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Matemática

Números para quê?

Coordenadores
Antonio Carlos Brolezzi
Élvia Mureb Sallum
Martha Salerno Monteiro

Elaboradores
Antonio Carlos Brolezzi
Martha Salerno Monteiro
1
módulo

Nome do aluno
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador: Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP
Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor: Adolpho José Melfi
Pró-Reitora de Graduação
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE


Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área
Biologia:
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori
Física:
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta
Geografia:
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins
História:
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer
Língua Inglesa:
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór
Língua Portuguesa:
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto
Matemática:
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro
Química:
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan
Produção Editorial
Dreampix Comunicação
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro
Cartas ao
Aluno
Carta da
Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão.
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer
situação de vida e de trabalho.
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor
para o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.


Pró-Reitora de Graduação.
Carta da
Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno,
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa
da educação básica.
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente
construído para esse fim.
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva


Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Apresentação
da área
[...] a Matemática procura compreender os modelos que permeiam o mundo que
nos rodeia assim como a mente dentro de nós. […] Assim é necessário enfatizar:
— a procurar de soluções, e não apenas a memorização de procedimentos;
— a exploração de modelos, e não apenas a memorização de fórmulas;
— a formulação de conjecturas, e não apenas a resolução de exercícios.
[...] com essas ênfases, os estudantes terão a oportunidade de estudar a Mate-
mática como uma disciplina exploradora, dinâmica, que se desenvolve, em lugar
de ser uma disciplina que tem um corpo rígido, absoluto, fechado, cheio de regras
que precisam ser memorizadas.
Shoenfeld (1992)1
Este curso de Matemática com duração de 4 meses está sendo oferecido
aos alunos do último ano do ensino médio da rede pública como um incentivo
para que continuem seus estudos em direção ao ensino superior. Embora não
cubra todo o programa do ensino médio, pretende-se estimular o interesse dos
alunos pelos diversos temas de Matemática por meio de abordagens variadas.
Serão estudados tópicos sobre Números, Estatística, Probabilidade e Aná-
lise Combinatória, Geometria Plana e Espacial, Geometria Analítica, Sistemas
Lineares e Funções, privilegiando o entendimento das possíveis facetas de
um mesmo assunto, a análise de resultados obtidos e a interligação entre os
diversos conteúdos.
Escolhas foram feitas de modo a priorizar sua formação, a discussão de
idéias e a percepção de que a Matemática é uma disciplina viva, que pode ser
construída, e não um amontoado de fórmulas prontas para serem decoradas e
usadas. Lembrando que realmente aprendemos quando trabalhamos o conhe-
cimento, analisando-o de várias maneiras e usando-o com critério, considera-
remos, sempre que possível, aplicações em problemas reais e interdisciplinares.
Acreditando que o intercâmbio entre vocês, alunos do ensino médio, e os
alunos da USP, que serão os seus professores, venha a aumentar a sua predis-
posição para o ensino superior, desejamos a todos bons estudos!

Coordenação da área de Matemática

1
SCHOENFELD A. H. “Learning to think mathematically: problem solving, metacognition and sense
making in mathematics”. In: D. A. Grouws (ed.). Handbook of research on mathematicas teaching and
learning. p. 334-370. Nova York: McMillan, 1992.
Apresentação
do módulo
As necessidades da vida exigem que se façam contagens e medidas de vários
tipos. Por exemplo, o empregado deve saber se o reajuste de seu salário foi feito
corretamente; o esportista mede o tempo e a distância percorrida naquele tempo
para avaliar se houve progresso em seu desempenho. O desenvolvimento dos
números se deve à necessidade de usá-los em diferentes ocasiões. Quanto mais
atividades sociais e comerciais entre os homens e maior a interação entre os po-
vos, maior a necessidade de contar, registrar e representar os números.
Por que surgiram os números? Muita gente diria: para contar. Mas, se fossem
apenas para contar, bastariam os números naturais. Os diversos tipos de números
surgiram de necessidades da matemática e de suas aplicações. As representações
destas quantidades também se modificaram ao longo da história.
Inicialmente, as quantidades eram representadas com os dedos da mão. Por
isso, era comum que riscos verticais fossem usados para simbolizar quantidades
(em algarismos romanos temos I, II, III). Por causa da relação com os dedos, os
algarismos 1, 2, ..., 9 são chamados de dígitos (e, por extensão, também o 0). A
representação por nós utilizada usa o sistema hindu-arábico de base 10, com seus
algarismos 0, 1, 2, ..., 9 e o valor posicional dos algarismos para representar os
números. Valor posicional é o que distingue, por exemplo, o quanto valem os
algarismos 4 e 7 quando estão dispostos nos números 47 e 74: embora os algaris-
mos sejam os mesmos, os números são diferentes, pois a posição dos algarismos
foi mudada.
Como as transações comerciais exigiram operações com os números, o siste-
ma hindu-arábico prevaleceu, já que sua escrita favoreceu a criação de regras
operatórias relativamente simples para a operação dos números. Da necessidade
de representar grandezas, tais como comprimento, área e tempo, surgiu a necessi-
dade de subdividir a unidade em partes iguais. Os números fracionários ou racio-
nais representam estas subdivisões. A representação decimal dos números racio-
nais se apóia nos mesmos princípios da representação dos números naturais: a
base 10 e o valor posicional. Assim, 0,1 e 1/10 são representações do mesmo
número e significam a décima parte da unidade. Analogamente, 0,01 e 1/100
representam a centésima parte da unidade, e assim por diante.
Neste texto, abordaremos a Matemática tendo em vista seu desenvolvimento
conceitual, para mostrar como o conhecimento surge a partir da resolução de
problemas. Falaremos um pouco sobre matemática financeira e progressões. De-
pois, sobre números racionais e irracionais, com especial cuidado para a compre-
ensão da representação decimal dos números e sua utilização.
Unidade 1

Um pouco de
Matemática Financeira
Organizadores
Élvia M. Brolezzi
Antonio Sallum
Antonio
Élvia M. Brolezzi
Sallum
Por causa do desenvolvimento do comércio e das relações econômicas, Martha Monteiro
muita Matemática foi produzida. A Matemática Comercial ou Financeira, que
envolve cálculos aritméticos de transações comerciais, ajudou a impulsionar a Elaboradores
Matemática como ciência. Antonio Brolezzi
A chamada Matemática Financeira é um ramo importante de aplicação da Martha Monteiro
Matemática. Esse assunto é muito mais antigo que o próprio sistema decimal.
Há registros que mostram que os antigos sumérios efetuavam cálculos finan-
ceiros como juros simples e juros compostos. Acredita-se que na Mesopotâmia,
entre 3000 e 2000 a.C., tenham surgido os primeiros bancos, baseados em
templos que guardavam grãos e outros bens de valor. Na língua suméria, a
palavra para juro significava gado. Isso se deve ao seguinte fato: se um reba-
nho de gado fosse emprestado a alguém por um ano, o dono do gado espera-
ria receber mais cabeças do que emprestou, porque o gado procria natural-
mente. O excedente do gado era dividido entre as partes.
Essa idéia foi, mais tarde, transposta para outros tipos de bens, mesmo os
que não crescem por si próprios. Por volta de 1800 a.C., Hamurabi, criador do
império babilônico, estabeleceu taxas máximas de juros que poderiam ser
cobrados sobre grãos, prata e outros bens. Quem exigisse juros além dos limi-
tes estabelecidos, teria como punição não poder mais cobrar sua dívida.
Um tablete de argila datado de 1700 a.C. traz um problema interessante da
Matemática mesopotâmia: quanto tempo levará para uma soma de dinheiro
dobrar se for investida a uma taxa de 20 por cento de juros compostos anual-
mente? Mais adiante, você terá como resolver este problema.
A prática de considerar os juros foi utilizada durante a Antiguidade por
vários povos. Posteriormente, na Idade Média, estabeleceu-se a idéia de que
juros seriam ilegais, e essa prática foi proibida pela Igreja Católica. No re-
nascimento, as grandes navegações e o restabelecimento das rotas comerciais
com o Oriente fizeram com que fosse necessário trabalhar com dinheiro de
modo mais rigoroso. A cobrança de juros passou a ser parte do comércio das
cidades.
— Mas o que são juros?
Juro é a remuneração do capital empregado. Se aplicarmos um capital
durante um determinado período de tempo, ao fim do prazo o capital irá au-
mentar. Esse novo valor é chamado montante e juro é a diferença entre o


montante e o capital inicial. Existem duas modalidades de ganhos de juros


sobre um capital. São chamados juros simples os valores obtidos na situação
em que, ao longo do tempo, apenas o capital inicial rende ganho. Nos juros
compostos, após cada período de tempo a que se refere a taxa contratada, os
juros ganhos são somados ao capital (dizemos que são capitalizados), e no
novo período os juros incidem sobre esse montante.

Exemplo 1.
O contrato de aluguel do Sr. Fulano é de 200 reais por mês. Se ele atrasar
o pagamento, pagará uma multa de 2% sobre o valor total, mais juros de 0,3%
por dia de atraso, aplicados de forma simples. Calcule quanto o Sr. Fulano terá
de pagar se atrasar 10 dias o pagamento do seu aluguel.
Lembramos que a notação de porcentagem, como em 2%, utiliza um sím-
bolo “%” que faz com que leiamos “dois por cento”. Isso significa 2 em 100,
ou ainda 2/100. Essa fração pode ser escrita em forma decimal, como 0,02.
Assim, ao fazer as contas com porcentagem, podemos utilizar tanto 2/100
como 0,02. Analogamente, 0,3% pode ser escrito como ou ainda 0,003.
Voltando ao exemplo 1, temos:
Cálculo da multa: R$ 200,00 × 0,02 = R$ 4,00
Cálculo de juros por dia: R$ 200,00 × 0,003 = R$ 0,60
Total de juros em 10 dias de atraso: R$ 0,60 × 10 = R$ 6,00
Total a pagar: R$ 200,00 + R$ 4,00 + R$ 6,00 = R$ 210,00

Exemplo 2.
Uma certa taxa por atraso foi estabelecida como 1,6% ao dia sobre o valor
do capital, computado de forma simples. Vamos construir uma tabela que in-
forme o valor do pagamento atrasado, nos primeiros 12 dias, de um capital de
R$ 100,00. A tabela abaixo foi obtida da seguinte forma:
Capital: R$ 100,00
Pagamento com 1 dia de atraso: 100,00 + 1,60 = 101,60
Pagamento com 2 dias de atraso: 100,00 + 2 × 1,60 = 103,20
Pagamento com 3 dias de atraso: 100,00 + 3 × 1,60 = 104,80
E assim por diante. A tabela então ficaria da seguinte forma:

Dias de atraso Valor dos juros Valor devido


1 1,60 101,60
2 1,60 103,20
3 1,60 104,80
4 1,60 106,40
5 1,60 108,00
6 1,60 109,60
7 1,60 111,20
8 1,60 112,80
9 1,60 114,40
10 1,60 116,00
11 1,60 117,60
12 1,60 119,20
Tabela 1


 

Vamos explorar um pouco mais esse exemplo. Para calcular os juros por
dia, fizemos a conta 100,00 × 0,016 = 1,60.
Observe que cada número na coluna da direita da Tabela 1 é igual ao
anterior acrescido de R$ 1,60. Nesse caso, o valor dos juros é sempre o mes-
mo em cada período (neste caso, em cada dia).
Geralmente, em transações financeiras é acertada uma taxa de juros que
se refere a um período de tempo. Indicamos pela letra i a taxa de juros por
período, representada na forma decimal. No exemplo 2, i = 0,016 correspon-
dente a 1,6% a.d. (lê-se “ao dia”). Ao fim de cada período, os juros simples
são calculados fazendo-se a conta: J = C × i, em que C indica o capital e J os
juros calculados. Ao fim de n períodos, os juros serão C × i × n.
Assim, o montante após n períodos aos quais se refere a taxa será:
M = C + Cin = C(1 + in)
Por trás das contas envolvidas no cálculo dos juros simples há uma idéia
matemática muito importante: a idéia de progressão aritmética.

Uma progressão aritmética – ou PA – é uma seqüência em que cada termo


é obtido a partir do anterior por meio de uma simples soma de uma razão
constante. Por exemplo, a seqüência de números 2, 5, 8, 11, 14, 17, ... é uma
progressão aritmética de razão 3. Em geral, se a PA inicia-se com um termo a0
e tem razão r, o próximo termo, que indicaremos por a1, será a1 = a0 + r. O
termo seguinte será:
a2 = a1 + r = (a0 + r) + r = a0 + 2r.
O n-ésimo termo será dado por:
an = a0 + nr.

Agora repare que a fórmula do montante em um cálculo de juros simples,


como vimos acima, dado por M = C + Cin, pode ser vista como um exemplo
de PA em que o valor inicial é C e a razão é r = Ci. No caso dos juros simples,
a razão é o produto da taxa de juros (expressa em decimais) pelo capital inicial.
No exemplo acima, r = 1,6, e temos, por exemplo:
a12 = 100 + 12 × 1,6 = 119,20
Esse tipo de progressão, como é o caso dos juros simples, representa um
fenômeno de crescimento chamado de linear. (Você estudará mais sobre cres-
cimento linear no Módulo 4.) Se fizermos um gráfico colocando o período de
tempo no eixo horizontal e os montantes correspondentes ao número de períodos
no eixo vertical, os pontos encontrados estarão sobre uma reta. É daí que vem
o nome “linear”, a partir de linha (reta).

Figura 1




Podemos ilustrar esse comportamento em um gráfico no qual os pontos


estão sobre a reta de equação y = 100 + 1,6x, em que x representa número de
dias de atraso e y representa o montante devido.
Como mencionado anteriormente, no cálculo de juros compostos, ao final
de cada período, o valor dos juros é acrescentado ao capital, aumentando a
base para o cálculo dos juros nos períodos subseqüentes. É o que ocorre, por
exemplo, em investimentos como a caderneta de poupança.

Exemplo 3.
Uma pessoa deixou 100 reais em uma aplicação. Supondo que ao longo
de um ano os juros mensais foram sempre de 1,6% a.m. (lê-se “ao mês”), qual
o montante final da aplicação?
Nesse caso, ao final de cada mês, os juros devem ser calculados e acres-
centados ao capital inicial, que passa a ser o novo capital. Podemos construir
a tabela abaixo, obtida da seguinte forma:
Capital: C = R$ 100,00
Juros após o primeiro mês de aplicação: 100,00 × 0,016
Montante após um mês:
M = 100,00 + 100,00 × 0,016 = 100,00 (1 + 0,016) = 100,00 × 1,016
Juros após o segundo mês de aplicação: 101,60 × 0,016
Montante após dois meses:
M = 101,60 + 101,60 × 0,016 = 101,60 × (1 + 0,016) =
= 100,00 × 1,016 × 1,016 = 100,00 × (1,016)2
Juros após o terceiro mês de aplicação: 103,23 × 0,016
Montante após três meses: M = 103,23 + 103,23 × 0,016 =
= 100,00 × (1,016)3
E assim por diante. A tabela então ficaria da seguinte forma:

Mês Juros (1,6% a.m.) Montante


1 1,60 101,60
2 1,63 103,23
3 1,65 104,88
4 1,68 106,56
5 1,70 108,26
6 1,73 109,99
7 1,76 111,75
8 1,79 113,54
9 1,82 115,36
10 1,85 117,20
11 1,88 119,08
12 1,91 120,98
Tabela 2

Colocando os dados da Tabela 2 em um gráfico, à primeira vista, ele não


parece ser muito diferente do gráfico da Tabela 1. Entretanto, os juros com-
postos geram uma expressão do montante em função do tempo n, que tem um
caráter do tipo “exponencial”, que você estudará mais adiante.


 

Figura 2

Como você deve ter percebido por meio do Exemplo 3, o montante obtido
em uma aplicação na qual há juros compostos é M = C(1 + i)n, onde C repre-
senta o capital inicial, i a taxa de juros e n, o número de períodos de rendimen-
to. A comparação agora é com a progressão geométrica.
Uma progressão geométrica, denotada por PG, é uma seqüência de núme-
ros em que cada termo an é o produto do termo anterior an-1 por uma razão
fixada, usualmente denotada por q:
a1 = a ; a2 = a × q ;
a3 = a2 × q = (a × q) × q = a × q2;
...

an = a × qn-1 ; an+1 = a × qn

Voltando à expressão M = C(1 +i)n, notamos que o fator que se repete, ou


seja, a razão, é q = 1 + i.

Vamos comparar os dois casos – juros simples e compostos – utilizando


um capital de R$ 100,00 aplicado por 100 meses com juros de 1,6% a.m.
Vemos a diferença crescente entre os montantes obtidos, respectivamente, nos
sistemas de capitalização simples e composta. Olhando os gráficos em um
espaço maior de tempo, percebemos melhor a diferença que se acentua com o
decorrer do tempo.
Comparando os dois gráficos, temos:

Figura 3

Pensando nesta diferença, vamos analisar agora um problema importante


do consumidor brasileiro, que são as compras a prazo. Nos financiamentos –
de casa própria, de automóveis, produtos eletrônicos, eletrodomésticos, mó-
veis, compras com cartão de crédito – os juros são compostos. O montante a




ser pago cresce muito rapidamente, e o consumidor pode acabar assumindo


uma dívida que é muito maior do que o valor inicial da compra.
Em propagandas, o valor da prestação mensal aparece em caracteres gran-
des. Anunciam-se taxas de juros mensais aparentemente baixas: “Apenas 1%
ao mês!” Entretanto, se prestarmos atenção às letras miúdas, vemos uma dife-
rença importante entre o preço à vista e o preço a prazo. Outra questão intri-
gante é que o juro é mensal, mas no entanto a prestação por mês é fixa. Como
calcular essa prestação fixa?
Para entender o processo, temos que aprender como fazer a soma de uma
PG.
Em geral, se uma PG tem como primeiro termo a e razão q, temos que o n-ésimo
termo é dado por an = aqn-1.
— Como obter a soma Sn dos n primeiros termos de uma PG?
Sn = a + aq + aq2 + aq3 + ... + aqn-1 (1)
Para obter uma expressão sintética para Sn, multiplicamos ambos os lados
da igualdade por q, e teremos:
qSn = aq + aq2 + aq3 + ... + aqn-1 + aqn (2)
Subtraindo (2) de (1), teremos:
Sn – qSn = a – aqn , então: Sn (1 – q) = a (1 – qn)
Ou ainda, para q ≠ 1,
ou

(O que aconteceria se q = 1?)

Exemplo 4.
Um discman é vendido por R$ 159,00 à vista. O produto pode ser parce-
lado com juros de 1,35% a.m. Qual o valor das parcelas se o pagamento for
parceldo em 3 vezes?
A prática do comércio é fazer parcelas fixas, embutindo nelas os juros.
Supondo que o parcelamento seja sem entrada, veremos que obtemos uma
PG de razão 1,0135. Devemos decompor o preço à vista em 3 partes (159 = P1
+ P2 + P3) de forma que, aplicando a taxa de juro combinada (i = 0,0135) no
momento do pagamento, cada uma delas tenha o mesmo valor P da parcela
fixa. Assim teremos P = P1 × 0,0135, P = P2 × (0,0135)2 e P = P3 × (0,0135)3
(Você saberia dizer por quê?). O problema que se apresenta é resolver a equa-
ção apresentada abaixo, na qual a incógnita é a parcela fixa P:

Utilizando o resultado da soma da PG visto acima, temos:


 

Resposta: A parcela fixa será de R$ 54,45.


Generalizando esse processo, podemos obter um procedimento que permi-
te calcular o valor das parcelas.
Consideremos a seguinte expressão, em que V é o valor do bem à vista; P
é o valor da parcela fixa; i é a taxa de juro expressa em decimais e n é o
número de prestações:

Note que a expressão entre parênteses é uma PG em que o primeiro termo


é ; o número de termos é n e a razão é q = 1 + i. Obtemos:

ou

Freqüentemente as lojas têm os valores mais comuns para o fator acima


descrito em uma tabela, a qual pode ser consultada pelos vendedores na hora.
Ou então pode-se fazer o cálculo utilizando uma calculadora que tenha pelo
menos uma tecla xy.

Exemplo 5.
Qual o valor da parcela fixa se o discman do Exemplo 4 fosse adquirido
em 12 vezes?
Utilizando a fórmula:

temos:

O valor de cada parcela será de R$ 14,44.


Note que o comprador pagará 12 prestações de R$ 14,44, ou seja, R$ 173,28,
que é quase 9% maior que o preço à vista. Será que compensa?

Exemplo 6.
Vamos calcular o valor da prestação de uma filmadora digital que custa, à
vista, R$ 1.899,90, cujo anúncio oferece um parcelamento em 12 vezes com
juros de 2,99% a.m.:
Utilizando a fórmula:

temos:




O valor de cada parcela será de R$ 190,95.


Nesse caso, o valor a prazo é de R$ 2.291,40, ou seja, é cerca de 20%
maior que o valor à vista.
Outra consideração interessante é a seguinte: se, ao invés de pagar presta-
ções todo mês colocássemos a mesma quantia em uma aplicação, quanto po-
deríamos obter ao término do período correspondente à compra a prazo? Isto
é, qual seria o montante gerado M se o valor correspondente a cada parcela P
fosse depositado, por exemplo, numa caderneta de poupança que rendesse
um juro i por n meses? Nesse caso, a PG gerada teria a seguinte forma:
M = P(1+i)n + P(1+i)n-1 + ... + P(1+i)3 + P(1+i)2 + P(1+i)
Ou ainda, colocando P em evidência e ordenando os termos de forma
crescente:
M = P[(1+i) + (1+i)2 + (1+i)3 + ... + (1+i)n-1 + (1+i)n]
O primeiro termo é (1 + i) e a razão da PG é 1 + i. Teríamos então:

Vamos comparar este resultado pensando no Exemplo 6, em que tería-


mos de pagar R$ 190,95 durante 12 meses. Se investíssemos R$ 190,95 em
uma aplicação que pagasse os mesmos 2,99% a.m. de juros que a loja co-
brava no Exemplo 6, teríamos então um valor bem maior, de R$ 2.789,41.
Com essa quantia, poderíamos comprar a filmadora de R$ 1.899,90 à vista
e ainda sobrariam R$ 889,51. Outra consideração é que a loja poderia apli-
car cada uma das prestações, obtendo assim bem mais que o preço pago
pelo cliente.
A Matemática tem ajudado a tomar decisões importantes na vida prática e
tem se desenvolvido impulsionada principalmente pelas necessidades práti-
cas (motivação externa), mas também pela necessidade de resolver proble-
mas gerados pela própria construção da Matemática (motivação interna).
Foi pensando em problemas originados pela economia que resultados im-
portantes da Matemática foram desenvolvidos. O número e, mais freqüente-
mente associado aos logaritmos, foi descoberto em um estudo de juros com-
postos.
A idéia é a seguinte: se um capital fosse aplicado durante um certo perío-
do, com taxa de juros de 100% ao período, o montante após aquele período
seria:

— Qual seria o montante se os juros fossem capitalizados duas vezes no


mesmo período e a taxa fosse dividida pela metade?
Teríamos:


 

Se os juros fossem capitalizados 3 vezes no período, e a taxa dividida por


3, teríamos:

Seguindo o mesmo raciocínio, se a taxa fosse capitalizada n vezes no


período, e a taxa dividida em n partes, teríamos:

Complete a tabela abaixo com alguns resultados para a expressão :

1 2,00000
2 2,25000
4
10
1.000
1.000.000
Tabela 3

À medida que n cresce, o montante também cresce. Em 1683, Jacob


Bernoulli trabalhava com este problema e ficou curioso para saber se esse
crescimento seria ilimitado. A questão colocada foi: o que ocorre com a ex-
pressão quando n é muito grande?

Deixando o valor de C de lado, Bernoulli estudou o valor da expressão


(1 + 1/n)n quando n cresce indefinidamente, e provou, usando a expansão do
binômio de Newton (que será vista no Módulo 2), que o resultado está entre
2 e 3.

Jacob (Jacques) Bernoulli (1654-1705).


Em: MacTutor <http://www-history.mcs.st-
and.ac.uk/%7Ehistory/PictDisplay/
Bernoulli_Jacob.html>.




Leonhard Euler (1707-1783).


Em: MacTutor <http://www-history.mcs.st-
and.ac.uk/%7Ehistory/PictDisplay/Euler.
html>.

Dois séculos mais tarde, o matemático Leonhard Euler (1707-1783) pro-


vou que a expressão (1 + 1/n)n se aproxima, quando n cresce indefinidamen-
te, de um número irracional que vale aproximadamente 2,718281828. Esse
número é representado pela letra e.


Unidade 2

Representações
Decimais
Organizadores
Antonio Brolezzi
Élvia M. Sallum
Utilizamos representações decimais em muitos dos cálculos que foram Martha Monteiro
feitos na unidade anterior. Vamos agora analisar com mais cuidado essas
representações dos números. Elaboradores
Antonio Brolezzi
Observe que na Tabela 2, vista na Unidade anterior, os valores são ex-
pressos apenas com duas casas decimais. Fazendo as contas, notamos que Martha Monteiro
há muitas casas decimais sendo desprezadas. O juro ganho apenas no último
mês de aplicação é de R$ 1,91. Poderíamos usar um valor mais preciso – por
exemplo 1,905245 – que arredondamos para R$ 1,91. Supondo que o proble-
ma fosse investir não 100 reais, mas um milhão de reais, teríamos um maior
significado para aquelas casas decimais, como vemos na Tabela 4 abaixo:

Mês Juros (1,6% a.m.) Montante


1 16.000,00 1.016.000,00
2 16.256,00 1.032.256,00
3 16.516,10 1.048.772,10
4 16.780,35 1.065.552,45
5 17.048,84 1.082.601,29
6 17.321,62 1.099.922,91
7 17.598,77 1.117.521,68
8 17.880,35 1.135.402,02
9 18.166,43 1.153.568,46
10 18.457,10 1.172.025,55
11 18.752,41 1.190.777,96
12 19.052,45 1.209.830,41
Tabela 4
Neste caso, uma maior precisão implica em mudanças significativas nos
resultados. Note que no último mês o juro foi de R$ 19.052,45. As casas
decimais agora fazem muita diferença. A limitação da representação dos
valores monetários a duas casas decimais, os centavos de real, não é pratica-
da em alguns casos, como, por exemplo, em postos de gasolina que anunciam
o preço por litro, na forma R$ 2,199. Em outros contextos, como os índices
de cotação de dólares na bolsa de valores ou em outros investimentos, apare-
cem também casas decimais além dos centavos. Por que se faz isso?
O desenvolvimento do comércio gerou novas necessidades para a Mate-
mática. Por exemplo, Christoff Rudolff (1499-1545), um polonês que estu-
dou e trabalhou em Viena, na Áustria, é considerado o primeiro a propor o


uso sistemático de representações decimais na Europa, e o fez pelas necessi-


dades de representação de juros compostos. Também é atribuída a ele a cria-
ção do símbolo da raiz quadrada utilizado atualmente.

Página da obra de Rudolff de 1530 mostrando o


uso de frações decimais em juros compostos (Smith,
1925).

O belga Simon Stevin (1548-1620) foi o responsável pelo tratamento dado


atualmente às frações decimais.

Simon Stevin (1548-1620)


Em: MacTutor <http://www-history.mcs.st-and.ac.uk/
%7Ehistory/PictDisplay/Stevin.html>.

Em 1585, publicou La theinde [A dízima], uma obra dedicada a diversos


profissionais do comércio. Foi ele que chegou a sugerir que o sistema decimal
fosse adotado pelo governo para pesos, medidas e dinheiro em sua obra tradu-
zida para o inglês por Robert Norton em 1608, intitulada Disme: the arts of
tenths or decimal arithmetike, que também foi a inspiração para Thomas
Jefferson propor a divisão decimal da moeda americana (hoje em dia, um
décimo de dólar ainda é chamado de dime).
É interessante observar essas opções que os povos fizeram de notações e
representações numéricas e de medidas. Por exemplo, até hoje são utilizados
dois sinais para separar as casas inteiras e decimais nas representações deci-


 

mais. Alguns países, como o Brasil, utilizam vírgula, enquanto outros, como
os Estados Unidos, utilizam ponto. Igualmente, alguns países seguiram a uni-
ficação dos sistemas de medidas baseados na fração decimal, como o metro e
o centímetro, enquanto outros permaneceram utilizando pés e polegadas.
Lembramos que, na representação decimal, cada número inteiro positivo
é escrito como uma sucessão de algarismos pertencentes ao conjunto {0, 1, 2,
3, 4, 5, 6, 7, 8, 9} e a posição que cada algarismo ocupa determina qual
potência de 10 é fator daquele algarismo. Por exemplo:
1375 = 1000 + 300 + 70 + 5 =
= 1 × 103 + 3 × 10² + 7 × 10¹ + 5 × 100
Um número é um número racional se puder ser escrito na forma p/q,
onde p e q são inteiros e q é diferente de zero. Por exemplo, os números 5 =
; e são números racionais (positivos).

Chamamos de fração decimal a fração cujo denominador é uma potência


de 10. Por exemplo,

são frações decimais que correspondem, respectivamente, aos números 0,2;


0,13 e 0,0085.
Denotando 0,1 por (que também pode ser escrito como 10-1), 0,01 por
(que é igual a 10-2) e assim por diante, podemos escrever as frações deci-

mais como somas especiais, como a do exemplo a seguir.

Exemplo 7.
A representação decimal de é:

0,123 = 0,1 + 0,02 + 0,03 = 1 × 10-1 + 2 × 10-² + 3 × 10-3

— O que significa essa representação?


Como a base 10 foi adotada para a representação dos números inteiros,
nada melhor do que subdividir a unidade em 10 partes iguais, cada uma de
tamanho 1/10. Subdivide-se cada décima parte em 10 partes iguais, de tama-
nho 1/100, e assim sucessivamente. No exemplo acima, o número 0,123 re-
presenta uma quantidade que é a décima parte somada a 2 centésimas partes e
somada ainda a 3 milésimas partes de um inteiro.
Vejamos num exemplo o significado dessa representação.

Exemplo 8.
É preciso distribuir R$ 9,00 em partes iguais para 4 pessoas. Qual o valor
que cada pessoa receberá?




É muito fácil: basta dividir 9 por 4. Mas como isso é feito na prática?
Primeiro reparamos que cada pessoa deverá receber mais do que 2 reais, mas
menos do que 3 (por quê?). Supondo que temos 9 notas de 1 real, repartindo
2 reais para cada pessoa, um total de 8 reais já está dividido, restando dividir
entre elas o que sobrou, que é 1 real. Sabemos que cada moeda de 10 centa-
vos de real corresponde a 1/10 de real. Trocando a nota de 1 real por 10
moedas de 10 centavos, e repartindo entre as 4 pessoas, vemos que cada pes-
soa receberá 2 moedas de 10 centavos, mas sobrarão 2 moedas. Novamente,
cada moeda de 10 centavos pode ser trocada por 10 moedas de 1 centavo, que
representa 1/100 de real. Serão 20 moedas de 1 centavo que devem ser dividi-
das entre 4 pessoas. Cada pessoa ficará com 5 moedas de 1 centavo. Portanto
cada pessoa receberá
2+2× +5× reais.
Esse valor é representado por R$ 2,25. Podemos escrever: 2,25 = 2 × 100
+ 2 × 10-1 + 5 × 10-2
Observe outros exemplos:
= 0,405 = 4 × 10-1 + 0 × 10-2 + 5 × 10-3;

= 64,39 = 6 × 101 + 4 × 100 + 3 × 10-1 + 9 × 10-2

Podemos generalizar afirmando que se b0, b1, ... , bk, a1, a2, ... , e an repre-
sentam algarismos, então o número bk ... b1 b0, a1 a2 a3...an é igual a:
bk × 10k +...+ b1 × 101 + b0 × 100 + a1 × 10-1 + a2 × 10-2 + ... + an × 10-n
— Como encontrar representações decimais de números racionais quais-
quer?
Para representar um número racional p/q (q ≠ 0) na forma decimal vamos
dividir o numerador p pelo denominador q. Ao fazermos isso, podemos en-
contrar duas situações:
1. Em algum ponto da divisão se chega ao resto zero. Neste caso o quociente
é um número formado por uma parte inteira (eventualmente nula) seguida de
uma vírgula e de uma quantidade finita de casas decimais. Nesse caso, dize-
mos que se trata de uma representação decimal finita.
2. Nunca se chega ao resto zero. Neste caso, a divisão prossegue indefini-
damente e o quociente é formado por uma parte inteira (que pode ser zero),
seguida de uma vírgula e de uma sucessão de casas decimais que pode ser
prolongada o quanto se queira. Nesse caso, diremos que se trata de uma re-
presentação decimal infinita.
Vejamos os seguintes exemplos:
= = 0,5

= = = 8,75

= = = 5,4


 

Note que no caso de cada fração multiplicamos o numerador e o denominador


por alguma potência de 5 ou de 2, de modo a conseguir que o denominador se
transforme em uma potência de 10.
Tome uma fração p/q, em sua forma irredutível, isto é, uma fração em que o
numerador p e o denominador q são números naturais primos entre si (q ≠ 0).
Sempre que a decomposição do denominador q em fatores primos só tiver
potências de 2 ou de 5, é possível usar o processo descrito acima para trans-
formar a fração em outra equivalente, que seja da forma a/10n, para algum
número natural a. Vejamos mais um exemplo: o número não está na forma
irredutível, mas a fração é equivalente a e é irredutível.

Como o denominador 20 é um divisor de 100 e 100 = 20 × 5, multiplica-


mos numerador e denominador por 5, obtendo:

= = = = 0,15

Agora faça você


Usando o processo acima (sem usar a calculadora), encontre a representa-
ção decimal dos seguintes números:

— Se a decomposição do denominador q tiver potências de outros primos


além de 2 e de 5, o que acontece?
Para responder a essa pergunta precisamos entender um pouco melhor o
algoritmo da divisão (o processo utilizado para fazer a conta de dividir).
Na divisão de 9 por 4 fazemos automaticamente o seguinte procedimento:

9 4
-8 2,25
10
-8
20
- 20
0

— O que significa o zero colocado à direita do número 1, que era o resto


da divisão de 9 por 4?
Significa que estamos trocando 1 inteiro (que não dá para dividir por 4)
por 10 décimos. (Trata-se de representar o mesmo número de modo diferente,
neste caso mais conveniente para nosso objetivo, que é dividir 1 por 4.) Como
no caso do Exemplo 8, em que trocamos 1 real por 10 moedas de 10 centavos,
estamos trocando a maneira de representar o número 1.




Em seguida, é efetuada a divisão de 10 décimos por 4, de onde se obtém


2 décimos. Por isso, a resposta será escrita com o algarismo 2 na primeira casa
após a vírgula que é, por convenção, a posição dos décimos. Analogamente, o
zero colocado à direita do resto 2 significa que para dividir 2 décimos por 4,
deve-se trocar 2 décimos por 20 centésimos e efetuar a divisão por 4. O resul-
tado, 5 centésimos, é escrito colocando-se o algarismo 5 na segunda casa
decimal.
Portanto:
= 2,25 = 2 + 2 × +5× = 2 + 2 × 10-1 + 5 × 10-2

(Na linha acima, escrevemos o mesmo número de várias maneiras. Cada


uma dessas maneiras tem sua utilidade. Por enquanto, vamos apenas conhecê-
las.)
Vamos usar esse mesmo processo para tentar obter a representação deci-
mal de 10/3.

10 3
-9 3,33
10
-9
10
-9
1

Note que este processo não tem como terminar. Ou seja, nunca teremos
resto igual a zero. Este é um exemplo de um número cuja representação deci-
mal não é finita. É comum escrevermos esta representação na forma 3,333...
As reticências indicam que a representação é infinita. Mas note que é uma
notação imprecisa, pois só com as reticências não é possível saber como são
as demais casas decimais que não estão escritas. Na representação decimal de
10/3 notamos que o algarismo 3 se repetirá em todas as casas decimais. Para
indicar isso, a convenção é escrevemos 10/3 = 3,3.
Vejamos outro exemplo: a representação decimal de .

Usando o algoritmo da divisão, encontraremos 0,963636363... – a conta


de dividir não acaba e os algarismos 6 e 3 irão se repetir nessa ordem sem
parar (confira, fazendo a conta!). A maneira precisa de se informar todo o
comentário que está entre os hífens é escrever:
53/55 = 0,963
A barra sobre o par de algarismos 63 indica que esse par se repete indefi-
nidamente.
Vamos aproveitar para fazer algumas considerações importantes: no caso
acima, o número 0,9 é uma aproximação de 53/55.
Como 53/55 – 0,9 = 0,063, o erro que se comete ao usar 0,9 em vez de 53/
55 é menor do que 0,1 (=10-1).


 

O número 0,96 também é uma aproximação de 53/55, melhor do que a


anterior, pois o erro cometido ao se escrever 0,96 em vez de 53/55 é menor do
que 10 -2.
Quanto mais casas decimais escrevermos, maior será a precisão da aproxi-
mação. Mas note que é errado escrever 53/55 = 0,96363, pois 0,96363 não é
igual, mas apenas uma aproximação de 53/55 (às vezes escrevemos 53/55 ≈
0,96363). Se essa aproximação é boa ou não vai depender do problema que se
quer resolver com esse número, como já foi visto anteriormente em problemas
de Matemática Financeira.

Agora faça você


(a) Ache a forma decimal de 16/90.
(b) Dê uma aproximação para 16/90, com erro menor do que 10-3.
Se a representação decimal de um número apresentar um grupo de alga-
rismos que se repete na mesma ordem, como vimos nos exemplos anteriores,
dizemos que essa representação é uma dízima periódica. O grupo de algaris-
mos que se repete no quociente é chamado período. Assim, na fração 10/3, o
período é 3; na fração 53/55, o período é 63.

Agora faça você


Verifique que a representação decimal de cada número racional abaixo é
uma dízima periódica: .

Como vimos acima, sempre que x for um número racional que, ao ser
escrito na forma irredutível apresenta um denominador q que é um número
inteiro cuja decomposição em fatores primos só contém potências de 2 ou de
5, então a representação decimal de x será finita.
Vamos agora olhar o que acontece quando o denominador contém ou-
tros fatores primos, começando por compreender o que acontece no exem-
plo x = . Efetuando a divisão, temos:

40 7
-35 0,571428...
50
-49
10
-7
30
-28
20
-14
60
-56
4

Observe que, nesse caso, os restos da divisão são 5, 1, 3, 2, 6 e 4, nesta


ordem. Quando chegamos ao resto 4 o processo começará a repetir. Como em




qualquer divisão, o resto deve ser sempre menor do que o divisor. Assim na
divisão acima, só os números 0, 1, 2, 3, 4, 5 e 6 podem ser resto dessa divisão.
Como 0 não aparece e só há 6 restos possíveis, eles têm que repetir, formando
a dízima. Logo, 4/7 = 0,571428.
Em geral, se x = p/q for um número racional escrito em sua forma irredutível,
e se o denominador q tiver outros fatores primos além de 2 e 5, sua represen-
tação decimal será uma dízima, pois na divisão de p por q, os únicos restos
possíveis serão 1, 2, ... , (q – 1) — uma quantidade finita de possibilidades.
Com isso, teremos certeza de que, em algum momento, um determinado resto
irá se repetir e, a partir daí, todo o algoritmo irá se repetir, resultando assim
uma dízima periódica.
Com isso, concluímos que a representação decimal de qualquer número
racional ou é finita, ou é uma dízima periódica.
Sabemos transformar um número escrito na forma decimal finita em fra-
ção, como no exemplo:

Mas como podemos achar a fração correspondente a uma dízima?


Vejamos um exemplo. Considere o número
x = 1,245 = 1,2454545...
Note que os algarismos começam a se repetir a partir da segunda casa
decimal, com o algarismo 4. Vamos multiplicar o número por 10:
10 x = 12,45 = 12,454545...
Agora, vamos multiplicar o mesmo x por 103:
103 x = 1245,454545...
Você reparou que a parte não inteira de cada um desses dois novos núme-
ros é igual? Se subtrairmos o maior do menor, ela irá cancelar:
103 x – 10 x = 1245,45 - 12,45 = 1233
Logo, 10x (100 – 1) = 1233 e, portanto, x 990 = 1233. Logo, x = .

O que você achou? Você pode estar pensando que eu adivinhei magica-
mente que as potências 10 e 103 ajudariam a resolver meu problema. Na ver-
dade, essas potências foram criteriosamente escolhidas... Tente descobrir qual
o segredo!

Agora faça você


Escreva os números seguintes na forma de fração: 3,7; 0,5483; 0,001; 0,999...
No último item do exercício acima, você deve ter concluído que 0,999 =
1. Esse sinal de igual é igual mesmo! Não se trata de aproximação: 0,9 e 1 são
duas formas diferentes de representar o mesmo número.
Note também que, dividindo-se por 10 os dois lados da igualdade 0,999...
= 1 obtemos 0,0999... = 0,1. Dividindo novamente, obtemos 0,00999... = 0,01,
e assim por diante. Com isso, conseguimos escrever qualquer representação
decimal finita na forma de dízima com infinitos noves. Veja:
2,5 = 2,4 + 0,1 = 2,4 + 0,0999... = 2,4999...


 

1,48 = 1,47 + 0,01 = 1,47 + 0,00999...


Reciprocamente, toda dízima que tem uma infinita sucessão de noves pode
ser escrita como uma fração decimal finita.

DÍZIMAS E PROGRESSÕES GEOMÉTRICAS


Vamos voltar a reparar com cuidado no número 3,333...; podemos tam-
bém escrevê-lo da seguinte forma:
3,333... = =

Repare que dentro dos parêntesis há uma soma cujas parcelas formam
uma progressão geométrica de razão e termo inicial 1. Como a razão é
menor do que 1, é possível calcular a soma de infinitos termos:

Portanto, 3,333...

Vejamos mais um exemplo:

Novamente, notamos que a expressão dentro dos parêntesis é uma soma


de termos consecutivos de uma progressão geométrica de razão 10-3 e termo
inicial igual a 1.
A soma dessa PG é

Assim,

(Use uma calculadora para efetuar 1040244 ÷ 99900 e confira o resul-


tado.)
Nos dois exemplos acima encontramos uma soma de uma progressão geo-
métrica com infinitos termos como fator da fração que representa o primeiro




período da dízima. Esse fato não é uma coincidência. Toda dízima traz embu-
tida uma soma de PG.

NÚMEROS REAIS
Lembremos que os números surgiram da necessidade de contar e de me-
dir. Os gregos, no século V a.C., perceberam que os números racionais não
eram suficientes para representar todo tipo de comprimento. Por isso, foi ne-
cessário ampliar o conjunto dos números racionais. O conjunto de números
que contém todos os números que representam os possíveis comprimentos de
segmentos, é chamado de conjunto dos números reais.
Primeiramente, vamos associar números racionais positivos a pontos de uma
reta. Considere uma reta qualquer e fixe um ponto. A esse ponto damos o nome
de origem (O) e associamos o número 0. Escolhemos também um segmento e
convencionamos que seu comprimento será a unidade de medida (u):

u
O

Em seguida, colocamos o segmento unitário u sobre a reta, de modo que


sua extremidade à esquerda coincida com a origem. À outra extremidade asso-
ciamos o número 1. Fazemos o mesmo com todos os outros números naturais,
obtendo a associação mostrada na figura abaixo:

0 1 2 3 4

Para representarmos um número racional positivo r = p/q, dividimos o


segmento unitário em q partes iguais. Cada parte tem comprimento 1/q unida-
des. Tomando-se p desses segmentos justapostos a partir da origem, encontra-
remos o ponto correspondente ao número r. Na figura abaixo, representamos
a fração 7/4:
O
0 1 7
4

Desta forma, conseguimos representar os números positivos em ordem


crescente ao longo da reta. Por isso, coloca-se uma seta indicando o sentido
de crescimento.
Os pontos à esquerda da origem são associados aos números negativos da
seguinte maneira: Se P for um ponto da reta à direita da origem, associado ao
número positivo x, consideramos o ponto Q na mesma reta, simétrico a P em
relação à origem, isto é, Q está à esquerda de O de modo que a distância de Q
a O seja igual à distância de O a P. O ponto Q assim determinado representa o
número negativo – x.
O

x 0 x


 

O número – x é chamado oposto de x. (Observe que se a for um número


negativo, seu oposto –a será positivo.) Usamos o símbolo x > 0 para indicar
que x é um número positivo e a < 0 para indicar que a é um número negativo.
Os números positivos estão representados à direita da origem e os negativos,
à esquerda. Mas temos um problema: os pontos da reta que representam os
números racionais não preenchem a reta toda!
De fato, no século V a. C. os gregos descobriram que existem medidas
de comprimento que não são números racionais, isto é, não podem ser colo-
cados na forma p/q com p e q inteiros e q ≠ 0.
Considere o quadrado cujos lados medem 1 unidade de comprimento. A
diagonal desse quadrado é um segmento de reta de comprimento d. O Teorema
de Pitágoras, que veremos no fascículo 3, nos dá a dica de como calcular o
valor de d: a diagonal do quadrado é a hipotenusa de um triângulo retângulo
cujos catetos medem 1. Assim,
d2 = 12 + 12 = 1 + 1 = 2
Logo, d = .
Com isso, vemos que o número é um número que pode ser associado à
reta, já que ele representa o comprimento de um segmento.

d2 = 1 2 + 1 2 = 2
1

0 1
Mas esse número não é um número racional! Como sei disso? Não serve
dizer que sei porque alguém me contou, pois isso não é saber. Saber é saber
por quê. Vamos lá:
Se fosse um número racional, então ele poderia ser escrito na forma de
fração irredutível p/q, com p e q números inteiros e q ≠ 0. Logo, elevando ao
quadrado, teríamos 2 = , que é equivalente a p2 = 2q2.

Façamos uma pequena pausa para uma observação


importante
Imagine um número inteiro positivo qualquer. Ele pode ser escrito como
produto de fatores primos. Quando elevamos esse número ao quadrado, os
fatores aparecem em dobro. Por exemplo, na fatoração do número 12 temos

12 = 2 × 2 × 3
2 1
Logo, na fatoração de 122 temos
122 = (2 × 2 × 3)2 = 2 × 2 × 2 × 2 × 3 × 3
4 2
Vejamos outro exemplo:
75 = 3 × 5 × 5 e 752 = (3 × 5 × 5)2 = 3 × 3 × 5 × 5 × 5 × 5.




Voltemos ao nosso problema: estávamos procurando números inteiros p e


q que satisfaziam p2 = 2q2. Mas vejam só: na decomposição de p2 deve haver
uma quantidade par de fatores iguais a 2, bem como na fatoração de q2. Mas
então, 2q2 terá uma quantidade ímpar de fatores iguais a 2. Então não pode ser
igual a p2!
Provamos, usando uma demonstração por absurdo, que não existem nú-
meros inteiros p e q tais que

Logo, é um número irracional.


— Como poderíamos achar uma representação decimal para tal núme-
ro? De que forma ela deve ser?
Como não é racional, sabemos que sua representação decimal não
pode ser finita, nem pode ser uma dízima periódica. Logo, só pode ser um
número com infinitas casas decimais, mas que não forma dízima. Vamos
agora achar aproximações para o número .
Sabemos que o número 2 está entre os quadrados perfeitos 1 e 4. (Es-
crevemos 1<2<4.) Logo, sua raiz quadrada deve satisfazer a desigualdade
1< < 2. (Dizemos que é maior do que 1, mas ao mesmo tempo, menor
do que 2.)
Podemos agora, por tentativa, procurar uma aproximação com uma casa
decimal. Acompanhe minhas contas:
12 = 1; (1,1)2 = 1,21; (1,2)2 = 1,44; (1,3)2 = 1,69; (1,4)2 = 1,96; (1,5)2 = 2,25.
Opa! Passou de 2! Posso então concluir que, como 1,96 < 2 < 2,25, então
1,4 < < 1,5
Dizemos que 1,4 é uma aproximação de por falta e que 1,5 é uma
aproximação por excesso. Note que com isso, sabemos que o erro cometido
ao usarmos 1,4 ou 1,5 como uma aproximação para o número é menor do
que 0,1.
Vamos achar uma aproximação com duas casas decimais? Isso requer
mais contas:
(1,41)2 = 1,9881; (1,42)2 = 2,0164. Como passou de 2, podemos parar e
concluir que, como (1,41)2 < 2 < (1,42)2 então
1,41 < < 1,42
O erro cometido ao aproximarmos por 1,41 (por falta) ou por 1,42 (por
excesso) é menor do que 0,01.

Agora faça você


Usando uma calculadora para fazer as potências necessárias, ache as pró-
ximas três casas decimais de .
Note que, como sabemos que esse número é irracional, o processo não
acabará nunca! Uma aproximação com erro menor do que 10-28 é
1,4142135623730950488016887242


 

Para cada número natural n, sua raiz quadrada é um número real, pois
representa a medida de algum segmento de reta (veja a figura).

Se n não for um quadrado perfeito então é um número irracional. (O


porquê desta última afirmação é assunto para um curso superior, mas você
pode tentar generalizar o procedimento usado para provar que é irracional
para provar mais alguns exemplos.) Assim os números etc. são
irracionais.
Outro número irracional famoso e importante em Matemática, principal-
mente em geometria e em trigonometria (que você estudará neste curso, em
breve) é o número π. Uma aproximação para com erro menor do que 10-8 é
3,14159265. A aproximação π ≈ 3,14 é a mais usada em escolas, pois leva a
contas razoavelmente curtas. Só tome cuidado para não escrever π = 3,14,
pois isso é falso.
É importante notar como sabemos qual a ordem entre dois números escri-
tos em sua representação decimal: Começamos por comparar a parte inteira.
Se forem iguais, comparamos cada casa decimal dos números até encontrar-
mos uma casa decimal em que os algarismos sejam distintos: o maior número
é aquele que tem o maior algarismo nessa casa. Por exemplo, se x = 2,67424
e y = 2,67426, então x<y, já que as partes inteiras de x e de y são iguais, bem
como as quatro primeiras casas decimais. A quinta casa decimal é 4 no núme-
ro x e é 6 em y.

Agora faça você


1 – Encontre um número entre x e y dados acima. É possível encontrar mais
um? E mais 5 números entre x e y?
2 – Sabendo que a é um número entre 0,385 e 0,394, você pode dizer qual é
a parte inteira de a? Qual é a primeira casa decimal de a? O que se pode dizer
sobre a segunda casa decimal?
3 – Coloque os números em ordem crescente (do menor para o maior):

4 – (a) Dê um exemplo de um número racional entre 1 e 2.


(b) Dê um exemplo de um número racional entre 0,1 e 0,2.
(c) Dê um exemplo de um número racional entre 0,01 e 0,02.
(d) Dê um exemplo de dez números entre 1 e 2.
(e) Dê um exemplo de cinco números irracionais entre 1 e 2.
(f) Represente todos os números encontrados nos itens acima na reta real.




5 – Decida se a afirmação abaixo é verdadeira ou falsa e justifique sua resposta:


(a) Se um número é racional então sua expansão decimal é finita.
(b) Se um número tem expansão decimal finita então esse número é racional.
(c) Se um número tem expansão decimal infinita então ele é irracional.
(d) Entre dois números racionais sempre é possível encontrar outro racional.

6- É possível dizer se o número 5,143... é racional? Justifique sua resposta.


7- Ache uma aproximação para com erro menor do que 0,01.
8- O número 4,20220022200022220000..., que tem os algarismos 2 e 0 repe-
tindo alternadamente conforme o padrão apresentado, é racional? Por quê?

Bibliografia
MAOR, Eli. e: a história de um número. Rio de Janeiro: Record, 2003.
MORGADO, Augusto Cesar et al. Progressões e matemática financeira. Cole-
ção do Professor de Matemática. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de
Matemática, 2001.
NIVEN, Ivan. Números: racionais e irracionais. Coleção do Professor de Ma-
temática. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática, 1984.
SMITH, David Eugene. History of Mathematics. vol. II. Ginn and Co.: Boston,
1925.
The MacTutor History of Mathematics Archive <http://www-history.mcs.st-
and.ac.uk/>.

Sobre os autores
Antonio Carlos Brolezzi
é professor do Departamento de Matemática do IME-USP. É mestre e dou-
tor em Educação pela Faculdade de Educação da USP. Com experiência no
Ensino Fundamental e no Ensino Médio, trabalhou por vários anos com a
formação de professores. Interessa-se pela pesquisa na área de História da
Matemática e seu uso em sala de aula, bem como pelo uso da tecnologia na
educação matemática.

Martha Salerno Monteiro


é docente do Instituto de Matemática e Estatística da USP. Fez doutorado
na área de Análise Funcional na University of New Mexico, nos EUA. Desde
1998, é membro da diretoria do Centro de Aperfeiçoamento do Ensino de
Matemática (CAEM) do IME-USP.


Anotações
Anotações
Anotações
Anotações
Matemática

Organizadores
Antônio Carlos Brolezzi
Elvia Mureb Sallum
Martha S. Monteiro
Elaboradoras
Cristina Cerri
Lisbeth K. Cordani
2
módulo

Nome do Aluno
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador: Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP
Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor: Adolpho José Melfi
Pró-Reitora de Graduação
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE


Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área
Biologia:
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori
Física:
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta
Geografia:
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins
História:
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer
Língua Inglesa:
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór
Língua Portuguesa:
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto
Matemática:
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro
Química:
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan
Produção Editorial
Dreampix Comunicação
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro
Cartas ao
Aluno
Carta da
Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão.
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer
situação de vida e de trabalho.
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor
para o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.


Pró-Reitora de Graduação.
Carta da
Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno,
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa
da educação básica.
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente
construído para esse fim.
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva


Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Apresentação
da área
[...] a Matemática procura compreender os modelos que permeiam o mundo que
nos rodeia assim como a mente dentro de nós. […] Assim é necessário colocar a
ênfase:
— em procurar soluções e não apenas em memorizar procedimentos;
— em explorar modelos e não apenas em memorizar fórmulas;
— em formular conjecturas e não apenas em fazer exercícios.
[...] com essas ênfases, os estudantes terão a oportunidade de estudar a Matemá-
tica como uma disciplina exploradora, dinâmica, que se desenvolve, em lugar de ser
uma disciplina que tem um corpo rígido, absoluto, fechado, cheio de regras que
precisam ser memorizadas.
Shoenfeld (1992)1
Este curso de Matemática com duração de 4 meses está sendo oferecido a
alunos do último ano do ensino médio da rede pública como um incentivo
para continuarem seus estudos em direção ao ensino superior. Embora não
cubra todo o programa do ensino médio, pretende-se estimular o interesse dos
alunos pelos diversos temas de Matemática por meio de abordagens variadas.
Serão estudados tópicos sobre Números, Estatística, Probabilidade e Aná-
lise Combinatória, Geometria Plana e Espacial, Geometria Analítica, Sistemas
Lineares e Funções, privilegiando o entendimento das possíveis facetas de
um mesmo assunto, a análise de resultados obtidos e a interligação entre os
diversos conteúdos.
Escolhas foram feitas de modo a priorizar sua formação, a discussão de
idéias e a percepção de que a Matemática é uma disciplina viva que pode ser
construída, e não um amontoado de fórmulas prontas para serem decoradas e
usadas. Lembrando que realmente aprendemos quando trabalhamos o conhe-
cimento, analisando-o de várias maneiras e usando-o com critério, considera-
remos, sempre que possível, aplicações em problemas reais e interdisciplinares.
Acreditando que o intercâmbio entre vocês, alunos do ensino médio, e os
alunos da USP, que serão os seus professores, venha a aumentar a sua predis-
posição para o ensino superior, desejamos a todos bons estudos!

Coordenação da área de Matemática

1
SCHOENFELD A. H. “Learning to think mathematically: Problem solving, metacognition and sense
making in mathematics”. In: D. A. Grouws (Ed.). Handbook of research on mathematicas teaching and
learning. p. 334-370. Nova Iorque: MacMillan, 1992.
Apresentação
do módulo
Uma das ferramentas mais utilizadas hoje em dia pelos cientistas, analistas
econômico-sociais, profissionais liberais, jornalistas etc. é a Estatística, que
descreve os dados observados e desenvolve a metodologia para a tomada de
decisão em presença da incerteza. O verbete estatística foi introduzido no
século XVIII, tendo origem na palavra latina status (Estado), e serviu inicial-
mente a objetivos ligados à organização político-social, como o fornecimento
de dados ao sistema de poder vigente. Hoje em dia, os modelos de aplicação
da Teoria Estatística se estendem por todas as áreas do conhecimento, como
testes educacionais, pesquisas eleitorais, análise de riscos ambientais, finan-
ças, controle de qualidade, análises clínicas, data mining, índices de desen-
volvimento, modelagem de fenômenos atmosféricos etc. Podemos informal-
mente dizer que a Teoria Estatística é uma ferramenta que ajuda a tomar deci-
sões com base na evidência disponível, decisões essas afetadas por margens
de erro, calculadas através de modelos de probabilidade.
No entanto, a probabilidade se desenvolveu muito antes de ser usada em
aplicações da Teoria Estatística. Um dos marcos consagrados na literatura
probabilística foi a correspondência entre B. Pascal (1623-1662) e P. Fermat
(1601-1665), onde o tema era a probabilidade de ganhar em um jogo com dois
jogadores, sob determinadas condições. Isso mostra que o desenvolvimento da
teoria de probabilidades começou com uma paixão humana, que são os jogos
de azar, mas evoluiu para uma área fortemente teórica, em uma perspectiva de
modelar a incerteza, derivando probabilidades a partir de modelos matemáti-
cos. A análise combinatória deve grande parte de seu desenvolvimento à ne-
cessidade de resolver problemas probabilísticos ligados à contagem, mas hoje
há diversas áreas em que seus resultados são fundamentais para o desenvolvi-
mento de teorias, como, por exemplo, a área de sistemas de informação.
Esta apostila tratará das três áreas descritas na introdução: estatística, pro-
babilidade e combinatória. Para o desenvolvimento dos temas, foi difícil a
escolha da ordem e do conteúdo, limitados que fomos pelo tempo disponível
para o desenvolvimento de cada assunto. Optamos por fazer um tratamento
sucinto de dados, através da estatística descritiva, por oferecer algumas no-
ções de probabilidade, a fim de trabalhar situações ligadas à incerteza, bem
como apresentar elementos de análise combinatória, visando desenvolver o
raciocínio para solucionar certos tipos de problemas de contagem dando me-
nos ênfase ao uso de fórmulas.
Unidade 1

Estatística descritiva
Organizadores
A Estatística é um veículo para que os indivíduos, de modo geral, desen- Antônio Carlos
volvam a capacidade de aproveitar as fontes disponíveis de informação para Brolezzi
expressar e construir suas próprias idéias. Além disso, como já dissemos, es- Elvia Mureb
sas noções são parte integrante de todas as áreas do conhecimento e certa- Sallum
mente serão de grande utilidade para o curso universitário, qualquer que seja Martha S.
a área de interesse do estudante, pois praticamente todas as carreiras universi- Monteiro
tárias contêm uma disciplina de Estatística, a qual tornou-se um suporte para o
desenvolvimento do conhecimento. Elaboradora
Lisbeth K. Cordani
Cada vez mais os meios de comunicação nos apresentam
gráficos e medidas estatísticas resumidas de natureza
descritiva. Esse é um material de apoio que deve ser utilizado
para aprender os conceitos com base em notícias de nosso
próprio cotidiano. Os gráficos e as estatísticas descritivas
normalmente não são um fim em si mesmos, mas constituem
uma parte importante do processo de análise.

