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Highlander

Audaz
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Corazón Salvaje
Sinopse

Stephen é um guerreiro feroz, destemido e perspicaz, demonstra


sua bravura lutando e liderando nos últimos anos o grande exercito do
rei inglês nas Terras Baixas, na Escócia. Até que este decide recompensá-
lo com uma herdeira das Terras Altas.
Bronwyn MacArran é uma orgulhosa escocesa. Stephen Montgomery
um dos odiados ingleses.
Apesar de ser a filha mais nova de um poderoso Laird, morto em
combate, é nomeada a nova Laird do clã, devido à instabilidade de seu
irmão que seria Laird por direito de sucessão do pai.
Stephen veio para a Escócia como um conquistador, furioso pelo
casamento imposto pelo seu rei, entretanto se viu enfeitiçado pela beleza
de Bronwyn e foi conquistado.
Ela é uma excelente estrategista e usava como um homem as armas
de batalha. Era respeitada e amada pelo seu clã. Seus homens a seguiam
com paixão e davam suas vidas por ela.
Mas, enquanto clã lutava contra clã, irmãos cruzavam espadas e o
sangue escoava nas montanhas, seu destino foi selado...
Este poderoso guerreiro prometeu domar o orgulho de sua mulher.
Lutar por sua honra e seu nome, fazendo do seu amor uma tocha para
queimar através das gerações.

Ela tornou-se sua razão de viver... Mas ela ainda o detestaria.


Ela tornou-se sua razão para amar... Mas ela ainda resistiria a ele.
Ela tornou-se sua razão para lutar... E ela ainda o rejeitaria.

Se ele é obstinado... Ela seria muito mais!


Highlander Audaz — Jude Deveraux

Prólogo
Depois de uma larga noite de viagem, Stephen
Montgomery ainda se mantinha muito ereto na sela de seu
cavalo. Não queria pensar na noiva que lhe aguardava ao
terminar a jornada. A mulher estava lhe esperando fazia três
dias. Sua cunhada Judith havia se zangado com ele, quando
se inteirou de que não havia se apresentado a suas próprias
bodas, sem tomar-se sequer o trabalho de enviar uma
mensagem para desculpar-se por seu atraso.

Mas, apesar das palavras e do aborrecimento de Judith


e da inegável compreensão de que tinha insultado à sua
futura esposa, se mostrara relutante em abandonar as
propriedades do rei Henrique devido as atuais circunstancias.
Stephen hesitava em deixar o lado de sua cunhada Judith, a
bela esposa de seu irmão Gavin, de olhos dourados, que caiu
dos degraus da escada e perdeu o bebê que esperava com
tanta ânsia. Passou vários dias entre a vida e a morte. Ao
recuperar a consciência e inteirar-se de que tinha perdido seu
filho, sua primeira reação foi característica: não pensou em si
mesmo. Stephen não se lembrava de sua própria data de
casamento, nem pensou em sua noiva. Judith, mesmo em
sua dor, lembrou Stephen de seus deveres e da escocesa com
quem ele iria casar.

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Tinham transcorrido três dias, Stephen passou uma


mão por seu denso cabelo loiro escuro. Teria preferido ficar
junto a Gavin, seu irmão, com quem Judith estava furiosa,
pois em realidade sua queda não tinha sido acidental, a não
ser culpa da Alice Chatworth, a amante do Gavin.

— Meu lorde. — Stephen abrandou a marcha e se virou


para seu escudeiro. — As carroças estão muito atrás de nós,
não conseguem acompanhar o ritmo.

Ele balançou a cabeça sem dizer uma palavra e desviou


seu cavalo em direção ao estreito riacho que corria pelo
acidentado caminho. Desmontou e pôs um joelho em terra
para poder molhar o rosto com água para se refrescar.

Havia outro motivo pelo que Stephen ia à contra gosto


ao encontro de sua desconhecida noiva. O rei Henrique
desejava recompensar aos Montgomery pelos fiéis serviços
prestados ao longo de vários anos; por isso tinha dado ao
segundo dos irmãos a mão de uma rica herdeira escocesa.
Stephen compreendia que era um gesto a agradecer, mas não
depois das coisas que escutou falar dela.

Ela era, por direito próprio, o Laird de um clã escocês


poderoso.

Stephen estendeu o olhar pela verde pradaria que estava


do outro lado do riacho. Malditos escoceses, capazes de
albergar a absurda crença de que uma simples mulher tinha
a força e a inteligência necessárias para liderar a homens.

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Seu pai deveria ter escolhido um jovem para seu herdeiro em


vez de uma mulher.

Ele fez uma careta quando imaginou que tipo de mulher


poderia sugerir a um pai nomeá-la senhora de um clã. Devia
ter quarenta anos, pelo menos, o cabelo da cor do aço e um
corpo mais musculoso que o dele. Sem dúvida, na noite de
bodas fariam queda de braço, batalhando para ver quem
montaria quem... e ele perderia.

— Meu lorde. — disse o moço. — Não parece bem, talvez


a longa cavalgada o tenha deixado doente.

— Não é a cavalgada o que me revolve o estômago.

Stephen levantou-se lentamente, movendo com


facilidade seus poderosos músculos sob as roupas. Era alto,
elevando-se sobre seu escudeiro, seu corpo era esbelto e
estava endurecido por muitos anos de penoso treinamento
extenuante. Seu cabelo era espesso com cachos suados ao
longo de seu pescoço, sua mandíbula forte, seus lábios
finamente cinzelados. No entanto, agora havia sombras
debaixo dos olhos de um azul brilhante.

— Voltemos para nossos cavalos. As carretas podem


seguir-nos mais tarde. Não quero seguir adiando minha
execução.

— Execução, milorde?

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Stephen não respondeu. Ainda faltavam muitas horas


para chegar ao horror que lhe aguardava na sólida e temível
figura de Bronwyn MacArran.

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Capítulo Um
1501
Bronwyn MacArran estava de pé na janela da mansão
inglesa, contemplava o pátio abaixo. A janela estava aberta
para que entrasse o quente sol do verão. Inclinou
ligeiramente para pegar um sopro de ar fresco. Ao fazê-lo, um
dos soldados abaixo sorriu para ela sugestivamente.

Recuou dando um passo atrás rapidamente, agarrou a


janela e fechou-a com violência. Virou-se furiosa.

— Porcos ingleses! — Bronwyn amaldiçoou em voz


baixa. Sua voz era suave, mas o tom trazia os espinhos das
urzes e o frio da névoa das Terras Altas.

Ante sua porta soaram fortes passos. Conteve o fôlego,


mas o deixou escapar ao ouvir que continuavam sua marcha.
Estava prisioneira e permanecia cativa no extremo norte da
fronteira da Inglaterra. Prisioneira de homens que sempre
odiou, os mesmos homens que agora lhe sorriam e lhe
piscavam os olhos como se conhecessem seus pensamentos
mais íntimos.

Caminhou até uma pequena mesa no centro do quarto


com painéis de carvalho. Agarrou com força a borda da mesa,
deixando que a madeira cortasse suas palmas. Ela faria

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qualquer coisa para impedir aqueles homens de ver como ela


se sentia por dentro. Os ingleses eram seus inimigos. Tinha-
os visto matar seu pai e seus três chefes. Viu seu irmão
quase enlouquecido pela inutilidade de seus intentos de fazer
pagar aos ingleses com a mesma moeda. E ela mesma passou
a vida ajudando a alimentar e vestir aos membros de seu clã,
depois que os ingleses destruíram suas colheitas e
incendiaram suas casas.

Um mês atrás tinha sido feita prisioneira. Sorriu ao


recordar as feridas que os soldados ingleses receberam pelas
mãos dela e de seus homens. Mais tarde, quatro deles
morreram.

No final ela foi capturada, por ordem do rei inglês Henry


VII. Esse rei dizia querer a paz e, portanto, nomearia a um
inglês como chefe do clã MacArran. Acreditava poder obtê-lo
pelo mero feito de casar Bronwyn com um de seus
cavalheiros.

Sorriu diante da ignorância do rei inglês. Ela era chefe


do Clã MacArran, e nenhum homem tiraria seu poder. O
estúpido rei achava que seus homens seguiriam um
estrangeiro, um inglês, só pelo fato de que seu verdadeiro
Laird, era uma mulher. Demonstrava com isso o pouco que
Henry sabia dos escoceses!

Um grunhido do Rab a fez voltar-se subitamente. Rab


era um galgo irlandês, o maior cão do mundo: corpulento,
veloz, forte, de pelagem como aço macio. Seu pai lhe deu o

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cachorro há quatro anos, quando Jamie voltou de uma


viagem à Irlanda. Jamie ordenara que o cão fosse treinado
como guardião de sua filha, mas não havia necessidade. Rab
e Bronwyn tomaram-se de afeto mutuamente. O galgo
demonstrou várias vezes que era capaz de dar a vida por sua
amada proprietária.

Bronwyn relaxou os músculos, pois Rab tinha deixado


de grunhir; só uma pessoa amiga podia lhe provocar essa
reação. Ela levantou a vista, espectadora.

Foi Morag quem entrou. Morag era uma mulher velha,


de baixa estatura e membros torcidos, que parecia mais um
tronco escuro de madeira do que um ser humano. Seus olhos
eram como de vidro negro, cintilante, penetrante, vendo mais
de uma pessoa do que o que estava na superfície. Usava com
habilidade seu corpo miúdo e ágil com frequência, passando
despercebida entre as pessoas que não reparavam nela,
sempre com os olhos e os ouvidos bem abertos.

Morag se moveu silenciosamente através do quarto e


abriu a janela.

— E bem? — inquiriu Bronwyn impaciente.

— Vi-te fechar a janela. Eles soltaram gargalhadas e


disseram que iriam assumir a responsabilidade pela noite de
núpcias que você está perdendo.

Bronwyn se afastou da velha dando-lhe as costas.

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— Dá-lhes muito de que falar. Deveria manter a cabeça


erguida e não lhes emprestar atenção. São meros ingleses;
você, em troca, é uma MacArran.

Bronwyn girou em silêncio.

— Não necessito que ninguém me indique o que devo


fazer ou não. — Ela retrucou. Rab, captando a inquietação de
sua dona, ficou ao seu lado. Ela enterrou os dedos em sua
pelagem.

Morag lhe sorriu e a seguiu com a vista enquanto a


Laird se movia em direção ao assento da janela. Ela tinha
sido colocada nos braços de Morag quando ainda estava
molhada do liquido do seu nascimento. Morag tinha segurado
o minúsculo bebê enquanto a mãe morria. Foi Morag quem
encontrou uma babá para a menina, quem lhe dera o nome
de sua avó galesa e a cuidara até os seis anos, depois seu pai
assumiu sua educação.

Agora olhava com orgulho a sua pupila, que tinha quase


vinte anos. Bronwyn era alta, mais alta que muitos homens,
ereta e esbelta como o talo de um junco. Não cobria os
cabelos, como as inglesas: deixava-os soltos sobre as costas,
como uma rica cascata. Seu cabelo era negro, como as asas
de um corvo, tão denso e pesado que o fino pescoço parecia
incapaz de suportar seu peso. Usava um vestido de cetim à
moda inglesa. Era de cor creme como o gado da Highlander.
Um profundo decote quadrado e sutiã apertado; destacando
os seios jovens, fartos e firmes de Bronwyn. Ajustava-se como

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uma segunda pele a sua estreita cintura, para abrir-se logo


em amplas dobras. Um bordado de finos fios de ouro rodeava
o decote e a cintura, descendendo como cascata pela saia.

— Conto com sua aprovação? — perguntou Bronwyn,


áspera, ainda irritada com a discussão sobre o traje inglês.
Ela preferia a roupa típica das Highlander, mas Morag a
convenceu de que usasse objetos ingleses, a fim de não dar
aos inimigos motivos para que rissem dela por sua
"vestimenta de bárbaros", como diziam. A anciã emitiu uma
gargalhada seca.

— Pensava que nenhum homem te tirará esse vestido


esta noite. É uma lástima.

— Um inglês! — Bronwyn sibilou. — Você esquece o


passado tão cedo? O vermelho do sangue do meu pai,
derramado, sumiu de seus olhos?

— Bem sabe que não. — replicou a anciã, com voz


serena.

Bronwyn sentou-se pesadamente junto à janela,


deixando fluir ao seu redor o cetim do vestido, e deslizou um
dedo pelo desenho do bordado. Esse objeto lhe havia custado
muito dinheiro. Valor que teria preferido gastar com seu clã.
Mas seu povo não teria gostado que ela passasse vergonha
diante dos ingleses; por isso tinha comprado vestidos dignos
de qualquer rainha.

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Só que esse vestido ia ser seu traje de bodas. Arrancou


com violência um pedaço de fio de dourado.

— Quieta! — ordenou Morag — Não danifique o vestido


só porque está zangada com um inglês. Talvez tenha tido
motivos para atrasar-se e não chegar a tempo para suas
próprias bodas.

Bronwyn se levantou rapidamente, fazendo Rab se


mover protetoramente para seu lado.

— O que me importa se esse homem não aparece


jamais? E mais, que lhe tenham cortado o pescoço e esteja
apodrecendo em qualquer vala.

Morag encolheu os ombros.

— Buscaria-lhe outro marido. O que importa se este


morre ou não? Quanto mais cedo você casar com seu marido
inglês, mais cedo poderemos voltar para as Terras Altas.

— É fácil para você dizer! — acusou Bronwyn. — Não é


você que deve casar-se com ele e... e...

Os pequenos olhos negros de Morag dançaram.

— E deitar com ele? É isso que está preocupando você?


Se eu pudesse trocar de lugar com você... Acha que Stephen
Montgomery notaria a diferença se eu me metesse em sua
cama?

— O que sei de Stephen Montgomery, salvo que teve a


indecência de me deixar esperando com meu vestido de

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bodas? Diz que os homens riem de mim. É o homem que me


destinaram como marido quem me submete ao ridículo! —
Bronwyn olhou a porta de soslaio. — Se entrasse neste
momento o apunhalaria com gosto.

Morag sorriu. Jamie MacArran haveria se sentido


orgulhoso de sua filha, até prisioneira conservava seu ânimo
e sua dignidade. Neste momento permanecia com o queixo
erguido e os olhos cintilando adagas de gelo azul-cristalino.

Bronwyn era de uma beleza assombrosa. Seus cabelos


eram tão negros como a meia-noite sem lua nas montanhas
escocesas. Seus olhos, de um azul intenso como a água de
um lago montanhês iluminado pelo sol. O contraste era
impressionante. Não era incomum que as pessoas,
especialmente os homens, ficassem emudecidos ao vê-la pela
primeira vez. Tinha cílios espessos e escuros, sua pele fina e
cremosa. O vermelho escuro dos lábios coroava um queixo
igual ao de seu pai, forte e de ponta quadrada, com um
pequeno furo no centro.

— Se te ocultar neste quarto dirão que é covarde. Que


escocês teme às brincadeiras de um inglês?

Bronwyn ergueu as costas e jogou uma olhada ao


vestido de cor creme. Esta manhã, ao vestir-se, tinha
acreditado fazê-lo para suas bodas. Agora, havia passado
muitas horas para a cerimônia de casamento, e seu noivo não
apareceu, nem enviou qualquer mensagem de desculpa.

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— Me ajude a tirar isto. — disse Bronwyn. Era


conveniente manter o vestido em boas condições até as
bodas. Se não se celebrava neste dia, celebrar-se-ia em
alguma outra data. E talvez com outro homem. A ideia a fez
sorrir.

— O que você está planejando? — perguntou Morag,


com as mãos na parte de trás do vestido de Bronwyn. — Tem
cara de gato que comeu um canário.

— Pergunta muito. Traga-me aquele vestido de brocado


verde. Se os ingleses pensam que sou uma noiva chorosa por
ser desprezada, logo descobrirão que as escocesas são feitas
de um material mais resistente.

Embora estivesse prisioneira pouco mais de um mês,


Bronwyn podia circular livremente pela mansão de Sir
Thomas Crichton. Podia caminhar pela casa e também pela
propriedade, se levasse escolta. A propriedade era fortemente
guardada, vigiada constantemente. O rei Henry havia dito ao
clã de Bronwyn que se uma tentativa de resgate fosse feita,
ela seria executada. Nenhum dano seria feito a ela, mas tinha
decidido pôr a um inglês à frente do clã, que recentemente
viu a morte de Jamie MacArran, bem como dos seus três
chefes. Os escoceses se retiraram, deixando cativa a sua nova
Laird, para planejarem o que fariam quando os homens do rei
se atrevessem a lhes dar ordens.

Bronwyn desceu lentamente as escadas até o salão do


piso baixo. Sabia que os homens de seu clã esperavam com

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paciência ao redor da propriedade, ocultos na floresta


daquela zona, sempre turbulenta, fronteiriça entre a
Inglaterra e Escócia.

Por sua parte, pouco lhe importava morrer antes de


aceitar ao cão inglês designado para casar-se com ela, mas
sua morte podia provocar conflitos dentro do clã. Jamie
MacArran, ao designá-la sua sucessora se propunha casá-la
com um de seus três chefes, que morreram com seu pai. Ela
não podia morrer sem deixar sucessor; sem dúvida alguma,
isso originaria uma sangrenta batalha sobre quem seria o
próximo Laird.

— Sempre disse que os Montgomery eram homens


espertos. — riu um homem, a pouca distância dela; uma
grossa tapeçaria a ocultava de sua vista. — Veja como o mais
velho se casou com a herdeira de Revedoune. Apenas havia
saído do leito de bodas quando alguém assassinou ao sogro e
ele herdou o título de conde e as propriedades.

— E agora Stephen segue os passos de seu irmão. Esta


Bronwyn, além de ser linda, possui muitos hectares de
terras.

— Digam o que quiserem. — disse um terceiro. Sua


manga estava vazia, seu braço esquerdo estava faltando. —
Mas eu não invejo ao Stephen. Embora a mulher seja
estupenda, durante quanto tempo será capaz de apreciá-la?
Perdi este braço brigando contra esses demônios da Escócia.
Digo-lhes que são humanos só pela metade. Crescem

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aprendendo só a saquear e roubar. E não brigam como


homens, mas sim como animais. São um bando de selvagens
toscos.

— E dizem que suas mulheres cheiram mal como o


diabo. — Disse o primeiro homem.

— Pois por essa Bronwyn de cabelos negros eu


aprenderia a viver apertando meu nariz.

Bronwyn deu um passo à frente, um rosnado feroz em


seus lábios. Quando uma mão segurou seu braço, olhou para
o rosto de um homem jovem. Ele era bonito, de olhos
escuros, uma boca firme. Os olhos dele estavam no mesmo
nível que os seus.

— Permita-me, minha senhora. — disse ele em voz


baixa.

Ele se aproximou do grupo de homens. Suas pernas


fortes estavam envoltas em uma meia apertada, sua jaqueta
de veludo destacando a largura de seus ombros.

— Não têm nada que fazer, salvo mexericar como


velhas? Falam de coisas das quais nada sabem. — Sua voz
era de comando.

Os três homens pareciam assustados.

— Por que Roger, o que há de errado com você? — Um


homem perguntou, depois olhou por cima do ombro de Roger
e viu Bronwyn, seus olhos brilhando em tormentosa fúria.

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— Acho que Stephen deveria vir logo e cuidar de sua


propriedade. — Um dos outros homem riu.

— Saiam daqui se não quiserem que desembainhe


minha espada! — Ordenou Roger

— Deus me livre do sangue quente dos jovens. —


murmurou um, com ar cansado. — Fique com ela. Venham!
Lá fora está mais fresco. Ao ar livre há mais espaço para
liberar paixões.

Quando os homens se foram, Roger se voltou para o


Bronwyn.

— Permita me desculpar por meus compatriotas. Essa


rudeza é filha da ignorância, mas não têm más intenções.

Bronwyn o fulminou com o olhar.

— Temo que o ignorante seja você: Eles têm más


intenções. Ou acaso assassinar escoceses não é pecado?

— Protesto! Não seja injusta comigo. Matei a poucos


homens em minha vida. E nenhum deles era escocês. — O
jovem fez uma pausa.

— Posso me apresentar? Eu sou Roger Chatworth. Ele


tirou a boina de veludo vermelho para lhe fazer uma
profunda reverência.

— E eu sou Bronwyn MacArran, senhor, prisioneira dos


ingleses e agora também noiva, descartada.

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— Quer caminhar comigo pelo jardim, Lady Bronwyn?


Talvez o sol alivie a angústia que Stephen lhe causou.

Ela se virou e caminhou ao lado dele. Pelo menos ele


poderia impedir os guardas de lançarem grosseiros gracejos a
ela. Uma vez que estavam fora, ela falou novamente.

— Pronuncia você o nome do Montgomery como se lhe


conhecesse.

— E você não?

Bronwyn se voltou para ele.

— Desde quando mereço alguma cortesia de seu rei


inglês? Meu pai me considerava digna de herdar o titulo de
Laird do clã MacArran, mas seu rei não reconhece o titulo
sequer para escolher ao meu próprio marido. Não, não vi
nunca a esse Stephen Montgomery nem sei nada sobre ele.
Em uma manhã me informaram que deveria ser sua esposa.
Após, o homem não se dignou sequer a se apresentar a
minha presença.

Roger a olhou arqueando uma bela sobrancelha. Sua


hostilidade fizeram seus olhos brilharem como diamantes
azuis.

— Sem dúvida seu atraso tem que ter um motivo.

— Talvez o motivo seja afirmar sua autoridade sobre


todos os escoceses. Quer demonstramos quem manda.

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Roger ficou em silêncio por um momento, como se


estivesse considerando suas palavras.

— Há quem considere os Montgomery arrogantes.

— Diz você que conhece esse tal Stephen Montgomery.


Como é? Não sei se é alto ou baixo, jovem ou velho.

Roger encolheu os ombros como se sua mente estivesse


em outro lugar.

— É um homem como qualquer outro. — Parecia


resistente a continuar. — Lady Bronwyn, dar-me-ia a honra
de cavalgar amanhã pelo parque em minha companhia? Há
um riacho que cruza as terras do Sir Thomas. Poderíamos
levar algo para comermos lá.

— Não teme que eu atente contra sua vida? Faz mais de


um mês que não me permitem pisar na floresta. — Ele sorriu
para ela.

— Deve saber que há alguns ingleses de boas maneiras,


incapazes, digamos, de abandonar uma mulher no dia de
suas bodas.

Bronwyn ficou rígida quando se lembrou da humilhação


que Stephen Montgomery lhe causara.

— Eu gostaria de muito cavalgar com você.

Roger Chatworth, sorridente, saudou com a cabeça a


um homem que passava junto a eles pelo estreito atalho do
jardim. Sua mente trabalhando rápido.

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Três horas depois Roger entrou em seu quarto na asa


leste da casa do Sir Thomas Crichton. Duas semanas antes
tinha vindo à mansão para conversar com Sir Thomas sobre o
recrutamento de jovens da área. Sir Thomas, preocupado em
excesso com o problema da herdeira escocesa, não podia falar
de outra coisa. Agora Roger começava a pensar que o destino
lhe levou até ali. Ele chutou o banquinho de apoio debaixo
dos pés de seu escudeiro adormecido.

— Tenho uma tarefa para ti — ordenou, enquanto tirava


a jaqueta de veludo e a jogava na cama. — Em alguma parte
há um velho escocês chamado Angus. Traga-o aqui.
Provavelmente o encontre onde a bebida esteja fluindo
livremente. E me traga meio tonel de cerveja. Entendeu?

— Sim, meu lorde — respondeu o moço e saiu


caminhando de costas, enquanto esfregava os olhos
sonolentos.

Angus se apresentou já meio bêbado. Desempenhava


alguma função em casa do Sir Thomas, mas em geral fazia
pouca coisa, além de beber. Tinha o cabelo sujo e
emaranhado, comprido até os ombros, à maneira escocesa.
Usava uma larga camisa de linho comprida com cinto, os
joelhos e as pernas nuas.

Roger jogou um breve olhar de desgosto a esse aspecto


pagão.

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— Buscava-me meu lorde? — perguntou Angus, com


suave entonação escocesa. Seus olhos seguiram o pequeno
tonel de cerveja que o escudeiro estava trazendo para o
quarto. Chatworth despediu o moço, serviu-se de uma taça,
tomou um gole, sentou-se indicando com um gesto a Angus
que fizesse o mesmo. Quando o imundo homem esteve
sentado, o cavalheiro ordenou:

— Quero que me fale da Escócia.

Angus levantou suas sobrancelhas desgrenhadas.

— Quer você saber onde se esconde o ouro? Somos um


povo pobre, milorde, e...

— Não quero sermões! Guarde as mentiras para outros.


Quero saber tudo o que deveria saber um homem para se
casar com a Laird de um clã.

Angus olhou fixamente por um momento, depois levou a


boca a caneca de cerveja.

— Um epônimo não é?—murmurou em gaélico—Não é


fácil fazer-se aceitar pelos membros de um clã.

Roger deu um longo passo até ele para lhe tirar a caneca
de cerveja.

— Não pedi sua opinião. Responderá as minhas


perguntas ou quer que te jogue a chutes escada abaixo?

Angus olhou para a caneca vazia com olhos


desesperados.

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— Você teria que converter-se em um MacArran. —


Levantou a vista para o Roger. — Caso se refira a esse clã.

Roger deu um breve aceno de cabeça.

