Você está na página 1de 174

Série

Chamado de um Viking
Mariah Stone

Cinco guerreiros Viking.


Cinco mulheres modernas.
Cinco viagens no tempo.
As mulheres modernas podem sobreviver em um mundo alfa
Viking?
A FORTALEZA DO TEMPO
LIVRO UM
STAFF
É SEM PRE B OM LEMBRA R QUE …

Esta tradução foi realizada por fãs sem qualquer propósito lucrativo e
apenas com o intuito da leitura de livros que não têm qualquer previsão de
lançamento no Brasil.

A fim de nos preservamos, o grupo se reserva no direito de retirar o


arquivo disponibilizado a qualquer momento, sem aviso prévio.

O arquivo é exclusivamente para uso pessoal e privado do leitor,


sendo proibida a postagem bem como compartilhamentos.

O leitor está ciente de que será responsabilizado e responderá


individualmente pelo uso incorreto e ilícito no caso de quebra desta regra,
eximindo o grupo de qualquer parceria, coautoria ou coparticipação em
eventual delito por aquele que, por ação ou omissão, tentar ou utilizar o
presente livro para obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art.
184 do Código Penal e da Lei 9.610/1988.

Nunca comente com o autor sobre o livro traduzido ou sobre o nome


do grupo de tradução, tampouco publique os arquivos em redes sociais.

O trabalho de tradução é voluntário e o arquivo poderá apresentar


erros.

Respeite o tempo do tradutor e revisor. Caso deseje, estamos sempre


precisando de ajuda. Não critique. Ajude.

Caso seja possível, adquira livros originais para auxiliar o autor e


contribuir com suas finanças.

Faça sua parte e divirta-se!


NOTA DA REVISÃO

O texto a seguir foi revisado de acordo conforme as novas Regras Ortográficas,


entretanto, com o intuito de deixar a leitura mais leve e fluida, a revisão pode
sofrer alterações e apresentar linguagem informal em vários momentos,
especialmente nos diálogos, para que estes se aproximem da nossa comunicação
comum no dia a dia.

Alguns termos, gírias, expressões podem ser encontrados bem como objetos que
não estão em conformidade com a Gramática Normativa.

Boa leitura!
SINOPSE

A advogada de discriminação de Nova York, Donna, busca

implacavelmente a justiça para as mulheres. Mas enquanto luta com machos alfa

no tribunal, ela não consegue resistir a eles em suas fantasias noturnas. Até que

uma noite, quando está prestes a dizer "sim" para outro gigante tentador, ela

percebe com um choque que não está em um sonho - mas de volta à antiga

Noruega!

O jarl viking Sigurd ama seu povo e jura mantê-lo seguro. Mas depois de

perder uma batalha sangrenta, os restos degradados de sua fortaleza se tornam

um alvo fácil para seus inimigos. Com poucos homens sobrando, sua única

esperança de reforçar suas defesas a tempo é permitir que as mulheres do clã

ajudem - uma solução a qual despreza profundamente. Mas quando uma deusa

loira aparece do nada, o que mais isso poderia ser senão um presságio?

Enquanto Donna luta contra a arrogância masculina viking de Sigurd com

inteligência feminina, os inimigos se aproximam para o ataque. Conseguirão a

advogada e o guerreiro ver além de suas diferenças culturais milenares, ou os

invasores perversos saquearão sua chance de amor?

A Fortaleza do Tempo é o primeiro livro da série Chamado de um Viking. Se você

gosta de vikings machos alfa poderosos, protagonistas femininas fortes e gosta de

cenas de sexo explícito, você vai adorar o cativante conto norueguês de Mariah Stone.
PRÓLOGO

Nörnen, Noruega, 870 DC

O coração de Sigurd afundou quando nove navios dragão apareceram atrás

de uma montanha perto do fiorde. Ele estava ao lado de seu pai, Jarl Randver, na

praia perto de sua aldeia. Dez dúzias de seus melhores guerreiros esperavam

pelo inimigo bem ao seu lado, machados, escudos, espadas e arcos prontos para

a batalha.

O vermelho e o azul das velas dos navios gritavam a chegada do inimigo,

Jarl Fuldarr. Isso significava que a irmã de Sigurd, Vigdis, falhou em sua missão

de negociar a paz e que ela estava morta ou capturada como refém, e

provavelmente em algum lugar a bordo de um daqueles navios.

O coração de Sigurd gelou com o pensamento.

Também significava que seus homens não podiam enviar uma chuva de

flechas sobre os navios porque tinham medo de machucá-la.

Eles esperaram para descobrir o que Fuldarr tinha a dizer.

— É minha culpa. — Disse Sigurd ao pai, que agarrou seu grande machado

com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. — Eu não deveria tê-la

enviado, eu deveria ter ido sozinho.


— Ele é culpa sua, filho. Quantas vezes eu já disse, você não pode confiar em

coisas importantes para as mulheres. — Seu pai apontou para os navios com seu

machado. —Veja as consequências.

— Ela me implorou para dar sua responsabilidade. E ela sempre consegue o

que quer.

Randver grunhiu quando uma sombra de dor passou por seu rosto. Já fazia

um ano que estava doente, uma doença desconhecida o consumia por dentro, a

dor roubando seu sono e drenando seu corpo. Sigurd vinha desempenhando o

papel de jarl do pai. Ele havia começado a construir uma fortaleza ao redor da

vila, em antecipação aos ataques. O jarldom enfraqueceu; muitos guerreiros

fortes os deixaram porque Sigurd não podia atacar. Sigurd precisava negociar a

paz com Fuldarr, pois eles não estavam em posição de resistir a tais

ataques. Enviar Vigdis parecia uma boa ideia. Sim, ela era uma mulher, mas era

filha de um jarl e orgulhosa de ter sido encarregada de uma tarefa de homem.

— Eu deveria ter sido mais rígido com ela. — Disse Randver. — Ela não teria

assumido que o mundo deve tudo a ela. Deveria apenas ter cumprido seus

deveres como sua mãe e como todas as mulheres. Você não deveria ter confiado

nela. — Ele se virou para Sigurd. — Nunca confie em uma mulher, filho.

As palavras lembraram Sigurd de sua mãe e fizeram seus músculos doerem

como calafrios antes de uma febre.

O que aconteceu com Vigdis foi culpa dele. A culpa pairou em seu peito

como uma rocha. Ele esperava não ter enviado sua irmã para a morte. Se Fuldarr
tivesse tocado em um fio de cabelo de sua cabeça, Sigurd cortaria seu coração e

daria para os porcos.

Os navios chegaram. Dezenas de guerreiros de Fuldarr fizeram uma careta

para eles, mas ninguém se moveu. No maior navio, Sigurd viu Jarl Fuldarr no

brynja1 mais rico que ele já tinha visto, sua longa barba trançada, seu cabelo

escuro penteado e oleado, uma capa de pele de zibelina caindo de seus ombros -

deve tê-lo protegido das noites frias no navio.

Fuldarr os observou sem se mover. Sigurd agarrou o cabo de seu machado

de batalha, pronto para atacar ou construir uma parede de escudos ao comando

de seu pai.

Um movimento chamou a atenção de Sigurd e a figura de uma mulher

apareceu ao lado de Fuldarr. Sigurd piscou.

Era Vigdis, viva e inteira, suas costas retas, seus longos cabelos dourados

escondidos sob um lenço de seda - o sinal de que ela estava casada. Seu rosto

estava frio como o de uma rainha. Ela usava o vestido mais lindo que ele já vira,

a cor de um pôr do sol quente de verão, e joias de tal beleza que ele só vira uma

vez em um ataque a Frankia penduradas em seu pescoço. Uma guarnição de pele

de zibelina aninhava sua garganta. Isso a deixava linda, assim como sua mãe. A

Couraça. É uma peça de armadura largamente utilizada, nomeadamente pelos cavaleiros e infantes,
11

em diversos períodos da Idade Média. No caso dos vikings, dá pra imaginar mais ou menos isso aqui.
dor da perda atingiu o coração de Sigurd com a memória da primeira mulher

que trouxe a traição para sua família. Seu pai estava certo, como sempre.

— Você está ilesa, Vigdis? — A voz de Randver cortou o ar.

Seu rosto perdeu a expressão de orgulho por um momento, e a culpa

cintilou nela.

— Estou bem, pai.

— Então, pelo que vejo, suas negociações foram bem. — Disse Randver. —

Eu nunca quis que você se casasse com nosso inimigo.

— Fuldarr me ofereceu algo que você nunca faria. — Ela ergueu o queixo. —

Palavras iguais em sua longa mesa. Para sempre. Ele está me tratando como uma

rainha. Nada como você tratou minha mãe. Ou a mim.

Randver cuspiu na praia de seixos sem quebrar o contato visual com

Fuldarr. — O que você veio fazer, Fuldarr? Somos uma família agora, não

somos?

O silêncio caiu na praia. Randver sussurrou baixinho para que apenas

Sigurd ouvisse. — Ela contou a ele sobre todas as nossas defesas. É por isso que

ele se casou com ela. Você sabe o que fazer. Vai.

— Eu vim reivindicar o que é meu! — Fuldarr rugiu.

Sigurd sibilou: — Não vou deixar você aqui. Existem o dobro deles.
Randver riu, e seus olhos azuis brilhantes brilharam pela primeira vez em

muito tempo. — Filho, serei grato por esta morte. Uma arma tirará minha vida e

não a doença que me agarrou pelas bolas como um menino. Odin me receberá

hoje em Valhöll, e beberei hidromel com ele e meu pai. Esperarei por você lá

quando chegar a sua hora. Mas não se apresse.

Ele agarrou o ombro de Sigurd e apertou. — Agora vá. Proteja a aldeia.

A garganta de Sigurd se fechou. A traição de sua irmã, o inimigo aos pés

deles, a morte certa de seu pai, fizeram a bile subir em sua garganta. A última

coisa que ele queria era deixar seu pai e seus melhores guerreiros na primeira

linha de defesas, mas ele sabia que Randver estava certo. A vila precisaria de

Sigurd para liderar seus guerreiros quando a primeira linha caísse.

— Vejo você em Valhöll, pai. — Sigurd apertou o ombro poderoso do pai e

eles acenaram um para o outro, os olhos se fixando pela última vez.

Ele deixou a fileira de guerreiros quando eles começaram a se mover sob o

último grito de seu pai: — Paredão de Escudos!

Ele não podia acreditar que sua irmã o traiu depois da maneira como ele a

protegeu por toda a vida. As palavras de seu pai deixaram marcas em seu

coração: Nunca confie em uma mulher, filho.

Enquanto ele corria em direção à aldeia, flechas começaram a atingir o solo

ao seu redor como gotas de chuva. Sigurd tocou o pingente do martelo de Thor,

que sempre lhe trazia sorte, e sussurrou: — Não vou, pai, eu prometo.
CAPÍTULO UM
Nova York, 2018

Donna Cox precisava ganhar o caso, ou quatro clientes não conseguiriam

comprar pão no próximo mês. Eles aguardaram a audiência em uma sala de

espera do tribunal. Marta e Helena estavam sentadas à sua direita, maduras

como melancias. À esquerda de Donna, Teresa e Gloria, ambas mães solteiras,

sussurravam em espanhol enquanto balançavam dois carrinhos de bebê que

pareciam que seus melhores dias haviam ficado muito para trás.

Todas as quatro mulheres trabalharam na limpeza de uma grande empresa,

a Cinderellas Inc. Seu supervisor as despediu assim que descobriu que estavam

grávidas. Donna ficou feliz por elas terem sido corajosos o suficiente para

processar. A maioria das mulheres em sua situação não ousava fazer isso.

O telefone de Donna tocou e a palavra “mamãe” iluminou a tela. Sua mãe

era sócia de Donna no escritório de advocacia deles no Brooklyn. Donna ergueu

o dedo indicador para as clientes, sinalizando que voltaria logo e saiu para o

corredor.

— Mamãe? Eu não posso falar. Estou prestes a entrar para a audiência.

— É por isso que estou ligando. Houve uma mudança, e eu preciso que você

mantenha a calma.
— Uma mudança?

—Sim. Eu descobri um minuto atrás. Ferguson and Partners substituiu

Virginia por - merda - por Daniel Gleason.

O calor se espalhou pelas bochechas de Donna. Daniel Gleason representava

tudo o que ela desprezava apaixonadamente no mundo e a razão pela qual se

especializou em ações judiciais por discriminação.

Nova York fervilhava de pessoas como Daniel Gleasons, e elas desfrutavam

de muito poder sobre as mulheres. Pessoas assim dirigiam escritórios de

advocacia, fundos de hedge e seguradoras. Às vezes, ensinavam em escolas,

dirigiam táxis e preparavam coquetéis. E um deles partiu o coração de Donna.

Daniel parecia um deus nórdico de terno. Um típico macho alfa, achava que

apenas mulheres bonitas deveriam ser secretárias e que todas as CEOs e políticas

do sexo feminino eram lésbicas. Três anos atrás, ele insistiu que Donna deveria

parar de trabalhar, encontrar um marido rico e dar à luz cinco filhos. Naquela

época, ela esperava secretamente que ele quisesse ser esse marido. Apesar de si

mesma, ela considerou seguir sua sugestão porque estava apaixonada.

Graças a Deus ela não tinha feito isso. Não que ele já tivesse proposto. Em

retrospecto, ela estava feliz por ele ter parado de dormir com ela um dia. Ele lhe

ensinou uma lição.


A lição que ela pensava ser parte de seu DNA, algo que sua mãe solteira a

alimentava todos os dias no café da manhã. Para nunca - nunca - se apaixonar

por um pedaço de dar água na boca com um grande ego e um sorriso sexy.

Era por isso que ela namorava apenas geeks - geralmente escritores ou web

designers. Caras que respeitavam as mulheres. E daí se o sexo era tão rançoso

quanto o champanhe do dia anterior? Eles eram inteligentes e engraçados e

imploravam por outro encontro, não o contrário.

—Donna? Você está aí?

Donna piscou, sua mão tremia. —Sim mãe

—Querida. Escute-me. Este é o processo mais importante da sua

carreira. Nossa carreira. Isso pode ser enorme para nossa empresa. Ponha de lado

sua raiva. Tem certeza de que pode gerenciar?

Donna soltou um longo suspiro. Não ajudou. —Aposto que é exatamente

por isso que o colocaram no caso.

Mamãe suspirou. —Eles sabem o tipo de homem contra quem

lutamos. Ainda. Você consegue.

—Tudo bem. Eu vou voltar.

—Boa sorte.

Donna desligou e apertou as mãos para aliviar a pressão. Quando ela voltou

para a sala de espera, uma mulher mais velha estava em seu assento. Ela parecia
uma avó universal com óculos pequenos e redondos e tricotava um lenço largo

com um padrão de galhos de árvores entrelaçados - lembrava Donna da arte

celta ou viking. Um fuso dourado estava em seu colo. Donna não teve tempo de

pensar em como ela era peculiar, porque bem ao lado da mulher, no assento de

Marta, estava Daniel.

Donna congelou como se tivesse batido em uma parede de vidro. Ela não o

via há três anos, e ele parecia ainda mais gostoso - e mais arrogante - do que

antes. Alto, de ombros largos e de constituição perfeita, ele se sentava com as

longas pernas esticadas e os tornozelos cruzados. Ele a observou com um sorriso

paternalista, como se ela fosse um gatinho fofo prestes a lutar contra um touro.

As bochechas de Donna coraram de vergonha do passado não resolvido, e o

ódio queimou como ácido. Ele estava usando seus sentimentos passados contra

ela por estar aqui.

Ela franziu o cenho. Algo estava errado nesta foto.

Sua cliente grávida de oito meses estava de pé, esfregando a parte inferior

das costas, encostada na parede e fazendo uma careta de dor, enquanto o filho de

uma borboleta estava sentado em sua cadeira como se esperasse por uma

massagem em uma sauna turca.

Não. Isso não tinha simplesmente acontecido! A fúria acendeu seu sangue

em chamas. Donna marchou em direção a eles, os saltos estalando assassinos

contra o piso de mármore do tribunal.


—O que você pensa que está fazendo, Daniel? Seu orangotango

egocêntrico! Você ocupou o assento de uma mulher grávida? Você disse a ela

para voltar para o México? Você percebe que podemos processá-lo pessoalmente

por isso? Temos testemunhas. — Ela apontou para a velha.

O rosto de Daniel perdeu toda a cor, e o sorriso afetou seu rosto como uma

toalha molhada.

Ele se levantou de um salto. —Donna- Não, eu nunca- Eu não-—

Isso era novo. Ela nunca o tinha visto gaguejar assim. Talvez ela devesse

lançar acusações contra ele com mais frequência.

Marta olhou timidamente para ela. —Donna, tanto quanto eu gosto do

show, Sr. Gleason não roubou meu assento. Minha parte inferior das costas está

me matando. Eu precisava andar.

A mortificação atingiu Donna como uma bola de neve molhada. Daniel

cruzou os braços sobre o peito, o sorriso arrogante iluminando seu rosto

novamente.

—Quem vai processar agora, Donna? Mas, me sinto generoso. Estou

disposto a esquecer seus insultos se puder te pagar uma bebida depois da vitória

de hoje. Seria ótimo recuperar o atraso.

Donna respirou fundo. Ela percebeu que Daniel tinha conseguido o que veio

buscar. Ele a desequilibrou, deixou-a emocionada e mostrou quem estava no

controle.
Não, ela não daria a ele essa satisfação. Ela era uma ótima

advogada. Graduada em Harvard. Precisava mostrar a ele seu lugar. Se ao

menos ela pudesse encontrar a confiança. Todo mundo estava olhando para

Donna - até a velha senhora, com um sorrisinho malicioso espalhando-se pelos

lábios.

—Você sabe o que, Daniel? Eu nunca vou deixar você vencer. Você pode

enfiar sua bebida no nariz.

Ela sabia que parecia ridícula, mas a raiva e o constrangimento sufocaram

sua garganta. Por que ela não podia falar mal?

Donna deu as costas para Daniel e, fingindo olhar os documentos do

processo, saiu da sala de espera para o corredor como uma estudante do ensino

médio. Felizmente, o corredor estava vazio, então ela poderia respirar por um

momento.

—Com licença - Donna, não é?

Donna se virou, suas bochechas ainda em chamas. A velha senhora com o

tricô estava atrás dela.

—Sim? — Donna deu um passo em sua direção.

A mulher a estudou com a curiosidade de um cientista. Ela tinha um

sotaque que Donna não conseguia identificar. —Eu não pude deixar de

ouvir. Parece que você tem um problema com homens fortes.


Donna franziu a testa. —Eu não tenho problemas com homens fortes!

—Oh, você tem, querida. Eu preciso de você em algum lugar. Não,

errado. Há um homem que precisa de você.

—Precisa de mim? Como advogada? Eu represento principalmente

mulheres contra homens, então—

A senhora sorriu. —Exatamente. Você poderia segurar isso para mim, por

favor?

Ela estendeu o fuso, que Donna notou agora serem galhos de árvores

entalhados, cobras e folhas, amarradas em um padrão interminável. Donna se

perguntou à distância, quem usaria um fuso hoje em dia? Sua palma se fechou

em torno dele.

O metal queimava suas pontas dos dedos como uma xícara de chá quente

depois de um dia frio, suave e afiado. A sala de espera desapareceu. Era como se

algo sugasse o sangue de Donna para fora de seu corpo, mil machados cortassem

sua carne e uma fornalha derretesse seus ossos. Ela gritou de dor, mas só ouviu o

canto de um homem, e girou e girou como o fuso dourado.

E então não havia nada.


CAPÍTULO DOIS
Vörnen, Noruega, 871 DC

Os músculos das costas e dos braços de Sigurd gritaram. Seu corpo se

esticou, seus punhos enrolados em uma corda, levantando uma estaca que se

tornaria parte da fortaleza. Feita de um pinheiro antigo gigante, tinha o dobro da

altura de Sigurd. O fundo foi plantado em uma vala profunda.

Sigurd tinha apenas um ajudante - Floki - que empurrava a estaca do outro

lado para que ficasse verticalmente. Eles precisavam de pelo menos mais um

homem atrás de Sigurd para puxar a corda e mais um para ajudar Floki.

Estavam construindo a parede da paliçada2 sob um enorme arco de pedra

que os deuses devem ter esculpido quando estavam criando o mundo. Parecia

que rochas de tamanhos diferentes haviam sido grudadas por uma força

invisível em uma linha irregular entre as paredes de granito da montanha,

formando um portão natural sobre o caminho de terra que levava à aldeia.

A parede da paliçada sob o arco protegeria a aldeia como parte do sistema

de fortificação do Oeste. Do Norte, a vila era protegida pelas montanhas, mas era

vulnerável a ataques terrestres vindos do Leste. O lado Sul precisava de mais

2
defesa, já que fazia fronteira com a praia onde qualquer invasor vindo por mar

chegaria.

A lama sugou os sapatos de Sigurd, tornando difícil conseguir um apoio

para os pés. Até agora, a aposta estava ganhando.

—Segure! — Gritou Floki, com o rosto vermelho, as veias do pescoço

salientes.

A construção da fortaleza foi um trabalho árduo. A batalha do final do verão

do ano passado contra Fuldarr havia conquistado metade da população

masculina. Sigurd esperava que seu pai festejasse com Odin em Valhöll, pois ele

havia caído na batalha como um herói, levando muitos inimigos com

ele. Felizmente, Sigurd havia vencido, sua segunda linha de defesas inclinando a

balança para o lado deles. Fuldarr recuou com apenas um terço de seus navios - e

com Vigdis.

Fuldarr não se recuperaria logo de tal derrota, mas nem mesmo Vörnen. A

batalha, que durou muitas horas, os tornou um alvo fácil para os invasores. Foi o

fim da temporada de ataques, graças aos deuses, então ninguém os atacou desde

então. Agora era junho, e a maioria dos vizinhos estava ocupada plantando

verduras, centeio e cevada deste ano - ainda muito cedo para invasores. Eles

tinham que terminar a fortaleza o mais rápido possível, e certamente antes do

final do verão, ou seriam um alvo fácil para invasores comuns. Mais preocupante

ainda era o ano que vem, quando Fuldarr provavelmente já teria reunido novas

tropas.
A corda queimou a mão de Sigurd e rangeu suavemente. Ele tinha que

puxá-la agora, ou a estaca cairia em Floki. Se ao menos Sigurd tivesse mais

homens.

Ele encheu os pulmões de ar e rugiu —Nããão! — Puxando a corda em sua

direção, esperando que Floki empurrasse ao mesmo tempo.

Asa, esposa de Floki, apareceu no caminho com o almoço em uma

cesta. Seus olhos se arregalaram e ela correu em direção a eles, a cesta jogada no

chão. Ela pegou a corda atrás de Sigurd e puxou com ele. Sigurd sentiu que a

corda cedeu com mais facilidade e a estaca começou a se mover na direção deles,

mas ele grunhiu. —O que você está fazendo mulher? Vá embora.

Ela apenas gemeu e puxou com mais força. A ponta do tronco se ergueu,

mas rápido demais. Como ela era tão forte?

—Vá embora, Asa! — O alarme tocou na voz de Sigurd. Ela certamente

cometeria um erro, ela não tinha ideia de como fazer isso e faria com que os dois

fossem mortos.

— Você precisa de ajuda, jarl. — Grunhiu ela entre os dentes.

A raiva cresceu no estômago de Sigurd como bile quente. Ele tinha visto o

tipo de ajuda fornecida pelas mulheres... —Eu proibi as mulheres de chegarem

perto da fortaleza!

A raiva deu a Sigurd uma força que ele não sabia que tinha. Ele puxou a

corda e a estaca se ergueu. Ele ficou verticalmente por um momento, então


perdeu o equilíbrio e caiu na parede esquerda com um baque. O arco acima do

caminho rachou no lugar mais fino com o golpe. Areia e pequenas pedras

choveram no caminho abaixo.

Floki saltou para longe. Mas o arco não quebrou.

—Mulher boba! — Sigurd rosnou. — Como vamos construir o muro quando

pedras podem cair sobre nós a qualquer momento?

Sigurd percebeu um movimento e seus olhos se fixaram no chão perto da

vala.

Uma mulher estava deitada lá.

O ar mudou como se o calor irradiasse do solo, mas então ele se foi. Freyja, a

deusa do amor, esparramada no caminho, seu famoso cabelo dourado caindo no

chão ao seu redor.

Ele piscou. Como ela chegou lá?

A estaca começou a deslizar em direção ao chão. A fricção do pesado tronco

contra a parede alterou o frágil equilíbrio do arco rachado, e uma pedra do

tamanho da cabeça de uma criança começou a cair na direção da mulher.

Tudo demorou apenas um momento, mas Sigurd viu como se o tempo

tivesse diminuído.

Ele disparou em direção ao corpo inconsciente e puxou-a apenas o

suficiente. A pedra atingiu o chão bem onde sua cabeça estava.


Todos prenderam a respiração.

Sigurd olhou para ela. Ela era a mulher mais bonita que ele já tinha

visto. Sua pele era perfeita, suas pálpebras brilhavam com tons de poeira estelar

dourada, seus suaves lábios rosados inchavam como se pedissem um beijo. Ela

usava as roupas mais estranhas que ele já tinha visto: uma jaqueta cinza abraçava

sua cintura e braços de forma que ela tinha pouco espaço para se mover; uma

saia agarrava-se aos quadris e terminava logo acima dos joelhos, expondo

descaradamente belas pernas. Palitos afiados que poderiam perfurar os olhos de

um homem estavam colados nos saltos de seus sapatos brilhantes. Ela os usava

como armas?

Em seu pescoço estava um fio dourado de um colar de tal delicadeza que só

poderia ter sido feito com magia por anões de lendas. Pérolas estavam presas em

suas orelhas. Uma braçadeira ao redor de seu pulso tinha um círculo branco,

pequenas runas ao longo da borda e duas flechas que apontavam para eles do

centro, finas como agulhas de osso. A armadura fez tique-taque e uma das

flechas se moveu.

Mãos humanas não fizeram esses objetos. — Ela deve ser uma deusa. —

Sussurrou Sigurd.

Asa chegou perto. —Ela está viva?

Sigurd pressionou o ouvido contra sua jaqueta, aquecido pelo calor de seu

corpo. Ele ouviu um bom thump-thump, thump-thump e acenou com a cabeça


para Asa. Ele examinou a mulher para ver se estava visivelmente ferida, mas ela

parecia ilesa.

A realização atingiu Sigurd. Ele olhou para seu povo. — Os deuses devem

tê-la enviado para nos ajudar com a fortaleza.

Ele não confiava em mulheres mortais, mas deusas eram outra coisa.

