ desequilíbrios e reequilíbrios a fim de que
que liberam o consumo das travas funcionais e
o Zygmunt Bauman (1925-) 22 exoneram da haja assimilação das aprendizagens. Ferreira
necessidade de justificar-se em outros termos (2008, p.141) coloca que o psicopedagogo
que sua capacidade de reportar prazer. Na também "busca possibilitar o florescimento
sociedade de consumo, o consumo é o seu
próprio fim [...]. de novas necessidades, de modo a provocar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

o desejo de aprender e não somente uma melhora no rendimento escolar”. É necessário


romper paradigmas e criar novos modelos de escola que conte com o auxílio de profissionais
de diferentes áreas que contribuam para uma abordagem multidisciplinar da educação, que
dê conta da complexidade deste desafio. É preciso ampliar a visão e acolher o sujeito da
aprendizagem, seu contexto histórico familiar, compreendendo-o como um sujeito integral,
que necessita de um olhar amplo e abrangente de educação. Diante desses novos paradigmas
educacionais há a necessidade de reconhecer que precisamos de um novo modelo de
profissional que se disponha a trabalhar neste contexto e a tolerar as dúvidas e as incertezas
que ele traz.

O modelo de educação mais ampla permite uma redefinição dos sujeitos envolvidos,
tornando todos corresponsáveis pela ação educativa. Diferente do modelo tradicional de
ensino, o aluno deixa de ser o agente central da dificuldade de aprendizagem e o professor
deixa de ser o único responsável pelo atendimento das demandas deste aluno. Segundo
Rubeinstein (1987), a proposta da psicopedagogia é compreender o indivíduo como aprendiz
que faz escolhas ao longo de sua vida e tomando decisões a cada passo. Para Alessandrini
(1996), a psicopedagogia é uma área interdisciplinar de prestação de serviços por meio da
qual médicos, psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos, fonoaudiólogos e outros profissionais
buscam auxiliar pessoas com dificuldades de aprendizagem.

Pensar a aprendizagem e a educação como uma responsabilidade compartilhada entre


escola, família e outros agentes leva à valorização da criação de redes e de um trabalho
multidisciplinar. É dado valor também às relações, aos contextos sociais e culturais e às
histórias de cada sujeito. A Psicopedagogia busca, no processo de aprendizagem humana,
não deixar de lado a singularidade de cada ser humano. Recordando Morin (2000. p.55), "É a
unidade humana que traz em si os princípios de suas múltiplas diversidades. Compreender o
humano é compreender sua unidade na diversidade, sua diversidade na unidade”. Visto que
a unidade e a diversidade do ser humano são entendidas na prática educativa, a intervenção
psicopedagógica no cotodiano escolar se faz necessária, pois traz recursos técnicos a
contribuição para melhorar o perfil do aprendiz e utiliza uma abordagem dinâmica para
intervir nos conflitos que permeiam o processo de aprendizagem, trazendo uma análise das
relações que se dão quando o sujeito entra em contato com o conhecimento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”.
O provérbio africano expressa a ideia de responsabilização
coletiva pela aprendizagem de crianças e adolescentes.
Vivemos em uma sociedade em que a falta de segurança,
falta de espaços públicos enclausura os indivíduos em seu
individualismo. A escola se torna um dos poucos lugares
de socialização e contato com experiências importantes
para aprendizagem mais integral. No entanto, vemos que,
principalmente em instituições públicas de ensino, não
há investimento necessário para que haja uma equipe TALITA KEIKO SAITO ONO
multidisciplinar de profissionais das mais diferentes áreas que
Graduação em Pedagogia pela
possam contribuir para um olhar mais global da educação. Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (2007);
O psicopedagogo pode contribuir com a comunidade Especialista em Alfabetização
pela Faculdade de Educação
escolar para que dificuldades escolares sejam enfrentadas de da Universidade Cidade de São
maneira mais eficaz e não responsabilizar apenas o professor Paulo (2013); Especialista em
pelo fracasso escolar. Em uma sociedade líquida, em que Psicopedagogia Institucional pela
Faculdade Campos Elíseos (2019);
as transformações se dão de forma rápida, há necessidade Professora de Educação Infantil
de preparar a escola para lidar com as consequências na Prefeitura Municipal de São
desta característica da era em que vivemos. Surgem novas Paulo – no Centro de Educação
Infantil Vereador Nazir Miguel.
configurações de família, nova organização do trabalho,
novas demandas de aprendizagem e do mercado de trabalho
e a escola está no cerne desta base formativa, como veículo de conhecimento e inserção no
mundo.

Com um olhar mais sensível e crítico quanto às novas demandas que se estabelecem,
o psicopedagogo pode intervir além dos muros da escola, estendendo sua intervenção às
famílias e comunidades envolvidas. De acordo com Fernandez (2011, p.87),

Tal objeto poderá ser trabalhado não apenas e nem principalmente no consultório: no seio da família, nos
meios de comunicação, nas escolas, nas universidades, nos hospitais, no cinema, na arte, nas relações de
amizade, nas relações fraternas, nas relações de mulher e marido, nas de terapeuta e paciente. Em todos e em
cada um dos espaços cabe uma leitura psicopedagógica.

Em tempos de crise nas instituições é necessário estabelecer novas formas de se fazer


escola. As novas demandas que o mercado de trabalho exigem que o sujeito não apenas
reproduza mecanicamente o conhecimento adquirido, mas seja capaz de transformar sua

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prática constantemente e tenha resiliência para suportar as constantes crises. O campo


epistemológico da Psicopedagogia é o processo de aprendizagem humana e leva em conta
diferentes fatores e contextos. A Psicopedagogia, como sendo um campo de conhecimento
inter e transdisciplinar e que transita entre as diversas disciplinas, pode auxiliar no rompimento
das fronteiras existentes entre os campos das ciências que tratam da aprendizagem e traz este
novo olhar científico para que a Educação seja realmente transformadora e que avancemos
na qualidade de ensino em instituições escolares. O trabalho do psicopedagogo também
incide sobre os diversos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, sendo
possível alcançar pais, professores, gestão escolar com orientações e aconselhamento a fim
de diminuir os problemas de aprendizagem instaurados, promovendo orientações didático-
metodológicas dentro do espaço escolar, com um olhar macro e abrangente da instituição.

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REFERÊNCIAS
ALESSANDRINI, Cristina D. Oficina criativa e psicopedagogia. São Paulo. Casa do Psicólogo, 1996.

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______. Desafios pedagógicos e modernidade líquida: entrevista de Alba Porcheddu sobre a


educação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 39, n. 137, p. 661- 684, maio/ago. 2009.

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VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagogia – epistemologia convergente. Porto Alegre: Artes médicas,
1987.

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A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: As atividades lúdicas facilitam o desenvolvimento pessoal, social e cultural,
bem como colaboram para uma boa saúde mental e facilitam os processos de socialização,
comunicação e construção do conhecimento. A brincadeira é uma atividade natural da criança,
que não implica em compromissos, planejamento e seriedade; envolve comportamentos
espontâneos e geradores de prazer. Brincando a criança se diverte, faz exercícios, constrói
seus conhecimentos e aprende a conviver com o outro. Atividades lúdicas não se restringem
ao jogo e à brincadeira, mas incluem atividades que possibilitam momentos de prazer,
entrega e integração dos envolvidos. Dentro da educação infantil as brincadeiras são muito
importantes, pois as crianças vão aprendendo vários conceitos que irão ser ensinados.
Elas também aprendem melhor quando o professor faz jogos e brincadeiras lúdicas, onde
necessitam diferenciar o concreto. Atualmente, percebe-se cada vez mais cedo o uso de
aparelhos eletrônicos pelas crianças. Nesse contexto, é fundamental que a escola ofereça às
crianças outras formas de atividades lúdicas, diferentes daquelas oferecidas em casa. Esse
artigo procura mostrar a relevância da ludicidade no processo educativo dentro das escolas
de educação infantil e tem como objetivo apresentar uma reflexão teórica aos profissionais
da educação sobre importância das ferramentas, lazer e recreação, para a educação.

Palavras-Chave: Ludicidade; Educação Infantil.

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INTRODUÇÃO e despertando a realidade que envolve o


universo infantil.
A infância é considerada o tempo das
brincadeiras. Por meio das brincadeiras que “A criança é que dá vida ao brinquedo e pode
transformar, como num conto de fadas, uma
as crianças satisfazem suas necessidades e abóbora numa carruagem, uma vassoura num
aprende a construir seu perfil e seu mundo. cavalo veloz; uma panela vira um chapéu...”,
É neste sentido que se faz presente a (PINTO, 2003, p. 42).

ludicidade.
Precisa-se sempre enfatizar a importância
“Toda criança que brinca tem uma infância do brincar na vida da criança para que ela
feliz, além de tornar-se um adulto muito mais
equilibrado física e emocionalmente, conseguirá tenha oportunidade de um desenvolvimento
superar com mais facilidade os problemas que infantil saudável que favoreça a sua formação
possam surgir no seu dia a dia” (MALUF, 2003, integral.
p.21).

O brinquedo na verdade, preenche


Atualmente, percebe-se cada vez mais necessidades e essas necessidades fazem a
cedo o uso de aparelhos eletrônicos pelas criança avançar em seu desenvolvimento.
crianças. Nesse contexto, é fundamental que
a escola ofereça às crianças outras formas As atividades de lazer e recreação
de atividades lúdicas, diferentes daquelas permitem à criança testar suas habilidades e
oferecidas em casa. descobrir grande parte do seu potencial.

Devido às discussões a cerca dos jogos Quando se trabalha o corpo, a ludicidade


eletrônicos e suas tecnologias que as e o jogo se desenvolvem diversas
crianças mais utilizam na atualidade, que se potencialidades como a criatividade, o prazer,
deve reforçar a educação lúdica utilizando a interação entre as pessoas, a cooperação,
métodos recreativos desde a educação entre outras.
infantil.
Esse artigo procura mostrar a relevância
Pode-se até aliarem-se as potencialidades da ludicidade no processo educativo dentro
que os jogos eletrônicos oferecerem, mas das escolas de educação infantil e tem como
não deixar somente nela o dever de estimular objetivo apresentar uma reflexão teórica aos
a criatividade e outros aspectos nas crianças. profissionais da educação sobre importância
das ferramentas, lazer e recreação, para a
Não só na educação infantil, mas educação.
principalmente nela, nota-se o brincar
como uma forma de interação em grupo,
favorecendo a convivência, socialização

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONCEITUANDO O LÚDICO A IMPORTÂNCIA DAS


ATIVIDADES LÚDICAS
O lúdico tem sua origem na palavra latina
“ludus” que quer dizer “jogos” e “brincar”. A introdução do lúdico na vida escolar do
E nesse “brincar” estão incluídos o jogo, o educando é uma maneira eficaz de repassar
brinquedo e o divertimento, isso que contribui pelo universo infantil para imprimir-lhe o
para um ambiente de aprendizagem. universo adulto, nossos conhecimentos e,
principalmente, a forma de interagirmos na
“Convém ressaltar que, na língua portuguesa, o sociedade.
termo lúdico é um adjetivo lusório, embora venha
sendo utilizado sem justificativas gramaticais,
como substantivo e tradução do francês jeu, do É na brincadeira e nas atividades de
inglês play e do alemão Spiel. Assim, no intuito lazer que as crianças podem experimentar
de tentar abranger os variados termos, existe
o termo ludo e, modernamente, o neologismo situações novas ou mesmo comum. Elas
lúdico cinco ou ludicidade”, (CARDOSO, 2008, fazem delas um meio de comunicação, de
p. 57). prazer e de recreação.

Considerando-se os vários significados Dentro da educação infantil as brincadeiras


em torno da palavra ludicidade. No Brasil, são muito importantes, pois as crianças vão
as acepções mais comuns e utilizadas no aprendendo vários conceitos que irão ser
contexto educacional são: jogo, brincadeira, ensinados.
brinquedo, lazer e recreação.
Ao brincar, a criança faz uma relação
LUCKESI (2000, s/d) define atividade entre seus conhecimentos e o que esta
lúdica como “aquela que propicia a plenitude visualizando, assim ela é capaz de construir
da experiência”. Ressaltando com esta seu conhecimento e muitos deles são novos.
afirmação que a vivência lúdica exige do
sujeito uma entrega total física e mental. O ato de brincar estimula o uso da
memória, que ao entrar em ação, se amplia e
Esses termos têm sido utilizados, ao mesmo organiza o material a ser lembrado.
tempo, como sinônimos, sem diferenciação
no emprego, ocorrendo contradições “Na escola, as crianças só integram as
atividades escolares no momento da execução
conceituais e metodológicas. e dificilmente participam das decisões e das
escolhas. Indagando as crianças e resgatando
suas brincadeiras, possibilita-se a participação
das crianças, o professor coloca-se em condição
de igualdade e abre caminho para a partilha, a
troca, a cooperação, o diálogo, o aprendizado
recíproco e a busca de convergências, ou seja,
desenvolve os princípios dos jogos cooperativos”,
(CORREIA, 2006, p.58).

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As atividades de lazer e recreação momentos de autoconhecimento e


são de extrema importância para o conhecimento do outro, de cuidar de si e
desenvolvimento físico e pessoal, que acaba olhar para o outro, momentos de vida, de
sendo desenvolvido com mais facilidade, expressividade.
com cautela e preocupação de acordo com
as faixas etárias, agregando mais valor a O que traz ludicidade para a sala de aula é
essas atividades e ao profissional que as muito mais uma “atitude” lúdica do educador
desenvolve. e dos educandos, sendo assim, uma aula
com características lúdicas não precisa
Brincar é um processo que vai se necessariamente ter jogos ou brinquedos.
desenrolando em seu curso, no tempo e no
espaço, e no qual estão contidos aspectos A ludicidade exige uma predisposição
físicos, emocionais e mentais, de forma interna, o que não se adquire apenas com a
individualizada ou combinada. aquisição de conceitos, de conhecimentos,
embora estes sejam muito importantes.
As atividades lúdicas não são encontradas Assumir essa postura implica sensibilidade,
nos prazeres estereotipados, no que é dado envolvimento, mudança interna, mudança
pronto, pois, estes não possuem a marca da cognitiva e afetiva.
singularidade do sujeito que as vivencia.
Nas brincadeiras lúdicas as crianças
[...] “em uma sala de aula ludicamente desenvolvem várias aptidões entre elas estão
inspirada, convive-se com a aleatoriedade,
com o imponderável; o professor renuncia às linguagens oral e escrita, pois a criança se
à centralização, à onisciência e ao controle relaciona com outras aonde vão aprendendo
onipotente e reconhece a importância de que com a relação de troca estabelecida por elas.
o aluno tenha uma postura ativa nas situações
de ensino, sendo sujeito de sua aprendizagem;
a espontaneidade e a criatividade são “Na idade infantil a criança começa a pensar
constantemente estimuladas” (FORTUNA, 2001, inteligentemente com certa lógica, começa a
p.116). entender o mundo mais objetivamente e a ter
consciência de suas ações, discernindo o certo
do errado. Nesta fase, os jogos transformam-se
em construções adaptadas, exigindo sempre o
Na atividade lúdica, o que importa não é trabalho efetivo e participativo no processo de
apenas o produto da atividade, o que dela aprendizagem que começa com a sistematização
resulta, mas a própria ação, o momento do conhecimento existente”, (PIAGET, 1971, p. 51).

vivido.
Para Vygotsky (1998 apud MAFRA, 2008,
Essas atividades possibilitam a quem as p. 15): “A arte de brincar pode ajudar a criança
vivencia, momentos de encontro consigo com necessidades educativas a desenvolver-
e com o outro, momentos de fantasia e de se, a comunicar-se com os que a cercam e
realidade, de ressignificação e percepção, consigo mesma”.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Com isso pode-se observar que a criança O lúdico deve ser contemplado nas
aprende brincando e consequentemente propostas pedagógica da Educação Infantil
também se desenvolve a partir das atividades e, numa perspectiva não utilitária apenas,
de lazer e recreação. possibilitar experiências reflexivas e
significativas uma vez que envolve emoção,
É possível perceber que as atividades de participação, prazer, descobertas, entre
lazer e recreação se tornaram ferramentas outros.
importantes para o desenvolvimento e
aprendizagem de crianças na educação “Há momentos variados da atividade da criança
na escola em que o gozo e o prazer são os móveis
infantil. da atividade lúdica, e o jogo (espontâneo ou
dirigido) é só ludicidade mesmo; isso significa,
O desejo de brincar com o outro é a então, que há trabalho (prazeroso) e jogo na
escola, tendo ambos os aspectos distintos”,
principal razão que leva as crianças a se (KRAMER, 2009, p. 36).
engajarem em grupos. Para brincar juntas,
precisam ter um espaço interativo para
que haja a partilha de objetos, valores, As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos
conhecimentos e significados, disputas de construção e aqueles que possuem
e conflitos. Nesse contexto, as crianças regras, como os jogos de sociedade
adquirem laços de sociabilidade e constroem (também chamados de jogos de tabuleiro),
sentimentos de amizade e solidariedade. jogos tradicionais, didáticos, corporais etc.,
propiciam a ampliação dos conhecimentos
O lúdico desempenha um importante papel infantis por meio da atividade lúdica.
na aprendizagem, pois através desta prática
o sujeito busca conhecimentos do corpo, do Cabe ao professor, ajudar a estruturar o
ambiente, dos colegas e tem a percepção campo das brincadeiras na vida das crianças.
de si mesmo como parte integrante na Consequentemente é ele que organiza
constituição de sua aprendizagem, que sua base estrutural, por meio da oferta de
resulta numa nova dinâmica de ação, determinados objetos, fantasias, brinquedos
possibilitando uma construção significativa. ou jogos, da delimitação e arranjo dos
espaços e do tempo para brincar.
“Através da brincadeira, a criança se apropria de
conhecimentos que possibilitarão sua ação sobre “Por meio das brincadeiras os professores podem
o meio em que se encontra, ou seja, através das observar e constituir uma visão dos processos
atividades de lazer e recreação será produzida de desenvolvimento das crianças em conjunto
uma reação dentro do meio em que elas estão e de cada uma em particular, registrando suas
inseridas, modificando-as ou modelando-as de capacidades de uso das linguagens, assim como
acordo com a experiência vivenciada no grupo” de suas capacidades sociais e dos recursos
(MAFRA, 2008, p. 11). afetivos e emocionais que dispõem”, (BRASIL,
1998, p. 28).

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É necessário que haja uma capacidade de criar e aprender e por isso a brincadeira constitui
um dos meios mais importantes que podem levar a crianças a um crescimento global.

“As crianças precisam não apenas de tempo e espaço para brincar e praticar habilidades, elas precisam também
de pais que as ajudem a aprender essas habilidades”. (MOYLES, 2006, p. 46).

É importante não só a participação dos professores no processo de ensino aprendizagem


através do lúdico, mas os pais devem incentivar os filhos desde cedo lhes trazendo brinquedos,
brincadeiras e jogos adequados à faixa etária em que a criança se encontra.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O brincar é uma atividade natural da criança, sendo assim
deve-se dar mais importância às práticas lúdicas.

É de suma importância a valorização do lúdico no processo


da formação da criança. Os Jogos, brinquedos, brincadeiras,
são atividades fundamentais na infância.

O lúdico favorece a imaginação, a confiança e a curiosidade,


proporciona a socialização, desenvolvimento da linguagem,
do pensamento, da criatividade e concentração. O mesmo
é um suporte no processo pessoal e educativo das crianças.
TÂNIA CRISTINA
A valorização de atividades lúdicas na Educação Infantil VIANA LEMOS
é de fundamental importância, pois contribui na formação
Graduação em Ciências Biológicas
individual e coletiva dos envolvidos nesse processo. pela Universidade Camilo Castelo
Branco, 1993; Graduação em
Pedagogia pela Universidade
Iguaçu, 2005; Professora de
Educação Infantil e Ensino
Fundamental I, na EMEF Dona
Jenny Gomes e EMEF Professor
Maestro Alex Martins Costa.

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REFERÊNCIAS
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Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.

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MAFRA, S. R. C. O lúdico e o desenvolvimento da criança deficiente intelectual. Secretaria


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MALUF, Ângela Cristina Munhoz. Atividades lúdicas para educação infantil. Conceitos,
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MOYLES, Janet R.: A excelência do brincar: A importância da brincadeira na transição entre


educação infantil e anos iniciais. Porto Alegre: Artmed, 2006.

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança, imitação, jogo, sonho, imagem e representação


de jogo. São Paulo: Zahar, 1971.

PINTO, Marly Rondan, Formação e aprendizagem no espaço lúdico: uma abordagem


interdisciplinar-São Paulo: Arte& Ciência, 2003.

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JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS


COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
RESUMO: Este artigo consiste em abordar a importância dos jogos e brinquedos como
recurso didático e pedagógico, demonstrando que, ao trabalharmos com esses recursos,
estamos enriquecendo a prática pedagógica e estimulando a inteligência e o desenvolvimento
da criança. Será apresentada uma breve fundamentação do assunto com base em leitura de
artigos, sites e revistas com abordagens sobre alguns autores conhecedores do tema para
mostrar a necessidade do brincar na formação integral da criança e como os brinquedos,
brincadeiras e jogos despertam o imaginário e a criatividade, além de estimular o trabalho
em equipe, o convívio com o outro ajudando também a criança a lidar com os próprios
sentimentos e emoções.

Palavras-Chave: Criança; Aprendizagem; Brinquedos; Brincadeira; Jogos.

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INTRODUÇÃO Este artigo proporcionará uma reflexão


acerca da importância do brincar na vida
A imaginação das crianças está ligada da criança e sua contribuição na Educação
à criatividade, elas inventam seu próprio Infantil.
universo e se transformam no que querem
ser e decidem o que querem fazer durante a
brincadeira. A IMPORTÂNCIA DO
BRINCAR NA INFÂNCIA
Este artigo demonstrará como os
brinquedos, jogos e brincadeiras são Historicamente a criança sempre foi
facilitadores no desenvolvimento das considerada como fraca, dependente,
atividades lúdicas e da criatividade, analisando imatura, e muitas vezes como um adulto em
a importância do brincar na Educação miniatura.
Infantil, pois este é um período fundamental
para a criança no que diz respeito ao seu Hoje esse pensamento está mudando e a
desenvolvimento e aprendizagem de forma criança vem sendo considerada como um ser
significativa. atuante na sociedade, um ator social, com
direito a “voz”. Ela interage com o meio em
Elucidará também como jogos, brincadeiras que vive, sofre transformações e também o
e brinquedos auxiliam na socialização da transforma, aprende com as relações com
criança e interação com o meio em que vive, os adultos e com outras crianças, gerando
pois o ato de brincar ajuda introduzir a criança modificações comportamentais.
no mundo social e a entender mais o mundo
adulto, demostrará também que ao lidar com A criança como todo ser humano é um
os objetos existentes na brincadeira e nos sujeito social e histórico e faz parte de
jogos, a criança estimula o uso da memória e uma organização familiar que está inserida
da criatividade. em uma determinada sociedade, com uma
determinada cultura, em um determinado
Para realizar este trabalho, foi utilizada momento histórico.
a pesquisa bibliográfica, fundamentada na
reflexão de leitura de artigos, revistas e sites, Brincando a criança põe em prática a
onde constam pesquisas de grandes autores imaginação que é a capacidade de criarmos
referentes ao tema. em nossas mentes fantasias, situações
novas possíveis ou não de serem realizadas
Concluiu-se que a brincadeira é uma atividade na vida real, é poder imitar ou representar
espontânea da criança, onde ela aprende brincando, personagens, imaginando a criança pode
sendo muito importante para o desenvolvimento fugir de situações dolorosas do cotidiano ou
do ser humano em todos os aspectos. “colocar pra fora” sentimentos que fazem

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mal a ela, através da imaginação a criança dessa atividade na construção da relação


consegue se relacionar com o mundo, com interpessoal e individual, no estímulo do
os adultos e com outras crianças. intelecto, do crescimento e desenvolvimento
da criança.
Imaginando e brincando a criança aprende Há jogos que estimulam a capacidade de
de uma forma lúdica, pois a criança ao imitar imaginação, outros que enfatizam regras.
o mundo adulto produz sua própria cultura, “O jogo é uma atividade estruturada, parte
desenvolve a cultura de pares, consegue de um princípio de regras claras, de fácil
responder as preocupações de seu modo. entendimento” (Kishimoto 2011, p. 15).
Através das brincadeiras imaginárias a criança Por meio do jogo, a criança observa,
se torna mais criativa, facilita na construção analisa, cria estratégias, testa hipóteses e se
da reflexão, da autonomia, participa mais nas utiliza de sua espontaneidade e criatividade.
atividades, melhora a forma de se relacionar, Ao se deparar com as situações problemas
comunicar, expressar e consegue descarregar que os jogos possuem, as crianças
sentimentos de culpa e exprimir necessidade desenvolvem a concentração, a atenção e a
de afeto. imaginação, através da procura de soluções
e alternativas.
Quando a criança está jogando ela
O BRINCAR E O está automaticamente estimulando o seu
DESENVOLVIMENTO desenvolvimento, aprendendo a conviver
em grupo, facilitando a construção do
INFANTIL conhecimento e auxiliando também na sua
autoestima.
“Brincar desenvolve as habilidades da Ao jogar com os amigos a criança
criança de forma natural, pois brincando desenvolve seu senso de companheirismo,
aprende a socializar-se com outras crianças, sua afetividade e aprende a conviver com
desenvolve a motricidade, a mente, a o outro. Ganhando ou perdendo, o jogo
criatividade, sem cobrança ou medo, mas ensinará a criança a aceitar regras, a esperar
sim com prazer” (Cunha 2001, p.14). sua vez e a lidar com frustrações. Ao lidar
Segundo Antunes (1998, p. 90) “No com as regras do jogo, a criança começa
sentido etimológico a palavra jogo expressa compreender melhor sua rotina diária, como
um divertimento, brincadeira, passatempo por exemplo: hora de dormir, comer, de
sujeito a regras que devem ser observadas tomar banho.
quando se joga.”. Para Rodrigues, 2001, "O jogo é
Ao pensarmos em brincadeiras com uma atividade rica e de grande efeito
jogos imaginamos logo uma competição, que responde às necessidades lúdicas,
porém apesar dessa competição ser natural intelectuais e afetivas, estimulando a vida
de um jogo, deveu observar a contribuição social e representando, assim, importante
contribuição na aprendizagem".

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Portanto, as brincadeiras como “faz de importantes no desenvolvimento motor


conta”, por exemplo, estimulam a imaginação, e na integração da criança, uma bola ou
é um momento onde a criança consegue uma corda, por exemplo, ajudarão no
demostrar o que está sentindo, coloca em desenvolvimento motor, um ursinho ou uma
prática sua percepção do cotidiano, o que vê, boneca na afetividade, um quebra-cabeça
ouve e vivencia, representando a realidade desafia a concentração e a inteligência.
por meio de sua própria leitura de mundo. A criança aprende analisar e a pensar
Na representação simbólica ela ativa seu estimulando sua inteligência. O professor
recurso sensório-motor o que ajudará muitas tem que criar ambiente e condições para
vezes a entender e aceitar melhor momentos que a criança brinque tem que organizar a
tensos ou estressantes de sua vida, podendo sala e objetos para o início brincadeira, mas
funcionar como uma autoterapia, além após isso a interferência na brincadeira e no
da criança se desenvolver mentalmente, mundo da imaginação da criança deve ser
fisicamente e socialmente, é uma brincadeira mínima, apenas observando e resolvendo
sadia e benéfica. possíveis conflitos.
Brincadeiras sensoriais divertem bastante O momento de guardar os brinquedos
as crianças, ajudam a estimular os cinco deve ser feito com a participação das
sentidos, ativam a inteligência e a criatividade. crianças, criando o hábito diário, trabalhando
Brincar de encaixar, empilhar, amarelinha, a organização e ajuda mútua, esse momento
todas são benéficas para a criança, algumas faz com que a criança se sinta útil, eles ficam
estimulam a coordenação motora, outras a felizes e satisfeitos em poder ajudar.
imaginação, a cognição, noção de espaço e O brinquedo ajuda a criança a soltar a
tamanho, criatividade, enfim, brincadeiras imaginação. Para a criança o brinquedo não
são sempre bem-vindas, além de muita precisa ser somente aquele comprado em
diversão para as crianças, terão também lojas, pois também as caixas de papelão,
um grande aprendizado e auxílio em seu latinhas, gravetos e embalagens vazias fazem
desenvolvimento. a alegria da criançada, pois os brinquedos não
estruturados são aqueles que mais exigem do
PAPEL DO BRINQUEDO imaginário infantil, onde uma folha de árvore
NO DESENVOLVIMENTO se transforma em um prato, um graveto vira
um pincel, um pote vazio vira uma panela.
INFANTIL Logo, esse potencial de criação pode ser
Para Kishimoto (2002) “O brinquedo utilizado em sala de aula, tornando-se um
é diferente do jogo. Brinquedo é uma aliado na educação da criança.
ligação íntima com a criança, na ausência Quando a criança estrutura seu próprio
de um sistema de regras que organizam sua brinquedo, algumas funções cognitivas são
utilização.”. estimuladas, pois ela precisa ser criativa,
Os brinquedos são ferramentas organizar e planejar o que quer que aquele

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Revista Educar FCE - Abril 2019

material se transforme, utilizando para isso desenvolvimento motor e cognitivo e ir


várias capacidades mentais. Tudo isso faz acompanhando essa evolução e aumentando
com que a criança fique muito mais entretida os estímulos no que for necessário para o
naquele brinquedo. crescimento da criança.
Por meio do brincar a criança demostra
Além de estarmos proporcionando suas emoções, suas dificuldades e habilidades,
brincadeiras com as sucatas, estaremos expressam seus sentimentos e consegue
orientando e conscientizando essas crianças demostrar o que está sentindo, se está triste, feliz
para uma Educação Ambiental, uma ou assustada, na educação infantil todos esses
conscientização da natureza e a importância detalhes são importantes para uma avaliação e
de reciclar, proporcionando mudança nos acompanhamento do desenvolvimento dessa
valores e comportamento dessas crianças criança.
frente ao nosso universo. Contudo, ao ser inserido no ambiente escolar,
a criança passará por algumas dificuldades de
adaptação, às vezes uma boneca ou um carrinho
RELAÇÕES ENTRE OS será um auxílio nessa adaptação, trará aconchego
JOGOS, BRINQUEDOS e segurança para ela. Os brinquedos e jogos
também auxiliarão na aproximação com os novos
E BRINCADEIRAS E O amigos e com o professor.
PROCESSO ENSINO-
APRENDIZAGEM As crianças tem seu estilo próprio de
aprender, de pensar, tem gostos diferentes por
determinados brinquedos, jogos ou brincadeiras.
O jogo pode ser considerado como uma forte Dentro do ambiente escolar, cabe aos educadores
fonte de aprendizado, pois por meio das regras identificarem essas preferências e a maneira de
a criança desenvolverá o seu senso ético que estimular cada criança, no convívio diário com as
contribui para a formação de um cidadão, além crianças o professor vai aprendendo como facilitar
disso, ativará sua concentração e ajudará no a aprendizagem por meio dos jogos, brinquedos
relacionamento interpessoal que são de extrema e brincadeiras, com o olhar e ouvidos atentos vai
importância no desenvolvimento da criança. percebendo a necessidade e preferências de cada
É muito importante que os professores e os pais criança.
levem a sério o brincar na Educação Infantil, pois O brinquedo é fundamental para a criança, ele
toda criança precisa vivenciar a brincadeira para da vida a brincadeira, pois não há regras, a criança
aprender de uma forma prazerosa e espontânea. usa a criatividade e a imaginação com o brinquedo.
Essa ludicidade ajudará nas intervenções e Nos anos iniciais é interessante trazer brinquedos
prevenção de problemas de aprendizagem. para a criança que estimule o comportamento
Quando observamos a criança brincando, pacífico e colaborativo, pois através dele, prepara
conseguimos analisar o nível do seu a criança para viver em sociedade.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Raul (2011) afirma que um objeto é considerado sugestões de brincadeiras e jogos que podem ser
um brinquedo quando atende à função lúdica, que desenvolvidos em sala de aula, de acordo com a
significa propiciar momentos de diversão. faixa etária dos educandos.
A brincadeira é uma atividade espontânea, O professor da educação infantil poderá trazer
que a criança poderá desenvolver sozinha ou em jogos cooperativos para seus alunos, estimular o
grupo, por meio da brincadeira, leva a criança a compartilhamento, nestes jogos todos cooperam
solucionar conflitos por meio da imitação, amplia e ganham, estimula as interações em grupo, a
suas questões afetivas, cognitivas, motoras e empatia e o potencial criativo dos envolvidos.
sociais. As brincadeiras podem ser educativas,
tradicionais, faz de conta e construção.
Duprat (2015) “afirma que a brincadeira tem CONSIDERAÇÕES FINAIS
um aspecto mais libertário, pois ela estimula a
imaginação, e deixa que a criança exponha seus As brincadeiras auxiliam as crianças a exporem
raciocínios, pensamentos e ideias, ou seja, ela sentimentos, situações vividas, a aliviar tensões do
se mostra ao mundo, ao mesmo tempo que se dia a dia, a entender melhor o mundo adulto e criar
descobre”. sua própria cultura infantil.
O jogo é caracterizado pela presença das A criança ao brincar de faz de conta, por exemplo,
regras, através dele é possível fazer um trabalho se sente importante, pois começa a interagir com
em equipe, trazer um bom relacionamento o outro, aprende que existem responsabilidades
interpessoal com a turma, desenvolver autonomia, mesmo na brincadeira (como ao brincarem de
desenvolver a coordenação motora, trabalhar profissões ou de casinha), conseguem passar para
limites e a ansiedade. Portanto, o jogo é uma o adulto o jeito que ela vê o mundo, as dúvidas,
excelente ferramenta para o professor trabalhar medos e suas angústias.
com os seus alunos. Por meio das brincadeiras imaginárias a criança
desenvolve sua criatividade e não há nada melhor
Os jogos de regras são um excelente recurso do que aprender brincando sem aquela sensação
a ser utilizado na educação infantil e anos iniciais de dever, mas sim uma maneira leve e divertida de
do ensino fundamental, pois auxiliam o trabalho adquirir conhecimento.
educativo do professor, que percebe algumas Para o adulto é mais fácil entender a criança
lacunas no processo de desenvolvimento e observando suas brincadeiras, é possível saber o
aprendizagem infantil nos aspectos sociais, que elas mais gostam e também entender e acalmar
afetivos e motores. (RAUL, 2011, p.160) alguns comportamentos por meio de jogos lúdicos.
Jogos e brincadeiras são importantes, pois a
A autora traz várias sugestões de jogos de criança aprende regras, melhoram o relacionamento
regras que podem ser aplicados em sala como com o outro, interagem e se desenvolvem
queimada, corrida de canguru, berlinda, entre cognitivamente e afetivamente, além de ser um
outros. O interessante é a proposta que ela traz, momento muito prazeroso.
pois ao final de cada capítulo traz um questionário Jogos, brinquedos e brincadeiras são
de atividades para o leitor e ao final do livro, várias

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Revista Educar FCE - Abril 2019

fundamentaisparaoprocessoensinoaprendizagem, TANIA GONZALEZ GRANDE


pois a ludicidade ajuda no desenvolvimento integral Graduação em letras (Inglês/
da criança. Ao envolver se no jogo ou brincadeira a português) pela Universidade
Paulista (2012); Licenciatura em
criança aprende a partilhar e a interagir. Brincar ativa Pedagogia- Universidade Cidade
os mecanismos da memória, linguagem, percepção de São Paulo (2017); Especialista
e criatividade contribuindo significativamente em Ludopedagogia – Faculdade
de Ciências e Tecnologia
para o desenvolvimento da aprendizagem e Paulistana (2018); Professora
desenvolvimento de estruturas psicológicas e de Educação Infantil CEI Anna
cognitivas da criança. Florêncio Romão.

O brincar na educação infantil tem o objetivo


de desenvolver potencialidades, pois ao estarem
envolvidos na brincadeira torna-se mais fácil
o processo ensino-aprendizagem. O professor
ao observar a criança brincando pode analisar
suas potencialidades e dificuldades e intervir
positivamente na dificuldade da criança,
possibilitando ao docente aprimorar essas
habilidades favorecendo o ensino e a aprendizagem
de conteúdos e conceitos.
Portanto, é muito importante a utilização dos
jogos e brincadeiras na Educação Infantil, pois ajuda
no processo de ensino-aprendizagem além se ser
prazerosos e divertidos, maximizarão as chances
do sucesso escolar no futuro.

REFERÊNCIAS
ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. Petrópolis:
Vozes, 1998.
CUNHA, Nylse Helena Silva. Um mergulho no brincar: 1º ed. São Paulo: Aquariana, 2001.
DUPRAT, Maria Carolina (org.) Ludicidade na educação infantil. São Paulo, Pearson: 2015.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Brinquedoteca: espaço do brincar estimula a
Criatividade e a socialização. Revista AMAE Educando, ano XXVIII, n. 250, p. 13-15, abr.1995.
KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São
Paulo: Cortez. 2002.
RAUL, Maria C. T. D. A ludicidade na educação infantil: uma atitude pedagógica. Curitiba:
IBPEX, 2011
RODRIGUES, M. O desenvolvimento do pré-escolar e o jogo. Ed Vozes –2001
Petrópolis – Rio

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DO
NEUROPSICOPEDAGOGO PARA O ALUNO
COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
RESUMO: Visto que a educação abre portas para a sociedade, todos devem receber a
mesma grade curricular em todo o território nacional. Porém é sabido que muitos alunos
que possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA) não recebem a devida atenção de seus
professores enquanto estão estudando em uma escola regular. Logo o objetivo deste trabalho
é realizar uma comparação de estudos e perspectivas teóricas desde os aspectos históricos
até ensino e aprendizagem de maneira eficaz na sala de aula e como o professor pode se
preparar para ensinar os alunos com Transtorno do Espectro Autista.

Palavras-Chave: Autismo; Inclusão; Aprendizagem; Deficiência; Educação.

