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Série Vikings
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Uma palavra...
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York, Capital do Danelaw
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que olhar a si mesmo em uma placa de prata polida, para saber que
seus olhos, como os da maioria de seus compatriotas, eram de um azul
céu, e quando o seu estado de ânimo era violento se tornavam de um
azul tão profundo como o golfo de Oslo. Sua mãe, Helgi, disse, para sua
vergonha, que o azul de seus olhos era suave e quente como o ovo de
um pássaro.
Zarabeth era alta, talvez muito alta para ser uma mulher, mas ele
era um homem grande e ainda era mais alto alguns centímetros e
passava do topo de sua cabeça, por isso não lhe importava seu
tamanho. Sua primeira esposa, Dalla, tinha sido pequena, o topo de
sua cabeça chegava apenas no seu ombro, e ele tinha a sensação
muitas vezes que ela era uma menina, não uma mulher, não uma
esposa.
Tinha conseguido aproximar-se de Zarabeth por alguns
momentos, e tinha visto que sua pele era branca e imaculada, como
um trecho de neve fresca na montanha, com exceção dessas duas
covinhas que marcavam suas bochechas quando sorria, um sorriso que
lhe atraiu no momento em que a viu. Sim, pensou, era certo, não tinha
uma linhagem viking, mas isso não importava nem um pouco.
Não, ela não era a mulher mais bela que tinha visto, mas a queria
mais do que jamais desejou a uma mulher antes. Pensou em deitar-se
com ela, de entrar profundamente em seu corpo até saciar-se, mas
também pensou em falar com ela e compartilhar seus sonhos e planos.
Pensou navegar com ela até Hedeby, esse porto comercial do Sul que
se erguia sobre uma enseada do rio Schlei e dava diretamente ao mar
Báltico. E além do Hedeby, através das pequenas ilhas, estava a costa
baixas da Suécia, mas a uma distância de dois dias de navegação.
Pensou em navegar através de Great Sound que se abria para o sul do
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mar Báltico, e logo virar para o interior, ao longo do rio Dvina até chegar
a Upper Dnieper e Kiev. Talvez inclusive poderia levá-la além de Kiev
na cidade de ouro no Mar Negro, conhecida pelos Vikings como
Miklagard, e para outros como Constantinopla.
E então, de repente, com muita mais claridade, pensou nos
meninos que teria com ela, nas meninas com o cabelo da cor vermelha
brilhante e os meninos com seu próprio cabelo loiro e grossos. Era
estranho, mas viu um menino com os olhos tão verdes como o musgo
úmido.
Ele, Magnus Haraldsson, era um Karl2 de vinte e cinco anos de
idade, o segundo filho do Conde Harald. Tinha uma fazenda chamada
Malek, herdou por parte de seu avô. O solo era rico, ao contrário de
grande parte da terra escarpada e infértil do sul da Noruega, e dava
bons cultivos de cevada, trigo e centeio. Magnus era também um
comerciante, muito inteligente, como seu pai lhe dizia com carinho, e
era dono de seu próprio navio, o Vento do mar. Também era dono de
uma dúzia de escravos, produto de sua última viagem, e muitos Karls
agora trabalhavam para ele em troca de pequenas parcelas de terra,
para cultivar mantimentos para suas famílias. Muitos destes Karls
eram seus amigos, e não só navegavam com ele aos centros comerciais,
mas também levavam seus produtos para vender.
Magnus tinha se casado na idade de dezessete anos, um
matrimônio arrumado por seus pais, e tinha um filho, Egill, de quase
oito anos. Sua esposa, Dalla, pouco mais que uma menina, tinha
morrido dois anos depois do nascimento do menino. Tinha chorado por
ela como teria feito por ter perdido um companheiro de farra, e os anos
seguintes, à medida que ia amadurecendo, tinha satisfeito suas
necessidades sexuais com muitas mulheres diferentes, decidido que já
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não precisava procurar outra esposa ou ter mais filhos. Tinha chegado
a considerar os homens casados como fracos de caráter e presos ao lar,
embora estivessem fora quatro meses ao ano. Agora, de repente, estava
começando a pensar muito diferente. Percebeu que ele já não estava
interessado em sua atual amante, Cyra, embora ainda o atraísse e
conseguia que seu corpo se estremecesse de prazer.
Disse a si mesmo enquanto olhava Zarabeth, que tinha um filho,
que agora necessitava de uma mãe. Era o suficientemente honesto para
admitir que o bem-estar de Egill era a primeira coisa na sua mente.
Oh, sim, ele a desejava e a queria.
Magnus a olhou quando escutou sua repentina gargalhada. Uma
risada doce, profunda e livre. Viu o sorriso, as covinhas, os dentes
brancos, e ficou encantado. Seus seios se moviam ao compasso de sua
risada. Excitou-o, essa risada o pôs duro como uma pedra, o
movimento de seus seios o fez querer carregá-la sobre o seu ombro e
levá-la às profundezas do bosque e fazê-la sua sobre os grossos ramos
de pinheiro.
Dado que seu padrasto, Olav o Vaidoso, era rico, Magnus sabia
que seu dote seria sem dúvida alto, mais alto do que a maioria dos
homens poderiam permitir o luxo de pagar. Mas ele pagaria, apesar de
que desprezava Olav o Vaidoso, mais conhecido por muitos
comerciantes viking como Olav o trapaceiro. Ele fazia gestos
grandiosos, deslumbrando aqueles que o rodeavam, com repentinas
explosões de generosidade, e então se virava sem sentido algum e os
enganavam nas menores coisas. Seu comportamento era do mais
irritante, arrogante, de grande porte e, entretanto, insignificante.
Magnus perguntou como trataria a sua enteada.
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uma vez ela se despediu, andando mais rápido agora. Sabia que ia para
a sua casa, uma casa cômoda, com paredes de madeira de carvalho
grossas e um teto de telhas de madeira finamente em camadas um
pouco mais abaixo na rua Coppergate. Todas as casas aqui em York
estavam muito juntas, os becos entre elas eram fedorentos, escuros, e
com frequência perigosa. A casa de Olav era maior que a maioria, mas
com escuros becos que a flanqueavam.
Magnus se deteve um momento, colocando sua capa de pele de
lobo com maior segurança ao redor de seus ombros. Inconscientemente
tocou o broche de ouro esculpido que segurava a capa junto a seu
ombro, um broche que tinha negociado por três peles de lontra em
Birka, no ano anterior. Estavam no início de abril, mas em York tinha
vento forte e, agradecido por ter trazido a capa. O sol, coberto por
nuvens cinzas, negava o seu calor. Não fazia muito frio, mas era a
incerteza que o desagradava, uma nova sensação que o surpreendia e
envergonhava, porque depois de tudo, não só era um rico fazendeiro e
comerciante, era o filho de um Conde, um líder, um Karl capacitado
para o controle e o comando.
Tinha-lhe gerado uma incerteza, com uma mulher com um nome
estranho, com um cabelo de cor estranha, com uma risada que aquecia
o seu interior, e com s seios que o faziam sentir luxuria como um jovem
lobo. Tirou a capa de pele, aborrecido consigo mesmo, e retornou a seu
navio, Vento do Mar.
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Magnus decidiu apresentar-se diante dela no poço que se
encontrava no meio de Coppergate, um lugar social onde os homens
descansavam pelas tardes, fofocando e contando histórias que não
eram mais verdadeiras agora do que haviam sido cem anos antes. As
mulheres tiravam água e se sentavam perto dos homens para costurar
coletes e vestidos, vigiando aos pequenos. As crianças brincavam perto
delas, as risadas se escutavam até Micklegate. Era um breve momento
de tranquilidade depois de um duro dia de trabalho, e um tempo para
conversar.
Magnus entrou na ampla praça, olhando para os pequenos grupos
de homens, uma reação inconsciente, porque em sua experiência,
apenas dois homens poderiam atacar a sua presa e despachá-lo
facilmente e rapidamente. Esperou até que viu Zarabeth, chegar ao
poço para tirar água com seu balde de madeira. Estava sozinha, a
menina não estava com ela.
Aproximou-se, com determinação marcada em cada passo, sem
dirigir nenhuma palavra a ninguém, quando ela estava baixando seu
balde no poço, disse para ela.
— Meu nome é Magnus Haraldsson. Sou comerciante e agricultor
e minha família vive em Kaupang perto da Noruega. Não sou um
homem pobre, nem cruel, nem perverso, e desejo me casar contigo.
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natureza dócil e risada fácil. Mesmo assim, não cederia, não mostraria
o seu temperamento com ele.
— E isso é tudo o que tem a dizer, Magnus Haraldsson? Você acha
que isso me convém? Você faz parecer que eu vou ser a sua escrava.
Não, não, me deixe terminar. Além disso, o que sabe sobre mim, poderia
ser uma criatura horrível, uma harpia de língua feroz, talvez. Quanto a
você, talvez golpeie às mulheres, talvez não se banhe e cheire azedo
como as vísceras podres de uma doninha. Talvez…
— Isso é mais que suficiente, Zarabeth. — Fez uma pausa, como
se o som de seu nome surpreendesse.
Então a agarrou pelos braços com suas grandes mãos. Ficou
imóvel, logo se obrigou a relaxar-se. Estavam parados no centro da
praça de Coppergate e havia dezenas de pessoas que a conhecia à sua
volta, alguns deles inclusive agora estavam olhando para ela. Não
precisava se preocupar. Sorriu-lhe novamente, mas foi um sorriso
incerto nervoso, e ele reconheceu.
— Não quero te assustar, mas sempre consigo o que quero.
Banho-me frequentemente, como é o costume em meu país, e não
cheiro azedo. Pode me cheirar agora se quiser. Tenho todos meus
dentes e não tenho gordura em minha barriga. Os homens não podem
lutar eficazmente se seus corpos estão carregados de gorduras. Nunca
fiz isso e nem farei, eu não golpeio em mulheres. — Fez uma pausa,
franzindo a testa, e logo encolheu os ombros. — Tenho uma escrava,
Cyra, que realmente desfruta que bata nela com o cinturão, nas suas
coxas e nas nádegas, mas bato com moderação, porque não quero
estragar sua pele.
Zarabeth não pôde deixar de olhar para ele, esquecendo de todos.
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Olav ficou olhando para sua enteada enquanto comia lentamente
o bolo de batata que tinha preparado para o jantar com pedaços de
carne assada. Estava macio, mas ironicamente, quando mordeu sentiu
seca na boca, e ao engoli, caia pesado no estômago. Seguiu olhando
para Zarabeth enquanto servia a sua irmãzinha, esse pequeno monstro
maldito que Olav deveria ter jogado na sarjeta no mesmo dia que
descobriu que ela viria e de que semente tinha brotado.
A menina estava louca e era estúpida, mas Zarabeth se negava a
aceitar. Sim, deveria tê-la matado em seguida, mas não tinha feito. E
agora já não poderia. Zarabeth amava à pequena idiota e sabia que se
machucasse à menina, Zarabeth ficaria contra ele. Era possível que
inclusive pudesse matá-lo. Não queria ter medo dela, apenas queria
deitar-se com ela.
Ela não levava nenhuma só gota de seu sangue. Era simplesmente
lixo irlandês, igualmente como a sua mãe, lixo, mas não vadia como
tinha sido Mara, e queria tê-la em sua cama, agora. E depois de que
tivesse terminado com ela, por que não a vender no mercado de
escravos de Dublin, ou, possivelmente, tomá-la simplesmente como
sua esposa. A ela e a essa pequena idiota, maldito destino. Talvez não
ficaria no York. Talvez, se casasse com ela, levaria de volta ao Hedeby,
onde tinha nascido e saído vinte anos antes.
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para ele. Keith sempre estava visitando-o, provavelmente para ver seu
pai, mas Olav sabia que o jovem estava apaixonado por Zarabeth. Não
ia procurá-la. Olav mataria o seu próprio filho antes de deixá-lo tocá-
la. Suspeitava que Toki, a esposa de Keith, também o mataria se ele
tentasse. Perguntou-se Toki saberia do amor de seu marido por sua
meia irmã.
Olav acariciou sua barba macia e dourada, como era seu costume
quando estava pensando profundamente a respeito de um problema.
Havia fios brancos no louro agora, mas não muitos. Ele não era
um homem velho, apesar de seus anos, seu pênis ainda se endurecia
facilmente e suas costas até estavam retas. Havia um pouco de gordura
entorno de sua barriga, mas não o suficiente para ser rechaçado por
uma mulher. Sua barba era grossa, assim como o cabelo em sua
cabeça. Estava orgulhoso de sua aparência e não poupava nada nas
joias e broches de ouro que comprava para si mesmo. Tinha ouvido que
o chamavam Olav o Vaidoso, e isso o divertia. Por que um homem de
aspecto decente não podia ser um pouco vaidoso?
De repente afastou a cadeira e se levantou.
— Há peles que devo inspecionar antes que escureça mais. Se o
viking vier para me ver pela manhã, direi que você falou sobre ele.
Parou um momento para ver sua reação, mas ela se limitou a
assentir, sem dizer nada, com o rosto imutável. Isso fez que suas
suspeitas entrassem em ebulição, mas não disse nada mais,
simplesmente se dirigiu para parte da frente da casa, onde estava seu
comércio. A forma em que disfarçou seus sentimentos sob uma
máscara de desinteresse, o incomodou, porque escondia seus
pensamentos, se fossem alegres, tristes ou culpados.
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A incerteza podia significar perigo para ela, e isso era algo que não
podia permitir. Mas era forte nas pernas e rápido de mente. Ele a
protegeria e velaria por sua segurança, independentemente de qual
fosse a ameaça, seja homem ou elemento. Não duvidava de que a
encontraria pela manhã.
Ele tinha visto a sua resposta, assim que se recuperou da sua
surpresa inicial. A maioria das mulheres lhe respondiam dessa
maneira. Não era alheio a tímidos sorrisos e expressões suaves. Ela
viria até ele e aceitaria, estava seguro disso.
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Olav sentiu que sua respiração ficava retida em seu peito quando
o Viking entrou no seu comércio. Não havia nenhum engano, este era
o homem do que Zarabeth tinha falado. Ela tinha mentido. Este jovem
era formidável, arrogante, e ela certamente o desejava. Tinha o aspecto
de um homem que estava acostumado a ter exatamente o que queria e
quando queria, e parecia um bastardo orgulhoso.
Sim, ela quereria a este homem, e não quereria a seu padrasto.
Iria com ele sem sequer olhar para trás. Sentiu que se enchia de raiva.
Zarabeth era tão puta como sua mãe, Mara, pronta para deixar tudo o
que realmente importava para correr atrás de um rosto bonito e
promessas vãs. Provavelmente tinha acreditado cada mentira que tinha
saído da boca desse homem. Sim, ela era como Mara, essa bruxa que
o tinha seduzido para que tomasse como esposa. Não permitiria que
Zarabeth o abandonasse, não como tinha feito Mara. Respirou
profundamente, recompôs suas emoções, e rezou para que seus
pensamentos não se refletissem em seu rosto. Reconheceu que este
homem, embora fosse muito jovem, entretanto seria um inimigo para
ter em conta. Não tinha intenção de subestimá-lo, nem por um só
momento. Deixou cair a pele que estava examinando e avançou para
saudar o viking com cortesia. Intercambiaram os nomes.
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brilhantes. Sentiu seu corpo endurecer. Era a criatura mais bela que
tinha visto, mais bela inclusive que sua mãe.
Como fazia calor na habitação, os seus cachos vermelhos e
escuros ondulavam sobre o rosto e a testa. Desejava-a, mas não era
estúpido, e sabia que tinha que esperar o momento oportuno. Olhou
para ela quase dolorosamente, contido por enquanto, sem dizer nada.
Observou ela inclinar-se para mexer o guisado que fervia na
panela de ferro sobre o fogo. Viu uma fogaça de pão fresco sobre as
cinzas da chaminé, envolta em um tecido de lã grossa para manter
aquecido. Esperou até que ela o servisse, até que estivesse sentada ao
lado da menina idiota, e logo disse com a calma sendo o centro das
atenções.
— Um viking chamado Magnus Haraldsson veio me ver hoje. Ele
quer fazer alguns negócios comigo.
Ela levantou a vista, as ervilhas caíram de sua colher.
— Comercializar? — Disse inexpressivamente. Ela empalideceu
um pouco. — Queria falar com você sobre comercio?
— Sim. Parece que tem plumas, plumas exóticas que obteve dos
Lapões. O Rei Guthrum procura plumas para seus travesseiros. Talvez
ouviu sobre isso.
— Plumas? Vocês falaram de plumas?
— Sim, e outras coisas, é obvio. — Viu ela se inclinar para frente,
seus lábios abrindo ligeiramente. — Também tem peles de lontra e
castor.
Olhou para ela fixamente, pálida agora, silenciosa como a própria
morte. Ele sorriu, encantado, deu outra mordia na carne de boi
guisada, encolheu os ombros com indiferença e disse.
— Oh, sim, e também mencionou que desejava se casar com você.
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— Sim, talvez, mas ganhei a vida com minha inteligência, não com
minha espada e machado. Não com incursões em terras do rei Alfred,
matando a seu povo ou escravizando-os.
— Imagino que você tenha desejado.
Olav a olhou com atenção, mas sua voz seguia sendo suave, seu
rosto inexpressivo.
— Talvez, mas esse não é o ponto. Me diga, então, o que esperas,
Zarabeth. Não sabe nada deste homem, este Magnus Haraldsson. Ele
poderia ser um ladrão, poderia ser tão selvagem como os Berserkers5.
Ela negou com a cabeça.
— Não, ele não é assim.
— E como é esse viking que você conheceu há apenas dois dias?
Seu sarcasmo em realidade não lhe atingiu. Estava preocupado
por ela, isso era tudo. No entanto, ele não tinha se preocupado por Lotti
ou por sua mãe, a bela Mara, que tinha jurado várias vezes a Zarabeth,
e a todos outros que ele não tinha a matado, no entanto a tinha
encontrado com seu amante morta, e sua cabeça esmagada.
Zarabeth sacudiu as lembranças. Olav tinha cuidado dela desde
a morte de sua mãe três anos atrás. Não a tinha repreendido muito,
mas tampouco tinha mostrado o menor interesse por sua própria filha,
Lotti.
— Já disse a você. — Disse. — Ele é amável. Seria um bom marido.
Disse que me levará em suas viagens comerciais, que visitaremos
lugares longínquos como Miklagard e Kiev.
Olav sentiu que a fúria corroeu seu estômago e se revolvia. Viu
Zarabeth embaixo do viking, como um homem cobria uma mulher e a
tomava, e, ao mesmo tempo via como Zarabeth acolhia o seu corpo,
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sorrindo, lhe pedindo mais e gemendo pelo prazer dela. Ela tinha falado
de quão amável era o Viking, como era bom. Tinha vontade de vomitar!
O que queria era que ele a corrompesse. Olav se afastou por um
momento até recuperar o controle novamente. A expressão com que se
voltou depois diante ela, foi uma máscara de extrema preocupação.
Tinha aprendido proteger suas emoções vigorosas que sentia por ela,
Zarabeth era imprevisível, e não sabia que reação poderia esperar se a
tratava como ele desejava. Não, tinha esperado para realizar seu sonho,
tudo no ano anterior, com paciência para que se transformasse em uma
mulher completa, com a atitude que se esperava de uma mulher. Tinha
amadurecido de diferentes formas, podia sentir, sentir em sua maneira
de falar das coisas, na forma em que livremente expressava suas
opiniões em torno dos homens. Deveria ter sido golpeada por isso, mas
Olav tinha tido medo de tocá-la. Cumpria com os deveres de sua casa,
sem dúvida, executava todas as tarefas, tecer, costurar, cozinhar,
limpar, fazer tudo o que as mulheres tinham que fazer. Sim, fazia todas
essas coisas, o fazia bem e de bom grado, mas ainda havia algo nela,
algo selvagem, tão selvagem como seus antepassados Irlandeses, algo
tão selvagem como esse maldito viking.
Ela o deixaria sem olhar para trás sequer. Não era dependente
como deveria ser uma mulher nesses tempos, apesar de que o mundo
era um lugar caprichoso, que te surpreendia com vida em um momento
e, com uma morte sangrenta seguinte, seja por não respeitar a lei, pelas
malditas incursões vikings, ou por uma onda de fúria em uma natureza
violenta.
Também supôs que ela iria, se alguma vez ele machucasse a Lotti.
Ele ignorou com muito cuidado à menina, para não dizer nada que
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impedir que a levasse para longe dele. Nesse momento Lotti derrubou
sua taça de madeira, cheia até a borda com leite de cabra. Salpicou na
manga da túnica de lã fina de Olav, antes que ele pudesse tirar o seu
braço. Sentiu que seu rosto avermelhar de ira, pela estupidez da
pequena idiota, mas conseguiu manter calada a sua língua.
Zarabeth deu uma tapinha na pequena mão de Lotti, logo se
levantou.
— Vou limpar suas roupas, Olav.
Ela esfregou a manga, mas era pouco provável que o leite
manchasse a lã fina de cor azul pálida, não deixaria com manchas. Ele
era um parvo por usar tantos adornos, pensou enquanto se inclinava,
esfregando no lugar, e continuou esfregando brandamente.
Olav ficou olhando com a cabeça encurvada, a cor vermelha viva
de seu cabelo, sua pele branca e suave, seus longos e magros dedos. A
pele da Mara nunca tinha sido tão suave como a de Zarabeth. À luz das
velas, seu cabelo vermelho, parecia de uma cor mais escura que o
mogno, e o olhou encantado, querendo enterrar seu rosto nele. Aspirou
seu aroma.