Eles acenaram com a cabeça, seus olhos grandes e cheios de

admiração. Talvez ela, como deusa, o favorecesse. Talvez fizesse mágica e

trouxesse força para acabar com a fortaleza no final do verão. Com o número de

homens que tinham agora, eles não tinham esperança.

— Pois bem, jarl. — Asa pressionou os punhos contra a cintura. — O que

vamos fazer com ela? Ela me parece bem à primeira vista, mas preciso examiná-

la adequadamente. E tratá-la se for necessário. Mas imagine o que ela pensaria se

acordasse em um banco da minha casa. Os pés de Floki em seu rosto, cocô de

galinha no chão, vacas mugindo. Ela não deveria nem mesmo dormir em um

banco em seu grande salão.

—Por que não? — Disse Floki. — Foi bom o suficiente para Vigdis por toda a

sua vida. Até reis dormem lá quando visitam.

Os olhos de Asa se arregalaram. —Você quer ofender os deuses, Floki? —

Ela se virou para Sigurd. — Ela precisa estar no melhor lugar de toda a aldeia

para se sentir honrada.


Sigurd sabia para onde Asa estava levando. Mas ele não gostava nem um

pouco da ideia de um estranho em sua cama. Deuses, ele odiava quando as

mulheres estavam certas.

— Meu quarto. — Disse Sigurd. — Na verdade, ela deve se sentir bem-

vinda. Precisamos de um milagre para terminar a fortaleza.

Sigurd pegou a mulher nos braços como um despojo precioso de um ataque

e caminhou em direção à aldeia. Sua pele formigou onde seu corpo pressionou

contra o dele. Afinal, pode não haver nada de errado em ter uma deusa em sua

cama.
CAPÍTULO TRÊS

Alguém respirava ao lado de Donna.

Estranho. Isso deveria ser um sonho. Ela não se lembrava de ter ido a um

encontro na noite passada. Na verdade, ela não conseguia se lembrar de muita

coisa, sua mente zumbia como um gongo de meditação.

Bom. Sem pensar agora. O gosto residual de algo desagradável que

acontecera em sua vida desperta permanecia nos cantos de sua psique como um

ladrão. Ela queria esquecer isso, fazer isso ir embora. Se este era

um daqueles sonhos, com um homem ao lado dela, seria melhor ela desfrutar de

sua companhia.

Ela abriu os olhos e viu a silhueta de alguém grande deitado de costas para

ela. Um homem, de fato.

Isso era novo. Seus sonhos sensuais geralmente começavam perto da ação -

um cavaleiro, ou um pirata, ou mesmo um samurai japonês - entrando,

sussurrando algo doce em seu ouvido e levando-a como se ele estivesse

morrendo de fome e ela fosse sua última refeição. Quando ela estava acordada,

desprezava o tipo. Mas na privacidade de suas fantasias, apenas um homem

forte e poderoso poderia colocar fogo em seu corpo.


Donna examinou a sala ao seu redor. Estava escuro, a única luz vinha de

quatro lanternas penduradas nos cantos. Um telhado de palha se elevava bem

acima de sua cabeça. Machados, espadas e escudos pendurados nas paredes de

tábuas ásperas. Três arcas ficavam perto da porta de madeira, que tinha vãos e

oferecia pouca privacidade. Não havia janelas. O vento uivava lá fora e o cheiro

de chuva atingiu seu nariz.

Não era seu apartamento em Nova York, isso era certo. Que fantasia

estranhamente vívida.

Donna se virou de lado e as peles fizeram cócegas em seus tornozelos. Ela

olhou sob o cobertor de pele. Ela usava uma espécie de camisola de linho,

medieval pelo que parecia.

Donna estava curiosa agora para saber que tipo de cara seu subconsciente

havia criado desta vez. Viking pela aparência da sala.... Ela estendeu a mão para

o ombro maciço e correu as pontas dos dedos ao longo de sua forma. O homem

se mexeu e deu um tapa na mão dela como se fosse uma mosca.

Donna franziu a testa. Ok, mestre dos sonhos, isso foi muito real. Podemos

adoçar isso, por favor?

Ela deslizou para mais perto do homem, roçando a mão em sua omoplata e

descendo pelos músculos protuberantes de suas costas. Mas antes que ela

pudesse alcançar suas nádegas - que certamente seriam deliciosamente firmes e

redondas - o homem girou, prendeu-a no colchão e colocou uma faca em sua

garganta.
Donna engasgou, a adrenalina enviando seu coração em uma batida

irregular. O homem a estudou. Então seu rosto relaxou e ele rolou de

costas. Donna agarrou o cobertor de pele sob o queixo e rastejou para o canto

mais distante da cama.

— Deusa, é você. — A voz do homem rolou como o ronronar de um

leão. Ele colocou a faca de lado. — Não brinque com um guerreiro adormecido.

Sem brincadeiras. Donna engoliu em seco.

Quando sua frequência cardíaca começou a diminuir, ela percebeu que ele a

chamou de deusa. De jeito nenhum isso era realidade.

Ela o estudou. Ele era impressionante: cabelo loiro-escuro, barba curta, olhos

da cor do céu de chumbo. O ar zumbia ao redor dele e, embora ele não a tocasse,

a aura de sua presença fazia cócegas em sua pele como eletricidade

estática. Ninguém nunca a afetou dessa forma, nem mesmo Daniel.

Isso serviria.

Donna suspirou e deu uma risada. —Você me assustou também.

Quando as palavras saíram de sua boca, ela sabia que falava uma língua

estrangeira. Mas não teve dificuldade em procurar palavras ou entender o

homem. Esse sonho seria divertido.

— Como você está se sentindo? Você está inconsciente desde ontem.

Ela franziu o cenho. —Eu estou? Não me lembro como cheguei aqui.
— Você acabou de aparecer. Eu trouxe você para cá. Espero que você ache

aqui satisfatório.

— Oh. — Donna sorriu. —Muito. Qual o seu nome?

— Sigurd Randverson. Eu sou o jarl aqui.

Donna mordeu o lábio. Ela se lembrou da aula de história que um jarl era

como um conde. Ela estava na cama com um jarl Viking, e um lindo. A

antecipação aqueceu seu corpo. Ele estendeu a mão e roçou o lábio inferior com o

polegar. Sua respiração se acelerou. — Linda. Como posso chamá-la, deusa?

— Donna.

— Donna. — Ele rolou o nome dela na língua como um doce. Seu olhar

percorreu seu corpo e sua pele formigou. — Minha linda deusa.

Suas bochechas aqueceram, suas palavras fazendo-a derreter como caramelo

ao sol. A mulher nova-iorquina nela já teria zombado dele - e de si mesma, por

reagir daquela forma.

Mas aquela mulher de Nova York poderia fazer uma pausa.

Donna passou os braços em volta do pescoço dele e puxou-o suavemente

para mais perto. Seu cheiro a envolveu. Mar fresco, pinheiros e o cheiro

almiscarado do homem. Oh, ela poderia se perder completamente nele. As

palmas das mãos desceram e pousaram em seu peito saliente coberto de cachos
loiros. Seus dedos percorreram seus antebraços e massagearam os músculos de

seus braços. Suas mãos a aqueceram e relaxaram.

— Sua pele é como seda. — Ele murmurou. — Esta não é a pele de um

mortal. Você vai se deitar comigo, deusa?

Deitar com ele? Ela estava pronta para vender sua alma para passar uma

noite com ele.

— Sim.

Ele inclinou a cabeça e selou sua boca sobre a dela. Seus lábios firmes eram

macios e cheios de necessidade. Eles pressionaram contra ela suavemente. Sua

língua provou a dela, acariciando-a suavemente.

As mãos dele desceram por suas pernas e puxaram a camisola pela cabeça

até que ele libertou Donna dela. Sua pele nua queimava com antecipação. Seus

dedos circundaram seus mamilos, mas não os tocou. Eletricidade disparou por

ela, seus seios doeram agradavelmente. Seu corpo se contorceu contra ele,

impaciente por mais, a doce fricção tornando-a flexível e quente. Ela pegou a

calça dele, mas ele a impediu.

Ele a deitou no colchão e puxou seus braços bem acima da cabeça,

prendendo-os com uma das mãos, depois voltou aos seios e amassou-os com a

outra. Suas costas arquearam e ela se pressionou contra a palma da mão dele. Ela

mordeu o lábio enquanto tentava e não conseguia conter um gemido.

— Eu quero que você implore. — Sua voz rouca ressoou em seu peito.
Oh, não vai demorar muito.

A mão dele desceu pelo lado dela, de volta entre as pernas, provocando os

dedos. Uma leve pincelada de seu polegar sobre seu clitóris a fez gritar. Quando

ele deslizou um grande dedo em sua suavidade, um longo gemido escapou de

sua garganta. Um segundo dedo entrou, trabalhando mais devagar do que ela

queria, mas mandando-a para um mundo de doce agonia que não tinha ideia que

existia.

— Isso te agrada? — Sigurd abaixou a cabeça para trilhar uma linha de

beliscões e lambidas delicadas ao longo de seu pescoço, mordendo de imediato

quando alcançou seu ombro.

— Ah. — Ela estava delirando de prazer. — Este é o melhor sonho que já

tive.

Ele continuou sua doce tortura. — Um sonho? Deusa, se isso é um sonho,

então sou um anão de Nidavellir.

Donna estava muito quente e longe demais para entender totalmente suas

palavras.

— O que quer que você diga... por favor, não pare. — O corpo dela

continuou se movendo em ondas contra o dele, mas ele congelou.

— Donna. Isto não é um sonho. Você está aqui, comigo, na Noruega, em

Vörnen.
Isso era muito preciso. Donna abriu os olhos. Ele pairou sobre ela com uma

carranca.

Ela engoliu em seco. — Vörnen, Noruega? E você é um jarl Viking?

—Um jarl nórdico.

O suor frio brotou em sua pele. E se isso não fosse um sonho? Ainda

excitada, Donna percebeu sua nudez. Ela se sacudiu para tirar as mãos de

debaixo do braço dele e se cobrir, mas ele as prendeu contra o travesseiro e a

pressionou contra o colchão.

— Me belisque. — Disse ela.

— O que?

— Se não for um sonho, vai doer. Me belisque.

— Essa é uma lógica estranha, deusa.

Ele a beliscou no lado nu da cintura, e uma dor aguda misturada com

cócegas a percorreu.

Ela congelou, sua memória retornando em uma avalanche. O

tribunal. Marta. Daniel. A velha senhora com um fuso.

Há um homem que precisa de você...

O horror lustroso desceu por sua espinha. Ela tinha acabado de instigar o

sexo com um homem que acabara de conhecer.


Mas o mais importante, onde estava? O que acontecera com ela? Estava

tendo alucinações? Isso era muito real - e o beliscão de Sigurd doeu. Ela foi

sequestrada por um cúmplice da velha senhora? Ela não se lembrava de nada

depois de tocar aquele fuso. Ela caiu e teve uma concussão? Mas sua cabeça não

doía.

Onde quer que ela estivesse e o que quer que tivesse acontecido, uma

necessidade incontrolável de fugir para a segurança tomou conta de seu corpo e

sua mente. Ela tinha que ver lá fora.

— Me solta, seu bárbaro! — Ela se contorceu como se sua vida dependesse

disso, chutando-o e mordendo. Ela tinha que saber. Mas ele era como uma

montanha.

—Não. — Eu não vou deixar você fugir.

— Eu não estou fugindo. Eu só preciso ver onde estou. Me deixe ir!

Ela estava mentindo. Ela fugiria se precisasse.

Ainda segurando seus braços, ele se levantou. — Não pense que vou deixá-

la fora da minha vista nem por um momento.

Donna acenou com a cabeça. Ele a soltou e foi até a porta, bloqueando-a. Ele

ainda estava nu da cintura para cima, e a respiração de Donna ficou presa na

garganta ao vê-lo poderoso. Ele era o homem mais magnífico que ela já tinha

visto.
Ele acenou com a cabeça para um dos baús com o queixo. — Aqui estão

algumas roupas para você. As que você chegou não são adequadas para nossas

condições. Talvez elas sejam perfeitas para o seu mundo — ele apontou o dedo

para o teto — mas aqui, você vai congelar nelas. Escondi suas armas em um

lugar seguro. Eu não posso confiar em você.

Donna teve vontade de rir. Ele achava que seus estiletes eram armas? Isso

era ridículo.

Ela se levantou, o cobertor de peles ainda enrolado em volta dela para cobrir

sua nudez, e caminhou até os baús. Ela abriu o que ele apontou e encontrou uma

longa camisola de linho, um vestido de avental vermelho com broches e sapatos

de couro macio.

— Vire-se. — Disse ela.

Ele apenas ergueu as sobrancelhas.

— Vire-se, Sigurd.

— Eu não estou deixando você fora da minha vista, deusa. Em primeiro

lugar, ainda não confio em você. Em segundo lugar, não vou negar a mim

mesmo o prazer de ver seu corpo nu em minha própria casa.

Donna rosnou. — Como você ousa me tratar como se eu fosse sua

propriedade

Sigurd apenas zombou.


—Vire-se, sua hemorroida egocêntrica!

— Um o quê?

— Eu não vou me trocar enquanto você está tiver olhando para mim.

— Como quiser. Fique nua para sempre.

O queixo de Donna se ergueu e ela reprimiu sua raiva. Ela precisava ver

onde estava. Ela tinha que decidir o que era mais importante, seu orgulho ou

descobrir a verdade. — Qualquer que seja. Você quer me ver nua? Por mim,

ok. Você já fez. Eu tenho que ver o que está lá fora.

As peles caíram em uma pequena pilha ao redor dela. Sigurd prendeu a

respiração e Donna escondeu um sorriso. Sem olhar para ele, mas com as

bochechas em chamas, ela se vestiu. As roupas eram surpreendentemente macias

e agradáveis contra sua pele, e os sapatos eram um pouco grandes, mas

confortáveis.

— Vamos embora. — Disse ela.

Sigurd vestiu uma túnica e pegou um machado. Ele agarrou seu cotovelo e

ela o empurrou para trás. — Não me toque!

Ele apenas riu. — Isso não será possível, deusa.

Ele agarrou seu braço com mais firmeza, abriu a porta e a conduziu por um

corredor gigante.
Donna olhava tudo com a boca aberta. O corredor era escuro, espaçoso e

comprido. Havia uma pequena plataforma com um trono de madeira gigante. O

fogo crepitava suavemente em uma longa lareira no centro da sala. Ao longo das

paredes, havia bancos com pessoas dormindo neles. As colunas eram decoradas

com padrões Viking que lembravam Donna do fuso dourado. Cheirava a feno,

cerveja e madeira.

Tudo parecia muito real. Suas mãos começaram a tremer.

Eles passaram pelos altos portões do corredor do lado de fora.

Era madrugada e Donna podia ver casas compridas de madeira ao seu

redor. Depois da vila, ficava a superfície de um fiorde liso, vários barcos de

aparência viking estavam ancorados no píer e se erguiam montanhas como

paredes ao longo de suas costas. O ar estava fresco e quase tinha um gosto doce.

Parecia que, por algum milagre, Donna estava de fato na Noruega, em uma

espécie de vila medieval. Se ela acreditasse em magia, pensaria que viajou de

volta no tempo...

Não. Impossível. Deveria ser algum tipo de reconstituição. Mas como ela

chegou aqui e como voltaria para casa? Ela era uma prisioneira aqui? Sua visão

escureceu, a terra mudou sob seus pés. Sua mão procurou por algo para se

segurar e agarrou um braço quente.

Ela olhou para Sigurd, seus olhos se encontraram, e a sólida força em seu

olhar cinza a estabilizou.


— Eu preciso voltar.
CAPÍTULO QUATRO

Ela precisava do quê?

A mão de Sigurd enrijeceu em torno do cotovelo de Donna. Ela parecia que

ia desmaiar agora, como se estivesse em um lugar impossível.

Havia algo tão humano em sua reação. Ela não parecia uma deusa em

absoluto. Havia um apelo em seus olhos azuis. E pânico. E terror.

Ele cerrou os dentes. Seus músculos ainda estavam encharcados com o gosto

residual do corpo dela contra o dele. Ele não conseguia se lembrar de querer

nenhuma mulher tanto quanto ele a desejava. Tudo o que ele sentiu ao lado dela

era quase divino. Ele havia pensado que, finalmente, os deuses sorriram para ele.

Mas se ela não tinha intenção de estar aqui, por que os deuses a

enviaram? Ela disse que precisava voltar. — E onde é isso?

— Nova York. — Ela suspirou.

— Você quer dizer a cidade de Jorvik na Northumbria que Ivar, o

Desossado, conquistou?

Seus olhos se arregalaram ainda mais. — Northumbria? O antigo reino que

não existe mais? Pare de brincar! Todo mundo já ouviu falar de Nova York.

Ele ergueu as sobrancelhas.


Ela pressionou. —Você sabe, Nova York? Estados Unidos da América?

Sigurd riu. — Suas palavras estão tão emaranhadas quanto a barba de

Loki. Onde fica isso? Parece que pode ser na Irlanda, embora eu nunca tenha

ouvido falar.

Donna grunhiu de exasperação e olhou para o cotovelo - que ele ainda

segurava. Ela lutou para libertá-lo. — Você vai me soltar! Eu não saberia para

onde correr!

Ela era muito pequena, mas tão agressiva. — Você está me achando um

idiota, deusa?

Sua boca abriu e fechou. Ele sorriu. Inspirado por uma ideia, ele olhou para

a pilha de materiais de construção que jazia junto ao portão alto da grande

maloca. Havia cordas e, sem soltá-la, ele pegou uma curta.

Donna engasgou. —Você não está...-

Sem conceder a ela uma resposta, ele a puxou para si, soltando seu cotovelo

e envolvendo os braços em volta dela, a corda em suas mãos. Seu corpo estava

pressionado contra ele e suas pupilas dilatadas, os lábios macios se abrindo. Seu

doce perfume o envolveu: frutas frescas e madeira aquecida pelo sol, e ar fresco

no alto das montanhas, e algo mais - algo fora deste mundo.

Sigurd amarrou a corda em volta da cintura dela, terminando com um nó

marinho. Seus olhos se arregalaram, ela engasgou e começou a lutar,

empurrando-o para longe, mas ele a segurou no lugar. Sua cintura era tão
estreita, tão frágil. A memória de sua pele sedosa sob seus dedos o fez engolir em

seco, e uma onda de desejo o percorreu.

— Nem um passo longe de mim. — A sua voz estava rouca.

Ele a soltou e ela balançou como se tivesse perdido o equilíbrio. — Eu sou

algum tipo de escrava para você? Solte-me de uma vez! Como você ousa!

Donna não poderia parecer uma escrava, mesmo que tentasse. Em vez disso,

ela parecia a deusa das tempestades, suas bochechas coradas, seus olhos

disparando raios. Ela até parecia ter crescido em altura.

Mas ele não podia agir de acordo com seu desejo agora. A fortaleza

precisava ser construída, e ele precisava saber se a deusa poderia ter alguma

utilidade. Sem dizer outra palavra, ele caminhou pelo caminho de terra em

direção ao arco, puxando-a atrás de si. Ela cravou os pés como uma cabra

teimosa.

— Para onde você está me levando?

— Para o arco de pedra onde você apareceu. Ou o arco ou você tem poderes

especiais, e vou descobrir quais.

Donna parou de lutar. Sigurd olhou para ela. Ela assistia a tudo com olhos

grandes e boca aberta. Ela estava pálida e mal olhou para onde caminhava. Eles

estavam passando por outras malocas, o que havia para olhar? Talvez as

esculturas magistrais de Floki nas vigas? Ele havia esculpido seu projeto pessoal

que distinguia Vörnen de outras aldeias. Sim, elas eram algo para se admirar,
mas Donna olhava para tudo como se esperasse que trolls e gigantes de

Jötunheimr saíssem das portas e de trás dos cantos das casas. Ainda era cedo,

então apenas algumas pessoas começaram seus deveres matinais.

— Isso é um cenário de filme? — Ela perguntou.

— Um o quê?

— Por que as pessoas estão vestidas como se estivéssemos na época

medieval? Onde estão os postes de energia? Por que não há janelas nas

casas? Esses navios... — Ela apontou para os barcos na praia, atrás da parede

inacabada da fortaleza. —Eles parecem bem históricos.... Deve haver alguma

explicação lógica. Vocês são algum tipo de culto? Ou algo como os Amish, mas

na Noruega?

Sigurd franziu a testa. Algumas de suas palavras não faziam sentido. —

Você está tentando lançar um feitiço, deusa?

— Pare já com a 'deusa', por favor! Deixe-me pensar. Eu sou uma pessoa

racional. Eu estava em um tribunal com meus clientes e Daniel, e então havia

aquela senhora.... Espere. Você disse que eu acabei de aparecer. Sob esse arco,

certo? O que aconteceu exatamente?

Tribunal? Clientes? Era como se ela fosse de um mundo totalmente

diferente. — Floki, sua esposa Asa e eu estávamos erguendo uma paliçada. A

estaca caiu na parede do arco, e você apareceu.


Eles se aproximaram do arco, que ficava a algumas dezenas de metros da

última casa, escondido atrás do bosque. A rocha que quase matou Donna ainda

estava no chão.

Sigurd apontou para ele. — Este é exatamente o local onde você apareceu

ontem.

Os olhos de Donna percorreram o arco, os olhos arregalados. — Isso é no

meio do nada. Até o fiorde está longe, então não pude vir por mar. Há árvores

por toda parte, um helicóptero não conseguiria pousar. Eles simplesmente me

largaram? Mas não sinto dor em lugar nenhum. Como eu poderia simplesmente

aparecer?

Um helicóptero? Era um tipo de dragão que a deusa poderia estar

cavalgando? Sigurd procurou por quaisquer sinais de magia que ela pudesse

experimentar estando ao lado do arco. A única magia que ele sentiu foi seu

batimento cardíaco acelerado causado pela presença dela. — Você sente alguma

coisa? — Ele perguntou.

— Eu sinto que você está me machucando. — Ela puxou a corda em volta da

cintura.

Sigurd afrouxou um pouco o nó. Seus dedos derreteram onde tocaram sua

cintura. Por que ela teve tanto efeito sobre ele? Ele estava ardendo por ela.

Isso não era bom. Ele não podia dar a ela esse poder sobre ele.
Ele engoliu em seco e pressionou. — Alguma mágica? Você pode fazer a

pedra subir?

Donna bufou. —Por favor.

Ela se afastou dele em direção à rocha, e a decepção picou em seu peito

porque ela o deixou ao lado. Ela circulou a pedra, seus passos graciosos, suas

curvas suaves movendo-se sob as roupas. A corda esticou e ele a puxou

ligeiramente para trás. Ela o recompensou com um olhar furioso.

Embora Sigurd a tivesse trazido aqui, ele não gostava que ela farejasse as

pedras. E se ela desaparecesse da mesma maneira que apareceu? Ou pior, e se ela

pegasse uma pedra e o esmagasse mais tarde durante o sono? — O que você está

procurando?

— Não sei. Quaisquer sinais de uma explicação lógica. Uma mordaça tratada

com clorofórmio. Uma porta escondida. Uma caixa de espelho. — Ela congelou e

olhou para ele. — Espere. Você disse que Asa estava com você? Ela é velha e tem

um fuso dourado?

— Um fuso dourado? Asa não é rica o suficiente para ter esse

tesouro. Mesmo eu não possuo mais ouro.

Um jarl precisava de um tesouro para manter a lealdade de seus

guerreiros. Sigurd havia dado todo o seu ouro para reter os últimos guerreiros

fortes quando seu pai adoeceu e, desde então, eles não haviam feito um único

ataque. O ouro se foi, e apenas a prata permaneceu; mas que também estava
desaparecendo rapidamente enquanto pagava aos homens restantes. Ele só podia

esperar que eles fossem capazes de fazer ataques no próximo ano, uma vez que a

fortaleza fosse construída.

Todos esses infortúnios por causa da traição de uma mulher ...

Sigurd franziu a testa, algo que Donna disse que chamou sua atenção.

Um fuso dourado. E uma velha.... Será que... — Onde você viu a velha com o

fuso?

— No tribunal de Nova York. Ela veio até mim e disse que um homem

precisava de mim, e então ela me pediu para segurar seu fuso dourado. Havia

padrões esculpidos nele, pareciam com os de suas colunas. Ela estava tricotando

um lenço com uma árvore.

Uma árvore? Poderia ser a Yggdrasil, a árvore do mundo? — O único ser

que tem um fuso dourado é uma das Três Nornas.

—Três Nornas? Quem são elas?

— Elas tecem os fios do destino das pessoas. E os destinos dos

deuses. Definem quando nascemos, quando morremos e o que acontece

conosco. Um trovador que visitou meu salão - na época em que meu pai era o jarl

- cantou uma lenda na qual as Três Nornas tinham um fuso de ouro, um de prata

e um de bronze.
As sobrancelhas de Donna se ergueram. Sigurd olhou para o arco. Sempre

pareceu que era mais do que apenas uma estranha coleção de pedras empilhadas

juntas. Deveria ser. Ele desejava agora que tivessem um padre ou uma bruxa na

vila, alguém que conhecesse seidr, a arte da magia e bruxaria. Estes saberiam

sobre o arco.

Mas mesmo Sigurd, que não era um bruxo, podia sentir algo poderoso além

das palavras naquelas rochas. Portanto, não foi surpresa que alguém como

Donna aparecesse aqui. Quando completassem a fortaleza e recuperassem sua

força como um jarldom3, seria o lugar perfeito para um bosque sagrado. Os

deuses adorariam o arco.

O Norn certamente o faria; afinal enviou Donna para cá.

Donna balançou a cabeça e se virou, caminhando em direção ao arco. A

corda esticou e ele se sentiu como um troll pegando um peixe lutando. Ele a

puxou de volta. Ele não queria que ela tocasse nas pedras sagradas. O arco

poderia ser o portal pelo qual ela veio.

— Não chegue perto disso.

Donna apertou as mãos exasperada, mas depois olhou para ele com

desconfiança. — Por que?

— Porque eu disse.

3 Tipo um condado
— Eu não acredito nesse absurdo. Eu sou uma advogada de Nova York, pelo

amor de Deus. Não existe tal coisa como Nornas e não existe magia.

Mas enquanto dizia isso, suas palavras foram sumindo. Sigurd cruzou os

braços sobre o peito. Ela não acreditava em magia? Mentiras. Ele a agarrou pelo

cotovelo e a girou para encará-lo.

Seu rosto era uma máscara de fúria, seus seios pressionados contra ele

enviando calor por seus músculos como o hidromel mais forte.

Ela estava tão perto que ele inalou o doce aroma de seu hálito. O desejo de

beijá-la fez sua cabeça girar.