— Teria que adotar o nome da Laird do clã para que os


homens lhe aceitassem. Teria que vestir-se como escocês ou
rirão de você. Deveria amar à terra e aos escoceses.

Roger baixou a cerveja.

— E a mulher, o que devo fazer para possuí-la?

— Bronwyn se preocupa com pouca coisa além de seu


povo. Ela teria se matado antes de casar-se com um inglês,
mas sabe que isso provocaria guerras dentro do clã. Se você a
convencer de que tem boas intenções para com sua gente, ela
será sua.

Roger deu ao homem a cerveja.

— Quero saber mais. O que é um clã? Por que foi


nomeada Laird a uma mulher? Quais são os inimigos do clã
MacArran?

— Falar dá muita sede.

— Beberá tudo o que possa tragar, se me disser o que


necessito saber.

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Bronwyn se reuniu com o Roger Chatworth cedo pela


manhã. Apesar de suas boas intenções, a perspectiva de
passear a cavalo pelos bosques a deixou tão excitada que mal
pode dormir. Morag a ajudou a se vestir com um suave traje
de veludo pardo, sem deixar de pronunciar horrendas
advertências sobre aceitar presentes de ingleses.

— Só me interessa o passeio. — repetiu Bronwyn,


teimosa.

— Sim, e que bagatela pretenderá esse Chatworth? Bem


sabe que vais casar-te com outro.

— Está segura? — perguntou-lhe Bronwyn— Onde está


meu noivo, me diga? Quer que passe outro dia inteiro com o
vestido de bodas, sentada e esperando-o?

— Seria melhor que sair com um jovem conde de sangue


quente.

— Que conde? Roger Chatworth é um conde inglês?

Morag se recusou a responder, mas deu um último


puxão no vestido antes de tirá-la a empurrões do quarto.

Montada na sela de seu cavalo, Bronwyn cavalgava com


Rab correndo ao seu lado, sentindo-se viva pela primeira vez
em muitas semanas.

— A cor rosada voltou para suas bochechas, milady! —


comentou Roger, rindo.

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Ela sorriu a modo de resposta. O sorriso lhe suavizou o


queixo e pôs brilho ao seu olhar. Esporeou ao cavalo a um
ritmo mais rápido. Rab, com seus largos saltos, seguia o
ritmo do cavalo.

Roger se voltou por um momento para dar uma olhada


aos homens que lhes seguiam. Eram três de seus guardas
pessoais, dois escudeiros e um cavalo carregado de
mantimentos e baixelas. Depois olhou a Bronwyn, que tinha
se adiantado. Ao notar que a moça incitava demais seu
cavalo, o moço franziu o cenho. Era uma excelente amazona e
os bosques, sem dúvida, estavam cheios de homens de seu
clã, todos desejosos de ajudá-la a escapar.

Roger levantou uma mão para que seus homens


acelerassem a marcha e esporeou a sua montaria.

Bronwyn fez seu cavalo chegar perto de voar. O vento


nos cabelos, a sensação de liberdade, eram estimulantes.
Quando chegou ao riacho estava indo a toda velocidade. Não
estava segura de que o cavalo soubesse saltar, mas o incitou
a fazê-lo sem ter em conta o perigo. O animal voou sobre a
água como se tivesse asas. Já na outra borda, a moça o freou
e se voltou para olhar para trás.

Roger e seus homens estavam se aproximando do


riacho.

— Lady Bronwyn! — gritou Roger. — Está bem?

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— Certamente. — riu a moça. Logo levou seu cavalo


através da água até a margem aonde o cavaleiro a esperava e
se inclinou para dar uns tapinhas no pescoço do animal.

— É um bom corcel. Realizou bem o salto.

Roger desmontou e caminhou para ela.

— Deu-me um susto terrível. Poderia ter se ferido.

Ela riu feliz.

— Raramente uma escocesa se ferirá cavalgando.

Roger levantou os braços para ajuda-la a desmontar,


mas Rab se interpôs subitamente, mostrando os dentes
largos e afiados em um profundo grunhido ameaçador. Roger
retrocedeu por instinto.

— Rab! — O cão obedeceu imediatamente à ordem de


sua dona e se afastou, mas não desviou de Roger o olhar,
com um brilho de advertência.

— Quer me proteger. — explicou a moça —. Não gosta


que ninguém me toque.

— No futuro o terei em conta — disse Roger, cauteloso,


enquanto lhe ajudava a desmontar. — Talvez você queira
descansar depois da cavalgada — sugeriu. Estalou os dedos e
seus escudeiros trouxeram duas cadeiras, estofadas de
veludo vermelho.

— Minha lady... — ofereceu o cavalheiro.

LRTHistóricos 28
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ela sorriu, maravilhada pelo contraste daquelas


cadeiras com os bosques. Sob seus pés, a relva era como um
tapete de veludo. O riacho tocava sua música, e mesmo
assim, um dos homens de Roger começou a tocar um alaúde.
Ela fechou os olhos durante um instante.

— Está nostálgica, sente saudades de casa milady? —


perguntou o cavaleiro.

Ela suspirou.

— Como ninguém poderia imaginar. Só os escoceses das


Highlanders sabem o que significa ser escocês.

— Minha avó era escocesa. Talvez isso me qualifique


para compreender melhor seus costumes.

Ela levantou bruscamente a cabeça.

— Sua avó! Como se chamava?

— Era uma MacPherson de MacAlpin.

Bronwyn sorriu. Era um prazer ouvir outra vez os


nomes familiares.

— MacAlpin. Um bom clã.

— Sim, passei muitas noites escutando relatos nos


joelhos de minha avó.

— Que histórias ela lhe contou? — perguntou ela,


cautelosa.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Casou-se com um inglês e com frequência comparava


a cultura de ambos os países. Segundo ela, os escoceses
eram mais hospitaleiros, os homens não encerravam suas
mulheres em um quarto, fingindo que tinham perdido o juízo,
como fazem os ingleses. Dizia que os escoceses tratavam suas
mulheres como iguais.

— Sim. — concordou Bronwyn em voz baixa — Meu pai


me nomeou Laird. — Fez uma pausa. — Como tratava seu
avô inglês a essa esposa escocesa?

Roger riu entre dentes, como diante de alguma piada


secreta.

— Meu avô passou um tempo na Escócia e reconhecia


em minha avó uma mulher inteligente. Valorizou-a toda a
vida. Nunca tomou uma decisão sem consultá-la antes.

— E você passou algum tempo com seus avós?

— Quase toda minha vida. Meus pais morreram quando


eu era muito pequeno.

— E o que pensa desse modo tão pouco inglês de tratar


às mulheres? Agora que é maior, sem dúvida terá aprendido
que as mulheres só servem para o leito e para parir filhos.

Roger riu em voz alta.

— Se me passasse semelhante ideia pela cabeça, o


fantasma de minha avó puxaria minhas orelhas. Não, —
adicionou mais sério — ela queria me casar com a filha de

LRTHistóricos 30
Highlander Audaz — Jude Deveraux

um primo dela, mas minha prometida morreu antes das


bodas. Eu cresci chamando a mim mesmo de MacAlpin.

— Como? — exclamou ela, surpreendida.

Roger pareceu desconcertado.

— No contrato matrimonial se estabelecia que eu


tomaria o sobrenome de minha esposa para agradar ao seu
clã.

— E o que você fez? Mencionei para Sir Thomas que


meu marido devia passar a chamar-se MacArran, mas ele
disse que era impossível. Que nenhum inglês renunciaria a
um sobrenome nobre e antigo por um nome escocês pagão.

Os olhos do Roger desprenderam um brilho furioso.

— É que não compreendem! Estes malditos ingleses


acreditam que só seus costumes são os corretos! Mas se até
os franceses...

— Os franceses são nossos amigos. — Interrompeu


Bronwyn. — Visitam nosso país como nós a França. Eles não
destroem nossas colheitas nem roubam o gado, como os
ingleses.

— O gado. — Roger sorriu — Que tema tão interessante!


Diga-me: os MacGregor seguem criando animais tão gordos?

— O clã MacGregor é nosso inimigo. — Bronwyn


respirou profundamente.

LRTHistóricos 31
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Certo, mas não pensa que um assado de carne dos


MacGregor é mais suculento que nenhum outro?

Ela se limitou a lhe olhar fixamente. Os MacGregor e os


MacArran eram inimigos durante séculos.

— Claro que as coisas podem ter trocado desde que


minha avó, sendo moça, vivia nas terras altas. — Continuou
Roger. — Nesses tempos o esporte favorito dos jovens era
uma rápida incursão para roubar gado ao luar.

— Nada trocou. — Bronwyn lhe sorriu.

Roger se voltou, estalando os dedos.

— Quer comer algo, milady? Sir Thomas tem um


cozinheiro francês e nos preparou um festim. Conhece romãs
amadurecidas?

Ela se limitou a sacudir a cabeça, olhando-lhe


maravilhada, enquanto os homens descarregavam as cestas e
o escudeiro de Roger servia a comida em pratos de prata. Pela
primeira vez em sua vida lhe ocorria à ideia de que um inglês
podia ser humano, podia e desejava aprender os costumes
escoceses. Aceitou uma porção de patê, modelada em forma
de rosa, e a pôs em um biscoitinho. Os acontecimentos
daquele dia eram toda uma revelação.

— Me diga Lorde Roger. O que você pensa de nosso


sistema de clãs?

LRTHistóricos 32
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Roger tirou as migalhas do colete dourado e sorriu


internamente. Estava bem preparado para qualquer
pregunta.

Bronwyn estava de pé no quarto aonde havia passado


tanto tempo durante as últimas quatro semanas. Ainda
estava ruborizada e tinha os olhos brilhantes pelo passeio da
manhã.

— Não é como outros homens. — explicou a Morag. —


Passamos várias horas conversando sem parar. Até sabe
algumas palavras em gaélico.

— Nesta zona não é difícil aprender umas quantas. Até


alguns homens das terras baixas falam o gaélico.

Para Morag era o pior dos insultos. Para ela, os


Lowlanders das terras baixas eram escoceses traidores, mais
ingleses que escoceses.

— Como explica então as outras coisas que comentou?


Sua avó era escocesa. Se tivesse escutado suas ideias! Disse
que ia apresentar uma petição ao rei Henry para que
ordenasse o fim das incursões contra nós. Que era o único
jeito para conseguir a paz, ao invés de capturar escocesas
para casá-las contra sua vontade.

Morag contraiu sua cara escura e enrugada até fazê-la


feia como uma casca de noz.

LRTHistóricos 33
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Esta manhã saiu daqui odiando a todos os ingleses e


volta ajoelhada aos pés de um. Só ouviste palavras desse
homem. Não viu a ação. O que fez o homem para ganhar sua
confiança?

Bronwyn se sentou pesadamente junto à janela.

— Não te dá conta? Só quero o melhor para minha


gente. Se for obrigada a me casar com um inglês, ao menos
que seja com um que é em parte escocês, tanto por seu
sangue como por sua mente.

— Não pode escolher marido! — replicou Morag, feroz. —


Não compreende que é um grande prêmio? Os moços são
capazes de dizer qualquer coisa para meter-se sob as saias de
uma mulher bonita. E se essas saias estão bordadas de
pérolas são capazes de matar para consegui-las.

— Insinua que Lorde Roger está mentindo?

— Como quer que eu saiba? Só lhe conheço de vista. Em


troca não sei nada do Stephen Montgomery. Acaso não
poderia ser filho de uma escocesa? Possivelmente se
apresente com um tartan cruzado ao ombro e uma adaga na
cintura.

— Não abrigo muitas esperanças. — Suspirou Bronwyn


— Se me apresentassem a mil ingleses, nenhum deles
entenderia meu clã como Roger Chatworth. — Levantou-se.
— Mas tem razão. Devo ser paciente. Talvez esse homem,

LRTHistóricos 34
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Montgomery, seja algo único, um homem pormenorizado que


acredita nos escoceses.

— Não espere demais. — Advertiu Morag. — Espero que


esse Chatworth não tenha te iludido em excesso.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Dois
Stephen viajou a todo galope durante o dia inteiro e até
a entrada da noite. Quando chegou à casa de Sir Thomas, na
fronteira, tinha deixado há muito tempo as carretas e seus
servos para trás. Só sua guarda pessoal conseguiu lhe seguir
o ritmo. Poucas horas antes, ao encontrar-se com uma
tempestade e um rio a ponto de transbordar, o jovem tinha
continuado sua cavalgada entre o lodo. O grupo que freou aos
cavalos no pátio estava coberto de lama. O ramo de uma
árvore tinha golpeado Stephen em um olho; o sangue seco lhe
dava um aspecto inchado e grotesco.

Desmontou depressa e jogou as rédeas ao seu exausto


escudeiro. A grande mansão estava iluminada por uma
grande quantidade de velas; no ar flutuava o som de música.

Stephen se deteve por um momento, ao transpor as


portas, para acostumar a vista à luz.

— Stephen! — exclamou Sir Thomas, adiantando-se a


seu encontro. — Estávamos preocupados com você! Pela
manhã ia enviar um grupo de homens em sua busca.

Um homem se aproximou atrás do cavaleiro idoso, este


apresentava características do mal da gota.

LRTHistóricos 36
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Então este é o noivo perdido. — Sorriu, olhando


Stephen de cima a baixo, observando suas roupas imundas e
rasgadas. — Nem todos estavam tão preocupados, Sir
Thomas.

— Sim. — Riu alguém mais. — O jovem Chatworth


parece ter se saído muito bem com a sua tardança.

Sir Thomas pôs uma mão no ombro de Stephen e o


guiou em direção a um quarto que dava ao vestíbulo.

— Entre! Entre, meu rapaz. Necessitamos de tempo para


conversar.

Aquele era um quarto amplo, com painéis de carvalho


esculpido em forma de pregas. Contra uma parede se via uma
fila de livros sobre uma larga mesa de cavalete. Completavam
o escasso mobiliário quatro poltronas instaladas ante uma
grande lareira, onde as chamas baixas ardiam alegremente.

— O que é isso sobre Chatworth? — Perguntou Stephen


de imediato.

— Antes de tudo, sente-se. Parece exausto. Quer algo


para comer? Vinho?

Stephen tirou o almofadão de uma cadeira de nogueira e


se sentou com gratidão.

— Lamento ter chegado tarde. — Disse, tomando o


vinho que Sir Thomas lhe oferecia. — Minha cunhada sofreu
uma queda e perdeu o bebê que carregava. Esteve a ponto de

LRTHistóricos 37
Highlander Audaz — Jude Deveraux

morrer. Nem sequer pensei na data, quando lembrei já estava


com três dias de atraso. Viajei a todo galope até chegar aqui.

Tirou uma parte de barro seco do pescoço e o jogou na


lareira. Sir Thomas fez um gesto afirmativo.

— Nota-se por seu aspecto. Se não me tivessem


anunciado que te aproximava com o estandarte que
apresenta os leopardos dos Montgomery, jamais teria podido
te reconhecer. Esse corte que tem no olho é tão mau quanto
parece?

Stephen tocou o lugar, distraído.

— É quase tudo sangue seco. Vinha cavalgando muito


depressa para que pudesse lamentar ou cuidar do ferimento
em meu rosto. — Brincou.

Sir Thomas se sentou, rindo.

— Me alegro em voltar a ver-te. Como estão seus


irmãos?

— Gavin se casou com a filha de Robert Revedoune.

— De Revedoune? Há dinheiro nesse enlace.

Stephen, com um sorriso, pensou que o dinheiro era o


que menos importava para Gavin com relação a sua esposa.

— Raine segue com suas absurdas ideias sobre o


tratamento dos servos.

— E Miles?

LRTHistóricos 38
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen tragou o resto de seu vinho.

— Miles nos presenteou com outro filho bastardo faz


apenas uma semana. Com este faz três ou quatro, já perdi a
conta. Se meu irmão fosse um semental nos faria ricos.

Sir Thomas, rindo, voltou a encher as duas taças.

Stephen olhou para o homem mais velho quando ele


serviu sua bebida novamente. Sir Thomas havia sido amigo
de seu pai, uma espécie de tio honorário que lhes levava
presentes de suas muitas viagens pelo exterior. Esteve no
batismo de Stephen vinte e seis anos atrás.

— Agora que terminamos com isso — disse, com


lentidão — talvez queira revelar o que está ocultando.

Sir Thomas riu entre dentes; foi um ruído grave e


delicado, que brotava do fundo de sua garganta.

— Conhece-me muito bem. Em realidade não é nada,


um simples desagrado sem gravidade. Roger Chatworth tem
passado muito tempo com sua noiva. Isso é tudo.

Stephen se levantou lentamente para aproximar-se do


fogo. De suas roupas caíam pedaços de barro a cada
movimento. Sir Thomas não podia adivinhar o que o nome do
Chatworth representava para Stephen. Alice Valence tinha
sido durante anos, a amante de seu irmão mais velho.
Embora Gavin tenha proposto matrimônio com insistência,
ela preferiu desposar o rico Edmund Chatworth. Pouco

LRTHistóricos 39
Highlander Audaz — Jude Deveraux

depois das bodas, Edmund foi assassinado e Alice reapareceu


na vida de Gavin, que já estava casado com Judith. Alice era
uma mulher traiçoeira, se enfiou na cama de Gavin,
aproveitando a sonolência e sua bebedeira, e em seguida fez
uma armadilha para que Judith os visse juntos. A jovem
esposa de Gavin, em sua tortura, tinha caído pela escada,
perdendo o bebê e ficando em grave perigo de vida.

Roger Chatworth era o cunhado de Alice, a mera


menção de seu nome fez que ao Stephen chiassem os dentes.

— Sem dúvida há algo mais que isso. — Disse por fim.

— Ontem à noite Bronwyn insinuou que possivelmente


preferia casar-se com o Roger e não com alguém que se
mostrava tão... descortês.

Stephen, sorridente, voltou para a cadeira.

— E como tomou Roger tudo isso?

— Parece de acordo. Passeia a cavalo com ela todas as


manhãs, de noite a acompanha à mesa e passa seu tempo
conversando com ela no jardim.

Stephen se bebeu o resto do vinho. Começava a relaxar-


se.

— Bem, se sabe que os Chatworth são um grupo de


ambiciosos, mas não sabia que fossem até esse ponto. Tem
que estar muito faminto para suportar a companhia dessa
mulher.

LRTHistóricos 40
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Suportar? — repetiu Sir Thomas, surpreso.

— Não há motivo para dissimular. Contaram-me que,


quando a rodearam, ela lutou como um homem; pior ainda,
sei que seu próprio pai a considerava tão homem que a
nomeou sucessora. Quase me compadeço do pobre Roger.
Casar-se com essa horrível mulher seria seu pior castigo.

Sir Thomas lhe olhava com a boca aberta; pouco a


pouco seus olhos começaram a cintilar.

— De maneira que é uma mulher horrível. —


murmurou, rindo baixo.

— De que outro modo pode ser? Não esqueça que passei


algum tempo na Escócia. Nunca tropecei com gente mais
selvagem. Mas o que podia eu dizer ao rei Henry, se ele
acreditava me oferecer uma recompensa com esse
matrimônio? Se eu me afastar e deixar que Roger fique com
ela, estará em dívida comigo para sempre. E então poderei me
casar com alguma doce donzela que não me peça emprestado
a armadura. — Sorriu. — Sim, acredito que é o que vou fazer.

— Estou de acordo! — afirmou Sir Thomas — Bronwyn é


horrível, de verdade. Não duvido que Roger só se interesse
por suas terras. Mas embora só seja para estar em situação
de dizer ao rei que atuaste com justiça, por que não a
conhece? Sujo como está, dar-lhe-á uma olhada e se negará a
casar-se contigo.

LRTHistóricos 41
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sim. — sorriu Stephen. Seus brancos dentes


acentuavam, por contraste, a imundície que trazia. — Assim
ambos poderemos revelar a Roger nossa decisão amanhã
mesmo. E eu poderei voltar para casa. Sim, Sir Thomas.
Estupenda ideia.

Os olhos do ancião tinham um brilho juvenil; pouco


faltava para dançar.

— Dá amostras de uma sabedoria muito pouco habitual


a sua idade. Espera aqui. Farei que tragam sua prometida
pela escada de atrás.

Stephen emitiu um grave assobio.

— Pela escada de atrás... Tem que ser pior do que


imaginava.

— Você vai ver meu rapaz, já verá! — disse Sir Thomas,


saindo do quarto.

Bronwyn, afundada em uma tina de água quente até o


queixo, com os olhos fechados, pensava em voltar para sua
pátria com Roger. Ambos compartilhariam a liderança de seu
clã. Era uma imagem que evocava com crescente frequência
desde alguns dias. Roger era o único inglês que achava
compreensível. Cada dia que transcorria parecia saber mais
sobre os escoceses.

A entrada de Morag lhe fez abrir os olhos.

LRTHistóricos 42
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Chegou. — anunciou a mulher.

— Quem? — perguntou Bronwyn, teimosa, embora


soubesse exatamente a quem se referia à anciã.

Morag ignorou a pergunta.

— Está conversando com Sir Thomas, mas sem dúvida


lhe chamarão dentro de alguns minutos. Anda, saia desta
água e se vista. Pode pôr o vestido azul.

A moça recostou a cabeça.

— Não terminei de me banhar e não tenho intenção de


descer para ver-lhe só porque se incomodou em aparecer. Se
me teve esperando quatro dias inteiros, então talvez eu o faça
esperar cinco.

— Você está sendo infantil, como bem sabe. O moço do


estábulo disse que os cavalos do homem haviam corrido até
perto da morte. É evidente que há tratado de chegar o quanto
antes.

— Ou que costuma maltratar a seus animais.

— Olhe que ainda está em idade de receber uma surra!


Saia dessa banheira se não quiser que te jogue um balde de
água fria sobre sua cabeça.

Antes que Morag pudesse reagir, a porta se abriu com


brutalidade, dando entrada a dois guardas.

LRTHistóricos 43
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Como se atrevem! — chiou Bronwyn, afundando-se


um pouco mais na água.

Imediatamente Rab, que estava ao pé da tina, preparou-


se para atacar.

Os homens apenas tiveram um vislumbre de Bronwyn


antes de serem atingidos e perderem o equilíbrio por cento e
vinte quilos de cão, grunhidos de dentes afiados.

Morag agarrou uma fina camisa de linho de Bronwyn,


atirou-a para ela. Ela, de pé na tina, a pôs apressadamente
sobre o corpo molhado, a bainha tocava a água. Enquanto
saía da tina agarrou o tartan de lã que a velha lhe entregava.

— Quieto Rab! — ordenou.

O galgo obedeceu imediatamente e foi ficar ao seu lado.

Os guardas se levantaram lentamente, esfregando seus


pulsos e ombros, mordidos por Rab. Não sabiam que o cão só
matava sob uma ordem direta de Bronwyn, do contrario a
protegia sem causar danos irreparáveis. Os homens tinham
visto subir a tina ao quarto da jovem, e haviam tomado as
ordens de Sir Thomas como um convite para vê-la no banho,
mas agora estava envolta dos pés a cabeça em uma dessas
mantas xadrez da Escócia. Não se via sequer o contorno de
seu corpo, só seu rosto e seus olhos, brilhantes de humor.

— O que procuram? — perguntou ela, com voz risonha.

LRTHistóricos 44
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sir Thomas lhe ordena descer a seu escritório. —


respondeu um dos homens, carrancudo. — E se esse cão
voltar a...

Ela o cortou secamente.

— Se alguém voltar a entrar em meu quarto sem


permissão farei que Rab abra suas gargantas. Vamos.
Mostrem o caminho.

Os guardas olharam à moça e ao enorme galgo. Por fim


giraram nos calcanhares e Bronwyn os seguiu pela escada,
com a cabeça erguida. Não revelaria ante ninguém sua
irritação pelo trato que recebia desse tal Stephen
Montgomery. Chegava com quatro dias de atraso, depois de
ter faltado a suas bodas, e de imediato a fazia se arrastar a
sua presença como se fosse uma serva qualquer.

No escritório, Bronwyn passeou o olhar entre Sir


Thomas e o homem que estava de pé diante da lareira. Era
alto, mas estava incrivelmente sujo. De seu rosto nada podia
dizer, salvo que parecia inchado em um lado. Seria uma
doença permanente?

De repente um dos guardas viu um modo de vingar a


pesada brincadeira sofrida. Pegou uma ponta do comprido
tartan e deu à moça um forte empurrão. Ela caiu para frente,
enquanto o homem ficava com a manta na mão.

— Parem! — vociferou Sir Thomas — Fora de minha


vista! Como te atreve a tratar assim a uma dama? Se ao

LRTHistóricos 45
Highlander Audaz — Jude Deveraux

amanhecer não se encontrar a cinquenta quilômetros da


redondeza, farei que te enforquem.

Os dois guardas giraram e abandonaram


apressadamente a sala enquanto Sir Thomas se agachava
para recuperar o tartan.

Bronwyn ficou aturdida durante um instante,


rapidamente se levantou. A fina camisa se aderia a seu corpo
úmido, como se estivesse nua. Tratou de cobrir-se com as
mãos, até que olhou para Stephen. Já não estava
despreocupadamente apoiado contra a lareira, mas sim a
olhava fixamente, boquiaberto de incredulidade. Seus olhos
muito abertos mostravam o branco ao redor deles, sua boca
de tão aberta só faltava aparecer à língua.

Ela franziu os lábios, mas ele nem sequer se deu conta.


Só via o que havia do pescoço para baixo. Ela pôs os braços
retos ao lado do corpo e o fulminou com o olhar.