INTRODUÇÃO
A educação escolar é um tema recorrente no âmbito acadêmico, com direito a inovações na
escola, novos pensamentos sobre aquisição/ aprendizagem da língua materna e tantas outras
maneiras que faça comigo o aluno possa aprender de maneira eficaz. Estas dissertações e
correntes teóricas são aplicadas em diversas escolas por alguns meses ou anos e no final são
avaliadas e até mesmo reestruturadas. Devido a isso, deu-se a escolha do tema da mediação
do aluno autista em sala de aula.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O objetivo geral desta pesquisa é perceber de aula, alunos esses que necessitam de mais
que a grande preocupação em fazer com que atenção. Isso acontece porque a rotina na sala
todos os alunos aprendam faz com que o de aula tem um ritmo que deve ser seguido
professor deixe a desejar alguns alunos na sala e é cobrado pela gestão escolar. Se algum
de aula, alunos esses que necessitam de mais aluno tem defasagem na aprendizagem, o
atenção. Isso acontece porque a rotina na sala professor deve reajustar seu modo de ensinar
de aula tem um ritmo que deve ser seguido e planejar outras atividades. Por isso muito se
e é cobrado pela gestão escolar. Se algum fala atualmente sobre como ensinar alunos
aluno tem defasagem na aprendizagem, o que tem dificuldades motoras, mentais entre
professor deve reajustar seu modo de ensinar outras.
e planejar outras atividades. Por isso muito se A justificativa da pesquisa é que uma dessas
fala atualmente sobre como ensinar alunos dificuldades se refere ao aluno que tem autismo
que tem dificuldades motoras, mentais entre ou Transtorno do Espectro Autista (TEA). Um
outras. aluno autista pode apresentar um tipo de
A justificativa da pesquisa é que uma dessas comportamento diferente dos demais alunos.
dificuldades se refere ao aluno que tem autismo Por exemplo: o aluno pode ter problemas na
ou Transtorno do Espectro Autista (TEA). Um interação social, pode apresentar dificuldades
aluno autista pode apresentar um tipo de ao se comunicar e também pode ter alterações
comportamento diferente dos demais alunos. comportamentais repentinamente.
Por exemplo: o aluno pode ter problemas na A metodologia utilizada é uma revisão
interação social, pode apresentar dificuldades bibliográfica e terá como método comparar
ao se comunicar e também pode ter alterações os autores com o fim de proporcionar um
comportamentais repentinamente. melhor levantamento bibliográfico e ajudar
A metodologia utilizada é uma revisão outros leitores em futuras investigações.
bibliográfica e terá como método comparar
os autores com o fim de proporcionar um DESENVOLVIMENTO-
melhor levantamento bibliográfico e ajudar NEUROPSICOPEDAGOGIA E O
outros leitores em futuras investigações.
TEA

DESENVOLVIMENTO- A inclusão é uma palavra utilizada com


NEUROPSICOPEDAGOGIA E O bastante frequência no âmbito educacional. Por
isso muitos artigos e teses trazem informações
TEA que tentam ajudar tanto aos professores/
gestão como os alunos a que sejam unidos e
O objetivo geral desta pesquisa é perceber obtenham bons resultados. Nota-se uma gama
que a grande preocupação em fazer com que de artigos acadêmicos que questionam sobre a
todos os alunos aprendam faz com que o inclusão e como proporcionar atividades para
professor deixe a desejar alguns alunos na sala

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que os alunos inclusos em uma sala de aula tão recentes, porém trazem uma boa carga
se sintam bem e adquira conhecimento de teórica que pode proporcionar uma riqueza
mundo juntamente com os demais colegas de de conhecimentos neste trabalho acadêmico.
classe. Também é muito estudado sobre como Cabe ressaltar também que a inclusão do aluno
o professor pode avaliar um aluno de inclusão, diagnosticado com Transtorno do Espectro
visto que o ritmo escolar deste é diferenciado. Autista é mais aceita que outros transtornos
A teoria sobre a inclusão proporciona de aprendizagem.
uma visão utópica. Isto porque os ideais são Devido a tantos estudos e a uma gama de
maravilhosos, mas na prática os professores questões pedagógicas levantadas com o passar
não possuem o conhecimento nem o do tempo, este levantamento bibliográfico
treinamento necessário para garantir o ensino/ sobre o Transtorno do Espectro Autista também
aprendizagem dos alunos em uma sala de aula. falará sobre algumas sequências didáticas
Por isso é muito importante que a gestão, propostas para que a aprendizagem seja eficaz
os professores e principalmente a família para o aluno portador de (TEA).
respeitem a subjetividade de cada aluno/ A educação brasileira tem um sistema que
familiar. facilmente exaltam alguns e excluem a maioria.
Como dito anteriormente, não somente Começando pelo primeiro contato com outras
os professores e a gestão devem se adaptar crianças, a creche é um dos lugares que mais
à inclusão: a família e quem cerca tais alunos as excluem. Isto porque a grande demanda
devem socializar e interagir normalmente como de crianças para poucas vagas faz com que a
fazem com qualquer outro indivíduo. Portanto, criança que lá consegue entrar seja encarada
este trabalho visa compreender melhor sobre como “premiada”, pois os pais conseguirão
o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e trabalhar tranquilamente, enquanto outros
buscar referências teóricas sobre como ensinar pais tentarão trabalhar e cuidar dos filhos ao
e avaliar este tipo de aluno. Tendo como mesmo tempo.
objetivos específicos, analisar e orientar à Para Mazzota (1996) as creches de
família as características e os comportamentos alguma maneira eram consideradas exclusão
das crianças autistas; estabelecer diagnósticos porque eram feitas para pessoas sem recursos
e os devido graus do autismo. financeiros e automaticamente as crianças
De fato, ensinar é um desafio e cabe ao eram tratadas como inferiores. Após o
professor mais do que nunca se desdobrar surgimento de algumas leis foi que as crianças
para que o aluno entenda o que lhe é proposto passaram a receber cuidado e educação
(também um desafio para este). Por isso, este necessários, passando assim a serem incluídas
trabalho também buscará relacionar referências na sociedade. Mesmo com este incentivo as
teóricas sobre a história da inclusão no Brasil verbas dadas às creches não são muitas até
e como está sendo desenvolvidos projetos na hoje e as educadoras passam pelo problema
educação infantil. de como cuidar das crianças presentes no
Muitos projetos desenvolvidos não são local. Mesmo dentro da creche há crianças

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que são mais assistidas pelos cuidadores do autismo, há dezenas de transtornos do espectro
que outros. Nesta etapa da vida, a aquisição de autista que podem influenciar facilmente na
aprendizagem é mínima e qualquer transtorno aprendizagem do aluno. Logo, neste trabalho
educacional é minimamente observado pelas será discorrido sobre alunos com TEA e com
educadoras. grau leve a moderado.
Sobre a creche ainda, é entendido na Segundo o estudo de Zanon et al (2014)
Educação Infantil as crianças devam adquirir quanto mais cedo o reconhecimento do TEA,
a Educação Básica. Porém, mais exclusões melhor será o tratamento. Segundo a autora:
são vistas nesta etapa da vida da criança: os Esse aspecto é fundamental porque é um gatilho
próprios pais a excluem. Isto porque, segundo na busca por auxílio médico, em uma cadeia
os pais e a família em geral, a criança não tem de acontecimentos que pode culminar com o
maturidade para expor suas opiniões. diagnóstico precoce. Os comprometimentos
Passando por esta etapa, a criança chega no no comportamento social foram os mais
Ensino Fundamental I. Na maioria dos casos, precocemente observados pelos cuidadores,
alunos que possuem Transtorno do Espectro sobretudo a qualidade da interação social.
Autista (doravante TEA), são identificados e Cabe concluir então que um dos primeiros
a maioria dos pais recorrem a tratamentos sinais de que a criança possa ter desenvolvido
ou escolas especiais, a fim de que o filho se TEA é o seu comportamento social e o
desenvolva e interaja com a sociedade. O desenvolvimento da fala.
objetivo aqui seria de não haver exclusão. Com o diagnóstico em mente, o termo
Entretanto, se o aluno continua em uma inclusão se faz importante, pois, segundo
escola regular, provavelmente este encontrará as Diretrizes Curriculares Nacionais para
dificuldades para aprender e para acompanhar Educação Especial na Educação Básica (2001)
o ritmo da sala de aula, visto que este aluno inclusão não significa, simplesmente, matricular
possuirá seu ritmo próprio. os educandos com necessidades especiais na
Segundo Oliveira e Sertié (2017, p.23) o classe comum, ignorando suas necessidades
transtorno do espectro autista (TEA) é um específicas, mas significa dar ao professor
grupo de distúrbios do desenvolvimento e à escola o suporte necessário à sua ação
neurológico de início precoce, caracterizado pedagógica.
por comprometimento das habilidades sociais Se uma sociedade não aceita a inclusão,
e de comunicação, além de comportamento certamente haverá certo grau de tolerância
comportamentos estereotipados. quanto aos alunos com inclusão, mas não uma
O aluno que possui TEA pode ter dificuldades aceitação. No decorrer da história a deficiência
de interação social, déficit de comunicação e física e mental tem tido estudiosos que
padrões comportamentais inadequados para a separavam essas pessoas simplesmente por
ocasião. Há graus diferentes (leve, moderado não terem o ritmo capitalista (concorrência) e
e severo), mas nota-se que muitos conseguem tais pessoas eram deixadas de lado.
ser incluídos no sistema educacional regular. Com o passar do tempo, outros estudiosos
Sabe-se que não há um tipo somente de resolveram formular estudos e atividades com

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Revista Educar FCE - Abril 2019

essas pessoas e perceberam que a sociedade deficiência preferencialmente na rede regular


em geral deveria dar uma chance para todas de ensino. Em 1994 o Brasil reestrutura a
as pessoas, pois não os deficientes em geral sociedade para possibilitar a convivência dos
conseguiam sim contribuir para uma sociedade diferentes.
melhor. A partir daí surgem indicadores da
Portanto é possível concluir que a educação interpretação da educação especial como
gera benefícios para a sociedade e a aceitação modalidade de ensino. O Brasil concordou e se
da inclusão faz com que a sociedade se torne comprometeu com os argumentos produzidos
mais acessível e sem a cobrança extrema de em Salamanca (Espanha em 1994) e assim
concorrência (herança da revolução industrial, começa o aumento gradativo das matrículas de
que será comentada no próximo capítulo). alunos com deficiências no ensino regular.
Nesse trabalho de pesquisa é apresentado um A LDB da Educação Nacional 9394/96 foi
histórico da Inclusão de crianças com Autismo aprovada se pronunciando favorável aos artigos
em Educação Infantil, conforme bibliografia em 58 e 59 de inclusão, assim o Brasil caminha em
anexo, onde nota-se que em tempos não muito prol a inclusão.
distantes as crianças que nasciam com alguma O autismo segundo a O.M.S Organização
anomalia eram consideradas doente mental, Mundial da Saúde é uma disfunção global do
independentes da doenças acometida, e por desenvolvimento.
esse motivo eram rejeitadas por seus familiares Para Bueno (2001), é uma alteração que afeta
e pela sociedade e muitas vezes internadas a capacidade de comunicação do indivíduo, de
em manicômios sem nenhum tratamento, socialização (estabelecer relacionamentos) e de
segregadas e afastadas da sociedade . comportamento (responder apropriadamente
Após as duas grandes guerras mundiais ao ambiente — segundo as normas que regulam
que aconteceram, começa a aparecer essas respostas).
alguns resultados em relação a pessoas Ainda para Bueno (2001) esta desordem
com deficiência. As sequelas dessas guerras faz parte de um grupo de síndromes chamado
marcaram a humanidade e em 1925 na OMT – transtorno global do desenvolvimento (TGD),
Organização Mundial do Trabalho foi adaptada também conhecido como transtorno invasivo
a recomendação nº 22que reconheceu as do desenvolvimento (TID), do inglês
necessidades a cercado trabalho das pessoas pervasive developmental disorder (PDD).
portadoras de deficiência. Entretanto, neste contexto, a tradução correta
Efetivamente nos períodos pós-guerra a de "pervasive" é "abrangente" ou "global", e não
ideia de habilitação e reabilitação dos mutilados "penetrante" ou "invasivo". Mais recentemente
de guerra era chamado “heróis Sobreviventes “. cunhou-se o termo Transtorno do Espectro
Na década de 90 surge a Declaração de Autista (TEA) para englobar o Autismo, a
Salamanca e em 1998 a nova promulgação da Síndrome de Asperger e o Transtorno Global
Constituição Brasileira concebe a educação do Desenvolvimento Sem Outra Especificação
no artigo 208 garantindo o entendimento O Autismo Infantil foi descrito inicialmente
educacional especializado aos portadores de por Kanner em 1943 quando ele identificou

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Revista Educar FCE - Abril 2019

crianças apresentando prejuízos nas áreas Por ser uma ciência ainda em busca de
da comunicação, do comportamento e da bases mais sólidas, o psicomotricista ainda
interação social, e caracterizou essa condição não tem todos os seus papéis definidos.
como sendo única e não pertencente ao grupo Sabemos que ele pode atuar em conjunto com
das crianças com Deficiência Mental. outras especificidades, mas também percebe-
Desde 1938 nossa atenção foi se sua atuação clínica e institucional. Já é
atraída por certo número de crianças cuja possível compreender que psicomotricista é o
condição difere tão marcada e singularmente profissional da área de saúde e educação que
de tudo que foi relatado até o momento, que pesquisa, ajuda, previne e cuida do homem
cada caso merece, e espero que acabe por na aquisição, no desenvolvimento e nos
receber. Uma detalhada consideração de suas distúrbios da integração soma psíquica.
fascinantes peculiaridades. Neste artigo, a Nos primeiros anos de vida da criança,
limitação necessariamente imposta pelo espaço o aprendizado é muito importante para o seu
pede uma apresentação resumida do material desenvolvimento ao longo da vida. Para isso, a
clínico; pela mesma razão as fotografias Educação Infantil tem seu papel fundamental
também foram omitidas. utilizando métodos que possam de certa
forma facilitar a absorção de todo o conteúdo
A CRIANÇA E O MOVIMENTO- ensinado. O lúdico é um dos primeiros
DESENVOILVIMENTO PSICO E métodos utilizados para o desenvolvimento
da criança, pois brincando, a criança
NEUROPSICOPEDAGÓGICO desenvolve a identidade e a autonomia, assim
como a capacidade de socialização, através
da interação e experiências de regras perante
A Psicomotricidade é a ciência que tem a sociedade. O brinquedo é um item essencial
como objeto de estudo o homem por meio e dinâmico onde possibilita o surgimento
do seu corpo em movimento e em relação de comportamentos espontâneos, é um
ao seu mundo interno e externo, bem como transporte para o desenvolvimento e
suas possibilidades de perceber, atuar, agir crescimento, onde leva a criança a descobrir
com o outro, com os objetos e consigo seus sentimentos e sua forma de agir e reagir.
mesmo. Está relacionada ao processo de Outra etapa a se cumprir na Educação
maturação, onde o corpo é a origem das Infantil é a alfabetização que surgiu através
aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. de uma necessidade de comunicação no
(S.B.P.1999) Psicomotricidade, portanto, é dia a dia da humanidade, ensina o aluno a
um termo empregado para uma concepção decifrar símbolos formando palavras, ou seja,
de movimento organizado e integrado, em uma pessoa alfabetizada é aquela pessoa
função das experiências vividas pelo sujeito que domina habilidades básicas para fazer
cuja ação é resultante de sua individualidade, uso da leitura e escrita. Já o letramento, que
sua linguagem e sua socialização. acompanha esse método indispensável, é

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Revista Educar FCE - Abril 2019

levado para o lado cultural, onde ensina a do adolescente referentes a vida, saúde,
criança a se desenvolver lendo, tendo prazer alimentação, educação, esporte, lazer, cultura,
em fazer leituras de livros, notícias e ter ideias dignidade, respeito, liberdade, convivência
próprias como um uso social para a escrita e familiar e comunitária e profissionalização.
leitura. Brasil (1996) a LDB estabelece o
A educação tem por finalidade propiciar atendimento às crianças de 0 a 6 anos,
o desenvolvimento pleno da criança, o jogo tendo como finalidade o desenvolvimento
e a brincadeira são fundamentais para o integral da criança em todos os seus aspectos
desenvolvimento sensório-motor, afetivo; físicos, psicológicos, intelectuais e sociais.
cognitivo e sociocultural da mesma. Além Afirmando ainda ser dever do Estado garantir
de ser uma necessidade tanto física como o atendimento gratuito em creches e pré-
emocional da criança, portanto, neste escolas.
contexto a legislação visa assegurar que tais Brasil (1998) a elaboração do Referencial
necessidades e direitos sejam garantidos e Curricular Nacional para a Educação Infantil,
respeitados em sua totalidade. tem a finalidade de estruturar a educação e
Brasil (1961) instituiu-se a Lei de Diretrizes fundamentar as concepções de crianças, e
e Bases da Educação Nacional, que incluiu as visa contribuir para a construção de propostas
escolas maternais e os jardins-de-infância no educativas que considerem a pluralidade,
sistema de ensino. diversidade étnica, religiosa, de gênero, social
Kuhlmann (1998) afirma que as e cultural. Lima (2009) afirma que durante
políticas educacionais na década de 70, muito tempo a infância no Brasil era vista
pautaram-se na educação compensatória, como uma fase de necessidades, portanto
ainda com um olhar voltado para suprir as era tratada em instituições assistencialistas a
necessidades básicas de cuidar, proteger e partir da Constituição Federal de 1988 e a LDB
compensar as defasagens afetivas. 1996, essa visão começou a mudar, pois em
Brasil (1988) a Constituição Federal afirma seus artigos traz uma perspectiva educativa
o dever do Estado com a educação, garantindo para essa faixa etária, essa nova visão coloca
o atendimento em creches e pré-escola as a educação infantil como a primeira fase da
crianças de 0 a 6 anos de idade. Assim a educação básica. Vários estudos trazem à
educação infantil passa a ser considerada tona a importância da educação infantil do
como a primeira fase da educação básica, e desenvolvimento das crianças. Lima (2009) a
o Estado e os municípios passam a oferecer educação infantil detém a função de oferecer
creches e pré-escolas como melhoria da e favorecer um processo significativo de
qualidade de vida da população. aprendizagem e desenvolvimento para essa
São Paulo (2008) indica que o Estatuto da faixa etária, visto que educar e cuidar faz
Criança e do Adolescente, Lei n°8.069, de parte do mesmo processo de construção do
13 de Julho de 1990, traz em seus artigos saber.
a explicitação dos direitos da criança e Crianças em fase de desenvolvimento;

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Revista Educar FCE - Abril 2019

bebês de alto risco; crianças com dificuldades/ visto em relação a este comportamento.
atrasos no desenvolvimento global; pessoas Para piorar esta situação, a Psicomotricidade
portadoras de necessidades especiais: necessita de um mínimo de objetos para que
deficiências sensoriais, motoras, mentais e as intervenções possam ser desencadeadas.
psíquicas; pessoas que apresentam distúrbios Isto por si só já causa uma reflexão primária
sensoriais, perceptivos, motores e relacionais naquele professor que necessita desenvolver
em consequência de lesões neurológicas; os trabalhos psicomotores nos espaços
família e pessoas da terceira idade. de educação infantil e nas séries iniciais.
Em que mercado de trabalho o Para ele, se não houver materiais, se não
psicomotricista atua? Creches, escolas, houver recursos, não poderá haver trabalho
escolas especiais, clínicas multidisciplinares, psicomotor, e isso não é verdade. Um bom
consultórios, clínicas geriátricas, postos de trabalho de Psicomotricidade na escola básica
saúde, hospitais e empresas. precisa de uma junção de fatores: concepção,
A razão dos insucessos de muitas comportamento, compromisso, materiais e
experiências educacionais pode estar na espaços.
dificuldade de a escola construir ambientes A - Concepção: todo e qualquer trabalho
educativos com as características peculiares precisa primeiramente ser planejado. O não
de seu corpo docente, com as estruturas planejamento do trabalho leva o executor
apresentadas por suas localidades e com a sérios problemas de condução, de
os recortes de cada método ou teoria de direcionamento das práticas e principalmente
ensino em prol de sua escola. É urgente de perda do foco. Se não houver objetivos
que profissionais de educação descubram claros, se não houver uma linha de
a importância e as diferenças entre espaços pensamento para seguir, o professor poderá
de educação formal e ambientes educativos começar a pegar tudo que aparece e assim
(formais e informais). Tem-se difundido acabar perdendo efetivamente a direção e
enormemente a ideia de que os recursos e os objetivos que deveriam ser propostos. O
os insumos precisam chegar cada vez mais resultado disso é quase sempre caótico: o
e, em grandes quantidades, à escola. Isto professor não consegue avaliar se o trabalho
é importante. No entanto, é importante que ele executou foi bom ou não, se as ações
lembrar que recursos físicos não se educam que ele desencadeou valeram ou não a pena
sozinhos. Por trás dos recursos, por trás dos e se deve ou não uma prática ou outra. Toda
materiais, é preciso ter um grande profissional. esta problemática surge e acaba levando
Profissional este capaz de usá-los, de explorá- fatalmente o professor ao desânimo.
los e de interferir nas práticas diárias, fazendo Afinal, como ele não percebe nenhuma
uso destes recursos todos, sempre pensando modificação de comportamento, sobra-lhe
e buscando o desenvolvimento global das somente desqualificar a teoria e a técnica
crianças. (SANTIN, 1987, p. 35). que advêm dali. Outro problema considerável
É muito preocupante o que temos neste caso é a busca exagerada do professor

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Revista Educar FCE - Abril 2019

por técnicas. Técnicas sozinhas não observador/interventor, nunca de um bedel,


transformam. Além disso, as técnicas usadas que policia e castiga. O observador chama a
mecanicamente acabam por se esgotar e, atenção, provoca a intervenção e continua
neste caso, o professor volta desesperado a observação. Se houver necessidade de
à fonte querendo mais uma novidade. Esta repreensão, ela se dará naquele contexto, com
prática vira um saco sem fundo. Todos os dias, as especificidades daquele clima e, portanto,
o professor quer uma ideia inovadora, uma será sempre melhor absorvida por todos. O
técnica diferente, mas sua concepção não comportamento é o combustível que move
foi transformada, tampouco constituída. É as relações diárias de um professor que quer
imprescindível que construamos concepções, construir coletividade na multiplicidade dos
estas sim são perenes e verdadeiras. Quando seres com as diferenças de cada um.
existe uma concepção na cabeça do professor, B - Comportamento: o comportamento
ele sempre irá encontrar no seu cotidiano de um professor que quer trabalhar com
uma forma de executar seu trabalho diante Psicomotricidade é sempre de um observador,
daquela realidade. É como se o olhar daquele afinal, é nas atividades diárias que este
professor estivesse tão comprometido que profissional vai introduzindo práticas com
as respostas vão surgindo nestes encontros. objetivos psicomotores. Não se podem
Desta dinâmica perfeita, é que surge a dissociar as execuções. Motricidade deve
verdadeira construção do professor, aquele estar ao lado de afetividade. São estes dois
observador, que já possui a cabeça dentro aspectos que se juntam para formar uma
da concepção, faltando-lhe apenas que suas concepção maior que chamamos de trabalho
mãos comecem a executar. No entanto, o psicomotor. Portanto, o comportamento é
contrário é sempre mais triste. O professor, uma atitude de o professor não
apenas com suas mãos comprometidas, C - Compromisso: o compromisso é sempre
executa muito, mas sem a menor concepção muito questionável. Alguns acham que ele
do que está fazendo. (SANTIN, 1987, p. 45). trabalhado demais vira opressão, uma maneira
de forçar o trabalho acima daquilo que se
Qualquer que seja o movimento realizado considera adequado. No entanto, dada as
pelas crianças, eles acontecem em um espaço atuais situações da escola infantil e da escola
específico, com pessoas específicas e de primária, precisamos relembrar que, até bem
um jeito também específico. Desta maneira, pouco tempo, escassas eram as atitudes
jamais podemos deixar toda esta riqueza de verdadeiramente brasileiras aplicadas nos
lado. O aluno precisa encontrar o outro aluno ambientes educativos.
nas relações diárias. É este encontro que Como educadores olhamos o brincar
possibilitará a socialização e a humanização como uma possibilidade de intervenção
das relações. Para isto acontecer e para que auxilia de forma significativa no
que o aluno possa viver os problemas e as desenvolvimento da criança, e em especial,
conquistas destes atos, é imprescindível que das que se encontram na mais tenra idade.
o comportamento do professor seja de um Muitas vezes, o que para a criança é um

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Revista Educar FCE - Abril 2019

simples ato de brincar, para nós é muito mais, as necessidades de todos e promover o seu
é um momento de aprender, de experimentar, autodesenvolvimento.
vivenciar e desenvolver. Quanto aos professores, saber reconhecer
Quando a criança brinca, ela desenvolve as dificuldades da síndrome de autismo é
os domínios cognitivo, afetivo e motor. Além reconhecer suas limitações. Cabe também
de ser um momento repleto de processos e ao professor, compartilhar com outros
situações que privilegiam o desenvolvimento professores sobre novas técnicas e soluções
de ações internas e externas para ela. Outro para aprimorar seus conhecimentos. Para
fato de destaque refere-se à questão de o educador entender o comportamento
que, por meio do brincar, a criança aprende do autista favorece na aprendizagem e no
a conviver em grupo (relações sociais), a diagnóstico. Identificar o aluno com autismo
respeitar regras, a aceitar o outro e a suas não é tarefa muito fácil, pois, algumas
próprias limitações (emoção e afeto). crianças em seus aspectos são muito sutis e
Ao brincar a criança estabelece a relação costumam ser mal interpretados como mau
corpo e movimento, sendo traduzidos e comportamento.
expressos, por meio da gestualidade, e essa, O Pedagogo deve ter em mente que cada
por sua vez, refere-se a representação, o interação com o aluno autista parece o primeiro
entendimento e percepção de mundo que a contato, e necessita ser aprendidos todos os
criança tem. dias. A vida estudantil do autista é ampla e
minuciosa e deve ser elaborada com cautela
e dedicação, sabemos que muitos alunos
CONSIDERAÇÕES FINAIS autistas têm uma compreensão precária dos
sentimentos dele mesmo e das outras pessoas.
Desenvolver uma escola de qualidade para Ensinar crianças autistas, principalmente a se
alunos, professores e colaboradores, incluindo comunicarem é um processo lento e difícil,
alunos autistas é responsabilidade de todos, entender palavras, figuras e símbolos em geral
isso inclui; estado, município, comunidade, é muito complicada e complexa.
familiares, educadores, alunos, e corpo Falamos muito em comportamento e
docente. A tarefa é de todos (....) construir desenvolvimento, porém, se observarmos o
uma escola democrática sem privações comportamento das crianças, não se difere
culturais, elaborando uma educação com das demais crianças tidas como “normais”.
a finalidade de ensinar sem desconsiderar Qualquer criança faz birras, têm manias, são
a visão ideológica da realidade do autista. instáveis no seu humor, querem atenção
Trabalhar na construção de uma Pedagogia exclusiva, têm rotinas próprias, a maioria tem
inclusiva mostra alguns argumentos que déficit de aprendizagem e outros problemas.
beneficiam todos os alunos, independente
das suas habilidades ou dificuldades, a função
primeira do educador deve ser identificar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

VALDINÊS ROSA DE SOUZA


Professora de Língua Portuguesa na Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo, Professora de educação Básica I na Secretaria de Educação da Prefeitura de
São Paulo.
Especialista em Educação Inclusiva pela Universidade Júlio de Mesquita (UNESP).

REFERÊNCIAS

ALENCAR, L. P., CARVALHO, M. N. L., CENTURION, R. B. M., COSTA, B. S., SANTOS, R. P. L.


dos. O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO AUTISTA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE
O AUTISMO E A AFETIVIDADE. Artigo retirado de https://even3storage.blob.core.windows.
net/anais/52343.pdf. Natal, 2017.

BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial na


Educação Básica. 2001.

CUNHA, E.A. DECLARAÇÃO de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas


especiais. TRAD. 2. ED. Brasília, Corde. 1997

MAZZOTA, MARCOS.J.S. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. São Paulo,
Cortez. 1996
MONTOAN, Maria Teresa Eglér. A integração de pessoas com deficiência: contribuições para
uma reflexão sobre o tema. São Paulo, Memnon: Editora SENAC.1997
MORGADO, Vera Lúcia Miranda Pires Morgado. Estratégias a utilizar para promover a inclusão
escolar de um aluno com autismo. Dissertação de Mestrado. Lisboa, 2011.

VYGOTSKY, L.S..A formação da mente. São Paulo: Martins Fontes.1984

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Revista Educar FCE - Abril 2019

EDUCAÇÃO ESPECIAL NO CENÁRIO


BRASILEIRO: CARACTERÍSTICAS E
POSSIBILIDADES PARA O ENSINO E
APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS
RESUMO: O estudo aqui apresentado aborda a inclusão sob um olhar para além das
limitações, motivando investigações sobre educação especial, se pautando nas seguintes
indagações: Qual o impacto da inclusão no processo educativo das crianças? Como a
afetividade contribui para o desenvolvimento da criança especial e das demais? Objetivando
refletir sobre a diferença da ação educativa pautada na afetividade das que estão voltadas
apenas para alcançar resultados. Além de constatar que incluir não significa apenas receber
alunos com deficiência na escola, priorizamos também identificar os principais desafios das
instituições escolares quanto à inserção dos alunos com necessidades educacionais especiais,
e por fim analisar as leis que asseguram o direito à escola para crianças com deficiência. No
que se refere à definição dos procedimentos metodológicos cabe pontuar que a pesquisa
possui caráter bibliográfico. O referencial teórico está fundamentado nas reflexões feitas
nos estudos de autores como Amorim (2015), Brandão (1993), Deimling e Moscardini (2016),
Domingos (2005) e Rogalski (2010). Desse modo, trazer a tona novos conceitos e práticas
que permitam superar o pessimismo de muitos que estão envolvidos com o processo de
ensino pode ressignificar os olhares sobre a educação especial, permitindo incutir novas
possibilidades de se pensar à inclusão no nosso país.

Palavras-Chave: Inclusão; Educação Especial; Escola; Afetividade.

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INTRODUÇÃO conquistas destes atos, é imprescindível que


o comportamento do professor seja de um
por técnicas. Técnicas sozinhas não observador/interventor, nunca de um bedel,
transformam. Além disso, as técnicas usadas que policia e castiga. O observador chama a
mecanicamente acabam por se esgotar e, atenção, provoca a intervenção e continua
neste caso, o professor volta desesperado a observação. Se houver necessidade de
à fonte querendo mais uma novidade. Esta repreensão, ela se dará naquele contexto, com
prática vira um saco sem fundo. Todos os dias, as especificidades daquele clima e, portanto,
o professor quer uma ideia inovadora, uma será sempre melhor absorvida por todos. O
técnica diferente, mas sua concepção não comportamento é o combustível que move
foi transformada, tampouco constituída. É as relações diárias de um professor que quer
imprescindível que construamos concepções, construir coletividade na multiplicidade dos
estas sim são perenes e verdadeiras. Quando seres com as diferenças de cada um.
existe uma concepção na cabeça do professor, B - Comportamento: o comportamento
ele sempre irá encontrar no seu cotidiano de um professor que quer trabalhar com
uma forma de executar seu trabalho diante Psicomotricidade é sempre de um observador,
daquela realidade. É como se o olhar daquele afinal, é nas atividades diárias que este
professor estivesse tão comprometido que profissional vai introduzindo práticas com
as respostas vão surgindo nestes encontros. objetivos psicomotores. Não se podem
Desta dinâmica perfeita, é que surge a dissociar as execuções. Motricidade deve
verdadeira construção do professor, aquele estar ao lado de afetividade. São estes dois
observador, que já possui a cabeça dentro aspectos que se juntam para formar uma
da concepção, faltando-lhe apenas que suas concepção maior que chamamos de trabalho
mãos comecem a executar. No entanto, o psicomotor. Portanto, o comportamento é
contrário é sempre mais triste. O professor, uma atitude de o professor não
apenas com suas mãos comprometidas, C - Compromisso: o compromisso é sempre
executa muito, mas sem a menor concepção muito questionável. Alguns acham que ele
do que está fazendo. (SANTIN, 1987, p. 45). trabalhado demais vira opressão, uma maneira
de forçar o trabalho acima daquilo que se
Qualquer que seja o movimento realizado considera adequado. No entanto, dada as
pelas crianças, eles acontecem em um espaço atuais situações da escola infantil e da escola
específico, com pessoas específicas e de primária, precisamos relembrar que, até bem
um jeito também específico. Desta maneira, pouco tempo, escassas eram as atitudes
jamais podemos deixar toda esta riqueza de verdadeiramente brasileiras aplicadas nos
lado. O aluno precisa encontrar o outro aluno ambientes educativos.
nas relações diárias. É este encontro que Como educadores olhamos o brincar
possibilitará a socialização e a humanização como uma possibilidade de intervenção
das relações. Para isto acontecer e para que auxilia de forma significativa no
que o aluno possa viver os problemas e as desenvolvimento da criança, e em especial,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

das que se encontram na mais tenra idade. a discussão se estendeu a escola para que
Muitas vezes, o que para a criança é um essa pudesse receber e incluir as crianças.
simples ato de brincar, para nós é muito mais, Por vários momentos a escola se recusou
é um momento de aprender, de experimentar, assumir a responsabilidade, parte da
vivenciar e desenvolver. preocupação era a formação dos professores e
Quando a criança brinca, ela desenvolve a outra se direcionava para a falta de estrutura
os domínios cognitivo, afetivo e motor. Além e conhecimento da comunidade escolar como
de ser um momento repleto de processos e um todo, além do preconceito enraizado sobre
situações que privilegiam o desenvolvimento a inserção não apenas de pessoas, mas da
de ações internas e externas para ela. Outro diferença. E é nesse confronto de aceitação
fato de destaque refere-se à questão de e não aceitação que a escola se tornou para
que, por meio do brincar, a criança aprende muitos dos alunos uma instituição onde a
a conviver em grupo (relações sociais), a mistura de expectativa e frustração convivem
respeitar regras, a aceitar o outro e a suas lado a lado.
próprias limitações (emoção e afeto). O fato de a escola ter resistido a mudanças
Ao brincar a criança estabelece a relação para receber os alunos, adaptar e transformar
corpo e movimento, sendo traduzidos e currículo e espaço, precisando se desfazer de
expressos, por meio da gestualidade, e essa, ideologias se dá ao fato de que a mesma é
por sua vez, refere-se a representação, o uma instituição construída através dos ideais
entendimento e percepção de mundo que a capitalistas. Por isso,
criança tem.
Para as lideranças políticas e econômicas
a linguagem é direta. Cada população
HISTÓRICO DA INCLUSÃO NO deve ter um tipo de instrução, não por
BRASIL causa das diferenças psicopedagógicas no
processo de ensino-aprendizagem, mas pelo
destino que terão na diversificada estrutura
A educação especial em um passado recente socioeconômica (ARROYO, 1984, p.4).
tinha a finalidade assistencialista, visto que,
acreditava-se que as pessoas que possuíam A educação para a classe popular só passou
necessidades educacionais especiais a fazer sentido para o sistema capitalista
precisavam somente de cuidados para se quando o ensino destinado ao pobre serviria
sentir melhor. Após alguns estudos realizados de subsidio para o crescimento da classe
sobre o que seria necessidade especial, novas dominante.
reflexões começaram a surgir através de De acordo com Domingues (2005) somente
concepções trazidas por médicos e psicólogos. no século XIX o Brasil passa a se orientar
Devido às mudanças de interpretação das através dos estudos realizados nos Estados
necessidades que as pessoas deficientes têm Unidos e na Europa sobre educação especial.