— Eu não dou a mínima para o que você acredita. Você está aqui porque o

ser mais poderoso de todos os mundos te quer aqui. Comigo. Agora. Pare de agir

como uma simplória confusa e faça algo sobre a fortaleza!


CAPÍTULO CINCO

—Eu não posso!

Donna nunca se sentiu assim em sua vida. A descrença na única explicação

lógica - embora impossível – dilacerava a sua mente como uma febre alta. O

corpo enorme de Sigurd e seu rosto furioso a intimidavam, apesar de suas

tentativas de se sentir forte e confiante. Seus músculos rígidos pressionados

contra ela faziam seu coração disparar e sua pele zumbir com doce

antecipação. Ele estava tão perto que ela poderia beijá-lo. Mas dane-se se

permitiria que isso acontecesse novamente.

Ela precisava encontrar o caminho de volta.

Seus olhos ficaram gelados. —Você não pode?

Ela engoliu em seco. — Eu não sou uma deusa. — Ela não conseguia

acreditar no que estava prestes a dizer em voz alta. — Eu sou uma mulher

normal. Do futuro.

Ao ouvir suas próprias palavras, ela bufou bem na cara dele. Ele piscou, e

uma risadinha escapou dela, provocada por seu espanto, a tolice de bufar no

rosto de um viking enorme e o ridículo do que estava acontecendo em sua

cabeça. Em seguida, uma chuva completa de risadas derramou

dela. Histeria. Sua barriga ficou tensa, o que doía e estremecia.


Ela deve ter enlouquecido.

Sigurd a soltou e enxugou o rosto com a palma da mão, as sobrancelhas

franzidas. Donna se dobrou, tentando respirar fundo para se acalmar, mas

pequenas risadas explodiram dela.

— Você terminou?

Donna expirou o resto da histeria e acenou com a cabeça. — Desculpe por

isso. — Ela circulou com o dedo indicador em torno de seu rosto.

Ele grunhiu.

— Por que você não está pirando, Sigurd? Parece loucura. É a coisa mais

louca que já disse na minha vida.

Ela sentiu o peso dos olhos de Sigurd sobre ela. — Uma mulher do futuro.

— Seu olhar viajou para cima e para baixo em seu corpo e, apesar de si mesma, o

calor pulsou por ela, fazendo sua pele formigar. — Como você sabe?

Ela quase engasgou com o ridículo de sua pergunta. — Os machados, as

casas de madeira sem eletricidade, a maneira como você se veste, os navios, a

tecnologia - ela apontou para a estaca caída no chão - é tudo muito

medieval. Além disso, o fato de que eu magicamente comecei a falar e entender

norueguês - ou qualquer coisa equivalente dessa época. — Ela franziu o

cenho. —É isso.

Ha. Ela estava defendendo o lado oposto.


— Você usa sapatos como armas no futuro?

Ela riu. — Não, eles são apenas para caminhar. Beleza. O mundo é um lugar

mais pacífico daqui a cerca de mil anos. Bem, relativamente. A maioria das

pessoas não precisa de armas. Minha mãe e eu...-

Ah, não. A mãe dela! Ela deveria estar doente de preocupação. Quem

ajudaria as quatro clientes de Donna? Sua mãe não conseguia nem conciliar seus

próprios casos, imagina os de Donna, que era a maior que a pequena firma que

ela já teve.

— Você não acredita em mim, não é?

— Oh, eu acredito em você. Nornas podem fazer isso. Deve ser Skuld. —

Disse ele, e Donna entendeu que Skuld era o nome de uma que significava “O

que será”.

— Ela é quem governa o destino através do tempo. O que eu não consigo

entender é, por que você?

As sobrancelhas de Donna se ergueram. O fato de ele acreditar nela sem

questionar a chocou, e ela o olhou, procurando um sinal de que ele estava

brincando. Um homem moderno duvidaria de suas palavras. Mas ele não era um

homem moderno. Esse foi outro prego no caixão de sua esperança.

— Não sei! Ela cometeu um erro. Não tenho ideia do que posso fazer para

ajudá-lo. Mas eu preciso voltar, Sigurd!


— Você não pode.

As palavras a atingiram como pedras. — O que?

As sobrancelhas de Sigurd se juntaram. — Não há volta quando uma Norna

quer você aqui.

O peito de Donna ficou tenso. Sem volta... Mesmo estando ao ar livre, ela se

sentia como se estivesse em uma caixa de sapatos. Frequentemente, sentia-se à

beira de um ataque de pânico em espaços pequenos, elevadores ou no metrô. Ela

tinha essa sensação desde os quatro anos de idade.

Daquela vez, Donna acordou no meio da noite com gritos e estrondos de

móveis batendo nas paredes. Sua mãe discutia com seu então namorado, Joseph,

um litigante no mesmo escritório de advocacia de prestígio. O coração de Donna

disparou, ela correu em direção à porta para ir até a mãe, mas a porta não

abriu. O apartamento era antiquado e as portas tinham fechaduras do lado de

fora. Sem o conhecimento de sua mãe, o homem gostava de trancar a porta de

Donna para que ela não os incomodasse quando Joseph passava a noite. Ela ficou

o resto daquela noite enrolada em uma bola, com as mãos pressionadas contra as

orelhas e os olhos fechados para não ver as paredes de seu minúsculo quarto em

Manhattan se fechando ao seu redor.

Vários anos depois, Donna descobriu que nesta noite Joseph disse a sua mãe

que a havia promovido a sócia júnior.


Estar presa aqui era foi exatamente como naquela noite para Donna. Suas

mãos tremeram e seu peito começou a doer. Não. Ela não poderia ter um ataque

de pânico. Agora não.

— Eu preciso voltar, Sigurd. As pessoas confiam em mim lá. Quatro

mulheres e seus filhos podem perder tudo, inclusive suas casas - e

provavelmente vão morar nas ruas.

Os músculos de sua mandíbula flexionaram. Ele apontou para a vala. — Se

não construirmos a fortaleza, toda a aldeia pode morrer. E você está aqui para

evitar isso, mesmo sendo apenas uma mulher. Talvez por você ser do futuro, seja

diferente. Então, me perdoe se não estou com pressa para ajudá-la a voltar.

Donna engasgou. — Só uma mulher? Você está falando sério? E, com

licença, como estou aqui para evitar que a aldeia morra?

— Estou construindo uma fortaleza ao redor da vila. Preciso terminar antes

do final do verão, e a fortaleza não cresce rápido o suficiente. O que você pode

fazer? Você é uma construtora?

Donna olhou para a estaca. —Não.

— Você pode criar?

— Não.

— Você pode pelo menos lutar?


— Tive uma aula de autodefesa com uma mulher durona com o rosto

queimado. E eu vou ao Krav Maga duas vezes por semana.

— O Krav Maga envolve espadas e machados?

— Não.

— Então não vai ajudar em uma batalha. Como você vai ajudar?

Donna olhou em volta para a vala, a estaca caída e o arco. O desespero

deixou seus pés pesados e suas mãos fracas. — Não sei! Pergunte sua Norna.

— O que é isso que você faz, exatamente, no seu tempo?

Os vikings tinham o conceito de advogado? — Eu protejo os direitos das

mulheres que foram maltratadas. Por homens, por seus empregadores, pelo

governo.

— Isso parece ridículo. Se alguém ofende uma mulher, é dever de seu

marido, pai ou irmãos vingá-la. Não é tarefa de outra mulher. Além disso, não se

pode confiar a nenhuma mulher mortal uma coisa tão importante como a lei. O

que você pode saber sobre isso?

A raiva cresceu dentro dela e Donna respirou fundo para se acalmar. Eram

tempos bárbaros, ela se lembrou. — Quero que você saiba que em pouco mais de

mil anos, as mulheres terão tantos direitos quanto os homens. Oficialmente, pelo

menos. Extraoficialmente, elas são frequentemente tratadas como no seu tempo.


Sigurd se inclinou em sua direção e ela prendeu a respiração. As mãos dele

desataram o nó da corda em volta da cintura dela, enviando ondas de

eletricidade por sua pele.

— Você é inútil para a fortaleza. Apenas fique fora do caminho. Já que você

passou pelo arco, ali deve ser a entrada então pode ser capaz de voltar. O arco

será reconstruído porque é uma parte importante das defesas, não por sua

causa. E então, se você vai ou fica, não me interessa. Mas não ouse tocar em

nada. Mantenha-se ocupada com o trabalho feminino: ajude a cozinhar e

limpar. Não fale com ninguém. Volte para a maloca. Se você estiver com fome,

pode comer. Se você precisar se aliviar, pode ir ao banheiro externo.

Donna ficou sem fôlego com todos os insultos. Trabalho feminino... Fique

fora do caminho... Como se ela fosse uma espécie de escrava!

Sigurd caminhou na direção da aldeia, deixando-a sozinha. — Esteja em

meu quarto ao anoitecer. Eu não terminei com você lá ainda. — Ele atirou por

cima do ombro.
CAPÍTULO SEIS

Donna ficou parada por um momento, sua boca se abrindo sem um som,

choque e raiva fervendo em seu estômago como água em uma chaleira, mas

também havia outra coisa, algo que ela se proibiu de sentir. Seus músculos

profundos latejavam quando a imagem do corpo nu de Sigurd sobre o dela

inundou sua imaginação.

Não. Não! Ela não conseguia agir de acordo com esses sentimentos. Sim,

estava atraída por ele, mas Sigurd e ela não tinham nenhum futuro. Ele era

exatamente o tipo que decidira evitar desde Daniel. E - o mais importante - ela

não pertencia a este lugar e precisava voltar. Ela, uma advogada de Nova York,

com um Viking! Ela zombou, mas o pensamento não soou tão ridículo quanto

queria.

Pare de pensar nele e comece a atuar!

Embora Donna soubesse que provavelmente seria inútil, ela caminhou em

direção ao arco e colocou as mãos sobre ele. As rochas eram frias e ásperas, sem

vida. Ela até fechou os olhos com força, na esperança de abri-los em Nova York.

Mas nada aconteceu.

Droga. Ela estava realmente presa aqui.


Donna olhou ao redor, e seu peito apertou como se estivesse apertado em

um torno, enquanto as árvores começaram a se fechar sobre ela como aquelas

paredes de seu quarto em Manhattan. Donna correu para a aldeia.

O povoado estava bem acordado agora, pessoas ocupadas com seu trabalho

matinal, rostos severos. Os homens caminharam para os lados da aldeia,

provavelmente para continuar a construir a fortaleza. Mulheres apressavam

vacas, ovelhas e cabras nas pastagens com —ei— e — tsk tsk tsk. —As crianças

ajudavam carregando feno, vegetais e baldes d'água. As galinhas cacarejaram e

os gansos buzinaram. O cheiro de estrume fresco misturava-se ao ar doce, mas

não era perturbador. Era estranhamente reconfortante.

De longe, Donna viu Sigurd sair da casa grande. Ela esperava que ele a

visse, mas ele caminhou em direção ao centro da vila. Totalmente armado com

um escudo, um machado de batalha e uma espada, ele parecia glorioso, como

um antigo senhor da guerra.

A respiração ficou presa em sua garganta ao vê-lo. Para onde ele ia? Se

Donna queria voltar, ela precisava consertar o arco. E, para isso, precisava que

Sigurd fizesse algo agora, não na hora que quisesse. Donna o seguiu.

Sigurd parou em uma pequena praça onde cerca de uma dúzia de

adolescentes com machados de madeira, espadas e escudos lutavam entre si em

lutas simuladas. Sigurd gritou “Parede de escudos!” e eles correram um em

direção ao outro, construindo três fileiras de escudos. A garganta de Donna ficou

presa ao pensar que esses adolescentes - essas crianças - estavam treinando para
a guerra. Sigurd gritou comandos e eles se agruparam, se reagruparam, lutaram

entre si e com ele. Ele os corrigiu, elogiou e deu hematomas. Eles o observavam

como se ele fosse um deus.

E ele parecia um. Quem era o deus da batalha? Thor, não é? Bem, poderia

muito bem ser Sigurd.

Pela primeira vez desde que chegou, ela teve um momento para pensar e

realmente se perguntar que tipo de homem ele era. Sigurd certamente deveria ser

um grande guerreiro, um homem forte e um bom líder, se ele se importava tanto

com seu povo que havia colocado tudo em risco para construir a fortaleza. Ele

trabalhava com suas próprias mãos ao lado de seu povo - ele disse que estava

construindo a paliçada com Floki e Asa quando ela apareceu lá. E agora, estava

tomando um cuidado pessoal para garantir que esses meninos tivessem uma

chance contra qualquer inimigo que os ameaçasse. Ele parecia ser um bom

homem. Seu coração se apertou e o calor se espalhou por ela.

Não, ela não deveria permitir esses sentimentos. Tudo isso era bom, mas ele

ainda era um discriminador, teimoso, arrogante -

Alguém agarrou seu pulso e a girou. Um Viking que ela não tinha visto

antes pairou sobre ela. Ele era mais jovem que Sigurd e mais baixo, com uma

constituição menos impressionante; e uma curiosidade violenta estava

estampada em seu rosto. O medo agarrou sua garganta.

— Você é a deusa que caiu do céu ontem?


Donna tentou soltar o braço, mas o homem era forte como um boi. Ela

deveria chutar sua bunda, mas não queria agravar a situação. — Saia de cima de

mim!

Ele usava uma túnica feita em casa, embora a sua fosse mais velha que a de

Sigurd, e cheirava a suor rançoso.

— Você não parece uma deusa. Você parece uma prostituta de Freyja.

Donna engasgou, e os pelos de sua nuca e braços ficaram de pé. Ele a puxou

para si. — É melhor você vir comigo. — Ele sussurrou úmido em seu ouvido. —

Cumprir o seu destino.

Era isso. Ela teve o suficiente. Donna ergueu o braço com que ele a

segurava. O jovem perdeu sua vantagem quando seu braço foi levantado de

repente. Usando sua confusão, ela agarrou seu pulso com as duas mãos, torcendo

seu braço em uma linha reta e fazendo-o virar de costas para ela. Então Donna

empurrou seu braço esticado e ele caiu de joelhos no chão, rosnando de dor.

— Vermes no crânio de Loki! — A voz de Sigurd atrás de Donna rolou como

um trovão.

Ela olhou para Sigurd, e o choque escrito em seu rosto foi impagável. Donna

sorriu internamente. As aulas de autodefesa e Krav Maga valeram a pena. Se ela

pudesse forçar um Viking a ficar de joelhos, ela poderia lidar com qualquer outra

coisa que este pesadelo de viagem no tempo tivesse que trazer.


— Geirr, você acabou de colocar suas mãos na mulher de outro homem. Mas

vejo que ela não precisa de seu homem para protegê-la.

A pele de Donna formigou ao ver o olhar de respeito nos olhos de Sigurd.

— Deixe-me ir, sua puta! — Geirr gemeu. — Jarl, eu não sabia que ela estava

reivindicada.

Sigurd parou ao lado dela. — Ela foi reivindicada. Por mim.

Donna prendeu a respiração. Uma emoção proibida passou por ela. Suas

palavras soaram tão erradas e primitivas, mas, oh Deus, isso a fez querer se jogar

em seus braços e deixá-lo mostrar a ela exatamente como ele a reivindicou.

— Deixe ele ir, Donna. Ele não vai te machucar. Ninguém irá.

Ela soltou Geirr, e ele se levantou, encarando-os e olhando Sigurd por baixo

de suas sobrancelhas pesadas.

Sigurd deu um breve aceno de cabeça. — Você não deveria estar na

fortaleza?

O homem recuou e desapareceu atrás da esquina do prédio seguinte.

Sigurd lentamente virou Donna. Ele pairava sobre ela como a montanha

sobre o fiorde, seus olhos muito cinzentos. Mas eles não estavam cheios de desejo

como Donna secretamente esperava.

Eles estavam cheios de fúria.


CAPÍTULO SETE

Odin e Thor, ela era um problema.

Ele tinha pensado que talvez as mulheres do futuro fossem diferentes, mais

confiáveis. Elas claramente receberam uma responsabilidade maior, mas uma

pequena mulher como ela havia colocado um de seus melhores guerreiros de

joelhos com apenas alguns movimentos inteligentes.

Sigurd estava furioso. Com ela, mas principalmente consigo mesmo.

Ele deveria ter sido mais cuidadoso com ela, deveria apenas tê-la trancado e

colocado guardas para se certificar de que ela não vagaria pela vila, confundindo

seus homens, criando caos e distraindo-o.

Mas ele não tinha homens de sobra e nenhum tempo a perder.

Enquanto ela estava tão perto dele - seus olhos grandes, seus lábios

carnudos e suculentos como cerejas maduras imploravam para que ele os

beijasse, seu cheiro o envolvia.

Ele disse a Geirr que a reivindicou.

No momento, Sigurd não queria nada mais do que fazer exatamente

isso. Tomá-la, torná-la sua, mergulhar em seu perfume como ele mergulhou nas
águas do fiorde, esquecer-se de si mesmo em seus braços e encontrar alívio em

suas profundezas.

Sigurd engoliu em seco e ergueu os olhos para se distrair. Ele precisava

colocá-la sob controle e voltar a trabalhar na fortaleza.

Ele caminhou em direção ao grande salão e puxou-a atrás de si. — Eu disse

para você não falar com ninguém.

Os olhos de Donna se arregalaram. —Ele veio até mim! Ele me agarrou e...-

Sigurd rosnou. — Eu disse para você ir para a maloca. Apenas fique aí. Não

dê um passo para fora.

Eles chegaram em seu grande salão, e Donna começou a lutar, mas ele a

conduziu até seu quarto, ignorando os olhares curiosos dos escravos.

Quando estavam em seu quarto, Donna puxou o braço de sua mão e se

virou para encará-lo, seus olhos eram uma fúria azul na escuridão do quarto.

— Você é um ditador! Você não tem o direito de me dizer o que fazer. E

aquela coisa que disse sobre me reivindicar? Ninguém - você me ouviu? -

ninguém pode me reivindicar! Eu pertenço a mim mesma. Eu me reivindico. Eu

reivindico...

Sigurd não sabia metade do que ela estava falando. Ditador? O que era isso?

— Eu tenho todo o direito de fazer qualquer coisa que eu achar conveniente

com você. Você está sob minha proteção.


Donna fez uma careta e cruzou os braços. Freyja e Frigg, seus lábios

pareciam tão beijáveis agora.

— Torne-se útil e ajude a cozinhar e limpar, como eu disse a você.

Seu queixo se ergueu. — E aquecer a sua cama?

Ele engoliu em seco e olhou para o objeto em questão, que estava cheio de

peles macias e tão convidativas. — E aquecer minha cama.

Donna respirou fundo. — Você pode esquecer.

Sigurd deu um passo em sua direção. Ela lutaria com ele em tudo? — Eu não

acho que posso. — Sua mão subiu para o seu rosto e ele traçou a curva suave de

sua bochecha.

Sua pele parecia a de uma deusa. Nenhuma mulher que ele conheceu tinha

uma pele assim. Seus doces lábios se separaram ligeiramente com seu toque. Ela

poderia dizer o que quisesse, mas estava afetada tanto quanto ele.

Antes que a voz em sua cabeça pudesse rugir para parar e sair, ele abaixou a

cabeça em direção a ela. Ele precisava reclamá-la, disse Sigurd a si mesmo, antes

que ela pudesse causar mais estragos.

Mas ele sabia que era apenas uma desculpa.

O verdadeiro motivo era este.


Seus lábios tocaram os dela, e ela o recebeu como se ele fosse uma parte há

muito perdida. Ela gemeu, quase inaudível, e seu corpo pressionou contra o

dele. Ele a inspirou, sua língua arrebatando a dela, o doce sabor de sua boca

fazendo-o desejá-la ainda mais.

Sigurd a pegou e a carregou para a cama. Ele se sentou na beirada e a

colocou em seu colo, virando-a para que suas pernas se enrolassem em seus

quadris. Seu corpo pressionado contra o dele, seus seios macios e barriga - seu

calor contra o dele. Seus olhos se encontraram, e havia fome nela que espelhava a

dele. Mas também a sombra da dúvida.

Não, não haveria nada disso agora. Sem pensamentos, sem perguntas, sem

hesitação.

Seus lábios cobriram os dela antes que a dúvida pudesse conquistá-la. Ele

enredou uma mão em seu cabelo enquanto deixava a outra viajar por sua

graciosa coluna vertebral, traçar o seu traseiro e descer por sua coxa, antes de

deslizar sob a bainha de seu vestido que se juntava bem acima de seus

joelhos. Seus dedos deslizaram ao longo de sua pele lisa.

Ela parecia como uma deusa, mas ele sabia agora que era apenas uma

mulher... e que mulher obstinada ela era. Ele enrolou o cabelo dela em seu punho

e puxou a cabeça dela um pouco para trás, expondo seu pescoço gracioso para

sua boca. Ele a beijou, devorando cada centímetro de sua pele. Então alcançou

um ponto logo abaixo de sua orelha, mordeu-a suavemente, e Donna deu um


grito gutural de prazer. Ela estava estranhamente conectada a ele. Ele não sabia

como, mas sentia o que ela queria, o que a faria se sentir bem.

E ele ficou feliz em obedecer.

As mãos de Sigurd deslizaram sob seus quadris, apoiando-a, e ele se

levantou com ela. Virando-se para a cama, jogou Donna sobre o local macio,

juntando-se a ela logo em seguida. Seus lábios estavam cheios, sua boca aberta,

seus olhos semicerrados. Sigurd se inclinou sobre ela com os braços esticados,

empurrando o colchão de cada lado de seus ombros. Ele se ajoelhou entre as

pernas de Donna e viu quando ela engasgou um pouco, com as pernas abertas, à

mercê dele. Ela mordeu o lábio e sua cabeça rolou ligeiramente para trás, seus

olhos ainda presos. Sigurd abaixou-se sobre ela, prendendo-a no colchão. Ele

agarrou seus pulsos com uma mão, puxando seus braços acima de sua cabeça,

querendo terminar o que começaram naquela manhã.

Donna se contorceu um pouco, esfregando-se contra ele. Ele a beijou

novamente, e ela gemeu contra sua boca.

Sigurd estava completamente pressionado contra ela agora, latejante e forte,

em sua entrada quente. Sua boca encontrou a dela e a devorou. Seu corpo

começou a se esfregar descaradamente contra o dele.

Sigurd desabotoou os broches e passou a mão pela perna dela, depois voltou

para a bainha do vestido. Ele se levantou por um momento, puxando o vestido

pela cabeça e tirando-o. Seu corpo branco leitoso estava diante dele, seus seios
fartos, cintura delicada, quadris redondos. Sua pele... oh, sua pele... E o triângulo

de cabelo castanho claro entre suas coxas.

Sigurd gemeu. E então ele ficou surpreso ao sentir as mãos dela em sua

cintura, puxando sua túnica e tentando levantá-la.

Ele a olhou e ela sussurrou: — Por que você deve fazer todo o trabalho?

A túnica voou para o chão. Seus dedos alcançaram a corda que amarrava

suas calças e tocaram a pele de seu estômago, muito perto de sua

ereção. Eletricidade e pânico dispararam por Sigurd, e seu pênis estremeceu. Ele

nunca permitiu que uma companheira de cama lhe desse prazer

oral. Simplesmente não podia dar a uma mulher esse controle sobre

ele. Precisava ter cuidado. O que ela ia fazer?

Seus dedos o tocaram. Um prazer intenso se espalhou por ele. Sigurd cerrou

os punhos e teve que recorrer a todas as suas forças para não se jogar sobre ela e

tomá-la. Ele a deixou explorar seu comprimento, brincar com ele, mas não

duraria muito. Ela ao menos sabia o quão selvagem o fazia se sentir?

Donna olhou para ele e lambeu os lábios, fazendo um movimento para

descer, mas o alarme disparou por ele e suas mãos agarraram as dela. Ela piscou

surpresa, e ele colocou as palmas das mãos de volta em seu peito.

Ele imaginou seu eixo em sua boca, sua língua o provocando, deslizando

para cima e para baixo, e endureceu ainda mais.

Mas ele não permitiria. Isso é o que sempre seria. Uma fantasia.
Ele a empurrou ainda mais para trás ao longo da cama, pressionando seu

corpo sobre o dela e empurrando suas pernas ainda mais abertas enquanto

arrastava beijos quentes ao longo de seu pescoço.

Sigurd se afastou um pouco antes de deslizar para dentro dela lentamente,

observando-a. Ela era tão elegante e quente, tão apertada. Sua cabeça rolou para

trás enquanto ele a penetrava centímetro a centímetro, e ela deu um gemido

baixo de prazer. Freyr, ela era tão bonita que era difícil acreditar que era mortal.

Quando estava totalmente envolvido em seu núcleo apertado, ele teve a

estranha sensação de estar em casa. Se não estivesse tão excitado, teria

parado. Mas ele não poderia.

A única coisa que podia fazer era se mover.

Ele mergulhou nela e se afastou, lentamente no início, depois mais

rápido. As pernas dela envolveram sua cintura, trazendo-o impossivelmente

perto, fazendo-o se sentir como se eles fossem um.

Ela gemia e chorava e implorava para ele não parar, para nunca parar.

— Eu não pretendo. — Ele gemeu.

Sigurd tomou seu mamilo em sua boca e chupou, e ela arqueou as costas

para lhe dar melhor acesso.

Ele se moveu cada vez mais rápido, sabendo que sua libertação viria em

breve e não queria que isso acontecesse. Mas ela estava perto também.
Com algumas estocadas duras finais, ele sentiu seu interior estremecer, e ela

respirou rapidamente, de forma irregular, e deu os gritos mais doces de

êxtase. Ela o levou ao limite, e ele se derramou nela, tornando-a verdadeiramente

sua.

Enquanto desabava sobre ela após o orgasmo mais intenso de sua vida,

Sigurd sentiu seus peitos subir e descer em uníssono e seu corpo sedoso em seus

braços. E pela primeira vez ele não queria deixar uma mulher ir.
CAPÍTULO OITO

Quando Donna acordou na manhã seguinte, Sigurd tinha ido embora e a

cama gelou sua pele sem o calor dele. Ontem ela experimentou, sem dúvida, o

sexo mais alucinante de sua vida. Seu corpo parecia saciado e vivo, como se

todas as células tivessem sido despertadas depois de um longo sono. Enquanto

ela se espreguiçava, um ritmo calmo e primitivo bateu em seu interior e deu-lhe

força e energia. Ela não conseguia acreditar que cedera a Sigurd, mas se algum

dia voltasse para Nova York, pensaria nisso como se fosse uma pequena

aventura, uma experiência única na vida.

Direito. Nova York. Casa. Ela precisava encontrar um caminho de volta. O

pensamento a deixou sóbria e ela se vestiu rapidamente.

