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Redação

Organizadores
Maria Lúcia C. V. O. Andrade
Neide L. Rezende
Valdir Heitor Barzotto

Elaborador
Valdir Heitor Barzotto
1
módulo

Nome do aluno
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador: Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP
Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor: Adolpho José Melfi
Pró-Reitora de Graduação
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE


Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área
Biologia:
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori
Física:
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta
Geografia:
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins
História:
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer
Língua Inglesa:
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór
Língua Portuguesa:
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto
Matemática:
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro
Química:
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan
Produção Editorial
Dreampix Comunicação
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei,
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro
Cartas ao
Aluno
Carta da
Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão.
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer
situação de vida e de trabalho.
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor
para o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.


Pró-Reitora de Graduação.
Carta da
Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno,
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa
da educação básica.
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente
construído para esse fim.
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva


Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Apresentação
da área
Todo o material está pensado para propiciar a você conhecimentos para
reconhecer e empregar recursos que conferem qualidades a um texto. Tam-
bém serão estudadas as estratégias usadas por diferentes autores para escre-
ver, visando indicar ao leitor uma determinada compreensão. Para isso serão
feitos diversos exercícios de leitura e análise de textos.
Espera-se que este trabalho proporcione a você condições para lançar mão
de estratégias variadas em seus textos para levar o seu leitor à compreensão
pretendida. É para este fim que estão programadas as atividades de escrita e
reescrita integral ou parcial de textos.
Além dos temas propostos para redação, um estará presente com destaque
em todos os módulos. Trata-se de uma discussão sobre as carreiras universitá-
rias que se pode seguir. Este tema visa proporcionar oportunidades para refle-
tir sobre a escolha da profissão, a formação universitária e sua relação com a
sociedade. Você poderá contar com seus professores para clarear os modos de
trilhar uma carreira, obtendo informações sobre possibilidades de trabalho e
de especialização que as escolhas profissionais proporcionam.
Apresentação
do módulo
No que concerne ao aprendizado das estratégias para escrever, neste
módulo, especificamente, pretende-se destacar a necessidade de se pensar o
leitor como alguém que não tem o mesmo conhecimento que o autor tem
sobre o assunto do texto e, portanto, precisa receber as informações necessárias
para compreendê-lo. Pretende-se ainda, neste módulo, chamar a atenção para
a existência de um núcleo central nos textos que precisa ser reconhecido pelo
leitor para não ficar de fora da possibilidade de compreensão do texto lido.
Para reforçar a importância de comprometimento com os objetivos do curso
esta apresentação termina com uma recomendação:
Quando você estiver estudando para o vestibular e aparecer alguma dúvi-
da sobre o conteúdo, escreva um texto para seu professor de modo que ele
possa compreender a origem da dúvida e as soluções que você já tentou ela-
borar. Estabeleça este sistema de correspondência com o seu professor. Claro
que você também pode fazer perguntas oralmente, mas não perca mais esta
oportunidade de exercitar a escrita.
Guia de estudos

Para se atingir um bom nível de redação é necessário que se pratique cons-


tantemente a escrita e a reescrita. Portanto, os módulos destinados ao trabalho
de Redação trazem, acima de tudo, propostas de atividades para a escrita.
Os textos que você produzir serão colocados à prova em sua eficácia com
leitores reais e reescritos em função dos resultados das críticas e sugestões feitas
por eles. É muito importante que você também se comporte como leitor de seu
próprio texto, que você se coloque no lugar de quem vai receber o seu texto.
Dois objetivos são centrais neste curso de Redação. Um deles é colocar à
sua disposição conhecimentos que permitam que você escreva da melhor for-
ma possível e faça a auto-avaliação de suas próprias produções, de modo a
melhorá-las continuamente. O outro é contribuir para que você incorpore e
organize a prática da escrita em seu cotidiano.
Durante o curso de Redação você terá oportunidade de escrever diferen-
tes tipos de textos com a finalidade de apreender os conhecimentos necessá-
rios para escrever cada um deles e de desenvolver diferentes atitudes frente ao
seu próprio texto.
Para que o objetivo do curso, que é o de proporcionar um bom nível de
redação, possa ser alcançado, será necessário que você se comprometa com o
cumprimento das atividades propostas nos módulos, bem como aceite as su-
gestões feitas sobre o convívio com a escrita. O que estamos solicitando é que
você assuma os dois objetivos centrais do curso como sendo concretamente
seus e não apenas de seu professor ou de alguma entidade abstrata e externa
ao conjunto das suas preocupações deste momento de sua vida.
Comecemos por uma sugestão que visa abrir um espaço para a escrita no
seu cotidiano, é que você tenha sempre em mãos um caderno e uma caneta
para anotar os fatos que presencia e, em seguida, escrever relatos e aprecia-
ções críticas sobre eles.
Como os textos são escritos para serem lidos por alguém que não tem as
informações contidas no texto, será necessário eleger algumas pessoas que se
mostrem leitores interessantes e pedir a elas que leiam o que você escreveu,
estabelecendo uma troca de textos sobre acontecimentos do cotidiano de cada
um. Entenda-se como leitor interessante aquele que lê e tem o que dizer sobre
o que leu, fazendo sugestões sobre os aspectos formais do texto ou críticas
sobre o conteúdo ou a perspectiva adotada. Aquele leitor que apenas concorda
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ou não tem nada a acrescentar deve ser evitado. Combine, então, já na primei-
ra aula, com dois colegas de sala para que sejam seus leitores durante o curso.
Você também será o leitor dos textos deles.
Esta troca de textos para leitura e apreciação também pode ser feita por e-
mail, mas com a condição de não utilizar abreviaturas e símbolos típicos do
“universo on-line” nos textos trocados com a finalidade proposta neste curso.
Ao escrever para seus colegas lerem você vai contextualizar o fato que
está relatando, procurando fornecer informações pontuais e necessárias para
a compreensão do que você está escrevendo, sem excesso de detalhes. Em
seguida você fará uma breve análise sobre o ocorrido, deixando claro o seu
posicionamento.
Quando você e seus colegas estiverem apreciando os textos uns dos ou-
tros, vocês farão algumas perguntas para ver se o texto cumpriu com a sua
função, por exemplo:
- As informações colocadas no texto foram suficientes?
- As informações colocadas no texto eram necessárias?
- O posicionamento apresentado é claro e consistente?


Unidade 1

Uso de informações
precisas
Organizadores
Maria Lúcio V. de
Leia a definição de texto escrita por um autor alemão bastante citado pe- Oliveira Andrade
los estudiosos brasileiros que se dedicam à pesquisa sobre as condições de
textualidade, chamado Harald Weinrich, e procure lembrar-se dela cada vez Neide L. Rezende
que for escrever ou ler. Valdir Heitor
Barzotto
Um texto é, sem dúvida, uma totalidade em que tudo está relaciona-
do. As orações seguem-se umas às outras numa ordem lógica, de forma Elaborador
que cada oração entendida ajuda a compreensão orgânica da seguinte. Valdir Heitor
Barzotto
De outra parte, a oração seguinte, quando entendida, influi sobre a com-
preensão da precedente, de forma que esta se entende melhor quando
se volta a pensar nela. É assim que alcançamos a compreensão de um
texto. Por isso, toda oração esta subordinada a outra na medida em que
não só se não compreende por si mesma, mas também contribui para a
compreensão de todas as outras. Isso demonstra que não só a oração
isolada, como também o texto inteiro, é um andaime de determinações
cujas partes são interdependentes.
Para operar com a definição dada por Weinrich, vamos escrever um texto
contendo as orientações necessárias para ensinar um leitor a montar jogos que
ele não conhece e, fundamentalmente, jogar.
O objetivo desta atividade é compreender a necessidade de fornecer infor-
mações precisas quando se escreve um texto, bem como compreender que no
texto há orientações que necessariamente devem ser seguidas pelo leitor para
que se cumpra o objetivo deste texto.
Escrever orientações para a montagem de um jogo e para jogá-lo, vai
implicar em considerar a ordem das orientações, selecionar as informações
relevantes e, principalmente, pensar em um leitor que não tem o conhecimen-
to que você tem sobre o jogo.

Escrever um texto orientando alguém a desenhar um jogo em uma folha de papel e a jogar.
Lembre-se que o texto será escrito para um leitor que não conhece o jogo e que tem em
mãos uma folha em branco. Seguindo as orientações dadas ele deverá desenhar o jogo
nesta folha de forma que seja possível jogar. Após escrever o texto, procurar alguém que
se disponha a desenhar o jogo para verificar se as instruções dadas estavam corretas e
para verificar se a pessoa de fato entendeu o seu texto. Trazer o resultado na próxima aula.

O mesmo exercício pode ser feito com uma dobradura, pois assim tam-
bém é possível chamar a atenção para algo fundamental: a diferença entre falar
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ou escrever sobre um tema com elementos contextuais presentes e fazê-lo sem


estes elementos e, portanto, fornecendo-os no texto, além das orientações.
Com a atividade de escrita de um texto que orienta o leitor a fazer um
jogo, ou uma dobradura, você tem de trabalhar com o que se chama de coe-
são textual, ou seja, com os elementos lingüísticos que estabelecem as rela-
ções de significado na superfície do texto. Estas relações são importantes para
garantir o sentido global do texto.
É bem provável que você tenha feito várias retomadas das mesmas infor-
mações, algumas vezes usando da repetição e outras vezes substituindo-as
por termos e expressões de significados muito parecidos. Pode ser também
que você tenha percebido que alguns elementos do texto nem sempre precisa-
ram ser repetidos, porque eram facilmente recuperáveis pelos leitores e assim
por diante.
Além disso, você teve que respeitar uma ordem rígida de apresentação
destas informações para que o jogo pudesse ser feito e jogado e para isso usou
palavras e expressões como depois, feito isso, após esta etapa, entre outras
que indicam a ordem temporal na execução das tarefas de montagem do jogo.
Você teve de trabalhar também com o que se chama em produção de tex-
tos de informatividade, fator que, além de garantir o interesse do leitor pelo
texto, ao acrescentar informações novas, também diz respeito ao fornecimen-
to de dados suficientes para que o leitor compreenda o texto e chegue ao
resultado esperado pelo autor. Como seu objetivo era levar o leitor a montar o
jogo e conseguir jogar, o fornecimento de dados suficientes deve ter sido
crucial no seu texto, sem deixar de lado nenhuma das informações importan-
tes para a montagem do jogo de modo que pudesse ser jogado.
As operações que você efetuou são uma parte dos procedimentos de es-
crita que vão garantir que um texto faça sentido para quem lê, estabelecendo
o que se chama de coerência textual.
Este trabalho, que não é o único a ser empreendido na produção de textos,
vai se repetir praticamente na produção de qualquer texto.
Portanto, levando em consideração as operações feitas na produção do
texto anterior, leia atentamente o fragmento abaixo, que foi extraído de uma
redação escolar produzida por um aluno de oitava série, e resolva o que se
pede a seguir.

1. O livro que eu li tinha algumas palavras que


2. não eram do meu conhecimento por isso não consegui
3. entendê-lo perfeitamente.
4. O autor deste livro para mim quis dizer como é
5. uma criança viver sem pai e sem mãe no mundo
6. de hoje.
7. A personagem principal do texto foi muito
8. bem colocado pelo autor.
9. Para mim este livro foi muito produtivo
10. Pois tirei uma lição de vida que me fez olhar para o


 

11. Mundo realidade não fantasias

a) Algumas informações poderiam ter sido colocadas no texto acima para que
ele ficasse mais completo. Em quais trechos se pode perceber que estas infor-
mações fazem falta para uma melhor compreensão?

b) Escrever uma hipótese sobre os motivos que teriam levado o autor a escre-
ver sem fornecer algumas informações importantes.

Trazer textos extraídos de jornais ou revistas sobre livros e um livro que você leu para
escrever um texto sobre ele na próxima aula.

Feita a escrita do texto sobre o livro que você leu e contrapondo-a ao


trecho de texto de aluno de oitava série que você teve a oportunidade de
analisar, você deve ter percebido a importância e, ao mesmo tempo, a dificul-
dade de selecionar e inserir no texto o conjunto de informações que garante a
coesão e a coerência textual.
Agora leia as anotações abaixo e escreva um texto que as incorpore, dei-
xando bem clara a situação em que podem ter sido escritas. Para isso é preciso
estabelecer antes, principalmente, qual é o contexto em que as anotações fo-
ram produzidas e quem faz parte direta ou indiretamente da situação. Esta
atividade visa aumentar a percepção de que em qualquer texto é necessário
trabalhar com elementos que fazem com que tudo se relacione na superfície
textual e com o fornecimento dos dados do contexto.
O telefone está pago. Até amanhã religa.
Sua mãe telefonou. Pareceu não saber de nada.
Acho que não ligou antes.
Orçamento máquina de lavar: R$72,00. Tudo bem?
Isso tudo me lembra Os ratos. Já leu?
Um dia as coisas se ajeitam.
Beijão.
A concretização da escrita pedida até agora visavam fazer notar a necessi-
dade de fornecimento de informações concretas ao leitor em um texto em que
tudo se relaciona.

Sugestão de leitura:
Retome agora todos os seus textos para observar se houve uma mudança na qualidade
de seu texto e para trabalhar em alguns pontos que você julgar necessário. MACHADO, D. Os ratos.
São Paulo: ed. Ática, 1980.




Um outro modo de perceber a dificuldade de selecionar informações para


Sugestão de leitura:
fornecer em um texto e, ao mesmo tempo, pensar em um leitor que não co-
CORTAZAR, J. Histórias de nhece o assunto é escrevendo um texto orientando para fazer coisas muito
Cronópios e de fama. 1962. comuns e banais. Tente, por exemplo, fazer um texto explicando como con-
sultar um calendário, vestir uma peça de roupa, fazer um nó, tirar uma foto-
grafia, como chegar a um endereço bastante conhecido ou pense em algo
mais comum ainda. É muito interessante também transformar um exercício de
matemática em texto.


Unidade 2

Uso voluntário
de imprecisões
Organizadores
Maria Lúcio V. de
Depois de ter praticado a escrita de textos que exigem precisão em sua Oliveira Andrade
escrita, você vai se divertir com textos que usam justamente de imprecisões Neide L. Rezende
para cumprir com seus propósitos, ou que despistam o leitor, embora pare- Valdir Heitor
çam, numa primeira leitura, bastante precisos. Este procedimento de despistar Barzotto
o leitor pode ser usado para diferentes tipos textos e compreendê-lo é impor-
tante para a leitura e a escrita. Aqui você terá acesso a dois exemplos: jogos e Elaborador
literatura. Valdir Heitor
Barzotto
Textos que se sustentam justamente nas imprecisões das informações são
aqueles feitos para um tipo de jogo chamado Problemas de Lógica, conheci-
dos também pelo nome de A César o que é de César, e que podem ser encon-
trados facilmente em qualquer banca de revista.
Divirta-se com o jogo que a estudante de Letras da USP, Érika Salgado,
fez na disciplina de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa, em 2002, a
partir de um texto literário.

A SAGA DE SIEGFRIED
Há muito tempo atrás, em terras distantes e em reinos que já não existem
mais, havia um herói chamado Siegfried.
Siegfried era belo, valente e excelente guerreiro. Em suas andanças e con-
quistas adquiriu a poderosa espada de Balmung, o tesouro dos Nibelungos, o
corcel Grane, a capa de invisibilidade e a película de gordura de dragão que o
tornava invulnerável. Com tantos atributos, sendo o maior deles a bondade,
Siegfried também encontra a pessoa para quem entrega seu coração,
Kriemhilde.
São vários os personagens que fazem parte da história de Siegfried:
Kriemhilde, Hagen, Brunhilde, Átila e Gunter. Os reinos em que eles nasce-
ram foram Worms, Hunos e Islândia.
Cada um dos personagens pode ser identificado por traços de caráter
marcantes, havendo entre estes o pacato, o impetuoso, o orgulhoso, o interes-
seiro e o taciturno. No decorrer de suas vidas, estes personagens desenvolve-
ram sentimentos fortes tais como a vingança, a inveja, o ressentimento, o de-
sejo de conquista e a desconfiança. Esses personagens estão todos ligados
por algum grau de parentesco – irmão, tio, segundo marido e cunhada – à
bela Kriemhilde, que é esposa de Siegfried.
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De acordo com as informações abaixo, descubra os dados de cada perso-


nagem – reino que nasceu, parentesco, caráter e sentimentos que alimenta – e
descubra quem foi o traidor que matou Siegfried, pois nosso herói tinha uma
pequena falha em sua invulnerabilidade e foi através dela que ele foi ferido
mortalmente. A única informação que temos é que o personagem que matou
Siegfried possui um dos “7 pecados capitais” e é o personagem mais velho da
história.
1. A pessoa com caráter pacato nasceu em Worms e cultivou o sentimento de
vingança.
2. Átila, que não nasceu em Worms nem na Islândia, tem um caráter impetu-
oso.
3. Gunter, que não nasceu na Islândia nem em Hunos é interesseiro, mas não
cultiva o sentimento nem de inveja nem de conquistas.
4. A pessoa que nasceu na Islândia cultiva o sentimento de desconfiança e
tem um caráter orgulhoso.
5. Hagen não é irmão nem segundo marido, não cultiva a conquista nem o
ressentimento.
6. A pessoa de caráter pacato não é Brunhilde, que não é tia de Kriemhilde,
nem Hagen.
7. Gunter é cunhado de Siegfried, mas não é taciturno nem orgulhoso.
8. Brunhilde, que nasceu na Islândia, é irmã de Siegfried e não cultiva o sen-
timento de inveja nem de ressentimento.
9. Três personagens, dentre eles o tio, nasceram no mesmo reino.
10. O segundo marido de Kriemhilde nasceu em Hunos.