O tempo pareceu alargar-se de modo extraordinário até


que Sir Thomas lhe colocou brandamente a manta sobre os
ombros. Ela se envolveu energicamente no tartan.

— Bom, Stephen, não saúda sua noiva?

Stephen piscou várias vezes antes de recuperar-se.


Então caminhou para ela com lentidão. Embora Bronwyn
fosse alta, teve que levantar os olhos para olhar para ele. A
luz mortiça lhe conferia ainda pior aspecto, pois provocava

LRTHistóricos 46
Highlander Audaz — Jude Deveraux

sombras fantasmagóricas da lama e sangue seco em seu


rosto.

Stephen ergueu um dos cachos que lhe tocavam o seio e


o apalpou entre os dedos.

— Não se equivoca Sir Thomas? — perguntou em voz


baixa, sem apartar os olhos dela — É esta a Laird do Clã
MacArran?

Bronwyn deu um passo atrás.

— Tenho língua e cérebro próprios. Não precisa falar


como se eu não estivesse aqui. Sou a MacArran de MacArran
e jurei odiar a todos os ingleses, sobre tudo aos que insultam
a meu clã, e a mim, apresentando-se tarde e sem banhar-se.
— Voltou-se para Sir Thomas. — Sinto muito, mas estou
muito cansada. Pode me desculpar, mas gostaria de ser
dispensada se é que uma pobre prisioneira pode solicitar tão
enorme favor.

Sir Thomas franziu o cenho.

— Agora Stephen é seu amo, senhora.

Ela girou para encará-lo com um olhar abrasador. Por


fim abandonou o quarto sem sua permissão. O ancião se
voltou para Stephen.

— Temo que lhe falte maneiras. Estes escoceses


deveriam aplicar mão firme a suas mulheres com mais

LRTHistóricos 47
Highlander Audaz — Jude Deveraux

frequência. Mas apesar de sua língua afiada, ainda opina que


é horrível?

Stephen ainda tinha a vista cravada na porta que


Bronwyn acabava de sair. Uma imagem dela dançava diante
seus olhos, um corpo que só existia em sonhos, cabelo negro
e pupilas de safira. Seu queixo havia se erguido para ele até
lhe fazer arder com desejo de beijá-la. A moça tinha os seios
cheios e duros contra o tecido molhado e aderente, a cintura
pequena e firme, os quadris e as coxas redondas, impudicas,
tentadoras.

— Stephen!

Stephen esteve a ponto de cair na cadeira.

— Se eu soubesse... — sussurrou. — Se tivesse a menor


ideia, teria vindo há várias semanas, quando o rei Henry a me
deu em matrimônio.

— Isso significa que conta com sua aprovação.

Stephen passou uma mão pelos olhos.

— Acredito que estou sonhando. Nenhuma mulher pode


ter esse aspecto e estar viva. Sou vítima de algum ardil.
Planeja você substituir esta mulher pela verdadeira Bronwyn
MacArran no dia das bodas?

— Asseguro-te que esta é a verdadeira. Por que acha que


me esforço para mantê-la guardada? Meus homens parecem
cães a ponto de brigar por ela a qualquer momento. Circulam

LRTHistóricos 48
Highlander Audaz — Jude Deveraux

por aí, repetindo histórias sobre quão traiçoeiros são os


escoceses, mas a verdade é que cada um deles se ofereceu
generosamente a ocupar seu lugar na cama da moça.

Stephen franziu os lábios.

— Mas você os mantém apartados.

— Não foi fácil.

— E o que aconteceu com o Chatworth? Ocupou meu


lugar junto a minha esposa?

Sir Thomas riu entre dentes.

— Parece ciumento, mas faz um instante estava


disposto a ceder-lhe. Roger não passou um só momento com
ela sem a devida companhia. Ela é uma amazona excelente, o
cavaleiro não se atreve a cavalgar sozinho com a moça por
medo de que fuja com seus escoceses.

Stephen soprou zombador.

— Antes eu diria que o sobrenome Chatworth tem


demasiados inimigos para que ele se atreva a cavalgar
sozinho. — Levantou-se. — Deveria mantê-la encerrada no
quarto trancado e não lhe permitir cavalgar com nenhum
homem.

— Não sou tão velho que possa resistir a um rosto como


o de Lady Bronwyn. Basta que ela me peça algo para que eu o
dê.

LRTHistóricos 49
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Agora está sob minha responsabilidade. Ocuparei


novamente o quarto sudeste? Você poderia me fazer subir
uma tina e algo para comer? Amanhã não voltará a se sentir
insultada por minha presença.

Sir Thomas sorriu ante a tranquila segurança de


Stephen. Aquilo prometia ser emocionante.

Quando a luz do sol matutino filtrou seus raios do outro


lado do quarto, Bronwyn estava de pé junto à mesa, com um
pergaminho na mão, o cenho franzindo a testa. Usava um
vestido de veludo de cor azul-pavão, com amplas mangas
cortadas em certos pontos, pelas aberturas aparecia o forro
de seda verde claro. A saia também estava cortada na frente
para mostrar a mesma seda.

Voltou-se para o Morag.

— Pede-me que me encontre com ele no jardim.

— Está bastante apresentável.

Bronwyn enrugou a nota na mão. Ainda estava furiosa


pelo modo que ele tinha exigido sua presença a noite anterior.
E agora, pela manhã, não oferecia explicações nem desculpas
por sua conduta ou seu atraso. Limitava-se a exigir que ela
fizesse exatamente o que ele desejava. Olhou à criada que
aguardava sua resposta.

LRTHistóricos 50
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Diga ao Lorde Stephen que não vou me encontrar


com ele.

— Não vai? Milady não está bem?

— Estou muito bem. Dê minha mensagem como eu


disse, então vá para Roger Chatworth e diga que vou
encontrá-lo no jardim em dez minutos.

Os olhos da menina se arregalaram, depois saiu do


quarto.

— Você faria bem em fazer as pazes com seu marido. —


Disse Morag. — Você não ganhará nada, deixando-o zangado.

—-Meu marido! Meu marido! Isso é tudo que ouço. Ele


ainda não é meu marido. Eu devo estar pronta para correr
quando me chamar depois de ele ter me ignorado todos esses
dias? Tenho sido motivo de riso de todos na mansão por
causa dele, e mesmo assim tenho que cair aos seus pés como
uma esposa obediente no momento em que ele se incomoda
em aparecer. Eu quero que ele saiba que o odeio e a todos da
sua espécie.

— E o jovem Chatworth, ele é inglês.

— Pelo menos tem sangue escocês. Talvez eu possa levá-


lo para as Terras Altas e fazer dele um escocês inteiro. Venha,
Rab, temos um compromisso. — Bronwyn sorriu.

— Bom dia, Stephen. – Sir Thomas chamou. Era uma


manhã adorável, o sol brilhando, o ar fresco após uma rápida

LRTHistóricos 51
Highlander Audaz — Jude Deveraux

chuva na noite anterior. O aroma de rosas pairava no ar. —


Você certamente parece bem melhor do que ontem.

Stephen usava uma jaqueta curta de lã marrom-escura.


Ela enfatizava a largura de seus ombros, a espessura de seu
peito. Suas pernas estavam envoltas em uma calça que
colava em cada curva muscular de suas poderosas coxas.
Seus cabelos loiros escuros ondulavam ao longo de seu
colarinho, seus olhos brilhavam acima de sua mandíbula
forte. Ele era extraordinariamente bonito.

— Ela se recusou a me ver. — Disse sem preâmbulos.

— Eu disse que as maneiras dela são rudes.

Stephen subitamente ergueu a cabeça. Bronwyn vinha


na direção deles. À primeira vista não viu Roger ao lado dela.
Seu olhar estava voltado unicamente para a escocesa. Seu
cabelo pesado caía em cascata nas costas, descoberto. A luz
do sol refletia nele, fazendo-o brilhar como pingos de ouro. O
vestido azul refletia o azul de seus olhos. Seu queixo era tão
obstinado à luz do dia como se mostrara na noite anterior.

— Bom dia. — Roger cumprimentou calmamente


enquanto paravam por um momento.

Bronwyn acenou com a cabeça para Sir Thomas, então


seus olhos se demoraram em Stephen. Ela não o reconheceu.
Seu único pensamento foi que nunca vira um homem com
esses olhos. Pareciam ver através dela. Foi com dificuldade
que desviou o olhar e prosseguiu sua caminhada.

LRTHistóricos 52
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Quando Stephen dominou-se o suficiente para


finalmente perceber que Roger Chatworth caminhava ao lado
da mulher com quem ele casaria, rosnou baixo um grunhido
e deu um passo à frente.

Sir Thomas segurou-lhe o braço.

— Não vá atrás dele dessa maneira. Tenho certeza que


não há nada que Roger deseje mais que uma briga. E, pelo
que eu saiba, Bronwyn também.

— Então eu devo dá-la a ambos!

— Stephen! Escute. Você magoou aquela garota. Você se


atrasou e não enviou uma mensagem. Ela é uma mulher
orgulhosa. Talvez mais orgulhosa do que uma mulher deveria
ser. O pai dela sabia disso quando a tornou sua herdeira. Dê-
lhe tempo. Leve-a para cavalgar amanhã e converse com ela,
pois é uma mulher inteligente.

Stephen relaxou e retirou a mão do punho da espada.

— Conversar com ela? Como eu poderei falar com uma


mulher com essa aparência? Na noite passada eu mal
consegui dormir porque ela me deixou atormentado. Sim, eu
a levarei para cavalgar, mas talvez não o tipo de cavalgada
que você está falando.

— Seu casamento está marcado para depois de amanhã.


Mantenha a moça virgem até lá.

Stephen deu de ombros.

LRTHistóricos 53
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Ela é minha e farei com ela o que eu quiser.

Sir Thomas meneou a cabeça ante a arrogância do


rapaz.

— Venha, vamos olhar meus novos falcões.

— Minha cunhada, Judith, mostrou a Gavin uma nova


isca. Talvez você queira vê-lo.

Assim dizendo, deixaram o jardim e se dirigiram ao


estábulo.

Bronwyn, enquanto caminhava com Roger, não deixava


de procurar com o olhar o homem que tinha conhecido a
noite anterior. O único desconhecido parecia ser o que
acompanhava Sir Thomas. Outros eram os de sempre, que a
olhavam e a encaravam rindo de modo insultante ao vê-la
passar. Mas nenhum deles se parecia com o homem feio e
imundo do qual fora arrasta e posta diante dele na noite
anterior. Em certa oportunidade jogou uma olhada por cima
do ombro, tanto Sir Thomas como seu acompanhante tinham
desaparecido. Os olhos do homem não se apagavam de sua
mente. Davam-lhe desejo de fugir, mas também impediam de
fazê-lo. Piscou para limpar sua visão e virou-se para alguém
menos perigoso, Roger, cujos olhos sorriam com bondade e
não a alteravam absolutamente.

LRTHistóricos 54
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Me diga Lorde Roger, o que mais pode me contar


sobre Stephen Montgomery? Que é feio já sei.

Roger ficou surpreso. Nunca teria imaginado que uma


mulher pudesse considerar feio Stephen Montgomery.
Chatworth sorriu.

— Em outros tempos os Montgomery eram ricos, mas


sua arrogância desagradou a um rei e ele se apoderou de
suas riquezas.

Ela franziu o cenho.

— Por isso agora se casam com mulheres de fortuna.

— As mais enriquecidas que possam achar. —


enfatizou-o.

Bronwyn pensou nos homens que tinham morrido com


seu pai. Ela teria escolhido um como marido. Desse modo
teria se casado com um homem que a amasse, que quisesse
algo além de suas terras.

Morag puxava um balde de água do poço, sem apartar a


vista do jovem silencioso que se apoiava contra o muro do
jardim. Nos últimos dias, a anciã não se afastava muito de
sua pupila, embora Bronwyn nunca notasse sua presença.
Não gostava do modo como Bronwyn se exibia com esse tal
Roger Chatworth. Tampouco gostava de Chatworth. Como
podia um homem cortejar uma mulher poucos dias antes que
ela se casasse com outro?

LRTHistóricos 55
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Morag tinha escutado os protestos de Bronwyn depois


de seu encontro com Stephen Montgomery. Que o homem era
um idiota, baboso e lascivo, com quem ela não se casaria
jamais, ele era repulsivo e vil.

A anciã deixou o balde de água no chão. Levava quase


uma hora observando ao jovem de olhos azuis que não
despegava a vista de Bronwyn, enquanto a moça cantava ao
compasso do alaúde de Roger. O desconhecido quase não
piscava. Apenas ficou de pé a observá-la.

— Então é você quem vai se casar com ela! — disse


Morag em voz alta.

Stephen apartou a vista da cena com certa dificuldade.


Olhou à velha dos pés a cabeça e sorriu.

— Como sabe?

— Pelo jeito que você está olhando para ela, como se já a


possuísse. — pôs-se a rir.

— Ela disse que era feio como nenhum outro. — Os


olhos do Stephen cintilaram.

— E você o que pensa?

— O que posso achar? — grunhiu Morag — Mas não


pense que vou adular-te.

— Agora que me puseste em meu lugar, talvez queira me


dizer quem é. Por seu sotaque adivinho que é escocesa, como
minha Bronwyn.

LRTHistóricos 56
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sou Morag de MacArran.

— A donzela de Bronwyn?

As costas da anciã ficaram rígidas.

— Conviria aprender que na Escócia somos livres. Faço


o que posso para ganhar o pão. Por que não se apresentou
para as bodas?

O moço voltou o olhar para Bronwyn.

— Porque minha cunhada estava muito doente. Não


pude partir até estar seguro de que sobreviveria.

— E tampouco pôde enviar uma mensagem? — Stephen


a olhou com ar culpado.

— Esqueci-me. Estava tão preocupado com Judith que


esqueci.

A velha deu um grunhido de risada. Esse alto cavalheiro


a estava conquistando.

— Tem que ser um bom homem para se preocupar tanto


por outra pessoa que se esquece de seus próprios interesses.

Os olhos de Stephen brilharam.

— Claro que não tinha ideia de como era sua ama.

A mulher voltou a rir.

LRTHistóricos 57
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É um moço bom e sincero. Tendo em conta que é


inglês. Vamos entrar e tomaremos um pouco de uísque ou
tem medo de tomar uísque tão cedo?

Stephen lhe ofereceu o braço.

— Talvez consiga te embebedar para que me fale de


Bronwyn.

A gargalhada de Morag ressoou pelo jardim.

— Em outros tempos meu jovem, os homens queriam


me embebedar por outros motivos.

E caminharam juntos para a mansão.

Aquela risada fez franzir o cenho de Bronwyn. Durante


todo esse tempo tinha tido muita consciência de que o
homem a olhava com uma fixidez inquietante. Alguns olhares
ocasionais lhe permitiram ver que ele denotava desenvoltura,
graça, potência e uma força dominada com facilidade. O fato
de que Morag conversasse tão intimamente com ele a
inquietou ainda mais. A anciã não estava acostumada a
entender-se com os homens, muito menos com os ingleses.
Como era possível que aquele homem a tivesse conquistado
com tanta facilidade?

— Quem é o homem que fala com Morag?

Roger franziu o cenho.

— Não o conhece? É Stephen.

LRTHistóricos 58
Highlander Audaz — Jude Deveraux

A moça seguiu com o olhar a silhueta que se retirava,


oferecendo o braço à enrugada mulher. A cabeça de Morag
lhe chegava apenas ao cotovelo.

De repente Bronwyn se sentiu mais insultada ainda.


Que tipo de homem era ele, capaz de apenas observar
enquanto outro cortejava a sua prometida, sem sequer lhe
dirigir a palavra, estando a poucos metros de distância?

— Há algo que a inquiete, Lady Bronwyn? — perguntou


Roger, que a observava com atenção.

— Não, — sorriu ela — absolutamente nada. Siga


tocando, por favor.

Estava anoitecendo quando Bronwyn se reencontrou


com Morag. O sol poente deixava o quarto em penumbra. Rab
permanecia junto a sua ama, que penteava seus longos
cabelos.

— Então esta tarde recebeu visita. — Comentou, como


se não tivesse importância.

A velha encolheu os ombros.

— Conversaram de algo interessante? — O gesto se


repetiu.

Bronwyn deixou o pente para aproximar-se de Morag,


que estava sentada junto à janela.

LRTHistóricos 59
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Quer me responder?

— Não seja intrometida e curiosa. Desde quando tenho


que prestar conta de minhas conversas particulares?

— Esteve bebendo à tarde de novo, posso sentir o


cheiro.

Morag sorriu abertamente.

— Esse moço sabe resistir ao uísque. Aposto que seria


capaz de beber com um escocês até lhe fazer cair sob a mesa.

— De quem falas? — acusou Bronwyn.

A outra a olhou com astúcia.

— Caramba, de seu marido, certamente. Sobre qual


outro pode me importunar com suas perguntas?

— Pois não estou... — Bronwyn se tranquilizou. — Não é


meu marido. Nem sequer se preocupa em me dirigir a
palavra, muito menos apresentar-se às bodas.

— De maneira que isso é o que te incomoda. Supus que


havia nos visto juntos. Queria chateá-lo passeando com o
jovem Chatworth?

Bronwyn não respondeu.

— Já imaginava! Pois fique sabendo que Stephen


Montgomery não está habituado a ser desprezado por mulher
nenhuma Se decidir casar-se contigo, depois do

LRTHistóricos 60
Highlander Audaz — Jude Deveraux

comportamento que tiveste com o Chatworth, pode te


considerar muito afortunada.

— Afortunada! — Bronwyn conseguiu balbuciar. Se


Morag pronunciava uma palavra mais, acabaria por lhe
retorcer o pescoço. — Vamos, Rab — ordenou.

Abandonou o quarto para descer apressadamente pela


escada até o jardim. Fora já estava escuro; a lua brilhava
sobre árvores e sebes. Caminhou pelos atalhos e acabou
sentando-se em um banco de pedra, frente a um muro baixo.
Quanto desejava voltar para sua casa, afastar-se desses
estrangeiros, tirar essas roupas estranhas, deixar para trás a
esses forasteiros que a olhavam como um prêmio de guerra!
De repente Rab se levantou e soltou um rosnado de
advertência.

— Quem está aí? — perguntou a moça. Um homem se


adiantou.

— Stephen Montgomery! — disse em voz baixa. À luz da


lua parecia ainda mais musculoso. — Posso me sentar ao seu
lado?

— Por que não? Acaso importa minha opinião quando se


trata dos ingleses?

Stephen se sentou ao seu lado, e observou como ela


dominava Rab com um simples gesto da mão. Reclinou-se
contra a parede, estirando as longas pernas. Bronwyn se
afastou para a beirada do banco.

LRTHistóricos 61
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Se segue te afastando acabará caindo. — Ela ficou


rígida.

— Diga o que quer e acabemos logo com isso.

— Não tenho nada para dizer .— respondeu ele, gentil.

— Pois com Morag parecia ter muito sobre o que


conversar.

Stephen sorriu. A luz da lua se refletiu em seus dentes


brancos e uniformes.

— Essa mulher tratou de me embebedar.

— E teve êxito?

— Quem se criou com três irmãos varões sabe beber.

— Não fizeram mais que beber? Sem conversar?

Stephen guardou silêncio durante um instante.

— Por que te mostra tão hostil comigo? — perguntou ele


por fim. Ela se levantou com presteza.

— Pretendia que te recebesse com os braços abertos?


Estive seis horas vestida para minhas bodas, esperando que
chegasse. Vi toda minha família massacrada pelos ingleses,
mas me ordenaram a me casar com um deles. Então me trata
como se não existisse. E agora, em vez de pedir desculpas,
pergunta-me por que sou hostil.

LRTHistóricos 62
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Voltou-lhe as costas e pôs-se a andar para a mansão,


mas ele segurou-a por um braço para fazê-la voltar-se para
ele. Bronwyn não estava acostumada a um homem muito
mais alto que ela.

— Se te pedir desculpas, aceitaria?

Sua voz era grave e profunda, como prata líquida à luz


da lua. Era a primeira vez que a tocava, que estava tão perto
dela. Pegou seus pulsos e deslizou as mãos por seus braços,
segurando a carne sob a seda e o veludo.

— O rei Henry só quer a paz — disse. — Pensa que, se


puser um inglês em meio aos escoceses, eles poderão
compreender que não somos tão ruins.

Bronwyn olhou-o. O coração lhe pulsava com força.


Queria afastar-se deste homem, mas o corpo não lhe
obedecia.

— Sua vaidade é alarmante. A julgar por sua falta de


boas maneiras, meus escoceses pensarão que são piores do
que temiam.

Stephen riu brandamente, mas era evidente que não o


prestava muita atenção. Adiantou a mão esquerda para lhe
tocar o pescoço. Bronwyn tratou de liberar-se.

— Não me toque! Não tem direito a me tocar, nem rir de


mim!

Stephen não se incomodou em liberá-la.

LRTHistóricos 63
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É deliciosa. Só penso que, se não houvesse atrasado


a nossas bodas, neste mesmo instante poderia te levar a meu
quarto. Você não gostaria de esquecer o dia que falta e subir
agora mesmo comigo?

Ela lançou uma exclamação de horror e Rab rosnou com


ar ameaçador. Enquanto Bronwyn se libertava e afastava-se
bruscamente das mãos que a seguravam, Rab se interpôs
entre sua proprietária e o homem que a tocava.

— Como te atreve? — protestou ela, apertando os


dentes. — Devia ser grato por eu não fazer com que Rab o
ataque por me insultar assim.

— O cão sabe apreciar a vida. — Stephen emitiu uma


risada estupefata.

Deu um passo mais perto e Rab rosnou mais alto.

— Não te aproxime mais. — advertiu Bronwyn.

Stephen a olhou, desconcertado, e levantou as mãos em


um gesto de súplica.

— Não era minha intenção te insultar, Bronwyn. Eu...

— Posso lhe ser útil, Lady Bronwyn? — perguntou Roger


Chatworth, surgindo de entre as sombras das sebes.

— Tomaste o costume de espreitar entre as sombras,


Chatworth? — perguntou-lhe Stephen.

Roger se mostrava tranquilo e sorridente.

LRTHistóricos 64
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Prefiro dizer que tomei o costume de socorrer às


damas em apuros. — Voltou-se para ela com o braço
estendido. — Escolto-a até sua habitação, milady?

— Advirto-lhe, Chatworth...

— Basta! Parem com isso, vocês dois! — protestou


Bronwyn, desgostada por essa briga infantil. — Obrigada por
sua amabilidade, Roger, mas não necessito melhor escolta
que a do Rab. — Voltou-se para Stephen com um olhar de
gelo. — Quanto a você meu lorde, agradeço por me oferecer a
desculpa necessária para deixar sua desprezível companhia.

Voltou às costas aos homens e Rab a seguiu de perto no


trajeto à mansão.

Roger e Stephen a seguiram com a vista durante um


longo tempo. Depois, sem olhar-se, partiram em direção
distinta.

Bronwyn teve dificuldade para conciliar o sonho.


Stephen Montgomery a inquietava profundamente. Sua
proximidade era perturbadora, quando ele a tocava parecia
impossível pensar corretamente. Era esse o homem que
deveria apresentar diante seu clã como líder? Não parecia ter
um pingo de seriedade no corpo. Quando conseguiu dormir
teve horríveis sonhos. Via os homens de seu clã seguindo a
uma bandeira inglesa, um a um caíam massacrados. Stephen
Montgomery sustentava em alto o estandarte ignorando a

LRTHistóricos 65
Highlander Audaz — Jude Deveraux

morte dos escoceses, pois insistia em colocar a mão sob o


vestido do Bronwyn.

Pela manhã recebeu um convite de Stephen, que não


serviu absolutamente para lhe levantar o ânimo. Enrugou na
mão a nota em que lhe propunha uma cavalgada e anunciou
a Morag que não iria. Mas Morag tinha uma maneira de
importunar que sempre fazia alguém fazer o que ela queria. A
velha já tinha conseguido que Bronwyn lhe dissesse por que
estava tão zangada com Stephen.

— É um jovem saudável, — comentou Morag — e te


pediu que passasse a noite com ele. Outros pediram isso,
segundo lembro, sem que você se sentisse tão insultada.

Bronwyn guardou silêncio, pensando que os ingleses


tinham posto fim a seus dias de risadas e liberdade. A velha
não deixou que essa pausa a preocupasse. Desejava algo e
não se deteria até ter obtido.

— Pede-te que passe o dia com ele. Depois de tudo,


amanhã se celebrará as bodas.

— Como sabe? Ninguém me comunicou a nova data.

— Disse-me isso Stephen, esta manhã. — replicou


Morag, impaciente.

— Então, você o viu de novo! O que encontra tão


interessante? Até entre os ingleses há melhores.

Morag soprou com desdém.

LRTHistóricos 66
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não conheci a nenhum.

— Roger Chatworth é amável, inteligente e tem uma boa


dose de sangue escocês.

— Ele disse isso? Talvez quisesse dizer que gosta de


uma boa parte de terra escocesa. Acredito que Roger
Chatworth adoraria ter a terra que você possui.

Os olhos do Bronwyn emitiram um cintilar furioso.

— Não é isso o que procuram todos estes ingleses?


Querer-me-iam embora fosse gorda e velha.

Morag meneou a cabeça, desgostada.