1605
Revista Educar FCE - Abril 2019

Isso só foi possível por que estudiosos ROGALSKI (2010) revela que a inclusão se
brasileiros passaram a estudar as práticas caracteriza como “política de justiça social”,
novas no atendimento de pessoas com já que alcança alunos portadores de alguma
deficiência mental, física e sensorial. deficiência, assim cita o conceito construído
na Declaração de Salamanca, onde afirma
A partir de 1930, a sociedade civil começa que:
a organizar-se em associações de pessoas
preocupadas com o problema da deficiência: O princípio fundamental desta linha de
a esfera governamental prossegue a Ação é de que as escolas devem acolher
desencadear algumas ações visando à todas as crianças independentemente de
peculiaridade desse alunado, criando escolas suas condições físicas, intelectuais, sociais,
junto a hospitais e ao ensino regular, outras emocionais, linguísticas ou outras. Devem
entidades filantrópicas especializadas acolher crianças com deficiência e crianças
continuam sendo fundadas, há surgimento bem dotadas, crianças que vivem nas ruas e
de formas diferenciadas de atendimento em que trabalham, crianças de minorias linguística,
clínicas, institutos psicopedagógicos e outros étnicas ou culturais e crianças e crianças de
de reabilitação geralmente particular a partir outros grupos ou zonas desfavoráveis ou
de 1500, principalmente, tudo isso no conjunto marginalizadas (ROGALSKI, 2010, p. 7 apud
da educação geral na fase de incremento da Declaração de Salamanca 1994, p. 17- 18).
industrialização do BR, comumente intitulada
de substituição de importações, os espaços No nosso país a educação inclusiva é
possíveis deixados pelas modificações conhecida também como educação especial,
capitalistas mundiais (ROGALSKI, 2010, p. 4 que teve sua ascendência nos Estados Unidos,
apud JANNUZZI, 2004 p.34). “quando a lei pública 94.142, de 1975,
resultado dos movimentos sociais de pais e
Em 1954 se instaura a Associações dos alunos com deficiência, que reivindicavam
Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) o acesso de seus filhos com necessidades
onde foi possível pensar a educação educacionais especiais” (ROGALSKI, 2010, p.
diretamente voltada para pessoas com 7 apud STAINBAK E STAINBAK, 1999, p.36).
necessidades educacionais especiais e que Vale salientar que todos os processos e
viviam a marguem da sociedade. Nesse conquistas da educação inclusiva esteve
período até a década de 70 a escola era relacionado a pesquisas, descobertas
incumbida de funcionar para atender aos cientificas sobre transtornos globais do
interesses dominantes, consequentemente desenvolvimento, conscientização da família
a produtividade e o consumo desmedido e comunidade escolar. Nessa conjectura,
proporcionado pelo capitalismo. Não existia a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases
possibilidade de inserção dos deficientes na da Educação 9394/96, ressalta que é
escola, muito menos no mercado de trabalho. dever do Estado e da família promove-la.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Tem como finalidade da educação, o pleno título III “Do direito à educação e dever de
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para educar”, a LDB diz que o dever do Estado com
a cidadania e sua qualificação para o trabalho a educação escolar será efetivado mediante
que garante a todos o direito à educação de algumas garantias. No seu artigo 4º, inciso
qualidade (ROGALSKI, 2010). III, a lei postula; 3.
Atendimento educacional especializado
gratuito aos educandos com necessidades
CONCEITUANDO EDUCAÇÃO especiais, preferencialmente na rede regular
INCLUSIVA/ESPECIAL de ensino.
Na Constituição Brasileira: o inciso III do
Art. 208 da Constituição Federal fundamenta
Educação inclusiva é o processo que ocorre a Educação no Brasil e faz constar a
em escolas de qualquer nível preparadas obrigatoriedade de um ensino especializado
para propiciar um ensino de qualidade a para crianças portadoras de deficiência. Este
todos os alunos independentemente de seus é o texto: O dever do Estado com educação
atributos pessoais, inteligências, estilos de será efetivado mediante a garantia de: III –
aprendizagem e necessidades comuns ou Atendimento educacional especializado aos
especiais. A inclusão escolar é uma forma de portadores de deficiência, preferencialmente
inserção em que a escola comum tradicional na rede regular de ensino.
é modificada para ser capaz de acolher
qualquer aluno incondicionalmente e de É direito garantido por Lei o acesso de
propiciar-lhe uma educação de qualidade. pessoas portadoras de deficiência e com
Na inclusão, as pessoas com deficiência necessidades educacionais especiais à
estudam na escola que frequentariam se não escola. Esses direitos surgem quando há
fossem deficientes (DOMINGOS, 2005, p. necessidades de promover acesso dos
57 apud SASSAKI, 1998c, p. 8). cidadãos a categorias já estabelecidas ou
não pela política social.
Nessa perspectiva inclusão é o mesmo
que inserir, ou seja, tornar possível a inserção A valorização dos direitos pressupõe que a
de pessoas com necessidades educacionais cidadania não é apenas fato e meio, mas sim
especiais a um ambiente tradicionalmente princípio. A dignidade do homem é sagrada
construído com o objetivo de garantir a e constitui dever de todas as autoridades
educação integral de todos os envolvidos. do Estado promover medidas de ação
Tanto na Lei de Diretrizes e Bases da significativas, que garantam igualdade real
Educação, de 1996, quanto na Constituição de oportunidades na prevenção à violação
Brasileira percebemos o incentivo a inclusão: dos direitos humanos (DOMINGOS, 2005,
p.68).
Na lei de Diretrizes e Bases de 1996: No Dessa maneira, compreende-se que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

a educação é o principal caminho para AFETIVIDADE COMO


se construir cidadania, pois, pode “(...) FERRAMENTA DE INCLUSÃO
possibilitar primeiro o igual acesso ao Direito,
isto é, o conhecimento do ordenamento
jurídico das liberdades públicas por parte de
todas as pessoas”, e consequentemente, a A escola é responsável por grande parte da
formação consciente do individuo sobre sua aprendizagem que construímos ao longo da
existência, dever e desenvolvimento social vida, desde muito pequenas, as crianças são
(DOMINGOS, 2005, p. 68). cada vez mais expostas a diversas formas de
aprendizagens, elas brincam, se relacionam
Num momento em que o direito ganha com outras crianças, aprendem características
novos espaços e abre novas áreas por meio da cultura dos seus pais e de outros colegas.
das grandes transformações pelas quais passa Os costumes, as crenças, os hábitos e as
o mundo contemporâneo, é importante ter o características de cada comunidade vão se
conhecimento de realidades que, no passado, tornando cada vez mais compreensíveis à medida
significaram e no presente ainda significam que se relacionam com culturas diferentes, com
passos relevantes no sentido da garantia de comportamentos distintos. Negar esse contato
um futuro melhor para todos. O direito à a crianças portadoras de deficiência é o mesmo
educação escolar é um desses espaços que que lhe negar o mundo.
não perderá sua atualidade (DOMINGOS, Sendo assim a escola é a porta de entrada
2005, p.71 apud CURY, 2002, p.70). para o convívio, para as relações interpessoais.
A educação que se aprende em todos os
Como podemos perceber o discurso de ambientes por onde passamos contribui para
“educação para todos” é perpassado há muitos construirmos nossa identidade. Sob esta
anos, porém, o privilégio a educação nem perspectiva, Brandão (1985, p. 9) considera
sempre foi possibilidade para pessoas que que “a educação está em todos os lugares e
possuem alguma deficiência. Nos dias atuais no ensino de todos os saberes. Sabemos que
já é possível vislumbrar a inclusão dentro de não existe modelo de educação, a escola não
uma vertente otimista. Toda via, somente é o único lugar onde ela ocorre e nem muito
compreendendo o que significa inclusão, é menos o professor é seu único agente”. Neste
que instituições escolares e sujeitos sociais caso, “ninguém escapa da educação. Em casa,
poderão transformar o preconceito em na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou
conceito de superação. Portanto, discutir de muitos todos nós envolvemos pedaços da
e debater sobre educação especial é uma vida com ela [...]” (BRANDÃO, 1993, p.7).
das principais chaves para adentrarmos no Em relação à educação especial precisamos
universo ainda pouco explorado da escola que escola, professores e família aprendem
inclusiva. a lidar com percalços e sucesso de crianças
portadoras de deficiência. Para que o sujeito

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Revista Educar FCE - Abril 2019

aprenda, seja deficiente ou não é necessário pensando em si mesmas conseguem direcionar


que os formadores e mestres que os ensina, ao outro a proteção e atenção que gostariam
além de todos os que estão a sua volta possa de ter. “Assim como as emoções, a afetividade
fazer com que ela se sinta querida, acolhida, é ainda mais importante, pois não existe uma
amada, incluída. relação exclusivamente cognitiva entre o aluno
e os conteúdos escolares” (AMORIM, 2015, p.
A aceitação da deficiência é definida como 81). Ainda de conforme Amorim (2015, p. 81) a
um dos melhores indicadores de ajustamento afetividade,
positivo após uma deficiência e caracterizada
por: a) capacidade de o indivíduo com deficiência [...] faz com que o ambiente escolar se torne
perceber valor em habilidades e metas que não acolhedor, favorecendo, assim, à integração
foram perdidas em consequência da deficiência; dos alunos com deficiências, pois, como já
b) avaliação do próprio valor, de atributos e mencionado anteriormente, eles chegam à
capacidades, baseados não apenas em aspectos escola regular como completos estranhos, em
físicos, mas também em outros (por exemplo, um mundo também estranho, cercados de
persistência, inteligência); c) mesmo quando barreiras arquitetônicas, tendo que se adaptar
o indivíduo é influenciado por percepções, a um currículo e a práticas pedagógicas que
atitudes e linguagem de outras pessoas, foca nem sempre se encontram ajustados às suas
a sua própria atitude em relação à deficiência, necessidades especiais.
enxergando sua deficiência como sendo mais
uma de suas características, e não a única; d) Consideramos que a afetividade configura-
em seu nível mais básico, ocorre quando o se como prática, na medida em que é incluída
indivíduo reconhece o valor único da junção de no contexto escolar e passa a ser vivida
suas características e habilidades, mais do que intencionalmente, visando o bem comum, o
quando faz comparações com padrões externos desenvolvimento e aprendizagem de todos os
e frequentemente inatingíveis. (AMORIM, sujeitos.
2015, p. 80 apud RESENDE; LEÃO JÚNIOR, No entanto, a escola enfrenta alguns desafios
2008, p. 83). para incluir pessoas com deficiência, pois esses
se deparam com circunstâncias que dificultam
Para tanto, a afetividade “é um mecanismo a superação dos déficits que expõem o que
indispensável na construção da aprendizagem, coopera para que as barreiras estabelecidas
principalmente se tratando da escola inclusiva, pela sua condição sejam ressaltadas. A falta
haja vista, que ali todo o grupo lida com o de formação adequada para os professores,
desconhecido e precisa se sentir amparado” falta de incentivos do governo, infraestrutura,
(AMORIM, 2015, p. 80 apud COSTA 2011, p. materiais didáticos direcionados a cada pessoa
8). vislumbrando a melhor forma de aprender,
A afetividade está diretamente ligada à forma tudo isso se torna um problema dentro das
de como as pessoas respeita o espaço das outras escolas, pois a mesma precisa trabalhar
e o que podem fazer para o outro se sentir melhor, com singularidades e pluralidades distintas

1609
Revista Educar FCE - Abril 2019

e particulares dentro do mesmo contexto. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Constatamos então, que,
Criticar o sistema e as práticas desenvolvidas
As propostas inclusivas, apesar de nas escolas direcionadas a alunos portadores
apresentarem avanços incontestáveis, ainda de deficiência e necessidades educacionais
se encontram muito longe de garantirem especiais é a melhor forma de chegar a uma
as condições indispensáveis para que os postura que mude o comportamento humano,
alunos com deficiência, abarcados por essas pois é através dela que podemos sair da linha
iniciativas, tenham a sua individualidade do senso comum e avançarmos para novas
reconhecida. A estruturação dessa realidade formas de pensar a sociedade construindo
passa pela aceitação desses sujeitos como conhecimentos capazes de transformar o meio
pessoas que possuem em si condições reais de em que vivemos e a relação afetiva entre as
desenvolvimento, o que demanda a elaboração pessoas.
de um discurso inclusivo emancipador que A educação deve ser não uma proposta,
compreenda esses indivíduos para além das mas um processo que possa permitir o
dificuldades que encerram, aceitando-os como desenvolvimento integral do sujeito seja
sujeitos capazes de governar o seu próprio em qualquer grupo social que as mesmas
destino. A busca por esse prisma igualitário sejam inseridas. Pois todos nós precisamos,
parece ser o grande desafio colocado ao nosso na relação com o outro nos construirmos, e
século, falta apenas saber se estamos realmente isso é uma característica peculiar, humana.
preparados para lutar incessantemente por esse Negar esse direito às que possuem condições
objetivo, tendo em mente que a inquietação diferentes de aprendizagem é tirar delas a
com um contexto imposto deve ser a marca de ferramenta de evolução, pois o ser humano só
todos aqueles que lutam por uma sociedade poderá transformar seu espaço e relações se
mais justa (DEIMLING; MOSCARDINI, 2016, p. forem alcançado pela Educação.
5). Ao analisarmos a base sólida, construtiva e
histórica que consolidou a educação especial
Portanto, pensar em propostas que superem como sendo a base para alunos diferentes,
o pessimismo e a falta de conhecimento de torna-se inegável percebermos que ao
muitos envolvidos no processo educacional mesmo tempo em que ela destaca-se como
direta ou indiretamente tem sido a grande luta fundamental, surge também, como alvo de
que pesquisadores, professores, pais, gestões preconceito e desvalorização, pois é nessa
escolares e estudiosos da área enfrentam nesses mesma área, que o profissional sofre com a
últimos dias. A inclusão não é um procedimento falta de investimento, formação continuada e
fácil, porém, não é impossível. Precisamos pensar péssimas condições de trabalho.
em uma educação que vá além dos resultados, Portanto, educar é perceber a singularidade
mas que tenha como objetivo a aprendizagem e e a beleza da vida, é também, reconhecermos
desenvolvimento do aluno. que o futuro está diante das nossas mãos,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

do nosso olhar e da nossa prática, por isso,


precisamos pluralizar o respeito, não só para as
crianças, mas também, para aqueles que estão,
dia após dia, buscando refletir diante da sua
missão educativa, uma vez que essa buscará
direcioná-los, não apenas como educandos
em processos sistematizados, mas, como seres
humanos críticos, reflexivos e conscientes dos
seus atos perante a sociedade. Ao receberem
essa formação, com certeza irão entender que
a educação por si só, não mudará o mundo, VALDIRENE DE ALMEIDA JORGE E SENE
mas conseguirá mudar aquele que dela se Graduação em Pedagogia pela Universidade Cidade de São
apropria, para que dessa forma possa agir na Paulo – UNICID (2012); Licenciatura em Artes Visuais pela
Faculdade Mozarteum de São Paulo – FAMOSP (2017);
sociedade em que vive, transformando-a em Pós-Graduação Lato Sensu em Ludopedagogia pela Escola
um lugar melhor. Superior de Administração – HSM (2017); Professora de
Educação Infantil e Fundamental I na Prefeitura de São
Paulo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O POTENCIAL DAS COTAS PARA A REDUÇÃO


DO PRECONCEITO
RESUMO: Embora o Brasil seja um país marcado pela grande mistura de culturas e
raças, não se percebe um tratamento justo entre as etnias que nele vivem. Enquanto as
universidades e os órgãos públicos são majoritariamente ocupados por brancos, presídios
e penitenciárias estão repletos de negros. Diante desse cenário, uma das estratégias mais
usadas e mais polêmicas é a adoção de reservas de vagas para determinadas raças no
ingresso de universidades estatais e de carreiras públicas, o que é chamado de política de
cotas. Esse artigo tem como objetivo apreciar o mérito dessa ação afirmativa, apresentando
seus impactos positivos e negativos na sociedade. O tema ganha maior relevância quando
constatamos que as Universidades e os órgãos públicos de vários estados adotam o critério
racial em seus respectivos processos seletivos.

Palavras-Chave: Cotas raciais. Ações afirmativas. Universidades.

INTRODUÇÃO
Durante muito tempo, as desigualdades entre as etnias foram excluídas da agenda política,
sendo, quando muito, denunciadas pelas associações sociais do movimento negro, estudiosos e
ativistas.
A democratização das relações sociais no Brasil é um processo historicamente relacionado à
capacidade de luta e de organização da sociedade. Diante da diversidade de problemas e das
questões que se apresentam como desafios para a construção de uma sociedade mais justa, e
diante da negação de direitos e oportunidades para parcelas significativas da população brasileira

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Revista Educar FCE - Abril 2019

(o que acontece desde a colonização e atinge E esses custos englobam livros, material
preferencialmente alguns grupos sociais, como didático em geral, passagens, alimentação e em
os negros e índios), organizaram-se e continuam alguns casos, hospedagem nas proximidades
organizando-se vários movimentos sociais. da Universidade. Não é qualquer aluno (pelo
O mito da democracia racial brasileira revelou- menos a maioria, considerando as diferenças
se útil à dominação. Esse discurso contempla sociais em nosso país) que consegue arcar com
uma elite branca que, diferentemente de outros todas essas despesas.
países que institucionalizaram o racismo, Por isso, o acesso às Instituições Federais
camuflou essa dominação racial e produziu se torna mais cruel com o passar dos anos.
desigualdades que vitimaram negros e mestiços: A competitividade por vaga é muito alta.
É que, quando acreditamos que o Brasil E considerando a desigualdade, alunos de
foi feito de negros, brancos e índios, estamos escolas particulares possivelmente tem
aceitando sem muita crítica a ideia de que esses maiores chances e possibilidades de ingresso,
contingentes humanos se encontraram de ganhando vantagem sobre os da rede pública
modo espontâneo, numa espécie de carnaval (no geral, sofrem com as greves, escola com
social e biológico. Mas nada disso é verdade. estrutura sucateada e qualidade de ensino
O fato contundente de nossa história é que não tão priorizada). Por esses e vários outros
somos um país feito por portugueses brancos motivos, o Governo Federal instituiu as cotas
e aristocráticos, uma sociedade hierarquizada e nas universidades.
que foi formada dentro de um quadro rígido de Cotas Raciais consiste na prática de reservar
valores discriminatórios (Da Matta, l990, p. 46). uma parte de vagas do ensino público ou de
Enquanto 76% dos jovens brancos entre 15 trabalho para indivíduos de um mesmo grupo
e 17 anos estão matriculados no Ensino Médio, étnico desfavorecido.
esse número cai para 62% entre a população Este o tema que vivemos discutir nesta
preta - uma diferença de 14 pontos percentuais pesquisa., mostrando os pros e contra da lei
(p.p.). Ou seja, uma proporção maior de negros Lei nº 12.711/2012 que se refere as cotas nas
está em situação de atraso escolar (matriculado universidades.
na série inadequada para sua idade) ou fora É incontestável que o Brasil tem,
da escola. O levantamento é do Todos Pela constitucionalmente, o objetivo fundamental
Educação, com base em dados do Instituto de construir uma sociedade livre, justa e
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). solidária, assim como promover a redução
Ingressar na Universidade é o desejo de das desigualdades, sem preconceito de raça
muitos estudantes que esteja cursando o ensino ou qualquer outra forma de discriminação. A
médio – principalmente se ela for publica. Este questão a ser analisada neste trabalho é reflexão
desejo muitas vezes é barrado alto custo que da adoção de cotas raciais seria, de fato, uma
uma graduação pode ter. Afinal, arcar com os boa política para concretizar a integração do
custos de uma faculdade, na média de 4 a 6 negro nas universidades públicas.
anos de duração, dependendo do curso, não sai
nada barato.

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UMA ABORDAGEM SOBRE Universidade.


A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Após terem sido considerados como
propriedade por 350 anos - já que eram
DOS NEGROS escravizados, uma vez libertos, os negros
brasileiros foram empurrados para a
É muito recente, por parte das instituições informalidade e, diante da mobilidade social
de educação e pesquisa, a preocupação com mínima, eles se tornaram maioria entre os
o tema da educação dos negros brasileiros. segmentos mais vulneráveis em diferentes
Parte da ausência desses estudos justifica-se, áreas, incluindo a Educação. “Essa diferença
por um lado, pela carência de fontes, recurso na Educação é o produto dessa perspectiva
central para a história e os historiadores e, por de racismo estrutural”, afirma José Vicente.
outro, pelo desconhecimento das abordagens A mudança desse cenário passa pela
e práticas educativas dos pesquisadores e discussão aberta sobre o assunto. Apesar
movimentos sociais negros no país. disso, ¼ dos gestores escolares brasileiros
O Brasil, país com a segunda maior afirmaram, em 2015, que suas escolas não
população negra do mundo – atrás apenas da tinham projetos dentro da temática de
Nigéria –, conseguiu ao longo de sua história racismo, segundo dados da Prova Brasil.
produzir um quadro de extrema desigualdade O silenciamento desse assunto fortalece a
entre os grupos étnico-raciais negro e branco. desigualdade racial, pontua José Vicente
Até bem pouco tempo, o Estado brasileiro O racismo tem de ser passado a limpo. Tem
não incorporava as categorias racismo e de ser conhecido, debatido e combatido. É só
discriminação racial para explicar o fato de com o conhecimento de suas consequências
os negros responderem pelos mais baixos que poderemos construir uma sociedade
índices de desenvolvimento humano, e os em que a dignidade da pessoa humana
brancos pelos mais elevados. seja respeitada pelo Estado e por todos os
A despeito dessa brutal diferença a brasileiros.
resistência negra tem se fortalecido, a Embora o Brasil ainda não indique
ponto de atualmente não ser mais possível, diretamente a necessidade discutir o
num debate lúcido, a defesa da imagem da racismo nas escolas, a Lei 10.639 prevê
sociedade brasileira como um exemplo de a obrigatoriedade de conteúdos sobre a
democracia racial. história e cultura afro-brasileiras nas escolas
Por meio de pressão e atuação incessantes, de Educação Básica a fim de resgatar a
o movimento negro organizado denunciou contribuição do povo negro nas áreas social,
as condições de vida da população negra econômica e política pertinente à História
brasileira, evidenciando, entre outras coisas, do Brasil. Nessa perspectiva está inclusa a
que o acesso e a permanência dessas pessoas abordagem das lutas dos povos negros no
no sistema educacional é permeado por Brasil, temática que pode tratar do racismo.
uma série de entraves, entre eles a ausência Outra legislação educacional recente que toca
de políticas públicas de inserção social á no tema é a Base Nacional Comum Curricular

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(BNCC) que tem entre as competências a problemática da educação das crianças


especificas de História no 8° e 9° anos do escravizadas, libertas ou livres.
Ensino Fundamental o debate sobre racismo Algumas reflexões parecem necessárias
e darwinismo e direitos civis. quando se tenta compreender a invisibilidade
CERTEAU (1976) destaca o papel do dos negros nas abordagens históricas em
historiador e a importância das fontes no educação. Se por um lado esse fato pode
processo de produção de conhecimentos indicar inexistência da participação desse
históricos. Enquanto sujeito da pesquisa, o segmento em crescentes níveis de instrução
historiador transforma objetos em fontes ao longo da história do Brasil, por outro, pode
históricas, reorganiza instrumentos a partir demonstrar que mais uma vez não pareceu
de novas demandas sociais e faz a história relevante considerar os peculiares processos
ou refaz uma nova história. Por outro lado, as de acesso aos saberes formais instituídos.
fontes selecionadas influenciarão diretamente No que se refere propriamente à
o conhecimento que se produz. Nas palavras escolarização dos negros, segundo os
do autor: modelos oficiais, percebe-se que eles sempre
estiveram em contraponto a afirmações que
Colecionar foi durante longo tempo alegam sua incapacidade para a vivência bem
fabricar objetos: copiar ou imprimir, sucedida de experiências escolares e sociais.
reunir, classificar. E com os objetos por ele Tal fato pode ser comprovado pela ascensão
multiplicados, o colecionador torna-se um de uma intelectualidade negra desde o
ator num encadeamento de uma história a ser período republicano que, via domínio da
feita (ou refeita) segundo novas pertinências escrita, atingiu espaços sociais dos quais os
intelectuais e sociais. Dessa forma, a coleção, brancos pareciam detentores absolutos.
ao produzir uma subversão dos instrumentos Apesar de a história da educação brasileira
de trabalho, redistribui as coisas, redefine ter funcionado como um dos veículos de
as unidades do saber, instaura um lugar continuísmo da reprodução do tratamento
de recomeço ao construir uma ‘gigantesca desigual relegado aos negros na sociedade
máquina’ (Pierre Chaunu) que tornará possível brasileira, não se pode negar que existe uma
uma outra história (CERTEAU, 1976, p. 31). história da educação e da escolarização das
Explicar a precária situação educacional camadas afrobrasileiras.
dos negros brasileiros, a partir dos dois Essa história tem sido resgatada por
eixos que a tem estruturado - exclusão e pesquisadores, grande parte de origem
abandono. Examinando as políticas de oferta afrodescendente, que têm procurado
de educação nos séculos XIX e XX deixa evidenciar informações que retratam as
evidente a constante omissão do Estado em relações educativas do negro com as escolas
relação à população negra, embora a ameaça oficiais e com o próprio movimento negro
de extinção do escravismo e as bruscas brasileiro.
mudanças na organização do trabalho no país É inerente a importância das organizações
tenham forçado a incluir, nas discussões, negras na luta pelo direito à educação, seja

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combatendo o analfabetismo, incentivando e seus desdobramentos na vida e no exercício


os negros a se educarem, seja criando de direitos de milhares de descendentes da
aulas, cursos de ensino regular e de outras Diáspora Negra.
modalidades de ensino, apesar das dificuldades Ao analisarmos índices de frequência
para mantê-los. A lei de Cotas vem da luta dos da população negra nas universidades
movimentos e organizações negras. percebemos uma discrepância nos dados. A
(...) o Movimento Negro e a organização educação pode ser unilateral e incompleta
de mulheres negras têm sido, nas últimas se não levar em conta os pressupostos
décadas, referências estratégicas para a multiculturais. A escola deve estar preparada
abertura de canais de negociação com o para trabalhar com as diferenças.
Estado e a sociedade, o que tem possibilitado É necessário estabelecer estratégias para
o desenvolvimento das políticas de igualdade a desagregação de processos legitimadores
racial, sob a forma de ações afirmativas, de relações hierárquicas que se dão pela
visando atender às necessidades históricas da cor da pele. A dificuldade para isto reside na
população negra brasileira (RIBEIRO, 2014, existência de um senso comum que muitas
p.31). vezes não reconhece o racismo. Ninguém
Os indicadores que confirmam as se considera agente ativo de atitudes e
desigualdades raciais na estrutura da comportamentos discriminatórios e racistas.
sociedade brasileira comprometem a busca (CANDAU p..29)
por referenciais positivos. Considerando-se Para avançarmos neste debate, pretendo
que, do total dos universitários brasileiros, provocar reflexões acerca das cotas raciais
97% são brancos, sobre 2% de negros e 1% como elementos que buscam corrigir as
de descendentes de orientais; que dos 22 distorções embrionárias na história dos afro-
milhões de brasileiros que vivem abaixo da brasileiros, mas que esbarram em obstáculos
linha da pobreza, 70% deles são negros; que que estão inseridos no próprio grupo étnico,
dos 53 milhões de brasileiros que vivem na em outros momentos, colocados pela classe
pobreza, 63% deles são negros. (Henriques, dominante que objetivam conservar os
2001). próprios privilégios.

O quadro abissal da desigualdade existente LEI DE COTAS


entre os segmentos negro e branco – no
que diz respeito aos níveis de escolaridade,
mercado de trabalho, analfabetismo e
tratamento diferenciado no tocante às Na sociedade brasileira são intrínsecas
oportunidades – é analisado em geral, através as relações entre exclusão, preconceito e
de fatores socioeconômicos. Entretanto, discriminação, pois, como prática comum, a
muitas destas concepções desconsideram os diferença se reconfigura em desigualdade,
processos históricos vivenciados pelos negros em algumas situações de forma muito clara

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e em outras de forma sutil e complexa. Esta


prática cotidiana aparece nos mais diferentes As vagas reservadas às cotas (50% do total
espaços sociais, isso se vê claramente nas de vagas da instituição) serão subdivididas —
Universidades. metade para estudantes de escolas públicas
As cotas foram usadas por diversos países com renda familiar bruta igual ou inferior a
a fim de corrigir desigualdades étnicas e um salário mínimo e meio per capita e metade
socioeconômicas. Da mesma forma, elas fazem para estudantes de escolas públicas com
parte de políticas afirmativas que visam dar renda familiar superior a um salário mínimo e
oportunidade as minorias que historicamente meio.
sofreram algum prejuízo durante a formação Em ambos os casos, também será levado
de um Estado. em conta percentual mínimo correspondente
Esta ação também é chamada de ao da soma de pretos, pardos e indígenas
“discriminação positiva”. A expressão une dois no estado, de acordo com o último censo
termos contraditórios, pois toda discriminação demográfico do Instituto Brasileiro de
prejudica o indivíduo. Geografia e Estatística (IBGE).
No entanto, o termo é empregado Para ser considerado egresso de escola
para descrever quando se privilegia um pública, o estudante deve ter cursado o
determinado grupo racial, cultural, étnico, ensino médio em escola pública ou ter
com cotas e mecanismos de ascensão social obtido certificação do Enem, Encceja e
com o objetivo de integrá-lo à sociedade. demais realizadas pelos sistemas estaduais,
A Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012) traz tendo cursado o ensino fundamental em
condições aos alunos de escolas públicas estabelecimento público. O estudante não
ingressarem em Universidades Federais pode ter cursado escola particular em nenhum
,dando direito a percentual de vagas aos momento.
estudantes que cursaram todo o ensino médio A lei já vale para os vestibulares das
em escolas públicas. instituições e também para o Sistema de
A Lei nº 12.711/2012, define as condições Seleção Unificada (Sisu) do Ministério da
gerais de reservas de vagas, estabelece Educação. As instituições federais de ensino
a sistemática de acompanhamento das que adotam diferentes processos seletivos
reservas de vagas e a regra de transição para precisam observar as reservas de vagas em
as instituições federais de educação superior. cada um destes processos.
Há, também, a Portaria Normativa nº 18/2012, O critério da raça será autodeclaratório,
do Ministério da Educação, que estabelece os como ocorre no censo demográfico e em toda
conceitos básicos para aplicação da lei, prevê política de afirmação no Brasil. Já a renda
as modalidades das reservas de vagas e as familiar per capita terá de ser comprovada por
fórmulas para cálculo, fixa as condições para documentação, com regras estabelecidas pela
concorrer às vagas reservadas e estabelece instituição e recomendação de documentos
a sistemática de preenchimento das vagas mínimos pelo MEC.
reservadas. O governo federal deve garantir a

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permanência dos estudantes cotistas na A lei das cotas nada mais é que uma rampa
universidade. A política de assistência para facilitar o acesso das classes menos
estudantil foi reforçada. Desde o orçamento favorecidas. É mais uma oportunidade para os
de 2013 já estava previsto um aumento para o mais pobres terem acesso o ensino superior.
Programa Nacional de Assistência Estudantil A aprovação de cotas raciais provocou -
(Pnaes). e ainda provoca - um intenso debate na
O MEC articulou com os reitores a política sociedade brasileira. Selecionamos alguns dos
de acolhimento dos alunos cotistas, que argumentos a favor e contra desta questão:
também gira em torno da política de tutoria
e nivelamento.
Foram mantidas as iniciativas já existentes, A FAVOR DAS COTAS
desde que as exigências da lei, ou seja, 12,5% RACIAIS
das vagas, sejam implementadas conforme o
Congresso Nacional estabeleceu. Então, no O curso universitário é um dos que mais
mínimo, esses 12,5% têm que corresponder favorece a ascensão social e a maioria dos
integralmente aos critérios da lei. A partir alunos das universidades brasileiras são
desse 12,5%, podem ser criados critérios estudantes brancos.
adicionais. O Brasil tem uma dívida histórica com a
A Lei de Cotas determina o mínimo de população negra por conta da escravidão.
aplicação das vagas, mas as universidades Ajuda a promover a diversidade étnica em
federais têm autonomia para, por meio de profissões que são ocupadas tradicionalmente
políticas específicas de ações afirmativas, por brancos.
instituir reservas de vagas suplementares. O Dá exemplo para que outros jovens negros e
acompanhamento fica a cargo de um comitê indígenas sintam-se motivados para ingressar
composto por representantes do Ministério na universidade.
da Educação, da Secretaria de Políticas de Como as cotas raciais promovem a
Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e da convivência entre vários grupos étnicos, isto
Fundação Nacional do Índio (Funai), com a ajuda a diminuir o racismo.
participação de representantes de outros As cotas no Brasil não beneficiam apenas
órgãos e entidades e da sociedade civil. negros. Na Região Norte, por exemplo, as
A aprovação de uma lei desse tipo é uma cotas raciais são concedidas aos indígenas e
demandou de muito tempo. Podemos fazer em algumas outras universidades para pardos.
uma analogia desse projeto com as leis que Muitos alegam ainda que a tal política fomenta
determinam um tratamento diferenciado a o racismo e coloca os negros numa posição de
deficientes, idosos e gestantes. Ninguém inferioridade aos demais não cotistas, tendo
questiona a necessidade de instalação de em vista que assumiram a vaga pela cota, e
rampas para facilitar o acesso de idosos e não por merecimento e bom desempenho
deficientes. em processo seletivo. Entretanto, esta uma
avalição que nega o processo histórico que

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resultou nos dias de hoje. Para quem é contra as cotas, a


Uma das características perversas da adoção de vagas reservadas a negros é a
classe dominante brasileira é a difusão institucionalização do racismo, reforçando a
do pensamento de que os negros são os crença de que há raças inferiores.
responsáveis pela situação marginal em que a De acordo com a pesquisadora Azevedo(
maioria se encontra e, por essa razão, qualquer 2004) ,
medida oriunda do Estado para alterar esse essa estratégia consiste num modo errado
aspecto não tem justificativa aceitável. de consertar uma situação discriminatória
por meio de uma discriminação. Os cotistas
ingressantes poderiam ter uma convivência
CONTRA AS COTAS RACIAIS separada na vida acadêmica, fomentando
assim o preconceito racial. Não há diferença
física ou intelectual entre as etnias, a
Como qualquer ação, o sistema de cotas dificuldade de acesso de um grupo ao ensino
sofreu muitas críticas desde que foi permitido. superior não se dá em razão da cor da pele, mas
Entre as principais, destacam-se o fato de sim pela baixa qualidade de ensino recebido,
algumas pessoas considerarem que cotistas o que atinge primordialmente os pobres e não
pudessem tomar vagas de quem tira nota exclusivamente os negros. (Azevedo, 2004 p.
maior. 213.)
Os cotistas roubam a vaga daqueles que Muitos alegam que as cotas aumentam o
não foram contemplados por este sistema. racismo e que são prejudiciais para os próprios
Muitos não se sentem responsáveis por negros, já que os estigmatizam como sendo
aquilo que aconteceu no passado. incompetentes e não merecedores do lugar
As cotas dariam mais chances para os que ocupam nas universidades. Contudo, tem
negros, pois eles não precisam estudar para sido frequente a discussão sobre ser contra
passar no Vestibular. ou a favor de cotas raciais para negros nas
As cotas vão contra a meritocracia e Universidades. O argumento mais utilizado
favorecem o racismo, ao invés de suprimi-lo. pelas pessoas que são contra diz tratar-se
O sistema de cotas fará cair a qualidade do de um “privilégio” que permitiria aos negros
ensino superior. usurpar vagas que seriam destinadas a pessoas
com maior conhecimento e capacidade de
Com a adoção das cotas sociais pelas produção acadêmica.
universidades, percebe-se que há uma Argumentações deste tipo não são
institucionalização do racismo, pois, por não frequentes entre a população negra e, menos
haver nenhuma diferença física ou intelectual ainda, entre os alunos e alunas cotistas. As
entre os negros e o resto da população cotas são consideradas por eles, como uma
brasileira que justifique um tratamento vitória democrática, não como uma derrota
diferenciado, o que deve ser combatido é o na sua autoestima, ser cotista é hoje um
preconceito.

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orgulho para estes alunos e alunas. Porque, Como as cotas raciais promovem a
nessa condição, há um passado de lutas, convivência entre vários grupos étnicos, isto
de sofrimento, de derrotas e, também, de ajuda a diminuir o racismo.
conquistas. Há um compromisso assumido. As cotas no Brasil não beneficiam apenas
Há um direito realizado. negros. Na Região Norte, por exemplo, as
Hoje, como no passado, os grupos cotas raciais são concedidas aos indígenas e
excluídos e discriminados se sentem mais em algumas outras universidades para pardos.
e não menos reconhecidos socialmente Muitos alegam ainda que a tal política fomenta
quando seus direitos são afirmados, quando o racismo e coloca os negros numa posição de
a lei cria condições efetivas para lutar inferioridade aos demais não cotistas, tendo
contra as diversas formas de segregação. A em vista que assumiram a vaga pela cota, e
multiplicação, nas nossas universidades, de não por merecimento e bom desempenho
alunos e alunas pobres, de jovens negros e em processo seletivo. Entretanto, esta uma
negras, de filhos e filhas das mais diversas avalição que nega o processo histórico que
comunidades indígenas é um orgulho para
todos eles. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sistema de cotas no Brasil surgiu com
a Constituição de 1988 que contém uma A exclusão educacional no Brasil é um
lei que garantia uma reserva de vagas para processo histórico e de longa duração.
pessoas portadoras de deficiências físicas em Superamos a exclusão explícita do sistema
empresas privadas e públicas. formal dos tempos coloniais e avançamos
para a “universalização do ensino”. A oferta
O POTENCIAL DAS COTAS de educação para todos, discurso corrente
nas políticas governamentais, está longe
PARA A REDUÇÃO DO de atender nossa diversidade sóciocultural.
PRECONCEITO A expansão do ensino e a consequente
O curso universitário é um dos que mais ampliação de vagas na escola pública
favorece a ascensão social e a maioria dos promoveram um fosso ainda maior entre
alunos das universidades brasileiras são os modelos de educação, fortalecendo a
estudantes brancos. criação de uma escola dualista: a que oferece
O Brasil tem uma dívida histórica com a formação que pode se estender até os graus
população negra por conta da escravidão. superiores para uma elite e a que se restringe
Ajuda a promover a diversidade étnica em ao aprendizado elementar da leitura e
profissões que são ocupadas tradicionalmente escrita e ao possível encaminhamento para
por brancos. profissionalização, reservada a maior parte
Dá exemplo para que outros jovens negros e da população brasileira (Aranha, 1996).
indígenas sintam-se motivados para ingressar
na universidade.

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VALDIRENE BRITO TEIXEIRA CESAR


Graduação em Normal superior Faculdade Uniararas
(2007);Graduação em Letras pela Faculdade Campos Sales
(2017). Pós graduação em Educação Ambiental.(2017)
pela Faculdade Campos Sales .Professor de Educação
Infantil CEI Parque Cocaia

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO
INCLUSIVO NA ESCOLA PÚBLICA
RESUMO: Este artigo apresenta de forma resumida alguns aspectos legais no que tange a
educação inclusiva e sua democratização na escola pública e algumas reflexões acerca deste
tema tão atual. A Constituição Federal garante a educação para todos e para atingir o pleno
desenvolvimento humano e o preparo para a cidadania, entende-se que essa educação
não pode se realizar em ambientes segregados. Aqueles com necessidades educacionais
especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma
Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer as tais necessidades. Escolas regulares
que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes
discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva
e alcançando educação para todos.