Seu aroma feminino era suficiente para deixá-lo duro e preparado.
Tê-la tão perto, tão perto que até podia ouvir sua respiração, quase o
desfez. Levantou a vista para ver Lotti olhando para ele, seu rostinho
solene, com os olhos muito abertos e assustados.
A pequena parva não podia compreender o desejo, e ele sabia que
era isso o que tinha visto em seu rosto. Por que ela tinha tanto medo?
Nunca a tocou desde então.
Zarabeth assentiu com a cabeça e se endireitou.
— Não ficará nenhuma mancha. — Disse, e soprou sobre a lã
molhada.
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os conselhos sem fim de seu pai. Ela se encarregou de não ficar nunca
a sós com ele.
Viu-o olhando para ela agora, e acenou com a cabeça, sua
expressão permaneceu passiva.
— Onde está sua esposa? — Perguntou Olav a seu filho.
— Toki está em casa, onde deve estar. Ela padece a maldição de
ser mulher e diz que está doente. — Keith encolheu os ombros e olhou
para a garrafa de cerveja sobre a mesa. — Você a comprou para mim,
a conhece suficientemente bem. É igual o caráter de sua mãe nesta
época do mês. Eu sou o único que conhece a doçura de sua natureza.
Zarabeth queria gargalhar pela descrição que tinha feito Keith
sobre o caráter de sua esposa.
Olav escolheu ignorar a queixa de seu tom de amargura. Por todos
os deuses, ele conhecia a mãe de Toki, era uma criatura que merecia a
mão dura de um homem. Mas não disse, porque seus pensamentos
estavam ainda com o condenado Viking e Zarabeth.
— Excelente. Gostaria de uma jarra de cerveja?
Keith assentiu com a cabeça e se sentou na mesa. Logo, dirigindo-
se a Zarabeth disse.
— Está bem, irmã?
Ela assentiu com a cabeça, sem dizer nada enquanto lhe servia
cerveja.
— E a pequena?
— Lotti, está bem também.
Olav encolheu os ombros, olhando a seu filho com impotência.
— É uma imprestável, mas o que posso fazer? Inclusive derramou
leite de cabra sobre minha manga.
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Keith a olhou, logo olhou para baixo, para as gotas de cerveja que
ficavam na taça de madeira.
— Não, não coloquei nada, Keith, não desta vez. Mas cuida de sua
língua no futuro, porque Lotti entende tudo. Não quero que a
machuque.
Keith a olhou com impotência, mas ela simplesmente saiu para
recolher os restos do jantar. Não tinha medo dele, embora parecesse
mentira, sentia-se um pouco protetora dele. Não merecia alguém como
Toki, sempre tinha acreditado que era um erro forçar uma união entre
os dois.
De repente, como um raio, Keith disse.
— Ouvi a esposa do carpinteiro dizer, que Zarabeth estava
beijando um viking no poço esta manhã.
O silêncio foi ensurdecedor. Olav não disse nada, mas tinha a
boca apertada, os músculos do pescoço duros e as bochechas
vermelhas. Keith franziu a testa olhando com incerteza para Zarabeth.
— Ah, assim é verdade. Me negava a acreditar, porque todos a
conhecem como uma mulher fria, Zarabeth, uma mulher que não se
preocupa com joias e nem por homens. Este Viking é um karl, e ouvi
que seu pai é chefe de um clã e um poderoso Conde. É rico e possui
terras férteis na Noruega.
— Sim, é verdade. — Disse Zarabeth.
— Já abriu as pernas para ele?
Zarabeth ficou surpresa pelo tom lamuriento de Keith, e ainda
mais surpresa por suas palavras. Eram incomuns nele. Sentiu um
arrebatamento de medo, mas o reprimiu rapidamente. Ouviu o ciúme
em sua voz. Mas sabia que não deveria reconhecê-los como tal. Olhou
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Zarabeth sabia que era perigoso sair sozinha à noite, apesar da
relativa paz que York tinha desfrutado nos últimos anos, ainda havia
vilãos, mendigos, proscritos, e um inúmeros de rufiões que poderiam
penetrar na cidade à noite e se aproveitar das pessoas. Assim tomou
cuidado de se manter no amparo das sombras das casas.
Caminhava muito rápido, seus passos quase não se escutavam.
A lua lançou uma pequena claridade, e o ar estava carregado de chuva
que certamente viria antes do amanhecer. Tudo era escuridão e
silêncio. Podia ouvir a batida do seu próprio coração, mas não parou,
seguiu caminhando.
Estava suficientemente abrigada com o seu manto de lã.
Agarrando-se a ele, lembrando do que sua mãe dizia que esse manto
tinha pertencido a sua avó, e que tingiu com o melhor açafrão
produzido em toda a Irlanda.
Quando Zarabeth deixou a casa de Olav em Coppergate, sua
mente consciente, sabia exatamente aonde ia. Agora aceitou o que seu
inconsciente sabia de antemão. Manteve os olhos para frente, para as
docas do rio Ouse. As fortificações de barro apareceram à vista, altas e
fortes, e logo o porto abarrotado. Havia muitos navios com o passar do
embarcadouro de Monk, amarrados com cordas grossas aos postes de
madeira localizados ao longo das docas. A maioria deles eram navios
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está ela, e se vê que é uma harpia com mau humor e boca amarga. Que
feia que é!
Zarabeth se virou e não viu ninguém. Magnus riu. Ela sentiu que
sua mão caía brandamente sobre seu ombro. Sua voz se aprofundou e
todo o humor desapareceu.
— É impulsiva, Zarabeth. É uma qualidade perigosa, mas não vou
repreendê-la desta vez, embora esteja zangado que tenha vindo até aqui
sozinha. Venha e deixa-me ver você.
Ela sorriu e se virou para encontrá-lo ali, bem na frente, inclinou-
se até roçar seu peito e levantou o rosto, logo disse.
— Queria ver você. Passou muito tempo sem ver o seu rosto.
Suas mãos se aproximaram para apertar os seus braços.
— E tinha que ser agora! Então vem sozinha as docas,
desprotegida e grita o meu nome? E se outro homem tivesse vindo em
resposta a sua chamada?
Não tinha intenção de pensar sobre essa possibilidade, por isso
disse simplesmente.
— Sabia que esta era sua embarcação. É a mais esplêndida
atracada aqui. E é igual a você, Magnus, elegante, poderoso e selvagem.
Me arrisquei.
— Seu raciocínio me surpreende e me agrada igualmente. Mas
realmente me vê como um selvagem?
— Não, quis dizer brutal. Parece estranho, mas é certo. Seu navio
parece brutal em sua beleza, igualmente como o seu dono, seu amo.
— Muito bem, prometi não te repreender, e não o farei, porque me
fez sentir um homem acima de todos outros homens. Só tem que saber,
Zarabeth, que qualquer brutalidade em minha natureza nunca cairá
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corpo de uma mulher. Então, nesse ano descobri que preferia sair para
caçar morsas, em vez de me deitar com ela. Então me amaldiçoou,
vociferando que minha fenda era o sinal do descontentamento de Odin.
Zarabeth riu.
— Eu o teria amaldiçoado também. Caçar morsas! Isso não diz
muito sobre você.
— Eu tinha doze anos de idade, Zarabeth.
— Sim, mas você era tão bonito como agora, Magnus?
— Quando nascer os nossos filhos, talvez um deles terá minha
imagem e, então saberá quando ele completar doze verões.
Zarabeth ficou em silêncio. Continuava a provocar isso nela,
falava com tanta franqueza que arrebatava o seu juízo.
— Que te incomoda, querida?
— É o efeito que você tem sobre mim. É estranho, mas me sinto
confusa e estúpida.
Ele passou os dedos pelo o queixo dela.
— Deveria fazer você feliz e não estúpida.
— Teria tanta paciência para me suportar?
— Conseguirei isso, para te suportar tudo o que necessite.
Inclinou para beijá-la com rapidez. Ele não tentou abrir os seus
lábios, simplesmente a beijou com calidez.
— Tenho medo. — Disse, olhando a sua boca, a firmeza de seus
lábios suaves. — Vem de uma terra, que eu mal ouvi falar, uma terra
onde todas as pessoas são desconhecidas para mim, uma terra onde o
clima é duro durante o inverno, e há pouca luz do sol durante muitos
meses.
Magnus tinha considerado a possibilidade de levá-la para o seu
navio Vento do Mar, mas rapidamente mudou de ideia. Não se sentia
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intimidada ali nas docas, e acreditava segura aqui, com ele, um homem
que conhecia há apenas dois dias, o homem com o que se casaria.
Sorriu e tentou de tranquilizá-la.
— Eles serão estrangeiros, apenas até você sorri e dizer olá. Meus
parentes vão amá-la, como também fará Harald I, nosso rei. Ele vem
de Vestfold, sabe, embora no momento não tem residência real ali. Mas
é primo de meu pai, e igualmente como todos os meus parentes, virá a
nos visitar e se apaixonará por você, já verá.
— Ouvi falar do Harald. Dizem que é desumano e trata de dominar
sem importar o custo. Há rumores que raramente mostra misericórdia.
— Sim, e também é ambicioso e sempre quer mais e mais. —
Magnus encolheu os ombros. — Ele quer que cada Jarl,8 cada Conde
da Noruega, faça sua vontade e obedeça a cada decreto dele. É um
homem, e é um Viking. Não há limite em seus apetites, e seu poder
cresce a cada ano, e não se cambaleia, embora quase tem a idade de
meu pai. Conquistou todo um país e anseia mais, como fazem a maioria
dos homens de meu país. — Ele sorriu então, sacudindo a cabeça. —
Os homens de meu país, se sentem encurralados pelos vizinhos ou
perseguidos por seu rei, então simplesmente vão encontrar novas
terras. Todos nós defendemos a nossa liberdade e não deixamos que
ninguém nos tire isso.
— E se ele desejar suas terras e as do seu pai? Estaria disposto
algum dia deixar o seu lar?
— Não no momento, mas não seria uma surpresa, temos que
pagar impostos que nos romperiam nossas costas. Logo, é obvio,
teremos que lutar contra o rei, sejamos parentes longínquos ou não.
Simplesmente iríamos.
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Freya10 nos abençoar. Queria te beijar outra vez, amor. Sua boca suave
me faz perder a razão.
Sem hesitar, ela ficou nas pontas dos pés, apertou os lábios e
fechou os olhos.
Olhou para o seu lindo rosto, um rosto que já era muito querido
para ela.
— Depois de te beijar, gostaria de segurar seus seios em minhas
mãos, assim. — Ele a beijou, afogando seu grito de surpresa com a
boca, quando suas mãos se abriram para massagear os seios dela.
— Magnus. — Disse, e se afastou. — Oh, na verdade, não, não
pode.
— Sua respiração está entrecortada. — Disse ele, e sorriu. — Suas
palavras não têm muito sentido agora. Sentiu minhas mãos sobre você?
Ah, isto é só o começo, amor. Imagine sugando seus seios igual aos
nossos filhos. E quando separar as suas coxas, me acomodarei entre
elas e abrirei ainda mais, e logo, Zarabeth, entrarei em você e te farei
completamente minha.
Ela pressionou sua mão contra a boca. Ruborizou-se e sentiu
excitada por algo que não conhecia e nem tinha ideia de que existisse,
mas tampouco se preocupou muito.
— Fala tão francamente, e eu não sei o que fazer.
— Apenas se excita.
— Sinto-me estúpida e inexperiente, porque não sei como te
responder.
— Então não tente. Aprenderá em minha mão. Vou tentar lembrar
que devo falar assim enquanto te ensino. E você aprenderá a me dizer
o que você gosta, como te direi como deve me tocar e me acariciar.
— Sim. — Disse, e suspirou.
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quando houver algo que desejo que faça ou, mais provavelmente,
quando houver algo que gostaria que deixasse de fazer. Entende?
Ela franziu a testa, ante a rigidez em seu tom, duro e dominante.
Mas tinha razão neste caso.
— Muito bem, então. Sinto muito se incomodei você, Magnus.
— Moça tola. — Disse, e tomou sua mão entre as suas.
Ele viu que quatro de seus homens os seguiam na curta distância,
mas mordeu a língua e assentiu com aprovação. Era mais seguro.
Ele encurtou o passo para coincidir com o dela.
— Eu teria preferido levá-la para a minha pequena tenda, e tirar
esse vestido, e te deitar em minha cama. Não é realmente uma tenda,
apenas é um espaço fechado na proa do Vento do Mar. — Suspirou
profundamente. — Mas terá que esperar até que estejamos casados.
Então, Zarabeth, a manterei em minha cama até que os dois estejamos
muito cansados para fazer algo mais que dormir.
Ela o olhou e sorriu, com seu coração saltando no seu peito.
— Ah, mas quem vai ser o capitão de seu navio, enquanto estiver
na cama?
— Vou nomear a todos meus homens capitães para que tenham
outras tarefas em que se ocupar, além de nos escutar fazendo amor.
— Acredito que vou esgotar você, antes que faça isso comigo, meu
senhor.
— Acha que será assim, amor? Apesar de que não tem nem ideia
do que é, e o que vamos fazer? — Ante seu silêncio desconcertado, riu
e lhe acariciou brandamente o queixo com seus nódulos. — É uma
atividade que aumenta em um frenesi, uma atividade que se aprecia
muito mais, uma vez que tenha aprendido todas as regras.
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Ela está ilesa e, sugiro que se preocupe por seu bem-estar e não a
repreenda, porque logo será minha esposa, e ante qualquer briga virá
para mim, seu marido. Trate-a com suavidade ou farei com que sinta
muito.
Olav sabia que seus amigos não atacariam ao viking. Todos eles
eram comerciantes e artesãos. Sabiam como lutar, e morreriam na
batalha se tivesse que fazer isso, mas não eram guerreiros e não teriam
nenhuma possibilidade contra este homem. Sabia que inclusive seus
seis amigos juntos não poderiam matar a este homem. Seria um
suicídio. Se contentou com a ideia de golpeá-la quando chegasse na
sua casa.
Ele olhou-a e sorriu para Zarabeth. Foi como se o viking pudesse
ler a sua mente.
— Não, Olav o Vaidoso, nem te ocorra fazer o que está pensando.
Sou um homem de palavra, um homem de honra, e pode confiar no
que digo. Não vai machucá-la, do contrário vou fazer algo a mais com
você do que um simples dano. Vou te matar.
Não havia nada o que fazer. Olav sentia o ódio se retorcendo no
seu estômago.
— Vamos. — Disse para Zarabeth. — Você causou problemas
suficiente por uma noite, moça.
— Sei. Sinto muito, Olav.
— Quanto a sua meia irmã idiota, ela se contorcia no chão de
tanto chorar. Me deixa doente escutar seus gemidos. Vá para casa e
cuide dela, antes que a leve para cidade e a abandone nas montanhas
Bentik, como deveria ter feito há muito tempo.
Magnus viu que Zarabeth se erguia como um machado de
batalha. Havia mais em jogo aqui do que ela tinha dito. Não entendia o
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veneno que Olav sentia por sua filha mais nova. Tocou o braço de
Zarabeth e disse.
— Vá, amor. Verei você pela manhã, perto do poço na praça.
— Sim. Obrigada. — Disse. Rapidamente recolheu a saia e seguiu
a seu padrasto.
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Olav acariciava a sua barba enquanto olhava para Zarabeth.
Agora sim, graças aos Santos, estava em pleno controle de si mesmo e
da situação. Se sentia bem sabendo que estava no comando
novamente, que era sua palavra, e apenas a sua, que determinaria o
que aconteceria dali em adiante. O bárbaro viking já estava em seu
navio, a salvo da ira de Olav, e a cadela de sua enteada estava ali, a sós
com ele, a sua mercê, a suas ordens.
Ah, mas lhe faria pagar muito caro, por sua quase deserção.
Olhou-a a tênue luz de lamparina de azeite de urso. Era muito tarde, e
estavam em casa por fim, na sala, e agora sabia que sua pequena irmã
não se encontrava ali. Gostava de ver o medo e a confusão em seu rosto.
É mais, desfrutava.
— Vai fazer exatamente o que te digo, Zarabeth. — Disse
finalmente. Ela estava de pé diante dele agora, olhando-o.
— Onde está Lotti? — Perguntou Zarabeth pela terceira vez, com
a voz trêmula e seu desespero mais perto da superfície. — O que fez
com ela? Disse que ela estava chateada porque eu não estava aqui.
Mentiu! Onde está ela, Olav? O que você fez?
— Não vou dizer isso minha menina. Pelo menos, até que me
prometa, não, melhor dizendo, até que me jure que vai se desfazer
desse bastardo viking.
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E foi ainda mais tarde, depois de que o sol tinha saído, que mudou de
ideia e sentiu que a esperança renascia nela.
Zarabeth forçou um sorriso. O seu coração pulsava tão forte que
pensou que alguém ia escutar. Sim, um sorriso, porque, mesmo no
pouco tempo que tinha conhecido o Magnus, percebeu de que ele a
conhecia muito bem. Tinha que o persuadir, convencê-lo, não deveria
permitir que ficasse nenhuma dúvida, para que Olav mesmo se
convencesse, e então, tanto ela como Lotti estariam a salvo. Orou ao
Odin para Magnus perdoá-la por mentir para ele. Rogou a seu próprio
Deus cristão que Magnus a perdoasse quando descobrisse o que tinha
tido que fazer.
Magnus viu esse sorriso dela, esse sorriso maravilhoso, e disse
sem rodeios.
— O que te preocupa, Zarabeth? Tem frio? Não há chuva no ar
nesta manhã.
Frio! Era ridículo. Se virou para ficar mais perto do poço na praça
Coppergate. Sabia que Olav a observava no comércio do curtidor a
poucos metros de distância. Ele poderia ver o seu rosto com claridade,
seu rosto e o de Magnus também. Sabia que ele podia ouvi-los, tinha
que ir com cuidado, porque a vida de Lotti, e o seu próprio futuro,
dependia disso.
— Não tenho frio. Me alegro de que esteja aqui, Magnus
Haraldsson. Gostaria de falar contigo. Não vou dar voltas. Estou aqui
para dizer que não quero me casar com você. Equivoquei-me com meus
sentimentos. Decidi que não te quero. Não quero voltar a vê-lo.
Magnus viu sua palidez, ouviu a tensão em sua voz. Não aceitou
suas palavras. Não conseguia entendê-la e não estava disposto a ser
paciente. Jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada.
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mais que pessoas selvagens que me veriam como uma estranha. Não,
Viking, não faria isso. Estava temporariamente louca, mas não mais.
Quanto o outro assunto, um homem é para ser desfrutado
caprichosamente por uma mulher. Quase tinha decidido desfrutar de
você, isso é certo, mas logo...
Ela encolheu os ombros, e fez um movimento que o enfureceu, e
Olav viu que estava enfurecido.
Era suficiente, tinha salvado a vida de Lotti.
Tentou se soltar de suas mãos, mas Magnus, enfurecido,
assustou-a e vacilou. Estremeceu enquanto apertava o seu braço
dolorosamente.
— Me escute, Zarabeth. Não acredito neste teu ato. Está sob a
ameaça de Olav, certo? Me diga a verdade, para que possa acabar com
os maus tratos de que você está passando.
Ela negando com a cabeça, com medo de abrir a boca e dizer a
verdade. Virou a cabeça para um lado.
— Olav o Vaidoso me ameaçando? Certamente não acreditará
nisso viking. Nenhum homem pode me ameaçar. — Cuspiu no chão. —
Nem sequer você. E não me chame mentirosa viking! Acredito que é um
parvo presunçoso. Me deixe agora, pois sua presença me resulta
tediosa e sua mão está apertando o meu braço.
Puxou o seu braço dele e tropeçou. Não caiu, mas percebeu de
que se tivesse caído não a teria ajudado. Estava olhando para ela, com
o rosto sem nenhuma emoção visível. Parecia selvagem, frio e
desumano. Como se fosse desfrutar matando-a. Parecia que
finalmente, estava acreditando nela completamente.
Quando falou, por fim, sua voz era tão dura e fria como seu rosto.
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Olav dava ouro e peles de vez em quando a seu filho. Quanto o que
Keith realmente pensava dela, tinha medo de saber. Se ele sabia o que
seu pai queria dela, certamente o mataria. Apressou o passo. Ela e Lotti
iriam embora e não importava o que aconteceria com Keith e seu pai
depois de que fugissem. Já estava escuro e não havia nenhum homem
fora de seu lar. Chegou à pequena casa de madeira, parou sob uma
janela coberta com pele de um animal. Podia ouvir através dela e se
apertava rosto contra a pele, podia distinguir contornos difusos.
— Te digo, tolo fraco, não virá a procurá-la!
Era a voz de Toki, forte e estridente. Zarabeth se inclinou contra
a pele.
— Prometi cuidar da menina. — Disse Keith, com a voz pastosa
pela cerveja. — Vou mantê-la até que venha por ela. Meu pai estará
encantado de que tenhamos feito o que pediu. Nos recompensará por
isso.
— Há! A essa miserável vadia de Zarabeth que recompensará, não
a seu único filho! Já sabe que digo a verdade Keith, porque ele estava
disposto a fazer qualquer coisa para mantê-la aqui em York, para
mantê-la a seu lado. E ela disse ao Viking que não o queria. Ele
conseguiu convencê-la. Ouvi uma meia dúzia de mulheres hoje falando
sobre o tema! Tão contente estavam, que me permitiram escutar tudo
o que disse no poço da praça, que não o queria como marido, que não
era mais que um bufão e um pagão, que só brincou com ele. Bem,
agora, fica com o Olav, e você é um parvo se não é capaz de ver o que
isso significa.