Esta seção tem como objetivo mostrar aos alunos como se trabalha um
conjunto de dados simples, quer sejam de natureza numérica quer sejam de
natureza qualitativa. Esses dados normalmente constituem uma amostra de
determinada população de interesse de alguma área científica, econômica,
social etc. É muito difícil uma pesquisa envolver todos os elementos de uma
determinada população (o Censo faz isso), por motivos vários, e é por isso
que se recorre às amostras (que são subconjuntos de populações).

POPULAÇÃO
Conjunto de todos os indivíduos (ou elementos) de interesse.

AMOSTRA
Qualquer subconjunto de uma população.

ANÁLISE DE DADOS
Vamos iniciar a análise descritiva propondo uma tarefa para a classe: cada
um deverá medir o palmo de sua mão direita (em cm) com uma régua e regis-
trar o valor inteiro mais próximo. Se a leitura da régua informar uma medida
com 5 como o primeiro decimal (ex. 18,5 cm), vamos propor um arredonda-
mento rápido, mas grosseiro: considere 19 cm, se o dia de seu nascimento for
par, e 18 cm, se for impar. A classe pode discutir esse critério, pensando com


o(a) professor(a) outras formas de arredondamento. Sempre que falarmos aqui


da variável palmo, estaremos subentendendo que a medida é dada em cm. Os
dados abaixo reproduzem as medidas do palmo da mão direita de uma amos-
tra (que pertence a uma determinada população) de 30 adultos e está também
representada a variável sexo (categorias M para masculino e F para feminino).

19 18 23 20 20 21 20 20 19 20
F F M F M M F M F M
20 20 21 21 20 21 19 17 19 19
M M M F F M F F F F
21 21 20 20 21 22 20 21 18 20
M M M F M M M M F F Tabela 1

Estes mesmos dados estão representados no chamado Gráfico de pontos


que se encontra a seguir. Observe como foi feita a marcação e marque o valor
do palmo da sua mão direita na linha assinalada no gráfico (respeitando a or-
dem numérica). Todos os alunos deverão informar seu valor em voz alta e, à
medida que cada valor for informado, toda a classe marca tal valor na linha
acima do gráfico já construído – quando houver repetições, sigam a sugestão
do gráfico já feito, isto é, coloquem os valores um sobre o outro. Comparem o
gráfico obtido com os dados da classe com o proveniente dos dados da Tabela 1.

Na situação a seguir, os mesmos dados de palmo da Tabela 1 foram sepa-


rados por sexo e os gráficos de pontos têm a seguinte forma:

Neste exemplo estamos trabalhando com duas características, comprimento


do palmo da mão (palmo) e sexo. Em estatística, chamamos essas caracterís-
ticas de variáveis e, portanto, temos aqui duas variáveis já definidas: uma
delas, palmo, tem a classificação numérica (ou quantitativa) e a outra, sexo,
é classificada como qualitativa, apresentando duas categorias, ou seja mas-
culino (M) e feminino (F). Vamos registrar os valores de palmo e as categorias


 

de sexo em tabelas de freqüências e devem ser registrados, nas tabelas dispo-


níveis, os valores obtidos na classe (f denota freqüência absoluta = número
de pessoas). As variáveis numéricas podem ser classificadas como contínuas
(provenientes de mensuração) ou discretas (provenientes de contagem), en-
quanto que as qualitativas podem ser classificadas como ordinais (ordem im-
plícita) ou nominais (sem ordem implícita).

PALMO freqüência f
17 1
18 2
SEXO f
19 5
M 16
20 12
F 14
21 8
22 1
23 1 Tabela 2
PREENCHA
PALMO freqüência f
17
18
SEXO f
19
M
20
F
21
22
23

Vimos então duas maneiras de representar o conjunto de valores da variá-


vel numérica palmo: através do gráfico de pontos e através de tabelas de fre-
qüências. Também a variável qualitativa sexo foi contemplada, tanto na repre-
sentação da tabela de freqüências, separando quantos indivíduos eram do sexo
masculino e quantos eram do feminino, quanto na construção do gráfico de
pontos para a variável palmo, em que houve uma estratificação para cada
categoria da variável qualitativa sexo (M e F). Compare os valores de palmo
para cada categoria de sexo.
TENTE FAZER
Colete os valores da variável palmo da mão esquerda de todos os colegas e trabalhe
mão esquerda – mão direita
com a diferença entre as medidas (mão direita). Construa o gráfico
de pontos para as diferenças e a tabela de freqüências. Repare que você trabalhou com
medidas nos mesmos indivíduos – isso significa que você trabalhou com dados
emparelhados (ou pareados). Discuta e compare o comportamento do palmo da mão
direita e da mão esquerda através das diferenças.

Considerando novamente a variável palmo, além de usarmos todos os


valores em um gráfico ou em uma tabela, podemos caracterizar o comporta-
mento dos dados a partir de um (ou mais) valores que a caracterizem – são as
chamadas medidas-resumo.
Medidas-resumo de variáveis numéricas podem ser de dois tipos: de posição e de
variabilidade
variabilidade.

Há várias medidas de posição, assim chamadas porque podem ser assina-


ladas no mesmo eixo de representação dos pontos (por exemplo, podem ser




representadas no gráfico de pontos). Começaremos pelas chamadas de ten-


dência central: a média, a mediana e a moda.
A média (aritmética) da variável palmo é obtida através da somatória de todos
os valores de palmo dividida por 30 (dados da Tabela 1). A notação usual é:
n

∑X
i =1
i
Média aritmética de palmo = X = (1)
n
onde X é a representação para palmo (cada um pode escolher a sua represen-
tação), X é a notação usual para média de X e n é o número de elementos.
Fazendo então o cálculo, vem:
X = [(17 + 18 + 18 +……….+ 22 + 23) / 30] ≅ 20 cm
(aqui o resultado é uma dízima periódica e vamos trabalhar com este valor aproximado)

Com os valores apresentados sob a forma de tabela de freqüências, a ex-


pressão para a média aritmética fica:
k

∑ f .X i i
X= i =1 (2)
n
onde fi é a freqüência do valor Xi, n é a soma de f i e a média é evidentemente
igual à anterior:

X = [(1. 17 + 2. 18 + 5. 19 + 12 . 20 + 8 . 21 + 1. 22 + 1. 23) / 30 ] ≅ 20 cm
A classe deverá fazer a média dos valores obtidos da variável PALMO de
todos os seus alunos.
Tanto no caso dos dados da Tabela 1 como naqueles da Tabela 2, não houve
nenhuma perda de informação e os valores da média são idênticos. Se a tabela
de freqüências disponível fosse a Tabela 4 (que apresentaremos adiante) então
haveria perda de informação, pois os dados estariam compactados em classes e
o cálculo da média seria feito com o ponto médio de cada classe como valor de
X – assim, com perda de informação, a média obtida não seria necessariamente
igual à anterior. Não vamos aqui explorar esse conteúdo para o cálculo de me-
didas descritivas, uma vez que com os recursos computacionais atuais não é
necessário dividir os dados em classes com esse objetivo. No entanto, veremos
uma aplicação gráfica com a Tabela 4, cujos dados estão divididos em classes.
A mediana da variável palmo é um valor que divide o conjunto dos valo-
res dessa variável em duas partes: metade dos valores é inferior (ou igual) à
mediana e a outra metade apresenta valores maiores (ou iguais) à mediana.
Para encontrar a mediana é então necessário ordenar os valores da variável e
verificar o valor que ocupa a posição central. Se o número de elementos for
par, e esse é o caso do exemplo (com n = 30), toma-se para mediana a média
aritmética entre os dois valores centrais – neste caso será a média entre o 15o
e o 16 o elementos. Ordenando os dados de palmo do menor para o maior
(pode ser também ao contrário), tem-se:
17 18 18 19 19 19 19 19 20 20
20 20 20 20 20 20 20 20 20 20
21 21 21 21 21 21 21 21 22 23
Tabela 3


 

O 15o valor é 20 e o 16o valor também é 20. Portanto, a mediana da variável


palmo é 20 cm. Verifiquem a mediana da variável palmo do conjunto da classe.
A terceira medida de tendência central é a moda, que é definida como
sendo o valor mais freqüente. No nosso exemplo é bem claro o valor da moda,
pois o valor mais freqüente é 20 cm. Nem sempre a moda é tão evidente e há
situações com mais de uma moda.
Depois de calcular a média, a mediana e a moda, posicionem esses valores
no gráfico de pontos, feito inicialmente com os dados da classe. É fácil então
entender por que elas se chamam medidas de tendência central – elas resumem
os dados como se estivessem procurando um “equilíbrio” entre eles. Os dados
da Tabela 1 mostram uma certa simetria, situação em que média, mediana e
moda praticamente coincidem (rigidamente falando, a média não é exatamente
20 e sim 20,033...). Vejam qual a situação dos dados obtidos por vocês.
Há o costume de resumir um conjunto de dados pelo valor de alguma
medida de tendência central – a média é geralmente a mais utilizada, embora
em certos casos ela não reflita o comportamento dos dados. Como exemplo
disso, pode-se citar o caso em que ocorre um valor muito extremo em relação
aos demais: a média será afetada fortemente por ele e então se deslocará em
sua direção, não sendo, portanto, a melhor opção para resumir tais dados.
Neste caso, a mediana é mais eficiente.
Se temos uma discussão em uma empresa entre patrões e empregados, por
exemplo, onde os salários são em sua grande parte (80%) iguais a um salário
mínimo, e os demais mais do que 50 salários mínimos, o salário médio dará
uma idéia distorcida do poder aquisitivo dos membros da empresa. Nesse
caso, a mediana, que será igual a um salário mínimo, será mais informativa.
Calculem, por exemplo, a média dos valores 1, 2, 5, 7 e 10: a resposta será 5.
Se o número 10 for substituído pelo valor 100, a média será 23, de onde se
percebe o quanto ela é influenciada pelo valor extremo 100. A mediana nos
dois casos é 5, o que mostra que ela é uma medida “robusta” em relação a
valores extremos.
Outras medidas descritivas de posição são: valor máximo, valor mínimo, 1o
quartil (Q1) e 3o quartil (Q3). As duas primeiras são auto-explicativas e passa-
remos rapidamente pela definição das outras duas: o 1o quartil é como se fosse
a mediana da primeira metade dos dados e o 3o quartil é como se fosse a medi-
ana da segunda metade dos dados. As quatro medidas acima mais a mediana
são suficientes para construir um gráfico de variáveis numéricas conhecido
como boxplot ou gráfico de caixas, ou, ainda, gráfico dos cinco pontos. O leitor
interessado irá encontrar a sua construção nas referências desta apostila.
TENTE FAZER
Calcule as medidas de posição para as diferenças (mão esquerda - mão direita). Discuta.

No entanto, apesar de as medidas de posição ajudarem na compreensão


do comportamento dos dados, elas são incompletas para caracterizar o com-
portamento das variáveis, como mostra o próximo exemplo.
Exemplo 1: Imagine que 3 pessoas da família A apresentem para a variável
palmo os valores 19, 23 e 24 e que 3 pessoas da família B apresentem os valores
22, 22 e 22. Vamos calcular a média dessa variável para ambas as famílias:
Média da família A = XA = [(19 + 23 + 24) / 3] = 22
Média da família B = XB = [(22+22+22) / 3] = 22




Concluímos então que ambas as famílias apresentam a mesma média. Será


que isso basta? Vamos continuar trabalhando com esses dados. Marque os
valores da variável palmo de cada família na linha abaixo (isto é, faça um
gráfico de pontos), e note a diferença de comportamento entre os mesmos.

18 25

Você deve ter percebido que na família B todos os valores estão concen-
trados e na família A os valores estão dispersos. Esse aspecto não é percebido
se calcularmos somente a média, pois, como vimos, ela é igual para ambas as
famílias. Isso mostra que devemos complementar a medida de posição com
mais alguma coisa a fim de caracterizar as famílias quanto à variável palmo.
Voltaremos a este exemplo oportunamente.
Há uma idéia permeando esta discussão que diz respeito à diferença de
comportamento entre os dois grupos: é a idéia de variabilidade. Medidas des-
critivas de variabilidade representam a dispersão dos dados e podem ser defi-
nidas também por medidas resumo das variáveis numéricas em estudo. Fala-
remos aqui da amplitude, variância e desvio padrão.
A amplitude é a medida mais simples de variabilidade e é obtida através da
diferença entre os valores máximo e mínimo da variável em estudo, ou seja:

AMPLITUDE = MÁXIMO – MÍNIMO (3)

Para os dados da Tabela 1, a amplitude é igual a 23 – 17 = 6 cm (ser tão


simples é, ao mesmo tempo, uma vantagem – fácil de aprender e de aplicar –, e
uma desvantagem – só trabalha com os valores extremos, ignorando o resto).
Uma medida de dispersão mais rica de informação do que a amplitude,
deveria utilizar todos os dados disponíveis e uma idéia poderia ser o cálculo
das diferenças entre cada valor e a média. Só que tais diferenças, ao serem
somadas (para se obter uma dispersão total), dão como resultado o valor zero,
qualquer que seja o conjunto de dados (experimente!), o que inviabilizaria o
seu uso. Um modo de contornar esse problema seria considerar essas diferen-
ças ao quadrado e outro seria considerar o módulo das diferenças. Cada um
deles levará a uma medida de dispersão: considerando o quadrado, tem-se a
Variância e considerando o módulo tem-se o Desvio Médio Absoluto (este
não será discutido aqui – ver referências). A Variância é uma média dos qua-
drados das diferenças e calcula-se através da expressão:
n
( X i − média ) 2 n
( X i − X )2
Variância = ∑
i =1 n −1
= ∑
i =1 n −1
(4)

Aqui é bom frisar que o intuitivo seria fazer esta média com n no denomina-
dor – questões teóricas, fora do escopo deste texto, nos levam a usar (n – 1),
principalmente em casos onde estamos usando amostras. Quanto à unidade
associada à variância, ela não é a mesma unidade dos dados originais e sim o
quadrado dela – neste exemplo, a unidade da variância é cm2. Com os dados
da Tabela 1 temos:
[(19 – 20)2 + (18 – 20)2 +(23 – 20)2 + … + (18 – 20)2 + (20 – 20)2]
Variância =
(30 – 1)
Variância ≅ 1,48 cm2


 

No entanto, é desejável termos características da variável apresentadas na


mesma unidade dos dados coletados, o que neste caso significa ter uma medi-
da de variabilidade em cm. Define-se, então, uma medida resumo para varia-
bilidade, o Desvio Padrão, que é a raiz quadrada da variância.

Desvio Padrão = Variância (5)

Com os dados da Tabela 1, temos Desvio Padrão ≅ 1,22 cm (resgatando a


unidade de medida original, que era cm).
Exemplo 1 (cont.): continuando com a análise das famílias A e B, verifique
que a amplitude da família A é 5 cm e que a da família B é 0 cm. Isso já dá
uma boa idéia da diferença entre as famílias, diferença esta que não havia sido
detectada pela média! Daí a importância do cálculo de medidas de variabili-
dade, as quais, acopladas com a média (ou com outras medidas de posição),
permitem uma boa caracterização das variáveis de interesse.
Neste caso, a amplitude já seria suficiente para caracterizar a variabilida-
de, uma vez que temos somente 3 valores. Mas vamos aproveitá-los para o
cálculo do desvio padrão e, para isso, precisamos calcular primeiro a variância.
(19 - 22)2+ (23 - 22)2+ (24 - 22)2 (-3)2 + ( 1)2+ (2)2 9 + 1 + 4
A:VariânciaA= = = =
3 -1 3-1 2
A:VariânciaA= 7 cm2

Verifique que a variância dos dados da família B é igual a zero. A partir da


variância podemos calcular os desvios-padrão (D.P.). Assim:

D.P.A= 7 ≅ 2,65 cm e D.P.B= 0 cm.


TENTE FAZER
Calcule as medidas de variabilidade para as diferenças (mão esquerda - mão direita).
Discuta.

TENTE FAZER
No caso da tabela de freqüências com os dados da Tab ela 1, como seria feito o cálculo
abela
da variância? Recalcule e compare com o valor obtido anteriormente.

Quando a variável apresenta uma certa simetria, o intervalo [média – 1


desvio padrão; média + 1 desvio padrão] contém aproximadamente 70% dos
dados; o intervalo [média – 2 desvios padrão; média + 2 desvios padrão]
contém aproximadamente 95% dos dados e o intervalo [média – 3 desvios
padrão; média + 3 desvios padrão] contém aproximadamente 99% dos dados.
Este é um resultado que possibilita ter idéia da amplitude dos dados quando se
conhece a média e o desvio padrão dos mesmos.

Exemplo 2: com os dados da Tabela 1 vamos verificar o que foi dito acima. A
média ( X ) é 20 e vamos considerar o desvio padrão como sendo 1,2. Daí vem:

a) X – 1 D.P. = 20 – 1,2 = 18,8 X + 1 D.P. = 20 + 1,2 = 21,2


b) X – 2 D.P. = 20 – 2. 1,2 = 17,6 X + 2 D.P. = 20 + 2 . 1,2 = 22,4
c) X – 3 D.P. = 20 – 3.1,2 = 16,4 X + 3 D.P. = 20 + 3 . 1,2 = 23,6




Para verificar quantos são os valores que estão nos intervalos de interesse,
podemos nos reportar à Tabela 3, que representa os dados da Tabela 1 de
modo ordenado. Verifica-se assim que:
- no intervalo em a, (18,8; 21,2), encontramos 25 valores na Tabela 3 (83%).
- no intervalo em b, (17,6; 22,4), encontramos 28 valores na Tabela 3 (93%).
- no intervalo em c, (16,4; 23,6), encontramos 30 valores na Tabela 3 (100%).
T ENTE FAZER
Para os dados coletados em classe determine a porcentagem dos valores que pertencem
a cada um dos intervalos definidos acima. Compare com os resultados do Exemplo 2.

Voltando à análise gráfica, vamos terminar a abordagem descritiva com


mais três gráficos, um para variáveis qualitativas e dois deles para variáveis
numéricas. O primeiro será o chamado Gráfico de Setores (informalmente
chamado de gráfico em pizza) que mostramos a seguir e que representa a
proporção de homens e mulheres nos dados apresentados na Tabela 1. Faça,
no espaço em branco, um gráfico de setores utilizando as freqüências da va-
riável (sexo) coletada em classe.

O próximo gráfico é utilizado para variáveis numéricas, como a variável


palmo, em que os valores estão dispostos em classes, numa tabela de freqüên-
cias (Tabela 4). A Tabela 2 é também uma tabela de freqüências, porém, os
dados não estão dispostos em classes, como na Tabela 4. Então, com os da-
dos da Tabela 1, vamos construir uma tabela de freqüências a partir de classes
(ou intervalos), construídas de preferência com a mesma amplitude, com suas
respectivas freqüências. A Tabela 4 dará origem ao gráfico denominado His-
tograma: um gráfico cuja abscissa é formada pelas classes justapostas e cuja
ordenada é formada pelas freqüências absolutas correspondentes a cada clas-
se. Este gráfico pode também ser construído com as freqüências relativas (%)
ou com densidades, mas essas abordagens não serão desenvolvidas aqui.
PREENCHA
Construa a tabela com os dados coletados na classe

PALMO freqüência f PALMO freqüência f Obs.: O símbolo 16 |-18 significa


16|–18 1 intervalo fechado à esquerda: o
valor à esquerda, 16, está incluído
na classe e o valor à direita, 18, não
18|–20 7 está incluído na classe (é equiva-
lente à notação [16, 18[, vista na
20|–22 20 apostila 1).

22|–24 2
Tabela 4


 

Construa um histograma para


os dados da variável palmo
coletados na classe.

TENTE FAZER
Construa a tabela de freqüências das diferenças entre as medidas da mão esquerda e da
mão direita e o correspondente histograma. Use as freqüências relativas na ordenada.

O último gráfico que veremos neste tópico é aquele que relaciona duas
variáveis numéricas: diagrama de dispersão, que nada mais é do que a repre-
sentação em um eixo de coordenadas cartesianas de pares associados a duas
variáveis numéricas. A Tabela 5 mostra mais duas variáveis coletadas na amos-
tra dos trinta adultos: a altura e o peso. Normalmente (mas não obrigatoria-
mente) o gráfico de dispersão das variáveis peso e altura mostra um compor-
tamento crescente (aproximadamente linear), com a possível interpretação de
que peso e altura são diretamente proporcionais.

Sexo Peso (Kg) Altura (m)


M 94 1,85
M 99 1,92
M 84 1,75
M 88 1,88
F 70 1,66
F 65 1,58
M 73 1,75
F 72 1,76
F 59 1,60
F 70 1,65
F 80 1,75
M 85 1,75
M 85 1,82
M 85 1,73
F 69 1,72
M 85 1,86
F 66 1,73
M 83 1,72
F 72 1,70
M 83 1,71
F 67 1,63
F 69 1,71
M 99 1,89
M 83 1,81
F 64 1,70
M 94 1,89
F 72 1,74
F 69 1,70
M 83 1,72
M 88 1,79 Tabela 5




Vê-se acima o gráfico de dispersão das variáveis (peso(x), altura(y)) e,


neste caso, os valores foram separados pela variável sexo. É possível ampliar
o estudo das relações entre duas variáveis numéricas, quer ajustando uma
função, como, por exemplo, uma reta neste caso (ou mesmo duas, uma para o
SEXO masculino e outra para o SEXO feminino), quer calculando a “força”
da relação entre as variáveis através de algum coeficiente (por exemplo, o
coeficiente de correlação linear de Pearson). No entanto, essas abordagens
não serão feitas neste texto, e as referências bibliográficas podem ser consul-
tadas para este fim.
T ENTE FAZER
Colete na sua classe os dados de altura e peso e construa o gráfico de dispersão com
essas variáveis. Faça sem separar por sexo e depois faça com a separação. Comente e
compare com o gráfico de dispersão aqui apresentado.

Finalizando, gostaríamos de mencionar um gráfico de dispersão especial


em que a abscissa é o tempo (anos, meses, dias etc) e a ordenada é o valor da
variável de interesse (cotação do dólar, risco-país,
acompanhamento das marés, vendas de eletrodo-
mésticos etc.) em cada instante: são as chamadas
Séries de Tempo usadas para descrever o compor-
tamento de variáveis ao longo do tempo. A área de
economia é uma das que mais fazem uso das Séries
de Tempo, principalmente para variáveis associa-
das ao mercado financeiro. A seguir, apresentamos
uma Série de Tempo (Folha de São Paulo, 24 de
maio de 2004) que mostra o crescimento dos veí-
culos convertidos para o Gás Natural Veicular (GNV)
no Brasil ao longo dos anos (com ** significando o
valor de uma previsão).
T ENTE FAZER
Colete os dados do risco-país (você sabe o que é isso?) do primeiro dia útil de cada mês,
de janeiro de 2004 até o mês atual, e construa o gráfico de Série de Tempo. Você achará
esses dados em jornais de circulação nacional. Comente o aspecto do gráfico ao longo
do tempo.

Para outros dados, como, por exemplo, dados da Pesquisa Domiciliar ou


mesmo alguns relativos ao Censo, consulte o site www.ibge.gov.br.


Unidade 2

Probabilidade
Organizadores
Mais do que um arcabouço técnico, o racio- Antônio Carlos
cínio estatístico é uma forma de pensar e, asso- Brolezzi
ciado ao Cálculo de probabilidades, permite a
investigação de certas regularidades, de padrões Elvia Mureb
Sallum
de comportamento, com conclusões tomadas
levando em conta um risco associado. Se estivermos interessados em saber Martha S.
qual a probabilidade de obter 10 Caras em 10 lançamentos independentes de Monteiro
uma moeda honesta temos um problema de probabilidade a ser resolvido (e a Elaboradora
resposta é exata: (1/2)10). Por outro lado, se temos em mãos uma moeda e
Lisbeth K. Cordani
queremos saber se ela é honesta, podemos, por exemplo, jogá-la 10 vezes
(jogadas independentes uma da outra) e observar o resultado. Se o resultado
for 10 Caras, o que podemos concluir sobre a “honestidade” da moeda? Tere-
mos uma conclusão tão precisa quanto a obtida na resposta anterior? A res-
posta é não, pois qualquer que seja nossa decisão sobre a moeda, temos um
risco associado (ou seja, posso dizer que ela não é honesta – e ela ser honesta
– ou posso dizer que ela é honesta – e ela não ser honesta). O primeiro exem-
plo refere-se a um problema de probabilidade e o segundo é um problema
estatístico. De fato, neste segundo exemplo temos uma informação de uma
amostra (resultado de 10 lances de uma moeda) e queremos tirar uma conclu-
são para a população (probabilidade de Cara) – esta operação é chamada de
inferência estatística, e é construída levando-se em conta uma margem de
erro na conclusão, obtida através de raciocínio probabilístico. Na seção ante-
rior vimos como trabalhar com amostras, sob o ponto de vista de análise de
dados. Não abordaremos aqui nesta apostila a análise inferencial (que pode
ser vista nas referências bibliográficas) e passaremos a desenvolver noções
básicas de probabilidade.
Como já comentamos na introdução, a área de probabilidade começou a ser
desenvolvida para responder questões propostas em jogos de azar, desde o sé-
culo XVII, mas a área desenvolveu-se muitíssimo desde então. O termo pro-
babilidade faz parte do senso comum e as pessoas vivem o cotidiano calculan-
do tacitamente algumas probabilidades: desde situações de sua vida pessoal
(organizando-se para chegar ao trabalho no horário, levando em conta as cir-
cunstâncias do tráfego; agasalhando-se ao sair de casa se a previsão do tempo
indicar uma frente fria; não tomando determinados remédios que possam ter
efeitos colaterais em parte das pessoas etc) até tomadas de decisão em sua vida
profissional (abrir um negócio, aplicar dinheiro na Bolsa de Valores etc.).
Trabalharemos aqui algumas noções elementares do cálculo de probabili-
dades, para começar a pensar a incerteza. Antes mesmo de definir o termo
probabilidade, vamos caracterizar três situações distintas:


Situação A: qual a probabilidade de


sair Cara no lançamento de uma
moeda uma vez?

Situação B: qual a probabilidade de


uma semente germinar ao ser
plantada?

Situação C: qual a probabilidade de


o Brasil ganhar a próxima Copa do
Mundo de futebol?

Normalmente as pessoas sugerem como resposta o valor 50% (1/2) para a


Situação A, e argumentam que esta resposta se deve ao fato de os valores
possíveis serem dois (Cara ou Coroa) e os favoráveis apenas um (Cara), o que
produziria o quociente 1/2. Quando se passa à Situação B, em que há também
dois valores possíveis (germinar, não germinar) a resposta imediata é igual à
anterior, mas após uma pequena discussão, perguntando se elas comprariam
uma saca de sementes, em que a probabilidade de germinação por semente
fosse igual a 1/2, imediatamente percebem que não faz sentido aplicar a mes-
ma regra. Geralmente alguém sugere fazer um experimento plantando um
número grande de sementes, para observar quantas germinam. Já com a Situ-
ação C, começam a perceber que os três problemas têm naturezas diferentes e
que nem a primeira situação nem a segunda poderiam ajudar a responder a
pergunta formulada na terceira situação.
A resposta 1/2 para a pergunta da Situação A deve-se, possivelmente, ao
costume de ser usada uma moeda para decidir qual time começa jogando
determinada partida – isso “atestaria” a qualidade de “honestidade” intrínseca
da moeda, dando a mesma chance para qualquer dos dois resultados. Está
aqui então implícita a premissa que deve ser colocada para que a resposta
dada à Situação A seja verdadeira: ambos os resultados (Cara e Coroa) têm a
mesma chance de ocorrer, o que naturalmente levaria ao cálculo da probabili-
dade de Cara no lançamento de uma moeda honesta uma vez, através da cha-
mada definição clássica de probabilidade:

número de casos favoráveis


P(Cara) =
número de casos possíveis

Para a situação B, ao se fazer o experimento com as sementes, toma-se


como probabilidade o valor para o qual tende a freqüência relativa de semen-
tes germinadas (aqui está implícita a noção de limite, que não será explorada
neste texto) após um número muito grande de ensaios. Assim temos a defini-
ção freqüentista de probabilidade:

número de sementes germinadas


P(germinar) ≅ número de sementes plantadas

Esta definição leva em conta um resultado (Lei dos Grandes Números –


Bernoulli, séc. XVII) que diz que à medida que os ensaios vão aumentando


 

(sementes idênticas plantadas sob as mesma condições), a freqüência relativa


vai se estabilizando e aproximando-se do valor teórico da probabilidade de
germinar.
TENTE FAZER
Jogue uma moeda 10 vezes e marque a freqüência relativa de Caras. Repita para 20
lances, 30 lances, 40 lances e 50 lances. Coloque as freqüências observadas como
ordenadas num gráfico em que a abscissa seja o número de tentativas. Compare com o
resultado dos colegas. Comente.

Bem diferente dessas duas abordagens é a Situação C, sobre a probabili-


dade de o Brasil ganhar a próxima Copa do Mundo de futebol. Neste caso,
não é razoável pensar nem em aplicar a definição clássica (que teria que su-
por que as possibilidades têm igual chance de ocorrer) e nem a definição
freqüentista (pois não há como gerar dados através de repetição). A resposta
será de caráter individual, baseada tanto em desempenhos anteriores (regis-
tros históricos) da seleção brasileira e das demais participantes, como no co-
nhecimento do estágio atual das mesmas e ainda em um “sentimento” particu-
lar, que pode mudar de indivíduo para indivíduo. O caráter subjetivo desta
situação sugere a definição de probabilidade subjetiva, que é a opinião indivi-
dual sobre determinado resultado, a qual pode ou não ser baseada em infor-
mação anterior (informação a priori). Assim, podemos chamar genericamen-
te de p a Probabilidade (Brasil ganhar a próxima Copa do Mundo de Fute-
bol) – alguém pode colocar 0,8 (80%) ou 0,30 (30%) ou qualquer outro valor
entre 0 e 1 (ou entre 0% e 100%) .
O que há de comum entre essas três abordagens é que, para todos, a pro-
babilidade (p) é um número entre 0 e 1 que goza de algumas propriedades e,
em cada situação, devemos verificar o processo mais adequado para calculá-
la. Resumindo, temos que 0 ≤ p ≤ 1.

Exemplo 3: havia um boato na empresa MEX de que os funcionários estariam


descontentes com o salário. O diretor de RH resolveu fazer uma pesquisa
entre os seus 400 funcionários, os quais foram chamados a responder sim ou
não à seguinte pergunta:

Você aceita uma redução de jornada com redução de salário?

Os resultados foram registrados na chamada tabela de contingência como


segue:
Opinião
sim não total
Sexo
M 50 150 200
F 140 60 200
total 190 210 400

Nessa tabela os valores 200 e 200 significam o total de funcionários tanto


do sexo masculino quanto do feminino, sem levar em conta opinião. De modo
análogo, 190 e 210 representam a quantidade de sim e não, respectivamente,
sem levar em conta o sexo. Os valores internos representam conjuntamente
sexo e opinião – por exemplo, há 140 funcionários que são do sexo feminino
e que responderam sim.




O gerente faz um sorteio aleatório de uma viagem entre todos os 400


funcionários. Por sorteio aleatório entende-se um processo em que todos os
elementos têm igual probabilidade de serem sorteados – por exemplo, nume-
rar todos os funcionários, colocar os números em uma urna e sortear um ele-
mento da urna. Este sorteio é encarado como um processo normalmente de-
nominado de experimento.
Vamos olhar os resultados possíveis dentro de três perspectivas: a) sexo
do sorteado; b) opinião do sorteado; c) sexo e opinião do sorteado. Na primei-
ra perspectiva, o conjunto de todos os resultados possíveis seria {M,F}. Na
segunda, o conjunto de todos os resultados possíveis seria {SIM, NÃO} –
nessas duas primeiras perspectivas estamos somente interessados no compor-
tamento marginal do elemento sorteado, ou seja, quero saber algo sobre a
variável sexo ou algo sobre a variável opinião. A terceira perspectiva é relaci-
onada ao elemento sorteado sob o ponto de vista de sexo conjuntamente com
opinião e o conjunto de todos os resultados possíveis seria {M SIM, M NÃO,
F SIM, F NÃO}. Esses elementos descritos no último conjunto são os compo-
nentes do interior da tabela deste exemplo.
Trabalhar com probabilidades pode ser simplificado se usarmos os dados
dispostos em tabelas, ou ainda se considerarmos diagramas de árvore. Vamos
considerar o experimento de sortear ao acaso um funcionário dentre os 400
funcionários (já descrevemos o sorteio) e como o sorteio é aleatório (por su-
posição) todos os funcionários têm a mesma chance de serem sorteados. En-
tão, nesse caso, para o cálculo de probabilidades, faz sentido pensar na defi-
nição clássica já vista anteriormente e é este esquema que vamos adotar. Va-
mos responder, uma a uma, às seis perguntas seguintes, sempre com referên-
cia ao sorteio do funcionário e você, em alguns casos, poderá se reportar
implicitamente a elementos da teoria de conjuntos (como, por exemplo, as
noções de união e intersecção):

1 – qual a probabilidade de o sorteado ser do sexo feminino?


2 – qual a probabilidade de o sorteado ter dito não?
3 – qual a probabilidade de o sorteado dizer não ou ser do sexo feminino?
4 – qual a probabilidade de o sorteado ter dito não e ser do sexo feminino?
5 – qual a probabilidade de o sorteado ter dito sim e ser do sexo feminino?
6 – qual a probabilidade de o sorteado ser do sexo feminino dado que respon-
deu não?

Respostas:
1 – P(F) = ? Resposta: P(F) = (200/400) = 1/2 = 0,5 (ou 50%)
2 – P(NÃO) = ? Resposta: P(NÃO) = (210/400) = 0,525 (ou 52,5%)

As respostas às questões 1 e 2 foram obtidas diretamente dos valores marginais, ou seja,


200 funcionários do sexo feminino entre os 400 funcionários e 210 funcionários que
responderam não à pergunta entre os 400 funcionários.

3 –P ( NÃO ou F) = ? (União U)
Resposta: P (NÃO ou F)= (210 + 200 – 60)/400 = (350/400)= (7/8) =
= 0,875 (ou 87,5%)


 

A resposta à questão 3 foi obtida através da verificação de quantos funcionários podem


ser ou NÃO ou F, ou mesmo ambos, ou seja, é a união entre os funcionários NÃO com os
funcionários F. Veja que são retirados da soma os 60 funcionários que foram contados
duas vezes.

U
4 – P(NÃO e F) = ? (Intersecção )
Resposta: P(NÃO e F) = (60/400) = 0,15 (ou 15%).

A resposta à questão 4 foi obtida diretamente do valor do interior da tabela, ou seja,


dentre os 400 funcionários, 60 responderam não e ao mesmo tempo são do sexo feminino.
A questão 5 tem raciocínio análogo. Verifique!

5 – P(SIM e F) = ? Resposta: P (SIM e F) = (140/400) = 0,35 (35%)

Antes de passarmos a discutir a próxima questão, vamos voltar à questão


3, que trata da probabilidade da união de dois eventos. Genericamente, para
dois eventos A e B, a probabilidade de A ou B (A união B) é dada por
U
P(A U B) = P(A) +P(B) – P(A B) (6)

Evidentemente, se a intersecção for vazia, temos que a probabilidade as-


sociada é nula, e dizemos que A e B são eventos disjuntos. Vem então que, se
A e B forem eventos disjuntos (ou mutuamente exclusivos),

P(A U B) = P(A) + P(B) (7)

Como responder à questão 6? Aqui surge uma linguagem nova: dado que.
Isso significa que queremos um valor de probabilidade, mas temos alguma
informação adicional (dado que = sabendo que). A notação que usaremos
para dado que será uma barra vertical | , como a seguir:

6 – P (F dado NÃO) = P (F | NÃO) = ?


Resposta: P (F | NÃO) = (60/210) ≅ 0,286 (ou 28,6%).

A resposta à questão 6 levou em conta a informação, ou seja, podemos pensar que,


quando foi feito o sorteio o diretor olhou o resultado e avisou: o funcionário sorteado
respondeu não! Com essa informação, o total de funcionários diminuiu de 400 para 210,
que é o total marginal para as respostas não e então o denominador para o cálculo da
probabilidade fica sendo 210 e o numerador é igual ao número mulheres na categoria
não (60).

Vamos agora dar uma forma alternativa à resposta da questão – P (F |


NÃO) – através da definição de probabilidade condicional (sabendo que =
condicionado a)

P (F | NÃO) = [ P (F e NÃO)] / (P(NÃO)] (8)




Com os resultados já calculados, e com P (F e NÃO) = P (NÃO e F) (veri-


fique!), vem
Verifique que P (NÃO | F)
é igual a (60/200) = 0,30 P (F | NÃO) = [0,15 / 0,525] ≅ 0,286 (ou 28,6%),
(ou 30%)!
com resposta igual à já obtida diretamente da tabela.
Através da expressão (6) podemos derivar uma expressão formal para a
probabilidade conjunta, como nas questões 4 e 5, ou seja:

P(NÃO e F) = P(F e NÃO) = P(F |NÃO).P(NÃO) = P(NÃO |F).P(F)


(9)
P(SIM e F) = P(F e SIM ) = P(F |SIM).P(SIM) = P(SIM |F).P(F)

Vamos retomar a questão 6 para introduzir um novo conceito: indepen-


dência entre eventos. Nessa questão, calculamos a probabilidade condicional
de o sorteado ser do sexo feminino sabendo que a resposta foi não, isto é, P (F
| NÃO). O resultado foi aproximadamente 0,286 ou, em termos percentuais,
28,6%, o que significa que sabendo que a resposta foi não, a probabilidade de
o sorteado ser do sexo feminino é de 28,6%. Na questão 1, vimos que a proba-
bilidade de o sorteado ser do sexo feminino é de 50%, o que mostra que quan-
do damos a informação de que a resposta foi não, a probabilidade de ser do
sexo feminino diminui substancialmente (de 50% para 28,6%). Isso significa
que os eventos resposta não e sexo feminino são dependentes, pois a informa-
ção de que um ocorreu muda a probabilidade de o outro ocorrer.
Voltando à explicação dada na questão 6, quando o diretor avisou que o
funcionário sorteado tinha respondido não, os funcionários do sexo feminino
já viram suas chances diminuírem, pois com resposta não havia 150 homens
e somente 60 mulheres, ou seja, repetindo, saber que a resposta do funcioná-
rio sorteado foi não diminuiu a chance do sorteado ser do sexo feminino. Sob
o ponto de vista da pesquisa que deu origem à tabela, é fácil ver então que as
mulheres, diferentemente dos homens, aceitam, em sua maioria, a redução de
jornada com redução de salário.

De um modo geral, dizemos que dois eventos A e B são


independentes quando a informação de que B ocorreu não altera
(10)
a probabilidade da ocorrência de A, isto é, (P(A|B) = P(A))
P(A)). No caso
descrito acima, os eventos F e NÃO são dependentes.

A última afirmação implica que se A e B forem eventos independentes,


então
U
P(A B) = P(A) . P(B) (11)

pois, de acordo com a definição de independência, P(A|B) = P(A). A expres-


são (11) pode ser usada como alternativa à definição (10) para verificar se
dois eventos são independentes.

T ENTE FAZER
Com os dados do Exemplo 3 mostre, usando a expressão (11), que os eventos NÃO e F
são dependentes (ou não são independentes).


 

TENTE FAZER
Mostre que dois eventos disjuntos não são independentes.

Ao conjunto de todos os resultados possíveis associados a um experimen-


to dá-se o nome de Espaço Amostral (S) e os subconjuntos do espaço amostral
são chamados de Eventos (ver pág. 26). Se o experimento relacionar-se a
características numéricas contínuas – por exemplo, o tempo de duração de
uma lâmpada sorteada ao acaso de um lote de lâmpadas –, o espaço amostral

poderia ser descrito como {t | t 0}. Contudo, nesta apostila só abordaremos
situações numéricas discretas.
TENTE FAZER
- descreva um espaço amostral associado ao lançamento de uma moeda duas vezes;
- descreva um espaço amostral associado aos gols de uma partida de futebol;
- descreva um espaço amostral associado à coleta de peso de recém-nascidos.

TENTE FAZER
Usando os dados do Exemplo 3, mostre que:
P(SIM) = 1 – P(NÃO) e que P(M) = 1 – P(F). Ou seja,
A c) , para A U A c = S (espaço amostral).
P(A) = 1 – P(A

Em seguida, faremos uma representação ainda do mesmo problema dos


funcionários, em que um deles é sorteado, através do diagrama de árvore, o
que muitas vezes torna mais fácil a visualização dos resultados e das respecti-
vas probabilidades.
Podemos começar o diagrama por uma ou por outra característica – va-
mos começar pela opinião. Partindo do princípio de que o sorteado ou é do
sexo feminino ou do sexo masculino, construiremos dois ramos iniciais partin-
do do mesmo ponto e depois prosseguimos com os outros ramos referentes à
característica sexo (M ou F), conforme segue:

P(M | SIM)

M P(SIM e M) = (190/400).(50/190)
50/190
= 0,125 (ou 12,5%)
SIM
140/190
190/400 F P(SIM e F) = (190/400).(140/190)
= 0,35 (ou 35%)

210/400 M P(NÃO e M) = (210/400).(150/210)


NÃO 150/210
= 0,375 (ou 37,5%)

60/210
F P(NÃO e F) = (210/400).(60/210)
= 0,15 (ou 15%)




T ENTE FAZER
No espaço a seguir, faça um diagrama de árvore iniciando pela característica sexo.
Verifique que o conjunto dos resultados associados aos caminhos constitui o espaço
amostral já visto.

O diagrama de árvore tem todos os ramos e probabilidades associados ao


experimento de sortear um indivíduo da tabela inicialmente apresentada. Os
ramos iniciais, antes do “traço” vertical, representam eventos marginais da
tabela e as probabilidades também podem ser chamadas de marginais. Como
já havia sido visto na questão 2, P(NÃO) = (210/400) = 0,525. Como com
relação à OPINIÃO há somente duas possibilidades, podemos encontrar a
P(SIM) pelo complementar, ou seja, P(SIM) = 1 – P(NÃO) = 1 – 0,525 = 0,475
(= 190/400). Depois do “traço”, os eventos são considerados condicionais e
devem levar em conta a ocorrência antes do “traço”. Assim, o valor 50/190 é
P(M|SIM). O valor da probabilidade pedida na questão 6 é obtido diretamente
no último ramo após o traço, ou seja, P(F|NÃO) = 60/210 ≅ 0,286 (28,6%).
Ainda observando a árvore, vemos que ao percorrer os caminhos, desde o
nó inicial, temos quatro resultados, SIM M, SIM F, NÃO M e NÃO F, cujas
probabilidades podem ser obtidas através do produto dos ramos correspon-
dentes. Na verdade, isso não é novidade, pois as relações vistas anteriormente
permitem fazê-lo, ou seja, cada probabilidade pode ser calculada pelo produ-
to entre uma probabilidade marginal e uma condicional. De fato, temos, por
exemplo, para cálculo de P(NÃO e F) o produto (210/400).(60/210) = 0,15
(ou 15%, valor já obtido como resposta à questão 4).

Veremos a seguir uma aplicação do diagrama de árvore para um problema


da área financeira.
Exemplo 4
(FUVEST 2000). Um investidor quer aplicar 120 mil reais. Seu corretor lhe
oferece um investimento em duas fases, com as seguintes regras:
I) Na primeira fase do investimento, ocorrerá um entre os dois eventos seguin-
tes: com probabilidade p, o investidor ganha metade do que investiu; com
probabilidade (1-p), o investidor perde 1/3 do que investiu.


 

II) Na segunda fase do investimento, a quantia final da primeira fase será


reinvestida, de forma independente da primeira fase. Neste novo investimen-
to, ocorrerá um dentre os dois eventos seguintes: com probabilidade 1/2, o
investidor ganha a quarta parte do que foi reinvestido; com probabilidade 1/2,
o investidor perde metade do que foi reinvestido.
a) Se o investidor aplicar seu dinheiro desta forma, com que valores pode
ficar ao término do investimento? Qual a probabilidade, em função de p, de
ficar com cada um desses valores?
b) Uma revista especializada informa que, neste investimento, a probabilida-
de de perder dinheiro é de 70%. Admitindo como correta a informação da
revista, calcule p.
Vamos resolver esse problema aplicando o diagrama de árvore:

Quantia inicial: R$ 120.000,00

225.000 Ganha: (1/2)p


1/2

180.000
1/2
90.000 Perde: (1/2)p
p

(1-p)
100.000 Ganha: (1/2)p (1-p)
80.000 1/2

1/2
40.000 Perde: (1/2)p (1-p)

Observação: A premissa de que a segunda fase é independente da primeira


fase permite colocar na segunda parte dos ramos os valores 1/2 e 1/2 direta-
mente.

Resposta:
a) O investidor pode ficar com qualquer dos seguintes valores (e respectivas
probabilidades): R$ 225 000,00 [(½)p], R$ 90 000,00 [(½)p], R$ 100 000,00
[½(1-p)] ou R$ 40 000,00 [½(1-p)].
b) Levando em conta as quatro possibilidades, o investidor só não perde na
primeira delas. Como, segundo a revista, a probabilidade de perder é de 70%,
a probabilidade de não perder (complementar!) é de 30% e temos então que
(½) p = 0,30. Portanto p = 0,60.
Outra maneira de chegar a este resultado é igualar a probabilidade de
perder a 70%, ou seja,

P(perder) = [(½)p+ (½)(1-p)+( ½)(1-p)] = 0,70,

o que produz o resultado p = 0,60 (confira!).




Os exemplos analisados neste tópico de probabilidades procuraram dar


sentido aos conceitos, através de esquemas simples quer seja com tabelas ou
através de diagramas de árvore, sempre no contexto discreto. No entanto,
para experimentos mais sofisticados, ainda no âmbito do discreto, por exem-
plo, o caso em que o número de ramos se torna proibitivo, temos que recorrer
a técnicas de contagem para o cálculo de probabilidades e a área de análise
combinatória, que será desenvolvida na próxima seção, fornecerá elementos
para que esses cálculos sejam facilitados. O leitor, interessado em probabili-
dades associadas a experimentos em que a característica medida é contínua,
achará material nas referências bibliográficas.
A seguir, temos um resumo dos principais resultados descritos nesta seção
para eventos genéricos A e B (associados a um espaço amostral S).

Probabilidade da União
U
P(A ou B) = P(AU B) = P(A) +P(B) – P(A B)

Probabilidade Condicional
P(A | B) = P(A B) / P(B) para P (B) ≠ 0
U

Probabilidade Conjunta
U
P(A B) = P(A|B) . P(B) = P(B|A) . P(A)

Se A e B são independentes então


U
P(A B) = P(A) . P(B)


Unidade 3

Combinatória*
Organizadores
Antônio Carlos
Brolezzi
Qual é a chance de se ganhar na Loto ou na Mega-Sena? E na Loteria Elvia Mureb
Esportiva? Calcular a probabilidade de se ganhar num jogo de azar passa Sallum
muitas vezes por conhecer todos os elementos com os quais se está lidando e Martha S.
depois quais desses são os elementos “ganhadores”. Por exemplo, se uma Monteiro
moeda é lançada duas vezes, sucessivamente, temos quatro possíveis resulta-
dos: (cara, cara), (coroa, cara), (cara, coroa) e (coroa, coroa). Se “ganhamos” Elaboradora
quando obtivermos exatamente duas caras, então, se a moeda for honesta, só Cristina Cerri
temos uma chance em quatro de ganhar. Neste caso foi fácil contar quantos
são os casos possíveis (espaço amostral) e quantos são os (eventos) favorá-
veis. E se fossem 50 lançamentos? E no caso de jogos como da Loto ou da
Mega-Sena, quantas são todas as combinações possíveis de números?
Assim, para a resolução de problemas desse tipo, é essencial conhecer a
quantidade de elementos de determinados conjuntos, sem ter que, efetiva-
mente, listá-los e contá-los. Em outras situações concretas também é necessá-
rio saber o número de elementos de determinados conjuntos.

Quantos carros podem ser lacrados na cidade de


São Paulo com placas com 3 letras e 4 algarismos?

Problemas relacionados à contagem de elementos de um conjunto são trata-


dos numa área da matemática conhecida como Análise Combinatória, ou ape-
nas Combinatória. O estudo de problemas desse tipo é muito antigo e chamou
a atenção de muitos matemáticos importantes como L. Euler (1707-1783) e B.
Pascal (1625-1662), entre outros. Essa área tem tido um grande crescimento
nas últimas décadas, devido ao desenvolvimento da ciência da computação.
Problemas de enumeração (contagem) aparecem com muita freqüência em
teoria dos grafos, em análise de algoritmos etc. Muitos problemas importan-
tes podem ser modelados matematicamente usando a teoria dos grafos (pro-
blemas de pesquisa operacional, de armazenamento de informações em ban-
cos de dados nos computadores e também problemas matemáticos teóricos,
como o famoso problema das 4 cores, que veremos mais adiante).
O nosso principal objetivo aqui será o de estudar algumas técnicas e con-
ceitos que permitam a contagem de certos tipos de conjuntos finitos. Veremos
*Parcialmente baseado no material de Cerri, C.; Druck, I. F. e Pereira, A. L. Combinatória Sem Fórmulas,
do Projeto Pró-Ciências da Fapesp (2002) e do Projeto PEC-Construindo Sempre-PEB II, USP-SEE
(2003).


que muitos problemas de contagem podem ser tratados usando apenas alguns
princípios básicos. Vamos enfatizar a compreensão plena do problema trata-
do e o reconhecimento da técnica adequada em cada caso, não as fórmulas,
que são muito úteis, mas resolvem apenas tipos especiais de problemas.
Vamos começar discutindo um problema simples de contagem. Em um car-
dápio de um restaurante italiano estão listados 5 tipos de massas e 7 tipos de
molhos distintos. Quantos pedidos distintos podem ser feitos? É fácil obter a
resposta: 35. Foi utilizado um princípio básico de contagem: para cada tipo de
massa escolhida tem-se 7 molhos diferentes para escolher, e assim, temos 5 x 7
diferentes pratos.
Vamos retomar o problema das placas de carros na cidade de São Paulo.
Quantas placas de automóveis podem ser formadas usando-se três letras (in-
clusive K, Y e W) e quatro algarismos? Veja o esquema abaixo de uma placa
de automóvel:
1a 2a 3a 1o 2o 3o 4o
letra letra letra algarismo algarismo algarismo algarismo

Para formar uma placa, temos que escolher uma letra entre 26 para colo-
car na primeira posição. Escolhida essa letra, temos 26 escolhas possíveis
para a segunda posição. Então temos 26 x 26 = 676 possibilidades de preen-
chimento das duas primeiras letras da placa. Mas ainda temos que preencher
mais uma casa com uma letra. Assim podemos ter 26 x 26 x 26 = 17.576
maneiras de preencher a placa com 3 letras. Falta ainda colocar os 4 algaris-
mos. Em cada posição temos 10 escolhas de algarismos. Então temos 10 x 10
x 10 x 10 x 10 = 10.000 possibilidades. Portanto, no total teremos 175.760.000
placas. Como para cada carro temos apenas uma placa, esta é a quantidade de
carros que podem ser lacrados na cidade de São Paulo!
Neste caso, esta técnica de efetuar a contagem foi eficiente.
T ENTE FAZER
Você fará um exame cuja prova é composta de 10 questões de múltipla escolha com 5
alternativas por questão cada uma. Quantos são os gabaritos possíveis?

Vejamos mais um exemplo.


Uma bandeira é formada por quatro listras que
devem ser coloridas com até 4 cores, por exemplo,
amarelo, vermelho, branco e preto, não devendo
ter listras adjacentes com a mesma cor. De quantos
modos a bandeira pode ser colorida?
Podemos pintar a primeira listra com 4 cores
diferentes e a segunda listra com 3 cores. Mas 3
cores podem ser usadas para pintar a terceira listra, 1a 2a 3a 4a
pois pode-se repetir a cor usada na primeira listra.
listra listra listra listra
E finalmente podemos usar 3 cores para pintar a
quarta listra. Portanto temos 4 x 3 x 3 x 3 = 108
bandeiras diferentes.
Nos problemas acima, usamos um princípio
básico de contagem que pode ser escrito, na forma
geral, da seguinte maneira.


 

Princípio da Multiplicação
Se uma decisão d1 pode ser tomada de p1 maneiras e se, uma vez tomada a decisão d1 , a
decisão d2 puder ser tomada de p2 maneiras, então o número de maneiras de se tomarem
as decisões d1 e d2 é p1 x p2 maneiras.

Facilmente, o princípio acima pode ser generalizado para uma quantidade


finita de decisões.
Agora, usando o princípio da multiplicação, resolva alguns problemas de
contagem.
TENTE FAZER
Em uma estante existem 5 livros em espanhol, 6 em francês e 3 em inglês. De quantas
maneiras posso escolher 2 livros sem escolher dois da mesma língua?

TENTE FAZER
- Quantos números naturais de 3 algarismos distintos existem? (Preste atenção: as
decisões envolvidas podem ser tomadas em várias ordens. Qual é a mais conveniente?)
- Quantos números naturais pares de 3 algarismos distintos existem? (Qual a dificuldade
maior deste problema?)

Um outro princípio elementar de contagem diz respeito ao número de


elementos da união de conjuntos.
Princípio da Adição
Se A e B são dois conjuntos disjuntos, com p e q elementos respectivamente, então
A U B possui p+q elementos.
Um problema de contagem muito interessante é o seguinte: ao se colorir
um mapa, pode-se usar a mesma cor mais de uma vez, desde que dois países
que têm fronteira comum sejam pintados de cores diferentes. Usando no má-
ximo 4 cores, de quantas maneiras se pode colorir um mapa formado pelos
seguintes países: Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai? E um mapa formado
por Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile? E pelos países Brasil, Ar-
gentina, Paraguai e Bolívia?
Usando no máximo 3 cores, seria possível pintar um mapa formado pelos
países Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai? E o mapa formado por Brasil,
Argentina, Paraguai e Bolívia?

O Problema das 4 Cores


Cores.
Na resolução do problema anterior, você percebeu que, em alguns casos, não se pode usar
menos de 4 cores para pintar um determinado mapa. Mas, fazendo alguns testes, percebe-se
que é possível pintar vários mapas com até 4 cores. Será possível pintar qualquer mapa com
até 4 cores? Este atraente problema pode ser formulado matematicamente, já que “mapas”
não deixam de ser subdivisões do plano que não se sobrepõem. O Problema das 4 Cores,
como é conhecido hoje, foi proposto pela primeira vez em 1852, por Francis Guthrie. Contudo,
só foi publicado em 1878, após ter sido estudado por vários matemáticos da época. Em 1879,
Kempe apresentou a primeira “demonstração” da conjectura, cujo erro foi descoberto por
Heawood, que provou que o resultado era verdadeiro para 5 cores. Finalmente, depois de
muitos anos e esforços, o resultado foi provado em 1977 por K. Appel e W. Haken. Porém, a demonstração fez uso de
mais de 1200 horas de processamento (isso mesmo, computador!), o que provocou grandes discussões sobre a
validade da prova. Recentemente, em 1997, N. Robertson, D. Sanders, P. Seymour e R. Thomas encontraram uma
resolução mais simples, mas ainda dependente do auxílio de computadores.




O problema das 4 cores é um típico problema de Teoria dos Grafos. Um


“grafo” é um tipo de diagrama com vértices e linhas. Podemos fazer um es-
quema do problema das 4 cores usando um diagrama do tipo,

onde cada vértice é um país. Uma linha ligando os vértices significa que os
países têm fronteiras em comum. Um outro problema fascinante deste tipo é o
Problema das Sete Pontes de Königsberg, que foi resolvido por L. Euler em
1735. Como este é um assunto bastante vasto, não o discutiremos aqui. Se
você ficou interessado, leia sobre o problema na Revista do Professor de Ma-
temática (Alguns problemas clássico sobre grafos, n. 12, 1988) ou no site
http://www.prof2000.pt/users/agnelo/pontesh.htm.
Voltemos aos problemas de contagem.
T ENTE FAZER
- De quantos modos 3 pessoas podem se sentar em 5 cadeiras em fila? (Resposta 60)
- Quantos números de quatro dígitos são maiores que 2400 e
(a) têm todos os dígitos diferentes? (Resposta 3864)
(b) não têm dígitos iguais a 3, 5 ou 6? (Resposta 1567)
(c) satisfazem às duas condições acima simultaneamente? (Resposta 560)
- Quantos subconjuntos possuem um conjunto de n elementos? (Resposta 2n)
Discuta com seus colegas o raciocínio usado em cada resolução, pois às vezes obtém-se
a resposta correta por métodos incorretos.

Vamos fazer algumas generalizações. Consideremos n objetos distintos. De


quantas maneiras n objetos diferentes podem ser ordenados? De quantas for-
mas podemos permutá-los? A resposta é fácil agora: n(n-1).(n-2)...3.2.1=n! Se,
por outro lado, desejamos saber de quantos modos podemos ordenar m objetos
n!
dentre os n, logo m ≤ n, a resposta é de n( n − 1) ⋅ ( n − 2)...( n − m + 1) =
( n − m)!
maneiras.

ELIMINANDO REPETIÇÕES
Vamos ver agora outros tipos de problemas de contagem.
Quantas comissões de 4 alunos podem ser formadas numa classe de 7
alunos?
Para o primeiro lugar da comissão temos 7 escolhas, para o segundo lugar
6 escolhas, para o terceiro lugar 5 escolhas e para o quarto lugar 4 escolhas, o
que nos dá, pelo princípio da multiplicação, 7.6.5.4 = 840 escolhas de 4 alu-
nos. Entretanto, 840 não é a quantidade total de comissões! Note que a co-
missão formada pelos alunos A, B, C e D é a mesma daquela formada por B,
D, C e A. Precisamos saber quantas vezes cada comissão foi contada repe-
tidamente. Fixemos 4 alunos (uma comissão). De quantas maneiras podemos
formá-la? Chamando um aluno por vez, para a primeira chamada temos 4
opções, para a segunda 3, para a terceira 2 e para a quarta apenas 1. Logo


 

podemos chamar os alunos de 4.3.2.1=24 maneiras diferentes. Assim temos


que, das 840 escolhas, cada grupo de 24 representa a mesma comissão. Portanto,
840
o total de comissões será de = 35.
24
A seguir, vamos ver outra situação onde se deve usar a divisão para elimi-
nar repetições e efetuar a contagem.
Um anagrama é um código formado pela permutação das letras de uma
palavra, podendo ou não originar palavras com significado.

Quantos são os anagramas da palavra CASA?


Se as 4 letras fossem distintas então teríamos 4! = 24 anagramas. Neste
caso, estamos pensando que A C S A é diferente de A C S A. Só que temos a
mesma palavra A C S A. Assim, como cada anagrama foi contado duas vezes
4!
(que é o número de permutações dos dois A’s) temos na verdade = 12 anagra-
mas diferentes. 2 !

Quantos são os anagramas da palavra MATEMATICA?


Se as 10 letras fossem todas diferentes, uma aplicação simples do princí-
pio da multiplicação forneceria 10! anagramas. Entretanto, podemos permu-
tar os 2 T’s, os 2 M’s e, ignorando o acento, também os 2 A’s. Isso significa que
10 !
cada anagrama está sendo contado 2!2!3! vezes. Portanto, existem
anagramas distintos. 2 ! 2 !3!

Vamos analisar mais uma situação.