Palavras-Chave: Legislação; Educação Inclusiva; Democratização

INTRODUÇÃO
O presente trabalho se desenvolveu por meio de pesquisas bibliográficas embasadas
na LDB, em autores que tratam da questão da inclusão como Maria Teresa Égler Mantoan,
e em documentos como a Declaração de Salamanca e Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
O documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva aponta que o movimento mundial pela inclusão é uma ação política, cultural,
social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem

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Revista Educar FCE - Abril 2019

juntos, aprendendo e participando, INTRODUÇÃO


sem nenhum tipo de discriminação. A
educação inclusiva constitui um paradigma No contexto atual vivenciamos um tema
educacional fundamentado na concepção muito debatido que é a democratização
de direitos humanos, que conjuga igualdade do ensino público, ou seja, a escola que
e diferença como valores indissociáveis, e contempla a inclusão de todos seus alunos.
que avança em relação à ideia de equidade A nossa escola sempre foi marcada pelo
formal ao contextualizar as circunstâncias fracasso e pela evasão de uma parte
históricas da produção da exclusão dentro significativa dos seus alunos, que são muitas
e fora da escola. vezes marginalizados pelo insucesso, e tem
Segundo Mantoan (2006:16) “A exclusão baixa auto estima resultantes dessa exclusão
escolar se manifesta das mais diversas e escolar e social, em geral são alunos vítimas
perversas maneiras, e quase sempre o que de inúmeras situações que colaboram para
está em jogo é a ignorância do aluno diante seu fracasso entre eles destaco algumas
dos padrões de cientificidade do saber. como as condições de pobreza em todos os
Ocorre que a escola se democratizou, seus sentidos, dos pais, dos professores, e
abrindo-se a novos grupos sociais, mas não do sistema escolar, porém as soluções para
aos novos conhecimentos. Por isso exclui reversão desse quadro preveem ações e
os que ignoram o conhecimento que ela medidas que não vão ao fundo nas causas
valoriza e, assim, entende que a democracia que geram esse fracasso, e que rotula o aluno
é massificação de ensino. “ como sendo a causa de seu próprio fracasso,
Desta forma, ao reconhecer que as sem questionar ou apontar a escola como
dificuldades evidenciam a necessidade de sendo responsável por este fracasso.
confrontar as práticas discriminatórias e A LDB 9394/96 traz em seu artigo 1: “ A
criar alternativas para superá-las, a educação educação abrange os processos formativos
inclusiva assume espaço central no debate que se desenvolvem na vida familiar, na
acerca da sociedade contemporânea e do convivência humana, no trabalho, nas
papel da escola na superação da lógica da instituições de ensino e pesquisa, nos
exclusão. A partir dos referenciais para movimentos sociais e organizações da
a construção de sistemas educacionais sociedade civil e nas manifestações culturais.
inclusivos, a organização de escolas e Em seu artigo 2 que trata dos Princípios e fins
classes especiais passa a ser repensada, da Educação Nacional traz que: a educação,
implicando uma mudança estrutural e dever da família e do Estado, inspirada
cultural da escola para que todos os alunos nos princípios de liberdade e nos ideais de
tenham suas especificidades atendidas. solidariedade humana, tem por finalidade o
pleno desenvolvimento do educando, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. No artigo 4 desta

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Revista Educar FCE - Abril 2019

mesma Lei traz o tema Do Direito à Educação especial é responsável pelos serviços no qual
e do Dever de Educar que cita: O dever do seus alunos público alvo possam necessitar,
Estado com a educação escolar pública será Dentre seus serviços, a política orienta para o
efetivado mediante a garantia de: I – ensino AEE Atendimento Educacional Especializado,
fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive que assegura que os alunos aprendam o que
para os que a ele não tiveram acesso na é diferente do currículo do ensino comum, no
idade própria, III – atendimento educacional entanto são necessários para que estes alunos
especializado gratuito aos educandos possam ultrapassar as barreiras impostas pela
com necessidades educacionais especiais, deficiência.
preferencialmente na rede regular de ensino. O conceito de educação segundo Priscila
O preferencialmente, refere-se a atendimento Silva e Andréa Vital pode ser entendido como o
educacional especializado, ou seja, o que é processo de inclusão de todos aqueles que, por
necessário para que o ensino atenda melhor algum motivo estiveram excluídos do sistema
às especificidades de sua clientela com regular de ensino: pessoas com deficiência,
deficiência, contemplando os instrumentos transtornos globais do desenvolvimento,
necessários a eliminação das barreiras que as superdotação, dificuldade de aprendizagem,
pessoas com deficiência naturalmente têm problemas de comportamento, etc. Entende-
para relacionar-se com o ambiente externo. se por escola inclusiva, uma escola na qual o
Dentro da concepção inclusiva e na processo educativo é construído objetivando
legislação, esse atendimento especializado garantir que todas as crianças tenham o
deve estar disponível em todos os níveis direito ao aprendizado de qualidade na escola
de ensino, e de preferência na rede regular comum.
de ensino, desde a educação infantil até a A LDB tem o capítulo 5 voltado para a
universidade. E ressalta que a escola comum Educação Especial em seus artigos 58, 59 e 60
é ambiente mais adequado para se garantir e em resumo estes trazem que o atendimento
o relacionamento dos alunos com ou sem educacional será feito em classes, escolas
deficiência e de mesma faixa etária. ou serviços especializados, sempre que, em
Outro documento que aborda a inclusão função das condições específicas dos alunos,
de alunos com necessidades especiais é a não for possível a sua integração nas classes
Política da Educação Especial na Perspectiva comuns de ensino regular. Os sistemas
de Educação Inclusiva que assegura o direito de ensino assegurarão aos educandos
de toda criança frequentar a escola comum, com necessidades especiais: currículos,
trazendo de forma clara ações que são de métodos, técnicas, recursos educativos e
competência da educação especial daquelas organização específicos, para atender às suas
que são de competência do ensino comum, especificidades; terminalidade específica
sendo que o ensino comum é o responsável para aqueles que não puderem atingir o
pela escolarização de “todos” os alunos nas nível exigido para a conclusão do ensino
classes comuns de ensino, já a educação fundamental em virtude de suas deficiências

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Revista Educar FCE - Abril 2019

e aceleração para concluir em menor tempo O acesso a todas as séries do ensino


o programa escolar para os superdotados; fundamental (obrigatório) deve ser
professores com especialização adequada em incondicionalmente garantido a todos.
nível médio ou superior, para o atendimento E para que isto ocorra, a LDB traz os
especializado, bem como professores do critérios de avaliação e promoção com
ensino regular capacitados para a integração base no aproveitamento escolar, devem
desses educandos nas classes comuns. ser reorganizados, de forma a cumprir os
Educação especial para o trabalho visando princípios constitucionais da igualdade de
a sua efetiva integração na vida em sua direito ao acesso e à permanência na escola
sociedade, inclusive condições adequadas básica, bem como de acesso aos níveis mais
para os que não revelarem capacidade de elevados do ensino, da pesquisa e da criação
inserção no trabalho competitivo; acesso artística, segundo a capacidade de cada um.
igualitário aos benefícios dos programas Os serviços de apoio especializados,
sociais suplementares disponíveis para o tais como os de intérpretes de língua de
respectivo nível do ensino regular. sinais, aprendizagem do sistema de braile
A LDB e a Constituição admitem que o e outros recursos especiais de ensino e de
atendimento educacional especializado, aprendizagem, não substituiriam, as funções
também podem ser oferecidos fora da rede do professor regente da sala de aula da escola
regular de ensino, em qualquer instituição, comum.
e seria apenas um complemento e não um Maria Teresa E. Mantoan têm várias obras
substitutivo, do ensino ministrado na rede que tratam reflexivamente sobre a inclusão,
regular para todos os alunos, porém a LDB, a autora é favorável a inclusão e ressalta que
admite a substituição do ensino regular a escola prepara para o futuro e as crianças
pelo ensino especial para os portadores de precisam aprender nessa escola a valorizar e
deficiência, justamente por este atendimento a conviver com estas diferenças nas salas de
referir-se ao oferecimento de instrumentos aulas.
de acessibilidade á educação. A autora traz que atualmente vivemos na
Para os que defendem a inclusão escolar escola um momento onde esta se vê cheia
segundo Mantoan, se torna indispensável do formalismo da racionalidade e cindiu-se
que os estabelecimentos de ensino eliminem em modalidade de ensino, tipos de serviço,
barreiras arquitetônicas e adotem práticas grades curriculares, burocracia, e para que
de ensino adequadas às diferenças dos haja uma ruptura de base em sua estrutura
alunos em geral, oferecendo alternativas que organizacional, e esta possa fluir novamente,
contemplem a diversidade, além de recursos espalhando uma ação formadora para todos
de ensino e equipamentos especializados que os que dela participam, a inclusão é a saída,
atendam a todas as necessidades educacionais porém para que aconteça a inclusão deve-se
dos educandos, com ou sem deficiências, mas ocorrer uma mudança nesse paradigma na
sem discriminações. qual a escola está imersa, e corrobora que as

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diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, a democratização é massificação de ensino,


de gênero, ou seja, a diversidade humana está e não cria a possibilidade de diálogo entre
sendo cada vez mais desvelada e destacada os diferentes lugares de conhecimento, não
e é uma condição essencial para entender a se abrindo a novos conhecimentos que não
maneira como aprendemos e compreendemos couberam dentro dela.
o mundo e a nós mesmos. A forma como o conhecimento é tratado
Mantoan aponta que um novo paradigma no contexto escolar subdividido em áreas
do conhecimento está surgindo das interfaces específicas se torna segundo Mantoan uma
e das novas conexões que se formam entre grande barreira para os que pretendem
saberes outrora isolados e partidos e dos inovar a escola. Nesse sentido reforça a
encontros da subjetividade humana com o autora que é imprescindível questionar
cotidiano, o social, o cultural. Onde redes cada este modelo de compreensão que nos foi
vez mais complexas de relações, geradas pela imposto durante nossa formação e que
velocidade das comunicações e informações, ainda prossegue nos níveis de ensino mais
estão rompendo as fronteiras das disciplinas e graduados. Essa trajetória escolar precisa ser
estabelecendo novos marcos de compreensão repensada, considerando os efeitos cada vez
entre as pessoas e do mundo em que vivemos. mais nefastos das hiperespecializações dos
Sendo assim, com tantas transformações saberes, que nos dificultam a articulação de
ocorrendo no mundo atual, a escola não pode uns com os outros e de termos igualmente
ficar inerte e ignorar esses acontecimentos, uma visão do essencial e do global.
e marginalizar e ignorar as diferenças nos Segundo Mantoan o ensino, da forma
processos pelos quais forma e instrui os como é ministrado hoje em nossas escolas,
alunos. A escola não pode desconhecer que organizado em disciplinas, isola, separa
aprender implica ser capaz de expressar, os conhecimentos, em vez de reconhecer
dos mais variados modos, o que sabemos, suas relações. Os sistemas de ensino estão
aprender envolve representar o mundo a montados a partir de um pensamento que
partir de nossas origens, de nossos valores e recorta a realidade, que permite dividir alunos
sentimentos. em normais e deficientes, as modalidades de
A autora frisa que a exclusão escolar se ensino em regular e especial, os professores em
manifesta das mais diversas e perversas especialistas nesta e naquela manifestação das
maneiras, e quase sempre o que está em diferenças. Em contrapartida, o conhecimento
jogo é a ignorância do aluno diante dos evolui por recomposição, contextualização
padrões de cientificidade do saber escolar. e integração de saberes em redes de
E aponta que a escola se democratizou conhecimento. E essa forma de organização
abrindo-se para novos grupos sociais, mas escolar é marcada por uma visão determinista,
não aos novos conhecimentos. Desta forma, mecanicista, formalista, reducionista, própria
a escola acaba excluindo os que ignoram o do pensamento científico moderno, que
conhecimento que ela valoriza e entende que ignora o subjetivo, o afetivo, o criador, desta

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forma, se torna difícil que a inclusão realmente de alunos, que já foi anteriormente excluído.
aconteça no âmbito escolar. A autora aponta A inclusão por sua vez, não deixa ninguém no
que para que a escola seja de fato inclusiva, exterior do ensino regular. As escolas inclusivas
é urgente que seus planos se redefinam para propõem um modo de organização do sistema
uma educação voltada para a cidadania global, educacional que considera as necessidades de
plena, livre de preconceitos e que reconhece todos os alunos e que é estruturado em função
e valoriza as diferenças. dessas necessidades. A inclusão questiona as
Mantoan também aborda dois vocábulos políticas e a organização da educação especial
atuais e atuantes em nossa sociedade são eles e da regular, mas também o próprio conceito
“integração e inclusão”, que embora tenham de integração, e prevê a inserção escolar
significados semelhantes são empregados para de forma radical, completa e sistemática,
expressar situações de inserção diferentes e onde todos os alunos, sem exceção, devem
seus fundamentos teórico-metodológicos são frequentar as salas de aula do ensino regular,
divergentes. Desta forma, segundo Mantoan, a inclusão
A autora esclarece que integração se implica uma mudança de perspectiva
refere à inserção de alunos com deficiência educacional, pois não atinge apenas alunos com
nas escolas comuns, mas seu emprego dá- deficiência e os que apresentam dificuldades
se também para designar alunos agrupados de aprender, mas todos os demais, para que
em escolas especiais para pessoas com obtenham sucesso na corrente educativa
deficiência, ou mesmo em classes especiais, geral.
grupos de lazer ou residências para deficientes. De acordo com Mantoan a inclusão total e
Pela integração escolar, o aluno tem acesso às irrestrita é uma oportunidade para reversão
escolas por meio de um leque de possibilidades da situação das maiorias das nossas escolas,
educacionais, que vai da inserção às salas de que atribuem aos alunos as deficiências que
aula do ensino regular ao ensino em escolas são do próprio ensino ministrado por elas,
especiais. e enfatiza que avalia-se sempre o que o
Nas situações de integração escolar, há aluno aprendeu, o que ele não sabe, porém
uma seleção prévia dos alunos que são aptos raramente se analisa o que e como a escola
à inserção, desta forma, nem todos os alunos ensina.
com deficiência cabem nas turmas de ensino Mantoan aponta que ao avaliarmos
regular, e para esses casos, são indicados a propostas de ação educacional que visam à
individualização dos programas escolares, inclusão, habitualmente encontraremos nas
currículos adaptados, avaliações especiais, ou orientações dessas ações, dimensões éticas
seja, a escola não muda como um todo, mas os conservadoras, e em geral, essas orientações,
alunos é que precisam mudar para se adaptar são expressas pela tolerância e pelo respeito ao
às suas exigências. outro, sentimentos esses que segundo a autora
Mantoan ressalta que o objetivo da precisam ser analisados com mais cuidado,
integração é inserir um aluno, ou um grupo para entender o que podem esconder em suas

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Revista Educar FCE - Abril 2019

intenções. E destaca que a tolerância, como pela igualdade de oportunidades é fazer a


um sentimento aparentemente generoso, diferença, reconhecê-la e valorizá-la. Sendo
pode marcar uma certa superioridade de quem assim, devemos reconhecer as diferentes
tolera. O respeito, como conceito, envolve um culturas, a pluralidade das manifestações
certo essencialismo, uma generalização, que intelectuais, sociais e afetivas, enfim temos de
vem da compreensão de que as diferenças construir uma nova ética escolar.
são fixas, definitivamente estabelecidas, de De acordo com Mantoan não adianta
tal modo que só nos resta respeitá-las. admitir o acesso de todos às escolas, sem
A ética, em sua dimensão crítica e garantir o prosseguimento da escolaridade
transformadora, é que referenda nossa luta até o nível que cada aluno for capaz de atingir.
pela inclusão escolar. Nossas ações educativas A inclusão deriva de sistemas educativos que
como eixos o convívio com as diferenças e a não são recortados nas modalidades regular
aprendizagem como experiência relacional, e especial, pois ambas se destinam a receber
participativa, que produz sentido para o aluno, alunos aos quais impomos uma identidade,
pois contempla sua subjetividade, embora uma capacidade de aprender, de acordo com
construída no coletivo das salas de aula. suas características pessoais.
A inclusão é produto de uma educação A inclusão é uma inovação que segundo a
plural, democrática e transgressora, segundo autora implica um esforço de modernização
Mantoan, pois provoca uma crise escolar, uma e de reestruturação das condições atuais da
crise de identidade institucional, que abala a maioria de nossas escolas (especialmente
identidade dos professores e faz que com que as de nível básico), ao assumirem que as
a identidade do aluno seja ressignificada. O dificuldades de alguns alunos não são apenas
aluno da escola inclusiva é outro sujeito, que deles, mas resultam, em grande parte, do
não tem uma identidade fixada em modelos modo como o ensino é ministrado e de como
ideais, permanentes, essenciais. a aprendizagem é concebida e avaliada.
Desta forma, de acordo com a autora, o Mantoan ressalta que a escola aberta a
direito à diferença nas escolas desconstrói, todos é o grande alvo e, ao mesmo tempo,
portanto, o sistema atual de significação o grande problema da educação nestes
escolar excludente, normativo, elitista, novos tempos. Mudar a escola é enfrentar
com suas medidas e seus mecanismos de muitas frentes de trabalho, cujas tarefas
produção da identidade e da diferença. E se fundamentais são: recriar o modelo educativo
a igualdade é referência, podemos inventar escolar, tendo como eixo o ensino para todos;
o que quisermos para agrupar e rotular os reorganizar pedagogicamente as escolas,
alunos como Portadores de Necessidades abrindo espaços para que a cooperação, o
Educacionais Especiais, como deficientes. Mas diálogo, a solidariedade, a criatividade e o
se o parâmetro é a diferença, não podemos espírito crítico sejam exercitados nas escolas,
fixar a igualdade como norma. Contrariar por professores, administradores, funcionários
a perspectiva de uma escola que se pauta e alunos, porque são habilidades mínimas para

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Revista Educar FCE - Abril 2019

o exercício da verdadeira cidadania; garantir dificuldade de aprender. Os alunos aprendem


aos alunos tempo e liberdade para aprender, nos seus limites, e se o ensino for de fato de
bem como um ensino que não segrega e boa qualidade, o professor levará em conta
que reprova a repetência; formar, aprimorar esses limites e explorará convenientemente
continuamente e valorizar o professor, para as possibilidades de cada um. Não se trata
que tenha condições e estímulo para ensinar de uma aceitação passiva do desempenho
a turma toda, sem exclusões e exceções. escolar, e sim de agirmos com realismo
Um dos principais desafios para o e coerência e admitirmos que as escolas
estabelecimento de uma escola inclusiva existem para formar as novas gerações, e não
diz respeito à necessidade de uma mudança apenas alguns de seus futuros membros, os
dos papéis tradicionais dos professores e da mais capacitados e privilegiados.
equipe técnica da escola, segundo Priscilla Nesse sentido a autora destaca o papel do
Silva e Andréa Vital, é obrigação do Estado professor, como quem engendra e participa
(e da sociedade) fornecer a estes um suporte da caminhada do saber com seus alunos
apropriado que os habilite a compreender a consegue entender melhor as dificuldades
inclusão e os desafios a serem enfrentados e as possibilidades de cada um e provocar
na sua implementação nas escolas através de a construção do conhecimento com maior
diversos mecanismos e instrumentos. adequação.
As autoras acima destacam que apesar A autora também traz que as escolas de
das resoluções e decretos possibilitarem o qualidade são espaços de construção de
acesso e a permanência desses alunos nas personalidades humanas autônomas, críticas,
escolas regulares, esse ainda é um grande espaços onde crianças e jovens aprendem a
desafio para educação, pois a inclusão não ser pessoas. Nesses ambientes educativos,
se impõe por meios legais, ela deve ser uma ensinam-se os alunos a valorizar a diferença
conquista social. A inclusão propõe promover pela convivência com seus pares, pelo exemplo
um conjunto onde coexistem as diferenças de seus professores, pelo ensino ministrado
e as singularidades. A sala regular de ensino nas salas de aula, pelo clima sócio afetivo das
deve ser, um lugar formado pelas diferenças. relações estabelecidas em toda a comunidade
Para que isto ocorra, o processo de inclusão escolar sem tensões competitivas, mas com
implica na construção cotidiana de um espírito solidário, participativo.
coletivo educacional onde as singularidades e Transformar a escola segundo Figueiredo
as diferenças possam conviver. Essa proposta significa “ criar condições para que todos
exige uma série de modificações a fim de os alunos possam atuar efetivamente nesse
tornar a escola acolhedora e responsiva a espaço educativo, focando as dificuldades
todos os alunos. do processo de construção para o ambiente
Mantoan afirma que a inclusão não prevê escolar e não para as características
a utilização de práticas de ensino escolar particulares dos alunos. “
específicas para esta ou aquela deficiência e ou

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Revista Educar FCE - Abril 2019

CONSIDERAÇÕES FINAIS uma inovação que implica um esforço de


modernização das condições atuais da maioria
De acordo com Mantoan (2006:16) “os de nossas escolas, especialmente as de nível
sistemas escolares estão montados a partir básico que ao assumirem que as dificuldades
de um pensamento que recorta a realidade, de alguns alunos não são apenas deles, mas
que permite dividir os alunos em normais resultam em parte do modo como o ensino
e deficientes, as modalidades de ensino é ministrado e de como a aprendizagem é
em regular e especial, os professores em concebida e avaliada. “ (2006:40)
especialistas nesta e naquela manifestação Sendo assim, segundo a autora o ponto
das diferenças. “ chave para se iniciar um trabalho que busque
A autora aponta que a inclusão questiona contemplar a classe toda sem diferenciar o
as políticas e a organização da educação ensino para cada aluno ou grupo de alunos, é
especial e da educação regular, e o próprio a compreensão de que a diferenciação quem
conceito de integração, e destaca que a faz é o próprio aluno ao aprender, e não o
inclusão é incompatível com a integração, já professor ao ensinar.
que prevê a inserção escolar de forma radical, Então ao se ensinar a turma toda, é
completa e sistemática e prevê que todos indispensável que não se faça a classificação
alunos, sem exceção, devem frequentar as dos alunos mediante notas e provas e sim se
salas de aula do ensino regular. faça a diagnose da avaliação escolar, indo de
Desta forma, a inclusão implica uma encontro com as necessidades de cada um
mudança de perspectiva educacional, porque sem constituirmos grupos de alunos através
ela atinge a todos os alunos da escola e não de níveis de desempenho ou grupos de alunos
apenas os alunos com deficiência e os que com objetivos determinados para cada grupo,
apresentam dificuldades de aprendizagem. não podemos também dentro da perspectiva
Segundo Mantoan (2006) a inclusão é da inclusão encaminharmos aqueles alunos
uma provocação que tem a intenção de que não cabem naqueles grupos de classes
melhorar a qualidade do ensino das escolas, para escolas especiais utilizando como
abrangendo a todos que fracassam em salas argumento que o ensino para todos não
de aula e enfatiza que não existe inclusão se sofreria distorções de sentido em casos assim.
o aluno para ser inserido ficar condicionado à A escola é o espaço onde as crianças são
matrícula em uma escola ou classe especial. preparadas para o futuro, e é o local onde
A inclusão deriva de sistemas educativos que as crianças podem aprender a conviver e
não são recortados nas modalidades regular valorizar com as diferenças dentro das salas
e especial, pois ambas se destinam a receber de aula, e crescerem sem preconceitos ou
alunos aos quais impomos uma identidade, discriminações, aprendendo a conviver
uma capacidade de aprender, de acordo com e respeitar o outro independente da sua
suas características pessoais, “ (p. 39) condição física ou social.
A autora ainda aponta que “ a inclusão é Mantoan aponta que o futuro da escola

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Revista Educar FCE - Abril 2019

inclusiva irá depender da expansão rápida


de projetos verdadeiramente engajados no
compromisso de mudança para transformar a
escola e adequá-la aos novos tempos, e afirma
que a educação só será realizada de formar
o indivíduo integralmente, respeitando suas
capacidades e talentos, acolhendo o aluno, e
ofertando um ensino participativo e solidário.
E um dos caminhos para que essa mudança
aconteça é a preparação do professor, através
de cursos de aperfeiçoamento, seminários,
boas leituras e também em grupos de estudos.
A inclusão, conforme pretende-se,
constitui-se- em uma oportunidade plena de
realizações e vitórias aos alunos, com ou sem
necessidades educacionais especiais, pelas
enriquecedoras trocas que propicia, pelos VALÉRIA CRISTINA PRIMO GRACIANO
valores positivos que inculca (reconhecimento Graduação em Pedagogia pela Faculdade de filosofia,
da diversidade, respeito às diferenças, etc.) Ciências e Letras (2006); Especialista em Arte e Educação
pelo Centro Universitário Claretiano- Ceuclar (2010);
e pelas variadas situações de aprendizagem Assistente de Diretor na Emei Cantos do Amanhecer.
que possibilita através da interação entre os
alunos.

REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de
Educação Inclusiva. Brasília: MEC/ SEESP, 2008.
BRASIL, Presidência da República, Casa Civil, Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília/DF, 1988.
FIGUEIREDO, Rita Vieira de, Incluir não é inserir, mas interagir e contribuir in : Inclusão. Revista
Educação Especial. Brasília v. 5 n. 2 p. 32-38 jul-dez /2010.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96.
MANTOAN, Maria Teresa Égler. Inclusão Escolar – O que é? Por quê? Como fazer? – Cotidiano
Escolar. Editora Moderna 2ª edição 2006.
SILVA, Priscilla Magalhães Gomes Collet e VITAL, Andréa Aparecida Francisco. Educação
Inclusiva – Um olhar para dentro – e de dentro das escolas públicas in: Revista de Deficiência
Intelectual. Ano 2 – número 2. Janeiro/Julho 2012.

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A EDUCAÇÃO INFANTIL COMO DESTAQUE


NO DESENVOLVIMENTO HUMANO E
SOCIAL DA CRIANÇA
RESUMO: A Pedagogia, o debate metodológico tem girado fundamentalmente em torno aos
métodos de ensino e não de aprendizagem, dando por sentado que os métodos de ensino
coincidem com os métodos de aprendizagem. O objetivo final da educação é a aprendizagem
e é a partir dela que se avalia o aluno, o professor e o sistema. O que importa é que os
alunos aprendam não que os professores ensinem. Nessa perspectiva, o bom professor não
é o que ensina muitas coisas, mas sim aquele que consegue que seus alunos aprendam
efetivamente aquilo que ensina. Para tanto é fundamental que possamos refletir sobre a
Educação Infantil como destaque no desenvolvimento e social. Esse artigo pretende abordar
reflexões a respeito da Educação Infantil como base fundamental para o desenvolvimento
integral e significativo da criança.

Palavras-Chave: Educação Infantil; Desenvolvimento; Aprendizagem

INTRODUÇÃO
A criança nasce num contexto social: a família. E para se viver bem, os limites são
imprescindíveis (Içami Tiba, 1995).
A maioria das crianças, ainda no século passado, foram educados pelos seus pais e
pela escola num contexto ao qual as crianças pouco falavam e obedeciam aos adultos
que eram detentores do saber e de todas as regras da moralidade. Caso desobedecessem
a uma ordem eram punidos com castigos e algumas vezes, com agressão física.
A escola de educação infantil tem um modo específico e especial de organizar e propor

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Revista Educar FCE - Abril 2019

situações para que ocorra a aprendizagem O BRINCAR NA EDUCAÇÃO


de determinados conteúdos culturais. Para INFANTIL E SUAS
que uma aprendizagem ocorra é necessário
um bom planejamento, sustentado no CONTRIBUIÇÕES PARA O
trabalho do coletivo dos educadores. De DESENVOLVIMENTO DAS
cada professor é exigido um sério preparo
CRIANÇAS
profissional que garanta o saber e o saber-
fazer, ou seja, domínio do conteúdo e da
metodologia de ensino. O brincar traz espontaneidade e alegria para
O professor que entende a educação aqueles que o desempenham, e tem em seus
infantil como prática social, transformadora aspectos divertimento embutido em seu ato
e democrática trabalha com seus alunos atrativo e interativo, bem como dar subsídios para
na direção da ampliação do conhecimento, que haja desenvolvimento do faz-de-conta no
vinculando conteúdos de ensino à realidade, desenrolar das brincadeiras.
escolhendo procedimentos que assegurem Para Oliveira (2000) apud Fantacholi (2003,
a aprendizagem efetiva. Sabendo que p. 37), “o brincar não significa apenas recrear,
conhecimento, desenvolvimento e mas sim desenvolver-se integralmente”, dessa
aprendizagem são processos relacionados forma, o brincar não pode ser analisado de forma
entre si, que acontecem por construção e neutra, mas sim, descrito como uma fonte rica
interação, o professor privilegia conteúdos de aprendizagem que ocorrerá durante todos os
significativos e integra ao trabalho em momentos do brincar e a criança.
sala de aula situações desafiadoras, Para Leme (2005 apud Queiroz; Maciel; Branco,
problematizadoras, prevendo interações 2006, p. 176), “a atividade de brincar é fator
com os alunos e deles entre si, e com o relevante no desenvolvimento da criança e deve
conhecimento. ser usada pelo professor em sala de aula em suas
É importante ressaltar que a atuação propostas educacionais”. Isso ressalta que toda a
docente pode ou não promover a estrutura do brincar é para o professor um forte
aprendizagem dos alunos. Quando o aliado quando se trata de questões pedagógicas,
professor reconhecer importância de pois abre um leque de possibilidades.
envolvê-los, mobilizar seus processos de A ação lúdica propõe manifestações que
pensamento, explorar todas as dimensões cria e recria a possibilidade de imaginação e
e oportunidades de aprendizagem, fizer transformação da prática vivida do aluno, na qual
ou refizer percursos, criar e renovar o educador, com suas ferramentas pode contribuir
procedimentos e olhar seu grupo-classe para o desenvolvimento da criança, mantendo a
a partir de suas próprias características, relação coerente entre prática e teoria, traçando
estará propiciando aprendizagem objetivos.
De acordo com HEINKEL (2000, p. 54):

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A troca de saberes entre as crianças tratam da eficácia do uso de jogos nos ambientes
participantes da ação lúdica, ativa o pensamento escolares, ainda existe resistência por parte de
cognitivo e afetivo. Brincando a criança cria, recria alguns educadores descrentes na possibilidade de
e inventa novas manifestações adequando-se a unir a brincadeira ao conteúdo pedagógico. Para
sua realidade, ela é capaz de entrar num estado estes profissionais brincar e aprender são duas
de sonhos e fantasias, onde encontra espaço para instâncias distintas que não devem ser utilizadas
representar o mundo de sua forma, descobrindo simultaneamente.
ao mesmo tempo soluções para os obstáculos Após presenciar inúmeras situações escolares
surgidos no seu faz de conta e que servirá para em que existe a verdadeira separação entre o
sua vivência ao longo do seu desenvolvimento. aprender e o brincar, foi possível entrar em contato
Contudo, percebe-se que o brincar é uma com uma realidade em que as crianças eram
troca de aprendizagem, nas quais as crianças são estimuladas e educadas através de atividades
as protagonistas, interagindo, aprendendo com o lúdicas. Surgiu, então, o interesse de estudar essa
outro e ensinando, de forma significativa. realidade que trazia o lúdico como um elemento
O uso de jogos, e da ludicidade como um presente em sua proposta pedagógica.
todo, está presente na vida humana desde os De acordo com Kishimoto (2009, p. 37) “a
seus primórdios. Na Grécia antiga, assim como na utilização de atividades lúdicas no ambiente
idade média já havia a utilização de jogos. Durante escolar representa um fator importante para que
esse período, e por muito tempo, a atividade se alcance uma melhor aprendizagem”.
lúdica era vista apenas como sinônimo de jogo e
de divertimento, possuindo um caráter não sério.
Posteriormente o brincar foi trazido como um
O DESENVOLVIMENTO DA
forte instrumento da educação. Frobel (1782- AFETIVIDADE E A RELAÇÃO
1852), em sua proposta para a educação infantil, DO BRINCAR
realizou estudos nos quais foi atribuída grande
relevância ao brinquedo. Estudiosos como Por meio das brincadeiras e dos jogos,
Vygotsky e Piaget fizeram análises de todo o as crianças desenvolvem sua afetividade,
processo do desenvolvimento infantil, mostrando manipulam de objetos, praticam ações sensório-
a importância da presença do jogo na vida humana motoras e vivem ativamente os contextos de
demonstrando que eles favorecem não apenas a participação e interação social, fatores que
aprendizagem, mas também o desenvolvimento e contribuem para o seu desenvolvimento e
a interação social do indivíduo. para a aprendizagem. O jogo pode ser usado
A visão do brincar como estratégia capaz com dimensão educativa com o propósito de
colaborar no processo de ensino-aprendizagem contribuir para a aprendizagem, desde que haja
da educação infantil, tem sido muito discutida e um planejamento por parte do educador.
trazida aos poucos para os ambientes escolares, No momento em que brinca a criança trabalha
por ser a brincadeira é um dos universos da diversas dimensões de aprendizagem, envolvidas
criança. Mesmo com todos os estudos que pelo mundo do faz-de-conta que a brincadeira

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Revista Educar FCE - Abril 2019

lhe oferece. Como afirma Kishimoto (2009, atividades lúdicas. Em creches, escolas e
p.36): “O uso do brinquedo/jogo educativo com universidades há brinquedotecas com fins
fins pedagógicos remetemos para a relevância especificamente educacionais (FRIEDMAN,
desse instrumento para situações de ensino- 1996, p.16)
aprendizagem e de desenvolvimento infantil”. Pela existência destes diversos espaços
Para que a inserção da atividade lúdica no lúdicos, e de como estes são utilizados, torna-se
cotidiano da escola seja uma ação de sucesso, importante observar as formas de brincar que
é preciso que os profissionais tenham seus podem ser sugeridas e criadas no momento do
objetivos de trabalho bem definidos, conheçam uso destes espaços. A partir desta observação,
o nível de aprendizagem de sua turma e o estágio torna-se um elemento da investigação identificar,
de desenvolvimento em que os seus alunos se diferenciar e caracterizar as brincadeiras livres,
encontram. A formação desses profissionais em que são as crianças que decidem suas
é um fator relevante para que as atividades funções e regras, das brincadeiras utilizadas
realizadas tenham um retorno satisfatório. pelas professoras com foco pedagógico.
A brincadeira é um universo que envolve a No decorrer do desenvolvimento da criança,
criança, apresentar novos elementos partindo diversos tipos e modalidades de brincadeira
do olhar que ela tem do mundo que a cerca, vão sendo agregados a sua rotina devido a
do mundo que pode ser criado através do faz- fatores como preferência e empatia, mas o que
de-conta, oportuniza um maior interesse por determina com maior intensidade a aceitação
estas novas informações e por consequência e a participação nas brincadeiras é a fase do
possibilita um maior aprendizado. Através da desenvolvimento em que cada criança se
contextualização entre o conteúdo que se encontra.
pretende trabalhar e uma atividade lúdica, é Acriança é um ser complexo, com suas próprias
possível acreditar no trabalho em educação sem características, com uma forma específica de
haver a dissociação entre o brincar e o aprender. observar o mundo de modo muito singular, que
O ambiente da sala de aula pode ser fornece perspectivas para transformar o mundo
transformado em um espaço de brincar, – perspectivas que devem ser entendidas
utilizando as mesas, cadeiras ou afastando-as dentro do seu estágio de vida. Neste sentido,
para que se tenha um espaço livre. Fora das salas a escola não complementa ou molda a criança,
existem os parques e pátios onde predominam mas sim, proporciona condições para que se
as brincadeiras de grande atividade física. Outra desenvolva plenamente. É um conceito variável
alternativa é a utilização de espaços planejados e que se estabelece nas dimensões psicológica,
para o brincar, chamados de brinquedoteca, social e afetiva (SANTOS, 1999, p. 38).
que Friedman assim define: Percebe-se que a criança transforma o
São espaços públicos e/ou privados que mundo de acordo com a sua história de vida
funcionam como bibliotecas de brinquedos, e a escola proporciona condições para que o
organizados de forma para que as crianças desenvolvimento seja significativo.
possam desenvolver criativamente suas O lúdico esteve presente em diversos

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Revista Educar FCE - Abril 2019

períodos históricos, desde a Grécia clássica, e a 6ª. idade – a velhice, a partir dos sessenta
Roma antiga, passando pela Idade Média e pelo anos até o fim da vida. Tais etapas alimentavam,
Renascimento, possuindo em cada período desde aquela época, a ideia de uma vida dividida
características e interpretações distintas sobre em fases (ARIÉS, 1973, p. 64).
sua função. É importante citar a presença do Na medida em que recebem estímulos
lúdico nesses períodos, entretanto a pesquisa externos do mundo, a criança pode transformar
referida terá início a partir de um recorte tais estímulos e produzir novos significados aos
histórico em que o lúdico se apresenta numa objetos e ao mundo que a cerca, atribuindo-lhe
perspectiva educacional. um novo conceito que expressa seu caráter no
A aprendizagem presente no jogo relacionada curso de seu próprio desenvolvimento pessoal
a questões sociais e da vida, também estão e social. Além disso, a maior parte de seu
presentes nesses estudos em que ele desenvolvimento se produz sobre influência
compreende o jogo e a brincadeira como ações de processos educativos, o que implica na
que estão intimamente ligadas à aprendizagem, importância da ação do meio e na configuração
não fazendo referência apenas a educação dita de um órgão tão importante como o cérebro.
formal, que trata de conteúdos, mas também a (PANIAGUA; PALÁCIOS, 2007, p. 32).
social, já que nela a criança acaba por reproduzir Portanto, nota-se que a criança vai produzindo
situações já vivenciadas e observadas em nos significados em sua vida a medida dos
situações anteriores. Assim em seus estudos estímulos que recebe.
sobre Froebel, Kishimoto (2001, p.74) afirma: De acordo com Aurélio (2003, p. 12) o brincar
“Froebel entende que, nas brincadeiras, a significa “divertir-se, recrear-se, entreter-
criança tenta compreender o seu mundo e se, distrair-se, folgar” e segundo o dicionário
reproduzir situações da vida”. Michaelis (2012, p. 17) significa: “entreter-se
Foi na Idade Média que as idades da vida com jogos infantis e divertir-se fingindo exercer
começaram a ter importância. Durante esta atividades cotidianas do dia a dia adulto”. Dessa
época, existiam seis etapas de vida. As três forma, o brincar é extremamente presente na
primeiras, que correspondem à 1ª idade – vida do indivíduo.
compreendendo do nascimento aos sete O papel do educador enquanto mediador do
anos, à 2ª idade – tendo início aos sete anos conhecimento se faz necessário no sentido que,
até os quatorze anos, e a 3ª idade – entre os ao interagir com a criança em desenvolvimento,
quatorze e os vinte e um anos, eram etapas ele estará estimulando a produção de aberturas
não valorizadas pela sociedade, uma vez que nas zonas de desenvolvimento proximal desses
somente a partir da 4ª idade – dos vinte e um sujeitos, portanto, a distância entre o nível
anos até os quarenta e cinco anos, a juventude, de desenvolvimento real e potencial, e essa
os indivíduos começavam a ser reconhecidos interação propicia a aprendizagem que por sua
socialmente. Ainda existiam a 5ª a idade – a vez promove o desenvolvimento.
senectude, considerando a pessoa que não era Segundo Vygotsky (1989, p. 101):
velha, mas que já tinha passado da juventude,

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(...) um aspecto essencial do aprendizado é A brincadeira e os jogos por si apresentam


o fato de ele criar a zona de desenvolvimento uma série de alternativas que auxiliam na
proximal; ou seja, o aprendizado desperta construção do conhecimento, cuja criança
vários processos internos de desenvolvimento, aproprie-se deste conhecimento de uma
que são capazes de operar somente quando forma muito agradável e interessante. No jogo,
a criança interage com pessoas em seu brincando ela mesma consegue avaliar seu
ambiente e quando em cooperação com seus crescimento e sente-se naturalmente desafiada
companheiros. Uma vez internalizados, esses a ir adiante.
processos tornam-se parte das aquisições do O brincar está sendo um objeto de
desenvolvimento independente da criança. interesse de muitos pesquisadores, sobretudo
Para que essa aprendizagem venha os relacionados à psicologia e educação.
acontecer de maneira efetiva deve-se conhecer, Nesse sentido, as abordagens estão voltadas,
reconhecer e respeitar as especificidades de principalmente, acerca da importância do
cada aluno, possibilitando meios desse aluno brincar para criança como instrumento
vencer suas barreiras e limitações no processo potencializador de conhecimento e auxiliador
do brincar, de forma a favorecer a participação do desenvolvimento infantil. Tem sido um
de todos. grande auxiliador nas práticas pedagógicas,
Segundo o Referencial Curricular Nacional por possibilitar a criança interagir com outras
(RCN) da Educação Infantil: pessoas por meio de suas vivencias internas
Ao adotar outros papéis na brincadeira, as e externas, propiciando assim, sua inserção
crianças agem frente à realidade de maneira cultural.
não literal, transferindo e substituindo suas Considerando as especificidades das crianças
ações cotidianas pelas ações e características e a importância do lúdico e da ludicidade para
do papel assumido, utilizando-se de objetos elas, evidencia-se a relevância da escola como
substitutos (BRASIL, 1998, p. 27). um espaço essencial na partilha e construção
Portanto, por meio do brincar as crianças do conhecimento, como também do
transmitem suas vivências cotidianas. fortalecimento e desenvolvimento das relações
De acordo com Oliveira (1995): interpessoais. Assim sendo, a escola enquanto
O desenvolvimento da criança é visto como instituição formadora deve proporcionar
um processo pelo qual o indivíduo adquire ao aluno uma educação de qualidade, que
informações habilidades, atitudes, valores, etc., venha a suprir com as suas necessidades e
a partir de seu contato com a realidade, o meio que reconheça a sua bagagem cultural, a fim
ambiente, as outras pessoas. É um processo que de promover o desenvolvimento integral do
se diferencia dos fatores inatos (a capacidade sujeito. Nesse sentido, o espaço educacional
de digestão, por exemplo, que já nasce com o na qualidade de potencializador e promotor
indivíduo) e dos processos de maturação do do desenvolvimento, deve propor atividades
organismo, independentes da informação do significativas que venham a contribuir no
ambiente (OLIVEIRA, 1995, p. 17). despertar dos estímulos e interesses do sujeito.