Keith murmurou algo que Zarabeth não entendeu. Estava muito
bêbado, mas Toki seguia vociferando contra ele, sua língua mais
violenta com cada palavra que dizia.
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— Disse que não quero te escutar, Zarabeth! Você está mentindo,
e não vou ouvir!
Zarabeth lutou por manter a calma perante à desconfiança
manifestada em Toki.
— Eu não minto. Quero a Lotti. Me dê ela e irei embora de York.
Nunca voltará a me ver. Olav terá que tratar Keith com mais
amabilidade. Não estou mentindo, Toki. Pelo amor de Deus, por que eu
faria isso?
Toki se encheu de desgosto, de incerteza e de inveja em partes
iguais. Zarabeth, era filha dessa cadela estrangeira que tinha se
apossado dos afetos de Olav, que tinha roubado de seu único filho, e
tinham afastado de seu amor, sim que odiava à filha dessa prostituta,
desejava que se fosse, ou melhor ainda queria que morresse. Toki
balançou com a cabeça.
— Você quer ao Viking, então? Foi tudo uma mentira, seu
encontro e sua conversa com ele esta manhã no poço?
— Sim, fiz para convencer Olav de que falava sério. Tive que
convencer Magnus de que não o queria, para que Olav acreditasse. E
consegui, mas tenho que me apressar para procurar a Magnus para
lhe dizer a verdade. Por favor, Toki, se apresse! Me dê Lotti!
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tinha o meu sangue, disse, que inclusive os bispos cristãos não podiam
se opor.
— Por que quer se casar comigo? Você sabe que te desprezo. Por
que?
— Tenha cuidado, Zarabeth, para que a menina não escute o que
diz. Também poderia me escutar dizer o que faria com ela, se resistir a
mim, e não fizer tudo o que eu quero.
Para Zarabeth não se importava mais. Foi tão simples quanto isso.
Simplesmente vivia, não sofria mais, pois não havia ninguém para
quem fazer isso. Supôs que ela simplesmente teria morrido se não fosse
por Lotti.
Mas Lotti a necessitava, e, portanto, tinha que continuar. Tinha
que fingir que estava viva. Olhou para Olav e não disse nada mais, com
uma expressão tranquila e inerte como seu coração.
— Pode se deitar comigo como minha esposa ou minha rameira.
Ela encolheu os ombros.
— Sua rameira, então.
Não deveria ter dito isso, pensou, olhando para ela com crescente
irritação. Deveria estar agradecida a ele, suplicando de joelhos, porque
estava disposto a se casar com ela, uma mulher sem dote algum, nada
exceto essa maldita menina idiota. Havia-lhe pego em uma mentira e
agora devia voltar a mesmice.
— Não, não terei você como minha rameira, não seria bom para
meus negócios. As pessoas inventariam intrigas sobre mim,
possivelmente questionaria minha honra e meu julgamento, porque
você é muito jovem e eu, bom, eu não sou tão jovem como antes. Não,
não seria bom para mim. Vai ser minha esposa, então ninguém poderá
me criticar. Todos acreditarão que sou mais honrado. Vamos nos casar
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que pusessem o seu marido sobre sua cama, e depois que o tivessem
deixado, lançando olhadas lascivas, jogou uma manta sobre ele e o
deixou. Orou rogando que dormisse toda a noite.
Olav não dormiu toda a noite. Despertou no meio da noite, ainda
mais bêbado que doente, percebeu de que estava casado com Zarabeth,
e foi em busca dela.
Encontrou-a dormindo com Lotti e a agarrou pelo o seu braço,
sacudindo-a e quase gritando.
— Por que dorme aqui? Por que está com ela e não comigo? Você
dever dormir comigo! Paguei um alto preço por você. É minha esposa!
Zarabeth sentiu que Lotti ficava tensa a seu lado. Ela não estava
dormindo, tinha ouvido ele tropeçar através do quarto. Preparou a si
mesma, e agora disse com bastante calma.
— Volta para sua cama, Olav. As mulheres me disseram que
estaria muito bêbado para me tomar esta noite. Rezo para que não
vomite, porque não desejo ter que limpar depois. Vá agora.
Qualquer pensamento que Olav tinha desejado de se deitar com o
Zarabeth se desvaneceu nesse momento. Agarrou a barriga e saiu
correndo, gemendo, apertando seus braços ao redor de si mesmo.
Zarabeth o ouviu tropeçar ao sair para o exterior, da noite. Ela não se
moveu, se limitou a dizer em voz baixa para Lotti.
— Volta a dormir amor. Ele não nos incomodará, esta noite pelo
menos.
À manhã seguinte, Keith encontrou seu pai encolhido contra a
frente do seu comércio, dormindo como uma pedra.
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O rosto de Olav estava cinzento. Seus olhos ardiam e
lacrimejavam. Uma linha de suor frio se via em cima de seu lábio
superior. Sua papada flácida pendurada e sua roupa pareciam
pertencer agora a outro homem, um ainda maior, um gordo e saudável.
A dor em sua barriga tinha aumentado, e agora ele não podia
trabalhar em seu comércio, passou todo o dia sentado no salão vendo
Zarabeth trabalhar. De vez em quando gemia brandamente e
caminhava pela sala, agarrando a sua barriga. Seus amigos vieram no
início, mas como não podia beber, nem comer e nem brincar com eles,
pouco a pouco foram se retirando e, o deixaram só em sua dor e
afastado de suas preocupações. O mesmo ocorreu com seu negócio.
Poucos se aproximavam de lá. As mulheres visitavam Zarabeth, lhe
dando conselhos, olhando tristemente para Olav, e movendo a cabeça.
Olav olhava para Zarabeth agora. Era meio dia e ela estava
cozinhando, provavelmente uma sopa leve, maldita seja. Sopa de aveia
e pão suficientemente suave para um ancião sem dentes e com os
intestinos débeis. Úmidas mechas de cabelo emolduravam seu rosto.
Ela ficou em silêncio, muito calmamente, sem levantar a voz, mesmo
quando gritava no meio de sua dor, cheio de medo e frustração, porque
ele não conseguia pegá-la pela cintura como um homem deveria fazer
com sua esposa, e sentia mais medo cada dia que passava. Lotti
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a sua mão e a levou para o seu dormitório. Sua cama era grande e feita
de madeira de carvalho, coberta com peles suaves e mantas de lã.
— Tentarei me tornar em seu marido, Zarabeth. — Com estas
palavras, se inclinou e a beijou.
Se obrigou a suportar. Tratou de não pensar em Magnus, mas ele
estava ali, entretanto, no fundo de sua mente, em uma parte dela que
onde nunca se foi. Com o tempo, talvez, pensou freneticamente, ele
seria um fantasma, a lembrança de um sorriso, de um olhar, mas agora
era real e estava vivo dentro dela. E outro homem estava a beijando.
— Destrança o seu cabelo. Uma mulher não deveria ter o cabelo
penteado para trás de seu rosto. Não me agrada.
Ela puxou a trança sobre o seu ombro e desatou o laço de couro.
Lentamente deixou o cabelo livre de sua trança, alisando com os dedos,
até que Olav a deteve e desembaraçou ele mesmo.
— Suave. — Disse, e levou uma mecha à bochecha, esfregando-o
para frente e para trás. — Vermelho como o pôr do sol antes de uma
tormenta noturna, e muito suave.
Passava os dedos pelo cabelo, desembaraçando enquanto ela
ficava imóvel como uma pedra. Quando tinha terminado, deu um passo
para atrás.
— Necessito de estimulação, embora tenha passado muitos dias
sem o corpo de uma mulher. Minha enfermidade entorpeceu os apetites
de meu corpo. Sentarei aqui e você vai se despir para mim. Fará que
minha masculinidade ganhe vida novamente, Zarabeth.
Ele se sentou no colchão sobre a cama, se apoiou contra a parede
de madeira polida, e cruzou os braços sobre seu peito. Olhava-a. Seu
coração pulsava com força, em golpes lentos e profundos. Tinha
deixado a pele de urso posta debaixo porque aparentemente sempre
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— Por favor, Olav, não posso. Sou uma dama. Nunca antes tinha
visto o corpo de um homem, e mais, tampouco o Viking. Por favor, não
me peça que te acaricie agora... Não assim.
Ele baixou o olhar e soube que não conseguiria nada nessa noite.
Estava murcho e morto. Logo levantou a vista para ela, viu que havia
colocado novamente sua camisa de dormir, e riu de si mesmo, da ironia
de sua vida.
— Uma jovem e bela mulher... Basta ver todo esse cabelo
vermelho, e esse corpo, tão glorioso e suave, toda essa pele branca, e
não posso fazer nada, exceto te olhar. Ah, sim, é uma dama, Zarabeth,
e te ofendo mostrando minha abatida masculinidade. Vá para cama.
Quero dormir. Vou recuperar minhas forças, já verá. Chamarei você
quando estiver pleno e a tomarei, e não terá que me ver assim nunca
mais. Sim, vou ser um homem novamente e será obediente a minhas
exigências.
Fugiu, muda pelo alívio.
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teriam levado gritando, sem prestar nenhuma atenção. Sim, ele tinha
sido um parvo.
O que tinha visto de mau nele para que o desprezasse? Nenhuma
mulher antes tinha feito. Por que Zarabeth? Por que a única mulher
com quem tinha desejado se casar?
Se virou ao ouvir a voz de sua irmã.
— Sim. O que você quer, Ingunn?
— Você, irmão! Estou preocupa com você, Magnus. Preocupa a
todos, incluído os homens. Não percebeu? Crítica aos homens mais do
que merecem, grita e repreende a seus escravos. Nem sequer leva a
Cyra para sua cama como antes.
— Há! Fiz isso assim que cheguei em casa. Tomei tanto que mal
pôde caminhar.
— Sim, mas então a dispensou. Ela se sente muito triste, como se
tivesse falhado de alguma forma.
Encolheu os ombros, sem olhar para Ingunn, mas olhando
fixamente para o lado Norte do golfo. Por que em nome do martelo de
Thor, Ingunn deveria se preocupar com os sentimentos de Cyra.
— É há outra mulher, não é assim? Conheceu uma mulher em
suas viagens e te consume a lembrança?
Ele riu disso.
— Você me faz parecer como um osso de cão que o nosso pai
burlava.
Sentiu seus dedos na manga da sua túnica.
— Não, irmão, não é brincadeira, nosso pai se pergunta o que é
que está te amargurando. Disse que você não está interessado em beber
com os homens ou nas histórias que se contam em seu salão. Disse
que você sempre agiu como uma criança doente de amor. Mas agora
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ele sente que há uma raiva furiosa em você, uma grande irritação, e
pressente que haverá derramamento de sangue antes que sua ira
despareça.
Novamente Magnus encolheu os ombros. Era certo, tudo isso,
entretanto, era um assunto privado e que queria manter para si
mesmo. Supôs que deveria estar contente de quem sabia de Zarabeth,
tinham mantido sua boca bem fechada. Não incumbia a ninguém, nem
a seu pai, nem a seus irmãos, e certamente tampouco a Ingunn.
De repente, sorriu, um sorriso triste, um sorriso cruel. Se virou
logo com uma decisão repentina e irrevogável e sentiu que o peso de
uma rocha se desalojou de seu peito.
— Estou saindo de manhã. Prepare comida suficiente para uma
viagem de trinta dias para doze homens. Vou comercializar algo mais
na Birka. Se apresse agora, Ingunn.
Ela não queria obedecê-lo, mas não tinha escolha. Não acreditava
nele. Birka era o último lugar que ele iria. Ela o deixou sem dizer mais
nada, para fazer sua vontade. Se virou só uma vez, para vê-lo de pé no
mesmo lugar, com o olhar perdido no golfo, mas não olhava para água
clara e fria.
O que estava vendo?
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09
Olav tinha morrido. No início da manhã, justo depois do
amanhecer, gemendo e agarrando a barriga. Durante toda a noite
Zarabeth ficou com ele, desamparada e assustada, com medo de deixá-
lo, mas sabendo que não havia nada que realmente pudesse fazer. Ele
nem sequer tinha sido capaz de levantar-se para fazer suas
necessidades.
No final, já não a reconhecia mais. Falava de sua mãe, o quanto a
tinha amado e como o tinha traído. Zarabeth havia segurado a sua
mão. Nada disto tinha sentido. Ele tinha estado bem na noite anterior,
assobiando enquanto contava os lucros que tinha obtido nesse dia. E
agora, só doze horas depois, estava morto.
Zarabeth ajudou a Imara e Lannia, as duas mulheres mais velhas
que já tinham visto sua cota de mortos que preparavam os cadáveres
para o enterro, seu corpo já estava pronto. Estava entorpecida, só por
cumprir com as simples tarefas que Lannia tinha atribuído para ela,
não entendeu muito bem quando Toki entrou na sala, cheirou e disse.
— Por Thor, fede aqui! Não pode fazer algo, Zarabeth?
Imara se virou para Toki e lhe dedicou uma careta perversa.
— Cuidado com a língua. É um lugar de morte, e o seguirá sendo
até o dia seguinte.
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esculpidos, que Olav lhe deu muitos anos antes. A menina estava em
silêncio, também tranquila.
Sentiu a dor do medo. Olav tinha morrido. O que seria dela e de
Lotti? Se inteirou ao dia seguinte depois do funeral de Olav. Dois de
seus amigos, membros do conselho de York, vieram vê-la. Eram
homens de idade, de cabelos grisalhos e sem dentes, entretanto, foram
muito amáveis. Ela serviu-lhes hidromel para beber, logo esperou
respeitosamente que falassem.
— ...Assim, Zarabeth, Olav te deixou todos seus bens, seu
comércio e sua casa. Não queria que seu filho herdasse nada.
Na verdade, não tinha acreditado no Olav, quando ele disse que
tinha feito isso. Conhecia-o bem, tinha estado segura de que se
preocuparia com seu filho, que ia mudar de opinião, que ia passar por
cima da maldade de Toki e, que não prejudicaria Keith, só para se
vingar dela. Negando com a cabeça agora.
— Mas Keith... Não é justo. Certamente Olav...
— É como dissemos a você. — Ambos a olharam então, de perto,
como se fosse uma espécie de raridade. — Realmente é assombroso,
sim, é verdade, mas é jovem e atraente, e aí está a resposta a todas
nossas perguntas. Portanto se manterá a sua palavra. É o que desejava
o seu marido.
E eles deixaram a casa de luto rapidamente. Os homens não
gostavam da ideia de que o espírito de um morto estivesse em suas
costas, e rondando a suas próprias almas. Entretanto, Zarabeth se
surpreendeu por sua abrupta retirada, por sua brutalidade. Eles
tinham sido amáveis até hoje. Não tinham desaprovado o matrimônio
de Olav com ela antes, ou se tinha feito, tinha ocultado muito bem.
Lembrava dos dois claramente no dia de suas bodas, bêbados,
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Zarabeth o matou e agora ele se foi! Meu pai era um santo. Nunca
colocou em perigo a uma menina!
O rei não disse nada durante vários minutos. Logo se virou
lentamente para Magnus, e disse algo em voz baixa. Zarabeth esperava,
tão aterrorizada que não conseguia se mexer em nenhum caso. Viu que
Magnus assentia e respondia uma pergunta.
Logo, lentamente, Magnus se endireitou e a olhou aos olhos. Não
disse nada. Logo sorriu quando o rei se levantou e disse, assinalando
com o dedo Zarabeth.
— Seu castigo por assassinato deveria ser a morte, mas Magnus
Haraldsson, um homem jovem de boa fé e de boa família, me convenceu
do contrário. Você, Zarabeth, que poderia ter sido sua esposa e, viver
uma vida honrada, agora é sua escrava para fazer contigo o que lhe
agrade. Se ele quiser te matar, então que assim seja. Se lhe agrada te
bater até que esteja inconsciente, então que assim seja. Vá com seu
amo e nunca mais volte para Danelaw, a morte te espera aqui se
alguma vez voltar.
— Não. — Disse Zarabeth. — Não.
Ficou quieta quando Magnus se dirigiu para ela, com seu rosto
frio, e nada mais que desprezo em seus olhos.
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Magnus ficou olhando para ela atrás da cortina vermelha. Sentiu
tanta opressão no peito, que pensou que ia sufocar. Percebeu que a ira
em seu interior desaparecia substituída pelo prazer de voltar a vê-la.
Inclusive apesar que estivesse suja, com o cabelo desalinhado caindo
sobre seu belo rosto, e seu vestido rasgado no ombro, onde alguém
tinha roubado o seu broche, mesmo assim, seu olhar era orgulhoso e
inflexível.
Por Odin, tinha sentido falta dela, tinha sonhado com ela mais
noites do que podia recordar, sempre estava com ele, em sua mente,
sob suas mãos, sussurrando o seu nome da forma em que só ela podia
fazer, e, entretanto, não era nada mais que uma fraude, uma mulher
que o tinha tomado por um tolo, uma mulher que o tinha traído.
Escutou sua apaixonada defesa, e sentiu que a dor retornava, mas
não por lástima ou desejo, mas sim por fúria contida. Ela o tinha
ofendido. Merecia sofrer por isso, e asseguraria de que o fizesse.
Quando ele entrou para ficar ao lado do Rei Guthrum, e ela o viu,
pensou que ia desmaiar. Por um instante pareceu ver alegria em seus
expressivos olhos, e esperança... Mas não, só foi surpresa e angústia
de que ele a tivesse visto nesse estado. E culpa também, pelo o que ela
fez, talvez inclusive um pouco de remorso.
Na verdade, teria matado Olav?
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admirou-a. Afastou esse sentimento. Viu ela passar a mão pela testa e
esfregar os olhos. Ela não disse nada. Sabia que se o fizesse, ia querer
golpeá-la, e um golpe dele poderia matá-la. Não queria vê-la morta.
Permaneceu em silêncio. Quando ficou para trás, parou e se virou
para ela.
— Acelera o passo. Tenho assuntos que atender e não tenho
tempo para perder em mimos para você.
O sol brilhava com tanta intensidade ante seus olhos que por um
momento a confundiu, seu cabelo se via quase branco no calor
resplandecente. Levantou a mão e logo a deixou cair. Estava tão
sedenta. Sentia sua língua inchada em sua boca. Lentamente, sacudiu
a cabeça e forçou um pé diante do outro. Uma vez mais, disse a si
mesma, só um passo mais, e então talvez...
Cheirou a água, o aroma do sal e o aroma de peixe. Assim já
deveriam estar muito perto do Vento do Mar.
Ia conseguir, não envergonharia a si mesmo diante dele. Ia
encontrar as palavras para convencer de sua inocência, logo, muito em
breve.
Uma pedra se encontrava atravessada em seu caminho. Ela não
a viu. Tropeçou e caiu de joelhos, pondo suas mãos no último minuto
para proteger do golpe. Sentiu a dor penetrando-a, as pedrinhas
cravando em suas palmas e a sujeira cobrindo seus dedos. Ficou como
estava, apoiada em suas mãos e de joelhos, sua cabeça baixa, o cabelo
desordenado a ambos os lados do rosto.
— Levante-se.
Escutou a ordem e tentou ficar de pé. Mas seu corpo não lhe
obedecia.
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esquecido dela, porque se deitou com Cyra, até tive que me dedicar a
fiscalizar o plantio de suas terras. Mas agora retornamos e ele a pegou.
Magnus sorriu severamente ante isso, e logo empurrou para um
lado as peles de lontra que serviam de porta no porão de carga.
Fazia calor aqui, mas não podia evitar. Ele a colocou sobre as
esteiras que cobriam as tábuas nuas. Fez uma pausa e colocou uma
manta de lã sobre um baú, como um travesseiro, e a pôs sobre ele.
Estava tão pálida. Sentiu dor ao olhá-la. Por Odin, ela esteve a
ponto de matá-lo de sofrimento com suas mentiras e ilusão. Mas agora
que a tinha, não poderia machucá-la, embora estava completamente
sob seu poder.
As peles de lontra de repente foram abertas e entrou Horkel,
inclinado, porque o teto de madeira era baixo, ofereceu a Magnus uma
taça de madeira com água.
Magnus golpeou as bochechas de Zarabeth. Ela se moveu e gemeu
brandamente.
— Zarabeth, acorda! — E tomando a taça a levou aos seus lábios.
Não abriu seus olhos, mas seus lábios se separaram e tratou de beber
a água.
— Pouco a pouco. Não, tão rápido, vai se afogar. — Retirou a taça
e ela gritou. — Está bem, mas pouco a pouco. — Depois de ter bebido
toda a água, recuperou um pouco de sua cor. Abriu os olhos e olhou
para Magnus.
Sem pensar, sorriu e levantou a mão para tocar seu rosto.
— Magnus. — Disse. — Eu pensei que nunca mais veria você.
Ele se inclinou para trás, com a fúria obscurecendo seus olhos, e
viu que a realidade de sua situação voltava a apoderar-se dela.
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Magnus a olhou, e riu ante o horror que refletiam em seus olhos
quando o viu parado atrás dela, então, percebeu seu desespero, e
franziu a testa. Ele a pegou rapidamente.
— Terminou sua fuga, Zarabeth. — Disse, e a virou para olhá-la.
Aliviado por tê-la encontrado tão rapidamente, e vacilando ante o
seu medo evidente, então a segurou com força enquanto tentava se
afastar dele, e finalmente grunhindo quando a viu tirar a faca de entre
as dobras de seu vestido.