Sigurd ainda estava em algum lugar do grande salão? Donna abriu a porta e

examinou a sala gigante, mas ele não estava lá. Deveria estar no canteiro de

obras.

Mulheres com roupas simples faziam as tarefas domésticas: cozinhar junto à

lareira, varrer o chão, costurar. Papéis tradicionais de gênero. Donna balançou a

cabeça, mas lembrou a si mesma que essa não era sua batalha. Graças a Deus ela

vivia no século vinte e um.


Donna se aproximou de uma mulher que cortava cenouras e as jogava em

um caldeirão que cheirava a ensopado e fez a boca de Donna salivar e seu

estômago roncar.

A mulher olhou para Donna. —Ah, Deusa. — Ela gesticulou para o lugar no

banco ao lado dela. —Você parece melhor. Quer comer?

Donna franziu a testa. — Eu não sou uma deusa.

A mulher a olhou de cima a baixo. Seu rosto estava envelhecido,

avermelhado e seco, com rugas profundas. No entanto, seus olhos denunciavam

uma pessoa mais jovem e seu cabelo brilhava como ouro. — Você não parece ser

um mortal para mim.

Donna deu uma risadinha. — E como mortal, estou, na verdade, com muita

fome e sede. Onde posso encontrar algo para comer?

A mulher olhou ao redor da sala. — Hilde! Traga algo para a nossa

convidada comer. E não se esqueça do hidromel.

Uma jovem com um corte de cabelo curto, com roupas que lembravam

Donna de um saco, acenou com a cabeça e correu para o canto mais distante da

sala.

— Meu nome é Asa. — A mulher voltou para suas cenouras. — Você tem

um nome?

— Donna. Você é a Asa que me viu aparecer pelo arco?


—Apenas eu. Como você chegou aqui? Jarl acha que você veio aqui para nos

ajudar com a fortaleza.

Donna engoliu em seco. O que Sigurd queria que as pessoas soubessem

sobre ela? O que seria seguro compartilhar com Asa, que parecia bastante

amigável? — É uma longa história.

Asa ergueu as sobrancelhas, mas não insistiu na pergunta, e Donna ficou

grata. Ela olhou em volta. Enquanto muitas mulheres trabalhavam, algumas

pareciam conversar enquanto realizavam suas tarefas sem pressa. Não havia um

único homem no corredor.

Hilde veio com uma tigela e um copo de madeira que cheirava a mel. Donna

agradeceu e bebeu o hidromel. Estava uma delícia. Doce e frio, apenas

ligeiramente alcoólico, e a refrescou. Sua língua fez cócegas enquanto pequenas

bolhas desciam por sua garganta. Sua cabeça zumbiu um pouco. Ela começou a

comer, mas a comida - uma combinação de queijo e iogurte com aveia - não era

tão boa. Estava um pouco salgada e picante. Ainda assim, era comida.

— Por que não há força de trabalho suficiente? — Donna perguntou com a

boca cheia.

A faca de Asa congelou por um momento, então continuou seu golpe, golpe,

golpe, mas mais devagar. — O ataque do ano passado tirou a vida de muitos

homens - pelo menos metade. Do velho jarl também. Mas o inimigo recuou com

o rabo entre as pernas. E agora todos os homens estão trabalhando na fortaleza,

cada um deles. Estamos com pressa de levantá-la até o final do verão para que na
próxima temporada de ataques tenhamos proteção contra nosso maior inimigo,

embora haja menos homens.

Calafrios percorreram a espinha de Donna. Estes eram tempos

difíceis. Embora a guerra, a violência e a morte ainda destruíssem países e

comunidades em seu próprio tempo, elas havia estado, até agora, à distância - na

TV ou nas redes sociais. Donna não podia imaginar que metade da população

masculina do Brooklyn morreria de repente como os homens morreram nesta

vila. Seu peito se apertou.

— Deixe-me adivinhar. Sigurd não emprega mulheres para trabalhar na

fortaleza.

Os olhos de Asa encontraram os de Donna. — Ele não.

Donna se levantou, uma ideia iluminando seu humor. Ah, então Sigurd não

queria que as mulheres ajudassem. Mas ele não tinha homens suficientes e

algumas mulheres pareciam não ter coisas importantes para fazer.

— Mas ele poderia pedir a vocês, senhoras, para ajudar, não poderia? Isso

daria a ele força de trabalho suficiente, certo?

Asa lançou um olhar de soslaio para ela. — Sim, daria.

Donna sabia agora por que a Norna a havia enviado aqui. Sua advogada de

discriminação interior cantou. Ela lutava pelos direitos iguais das mulheres e

Sigurd era discriminador.


— Asa, você poderia, por favor, reunir as mulheres aqui para mim?

Asa franziu a testa. —Por que?

— Porque estou aqui para ajudar na fortaleza.

Asa semicerrou os olhos, então um pequeno sorriso fez covinhas em suas

bochechas. Ela acenou com a cabeça e colocou a faca na tábua de corte. Depois

deu a volta na sala chamando por mulheres e gesticulando em direção a Donna,

e elas começaram a se reunir ao seu redor. Logo, havia cerca de trinta

mulheres. Algumas tinham vindo de fora; mas todas a olhavam com curiosidade.

O estômago de Donna estremeceu. E se ela estivesse errada? Estava

realmente presumindo que poderia intervir na vida dos aldeões? Ela era uma

estranha, alguém de uma época diferente.

Mas não. Se ela pudesse trazer uma mudança positiva, seria esta.

Ela limpou a garganta e imaginou que estava na frente de um júri porque o

júri geralmente gostava dela. — Quantas de vocês querem ver suas famílias e

vizinhos vivos e bem?

As mulheres acenaram com a cabeça e trocaram olhares, murmurando em

aprovação.

— Quantas de vocês acham que os homens não serão capazes de terminar a

fortaleza na próxima temporada de ataques?


Os olhos das mulheres se arregalaram de medo agora, e suas vozes soaram

mais altas.

— Jarl Sigurd precisa de mais mãos. O trabalho nas defesas não é mais

importante do que esfregar a panela até que ela brilhe? Seria tão ruim deixar o

chão ficar um pouco empoeirado se isso significasse que seu irmão, marido ou

filho viveria e respiraria no próximo ano?

Ela olhou ao redor da sala, fazendo questão de parar para encontrar os olhos

de todas as mulheres. — Aqui está o que eu sugiro. Cada uma de vocês que pode

dispensar algumas horas para construir a fortaleza com os homens, venha

comigo.

As mulheres ficaram em silêncio.

— Jarl Sigurd nos proibiu de tocar na fortaleza. — Disse Asa.

— Ele disse o porquê?

— Ele disse que as mulheres não podem fazer coisas importantes direito.

Donna balançou a cabeça. — Sigurd está muito errado! As mulheres não

podem fazer coisas importantes? Olhe para você! Você está fazendo isso o dia

todo! Cozinhando, cuidando de crianças e animais, certificando-se de que tudo

está em ordem... Gostaria de ver os homens ficarem sem o seu trabalho por um

dia.

Elas murmuraram.
— Se não ajudarmos, ninguém o fará. E se ninguém o fizer, não haverá

ninguém para proteger.

Asa acenou com a cabeça. — Você está certa, Donna. Temos braços

fortes. Cada uma de nós pode ajudar muito. Há mais de nós do que todos os

homens juntos. O jarl deve ver isso.

As mulheres estavam assentindo e aplaudindo agora. Donna sorriu. —

Vamos! Asa, mostre o caminho.

Eles caminharam pela aldeia em direção ao fiorde, chamando outras

mulheres que viram ao longo do caminho para se juntarem a elas, e quando

chegaram ao canteiro de obras que margeava a praia, seu número havia dobrado.

Os homens estavam ocupados carregando toras, cortando galhos dos

troncos das árvores, cavando valas, afiando as toras para fazer estacas e

plantando as estacas na vala. A parede da paliçada estava então coberta de lama

e, por trás, sustentada por troncos plantados no solo em ângulo. Uma torre de

vigia de madeira ficava alguns metros à esquerda, mas não tinha telhado.

Assim que os homens as viram, pararam de trabalhar e fizeram uma careta.

Donna seguiu em frente. — Asa, quem é o capataz?

Asa acenou para um homem. — Thorsten! Estamos aqui para ajudar na

construção.

— O jarl realmente aprovou isso? — Ele disse quando se aproximou deles.


— Jarl precisa de ajuda, então ele terá nossa ajuda. — Disse Asa.

Ele hesitou, lançando olhares para a paliçada e de volta para as mulheres. —

Jarl vai me esfolar.

— Bom. Ao menos você não verá sua esposa e filhas estupradas e mortas.

Seu rosto ficou vermelho, seus olhos esbugalharam.

Donna interveio. — Apenas nos dê as tarefas mais simples.

Seu olhar estava fortemente sobre ela. Finalmente, ele acenou com a

cabeça. — Tudo bem. Se a deusa pensa assim, talvez ele mude de ideia. Vocês

cinco, vão cortar os galhos desses troncos. Vocês três, afiem as pontas dessas

toras. Amba, leve seis mulheres para trazer lama e feno e misturar para a massa...

As mulheres assentiram e correram para fazer o que Thorsten disse a

elas. Os homens as observavam com rostos severos.

Asa e Donna se aproximaram de dois homens que estavam perto de um

tronco e se posicionaram para levantá-lo com eles. Depois de contar até três, eles

aumentaram e o esforço deixou Donna sem fôlego. Ela estava grata agora pelo

Krav Maga que lhe deu força e resistência.

O tempo voou e quando o rugido de Sigurd atingiu o ar como um tapa,

Donna estremeceu. Ela estava carregando outra tora junto com outras três

mulheres, e elas pararam, colocando cuidadosamente a tora no chão.


Donna se virou. Os olhos de Sigurd circularam o canteiro de obras, as

sobrancelhas franzidas e as narinas dilatadas. Oh, ele era glorioso, todo perigo e

músculos e paixão, e uma emoção percorreu o corpo de Donna. Seu olhar se

fixou nela, e o calor atingiu as bochechas de Donna. Ele correu em sua direção

como se ela fosse uma presa, e Donna ignorou o desejo de correr e se

esconder. Quando parou na frente dela, ele a observou como se ninguém e nada

mais existisse - assim como na noite passada, quando esteve dentro dela. Os

lábios de Donna se separaram, o desejo de ser tomada por ele se espalhando por

suas veias como lava.

— Loki, leve-me para Helheim, o que é isso? — Sigurd rosnou e Donna

engoliu em seco.

Por que ele era tão alto? Era tão difícil lutar com ele quando ele sempre

pairava sobre ela. Seu queixo se ergueu. — Viemos para construir...-

Ele deu um passo mais perto e ela deu um passo para trás, mas ficaram a

meia polegada de distância, e o calor de seu grande corpo aqueceu sua pele. — O

que eu lhe disse? Não dê um passo para fora da maloca! Não fale com ninguém!

— Oh, você me proibiria de tudo se pudesse! Mas está convencido de que

vim aqui para ajudá-lo a terminar a fortaleza a tempo. — Ela gesticulou ao seu

redor. — Então aí está. Minha ajuda.

Sigurd a agarrou pelo braço e seu toque enviou uma onda de desejo por

ela. — Isso não ajuda em nada. As mulheres não podem construir a fortaleza.
Donna puxou o braço de seu aperto e uma parte dela afundou em decepção

por quebrar o contato. Mas apenas uma pequena parte. Porque ele estava sendo

um asno teimoso de novo, alguém que faria com que todos fossem mortos. E ela

tinha que detê-lo. Ela apunhalou o dedo na fortaleza. — Construindo. Isso

é exatamente o que eles estão fazendo.

Se ao menos ele pudesse ver isso! Desde que a força-tarefa feminina se

juntou à construção, o número de toras e estacas triplicou, a paliçada estava

coberta de lama e construtores habilidosos, livres de tarefas simples, começaram

a trabalhar no telhado da torre de vigia.

Sigurd mostrou os dentes. — Tudo aqui precisa ser verificado e refeito. Você

dobrou a quantidade de trabalho para os homens.

Donna engasgou. Ela se coçou para chutá-lo. — Você está brincando

comigo? Fizemos coisas simples, coisas que qualquer pessoa pode fazer!

— Quantas fortalezas você construiu, Donna? Ou você, Asa? Ou alguma

dessas mulheres? Nenhuma. — Ele se voltou para o canteiro de obras. — É

isso. Não haverá mais ajuda das mulheres! Se alguma de vocês ao menos tocar na

fortaleza, será ado meu jarldom. Todo mundo me ouve? Banida! — Ele se virou

para ela. — E você. — Seus olhos a perfuraram e seu estômago embrulhou. —

Esta noite, você vai se arrepender do que fez.


CAPÍTULO NOVE

Sigurd rosnou de fúria e frustração no caminho para seu quarto depois de

um árduo dia de trabalho. Foi bom que ele teve que trabalhar fisicamente o dia

todo, caso contrário, precisaria começar uma briga porque desejava punir

alguém. A mulher teimosa o deixava louco. Ela quase iniciou uma resistência

aberta contra ele. Mas, apesar de si mesmo, ele não podia deixar de admirar que

ela tivesse conseguido fazer Asa e Thorsten ficarem do lado dela e convencer

praticamente todas as mulheres da aldeia a agirem contra seu conde.

Ela tinha coragem.

Um nervo, um cérebro e uma língua.

E ele estava ansioso para lhe dar uma lição.

O quarto estava vazio.

A decepção o atingiu como um golpe no estômago, então a preocupação

uniu suas sobrancelhas. Onde ela estava? Ele caminhou pelo grande salão, mas

ela não estava em lugar nenhum. Risadas e gemidos abafados correram pela

escuridão: os guerreiros se divertiam com suas escravas de cama nos

bancos. Servos e escravos estavam limpando depois do jantar. Ela não poderia

ter voltado para o seu tempo, poderia?


O estômago de Sigurd deu um nó. No que ela se meteu? Se um de seus

homens quisesse repetir o erro de Geirr... Ele rangeu os dentes, o calor escaldante

percorreu seu corpo enquanto imaginava as mãos de outro homem sobre ela, e

seus punhos cerraram-se com tanta força que seus dedos doeram.

Ele verificou se o machado estava pendurado no cinto e saiu. Ainda estava

claro; os dias do início do verão duravam tanto quanto o canto de uma terrível

escaldadura. Deu a volta na aldeia, quase chamando o nome dela. Quando a

perspectiva de sua partida se tornou real, seu estômago embrulhou e um suor

gelado invadiu sua pele. Ele acelerou para um trote, e cada vez que olhava para

trás de uma casa, seu pulso pulava de expectativa de ver a figura dela. Mas cada

vez que ela não estava lá, seu peito se apertava mais e mais até começar a doer.

Depois de um tempo, Sigurd acabou na praia. E através da parte não

obscurecida pela paliçada, ele viu a figura dela de frente para a água. Era ela, ele

a reconhecia mesmo à distância. O alívio o inundou e ele começou a respirar com

mais facilidade.

Sigurd se aproximou de Donna e ficou ao lado dela.

— Eu procurei por você. — Ele disse depois de um tempo.

— Oh, você pensou que me encontraria aquecendo sua cama, não é?

Sigurd cerrou os dentes. — Isso é o que eu disse para você fazer.

Ela se virou para ele, o rosto rígido de raiva. — Ah sim? E, claro, devo

obedecer. Por quê?


Era estranho pensar que ela parecia gloriosa quando estava com tanta

raiva? Seus olhos brilharam, lábios carnudos pressionados juntos, bochechas

coradas. Se ela tivesse uma espada na mão, poderia parecer com Brunhild, a

lendária donzela do escudo.

Ele suprimiu o desejo de pegá-la pelos ombros e cobrir aquela boca

obstinada com a sua.

Ele virou para encará-la. Por que ela deveria obedecê-lo? Bem, isso era

óbvio. — Porque eu sou o jarl.

— Você não é meu jarl. Você não é ninguém para mim. — Mesmo sendo

verdade, as palavras doeram. Ela continuou: — Ah. Espere. Claro. Eu deveria

obedecê-lo porque sou uma mulher!

Sigurd a estudou. Ela parecia sua irmã. Vigdis costumava reclamar que, se

ela fosse um homem, já teria participado de incursões, negociações, caçadas com

reis e jarls e teria seu próprio navio.

Ele cerrou os punhos. Esta era a mesma praia onde ele aprendera com a

traição de Vigdis. A mesma praia onde seu pai e muitos outros grandes

guerreiros partiram com suas vidas por causa dela.

E agora Donna. Mesmas palavras. Mesma atitude.

Ele passou os dedos pelos cabelos. — Uma mulher. — Ele cuspiu. —

Certamente, você é uma mulher. Aprendi dolorosamente que nunca poderia


confiar em uma. Achei que você fosse diferente porque a Norna o mandou para

mim. — Ele a olhou de cima a baixo. — Mas eu estava errado.

Mágoa e confusão distorceram seu rosto. — O que?

— Tudo que você quer é poder, não é? Ter uma palavra a dizer na grande

mesa, tomar decisões e governar.

— Do que você está falando? Eu quero tomar decisões sobre mim. Para estar

no comando da minha vida. Para ser igual aos homens. Não devo ser

considerada uma propriedade.

Sigurd balançou a cabeça. — E o que você está preparada para fazer para

ganhar todos esses privilégios?

Ele ouviu o veneno em sua própria voz, venenoso como a Serpente Midgard

- a cobra que se enrolava no centro do mundo.

Donna o estudou com o cenho franzido. — Elas não deveriam ser

privilégios. E estou pronta para lutar por isso. Para nunca desistir.

— Com traições, mentiras, apunhalando pelas costas...-

Sigurd fechou a boca antes que pudesse dizer qualquer coisa que abrisse sua

ferida. Ele gemeu. A raiva e a dor ferveram em sua garganta e ameaçaram

derramar dele em uma onda.

Donna o observou com os olhos arregalados. — Apunhalar pelas costas e

mentir? Eu nunca... — Ela ficou em silêncio por um momento, e ele quase


desejou que ela continuasse, arrancasse a informação dele como um dente

podre. — Você não está falando de mim, está?

A voz dela roçou nele como pele. A ternura deu a ela mais poder do que

qualquer força.

Ele engoliu um nó doloroso. — Não.

— O que aconteceu?

Ele olhou para ela, procurando o empurrão final que o levaria ao limite e o

faria falar. O desejo de contar a ela sobre a experiência mais dolorosa de sua vida

coçava como uma velha ferida de batalha. Por que ele sentia que poderia confiar

nela? Por que ele queria compartilhar com ela essa dor?

Talvez porque ela fosse uma estranha. E um pouco como uma deusa.

Ou talvez houvesse algo sobre ela que tornava seu mundo mais brilhante e

mais esperançoso.

Donna o olhou como se esperasse pelo próximo passo. Em seus olhos, ele

viu uma dor que se parecia com a sua.

E então ele o soltou.

— Foi minha irmã. Ela se casou com nosso inimigo em vez de negociar a

paz. Confiei a tarefa a ela, embora meu pai me dissesse durante toda a vida para

não confiar nas mulheres. Eu não queria acreditar que ele estava certo. Eu

resisti. Achei que talvez fosse apenas ele, que estava preso aos velhos hábitos.
— Meu pai costumava dizer que não podia contar com minha mãe para

nada. Ela tinha problemas de saúde e muitas vezes ficava na cama em vez de

cuidar da casa. Ela perdeu muitos filhos e ele queria muitos filhos. Por muito

tempo, fui filho único.

— Ainda assim, eu acho que ele a amava. Ele a proibiu de ter mais filhos,

com muito medo de que morresse, e ela prometeu que não morreria, que tomaria

ervas. Mas ela queria ser uma boa esposa. E uma boa esposa dá muitos filhos ao

marido.

— Certa vez, quando meu pai fez uma incursão no exterior, um rico

comerciante veio à aldeia. Eu os vi na lavanderia - naquela época eu achava que

eles estavam lutavam. Depois que ele saiu, ela logo começou a se sentir mal. O

mesmo tipo de enjoo que sentia todas as vezes antes de sua barriga inchar.

— Meu pai voltou e ficou furioso com ela. Eu não sabia de tudo naquela

época, mas agora entendo que ela quebrou sua palavra para ele. Ela também

engravidou do filho de outro homem. E meu pai nunca soube.

Sigurd olhou para o fiorde, vendo seu pai e a si mesmo em um barco de

pesca. Ele se lembrou de como Vigdis e ele corriam pela praia quando crianças e

juntavam seixos. Ele se lembrou de navios longships4 com velas de cores

44
diferentes chegando. Ele costumava prender a respiração em antecipação aos

convidados, histórias e mercadorias do exterior.

Tudo isso se foi agora. Porque ele confiava nas mulheres.

— Ela deu à luz Vigdis e morreu no parto.

Ele se virou para encontrar os olhos de Donna. Eles estavam largos e cheios

de emoção.

— Minha irmã trouxe a morte ao meu povo. Meu pai morreu naquela

batalha, assim como metade dos homens de nossa aldeia. Eu fui um tolo por ter

confiado nela. Tudo culpa minha, eu mandei-a para Fuldarr. Afinal, meu pai

estava certo - não se pode confiar nas mulheres.

Sigurd se voltou para o fiorde. Apesar de suas palavras amargas, ficou

surpreso ao descobrir como era bom ter derramado todo o veneno, como pus de

uma ferida em decomposição. O segredo do nascimento de sua irmã o consumia,

corroendo sua fé e confiança.

Donna estava tão imóvel que parecia uma estátua, seus olhos observando,

mas não vendo o fiorde. Era como se ela lutasse contra sua própria dor

interior. O próprio ar estava silencioso e parado, e nessa quietude, sua voz

cantou um feitiço. — Dizer que todas as mulheres não são confiáveis é como

dizer que todos os gatos são pretos.

Sigurd riu. Seu coração estava leve e ele teve uma nova sensação de paz no

peito, como se seus pulmões pudessem se expandir totalmente pela primeira vez
em anos. Sua mão quente agarrou seu antebraço, disparando um raio de fogo por

ele. Deuses, ela tinha esse efeito em seu corpo. Ele queria tomá-la ali mesmo, mas

não era o momento.

— Você pode começar por confiar em mim. — Disse ela. — Eu sou uma

mulher.

Sigurd gostaria de poder fazer isso.

Ela havia organizado as mulheres hoje como ele nunca poderia ter

feito. Mesmo que tenha rosnado e os mandado embora, ele viu mais tarde que

todo o trabalho que elas haviam feito era bom. A fortaleza tinha crescido mais

rápida hoje do que no melhor dia apenas com homens. Ela não tinha uma

agenda, não é? Se a Norna a enviou, ela deveria estar aqui para ajudar, porque os

deuses queriam que ele tivesse sucesso.

Além disso, ela era uma forasteira. Algo era muito diferente nela... No

entanto, era como se alguma parte dele a conhecesse por toda a vida. Talvez até

mais além.

Ele precisava saber.

Sigurd se virou para ela e a trouxe em sua direção, envolvendo os braços ao

redor do seu corpo. Parecia certo, como se ela pertencesse ali. — Eu

posso? Confiar em você?

Seus lábios se separaram. Ela estava tão afetada quanto ele. Ela acenou com

a cabeça.
Ele engoliu em seco. — Mostre-me.
CAPÍTULO DEZ

As palavras de Sigurd ecoaram nos ouvidos de Donna. Ele queria que ela

mostrasse - provasse - que ele podia confiar nela.

Era um teste.

E ele queria que ela desse o primeiro passo.

O pulso de Donna acelerou. Embora Sigurd tivesse acabado de abrir seu

coração para ela, ele não era o único em tormento. Ele mexia com seus próprios

demônios, suas próprias máximas de vida.

Sigurd ficara muito magoado com as mulheres mais importantes de sua

vida. Assim como Donna e sua mãe foram machucadas - por homens.

Talvez Sigurd e Donna não fossem tão diferentes, afinal.

Ela engoliu em seco.

Passando as mãos por sua túnica, ela sentiu seus músculos rígidos sob as

pontas dos dedos. A respiração dela acelerou e o peito dele começou a subir e

descer mais rápido. O perfume masculino de seu corpo a deixava louca.

As mãos dela envolveram a nuca dele - nossa, ele era muito alto - e ela se

esticou para beijá-lo. Seus lábios se tocaram suavemente e uma onda de desejo a

percorreu. O gosto de sua boca a fez querer pular sobre ele, mas ela também
queria mostrar-lhe ternura. Este homem forte acabava de abrir suas feridas mais

profundas para ela. Feridas com as quais estava muito familiarizada.

Ele respondeu com uma gentileza que espelhava a dela. Sua boca pressionou

suavemente no início, mas logo ele incitou um beijo mais profundo, e suas mãos

deslizaram para cima e para baixo em suas costas. A felicidade se espalhou por

sua pele. A língua dele separou seus lábios para mergulhar dentro dela,

acariciando-a, enviando sua cabeça em um carrossel e fazendo-a esquecer que o

mundo existia.

Seus dedos correram pela seda de seu cabelo. Seus braços a envolveram

enquanto ela dava beijos delicados ao redor de seus lábios, sua barba, suas maçãs

do rosto salientes. Em seguida, desceu por seu pescoço, sobre a batida violenta

de seu pulso, passou pelo pingente do martelo de Thor que parecia ser quase

uma parte integrante dele, e desceu por seu peito.

Ele não a deixou continuar, por enquanto. As mãos dele foram para as

nádegas dela e a ergueram como se ela não pesasse nada. As pernas dela

envolveram sua cintura. —Eu quero você só para mim. — Ele rosnou e caminhou

mais adiante na costa, longe da aldeia, em direção à vegetação rasteira que

margeava o solo de seixos da praia, atrás do último dos barcos encalhados.

Ele a deixou cair perto dos arbustos, o que os protegeu da aldeia e criou uma

espécie de parede aconchegante. Eram apenas eles, o fiorde, as montanhas e o

céu.

Ela desfez as amarras do manto de pele dele e o deixou cair na praia.


Com seus olhos ainda fixos, Donna deixou seus braços se erguerem e puxou

sua túnica, revelando seu corpo poderoso. Seu coração bateu mais rápido, e ela

correu os dedos pelos músculos do peito, para o estômago dilacerado. Quando

ela se aproximou da linha de suas calças, ele respirou fundo. Plantou beijos

lentos e delicados na trilha que seus dedos tinham acabado de tomar,

maravilhada com a beleza e a força dele. Ela adorava seu corpo, amando-o com

cada toque.

Suas mãos, enterradas em seu cabelo, endureceram quando seus lábios se

aproximaram da linha de sua calça. Ela percebeu que isso deveria ser novo para

ele, deixá-la liderar. Ele não a impediu desta vez, como fizera na noite

anterior. Seu peito apertou até que quase doeu.

