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Ensino:
Etnomatemática
e História da
Matemática
PROFESSORES
Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira
Dr. Wellington Piveta Oliveira
FICHA CATALOGRÁFICA
Reitor
Wilson de Matos Silva
Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira
Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA
1
11 2
51
HISTÓRIA DA HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
MATEMÁTICA E EDUCAÇÃO
MATEMÁTICA
3
87 4 137
PRÁTICAS REFLEXÕES
CONVERGENTES SOBRE A
À HISTÓRIA DA ETNOMATEMÁTICA
MATEMÁTICA NO ENSINO
5
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PRÁTICAS
CONVERGENTES À
ETNOMATEMÁTICA
1
História da
Educação
Matemática
Dr. Wellington Piveta Oliveira
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o que não sabe, mas seus conhecimentos precisam extrapolar os conteúdos espe-
cíficos. Ele precisa ser capaz de compreender os diversos fenômenos envolvidos
nos processos de ensinar e aprender matemática.
De acordo com D’Ambrósio (1996, p. 13), o primeiro passo para isso é o
professor se entender como um “[...] educador que tem a matemática como sua
área de competência e seu instrumento de ação, mas não como um matemático
que utiliza a educação para a divulgação de suas habilidades e competências”.
Este é o nosso objetivo aqui: apresentar a Educação Matemática, objetivos, ori-
gem e evolução, como a área de conhecimento que objetiva a formação de profis-
sionais que sejam, antes de tudo, educadores comprometidos com a
sua profissão.
Para que você possa compreender o terreno que transitamos – o
campo Educação Matemática –convido vocêa acessar o site da So-
ciedade Brasileira de Educação Matemática – SBEM.
Descrição da Imagem: na parte superior da imagem, horizontalmente, constam a guias de acesso aos
conteúdos disponibilizados pelo site da sociedade. Logo abaixo, um convite à visitação do site sobre as
Feiras de Matemática. Mais abaixo, na lateral esquerda, constam as últimas notícias da Sociedade, como
Boletim informativo 2020, posse da Diretora da SBEM-AC, entre outras. No centro, aparecem os links com
os conteúdos que são disponibilizados mais recentemente, como no período de registro da imagem, a
publicação de um e-book pela SBEM, contemplados no Edital SBEM-DNE 03 de 2020. Por fim, à direita da
imagem, a área de acesso restrito dos associados.
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UNIDADE 1
Nesse site, você poderá conhecer um pouco mais da história, das atividades, de
materiais pedagógicos, de leituras na biblioteca, anais de eventos, editais e muito
mais, tudo produzido e organizado por sócios e pela Sociedade. Acessando o site,
clique na aba “A Sociedade” e você terá acesso a um texto explicativo sobre essa
comunidade. Em seguida, na aba “A Sociedade”, você encontrará a guia “Ativida-
des”. Faça a leitura do texto emergente.
Agora, pense: há pouco mais de 40 anos, um coletivo de professores tem se
reunido para debater e buscar entendimentos sobre o que de matemática, como
e para que ensiná-la. Esses debates foram oriundos de respostas às reações his-
tóricas, sociais e, sobretudo, contextuais, na tentativa de aproximar-se de uma
prática pedagógica tendo a matemática como competência e instrumento de ação.
Façamos uma reflexão sobre esse argumento: de que modo as práticas em sala de
aula de matemática têm contribuído para esclarecer esses aspectos? As práticas
têm sido favoráveis a essas reflexões, o que indica que estamos caminhando com
propostas inovadoras, ou estamos na contramão de conceber a matemática como
um instrumento de ação? Conjecture as suas respostas para essas e outras ques-
tões emergentes de seu movimento reflexivo e anote-as em nosso diário de bordo.
DIÁRIO DE BORDO
Pois bem! Agora, como uma imersão teórica nessa temática em busca de respostas
fundamentadas para as questões levantadas, vamos conhecer alguns aspectos
sobre a Educação Matemática e a Didática da Matemática. É somente a par-
tir dos anos 60 do século XX que o fracasso escolar se tornou uma preocupação
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
“
Ao definir a problemática a ser estudada – a comunicação do saber
matemático e das transformações que esta comunicação produz
nos alunos e no próprio saber – ao assumir-se como uma disciplina
orientada a compreender os fenômenos do ensino e da aprendiza-
gem do saber matemático (independentemente de que os estudos
realizados resultem ou não na produção de métodos, técnicas ou
materiais de ensino), a Didática da Matemática realizou um aporte
essencial às outras didáticas específicas e permitiu uma diferen-
ciação mais nítida entre os problemas psicológicos e os didáticos
(LERNER, 2001, p. 275).
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UNIDADE 1
“
A didática da matemática é uma das tendências da grande área
de educação matemática, cujo objeto de estudo é a elaboração de
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UNIDADE 1
no processo de ensino era amparado por lei desde 1679, nos Estados Unidos.
Conforme os entendimentos que permeavam a sociedade, a Aritmética conti-
nuava ausente tanto das práticas quanto dos documentos curriculares escolares
americanos (D’AUGUSTINE, 1976).
Na Europa, por outro lado, em cursos intitulados Lições de Pedagogia, mi-
nistrados durante a segunda metade do século XVIII aos estudantes da Universi-
dade de Könisgberg, o filósofo alemão Emmanuel Kant evidenciava a importância
do ensino de Matemática às crianças. Esse ensino era importante, de acordo com
Kant, não apenas pelo conteúdo intrínseco e utilidade prática da Matemática,
mas, também, pela sua contribuição à memória. Por ser uma ciência ao mesmo
tempo rigorosamente dedutiva e que se adapta exatamente à experiência, a Mate-
mática se apresentava para o grande filósofo, do ponto de vista pedagógico, como
a única disciplina capaz de proporcionar aos aprendizes a possibilidade da “união
entre o saber e a capacidade”, entre a razão e a experiência.
PENSANDO JUNTOS
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UNICESUMAR
“
Uma das idéias do monarca era que, uma vez alfabetizados, os reli-
giosos pudessem compreender e ensinar devidamente a fé cristã. E,
desse modo, o clero poderia ajudar no domínio de seu vasto impé-
rio, subjugando, via religião – ao lado de seus exércitos – a crescente
população dos burgos e cidades episcopais (SILVA, 1992, p. 16).
Assim, a partir do reinado de Carlos Magno, no século VIII e nos séculos IX e X, em vir-
tude das transformações sociais e econômicas pelas quais atravessava todo o Ocidente,
as escolas religiosas e as dos Palácios (destinadas à nobreza e seus filhos) são ampliadas
e, nos séculos seguintes, devido ao aprofundamento das mudanças nas estruturas eco-
nômico-sociais, dão início ao florescimento das universidades europeias (SILVA, 1992).
Com a pressão da burguesia, passaram a surgir
“escolas livres”, isto é, locais fora das igrejas, e bas-
tava existir um professor para que os alunos apa-
recessem. Estava-se criado “um centro de estudos”.
Por volta do século XII, começaram a surgir asso-
ciações de mestres e discípulos que ficaram, inicial-
mente, conhecidas como studiae, posteriormente,
devido ao seu significado universal, passaram a ser
chamadas de studiumgenerale. Os mais famosos
studiumgeneraleforam os de Bologna, na Itália, e
os de Paris, na França.
Figura 2 - Encontro de doutores na universidade de Paris /
Fonte: Wikimedia Commons (2013, on-line).
Descrição da Imagem: a imagem é constituída por 14 homens trajados com roupas da época. Na imagem
em perspectiva, há um dos homens sentado em um poltrona, folheando um livro que está sobre um tipo
de tribuna. De ambos os lados, encontram-se dois homens em pé, tendo em suas mãos um objeto que
indica o estabelecimento de ordem. De frente para a poltrona há duas mesas extensas, uma de frente
para a outra, com cadeiras. Nelas, estão acomodados cinco homens de cada lado com livros abertos sobre
as mesas. No primeiro plano da imagem há outro homem com a face voltada para a direita da imagem,
o que indica estar em movimento, provavelmente, assegurando o desenvolvimento das atividades rea-
lizadas no encontro.
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UNIDADE 1
No século XIII, aconteceu a criação dos Estudos Gerais de Lisboa, que depois
foram transferidos para Coimbra e se transformaram na Universidade de Coim-
bra. É nessa Universidade que se formaram os primeiros docentes do curso de
Matemática da Academia Real Militar da Corte do Rio de Janeiro, a primeira
escola de Matemática do Brasil, fundada em 1810.
O nível do ensino de Matemática no Brasil, no início do século XIX, pode
ser depreendido da decisão da Corte, de 22 de junho de 1809, na qual ficava
estabelecido que a cadeira de Álgebra, Aritmética e Trigonometria, cuja criação
na Corte era recomendada pela Carta-Régia de 19 de agosto de 1799, destinada
a pessoas que desejassem distinguir-se nas diferentes ocupações e empregos da
sociedade, de caráter científico ou mecânico (CARVALHO, 2000).
“
[...] convém pelo menos que os seus elementos ou primeiros ra-
mos, como são a aritmética, a álgebra, a geometria teórica e prática
se tornem vulgares, e constituam uma das primeiras instruções da
mocidade; por este justificado motivo se deve criar a dita cadeira,
na qual se ensinará aritmética e álgebra até equações do 2º grau,
inclusivamente; a geometria teórica e prática e trigonometria. Este
professor ensinará o cálculo numérico provisoriamente com o algé-
brico, tanto das quantidades inteiras como fracionárias; a resolução
das equações algébricas do 1º e 2º grau; e formação de potências, e
extração de suas raízes; a teoria das proporções e progressões; regra
de três simples e composta, direta e inversa, as de sociedade, de liga
e falsa posição, terminando o ensino de aritmética e álgebra com a
resolução dos diferentes problemas de mais uso no comércio, como
são os que pertencem a juros ou interesses, etc., e com explicação do
uso das tábuas de Price, insertas no tratado das pensões vitalícias
de Saint Cirau, publicadas em português. No ensino da geometria
teórica [...] (CARVALHO, 2000, p. 91-92).
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UNICESUMAR
“
Apesar dessas iniciativas, a educação no Brasil é conduzida pelos
jesuítas até a sua expulsão em 1759, pelo marquês de Pombal, e se
caracterizava pela ênfase a uma cultura clássica e humanística, sen-
do a matemática ensinada como simples ferramenta necessária para
as necessidades imediatas do dia-a-dia (CARVALHO, 2000, p. 91).
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UNIDADE 1
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UNIDADE 1
“
Há mais de dois milênios, uma certa familiaridade com a Matemá-
tica é considerada como parte indispensável da formação intelec-
tual de uma pessoa culta. Atualmente, sem dúvida, se encontra em
grande perigo o posto tradicionalmente ocupado por esta disciplina
na educação, infelizmente, alguns dos profissionais que a represen-
tam compartilham a responsabilidade por tal situação. O ensino
de Matemática tem se degenerado, frequentemente, num vazio
treinamento de resolução de problemas que, se pode desenvolver
uma habilidade formal, não conduz, em troca, a uma compreensão
efetiva nem a uma maior independência intelectual. A investigação
matemática mostra uma tendência para a super especialização e
para uma excessiva insistência no abstrato; as aplicações e conexões
com outros campos do saber têm sido descuidadas. Sem dúvida, tal
estado de coisas não deve justificar uma política de retraimento. Ao
contrário, a reação oposta pode e deve partir daqueles que se sen-
tem conscientes do valor intelectual da disciplina. Professores, estu-
dantes e público culto pedem uma reforma construtiva e não uma
resignação seguindo a linha da menor resistência. A meta será uma
verdadeira compreensão da Matemática como um todo orgânico
e como base para o pensamento e a ação científicos (COURANT;
ROBBINS, 1967, prólogo da primeira edição, p. ix).
“
Como acontece ainda hoje com pessoas adultas, que por pelo me-
nos durante 12 anos estudaram Matemática na Educação Básica,
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Esse movimento ganhou forças com a participação dos Estados Unidos na Segunda
Guerra Mundial, pois nas ações e atividades desempenhadas ficou explícito aos
militares que havia uma lacuna nos conhecimentos de Matemática para os solda-
dos. Essas constatações desencadearam a organização de cursos especiais visando
o melhor desempenho, o que foi motivo para “reformar” o ensino de Matemática.
Contudo, apostaram em uma reforma curricular, pois foram céticos de que a mu-
dança curricular traria êxito ao ensino e aprendizagem de Matemática, mesmo des-
prezando outros aspectos que envolviam (e ainda envolvem) a atividade de ensino.
Esses grupos de reformas eram integrados por matemáticos profissionais, os
quais verificaram que as escolas de todos os países tratavam ainda das noções
mais antigas da Matemática, em particular, da Matemática grega, e que o conhe-
cimento mais recente existente nos programas escolares dessa disciplina datava
de, no mínimo, 200 anos e, portanto, as conquistas mais recentes da ciência Ma-
temática não estavam contempladas nos currículos.
O conflito político entre Rússia e Estados Unidos, particularmente, ao final
da década de 50, influenciou intensamente a educação na década seguinte. No
outono de 1957, os russos lançaram seu primeiro Sputnik, e esse fato convenceu
o governo norte-americano (e todo o país) de que estavam atrasados, em relação
aos russos, em Ciências e em Matemática.
Na verdade, o que ficou enfatizado foi o fato de que a educação intelectual
não recebia a ênfase necessária, com a valorização excessiva da memorização e
do treinamento, em detrimento da compreensão e criatividade.
Como quase sempre acontece na história da Educação, eventos externos obri-
garam os educadores a revisar suas práticas e a ultrapassar seus preconceitos. A
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UNIDADE 1
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“
A “moderna matemática” apresentava alto nível de generalidade,
elevado grau de abstração e maior rigor lógico. Podendo ser iden-
tificado com as estruturas e a axiomatização, ela surgiu com o de-
senvolvimento dos três ramos seguintes:
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“
O desenvolvimento dessa “moderna Matemática”, cada vez mais dis-
tantes da antiga concepção de Matemática como ciência da quan-
tidade, culminou com os trabalhos de Nicolas Bourbaki (nome
fictício, de um grupo de matemáticos, na maioria franceses) cujo
objetivo central consistia na exposição de toda a Matemática de
forma axiomática e unificada, em que as estruturas seriam os ele-
mentos unificadores (MIORIM, 1998, p. 110).
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UNICESUMAR
“
O trabalho pedagógico da segunda metade do século XX está ainda
derivando daquela combinação de eventos aos quais nos referimos
como a revolução no ensino da matemática. Esta revolução nasceu
primeiro nas mentes dos matemáticos profissionais que, cerca de
25 anos atrás verificaram que as escolas de todos os países estavam
ainda tratando das noções mais obsoletas nas ciências matemáticas.
O que havia de mais “novo” nos programas de matemática escolar
tinha 200 anos. Mesmo hoje, a despeito de tudo, ainda falhamos ao
tirar vantagem das novas e maravilhosas contribuições feitas pela
ciência matemática ao aperfeiçoamento do espírito humano, assim
como ao nosso meio material. Se um dos aspectos essenciais da
educação é a integração do homem e do sistema de conhecimento
contemporâneo a ele, como podemos voltar nossas costas à ma-
temática moderna? Como podemos mover nossos horizontes de
volta ao tempo em que nada se sabia, por exemplo, da teoria dos
conjuntos? (FEHR, 1969, p. 15-16).
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UNIDADE 1
“
Já no século passado se considerava a passagem das matemáticas da
escola secundária às das universidades como um salto a um mundo
diferente. Com a introdução das matemáticas modernas, esse fosso
tem aumentado muito [...] Recentemente, têm sido introduzidos
nos últimos programas dos três anos da escola secundária superior
(das escolas francesas) os elementos de cálculo diferencial e integral,
da álgebra vetorial e de geometria analítica, mas esses temas são
sempre relegados a um segundo plano, e o interesse se concentra
em primeiro lugar na geometria pura ensinada, mais ou menos,
à maneira de Euclides, com um pouco de álgebra e de teoria de
números. Eu estou convencido que o tempo deste “trabalho reme-
diado” já passou e que deveríamos pensar em uma reforma mais
profunda, a menos que se deixe piorar a situação até o ponto de
comprometer seriamente cada progresso científico ulterior. Se eu
quiser resumir em uma frase todo o programa que tenho em mente,
tenho de pronunciar o slogan: Abaixo Euclides! (DIEUDONNÉ,
1968 apud MIORIM, 1998, p. 109).
“
Ensinar matemática atualizada, incluindo probabilidades, estatística
e matemática numérica;
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UNICESUMAR
“
Nesta época e devido à insistência dos professores secundários
de Matemática, vários Grupos de Estudo, Centros e mesmo Ins-
titutos foram organizados no país, para atualizar o conhecimento
do professor. Por exemplo, o Grupo de Estudos do Ensino da
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UNIDADE 1
Fica evidente que, no Brasil, assim como em outros países, o Movimento da Mate-
mática Moderna desencadeou não só um movimento de inserir uma “matemática
moderna”, mas também em outro sentido, o de professores colocarem-se em mo-
vimento, configurando debates sobre o ensino de Matemática. Debates esses que
foram proferidos, graças a constituição de grupos, os quais, alguns organizados
e reunidos nas férias, investiram na modificação dos programas curriculares e,
consequentemente, dos livros didáticos, ocasionando, de fato, uma modernização
do ensino de Matemática em todo território nacional.