Qual é o número de rodas de ciranda distintas que
podem ser formadas com 6 crianças?
Temos certamente 6! filas de crianças. Entretanto, quan-
do organizadas em um círculo, duas filas formam a mesma
roda de ciranda se houver coincidência das crianças após
uma rotação de uma das rodas (ver o diagrama a seguir).
Podíamos dizer que tais filas são “equivalentes”.
Dessa forma, 6 filas distintas originam
uma mesma roda de ciranda. Portanto, o
6!
número de rodas de ciranda é = 5!
6

Em cada situação anterior, a divisão foi utilizada aqui para eliminar as


repetições. Identificando os elementos que são “iguais” podemos, usando a
divisão, eliminá-los da contagem.
Examinando mais detalhadamente os últimos exemplos, percebemos que
podemos dar um tratamento mais geral para situações onde a divisão é usada
para eliminar repetições em problemas de contagem.
Considere a seguinte situação: um conjunto A contém elementos de diver-
sos tipos distintos, digamos, tipo 1, tipo 2, tipo 3, ... tipo k. Se o número de
elementos de cada tipo é nk, então o número total de elementos de A é (n1 + n2
+...+ nk), ou seja, a soma do número de elementos de cada tipo. Em particular,
se o número de elementos de cada tipo é sempre igual a m, então o número de
elementos de A é obviamente k.m.




Agora, se o número total n de elementos de A e o número m de objetos de


m
cada tipo são conhecidos, então o número de tipos distintos é k = . Ocorre
n
que, como nos exemplos anteriores, em muitas situações, estamos interessa-
dos em calcular o número de tipos de elementos distintos.
Agora, usando este novo “princípio” e tudo que já discutimos, você certa-
mente poderá resolver mais problemas de contagem.
T ENTE FAZER
- Em uma classe de 15 alunos, quantas filas formada por 7 alunos podem ser formadas?
E quantas comissões?
- Se o conjunto C possui 9 elementos, quantos são os subconjuntos de C com 4 elementos?
T ENTE FAZER
Uma comissão formada por 3 homens e 3 mulheres deve ser escolhida em um grupo de
8 homens e 5 mulheres. Quantas comissões podem ser formadas? (Resposta 560)
Qual seria a resposta se um dos homens não aceitasse participar da comissão se nela
estivesse determinada mulher? (Resposta 434)
T ENTE FAZER
De quantos modos 9 crianças podem formar uma roda de ciranda de modo que duas
dessas crianças permaneçam juntas? (Resposta 2!.7!)
E de modo que 4 dessas crianças permaneçam juntas? (Resposta 3!.5!)

FAZENDO GENERALIZAÇÕES
Do que discutimos até aqui podemos ver que alguns problemas de contagem
são muito semelhantes e envolvem sempre o mesmo tipo de raciocínio e cálculo.
Numa escolha de m objetos dentre n objetos distintos, no qual m < n, a
ordem em que fazemos a escolha determina objetos diferentes. Em todas essas
situações, o número de escolhas possíveis é n(n-1).(n-2)...(n-m+1). Por serem
muito freqüentes recebem um nome especial: arranjo simples de m elementos
em n, ou como é mais comum, arranjo de n elementos tomados m a m. Uma
notação bastante usada para indicar esse resultado é
n!
Anm =
( n − m)!
Em outras situações, temos que fazer uma escolha de m objetos dentre n
objetos, onde m < n, e a ordem em que fazemos a escolha não determina obje-
tos diferentes. Se a ordem fosse relevante, obteríamos n(n-1).(n-2)...(n-m+1)
coleções de objetos. Só que essa quantidade de coleções é maior do que a
correta, já que as coleções estão sendo contadas várias vezes. Para eliminar
essas repetições usamos, então, a divisão, como nos exemplos vistos anterior-
mente. O número de coleções é:
n( n − 1) ⋅ ( n − 2)...( n − m + 1)
m( m − 1) ⋅ ( m − 2)...2 ⋅1
Como também essa situação é bastante comum, ela recebe um nome espe-
cial: combinação simples de m elementos em n, ou ainda, combinação de n
elementos tomados m a m. E o resultado é denotado por
n! n 
Cnm = = 
m !( n − m)!  m


 

Apesar dos problemas anteriores aparecerem com freqüência, a ponto de terem um


nome especial (e uma fórmula), os problemas de contagem não são, em geral, do tipo
arranjo ou combinação. Por isso, quando se deparar com um problema de contagem,
não se preocupe de imediato em qual fórmula usar. Em geral, muita engenhosidade e
várias fórmulas serão utilizadas para resolvê-los.

DESAFIOS
Vamos propor alguns problemas de contagem de diferentes graus de difi-
culdade. Ao tentar resolvê-los, lembre-se: problemas de aparência simples
podem ser difíceis. Para resolvê-los procure fazer uma representação. Lem-
bre-se que o objetivo é o de contar o número de objetos de uma certa classe.
Tente identificar precisamente quando um objeto pertence à classe e quando
dois deles devem ser considerados distintos. Examine quantas decisões você
deve tomar para executar a contagem.
Caso ainda não esteja claro como proceder, tente outras estratégias. Tente
dividir em subcasos que você saiba resolver. Pode ser útil “esquecer” algumas
das condições exigidas para que um objeto pertença à coleção. Isso, em geral,
dará origem a uma classe maior que a desejada. É necessário, portanto, ex-
cluir posteriormente os objetos “indesejados”. Depois que, aparentemente, o
problema foi resolvido, repense na sua solução, veja se você não está contan-
do alguns casos mais de uma vez ou está se esquecendo de algum.
1. No quadro abaixo, de quantos modos é possível formar a palavra MATEMATICA,
partindo de M e indo sempre para a direita ou para baixo?
M
M A
M A T
M A T E
M A T E M
M A T E M A
M A T E M A T
M A T E M A T I
M A T E M A T I C
M A T E M A T I C A

2. Um vagão de metrô tem 10 bancos individuais, sendo 5 de frente e 5 de


costas. De 10 passageiros, 4 preferem sentar de frente, 3 preferem sentar de
costas e os demais não têm preferência. De quantas maneiras os passageiros
podem sentar, respeitando as preferências? (Resposta 43200)
3. Quantos números inteiros entre 100 e 999 são ímpares e possuem três dígi-
tos distintos? (Resposta 320).

O TRIÂNGULO DE PASCAL
Num jogo de moedas, jogam-se 4 moedas simultaneamente. Se o vence-
dor for o que conseguir obter exatamente 3 caras e 1 coroa, quantas são as
possíveis combinações ganhadoras?




Vamos denotar por K a face “cara” da moeda e por C a face “coroa”.


Assim, temos KKKC, KKCK, KCKK e CKKK combinações vencedoras. Na
verdade, já vimos este tipo de problema: esta é a quantidade de anagramas
4!
formados por KKKC. Assim, temos exatamente = 4 combinações. Mas se
3!
as combinações ganhadoras são as com exatamente 2 caras e 2 coroas? Neste
4!
caso são = 6 combinações. Note também que o número de combinações
2! 2!
com exatamente 3 coroas é também 4.
T ENTE FAZER
Num tipo de jogo, 5 moedas idênticas são lançadas simultaneamente. Cada jogador,
antes de jogar as moedas, declara qual o número exato de caras e coroas que vai obter.
Ganha aquele que acertar o resultado. Qual das combinações é a melhor escolha?

Você já notou que se n é o número de moedas a serem jogadas e se m é o


número de caras (ou coroas) que se deseja, então o número de combinações
“vencedoras” é exatamente:
n! n 
Cnm = = 
m !( n − m)!  m
É claro que se m é o número de caras (ou coroas), então n-m é o número
de coroas (ou caras) e assim temos facilmente que,
n  n!  n 
Cmm =   = = = Cnn − m
 m m !( m − n)!  n − m
Esses números aparecem em muitas situações e possuem várias relações
surpreendentes. Tais relações foram observadas por vários matemáticos como
o árabe Al-Karaji (fins do século X) e Niccoló Fontana de Brescia, conhecido
por Tartaglia (1499-1557).
Colocando os valores acima na forma de triângulo e convencionando que 0! = 1,
temos:
 0
 0

1  1
 0 1

 2  2  2
 0 1   2

 3  3  3  3
 0 1   2  3

 4  4  4  4  4
 0 1   2  3   4

 5  5  5  5  5  5
 0 1   2  3  4  5

 6  6  6  6  6  6  6
 0 1   2  3  4  5  6


 

Foi B. Pascal (1623-1662) quem popularizou este “triângulo” quando pu-


blicou, em 1654, um tratado mostrando a relação dos coeficientes de (a+b)n
com os valores que aparecem nas linhas do triângulo. Apesar de ser conheci-
do antes, o triângulo aritmético passou a ser conhecido como o Triângulo de
Pascal.
Calculando os valores em cada linha e coluna, temos:

Triângulo de Pascal
1
1 1
1 2 1
1 3 3 1
1 4 6 4 1
1 5 10 10 5 1
1 6 15 20 15 6 1
1 7 21 35 32 21 7 1
... ...

Note algumas propriedades interessantes. Se selecionarmos uma linha n


qualquer e adicionamos ao elemento da coluna p o elemento da coluna p+1 o
resultado está na (n+1)-linha e (p+1)-coluna. Veja neste exemplo.

1 3 + 3 1

1 4 6 4 1

Esta relação é também conhecida como a Relação de Stifel1.


TENTE FAZER
Mostre que, de fato, vale sempre que
 n   n   n +1 
Cnm + Cnm +1 =   +   +  = Cnm++11
 m  n + 2  m + 1

Retornemos ao jogo de moedas. Sabemos que quando lançamos n moe-


das, o número total de resultados possíveis é 2n. Vimos que cada combinação
de m caras (ou coroas) aparece Cnm vezes. Portanto, somando-se todas as com-
binações temos que:
 n  n  n  n
Cn0 + Cn1 + Cn2 + ... + Cnn =   +   +   + ... +   = 2n
 0 1   2  n
Vamos agora representar os resultados dos lançamentos das moedas de
outra maneira.

1. Michael Stifel (1486-1567) é considerado como o maior algebrista alemão do século XVI.




Se jogarmos 2 moedas, temos 4 resultados possíveis. Se usarmos o símbo-


lo de soma e a propriedade distributiva, todas as combinações possíveis po-
dem ser representadas por:

KK + KC + CK + CC = (K + C) (K + C)

Mas neste jogo, KC = CK, isto é, ambas são combinações “vencedoras”.


Então:

KK + 2KC + CC = (K + C) (K + C)

No caso de jogarmos 3 moedas, sabemos que existem 8 possíveis resulta-


dos, mas as combinações KKC, KCK e CKK são “iguais” para o nosso propó-
sito. Assim também são “iguais” as combinações: CCK, CKC, KCC. Portanto:

KKK + 3 KKC + 3 KCC+ CCC = (K + C) (K + C) (K + C)

Podemos ainda simplificar a notação e escrever as seqüências de K ou C


na forma de potência. Por exemplo, escrevemos KKK da forma K3.
Assim:

K3 + 3 K2 C + 3 KC 2+ C 3 = (K + C)3

Mas isso pode ser feito sempre. Se jogarmos n moedas e se as combina-


ções que têm o mesmo número de K (caras) e C (coroas) são identificadas, ou
n 
seja, são “iguais”, então cada combinação aparece
 m vezes. Portanto, em
geral, temos que:

 n  n  n  n   n
( K + C ) n =   K n +   K n −1C +   K n −1C 2 + ... +   KC n −1 +   C n
 0 1   2  n − 1  n

Esta é a conhecida fórmula do Binômio de Newton. Isaac Newton (1642-


1727) mostrou como desenvolver expressões do tipo (a+b)r, com r racional, e
assim a fórmula acabou sendo conhecida com o seu nome. Contudo, o desen-
volvimento de uma expressão do tipo (a+b)n já era conhecida e usada antes.
T ENTE FAZER
Usando o desenvolvimento acima, dê uma expressão para (1+x)n

Observe que as linhas do Triângulo de Pascal são os coeficientes da ex-


pressão do binômio.
T ENTE FAZER
Qual é o coeficiente do termo a11b6 no desenvolvimento (a+b)17 ?

Há muito mais a ser explorado no Triângulo de Pascal. As relações numé-


ricas que aparecem surpreendem. Convidamos você a ler mais sobre isso em
[MORGADO] (ver referência). Você certamente ficará impressionado.


 

Bibliografia
BUSSAB, W.O.; MORETTIN, P. A. Estatística Básica. São Paulo: ed. Saraiva,
2002.
CARNEIRO, V.C. Colorindo Mapas. Revista do Professor de Matemática. São
Paulo: SBM, n. 29, 31-35, 1995.
CERRI, C.; DRUCK, I. F.; PEREIRA, A. L. Combinatória Sem Fórmulas. Pro-
jeto Pró-Ciências, São Paulo: Fapesp, 2002.
CERRI, C.; DRUCK, I .F. Combinatória Sem Fórmulas. Projeto PEC – Cons-
truindo Sempre – PEB II, São Paulo: USP-SEE, 2003.
EVES, H. Introdução à História da Matemática.3. ed. Tradução de H.
Domingues. Campinas: ed. Unicamp, 2002.
IEZZI, G. et al. Matemática: Ciência e Aplicações., v. 1, 2 e 3. São Paulo: ed.
Atual, 2001.
MAGALHÃES, M. N.; LIMA, A. C. P. Noções de Probabilidade e Estatística.
São Paulo: Edusp, 2004.
MACHADO, A. S. Matemática na escola do segundo grau. vol 1, 2 e 3. São
Paulo: ed. Atual, 1996.
MORGADO et al. Análise Combinatória e Probabilidades. Rio de Janeiro:
SBM, 1991.
PAIVA, M. Matemática.2. ed. vol 1, 2 e 3. São Paulo: ed. Moderna, 2003.

Sobre os autores
Cristina Cerri
Docente do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, fez Licen-
ciatura e Mestrado em Matemática na USP. Seu doutorado, na área de Análise
Funcional, foi realizado na USP e na University of New Mexico nos EUA.
Participa de projetos de capacitação e atualização de professores e foi coorde-
nadora da área de Matemática do Programa Construindo Sempre USP-SEESP.

Lisbeth K. Cordani
Licenciada e bacharela em Matemática (USP), mestra em Estatística (USP)
e doutora em Educação (USP). Docente (aposentada) do IME-USP, atualmen-
te é professora titular do CEUN-IMT. Tem oferecido oficinas de Estatística e
participado de projetos para professores universitários e do Ensino Médio.


Anotações
Anotações
Anotações
Anotações
Anotações
Matemática
Geometria Plana

Organizadores
Antônio Carlos Brolezzi
Elvia Mureb Sallum
Martha S. Monteiro
Elaboradoras
Cláudia Cueva Candido
Maria Elisa Esteves Lopes Galvão
3
módulo

Nome do Aluno
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador: Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP
Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor: Adolpho José Melfi
Pró-Reitora de Graduação
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE


Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área
Biologia:
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori
Física:
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta
Geografia:
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins
História:
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer
Língua Inglesa:
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór
Língua Portuguesa:
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto
Matemática:
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro
Química:
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan
Produção Editorial
Dreampix Comunicação
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro
Cartas ao
Aluno
Carta da
Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão.
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer
situação de vida e de trabalho.
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor
para o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.


Pró-Reitora de Graduação.
Carta da
Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno,
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa
da educação básica.
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente
construído para esse fim.
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva


Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Apresentação
da área
[...] a Matemática procura compreender os modelos que permeiam o mundo que
nos rodeia assim como a mente dentro de nós. […] Assim é necessário colocar a
ênfase:
— em procurar soluções e não apenas em memorizar procedimentos;
— em explorar modelos e não apenas em memorizar fórmulas;
— em formular conjecturas e não apenas em fazer exercícios.
[...] com essas ênfases, os estudantes terão a oportunidade de estudar a Matemá-
tica como uma disciplina exploradora, dinâmica, que se desenvolve, em lugar de ser
uma disciplina que tem um corpo rígido, absoluto, fechado, cheio de regras que
precisam ser memorizadas.
Shoenfeld (1992)1
Este curso de Matemática com duração de 4 meses está sendo oferecido a
alunos do último ano do ensino médio da rede pública como um incentivo
para continuarem seus estudos em direção ao ensino superior. Embora não
cubra todo o programa do ensino médio, pretende-se estimular o interesse dos
alunos pelos diversos temas de Matemática por meio de abordagens variadas.
Serão estudados tópicos sobre Números, Estatística, Probabilidade e Aná-
lise Combinatória, Geometria Plana e Espacial, Geometria Analítica, Sistemas
Lineares e Funções, privilegiando o entendimento das possíveis facetas de
um mesmo assunto, a análise de resultados obtidos e a interligação entre os
diversos conteúdos.
Escolhas foram feitas de modo a priorizar sua formação, a discussão de
idéias e a percepção de que a Matemática é uma disciplina viva que pode ser
construída, e não um amontoado de fórmulas prontas para serem decoradas e
usadas. Lembrando que realmente aprendemos quando trabalhamos o conhe-
cimento, analisando-o de várias maneiras e usando-o com critério, considera-
remos, sempre que possível, aplicações em problemas reais e interdisciplinares.
Acreditando que o intercâmbio entre vocês, alunos do ensino médio, e os
alunos da USP, que serão os seus professores, venha a aumentar a sua predis-
posição para o ensino superior, desejamos a todos bons estudos!

Coordenação da área de Matemática

1
SCHOENFELD A. H. “Learning to think mathematically: Problem solving, metacognition and sense
making in mathematics”. In: D. A. Grouws (Ed.). Handbook of research on mathematicas teaching and
learning. p. 334-370. Nova Iorque: MacMillan, 1992.
Apresentação
do módulo
A Geometria foi desenvolvida a partir da necessidade de medir ter-
ras, construir casas, templos e monumentos, navegar, calcular distâncias.
Através dos tempos, os seus registros estão presentes nos legados de
todas as civilizações: babilônios, egípcios, gregos, chineses, romanos,
hindus, árabes utilizaram as formas geométricas no seu dia-a-dia.
Os conceitos, propriedades e resultados que estudaremos são muito
antigos, começaram a adquirir a forma que os conhecemos hoje com as
investigações de Tales, que viveu por volta de 600 anos antes de Cristo,
ganharam força nas escolas de Pitágoras, Aristóteles e Platão, e foram
organizados, pela primeira vez, por Euclides, um matemático da escola
de Alexandria que viveu por volta de 300 anos antes de Cristo. Por essa
razão, a Geometria que estudaremos, muito freqüentemente denominada de “Ge-
ometria Euclidiana“, foi aperfeiçoada pelos sucessores de Euclides e, até o ano
500 da era cristã, já tinha sua forma atual.
Nesse jogo fascinante, desafiador e já muito antigo, as peças são os pontos, as
retas, os planos e os muitos objetos geométricos que podemos definir a partir de-
les. A régua e o compasso sempre foram os instrumentos utilizados na construção
das figuras que os representam. Como tais estarão presentes em nossas atividades,
sendo também possível substitui-los, nos dias de hoje, por recursos computacionais
desenvolvidos para esse fim. As regras do jogo geométrico são dadas pelos cha-
mados Postulados da Geometria e, a partir dessas regras, com o uso da lógica
dedutiva, são provadas as proposições e os teoremas que vão estabelecendo as
propriedades das figuras geométricas que utilizamos freqüentemente.
Os padrões da natureza e suas simetrias e muitos problemas práticos do nos-
so cotidiano podem ser traduzidos e transformados num diagrama geométrico. A
análise e interpretação desse modelo trazem um melhor entendimento, novas
informações ou respostas para o problema original, e constituem a rotina de tra-
balho quando estudamos Geometria.
O estudo dos principais tópicos de Geometria se fará em três etapas, que
compreenderão a Geometria Plana, a Geometria Espacial e a Geometria Analíti-
ca. A Geometria Plana será desenvolvida com base em dois conceitos fundamen-
tais, que vemos exemplificados na ilustração acima: temos uma figura geométri-
ca que aparece repetidas vezes, em diferentes posições, ampliada ou reduzida. A
congruência é ilustrada pelos pares que diferem somente pela posição, e que
podem ser superpostos; já a semelhança é exemplificada pelos pares que se rela-
cionam por uma ampliação ou uma redução. Sobre esses dois pilares vamos
construir o conhecimento geométrico necessário para o estudo da Geometria
Espacial e da Geometria Analítica.
Notações e Definições

A linguagem matemática da Geometria Euclidiana Plana ou Espacial é a


linguagem da chamada Teoria dos Conjuntos. Do ponto de vista da Teoria dos
Conjuntos, vamos considerar o plano (ou o espaço) como nosso Conjunto
Universo, cujos elementos chamaremos pontos. As retas serão subconjuntos
especiais desse conjunto universo.
Os pontos e retas de um plano também são chamados “elementos primi-
tivos” da nossa Geometria Plana.
Para denotar os pontos usaremos as letras maiúsculas: A, B, C...; para as
retas utilizaremos as letras minúsculas: a, b, c... Para os planos usaremos as
letras do alfabeto grego: α (alfa), β (beta), γ (gama), δ (delta)...
Para descrever as relações entre pontos retas e planos, os símbolos utiliza-
dos serão:
∈ - pertence
⊂ - está contido
⊃ - contém
∪ - reunião
∩ - intersecção
Diremos que:
- um ponto pertence à reta (e escreveremos, em linguagem simbólica: P ∈ r)
ou ao plano (em linguagem simbólica: P ∈ π); no primeiro caso, diremos
também a reta passa pelo ponto, e, no segundo, que o plano passa pelo
ponto.
- a reta está contida no plano (em linguagem simbólica: r ⊂ π) ou o plano
contém a reta (em linguagem simbólica: π ⊃ r);
- pontos de uma mesma reta são chamados pontos colineares.
Denotaremos por o conjunto dos números reais e admitiremos conhe-
cidas suas propriedades.
As relações entre pontos e retas de um plano que admitiremos são:
- Por dois pontos distintos passa uma única reta.
- Toda reta contém pelo menos dois pontos distintos.
- Existem, pelo menos, três pontos distintos não colineares.


Dados dois pontos distintos P e Q denotaremos por a reta determina-


da por P e Q.
Os resultados que utilizamos no estudo da geometria dos triângulos são
chamados de proposições ou teoremas, de acordo com sua importância. To-
dos eles podem ser demonstrados, tendo uma estruturação lógica adequada.
Para provar uma proposição ou um teorema precisamos inicialmente saber
distinguir:
- as chamadas hipóteses da proposição ou teorema, que são os fatos que
estamos admitindo como ponto de partida;
- a tese da proposição ou do teorema, que é a conclusão a qual queremos
chegar;
- a demonstração, que é o desenvolvimento lógico da argumentação que
nos permite, partindo das hipóteses, chegar à tese como conclusão do
raciocínio.
Como exemplos, temos:
Proposição 1. Duas retas distintas têm, no máximo, um ponto em comum.
Neste caso, teremos como hipótese o fato de serem dadas duas retas distin-
tas, e como tese o fato de que elas devem ter, no máximo, um ponto em comum.

Proposição 2. Existem, pelo menos, duas retas distintas passando por um


mesmo ponto.
Neste segundo caso, qual é a hipótese e qual é a tese?

Precisaremos também de definições que estabeleçam de forma precisa


quais propriedades devem ter os objetos com os quais vamos trabalhar.
Definição: duas retas cuja intersecção é um único ponto são chamadas con-
correntes; chamaremos paralelas duas retas distintas de um plano cuja inter-
secção é vazia.

Vamos também admitir que sabemos medir distâncias denotando PQ ou


d (P, Q) como a distância entre os pontos P e Q. Com a noção de distância,
podemos definir os objetos geométricos que nos interessam especialmente
para construir as figuras geométricas do nosso estudo.
No plano, o primeiro deles é a circunferência C com centro num ponto
O e raio R, formada pelo conjunto de pontos desse plano que estão à distân-
cia R do ponto O.

Definição: dados três pontos colineares A, B e C, diremos que B está entre A


e C e denotamos A – B – C (ou C – B – A) se AB + BC = AC .

Definição: chamamos segmento com extremos A e B e denotamos o con-


junto:
= {A, B }∪{C : A – C – B}


  -  

Definição: o comprimento de um segmento é o valor da distância AB


entre os pontos extremos A e B.
Diremos que dois segmentos e são congruentes ( ≅ ) se eles
têm o mesmo comprimento.
Observamos que, se dois segmentos são congruentes, podemos fazê-los
coincidir se os movimentamos adequadamente.

O ponto M que divide o segmento em dois segmentos congruentes, ou


seja,tal que A – M – B e AM = MB é chamado o ponto médio do segmento.

Definição: chamamos semi-reta fechada com origem A e passando pelo ponto


B e denotamos o conjunto:
= ∪ {C : A – B – C}
A semi-reta aberta com a mesma origem A exclui o ponto A.

Faça algumas figuras (use a régua e o compasso) para se convencer da


validade dos seguintes fatos:
Proposição. = ∪
Proposição (construção de segmentos). Dados um segmento e uma semi-
reta , existe exatamente um ponto E na semi-reta tal que ≅ .
Definição: um ângulo de vértice A é a reunião de duas semi-retas fechadas
com origem A não contidas em uma mesma reta.

Se e são as semi-retas, denotamos o ângulo de vértice A por ou


∠ BAC.
Para medir ângulos, assumiremos a existência de uma função medida de
ângulos, que corresponde a medir ângulos com o uso do transferidor. Usare-
mos a notação m ( ) ou m (∠BAC) para a medida do ângulo de vértice A.
Os valores dessa função ficam entre zero e um valor L que depende da
escala que adotamos. A medida fica entre 0o e 180o (se medimos os ângulos




em graus) ou 200 gr (medida do ângulo em grados) ou ainda L = π (medida do


ângulo em radianos, que será usada, futuramente, na Trigonometria). Escolhe-
remos o valor L = 180o, pois a escala em graus é a mais usual na Geometria.
Como no caso dos segmentos, diremos que dois ângulos são congruentes
se têm a mesma medida e denotamos ∠BAC ≅ ∠DEF.

Quando temos ângulos congruentes, também podemos fazê-los coincidir


através de um movimento.
Dois ângulos são chamados complementares se a soma de suas medidas
é 90o, e serão chamados suplementares se a soma de suas medidas é 180o.
Chamamos ângulo reto o ângulo cuja medida é 90o. Ângulos agudos são
aqueles cuja medida é menor que 90 o e ângulos obtusos são aqueles cuja
medida é maior que 90o.
Definição: ângulos opostos pelo vértice são ângulos cujos lados são semi-
retas opostas.

É fácil verificar que dois ângulos opostos pelo vértice são congruentes.
Definição: duas retas são perpendiculares se são concor-
rentes e se interceptam formando ângulos retos.

Definição: dados três pontos distintos e não colineares A, B e C, o triângulo


com vértices A, B e C é a reunião dos segmentos cujos extremos são esses três
pontos.
Denotaremos:

∆ABC = ∪ ∪
Os segmentos , e são chamados os lados do triângulo.
Denotaremos ∠BAC, ∠ABC e ∠ACB os ângulos correspondentes aos vér-
tices A, B e C, respectivamente. Temos, portanto, associados a um triângulo,
três segmentos e três ângulos.


  -  

Os triângulos têm denominações especiais se consideramos os compri-


mentos de seus lados. Se todos os lados de um triângulo são congruentes, o
triângulo é chamado eqüilátero; se dois dos lados são congruentes, o triângu-
lo é chamado isósceles, e se os três lados têm comprimentos distintos, o triân-
gulo é chamado escaleno.
Os triângulos também têm denominações especiais se consideramos as
medidas dos seus ângulos. Se todos os ângulos de um triângulo são congru-
entes, o triângulo é chamado eqüiângulo; se todos os seus ângulos são agu-
dos, temos um triângulo acutângulo, se um de seus ângulos é obtuso, o triân-
gulo é obtusângulo e o triângulo retângulo tem um ângulo reto.
No triângulo retângulo, os lados têm denominações especiais: a hipote-
nusa é o lado oposto ao ângulo reto, e os catetos são os lados adjacentes a ele.


Unidade 1

Congruência de
Triângulos
Organizadores
Antônio Carlos
Brolezzi
Elvia Mureb Sallum
Martha S. Monteiro
Elaboradora
Maria Elisa Esteves
Lopes Galvão
O estudo das congruências de triângulos é o primeiro passo de um estudo
mais geral que nos permite desenvolver o olhar e a técnica para identificar
padrões na natureza e construir figuras como as que vemos nas ilustrações.

Fonte: http://www.mathacademy.com/pr/minitext/escher/#tess

Para construir figuras que nos auxiliem a compreender os fatos da Geo-


metria, podemos utilizar a régua (com escala ou não), o compasso ou o trans-
feridor. Com o compasso podemos desenhar circunferências com raios iguais
à abertura do compasso e com o centro no ponto em que o fixamos. Podemos
escolher duas aberturas quaisquer e traçar circunferências com centros distin-
tos e que se encontram, conforme a figura abaixo.
Os centros (A e B) das circunferências e um dos pontos de
intersecção (C) determinam vértices de um triângulo ∆ABC.
As medidas dos lados e desse triângulo são as medi-
das dos raios das circunferências e a distância AB entre os seus
centros é a medida do terceiro lado, com extremos A e B .
Se repetirmos a construção com os mesmos dados (isto é,
circunferências com os mesmos raios e mantendo a mesma dis-
  -  

tância entre os seus centros) os vários triângulos obtidos podem ser compara-
dos. Verificaremos que não só os lados terão os mesmos comprimentos, mas
também os ângulos terão a mesma medida.

Essa experiência nos mostra que, se escolhermos adequadamente três com-


primentos AB, AC e BC, de forma que as circunferências se encontrem, pode-
mos construir um triângulo ∆ABC. A construção terá uma única solução, isto
é, todos os triângulos construídos podem ser superpostos se os movimentar-
mos adequadamente.
Vejamos agora o que acontece se formos construir um triângulo dados
dois lados e um ângulo. Quantos e como serão os triângulos assim construídos?

Observamos inicialmente que um dos lados dados sempre deverá estar


contido em um dos lados do ângulo.

Tales de M ilet
Milet o
ileto
(Ásia Menor) viveu entre
624 e 547 a.C. e é conside-
Temos duas possibilidades para o segundo lado dado; podemos escolhê- rado o primeiro filósofo
lo como: e matemático da escola
grega. Pouco se sabe so-
a) : contido no outro lado do ângulo b) : não contido no outro lado
bre sua vida, recuperada
do ângulo
a partir de referências
nos trabalhos de seus
sucessores, mas atribui-se
a ele a formulação dos
primeiros resultados da
Geometria.




No primeiro caso temos a solução para o problema da construção do triân-


gulo, e ela é única, a menos de movimentos no plano, e o lado BC fica deter-
minado.
No segundo caso, poderíamos não só ter duas soluções distintas C e C’,
como na figura acima, mas também poderíamos ter:
uma única solução ou não é possível construir um
triângulo,

dependendo da medida do segundo lado.


Se os elementos dados forem um lado e dois ângulos, vejamos as constru-
ções possíveis.

Primeiramente, vamos construir um triângulo de forma que os ângulos


tenham o lado dado como lado comum:

Pitágoras de
Samos Podemos verificar, construindo repetidamente, que, novamente, a menos
Viveu entre 569 e 475 a.C.
de movimentos no plano, teremos triângulos que podem ser superpostos.
e adquiriu seus conheci- Uma segunda possibilidade de construção será tomar um dos ângulos ad-
mentos nas viagens por jacentes ao lado dado e o outro, o ângulo oposto a esse lado. Essa construção
vários paises pelos quais é mais difícil de ser executada (depende da construção do chamado arco ca-
passou, pressionado pe-
paz de um segmento dado, que só veremos mais tarde), mas conduz a solu-
las mudanças políticas
ções que também são únicas a menos de movimentos:
provocadas pelas guerras
e invasões. Estabeleceu
as bases da chamada Es-
cola Pitagórica, uma so-
ciedade secreta que mui-
to contribuiu para o de-
senvolvimento da Mate-
mática de sua época.


  -  

Finalmente, se forem dados três ângulos, é fácil obter muitos triângulos


distintos, ou seja, nessa situação não temos unicidade de solução:

Dados dois triângulos ∆ABC e ∆DEF, para compará-los de forma mais


precisa, vamos descrever uma correspondência entre os respectivos vértices.

Diremos que os triângulos ∆ABC e ∆DEF são correspondentes e denota-


remos ∆ABC ↔ ∆DEF para estabelecermos que os pontos A, B e C
correspondem aos pontos D, E e F, respectivamente.
Uma correspondência entre dois triângulos nos dá naturalmente uma cor-
respondência entre seus ângulos e seus lados.
Na correspondência ∆ABC ↔ ∆DEF, temos:

↔ , ↔ e ↔
∠ABC ↔ ∠DEF, ∠BCA ↔ ∠EFD, ∠BAC ↔ ∠EDF
Como já vimos anteriormente, a congruência, em Geometria, está associa-
da à igualdade de medidas. Segmentos ou ângulos congruentes são aqueles
que têm a mesma medida. Intuitivamente, quando dois triângulos são congru-
entes, podemos, recortando ou movimentando seus modelos, colocá-los um
sobre o outro fazendo coincidir todos os seus lados e ângulos. Podemos dar a
definição:

Definição: dois triângulos correspondentes ∆ABC ↔ ∆DEF são congru-


entes se os seus lados e ângulos correspondentes são, respectivamente, con-
gruentes, ou seja, se temos: Euclides de
Alexandria
≅ , ≅ e ≅ ,
Supõe-se que tenha vi-
∠ABC ≅ ∠DEF, ∠BCA ≅ ∠EFD, ∠BAC ≅ ∠EDF. vido entre 325 e 265 a.C.,
escreveu a maior obra da
Nas construções que analisamos inicialmente, encontramos várias situa- Matemática da antigui-
ções em que a correspondência entre os triângulos obtidos pode ser estabelecida dade, Os Elementos. Nes-
de forma que todos os elementos dos triângulos correspondentes construídos se trabalho temos, reu-
são congruentes. A definição de congruência exige que todos os lados e to- nidos em treze livros, re-
dos os ângulos correspondentes tenham a mesma medida. Isso significa que sultados importantes de
teríamos de comparar seis medidas, de três segmentos e três ângulos. Geometria e da Teoria
dos Números organiza-
O objetivo do nosso estudo agora será estabelecer um número mínimo de dos na forma axiomá-
elementos (lados ou ângulos) correspondentes congruentes que garanta a tico-dedutiva, constituin-
congruência de dois triângulos. As situações acima estudadas, em que a pos- do-se em um modelo
sibilidade de construção é única, a menos de movimentos do plano são espe- que influenciou forte-
cialmente consideradas: nos dão os chamados casos de congruência de tri- mente o conhecimento
ângulos. científico.




A primeira construção (cujos dados são os três lados) nos garante a unici-
dade e podemos formalizá-la como o

Caso LLL de Congruência de Triângulos: dois triângulos que têm todos


os lados correspondentes congruentes são congruentes.

Quando forem dados dois lados e um ângulo, conseguimos construir um


único triângulo a menos de sua posição quando os lados ficam contidos nos
lados do ângulo. Nesse caso, temos:

Caso LAL (também chamado Postulado de Congruência): dois triângu-


los que têm dois lados correspondentes e o ângulo adjacente a ambos res-
pectivamente congruentes são congruentes.

Quando forem dados dois ângulos e um lado, conseguimos construir um


único triângulo a menos de sua posição quando o lado é comum aos dois
ângulos. Nesse caso, temos:

Caso ALA de Congruência de Triângulos: dois triângulos que têm dois


ângulos correspondentes e o lado compreendido entre eles respectivamen-
te congruentes são congruentes.

A segunda alternativa de construção que analisamos é o chamado caso


lado – ângulo – ângulo oposto, em que um dos ângulos contém o lado e o
outro é o ângulo oposto a ele:

Caso LAAo de Congruência de Triângulos: dois triângulos que têm dois


ângulos correspondentes e o lado oposto a um deles respectivamente con-
gruentes são congruentes.

Resumindo, temos as possibilidades:


Dados Caso de Congruência
Três lados LLL
Arquimedes de Dois lados e um ângulo LAL
Siracusa
Um lado e dois ângulos ALA
Viveu entre 287 e 212 a.C.,
tendo se destacado pela Um lado e dois ângulos LAAo
criatividade e múltiplas
Vejamos alguns exemplos:
habilidades em explorar
as aplicações da Matemá-
tica, relacionando-as com
os problemas do dia-a-
dia e com a construção
de equipamentos e arte-
fatos de guerra. Conside-
rado um dos grandes
matemáticos da antigui-
dade, a característica prin-
cipal do seu trabalho é a
utilização de métodos
experimentais para a
descoberta de proprie-
dades geométricas.


  -  

Vamos analisar as correspondências:


1 . ∆ABC ↔ ∆HGI
Temos: ∠ABC ≅ ∠HGI (ângulo), ≅ (lado), ∠BAC ≅ ∠GHI (ân-
gulo), logo, a correspondência é uma congruência pelo caso ALA de congru-
ência (o lado está compreendido entre os ângulos).

2. ∆DEF ↔ ∆TSU
Neste exemplo, temos: ≅ (lado), ∠EDF ≅ ∠STU (ângulo), ≅
(lado) e a correspondência é uma congruência, pelo caso LAL (o ângulo está
compreendido entre os lados).

3. ∆JKL ↔ ∆MON temos: ≅ (lado), ∠JLK ≅ ∠MNO (ângulo),


∠JKL ≅ ∠MON (ângulo), sendo que o primeiro ângulo é adjacente ao lado e
o segundo oposto a ele. Estamos, portanto, no caso de congruência LAAo.

4. ∆PQR ↔ ∆ZXV
Temos, agora, os três lados correspondentes congruentes: ≅ , ≅
e ≅ , que nos dá uma congruência LLL entre os triângulos correspon-
dentes.

Agora faça você


1. Identifique, entre os triângulos dados a seguir, os pares de triângulos con-
gruentes, estabelecendo a correspondência e identificando o caso de congru-
ência utilizado:

Apolonio de Perga
Nasceu em 262 a.C. em
2. Entre os triângulos abaixo, selecione os congruentes, indicando o caso de Perga e morreu por vol-
congruência. ta de 190 a.C. em Alexan-
dria. Matemático e astrô-
nomo, deixou uma gran-
de obra, As Cônicas, onde
faz um estudo detalha-
do das principais propri-
edades das parábolas,
elipses e hipérboles. Por
esse importante traba-
lho é também chamado
de “o grande geômetra”.




3. Entre os triângulos abaixo, selecione os congruentes, indicando o caso de


congruência.

4. Entre os triângulos abaixo, selecione os congruentes, indicando o caso de


congruência, se for possível.

5. Os triângulos correspondentes ∆ABC ↔ ∆DEF são congruentes. Calcule


os valores de x e y:

Ptolomeu
Astrônomo, geógrafo e
6. Na figura ao lado, temos AC= BC, AF = BG e AE=BD.
matemático egípcio, vi- Escolha triângulos correspondentes e use a congruência
veu na Alexandria entre de triângulos para concluir que EF = DG.
os anos 85 e 165 da era
cristã. Responsável pela
formulação da teoria
geocêntrica, segundo a
qual a Terra estava no 7. Na figura à esquerda, o ponto E é o ponto
centro do sistema solar, e médio do segmento AB. Sabendo que os ângu-
também por outros tra- los nos vértices C e D são congruentes, verifi-
balhos importantes em que que o ponto médio E é também o ponto
Astronomia. O Almagesto, médio do segmento CD.
sua grande obra mate-
mática, contém uma ta-
bela de cálculo de com- 8. Sobre os lados do triângulo eqüilátero ∆ABC, to-
primentos de cordas de
mamos pontos D, E e F tais que AD = BE = CF. Pode-
uma circunferência, no
mos concluir que o novo triângulo, ∆DEF é eqüiláte-
qual se encontram os
primeiros dados da Tri-
ro? Justifique!
gonometria, correspon-
dendo a uma tabela de
cálculo de senos, na lin-
guagem atual.


  -  

Algumas propriedades importantes


As propriedades dos triângulos que vamos listar a seguir são fatos bem
conhecidos que são conseqüências dos casos de congruência:
Proposição: os ângulos da base de um triângulo isósceles são congruentes.
Em um triângulo eqüilátero, todos os ângulos são congruentes.
Dado um triângulo isósceles ∆ABC,
em que ≅ (esta é a nossa hipótese),
para que a propriedade seja verificada, es-
tabelecemos a correspondência ∆ABC ↔
∆ACB e usamos o caso LAL de congruên-
cia para concluir que os triângulos são con-
gruentes. Portanto, temos a tese, isto é, que
∠ABC ≅ ∠ACB (ângulos correspondentes
de triângulos congruentes).
Usando a verificação que acabamos de fazer, como podemos justificar a
segunda parte da proposição?
Temos ainda:
Proposição: se os ângulos da base de um triângulo são congruentes, então o
triângulo é isósceles.
Para verificar essa propriedade, dado
um triângulo ∆ABC, com ∠ABC ≅ ∠ACB,
consideramos agora a correspondência
∆ABC ↔ ∆ACB e usamos o caso ALA
de congruência para concluir que os triân-
gulos são congruentes e que, conseqüen-
temente, ≅ (lados corresponden-
tes de triângulos congruentes ).
Como conseqüência dessa propriedade dos triângulos isósceles podemos
estabelecer um critério de congruência especial para triângulos retângulos,
que é chamado o caso cateto-hipotenusa de congruência para esses triângu-
los, que pode ser enunciado como um teorema:
Teorema: (caso cateto – hipotenusa de congruência de triângulos retângu-
los) dois triângulos retângulos que têm a hipotenusa e um cateto congruen-
tes são congruentes. Pappus de
Alexandria
Dados dois triângulos retângulos ∆ABC e ∆DEF
Foi o último dos geô-
– com os ângulos retos nos vértices C e E, respec-
metras da escola grega
tivamente, as hipotenusas e congruentes, e pouco se sabe sobre
assim como os catetos e , “colando” esses sua vida. Indicações e ci-
triângulos pelos catetos congruentes –, formamos tações conduzem ao pe-
um triângulo isósceles ∆ABF. Daí temos que os ân- ríodo final do século III
da era cristã. Além de ter
gulos dos vértices B e F são congruentes.
feito uma importante
Retornando à correspondência ∆ABC ↔ ∆DEF temos agora uma congru- recuperação de muitos
ência LAAo, utilizando qualquer dos lados congruentes, o ângulo reto e esse resultados, acrescentou
novo ângulo congruente. Volte, agora, ao exercício 4 da página 20. a eles contribuições sig-
nificativas, que até hoje
Nas construções geométricas, e nos problemas práticos, muitas vezes pre- aparecem nos textos di-
cisaremos de uma reta especial. Vejamos como ela pode ser encontrada num dáticos.
exemplo.




Dadas duas cidades A e B localizadas em uma região idealmente plana,


queremos construir uma estrada de forma que, ao percorrê-la, estamos sem-
pre a igual distância de cada uma das cidades.
Se considerarmos o segmento de reta que
tem extremos nos pontos que representam
as cidades A e B, observamos que o ponto
médio M do segmento é um ponto que veri-
fica a condição estabelecida, isto é, é um
ponto tal que MA = MB (também chamado
um ponto equidistante de A e B).

Tomando um ponto X na estrada que pretendemos construir, temos que


AX = BX, e os triângulos ∆AMX ↔ ∆BMX verificam o caso LLL de congru-
ência. Como consequência, os ângulos ∠AMX e ∠BMX são congruentes e,
portanto, são ângulos retos. Verificamos assim, que o ponto X pertence à cha-
mada mediatriz do segmento , que é a reta do plano, perpendicular ao
segmento AB, que passa pelo ponto médio M.
Por outro lado, se considerarmos pontos Y na mediatriz do segmento, po-
demos verificar também, utilizando a congruência de triângulos, que Y é
Proclus
equidistante de A e B. Em resumo: a solução procurada para o traçado da
Viveu entre 411 e 485 d.C., estrada é a mediatriz do segmento que une os pontos que representam as
estudou em Alexandria duas cidades
e Atenas dedicando-se à
Filosofia, à poesia e à
Matemática. Escreveu Para construir a mediatriz com régua e compasso é
Comentários , sobre a
suficiente construir duas circunferências de mesmo raio,
obra de Euclides, que são
com centros nos pontos A e B, respectivamente. Os
a principal fonte de co-
nhecimento que temos
pontos P e Q de intersecção das circunferências nos
desse grande trabalho, e dão dois pontos distintos da reta mediatriz (justifique
também sobre a Histó- através de uma congruência de triângulos).
ria da Geometria, escrita
por Eudemus, em 300
anos a.C., sendo, por essa Explorando a mediatriz
razão, a principal fonte
Dados três pontos distintos e não colineares, (que
de conhecimento da Ge-
ometria da antiguidade.
também podem ser considerados os vértices de um
triângulo), seja O o ponto de intersecção das me-
Segundo Proclus:
diatrizes de dois dos segmentos (por exemplo, e
...isto, portanto, é Matemá- ). Temos que OA = OB (O pertence à mediatriz
tica; ela nos revela a forma de AB) e OB = OC (O pertence à mediatriz de BC).
invisível da alma; ela dá
vida às suas próprias desco-
bertas; desperta a mente e A partir das duas igualdades, temos que OA =
purifica o intelecto; traz à OB = OC. Logo, O é também um ponto da mediatriz
luz nossas idéias mais in-
do segmento , e a circunferência com centro O e
trínsecas; elimina o vazio e
raio r = OA=OB=OC é a circunferência que passa
a ignorância que trazemos
no nascimento.
pelos pontos A, B e C, ou ainda, a circunferência
circunscrita ao triângulo ∆ABC.


  -  

Quando trabalhamos e estudamos propriedades dos


ângulos, freqüentemente precisamos dividi-los, encon-
trando ângulos congruentes. No caso mais simples de di-
visão nos utilizamos da bissetriz, que é uma semi-reta
que forma, com os lados do ângulo, dois novos ângulos
com a mesma medida.
A construção da bissetriz usando a régua e o compasso é feita através de
três circunferências: uma com raio qualquer e centro no vértice do ângulo (de
forma que BA = BC) e as duas outras com o mesmo raio e centro nos pontos
de intersecção da primeira com os lados do ângulo (de forma que AP = CP),
conforme a figura.

Os triângulos correspondentes ∆ABP ↔ ∆CBP


são congruentes, pelo caso LLL de congruência,
pois os lados correspondentes são os raios das
circunferências e BP é um lado comum. Conse-
qüentemente, os ângulos correspondentes desses
triângulos serão congruentes, ∠ABP ≅ ∠CBP e,
portanto, BP é a bissetriz procurada.

Os pontos da bissetriz têm uma importante propriedade que a caracteriza


como um lugar geométrico: são pontos que estão à mesma distância dos lados
do ângulo (que é o comprimento do segmento perpendicular), conforme ilus-
tra a figura a seguir:
Tomando um ponto X na bissetriz do ângulo,
os triângulos retângulos correspondentes ∆BXP
↔ ∆BXQ serão congruentes pelo caso LAA o,
logo, os lados correspondentes XP e XQ serão
congruentes.
Os comprimentos dos segmentos congruen-
tes XP e XQ são, por definição, as distâncias do
ponto X às semiretas BP e BQ, respectivamente.

Uma das aplicações práticas da bissetriz está relacionada à determinação


do centro e do raio de uma circunferência que tangencia os três lados de um
triângulo, ou seja, do encaixe perfeito de uma tubulação numa região triangu-
lar, como na figura abaixo.

O “problema da menor distância”


Outras propriedades importantes dos triângulos, cujas verificações são mais
trabalhosas, podem ser ainda obtidas utilizando congruências. Algumas delas são:
Proposição: em um triângulo, ao maior ângulo opõe-se o maior lado e,
reciprocamente, ao maior lado opõe-se o maior ângulo.




Por exemplo, na figura ao lado,


se m (∠BAC) > m (∠BCA), então BC > AB,
ou
se BC > AB, então m (∠BAC) > m (∠BCA).

Como conseqüência dessa propriedade, temos uma importante proprieda-


de dos triângulos retângulos:
O ângulo reto é o maior ângulo de um triângulo retângulo e a hipotenusa o
seu maior lado.

Temos ainda:
Teorema (desigualdade triangular): em um triângulo, o comprimento de
qualquer dos lados é menor do que a soma do comprimento dos outros
dois.

Se, no triângulo ∆ABC acima, chamarmos a = BC, b = AC e c = AB os


comprimentos dos três lados, temos:
a<b+c
b<a+c
c<a+b
A desigualdade triangular nos permite resolver o chamado “problema da
menor distância”.
Suponhamos que, dadas duas cidades situadas de um mesmo lado de uma
estrada, queremos construir um posto de abastecimento em um ponto da es-
trada de forma que, se formos de uma cidade a outra, com parada obrigatória
no posto, a distância percorrida é a menor possível. Onde deve ficar o posto?

Um esboço da solução é dado na figura a seguir: o ponto A’ é o simétrico


do ponto A em relação à reta que representa a estrada e o ponto R é a intersec-
ção do segmento A’B com essa mesma reta.


  -  

A congruência de triângulos
nos garante que A’R = AR.
Tomando um ponto X, na reta
que representa a estrada, X dife-
rente de R, teremos A’X = AX .

No triângulo ∆A’BX, pela de-


sigualdade triangular,
A’R + RB < A’X + XB, ou seja,
AR + RB < AX + XB

O ponto R nos dá, portanto, a menor soma para as distâncias percorridas


na viagem de A até B.
Finalmente, observamos que a desigualdade triangular nos dá a condição
necessária para que duas circunferências se interceptem, fato esse da constru-
ção geométrica que estamos utilizando desde o início da discussão sobre con-
gruência de triângulos.
Como cada um dos pontos de
intersecção de duas circunferências
determina com os seus centros um
triângulo, como na figura ao lado,
devemos ter a relação entre os raios
(r e R) e a distância (d) entre os cen-
tros verificando a desigualdade tri-
angular em qualquer ordem, isto é:
d<r+R
R<d+ r
r<d+R

Um exemplo
No triângulo ∆ABC da figura, qual é o
maior ângulo? E o menor?
O maior ângulo será o ângulo ∠ACB, que
se opõe ao maior lado ( ) e o menor ângu-
lo será ∠ABC que se opõe ao menor lado
( ).

Agora faça você


1. Em um triângulo ∆PQR, temos os ângulos dos vértices P, Q e R medindo,
respectivamente, 72 o, 37o e 71 o. Indique qual o maior lado e qual o menor
lado do triângulo.
2. Complete as desigualdades, considerando os tri-
ângulos adequados, na figura ao lado:

CD < .......+......; CD < .......+......


AE < .......+......; AE < .......+......




3. Verifique se é possível construir um triângulo cujos lados tenham por com-


primento:
a) 12 cm, 9 cm e 20 cm b) 12 cm, 12 cm e 20 cm
c) 1 cm, 1 cm, 1 cm d) 12 cm, 9 cm, 2 cm

4. Se um triângulo isósceles tem um lado que mede 10 cm e o outro medindo 4 cm,


o que podemos afirmar sobre o comprimento do terceiro lado?

5. Se um triângulo tem dois lados medindo 10 cm, o que se pode dizer sobre
o comprimento do terceiro lado?

6. Os comprimentos dos lados de um triângulo são dados por 2x-3, x+6 e 3x-
12 unidades. Verifique que, se o triângulo for isósceles, então ele será eqüilá-
tero.


Unidade 2

Semelhanças
Organizadores
Antônio Carlos
A relação de congruência estudada na unidade anterior é essencial no desenvol- Brolezzi
vimento da moderna tecnologia. Como exemplo, citamos a produção em série Elvia Mureb Sallum
de veículos automotores que só é possível graças a confecção de várias cópias Martha S. Monteiro
congruentes, idênticas em tamanho e forma de seus componentes.
Elaboradoras
Analogamente, a relação de “mesma for-
Cláudia Cueva
ma” tem um papel importante em nosso coti-
Candido
diano. O projeto de construção de um edifício
ou de uma aeronave, por exemplo, com fre- Maria Elisa Esteves
quência requer a produção de modelos e ma- Lopes Galvão
quetes em miniatura, com a mesma forma que
o objeto original, permitindo obter um amplo
entendimento de sua complexa estrutura.
A ampliação ou redução fotográfica é outro recurso utilizado para revelar
com detalhes aspectos intrincados de certas situações, como a confecção da
planta de uma cidade, por exemplo. Trata-se de um processo útil, pois preser-
va a forma dos objetos fotografados.
Nesta unidade queremos responder a duas questões básicas. Qual o signi-
ficado matemático de “mesma forma”? Que propriedades geométricas carac-
terizam duas figuras (entenda-se por figura um conjunto não vazio de pon-
tos) que possuam a mesma forma?
Para ampliar ou reduzir um triângulo ∆ABC, fixamos um ponto qualquer
O no plano do triângulo e, a partir dele, traçamos semi-retas que passam pelos
vértices do triângulo. Uma possível ampliação é obtida considerando-se os
pontos A´, B´ e C´ pertencentes às semi-retas , e , respectivamente,
tais que OA´ = 3OA, OB´ = 3OB e OC´ = 3OC. Usando uma régua graduada,
um compasso ou um transferidor podemos verificar que
A´B´ = 3 AB, B´C´ = 3 BC, A´C´ = 3 AC e
m (∠A´) = m (∠A), m (∠B´) = m (∠B), m (∠C´) = m (∠C)


A correspondência que a cada ponto P de um fixado plano, P distinto de O,


associa o único ponto P´ da semi-reta tal que OP´ = k.OP chama-se
homotetia de centro O e razão k > 0.

O ponto P´ é chamado a imagem de P pela homotetia. A imagem do centro


O é, por definição, o próprio ponto O. Se determinarmos a imagem de todos
os pontos de uma figura F, obteremos uma segunda figura F´ chamada a
imagem homotética de F.
Observe que se escolhermos a razão k como sendo um número real k > 1
então F´ será uma ampliação de F enquanto que se a razão k satisfizer 0 < k < 1
então F´ será na verdade uma redução de F.

Voltando ao nosso primeiro exemplo, podemos perguntar sobre as possí-


veis propriedades da imagem homotética F´ no caso em que F é uma das retas
, ou . O desenho apresentado parece indicar que não apenas F´ será
também uma reta como será uma reta paralela à reta original.

Duas retas distintas r e s são ditas paralelas (notação: r // s) se forem copla-


nares e não se intersectarem.
Repetindo, dadas duas retas distintas r e s temos r // s se e somente se:
a) existir um plano α tal que r ⊂ α e s ⊂ α;
b) r∩s=∅

Para que possamos estabelecer condições que garantam o paralelismo entre


duas retas, algumas definições adicionais são necessárias.

Uma transversal em relação a duas retas coplanares é uma reta que as


intersecta em dois pontos distintos.
Em cada uma das figuras seguintes a reta t é uma transversal às retas r e s. Além
disso, os ângulos indicados por ∠1 e ∠2 são chamados ângulos alternos-internos.
Observe que retas cortadas por uma transversal podem não ser paralelas.

ângulos alternos internos


  -  

Dadas duas retas cortadas por uma transversal, se ∠x e ∠y são ângulos


alternos-internos e se ∠y e ∠z são ângulos opostos pelo vértice, então ∠x e
∠z são chamados ângulos correspondentes.

∠x e ∠z: ângulos correspondentes

Uma observação fácil, porém importante, é que se um par de ângulos


alternos-internos é formado por ângulos congruentes, então o outro par de
ângulos alternos-internos também é formado por ângulos congruentes. Isto é,
se ∠x ≅ ∠x´ então ∠y ≅ ∠y´ e, reciprocamente, se ∠y ≅ ∠y´ então ∠x ≅ ∠x´.

Proposição. Dadas duas retas cortadas por uma transversal, se um par de


ângulos alternos-internos é formado por ângulos congruentes, então as retas
são paralelas.
Na figura abaixo temos que se ∠x ≅ ∠x´ então r // s.

Podemos dar outras condições suficientes para o paralelismo entre duas


retas usando ângulos correspondentes no lugar de ângulos alternos-internos.
Para isso devemos observar inicialmente que se um par de ângulos correspon-
dentes é formado por ângulos congruentes então qualquer par de ângulos
alternos-internos também é formado por ângulos congruentes (lembre-se que
ângulos opostos pelo vértice são congruentes).

∠x ≅ ∠z
⇒ ∠x ≅ ∠x´
∠z ≅ ∠x´

Conseqüentemente temos a seguinte condição:


Proposição. Dadas duas retas cortadas por uma transversal, se um par de
ângulos correspondentes é formado por ângulos congruentes, então as retas
são paralelas.




Na figura abaixo temos que se ∠x ≅ ∠z então r // s.

Qualquer uma dessas proposições nos permite resolver o seguinte proble-


ma básico da Geometria Plana:
Dados uma reta r e um ponto P fora de r, traçar, com régua e compasso,
uma reta s que passa por P e é paralela a r.

A solução é simples. Seja t uma reta arbitrária que passa por P e intersecta
r num ponto Q, escolha sobre r um ponto B distinto de Q. Este ponto B está
em um dos semi-planos definido pela reta t. No outro semi-plano construa, a
partir da semi-reta , o ângulo ∠QPA congruente ao ângulo ∠PQB. A reta
determinada pelos pontos P e A é a paralela procurada.

O leitor mais atento deve notar que a construção acima prova a existência
da paralela a uma dada reta por um ponto dado. Será possível provar também
a unicidade de tal paralela? Esse problema desafiou os matemáticos durante
mais de 2.000 anos, desde a antiga Grécia, e o resultado obtido foi a necessi-
dade de se introduzir um novo postulado na Geometria, conhecido hoje como
postulado das paralelas. A título de informação, destacamos que a solução
desse problema culminou com a descoberta das primeiras geometrias não
euclidianas. Mas isso é uma outra história...
Postulado das paralelas: dados uma reta r e um ponto P fora de r, existe no
máximo uma reta s que passa por P e é paralela a r.

É através do postulado acima que podemos provar os recíprocos das pro-


posições anteriores.
Proposição. Se duas retas paralelas são cortadas por uma transversal, então am-
bos os pares de ângulos alternos-internos são formados por ângulos congruentes.
Proposição. Se duas retas paralelas são cortadas por uma transversal, então
cada par de ângulos correspondentes é formado por ângulos congruentes.
Como conseqüência das proposições acima, dadas duas retas cortadas por
uma transversal, temos um resumo dos pares de ângulos determinados e de
suas propriedades quando as retas forem paralelas:


  -  

Ângulos alternos internos (congruentes): ∠x´ e ∠z, ∠y´ e ∠w


Ângulos alternos externos (congruentes): ∠w´ e ∠y, ∠x e ∠z´
Ângulos correspondentes (congruentes): ∠x e ∠z, ∠y´ e ∠w´, ∠x´ e ∠z´, ∠y
e ∠w
Ângulos colaterais internos (suplementares): ∠y´ e ∠z, ∠x´ e ∠w
Ângulos colaterais externos (suplementares): ∠w´ e ∠x, ∠y e ∠z´

Um exemplo
De uma posição representada
pelo ponto P, no interior de uma sala,
são conhecidos os ângulos entre os
segmentos AP e BP e as paredes.
Qual será o ângulo de visão ∠APB
que permite que enxerguemos os
pontos A e B situados em paredes
opostas?
A solução para o problema pode ser obtida com o auxílio de uma paralela
pelo ponto P, como na figura a seguir:
Dessa forma, temos dois pares
de ângulos alternos internos. No
primeiro par, a medida do ângulo
∠APQ é 19 o, e no segundo par, a
medida do ângulo ∠BPQ é 40o. Daí,
a medida do ângulo ∠APB será a
soma das medidas:
m (∠APB) = m (∠APQ) + m (∠BPQ) =
19o + 40o = 59o

Ainda como conseqüência do postulado das paralelas, temos um dos mais


conhecidos resultados sobre triângulos:
Proposição. A soma das medidas dos ângulos de qualquer triângulo é igual
a 180°.