— Primeiro se revolta contra Stephen por seus ardores,


depois te queixa de que os homens lhe querem somente por
sua riqueza e não por sua pessoa. Dê-lhe uma oportunidade
de se redimir. Conversa com ele, passa o dia ao seu lado,
pergunte o porquê de seu atraso.

Bronwyn franziu o cenho. Não queria ver Stephen nunca


mais. Era-lhe fácil imaginar a Roger cavalgando ao seu lado,
mas não podia imaginar Stephen fazendo nada além do que
queria independentemente de seus desejos. Olhou a Morag.

— Tratarei de conversar com ele, se ele puder manter


suas mãos afastadas tempo suficiente para conversar.

— Acredito que em sua voz há esperança. — Morag


gargalhou

LRTHistóricos 67
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Três
Apesar da pouca vontade de passar o dia com seu
prometido, Bronwyn se vestiu com esmero. Usava um vestido
de lã simples, de cor vinho escuro, bordado de pérolas ao
redor do profundo decote quadrado. As estreitas mangas
mostravam a curva de seu braço.

Desceu as escadas com Rab lhe acompanhando os


passos, mantinha cabeça bem alta. Planejava dar a Stephen
Montgomery a oportunidade de lhe demonstrar suas boas
intenções com respeito a ela e a sua gente. Talvez lhe tivesse
julgado precipitadamente, possivelmente ele desejasse o
melhor para seu clã. Então lhe perdoaria o atraso das bodas.
Depois de tudo, o que importava os inconvenientes pessoais?
O que importava era a atitude de Stephen para com seu clã e
que eles lhe aceitassem ou não. Ela também queria a paz
entre os seus e os ingleses, tanto quanto o rei Henry, já que
foram os membros da sua família que haviam sido abatidos.

Deteve-se ao pé da escada para contemplar o ensolarado


jardim.

Stephen a esperava, apoiado contra um muro de pedra.


Era forçoso admitir que não lhe faltava beleza e que a atraía
de uma maneira extraordinária. Mas não podia permitir que
seus sentimentos — de amor ou de ódio — se antepusessem
às necessidades de seu clã.

LRTHistóricos 68
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Bom dia! — saudou em voz baixa, ao aproximar-se.

Stephen olhava com ardorosa intensidade. Com gesto


automático, tomou um dos cachos que lhe caiam no ombro.

— É costume das escocesas não cobrir os cabelos? —


inquiriu, enrolando os fios sedosos no dedo.

— As mulheres costumam deixar os cabelos soltos até


que tenha seu primeiro filho. Salvo quando usam um tartan
— adicionou, observando-o se por acaso fizesse algum
comentário ou demonstrasse sabê-lo.

— O primeiro filho! — sorriu ele. — Vamos ver o que se


pode fazer a respeito. — Mostrou o outro extremo do jardim
com um gesto da cabeça. — Tenho um par de cavalos
preparados. Está pronta?

Ela virou a cabeça para que ele soltasse sua mecha.

— As escocesas sempre estão prontas para montar. —


pronunciou, recolheu suas largas saias e caminhou à frente
dele, ignorando a risada divertida que a seguia.

Uma bonita égua negra esperava junto ao garanhão de


Stephen. A égua pisoteava, entusiasmada pela perspectiva de
correr. Antes que Stephen pudesse oferecer sua ajuda,
Bronwyn saltou para a sela, amaldiçoando pela centésima vez
a moda inglesa das saias largas e pesadas, que resultavam
tão incômodas. Por sorte, Stephen não havia selado o animal
com uma dessas absurdas selas laterais, como fazia Roger.

LRTHistóricos 69
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Antes que Stephen tivesse montado seu cavalo, a moça


açulou à égua. O animal era corajoso e tinha tanto desejo de
correr como ela. Bronwyn guiou o cavalo a toda velocidade,
em direção ao caminho que Roger lhe mostrara. Inclinava-se
para frente, deliciando-se do vento contra o rosto e o pescoço.

De repente detectou um movimento pela extremidade do


olho. Ao girar a cabeça viu que Stephen a seguia de perto,
ganhando vantagem. Riu a todo pulmão. Nenhum inglês
nascido podia derrotar a uma escocesa na sela de um cavalo.
Incitou à égua com sua voz e lhe deu uma leve chicotada. A
égua se lançou para frente como se tivesse asas. Pelo corpo
de Bronwyn circulava uma sensação de poder e exaltação.

Mas ao olhar por cima do ombro comprovou


carrancuda, que Stephen estava cada vez mais perto. Para
frente o caminho se estreitava, tornando-se muito apertado
para dois cavalos ao mesmo tempo. Se Stephen queria
passar, teria que sair do caminho e galopar pelo bosque, com
o risco de que seu cavalo afundasse a pata em uma toca de
coelho ou se chocasse contra uma árvore. Bronwyn guiou à
égua para o meio do caminho. Sabia o que faria um escocês
ao ver bloqueado seu caminho, mas aos ingleses faltavam
coragem e resistência.

A égua corria a todo galope. Stephen já estava muito


perto e Bronwyn sorriu triunfalmente ante sua confusão. Foi
então que sua égua empinou levemente as patas com um
relincho, Bronwyn teve dificuldade para manter-se sobre a

LRTHistóricos 70
Highlander Audaz — Jude Deveraux

sela. O garanhão do Stephen, adestrado para o combate,


tinha-lhe mordiscado a garupa ao aproximar-se.

A moça se esforçou em dominar seu animal,


amaldiçoando aos ingleses por lhe haver tirado seu próprio
cavalo. Essa égua lhe era desconhecida e se mostrava muito
menos receptiva as suas ordens.

A égua voltou a relinchar, quando o garanhão mordeu-a


uma segunda vez, então, contra os comandos de Bronwyn, a
égua sapateou para o lado e Stephen passou como um raio. O
olhar que jogou fez que Bronwyn, murmurando um horrendo
juramento gaélico, puxasse as rédeas para que a égua
voltasse para centro do caminho.

Durante toda a corrida não permitiu que a égua


desacelerasse. Tão somente por sua extraordinária habilidade
com os cavalos tinha podido controlar a égua quando ela
correu para a floresta para se livrar do agressivo garanhão.

Quando ela chegou ao riacho e saltou por cima do


arroio, Stephen estava já ali, esperando-a. Tinha desmontado
e permanecia tranquilamente de pé, observando seu cavalo
beber água.

— Não esteve mal — lhe sorriu. — Tem tendência a


puxar a rédea direita um pouco mais forte que a esquerda,
mas com um pouco de prática chegará a ser muito boa.

Os olhos de Bronwyn lhe dispararam fogo azul. Prática!


Aos quatro anos ganhou o primeiro pônei e aos oito cavalgava

LRTHistóricos 71
Highlander Audaz — Jude Deveraux

com seu pai nas incursões para roubar gado. Cavalgava de


noite através das planícies, subindo as rochas da costa
marítima. E ele dizia que necessitava prática! Stephen se se
pôs a rir.

— Não ponha essa cara. Se por acaso se sente ofendida,


direi que é a melhor amazona que vi em minha vida. Poderia
dar lições à maioria das inglesas.

— Às inglesas! — conseguiu balbuciar ela. — Poderia


dar lições a todos os ingleses, homens incluídos!

— Entretanto acaba de perder uma corrida contra um


inglês. Agora desmonta de uma vez e dá uma esfregada a esse
cavalo. Não pode deixá-lo suado.

E agora se atrevia a lhe ensinar como se cuida de um


cavalo!

Bronwyn lhe olhou com uma careta entre zombadora e


depreciativa. Levantou seu chicote e se inclinou para
descarregá-la contra ele. Stephen esquivou com facilidade da
chicotada e retorceu seu pulso, fazendo com que o chicote
caísse ao chão. Bronwyn surpreendida se desequilibrou pelo
inesperado movimento e, pelo pesado vestido inglês que
envolvia suas pernas, perdeu o estribo e cambaleou para
frente. Apesar de Bronwyn ter imediatamente se agarrado à
sela, Stephen já tinha rodeado a sua cintura com as mãos e a
atraia para si. A moça lutou para se liberar. Por um momento
mediram forças, mas o que enfureceu Bronwyn foi que

LRTHistóricos 72
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen parecia estar gostando plenamente da humilhação


de sua prometida. Brincava com ela, deixando-lhe acreditar
que ganhava só para dominá-la de novo.

Por fim riu e, com um poderoso puxão, tirou-a da sela,


erguendo-a acima da cabeça.

— Sabia que esse buraquinho de seu queixo se faz mais


profundo quando te enfurece?

— Buraquinho! — indignou-se ela, levantando o pé para


atacá-lo.

Considerando que tinha os pés a um metro do chão e


que seu único apoio eram as mãos de Stephen na sua
cintura, o movimento não foi muito prudente. Ele riu outra
vez, jogou-a no ar e, enquanto a moça tratava de recuperar o
equilíbrio, tomou-a em seus braços para estreitá-la contra si
e lhe dar um sonoro beijo na orelha.

— É sempre tão divertida? — perguntou.

Ela se negou a olhá-lo, embora a sustentasse alto, com


os braços imobilizados aos lados para evitar que o golpeasse.

— É sempre tão descarado? — replicou. —Alguma vez te


ocorre outra coisa que tocar às mulheres?

Stephen esfregou o rosto em sua suave bochecha.

— Cheira bem. Admito que seja a primeira mulher que


me afetou deste modo. Mas também é minha primeira

LRTHistóricos 73
Highlander Audaz — Jude Deveraux

esposa. Pela primeira vez tenho uma mulher completamente


minha.

Ela se enrijeceu ainda mais em seus braços, se isso


fosse fisicamente possível.

— Isso é tudo o que uma mulher é para você? Algo que


se possui?

Ele sorriu, balançou a cabeça e colocou-a no chão, sem


lhe tirar as mãos dos ombros.

— É obvio. Para que outra coisa serve uma mulher?


Anda, arranca um pouco de erva para secar a seu cavalo.

Bronwyn deu-lhe as costas de boa vontade. Eles não se


falaram enquanto soltavam seus cavalos e começaram a
esfregá-los. Stephen não fez nenhuma tentativa de ajudá-la
com a pesada sela, agradando a Bronwyn que teria recusado.
Embora fosse mulher, distava muito de ser indefesa como ele
parecia pensar.

Quando os animais foram amarrados, voltou-se a olhá-


lo.

— Ao menos sabe um pouco de cavalos. — reconheceu-


o.

A expressão da moça lhe fez rir. Aproximou-se dela e lhe


deslizou uma mão pelo braço, subitamente sério.

LRTHistóricos 74
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não comece com isso outra vez, por favor. — ela


retrucou, apartando-se com brutalidade. — Não pode pensar
em outra coisa?

Os olhos de Stephen cintilavam.

— Quando está perto, não. Acredito que me enfeitiçou.


Faria-te outra proposta, mas a última te enfureceu
demasiado.

Essa menção da cena do jardim fez que Bronwyn


olhasse ao seu redor. Rab tinha se deitado tranquilamente
junto ao riacho. Era estranho que não tivesse ameaçado
Stephen durante a discussão anterior, considerando que o
cão ainda grunhia quando Roger se aproximava muito.

— Onde estão seus homens?

— Com Sir Thomas, suponho.

— Não os necessita para que lhe proteja? O que me diz


de meus escoceses? Sabia que esperam no bosque,
preparados para me resgatar?

Stephen pegou sua mão para arrastá-la para algumas


rochas. Ela tratou de libertar-se, mas não pôde. Ele a obrigou
a sentar ao seu lado e deitou-se junto a ela, com a cabeça
apoiada nas mãos. Ao parecer, não considerava que suas
perguntas mereceriam resposta. Limitava-se a olhar o céu
azul por entre as árvores.

— Por que seu pai o nomeou Laird do clã?

LRTHistóricos 75
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn lhe olhou fixamente por um momento. Logo


sorriu. Isso era exatamente o que queria falar com ele, sobre
o que para ela era o mais importante no mundo, seu povo.

— Eu deveria me casar com um dos três melhores


homens do meu pai. Qualquer um deles teria sido um
excelente Laird. Mas nenhum desses jovens estava dentro dos
nove graus de parentesco entre os quais pode escolher-se a
um Laird. Meu pai me nomeou sucessora, no entendimento
de que eu me casaria com um deles, desta forma o escolhido
seria pelo enlace Laird.

— O que se passou com os homens?

Bronwyn torceu a boca, furiosa.

— Mataram eles junto com meu pai. Foram os ingleses!

Stephen não soube como responder, salvo franzindo


apenas o cenho.

— Isso significa que quem quer que se case com você


deve se tornar o Laird, não?

— Eu sou o Laird de MacArran. — estabeleceu ela com


firmeza, enquanto começava a levantar-se. Stephen lhe
segurou a mão para obriga-la a seguir sentada.

— Oxalá você parasse de ficar com raiva de mim por


mais de um minuto. Como quer que a compreenda se tenta
fugir de mim?

— Eu não fujo de você!

LRTHistóricos 76
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn afastou a mão, porque ele tinha começado a


beijar a ponta dos seus dedos. Obrigou-se a ignorar as
sensações que lhe corriam pelo braço até o lóbulo da orelha.
Stephen, com um suspiro, voltou a deitar-se.

— Temo que não possa conversar e te olhar ao mesmo


tempo. — Fez uma pausa. — Mas seu pai devia ter algum
outro parente em condições de herdar.

Bronwyn tratou de tranquilizar-se. Sabia exatamente o


que estava dizendo esse estúpido inglês, que qualquer
homem teria sido melhor que uma mulher para o posto. Não
mencionou seu irmão mais velho, Davey.

— Os escoceses acreditam que as mulheres estão


dotadas de inteligência e de caráter. Não esperam somente
que possamos ter e criar filhos e nada mais.

Stephen respondeu com um grunhido. Bronwyn teve


uma deliciosa visão em que se imaginou esmagando-lhe a
cabeça com uma pedra. A ideia a fez sorrir. Rab, como se a
compreendesse, levantou sua grande cabeça e olhou para ela
com ar interrogador.

Stephen pareceu não entender do mudo diálogo que se


produzia ao seu lado.

— Quais seriam meus deveres como Laird?

Ela apertou os dentes e se esforçou por conservar a


paciência.

LRTHistóricos 77
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— A Laird de MacArran sou eu, meus homens


respondem ao meu comando. Para te obedecer teriam antes
que te aceitar.

— Me aceitar? — repetiu ele, girando para olhá-la. Mas o


que aparecia por sobre o decote bordado de pérolas lhe
distraiu tanto que se viu obrigado a apartar a vista para
conservar o comportamento. — Antes de tudo, a questão
deveria ser se eu os aceitarei ou não.

— Palavras dignas de um verdadeiro inglês! — zombou


ela depreciativa. — Pensa que as circunstâncias de seu
nascimento o colocam acima de todos os outros. Pensa que
seus costumes e suas ideias lhe fazem superior aos pobres
escoceses. Sem dúvida alguma, acredita que somos selvagens
e cruéis comparados com seu povo. Mas nós não capturamos
as suas mulheres para obrigá-las a casar-se com nossos
escoceses. Embora eles sejam melhores maridos que
qualquer inglês.

Stephen não se ofendeu por seu arrebatamento.


Limitou-se a encolher os ombros.

— Todo homem acredita que sua pátria é a melhor de


todas, certamente. Realmente, sei muito pouco sobre a
Escócia e seu povo. Passei algum tempo nas Terras Baixas,
mas não acredito que se pareça com as Terras Altas.

— Os habitantes das Terras Baixas são mais ingleses


que escoceses!

LRTHistóricos 78
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen guardou silêncio por um momento.

— Ao que parece ser Laird de um clã... Perdoe-me, —


corrigiu, com uma pequena risada divertida — ser marido de
uma Laird implica certas responsabilidades. O que devo fazer
para que me aceitem?

Bronwyn relaxou os ombros. Desde que ele mantivesse a


vista longe dela, estava em liberdade de lhe observar. Era
muito alto, mais que os homens a quem ela conhecia. Seu
comprido corpo se estendia ao seu lado, lhe fazendo ter plena
consciência de sua proximidade. Apesar do que estava
ouvindo, Bronwyn sentia desejo de sentar-se junto a esse
homem, contemplar suas pernas fortes, a amplitude de seu
peito, os cachos loiros escuro que lhe desciam pelo pescoço.
Gostava de comprovar que suas roupas não eram vistosas, a
moda inglesa, mas sim de cores apagadas. Tratou de
imagina-lo com o tartan escocês, que deixava as pernas
descobertas da metade da coxa até debaixo dos joelhos.

— Deve se vestir como os escoceses. — respondeu, com


voz serena. — Se não puser uma tartan, os homens terão
sempre consciência de que é um dos inimigos.

Stephen franziu o cenho.

— Quer que brinque de correr por ali com as pernas


nuas? Dizem que nas Highlanders faz muito frio.

— Claro que se não for bastante homem...

LRTHistóricos 79
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn se interrompeu ante o arrogante olhar que


estava recebendo.

— Que mais?

— Deve se converter um MacArran, ser MacArran. Os


MacGregor serão seus inimigos. Seu sobrenome se tornará
MacArran. Será...

— O que! — escandalizou-se Stephen, levantando-se de


um salto para erguer-se ante ela em toda sua estatura. —
Pretende que troque o sobrenome! Que eu, um homem, tome
o sobrenome de minha esposa! — Voltou-lhe as costas. — É o
mais absurdo que já ouvi. Sabe quem sou eu? Um
Montgomery! Os Montgomery sobreviveram a centenas de
guerras, ao comando de muitos reis. Outras famílias
surgiram e desapareceram, mas os Montgomery sempre
sobreviveram. Minha família possui a mesma terra há mais
de quatrocentos anos. — Ele se virou para ela, passou a mão
pelo cabelo e adicionou. — E você espera que eu renuncie ao
sobrenome Montgomery pelo de minha esposa? — fez uma
pausa e riu entre dentes. — Meus irmãos ririam até a morte
de mim se me ocorresse fazer algo semelhante.

Bronwyn se levantou lentamente, deixando que aquelas


palavras entrassem em sua mente.

— Tem irmãos que poderiam seguir adiante com o


sobrenome de sua família. Sabe o que aconteceria se eu
levasse para casa um inglês que nem sequer tratasse de

LRTHistóricos 80
Highlander Audaz — Jude Deveraux

compreender nossos costumes? Meus homens lhe matariam e


eu teria que escolher outro marido. E sabe os conflitos que
isso causaria? Há vários jovens que gostariam de casar-se
comigo. Lutariam entre si.

— E o que? Devo renunciar a meu sobrenome para que


você possa controlar sua gente? Talvez deva tingir o cabelo ou
cortar um braço para agradá-los. Não! Me obedecerão ou se
entenderão com isto! — e desembainhou sua longa espada.

Bronwyn olhou para ele atentamente. Esse homem


falava de assassinar seu povo, seus amigos, seus parentes, as
pessoas cujas vidas ela tinha em suas mãos. Não podia voltar
para Escócia com esse louco.

— Não posso me casar contigo. — disse em voz baixa,


com os olhos duros e mortalmente sérios.

— Não acredito que possa escolher. — disse ele,


embainhando sua espada outra vez. Não tinha a intenção de
ficar tão zangado, mas essa mulher precisava saber desde o
início quem estava no controle. — Sou inglês e seguirei
sendo-o em qualquer lugar que vá. Deveria compreendê-lo,
posto que você tampouco parece disposta a mudar seus
costumes escoceses.

Ela começava a sentir bastante frio, apesar do dia


quente de outono.

— Não é o mesmo. Você teria que viver entre os meus,


dia a dia, ano após ano. Não te dá conta de que não lhe

LRTHistóricos 81
Highlander Audaz — Jude Deveraux

aceitarão se anda entre eles com suas finas roupas inglesas e


seu antigo sobrenome inglês? Cada vez que o vissem
recordariam aos filhos que os ingleses mataram e veriam meu
pai, assassinado sendo jovem ainda.

Sua súplica chegou até o coração de Stephen.

— Usarei o traje dos escoceses. Aceito a isso.

De repente, uma cega ira substituiu ao frio que tinha


invadido o corpo do Bronwyn.

— Então você aceita usar o tartan e a camisa açafrão!


Sem dúvida você gosta da ideia de exibir ante minhas
mulheres essas belas e fortes pernas.

Stephen ficou boquiaberto, então sorriu tão amplamente


que ameaçou dividir seu rosto ao meio.

— Isso não me tinha ocorrido, mas me alegra que a você


sim! — Alargou a perna, flexionando o grande músculo que
subia do joelho. — Acredita que suas mulheres estarão de
acordo contigo? — perguntou, com um brilho no olhar. —
Você ficará ciumenta?

Bronwyn só pôde encará-lo atônita. Este homem não


podia falar com seriedade nem por um instante. Brincava e
ria dela quando estavam tratando questões de vida ou morte.
Recolheu as saias e pôs-se a andar para o riacho.

— Bronwyn! — chamou Stephen. — Espera! Não era


minha intenção tomar suas palavras com zombaria. —

LRTHistóricos 82
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Imediatamente havia compreendido seu engano. Segurou-a


pelo pulso para fazê-la girar para ele. — Por favor, — rogou,
com tristeza no olhar — não quis te ofender, mas é tão linda
que não posso pensar. Olho seus cabelos e desejo tocá-los.
Quero te beijar os olhos. Esse maldito vestido é tão decotado
que está prestes a deixar saltar por cima seus encantos e fico
louco. Como pretende que fale seriamente sobre as disputas
entre escoceses e ingleses?

— Disputas! — resmungou ela. — É mais uma guerra!

— Guerra, o que seja. — Stephen retrucou, com a vista


cravada em seus seios, deslizou-lhe as mãos pelos braços. —
Por Deus! Não suporto tê-la tão perto e não fazê-la minha.
Levo tanto tempo neste estado que já tenho dores.

Ela olhou involuntariamente para baixo e ficou


vermelha. Stephen estava sorrindo com os olhos turvos de
desejo. Bronwyn franziu os lábios. Que homem tão vil! Era
um homem de mente baixa, e ele obviamente pensava que ela
compartilhava sua falta de caráter. Lembrou-se de suas mãos
explorando-a e, como ele se negava a soltá-la, aplicou-lhe um
forte empurrão. Stephen não se moveu, mas o impacto contra
esse peito duro fez que Bronwyn perdesse o equilíbrio. Ela
não tinha ideia de que estava tão perto da beirada do riacho.

Caiu para trás, enquanto tentava freneticamente


agarrar-se a algo, Stephen estendeu a mão para pegá-la, mas
mesmo quando tocou seu pulso, ela deu uma palmada. Ele
fez um ligeiro encolher de ombros e deu um passo para trás,

LRTHistóricos 83
Highlander Audaz — Jude Deveraux

já que não tinha nenhuma vontade de molhar suas próprias


roupas dos respingos que ela ia fazer ao debater-se para se
levantar.

As águas desse riacho deviam provir das montanhas da


Escócia, a julgar pela frieza que estavam. Bronwyn caiu
sentada na água. Seu pesado vestido de lã absorveu o gelo
liquido como se estivesse esperando a oportunidade de
encharca-la.

Permaneceu imóvel por um momento, um pouco


aturdida, e levantou a vista para Stephen. Ele a olhava,
sorridente. Uma gota fria escorreu pelo nariz da moça e ficou
pendurada na ponta. Rab, ao lado de Stephen começou a
latir, com a cauda abanando, encantado pela brincadeira.

— Posso te oferecer ajuda? — perguntou Stephen,


alegre.

Bronwyn afastou um cacho negro molhado de sua


bochecha. A qualquer momento seus dentes começariam a
tocar castanholas, mas preferia arranca-los da boca antes
que deixá-lo ver.

— Não, obrigada! — disse, com toda a altivez possível.

Procurou com a vista algo que lhe servisse para


recuperar o equilíbrio, mas não havia nada a menos que ela
rastejasse até uma rocha alguns metros de distância. Ela
nunca rastejaria diante desse homem.

LRTHistóricos 84
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Vem, Rab! — ordenou.

O cão se apressou a chapinhar na água para aproximar-


se de sua dona. Bronwyn enxugou a água do rosto com as
mãos, evitando deliberadamente olhar o sorridente Stephen.
Colocando as mãos nas costas do cão, começou a levantar-se.
O vestido de lã era extremamente pesado e encharcado
completamente com água, se tornava impossível. Além disso,
as pedras escorregadias sob seus pés eram lisas e difíceis de
manter o equilíbrio.

Tinha conseguido levantar-se pela metade, depois de


vários minutos de resistência, quando escorregou e seus pés
voaram para fora, jogando seu corpo para trás. Rab saltou
quando Bronwyn caiu novamente, agora de costas,
submergindo por completo. Ela veio à tona ofegante.

O primeiro som que ouviu foi o riso de Stephen, e então,


com uma sensação de traição, ouviu o latido de Rab. Um
latido que soava suspeitamente como uma risada canina.

— Malditos sejam os dois! — Ela sibilou e agarrou


ofendida, a condenada saia aderente e fria.

Stephen balançou a cabeça, depois entrou na água.


Antes que ela pudesse falar, se inclinou e a pegou em seus
braços. Ela teria dado qualquer coisa para ser capaz de
derrubá-lo na água, mas ele pisava com segurança. Quando
se inclinou para levantá-la, manteve as pernas retas, usando
apenas as costas e evitando o mínimo de contato com a água.

LRTHistóricos 85
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Eu gostaria que me soltasse. — disse ela, com toda a


altivez possível.

Stephen encolheu um ombro e deixou cair os braços.