“
A partir de 1961, alteram-se os programas de Matemática do ensino
do 1º grau. Por um lado, temos a liberdade permitida pela Lei de
Diretrizes e Bases; por outro, começam a chegar ao Brasil as pro-
postas do chamado movimento da Matemática Moderna, com suas
propostas radicais de revisão do ensino da matéria. Temos assim
um movimento em direção à diversidade, com as várias Secretarias
instituindo grupos específicos para estudos de currículos (labora-
tórios de currículos, por exemplo) e ao mesmo tempo um ponto de
abstração muito forte para o qual se direcionavam essas mudanças,
a Matemática Moderna (CARVALHO, 2000, p. 101).
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UNIDADE 1
“
A tentativa de se implementar a “matemática nova” nos Estados
Unidos durante o final da década de 50 e na de 60 foi um esforço
no sentido de fazer com que as crianças aprendessem um conjunto
de conceitos matemáticos negligenciados pela “matemática velha”.
O fracasso da “matemática nova” nos Estados Unidos em grande
escala provavelmente se deve ao fato de que, embora o conteúdo
do ensino da matemática de certo modo mudasse, os métodos de
ensino não mudaram.
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UNICESUMAR
Para saber mais sobre essas críticas, convido você a acessar esse
PODCAST, afinal, você já ouviu falar sobre esse documento? Nesse
podcast, falaremos, resumidamente, sobre a BNCC, no que diz
respeito, especificamente, ao ensino da matemática à luz de
alguns teóricos da educação matemática. É só dar o PLAY!
“
Investiga, também, como o aluno, por intermédio do conhecimento
matemático, desenvolve valores e atitudes de natureza diversa, vi-
sando a formação integral como cidadão. Aborda o conhecimento
matemático sob uma visão histórica, de modo que os conceitos são
apresentados, discutidos, construídos e reconstruídos, influencian-
do na formação do pensamento do aluno (PARANÁ, 2008, p. 48).
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UNIDADE 1
EXPLORANDO IDEIAS
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UNIDADE 1
NOVAS DESCOBERTAS
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“
[...] a ser encarados como informações, regras, macetes ou princí-
pios organizados lógica e psicologicamente por especialistas [...] e
que estariam disponíveis nos livros didáticos, nos módulos de en-
sino, nos jogos pedagógicos, em “kits” de ensino, nos dispositivos
áudio visuais, em programas computacionais [...]
Saindo dos três tipos “históricos” de Didática, adentramos no terreno das didáti-
cas atuais, cujos paralelos são as tendências construtivista e socioetnocultural,
esta última essencialmente ligada à Didática progressista de Paulo Freire.
Para a tendência construtivista, a Matemática é concebida como uma cons-
trução humana, tendo sua origem na Epistemologia Genética de Jean Piaget,
embora nem todo construtivismo hoje seja genético.
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UNIDADE 1
EXPLORANDO IDEIAS
De modo geral, Epistemologia Genética pode ser atribuída a uma teoria de aprendiza-
gem idealizada por Jean Piaget, mas não deve ser reduzida a ela. No contexto do ensino
e aprendizagem, o termo Epistemologia faz referência à construção do conhecimento e
o termo Genética, ao como, na perspectiva desse teórico e seguidores, o sujeito vai ela-
borando e modificando as suas estruturas internas com e a partir desse conhecimen-
to. Como uma espiral em movimento, a aprendizagem ocorre com as experiências que
o sujeito vivencia, ele sempre estará num estágio de conhecimento mais evoluído em
relação a um anterior; ainda que estímulos externos influenciam nesse desenvolvimen-
to, as estruturas orgânicas são as determinantes. Termos como esquema, assimilação,
acomodação, equilibração e adaptação são importantes, pois, grosso modo, o sujeito
possui uma série de esquemas e quando se depara com novos desafios que o causam
desequilíbrio, ainda que inconscientemente, ao buscar (re)equilibrar-se, ele procura en-
caixar o novo objeto ao seu conjunto de esquemas e, para isso, modificará os existentes
ou criará novos, reorganização suas estruturas.
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
“
[...] por meio da articulação de seus diversos campos – Aritmética,
Álgebra, Geometria, Estatística e Probabilidade –, precisa garantir
que os alunos relacionem observações empíricas do mundo real a
representações (tabelas, figuras e esquemas) e associem essas repre-
sentações a uma atividade matemática (conceitos e propriedades),
fazendo induções e conjecturas. Assim, espera-se que eles desen-
volvam a capacidade de identificar oportunidades de utilização da
matemática para resolver problemas, aplicando conceitos, procedi-
mentos e resultados para obter soluções e interpretá-las segundo os
contextos das situações (BRASIL, 2018, p. 265).
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UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
Comparando os PCN e as DCE, nesta última, temos a presença de um quinto eixo, Fun-
ções, em relação aos PCN. Esse eixo se consolida a partir dos anos finais do Ensino Fun-
damental, porém, compreendemos que, desde os Anos Iniciais, pode ser abordado com a
relação de dependência entre duas quantidades, presente na multiplicação, por exemplo.
As DCE inovam também com o conteúdo estruturante Geometrias, em que noções de
geometrias não euclidianas são explicitadas a partir do quinto ano, mas que são iniciadas
já na Educação Infantil, com as noções topológicas de interior e exterior de uma figu-
ra, por exemplo. Não podemos deixar de mencionar a BNCC, que apresenta como uma
unidade temática, Probabilidade e Estatística. Semelhante ao que tínhamos nos PCN,
Tratamento da Informação, na Base há indicação de que habilidades como coletar, or-
ganizar, representar, interpretar e analisar dados oriundos de diferentes contextos são
indispensáveis na sociedade contemporânea.
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UNIDADE 1
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UNICESUMAR
de Matemática na segun-
da fase do Ensino Funda-
mental e no Ensino Médio.
Existia o enfrentamento de
dificuldades aparentes pe-
lo(a) seu(sua) professor(a)?
Veja, mesmo assim,
existem motivos que fize-
ram com que você optasse
por esse curso. Para você,
o que seria um ensino de
Matemática de boa qualida-
de? Como o professor pode
contribuir para isso? Essas e
outras perguntas nos guiam
ao nosso futuro ambiente
profissional. E uma forma-
ção que se preze pela quali-
dade (isso me envolve como
autor desse material, o pro-
fessor da disciplina, a insti-
tuição, mas, sobretudo, você
como futuro(a) profissional)
tende a valorizar elementos
que extrapolam essa visão
de conteúdo, ela precisa ir
além… adentrar aos pro-
blemas da escola, relacionar
teoria e prática, fazer-nos
refletir sobre: agora que
sou professor que ensina
Matemática, o que fazer?
Reflita sobre isso!
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1. Considerando a Didática da Matemática como o conjunto de meios e procedimentos
que buscam favorecer a aprendizagem da Matemática, avalie as seguintes afirmações
e a relação proposta entre elas:
No interior da faculdade, o conflito existia… Era um “conflito de limites”: até onde vai
a Didática e onde começa a Prática de Ensino? [...] Então você estuda uma teoria da
prática? Então você estuda na faculdade? E os professores de Didática Especial, que
passaram para as Práticas de Ensino, diziam: “Mas eu preciso ter aulas com esses
alunos! Eu não posso soltar essa turma nas escolas! O que eles vão fazer lá se não
houver uma organização aqui?” A luta foi para conseguirmos aulas no currículo. E
muitos diziam: “O que vocês querem é teoria da prática!” E nós dizíamos: “É isso
mesmo! Teoria da prática!” Você não pode ter uma prática que seja por ensaio, erro
e acerto (CASTRO, 2007 apud FERREIRA, 2011, p. 98).
48
II - O trecho da entrevista mostra o desafio por demarcar os conteúdos que seriam
destinados à Didática e à Prática de Ensino. No caso da Matemática, esse desafio
exigiu clareza de conhecimentos e saberes sobre como se aprende e se ensina
Matemática.
III - O trecho da entrevista mostra que, em linhas gerais, a Prática de Ensino é uma
disciplina que se preocupa com a prática, já que os conhecimentos teóricos se
tornam dispensáveis quando realizamos a ação pedagógica.
IV - O trecho da entrevista evidencia a preocupação que se tinha em formar pro-
fessores apenas com experiências em sala de aula, sem o domínio da teoria
matemática ou dos conhecimentos didático-pedagógicos.
Em relação às alternativas, é correto o que se afirma em:
a) II, apenas.
b) I e II, apenas.
c) III e IV, apenas
d) I, II e IV, apenas.
e) I, III e IV, apenas.
Interpretando esse excerto à luz das tendências apontadas por Fiorentini (1995),
analise as asserções e assinale a correta.
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I - O excerto contextualiza o ensino de Matemática, afirmando que esse modo de
abordar a prática pedagógica partindo de definições, exemplos, demonstração
de propriedades, seguidos de exercícios de aprendizagem, fixação e aplicação
contribui para o estabelecimento de relações.
PORQUE
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História da
Matemática
e Educação
Matemática
Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira
Dr. Wellington Piveta Oliveira
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UNIDADE 2
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
“
Para transformar suas respostas e seus conhecimentos em saber
deverá, com a ajuda do professor, re-despersonalizar e re-descontex-
tualizar o saber que produziu, para poder reconhecer no que fez algo
que tenha caráter universal, um conhecimento cultural re-utilizável
(BROUSSEAU, 1996, p. 48).
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
- Qual foi o problema de que originou essa técnica, esse conceito ou pro-
cedimento?
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UNIDADE 2
r s
A A’ a
B B’ b
C C’ c
60
UNICESUMAR
“
De acordo com Plutarco, isto foi feito porque a razão do compri-
mento da sombra de um bastão na vertical para o comprimento
da sombra da pirâmide é igual à razão entre as alturas do bastão
e da pirâmide [...] Segundo Diógenes Laércio, as pirâmides foram
medidas por Tales usando um procedimento diferente, a saber, me-
dindo o comprimento da sombra da pirâmide e no momento em
que o comprimento da sombra do bastão é igual à sombra deste
(CAJORI, 2007, p. 44).
Para Cajori (2007), é bastante provável que os dois métodos foram usados. Borges
(2004) elaborou uma situação-problema semelhante à de determinar a medida
da altura da pirâmide, de maneira a produzir efeitos semelhantes, para a apre-
sentação do Teorema de Tales. Com os estudantes no pátio da escola, debaixo de
uma árvore, foi relatada a seguinte história:
“
Imaginem vocês que estão perdidos em uma ilha totalmente de-
serta devido a um naufrágio ocorrido com nosso barco. Os únicos
pertences que nos restaram foram as roupas do corpo e um pedaço
de pano branco. Como vocês não têm comida, precisam sair o mais
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UNIDADE 2
É disso que falamos quando se trata de criar situações artificiais que produzam,
para a gênese do conceito, efeito semelhante aos estabelecidos pela situação origi-
nal. No caso da experiência realizada por Borges (2004), a finalização do processo
se deu com a formalização do conhecimento produzido, ou seja, o Teorema de
Tales. Para isso, foi mostrado aos alunos que um problema semelhante àquele que
lhes foi apresentado havia sido resolvido muitos séculos antes, pelo matemático
grego Tales, quando determinou a altura da pirâmide de Quéops, no Egito. Borges
(2004) destacou também a importância de se registrar os dados e garantir que o
conhecimento produzido possa ser utilizado por outras pessoas no futuro.
Ao relatar a experiência realizada a partir da contextualização explicitada
anteriormente, Borges (2004) menciona o desempenho do estudante por ele de-
nominado de F, que foi decisivo para a solução do problema, e também destaca
a importância da mediação do professor para que a aprendizagem se efetive:
“
Queremos enfatizar a importância do papel do professor nesse
tipo de situação. O grupo de alunos poderia chegar à solução do
problema sem a presença do educador, porém isso poderia levar
um tempo maior, o que não seria interessante para uma atividade
escolar. Consideramos que o professor deve criar no trabalho um
ambiente adequado e investigativo, apoiando o trabalho dos alunos
62
UNICESUMAR
63
UNIDADE 2
por TODOS os estudantes se torna real. Assim, segundo o autor, saber como as
coisas aconteceram é importante para o professor, porque, dentre outros aspectos
menos relevantes, permite:
64
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
Miguel e Miorim (2004) ainda reforçam, recorrendo a Zúñiga (1987), que a His-
tória da Matemática possui, ainda, o “[...] papel de um elemento esclarecedor
do sentido e das teorias e dos conceitos matemáticos que serão estudados”, sen-
do que esse papel só seria efetivamente cumprido mediante à “[...] utilização da
ordem histórica da construção matemática devidamente adaptada ao estado
atual do conhecimento” (destaque dos autores), alertando, contudo, que não se
trata de “[...] reproduzir mecanicamente a ordem cronológica de constituição dos
conceitos matemáticos na história”, mas sim buscar um equilíbrio entre a lógica
interna que norteia o processo de transformação de qualquer ciência ao longo
dos tempos, isto é, a evolução dos conceitos (MIGUEL; MIORIM, 2004, p. 46).
65
UNIDADE 2
66
UNICESUMAR
HISTÓRIA DA
MATEMÁTICA EM AÇÃO
Objetivos Pedagógicos
1) A matemática como uma criação
humana;
2) As razões pelas quais as pessoas fazem
matemática
3) As necessidades práticas, sociais,
econômicas e físicas que servem de
estímulo ao desenvolvimento das ideias
matemáticas
6) As percepções que os
matemáticos têm do próprio objeto
da matemática, as quais mudam e
se desenvolvem ao longo do tempo;
7) A natureza de uma estrutura, de
uma axiomatização, de uma prova.
Descrição da Imagem: ao topo da imagem, temos o título “História da Matemática em ação!”; logo abaixo,
temos como subtítulo, “Objetivos pedagógicos”. A seguir, descreve-se sete objetivos pedagógicos que
podem ser alcançados com a História da Matemática, utilizando de três ilustrações que fazem alusão ao
conteúdo de algumas delas, por exemplo, a ilustração de duas pessoas que remetem às razões humanas
pelas quais se produz matemáticas; um professor expondo um triângulo retângulo e a dedução do Teo-
rema de Pitágoras, fazendo referência à generalização de ideias e aplicação em outros contextos; e um
conjunto de instrumentos, como compasso, calculadora, régua e esquadro, evidenciando a construção e
natureza do conhecimento matemático que pode ser desvelado pela investigação histórica.
67
UNIDADE 2
“
Visão individualista, na qual o conhecimento matemático aparece
como obra de gênios alienados, ignorando o papel do trabalho co-
letivo de gerações e de grupos de matemáticos;
É possível inferir que essas visões da Matemática estão na base dos estereótipos
estabelecidos por Machado (1990), aos quais já nos referimos anteriormente,
68
UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Como podemos nos dedicar a estudar alguma coisa que nunca vimos no mundo real,
como um número, uma função, uma equação? Como podemos compreender esses obje-
tos, mais do que compreendemos objetos de nosso cotidiano, que enxergamos e muitas
vezes utilizamos, como, por exemplo, os recursos tecnológicos?
Fazer um exercício para pensar em respostas para essas questões pode nos co-
locar numa posição que compartilha de uma concepção platônica da Matemá-
tica. Sabemos que essa é uma concepção que parece estar superada, mas que é
frequentemente encontrada entre os profissionais da educação e que facilmente
“gruda” em nós. Compreender como ocorre a evolução da ciência Matemática,
perceber a dinamicidade de seu desenvolvimento, a motivação das ideias iniciais,
enriquece, amplia ou mesmo pode transformar a concepção que você tem dela.
“
Do ponto de vista do conhecimento mais profundo da própria ma-
temática a história nos proporciona um quadro no qual os elemen-
tos aparecem em sua verdadeira perspectiva, o que resulta em um
69
UNIDADE 2
Lembro-me de que, na primeira vez em que tive contato com a função logarítmi-
ca, como função inversa da função exponencial, peguei-me pensando em como
alguém conseguia “inventar” tais coisas. Para mim, era como se fossem peças de
um grande jogo em que tudo que era feito devia ser desfeito. A subtração “desfaz”
adição; a divisão “desfaz” a multiplicação. Para mim, esses eram os fundamentos
e, a partir daí, o matemático alienado em seu escritório inventava o que quisesse.
Eu não conseguia ver a importância ou a utilidade do estudo de tais conteúdos.
Eu me fascinava, simplesmente, pela coerência, consistência e os desafios de tais
estudos. Lembro-me também quando, apta ao exercício da docência, comecei a
estudar a História da Matemática e tudo aquilo que eu já conhecia assumiu sig-
nificado. Encontrei-me no texto de Valdés (2006, p. 15), que transcrevo a seguir:
“
A visão histórica transforma meros fatos e destrezas sem alma em
porções de conhecimento buscadas ansiosamente, e em muitas oca-
siões com genuína paixão por homens de carne e osso que se ale-
graram imensamente quando pela primeira vez se depararam com
elas. Quantos teoremas, que em nossos dias têm aparecido para os
estudantes como verdades que saem da obscuridade e se dirigem
para o nada, têm mudado o aspecto para nós, ao adquirir um per-
feito sentido dentro da teoria, depois de havê-la estudado mais a
fundo, incluído seu contexto histórico e biográfico?