Sua demonstração não é difícil e pode ser acompanhada na figura abaixo.

Dado um triângulo ∆ABC, seja r a reta que passa por B e é paralela ao lado
. Sendo ∠x, ∠x´, ∠y, ∠y´ e ∠z os ângulos indicados na figura temos:
m (∠x) = m (∠x´) e m (∠y) = m (∠y´) por serem alternos internos e r // .
Mas, pelas propriedades de adição de ângulos, temos:
m (∠x´) + m (∠z) + m (∠y´) = m (∠x´) + m (∠ABD) = 180°.
E finalmente, por substituição simples, concluímos que:
m (∠x) + m (∠z) + m (∠y) = 180°.




Terminada essa breve apresentação sobre paralelismo de retas, voltamos


nossa atenção novamente para as homotetias destacando principalmente quais
figuras geométricas e quais medidas são preservadas por uma homotetia de
razão k. Veja os desenhos abaixo.

1. A relação “estar entre” é preservada, isto é, se B está entre A e C então


B´ está entre A´ e C´.
2. Retas são preservadas, isto é, se r é uma reta então o conjunto r´ das
imagens de todos os pontos de r é também uma reta. Mais ainda, ou r´ = r
ou r´ é paralela a r.
3. Segmentos e semi-retas são preservados, isto é, a imagem de um seg-
mento é um segmento e a imagem de uma semi-reta é uma
semi-reta .
4. Ângulos e suas medidas são preservados, isto é, a imagem de um ângu-
lo ∠ABC é um ângulo ∠A´B´C´ e m (∠ABC) = m (∠A´B´C´).
5. A razão das distâncias é preservada, isto é, dados os pontos A, B, C e D
temos

Observamos que as propriedades acima nos respondem à primeira ques-


tão básica colocada no início desta unidade. Dada uma figura plana F e sua
imagem F´ por uma homotetia de razão k, o fato de que a distância A´B´ é k
vezes a distância AB para cada par de pontos distintos A e B de F e o de que
a medida dos ângulos formados são preservados constituem os atributos ma-
temáticos necessários para que F e F´ tenham a mesma forma.

Embora as propriedades das homotetias possam ser verificadas experi-


mentalmente, por exemplo, utilizando-se os instrumentos de desenho (régua,
compasso e transferidor), todas elas podem ser provadas a partir de um dos
mais importantes teoremas da Geometria conhecido como Teorema de Tales
e do seu recíproco.


  -  

Sejam a, b, c três retas distintas e paralelas cortadas por duas transversais


t e t´ nos pontos A, B, C (em t) e A´, B´, C´ (em t´) como na figura abaixo.
Suponha inicialmente que AB = BC.

Se t e t´ são retas paralelas, então propriedades elementares de paralelo-


gramos (ver exercício 9) nos garantem que AB = A´B´, BC = B´C´ e, portanto,

A´B´ = B´C´. Em outras palavras, podemos escrever que .

Se t e t´ não são retas paralelas, traçamos por B´ uma reta auxiliar u para-
lela à reta t. Como AB = XB´ e BC = B´Y segue da congruência dos triângulos
∆A´B´X e DC´B´Y (você é capaz de identificar qual caso de congruência
estamos usando?) que A´B´ = B´C´. Isto é, obtemos novamente a conclusão

O teorema de Tales generaliza esse resultado descartando a hipótese inicial


AB = BC. Sua demonstração no caso mais geral foge do objetivo dessas notas.

Teorema (Tales). Sejam a, b, c três retas distintas e paralelas cortadas por


duas transversais t e t´ nos pontos A, B, C (em t) e A´, B´, C´ (em t´) como na

figura abaixo. Então .

É interessante observar que o resultado acima admite uma espécie de recí-


proca que é igualmente importante em função de suas aplicações.

Proposição. Sejam a, b, c três retas distintas cortadas por duas transversais t e


t´ nos pontos A, B, C (em t) e A´, B´, C´ (em t´) como na figura abaixo. Se

e duas das retas a, b, c forem paralelas, então a terceira reta será


paralela às duas primeiras.

Temos visto anteriormente que uma dada figura plana F e sua imagem
homotética F´ têm sempre a mesma forma. A situação inversa, porém, não é




verdadeira. Duas figuras podem ter a mesma forma sem que uma seja a ima-
gem da outra por uma homotetia.
Por exemplo, partindo de uma figura e de sua imagem homotética, ao
rotacionarmos uma delas não destruímos a qualidade de ambas terem a mes-
ma forma. Contudo, elas agora não podem ser transformadas uma na outra
por uma homotetia, uma vez que uma reta e sua imagem homotética são ou
coincidentes ou paralelas.

A observação acima nos indica que o estudo da relação “mesma forma”,


também chamada de semelhança, envolve além da homotetia um certo
reposicionamento de uma das figuras no plano que a contém.

Duas figuras planas F e G são semelhantes se uma delas é congruente à


uma imagem homotética da outra.
Assim F e G são semelhantes se G é congruente a F´ onde F´ é a imagem
de F por uma homotetia.

Note que esta definição de semelhança não é restrita apenas a triângulos


ou mesmo a polígonos. Ela aplica-se a todas as figuras planas em geral. Em-
bora ela reflita de modo preciso a idéia que temos de “mesma forma”, existem
diversos problemas práticos em que é mais conveniente descrever a seme-
lhança em termos de medidas angulares e razões de medidas de segmentos.
Por exemplo, quando um arquiteto projeta um
apartamento e existe a necessidade da confecção
de uma planta em uma certa escala, que medidas
devem ser tomadas?

Como as homotetias preservam a medida angular e a razão das distâncias


entre pontos, a definição abaixo resolve nosso problema.

Dois polígonos são semelhantes se existir uma correspondência biunívoca


entre seus vértices, de modo que ângulos correspondentes sejam congruen-
tes e lados correspondentes sejam proporcionais.

Logo, quando dizemos que o triângulo ∆ABC é semelhante ao triângulo


∆A´B´C´ (notação: ∆ABC ~ ∆A´B´C´) estamos assegurando que A ↔ A´,
B ↔ B´, C ↔ C´ é a correspondência biunívoca onde


  -  

m (∠A) = m (∠A´), m (∠B) = m (∠B´), m (∠C) = m (∠C´)

A constante k é chamada a razão de semelhança e nos dá a escala dos mapas


ou das plantas. Note, em particular, que se dois triângulos são congruentes
então eles também são semelhantes, com razão de semelhança igual a 1.
Assim como na congruência, para os triângulos temos os chamados casos
de semelhança, que nos permitem verificar a sua semelhança a partir da com-
paração de algumas de suas medidas.

Caso Ângulo – Ângulo (AA) - Dados dois triângulos ∆ABC e ∆A´B´C´, se


m (∠A) = m (∠A´) e m (∠B) = m (∠B´) então ∠ABC ~ ∠A´B´C´.
Caso Lado – Ângulo – Lado (LAL) - Dados dois triângulos ∆ABC e ∆A´B´C´,

se m (∠A) = m (∠A´) e então ∆ABC ~ ∆A´B´C´.

Caso Lado – Lado – Lado (LLL) - Dados dois triângulos ∆ABC e ∆A´B´C´,

se então ∆ABC ~ ∆A´B´C´.

Suas provas envolvem uma adequada aplicação do teorema de Tales. Por


exemplo, no caso AA consideramos X e Y nas semi-retas e , respecti-
vamente, tais que AX = A´ B´ e AY = A´C´.

Pelo caso LAL de congruência temos ∆AXY ≅ ∆A´B´C´ e, portanto, m


(∠AXY) = m (∠B´). Como m (∠B) = m (∠B´) segue que m (∠AXY) = m (∠B).
Logo as retas e são cortadas pela transversal formando um par
de ângulos correspondentes congruentes. Concluímos que // e, pelo

teorema de Tales, temos . Um cálculo algébrico simples nos dá


.

Mas AX = A´B´ e AY = A´C´ de modo que . Analogamente

mostramos que , ou seja, ∆ABC ~ ∆A´B´C´.

Os demais casos são provados usando-se idéias similares.

Queremos aqui enfatizar que os casos acima valem exclusivamente para


triângulos. O caso AA nos diz que a congruência de ângulos correspondentes
é suficiente para garantir a proporcionalidade dos lados correspondentes. Já o




caso LLL nos diz que a proporcionalidade dos lados correspondentes implica
na congruência dos ângulos correspondentes.
A seguir, o primeiro desenho exibe dois retângulos – portanto, com ângu-
los correspondentes congruentes (todos retos) –, sem que eles sejam seme-
lhantes. O segundo mostra um retângulo e um paralelogramo com lados cor-
respondentes proporcionais, sem que eles sejam semelhantes.

Agora faça você


1. A medida de um ângulo de um triângulo é 25° maior que a medida de um
segundo ângulo e a medida do terceiro é 19° menor que duas vezes a medida
do segundo. Calcule cada medida.

2. Na figura ao lado determine a medida de cada


ângulo.

3. As medidas dos ângulos de um triângulo estão na razão de 1:2:3. Ache as


medidas de cada ângulo.

4. Se é paralela a em m (∠BAD) = 115°, quanto vale m (∠ADC)? Se,


além disso, é paralela a , quanto vale m (∠BCD)?

5. Considere a figura abaixo à esquerda e prove que a + b = x + y.

6. Na figura acima à direita ∠PRQ é um ângulo reto, QT = QV e PS = PV.


Mostre que a medida indicada por x é igual a 45°.


  -  

7. Na figura abaixo é bissetriz do ∠CAB e CA = CD. Mostre que é


paralela a .

8. Na figura acima e dividem-se ao meio em E. Mostre que é


paralelo a .

9. Um paralelogramo é um quadrilátero no qual ambos os pares de lados opos-


tos são paralelos. Verifique que num paralelogramo ABCD temos ∆ABC ≅ ∆CDA.
Conclua daí que dois lados opostos de um paralelogramo são sempre congru-
entes.

10. Se ABCD é um quadrilátero tal que ≅ e ≅ , mostre que


ABCD é um paralelogramo.

11. Dois ângulos opostos de um paralelogramo são congruentes e suas diago-


nais se dividem ao meio. Prove essas propriedades.

12. Nos paralelogramos abaixo calcule as medidas de seus ângulos.

13. Um retângulo é um quadrilátero cujos ângulos são todos retos. Um losango


é um paralelogramo cujos lados são todos congruentes. Um quadrado é um
retângulo cujos lados são todos congruentes. Indique se as afirmações abaixo
são verdadeiras ou falsas. Justifique.
a) Todo retângulo é também um paralelogramo.
b) Todo quadrado é um paralelogramo.
c) Todo losango é um quadrado.
d) Todo retângulo é um quadrado.
e) Todo quadrado é um retângulo.
f) Todo quadrado é um losango.




14. Nos retângulos abaixo calcule as medidas angulares x e y.

15. Prove que o quadrilátero formado pelas bissetrizes dos ângulos de um


paralelogramo é um retângulo.

16. Nas figuras abaixo temos a // b // c. Calcule as medidas x e y.

17. Nas figuras abaixo temos // . Calcule o valor de x.

18. Indique os pares de triângulos abaixo que são semelhantes e o caso cor-
respondente.
a) b) c) d)

e) d) f) g)

19. Cada par dos triângulos ∆ABC e ∆A´B´C´ das figuras abaixo são seme-
lhantes. Calcule a razão de semelhança e as medidas indicadas por x e y.
a) b)


  -  

20. O perímetro de um triângulo ∆ABC é 90 cm. O perímetro de um triângulo


∆A´B´C´ semelhante ao primeiro é 15 cm. Qual a razão de semelhança entre os
triângulos?

21. Os lados de um triângulo medem 8 cm, 18 cm e 16 cm. Um triângulo


semelhante a este tem 21 cm de perímetro. Calcule as medidas dos lados do
segundo triângulo.

22. Para cada par dos triângulos abaixo, indique quais são semelhantes. Justi-
fique sua resposta usando os casos de semelhança.
a) b) c)

d) e)

23. Na figura abaixo temos . Mostre que é paralelo a .

24. É possível dois triângulos serem semelhantes se


a) dois ângulos de um deles medem 60° e 70°, enquanto dois ângulos do
outro medem 50° e 80°?
b) dois ângulos de um deles medem 45° e 75°, enquanto dois ângulos do
outro medem 45° e 60°?
c) um deles tem um ângulo de medida 40° e dois lados de comprimento 5,
enquanto que o outro tem um ângulo de medida 70° e dois lados de medi-
da 8 cada um?
d) um deles tem lados de comprimentos 5, 6 e 9, enquanto que o outro tem
um perímetro igual a 8.420.000?

25. Na figura abaixo ABCD é um quadrado, AE = 4 e AF = 6. Calcule a


medida x.




26. Uma bola de tênis é sacada de uma altura de 2,10 m e passa rente à rede a
uma altura de 0,90 m. Se a bola é sacada de uma linha a 11,70 m da rede e
segue em linha reta, a que distância da rede ela atingirá a quadra?


Unidade 3
Relações métricas no
triângulo retângulo
Organizadores
Antônio Carlos
Brolezzi
Um triângulo retângulo é um triângulo que tem Elvia Mureb Sallum
um ângulo reto. O lado oposto ao ângulo reto é cha- Martha S. Monteiro
mado hipotenusa e os outros dois lados são chama-
dos catetos. Os ângulos não retos de um triângulo Elaboradora
retângulo são agudos e complementares, isto é, a Cláudia Cueva
soma de suas medidas é igual a 90°. Candido

Por um vértice de um triângulo podemos tomar a perpendicular ao lado


oposto a ele. Uma altura do triângulo é o segmento dessa perpendicular com
extremos no vértice considerado e no ponto de intersecção da perpendicular
com o lado oposto.

Tomemos um triângulo retângulo com ângulo reto no vértice A. As nota-


ções que usaremos são as da figura a seguir, onde temos:

a: medida da hipotenusa
b: medida do cateto
c: medida do cateto
m: medida da projeção do cateto sobre a hipotenusa
n: medida da projeção do cateto sobre a hipotenusa
h: medida da altura relativa à hipotenusa


Se dividirmos um triângulo retângulo pela altura relativa à hipotenusa,


encontraremos dois triângulos retângulos semelhantes entre si e semelhantes
ao triângulo original.
Para visualizar tais semelhanças, recorte uma folha de papel pela diagonal,
obtendo dois triângulos retângulos congruentes; separe um dos triângulos re-
tângulos e recorte o outro pela altura relativa à hipotenusa.

Os três recortes estão ilustrados na figura abaixo:

Observe, nos seus recortes, que m∠DBA = m∠ABC e m∠DCA = m∠ACB


e que, em cada triângulo, os ângulos não retos são complementares, ou seja:
m∠ABC + m∠ACB = 90°
m∠DBA + m∠DAB = 90°
m∠DCA + m∠DAC = 90°
Das igualdades acima concluímos que m∠DAC = m∠ABC e m∠DAB =
m∠ACB.

Portanto, os três triângulos são semelhantes pelo caso AA de semelhança:

∆ABC ~ ∆DAC ~ ∆DBA

Podemos deduzir várias relações de proporcionalidade entre os lados. Por


exemplo:

∆ABC ~ ∆DAC ⇒ ⇒ b2 = an (1)

∆ABC ~ ∆DBA ⇒ ⇒ c2 = am (2)


  -  

∆ABC ~ ∆DBA ⇒ ⇒ ah = bc (3)

∆DBA ~ ∆DAC ⇒ ⇒ h2 = mn (4)

Observamos que seis outras relações podem ser obtidas das três seme-
lhanças acima e que todas elas decorrem das relações (1), (2) e (4).
Ao somarmos as igualdades (1) e (2) obtemos
b² + c² = an + am = a(n + m) = a²
Este é um dos mais conhecidos resultados da Geometria Plana:

Teorema de Pitágoras
Em um triângulo retângulo, o quadrado da medida da hipotenusa é igual à
soma dos quadrados das medidas dos catetos.
Reciprocamente, se temos um triângulo ABC em que a (medida do lado ),
b (medida de ) e c (medida de) são tais que a² = b² + c², então ∆ABC é
retângulo em A.

Para verificar esse fato, basta construir o triângulo ∆MNP retângulo em M


com catetos de medidas b e c. Seja x a medida da hipotenusa NP. Pelo teorema
de Pitágoras, x² = b² + c² e da igualdade acima devemos ter x = a. Logo, os três
lados dos triângulos são congruentes e pelo caso LLL de congruência de tri-
ângulos concluímos que ∆ABC = ∆MNP. Logo, os três ângulos são congruen-
tes e, em particular, o ângulo de vértice A é reto, ou seja, o ∆ABC é reto em A.

Aplicações:
1) Diagonal do quadrado
O quadrado é um paralelogramo em que a diagonal d
de um quadrado de lado l divide-o em dois triângulos
retângulos de hipotenusa d e catetos iguais a l.
Pelo teorema de Pitágoras, d² = l² + l² e, portanto,

2) Altura do triângulo eqüilátero


A altura h de um triângulo eqüilátero de lado
l coincide com a mediatriz do lado, e, como já
vimos, divide-o em dois triângulos retângulos
congruentes de hipotenusa igual a l e catetos
iguais a l/2 e h.
Pelo teorema de Pitágoras

t2 = h2 + (l/2)2 ⇒ h2 = . l2

⇒h= .l




Agora faça você


1. Um homem percorre 1 km em direção norte, 2 km em direção leste, 3 km
em direção norte e 4 km em direção leste. A que distância o homem está do
ponto de partida?
2. Uma escada de 2,6 m de comprimento está apoiada em uma parede à dis-
tância de 1,0 m da parede. Qual a altura que a escada atinge na parede?
3. Em um triângulo retângulo um cateto é 7 cm maior que o outro e a hipote-
nusa mede 13 cm. Determine as medidas dos catetos.
4. Calcule as medidas dos lados de um triângulo retângulo cujo perímetro é
36 cm sabendo que um cateto excede o outro de 3 cm.
5. A hipotenusa de um triângulo retângulo isósceles mede cm. Qual a
medida de cada cateto?
6. Determine as medidas da base e da altura de um retângulo sabendo que sua
diagonal mede 10 cm e que a sua base excede a altura de 2 cm.
7. Um trapézio isósceles de bases 4 cm e 6 cm tem altura igual a 2 cm. Calcu-
le a medida dos lados congruentes entre si.
8. Calcule os catetos de um triângulo retângulo em que a hipotenusa mede
25 cm e a altura relativa à hipotenusa mede 12 cm.
9. Os catetos de um triângulo retângulo medem 6 cm e 8 cm. Determine as
medidas das projeções dos catetos sobre a hipotenusa.
10. Dois automóveis partem no mesmo instante de um entroncamento de duas
estradas perpendiculares, um em direção ao Norte a 60 km/h e o outro em dire-
ção a Oeste a 80 km/h. Qual a distância entre eles após 4 horas de viagem?
11. Qual a medida da hipotenusa de um triângulo retângulo em que a soma
dos quadrados dos catetos com o quadrado da hipotenusa é igual a 392 cm?
12. Calcule a altura do triângulo isósceles de base 8 cm e com lados congru-
entes medindo 5 cm.
13. Calcule a medida da hipotenusa de um triângulo retângulo isósceles sa-
bendo que o produto das medidas de seus catetos é igual a 8.

Um pouco de Trigonometria
Considere o ângulo agudo de vértice A na figura a seguir. Podemos cons-
truir triângulos BAC e B´AC´retângulos em B e B´, respectivamente, traçando
BC e B´C´, ambos perpendiculares a AB.
Os triângulos têm dois ângulos congruentes e são, portanto, semelhantes,
pelo caso AA de semelhança de triângulos.

∆BCA ~ ∆B´C´A ⇒

Dessas relações podemos concluir que:

, e


  -  

Isso quer dizer que as razões entre os lados de um triângulo retângulo,


chamadas razões trigonométricas, não dependem do tamanho do triângulo,
mas sim da medida do ∠BAC, e recebem nomes especiais.
Se denotarmos por α a medida em graus do ângulo agudo BAC, defini-
mos seno, co-seno e tangente do ângulo α:

sen α = = cos α = =

tg α = =

Cálculo das razões trigonométricas de alguns


ângulos especiais
1. Seja o ∆ABC retângulo em B e tal que a medida do ∠BAC é 45°. Observe
que tal triângulo é isósceles. Como já vimos, as medidas dos lados não impor-
tam e vamos escolher o triângulo com catetos de medidas = = 1. Pelo
teorema de Pitágoras, a hipotenusa mede = .

Agora é fácil ver que sen 45° = cos 45° e que tg 45° = 1.
2. Para calcularmos as razões trigonométricas do ângulo de 60°, vamos consi-
derar o triângulo eqüilátero ABC de lado a = 1. Já vimos, como conseqüência

do teorema de Pitágoras, que sua altura AD tem medida h = . O ∆DBA,

retângulo em D, tem hipotenusa de medida a = 1 e catetos de medidas h =

e . Concluímos que sen 60° = , cos 60° = e tg 60° = .

3. Para determinarmos as razões trigonométricas do ângulo de 30°, basta ob-


servarmos, na construção anterior, que o ∠BAD é complementar do ∠ABC e,

portanto, mede 30°. O cateto oposto ao ∠BAD mede e o cateto adjacen-

te a ele mede h = . Então, temos: sen 30° = , cos 30° = e tg 30° = .




Resumindo:

α sen α cos α tg α

30°

45° 1

60°

Os valores da tabela acima serão muito utilizados na resolução de problemas:


é muito importante memorizá-los ou recordar das propriedades e dos cálcu-
los que foram desenvolvidos para encontrá-los.

Propriedades das razões trigonométricas


Podemos verificar que valem as propriedades:
1. Se α e β são ângulos complementares, então sen α = cos β e cos α = sen β.
2. Se α é um ângulo agudo de um triângulo retângulo qualquer, então:
sen α
tg α =
cos α
3. Se é é um ângulo agudo de um triângulo retângulo qualquer, então:

sen2 α + cos2 α = 1

Para tanto, considere o triângulo retângulo da figura

e utilize as relações trigonométricas para escrever sen α, cos α, tg α, etc. em


função dos comprimentos a, b e c e, depois, verificar as propriedades 1, 2 e 3.

Agora faça você


1. Quais são os ângulos agudos de um triângulo retângulo em que o quadrado
da hipotenusa é o dobro do produto dos catetos?
2. Um observador vê um edifício construído em terreno plano, sob um ângulo
de 60°. Se ele se afastar do edifício mais 30 metros, passará a vê-lo sob o
ângulo de 45°. Calcular a altura do edifício.
3. Os lados AB e AC de um triângulo ABC medem respectivamente a e 2a,
sendo 45° o ângulo formado por eles. Calcular a medida da altura BD e o lado
BC do triângulo em função de a.


  -  

4. (FAUUSP-67) As bases de um trapézio retângulo são b e 2b e um dos ângu-


los mede 60°. Calcular a altura.
5. Um dos ângulos agudos de um trapézio isósceles mede 60°. Sendo os lados
não paralelos congruentes à base menor do trapézio e m a medida da base
menor, determine o perímetro do trapézio em função de m.
6. A base maior de um trapézio isósceles mede 100 cm e a base menor 60 cm.
Sendo 60° a medida de cada um de seus ângulos agudos, determine a altura e
o perímetro do trapézio.
7. Determine tg α sabendo que E é ponto médio do lado BC do quadrado
ABCD.

FUVEST – GEOMETRIA PLANA


2003 – No trapézio ABCD, M é o ponto médio do lado AD; N está sobre o
lado BC e 2BN = NC. Sabe-se que as áreas dos quadriláteros ABNM e CDMN
são iguais e que DC = 10. Calcule AB.

2003 – No segmento , toma-se um ponto B de forma que = 2 .

Então, o valor de é:

a) b) c) d) e)

2002 – Um banco de altura regulável, cujo assento tem forma retangular e de


comprimento 40 cm, apóia-se sobre duas barras iguais, de comprimento 60 cm
(ver figura 1). Cada barra tem três furos e o ajuste da altura do banco é feito
colocando-se o parafuso nos primeiros, nos segundos ou nos terceiros furos
das barras (ver visão lateral do banco, na figura 2).
A menor altura que pode ser obtida é:
a) 36 cm
b) 38 cm
c) 40 cm
d) 42 cm
e) 44 cm

2002 – O triângulo retângulo ABC, cujos catetos e medem 1 e ,


respectivamente, é dobrado de tal forma que o vértice C coincida com o ponto
D do lado . Seja o segmento ao longo do qual ocorreu a dobra e saben-
do que ∠NDB é reto, determine:




a) o comprimento dos segmentos e ;


b) a área do triângulo CMN.

Bibliografia
Dolce, O., Pompeo, J. N. , Geometria Plana, Col. Fundamentos de Matemá-
tica Elementar, vol. 9., Ed. Atual, 1998.
Downs, F. L. Jr, Moise, E. E., Geometria Moderna, Vol I, Ed. Edgard
Blücher, 1971.
Rich, B. Teoria e Problemas de Geometria, 3a Ed., Col. Schaum, Bookman,
2003.

Sobre as autoras
Cláudia Cueva Candido
Docente do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São
Paulo (IME-USP), onde fez seu doutorado na área de Geometria Diferencial.
Atualmente é membro da diretoria do Centro de Aperfeiçoamento do Ensino
da Matemática (CAEM) do IME-USP.

Maria Elisa Esteves Lopes Galvão


É docente aposentada do Departamento de Matemática do Instituto de
Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, onde fez graduação,
mestrado e doutorado. É docente dos cursos de Licenciatura em Matemática
da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e do Centro Universitário FIEO
(UNIFIEO) e conferencista convidada do curso de Especialização em História
da Matemática do Centro de Extensão Universitária.


Matemática
Funções e gráficos

Organizadores
Antônio Carlos Brolezzi
Elvia Mureb Sallum
Martha S. Monteiro
Elaborador
Antônio Carlos Brolezzi
4
módulo

Nome do Aluno
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador: Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP
Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor: Adolpho José Melfi
Pró-Reitora de Graduação
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE


Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área
Biologia:
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori
Física:
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta
Geografia:
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins
História:
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer
Língua Inglesa:
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór
Língua Portuguesa:
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto
Matemática:
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro
Química:
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan
Produção Editorial
Dreampix Comunicação
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro
Cartas ao
Aluno
Carta da
Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão.
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer
situação de vida e de trabalho.
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor
para o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.


Pró-Reitora de Graduação.
Carta da
Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno,
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa
da educação básica.
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente
construído para esse fim.
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva


Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Apresentação
da área
[...] a Matemática procura compreender os modelos que permeiam o mundo que
nos rodeia assim como a mente dentro de nós. […] Assim é necessário colocar a
ênfase:
— em procurar soluções e não apenas em memorizar procedimentos;
— em explorar modelos e não apenas em memorizar fórmulas;
— em formular conjecturas e não apenas em fazer exercícios.
[...] com essas ênfases, os estudantes terão a oportunidade de estudar a Matemá-
tica como uma disciplina exploradora, dinâmica, que se desenvolve, em lugar de ser
uma disciplina que tem um corpo rígido, absoluto, fechado, cheio de regras que
precisam ser memorizadas.
Schoenfeld (1992)1
Este curso de Matemática com duração de 4 meses está sendo oferecido a
alunos do último ano do ensino médio da rede pública como um incentivo
para continuarem seus estudos em direção ao ensino superior. Embora não
cubra todo o programa do ensino médio, pretende-se estimular o interesse dos
alunos pelos diversos temas de Matemática por meio de abordagens variadas.
Serão estudados tópicos sobre Números, Estatística, Probabilidade e Aná-
lise Combinatória, Geometria Plana e Espacial, Geometria Analítica, Sistemas
Lineares e Funções, privilegiando o entendimento das possíveis facetas de
um mesmo assunto, a análise de resultados obtidos e a interligação entre os
diversos conteúdos.
Escolhas foram feitas de modo a priorizar sua formação, a discussão de
idéias e a percepção de que a Matemática é uma disciplina viva que pode ser
construída, e não um amontoado de fórmulas prontas para serem decoradas e
usadas. Lembrando que realmente aprendemos quando trabalhamos o conhe-
cimento, analisando-o de várias maneiras e usando-o com critério, considera-
remos, sempre que possível, aplicações em problemas reais e interdisciplinares.
Acreditando que o intercâmbio entre vocês, alunos do ensino médio, e os
alunos da USP, que serão os seus professores, venha a aumentar a sua predis-
posição para o ensino superior, desejamos a todos bons estudos!

Coordenação da área de Matemática

1
SCHOENFELD A. H. “Learning to think mathematically: Problem solving, metacognition and sense
making in mathematics”. In: D. A. Grouws (Ed.). Handbook of research on mathematicas teaching and
learning. p. 334-370. Nova Iorque: MacMillan, 1992.
Apresentação
do módulo
Neste módulo estudaremos funções. O conceito de funções é um dos mais
importantes em Matemática, e seu conhecimento impulsionou o desenvolvi-
mento tecnológico em quase todas as áreas.
As funções permeiam nossa vida cotidiana mesmo que não tenhamos cons-
ciência disso. Por exemplo, o valor da conta de luz depende da quantidade de
energia gasta, a dose de remédio que é dada a uma criança depende do seu
peso, o valor para fazer cópias de um material depende do número de páginas
copiadas. Usando funções, também se estudam o crescimento de bactérias, o
movimento dos astros, a variação da temperatura da Terra etc. A noção de
função nos permite, enfim, descrever e analisar relações de dependência en-
tre quantidades.
Neste módulo estudaremos o que chamamos de funções reais, isto é, rela-
ções entre quantidades que podem ser descritas por números reais. Daremos
ênfase ao tratamento gráfico das funções. Aprenderemos a relacionar infor-
mações algébricas (como equações e inequações) com as informações geo-
métricas fornecidas por gráficos de funções. Também veremos a relação entre
as simetrias e as transformações no gráfico e as correspondentes mudanças
algébricas.
A linguagem gráfica permite entender melhor diversos fenômenos da na-
tureza e está cada vez mais presente no nosso dia-a-dia, nas informações vei-
culadas pelos meios de comunicação (revistas, jornais, televisão etc.) ou nas
formas de arte e diversão (como os jogos de computadores e os efeitos espe-
ciais para a arte cinematográfica). A própria paisagem urbana está cada vez
mais influenciada pela linguagem gráfica, e a matemática aparece aos olhos
de quem observa as regularidades das construções arquitetônicas e a decora-
ção dos ambientes.
Como vimos no módulo anterior, a Geometria permite ligar matemática e
arte. Neste módulo, desenvolveremos outra parte da Matemática que também
pode ser associada à arte. Nossa opção foi tratar o tema funções chamando a
atenção para a importância da linguagem gráfica, levando em consideração a
possibilidade de compreender a manipulação dos gráficos fazendo uso de
simetrias e transformações.
Unidade 1

Funções e simetrias
Organizadores
Antônio Carlos
Brolezzi
Elvia Mureb Sallum REPRESENTAÇÃO DE FUNÇÕES
Martha S. Monteiro Afinal, o que são funções? Uma função descreve as mudanças sofridas
Elaborador por uma grandeza provocadas pela variação de outra. Quando conhecemos
uma função, temos algum tipo de descrição da maneira como uma grandeza
Antônio Carlos
varia dependendo da variação de outra. Matematicamente, dizemos que uma
Brolezzi
função é uma relação entre os elementos de dois conjuntos, em que para cada
elemento de um conjunto é associado apenas um elemento do outro conjunto.
Normalmente escrevemos f : D →B para informar que f leva os elementos
do conjunto D em elementos do conjunto B. Chamamos o conjunto origem D
de domínio de f, ou seja, o conjunto dos valores que a variável independente
de f pode assumir. Quando o conjunto D não é explicitado, convenciona-se
tomar o maior subconjunto possível para o qual f está definida. O conjunto B
Uma função real f asso- é o chamado contradomínio de f, e é lá que a função f identifica os possíveis
cia, a cada número x de valores para a variável dependente. Já o conjunto f (D), constituído de todos
um subconjunto D⊂R os possíveis valores de f (x) para x ∈ D, é chamado de imagem de f. Essa
um único número real y. denominação é bastante gráfica, pois se D e B forem subconjuntos do conjun-
Representamos essa as- to dos números reais R a imagem de f é a projeção do gráfico de f sobre o eixo
sociação por y = f (x). Le-
das ordenadas (veja uma possível ilustração na Figura 2).
mos assim: “y é igual a f
de x”, ou “y é função de x”. Há várias formas de descrever como essa correspondência é feita. Essa
Chamamos x e y de vari- descrição pode ser verbal, feita por meio de um texto que explica como as
áveis, pois podem ocu- variáveis se relacionam, ou por meio de uma tabela, mostrando alguns valo-
par valores numéricos res significativos que a variável dependente assume conforme o valor da va-
diversos. É possível utili- riável independente. Além disso, uma função pode ser representada por meio
zar quaisquer letras para
de uma fórmula matemática, ou então por meio de um desenho ou gráfico.
as variáveis. É comum
utilizarem-se a letra x A idéia de desenhar o comportamento das funções em um plano está asso-
para variável indepen- ciada à necessidade de representar figuras tendo alguma referência espacial.
dente e y para variável Com o uso dessa representação, passou-se a utilizar um plano com duas retas
dependente. Dizemos, graduadas ortogonais destacadas, uma para representar os valores de x e outra
assim, que o valor de x os valores de y. Ou seja, para cada ponto P, precisamos ter um par de números
determina o valor para y. indicando sua posição: o número x, que inicialmente era chamado de “corte”
Por exemplo, o períme-
do ponto P, e depois ficou conhecido como abscissa (do latim “cortar”); e um
tro de um quadrado de-
segundo número y (conhecido como ordenada). Os termos abscissa, ordena-
pende do lado do qua-
drado. Se chamarmos o
da e coordenadas foram usados pela primeira vez por Leibniz em 1692.
lado de x e o perímetro
de y, temos y = 4x.
  -   

y
P (x, y)
y

Dizemos que o gráfico


de uma função é o con-
junto definido por todos
x x os pares ordenados
(x, f (x)) tais que x está
Figura 1. O ponto P no plano cartesiano. no domínio de f. Ao es-
crever, por exemplo,
O plano para representar posições recebeu posteriormente o nome de f : R →R queremos dizer
plano cartesiano, em homenagem a Descartes, que em 1637 teve a idéia de que a função f relaciona
tratar as curvas geométricas por meio de expressões algébricas, originando elementos do conjunto
assim a Geometria Analítica, que você verá com mais detalhes no Módulo 6. dos número reais R. Você
No plano cartesiano, as duas retas de referência recebem o nome de eixos verá adiante que, por
coordenados, como na Figura 1. exemplo, se f : R+ →R for

y definida por f (x) = ,


então o domínio de f
y = f (x) neste caso são os reais
positivos (que represen-
tamos por R+ ). O contra-
Imagem de f domínio é o conjunto
dos reais (R), e a imagem
é R+ , pois o símbolo
x sempre indica a raiz qua-
Domínio de f drada positiva de um nú-
mero real. (Veja mais so-
Figura 2. Ilustração de possível condição de domínio e imagem de uma função f.
bre a função raiz quadra-
Vejamos agora um exemplo de uma função representada de diversas formas: da na Unidade 3 deste
Módulo.)
a) Registro verbal:
Uma formiga se move sobre uma régua em linha reta na direção crescen-
te dos centímetros, com velocidade constante de 2 cm por segundo. Supon-
do que, quando começamos a observar a formiga, ela se encontra a 4 cm da
origem, onde ela estará após 5 segundos?

b) Tabela:
Tempo (em segundos) Posição (em centímetros)
0 4
O filósofo e matemático
1 6 alemão Gottfried Wilhelm
2 8 von Leibniz nasceu em
1º de julho de 1646 e fa-
3 10
leceu em 14 de novem-
4 12 bro de 1716. Foi um dos
... ... criadores do Cálculo Di-
ferencial e Integral, e aju-
dou a desenvolver a lin-
guagem das funções.




c) Fórmula algébrica:
Chamando de t o tempo de percurso da formiga e de S sua posição, temos
que para o valor t = 0 s, a formiga está na posição S = 4 cm. A cada segundo,
somam-se 2 cm à sua posição. Assim, para t = 1 s, temos S = 2 + 4 = 6 cm. Para
t = 2 s, temos S = 2 x 2 + 4 = 8 cm. Generalizando esse procedimento, vemos
que a fórmula para o deslocamento da formiga é:
S = 2t + 4

d) Gráfico:
No caso, podemos obter o valor desejado: após
13
5 s de passeio a formiga está na posição 12 cm.
12 Observe que a linguagem gráfica às vezes pode
11 trazer informação adicional. No caso da formiga,
10
não foi informado o que ocorria antes de come-
9
çarmos a observar, ou seja, no tempo “negativo”
8
que veio antes do início da observação (ou o que
7
viria depois da observação). Além disso, se a in-
6
formação fosse só a fornecida pela tabela, não te-
5
ríamos condições de saber exatamente qual é a
4

3
função. Existem situações em que não é possível
2
obter determinada representação para uma dada
1
função. Em outras situações, pode ocorrer que uma
certa representação seja muito mais útil que as
–2 –1 1 2 3 4 5
–1 demais. Por isso é importante conhecer todas.
–2

–3

Figura 3. Gráfico de S em
função de t

SIMETRIAS: TRANSLAÇÃO, ROTAÇÃO, REFLEXÃO


Encontramos vários exemplos de figuras simétricas na natureza. Muitos
seres vivos têm uma configuração simétrica. Uma idéia de figuras simétricas
é a encontrada nas gravuras abaixo. Se dobrarmos a folha de papel ao longo
das retas tracejadas, a figura se sobrepõe. Estas retas são chamadas de eixos
de simetria. Muitas vezes nem percebemos, mas há várias figuras simétricas
na natureza. Veja os eixos de simetria indicados abaixo.
René Descartes foi um fi-
lósofo e matemático
francês que nasceu em
31 de março de 1596 (em
uma cidade que hoje se
chama Descartes) e fale-
ceu em 11 de fevereiro
de 1650. Pai da chamada
Filosofia Moderna, foi
um dos criadores da Ge-
ometria Analítica, junta-
mente com o também
francês Pierre de Fermat
(1601-1665).
Figura 4. Observando eixos de simetria especular.


  -   

Esse tipo de simetria é chamado de especular, por lembrar a reflexão do O prefixo iso significa igual;
espelho. Há outras formas de simetria que são bastante interessantes. Para isso portanto, transformações
vamos pensar um pouco nos movimentos que podemos fazer com uma figura isométricas são aquelas que
em um plano. mantém as distâncias en-
Podemos definir uma transformação geométrica em um plano como uma tre os pontos.
correspondência um a um entre pontos do plano. Assim, por meio de uma
transformação, os pontos de uma dada figura no plano correspondem a uma
outra figura (sua imagem) no mesmo plano. As transformações que não alte-
ram as distâncias entre os pontos relacionam figuras congruentes, e são ditas
transformações isométricas. Por não distorcer as imagens, essas transforma-
ções são chamadas de movimentos rígidos no plano. As transformações
isométricas de um plano são translação, reflexão e rotação, e todas as combi-
nações entre esses movimentos.
Translação é a transformação em que todos os pontos de uma figura se
deslocam numa mesma direção, sentido e de uma mesma distância. Essa dire-
ção pode ser horizontal, vertical ou uma combinação delas.
Reflexão em relação a alguma reta m, que pode ser chamada de eixo de
reflexão ou de simetria, é a transformação que a cada ponto P associa o seu
simétrico P’ em relação a m, isto é, m é a mediatriz do segmento PP’. Se
dobrarmos a folha de papel ao longo de m, os pontos P e P’ se sobrepõe.
Rotação é o giro da figura em torno de algum ponto e de um determinado
ângulo.
Veja exemplos de transformações sobre o desenho da figura abaixo:

Translações Maurits Cornelis Escher


(1898-1972), nascido na
Holanda, foi um dos ar-
tistas gráficos mais fa-
mosos do mundo e pro-
duziu mais de 2.500 de-
senhos e outras formas
Reflexões de arte que representam
(em relação aos eixos) demonstrações do po-
tencial artístico da Mate-
mática. Jogando com si-
metrias, transformações
e perspectivas, seus de-
senhos são intrigantes e
maravilham o olhar hu-
Rotação mano, criando ilusões e
(em torno da origem) um mundo fantástico de
formas (veja mais em
Figura 5. Os movimentos rígidos. www.mcescher.com).
Para mim, permanece uma
Esses movimentos, bem como suas combinações, geram padrões que são questão em aberto se [esta
muito utilizados na arte, na arquitetura e na decoração. Considerar esses mo- obra] pertence ao reino da
vimentos no plano pode ser útil para compreendermos as funções matemáti- matemática ou da arte.
cas. Por outro lado, as funções podem nos ajudar a compreender e representar
M.C. Escher
melhor essas e outras transformações.




DESENHANDO COM FUNÇÕES


Os quatro quadrantes em que um plano cartesiano fica dividido por seus
dois eixos oferecem várias oportunidades de aplicar a idéia de transformações
a desenhos de funções. Para entender como funciona, vamos pensar em um
ponto P representado por um par (x,y). Se os números x e y forem positivos
não nulos, então o ponto está representado no primeiro quadrante. O que
ocorre se tomarmos o ponto Q representado pelo par (-x,y)? O ponto terá a
mesma ordenada y que o ponto P, mas vai ocupar o lugar simétrico ao ponto P
em relação ao eixo y. Se tomarmos o ponto T (x,-y), esse ponto é simétrico a P
em relação ao eixo x. Já um ponto S (-x,-y) está no terceiro quadrante. Ele
pode ser obtido a partir de P por meio de uma rotação em torno da origem
(0,0) e de ângulo 180°. Note que S pode também ser obtido a partir de P por
duas sucessivas reflexões em relação aos eixos coordenados. Veja a ilustração
abaixo:
y

Q (–x, y) P (x, y)

–x x x

S (–x, –y) –y T (x, –y)

Figura 7. Posições relativas entre pontos no plano cartesiano.

Estas mesmas relações podem ser empregadas quando fazemos algumas


operações com a função ou com a variável independente. Se uma função
f : R →R possui uma representação gráfica como segue, vejamos o que ocorre
quando tomamos y = f (x), y = f (–x), y = –f (x), e y = –f (–x).
9
8 y = f (x)
7
6
5
4
3
2
1

–9 –8 –7 –6 –5 –4 –3 –2 –1 – 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9
–2
–3
–4
–5
–6
–7
–8
–9

Figura 8. Gráfico de uma função y = f(x).


Figura 6: Objetos deco- Observe a figura abaixo. Nela estão desenhados os gráficos de y = f (x),
rativos nos quais são vi-
y = f (–x), y = –f (x), e y = –f (–x). Em cada gráfico identifique o domínio e a
síveis movimentos rígi-
imagem, observando as alterações em comparação ao domínio e imagem de
dos (www.sgarlata.it)
y = f (x).


  -   

y = f (–x) y = f (x)

y = –f (–x) y = –f (x)

Figura 9. Gráfico de y = f(x) e simetrias por espelhamento em torno dos eixos.

Dado o gráfico de uma função, podemos fazer translações, rotações e


reflexões. Você verá exemplos disso ao estudar algumas funções específicas
neste módulo. O que ocorre com o gráfico de uma função se somamos ou
subtraímos a ela uma constante? Em y = f (x), se somamos ou subtraímos uma
constante à variável dependente y, faremos seu gráfico deslocar-se pelo plano
cartesiano. Observe o desenho abaixo e tire suas conclusões.

4 y = f (x) + 2

3 y = f (x) + 1

2 y = f (x)

1 y = f (x) – 1

–4 –3 –2 –1 1 2 3 y = f(x) – 2
–1
y = f (x) – 3
–2

–3

–4

Figura 10. Gráfico de y = f(x) e translações verticais.

Observe agora o que ocorre quando somamos ou subtraímos uma cons-


tante à variável independente em y = f (x). Tire suas conclusões.
4 1)
3) 2) 1) 2)
x+ x+ x+ (x
) x– x–
3 f( f( f( f f( f(
y = f (x + 4) y= y= y= y= y= y=
2

–3 –2 –1 1 2 3 4
–1

–2

–3

–4

Figura 11. Gráfico de y = f(x) e translações horizontais.




Agora faça você:


Dado o desenho de y = f(x) abaixo, diga o que deve ser feito com f(x) para
obter a função g(x), cujo desenho é dado. Explicite os domínios e imagens de
cada uma das funções envolvidas.
y
a) 4

3
y = f(x)
2
y = g(x)
1

–4 –3 –2 –1 1 2 3 4 x
–1

–2

–3

–4

Figura 12. Obter as transformações de f(x) para obter g(x).

b)
y
4

3
y = f(x)
2

–4 –3 –2 –1 1 2 3 4 x
–1
y = g(x)
–2

–3

–4

Figura 13. Obter as transformações de f(x) para obter g(x).

Na mesma linha de raciocínio, podemos analisar o efeito de multiplicar,


em y = f(x), a variável independente ou a variável dependente por uma cons-
tante não nula. Isso será feito ao estudarmos o comportamento de funções
específicas, que veremos em seguida. Nas unidades seguintes, estudaremos
algumas funções importantes, conhecer seus gráficos e aprender a relacionar
alterações nos coeficientes das expressão de cada função com as alterações
em seu gráfico.


Unidade 2

Retas e parábolas
Organizadores

DESENHANDO RETAS: AS FUNÇÕES POLINOMIAIS DO


Antônio Carlos
Brolezzi
PRIMEIRO GRAU
Elvia Mureb Sallum
Uma função polinomial de primeiro grau é da forma y = ax + b, onde a e b
são constantes, x é a variável independente, y é a variável dependente e a ≠ 0. Martha S. Monteiro

Observemos que, se a = 0, temos y = b, que é uma função constante. O Elaborador


gráfico de y = b é uma reta horizontal, ou seja, uma reta paralela ao eixo das Antônio Carlos
abscissas, pois para qualquer valor de x, o valor de y é sempre o mesmo: b. Brolezzi
Nesse caso, a função y = b é uma função polinomial de grau zero.
Quando a ≠ 0, o gráfico de y = ax + b é uma reta não horizontal mas
também não vertical – lembre que uma reta vertical não pode ser gráfico de
uma função.
Vamos entender porque o gráfico de y = ax + b é uma reta.

Figura 14. Quaisquer três pontos são alinhados.


Seja A = (xA, yA) um ponto do gráfico, isto é, de yA = axA + b. Se B = (xB, yB)
e C = (xC, yC) são outros dois pontos do gráfico não coincidentes e distintos de
A, temos: yB = axB + b e yC = axC + b. É preciso observar que, em se tratando
de três pontos distintos do gráfico de uma função, as abscissas de A, B e C são
duas a duas distintas. Então, temos:
- a partir de yA = axA + b e yB = axB + b: yB – yA = a (xB – xA), ou seja,

a= ;

- a partir de yA = axA + b e yC = axC + b: yC – yA = a (xC – xA), ou seja,

a= .


Assim, na figura acima, observamos que os triângulos ABP e ACQ são


semelhantes pelo caso LAL de semelhança, pois possuem um ângulo reto e os
lados adjacentes a esse ângulo respectivamente proporcionais, já que

= . Dessa maneira, o ângulo de vértice no ponto A no primeiro


triângulo é congruente ao ângulo de vértice no ponto A no segundo triângulo,
ou seja, o ponto C está alinhado com os pontos A e B. A reta que contém esses
pontos é aquela cujo coeficiente angular é precisamente a, que é a medida da
tangente trigonométrica do ângulo de inclinação a da reta – ângulo que a reta
forma com o semi-eixo horizontal positivo. Por quê? Justifique.
Uma vez que o raciocínio feito para A, B e C pode ser repetido para qual-
quer ponto do gráfico da função y = ax + b, concluímos que o gráfico é, de
fato, uma reta.
A partir do gráfico da função mais simples desse tipo, que é y = x, pode-
mos entender o gráfico de qualquer outra função desse mesmo tipo.

Para cada valor de x, o valor da variável


dependente y é igual a x. Dessa ma-
neira, o triângulo OAB é retângulo e
isósceles e, portanto, o ângulo BÔA
tem 45o, ou seja, a reta que passa por
O e B é a bissetriz do primeiro e ter-
ceiro quadrantes

Figura 15. O gráfico da função y = x

Consideremos agora o caso de y = ax com a ≠ 0.

Primeiramente, se a > 0, e fazendo a = 1, a = 2, a = , a = , por exemplo,


observe na figura abaixo: para cada valor não nulo da abscissa x, o valor da
ordenada correspondente é, respectivamente, x, 2x, x, x. Além disso, para
x = 0 temos sempre y = 0, o que significa que todas essas retas passam pela origem.
Dessa maneira, variando o coeficiente a > 0 em y = ax, observamos que o
ângulo de inclinação da reta varia: se a > 1, o ângulo é maior que 45o; se
0 < a < 1, o ângulo é menor que 45o.
y = 2x y=x

y= x

y= x

Figura 16. Gráfico de funções do tipo y = ax com a > 0.


  -   

Se o coeficiente a é negativo, o raciocínio é semelhante. Examinamos


inicialmente o caso em que a = –1. O gráfico de é a reflexão do gráfico de y
= x com relação ao eixo horizontal.
y = –x y=x

Figura 17. Os gráficos das funções y = x e y = –x.

Novamente, se a < 0, observe na figura abaixo, onde a = –1, a = –2, a = – ,

a=– : para cada valor não nulo da abscissa x, o valor da ordenada corres-

pondente é, respectivamente, –x, –2x, – x, – x. Além disso, como antes,


para x = 0 temos sempre y = 0, o que significa que todas essas retas passam
pela origem.
Dessa maneira, o coeficiente a < 0 em y = ax também faz mudar o ângulo
de inclinação da reta: se a < –1, temos a reta numa posição mais próxima da
vertical; se –1 < a < 0, a reta se encontra numa posição mais próxima da
horizontal. y = –x y = –2x

y= – x

y=– x

Figura 18. Gráfico de funções do tipo y = ax com a < 0.

Observe que o gráfico de cada uma dessas funções é simétrico relativa-


mente ao eixo x, ao da função que tem o mesmo coeficiente, mas com sinal
positivo, na Figura 16.

Uma vez entendida a ação do coeficiente a, precisamos entender qual o


papel do coeficiente b na equação y = ax + b.
Basta observar um caso simples e, a partir daí, a generalização é imediata.
De fato, comparando os gráficos de y = x e de y = x +1, observamos que,
ao fazer o segundo gráfico, para um mesmo valor de x a ordenada foi acresci-




da de uma unidade quando comparada àquela do ponto correspondente no


gráfico de y = x. Por isso, no gráfico de y = x + 1 ocorreu uma translação
vertical de uma unidade quando comparado ao gráfico de .
y=x+1 y=x

Figura 19. Os gráficos das funções y = x e y = x + 1.


Para qualquer outro valor do coeficiente b acontece algo análogo: se b > 0 há
uma translação vertical para cima; se b < 0 há uma translação vertical para baixo.

Assim, para obter o gráfico, por exemplo, da função y = – x+ , faze-


mos vários gráficos intermediários a fim de entender os movimentos ocorri-
dos, a partir do gráfico de y = x.
y=– x y=– x+
y=x

y = –x

Figura 20. O gráfico da função y = – x+ a partir do gráfico de y = x.


Agora faça você:
Esboce os gráficos de:

a) y = x–2

1. Uma parábola é uma


curva especial, que pode b) y = – x+ ,
ser obtida através de
uma determinada sec- a partir do gráfico de y = x.
ção da superfície de um
cone. Estuda-se esse as- DESENHANDO PARÁBOLAS: AS FUNÇÕES
sunto em Geometria Ana- POLINOMIAIS DO SEGUNDO GRAU
lítica. Entretanto, mais
adiante, neste mesmo A função polinomial do segundo grau, ou função quadrática, mais sim-
módulo, vamos detalhar ples, é dada pela expressão y = x2 e tem por gráfico uma curva denomina-
alguns aspectos desse da parábola 1. Como sempre, x é a variável independente e y é a variável
tipo de curva. dependente.


  -   

O ponto dado pelo par


ordenado (0,0) deno-
mina-se vértice da pa-
rábola y = x2

Figura 21. O gráfico da função y = x2.


A partir do gráfico dessa função, podemos entender o gráfico de qualquer
função polinomial do segundo grau, dada por y = ax2 + bx + c, onde a, b e c são
constantes, sendo que a é não nulo. O que acontece se o coeficiente a é zero?
Entretanto, como veremos a seguir, precisamos escrever a função num
outro formato: y = a(x + m)2, onde a, m e k são constantes, a ≠ 0, que se
relacionam com a, b e c, dados inicialmente, o que também será detalhado
mais adiante.
Como fizemos no caso das funções de primeiro grau, vamos entender
primeiro qual é a ação do coeficiente a. Para tanto, vamos examinar o caso
das funções do tipo y = ax2, com a ≠ 0.
Primeiramente, se a > 0, observe na figura abaixo: para cada valor não
nulo da abscissa x, o valor da ordenada correspondente é, respectivamente,

x2, 2x2, x2, x2. Além disso, para x = 0 temos sempre x = 0, o que significa
que todas as curvas passam pela origem.
Dessa maneira, o coeficiente a > 0 em y = ax2 faz mudar o ângulo de 2. O ângulo de inclinação
inclinação da curva2: se a > 1, o ângulo aumenta (a parábola fica mais “fecha- de uma curva num pon-
da”), se 0 < a < 1, o ângulo diminui (a parábola fica mais “aberta”). to é o ângulo de inclina-
ção da reta tangente à
x 2 x2 curva nesse ponto.
2x2
2
x

Figura 22. Gráfico de funções do tipo y = ax2 com a > 0.

Se o coeficiente a é negativo, a situação é, de certa maneira, semelhante.


Examinemos inicialmente o caso em que a = –1. O gráfico de y = –x2 é a
reflexão do gráfico de y = x2 com relação ao eixo horizontal. Por quê?




y = x2

y = – x2

Figura 23. Os gráficos das funções y = x2 e y = – x2.


Também agora, se a < 0, observe na figura abaixo: para cada valor não
nulo da abscissa x, o valor da ordenada correspondente é, respectivamente, –x2,

–2x2, – x2, – x2. Além disso, como antes, para x = 0 temos sempre y = 0, o
que significa que todas as curvas passam pela origem.
Dessa maneira, o coeficiente a < 0 em y = ax2, como antes, faz mudar o
ângulo de inclinação da curva: se a < – 1, a parábola fica mais “fechada”, se
–1 < a < 0, a parábola fica mais “aberta”.

O ponto dado pelo


par ordenado (0, 0)
é o vértice da pa-
rábola y = ax2, para
todo a < 0.

y=– x2

y = – 2x2 y = –x2 y=– x2

Figura 24. Gráfico de funções do tipo y = ax2 com a < 0

Vamos agora analisar o caso de funções do tipo y = ax2 + k, a ≠ 0. Para


tanto, na figura abaixo estão os gráficos de funções desse tipo para alguns
possíveis valores de k. 2 2
y=x +2 y=x +1

y = x2

y = x2 – 3

Figura 25. Gráfico de funções do tipo y = ax2 + k para diferentes valores de k.

Novamente, basta observar um caso simples e, a partir daí, a generaliza-


ção é imediata.


  -   

De fato, comparando os gráficos de y = x2 e de y = x2 + 1, observamos


que no segundo gráfico ocorreu uma translação vertical de uma unidade, pois
para um mesmo valor de x, a ordenada do ponto, no segundo gráfico, foi
acrescida de uma unidade quando comparada àquela do ponto corresponden-
te no gráfico de y = x2.
Para qualquer outro valor do coeficiente k acontece algo análogo: se k > 0
há uma translação vertical para cima; se k < 0 há uma translação vertical para
baixo. Qual é o vértice de uma parábola dada por y = ax2 + k, a ≠ 0?

Analisemos agora o caso da função y = a(x + m)2, a ≠ 0. Vamos examinar


os gráficos das funções y = x2, y = (x + 1)2 e y = (x – 2)2, pois o entendimento
de casos particulares vai nos levar imediatamente à generalização necessária.
y = (x + 1)2 y = x2

y = (x – 2)2

Figura 26. Gráfico de funções do tipo y = a(x + m)2 para alguns valores de m.

É preciso observar que em y = (x + 1)2 o valor x = –1 exerce o mesmo


papel que x = 0 em y = x2, que é o de zerar a variável dependente y. O mesmo
acontece com x = 2 em y = (x – 2)2. Uma análise relativa a todos os outros
valores das abscissas nos mostram que o gráfico de y = (x + 1)2 sofreu uma
translação horizontal de –1 unidade (isto é, de uma unidade para a esquerda),
enquanto que o gráfico de y = (x – 2)2 sofreu uma translação horizontal de
duas unidades (ou seja, de duas unidades para a direita) quando comparados
ao gráfico da função mais simples y = x2.
Evidentemente, para qualquer outro valor de m, a análise é semelhante.

Vejamos então como fazer o gráfico de, por exemplo, y = 3 – 2,

fazendo os vários gráficos intermediários a fim de entender os movimentos


ocorridos, a partir do gráfico de y = x2.
y = 3.

y=

y = x2

y = 3. –2

Figura 27. O gráfico da função y = 3 – 2 a partir do gráfico de y = x2.




É preciso observar que primeiro construímos o gráfico da função mais

simples y = x2; em seguida, o gráfico de y = no qual observamos a

translação horizontal de – ; depois o gráfico de y = 3. onde é possí-

vel visualizar a mudança de inclinação da curva provocada pelo fator 3; final-

mente, o gráfico de y = 3. – 2 com a translação vertical de –2. O

vértice da parábola y = 3. – 2 é o ponto .

Agora faça você:


1. Construa o gráfico de y = – 2(x – 1)2 + a partir do gráfico de y = x2.
2. Invente outra função polinomial do segundo grau e peça para seu colega
esboçar o gráfico. Reciprocamente, esboce o gráfico da função inventada por
ele. Não esqueça de partir de y = x2, a fim de entender a ação dos coeficientes
nos movimentos do gráfico inicial.

DESENHOS CRIATIVOS
Os gráficos das funções permitem que você dê asas à imaginação! Por
exemplo, as figuras abaixo foram criadas utilizando tão somente gráficos de
funções quadráticas. Você pode, eventualmente, utilizar o software Winplot3
3. O Winplot é um software como ajuda para resolver o problema:
livre, disponível, inclusi- Sabendo que as figuras abaixo são formadas apenas por arcos de parábo-
ve em português, no en- las, defina as funções e seus respectivos domínios, de modo a obter cada uma
dereço: http://math.exeter.
das figuras dadas.
edu/rparris
a) b)

Em seguida, para cada uma das duas máscaras, você é capaz de obter a
figura simétrica em relação a um eixo vertical (e a um eixo horizontal) que
não passe por ela? Em cada caso, defina as funções com seus domínios, cujos
gráficos lhe permitem obter as reflexões realizadas.

Agora faça você


Invente figuras utilizando arcos de parábola ou segmentos de reta. Em
seguida, defina as funções e seus respectivos domínios, de modo que através
de seus gráficos seja possível obter a figura criada.