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Dentro de uma perspectiva educacional, diversos papéis, reviver, refazer e reorganizar


o brincar da criança poderá se manifestar situações indesejadas.
de diferentes maneiras e aspectos, sendo a Aspectos socioculturais: os brinquedos e
atividade lúdica representada pelas brincadeiras, as brincadeiras são atividades culturalmente
brinquedos e jogos. pertencentes ao ser humano.
A brincadeira basicamente se refere à ação A utilização dos jogos, brinquedos e
de brincar, ao comportamento espontâneo brincadeiras no ambiente escolar, como
que resulta de uma atividade não estruturada; aporte didático tem por objetivo estimular
o jogo é compreendido como uma brincadeira o desenvolvimento das habilidades afetivas,
que envolve regras; brinquedo é utilizado para cognitivas, físicas, sociais e motoras do sujeito.
designar o objeto de brincar. A atividade lúdica Para a criança, as práticas pedagógicas que
abrange de forma mais ampla os conceitos utilizam do lúdico como ferramenta para
anteriores, sendo utilizada como ferramenta aquisição do conhecimento e aprendizagens
na área educacional, nas diversas fases do são de fundamental importância para o seu
desenvolvimento. (MORAES, 2012, p. 40). desenvolvimento global, uma vez que estimulam,
Para Vygotsky (2007) “atividades lúdicas impulsionam e motivam a exploração de desafios,
têm por objetivo facilitar o progresso da imaginação e criatividade possibilitando assim,
personalidade integral, o progresso de cada uma descobertas, envolvimento, desenvolvimento,
das funções psicológicas intelectuais e morais” compreensão e aprendizado.
do sujeito.
Dessa forma, o brincar representa um grande CONSIDERAÇÕES FINAIS
potencial para educação, aprendizagem e
solução de problemas. Assim sendo, diferentes A educação infantil traz muitos desafios
aspectos constituem os jogos, brinquedos aos que nela trabalham e aos que se dedicam
e brincadeiras na educação infantil, são eles a sua causa. Muito já se pesquisou, escreveu-
descritos por Teixeira (2010 apud MORAES, se e se discutiu sobre a educação infantil,
2012): mas o tema é sempre atual e indispensável,
Aspectos físicos: são os componentes pois seu foco principal é o ser humano. Então,
de ordem cognitiva, afetiva e social que pensar em educação infantil é pensar no ser
acompanham o ato motor, [...], as crianças, por humano, em sua totalidade, em seu corpo, em
meio dos jogos, brinquedos e brincadeiras, seu meio ambiente, nas suas preferências, nos
exercitam seu corpo como um todo, conhece seus gostos, nos seus prazeres, enfim, em suas
seus limites, exploram a realidade e coordenam relações vivenciadas.
seus movimentos. Aprender a pensar sobre diferentes assuntos
Aspectos emocionais: brincando a criança é muito mais importante do que memorizar
tem a possibilidade de extravasar suas emoções, fatos e dados a respeito dos assuntos. A própria
reproduzir situações que lhe foram traumáticas, criança nos aponta o caminho no momento em
expressar seus desejos e suas angústias, assumir que não utiliza suas energias de forma vã. Do

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mesmo modo a escola deve educar: de forma inteligente e divertida.


A educação infantil contribui e influencia na formação da criança, possibilitando um crescimento
sadio, um enriquecimento permanente, integrando-se ao mais alto espírito democrático enquanto
investe em uma produção séria do conhecimento. É preciso saber como adentrar ao mundo da
criança; no seu sonho, no seu jogo e, a partir daí, jogar com ela.

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PANIAGUA, P.; PALACIOS, J. Educação Infantil – resposta educativa à

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Revista Educar FCE - Abril 2019

AS CONTRIBUIÇÕES DO LÚDICO NO
CONTEXTO ESCOLAR
RESUMO: Este artigo tem como objetivo contribuir para o trabalho dos professores em
relação à utilização do jogo como subsídio para enfrentar as dificuldades de aprendizagem,
assim como favorecer a socialização, o espírito crítico e criativo, desenvolver alunos
dinâmicos, autônomos e colaborativos, já que os jogos não se pode jogar sozinho, ele
precisará se relacionar com outros indivíduos para alcançar o objetivo final. Assim esta
pesquisa trará reflexões sobre as funções e contribuições dos jogos e brincadeiras que
tem o poder de tornar as aulas significativas e prazerosas, auxiliando no desenvolvimento
cognitivo, físico, motor, emocional e social das crianças, e trazendo resultados valiosos no
processo de aprendizagem.

Palavras-Chave: Jogos; Aprendizagem; Psicopedagogia.

INTRODUÇÃO
Quando entramos em uma sala de aula, muitas vezes nos deparamos com alunos
desmotivados e desinteressados pelos conteúdos que são transmitidos pelo professor,
simplesmente por não compreenderem o sentido de tudo aquilo. (Macedo, 2005).
Refletindo neste assunto é que constantemente buscam-se estratégias que atinjam o
interesse dos alunos. E o trabalho com jogos possibilita essa dinâmica, porque propõem
desafios, resoluções de problemas, elaboração de estratégias. O aluno que é desafiado
sente-se mais motivado, nesta motivação consegue-se desenvolver diversas habilidades
que promovem o desenvolvimento e a aprendizagem.
Desta forma, a escolha do tema teve o intuito de apresentar a professores, por meio
de algumas pesquisas bibliográficas de autores como Kishimoto, Vygostky, Weiss que
há diversas formas de trabalhar com as crianças por meio de jogos e brincadeiras,

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O JOGO E A APRENDIZAGEM Nesse contexto, os jogos e brincadeiras


mostram-se aliados na tarefa de um amplo
Os jogos são atividades que, propostas desenvolvimento do ser humano.
em sala de aula, auxiliam na construção de Sendo assim, brincando a criança consegue
conhecimento do mundo que a criança está construir um espaço de experimentação,
inserida; ela consegue lidar melhor com a troca entre o mundo interno e o externo, na qual
com o grupo de amigos, adultos e consigo Winnicott (1975) cita:
mesma (Vygotsky, 1984).
Ao aprender com os jogos podemos Essa área intermediária de experiência,
desenvolver na criança a relação de respeito incontestada quanto a pertencer à realidade
mútuo, responsabilidade, o colocar-se no lugar interna ou externa (compartilhada), constitui a
do outro, além da elaboração de estratégias parte maior da experiência do bebê e, através
para resolução de problemas e assim ampliar da vida, é conservada na experimentação
novas aquisições pela criança e desse modo, intensa que diz respeito às artes, à religião,
garantir uma aprendizagem estável, em que ao viver imaginativo e ao trabalho científico
não será “apagada” após esse contato com a criador. (WINNICOTT, 1975,apud WEISS,
informação. 2008, P.74).
As crianças, quando envolvidas com suas Nesta perspectiva, tanto Winnicott (1975)
próprias produções, tornam-se responsáveis, quanto Weiss (2008) defendem que a
interessadas e cooperativas, já que o jogo construção de conhecimento pelo lúdico não
exige trabalho em grupo, influenciando em pode ser encarado como uma mera diversão
suas atitudes e condutas, estando preparado ou prazer, mas sim como um rico estímulo
para viver em sociedade e exercer a cidadania, para que ocorra o desenvolvimento em
uma vez que tornarão mais críticos, saberão diversos aspectos, assim como, pessoal, social,
apresentar e respeitar pontos de vista e cultural, mental e física. Com isso podemos
colocarem-se no lugar do outro, posturas dizer que ao passo que uma criança joga
estas, que carregarão para a vida inteira. ou brinca adquirem esquemas operatórios
Além disso, podemos afirmar que o ato como imaginação, lateralidade, coordenação
de brincar é importante para a formação motora, memória, equilíbrio, criatividade e
da criatividade e personalidade da criança, também aspectos necessários para aquisição
mostrando possibilidades de como agir da aprendizagem de leitura, escrita e cálculos.
diante das situações apresentadas durante a Segundo Weiss (2008), os profissionais que
brincadeira, podemos citar Winnicott (1975 aplicarão o jogo, precisam estar preparados
apud Weiss, 1995, p.74): “É no brincar, e para interagir nas diferentes áreas de seu
somente no brincar, que o indivíduo, criança atendimento, pensando em como atingir a
ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua aprendizagem integral da criança em sua
personalidade, e é somente sendo criativo inteligência e sensibilidade, no pensamento
que o indivíduo descobre o eu (self)”. crítico e autônomo, ética e moral.

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INTERAÇÃO SOCIAL POR O LÚDICO NO TRABALHO


INTERMÉDIO DO JOGO ESCOLAR
“A interação social é indispensável tanto Como já citado anteriormente, o brincar
para o desenvolvimento moral quanto para possibilita a criança a transitar entre o mundo
o cognitivo” (Kamii, 1991, p. 38), e por meio interno e externo, construindo sua própria
de jogos com regras conseguimos promover opinião. Assim, Weiss (2008) nos mostra que
o conhecimento de mundo e fazer a relação essa área é a intermediária de experiências
do que é moralmente aceito na sociedade, em que o sujeito se construa como cidadão,
uma vez que deverá haver espaço para a com escolhas e gostos próprios. Por esta
cooperação entre as crianças e pessoas, para razão, é essencial o uso do lúdico no trabalho
atingir a compreensão e cumprimento das escolar, portanto, ao se abrir um espaço de
regras propostas, em especial quando todos brincar durante o processo de aprendizagem,
concordam e se dispõem a jogar. já se está possibilitando um movimento em
Quando estão num jogo e acreditam que direção da saúde, da cura, uma vez que brincar
foram injustiçadas pelas regras vigentes, as é “universal e saudável”.
crianças tendem a justificar o que é “certo” Neste contexto, Weiss (2008) diz que o
ou “errado” para elas, tentando fazer que uso de situações lúdicas é uma possibilidade
todos pensem segundo suas crenças, sem de obter informações básicas dos processos
considerar o que é realmente correto. É neste cognitivos e afetivo-sociais durante as
momento que o professor deve levantar intervenções feitas pelo profissional, para que
diversos questionamentos ao grupo levando- assim o mesmo consiga traçar o trabalho a ser
os a refletirem sobre esse tipo de postura, realizado com a criança.
e assim promover o desenvolvimento de Ainda segundo Weiss (2008), o profissional
seus alunos, o espírito crítico e levar a precisa se preparar para interagir nas
compreenderem de seu papel na sociedade. diferentes áreas, sempre pensando na
Situações didáticas que garantem a aprendizagem integral da criança, em sua
interação social entre crianças e crianças com inteligência e sensibilidade, no pensamento
o professor promovem, de forma eficiente, crítico e autônomo, ética e moral.
o desenvolvimento e a aprendizagem. Desta forma, a autora (2008) diz que por
Isso pode acontecer, especialmente com meio da preocupação com a utilização de
a utilização do jogo em sala de aula, já atividades lúdicas, o profissional leva a criança
que a criança não fica limitada a resolução a aprender a competir, cooperar, respeitar
individual de um problema, ela pode trocar as regras e conviver com o meio que vive.
informações, adquirir novas experiências e Isto porque, ao brincar ou jogar, a criança
agregar novos conhecimentos, favorecendo com os pares não está apenas se divertindo,
seu desenvolvimento integral. mas sim desenvolvendo inúmeras funções
cognitivas e sociais, além de estar mostrando

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Revista Educar FCE - Abril 2019

seu lado espontâneo e criativo, favorecendo dada na busca de soluções pela ausência de
a resolução das dificuldades de aprendizagem avaliação ou punição. (KISHIMOTO, 2002, p.
apresentadas pelo sujeito e dando as 144).
condições necessárias para a construção de
conhecimento mais concreto e dinâmico. É necessário destacar que o jogo para a
Podemos ressaltar que é indispensável que criança é um prazer, ela coloca nele tudo
todos os profissionais que trabalham com aquilo que sabe, assim como o que não sabe,
crianças, criem espaço e tempo para a criança por isso o professor precisa planejar a situação
brincar, jogar, representar e dramatizar para didática do jogo e ter bem claro suas finalidades
assim conseguir se comunicar e se revelar, e objetivos, para poder intervir de modo em
apresentando tudo do que é capaz. que a criança consiga avançar naquilo que
Para Weiss (2008) o profissional que aplicar está sendo proposto, assim como observar as
o jogo, terá a oportunidade de provocar reações despertadas por elas. Isso não quer
intervenção para observar como a criança dizer que o jogo não possa ser aplicado como
reage diante aos desafios e frustrações, se lazer ou divertimento pelo divertimento, mas
aceita ou não as propostas, se revela como que não use essa importante ferramenta
quer ou pode brincar naquela situação, enfim, como um simples passatempo.
como ela enfrenta as situações criadas por “Os jogos nas suas diversas formas
ele. auxiliam no processo de aprendizagem, tanto
De acordo com a pesquisa, o Professor no desenvolvimento psicomotor, como nas
C identifica que “Na brincadeira a criança habilidades do pensamento, imaginação,
tem oportunidade de socializar as suas criatividade, no levantamento de hipóteses,
ideias, refletir e respeitar a opinião do outro, na socialização entre os alunos, etc.”, vem de
extravasar as suas emoções e expressar encontro com o que diz Kishimoto (2002):
sentimentos conflitantes e angustiantes”, o
que vai de encontro com o que Kishimoto Ao permitir a ação intencional (afetividade),
(2002) diz: a construção de representações mentais
(cognição), à manipulação de objetos
Ao brincar, a criança não está preocupada e o desempenho de ações sensório-
com os resultados. É o prazer e a motivação motoras (físico) e as trocas nas interações
que impulsionam a ação para explorações (social), o jogo contempla varias formas
livres, A conduta lúdica, ao minimizar as de 56 representações da criança ou suas
consequências da ação, contribui par a múltiplas inteligências, contribuindo para a
exploração e a flexibilidade do ser que brinca, aprendizagem e o desenvolvimento infantil.
incorporando a característica que alguns (KISHIMOTO, 2002, p 36).
autores denominam futilidade, um ato sem
consequência. Qualquer ser que brinca
atreve-se a explorar, a ir além da situação

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Revista Educar FCE - Abril 2019

OS JOGOS TRADICIONAIS E CONSIDERAÇÕES FINAIS


SUA INTENCIONALIDADE
Temos o jogo como aliado para o Ao final deste trabalho, foi possível concluir
desenvolvimento integral da criança, que o uso do jogo como estratégia de aula,
considerando suas características dinamiza o conteúdo escolar e oferece aos
individuais, então é necessário que o alunos a oportunidade de construir o próprio
aplicador esteja preparado para fazer conhecimento de forma significativa e
essas identificações e intervenções, prazerosa, auxiliando no seu desenvolvimento
para auxiliar da melhor forma possível a integral. Haja vista que, no processo de ensino
criança, mas também se faz necessário aprendizagem o sujeito que aprende por meio
uma autocrítica, refletindo sobre seu do lúdico tem mais chances de conseguir
trabalho e postura diante do jogo. atingir o objetivo educacional, já que o dever
Podemos observar que os jogos passa a ser divertido e dinâmico.
que foram citados abaixo são, em Ao propor jogos associados à prática
sua maioria, os mais tradicionais, que educativa, é possível oferecer aos alunos
geralmente usamos quando crianças uma aula em que eles sejam capazes de
e de fácil acesso, como por exemplo, superar desafios e construir um repertório de
o bingo, jogo da memória e forca, que estratégias que busquem resolver situações-
até mesmo pode ser confeccionado problema de forma criativa, autônoma e lúdica,
pelo próprio professor e pelos alunos, mesmo que para isso seja necessário algumas
e que não deixam de despertar na intervenções de acordo com os objetivos a
criança habilidades como coordenação serem atingidos. Neste sentido, o profissional
motora, raciocínio, imaginação, atenção que irá trabalhar com esses alunos deverá ter
e cooperação. Se esses jogos são bem claro que esse tipo de atividade exige
realmente aplicados em sala de aula de planejamento e objetivos bem definidos, para
forma consciente, será possível atingir que ela não se torne um passatempo sem
um bom desenvolvimento integral das importância e significado.
crianças. Agora citarei alguns jogos e Quando o aplicador tem objetivos claros,
brincadeiras que podem ser realizados reconhece a aplicabilidade do jogo e atende
nas práticas pedagógicas da sala de aula: as reais necessidades dos alunos, ele terá
Bingo de letras; Bingo de números; garantido um bom envolvimento deles e,
Bingo de palavras; Jogos de palavras; consequentemente, o objetivo será alcançado.
Jogos da memória; Trilha; Percurso; A utilização de jogos em situações escolares
Tapão; Pescaria (jogos com cartas); são grandes aliados para o desenvolvimento
Forca; Lince; Dominó; Boliche; Barra integral das crianças, podemos destacar que
manteiga; Alerta todos os jogos têm regras, já que sem elas
seria difícil a convivência em sociedade, como

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Revista Educar FCE - Abril 2019

os jogos favorecem o trabalho coletivo e competitivo, incentivando o respeito ao próximo, a


solidariedade, o companheirismo, a superação do egocentrismo, comportamentos essenciais
para esse fim.
Enfim, esse trabalho demonstrou a necessidade da utilização de jogos como estratégia de
aula e como aliado à prática pedagógica, podendo contribuir para a relação entre ensino e
aprendizagem, intervindo no desenvolvimento integral da criança.

VANESSA PITA DO NASCIMENTO


Vanessa Pita do Nascimento Graduação em Pedagogia pelo
Centro Universitário Sant’Anna (2002); Especialista em
Psicopedagogia Clínica e Educacional pela Universidade Nove de
Julho (2013); Professor de Educação Infantil e Fundamental I na
Prefeitura do Município de São Paulo.

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teoria de Piaget; tradução Marina Célia Dias Carrasqueira. São Paulo: Trajetória Cultural. 1991.
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Revista Educar FCE - Abril 2019

INCLUSÃO NAS ESCOLAS PÚBLICAS


RESUMO: Inclusão é a modificação do ambiente em que vivemos, estudamos, para receber
uma pessoa. Geralmente ocorre o inverso, a pessoa que vai frequentar determinado
ambiente é que tem de se adaptar. Porém esse processo caracteriza a inclusão, á qual
garante através de leis e decretos que toda pessoa com necessidades especiais deve ser
atendida e respeitada, mesmo com suas particularidades.
As leis que cercam a inclusão garantem que os portadores de necessidades especiais
devem frequentar as escolas públicas e as mesmas devem garantir os mesmos direitos,
porém essas escolas devem ter materiais, recursos e conhecimento sobre o que realmente
é inclusão para poder realizar o processo inclusivo com seriedade e respeito. Os professores
devem sempre se atualizar, buscar informações sérias a respeito da inclusão, auxiliando
sua prática e em sua constante formação.
O trabalho sério, respeitando as particularidades dos alunos promove ações benéficas
em relação à inclusão, respeitando e valorizando todos os alunos.

Palavras-Chave: Inclusão; Formação; Projetos; Políticas; Educação.

INTRODUÇÃO
Neste trabalho iremos pesquisar sobre a inclusão de portadores de necessidades especiais
e as ações que as escolas realizam para que esse processo aconteça e seja favorável a todos.
Sabemos que os portadores de necessidades especiais já passaram por diversas dificuldades
para alcançar as conquistas que obtiveram hoje, porém sabemos que na educação o processo
de inclusão é recente e que muita coisa ainda falta acontecer, mas com envolvimento, podem
acontecer ações que promovam a inclusão de maneira satisfatória, atendendo as condições de
todos e de políticas que facilitem e auxiliem os portadores de necessidades especiais.
Para entendermos melhor o processo de inclusão, iremos estudá-la em três capítulos,
conhecendo o histórico e as leis, a importância da inclusão na escola incluindo a formação
de professores para o atendimento dos alunos especiais e por fim, apresentando projetos
com alunos especiais que apresentaram resultados positivos na escola publica, conhecendo
metodologias e as ações para atender a inclusão.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Observamos em nossa prática em sala mas toda e qualquer criança que apresentar
de aula e nos estágios desenvolvidos que a dificuldade de aprendizagem e fazê-la
inclusão está presente em muitas escolas participativa, preparando-a para viver em
e observamos também o despreparo dos sociedade. No sistema educacional devem-
professores e dos demais sujeitos no se obter recursos, materiais para o auxílio das
processo educacional com a inclusão. A crianças na aprendizagem e no ensino.
falta de conhecimento sobre o assunto e o Mantoan, 2002, ressalta ainda que é de
medo de lidar com as particularidades dos grande importância que ocorra mudanças
alunos faz com que deixem esses alunos no ambiente para que ocorra a inclusão e
isolados e não promovam a inclusão. Por esse essas informações beneficiem todos os que
motivo escolhemos a inclusão como tema de participam do ambiente, não se deve pensar que
nossa pesquisa, para podermos, enquanto a inclusão é somente benefício dos portadores
professores, conhecermos e sabermos de necessidades especiais, mas também das
lidar com os portadores de necessidades demais crianças, e dos professores que terão
especiais e assim promover a inclusão de oportunidades e auxílio para trabalhar e ensinar
maneira positiva e facilitadora no processo de a todos seus alunos com qualidade.
conhecimento Portanto, inclusão é quando há a
participação de todos os indivíduos na escola.
Essa participação é geral e produtiva quando
CONCEITO DE INCLUSÃO as crianças portadoras de necessidades
especiais se sintam valorizadas e que as façam
Nos dias de hoje, há grande dificuldade entre participativas, auxiliando em suas atividades
os profissionais da Educação em entender a com recursos diferenciados e respeitando suas
inclusão. Desde a década de 90 que a escola particularidades.
lida com a inclusão, porém, ainda hoje pensam A inclusão nos coloca uma questão que ainda
que incluir é quando a escola recebe alunos não conseguimos responder: Como podemos
com necessidades especiais e os deixam juntos conviver uns com os outros, sem preconceitos
com outros alunos, não realizando nenhuma ou discriminação? Como exercer nosso direito
intervenção pedagógica ou projeto para de igualdade e liberdade se não tratam todos
receber esses alunos. Porém essa maneira de iguais? Se ainda há diferenças nos tratamentos
incluir não é correta. de diferentes pessoas?
Segundo Mantoan 2002, inclusão é quando Mantoan, 2002 relata que “inclusão é
há a preparação do ambiente para acolhimento viver com, estar com... é compreensão,
do indivíduo, portanto a escola deve mudar seu envolvimento, estar com o outro, cuidar do
ambiente e suas ações para receber as crianças outro”. Nesses aspectos todos falham achando
portadoras de necessidades especiais. que inclusão é apenas a presença de uma
Inclusão não diz respeito somente às pessoa com necessidades especiais na escola,
crianças portadoras de necessidades físicas, sem os devidos cuidados, sem a devida atenção

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de que tanto necessitam. EDUCAÇÃO ESPECIAL NO


É importante saber lidar com as diferenças,
com o novo e valorizar as particularidades de
MUNDO
cada individuo. A inclusão trata realmente disso, A Educação Especial não começou por
não é fazer dos portadores de necessidades acaso, segundo Mrech, (2001), esse processo
especiais iguais a os “ditos normais”, mas iniciou-se no ano de 1968 na Europa com um
é saber valorizá-los como pessoas, como grupo da UNESCO Organização das Nações
cidadãos com direitos e deveres iguais a todos. Unidas para a Educação, Ciência e Cultura que
É saber que suas particularidades não tinha um desejo de implantar um sistema para
os limitam de realizar uma atividade, de ser auxiliar as pessoas com deficiências. Abaixo
participativo na vida social, é entender descreveremos um trecho do documento da
que eles participam em tudo, que as leis os UNESCO onde cita a importância da Educação
garantem, porém de forma especial, de maneira Especial:
que facilite sua vivência, sua participação no Em 1977, o grupo da UNESCO que defendia
mundo. a Educação Especial citava em seu documento
A sociedade deve conhecer as leis que a importância das políticas assegurar a
garantam esses direitos às pessoas portadoras igualdade de direitos a todos os cidadãos e
de necessidades especiais para que a relata os mesmos objetivos as crianças com
inclusão comece a ser realizada de maneira deficiências e as deficiências referentes à
eficaz garantindo a vivencia sem medos e educação das mesmas. Eles acreditavam
preconceitos junto a eles. que era útil e possível desenvolver um plano
educacional a cada criança de acordo com
HISTÓRICO DA INCLUSÃO suas particularidades.
No ano de 1975, nos EUA, através da Lei
Pública nº 94.142 do Congresso cria o ato para
O desenvolvimento histórico da educação a Educação de todas as crianças deficientes
especial inicia-se quando os serviços estabelecendo “quatro articuladores básicos”
dedicados a esse segmento de nossa da Educação Especial, essa política educacional
população, inspirados por experiências garantia.
norte-americanas e europeias, foram trazidos Segundo Mrech (2001), a participação
por alguns brasileiros que se dispunham a física da criança com deficiência na escola
organizar e a programar ações isoladas e já era importante. Com o passar do tempo,
particulares para atender a pessoas com percebeu-se que não bastava só isso e, que
deficiências físicas, mentais e sensoriais. a integração era um problema bem maior do
No início da idade média os deficientes não que se pensava.
tinham nenhum direito, eram vistos como Percebeu-se que se criava assim um
pessoas de má sorte, viviam escondidos preconceito em relação a essas crianças,
sem contato com a sociedade e ás vezes até praticando a exclusão. A partir daí foi
mortos.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

importante criar um trabalho não só com EDUCAÇÃO ESPECIAL NO


as crianças deficientes, mas também com a BRASIL
comunidade que conviviam com eles. Iremos estudar e compreender porque e
A eliminação de estereótipos e preconceitos como ocorre a educação especial em nosso
era, agora, o fator importante para o trabalho país. Os pais de pessoas com deficiência estão
com deficiências (Mrech, 2001). entre os que compõem essa liderança e a
Neste processo de integração escolar, maioria deles têm sido uma grande força, mais
(Mrech, 2001) nos relata que a criança para manter, do que para mudar as concepções
deficiente era comparada com a criança e condições de atendimento clínico e escolar
normal, dificultando assim o seu trabalho. A de seus filhos com deficiência. Não podemos,
autora nos diz que “Assim não é ao acaso que pois, desconsiderar as iniciativas de caráter
o conceito nuclear com Educação Inclusiva privado e beneficente lideradas pelos pais no
seja o ambiente menos restritivo. A evolução atendimento clínico e escolar de pessoas com
do sujeito depende do ambiente ou da deficiência assim como na formação para o
situação em que se encontram, eles que criam trabalho (protegido), apesar de suas intenções
ou não as condições necessárias para o seu serem na maioria das vezes, respaldadas pela
desenvolvimento” (Mrech, 2001, 6). Ou seja, discriminação e pelo forte protecionismo.
dependendo do tratamento que a criança tem Temos de destacar o grupo de pais
ela poderá se desenvolver. de crianças excepcionais, que é o mais
Mrech (2001) também cita alguns avanços numeroso e que fundou mais de 1000 APAE
já na época de 70, como a criação da primeira em todo o Brasil. A tendência do movimento
escola a atender as crianças com algum de pais é ainda a de se organizarem em
problema de aprendizagem, era a escola associações especializadas, gerenciadas por
Barbiana, o processo de “destitucionalização eles próprios, que buscam parcerias com
manicomial”, ou seja, os deficientes deixaram a sociedade civil e o governo para atingir
de serem levados a manicômios, onde suas metas, sendo basicamente financiados
citavam a importância de serem tratados em pelos poderes públicos municipal, estadual e
ambientes saudáveis, no qual ajudariam em seu federal e o desinteresse e o descaso político
tratamento e não ficariam mais tão excluídos. que prevaleceu durante toda a história da
Nos Estados Unidos, Mrech (2001) relata educação refletem instituições de caráter
que a inclusão já “assentou raízes na legislação assistencialista e uma política baseada no
comum” e ela dá direitos aos deficientes e favor. Com a criação dos conselhos estaduais
relata que ela deixa de ser tratada em segundo de educação e a cooperação financeira do
plano e garante um ambiente menos restritivo, governo, influenciaram a educação especial
ou seja, que os deficientes só deverão ser no país, e foram criados os primeiros cursos de
educados com os não deficientes e que as formação de professores na área da Educação
classes especiais só serão utilizadas se for Especial. Contrariamente a outros países, os
absolutamente incompatível a permanência pais brasileiros, na sua maioria, ainda não se
do aluno no ensino regular. posicionaram em favor da inclusão escolar de

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seus filhos. Apesar de figurar essa preferência não há preparação de ninguém para acolher
na nossa Constituição Federal, observa-se os portadores de necessidades especiais e o
uma tendência dos pais se organizarem em mesmo apenas frequenta a escola publica,
associações especializadas para garantir onde está se torna a única alternativa
o direito à educação de seus filhos com disponível.
deficiência. Só muito recentemente, a partir Sabemos que o atendimento dos portadores
da última década de 80 e início dos anos 90 de necessidades especiais na escola publica
as pessoas com deficiência, elas mesmas, têm esta crescendo, porém o que esta sendo
se organizado, participando de Comissões, de feito para um atendimento de qualidade?
Coordenações, Fóruns e movimentos, visando Bueno apud Magalhães (1998) relata que
assegurar, de alguma forma os direitos que é necessário um serviço de qualidade para
conquistaram de serem reconhecidos e atendimento desses alunos. Uma preparação
respeitados em suas necessidades básicas e capacitação de profissionais que o processo
de convívio com as demais pessoas. Esses de inclusão seja gradativo e planejado
movimentos estão se infiltrando em todos Sabemos que é de grande necessidade o
os ambientes relacionados ao trabalho, trabalho especializado dos professores para
transporte, arquitetura, urbanismo, segurança lidarem com os portadores de necessidades
previdência social, acessibilidade em geral. especiais, e que é grande a dificuldade de
As pessoas buscam afirmação e querem ser trabalharem com alunos ditos normais, mas
ouvidos, como outras vozes das minorias, que como realizarmos um bom trabalho com a
precisam ser consideradas em uma sociedade inclusão no Brasil?
democrática, como a que hoje vivemos neste De acordo com Magalhães (2001), a
país. Mas, infelizmente, apesar de estarem mudança é necessária, a inclusão, querendo
presentes e terem mostrado suas atuações ou não, já está sendo implantada no nosso
em vários aspectos da vida social, os referidos país, através da desativação dos serviços
movimentos não são ainda fortes no que de educação especial, e essa inclusão deve
diz respeito às prerrogativas educacionais, ser também implantada da consciência de
aos processos escolares, notadamente os nossos profissionais da educação. Magalhães
inclusivos. (2001) nos fala que a Educação Especial tem
Percebemos que nas escolas públicas o compromisso com os chamados excluídos
brasileiras o processo de inclusão é bem lento. da sociedade, e com os mesmos, partir
Iniciamos esse processo a pouco mais de 10 do momento em que ela nos exige uma
anos e ainda observamos que nem todos estão autotransformação interna, de pensamento
incluídos e que as escolas ainda se norteiam e atitudes, sabemos que o mundo hoje exige
no processo de exclusão. (Magalhães,2001). uma convivência geral, pacífica com todos os
O que ocorre em nosso país é uma indivíduos, e é essa convivência necessária
verdadeira integração não planejada no no Brasil e em nossas escolas para que
sistema educacional (Mrech, 2001), ou seja, possamos adotar para que ocorra a inclusão.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Devemos ter em mente que ao aceitarmos o os portadores de necessidades especiais


processo de inclusão não estamos fazendo foram participando e se interagindo mais na
por ser politicamente corretos, mas como sociedade.
uma realidade de nossa sociedade (Lins Antes dessa lei, os deficientes eram tratados
Magalhães). È importante que acreditemos como incapazes, sem condições de trabalhar,
na inclusão para que possamos agir e que de viver entre a comunidade. Porém não foi
ela comece a acontecer por sabermos que sempre assim, a educação especial foi citada
somos todos diferentes, porém com direitos pela primeira vez na LDB. 4024/61e rezava
e deveres iguais. que a educação dos excepcionais deve no que
for possível, enquadrar-se no sistema geral de
INCLUSÃO E AS LEIS QUE A educação.
Em 1988, a Constituição Brasileira, trata
CERCAM
pela primeira vez do direito da pessoa especial.
Sabemos que há, não só no Brasil, mas È assegurada aos deficientes à melhoria de sua
em todo o mundo, Leis que garantem os condição social e econômica, especialmente
direitos e deveres de todos os portadores mediando educação especial gratuita.
de necessidades especiais e que essas leis A partir dos anos 80, a Lei Federal começou
facilitaram o reconhecimento dessas pessoas a incluir os portadores de necessidades
como cidadãos com direitos e deveres. Abaixo especiais como portadores de direitos e
conheceremos essas leis e entenderemos o cidadãos, garantindo o acesso á educação.
que cada uma nos fala. Declaração de Salamanca é um documento
A Constituição Federal de 1988 garante o pertencente das Nações Unidas e foi criada
direito à educação a todos os indivíduos na em 1994 em uma Conferência Mundial sobre
rede publica. Nesse artigo, direito a educação Educação Especial. Esta Declaração tem
abrange aos que antes eram excluídos da como principal objetivo a informação sobre os
escola, que não a frequentavam como os princípios, políticas e a pratica em educação
negros, índios, deficientes, dificuldades de especial, garantindo assim, a educação para
aprendizagem, sendo os deficientes e os que todos.
apresentam dificuldades os portadores de A Declaração de Salamanca citou vários
necessidades especiais na escola. aspectos para garantir o direito à educação
A Constituição garante acesso e a aos portadores de necessidades especiais,
permanência das crianças portadoras de declarando que todo o individuo tem direito
necessidades especiais na rede regular de a educação, a qual deve ser oferecida a
ensino, sendo esse ensino de qualidade a oportunidade para a aprendizagem, que
todas as crianças, e foi essa lei que garantiu cada criança possuiu suas particularidades
os avanços e os direitos aos portadores de e essas devem ser respeitadas. As escolas
necessidades especiais. devem levar em conta essas diferenças e
O preconceito foi sendo banido a até saber trabalhar com elas, mas um dos mais

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Revista Educar FCE - Abril 2019

importantes citados na Declaração, que diz das pessoas com deficiência, desde que não
respeito às escolas regulares: limite sua convivência em sociedade.
Neste ponto a Declaração de Salamanca cita Como podemos perceber, a luta pela inclusão
a escola como ambiente principal e acolhedor é mundial e todos estão envolvidos, porém
dos portadores de necessidades especiais, é necessário um comprometimento maior
fazendo participarem desse sistema, sendo em nossas escolas, em nossos professores
eficaz com todos os participantes. para realizar a inclusão de maneira concreta
Por fim, a Declaração de Salamanca é e efetiva. Talvez a falta de conhecimento,
um documento importante que garante a recursos ou o medo, acaba deixando os
participação de todas as crianças, auxiliando profissionais inseguros e com medo de lidar
a Educação Especial, reconhece o direito dos com os portadores de necessidades especiais,
portadores de deficiência e garante o acesso e porém como diz Mantoan, “Inclusão é todos
permanência na escola, relatando a importância juntos dando suporte á todos”.
desse grupo para o desenvolvimento e como A LDB 9394/96 foi a primeira a destinar
realizar uma inclusão que garanta a educação um capítulo para tratar da Educação Especial
integral e acessibilidade dos portadores de e foi também a partir dela que começou a usar
necessidades especiais. o termo “portador de necessidades especiais”
Em oito de outubro de 2000 entra em vigor e a se falar em inclusão.
a Convenção Interamericana que decreta a Esta lei contém três artigos que se destinam
eliminação de toda forma de discriminação á a atenção aos portadores de necessidades
pessoa portadora de necessidades especiais. especiais, como se deve ser destinada a
Essa Convenção foi realizada na Guatemala, educação e como se deve ser atendida:
a favor das pessoas deficientes, tendo que Artigo 58—Relata que a Educação
promover ações e medidas que auxiliam escolar deve ser oferecida aos portadores
as situações dessas pessoas na sociedade, de necessidades especiais e essa deve
lembrando que todos os homens nascem ser preferencialmente na rede regular de
iguais e por isso possuem os mesmos ensino, iniciando-se na educação infantil, e
direitos independente de suas limitações. A que o atendimento será realizado em escola
Declaração de Guatemala inicia-se dando especial quando for possível e sua integração
o conceito de deficiência no qual se refere nas classes comuns.
à restrição que limita ao sujeito a exercer Artigo 59- Refere-se ao papel das escolas
suas atividades do dia-a-dia, por relatar o em assegurarem essa educação aos portadores
que é a descriminação contra as pessoas de necessidades especiais, observando
portadoras de deficiência comentando o os currículos, métodos, professores com
que é a exclusão dessas pessoas por causa especialização para o atendimento, educação
dessa deficiência, impedindo de exercer seus especial para o trabalho e sua integração
direitos e privando-os da liberdade, e termina em via social e a igualdade de benefícios em
explicando que deve promover a integração programas sociais.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

Artigo 60- A ação dos órgãos normativos devem fazer parte de cursos de capacitação,
do sistema de ensino estabeleceram critérios graduação e pós-graduação, assim como
de caracterização das instituições provadas vincularem-se a prática destes profissionais.
sem fins lucrativos, especializada na educação O professor não deve ter sua formação
especial para apoio técnico e financeiro. como mais um curso de extensão para obter
Já o artigo 58, ele relata a integração dos certificado, mas sim deve se atualizar para
alunos com necessidades especiais, porém saber mais e realizar um bom papel com os
queremos que esse aluno seja incluído não alunos e com a inclusão. Saber lidar , obter
integrado, e que essa inclusão seja realizada informações científicas que o auxiliem em seu
de maneira que beneficie a todos. trabalho.
O trabalho com portadores de necessidades
A FORMAÇÃO DO especiais não é através de regras. Esse trabalho
PROFESSOR NO PROCESSO é realizado através de aperfeiçoamento,
profissionalismo e aceitação. (Mantoan 54).
DE INCLUSÃO De acordo com Mantoan (2002), o professor
É de grande importância para que o é visto como exemplo ao aluno, a formação
professor consiga exercer sua profissão. Essa do professor deve conscientizar a importância
formação deve incluir todos os aspectos para desse papel que o professor exerce, tanto
entender o desenvolvimento do indivíduo, no aspecto pedagógico como mediato na
saber lidar com as mudanças decorrentes no construção do conhecimento como na
ambiente escolar. Mantoan, (1997), relata que formação além dos aspectos pedagógicos.
os professores esperam que em seu curso de A inclusão escolar não evolui em uma escola
formação seja necessário uma preparação ou tradicional e a formação do professor tem que
uma receita ensinando como trabalhar com ser pensada de uma forma diferente, moderna,
a inclusão, que tipo de ensino, de atividades, pois a escola não será a mesma em um projeto
que métodos pedagógicos aplicam os alunos inclusivo. Também a formação do professor
portadores de necessidades especiais. não deve ser a mesma e é importante
Para o professor trabalhar com a inclusão encontros em serviço onde professores
ele deve antes de tudo ser na questão da discutem a realização de projetos e trocas de
formação e capacitação dos professores experiências. Esses encontros poderiam ser
que trabalham com alunos portadores de realizados nos horários de HTPCs ou palestras
necessidades especiais , consideramos que com profissionais de saúde onde responderiam
atuar com a diversidade em sala de aula as dúvidas de funcionários da educação.
pressupõe conhecimentos e disponibilidade É importante que haja uma formação
para aceitar o novo, o diferente. Esta formação eficiente aos professores para o trabalho com
deve incluir conteúdos sobre os fatores que a inclusão. Se verdadeiramente queremos que
levam a deficiências e as necessidades especiais ela ocorra, é importante uma junção de todos
apresentadas pelos alunos, temas estes que na sociedade, em trabalho em conjunto, que