70
UNICESUMAR
“
possibilitam o esclarecimento e o reforço de muitos conceitos, pro-
priedades e métodos matemáticos que são ensinados;
Dezesseis anos depois, no ICME de 2000, era possível constatar que as pesquisas
pelo estabelecimento de relações entre a Matemática e sua história, como ferra-
menta didática, haviam ultrapassado, em muito, as recomendações de utilização
de problemas históricos como motivadores da aprendizagem matemática. Isso
pode ser constatado pelas questões constantes do documento de discussão pre-
liminar do Congresso do Japão, tais como, estabelecer:
“
Nível de sistema educativo no qual a história da matemática adquire
relevância como ferramenta de ensino;
71
UNIDADE 2
“
É necessário que passemos cada vez mais a discutir o processo
gerativo da construção do conhecimento matemático (saber/fazer).
72
UNICESUMAR
Com esse pressuposto, os pesquisadores Iran Abreu Mendes e John A. Fossa, am-
bos professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, e Juan
E. Nápoles Valdés, professor titular da Universidad de La Cuenca de La Plata
(UCP) e da Universidad Tecnológica Nacional (UTN), da Argentina, escreveram
o livro intitulado A História como um agente de cognição na Educação Mate-
mática, em que procuram estabelecer as relações entre a História da Matemática,
a cognição matemática e a aprendizagem matemática.
A partir desse momento, nos baseamos fundamentalmente no livro supra-
citado, especificamente no segundo capítulo, de autoria de Iran Abreu Mendes,
intitulado “A investigação histórica como agente de cognição matemática na sala
de aula”, em que o autor destaca aspectos teóricos e práticos da utilização da His-
tória no ensino de Matemática.
Para refletirmos sobre a História da Matemática como agente de cognição
na Educação Matemática, destacamos, na citação anterior, de Mendes, Fossa
e Valdés (2006, p. 12), a frase: “Conhecer é um processo dinâmico e jamais
finalizado (processo histórico), sujeito ao contexto natural, cultural e so-
cial”, porque ela estabelece, de maneira inequívoca, as relações entre o processo
histórico e o processo cognitivo, afinal, a palavra “conhecer” poderia ser substi-
tuída por “A História”, como campo científico, que continuaria sendo verdadeira.
Dessa forma, os autores consideram a História “como um princípio de susten-
tação da cognição matemática”, e a História da Matemática “como um princípio
unificador da matemática escolar ensinada pelos professores”, com potencialida-
des pedagógicas de se constituir como um “[...] reorganizador cognitivo capaz
de justificar as origens e os porquês matemáticos dos conteúdos ensinados na
escola”(MENDES; FOSSA; VALDÉS, 2006, p. 12).
Miguel e Miorim (2006, p. 48) também entendem que a História da Matemá-
tica, além de possibilitar a formulação de situações-problema ou mesmo de apre-
sentar problemas históricos que se constituam como elemento motivador para
73
UNIDADE 2
“
Realmente, a busca de esquemas motiva-
dores para as aulas de Matemática, via uti-
lização da história, tem se deslocado mais
recentemente de um plano no qual eles são
entendidos de forma meramente externa ao
conteúdo de ensino, para outro em que esta
motivação aparece vinculada e produzida
no ato cognitivo da solução de um proble-
ma (MIGUEL; MIORIM, 2004, p. 48).
74
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
Deixo aqui, como sugestão para leitura, esse material incrível produzido pelo
Prof. Dr. Iran A. Mendes, intitulado, Cognição e Criatividade na Investigação
em História da Matemática: contribuições para a Educação Matemática, que
foi publicado pela ALEXANDRIA - Revista de Educação em Ciência e Tecnolo-
gia no ano de 2013. Nesse texto, Mendes (2013) nos convida para pensar a
prática em sala de aula, tendo a História da Matemática como recurso para
despertar, no estudante, o processo criativo, o desenvolvimento de habili-
dade e de raciocínio, subsidiado pela investigação histórica. Segundo ele, o
envolver-se com a problematização e investigação contribui para um “pen-
sar” matematicamente, que vai na contramão do “reproduzir” matemática.
“
Assim sendo, toda história é escrita do ponto de vista que o presente
julga ser importante para a sociedade atual. Isto significa que os fatos
do presente refletem o seu passado e com a reflexão de ambos é
75
UNIDADE 2
“
É nessa rede sociocognitiva e cultural que poderemos captar ele-
mentos característicos do conhecimento matemático, visto que as
atividades humanas sempre apresentam um entrelaçamento de
ações que explicitam a realidade matemática construída (MEN-
DES, 2006, p. 81).
76
UNICESUMAR
“
[...] 1) a história aumenta a motivação para a aprendizagem da ma-
temática; 2) humaniza a matemática; 3) mostra o seu desenvolvi-
mento histórico através da ordenação e apresentação de tópicos
do currículo; 4) os alunos compreendem como os conceitos se
desenvolveram; 5) contribui para as mudanças de percepções dos
alunos em relação à matemática; 6) a comparação entre o antigo
e o moderno estabelece os valores das técnicas modernas a partir
do conhecimento desenvolvido ao longo da história da socieda-
de; 7) ajuda a desenvolver uma aproximação multicultural para a
construção do conhecimento matemático; 8) suscita oportunidades
para investigação matemática; 9) pode apontar os possíveis aspectos
conceituais históricos da matemática que dificultam a aprendiza-
gem dos estudantes; 10) contribui para que os estudantes busquem
no passado soluções matemáticas para o presente e projetem seus
resultados para o futuro; 11) ajuda explicar o papel da matemáti-
ca na sociedade; 12) faz da matemática um conhecimento menos
assustador para os estudantes e para a comunidade em geral; 13)
explora a história ajudando a sustentar o interesse e a satisfação
dos estudantes; 14) fornece oportunidades para a realização de
atividades extracurriculares que evidenciem trabalhos com outros
professores e/ou outros assuntos (caráter interdisciplinar da história
da matemática) (MENDES, 2006, p. 86).
Após a discussão das razões apresentadas por Fauvel (1991) e de outros pes-
quisadores, como os brasileiros Antonio Miguel e Eduardo Sebastiani Ferreira,
para a inclusão da dimensão histórica no fazer pedagógico do professor que
ensina Matemática, Mendes (2006) destaca as possibilidades que essa inclusão
fornece aos estudantes, como, principalmente, “[...] iniciá-los de modo prazeroso
no mundo da matemática como ciência (conhecimento escolar e científico)”, ao
77
UNIDADE 2
“
Nossa concepção a respeito da investigação histórica como um mo-
delo teórico de apoio à elaboração de atividades didáticas para o
ensino da matemática baseia-se na história e na investigação como
fonte de geração da matemática escolar [...] como agente fomenta-
dor do ato cognitivo em sala de aula (MENDES, 2006, p. 99-100).
Dessa forma, Mendes (2006) considera que a articulação entre os aspectos co-
tidiano, escolar e científico do conhecimento matemático é possível mediante a
adoção de atividades investigativas históricas e, então, apresenta uma proposta
concreta de ensino de matemática por atividades apoiadas na história, ou seja,
“[...] um modelo de atividades para o ensino de matemática contendo as carac-
terísticas dos dois eixos estruturais que o geraram: a investigação e a problema-
tização evidenciadas na história da matemática” (MENDES, 2006, p. 100).
Mendes (2006) apresenta, então, uma sequência de ensino sobre o tópico
de Trigonometria Básica para o primeiro ano do Ensino Médio composta de
onze atividades de investigação histórica, assim intituladas: Noção de ângulo;
Explorando triângulos retângulos; Formulando o Teorema de Pitágoras; Me-
dindo altura de objetos pela sombra; Construindo e explorando relógios de sol;
Medindo alturas de objetos sem utilização de sombras; Razões trigonométricas:
das cordas ao triângulo retângulo; Construindo os valores de seno, cosseno e
tangente de ângulos agudos; Construindo e explorando o trigonômetro (explorar
razões trigonométricas); A razão Pi π entre o comprimento da circunferência
e seu diâmetro; e Explorando o Ciclo trigonométrico. Apenas considerando o
título das atividades, é possível inferir que toda trigonometria básica (Trigono-
metria do triângulo retângulo) até a constituição do círculo trigonométrico está
contemplada nessa sequência.
78
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
Antes de finalizarmos esta unidade, convido você a filtrar alguns conceitos importantes
para pensarmos em práticas apoiadas na História da Matemática, sobretudo, que sub-
sidiem o seu processo de formação e que nos permitam a refletir sobre o conteúdo da
próxima unidade (a terceira).
Análise histórica: efetuar uma análise histórica do conceito é buscar conhecer as origens,
razões, circunstâncias, entre outros aspectos que se mostram na historicidade do concei-
to. Essa análise é indispensável para que o profissional possa planejar e empreender a
sua prática, elaborando e propondo tarefas que favoreçam o desenvolvimento do sujeito.
Gênese artificial: o termo emprestado de um dos teóricos da Didática da Matemática im-
prime, no contexto da discussão, uma intencionalidade pedagógica. Nesse sentido, a ideia
de propor uma atividade é que, por meio dela e com ela, o estudante possa compreender
o conceito do qual o professor intenciona abordar com aquela prática.
Agente de cognição: a História da Matemática pode ser compreendida como um modo
de pensar organizado do ponto de vista psicológico, para a compreensão dos conceitos
matemáticos. Assim, ela se mostra como uma possibilidade para que o estudante pense,
reflita, crie hipóteses, teste e (re)formule situações, baseadas na construção dos conceitos.
79
UNIDADE 2
“
Em diversas situações-pro-
blemas vinculadas a práticas
sociais relacionadas seja ao
transporte de massa, à co-
municação de voz, dados
ou outras práticas, nós nos
deparamos com a utilização
de conceitos matemáticos
envolvendo a geometria e a
trigonometria. Em atividades
relacionadas à Engenharia verificamos que profissionais envolvidos
na solução de tais problemas se valem de dispositivos munidos de
softwares amigáveis1com soluções padrão onde o uso de conceitos
matemáticos não é perceptível. Com o objetivo de tornar o ensino
de matemática significativo propomos o envolvimento dos nossos
alunos com tais práticas sociais encontradas na história, que apre-
sentam a possibilidade do uso de conceitos utilizados no ensino da
matemática escolar.
1 Software concebido para conduzir o usuário para acesso rápido de forma prática e intuitiva.
80
UNICESUMAR
81
UNIDADE 2
proceder para obter tal medida a partir de duas medições que ele
chama de estações, conforme figura acima. Medir em duas estações
significa que, haverá dois procedimentos para a medição. Fixado
o local da primeira medição (primeira estação) o prático2 deverá,
inicialmente, fixar o pêndulo no orifício do ponto e com o auxílio
das pínulas, mirar para a torre que se quer medir (o raio de visada
deverá passar pelas duas pínulas atingindo a altura daquilo que se
deseja medir). Desta forma o quadrante se encontrará inclinado e
o pêndulo, por gravidade, naturalmente definirá o primeiro ângulo
de inclinação. A seguir ele deverá dar, por exemplo, 10 passos para
trás e deslocar verticalmente o ponto de fixação do pêndulo tantos
orifícios quantos forem os passos dados (no nosso exemplo 10 orifí-
cios) e novamente mirar a torre, obtendo o segundo ângulo que será
indicado também pelo
pêndulo. As indicações
definidas pelo pêndu-
lo verificadas nas duas
medições devem ser
registradas geometri-
camente conforme fi-
gura a seguir.
82
UNICESUMAR
pergunta que poderia ser feita aos estudantes seria: que dados são importantes
para poder contratar os andaimes? Certamente, a altura da Catedral surgirá
como resposta a essa pergunta.
Nesse sentido, você proporia que a empresa não possui recursos suficientes
para efetuar o cálculo da altura da Catedral de Maringá e que seria necessário
pensar em outras estratégias, buscando soluções criativas. Assim, a hipótese que
você irá considerar é a de que os seus estudantes haviam pesquisado sobre a
utilização do quadrante proposto por De Céspedes e, com base nessa estratégia,
solicitaria: qual seria a medida da altura, resultante da medição que eles
encontraram, considerando que utilizaram de tal recurso?
Analisando essa ta-
refa, na sua compreen-
são, ela está apoiada na
História da Matemática
como orientação meto-
dológica? Justifique.
Agora, após refletir
sobre a tarefa, desafio
você a planejar uma pro-
posta didática tendo como base os conceitos teóricos que aqui foram abordados,
isto é, supondo que você esteja professor de Matemática em uma instituição es-
colar, como você encaminhará a sua aula, utilizando dessa atividade para desen-
volver o processo de ensino e aprendizagem?
Você apresentaria as informações impressas e depois a tarefa? É uma possi-
bilidade!
Solicitaria uma pesquisa sobre Quadrante Geométrico De Céspedes, su-
gerindo uma apresentação de seminários, a fim de que os estudantes com-
partilhassem os conhecimentos e saberes e depois problematizaria a tarefa?
Outra possibilidade!
Ou você iniciaria com a tarefa e indicaria uma pesquisa sobre Quadrante
Geométrico De Céspedes como alternativa para solução? Está aí, mais outra pos-
sibilidade que pode ser amadurecida!
83
1. A fim de que você possa ter clareza sobre diferenças entre o que parece ser um jogo
de palavras, conceitue e exemplifique: História da Matemática, História na Educação
Matemática e História da Educação Matemática.
I - Para ser eficaz, o ensino da Matemática deve se pautar, entre outros aspectos, na
resolução de problemas que sejam significativos para o aluno ou, dito de outra
forma, “contextualizados”.
II - O saber matemático é generalizado, isto é, deve ser descontextualizado, impes-
soal e atemporal e, portanto, se a fase de contextualização foi efetiva, é neces-
sário, ainda, um segundo movimento, o de descontextualização.
III - Situações de contextualização são aquelas que favorecem a construção dos co-
nhecimentos pelos alunos, como uma resposta pessoal a uma pergunta que os
desestabilize não apenas como resposta a um desejo do professor.
IV - Um dos principais desafios do ensino de Matemática é introduzir na sala de aula
uma melhor relação entre os conceitos e a resolução de problemas, de maneira
a torná-los interessantes e compreensíveis para os alunos.
a) Somente I e II estão corretas.
b) Somente II e III estão corretas.
c) Somente I, II e IV estão corretas.
d) Somente I, III e IV estão corretas.
e) Todas estão corretas.
84
3. Considerando que é a análise histórica que permite identificar os problemas dos
quais originaram um determinado conceito para reproduzi-los, avalie as seguintes
afirmações e a relação proposta entre elas:
5. Considerando o que foi tratado no último tópico desta unidade, comente em texto
dissertativo-argumentativo, de 08 a 12 linhas, a afirmação de Mendes (2006, p. 99-
100), transcrita a seguir: “Nossa concepção a respeito da investigação histórica como
um modelo teórico de apoio à elaboração de atividades didáticas para o ensino
da matemática baseia-se na história e na investigação como fonte de geração da
matemática escolar [...] como agente fomentador do ato cognitivo em sala de aula”.
85
3
Práticas
Convergentes
à História da
Matemática
Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira
Dr. Wellington Piveta Oliveira
Entre 2011 e 2014, fui professor na Educação Básica. Trabalhei com Educação
de Jovens e Adultos, Salas de Apoio à Aprendizagem (SAA) de Matemática no
Ensino Fundamental e com aulas regulares nos Ensinos Fundamental e Médio.
Foi uma experiência única e ela me guiou ao trabalho com a formação de profes-
sores que ensinam Matemática. Contudo, essa discussão cabe em outro momento,
não é o nosso foco, pois o que quero compartilhar contigo é que, durante essa
experiência profissional, fui convidado a participar da escolha do livro didático
para os anos subsequentes.
Eu nunca havia participado dessa escolha, aliás, na minha formação inicial,
também não tive a oportunidade de refletir ou compreender como se dava essa
seleção. Portanto, enquanto profissional, procurei compreender como acontecia
esse processo de seleção e de aquisição dos livros didáticos, bem como que cri-
térios pedagógicos eram relevantes ou determinantes nessa seleção. Te pergunto,
caro(a) estudante, você teria condições de me dizer que critérios implicam na
seleção dos livros didáticos?
Sei que esse tema pode parecer um pouco técnico, mas ele exige de nós, pro-
fissionais, competências predominantemente pedagógicas, contribuindo para
a formação docente, conforme apontou Gomes (2008, p. 22): “a mobilização da
história da Matemática por parte dos autores de livros didáticos acaba também
condicionando a formação de professores e estudantes”.
Os critérios de escolha do material didático são amplos e fazem parte de um
Programa denominado Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). Segundo Biffi
e Trivizoli (2017, p. 1), esse Programa foi “instituído em 1985 com a edição do De-
creto nº 91.542, de 19/8/85, o PNLD [e] é responsável pela avaliação e distribuição
de livros didáticos para alunos da educação básica de escolas públicas brasileiras”.