Nome Cidade de Parentesco com Caráter Sentimento que


nascimento Kriemhilde cultiva
Kriemhilde Esposa de Siegfried

Leia também qualquer livrinho da série Problemas de Lógica. Ao tentar


resolver os desafios propostos, vá anotando todos os conhecimentos de Lín-
gua Portuguesa necessários para resolver estes problemas e converse com seus
colegas e professores sobre eles.
Sugestão de leituraleitura:
Só para citar um exemplo de problemas de compreensão relacionados ao
A saga de Siegfried: O tesou-
ro dos Nibelungos. (Histó-
conhecimento de Língua Portuguesa necessário para resolver os Problemas
ria recontada por Tatiana de Lógica, considere-se a seguinte pista:
Belinky. Ilustração: Odilon Os quatro convidados eram Júlio (que não estava de vermelho), o
Moraes. São Paulo : Cia
que gosta de bolo de cenoura, o que usou roupa azul listras e o que
das Letrinhas, 1998.)
estava usando verde.


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Ao ler esta pista o leitor, às vezes, não considera que a vírgula nesta frase
substitui a conjunção aditiva e, o que gera um problema, pois o leitor conside-
ra que Júlio e o que gosta de bolo de cenoura são a mesma pessoa. Assim, o
que gosta de bolo de cenoura é lido como se fosse um aposto de Júlio. Este
problema pode estar associado à não consideração de que se trata de quatro
pessoas e mesmo da função da conjunção aditiva e.
Depois de estar familiarizado com o mecanismo dos Problemas de Lógica, procure resol-
ver um deles e, em seguida, escrever a história na ordem direta. Você também pode montar
um problema de lógica a partir de um texto qualquer. Este exercício vai proporcionar
conhecimentos sobre a escrita com uso de imprecisões.

Leia agora uma carta extraída de um livro intitulado As relações perigo-


sas, do autor francês Choderlos de Laclos.

Carta XLVIII

Do Visconde de Valmont à Presidenta de Tourvel

(Carimbada de Paris)

Depois de uma noite tempestuosa, durante a qual não preguei o olho, depois de ter
passado por um estado de agitação ardente e devoradora ao de completo aniquilamento de
todas as faculdades da alma, é que venho procurar a vosso lado, senhora, a calma de que
preciso e que, entretanto, não espero poder gozar ainda. Com efeito, a situação em que me
encontro ao vos escrever faz-me entender mais do que nunca a força irresistível do amor; sinto
dificuldade em conservar suficiente domínio sobre mim mesmo para pôr alguma ordem em
minhas idéias; e, desde já, prevejo que não terminarei esta carta sem ser forçado a interrompê-
la. E não poderei, então, esperar que compartilhareis algum dia da perturbação que sinto neste
momento? Ouso crer, entretanto, que, se a conhecêsseis bem, não seríeis inteiramente insensí-
vel a ela. Acreditai-me, senhora, a fria tranqüilidade, o sono da alma, imagem da morte, não
conduzem à felicidade; só as paixões ativas podem levar a ela; e, apesar dos tormentos que me
fazeis experimentar, posso assegurar-vos, sem receio, que sou, neste momento, mais feliz do
que vós. Em vão me acabrunhais com vossa desoladora severidade; ela não me impede de me
entregar inteiramente ao amor, e de esquecer, no delírio que ele me causa, o desespero a que me
condenais. Assim é que quero vingar-me do exílio a que me obrigastes. Nunca tive tanto
prazer em vos escrever; nunca senti nessa ocupação emoção tão doce e, no entanto, tão viva.
Tudo parece aumentar meu arrebatamento; o ar que respiro é ardente de volúpia. A própria
mesa em que escrevo, consagrada pela primeira vez a este uso, torna-se para mim o altar
sagrado do amor; como vai embelezar-se a meus olhos! Terei traçado nela o juramento de vos
amar sempre! Perdoai, suplico-vos, o meu delírio. Deveria, talvez, abandonar-me menos a
esses arrebatamentos que não partilhais; cumpre deixar-vos um instante para dissipar uma
embriaguez que faz mais forte do que eu.
Retorno a vós, senhora, e, sem dúvida, com o mesmo entusiasmo de sempre. Entretanto,
o sentimento da felicidade fugiu para longe de mim; deu lugar ao das privações cruéis. Que
adianta falar-vos de meus sentimentos, se busco em vão os meios de vos convencer? Depois
de tantos esforços reiterados, a confiança e a força me abandonam ao mesmo tempo. Se ainda




rememoro os prazeres do amor, é para sentir mais vivamente a tristeza de me ver privado
deles. Só encontro para mim em vossa indulgência, e sinto demasiado, neste momento, quanto
preciso dela para esperar obtê-la. No entanto, nunca meu amor foi mais respeitoso, nunca vos
deve ter ofendido menos; é de tal ordem, ouso dizê-lo, que a mais severa virtude não deveria
receá-lo; mas temo, eu mesmo, entreter-vos mais tempo com a dor que experimento. Certo de
que o objeto que o causa dele não compartilha, não devo, pelo menos, abusar de suas bonda-
des; e seria fazê-lo empregar mais tempo em vos traçar essa dolorosa imagem. Tomarei tão
somente o de vos suplicar que me respondais e que não duvideis da autenticidade de meus
sentimentos.

Paris, neste 30 de agosto.

Fazer um exercício oral de interpretação da carta acima, trocando impressões sobre o tema
central com seus colegas de sala.

Na apresentação do módulo, falamos na importância da contextualização


do fato que está sendo relatado, procurando fornecer informações pontuais e
necessárias para a compreensão do que você está escrevendo, sem excesso de
detalhes. Neste momento, depois de ter trabalhado com um Problema de Ló-
gica e de ter tido acesso à obra de Choderlos de Laclos, você vai fazer um
exercício em outra direção. Escreva um texto em que as informações dadas
levem o leitor a entender outra coisa.
Em seguida você vai trocar os textos com seus colegas e adaptar as per-
guntas sugeridas na apresentação para verificar se o texto está bem escrito
dentro do propósito com que está sendo produzido nesta atividade. Ou seja:

- As informações colocadas no texto foram suficientes para despistar o leitor


sem comprometer a eficácia do texto?
- As informações colocadas no texto eram necessárias para despistar o leitor?
- Havia no texto elementos que permitiam ao leitor chegar na outra leitura
possível, e pretendida, sem prejudicar o efeito de surpreender o leitor?


Unidade 3

Informações complementares
aos textos lidos
Organizadores
Maria Lúcio V. de
Além de reconhecer o modo como os textos estão escritos, é importante Oliveira Andrade
descobrir nos próprios textos quais são os conhecimentos que complementam
Neide L. Rezende
a compreensão do assunto. A leitura de textos sobre a escolha da profissão
deverá prestar-se a uma reflexão sobre estas duas formas de explorar um tex- Valdir Heitor
to: compreendê-lo em sua estrutura, estudando-o enquanto texto e, partindo Barzotto
dele, estudar o assunto que ele traz. Elaborador
Para entrar no assunto leia a poesia escrita por uma aluna de terceira série Valdir Heitor
da EE Keizo Ishihara, em São Paulo: Barzotto


Que profissão ser?


(Laura Riolfi Barzotto)

Tem gente que quer ser cavaleiro,


tem gente que quer ser costureiro,
No mundo há experimentadores comilões,
há também domadores de leões

Há muitas profissões,
todas a sua escolha
há muitas opções

Se você quer bailar,


seja bailarino
Se você quer dançar,
seja dançarino.

Mas todos ficam em


dúvida,
O que vou fazer?
O que vou escolher?

Você pode ser,


um jornalista,
mas pra valer.

Se um poeta você
quer ser é só
começar é só
escrever, inventar e rimar.

Você pode ser estilista,


Você pode ser artista
e a cor escolher,
dourado ou prateado.

Se você quer cantar,


é só tentar, é só
começar.

Bom, afinal
eu não sei o que eu
vou ser, quando crescer,
Você pode me ajudar
a escolher?


 

Agora leia os dois textos a seguir e resolva os exercícios propostos.

A escolha decisiva

Nas próximas semanas, cerca de 1,8 milhões de jovens vão escolher


uma profissão e dar o primeiro passo rumo a ela disputando uma vaga
no vestibular. Apesar da proximidade das inscrições, especialistas acre-
ditam que dois entre três vestibulandos ainda estão em dúvida. Muitos
vão acabar se inscrevendo em cursos diferentes em cada concurso, dei-
xando o destino dar a última palavra. Com 17, 18 anos de idade, esta é
certamente a decisão mais difícil que já tomaram na vida. Recém-saída
da adolescência, a maioria carece de segurança emocional e vivência.
Sempre foi assim, diga-se de passagem. Mas, nos últimos anos, fazer
essa opção vem ficando mais difícil por diversos motivos. O número de
cursos, por exemplo, aumentou sensivelmente. Nos anos 70, as opções
eram poucas. Quem gostava de ciências exatas ia para engenharia ou
arquitetura, a turma da biologia ficava entre medicina e odontologia e,
em humanas, podia-se seguir Direito, economia, jornalismo ou pedago-
gia. Hoje, as 1.705 instituições de ensino superior registradas no MEC
oferecem 350 cursos – de comércio exterior a quiroprática, de enologia
a citologia, os caminhos são muitos. (Aida Veiga, Revista Época, nº.
276, São Paulo: Ed. Globo, 01/09/03, p. 85)

1. Anote abaixo todas as palavras e expressões que retomam a palavra jovens


usada na primeira linha do texto.

2. O que você notou?

3. Por que não foi necessário escrever no texto, no segundo período, original
as expressões incluídas aqui em destaque.

Apesar da proximidade das inscrições para o vestibular, especialis-


tas acreditam que dois entre três vestibulandos ainda estão em dúvida
quanto à profissão que vão escolher.




4. A que se refere a palavra assim, no sexto período do texto?

5. A que se refere a essa opção, no sétimo período?

6. Note que o leitor encontra a referência da expressão diversos motivos so-


mente depois que ela aparece no texto. Aponte esta referência. Em outras
palavras, quais são os motivos apontados para as dificuldades em escolher
a profissão por parte dos jovens?

7. Você concorda que o desenvolvimento da frase-núcleo com que inicia o


parágrafo na página anterior foi desenvolvido em torno de duas idéias, sen-
do a primeira centrada no fato de a escolha da profissão por parte dos jo-
vens ser feita praticamente no momento das inscrições, ou mesmo pela
aprovação ou não no vestibular, e a segunda centrada nas dificuldades ofe-
recidas pelo aumento de opções para fazer esta escolha? Como as duas
idéias estão divididas no interior do parágrafo?

Dez passos rumo ao sucesso

Está se sentindo angustiado por ter de definir a profissão agora, às


vésperas do vestibular? Pois nós temos uma boa notícia para você: o
destino escolhido nesse momento pode ser alterado a qualquer hora.
Especialistas em orientação profissional são unânimes em afirmar que
o ingresso em determinado curso de graduação não é mais uma deci-
são definitiva. Por um motivo bastante simples: “A idéia da educação
continuada muda bastante o peso das escolhas, já que a perspectiva é
continuar a estudar sempre, para ir se aperfeiçoando”, diz Maria da
Conceição Uvaldo, psicóloga do Serviço de Orientação Profissional
do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Assim,
é possível corrigir a rota profissional no decorrer da vida. Com a esco-


 

lha do curso universitário, você está dando apenas a largada em seu


processo de profissionalização. Ele começa no vestibular e deve ir além
do período universitário, com cursos de pós-graduação.” (Guia do Es-
tudante. São Paulo: ed. Abril, 2003.)
Converse em sala sobre a função desempenhada no texto pelas palavras
definir; alterado, escolhido, ingresso, decisão, escolhas, corrigir, escolha, e
escreva as suas conclusões a respeito da produção de um texto.

Trazer para a aula publicações sobre profissões e escrever um texto orientando alguém a
buscar informações sobre profissões, universidades, possibilidades de trabalho, função
social da profissão. Para construir um referencial que permita a reflexão sobre as escolhas
possíveis, será importante reunir material sobre os cursos e as universidades.
Escrever também uma carta e enviar a três universidades para obter informações sobre
os cursos e o processo de seleção.

Lembre-se que a carta precisa de alguns elementos contextualizadores como


local e data e a indicação do destinatário. No corpo do texto é importante,
neste caso, você se apresentar, pois a informação de que está terminando o
ensino médio e se preparando para o vestibular é um elemento persuasivo
para que a Universidade realmente envie as informações, já que você é um
candidato em potencial.
Caso você já tenha se decidido por um curso ou uma área, é importante
apontá-la para que a Universidade envie para você informações mais preci-
sas. É comum as universidades enviarem o manual do candidato do ano em
curso ou do ano anterior e, em alguns casos, inclusive provas de anos anterio-
res. Portanto, não deixe de pedir.
Vale perguntar também sobre o custo de vida na cidade, as possibilidades
de moradia e de trabalho. Embora estas informações possam estar no manual,
não é demais perguntar na carta, pois pode motivar os administradores a refle-
tirem sobre o assunto.
Para concluir este módulo, segue um trecho de um romance para você
tentar verificar o que se pode compreender com as informações contidas no
texto aqui transcrito e que outras informações estão anunciadas no texto, mas
que você precisa buscar em outro lugar.

Afligia-se e irritava-se assim com essas perguntas experimentando


também um certo prazer. Aliás, essas perguntas não eram de maneira
nenhuma novas, nem repentinas, eram já velhas, dolorosas, antigas.
Havia já algum tempo que vinham ferindo-lhe e corroendo-lhe o cora-
ção. Muito; havia já muito tempo que se enraizara e crescera nele toda
essa tristeza atual; nos últimos tempos se acumularam e reconcentraram,
assumindo a forma de uma horrível, bárbara e fantástica interrogação
que lhe torturava o coração e a alma, reclamando uma resposta urgente.




Agora, aquela carta da mãe viera também feri-lo como um raio. Era
evidente que agora não se tratava de ficar triste, de sofrer passivamen-
te, fazendo apenas apreciações acerca da insolubilidade daqueles pro-
blemas, mas de fazer impreterivelmente qualquer coisa, imediatamen-
te, o mais depressa possível. Fosse o que fosse, era preciso tomar uma
decisão ou... (DOSTOIÉVSKI, F. M. Crime e Castigo, São Paulo: Abril
Cultural, 1979, p. 56)
1. O que é possível saber sobre o personagem de que trata o texto?
2. Quais conhecimentos são importantes para saber do que se trata o trecho?
Que interrogações afligem o personagem e qual o conteúdo da carta de
sua mãe?
3. Procure estas informações no livro Crime e castigo.
É hora de tirar algumas conclusões sobre o processo de produção escrita
que você vivenciou neste módulo. Portanto, você precisa:

Retomar todos os textos escritos até o momento, verificar o que foi aprendido e escrever
um texto explicando o seu progresso e apontando os aspectos que você ainda precisa
melhorar.
Escolher um dos textos escritos até o momento em sala ou fora dela e fazer mais uma
reescrita com a ajuda de um colega e de seu professor.

Procure observar se você:


- sempre colocou título em seus trabalhos;
- colocou todas as informações necessárias para o leitor compreender o que
você pretendia;
- se os elementos da superfície textual estão bem relacionados;
- se você manteve uma boa relação entre as frases, de modo que uma facilite
a compreensão da outra.

Bibliografia
Alguns dos livros que serviram de suporte para a escrita deste módulo
estão relacionados abaixo. Embora eles sejam técnicos e lidos e utilizados
mais freqüentemente por profissionais da área de Letras para refletir sobre a
escrita de textos, você também pode se aventurar na leitura de alguns deles. É
bem provável que você tire proveito para refletir sobre o seu próprio texto e
sobre a escrita em geral, concentrando a sua leitura, principalmente nos exem-
plos de redações apresentadas e analisadas. Peça também a seu professor a
indicação de outros livros que ele conheça sobre redação e que você possa
usar para estudar sozinho.

COSTA VAL, M. da G. Redação e Textualidade. São Paulo: Martins Fontes,


1991.


 

GHILARDI, M. I. et al. Redação para o Vestibular – Propostas, comentários,


redações e exercícios. Campinas: Editora Alínea, 1998.
KOCH, I. G. A coesão Textual. São Paulo: Contexto, 1989.
KOCH, I. G. V. A Coerência Textual: Contexto, 1990.
LARA, G. M. P. – Autocorreção e Auto-avaliação na produção de textos esco-
lares – Relato crítico de uma experiência. Campo Grande: Editora da UFMS,
1999.
PÉCORA, A. Problemas de Redação. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

Sobre o autor
Prof. Dr. Valdir Heitor Barzotto
O Prof. Valdir Heitor Barzotto é Doutor em Lingüística pela Unicamp e
Professor do Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Compara-
da da Faculdade de Educação da USP nas disciplinas de Metodologia do En-
sino de Língua Portuguesa, para os cursos de Letras e Pedagogia.
É também professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da
FEUSP e do Programa de Pós-graduação em Lingüística e Língua Portuguesa
da UNESP de Araraquara. Participa de agremiações científicas na área dos
Estudos da Linguagem, entre as quais, a Associação Nacional de Pesquisa na
Graduação em Letras – ANPGL, da qual é membro fundador e presidente.
Organizou o livro Estado de Leitura. Ed. Mercado de Letras/ALB e co-
organizou Mídia, Educação e Leitura. Ed. Anhembi Morumbi/ALB e Nas Te-
las da Mídia. Ed. Átomo/ALB.


Anotações
Anotações
Anotações
Anotações
Anotações
Redação

Organizadores
Maria Lúcia V. de Oliveira Andrade
Neide Luzia de Rezende
Valdir Heitor Barzotto

Elaborador
Valdir Heitor Barzotto
2
módulo

Nome do Aluno
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador: Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP
Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor: Adolpho José Melfi
Pró-Reitora de Graduação
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE


Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área
Biologia:
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori
Física:
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta
Geografia:
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins
História:
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer
Língua Inglesa:
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór
Língua Portuguesa:
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto
Matemática:
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro
Química:
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan
Produção Editorial
Dreampix Comunicação
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro
Cartas ao
Aluno
Carta da
Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão.
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer
situação de vida e de trabalho.
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor
para o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.