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Revista Educar FCE - Abril 2019

vise o desenvolvimento e a boa interação do para que eles se encontrem e compartilhem


aluno portador de necessidade especial na informações, essa integração é fundamental
sociedade. O papel do professor é ser regente para o processo de inclusão? Cabe ao diretor
de classe, e não especialista em deficiência. Essa e ao coordenador pedagógico garantir que ela
responsabilidade é da equipe de atendimento ocorra nos horários de trabalho pedagógico
especializado. coletivo.
Um professor sem capacitação pode Se agirmos dessa maneira, estaremos
ensinar alunos com deficiência não pode haver excluindo o aluno da mesma maneira e tiraremos
confusão. Uma criança surda, por exemplo, a oportunidade do professor aprender, crescer,
aprende com as especialistas libras (língua de buscar soluções e não aguardar que alguém
brasileira de sinais) e leitura labial. Para ser de fora venha regularmente resolver seus
alfabetizada em língua portuguesa para surdos, problemas.
conhecida como L2, a criança é atendida por Mantoan (1997), o professor especialista,
um professor de língua portuguesa capacitado tira a responsabilidade do professor, tira
para isso. A função do regente é trabalhar a curiosidade e a forma de se aprimorar
os conteúdos, mas as parcerias entre os do professor comum. Também o conceito
profissionais são muito produtivas. Se na turma de inclusão foge de sua realidade, pois é
há uma criança surda e o professor regente importante que todos aprendam juntos, porém
vai dar uma aula sobre o Egito, o especialista o método de ensinar que deve ser diferente à
mostra à criança com antecedência fotos, atender aquele aluno.
gravuras e vídeos sobre o assunto. O professor O sucesso da escola inclusiva está
de L2 dá o significado de novos vocábulos, no reconhecimento e valorização das
como pirâmide e faraó. Na hora da aula, o peculiaridades, enriquecendo o processo de
material de apoio visual, textos e leitura labial ensino aprendizagem, a cooperação dos atores
facilitam a compreensão do conteúdo. da educação, do processo administrativo e
pedagógico que criarão uma escola inclusiva
O PROFESSOR ESPECIALISTA que respeite as diferenças e valorize,
transformando-os em cidadãos críticos e
Na sala regular sabemos que as diversidades participativos.
são frequentes e, ouvimos que no trabalho
com inclusão é importante um professor O NOVO PAPEL DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
especialista que trate e ensine o aluno portador
de necessidades especiais, que auxilie o A nova política nacional para a Educação
professo. Ao pensarmos no verdadeiro sentido Especial é taxativa: todas as crianças e jovens
da inclusão, questionaremos: Será que é com necessidades especiais devem estudar
importante que esse professor frequente na escola regular. Desaparecem, portanto, as
mesmo a sala? Será que assim realizaremos escolas e classes segregadas. O atendimento
a inclusão? Disponibilizando tempo e espaço especializado continua existindo apenas no

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Revista Educar FCE - Abril 2019

turno oposto. É o que define o Decreto 6.571, ensinando a língua brasileira de sinais (Libras),
de setembro de 2008. O prazo para que todos por exemplo. Quem souber se adaptar não
os municípios se ajustem às novas regras sobre correrá o risco de perder espaço. "O profissional
inclusão pois há preocupação em entender maleável é bem-vindo", garante MariaTeresa.
esses conceitos. O momento atual é de construção. De fato,
O texto não acaba com as instituições a inclusão na sala de aula está sendo aprendida
especializadas no ensino dos que têm no dia a dia, com a experiência de cada
deficiência. Em lugar de substituir, elas passam professor. "Mas não existe formação dissociada
a auxiliar a escola regular, firmando parcerias da prática. Estamos aprendendo a fazer", avalia
para oferecer atendimento especializado no Cláudia Pereira Dutra, secretária de Educação
contraturno. Especial do Ministério da Educação (MEC).
Na prática, muda radicalmente a função
do docente dessa área. Antes especialista em CONSIDERAÇÕES FINAIS
uma deficiência, ele agora precisa ter uma
formação mais ampla. "Ele deve elaborar um O presente trabalho poderá trazer grandes
plano educacional especializado para cada contribuições à estudo de Acessibilidade e inclusão
estudante, com o objetivo de diminuir as das pessoas com deficiência no ambiente escolar,
barreiras específicas de todos eles", diz Maria buscando uma sociedade mais justa e consciente
Teresa Eglér Mantoan, professora da Faculdade Sabemos também que há muita coisa a ser
de Educação da Universidade Estadual de trabalhada de forma que garanta a todos os seus
Campinas (Unicamp) e uma das pioneiras nos direitos e respeito a essa diversidade, os obstáculos
estudos sobre inclusão no Brasil. e barreiras são encontrados no passado e no
Ensinar os conteúdos das disciplinas passa presente de forma que se não forem levados a
a ser tarefa do ensino regular, e o profissional sério trarão graves consequências no futuro.
da Educação Especial fica na sala de recursos Sabemos das dificuldades encontradas para
para dar apoio com estratégias e recursos tornar realidade a inclusão no convívio escolar,
que facilitem a aprendizagem. É ele quem sabemos também que todos devem estar
se certifica, ainda, de que os recursos que preparados para torná-la realidade e para que
preparou estão sendo usados corretamente. isso ocorra deve-se contar com um conjunto de
"Ele informa a escola sobre os materiais a ferramentas que começa desde o cumprimento
serem adquiridos e busca parcerias externas das leis de forma precisa e séria, como também
para concretizar seu trabalho", afirma Maria na estrutura física e pedagógica através da
Teresa. A princípio, esse educador não precisa preparação dos professores, contando com o
saber tudo sobre todas as deficiências. Vai se apoio técnico e médico de profissionais que
atualizar e aprender conforme o caso. Ele pode trabalhem a deficiência do aluno dando suporte e
atuar na sala comum de longe, observando se continuidade ao trabalho a ser desenvolvido pelo
o material está sendo corretamente usado, professor em sala de aula.
ou estender os recursos para toda a turma, Nesse contexto, podemos perceber que a

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Revista Educar FCE - Abril 2019

conquista da escola inclusiva de qualidade requer


reforma de projetos e de um conjunto de ações,
tarefa que não é fácil, mas sim possível, desde
que todos estejam unidos em um trabalho serio
se podemos presenciar escolas que aplicaram
projetos para a educação inclusiva e seus
resultados foram positivos e sinal que nas demais
os trabalhos e conceitos, ações devem ser revistas
e reformuladas.
O professor em sua atuação quando ama o
que faz, está sempre aberto a buscar recursos
e experiências novas, está disposto a enfrentar VITÓRIA JESUS FARIA
obstáculos, sem se deixar abater, é ser além de um Graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia pela
educador, é um amante não só pela vida, mas vida Faculdade Pontifícia Universidade Católica (2005); Pós-
e igualdade para todos. Graduação em Gestão Educacional: Fundamentos e Prática
pela Universidade Mogi das Cruzes (2010); Professor de
Na escola inclusiva professores, alunos, gestão Educação Básica I EMEB Edi Greenfield – Poá.
e comunidade escolar aprendem uma lição que a
vida dificilmente ensina: o respeito às diferenças.
Esse é o primeiro passo para construir uma
sociedade mais justa.

REFERÊNCIAS
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PARO, Vitor Henrique. Admistração escolar: Introdução crítica. 11.ed.São Paulo.Editora Cortez,2002
FACCION, José Raimundo. Inclusão Escolar e suas implicações – Curitiba: Ibpex, 2008.
Educação Especial Art. 58 a 60. Disponível em HTTP://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/lfb
SANTOS, Mônica Pereira dos, PAULINO, Marcos Moreira. Inclusão em educação – São Paulo: Cortez, 2008.
MANTOAN, Maria Tereza Egler. Inclusão escolar: O que é? Por que? E como se faz? – São Paulo: Moderna, 2006.
MRECH, Leny Magalhães. Os desafios da educação especial, o plano de educação e a Universidade brasileira. Disponível
em http://educacaoonline.pro.br/index.php. Acesso em 21 de Julho de 2013
RAMOS, Rosana. Escolas que incluem de verdade. Nova Escola, Gestão Escolar - São Paulo: 008, agosto, 2012.
MACEDO, Lino de. Fundamentos para uma Educação Inclusiva. – Disponível em http://www.educacaoonoline.pro.br/
index. Acesso em 21 de Julho de 2013
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salamanca. Acesso em 21 de Julho de 2013
SACI, Rede. Declaração da Guatemala – Disponível em http://www.ssaci.org.br/modulo. Acesso em 21 de Julho de 2013
SENADO, Constituição Federal do Brasil de 1988: Artº 205 e 214 – Disponível em http://www.senado.gov.br/legislacai/
const. Acesso em 21 de Julho de 2013

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Revista Educar FCE - Abril 2019

O PAPEL DO NEUROPSICOPEDAGOGO
RESUMO: Muitos são os desafios encontrados pelo professor quando recebe em sua sala
uma criança com transtornos mentais por se tratar de uma situação que está na contra mão
do convencional, onde nos deparamos com uma criança com tais transtornos, o professor
necessita recorrer a diversas fontes que sejam capazes de contribuir para uma prática
docente que visem alcançar todas as crianças. Com base de uma revisão bibliográfica, busco
com este estudo repensar as estratégias de ensino para que o currículo seja adequado
ao estudante e o auxilio do neuropsicopedagogo, por meio de propostas de ensino e
aprendizagem que respeitem o tempo de cada criança e suas habilidades e competências
que necessitam de uma constante prática.

Palavras-Chave: Saúde Mental; Serviços de Saúde; Professor; Criança e Adolescente.

INTRODUÇÃO
Além de o psicopedagogo estudar as características da aprendizagem, o processo de ensino
e de onde se originam os problemas na aprendizagem, o neuropsicopedagogo frente aos seus
conhecimentos pode elaborar relatórios para encaminhar as crianças ou adolescentes com
distúrbios mentais para o neurologista, pediatra e psiquiatra, caso seja necessário, auxiliando
na identificação do diagnóstico.
Na escola ele irá auxiliar os pais a entenderem o problema de seus filhos e o tipo de trabalho
que será desenvolvido para o tratamento e as intervenções necessárias, mostrando à família
que esta é o principal agente de sucesso na intervenção.
Esse trabalho será feito sempre de forma interdisciplinar com a presença do Coordenador
Pedagógico, do professor e, caso haja na escola, do especialista.
Para que o sucesso ocorra é preciso também que os educadores mantenham junto a seus
alunos relações de cordialidade, afeição, simpatia, de maneira que possam motivar esses

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alunos, fazendo-os sentirem-se estimulados que interagem, configurando a aprendizagem


a aprender. do ser humano podem ser classificas como:
Para Paulo Freire e Shor (1987), essa orgânica, sociocultural, afetiva e intelectual.
interação é muito importante entre os Nessa configuração há uma dinâmica
educadores e os alunos, pois facilitará o de estruturas sensoriais, perceptivas,
processo de aprendizagem: cognitivas e motoras que coexistem
quantitativa e qualitativamente habilitando
(...) a questão da linguagem, isto é, o idioma o sujeito para a aprendizagem. As bases da
com o qual o professor fala para seus alunos... neuropsicopedagogia são essenciais para
as diferenças entre linguagem e a linguagem se entender a funcionalidade cerebral que
dos alunos...seriam um obstáculo ao diálogo. efetiva funções com: memória, percepção,
(...) o abismo entre a linguagem de alunos...e a discriminação, orientação, motricidade, entre
de seu professor é grande. (FREIRE & SHOR, outras”. (RIECHI, 2002, p. 5)
1987, p. 171).
A neuropsicopedagogia surge como uma
nova área do conhecimento e pesquisa
O PAPEL DO na atuação interdisciplinar, adquirindo
NEUROPSICOPEDAGOGO conhecimentos neurocientíficos e tendo
como foco os processos de ensino e
O neuropsicopedagogo dentro da aprendizagem, buscando obter informações
instituição escolar, além de ter um papel de todas as ciências que possam contribuir
preventivo ele também possibilita a otimização para melhor entender o processo de
dos processos de ensino-aprendizagem. Esse aprendizagem de cada indivíduo. Assim
profissional vem somatizar conhecimentos sendo, a neuropsicopedagogia, que reúne
com os demais envolvidos no processo conhecimentos da neurociência, psicologia e
educativo, contribuindo para a melhoria da pedagogia realiza um trabalho de prevenção,
qualidade na aprendizagem. porque avalia e auxilia nos processos didático-
Contribuem para que se desenvolvam metodológicos e na dinâmica institucional
metodologias que abordem várias barreiras para que ocorra um melhor processo de
para a aprendizagem apresentadas pelas ensino-aprendizagem.
crianças no ambiente escolar, pois esse
profissional precisa compreender as respostas “Apresenta a neuropsicopedagogia, como
cerebrais que surgem devido aos estímulos um novo campo de conhecimento que
externos, e também é responsável pela através dos conhecimentos neurocientíficos,
investigação e integração destes indivíduos anexa aos conhecimentos da pedagogia e
com o meio em que estão inseridos. psicologia vem contribuir para os processos
de ensino-aprendizagem de indivíduos que
“Para a neuropsicopedagogia as dimensões apresentam dificuldades de aprendizagem”.

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(HENNEMANN, 2012, p. 6) mediante seus saberes e conhecimentos


da neurociência, poderá elaborar pareceres
Riechi nos diz que é muito importante de encaminhamentos para neurologistas,
compreender os mecanismos e ações pediatras e psiquiatras, auxiliando-os na
internas do sujeito, pois são determinantes identificação diagnóstica, mediante o quadro
para a intervenção pedagógica, psicológica de sintomas e queixa principal”. (KRUG, 2011,
e neuropsicopedagógica, pois para que s/p)
ocorra a aprendizagem é necessário observar
alguns fatores que se interligam, como o Desta forma o neuropsicopedagogo possui
funcionamento, estrutura cerebral, processo um conhecimento melhor estruturado sobre
de informação para que assim melhore o a função cerebral, entendendo a forma como
processo cognitivo. esse cérebro recebe, seleciona, transforma,
Sendo assim: memoriza, arquiva, processa e elabora todas
as sensações captadas.
“As habilidades mentais superiores podem
ser: “funções motoras, linguagem receptiva, “Essas informações captadas devem
linguagem expressiva, memória, processos ser adaptadas as metodologias e técnicas
intelectuais, habilidades aritméticas, educacionais para todas as crianças, desta
organização acústico-motora, funções visuais, forma o neuropsicopedagogo poderá
leitura e escrita e funções sinestésicas.”“. desempenhar funções como: Rever aspectos
(ANTUNHA apud RIECHI, 2002, p.7 e 8). do desenvolvimento humano a partir
das novas descobertas da neurociência;
A neuropsicopedagogia é uma ciência enumerar fatores que afetam negativamente
que estuda o sistema nervoso e sua atuação e positivamente o desenvolvimento
no comportamento humano, tendo como neuropsicológico; reconhecer aspectos
objetivo a aprendizagem, fazendo inter- envolvidos nos processos de memória
relação entre o estudo da neurociência com e atenção relativos à aprendizagem;
os conhecimentos da psicologia cognitiva e compreender os problemas referentes
da pedagogia. ao Déficit de Atenção e Hiperatividade,
transtornos de aprendizagem para que se
“Além de a neuropsicopedagogia ter realizem encaminhamentos pedagógicos
atribuições da psicopedagogia de estudar pertinentes a cada caso; relacionar memória
as características da aprendizagem humana, e desenvolvimento destacando recursos que
processos de ensinarem e a origem das favorecem a aprendizagem e assessoramento
alterações na aprendizagem promovendo técnico frente a instituições voltadas ao
a identificação, diagnóstico, reabilitação e trabalho de Educação Especial Inclusiva,
prevenção frente às dificuldades e distúrbios Atendimento Clinico ou, em mais recente
das aprendizagens, o neuropsicopedagogo, proposta, no apoio ao trabalho com Saúde

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Mental”. (HENNEMANN, 2012, p.6) o cérebro.


Ventura define a neurociência como: Considerando a neurociência como
“A neurocência compreende o estudo do uma ciência nova podemos dizer que a
sistema nervoso e suas ligações com toda a interface cérebro x aprendizagem precisa de
fisiologia do organismo, incluindo a relação investimento científico por parte de nossos
entre cérebro e comportamento. O controle governantes, porém os profissionais das mais
neural das funções vegetativas – digestão, diversas áreas tem voltado seus estudos para
circulação e respiração, homeostase, esse enfoque, principalmente os profissionais
temperatura – das funções sensoriais e motoras, da educação, pois é preciso entender a
da locomoção, reprodução, alimentação e conexão do cérebro x aprendizagem para
ingestão de água, os mecanismos da atenção poder auxiliar as crianças que adentram a
e memória, aprendizagem, emoção, linguagem escola nos dias atuais.
e comunicação, são temas de estudo da Estudos de Tokuhama-Espinosa,
neurociência e da neuropsicopedagogia. ( demonstraram que:
VENTURA, 2010, p. 123)
Os estudos da neuropsicopedagogia “ ... enquanto milhares de estudos foram
auxiliam o conhecimento do cérebro humano devotados para explicar vários aspectos
e a sua relação com a aprendizagem, pois da neurociência (como animais incluindo
se trata de uma obra em andamento, em humanos, aprendem), apenas uns poucos
constante evolução. estudos neurocientíficos tentaram explicar
A área de contato entre os neurônios é como os humanos deveriam ser ensinados,
conhecida como área sináptica onde ocorre para maximizar o aprendizado. (...) das
a sinapse, que é o local em que ocorrem centenas de dissertações devotadas ao
ligações entre neurônios por impulsos “ensino baseado no cérebro”, ou “métodos
nervosos ou eletroquímicos, chamados de neurocientíficos do aprendizado”, nos últimos
potenciais de ação. Isso segundo a autora é a cinco anos, a maioria documentou a aplicação
nossa comunicação interna. destas técnicas, ao invés de justifica-las.”
Verificamos que o cérebro armazena fatos (TOKUHAMA-ESPINOSA, 2008, apud Zaro,
separadamente e a aprendizagem ocorre 2010, p.205)
quando novos estímulos acontecem. O
cérebro está sempre em constante interação Assim, o neuropsicopedagogo está
com o meio através dos estímulos, facilitando em constantes buscas de conhecimento
ou dificultando a memorização, pois está sobre transtornos, síndromes, patologias e
sempre querendo fazer conexões entre as distúrbios que podem gerar sérios problemas
memórias novas e as já existentes. Não em crianças e adolescentes.
existem dois cérebros iguais, porque, uma vez Através dos conhecimentos da
que a aprendizagem o modifica, quanto mais neuropsicopedagogia existe a possibilidade
a pessoa aprende, mais diferenciado se torna de se entender como é o processo de

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desenvolvimento da aprendizagem de é muito complexo, pois envolve emoção,


cada indivíduo, mostrando melhoras interação, alimentação, descanso, motivação,
nas perspectivas educacionais e assim entre outros, não sendo apenas questão de
desmistificar a ideia de que a aprendizagem memorização.
não ocorre para alguns, pois na verdade sempre Por isso, os neuropsicopedagogos precisam
haverá a aprendizagem, no entanto para ter uma visão de como ocorre a aprendizagem
alguns ela virá acompanhada de estimulações do educando no espaço educativo, somando
e atividades diferenciadas, sendo respeitado com a equipe multidisciplinar, atentando
o ritmo de desenvolvimento de cada um. também para a metodologia de ensino do
Seguindo esta linha depensamento professor, porque conforme os estudos
Tokuhama-Espinosa considera de significativa citados acima, esses profissionais possuem
importância como elementos essenciais nas competência para orientar de que forma a
intervenções neuropsicopedagógicas: aprendizagem pode se tornar mais significativa
“ a) Estudantes aprendem melhor quando no processo de aprendizagem do aluno.
são altamente motivados do que quando não Vale ressaltar ainda o que
têm motivação; b) stress impacta aprendizado; Hennemann descreveu sobre as práticas
c) ansiedade bloqueia oportunidades de neuropsicopedagógicas atribuídas a estes
aprendizado; d) estados depressivos podem profissionais:
impedir aprendizado; e) o tom de voz de “O grande avanço da Neuropsicopedagogia
outras pessoas é rapidamente julgado no no Brasil se deu através do Centro Sul Brasileiro
cérebro como ameaçador ou não-ameaçador; de Pesquisa e Extensão – CENSUPEG. Dentro
f) as faces das pessoas são julgadas quase deste contexto educacional os profissionais
que instantaneamente (i.e. intenções boas da Neuropsicologia Clínica são capacitados
ou más); g) feedback é importante para o para:
aprendizado; h) emoções têm papel-chave no ° Compreender o papel do cérebro do
aprendizado; i) movimento pode potencializar ser humano em relação aos processos
as oportunidades de aprendizado; k) nutrição neurocognitivos na aplicação de estratégias
impacta o aprendizado; l) sono impacta pedagógicas nos diferentes espaços da escola,
consolidação de memória; m) estilos de cuja eficiência científica é comprovada pela
aprendizado (preferências cognitivas) são literatura, que potencializarão o processo de
devidas à estrutura única do cérebro de cada aprendizagem.
indivíduo; n) diferenciação nas práticas de ° Intervir no desenvolvimento da linguagem,
sala de aula são justificadas pelas diferentes neuropsicomotor, psíquico e cognitivo do
inteligências dos alunos. (TOKUHAMA- indivíduo.
ESPINOSA, 2008, apud ZARO, 2010, p.204) ° Adquirir clareza política e pedagógica
sobre as questões educacionais e capacidade
Conforme as considerações de Tokuhama- de interferir no estabelecimento de novas
Espinosa, percebemos que o ato de aprender alternativas neuropsicopedagógicas e

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encaminhamentos no processo educativo. que, o neuropsicopedagogo pode despertar o


“° Compreender e analisar o aspecto da grande potencial de sua clientela.
inclusão sistêmica, abrangendo educandos Assim, a Neuropsicopedagogia Clínica vem
com dificuldades de aprendizagem e sujeitos conquistando seu espaço, surgindo como
em risco social”. (HENNEMANN, 2012, p.11) uma nova área do conhecimento e pesquisa
na atuação interdisciplinar, ganhando
Com isso, o neuropsicopedagogo terá conhecimentos neurocientíficos e tendo como
condições de identificar nos indivíduos essas foco os processos de ensino-aprendizagem,
sintomalogias, procurando conhecer quais comenta a profissional especialista Maria da
competências e habilidades esses indivíduos Graça. “O trabalho é realizado com atividades
possuem, propondo uma intervenção que avaliam e intervêm nos processos de
neuropsicopedagógica, que precisará ser aprendizagem, procurando obter informações
acompanhada por familiares, professores, de todas as ciências, tenho diversas
equipe pedagógicas e demais profissionais especializações para que possam contribuir
que se fizerem presentes na vida desses para formar o entendimento mais detalhado
indivíduos. da aprendizagem de cada indivíduo”, enumera.
Dessa forma, a Neuropsicopedagogia,
Para Almeida: que agrega conhecimentos da neurociência,
psicologia e pedagogia tem como foco o
“ A neurociência tem apresentado trabalho preventivo, porque avalia e auxilia
diariamente novas descobertas que não era nos processos didático-metodológicos e na
possível saber antes. Hoje, talvez, a melhor e dinâmica institucional para que ocorra um
a mais importante descoberta da ciência que melhor processo de ensino-aprendizagem,
estuda o cérebro seja a questão da plasticidade encerra Maria da Graça.
cerebral, ou seja, no passado, acreditava- Por isso, é de fundamental importância
se que quem não aprendia, não aprendia e que o professor desenvolva propostas que
ponto final. Seu cérebro não dava conta e busquem alcançar a criança e o adolescente
nunca poderia dar conta da aprendizagem, e, em sua essência, propondo situações
dessa forma, cabia ao indivíduo desaparecer de ensino e aprendizagem com o foco e
dos meios acadêmicos e sociais. Era uma direcionamentos eficientes, contando sempre
exclusão fundamentada até mesmo pela que necessário com a ajuda e orientação do
ciência.”(ALMEIDA, 2012, p.44) neuropsicopedagogo.

Então constatamos que a Neurociência


veio para mudar as concepções do passado
e, por meio de pesquisas e estudos sobre o
funcionamento do cérebro demonstrar que
o mesmo possui diversas potencialidades e

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CONSIDERAÇÕES FINAIS as dificuldades das crianças de forma coletiva


É nossa responsabilidade como educadores, e superar os desafios, conseguindo um
observar, perceber e amenizar esses resultado de aprendizado para educador e
problemas, pois somos um canal que levará educando.
a essas crianças a possibilidade de um bom O professor precisa compreender que
desenvolvimento, desde o trato com a família, embora haja diferenças e dificuldades, todas
a encaminhamentos para especialistas. as crianças têm condições de aprender, desde
Precisamos nos preparar para lidar com que vivenciem experiências que favoreçam o
situações diversas encontradas na escola, seu desenvolvimento.
refletindo sobre a importância da afetividade, O neuropisocopedagogo é de suma
de modo que os alunos possam ser importância, pois, estará assegurando o
compreendidos, aceitos e respeitados, e que trabalho cognitivo, estimulando o desejo
os professores possam saber ouvir, dialogar e a vontade de aprender, melhorando e
e apoiar esses alunos para que busquem ampliando habilidades e talentos, e, acima de
superar suas dificuldades, pois, muitas vezes, tudo ajudando o professor a fazer com que seu
o carinho e a atenção que tem é só o que trabalho pedagógico flua e a aprendizagem
recebem na escola. aconteça, pois ele é o especialista gerenciador
É necessário ainda conscientizarmos as do processo ensino-aprendizagem da escola
famílias, que, mesmo sendo preciso trabalhar e deverá estabelecer contato com professor-
fora o dia todo, ainda assim, tem-se que aluno, pais-aluno, psicólogo-aluno. Com
dispensar um tempo para o diálogo com os isso acreditamos que estas relações irão
filhos, saber como foi seu dia e quais são suas interferindo processo ensino-aprendizagem
angústias. de forma positiva.
A família é peça chave e primordial O foco do trabalho do profissional
na vida da criança e do adolescente, pois as da neuropiscopedagogia é a realização de
interações ocorridas na família exercem uma entrevistas em busca de um diagnóstico.
ação muito importante no desenvolvimento Nesse pensamento, Barbosa nos diz que:
social deles.
A escola tem o dever de fornecer o “Transformar a aprendizagem em prazer
apoio pedagógico especializado e auxiliar a não significa realizar uma atividade prazerosa,
família a encontrar alternativas para a solução e sim descobrir o prazer no ato de: construir ou
dos problemas de seus filhos. de desconstruir o conhecimento; transformar
A tarefa docente é muito complexa, ou ampliar o que se sabe; relacionar
requerendo dedicação e compromisso ao conhecimentos entre si e com vida; ser co-
lidarmos com as dificuldades de aprendizagem, autor ou autor do conhecimento; permitir-se
pois estaremos construindo a formação experimentar diante de hipóteses; partir de
escolar. É preciso pensar quais metodologias um contexto para a descontextualização e
serão usadas adequadamente para enfrentar vice-versa; operar sobre o conhecimento já

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existente; buscar o saber a partir do não saber,


compartilhar suas descobertas; integrar ação,
emoção e cognição; usar a reflexão sobre
o conhecimento e a realidade; conhecer
a história para criar novas possibilidades”.
(BARBOSA, 2001).

Pensando nessa transformação DANIELE NERY SANTOS LIMA


é possível rompermos com dogmas
tradicionalistas, pois há ferramentas que nos Graduação em Letras pela Universidade Paulista
UNIP(2013); 2ª Graduação pela Aldeia de Carapicuíba-
fornecem parâmetros para que a educação Falc. (2014)... PÓS Graduação em alfabetização e
seja diferenciada e não excludente, pois todos Letramento Pela Universidade Nove de Julho-Uninove
tem o direito à ela. ( 2018), Professor de Educação Infantil no Cei Neide
Ketelhut

CONSIDERAÇÕES FINAIS
ALMEIDA, G.P. Plasticidade cerebral e aprendizagem. In: RELVAS, M.P.(org). Que cérebro é esse que chegou à escola?: as
bases neurocientíficas da aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK, 2012, p.44.
ARRANCA, Agostinho Luís da Costa. Intervenção precoce e dificuldades de aprendizagem. Publicado em janeiro de 2007.
Disponível em http://www.agostinhoarranca.n. Acesso em 28 de Março de 2019.
BARBOSA, L.S.M. A Psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente; 2001.
BOARINI, M.L., BORGES R.F. Demanda infantil por serviços de saúde mental: sinal de crise. Estudos Psicológicos. 1998,
p. 83 - 108.
BOSSA, Nádia Aparecida. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática, 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas
Sul, 2000.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n. 2 de 11 de setembro. Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
na Educação Básica, 2001.
_______. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
_______. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Livro I Título I, Capítulo II, artigo 4º.
_______. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, elaborado
pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria Ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria nº 948,
de 09 de outubro de 2007.
_______. Ministério da Educação. Saberes e Práticas da Inclusão, elaborado pelo MEC, 2006, p. 68.
CORDIE, A. Os atrasados não existem: psicanalise de crianças com fracasso escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996,
p. 35.
CORREIA , Luís Miranda; MARTINS, A.P. Dificuldades de Aprendizagem: que são? Como entendê-las? Porto: Porto Editora,
2006, apud ARRANCA 2007, p.10.
FALCÃO, G. Marinho. Psicologia da Aprendizagem. Editora Ática 10ª ed, 2005, P.54.

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O JOGO E A BRINCADEIRA COMO


FERRAMENTAS ALIADAS NO PROCESSO DE
ALFABETIZAÇÂO
RESUMO: Um dos grandes desafios encontrados pelos professores das séries iniciais
é como proceder no percurso da alfabetização de maneira eficaz e que não cause
constrangimentos ou frustrações nos seus alunos. Uma das ferramentas aliadas para esse
processo, reconhecendo-a como a inerente a infância, está às brincadeiras e os jogos. Esses
dois instrumentos tendem desafiar e motivar as crianças a ampliarem seus conhecimentos
de maneira agradável, dinâmica, participativa, descontraída e com muita interação com
seus amigos. Sem desconsiderar o papel fundamental que a criança tem em todo o trajeto
das descobertas relacionadas à leitura e escrita, sendo elas, protagonistas do seu próprio
aprendizado.
Palavras-Chave: Jogos; Brincadeiras; Leitura; Escrita; Alfabetização; Criança

INTRODUÇÃO
O presente artigo demonstra como é importante reconhecer a brincadeira no processo da
alfabetização. Utilizar desse recurso junto aos jogos para um caminho mais harmonioso e que
desperte o interesse das crianças em aprender.
Entende-se que as brincadeiras e os jogos são inerentes a infância. E por esse motivo,
tornam-se peças fundamentais que auxiliarão nas descobertas da leitura e escrita.
O professor, mediador de todo o processo, junto a unidade escolar devem encontrar
maneiras criativas e divertidas para que a alfabetização seja alcançada de maneira eficaz e
significativa no universo infantil.

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O JOGO E A BRINCADEIRA estar presentes desde os anos iniciais mesmo


COMO FERRAMENTAS que acriança ainda não tenha desenvolvido a
oralidade. O professor deve criar situações de
ALIADAS NO PROCESSO DE leitura de vários gêneros textuais, teatros com
ALFABETIZAÇÂO fantoches, brincadeiras com letras, dentre
outras coisas. Ainda, utilizar desses meios
O processo de alfabetização é um desafio dentro da sala de aula e incentivar essa prática
dentro das escolas. nos âmbitos familiares, disponibilizando
Para muitos alunos será o primeiro contato repertórios, materiais e outros.
com o universo que a escrita propõe. Assim, O contato com a leitura/escrita é de
a unidade escolar deverá ter um olha para extrema importância e de grande significado.
tornar esse momento mágico e de grandes Por esse motivo, os livros e a leitura devem
descobertas. estar presentes sempre no cotidiano dos
A alfabetização de qualidade também é alunos em qualquer etapa do ensino escolar.
desafiante para o professor, pois ele precisará Para Castedo (1994, p.86)
de muita criatividade e comprometimento (...) há diversidades de situações que devem
com as atividades que elaborará para esse ser consideradas para que aconteça: criar
processo. condições de leitura num ambiente propício
Dessa forma, a escola deve ter um olhar para que ocorra concentração daquilo que se
sensível para os alunos e não pressioná- esta lendo, disponibilizar livros de qualidade
los por meio de notas, reprovações, e de acordo com a faixa etária, dentre outros.
punições, atividades não significativas e
não motivacionais ou outras coisas que em Quanto mais o aluno é envolvido dentro
nada despertará o gosto pela aprendizagem da dinâmica da leitura e escrita junto de
e descobertas que envolvam a escrita. É seus amigos ou individualmente, ele cria
preciso criar possibilidades lúdicas, criativas, hipóteses e se interessa por esse meio. E, se
dinâmicas, dentre outras que despertem o seu repertorio for extenso, terá ainda mais
interesse das crianças em buscar meios para bagagens para desvendar o paradigma das
concretizar a alfabetização. Para Cagliari letras e da boa leitura. Vygosky (1987, p. 56)
(1998, p.12) descreve sobre a etapa da construção do
(...) Foi possível tratar a alfabetização conhecimento.
sem o medo da reprovação, levar adiante A aprendizagem e o desenvolvimento
um trabalho de ensino e de aprendizagem estão estritamente relacionados, sendo
que não tinha mais a nota como objetivo a que as crianças se inter-relacioanm com o
ser alcançado, mas a formação, a instrução, meio social, internalizando o conhecimento
enfim, a educação. advindo de um processo de construção.

O contato com os materiais de escrita como O grande desafio é o percurso que levará
livros, rótulos, jornais, revistas, etc. devem

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até a concretização da alfabetização. E, as


ferramentas mais presentes e adequadas na fundamental da brincadeira na vida da criança,
vida das crianças são os jogos e as brincadeiras. é possível ver uma infinidade de estratégias
Oliveira (2007, p. 117): que a guiarão nesse processo desafiador que é
O jogo é, precisamente, uma atividade a alfabetização, sendo a criança a protagonista
que tem a ver com conteúdos e habilidades do seu próprio desenvolvimento.
trabalhados pela criança em seu A partir do momento que ela começa
desenvolvimento no interior de uma cultura a manipular materiais que auxiliam na
concreta e a brincadeira favorece o equilíbrio aprendizagem da leitura e escrita, dentro de
afetivo da criança para o processo de uma brincadeira como: blocos de montar,
apropriação de signos sociais. alfabeto móvel, jogo da memória, pescaria,
livros, dentre outras, ela encontra significados
A brincadeira é inerente à criança. Elas que sanam suas dificuldades e a desperta para
fazem de maneira feliz e se comprometem novos conhecimentos. Piaget (1990, p.70)
a vivenciar, por meio da imaginação, o que (...) os jogos e as atividades lúdicas tornara-
esta sendo proposto por ela mesmo, pelo seu se significativas à medida que a criança se
grupo de amigos ou com algum adulto. Assim, desenvolve, com a livre manipulação de
inventam regras para suas brincadeiras, materiais variados, ela passa a reconstituir,
lidam com aflições e sentimentos variados, reinventar as coisas, o que já exige uma
descobrem e criam novas descobertas, se adaptação mais completa.
desafiam diante dos obstáculos, se permitem
reviver situações do cotidiano, dentre Os jogos, aliado a brincadeira, também
outras coisas que o universo da brincadeira ajudam em outros fatores que vão além do
proporciona. Através da brincadeira ela se intuito de ensinar a ler e a escrever, eles ajudam
socializa, interage, interpreta situações que nos aspectos psicológicos e emocionais. A
tem dificuldades, aprendem, encontram o seu criança aprende a lidar com suas frustrações,
papel na sociedade, se frustram, etc. Assim, o sentimentos e erros, ajuda a entender o
Brasil (3007, p.09) próximo e a si mesmo, a trabalhar em equipe,
O brincar revela a estrutura do mundo da dividir os objetos e conhecimentos, descobre
criança, como se organiza o seu pensamento, suas afinidades, obedecer as regras definidas
às questões que ela se coloca como vê o pelos jogadores, etc.
mundo à sua volta. Na brincadeira, a criança Algumas estratégias de jogos podem ser
explora as formas de interação humana, encontradas em alguns recursos já existentes
aprende a lidar com a espera, a antecipar como: Jogo da memória, quebra-cabeça,
ações, tomar decisões, a participar de uma trilhas, encaixe de letras, forca, boliche de
ação coletiva. letras, bingo, baralho, rótulos, dentre outros.
Mas, a criatividade do professor para inventar
Assim que o professor entende o papel seus próprios jogos não poderá ter limites,

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assim poderão inventar jogos de nomeação, que a escola deve considerar a criança como
montagem de historia coletiva, quadrinhos, atividade criadora e despertar, mediantes
jogos dramáticos, jogos de adivinhações, de estímulos, as suas faculdades próprias para a
encontrar palavras etc. criação produtiva.
A partir do momento que o professor
compreende a utilização dos jogos e A interação que o aluno estabelece com
brincadeiras na sua pratica cotidiana dentro seus colegas, professores, parentes e com
das salas de aulas, é possível e quase inevitável os objetos e atividades que estão para lhe
que conclua seu trabalho de forma bem proporcionar ferramentas para aquilo que se
sucedida. Silva e Lira (2003, p. 244) dizem: quer conquistar, o ajuda e o incentiva a querer
Conduzir a criança na sua formação retribuir de maneira clara aos estímulos que
educacional, misturando habilmente uma lhes foram empregues. É comum observar
parcela de trabalho com uma dose de alunos que ao menos aprenderam as letras,
brincadeira, transformaria a aprendizagem ler as palavras que estão no livro e formar
num jogo bem sucedido. uma narrativa completa de acordo com
as ilustrações apresentadas, ou vê-las
Então, nada adianta a utilização de escrevendo cartinhas, histórias, músicas,
cabeçalhos, atividades de cópia e de poemas, dentre outros textos, utilizando
memorização do alfabeto. É preciso pensar rabiscos, letras desconexas e desenhos. A
no que é significativo no processo ensino partir desse momento, o aluno demonstra a
aprendizagem dos alunos. O pensador sua curiosidade e interesse em aprender o
americano, Dewey (1996, p. 147) diz: proposto. Para Cagliari (1998, p. 225)
(...) o jogo faz o ambiente natural da Quando as crianças se propõe a redigir
criança, ao passo que as referencias abstratas textos espontâneos, mesmo que não saibam
e remotas não correspondem ao interesse quase nada sobre o funcionalismo do sistema
da criança. Em suas palavras, somente no da escrita, e, menos ainda, a respeito da
ambiente natural da criança é que ela poderá ortografia das palavras, nota-se que escrevem
ter um desenvolvimento seguro. com uma grafia muito idiossincrática
(individual) . Apesar disso, os textos têm um
Assim, a escola compreende seus educandos certo sabor interessante e, do ponto de vista
como autores do seu próprio aprendizado, do valor, são no mínimo razoáveis.
utilizando o que há de real e de significativo,
que são os jogos e as brincadeiras dentro A medida que seu reconhecimento e
desse processo de construção da leitura e afinidade vão aumentando a alfabetização
escrita. Froebel (1966, p. 246) relata se concretiza. Tudo aconteceu pelo contato
A educação mais eficiente é aquela que e a intenção do professor me provocar o
proporciona atividades, autoexpressão e aluno através dos jogos e brincadeiras para
participação social às crianças. Ele afirma despertar seu interesse e hipóteses quando

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ao mundo das letras por meio da socialização,


interação com as letras e jogos e brincadeiras
diversificadas.
Qualquer prática deveria pressupor o aluno
como sujeito do processo, que a si mesmo se
alfabetiza, à medida que vai cooperando com
os pais, com o professor e com os colegas,
que vão mediando sua interação com o meio,
numa construção coletiva.