Segundo essas autoras, o PNLD possui um Guia do Livro Didático que apre-
senta uma série de critérios para os autores submeterem as suas propostas. Crité-
rios esses que, ao serem confrontados nas obras, ajudam a selecionar as coleções
para serem destinadas às secretarias, que encaminharão às instituições de ensi-
no para serem analisadas e indicadas. Em seguida, as coleções são adquiridas e
distribuídas por todas as escolas públicas brasileiras. Esse processo de escolha
ocorre a cada três anos.
Um exemplo desses critérios apresentados no Guia para o ano de 2015, que
foi sinalizado por Biffi e Trivizoli (2017), é a “contextualização”. Para essas autoras,
houve uma preocupação com a História da Matemática nos livros ao interpre-
88
UNICESUMAR
tarem a seguinte informação presente no Guia: “[...] são avaliadas as [...] contex-
tualizações feitas com base na história da Matemática, com o objetivo de tornar
o estudo mais significativo” (BRASIL, 2014, p. 18).
Também como critério de escolha na instância escolar, podemos considerar
os conhecimentos pedagógicos dos professores, conhecimentos esses que podem
ser os da Educação Matemática. Você pode estar se perguntando: que impor-
tância tem isso? Quando participei da escolha do livro didático, coletivamente,
concordamos que os materiais que abarcam as tendências em Educação Matemá-
tica despertam a curiosidade dos estudantes por relacionar a historicidade com
a atualidade, sobretudo, conectando-as aos conceitos e saberes.
Nesse contexto e considerando o nosso objeto de estudo - História da Mate-
mática - um instrumento analítico possível para tal escolha é verificar:
“
[...] como histórias da matemática, da educação matemática ou his-
tória em geral, são mobilizadas pelos autores de livros-texto e, em
seguida, apresentadas por eles em suas obras didáticas a fim de que
histórias participem como um recurso didático para a melhoria da
educação matemática escolar (GOMES, 2008, p. 12).
Assim, olhar para essas obras pode ter um fator de impacto no ensino de Mate-
mática, modificando as propostas que desencadeiam a aprendizagem matemática.
Obviamente que essas propostas (no caso o livro) não é a única responsável pelo
sucesso ou fracasso do ensino, mas sabemos como ele “sustenta” as práticas em sala
de aula, não é mesmo? Bem, antes de adentrarmos em algumas reflexões teóricas e
exemplos que podem amparar as nossas experiências como profissionais que deci-
dem adotar a História da Matemática nas aulas, convido você a fazer um exercício.
Vamos supor que você seja professor(a) (caso já não o seja) e precisa fazer
um exercício analítico sobre essa atividade (figura a seguir), presente em um dos
livros didáticos que foi apresentado pelo PNLD e escolhido pela instituição de
ensino em que você é colaborador.
A atividade a seguir é apresentada na dissertação de Mestrado de Biffi (2018).
A autora fez uma análise do Guia do Professor oferecido por algumas das co-
leções que foram apresentadas ao PNLD. A atividade intitulada “Aristarco e a
estimativa de grandes distâncias” foi extraída do livro “Novo Olhar: Matemática”,
de Joamir Souza (2013, p. 203).
89
UNIDADE 3
“
“Conforme já mencionado neste capítulo, é provável que o estudo
inicial da Trigonometria esteja diretamente relacionado à Astro-
nomia. Por isso, quando estudamos a História da Matemática, nos
deparamos com diversos problemas astronômicos envolvendo as
relações trigonométricas. Um desses problemas, que lidava com as
distâncias da Terra ao Sol e da Terra à Lua, foi tratado por Aristarco
de Samos (c.310-230 a.C.) em cerca de 260 a.C.
Aristarco de Samos
90
UNICESUMAR
Sei que, matematicamente falando, não dá para escolher um livro por uma única
atividade, mas supondo que as demais atividades tenham características seme-
lhantes a essa, pergunto:
■ Tendo como base essa atividade, você escolheria esse livro didático como
material de apoio às práticas pedagógicas de ensino de Matemática?
■ Com suas palavras, argumente, por que essa atividade pode ser conside-
rada como sendo de História da Matemática. Considerando a História
da Matemática, como “pano de fundo”, como você classificaria essa ati-
vidade?
O que achou? Você sentiu dificuldades para analisar essa atividade? Como você
classificou essa atividade? Sugiro que você anote, no Diário de Bordo, as suas
respostas para essas questões. Depois de finalizarmos o estudo desta unidade,
podemos retomá-las e analisarmos se elas convergem para o que a literatura tem
apresentado sobre a análise de atividades em livros didáticos.
91
UNIDADE 3
“
resposta mais plausível a esta questão atualmente, apela para quatro
grandes ideias: a atividade do sujeito que aprende, a oferta de situa-
ções favoráveis ao aprendizado, a mediação por parte de pessoas
que o rodeiam, a utilização de formas linguísticas e simbólicas para
comunicar e representar.
92
UNICESUMAR
93
UNIDADE 3
De modo semelhante, ela também se faz presente na parte das Atividades como:
94
UNICESUMAR
Esse exemplo foi extraído da coleção apresentada por Onoga e Mori (2002, p.
161) ao Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). Retirado do exemplar da 8ª
série (atualmente, 9º ano), Bianchi (2006, p. 73) argumenta que as informações,
conforme identificou no material analisado, “mostram que a Matemática pode
estar presente na natureza ou em vários outros objetos (a razão áurea é usada,
por exemplo, por artistas em suas pinturas). Como informação adicional, ilustra
o conteúdo de proporções visto anteriormente”. Vejamos a seguir:
“
LEITURA + LEONARDO DA VINCI –
“A proporção é linda!” Leonardo da Vinci
(1452-1519) foi um dos gênios da Renas-
cença. Tinha pensamento ousado e original,
era um homem tanto de ação quanto de
contemplação. Foi também um dos artistas
mais completos da época: pintor, arquiteto,
criador de projetos e inventor de instru-
mentos e máquinas muito avançados para
a época. Em 1509, o mate-
mático Pacioli publicou a obra De divina propor-
tione (lê-se: “proporcione”). O tema considerado
mais importante nessa obra tratava dos sólidos
regulares, dos polígonos regulares e de uma razão
particular: a “secção áurea”. Essa razão influenciou
o trabalho de muitos pintores, arquitetos e constru-
tores da época, inclusive os trabalhos de Da Vinci.
95
UNIDADE 3
Como um material teórico presente no livro didático, o texto que segue foi re-
tirado do exemplar da 6ª série (atualmente, 7º ano), pertencente à colação dos
autores Imenes e Lellis (2004, p. 28-30).
“
CIRCUNFERÊNCIA A carne do peixe se deteriora com muita fa-
cilidade. Por isso, é preciso manter os peixes sob refrigeração tão
logo são pescados. Mas o que deve ser feito quando não há geladei-
ra? Há muitos séculos, os pescadores de Moçambique empregam a
defumação para conservar o pescado. Eles fazem uma fogueira na
praia e espetam cada peixe em uma vara fincada na areia. O fogo
desidrata os peixes que, assim, demoram mais a se estragar. Se as
varinhas fossem espetadas muito perto do fogo, os peixes torrariam.
Se ficassem muito distantes, o calor seria insuficiente para secá-los.
96
UNICESUMAR
Para que isso não aconteça, é preciso dispor os peixes de modo que
o calor os desidrate igualmente. Os pescadores resolvem esse pro-
blema usando um cordão e dois pedaços de pau.
Figura 1 - A construção da representação de uma circunferência / Fonte: Imenes e Lellis (2004, p. 29).
Descrição da Imagem: um pescador, à beira mar, fixa uma ponta do cordão esticando-o. Na outra ponta
está amarrado a um pedaço de pau, que girando-o, ele cria uma circunferência. Na imagem dá essa sen-
sação de movimento do pescador, ao mostrar o desenho de uma semicircunferência.
Figura 2 - Circunferência representada pelos peixes / Fonte: Imenes e Lellis (2004, p. 29).
Descrição da Imagem: ilustração representando o descrito no texto: uma circunferência definida com
peixes e uma fogueira ao meio.
97
UNIDADE 3
Segundo Bianchi (2006, p. 60), esse texto é informativo “[...] que traz um pouco
da História através de figuras interessantes no texto. A forma da apresentação
deste conteúdo é considerada de grande valia, quando se aproveita totalmente
o fato histórico, definindo assim o conceito matemático de circunferência”. Veja
que, por meio da situação histórica cultural de uma atividade econômica – a dos
pescadores –, é possível definir raio e circunferência com os estudantes. Esse tipo
de situação pode ser transposta para outras experiências, levando os estudantes
a colocarem em prática o conceito abordado.
Existem outras formas de manifestação da História da Matemática em livros
didáticos que podem ser exploradas. Vejamos:
“
A LINGUAGEM MATEMÁTICA Os matemáticos antigos não
conheciam a Álgebra da forma como a estudamos atualmente. A
utilização de letras do nosso alfabeto para representar números é
um fato bastante recente: começou por volta do século XVI.
98
UNICESUMAR
“
QUESTÃO 3: Leonardo
da Vinci é famoso por sua
arte e por suas invenções.
r r
Segundo Bianchi (2006, p. 64), nes-
sa atividade, aparece uma “Menção
Histórica sobre Leonardo da Vinci,
citandouma de suas pesquisas em
Geometria, exemplificando o pêndu-
lo transformado em retângulo”. Fica
evidente que essa menção é apenas
para informar ou, digamos, contex-
tualizar a tarefa matemática que, em
seguida, é apresentada.
99
UNIDADE 3
“
UM CASO DE AMOR Alguns povos da Antiguidade divertiam-se
com a Matemática. Particularmente os hindus eram eloqüentes e até
poéticos. No século XVII, eles publicaram um tratado de teologia
geral, chamado Lilavati, e nele constavam várias situações-problema.
Concordo com Bianchi (2006, p. 75), que essa atividade utiliza a História da
Matemática como Estratégia Didática porque não só ilustra uma situação que
consta em uma obra, como também propõe o desafio ao estudante que encontre
a solução para a situação-problema. Nesse sentido,“[...] se utiliza do fato histórico
para propor algum desafio, mediante o conceito embutido em um acontecimento
antigo, mostrando também que a Matemática é fruto de um trabalho que vem
sendo realizado por várias pessoas já a algum tempo”.
Agora apresento o último exemplo. Ele foi retirado do exemplar da 7ª série (atual-
mente, 8º ano) da coleção de Onoga e Mori (2002, p. 25). É importante destacar
que, no material, antes da atividade ser apresentada, um texto é apresentado como
suporte ao desenvolvimento da tarefa.
“
EXPLORANDO O TEXTO A História conta sobre a fama do nú-
mero pi: ele até parece um superastro! Por que toda essa fama?
100
UNICESUMAR
“
Com relação à presença de textos históricos que se propõem a for-
necer ao aluno informações históricas, presentes em muitos livros
didáticos atuais brasileiros, encontramos algumas diferenciações
na forma como tais informações são introduzidas bem como nos
objetivos da introdução (MIGUEL; MIORIM, 2004, p. 58).
Como o nosso objetivo é refletir sobre a presença dela nesses materiais visan-
do a sua formação como profissional que ensina Matemática, compreendo que,
após esses exemplos, você terá condições de analisar, refletir e planejar tarefas
que contemplem elementos históricos. Bianchi (2006) apontou que a presença
da História da Matemática como Informação Geral e Informação Adicio-
nal são as mais recorrentes nos livros analisados. Embora compreendamos a
importância dessas informações (geral e adicional), elas parecem figurar como
apêndices dos materiais.
É importante que a História da Matemática não seja figurante, mas
protagonista no planejamento e ação pedagógica. Assim, tanto nos materiais
didáticos como nas ações em contextos educacionais, recomendamos e
sustentamos a História da Matemática em atividades como Estratégia Didática,
atividades essas que combinadas com outras tarefas e exemplos já apresentados,
sobretudo, alinhadas a uma boa didática do professor, podem subsidiar o pro-
cesso de ensino e aprendizagem.
Aprendizagem guiada pela compreensão e significação dos conceitos favore-
cida pelas explorações históricas que podem e devem ser apresentadas, conver-
gindo para o apresentado nas discussões anteriores, isto é, tendo a História da
Matemática como agente de cognição ou como condição fundamental para a
produção de efeitos semelhantes à situação original (gênese artificial).
101
UNIDADE 3
NOVAS DESCOBERTAS
Para saber mais sobre o assunto e ter acesso a outros exemplos de análise
da História da Matemática em livros didáticos, veja as seguintes pesquisas:
A História da Matemática nos livros didáticos de Matemática do Ensino Mé-
dio: conteúdos e abordagens, produzida por Elisângela M. Pereira (2016).
102
UNICESUMAR
lizadas em sala de aula, bem como analisar uma prática apoiada na História
da Matemática. É sabido que o professor dispõe de diferentes estratégias para
conduzir a prática pedagógica apoiada na História da Matemática, dentre elas:
“
[...] propor ao estudante que pesquise sobre a constituição histórica
de determinado conceito ou modelo; abordar determinado conceito
ou modelo a partir da perspectiva de uma determinada civilização; ter
em vista que o estudante investigue sobre os conhecimentos matemá-
ticos gerados por uma determinada civilização (LARA, 2013, p. 56).
“
[...] problemas de quantidades envolvendo equações do 1º grau com
uma incógnita, do tipo x a x b ou x a x bx c , resolvidas
pelo método da falsa posição. Por exemplo, na equação x + x/7 = 24,
103
UNIDADE 3
104
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a mesma tabela representada acima, seguindo as orientações do texto. Os qua-
drados foram divididos diagonalmente ao meio, estando, na parte de cima um número e, na parte de
baixo, outro. Na primeira linha, da esquerda para a direita, temos o número 30, sendo o algarismo 3 que
representa a dezena, à esquerda (parte de cima) e o algarismo 0 à direita (parte de baixo). Seguindo essa
forma de dispor o produto dos algarismos, temos, ainda na primeira linha, os números 24, 48 e 12. Na
segunda linha, da esquerda para a direita, temos 15, 12, 24, 06. Na terceira linha, da esquerda para a
direita, temos 45, 36, 72 e 18.
Por fim, o resultado da multiplicação será a soma dos algarismos indicados pe-
las “tiras” das diagonais, da direita para a esquerda. Quando a soma de uma das
diagonais resultar em um nú-
mero de dois algarismos, o da 5 4 8 2
2 2 1
dezena vai no início da próxi- 3 2 4 1
3 6
ma tira, dentro do quadrado 0 4 8 2
Descrição da Imagem: a tabela mostra a soma dos algarismos em cada uma das tiras na diagonal, con-
forme o método descrito no texto. Também aparecem duas setas, uma localizada à esquerda da tabela
na posição vertical, indicando para baixo, contendo os algarismos 3, 5 e 0, dentro dela; outra seta na parte
inferior da tabela, indicando para a direita, com os algarismos 2, 9, 9 e 8 dentro dela. A leitura desses
números indica o produto da multiplicação, sendo 3.502.998.
Entendo que essa também é uma possibilidade para o professor do 6º ano traba-
lhar com os estudantes, quando visa desenvolver, por exemplo, habilidades como
105
UNIDADE 3
Figura 6 – Disposição dos materiais oferecidos aos estudantes / Fonte: Lara (2013, p. 60).
Descrição da Imagem: da esquerda para a direita, na imagem, há uma vela acessa sob uma base; ao
centro, uma objeto piramidal (de base quadrangular) e à direita um pequeno pedaço de palito. Todos os
objetos posicionados verticalmente.
A autora ainda explicita que outras explorações também ocorreram, tais como
a própria confecção pelos estudantes do material utilizado nessa atividade; o
cálculo de altura, na rua, utilizando da própria luz solar; e, o cálculo de alturas
desconhecidas de outros objetos, como prédios e árvores.
106
UNICESUMAR
Essas três propostas de atividades apresentadas por Lara (2013), junto a inú-
meras outras que se apresentam na literatura em Educação Matemática, podem
incentivar a realização de práticas que coloquem o estudante como protagonista,
isto é, que ele pense matematicamente em soluções para os problemas, desenvol-
vendo competências e habilidades. Veja que em todas elas há o incentivo à pesqui-
sa, a seleção de informações e a relação com a matemática acadêmica, mostrando
que ela é um constructo humano, produto de desafios, erros e dificuldades.
Segundo a autora, ensinar usando a História da Matemática é uma possibili-
dade que “[...] deve ser abordada criando condições para que o estudante reflita
sobre esse saber/fazer e o utilize de algum modo na elaboração do seu próprio
saber/fazer, seja tomando-o como base, ou colocando-o sobre suspeita, ou ainda
comparando-o à Matemática aprendida na escola” (LARA, 2013, p. 61).
A abordagem dessas atividades em sala requer uma dinâmica de prática di-
ferente daquela que, comumente, conhecemos: definição, exemplos e listas de
exercícios. A seguir, teremos a oportunidade de conhecer um pouco desse outro
modo de configurar a prática em sala de aula, quando assumimos a História da
Matemática. A experiência expressa uma prática desenvolvida no Ensino Médio.