Em um movimento reflexo, para evitar cair de volta na água
gelada, Bronwyn ofegou e jogou seus braços em volta de seu
pescoço.

— Assim eu gosto muito mais! — riu ele. E a abraçou


com tanta força que lhe impediu de mover os braços.

— Acredito nunca ter visto olhos azuis com cabelo


negro. Não sabe quanto lamento ter faltado a nossas bodas.
— sussurrou enquanto caminhava até a margem com ela,
devorando-lhe o rosto com o olhar.

Ela sabia exatamente por que ele estava arrependido, e


suas razões não ajudaram seu humor.

— Tenho frio. — Disse secamente. — Me Solte, por favor.

— Eu poderia te aquecer. — assegurou Stephen lhe


mordiscando o lóbulo da orelha.

Bronwyn sentiu um arrepio percorrer seu braço. Um


arrepio que nada tinha a ver com o vestido molhado que
usava. A sensação assustou-a. Ela não gostava disso.

— Por favor, solte-me. — repetiu com suavidade.

Stephen levantou apressadamente a cabeça e a olhou


com preocupação.

LRTHistóricos 86
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Está com frio. Tire o vestido e pode usar minha


túnica. Devo construir uma fogueira?

— Prefiro que me solte para que possamos voltar para


casa.

Relutantemente, Stephen a colocou na frente dele.

— Está tremendo. — disse enquanto movia suas mãos


ao longo de seus braços. — Você ficará doente se não tirar
esse vestido.

Ela se afastou dele. O vestido encharcado enroscando


em suas pernas, as mangas arrastaram seus braços para
baixo. Stephen a olhou com desgosto.

— Essa maldita roupa está tão pesada que mal te


permite caminhar. Não entendo por que diabos as mulheres
usam essas roupas. É tão pesada que agora duvido que o seu
cavalo possa levá-la.

Bronwyn endireitou os ombros, embora o vestido


ameaçasse derruba-la outra vez.

— As mulheres! São vocês, ingleses, que impõem essas


modas às suas mulheres, em uma tentativa de mantê-las
imóveis, já que não são homens suficientes para lidar com
mulheres livres. Fiz costurar este vestido para não
envergonhar a meu clã. Os ingleses muitas vezes julgam uma
pessoa por suas roupas. — Apontou o tecido. — Sabe quanto

LRTHistóricos 87
Highlander Audaz — Jude Deveraux

me custou isto? Eu poderia ter comprado cem cabeças de


gado pelo o que esta peça me custou, mas você arruinou.

— Eu? Foi a sua teimosia que arruinou. Igual agora.


Está aí, tremendo, porque prefere congelar a fazer o que eu
digo. — Dedicou-lhe um sorriso zombador.

— Pelo menos você não é completamente estúpido. Você


entende algumas coisas.

Stephen riu entre dentes.

— Ah! Entendo muito mais do que você imagina. — Ele


tirou a túnica e estendeu-a para ela. — Se você tem tanto
medo de mim, vá para o bosque e troque-se.

— Não te temo! — soprou Bronwyn, sem prestar atenção


a roupa que lhe oferecia.

Ela caminhou lentamente, chutando a saia enquanto se


movia para a sela no chão. Retirou um tartan Highlander da
alforja. Sem incomodar-se em olhar a Stephen, entrou no
bosque, seguida por Rab.

Ela tinha muita dificuldade com os laços que estavam


na parte de trás do vestido. Quando chegou ao último, sua
pele estava quase azul. Ela agarrou o vestido e puxou-o de
seus ombros, o último laço se rasgando. Então deixou o
vestido cair em um amontoado aos seus pés.

O linho fino de sua camisa e da anágua, antes rígida,


estavam tingidas de rosa borgonha, devido a lã cor de vinho.

LRTHistóricos 88
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ela ansiava por remover a roupa interior, mas não se atreveu


a fazê-lo com alguém como Stephen Montgomery por perto.
Ao pensar, olhou em volta para se certificar de que ele não
estava espionando-a, depois tirou a anágua e as meias de
seda. Quando tirou tanta roupa quanto ousou, enrolou-se no
tartan e caminhou de volta ao riacho.

Stephen não estava à vista.

— Procurando por mim? — perguntou de trás dela.

Ao dar meia volta, Bronwyn encontrou um Stephen


muito sorridente, com as roupas molhadas penduradas no
braço. Era óbvio que ele estava escondido e a observava se
despir. Seus olhos estavam frios enquanto o encarava.

— Acredita que ganhou, não é verdade? Você está tão


confiante de que logo eu estarei aos seus pés que se permite
me tratar como a um brinquedo de sua propriedade. Mas não
sou um brinquedo. E sobre tudo, não sou sua propriedade.
Apesar de toda sua vaidade inglesa, sou escocesa e tenho
algum poder.

Ela se virou para onde a égua negra estava amarrada.


Depois parou e olhou para ele.

— E farei uso do pouco poder que tenho.

Ignorando sua presença, recolheu o tartan até os


joelhos, segurou-se na crina do animal e saltou a seu lombo.

LRTHistóricos 89
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ela deu um pontapé de leve na égua e quando passou junto a


Stephen já ia a galope.

Ele não tentou impedi-la, mas montou em seu cavalo


sem sela e a seguiu. Mandaria alguém mais tarde recolher as
selas.

Parecia um longo caminho de volta para a mansão. A


espinha dorsal do cavalo batendo no seu traseiro, em pleno
galope, parecia apenas uma punição por seu comportamento.
Era uma mulher orgulhosa, e ele a tratara mal. Claro que ela
o provocava. Bastava a olhar e tinha dificuldade em pensar.
Enquanto ela tratava de mediar um dialogo, ele só podia
pensar em tê-la em sua cama. Mais tarde, — pensou —
depois que estivessem casados e ele a tivesse possuído
algumas vezes, seria capaz de olhar para ela sem seu sangue
ferver.

Bronwyn estava diante do espelho em seu quarto.


Sentia-se muito melhor agora que tomou um banho quente e
algum tempo para pensar. Stephen Montgomery não era
homem para se tornar seu marido. Se ele antagonizasse seu
povo como fazia com ela, seria morto instantaneamente, e
então os ingleses cairiam sobre suas cabeças. Ela não se
casaria com um homem que certamente causaria guerra,
bem como conflitos dentro de seu clã.

LRTHistóricos 90
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Voltou a arrumar os cabelos. Recolheu uma parte em


cima da cabeça por trás, deixando o resto solto. Uma criada
lhe tinha levado margaridas de outono, recém-cortadas, para
que fizesse uma guirlanda, que lhe rodeava a cabeça por trás.

Seu vestido era de seda verde-esmeralda. As mangas de


anjo foram revestidas com peles de esquilo cinzento,
acentuando o cinza da seda revelada pela abertura na frente
da saia em forma de sino.

— Quero estar como nunca. — disse, divisando Morag


no espelho. A anciã suspirou.

— Gostaria de pensar que você esta se vestindo para


agradar Lorde Stephen, mas acho que não.

— Eu nunca vou me vestir para ele!

— Pelo que sei, o homem só quer te ver despida. —


Morag murmurou

Bronwyn não se incomodou em responder, nem se


permitiu ficar aborrecida. O que ela precisava fazer afetaria a
vida de centenas de pessoas, e ela não poderia entrar nisso
estando com raiva.

Sir Thomas estava esperando por ela na biblioteca. Seu


sorriso de saudação era cordial, mas reservado. Ele desejava
vivamente que pudesse se livrar da bela mulher para que
seus homens parassem de brigar por ela.

LRTHistóricos 91
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn se sentou e após recusar uma taça de vinho,


começou a explicar os motivos da entrevista com o velho
cavaleiro. Sabia o verdadeiro motivo pelo qual não podia
aceitar Stephen, porque ele se recusava a aceitar os modos
dos escoceses. Mas ela planejara uma razão mais inglesa
para convencer Sir Thomas.

— Mas minha querida, — disse ele, exasperado —


Stephen foi escolhido para você pelo rei Henry.

Bronwyn abaixou a cabeça em tímida submissão.

— E estou disposta a aceitar um marido escolhido para


mim pelo rei inglês, mas sou a Laird do clã MacArran, e
Stephen Montgomery é apenas um cavaleiro. Eu teria
problemas com meus homens se me casasse com ele.

— E você acredita que aceitariam, em troca, Lorde


Roger?

— Desde a morte recente de seu irmão, ele é um conde,


mais perto do meu posto de Laird.

Sir Thomas fez uma careta. Estava ficando velho demais


para esse tipo de coisa. Malditos os escoceses, de qualquer
maneira, por permitir que uma mulher pense por si mesma.
Nada disso estaria acontecendo se Jamie MacArran não
tivesse nomeado sua filha como sua sucessora.

Ele caminhou até a porta e pediu que Stephen e Roger


fossem trazidos para ele.

LRTHistóricos 92
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Quando os jovens estavam sentados, um de cada lado


de Lady Bronwyn, Sir Thomas contou-lhes o plano de
Bronwyn. Observou cuidadosamente os rostos dos homens.
Ele viu brilhar os olhos de Roger, desviou o olhar para
Stephen que permanecia em silêncio. O único sinal que ele
deu que ouviu tudo foi um leve escurecimento de seus olhos.
Bronwyn não se moveu, o verde de seu vestido dando aos
olhos uma nova profundidade, as margaridas em seus
cabelos a fazendo parecer doce e inocente.

Roger foi o primeiro a falar quando Sir Thomas


terminou.

— Lady Bronwyn tem razão, seu título deve ser honrado.

Os olhos de Stephen lançaram relâmpagos.

— É lógico que pense assim, já que vai ganhar muito


com essa decisão. — Voltou-se para sir Thomas. — O rei
passou todo ano me escolhendo uma noiva. Queria
recompensar a minha família por lhe ajudar a patrulhar as
fronteiras das Terras Baixas.

Bronwyn girou para ele.

— A matar e violar é o que você quer dizer!

— Eu quis dizer o que disse: patrulhar. Nós matamos


muito pouco. — Seus olhos se voltaram para seus ombros e
sua voz baixou. — E quase nenhum estupro.

Bronwyn se levantou.

LRTHistóricos 93
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sir Thomas, você esteve nas Terras Altas. —Ela


ignorou o estremecimento que a lembrança provocou no
ancião. — Meu povo se sentiria desonrado se eu retornasse
com um cavalheiro de inferior hierarquia para impô-lo como
Laird. O rei Henry quer a paz. Este homem, — apontou a
Stephen — causaria somente mais problema se entrasse nas
Highlanders.

Stephen riu quando ficou atrás de Bronwyn e colocou


um braço forte ao redor de sua cintura. Ele a abraçou
firmemente contra ele.

— Esta não é uma questão de diplomacia, mas sim de


raiva feminina. Pedi-lhe que me acompanhasse ao leito antes
das bodas e se sentiu insultada.

Sir Thomas sorriu, aliviado. Abriu a boca para falar,


mas Roger deu um passo adiante.

— Protesto! Lady Bronwyn não tem que ser descartada


com tanta facilidade. O que ela diz tem sentido. — Voltou-se
para Stephen. — Teme pôr a prova seus direitos sobre ela?

Stephen arqueou uma sobrancelha.

— Acredito que nenhum Montgomery tenha sido


chamado de covarde. O que você tinha em mente?

— Cavalheiros, por favor! — exclamou Sir Thomas. — O


rei Henry enviou Lady Bronwyn aqui para um casamento,
uma ocasião de festejo.

LRTHistóricos 94
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn se soltou do abraço de seu prometido.

— De festejo! Como você pode dizer a palavra quando


estou para ser casada com este plebeu, insuportável? Eu juro
que vou matá-lo enquanto estiver dormindo na primeira
oportunidade que tiver.

Stephen lhe sorriu.

— Desde que seja depois da noite de núpcias, dou-me


por satisfeito.

Bronwyn fez uma careta depreciativa.

— Lady Bronwyn! — ordenou o ancião. — Pode nos


deixar a sós?

Ela respirou fundo. Dissera o que desejava e já não


suportava ficar perto de Stephen. Recolheu as saias com
muita graça e saiu do recinto.

— Stephen, — começou Sir Thomas — eu não gostaria


de ser a causa de seu assassinato.

— As palavras de uma mulher não são uma ameaça


para mim.

— Você diz isso de inocência. — Advertiu o ancião,


franzindo o cenho. — Você nunca esteve ao norte da Escócia,
nas Highlanders. Não há governo lá, não como nós temos. Os
Lairds mandam em seus clãs, e ninguém manda sobre os
Lairds. Tudo que Lady Bronwyn tem que fazer é murmurar

LRTHistóricos 95
Highlander Audaz — Jude Deveraux

descontentamento para que qualquer homem, ou mulher, em


seu clã estivesse pronto para acabar com sua vida.

— Estou disposto a correr o risco.

Sir Thomas deu um passo adiante e lhe apoiou uma


mão no ombro.

— Eu conheci seu pai, fomos amigos e sinto que ele não


iria querer que eu mandasse seu filho para uma morte
segura.

Stephen afastou-se da mão amigável. Seu rosto se


transformou em fúria.

— Quero a essa mulher e você não tem direito de tirá-la


de mim. — Girou para Roger, que começara a sorrir. — Nos
encontraremos no campo de batalha. Assim veremos quem é
mais digno de reclamar a Laird desse clã.

— Aceito! — respondeu-lhe Roger. — Amanhã pela


manhã. O vencedor se casará com ela pela tarde e a possuirá
pela noite.

— Trato feito!

— Não! — murmurou Sir Thomas. Mas sabia que tinha


perdido. Tinha ante si dois jovens de sangue quente. Ele
suspirou pesadamente. — Deixe-me, os dois. Preparem seu
próprio campo de batalha, não quero ter nada a ver com isso.

LRTHistóricos 96
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Quatro
Stephen estava ao lado de seu garanhão, coberto de aço
da cabeça aos pés, o sol batendo em sua armadura. Era
pesada, mas há muito tempo aprendera a lidar com seu peso.

— Meu lorde, — disse o escudeiro — o sol estará sobre


seus olhos.

Stephen assentiu secamente. Ele estava bem ciente do


fato.

— Que Chatworth tenha a vantagem que puder, ele vai


precisar.

O menino sorriu de orgulho para seu mestre. Tinha


levado um longo tempo para vestir Sir Stephen nas camadas
de algodão acolchoado e couro que passavam sob as placas
de aço.

Stephen montou seu cavalo com facilidade, então se


inclinou para pegar sua lança e escudo do menino. Não se
deu ao trabalho de olhar para a direita. Sabia que Bronwyn
estava ali com a face tão branca quanto o vestido de marfim,
bordado de ouro que ela usava. Não lhe levantava o ânimo
saber que essa moça queria lhe ver perder, possivelmente até
morrer.

LRTHistóricos 97
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ajustou a longa lança de madeira contra a sua


armadura. Ele e Roger não tinham se falado desde ontem à
noite, e Sir Thomas tinha sido fiel à sua palavra. Ele fingia
não saber sobre a luta. Assim, não havia regras
estabelecidas. Tratar-se-ia de uma justa, um combate para
ver quem se mantinha mais tempo a cavalo.

O cavalo de guerra de Stephen, um enorme garanhão


negro de patas muito peludas, relinchava e pisoteava com
impaciência Esses animais eram criados para que tivessem
força e resistência em desvantagem da velocidade.

Os homens de Stephen o cercaram, depois se afastaram


quando Roger apareceu na extremidade do campo coberto de
areia. Uma baixa cerca de madeira dividia o centro.

Stephen baixou o visor do elmo, deixando apenas uma


fenda para os olhos, a cabeça completamente coberta. Um
jovem ergueu um estandarte, e quando o baixou, os dois
nobres cavalgaram um ao encontro do outro, as lanças em
riste. Não era um teste de velocidade, mas de força. Somente
um homem em boas condições poderia resistir ao golpe da
lança que se quebrava contra seu escudo.

Stephen apertou o flanco de seu cavalo com suas


poderosas coxas quando a lança de Roger bateu em seu
escudo. As lanças se despedaçaram. Stephen freou o cavalo
no fim do campo.

LRTHistóricos 98
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Ele é bom, milorde. — disse um dos homens de


Stephen enquanto entregava ao seu mestre uma nova lança.
— Cuidado com a ponta da lança dele desta vez. Acho que vai
quer deslizar debaixo do seu escudo.

Stephen assentiu secamente e fechou o elmo


novamente.

O estandarte foi baixado para começar o segundo


enfrentamento. Tudo o que Stephen tinha que fazer era
derrubar o oponente de seu cavalo, para que, segundo todas
as regras das justas, se tornasse o vencedor. Quando Roger
atacou novamente, Stephen deslizou seu escudo mais para
baixo e efetivamente impediu Roger de golpeá-lo. Surpreso,
Roger não viu a lança de Stephen quando golpeou sua
costela. Roger cambaleou na sela e quase caiu com o golpe
poderoso, mas conseguiu manter-se no cavalo.

— Está aturdido. — Disse o homem ao lado de Stephen


— Golpeie-o outra vez e cairá.

Uma vez mais, o jovem fez um gesto de assentimento


antes de baixar o elmo.

Roger concentrou-se em seu ataque e não cuidou de se


defender. No momento em que inclinava a lança, Stephen o
golpeou outra vez, desta vez muito mais forte do que antes.
Roger caiu para trás, em seguida para o lado, aterrissando
com força no chão, aos pés do cavalo de Stephen.

LRTHistóricos 99
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen olhou brevemente para o adversário deitado no


chão e desviou o olhar para Bronwyn.

Mas Roger Chatworth não era um homem que se desse


as costas. Agarrou uma maça que tinha na ponta uma lança,
que levava na sela de seu cavalo e correu com ela erguida.

— Stephen! — Alguém gritou.

Stephen reagiu instantaneamente, mas não com


bastante rapidez. A maça de Roger bateu com força na coxa
esquerda de Stephen. A armadura de aço amassou-se e
penetrou em sua carne. O impacto inesperado o fez
cambalear, e cair de seu garanhão, agarrado a sela.

Stephen endireitou-se e viu que Roger estava novamente


avançando sobre ele, preparado para atacar de novo. Ele
rolou para longe, as articulações de aço rangendo em
protesto.

Alguém jogou uma maça para ele no momento em que o


adversário lhe golpeava o ombro. Stephen gemeu, mas
descarregou a arma contra as costelas de Roger, que
cambaleou de lado. Stephen o perseguiu, decidido a ganhar a
batalha.

O segundo golpe sobre o ombro direito, fez que Roger


caísse atordoado. A armadura impedia qualquer ferida
mortal, mas a força de cada golpe era deslumbrante.

LRTHistóricos 100
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Roger ficou imóvel, obviamente aturdido. Stephen


desembainhou a espada, apoiou o pé no ombro de Roger e
tirou-lhe o elmo, segurava a arma apontada para ele com
ambas as mãos no punho.

Roger lhe fulminou com o olhar.

— Mate-me e termine com isso! Eu teria matado você.

Stephen lhe olhou fixamente.

— Venci, é suficiente para mim.

Deu um passo para o lado da forma inerte de Roger e


tirou a manopla para estender a mão nua ao adversário
prostrado.

— Insulta-me! — Roger sibilou, levantando a cabeça e


cuspindo na mão oferecida por Stephen. — Vou me lembrar
disso.

Stephen limpou a mão na armadura.

— Eu tampouco vou me esquecer disso. — Embainhou a


espada e lhe voltou às costas.

Caminhou direto para Bronwyn, que estava de pé ao


lado de Morag. Bronwyn estava rígida quando Stephen se
aproximou. Ele deteve-se diante dela e lentamente tirou o
elmo, jogando-o para Morag, que o pegou com um sorriso.

Bronwyn recuou um passo.

LRTHistóricos 101
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não pode escapar de mim novamente. — advertiu


Stephen, enquanto segurava seu braço com a mão
descoberta. Atraiu-a para si, um único braço do guerreiro
tinha mais força do que todo o corpo de Bronwyn. Apertou
seu corpo suave contra o aço de sua armadura cujo contanto
frio e duro, fizeram Bronwyn ofegar. Mais aço a atingiu
quando seus braços rodearam seus ombros

— Agora é minha! — murmurou Stephen, quando seus


lábios tocaram os dela.

Não era a primeira vez que Bronwyn beijava um homem,


houve vários momentos roubados durante as excursões para
roubo de gado.

Mas era a primeira vez que ela experimentava algo mais


de um beijo. Era suave e doce, mas ao mesmo tempo estava
provocando sensações que ela nunca sentiu antes. Sua boca
brincava com a dela, tocando-a, acariciando-a, provocando-a,
estimulando-a, mas também saqueando-a. Bronwyn se
ergueu-se na ponta dos pés para alcançá-lo melhor, virou a
cabeça deixando-a inclinada. Stephen parecia exigir que ela
separasse os lábios, e ela o fez. O toque frio e quente da
ponta de sua língua na dela emitiu pequenos calafrios por
sua espinha. Seu corpo parecia flutuar, e quando sua cabeça
se moveu para trás, ele seguiu o movimento dela, segurando-
a cativa e aprofundando o beijo.

Abruptamente Stephen afastou-se. Quando Bronwyn


abriu os olhos, ele estava sorrindo insolentemente para ela.

LRTHistóricos 102
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Percebeu que estava totalmente segura pelos braços dele, já


que seu beijo a tinha feito render-se, deixando todo seu peso
corporal para ele. Ela se endireitou, deixando que seus
próprios pés pudessem sustentá-la novamente.

Stephen ria entre dentes.

— É mais minha do que pensa. — Soltou-a para


empurra-la para Morag. — Vá e prepare-se para as bodas...
se é que pode esperar tanto.

Bronwyn afastou-se rapidamente. Ela não queria que ele


ou qualquer outra pessoa visse seu rosto afogueado ou as
lágrimas que se formavam. O que nenhum de seus insultos
podia fazer, seu beijo estava conseguindo, fazê-la chorar.

— Por que te zanga? — perguntou-lhe Morag, assim que


estavam sozinhas no quarto. — Vais casar-se com um
homem forte e bonito. Tentou armar uma estratégia para não
casar com ele e acabou forçando-o a ter que combater por
você. Demonstrou ser um lutador forte e agressivo. O que
mais quer?

— Ele me trata como uma moça de taverna!

— Trata-te como uma mulher. Esse outro, esse Roger,


sequer a olha porque está pensando em suas terras. Duvido
que saiba que é uma mulher.

— Isso não é certo! É como... Ian!

LRTHistóricos 103
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Morag franziu o cenho ao pensar no jovem morto


quando tinha apenas vinte e cinco anos.

— Ian era como um irmão para ti. Vocês se criaram


juntos. Se ele tivesse vivido o bastante para desposá-la,
provavelmente se sentiria culpado por deitar-se com você.
Com certeza se sentiria como se estivesse levando sua irmã
para a cama. — Bronwyn fez uma careta.

— Não há nenhuma culpa neste Stephen Montgomery,


não saberia o significado da palavra.

— O que está perturbando você? — Morag exigiu tão alto


que Rab emitiu um leve latido de preocupação. A anciã fez
uma pausa, e as rugas em seu rosto se reorganizaram. Sua
voz tornou-se mais discreta. — É devido o que vai acontecer
esta noite?

Bronwyn a olhou com expressão tão sombria que Morag


soltou uma gargalhada.

— Então você é virgem! Não estava segura. Como o Laird


te deixava cavalgar e estar por aí com os moços...

— Eu sempre fui protegida, você sabe disso.

— Às vezes, um jovem não é o melhor protetor da


virtude de uma jovem. — A anciã sorriu. — Agora deixe de ter
medo. É uma experiência agradável que terá pela frente, e a
menos que perca o meu palpite, este Stephen sabe como fazer
mais fácil à primeira vez de uma mulher.

LRTHistóricos 104
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn caminhou até a janela.

— Suponho que sim. A julgar por seu modo de atuar,


acredito que se deitou com metade das mulheres da
Inglaterra.

Morag cravou a vista nas costas de sua pupila.

— Tem medo que a inexperiência o desagrade? —


Bronwyn virou-se rápido.

— Nenhuma inglesa pálida pode competir com uma


escocesa!

Morag riu entre dentes.

— Já está voltando a sua cor. Agora tire este vestido


para colocarmos o de bodas. Só faltam algumas horas para ir
ao leito.

O rosto de Bronwyn perdeu a cor de novo e, com


resignação, começou o longo processo de se trocar.

Stephen estava submerso até o pescoço em uma


banheira de água muito quente. Doía-lhe a perna e o ombro
pelos golpes recebidos de Roger. Seus olhos estavam fechados
quando ouviu a porta se abrir.

LRTHistóricos 105
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Vá embora! — grunhiu com os olhos fechados, ao


ouvir que alguém fechava à porta. — Chamarei quando
necessitar!

— E a quem chamará? — inquiriu uma voz familiar, em


tom divertido.

Stephen abriu os olhos. Um momento depois estava


saltando pelo quarto, nu, pingando água.

— Chris! — riu, enquanto apertava seu amigo contra si.

Christopher Audley lhe devolveu brevemente a


saudação, mas depois empurrou Stephen para longe.

— Você está me molhando, e não quero ter que mudar


de roupa outra vez para o seu casamento. Eu não o perdi,
certo?

Stephen voltou para a tina.

— Sente-se ali onde eu possa te ver. Perdeu peso


novamente. Acaso a França te fez mal?

— Sinto-me muito bem. As mulheres da França é que


estiveram a ponto de acabar comigo à força de exigências.