— Você está em boas mãos. — Ela sussurrou contra seu umbigo, movendo-

se para se ajoelhar diante dele na capa caída.

Cercada por montanhas que se erguiam nas paredes como o céu, com o

espelho do fiorde, a floresta densa - com o mundo todo parando e quieto - suas

palavras soaram como um feitiço, como um voto, e os dedos de Sigurd relaxaram

levemente. Era quase imperceptível e, ainda assim, dizia tudo a Donna.

Ela desabotoou as calças de Sigurd e as deixou cair. Sua ereção saltou livre e

gloriosa. Ela deu um beijo na ponta e ele gemeu, começando a tremer.

Donna percebeu quanta confiança ele estava colocando nela, e quão frágil

era esse fio entre eles. Este poderoso Viking que poderia esmagá-la até a morte,

quebrar seus ossos se quisesse, que nunca se separava de seu machado e que
comandava e protegia dezenas de pessoas, tremia diante dela, mostrando a ela -

e apenas ela - sua vulnerabilidade.

Sua confiança.

Ela deu outro beijo molhado na ponta de sua ereção, e outro tremor o

percorreu.

Isso também era novo para ela. Tinha dado boquetes algumas vezes, mas

nunca gostava, sempre se sentindo inferior e usada.

Mas agora, sentia o oposto – poderosa, amorosa e generosa, como uma

deusa - e um Viking tremia esperando por seu próximo movimento, totalmente

em suas mãos.

Tão forte e tão frágil.

—Você é o homem mais magnífico que eu já vi. — Ela sussurrou e o ouviu

recuperar o fôlego. Em seguida, envolveu os lábios em torno de sua ponta,

envolvendo-o suavemente em sua boca e acolhendo-o com a língua.

Ele gemeu, os músculos rígidos de seus quadris salientes sob seus

dedos. Seu pênis inchou e se sacudiu ligeiramente. Ela sugou suavemente e ele

soltou um grunhido. Donna o tomou mais profundamente e chupou um pouco

mais forte, encorajada por sua reação. A sensação de sua pele aveludada

deslizando em sua boca e sua dureza contra sua língua aqueceu suas veias como

fogo líquido.
— O que você está fazendo comigo... — Ele grunhiu por entre os dentes.

Ela apenas gemeu contra ele.

— Sua boca... — Ele começou a empurrar suavemente.

Ela o levou mais fundo, começou a chupar mais rápido e mais forte, bêbada

pelo poder que tinha sobre ele e do prazer que lhe dava.

— Ah, Freyja, oh deuses... — Ele gemeu. — Eu não vou durar muito...

Donna quase sorriu contra ele. Ela queria que ele tivesse tudo, para mostra-

lo que estava pronta para dar sem querer nada em troca.

Ele enrijeceu. — Se você não quiser que eu derrame, é melhor parar agora.

Donna apenas acariciou seu comprimento com a língua em resposta.

Sigurd ofegava agora, grunhindo, mas segurando a voz. Ele acelerou seus

impulsos em sua boca. Estavam quase violentos agora, mas ela pegou tudo o que

ele deu. E com algumas estocadas finais, sua semente derramou contra sua

garganta, salgada e primitiva. Suas entranhas se apertaram com a sensação de

sua liberação.

— Donna. — Ele gemeu o nome dela como um apelo. Ela absorveu tudo sem

pestanejar, cada gota preciosa e querida.

Ela puxou a cabeça para trás para olhá-lo e ele caiu de joelhos, segurando

seus ombros para se apoiar. Sua testa caiu sobre a dela e ele ofegou.
O corpo de Donna zumbia com o desejo não realizado, a intensidade da

experiência e o amor que irradiava de seu coração.

Seu Viking, este homem grande e poderoso, em suas mãos. Bem perto de

seu coração.

Sigurd ergueu o queixo e encontrou os olhos dela. Os dele ainda estavam

nublados, mas brilhavam com suavidade - e também com algo novo. Confiança,

ou talvez paz. Ele parecia mais jovem, como se tivesse acabado de acordar de um

sono profundo.

O significado do que acabara de acontecer derreteu algo em seu peito. Ela

passou no teste. Ele começou a confiar nela, mesmo que só um pouco.

E ela sabia que precisava confiar nele em troca.


CAPÍTULO ONZE

A cabeça de Donna repousava no ombro de Sigurd, seu corpo plácido e

macio pressionado contra o seu lado. E, apesar de si mesmo, uma sensação de

paz se espalhou por seus músculos, onde sua pele se conectava. Ele brincava com

seu cabelo dourado.

O que ela acabara de fazer com ele - o que ele acabara de permitir que ela

fizesse - devia ser como os deuses se sentiam em Asgard todos os dias. Livres,

drogados e bêbados. O momento em que ele se abriu para ela, como nunca se

abriu para ninguém no mundo, foi como pular no abismo.

E ela o pegou.

A noite os escondia bem agora na escuridão, mas não duraria mais do que

algumas horas. Não que ele planejasse dormir muito.

— Não suporto homens como você. — Disse Donna e Sigurd congelou. A

raiva percorreu seu corpo em uma onda de calor e ele tentou se acalmar. Ele

tinha ouvido errado?

— O que você disse?

— Eu luto com homens como você todos os dias. Caras que gostam de

colocar as mulheres no seu lugar, que tiram empregos delas ou não lhes dão

trabalho só porque são mulheres. Homens que não acham que as mulheres
devem desempenhar um papel importante, assumir o comando ou, Deus nos

livre, fazer algo significativo.

Ele não tinha ideia do que ela estava falando. Certamente, aqueles homens

tinham um motivo para desconsiderar as mulheres. Ele tinha. Seus ombros

doíam de tensão. Ele mudou, para quebrar o contato com ela e contradizê-la, mas

ela não percebeu e continuou.

— Mas eu também tenho medo de homens como você. — Sua voz baixou

para um sussurro, e ele franziu a testa. O medo não era pouca coisa para se

admitir. — Minha mãe me criou sozinha. Ela é uma mulher bonita. Inteligente. E

sempre quis que eu fosse independente, que pensasse com minha própria mente

para que nenhum homem pudesse quebrar meu espírito. Como o dela.

Sigurd não conseguia imaginar ninguém ou nada sendo capaz de quebrar o

espírito de Donna. Seus olhos brilharam ao luar, observando a noite à sua frente.

— Seu nome era Joseph, e ele era o único relacionamento sério de minha

mãe. Eu tinha seis anos de idade. Ele costumava me trancar no meu quarto à

noite para que eu não incomodasse minha mãe e ele. Eu não conseguia nem ir ao

banheiro. Ainda me lembro dele como aquele homem grande e alto de cara

severa que sempre mandava na minha mãe e me dizia para brincar no meu

quarto. Ele era advogado na firma onde ela trabalhava. Mesmo nível, mesma

experiência. Ele conseguiu a promoção de minha mãe apenas porque ele era um

homem e ela uma mulher. Em seguida, eles a despediram porque ela

supostamente o assediou sexualmente. Na verdade, ele só queria se proteger


porque romances de escritório eram proibidos. — A voz de Donna tremeu. — Ela

nunca mais conseguiu encontrar trabalho em Manhattan. Ela tinha uma ótima

carreira pela frente e se não fosse por ele, teria sido nomeada sócia há muito

tempo em alguma empresa incrível.

Algumas de suas palavras não fizeram sentido para Sigurd. Mas ele

entendeu que o homem fizera algo semelhante à mãe dela que Vigdis fizera a ele

e ao pai. A traição unia Donna e ele - através do tempo e da distância.

— Algumas pessoas plantam sementes podres em nós e nós permitimos. —

Disse Sigurd. — Joseph fez isso com você.

Donna suspirou, as lágrimas brotaram de seus olhos. Ela encontrou seu

olhar. — E Vigdis com você.

Ele acenou com a cabeça, amargura enrolando em seu estômago.

Donna continuou. — E Daniel fez comigo o que Joseph fez com minha mãe.

Os punhos de Sigurd cerraram-se. Ele não conhecia Daniel, mas estava

pronto para arrancar seu coração e jogá-lo aos corvos. Donna também, pelo que

parecia. Com seu cabelo dourado, seu corpo tenso e seu rosto queimando com

uma emoção que lembrava a fúria da batalha, ela poderia ser uma Valquíria.

— Ele não aceitou a minha promoção nem nada parecido. Mas me fez ver

um futuro com ele e quase abandonar tudo que eu defendia - minha

independência, a luta pelos direitos das mulheres e pela lei. Tudo. E então me

jogou fora como um guardanapo usado.


— Odin me ajude, o homem estaria morto há muito tempo se eu o

conhecesse.

Donna soltou uma risada misturada com um soluço e relaxou um pouco. —

Sim. Houve momentos em que eu desejei isso também. Desde então - bem, desde

Joseph, mas especialmente desde Daniel - eu simplesmente não conseguia

manter a calma se tivesse um oponente que me lembrasse de qualquer um

deles. Um macho alfa. — Ela rapidamente olhou para ele e corou. — Gosto de

você.

O silêncio pairou pesado entre eles.

— Você está me comparando a essas duas pilhas de cocô de vaca?

Donna se apoiou no cotovelo. Seu seio macio roçou sua pele, tão cheio e

delicioso, enviando desejo por seu corpo.

— Eu não estou! Quer dizer, você é o mesmo tipo de homem. Você comanda

e espera que todos respondam a cada palavra sua, e certamente discrimina as

mulheres.

Sigurd rangeu os dentes. — Eu nunca traí uma mulher em minha vida. No

mínimo, fui muito mole com Vigdis e protegi minha mãe. E tudo o que faço é

para proteger meu povo, mesmo que proíba as mulheres de fazerem certas

coisas. É tudo para o melhor da aldeia. Não se atreva a me colocar no mesmo

barco que esses dois vermes.


Donna pousou a mão no peito dele e uma onda de arrepios se espalhou pelo

local onde a pele deles se tocou. — Eu não, Sigurd. Não mais.

Não mais. As narinas de Sigurd dilataram-se ao pensar que ela poderia ter

assumido algo assim sobre ele antes. Mas, novamente, ele a acusou de coisas

também.

— Sigurd, eu nunca disse nada disso a ninguém. Acho que nem mesmo

admiti para mim mesma.

A tensão no estômago de Sigurd suavizou. Ele a puxou para si. A conexão

entre eles, estando aqui na orla do fiorde, protegidos pelas montanhas e

testemunhados pelo céu, era como se os deuses quisessem que se unissem. Ele a

queria. E precisava dela agora. Ela abriu seu coração para ele, assim como ele

tinha feito, e ele queria mostrar a ela que o espaço vazio e cru dentro dela estava

seguro.

Ele a beijou, suas mãos viajando por suas costas, que se curvavam como a

mais bela nave. Ele a rolou de costas e a cobriu com seu corpo, ainda devorando

sua boca. O calor líquido irradiou de onde seus lábios se tocaram, o toque suave

de sua língua elegante o fez gemer em sua boca.

Mas quando ele estava prestes a se deliciar com seus seios, o cascalho

farfalhou ao lado.

Sigurd se ergueu, atirando com a mão onde estava o machado - mas um pé

calçado com uma bota permaneceu no cabo comprido. Sigurd protegeu Donna,
que engasgou. Ele enganchou o tornozelo do homem com um pé e o chutou sob

o joelho com o outro. O homem caiu para trás e Sigurd o prendeu no chão, o

machado pressionado contra a garganta do homem.

— Donna, fique para trás. — Ele latiu, então se virou para o homem. —

Quem é você?

— Senhor, eu não quero fazer mal. Sua irmã me enviou.

— O mal e minha irmã sempre vêm juntos.

— Ela me enviou uma mensagem. — A mão do homem lutou para se mover

sob Sigurd, mas ele o segurou com força. — Ela me deu algo para você... Se você

apenas me deixar tirar da minha bolsa de viagem...

— Você me toma por idiota? Não mova um dedo.

Sigurd revistou o homem com uma das mãos. Quando seus dedos

encontraram uma espada, um machado e um scramasax5, ele removeu cada arma

e a jogou longe. Encontrou a bolsa e jogou para Donna.

— Veja o que está aí.

5 Ou sacro.
Ela já estava vestida e pegou a bolsa com os olhos arregalados. Começou a

remexer, tirou uma pequena bolsa de couro e a abriu revelando uma pequena

figura de madeira. — Eu acho que é uma raposa.

— Deixe-me ver. — Sigurd estendeu a mão e Donna se apressou para

entregar o objeto a ele. Na verdade, era uma pequena raposa esculpida em

madeira que costumava ser o brinquedo favorito de Vigdis. Sigurd o esculpiu

para ela. Tinha sido seu amuleto de sorte e bem-estar.

Uma dor surda percorreu o peito de Sigurd. — Qual é a mensagem?

— Fuldarr quase reuniu um exército. Ele vai atacar em breve. Muito em

breve.

O sangue deixou o rosto e o corpo de Sigurd. Já? Eles não estavam

preparados. A fortaleza não seria construída a tempo.

— Por que eu deveria confiar em você?

— Meu nome é Bjarni Bjarnison, senhor. Eu sou leal a sua irmã. Ela foi gentil

comigo, e eu jurei protegê-la. — A voz do homem se aprofundou enquanto ele

falava, e Sigurd viu ternura em seus olhos. Bjarni amava sua irmã? Ela o

amava? Sigurd franziu a testa e estudou o homem.

Bjarni continuou. — Eu os vi com meus próprios olhos. Cinco navios

dragões chegarão, todos cheios de homens.


O suor frio escorria pela espinha de Sigurd. Cinco navios dragões poderiam

conter entre vinte e trinta dúzias de guerreiros. Ele só tinha cinquenta homens.

Estavam condenados.

Amante ou não de Vigdis, o homem não era confiável. Ele ainda poderia ser

um espião. Sigurd agarrou a ponta da túnica do Bjarni e rasgou um longo

pedaço. Ele amarrou as mãos do homem atrás dele e as suas pernas com outro

pedaço.

— Jarl, eu não estou mentindo. Odin sabe, você não deve maltratar o

mensageiro que pode ter acabado de salvá-lo.

Sigurd rasgou outro pedaço e colocou na boca do homem.

— Cale-se. Deixe-me pensar.

— Sigurd, você deve... — Disse Donna.

— Deixe-me pensar, Donna!

Ela fechou a boca com uma carranca no rosto. Odin o ajudasse, o homem

acabava de trazer notícias de uma morte certa ou era espião de Fuldarr.

Quanto tempo tinham? Cinco navios dragões já eram um exército. Fuldarr

estava esperando por mais ou já estava a caminho? Em qualquer caso, os

cinquenta homens de Sigurd não teriam chance. Com as atuais condições da

fortaleza, seria um massacre.


Não havia um momento a perder. Eles precisariam dobrar seus

esforços. Triplicar. Construir até à noite. Construir agora.

Sigurd começou a vestir as calças com pressa. Ele acordaria os homens, e

eles começariam a construir novamente.

— Sigurd, o que você está planejando fazer? — Disse Donna.

— Construir a fortaleza, o que mais? — Ele tirou as amarras dos tornozelos

de Bjarni, agarrou-o pelo colarinho e puxou-o para cima. Ele precisava trancar o

homem. — Sem espionagem para você, Bjarnison.

O homem resmungou algo através da mordaça. Sigurd o empurrou e foi em

direção à grande maloca segurando Bjarni pelo braço. Era uma pena que o

homem pudesse ser um espião. Sigurd poderia usá-lo no canteiro de obras.

— Sigurd, você tem que deixar as mulheres ajudarem. — Disse Donna,

correndo atrás dele.

Sigurd cerrou os dentes. Algo nele havia mudado. Ele confiava em Donna

mas, embora as mulheres tivessem feito um bom trabalho hoje, era apenas uma

questão de tempo antes que cometessem erros. E esses erros poderiam matar

todos eles. — Fora de questão.

— Fora de questão? Seja razoável! Você não vai conseguir sem mais

trabalhadores.
— Nós vamos. Vamos construir dia e noite, fazer uma pausa apenas quando

estiver totalmente escuro. Os meninos vão interromper o treinamento de

combate e ajudar a construir. As mulheres podem trazer comida. Dormiremos

em turnos. Vamos trabalhar mais rápido.

— Você não está falando sério! Este plano é absolutamente insano. Você não

pode funcionar assim por dias.

— Faremos um sacrifício para Odin e Tyr, o deus da batalha, e pediremos

ajuda aos deuses.

Donna bufou. — Os deuses! Não me faça começar. Mesmo que os deuses

existam, onde está a garantia de que vão te ajudar? Você estará exausto quando

Fuldarr chegar aqui. Como vai lutar?

Sigurd cerrou os dentes até a mandíbula doer. A lembrança de sua confissão

trouxe calor ao seu rosto. Ela estava certa, ele deve ter enlouquecido por um

minuto quando algo o levou a contar a ela sobre sua maior dor. Ou talvez ela

tivesse lançado algum feitiço nele. Ele não deveria ter feito isso, precisava

permanecer forte. Lógico. A maneira como ele operou durante toda a sua vida

funcionou. Donna era uma distração temporária, uma perturbação, e ela logo iria

embora. — O que você sabe sobre nossos costumes? Você é uma estranha.

Donna piscou, uma expressão de choque no rosto. Com a voz embargada,

ela disse: — Depois de tudo que você acabou de me dizer?


A culpa o atingiu. Ele sabia que devia tê-la machucado, mas precisava salvar

seu povo. — Apenas fique fora disso. Sem mais truques, sem mais distúrbios

femininos. Traga-me comida e água para o canteiro de obras de vez em quando,

como toda mulher cujo homem trabalha na fortaleza. Não há mais nada que você

possa fazer.

Os olhos de Donna brilharam de fúria na escuridão.

— Observe. — Ela se virou e caminhou para o grande salão sem esperar por

ele.
CAPÍTULO DOZE

Donna marchou em direção à casa de Asa, fumegando de raiva. Ela não

podia acreditar nele. Homem teimoso! Ele se abriu e ela pensou que ele tinha

mudado, mas ao primeiro sinal de problema, Sigurd voltou para sua

configuração padrão. E agora a estava afastando.

Muito bem.

Se ele pensava que ela observaria os homens dirigindo-se às sepulturas

prematuras e trazendo-lhe comida como uma serva obediente, ele era um idiota

ainda maior do que ela pensava.

Donna parou diante da porta da casa grande de Asa. O leve cheiro de

fumaça de madeira atingiu seu nariz. Ao contrário de muitas das outras casas, a

porta de Asa não tinha fendas entre as tábuas envelhecidas. Floki, sem dúvida, as

consertou sob a supervisão de Asa. Donna se sentiu culpada por acordá-la, mas

se Sigurd quisesse agir agora, ela também faria.

Donna decidiu não bater, não havia necessidade de acordar toda a casa. Ela

abriu a porta - maravilhada pelo fato de que os nórdicos nem se deram ao

trabalho de trancar suas casas - e entrou sem fazer barulho. As brasas da longa

lareira brilhavam na escuridão, mal iluminando as silhuetas deitadas nos bancos

que corriam ao longo das paredes. As pessoas resfolegavam durante o sono,

alguns homens roncavam como motores.


Donna encontrou Asa enrolada junto com Floki no canto mais distante da

sala. Ela tocou o ombro da mulher, o linho de sua camisola quente sob as pontas

dos dedos de Donna. Asa se levantou bruscamente e sua mão disparou sob o

travesseiro, provavelmente para uma arma.

— Asa, é Donna.

Ela congelou, os olhos semicerrados de sono. — O que é?

— Eu preciso de sua ajuda. — Donna hesitou. Ela trairia Sigurd se contasse a

Asa as notícias do ataque? Todo mundo saberia em algumas horas de qualquer

maneira. E ela precisava agir. — Sigurd recebeu uma mensagem de

Vigdis. Fuldarr reuniu tropas e está prestes a nos atacar.

A mão de Asa cobriu sua boca. Floki sentou-se com os olhos arregalados e

Donna se amaldiçoou por não ter pedido a Asa para sair.

— Pela merda de Loki. — Ele sussurrou.

Donna acenou com a cabeça. — Não há tempo a perder, mas Sigurd não vai

deixar as mulheres ajudarem. Devemos construir a fortaleza de qualquer

maneira.

O rosto de Floki se endireitou. — Desobedecer ao jarl, de novo? Ele vai nos

banir da aldeia.

Donna engoliu em seco. Ela estava certa em perguntar isso a eles?

— Sim. Mas se fizermos o que ele diz, não haverá aldeia de onde ser banido.
A boca de Asa se curvou. Floki sustentou o olhar de Donna por um tempo, e

ela pensou que a contradiria de novo, mas ele disse: — Eu vou te ajudar. Vocês,

mulheres, precisam de um capataz com experiência. O jarl tem boas intenções,

mas todos podem ver que, sem mais mão de obra, estaremos todos mortos.

Donna apertou a mão dele em sinal de gratidão. Aparentemente, nem todo

viking era tão teimoso quanto Sigurd.

Floki continuou: — Vamos construir onde está o arco. O jarl não planeja

construir lá ainda. É um espaço pequeno o suficiente para que possamos

gerenciar por conta própria.

A tensão nos músculos de Donna, que ela havia notado antes, diminuiu. Ela

disse: — Vamos apenas fazer isso, mas não em segredo. Mas também não

anunciaremos abertamente.

Asa e Floki acenaram com a cabeça.

Asa acordou algumas mulheres de sua casa e explicou-lhes o plano. Lá fora,

o sol estava nascendo e seus primeiros raios aqueceram as bochechas de

Donna. Mas a atmosfera na aldeia era sombria, como se uma nuvem de medo

lançasse sombras escuras sobre tudo. Junto com Donna, visitaram as mulheres de

confiança de Asa. Sigurd já havia acordado muitas pessoas - os homens tomavam

seu café da manhã rápido e caminhavam até os canteiros de obras, os rostos

severos, a preocupação no fundo dos olhos.


Eles reuniram uma dúzia de mulheres. Mais cinco foram para cortar árvores

na floresta. Começaram devagar, mas depois que entraram no ritmo de cortar as

toras, tirar os galhos, afiar as pontas e colocar as estacas na vala, o trabalho foi

mais rápido. As mulheres começaram a cantar, juntas, uma música que contava a

história de Brunhild, a lendária donzela do escudo. A melodia soava primitiva e

antiga e, depois de um tempo, Donna se juntou a ela, cantarolando porque não

conhecia as palavras. A voz de Floki zumbia ao fundo. A música deles criou um

espaço, uma cúpula invisível sob a qual estavam unidos, trabalhando como

um. Donna nunca havia sentido esse tipo de conexão em seu próprio tempo e só

queria que Sigurd estivesse aqui com eles, cantando.

Para a surpresa de Donna, eles já haviam terminado a paliçada quando a

noite começou a cair. Ela ficava de ambos os lados, presa às pedras do arco, e eles

penduravam o portão nas dobradiças. Donna deu um passo para trás para

admirar o trabalho que fizeram juntos. Seus músculos zumbiam de exaustão,

suas pálpebras pesadas. Só havia uma coisa a fazer - consertar a rocha caída do

próprio arco de pedra.

Uma vez que o arco estivesse inteiro novamente, ela seria realmente capaz

de voltar quando quisesse? A perspectiva de deixar Sigurd fez os pés de Donna

se arrastarem.

Floki e uma das mulheres mais altas ergueram Donna nos ombros para que

ela pudesse consertar a pedra. Suas mãos tremiam - certamente de exaustão, ela

disse a si mesma. A pedra se encaixou como se nunca tivesse se separado do arco

e ficou como se estivesse colada. Não havia nem mesmo rachaduras.


Quando o arco se tornou inteiro, um sentimento tomou conta de Donna. Ela

sabia, assim como sabia que o sol nasceria amanhã, que o arco estava vivo... e

mágico... e iria engoli-la. Ela podia sentir como conseguia sentir seu próprio

batimento cardíaco.

Os dedos de Donna cravaram-se nos ombros em que ela se sentava. Sua pele

arrepiou como se uma rede de lâminas de barbear a cobrisse. Algo sugou todo o

fôlego de seus pulmões. — Ponha-me no chão. — Ela sussurrou.

Quando seus pés tocaram o chão, ela caiu como se tivesse sido cortada e

rastejou o mais longe possível do arco. Braços a seguraram por trás e uma

sensação de segurança a envolveu como um xale quente. — Shhh, você está

segura. — Sigurd sussurrou em seu ouvido, e ela relaxou. — Eu não vou deixar

você ir ainda.

Donna respirou com mais facilidade, o calor dos braços dele a

acalmando. Ela lentamente virou a cabeça para olhá-lo. Seu rosto bonito pairou

sobre ela, seus olhos se encontraram e tudo o mais deixou de existir. Ele olhou

para ela com preocupação.

— Você está louco? — Disse Donna.

A expressão de Sigurd se transformou em uma de desejo lascivo. Ele roçou o

braço dela com os dedos, e o estômago de Donna vibrou. Mas então ele quebrou

o contato visual e olhou para a paliçada, parecendo dividido entre o alívio e a

raiva. Ele se levantou e Donna também, com os pés mais firmes agora. Sigurd

caminhou em direção à parede recém-construída.


— Todos vocês. — Ele rosnou. — Vocês desobedeceram às ordens do seu jarl

e sabiam que haveria consequências.

A pele de Donna gelou. Ele estava prestes a puni-los?

Sigurd parou bem ao lado da paliçada e a inspecionou de perto, sua mão

roçando a parede. Ele abriu e fechou o portão e olhou para o arco de pedra. Sua

cabeça se voltou para Floki.

— E você, Floki, ajudou.

— Jarl. — Floki interrompeu. — Eu discordo. As mulheres deveriam

ajudar. Eu as supervisionei, e digo a vocês, não há defeito nesta paliçada. Ela

permanecerá e protegerá. O trabalho aqui está feito - só falta trancar o portão.

A boca de Sigurd se curvou de raiva. — Se não estivéssemos sob a maior

ameaça à nossa existência, eu teria todos vocês banidos da aldeia. — Ele fez uma

careta para Donna. — Deixe-me adivinhar, você iniciou isso?

O queixo de Donna se ergueu. — Sim. Se você precisa punir alguém, me

puna. — Uma emoção indesejada passou por Donna ao pensar em como ele

poderia fazer isso, mas ela a afugentou. — Vamos continuar construindo, no

entanto, você queira ou não. Apenas olhe. — Ela gesticulou em direção à

paliçada. — Isso não é útil? Não te fez sentir um pouco mais confiante em ver

esta parte da fortaleza terminada?

Sigurd cruzou os braços sobre o peito e abriu a boca para falar quando um

grito fez suas cabeças se virarem.


— Jarl! — Um menino com menos de 12 anos corria pelo caminho. —

Rápido! Aconteceu um acidente.