Intitulada Método de Multiplicação Chinesa: uma proposta metodoló-
gica para o ensino da Matemática, de Silva, Gonçalves e Cardoso (2020), foi
compartilhada e publicada no Boletim Cearense de Educação e História da Ma-
temática – BOCEHM, no ano de 2020. A experiência envolveu algumas situa-
ções-problema apresentadas a estudantes de 1ª e 2ª anos do Ensino Médio de um
município cearense, sendo solicitado para a resolução o método multiplicativo
utilizado na civilização chinesa.
Como a multiplicação pode ser concebida não apenas como a soma de parcelas
iguais (CHAVES; BESSA, 2017), podendo ser explorada de outros modos, as auto-
ras propuseram uma prática alternativa para modificar o modo como os estudantes
lidam com o algoritmo da multiplicação, tornando essa relação mais lúdica.
Para que possamos compreender algumas resoluções dos estudantes, é impor-
tante que conheçamos o referido método. Segundo as autoras, o método chinês
da multiplicação se baseia na contagem de pontos que emergem do agrupamento
e sobreposição de varetas. O sistema de numeração chinês “[...] é caracterizado
pela escrita ideográfica, na qual os números são representados por varetas de
bambus nas posições verticais e horizontais. A unidade é representada pelo o
107
UNIDADE 3
2 4 6
Descrição da Imagem: na figura, temos a representação dos traços que expressam os fatores 246 e 42,
sendo um conjunto de 12 traços na vertical e 6 na horizontal sobrepondo os 12. O ponto de interseção
entre eles é destacado por pontos coloridos, sendo da esquerda para direita, um conjunto 8 pontos na
cor vermelha e logo abaixo quatro pontos na cor roxa; ao meio da figura outro conjunto de 16 pontos na
cor roxa e abaixo, 8 na cor verde; à direita, 24 pontos na cor verde e 12 na cor preta.
108
UNICESUMAR
2 4 6
20
32 12
Figura 9 - Contagem dos pontos da interseção. / Fonte: Silva, Gonçalves e Cardoso (2020, p. 86).
Por fim, para encontrar o produto é orientado baixar a unidade em cada uma das
diagonais e, se o número a ser baixado for maior que 9, soma-se a dezena com a
unidade de diagonal subsequente, conforme expressa a figura a seguir:
8 20 32 12
10 3 3 2
Descrição da Imagem: a figura expressa o produto resultante da multiplicação. Na parte superior estão
localizados os números 8, 20, 32 e 12, e na parte inferior estão localizados os algarismos que expressam
as unidades de cada valor encontrado nas diagonais, seguindo o método (se o número encontrado for
maior que 9, deve-se somar a dezena com a unidade da próxima diagonal).
109
UNIDADE 3
“
Este ambiente colaborativo, com outra forma de resolução de
problemas multiplicativos, difere da prática pedagógica do professor
em sala de aula, muitas vezes, limitada a um único método para
se desenvolver o cálculo, nesse sentido, os alunos desconhecem
ou tendem a acreditar que não existem outra maneira de realizar
o algoritmo da multiplicação (SILVA; GONÇALVES; CARDOSO,
2020, p. 89).
Vejamos, a seguir, duas das situações propostas e seus respectivos registros que
foram utilizados, isto é, a produção escrita dos estudantes que evidenciam a re-
solução dos problemas propostos a eles:
“Em uma caixa há 45 limões. Quantos limões caberão em 7 caixas?”
Figura 11 - Resolução do aluno H
Fonte: Silva, Gonçalves e Cardoso (2020,
p. 90).
110
UNICESUMAR
111
UNIDADE 3
Descrição da Imagem: a figura 12A e 12B expressam a resolução de 56x5. Em 12A, à esquerda aparecem
5 traços na vertical, um espaço livre, e à direita, também na vertical 6 traços, representando os algarismos
5 e 6. Cortando horizontalmente, aparecem 6 traços, sendo que um deles está posicionado mais distante
dos outros 5. Por ser um registro de produção de sala de aula, provavelmente feito à lápis, as diagonais
não estão nítidas, mas são indicadas com números, as somas dos pontos oriundos das interseções. Na
Figura 12A aparece, da direita para esquerda, o número 840 e um sinal de igual. Do outro lado da igual-
dade, o número 30 e um 0 posicionado abaixo dele, o quatro e um oito. Na Figura 12B, da direita para
a esquerda, aparece a letra “R” e um sinal de igual e um espaço em branco. À esquerda de “R” consta o
número 36 e abaixo dele uma seta indicando o algarismo 6, como a unidade que permaneceu. Há também
outra seta curvada que liga o 36 ao número 30, do qual sai outra seta para baixo, indicando o algarismo 0.
112
UNICESUMAR
métodos podem agilizar esse cálculo. Esse tipo de reflexão também deve emergir
na sala de aula de Matemática, com o objetivo de reconhecer conceitos e modos
alternativos de pensá-los.
Outro aspecto importante que nos cabe refletir, a partir dessa experiência, é
a possibilidade de ela ser adaptada para outras turmas e outros níveis de ensino,
como do Ensino Fundamental. Além disso, podemos pensar em outras formas
de conduzir a prática com História da Matemática. Na experiência relatada, foi
utilizada uma apresentação contextualizando o objeto de estudo (o método) e a
civilização do qual é proveniente, seguindo de discussões.
Essa dinâmica pode ser caracterizada como algo diferente do que comumente
acontece numa aula de Matemática. Também destaco o trabalho em grupo, pois
a negociação de significados entre os estudantes membros de um coletivo pode
gerar, entre outras coisas, atitude de respeito e interpretações distintas que levam
a constituição de aprendizagens.
113
UNIDADE 3
114
UNICESUMAR
115
UNIDADE 3
EXPLORANDO IDEIAS
116
UNICESUMAR
“
A civilização babilônica é considerada uma das precursoras dos
registros de pensamento funcional por confeccionar tabelas ou
tábuas talhadas em argila com duas colunas. As tábuas de multipli-
cação são uma dessas representações, em que, para cada número da
primeira coluna, apresentava-se outro na segunda, representando o
resultado da multiplicação do primeiro por algum valor fixo (RO-
RATTO, 2009, p. 52).
117
UNIDADE 3
118
UNICESUMAR
gráfica iniciada por Fermat (1601 - 1665) e que foi consagrado por Descartes
(1596 - 1650).
“
Um sistema caracterizado por dois eixos ortogonais em que cada
um representa um conjunto de variáveis, usualmente, o eixo x (eixo
horizontal), as variáveis independentes e o eixo y (vertical), as va-
riáveis dependentes. Para cada variável em x, existiria uma variável
determinada em y, o que ficaria conhecido como um par ordena-
do. Traçando retas ortogonais aos eixos, cada uma partindo da sua
variável correspondente, teríamos a representação gráfica de uma
função ao tomar o conjunto dos pontos de interseção de todas as
retas, ou, então, o conjunto de todos os pares ordenados (CARAÇA,
1984) (RORATTO, 2009, p. 57).
NOVAS DESCOBERTAS
Para saber mais sobre essa pesquisa e ter acesso ao conteúdo completo da
análise realizada por Cauê Roratto (2009), acesse o seguinte link a seguir.
Além de uma brilhante viagem histórica sobre o desenvolvimento do con-
ceito de função, você terá a oportunidade de conhecer sobre a Teoria da
Aprendizagem Significativa de David Ausubel. Teoria que o autor respaldou
os seus argumentos sobre a História da Matemática como favorecedora da
aprendizagem.
A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA COMO ESTRATÉGIA PARA O ALCANCE DA
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA DO CONCEITO DE FUNÇÃO, de Cauê Ro-
ratto (2009).
119
UNIDADE 3
Atividade 1
120
UNICESUMAR
Atividade 2
121
UNIDADE 3
Quatro anos mais tarde, nos jogos de Atlanta, 15 dos 225 atletas brasileiros
conquistaram medalhas, três de ouro, três de prata e as restantes de bronze. A
grande quantidade de medalhas se repetiu em Sidney – 2000, doze medalhas
foram conquistadas, entretanto, nenhuma foi de ouro. Metade delas foi de prata
e a outra metade de bronze, numa olimpíada que 205 brasileiros competiram.
Duas medalhas a menos que em Sydney foram conquistadas em Atenas –
2004. Porém o desempenho foi surpreendente, uma vez que metade delas foi de
ouro. O restante se dividiu em duas de prata e três de bronze. 247 atletas brasi-
leiros participaram desses jogos.
Por fim, a maior delegação brasileira já participante dos jogos, num total de
277 atletas, voltou das olimpíadas de Pequim com três medalhas de ouro, quatro
de prata e oito de bronze, dando-se o devido destaque às mulheres, que conquis-
taram 6 medalhas, feito inédito para o esporte nacional.
Baseado nas informações lidas:
a) Construa uma tabela representando os dados presentes no texto.
b) Qual a olimpíada que o Brasil conquistou mais medalhas de Ouro?
c) Qual a olimpíada que o Brasil ganhou mais medalhas?
d) Qual olimpíada o Brasil contou com a maior participação de atletas?
e) Pode-se dizer que o número de medalhas conquistadas depende do nú-
mero de atletas participantes em cada olimpíada? Justifique sua resposta.
f) Qual o maior benefício que você achou em representar os dados por meio
de uma tabela?
Atividade 3
122
UNICESUMAR
Temperatura Temperatura
Pressão atmos- de fervura da Pressão atmos- de fervura da
férica (em atm) água férica (em atm) água
(em ºC) (em ºC)
1 100,0 8 170,8
2 120,6 9 175,8
3 133,9 10 180,3
4 144,0 20 213,0
5 152,2 30 236,2
6 159,2 40 252,5
7 165,3 50 265,9
123
UNIDADE 3
Atividade 4
Atividade 5
124
UNICESUMAR
Atividade 6
125
UNIDADE 3
Os alunos jogam em duplas. Um deles diz um número e o outro faz com esse
número a operação indicada pela frase e diz o resultado. Com esse resultado, o
primeiro aluno efetua a operação indicada pela sua frase e assim por diante até
que um deles descubra a frase do outro.
Ao descobrir a frase, o aluno deve escrevê-la em um papel e, se possível,
representar a frase por uma expressão matemática. Caso não possa ser expressa
matematicamente, deve indicar 3 exemplos.
Você deve ter percebido que os objetivos das atividades apresentadas represen-
tam a sequência histórica da construção epistemológica do conceito de funções.
Com a perspectiva histórica de desenvolvimento do conceito, o estudante tem a
oportunidade de vivenciar processos semelhantes ao do matemático. Esse vivenciar
está relacionado às condições de problematização e de investigação matemática que
a situação exige, diferente daquela perspectiva de ensino em que, inicialmente, são
apresentadas as definições seguidas de exercícios, sugerindo a reprodução deles.
Esclarecemos que esse modo de proporcionar as experiências aos estudantes
permite com que eles mobilizem conhecimentos prévios e que, intuitivamente,
eles possam pensar em estratégias que os conduzem a níveis mais abstratos e
formais do conceito ou conteúdo que é abordado. Note que, uma abordagem con-
textualizada fornece condições para que os estudantes possam, gradativamente,
“ativando” esses conhecimentos prévios e como âncora para novos conhecimen-
tos, avançando na formalização, inclusive, adotando uma linguagem matemática.
126
UNICESUMAR
“
[...] ao educador ter o bom senso do que seria de fundamental na
História para contextualizar o ensino de determinado conceito.
No caso das Funções, sugerimos breves comentários expositivos
a respeito de relação de dependência, seguido de atividades de re-
conhecimento de regularidades que culminem na elaboração de
expressões matemáticas. Com isso, podemos apresentar gráficos
de Funções e evidenciar que relacionam duas variáveis, sendo que
uma irá depender da outra e essa dependência dar-se-á por uma
regularidade expressa por uma relação matemática (NOGUEIRA,
2016, p. 161).
PENSANDO JUNTOS
Não podemos esquecer que qualquer dinâmica também pode ser portadora de algumas
dificuldades. Na literatura, algumas delas são alegadas para o uso da História da Mate-
mática no ensino, dentre as quais, o despreparo dos professores e a falta de tempo dos
professores da escola básica. Como mudar tais condições, de modo que a História da
Matemática se torne presente nas aulas de Matemática?
127
UNIDADE 3
128
UNICESUMAR
129
1. Segundo Pereira (2016, p. 46), os livros didáticos podem ou não apresentar menções
históricas. O termo utilizado pela autora pode ser definido como:
“
“[...] trechos que abordam: origem/surgimento de alguma ideia/no-
ção/conceito relacionado à Matemática; atribuição de autoria (fatos,
obras, teoremas, relações, paradoxos, etc); biografias; fatos da vida
de estudiosos ou suas realizações no campo da Matemática; crono-
logias; histórico do desenvolvimento de algum conceito matemático;
conhecimento das antigas civilizações a respeito da Matemática (ba-
bilônios, egípcios, gregos, chineses, árabes, etc); problemas de origem
histórica (Papiro de Rhind, de Cairo, etc); utilização de conhecimentos
matemáticos em outras áreas (Astronomia, Física, Artes, Arquitetura,
etc), que fazem parte da HM (PEREIRA, 2016, p. 46).
130
Considerando os seus conhecimentos construídos até aqui, analise essa imagem e
avalie as seguintes asserções quanto à classificação desse tipo de menção histórica,
que apareceuno Guia do Professor apresentado por Dante (2014).
131
Num segundo momento, os membros de cada grupo selecionaram as informações
matemáticas e, com auxílio do professor, cada grupo apresentou a sua sentença
" x" , construíram a
matemática. Juntando todas elas e, padronizando a incógnita
equação: x x x x
x 5 4 , sendo possível resolver o problema. Após a
6 12 7 2
resolução e antes que a aula terminasse, o professor Alberto apresentou outros
exemplos de situações que poderiam ser resolvidas utilizando a estratégia utilizada
por eles.
Com base nesse episódio, assinale a alternativa correta que analisa a dinâmica da
prática desenvolvida pelo professor Alberto.
a) O professor Alberto decidiu por uma dinâmica que pouco contribuiu para a apren-
dizagem dos estudantes. Embora tenha ficado evidente que o conteúdo matemá-
tico permaneceu secundário às informações históricas, essa prática foi orientada
pelos pressupostos da História da Matemática no ensino.
b) O professor optou pelo empreendimento de uma prática pautada na História
da Matemática para abordar o conteúdo de equações. No entanto, a dinâmica
por ele escolhida não valorizou os conhecimentos do cotidiano do estudante,
um aspecto necessário quando falamos de um dos fatores internos à própria
Matemática para ensinar essa ciência.
c) O professor optou pelo desenvolvimento de um problema de vertente histórica
para problematizar o conteúdo de equações. A dinâmica poderia ser outra, mas
fica evidente que a interpretação da situação em trechos, aliada à mediação do
professor, contribuiu para uma resolução coletiva da situação-problema.
d) O professor Alberto não considerou elementos da História da Matemática na
escolha do seu problema. Do mesmo modo, a sua dinâmica foi ineficaz do ponto
de vista teórico-metodológico, pois o fato de ter apresentado outros exemplos
após essa atividade a classifica num paradigma tradicional de ensino.
e) O professor optou pelo desenvolvimento de um problema de vertente históri-
ca para abordar o conteúdo de equações. A dinâmica por ele desenvolvida é a
recomendada pela Educação Matemática quando se trabalha na perspectiva de
problemas, pois a interpretação da situação em trechos garante a compreensão
do conteúdo matemático.
132
3. Atividade adaptada de Roratto (2009) - “Caminho para o trabalho”.
Cidade Bela é um local fictício agradável de viver, fica localizada às margens do Rio
Molhado e entre as cidades Grande e Maior Ainda. Estas duas cidades são interli-
gadas por uma via expressa que cruza o centro de Cidade Bela, passando por uma
ponte com exuberante arquitetura. Além dessa ponte, existem mais duas formas de
se cruzar o rio, uma delas é a balsa e a outra é a ponte móvel. Entretanto, existem
dois inconvenientes: demora-se 25 minutos para se cruzar pela balsa e, nas segun-
das, quartas e sextas-feiras, o tráfego de navios é intenso, mantendo a ponte móvel
bloqueada para veículos por cerca de 20 minutos a cada navio que passa.
Outro orgulho para a Cidade Bela são as feiras de artesanato que ocorrem todas as
terças e quintas-feiras nos locais indicados no mapa. Nesses dias, fecham-se as ruas
para o trânsito de automóveis, deixando-as restritas à realização da feira.
Entretanto, como todas as cidades, Cidade Bela tem seus problemas. Todas as quin-
tas e sextas-feiras o trânsito entre Cidade Grande e Maior Ainda é intenso, fazendo
com que a via expressa fique congestionada. Estudiosos do trânsito estimam que
40 minutos são perdidos ao usar a via nesses dias. Em dias de chuva, a via expressa
também congestiona, mantendo os 40 minutos de perda ao utilizá-la. O caos, na via
expressa, toma conta quando chove nas quintas ou sextas-feiras, fazendo com que
o motorista perca uma hora no trânsito. Outro problema grave são os alagamen-
tos causados justamente pelos dias de chuva, quando o Rio Molhado transborda e
acaba inundando algumas ruas da cidade, tornando-as intransitáveis. Contudo, a
prefeitura municipal está construindo três obras para sanar esse problema. Operá-
rios trabalham todos os dias nessas obras, exceto em dias com chuva, quando eles
recebem folga. Nesses dias chuvosos, os automóveis podem transitar livremente
pelas ruas onde existem obras, já nos dias em que os operários trabalham, o trânsito
é bloqueado.