— Afaste-se de mim, Magnus! Não me obrigue a machucar você.
Tenho que sair de York e, certamente você entenderá isso, já que negou
em ir buscar Lotti. Não poderia deixá-la aqui com a Toki. Agora vou
com ela, e não tem outra opção, a não ser me deixar ir. Não, não, fique
para trás!
Para sua fúria, ele riu. Estava rindo dela! Sentiu o sangue
palpitando em suas têmporas, sentiu que começava a tremer de raiva,
medo e incerteza. Ela gritou brandamente, se virou e fugiu dele. Mas
foi inútil. Quando a agarrou pelo seu braço, tentou se virar, tentando
se soltar, e sentindo um pânico que não a deixava pensar, levantou o
braço direito, com a faca na mão preparada para atacar.
Ele ficou absolutamente surpreso de vê-la levantar a faca
novamente e, que ela conseguiu se liberar, mas o peso da menina a fez
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— Tostig ouviu dizer que Magnus pagou por ela 5 Danegeld11, para
compensar ao filho do homem que envenenou.
— Sim, ela matou o velho porque queria sua riqueza. Esta mulher
é uma parva, não teve a astúcia necessária. Eu teria conseguido.
— Sim, mas para começar, o ancião não teria se casado contigo!
É feio como um javali no cio, e não tem o que qualquer homem desejaria
que tivesse entre as pernas!
Houve risadas e então, um homem disse.
— É bonita, sim, reconheço-o, mas estúpida, seduziu Magnus
para logo desprezá-lo. Por que fez isso? Entretanto, vai pagar muito
caro por isso, já verão.
— Sim, quando vejo a Cyra... por Thor, essa moça põe a qualquer
homem duro como uma pedra. Ela lamentará o que fez.
— Não se esqueçam de Ingunn, uma tarefa muito dura para uma
amante, a irmã tem uma língua que constantemente se alimenta de
brigas, apesar de que seu rosto se assemelha a de um anjo. A escrava
não terá uma vida agradável.
Zarabeth se perguntou repetidamente quem seria Ingunn. Quanto
a Cyra, Zarabeth recordava muito bem seu nome. Também era uma
escrava, e se deitava com Magnus. Isso significava que talvez não
desejasse tocá-la, pensou Zarabeth.
Não importava quantas mulheres se deitavam com ele, com tal de
não ser uma delas. Não ia ser sua rameira.
Quando se virou para escutar novamente, os homens estavam
apostando sobre quando Magnus se deitaria com ela. Recordou seus
beijos, suas carícias em seus seios, sua força, sua doçura quando a
abraçava. Isso pertencia ao passado.
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Girou a cabeça para ele e mordeu seu antebraço. Ele não fez
nenhum som, só conteve o fôlego pela dor. Imediatamente agarrou os
seus pulsos com uma mão, e colocou novamente dolorosamente sobre
sua cabeça.
— Acabou sua luta. — Disse, respirando com dificuldade, sabia
que ele ia tomá-la, forçá-la, tinha escutado que alguns homens
machucavam às mulheres.
— Por que te importa? Eu sou apenas mais um.
Ela sentiu seu membro duro pressionando contra sua coxa, e
soube que faria o que Olav não tinha sido capaz.
— Magnus, por favor, não me faça mal.
Ele riu e ela sentiu que a humilhação a inundou, porque tinha
rogado. Sentiu tanto ódio, se fosse livre, teria cravado uma faca em seu
coração.
Ele sorria, com um sorriso cruel, e a olhou quando sua mão
acariciou os seus seios, sua barriga, e logo levantou mais a bainha de
seu vestido. Pouco a pouco, com seus olhos nos dela, começou a atirar
seu vestido por cima.
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Zarabeth o observou, viu que seus olhos se escureciam, sua
expressão ficava mais intensa, e suas bochechas avermelhadas. Mas
ele não estava olhando para o seu rosto, estava olhando para baixo,
para o seu ventre nu, os seus cachos vermelhos ardentes, tão vívidos e
brilhantes como seu cabelo. Estranhamente suave, como se não
estivesse seguro de si mesmo, ele baixou a mão e seus dedos roçaram
brandamente seus cachos tratando de encontrá-la.
Ela não poderia acreditar que estivesse tocando-a assim, não
podia aceitar. Sentia tanta vergonha, tanto medo que pensava que ia
se afogar nele. Quando seus dedos se deslizaram entre suas pernas,
gritou, arqueando-se grosseiramente tratando de se afastar de sua
mão. Mas em lugar de tirá-lo, sentiu seu dedo médio empurrar
lentamente dentro dela, alargando-a.
Gritou.
Magnus fechou os olhos para se proteger da onda de sentimentos.
Era só luxúria o que sentia, nada mais, só sede pelo corpo de uma
mulher, seu calor e sua estreiteza eram entristecedores, e soube que
seu dedo estava a machucando, pois ela era estreita e estava seca, por
isso seu corpo lutava contra ele. Pressionou mais a fundo dentro de
sua vagina. Ela estava chorando, tentando loucamente afastá-lo, mas
não podia se mover, não podia detê-lo. Ela se ergueu de repente,
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liberando uma das mãos e lhe golpeou na boca o mais forte que pôde.
Ele simplesmente empurrou seu dedo ainda mais e viu como ficava sem
fôlego pela dor, com seus olhos em branco, todo o movimento congelou
nesse instante. Seus olhos se encontraram nesse momento e sem
nenhuma expressão se olharam. Ele sorriu enquanto colocava seu dedo
mais profundamente e a empurrou para baixo, mantendo-a ali com sua
mão estendida sobre sua barriga. Ela estava golpeando nele, mas não
sentia dor, não sentia nada, apenas o calor de seu corpo, sua
suavidade, a dor não, não aceitaria isso, não se preocuparia por isso.
O que ela sentia não lhe importava.
Por Odin, não poderia acreditar que seguia sendo donzela, mas
seu canal era tão estreito, tão apertado, que deveria ser. Sentiu que seu
membro inchava e endurecia, era tal a necessidade que tinha de entrar
nela agora e derramar sua semente.
Retirou o dedo de repente, decidido a manter seu controle. Ele a
sentiu estremecer, mas não ficou quieta, só aumentou sua luta para
afastá-lo. Não prestou atenção. Não disse nada, simplesmente abriu as
suas pernas e se colocou entre elas deitando seu torso sobre Zarabeth,
apertando-a mais perto. Ele se levantou então, livrando do resto de sua
roupa, sua mão e seu corpo trêmulos pela necessidade palpitante que
estava enchendo-o a transbordar. De repente, sentiu um puxão em seu
cabelo. Ouviu um miado agudo e uns pequenos punhos golpeando
repetidamente seus ombros.
Com um grunhido animal, a fúria o cegou, e se sobressaltou
disposto a lutar contra seu atacante. Tomou um momento para
perceber de que se tratava de Lotti, tentando salvar a sua irmã.
De sua violação.
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Ela poderia ter morrido e não teria movido um dedo. Para justificar o
que fez, inventou que era imbecil, e isso é o que disse para os outros.
— Você se vingou de Olav. — Disse, e imediatamente adicionou.
— Ela diz seu nome, mas de uma maneira confusa.
— Sim, ela podia dizer várias palavras antes que ele a golpeasse.
E já sabe alguns sons e algumas palavras, com paciência, poderá
aprender muito mais.
— Deveria ter me dito isto.
Ela o olhou, assombrada, o desprezo, se refletia em seu rosto com
claridade.
— Para que? Para planejar sua brutalidade com mais astúcia?
Assim teria outra arma para usar contra mim.
— Eu não usaria uma criança contra nenhum homem.
— Sim, mas eu não sou um homem, apenas sou uma mulher.
— Não, você é primeiro uma escrava, e depois uma mulher.
Ela baixou o olhar, e não respondeu. Para que? Deu uma tapinha
em Lotti e falou em voz baixa, afastando-se para poder ver o rosto da
menina. Era como se ela ignorasse que ele estava ali.
Simplesmente tinha se afastado dele, havia se fechado em si
mesmo. Isto o enfureceu.
— Se a menina não pode ouvir, como ela entrou aqui?
Zarabeth não se incomodou em olhar para cima.
— Não sei. Suponho que ela viu você entrar e fechar a entrada
com as peles. Tem medo de você. Só procurou me proteger. Peço que
não a machuque.
— Já disse a você antes que não machuco crianças.
— Isso é uma mentira. Sei que vikings como você, em suas
incursões é de uma loucura pela luta que os consome. Matam sem
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também que com o tempo conseguiria realizar. Uma vez mais ficou sem
opções.
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entretanto, nem sequer tinha notado algo tão óbvio como a falta de
audição da menina.
— A menina salvou a sua irmã. — Disse Horkel para ninguém em
particular, observando Magnus e suas costas rígida.
— Mas logo vai resolver isso, aposto o que quiser.
— Sim, mas não fará mal para a menina para obtê-lo.
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queria dela. — Nunca vi uma cor assim. E seus olhos verdes são mais
belos do que um homem pode sonhar. Venha comigo e te salvarei de
Magnus. É um homem cruel, todos o conhecem, é um selvagem que
não sabe nada das necessidades de uma doce e gentil criatura como
você. Te faria mal, talvez inclusive te mataria com seus golpes. Venha
comigo, rapidamente. Vou cuidar de você, a tratarei como uma rainha.
Sim, vamos!
— Vai embora. Me deixe em paz.
— Não tenha medo de mim, porque eu nunca machucaria a uma
beleza como você. Ouvi dizer que é sua escrava. Seria uma parva se
ficasse com ele. Venha comigo agora mesmo.
Então, sem prévio aviso, ele se inclinou, puxando o seu cabelo
para que não pudesse se mover sem sentir dor e a beijou com força na
boca.
De repente, escutou um grito enfurecido. Era Magnus. No
momento seguinte o homem se afastou dela e cambaleava pelo golpe
que o viking tinha lhe dado.
Logo pôs o pé sobre o peito do barbudo, e com uma faca na mão
ele disse.
— Você se atreve a tocar o que é meu, covarde idiota?
O homem segurando a mandíbula, logo se levantou lentamente,
encolheu os ombros, irritado, porque tinha ouvido que Magnus estava
distraído. Bem, não importava. Sempre haveria outra oportunidade,
assim ele se disse.
— A mulher estava ali, e bem disposta. Saudou-me com a mão e
me falou com doçura. Queria que rechaçasse o que me oferecia tão
generosamente?
Zarabeth negou com a cabeça, gritando estridentemente.
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Quando o Vento do Mar aproveitou o vento forte, ganhou distância
e logo viu o golfo de Oslo e ali se desviou em direção a Viksfjord que
levou diretamente ao Vale Gravak, o lar de muitos membros da família
Haraldsson, Zarabeth escutou a alegria dos homens ao avistar seu lar.
Ela estava fora da área de carga, olhando curiosamente. Os homens
estavam sentados novamente em seus assentos remando enquanto o
vento inflava a enorme vela listrada de vermelho e branco. Entre os
tripulantes viu Ragnar, o homem que tinha golpeado para escapar em
York.
Queria retroceder ante a hostilidade refletida em seus olhos, mas
se obrigou a ficar de pé completamente imóvel.
— O que quer, escrava? — Perguntou Ragnar, dando um passo
para ela. Seus olhos estavam fixos no colar ao redor em seu pescoço.
— Perguntava-me por que os homens estão tão animados.
— Estamos perto de casa. Só falta meio dia e então começará sua
vida como escrava de um viking. Estou seguro de que não suportará e
terei o prazer de desfrutar com sua miséria. O colar que te marca como
escrava, fica muito bem.
— O que acontece aqui, Ragnar?
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enquanto caminhava para a casa comunitária. Não, ele não poderia ter
feito isso, não poderia tê-la tomado em frente da menina, nem poderia
ter abusado de Lotti de maneira nenhuma. Mas logo a teria a sós. Não
haveria nada que ela pudesse fazer a respeito.
Ela realmente acreditava que deixaria que Lotti dormisse com os
outros escravos nessa choça fria e úmida?
Observou como Egill conversava com Horkel, enquanto o seguia
até a casa. Tudo era familiar, tudo parecia exatamente o mesmo, o
aroma igual. Mas não era assim. A vida tinha mudado agora, e não
importava o que ele tinha planejado de acordo a seus próprios
caprichos, soube nesse instante, o futuro já não era algo que pudesse
controlar.
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ações, ele estava dando ao povo e a sua família uma grande quantidade
de ossos para mastigar.
— Seja mais cuidadosa no futuro. — Disse, em voz baixa e áspera.
— Não quero que se machuque. Me custou muitas moedas para ter
você.
Soltou seu braço e logo se dirigiu para a sua mesa. Seu irmão
Mattias se limitou a arquear uma sobrancelha loira para ele. Quanto a
seu pai, Harald, ria, tão ruidosamente, que fez Magnus desejar que
tudo terminasse. A comida tinha resultado interminável. Viu Cyra
aproximando-se dele, com os olhos reveladores, já que tinha sido
testemunha do que tinha feito, e sabia que ia ter que falar com ela logo.
Trazia uma enorme bandeja de carne do forno coberta com cominho e
bagos de zimbro e sementes de mostarda e alho. Cheirava delicioso,
mas Magnus tinha perdido o apetite.
Cyra lhe serviu, com um sorriso profundo e caloroso. Afastou o
olhar dela. Sua mãe disse.
— Cyra, venha aqui. Desejo mais carne.
A noite continuou. Magnus presenteou a sua mãe com uma
preciosa caixa de joias esculpidas que tinha trocado por várias terrinas
de pedra de sabão em Hedeby. O tinha dado ao mestre pedreiro de seu
pai para que esculpisse o nome de sua mãe na parte inferior da mesma.
Deu a seu pai um bracelete de prata, grosso e pesado e finamente
esculpido. Logo começou a música. Então Horkel, começou a cantar a
história de uma moça que conseguiu se casar com um homem mais
velho só para envenená-lo quando tentou deitar-se com ela. Magnus
tentou chamar a atenção de Horkel. Para seu alívio, Horkel mudou o
argumento da história e a moça terminou como escrava em Miklagard,
em um harém árabe.
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— Já tem a Cyra. Ela é linda e te deseja. Por que me quer?
De repente, sem aviso, Magnus passou os dedos por seu cabelo,
parando nas pontas, e amaldiçoando o comprimento e a suavidade de
cabelo. Logo teve que rir de si mesmo. Era evidente que tinha perdido
a cabeça para esquecer das circunstâncias. Disse em voz alta.
— É uma noite de festa, e todos permanecerão aqui até manhã.
Meus pais, usarão minha cama. — Riu novamente, movendo a cabeça.
— Não despertará a Lotti para mudá-la de lugar, verdade?
Ouviu o medo em sua voz e isso o enfureceu mais do que jamais
poderia ter imaginado.
— Não estou cuidando de você também? É obvio que Lotti ficará
onde está. Vamos, tem tarefas para fazer. Esta noite dormirá coberta
em uma manta no corredor. — Suspirou novamente, como se estivesse
dolorido e sentiu um desejo louco de rir.
Ingunn ordenou a Zarabeth que esfregasse os pratos e terrinas de
madeira e panelas e colheres de ferro, o que fez voluntariamente, já que
esse trabalho a manteria longe dos homens. Quando ouviu uma mulher
chamando o seu nome, não prestou atenção no início. A mulher voltou
a dizer.
— Seu nome é Zarabeth?
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— Uma vez que tenha me tomado, vai voltar para Cyra e suas
outras mulheres? Você vai me deixar sozinha outra vez, então?
Só podia olhá-la, percebia a fúria mesclada com a dor em suas
palavras.
— Só quer me punir, certo? Que me submeta a você, para
demonstrar que é o mais forte, para demonstrar que é o amo. Uma vez
que tenha feito isso, se cansará de mim, certo? Não prestará mais
atenção em mim, e me deixará em paz?
Magnus disse lentamente, sua voz clara como o ar da noite.
— Mesmo que não a tome a cada noite, dormirá a meu lado pelo
resto de minha vida e você vai despertar cada manhã a meu lado.
— Por que? Eu não sou nada para você! Me odeia, acredita que
menti, que traí você. Então por que?
Não tinha resposta para isso. Sentiu que ela se retorcia debaixo
dele e rapidamente segurou suas pernas com uma das suas.
Começou lentamente a desatar o cordão de seu decote. Ele não
afastou o olhar de seu rosto enquanto separava a lã suave. Seus olhos
piscaram quando seus dedos tocaram sua carne nua, mas ainda assim
a olhou atentamente.
Sentiu seus dedos calosos e duros, tocando seu mamilo, e ela
gemeu.
— Você não gosta disto, Zarabeth? É tão suave, tão suave.
Suas mãos estavam esfregando um seio e o outro, e ainda
continuava olhando o seu rosto, observando cada expressão. Ela não
podia detê-lo. A única coisa que podia fazer era suportar. Tentou se
encerrar em si mesmo. Ele percebeu.
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Ele não se moveu, não se permitiu ceder ao incrível desejo que o
consumia. Disse a si mesmo uma e outra vez, é só uma mulher, uma
donzela e sou seu primeiro homem. A única coisa que queria obter
deste emparelhamento era prazer. Possui-la. Nada mais.
— Me olhe. — Disse novamente, com voz baixa, mas com mais
firmeza desta vez.
— Não. — Disse ela, com infinita dor em sua voz.
E ele disse as palavras antes de poder detê-las.
— Por favor, Zarabeth, quero que me olhe quando estiver
completamente unido a você.
Nunca em sua vida tinha pedido nada para uma mulher cujo o
seu corpo lhe pertencia. Esperou. Pouco a pouco ela virou o rosto e
abriu os olhos.
Ela se moveu levemente sob seu peso, e Magnus gemeu pela
sensação que sentiu.
Empurrou para frente um pouco e a sentiu tencionar-se.
— Este é o símbolo de identificação de sua virgindade, um pouco
de pele que se romperá. Um momento de dor, Zarabeth, e nada mais.
— E então me deixará?
Ele sorriu dolorosamente, diante da deliberada confusão dela.
— Sim, mas vou tentar te agradar antes de você ir.
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grunhidos enquanto a investia, por este homem que tinha violado seu
corpo, e que estava fazendo com ela precisamente o que desejava.
Escutou sua respiração se acelerar e então gemeu, um som
profundo, primitivo, e então começou a empurrar mais e mais duro
ainda, e seus gemidos se tornaram selvagens. De repente ficou imóvel,
com a cabeça arremessada para trás, e deu um grito afogado. Ela
sentiu sua umidade e soube que tinha esvaziado suas sementes em seu
ventre.
Ficou em silêncio. Ela aceitou seu peso, pois não tinha outra
opção. Ela se sentia muito cansada, mas estranhamente aliviada de
que tudo isso tivesse terminado, e não tinha sido tão horrível esta união
depois de tudo, tendo em conta as coisas que tinham-lhe contado, o
que os homens faziam com os corpos das mulheres. E ele não a havia
tocado, não realmente, não a parte dela que realmente lhe pertencia,
ali estava intacta.
Ele soltou os seus pulsos e se apoiou nos cotovelos para aliviar
seu peso. Ainda seguia em seu interior, entretanto, não se sentia tão
cheia dele.
— Eu te machuquei?
— Sim. — Viu muito tarde que ele gostava de sua inocência, e
gostaria de ter mentido.
— Mas não estou te machucando agora, verdade?
Ela negou com a cabeça, fechando os olhos ante a firmeza de seu
olhar, perguntando-se o que aconteceria em sua mente.
— Em um momento vou te dar prazer. Eu realmente gostaria que
não tivesse sofrido antes de conseguir agradar você.
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para ver sua expressão, sabendo que ela odiava essa sondagem de seu
corpo, este olhar de vitória.
Então, de repente, sentiu uma resposta dentro dela e ficou imóvel,
no princípio sem compreender o que acontecia com ela. Ele o intuiu e
rapidamente aprofundou o ritmo de seus dedos.
— Começa a responder. — Disse, e tinha prazer em sua voz.
Parecia orgulhoso dela, como se fosse um cão fazendo os truques que
dizia.
Então, sem prévio aviso, sua resposta se intensificou e explodiu
em chamas, em uma explosão de prazer tão intenso, tão demolidor, que
gemeu e logo quis morrer por ter feito. Sentia mais que humilhação
agora, porque a estava olhando e julgando sua habilidade como
amante. Ela tinha ouvido seus próprios gritos, suaves e rasgados sair
de sua garganta, pelo prazer que brotou de seu interior. Queria morrer
porque estava seguro desde o começo que ele iria conseguir sua
resposta, porque tinha o controle absoluto, mas não compartilhava
com ela.
Magnus se inclinou, sua respiração quente em sua bochecha,
encorajando-a, incentivando-a que levantasse seus quadris, contra
seus dedos, para dar um beijo, sim, para beijá-la e deixar que a língua
tocasse a sua, enquanto a olhava, observou-a de perto, e viu quando
ela já não podia controlar, já não podia se conter dele ou dela mesma.
Quando veio o seu prazer, beijou-a profundamente e tomou seus gritos
na boca, ainda mais profundo, absorveu sua alma.
— Você fez muito bem. — Disse quando sua respiração se
acalmou um pouco. — Ter uma mulher que grita pelo prazer, faz com
que um homem se sinta muito orgulhoso de si mesmo.
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Queria golpeá-lo, mas ele jogou em cima dela outro balde de água fria,
tremendo, amaldiçoando e desfrutando.