Ele colocou uma cadeira junto à tina. Era um homem


baixo, magro e moreno, com nariz e queixo pequeno, uma
barba curta e bem aparada. Seus olhos eram castanhos e
grandes, um pouco parecidos com os de uma corça. Usava
seus olhos suaves e expressivos ao máximo, atraindo

LRTHistóricos 106
Highlander Audaz — Jude Deveraux

mulheres para ele. Acenou para o hematoma no ombro de


Stephen.

— É uma ferida nova? Não sabia que estava combatendo


ultimamente.

Stephen jogou um punhado de água sobre a lesão.

— Tive que combater com Roger Chatworth pela mulher


com quem vou me casar.

— Combater por ela? — perguntou Chris, surpreso. —


Falei com Gavin antes de vir para cá e ele disse que você
estava quase doente com a perspectiva do casamento. —
Sorriu. — Vi à esposa de seu irmão. É uma beleza, mas
conforme dizem, também é um verdadeiro demônio. Tinha a
corte toda em burburinho com suas ações.

Stephen fez um gesto de desprezo.

— Judith é um mar em calma se comparada com


Bronwyn.

— Bronwyn é a herdeira com quem vai se casar? Gavin


disse que era gorda e feia.

Stephen riu entre dentes, ensaboando as pernas.

— Você não vai acreditar quando vir Bronwyn. Ela tem o


cabelo tão preto como a noite mais escura. O sol reluz por
seus cabelos deixando-os formosos. Ela tem olhos azuis e um
queixo que se sobressai desafiante cada vez que eu falo com
ela.

LRTHistóricos 107
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— E o resto de sua pessoa?

Stephen suspirou.

— Estupendo!

Chris riu do tom de Stephen.

— Dois irmãos não poderiam ser tão afortunados como


você e Gavin. Mas por que tiveste que combater por ela?
Tinha entendido que o rei Henry a entregara para ser sua
esposa.

Stephen levantou-se e pegou a toalha que Chris atirou.

— Cheguei às bodas com quatro dias de atraso. Parece


que Bronwyn tomou... aversão a mim. Tem a absurda ideia
de que se me casar com ela, devo me converter em escocês e
até trocar meu nome. Não sei com segurança, mas Chatworth
parece lhe haver insinuado que ele faria tudo isso e mais se
fosse seu marido.

Chris soprou.

— E lhe acreditou certamente. Roger sempre soube


enfeitiçar as mulheres, mas nunca pude confiar nele.

— Lutamos em uma justa por ela, mas quando lhe


derrubei do cavalo na terra me atacou pelas costas com uma
maça.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Que bastardo! Sempre me perguntei até que ponto se


pareceria com o irmão. Edmund era um homem vil. Suponho
que ganhou o combate.

— Enfureceu-me tanto que me atacasse pelas costas


que estive a ponto de matá-lo. Em realidade, ele me rogou
que o fizesse e se considerou insultado por ter lhe perdoado a
vida.

Chris ficou pensativo.

— Converteste-o em seu inimigo. Isso poderia ser


perigoso.

Stephen se aproximou da cama, onde estavam suas


roupas de bodas.

— Eu não culpo o homem por desejar Bronwyn. Ela


faria qualquer homem lutar por ela.

Chris sorriu.

— Nunca te vi agir assim com uma mulher antes.

— É que nunca tinha visto uma mulher como Bronwyn


antes. — Fez uma pausa, pois acabava de ouvir uma batida à
porta. — Entre! — gritou.

Uma jovem criada entrou com os braços estendidos, um


vestido cintilante de tecido prateado sobre eles. Ela olhou
fixamente para Stephen, que tinha o peito nu.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— O que aconteceu? — perguntou ele. — Por que não


entregou o vestido para Lady Bronwyn?

À moça tremia o lábio inferior. Stephen vestiu a camisa


e pegou o vestido da serva.

— Pode contar-me o que aconteceu. — Disse sereno —


Conheço Lady Bronwyn e a sua afiada língua. Não te
castigarei por repetir o que houver dito.

A moça levantou a vista.

— Encontrei-a no salão, meu lorde, entre muitas


pessoas. Entreguei-lhe o vestido e me pareceu que gostava.

— Sim! Continua.

A moça terminou apressadamente:

— Mas quando lhe disse que era milorde que o enviava,


para que o usasse nas bodas, devolveu-me outra vez. Disse
que já tinha um vestido para as bodas e que jamais usaria
este. Oh, meu lorde, foi horrível. Falava em voz muito alta e
todo mundo ria.

Stephen pegou o vestido da moça e lhe deu uma moeda


de cobre. Assim que ela se foi, Chris se pôs a rir.

— Língua afiada você disse? Parece-me que tem uma


adaga na boca.

Stephen, zangado, passou os braços pelas cavas do seu


colete.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Já tive o suficiente disto. É hora de que alguém dê


uma lição de boas maneiras a essa dama.

Ele jogou o vestido sobre seu ombro e saiu do quarto,


dando passos longos em direção ao grande salão. Tinha tido
um monte de problemas para obter esta roupa requintada já
que Bronwyn se queixara do seu vestido arruinado depois de
cair no rio, e Stephen tentou retribuir-lhe, não que tivesse
feito qualquer coisa para fazê-la cair na água, é claro. Foi
para a cidade e encontrou o tecido de prata, então pagou
quatro mulheres para passarem toda a noite costurando-o. O
tecido era de uma lã macia, fina, mesclada com todos os
outros fios de trama, e fios de prata. Era pesado e luxuoso.
Brilhava mesmo na escuridão dos corredores. Com toda a
probabilidade, tinha custado mais do que todos os vestidos
que Bronwyn possuía.

No entanto, ela se recusou a usá-lo.

Viu-a logo que entrou no grande salão, sentada em uma


cadeira com almofada, com um vestido de cetim marfim.
Próximo a ela, um jovem tocava um saltério.

Stephen se sentou entre ambos. Ela lançou um olhar


assustado para ele, depois se virou.

— Eu gostaria que usasse este vestido. — Disse ele, em


voz baixa. Ela não levantou a vista.

— Já tenho vestido para as bodas.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Alguém, perto do jovem, deixou escapar uma suave


risada.

— Outra vez tem problemas com mulheres, Stephen?

Stephen permaneceu imóvel durante um instante. Em


seguida levantou Bronwyn de um puxão. Não disse uma
palavra, mas sua expressão sombria foi suficiente para
mantê-la calada. Fechou os dedos em torno do pulso de
Bronwyn e arrastou-a atrás de si. As saias da moça
dificultavam caminhar e seus pés se enredavam nelas, esteve
a ponto de cair, mas conseguiu recolher as dobras com a mão
livre. Sabia que, se caísse, Stephen a levaria arrastada.

Empurrou-a para o interior de seu quarto e fechou a


porta com força. Depois jogou o vestido na cama.

— Coloque isto! — ele pediu.

Bronwyn manteve firme, não cedia.

— Não estou as suas ordens e jamais estarei.

Stephen fitou-a com olhos duros e escurecidos.

— Fiz tudo quanto fosse possível para compensar você


por meu atraso.

— Seu atraso! — Ela rosnou. — Você acha que é por


isso que te odeio? Você realmente sabe tão pouco sobre mim
que chegou ao ponto de achar que sou fútil para odiá-lo por
ter os modos de um camponês? Quis que você perdesse hoje
porque Roger Chatworth seria mais conveniente para meu

LRTHistóricos 112
Highlander Audaz — Jude Deveraux

clã. Meu povo vai te odiar como eu, por causa de sua
arrogância, pelo jeito que pensa que possui tudo, que pode
ser dono do mundo. Ainda acredita que pode ditar o vestido
que eu devo usar para casar.

Stephen deu um passo adiante e fechou os dedos contra


a mandíbula da moça, afundando nas bochechas o polegar e
o indicador.

— Estou farto de ouvir falar de seu clã e mais farto


ainda de que o nome de Chatworth não saia dos seus lábios.
Fiz confeccionar este vestido como presente, mas é teimosa
demais para aceitá-lo.

Ela tentou libertar a cabeça, mas não conseguiu. Ele


intensificou seu aperto, fazendo com que as lágrimas
chegassem aos seus olhos.

— É minha esposa, — adicionou — e como tal vai me


obedecer. De seu povo não sei nada e só posso lidar com eles
quando conhecê-los. Mas sei como as esposas devem agir.
Tive muita dificuldade para mandar fazer este vestido de
presente e você vai usá-lo

— Não! Não te obedecerei. Sou uma MacArran!

— Maldita seja! — Stephen disse, agarrando seus


ombros e começando a sacudi-la. — Esta questão não é entre
a Inglaterra e a Escócia, nem entre um Laird e um homem do
clã. É entre nós, um homem e uma mulher. Vai usar este
vestido porque eu sou seu marido e assim o ordeno.

LRTHistóricos 113
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Deixou de sacudi-la e viu que suas palavras não tinham


causado nenhuma impressão. Então se agachou para
carregar-lhe no ombro.

— Me solte!

Ele não se incomodou em responder quando a jogou na


cama, de bruços.

— Basta! Está me machucando!

— Você me fez coisas piores do que me machucar. —


Replicou ele, enquanto seus dedos grandes desabotoavam os
diminutos botões que fechavam o vestido de Bronwyn por
trás. Suas pernas envolviam seu quadril, montando-a. —
Esta noite vou mostrar-lhe as feridas que Roger fez em mim.
Mantenha-se quieta ou rasgo este maldito vestido em
pedaços.

Imediatamente Bronwyn ficou imóvel. Stephen deu-lhe


um olhar de desgosto.

— Ao que parece, obtenho melhores reações de sua


parte quando ameaço fazer você perder dinheiro.

— Somos um país pobre não podemos nos permitir o


esbanjamento que vejo aqui, na Inglaterra. — Sempre quieta,
deixou que Stephen trabalhasse com os botões. — Esta
manhã... você combateu bem.

Stephen se interrompeu por um momento antes de


recomeçar novamente nos botões.

LRTHistóricos 114
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sem dúvida deve ter sido difícil para você reconhecê-


lo, considerando que estava esperando que eu fosse morto.

— Eu não queria ninguém morto! Tudo que eu queria


era...

— Não me diga! Já sei o que você queria: ao Roger


Chatworth.

Foi um momento esquisito. Bronwyn sentia uma


estranha intimidade com Stephen, como se o conhecesse de
longa data. Não podia explicar por que preferia Roger.
Tentara muitas vezes afastá-lo, por certo! Agora era quase
agradável ouvir na voz dele essa ponta de ciúme. Deixaria que
pensasse que ela gostava de Roger. Poderia fazer-lhe bem.

— Agora, levante-se e vamos tirar o vestido.

Como ela não se moveu, Stephen se inclinou sobre ela e


correu seus lábios ao longo de seu pescoço.

— Não vamos esperar até hoje à noite.

Suas palavras e suas caricias fizeram Bronwyn ganhar


vida. Ela rapidamente rolou, saindo de baixo dele, ficando de
lado. Ela agarrou a frente de seu vestido que caia.

— Eu vou colocar o vestido, mas primeiro você deve sair.

Stephen se recostou sobre um cotovelo.

— Não tenho intenção de sair.

LRTHistóricos 115
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn ia discutir, mas compreendeu que não serviria


de nada. Além disso, em duas ocasiões ele a vira em roupa
íntima molhada. Desta vez, pelo menos, as roupas estavam
secas e a ocultariam melhor. Os olhos de Stephen a
observavam com fome, e quando ela foi pegar o vestido
prateado, ele segurou-o longe dela, de modo que ela teve que
se aproximar muito para pega-lo. Stephen teve tempo para
depositar um beijo rápido em seu ombro antes que ela se
afastasse.

O pesado tecido prateado era belo, e Bronwyn passou a


mão, admirada, sobre a saia antes que deslizasse o vestido
sobre sua cabeça. O vestido se encaixava perfeitamente,
abraçando sua pequena cintura, abrindo-se graciosamente
sobre seus quadris. Quando se moldou em seu corpo, olhou
para Stephen, atônita. O decote não era o quadrado profundo
que estava na moda, mas era alto, cobrindo-a até a base de
sua garganta, onde uma pequena fita de renda arrematava.

Stephen encolheu os ombros ante sua perplexidade.

— Preferiria que minha propriedade não estivesse tão à


vista dos outros homens.

— Sua propriedade! — exclamou ela. — Planeja sempre


escolher tudo na minha vida? Não vou mais escolher minhas
próprias roupas?

Ele lançou um gemido.

LRTHistóricos 116
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Suspeitava que sua doçura não durasse por muito


tempo. Agora venha aqui para que eu possa abotoá-lo.

— Posso fazê-lo sozinha.

Ele a deixou lutar um momento antes de puxá-la para


si.

— Compreenderá alguma vez que não sou seu inimigo?

— Claro que é meu inimigo. Todos os ingleses são meus


inimigos e de meu clã.

Ele puxou-a entre as pernas e começou a abotoar os


pequenos botões. Quando terminou, virou-a, segurando-a
entre os joelhos.

— Espero te ensinar, com o tempo, que sou algo mais


que um inglês. — Deslizou-lhe as mãos pelos braços. —
Estou ansioso por que chegue a noite.

Bronwyn tentou afastar-se dele. Stephen suspirou e a


soltou. Ele ficou ao lado dela, então pegou sua mão na dele.

— O sacerdote e nossos convidados nos esperam.

Bronwyn relutante pegou sua mão. A palma de Stephen


estava quente e seca, calejada por anos de treinamento. O
escudeiro de Stephen esperava do lado de fora da porta,
estendeu um casaco de veludo pesado para seu amo.
Bronwyn observou Stephen, que agradeceu ao menino que o
olhava com orgulho, desejando-lhes sorte e felicidade.

LRTHistóricos 117
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen, sorridente, levou os dedos de Bronwyn aos


lábios.

— Felicidade. — repetiu. — Você acredita que a


felicidade entre nós será possível?

Muitas pessoas esperavam ao pé da escada. Muitos


homens e amigos de Sir Thomas. Homens que lutaram contra
os Highlanders. Eles não faziam nenhum esforço para
esconder sua animosidade em relação aos escoceses. Entre
gargalhadas diziam que Stephen "conquistaria" o inimigo
naquela noite. Riam da maneira como Bronwyn lutara contra
eles depois que mataram seu pai e asseguravam que, se ela
demonstrasse metade dessa selvajaria na cama, Stephen
estava em apuros.

Ela ergueu a cabeça, dizendo a si mesma que era uma


MacArran e devia fazer com que seu clã sentisse orgulho dela.
Os ingleses eram um bando grosseiro e fanfarrão de homens,
e ela não se rebaixaria ao seu nível, respondendo a seus
repugnantes comentários.

Stephen lhe apertou a mão e ela olhou para ele com


surpresa. Ele mantinha a expressão solene e a boca apertada
em uma linha sombria; um músculo lhe tremia na
mandíbula. Ela pensava que ele desfrutaria com os
comentários de seus compatriotas, já que ela era a prova de
que ele acabava de ganhar um prêmio de guerra. Stephen se
voltou para ela e dirigiu-lhe um olhar quase triste, como se
quisesse pedir desculpas.

LRTHistóricos 118
Highlander Audaz — Jude Deveraux

A boda concluiu em muito pouco tempo, nem sequer


pareceu uma cerimonia de matrimonio. Frente ao sacerdote,
Bronwyn se deu conta de quão sozinha estava. Tinha
imaginado seu matrimônio nas terras altas, durante a
primavera, quando a terra começasse a ganhar vida.
Imaginava-se rodeada de toda sua família, de todos os
membros de seu clã, e seu marido teria sido alguém que ela
conhecesse.

Voltou-se para olhar Stephen. Estavam ajoelhados, lado


a lado, dentro da pequena capela na casa de Sir Thomas. A
cabeça de Stephen estava inclinada em reverencia. Como
parecia estar distante, remoto! E como ela sabia muito pouco
a respeito dele. Haviam crescido em dois mundos diferentes,
entre costumes completamente distintos. Durante toda sua
vida, ela foi ensinada que tinha direitos e poderes, que seu
povo iria recorrer a ela para obter ajuda e conselho. No
entanto, esse inglês conhecera apenas uma sociedade onde
as mulheres eram ensinadas a costurar e ser uma extensão
de seus maridos.

No entanto, Bronwyn estava condenada a compartilhar


sua vida com esse homem. Ele já tinha deixado claro que
acreditava que ela era sua propriedade, algo que possuía e
podia comandar à vontade e esta noite... Os pensamentos da
moça se interromperam, porque ela não podia suportar
pensar nesta noite. Este homem era um estranho para ela,
um estranho total. Ela não sabia nada sobre ele. Não sabia o
que ele gostava de comer, se sabia ler ou cantar, que tipo de

LRTHistóricos 119
Highlander Audaz — Jude Deveraux

família tinha. Nada! No entanto, ela estava preste a ir para a


cama com ele e compartilhar a experiência mais íntima da
sua vida, e todos pareciam pensar que ela deveria apreciá-lo!

Stephen se voltou para olhá-la. Ele tinha consciência de


que ela o observava, e isso o agradou. Havia desconcerto e
perplexidade em seu rosto adorável. Ele dedicou um pequeno
sorriso que quis ser reconfortante, mas a jovem desviou o
olhar e voltou a fechar os olhos sobre as mãos cruzadas.

Para Bronwyn o dia pareceu prolongar-se imensamente.

Os convidados não faziam esforço algum em ocultar que


só lhes interessava a noite de núpcias. Sentados ao redor das
grandes mesas de cavalete, passaram horas comendo e
bebendo. E quanto mais bebiam, mais grosseiras se
tornavam suas brincadeiras.

Com cada declaração, cada sarcasmo de bêbado, o ódio


de Bronwyn pelos ingleses aumentava. Eles não se
importaram com o fato de que ela era uma mulher. Para eles,
Bronwyn era apenas um troféu para ser apreciado.

Quando Stephen buscou sua mão, ela a retirou e essa


ação provocou outra onda de risadas estridentes. Bronwyn
não olhava para o marido, mas notou que ele bebia com
frequência o forte vinho tinto.

Os raios de sol entravam pelo salão, e dois homens,


bêbados, iniciaram uma discussão e começaram a lutar entre

LRTHistóricos 120
Highlander Audaz — Jude Deveraux

si. Ninguém tentou detê-los, pois estavam muito bêbados


para se machucarem.

Bronwyn comeu muito pouco e bebeu ainda menos. À


medida que a noite se aproximava, ela podia sentir o aperto
de suas entranhas. Morag tinha razão: o que a incomodava
era o pensamento do que aconteceria hoje à noite. Tentou
raciocinar. Disse a si mesma que era uma mulher de
coragem. Várias vezes liderou incursões contra o gado dos
MacGregor. Era capaz de dormir em meio a uma nevasca,
enrolada em seu tartan. Até combateu contra os ingleses ao
lado do pai. Mas nada a assustou tanto como a ideia do que
ocorreria hoje à noite. Sabia sobre o ato físico da cópula, mas
o que a acompanhava? Ela mudaria após a experiência? Este
Stephen Montgomery seria seu dono depois de se acasalar,
como ele parecia acreditar? Morag disse que a relação de
cama era uma experiência agradável, mas Bronwyn tinha
visto homens jovens e fortes se transformarem em gelatina
porque acreditavam que estavam apaixonados. Ela viu
mulheres felizes e desejáveis se tornarem donas de casa
gordas e complacentes, depois que um homem deslizou um
anel de matrimonio em seu dedo. Algo mais do que apenas
acasalamento acontecia em uma cama matrimonial, e ela
estava com medo do algo que desconhecia.

Quando Morag se aproximou por trás, para lhe dizer que


era hora de se preparar para a cama, ela ficou branca e se
suas mãos agarraram as cabeças dos leões esculpidos da
cadeira.

LRTHistóricos 121
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen segurou seu braço por um momento.

— Eles estão com ciúmes, por favor, ignore-os. Em breve


poderemos fechar a porta e deixá-los fora.

— Prefiro continuar aqui. — Rosnou Bronwyn. Mas


seguiu Morag para o quarto.

Morag não falou enquanto desabotoava o vestido


prateado. Bronwyn era como uma boneca obediente quando
deslizou nua sob as cobertas da cama. Rab se deitou no
chão, perto de sua ama.

— Venha, Rab. — gritou Morag. O cão não se moveu. —


Bronwyn, manda Rab sair. Ele não vai gostar de estar com
você esta noite.

A moça a fulminou com o olhar.

— Teme pelo cão e não por mim? Vejo que todos me


abandonaram? Fique, Rab.

— Está sentindo pena de si mesma, só isso. Uma vez


terminado você não vai se sentir tão triste.

Interrompeu-se quando a porta abriu bruscamente.

— Saia logo, Morag — disse Stephen, fechando a porta


atrás de si. — Ficarão furiosos quando virem que escapei.
Mas não os suporto nem um momento mais e não quero que
Bronwyn siga suportando grosserias. Malditos sejam!

Morag sorriu e colocou a mão em seu braço.

LRTHistóricos 122
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É um bom moço. — Inclinou-se para ele para lhe


sussurrar: — Cuidado com o cão. — Morag deu um tapinha
em seu braço.

Stephen abriu a porta para ela e depois a fechou. Logo


se voltou para Bronwyn com um sorriso. Estava sentada na
cama, com o cabelo negro caindo em cascata sobre os lençóis,
muito pálida, os olhos estavam arregalados e se destacavam
em seu rosto. Os dedos que apertavam o lençol contra o
queixo estavam brancos pela pressão.

Stephen se deixou cair pesadamente na ponta da cama


e tirou os sapatos, depois, a túnica e o gibão. Enquanto
desabotoava a camisa, disse:

— Lamento que não houvesse uma atmosfera mais


festiva nas bodas. Como a casa do Sir Thomas está tão perto
da fronteira, as esposas de seus homens temem visitá-la.

Ele parou quando ouviu os homens batendo na porta.

— Não é justo, Stephen!— Eles gritaram. — Queremos


ver a noiva! Você a terá toda a vida!

Stephen levantou-se e se virou para encarar a esposa


enquanto desabotoava o cinto de sua espada e uma pequena
adaga.

— Eles logo irão. Estão bêbados demais para fazer


qualquer coisa.

LRTHistóricos 123
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Despido, deslizou entre os lençóis junto a ela e sorriu


ante o olhar vidrado e sério da moça. Estendeu uma mão
para lhe tocar a bochecha com suavidade.

— Sou tão formidável que você não pode olhar para


mim?

De repente Bronwyn ganhou vida. Pulou da cama e


arrastou o lençol com ela. Retrocedeu até apoiar-se contra a
parede. Rab assustado veio se colocar diante dela. Ela olhou
fixamente para Stephen, deitado na cama. Seu corpo nu,
suas pernas musculosas cobertas de pelos claros, parecia
estranhamente vulnerável. Seu peito era ainda mais largo do
que parecia quando estava vestido. Ela pressionou seu corpo
contra a parede.

— Não me toque! — disse, em voz baixa.

Lentamente, e com grande paciência, Stephen jogou as


pernas sobre o lado da cama e se levantou. Ela manteve os
olhos em seu rosto e pôde ver que ele considerava sua
explosão pouco mais do que um contratempo. Ele passou por
ela até uma mesa próxima, onde taças e uma jarra de vinho,
além de uma tigela de frutas estavam depositadas em uma
bandeja. Ele serviu-lhe um pouco de vinho.

— Tome. Beba isto e se tranquilize.

Ela bateu no copo de sua mão, enviando-o voando pelo


quarto onde caiu em pedaços no chão.

LRTHistóricos 124
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não permitirei que me toque. — repetiu.

— Está nervosa, Bronwyn! Todas as noivas ficam


assustadas a primeira vez.

— A primeira vez! — ela rosnou — Acha que esta é


minha primeira vez? Já me deitei com metade dos homens de
meu clã. Mas não quero que um inglês sujo me toque. Isso é
tudo.

Stephen não perdeu o sorriso paciente.

— Eu sei tão bem como você que isso é uma mentira.


Não estaria tão assustada se já tivesse se deitado com um
homem antes. Por favor, relaxe, você só está piorando as
coisas. Além disso, o que você pode fazer?

Ela odiava sua autoconfiança presunçosa de que ela


estava desamparada contra ele. Ela odiava tudo nele. Parecia
tão confiante. Mesmo nu emanava um sentimento de poder.
Bronwyn devolveu o seu sorriso, pois tinha algo que tiraria
aquele sorriso de seu rosto.

— Rab! — ordenou. — Ataque!

Stephen se moveu para um lado, mais veloz em seus


reflexos que o cão. Enquanto Rab voava em direção a ele,
transformado em uma massa de músculos com rosnados e
longos dentes afiados, Stephen fechou o punho e descarregou
contra a grande cabeça do cão. O voo de Rab mudou

LRTHistóricos 125
Highlander Audaz — Jude Deveraux

imediatamente de direção, ele se chocou violentamente contra


a parede, então deslizou ao chão, como um montículo.

— Rab! — Bronwyn gritou e deixou cair o lençol


enquanto corria para ele. O cão tentou ficar de pé, mas
cambaleou atordoado, voltando a deitar.

— Você o feriu. — exclamou a moça, levantando a vista


para o Stephen, que estava de pé diante eles.

Stephen dera uma breve olhada no cão para constatar


que estava ileso, então só teve olhos para Bronwyn. Olhava
boquiaberto, os seios coroados de rosa e os quadris redondos,
cobertos de pele semelhante a cetim marfim.