Pró-Reitora de Graduação.
Carta da
Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno,
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa
da educação básica.
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente
construído para esse fim.
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva


Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Apresentação
da área
Todo o material está pensado para propiciar a você conhecimentos para
reconhecer e empregar recursos que conferem qualidades a um texto. Tam-
bém serão estudadas as estratégias usadas por diferentes autores para escre-
ver, visando indicar ao leitor uma determinada compreensão. Para isso serão
feitos diversos exercícios de leitura e análise de textos.
Espera-se que este trabalho proporcione a você condições para lançar mão
de estratégias variadas em seus textos para levar o seu leitor à compreensão
pretendida. É para este fim que estão programadas as atividades de escrita e
reescrita integral ou parcial de textos.
Além dos temas propostos para redação, um estará presente com destaque
em todos os módulos. Trata-se de uma discussão sobre as carreiras universitá-
rias que se pode seguir. Este tema visa proporcionar oportunidades para refle-
tir sobre a escolha da profissão, a formação universitária e sua relação com a
sociedade. Você poderá contar com seus professores para clarear os modos de
trilhar uma carreira, obtendo informações sobre possibilidades de trabalho e
de especialização que as escolhas profissionais proporcionam.
Apresentação
do módulo
Neste módulo você terá atividades que permitem dar continuidade ao
aprendizado da escrita iniciado no módulo anterior. Lembre-se que os dois
principais objetivos do Módulo 1, de Redação, eram:
a) destacar a necessidade de se pensar o leitor como alguém que não tem o
mesmo conhecimento que o autor sobre o assunto do texto e, portanto,
precisa receber as informações necessárias para compreendê-lo;
b) chamar a atenção para a existência de um núcleo central nos textos que
precisa ser reconhecido pelo leitor para compreender o texto lido.

De certo modo, no Módulo 1 a atenção estava voltada para o texto como


um todo. No Módulo 2 você será chamado a trabalhar constantemente com
fragmentos de textos.
Assim, este Módulo traz outros objetivos que serão acrescentados aos an-
teriores. Você vai obter conhecimentos e fará exercícios que visam ensinar a
verificar:
a) em que medida as partes de um texto são adequadas para manter sua unida-
de de significado;
b) se todas as partes do texto estão relacionadas e cumprem com a função de
conduzir o leitor a uma determinada compreensão;
c) como um texto pode ser incorporado em outro de forma adequada.
Guia de estudos
Organizadores
Maria Lúcia V. de
Oliveira Andrade
No módulo 1 de Redação, insistimos sobre a importância da prática da Neide Luzia de
escrita para se atingir um bom nível de escrita. Para orientar você para os Rezende
estudos, as sugestões dadas foram as seguintes: Valdir Heitor
a) abrir um espaço para a escrita em seu cotidiano; Barzotto

b) ter sempre um caderno e uma caneta em mãos para anotar os fatos que Elaborador
você presencia e suas apreciações sobre eles; Valdir Heitor
Barzotto
c) eleger dois colegas para ler seus textos, colocando à prova o que você
escreve;
d) apresentar as dúvidas que você teve ao estudar, juntamente com pro-
postas de solução, por escrito ao seu professor.

Se você ainda não incorporou alguma destas sugestões, faça isso agora. É muito
importante que a prática da escrita faça parte das suas atividades diárias, indo além
da escrita obrigatória da sala de aula.

Agora vamos insistir também na importância da leitura, propondo uma


superação de dois modos de compreender a relação da leitura com a escrita.
O primeiro deles está ligado ao entendimento comum de que quem lê
bastante escreve melhor do que quem lê pouco. É preciso saber que a relação
entre leitura e escrita não é tão automática assim.
O argumento mais usado para negar essa afirmação comum é que, se
fosse assim, as pessoas se tornariam boas escritoras de textos do mesmo tipo
daqueles que elas lêem. Ou seja, um leitor de romance policial escreveria bem
romances policiais, um leitor de jornal escreveria bem textos jornalísticos etc...
Para poder dar um passo a frente sobre a importância da leitura e sua
influência na escrita, convém abandonar esse raciocínio que propõe uma rela-
ção mágica e automática entre ler e escrever.
Ler pode ajudar a ter informações, a evitar a repetição de opiniões muito
conhecidas, a reconhecer as tendências políticas dos textos ou dos veículos
de comunicação etc., mas a transposição deste conhecimento para um texto


de forma adequada exige habilidades diferentes daquelas exigidas para a com-


preensão de textos.
A leitura pode ajudar no aprendizado da escrita, mas, para isso, além de
você reconhecer o conteúdo do que lê, precisa tornar-se um curioso sobre o
processo de escrita. É importante que, depois de entender o texto (às vezes,
mesmo durante o entendimento), você procure retornar sobre algumas passa-
gens ou sobre alguns episódios e se perguntar como foi que o autor fez para
causar esse ou aquele efeito.
Lembra-se da carta extraída do livro Relações perigosas, de Choderlos de
Laclos? É importante voltar a ela para verificar que recursos o autor usou na
carta atribuída ao personagem Visconde de Valmont e endereçada à Presidenta
de Tourvel, de modo que a real situação em que ele se encontrava ao escrever
ficasse encoberta, sem que sua leitora percebesse.
É preciso desenvolver esta atitude investigativa sobre os textos para com-
preender o processo de escrita. A compreensão das estratégias usadas pelos
autores e a observação dos recursos lingüísticos utilizados, bem como o modo
de organizá-los, podem dar mais consciência no uso da língua ao escrever.
Outro aspecto que precisa ser superado é aquele relacionado ao tempo
para a leitura. Um argumento muito repetido para escapar da leitura é o de que
não se tem tempo para ler.
Quando se fala em tempo para ler, talvez se esteja pensando em um tipo
de leitura que conta com o silêncio, o isolamento, o conforto etc. Quando isso
é possível é muito importante, mas também é possível ler no ônibus, numa
fila, numa sala de espera. Uma leitura em um ambiente desses pode não ser
suficiente. Aliás, uma única leitura de um texto, em geral, não é suficiente. No
entanto, ler um livro em silêncio depois de tê-lo manuseado em uma outra
situação é diferente, já é um segundo contato.
Portanto, do mesmo modo que já recomendamos que você abra um espa-
ço para a escrita no seu cotidiano, sugerimos agora um espaço para a leitura.
Tenha sempre um livro ao alcance das mãos para ler em todas as ocasiões
possíveis. De preferência escolha aqueles livros recomendados pelos vestibu-
lares que você pretende fazer – e procure estabelecer conversas com seus
colegas sobre o que você está lendo.
Continue trabalhando com os dois colegas que você elegeu para serem os
leitores de seus textos e faça com que eles sejam também os seus parceiros
nas conversas sobre as leituras que você está fazendo.
Quando você e seus colegas trocarem os textos durante o trabalho com
este módulo, façam as perguntas colocadas no módulo anterior e acrescentem
as seguintes:
a) Em que medida as partes do texto estão adequadas para manter a unidade
do texto?
b) Todas as partes do texto estão relacionadas e participam com a mesma in-
tensidade na condução do leitor à compreensão do texto?


Unidade 1

Reescrever partes
específicas
Organizadores
Maria Lúcia V. de
Oliveira Andrade
Na apresentação da área de Redação, temos dito que o material está pen- Neide Luzia de
sado para proporcionar a você conhecimentos para reconhecer e empregar Rezende
recursos que conferem qualidades a um texto. No final, indicamos como uma Valdir Heitor
possível leitura o livro Redação e textualidade, de Maria da Graça da Costa Barzotto
Val. A importância da leitura deste livro está no fato de que, além de analisar
alguns tipos de falhas em redações escritas por vestibulandos, a autora apre- Elaborador
senta e analisa redações de vestibular com bom padrão de textualidade. Valdir Heitor
Barzotto
Afinal, o que é um bom nível de escrita? O que é um texto com bom
padrão de textualidade? Embora essas perguntas devam acompanhar toda a
trajetória de quem escreve, estamos apostando que até o final deste curso
estejam claros alguns critérios que permitam a você avaliar seus próprios tex-
tos e obter mais clareza sobre as suas condições para escrevê-los. Uma parte
dos critérios que permitem ensaiar respostas a essas perguntas estava presente
no módulo anterior, em especial nos exercícios que pediam que você escre-
vesse tentando fornecer ao leitor todas as informações necessárias para ele
entender um texto e naqueles que pediam para você apontar informações que
faltavam em alguns textos.
Para usar os termos técnicos dos estudos textuais, podemos dizer que
estamos trabalhando com alguns requisitos fundamentais para que uma pro-
dução escrita seja considerada de boa qualidade, tais como a continuidade, a
progressão, a suficiência de dados etc. Foi com esses elementos, entre outros,
que a autora citada acima trabalhou em sua pesquisa, analisando redações e
apresentando algumas que atendiam a esses requisitos, sendo por isso consi-
deradas boas redações. Como você está vivenciando a prática da escrita, é
provável que a leitura de livros técnicos não apresente grandes obstáculos à
sua compreensão.
Até o final deste curso, em Redação continuaremos a estudar as estratégi-
as usadas por diferentes autores para escrever e tentar convencer seu leitor.
Continuaremos também a reflexão sobre as carreiras universitárias. Mesmo
que você já tenha feito sua escolha, vai ser importante você entrar na Univer-
sidade com uma firme reflexão sobre o seu papel na sociedade enquanto pro-
fissional. Também será muito importante você ter clareza sobre a contribuição
que cada profissão pode dar à humanidade. Como a universidade é um local
de produção de conhecimento, é importante refletir como cada área pode dar
sua contribuição.


Leia as definições de coerência e de coerência local extraídas do livro


A coerência textual, escrito por Ingedore Vilaça Koch e Luiz Carlos Travaglia
em 1991. Estas noções são bastante utilizadas no campo dos estudos textuais,
que é uma parte dos estudos realizados na área de Lingüística.

COERÊNCIA
a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido
para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários,
devendo, portanto, ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada
à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o
receptor tem para calcular o sentido deste texto. (pág. 21)
COERÊNCIA LOCAL
A coerência local advém do bom uso dos elementos da língua em seqüências
menores, para expressar sentidos que possibilitem realizar uma intenção
comunicativa. (pág. 35)

Com base nos dois trechos acima, resolva o exercício que foi montado a
partir do exposto na página 36 do livro A coerência textual.

O texto a seguir, produzido em 1985 por um candidato ao vestibular da


Universidade Federal de Uberlândia (UFU), contém algumas incoerências lo-
cais. Assinale a única alternativa que NÃO apresenta uma dessas incoerências:

Felicidade é um viver como aprendiz. É retirar de cada fase da vida


uma experiência significativa para o alcance de nossos ideais.

É basear-se na simplicidade do caráter ao executar problemas com-


plexos; ser catarse permanente de doação sincera e espontânea.

A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obten-


ção, faz-se de pequenos fragmentos captados de sensíveis expressões
vivenciais. Cada dia traz inserido na sua forma, um momento cujo si-
lêncio sussurra do interior de cada vivente chamando-o para a refle-
xão de um episódio feliz.

a) O uso inadequado das palavras “executar” e “catarse”, respectivamente,


em relação com “problemas” e “de doação sincera e espontânea” prejudica a
recuperação do sentido deste texto por parte do leitor, que terá de fazer um
grande esforço para compreendê-lo.
b) O uso do verbo “ser” no infinitivo, ao contrário dos outros verbos no pre-
sente, pode criar expectativa de uma continuação da seqüência iniciada após
o ponto e vírgula. Não sendo satisfeita a expectativa criada, o trabalho de
interpretação fica prejudicado.
c) O uso de uma oração adjetiva introduzida por “onde” é totalmente inade-
quado nesta seqüência. Ficaria correto se o autor escrevesse do seguinte modo:
“A felicidade, para cuja obtenção não existem técnicas científicas, faz-se de
pequenos fragmentos...”


 

d) O uso da preposição “de” após “reflexão” também pode criar incoerência


local, deixando o receptor confuso quanto ao que o produtor pretendia dizer,
pois pode dar a idéia de reflexo físico de algo abstrato. A preposição correta
para este caso é “sobre”.
e) O uso do verbo “ser” no presente deveria ter sido repetido obrigatoriamen-
te no terceiro parágrafo para fazer uma boa articulação com os dois parágra-
fos anteriores. Teria ficado correto se o autor tivesse escrito assim: “A felicida-
de, (...), é feita de pequenos fragmentos captados de sensíveis expressões
vivenciais.”

Agora, leia os trechos 1 e 2, que foram adaptados a partir de produções


escritas por estudantes de quinta e sétima série, para identificar e descrever os
problemas encontrados e em seguida apresentar outra proposta de escrita.

Trecho 1
Todos sabemos que votar é um marco em nossas vidas.
As eleições são de quatro em quatro anos.
Portanto temos o dever de votar para a segurança do nosso povo;
mas também existem os presidentes que roubam. Eles falam que fazem,
mas não cumprem.
No meio da eleição, quando as pessoas já votaram, eles debatem se
haverá segundo turno.
Pois todo dia devemos ver em quem vamos votar, para votar consciente
e fazer o bem para o Brasil.

Descrição dos problemas:

Proposta de reescrita:

Trecho 2
Desde o começo do mundo sempre houve alguém que mandasse nas
coisas, portanto aqui no Brasil não é diferente, temos o Presidente que




manda nos governadores, os governadores nos prefeitos... e assim vai


indo. Mas na verdade ninguém manda em ninguém, pois se fosse assim
não seria tão mal organizado, portanto o Brasil é um país de terceiro
mundo, isto é, de pobreza, miséria e outras coisas, mas isso tudo graças
aos antigos políticos corruptos, ladrões e de mal com a vida. Mas tam-
bém havia alguns políticos meio honestos, mas nem assim deram jeito
no Brasil.
Descrição dos problemas:

Proposta de reescrita:

Agora leia com atenção o trecho 3, a seguir:


Os miseráveis
Os miseráveis conta a história de Jean Valjean, que foi condenado
por roubar um pão para sua família faminta.
Jean Valjean precisou trocar de identidade para fugir de seu perse-
guidor, o policial Javert.
Anos depois, Jean Valjean tornou-se prefeito da cidade de Digne,
onde conheceu Fantine, uma moça muito pobre, que não podia susten-
tar a própria filha Cosette, dando-a aos Thénardier.
Jean Valjean, atendendo ao último pedido de Fantine, que adoeceu
e por fim morreu, resgatou a filha dela da miséria e a trouxe para morar
com ele.
Marius se apaixonou por Cosette, então eles viveram um longo ro-
mance, sem que Jean desconfiasse, até que por fim se casaram.
Marius não sabia, mas foi Jean quem lhe salvou a vida nas barrica-
das, então sabendo por Thénardier que Jean Valjean era ladrão e as-
sassino, tentou afastá-lo de Cosette.
Mas quando Marius ficou sabendo a verdade sobre Jean Valjean, foi
buscá-lo para morar com ele e Cosette.


 

Mas como Jean Valjean já estava muito doente, infelizmente acabou


morrendo.
Seu corpo foi enterrado em cova rasa e em sua pedra foram escritos
quatro versos...

Relembrando os exercícios feitos no Módulo 1, especialmente na Unida-


de 1 – Usos de informações precisas –, responda:
a) Em que passagens do texto percebe-se que faltam informações importantes
para a compreensão do leitor e para estabelecer uma boa relação entre todas
as partes do texto?

b) Qual seria a solução?

c) Reescreva o trecho que compromete a compreensão e a articulação entre as


partes, solucionando o problema.


Unidade 2

Compreender partes
específicas
Organizadores
Maria Lúcia V. de
Oliveira Andrade

Na apresentação deste módulo recuperamos um dos objetivos que havía- Neide Luzia de
Rezende
mos colocado para o trabalho realizado com os exercícios de leitura e de
escrita no módulo anterior. Tratava-se de enfatizar a existência de um núcleo Valdir Heitor
central nos textos que precisa ser reconhecido pelo leitor para compreender o Barzotto
texto lido. Naquele momento falávamos em textos que fornecem instruções Elaborador
para montar um jogo de modo que se possa jogá-lo. Outro exemplo de texto
Valdir Heitor
desta natureza é o Manual de instruções, que acompanha qualquer eletrodo- Barzotto
méstico. Neste tipo de texto, ou o leitor reconhece e aceita as instruções, ou
não terá o resultado final que é o jogo em condições de ser jogado ou o
eletrodoméstico montado em condições de funcionamento.
Neste momento vamos trabalhar com outro tipo de texto que também exi-
ge o reconhecimento de uma interpretação obrigatória para que se cumpra o
seu efeito: os textos humorísticos. De acordo com Sírio Possenti (1998:52) os
textos humorísticos fornecem “a possibilidade de controle até público da in-
terpretação. A possibilidade de controle, no caso, é a apreensão do efeito de
humor: se tal efeito não se produz, não é ‘sacado’, pode-se ter razoável certe-
za de que o texto não foi interpretado segundo ele mesmo o demanda”.
No Guia de estudos deste módulo, dissemos que a leitura pode ajudar no
aprendizado da escrita, mas que, para isso, é importante que o leitor se dete-
nha por mais tempo sobre algumas passagens do texto para verificar quais
foram os recursos usados e as estratégias de organização destes recursos.
Como exercício de observação e análise de partes de textos, você vai se
divertir e investigar as estratégias usadas na composição de textos humorísti-
cos. Este tipo de texto é muito interessante para se verificar a importância de
algumas partes de textos.
Para compreender uma piada, por exemplo, é preciso identificar com pre-
cisão o motivo do riso, ou seja, o trecho do texto que apresenta o que pode ser
chamado de “gatilho” do riso. O gatilho é o ponto do texto que “dispara” o
efeito de humor.
Leia os textos apresentados a seguir, todos analisados por Possenti (1998),
e procure detectar o ponto exato do texto que provoca o efeito de humor e
explicar o motivo do riso causado por eles, considerando os sentidos que
estão envolvidos.


— Então o senhor sofre de artrite?


— É claro! O que o senhor queria? Que eu desfrutasse de artrite?,
Que eu usufruísse artrite? Que eu me beneficiasse de artrite?

— Desculpe, querida, mas eu tenho a impressão de que você quer se


casar comigo só porque eu herdei uma fortuna do meu tio.
— Imagina, meu bem! Eu me casaria com você mesmo que tivesse
herdado a fortuna de outro parente qualquer!