  -   

COORDENADAS DO VÉRTICE DE UMA PARÁBOLA:


COMPLETANDO QUADRADOS
Como vimos, o gráfico de y = x2 é uma parábola cujo vértice é o ponto

(0,0), enquanto que o gráfico de y = 3. – 2 é uma parábola cujo

vértice é o ponto . Assim, quando a função quadrática está dada no

formato em que são visíveis as translações horizontal e vertical em relação ao


gráfico de y = x2, automaticamente temos as coordenadas do vértice da pará-
bola correspondente.
A questão toda está centrada no seguinte problema: dada uma função
polinomial do segundo grau y = ax2 + bx + c, como é possível reescrevê-la de
maneira tal que seu gráfico possa ser enxergado como resultado de movimen-
tos realizados no gráfico de y = x2?
Vejamos por meio de um exemplo inicial como é possível resolver esse
problema.
Seja y = x2 – 4x + 5. Essa expressão pode ser reescrita da seguinte maneira:
y = x2 – 4x + 5 = x2 – 4x + 4 + 1, pois 4x = 2 . x . 2. Assim,
y = x2 – 4x + 5 = (x – 2)2 + 1, de onde podemos observar a translação
horizontal de duas unidades e a translação vertical de uma unidade, em com-
paração ao gráfico de y = x2. Esboce o gráfico da função y = x2 – 4x + 5. Qual
o vértice da parábola obtida?
Vejamos agora um exemplo um pouco mais “difícil”:

Seja y = 3x2 – 7x + 2. Temos então: y = 3 .

Observamos que é possível escrever x=2.x. e, portanto,

y=3 onde somamos e subtraímos = .

Logo, como , temos:

Y=3

Dessa forma a função dada inicialmente pode ser escrita num outro for-

mato: y = 3x2 – 7x + 2 = , no qual percebemos que, comparan-

do com o gráfico de y = x2, houve uma translação horizontal de e uma




translação vertical de – , além da mudança de inclinação provocada pelo


y = x2
fator 3.
y=

y = 3.

y=

Figura 28. O gráfico de y = 3x2 – 7x + 2 a partir do gráfico de y = x2.


O processo desenvolvido é denominado completamento de quadrados,
pois a grande questão foi a de obter o quadrado de uma soma ou de uma
diferença. Completar quadrados é útil para escrever a expressão da função poli-
nomial de segundo grau de maneira que a compreensão de seu gráfico a partir
da função mais simples y = x2 seja imediata, facilitando, em particular, a deter-
minação das coordenadas do vértice da parábola, evitando a necessidade de
decorar fórmulas.
A fim de resolver o problema geral colocado, precisamos fazer o mesmo
cálculo, mas de maneira formal, com coeficientes literais.
Sendo y = ax2 + bx + c, temos:

y=a ,
uma vez que o coeficiente a é certamente não nulo.

Como x=2. . x, temos:

y=a

pois somamos e subtraímos o termo = .

Daí então, como – + = , temos:

ou ainda,

É bom observar que as coordenadas do vértice estão automaticamente


determinadas na última expressão escrita, além de estarem claramente explí-
citas as translações horizontal e vertical e a mudança de inclinação em relação
ao gráfico da função mais simples y = x2. Além disso, nessa última expressão
é possível perceber a maneira pela qual se relacionam a, m e k com a, b e c,
conforme havíamos anunciado. Escreva a, m e k em função de a, b e c!


  -   

Agora faça você:


Esboce o gráfico das funções, a partir do gráfico de y = x 2, completando
quadrados:
a) y = x2 – 10x + 25
b) y = x2 – 6x + 10
c) y = 2x2 – 4x + 3
d) y = 3x2 – 10x + 5

QUEM PRECISA DE FÓRMULAS?


Em Matemática, muitas vezes, você acaba decorando procedimentos e,
portanto, regras ou fórmulas, de tanto utilizá-las. Mas esse não é o principal
objetivo. Os raciocínios envolvidos, as estratégias utilizadas e os atalhos bus-
cados envolvem criatividade e esperteza. E aí se encontra um interessante
objetivo presente em qualquer curso de Matemática: resolver problemas ten-
tando minimizar esforços, de maneira significativa.
A determinação das raízes de uma equação polinomial de segundo grau é
exemplo de uma situação na qual o fato de saber uma fórmula decorada, sem
significado, é desnecessário.
Observe que, completando quadrados, imediatamente é possível encon-
trar as raízes da equação.
Considere a equação 3x2 – 7x + 2 = 0. Como vimos no exemplo anterior,

após completar quadrados, 3x2 – 7x + 2 = . Isso significa que

resolver a equação 3x2 – 7x + 2 = 0 é o mesmo que resolver = 0.

Da última equação podemos escrever:

4. Apesar de uma parábo-


3. = ou =
la ser uma curva que tem
de onde temos: um formato bastante co-
nhecido, existem outras
curvas que têm um for-
x– = ou x– =–
mato semelhante, mas
ou seja, encontramos as duas raízes da equação inicial: não são parábolas. Por
exemplo, o fio de telefo-
ne, quando não está per-
x= + =2 ou x=– + = feitamente esticado en-
tre dois postes, não for-
Naturalmente, o raciocínio pode ser generalizado para a equação
ma uma parábola, mas
ax2 + bx + c = 0. Verifique!
outra curva denominada

PARÁBOLAS4
catenária. Para decidir se
ATRAVÉS DE DOBRADURAS uma dada curva é ou não
Muito embora você estude as secções cônicas no contexto de Geometria uma parábola, é necessá-
Analítica, vamos propor aqui uma atividade interessante envolvendo as pará- rio verificar se seus pon-
tos satisfazem a proprie-
bolas, já que as utilizamos amplamente. Essa atividade consiste na construção
dade que define uma pa-
de uma parábola através de dobradura. É conveniente realizá-la em papel ve-
rábola.
getal, por ser um papel que possui a consistência adequada.




5. Dizemos que uma reta Em sua folha, desenhe uma reta e um ponto não pertencente a ela. Em
t é tangente a uma pará- seguida, dobre o papel de modo que o ponto fique sobre a reta; desdobre-o e
bola quando t encontra dobre-o novamente com a mesma condição: o ponto deve ficar sobre a reta.
a parábola em um único Faça isso muitas vezes, até você encontrar o resultado esperado: a parábola
ponto, deixando-a total- construída por meio de suas tangentes5.
mente contida num dos
dois semiplanos que t Evidentemente, é preciso mostrar que de fato isso é verdade: ou seja, cada
determina. uma das retas construídas – as dobras – é uma reta tangente, isto é, possui um
ponto que satisfaz a definição de parábola e esse é o único ponto da reta com
tal propriedade.
Definição de i) Existe um ponto que satisfaz a definição de parábola
parábola:
Dados uma reta d e um
ponto F não pertencen-
te a d, a parábola é o lu-
gar geométrico dos
pontos T do plano que
contém F e d, tais que a
distância de T a F é igual
à distância de T a d.

Figura 29. Existe um ponto da parábola na dobra.


6. A mediatriz de um seg-
mento é a reta perpen-
Basta observar que a “dobra” é a mediatriz do segmento FD6 e o ponto T
dicular ao segmento é a intersecção da dobra com a perpendicular a d pelo ponto D. Sendo assim,
pelo seu ponto médio. pela congruência dos dois triângulos determinados, concluímos que os seg-
Equivalentemente, a mentos TF e TD são congruentes, logo T pertence à parábola.
mediatriz de um seg-
ii) O ponto T é o único ponto que satisfaz a definição de parábola e que se
mento é o lugar geomé-
encontra na “dobra”.
trico dos pontos do pla-
no que são eqüidistantes
dos extremos do seg-
mento.

Figura 30. Existe um único ponto da parábola na dobra.


De fato, se existisse outro ponto T’ na mesma “dobra”, teríamos novamen-
te que os segmentos T’F e T’D seriam congruentes pela definição de mediatriz.
Mas T’D>T’D’, pois T’D é a hipotenusa do triângulo retângulo T’D’D. Assim
sendo, T’ não pertence à parábola.
Examine a sua curva construída no papel vegetal. Observe que a reta dada
inicialmente é a diretriz d e que o ponto dado é o foco F. Observe também que
o vértice de sua parábola se encontra na reta perpendicular, traçada por F, à
diretriz d. Mais uma observação importante é o fato de que essa perpendicular
é justamente o eixo de simetria da parábola.
Como exemplo de determinação do foco e da diretriz do gráfico de uma
função polinomial do segundo grau, utilizando não fórmulas decoradas, mas
a definição de parábola, vamos examinar o caso de y = x2.


  -   

Uma vez que o vértice da curva é o ponto O = (0, 0) – não esqueça que o
vértice, sendo um ponto da curva, precisa satisfazer a propriedade que carac-
teriza a parábola – a fim de determinar o foco e a diretriz, vamos procurar um
ponto F = (0, p) e uma reta y = – p, pois dessa forma a distância de O a essa
reta é p, e a distância de O a F também é p. O parâmetro p precisa ser determi-
nado a fim de encontrar F e d.
Para tanto, vamos impor a condição: a distância de qualquer ponto P = (x, y)
da curva ao ponto F seja a mesma do que a distância do ponto P à reta diretriz d.
P = (x, y)
F = (0, p)
D = (x, y – p)
M = (x, y + p)
Logo, por Pitágoras, a distância de P

a F é:

e a distância de P a d é a medida de
, logo é: y + p.

Figura 31. O ponto P é eqüidistante do foco F e da diretriz d.

No triângulo retângulo PDF temos que a medida do cateto éy–pea


medida do cateto é x. Logo, a medida da hipotenusa , pelo Teorema de

Pitágoras, é , que é a distância de P a F.

Por outro lado, a distância de P à reta diretriz d é dada por y + p.


Impondo a condição de que P pertence a uma parábola, temos:

=y+p
e daí, elevando ambos os membros ao quadrado,
x2 + (y – p)2 = (y + p)2
ou seja,
x2 + y2 – 2py + p2 = y2 + 2py + p2
e, portanto,
x2 = 4py
isto é,

y= x2

Como y = x2, obtemos = 1, ou seja p = .

Logo, o foco é o ponto F = e a diretriz é a reta y = – .




Agora faça você:


Determine o foco e a reta diretriz das parábolas dadas por:

a) y = –2y

b) y = 3x2

c) y = 3 +1

d) y = 5x2 – 4x + 1
Sugestão: Desenhe o gráfico de cada função, partindo da função mais simples
y = x2.


Unidade 3

Algumas outras funções


e seus gráficos
Organizadores
Antônio Carlos
A FUNÇÃO MÓDULO DE UM NÚMERO REAL Brolezzi
O conceito de módulo de um número real está associado à idéia de distân- Elvia Mureb Sallum
cia de um ponto da reta à origem. Como existe uma correspondência biunívoca1
entre os pontos da reta e os números reais, pensar na distância de um ponto à Martha S. Monteiro
origem ou pensar no módulo de um número é exatamente a mesma coisa. Elaborador
Dessa maneira, |5| = 5 e |–5| = 5, pois o número 5 está a uma distância de 5 Antônio Carlos
unidades da origem, e o ponto –5 também está a 5 unidades da origem. Brolezzi
De modo geral, definimos o módulo de um número real a da seguinte
maneira:
1. Dados dois conjuntos
se a > 0, |a| = a;
A e B, dizemos que eles
se a < 0, |a| = – a; estão em correspondên-
cia biunívoca quando a
se a = 0, |0| = 0. cada elemento de A cor-
Podemos definir uma função que, a cada número real x associa o módulo responde um único ele-
de x, ou seja, a distância de x à origem. Temos assim: mento de B e reciproca-
mente.
x se x ≥ 0
y = |x| =
– x se x < 0
O gráfico dessa função tem o seguinte aspecto:

Figura 32. O gráfico de y = |x|


Com efeito, para os valores positivos ou zero da variável independente x,
o valor da variável dependente y é o mesmo que x, pois y = x; para valores
negativos de x o valor de y é –x, pois y = –x. Dessa forma, o gráfico é formado
por duas semi-retas de mesma origem.
Outra maneira interessante de olhar para o gráfico de y = |x| é considerar
que ele coincide com a reta y = x para valores de x positivos ou zero, enquan-


to para valores negativos de x, tomamos a semi-reta “rebatida”, pois, nesse


caso, |x| = – x. Esta semi-reta “rebatida”, evidentemente, é simétrica à original
em relação ao eixo horizontal.

y = |x|

Observe que o
gráfico de y = |x| se
sobrepõe ao de y = x
quando x > 0.
y=x

Figura 33. Os gráficos de y = x e de y = |x|.


Essa última consideração nos permite entender rapidamente como será o
gráfico de y = |f (x)| para uma dada função f conhecida. De fato,
f (x) se f (x) ≥ 0
|f (x)| =
– f (x) se f (x) < 0
e, portanto, seu gráfico:
i) coincide com o gráfico de f para todos os valores da variável independen-
te x nos quais a variável dependente é positiva ou zero;
ii) é o “rebatido” ou o simétrico do gráfico de f em relação ao eixo horizon-
tal, para todos os valores da variável independente x nos quais a variável
dependente é negativa.

Figura 34. O gráfico de y = f (x). Figura 35. O gráfico de y = |x|.

Tudo o que vimos até aqui nos permite resolver um grande número de
problemas, como diversas inequações.
Seja, por exemplo, a inequação |1–|2x – 1|| > |1 – 3x| – 3.
Inicialmente, vejamos a situação graficamente, esboçando os gráficos das
funções envolvidas na inequação dada, ou seja, y = |1 – |2x – 1|| e y = |1 – 3x| – 3.


  -   

y = |2x – 1|

y = |1 – |2x – 1||

y = –|2x – 1|
y = 1 – |2x – 1|

Figura 36. O gráfico de y = |1 – |2x – 1||.

y = |1 – 3x|

y = |1 – 3x| – 3

Figura 37. O gráfico de y = |1 – 3x| – 3

Figura 38. Os gráficos das funções envolvidas na inequação no mesmo sistema de eixos.
Precisamos encontrar as intersecções entre os gráficos das duas funções.
Para tanto, basta resolver as equações:
i) – (1 – (– (2x – 1))) = 1 – 3x – 3 ou seja, – 2x = – 3x – 2
ii) – (1 – (2x – 1)) = – (1 – 3x) – 3 ou seja, 2x – 2 = 3x – 4
Há vários raciocínios em termos de gráficos originais e rebatidos para
chegar às duas equações. Confira com cuidado!
Da primeira equação, obtemos x = – 2 e, da segunda, x = 2, que fornecem
as abscissas dos pontos de intersecção dos dois gráficos.
Como a inequação proposta |1 – |2x – 1|| ≥ |1 – 3x| – 3, “exige” que o gráfico
da função do primeiro membro esteja acima ou coincidente com o gráfico da
função do segundo membro, o conjunto solução é: S = { x ∈ R: – 2 ≤x ≤2} ou,
em notação de intervalo, S = [–2, 2].
Como outro exemplo, vamos resolver a inequação |3x + 4| < |2x2 + 4x – 3|.
Em primeiro lugar, vamos esboçar os gráficos das funções envolvidas,
antes separadamente, depois no mesmo sistema de eixos cartesianos. Observe




que construímos esses gráficos a partir dos gráficos das funções mais sim-
ples, y = x e y = x2, respectivamente. Identifique, nas figuras abaixo, cada um
dos gráficos desenhados. y = |2x2 + 4x – 3| = |2 (x + 1)2 – 5|

y = |3x + 4|

Figura 39. O gráfico de y = |3x + 4| a partir do Figura 40. O gráfico de


gráfico de y = x. y = |2x2 + 4x – 3| = |2 (x + 1)2 – 5|
a partir do gráfico de y = x2.

Colocando os dois gráficos no mesmo sistema de eixos, temos:

y =|2x2 + 4x – 3|

y = |3x + 4|

Figura 41. Os gráficos de y = |3x + 4| e de y = |2x2 + 4x – 3|.

A fim de resolver a inequação |3x + 4| < |2x2 + 4x – 3|, vamos inicialmente


determinar as intersecções dos dois gráficos. Embora nem todas estejam visí-
veis na figura, precisamos investigar a ocorrência de intersecções em:
- Original da função do primeiro grau com original da função do segundo
grau: 3x + 4 = 2x2 + 4x – 3
- Original da função do primeiro grau com rebatida da função do segundo
grau: 3x + 4 = – (2x2 + 4x – 3)
- Rebatida da função do primeiro grau com original da função do segundo
grau: – (3x + 4) = 2x2 + 4x – 3
- Rebatida da função do primeiro grau com rebatida da função do segundo
grau: – (3x + 4) = – (2x2 + 4x – 3)
Na realidade, essas quatro equações ficam reduzidas apenas a duas:
3x + 4 = 2x2 + 4x – 3 e 3x + 4 = – (2x2 + 4x – 3). Por quê?

A primeira equação tem duas soluções: x = ou x = ;a

segunda também: x = ou x = . Verifique!


  -   

Esses quatro números precisam ser estimados2, para que seja possível a 2. Observe que 7 < <8
e que 6 < < 7.
comparação entre eles e concluir que: < < <

. Assim, é possível entender a qual intersecção corresponde cada


um deles.

Figura 42. Visualizando as intersecções dos dois gráficos.

Como é preciso que |3x + 4| < |2x2 + 4x – 3|, estamos buscando os valores de
x para os quais o gráfico de y = |3x + 4| fica abaixo do gráfico de y = |2x2 + 4x – 3|.
Logo, o conjunto solução é dado por:

S = x ∈ R: x < ou <x< ou x >

que também pode ser escrito em notação de intervalos:

S = – ∞, ∪ , ∪ ,+∞ .

Agora faça você


1. Sendo y = f (x) = x2 – 3x + 2, desenhe o gráfico de:
a) f (x) = x2 – 3x + 2
b) g (x) = f (x)
c) h (x) = 2.| f (x)| +1

d) i (x) = – . | f (x)| + 2

e) j (x) = – . | f (x) – 1| + 2

f) l (x) = – . | f (x) – 2| – 4

g) m (x) = | f (x – 3)|

2. Desenhe uma figura que tenha eixo de simetria horizontal, de maneira que
ela possa ser obtida por meio de uma ou mais funções e seus módulos em
determinado domínio. Verifique, possivelmente no computador, que as fun-
ções estabelecidas realmente produzem a figura desejada.




3. Desenhe uma figura que tenha eixo de simetria vertical. Em seguida, defi-
na as funções e seus respectivos domínios de modo que através de seus gráfi-
cos seja possível obter a figura criada.

4. Resolva as inequações graficamente primeiro e depois algebricamente:


a) (x – )2+ 3 ≤4x + 1
b) 5x2 – 4x + 2 > 1 – 5x

A FUNÇÃO RAIZ QUADRADA POSITIVA DE UM


NÚMERO REAL NÃO NEGATIVO
Seja a um número real não negativo. Dizemos que o número b é uma raiz
quadrada de a se b2 = a.
Dado um número real não negativo, podemos determinar suas duas raízes
quadradas: uma positiva e a outra negativa. Por exemplo, 2 e – 2 são as duas
raízes quadradas de 4, uma vez que 22 = 4 assim como (– 2)2 = 4.
Utilizamos o símbolo para indicar a raiz quadrada positiva, embora
muitas vezes os autores façam referência a esse símbolo como sendo o símbo-
lo de raiz quadrada. Quando se procura a raiz quadrada negativa de um nú-
mero, escreve-se necessariamente – .
Observe que não podemos escrever = ± 2, que está errado pois = 2.
Podemos então definir duas funções: a função raiz quadrada positiva de
um número real não negativo, y = , e a função raiz quadrada negativa de
um número real não negativo, y = – , ambas de domínio R+. Para estudá-
las, evidentemente, podemos detalhar o caso apenas da primeira função, pois
a segunda é a “rebatida” dela com relação ao eixo horizontal.
A função y = é a função inversa de y = x2, quando consideramos esta
última restrita ao domínio R+. De fato, essas duas funções estão intimamente
relacionadas, pois uma “desfaz o serviço” da outra, isto é:

x ∈ R+ ! x2 ! = |x| = x

eleva ao extrai a raiz


quadrado quadrada

e
3. Vimos que é irraci- x ∈ R+ ! !( )2 = x
onal. Numa calculadora
comum, em geral, só há extrai a raiz eleva ao
lugar para 8 dígitos. Por quadrada quadrado
isso, numa dessas calcu-
ladoras, o valor de é Observe que = |x| = x, pois x ∈ R+.
dado por 1,7320508 que é Para entender melhor essa questão, imagine que você eleva ao quadrado
um resultado aproxima- um número não negativo e depois extrai a raiz quadrada desse resultado: cer-
do. Dessa maneira, ao ele-
tamente vai voltar ao número dado inicialmente. Do mesmo modo, se, na
var esse resultado ao
calculadora, você calcula a raiz quadrada de um número não negativo e, em
quadrado, não vamos
obter 3, mas
seguida, eleva o resultado ao quadrado, vai encontrar como resultado o nú-
(1,732050807)2 = mero do qual você partiu, a menos de erros de aproximação3.
2,99999999.


  -   

Assim dizemos que a função raiz quadrada (positiva) e a função que eleva
ao quadrado um número não negativo são inversas uma da outra.
Os gráficos das duas funções, quando colocados no mesmo par de eixos,
apresentam uma característica muito importante: são simétricos em relação à
reta y = x. Por exemplo,os pares ordenados (1, 1), (2, 4), (3, 9), (4, 16) estão
no gráfico de y = x2. Seus simétricos, em relação à reta y = x, (1, 1), (4, 2),
(9, 3), (16, 4) estão no gráfico de y = .
De modo geral, para qualquer valor não negativo da variável independen-
te x, o par ordenado (x, y), em y = x2, é simétrico ao par ordenado (x, y) em
y= , com relação à reta y = x, bissetriz dos quadrantes ímpares.

y = x2

y=

Figura 43. Os gráficos de y = x2 e de y = para x ∈ R+, no mesmo par de eixos.


Uma vez conhecido o gráfico de y = , podemos estudar as funções
cujos gráficos são translações horizontais ou verticais ou mudanças de incli-
nação desse gráfico.

Agora faça você


1. Esboce o gráfico das funções y = ey= + 2. Para cada uma delas,
esboce também o gráfico de sua inversa, no mesmo par de eixos.

2. Resolva a inequação > x, esboçando os gráficos das funções


envolvidas a fim de visualizar o conjunto solução obtido algebricamente.
3. Invente outras equações e inequações para resolver gráfica e algebricamente.

A FUNÇÃO Y = X n, ONDE n É UM NÚMERO


NATURAL ESTRITAMENTE POSITIVO
Para cada valor do número natural n temos definida uma função de domí-
nio real. É interessante observar que os gráficos das diferentes funções obti-
das têm pelo menos dois pontos em comum. De fato, quando x = 0, temos y =
0 e quando x = 1 temos y = 1. Isso significa que, para todo n ∈ N, o gráfico de
y = xn passa pelos pontos (0, 0) e (1, 1).
Fazendo, num mesmo par de eixos, os gráficos para n = 1, n = 2, n = 3,
n = 4 e n = 5, por exemplo, temos:




y = x5 y = x4 y = x3
y = x2 y=x

Figura 44. O gráfico de y = xn para n ∈ N, 1 ≤n ≤5.


Vários fatos podem ser observados:
- O domínio de todas as funções é o conjunto dos números reais.
- Quando o expoente n é par, a imagem é o conjunto R+, e quando o expo-
ente n é ímpar, a imagem é o conjunto R.
4. Observe, se 0 < x < 1, - Várias desigualdades podem ser estabelecidas por meio da observação
multiplicando membro a dos gráficos. Por exemplo: para 0 ≤ x ≤ 1, temos: x 5 ≤x 4 ≤x 3 ≤x 2 ≤x, que
membro por x > 0, ... podem ser facilmente4 provadas algebricamente.
Às vezes, precisamos decidir se uma dada afirmação A é verdadeira ou
falsa. Se a conclusão for que A é verdadeira, precisamos ter um argumento –
gráfico, algébrico – que mostre isso. Se, porém, a conclusão for que A é falsa,
basta dar um contra-exemplo, isto é, um caso particular que mostra a falsida-
de da afirmação A.

5. O símbolo significa Seja por exemplo, A a seguinte afirmação: a < a2, a∈R5.
“qualquer que seja” ou
“para todo”. O símbolo ∈ Essa afirmação é falsa: por exemplo, não é menor que = . Obser-
significa “pertencente”
ou “que pertence”.
ve que você pode achar outros contra-exemplos.

Agora faça você:


1. Analise as afirmações abaixo e decida se são verdadeiras ou falsas. Caso a
afirmação seja verdadeira, argumente; caso seja falsa, dê um contra-exemplo.
a) Se a ≤ b, então a2 ≤b2.
b) Se a2 ≤ b2, então a ≤b.
c) a2 ≤b2 é equivalente a a ≤ b.
d) a2 ≤ b2 é equivalente a 0 ≤ a ≤ b.
e) |x| ≥ x , x ∈ R.
f) |x| ≥ x , x ∈ R.

g) =x, x ∈ R.
h) = |x|, x ∈ R.
i) x ≤x ,
2 4
x ∈ R.


  -   
1
MAIS DUAS FUNÇÕES INTERESSANTES: Y = E
1 X
Y = 2
X
O domínio dessas duas funções é o conjunto dos números reais diferentes
de zero, que é indicado por R*. A primeira delas tem como imagem o conjun-
to R*, enquanto a imagem da segunda função é o conjunto R+. Graficamente,
temos:

Figura 45. O gráfico de y= . Figura 46. O gráfico de y = .

Em y = , quando x > 0, temos:

a) se x = 1, então y = 1;
b) se x > 1 aumenta, y diminui e, se x aumenta infinitamente, y se aproxima de
zero;
c) se 0 < x < 1 e x se aproxima de zero, y cresce infinitamente mantendo o
sinal;
d) quando x < 0, temos: se x se aproxima de zero, y cresce infinitamente em
valor absoluto, mas com sinal negativo; se x diminui infinitamente, isto é,
aumenta infinitamente em valor absoluto, mas com sinal negativo, y se apro-
xima de zero.

Em y = , em ambos os casos, x > 0 ou x < 0, quando x se aproxima de


zero, y cresce infinitamente; se x, x > 0, aumenta infinitamente, y se aproxima
de zero e, se x, x < 0, diminui infinitamente, y também se aproxima de zero.
Com essas funções, também é possível fazer um estudo completo dos
movimentos sofridos pelo gráfico de cada uma delas em sua forma mais sim-
ples, em termos de mudança de inclinação e translações horizontal e vertical.

Agora faça você


Esboce os gráficos de:

a) y = +1

b) y = – –2




Uma questão importante


Um aluno, ao resolver a inequação ≤3, fez as passagens seguintes:

≤3 → 2 ≤3. (x – 1) → 2 ≤ 3x – 3

ou seja,
5 ≤3x e, portanto, x ≥ .
Evidentemente, há erro na resolução apresentada, pois, por exemplo, o
valor zero para a variável x satisfaz a inequação proposta e não está no con-
junto das soluções. Descubra o erro e explique.
Finalmente, construindo o gráfico de y = ey= num mesmo par de
eixos, temos:

y=

y=

Figura 47. Os gráficos de y = e de y = no mesmo par de eixos.

É possível observar que, para ambas as funções, quando x = 1, y = 1.


Graficamente, verifica-se também que, para x < 0 ou 0 < x < 1, vale a desi-
gualdade < , enquanto que, para x > 1, vale < .

Agora faça você


1. Prove algebricamente as desigualdades acima.
2. Resolva algebricamente as inequações, esboçando os gráficos das funções
envolvidas a fim de visualizar o conjunto solução:

a) ≤1
Sugestão: Pense na função mais simples y = .

b) ≤2
Sugestão: Divida os dois polinômios da fração do primeiro membro, a fim de

comprovar a igualdade =–2– . Em seguida, pense nas translações,


reflexões, mudanças de inclinação.

c) > 9x – 6

3. O gráfico de y = apresenta algum tipo de simetria? Justifique a sua


resposta.


  -   

FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS
Ao estudar a Trigonometria no triângulo retângulo, trabalhamos com as
razões trigonométricas definidas para os ângulos agudos de um triângulo des-
se tipo. Entretanto, observando que a cada ângulo central corresponde um
arco numa dada circunferência, surge a possibilidade de ampliar o estudo da
Trigonometria, não ficando mais restrita ao contexto dos ângulos agudos de
um triângulo retângulo.
A primeira questão é a de estabelecer uma medida conveniente para os ângu-
los, em certo sentido relacionada com os arcos determinados na circunferência.

Figura 48. Um ângulo central tem vértice no centro da circunferência.


Na figura acima observamos que, ao mesmo ângulo, correspondem dife-
rentes arcos, em circunferências de diferentes raios. Todos esses arcos estão
relacionados, pois todos eles são determinados pelo mesmo ângulo central.
Evidentemente são arcos que possuem comprimentos diferentes. Entretanto,

a razão é uma constante6, e esse fato leva a estabelecer 6. Para provar esse fato,
são necessários argu-
a seguinte definição:
mentos de limite, portan-
to do contexto de Cálcu-
A medida de um ângulo em radianos é igual à razão lo Diferencial e Integral,
que escapam dos objeti-
vos do Ensino Médio.
Assim, o radiano é uma unidade utilizada para medir ângulos. Qual a
vantagem desta unidade, se comparada à unidade grau?
Uma grande vantagem é o fato de que, usando uma circunferência de raio
unitário, a medida do ângulo central em radianos é numericamente igual ao
comprimento do arco e isso vai ser essencial para possibilitar a ampliação do
estudo da Trigonometria, à qual nos referimos antes.7 7. Uma outra vantagem,
que historicamente mo-
Assim sendo, vamos considerar uma circunferência de raio 1 com centro tivou o aparecimento do
na origem do sistema cartesiano de coordenadas. A essa representação damos radiano, é o fato de que
o nome de circunferência trigonométrica ou círculo trigonométrico. com essa unidade mui-
tas das fórmulas da Físi-
ca ficaram mais simples,
reduzindo a dificuldade
de cálculo. Esse é mais
um dos assuntos que
aparecem no Cálculo Di-
ferencial e Integral!

Figura 49. A circunferência trigonométrica.




Por convenção, o ponto A = (1, 0) é a origem dos comprimentos de arco, o


sentido anti-horário é o sentido positivo de percurso e o sentido horário é o
negativo. Assim, dado qualquer x ∈ R, marcamos na circunferência
trigonométrica um ponto P, de modo que o comprimento do arco de origem
em A e extremidade em P seja igual ao valor absoluto de x. Se x > 0, o percur-
so é feito no sentido anti-horário; se x < 0, no sentido horário.
Por exemplo, se x = 2, indo no sentido anti-horário, marcamos na circun-
ferência um ponto P tal que o comprimento do arco de origem em A e extre-
midade em P é 2. Obtemos um ângulo central que tem 2 radianos.
Se x = – 2, indo no sentido horário, marcamos na circunferência um ponto
Q tal que o comprimento do arco de origem em A e extremidade em Q é o
valor absoluto de – 2, isto é, 2; neste caso, obtemos um ângulo central que
tem – 2 radianos.
É importante observar que, como o comprimento de qualquer circunfe-
rência é um múltiplo do comprimento de seu raio – especificamente, 2πr – no
caso da circunferência trigonométrica que tem raio 1, ao número real 2π cor-
responde o mesmo ponto ao qual corresponde o número real 0, ou seja, o
ponto A. Analogamente, ao número real π corresponde o ponto correspon-
dente a meia circunferência, isto é, o ponto simétrico de A com relação ao
eixo vertical. Isso deve ficar muito claro porque a semi-circunferência tem
comprimento π e isso também significa que o ângulo raso mede π radianos.
Cuidado, porém! O ângulo raso, medido em graus, tem 180o, ou seja,
π radianos = 180o
e você não pode simplesmente dizer que “π=180”. Isso está incorreto,
uma vez que π é um número real que é aproximadamente igual a 3,141592,
muito menor do que 180.

Agora faça você:


1. Encontre na circunferência trigonométrica os pontos correspondentes aos
números reais x1 = 10 e x2 = –11,5.
2. Transforme em radianos as medidas dos ângulos dadas em graus:
a) 30o b) 400o c) 3o d) πo e) πo
3. Transforme em graus as medidas dos ângulos dadas em radianos:
a) 1 rad b) 2 rad c) 10 rad d) 30 rad
e) 45 rad f) π rad g) 180 rad

Quando o número x ∈ R, x > 0, determina um ponto no primeiro quadrante,


ou seja, de maneira tal que o comprimento do arco de origem em A e extremida-
de em P é menor do que um quarto da circunferência; temos, então, um ângulo
central de x radianos que é agudo. No triângulo retângulo OPM da figura ante-
rior, observamos que valem as razões trigonométricas já definidas anteriormen-

te, no triângulo retângulo. Assim cos x = = OM e sen x = = PM, uma


vez que o raio da circunferência é 1.


  -   

A=(1,0)
B=(0,1)

Figura 50. O ponto P está no primeiro quadrante.

Dessa forma, para 0 < x < , temos P = (cos x, sen x), ou seja, para 0 < x < ,
cos x é a abscissa de P e sen x é a ordenada de P. Vamos aproveitar essa idéia para
definir as duas funções seno e cosseno para todo número real x.

Generalização
Para um número x ∈ R, definimos cos x e sen x como sendo, respectiva-
mente, a abscissa e a ordenada do ponto P obtido na circunferência trigono-
métrica de modo que:
- se x > 0, o comprimento do arco de origem em A e extremidade em P,
marcado no sentido anti-horário, é x;
- se x < 0, o comprimento do arco de origem em A e extremidade em P,
marcado no sentido horário, é o valor absoluto de x.
- se x = 0, o arco de comprimento nulo tem origem e extremidade ambas em
A; nesse caso, temos P = A = (cos 0, sen 0) = (1, 0).
a) Inicialmente, vejamos com cuidado o que acontece quando x > 0.

- Se x = , temos P = cos , sen = (0, 1). Justifique!

- Se < x < π, temos que P = (cos x, sen x) é um ponto do segundo


quadrante, sendo que cos x = – cos (π – x) e sen x = sen (π – x). Comprove
esse fato geometricamente, usando congruência de triângulos e observan-
do que π – x determina um ponto P’ no primeiro quadrante. Por quê?

P = (cos x, sen x)
P´ = (cos (π – x), sen (π – x))

Figura 51. O ponto P está no segundo quadrante.

- Se x = π, temos P = (cos π, sen π) = (–1, 0). Justifique!


- Se π < x < , temos que P = (cos x, sen x) é um ponto do terceiro qua-
drante, sendo que cos x = – cos (x – π) e sen x = – sen (x – π) e. Comprove




esse fato geometricamente, usando congruência de triângulos e observan-


do que x – π determina um ponto P’ no primeiro quadrante. Por quê?

P = (cos x, sen x)
P’ = (cos (x – π), sen (x – π))

Figura 52. O ponto P está no terceiro quadrante.

- Se x = , temos P = cos , sen = (0, –1). Justifique!

- Se < x < 2π, temos que P = (cos x, sen x) é um ponto do quarto quadrante
sendo que cos x = cos (2π – x) = cos (–x) e sen x = sen (2π – x) = – sen (–x).
Comprove esse fato geometricamente, usando congruência de triângulos e ob-
servando que 2π – x determina um ponto P’ no primeiro quadrante. Por quê?
P = (cos x, sen x)
P’ = (cos (– x), – sen (– x))

Figura 53. O ponto P está no quarto quadrante.


· Se x = 2π, temos P = (cos 2π, sen 2π) = (1, 0) e, novamente, P=A. Justifi-
que!
· Após a primeira volta, temos que cos (x + 2kπ) = cos x e sen (x + 2kπ) =
sen x para todo inteiro k. Observe que 2kπ = k. 2π representa k voltas na
circunferência trigonométrica.
b) Vejamos agora o que acontece quando x < 0.
A análise é muito semelhante, lembrando que a circunferência trigonomé-
trica é percorrida agora no sentido horário. É suficiente você observar que
cos(–x) = cos x e que sen (–x) = –sen x, na figura abaixo. Conforme fica
determinado um ponto no quarto, terceiro, segundo ou primeiro quadrante,
comparamos a abscissa e a ordenada com um ponto do primeiro quadrante,
de maneira análoga ao que fizemos no caso em que x > 0. Verifique!

P = (cos x, sen x)
P’ = (cos (– x), – sen (– x))

Figura 54. cos(–x) = cos x e sen (–x) = –sen x.


  -   

Dessa forma, uma imagem razoável é a de que a reta real foi “enrolada”
na circunferência trigonométrica; o semi-eixo positivo no sentido anti-horário
e o semi-eixo negativo no sentido horário.
A partir daí, podemos observar que conforme x ∈ R varia, isto é, o ponto
P percorre a circunferência, a abscissa e a ordenada de P variam no intervalo
[–1, 1]. Então, temos imediatamente que –1 ≤sen x ≤1 e –1 ≤cos x ≤ 1.
Podemos esboçar os gráficos8 das duas funções: y = sen x e y = cos x.
8. No contexto do Ensi-
Compare com o que ocorre na circunfe- no Médio, não é possí-
rência trigonométrica, na primeira volta: vel apresentar os argu-
mentos formais para ga-
- para 0 ≤x < , o valor de sen x cres- rantir que os gráficos são
ce de 0 a 1; realmente esses: no má-
ximo, você pode se con-
- para ≤x < p, o valor de sen x de- vencer da razoabilidade,
cresce de 1 a 0; verificando para valores
particulares de x. Um
- para p ≤ x < , o valor de sen x convencimento mais
amplo e preciso necessi-
decresce de 0 a –1;
ta de argumentos que
Figura 55. O gráfico de y = sen x. - para ≤x < 2π, o valor de sen x são desenvolvidos no
Cálculo Diferencial e In-
cresce de –1 a 0.
tegral.

Agora faça você


Mostre geometricamente, ou seja, usando congruência de triângulos, que:

cos x = sen
e que

sen x = cos

Assim, por meio da primeira relação, você pode concluir que o gráfico de
y = cos x é uma translação horizontal de – do gráfico de y = sen x.
Ou seja, o gráfico de y = cos x tem o seguinte aspecto:
Compare com o que ocorre na circunfe-
rência trigonométrica, na primeira volta:

- para 0 ≤ x < , o valor de cos x de-


cresce de 1 a 0;

- para ≤ x < π, o valor de cos x


decresce de 0 a –1;

- para π ≤ x < , o valor de cos x


Figura 56. O gráfico de y = cos x.
cresce de –1 a 0;

- para ≤x < 2π, o valor de cos x


cresce de 0 a 1.




Em termos dos gráficos das duas funções y = sen x e y = cos x, qual a

conclusão que pode ser estabelecida a partir da relação sen x = cos ,


que você mostrou geometricamente ser verdadeira?
Ambas as funções definidas têm domínio real e como imagem o intervalo
[1, 1]. A metade do comprimento desse intervalo é denominada amplitude do
9. Uma função f é dita
gráfico de cada uma das duas funções.
periódica de período T As funções trigonométricas que acabamos de definir têm uma caracterís-
quando f (x + T) = f (x), tica importante que é o fato de serem ambas periódicas9, de período 2π. De
sempre que x e (x+T) per- fato, o gráfico de cada uma delas no intervalo [2kπ, (2k + 2)π] é o mesmo do
tençam ao domínio de f.
que no intervalo [0, 2π], para todo número inteiro k, pois o primeiro intervalo
Observe que isso signi-
denota a k-ésima volta na circunferência, começando no ponto A.
fica que o gráfico de f se
repete em intervalos de
comprimento T.
Relação fundamental
Um fato muito útil e importante é: para todo x ∈ R, sen2 x + cos2 x = 1.
Observe que é uma conseqüência imediata do Teorema de Pitágoras. Verifi-
que!

Propriedade importante
A figura abaixo mostra dois pontos, A = (cos a, sen a) e B = (cos b, sen b),
na circunferência trigonométrica.
Vamos provar a identidade: cos(a – b) = cos a . cos b + sen a . sen b, no
caso em que 0 < a – b < π. A relação vale para quaisquer a e b. A verificação
fica a seu cargo.
sen a – sen b
A

B
cos b – cos a
sen b

Figura 57. Os pontos A e B na circunferência Figura 58. O triângulo retângulo ampliado.


trigonométrica.

Pelo Teorema de Pitágoras, aplicado no triângulo retângulo da figura aci-


ma, temos:
(AB)2 = (sen a – sen b)2 + (cos b – cos a)2
e, usando a lei dos cossenos, no triângulo AOB da Figura 59, temos:
(AB)2 = 1 +1 – 2 cos (a – b), pois dois lados desse triângulo são raios da
circunferência trigonométrica.
A partir das duas igualdades, podemos escrever:
(cos a – cos b)2 + (sen a – sen b)2 = 2 – 2cos(a – b)
Desenvolvendo os quadrados, fazendo as simplificações possíveis e utili-
zando a relação fundamental, temos:
cos2 a – 2cos a . cos b + cos2 b + sen2 a – 2sen a . sen b + sen2 b = 2 – 2 cos (a – b)

1 1


  -   

de onde,
2 – 2 cosa . cos b – 2 sen a . sen b = 2 – 2 cos(a – b)
ou seja,
cosa . cos b + sen a . sen b = cos(a – b)
ou, equivalentemente,
cos(a – b) = cosa . cos b + sen a . sen b,
como queríamos mostrar.
De maneira análoga ao que foi feito no estudo da função polinomial do
segundo grau, podemos examinar a ação dos coeficientes a, b, m e k em

y = a . sen (bx + m) + k = a . sen b +k

y = a . cos (bx + m) + k = a . cos b +k

As figuras abaixo devem dar uma idéia da ação de cada um dos coeficien-
tes, no caso da função y = sen x. Verifique!

y = sen x + 3

y = sen x + 1

y = sen x

Figura 59. Translações verticais de y = sen x.

y = – 3sen x
y = – 2sen x
O coeficiente a
define a amplitu-
de do gráfico, em
cada caso. y = sen x
y = 2sen x

Figura 60. Gráfico de funções do tipo y = a . sen x, para alguns valores de a.

y = sen x
y = sen 3x

y = sen 2x
y = sen (– x )

Figura 61. Gráfico de funções do tipo y = sen bx, para alguns valores de b.




Observe que os gráficos de y = –sen x e o de y = sen (–x) coincidem. Você


já deve ter um argumento geométrico que também comprove esse fato. Qual?

y = sen (x + 1)
y = sen (x + 3) y = sen x
Translações
y = sen (x – 2)
horizontais do
gráfico de
y = sen x.

Figura 62. Gráfico de funções do tipo y = sen (x + m) para alguns valores de m.

Vamos definir mais uma função trigonométrica: a função y = tg x. Nova-


mente, a definição é uma ampliação da definição vista no triângulo retângulo,
passando agora para a circunferência trigonométrica. Assim sendo, definimos

tg x = , sempre que cos x ≠ 0. Isso significa que, para os números reais

da forma + kπ, com k ∈ Z, não existe a tangente. Por quê?

Vejamos como se amplia essa definição para todo número real x, x ≠ + kπ,
com k ∈ Z. Para tanto, a reta tangente à circunferência trigonométrica no ponto
A = (1, 0) – que é a reta de equação x = 1 – onde se mede o valor de tg x, é
orientada: positiva para cima e negativa para baixo do eixo horizontal.

- quando x = 0, tg 0 = = 0;

- quando x cresce de maneira que 0 < x < , sen x > 0 e cos x > 0, logo

tg x > 0. Conforme x cresce tendendo a , cos x vai se tornando arbitrari-

amente próximo de 0, enquanto que sen x tende a 1; então, o quociente

vai se tornando arbitrariamente grande;

Devido à semelhança dos


triângulos OMP e OAT,
temos:

Como AO=1, temos


tg x = = AT

Figura 63. A definição de tg x para x no primeiro quadrante.

- quando x = , não existe tg , pois cos = 0;

- quando x cresce de maneira que < x < π, sen> 0 e cos x < 0, logo tg x < 0.

Para x um pouco maior que , sen x está muito próximo de 1 enquanto


  -   

que cos x está muito próximo de 0, logo tg x é um número negativo mas


de valor absoluto muito grande. Conforme x cresce até π, tg x aumenta,
pois é sempre um número negativo cada vez mais próximo de 0;

Dado x, determina-se P
no segundo quadrante;
e também determina-se
o ponto P’, correspon-
dente a π – x, no
primeiro quadrante.
Temos:
tg x = – tg (π – x)

Figura 64. A definição de tg x para x no segundo quadrante.


- quando x = π, tg π = 0;

- quando x cresce de maneira que p < x < , sen x < 0 e cos x < 0, logo

tg x > 0. Conforme x cresce tendendo a , cos x vai se tornando arbitra-


riamente próximo de 0, enquanto que sen x tende a –1; então, o quociente

vai se tornando arbitrariamente grande;

Dado x, determina-se P no
terceiro quadrante; e
também determina-se o
ponto P’, correspondente a
x – π, no primeiro quadran-
te. Temos
tg x = tg (x – π)

Figura 65. A definição de tg x para x no terceiro quadrante.

- quando x = , não existe tg , pois cos = 0;

- quando x cresce de maneira que < x < 2π, sen x < 0 e cos x > 0, logo

tg x < 0. Para x um pouco maior que , sen x está muito próximo de –1


enquanto cos x está muito próximo de 0, logo tg xé um número negativo
mas de valor absoluto muito grande. Conforme x cresce até 2π, tg x au-
menta, pois é sempre um número negativo cada vez mais próximo de 0.

Dado x, determina-se P
no quarto quadrante; e
também determina-se o
ponto P’, correspondente
a 2π – x, no primeiro
quadrante. Temos:
tg x = – tg (2π – x)

Figura 66: A definição de tg x para x no quarto quadrante.




Completamos assim a primeira volta na circunferência trigonométrica.


Entretanto, para estudar a função y = tg x poderíamos ter analisado apenas
meia volta. Por quê?
Na circunferência trigonométrica podemos observar que tg (–x) = –tg x.
Justifique esse fato. A partir dessa propriedade, basta estudar a variação de y
= tg x quando a variável x é um número não negativo, pois automaticamente
já conheceremos seu comportamento para valores negativos de x.
O gráfico de y = tg x pode ser esboçado, mas novamente precisamos lem-
brar que fogem do contexto do Ensino Médio os argumentos necessários para
garantir que, de fato, é aquele que está na figura abaixo.
Compare com o que ocorre na circunfe-
rência trigonométrica, na primeira volta:
- para 0 ≤x < , o valor de tg x cres-
ce de 0 a ∞;
- para ≤ x < π, o valor de tg x
cresce de –∞ a 0;
- para π ≤ x < , o valor de tg x
cresce de 0 a ∞;
Figura 67. O gráfico de y = tg x. - para ≤x < 2π, o valor de tg x
cresce de –∞ a 0.

Conforme já foi dito antes, y = tg x é uma função que não está definida em todo

o conjunto dos números reais. Seu domínio é o conjunto R – + kπ, k ∈ Z ,

enquanto que a imagem é o conjunto R. Além disso, trata-se também de uma fun-
ção periódica, cujo período é π.

Bibliografia
BARUFI, M.C.B.; LAURO, M.M. Funções elementares, equações e
inequações: uma abordagem utilizando microcomputador. São Paulo:
CAEM-IME-USP, 2001.
math.exeter.edu/rparris
www.cepa.if.usp.br/e-calculo
www.mcescher.com/
www-history.mcs.st-and.ac.uk

Sobre o autor
Antonio Carlos Brolezzi
Professor do Departamento de Matemática do IME-USP. É licenciado em
Matemática, mestre e doutor em Educação pela Faculdade de Educação da
USP. Com experiência no Ensino Fundamental e Médio, trabalha com forma-
ção de professores desde 1988. Interessa-se pelos temas “criatividade”, “uso
de história da Matemática” e “tecnologias no ensino de Matemática”.


Matemática
Geometria Plana e Espacial

Organizadores
Antônio Carlos Brolezzi
Elvia Mureb Sallum
Martha S. Monteiro

Elaboradoras
Cláudia Cueva Candido
Maria Elisa Esteves Lopes Galvão
5
módulo

Nome do Aluno
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador: Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP
Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor: Adolpho José Melfi
Pró-Reitora de Graduação
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE


Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área
Biologia:
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori
Física:
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta
Geografia:
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins
História:
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer
Língua Inglesa:
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór
Língua Portuguesa:
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto
Matemática:
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro
Química:
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan
Produção Editorial
Dreampix Comunicação
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro
Cartas ao
Aluno
Carta da
Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão.
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer
situação de vida e de trabalho.
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor
para o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.


Pró-Reitora de Graduação.
Carta da
Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno,
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa
da educação básica.
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente
construído para esse fim.
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva


Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Apresentação
da área
[...] a Matemática procura compreender os modelos que permeiam o mundo que
nos rodeia assim como a mente dentro de nós. […] Assim é necessário colocar a
ênfase:
— em procurar soluções e não apenas em memorizar procedimentos;
— em explorar modelos e não apenas em memorizar fórmulas;
— em formular conjecturas e não apenas em fazer exercícios.
[...] com essas ênfases, os estudantes terão a oportunidade de estudar a Matemá-
tica como uma disciplina exploradora, dinâmica, que se desenvolve, em lugar de ser
uma disciplina que tem um corpo rígido, absoluto, fechado, cheio de regras que
precisam ser memorizadas.
Schoenfeld (1992)1
Este curso de Matemática com duração de 4 meses está sendo oferecido a
alunos do último ano do ensino médio da rede pública como um incentivo
para continuarem seus estudos em direção ao ensino superior. Embora não
cubra todo o programa do ensino médio, pretende-se estimular o interesse dos
alunos pelos diversos temas de Matemática por meio de abordagens variadas.
Serão estudados tópicos sobre Números, Estatística, Probabilidade e Aná-
lise Combinatória, Geometria Plana e Espacial, Geometria Analítica, Sistemas
Lineares e Funções, privilegiando o entendimento das possíveis facetas de
um mesmo assunto, a análise de resultados obtidos e a interligação entre os
diversos conteúdos.
Escolhas foram feitas de modo a priorizar sua formação, a discussão de
idéias e a percepção de que a Matemática é uma disciplina viva que pode ser
construída, e não um amontoado de fórmulas prontas para serem decoradas e
usadas. Lembrando que realmente aprendemos quando trabalhamos o conhe-
cimento, analisando-o de várias maneiras e usando-o com critério, considera-
remos, sempre que possível, aplicações em problemas reais e interdisciplinares.
Acreditando que o intercâmbio entre vocês, alunos do ensino médio, e os
alunos da USP, que serão os seus professores, venha a aumentar a sua predis-
posição para o ensino superior, desejamos a todos bons estudos!
Coordenação da área de Matemática

1
SCHOENFELD A. H. “Learning to think mathematically: Problem solving, metacognition and sense
making in mathematics”. In: D. A. Grouws (Ed.). Handbook of research on mathematicas teaching and
learning. p. 334-370. Nova Iorque: MacMillan, 1992.
Apresentação
do módulo
Desde a invenção da roda, círculos e circunferências fazem parte da nossa
vida cotidiana. Suas muitas divisões e as figuras geométricas que podemos
construir a partir delas são, desde as civilizações da antiguidade, utilizadas
para representar a divisão do tempo, os signos do zodíaco e símbolos místi-
cos, como o pentagrama da famosa sociedade pitagórica.
Ainda na antiguidade, divisões de terras, armazenamento e comercialização
de alimentos motivaram os estudos iniciais de áreas e volumes. A necessidade
de modelos para as figuras e formas geométricas que estão à nossa volta na
natureza e nas construções provocou a busca de um melhor entendimento das
formas espaciais. Entre árvores e montanhas, vales e planícies, contornando
ou controlando o curso dos rios, o homem construiu templos, pirâmides, cas-
telos, barragens, grandes e pequenas cidades, e as formas geométricas em
suas múltiplas possibilidades foram e são exploradas até os dias atuais.
Ampliar o estudo das figuras geométricas planas e explorar a diversidade
das figuras geométricas espaciais, suas propriedades métricas, áreas e volu-
mes e algumas de suas muitas aplicações será o objetivo deste módulo.
Unidade 1

Polígonos e
Circunferências
Organizadores
Antônio Carlos
Brolezzi A circunferência é, certamente, entre as figuras geométricas, uma das mais
Elvia Mureb utilizadas na vida cotidiana, poderíamos dizer, desde a invenção da roda. Como
Sallum já vimos anteriormente, é definida como o conjunto de pontos de um plano
Martha S. que estão à mesma distância de um ponto fixo, que é o seu centro. Para sua
Monteiro representação gráfica, recorremos ao compasso. O segmento com extremos
em um ponto qualquer da circunferência e o seu centro é um raio.
Elaborador As divisões da circunferência também são muito utilizadas na prática (por
Maria Elisa exemplo, na construção dos relógios ou nas divisões dos mapas astrais e nos
Galvão gráficos tipo “torta” com informações na mídia). Essas divisões estão associ-
adas à construção dos polígonos regulares. Motivaram difíceis problemas re-
lacionados à possibilidade de divisão em um número qualquer de partes iguais.
Vejamos alguns exemplos, baseados nos processos de construção com
régua e compasso que temos utilizado no nosso estudo.
Tomando o segmento como raio, podemos traçar duas circunferências:
uma com centro no ponto A e outra com centro no ponto B. Essas circunferên-
cias se encontram em pontos que denominamos P e Q, conforme a figura.
O triângulo ∆PAB é um dos triân-
(Fonte: http://www.pakaritampu. gulos congruentes obtidos com essa
com/galeria/pages/circles.htm) construção. Como todos os seus lados
são raios das respectivas circunferên-
cias, seus comprimentos são todos
iguais e temos um triângulo eqüilátero.
Conseqüentemente, todos os ângulos
desse triângulo têm a mesma medida:
60o. Se traçarmos novas circunferên-
cias com o mesmo raio e centros
nos pontos P, Q e R, como na figura a seguir,
teremos uma seqüência de pontos P, Q, R, S
que, juntamente com os pontos A e B, dividi-
(Fonte: http://www.artil.com/html/
rão a circunferência em seis partes iguais, cor-
body_bycicles.html) respondentes a ângulos com o vértice A em
comum, todos medindo 60o.
Temos, assim, o procedimento para dividir
a circunferência em seis partes iguais, utilizan-
do régua e compasso. Podemos, a partir desses
pontos de divisão, obter várias figuras geomé-
tricas interessantes, em que os padrões
poligonais podem ser identificados.
(Fonte:http://www.morethanbooks.
ca/CDN/item154.htm)
  -    

Para você fazer:


Utilizando a construção acima descrita, reproduza as figuras abaixo e
verifique que:
- na primeira figura, temos um triângulo eqüilátero (∆AEC);
- todos os ângulos do polígono estrelado da direita têm a mesma medida.

A segunda figura é utilizada para a construção de uma rosácea simples,


muito utilizada como elemento decorativo. Na última, temos um hexágono
estrelado, que foi obtido unindo pontos não consecutivos de divisão. Vamos
às definições gerais para essas novas figuras geométricas.
Em geral, dada uma seqüência de pontos em um plano, de forma que três
pontos consecutivos não sejam colineares, chamamos de polígono a figura geo-
métrica obtida unindo esses pontos sucessivamente e voltando ao ponto inicial.
Os pontos A1, A2, A3, ... são os vér-
tices do polígono e os segmentos
, , ,... são os lados do
polígono. Vamos estudar apenas os
polígonos convexos, que são aque-
les que ficam sempre “do mesmo
lado” da reta que contém qualquer
de seus lados, como o polígono do
centro, na figura ao lado. Polígono A 1A 2A3A4A 5A 6A7 =
Na mesma figura, temos polí-
∪ ∪ ∪ ∪ ∪ ∪
gonos com sete vértices e sete la-
dos, que chamamos de heptágonos. Para nomear os polígonos de acordo com
o seu número de lados, usamos os prefixos gregos: temos os triângulos e
quadriláteros e, com número de lados superior a quatro, os polígonos são
sucessivamente chamados pentágonos (5 lados), hexágonos (6), heptágonos
(7), octógonos (8), eneágonos (9), decágonos (10) etc...
Abaixo, temos alguns outros exemplos de polígonos regulares, que são os
que têm todos os lados e todos os ângulos congruentes. Alguns deles são os
chamados polígonos estrelados, e não são convexos. Os polígonos regulares,
estrelados ou não, podem ser construídos a partir da divisão da circunferência
em partes iguais.




Esses polígonos motivam uma pergunta geral: como podemos, uti-


lizando a régua e compasso, dividir a circunferência em um dado nú-
mero de partes iguais?
Voltando à construção inicial da divisão da circunferência em seis
partes iguais, observamos que, usando a construção da bissetriz (que
já conhecemos) podemos obter, sucessivamente, as divisões em 12,
24, 48... partes, ou seja, em 2n . 3 partes, para n = 1, 2, 3, 4...
Temos, então, o triângulo, o hexágono regular e o dodecágono
regular (12 lados), como na figura.

A divisão da circunferência em quatro partes iguais pode ser feita facil-


mente considerando duas retas perpendiculares passando pelo centro, ou ain-
da, um diâmetro da circunferência e sua mediatriz. Com o auxílio das bissetrizes,
podemos continuar dividindo em 8, 16, 32, ..., 2n partes, para todo n natural,
e temos os vértices de polígonos regulares com número par de lados.
Os pentagramas das figuras ao lado estão relacionados com a divisão em
cinco partes iguais. A construção com régua e compasso dessa divisão já é mais
elaborada, e está esboçada na figura abaixo. Com centro em M, ponto médio do
raio, tomar a circunferência que passa por A; a circunferência com centro A,
passando pelo ponto de intersecção da primeira circunferência construída com
o diâmetro determina o ponto B, ou seja, o lado do pentágono.
A existência de uma construção geral de divisão em partes iguais foi um
problema muito difícil, conhecido desde os antigos geômetras gregos, que só
foi resolvido completamente no século XIX, quando foi provado que nem
todas as divisões exatas da circunferência podem ser feitas com régua e com-
passo. Muitos dos processos conhecidos são aproximados. O primeiro deles é
a divisão em sete partes iguais, que não pode ser resolvida exatamente
com régua e compasso.
Se considerarmos um dos lados do triângulo, do hexágono regular e do
dodecágono regular, obtidos a partir da construção inicial, como na figura
abaixo, observamos ainda que cada um deles determina com o centro A da
circunferência um triângulo isósceles (já que dois dos lados são raios), cujo
ângulo, no vértice A, tem medida 120o, 60o ou 30o respectivamente.


  -    

Esse é um fato geral: para um polígono regular de n lados, se considerar-


mos o triângulo isósceles determinado por dois vértices consecutivos e o cen-
tro da circunferência em que estão inscritos, o ângulo desse triângulo com
vértice no centro da circunferência mede 360o / n.
Encontre agora:
1. As medidas dos ângulos ∠AOB e
∠POR, sabendo que os polígonos são re-
gulares.
2. O número de lados dos polígonos
cujos ângulos ∠AOB ( um lado do
polígono) e ∠POR ( um lado do
polígono) medem 12o e 11o15’, respecti-
vamente, sendo o ponto O o centro de
ambos.

Podemos também encontrar a medida do ângulo associado a cada um dos


vértices de um polígono regular, que é especialmente chamado de ângulo interno
desse polígono (a nomenclatura vale mesmo que o polígono não seja regular).
Examinemos alguns casos particulares: no triângulo eqüilátero, cada ân-
gulo interno mede 60 o, no quadrado, 90 o. Quando passamos para o
pentágono regular, já não encontramos esse valor com facilidade. Vamos
ver como encontrar a medida do ângulo ∠PRS (um dos ângulos internos do
pentágono regular).
O ângulo ∠POR do pentágono regular mede 360o / 5 = 72o.
Sendo o triângulo ∆POR isósceles, temos:
2. m (∠OPR ) = 180 o – 72o = 108 o, que será a medida do ângulo
interno ∠PRS do pentágono regular.
Uma outra maneira de resolver o problema é dividir o polígono em triângu-
los usando as diagonais por um de seus vértices, como veremos a seguir.
Observamos que todo polígono convexo com n lados pode ser dividido
em (n -2) triângulos pelas diagonais traçadas por um de seus vértices, como
nas figuras abaixo. Temos, portanto, que a soma das medidas de todos os
ângulos internos do polígono coincide com a soma das medidas de todos os
ângulos desses triângulos, e vale a fórmula:
Si = (n – 2) . 180o

Observamos que, de cada vértice de um polígono


convexo com n lados, partem (n – 3) diagonais e tam-
bém que, como temos n vértices, o número D de
diagonais do polígono será, então,
D = n (n – 3)/ 2

pois cada diagonal é contada duas vezes no produto n (n – 3).