— Vou matá-lo por isso! — vociferou a moça.

Stephen, aturdido por sua beleza, não a viu pegar a faca


que estava na mesa, junto às frutas. Não tinha fio, mas era
pontiaguda. Ele viu o brilho um momento antes que
afundasse no ombro. Moveu-se para o lado e recebeu um
corte na pele.

— Maldição! — disse, levando uma mão à ferida.


Subitamente se sentiu muito cansado. O sangue escorria
entre seus dedos. Sentou na cama e afastou a mão para
examinar o ombro.

— Rasgue um pedaço desse lençol para que eu possa me


enfaixar. Vem...

LRTHistóricos 126
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn permanecia imóvel, com a faca na mão.


Stephen a percorreu com o olhar.

— Obedece! — ordenou.

Observou como ela se ajoelhou para arrancar uma larga


tira do lençol. Depois enrolou o resto do lençol em volta dela.
Stephen não lhe pediu ajuda para enfaixar o braço. Depois de
atar a bandagem, usando uma mão e os dentes, voltou-se
para o cão.

— Vem aqui, Rab. — disse em voz baixa.

O cão obedeceu imediatamente. Stephen lhe examinou


atentamente a cabeça e não encontrou nenhum dano. Então
deu um tapinha no animal, e Rab esfregou a cabeça contra a
mão de Stephen.

— Bom garoto, vá até lá e durma como um moço bem


educado.

Rab foi até onde Stephen apontou e se deitou.

— Agora Bronwyn, — pronunciou no mesmo tom —


venha para a cama.

— Não sou como Rab, que troca de lealdades tão


rapidamente.

— Maldita seja! — protestou Stephen.

Stephen deu um longo passo em direção a ela e agarrou


seu pulso.

LRTHistóricos 127
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Você vai me obedecer e vou sentir mais do que possa


imaginar por castiga-la.

Coloco-a sobre suas coxas nuas, com o traseiro para


cima, e aplicou várias palmadas duras e dolorosas às firmes e
redondas nádegas. Quando terminou, cada bochecha das
nádegas carregava as impressões de seus dedos, depois a
atirou para o outro lado da cama. Ignorou as lágrimas de dor
em seus olhos. Deitou-se junto a Bronwyn e cruzou um braço
e uma coxa sobre seu corpo.

Stephen ficou imóvel por um momento, sentindo a


deliciosa pele de Bronwyn contra a dele, desejava muito fazer
amor com ela. Mas estava muito, muito cansado. Pela manhã
combatera contra Roger, durante o resto do dia, contra
Bronwyn e seu cão. Uma repentina sensação de
contentamento o dominou. Bronwyn era dele, para desfrutá-
la pelo resto de seus dias. Seus músculos começaram a
relaxar.

Bronwyn deitava-se sob Stephen em uma posição rígida,


preparada para o que estava por vir. Seu traseiro ardia pela
surra e um ou dois soluços escaparam entre as lágrimas.
Quando o sentiu relaxar, ouviu a respiração rítmica, que
dizia inconfundivelmente, que ele adormeceu, se sentiu
aliviada e ressentida. Isso era um insulto. Quis separar-se
dele, mas Stephen a retinha de um modo que ameaçava
quebrar-lhe as costelas. Quando viu que não havia mais nada
que pudesse fazer, começou a relaxar. E quando o fez,

LRTHistóricos 128
Highlander Audaz — Jude Deveraux

descobriu que gostava daquela pele contra a sua. Seu ombro


era duro e firme, e ela descansou sua bochecha contra ele. As
velas do quarto oscilaram, e ela sorriu sonhadora, enquanto
Stephen enterrava seu rosto mais profundo em seu cabelo.

LRTHistóricos 129
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Cinco
Pela manhã Stephen despertou muito cedo. Em um
princípio só notou a dor e a rigidez do ombro arroxeado e do
braço ferido. No quarto tudo era escuridão e silêncio. Só uma
leve luz rosada penetrava pela alta janela.

Stephen tomou consciência do cheiro de Bronwyn. Seus


grossos cabelos negros estavam enrolados ao redor de seu
braço. Sua coxa descansava entre as dele. Ele esqueceu
qualquer sentimento de desconforto em um instante.
Respirou fundo e lentamente, observando-a. Adormecida e
relaxada, seus olhos não gritavam seu ódio. Seu queixo
estava abaixado e indefeso, macio e feminino.

Cuidadosamente, moveu sua mão para acariciar o lado


de seu rosto. Sua bochecha era lisa como a de um bebê,
suavemente arredondada e rosada. Enterrou os dedos em seu
cabelo, observando os cachos que se agarravam a seu
antebraço como uma roseira subindo por uma treliça. Teve a
sensação de tê-la desejado durante toda sua vida. Era a
mulher com quem sempre sonhara. Não tinha desejo de
apressar seu prazer. Já que esperara tanto, decidiu ter tempo
para saboreá-la.

Estava ciente quando Bronwyn abriu os olhos. Não fez


movimentos rápidos, não fez nada que a assustasse. Seus

LRTHistóricos 130
Highlander Audaz — Jude Deveraux

olhos, grandes e azuis, iluminando seu rosto, lembraram-no


das gazelas no parque de Montgomery. Quando menino
Stephen conseguia se aproximar delas sorrateiramente.
Então se sentava e observava, depois de algum tempo os
animais perderiam o medo deles.

Tocou seu braço, deslizou sua mão para baixo em uma


caricia suave para pegar sua mão. Lentamente, levantou-a
até os lábios beijando sua palma e, quando colocou um dedo
na sua boca, olhou-a nos olhos e sorriu. Ela o fitou com uma
expressão de preocupação, como se tivesse medo de que ele
tirasse dela algo mais do que sua virgindade. Ele queria
tranquilizá-la, mas sabia que com palavras seria impossível,
que a única maneira de fazê-la entender era despertar-lhe
uma resposta apaixonada.

Mudou de posição para que ambos os braços estivessem


livres, e sentiu que ela se enrijecia ao lado dele. Com uma das
mãos, reteve as pontas dos dedos na boca, tocando as gemas
suaves com os dentes e a língua. Deslizou a outra mão pelo
torso dela, rodeando-lhe a cintura, acariciando seu quadril.
Seu corpo era firme, os músculos debaixo de sua pele macia e
bem torneada, eram bem formados e duros pelo exercício de
combate. Ele a sentiu respirar fundo ante a primeira carícia
em seu seio. Muito gentilmente deixou seu polegar acariciar o
mamilo rosado. Mesmo quando sentiu o botão endurecer sob
seu toque, ela ainda não relaxava. Stephen franziu o cenho
levemente, percebendo que não estava chegando a lugar
algum. Toda sua gentileza a deixou mais tensa.

LRTHistóricos 131
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Deslizou a mão do seio até a coxa. Inclinou a cabeça e


beijou-a no pescoço, provocando-a. Deslizou os lábios pelo
ombro e desceu até o seio, enquanto sua mão acariciava com
suavidade a pele delicada do joelho. Sentiu-a estremecer de
prazer, e ele sorriu enquanto se movia para o mamilo
esquerdo, as mãos na cintura. Mas franziu o cenho ao ver
que ela voltava a ficar tensa.

Afastou-se dela. Ela estava deitada de costas, olhando


para ele, maravilhada. Ele acariciou-lhe os fios do cabelo,
junto à têmpora. Seu cabelo estava espalhado sobre o
travesseiro como uma cachoeira líquida de pérolas negras.

"Ela é diferente das outras mulheres", pensou. "É


especial, única."

Sorriu para ela. Com um movimento brusco afastou o


lençol que a cobria até os joelhos.

— Não, — sussurrou Bronwyn — por favor.

Suas pernas eram magníficas: longas, esbeltas,


curvilíneas. Tinha montado a cavalo toda a sua vida,
percorrendo longas distâncias, através de colinas e vales.
Eram pernas sensíveis. Stephen compreendeu então que não
foi a carícia no seio o que lhe provocara aquele leve
estremecimento de prazer, a não ser o contato de sua mão no
joelho.

Ele se moveu para os pés da cama, olhando para ela,


apreciando sua beleza. Inclinou-se para frente e colocou as

LRTHistóricos 132
Highlander Audaz — Jude Deveraux

mãos em seus tornozelos, em seguida, lentamente, deslizou-


as para cima em direção a seus joelhos e coxas. Bronwyn
sobressaltou-se, como se alguém a tivesse tocado com uma
brasa.

Stephen riu profundamente. O riso brotando de sua


garganta. Desceu suas mãos novamente com suavidade.
Tomou um de seus pés em sua mão, roçando seus lábios por
suas pernas. Beijou-os, passou a língua sobre a curvatura do
joelho.

Bronwyn se moveu inquieta sob ele. Pequenos calafrios


de prazer percorreram seu corpo, correndo por seus braços,
sobre seus ombros. Nunca se sentira assim antes. Nunca
tivera essas sensações. Seu corpo tremia, e sua respiração
era rápida e desigual.

Stephen virou-a de bruços e colocou a boca na parte de


trás do seu joelho. Bronwyn quase caiu da cama, mas a mão
de Stephen apoiada nas suas costas a manteve no lugar. Ela
escondeu o rosto no travesseiro e gemeu como alguém que
sentisse dor. Stephen continuava torturando-a. Suas mãos e
sua boca exploraram cada centímetro de suas pernas
sensíveis.

Desejava-a tanto que já não podia mais resistir. Virou-a


novamente e procurou sua boca. Ele não estava preparado
para a força de sua paixão. Bronwyn agarrou-se a ele, seus
braços segurando-o em um aperto tenaz. Sua boca parecia

LRTHistóricos 133
Highlander Audaz — Jude Deveraux

querer tirar a essência dele. Sabia o que ela desejava, mas


também sabia que ela não sabia.

Quando Bronwyn começou a puxá-lo para o colchão,


suas mãos percorrendo freneticamente ao longo de suas
costas e braços, ele a empurrou para trás. Deitou-se sobre ela
e suas pernas se abriram naturalmente para recebê-lo.
Estava pronta para ele.

Seus olhos se arregalaram, e ela ofegou abafando uma


exclamação quando ele forçou a penetração a primeira vez.
Deslizando na cavidade suave e quente Stephen deteve-se um
momento diante da resistência em seu interior. Insistiu com
uma só estocada. Ela fechou os olhos, inclinou a cabeça para
trás e sorriu.

— Sim! — sussurrou. — Oh, sim.

Stephen pensou que seu coração pararia. A expressão


dela, as palavras pronunciadas em tom gutural, era mais
excitante do que qualquer poema de amor. Aqui estava uma
mulher! Uma mulher que não temia o homem, que podia se
igualar a ele em paixão.

Começou a se mover dentro dela, que não hesitou em


segui-lo no ritmo do amor. Bronwyn acariciava seu corpo,
esfregava a parte interna das coxas nele, até Stephen pensar
que ficaria cego pela potência do desejo crescente dentro dele.
No entanto, Bronwyn levantava o quadril encontrando-o,
rebolando, dando e recebendo. Quando ele finalmente

LRTHistóricos 134
Highlander Audaz — Jude Deveraux

explodiu dentro dela, estremeceu violentamente, a força do


clímax ameaçando rasgá-lo.

Caiu sobre Bronwyn, suado, fraco, e estreitou-a tão forte


que quase a esmagou.

Bronwyn não se importou em não respirar. Por um


instante, pensou que devia estar morta. Ninguém poderia
passar pelo que tinha experimentado e viver. Seu corpo
inteiro latejava, e sentiu que não poderia dar um passo
mesmo que sua vida dependesse disso. Adormeceu com os
braços e as pernas enroscados em Stephen.

Ao despertar encontrou com os olhos azuis e divertidos


do jovem. O sol se derramava no quarto e em um instante
Bronwyn recordou tudo o que ocorrera entre eles e o sangue
fluiu quente para o rosto. Era estranho não conseguir
recordar as sensações que a levaram a agir de modo tão
embaraçoso. Ele tocou-lhe a bochecha, com os olhos cheios
de riso.

— Estava certo de que valia a pena lutar por você. —


disse.

Ela afastou-se dele. Sentia-se bem. Na verdade, sentia-


se melhor, como não se sentia há muito tempo. ―Claro!‖ —
pensou. Era porque sabia que ela continuava a mesma.
Passou a noite com um homem e não mudou. Ela ainda o
odiava. Ele ainda era o inimigo, um fanfarrão insolúvel,
detestável e arrogante.

LRTHistóricos 135
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Isso é tudo que eu sou para você, não é? Para você,


eu sou mais uma mulher para aquecer sua cama.

Stephen sorriu com prazer.

— Mais que esquentá-la esteve perto de incendiá-la. —


deslizou uma mão pelo seu braço.

— Me solte! — protestou ela com firmeza.

Levantou-se de um salto e agarrou sua bata de veludo


verde. Neste momento ouviu uma rápida batida à porta.
Morag entrou carregando uma bacia com água quente.

— Ouço os dois brigando desde a escada. — Provocou.

— Certamente você também ouviu outros ruídos. —


Disse Stephen, colocando as mãos atrás da cabeça. Morag se
virou para lhe sorrir, com o rosto tão enrugado que seus
olhos desapareciam.

— Você parece muito contente consigo mesmo. —


Comentou, dando uma olhada apreciativa em sua pele
bronzeada contra o lençol, os músculos torneados do tórax e
dos braços rijos, mesmo quando ele estava relaxado.

— Mais do que contente, eu diria. Não é de se admirar


que os escoceses nunca venham para o sul.

Seus olhos percorreram Bronwyn, que jogava labaredas


de ódio com o olhar.

Chris Audley apareceu no marco da porta.

LRTHistóricos 136
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não podemos ter um pouco de privacidade? —


protestou Bronwyn, indo em direção à janela com Rab ao seu
lado. Não acariciou o cão, sentia-se traída por ele também,
tanto na noite anterior como esta manhã, já que permitira
que Stephen... Sua face começou a ficar quente outra vez.

Stephen sorriu para Chris.

— Ela gosta de ficar sozinha comigo.

— O que aconteceu com seu braço? — perguntou Chris,


apontando com um gesto de cabeça o curativo coberto de
sangue seco. Stephen encolheu os ombros.

— Um inconveniente. E agora, se os dois estiverem


satisfeitos de que não nos tenhamos assassinado
mutuamente, talvez tenham a bondade de me deixar a sós
com minha esposa, para que ela possa cuidar da minha
ferida.

Morag e Chris sorriram para ele, deram um breve olhar


às costas rígidas de Bronwyn e partiram. Ela girou para
enfrentar Stephen.

— Eu espero que você sangre até a morte. — provocou.

— Venha aqui! — disse ele, com doçura e paciência,


estendendo as mãos para ela.

Apesar de seus pensamentos, ela obedeceu. Stephen


pegou-lhe a mão e a puxou para se sentar na borda da cama
ao lado dele. Ele rolou em sua direção, o lençol deslizou para

LRTHistóricos 137
Highlander Audaz — Jude Deveraux

baixo, expondo mais de seu quadril e cintura. Bronwyn


desviou o olhar para o rosto do marido. Tinha que controlar o
desejo de tocar sua pele.

Stephen segurou ambas as mãos em uma das suas,


então tocou sua bochecha com a mão livre.

— Talvez eu te provoque demais. Esta manhã me deste


grande prazer. — Ele observou o rubor lento manchar as
bochechas de Bronwyn. — E agora o que posso fazer para te
agradar, que não seja me jogar pela janela?

— Eu gostaria de voltar para casa. — disse ela, em voz


baixa, toda sua saudade soando em sua voz suave. — Quero
voltar para casa, para a Highlander na Escócia, para o meu
clã.

Ele se inclinou e beijou seus lábios, suave e docemente,


como uma chuva de primavera.

— Partiremos hoje mesmo. — prometeu.

Ela sorriu e quis se afastar, mas Stephen reteve suas


mãos com firmeza. A expressão de Bronwyn tornou-se fria no
mesmo instante.

— Desconfia de mim, não é? — ele olhou a bandagem


ensanguentada. — Isto precisa ser limpo e enfaixado
adequadamente.

A jovem se afastou dele bruscamente.

LRTHistóricos 138
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Morag pode fazê-lo, e tenho certeza de que lhe daria


um grande prazer, já que ela parece morrer de desejo por
você. — Stephen jogou o lençol de lado e levantou-se para
estreita-la em seus braços.

— Oxalá fosse ciúme isso que arde em sua voz. Não


quero que seja Morag que troque a bandagem, a não ser você.
Já que a ferida quem fez foi você, cure-a.

Bronwyn não conseguia se mover, mal podia pensar


quando ele a abraçava desta forma. Lembrou-se da sensação
de seus lábios na parte de trás de seus joelhos. Afastou-o
para longe dela.

— Tudo bem, eu vou fazer. Tenho certeza que será mais


rápido se eu cuidar do ferimento do que discutir com você.
Então poderemos ir para casa.

Stephen se sentou junto à janela, reclinado contra as


almofadas, sem prestar a menor atenção em sua nudez.
Esticou o braço para Bronwyn. Sorriu ao ver que ela evitava
fitá-lo.

Bronwyn não gostava de sua presunção, de sua


autoconfiança, essa segurança de que sua proximidade
tivesse algum efeito sobre ela. E pior, odiava a forma como
seu belo corpo atraía seus olhos para ele. Ela sorriu
perversamente enquanto arrancava o curativo de seu braço.
Pedaços de pele e crosta recém-formada se desprenderam
bruscamente.

LRTHistóricos 139
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Maldita seja! — gritou Stephen, saltando do assento.


Rodeou o pescoço da esposa com a mão e atraiu-a para si. —
Você vai lamentar por isso! Algum dia saberá que cada gota
do meu sangue é mais precioso que toda as suas irritações e
seus rancores!

— Esse é seu maior desejo? Pois posso te assegurar que


não o conseguirá. Casei-me contigo para evitar guerras
dentro de meu clã. Não lhe mato porque seu velho rei
causaria o sofrimento do meu clã.

Stephen empurrou-a tão violentamente que ela bateu


contra a cama.

— Você não vai me matar! — Ele desdenhou. O sangue


da ferida reaberta escorria por seu braço. Levantou-se para
recolher suas roupas do chão. — Você pensa demais em si
mesma. — assegurou, enquanto vestia sua calça. Pôs ao
ombro sua camisa e seu colete. Antes de bater a porta atrás
de si, ordenou com secura. — Esteja pronta em uma hora.

O quarto parecia estranhamente silencioso quando


Stephen se foi, e de alguma forma parecia muito grande e
vazio. Ela estava contente, claro, que ele tivesse saído. Por
um breve momento, se perguntou quem enfaixaria a ferida
em seu braço, mas acabou por dar de ombros. O que ela se
importava? Aproximou-se da porta e chamou Morag. Havia
muito a fazer em uma hora.

LRTHistóricos 140
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Cavalgaram duro durante todo o dia e parte da noite.


Bronwyn sentiu que seu coração e sua mente iluminavam-se
à medida que cavalgavam para o norte. Odiava o ruído das
carretas de bagagem que os seguiam. Para o senso de
economia dos escoceses, a carga daquelas mercadorias era
desnecessária. Um escocês levaria o que pudesse carregar
nas costas, e um pouco de comida em um alforje. Os ingleses
pararam ao meio-dia para uma refeição quente. Bronwyn
estava muito impaciente para comer qualquer coisa.

— Sente-se! — ordenou Stephen. — Você deixa meus


homens nervosos andando assim de um lado para outro.

— Seus homens! E os meus que me esperam?

— Só posso cuidar de um grupo de homens de cada vez.

— Só pode o que...!

Bronwyn se interrompeu. Entre os homens de Stephen,


vários olhavam com interesse. Christopher Audley sorriu para
ela, seus olhos brilhando. Bronwyn sabia que ele era um
jovem agradável, mas àquela altura ninguém a agradava.
Queria sair das malditas Terras Baixas o mais rápido
possível.

À noite atravessaram os Montes Grampianos. Eram


montanhas baixas intercaladas com largos vales. Assim que
atravessaram, o ar pareceu se tornar mais frio, a paisagem
mais selvagem, e Bronwyn começou a respirar com mais

LRTHistóricos 141
Highlander Audaz — Jude Deveraux

facilidade. Seus ombros relaxaram, os músculos em seu rosto


adquiriram um aspecto menos tenso.

— Bronwyn! — disse Stephen, ao seu lado. — Temos


que parar para passar a noite.

— Passar a noite! Mas se...

Compreendeu que de nada serviria discutir. Só Morag


sentia o mesmo que ela. Os outros precisavam descansar
para poder continuar. Respirou fundo e compreendeu que a
proximidade de sua terra a ajudaria a dormir hoje à noite.
Então desmontou e retirou seu alforje. Ao menos poderia se
livrar das incômodas roupas inglesas.

— O que é isto? — perguntou Stephen, tocando a manta


que ela carregava no braço. De repente a lembrança lhe
iluminou os olhos. — Era isso o que você vestia na primeira
noite que encontrei você?

Ela arrebatou-a e caminhou para a escuridão das


árvores. Não era fácil desatar o vestido inglês sozinha, mas
estava decidida a se livrar dele. Colocou o pesado vestido de
veludo cuidadosamente em uma rocha, então, se despiu
completamente. O modo de vestir dos escoceses era simples e
ocasionava liberdade de movimento. Deslizou uma camisa de
algodão macia pela a cabeça, depois uma camisa de mangas
compridas de cor açafrão. As mangas eram franzidas nos
ombros e com punhos estreitos. A saia era cortada em
amplos vieses, estreita na cintura, mas se alargando o

LRTHistóricos 142
Highlander Audaz — Jude Deveraux

suficiente para permitir correr e montar a cavalo. Era de


xadrez com matiz suave de azul como as urzes. Um cinto
largo com uma grande fivela de prata rodeava sua cintura
pequena. Jogou outra manta xadrez, de seis metros,
habilmente sobre os ombros e a fixou com um broche grande.
O mesmo broche de prata que passava de mãe para filha há
gerações.

— Deixa que te ajude. — disse uma voz atrás dela. Ela


se voltou para encarar Stephen.

— Estava me espionando outra vez? — perguntou fria.

— Prefiro dizer que estava protegendo-a. Não se sabe o


que pode ocorrer a uma mulher bonita sozinha no bosque.

Ela retrocedeu.

— Acredito que o pior já passou.

Não o queria por perto. Não queria uma repetição do


poder que ele demonstrara exercer sobre ela na noite
anterior. Voltou-se e correu para o acampamento.

— Não se esqueceu disto? — gritou Stephen, mostrando


os sapatos e soltou uma gargalhada ao perceber que ela não
olharia para trás.

Bronwyn entrou mancando na tenda que disseram que


era de Stephen. Seus homens eram eficientes em fazer um
acampamento que se assemelhava a uma pequena cidade.
Ela estremeceu quando seu pé tocou a borda do tapete

LRTHistóricos 143
Highlander Audaz — Jude Deveraux

estendido sobre o bom solo escocês. Tinha esquecido que


fazia meses que não corria descalça pelo campo aberto. Seus
pés ficaram macios, e depois de sua curta corrida, estavam
cortados e machucados.

Sentou-se na borda da cama larga e se inclinou para


inspecioná-los. Quando a aba da tenda se abriu e Stephen
entrou, ela se levantou rapidamente, embora seus pés feridos
trouxessem lágrimas de dor aos seus olhos. Stephen jogou
seus sapatos em um canto e se sentou na cama.

— Deixe-me vê-los.

— Não tenho ideia do que você está falando. — disse ela,


altiva, apartando-se.

— Por que é sempre tão teimosa Bronwyn? Você feriu


os pés, eu sei, então venha aqui e deixe-me dar uma olhada.

Ela sabia que mais cedo ou mais tarde teria que cuidar
deles. Sentou- se na cama de armar com relutância. Stephen
se acocorou com um suspiro de exasperação e pôs os pés de
Bronwyn no colo. A moça deitou-se para trás, apoiada nos
braços. Stephen, com o cenho franzido, examinou os cortes,
um deles bastante profundo. Gritou para que seu escudeiro
lhe trouxesse uma bacia de água quente e ataduras limpas.

— Ponha os pés aqui. — indicou, pondo o balde de água


no chão.

LRTHistóricos 144
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ela observou enquanto ele lavava e enxaguava seus pés


com ternura e depois os colocava em seu colo para secá-los e
enfaixa-los.

— Por que faz isto por mim? — perguntou ela, em voz


baixa. — Sou sua inimiga.

— Não, você não é. É você quem luta contra mim, não o


contrario. Meu único desejo é viver em paz contigo.

— Como pode haver paz se o sangue de meu pai é uma


muralha entre nós dois?

— Bronwyn... — Mas se interrompeu. De nada serviria


discutir. Só suas ações a convenceriam de que ele só queria o
bem dela e de seu clã. Deu um tapinha na bandagem do pé
esquerdo.

— Isso vai segurar você por um momento na cama. —


Ela quis se afastar, mas Stephen prendeu seus pés. Seus
olhos escureceram enquanto deslizava uma mão pela
panturrilha da jovem. — Tem pernas bonitas — sussurrou.

Bronwyn reconheceu sua expressão e quis se afastar,


mas ele a hipnotizava e a mantinha cativa mesmo sem
empregar força. Suas mãos estavam sob a saia larga. Ela se
deitou de costas contra os travesseiros, deixando-se acariciar
nas pernas e nas nádegas.