133
rua 5
C rua 2 rua 3 rua 6
Balsa
rua A rua A
rua B
Via expressa
Via expressa
rua D
rua 3
rua 1 rua 2 rua D
Legenda
Semáforo
rua E
Área sujeita a alagamento
Obras
Feira rua F
Casa
Trabalho rua 4
rua 5 T rua 6
Baseado no texto descritivo e no mapa de Cidade Bela, ajude o senhor Traba Lhador
a escolher o melhor caminho para ir de sua casa, situada no ponto A do mapa, até
seu trabalho, situado em B. O critério para escolha do melhor caminho deve ser o
de menor tempo para descrever o trajeto, uma vez que o senhor Traba Lhador é um
executivo com muitos compromissos. Ajude-o, então, a escolher o caminho para os
seguintes dias:
134
a) Sexta-feira com sol.
b) Quarta-feira com chuva.
c) Terça-feira com sol.
d) Quinta-feira com sol.
e) Quinta-feira com chuva.
f) O que explica o fato de se levar menos tempo para ir ao trabalho na quinta-feira
com chuva do que com sol?
g) Das situações apresentadas, qual dia o senhor Traba pode sair mais tarde de casa
sem chegar atrasado ao trabalho? Qual deve sair mais cedo?
h) Baseando-se nas informações do mapa e do texto, de quais fatores o senhor
Traba depende para escolher o trajeto para o trabalho?
i) Existem outros fatores, diferentes dos considerados pelo texto e mapa, que o
senhor TrabaLhador poderia depender para chegar no horário em seu trabalho?
Cite alguns.
135
4
Reflexões Sobre a
Etnomatemática
no Ensino
Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira
Dr. Wellington Piveta Oliveira
138
UNICESUMAR
educacional e fora dele parece ser uma atitude profissional plausível, afinal, a
escola é um encontro de culturas de formação humana.
Por um lado, sabemos que há aquela compreensão de que o sujeito nasce com
uma capacidade inata propenso à Matemática, ainda que estudiosos e pesquisas
mostraram o contrário, que isso é desenvolvido/construído. Por outro lado, é
evidente que os modos de ensinar e aprender revelam a compreensão sobre esse
processo do profissional docente que, muitas vezes, busca caminhos e estratégias
para superar a resistência existente entre os estudantes e a disciplina.
É nesse sentido que encontramos razões e argumentos para estudar sobre
Etnomatemática, porque, talvez, ainda sejamos incapazes de compreender que o
conhecimento, ao mesmo tempo que é universal, também é situado.
Estudar sobre Etnomatemática pode ser uma forma de não nos sentirmos
“ameaçados”, por conta, ainda, dessa nossa dificuldade de estabelecer relações e de
aceitar que existem diferentes modos de pensar e agir e que todos eles merecem
respeito e, no contexto do qual são provenientes, eles são válidos e pode ser que
mais do que suficientes.
Após assistir ao vídeo, reflita sobre as possibilidades que ele oferece à prática pe-
dagógica para ensinar e aprender Matemática. Observe pontos importantes, tais
como a história, aspectos culturais, conteúdos previstos no currículo, entre outros
elementos que considera importantes. Essa é uma oportunidade para que você vá
elaborando conhecimentos e ampliando a sua visão sobre Etnomatemática. Veja,
você se sentiria ameaçado em ter que explorar Geometria Sona?
Com base no vídeo e nos pontos sugeridos para observação, convido você a
realizar as suas anotações no Diário de Bordo a seguir. Sugiro que você elabore
uma síntese, concatenando os pontos destacados anteriormente, respondendo à
interrogação: “você se sentiria ameaçado em ter que explorar Geometria Sona?”,
bem como refinando a sua compreensão sobre o que é Etnomatemática. Vamos lá?!
139
UNIDADE 4
140
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
141
UNIDADE 4
“
O que eu chamo de Programa Etnomatemática é um programa de
pesquisa [...] que vem se mostrando em uma alternativa válida para
um programa de ação pedagógica. [...] Parte da realidade e chega, de
maneira natural e através de um enfoque cognitivo com forte fun-
damentação cultural, à ação pedagógica (D’AMBROSIO, 2002, p. 7).
“
Foram assim lançadas (no ICME 3) as bases do Programa Etno-
matemática. Este programa repousa sobre uma melhor compreen-
são da história do conhecimento científico e do processo de países
periféricos, que passaram pelo processo de conquista, colonização
e agora subordinação neocolonialista. Esse processo de desenvolvi-
mento enfatiza ciência e tecnologia, e ao procurar entender compa-
rativamente, nos países da chamada periferia e nos países centrais,
142
UNICESUMAR
Para chegar ao termo Etnomatemática, que foi utilizado, pela primeira vez,
em 1977, por D’Ambrosio, em uma palestra em Denver, nos Estados Unidos,
o pesquisador recorreu a três radicais gregos, a saber: ethno, mathema e tics.
Ethno ou etno se refere a um contexto cultural próprio; mathema ou matema
se refere ao entendimento, ao desempenho, à explicação da realidade; e tics ou
téchene ou, ainda, tica, significa arte ou técnica.
OLHAR CONCEITUAL
Aqui, neste infográfico, reproduzimos a compreensão sobre este Programa que aparece no
início do livro de D’Ambrosio (2011). Como você pode perceber, a compreensão sobre o que
vem a ser Etnomatemática se estabelece quando realizamos uma interpretação favorecida
pela leitura inversa dos radicais, isto é, as ticas de mathema dos etnos.
Em outras palavras, historicamente, criamos e conquistamos estilos de comportamentos
e de conhecimentos para sobreviver, abstrair e ir além, nos ambientes mais distintos, e a
valorização deles é que está em jogo neste Programa.
MODOS,
ESTILOS,
ARTES,
O AMBIENTE DE EXPLICAR, TÉCNICAS
NATURAL, APRENDER,
SOCIAL, CONHECER
CULTURAL E LIDAR COM
IMAGINÁRIO
“
Na perspectiva Dambrosiana, a Etnomatemática é o estudo das
ideias e práticas matemáticas que foram desenvolvidas por culturas
específicas (etno versus etnia), através da história, com a utilização
de técnicas e ideias (tics = técnica) apropriadas para cada contexto
143
UNIDADE 4
Dito de outra forma, de acordo com Rosa e Orey (2005), a perspectiva Dambro-
siana enfatiza a influência dos fatores socioculturais nos processos de ensinar
e aprender Matemática. Destaca, também, que muitos aspectos da Matemática
que são utilizados, cotidianamente, são diferentes daqueles ensinados na escola.
Podemos ampliar essa compreensão atribuindo que a “[...] Etnomatemáti-
ca estuda os diferentes tipos de Matemática que emergem de distintos grupos
culturais” (KNIJNIK et al., 2012, p. 23), o que, segundo D’Ambrosio (1990, p. 7),
implica em ter como objeto de estudo a explicação “[...] dos processos de geração,
organização e transmissão de conhecimento em diversos sistemas e as forças
interativas que agem entre os três processos”.
Concordamos com Knijnik et al. (2012, p. 23) no sentido de que D’Ambrosio
(1990), ao definir, de maneira tão ampla, o objeto de estudo da Etnomatemática,
sem se referir, especificamente, às etnias (povos, raças) permite que “[...] sejam
consideradas, entre outras, como formas de Etnomatemática: a Matemática pra-
ticada por categorias profissionais específicas, em particular pelos matemáticos;
a Matemática Escolar”, a presente nas brincadeiras infantis, a etnomatemática do
cozinheiro, a presente no jogo de futebol, na construção civil, entre outras.
Aqui, para os nossos estudos, vamos adotar esta perspectiva, como aquela que
abarca uma totalidade de experiências, buscando valorizar os saberes, os modos
de ser e de fazer pertencente a cada contexto.
“
A matemática de uma criança de rua em Angola, a matemática do
Movimento dos Sem Terra no Brasil, a matemática urbana vincu-
lada às tecnologias e às mídias, a matemática da aquisição de bens
em países em guerra, são exemplos de outras tantas formas de co-
nhecimento matemático vital que se adquirem, em geral, à margem
da sala de aula (VERGANI, 2007, p. 7).
144
UNICESUMAR
“
A Etnomatemática é então, um programa de pesquisa visando enten-
der o processo cognitivo nesse sentido e daí propor práticas educa-
cionais. Desta forma, desde suas primeiras manifestações, o Programa
Etnomatemática é [...] um programa de pesquisa que caminha junta-
mente com uma prática escolar (D’AMBROSIO, 1990, p. 5).
145
UNIDADE 4
“
Pré-requisito dentro deste novo olhar refere-se ao esforço do pro-
fessor em compreender como o aluno compreende esta ou aquela
ideia (matemática), como ele/ela faz relações significativas em torno
de uma ideia/conteúdo matemático – como um tal conhecimento
matemático está para o aluno [...] como ele o usa, maneja (DOMI-
TE, 2011, p. 64).
146
UNICESUMAR
mental para o profissional, e que deve preceder qualquer outra ação didática é
compreender como e o que o estudante já conhece sobre o que deseja ensinar
(DOMITE, 2011, p. 64).
Escutar o estudante, portanto, constitui a base de um dos principais princípios
da Etnomatemática que consiste em “[...] focalizar/identificar/legitimar as rela-
ções quantitativas e espaciais a partir do conhecimento do ‘outro’, na sua própria
racionalidade e termos” (DOMITE, 2011, p. 65).
Se exerço a minha atividade profissional num contexto escolar situado em
uma região retratada pela imagem a seguir, escutar o estudante se traduz em
considerar o seu repertório cultural, tentando compreendê-lo, e isso não invia-
biliza que noções e conceitos matemáticos se manifestem.
Afinal, “como saber a massa ideal de cada biscoito de farinha?” seria uma
excelente oportunidade para iniciar um trabalho educativo com essas crianças
e adolescentes, socializando estratégias, conhecendo técnicas e habilidades para
essa prática, assim como ampliá-las, apresentando outras formas para desempe-
nhá-la (sem inferiorizá-la).
Descrição da Imagem: na foto, temos algumas garotas e mulheres africanas, sentadas ao chão, rodeadas
de crianças e adolescentes. Elas estão usando roupas coloridas e turbantes, fazendo biscoitos doces tra-
dicionais com farinha de trigo na pequena cozinha de fabricação local. Os biscoitos parecem do mesmo
tamanho e estão alocados em grandes recipientes com espaçamentos entre uns e outros.
147
UNIDADE 4
“
Aluna Tereza: “Olha o meu desenho. Aqui é um armário com o
micro-ondas em cima. Aqui são as caixas de refrigerantes empilha-
das. Aqui é a geladeira. Dá para guardar caixas fechadas de copos,
papel e sei lá o que mais... Eu vou começar a calcular este espaço
para cima, mas eu não sei...”
Aluna Tereza: “Eu aprendi? Eu sei que eu estudei isto, mas não sei.”
Prof.ª Adriana: “Ótimo, você pode. Mas o que é que você sabe de
volume?”
Aluna Talita: “Não é que eu sei, é que o meu pai sempre faz cálculo
pensando assim: quantos passos tem daqui até lá? Quantas pessoas
cabem nesse elevador? Aí, eu pensei, se uma geladeirinha de isopor tem
10 litros de volume, eu posso pensar quantas geladeirinhas cabem aí.”
148
UNICESUMAR
A estudante Talita apresenta sua forma de conhecer volume e sua linguagem para
designar este conceito. Nesta sua contribuição à questão, podemos reconhecer
memórias, símbolos e raciocínios e passa a constituir o ponto de partida para o
conceito de volume que a professora pretende apresentar. A experiência com-
partilhada por Talita com a classe exemplifica bem o que Domite (2011) está
considerando como uma nova noção de pré-requisito.
Outro pressuposto da Etnomatemática é considerar que, na solução de pro-
blemas ou explicações de fenômenos, de grupos culturalmente diferenciados, são
diferentes, revelando características próprias de pensar e agir, não apenas “[...]
na mera utilização de técnicas, habilidades e práticas distintas, mas refletem postu-
ras conceituais distintas e enfoques cognitivos distintos” (D’AMBROSIO, 1990, p.6).
“
Essencialmente, admitimos que toda atividade humana resulta de
motivação proposta pela realidade na qual está inserido o indivíduo
através de situações ou problemas que essa realidade lhe propõe,
diretamente, através de sua própria percepção e de seu próprio me-
canismo sensorial, ou indiretamente, isto é, artificializados mediante
propostas de outros, sejam professores ou companheiros [...] admi-
timos também que a abordagem dessas situações ou problemas é
cultural [...] (D’AMBROSIO, 1990, p. 5-6).
149
UNIDADE 4
ta disciplina. De acordo com Knijnik et al. (2012), trazer a realidade dos alunos
para a sala de aula pode ter dois fundamentos:
150
UNICESUMAR
“
Durante alguns anos, tenho utilizado o conceito de “gaiola episte-
mológica” como uma metáfora para descrever sistemas de conheci-
mento. O conhecimento tradicional é como uma gaiola de pássaros.
Os pássaros na gaiola comunicam-se numa linguagem somente co-
nhecida por eles. São alimentados com o que está na gaiola, voam
apenas no espaço da gaiola, veem e sentem apenas o que as grades da
gaiola permitem. Eles se repetem, reproduzem e procriam. Mas não
podem ver a cor exterior da gaiola (D’AMBROSIO, 2018, p. 199).
151
UNIDADE 4
“
Dentre as distintas maneiras de fazer e de saber, algumas privilegiam
comprar, classificar, quantificar, medir, explicar, generalizar,
inferir e, de algum modo, avaliar. Falamos então de um saber/fazer
matemático na busca de explicações e de maneiras de lidar com
o ambiente imediato e remoto. Obviamente, esse saber/fazer ma-
temático é contextualizado e responde a fatores naturais e sociais
(D’AMBROSIO, 2011, p. 22, grifos nosso).
São esses saberes e fazeres que nos dão margem para considerar a Etnomatemáti-
ca como ação pedagógica. Uma pergunta que pode surgir é: mas como? Um dos
caminhos seria problematizá-los segundo as atitudes e manifestações culturais
trazidas pelos próprios estudantes ou especuladas, segundo o “jogo de cintura”
do profissional de ensino. Essa problematização pode admitir diferentes encami-
nhamentos, sejam articulados ao uso da História da Matemática, de Tecnologias
Digitais, da Resolução de Problemas, da Modelagem Matemática, entre outros.
É importante que tenhamos a responsabilidade de, para isso, recorrermos,
quando necessário, a uma imersão cultural para se valorizar os aspectos natura-
lizados pelo eu, pelo outro e, simultaneamente, os nossos. Bom, entre as distintas
interpretações possíveis, temos por imersão, um mergulhar na cultura, no am-
biente, no contexto do qual as situações que podem se tornar problemas sejam
oriundas. Entendemos que esse mergulho se articula também a uma preocupação
em compreender uma linguagem própria, que é inerente à cada cultura, povos
ou grupos específicos.
Por falar em linguagem, Vergani (2007) explicita que ela é um importante
artefato para que haja comunicação que, por sua vez, permite a nossa locomo-
ção dentro de uma cultura, sendo passível de compreendê-la, segundo os seus
modos de expressão.
“
Tecer pontos viáveis de comunicação implica que o mundo da
matemática se reconheça “etno” (local), e que os mundos “etno” se
reconheçam no domínio da matemática (universal). O vetor da
comunicação tem dois sentidos e a linguagem da etnomatemática
152
UNICESUMAR
Isso quer dizer que, por meio dessa linguagem, é que vamos estabelecendo uma
compreensão, que nos leva à universalização do conhecimento matemático en-
volvido. É possível que essa linguagem seja semelhante à linguagem matemática
que conhecemos. Para exemplificar, em Knijnik et al. (2012), as autoras apresen-
taram vários exemplos de usos dessas linguagens, que puderam ser identificadas
em formas de vida, as quais denominaram de jogos de linguagem matemáticos.
Um exemplo relacionado ao que as autoras classificaram como Aritmética
retrata o raciocínio de um assentado para efetuar o cálculo de 92 x 0,32, referente
à venda do leite retirado na propriedade, isto é, 92 litros de leite vendidos a R$
0,32, o litro. Na entrevista com esse assentado, ele expressou o modo como ope-
rava mentalmente, o qual foi descrito pelas autoras:
“
Inicialmente, dobrou o valor de R$ 0,32, obtendo R$ 0,64; a seguir,
repetiu duas vezes a operação “dobrar”, encontrando o valor de R$
2,56 (correspondente a 8 litros). Somou a este valor de 2 litros, an-
tes calculado, encontrando, então, o valor de 10 litros de leite: R$
3,20. O próximo procedimento foi, sucessivamente, ir dobrando os
valores encontrados, isto é, obteve o resultado de 20, 40 e 80 litros.
Guardando “na cabeça” todos os valores que ele foi computando ao
longo do processo, o assentado terminou a operação adicionando ao
valor de 80 litros (antes calculados), encontrando, assim, o resultado
de 92 x R$ 0,32 (KNIJNIK et al., 2012, p. 38).