— Agora, venha aqui e sente-se, e desfruta como envolve o vapor.
Depois, jogaremos mais água fria. É o banho Viking. Os saxões fedem
desde o dia que nascem. Nós não.
Ficou sentada em silêncio, sentindo que sua pele se esquentava
no pequeno quarto, com o vapor subindo por cima de sua cabeça.
Quando Magnus se deitou a seu lado no banco, e pôs sua cabeça em
seu colo, ela tratou de se afastar, mas o banco não era tão longo e ele
a manteve imóvel, com os braços ao redor de seus quadris. Ele virou o
rosto para sua barriga e começou a beijar ali. Quando deixou que sua
língua a tocasse, ela pulou pela sensação. Ele começou a rir, rir de
verdade. Ele a puxou para si. Seus corpos estavam escorregadios pelo
suor e a abraçou com força, depois a levantou.
Ele sentou no banco com ela e abriu suas coxas até que ela estava
pressionada contra ele. Levantou-a outra vez e guiou o seu membro
dentro dela.
— Magnus.
— Não se mexa. Ahhh. Agora, sim, se mexa, faça o que quiser.
Ele cruzou os braços ao redor de suas costas e a abraçou
apertadamente. Quando ela não se moveu, ele sorriu, percebendo que
ela não sabia o que fazer. Agarrou suas nádegas com suas grandes
mãos e a levantou quase até seu membro sair, então a desceu por sua
longitude novamente.
Ela abriu a boca e fechou suas mãos ao redor de seu pescoço. Ele
se aproximou e a beijou enquanto ela subia e descia em confronto.
Sentiu que sua excitação chegava ao limite, porque ele mesmo estava
a ponto de se liberar, colocou rapidamente seus dedos contra seu
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— Pelas feridas de Thor! O que está fazendo? Ingunn! Detenha,
mulher!
Magnus ficou congelado, incapaz de acreditar no que estava
vendo. Ingunn segurava Lotti pelo braço enquanto levantava o látego.
Em realidade ia golpear à menina. Voltou a chamá-la por seu nome,
mas parecia não escutá-lo. Ofegava, seus seios se sacudiam pela
respiração agitada, e estava totalmente centrada na menina.
Magnus correu até ela, e a agarrou pelo pulso pouco antes que o
látego caísse sobre as costas de Lotti, arrancando-o de sua mão.
Estava pálida, com os olhos quase negros pela fúria
descontrolada. Isso o surpreendeu, essa atitude nela. Jogou o látego
para um lado, agarrou os braços de sua irmã, e a sacudiu com força.
— O que há de errado com você? Por que ataca a uma menina? E
com um látego! Me responda, maldição!
Ingunn piscou olhando-o, ele a sacudiu novamente, mas antes
que pudesse responder, ouviu que Lotti emitia esses sons afogados e
se virou rapidamente para olhar à menina, mas ela já estava correndo
para... Viu Zarabeth pela primeira vez desde que entrou na casa.
Estava de joelhos, segurando os pedaços de seu vestido sobre seu peito.
Tinha o cabelo solto a ambos os lados do rosto, emaranhado e
encharcado de suor. Seu rosto estava completamente sem cor.
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o fôlego. Sentiu uma mão em seu braço, e ouviu a voz de Magnus junto
a seu rosto.
— Não se mexa. Não posso fazer nada por sua dor, sinto muito.
Só fique quieta e respire lento e profundamente.
E ela fez, porque realmente não tinha outra opção. Não abriu os
olhos, mas disse.
— Lotti. Está bem? Ingunn ia bater nela, e não pude... não
consegui detê-la, não consegui fazer o meu corpo se mover para impedi-
la.
— Eu me encarreguei de Ingunn. Lotti está bem. Está dormindo
agora, a seu lado.
— Obrigada.
— Não ficarão cicatrizes.
Ela abriu os olhos e o olhou fixamente.
— Queria matar a sua irmã, mas não consegui alcançá-la. Vi como
levantava esse látego para bater em Lotti e ouvi sua risada e,
continuando... — Estremeceu com a lembrança desse momento, e
Magnus, sentindo-se furioso, impotente e odiando esses sentimentos,
disse.
— Trate de dormir.
— Tenho muita fome. Esse foi o motivo que desencadeou tudo. Eu
estava muito faminta, simplesmente queria comer um pouco de papa.
— Vou procurar algo. — Ele deixou-a deitada de barriga para
baixo, com o rosto pálido, inclusive o seu cabelo uma vez vermelho
intenso parecia opaco, solto, úmido e emaranhado nas suas costas.
Ele se aproximou da mesa da cozinha, onde estavam os pratos de
madeira, facas, colheres e bandejas. Era consciente do doloroso
silêncio na casa comunitária. Seus homens o olhavam, igualmente às
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se negou a ser uma carga inútil. Ela não podia, não faria. Lentamente
se levantou. Pelo menos, sua barriga estava cheia. Pouco a pouco,
conseguiu abrir a tampa do baú de Magnus. Seus vestidos estavam ali,
onde ele havia dito que estavam guardados.
Lentamente colocou um velho vestido pela cabeça, que estava
gasto e era muito curto para ela agora. Pouco a pouco, se obrigou a
entrar no salão.
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poderia receber o Danegeld pela vida de seu parente. — Ele riu, com
uma risada amarga. — Eu mesmo paguei muito, pela vida de Olav,
asseguro isso. Quase tanto como estava disposto, para pagar o dote de
Zarabeth.
Ouviu sua mãe prender a respiração, e amaldiçoar pela a sua
língua solta, mas sempre tinha sido assim com sua mãe. Falava
livremente com ela, e o costume era muito forte para rompê-la só
porque ele foi enganado.
— Você sabia que tinha planejado se casar com ela, Horkel disse
isso. — Amaldiçoou o seu olhar. — Mas ela me rechaçou. Eu retornei
para procurá-la e descobri que estava prestes a ser executada pelo
assassinato de Olav, seu antigo marido.
— Desejo falar com a mulher. Posso, Magnus?
Ele dirigiu um olhar tão cauteloso que ela o abraçou novamente.
— Isso realmente não pode seguir assim, você sabe. Ingunn está
com ciúmes dela e continuará a estar. Talvez a machuque seriamente.
Eu não confio nela.
— É uma escrava! Não há nenhuma razão para que Ingunn a
odeie.
Helgi, fazendo caso omisso de suas palavras, repetiu o que havia
dito.
— Possivelmente Ingunn poderia machucá-la seriamente. Não
confio nela.
— Ameacei Ingunn, se por acaso se atrevesse a tocar em Zarabeth
ou em Lotti outra vez.
Helgi sorriu por sua simplicidade.
— Sua vida continuará sendo desagradável até que resolva tudo.
Ingunn não aliviará seu ódio contra a mulher. Vou falar com você
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novamente, depois de que seu pai tenha tomado uma decisão. Tome
cuidado, Magnus, e tente ser justo.
Ele assentiu com a cabeça e partiu. Uma hora mais tarde retornou
para sua fazenda. Entrou na casa comunitária e imediatamente se
dirigiu ao seu quarto.
O pequeno quarto estava vazia. Sentiu que retorciam suas
vísceras, se virou e gritou.
— Ingunn! Onde está ela?
Sua irmã estava sorridente, com um sorriso que gelou até os seus
ossos. Por Thor, deveria tê-la levado com ele para casa de sua mãe.
— Onde está, Ingunn?
Ela encolheu os ombros.
— Por que? Insistiu em realizar as tarefas de uma escrava. Eu não
a toquei, não a obriguei nem a ameacei, pergunte a qualquer um.
— Onde está?
Uma vez mais Ingunn encolheu os ombros.
— Está com outros quatro escravos no pântano, extraindo
mineral. Já sabe quanto o necessitamos, do uso que damos,
queimando nos fornos. Rollo se queixou de que necessitava de mais
gente lá também, já que ele está fazendo mais implementos agrícolas
para você. Já sabe como deve esquentar seus fornos para poder fundir
o ferro.
Mal poderia olhá-la. Desenterrar partes de mineral no pântano!
Por Odín, era um trabalho terrível, sujo, exaustivo que requeria uma
grande força e resistência, e ela, uma mulher, estava fazendo? Sua mãe
tinha razão. Ingunn não aliviaria seu ódio ciumento.
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diante dele como uma velha encurvada. — Não sou nada mais que uma
escrava, e os escravos não se permite ser preguiçosos e negligentes.
— Está muito equivocada. Posso fazer o que me agrade com você.
E te sugiro que acredite em mim e a nenhum outro.
Ele a levantou em seus braços, sentiu-a estremecer pela dor nas
costas, mas já não tinha nada que pudesse fazer a respeito,
simplesmente tratou de mudar de posição para que ela se acomodasse
contra seu peito, seu braço ao redor de sua cintura.
— Segure-se em mim.
Ingunn não disse uma palavra quando Magnus entrou na casa
comunitária pedindo panos limpos. Não disse uma palavra quando
mais tarde transportou Zarabeth, limpa da casa de banhos e envolta
em panos brancos, e desapareceu com ela em seu quarto. Sentia raiva
e impotência, e sabia que não havia nada que pudesse fazer para deter
isto, exceto matar à mulher.
Olhou para Cyra calculando e soube que ela também estaria
disposta a lhe cravar uma faca nas costelas.
O que faria?
Então soube. Se sobressaltou por sua decisão, mas estava
decidida a fazer. Não permaneceria aqui. Não ficaria para ver esta
mulher ocupando o seu lugar. E então… sorriu.
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— Não se mova. Não se afaste de mim.
Mas era difícil, não se afastar, não tentar evitá-lo para impedir
que suas mãos estivessem sobre ela. Era gentil, sabia, mas mesmo
assim, a dor era tão grande que a acovardava e a fez mostrar uma
debilidade de espírito como nunca antes tinha manifestado.
Magnus esfregou o creme que sua mãe tinha enviado, dando a
suas costas um tom branco doentio. Ele mesmo a tinha banhado, e
lavou o seu cabelo emaranhado e seus pés enegrecidos pela sujeira.
Ela sofreu sem queixar. Penteou suavemente o seu cabelo,
desembaraçando-o e agitando para que secasse mais rápido. Ele se
levantou e a olhou. Tinha colocado uma manta sobre o seu quadril.
Sussurrou no seu ouvido atrás dela.
— Seu orgulho é ridículo, Zarabeth, se isso te leva a cometer tal
estupidez. Estou cansado de ter que resgatar você das consequências
de sua arrogância.
— Então não faça. — Disse.
Ele sorriu. Sua voz soava desagradável e zangada. Isso o agradou
muito.
— Mas, quem mais resgataria você?
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Não havia nada mais que dizer. Ela se sentia esgotada, vazia de
espírito e luta. Fechou os olhos, pressionando o rosto novamente no
travesseiro.
— Minha mãe te enviou um creme para as costas. Trata-se de sua
própria receita, ela mesmo faz. Usou em mim e nos meus irmãos, por
mais anos do que posso recordar. Alivia, suaviza e tira a dor.
— Como soube sua mãe que era necessário seu creme?
Ficou surpreso, mas só por um momento.
— Porque não tínhamos mais, e foi questão de sorte que um de
seus servos viesse a oferecê-lo. Embora, é obvio, que hesitei em
desperdiçá-lo em uma escrava.
— Tire isso, então, não me importo. Nunca pedi um remédio ou
nenhuma outra coisa.
— Não, não fez, certo? — Ele se inclinou de repente e tirou a
manta dos seus quadris baixando até os tornozelos.
Ela gritou e tentou puxá-la para cima. Ele a segurou com a mão
espalmada sobre sua cintura.
— Eu quero vê-la. Não posso te tomar agora, isso seria cruel e não
desfrutaria muito te ouvindo gemer, gritar e reclamar que estou te
matando.
Magnus sabia que tinha que parar com isso. Tinha ferido o seu
orgulho, mas ele estava machucado, e ela estava indefesa. Era tão
violento como Ingunn. Olhou suas nádegas brancas, suaves e
redondas, e pôde sentir em suas mãos, suas longas pernas, bem
formadas, elegantes e musculosas, e podia vê-la deitada, envolvendo-o
com elas enquanto se enterrava em seu interior, atraindo-o mais
profundo, e a ouviria gemer e nunca quereria deixá-la, nunca, nunca...
Subiu a manta até a cintura novamente. Tremiam suas mãos.
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— Zarabeth! Pare!
Ouviu-o amaldiçoar nas suas costas. Mas não prestou atenção.
Amaldiçoou em voz mais alta, agora mais rudemente. Ela desprezou
suas maldições e tudo o que era parte dele, parte desta terra estranha,
destas pessoas estranhas. Toda a sua atenção estava no íngreme atalho
estreito na frente dela, no final da pequena doca onde um barco estava
amarrado. Nunca antes tinha remado, nem navegado um barco, mas
simplesmente não pensaria nisso, conseguiria. Não tinha nenhuma
dúvida.
— Zarabeth! Aonde vai? Detenha-se, agora!
Começou a correr, tropeçando e se curvando a toda velocidade
pelo caminho, quando sentiu sua voz mais perto, mas manteve o
equilíbrio apertando Lotti firmemente contra seu corpo, segurando o
rostinho da menina sobre seu ombro, para impedir que caísse. Não
olhava o caminho que continuava mais à frente, a não ser diretamente
ao barco. Já estava quase ali, tinha sido tão fácil.
— Você vai cair! Vai machucar Lotti! Pare!
— Machucar a Lotti! Seu filho tinha tentado matá-la! — Ela iria
machucá-la? Sua irmã, a única pessoa no mundo que a amava a
aceitava e acreditava nela. Afastou suas palavras, porque a distraíam.
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Não tinham sentido agora. Ficariam para trás, longe dela, não a
deteriam. Tudo o que podia ver era esse barco. A única coisa que sentia
era que queimava a necessidade de ser livre. Ouviu-o atrás neste
momento. Correu mais rápido. As pedras cravavam nos seus pés, mas
a dor não era nada. Sentiu uma pontada no flanco, mas não se deteve.
Sorriu tristemente e manteve Lotti apertada.
Ela se via sozinha nesse barco.
Correu para as docas estreita, agarrando a corda presa ao poste
de madeira sem diminuir a velocidade, e saltou no barco. Balançou
violentamente, mas não prestou atenção. O barco não tombaria.
Deixou a Lotti sobre o piso sem dizer nada, porque não havia tempo, e
rapidamente se acomodou, agarrou o longo remo, e começou a remar.
Magnus correu a toda velocidade para as docas, com a boca cheia
de maldições e a alma cheia de medo. Zarabeth estava a dez metros de
distância dele. Ele viu que o sol estava totalmente em seu rosto, seus
movimentos torpes com os remos, mas ainda avançava, porque a
corrente era rápida. Cada segundo se afastava mais dele.
Sentiu que algo dentro dele se rompia de repente, e de repente
estava louco, fora de controle, além de si mesmo. Ficou frenético e
gritou.
— Não!
Deu um poderoso salto e se lançou na água. O choque com a água
fria o congelou por um momento, paralisando-o, mas se limitou a
esperar até que seu corpo se adaptasse à temperatura gélida da água,
depois chutou para cima. Sua cabeça se esclareceu e começou a nadar
atrás do barco. A corrente formava redemoinhos, perigosos, mas ele era
forte e estava decidido, mais decidido do que jamais estivera em sua
vida.
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água era pouco profunda, mais superficial do que tinha imaginado, não
mais de dois metros e meio de profundidade. Deu um chute para se
livrar delas, apenas para entrar em outro denso matagal de juncos, que
o agarravam hermeticamente, e que sabia que não seria tão fácil
escapar.
Fechou os olhos um momento, lançou as maldições favoritas de
seu pai, e tirou a faca de seu cinturão. Respirou profundamente e
mergulhou para afrouxar e cortar, os juncos que o seguravam,
metodicamente, começou a se liberar delas, mas à medida que uma
soltava, outra substituía, e se perguntou então se morreria afogado.
Cortou grosseiramente uma boa dúzia de juncos, suficiente desta
vez para se liberar, e nadou para a superfície. Aspirou o ar e olhou o
barco, ainda quinze metros distante dele. Para seu horror, viu que Lotti
cambaleava, e gritava, agitando seus pequenos braços para ele. Sentiu
um profundo temor.
Tinha medo por ele.
Soube então, nesse instante, o que a menina pretendia, e gritou
tão forte como pôde.
— Não, Lotti! Fique aí! Zarabeth, segure-a!
Mas já era muito tarde. A menina gritou forte.
— Papai! Papai! — E se lançou na água, agitando seus braços para
ele.
Magnus estava cansado, com os braços intumescidos e pesados,
mas vendo Lotti saltar na água para salvá-lo, enlouqueceu. Nadou mais
rápido do que tinha nadado em sua vida. Vagamente ouviu que
Zarabeth chamava e gritava, a viu manobrar o pequeno barco, em pé,
tentando encontrar Lotti.
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inclusive com o sol caindo como chumbo sobre eles, porque tinham
falhado.
Zarabeth se agitou contra seu ombro. Abraçou-a com mais força,
pensando que teria problemas quando percebesse, quem a estava
carregando. Mas não resistiu. Sabia que estava acordada, mas não se
moveu.
— Sinto muito por ter golpeado você. — Disse, com os olhos no
caminho.
Sua voz era um fio fino de som.
— Lotti?
Sua garganta estava entupida pelas lágrimas. Só pôde mover a
cabeça.
Ela golpeou-o para tentar se liberar. Se retorceu e lutou com ele
até que parou e a deixou no chão, segurando seus braços com suas
mãos. Sacudiu-a.
— Basta! Não podíamos fazer mais nada. Entende-me, Zarabeth?
Não pudemos fazer outra coisa!
— Não! Está mentindo! Por favor, Magnus, por favor! Deixe ir.
Devo encontrá-la, pode estar ferida, machucada...
Estava chorando, as lágrimas corriam por seu rosto, e começou a
tremer e se arranhar desesperadamente, até que ele novamente
golpeou sua mandíbula e ela caiu para frente contra seu peito.
— Tinha que fazer, Magnus. — Disse Horkel. — Quer que a leve
agora?
Magnus se limitou a negar com a cabeça e a levantou novamente
em seus braços.
— Fez tudo o que podia. Todos nós o fizemos. Uma vez que
percebemos o que tinha acontecido, nos jogamos na água para
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mão na bochecha, mas não sentiu nenhuma culpa por isso. Ignorou-a
por completo.
O dia deu lugar à noite. Ele não era capaz de se animar. Todos
seus habitantes se dispersaram em pequenos grupos, falando em voz
baixa. Os meninos estavam estranhamente silenciosos. Inclusive os
animais se mantiveram quietos.
Magnus foi para o seu quarto e em silêncio se deitou na cama.
Zarabeth parecia estar dormindo. Suspirou profundamente, tirou as
roupas e aliviado se deitou a seu lado. Foi então, quando soube que
estava acordada. Decidiu não dizer nada. Deitado em silêncio. Ele sabia
que não podia suportar aproximar-se dela novamente, à força, sem
reconhecer que sua própria dor estava fazendo uma reverência, porque
em sua mente não deveria ter nenhuma dor.
Lotti não deveria ter significado nada para ele. Era, depois de
tudo, um viking, um homem sem consciência, um homem sem nenhum
escrúpulo em matar, um homem que não se preocupava com outra
pessoa, exceto os membros de sua família. Ela o odiava. Lotti estaria
viva se não fosse por ele.
Se não fosse por ele, Lotti estaria com Keith e Toki em York. Se
não fosse por ele, o rei Guthrum a teria mandado matar.
Fechou os olhos. Não podia pensar, tudo nublava seu raciocínio,
muita dor e a incerteza de não encontrar respostas dentro de si mesma.
Queria ficar adormecida e nunca mais despertar. Lotti estava morta. A
razão de sua existência, foi embora.
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Zarabeth já não pensava, golpeou seus braços, seu peito, lutou
com todas suas forças, afundou os calcanhares nus na terra batida,
mas não serviu de nada. Nem sequer diminuiu a velocidade. Ele tinha
o dobro de sua força e estava decidido. Por que, não sabia. Ela
simplesmente resistia. Parecia que estava preste a desprender o seu
braço de sua articulação, mas não emitiu uma só palavra, só lutou e
lutou contra ele. Magnus já estava longe de casa comunitária, gritou.
— Rollo! Rollo!
Ele iria matá-la, sabia. Tinha ido à ferraria para procurar uma
arma para matá-la. Finalmente ia morrer aqui, nesta terra estranha,
nas mãos de um homem, que uma vez tinha jurado amá-la, um homem
que um dia tinha desejado que fosse sua esposa.
De repente Zarabeth percebeu que não queria morrer. Embora
Lotti estivesse morta, a única pessoa em sua vida que realmente a tinha
necessitado, que dependia dela, e a tinha amado sem reservas, apesar
disso Zarabeth, percebeu de que não queria morrer também. Não
queria se converter em cinzas, não queria perder o que era, ainda não,
e então gritou, o pânico a fez dizer com voz trêmula.
— Não, Magnus, não me mate! Não vou deixar que me mate! Eu
não quero morrer agora!
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que estava morto. Não sabia onde estava, isso era tudo. Por que tinha
desaparecido? Tinha fugido porque temia ser acusado da morte de
Lotti? Onde poderia estar? As possibilidades o torturavam, porque
havia animais que podiam matar a um menino pequeno, animais que
levariam o seu corpo longe para comer. E havia homens, bandidos, que
torturariam a um menino, e talvez pediriam resgate por ele, e então
poderia ser... Mas eram hipóteses e Magnus sabia que deveria parar.