Contudo, reconhecer a brincadeira e o jogo


como fundamentais a vida e processo ensino
aprendizagem na vida das crianças é auxiliar GISELE MUKAI DE MIRANDA NOVAIS
a alfabetização no seu modo mais humano, Graduação em Pedagogia pela Faculdade Braz Cubas
eficaz de conclui-la. (2011); Especialista em Alfabetização e Letramento pela
Faculdade de Conchas (2016); Professora da Educação
Infantil na Prefeitura de São Paulo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreende-se que a brincadeira e os
jogos são ferramentas fundamentais no
processo da construção do conhecimento da
leitura e escrita no universo infantil.
O professor, mediador desse percurso,
deverá encontrar meios que auxiliem nesse
processo, utilizando de sua criatividade e
comprometimento em utilizar das brincadeiras
e jogos já existentes como reorganizar e criar
outros que ajudem na alfabetização.
Através da dinâmica, interação social,
desafios, dentre outros aspectos que as
brincadeiras e os jogos proporcionam, os
alunos levantam suas hipóteses e são capazes
de construir seu próprio conhecimento,
tornando-se protagonistas de todo o percurso
percorrido.

1669
Revista Educar FCE - Abril 2019

REFLEXÃO SOBRE O ENSINO DO


PORTUGUÊS COMO LÍNGUA MATERNA -
DA ALFABETIZAÇÃO AO FINAL DO ENSINO
FUNDAMENTAL
RESUMO: O objetivo deste texto é confrontar os diferentes conceitos de gramática e
de norma (culta, padrão) e linguagem, detectando as concepções e pressupostos que
fundamentam cada termo, bem como, por meio de uma pesquisa bibliográfica, compreender
a crítica tecida ao ensino pautado quase que exclusivamente pelos conteúdos da gramática
tradicional, em detrimento do trabalho com análise linguística atrelada à leitura e produção
de texto, buscando um novo paradigma para o ensino de português como língua materna,
orientado pelo reconhecimento e valorização da gramática implícita do aluno, ou seja, de
seu conhecimento prévio, de modo a combater o preconceito linguístico, visto que é pelo
estudo e compreensão dos debates teóricos que se podem encontrar respostas para os
desafios cotidianos e melhorar a qualidade do ensino no país.

Palavras-Chave: Ensino; Língua materna; Gramática; Preconceito linguístico.

INTRODUÇÃO
Diante de paradigmas educacionais em crise, ao focar o ensino do português como
língua materna, deparar-se-á com as diversas críticas a ele feitas, a começar pela prática
escolar, marcada por seu caráter fragmentário e descontextualizado do ensino da gramática
tradicional ou normativa. Além disso, pela desarticulação da vida da escola com a vida
da comunidade, ou seja, não se leva em conta o conhecimento implícito da língua que o
aluno aprendeu fora da escola, no seio familiar e na comunidade em que vive, e mais que
isso: não se aceita esse conhecimento como válido, como afirma Luft "Mantida pela classe
dominante, a escola impõe no ensino obviamente a variedade idiomática culta, relegando

1670
Revista Educar FCE - Abril 2019

e desprestigiando as outras variedades, OS CONCEITOS DE


numa natural discriminação sociolinguística." GRAMÁTICA
(1995, p.81).
Luft (2008) afirma que a criança fala Partindo do princípio de que ensinar
com desembaraço e naturalidade ao entrar língua e ensinar gramática são duas práticas
na escola e que, se bem orientada, em diferentes, os linguistas estudados, antes de
breve, poderia escrever do mesmo modo, tecerem suas críticas ao ensino da gramática,
entretanto, o ensino vai induzindo-a a fazem uma distinção entre seus diversos
acreditar que não sabe sua própria língua, tipos, como Antunes (2007) que aponta uma
falando mal e escrevendo pior ainda. gramática vista como um conjunto de regras
Isso gera uma relação negativa do que definem o funcionamento de uma língua,
falante com sua própria língua. Desde a chamada também de "gramática internalizada",
alfabetização, vai-se incutindo a ideia de outra que apresenta regras que definem
não saber a língua, gerando um bloqueio o funcionamento de determinada norma,
da criatividade, inibição da linguagem e conhecida como "gramática normativa", entre
sensação de incapacidade e insegurança outras.
constante frente a qualquer desafio. Bagno (2015) faz uma distinção entre
Nesse contexto, na busca de um gramática tradicional e gramática normativa,
paradigma que contribua na superação da apontando aquela como a alma e esta como
situação em que se encontra o ensino do o corpo. Para ele, a gramática tradicional
português na escola, Neves (2003) defende é a doutrina, a ideologia, a qual dá vigor e
que cabe a esta ativar uma constante reflexão existência ao ser material, concreto, chamado
acerca da língua materna, contemplando as gramática normativa. Sustenta, ainda, que o
relações entre uso da linguagem e atividades preconceito linguístico manifesta a ideologia
de análise linguística e de explicitação da da gramática tradicional, materializada na
gramática. gramática normativa.
É a reflexão acerca do ensino ou não Possenti (1996) advoga que existam vários
da gramática, ou ainda de quais gramáticas, tipos de gramática, inclusive vários tipos
que motivou este estudo, o qual busca de gramáticas escolares tradicionais. Para
respaldo teórico, por meio da pesquisa esse autor, apesar de apresentar uma noção
bibliográfica, limitada à dimensão deste controvertida, a palavra gramática significa
trabalho, que justifique a compreensão do "conjunto de regras", que pode ser entendido
que está posto como ensino da gramática como conjunto de regras que devem ser
tradicional e a contribuição dos estudos da seguidas (gramática normativa), conjunto de
ciência linguística de modo que se possa regras que são seguidas (gramática descritiva)
sinalizar para uma nova postura frente ao e conjunto de regras que o falante da língua
ensino da língua materna. domina (gramática internalizada).
Ainda de acordo com Possenti (1996), as
gramáticas normativas se destinam a fazer com

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que as pessoas aprendam a falar e escrever norma, conhecida como "gramática


corretamente por meio de um conjunto de normativa", entre outras.
regras a serem dominadas, visando o emprego Bagno (2015) faz uma distinção entre
da variedade padrão. gramática tradicional e gramática normativa,
Quanto às gramáticas descritivas, segundo apontando aquela como a alma e esta como
ele, são as que orientam o trabalho dos o corpo. Para ele, a gramática tradicional
linguistas, tendo como preocupação a é a doutrina, a ideologia, a qual dá vigor e
descrição ou a explicação das línguas do existência ao ser material, concreto, chamado
modo como são faladas. gramática normativa. Sustenta, ainda, que o
Por sua vez, as gramáticas internalizadas, preconceito linguístico manifesta a ideologia
também conhecidas como "gramáticas da gramática tradicional, materializada na
implícitas" são defendidas por Possenti como gramática normativa.
o conjunto de regras que o falante domina. Possenti (1996) advoga que existam
Seria uma gramática internalizada pela vários tipos de gramática, inclusive vários
experiência de ouvir, repetir, falar, enfim, tipos de gramáticas escolares tradicionais.
conforme ratifica também Luft: Para esse autor, apesar de apresentar uma
noção controvertida, a palavra gramática
O sistema de regras, ou gramática, é uma significa "conjunto de regras", que pode ser
teoria da língua. Chomsky insiste no fato de entendido como conjunto de regras que
que, no processo de aquisição da língua, antes devem ser seguidas (gramática normativa),
e fora da escola, a criança vai construindo, conjunto de regras que são seguidas
para si mesma, sem verbalizar e sem se dar (gramática descritiva) e conjunto de regras
conta disso, uma "teoria" da língua a que se vê que o falante da língua domina (gramática
exposta. (LUFT, 2008, p. 37) internalizada).
Ainda de acordo com Possenti (1996),
OS CONCEITOS DE
GRAMÁTICA CRÍTICA AO ENSINO DA
GRAMÁTICA
Partindo do princípio de que ensinar
língua e ensinar gramática são duas práticas Atualmente, encontram-se diversas
diferentes, os linguistas estudados, antes de críticas ao ensino de gramática na escola,
tecerem suas críticas ao ensino da gramática, então, vem a pergunta: a qual tipo de
fazem uma distinção entre seus diversos gramática se dirigem tais críticas? A resposta
tipos, como Antunes (2007) que aponta vem de diferentes estudiosos do assunto,
uma gramática vista como um conjunto de apontando a gramática normativa como a
regras que definem o funcionamento de grande vilã porque:
uma língua, chamada também de "gramática
internalizada", outra que apresenta regras que Para a gramática normativa, a língua
definem o funcionamento de determinada corresponde às formas de expressão

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Revista Educar FCE - Abril 2019

observadas produzidas por pessoas cultas, sem qualquer dúvida que o objetivo da
de prestígio. [...] funciona como modelo, escola é ensinar o português padrão, ou,
acabando por representar a própria língua. talvez mais exatamente, o de criar condições
Eventualmente, a restrição é ainda maior, para que ele seja aprendido." Brito defende
tomando-se por representação da língua a uma redefinição do objeto de ensino,
expressão escrita elaborada literariamente. pois considera equivocada e ideológica a
É a essa variante que se costuma chamar associação entre norma culta e escrita.
"norma culta" ou "variante padrão" ou Vale ressaltar que Possenti (1996, p.
"dialeto padrão". (POSSENTI, 1996, p.74) 18) defende que impor o ensino da língua
padrão como se fosse o único dialeto válido
A crítica de Possenti (1996), bem como de consistiria uma violência cultural, pois
Luft (2008), Neves (2003), Antunes (2007) e considera uma violência impor a um grupo
Perini (2000), reside no fato de a gramática social valores de outrem, entretanto, acredita
normativa, além de seu teor prescritivo, que "[...] os menos favorecidos socialmente
desconsiderar todos os fatos que divergem só têm a ganhar com o domínio de outra
da variante padrão, apontando-os como forma de falar e de escrever." Advoga, ainda,
erros ou vícios de linguagem. Sendo assim, que a escola não ensina língua materna a
acaba por servir apenas a um pequeno grupo, nenhum aluno, pois não se ensina aquilo que
excluindo os grupos socioeconomicamente já se sabe, restando a ela sua função que
desfavorecidos, os quais constituem seria ensinar o padrão, em especial o escrito.
atualmente a grande maioria dos alunos da No dia em que as escolas se dessem
escola pública. conta de que estão ensinando aos alunos o
Além disso, Perini (2000, p.35) chama a que eles já sabem, e que é em grande parte
atenção para o fato de a gramática normativa por isso que falta tempo para ensinar o que
só considerar a escrita, não levando em conta não sabem, poderia ocorrer uma verdadeira
a língua falada pelos brasileiros no seu dia a revolução. (POSSENTI, 1996 p. 32)
dia, afirmando que "A língua que aprendemos
com nossos pais, irmãos e avós é a mesma O referido autor sintetiza a discussão,
que falamos, mas não é a que escrevemos." afirmando que não é papel da escola ensinar
Para esse autor, existem duas línguas: uma uma variedade no lugar da outra, mas criar
que se escreve ou "de civilização", que é o condições para que o aluno aprenda as
português, e a que se fala, a verdadeira língua variedades que não domina, partindo de
materna. sua gramática internalizada, observando
As críticas mais severas quanto ao ensino as ocorrências que se tornam regras,
da língua portuguesa no Brasil encontram-se sem se fixar em prescrições de "certo" ou
em Brito (2003), posicionando-se contrário "errado", assim, no reconhecimento de sua
às ideias de outros pesquisadores, como variedade linguística entre outras, ganharia
Possenti (1996, p.17), que afirma "Adoto a consciência de sua identidade linguística e

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Revista Educar FCE - Abril 2019

se disporia à observação das variedades as ligada à gramática normativa, refere-se a


quais não domina. tudo o que foge à variedade eleita como
Freire (2016) foi um grande defensor exemplo de boa linguagem. Na perspectiva
da ideia de que é papel do professor, e da da gramática descritiva, só ocorreria erro
escola como um todo, respeitar os saberes em construções que não fizessem parte de
trazidos pelos educandos, sobretudo os das forma sistemática de nenhuma das variantes
classes populares, e mais que isso, discutir de uma língua.
com os alunos a razão de ser desses saberes Antunes (2007) alerta para o fato de
em relação com o ensino dos conteúdos. não existir uma única norma linguisticamente
válida. Geralmente são usados os termos:
CONCEITOS EM FOCO norma culta, norma-padrão e norma
não padrão. Em sentido amplo, norma
É preciso deixar claro que há dois linguística refere-se à normalidade; já em
sentidos para regras: um, como obrigação, sentido restrito, significa normatividade ou
lei, dever; outro, regularidade e constância. prescrição, ou seja, de como deve ser.
O primeiro sentido é apontado como o A norma culta tem sido relacionada
cerne do problema do ensino das gramáticas ao ensino da gramática tradicional,
normativas por fixar-se na ideia de uma língua correspondendo ao falar correto, modelo a
padrão, apoiada na noção de erro e acerto; ser seguido, pois é socialmente prestigiado,
já o segundo é usado pelos linguistas, entre enquanto que a norma popular tem sido
eles, Possenti, ao defenderem a gramática apontada como a errada, desprestigiada
descritiva, que observa as regras, ou seja, as socialmente. Antunes (2007, p.89) advoga
ocorrências, sem pretensão prescritiva, nem que é preciso ter clareza quanto ao uso de
qualquer noção valorativa. cada termo, lembrando que "A norma culta é
Também não se pode perder de vista requisitada mais pelo caráter de formalidade
que a noção de língua é diferente para cada da comunicação do que pelo fato de ser ela
definição de gramática. Para a gramática falada ou escrita." É preciso atentar para a
normativa, a língua corresponde às formas vinculação da norma culta ao poder político,
de expressão observadas por pessoas cultas, pois é a norma da classe dominante em
de prestígio. Para a gramática descritiva, oposição à norma não padrão, atribuída às
nenhuma expressão é encarada como erro, pessoas da classe menos favorecida, surgindo
ou não pertencente à língua, esta fixa-se dessa associação o preconceito linguístico, o
nas diferenças entre escrita e fala e entre qual é, antes de tudo, um preconceito social.
variações linguísticas, motivadas pelas
circunstâncias de uso. INOVAÇÃO NO ENSINO DE GRAMÁTICA
O conceito de erro também está
atrelado às definições de gramática. Todo o debate fomentado pelos
Conforme já mencionado, a noção de erro, estudiosos aqui apontados levou ao

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Revista Educar FCE - Abril 2019

questionamento de como essa reflexão Suarez Abreu (USP), Lygia M. C. de Moraes


poderia estar repercutindo na escola, ou (USP), Helena N. Brandão (USP), Norma
ainda, se estaria encontrando eco junto aos Goldstein (USP), Luiz Percival L. Britto
professores das redes públicas brasileiras. Por (doutorando UNICAMP), Wilmar D'angelis
isso, buscaram-se, na pesquisa de Aparício (doutorando UNICAMP).
(1999), as respostas para tais indagações. Algumas atividades práticas de como
Segundo Aparício (1999), a SEE- ensinar gramática partiram do Professor
SP (Secretaria Estadual de Educação de João Wanderley Geraldi, na apresentação
São Paulo) havia assumido o compromisso de atividades de "reestruturação" e
de recuperação da escola pública e da "reconstrução" de textos produzidos por
qualidade de ensino oferecido, defendendo alunos. Os professores Luiz Percival L. Britto
a reformulação do currículo com vistas à e Wilmar D'angelis também apresentaram
transformação da prática docente. propostas de atividades sobre como ensinar
A busca de novos paradigmas teórico- gramática em textos.
metodológicos que fossem capazes de Nesse contexto, onde atuou de 1987
responder às novas necessidades e desafios a 1997, movida por sua inserção ativa nesse
socialmente postos para o ensino da processo de formação de professores,
língua portuguesa encontrou resposta na iniciou, em 1997, seu estudo na perspectiva
Linguística, uma ciência que questionava a da pesquisa em Linguística Aplicada de base
tradição gramatical. interpretativa a fim de propiciar uma reflexão
Foi na condição de monitora de sobre o impacto da proposta paulista de
língua portuguesa da DE (Delegacia de renovação do ensino de gramática tanto na
Ensino) na cidade de Penápolis - SP, que aula, quanto no discurso de professores de
pôde acompanhar o trabalho da CENP língua portuguesa de 5ª a 8ª série na DE da
(Coordenadoria de Estudos e Normas rede estadual da referida cidade.
Pedagógicas) de formação dos profissionais Os 20 professores informantes, em
da rede estadual de São Paulo. sua maioria, eram do sexo feminino, de
A pesquisadora relata que estudiosos idade entre 30 e 38 anos, tendo realizado o
da Linguística foram requisitados pela Curso de Licenciatura em Letras na mesma
SEE-SP para a organização de subsídios à instituição, entre 1987 e 1997, e com
implementação de um novo plano curricular idade variando entre 20 e 25 anos. Além
para o ensino de língua portuguesa. O disso, a maior parte deles tinha entre 2 e
módulo destinado à gramática e ao ensino 5 anos de experiência de ensino de língua
de gramática contou com palestras dos portuguesa na rede estadual. A maioria,
seguintes especialistas e suas respectivas possuindo uma carga horária com mais de
universidades: Ataliba T. de Castilho (USP/ 30 horas-aula semanais, lecionava na cidade
UNICAMP), Sírio Possenti (UNICAMP), João sede da DE, no máximo em duas escolas,
Wanderley Geraldi (UNICAMP), Antônio principalmente em classes de 5ª e 6ª séries.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A grande maioria havia participado de 10 a que os professores tinham consciência, não


15 OTs (orientações técnicas) somente na só das propostas de mudança como também
DE, nos últimos dez anos, possuindo assim das dificuldades que enfrentavam na prática
entre aproximadamente 60 e 90 horas de de sala de aula, o que pareciam não se dar
capacitação. conta é das inconsistências presentes em
Com os dados coletados, a pesquisadora suas aulas de gramática e em seu discurso.
pôde observar que a problematização das Ela conclui,
práticas tradicionais de ensino de gramática
trouxe em seu bojo uma espécie de unificação Em síntese, pela análise dos depoimentos
e consequente neutralização de diferentes dos professores que nos serviram de
orientações teórico-metodológicas que informantes para esta pesquisa, podemos
deram suporte à proposta de renovação. constatar que todos têm conhecimento
E essa unificação foi consolidada ao longo das propostas de renovação do ensino de
do processo de mediação realizado pelas gramática. Mas, de modo geral, principalmente
instâncias incumbidas de divulgá-las junto se considerarmos os depoimentos dos que
aos professores, porém, conforme também organizam suas próprias aulas consultando
pôde observar a partir da análise dos textos diversos materiais, podemos dizer que,
de mediação, essa unificação não significou o embora tenham incorporado o discurso sobre
apagamento, nesses textos, das dificuldades a proposta, produzido por linguistas e pela
de articulação e de implementação das Equipe Técnica, muito pouco têm avançado
diferentes propostas. na sua implementação. (APARÍCIO, 1999, p.
Assim, verificou-se que a proposta 144)
de renovação do ensino de gramática
no primeiro grau (chamado atualmente CONSIDERAÇÕES FINAIS
como ensino fundamental II) no estado de
São Paulo, a partir de críticas à tradição
gramatical e escolar, apresentou diferentes Entende-se que o debate proposto a partir
perspectivas, vindas da chamada Linguística do confronto entre os pressupostos que
funcional. Além disso, que as instâncias ancoram o ensino da gramática tradicional
que estabeleceram a ponte entre os e os que alicerçam um novo modelo de
conhecimentos vindos da Linguística e os ensino de língua materna com contribuições
professores neutralizaram ou apagaram da Linguística, a fim de superar os péssimos
essas diferenças. resultados no ensino e o preconceito
Quanto às aulas, constatou-se linguístico, contribui de forma significativa
uma grande dificuldade do professor para aqueles que atuam no sistema
para desenvolver o estudo gramatical no educacional público brasileiro.
texto, aparecendo equívocos em suas Há que se ressaltar que o
intervenções. Os depoimentos revelaram aprofundamento dado ao tema ocorreu

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Revista Educar FCE - Abril 2019

nos limites da possibilidade deste trabalho


e que, apesar de ter proporcionado uma
ampliação do conhecimento nessa área,
abre a possibilidade para a continuidade
da pesquisa em uma perspectiva de buscar
novas experiências de como tem sido o
ensino do português nas últimas décadas na
busca de um posicionamento crítico acerca
dessas novas ideias.
Acredita-se, ainda, ter chegado ao final SANDRA MARIA DE OLIVEIRA
deste trabalho com o objetivo cumprido, Graduação em Letras pela Faculdade Fundação Santo André
(1994) e Pedagogia pela UNINOVE (2013); Especialista
pois a proposição inicial foi confrontar em Língua Portuguesa pela Faculdade UNINOVE (2015)
os conceitos de gramática, regras, língua, e Alfabetização e Letramento pela Faculdade Cruzeiro do
erro, norma e preconceito linguístico, Sul (2018); Professora de Ensino Fundamental I na EMEF
Rodrigo Mello Franco de Andrade.
detectando as concepções e pressupostos
que fundamentam cada termo, a fim de
compreender os atuais debates travados REFERÊNCIAS
nessa área, apontando para a necessidade
de um novo paradigma para o ensino do ANTUNES Irandé. Muito além da gramática: por um
português, e encontrar respostas para ensino de línguas sem
os desafios cotidianos, bem como para a pedras no caminho. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial,
melhoria na qualidade do ensino público no 2007.
país. APARÍCIO, Ana Sílvia Moço. A renovação do ensino de
Assim, ao alargar o entendimento gramática no
sobre a problemática que envolve a gramática primeiro grau no estado de São Paulo. Campinas, 1999.
e seu ensino, conclui-se que grandes são 156 f. Dissertação
as contribuições da ciência linguística, (Mestrado em Linguística Aplicada) - Unicamp/IEL.
porém, tem-se também a clareza de que BAGNO, Marcos. Dramática da língua portuguesa:
só a compreensão dessa nova proposta tradição gramatical,
de ensino não basta, faz-se necessário mídia &amp; exclusão social. 6. ed. São Paulo: Loyola,
um aprofundamento de estudos em como 2015.
realizar um trabalho, levando em conta a BRITO, Luiz Percival Leme. Contra o consenso: cultura
gramática implícita do aluno, de forma a escrita, educação e
superar o preconceito linguístico, coerente participação. Campinas: Mercado de Letras, 2003.
com as necessidades e anseios das camadas FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes
populares da sociedade contemporânea. necessários à prática
educativa. 54. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

A CONTRIBUIÇÃO DO COORDENADOR
PEDAGÓGICO PARA FORMAÇÃO DO
DOCENTE REFLEXIVO
RESUMO: A pesquisa relata sobre a reflexão do professor sobre sua prática em sala de
aula, ressalta sobre a consciência crítica que o educador tem e como o coordenador faz a
mediação nesse processo de sua práxis.
Para tanto, destacam-se três tipos de conhecimentos: declarativo, procedimental e
metacognitivo. O primeiro refere-se aquilo que o sujeito diz saber. Exemplo: o professor
sabe que errar faz parte do processo de aprendizagem. O procedimental refere-se ao
“como”, ou seja, o professor corrige o erro através da repetição de forma certa. Por fim,
encontra-se o condicional, é responsável pelo entendimento do “porque” e “quando” agir
de determinada forma. Assim, percebemos que somente pela tomado de consciência
desses três tipos de conhecimento que o professor se tornaria reflexivo e teria chance de
entender e transformar sua prática tornando-se assim senhor de suas próprias ações.
Para que se obtenha tal conhecimento faz-se necessário a mediação do Coordenador
Pedagógico (CP). Para tanto, analisa-se também o que motiva esse profissional a permanecer
em sua função, quais são suas motivações para permanecer na função, quais são suas
dificuldades, limitações, como ele pode ou deve agir e instigar o professor para que esse
reflita sobre sua práxis?

Palavras-Chave: Ensino; Língua materna; Gramática; Preconceito linguístico.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

INTRODUÇÃO REFLEXÃO DO PROFESSOR


Verificou-se que o processo reflexivo SOBRE A SUA PRÁTICA
tem sido considerado como essencial
na aprendizagem e formação de
professores, porque assim tornam-se Verificou-se que o processo reflexivo
seres críticos sobre sua prática. Partindo tem sido considerado como essencial
desse pressuposto, indaga-se como o na aprendizagem e formação de
Coordenador Pedagógico contribui para professores, porque assim tornam-se
formação do docente reflexivo? seres críticos sobre sua prática. Liberali
A presente pesquisa busca também (1996 p.20) ressalta: “refletir implica um
analisar o papel do coordenador para processo de busca interior... sugere um
formação do professor reflexivo sobre desenvolvimento crítico, uma crescente
sua práxis, além de: refletir sobre as consciência de si e do mundo”.
funções da Coordenação Pedagógica, A reflexão enquanto forma de
verificar a interação entre coordenador conhecimento, também pode ser
e professor para promoção da reflexão vista como um ato criador. Parte do
significativa sobre a prática docente, reconhecimento e entendimento da ação
rever o significado de cidadania no para posterior transformação dela. Para
cotidiano escolar, Identificar as relações haver reflexão, portanto é preciso que a
democráticas na escola para promoção linguagem de forma a ação, possibilitando
do conhecimento, identificar o que seu reconhecimento e entendimento.
motiva o professor a exercer o cargo de (LIBERALI, 2006 p.21)
coordenador Pedagógico.
A pesquisa é relevante, porque leva o Assim, percebe-se que ao falar de
leitor a conhecer o processo dos reais sua prática os docentes passam a assumir
motivos que levam o coordenador um papel autoconsciente em relação
pedagógico a exercer sua função e a suas ações. Nesse sentido, Vygotsky
permanecer nela, revela como este (1925, apud LIBERALI, 1996, p.22), “só
profissional influencia os professores a temos consciência de nós mesmos na
refletir sobre sua práxis e como ele pode medida em que para mim sou o outro,
fazer a diferença dentro do contexto isso ocorre por que a consciência é social,
escolar expandindo para a vida cotidiana. assim nossa reflexão precisa dos “outros”
Dessa forma, poderemos ampliar nossa como mediadores”. Dessa forma, para
compreensão sobre esse tema, assim que o docente experiêncie um conflito
como conhecer o trabalho dos CPs e sua que inicie o processo de tomada de
influencia para formação de um professor consciência, é necessária a mediação.
reflexivo. Segundo Liberali (1996), o
comportamento estratégico propõe a

1679
Revista Educar FCE - Abril 2019

autoconsciência, na qual destacam-se mudanças que achar necessárias.


três tipos de conhecimentos: declarativo, Segundo, Oliveira et al (2006
procedimental e metacognitivo. O p.556) "há uma visão assistencialista
primeiro refere-se aquilo que o sujeito diz de atendimento a criança pequena,
saber. Exemplo: o professor sabe que errar que prioriza o cuidado físico mais do
faz parte do processo de aprendizagem. que uma estimulação global a seu
O procedimental refere-se ao “como”, ou desenvolvimento".
seja, o professor corrige o erro através Dessa forma, segundo Liberali
da repetição de forma certa. Por fim, (1996), vimos que a escola é vista como
encontra-se o condicional, é responsável reprodutora de valores culturais e sociais
pelo entendimento do “porque” e “quando” e a ela estão dialeticamente relacionadas
agir de determinada forma. as noções de poder e de consciência
Dessa forma, percebemos que crítica e do saber que podem das um novo
somente pela tomado de consciência rumo a prática pedagógica.
desses três tipos de conhecimento que Com isso, verificou-se que: “a auto-
o professor se tornaria reflexivo e teria reflexão, surge como mola-mestra
chance de entender e transformar sua para mudança educacional criando
prática tornando-se assim senhor de suas oportunidade para que os professores
próprias ações. adotem uma postura crítica de suas
Pesquisas enfatizam a importância práticas” (LIBERALI; 1996). Assim, a
do entendimento da sala de aula pelo reflexão exige que pensamos sobre nossa
próprio professor, da compreensão do ação social, tomando consciência de
que ocorre e do questionamento de seu nossa práxis.
papel na transformação da escola e da Segundo Liberali (1996), “a reflexão do
sociedade, ressalta-se a rotina prática sujeito sobre si, sobre seu estar no mundo,
do professor, seu comportamento em e sobre as suas ações sobre o mundo,
sala de aula, a complexidade da sala permitem a transposição de limites, que
de aula dificultam seu distanciamento lhe são impostos pelo próprio mundo
e consequentemente, o impedem de e, respectivamente, a adoção de ações
analisar, entender e transformar sua comprometidas”. Ainda, Liberali input
consciência. (LIBERALI, 1996). Freire 2002, p.17. Ainda, segundo Freire,
Nesse sentido, Magalhães (1992, a capacidade atuar, operar, transformar,
apud LIBERALI, 1996), reflexão é um a realidade de acordo com intenções
processo de auto- questionamento em definidas, aliadas a capacidade, e refletir,
que o professor sistematicamente pensa faz do homem um ser de práxis, ou seja
e analisa exemplos concretos de sua um sujeito que pensa sobre suas ações
aula, para entender como propósito e no mundo.. Como a “reflexão” consiste no
pratica estão relacionados e introduzir as pensar a práxis, no sentido de transformá-

1680
Revista Educar FCE - Abril 2019

la e torná-la mais competente, a mesma professor reorganiza sua compreensão dos


constitui-se um ato político, uma vez que conceitos sobre ensino/aprendizagem,
pressupõe um agir planejado e intencional valores e crenças. Além disso:
sobre a pratica. O processo de desenvolvimento, não
Enquanto educadores, analisar sobre difere do aluno, pois entendemos que
a prática com consciência e objetivos ambos se apropriam do conhecimento da
definidos, e proporcionar os alunos a mesma forma. A diferença está em que o
oportunidade de fazerem o mesmo. professor, já tem muitas de suas funções
Para tanto, Liberali (1996), “a educação, superiores e conceitos desenvolvidos
depende de ações honestas, justas e e a reflexão atua na transformação e
corajosas de professores, que objetivem reorganização conceitual e cognitiva.
desenvolver alunos intelectualmente e (LIBERALI, 1996).
moralmente autônomos, compassivos e Portanto, discute-se a necessidade da
zelosos”. reflexão-na-ação, ou seja, a reflexão feita
Para que educandos e educadores durante a ação e que levaria a compreensão,
tenham consciência de sua ação na reformulação e reorganização daquilo
sociedade onde vivemos, verificou-se que que está em andamento. Assim, a relação
o coordenador pedagógico influencia nas professor-coordenador é fundamental
ações dos que estão dentro da unidade para que essa reflexão tenha lugar.
educacional.
Segundo, Liberali (1996), “o papel COORDENADOR / PROFESSOR /
central do coordenador é visto como o REFLEXÃO
de parceiro mais desenvolvido, o que lhe A complexidade da relação instrutor-
possibilita mediar o desenvolvimento do aprendiz levou Shon aput Liberali(1996), a
professor e leva-lo a uma postura crítica”. apresentar dois modos de agir dos sujeitos
Dentro de uma visão Vygotskiana, o na interação que normalmente tem lugar
coordenador será aquele que auxiliara o contextos de ensino/aprendizagem. Um
professor a questionar seu senso comum, deles, revela-se uma relação de ganha/
e tornar-se consciente de suas ações em perde no qual as pessoas envolvidas tem
sala de aula, possibilitando a compreensão atitudes defensivas de autopreservação.
e transformação de seus conceitos e Outro modelo, refere-se a troca de
crenças. informações mesmo que difíceis e
Nesse sentido, Liberali (1996), “... no sensíveis. Nesse segundo modelo,
diálogo como outro, nas pistas dadas ressalta-se que:
pelo outro, com o apoio do outro que ele Os dilemas pessoais são compartilhados
aprende a observar, ver e criticar a própria para que se possa surgir um compromisso
prática...a ponto de gerar mudanças”. através do qual as pessoas se sintam livres
Assim, com o apoio do outro que o para falar sobre suas reações as atitudes

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Revista Educar FCE - Abril 2019

dos outros para trocar informações válidas de formação específica para exercer a
e para fazer escolhas livres e informadas. função. (ALMEIDA,PLACCO e SOUZA;
(LIBERALI,1996). 2016).
Nesse contexto, Magalhães aput Verificou-se que as demandas do
Liberali (1996), cria-se um relacionamento Coordenador Pedagógico são varias e
colaborativo, no qual professor e de diversas fontes, pesquisar realizadas
coordenador confiam um no outro, na área revelam “a tensão permanente
explicitam seus processos mentais e criam produzida pelo excesso de demandas e as
oportunidades de reflexão. condições de trabalho que impossibilitam
Além disso, segundo Liberali (1996), a seu atendimento leva ao questionamento
diversas formas do coordenador formatar sobre o que os manteria na coordenação
sua participação, dando instruções, pedagógica com satisfação”. (Almeida,
propor atividades, dar instruções, analisar Placco, e Souza (2016; p. 62).
e reformular problemas e falar sobre Constatou-se que, Almeida, Placco, e
as próprias reflexões, questionar de Souza (2016), os benefícios da carreira,
forma a dirigir atenção do aprendiz para questões afetivas, e relacionais mantinham
determinado aspecto. o coordenador na carreira, mas também
Assim segundo, Shon aput Liberali verificou-se que existem fatores que
(1996), existem algumas formas do desmotiva esse profissional a permanecer
coordenador levar o aprendiz a lidar a na área entre elas: profissional mal
reflexão com a reflexão sobre sua ação remunerado, com condições de trabalho
Segundo, Almeida, Placco, e Souza inadequadas e com demanda de trabalho
(2016), foi realizada uma pesquisa nos que ultrapassa suas reais possibilidades
anos de 2010 e 2011 em escolas das de ação.
cinco regiões geográficas brasileiras para Dessa forma, vimos que os sentidos da
analisar os processos de coordenação Coordenação Pedagógica, implica voltar-
pedagógica, constatar o reconhecimento se para os processo de subjetivação dos
da função para o funcionamento da sujeitos que assumem essa atividade
escola por governantes e trabalhadores profissional “buscando aproximações com
da educação. Buscou-se analisar o papel o modo como se apropriam e constituem
do coordenador pedagógico na formação suas ações, o qual se relaciona com sua
continuada de professores. experiência, sua história profissional
Os depoimentos dos CP nas entrevistas e pessoal, seus conhecimentos, afetos
revelam que são muitas e de diversas e motivos para exercer a sua função”.
naturezas as dificuldades enfrentadas em (Almeida, Placco, e Souza, 2016; p. 64).
seu trabalho, como a baixa remuneração, O CP é um sujeito historicamente
a grande quantidade de tarefas, o constituído, isto é sua constituição se faz
pouco tempo para realiza-las e a falta a partir de todas as apropriações culturais

1682
Revista Educar FCE - Abril 2019

dos meios e dos grupos dos quais planejamento, organização e condução


participou, entram nessa constituição as de reuniões pedagógicas; ao enfrentar
experiências vividas, os conhecimentos as relações de poder desencadeadas na
adquiridos as representações e os escola, e desempenhar sua função junto
valores... o CP é resultante da organização aos professores, aos alunos, à escola e
e funcionamento da escola...entretanto é à comunidade, este profissional revela
o sentido que o CP confere as atribuições suas identificações e não identificações
que lhes são feitas, a forma como se com as expectativas expressas pelos
apropria do instituído que é de ordem participantes da escola e responde –
subjetiva, que conforma sua prática. Esse ou não – às necessidades formativas
sentido decorre de suas necessidades e expressas no PPP da instituição escolar.
valores. (ALMEIDA,PLACCO e SOUZA; ALMEIDA,PLACCO e SOUZA; 2016, p.
2016, p. 64). 65).
Com isso, verificou-se que ainda que
com insatisfação com os ganhos e com Portanto, verificou-se que o CP tem
as limitações da carreira, a maioria dos diversas demandas que necessitam
CP declara que a profissão é gratificante, ser atendidas dentro do contexto
possibilita crescimento pessoal e escolar, desde atendimento a pais,
profissional. Reconhecem que “as redes alunos, recepção de alunos, cuidados
de ensino exigem muito do CP e que seu na hora do intervalo até mesmo e mais
crescimento profissional exige melhor importante a formação dos educadores
formação e melhores oportunidades de para construção de seres críticos e
formação” (Almeida, Placco, e Souza, reflexivos sobre sua práxis.
2016; p. 64).Nesse sentido: Dessa forma, Almeida, Placco, e Souza
O Coordenador Pedagógico, ator (2016), ressalta que o CP realiza esses
privilegiado em nossa investigação, movimentos em uma escola que é única,
pode exercer uma função articuladora, em suas características sócio-culturais
formadora e transformadora e, portanto, e pedagógicas, realizando seu trabalho
ser o profissional mediador entre com gestão, professores e comunidade
currículo e professores e, por excelência, também únicos. Sabe-se que, para o
o formador dos professores. Analisar enfrentamento desse cotidiano, há
suas atribuições, especialmente no que necessidade de parcerias e trabalho
se refere à dimensão formativa, significa coletivo, na escola, o que configura
tentar entendê-las, na complexidade desse tarefa fácil. Assim, o CP exerce/
cotidiano. Ao promover a articulação da pode exercer, nessa escola, a função
equipe escolar, realizar a elaboração do articuladora dos processos educativos,
projeto político pedagógico da escola, a além de ser chamado a realizar também
mediação das relações interpessoais, o uma função formadora dos professores,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

frequentemente despreparados para o um relacionamento colaborativo, no qual


trabalho coletivo e o próprio trabalho professor e coordenador confiam um no
pedagógico com os alunos. É chamado outro, explicitam seus processos mentais
ainda para uma função transformadora, e criam oportunidades de reflexão.
articuladora de mediações pedagógicas Contudo, segundo Almeida, Placco, e
e interacionais que possibilitem um Souza (2016), analisa-se as dificuldades
melhor ensino, melhor aprendizagem dos que cercam o trabalho do coordenador
alunos e, portanto, melhor qualidade da , seja por questões organizacionais
educação. e estruturais da própria escola, seja
por questões relacionadas ao regime
de trabalho proposto pelo sistema
CONSIDERAÇÕES FINAIS escolar, seja pelas relações hierárquicas
Com essa pesquisa verificou-se o árduo estabelecidas dentro da escola, seja
trajeto do Coordenador Pedagógico, suas pelas próprias dificuldades pessoais e
atribuições e demandas nas diferentes profissionais do Coordenador Pedagógico
regiões do Brasil. Segundo Almeida, no exercício de sua função.
Placco, e Souza (2016), ao analisar a Além disso, segundo Liberali (1996), a
multiplicidade d e atribuições dadas ao CP diversas formas do coordenador formatar
aparece claramente um posicionamento sua participação, dando instruções,
partilhado por todos: um conhecimento/ propor atividades, dar instruções, analisar
reconhecimento de um conjunto de ações e reformular problemas e falar sobre
que envolvem: atendimentos variados a as próprias reflexões, questionar de
professores, alunos e pais as demandas forma a dirigir atenção do aprendiz para
do diretor e técnicos das secretarias determinado aspecto.
estaduais ou municipais de educação Assim segundo, Shon aput Liberali
as ocorrências (disciplinares ou não) (1996), existem algumas formas do
que envolvem os alunos e atividades coordenador levar o aprendiz a lidar
administrativas de organização de eventos a reflexão com a reflexão sobre sua
de escola, gerenciamento de conflito na ação, essa é um das formas para que
escola, organização da entrada de alunos, um CP que se identifique com suas
acompanhamento dos alunos nos horários funções específicas, exercendo sua ação
de intervalos. articuladora, formativa e transformadora,
Assim, verifica-se as diversas demandas capaz de exercer, na escola, a mediação
do Coordenador Pedagógico, os reais necessária à melhoria da qualidade do
motivos para continuarem na ativa e ensino e do nível de aprendizagem dos
como influenciam de forma positiva na alunos.
práxis do professor. Nesse contexto, Portanto, constatou-se que
Magalhães aput Liberali (1996), cria-se enquanto educadores, devemos estar

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Revista Educar FCE - Abril 2019

constantemente pensando/ refletindo


sobre nossa práxis, e que o Coordenador
Pedagógico influencia diretamente e
constantemente sobre a formação do
educador e este influencia diretamente
na reflexão do aluno sobre sua vida,
socialização e sobretudo aprendizado.
Assim, a tarefa do CP e do professor
será grandiosa quando puder contribuir SIMONE VELHO COTRIM
de forma ativa na formação de atitudes FERNANDES
Bacharel em Psicologia pela Universidade da Cidade de
de respeito, afeto, responsabilidade e o São Paulo (2013);
desenvolvimento global dos alunos. Graduação em Pedagogia pela Universidade Adventista
(2008), Especialista em
Letramento pela Faculdade Campos Elíseos (2016);
Professora de Ensino
Fundamental I na EMEF Plínio de Queiroz e Professora de
Educação Infantil no Céu
Cei São Mateus.