153
UNIDADE 4
154
UNICESUMAR
problemas emergentes, criados por nós mesmos, visando as suas soluções pelas
próximas gerações.
“
[...] ignorar os jogos de linguagens matemáticos que, por não serem
marcados pelo formalismo, pela neutralidade, pela ‘pureza’, pela pre-
tensão de universalidade - como os que conformam a Matemática
Escolar - acabam por ser pensados como de ‘menos’ valor, como
contaminados pela ‘sujeira’ das formas de vida mundanas. Mas é
preciso que se diga: nós todos também circulamos por tais formas
de vida e, portanto, aprender como ali se pratica os jogos de lingua-
gem matemáticos deve ser, necessariamente, parte dos processos
educativos das novas gerações (KNIJNIK et al., 2012, p. 84).
Como bem lembrado por D’Ambrosio (2011), a prática sofisticada para dar troco,
desempenhada por crianças feirantes; a análise comparativa de preços, contas e
orçamentos em supermercados; a etnomatemática em cirurgias cardíacas, abar-
cado medidas de tempo, riscos e noções topológicas; entre outras evidenciam
práticas etnomatemáticas e, consequentemente, mobilizam jogos de linguagem
matemáticos que podem e devem constituir a prática pedagógica.
Essas reflexões nos mostram, portanto, que “[...] a etnomatemática é parte do
cotidiano, que é o universo no qual se situam as expectativas e as angústias das
crianças e dos adultos” (D’AMBROSIO, 2011, p. 25), ou seja, Etnomatemática é
um modo pelo qual se valoriza as práticas cotidianas nos ambientes educacionais,
uma necessidade para adquirirmos competências e habilidades matemáticas, que
ocorrem de modo contextualizado.
155
UNIDADE 4
NOVAS DESCOBERTAS
“
Os conteúdos na Educação Matemática tradicional são um arranjo
engessado de teorias e técnicas desenvolvidas, muitas vezes há cen-
tenas de anos, acumuladas em ambientes acadêmicos, em gaiolas
epistemológicas [...]. Mesmo assim, é possível, no ensino tradicional,
organizar as aulas procurando atalhos e novas organizações e
aplicações de técnicas e teorias, sobretudo com os amplos recur-
sos oferecidos pelas novas tecnologias de informação e comuni-
cação. Os professores podem contextualizar os conteúdos através
156
UNICESUMAR
“
[...] um currículo de Matemática deve procurar contribuir, de um
lado, para a valorização da pluralidade sociocultural, evitando o
processo de submissão no confronto com outras culturas; de ou-
tro, criar condições para que o aluno transcenda um modo de vida
restrito a um determinado espaço social e se torne ativo na trans-
formação de seu ambiente (BRASIL, 1998, p. 28).
157
UNIDADE 4
tudo pode ser conquistado por diferentes abordagens de ensino, como por
meio da Etnomatemática.
“Focalizando a organização de conhecimentos e comportamentos que serão
necessários para a cidadania plena, propus, recentemente, um trivium para a
era que se inicia [século XXI], a partir dos conceitos de literacia, materacia e
tecnoracia” (D’AMBROSIO, 2011, p. 66). Para o autor, a Etnomatemática pode
ser um modo de promover essa organização de currículo para a promoção e de-
senvolvimento de capacidades que atendam a essas demandas. Resumidamente,
esses termos significam:
LITERACIA
INSTRUMENTOS COMUNICATIVOS
A capacidade de processar informações escrita e falada (leitura,
escrita, cálculo, diálogo, mídia...).
MATERACIA
INSTRUMENTOS ANALÍTICOS
A capacidade de interpretar e analisar sinais e códigos, de
propor e utilizar modelos, de elaborar abstrações sobre
representações do real.
TECNORACIA
INSTRUMENTOS MATERIAIS
A capacidade de usar e combinar instrumentos simples ou
complexos, avaliando suas possibilidades e suas limitações.
A proposta do autor é que não se tenha novas disciplinas, mas que possamos
pensar nas já existentes, sobre como elas têm permitido o desenvolvimento des-
ses instrumentos, isto é, de que modo as abordagens de ensino têm permitido o
sujeito desenvolver tais capacidades de processar, de analisar, interpretar, comu-
nicar-se, entre outras, e dispor de instrumentos mais adequados para isso.
Quando focalizamos a Etnomatemática como ação pedagógica, prontamente
verificamos, na análise das práticas matemáticas, a manifestação dessas capacida-
des; sobretudo, quando se busca compreendê-las, estudantes e docentes tendem
a mobilizar e desenvolver estratégias que convergem para esses instrumentos de
comunicativos, analíticos e de materiais.
158
UNICESUMAR
“
a) descrever a conexão entre a Etnomatemática e a Modelagem Ma-
temática;
159
UNIDADE 4
“
[...] estava relacionado com uma abordagem integradora do currí-
culo matemático escolar, que considerou ambos os conhecimentos
matemáticos, local e acadêmico, para que os professores e alunos
pudessem compreender, de uma maneira holística e abrangente, as
informações matemáticas desenvolvidas pelos membros de grupos
culturais distintos que compõem a população discente escolar.
160
UNICESUMAR
mática, é preciso, antes de tudo, uma mudança em suas concepções e crenças acerca
do conhecimento matemático e dos processos de ensinar e aprender Matemática.
Para desencadear tais mudanças, um bom ponto de partida é buscar respostas
para as questões que motivaram D’Ambrosio, por exemplo: Por que ensinar
Matemática?. Entrelaçada a esta questão, emerge outra, igualmente importante:
O que ensinar em Matemática?.
PENSANDO JUNTOS
Obviamente que essas questões não são facilmente respondidas. Sempre acreditei
(Clélia) firmemente na importância de se estudar Matemática, entretanto, o que
ensinar ou qual deve ser o foco da Matemática escolar na Educação Básica ainda
é algo que está em discussão. Neste momento (ano de 2021), o Brasil, por meio
de ações do Ministério da Educação – MEC, propôs o estabelecimento de uma
Base Nacional Comum Curricular - BNCC, ou seja, estabeleceu um currículo
comum a todos os estados brasileiros.
Esta proposta, no que se refere aos conteúdos matemáticos, mobilizou ma-
temáticos e educadores matemáticos, que mesmo realizando reuniões, fóruns e
discussões virtuais, na tentativa de se estabelecer o que se ensinar em Matemática,
levou a produção de um documento extenso. É inegável que há prós e contras
sobre a BNCC, e para exemplificar a dificuldade em se estabelecer um consenso
sobre o que se ensinar em Matemática, relato, aqui, uma experiência pessoal.
No início da década de 90, desenvolvi (Clélia) uma pesquisa acerca do ensino
de Matemática para surdos. Naquela época, não se falava em educação inclusiva
e se acreditava na possibilidade de oralização dos surdos. Sem o apoio da língua
de sinais, a educação dos surdos era muito penosa e, assim, demandava-se muito
tempo para que os conteúdos fossem trabalhados com os alunos, em função da
dificuldade de comunicação. O resultado era que o programa estabelecido para
as disciplinas nunca era cumprido.
161
UNIDADE 4
“
A missão dos educadores é preparar as novas gerações para o mun-
do em que terão que viver. Isto quer dizer proporcionar-lhes o en-
sino necessário para que adquiram as destrezas e habilidades que
vão necessitar para seu desempenho, com comodidade e eficiência,
no seio da sociedade que enfrentarão ao concluir sua escolaridade.
O pesquisador espanhol destaca que estabelecer conteúdos para ser ensinados para
aqueles que pretendem futuramente se tornar matemáticos ou professores de Mate-
mática, ou seja, para aqueles que são, naturalmente, motivados para a aprendizagem
desta disciplina, é relativamente fácil, pois “[...] basta mostrar as grandes linhas
gerais e ensinar a aprender, deixando que cada aluno vá selecionando segundo seu
gosto e vocação, a matemática de seu interesse” (SANTALÓ, 1996, p. 15).
A dificuldade, segundo Santaló (1996, p. 15) estaria em selecionar a Matemá-
tica a ser ensinada para aqueles que não se interessam por esta disciplina e “[...]
só a aceitam como uma necessidade que ajuda desempenhar melhor suas tarefas
e a entender seu substrato básico”. Para estes alunos, Santaló (1996) considera ser
importante não apenas considerar o valor formativo da Matemática, mas também
os temas que devem ser ensinados em cada ciclo da escolarização e os que se
destinam a uma formação específica.
Convencer alunos universitários que não gostavam de Matemática a se torna-
rem professores de Matemática foi o desafio assumido pelo matemático holandês
162
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
“
A Matemática parecia-lhes uma disciplina esotérica, pouco interes-
sante, e pouco útil para o desenvolvimento do país. A Matemática pa-
recia-lhes ser ensinada para ter um mecanismo de seleção dos alunos,
um baluarte utilizado no tempo colonial para impedir que os alunos
moçambicanos progredissem nas escolas [...] (GERDES, 2010, p. 18).
163
UNIDADE 4
“
Constataram que operários pouco ou não escolarizados trabalha-
vam com números negativos para controlar vários processos da
fábrica, enquanto os estudantes pensavam que aqueles números
horrendos tinham sido introduzidos pelos colonos somente para
complicar a vida dos moçambicanos [...] começaram a ver a relevân-
cia do conhecimento matemático como um instrumento poderoso
para melhorar a vida dos camponeses e de outros trabalhadores
(GERDES, 2010, p. 19).
164
UNICESUMAR
“
A legitimação dos saberes e das experiências que os alunos trazem
em sua bagagem contribui para um processo de ensino e de apren-
dizagem que referenda os interesses de alunos e professores e leva
a uma compreensão da relação entre ação e reflexão (FANTINATO
et al., 2009, p. 22).
165
UNIDADE 4
indivíduo natureza
outro(s)/sociedade
Figura 2 -Triângulo de equilíbrio / Fonte: D’Ambrosio (2011, p. 71).
Descrição da Imagem: a imagem representa um triângulo invertido, cujos vértices são “indivíduo”, “na-
tureza” e “outro(s)/sociedade”. A posição do triângulo na imagem indica que os vértices “indivíduo” e
“natureza” constituem a “base” e, como ele está invertido, o vértice “outro(s)/sociedade” está posicionado
abaixo desses.
166
UNICESUMAR
Agora que você teve a oportunidade de ampliar o seu repertório conceitual sobre
Etnomatemática, convido você a fazer o seguinte exercício analítico-reflexivo:
■ Pense na atividade profissional que, atualmente, você desenvolve.
■ Você consegue identificar nela ações que exigem raciocínios, como os ci-
tados por D’Ambrosio (2011), comprar, classificar, quantificar, medir,
explicar, generalizar, inferir ou avaliar?
■ Você considera que essa atividade poderia ser explorada nas aulas de
matemática?
167
UNIDADE 4
168
Caro(a) estudante, agora que você teve a belíssima oportunidade de estudar e
se deparar com sugestão de alguns materiais para enriquecer esse processo de
formação, convido você a realizar uma autoavaliação de tudo o que estudamos
nesta unidade.
Sei que as reflexões aqui expostas foram potencializadoras de inúmeros movimen-
tos que você, futuro profissional, certamente, relacionou com o seu conhecimento
e saberes construídos em sua trajetória escolar e acadêmica, sobretudo, aquela
envolvida pelo ensino da Matemática.
Nesse sentido, convido você a preencher esse mapa de empatia expondo os seus
sentimentos e compreensões acerca da Etnomatemática. Essa é uma oportunidade
para analisar criticamente o contexto educacional, as necessidades e os “pedidos
de socorro” dos estudantes, bem como as nossas ações como futuros profissionais.
PENSO
OUÇO VEJO
FALO
DORES GANHOS
169
5
Práticas
Convergentes à
Etnomatemática
Dr. Wellington Piveta Oliveira
“
Miro (Professor Dr. Ademir Donizeti Caldeira), quando estava no
Parque do Xingu, preparando os professores indígenas e querendo
trabalhar com a divisão, propôs o seguinte problema: alguém saiu
para pescar e conseguiu pescar 33 peixes; quando voltou à aldeia
quis repartir esses peixes com 3 pessoas. Quantos peixes ficaram
para cada um? A primeira pergunta dos professores foi: que peixes
eram? Aí, eles chegaram à conclusão de que deveriam ser matrixã;
depois, queriam saber quais eram as pessoas que iriam receber os
peixes, que grau de parentesco tinham e finalmente disseram que
não podiam dividir todos, pois, afinal, quem tinha pescado tinha
direito de ficar com alguns.
Após esse breve relato, pergunto: o que de Etnomatemática tem nesse caso?
Essa pergunta sugere que recapitulemos o que entendemos por Etnomatemá-
tica. Vimos, na unidade anterior, que, em linhas gerais, a Etnomatemática valoriza
as práticas matemáticas culturais, o saber-fazer realizado por diferentes grupos,
com o intuito de valorizar a historicidade e os sentidos que as práticas assumem
dentro e para aquela cultura. Tomando como ponto de partida essa compreen-
são, quando focalizamos essa proposta Etnomatemática, concebendo-a como
ação pedagógica, sabemos que, na sala de aula, temos um currículo a cumprir,
envolvendo uma linguagem matemática ocidental.
É inevitável a preocupação de que não haja uma sobreposição de conhe-
cimentos e saberes, dando a impressão de que uma forma de pensar seja mais
importante que a outra, caso contrário estaríamos descaracterizando esse Pro-
grama - Etnomatemática - como ação pedagógica. Na tentativa de analisar sobre
esse desafio que se configura aos docentes e estudantes, o que torna uma aborda-
gem relevante (já que abordaremos exemplos de práticas), bem como para que
também possamos analisar a sua viabilidade no contexto da problematização,
recorremos ao termo “desencantamento”.
Ferreira (2009) apresentou algumas reflexões interessantes que nos fizeram
pensar sobre e em que medida, muitas vezes, a tentativa de articulação da ma-
temática ocidental às práticas recorrentes nos diferentes ambientes, pode estar
172
UNICESUMAR
“
1. Qual tipo de peixe era possível pescar naquela época do ano.
3. Quem saiu para pescar foi para trazer alimento para sua família.
Portanto, não poderia repartir todos os peixes.
5. Finalmente, para eles era uma brincadeira, não havia peixe algum.
Mesmo sendo uma brincadeira, deve-se respeitar todo o contexto
social da etnia.
173
UNIDADE 5
174
UNICESUMAR
175
UNIDADE 5
PENSANDO JUNTOS
Como seres humanos, somos sujeitos sociais. Em nossas experiências educacionais, pro-
fissionais, familiares, em círculos de amizade, religião etc., sempre nos deparamos com
visões diferentes às nossas. Elas são oriundas das formas de criação, crenças, ideologias,
dos diferentes estilos de vida. Na sala de aula, a riqueza dessa pluralidade cultural está
“dando sopa”, imagina quantas oportunidades para exploração.
176
UNICESUMAR
177
UNIDADE 5
“
Nesse sentido, as análises das situações cotidianas dos grupos profis-
sionais e dos processos desenvolvidos para lidar com tais situações
subsidiaram a elaboração de situações problema para os estudantes
[...] as questões relacionavam-se ao campo conceitual espaço [...] os
estudantes revelaram inúmeras dificuldades para lidar com situa-
178
UNICESUMAR
“
Agricultor: Aqui vou ter que pegar... vou somar 15, 35 com 15
(Efetua a adição) 10,5. Aqui vou ter que dividir e fazer paredes
iguais, né. Dividir por... 2. (Efetua a divisão) [...] A divisão agora
deu certo, dá 25. Agora tenho que achar esta parede aqui (Efetua
outra adição) 45 por 50, tem que somar, 95... dividido por 2... (Efe-
tua a divisão) Dá 4, sobrou 15, dá 7, sobrou 1. Dá 47 e meio. Então
eu pego esse 47 e meio multiplicado por 25 ... 37 .... daria 11.875
metros né? (GRANDO; NUNES; MORETTI, 2006, p.15).
179
UNIDADE 5
“
Por acreditar no importante papel que assu-
mem as situações cotidianas como elementos
180
UNICESUMAR
181
UNIDADE 5
“
A utilização dos conceitos nos contextos de trabalho, contraria-
mente ao que acontece na escola, aparece de forma integrada, en-
volvendo vários deles ao mesmo tempo, ao passo que na escola a
aplicação dos conceitos aparece de forma isolada e em situações
frequentemente artificiais, em virtude do conhecimento parcial que
os professores possuem das diferentes práticas sociais [...] (MARA-
SINI; GRANDO, 2006, p. 49).
182
UNICESUMAR
183
UNIDADE 5
“
Escolham duas tiras e as posicionem de forma paralelas sobre a
mesa.
Descrição da Imagem: quatro balões de fala com os seguintes questionamentos: “Quantas tiras foram
acrescentadas?”,“Quantas tiras têm agora?”,“Qual a diferença entre a quantidade anterior de tiras e o total
de tiras agora?” e“Que tipo de figura se formou com o entrelaçamento dessas tiras?”.