No caso especial de um polígono regular de n lados, se consideramos o
centro da circunferência em que está inscrito, podemos dividi-lo em n triângulos
isósceles congruentes (identifique o caso de congruência que podemos utilizar).
Como todos os n ângulos internos terão a mesma medida e a soma das
medidas é o valor Si acima, temos que a medida Ai de cada ângulo interno de
um polígono regular é dada por:
Ai = (n – 2) . 180o / n




Agora faça você:


1. Calcule a soma das medidas dos ângulos internos de um heptágono
regular e encontre a medida de cada um dos ângulos internos.
2. Qual é o número de lados de um polígono cuja soma das medidas dos
ângulos é 1980o?
3. Determine o número de diagonais do dodecágono.
4. Determine número de lados de um polígono que tem nove diagonais.
5. Determine o polígono cujo número de diagonais é o quádruplo do nú-
mero de lados.
6. Três polígonos convexos têm n, n + 1 e n + 2 lados, respectivamente.
Sendo 3240o a soma de todos os ângulos internos desses três polígonos, de-
termine o valor de n.
Voltando à circunferência,
chamemos O o seu centro.Vamos escolher dois de seus pontos (que
denominaremos A e B).
O segmento é chamado uma corda da circunferência.
Se uma corda passa pelo centro da circunferência ela é especialmente
chamada de diâmetro da circunferência, que, na figura, tem extremos C e D.
Dada uma corda, distinta de um diâmetro, temos determinado um
ângulo ∠AOB, chamado ângulo cêntrico ou ângulo central.
O arco AB da circunferência que fica no interior do ângulo será cha-
mado um arco menor e terá sua medida dada pela medida do ângulo ∠AOB,
que, por sua vez, é chamado de ângulo cêntrico ou central.
Se os pontos A e B são os extremos de um diâmetro, o arco será cha-
mado de semi-circunferência. O arco maior é o conjunto de pontos da
circunferência que está no exterior do ângulo.
A um arco menor, podemos associar uma medida que será a medida
do ângulo central que o contém no seu interior. Na figura ao lado, temos
que a medida do arco AB é 73o.
Vamos utilizar essa maneira de medir arcos para verificar uma proprie-
dade que utilizamos muito em situações do dia a dia.

TIRANDO FOTOGRAFIAS
A lente de uma máquina fotográfica tem um ângulo de abertura fixo, que
nos permite uma visão limitada do objeto fotografado, dependendo da posi-
ção em que nos colocamos.
Na figura abaixo, à esquerda, observamos que quando nos aproximamos
de uma cena, para que a vejamos totalmente temos que ter um ângulo de
visão maior do que quando nos afastamos dela.
Por outro lado, a figura à direita sugere uma pro-
priedade importante de pontos de um arco de cir-
cunferência: quando variamos o ponto sobre o arco,
a medida do ângulo é a mesma, e podemos fotogra-
far a cena toda, aproveitando a abertura fixa da câ-
mara fotográfica, em qualquer posição sobre o arco.
Para entender essa propriedade, vamos consi-
derar ângulos inscritos em uma circunferência, que
são ângulos que têm o vértice sobre a circunferên-
cia e lados contidos em duas cordas que têm como
extremidade comum esse vértice.


  -    

Na figura ao lado, temos os ângulos inscritos: ∠APB e ∠AQB. Diremos


também que o arco AB é o arco interceptado por esses ângulos.
Podemos provar a propriedade geral:
A medida de um ângulo inscrito é a metade da medida do ângulo central (ou,
equivalentemente, do arco interceptado).

A verificação dessa propriedade depende de um fato simples, ilustrado


pela figura abaixo.
Considere um ângulo inscrito ∠APB tal que o segmento é um diâme-
tro da circunferência. O triângulo ∆AOP é um triângulo isósceles e o ângulo
∠AOB é o ângulo externo desse triângulo, logo,
m(∠AOB) = m (∠OPA) + m (∠OAP) = 2 . m (∠APB); logo,
m (∠APB) = m (∠AOB) / 2
Usando esse resultado e a soma ou a diferença da medida de ângulos,
podemos verificar que a propriedade acima vale para ângulos quaisquer,
conforme as figuras a seguir, em que o centro da circunferência é interno
ou externo ao ângulo dado:

À esquerda, temos que


m (∠APB) = m (∠APQ) + m (∠QPB) = [m (∠AOQ) + m (∠BOQ)] / 2;
na figura do meio:
m (∠APB) = m (∠QPB) - m (∠QPA) = [m (∠BOQ) - m (∠AOQ)] / 2;
à direita, temos:
m (∠APB)=90o – m (∠OAP)=[180o – 2 m (∠OAP)] /2= m (∠AOP) / 2
Voltando ao problema do fotógrafo, destacamos que, como con-
seqüência da propriedade acima, temos que todos os ângulos inscri-
tos em um mesmo arco têm a mesma medida (na figura, 43o, pois o
ângulo central mede 86o).
Dessa forma, o fotógrafo, percorrendo esse arco, usa a abertura da
máquina de forma a enquadrar toda a extensão AB do objeto fotografado.
O arco ao qual pertence o vértice do ângulo inscrito é chamado
arco capaz de ângulo α (veja a figura a seguir).
O arco capaz também estava relacionado à construção de um tri-
ângulo, dados um lado, o ângulo adjacente e o ângulo oposto a esse
lado. Essa construção foi admitida no Módulo 3, quando analisamos
o caso de congruência LAAo, e precisávamos construir o ângulo opos-
to a um lado dado. A construção da solução se faz conforme a figura abaixo.
Dado o segmento e o ângulo α, com vértice em A, construímos um
ângulo de medida α e a perpendicular ao lado do ângulo pelo ponto A. A
intersecção da perpendicular com a mediatriz do segmento dá o centro O da
circunferência. O ângulo central em O será o dobro do ângulo α; portanto,
qualquer ângulo inscrito terá a medida do ângulo α.




O arco capaz pode ser utilizado para


localização, quando se tem três pontos de
referência.

COMO DETERMINAR A
POSIÇÃO DE UM NAVIO
A bordo de um navio em alto mar, avis-
tamos três pontos conhecidos na costa e
conseguimos medir o ângulo de visão para
cada par de pontos, como na figura acima.
Vejamos um esboço da solução: na figu-
ra abaixo, os pontos A, B e C representam os
pontos de referência (que podem ser os fa-
róis) na costa e o ponto N representa a locali-
zação do navio (que queremos determinar).
Vamos supor que o ângulo de visão
quando os pontos de referência são A e B é
29,3o e é 17,1o quando os pontos de refe-
rência são B e C . O navio estará em algum
ponto do arco capaz do segmento de
medida 29,3 o e também em algum ponto
do arco capaz do segmento de medida
17,1o. A intersecção dos dois arcos dá a posição do navio!

ALGUNS EXEMPLOS
1. Na figura ao lado, calcular a medida dos ân-
gulos ∠CAD e ∠AEB:
Lembrando a propriedade acima,
M (∠CAD) = ( m (∠COB)) /2 = 28º.
Da mesma forma, m (∠AEB) = m (AB) / 2 =
17 30’ ou 17,5o.
o

2. Encontre a medida dos ângulos ∠BAD e ∠BCD


do quadrilátero inscrito da figura ao lado:
A medida do ângulo ∠BAD será: (54o + 125o)/ 2,
logo, m (∠BAD ) = 89,5o.
Por outro lado, temos m (∠BCD) = (120o + 61o)
= 90,5o.
Em ambos os casos, somamos as medidas dos ar-
cos interceptados por esses ângulos. Verificamos, nesse
exemplo, uma propriedade geral dos quadriláteros
convexos inscritos: a soma das medidas dos ângulos opostos será 180o.
Agora faça você:
Nas figuras abaixo, determine as medidas x e y dos ângulos indicados:


  -    

2. Verifique que um triângulo inscrito em uma semicircunferência é um


triângulo retângulo.

CIRCUNFERÊNCIAS E RETAS NO PLANO


Quando a roda de uma bicicleta rola sobre um terreno plano, podemos,
em cada instante, representar a posição da roda pela figura abaixo. Temos
ilustrada mais uma importante propriedade da circunferência:

A reta tangente à uma circun-


ferência é perpendicular ao
raio pelo ponto de tangência.
Ou seja, na figura, a reta t é per-
pendicular ao segmento

Dada uma circunferência no plano, uma reta qualquer desse plano pode ser:
- tangente à circunferência, se a encontra num único ponto;
- secante à circunferência, se na intersecção com a circunferência temos
dois pontos distintos;
- exterior à circunferência, se a intersecção for vazia.
Podemos também verificar que:
- a distância d1 entre a reta tan-
gente t e o centro O é igual ao com-
primento OT do raio;
- a distância d 2 entre a reta
secante r e o centro O é menor que
o comprimento OT;
- a distância d3 entre a reta ex-
terior s e o centro O é maior que o
comprimento OT.
A distância do centro de uma circunferência a um corda
, seu raio R e o comprimento l da corda, pelo teorema
de Pitágoras, verificam (na figura ao lado): R 2 = ( l / 2) 2 + d 2

Retas e semi-retas tangentes e secantes a uma circunfe-


rência podem ser estudadas considerando ainda ângulos e
segmentos determinados por elas. Vejamos algumas delas:

Por um ponto P externo a uma cir-


cunferência os segmentos tangentes têm
o mesmo comprimento, isto é, PT1 = PT2.
A medida do ângulo ∠AT2B é igual
à metade da medida do ângulo central
∠AOT2, isto é,
m (∠∠AT2B) = m (∠∠AOT2) / 2

Para você verificar:


- Qual é a propriedade de congruência de triângulos que garante a con-
gruência dos segmentos tangentes na figura acima (lembre-se do caso especi-
al de congruência dos triângulos retângulos)?
- Qual é a relação entre as medidas dos ângulos ∠T1 PO e ∠T2 PO?




Na figura, é a projeção ortogonal da corda sobre o diâmetro da


circunferência de centro O. Sendo AB = 12cm e AD = 48cm, calcule a medida
do raio dessa circunferência.

TANGENTES E SECANTES
Por um ponto P externo à circunferência, consideremos uma reta tangente
e uma secante, que intersecta a circunferência em A e B. Temos as seguintes
propriedades:
Um bom exercício
será a verificação dessas
- para os ângulos: propriedades. A primei-
∠TPB) = (m (∠
m (∠ ∠TOB) – m (∠ ∠TOA)) / 2 ra usa as definições de
- para o comprimento dos segmentos: ângulo e a segunda a se-
PT 2 = PA . PB melhança (AA) dos triân-
gulos ∆PAT e ∆PTB.

Finalmente, podemos considerar por um ponto P externo à circunferência,


duas retas secantes, e temos as propriedades:
Como no caso ante-
rior, a semelhança entre
os triângulos ∆PAD e
- para os ângulos: ∆PCB garante a relação
∠BPD) =(m (∠
m (∠ ∠BOD) – m (∠ ∠COA))/2 entre os comprimentos.
- para o comprimento dos segmentos:
PA . PB = PC . PD

Se o ponto P é interno à circunferência, temos relações a seguir, que po-


dem ser verificadas de forma semelhante:

- para os ângulos:
m (∠∠BPC) = (m (∠ ∠BOC) + m (∠
∠DOA)) /2
- para o comprimento dos segmentos:
PA . PB = PC . PD

Usando as propriedades acima, faça agora você:


Calcule o comprimento dos segmentos ou a medida dos ângulos nas figu-
ras abaixo.


  -    

7. (FUVEST) O valor de x na figura ao lado é:

a)

b)
c) 1
d) 4
e) 5

8. (UFMG) Num círculo, a corda CD é perpendicular ao diâmetro no


ponto E. Se AE . EB = 3, a medida de CD é:
a) 3
b)
c) 2
d) 3
e) 6

9. Na figura abaixo, o ponto P é interno à corda da circunferência de


centro O e raio r. Sendo PO = 4cm, PA = 2cm e PB = 8 cm, calcule o valor de r.

OS POLÍGONOS E O COMPRIMENTO DA
CIRCUNFERÊNCIA
Foi um grande desafio na história da Matemática encontrar a relação entre
o comprimento da circunferência e o seu raio, de modo a determinar o com-
primento dessa curva.
Os babilônios usavam, em aproximadamente 2000 a.C., que o compri-
mento da circunferência era o triplo do seu diâmetro. Um pouco mais tarde,
aparece também o multiplicador 3 1/8, isto é, usava-se que o comprimento da
circunferência era 25/8 do seu diâmetro. Supõe-se que esses multiplicadores
eram calculados diretamente através das medidas desses comprimentos. Em
um tablete de argila babilônico, encontram-se cálculos de comprimentos de
lados de polígonos regulares de três e sete lados e tentativas de melhorar as
estimativas acima. Já nos papiros egípcios, relacionada a um cálculo de área




do círculo, temos uma estimativa para a razão entre o com-


primento da circunferência e o seu raio que chega a 3,16.
O chamado método de exaustão originalmente introdu-
zido por Eudoxo foi utilizado por Arquimedes, que viveu
entre 287 e 212 a.C. Arquimedes estabeleceu os cálculos
para a maneira clássica de se calcular o comprimento da
circunferência. Tomando uma circunferência de raio unitá-
rio,considerou uma seqüência de polígonos regulares ins-
critos e circunscritos, começando pelo hexágono, e dupli-
cando sempre o número de lados. A idéia de Arquimedes
era simples: quanto maior o número de lados do polígono,
mais próximo o seu perímetro estará do comprimento da circunferência.
O cálculo dos perímetros desses polígonos levou Arquimedes à conclusão
de que o multiplicador adequado (o nosso número π) ficava entre
223 / 71 < π < 22/7
o que nos dá π aproximadamente 3,14, e o comprimento da circunferên-
cia de raio unitário aproximadamente 2π.
Esse procedimento inaugura uma longa história de aproximações para o
valor de p. Utilizando a semelhança de triângulos para as aproximações
poligonais, observamos que os comprimentos s e S dos lados de dois polígonos
contidos em circunferências concêntricas de raios 1 e R, respectivamente,
verificam:

ou seja,
S=s.R
Sendo 2π o comprimento da circunferência de raio unitário, se o raio da
circunferência é R, seu comprimento C será C = 2 π R.
Agora faça você:
1. Uma pista circular para ciclismo tem um raio de 150
m. Um ciclista deu 500 voltas nessa pista. Quantos metros
ele percorreu?
2. Na mesma pista do primeiro exercício, deve ser dis-
putada uma prova cujo percurso deve ter 40 quilômetros.
Quantas voltas, no mínimo, deverão ser previstas para a
prova?
3. Um circuito para corrida de carros tem o formato da
figura abaixo. Quantos metros tem o circuito, se os trechos
de reta tangenciam os trechos circulares?


Unidade 2

Áreas
Organizadores
Antônio Carlos
Na Antigüidade, a necessidade do cálculo de áreas estava ligada ao pro- Brolezzi
blema de divisão de terras. É bem conhecida a história de que as cheias do rio Elvia Mureb
Nilo desfaziam as demarcações entre as terras ao longo de suas margens; para Sallum
refazê-las, eram necessários cálculos e medidas de área. Martha S.
Hoje, precisamos, por exemplo, decidir quantas caixas de lajotas são ne- Monteiro
cessárias para trocar o piso da garagem ou quanto tecido devemos comprar
para confeccionar cortinas para a sala de aula. Para a resolução desses proble- Elaboradora
mas, faz-se necessário o conceito de área de figuras planas. Cláudia Cueva
Uma figura plana poligonal ou uma região poligonal é a reunião de um Candido
polígono convexo com seu interior. Para simplificar, em vez de falarmos em
área da região quadrada ou da região triangular, falaremos em área de quadra-
do, triângulo e assim por diante.
Intuitivamente, a área de uma região é a medida associada à quantidade
do plano que ela ocupa. Quando observamos que duas regiões têm áreas iguais
ou que a área de um terreno é maior do que a área de um outro, estamos
fazendo comparações entre essas medidas.
Para calcular a área de uma região R, devemos compará-la com uma unida-
de de área escolhida como padrão. O número de vezes que a unidade
de área cabe em R será sua área. Adotamos, usualmente, o quadrado Uma unidade de área
de lado igual a uma unidade de comprimento como unidade de área;
isto é, estabelecemos a convenção de que a área do quadrado de lado
igual a uma unidade é igual a 1.
A unidade de medida de área usual é o metro quadrado, m², ou suas sub-
divisões dm², cm², conforme os comprimentos sejam dados em m, dm ou cm.
Um quadrado de lado com medida igual a n, n natural, tem área igual a n²,
pois pode ser decomposto em n² quadrados de lado 1.

Cabem 16 quadrados de lado 1


no quadrado de lado 4. Portan-
to, sua área é igual a 16.

De modo geral, se o lado de um quadrado tem por medida o nú- Q: quadrado de


mero real a, então a sua área é igual a a². lado a
Área de Q = a²


ÁREA DO RETÂNGULO
No retângulo de base 5 e Consideremos um retângulo R. Se os lados de R
altura 3 cabem 15 quadra- têm medidas m e n, m e n naturais, então cabem, em
dos de lado 1. R, mn quadrados de lado 1, de modo que se tem
Logo, sua área é igual a 15. área de R= mn.
De modo geral, se um retângulo tem lados de
medidas a e b (reais), a sua área é igual a ab, isto
é, o produto de seus lados. É comum renome-
R: retângulo de armos os lados de um retângulo de base e altura
lados a e b e, então, dizermos que a área do retângulo é o
Área de R = ab produto de sua base por sua altura.

Faça alguns cálculos:


1. Calcule a área de uma garagem que mede 3 m por 4 m.
2. Queremos fazer o piso da garagem com lajotas que medem 15 cm por
20 cm e são vendidas em caixas com 10 lajotas. Qual a área de cada lajota?
Que área pode ser coberta com o material de uma caixa?
3. De quantas caixas vamos precisar para ladrilhar a garagem do item (1)?
Até aqui foi fácil, mas como faremos para cobrir paralelogramos, triângu-
los ou outras figuras mais complicadas com quadrados?
Para isso, vamos precisar das seguintes propriedades da chamada função área:
Equivalência plana – Dizemos que duas figuras planas são equivalentes
se têm a mesma área. Poderíamos pensar, por exemplo, que duas figuras são
equivalentes se puderem ser cobertas com exatamente a mesma quantidade
de tinta (considerando camadas de tinta de mesma espessura).
É muito importante notar que duas regiões congruentes são equivalentes,
pois a mudança de posição no plano não interfere na porção de plano que a
figura ocupa.
Adição de áreas – Se uma região R é a reu-
R: reunião de R1 e R2 nião de duas regiões R1 e R2 cuja intersecção é
Área de R = área de um número finito de segmentos ou um número
R1 + área de R2 finito de pontos, então a área de R é a soma da
área de R1 com a área de R2.
Nos próximos exemplos, você vai ver de que maneira essas propriedades
podem nos ajudar a determinar a área de várias regiões poligonais. Chegare-
mos a algumas expressões para o cálculo de área de certas figuras, mas é
importante salientar que, nem sempre, o uso destas expressões é o melhor
caminho. A idéia é compor figuras planas ou decompô-las para depois recompô-
las, de modo a simplificar os cálculos de área.

ÁREA DO PARALELOGRAMO
Seja ABCD um paralelogramo, isto é, um quadrilátero que tem lados para-
lelos dois a dois. Para encontrarmos uma expressão para a área, vamos de-
compor e depois recompor a figura.
Chamaremos um dos lados , por exemplo, de base, e denotaremos por
b a sua medida. A altura h é o comprimento do segmento perpendicular a
pelo ponto C. Considere agora o retângulo EFCD, onde F é tal que é
paralelo a . Note que o triângulo CAE é congruente ao triângulo DBF (qual
é o caso de congruência e por quê?) e, portanto, o paralelogramo ABCD é


  -    

equivalente ao retângulo EFCD, ou seja, as duas figuras têm a mesma área.


Assim, podemos concluir que a área de um paralelogramo é o produto de sua
base por sua altura.
Desenhe uma cópia do paralelogramo
da figura ao lado, recorte o triângulo CAE e
desloque-o para a posição do triângulo DBF
para melhor entender o processo de decom-
posição e recomposição utilizado aqui.

ÁREA DO TRIÂNGULO
P: paralelogramo de base b e altura h
Para calcular a área de um triângulo, Área de P = bh
basta observar que todo triângulo é equiva-
lente à metade de um paralelogramo. A idéia aqui utiliza-
da é compor um paralelogramo a partir de dois triângulos
congruentes ao original.
T: triângulo de base
Seja ∆ABC o triângulo de base AB = b e altura h, da
b e altura h
figura, e seja D tal que é paralelo a e é para-
Área de T =
lelo a . Observe que ABCD é um paralelogramo e que
a soma das áreas dos triângulos ∆ABC e ∆DCB é igual à
área do paralelogramo ABCD. Verifique que os triângulos
∆ABC e ∆DCB são congruentes e con-
clua que a área de cada triângulo é Observe, na f igura ao
metade da área do paralelogramo com lado, que todos os triân-
mesma base e mesma altura. gulos com base
e o terceiro vértice so-
Agora faça você bre uma reta paralela a
1. Verifique que a área A do triân- têm a mesma área,
gulo eqüilátero de lado l é dada por pois todos têm a mesma
altura.
.
2. Um retângulo com 34 cm de perímetro tem 52 cm² de área. Quais as
medidas de seus lados?
3. Calcule a área de um quadrado no qual a diferença entre as medidas de
uma diagonal e de um lado é igual a 2 cm.
4. Um quadrado é equivalente a um retângulo de dimensões 10 e 15. Qual
a medida do lado desse quadrado?
5. Calcule a área de um triângulo retângulo ∆ABC, de cateto AB = 11
cm e hipotenusa BC = 15 cm.
6. Calcule a área do triângulo EAD inscrito no retângulo ABCD de
área 96 cm² da figura ao lado.

ÁREA DO TRAPÉZIO
Seja ABCD um trapézio com
lados e paralelos, de me-
didas AB = b 1 e CD = b 2 e com
altura h. Para calcular sua área ,
vamos dividi-lo em dois triân-
gulos: T 1 de base b 1 e altura h e
T 2 de base b 2 e altura h. A área Tra: trapézio de bases b1 e b2 e altura h.
do trapézio é a soma das áreas
Área de Tra =
dos dois triângulos:




ÁREA DO LOSANGO
Um losango é um paralelogramo cujos lados são congruentes. Logo, uma
vez conhecida a medida do lado e a altura relativa a esse lado, sua área é dada
pelo produto da base pela altura.
Vamos ver, agora, como fazer para calcular a área de um losango se sou-
bermos as medidas de suas diagonais d1 e d2.
Agora faça você
A idéia é decompor o losango L, da figura, em quatro triângulos congru-
entes e somar suas áreas. Para isso você terá que verificar
que:
1. Se ABCD é paralelogramo, as diagonais e cor-
L: losango com tam-se no ponto médio.
diagonais d1 e d2. 2. As diagonais de um losango são perpendiculares.
3. Os quatro triângulos da figura são congruentes.
Área de
4. A área de cada triângulo é .

5. Área de

OUTROS POLÍGONOS
Uma região poligonal pode ser decom-
posta de várias maneiras diferentes e o cál-
culo de área depende dos dados de que dis-
pomos. Sempre é possível dividir uma re-
gião poligonal em regiões triangulares, mas,
muitas vezes, isso não facilita as contas.
Exemplo: Para calcular a área de um ter-
reno foram tomadas algumas medidas, como
podemos ver na figura ao lado, à esquerda.
Com essas medidas, podemos calcular a
área A decompondo a figura em três partes: um triângulo, um retângulo e um
trapézio. Fazendo as contas,
e obtemos A = 4.887,5 m2.
O cálculo seria diferente (chegando ao mesmo resultado!) se tivéssemos
feito outra decomposição, como, por exemplo, a da figura da direita.

POLÍGONOS REGULARES
Um polígono regular é um polígono com todos os lados congruentes e
todos os ângulos congruentes.
Para fazermos o cálculo de área de um polígono regular de n lados, pode-
mos decompô-lo em n triângulos isósceles congruentes, cada um deles com
um vértice no centro da circunferência circunscrita ao
P: polígono de lado polígono.
l e apótema ap Se A e B são dois vértices consecutivos do polígono
e O é o centro da circunferência em que estão inscritos
Área de os vértices, chamamos de apótema do polígono regular
a medida da altura do triângulo AOB relativa ao lado .
Denotando por l a medida do lado e por ap o apótema, a
área de cada triângulo isósceles é .


  -    

Exemplo: Vamos determinar a área A do hexágono regular de lado l.


Este é um caso especial, pois os ângulos centrais dos seis triângulos isósceles
que compõem o hexágono têm medida igual a 60° e são, portanto, eqüiláteros.

A área de cada triângulo eqüilátero é igual a e, multiplicando por 6,

obtemos .

Agora faça você


Um hexágono regular ABCDEF tem área igual a 72 cm². Calcule a área do
triângulo ABC, sabendo que A, B e C são vértices consecutivos do hexágono.

O TEOREMA DE PITÁGORAS E SUA RELAÇÃO COM


ÁREAS
Talvez o teorema mais importante da Geometria elementar seja
o teorema de Pitágoras, que Foi demonstrado algebricamente no Teorema de
Módulo 3. Pitágoras
A primeira demonstração desse teorema é atribuída a Pitágoras, a2 = b2 + c2
que a teria elaborado por volta de 525 a.C., mas hoje já não se
conhece completamente tal demonstração.
Houve muitas provas diferentes para o teorema de
Pitágoras e, talvez, uma das mais notáveis seja a de A área do quadra-
Euclides. Ele interpretou o teorema como soma de áreas do construído so-
de quadrados e demonstrou, através de congruências de bre a hipotenusa é
triângulos, que a área do quadrado de lado com medida igual à soma das
igual ao comprimento da hipotenusa é igual à soma das áreas dos quadra-
áreas dos quadrados com medidas iguais aos compri- dos construídos
mentos dos catetos. sobre os catetos.
Vamos ver um esboço da demonstração atribuída a
Euclides.

área CBFG = área BEKL área ACJH = área ADKL

Observe, na figura acima à esquerda, que ∆ABF ≅ ∆EBC (por quê?) e,


então, suas áreas são iguais. Além disso, no triângulo ∆ABF, a altura relativa
ao lado tem medida igual a BC e, portanto, área CBFG = 2 área ∆ABF.




Da mesma forma, área BEKL = 2 área ∆EBC e concluímos que área


CBFG = área BEKL.
Com o mesmo procedimento, conclua, também, que área ACJH = área
ADKL (figura à direita). Agora é só somar, pois área ADKL + área BEKL
= área ABDE.
Na figura ao lado, podemos
visualizar outra demonstração do
teorema de Pitágoras, atribuída
aos pitagóricos, em que é também
utilizado o conceito de área.
À esquerda, temos um triân-
gulo retângulo com catetos de
medidas b e c e hipotenusa a.
No centro e à direita, constru-
ímos quadrados com lados de medida b + c e, neles, marcamos em posições
diferentes quatro triângulos congruentes ao triângulo original.
Observe na figura central que a área A do quadrado maior, de lado b + c,
é igual à soma das áreas do quadrado menor, de lado a, com as áreas dos
quatro triângulos retângulos.
Por outro lado, na figura da direita, podemos ver que a mesma área A é
igual à soma das áreas dos dois quadrados menores, de lados b e c com as
áreas dos quatro retângulos.
Ou seja, a área branca na figura central é igual à área branca na figura da
direita. Daí segue que a área do quadrado com lado igual à hipotenusa é igual
à soma das áreas com lados iguais aos catetos.

ÁREAS DE FIGURAS SEMELHANTES


Na figura ao lado, o lado do quadrado Q2 é o dobro do lado do
quadrado Q1 e o lado do quadrado Q3 é o triplo do lado de Q1. Veja o
que acontece com as áreas.
Vamos verificar esse resultado para triângulos e polígonos.
Consideremos os triângulos semelhantes ∆ABC e ∆A´B´C´ e seja
k a razão de proporcionalidade entre os lados correspondentes, isto é
Área de Q2 = 4 . área de Q1 .
Área de Q3 = 9 . área de Q1
Sejam e as alturas relativas aos lados e respecti-
vamente.
Pelo caso AA, de semelhança de triângulos, temos ∆BCD ~ ∆B´C´D´ e,
portanto ou seja, as alturas estão na mesma proporção: C´D´=
k CD. Logo, área ∆A´B´C´= ½ A´B´. C´D´= ½ kAB . kCD = k² área ∆ABC.


  -    

POLÍGONOS SEMELHANTES
Se a razão entre os lados correspondentes P ~ P´
de dois polígonos semelhantes é k, então a ra- Área P = k² Área P´
zão entre suas áreas é k².
Basta notar que todo polígono convexo com
mais de três lados pode ser decomposto em tri-
ângulos.
De modo geral: se a razão de proporcionalidade en-
tre os lados correspondentes de duas figuras seme- Polígono P
lhantes é k, então a razão entre suas áreas é k². Polígono P´

OUTRAS MANEIRAS DE DETERMINAR A ÁREA DE UM


TRIÂNGULO
Nem sempre temos as informações de base e
altura necessárias para o cálculo da área de um área do ∆ABC = α
triângulo, mas outros dados também permitem
calcular a área.
1. Seja o triângulo ABC da figura onde α é
a medida do ângulo agudo de vértice A.
Sendo conhecidos o valor de sen α e as
medidas dos lados AC = b e AB = c, e denotan-
do por h a medida da altura , temos ∆BDA
retângulo em D e, portanto sen α = . Logo,

área do ∆ABC = α.

Conseqüência: Lei dos Senos


Ainda no triângulo ABC, sendo β a medida do ângulo de vértice B, a me-
dida do ângulo de vértice C e a = BC.
Temos também:
área do ∆ABC = ab.senβ = ac.senγ . Lei dos Senos

Logo, bc.sen α = ac sen β = ab.sen γ


Multiplicando a igualdade acima por dois e
dividindo por abc, temos a Lei dos Senos:
2. Fórmula de Heron
Se são conhecidos os lados a, b e c do tri-
ângulo ∆ABC e se denotarmos por s o seu semi-
perímetro, isto é: ,

então:
área do ∆ABC = .
Não vamos apresentar a demonstração desta fórmula, pois ela é trabalhosa.

QUADRATURA DE FIGURAS PLANAS


Na matemática grega, a Geometria exercia um papel muito importante, e
tão fundamental que o produto de dois números a e b era associado à área de
um retângulo cujos lados tinham a e b por medida.




A igualdade a . b = c 2 era tratada ou como a proporção e associada

a uma divisão proporcional, ou como a igualdade entre a área do quadrado


cujo lado mede c e a área do retângulo cujos lados medem a e b.
Surgem, dessa forma, os chamados problemas de quadratura: dada uma
figura geométrica plana, como encontrar um quadrado equivalente a ela, ou
seja, de tal forma que o quadrado e a figura tenham áreas iguais? Como os
problemas de Geometria eram resolvidos, pelos gregos, com o auxílio da ré-
gua e do compasso, estava aí formulado um problema que só teve sua respos-
ta, para o caso da quadratura do círculo, no século XIX, quando foi provado
ser impossível realizar essa quadratura apenas com os instrumentos euclidianos.
No entanto, os gregos sabiam encontrar a solução para a quadratura de
muitas figuras geométricas planas. Vejamos alguns exemplos:
Problema 1. Construir um quadrado equivalente ao retângulo ABCD de
lados com medidas iguais a m e n.

Uma pista da resolução


do problema está no Módulo h² = mn
3, onde vimos, entre as rela-
ções métricas no triângulo
retângulo, aquela que relaci-
ona a altura relativa à hipote-
nusa com as projeções dos
catetos.

Para a construção do tri-


ângulo retângulo convenien-
te, primeiramente transferi-
mos a medida do segmento
para a reta determinada
por A e B, obtendo o ponto
B´ tal que AB´= m + n.

Em seguida, construímos
uma semi-circunferência com
diâmetro e prolongamos
o segmento até encontrar
a semi-circunferência em C´.
O triângulo ∆AC´B´ é retân-
gulo em C´, conforme vimos
na Unidade I, e é altura
relativa à hipotenusa.
Então, (BC´)² = mn e o
quadrado com lado de medi-
da igual BC´ é o quadrado
procurado.


  -    

Problema 2. Construir um quadrado com área igual à de um triângulo


∆ABC.
O primeiro passo é construir um retângulo com a mesma área do triângulo
∆ABC dado. Pelo vértice B traça-se a reta r, paralela à reta . Sejam s a mediatriz
de , M o ponto médio desse segmento e seja D = r ∩ s. O triângulo ADC
é isósceles (por quê?) e tem mesma base e mesma altura do triângulo ABC.
Logo, área ∆ABC = área ∆ADC = ½AC.DM = MC.DM = área do retângu-
lo MCND. Agora, basta repetir a construção anterior e teremos um quadra-
do com a mesma área do ∆ABC.

Problema 3. Construir um quadrado equivalente a um quadrilátero ABCD


dado.

Na figura acima à direita , podemos observar que o quadrilátero


ABCD é equivalente à reunião dos triângulos ∆ABD e ∆BDC. Além
disso, sendo r paralela a por A, e E o ponto de intersecção de r
com , temos área ∆ABD = área ∆EBD. Concluímos, então, que
área ABCD = área ∆BDC + área ∆BDE = área ∆EBC. Agora é só
obter a quadratura do ∆EBC, conforme vimos no item anterior.

Exercícios:
1. Um agrimensor determinou a área de um lote de terra ABCDE, cujo
diagrama está ao lado. Ele traçou a reta paralela à direção norte-sul por E e as
retas paralelas à direção leste-oeste por A, B, C e D. Descobriu que AO = 37m,
BR = 47m, CQ = 42m, DP = 28m, PQ = 13m, QE = 7m, ER = 19m e RO=18m.
Com esses dados, ele encontrou a área que queria. Calcule-a, agora, você.
2. Encontre uma expressão para a área de um retângulo em termos de sua
diagonal d no caso em que a diagonal é o dobro da altura.
3. A área de um retângulo é 36 cm² e sua base excede de 5 cm sua altura.
Determinar a altura do retângulo.
4. Determine as dimensões de um retângulo com 108 cm² de área, sendo
a base igual ao triplo da altura.
5. As bases de um trapézio isósceles medem, respectivamente, 3 cm e 8 cm.
Determinar a área desse trapézio sabendo que seu perímetro é igual a 24 cm.
6. A base maior de um trapézio é igual ao triplo da outra. Determinar as
medidas dessas bases sendo 60 cm² a área do trapézio e 5cm a altura.
7. (MAPOFEI- 74) – As diagonais de um paralelogramo medem 10 m e
20 m e formam um ângulo de 60°. Achar a área do paralelogramo.




8. Determinar o lado de um quadrado, sabendo-se que se aumentarmos


seu lado de 2 cm sua área aumenta de 36 cm².
9. Determinar a área de um losango sendo 120 cm o seu perímetro e 36
cm a medida da sua diagonal menor.
10. O perímetro de um losango é de 60 cm. Calcule a medida de sua área
sabendo que sua diagonal maior vale o triplo da menor.
11. Calcular a área de um retângulo, sabendo que cada as diagonalis me-
dem 10 cm cada uma e formam um ângulo de 60°.
12. Um losango e um quadrado têm o mesmo perímetro. Determinar a
razão da área do losango para a área do quadrado, sabendo que o ângulo
agudo formado por dois lados do losango mede 60°.
13. Demonstre o seguinte teorema:

Se as diagonais de um quadrilátero con-


vexo são perpendiculares entre si, então a
área do quadrilátero é metade do produto
dos comprimentos das diagonais.

14. Um lado, de um de dois triângulos semelhantes, é cinco vezes maior


que o lado correspondente do outro. Se a área do triângulo menor é 6 cm²,
qual é a área do maior?
15. As áreas de dois triângulos semelhantes são 16 e 25. Qual é a razão
entre um par de lados correspondentes?
16. Qual deve ser o comprimento de um triângulo eqüilátero para que sua
área seja o dobro da área de um triângulo eqüilátero de lado 10?
17. No ∆PQR da figura (ao lado) à esquerda, G é o ponto médio de eH
é o ponto médio de . Qual é a razão entre a área do ∆GHR e a área do ∆PQR?

18. Um terreno triangular tem lados de comprimentos 130 m, 140 m e 150


m, conforme está indicado na figura ao lado, à direita. O comprimento da
perpendicular que liga o vértice C ao lado de 140 m é 120 m. Deve-se fazer
uma cerca perpendicular ao lado de 140 m, de modo que o terreno fique
dividido em duas partes de mesma área. A que distância do ponto A, ao longo
de deve ser traçada essa perpendicular?
19. (FUVEST) – Em um triângulo T, os catetos medem 10 m e 20 m. A altura
relativa à hipotenusa divide T em dois triângulos, cujas áreas, em m², são:
a) 10 e 90
b) 20 e 80
c) 25 e 75
d) 36 e 64
e) 50 e 50


  -    

ÁREA DO CÍRCULO
Há cerca de 2.500 anos atrás os gregos já sabiam encontrar a área de qual-
quer polígono dividindo-o em triângulos, como na figura, e somando, em se-
guida, as áreas obtidas. No entanto, é muito mais difícil achar a área da região
limitada por uma figura curva, como, por exemplo, um círculo, ou seja, a região
limitada por uma circunferência. Os antigos gregos usavam, nesse caso, o cha-
mado método da exaustão, que consistia em inscrever e circunscrever a figura
com polígonos e então aumentar o número de lados deles.
A figura ilustra esse procedimento no caso de um círculo com polígonos
regulares inscritos.
Seja An a área do polígono com n lados. À medida que
aumentamos n, fica evidente que An ficará cada vez mais
próxima da área do círculo. Podemos dizer que a área do
círculo é o limite das áreas dos polígonos inscritos. Os gre-
gos não usavam explicitamente limites, mas por um raciocí-
nio indireto, Eudoxo (século V a .C.) usou a exaustão para
provar que a área do círculo de raio r é A = πr².
Para chegar à conclusão de Eudoxo, basta lembrar que a área do
polígono regular de n lados de medida igual a l e apótema a é:
e observar que nl é o perímetro do polígono. À medida
que aumentamos o número n de lados do polígono, o perímetro do
polígono nl aproxima-se do perímetro 2πr da circunferência em que
ele está inscrito, e o apótema a aproxima-se do raio da circunferência.
Então, a área An aproxima-se de πr².

ÁREA DE SETOR CIRCULAR


Um setor circular é uma parte do círculo limitada por dois raios. A
área do setor é proporcional ao comprimento do arco e, portanto, é C: círculo de raio r
proporcional ao ângulo central. Se a medida do ângulo central é α, em
radianos, então: Área de C = πr²

2πr ... πr2


αr ...

S: setor de raio r e abertura α


Área de S:

Agora faça você


1. Calcule a área da coroa circular da figura ao lado. Os raios
são iguais a 3 cm e 6 cm.
2. Na figura, o diâmetro de cada uma das circunferências
menores é igual ao raio da semi-circunferência mai-
or. Sabendo-se que o diâmetro da circunferência
maior é igual a 4 cm, calcule a área da região som-
breada.




3. Calcule a área da região limitada pelo segmento


e pelo menor arco determinado pelos pontos A e B
da figura ao lado.

4. O quadrilátero ABCD é um quadrado de lado 2 cm


e o arco de circunferência tem o seu centro no vértice do
quadrado. Calcule a área da região sombreada.

5. (CESGRANRIO-RJ) A região sombreada R da figura é limitada por


arcos de circunferência centrados nos vértices do quadrado de lado 2l. A área
de R é:
a)

b)

c)

d)
e)

7. (FUVEST) Um comício político lotou uma praça semicircular de 130 m


de raio. Admitindo-se uma ocupação média de 4 pessoas por m², qual é a
melhor estimativa do número de pessoas presentes?
a) Dez mil.
b) Cem mil.
c) Meio milhão.
d) Um milhão.
e) Muito mais que um milhão.
8. Na figura ao lado, o diâmetro da circun-
ferência de centro O mede 8 cm e o ângulo BAC
mede 30°. Calcule a área da região hachurada.

ALGUNS EXERCÍCIOS DO VESTIBULAR


1. (FUVEST-93) Os pontos B, P e C pertencem a uma circunferência γ e
é lado de um polígono regular inscrito em γ . Sabendo-se que o ângulo
∠BPC mede 18 o podemos concluir que o número de lados do polígono é
igual a:
a) 5
b) 6
c) 7
d) 10
e) 12


  -    

2. (FUVEST-94) Considere um arco AB de 110o numa circunferência de


raio 10cm. Considere, a seguir, um arco A’B’ de 60o numa circunferência de
raio 5 cm . Dividindo-se o comprimento do arco AB pelo do arco A’B’ (am-
bos medidos em cm) obtém-se:
a) 11/6
b) 2
c) 11/3
d) 22/3
e) 11
3. (FUVEST-94) A, B e C são pontos de uma circunferência de raio 30 cm,
AB = AC e o ângulo ∠ABC mede 30o.
a. Calcule, em cm, o comprimento do segmento .
b. Calcule, em cm2, a área do triângulo ∆ABC.
4. (FUVEST-01) Na figura ao lado, o quadrilátero ABCD está inscrito numa
semi-circunferência de centro A e raio = = = R. A diagonal
forma com os lados e ângulos α e β, respectivamente. Logo, a área do
quadrilátero ABCD é:
a) R2 (sen 2α + sen β) / 2
b) R2 (sen α + sen 2β) / 2
c) R2 (cos 2α + sen 2β) / 2
d) R2 (sen α + cos β) / 2
e) R2 (sen 2α + cos β) / 2
5. (FUVEST-99) Na figura abaixo, ABCDE é um pentágono regular. A
medida, em graus, do ângulo α é:
a) 32o
b) 34o
c) 36o
d) 38o
e) 40o
6. (FUVEST-00) São dados os pontos A e B. Usando a régua e o compas-
so, construa a circunferência circunscrita a um polígono regular de 12 lados
que tem o segmento como um de seus lados. Descreva e justifique as
construções utilizadas.

7. (FUVEST) Na figura abaixo, M é o ponto médio da corda da circun-


ferência e PQ = 8. O segmento é perpendicular a e RM = 4 /3.
Calcule:
a) O raio da circunferência.
b) A medida do ângulo ∠POQ, onde O é o centro da circunferência.


Unidade 3

Geometria espacial
Organizadores
Antônio Carlos Quando estudamos Geometria Espacial, buscamos
Brolezzi estudar modelos para as figuras e formas geométricas que
Elvia Mureb
estão à nossa volta, na natureza e nas construções, com as
Sallum quais interagimos desde os tempos mais remotos. Entre
árvores e montanhas, vales e planícies, contornando ou
Martha S. controlando o curso dos rios, o homem construiu tem-
Monteiro plos, pirâmides, castelos, barragens, grandes e pequenas
Elaboradora cidades, onde as formas geométricas em suas múltiplas
Maria Elisa possibilidades foram e são exploradas até os dias atuais.
Galvão Os favos das abelhas e as estruturas dos cristais nos
dão belíssimos exemplos. Da esfera celeste dos antigos às
estruturas poliédricas utilizadas para descrever modelos
atômicos, as várias formas geométricas que estudaremos
estão presentes sob diversos aspectos.
A organização desse estudo se apresenta sob dois as-
pectos distintos: a Geometria Métrica e a Geometria de
Posição. Vamos analisar alguns exemplos que podem ser
utilizados para introduzir o estudo da Geometria Espacial
em cada uma dessas direções. Começaremos escolhendo as figuras geométri-
cas mais simples da Geometria Plana para construir as figuras espaciais.

OS TETRAEDROS
Os tetraedros são figuras geométricas que podem ser construídas reunin-
do-se adequadamente quatro triângulos. Podemos chamá-los também de pirâ-
mides triangulares.
Utilizando a construção do triângulo equilátero que já conhecemos e, so-
bre cada um de seus lados, tomando novos triângulos também eqüiláteros,
conforme a figura abaixo, temos uma planificação (isto é, uma representação
plana) para a superfície do chamado tetraedro regular. Recortando a figura
obtida, podemos construir um modelo espacial para esse tetraedro.
A terceira figura ao lado ilustra a estrutura
da molécula de metano, cuja fórmula é CH4.
O átomo de carbono está no centro do tetraedro
e as quatro moléculas de hidrogênio dispostas
em seus quatro vértices.
  -    

Modelos para os poliedros também podem ser construídos utili-


zando canudos ou varetas, como na figura ao lado:
Um tetraedro, em geral, é o poliedro que tem quatro faces trian-
gulares, quatro vértices e seis arestas (os vértices coincidem com os
do triângulo e as arestas são lados comuns a dois triângulos). Ob-
servamos que:
- cada par de vértices determina exatamente uma aresta;
- cada três vértices determinam uma face;
- duas faces que têm um vértice em comum têm exatamente uma aresta em
comum;
- dados dois vértices de uma face, a aresta determinada por eles é um lado
desta face.
As propriedades acima que podemos observar no tetraedro são as chama-
das propriedades de incidência que admitimos para trabalhar na Geometria
Euclidiana Espacial, e vamos, desta forma, tratar brevemente do que em ge-
ral chamamos Geometria de Posição.
Temos também algumas informações sobre a posição relativa de retas,
pois encontramos, no tetraedro:
- retas concorrentes (e, portanto, coplanares), se considerarmos as retas que
contêm as arestas com um vértice comum;
- três retas concorrentes em um ponto, duas a duas coplanares, se conside-
rarmos as retas determinadas pelas três arestas (ou três lados) de uma mes-
ma face;
- pares de retas reversas, se considerarmos as retas que contêm, por exem-
plo, as arestas opostas e do tetraedro.
DESENHE E CONSTRUA
Desenhe uma planificação, construa um tetraedro em papel cartão e iden-
tifique as retas com as propriedades acima destacadas.
Algumas questões interessantes
- Dadas duas retas quaisquer no espaço, quais são as possibilidades para
sua intersecção e sua posição?
- Dadas três retas quaisquer no espaço, quais são as possibilidades para sua
intersecção e sua posição?
Cada uma das faces triangulares do tetraedro determina um plano no es-
paço, o plano que contém os três vértices e sobre o qual o seu modelo cons-
truído em cartão “se apóia”.
Cada vértice do tetraedro é determinado pela intersecção de três planos
distintos, ou seja, pelo encontro dos planos que contêm as faces que têm esse
vértice em comum.
Procure responder agora:
- Dada uma reta e um plano no espaço, quais são as possibilidades para sua
intersecção e sua posição?
- Dados dois planos quaisquer no espaço, quais são as possibilidades para
sua intersecção e sua posição?
- Dados três planos quaisquer no espaço, quais são as possibilidades para
sua intersecção e sua posição?




Faça alguns cálculos:


1. Calcular a medida da altura de um tetraedro regular sabendo que o períme-
tro da base mede 9 cm.

2. (FuvestUVEST) Na figura, ABCD é um tetraedro regular de lado a. Sejam


E e F os pontos médios de e , respectivamente. Então, o valor de EF é:
a) a/2 d) a /2
b) a /2 e) a /4
c) a /4

O CUBO OU HEXAEDRO REGULAR


O cubo é, sem dúvida, o poliedro regular mais conhecido, formado
por seis faces quadradas, reunidas três a três em oito vértices. Uma pla-
nificação para o cubo que pode ser usada para montá-lo é dada pela
figura a seguir. Podemos também estudá-lo como um especial paralele-
pípedo retângulo, cujas faces são retângulos (veremos a seguir).
As retas que contêm as arestas nos dão exemplos de: retas concorrentes,
retas paralelas, três paralelas não contidas todas em um mesmo plano e retas
reversas. Identifique essas retas, construindo um modelo, se necessário.
Podemos também discutir o perpendicularismo e encontrar vários exemplos
de reta perpendicular comum a duas retas reversas. Por exemplo, a reta é
perpendicular tanto à reta quanto à reta ,e e são retas reversas.
Observe ainda que no cubo constatamos um resultado importante:
Duas retas reversas sempre estão contidas em planos paralelos.
Quanto à posição relativa dos planos que contêm as faces do cubo, en-
contramos, por exemplo, planos paralelos, ou dois planos paralelos cortados
por um terceiro plano segundo retas paralelas.

OUTROS POLIEDROS REGULARES


O tetraedro e o cubo são exemplos de figuras geométricas que chamamos,
em geral, de poliedros. Os poliedros são construídos reunindo-se polígonos
planos (a que chamamos faces) de forma que cada lado de um desses polígonos
é também lado de um e somente um outro polígono. Duas faces quaisquer
têm em comum, no máximo, um vértice ou um lado. Os vértices e as arestas
são, respectivamente, os vértices e lados das faces.
Um poliedro pode ser uma figura geomé-
trica bastante interessante, se escolhermos com-
binações de vários tipos de polígonos, como
nos exemplos ao lado.
Os chamados poliedros regulares são
bem conhecidos desde a Antiguidade, sen-
do também chamados de poliedros platôni-
cos, pois foram estudadas por Platão, que viveu em Atenas por volta de 400
a.C. Algumas de suas propriedades de construção que utilizaremos estão em
um trabalho chamado Timeu. Fascinado pela perfeição desses poliedros, Platão,
em sua teoria, associou quatro deles aos quatro elementos: fogo, ar, água e
terra, considerados “as raízes de todas as coisas” pelo filósofo Empédocles
(495-435 a.C).


  -    

O fogo era associado ao tetraedro regular, a terra ao cubo ou hexaedro


regular, o ar ao octaedro regular (oito faces triangulares) e a água ao icosaedro
regular (vinte faces triangulares). O último poliedro regular conhecido, segun-
do Platão, “foi usado para sustentar as constelações no céu”, pois o dodecaedro
regular tem 12 faces supostamente associadas aos signos do zodíaco.

Tetraedro Regular Hexaedro Regular Octaedro Regular Icosaedro Regular Dodecaedro Regular
(fogo) (terra) (ar) (água) (Esfera Celeste)

Um poliedro será regular se:


- todas as suas faces são polígonos regulares com o mesmo número de lados;
- em cada vértice concorrem o mesmo número de arestas.
Desde os tempos de Platão, sabe-se que existem apenas os cinco poliedros
regulares representados acima.
Para construí-los, podemos começar com as faces triangulares: tere-
mos o tetraedro regular, reunindo três triângulos em cada vértice, o oc-
taedro regular, reunindo quatro triângulos em cada vértice e o icosaedro
regular, reunindo-os em número de cinco em cada vértice. Em cada vér-
tice estaremos formando um ângulo poliédrico.
Seis triângulos eqüiláteros reunidos formam um hexágono, que é plano;
logo, não será mais possível continuar o processo.
O hexaedro tem faces quadradas reunidas três a três nos vértices.
O dodecaedro tem faces pentagonais também reunidas três a três. Verifi-
que que esse é o maior número de faces desse tipo que podemos reunir num
mesmo vértice.

Agora faça você:


Construa uma planificação para o octaedro e para o icosaedro, usan-
do triângulos eqüiláteros. Construa também uma planificação para o
dodecaedro (a sugestão para a construção do pentágono usando régua e
compasso se encontra no Módulo 3).
Existem algumas relações entre os poliedros regulares, ilustradas
pelas figuras ao lado. Tomando o centro de suas faces, obtemos ou um
poliedro semelhante (como no tetraedro) ou o chamado poliedro dual
(demais poliedros nas figuras ao lado).

As figuras á esquerda ilus-


tram outras relações interessan-
tes que podemos obter entre os
poliedros regulares.

Tetraedro e Cubo Cubo e Dodecaedro




Para cada um dos poliedros regulares, podemos contar o número de vérti-


ces, arestas e faces, verificando algumas relações interessantes. Os dados des-
sa contagem estão reunidos na tabela abaixo:
Poliedro Tipo de Face Número de Faces Arestas Vértices
Tetraedro regular Triângulo equilátero 4 6 4
Hexaedro Regular Hexágono regular 6 12 8
Octaedro Regular Triângulo equilátero 8 12 6
Dodecaedro Regular Pentágono Regular 12 30 20
Icosaedro Regular Triângulo equilátero 20 30 12

O número de arestas (A) é dado por: A = F. n / 2


onde F é o número de faces e n o número de lados de cada face. O produto F.n
dá o número total de lados dos polígonos que compõem o poliedro, e esses
lados são “colados” dois a dois – daí a divisão por 2.
O número V de vértices também
pode ser calculado por uma fórmula V =A .p / 2
semelhante:
onde agora p é o número de arestas que concorrem em cada vértice.
Finalmente, observamos que vale,
para os poliedros regulares, a chama-
da relação de Euler, descoberta pelo V + F –A = 2
famoso matemático do século XVIII
(que viveu entre 1707 e 1783):
A relação de Euler é válida para todos os poliedros convexos, que são
aqueles em que os planos que contêm as faces não intersecta o poliedro.

Agora faça você:


1. Para cada um dos poliedros regulares, utilizando as fórmulas e as infor-
mações do texto, confira os dados da tabela e verifique a relação de Euler.

2. Sabe-se que um poliedro convexo tem dez vértices triédricos (ou seja, vér-
tices em que se encontram três arestas). Calcule:
a) o número de arestas; b) o número de faces.
3. Calcule a soma dos ângulos das faces de um poliedro convexo que tem seis
faces quadrangulares.

4. (ITA) Se um poliedro convexo possui 20 faces e 12 vértices, encontre o


número de arestas desse poliedro.

5. (PUC-SP) Um poliedro de Platão não pode ter:


a) faces triangulares d) faces hexagonais
b) faces quadrangulares e) ângulos pentaédricos (vértices em
c) faces pentagonais que concorrem cinco arestas)

6. (CESESP-PE) Considere os seguintes poliedros regulares:


A1 - Tetraedro A2 - Dodecaedro A3 - Icosaedro
Assinale, entre as seguintes alternativas, a falsa.


  -    

a) o poliedro A1 tem as faces triangulares.


b) o poliedro A2 tem 12 faces.
c) o poliedro A3 tem as faces triangulares.
d) o poliedro A2 tem as faces em forma de dodecágono.
e) o poliedro A3 tem 20 faces.

POLIEDROS ARQUIMEDIANOS
Também chamados de semi-regulares, os po-
liedros arquimedianos podem ser obtidos cortan-
do-se os poliedros regulares por planos à mesma
distância dos vértices. Temos alguns exemplos nas
figuras ao lado.
Um exemplo importante de poliedro arquimediano é
o chamado icosaedro truncado, obtido cortando-se as ares-
tas de um icosaedro à mesma distância dos vértices. Como
temos cinco triângulos (ou cinco novas arestas) em cada
vértice, as f iguras resultantes nesses cortes serão
pentágonos e hexágonos.
Os vértices desse poliedro estão associados à distribuição dos átomos da
molécula do Carbono 60 (C 60). Também encontramos essa combinação nas
bolas de futebol, como vemos na ilustração abaixo. Para
fazer uma bola, deveremos cortar hexágonos e pentágonos
de couro ou outro material equivalente, e depois uni-los
por costuras.
Ao lado, temos um modelo para a planificação da bola
de futebol.

Agora faça você:


Para montar uma bola de futebol com couro preto e branco, quais e quantas
peças deverá recortar de cada cor? Quantas costuras terá que fazer? Como
ficará a distribuição das peças?

Ilustrações interessantes, da época do Renascimento, se utilizam dos po-


liedros regulares como elementos de sua composição.
Figura renascentista
PRISMAS, CILINDROS, PIRÂMIDES E CONES
Os prismas são figuras geométricas com as quais convivemos diariamen-
te, pois estão presentes nas nossas casas, nas embalagens e em muitos objetos
de uso geral.
Para construirmos um prisma, tomamos como figura geométrica de parti-
da um polígono (ABCDEFG, na figura ao lado) e, num plano paralelo ao
plano que o contém, escolhendo um ponto P qualquer, construímos um novo
polígono cujos lados são paralelos aos do polígono dado.
Um prisma possui, portanto, duas faces que são polígonos congruentes (tam-
bém chamadas bases do prisma) e faces laterais que são paralelogramos. Se n é
o número de lados do polígono de partida, o número total de faces do prisma é
n+2, o número de arestas é 3n e o número de vértices é 2n. Nas ilustrações a
seguir vemos alguns prismas, combinações dessas figuras na forma de um que-




bra cabeça ou num projeto arquitetônico e algumas de suas uti-


lizações, como, por exemplo, para a conseguir a refração da luz.
Os prismas são, em geral, denominados segundo o polígono
da base: temos os prismas triangulares, quadrangulares,
pentagonais etc., conforme a base seja um triângulo, um quadri-
látero, um pentágono etc. Podem ser retos, quando as arestas são
perpendiculares ao plano da base, ou oblíquos, caso contrário.

Construa:
Fonte: Podemos montar um prisma triangular reto usando a planificação a seguir.
www.evsc.virginia.edu
Construa planificações para outros tipos de prisma reto.
www.johnrausch.com
www.prism.gatech.edu Os prismas com os quais convivemos mais freqüentemente têm por base
um paralelogramo PQRS, como os das figuras abaixo, e são particularmente
denominados paralelepípedos.
Quando todas as faces são retângulos, temos o paralelepípedo que é cha-
mado reto-retângulo, comumente encontrado em construções, embalagens e
caixas que utilizamos no dia a dia. O cubo é um especial prisma, ou ainda, um
especial paralelepípedo reto-retângulo.
Muitas vezes, precisamos obter dados que envolvem as medidas
de um paralelepípedo reto-retângulo. Quando vamos fazer as instala-
ções elétricas ou de cabos para telefone ou televisão, interessa-nos
gastar o mínimo possível. Para fazer esses cálculos, precisamos saber
V = a3 unidades V = a..b.c unidades
calcular os comprimentos dos vários segmentos que ligam pontos con-
de volume de volume tidos nas faces, e o teorema de Pitágoras será bastante utilizado.

Agora faça você:


(CESGRANRIO) Dentre os caminhos ligando R a S, sobre a superfície do
cubo, aquele de menor percurso é:

a) b) c) d) e)

Num paralelepípedo reto-retângulo, quando unimos dois vértices quais-


quer, podemos ter a diagonal de uma face ( ou ) ou a diagonal do
paralelepípedo ( ).
Para calcular o comprimento dessas diagonais, observamos que são
hipotenusas de triângulos retângulos; logo,
PR2 = a2 + b2
QU2 = b2 + c2
PU2 = PR2 + RU2 = a2 + b2 + c2
O comprimento D da diagonal do paralelepípedo será, então, dado por
D2 =


  -    

Calcule agora:
1. Em um paralelepípedo reto-retângulo de largura 2 dm e comprimento
dm, uma diagonal mede 5 dm. Calcule a altura desse sólido.
2. (Fuvest) No paralelepípedo reto-retângulo da figura, sabe-se que
AB = AD = a, AE = b e que M é a intersecção das diagonais da face
ABFE. Se a medida de também é igual a b, o valor de b será:

a) b) c) d) e)

Podemos generalizar a noção de prisma e obter um cilindro, tomando como


base uma curva plana fechada. Os segmentos paralelos que têm uma extremi-
dade nos pontos da curva e a outra num plano paralelo ao plano da base são
chamados agora geratrizes do cilindro. Temos a figura geométrica que, no dia
a dia, é utilizada para as latas de alimentos, tubulações e caixas d’água, equi-
pamentos mecânicos etc.
Da mesma forma que o prisma, os cilindros podem ser
retos ou oblíquos, conforme a geratriz seja ou não perpendi-
cular ao plano que contém a curva de base. O cilindro mais
utilizado, na prática, é o cilindro que chamamos circular reto,
cuja curva de base é uma circunferência. cilindro oblíquo cilindro reto

Os cones generalizados também são definidos a partir de


figuras geométricas planas. Essa figura geométrica será a base
do cone e o seu vértice será um ponto não pertencente ao
plano da figura. Temos também as geratrizes do cone que se-
rão os segmentos que têm por extremos o vértice do cone e
um ponto da sua base.
Quando a figura da base é um polígono, o cone generalizado é particular-
mente chamado de pirâmide, e é dita triangular, quadrangular, pentagonal
etc., conforme a base seja um triângulo, um quadrilátero, um pentágono etc.,
respectivamente.
Pelo vértice da pirâmide ou do cone, podemos considerar uma reta per-
pendicular ao plano da base, que o intercepta determinando um segmento que
é a altura da pirâmide ou do cone. A pirâmide ou o cone são retos quando
essa perpendicular passa pelo centro da base. Uma pirâmide é regular quando
é reta e sua base é um polígono regular.
Os triângulos que têm em comum o vértice da pirâmide são chamados
suas faces laterais. Uma pirâmide cuja base é um polígono de n lados tem
n+1 faces, 2n arestas e n+1 vértices.