Soltou a sua esposa.
— Estamos juntos agora, como deveria ter sido desde o começo.
O que aconteceu não pode ser mudado. Devemos enfrentar o que for e
suportar.
— É difícil, Magnus.
— Sim, sei. — Ele tocou suas bochechas, agora seca, logo deslizou
seus dedos sobre suas sobrancelhas e suas pálpebras.
— Não conseguia parar de chorar.
Os homens os rodearam, e entraram na casa comunitária para
comer, outros simplesmente caíram em um sono exaustivo.
— Agora que estou de volta, vou abraçar você quando chorar.
Mas, quem vai te abraçar? Perguntou a si mesma, se ninguém te
vê chorar.
A família de Magnus permaneceu mais dois dias, os homens
foram em busca de Egill durante horas. Ninguém disse nada a respeito
de renunciar à busca, mas não havia nem rastro do moço. Era como se
tivesse desaparecido.
Dentro da casa comunitária, Helgi ensinava a Zarabeth as tarefas
da casa que não tinha tido nenhuma oportunidade de aprender em
York. Helgi era brusca, sempre, em realidade, mas nunca injusta ou
impaciente.
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havia dito Zarabeth, nada poderia mudar o que tinha acontecido. Mas
aceitar era muito duro, tanto Lotti como o seu filho estavam mortos.
Mortos e longe dele. Não podia aceitar. Zarabeth se moveu, gemendo
brandamente, e a abraçou e a beijou na têmpora. Sua esposa.
Na manhã do terceiro dia, seus pais arrumaram os seus baús e
se prepararam para partir.
— Ensinei muitas coisas para Zarabeth. — Disse Helgi a seu filho.
— É uma moça brilhante e disposta. Escolheste bem, Magnus. — Parou
um momento, acariciando a túnica branca e suave de seu filho. — Mas
sofre muito. Tenta ocultar isso, mas é difícil para ela. Vejo às vezes e
posso dizer que ela sumiu, se enterrou dentro de si mesma, onde a dor
diminui. Quanto a você, Magnus, não é tão difícil para você ocultar o
que sente, mas a sua dor é tão profunda como a dela. Está mais
retraído ainda. Os dois juntos podem curar um ao outro, se quiserem,
mas ambos devem permitir isso. Não acredito no que você disse, que
está preocupado com ela?
Negou com a cabeça.
— Não estou preocupado com ela. — Disse, e sua voz era firme e
forte e a mentira era tão evidente que sua mãe teve que abaixar a
cabeça para ocultar seu sorriso incrédulo. — É verdade. Não tive outra
opção. Sou responsável por tudo o que aconteceu. Era meu dever
solucionar sua situação. Não podia permitir que a irmã de Lotti
continuasse sendo uma escrava.
Helgi continuou como se não tivesse falado.
— Zarabeth também é uma moça que não sabe muito de afetos,
pelo menos desde que sua mãe morreu. Portanto, dedicou todo seu
amor para a menina. Se deixasse, ela poderia dar todo esse amor a
você. Imagina um amor semelhante?
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— Ela tem que dar o seu amor, e o fará. É minha esposa. Me deve
sua lealdade. Se comprometeu a fazer isso e vou lembrá-la.
— Sempre foi um menino teimoso. — Ela comentou com certa
diversão. — Mas, meu filho, tem que enfrentar os fatos. Não mantenha
os olhos fechados durante um tempo muito longo, Magnus.
Helgi o beijou, encontrou Zarabeth no final do salão, e a abraçou
com força, dizendo.
— Não esqueça que a tintura com algas é muito desagradável em
seu processo e em seu aroma. Mas uma vez que tenha lavado o tecido
duas vezes, não esqueça, Zarabeth, duas vezes, a linda cor azul
aparecerá e pensará que valeu a pena. É, também, uma cor muito
bonita para Magnus. Combina com o azul intenso de seus olhos.
— Duas vezes. — Disse Zarabeth, e sorriu para sua sogra.
Helgi piscou. Era a primeira vez que tinha visto em Zarabeth, um
vislumbre de um sorriso. Transformou seu rosto de uma maneira
formidável. Ela fez uma breve oração em silêncio e se voltou para o seu
marido.
Ingunn foi embora com seus pais. Antes de ir, disse para
Zarabeth.
— Vou encontrar uma maneira, cadela. Oh, sim, vou encontrar
uma maneira.
Zarabeth a olhou, mas não disse nada. Ingunn iria embora. Não
ia ter que lidar com ela novamente.
Apesar de que a metade de cem pessoas que viviam e trabalhavam
na fazenda Malek, sem os pais e os irmãos do Magnus e seus servos,
tudo parecia tranquilo, muito tranquilo. Zarabeth se encontrou indo
cada manhã, depois que Magnus e seus homens tinham saído para
caçar, ao lugar sagrado. Era um templo situado no interior de uma
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Zarabeth se virou quando sentiu a presença dele atrás. Sem
pensar, quase inconscientemente, ela sorriu.
Magnus parou de repente. Seu sorriso esquentou o seu coração,
e se encontrou sorrindo em resposta. Então, enquanto continuava
olhando-a, sentiu o momento em que ela percebeu de que estava
sorrindo, e se sentiu mal porque Lotti e Egill estavam mortos, e o
sorriso se desvaneceu, retornando a essa infeliz inexpressividade em
seu rosto.
Ele sacudiu a cabeça e se aproximou, onde mexia a papa na
enorme panela de ferro. Se agachou, levantou a grossa trança de seu
pescoço, e a beijou. Sua pele estava úmida pelo calor do fogo e doce
com o aroma que era somente dela. O colar de escrava já não estava
ali. Sua pele era suave e lisa outra vez.
Ela tentou se afastar, porque havia muitas pessoas na casa
comunitária, e odiava pensar que estavam olhando quando Magnus a
beijava. Tampouco queria que a tocasse. Quis voltar a se esconder atrás
da máscara de frieza, com a qual tinha conseguido mantê-lo afastado.
— Não se mova. — Disse contra sua garganta, e a beijou
novamente, sua boca firme e suave.
Deixou de mexer sua mão soltou a colher de cabo longo.
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nada durante um longo momento, não até que seu coração desacelerou
e soube que tinha outra vez o controle.
— Se chorar, é por que certamente te venci.
Ela tinha colocado o punho na boca. Se virou de lado, se
afastando.
Ele sabia que estava chorando, podia sentir seu tremor, mas
também sabia que estava tentando fazer silêncio, e, portanto, ignorou.
— Tomá-la-ei todas as noites, Zarabeth, cada noite, até que volte
para mim. Não vou aceitar isso. Deverá me aceitar outra vez.
Ela sentiu a umidade dele em suas coxas. Isso alimentou a dor
que sentia por dentro, e deu mais uma razão para permanecer imersa
dentro de seu próprio vazio.
Magnus dormiu por fim. Quando chegaram os sonhos, foram
brilhantes, vivos e cheios de um feroz sentido de realismo. Viu seu filho,
em realidade viu Egill, o menino estava esfarrapado e sujo, mas estava
vivo. Viu que um homem o golpeava e sentiu o golpe, quando atingiu
no ombro do menino. Lançou um grito de raiva.
— Magnus, acorde! Acorde, você teve um pesadelo!
Estava tremendo, sua pele úmida e fria. Se ergueu. Sacudiu a
cabeça para esclarecer suas ideias. Sussurrou, enquanto agarrava os
braços de Zarabeth.
— Eu o vi, vi Egill, ele está vivo, estou seguro disso. Vi um homem
que o golpeava. Por Deus, vi-o, Zarabeth, foi muito claro e real.
Zarabeth observou suas feições na tênue luz do amanhecer. Um
sonho, e ele acreditava que era verdade? Tinha ouvido falar de tais
coisas. Os videntes tinham visões. Estava tremendo, e ela se aproximou
mais estreitamente contra ele, lhe dando todo o consolo que podia, sem
pensar, sem especular. Só reconhecia que ele a necessitava.
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— Sim, diga que vá, senhora, porque só fica por você, teme que
fuja. Ele pode trazer na volta ouro e prata e, Rollo pode fundi-lo para
te fazer todas as joias que possa desejar. Não é isso o que você quer?
Por Odin, me responda! Todos sabemos que não lhe dá nada!
Zarabeth levantou os olhos cansados para o homem ao que ainda
tinha aversão dela, simplesmente porque o tinha superado em astúcia.
— Não quero nada, Ragnar.
— Certamente que não quer Magnus. Sim, ouvi seu grito de
liberação, ontem à noite, porque eu ainda estava acordado aqui,
pensando, mas não ouvi nada de você, senhora, nem um som, nem
sequer o mais leve gemido, e antes... Ah, antes, a primeira vez que a
tomou, todos nós escutamos seus gritos, seus gemidos, uma grande
atuação para atrai-lo, tudo uma mentira, porque você é fria, uma
assassina que não sente nada por ele. Usou-o, me usou, e me fez de
tolo que era, igual a ele.
De repente Magnus estava ali, agarrando o ombro de Ragnar,
apertando mais e mais forte até que o homem gritou pela feroz dor.
— Como se atreve? — Disse Magnus, colocando Ragnar a poucos
centímetros de seu rosto. — Ela é minha esposa e se atreve a insultá-
la como se fosse uma escrava comum?
— Ela é uma assassina, e era uma escrava comum até que
escravizou você!
Magnus o golpeou, e Ragnar desabou como uma pedra.
Os outros homens estiveram de pé em um instante, agrupando-
se ao redor, falando todos de uma vez. Magnus ficou ao lado de Ragnar,
pensando enquanto esfregava os nódulos. Era meu amigo, apesar de
seus arrebatamentos e suas estupidezes, mas agora... Negou com a
cabeça. Agora não havia nada além de lutar. Nada fazia sentido. Nada.
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Magnus e três de seus homens partiram quatro dias depois para
a reunião do conselho, que se realizaria perto de Kaupang, no vale
pertencente ao rei Harald. Não foram no Vento do mar, já que estavam
substituindo os remos que se perderam e efetuando reparações.
Zarabeth o viu montar seu cavalo, Thorgell, uma enorme besta
criada pelo pai de Magnus. O escravo que segurava as rédeas,
subitamente as deixou cair, quando Magnus apareceu e Thorgell saltou
para o lado, depois se levantou sobre suas patas traseiras. Magnus riu
e deu uma tapinha no pescoço da grande besta, montou e apertou as
coxas ao redor do ventre do cavalo. Ele estava bonito com sua longa
túnica de lã lavanda sobre as calças marrom escura. As botas de couro
marrom chegavam aos joelhos. Um largo cinturão tachonado de prata
e ouro se ajustava ao redor de sua cintura. Seu cabelo loiro brilhava ao
sol da manhã, e nessa luz brilhante suas feições pareciam tão puras,
que para Zarabeth doía olhá-lo.
Ela se virou, cansada, triste e sozinha, por ser estúpida, porque
tinha querido que ele fosse embora, acima de tudo para ficar com sua
dor e seu vazio.
Ele gritou o seu nome. Se virou, e o viu cavalgar até ela. No
momento seguinte, ele se inclinou, levantou-a e a sentou na sela diante
dele. Thorgell dançou para o lado, e Magnus apenas riu. Beijou-a com
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nessa menina até vê-la chorar aos meus pés! Ah, Zarabeth, então não
ouviu e nem viu nada sobre ela?
Zarabeth negou com a cabeça.
— Sinto muito, Helgi. Toma, bebe um pouco de cerveja, está recém
feita e fresca.
Zarabeth viu que Helgi olhava de esguelha para a sua irmã, uma
vez mais, logo desviou sua atenção.
— Quer permanecer aqui, Helgi? Podemos enviar uma mensagem
a seu marido e a Magnus. Ele me disse que não ficava mais que um dia
de distância.
— É uma boa moça, Zarabeth. — Helgi suspirou, com a fúria
marcada em seu rosto. — Não, vou voltar para casa. Talvez essa menina
estúpida tenha retornado, embora duvide. Suponho que o que foi feito,
feito está. — Se levantou, suspirando profundamente. Como se algo
tivesse passado pela sua mente, sorriu e disse. — Você está bem,
Zarabeth?
Zarabeth assentiu com a cabeça, rígida e desconfortável,
esperando as palavras que estavam por vir, e então Helgi disse, com
voz fria e sem emoção.
— O tempo diminuirá a dor, vai ver.
Zarabeth olhou à anciã e viu os olhos celestes de Magnus e disse
o que sentia em seu coração.
— Não, não acredito que vai. Há muita dor, e eu não sou o
suficientemente forte para deixar que diminua.
Helgi reconheceu sua sinceridade.
— Foram mudanças muito grandes para você em um tempo muito
curto, muita dor, muita incerteza. Não tem nada a ver com sua força
ou sua debilidade, Zarabeth. Mas te digo isto, filha, levará dor e pesar
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Certamente não havia nenhuma razão para ter medo, pelo menos não
ainda.
— Quem é você?
Ele sorriu, deixando à mostra alguns dentes muito brancos. Era
um homem bonito, pensou sem emoção, ainda olhando sua espada. Se
perguntou se as pessoas no posto ao lado da paliçada, podiam vê-los,
e se for assim, o que fariam.
— Esperei por você, e a espera já se tornou tediosa. Teria atacado
Malek antes, mas realmente não quis. Só queria você, e agora parece
que os deuses a entregaram para mim. Duvidei dos meus próprios
olhos quando te vi sair da segurança da paliçada.
— Duvido que os deuses vikings, tenham algo ver com que eu
esteja aqui. Quem é você? Por que me quer?
— Não gosto que a língua de uma mulher seja tão estridente, nem
gosto das perguntas exigentes. — Deu um passo até ela, e Zarabeth
deu um passo atrás. Olhou à distância do portão da paliçada, se
perguntando se poderia escapar.
Ele disse.
— Não pode. Não é mais que uma mulher, por isso nunca poderia
vencer na corrida. Agora, gostaria de ver você mais de perto. Não vou
machucá-la. Não se mexa.
Ele se aproximou com a espada ainda em sua mão direita. Parou
na frente dela e, para sua surpresa, levantou sua longa trança na mão,
puxando-a para frente. Com movimentos rápidos, quase com raiva,
largou-a.
Passou os seus dedos pelo cabelo, logo envolveu a grossa trança
ao redor de sua mão e a esfregou contra sua bochecha.
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Ele assentiu com a cabeça, sorrindo como se fosse seu amigo, não
um homem de pé frente a ela com uma espada na mão.
— Tem razão, é obvio. Há pouco para mim aqui e agora. — Parecia
desconcertado. — Que estranho que uma das fêmeas Ingolfsson tenha
sobrevivido e agora esteja contando sobre minha violação? Eu tinha
pensado que estava bem morta como todo o resto do clã. Havia muito
ouro e prata ali, o homem que me disse isso, tinha razão. Tenho mais
que suficiente agora. — Ele olhou para a forte paliçada que protegia a
fazenda de Magnus. Logo olhou para Viksfjord, às montanhas mais à
frente.
— Mas esta é minha casa e me dói ser forçado a me afastar. Sim,
agora tenho a riqueza, mas não a terra.
— Ninguém te obrigou a matar, roubar e violar.
Olhou-a então, já sem sorriso em seu rosto.
— Não falo de meus atos com mulheres. Você não tem nem ideia
do que os impulsos podem levar um homem a fazer.
— Conheço o Magnus, e ele é mais homem que qualquer um que
conheci.
No momento em que as palavras saíram de sua boca, ficou imóvel,
pela a compreensão de seu significado, esquentou seu interior. Magnus
era amável e muito leal e realmente queria que se convertesse em sua
esposa. Tinha amado a Lotti e chorado a morte da menina. E tinha
perdido a seu próprio filho no mesmo dia... Ela se sentia pequena e
mesquinha. Não tinha dado nenhum consolo a ele, não tinha
proporcionado nenhuma atenção. Se afundou na autopiedade, e em
sua dor, fazendo caso omisso da dor de Magnus, egoistamente o tinha
afastado dela. Fechou os olhos um momento, desejando poder desfazer
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tudo o que tinha feito, tudo o que havia dito e pensado, agora entendia.
Oh, sim, entendia que mentiu para ela e para ele.
— Acaso Magnus tomou sua virgindade?
Se inclinou para trás, com os olhos ainda nublados por seus
pensamentos, e logo suas palavras saíram limpas, levantou a vista até
o sinuoso caminho, e se viu correndo e correndo. Mas também viu sua
captura. O que aconteceria então? Não viu isso.
— Me responda, mulher! Foi Magnus quem tomou sua virgindade,
ou outro homem com quem esteve casada primeiro?
— Foi Magnus.
— Ingunn insultou você, chamou de rameira e vadia, mas
duvidava. Ela sempre insulta dessa maneira, inclusive quando grita
por causa do prazer que eu dou a ela. É estranho, mas não encontro
sentido nas suas atitudes. — Parou e olhou para cima, para a paliçada.
— Tem razão. Logo alguém perceberá de que saiu e talvez me veja aqui
falando contigo. Vamos agora, Zarabeth.
Ela se virou e correu.
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Zarabeth sentiu uma bofetada na bochecha, e logo um pouco de
água fria no rosto. Protestou pelo tratamento e abriu os olhos.
Ingunn estava ajoelhada a seu lado, com uma taça de madeira
vazia em suas mãos.
— Pelo visto, não está morta. Orm estava preocupado por ter
golpeado muito forte. Mas eu disse que te faria despertar muito rápido.
Zarabeth não disse nada. Ingunn se sentou sobre aos seus
calcanhares, com os olhos entrecerrados logo que Orm se aproximou
delas. Ele se inclinou e segurou o rosto de Zarabeth entre suas mãos,
estudando o hematoma em seu queixo. Seu toque era suave enquanto
acariciava seu rosto, agora de cor amarela.
— Eu não tinha intenção de te golpear muito duro. Você esteve
inconsciente durante muito tempo. — Então ele sorriu. — Não deve
lutar comigo novamente, não é? — Uma vez mais ele tocou o seu
queixo. Não teve nenhum cuidado desta vez.
A dor repercutiu em seu rosto, mas ela não fez o menor gesto.
Olhou ao homem que a tinha raptado de Malek.
— Onde estamos?
Sorriu amplamente, mas não era um sorriso agradável. Ela se
preparou para outro golpe, mas não a tocou.
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que tinha tido com ele, antes que fosse raptar a Zarabeth. Então disse
com voz trêmula.
— Talvez eu seja uma parva. — No instante em que as palavras
saíram de sua boca, se odiou por ter dito.
— O que quer dizer?
— Eu vim até você, porque acreditava que me amava. Deixei a
fazenda de meus pais para me unir a você.
— E agora você mudou a forma de pensar? É tola, Ingunn. Vai ser
minha esposa, não duvide.
Então, disse.
— O que vai fazer com ela?
— Ainda tenho que decidir.
Ingunn não disse mais nada. Observou Zarabeth, esse cabelo
vermelho selvagem solto por suas costas, e sentiu um rancor familiar
em sua barriga. Ainda teria sua vingança. Orm era um homem, e não
devia esquecer as debilidades de um homem. Magnus tinha sucumbido
a esta mulher e substituído a sua própria irmã, muito rapidamente por
ela.
Orm estava falando novamente, mas para Zarabeth.
— Sua mandíbula ainda dói?
— Não.
— Excelente. Parece uma mulher forte, e isso me agrada. Agora,
me diga, o que imagina, que Magnus vai fazer quando retornar para
Malek e sentir sua falta?
— Virá atrás de você e matá-lo.
Ingunn riu de suas palavras.
— Ah! Todos dirão que você fugiu dele, ou que saltou do Viksfjord
como essa idiota de sua irmãzinha.
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— Por que tentou escapar, Zarabeth? Disse que você não deveria
fazer isso. Agora não tenho mais escolha. Terei que te castigar.
Ela levantou a cabeça então. Seu rosto estava tão tranquilo como
sua voz, mas seus olhos se obscureceram. Ficou ali, sem dizer nada.
— Me responda, Zarabeth.
— Quero ir para casa. Quero voltar para o Magnus.
Ele começou a rir.
— Quando chegarmos em York conseguirei outro colar de escrava
para colocar no seu pescoço branco. Venha aqui.
Ele a levou de volta para o acampamento. Os braços que a
rodeavam eram suaves. Não disse nada. Tinha medo de enfrentá-lo, de
ver a loucura em seus olhos.
Um fogo ardia lentamente. O aroma do faisão assado perfumava
o ambiente. Kol estava sentado em um tronco, sustentando sua cabeça
entre as mãos. Olhou-a e ela soube com certeza que a mataria se tivesse
a oportunidade.
Ingunn estava pálida de ira. A outra mulher, Zarabeth percebeu
agora, tinha sido golpeada. Se inclinou, com os olhos vermelhos pelo
pranto, pela dor.
— Você a encontrou. — Disse Ingunn, sua voz seca.
— Sim, certamente. Ela é uma mulher e estava a pé. Como quer
que a castigue, Ingunn? Uma escrava que tentava escapar. É um delito
grave.
— Faça-a trabalhar até que caia.
— Isso não é suficiente. — Disse Orm. — Olhe ao pobre Kol. Ela o
derrubou, e sua cabeça o atormentará de dor nos próximos dias. É
mais, o castigo deve ser algo que não esqueça logo.
— Açoita-a, então, não me importa.