184
UNICESUMAR
“
A inserção de tiras de papel segue até a quantidade necessária de
acordo com o tamanho do paneiro que queremos confeccionar ou
tecer. Nesse processo de confecção, o olho (centro ou umbigo) se
constitui em um hexágono vazado e a quantidade de olhos implica
na determinação da forma do fundo do paneiro, pois uma quantida-
de ímpar de olhos determina um fundo redondo e uma quantidade
par, um fundo triangular (COSTA et al., 2018, p. 86, grifos nossos).
Figura 2 - Os três olhos do paneiro, três hexágonos. / Fonte: Costa et al. (2018, p. 87).
Descrição da Imagem: a figura expressa o entrelaçamento das tiras de papel cartão, indicando a constru-
ção da trama que dá origem ao paneiro. Na figura, temos a imagem de uma mão sinalizando a manipula-
ção das tiras sobrepostas em um fundo na cor azul, constituindo os três “olhos”, isto é, os três hexágonos.
185
UNIDADE 5
Figura 3 - Questionamentos realizados pelos professores / Fonte: adaptada de Costa et al. (2018).
Descrição da Imagem: um balão de fala com os seguintes questionamentos: “...imaginem que vocês estão
tecendo um paneiro com 18 tiras, com quantas tiras vocês ficariam se tirássemos 2? E se tirássemos 2
novamente? Representem esse movimento de retirada das tiras de papel da trama tecida”.
186
UNICESUMAR
Contri-
Ideias ma- buição à
Objeto ma-
Objeto cultural (contexto) temáticas formação
temático
mobilizadas docente dos
bolsistas
Quadro 1 - Síntese dos resultados obtidos / Fonte: Costa et al. (2018, p. 89).
187
UNIDADE 5
“
[...] possuem caráter etnográfico, descrevem todo processo desen-
volvido pelas pessoas em suas atividades/objetos pesquisado desde
a origem até o produto elaborado. Desses contextos, os pesquisado-
res buscaram identificar as ideias matemática presentes nos saberes
e fazeres das atividades diárias, na confecção e uso dos artefatos, nas
construções e nas relações de comércio entre as pessoas da comuni-
dade com o comércio da região (KLEIN; RODRIGUES, 2019, p. 7).
“
Conteúdos/conceitos matemáticos escolares: medidas de compri-
mento, área, conversão de medidas, estimativa, proporção.
188
UNICESUMAR
“
a) Represente a forma do terreno com as medidas que Seu Diomar
prepara para o cultivo da mandioca.
189
UNIDADE 5
“
Conteúdos/conceitos matemáticos escolares: medidas de compri-
mento, área e volume.
Figura 4 - Forma simples para Figura 5 - Forma com divisória Figura 6 - Secagem do adobe
confecção de adobe interna para confecção Fonte: Reges (2009 apud
Fonte: Reges (2009 apud do adobe. KLEIN; RODRIGUES, 2019,
KLEIN; RODRIGUES, 2019, Fonte: Reges (2009 apud p. 11).
p. 11). KLEIN; RODRIGUES, 2019, Descrição: na imagem, há
Descrição: na imagem, há uma p. 11). vários adobes em formato
forma simples de formato Descrição: na imagem, há uma retangular, posicionados um
retangular, para a produção forma com divisória ao meio ao lado do outro sob o chão.
do adobe (tijolo). para a produção do adobe.
A forma está no chão, em uma
região, aparentemente,
alagada.
190
UNICESUMAR
“
a) Ao observar a imagem 1, vemos um dos modelos de formas uti-
lizados para a confecção do adobe. - Desenhe o formato da forma.
- Que figura geométrica melhor representa a forma? Argumente a
resposta com algumas características próprias. - Que outros obje-
tos você conhece que tem semelhança com a forma? - O que é um
paralelepípedo? - Quais são os elementos que o compõe?
“
Conteúdos/conceitos matemáticos escolares: Formas geométricas,
quantidade, instrumentos, unidades e transformação de medidas,
proporção, fração.
191
UNIDADE 5
Figura 7 - Modelando a Peta / Fonte: Xavier (2013 apud KLEIN; RODRIGUES, 2019, p. 12).
Descrição da Imagem: na imagem, há uma senhora com lenço vermelho na cabeça, segurando um saco
transparente preenchido mais da metade com uma massa que é utilizada para produção de Petas. Ela
está modelando as petas em uma forma em que já há 12 petas dispostas em formato circular. Ao lado,
temos a receita do biscoito: “Coloca-se 3 pratos de araruta em uma bacia, em seguida, em uma panela,
coloque um litro de água e um de óleo na mesma quantidade, medidos em uma garrafa tipo de cerveja.
Leve ao fogo, quando levantar fervura adicione aos poucos essa mistura na araruta (o mesmo que polvilho)
e mexa bem para não empelotar até formar uma massa cozida. A massa está boa quando você arriba ela
para cima e ela desce na forma de um canudinho.
Equivalência
Medidas não Equivalência Equivalência em quilogra-
convencionais em pratos em litros mas (medida
convencional)
192
UNICESUMAR
“
a) Como ficaria a receita da D. Josefa se utilizar medidas conven-
cionais? Reescreva.
Caro(a) estudante, espero que você tenha compreendido com e a partir dessas
experiências e atividades que a prática contextualizada, tendo os fundamentos da
Etnomatemática como ação pedagógica, pode contribuir para uma ampliação
da visão que, na tradição, construímos sobre a Matemática. Ampliação essa que é
entendida como uma “janela cultural” para olharmos a matemática e pensarmos
a prática docente (COSTA et al., 2018).
Perceba que nos três relatos de práticas e nas propostas de atividades, para que
ocorra essa ampliação, o papel do professor foi essencial no desenvolvimento da
193
UNIDADE 5
prática educativa com Etnomatemática. Por que essencial? Porque, caso contrário, o
descuido ao deixar com que os estudantes pesquisem o que quiserem e relacionem
com o que bem entenderem, pode haver um esvaziamento das intencionalidades
pedagógicas, o que descaracteriza não só a Etnomatemática como uma ação peda-
gógica, mas todo o sentido educativo de ensinar e aprender Matemática.
Além desses modos de organizar e desenvolver a prática pedagógica conver-
gente à Etnomatemática, outra possibilidade que, por sinal, tem saltado aos olhos de
alguns pesquisadores em Educação Matemática se apoia no conceito de Etnomo-
delagem. De maneira geral, essa perspectiva de ação pedagógica encontra sentidos
numa combinação de aspectos da Etnomatemática com a Modelagem Matemática.
EXPLORANDO IDEIAS
Para que você possa conhecer um pouco mais sobre a Modelagem Matemática, traze-
mos algumas explorações conceituais que poderão ser aprofundadas em outras compo-
nentes curriculares do seu curso. Embora a Modelagem Matemática tenha as suas raízes
na Matemática Aplicada, aqui ela é concebida também como uma tendência da Educação
Matemática. De maneira geral, a Modelagem Matemática, nessa perspectiva, consiste na
problematização e investigação de uma situação, muitas vezes, não essencialmente ma-
temática, mas que faz uso de um ferramental matemático. Como resultado dessa investi-
gação se obtém uma representação matemática que convencionamos chamar de modelo
matemático. Assim, modelagem é a atividade de produzir um modelo. Na literatura, há
várias concepções sobre a Modelagem Matemática no ensino, seja como uma estratégia
de ensino, como uma alternativa pedagógica, uma metodologia, até como a configuração
de um ambiente de aprendizagem.
Dito de modo exemplar, Rosa e Orey (2003; 2010) argumentaram que a Etno-
modelagem consiste na conexão de aspectos etnomatemáticos (culturais) com
os da modelagem matemática (matemática acadêmica), fazendo uma analogia
em um dos seus textos com Vinho e Queijo e, também, em outro, com Alho e Sal.
194
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
“
Etnomodelos podem ser entendidos como artefatos culturais, que
são instrumentos pedagógicos utilizados para facilitar o enten-
dimento e a compreensão de sistemas retirados da realidade de
grupos culturais distintos (ROSA; OREY, 2009). Nesse sentido, os
etnomodelos são representações externas precisas e consistentes
com o conhecimento científico, que é socialmente construído e
compartilhado pelos membros de grupos culturais específicos. De
acordo com essa perspectiva, o objetivo primordial para a elabora-
ção de etnomodelos é a tradução dos procedimentos envolvidos nas
práticas matemáticas presentes nos sistemas retirados da realidade,
que são sistemas simbólicos organizados pela lógica interna dos
membros desses grupos culturais (ROSA; OREY, 2012, p. 870).
195
UNIDADE 5
196
UNICESUMAR
197
UNIDADE 5
“
[...] três pontos não colineares denominados A, B e C. Existe um
número infinito de planos que passam pelos pontos A e B e que
contêm a reta AB. Porém, apenas um desses planos também passa
pelo ponto C. Portanto, podemos afirmar que três pontos colineares
determinam um plano e que um plano também pode ser deter-
minado por uma reta e um ponto localizado fora dessa reta. [...]
Geometricamente, esse fato pode ser explicado com a utilização do
postulado do plano, que estabelece que dados três pontos quaisquer,
não colineares, existe um único plano no qual esses mesmos três
pontos estão localizados (ROSA; OREY, 2012, p. 873-874).
Essa compreensão pode ser melhor compreendida por meio das represen-
tações que seguem, em que podemos visualizar a determinação do plano
(Figura 8A), a estruturação da cabana (Figura 8B) e o encontro do centroide
ou baricentro (Figura 8C), determinado pelas medidas dos lados do triângulo
delimitado na base no cabana:
198
UNICESUMAR
Figura 8B - Construção da
Figura 8A cabana Tipi Figura 8C - Centroide ou
Determinação de Fonte: Rosa e Orey (2012, p. 874). baricentro do triângulo
Descrição: na imagem, há a
um plano representação do esqueleto de uma ABC
Fonte: Rosa e Orey (2012, cabana Tipi. Na base, tem a Fonte: Rosa e Orey (2012,
p. 873). representação de uma circunferência
p. 874).
pontilhada. Sob ela, marcados três
Descrição: na imagem, há pontos (A, B e C), que interligados Descrição: na imagem, há
um plano α (alfa), por segmentos pontilhados, a determinação de um
constitui um triângulo. Em cada
determinado pela reta AB, vértice do triângulo, projetando para centroide na
e um ponto C fora dela. cima, há uma vareta inclinada, em representação de um
que as três se entrecruzam no centro,
formando o ápice da cabana. triângulo ABC, cujas as
Também está representada uma medianas são AM, CP e
corda, dependurada, que vai do topo
até a base, no centro da cabana.
BN.
Descrição da Imagem: a figura apresenta as imagens 8A, 8B e 8C descritas no texto. Imagem 8A: na ima-
gem, há um plano a (alfa), determinado pela reta AB, e um ponto C fora dela. Imagem 8B: na imagem, há
a representação do esqueleto de uma cabana Tipi. Na base, tem a representação de uma circunferência
pontilhada. Sob ela, marcados três pontos (A, B e C), que interligados por segmentos pontilhados, constitui
um triângulo. Em cada vértice do triângulo, projetando para cima, há uma vareta inclinada, em que as três
se entrecruzam no centro, formando o ápice da cabana. Também está representada uma corda, depen-
durada, que vai do topo até a base, no centro da cabana. Imagem 8C: na imagem, há a determinação de
um centroide na representação de um triângulo ABC, cujas as medianas são AM, CP e BN.
199
UNIDADE 5
Quiabo R$ 48,00 12
Chuchu R$ 24,70 19
Cebola R$ 50,00 20
Inhame R$ 38,00 19
Mandioca R$ 24,00 24
Tomate R$ 40,00 20
200
UNICESUMAR
Figura 9 - Gráfico apresentado por um dos participantes / Fonte: Cortes (2017, p. 145).
Descrição da Imagem: na imagem, há duas representações de planos cartesianos. Uma sendo o registro
do estudante e a outra uma reprodução dela, a fim de melhor visualizar os valores. O plano cartesiano
evidencia a representação de uma função discreta, cuja lei de formação é y(x) = 50.x. Estão sinalizados os
pares ordenados (1,50), (2,100), (3,150), (4, 200), (5, 250), (6, 300) e (7,350).
201
UNIDADE 5
NOVAS DESCOBERTAS
Deixemos, aqui, outra sugestão para que você possa analisar um rol de ati-
vidades que foram elaboradas por Cortes (2017) e apresentadas no produto
educacional intitulado “Etnomodelos como uma Ação Pedagógica: Suges-
tões para a Prática Docente em Sala de Aula”. O autor apresentou algumas
compreensões sobre etnomodelos êmicos, éticos e dialógicos,bem como
três blocos de atividades que, na compreensão dele, são convergentes a
cada um desses etnomodelos.
Bem, caro(a) estudante, com base nessas explorações, é possível inferirmos que, para
uma abordagem pedagógica, várias possibilidades coexistem. Nesse sentido, parece
saudável sustentar o que Rosa e Orey (2012) argumentam sobre uma abordagem
dialética para o desenvolvimento do currículo a partir da Etnomodelagem:
“
Um currículo matemático escolar baseado na perspectiva da etno-
matemática combina os elementos-chave do conhecimento local
com os da academia em uma abordagem dialética, permitindo que
os alunos gerenciem a produção do conhecimento e dos sistemas
de informações extraídas da própria realidade, e apliquem criativa-
mente esse conhecimento em outras situações. Existe a necessidade
de optarmos por uma abordagem integradora do currículo, que
além de considerar a abordagem êmica, reconhece que também é
preciso considerar os dados éticos, desde que nos comprometamos
com a busca de uma compreensão holística e abrangente sobre as
informações culturais (ROSA; OREY, 2012, p. 876).
202
UNICESUMAR
Prof. Mário: “Como vocês fazem o cálculo 125 dividido por 8?”
José (aluno): “Nós somos mais ou menos 10 ‘caras’, quase todo dia, alguns
meninos e algumas meninas. Daí, dividimos assim: mais para as meninas que
são mais responsáveis que os meninos, mais para os maiores do que para
os menores”.
Prof. Mário: “Dê um exemplo José. Como foi a divisão ontem ou anteontem?”.
203
UNIDADE 5
Após esse breve diálogo ocorrido entre o professor Mário e o aluno José que
vendia chicletes num farol próximo à escola, pergunto:
Você, na condição do professor Mário, como encaminharia ou continuaria as
situações em sala de aula, ao pretender ensinar a operação de divisão, a partir do co-
nhecimento prévio de seus alunos, em um curso de educação para jovens e adultos?
204
Visando a sua formação profissional docente, convido você para finalizarmos os
estudos desta unidade, a elaborar um Mapa Mental estabelecendo relações con-
ceituais entre alguns termos que, na sua compreensão, revelaram-se importantes
à prática pedagógica apoiada em Etnomatemática.
O objetivo dessa atividade avaliativa é que, com ela, você possa refletir sobre os
conceitos, temas, exemplos, atividades, enfim, todo o seu know-how construído
com essa disciplina, envolvendo Etnomatemática como possibilidade de prática
pedagógica nos ambientes educacionais.
Um start para a realização dessa atividade é que você comece a esclarecer que
relação o Programa Etnomatemática tem com a Etnomatemática como Ação Peda-
gógica. A partir disso, você poderá estabelecer outros conceitos que, certamente,
ajudarão a compreendê-la. Destaco que, para isso, você também poderá utilizar
de alguns conectivos, sabe como ocorre na construção de um mapa conceitual?
Então, talvez eles possam facilitar a sua elaboração.
Uma sugestão para que você possa iniciar o seu Mapa Mental é:
AÇÃO
PROGRAMA ETNOMATEMÁTICA PEDAGÓGICA
DE
PESQUISA
205
UNIDADE 1
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC,
2018.
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UNIDADE 2
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UNIDADE 3
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quem não aprende?: A teoria. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
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Matemática: reflexões psicopedagógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
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VERGNAUD, G. A gênese dos campos conceituais. In: GROSSI, E. P. (Org.). Por que ainda há
quem não aprende?: A teoria. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
213
UNIDADE 1
UNIDADE 2
214
2. Alternativa E. A contextualização do saber consiste em um convite ao estudante para
o processo de aprender com significado. Contudo, o processo de descontextualização
também é relevante porque favorece a generalização, isto é, a abstração do conceito
para que, em outras situações, o estudante possa aplicá-lo, a fim de solucionar os
problemas emergentes. Por essa razão, ensinar e aprender Matemática na escola
exige o desafio de realizar uma abordagem interessante, que causa a curiosidade e,
ao mesmo tempo, permita a compreensão.
3. Alternativa A. Por meio de situações cujos efeitos sejam semelhantes àquelas que de-
ram origem as noções ou conceitos é que o estudante desenvolverá uma compreensão
sobre o conteúdo e outras situações em que ele poderá mobilizar o conhecimento
construído para solucioná-las.
UNIDADE 3
215
3. Conforme o enunciado, é preciso ajudá-lo a escolher o caminho para os seguintes dias:
UNIDADE 4
Deixo aqui essas reflexões que poderão te ajudar a pensar nessas questões. Boas
reflexões!
216
UNIDADE 5
Caro(a) estudante, sugiro que, para a elaboração do seu Mapa Mental, você pense
nos elementos que subsidiaram a elaboração das atividades e práticas apresentadas
nesta unidade, estabelecendo relações com o que foi apresentado em nossa unidade
anterior.
217