REFERÊNCIAS
ALMEIDA. Laurinda Ramalho, PLACCO. Vera Maria Nigro de Souza e SOUZA.
Vera Lucia Trevisan de Souza. “Os Sentidos da Coordenação Pedagógica:
Motivos para Permanência na função”. 42ª edição Revista Psic.da Ed. São
Paulo. 2016.
ALMEIDA. Laurinda Ramalho, PLACCO. Vera Maria Nigro de Souza e SOUZA.
Vera Lucia Trevisan de Souza. O Coordenador pedagógico (CP) e a formação de
professores: intenções, tensões e contradições. São Paulo, Revista Estudos e
Pesquisas Educacionais, nº 2, Fundação Victor Civita, 2011. p. 225 – 285.
ARAUJO. Ulisses F. “A construção da cidadania e de relações
democráticas no cotidiano escolar” São Paulo; Moderna, 2002.
LIBERALLI. Fernanda Coelho. “O Desenvolvimento Reflexivo do
Professor”, São Paulo, 1996, vol 17, p. 19-37.
LIBERALLI. Fernanda Coelho. “As linguagens das Reflexões”, In:
MAGALHÃES, M.C.M. (org). A Formação do professor como um profissional

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Revista Educar FCE - Abril 2019

MELHORIA NA APRENDIZAGEM DO ALUNO


DO EJA
RESUMO: Esse artigo faz uma análise reflexiva sobre o fracasso escolar e a participação
da família na melhoria da aprendizagem dos alunos do EJA. Nesta análise, procuramos
compreender a aprendizagem e as dificuldades de aprendizagem, esta última é possível
causadora do fracasso escolar. Alguns problemas que surgem no aluno, durante o processo
de aprendizagem, mas que o maior problema está na educação e também na família.
Portanto, acreditamos que quando houver melhoria na educação da EJA, também haverá
melhoras no processo de aprendizagem e uma perfeita harmonia no convívio familiar.

Palavras-Chave: Fracasso; Escola; Família; Aprendizagem; Eja

FERNANDA SAMPAIO GOMES


Licenciada em Letras (Português/Inglês) em 2005.
Professora de língua Inglesa no Ensino Fundamental II, e
médio pela Rede Municipal de Ensino.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

de ensino que não requer, de seus


INTRODUÇÃO professores, estudo nem especialização,
No Brasil uma das marcas mais negativas com um campo eminentemente ligado à
em relação a Educação é a desigualdades boa vontade. Em razão disso, são raros
que compromete o seu exercício de forma os educadores capacitados na área. Na
eficaz. Entretanto, a Educação de Jovens e verdade, continua arraigada a ideia de que
Adultos tem importância significativa para qualquer pessoa que saiba ler e escrever
a sociedade e para o indivíduo, pois, com pode ensinar jovens e adultos com essa
esse ensino diminui analfabetismo, marca falsa premissa não se tem levado em conta
negativa para um país e consequentemente para se desenvolver um ensino adequado
aumentarão os índices de pessoas letradas a esta clientela exige-se formação inicial
que conseguem empregos formal. Para específica e geral consistente, assim como
tanto, é necessário que as unidades formação continuada.
de ensino tenham conscientização de Para que a EJA tenha significado é
sua importância, compreendendo esta necessário que o educador tenha uma
modalidade de ensino e elaborando base de conhecimentos que servem
planos de ações que satisfaçam as reais para uma prática eficiente ao aluno nela
necessidades do público que nela se matriculado tenha um processo de ensino
matricula. Para Santos, ao se referir e aprendizagem de forma qualificada e
formação do professor para Educação de eficaz.
Jovens e Adultos afirma: Desse modo, a Educação de
[...] nos cursos oferecidos em instituições Jovens e adultos, necessita de mais
formadoras, sente-se a necessidade de reconhecimentos para o seu público
aprofundamentos teórico-práticos em alvo. Sabe-se, que todo cidadão tem seus
relação à Educação de Jovens e Adultos. direitos e deveres na sociedade e, não é
Um dos pontos que mais afeta o ensino diferente com as pessoas que por estes
da EJA é a formação do professor devido motivos não conseguiram concluir o
a não inclusão da EJA, nos currículos das ensino fundamental ou não conseguiram
instituições, bem como a dificuldade de se quer ser alfabetizado e não sabem
colocar em prática os princípios políticos nem ler nem escrever. Para tanto, espera-
e pedagógicos defendidos pela EJA, se mais empenhos das políticas públicas
por falta de subsídios que deveriam ter voltadas para a Educação de Jovens e
sido adquiridos no curso de formação. Adultos, para que estes não se sintam
(SANTOS, 2003, p.19) excluídos de seus direitos.
Portanto, a Educação de Jovens e
A mesma autora, ao se Referir a Adultos se apresenta para a sociedade
Machado (1998), destaque que a educação e para os jovens e adultos, como uma
de jovens e adultos foi vista no decorrer grande conquista e para os professores,
de sua história como uma modalidade instituições de ensino e sobre tudo, para

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Revista Educar FCE - Abril 2019

os governantes como um grande desafio aprendizados trazidos do meio


em fazer que o ensino aconteça. familiar empírico, motivando-os
A EJA, é uma oportunidade de ao estudo prazeroso da leitura e
possibilitar a essas pessoas que por levando em conta seu convívio
algum motivo deixaram a escola uma social. Assim, nota-se a relevância
escolarização, para que a partir de então, de se trabalhar dentro da realidade
possam buscar cada vez mais qualificação da criança transformando o
pessoal e profissional, quanto maior for o conhecimento do senso comum em
investimento nesta modalidade de ensino científico, respeitando o seu estágio
melhor para o país, que preparará pessoas de desenvolvimento. Falar da leitura
melhorando a qualificação profissional no contexto escolar é falar no vazio,
que é de extrema importância para o se não partimos para a prática da
indivíduo e para o país, por proporcionar leitura desde a educação infantil.
conhecimentos fundamentais para o Assim, se realmente a leitura é
exercício do trabalho e da cidadania. trabalhado na educação infantil,
então nossas crianças serão futuros
A EDUCAÇÃO DE JOVENS leitores críticos e participativos. Um
professor que ensine e ao fazê-lo
E ADULTOS NAS PRÁTICAS transmita a seu aluno a esperança,
ATRIBUÍDAS passa a ser espelho para este aluno. É
esta esperança que faz com que este
Com os avanços tecnológicos e as aluno mude a direção de sua vida
transformações educacionais percebidas para o mundo.
na área de língua portuguesa nos últimos
anos, nota-se cada vez mais a necessidade O PERFIL DO ALUNO DA
de atualização dos profissionais do ensino EJA E SUA PERSPECTIVA
na intenção de viabilizar um ambiente
escolar em consonância com as novas FUTURA- LETRAMENTO
teorias de ensino e, ao mesmo tempo, LITERÁRIO
atraente aos alunos. A escola a qual a pesquisa foi
É primordial que se entenda a atividade realizada, fica na capital da cidade
de leitura na educação de jovens e adultos de Bahia em uma região denominada
para a formação de leitores que possam zona leste. Pertence a rede Municipal
desfrutar dessa ferramenta indispensável, de Ensino, oferecendo a clientela do
não somente no espaço escolar, mas bairro, a modalidade de ensino regular
estendendo seu uso para toda vida. do Ensino Fundamental anos finais
É necessário estimular o e Ensino Médio durante o período
desenvolvimento dos alunos através diurno e no noturno a modalidade
de relações estabelecidas com seus Educação de Jovens e Adultos,

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Revista Educar FCE - Abril 2019

ensinos fundamental anos iniciais e finais. etária dos alunos matriculas, para a nossa
De acordo com os dados coletados surpresa podemos perceber que a faixa
na secretaria da escola, em média a etária destes alunos vem a cada ano
escola possui certa de 980 alunos, até ficando mais jovem. Separamos os dados
o presente momento da pesquisa. Deste para melhor compreensão em Faixa Etária
total de alunos, 98 estão matriculados na do sexo feminino e masculino em gráficos
Educação de Jovens e Adultos no ensino separados.
fundamental anos iniciais e 122 alunos
nos anos finais do ensino fundamental.
Neste caso vamos considerar apenas os
alunos da modalidade Educação Jovens
e Adultos sendo referencias de nossos
estudos, totalizando 220 alunos ou seja
23% dos alunos matriculados na escola.
Agora passamos a analisar a quantidade
de pessoas do sexo feminino e masculinos Fonte: Revista Escola 2018
matriculado na escola.
Em relação ao sexo feminina o maior
número de pessoas matriculadas na
modalidade de ensino nasceu no ano
de 1991, portanto possuem 24 anos, as
alunas mais novas nasceram em 1992,
as pessoas do sexo feminismo mais com
maior idade nasceu no ano de 1971,
portanto apresentam 44 anos.

Fonte: Revista Escola 2018


Em relação ao sexo, 46% dos
alunos matriculados, masculino e 54%
são do sexo feminino, uma diferença de
8%, isto significa que as mulheres estão
frequentando a modalidade em um número
relativamente maior que os homens, esta
proporcionalidade pode a vir compactuar Fonte: Revista Escola 2018
com as estatísticas atuais que indicam
que em nosso pais o número de pessoas Em relação ao sexo masculino a faixa
do sexo feminismo é relativamente maior etária do aluno mais velho matriculado
que a do sexo masculino. (IBGE, 2010) é 21 anos mais velho que a aluna com
Outro dado analisado foi a faixa mais idade do sexo feminino, percebe

1689
Revista Educar FCE - Abril 2019

assim que possivelmente os alunos do a instituição, caracterizando que apesar


sexo masculino estão demorando mais de todos os problemas a escola possui
para voltar para a escola em relação a credibilidade perante o aluno.
mulheres. Por um outro lado o aluno do Como mencionado anteriormente todos
sexo masculino mais novo, nasceram os alunos estão matriculados no período
no ano de 1994, apresentando 21 anos noturno, pois a escola só oferece esta
de idade, já as alunas do sexo feminino opção, mas para serem dispensado da
com melhor idade apresentam 25 anos. Educação Física, componente curricular
As Faixas etárias entre os alunos do obrigatório, de acordo com a Lei nº 10.793
sexo masculino com maior incidência – de 1 de dezembro de 2003, precisam
nasceram no ano de 1988, com 22% comprovar que trabalhem de forma formal,
dos matriculados, já as alunas do sexo através da cópia da carteira assinada, ou
feminino nasceram em 1991, com 18% dos de forma informal por uma declaração
matriculados. Passamos analisar através dos empregadores, que tenha por mais de
das fichas cadastrais, a quantidade de 6 horas diárias. Além disso as mulheres
vezes que os alunos se matricularam na que apresentam filhos e os maiores de
EJA e abandonaram o ano letivo. 30 anos são dispensados da atividade.
Os alunos que estão servindo o serviço
militar, aqueles que comprovem através
de atestado médico a sua inaptidão para
atividades físicas e os alunos portadores
de deficiência. Em relação aos 220 alunos,
analisamos os que apresentam menos de
30 anos independente do sexo para ver
quais são os motivos que os levam a serem
dispensados da atividade física. Ressalvo
Fonte: Revista Escola 2018 que a direção da escola informa que todos
os 220 alunos matriculados não realizam
Apenas 5% nunca abandonaram a a Educação Física, os nascidos a partir de
escola, apesar de estarem relativamente 1986.
atrasado em relação a idade/ano, 50%
dos alunos matriculado já abandonaram
mais de 4 vezes a escola, percebemos
assim que há fortes atrativos que levam os
alunos a não continuarem seus estudos,
a escola parece ser a primeira opção em
ser abandonada em detrimento de outros
assuntos. Porém mesmo abandonando
por tantas vezes, os alunos voltam para Fonte: Revista Escola 2018

1690
Revista Educar FCE - Abril 2019

ensinos fundamental anos iniciais e apenas as mães e não os pais. Apenas uma
finais. pessoa apresentou atestado médico para
De acordo com os dados coletados a dispensa da atividade Física.
na secretaria da escola, em média a A análise realizada e apresentada até
escola possui certa de 980 alunos, até este momento na pesquisa foi realizada por
o presente momento da pesquisa. Deste documentações presente nos prontuários
total de alunos, 98 estão matriculados na dos alunos matriculados na escola. A partir
Educação de Jovens e Adultos no ensino deste ponto apesentaremos resultados
fundamental anos iniciais e 122 alunos realizados com uma amostra dos alunos
nos anos finais do ensino fundamental. em pesquisa informal, durante o estágio
Neste caso vamos considerar apenas os realizado, nos meses de fevereiro, março
alunos da modalidade Educação Jovens e abril destes anos vigente em uma escola
e Adultos sendo referencias de nossos da capital de São Paulo, na região leste da
estudos, totalizando 220 alunos ou seja cidade.
23% dos alunos matriculados na escola. Por tanto, foram utilizadas três
Agora passamos a analisar a quantidade temáticas ao conversar de forma informar
de pessoas do sexo feminino e masculinos com os alunos:
matriculado na escola.  Por que revolveu voltar a escola
para concluir seus estudos?
 O que levou ao atraso escolar?
 O que pretende fazer após a
conclusão da Educação básica?

Dos 220 alunos matriculados,


conversamos com 10% dos matriculados,
em três dias de aula, durante o período do
intervalo. Escolhemos alunos com faixas
etárias diferenciadas.
Fonte: Revista Escola 2018 Em relação a primeira temática, sobre
Dos alunos matriculados 60% o porquê de o aluno voltar para a escola,
entregaram declaração de trabalho sem recebemos as seguintes respostas:
comprovação de estarem trabalhando
com os devidos registros e direitos legais,  “Voltei a estudar por uma satisfação
a escola ressalta por meio da Direção pessoal, ficava muito triste quando meu
da Escola, que não são verificados a filho perguntava, até que ano na escola
legalidade do documento, a não ser eu tinha ido, pois naquele momento meu
através de denúncias. Das 9% que filho estava na minha frente. Resolvi
apresentam prole, todas são mulheres, voltar e estou muito feliz com que estou
uma vez que a legislação vigente ampara aprendendo”.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

que da escola”.
 “No meu caso foi por causa do  “Eu morava na roça e lá não tinha
trabalho, na empresa em que estou se não escola, meus pais eram muito pobres e
estuda é mandado embora” sempre mudavam de sítios e cada veze ia
 “Agora que meus filhos estão para mais longe”.
grandes e sabem se virar sozinhos, vou
fazer a minha parte, pois eles já estão Os apontamentos indicam que o
encaminhados”. trabalho sempre foi um dos motivos que
 “Voltei a estudar por que me separei levam os alunos a abandonarem a escola,
de meu marido, antes não podia porque pois precisam optarem ou trabalham
ele não deixava, agora posso realizar o e se sustentam ou estudam e passam
meu sonho de ser professora”. necessidades. Outra alegação perante as
 “Voltei a estudar, pois pretendo fazer alunas do sexo feminino é sobre a criação
faculdade, quero ter uma vida melhor”. dos filhos, muitas são mães muito cedo e
 “Além de aprendem, voltei para a não há outra alternativa a não ser cuidado
escola para ver os meus amigos, conversar, com os filhos.
ficar por dentro das atualidades, ter um Sobre a última temática, o que
momento de prazer” pretende fazer após a conclusão da
educação básicas, tivemos as seguintes
É interessante notar que os motivos respostas:
que trazem os alunos de volta a escola
são vários, alguns alegam, a satisfação  “Ainda não sei, pois vai depender
pessoal, outros motivos de trabalho, a das minhas condições financeiras, se eu
pretensão em fazer faculdade e até de tiver condições quero fazer um curso para
socializar com amigos. aprender a falar inglês, acho muito bonito
Partimos para a próxima temática, que fala”.
sobre o atraso no processo e escolaridade:  “Pretendo fazer um curso de Técnico
 “Estou atrasada em relação a escola, de Segurança do Trabalho ou Logística,
pois tive que parar para cuidar de meus acho boa a profissão”.
filhos enquanto o meu marido trabalhava,  “ Quero fazer faculdade para ser
mas agora estão todos crescidos e posso professora, este sempre foi o meu sonho
voltar a estudar”. e sei que posso conseguir”
 “Quando eu era criança tinha que  “ Quero conseguir um emprego
trabalhar para ajudar a minha mãe que melhor, com carteira assinada e ter um
tinha muitos filhos e o meu pai foi embora plano de saúde para a minha família, pois
de casa, como sou o mais velho tive que trabalho hoje sem registro e ganho pouco”,
parar de estudar para ajudar a minha mãe”  “Quero fazer concurso para a Policia
 “O trabalho foi sempre um grande Civil! ”
problema, pois a maioria das vezes o
horário do emprego era no mesmo horário A perspectiva sobre a sua formação

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Revista Educar FCE - Abril 2019

futura apresenta várias vertentes, uns um aprendizado equivocado e covarde,


querem ser professores, outros fazer uma vez que este acredita que a culpa é
cursos técnicos, concursos públicos, somente do aluno quando os resultados
mas tem aqueles que não sabem o que não condizem com as suas expectativas.
pretende, pois precisam analisar os fatores
financeiros. REFERÊNCIAS
AJALA, Michelle Cristina, ALUNO EJA: motivos de
CONSIDERAÇÕES FINAIS abandono e retorno escolar na modalidade EJA e
É preciso considerar o fato de que o expectativas pós EJA em Santa Helena-PR
professor, quando se torna comprometido MONOGRAFIA, Universidade Tecnológica Federal do
com o aluno e com uma educação Paraná - Campus Medianeira, 2011
de qualidade, fazendo do aluno alvo
do processo ensino-aprendizagem, e ANDRADE, E. R. Os sujeitos educandos na EJA; 2011.
cumprindo seu papel de orientador Disponível em: http://www.forumeja.org.br/files/
e facilitador do processo, legitima Programa%203_0.pdf. Acesso em 04 Abr. 2019;
assim a teoria de uma facilitação da ARROYO, Miguel Gonzalez. (org.). Da escola carente à
aprendizagem, através da interação entre escola possível; São Paulo: Edições Loyola, 2003.
sujeitos, ultrapassando, desse modo, a
mera condição de ensinar. BELLO, José Luiz de Paiva. Movimento Brasileiro de
No entanto, muitos fatores levam a Alfabetização - MOBRAL. História da Educação no Brasil.
questionar se esta prática educativa Período do Regime Militar. Pedagogia em Foco; Vitória,
vem realmente acontecendo de maneira 1993. Disponível em:. Acesso em: 04 de Abr. 2019;
satisfatória nas instituições. Muitas BERNARDIM, M. L. Da escolaridade tardia à educação
vezes, as relações entre os sujeitos necessária: estudo das contradições na EJA em Guarapuava-
acabam por se contrapor, sejam por Pr; Dissertação de mestrado – Universidade Federal do
motivos econômicos, sociais, políticos Paraná, Curitiba, 2006.
ou ideológicos, demonstrando falhas BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Educação Popular; São
no cotidiano e lar, bem como limitações Paulo, Brasiliense, 1984.
quanto à aquisição do conhecimento no BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação;
processo ensino-aprendizagem. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em 04
Na realidade, a prática docente tem Abr. 2019;
uma parcela não só significativa na BRASIL. Trabalhando com a educação de jovens e adultos:
relação professor e aluno, mas quase alunos e alunas da EJA; Caderno 1. Brasília, 2006.
que definitiva em todo o processo. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/
A arrogância didática do detentor do pdf/eja_caderno1.pdf. Acesso em 20/05/2015. Acesso em
saber e a "segurança" que o mesmo tem 04 Abr. 2019;
de que seu poder, seus conhecimentos
ilimitados são suficientes, pode produzir BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

1693
Revista Educar FCE - Abril 2019

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO
PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM
DOS EDUCANDOS DO ENSINO INFANTIL
Este artigo apresenta como tema principal a importância da afetividade e da participação
familiar no processo de ensino aprendizagem dos educandos do ensino infantil. Cada dia
que passa a função de ensinar tem sido mais árdua e os pais, por sua vez têm se afastado
de sua prole devido à correria diária. Assim, a afetividade aparece como um instrumento
determinante para aproximar professores de alunos e pais de filhos; favorecendo dessa
forma sucesso para a vida pessoal e consequentemente para a vida escolar, uma vez que
a aproximação de ambas provoca diálogo, conhecimento, harmonia e comprometimento
contribuindo para uma atmosfera positiva no processo de ensino aprendizagem.

Palavras-chave: Afetividade; Escola; Família; Professor; Criança.

SUELI APARECIDA DIAS DE SANTANA


Graduação em Letras pela Universidade do Grande ABC (2003); Especialista em Práticas e
Saberes da Língua Inglesa pela Faculdade AVM (2015); Professor de Ensino Fundamental
II - Língua Inglesa - na EMEF Rodrigo Mello Franco de Andrade, da Prefeitura de São Paulo,
Professor de Ensino Médio – Língua Inglesa - na EE Jardim Cruzeiro, do Estado de São Paulo.

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Revista Educar FCE - Abril 2019

professor e aluno.
INTRODUÇÃO Faz se necessário estimular o
O artigo apresenta a importância da aprendente afim de que vislumbre o
afetividade no processo de ensino e desejo da aquisição de conhecimentos.
aprendizagem e ressalta que o educando , a relação à afetividade perpassara
precisa vivenciar uma relação em que haja sobre os cuidados da importância devida
uma parceria concreta e real entre escola entre professor e aluno, que somarão e
e família, a fim de propiciar seu bem estar absorverão quaisquer dificuldades que
afetivo e emocional. Essa dicotomia nasce surjam, pois há o compromisso não só de
não só na própria escola, mas se estende ensinar, mas de participar ativamente da
a partir da família. Segundo Vygotsky, o vida desse aluno; dessa forma a pesquisa
interesse, a motivação e a emoção devem visa focar as atitudes que os professores
estar necessariamente interligados como podem ter para utilizar a afetividade como
ponto de partida é base para qualquer um instrumento valioso para a conquista
ação que vise à busca do sucesso do das relações sociais e cognitivas no âmbito
processo ensino-aprendizagem. escolar.
No fortalecimento a convivência começa Quando se constrói uma cumplicidade
a criar vínculos afetivos que norteiam de grande valor em que o objetivo maior
a sua relação de conduta inserida ao se seja a criança, não se pode pensar em
desempenho cognitivo. Para a criança nada a não ser uma família, sendo assim
esses vínculos são essenciais porque esta pesquisa indaga esta instituição
refletirá na pessoa do professor que tem quanto ao seu papel de moldar o caráter,
o papel de ser o elo, a ponte do ensino de compartilhar emoções e sentimentos
aprendizagem dos alunos. É ele que vai e que sempre vai existir e sempre terá
fortalecer esses laços de afeto que podem uma participação decisiva no sucesso ou
interferir no outro através de um olhar e insucesso na aprendizagem do aluno.
provocar afetividade no falar, no sentir,
no aprender, no ser. Com certeza, tudo FAMÍLIA E ESCOLA COMO
isso recairá sobre ele, numa relação direta SUCESSOS AFETIVOS
de professor-aluno que irá mensurar
possibilidades criativas e motivacionais A família e a escola constroem no ser
em sala de aula. humano valores na sua autoestima, na
Na busca do equilíbrio, em qualquer confiança do que se quer, na certeza
ambiente, é necessário estabelecer regras das emoções e nos recônditos dos
de boa convivência. Ninguém pode ocupar sentimentos, tudo isso são atributos que
o espaço do outro, devendo respeitar para corroboram permeando e solicitando
ser respeitado. É uma troca constante suas estruturas pessoas e gerando seus
numa dinâmica de relações contínuas. vínculos afetivos. Não podem, nunca,
Assim deve a relevância da relação entre andar separadas, estão juntas como

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de expressão, e é por isso que a criança,


A COGNIÇÃO DA CRIANÇA se não é naturalmente um membro
É RESULTADO DO OLHAR consciente da sociedade, também não é
AFETIVO DO PROFESSOR um ser primitivo e totalmente orientado
para sociedade (WALLON, 1975, 198).
O cognitivo, para ser desenvolvido,
precisa do despertar da emoção através Ao interpretarmos uma realidade sob o
da afetividade. Assim desabrocha com olhar afetivo, buscamos uma aplicabilidade
fulgor em qualquer ocasião em que haja mais direta volta para a criança que,
uma oportunidade. É através dos olhos do por sua vez, aos poucos vai adquirindo
professor que o aprendizado se concretiza, conhecimento a ponto de manifestar e
se efetua, pois a afetividade direciona desenvolver novas descobertas sob a
a personalidade da criança através ótica do professor.
do sensório-motor enfocando toda a A criança, ao construir seus
psicomotricidade do desenvolvimento da conhecimentos, começa a gerar outros
criança. estágios que irão desempenhar funções
A cada momento a criança que está expressivas no mundo das imagens e no
inserida no grupo, se depara com o campo simbólico das coisas. Devido a
olhar lúdico de outro amiguinho: é o isso, a introdução da afetividade sobre
orgânico e o social interagindo no meio estes estágios está permeando um melhor
social da criança. A emoção sempre vai aproveitamento dessa criança no convívio
ser preponderante ao apontar para as com o meio em que ela está envolvida.
relações do olhar de afeto do professor Desse modo a sala de aula tem de ser um
sobre a criança e da criança para a ambiente de formação, de humanização
criança, tecendo laços e elos que serão e de promoção de afetividade em suas
fortalecidos entre e eles. diversas esferas da aprendizagem,
Para Wallon a emoção está sempre em objetivando que já na fase adulta, essa
alta e por isso, acreditava na importância criança consiga através de tudo o que
do outro para o desenvolvimento humano, aprender e absorver durante todo o
e defende que a emoção é o primeiro e trajeto de sua vida, o seu equilíbrio.
mais forte elo entre os indivíduos (1975, A criança em busca de conquistar o seu
p.198): espaço na sala de aula, deixa fluir a sua
emoção nas brincadeiras, na construção
As primeiras relações utilitárias da de trabalhos individuais ou coletivos; isto
criança não são as suas relações com tudo ressoará na entonação adequada
o meio físico, que, quando aparecem, da voz afetiva do professor que, por sua
começam por ser lúdicas; são relações vez, estimulará a valorização de cada
humanas, relações de compreensão, que ato do desempenho da produção ativa
tem como instrumento necessário meios e espontânea da criança. Ele precisa

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se expressar nessa nova realidade alunos tentando compreendê-los.


chamado sala de aula. O brincar, o criar,
o fazer acontecer, o lúdico nos jogos, o A escola desempenha um papel
movimentar das ideias, a interação com o fundamental no desenvolvimento sócio-
meio social são papéis que precisam ser afetivo da criança. Como meio social, é
extremados, de alguma forma, naquele um ambiente diferente da família, porém
pequeno espaço. Ela percebe tudo ao bastante propício ao seu desenvolvimento,
mesmo tempo quer seja no campo afetivo pois é diversificado, rico em interações,
ou cognitivo e isto não quer dizer que ela e permite a criança estabelecer relações
está alheia aos conteúdos dados. simétricas entre parceiros da mesma idade
e assimétricas com adultos (ALMEIDA
As reações posturas das crianças 1999, p.105).
são normalmente interpretadas como
desatenção. Assim, há uma grande O professor precisa observar em todo
instância pela contenção do movimento, momento, o ritmo do aprendizado da
como se sua simples eliminação pudesse criança, inserindo-as nas atividades
assegurar a aprendizagem da criança. em conjunto a fim de desenvolver o
Não se defende, aqui, que se deva cair conhecimento e assim, avaliar o que está
na ideia de "permissividade", porque há sendo ensinado. É necessário valorizar
situações em que se movimentar é de fato cada conquista pessoal e fazer com que
incompatível com a atividade acadêmica ( seus alunos se sintam felizes e com a
Almeida, 1999, p.90). autoestima elevada, “A educação moderna
está em crise, porque não é humanizada,
Concomitantemente em que administra separa o pensador do conhecimento, o
o afetivo que explode no emocional das professor da matéria, o aluno da escola,
crianças através de qualquer situação enfim, separa o sujeito do objeto” (CURY
conflitante que leve ao desequilíbrio da 2003, p. 139).
aula, o professor precisa ministrar suas É necessário resgatar valores
aulas focando no afetivo. O professor educacionais que estão se perdendo
precisa ter a entonação adequada da voz diante de tantas novidades e modismos
para buscar a solução daquele problema. A que chegam para os usuários e agentes
sala de aula é um lugar onde as emoções se do ensino. As parcerias precisam ser em
expressam e a infância é a fase emocional ações que possibilitem o desenvolvimento
por excelência. E como é impossível da afetividade na educação. Não há mais
viver num mundo sem emoções, cabe ao como dissociar a parceira que deve existir
professor reter tudo isso é absorvê-las, entre família, escola, professor e aluno.
administrá-las e coordená-las, buscando Todos devem caminhar como gestores
descobrir os motivos e interagir com seus internacionalistas sem favor de um bem

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comum é que favoreça de imediato a e mais valorização dentro do processo


relação do fazer, do ser, do conviver e do educacional. Isso acaba favorecendo
aprender na relação ensino-aprendizagem. os elos afetivos, favorecendo assim a
Desta maneira, estabelecendo um vínculo promoção do ser humano nas construções
na base afetiva entre educadores e de relações de boa convivência e, por
educandos. consequência, na formação de um
Os professores exercem uma influência indivíduo mais participativo, exercendo o
direta no comportamento do aluno, pois equilíbrio entre o individual e o coletivo,
norteiam sentimentos e emoções: os pilares da vontade de querer fazer e do prazer de
afetivos do ser de cada um. É através das aprender.
atividades desenvolvidas, como: filmes, A imaginação da criança atinge grandes
audiovisuais, datashow, jogos, músicas e proporções férteis quando entra no
brincadeiras que atribuem para uma goma universo do faz de conta. Ela conchegue
de conteúdos que se misturam entre dimensionar face à sua capacidade de
saberes disciplinares, multidisciplinares, trabalhar no campo real, usando os
e até transdisciplinares. As disciplinas simbolismos e a fixação das representações
interagem entre elas e nesse interagir lúdicas do brinquedo. Através do
está o aluno que precisa absorver, reter, brinquedo, a criança põe em prática o
aprender tudo de maneira aprazível e prazer de absorver certas curiosidades
substancial. e traduzi-las do mundo dos adultos para
Ninguém passa alheio ao vínculo a dimensão do seu mundo. Em totais
emocional. Todo ser humano necessita da essas situações ela precisa fortalecer
expressão e olhares de elogios. Da mesma as suas necessidades e direcionar suas
forma acontece com a criança que precisa potencialidades em direção ao processo
da demonstração de afeto, uma vez que do ensino-aprendizagem. O professor é
carece dessa afetividade para responder a peça central que vai mediar e conduzir
com alegria e satisfação demonstradas por o aluno a interagir com o outro colega
meios de sons verbais e expressões. Essa em sala de aula as brincadeiras de forma
relação de afetividade tende a se expandir prazerosa, agradável e criativa a fim de
pelas ramificações educacionais do ser. capturar ideias do nível simbólico para a
O afeto traduz qualquer gesto em sabor compreensão da significação do nível real
de doçura, transformando em singeleza a e tudo isso só será possível através das
perceptível do outro por isso o afeto é o brincadeiras.
ponto culminante da comunicação dentro O cognitivo, para ser desenvolvido,
do universo escolar. precisa do despertar da emoção através
A soma diária do ensino é representada da afetividade. Assim desabrocha com
por cada etapa vivida na escola. À medida fulgor em qualquer ocasião em que haja
o próprio aluno interage com o outro uma oportunidade. É através dos olhos do
ele gera mais afetividade, mais espaço professor que o aprendizado se concretiza,

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se efetua, pois a afetividade direciona 12).


a personalidade da criança através
do sensório-motor enfocando toda a Também não se pode olhar só para
psicomotricidade do desenvolvimento da a afetividade e esquecer a capacidade
criança. cognitiva que cada ser humano tem. A
Tanto a família, como a escola efetuam a criança precisa equilibrar o cognitivo
parceria para desenvolver a personalidade, e o afetivo, lidando com os laços que
a motivação, a autoestima, o amor é permeiam a sua vida tanto escolar como
o afeto, promovendo assim a perfeita social.
interação com o meio social interno e O professor precisa a cada aula promover
externo. no aluno o pensamento participativo a
Ao ingressar na escola a criança traz fim de construir elos que estimulem suas
consigo uma vasta bagagem de emoções, relações afetivas e cognitivas dentro
sentimentos e até desconfortos, como: da própria escola. Facilitando assim, a
medo, incerteza e insegurança; daí a interatividade em todos os âmbitos de
importância do ambiente escolar no conhecimento a que está exposta. Isso
processo de adaptação para o novo vai favorecer também a relação, que irá
mundo que se descortina. Cada criança se estabelecer entre professor-aluno;
vai se adaptar a esse universo escolar em a fim de que se promulgue uma melhor
tempos diferentes, dependendo muito da assimilação do prazer pedagógico.
maneira como serão gerados os vínculos Os alunos e principalmente as crianças
das relações afetivas com o seu professor. veem no professor um espelho. Eles
O afeto já é gerado na relação entre os copiaram falar, gestos, imitando-o e
pais e a criança. Esse sentimento continua observando-o. É necessário que além
em escala crescente chegando até a figura de afeto, conduta e amor o professor
do professor. Daí a importância do abraço também carregue em sua bagagem uma
na demonstração de fortalecimento desse boa formação.
afeto. É imprescindível que o professor
reconheça e se sinta como agente ativo
Uma criança não é um ser de pura razão, de todo o processo é da relevância do
os afetos, as emoções e os sentimentos são afeto no desenvolvimento do ensino e da
essenciais para a constituição individual. aprendizagem.
Ela não aprende desvinculada de afeto, Ensinar não é só transmitir
ela aprende investindo sua corporeidade conhecimentos, mas proporcionar
sua sensibilidade e seu imaginário. Sendo mudanças e ações.
assim, o professor é um mediador entre os
valores éticos universais, entre a criança
e a lei, entre a criança e a aprendizagem,
entre a criança e a ação. A criança é um
ser de emoção e ação (GÉRARD, 2008, p.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As emoções e a afetividade são desenvolvidas e recebidas pelo ser humano desde
o ventre materno. A relação que é gerada entre a mãe e o bebê ultrapassa qualquer
limite e vai além de toda mensuração. São laços que traduzem o singelo e o mais
puro amor e chegam com o crescimento até a fase escolar e estreitam as relações
sociais que estão continuamente se formando.
As teorias da afetividade no processo do ensino-aprendizagem englobam também
o cognitivo da criança que a cada dia precisa manter um convívio agradável na
relação com o outro. O professor precisa gerar possibilidades através das atividades
desenvolvidas com o objetivo de alcançar o bem-estar sócio afetivo e cognitivo
do aluno, por isso é grande a importância da afetividade do professor para que o
aprendizado do seu aluno seja concreto.
A afetividade exerce uma influência de suma importância no exercício da
aprendizagem; assim como a família é para a sociedade o alicerce, sendo o ponto
referencial de qualquer criança. Nisto resvala também a parceria entre escola e
família que devem visar a fundamentação do alcance do ensino-aprendizagem do
aluno.
A criança precisa acreditar mais em suas potencialidades para melhorar a imagem
que tem de si mesma. Desta forma, quando há incentivo, as pessoas se sentem
capazes e esta capacidade deve ser estimulada a todo momento, no ritmo certo e
reflexivo da afetividade.
O professor tem que valorizar o saber e o indivíduo; precisa desenvolver uma
formação solidária que leve e desperte o aprender a conhecer, a fazer e a ser, criando
assim a capacidade que gere o espírito crítico na interação do aluno com a sociedade.
Com a conclusão deste trabalho foi possível constatar que desde a Educação
Infantil, a escola começa a exercer e desempenhar um papel muito importante na
vida da criança, pois é na instituição escolar que a criança começa a estabelecer elos
de contatos com outras crianças e com outros adultos também. É a maneira como
ela desenvolve estes elos e cria laços afetivos que influenciarão todo o processo
ensino-aprendizagem, bem como sua capacidade de socialização e mudança em seu
meio e convívio social. Desta forma a criança necessita de não só estar inserida
no ambiente escolar, mas que este ambiente proporcione todo o seu despertar de
habilidades, criatividades e afetividades, se sentindo muito feliz e parte integrante
deste ambiente.

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REFERENCIAS

ALMEIDA, Ana Rita silva. A emoção na sala de aula. Campinas, SP: Papirus, 1999.
CURY, Augusto. Pais Brilhantes, Professores Fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante,
2003.
GUILLOT, GERARD. O resgate da autoridade em educação. Porto Alegre: Artmed,
2008.
KANT, Immanuel. Sobre a pedagogia. Trad. Francisco Cock Fontanella. 5ª edição.
Piracicaba: UNIMEP, 2006.
TEBEROSKY, Ana; GALLART, Marta Soler (ET AL). Leitura dialógica: a comunidade
com ambiente alfabetizador. Trad. Francisca Settinere. Porto Alegre: Artmed, 2004.
WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes,
2007.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

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