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Zarabeth odiava a tênue penumbra. A meia noite se aproximava,
e, entretanto, essa estranha luz criava sombras fantasmagóricas na
escuridão no lugar. Sabia que na escuridão ou a plena luz, Orm viria
logo e a violaria. Ele tinha estado olhando-a, sem dizer nada,
simplesmente sentado com as pernas cruzadas junto ao fogo,
observando-a. Ingunn tinha visto. Quanto a Kol, tinha vomitado antes,
e agora estava dormido. Bein arrastou à outra mulher para os matagais
e a tinha tomado entre as árvores.
Quando voltaram, Bein a empurrou ao chão e jogou uma manta
em cima dela.
Zarabeth se perguntou se a mulher estaria bem. Nunca disse uma
palavra, nunca se certificava da presença de outra pessoa,
simplesmente fazia o que ordenavam, com a cabeça encurvada, os
ombros caídos. Não tinha um só dente e o lábio superior flácido,
fazendo-a parecer mais velha do que provavelmente era. Não tinha nem
ideia de onde tinha sido capturada. Seu vestido parecia farrapos,
andava com os pés nus, e o cabelo enredado e emaranhado. Zarabeth
queria aproximar-se dela, mas para sua surpresa, alguns minutos mais
tarde, a mulher estava profundamente adormecida, roncando. Ela se
sentou com as costas apoiada em um pinheiro. Esperou. Orm tinha-
lhe dado de comer, mas não o suficiente, e ele sabia que não tinha sido
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suficiente. Estava jogando com ela. Seu estômago rugiu pela fome.
Tinha que fazer suas necessidades, e finalmente, em seu desespero,
disse em voz baixa.
— Ingunn, preciso ir ao bosque um momento.
Ingunn afastou o olhar dela. Orm disse.
— Eu te levarei, Zarabeth.
— Não, deixe! Eu vou com ela!
Orm sorriu.
— Se ela quiser, pode te matar, então só terá que lutar comigo. É
isso o que quer Ingunn?
— Quero que deixemos este lugar. Quero ir para Danelaw, que
compre escravos e terras e construa uma fazenda que supere a de meu
pai. Quero que nos casemos, Orm.
— Tudo isso? Deve saber que eu já estive em Danelaw e comprei
boas terras de cultivo perto do rio Thurlow.
Ingunn estava obviamente surpresa.
— Você já navegou para Danelaw?
Bein disse.
— Sim, e negociamos peles e couros e algumas presas de morsa.
Inclusive vendemos alguns escravos e…
— Basta, Bein. Agora, Ingunn, quando chegarmos a Danelaw,
vamos comprar mais escravos. Já temos duas, e ambas estão muito
bem, não acha?
— Leve aquela mulher e entregue a seus homens para saciar sua
luxúria, mas deixa Zarabeth aqui. Deixa que se vá. Que sobreviva ou
que morra. Não importa o que acontecer ela agora. Vamos, Orm, e
sejamos livres desta terra e de meu pai.
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— Vou deixar para o meu pai. Será ele quem decide o que vai fazer
com ela.
Ragnar o olhou, e disse com voz firme e forte.
— Eu a tomarei, Magnus, se seu pai estiver de acordo. Vou
castigá-la se necessário, não duvide, se ela se comportar
grosseiramente, poderei controlá-la.
Magnus sorriu a seu amigo.
— Acredito que você perdeu o juízo, Ragnar.
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atraiu-a contra ele, esfregando seu peito contra seus seios, gemendo
como um animal ferido.
Soltou-a um momento para desatar suas calças e as correias de
pele suave de suas botas.
Zarabeth saltou para a espada. Tinha-a em suas mãos e estava
tentando ainda tirar de sua bainha, quando ele ficou atrás dela, com
as mãos ao redor de seu cabelo, e puxando inexoravelmente para trás
a cabeça, fazendo-a chorar pela dor e o sabor amargo do fracasso.
Tomou a espada de sua mão e a jogou a alguns metros de
distância. Estava nu, agora, e prontamente se localizou entre suas
pernas, sorrindo com os olhos cheios de triunfo.
Ele a levantou para se posicionar. Ela se impulsionou para cima,
golpeando seu rosto com os punhos. Cravando suas unhas nas
bochechas, sentindo a carne rasgando-se ante o feroz ataque, percebeu
que seu sangue corria pelos dedos. Orm rugiu de ira e dor. Pôs as mãos
ao redor de sua garganta e seus dedos apertaram mais e mais, até que
a dor no peito, foi tão intenso, que soube que ia morrer. Ele a
amaldiçoava e não havia só loucura em seu olhar, a loucura o possuía
completamente.
De repente, suas mãos soltaram a sua garganta e o ar encheu os
seus pulmões novamente. Tossiu freneticamente, aspirando com
entusiasmo.
— Depressa, Zarabeth!
Era Ingunn. Estava parada sobre Orm inconsciente, com a espada
na mão. Ela tinha o golpeado com força na cabeça com o cabo da
espada.
— Está morto? — Sua voz soou como um estranho grasnido, e a
dor a fez tremer.
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Era quase o amanhecer, o céu estava tingido de cor rosa suave
com matizes cinza pálido. O ar estava frio e calmo, as criaturas do
bosque estavam em silêncio. Zarabeth estava deitada contra Magnus,
com a cabeça em seu ombro, escutando sua respiração, com a palma
de sua mão sobre seu peito, sentindo o batimento compassado de seu
coração. Em um dia e meio estariam de retorno em Malek.
De volta para sua casa.
Ela se aconchegou mais perto e o braço dele apertou ao redor de
suas costas, um gesto inconsciente para mantê-la segura e protegida.
Ele tinha vindo por ela. Não tinha perdido tempo, nem sequer tinha
considerado a possibilidade de que tivesse fugido dele ou pulado de um
escarpado. Ela lentamente acariciou o seu braço e depois olhou no seu
rosto. Ele tinha um leve sorriso nos lábios, estava segura disso, e sem
pensar se inclinou e o beijou suavemente na boca, então o beijou
novamente, e uma vez mais.
Ele abriu os olhos lentamente, apesar de que sabia que despertou
em seu primeiro contato, porque o conhecia o suficiente.
— É cedo, Zarabeth. Preciso descansar. Cheguei até o limite de
minhas forças te perseguindo até o limite da terra. Entretanto, não
quero te desencorajar. Pode me beijar outra vez.
Mordiscando os lábios e entre doces beijos, ela disse.
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— Não entende como pode querer cuidar de você, mas não vou
duvidar de sua palavra. Acredito que demonstra falta de bom senso,
mas é sua paciência e que vai ser provada se a tomar, não a minha,
graças a Odin. Quanto a nossa família, não posso imaginar a um só
homem sobre a terra que não deseje se aliar a nós.
— Não o quero! Pai não vai permitir que me tome. Não pode, não
é como nós.
— Fará tudo o que merece esta ocasião, porque você magoou
gravemente a nossa família. Vou encorajar a nosso pai para que a
entregue a Ragnar. Eu não te dei nenhuma instrução em absoluto, fui
mais do que um parvo sobre isso, mas Ragnar te ensinará submissão.
Vai te ensinar a moderar essa maldita língua que tem.
De repente Ragnar estava rindo, e os dois irmãos o olharam com
uma expressão tão idêntica que o fez rir ainda mais. Continuou rindo,
tão forte, que Zarabeth despertou, e se ajeitou no colo de Magnus
completamente acordada.
— O que acontece, Magnus?
Ele franziu a testa ante a rouquidão de sua voz, mas ela não
necessitava sua ira, apesar de que estava dirigida para outra pessoa.
Ele se inclinou e beijou a sua orelha.
— É Ragnar. Imagina que vai conquistar Ingunn até que caia
doente de amor por ele.
— Não posso realmente imaginar que isso aconteça, Magnus.
— Não o quero! — Gritou Ingunn.
Ragnar deixou de rir. Soltou as rédeas do cavalo, agarrou Ingunn
pela cintura, e a virou para enfrentá-lo.
— Me escute, tola. Quem você terá se não for eu? Que outro iria
querer você?
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terminou. Zarabeth não disse mais nada para Magnus. Ela iria com ele
a Danelaw. Simplesmente não estava segura de como ia conseguir isso.
Zarabeth dormiu encolhida na cadeira da senhora da casa, com
uma túnica, agulha e fio no colo. Magnus se inclinou para ela, olhando
o tecido que estava costurando. Parecia ser uma túnica para ele, e ficou
excessivamente contente. O material era de um suave linho azul claro.
Os pontos eram pequenos e perfeitos. Amava-a muito nesse momento,
e queria gritar para todos. Tirou cuidadosamente os tecidos de costura
de seu colo, e logo a levantou em seus braços e a levou a seu dormitório.
Não acendeu a lamparina, o quarto estava escuro como um poço, já
que a única janela estreita estava fechada firmemente.
Despiu-a e logo fez o mesmo.
Queria vê-la, mas decidiu que se acendia a lamparina poderia
despertá-la. Suspirou e cobriu a ambos com uma manta. Estava
esgotada e ele mesmo se sentia cansado. Ficou adormecido, seus
membros se tornaram pesados, seus pensamentos voltaram para sua
esposa, ao vê-la usando a túnica de homem, o cinto da espada de Orm
amarrada ao redor de seus quadris.
— Agora é minha espada. — Ela tinha informado quando
perguntou se queria que a pegasse. — Eu a ganhei e a guardarei.
Dormia profundamente até que sentiu sua voz, suave e insistente
em seu ouvido.
— Você lembra das coisas que me disse em York, Magnus? Foi
arrogante, impetuoso, atrevido e te achei muito agradável. Me fez sorrir,
me surpreendeu e te desejei muito. Quando me disse como tratava Cyra
acreditei que estava louco. Então você disse, muito sério, que não me
machucaria, mesmo que eu pedisse para você fazer isso. Foi tão solene,
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Magnus saltou da cama, agarrou a calça e a colocou, enquanto
dizia.
— Rápido, Zarabeth, se vista e logo espere aqui até que veja o que
está acontecendo.
Já tinha ido, quando Zarabeth escutou os gritos e chiados. Então
o aroma de fumaça. A casa comunitária estava se incendiando.
Ia se vestindo no caminho para o salão principal. A fumaça se
amontoava denso, enquanto o teto ardia em chamas. As grossas vigas
ainda prevaleciam, mas por quanto tempo?
— Zarabeth! Rápido, tira todos daqui. Salve o que puder!
Não conseguia parar para pensar, não devia perder tempo. Deu
ordens, acalmou a quantos pôde, se moveu com rapidez, sem pensar,
tratando de não respirar a fumaça cada vez mais espessa. Homens,
mulheres e crianças, todos tentavam resgatar seus pertences, ou uma
cadeira ou um baú ou um utensílio de cozinha. Duas mulheres levavam
o grande tear vertical, todas as lançadeiras 15 que podiam carregar, e a
roca de Eldrid.
Eldrid! Onde estava?
Zarabeth correu de volta aos dormitórios. Todos estavam vazios.
Salvo um. Eldrid estava deitada de lado sobre o piso de terra,
inconsciente, curvada pela fumaça. Zarabeth a agarrou por debaixo dos
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costas. Outros dois homens, dois guardas, muito perto dali, ambos
mortos.
A compreensão sobre o que tinha acontecido a golpeou com força
nesse momento. Se virou para o seu marido, esperando que terminasse
de dar instruções. Então se virou sobre seus calcanhares e agarrou a
sua manga.
— Hollvard. — Ofegou ela. — Alguém o matou, Magnus! E aos
outros dois guardas também.
— Sim. Fique aqui. Estamos trazendo mais água de Viksfjord. Não
vai ajudar muito, mas talvez possamos salvar a despensa dos
mantimentos e a casa de banhos.
Ele se foi, e Zarabeth ficou ali se sentindo impotente e indefesa.
Hollvard, morto! Mas quem o tinha matado? Esse velho que sempre
tinha sido amável com ela, desde o começo, inclusive quando tinha o
colar de escrava.
Então soube. Sentiu tanta raiva que a cegou. Pouco a pouco, sem
demonstrar esse sentimento, caminhou através de sua gente,
estudando todos os rostos, dizendo uma palavra tranquilizadora aqui,
uma palavra de estímulo ali.
Ingunn não estava ali. Mas Zarabeth estava segura de que não
deveria estar.
Foi então quando encontrou Ragnar, perto de uma das choças de
armazenamento, uma espada atravessava seu ombro, elevou a voz e
gritou de surpresa e raiva.
Caiu de joelhos junto a ele. Ainda estava vivo, mas o sangue fluía
copiosamente da enorme ferida em seu ombro esquerdo. Correu para o
poço, arrastando a túnica nova de Magnus pelo chão enquanto
caminhava. Um dos homens tinha um balde cheio, e rapidamente
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do dela. Sua mão estava segurando o seu seio, com a cabeça apoiada
em seu braço. Ele se aconchegou mais perto e beijou a sua orelha,
sussurrando.
— Não, não faça isso, porque não posso te tomar agora.
Ela sorriu e se virou se apertando contra ele.
— E agora o que acontecerá, Magnus?
— Vamos reconstruir. Asseguro isso, você não desejará ficar
assim quando chegar o inverno, Zarabeth.
— Tudo o que quero neste inverno é ter você comigo.
Ele sentiu muito prazer em suas palavras. Abraçou-a com força,
envolvendo-a entre seus braços.
— Quando a neve seja mais alta que minha cabeça, desejará ter
mais que o meu calor.
— Talvez. Também desejo ter Egill de volta conosco. Magnus, sinto
muito. Se eu não tivesse vindo aqui, se Ingunn não me odiasse tanto…
— Duvido que teria feito alguma diferencia para ela. — Disse
bruscamente. — Não se culpe Zarabeth, porque não permitirei que
você, assuma qualquer responsabilidade por isso.
Os servos começaram a despertar e Magnus foi acordado, se
apoiando em um cotovelo, olhou para a casa comunitária queimada, e
a raiva disparou através dele novamente. Seu avô tinha construído essa
casa e a tinha deixado para Magnus depois de sua morte. Agora já não
estava. Só ficavam cinzas e partes de madeira queimada, os patos
caminhavam junto às vigas enegrecidas e as pedras cheias de fuligem.
A diferença de uma vida, todas as construções poderiam ser
substituídas.
Magnus disse em voz alta para Zarabeth.
— Reze para que Ragnar viva.
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— Por que? Ela não é como Dalla, Magnus. Você a conhece bem.
Não são seus quadris largos, com ossos bem espaçados?
— Não sei. Quando a tomei, não tinha a ideia da maternidade em
minha mente.
Seu pai começou rir.
— Posso entender isso. Casado com esta velha aqui, entretanto, é
difícil para mim recordar dessas coisas.
— Ahh! Há mais fios cinza em seu cabelo, ancião, que no meu!
Magnus olhou os restos fumegantes de sua casa, sentindo a
risada de sua mãe em seus ouvidos. Não importava o que ocorresse em
sua vida, não importava quão odioso, triste, ou terrível acontecesse, se
ela estava ali, sempre teria vontade de continuar. Baixou a cabeça para
beijar a testa de Zarabeth. Tinha-a visto, decidiu que a queria, sem
considerar os seus desejos, e sem pensar muito sobre qualquer coisa.
Sempre confiante e tão seguro de si mesmo e do que era. Ele tinha lhe
dado uma ideia de que a desejava, sem duvidar de que a teria. Se
tivesse feito de propósito, e traí-lo, bem, ele merecia. Quanto a seu
próprio comportamento, tudo o que ele tinha dado foi infelicidade, dor
e humilhação.
Agora seu filho crescia em seu ventre. Era algo terrível, e,
entretanto, ao mesmo tempo, sentia uma alegria incrível. Sentiu a
umidade das lágrimas em seu rosto.
Quando Zarabeth despertou, viu o rosto de seu marido perto do
seu, olhando-a fixamente.
— O que aconteceu? Não entendo. Estou deitada sobre você…
— Você desmaiou.
Era estranho, mas estava deitada no colo de seu marido.
Lentamente, levantou a mão e tocou a sua bochecha.
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— São lágrimas?
— Sim.
— Mas por que? Apenas estou muito cansada. Nada mais. —
Sorriu um pouco vacilante. — Minha vida nos últimos tempos foi um
pouco mais que emocionante e um pouco imprevisível.
Ele baixou a cabeça e a beijou brandamente na boca fechada.
— Alguma vez desmaiou antes, Zarabeth?
Ela negou com a cabeça.
— Eu não sou tão fraca para essas tolices, Magnus.
— Isso é o que disse minha mãe.
— Por que estava chorando? Há algo errado comigo? Oh, não,
Ragnar… está bem?
— Ele está muito bem. Tem quadris largos?
— Se você deixar me levantar, vou tentar ver e te responderei.
— Não se mova. — A localizou um pouco mais acima sobre o braço
esquerdo. Sua mão direita foi para sua barriga e suavemente abriu os
dedos das mãos formando um palmo, sobre ela. Seus quadris estavam
fora de seu alcance. — Isso é bom, suponho. Direi a minha mãe de
minha descoberta e verei o que pensa.
Ela tratou de empurrar a sua mão.
— Magnus, há pessoas por toda parte! Alguém vai ver!
— Eu sou seu marido. Que olhem.
— Me deixe ir agora. Sinto-me bem, e é parvo ficar sentada nesta
cadeira sobre você quando… nada demais... — Saltou de seu colo, e
nem bem esteve de pé, voltou a se sentar sobre ele, olhou-o fixamente,
e de repente seu rosto ficou branco. — Oh. — Disse, e voltou a cair
sobre seu braço. De repente havia medo em seus olhos. — O que eu
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criança... vamos rezar para que seja saldável e feliz, e saiba o amor que
têm dos seus pais.
Ela apoiou a bochecha contra seu peito e a segurou ali, com rosto
contra o alto de sua cabeça.
— O que vai acontecer? — Perguntou, com sua voz abafada pela
túnica.
Magnus abriu a boca para falar, quando ouviu um rugido furioso
atrás dele. Virou sobre sua cadeira, levando Zarabeth com ele, para ver
Ragnar tentando se levantar, enquanto Eldrid tentava segurá-lo.
Estava gritando e amaldiçoando, agitando os braços. Empurrou
Eldrid e ficou de pé, sobre a manta onde se encontrava.
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Zarabeth não podia suportar a dor de Ragnar. Se ele tivesse a
garganta de Ingunn entre suas mãos, certamente, a teria matado.
Ragnar se estremecia de dor, sabendo o que Ingunn tinha feito a
Magnus, a Malek e a ele.
— Orm sempre me pareceu suspeito. — Dizia uma e outra vez,
inclusive enquanto tentava de libertar do agarre de Magnus. — Ela
olhava constantemente para todos lados e permanecia alerta, me disse
que tinha golpeado ele com sua espada! — Ragnar parou, respirando
fundo, com o rosto cinza de dor, úmido de suor, tentando de se libertar
e procurando calma ao mesmo tempo. — Mas de repente me
surpreendeu ao me atacar com traição, me disse que não me mataria,
que merecia sentir dor pelo o que tinha feito com ela. Eu mereço isso
por ser um tolo.
Eldrid estava tratando de acalmá-lo, com palavras suaves, mas
ele afastava a sua mão.
— Deite-se, Ragnar. — Disse Magnus. Não esperou que seu amigo
obedecesse. Simplesmente o pegou e o deitou sobre suas costas. —
Agora, fique aqui. Qual era sua intenção? Sair atrás de Orm agora,
neste instante? Controla sua ira, ou a utiliza para se curar mais rápido.
Vamos todos muito em breve, e levaremos você conosco. Não, Ragnar,
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Sim, quando era necessário, Guthrum podia ser tão piedoso como
um dos bispos de Alfred.
Cecilia agarrou uma amêndoa com mel e comeu só uma parte
dela. Sorriu. Era como Guthrum. Sempre gostava de comer pelas
bordas do Reino Inglês, sempre esfregando as mãos manchadas pela
velhice ao ver os enormes lucros que entravam em suas arcas.
É obvio, sempre negava qualquer conhecimento de incursões nas
terras do rei Alfred quando chegavam as mensagens furiosas do rei
saxão. Ele negava com a cabeça, com olhar triste, fingida angústia e
enviava o mensageiro de volta, com as mãos cheias de moedas de prata.
Cecilia voltou a olhar as crianças. Franziu a testa nesta ocasião.
Um bonito viking chamado Orm Óttarsson se apresentou ante o
Guthrum com o menino e a menina, junto com mais moedas de prata
que Cecilia poderia contar, em troca da transferência das ricas terras
agrícolas junto ao rio Thurlow, terras que tinham pertencido a uma
família saxã, mas o viking tinha reivindicado para si. Tinha visto o
homem, e se impressionou por sua arrogância e sua elegância. Ela se
considerava uma mulher inteligente e necessitava um homem
inteligente, portanto tentou encontrá-lo. Entretanto, tinha deixado
York para retornar a Noruega. Era deprimente, mas Cecilia sabia que
ia retornar, e quando o fizesse, então iria vê-lo.
Ela se levantou e entrou no pequeno jardim amuralhado fora de
seu dormitório. As paredes de pedra tinham dois metros de altura com
rosas subindo pela parte superior, cobertas de flores vermelhas e
brancas. Havia uma pequena fonte no centro do jardim, rodeada de um
antigo mosaico romano, de forma retangular. Ainda estava intacto,
mostrando criaturas estranhas.
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Egill e Lotti estavam ali, e ele estava falando com ela, gesticulando
com as mãos enquanto falava, para dar ênfase a suas palavras. Ela se
aproximou para escutar.
— Diga novamente, Lotti. Vamos, diga.