Um conhecido especulador da bolsa, também banqueiro, caminhava


com um amigo na principal avenida de Viena. Quando passaram por um
café, disse: — Vamos entrar e tomar alguma coisa? Seu amigo o conteve:
— Mas, Herr Hofrat, o lugar está cheio de gente!

Foi quando chegou o amigo do Manuel e o convidou:


— Ó gajo! Estou a lhe convidaire para a festa de quinze anos de
minha filha.
Sugestões de lei- — Está bem, patrício. Eu irei. Mas ficarei no máximo uns dois anos...
tura
Freud, S. Os chistes e sua
relação com o inconsci-
ente. Rio de Janeiro:
Imago, 1905.
Possenti, S. Os humores
da Língua – Análises lin-
güísticas de piadas.
Campinas: Mercado de Lembre-se de outras piadas que você conhece, conte-as a seus colegas, e procure
Letras, 1998. identificar junto com eles o ponto específico do texto responsável pelo efeito de humor.


 

A seguir você terá um exemplo de exploração de texto extraído do vesti-


bular da Fuvest, 2004. Leia o texto e responda as três questões feitas sobre ele
para o concurso.
Depois, procure entender sobre o que elas incidem, se é sobre o texto
como um todo ou se é sobre alguma parte específica.
Olhar para o céu noturno é quase um privilégio em nossa atribula-
da e iluminada vida moderna. (...) Companhias de turismo deveriam
criar “excursões noturnas”, em que grupos de pessoas são transporta-
dos até pontos estratégicos para serem instruídos por um astrônomo
sobre as maravilhas do céu noturno. Seria o nascimento do “turismo
astronômico”, que completaria perfeitamente o novo turismo ecológi-
co. E por que não?
Turismo astronômico ou não, talvez a primeira impressão ao obser-
varmos o céu noturno seja uma enorme sensação de paz, de perma-
nência, de profunda ausência de movimento, fora um eventual avião ou
mesmo um satélite distante (uma estrela que se move!). Vemos incontáveis
estrelas, emitindo sua radiação eletromagnética, perfeitamente indife-
rentes às atribulações humanas.
Essa visão pacata dos céus é completamente diferente da visão de
um astrofísico moderno. As inocentes estrelas são verdadeiras forna-
lhas nucleares, produzindo uma quantidade enorme de energia a cada
segundo. A morte de uma estrela modesta como o Sol, por exemplo, virá
acompanhada de uma explosão que chegará até nossa vizinhança, trans-
formando tudo o que encontrar pela frente em poeira cósmica. (O leitor
não precisa se preocupar muito. O sol ainda produzirá energia “docil-
mente” por mais uns 5 milhões de anos.)
(Marcelo Gleiser, Retalhos cósmicos)

1. O autor considera a possibilidade de se olhar para o céu noturno a partir


de duas distintas perspectivas, que se evidenciam no confronto das expressões:
a) “maravilhas do céu noturno” / “sensação de paz”.
b) “instruídos por um astrônomo” / “visão de um mundo astrofísico”.
c) “radiação eletromagnética” / “ quantidade enorme de energia”.
d) “poeira cósmica” / visão de um astrofísico”.
e) “ausência de movimento” / “ fornalhas nucleares”

2. Considere as seguintes afirmações:


I. Na primeira frase do texto, os termos “atribulada” e “iluminada” caracte-
rizam dois aspectos contraditórios e inconciliáveis do que o autor chama
de “vida moderna”.
II. No segundo parágrafo, o sentido da expressão “perfeitamente indiferente
às atribulações humanas” indica que já se desfez aquela “primeira impres-
são” e desapareceu a sensação de paz”.
III. No terceiro parágrafo, a expressão “estrela modesta”, referente ao Sol,
implica uma avaliação que vai além das impressões ou sensações de um
observador comum.




Está correto apenas o que se afirma em


a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.

3. De acordo com o texto, as estrelas


a) são consideradas “maravilhas do céu noturno” pelos observadores lei-
gos, mas não pelos astrônomos.
b) Possibilitam uma “visão pacata dos céus”, impressão que pode ser des-
feita pelas instruções de um astrônomo.
c) Produzem, no observador leigo, um efeito encantatório, em razão de
serem “verdadeiras fornalhas nucleares”.
d) Promovem um espetáculo noturno tão grandioso, que os moradores das
cidades modernas se sentem privilegiados.
e) Confundem-se, por vezes, com um avião ou um satélite, por se movi-
mentarem do mesmo modo que estes.

4. Sobre o que incide cada uma das questões acima?


Questão 1

Questão 2

Questão 3

Agora escreva um parágrafo explicando qual é o assunto do texto.


Unidade 3

Relacionar partes
específicas de textos diferentes
Organizadores
Maria Lúcia V. de
Oliveira Andrade
Freqüentemente somos solicitados a escrever textos sobre outros textos. Neide Luzia de
Muitos vestibulares fornecem um texto completo ou alguns trechos para o Rezende
candidato tomar por base ao fazer a sua redação. Lembre-se de que estes Valdir Heitor
textos devem ser tomados como base, mas não podem ser copiados ou trans- Barzotto
postos literalmente para a redação, embora possam ser citados.
Elaborador
Veja, por exemplo, a recomendação presente na prova de Interpretação de Valdir Heitor
Textos do vestibular da Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT), Barzotto
de 2004, logo após o texto que o candidato deve interpretar:

Propomos a seguir cinco questões de compreensão do texto. Ao res-


ponder você pode estabelecer relações com outros textos, bem como
com experiências de vida. As questões devem ser respondidas de forma
discursiva, não cabendo transposição de trechos do texto sem o devido
respeito às regras de citação.
Não há impedimentos para que um texto seja utilizado em outro. Mas há
alguns preceitos que devem ser respeitados. Caso queira aproveitar em sua
redação um fragmento do texto fornecido para a prova de redação, é reco-
mendável que você selecione um trecho não muito grande e que seja impor-
tante, que seja representativo do ponto de vista defendido no texto e que você
queira ressaltar ou refutar.
É bom dizer que em qualquer situação de produção de textos em sua vida
você pode se servir de outros textos. Lembre-se, no entanto, de que faz parte
do comportamento ético frente às idéias de outros autores a indicação da fon-
te de onde você retirou o trecho incorporado em seu texto.
Para uma redação de vestibular, é suficiente o uso de dois recursos de
citação, que podem ser usados separados ou concomitantemente. Estes recur-
sos consistem no uso de expressões como segundo fulano, de acordo com o
autor do texto x, e no uso de aspas quando o trecho que você pretende incor-
porar à sua redação for copiado tal como está no texto fornecido na prova.
Caso você faça uma paráfrase do texto que vai utilizar, o uso das aspas é
dispensado, bastando o uso das expressões que avisam de quem é a idéia.
Estes são os tipos mais comuns de citação e basta fazer isso na produção
de um texto para não causar a sensação de que você está se apropriando
indevidamente da idéia de outro autor sem mencionar.


Leia os três trechos abaixo e responda as questões que estão logo em seguida.
...Seja por falta de emprego, seja pela flexibilização dos limites rígi-
dos que definiam as funções femininas e masculinas até pouco tempo
atrás, cada vez mais homens são atraídos pelas profissões nas quais as
mulheres são maioria. Dados do Sindicato das Secretárias do Estado
de São Paulo (isso mesmo, secretárias, só no feminino) mostram que
hoje 10% dos profissionais de secretariado no Brasil são homens. “Há
quinze anos era quase impossível encontrar um homem secretário”, diz
a diretora da entidade, Marlene Gomes. Quando os call centers se
popularizaram, há dez anos, as atendentes representavam 90% dos
contratados. Hoje, 30% do total são homens. A participação masculina
no ensino pré-escolar ainda é ínfima, mas, mas aumentou 15% na dé-
cada de 90. Na enfermagem, o número de homens saltou de 12% em
1998 para 15% hoje. Parece pouco, mas trata-se de um aumento de
25% num universo praticamente cor-de-rosa. (Eles querem o emprego
delas. Revista Veja, 30/06/2004. p. 102)
José Mayer sempre teve espírito empreendedor. Quando concluiu o
curso de Letras na Universidade Federal de Minas, resolveu fazer tea-
tro. O interesse pela arte de representar surgiu nas aulas de oratória.
Os colegas de turma viviam elogiando o futuro ator quando ele tinha
de ler algum texto em sala de aula. A estréia no teatro aconteceu em
1968, quando fez a peça “Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o bicho
Come”. Em pouco tempo, chegou a produzir 11 peças. “Logo, percebi
que a minha luta era quase inútil. No Brasil, a tevê é a medida de todas
as coisas. Só faço cinema e teatro por puro heroísmo”, garante. (Mes-
tre da Sedução – Canal de TV. Tribuna de Alagoas –, 04/07/2004. p. 6)
Quando analisar suas aptidões e decidir o que realmente quer fazer,
não leve em conta só sua condição social, mas também seus desejos.
Eles são um grande estímulo para você se esforçar, se dedicar, estudar
e pesquisar, vencer as barreiras e atuar com competência. É evidente
que é mais interessante e estimulante estudar aquilo de que se gosta.
Profissão e carreira não podem ser encaradas como produtos de
consumo, mas como uma maneira de cada indivíduo participar da so-
ciedade. (IACOCCA, L. e IACOCCA, M. Condição Social, um desa-
fio? Em busca da profissão – Qual é a sua trilha? São Paulo: Editora
Ática e Editora do SENAC, 2003)
1) Observe o modo como cada um dos textos foi escrito e faça um peque-
no relato sobre o que você percebeu.

2) Quais foram os recursos usados, no primeiro e segundo textos, para


apresentar dados e posicionamentos sobre o assunto tratado?


 

3) Partindo dos três trechos que você acabou de estudar, escreva e entregue
ao seu professor uma dissertação de aproximadamente 25 linhas. Você deverá
fazer citações usando corretamente as aspas e as expressões apropriadas.

Há outros modos de se fazer uso das palavras de terceiros, que também


podem ser considerados como citações. Elas funcionam como estratégias de
salvaguarda, usadas quando um autor quer se proteger ou proteger outra pes-
soa, quando ele não quer ou não pode assumir o que está dizendo.
Tal procedimento é bastante comum no cotidiano. Ele pode ser visto em
textos jornalísticos, quando, por uma questão ética ou de segurança o jorna-
lista não pode dizer quem deu a informação que ele está usando em seu texto.
Estratégias parecidas também podem ser verificadas nas fofocas. Neste
caso servem para que a pessoa fale o que está querendo (há quem diga que
existe sempre uma dose de maldade em quem passa uma fofoca adiante ou
leva a fofoca para a vítima), sem assumir diretamente a responsabilidade do
que está dizendo para não entrar na confusão ou aumentá-la ou sem envolver
mais pessoas na história.
As fofocas começam sempre por expressões como: Dizem por aí que...,
Falaram que..., Andam dizendo que... etc.
O uso da estrutura destes textos já deu bons resultados em letras de mú-
sica ou em poesias. Carmem Miranda, por exemplo, cantou em tom indig-
nado: Disseram que eu voltei americanizada, num burro de dinheiro, que
estou muito rica...
Observar os diferentes modos de mencionar as palavras de outro é impor-
tante para perceber o quanto é comum no cotidiano que os autores nem sem-
pre achem conveniente assumir em um texto determinadas posições, ou deter-
minadas opiniões.
Uma redação de vestibular não será escrita com esta estrutura, mas é bom
lembrar que estas estratégias são muito usadas e são importantes porque algu-
mas afirmações são tão comuns, tão corriqueiras, e talvez por isso mesmo tão
insustentáveis, que é melhor não assumir a responsabilidade sobre elas para
não correr o risco de ser julgado demasiadamente superficial. Outras ainda,
com as quais o autor não concorda total ou parcialmente, podem não ser assu-
midas para evitar o comprometimento de quem as usa com o seu conteúdo:
são as frases feitas, as opiniões já “formatadas”, mas carentes de maior
aprofundamento.
Por exemplo, quando o assunto é leitura, há uma frase que sempre aparece
em qualquer contexto: “o brasileiro não lê”, ou “o brasileiro lê muito pouco”.
Um pesquisador da área de leitura geralmente não assume estas frases para si
por saber que elas são pouco prováveis. Então, ele vai, em geral, escrever
“costuma-se afirmar que o brasileiro não lê” ou “freqüentemente aparece na
mídia a afirmação de que o brasileiro não lê”. Assim, ele não se compromete
com a superficialidade da afirmação.
Com o que dissemos no Guia de Estudos sobre a relação entre ser leitor e
escrever bem você também pode evitar a superficialidade da afirmação “quem
lê bastante escreve melhor”. Se precisar usar esta frase prefira introduzi-la




com alguma das expressões a seguir: “Acredita-se que ...”, “É comum ouvir-
mos a afirmação de que...”
Do mesmo modo, alguém que conhece bem um curso Universitário, em
geral não assume as frases com que são apresentados resumidamente nos
manuais dedicados aos candidatos ao vestibular. Os conhecedores, mais pro-
vavelmente vão dizer: “em tal curso aprende-se, entre outras coisas,...”, “Uma
das coisas que se aprende no curso tal é....”
Quando se trata de uma discordância explícita, pode ser que digam: “Numa
visão simplificada do curso tal, afirma-se que...”, “Reduzindo bastante o cur-
so tal, ....”
Há ainda outros posicionamentos e afirmações que escondem concepções
políticas e interesses tão comprometedores que é melhor evitar que pareçam
nossos, dentre eles todos os que expressam preconceitos, por exemplo.

Escreva um parágrafo em que você incorpore as afirmativas abaixo, sem


se responsabilizar pelo seu conteúdo:
a) Olhar para o céu noturno é quase um privilégio em nossa atribulada e
iluminada vida moderna. (Marcelo Gleiser, Retalhos cósmicos)

b) Aos dezessete anos é muito cedo para escolher uma profissão, o jovem
carece de segurança emocional e se deixa influenciar muito facilmente pelos
outros.

c) Sem saber inglês e dominar a informática não é possível conseguir em-


prego.


 

Sobre o autor
Prof. Dr. Valdir Heitor Barzotto
O Prof. Valdir Heitor Barzotto é Doutor em Lingüística pela Unicamp e
Professor do Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Compara-
da da Faculdade de Educação da USP nas disciplinas de Metodologia do En-
sino de Língua Portuguesa, para os cursos de Letras e Pedagogia.
É também professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da FE-
USP e do Programa de Pós-graduação em Lingüística e Língua Portuguesa da
Unesp de Araraquara. Participa de agremiações científicas na área dos Estu-
dos da Linguagem, entre as quais, a Associação Nacional de Pesquisa na Gra-
duação em Letras (ANPGL), da qual é membro fundador e presidente.
Organizou o livro Estado de leitura. Ed. Mercado de Letras/ALB e co-
organizou Mídia, educação e leitura. Ed. Anhembi Morumbi/ALB e Nas telas
da mídia. Ed. Átomo/ALB.


Anotações
Anotações
Anotações
Redação

Organizadores
Maria Lúcia C. V. de Oliveira Andrade
Neide Luzia de Rezende
Valdir Heitor Barzotto

Elaborador
Valdir Heitor Barzotto
3
módulo

Nome do Aluno
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador: Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP
Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor: Adolpho José Melfi
Pró-Reitora de Graduação
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE


Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área
Biologia:
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori
Física:
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta
Geografia:
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins
História:
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer
Língua Inglesa:
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór
Língua Portuguesa:
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto
Matemática:
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro
Química:
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan
Produção Editorial
Dreampix Comunicação
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro
Cartas ao
Aluno
Carta da
Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão.
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer
situação de vida e de trabalho.
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor
para o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.


Pró-Reitora de Graduação.
Carta da
Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno,
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa
da educação básica.
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente
construído para esse fim.
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva


Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Apresentação
da área
Todo o material está pensado para propiciar a você conhecimentos para
reconhecer e empregar recursos que conferem qualidades a um texto. Tam-
bém serão estudadas as estratégias usadas por diferentes autores para escre-
ver, visando indicar ao leitor uma determinada compreensão. Para isso serão
feitos diversos exercícios de leitura e análise de textos.
Espera-se que este trabalho proporcione a você condições para lançar mão
de estratégias variadas em seus textos para levar o seu leitor à compreensão
pretendida. É para este fim que estão programadas as atividades de escrita e
reescrita integral ou parcial de textos.
Além dos temas propostos para redação, um estará presente com destaque
em todos os módulos. Trata-se de uma discussão sobre as carreiras universitá-
rias que se pode seguir. Este tema visa proporcionar oportunidades para refle-
tir sobre a escolha da profissão, a formação universitária e sua relação com a
sociedade. Você poderá contar com seus professores para clarear os modos de
trilhar uma carreira, obtendo informações sobre possibilidades de trabalho e
de especialização que as escolhas profissionais proporcionam.
Apresentação
do módulo
Continuando o trabalho iniciado nos módulos anteriores, você terá, neste
módulo, vários exercícios de investigação sobre o modo como um texto é
construído. Esperamos que você tire proveito das descobertas que fizer para
escrever os seus próprios textos.
Em especial, você terá oportunidade de continuar a exploração do que foi
apontado no terceiro objetivo do Módulo 2: como um texto pode ser incorpo-
rado em outro de forma adequada.
Os objetivos básicos deste Módulo 3, que ampliam aquele do Módulo 2
citado acima, são:
a) identificar as palavras e as frases que aparecem em um texto, mas que não
foram produzidas pelo autor do texto que você está lendo;
b) reconhecer os procedimentos de incorporação, por parte de um autor, das
palavras e frases de outros autores, de modo que fique claro ao leitor que
aquelas palavras não são do autor que assina o texto;
c) aprender a usar estes procedimentos de incorporação de trechos de textos
de outros autores em seu próprio texto.