O rosto de Sigurd perdeu a cor e ele correu atrás do menino. Donna e o resto

o seguiram. Já estava quase escuro. O céu índigo brilhava com ouro atrás das

montanhas a oeste. Quando chegaram ao canteiro de obras perto da praia, alguns

homens ainda trabalhavam, mas cerca de uma dúzia estava em um círculo

inclinado sobre alguém.

Sigurd já estava ajoelhado ao lado da figura e, quando Donna se aproximou,

viu um homem caído no chão e com a perna arranhada. Seu tornozelo estava

torcido de uma forma não natural e Donna se sentiu mal.

Um dos homens explicou: — Colocamos a estaca no lugar errado por causa

da escuridão e ela caiu. Normalmente, nós o teríamos segurado, mas

honestamente, senhor, não temos muita força sobrando.

Asa se inclinou sobre o homem. — Eu posso definir o osso, mas...-

— Mas o que? — Sigurd rosnou.

Ela lançou-lhe um olhar rápido. — Lesões como essas... não sei se o osso vai

cicatrizar direito.

Sigurd congelou, seu rosto era uma máscara inexpressiva. — Ele será um

aleijado?
Donna fechou os olhos, o medo escorregando por sua espinha como um

pingente de gelo.

Asa olhou para o tornozelo quebrado de diferentes ângulos. — Eu não sei

ainda.

— Mas ele pode ser?

— Ele pode.

A mão de Donna pousou automaticamente no ombro de Sigurd. A culpa

provavelmente o estava matando.

Ela olhou de volta para a paliçada. Fogos iluminavam pequenas partes dele,

mas estava quase todo escuro, e Donna se perguntou como os homens

conseguiam fazer algum tipo de trabalho. A fortaleza havia avançado desde que

Donna a vira na noite anterior, mas olhando para o que ainda precisava ser

construída, o progresso parecia dolorosamente lento. Batidas de martelos e gritos

agudos de comandos e insultos enchiam o ar. Mas os insultos não soavam como

brincadeiras de homens amigáveis. Eles estavam cheios de rancor. Isso era muito

diferente do local da construção do arco, quando as mulheres e Floki cantavam

em uníssono.

Asa pediu aos homens que carregassem o ferido para dentro de sua casa e

foi com eles. Sigurd os seguiu com uma expressão preocupada no rosto, depois

se voltou para os homens. — Parem a construção! — Ele rugiu. —Vão para casa,

descansem. Voltem amanhã conforme combinado com a primeira luz.


Os homens colocaram o que quer que estivessem segurando no chão,

desceram das torres e voltaram para casa com olhares cansados nos rostos.

Sigurd ficou em silêncio e imóvel, as mãos apoiadas nos quadris, estudando

o chão.

— Sigurd... — Disse Donna o mais suavemente que pode, mas ele a

interrompeu.

— Eu sei. “Permita que as mulheres construam”.

Ele encontrou o olhar dela, e seu rosto estava distorcido por uma luta

interna. Oh, seu guerreiro valente, adorável e forte. O ferimento naquele homem

deveria estar torturando-o. Ele poderia ter interrompido o trabalho mais cedo. Já

poderia ter contratado a ajuda das mulheres. E embora fosse tudo verdade,

Donna não o culpava. E ela esperava que ele não se culpasse, embora tivesse

certeza de que sim.

— Eu irei. — Ele disse, sua voz falhando. O alívio inundou o corpo de

Donna. Ela correu e o abraçou. Seus braços a envolveram e a apertaram contra

ele. O calor se espalhou por seu peito como se ele tivesse acabado de acender

uma vela no meio de seu coração.

E pela primeira vez desde que ela chegou, a esperança floresceu em Donna.
CAPÍTULO TREZE

O barulho perfurou-o com sua lança, Donna estava certa.

As forças combinadas de todos na aldeia permitiram que eles progredissem

como nunca antes. Depois de apenas uma semana, a paliçada à beira-mar

aumentou e o cheiro de madeira lavrada envolveu a vila. Eles deixaram uma

lacuna para um portão no meio. A primeira torre defensiva foi terminada

completamente. A segunda estava bem encaminhada e a terceira acabava de

começar. O vento do sul trouxe o cheiro do mar e, com ele, a lembrança da

ameaça de Fuldarr.

Trabalhar junto como uma equipe de mulheres fez Sigurd se sentir

estranhamente equilibrado. Ele estava começando a se acostumar com

Donna. Vê-la tão perto durante o dia, enquanto ela misturava argila ou carregava

toras com outras mulheres, espalhava a sensação de paz em seu interior. Ele se

surpreendeu muitas vezes admirando a maneira como os seios dela balançavam

levemente sob o tecido do vestido enquanto ela caminhava. A maneira como

seus quadris balançavam. Ele estava ansioso pelas noites curtas, quando ela se

entregava tão ansiosamente, e seu corpo cantava em seus braços.

A Norna era uma boa casamenteira. Se Donna tivesse nascido na época dele,

ele viraria o mundo de cabeça para baixo para se casar com ela e torná-la sua
para sempre. Ela era a criatura mais linda que ele já tinha visto. Inteligente,

obstinada e franca, era uma esposa digna para um jarl.

Deve ter sido assim que Freyr, o deus do sol e da fertilidade, se sentiu

quando pôs os olhos na bela Gerðr e esteve pronto para desistir de sua espada

invencível para se casar com ela.

Sigurd estava pronto para sacrificar tal espada também, se ele possuísse

uma.

No entanto, a decisão de desistir de algo não era dele.

Era dela.

E as chances não estavam a favor de Sigurd.

Ele afugentou os pensamentos como uma horda de roedores. Evitou até

mesmo olhar na direção do arco acabado e mergulhou no trabalho. Com o passar

dos dias, começou a notar que um grupo de homens desaprovava abertamente

que as mulheres trabalhassem ao seu lado. O próprio Sigurd não estava

totalmente em paz com a solução, mas o trabalho estava feito, e bem feito.

Majoritariamente.

No final da primeira semana, o grupo no local à beira-mar fervia de

raiva. Geirr, o maior oponente, mandava nas mulheres e repreendia-as se elas

fizessem algo errado ou se uma mulher precisasse parar para respirar.


Naquela manhã, as torres ferviam de atividade enquanto os trabalhadores

continuavam a construção. Então Sigurd ouviu uma discussão e seu estômago

apertou ao ver a figura de Donna bem no meio de uma pequena reunião de

pessoas que gesticulavam e falavam em tons acalorados.

— O que é isso? — Sigurd latiu ao se aproximar deles.

A cabeça de Donna disparou para ele. O alívio relaxou suas feições e ele

respirou com mais facilidade. — Sigurd, graças a Deus você está aqui. Você deve

parar com esse absurdo.

— Não se deve permitir que as mulheres façam trabalhos especializados,

jarl! — Geirr interrompeu. — Brama subiu a torre, pegou meu martelo e começou

a pregar as pranchas enquanto eu estava ausente por um minuto.

— E o que você fez, Geirr? — Brama, uma mulher mais jovem, segurava seu

ombro esquerdo com a mão direita. — Ele me empurrou, jarl, e eu caí da rampa.

— Eu não queria que ela caísse! Quem disse a ela para fazer alguma coisa na

torre?

As narinas de Sigurd dilataram-se. Uma mulher não deveria fazer um

trabalho que exigisse habilidade de construção, mas machucar uma mulher era

vergonhoso para um homem.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, sua bela donzela de justiça falou

novamente: — Quer saber? É isso. Esta não é a primeira vez que as mulheres são

empurradas e ameaçadas nesta construção. Acho que é hora de vocês, senhoras,


aprenderem a se defender contra isso e quaisquer ameaças que venham. — Ela

olhou Geirr de cima a baixo. — Especialmente se alguém presumir que tem o

direito de tocar em você.

Geirr mostrou os dentes e os punhos de Sigurd cerraram-se. Ele deu um

passo em direção ao homem, mas Donna continuou, e a atenção de todos foi

atraída de volta para ela. — O inimigo está chegando. Não seria sensato que as

mulheres soubessem como se proteger?

As mulheres concordaram. Sigurd observou os lábios carnudos dela se

movendo e não pode acreditar no que ouvia. Mulheres lutando? Mulheres

simples, não donzelas escudos? 6Loki deve ter confundido a mente de Donna.

— Não haverá nada disso.

Donna olhou para ele, suas bochechas começando a ficar vermelhas. — Faz

sentido, Sigurd. A fortaleza está progredindo bem. Em vez de assistir a idiotas

como Geirr brigando com as mulheres, permita que pelo menos algumas delas

aprendam autodefesa. Se ajudássemos na construção, poderíamos ajudar na luta.

Geirr riu. — Jarl, estou ouvindo direito? Eu posso ter algas marinhas em

meus ouvidos.

A mão de Sigurd se ergueu para calá-lo. — Nem uma palavra mais, Geirr. —

Ele se virou para Donna e para as mulheres que o observavam com a testa

franzida. — O combate é brutal. Machados, espadas e escudos. Sangue, ossos

6 Como a deusa.
quebrados e tripas derramadas. Mulheres raras aprendem a lutar bem e se

tornam escudeiras. Mas o combate requer um treinamento prolongado. Tempo

que não temos.

— Elas poderiam pelo menos aprender o básico para se proteger contra o

estupro. — Donna olhou de soslaio para Geirr, e ele olhou para ela.

— Cotovelos e joelhos não farão nada contra um guerreiro armado com aço

e queimando por uma mulher.

Donna franziu os lábios e cruzou os braços sobre o peito, fazendo o tecido

esticar e abraçar seus seios. O desejo de tocá-la enviou uma onda de calor pela

virilha de Sigurd. Travessura de Loki. Como ele ainda poderia reagir a ela assim,

no meio de uma construção?

Sigurd cerrou os dentes e olhou para as pessoas ao seu redor.

— A legítima defesa não fará nada por você. — Disse ele. — Quando o

inimigo vier e as mulheres estiverem lutando no campo de batalha, os guerreiros

terão que dividir sua atenção para protegê-las e travar sua própria batalha ao

mesmo tempo. Nós vamos perder.

Ele não acreditou no que estava prestes a dizer. Seus homens

protestariam. As mulheres podem pensar que um espírito tomou conta de seu

corpo. — Mas ainda há algo que as mulheres podem fazer para proteger a aldeia

à distância. Tiro com arco.


Os olhos de Donna brilharam. — Sim! Brilhante, Sigurd. — Ela agarrou a

mão dele com as suas, enviando um agradável zumbido em sua pele. Ver sua

aprovação, sua felicidade, fez o calor irradiar por todo seu corpo e seu coração

disparar em seu peito. Ele queria que ela se sentisse assim todos os dias de sua

vida.

Se eles sobrevivessem.

Ele continuou: —Isso não significa que você estará fora de perigo. Os

arqueiros inimigos vão mirar em você também. Mas você estará nas torres de

vigia.

As mulheres não pareciam assustadas. Eles o olhavam com algo que

lembrava orgulho, e seu próprio peito se projetava ligeiramente de orgulho por

suas mulheres. Asa falou, e ele sabia que ela expressava as vozes de muitos.

— Jarl, você deveria ter nos perguntado há muito tempo.

Sigurd acenou com a cabeça. — Halfdan é o melhor arqueiro. Ele vai te

ensinar. Reúnam-se no arco de pedra. — Arco de pedra... Seus olhos se voltaram

para Donna e ele imediatamente olhou para outro lugar. Em qualquer outro

lugar. — É longe o suficiente para que você não machuque ninguém enquanto

treina.

Geirr deu um passo em direção a Sigurd. — Jarl, isso é sábio?

— É, Geirr. É sábio fazer qualquer coisa para proteger você, sua família e

todos nesta aldeia.


Donna ergueu o queixo. — Eu vou aprender também.

Os músculos do estômago de Sigurd estremeceram. Seu pulso acelerou. —

Você não.

— Você não pode me dizer o que fazer.

Sigurd sentiu os olhos de seu povo nele. Ele agarrou o cotovelo de Donna e a

levou embora.

— Não ouse minar minha autoridade na frente de meu povo. — Ele rosnou.

— Mas...-

— Não haverá treinamento de arco e flecha para você.

Eles estavam agora atrás de um prédio, protegidos de olhares indiscretos, e

ele passou os braços em volta dela - algo que ansiava por fazer o dia todo. A

sensação de estar em casa o envolveu. — Eu não posso arriscar sua vida.

— E eu não posso apenas ficar parado e assistir todos os outros morrerem.

Ele deu um beijo em seus lábios, e sua suavidade acendeu um fogo em sua

virilha. — Você já esteve em uma batalha?

Ela corou. — Não.

— Você já viu a morte?

— Não.
— Então você não tem ideia do que a espera.

Donna empalideceu um pouco, sua pele quase translúcida. Então a teimosia

endureceu seus olhos, e eles se tornaram tão azuis quanto o fundo do mar no

verão. — Você tem razão. Eu não tenho ideia. Mas, Sigurd, vou aprender a atirar

com arco com as mulheres de sua aldeia. E se você acha que pode me impedir,

não tem a menor ideia de quem eu sou. E se for esse o caso, talvez seja melhor

pararmos com isso... seja o que for que haja entre nós.

Sigurd engoliu em seco e o pânico o percorreu como um raio. Ele não queria

acabar com isso, especialmente não agora, enquanto ela derretia em seus braços,

suave e deliciosa.

Mas Donna estava certa. Ele sabia que ela era uma guerreira de coração. Vê-

la arriscar sua vida o fez querer arrancar seu próprio coração, apenas para

protegê-la do perigo. Mas ainda pior seria tê-la completamente despreparada e

vê-la morta por causa de sua desconfiança.

Ele tinha que confiar nela para aprender a lutar e se proteger como confiava

em seus guerreiros.

— Eu conheço você, Donna. Eu te conheci desde o momento em que te

vi. Através do tempo, através de centenas de anos. Você é uma donzela do

escudo, suas armas são palavras e argumentos, mas é hora de aprender a lutar

com aço e madeira.


CAPÍTULO QUATORZE

Uma semana mais tarde

O rugido de uma buzina de guerra cortou o ar enquanto Donna e Sigurd

tomavam o café da manhã na mesa comprida, seus braços e quadris

pressionados um contra o outro como os de crianças em idade escolar.

Desde que Donna havia começado o treinamento de arco e flecha, eles não

se viam mais durante a maior parte do dia, mas suas noites eram repletas de

fogo. Quando se separavam, Donna sentia como se um peso pressionasse seus

pulmões. Uma vez de volta ao quarto de Sigurd, ela respirava novamente. Eles

eram atraídos juntos como ondas para a costa e abraçavam-se juntos até o raiar

do dia, quando chegava a hora de seguirem seus caminhos separados.

Eles não falavam muito, apenas sussurravam um contra o outro enquanto

faziam amor.

E uma ou duas vezes, quando ele estava bem dentro dela, levando-a a níveis

cada vez maiores de êxtase, Donna pegou o “eu te amo” que quase escapou de

sua boca como um prisioneiro ansiando pela liberdade. Nascendo em algum

lugar de seu peito e subindo por sua garganta como uma bolha, apenas para ser

interrompido por seus dentes cerrados.


Como ela iria embora? Como viveria sem ele?

A buzina continuou a cantar sua canção emocionante quando os olhos de

Sigurd e Donna se encontraram.

A morte veio bater. O medo gelou Donna até os ossos. Ela daria tudo para

ver Sigurd ileso.

— Não se atreva a morrer. — Seus lábios mal se moveram, duros como

madeira.

As lágrimas brotaram de seus olhos, mas ela as proibiu de derramar. Sigurd

segurou sua nuca e deu um beijo em sua boca. Teve o gosto de adeus, cortando o

estômago de Donna como um milhão de facas.

Sigurd se levantou, pegou seu machado, que estava ao lado dele no banco, e

gritou: — O inimigo está aqui! Para seus lugares!

Ele chamou um dos adolescentes para ajudá-lo a colocar seu equipamento

de guerra e eles foram para o quarto. Donna o seguiu até lá para pegar seu arco e

flechas, e Sigurd disse a ela para colocar sua armadura de couro enquanto ele

colocava sua brynja7, que brilhava com finas correntes de ferro e devia pesar

como meio carro.

7
Em seguida, eles correram juntos em direção às torres de vigia de mãos

dadas. Os homens já estavam totalmente blindados e as arqueiras estavam em

posição.

A fortaleza ainda não estava terminada. A paliçada à beira-mar tinha uma

lacuna do lado direito, onde Donna e Sigurd haviam feito amor duas semanas

antes. O lado leste também estava em construção, mas Fuldarr não sabia disso. O

único local concluído era o arco de pedra. Duas torres de vigia permaneciam

sólidas. A terceira tinha apenas os pilares de sustentação e era, portanto,

inútil. Sob a orientação de Thorsten, os aldeões empilharam rapidamente a terra

perto da lacuna, plantando pontas compridas em ângulo. As arqueiras já

estavam esperando lá junto com duas dúzias de guerreiros totalmente blindados.

O portão ainda estava aberto e a visão através dele fez o coração de Donna

parar. Oito barcos longos deslizaram em direção a eles a toda velocidade, os

remos subindo e descendo. Cerca de cinco navios tinham velas vermelhas e azuis

brilhantes, mas o resto tinha velas diferentes: verdes, amarelas e brancas.

— Ele encontrou aliados. — Sigurd cuspiu as palavras. —Vigdis não mentiu.

Donna pensou na violência e nas mortes que esses navios trariam. Ela tinha

que tentar um caminho pacífico. — Sigurd, deixe-me negociar. É o que faço para

viver. Eu posso...-

— Você está louca se pensa que vou deixar você fazer isso. Você não é

ninguém para Fuldarr e não tem poder de negociação. O que o impedirá de

matar você à primeira vista ou de te fazer prisioneira?


Donna cerrou os punhos. Ela temia por ele e não podia sentar e esperar que

fosse morto. — Vamos juntos então. Eu serei útil. Eu sou do futuro, lembra? Eu

conheço truques. Talvez possamos resolver isso pacificamente para que ninguém

morra.

Sigurd mostrou os dentes e ergueu os olhos para os navios que se

aproximavam por baixo de suas sobrancelhas. — Há mais chance de que Loki

pare de conspirar. Não, Donna, não haverá paz hoje. Sangue vai derramar - o

sangue de Fuldarr. — Ele tocou o pingente do martelo de Thor em volta do

pescoço, buscando a proteção do deus. — Mas você está certa. Podemos ganhar

algum tempo para as pessoas fazerem os preparativos de última hora. Prepare

seus truques, donzela da justiça.

Sigurd levou Floki e cinco de seus guerreiros mais fortes para acompanhar

Donna e ele, e eles ficaram na praia esperando os navios chegarem.

Os joelhos de Donna tremeram enquanto os navios se aproximavam. Seu

coração disparou e o suor brotou em sua pele em uma película pegajosa. O medo

derreteu seus ossos. Ela nunca tinha estado tão assustada em toda a sua

vida. Disseram que Nova York era perigosa. Nova York era moleza comparada a

isso. A guerra real veio para ela como um trem em alta velocidade. E ela não

podia fazer nada para impedir.

Donna só podia correr. Sim, era uma opção. Corra, agora mesmo, para o

arco e desapareça no tempo, de volta à segurança e ao calor do século XXI.


Mas ela estaria condenada se fizesse isso. Porque o homem pelo qual seu

coração batia estava ao seu lado. O mais bravo, o mais forte, o homem mais

querido que a possuía - corpo e alma. E ela deveria ser corajosa e forte para

ele. Alguém em quem ele podia confiar - ele e seu povo. O queixo de Donna se

ergueu e ela agarrou o arco até que suas unhas se cravaram em sua carne.

Os primeiros navios chegaram e, por um momento, ninguém falou. Os

guerreiros nos barcos já haviam construído uma parede de escudos.

— Fuldarr, mostre-se! — Sigurd gritou. — Vamos conversar.

Um homem alto com cabelo preto comprido e liso apareceu. Algo nele a

lembrou daquela noite em seu quarto em Manhattan, de Joseph, que passou pela

vida de sua mãe e Donna como um tornado, deixando-as quebradas e vazias, e

nunca mais as mesmas. Seu peito apertou e sua mente ficou confusa.

— Sobre o que você quer falar, Sigurd? Estou prestes a terminar o que

comecei no ano passado.

Ele gesticulou e uma mulher apareceu atrás dele. Ela era pálida e magra, seu

cabelo loiro brilhante recolhido em um estilo elaborado. Deveria ser Vigdis.

— Talvez você queira ver sua irmã? Tudo bem então. Vamos descer, esposa.

— Ele pulou na água e vários guerreiros o seguiram. Um pressionou Vigdis a

fazer o mesmo.

Quando o grupo de Fuldarr parou a cerca de três metros deles, Donna

entendeu por que Fuldarr queria descer com Vigdis. Ele queria que Sigurd a
visse em todos os detalhes. Um movimento clássico para apertar os botões do

oponente e deixá-lo emocionado. Os pés de Donna congelaram ao ver o rosto de

Vigdis. Uma pálpebra estava roxa e tão inchada que fechou completamente o

olho. O sangue endurecido cobriu uma sobrancelha, um hematoma apareceu em

sua bochecha e um corte abriu seu lábio inferior. Donna olhou para Sigurd. Seu

rosto parecia esculpido em pedra, o que significava que ele estava além da

raiva. Ela se moveu em direção a ele e endireitou as costas. Se ele estava prestes a

enlouquecer, ela deveria manter a cabeça limpa.

— O que você fez com a minha irmã? — Sigurd rosnou.

— Isso é entre minha esposa e eu. Fique tranquilo, ela mereceu. Você não foi

o único que ela traiu. Parece que ela não consegue se conter.

Donna viu com o canto do olho como a mão de Sigurd começou a tremer e

os ossos de sua mão ficaram tão tensos com a força com que ele agarrou o cabo

do machado que ela temeu que rasgassem sua pele.

Ela precisava intervir ou Sigurd explodiria. — O que será necessário para

você sair em paz? — Ela perguntou.

Os olhos de Fuldarr dispararam para ela e ele inclinou a cabeça. — E quem é

ela, Sigurd? —Nova esposa?

Donna sentiu os olhos de Vigdis nela e corou, captando o desejo de que a

única família de Sigurd gostasse dela. Que bobo.

— Ela não é minha esposa.


Isso era verdade, mas doeu um pouco em Donna.

— Então por que eu deveria falar com você, mulher?

Sigurd estava prestes a dizer algo, mas Donna interveio. — Porque eu sou

do futuro.

Todos os olhos caíram sobre ela. O corpo de Fuldarr enrijeceu e ele olhou

para ela. — O que?

— Uma Norna me enviou aqui de mais de mil anos no futuro.

— Donna! — A voz de Sigurd a esbofeteou.

Mas ela estava indo longe demais no plano. Queria assustar Fuldarr,

intimidá-lo, deixá-lo inseguro e emocionado.

— E eu já contei a Sigurd todos os segredos, tecnologias e inovações que ele

precisa saber.

A julgar pela linguagem corporal de Fuldarr, estava funcionando. Suas

sobrancelhas se uniram, os olhos se arregalaram de surpresa e - sim, pequenos,

quase imperceptíveis - de medo.

Ela pressionou. — Atrás daquela paliçada, há máquinas que cospem fogo e

guerreiros de ferro que lutam por conta própria.

— Você está mentindo. — Fuldarr rosnou, mas sua voz perdeu a

confiança. — Você é apenas uma prostituta.


— Eu estou dizendo a verdade.

— Donna, pare! — Sigurd disparou.

Os olhos de Fuldarr moveram-se rapidamente entre eles e um sorriso de

escárnio lento alargou seus lábios. — O que há de errado, Sigurd? No ano

passado, você me enviou sua irmã. Agora está se escondendo atrás da saia de

outra mulher. Onde você perdeu suas bolas?

Donna prendeu a respiração. Ela não vivia com os vikings por muito tempo,

mas já havia aprendido que o pior insulto a um viking era ofender sua

masculinidade. Sigurd já estava abalado. Agora, estava prestes a explodir. O

lembrete sobre seu erro com Vigdis, e o que isso custou a sua família, foi demais.

Seu rosto estava se contorcendo, sua boca retorcida em um grunhido e seus

pés tremiam ligeiramente, prontos para se lançar contra Fuldarr.

E morrer.

Fuldarr também viu. Um sorriso quase imperceptível esticou seus lábios e

ele ergueu um braço, prestes a sinalizar para seus guerreiros. O rosto de Vigdis

congelou de desespero. Os guerreiros de Sigurd também assumiram suas

posições.

Donna não teve tempo de sobra e, pouco antes de os vikings loucos se

chocarem em um massacre, ela jogou o arco no chão e deu um passo em direção

a Fuldarr. — Espere!
Todos congelaram, seus olhos nela. Bom. Uma surpresa. Isso abalaria a sede

de sangue de Sigurd. — Fuldarr, deixe Sigurd e seus homens voltarem para a

fortaleza. Se você fizer isso, eu me entregarei a você. Eu vou te contar todos os

segredos do futuro.

Ela não queria ver o rosto de Sigurd. Ela não podia. A dor que ele deve ter

sentido, de outra mulher o trair daquele jeito, depois que ele lhe confiou sua

maior dor, depois que mudou por ela, depois que começou a ouvir seus

conselhos.

Ela deve ter acabado de apunhalá-lo no coração.

Mas melhor isso do que matar ele e toda a aldeia.

Os olhos de Fuldarr se voltaram para Sigurd e, pelo triunfo no rosto do

inimigo, Donna não precisava ver seu homem para saber que a dor estava

estampada nele. Fuldarr acenou com a cabeça e, com o coração apertado, Donna

correu em sua direção e ficou ao seu lado, entre ele e Vigdis. Quando ela se virou

para Sigurd, o sangue congelou em suas veias.

Ele parecia como se alguém tivesse acabado de esfaqueá-lo no estômago,

mas ainda estava em posição, pronto para se lançar contra Fuldarr. Ela tinha que

fazer algo.

— Estou apenas entrando para a equipe vencedora.

Os olhos de Sigurd se arregalaram e seu rosto ficou vermelho como se ela o

estivesse estrangulando. As lágrimas turvaram a visão de Donna. — Fuldarr,


nunca conheci um homem com um exército tão grande, mesmo na minha época.

— Disse ela, com a voz trêmula. Ela se odiava. Mas estava funcionando. O peito

de Fuldarr inchou de orgulho, ele acreditava que ela estava do seu lado.

Sigurd também.

Seu rosto endureceu e, sem dizer outra palavra, ele se virou e se afastou, a

cabeça erguida, como se Donna não existisse.


CAPÍTULO QUINZE

— Arqueiros, prontos! — Sigurd gritou quando os portões da fortaleza se

fecharam com um baque atrás dele. Ele escalou a rampa de uma das torres de

vigia. As mulheres se levantaram, já em posição, e puxaram seus arcos. —Atirar!