ÁREAS LATERAIS E TOTAIS


Para construir uma caixa de papelão, precisamos saber, dadas as dimen-
sões da caixa, qual será a quantidade de papelão necessária para a montagem.
Quando vamos comprar tintas ou materiais de revestimento (pisos, azulejos
etc.), precisamos saber qual é a área da superfície a ser pintada ou azulejada,
ou seja, devemos distinguir a área das paredes da área do piso, incluir ou não
a área do teto etc. Em alguns casos, precisamos trabalhar com as chamadas
áreas laterais; em outros, interessa-nos a área total.




Se uma caixa tem a forma de um paralelepípedo, um modelo desmon-


tado dela pode ser dado pela figura ao lado:
Podemos calcular a quantidade de papelão a ser gasta avaliando-se a
área da planificação da caixa. Neste caso, temos seis retângulos, dois a
dois congruentes, e a soma de suas áreas será:
A = 2 ab + 2 ac + 2 bc
que chamamos a área total do paralelepípedo retângulo cujos lados me-
dem a, b e c.
Agora faça você:
(MACK) A área total do sólido ao lado é:
a) 204 c) 222 e) 262
b) 206 d) 244
Temos, muitas vezes, interessantes embalagens de doces ou chocolates
que têm a forma de um prisma hexagonal regular. A planificação desse pris-
ma será como a figura ao lado.
Se escolhermos a cor ou o material das faces laterais diferente do utilizado
para as bases, para estimar a quantidade de material a ser empregado faremos
o cálculo da chamada área lateral do prisma que, no caso, será seis vezes a
área da face lateral retangular.
A área total do prisma será a soma da área lateral com as áreas das bases.

Agora faça você:


Na planificação acima, o lado do hexágono mede 4 cm, e a aresta lateral
do prisma 10 cm. Calcule a área lateral e a área total.

Quando o problema é saber o material gasto na fabricação de latas para


alimentos, temos que trabalhar com os dados de um cilindro circular reto. A sua
superfície lateral será um retângulo cujas dimensões serão o comprimento da
circunferência da base e o comprimento da geratriz, que é a altura do cilindro.
A área lateral do cilindro será, então:
AL = 2πR.H
Para calcular a sua área total, juntamos as
áreas das bases:
AT = 2πR.H + 2 πR2 = 2πR (H + R)
Agora faça você:
1. Um cilindro reto, cuja área da base é 16p cm2 e altura 9 cm, será dividido
em dois semicilindros, cortado por um plano que passa pelo centro do círculo
da base. Calcule a área total de cada um dos semicilindros.
2.Um cilindro reto é eqüilátero se sua secção por um plano que contém os
centros das bases (como na figura ao lado) é um quadrado. Encontre a área
lateral e total de um cilindro eqüilátero cuja altura é 10 cm.
3. (UFMG) Para se construir uma lata cilíndrica de base circular, sem tampa,
com 20 cm de diâmetro na base e 25 cm de altura, são gastos x cm² de
material. O valor de x é:


  -    

a) 400π b) 600π c) 300π d) 700π e) 500π


4. (FUVEST) Um lenhador empilhou três troncos de madeira num caminhão
de largura 2,5 m, conforme a figura ao lado. Cada tronco é um cilindro reto,
cujo raio da base mede 0,5 m. Logo, a altura h, em metros, é:
a) (1 + )/2 b) (1 + )/3 c) (1 + )/4 d) 1 + /3 e) 1 + /4
Para as pirâmides e cones, utilizamos idéias
Ap – apótema da pirâmide
semelhantes: podemos calcular a área lateral ou a
área total, como ilustram as figuras ao lado. ap – apótema da base
H – altura da pirâmide
No cálculo da área lateral da pirâmide, para cal-
cular a área de cada face triangular deveremos ter a
altura da face, que também é chamada de apótema
da pirâmide. O apótema da pirâmide é, também, a
hipotenusa do retângulo cujos catetos são a altura
da pirâmide e o apótema da base. Na figura, temos
o exemplo de uma pirâmide quadrangular regular
onde estão destacados esses elementos.
Faça alguns cálculos:
1. (MAUÁ) Para medir a altura de uma torre verti-
cal DE, toma-se, no plano horizontal que passa
pela sua base D, o segmento de comprimento 12 m e cujo ponto médio é
C. Mede-se, então, os ângulos ∠DAE, ∠DBE, ∠DCE, verificando-se que m
(∠DAE) = m (∠DBE) = 45o e m (∠DCE) = 60o. Determinar a altura da torre.

2. (CESCEM) Em uma pirâmide com 12 cm de altura, tendo como base um


quadrado de lado igual a 10 cm, a área lateral é:
a) 240 cm2 b) 260 cm2 c) 340 cm2 d) 400 cm2 e) 20 cm2

3. A área lateral de uma pirâmide hexagonal regular é a 24 dm2. Calcule a


aresta da base, sabendo que a aresta lateral mede dm.

4. (FUVEST) Um telhado tem a forma de superfície lateral de uma pirâmide


regular de base quadrada. O lado da base mede 8 m e a altura da pirâmide 3
m. As telhas para cobrir esse telhado são vendidas em lotes que cobrem 1 m2.
Supondo que possa haver dez lotes de telhas desperdiçadas (quebras e emen-
das), o número mínimo de lotes de telhas a ser comprado é:
a) 90 b) 100 c) 110 d) 120 e) 130
5. Uma pirâmide pentagonal de altura 24 cm tem área da
AL = 2 πR.g / 2
base igual a 144 m². Secciona-se essa pirâmide com um AL = π R.g
plano paralelo à base a uma distância de 14 cm do vérti-
ce. Calcule a área da seção determinada.

A embalagem de papel que protege a casquinha do sor-


vete é a superfície lateral de um cone. Se cortarmos essa
embalagem por uma das geratrizes do cone, temos uma
porção de um círculo que é chamada de setor circular. A
área da embalagem será a área lateral do cone e será calcu-
lada como no caso de um triângulo cuja base mede 2πR e
a altura mede g:




Para calcular a área total do cone, somamos a área da base, e temos:


AT = πRg + πR2 = πR(g + R)

Agora faça você:


1. Um especial cone é o chamado cone eqüilátero, obtido quando giramos um
triângulo eqüilátero em torno de sua altura.
a) Ache o raio da base de um cone eqüilátero cuja área lateral mede 128π cm2.
b) Ache a geratriz de um cone eqüilátero cuja área total mede 768π cm2.
c) Encontre a razão entre a área total e a área lateral de um cone eqüilátero.

VOLUMES DE FIGURAS ESPACIAIS


Calcular volumes, assim como calcular áreas, é um problema muito anti-
go, motivado, por exemplo, pelas necessidades de comparar ou armazenar
quantidades de grãos, água, etc., para o consumo ou o comércio. Hoje, se
temos uma caixa d’água cilíndrica ou na forma de um paralelepípedo, para
controlar o abastecimento e nosso gasto precisamos saber o volume da caixa
e medir a quantidade de água que ela contém.
O problema geral é: dado um sólido poliédrico, determinar o seu volume.
Muitos dos métodos que utilizamos hoje são exatamente os conhecidos desde
a antiguidade.
Para encontrar a área de uma figura plana, escolhemos como unidade de
área um quadrado de lado unitário. Da mesma forma, para determinar o volu-
me de uma figura espacial, precisamos estabelecer uma unidade de volume.
A definição de uma função volume pode ser dada da mesma forma e com
propriedades semelhantes às da função área.
A unidade de volume que vamos adotar será o cubo de
lado unitário. Com base nesse padrão de medida, podemos
verificar, examinando a figura a seguir, que, dado um novo
cubo cuja aresta tem comprimento 2, podemos dividi-lo em
oito cubos com lado unitário; desta forma, seu volume será
8 = 2 3 unidades de volume.
Se continuarmos a experiência com um novo cubo com
aresta medindo 3, a figura ficará mais complicada, mas po-
deremos contar 27 = 3 3 cubos de lado unitário; logo, o volu-
me será igual a 27 unidades de volume. Para cubos cuja aresta seja um núme-
ro natural ou uma fração, ou seja, um número racional positivo p / q, podemos
verificar que o volume será dado por
3
V = (p / q)
O processo pode ser generalizado para se obter como
resultado uma fórmula para o volume V = a3, para um
cubo cujo lado tem medida a ou V = a ..b.c para um
paralelepípedo reto-retângulo cujos lados medem a, b e
c, números reais positivos quaisquer.
A unidade usual de volume é o m3, ou suas frações dm3, cm3 e mm3. É
importante lembrar a relação entre as medidas de volume e de capacidade, ou
seja, que um litro equivale a um cubo de 10 cm de aresta, ou seja, 1 dm3. Uma
caixa d’água com 1 m3 = 1000 dm3 de volume comportará, portanto, 1.000
litros de água.


  -    

PARALELEPÍPEDOS Investigue
Um pilha de papel sulfite nos proporciona uma maneira simples e infor- Uma garrafa de bebida
mal de observar o que ocorre com os volumes dos paralelepípedos oblíquos. com 30 cm de altura tem
Deslizando as folhas umas sobre as outras, a pilha originalmente empacotada uma miniatura perfeita-
como um paralelepípedo retângulo pode se transformar em um paralelepípe- mente semelhante com
do oblíquo, ou ainda em sólidos com formas muito diferentes. O volume, no 10 cm de altura. Se a mi-
entanto, não muda, o que nos leva a supor que, de fato, o volume do paralele- niatura tem 50 ml de vo-
pípedo depende somente da área da sua base (a folha de papel, no nosso lume, qual é o volume da
exemplo) e da altura (ou seja, do número de folhas que empilhamos). garrafa original?

O problema, conhecido desde a antiguidade, foi definitivamente esclare-


cido a partir do trabalho de Bonaventura Francesco Cavalieri, um padre jesu-
íta que viveu no século XVII (entre 1598 e 1647).
Baseado na idéia de que se, ao fatiarmos paralela-
mente dois sólidos ao mesmo tempo, obtivermos as
fatias correspondentes com a mesma área, então os
sólidos terão o mesmo volume, o Princípio de
Cavalieri pode ser enunciado:
PRINCÍPIO DE CAVALIERI
Dados dois sólidos e um plano, se todo plano paralelo ao plano dado secciona os dois
sólidos segundo figuras de mesma área, então os sólidos têm o mesmo volume.
O princípio de Cavalieri garante, portanto, que dois paralelepípedos, um
reto e um oblíquo, com bases equivalentes e mesma altura, têm o mesmo
volume, pois todas as suas secções correspondentes serão congruentes às res-
pectivas bases; logo, terão a mesma área. A conclusão é:
O volume de um paralelepípedo é o produto da área da base pela altura.

Agora faça você:


1. Um paralelepípedo reto retângulo tem as arestas medindo 5 cm, 6 cm e 8
cm. Calcule, desse sólido:
a) a medida de uma diagonal; b) a área total; c) o volume.
2. Em um paralelepípedo reto retângulo de altura 2 dm e comprimento dm,
uma diagonal mede 5 dm. Calcule a altura desse sólido.
3. De quanto aumenta o volume de um cubo, em cm³, se a aresta de um metro
é aumentada de 1cm?
4. A medida da superfície total de um cubo é 726 cm². De quanto devemos
aumentar sua diagonal para que o volume aumente de 1413 cm³?
5. Enche-se um recipiente cúbico com água. Dado que um galão de líquido
tem um volume de 21.600 cm³ e sendo 120 cm a aresta do recipiente, calcular
o número de galões que o recipiente pode conter.
6. A base de um paralelepípedo reto é um losango de 60 cm² de área. As áreas
das seções diagonais do paralelepípedo são 72 cm² e 60 cm². Determine o
volume do paralelepípedo.
7. (FUVEST) Um bloco retangular (isto é, um paralelepípedo reto-retângulo)
de base quadrada de lado 4 cm e altura 20 , com 2/3 do seu volume cheio de
água, está inclinado sobre uma das arestas, formando um ângulo de 30o com
o solo (ver seção lateral ao lado). Determine a altura h do nível da água em
relação ao solo.




PRISMAS
Para obter o volume de um prisma, começamos com o prisma triangular.
O triângulo ∆ABC de sua base pode ser considerado como a metade de um
paralelogramo ABDC, e o prisma triangular será uma das duas partes congru-
entes obtidas na secção do paralelepípedo cuja base é esse paralelogramo e
com a mesma altura do prisma.
O volume do prisma triangular será a metade do volume do paralelepípe-
do; como altura é a mesma, teremos:
O volume de um prisma triangular é o produto da área da sua base
pela altura.
Já vimos que, tomando as diagonais com origem no mesmo vértice de
polígono qualquer, podemos dividi-lo em triângulos, e um prisma qualquer
pode ser considerado como a reunião de prismas triangulares. Isso nos permi-
te concluir que:
O volume de um prisma é o produto da área da base pela altura.

Agora faça você:


1. Calcular o volume de um prisma cuja base é um triângulo eqüilátero de 6
dm de perímetro, sendo a altura do prisma o dobro da altura da base.
2. Calcular o volume do prisma regular de seis faces, sabendo que sua diago-
nal mede 13 m e que as diagonais da base medem 12 m.
3. Determinar o volume de um prisma triangular oblíquo sendo a base um
triângulo eqüilátero de lado l = 4 dm e a = 4 dm a aresta lateral que forma um
ângulo de 60° com a base do prisma.
4. Calcular o volume de um prisma hexagonal regular de área total igual a 12
dm², sendo 1 dm a altura do prisma.

PIRÂMIDES
Para obter o volume de uma pirâmide, vamos explorar uma relação
interessante que existe entre prismas e pirâmides triangulares. Um bom exer-
cício é tentar fazer essa divisão utilizando uma barra de sabão ou um prisma
feito com massa de modelar.
O prisma triangular pode ser dividido em três pirâmi-
des que, duas a duas, têm bases congruentes e a mesma
altura. Uma divisão está esboçada na figura acima, e as
três pirâmides estão destacadas ao lado.
Vamos estudar especialmente a secção de uma pirâmide
por um plano paralelo à sua base, como na figura abaixo:
O Teorema de Tales da Geometria Plana pode também
ser provado no contexto da Geometria Espacial, e temos as-
sim condições de afirmar que planos paralelos determinam
segmentos proporcionais ao interceptarem retas no espaço.
No caso da pirâmide seccionada por um plano parale-
lo à sua base, as proporcionalidades que vêm do Teorema
de Tales nos permitem concluir que a razão a’ / a entre os
comprimentos a’ e a dos lados da base e do triângulo do


  -    

corte é a mesma que a razão k = H’ / H entre a distância do plano de corte ao


vértice e a altura da pirâmide. Temos, portanto, a’= k a, o que nos leva a
concluir (reveja a relação entre as áreas de figuras semelhantes) que:
A’= k 2 A
onde A’ é a área da secção, A é a área da base e k é a razão entre as alturas H’e H.
Observando agoras duas da pirâmides obtidas a partir do pris-
ma triangular, tomando por bases os triângulos congruentes ∆ABD
e ∆EDB (verifique a congruência) e como vértice de ambas o
ponto C, podemos concluir, pela proporcionalidade das áreas das
secções e pelo Princípio de Cavalieri, que as duas pirâmides têm
o mesmo volume. Para isto, tomamos secções paralelas ao plano
das bases congruentes. Da mesma forma, podemos verificar que
o volume da terceira pirâmide é igual ao das outras duas:
Assim, o volume de uma pirâmide triangular é um terço do volume do
prisma triangular e, portanto, um terço do produto da área da sua base pela
altura relativa a ela. Como no caso dos prismas, uma pirâmide qualquer pode
ser descrita como a adequada reunião de pirâmides triangulares, e o mesmo
cálculo de volumes vale para uma pirâmide de base qualquer. Em resumo:
O volume de uma pirâmide é dado por um terço do produto da área de sua base pelo
comprimento da altura relativa à ela.

Agora faça você:


1. Calcule o volume do tetraedro regular de aresta a, usando a figura ao lado:

2. (PUC-SP) Um octaedro regular tem volume m². Uma diagonal desse só-
lido, em metros, mede:
a) 1 b) c) d) 2 e) 2

3. (CESCEM) Um quadrado de lado x é base de um prisma triangular e de


uma pirâmide regular de mesma altura. A razão entre a área lateral do prisma
e o volume da pirâmide é:
a) 4x/3 b) 3x/4 c) 4/(3x) d) 3/(4x) e) 12/x

4. (FUVEST) A pirâmide de base retangular ABCD e vértice E representada


na figura tem volume 4. Se M é o ponto médio da aresta e V é o ponto
médio da aresta , então o volume da pirâmide de base AMCD e vértice V é:
a) 1 b) 1,5 c) 2 d) 2,5 e) 3

5. (FUVEST) No sólido S representado na figura ao lado, a base ABCD é um


retângulo de lados AB = 2λ e AD = λ; as faces ABEF e DCEF são trapézios; as
faces ADF e BCE são triângulos eqüiláteros e o segmento tem comprimen-
to λ. Determinar, em função de λ, o volume de S.

CILINDROS E CONES
Passando para os corpos redondos (cilindros e cones), para calcular o seu
volume utilizamos o antigo método de exaustão, baseado nas idéias de Eudoxo,
um geômetra grego que viveu por volta do século IV a.C. Baseado no príncipio
de que os polígonos regulares inscritos fornecem uma aproximação para a cir-
cunferência e suas áreas para a área do círculo, consideramos os prismas e




pirâmides regulares para aproximar os volumes do cilindro


e do cone, respectivamente. Temos, como conseqüência:

Volume do cilindro: V = π R2 H
Volume do cone: V = π R2 H / 3

Volume do cilindro: Volume do cone:


Agora faça você:
V = π R2 H V = π R2 H / 3 1. (UFBA) O tonel representado ao ladoestá
ocupado em 80% da sua capacidade.
A quantidade de água nele contida é de:
a) 20 l b) 30 l c) 40 l d) 50 l e) 60 l
2. (UFPA) O reservatório cilíndrico de uma caneta esferográfica tem 4 mm de
diâmetro e 10 cm de comprimento. Se você gasta 5 p mm³ de tinta por dia, a
tinta de sua esferográfica durará:
a) 20 dias b) 40 dias c) 50 dias d) 80 dias e) 100 dias

3. Em um cilindro circular reto, a medida da altura é o triplo da medida do


raio de base. Sabendo que a área de uma seção meridiana é 48 cm², calcule o
volume desse cilindro.

4. Uma lata cilíndrica contém um líquido que deve ser distribuído em recipi-
entes, também cilíndricos, cuja altura é um quarto da altura que o líquido
ocupa na lata e cujo diâmetro da base é um terço do diâmetro da base da lata.
Quantos recipientes serão necessários?
5. (FUVEST) Uma metalúrgica fabrica barris cilíndricos de dois tipos, A e B,
cujas superfícies laterais são moldadas a partir de chapas metálicas retangula-
res de lados a e 2 a, soldando lados opostos dessas chapas, conforme ilustrado
ao lado.
Se VA e VB indicam os volumes dos barris do tipo A e B, respectivamente,
tem-se:
a) VA = 2 VB b) VB = 2 VA c) VA = VB d) VA = 4 VB e) VB = 4 VA
6. Um cilindro oblíquo tem raio das bases igual
a 1, altura 2 e está inclinado de um ângulo
de 60o (ver figura) O plano b é perpendicular
às bases do cilindro, passando pelos seus cen-
tros. Se P e A são os pontos representados na
figura, calcule PA.
7. (FUVEST) Um setor circular com ângulo central θ (0 < θ < 2π) é recortado
de um círculo de papel de raio R (ver figura ao lado). Utilizando o restante do
papel, construímos a superfície lateral de um cone circular reto. Determine,
em função de R e θ:
a) o raio da base do cone; b) o volume do cone.
8, (CESGRANRIO) Para construir uma piscina cilíndrica, com
fundo circular, cava-se, num terreno plano, um buraco com
raio R e profundidade R/4. A terra fofa, retirada do buraco,
ocupa um volume 20% maior que o do buraco cavado e é
amontoada na forma de um cone circular reto. Supondo que o


  -    

raio r da base do cone é igual à sua altura, então a melhor aproximação da razão
r / R é:
a) 1/2 b) 1 c) 1,2 d) π/2 e)

O VOLUME DA ESFERA
O grande matemático Arquimedes, que viveu en-
tre 287 e 212 a.C., calculou o volume da esfera com-
parando-a com um cilindro e um par de cones (tam-
bém chamado cone de duas folhas) de uma forma bas-
tante engenhosa, pois originalmente ele estabeleceu
uma relação de equilíbrio entre esses sólidos.
A comparação das áreas de uma secção de uma esfera de raio R, um cilin-
dro de raio R e altura 2R e dois cones de raio R e altura R, por um plano
perpendicular à geratriz do cilindro e ao diâmetro da esfera, conforme ilustra
a figura abaixo, nos dá:
Área da secção da esfera: Ae = π (R2 – h 2)
Área da secção do cilindro: Acil = π R2
Área da secção do cone: Acone = π h 2

Para cada secção, temos:


Acil = Ae + Acone
Portanto, os volumes verificarão:
Vcil = Ve + Vcone
Sabemos que
Volume do cilindro: V = 2 π R3, pois H = 2 R
Volume do cone: V = π R3 / 3, pois H = R
Logo, o volume da esfera será:
Volume da esfera = Volume do cilindro – 2 Volume do cone = 2πR3 – 2πR3/3

Volume da esfera = 4πR3/3

Agora faça você:


1. (FUVEST) No jogo de Bocha, disputado num terreno plano, o
objetivo é conseguir lançar uma bola de raio 8 o mais próxima pos-
sível de uma bola menor, de raio 4. Num lançamento, um jogador
conseguiu fazer com que as duas bolas ficassem encostadas, confor-
me ilustra a figura abaixo. A distância entre os pontos A e B, em que
as bolas tocam o chão, é:

a) 8 b) 6 c) 8 d) 4 e) 6

2. (CESCEM) A área da intersecção de um plano com uma bola de raio 13 é


144π. A distância do plano ao centro da bola é:
a) 1 b) 5 c) 8 d) 12 e) 25




Bibliografia
O’Daffner, C. Geometry, an investigative approach. Addison Wesley, 1976.
Dolce, O.; Pompeo, J. N. Geometría Espacial. Col. Fundamentos da Mate-
mática Elementar, vol. 10.
Dolce, O., Pompeo, J.N.,Geometria Plana, Col. Fundamentos de Matemática
Elementar, Vol. 9, Ed. Atual, 1998.
Downs, F. L. Jr., Moise, E. E. , Geometria Moderna, Vol.1, Ed. Edgard
Blücher, 1971.
Kaleff, Ana M. M. R. Vendo e Entendendo Poliedros. EdUFF, 1998.
Kutepov, A.; Rubanov, A. Problems in Geometry. Ed. Mir, 1975.
Lima, E. L. et al. A Matemática no Ensino Médio. Col. do Professor de
matemática, SBM, 2000.
Lima, E. L., Áreas e Volumes, Col. Fundamentos de Matemática Elementar,
Sociedade Brasileira de Matemática, 1979.
Nichols, E. D., Palmer, W. F., Schacht, J. F., Geometria Moderna, Compañia
Editorial Continental, S.A., 1971.
Lopes, J. M.; Lotufo, V. Geodésicas e Cia. Ed. Projeto.
Shuvalova, E. Z. Geometry. Ed. Mir, 1980.
Smart, J. R. Making connections by using molecular models in Geometry.
Math. Teacher, January, 1994.
Schattschneider, D.; Walker, W. Caleidociclos de M. Escher. B. Taschen,
1991.
Sortais, R; Sortais, Y. Géométrie de l’espace et du plan. Hermann, 1995.
Stoessel, Wahl. The orthotetrakaikahedron – a cell model for Biology clas-
ses. Math. Teacher, March 1977, 244-247.

Endereços na Internet:
http://ccins.camosun.bc.ca/~jbritton/jbpolyhedra.htm
http://www.teleport.com/~tpgettys/poly
http://www.li.net/~george/virtual-polyhedra
http://www.fkf.mpg.de/anderssen/fullerene/intro.html

Sobre as autoras
Cláudia Cueva Candido
Docente do Departamento de Matemática do Instituto de Matemática e Esta-
tística da USP, onde fez bacharelado em Matemática, além de mestrado e douto-
rado na área de Geometria Diferencial. Atualmente, é membro da diretoria do
Centro de Aperfeiçoamento de do Ensino da Matemática (CAEM) do IMEUSP.

Maria Elisa Esteves Lopes Galvão


Professora aposentada do Departamento de Matemática do IME-USP, onde
fez graduação, mestrado e doutorado. É docente dos cursos de Licenciatura em
Matemática da UMC e do UNIFIEO e conferencista convidada do curso de
Especialização em História da Matemática do Centro de Extensão Universitária.


Matemática
Geometria Analítica

Organizadores
Antônio Carlos Brolezzi
Martha S. Monteiro
Elaboradora
Maria Elisa Esteves Lopes Galvão 6
módulo

Nome do Aluno
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador: Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP
Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor: Adolpho José Melfi
Pró-Reitora de Graduação
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE


Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área
Biologia:
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori
Física:
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta
Geografia:
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins
História:
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer
Língua Inglesa:
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór
Língua Portuguesa:
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto
Matemática:
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro
Química:
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan
Produção Editorial
Dreampix Comunicação
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro
Cartas ao
Aluno
Carta da
Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão.
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer
situação de vida e de trabalho.
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor
para o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.


Pró-Reitora de Graduação.
Carta da
Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno,
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa
da educação básica.
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente
construído para esse fim.
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva


Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Apresentação
da área
[...] a Matemática procura compreender os modelos que permeiam o mundo que
nos rodeia assim como a mente dentro de nós. […] Assim é necessário colocar a
ênfase:
— em procurar soluções e não apenas em memorizar procedimentos;
— em explorar modelos e não apenas em memorizar fórmulas;
— em formular conjecturas e não apenas em fazer exercícios.
[...] com essas ênfases, os estudantes terão a oportunidade de estudar a Matemá-
tica como uma disciplina exploradora, dinâmica, que se desenvolve, em lugar de ser
uma disciplina que tem um corpo rígido, absoluto, fechado, cheio de regras que
precisam ser memorizadas.
Schoenfeld (1992)1
Este curso de Matemática com duração de 4 meses está sendo oferecido a
alunos do último ano do ensino médio da rede pública como um incentivo
para continuarem seus estudos em direção ao ensino superior. Embora não
cubra todo o programa do ensino médio, pretende-se estimular o interesse dos
alunos pelos diversos temas de Matemática por meio de abordagens variadas.
Serão estudados tópicos sobre Números, Estatística, Probabilidade e Aná-
lise Combinatória, Geometria Plana e Espacial, Geometria Analítica, Sistemas
Lineares e Funções, privilegiando o entendimento das possíveis facetas de
um mesmo assunto, a análise de resultados obtidos e a interligação entre os
diversos conteúdos.
Escolhas foram feitas de modo a priorizar sua formação, a discussão de
idéias e a percepção de que a Matemática é uma disciplina viva que pode ser
construída, e não um amontoado de fórmulas prontas para serem decoradas e
usadas. Lembrando que realmente aprendemos quando trabalhamos o conhe-
cimento, analisando-o de várias maneiras e usando-o com critério, considera-
remos, sempre que possível, aplicações em problemas reais e interdisciplinares.
Acreditando que o intercâmbio entre vocês, alunos do ensino médio, e os
alunos da USP, que serão os seus professores, venha a aumentar a sua predis-
posição para o ensino superior, desejamos a todos bons estudos!

Coordenação da área de Matemática

1
SCHOENFELD A. H. “Learning to think mathematically: Problem solving, metacognition and sense
making in mathematics”. In: D. A. Grouws (Ed.). Handbook of research on mathematicas teaching and
learning. p. 334-370. Nova Iorque: MacMillan, 1992.
Apresentação
do módulo
Em 1637, o matemático e filósofo francês Renée Descartes publicou seu
grande trabalho O Discurso sobre o Método, em que são estabelecidas as
bases filosóficas de seu método para o estudo das ciências, o chamado méto-
do cartesiano, até hoje presente na organização do conhecimento em muitas
áreas. No apêndice, Descartes ilustra o seu método apresentando a “Géométrie”,
que foi o passo inicial no estabelecimento de relações mais estreitas entre a
Álgebra e a Geometria. O trabalho contém uma teoria para equações algébri-
cas associadas a curvas planas – por exemplo, equações de segundo grau
associadas a parábolas.
Alguns anos mais tarde, um outro matemático francês, Pierre Fermat, pu-
blicou um trabalho onde também relacionou equações a retas, às curvas que
chamamos cônicas e a outras curvas até então pouco conhecidas. Tem-se re-
gistros de que as idéias iniciais de Fermat sobre a Geometria Analítica são, na
verdade, anteriores ao trabalho de Descartes, mas esses registros só foram
encontrados e publicados em 1769, após a sua morte.
A Geometria Analítica, trata, portanto, desde a sua origem, das relações
entre as equações algébricas e os objetos geométricos, buscando a simplifica-
ção técnica dos problemas geométricos e a interpretação geométrica dos re-
sultados obtidos nos cálculos algébricos. Os cálculos e a descrição dos obje-
tos geométricos ficam mais simples com os recursos algébricos da teoria das A nomenclatura da Geo-
matrizes associados aos processos de resolução de equações. metria Analítica (coorde-
nadas, abscissas, ordena-
As técnicas da Geometria Analítica desempenham um papel fundamental
das, etc.) foi introduzida
ainda hoje, por exemplo, no desenvolvimento da Computação Gráfica. As por Leibniz, que se ins-
telas dos nossos computadores são modelos da estrutura do plano cartesiano pirou na terminologia
com um número finito de pontos, que é sempre mencionado quando escolhe- adotada pelos gregos
mos a configuração da tela. Aumentando o número de pontos, melhoramos a em seus cálculos geomé-
qualidade da imagem do monitor ou da impressão dessa imagem. Nas muitas tricos. As bases da Geo-
utilizações de recursos de imagens, como na tomografia ou na localização metria Analítica estão,
por satélite, essa organização é fundamental para uma interpretação precisa portanto, contidas nos
dos resultados obtidos. trabalhos desses três
grandes matemáticos -
Este módulo será dedicado ao estudo das técnicas básicas da Geometria Descartes, Fermat e
Analítica, passando pelas equações das curvas elementares e destacando al- Leibniz - e foram poste-
gumas de suas aplicações. riormente adotadas por
Euler ao formalizar o
conceito de função.
Unidade 1

Retas e sistemas lineares


Organizadores
Antônio Carlos
Brolezzi
Martha S. Monteiro SISTEMAS DE COORDENADAS CARTESIANAS
Elaboradora Ao pesquisarmos, em um guia de infor-
Maria Elisa Esteves mações sobre a cidade, a referência para a
Lopes Galvão Rua Tapati, encontramos 155-D06. Quan-
do vamos ao mapa 155, em sua margem
estão as seqüências: A, B, C, D... na hori-
zontal e 1, 2, 3... na vertical, que nos per-
mitem localizar facilmente a rua Tapati no
cruzamento das duas direções indicadas
pelas setas na figura.

(Fonte: Guia MAPOGRAF)

Nos anúncios de equipamentos de informática, encontramos, para os mo-


nitores de vídeo, informações do tipo: resolução máxima de 1280 x 1024,
1600 x 1200, etc., dependendo do modelo e do tamanho. Para as impressoras,
temos, por exemplo: resolução padrão 1200 x 600, resolução fotográfica 4800
x 1200 etc., dependendo da finalidade a que se destina. Em ambos os casos,
o importante é o número de pontos em cada uma das dimensões da tela ou da
página a ser impressa.
Nas telas do computador e da televisão, vemos incríveis imagens produzi-
das com os mais diversos recursos de computação gráfica. Exemplos muito
simples dessas imagens podem ser criados com a utilização de programas que
nos possibilitam estudar gráficos de funções (no módulo 4, vimos alguns exem-
plos produzidos pelo programa Winplot). Com o auxílio de um outro progra-
ma do mesmo tipo – o Graphmat, por exemplo – obtivemos as figuras abaixo,
utilizando representações de segmentos de reta;

Barquinho Pinheiro
  -  

ou de circunferências, elipses, etc.

Palhaço Elipse

Trabalhando com recursos mais avançados, pode-se produzir resultados


Com o auxílio da com-
muito bons e bem conhecidos:
putação gráfica pode-
mos produzir interessan-
tes efeitos para a repre-
sentação plana de figu-
ras tridimensionais.

Em todas essa situações, o que temos em comum é a utilização de uma


organização para pontos de um plano que nos permite identificar a posição da
rua no mapa, o ponto a ser iluminado na tela ou impresso na página, marcar
os pontos que pertencem ao gráfico de uma função, dimensionar os resulta-
dos obtidos num exame médico de diagnóstico por imagem etc.
Os sistemas de coordenadas no plano, já utilizados no módulo 4, partem
do fato de que toda reta admite um sistema de coordenadas; ou seja, existe
uma correspondência biunívoca entre os pontos de uma reta “geométrica” e o
conjunto R dos números reais, que serão as respectivas coordenadas.
O ponto correspondente ao número real zero divide a reta em duas semi-
retas, e temos naturalmente definida uma orientação na reta. A distância d (P, Q)
entre dois pontos (que é também o comprimento do segmento ) é dada
pelo valor absoluto da diferença entre os números reais correspondentes a
esses pontos, isto é:

d (P, Q) = PQ = |x – y|

Dado um segmento em uma reta r tais que as coordenadas dos pontos


A e B são, respectivamente, a e b (a < b), o ponto médio de será o ponto M
cuja coordenada m verifica:

logo, temos:
b – m = m – a, ou a + b = 2m,

ou ainda, m=

Um sistema de coordenadas cartesianas no plano será fixado quando es-


colhermos um ponto O nesse plano e por esse ponto O tomarmos duas retas
orientadas perpendicularmente, como na figura a seguir.




O ponto O é chamado de origem do sistema de coordenadas e as duas


retas são os eixos coordenados (denotados Ox e Oy, como na figura acima).
Fixado um sistema de coordenadas, a cada ponto P do plano será associado a
um par ordenado de números reais (x, y), que são as coordenadas de P em
relação a esse sistema. É importante observar a ordem, pois os pares (1, 3) e
(3, 1) são diferentes e representam pontos distintos do plano cartesiano:

A coordenada x, chamada abscissa de P, é a coordenada de sua projeção


ortogonal P’ no eixo Ox. A chamada ordenada de P (sua coordenada y) é
obtida como a coordenada de sua projeção ortogonal P’’ no eixo O y. Fica
estabelecida, desta forma, uma correspondência biunívoca entre os pontos de
um plano e o conjunto dos pares ordenados de números reais.
O conjunto de todos os pares ordenados (x, y) de números reais é repre-
sentado por R2.

2o quadrante 1o quadrante
x < 0, y > 0 x > 0, y > 0

3o quadrante 4o quadrante
x < 0, y < 0 x > 0, y < 0

Quadrantes Semiplano: {(x, y) ∈ R | x > 0}

Os eixos coordenados dividem o plano em quatro regiões chamadas qua-


drantes. Os pontos do primeiro quadrante são pontos cujas coordenadas são
ambas positivas; os do terceiro, há pontos cujas coordenadas são ambas negati-
vas. No segundo quadrante, temos pontos cuja primeira coordenada é negativa
e a segunda é positiva, o contrário ocorrendo para os pontos do quarto quadrante.
Temos também como caracterizar os semiplanos cujas origens são os ei-
xos coordenados: correspondem aos conjuntos de pontos do plano em que
uma das coordenadas tem sempre o mesmo sinal.


  -  

O ponto médio de um segmento terá como coordenadas aquelas dos


pontos médios de suas projeções nos eixos Ox e Oy, respectivamente; como já
vimos acima,

(m1, m2) = ,

Agora faça você


1. Represente os pontos cujas coordenadas são: (-2, 3), (1, 4), (3, -5), (-4, -3),
identificando o quadrante em que se encontram.

2. Represente os conjuntos:
a) {(x, 3) | x ∈ R} f) {(x, y) | x = y} (bissetriz do pri-
b) {(1, y) | y ∈ R} meiro e terceiro quadrantes)
c) {(x, y ) | y > 3} g) {(x, y) | y = – x} (bissetriz do se-
gundo e quarto quadrantes)
d) {(x, y) | x < 1}
h) {(x, x + 2) | x ∈ R}
e) {(x, y) | y > – 3}

3. Encontre os valores de k para que o ponto A cujas coordenadas são (k, 7)


esteja:
a) no eixo Oy;
b) na bissetriz y = – x dos quadrantes pares;
c) na bissetriz y = x dos quadrantes ímpares;
d) no primeiro quadrante;
e) no segundo quadrante.

4. As coordenadas de um ponto B são (3, k – 2). Encontre os valores de k para


os quais o ponto B está:
a) no eixo Ox;
b) no primeiro quadrante;
c) no quarto quadrante;
d) na bissetriz dos quadrantes ímpares.

5. (Fuvest) Se (m + 2n, m – 4) e (2 – m, 2n) representam o mesmo ponto do


plano cartesiano, então mn é igual a:
a) – 2 b) 0 c) d) 1 e)

6. Encontre os pontos médios das diagonais do quadrilátero cujos vértices


têm as coordenadas: (0, 0), (0, 4), (3, 5) e (3, 1).




7. Se um dos extremos de um segmento tem coordenadas (– 4, 2) e o ponto


médio tem coordenadas (3, – 1), encontre as coordenadas do outro extremo
do segmento.

8. Sejam A = (1, 2) e B = (3, 2) dois pontos do plano cartesiano. Nesse plano,


o segmento é obtido do segmento por uma rotação de 60o, no sentido
anti-horário, em torno do ponto A. Encontre as coordenadas do ponto C.

9. Se o par (a, b) é solução da equação 2x + 3y = 4, então (α + 1, β + 1) é


solução de 2x + 3y = m. Encontre o valor de m que torna verdadeira esta
afirmação.

10. Encontre as coordenadas do ponto P interior ao segmento tal que PA = 3PB.

11. Um lado de um paralelogramo tem extremidades nos pontos A = (– 3, 5) e


B = (1, 7). Sabendo-se que P = (1, 1) é o ponto médio das diagonais, encontre
os outros vértices do paralelogramo.

12. Dois vértices de um quadrado têm coordenadas (2, 1) e (2, 5). Encontre os
outros dois vértices. Dê todas as respostas possíveis.

O estudo das matrizes só


Matrizes e representação de pontos no plano
surgiu no século XIX. As Um quadrado de lado unitário pode ser
matrizes foram introdu- representado no plano cartesiano com vérti-
zidas em 1850 por James ces nos pontos A = (0, 0), B = (1, 0), C = (1, 1)
Sylvester, matemático in- e D = (0, 1).
glês que trabalhou em
muitos problemas rela- Podemos representar esses pontos como
cionados aos sistemas colunas de uma matriz 2x4, que é uma tabela
lineares. Foram utiliza- com duas linhas e quatro colunas, na forma:
das sistematicamente
como importante auxílio
aos cálculos por Cayley, M=
um outro matemático
inglês que viveu entre Matrizes do mesmo tipo podem ser somadas (somando posição a posição)
1821 e1895 ,para o estu- e podemos multiplicar uma matriz por um número real (multiplicando cada
do das transformações um de seus elementos por esse número).
lineares.
O produto de duas matrizes exige uma condição adicional: dadas duas
matrizes A e B, para multiplicar A por B o número de linhas de A deve ser igual
ao número de colunas de B. Vejamos um exemplo:

A matriz produto é obtida, posição a posição , multiplicando os elementos


de cada linha da primeira matriz pelos elementos correspondentes de cada
coluna da segunda matriz, e somando os resultados.
Mais detalhadamente:
- A primeira linha da primeira matriz é [1 2] e a primeira coluna da segunda

é ; o produto da primeira linha pela primeira coluna será: 1 . 0 + 2 . 0 = 0.

Os produtos da primeira linha de A pelas outras colunas da matriz B, orde-


  -  

nadamente, darão os elementos da primeira linha da matriz produto pro-


duto A . B:
• 1 . 1 + 2 . 0 = 1 (primeira linha, segunda coluna)
• 1 . 1 + 2 . 1 = 3 (primeira linha, terceira a coluna)
• 1 . 0 + 2 . 1 = 2 (primeira linha, quarta coluna)
Da mesma forma, tomando a segunda linha da primeira matriz e multipli-
cando pelas colunas da segunda teremos a segunda linha da matriz produto:
• 0.1 + 2.0 = 0
• 0.1 + 1.0 = 0
• 0.1 + 1.1 = 1
• 0.0 + 1.1 = 1
Se fizermos o gráfico do novo
quadrilátero cujas coordenadas
dos vértices são dadas pelas colu-
nas da matriz produto, teremos a
figura ao lado.

Agora faça você


1. Seja M a matriz acima (que represente os vértices do quadrado unitário),
represente graficamente os quadriláteros cujos vértices são as colunas da ma-
triz produto B, B = A . M onde A é a matriz dada:

a) A = c) A = e) A =

b) A = d) A =

Observe, em cada caso, qual é a relação entre o novo quadrilátero e o


quadrado original.

2. Encontre a matriz das coordenadas dos vérti-


ces do hexágono da figura ao lado, sabendo que
o seu lado tem medida 4.

Calculando distâncias
Para continuar o trabalho com Geometria Analítica precisamos da expres-
são para a chamada distância euclidiana entre dois pontos P1 e P2.
Fixado um sistema de ortogonal de coordenadas, sejam (x1, y1) e (x2, y2) as
coordenadas dos pontos P1 e P2, respectivamente. Indicando por d (P1, P2) ou
simplesmente P1P2 a distância entre P1 e P2 , o teorema de Pitágoras, nos dá:




d(P1 , P2)2 = (x2 – x1)2 + (y2 – y)2

ou seja,

d(P1, P2) = P1 P2 =

Agora faça você


1. Usando distâncias, mostre que:
a) o triângulo com vértices A, B e C cujas coordenadas são, respectivamente,
(– 2, 4), (– 5, 1) e (– 6, 5) é um triângulo isósceles;
b) o triângulo com vértices A, B e C cujas coordenadas são, respectivamente,
(3, – 6), (8, 2) e (– 5, – 1) é um triângulo retângulo;
c) o triângulo com vértices A, B e C cujas coordenadas são, respectivamente,
(– 4, 0), (0, 6) e (14, 0) é um triângulo obtusângulo (lembre-se das leis dos
senos ou dos cossenos).

2. A abscissa de um ponto é – 6 e sua distância ao ponto cujas coordenadas


são (1, 3) é . Encontre a ordenada desse ponto.

3. Determinar os vértices B e C de um triângulo eqüilátero ∆ABC, sabendo que o


ponto médio do lado é ( , 1) e que A é a origem do sistema de coordenadas.

4. Conhecidas as coordenadas (– 4, 3) e (0, 0) de dois dos vértices de um


triângulo equilátero, encontre as coordenadas do terceiro vértice.

5. (Fuvest) Os vértices de um triângulo ∆ABC, no plano cartesiano, são A = (1, 0),


B = (0, 1) e C = (0, ). Então o ângulo ∠BAC mede:
a) 60o b) 45o c) 30o d) 18o e) 15o

6. Se um ponto P cujas coordenadas são (x, y) equidista de A = (3, 7) e B = (4, 3),


qual é a relação existente entre x e y?

7. Seja Q um ponto do terceiro quadrante cujas coordenadas são (– 1, a). En-


contre o valor de a para que a distância do ponto P = (a, 1) ao ponto Q seja 2.

8. Se o ponto P = (x, y) é equidistante dos pontos O = (0, 0), M = (7, – 7) e


N = (8, 0), calcule x2 + y 2.

9. O ponto P = (m, 2m) é equidistante de A = (3, 0) e B = (– 7, 0). Calcule m.

10. Calcule a área do quadrilátero da figura 1:


  -  

Figura 1 Figura 2

11. Sabendo que o triângulo ∆ABC da figura 2 é retângulo, com o ângulo reto
no vértice C, encontre o valor de m.

12. (Fuvest) Considere o retângulo representado na malha pontilhada com


quadrados de lados iguais a 1 cm. A área do triângulo, em cm2 é:
a) 2
b) 3
c) 4
d) 5
e) 6

13. Sabendo que o ponto P = (x, y) está mais próximo do ponto A = (1, 0) do
que do eixo das ordenadas, encontre a inequação que relaciona x e y.

14. (Fuvest 2004) Duas irmãs receberam como herança um terreno na forma
de um quadrilátero ABCD, representado abaixo em um sistema de coordena-
das. Elas pretendem dividi-lo construindo uma cerca perpendicular ao lado
passando pelo ponto P = (a, 0).
O valor de a para que se obtenham dois lotes de uma mesma área é:
a) –1
b) 5 – 2
c) 5–2
d) 2+
e) 5+2

15. (Fuvest) Sejam a, b e c três números estritamente positivos em progressão


aritmética. Se a área do triângulo ABC, cujos vértices são A = (– a, 0), B = (0, b)
e C = (c, 0), é igual a b, então, o valor de b é:
a)5 b) 4 c) 3 d) 2 e) 1

ESTUDO GERAL DAS RETAS


Voltando às ilustrações do início da unidade, vamos observar alguns deta-
lhes sobre as funções que utilizamos para desenhá-los. Na primeira figura,
temos apenas segmentos de retas, e na segunda alguns segmentos de parábo-




las. Já sabemos, do módulo 4, que os pontos do gráfico de uma função do


tipo
y = ax + b são pontos de uma reta
e que se considerarmos uma função
f (x) = ax 2 + bx + c
o seu gráfico será uma parábola.
Vamos, a seguir, detalhar alguns fatos importantes a respeito das retas no
plano que nos dêem novas alternativas de trabalho com essas funções.

Barquinho Pinheiro

Coeficiente angular de uma reta


Dados dois pontos distintos P1 e
P 2 cujas coordenadas são (x 1, y 1) e
(x2, y2) respectivamente, usando uma
das relações trigonométricas no triân-
gulo ∆P1PP2 da figura acima, temos
que a tangente do ângulo a será dada
pela expressão:

tg α =

A tangente do ângulo a é utilizada para avaliar a inclinação da reta pelos


pontos P1 e P2 e é chamada o coeficiente angular da reta determinada pelos
pontos P1 e P2.
Se P1 e P2 são pontos do plano tais que y2 = y1 ou seja, pontos que determi-
nam uma reta paralela ao eixo Ox, a inclinação será nula. A inclinação de uma
reta paralela ao eixo Oy não está definida.
Um fato importante é:
Retas paralelas têm o mesmo coeficiente angular

Agora faça você


1. Encontre a inclinação do segmento com extremos nos pontos
a) (1, 2) e (3, 8); b) (0, – 3) e (4, 1); c) (4, – 1) e (5, 3); d) (1, 8) e (3, 8).
2. Mostre que os pontos com coordenadas (– 4, – 1), (3, 8/3), (8, – 4), e (2, – 9)
são os vértices de um trapézio, comparando as inclinações de seus lados.
3. Classifique o quadrilátero cujos vértices são: A = (0, 0), B = (1, 3), C = (1, 7)
e D = (0, 4), encontrando as inclinações de seus lados.
4. O coeficiente angular da reta que passa por A = (0, m) e B = (m, 0), sendo m ≠ 0
vale:
a) 1 b) – 1 c) 0 d) m e)


  -  

Condição de alinhamento
Se tivermos três pontos, estes pontos estarão alinhados, isto é, pertencerão
à uma mesma reta, se e somente se o coeficiente angular da reta por P1 e P2
coincidir com o coeficiente angular da reta por P2 e P3 , já que essas duas retas
devem coincidir.

Temos então:
tg α = =

Efetuando os produtos em
(y2 – y1) . (x3 – x2) = (x2 – x1) . (y3 – y2)
teremos:
(x2 y3 – x3 y2) – (x1 y3 – x3 y1) + (x1 y2 – x2 y1 ) = 0

O primeiro membro desta equação é exatamente a expressão obtida quan-


do calculamos o determinante da matriz

M=

O cálculo do determinante de uma matriz 3 x 3 pode ser feito da seguinte


forma:
1o passo: formamos uma nova matriz (agora 3 x 5) copiando, à direita da matriz
dada, as suas duas primeiras colunas; no nosso caso, ficamos com a nova matriz:

x2 y1 x3 y2 x1 y 3 x2 y3 x2 y1 x1 y2

2o passo: somamos os produtos que estão nas paralelas à chamada diagonal


principal da matriz (indicada com a seta laranja). Teremos;
x2 y3 + x2 y1 + x1 y 2
3o passo: somamos os produtos que estão nas paralelas à chamada diagonal
secundária da matriz (indicada com a seta preta). Teremos:
x2 y1 + x3 y 2 + x1 y 3




4o passo: o determinante da matriz é a diferença dos resultados obtidos no 2o


e 3o passos, isto é,

det M = = (x2 y3 + x2 y1 + x1 y2) – (x2 y1 + x3 y2 + x 1 y3)

ou, rearranjando os termos da expressão acima,

det M = (x2 y3 – x3 y2) – (x1 y 3 – x3 y1) + (x1 y 2 – x2 y1)

Portanto, a equação que nos dá a condição de alinhamento dos pontos P1


e P2 e P3 pode ser escrita na forma:
Os pontos P1 e P2 e P3 cujas coordenadas são, respectivamente, (x1, y1),
(x2, y2) e (x3, y3), respectivamente, estão alinhados se e somente se

=0

Veremos, mais adiante, que o determinante dessa matriz M está também


relacionado com a área do triângulo determinado pelos três pontos P1 e P2 e P3.

Agora faça você


1. Determine o valor de k para que os segmentos e sejam paralelos,
dados M = (k, 2), N = (2, 10), P = (3, 1) e Q = (2, 7).

2. Encontre os valores de a para que os pontos A = (a, 2a – 1), B = (a + 1,


2a + 1) e C = (a + 2, 2a + 3) sejam colineares.

3. Determinar o ponto P = (x0, y0) colinear simultaneamente com os pontos


A = (– 1, – 2) e B = (2, 1) e com C = (– 2, 1) e D = (4, – 2).

4. Para que valores de k os pontos cujas coordenadas são A = (2, 3), B = (5, 4)
e C = (1, k) são vértices de um triângulo?

5. Considere os pontos A = (2, 2), B = (4, – 1) e C = (m, 0). Calcule o valor de


m para que a soma AC + CB seja mínima.

EQUAÇÕES DA RETA
Podemos representar graficamente os pontos de uma reta associados ao
gráfico de uma função da forma y = ax + b, mas também podemos associá-los
ao conjunto de soluções de uma equação, como originalmente fizeram Des-
cartes e Fermat. Vamos agora trabalhar nessa direção.
Dados dois pontos distintos P1 e P2 , cujas coordenadas são (x1, y1) e (x2, y2),
para encontrarmos uma equação para a reta por esses dois pontos é suficiente
observar que um ponto P com coordenadas (x, y) pertence a essa reta se e
somente se

=0

pois P, P1 e P2 estão alinhados. Desenvolvendo o determinante, teremos:


  -  

(x1 y2 – x2 y1) + (y1 – y2) x + (x2 – x1) y = 0


Chamando a = y1 – y2, b = x2 – x1 e c = x1 y2 – x2 y1, a equação acima fica
na forma:

ax + by + c = 0

que é chamada equação geral da reta.


Um ponto P0 com coordenadas (x0, y0) pertence à reta de equação ax + by + c = 0
se e somente se temos:
ax0 + by0 + c = 0

Agora faça você


1. Verifique quais pontos abaixo pertencem à reta de equação 3x – 4y + 12 = 0:

a) (0, 3) b) (1, 2) c) 2, d) (1, 1)

2. Dada a reta

=0

encontre sua equação na forma geral e identifique dois de seus pontos.

Explorando a equação da reta


Vamos retomar a equação
ax + by + c = 0,
onde
a = y1 – y2, b = x2 – x1 e c = x1 y2 – x2 y1,
(x1, y1) e (x2, y2) coordenadas dos pontos P e Q. Os pontos P e Q são distintos,
o que garante que os coeficientes a e b não sejam ambos nulos, ou seja, pelo
menos um deles é diferente de zero. Note que esses pontos pertencem à reta.
(Verifique!)
É importante observar que:
- se a = 0 a equação da reta fica: by + c = 0 ou y = – e temos uma reta
paralela ao eixo Ox (por quê?);
- se b = 0 a equação da reta fica: ax + c = 0 ou x = – e temos uma reta
paralela ao eixo Oy (por quê?);
- quando b ≠ 0, podemos reescrever a equação da reta na forma:
y=– x– = mx + q

O coeficiente – = = m é exatamente o coeficiente angular da


reta, já definido anteriormente. Por outro lado, se fizermos x = 0 na equação
da reta, teremos y = – ou seja, o ponto (0, – ) é o ponto em que a reta corta
o eixo Oy.




O chamado coeficiente linear da reta é o valor q = – que corresponden-


te à ordenada da intersecção da reta com o eixo Oy.
Com essas notações, a equação da reta pode ser também escrita como:
y = mx + q
sendo esta última equação a chamada equação reduzida da reta, que coincide
com a função polinomial de grau um já estudada no módulo 4.

Agora faça você


1. Encontre o valor de k para o qual a reta 3x + ky – 6 = 0:
a) seja paralela ao eixo Oy;
b) tenha inclinação igual a 2.

2. Encontre o valor de k para o qual a reta kx + 3y – 2 = 0


a) seja paralela ao eixo Ox;
b) tenha inclinação igual a – 1;
c) corte o eixo Ox no ponto (5, 0).

3. O coeficiente angular da reta (k +1)x – 2y + 3 = 0 vale – 2. Determine k.

4. (Fuvest) Duas retas s e t do plano cartesiano se interceptam no ponto (2, 2).


O produto de seus coeficientes angulares é 1 e a reta s intercepta o eixo y no
ponto (0, 3). A área do triângulo determinado pelo eixo x e as retas s e t é:
a) 2 b) 3 c) 4 d) 5 e) 6

Podemos também escrever a


equação da reta conhecendo um
ponto P0 = (x0, y0) pelo qual ela
passa e o seu coeficiente angular
m = tg a.
Observando a f igura ao
lado, podemos escrever, para
um ponto P = (x, y) genérico,
pertencente à reta,
m = tg α =
que nos dá:

y – y 0 = m (x – x 0)
ou
y = m (x – x0) + y0

Agora faça você


Dados os pontos P e Q cujas coordenadas são (p, 0) e (0, q), respectiva-
mente, p ≠ 0, q ≠ 0, encontre a equação da reta por P e Q.


  -  

Observe que a equação que você encontrou pode ser escrita na forma

que é chamada a equação segmentária da reta

Resumindo
Dados dois pontos P1 e P2 , cujas coordenadas são (x1, y1) e (x2, y2) a equa-
ção da reta por P1 e P2 pode ser encontrada através do cálculo do determinante:

=0

que conduz a uma equação na forma geral:


ax + by + c = 0
O coeficiente angular da reta é dado por: m = tg α = e, como no
caso do gráfico da função
y = mx + q
temos também o coeficiente linear q (o gráfico corta o eixo Oy em (0, q)).
Dado um ponto P0 = (x0, y0) e o coeficiente angular m , podemos escrever
a equação também na forma:
y – y0 = m (x – x0)
A equação na forma segmentária:

é obtida a partir das coordenadas p e q dos pontos de intersecção com os eixos


Ox e Oy, respectivamente.

Agora faça você


1. Dado o ponto A = (1, 2), determine as coordenadas de dois pontos P e Q
situados, respectivamente, sobre as retas de equação y = x e y = 4x de tal
modo que A seja o ponto médio do segmento .

2. Os pontos de coordenadas (a, 1) e (2, b) estão sobre a reta x + 2y = 0.


Calcule a distância entre eles.




3. Na figura 1, A = (2, 3), C = (3, 1) e BC =


. Encontre a equação da reta por A e B.

Figura 1
4. Na figura 2, M = (a, a) é o ponto médio do
segmento , A = (2, 6), B = (0, a) e
C = (c, 0). Encontre a equação da reta por B
e C.

Figura 2

5. Na figura 3, ABCDEF é um hexágono regu-


lar de lado 4.
a) Encontre a equação da reta que contém o
lado
b) Mostre que as retas e são paralelas.

Figura 3
6. Se uma reta tem equação geral 3x – y + 3 = 0, encontre sua equação seg-
mentária.

7. Escreva a equação segmentária de cada uma das retas abaixo:

a) b) c)

8. A reta x + y – k = 0 corta o eixo das coordenadas nos pontos A e B. Deter-


mine k para que o triângulo ∆OAB tenha área igual a 25 unidades.
9. Seja B ≠ (0, 0) o ponto da reta de equação y = 2x cuja distância ao ponto
A = (1, 1) é igual à distância de A à origem. Encontre a abscissa de B.
10. Uma reta r determina, no primeiro quadrante do plano cartesiano, um
triângulo isósceles cujos vértices são a origem e os pontos onde a reta inter-
cepta os eixos cooordenados. Se a área do triângulo é 18, encontre a equação
da reta r.
11. Seja r a reta que passa pelos pontos cujas coordenadas são (2, 3) e (5, 0).
Determinar a equação da reta s, simétrica a r em relação à reta de equação x = 5.


  -  

12. O retângulo PQRS da figura abaixo é o retângulo de área máxima inscrito


no triângulo ∆ABC. Encontre a relação entre a, b, c e d.

POSIÇÕES RELATIVAS DE DUAS RETAS


Duas equações gerais a1 x + b1 y + c1 = 0 e a2 x + b2 y + c2 = 0 representam
uma mesma reta se e somente se seus coeficientes são proporcionais, isto é,
existe um número real k tal que a1 = k a2, b1 = k b2 e c1 = k c2. Neste caso, pode-
mos verificar que todo ponto de uma das retas pertence também à outra reta e
vice-versa. Diremos que as retas, neste caso, serão coincidentes. Os coeficientes
angulares dessas retas são iguais, assim como os coeficientes lineares.
Duas retas distintas do plano podem ser paralelas ou concorrentes.