Além disso, você terá oportunidade de se aproximar um pouco mais das


outras disciplinas por meio da produção de textos. Algumas atividades foram
propostas para que você exponha por escrito o que aprendeu nas outras disci-
plinas. Assim, você poderá estudar duas disciplinas ao mesmo tempo, escre-
vendo sobre o que aprendeu nas demais e melhorando suas condições de
escrita.
Guia de estudos
Organizadores
Maria Lúcia C. V. de
Oliveira Andrade
Este espaço não será utilizado para dar novas orientações de estudo, mas Neide Luzia de
para solicitar que você faça um levantamento, por escrito, das atitudes que Rezende
você tem tomado em favor de você mesmo desde que iniciou este curso. Valdir Heitor
Faça abaixo uma lista destas atitudes. Releia o Guia de Estudos dos dois Barzotto
módulos anteriores e tome as recomendações constantes em cada um como Elaborador
um guia para fazer a sua lista. Valdir Heitor
Depois de listar as atitudes que você tomou em função das recomenda- Barzotto
ções feitas nos Módulos 1 e 2, faça uma lista das atitudes que você tomou por
conta própria, levantando o que você deixou de fazer para se preparar para o
vestibular. Além disso, procure responder algumas questões como: a) Qual é
o assunto que mais ocupa o tempo das conversas com meus colegas? b) Quanto
tempo da minha vida está destinado às preocupações com as coisas corriquei-
ras da vida, tais como: quem telefonou para quem, quem disse o que onde,
que roupa fulano(a) usou onde etc.? c) Você passou a se aplicar mais às aulas
do terceiro ano do Ensino Médio também?
Escreva tudo isso imaginando que você está dando dicas para outro
vestibulando que ainda não entrou no ritmo adequado de estudos, ou seja,
para quem “a ficha ainda não caiu” e que você queira ajudar. Mas, sobretudo,
escreva um Guia de Estudos para você, procurando redirecionar as atitudes
que estão dispersando sua energia.
Unidade 1

Identificando as palavras
do outro no texto
Organizadores
Maria Lúcia V. de
Oliveira Andrade
Neide Luzia de Esta unidade é destinada à identificação dos modos de incorporar as pala-
Rezende vras dos outros no texto. Você já viu esse tema no módulo anterior e agora vai
Valdir Heitor aprofundar seu conhecimento sobre o assunto. Seu objetivo será o de reco-
Barzotto nhecer as estratégias usadas pelos autores quando querem usar, em seus tex-
tos, as palavras ditas ou escritas por outros autores. Você poderá aprender a
Elaborador utilizar-se das mesmas estratégias e aprontar-se para utilizar os trechos dados
Valdir Heitor nas provas de vestibular para fazer as redações.
Barzotto
Texto para as questões de 1 a 9.

Baudelaire: o modernismo nas ruas


Nas últimas três décadas, uma imensa quantidade de energia foi despendi-
da em todo o mundo na exploração e deslindamento dos sentidos da moderni-
dade. Muito dessa energia se fragmentou em caminhos pervertidos e auto
derrotados. Nossa visão da vida moderna tende a se bifurcar em dois níveis, o
material e o espiritual: algumas pessoas se dedicam ao “modernismo”, enca-
rado como uma espécie de puro espírito, que se desenvolve em função de
imperativos artísticos e intelectuais autônomos; outras se situam na órbita da
“modernização”, um complexo de estruturas e processos materiais – políti-
cos, econômicos, sociais – que, em princípio, uma vez encetados, se desen-
volvem por conta própria, com pouca ou nenhuma interferência dos espíritos
e da alma humana. Esse dualismo, generalizado na cultura contemporânea,
dificulta nossa apreensão de um dos fatos mais marcantes da vida moderna: a
fusão de suas forças materiais e espirituais, a interdependência entre o indiví-
duo e o ambiente moderno. Mas a primeira grande leva de escritores e pensa-
dores que se dedicaram à modernidade – Goethe, Hegel e Marx, Stendhal e
Baudelaire, Carlyle e Dickens, Herzen e Dostoievski – tinham uma percepção
instintiva dessa interdependência; isso conferiu a suas visões uma riqueza e
profundidade que lamentavelmente faltam aos pensadores contemporâneos
que se interessam pela modernidade.
Este capítulo é montado em torno de Baudelaire, que fez mais do que
ninguém, no século XIX, para dotar seus contemporâneos de uma consciên-
cia de si mesmos enquanto modernos. Modernidade, vida moderna, arte mo-
derna – esses termos ocorrem freqüentemente na obra de Baudelaire; e dois
de seus grandes ensaios, o breve “Heroísmo da Vida Moderna” e o mais ex-
tenso “O Pintor da Vida Moderna” (1859-60, publicado em 1863), determina-
 

ram a ordem do dia para um século inteiro de arte e pensamento. Em 1865,


quando Baudelaire experimentava a pobreza, a doença e a obscuridade, o
jovem Paul Verlaine tentou reavivar o interesse em torno dele, encarecendo
sua modernidade como fonte básica da sua grandeza: “A originalidade de
Baudelaire está em pintar, com vigor e novidade, o homem moderno (...) como
resultante dos refinamentos de uma civilização excessiva, o homem moderno
com seus sentidos aguçados e vibrantes, seu espírito dolorosamente sutil, seu
cérebro saturado de tabaco, seu sangue a queimar pelo álcool. (...) Baudelaire
pinta esse indivíduo sensitivo como um tipo, um herói”.1 O poeta Theodore
de Banville desenvolveu esse tema dois anos mais tarde, em um tocante tribu-
to diante do túmulo de Baudelaire:
Ele aceitou o homem moderno em sua plenitude, com suas fraque-
zas, suas aspirações e seu desespero. Foi, assim, capaz de conferir bele-
za a visões que não possuíam beleza em si, não por fazê-las romantica-
mente pitorescas, mas por trazer à luz a porção de alma humana ali
escondida; ele pôde revelar, assim, o coração triste e muitas vezes trági-
co da cidade moderna. É por isso que assombrou, e continuará a assom-
brar, a mente do homem moderno. Comovendo-o, enquanto outros ar-
tistas o deixam frio.2
A reputação de Baudelaire, ao longo dos cem anos após sua morte, desen-
volveu-se segundo as linhas sugeridas por Banville: quanto mais seriamente a
cultura ocidental se preocupa com o advento da modernidade, tanto mais apre-
ciamos a originalidade e a coragem de Baudelaire, como profeta e pioneiro.
Se tivéssemos de apontar um primeiro modernista, Baudelaire seria sem dúvi-
da o escolhido. * Marx, na mesma déca-
da, reclamava, em termos
Contudo, uma das qualidades mais evidentes dos muitos escritos de surpreendentemente si-
Baudelaire sobre vida e arte moderna consiste em assinalar que o sentido da milares aos de Baudelaire,
modernidade é surpreendentemente vago, difícil de determinar. Tomemos, por das clássicas e antigas fi-
exemplo, uma de suas assertivas mais famosas, de “O Pintor da Vida Moder- xações na política de es-
na”: “Por ‘modernidade’ eu entendo o efêmero, o contingente, a metade da querda: “A tradição de
arte cuja outra metade é eterna e imutável”. O pintor (ou romancista ou filóso- todas as gerações mor-
fo) da vida moderna é aquele que concentra sua visão e energia na “sua moda, tas pesa como um sonho
sua moral, suas emoções”, no “instante que passa e (em) todas as sugestões mau no cérebro das ge-
de eternidade que ele contém”. Esse conceito de modernidade é concebido rações vivas. E exatamen-
para romper com as antiquadas fixações clássicas que dominam a cultura te quando parecem en-
gajados na revolução, na
francesa. “Nós, os artistas, somos acometidos de uma tendência geral a vestir
criação de algo inteira-
todos os nossos assuntos com uma roupagem do passado”. A fé estéril de que
mente novo (...), os ho-
vestimentas e gestos arcaicos produzirão verdades eternas deixa a arte france- mens ansiosamente con-
sa imobilizada em “um abismo de beleza abstrata e indeterminada” e priva-a juram os espíritos do
de “originalidade”, que só pode advir do “selo que o Tempo imprime em passado, tomam de em-
todas as gerações”.* Percebe-se o que move Baudelaire nesse passo; mas esse préstimo seus nomes,
critério puramente formal de modernidade – qualquer que seja a peculiarida- seus slogans de batalha,
de de um dado período – de fato o leva para longe do ponto onde ele pretende suas fantasias, para apre-
chegar. Segundo esse critério, como diz Baudelaire, “todo mestre antigo tem sentar a nova cena da
sua própria modernidade”, desde que capte a aparência e o sentimento de sua história mundial sob o
própria era. Porém, isso esvazia a idéia de modernidade de todo o seu peso disfarce de um tempo
específico, seu concreto conteúdo histórico. Isso de todos e quaisquer tempos venerável e sob uma lin-
guagem de empréstimo”.
(“O Dezoito Brumário de
1. Retirado de um artigo de Verlaine na revista d´Art e citado em Baudelaire: Ouvres Complètes, org.
Marcel Ruff (Editions du Seuil, 1968), p.36-7. Todos os textos em francês citados aqui são da edição Ruff. Luís Bonaparte” . In: MER.
2. Citado por Enid Starkie, em Baudelaire (New Directions, 1958), p. 530-1, a partir de uma paráfrase 1851-52, p. 595).
no jornal parisiense L´Étandard, de 4 set. 1867.




“tempos modernos”; dispersar a modernidade através da história, ironicamen-


te, nos leva a perder de vista as qualidades específicas de nossa própria histó-
ria moderna.3
O primeiro imperativo categórico do modernismo de Baudelaire é orientar-
nos na direção das forças primárias da vida moderna; mas Baudelaire não deixa
claro em que consistem essas forças, nem o que viria a ser nossa postura diante
delas. Contudo, se percorrermos sua obra, veremos que ela contém várias
visões distintas da modernidade. Essas visões muitas vezes parecem opor-se
violentamente umas às outras, e Baudelaire nem sempre parece estar ciente
das tensões entre elas. Mais do que isso, ele sempre as apresenta com verve e
brilho e quase sempre as elabora com grande originalidade e profundidade.
Mais ainda: todas as modernas visões de Baudelaire e todas as suas contradi-
tórias atitudes críticas em relação à modernidade adquiriram vida própria e
perduraram por longo tempo após sua morte, até o nosso próprio tempo.
Este ensaio começará com as interpretações mais simples e acríticas da
modernidade, aventadas por Baudelaire: suas celebrações líricas da vida mo-
derna, que criou formas peculiarmente modernas de pastoral; suas veementes
denúncias contra a modernidade, que gerou as modernas formas antipastorais.
As visões pastorais de Baudelaire sobre a modernidade seriam elaboradas em
nosso século sob o nome de “modernolatria”; suas antipastorais se transfor-
mariam naquilo que o século XX chama de “desespero cultural”4. Seguire-
mos adiante, na maior parte do ensaio, a partir dessas visões limitadas, no
encalço de uma visão baudelaireana muito mais profunda e mais interessante
– embora provavelmente menos conhecida e de repercussão mais escassa –,
uma perspectiva dificilmente redutível a uma fórmula definitiva, estética ou
política, que luta corajosa, com suas próprias contradições interiores e que
pode iluminar não só a modernidade de Baudelaire mas a nossa própria mo-
dernidade. (BERMAN, Marshall. Baudelaire: O modernismo nas ruas. Tudo o
que é sólido desmancha no ar – A aventura da modernidade. São Paulo :
Companhia das Letras, 1986.)

1. Quais são os autores mencionados no texto?

2. Quais são os autores cujos textos são efetivamente citados?

3. The Painter of Modern Life, and Other Essays, trad. e org. Por Jonathan Mayne, com grande número
de ilustrações (Phaidon, 1965), p. 1-5, 12-4.
4. Modernolatry, de Pontus Hulten (Estocolmo, Modena Musset, 1966); The Politics of Cultural Despair:
A Study in the Rise of the Germanic Ideology, de Fritz Stern (University of California, 1961).


 

3. Quais são os procedimentos de citação adotados por Marshall Berman?

4. Quais são as idéias sobre o modernismo citadas no texto?

5. Com quais idéias o autor não concorda?

6. Que estratégias textuais o autor adota para não se comprometer com estas
idéias ao apresentá-las?

7. Qual o motivo apresentado pelo autor para não concordar com estas idéias?




8. O que o autor defende, afinal?

9. Quais são os recursos usados pelo autor para apresentar a seus leitores os
seus argumentos?

10. Recolha cinco textos de jornais e revistas que usem argumentos ligados à
idéia de modernidade e redija uma dissertação de 30 linhas discutindo o uso
desta noção na mídia. Faça uso dos textos coletados fazendo uso dos procedi-
mentos de citação que você está aprendendo.


Unidade 2

Usando as palavras
do outro no texto
Organizadores
Maria Lúcia V. de
Oliveira Andrade
Nesta unidade você escreverá vários textos usando as estratégias de uso Neide Luzia de
das palavras de outros autores no seu texto. Antes disso, leia o texto a seguir e Rezende
procure comparar os procedimentos usados no texto desta unidade e no texto Valdir Heitor
da unidade anterior. Busque identificar o universo a que cada um dos textos Barzotto
pertence e reflita com seus colegas sobre o que os aproxima e o que os distan-
cia. Converse sobre as diferenças entre os dois textos e, principalmente, as Elaborador
semelhanças no que concerne ao modo de incorporar as palavras ou frases Valdir Heitor
que não pertencem ao narrador, nem ao personagem central, de modo que o Barzotto
leitor saiba exatamente de quem é cada trecho.

Texto para as questões de 11 a 23.


Riley Keenan sentia-se tolo... Não porque estivesse ali, no saguão
do Aeroporto Internacional de Calgary, com suas legítimas roupas de
caubói, chamando a atenção das pessoas que passavam.
Afinal, ele era mesmo um caubói de verdade. E se seu traje causava
uma certa estranheza, bem... Rilley pouco se importava com isso.
O que o irritava, a ponto de quase fazê-lo perder o controle, era o
fato de ter se sujeitado a ir até ali... Sem a menor vontade. E também o
fato de estar segurando um ridículo pedaço de cartolina, com dois no-
mes estranhos escritos em caneta hidrográfica, em Letras enormes:
Bethany Cavell e Jamie Cavell... Dois nomes que nada representavam
para ele, já que nunca vira essas pessoas e, sinceramente, não tinha
nenhuma vontade de conhecê-las.
Uma verdadeira multidão transitava pelo aeroporto. Era o dia vinte e
um de dezembro, o mais movimentado do ano, como lhe dissera uma
funcionária do estacionamento... Como se isso representasse uma gran-
de coisa!
Um suspiro de impaciência brotou do peito de Riley Keenan. A ale-
gre agitação em torno só servia para exasperá-lo.
Grupos alegres passavam pelo saguão, empurrando seus carrinhos
lotados de bagagem, apressando-se para pegar o próximo vôo, que os
levaria à casa de familiares ou amigos queridos.
Outros chegavam de viagem e olhavam ansiosamente ao redor, à
procura dos amigos ou parentes que os aguardavam.


Abraços, cumprimentos eufóricos, crianças usando suas melhores


roupas, pacotes coloridos, presentes, bebês com touquinhas de Papai
Noel... Nada disso contribuía para melhorar o estado de ânimo de Riley
Keenan.
Para ele, o clima festivo de Natal não tinha o menor significado. Se
dependesse de sua vontade, Riley Keenan sairia correndo do Aeroporto
Internacional de Calgary o mais rápido que pudesse.
Nada lhe parecia mais atraente, naquele momento, do que a paz e
tranqüilidade de seu lar, longe daquele clima de festa e confraterniza-
ção.
Para piorar ainda mais as coisas, um coral de jovens, usando roupas
brilhantes, nas quais predominavam as cores vermelha e verde, come-
çou a entoar uma típica canção de Natal.
“Era só o que faltava”, Riley pensou, no auge da irritação. “Para
todos os lados existem faixas e cartazes com a ridícula inscrição Feliz
Natal... Será que essas pessoas não pensam em outra coisa?”
Decididamente não, ele concluiu, com amargura.
Sem exceção, toda aquela gente parecia disposta a ficar feliz, em
paz com a vida e com o mundo em geral.
Apenas ele, Riley Keenan, sentia-se como numa ilha de solidão, ali,
parado no meio do saguão do Aeroporto Internacional de Calgary, se-
gurando um ridículo pedaço de cartolina.
Aliás, o fato de sentir-se alheio ao clima de Natal que reinava no
ambiente não o incomodava.
Afinal, Riley Keenan não tinha o menor interesse em se adaptar ao
mundo das outras pessoas. Já fazia algum tempo que aceitara o fato de
ser diferente da maioria dos seres humanos...
Sabia muito bem a que mundo pertencia: ao lugar onde a Mãe-Natu-
reza ainda reinava no sopé das montanhas Rochosas, na região de
Kananaskis, localizada a oeste de Calgary. Era lá, onde as montanhas
dominavam a paisagem, onde as árvores pareciam tão altas que davam
a impressão de tocar o céu, onde as correntes de água límpida forma-
vam riachos que corriam sobre as pedras, entoando uma espécie de
canção misteriosa... Era somente nesse mundo que Riley Keenan con-
seguia experimentar um pouco de paz: lá onde poucas pessoas tinham
coragem de ir, onde os pássaros cantavam livremente e os animais sel-
vagens podiam desfrutar de sua liberdade.
Riley estava acostumado ao silêncio, aos sons típicos dos bosques, à
companhia de uns poucos seres humanos e dos cavalos que criava em
sua fazenda.
Por tudo isso, ele se sentia um grande tolo, naquele momento. Não
pelo que era, pois já fazia muito tempo que aceitara sua própria nature-
za.
Sentia-se tolo justamente por estar fora de seu elemento, fazendo
algo que era totalmente contrário a sua vontade: esperando duas pesso-
as que não queria ver, em meio a uma multidão festiva, e ainda por cima
sendo obrigado a ouvir aquelas detestáveis canções de Natal.
– Que música maravilhosa! – uma mulher comentou, ao passar por
ele. – O Natal deveria durar o ano inteiro, o senhor não acha?


 

– Não – Riley respondeu entre os dentes.