Lotti fez alguns sons para falar, mas Cecilia não entendeu. Então
a menina disse.
— Bom dia.
— Bom dia. O que estava acontecendo aqui? — Disse Cecilia
alegremente enquanto se dirigia as crianças. O moço empalideceu e
deu um passo para proteger à menina.
Ambos estavam vestidos com túnicas de lã branca, ligeiramente
rodeadas com suave couro azul pregueado na cintura. As túnicas não
tinham mangas e chegavam aos joelhos. Os tecidos os identificavam
como escravos, mas a suave e excelente qualidade da lã também
indicava que seu amo ou ama era de natureza generosa. As crianças
tinham bom aspecto, e isso alegrava Cecilia. O cabelo da menina era
de uma rica cor gengibre e seus olhos de um estranho tom dourado.
Ela prometia ser uma grande beleza quando ficasse mais velha, mas
isso não incomodava Cecilia. Não gostava de estar rodeada de feiura,
nem sequer nas pequenas escravas.
— Lotti. — Disse Cecilia para menina. — Vá me buscar uma rosa
vermelha, rápido. O rei estará aqui logo e quero usá-la em meu cabelo.
— Acariciou-lhe o cabelo enquanto falava.
Lotti lançou um olhar para Egill, e moveu suas mãos de forma
rápida e singela, assinalando a roseira e Cecilia não percebeu. Estava
distraída estudando um arranhão na parte posterior da mão,
perguntando-se como o teria feito.
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canos que a mantinham presa. Quase se afogou pelo esforço, mas não
teria se importado se a menina tivesse morrido. Ele tinha golpeado no
seu peito e nas costas e, finalmente, tinha começado a respirar
novamente, tossindo e cuspindo água. E então levantou a vista e se
encontrou com Orm Óttarsson olhando-os, sorrindo. Por um momento
Egill pensou que os levaria para o seu pai, mas os cobriu em mantas e
os tinha levado. Quando Egill tinha perguntado a Orm o que ele estava
fazendo, o homem o tinha golpeado com força e riu. Ele os tinha dado
ao rei como parte de um suborno. E esse era outro problema.
Certamente o rei acreditaria na palavra de Orm e não na de um menino
que também era um escravo. Egill não sabia o que fazer.
Sentia falta do seu pai, via-o em sonhos, alto e forte, com olhos
distantes e tristes, pensando em seu único filho. Egill sabia que seu
pai deveria acreditar que ele estava morto, pois tinha considerado todas
as possibilidades, e imaginava que seu pai, e seus homens o teriam
procurado, e, ao não encontrá-lo, concluiriam que tinha morrido de
algum jeito, afogado ou arrastado por animais selvagens.
Viu que Lotti caía de joelhos e estudava absorta o mosaico
romano. Ela achava fascinante, seus pequenos dedos percorriam cada
uma das figuras de cores brilhantes. Cecilia, depois de ter colocado a
rosa no cabelo, agora estava olhando ao redor procurando algo que
fazer. Para Egill ela era uma criatura inútil. Inclusive Cyra, que tinha
sido a amante de seu pai, não tinha sido inútil, não exatamente.
— Egill.
Lotti estava empolgada por um dos azulejos. Egill dirigiu um
sorriso tolerante e se aproximou dela, deixando-se cair de joelhos a seu
lado.
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27
A manhã estava clara e, as águas do mar do Norte estavam
tranquilas e sem problemas. A vela grossa desdobrava completamente,
pela forte brisa do Oeste. Zarabeth afastou o cabelo do rosto e protegeu
seus olhos do resplendor e das gotas de água salgada. Pareceu que
podia ver as costas de York na distância, mas à medida que se
aproximavam, era em realidade um banco de nuvens, cinzas e
espessas, que se estendiam pelo horizonte. O vento do mar se movia
brandamente para frente, cada vez mais perto de York, seguido pelas
aves marinhas à espera dos restos de comida.
Uma gaivota saltou sobre o corrimão, revolveu suas plumas, e
chiou em voz alta, mas Zarabeth não prestou atenção. Ela estava
olhando para Ragnar, à frente de todo o povo de Malek, alinhados nas
docas de madeira, até as portas da própria paliçada. Quase podia
cheirar a madeira, doce e úmida da nova casa comunitária, no ar da
manhã. Todo o povo de Malek tinha saído para se despedir, gritando
conselhos e desejando tudo de bom. Ragnar ficou em silêncio, com seu
braço esquerdo ainda na tipoia, tinha aceito proteger Malek na
ausência de Magnus, enquanto que Eldrid fiscalizaria o trabalho na
casa comunitária, se queixou que era muito velha, muito fraca, para
assumir essa responsabilidade, mas Magnus havia dito.
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com o rei em troca das terras de cultivo que queria. Ele está muito
satisfeito com o que tem feito. Se me levar às escondidas, vai se zangar
muito contigo.
— Não, não o fará. Além disso, você não o verá.
— Odeia a meu pai. Ouvi ele dizer que iria fazer pagar por todo o
seu orgulho e arrogância, e que iria fazer com que lamentasse ter
casado com minha mãe. Também se gabava de como roubaria Zarabeth
também, e a usaria a seu desejo. Se gabava que plantaria um bebê em
sua barriga e então a devolveria a meu pai. Odeia a todos nós, exceto a
você. Não entendo isso.
— O que Orm sente por seu pai não tem nada que ver comigo. Ele
me ama. Estou a ponto de me converter em sua esposa. Não há nada
mais que deva entender. Vamos, temos que ir. Tenho um navio
esperando.
Egill estava com as pernas separadas, e os punhos nos quadris.
Sorriu para sua tia.
— Já te disse, não irei a nenhuma parte sem Lotti. Leve-a conosco
e saiamos daqui agora.
— Essa maldita idiota! Não é nada mais que uma patética imbecil,
uma serva inútil. Não percebe? Você nunca gostou dela! Roubou o afeto
de seu pai, não faz mais que emitir esses terríveis miados. Virá comigo
agora, Egill. Se esqueça dela.
Ela o garrou pelo braço, mas o menino simplesmente ficou
olhando-a, sem se mover. Empurrou-o, mas ele manteve em seu lugar.
Ele ficou mais forte. Já não era um menino pequeno. Prendeu a
respiração quando viu o desprezo em seus olhos, os olhos de seu pai,
frios e implacáveis.
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que seu rosto me era familiar, e para Aslak também. Sim, ele tem seu
mesmo olhar. Sua tia me comprou ele e o levou. Veio ontem. Suponho
que agora já foi embora.
— E a menina? Seu nome é Lotti.
— Sim, recordo da pequena. A mulher não queria saber nada dela,
embora inclusive minha querida Cecilia sabia que ela e o menino eram
inseparáveis. Eles agiam como se fossem um só. Suponho que ela ainda
esteja comigo, com a minha sobrinha Cecilia.
Guthrum ouviu Zarabeth conter bruscamente o fôlego e se virou
para ela.
— Reconheço você. É a mulher que Magnus salvou faz alguns
meses, a mulher que acreditávamos que tinha envenenado Olav o
Vaidoso. É estranho, sim, muito estranho, na verdade.
— O que quer dizer, senhor? E não, eu não envenenei meu marido.
— Sim, todos sabemos agora que é inocente de seu assassinato.
Foi Toki, a esposa de Keith, o filho de Olav, quem o matou. Ela está
morta. — Esfregou as mãos, obviamente agradado pela resolução do
conflito.
Magnus olhou fixamente o rei, se perguntando pelos caprichos do
destino. Se não tivesse retornado, Zarabeth teria sido condenada à
morte pelo crime e todos teriam ficado satisfeitos, porque a justiça
tinha sido imposta. Agora Toki tinha demonstrado ser culpada e estava
morta. Pelos deuses, era mais do que um homem podia explicar.
Zarabeth ecoou alguns de seus pensamentos, e disse com voz
incrédula.
— Morta? Toki confessou o que fez?
O Rei Guthrum negou com a cabeça.
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— Não, foi seu marido quem disse ao conselho que foi ela e não
você quem tinha matado o seu pai. Disse que ela confessou quando
estava bêbada. Ele a golpeou até matá-la depois.
Zarabeth se aproximou de Magnus. Sentiu o tremor de seu corpo,
ante a frieza do anúncio do rei.
— Sim, Keith disse que era uma harpia cruel, cheia de inveja e
malícia. Ele disse que ela merecia morrer por sua mão, já que em parte
se achava responsável pela maldade de seu ato. — Guthrum assentiu,
se vangloriando por sua sabedoria, sua tolerância e benignidade. —
Estive de acordo com ele, como o conselho de York. Ele prospera agora
e está ganhando segurança. Se parece mais com seu pai. Começou a
se pavonear usando os braceletes de prata e ouro e muitos anéis, e usa
só as melhores roupas. Tomou uma nova esposa, uma linda menina de
quatorze anos que dará a ele muitos filhos. Me deu vários pressente.
Magnus voltou a pensar. Tomou a mão de Zarabeth e apertou os
seus dedos, enquanto o rei continuava sua exposição que o pintava
como um governante justo.
— Tinha-me esquecido que Olav o Vaidoso, disse que você deveria
receber tudo o que tinha, caso ele morresse. Desde que é inocente de
sua morte, é necessário recompensá-la.
— Sim, acredito que é justo, senhor. — Disse ela. Olhou a seu
marido e sorriu. — Eu gostaria que devolvessem as moedas que
Magnus pagou a Keith em Danegeld pela morte de seu pai.
— Isso será feito.
— Senhor, queremos procurar meu filho e à irmã de Zarabeth. Se
minha irmã, Ingunn, levou o menino, então também saberei onde
encontrar Orm Óttarsson, porque ela estará com ele.
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coisa que ele possa apanhar. Facilmente posso vê-lo vestido com nada
mais que uma pele de urso, quase enlouquecido, sem medo nem
remorso em matar, sem consciência. Ele não é um homem calmo agora,
Magnus. Não, ele é mais perigoso que um Berserker, sua raiva se
acende brutalmente com uma simples zombaria, um sorriso, inclusive
uma brincadeira. Sim, ele é tão imprevisível como o vento no mar.
Ontem discutiu com alguém que se atreveu a dirigir-se a seus
acompanhantes, e te asseguro que falava com tanta calma, enquanto
cortava-lhe a garganta que me assustou. Ele estava com uma mulher
e duas crianças. Não pude intervir. Que outra coisa poderia fazer? —
Grim negou com a cabeça e cuspiu na água. — Me pergunto se ele
mataria à mulher. Parecia quase fazer, asseguro isso.
— A mulher é minha irmã, Ingunn. As crianças são minhas. Orm
raptou a todos, me roubou, e destruiu minha fazenda.
Grim encolheu os ombros, mas seus olhos se estreitaram.
— Sinto muito, mas novamente te digo, o que eu poderia fazer?
— Poderia tê-lo matado. É o homem mais forte que conheço. —
Olhou a flexão dos músculos dos braços de Grim. — A idade afeta você,
Grim?
Grim deu um grande sorriso, mostrando uma grande brecha entre
seus dentes da frente.
— Eu poderia ter quebrado o pescoço dele com uma mão, verdade.
Mas ele me pagou, Magnus, me pagou dez peças de prata. A mulher já
tinha me dado mais moedas de prata para levar o menino de volta para
Malek, por isso agora sou o suficientemente rico para comprar para
minha esposa um novo broche. Ela é uma pequena criatura linda. Eu
a roubei de uma aldeia na região de Renania. Saiu correndo para mim,
apeguei pela cintura e a joguei por cima de meu ombro. Me casei com
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ela faz seis semanas. Tem o cabelo muito negro, de uma cor como
nunca vi antes, e os olhos mais negros que se possa imaginar, e é uma
mulher doce, como o ninho entre suas coxas, também... Eu estava
pensando nesse joalheiro em Coppergate, Old Gunliek é seu nome. O
que pensa, Magnus?
— Acredito que deveria te matar.
Grim começou a rir, uma risada incerta, mas que transmitia a
mensagem de que podia rir e escapar da punição. Magnus sabia que
Grim tinha endurecido seu corpo, se preparou para a ação. Ele não era
um parvo. Grim se defenderia, foi suficiente o que ele disse a Magnus
sinto muito. Sentiu a mão de Zarabeth tocando levemente nas suas
costas. Se apoiou no pouco controle que restava. Brigar com Grim
Audunsson não tinha sentido. Zarabeth tinha razão nisso. Além disso,
pensou Magnus, poderia terminar com o rosto esmagado ou um braço
quebrado, o que não faria bem a ninguém. Podia imaginar a reação de
Zarabeth a isso.
— Acaso Orm te disse se retornava à sua fazenda?
— Sim. Disse que tinha coisas para fazer em Skelder, que estava
esperando um visitante e queria se assegurar de dar uma boas-vindas
adequada.
Magnus assentiu com a cabeça e se virou para partir. Disse sobre
seu ombro.
— Não deveria comprar no velho Gunliek. Ele engana com o peso
do ouro. Compre a Ingolf em Micklegate.
Saiu com Zarabeth do porto.
— Orm sabe que estamos aqui. Sabe que vamos.
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Ele tinha Magnus em suas mãos! Ah, era muito doce esta vitória
sobre seu inimigo. Tinha sido um parvo por vender as crianças a
Guthrum. O homem os tratou muito bem, não tinha mostrado o que
era ser um escravo, nem o que era viver pelo o capricho de outro.
Pensou brevemente em Cecilia, a amante do Rei, e sorriu. Ela
desfrutaria de um jovem em sua cama. Talvez a forçaria. Ele a achou
tola e encantadora, e seu corpo não era desagradável. Agora tampouco
tinha que se preocupar com Ingunn, essa cadela infiel.
— Egill! Venha aqui!
Os homens e as mulheres na casa comunitária ficaram em
silencio por um momento, ante o som de sua voz. O moço ergueu os
olhos. Olhou para o outro lado do salão de Orm. Lentamente se
levantou, acariciando o ombro de Lotti, tratando em silencio em
acalmá-la, porque seus olhos estavam arregalados e assustados.
— Agora rápido, se mova, ou farei ela provar o látego!
Os homens e mulheres olhavam furtivamente ao menino. Eles
retomaram a suas tarefas, por medo de que o novo amo os visse sem
fazer nada.
Egill parou diante de Orm, erguido e em silêncio, esperando.
Orm se perguntou se devia matar o menino. Em troca, disse.
— Decidi vender você aos saxões de Wessex. O que pensa disso?
— Vai enviar Lotti para Malek?
Orm riu.
— Talvez faça isso.
Egill sentiu um vislumbre de esperança, e depois uma forte
opressão no coração. Orm estava louco. Nada do que dissesse poderia
levar a sério. Mataria Lotti antes de soltá-la.
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Ele ainda via Orm torturando Ingunn, golpeando seu rosto com
os punhos, sem piedade, nem consciência.
— Embora talvez não o faça. Seu pai deve vir logo, menino. Então
veremos. Não parece muito surpreso. Deixei pistas e ele não é estúpido.
Saberá segui-las. Também escondi de forma muito visível um retalho
de tecido do vestido da menina. Sim, deixei porque sabia que Zarabeth
poderia reconhecê-lo. Gostaria de ter visto seu rosto. Ela tem um rosto
muito expressivo, que mostra todos os seus sentimentos e
pensamentos. Que seria bom vê-la gritar com esperança. Durante
muito tempo quis matar Magnus muito lentamente, queria ouvi-lo
gritar de dor, que me rogasse para libertá-lo de sua vida patética, como
fez a cadela de sua irmã. Pergunto-me se ainda segue viva. Talvez
devesse ir vê-la. Se estiver, talvez necessite outra lição de obediência.
— Por que odeia a meu pai? Ele nunca fez nada para você. Não
acredito que seja porque meu avô tenha julgado que ele era o melhor
marido para minha mãe.
Orm levantou o braço, logo, lentamente, baixou-o. O menino não
estava sendo impertinente. Orm refletiu sobre a pergunta, franzindo a
testa.
— Disse que odiava a Magnus? Não, eu só quero matá-lo pelo o
que é, como pensa, como se comporta. Ele me incomodou durante
muito tempo, é tão orgulhoso como você menino. Quanto a sua mãe,
Dalla, era tola e vaidosa, mas eu a tinha escolhido. Não é justo que não
pudesse tê-la. Não é justo que Magnus seja sempre o que ganhe. Não
gosto da derrota, menino. Não vou aceitar isso.
Egill permaneceu em silêncio agora. Orm Óttarsson era um
homem temível. Não havia forma de raciocinar com ele. Não, podia fazer
algo para escapar. Tinha que advertir a seu pai. Tinha que salvar Lotti.
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Ele se sentia muito velho para seus oito anos, e era muito pequeno.
Mas tinha que tentar.
Orm parou na frente de Egill. O moço não retrocedeu nem se
acovardou. Dobraria o menino, mas não agora. Havia tempo suficiente
para moldá-lo a seu gosto.
— Acredito que vou ver se sua tia ainda segue gemendo e se
apegando a sua vida.
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Ingunn sabia que ele viria. A qualquer momento iria aparecer pela
porta da cabana e olharia para dentro, seus olhos iriam se acostumar
à escuridão, e então a veria. Teria que sorrir, embora não sabia se seria
capaz de ocultar sua dor. Mas se a visse sofrer, desfrutaria em grande
maneira e a golpearia novamente e riria, ou ficaria tranquilamente em
silêncio, com os olhos vazios e a deixaria morrer de fome. Então, na
escuridão da choça de armazenamento com seu chão de terra úmida,
soube que ia matar as crianças.
Ingunn se arrastou até a porta de madeira. Pouco a pouco,
ofegando pela dor que cada movimento provocava, se ergueu, ofegando,
tratando de dominar a vertigem que sentia. Em sua mão sustentava
uma pesada ferramenta agrícola, uma longa peça de madeira, com uma
ponta afiada no topo. A base era um gancho de ferro curvo para tirar
as rochas do chão duro. Para poder agarrá-lo teve que fazer muita força
o que causou uma dor estremecedora.
Não sabia como iria pegá-lo e acertá-lo com ela, mas faria, tinha
que fazer isso. Não queria morrer.
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Ouviu ele gritar quando o teto caiu em cima. Então acreditou que
enlouquecia.
Egill estava de pé junto a seu pai, com a mão em seu braço. Estava
contente por esse simples toque, sabendo agora que tudo estava bem.
Lotti estava no colo de Zarabeth, dormindo profundamente, com os
dedos na boca.
— Ingunn está viva, mas não sei se ela vai recuperar o controle de
sua mente.
Magnus assentiu ante as palavras de Tostig. Tostig estava
esgotado. Ele sentou em um banco de madeira, apoiando os cotovelos
sobre a mesa. Tinham matado a todos os homens de Orm que
escolheram lutar. Tinham trancados os outros, que haviam jogado seus
machados e espadas. Ele olhou para a mesa de madeira, as camadas
de gordura e restos de mantimentos rançosos. Os saxões viviam como
animais.
A irmã de Magnus estava deitada em um pequeno quarto atrás,
machucada, cheia de hematomas e com olhos apagados e vazios, seu
corpo tão quebrado como sua mente. Ele tinha a esperança de vê-la
morrer, por tudo o que tinha feito. Agora já não estava tão seguro. Ele
estremeceu, pensando na morte de Orm Óttarsson. Quando tinha
chegado na cabana, Ingunn estava ajoelhada frente a ela, a luz do fogo
iluminava a expressão de loucura em seu rosto machucado. Estava
falando com Orm, dizendo palavras de amor, jurando que nunca o
deixaria. Ficou ali até que seus gritos tinham cessado.
Ingunn olhou para Magnus e disse.
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1
Danelaw: é o nome que foi dado a uma região existente na parte nordeste da Inglaterra sob o controle do Império
Viking (ou dinamarquês) do final do século IX até o início do dia XI.
2
Os karls eram agricultores, artesãos, marinheiros e guerreiros todos os dias.
3
Terreno árido e não cultivado onde só crescem plantas rasteiras e silvestres.
4
Da Lapônia, habitante dessa região escandinava.
5
Berserker: Guerreiros Vikings lendas contam que guerreiros tomados por um frenesi insano, iam a batalha despidos
ou usando peles de lobos e atiravam-se nas linhas inimigas.
6
Ale é um tipo de cerveja produzida a partir de cevada maltada. Termo "ale", de origem celta, se confundem até ao
século XV, era utilizado na Inglaterra até a introdução na nova bebida, agora chamada de cerveja.
7
Borda da embarcação.
8
Guerreiro ou Nobre, um título usado na Era Viking e no início da Idade Média (c. 900-1300), para designar o governador
de uma região.
9
Skalds - guerreiros vikings eram poetas, que pertenciam à corte dos reis escandinavos durante a Idade Média.
10
É uma das deusas mais antigas na antiga religião germânica, ela é associada ao amor, fertilidade, beleza, riqueza,
magia, guerra e morte.
11
Danegeld - Imposto aplicado para pagamento as expedições Viking para evitar saques e pirataria terras de influência,
e como compensação por um crime para compensar a perda de vidas.
12
Paliçada - Estacada de varas ou troncos fincados no solo. Ligados entre si, para servir de defesa contra-ataques
inimigos.
13
Caixa de quatro faces iguais cuja base reduzida serve para amassar o pão.
14
Animal mamífero, carnívoro mustelídeo, de pequeno porte pertencente ao grupo das doninhas.
15
Peça dos teares e das máquinas de costura, que contém um pequeno cilindro (carretilha) onde se enrola o fio.
16
Árvore da família das ulmáceas, que atinge de 20 a 30 m de altura.