Sistemas lineares e
determinantes –
um pouco de his-
tória
Nos trabalhos de Leibniz,
retas paralelas retas concorrentes por volta de 1678, temos
o processo de resolução
Podemos distinguir as retas paralelas das retas concorrentes comparando de equações lineares eli-
seus coeficientes angulares: minando incógnitas e
identificando o que, mais
- se os coeficientes angulares de duas retas distintas são iguais, então essas tarde, seria o determi-
retas são paralelas; nante. O mesmo proces-
so foi aperfeiçoado por
- se os coeficientes angulares de duas retas distintas são diferentes, então
Maclaurin para sistemas
essas retas são concorrentes.
com três ou quatro in-
Através do teorema de Pitágoras podemos verificar que duas retas concor- cógnitas. Uma regra bem
rentes são perpendiculares se e somente se seus coeficientes angulares m1 e conhecida para a resolu-
m2 são tais que ção de sistemas utilizan-
do determinantes é a cha-
m1 . m2 = – 1 ou m2 = – , se m1 ¹ 0. mada regra de Cramer
(1704-1752); outros de-
POSIÇÕES RELATIVAS DE DUAS RETAS E SISTEMAS senvolvimentos para o
LINEARES seu cálculo foram esta-
belecidos por Sarrus e
As coordenadas do ponto comum a duas retas concorrentes podem ser Laplace (1772), e a teoria
obtidas resolvendo o sistema linear de duas equações e duas incógnitas (S) dos determinantes teve a
formado por equações das duas retas, pois as coordenadas do ponto procura- sua organização e princi-
do devem satisfazer simultaneamente as duas equações. pais propriedades estabe-
lecidas por Vandermond,
a1 x + b1 y + c1 = 0
(S) em 1776.
a2 x + b2 y + c2 = 0




Dois sistemas de equações serão chamados equivalentes se têm o mesmo


conjunto solução.
Duas observações importantes justificam as técnicas que utilizamos para
resolver os sistemas de equações:
1. Quando multiplicamos uma equação em um sistema por um número não
nulo, obtemos uma outra equação que é equivalente à primeira, ou seja,
temos duas equações com as mesmas soluções.
2. Uma das equações do sistema pode ser trocada pela soma ou diferença
desta com um múltiplo de outra equação do mesmo sistema, e, nesta tro-
ca, temos um novo sistema equivalente ao sistema original.
Essas observações justificam as estratégias elementares de eliminação ou
substituição que usamos freqüentemente para resolver os sistemas de equa-
ções. Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 1
Para encontrar o ponto de intersecção das retas de equações x + 2y + 3 = 0 e
y = 1, precisamos resolver o sistema de duas equações e duas incógnitas (x e y):
x + 2y + 3 = 0
y=1
As incógnitas representam as coordenadas do ponto P = (x, y) de intersecção
das duas retas que estamos procurando. Da segunda equação sabemos que
y = 1. Substituindo esse valor de y na primeira equação teremos que:
x + 2 . 1 + 3 = 0, ou seja, x + 5 = 0, o que nos dá a
solução x = – 5.
A solução (única) do sistema é (x, y) = (– 5, 1) e,
portanto, o ponto P de intersecção das duas retas tem
coordenadas P = (x, y) = (– 5, 1).
Esboçando o gráfico das retas dadas, podemos con-
firmar a solução obtida. Confira na figura ao lado.

Exemplo 2
Encontrar as coordenadas do ponto de intersecção das retas x + 2y + 3 = 0
e x – y = 0. Temos, agora, que resolver o sistema:
x + 2y + 3 = 0
(S)
x–y=0
Neste caso, podemos resolver por substituição (deixamos os cálculos para
você) ou podemos trocar o sistema (S) pelo sistema equivalente (S’) obtido
trocando a segunda equação do sistema (S) pela diferença entre a primeira e a
segunda equação.
x + 2y + 3 = 0
(S’)
3y + 3 = 0
Podemos agora resolver equação 3y + 3 = 0 e temos y = – 1. Substituindo
na primeira equação, a solução de x + 2 . – 1 + 3 = 0 será x = – 1. O ponto de
intersecção das duas retas é P = (x, y) = (– 1, – 1).
Esboce agora o gráfico das retas para conferir geometricamente a solução
obtida.


  -  

Exemplo 3
Vamos agora encontrar o ponto de intersecção das retas x + 2y + 3 = 0 e
2x + 4y – 1 = 0.
Para resolver o sistema
x + 2y + 3 = 0
(S)
2x + 4y – 1 = 0
neste caso vamos trocar o sistema (S) pelo sistema (S’), trocando a primeira
equação de (S) por duas vezes ela mesma.
2x + 4y + 6 = 0
(S’)
2x + 4y – 1 = 0
Trocando a segunda equação pela diferença entre as duas equações de
(S’) obtemos
2x + 4y + 6 = 0
(S’’)
0x + 0y + 7 = 0
e, neste caso, chegamos a um absurdo; não podemos encontrar números x e y
que tornem possível 0.x + 0.y + 7 = 0.
Como interpretar esse resultado?
Trata-se de um sistema impossível (isto é, para o qual não existe solução).
Geometricamente podemos verificar que as retas descritas pelas equações
x + 2y + 3 = 0 e 2x + 4y – 1 = 0 são paralelas (compare as suas inclinações).
Logo, não há ponto de intersecção para essas retas.

Exemplo 4
O ponto de intersecção das retas x + 2y + 3 = 0 e 2x + 4y + 6 = 0 pode ser
obtido resolvendo o sistema
x + 2y + 3 = 0
(S)
2x + 4y + 6 = 0
que é equivalente ao sistema (S’), trocando, novamente, a primeira equação
de (S) por duas vezes ela mesma.

2x + 4y + 6 = 0
(S’) 2x + 4y + 6 = 0

Trocando a segunda equação pela diferença entre as duas equações de


(S’) obtemos
2x + 4y + 6 = 0
(S’’)
0x + 0y + 0 = 0
Como interpretar esse resultado?
As equações originais do sistema são equivalentes, ou seja, representam a
mesma reta.
A equação x + 2y + 3 = 0 é a equação de uma reta, e, portanto, temos uma
infinidade de pares (x, y) que são soluções dessa equação: (– 1, – 1), (0, – 3/2),
(– 3, 0) ,(3, – 3), (– 7, 4) etc., e que também são soluções para a segunda
equação(verifique!).
Geometricamente, as suas retas têm pelo menos dois pontos distintos em
comum, logo, são retas coincidentes e as soluções são coordenadas de pontos
sobre uma mesma reta.




Podemos descrever as soluções obtidas nos exemplos acima de maneira


geral, fazendo a análise a seguir.
Para resolver por eliminação, vamos supor que b1 e b 2 são ambos não
nulos (caso contrário, uma das equações já daria o valor procurado de x –
como no exemplo 1 acima). Podemos efetuar multiplicações e considerar o
sistema equivalente:
b2 a1 x+ b2 b1 y + b2 c1 = 0
(S’) b1 a2 x + b1 b2 y + b1 c2 =0
Para eliminarmos a variável y, subtraímos, por exemplo, a segunda equa-
ção da primeira, ficando com o novo sistema:
b2 a1 x + b2 b1 y + b2 c1 = 0
(S’’)
(a1 b2 – a 2 b1) x + b2 c 1 – b 1 c2 = 0
A segunda equação de S’’ nos dá o valor procurado de x desde que
a 1 b 2 – a 2b 1 ≠ 0.

Neste caso, x = – ; voltando à primeira equação podemos en-

contrar o valor de y.
Se a1 b2 – a1 a2 = 0, o sistema só terá solução se b2 c1 – b1 c2 = 0 , o que
elimina a segunda equação em S’’ (ela ficará 0 = 0). O sistema S’’ terá, na
realidade, somente uma equação (as duas equações são equivalentes) e será
chamado de indeterminado.
As condições que apareceram nesse processo geral de resolução por eli-
minação podem ser interpretadas geometricamente:
- a equação a1 x + b1 y + c1 = 0 é a equação de uma reta com coeficiente angular
, se b1 ≠ 0;

- a equação a2 x + b2 y + c2 = 0 é a equação de uma reta com coeficiente angular


, se b2 ¹ 0;

- as retas são paralelas ou concorrentes se = , e essa igualdade que


equivale à condição a1 b2 – a1 a2 = 0, como conseguimos nos cálculos da
resolução por eliminação.
Temos ainda que investigar a condição b2 c1 - b1 c2 = 0, que também pode
ser escrita na forma: = .

Se = e = as equações serão equivalentes, ou seja, as retas, neste


caso, são coincidentes.

Se = , mas ≠ o sistema será impossível, e, neste caso, teremos

retas paralelas.
Se a1 b2 – a2 b1 ≠ 0 os coeficientes angulares serão diferentes, as retas
serão concorrentes e teremos a única solução dada pelos cálculos acima.


  -  

Também podemos estudar os sistemas lineares utilizando as matrizes, pois


o sistema (S) é equivalente
a x + b y = –c
(S’) a1 x + b1 y = – c1
2 2 2

pode ser escrito como o produto de matrizes:

A matriz 2 x 2 M = é chamada a matriz do sistema linear enquan-

to que a matriz 2 x 3 M’ = é a matriz completa do sistema linear.

O determinante de uma matriz quadrada 2 x 2 é definido como a diferença


dos produtos dos termos das diagonais. Mais precisamente, dada uma matriz
2 x 2 , como no caso 3 x 3,

M=

a2 b 1 a1 b2

det M = a1b2 – a2b1

Note, pelo que vimos anteriormente, que det M ≠ 0 corresponde ao caso


em que as retas são concorrentes e o sistema admite uma única solução. Veja-
mos mais alguns exemplos.

Exemplo 5
Encontrar o ponto comum as retas de equação: 2x + y – 1 = 0 e 4x + 2y + 2 = 0.
Sendo a segunda equação o dobro da primeira, todas as soluções são co-
muns, e, neste caso, as retas são coincidentes (encontramos y = – 2x + 1 em
ambas as equações).
Escrevendo as matrizes para o sistema temos:
2x + y – 1 = 0
4x + 2y + 2 = 0 M=

e M’ = . É fácil verificar que det M = 0. Note também que, em

ambas as matrizes M e M’as linhas são proporcionais. No caso das retas coinci-
dentes, sempre teremos essa situação.
O sistema é indeterminado, tem infinitas soluções que são os pontos cujas
coordenadas são da forma (x, – 2x + 1), tais como (0, 1), (1, – 1), (– 1, 3), (1/2, 0), etc.

Exemplo 6
Modificando apenas uma das constantes do sistema, vamos estudar um se-
gundo caso. Encontrar o ponto comum às retas de equação: 2x + y – 5 = 0 e




4x + 2y + 2 = 0. A segunda equação não é mais o dobro da primeira; as solu-


ções da primeira equação são tais 2x + y = 5. Substituindo essa informação
na segunda equação, teremos:
2 (2x + y) + 2 = 0 ou 2. 5 + 2 = 12 = 0
Temos, por tanto, um absurdo, o sistema não admite solução.
Escrevendo as matrizes:
2x + y – 5 = 0
4x + 2y + 2 = 0 temos M =

e M’ = . É fácil verificar que det M = 0, que as linhas de M ainda

são proporcionais, mas o mesmo já não ocorre com as linhas de M’.


Neste caso, as retas são paralelas (encontre os coeficientes angulares e linea-
res e confira!), e o sistema é impossível (não existe ponto comum às duas retas).

Exemplo 7
Estudemos agora o sistema equivalente a encontrar o ponto comum às
retas de equação:
x + y – 1 = 0 e x + 2y + 2 = 0.
Temos o sistema:
x+y–1=0
x + 2y + 2 = 0 cuja matriz M é

Resolvendo o sistema por eliminação, obtemos y = – 3 e x = 4, portanto,


as retas são concorrentes e o ponto comum a ambas é o ponto (4, – 3). Neste
caso, det M ≠ 0 e o sistema será chamado possível, determinado, pois admite
uma única solução.
Resumindo
Dado um sistema de equações:
a 1 x + b 1 y + c1 = 0
(S)
a 2 x + b 2 y + c2 = 0
e as matrizes

M= e M’ =

Se det M = 0, o sistema será:


- possível e indeterminado – quando as linhas de M’ forem proporcionais,
as retas serão coincidentes;
ou
- impossível – caso contrário, e as retas serão paralelas.
Se det M ≠ 0 o sistema será possível e determinado, admitindo uma única
solução e as retas serão concorrentes.
Agora faça você
1. Dentre os pares de reta a seguir, qual deles não é formado por retas perpen-
diculares ou paralelas?


  -  

a) 3x – 5y + 4 = 0 e x/3 + y/5 = 1
b) 2y + x = 7 e 4x + 2y + 7 = 0
c) 3x + 4 = 0 e 5y – 3 = 0
d) x= ex=
e) (a + 1) x + (a – 1) y = 0 e (a –1) x = (a + 1) y

2. Determinar o ponto Q da reta r de equação x + y – 2 = 0, tal que o segmento


seja perpendicular a r, sendo P = (2, 6).

3. Determinar o ponto simétrico de (– 4, 3) em relação a reta x – y – 1 = 0.

4. Dois lados de um paralelogramo estão contidos nas retas y = 2x e 2y = x.


Dado o vértice A = (5, 4), determinar B, C e D.

5. Obter os vértices de um losango ABCD tal que:


- o vértice A está no eixo Oy;
- o vértice B está no eixo Ox;
- a diagonal está contida na reta 2x + y – 3 = 0;
- as diagonais se interceptam em (x, 1).

6. Determinar a equação da reta que passa pelo ponto de intersecção das retas de
equações x / 2 + y / 2 =1 e 3x + 4y = 0 e é paralela à reta descrita por y = x + 2.

7. Determinar p de modo que as retas de equações p2x + py + 2 = 0 e


3x + (p + 1)y – 7 = 0 sejam perpendiculares.

8. Encontre a equação de cada reta que é perpendicular à reta 5x – y = 1 e que


forma com os eixos coordenados um triângulo de área igual a 5.

9. (Fuvest) Considere os pontos A = (–2, 0), B = (2, 0),


C = (0, 3) e P = (0, a), com 0 < a < 3. Pelo ponto P,
traçamos três retas paralelas aos lados do triângulo ABC.
a) Determine em função de a a área da região
sombreada na figura.
b) Para que valor de a a área é máxima?

10. (Fuvest) O sistema x + (c + 1) y = 0 onde c ≠ 0 admite uma solução (x, y)


cx+y =–1
com x = 1. Então o valor de c é:
a) –3 b) –2 c) –1 d) 1 e) 2

11. Encontre os valores de h para que os sistemas sejam possíveis e esboce o


gráfico das retas em cada caso:
x + 4y = 2 x + hy = 0
a) c)
– 3x + hy = – 1 2x + 8y = 1
x–y=4 x – 3y = 1
b) d)
– 2x + 3y = h hx + 6y = – 2
12. A equação em x e y:
(2x + 6y + a)2 + (x + by – 7)4 = 0
admite infinitas soluções. Encontre os valores de a e b.




Distância de ponto à reta.


Consideremos uma reta r cuja equação ge-
ral é ax + by + c = 0 e um ponto cujas coorde-
nadas são (x0, y0) não pertencente à ela. Pode-
mos considerar o segmento com extremidade P
e perpendicular à reta dada. O comprimento d
desse segmento é a distância de P à reta r.
Pode-se mostrar que essa distância é dada
pela fórmula:
d=

CALCULANDO ÁREAS
Área do paralelogramo
Vamos calcular a área de um paralelogramo que tem um dos
vértices no ponto O = (0, 0) e nos dois pontos P1, P2 e P3, cujas
coordenadas são (x1, y1), (x2, y2) e (x3, y3) tais que O, P1 e P2 são não
colineares (observe que apenas sabendo que O, P1 e P2 são não
colineares, o quarto vértice P 3 fica determinado, já que P3 é a
intersecção das retas r e s, onde r é a reta paralela à reta
passando por P2 e s é a reta paralela à reta passando por P1)
A área do paralelogramo será o produto da distância OP1 pela distância d do
ponto P2 à reta determinada por O e P1, pois a distância d é a altura do paralelo-
gramo relativa à base . Lembremos que a área do paralelogramo é o produto
dos comprimentos da base e da altura relativa à ela, logo, igual a OP1 . d.
Vamos aos cálculos:
Distância OP1 =
Equação da reta por O e P1: y = x ou x1 y – y1 x = 0.
Distância de P2 à reta por O e P1: d = |x1 y2 – y1 x2| /

Área do paralelogramo: OP1 . d = |x1 y2 – y1 x2| = det M

onde M é a matriz M = e temos uma interpretação do determinante


como área.
Observe que o cálculo da área desse paralelogramo pela fórmula acima só
requer que saibamos as coordenadas de P1 e P2.
Usando a distância podemos também encontrar uma fórmula que nos dá a
área de um triângulo com vértices A = (x1, y1), B = (x2, y2) e C = (x3, y3).
A área pode ser calculada como o semiproduto do comprimento de um
dos lados pela distância do terceiro vértice a esse lado. Após alguns cálculos
pode-se também mostrar que a área do triângulo é dada por:

Área do triângulo ABC =


  -  

Agora faça você


1. Calcular a distância do ponto P à reta dada:
a) P = (– 3, – 1), 3x – 4y + 8 = 0;
b) P = (3, 2), 5x – 5y + 2 = 0;
c) P = (1, – 2), x/12 + y/5 = 1.

2. Calcular a área do trapézio cujos vértices são: A = (0, 0), B = (7, 1), C = (6, 5)
e D = (– 8, 3).

3. Determinar os pontos da reta y = 2x que estão à distância 2 da reta 4x + 3y = 0.

4. Determinar a equação de uma reta que passa por (3, 0) e dista 2 unidades da
origem.

5. Obter uma reta paralela à reta de equação x + y + 6 = 0 e distante do


ponto C = (1, 1).

6. Calcular a área do triângulo cujos vértices são (a, a + 3), (a –1, a) e (a + 1, a + 1).

7. Calcular a área do quadrilátero cujos vértices são A = (–1, 1), B = (5 ,0), C = (7, 3)
e D = (3, – 11).

8. Encontrar as coordenadas do vértice C de um triângulo ∆ABC de área 6,


sabendo que A = (0, 2), B é a intersecção da reta de equação x – y – 4 = 0 com
o eixo dos x e C é um ponto da reta dada.

9. Determinar a área do triângulo DABC sabendo que A = (1, –1) e B = (–3, 2),
y = – x – 1 é a equação do lado e o coeficiente angular da reta por A e C é 1.

10. Calcule a distância entre as duas retas paralelas: 3x + 4y – 15 = 0 e 3x + 4y – 5 = 0.

11. Há dois pontos na reta y = 2 que distam 4 unidades da reta 12y = 5x + 2.


Encontre a soma das abscissas desses pontos.

12. As retas y = 4x, y = 2x – 1 e a perpendicular à reta y = 2x – 1 pela origem


determinam um triângulo. Calcule a área desse triângulo.

13. Podemos mostrar que a bissetriz de um ângulo é o conjunto dos pontos do


plano equidistantes dos lados do ângulo. Determinar as equações das bissetrizes
dos ângulos formados pelas retas 3x + 3y – 1 = 0 e 2x – 2y + 1 = 0.

14. Encontre a equação do lugar geométrico dos pontos do plano equidistantes


das retas 4x – 3y – 10 = 0 e 12x + 5y – 13 = 0.

15. Obter a equação da bissetriz interna, no ponto B, do triângulo cujos vértices


são:
A = (5, 4), B = (1, 1) e C = (4, -3).

16. A reta r tem equação 2x + y = 3 e intercepta o eixo Ox no ponto A. A reta s


passa pelo ponto P = (1, 2) e é perpendicular à r. Sendo B e C os pontos onde
s intercepta o eixo Ox e a reta r respectivamente,
a) encontre a equação de s;
b) calcule a área do triângulo ∆ABC.




SISTEMAS LINEARES - ALGUMAS APLICAÇÕES


Um problema comercial
Uma floricultura produz arranjos de três tamanhos diferentes. Nos arran-
jos são utilizados rosas, margaridas e crisântemos. A tabela abaixo dá o núme-
ro de flores de cada arranjo:
Arranjo/Flores Pequeno Médio Grande
Rosa 1 2 4
Margarida 3 4 8
Crisântemo 3 6 6

Se em um dia a floricultura utiliza 24 rosas, 50 margaridas e 48 crisânte-


mos, quantos arranjos de cada tipo foram feitos?
Chamemos x, y e z o número de arranjos de cada tipo. O número de rosas
utilizado foi, portanto:
x + 2y + 4z = 24
Da mesma forma, os números de margaridas e crisântemos serão dados,
respectivamente, por:
3x + 4y + 8z = 50
3x + 4y + 6z = 48
Para encontrar as soluções x, y e z, teremos que resolver o sistema linear
com três equações e três incógnitas:
x + 2y + 4z = 24
3x + 4y + 8z = 50
3x + 4y + 6z = 48
A resolução do sistema pode ser feita por eliminação; teremos z = 1, sub-
traindo uma das duas últimas equações pela outra; resolvendo o sistema obti-
do substituindo z = 1 nas duas primeiras equações, teremos: x = 2 e y = 9 .

Balanceamento de equações associadas a


processos químicos
Quando ocorre uma reação química há a necessidade de se estabelecer um
balanceamento entre os reagentes e o produto da reação. Partimos do princípio
de que o número de átomos em uma reação deve permanecer o mesmo.
Por exemplo, uma reação simples e bem conhecida é a reação em que
duas moléculas de Hidrogênio (H2) juntam-se a uma de oxigênio (O2), for-
mando moléculas de água (H2O). A equação balanceada da reação é:
2H2 + O2 2H2O
A mudança é representada por uma flecha.
A equação de combustão da amônia (NH3) com o oxigênio (O2)produz nitrogê-
nio (N2) e água (H2O). Para balancear essa equação, vamos chamar x, y, z e w,
respectivamente, o número de moléculas de cada um desses reagentes, escrevendo:
x NH3 + y O2 z N2 + w H2O
Comparando o número de átomos de cada um dos reagentes para fazer o
balanceamento, temos que:


  -  

Nitrogênio (N): x = 2z
Hidrogênio (H): 3x = 2w
Oxigênio (O): 2y = w
Note que este é um sistema linear com três equações e quatro incógnitas.
Quando o número de equações é menor do que o número de incógnitas, o
sistema será indeterminado, pois irá admitir uma infinidade de soluções. Va-
mos encontrar uma delas.
Comparando as equações,podemos escrever as incógnitas y, z e w em fun-
ção de x:
z= ,w= ey= =

Qualquer valor não-nulo que escolhermos para x irá determinar os valores


de y, z e w .
Por exemplo, tomando x = 4, temos as soluções y = 3, z = 2 e w = 6,
ficando a equação balanceada:
4 NH3 + 3 O2 2 N2 + 6 H2O
Se tivéssemos escolhido x = 8, obteríamos a equação
8 NH3 + 6 O2 4 N2 + 12 H2O

As equações lineares associadas a um sistema


hidráulico
Um sistema hidráulico liga três pontos A, B e C. O fluxo de água, em litros
por minuto, está descrito no diagrama abaixo. Podemos encontrar os fluxos
intermediários f1, f2 e f3 resolvendo um sistema linear.
20 l /min A f1
30 l /min
f2 C

10 l /min B f3

No ponto A, temos a entrada de 20 litros por minuto e saídas f1 e f2, o que


nos dá a equação:
f1 + f2 = 20
No ponto B, temos a entrada de 10 litros por minuto e a saída de f1 o que
nos dá a equação:
10 + f2 = f1
No ponto C, temos entrada de f1 e f3 litros por minuto e saída de 30 litros
por minuto:
f1 + f3 = 30.
O problema novamente nos conduz a um sistema de três equações e três
incógnitas:
f1 + f2 = 20
f1 – f2 = 10
f1 + f3 = 30
Este sistema pode ser facilmente resolvido por substituição: a segunda
equação pode ser substituída pela primeira, assim teremos:
10 + f2 + f2 = 20, logo, f2 = 5 e f1 = 15.
Com esses valores de f1 e f2, a terceira equação nos dará f3 = 15.




Sistemas Lineares Criando e decifrando códigos


– algumas aplica- As matrizes também podem ser utilizadas para produzir códigos ou men-
ções sagens cifradas. Suponha que se queira mandar uma mensagem para alguém.
Uma matriz A (n x n – ou Uma pessoa pode facilmente trocar letras por números, por exemplo, associ-
seja, cujo número de li- ando A ↔ 1, B ↔ 2, C ↔ 3, etc. Com essa associação, em vez de BOM DIA,
nhas é igual ao número pode-se escrever:
de colunas) é inversível 2 15 13 4 9 1
se existir uma matriz B
(B O M D I A)
(também n x n) tal que A
. B = B . A = In, para cada Mas esse código é muito fácil de se decifrar, para dificultar, podemos co-
valor de n. locar a mensagem disposta em uma matriz de duas linhas:
As matrizes In são chama-
da matrizes identidades.
M=
Quando n = 2, 3, 4, ... essa
matriz é:
Mais ainda, podemos escolher convenientemente uma outra matriz A para me-
lhorara a eficiência da codificação. Uma tal matriz deve ser 2 x 2 (pois vamos usar
o produto de matrizes) e inversível (para que o destinatário possa decodificá-la).
I2 = I3 = ....
Vamos escolher, por exemplo, a matriz A = . Efetuando o produto
A . M, obteremos a matriz M’:

É sabido que toda matriz


M’ = A . M = será a mensagem enviada. A pessoa que receber
inversível tem determi-
nante diferente de zero.
a mensagem precisará inverter o processo. Para isso, ela deve conhecer a matriz

A e sua inversa B. Efetuando B . M’ = = M, já que

B . M’ = B .(A . M) = (B . A) . M = I. M = M

Agora faça você


1. Calcule o determinante da matriz A dada acima.

2. Verifique se a matriz B = é a inversa da matriz A.

3. Calcule e decodifique a mensagem.

4. Invente uma mensagem secreta e envie a um colega (se o número de letras


de sua mensagem for ímpar, complete a matriz com um zero). Veja se ele
consegue decodificá-la.


Unidade 2

Circunferências
Organizadores
O ESTUDO DAS CIRCUNFERÊNCIAS Antônio Carlos
Brolezzi
A circunferência com centro em um ponto
P0 = (x0, y0) e raio R > 0 é o conjunto de pontos Martha S. Monteiro
do plano que estão à distância R do ponto P0, ou Elaboradora
seja, PP0 = d (P, P0) = R.
Maria Elisa Esteves
Usando a fórmula da distância, temos: Lopes Galvão
=R
ou ainda:
(x – x0)2 + (y – y0)2 = R2
A equação acima é a chamada equação da circunferência com centro P0
e raio R. Todo ponto do plano cujas coordenadas satisfazem essa equação
pertence à circunferência e vice-versa.
Um ponto Q do plano pode estar:
- no interior da circunferência, se d (Q, P0) < R;
- no exterior da circunferência, se d (Q, P0) > R.
Dada uma circunferência e uma reta, temos três possibilidades:
- a reta e a circunferência não têm pontos em comum: neste
caso, todos os pontos da reta são exteriores à circunfe-
rência; diremos que a reta é exterior à circunferência;
- a reta e a circunferência têm apenas um ponto em co-
mum: neste caso, a reta é tangente à circunferência;
- a reta e a circunferência têm exatamente dois pontos em
comum: neste caso, a reta é dita secante à circunferência.
A distância do centro P0 da circunferência a uma reta r dada
nos permite distinguir as três possibilidades acima. Temos:
- a reta r é exterior à circunferência se d (P0, r ) > R;
- a reta r é tangente à circunferência se d (P0, r ) = R;
- a reta r é secante à circunferência se d (P0, r ) < R.

Agora faça você


1. Encontre a equação da circunferência:
a) com centro (2, 1) e raio 2;
b) com centro (–1, 3) e raio ;
c) com centro (1/2, 3/2) e raio 4.


2. Qual é a equação da circunferência que passa pelo ponto (3, –2) e tem
centro (1, 1)?
3. Encontre o centro e o raio das circunferências:
a) x2 + y2 – 8x + 7 = 0 b) x2 + y2 – 6x + 4y – 12 = 0 c) x2 + y2 – 8x - 6y = 0
4. Para que valores de m e k a equação abaixo representa uma circunferência?
a) mx2 + y2 + 4x + 6y + k = 0;
a) mx2 +2y2 + 2x + 8y – k = 0
b) mx2 + y2 + 2x + 4y + k = 0
5. Obtenha a equação da circunferência que passa pelo ponto (10, 1), tem raio 5
e tangencia o eixo das abscissas.
6. (Fuvest) Uma circunferência passa pelos pontos (2, 0), (2, 4) e (0, 4). Logo,
a distância do centro dessa circunferência à origem é:
a) b) c) d) e)
7. Encontre a equação da circunferência que passa pelos pontos (1, 2), (2, 3)
e (–3, –4).
8. Qual a posição dos pontos (0, 0), (7, –5) e (4, –2) em relação à circunferên-
cia (x – 3 )2 + (y + 5)2 = 16?

9. A circunferência de centro (1, 2) e raio passa pelo ponto (2, p). Encontre
os valores de p.

10. O centro de uma circunferência pertence à reta y = x. Sabendo que essa


circunferência passa pelos pontos (–1, –2) e (6, 5), determine a sua equação.
11. Um quadrado tem vértices consecutivos A = (5, 0) e B = (–1, 0). Determine
a equação da circunferência circunscrita ao quadrado.
12. Determine a posição relativa entre a reta e a circunferência em cada caso:
a) x –3y – 2 = 0 e (x + 2)2 + (y – 1)2 = 1;
b) y = 2x + 1 e x2 + y2 – 2y – 5 = 0;
c) x – 2 = 0 e 4x2 + 4y2 – 25 = 0;
d) y + 3 = 0 e 4x2 + 4y2 – 56x + 4y + 179 = 0.
13. Obter a equação da circunferência de centro (– 2, 1) tangente à reta de
equação 4x + 3y = 0.
14. (Fuvest) Uma reta de coeficiente angular m > 0
passa pelo ponto (2, 0) e é tangente a circunferência
inscrita no quadrado de vértices (1, 1), (5, 1), (5, 5)
e (1, 5). Então:

a) 0 < m < c) <m<2 e) 1 < m <

b) m = d) m = 1
15. Determinar o comprimento da corda determinada pela reta x + y – 2 = 0
sobre a circunferência de centro (1, 1) e raio 2
16. Encontre para que valores de k a reta x – k –1 = 0 e a circunferência
x2 + y2 – 2x – 3 = 0 são:
a) secantes b) tangentes c) exteriores


  -  

17. Encontre o comprimento da corda que a reta y = x determina sobre a


circunferência de equação (x + 2)2 + (y – 2)2 = 16.

18. Encontre a equação da circunferência de centro (1, 5) e tangente à reta de


equação 3x – 4y + 7 = 0.

19. A reta y = 3x é tangente a uma circunferência com centro (2, 0). Calcule o
raio dessa circunferência.

20.(Fuvest) Considere o quadrado ABCD inscrito na semi-


circunferência de centro na origem. Se (x, y) são as
coordenadas do ponto A, então a área da região exterior ao
quadrado ABCD e interior à semicircunferência é igual a:
a) (5π/2 – 4) x2 b) x2 + y2 c) (5π – 4) x2 d) (5π/2 – 2) x2 e) πx2 – y2
21. (Fuvest) a) A reta r passa pela origem do plano cartesiano e tem coeficien-
te angular m > 0. A circunferência C passa pelos pontos (1, 0) e (3, 0) e tem
centro no eixo x. Para qual valor de m a reta r é tangente a C?
b) Suponha agora que o valor de m seja menor do que aquele determinado no
ítem anterior. Calcule a área do triângulo determinado pelo centro de C e pelos
pontos de intersecção de r com C.
22. (Fuvest) Os pontos A = (0, 0) e B = (3, 0) são vértices consecutivos de um
paralelogramo ABCD situado no primeiro quadrante. O lado é perpendicu-
lar à reta y = – 2x e o ponto D pertence à circunferência de centro na origem e
raio . Então, as coordenadas de C são:
a) (6, 2) b) (6, 1) c) (5, 3) d) (5, 2) e) (5, 1)
23. (Fuvest) Na figura ao lado, os pontos A, B e C são vértices de um triângulo
retângulo, sendo ∠B o ângulo reto. Sabendo-se que A = (0, 0), B pertence à
reta x – 2y = 0 e P = (3, 4) é o centro da circunferência inscrita no triângulo
ABC, determine as coordenadas:
a) do vértice B; b) do vértice C.
24. Descreva o lugar geométrico dos pontos do plano que verificam a equa-
ção x2 – y2 + 3x – 3y = 0

25. Uma reta encontra uma circunferência com centro na origem nos pontos
A = (3, 4) e B = (– 4, 3).
a) Qual é o raio dessa circunferência?
b) Calcule a área do quadrilátero cujos vértices são os pontos A e B e seus
simétricos em relação à origem.
26. Uma reta passa pelo ponto P = (3, 2) e é tangente à circunferência com
centro C = (1, 1) e raio 1 num ponto T. Calcule a distância de P a T.
27. No plano Oxy considere os seguintes conjuntos de pontos:
A= {(x, y) | |x| ≥ 3}, B = {(x, y) | |y| ≥ 4} e
C= {(x, y) | x2 + y2 ≤ 25}.
Encontre a área do conjunto C – (A ∪ B).


Unidade 3
Cônicas, parábolas,
elipses e hipérboles
Organizadores
Antônio Carlos As curvas obtidas quando cortamos um cone (as chamadas secções côni-
Brolezzi cas) aparecem com freqüência na natureza e na nossa vida cotidiana. Desde
os tempos mais remotos elas despertaram a curiosidade do homem.
Martha S. Monteiro
Vamos destacar alguns exemplos:
Elaboradora
Maria Elisa Esteves - ao cortar uma árvore podemos encontrar uma secção com a forma de uma
Lopes Galvão elipse;
- as órbitas descritas pelos planetas girando em torno do Sol são elípticas;
- ao atirar uma pedra, temos descrita uma trajetória parabólica;
- encontramos hoje antenas parabólicas por toda parte;
- em condições ideais, a chamada onda de choque produzida por um avião
supersônico varre a região interior a uma hipérbole.
Desde a antiguidade essas curvas tiveram suas propriedades extensamente
estudadas. A primeira referência ao estudo das cônicas de que se tem notícia
está registrada no trabalho de um geômetra grego de nome Menaechmus, aluno
de Eudoxo e contemporâneo de Platão. Seguiram-se trabalhos de Euclides,
Arquimedes e o trabalho mais importante e completo foi o de Apolônio, um
grande geômetra e astrônomo que viveu no século III A. C. Apolônio é conside-
rado o último dos grandes geômetras da escola grega. Já na era cristã, Pappus,
um historiador da Geometria grega, acrescentou ao estudo dessas curvas novas
informações, que chamamos propriedades foco-diretriz.
Todos esses geômetras exploraram, portanto, as curvas obtidas cortando
um cone (que pode ser um cone duplo, como na figura a seguir) por um
plano. Observe que, variando a posição do plano de corte, temos, como
intersecção (a partir da esquerda):
- uma circunferência, quando o plano de corte é perpendicular ao eixo do cone;
- uma elipse, se o inclinamos um pouco;
- uma parábola, se o plano fica paralelo a uma geratriz do cone;
- os dois ramos de uma hipérbole, se o plano corta as duas folhas do cone.

Germinal Dandelin pro-


vou, em 1837, que os fo-
cos de uma secção cônica
são os pontos em que o
plano de corte tangen-
cia esferas inscritas no
cone.
  -  

As trajetórias elípticas dos planetas em torno do Sol, descritas por Kepler


em seu famoso trabalho do início do século XVII, trazem as cônicas de volta
ao cenário da Matemática da época.
As relações métricas que hoje utilizamos para o estudo das cônicas, do
ponto de vista da Geometria Analítica, e que envolvem as distâncias aos focos
ou à diretriz foram provadas de forma muito interessante, no século XIX, por
Dandelin, e constituem os chamados “teoremas belgas” para as cônicas. As
figuras ilustram como são encontrados os principais elementos das cônicas
nesse trabalho.
Associados às parábolas, elipses e hipérboles, temos pontos que chama-
mos focos, que são os pontos de tangência do plano de corte do cone com as
esferas mostrados em cada uma das figuras ao lado. Temos também retas que
são chamadas diretrizes, denotadas por d e d´ ou somente d nas mesmas
figuras. Detalhando as propriedades geométricas que relacionam os elemen-
tos que nelas aparecem teremos as propriedades que caracterizam cada uma
das curvas,chamadas de secções cônicas, que passaremos a estudar a seguir.

PROPRIEDADES MÉTRICAS DAS SECÇÕES CÔNICAS E


SUAS EQUAÇÕES GERAIS
Para trabalhar com as secções cônicas utilizan-
do os recursos da Geometria Analítica o passo ini-
cial é a escolha de um sistema de coordenadas. O
segundo passo é encontrar uma equação, nas coor-
denadas escolhidas, cujo conjunto solução corres-
ponda aos pontos da curva que queremos estudar.
Um bom sistema de coordenadas é, em geral,
aquele em que a equação que descreve a curva seja
razoavelmente simples, ou a mais simples possível.

ESTUDO DA PARÁBOLA
No módulo 4 (página 27), a parábola já foi estudada utili-
zando a definição que será também adotada para explorarmos
suas propriedades do ponto de vista da Geometria Analítica.
Examinando o corte do cone que nos dá a parábola, ilus-
trado pela figura acima, observamos que ela tem um foco F e
uma reta diretriz d (que é a reta por G e K).Verifica-se que:

Os pontos P da parábola são os pontos eqüidistantes


do foco e da diretriz

ou seja, tais que d (P, F) = PF = d (P, d)


O eixo da parábola é a reta que passa pelo foco e é perpendicular à diretriz.
A parábola é simétrica em relação ao eixo .
Usando o caderno
Vamos construir o gráfico de uma parábola por pontos. Escolha:
- um ponto sobre uma das linhas do caderno para ser o foco da parábola; Propriedade refletora
- uma outra linha como a reta diretriz, seguindo a figura a seguir (a cons- da parábola: os raios pa-
trução fica mais fácil se a distância do foco à diretriz é um número par); ralelos ao eixo de sime-
- a perpendicular à diretriz, passando pelo foco – que será o eixo da parábola. tria se refletem passan-
do pelo foco.




O primeiro ponto da parábola que identificamos é o seu vér-


tice, que é o ponto médio do segmento com extremos no foco e
no ponto de intersecção do eixo com a diretriz.
Com o auxílio do compasso, vamos traçar as circunferências
com centro no foco, passando pelos pontos de intersecção das
linhas do caderno com o eixo. A distância entre as linhas pode
ser considerada a nossa unidade de medida.
No exemplo acima, o vértice está distante 2 unidades do foco e da diretriz. Os
pontos que estão 3 unidades distantes do foco e da diretriz são os pontos de
intersecção da circunferência de raio 3 com a reta que dista 3 unidades da diretriz
(observe que temos sempre dois pontos, dada a simetria da parábola em relação
ao eixo). Esses serão os pontos da parábola cujo gráfico queremos desenhar.
Para obter mais pontos, vamos aumentando a distância ao foco e à diretriz
de uma unidade em cada etapa; dessa forma encontramos uma série de pontos
da parábola, observando sempre a propriedade:
PF = d (P, d)
Para encontrar a equação da parábola, da mesma forma que
na construção acima, tomamos o segmento da perpendicular à
diretriz que passa pelo foco. Como já observamos, o vértice V da
parábola é o ponto médio desse segmento.
Vamos escolher o sistema de coordenadas de forma que a
origem (0, 0) coincida com o vértice V e um dos eixos coordena-
dos coincida com o seu eixo de simetria.
Tomando coordenadas (p, 0) para o foco F, a equação para a
reta diretriz d será x + p = 0 (verifique, lembrando da simetria).
A excentricidade de uma Se P = (x, y) é um ponto da parábola, usando a fórmula para a distância
cônica é a razão entre a euclidiana e a expressão para a distância de P a d, obtemos (como já foi veri-
distância PF, de um pon- ficado no módulo 4, usando as distâncias) a equação:
to P da curva ao foco F, e
a distância d (P, d) de P à = |x + p|
reta diretriz d, isto é: Elevando ao quadrado, teremos:
e = PF/ d (P, r)
(x – p)2 + y2 = (x+p)2,
A caracterização das cô-
nicas através da excentri- e, finalmente, simplificando, chegamos à equação reduzida da parábola (com
cidade é muito antiga, eixo de simetria no eixo Ox):
aparece, pela primeira vez
y2 = 4px.
nos trabalhos de Pappus,
um dos últimos geôme- Se trocarmos o eixo de simetria ou a posição do foco e da diretriz, pode-
tras da Escola de Alexan- mos ter como variantes as equações:
dria e que viveu no sécu-
lo III da era cristã. y2 = – 4px (foco em (– p, 0));
A igualdade PF = d (P, d)
x2 = 4 py (foco em (0, p));
nos leva a uma outra ca- x2 = – 4py (foco em (0, – p)).
racterização da parábola,
As duas últimas equações correspondem a gráficos de funções já estuda-
como a cônica de excen-
dos no módulo 4.
tricidade igual a 1. A elipse
e a hipérbole são respec- Se o vértice da parábola estiver em um ponto com coordenadas (x0, y0), as
tivamente as cônicas cuja equações se alteram (temos uma translação no plano); a equação da parábola
excentricidade é menor com vértice em (x0, y0) fica na forma:
ou maior do que um.


  -  

(y – y0)2 = 4p (x – x0), Propriedade refle-


o mesmo ocorrendo com as variações acima. tora da elipse
Se tivéssemos uma mesa
Agora faça você de bilhar elíptica, pode-
ríamos verificar a se-
1. Determine o foco, o vértice e a diretriz de cada uma das parábolas abaixo,
guinte propriedade:
fazendo um esboço do gráfico:
a) y2 = 16x d) 5y2 =12x c) x2 + 40y = 0 toda bola que parte de
um dos focos baterá na
b) y2 + 28x = 0 e) 2x2 = 7yy f) 7x2 = 15y borda e será refletida pas-
sando pelo outro foco.
2. Escreva as equações reduzidas das parábolas com vértice na origem para
cada um dos dados abaixo: Essa propriedade de re-
flexão da elipse é utiliza-
a) foco: (8, 0); da, por exemplo, no pla-
b) diretriz: y = 2; nejamento da acústica de
c) eixo de simetria: eixo Oy e um ponto da parábola: (5, 10); salas de espetáculos.
d) um ponto da diretriz: (4, 7) e o eixo de simetria: eixo Ox.;
e) dois pontos da parábola: (6, 18) e (6, –18).

3. Determine as dimensões do retângulo de maior área cuja base está no eixo Ox e


cujos dois vértices superiores estão no gráfico da parábola de equação y = 12–x2.

4. Uma ponte de 400 metros de comprimento tem,


para sustentação lateral, um cabo com forma pa-
rabólica como exemplificado na figura. O cabo
está 100 metros acima do piso nos extremos da
ponte e a 4 metros acima no seu centro. Cabos
verticais estão colocados em intervalos de 50
metros. Quantos metros de cabo serão necessári-
os para trocar os cabos verticais?

5. Um arco parabólico tem altura de 2 m e largura de 3,6 m na base. Se


o vértice da parábola está no topo do arco, com que altura sobre a base
terá uma largura de 1,8m ?
6. Admita que a água escoa de uma caixa d’água por um ponto que está
a 2,5 m do chão, descrevendo uma curva parabólica da fórmula y = – a x2 +
2,5. Se em um ponto a 0,8 m do ponto de escoamento da água na caixa o
fluxo de água curvou-se 1m além da reta vertical pelo furo, a que distância
desta reta a água tocará o chão?

7. Um telescópio tem um espelho refletor parabólico cuja distância do vértice


ao foco é de 30 cm. Se a largura do espelho na parte superior é de 10 cm, qual
a profundidade do espelho no centro?

ESTUDO DA ELIPSE
Quando cortamos um cone (ou um cilindro) e temos uma elipse como
curva resultante no corte, podemos verificar que essa curva tem dois focos, os
quais chamaremos F1 e F2. A figura acima ilustra a propriedade métrica que
caracteriza os pontos P de uma elipse:

A soma das distâncias de P a F1 e F2 é constante.




Chamando essa constante de 2a, podemos


verificar que 2a = A1 A2, sendo o chama-
do eixo maior da elipse. A propriedade métri-
ca verificada pelo ponto P é:
d (P, F1) + d (P, F2) = 2a ou PF1 + PF2 = 2a

A figura ao lado dá uma forma prática para desenhar uma


elipse: fixando as extremidades de um barbante nos focos,
basta mantê-lo esticado e deixar correr o lápis para traçarmos
a curva.

Construindo uma elipse por pontos


Podemos construir pontos de uma elipse usando
um procedimento parecido com o que foi utilizado
para estudar a parábola.
Para essa construção, não precisaremos das linhas
do caderno, mas podemos utilizar a distância entre
elas como unidade de comprimento. Começamos es-
colhendo dois pontos cuja distância seja um número
inteiro e traçamos circunferências concêntricas com
centros nesses pontos de forma que os raios sejam
múltiplos da unidade de medida que escolhemos.
No exemplo acima, F1 F2 = 6 unidades de medida e para encontrar os pon-
tos de uma elipse, vamos escolher 2a = 8, ou seja, os pontos da elipse procu-
rada devem verificar:
d (P, F1) + d (P, F2) = 2a = 8.
Um ponto P1 da elipse tal que d (P1, F1) = 1 (portan-
to, um ponto da circunferência com centro F1 e raio 1)
deve estar distante 7 unidades do ponto F2, logo, está
na circunferência com centro F2 e raio 7.
Um ponto P2 da elipse tal que d (P2, F1) = 2 (por-
tanto, um ponto da circunferência com centro F1 e raio
2) deve estar distante 6 unidades do ponto F2, logo,
está na circunferência com centro F2 e raio 6.
Sucessivamente, podemos determinar um conjun-
to de pontos pertencentes à elipse com focos F1 e F2 e
eixo maior com comprimento 8. Unindo os pontos
assim obtidos temos a figura ao lado.
Para escrever em coordenadas a equação de uma elipse vamos precisar da
expressão para a distância euclidiana entre dois pontos P1 e P2 cujas coorde-
nadas em termos de um sistema de coordenadas com eixos ortogonais são,
respectivamente, (x1, y1) e (x2, y2).
P1P2 =

Equação geral da elipse


Consideremos agora uma elipse como na figura ao lado.
Os pontos F1 e F2 são os focos da elipse; os pontos A1, A2, B1 e B2 são os
seus vértices.


  -  

Os segmentos e são o eixo maior (ou eixo transverso) e o eixo


menor (ou eixo conjugado), respectivamente. Estes eixos são também chama-
dos eixos principais da elipse.
Vamos fazer a escolha do sistema de coordenadas de maneira que a ori-
gem seja o ponto médio do segmento cujos extremos são os focos e que os
eixos coordenados coincidam com os eixos principais ou com os eixos de
simetria da elipse. A origem do sistema de coordenadas é também chamado o
seu centro .
Com essa escolha, as coordenadas dos focos F1 e F2 serão: F1 = (–
c, 0) e F2 = (c, 0); os vértices A1, A2, B1 e B2 terão suas coordenadas
dadas respectivamente por (– a, 0), (a, 0), (0, – b) e (0, b).
Dado um ponto P da elipse, vamos considerar (x, y) suas coor-
denadas. Usando agora a fórmula da distância euclidiana e a carac-
terização dos pontos da elipse como o conjunto de pontos P tais
que PF1 + PF2 = 2a, podemos escrever
+ = 2a
Mudando uma das raízes de membro, elevando ao quadrado e simplifi-
cando, chegamos à expressão:
a = a2 – cx.
Novamente elevando ao quadrado e simplificando teremos:
(a2 – c2) x2 + a2 y2 = a2 (a2 – c2)
A equação acima é tal que, se x = 0, suas soluções y correspondentes são
tais que
y2 = a2 – c2
Os pontos em que a elipse intercepta o eixo dos y são os pontos B1 e B2,
cujas coordenadas são (0, –b) e (0, b) respectivamente; logo, tomando x = 0
na equação acima podemos concluir que
b2 = a2 – c2 ou c2 = a2 – b2
Portanto, a equação acima se reescreve:
b2 x2 + a2 y2 = a2 b2,
e, dividindo ambos os membros por a2 b2, temos a chamada equação reduzi-
da da elipse:
+ =1
É sempre importante observar que:
- 2a é o comprimento do eixo maior da elipse;
- 2b é o comprimento do eixo menor da elipse;
- b foi escolhido de forma que b2 = a2 – c2 , logo, a2
= b2 + c2. Temos então um triângulo retângulo na-
turalmente associado a esses três valores, represen-
tado na figura abaixo;
- a excentricidade da elipse é dada por e = e, como
c < a , e < 1.




Se os focos da elipse estiverem no eixo Oy, podemos repetir os cálculos e


verificar que a equação ficará na forma:

+ =1

sendo a > b; podemos observar que na equação da elipse o maior denomina-


dor sempre determina qual é o eixo principal.
Se o centro da elipse não coincide com a origem do sistema de coorde-
nadas e temos o centro num ponto P0 = (x0, y0), a equação da elipse fica na
seguinte forma:
+ =1

Agora faça você


1. Esboce o gráfico de cada uma das elipses abaixo, destacando as coorde-
nadas dos focos e dos vértices:
a) x2 + 4y 2 = 16 b) 49x2 + 40y2 = 1960 c) 36x2 + 9y2 = 4 d) x2 + 2y2 = 5

2. Encontre a equação da elipse com centro na origem e:


a) passando por (6, 0), sabendo que um vértice do semi-eixo maior tem coor-
denadas (0, 8);
b) passando por (4, 0) e um dos focos em (1, 0);
c) passando por (0, 7) e um dos focos em (0, 6);
d) um dos focos em (4, 0) e excentricidade 2/5;
e) eixos de simetria coincidentes com os eixos coordenados, passando por
(4, 0) e (3, 2);
f) um dos vértices do semi-eixo maior em (0, 4) e excentricidade ;
g) foco em (0, 2), passando por ( , 1).

3. Encontre as coordenadas dos vértices e a área de um quadrado com lados


paralelos aos eixos coordenados e inscrito na elipse de equação 9x2 +16y2 = 100.
No início do século XVII,
Johannes Kepler, astrô- 4. (Fuvest) A elipse x2 + = e a reta y = 2x + 1, do plano cartesiano,
nomo e matemático ale-
mão, anunciou as suas interceptam-se nos pontos A e B. Pode-se, pois, afirmar que o ponto médio do
leis para o movimento segmento é:
dos planetas: as órbitas
descritas são elipses que
têm o Sol em um dos fo-
a) (– , – ) c) ( , – ) e) (– , )
cos. Mostrou ainda que
em iguais intervalos de
b) (– , – ) d) (– , )
tempo o raio varre áreas
iguais, como ilustrado na
figura a seguir. 5. Se A = (10, 0) e B = (– 5, y) são pontos de uma elipse cujos focos são
F1 = (– 8, 0) e F2 = (8, 0), então o perímetro do triângulo BF1 F2 é:
a) 24 b) 36 c) 40 d) 60 e) nenhuma das anteriores

6. Um ponto se desloca no plano de modo que sua distância ao ponto (3, 2)


fica sempre igual a metade da sua distância à reta de equação x+2 = 0. Deduza
a equação do lugar geométrico descrito pelo ponto e identifique-o.


  -  

7. O conjunto dos pontos, cuja soma das distâncias aos pontos fixos (–1, 0) e
(1, 0) é sempre igual a 4, intercepta o eixo dos y em pontos de ordenada:
a) 0 e 2 b) ± c) ± 3 d) ± e) ±

ESTUDO DA HIPÉRBOLE
A hipérbole é uma curva obtida quando um plano corta as duas folhas de
um cone duplo, como o da figura ao lado. Considerando esferas inscritas no
cone e tangentes ao plano de corte, ficam determinados os dois focos F1 e F2.
A propriedade métrica que caracteriza os pontos P de uma hipérbole é:

O valor absoluto da diferença das distâncias de P aos pontos F1 e F2 é constante.

isto é:
| d (P, F1) – d (P, F2) | = |PF1 – PF2| = 2a
A reta pelos pontos F1 e F2 é chamada eixo transverso da hipérbole.
Os pontos A1 e A2 onde essa reta corta a hipérbole são os seus vértices.
A distância entre os pontos A1 e A2 é o valor da constante 2a da defi-
nição da hipérbole. Se a distância entre os focos é 2c, temos que c > a.

Construindo uma hipérbole por pontos


Para construir pontos de uma hipérbole podemos usar o mesmo conjunto
de circunferências que desenhamos para a construção da elipse por pontos.
A distância entre os pontos F1 e F2 que vamos usar
para construir a hipérbole é a mesmo da elipse, ou seja,
2c = 6. Como c > a, vamos tomar 2a = 4.
Se um ponto P1 da hipérbole é tal que d (P1, F1) = 1
(portanto, um ponto da circunferência com centro F1 e
raio 1), para saber qual será a distância do ponto P2 ao
foco F2, devemos lembrar que
|d (P, F1) – d (P, F2)| = |PF1 – PF2| = 2a
portanto, |1 - d (P, F2)| = 4.
As possibilidades são:
a) 1 - d (P, F2) = – 4, portanto, d (P, F2) = 5;
b) 1 – d (P, F2) = 4, ou d (P, F2) = –3 , o que não é possível, pois a distância
deve ser sempre positiva. Portanto, o ponto P1 está também na circunfe-
rência com centro F2 e raio 5.
Um ponto P2 da hipérbole tal que d (P2, F1) = 2
(portanto, um ponto da circunferência com centro F1
e raio 2) deve estar à distância 6 do ponto F2, logo,
está na circunferência com centro F2 e raio 6.
Sucessivamente, podemos determinar um conjunto
de pontos pertencentes à hipérbole com focos F1 e F2
e distância entre os vértices igual a 4. Unindo os pon-
tos assim obtidos obtemos a figura ao lado.




EQUAÇÃO GERAL DA HIPÉRBOLE


Dada uma hipérbole, como na figura ao lado, sejam os pontos
F1 e F2 os seus focos, vamos tomar um sistema de coordenadas em
que o eixo Ox é a reta orientada passando pelos focos e com a ori-
gem no ponto médio dos focos.
A origem do sistema de coordenadas é também chamado de
centro da hipérbole.
Com essa escolha, as coordenadas dos focos F 1 e F 2 serão
F1 = (– c, 0) e F2 = (c, 0); os vértices A1 e A2 terão suas coordenadas
dadas respectivamente por (–a, 0) e (a, 0).
Dado um ponto P da hipérbole, com coordenadas (x, y). Usan-
do agora a fórmula da distância euclidiana e a caracterização dos
pontos da hipérbole como o conjunto de pontos P tais que
|PF1 – PF2| = 2a,
podemos escrever
| – | = 2a
ou – = ± 2a
Mudando uma das raízes de membro, elevando ao quadrado e
simplificando chegamos à expressão:
±a = a2 - c x.
Novamente elevando ao quadrado e simplificando teremos:
(a2 – c2) x2 + a2y2 = a2 (a2 – c2)
A equação acima é tal que, se x = 0, suas soluções y correspon-
dentes são tais que
y2 = a2 – c2 < 0
Não temos agora pontos de intersecção da curva com o eixo Oy, pois não
existem y tais que y2 < 0. Chamaremos
b2 = – (a2 – c2) ou b2 = c2 – a2
e a equação acima é reescrita:
– b2 x2 + a2 y2 = – a2 b2
Dividindo ambos os membros por – a2 b2, temos a chamada equação re-
duzida da hipérbole:
– =1
Propriedade refle-
tora da hipérbole É sempre importante observar que:
Se um raio de luz for emi- - 2a é a distância entre os vértices (quando y = 0, temos as soluções (a, 0) e
tido do foco de uma hi- (– a, 0), que são os vértices da hipérbole);
pérbole refletora, ele será
refletido na direção da
- 2 c é a distância entre os focos;
reta que passa pelo ou- - b foi escolhido de forma que b2 = c2 – a2, logo, a2 + b2 = c2. Temos um
tro foco. Essa proprieda- triângulo retângulo naturalmente associado a esses três valores represen-
de da hipérbole é bastan- tado na figura a seguir;
te utilizada na construção
de artefatos refletores. - a excentricidade da hipérbole é dada por e = . Como c > a e e > 1;


  -  

- as retas cujas equações são y = xey=– x são as assíntotas da hipérbo-


le.

Se os focos da hipérbole estiverem no eixo Oy, podemos repetir os cálcu-


los e verificar que a equação ficará na forma:

– + =1

Podemos observar que na equação da hipérbole o sinal positivo sempre


determina qual é o eixo principal.
Se o centro da hipérbole não coincide com a origem do sistema de coorde-
nadas, mas sim num ponto P0 = (x0, y0), a equação fica na forma:

– =1

Agora faça você


1. Encontre a equação da hipérbole com centro na origem, dados:
a) os vértices (4, 0) e (–4, 0) e os focos (5, 0) e (–5, 0);
b) os focos em (0, 6) e (0, –6) e a excentricidade 3/2;
c) passando por (2, 4) com vértices em (0, 3) e (0, –3);
d) focos em (4, 0) e (–4, 0) e um de seus pontos: (5, 3)
e) excentricidade 2, eixo principal: eixo dos x e um ponto da curva: (4, 1)

f) vértices em (0, 3) e (0, –3) e uma das assíntotas y = ;

g) um de seus pontos ( 6, 1) e uma assíntota y = ;

h) um dos focos (0, 4) e uma das assíntotas: y = .

2 . Encontre os pontos de intersecção da elipse + = 1 com a hipérbole

– = 1. Mostre que essas duas cônicas são confocais, isto é, têm os


mesmos focos.

3. Um ponto se desloca no plano de modo que sua distância ao ponto (3, 2)


fica sempre igual ao dobro da distância à reta de equação x + 2 = 0. Deduza a
equação da curva descrita e identifique-a.

4. Numere a Coluna I de acordo com a Coluna II


Coluna I Coluna II
( ) elipse (1) 2x + 3y – 1 = 0
( ) parábola (2) (x – 1)2 + (y – 2)2 = 9
( ) hipérbole (3) y – x2 + 5x – 6 = 0
( ) reta (4) x 2 – y2 = 4

( ) circunferência (5) + =1




A seqüência correta, de cima para baixo, na Coluna I é:


a) 4 5 3 2 1 b) 5 3 2 1 4 c) 2 3 5 1 4 d) 5 3 4 1 2
e) nenhuma das anteriores

5. Das equações abaixo, a que representa uma parábola de eixo coincidente


com a reta y = 0 é:
a) y = x2 + 1
b) x = y2 + 1
c) y – x2 = 0
d) x2 – y 2 = 1

e) x = +3

6. A distância entre os focos da cônica 3x2 – y2 = 9 é:


a) b) 2 c) 4 d) 6 e) 8

Bibliografia
Hassan, S.; Iezzi, G. Seqüências, matrizes, determinantes, sistemas. Col.
Fundamentos da Matemática Elementar, vol 4.
Iezzi, G. Geometria analítica. Col. Fundamentos da Matemática Elementar,
vol 7.
Lima, E. L. Coordenadas no plano. Col. do Professor de Matemática da SBM.
Lima, E. L. Coordenadas no espaço. Col. do Professor de Matemática da SBM.
Boulos, P.; Oliveira, I. C. Geometria analítica, um tratamento vetorial.
McGraw-Hill, 1986.

Sobre a autora
Maria Elisa Esteves Lopes Galvão
Docente aposentada do Departamento de Matemática do Instituto de Ma-
temática e Estatística da Universidade de São Paulo, onde fez graduação,
mestrado e doutorado. É docente dos cursos de Licenciatura em Matemática
da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e do Centro Universitário FIEO
(UNIFIEO) e conferencista convidada do curso de Especialização em História
da Matemática do Centro de Extensão Universitária.

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