Mas a mulher já não o ouvia. Tinha acabado de avistar um grupo de
pessoas que a esperavam e corria para elas, de braços abertos.
“Menos mal”, Riley pensou, afrouxando a barbela do chapéu de
caubói e jogando-o para trás. “Seria terrível se eu tivesse de explicar a
ela porque não gosto de Natal.”
As pessoas começaram a se agrupar ao redor do coral que cantava.
Aplaudiram calorosamente, ao final de cada música. As palmas se mes-
clavam a exclamações de alegria e cumprimentos.
“Ao menos isso ajuda a descongestionar o trânsito”, Riley pensou
com ironia.
De fato, com a aglomeração em torno do grupo que cantava, o sa-
guão parecia um pouco mais transitável.
– Feliz Natal, moço! – exclamou um adolescente que, de mãos dadas
com a namorada, caminhava em direção ao coral. Riley nada respon-
deu. Apenas olhou para ambos e fez um ligeiro aceno de cabeça.
Se aquela gente pudesse imaginar o que lhe passava pela mente,
certamente não cometeria a bobagem de lhe desejar Feliz Natal.
Pois, naquele momento, os pensamentos de Riley eram sóbrios, para
se dizer o mínimo.
Lutando para controlar a irritação, que chegava a um limite insupor-
tável, ele pensava em Mary Keenan, sua mãe... Que em geral causava
grandes alegrias. Mas, em contrapartida, nunca abria mão de um dese-
jo. E esse era o grande problema.
Mary Keenan era o que se poderia chamar de uma senhora adorá-
vel. Aos setenta anos, permanecia ativa e bem-humorada, como sempre
fora. Tinha uma compleição delicada, uma saúde de ferro, um coração
de ouro... E esse era outro grande problema: ela não sabia dizer não a
ninguém. Por isso, Riley estava ali.
A filosofia da Sra. Mary Keenan poderia resumir-se numa frase, que
ela vivia repetindo: “Temos de fazer tudo para viver com qualidade.”
Isso incluía ajudar as pessoas, sem discriminação e sem poupar es-
forços.
Ao receber um telefonema de uma jovem desconhecida que morava
em Tucson, no Arizona, a Sra. Mary Keenan deixara que seu coração de
ouro se derretesse de ternura.
Mentalmente, Riley reviu a cena que se desenrolara cerca de duas
semanas atrás...
(COLTER, C. A magia do natal. São Paulo: Nova Cultural, 2003.)

11. Quais foram os recursos usados no texto para indicar que o personagem
estava pensando?




12. Escreva um texto usando as regras de citação que você conhece, apresen-
tando ao seu leitor os trechos que representam os pensamentos do personagem.

13. Quais foram os recursos usados no texto para indicar que algumas pala-
vras e frases não eram do personagem Riley Keenan nem do narrador?

14. Faça um texto informando quais foram os recursos usados no texto para
indicar que as palavras e frases não eram do personagem Riley Keenan nem
do narrador. Dê exemplos e indique de quem eram as palavras citadas.

15. O significado da palavra alegria, associado ao clima festivo de Natal, é


composto no texto com várias outras palavras e expressões. Aponte-as.

16. Redija um lembrete sobre o modo de tornar evidente o significado especí-


fico de uma palavra ou de uma idéia importante para o texto.


 

17. O significado da palavra alegria e a idéia de clima festivo de Natal são


importantes no texto para tornar mais evidentes as sensações de Riley Keenan
no aeroporto. Escreva um comentário analítico sobre esse recurso usado pela
autora, fornecendo exemplos dos dois aspectos contrastantes no texto.

18. Escreva um texto indicando que tipo de curso superior é mais indicado para
alguém que tenha um perfil parecido com o de Riley Keenan. Você deve citar
necessariamente trechos do texto lido que explicitem o perfil do personagem.

19. Escreva um texto convincente indicando as profissões que não combinam


com o perfil de Riley Keenan.




20. As profissões

não combinam com alguém que tenha o perfil de Riley Keenan,


a menos que

21. Agora você vai aproveitar as respostas das questões 18, 19 e 20 em uma
dissertação em que você relacione os cursos universitários que você conhece
às preferências das pessoas quanto ao lugar em que pretendem viver e o modo
como pretendem levar a vida.

Quando se trata de escolher a profissão é importante considerar

Um grupo muito grande de jovens é bastante integrado aos grandes cen-


tros urbanos. No entanto, um outro grupo em número considerável, que pos-
sui um perfil como o do personagem

, da história,
prefere

Para aqueles que preferem a vida urbana, profissões como

seriam
mais adequadas. Enquanto que

seria importante pensar em profissões


que permitissem conciliar

tais como

Esta visão pode ser um pouco simplista, então podemos pensar em outros
modos de conciliação entre


 

Efetivamente, numa primeira análise sobre a relação entre

pode-se, em primeiro lugar, pensar na adequação entre preferências e

No entanto, numa análise um pouco mais complexa sobre as escolhas


e sua relação com

pode-se colocar em primeiro lugar a conciliação entre

e seu desejo de viver com ,


ou seja, .
Neste caso, então,

22. Agora você vai começar a se preparar também para escrever narrativas.
Comece identificando suas características no texto A magia do natal.

23. Continue a história de onde ela parou.




Você tem recebido várias orientações para incorporar as palavras de ou-


tros autores em seus textos, de modo que fique bem claro se você está concor-
dando ou não, se você está se comprometendo com o que está citando ou não.
No módulo anterior, por exemplo, você foi orientado quanto a alguns recur-
sos para não assumir como suas as afirmações que são de domínio comum.
Lembre-se que, por serem de domínio comum, mesmo que você queira assu-
mi-las, será interessante que em seu texto você demonstre que sabe disso e
não faça seu leitor achar que é você que está inventando.
A seguir você poderá verificar como um vestibulando agiu na hora de
produzir seu texto.
O tema A do vestibular da UNICAMP de 2002 era: Um paradoxo da
modernidade: eliminação de fronteiras, criação de fronteiras.
Para desenvolver este tema, o candidato contava com oito trechos de tex-
tos, dos quais podiam ser depreendidas diferentes perspectivas.
Veja um trecho de uma redação exposta no site www.comvest.unicamp.br,
que foi considerada como estando acima da média, evita no primeiro parágra-
fo assumir a perspectiva da eliminação de fronteiras:

“A modernidade tem vivido o discurso da eliminação das fronteiras.


Os avanços tecnológicos, em especial a Internet, que permite a troca de
contato e informação livremente entre os lugares mais distantes do mundo
em tempo imediato, tem reforçado esse discurso.”
24. Escreva o que você percebeu como estratégia do autor do texto:

25. Converse com os seus colegas sobre uma afirmação bastante corriqueira e
escreva um parágrafo seguindo o exemplo do vestibulando que redigiu o pa-
rágrafo acima.


 

26. Durante o ano de 2004, aproveitando o clima das Olimpíadas realizadas


na Grécia, falou-se muito na auto-estima do brasileiro. Recolha cinco textos
de jornais e revistas recentes que falem sobre este assunto e junte ao tema de
redação da FUVEST de 2003. Faça o que foi pedido, mas usando de estratégi-
as para não assumir as posições muito comuns sobre a auto-estima que estão
sendo veiculadas na mídia durante este ano.





 

Uma questão da FUVEST 2003 explorava duas questões que aprendemos


no módulo anterior. Resolva a questão tal como foi apresentada na prova da
FUVEST e depois as questões que acrescentamos a este módulo.

27. Conta-me Cláudio Mello e Souza. Estando em um café em Lisboa a con-


versar com dois amigos brasileiros, foram eles interrompidos pelo garçom,
que perguntou, intrigado:
– Que raio de língua é essa que estão aí a falar, que eu percebo tudo?
* percebo = compreendo
(Rubem Braga)

a) A graça da fala do garçom reside num paradoxo. Destaque desta fala as


expressões que constituem esse paradoxo. Justifique.

b) Transponha a fala do garçom para o discurso indireto. Comece com: O


garçom lhes perguntou, intrigado, que raio de língua...

28. Escreva um pequeno texto informando quais conteúdos do Módulo 2 são


importantes para resolver a questão. Você deve citar trechos do módulo em
sua resposta.


Unidade 3

A Redação e as outras
disciplinas
Organizadores
Maria Lúcia V. de
Oliveira Andrade
Neide Luzia de Vamos reunir os seus conhecimentos sobre os procedimentos de escrita de
Rezende um texto e o conteúdo das outras disciplinas. Nem é preciso dizer que todos
Valdir Heitor os conteúdos das outras disciplinas são apresentados por meio de textos, e
Barzotto suas explicações são dadas por meio de textos orais, fortemente controlados
pelos textos escritos.
Elaborador
Valdir Heitor Muitos textos escritos para as outras disciplinas têm características seme-
Barzotto lhantes aos que você tem escrito por meio das lições da disciplina de Reda-
ção. Lembre-se do Módulo 1, por exemplo. Nele você tinha várias recomen-
dações sobre a necessidade de fornecer ao leitor todas as informações neces-
sárias para montar um objeto ou um jogo. Relacione este tipo de texto com a
explicação de uma fórmula da disciplina de Física ou Química. Imagine como
seria entendida esta fórmula se um dos elementos que a compõe não fosse
explicado ou fosse omitido.
Pensando nisso, você vai resolver alguns exercícios que foram elaborados
para que você continue praticando a escrita e ao mesmo tempo retome os
conteúdos das outras matérias.

29. Responda à carta abaixo.

São Paulo,

Prezado Vestibulando,

Estou escrevendo para você porque queria entender melhor algumas coi-
sas que vejo de vez em quando nos cadernos do meu irmão, que está termi-
nando o Ensino Médio. Às vezes eu pergunto pra ele e ele até responde, mas
é sempre rápido demais, não dá pra entender. Outras vezes ele diz que ainda
sou novo para aprender isso, essas coisas. Mas eu acho mesmo é que ele tem
medo de eu saber mais do que ele.
Olha bem, outro dia ele estava com o caderno aberto e eu vi umas anota-
ções que eu fiquei com muita vontade de saber o que era, mas nem perguntei.
Era assim: Calor = massa x calor específico x diferença de temperatura
Calor = massa x calor latente
 

Logo depois, lá no caderno dele tava escrito assim: estudar isotérmica,


isobárica e isométrica. Eu nunca tinha visto essas palavras e fiquei com muita
vontade de saber o que era, mas já sei que meu irmão não vai ter paciência
para me explicar.
Será que você pode responder esta carta explicando o que é isso? Se for
possível eu agradeço muito.
Vou ficar aguardando.
XXXXXXXXXXXXXXXXX

30. No Módulo 2 de Matemática, p. 22, há um exercício destinado à constru-


ção de um gráfico de dispersão a partir dos dados de altura e peso de seus
colegas de classe. Faça um texto parecido com uma notícia de jornal para
expor no mural de sua sala, de modo que fique claro o que foi feito, como foi
feito e a que resultados você chegou.

31. Baseando-se nos conhecimentos obtidos na área de História, escolha um


acontecimento importante para a História do Brasil e escreva um texto que
será traduzido e publicado em um país que tem poucas informações sobre o
Brasil. O texto deve, ao mesmo tempo, informar sobre o acontecimento e
sobre alguma polêmica a ele relacionada.

32. Escreva uma dúvida que você tem em qualquer disciplina que não seja da
área de Redação, Gramática ou Literatura.

Sobre o autor
Prof. Dr. Valdir Heitor Barzotto
O Prof. Valdir Heitor Barzotto é doutor em Lingüística pela UNICAMP e
professor do Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Compara-
da da Faculdade de Educação da USP, na disciplina de Metodologia do Ensino
de Língua Portuguesa, para os cursos de Letras e Pedagogia.
É também professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da
FEUSP e do Programa de Pós-graduação em Lingüística e Língua Portuguesa
da UNESP de Araraquara. Participa de agremiações científicas na área dos
Estudos da Linguagem, entre as quais, a Associação Nacional de Pesquisa na
Graduação em Letras – ANPGL, da qual é membro fundador e presidente.




Organizou o livro Estado de Leitura. Ed. Mercado de Letras/ALB e co-


organizou Mídia, Educação e Leitura. Ed. Anhembi Morumbi/ALB e Nas Te-
las da Mídia. Ed. Átomo/ALB.


Redação

Organizadores
Maria Lúcia V. de Oliveira Andrade
Neide Luzia de Rezende
Valdir Heitor Barzotto

Elaborador
Valdir Heitor Barzotto
4
módulo

Nome do Aluno
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador: Geraldo Alckmin
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
Secretário: Gabriel Benedito Issac Chalita
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP
Coordenadora: Sonia Maria Silva

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


Reitor: Adolpho José Melfi
Pró-Reitora de Graduação
Sonia Teresinha de Sousa Penin
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária
Adilson Avansi Abreu

FUNDAÇÃO DE APOIO À FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FAFE


Presidente do Conselho Curador: Selma Garrido Pimenta
Diretoria Administrativa: Anna Maria Pessoa de Carvalho
Diretoria Financeira: Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

PROGRAMA PRÓ-UNIVERSITÁRIO
Coordenadora Geral: Eleny Mitrulis
Vice-coordenadora Geral: Sonia Maria Vanzella Castellar
Coordenadora Pedagógica: Helena Coharik Chamlian

Coordenadores de Área
Biologia:
Paulo Takeo Sano – Lyria Mori
Física:
Maurício Pietrocola – Nobuko Ueta
Geografia:
Sonia Maria Vanzella Castellar – Elvio Rodrigues Martins
História:
Kátia Maria Abud – Raquel Glezer
Língua Inglesa:
Anna Maria Carmagnani – Walkyria Monte Mór
Língua Portuguesa:
Maria Lúcia Victório de Oliveira Andrade – Neide Luzia de Rezende – Valdir Heitor Barzotto
Matemática:
Antônio Carlos Brolezzi – Elvia Mureb Sallum – Martha S. Monteiro
Química:
Maria Eunice Ribeiro Marcondes – Marcelo Giordan
Produção Editorial
Dreampix Comunicação
Revisão, diagramação, capa e projeto gráfico: André Jun Nishizawa, Eduardo Higa Sokei, José Muniz Jr.
Mariana Pimenta Coan, Mario Guimarães Mucida e Wagner Shimabukuro
Cartas ao
Aluno
Carta da
Pró-Reitoria de Graduação

Caro aluno,
Com muita alegria, a Universidade de São Paulo, por meio de seus estudantes
e de seus professores, participa dessa parceria com a Secretaria de Estado da
Educação, oferecendo a você o que temos de melhor: conhecimento.
Conhecimento é a chave para o desenvolvimento das pessoas e das nações
e freqüentar o ensino superior é a maneira mais efetiva de ampliar conhecimentos
de forma sistemática e de se preparar para uma profissão.
Ingressar numa universidade de reconhecida qualidade e gratuita é o desejo
de tantos jovens como você. Por isso, a USP, assim como outras universidades
públicas, possui um vestibular tão concorrido. Para enfrentar tal concorrência,
muitos alunos do ensino médio, inclusive os que estudam em escolas particulares
de reconhecida qualidade, fazem cursinhos preparatórios, em geral de alto
custo e inacessíveis à maioria dos alunos da escola pública.
O presente programa oferece a você a possibilidade de se preparar para enfrentar
com melhores condições um vestibular, retomando aspectos fundamentais da
programação do ensino médio. Espera-se, também, que essa revisão, orientada
por objetivos educacionais, o auxilie a perceber com clareza o desenvolvimento
pessoal que adquiriu ao longo da educação básica. Tomar posse da própria
formação certamente lhe dará a segurança necessária para enfrentar qualquer
situação de vida e de trabalho.
Enfrente com garra esse programa. Os próximos meses, até os exames em
novembro, exigirão de sua parte muita disciplina e estudo diário. Os monitores
e os professores da USP, em parceria com os professores de sua escola, estão
se dedicando muito para ajudá-lo nessa travessia.
Em nome da comunidade USP, desejo-lhe, meu caro aluno, disposição e vigor
para o presente desafio.

Sonia Teresinha de Sousa Penin.


Pró-Reitora de Graduação.
Carta da
Secretaria de Estado da Educação

Caro aluno,
Com a efetiva expansão e a crescente melhoria do ensino médio estadual,
os desafios vivenciados por todos os jovens matriculados nas escolas da rede
estadual de ensino, no momento de ingressar nas universidades públicas, vêm se
inserindo, ao longo dos anos, num contexto aparentemente contraditório.
Se de um lado nota-se um gradual aumento no percentual dos jovens aprovados
nos exames vestibulares da Fuvest — o que, indubitavelmente, comprova a
qualidade dos estudos públicos oferecidos —, de outro mostra quão desiguais
têm sido as condições apresentadas pelos alunos ao concluírem a última etapa
da educação básica.
Diante dessa realidade, e com o objetivo de assegurar a esses alunos o patamar
de formação básica necessário ao restabelecimento da igualdade de direitos
demandados pela continuidade de estudos em nível superior, a Secretaria de
Estado da Educação assumiu, em 2004, o compromisso de abrir, no programa
denominado Pró-Universitário, 5.000 vagas para alunos matriculados na terceira
série do curso regular do ensino médio. É uma proposta de trabalho que busca
ampliar e diversificar as oportunidades de aprendizagem de novos conhecimentos
e conteúdos de modo a instrumentalizar o aluno para uma efetiva inserção no
mundo acadêmico. Tal proposta pedagógica buscará contemplar as diferentes
disciplinas do currículo do ensino médio mediante material didático especialmente
construído para esse fim.
O Programa não só quer encorajar você, aluno da escola pública, a participar
do exame seletivo de ingresso no ensino público superior, como espera se
constituir em um efetivo canal interativo entre a escola de ensino médio e
a universidade. Num processo de contribuições mútuas, rico e diversificado
em subsídios, essa parceria poderá, no caso da estadual paulista, contribuir
para o aperfeiçoamento de seu currículo, organização e formação de docentes.