— A primeira tempestade de flechas caiu sobre o inimigo.

Ele ordenou a sua mente que não pensasse no que Donna acabara de fazer -

não agora - mas a memória cravou suas garras nele. Seu peito latejava por dentro

como se estivesse sendo picado na carne do jantar. Do outro lado da praia,

Donna ficou onde ele a havia deixado. Ele podia sentir os olhos dela sobre ele

mesmo à distância. Fuldarr gesticulou, fazendo os guerreiros correrem em

direção à fortaleza. Eles derramaram dos navios como grãos de sacos e formaram

paredes de escudos.

Odin, não deixe nossas flechas tocarem essas duas mulheres.

Tudo sobre o que Donna acabara de fazer soava como traição. A traição

parecia crescer naquela praia como musgo. De Vigdis. De Donna. Mesmo

lugar. Mesmo inimigo. O pensamento transformou suas entranhas em pó.

O inimigo começou a atirar flechas neles também. As mulheres ao redor dele

se abaixaram sob seus escudos e as flechas acertaram a madeira e a torre. Mas

Sigurd ficou parado como se nada estivesse acontecendo ao seu redor.


Os olhos de Donna se fixaram nos dele através do campo do inimigo,

através da parede. Através do tempo.

E agora ela estava em perigo.

A mulher que o traiu.

Sigurd rugiu.

A fúria cresceu dentro dele dos dedos dos pés como um fogo

purificador. Ele lutaria, oh Odin, ele lutaria. Por seu pai. Por seu povo. Pela

mulher que amava.

Sigurd tinha que ir aonde seu povo era mais vulnerável - a parte inacabada

da fortaleza. Ele desceu correndo a rampa.

— Odin! — Sigurd gritou quando alcançou a colina de espigões de terra

empilhados, muitos dos quais tinham guerreiros inimigos plantados neles. Mas

eles continuaram chegando, e Sigurd mergulhou na batalha. — Odin! — Ele

chamou novamente enquanto cortava sua primeira morte na batalha.

Flechas voaram - delas e do inimigo - e encontraram seus alvos, dividindo

músculos e ossos. Pessoas gritaram, ficaram feridas e morreram. As paredes de

escudos da Eny ficaram mais finas à medida que as flechas das mulheres

encontravam carne, e a gratidão se espalhou por Sigurd como hidromel quente

ao pensar que, sem a ajuda das mulheres, todos eles teriam sido massacrados

agora. Sem a ajuda de Donna.


As fileiras estreitas do inimigo alcançaram a paliçada e começaram suas

tentativas de pular por cima da parede. As flechas pegaram muitos guerreiros,

mas algumas pousaram do outro lado, encontrando as espadas e machados dos

homens de Sigurd.

O aço colidiu, a madeira se partiu, os ossos se quebraram, a carne se

rasgou. A fortaleza permaneceu. A maioria dos homens do inimigo que

invadiram a fortaleza morreram, mas depois de um tempo, os homens de Sigurd

começaram a morrer também. Fuldarr simplesmente tinha muitos homens.

E Donna não teve chance. Ela estava sob o poder do inimigo.

Na fúria da batalha, tudo se resumia à essência das coisas - esfaquear ou

correr, abaixar ou demorar, viver ou morrer. E algo ficou claro para

Sigurd. Donna não tinha motivo para ir a Fuldarr como Vigdis. Ela queria voltar

para seu próprio tempo e agora estava mais longe de seu objetivo do que nunca.

Ela se colocou em mais perigo do que poderia imaginar.

Não, ela não traiu.

Ela se sacrificou. Ela fez isso por ele. Por seu povo.

Só havia uma coisa a fazer.

Se ele matasse Fuldarr, tudo pararia. Nenhum mal aconteceria a Donna ou a

qualquer outro de seu povo.


Ele precisava de seus melhores guerreiros. Eles fariam uma fuga em direção

a Fuldarr e se usassem o portão oeste - o arco, que, pelo que ele sabia, era livre - e

passassem pela lateral, sem serem notados, teriam uma chance.

Sigurd encontrou Floki e cinco outros, explicou o plano e eles correram em

direção ao arco. Passaram pelo portão em silêncio e, em seguida, pela floresta em

direção ao lado rochoso ocidental do fiorde, onde os navios não podiam atracar e

o inimigo não saberia o que havia além da floresta.

Quando Sigurd e seus homens saíram da floresta para a praia, eles primeiro

trotaram sem se proteger, para não parecer suspeitos e o inimigo não os

reconheceria à distância. A maioria dos homens de Fuldarr lutava pela fortaleza,

e apenas um punhado ficou atrás. Ao se aproximarem o suficiente, Sigurd e seus

guerreiros começaram a abrir caminho em direção a Fuldarr, cuja atenção total

estava na fortaleza.

Foi uma luta difícil; havia duas vezes mais inimigos do que eles. Depois de

um tempo, Floki gritou e caiu, com uma espada no peito. Sigurd rosnou, a dor de

perder seu irmão de batalha acendendo seus músculos em um frenesi de

vingança. Ele cortou, esfaqueou e abriu caminho em direção a Fuldarr. Mas logo

viu o resto de seu bando de guerra todo caído no chão.

Era Sigurd agora contra Fuldarr - e seu exército. Donna e Vigdis ainda

estavam ao seu lado, os olhos arregalados de horror.


Sigurd tinha que fazer essa última coisa. Ele estava muito perto e se lançou

sobre Fuldarr, desconsiderando os outros guerreiros. Eles se moveram em sua

direção, mas Fuldarr os deteve com a mão levantada.

Ele desembainhou a espada e o machado de Sigurd se chocou contra ela. O

rosto de Fuldarr, cheio de rancor, brilhou sobre ele. Os músculos de Sigurd

gritavam e a respiração ficou presa em sua garganta. As horas de batalha o

haviam exaurido e plantado uma dor surda em seu corpo, enquanto Fuldarr

estava apenas começando. Odin, dê-me força, pensou ele, e juntando os restos de

seu poder, empurrou Fuldarr para trás e avançou, com o machado

brilhando. Sigurd grunhia a cada golpe, o machado soava contra a espada como

o martelo de um ferreiro.

Mas Sigurd havia se superestimado. Seus braços zumbiam de exaustão e ele

demorava mais para desferir cada golpe. Fuldarr usou sua hesitação para pegar o

escudo e erguê-lo. O machado de Sigurd cravou-se na madeira e Fuldarr enfiou a

espada no flanco de Sigurd. Seu corpo explodiu de dor e ele caiu sobre um

joelho, mas a brynja de seu pai não deixou a espada passar.

Sem o machado, ele puxou o scramasax. A longa e mortal adaga era uma

arma fraca contra a longa espada e o escudo de Fuldarr, mas era tudo o que

tinha. Ele tirou o resto de sua força de cada centímetro de seu corpo - e alma - e

cortou baixo, mirando na coxa de Fuldarr porém sua lâmina cortou apenas o

ar. A espada de Fuldarr veio para ele, mirando em seu ombro e Sigurd ergueu a

arma para bloquear a espada, que encontrou o scramasax e permaneceu

nela. Fuldarr pressionou Sigurd, que teve que colocar o punho do scramasax
contra a outra palma para proteger seu pescoço. Sua lâmina abriu a carne de sua

mão, cortando-o.

As mãos de Sigurd tremiam quando a espada de Fuldarr empurrava o

scramasax cada vez mais perto de seu pescoço. Sigurd rugiu e se lançou contra

ele, mas Fuldarr apenas empurrou com mais força, os olhos arregalados com o

triunfo da vitória iminente.

A lâmina se aproximou cada vez mais do pescoço de Sigurd. A fúria e o

desespero ferviam dentro dele, mas não lhe restava muita força. Ele não queria

morrer. Se ele morresse, toda a aldeia morreria. E o que aconteceria com Donna e

Vigdis? Mas estava perdendo, ele sabia no fundo de seus ossos. Não assim, Odin.

Então, uma fêmea gritou em algum lugar atrás de Fuldarr, houve

um baque e a pressão na lâmina diminuiu. A perna de Fuldarr cedeu e ele caiu

sobre o outro joelho. Com o resto de suas forças, Sigurd enfiou o scramasax

fundo no olho do homem.

Fuldarr gritou, sua espada e escudo caíram e suas mãos cerraram a

lâmina. Mas a vida o deixou e ele caiu de lado, com sangue manchando as

pedras.

Atrás dele estava Vigdis. Ela ofegou e olhou para o corpo de Fuldarr, como

se não pudesse acreditar no que acabara de fazer, com os olhos arregalados. Seu

rosto fez uma careta em uma máscara de ódio, e ela cuspiu nele. Então olhou nos

olhos de Sigurd e caiu de joelhos, com lágrimas escorrendo.


Donna correu em sua direção. Ele a pegou em seus braços, seu batimento

cardíaco alto em seus tímpanos. Com o rosto molhado de lágrimas, ela

pressionou a bochecha contra o rosto manchado de sangue.

— Graças a Deus, você está vivo. — Ela continuava sussurrando em seu

ouvido.

A realização da vitória finalmente o atingiu. Seus pulmões ainda lutavam

por ar, mas ele ergueu o punho e rugiu. Os guerreiros de Fuldarr já estavam

escalando de volta para os navios. Mas a batalha na fortaleza continuou, pois as

pessoas não sabiam o que havia acontecido na praia.

— Eu matei seu jarl! — Sigurd rugiu como um corno de guerra. —Vocês não

têm jarl!

— Parem a luta! — Vigdis gritou. — Parem!

Sigurd olhou para ela surpreso. Ela era o jairl agora, como a viúva, e poderia

ter ordenado a seus guerreiros que continuassem a batalha. Mas Sigurd

duvidava que ela tivesse muito poder sobre eles. Ele duvidava que eles

arriscassem suas vidas por ela.

Quando Vigdis encontrou seu olhar, um medo como ele nunca tinha visto

antes distorceu seu rosto. Ela se levantou, sem dúvida para correr em direção a

um dos navios, e Sigurd se lançou contra ela, prendendo o braço em seu

pescoço. Donna gritou.


— Não desta vez, Vigdis. — Ele sussurrou em seu ouvido. — Os deuses

sabem, tudo isso é por sua causa, e você precisa ser punida por sua traição.

Ela soluçou: — Por favor, Sigurd, tentei ajudar...

Ele a sacudiu e colocou a mão ensanguentada em sua boca. — Cale a

boca. Donna, dê-me o meu scramasax.

Ela assentiu com a cabeça, seu rosto dividido entre a preocupação e o

alívio. Assim que ela o fez, ele colocou a lâmina no pescoço de Vigdis para que

seus guerreiros não decidissem lutar por ela.

Eles não o fizeram.

O exército de Fuldarr começou a recuar. A praia se encheu com o farfalhar

das pedras sob seus sapatos. Os homens lançaram olhares sombrios para Sigurd

e continuaram subindo nos navios. — Acho que eles não querem lutar pelo jarl

que usa a traição como se fosse um banho matinal. — Sussurrou ele no ouvido de

Vigdis, e ela fechou os olhos, soluçando.

Os mortos e feridos jaziam no chão, e havia corpos ao longo da linha d'água

onde Sigurd e seus seis guerreiros abriram caminho em direção a Fuldarr, seus

irmãos de batalha entre eles. Pilhas de cadáveres jaziam na parte inferior da

muralha da fortaleza. O cheiro acobreado de sangue encheu o ar.

Sigurd sentiu a mão de Donna em seu antebraço e uma onda de calor e

conforto o percorreu com o toque dela. Ele deu um beijo na testa dela, a presença

dela, viva e bem, enchendo seu corpo de vida - como uma poção mágica.
Ele venceu.

Ninguém disse uma palavra, apenas os feridos gemeram de dor. E quando o

último dos homens do inimigo deixou a praia, a brisa do fiorde trouxe sussurros

das ondas batendo contra os navios, e Sigurd se perguntou se ele ouviu as asas

das Valquírias que vieram reunir os melhores guerreiros para Valhöll.


CAPÍTULO DEZESSEIS

Sigurd se mexeu na cama. Ele sentiu o olhar de Donna como se ela o

acariciasse com pelos. Ele abriu um olho. — Suficiente. Eu posso sentir seus

olhos em mim.

Deuses, ela era a coisa mais linda que ele já tinha visto, mesmo logo depois

de acordar, mesmo com os olhos inchados e o cabelo bagunçado. Mas uma

sombra profunda em seus olhos agitou o verme escuro de preocupação em seu

intestino. A única coisa que poderia obscurecer sua felicidade agora, depois que

o inimigo fosse derrotado e depois que a fortaleza existisse.

Nada mais a impediria de voltar para casa.

Ainda não, deuses, ainda não.

Ele só conhecia uma maneira de fazê-la esquecer. Ele a puxou para seu peito,

e o roçar de seus seios nus contra sua pele enviou um calor abrasador por sua

virilha. Sua boca tomou a dela, desejando-a como um homem sedento anseia por

água durante uma seca. Ele a engolfou, suas mãos cavando em sua carne lisa

desesperadamente.

Ela não protestou mas respondeu com o mesmo desespero, devorando sua

boca como se fosse a última vez. Algo úmido acariciou sua bochecha e ele sentiu

o gosto de sal na língua.


Sigurd a girou e a prendeu nas peles embaixo dele. Ela estava chorando.

— Eu machuquei você?

Ela balançou a cabeça e o beijou, puxando-o para si.

Não, ele não a machucou.

Ela o estava deixando hoje.

Ele sabia como se soubesse seu nome. Sentiu como se pudesse sentir o corpo

dela embaixo dele.

Não!

Ele precisava fazê-la mudar de ideia. A seda de sua pele sob suas mãos

enviou um tremor de desejo por ele. Ele acariciou a plenitude de seus seios

maduros, como se fossem um tesouro. Ela gemeu e arqueou as costas, e ele

continuou descendo pela suavidade de sua barriga, e depois para o triângulo de

cachos. Seus dedos a roçaram ali, e ele os seguiu com beijos suaves e úmidos. Ela

arqueou a cabeça para trás, gemidos de prazer escapando de sua garganta.

Sim, ele a faria esquecer tudo sobre Nova York.

Pelo menos por enquanto.

Seus dedos acariciaram entre os lábios de seu sexo, deslizando para o calor

elegante. Encontrando o ponto mais doce, ele circulou levemente com o dedo,
pressionando apenas o suficiente para fazer as unhas de Donna cravarem em

seus ombros e um gemido escapar de seus lábios.

Sigurd se inclinou para baixo, sua boca se fundindo com seu sexo, sua língua

chicoteando o ponto mais doce dela. Seu gosto, seu cheiro, fizeram sua cabeça

girar e sua ereção endurecer ainda mais. Encheu-o com o desejo de mergulhar

profundamente nela e fazê-la se apertar ao redor dele.

Para sentir que ela era sua.

Ele queria trazer a ela o maior prazer que já teve, algo que a ligaria a ele, e

ganharia a batalha contra o tempo. Sua alma doeu com a ideia de perdê-la, e ele

continuou seu jogo até que ela implorou: — Por favor, Sigurd, oh, por favor... eu

preciso de você dentro de mim.

Suas palavras tinham gosto de mel, mas ele queria ver até onde poderia

levá-la. — Ainda não. — Ele murmurou, e ela gemeu.

Sigurd a adorou até que ela gemeu como todas as vezes antes de gozar, e ele

se retirou. Donna gemeu de frustração. Ele se esticou ao lado dela, sua pele

cantando contra a dela, suas mãos acariciando seus seios, sua boca provocando

sua orelha.

— Sigurd, por favor. — Ela se virou para ele, esfregando-se contra ele.

— Ainda não.
Suas mãos procuraram os lugares que a fariam tremer de felicidade. Os

dedos dela deslizaram contra sua pele, descendo por seu estômago até sua

ereção, e ele prendeu a respiração quando roçaram seu comprimento. Ele não

estava longe de explodir, e levou toda a sua força de vontade para não espalhar

suas coxas e afundar em seu calor.

Em vez disso, voltou à sua posição anterior e voltou a torturá-la com a

língua. E, mais uma vez, quando sentiu seu sexo apertar e

ouviu aqueles gemidos, ele se retirou.

Depois de alguns momentos, ele se deitou de costas e a puxou para cima

dele. Adorava vê-la montá-lo. Donna respirou pesadamente e se mexeu contra

ele. — Por favor, Sigurd.

E foi isso.

Ele a ergueu e entrou nela. Era como voltar para casa depois de uma invasão

longa e bem-sucedida. Ela gemeu e começou a se mover sobre ele, e Sigurd

afundou no oceano de prazer com cada impulso, enchendo cada pequena parte

de si mesmo, cada fio de cabelo de seu corpo, cada gota de seu sangue com

Donna.

Ele a moveu para cima e para baixo com os braços, empurrando dentro

dela. Ela estava gozando - seus gemidos, mais altos do que nunca, ressoaram no

fundo de seu peito. Suas entranhas começaram a tremer, ordenhando-o, e ele

segurou o máximo que pode, mas finalmente caiu no precipício com ela.
Ele gozou muito e com força, dando a ela cada gota dele e muito

mais. Donna chorou e gemeu e chamou seu nome, e seu êxtase pareceu vir em

ondas por um tempo.

Quando ele ficou vazio, ela caiu em cima dele e ficou ofegante. Eles ficaram

assim por um tempo, envolvidos um no outro, respirando em uníssono, seus

corações batendo como um só.

Mas então, algo quebrou. Ele sentiu o medo de Donna e ela ficou tensa. Ela

deslizou para fora dele, uma carranca em seu rosto, e as tripas de Sigurd se

encheram de gelo.

Ele não queria dançar em torno da coisa, tinha que saber. — Você está me

deixando, não é?

Lágrimas encheram os olhos de Donna. —Sim.

— Não. — O gelo se espalhou em seu estômago e encheu seus vasos

sanguíneos. — Por que em nome de Loki agora?

— Eu cumpri meu propósito. Não há nada mais para mim aqui. Não há

razão para ficar.

O gelo atingiu o coração de Sigurd. — Nada?

A veia em seu pescoço latejava mais rápido. — Existe?

— Se eu pedisse para você ficar... — Ele engoliu em seco. — Você faria isso?
— Eu não posso, Sigurd.

— Eu não sou uma razão suficiente?

Ele apertou a mão dela e o calor se espalhou por sua pele. Seus olhos se

encheram de lágrimas mais uma vez.

— Droga, Sigurd! Eu já sabia ontem à noite que precisava sair o mais rápido

possível. Eu queria passar uma última noite com você, mas se eu não for embora

hoje... Se eu não for agora... — Ela disse, sua voz diminuindo para um sussurro.

— Eu nunca serei capaz de deixá-lo. A cada segundo que passo com você, fica

cada vez mais difícil para mim ir.

— Então fique!

As palavras ficaram penduradas ali como uma vela no mastro.

— Eu não posso, Sigurd. Minhas clientes... Minha mãe... Nossa empresa ...

Não vou conseguir viver comigo mesma se aquelas quatro mulheres e seus filhos

caírem na rua porque eu não voltei.

A boca de Sigurd pressionou em uma linha fina. — Mude sua

mente. Naquela noite no fiorde... O que compartilhamos então acontece apenas

uma vez na vida.

Ela apertou sua mão suavemente. — É verdade. Você me mudou.

— Assim como você me mudou.


O peito de Sigurd queimou. Ele estava cansado de se esconder atrás da

fachada de não sentir, de não se importar.

Se desnudar sua alma não pudesse convencê-la, então nada o faria. — Você

é um tesouro para meu jarldom. Seja minha esposa, Donna. Seja minha igual em

tudo, pois sei que isso é o que você deseja. Você pode controlar as mulheres,

aprender arco e flecha e participar de ataques comigo. O que você me diz?

Donna ouviu com a boca aberta. Ela se inclinou na direção dele, um largo

sorriso no rosto. Por um momento, ele pensou que ela diria sim, e a esperança

floresceu em seu peito.

Mas Donna afastou a felicidade como água e olhou ao redor com uma

expressão preocupada. — Eu não posso. Onde estão minhas roupas? Aquelas em

que vim aqui?

O pânico se espalhou em seu sangue como ferro líquido. Ele a estava

perdendo. — Não vá.

Ela fechou os olhos. — Por favor.

O desejo de agarrá-la e prendê-la sob seu corpo na cama e não permitir que

ela se afastasse dele queimava seus músculos, e ele cerrou os punhos para não se

jogar sobre ela.

— Tudo bem, vou encontrá-las sozinha.


Um por um, ela começou a abrir os baús e remexer neles. Finalmente,

encontrou suas coisas e se vestiu sem olhar para ele. Ele observou cada

movimento dela, o jogo de seus músculos sob a pele, o volume de seus seios, as

curvas de seu lindo traseiro, sua bela e fina cintura. Ele queria queimar a

memória dela para sempre em sua alma.

Vê-la vestida com as mesmas roupas estranhas de quando ele a conheceu fez

seu peito doer. Sigurd vestiu as calças e pegou o machado. Ele gesticulou para a

porta. No grande salão, os criados estavam fazendo a limpeza após o banquete

da vitória de ontem e ergueram os olhos surpresos quando Donna passou por

eles em suas próprias roupas. Seus olhos ainda brilhando com lágrimas quando

ela olhou em volta, provavelmente esperando ver Asa.

Lá fora, as pessoas cuidavam dos animais, o ferreiro batia no metal e os

pescadores fumavam peixe. Mas a atmosfera foi escurecida pelos preparativos

para o funeral. As pessoas carregaram lenha e pertences pessoais do falecido

para a pira funerária. Floki e muitos outros grandes guerreiros haviam caído

ontem defendendo seu conde e seus entes queridos, e Sigurd orou a Odin para

que deixasse todos entrarem em Valhöll e que esperassem por ele lá.

A mão de Sigurd apertou a de Donna. — Eu quero tocar você em cada

momento que tivermos.

Donna apertou a mão dele e Sigurd absorveu o formigamento que sempre

sentia quando ela estava perto.


Quando chegaram ao arco, as rochas pareciam tão duras e implacáveis como

antes, e não havia vestígios de qualquer retalho que colasse a pedra caída de

volta ao arco. A paliçada cheirava a madeira fresca e alcatrão de pinheiro e

parecia sólida.

Finalmente, ela se virou para encará-lo. Lágrimas brotaram de seus

olhos. Ele a trouxe para ele e tomou sua boca com fome, desesperadamente. Mas

Donna o impediu.

— Eu tenho que ir. Nós salvamos seu povo, agora eu preciso salvar o

meu. Você, mais do que ninguém, sabe o que significa dever.

Ele descansou sua testa contra a dela. Como era possível que ela o

conhecesse melhor do que ninguém? — Eu faço. — Disse ele, expirando.

Ela se moveu para se afastar, mas os braços dele a mantiveram no

lugar. Sigurd a apertou com tanta força que seus ossos devem ter rachado e

beijado-a com tanta força que ele quase a mordeu.

Então ele a soltou e deu um passo para trás, e o chão se mexeu sob seus pés

como se ela tivesse acabado de chutar uma viga de sustentação e ele tivesse

ficado para sempre fora de equilíbrio, como uma casa torta.

Ela enxugou as lágrimas.

— Adeus, Sigurd. — Ela sussurrou. — Trate bem as mulheres.


Donna se virou para caminhar até o arco, mas a mão de Sigurd a agarrou e

girou para encará-lo. Ele removeu o pingente do martelo de Thor de seu pescoço

e o deu a ela. Talvez estivesse dando sua sorte, mas ele se sentiria melhor

sabendo que ela tinha um pedaço dele com ela. Esperava que isso a protegesse.

— Você está levando meu coração com você, Deusa. — Seu hálito quente

beijou sua bochecha. — Trate bem também.

Donna girou e correu em direção ao portão. Sigurd precisou de toda a sua

força interior para não a deter e depois não pegar uma marreta e transformar o

arco em pó.

Quando alcançou o portão, ela o abriu e entrou. Então ela se virou para ele, e

encontrou seus olhos pela última vez. A eternidade os conectou, e ele pensou que

seu coração explodiria de amor e angústia, uma onda lançada pela tempestade

contra uma rocha.

E então ela se foi.


CAPÍTULO DEZESSETE

O corpo de Donna doía. Ela percebeu que estava deitada em algo frio e

duro. Precisava abrir os olhos, mas suas pálpebras pareciam estar

grudadas. Uma lâmpada fluorescente zumbiu em algum lugar à distância. O ar

cheirava ligeiramente a café estragado.

Donna finalmente abriu os olhos e seu coração afundou, embora ela já

soubesse a verdade. Estava de volta a Nova York. Ela se sentou ereta no chão de

mármore do corredor vazio do tribunal. Vozes abafadas falavam atrás das portas

de madeira no lado esquerdo do corredor. O vidro das portas à prova de fogo no

final do corredor brilhava com a luz cinza do dia que entrava pelas janelas.

Sigurd... ele existiu? Ela bateu com a cabeça quando caiu? Tudo tinha sido

um sonho?

Ela sentiu as pontas duras de algo pressionando a pele de sua palma direita

e abriu a mão. Um pingente de martelo de Thor, quente de sua pele, brilhava

apesar da luz fraca. Sigurd... Uma ferida gigante se abriu em seu peito como um

buraco negro. Não, ele não era um sonho. Seu corpo parecia quebrado, como se

um órgão vital tivesse sido removido e ela agora tivesse que viver incompleta,

meio viva.

Porque Sigurd não estava neste mundo.


Donna foi para casa. Ela provavelmente chamou um táxi, embora não se

lembrasse. Nova York a oprimiu com suas buzinas e gritos.

Tomou banho, e água quente corrente parecia uma bênção depois de tomar

banho no rio por algumas semanas.

Ela precisava aprender a viver sem Sigurd agora.

Donna tinha acabado de fechar as torneiras quando alguém bateu em sua

porta. Mamãe deve ter ouvido a água correndo - ela morava em um apartamento

no mesmo andar. Donna sentiu uma pontada de culpa, vestiu um roupão de

banho e correu para abrir a porta.

Mamãe, com os olhos arregalados, a abraçou com força, enquanto o cheiro

familiar de Chanel nº 5 envolvia Donna.

— Eu pensei que tivesse perdido você. — Mamãe sussurrou no cabelo

molhado de Donna. — Onde diabos você estava?

Donna fechou os olhos e as lágrimas correram por seu rosto. — Eu viajei de

volta no tempo.

Sua mãe deu uma risada, empurrou-a para fora do abraço e estudou-a com

os braços esticados.

— Você está bem?

— Estou bem, mãe. — Donna deixou a mãe entrar e elas foram para a sala.
— Você fez uma viagem de busca da alma ou algo assim por causa de

Daniel?