Prof. Sonia Maria Silva


Coordenadora da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
Apresentação
da área
Todo o material está pensado para propiciar a você conhecimentos para
reconhecer e empregar recursos que conferem qualidades a um texto. Tam-
bém serão estudadas as estratégias usadas por diferentes autores para escre-
ver, visando indicar ao leitor uma determinada compreensão. Para isso serão
feitos diversos exercícios de leitura e análise de textos.
Espera-se que este trabalho proporcione a você condições para lançar mão
de estratégias variadas em seus textos para levar o seu leitor à compreensão
pretendida. É para este fim que estão programadas as atividades de escrita e
reescrita integral ou parcial de textos.
Além dos temas propostos para redação, um estará presente com destaque
em todos os módulos. Trata-se de uma discussão sobre as carreiras universitá-
rias que se pode seguir. Este tema visa proporcionar oportunidades para refle-
tir sobre a escolha da profissão, a formação universitária e sua relação com a
sociedade. Você poderá contar com seus professores para clarear os modos de
trilhar uma carreira, obtendo informações sobre possibilidades de trabalho e
de especialização que as escolhas profissionais proporcionam.
Apresentação
do módulo
É com você... Leia o módulo inteiro e, seguindo todas as orientações so-
bre a produção escrita fornecidas nos quatro módulos, escreva um texto apre-
sentando o Módulo 4 a quem ainda não o conhece.
Guia de estudos
Organizadores
Maria Lúcia V. de
Oliveira Andrade
Caro estudante, vou contar para você um pouco da história recente sobre Neide Luzia de
o ensino de redação na escola. Trata-se de um pouco da história que conheço Rezende
como professor de Língua Portuguesa. Valdir Heitor
Meu intuito é oferecer um caminho para você refletir sobre a história recente Barzotto
do ensino de Língua Portuguesa e conhecer um pouco do debate estabelecido Elaborador
em seu interior. Afinal, você participa desta história e precisa compreendê-la, Valdir Heitor
para conhecer melhor a sua própria formação. Além disso, como cidadão, você Barzotto
pode extrair dessa reflexão elementos para contribuir para que outras pessoas
possam ter uma boa visão sobre seu papel nos estudos da Língua Portuguesa e
compreendam a função da produção de textos na sociedade.
Recomendo que você encare os livros citados aqui como sugestões de
leitura. Eles não só são úteis para ajudar a compreender um pouco do que já
se discutiu sobre o ensino de Língua Portuguesa, como principalmente contri-
buem para a aprendizagem da escrita.
Comecei a perceber o debate que se estabelecia na década de 80, quando
li um livro de João Wanderley Geraldi, publicado em 1984 e que tem sido
desde então muito usado no Brasil, intitulado O texto na sala de aula. Neste
livro, o autor defendia algumas posições fundamentais sobre o ensino de Lín-
gua Portuguesa.
Uma destas posições estava relacionada a uma mudança do eixo central
das aulas de Língua Portuguesa, deslocando a gramática e colocando em seu
lugar o texto.
Outros autores, em diferentes épocas e com concepções de linguagem
diferentes, já insistiram neste assunto. Mais adiante, neste módulo, você lerá
um trecho do livro de Othon Moacyr Garcia, chamado Comunicação em pro-
sa moderna, que foi publicado em 1967, no qual ele faz uma citação de outro
autor, Mário Barreto, que, em 1916, também falava em dar um outro grau de
importância ao ensino da gramática no ensino de Língua Portuguesa, colo-
cando-a a serviço do texto.
Como já disse, estes livros podem contribuir para o seu aprendizado da
escrita. O livro de Garcia é ainda muito útil neste aspecto. Sugiro que você
estude o livro inteiro antes do vestibular.
O objetivo de mostrar a você estas informações é proporcionar um pe-
queno contato com autores de diferentes momentos da história do ensino da


Língua Portuguesa e orientar seus estudos para eles, pois acredito ser impor-
tante para sua formação compreender um pouco a história do ensino desta
disciplina que você teve de estudar até agora.

Mário Barreto é do início do século XX, Othon M. Garcia é de meados do século XX e Geraldi
é atual. Os três têm em comum um ponto: defenderam um deslocamento da gramática
do centro da aula de Língua Portuguesa, sugerindo que o texto tomasse este lugar.

Uma afirmação de Geraldi, publicada em outro livro seu, Portos de Passa-


gem, sintetiza a posição de que se deve trabalhar com o texto na aula de
Língua Portuguesa: “é porque é no texto que a língua (...) se revela em sua
totalidade...” (1991:135).
BARBOSA, Rui (1883),“Méto- A defesa de um ensino mais significativo da língua não está circunscrita
dos e programa escolar”, in apenas ao século que acaba de se concluir. Em Portos de Passagem, Geraldi cita
Reforma do ensino primário e Rui Barbosa que, em publicação de 1883 (veja sugestão de leitura ao lado), cita
várias instituições comple- um outro autor, chamado Rendu, que escrevia em 1857, sobre tema parecido.
mentares da instrução pú-
blica. Rio de Janeiro : Minis- Como já foi dito nos módulos anteriores, sugiro a leitura dos textos que
tério da Educação e Saúde, embasam o conhecimento que você está recebendo durante o curso. Além de
1946 (Obras Completas de ter acesso a uma parte do que já se pensou sobre a disciplina, você terá acesso
Rui Barbosa, 1883, vol. X, também a textos acadêmicos, a um tipo de escrita específico, ampliando o seu
tomo II). conhecimento sobre as formas como os textos se apresentam ao leitor, em
diferentes meios e em diferentes épocas.


Unidade 1
A natureza da produção
escrita: redação ou texto
Organizadores
Maria Lúcia V. de
Oliveira Andrade
O assunto iniciado nas orientações fornecidas no Guia de Estudos pode Neide Luzia de
parecer que não dizem respeito a você, mas elas influenciaram a sua vida. Se Rezende
chegaram até você as idéias sobre a valorização do texto nas aulas, ao invés
Valdir Heitor
da gramática, você está concluindo o ensino médio e entrando em um curso
Barzotto
superior com um tipo de preparo. Se não chegaram, seu preparo é outro. Você
pode ser competente em uma coisa ou outra, mas suas condições para produ- Elaborador
zir um texto certamente são diferentes. Valdir Heitor
Pode ser também que o modo como estas discussões chegaram até você Barzotto
não tenham sido suficientes para fazer de você um bom produtor de textos ou
um bom conhecedor de gramática. Seja como for, isso deve chamar a sua
atenção para o funcionamento das instituições brasileiras, entre elas as que se
dedicam ao ensino.
Estas instituições passam freqüentemente por mudanças e todos nós so-
mos, de algum modo, afetados e convocados a tomar uma posição, seja para
nos adequarmos às mudanças, seja para interferir nelas.
Aconteceram mudanças no Ensino Médio recentemente; caso você não
tenha atentado para isso, ainda é tempo. Muito brevemente, é possível que
você entre em contato com as discussões sobre a reforma universitária, seja
por estar cursando uma Universidade, seja pela mídia. Então, nada melhor do
que se preparar para isso e estar em condições de debater a questão com
argumentos consistentes e com conhecimento suficiente.

Sugiro então que você comece consultando o site do Ministério da Educação e Cultura
- MEC (www.mec.gov.br). Leia pelo menos dois itens: Legislação de Ensino Médio e
Legislação de Ensino Superior.
Após a leitura da legislação indicada, escreva um posicionamento seu sobre o funciona-
mento da instituição escolar e inclua o que você sabe sobre o ensino de Língua Portu-
guesa. Faça considerações sobre o modo como as mudanças chegam até o cidadão
comum e como ele pode participar deste processo de mudança.
Depois disso, aproveite sua experiência com o site do MEC e leia as Diretrizes Curriculares
do curso superior que você pretende fazer. Resuma as diretrizes em uma carta destinada
a outro estudante, deixando bem claro do que se trata o curso e qual sua importância
para a sociedade.

Veja, agora, o que escrevia Othon M. Garcia em 1967 e, citado por ele,
Mário Barreto, em 1916:


“A análise sintática tem sido causa de crônicas e incômodas enxa-


quecas nos alunos de ginásio. É que muitos professores, por tradição ou
comodismo, a que têm transformado no próprio conteúdo do aprendi-
zado da língua, como se aprender português fôsse exclusivamente apren-
der análise sintática. O que deveria ser um instrumento de trabalho, um
meio eficaz de aprendizagem, passou a ser um fim em si mesmo. Ora,
ninguém estuda a língua só para saber o nome, quase sempre rebarba-
tivo, de todos os componentes da frase.
Vários autores e mestres têm condenado até mesmo com veemência
o abuso no ensino da análise sintática. Não obstante, o assunto continua
a ser, salvo as costumeiras excessões, o ‘prato de substância’ da cadeira
de Português no curso secundário. Apesar disso, ao chegar ao fim do
curso, o estudante, em geral, continua a não saber escrever, mesmo que
seja capaz de destrinchar qualquer estrofe camoniana ou qualquer pe-
ríodo barroco de Vieira, nomenclaturando devidamente todos os seus
têrmos. Então, ‘pra que análise sintática?’ – perguntam aflitos milhares
de ginasianos por êsse Brasil afora.
Já em 1916, ao responder à consulta de um padre pernambucano,
Mário Barreto fazia, com a lucidez que lhe era habitual, uma clara cen-
sura ao abuso e ao mau aproveitamento da análise lógica:
Leva-me, pois, o senhor padre para essas regiões ne-
voentas da análise lógica a que tanto gostam de guindar-se os
professôres brasileiros. É um dos defeitos do nosso ensino gra-
matical a importância excessiva que se dá nas classes a isso
que se chama análise lógica. Certo que é necessário saberem
os alunos o que é um sujeito, um atributo, um complemento;
certo que também é bom que êles saibam distinguir propo-
sições principais e subordinadas, e vejam que estas acessórias
ou subordinadas não são mais que o desdobramento de um
dos membros de outra proposição e se apresentam como equi-
valentes de um substantivo, de um adjetivo ou de um advér-
bio: proposições substantivas, adjetivas, adverbiais, – nomen-
clatura que tem a duplicada vantagem de evitar têrmos novos
e de fazer análise. Qualquer outra terminologia que se adote
para a classificação das proposições dependentes levanta dis-
cussões entre os professôres (...).
Passar daí será nos embrenharmos no intrincado das
sutilezas da análise. A análise lógica pode ser de muito présti-
mo, se a praticarmos como aprendizado da estilística, como
meio de conhecermos a fundo os recursos da linguagem e de
nos familiarizarmos com tôdas as suas variedades.1
A lição é das melhores e das mais oportunas, apesar de longeva;
pena é que nem todos a tenham aprendido, principalmente aquela parte
contida no último parágrafo, por nós grifado.
Pois bem, êste capítulo sôbre a estrutura da frase, que não visa, de
forma alguma, ao ensino da análise sintática ou lógica, embora aí se
assentem algumas das suas lições, leva muito em conta a sábia lição de
Mário Barreto, por mostrar ‘os recursos da linguagem’, a fim de permi-
tir ao estudante familiarizar-se ‘com todas as variedades’.”

1
A nota apresentada por Garcia é a seguinte: Factos da Línuga Portuguêsa. Rio, Organização Simões,
1954, p. 61.


 

1. Faça um texto explicando a posição de Othon Moacyr Garcia sobre o


ensino da Língua Portuguesa.

2. Publicado em 1967, o texto de Garcia obedece às regras de acentuação


vigentes antes da reforma ortográfica em 1971. Procure esta lei e explique a
acentuação do texto de Othon Garcia.

Com o exercício feito sobre a Instituição Escola, você pode sentir-se mais preparado para
escrever sobre outras instituições. Recentemente, devem ter chegado até você notícias
sobre as diversas reformas nas instituições. Pois bem, fundamente-se por meio de jor-
nais, revistas, sites e livros sobre as instituições e as reformas, escolha uma instituição e
escreva sobre ela.

Voltemos agora ao primeiro trabalho de Geraldi citado aqui, para verificar


uma outra contribuição mais específica do autor. Lembre-se, a primeira e mais
geral era a defesa de que o centro do trabalho na aula de Língua Portuguesa
deveria ser o texto. Para dar os contornos sobre o que seria este trabalho, em
1984, ele faz uma diferenciação entre redação e texto. Esta distinção pode con-
tribuir para que você entenda melhor o que se espera de uma produção escrita.

A noção de redação
O autor chamava de redação aquelas produções destinadas apenas a cum-
prir uma exigência da escola. Quando um aluno compreende o que está em
jogo na sala de aula, é possível que ele passe a cumprir com as regras perti-
nentes a esse jogo e a marcar pontos à medida que vai avançando na compre-
ensão deste jogo. No tempo em que se ensinava com o auxílio de cartilhas,
por exemplo, num dado momento o aluno percebia que se escrevesse imi-
tando o que estava escrito nelas, isso já seria suficiente para obter pelo menos
um “muito bem” como avaliação de sua redação.
Quem não foi alfabetizado com cartilha ou não se lembra pode ver abaixo
alguns exemplos extraídos da cartilha Vamos Estudar, de Theobaldo Miranda
Santos, publicada pela Livraria Editora Agir, em 1971:


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Eu vi a vovó
A ave vive e voa
A viúva viu a uva

Fifi deu o filó à titia


O bode viu o fubá e bufou
Vovó fiava e via o povo

Sobre o aluno que “entendeu o jogo da escola”, Geraldi (1984:123), afir-


ma o que segue:
“seu texto não representa o produto de uma reflexão ou uma tenta-
tiva de, usando a modalidade escrita, estabelecer uma interlocução com
um leitor possível. Ao contrário, trata-se do preenchimento de um arca-
bouço ou esquema, baseado em fragmentos de reflexões, observações
ou evocações desarticuladas2 . Ele está devolvendo, por escrito, o que a
escola lhe disse, na forma como a escola lhe disse. Anula-se, pois, o
sujeito. Nasce o aluno-função. Eis a redação.”
Mas a que o autor está se referindo quando diz que o texto do aluno não é
uma tentativa de estabelecer uma interlocução com um leitor possível?
Significa dizer que o aluno está apenas cumprindo uma tarefa possível no
interior da escola, que ele está escrevendo apenas porque a professora mandou
que ele escrevesse, sabendo que somente ela será a leitora, mesmo que o aluno
não tenha algo a dizer sobre o assunto para ela ou qualquer outro leitor possível.
Um aluno que aprendia na cartilha como a que foi apresentada poderia vir
a produzir uma escrita como a que segue:
O boi é bonito.
O boi bebe água no balde.
O boi é do Papai.
Papai deu o boi ao bebê.

Tente transformar este conjunto de frases em um pequeno texto. Procure


eliminar as repetições, estabelecer conexões entre as frases e fazer com que se
perceba um contexto no qual o seu texto poderia ser produzido:

Retome alguma produção sua, identifique uma seqüência em que seja


necessário eliminar repetições ou fazer conexões, e reescreva aqui.

2
Neste ponto o autor introduz a seguinte nota. Cfe. Cláudia Lemos. Neste artigo a autora considera e
analisa as “estratégias de preenchimento” utilizadas por vestibulandos em suas redações. Geraldi
está se referindo ao seguinte trabalho: LEMOS, C. T. G. Redações de vestibular: algumas estratégias.
Cadernos de Pesquisa, nº. 23, Fundação Carlos Chagas, SP, 1977.


 

A noção de texto
Geraldi chama de texto aquela produção em que o aluno conta algo rele-
vante, como um fato realmente acontecido e que ele julga importante contar,
ou como uma história da qual ele realmente goste. Para fazer um texto, é
preciso ter claro o que se vai escrever, para quem se está escrevendo e com
que objetivo. Mais adiante, você terá outras informações específicas sobre o
que é necessário para escrever um texto.
Agora volte para os módulos anteriores e identifique no mínimo três reco-
mendações fundamentais para escrever um texto.

A compreensão da proposta
O autor apresenta, como exemplo de texto, uma produção de aluno que
de fato conta uma história, mas que apresenta problemas ortográficos e estru-
turais. Mesmo avaliando o texto positivamente, Geraldi alerta que este apre-
senta problemas e que é necessário trabalhar junto à criança para que ela
ultrapasse suas dificuldades.
Infelizmente, leituras ligeiras de sua proposta levaram muitos a entender
que deveriam aceitar textos com problemas de escrita, sem fazer intervenções,
correções e atividades para ajudar o aluno a melhorar. Passou-se a entender que
tudo valia, que tudo podia ser aceito no que dizia respeito à produção escrita.
Convém esclarecer que esta compreensão equivocada não foi feita somente
sobre esta proposta e nem é de responsabilidade só e diretamente do professor.
Esta leitura ligeira é de fácil identificação. Aqui vão algumas pistas para
você saber quando está diante dela. Geralmente, ela é sustentada por frases
feitas mal localizadas na história dos estudos das teorias da linguagem. Por exem-
plo, costuma-se lançar mão de frases oriundas de teorias dos anos 60, ou ante-
riores, como, “o importante é comunicar”, “o importante é passar a idéia”, “o
importante é transmitir a mensagem” ou “o aluno expressou o pensamento”.
Estas máximas, que acabaram se tornando de senso comum, são ditas
como se fossem condizentes com as propostas mais recentes para o ensino da
Língua Portuguesa.
Só para que você se lembre das orientações dadas nos módulos de re-
dação sobre o uso das palavras dos outros, alguém com um pouco mais de
visão sobre as teorias da linguagem não usaria uma frase destas sem remetê-
las a um tempo determinado e a alguns autores específicos. Usadas assim,
como verdades absolutas, elas comprometem quem as usa, fazendo com que
pareça portador de um conhecimento vazio e estereotipado.




Se estou dizendo isso, caro vestibulando, é para que você compreenda um


pouco dos caminhos pelos quais passavam as discussões sobre o ensino de
língua enquanto você estava em sala estudando. Penso que isso é muito impor-
tante para que você perceba como enfrentar o desafio de escrever bem. É im-
portante que você reflita um pouco como foi o seu processo de aprendizado da
escrita na escola, para que você entenda melhor se você foi solicitado a produ-
zir texto ou redação, segundo a divisão apresentada por Geraldi, bem como
sobre o volume de intervenção que você teve nas suas produções. Acredito que
depois de rever toda a sua escolarização e sua relação com o texto escrito, você
poderá ser um cidadão em condições de orientar melhor seus irmãos, filhos ou
outras pessoas próximas com relação à importância da escrita na sociedade,
vinculada ao modo de agir frente ao ensino aprendizagem na escola. Suas orien-
tações poderão ser úteis para as pessoas com quem você convive, para que elas
repensem sua atitude perante a aprendizagem da escrita.
Note, no entanto, que para fazer uma redação, você não precisa necessa-
riamente fazer aquela seqüência de frases como a apresentada acima, cujo
modelo é a cartilha. É provável que você tenha feito muitas redações, embora
tivesse sido solicitado que escrevesse textos.
Vários são os motivos que podem ser apontados para que você tenha feito
redações, ou seja, apenas produções de interesse restrito ao contexto da sua
sala, ao invés de textos de interesse mais geral, com um maior alcance na socie-
dade. Pode ser que um dia você não estivesse muito disposto a escrever e a
professora tenha solicitado que você escrevesse. Pode ser que você não tenha
sido ensinado a perceber a importância da escrita na nossa sociedade e aí você
ficava achando que escrever era coisa da cabeça da professora de português.
Nos módulos anteriores, você teve acesso a produções escritas que preci-
savam de muito trabalho ainda para chegar a ser um texto satisfatório. Mais
especificamente, você pode voltar para a página 14 do Módulo 1 e, com o
conhecimento do Módulo 4, refazer a hipótese feita como resposta para o
item b), da página 15.

Escreva o que você se lembra de seus contatos com a necessidade de


escrever na escola.


 

Escreva o que você se lembra de seus contatos com a necessidade de


escrever fora da escola.

Recupere alguma produção escrita que você tenha feito na escola, em qualquer série, e
reescreva usando o conhecimento que você tem hoje. Conte por escrito a história desta
produção, fale do tema e da diferença entre a visão que você tinha quando escreveu a
visão que você tem hoje. Fale também sobre a atitude que você tinha frente à escrita na
época e sobre o que mudou até hoje.
Recupere uma produção que você tenha feito já no cursinho, a mais antiga que conse-
guir, e reescreva. Faça uma lista das alterações que você fez, separando as de ordem
formal e as de ordem conceitual e justifique.
Como você avalia as suas produções durante o tempo em que você per-
maneceu na escola?
Você diria que fez mais redações ou mais textos? Justifique.

Quando foi que você teve oportunidade de escrever um texto realmente?

Antes de chegar à conclusão de que o mundo foi mau com você, pense




também nas atitudes que você tomou até agora diante da necessidade de es-
crever, e pense nos modos como você mesmo pode ampliar as suas condições
de escrita.
Qual o seu grau de responsabilidade no processo de aprendizagem da
escrita?

Você costuma fazer revisão de seus textos? Relate o modo como você faz
isso.

Você costuma informar-se e definir uma postura própria sobre o que lê?

Quanto da sua produção de textos escritos ou orais representam uma ten-


tativa de articular uma reflexão própria sobre um determinado tema?

Escreva um texto apresentando um livro sobre produção de textos a um


estudante de oitava série. Não pode ser livro didático, nem os módulos deste
curso. (Sirva-se do conhecimento que você adquiriu ao cumprir uma tarefa
parecida, na página 15 do Módulo 1).


Unidade 2

A importância
da produção de textos
Organizadores
Maria Lúcia V. de
Oliveira Andrade
Vamos começar esta unidade perguntando: o que seria fazer uma redação, e não um Neide Luzia de
texto, quando você estava numa sexta série, por exemplo, ou mesmo já no ensino Rezende
médio? Valdir Heitor
Barzotto
Quando você escreve aquelas frases que podem ser ditas por todo mun-
do, sem marcar uma diferença por parte de quem a diz, sua produção fica Elaborador
mais próxima do que Geraldi chama de redação. Valdir Heitor
Barzotto
Por isso, nos quatro módulos nós insistimos em propor exercícios para
você aprender a evitar o uso destas frases como se elas fossem suas, como se
representassem uma tentativa de você demonstrar o que realmente pensa
sobre os temas de suas produções.
Pense na contribuição que as frases seguintes podem trazer para um tex-
to: “o mundo poderia ser diferente se todos nós nos uníssemos”; “o que seria
do verde se todo mundo gostasse do amarelo?”; “infelizmente, o homem
ainda não tem consciência do valor da natureza”.
Reflita também sobre as inúmeras vezes que algumas pessoas, por não
terem o que dizer sobre algum assunto, colocam os valores universais e difí-
ceis de questionar no meio de sua redação, tais como paz ou Deus, quase
que “tomando seu santo nome em vão” .

Aproveite e escreva aqui algumas frases que você já ouviu exaustiva-


mente e sabe que é melhor evitar que pareçam suas.

Escreva também um modo de aproveitá-las em seu texto sem assumir sua


autoria. Este exercício já foi feito nos módulos anteriores, recupere as infor-
mações.


Produza também um texto discutindo os modos de fazer uso da palavra de maneira que
ela tenha valor social. Pense no que se fala em aula, em reuniões e mesmo nas conversas
entre grupos de colegas.
Para evitar ser tragado por uma avalanche de frases gastas, você pode usar
como termômetro as notícias veiculadas na mídia e as conversas cotidianas. É
por isso que o aluno sempre é orientado para a leitura de jornais e revistas de
circulação nacional: o que está sendo veiculado por estes meios acaba sendo
absorvido pelo conjunto de leitores e bastante repetido. Um dos exercícios
que se deve fazer como preparação para a escrita é verificar o que é que todos
os veículos estão repetindo, para depois tomar uma posição sobre o tema a ser
desenvolvido em seu texto.
Quem já não falou que os políticos são corruptos? Quem já não falou que
os problemas do Brasil são a saúde, a educação e, mais recentemente, a segu-
rança pública? Estas afirmações, que recheiam as notícias de todos os dias, as
conversas e os programas eleitorais, são uma espécie de redação, pois, em-
bora não sejam uma devolução para a escola ou para a professora, como dizia
Geraldi em O texto na sala de aula, é como se fossem arremessadas contra o
espelho; elas são ditas para quem já as disse e vão devolver alguma simpatia
a quem as repetiu. Eis a redação globalizada.
No prólogo do livro Política para meu filho, que você poderá ler para
compreender um pouco melhor o papel das instituições na sociedade, entre
outras coisas, Fernando Savater coloca uma posição clara sobre o usos de
lugares comuns:
“... o culpado por me decidir a escrever para você outra série de
sermões, ou chatices, ou como preferir chamá-los, é você mesmo: ago-
ra não pode se queixar. Muitas vezes você comentou comigo que quase
todos os rapazes da sua idade que você conhece não ligam nem um
pouco para os políticos e para a política: acham que é tudo uma
enganação, que os políticos são todos ladrões, que mentem até quando
dormem e que as pessoas comuns não podem fazer nada para mudar as
coisas, porque a última palavra é sempre dos três ou quatro sabichões
que estão por cima. De modo que mais vale cada um tentar viver da
melhor maneira possível e ganhar um bom dinheirinho, porque o resto
é conversa fiada e perda de tempo. Essa atitude me deixa um pouco
alarmado e também, perdoe-me se lhe digo com franqueza, não me
parece muito inteligente.”
Convém ressaltar, porém, que não é só em textos de alunos que se pode
verificar as redações no sentido em que estão sendo tratadas aqui. Geralmente,
podemos perceber que são muitas as produções orais ou escritas preenchidas
com expressões já tornadas ocas de tanto serem repetidas.
Nas próprias discussões sobre o ensino de língua portuguesa, com as quais
convivo desde que ingressei no curso de Letras em 1983, temos frases vazias,
repetidas em todos os lugares e que já não dizem mais nada, como as que já
apontei neste texto: o importante é comunicar, o importante é que o aluno
passou a mensagem etc.
Frases como essas representam o entendimento ligeiro de propostas como
a de Geraldi, bem como, de modo mais geral, das teorias da linguagem. Elas
têm geralmente como resultado uma falta total de trabalho mais efetivo com o
texto do aluno. Além disso, se sustentam em concepções de linguagens já


 

bem discutidas na literatura técnica da área. Além disso, a seu respeito tam-
bém já foram feitas muitas afirmações que, se por um lado representam uma
certa verdade, por outro podem trazer alguma acomodação. Por exemplo, “o
adolescente é rebelde porque está com os hormônios à flor da pele”, ou “por-
que o cérebro dele está passando por uma reorganização”.
Se estas frases são usadas para entender melhor o aluno e adequar as ativi-
dades escolares ao seu perfil, ou se você mesmo a partir delas toma mais
consciência de si mesmo, pode ser que tenha bons resultados. No entanto, se
elas são apenas justificativas para diminuir os esforços na sua formação, os
resultados serão insatisfatórios.
Mas não entremos por estes caminhos e voltemos ao fio da nossa conversa.

Para produzir um texto oral ou escrito, portanto, não é necessário que se


diga sempre coisas novas. Segundo Geraldi (1991:136):
“A novidade, que pode estar no reaparecimento de velhas formas e
de velhos conteúdos, é precisamente o fato de o sujeito comprometer-se
com sua palavra e de sua articulação individual com a formação
discursiva de que faz parte, mesmo quando dela não está consciente.”
O que precisa ficar claro é que não é muito produtivo nos sentirmos livres
para funcionar no mundo como uma espécie de “boneco de ventríloquo”. É, no
mínimo, ético, como já disse, nos comprometermos em produzir algo relevante,
em dar uma contribuição firme e madura sobre algum assunto, mesmo que seja
retomando o que outros autores já disseram. É isso o que se espera de você no
vestibular, mas não apenas porque o vestibular é uma coisa chata, e sim porque
no vestibular e em muitos lugares em que a escrita tem importância, espera-se
que você demonstre condições e, acima de tudo, interesse em dar uma contri-
buição um pouco mais genuína do que com a mera repetição daquilo que está
na boca de todo mundo.
Esta exigência deve-se ao fato de a Universidade ser um lugar em que se
escreve. Um dos pilares da Universidade é a produção do conhecimento por
meio de pesquisas. Este conhecimento será posto em circulação, em grande
parte, por meio da escrita. Portanto, é difícil imaginar que um cidadão que mal
saiba repetir o que já foi exaustivamente repetido vá dar a sua contribuição. Daí
a escolha daqueles que não só escrevem bem do ponto de vista da correção,
mas do ponto de vista da contribuição sobre um assunto determinado.
Para atender a este princípio, o da produção de conhecimento, é funda-
mental que você esteja atento à importância da produção de textos.
Para tanto, procure compreender as indicações de João Wanderley Geraldi,
presentes no livro Portos de Passagem, que complementam as informações
apresentadas neste módulo no item “A noção de texto”.
“...para produzir um texto (em qualquer modalidade) é preciso que:
a) se tenha o que dizer;
b) se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer;
c) se tenha para quem dizer o que se tem a dizer;
d) o locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz
para quem diz (ou, na imagem wittgensteiniana, seja um jogador no jogo);
e) se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d).” (Geraldi,
1991:137)


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Alguns comentários se fazem necessários sobre as indicações acima, embo-


ra não se tenha a intenção de esgotar as suas possibilidades de compreensão,
uma vez que demandam bastante estudo sobre as teorias da linguagem.
É importante notar, mais uma vez, que ter o que dizer não é a mesma coisa
que ter o que todo mundo tem para dizer. É preciso conseguir articular algo
seu, defender uma posição que seja resultado de uma reflexão sobre um as-
sunto e que apresente uma contribuição diferente daquelas que já estão em
circulação. Geralmente esta contribuição está relacionada à capacidade de
crítica de quem escreve, fruto de uma boa reflexão sobre a sociedade e de um
conjunto significativo de informações sobre o assunto.
Aqui neste módulo, estamos tematizando o próprio ensino da escrita. Você
tem bastante experiência sobre o assunto como aluno. Aqueles alunos que se
limitaram, durante toda a sua escolarização, a achar a matéria chata e nunca
pararam para refletir sobre sua importância, talvez não tenham muito a dizer
sobre o tema. Do mesmo modo, aqueles alunos que seguiram passivamente
as orientações recebidas, quaisquer que tenham sido, provavelmente também
tenham pouco a dizer, pois para que se tenha o que dizer, é necessária uma
atitude mais ativa sobre o conhecimento.
Esse tema, por sua vez, está vinculado a uma compreensão das instituições
em geral, que são dotadas de organização própria e em cujo interior muitas
das mudanças são processadas e implementadas. Não é diferente com o ensi-
no de Língua Portuguesa. Portanto, se você tem alguma clareza sobre a orga-
nização do ensino brasileiro, você terá maior compreensão de seu processo
de escolarização.
O tema das instituições esteve muito em evidência nos últimos anos. Você
mesmo vivenciou reformas na escola, além de ouvir muito a mídia falar em
reforma do judiciário, por exemplo.
Provavelmente, quando você começou a estudar, o sistema de promoção
dos alunos era outro e mudou enquanto você estudava. A mudança de no-
menclatura de primeiro e segundo graus para ensino fundamental e médio
também ocorreu quando você já estudava.
Leia sobre as mudanças na educação básica ocorridas nos últimos 10 anos, elabore um
tema de redação do jeito que você imagina ser pertinente a um vestibular, e faça um
texto informativo, fornecendo datas, fatos etc.
Quando você escrever sobre um tema que se relaciona a uma instituição,
você terá melhores condições de demonstrar sua capacidade de escrever texto
– e não redação – quanto mais você for capaz de manifestar uma posição
articulada por você mesmo, sobre elas.
Há vários autores que podem ser lidos para compreender melhor o papel
das instituições: Savater pode ser um bom começo, Althusser e Foucault são
autores que escrevem com bastante profundidade sobre o assunto e exigem
bastante esforço para sua compreensão.
Sobre a indicação de leitura destes dois últimos autores, é possível que al-
gumas pessoas digam frases bastante correntes: “um adolescente não tem con-
dições de compreender”, ou ainda uma outra que traz uma discriminação: “os
alunos desta classe social, ou da periferia, por não terem incentivo dos pais para
a leitura, não têm condições de entender estes livros”. Cabe a você, com sua
atitude, reforçar estas afirmações ou trabalhar na compreensão destes livros.

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 

A razão para acatar a segunda indicação do autor, é claro, não pode ser
“porque a professora mandou”, “porque é isso o que se diz”, “porque de tanto
falarem isso perto de mim eu acho que devo dizer também para ser legal, para
ser aceito” ou “porque no vestibular é assim”.
É preciso ter interesse para dizer o que se tem a dizer com um fim bastante
claro. Esta razão pode ser a defesa de um ideal, de uma posição política, um
desejo de mudar a sociedade, calcado em uma utopia etc.
Lembre-se que a redação de vestibular muitas vezes é exposta no site da
Universidade e todos podem ler. Portanto, seu público pode ser formado por
outros vestibulandos, por pais que querem ter uma noção sobre o assunto
para dar orientação a seus filhos, por professores que buscam saber o que foi
considerado como texto bom ou texto ruim. Você pode pensar que estas pes-
soas podem se beneficiar com o que você está dizendo, ou você pode se
beneficiar fazendo com que eles de algum modo sejam influenciados pelo
que você está dizendo.
Então, nós já estamos refletindo sobre a outra indicação, ou seja, além de
ter o que dizer, acrescido de uma razão para dizer, você precisa ter para quem
dizer. É necessário que você estabeleça claramente quem é o leitor ou o grupo
de leitores a quem você está se dirigindo por meio de seu texto.
Se você vai escrever um texto sobre o cultivo de transgênicos, por exem-
plo, convém que você defina bem o seu leitor. Pelo menos mentalmente, ima-
gine como ele é, o que ele pensa e o que ele pensa sobre o assunto. Procure
estabelecer as diferenças que deve existir entre textos destinados a donas de
casa, aos políticos que podem votar leis que regulamentam o cultivo de
transgênicos, a adolescente que adoram o McDonalds e passam horas falando
sobre quem telefonou para quem, quem ficou com quem, e depois vão repetir
as coreografias de seu ídolos de televisão.
Estude sobre transgênicos e escreva quatro versões de um mesmo texto, tendo em vista
os três grupos de leitores apontados acima: donas de casa, políticos e adolescentes.
Escolha um grupo para fazer o primeiro texto e depois faça versões adaptadas para os
outros grupos.
Escreva também uma narrativa em que apareça um diálogo entre um biólogo e um
agricultor falando sobre o cultivo de transgênicos. Procure representar adequadamente
as falas de cada um.
Quanto às outras duas indicações dadas nos itens d) e f), não nos alongue-
mos. Ao cumprir as outras indicações, você estará se constituindo como locu-
tor de seu texto, no sentido de que não estará “dizendo por dizer”. Quanto às
estratégias para cumprir as indicações, entendemos que você teve algumas
orientações no decorrer deste curso.
Ao concluir esta série de quatro módulos, espero que você tenha compre-
endido o volume de trabalho necessário e, conseqüentemente, de dedicação
para se escrever um bom texto.
Agora é com você...

Esperamos que, terminado este módulo, e com este curso, é preciso que tenha ficado
claro que, muitas vezes, fazer uma produção oral ou escrita apenas para cumprir uma
obrigação, para preencher um espaço vazio, pode ser uma atitude, uma opção. Chega




um momento em que somos adultos e podemos escolher alguns caminhos: falar por-
que somos providos de aparelho fonador, escrever porque aprendemos a alinhar as
frases, ou estabelecer um compromisso ético com a nossa condição de sujeitos e buscar
incessantemente condições de apresentar algo novo para dar nossa contribuição à hu-
manidade.

Referências Bibliográficas
GARCIA, Othon Moacyr. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1967.
GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. Cascavel: ASSOESTE,
1974.
GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fon-
tes, 1991.
SAVATER, F. Política para meu filho. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Sobre o autor
Prof. Dr. Valdir Heitor Barzotto
Doutor em Lingüística pela UNICAMP e Professor do Departamento de
Metodologia do Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da
USP nas disciplinas de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa, para os
cursos de Letras e Pedagogia.
É também professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da
FEUSP e do Programa de Pós-graduação em Lingüística e Língua Portuguesa
da UNESP de Araraquara. Participa de agremiações científicas na área dos
Estudos da Linguagem, entre as quais a Associação Nacional de Pesquisa na
Graduação em Letras – ANPGL, da qual é membro fundador e presidente.
Organizou o livro Estado de Leitura. Ed. Mercado de Letras/ALB e co-
organizou Mídia, Educação e Leitura. Ed. Anhembi Morumbi/ALB e Nas Te-
las da Mídia. Ed. Átomo/ALB.

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Anotações
Anotações
Anotações
Anotações

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