— Algo parecido.

— Isso não é típico de você. Mas eu entendo. Depois de Joseph, tive que

arrumar minha vida também. Mas por que você não me ligou? Como pode

simplesmente abandonar seu caso? Tive de administrar a empresa por conta

própria. A polícia finalmente começou a procurar por você. Você se foi por nove

dias!

As sobrancelhas de Donna se ergueram. Depois de toda a loucura por que

passou, ela não deveria ter ficado surpresa que o tempo pudesse correr em

velocidades diferentes. Ela passou duas semanas e meia com Sigurd, mas aqui

apenas nove dias se passaram. — Me desculpe mamãe. Vou ligar para elas e

explicar. — Como está o caso?

—Consegui pausar as coisas, mas você sabe que as clientes precisam que

ganhemos.

— Nós vamos. — Embora Donna dissesse isso, ela não se sentia como uma

advogada guerreira. Tudo o que queria fazer era encontrar a Norna e voltar para

Sigurd. Mas ela não podia deixar aquelas quatro mães solteiras na pobreza.

— Quando é a próxima audiência?

— Em uma semana.
Donna esfregou o rosto com as palmas das mãos. Tudo o que ela sentia era

exaustão.

— Sério, onde você esteve? — Mamãe a olhou de perto agora.

Se Donna lhe contasse a verdade, repetisse o que dissera sobre viajar no

tempo de maneira séria, sua mãe a levaria para uma enfermaria psiquiátrica. — É

como você disse. Eu precisava de um tempo de folga. Eu estava em Vermont.

— Mas você poderia ter enviado um e-mail. Uma mensagem de texto...

alguma coisa.

— Eu conheci um homem e ele virou meu mundo de cabeça para baixo. —

Oh, foi bom dizer isso a alguém. — E eu precisava ajudá-lo em algo, mas perdi a

noção do tempo.

— Quem é ele?

— Ele é de muito longe e nunca mais o verei.

Lágrimas brotaram de seus olhos quando uma ferida do tamanho de uma

bola de basquete se abriu e começou a sangrar dentro de seu peito. Mamãe a

abraçou e acalmou o melhor que pôde.

— Oh, querida, devemos ficar longe dos homens. Eu criei você para ser

independente. Isso é o que eles podem fazer com você. Quebram seu coração,

destroem seu espírito...


Donna se endireitou. Antes de Sigurd, ela teria concordado. Agora, sentia

que sua mãe não poderia estar mais errada.

— Pare. — Ela se lembrou do que Sigurd havia dito a ela. — Algumas

pessoas plantam sementes podres em nós e nós permitimos. Eu amo ele. Ele é

dirigido, comandante e teimoso. Mas também é o homem mais gentil e forte do

mundo.

E ele é um jarl Viking, ela quis acrescentar, mas manteve a boca fechada.

— Ele me mudou, mãe. Não acho que todos os homens sejam maus. Ou

todos os machos alfa. É que eles também têm sua própria dor. Todo mundo faz.

Mãe franziu a testa. — Querida, você parece diferente.

Ela ergueu o queixo. — E eu não tenho mais medo deles.

Ela voltou a trabalhar no dia seguinte e mergulhou de volta no caso para

esquecê-lo. Ela esperava que fosse ficar mais fácil com o tempo, mas só ficou

mais difícil. Sua angústia por Sigurd se intensificava a cada dia. A única coisa

que a fazia continuar era a necessidade de ajudar seus clientes.

Uma semana se passou e a dor de perder Sigurd cresceu como uma

úlcera. Depois de um mês, Donna mal se reconheceu. Sempre que se encontrava

sozinha ou em um segundo de silêncio, o sentimento de perda a inundava como

uma chuva torrencial.


Enquanto Donna trabalhava arduamente no caso, o bebê de Marta, Juan,

chegou, e a filha de Helena, Eloisa, a seguiu. E apesar das dificuldades, os bebês

eram banhados de amor e não precisavam de nada, graças a uma pequena

comunidade em uma parte do Bronx que lembrou Donna do espírito de Vörnen.

Com duas novas pessoas para proteger, Donna triplicou seus esforços. Ela

não podia se permitir perder. Ela tinha muito em jogo e sacrificou muita coisa

para estar aqui.

A audiência final aconteceu três meses depois que Donna voltou para Nova

York. Daniel a encontrou na sala de espera do tribunal com seu sorriso

presunçoso de sempre. Ele a olhou de cima a baixo. Antes, isso teria posto fogo

em suas bochechas. Agora, parecia engraçado.

No tribunal, ele fez de tudo para intimidá-la, para empurrar seus botões

emocionais. Mas Donna não se importou. Algo mudou nela. Era como se Sigurd

estivesse com ela, dando-lhe força interior, acendendo o espírito Viking. Suas

clientes a observavam com olhos arregalados e cheios de esperança.

O gerente da Cinderellas Inc., Pedro Ferreira - aquele que tinha despedido as

senhoras - foi chamado ao banco das testemunhas e, após alguns interrogatórios,

Donna soube que ela estava perto.


— Por que minhas clientes foram demitidas, Sr. Ferreira?

— Porque eles não fizeram bem o seu trabalho.

— E por que isso?

— Elas se tornaram lentas e preguiçosas.

O triunfo se espalhou por Donna. — Elas se tornaram lentas e preguiçosas?

Senhor Ferreira empalideceu. Daniel deu um pulo, mas apenas abriu e

fechou a boca.

— Todos as quatro?

Ele ficou em silêncio.

Donna trouxe alguns papéis para Daniel e para o juiz. — Meritíssimo, estes

são os registros dos médicos das minhas clientes. Durante a gravidez, a

Sra. Hernández tinha pressão alta. Eme Garcia teve um caso de hiperêmese

gravídica - o que significa vômito excessivo. E a Sra. Gonzalez e Sra. Ramos

tiveram uma gravidez saudável, mas ainda estava mais cansado do que antes, o

que é um sintoma normal da gravidez. Então, posso ver como a condição delas

as tornava mais lentas quando limpavam as casas. As datas dos registros

médicos estão todas dentro de semanas a partir da data em que foram demitidas.

— Permissão para se aproximar do banco, Meritíssimo? — Daniel disse.

O juiz acenou com a cabeça, e Donna e Daniel foram até ele.


Os olhos de Daniel estavam com raiva por trás da fachada de calma. Ele

havia perdido, e todos os três sabiam disso. — Eu gostaria de convidar o

conselho oposto para discutir um acordo.

Um bom acordo era exatamente o que Donna e seus clientes queriam. Na

sala de negociação, Daniel começou com cem mil dólares, mas Donna conseguiu

para ele meio milhão. Ela o olhou em triunfo, sua mão brincando com o pingente

do martelo Thor de Sigurd como se pudesse de alguma forma tocar Sigurd

através dele.

Ela disse: — Quinhentos mil, e deixe seu cliente se desculpar publicamente

com elas e implementar uma política de não discriminação no local de

trabalho. Eu quero o senhor Ferreira para participar e, em seguida, ministrar

workshops sobre não discriminação na Cinderellas Inc.

Daniel revirou os olhos, mas estendeu a mão para um aperto. — Vou falar

com meu cliente.

Quando o acordo foi assinado, uma hora depois, o triunfo explodiu em

Donna como fogos de artifício. Ela ganhou! As mulheres agora podiam começar

uma nova vida sem se preocupar se conseguiriam alimentar seus filhos

amanhã. Ela tocou o pingente de Sigurd novamente, e a angústia a encheu.

O que ela queria agora, mais do que tudo no mundo inteiro, era

compartilhar essa vitória com a única pessoa que não podia. O homem que ela

amava mais do que tudo neste mundo.


Sigurd.

Donna sentiu como se estivesse afundando. Essa seria a vida dela de agora

em diante? Cada vez que tinha sucesso, ou falhava, ou qualquer coisa

significativa acontecia em sua vida, ela gostaria de compartilhar com Sigurd. Ela

cumpriu sua obrigação para com seus clientes. Havia mais alguma coisa

segurando ela aqui?

Sua mãe.

Donna amava sua mãe, mas não podia sacrificar sua felicidade por ela. Ela

precisava viver sua vida e, embora sentisse falta de sua mãe, com certeza ela

entenderia.

Mas mamãe precisava de ajuda com a empresa. Como Donna poderia

simplesmente deixá-la administrar as coisas sozinha?

Donna ergueu os olhos quando Daniel passou por ela a caminho da

porta. Sigurd havia mudado. Talvez ela devesse a Daniel essa oportunidade

também.

— Daniel, estou saindo de Nova York. — Chamou ela. — E quero oferecer-

lhe minha parceria.

Ele se virou e olhou para ela com os olhos arregalados. — O que?


Quando costumavam ser próximos, Daniel disse a ela que adoraria construir

sua própria empresa do zero. Ela precisava fazê-lo ver que era o que ela estava

oferecendo.

Depois de uma longa conversa, Donna o fez pensar.

Daniel disse: — Você é apenas um show de duas mulheres, certo? Você e sua

mãe?

— Certo. Mas temos mais casos do que podemos atender. Nova York nunca

ficará sem processos de discriminação, e estamos construindo um nome para nós

mesmas. Mas se um advogado com fome e ambição ingressasse, combinando

com a experiência de minha mãe, a empresa se tornaria lendária. — Ela bateu um

dedo no lábio. — Se ao menos existisse tal pessoa...

Daniel riu. — Eu sei o que você está fazendo.

— Sim. Você faz. Mas como acha que seu pai se sentiria se sua empresa

vencesse os gigantes para os quais ele esperava que você trabalhasse? Ele te

respeitaria ainda mais?

Daniel baixou o olhar e disse suas próximas palavras em um sussurro

dolorido. — Eu nunca tive a intenção de ofender você ou qualquer outra

mulher. Quando você me acusou de sentar na cadeira de Marta, foi como um

chute na minha cara. Eu nunca quis me tornar isso. Essa atitude em relação às

mulheres é como - é como se fizesse parte da descrição do trabalho.

Donna sorriu. — Então, saia do trabalho.


CAPÍTULO DEZOITO

O coração de Donna apertou em antecipação quando ela viu o fim do fiorde

se aproximando com coloridas casas escandinavas espalhadas nas colinas.

Vörnen.

Não havia fortaleza de madeira, nem casas compridas, nem navios-

dragão. Mas as mesmas paredes altas das montanhas, a praia de seixos e a

vegetação rasteira cinza de outono onde Sigurd e ela fizeram amor roubaram seu

fôlego.

O barco atracou e os turistas foram embora. Donna esperou até que todos os

outros tivessem descido. Então ela saboreou o momento em que seus pés

tocaram o chão, onde cada seixo e grão de areia ficava encharcado na presença

de Sigurd.

Foi anteontem que Donna ganhou o caso, e o desejo de encontrar Sigurd se

tornou mais poderoso do que a necessidade de respirar. Donna se preocupava se

Sigurd havia se esquecido completamente dela, já que quem sabe quanto tempo

havia se passado em seu tempo. Ele tinha se casado? Ele teria filhos agora? O

pensamento deixou sua pele pegajosa e fez seu peito apertar até doer.
Pelo lado positivo, Daniel concordou rapidamente em se tornar sócio da

empresa. Mamãe estava tendo dificuldade em aceitar a ideia, mesmo depois de

sua oferta muito impressionante.

A consciência de Donna estava limpa. Ela dissera que provavelmente nunca

mais voltaria e não seria capaz de contatá-la por motivos fora de seu

controle. Mas que ela seria muito feliz com o homem que amava. Na manhã em

que Donna teve de ir embora, mamãe a levou ao aeroporto, mas não quis entrar.

Ela ficou em silêncio por um tempo, depois olhou para Donna com os olhos

injetados de sangue. — Você é corajosa, Donna. Você está fazendo algo que eu

não teria ousado fazer - não depois de Joseph.

Donna apertou a mão dela. — Obrigada, mãe. Eu amo você. — Ela a abraçou

e saiu do carro com o coração afundado. Minha mãe baixou a janela e disse: —

Serei corajosa também. Vou aceitar Daniel.

O ar em Vörnen não tinha um gosto tão doce quanto ela se lembrava, Donna

pensou enquanto rolava uma minúscula bagagem de mão na calçada gelada. Ela

usava as roupas mais práticas que conseguiu imaginar: jeans, um suéter grosso e

as botas mais quentes e duráveis que conseguiu encontrar. Sua bagagem de mão

continha remédios, roupas íntimas, roupas quentes, alguns itens de higiene e

livros. Ela sentiria falta de livros.

Embora Donna sentisse falta da mãe, ela se sentia em paz com ela. Sentia-se

como se tivesse dito adeus.


Donna nem mesmo reservou um alojamento em Vörnen. Com as palmas das

mãos suando e o coração batendo forte, ela caminhou direto para o arco, quase

sem reconhecer que caminho seguir. Ela estava no lugar certo? Era como se este

não fosse Vörnen. Nem galinhas, nem cabras, nem homens com machados, nem

mulheres com vestidos de avental. Em vez disso, o farfalhar de carros passando

no asfalto, o cheiro de baunilha de uma padaria, rostos severos de pessoas saindo

de um banco. Tudo parecia muito normal, muito real, como se Sigurd, a fortaleza

e seu povo nunca tivessem existido.

Ela engoliu um nó duro. Mas eles tinham, deveriam ter existido. Suas botas

pesadas batiam no asfalto cada vez mais rápido, até que ela correu para o oeste

onde avistou a floresta atrás dos telhados das casas. Deve ser onde o arco estava.

O pulso de Donna bateu forte em suas têmporas quando a última casa

vermelho-escuro da vila revelou duas paredes de pedra e um caminho gasto por

pés. Sem paliçada.

E nenhum arco.

Donna largou a alça de sua bagagem de mão e correu em direção às rochas,

com os pés pesados.

Não não não. Isso não poderia acontecer.

Suas mãos estavam coladas na parede de pedra, com fome de sentir aquela

sensação de ser sugada, mas nada aconteceu. A magia não preencheu a

superfície fria e áspera. Elas eram apenas pedras.


A vida deve tê-la deixado por um momento. Seu coração deu um salto, sua

mente ficou em branco e o desespero se derramou sobre ela como um balde de

água gelada.

Ela bateu nas pedras com as palmas das mãos. — Leve-me de volta, maldito!

— As partes afiadas apunhalaram sua pele, mas a dor não importava. Ela

escorregou pela rocha e apenas sentou-se lá. O sol começou a descer e ela piscou

enquanto sua luz suave fazia cócegas em seus olhos através dos galhos nus das

árvores.

Era isso. Chega de Sigurd. Desta vez, de verdade.

Donna se levantou do chão e mal conseguiu endireitar as costas. Seu

estômago doía como se houvesse uma ferida irregular no centro de seu corpo.

Lágrimas queimaram seus olhos e ela não as impediu. O que faria

agora? Havia algum retorno disso? Valia a pena viver esta vida, uma vida sem

Sigurd?

Donna caminhou em direção a sua bagagem de mão, que estava perto do

caminho. Ela a pegou e rolou pelo caminho em direção à aldeia. Provavelmente

precisava encontrar um lugar para ficar esta noite, não que ela se importasse em

dormir debaixo de uma ponte ou em uma cama.

Ao passar por algumas casas, um brilho dourado em algum lugar ao lado

chamou sua atenção, e ela olhou para lá. No topo de uma casa com telhado baixo

de palha estava sentada uma velha. Ela estava tricotando e acenou com a mão
para Donna. As agulhas formigaram a pele de Donna quando ela reconheceu a

Norna.

Donna correu para o prédio, e a Norna começou a falar uma língua

estrangeira que parecia estranhamente familiar. Vendo que Donna não a

entendia, a mulher mudou para o inglês: — Oh, esqueci que você não fala o

norueguês antigo neste século. Queria dizer que fiquei surpresa quando você

deixou Sigurd.

O fuso dourado estava ao lado da mulher e a boca de Donna ficou seca como

uma lixa.

— Me envie de volta. — A esperança começou a encher Donna, mas ela

proibiu-se de sentir isso. Era muito cedo para ter esperança. Suas palmas

estavam cobertas de suor.

A Norna sorriu para ela como uma boa e velha avó universal. — Sua

tapeçaria brilhava quando você estava lá, com Sigurd.

— Você vai me enviar de volta então?

— Se eu fizer isso, você não será capaz de voltar. Você não terá mais

chances.

A garganta de Donna se apertou. — Estou pronta.

A Norna pulou do telhado como uma garotinha. Com um sorriso suave, ela

estendeu o fuso dourado.


— Não se esqueça de sua bagagem. — Ela piscou para Donna.

Donna agarrou a alça de sua bagagem de mão e respirou fundo. — Sigurd,

estou indo. — Ela pensou e pegou o fuso. As casas da Norna e as escandinavas

desapareceram. A dor se apoderou de Donna quando ela sentiu como se o

sangue tivesse sido sugado para fora dela, e ela começou a girar como o fuso

dourado.

Sigurd estava voltando da caça, uma carcaça de veado jogada sobre os

ombros. Não havia muito o que fazer no inverno além de caçar, pescar, beber e

contar histórias que davam vida aos deuses, às Norna e aos gigantes. O inverno

estava cheio de canções que as pessoas cantavam juntas no ar esfumaçado das

malocas, fogueiras que brilhavam na escuridão das longas noites e o barulho da

neve quando você caminhava de casa em casa em busca de uma nova história ou

um copo fresco de hidromel.

O portão oeste escureceu com o crepúsculo na frente dele. Sempre que

precisava passar por ali, ele se encolhia, o fantasma de Donna sempre

presente. Isso o torturava. Ele evitava olhar para o local e afugentou a esperança

de vê-la. O desespero agarrou seu coração como um lince faminto.


Certa vez, ele até foi até o arco com a intenção de encontrar o caminho para

uma viagem no tempo ao futuro, a Donna.

Mas nada aconteceu.

E nada aconteceria. Ele só precisava aprender a viver com a dor.

Sigurd abriu o portão para caminhar em direção à aldeia e viu uma figura de

pé, de costas para ele. Ela estava vestida com roupas estranhas, tinha longos

cabelos dourados e era da mesma altura e constituição que sua deusa. Seu

coração congelou, como se tivesse medo de bater a próxima.

Ela se virou naquele momento, e o tempo parou.

Donna.

Seus olhos se encontraram. Sigurd deu um passo em sua direção, mas caiu

de joelhos, a carcaça do veado caindo na neve ao lado dele. Ela brilhava como se

as estrelas do céu tivessem descido e preenchido todo o seu corpo com sua

luz. Sua mente acabou de mostrar a ele o que ele tinha imaginado por tanto

tempo?

— É você? — Uma nuvem de condensação de sua boca trouxe as palavras

em um suspiro.

Donna correu para ele, as bochechas rosadas da geada, o cabelo caindo em

uma cascata dourada. Ela caiu de joelhos bem na frente dele e pegou suas mãos

enluvadas nas dela.


— Eu voltei.

Ele tirou as luvas de camurça e agarrou as mãos dela novamente para

verificar se realmente podia senti-las, e elas queimaram sua pele com sua

frieza. Ela deve ter estado fora por algum tempo.

Donna estendeu a mão para beijá-lo, mas ele se recostou. Antes que pudesse

acreditar que ela realmente estava aqui, ele tinha que saber. — Por quê? — Ele

procurou seu rosto por sinais da resposta que ele ansiava por ouvir.

— Porque eu amo você. — Os olhos de Donna brilharam como o mar sob o

sol de verão.

Se Thor o tivesse atingido com um raio, ele não seria mais afetado. Uma

vibração retumbante percorreu seu corpo como se ele fosse uma corda de uma

lira. Lágrimas queimaram os cantos de seus olhos.

— Assim como eu. Com tudo o que sou, minha deusa.

Ele a beijou, o gosto dela tão familiar e tão doce, o cheiro dela fazendo o

mundo girar como se ele tivesse acabado de beber o hidromel que só era servido

por Odin em Valhöll.

— Vou quebrar o arco amanhã. — Ele rosnou em sua boca. — Você está

presa comigo para sempre.

— Promete?

— Juro por todos os deuses.


EPÍLOGO

Vörnen, 872 DC

Sigurd estava no píer abraçando Donna com um braço, Vigdis na frente

dele. As ondas batiam no casco do navio que balançava ao lado do cais atrás de

sua irmã. Uma brisa constante encheu a vela - o navio estava pronto para

partir. Parecia que Njord, deus do mar e dos ventos, favorecia a jornada de

Vigdis.

Sua deusa parecia radiante e saudável com sua barriga inchada. Eles ainda

não eram casados porque Sigurd queria fazer um banquete lendário de seu

casamento e celebrá-lo no festival da colheita. Ele convidou todos os jarls e reis

para fortalecer seus relacionamentos e começar novas alianças comerciais. Ele

havia aprendido dolorosamente o preço de se agarrar à rivalidade.

A fortaleza permanecia inteira e forte. As mulheres ajudaram a terminar no

ano passado, depois que Donna foi embora. Mas desde que ela voltou no

inverno, conseguiu envolvê-los mais e mais, e a vila começou a prosperar como

nunca antes. As mulheres teciam velas, caçavam e pescavam. Durante o inverno,

eles trabalhavam em móveis, aprenderam a fazer joias e esculpiram padrões de

tirar o fôlego em madeira. Algumas das que construíram a fortaleza ajudaram a


construir novos navios, e as estruturas de três navios longos cresciam

diariamente pelo fiorde.

As notícias da força de Vörnen e da vitória de Sigurd viajaram rápido, e

novos guerreiros vieram para servir a um jarl forte. Ele atacaria em algumas

semanas para finalmente reabastecer o tesouro e ser capaz de manter a lealdade

de seus guerreiros. Nada teria sido possível sem Donna e sem as mulheres de seu

bairro.

O navio balançou suavemente próximo ao cais.

— Deve haver prata suficiente para comprar uma rica fazenda na Islândia.

— Disse Sigurd.

Vigdis acenou com a cabeça. Sacos com provisões e baús de mar com

comida, roupas, ferramentas e prata suficiente para sua nova vida estavam

lá. Bjarni Bjarnison, o homem que trouxera a mensagem do ataque de Fuldarr,

esperava por Vigdis no barco junto com uma dúzia de guerreiros que Sigurd

dera à irmã para proteção e para remar. Vigdis olhou de volta para a praia.

— Este é o lugar onde tudo começou. — A dor cintilou em seu rosto. —

Onde ele morreu.

Sigurd balançou a cabeça. — Começou muito antes disso. Mas isso vai

acabar agora?

— Agora que vi as consequências do que fiz, não quero ser um jarl. Tudo o

que sempre quis foi ter algum poder sobre minha própria vida e alguma
influência em nossa casa. Meu pai nunca me deu a chance de fazer isso, e o

desejo cresceu como uma ferida podre. Achei que queria fazer parte do mundo

dos reis e jarls. Mas isso... — Ela circulou a praia com a mão. — Eu não quero

nada disso. Uma fazenda, um bom marido — Ela olhou para Bjarni e corou. — e

uma criança. — Ela deu um sorriso caloroso para Donna. — Isso seria o

suficiente. Terei muitas coisas para administrar. O Jarldom de Fuldarr é seu,

irmão. Depois que seus guerreiros o viram na batalha, eles sabem que não

encontrarão um jarl mais forte. Então você não terá nenhuma resistência depois

de visitar as terras.

— Tenho sua palavra de que não vai decidir reclamar o jarldom?

— Eu juro, irmão. — Ela disse em um sussurro reprimido, como se uma fera

dormisse por perto e ela acordaria se falasse mais alto.

— Bom.

Ela o abraçou, e o cheiro dela tocou seu rosto por um momento, lembrando-

o de sua mãe, e seu coração se apertou. Vigdis enxugou as lágrimas, voltou-se

para o barco e Bjarni a ajudou a entrar. Enquanto os homens empurravam o

barco para longe do cais com os remos, Donna disse: — Você vai ao casamento,

não é? Vocês dois?

O rosto de Vigdis se iluminou. — A viagem deve levar algumas

semanas. Em três meses, estaremos resolvidos.


Sigurd acenou com a cabeça. Ele estava ansioso pela abundância do festival

da colheita: mesas cheias de vegetais frescos, javalis assados, lebres e veados,

salmão defumado e hidromel novo. A sensação de lar e família. A família dele.

— Adeus! — Vigdis gritou quando o barco se afastou ainda mais.

Um sentimento de paz se espalhou por Sigurd como uma onda fresca em

um dia quente. Bjarni colocou o braço no ombro de Vigdis da mesma maneira

que o braço de Sigurd estava no de Donna. Eles acenaram para Sigurd e Donna.

— Você acredita na palavra dela? — Perguntou Donna.

Sigurd semicerrou os olhos contra o reflexo do sol na superfície do fiorde,

seguindo o navio com os olhos. — Eu faço.

— Por que?

— Ela mudou. Não só porque viu os resultados de sua traição. Mas por

causa do amor. Posso ver isso tão claramente quanto vejo você. Bjarni a mudou.

— Ele beijou Donna suavemente e seu corpo começou a fervilhar de desejo. —

Assim como você me mudou. Posso até entender por que ela ficou do lado de

nosso inimigo. Cada pessoa precisa se sentir valorizada e útil, e ela não tinha

isso. Mas eu espero que você faça. Sou grato por ter mulheres tão fortes em meu

jarldom e especialmente ao meu lado.

Donna sorriu e colocou a cabeça em seu ombro. — Eu nunca poderia ter

sonhado que teria um homem tão forte ao meu lado.


O barco desapareceu atrás de uma montanha e Sigurd e Donna voltaram

para casa. A sensação de paz espalhou-se de seu peito para dentro de seu

corpo. Ao se aproximarem da fortaleza, Sigurd parou Donna no portão

aberto. Quando ele olhou para a fortaleza que a trouxe aqui, um sentimento de

integridade se espalhou por ele, reparando os restos das feridas em sua alma

como um bálsamo curativo.

Ele se ajoelhou diante de Donna e colocou as palmas das mãos em sua

barriga inchada. Seus dedos sentiram um pequeno chute e ele deu um beijo no

local. Ele olhou para Donna de onde estava ajoelhado, dominado pelo amor que

crescia em cada músculo de seu corpo e que via refletido nos olhos dela.

— A Norna está tecendo uma bela tapeçaria da minha vida. — Disse ele. —

Porque é tudo que eu poderia desejar. Você, a criança — Os dedos de Donna

roçaram seu cabelo e seu couro cabeludo formigou. — e algo que construímos

juntos. A fortaleza do tempo.


Para você que chegou até aqui, o nosso muiiiito obrigado.
Esperamos que tenha gostado pois foi feito especialmente para você!

Continue com a gente!

Comente sobre o livro no nosso grupo!

Você também pode gostar