Ele se deitou ao lado dela, puxou-a para seus braços, e


começou a beijar seu rosto, o lóbulo de sua orelha, sua boca.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Suas mãos habilmente desabotoaram seu broche e a fivela do


cinto. Suas roupas escorregaram de seu corpo antes que ela
percebesse que estava sendo despida. Stephen se afastou
dela por apenas alguns segundos, enquanto descartava suas
próprias roupas. Soltou uma risada rouca ao ver que as mãos
de Bronwyn procuravam seu corpo e o puxavam para ela.

Apertou sua boca sobre a dela, saboreando a doçura de


sua língua.

— Quem sou eu? — Ele sussurrou enquanto corria os


dentes ao longo de seu pescoço.

Ela, em vez de responder esfregou as coxas ao longo


dele. Seu coração estava acelerado e, apesar da noite fria, um
leve brilho de suor começava a se formar em sua pele.

Stephen afundou a mão em seus cabelos.

— Quem sou eu? Quero ouvir você dizer meu nome.

— Stephen. — sussurrou ela. — E eu sou a MacArran.

O jovem riu, com os olhos brilhantes. Nem sequer em


meio à paixão ela perdia esse incrível orgulho.

— E eu sou o conquistador de uma MacArran — riu.

— Jamais! — disse com um suspiro gutural, agarrando


o cabelo dele e puxando-o com força. A cabeça de Stephen
pendeu para trás e Bronwyn cravou os dentes no pescoço do
marido. — Quem é o conquistador agora?

LRTHistóricos 146
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen girou com ela colocando-a sentada em cima


dele, percorrendo-a com as mãos firmemente.

— Os ingleses perderiam todas as guerras se os inimigos


fossem como você. — De repente, ele a ergueu, e lentamente
a baixou até sentá-la em seu pênis. Bronwyn afogou uma
exclamação de surpresa, imediatamente emitiu um grave
gemido de prazer e começou a se mover para cima e para
baixo. Stephen permanecia quieto, permitindo que ela
controlasse o prazer de ambos. Quando sentiu que sua
excitação chegava ao máximo, colocou-a de costas e ela se
agarrou a ele com força. Explodiram juntos em um brilho
cegante.

Esgotados, adormeceram como estavam, abraçados,


com a pele úmida pelo suor e a paixão.

Uma coruja acordou Bronwyn. Ela acordou assustada,


com os olhos arregalados e os sentidos em alerta. Stephen
estava esparramado meio em cima dela, prendendo-a debaixo
dele. Ela franziu o cenho ao recordar a paixão deles. Agora
desaparecida e a cabeça novamente governava aquele corpo
desobediente.

O piado dessa coruja era muito familiar, ouvira-o muitas


vezes ao longo da vida.

— Tam! — sussurrou. Lentamente, empregando mais


suavidade da que desejava, afastou os membros pesados de
Stephen.

LRTHistóricos 147
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Vestiu-se rapidamente no escuro, sem fazer quase


nenhum ruído. Ela encontrou os sapatos onde Stephen os
atirara e saiu da tenda. Permaneceu imóvel alguns instantes,
escutando, com Rab ao seu lado. Stephen tinha colocado
guardas, e eles caminhavam ao redor da borda do
acampamento. Bronwyn lançou um olhar de desgosto ao
passar perto deles e adentrar no bosque. O xadrez de sua
manta e seu cabelo escuro tornava- na quase invisível.

Caminhou rapidamente, a passo seguro, quase sem


fazer ruído. De repente, ficou imóvel, percebendo a
proximidade de alguém.

— Jamie te ensinou bem. — disse uma voz grave detrás


dela. Bronwyn se voltou com um sorriso brilhante.

— Tam! — exclamou um instante antes de jogar-se em


seus braços. Ele a estreitou com força, levantando-a do chão.

— Trataram-lhe bem? Está ilesa? — A moça se afastou.

— Deixe-me olhar para você. — disse.

O luar tornou o cabelo de Tam ainda mais prateado do


que realmente era. Um homem de estatura média, não mais
alto do que Bronwyn, mas de poderosa compleição; um
carvalho teria invejado seus braços e torso. Tam era primo de
seu pai, e tinha sido seu amigo toda a vida. Um dos filhos de
Tam era um dos três homens que ela teria escolhido para ser
seu marido. Tam deu uma risada profunda.

LRTHistóricos 148
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Seus olhos são melhores do que os meus que já estão


velhos, não posso dizer, se está bem ou não. Nós queríamos
vir por você, mas estávamos com medo de sua segurança.

— Vamos sentar.

—Tem tempo? Ouvi que você tem marido agora.

Ela podia ver a preocupação em seu rosto. Podia ver que


havia mais rugas ao redor de seus olhos.

— Sim, eu tenho um marido. — Ela disse quando eles


estavam sentados lado a lado em uma rocha. — Ele é inglês.

— Como ele é? Ele planeja ficar na Escócia com você ou


voltar para a Inglaterra?

— Como quer que saiba? Ele é um homem arrogante.


Tento falar do meu clã, mas ele nunca escuta. Para ele nada é
melhor que o método inglês.

Tam tocou sua bochecha. Durante anos tinha pensado


nesta garota como sua filha.

— Ele a machucou? — perguntou, em voz baixa.

Bronwyn agradeceu que a escuridão cobrisse seus


rubores. Stephen feriu seu orgulho fazendo-a se contorcer
sob ele e em cima dele. Bastava que a tocasse para que ela
perdesse a cabeça. Mas não podia dizer essas coisas a um
homem que era como um segundo pai.

LRTHistóricos 149
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não, ele não me machucou, diga, como está o meu


clã? Você teve muitos problemas com os MacGregor?

— Não. Tudo esteve tranquilo em sua ausência.


Estávamos muito preocupados, embora o rei inglês tivesse
prometido que não faria nada a você. - Ele estendeu a mão
quando Rab chegou ao seu lado, e deu um tapinha na cabeça
grande distraidamente. — Você está me escondendo alguma
coisa. Que tipo de homem é esse seu marido?

Bronwyn levantou-se

— Odeio-lhe! Provocará mais problemas do que


necessito. Quando lhe disse que devia tratar de fazer-se
aceitar por meu clã riu de mim. Viaja com um exército de
homens e montanhas de bagagem.

— Nós ouvimos há dias atrás.

— Preocupa-me que sua ignorância e sua estupidez


prejudiquem meus homens. Sem dúvida tentará forçá-los a
se adaptar aos seus costumes. Alguém enterrará uma adaga
nas costelas dele e o rei inglês lançará seus soldados contra
meus chefes.

Tam se levantou e pousou as mãos nos ombros da


jovem. Eram ombros muito pequenos para o peso da
tamanha responsabilidade que ela carregava.

— Talvez não. Talvez possamos tirar alguns pedaços de


sua pele para que aprenda a respeitar nossos costumes.

LRTHistóricos 150
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn se voltou para lhe sorrir.

— Que bem você me faz. Dizem os ingleses que somos


um bando de brutos selvagens. Se lhe ouvissem acabariam
de convencer-se.

— De maneira que somos selvagens, não é? — repetiu


Tam, provocando-a.

— Sim e opinam que as mulheres são tão ruins quanto


os homens.

— Humrum! — grunhiu seu companheiro. — Vamos ver


se você se lembra de qualquer coisa que eu lhe ensinei.

Antes que ela pudesse piscar, ele havia puxado sua


adaga e a tinha apontado para sua garganta. Passara anos
inteiros ensinando-a a se proteger dos homens fortes. Ela se
moveu a um lado em um movimento rápido e fluido, mas não
o suficiente: a adaga se apertou contra seu pescoço.

De repente, de entre as árvores, um homem voou,


literalmente, seus pés sem tocar o chão, como se ele
flutuasse pelo ar e caiu contra Tam. Bronwyn saltou para um
lado, e Tam lutou para manter o equilíbrio. Ele era um
homem maciço, robusto, e sua força estava em sua
capacidade de permanecer firme contra qualquer combate
corpo a corpo. Bronwyn tinha visto quatro guerreiros fortes e
adultos saltarem sobre ele, e Tam permaneceu em pé. O
escocês olhou entortando os olhos, cheio de curiosidade.
Bronwyn sorriu ao ver que se tratava de Stephen que estava

LRTHistóricos 151
Highlander Audaz — Jude Deveraux

caído no chão de costas. Era um prazer vê-lo deitado. Ele


tinha vencido Roger Chatworth, mas Roger era um inglês,
formado em regras da cavalaria e desportismo. Tam era um
verdadeiro lutador.

Stephen não perdeu tempo contemplando seu


assaltante. Tudo o que sabia era que vira aquele homem
segurando uma adaga na garganta de sua esposa. Para ele,
era suas vidas ou a de Tam. Ele agarrou um pedaço de um
tronco do chão, e como Tam se virou com perplexidade para
Bronwyn, Stephen golpeou a madeira na parte de trás do
joelho do homem grande. Tam emitiu um grave grunhido e
caiu para frente. Stephen, de joelhos, enfiou o punho no rosto
de Tam e sentiu o nariz do homem rangendo sob os nódulos
de seus dedos.

Tam sabia que Stephen não era um desconhecido ou


Rab teria dado o aviso, mas quando sentiu seu nariz quebrar,
já não se importava quem era seu atacante. Abriu as mãos
grandes e procurou a garganta de Stephen.

Stephen sabia que não tinha chance contra a força do


homem, mas sua juventude e agilidade compensavam de
sobra. Ele esquivou as mãos de Tam, então abaixou e golpeou
com ambos os punhos o estômago duro como uma rocha do
escocês. Tam não parecia notar os golpes de Stephen.
Agarrou-o pelos ombros, levantou-o e bateu contra uma
árvore uma vez, duas vezes. Stephen ficou aturdido quando
seu corpo atingiu a árvore, mas ergueu as pernas e usou toda

LRTHistóricos 152
Highlander Audaz — Jude Deveraux

sua força para chutar contra o peito de Tam. A força nas


pernas de Stephen foi suficiente para fazer Tam parar de
esmaga-lo contra a árvore.

Stephen levantou os braços forçando os pulsos de Tam,


e a rapidez de sua ação fez Tam soltá-lo. Instantaneamente
Tam girou ficando atrás de Stephen, suas mãos gigantes
buscando-lhe a garganta outra vez. Stephen tinha apenas
alguns segundos para escapar. Jogando as pernas para o ar
fez uma perfeita volta se colocando atrás do seu atacante.

Tam ficou agachado por um momento. Um segundo


antes seu inimigo estava lá e no seguinte tinha desaparecido.
Antes que pudesse piscar, sentiu uma fria lâmina de aço em
sua garganta.

— Não se mova, — disse Stephen, ofegando — ou eu vou


cortar sua garganta!

— Basta! — gritou Bronwyn — Stephen! Solte-o


imediatamente!

— Soltá-lo? — Stephen perguntou. — Ele tentou matar


você. E franziu o cenho quando ouviu o riso profundo de
Tam.

— Me matar! — burlou-se Bronwyn. — Não conheci


nenhum homem mais estúpido em minha vida. Em caso de
perigo Rab o teria atacado. Agora guarde essa adaga antes
que machuque alguém.

LRTHistóricos 153
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen embainhou lentamente a adaga.

— Esse cachorro maldito estava tão quieto que pensei


que estivesse morto.

Ele esfregou a parte de trás da cabeça. Sua espinha


parecia que estava quebrada.

— Ele está certo, Bronwyn. — disse Tam. — Ele fez o


certo, meu nome é Tam MacArran. — Ele disse enquanto
estendia a mão para Stephen. — Onde aprendeste a lutar
assim?

Stephen hesitou por um momento antes de tomar a mão


do homem. O que realmente queria fazer era pôr Bronwyn
sobre seu joelho e dar-lhe umas boas palmadas por chamá-lo
de estúpido, quando estava tentando somente protegê-la.

— Stephen Montgomery. — se apresentou, estreitando a


mão a Tam. — Tenho um irmão do seu tamanho e descobri
que o único modo de derrotá-lo era sendo mais veloz. Um
acrobata me ensinou alguns ardis que me resultaram úteis.

— Eu deveria saber isso! — Tam disse, esfregando o


nariz. — Eu acho que pode ter quebrado.

— Ah, Tam! — Bronwyn gritou, dando a Stephen um


olhar de ódio. — Volte para o acampamento e me deixe cuidar
dele.

Tam não se moveu.

LRTHistóricos 154
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Acredito que deveria pedir permissão a seu marido.


Suponho que é seu marido, não?

Stephen sentiu simpatia pelo homem.

— Já tenho cicatrizes que provam isso. — Tam riu entre


dentes.

— Vamos. Vejamos se conseguimos encontrar cerveja e


eu gostaria de conversar com meus guardas Como no mundo
eles não ouviram Bronwyn sair do acampamento? Eu nunca
vou saber! Um homem em armadura completa poderia ter
feito menos barulho.

— Menos barulho! — Bronwyn disse. — Vocês ingleses


são...!

Tam lhe pôs uma mão no ombro para interrompê-la.

— Mesmo que os outros não a ouviram, o seu marido


ouviu... Agora vá à frente e pegue um pouco de água quente
para que eu possa me lavar. Acho que estou coberto de
sangue ressecado. — Fitou Stephen com carinho. — Você tem
bastante força nesses punhos.

Stephen sorriu.

— Outro golpe contra essa árvore e teria quebrado a


coluna.

— Sim. — reconheceu Tam. — Não tem carne para que


amorteça os golpes.

LRTHistóricos 155
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Hahahaha! — riu Stephen. — Se eu fosse tão gordo


quanto você não poderia me mexer.

Os homens sorriram um para o outro e seguiram


Bronwyn e Rab para o acampamento.

— Stephen! — exclamou Chris quando chegaram. —


Ouvimos barulho de luta, mas demoramos um momento em
notar que tinham desaparecido. Pelos pregos de Cristo! O que
te aconteceu e quem é este homem?

As tochas foram se acendendo, pois os homens


começavam a despertar, alertados pelo tumulto.

— Volte a dormir, Chris. — disse Stephen. — Só peça a


alguém que nos traga água quente e abra um barril de
cerveja, tudo bem? Entre, Tam.

Tam contemplou o interior da tenda. As paredes


estavam revestidas com seda azul pálido, o chão coberto com
tapetes do Oriente. Sentou-se numa cadeira de carvalho
esculpida.

— Ótimo lugar que você tem aqui — comentou.

— É um desperdício de dinheiro! — Bronwyn provocou.


— Há pessoas passando fome e....

— Eu paguei para que me fabricassem esta tenda, e eu


suponho que eles compraram comida com o dinheiro. —
Replicou Stephen.

LRTHistóricos 156
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Tam passeava a vista entre ambos. Viu aborrecimento e


hostilidade em Bronwyn, mas em Stephen só se percebia
tolerância e talvez mesmo afeto. Stephen o atacou ao pensar
que ele estava ameaçando a sua mulher.

Trouxeram a água quente. Os dois homens se despiram


até a cintura para se lavar. Bronwyn apalpou o nariz de Tam
e garantiu que não estava fraturado. As costas de Stephen
eram uma massa de sangue no locam em que casca de árvore
tinha perfurado sua pele.

— Acho que as costas do seu marido precisam de


atenção. — observou Tam, em voz baixa.

Bronwyn deu a Stephen um olhar de desdém e deixou a


tenda, Rab atrás dela. Tam pegou um pano.

— Sente-se, garoto, e eu cuidarei de suas costas.

Stephen obedeceu. Enquanto lavava com suavidade as


feridas, Stephen começou a falar.

— Talvez eu deva pedir desculpas pelas maneiras de


minha esposa.

— Não há necessidade. Acredito que sou eu quem deve


te pedir desculpas, pois colaborei para que seja como é agora.

Stephen pôs-se a rir.

— Tinha mais motivos para brigar contigo do que


imaginava. Diga-me, acredita que algum dia deixará de estar
furiosa comigo?

LRTHistóricos 157
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Tam espremeu o pano ensanguentado.

— É difícil dizê-lo. Ela e Davey têm muitos motivos para


odiar os ingleses.

— Que Davey?

— O irmão mais velho de Bronwyn.

Stephen girou para Tam.

— Um irmão! Bronwyn tem um irmão varão, mas seu


pai a nomeou sua sucessora?

Tam riu entre dentes e empurrou Stephen para que ele


pudesse terminar de limpar as costas.

— Os costumes escoceses devem parecer estranhos para


você.

Stephen soprou.

— Estranho é uma palavra suave para explicar suas


ações. Que tipo de homem era o pai de Bronwyn?

— É melhor que você pergunte sobre seu irmão. Davey


era um garoto maluco, nunca foi muito direito desde o dia de
seu nascimento. É um rapaz bonito e muito simpático, e
sempre conseguia levar as pessoas a fazer o que ele queria. O
problema era que nunca parecia saber e determinar o que
mais convinha ao clã.

— E Bronwyn sim? Tudo que importa é seu clã e esse


maldito cão dela.

LRTHistóricos 158
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Tam sorriu a suas costas.

— Jamie, seu pai, nunca se iludiu quanto à filha. Ela


tem um temperamento muito forte e às vezes é
excessivamente implacável. — Ignorou o olhar de soslaio que
Stephen lhe deu. — Mas é como disse: ama o clã. Coloca-o
acima de tudo.

— E por isso foi nomeada chefa em vez de seu irmão.

— Em efeito, mas a coisa não foi tão simples. Acordou


com seu pai que se casaria com um homem eleito por ele.
Jamie lhe deu a escolher entre três jovens, todos fortes e
estáveis. O que Bronwyn precisava para neutralizar seu
temperamento explosivo.

Tam jogou o pano na bacia e sentou-se novamente na


cadeira. Stephen perguntou, enquanto colocava a camisa:

— E os homens?

— Mataram aos três, junto com Jamie.

Stephen guardou silêncio por um momento. Sabia que


os quatro foram mortos pelos ingleses.

— E Bronwyn estava apaixonada por algum deles? Já


tinha eleito algum?

Como Tam demorava muito em dar sua resposta,


levantou a vista. O escocês parecia ter envelhecido nos
últimos minutos. Tam levantou a cabeça e tratou de impor
um sorriso a suas fortes feições.

LRTHistóricos 159
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Eu gosto de pensar que ela tinha eleito, que existia


um que ela amava mais. — Aspirou profundamente e olhou
ao Stephen nos olhos. — Um dos jovens mortos era meu filho
mais velho.

Stephen encarou o homem fixamente. Fazia apenas


algumas horas que se conheciam e seu corpo doía por causa
da briga com Tam, mas tinha a impressão de conhecê-lo há
anos. A mandíbula forte, o nariz largo, os olhos escuros e os
longos cabelos grisalhos pareciam familiares. Sentiu a
tristeza de Tam com a perda de seu filho progênito.

— E quanto a Davey? — Stephen perguntou. — Ele se


afastou a um lado com gentileza para sua irmãzinha assumir
o posto?

Tam soprou limpando os olhos.

— Os escoceses nunca fazem nada sem paixão. Davey


ameaçou instigar ao clã contra seu pai ao inteirar-se de que
Bronwyn seria sua herdeira.

— Sério? O que disse Bronwyn?

Tam levantou uma mão, rindo.

— Ela me disse que você era um homem estúpido, mas


não me parece assim. — Stephen deu-lhe um olhar que dizia
o que pensava da opinião de Bronwyn sobre ele. — Davey
conseguiu que alguns homens o seguissem, — prosseguiu
Tam — mas como eles não queriam lutar contra os membros

LRTHistóricos 160
Highlander Audaz — Jude Deveraux

de seu próprio clã, retiraram-se às colinas para viverem


exilados.

— E Bronwyn?

— A pobre moça adorava Davey. Como te disse, era um


jovem persuasivo. Ela disse a seu pai que se negava a aceitar
o que era de Davey por direito. Mas Jamie se limitou a rir e
lhe perguntou se estava disposta a ficar de lado e ver a guerra
dentro de seu próprio clã.

Stephen se levantou.

— E claro que Bronwyn, certamente, fez o que lhe


pareceu melhor para seu clã. — disse, com uma pitada de
sarcasmo.

— Em efeito. A garota se mataria se achasse que o clã


poderia se beneficiar com sua morte.

— Ou seguiria com vida e sofreria um destino pior que a


morte pelo mesmo motivo.

Tam deu-lhe um olhar astuto.

— Sim, faria-o também.

Stephen sorriu.

— Nos acompanhará até a casa de Bronwyn? — Stephen


perguntou.

Tam ficou de pé, movendo com lentidão seu grande


corpo.

LRTHistóricos 161
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Eu ficaria honrado.

— Neste caso posso te oferecer um espaço em minha


tenda?

Tam arqueou uma sobrancelha.

— Muito luxo para mim. A esta altura de minha vida


não necessito que me estraguem. Tenho minha manta. Mas
obrigado, de qualquer modo.

Pela primeira vez, Stephen tomou conhecimento da


vestimenta de Tam. Ele usava uma camisa com mangas
grandes e um longo colete acolchoado que cobria até a
metade da coxa. Em seus pés usava sapatos rústicos e
grossos de couro, uma pesada meia de lã que chegava
somente aos joelhos musculosos que estavam nus. Sobre os
ombros vergava um longo e largo tartan. Um cinto grosso e
largo estava ao redor do colete sustentando um punhal. Tam
ficou em silêncio durante o exame de Stephen, esperando os
comentários usuais ente os ingleses.

— Você pode ficar com frio. — disse Stephen.

Tam sorriu.

— Os escoceses não são homens fracos. Vejo você pela


manhã. — Dizendo isso, abandonou a tenda. Stephen
permaneceu imóvel durante um momento. Depois se
aproximou da abertura e emitiu um assobio suave. Rab se
aproximou após um instante.

LRTHistóricos 162
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Bronwyn! — lhe ordenou, em voz baixa.

O cão deu-lhe uma lambida na mão e se dirigiu para a


floresta escura, seguido por Stephen.

Bronwyn estava dormindo, envolta firme e


confortavelmente em sua manta. Ele sorriu para ela,
satisfeito com sua capacidade de dormir no chão frio, duro e
úmido. Ele se inclinou e a pegou. Seus olhos se abriram
brevemente, mas ele beijou o canto de sua boca e isso
pareceu tranquilizá-la. Ela se aconchegou contra ele
enquanto a levava de volta para sua tenda e sua cama.

LRTHistóricos 163
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Seis
No fim da tarde, do dia seguinte, chegaram ao Castelo
Larenston. Bronwyn, impaciente demais para esperar,
esporeou o cavalo.

— Vá com ela. — insistiu Tam a Stephen. — Aposto que


nunca viu nada parecido com Larenston.

Curioso por ver o lugar que ia converter-se em seu lar,


Stephen instigou seu cavalo para que subisse a colina
coberta de ervas.

Tam estava certo, nada poderia tê-lo preparado para a


visão de Larenston. A colina em que ele se encontrava
desembocava bruscamente em um vale largo e profundo onde
o gado peludo pastava entre as cabanas dos arrendatários.
Uma estrada estreita conduzia através do vale e subia a
muralha pelo lado oposto. No topo da muralha havia uma
península alta, plana e de pedra vermelha que se projetava
para o mar como um enorme punho armado. A península
estava ligada ao continente por um pedaço de rocha com a
mesma largura da estrada estreita. Os lados caíam em
falésias profundas no mar. Guardando a entrada dessa
península havia dois enormes portões, cada um com três
andares de altura.

LRTHistóricos 164
Highlander Audaz — Jude Deveraux

O complexo do castelo em si consistia de vários edifícios


de pedra e um enorme salão no centro. Não havia muralha
que o rodeasse. Não havia necessidade de uma. Os profundos
penhascos dando para o mar podiam ser vigiados por alguns
poucos homens armados de arcos e flechas.

Bronwyn se voltou para ele, em seus olhos ardia uma


luz que ele nunca tinha visto antes.

— Nunca foi tomado. — disse secamente, antes de


iniciar a descida para o vale.

Stephen não teria podido dizer como se inteiraram os


habitantes de sua chegada, mas de repente todas as portas
de cada cabana se abriram e as pessoas correram para ela, os
braços abertos.

Stephen colocou seu cavalo a um galope para


acompanhá-la, mas guardou distância ao vê-la desmontar
apressadamente e começar a abraçar todas as pessoas,
homens, mulheres, crianças, até mesmo o ganso gordo de
uma criança. A cena lhe comoveu. Até então, a tinha visto
como uma mulher caprichosa e zangada. Ela dissera mais de
uma vez que o clã era toda sua vida, mas ele não conseguira
imaginar seus indivíduos. Bronwyn parecia conhecer todos
pessoalmente, chamando cada um por seu nome. Perguntava
pelos filhos, pelas doenças de cada um, se havia algo que
precisavam.

LRTHistóricos 165
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen se ergueu na sela e olhou ao redor. O solo era


pobre. Seu cavalo pateou com o casco e não tirou pouco mais
que musgo. No entanto, viu campos semeados. A cevada
tinha pouca altura, mas estava fazendo um esforço por
crescer. As cabanas eram pequenas e de aspecto muito
pobre.

Ocorreu a Stephen que aquelas pessoas equivaliam aos


servos de seu irmão. Bronwyn era proprietária da terra e eles
a cultivavam. O mesmo que os servos.

Viu que Bronwyn aceitava um pedaço de queijo de uma


mulher. Essas pessoas eram seus servos, mas ela os tratava
como parte da família. Stephen não conseguia imaginar
nenhuma dama que conhecesse tocando um servo e muito
menos abraçando um. Eles a chamavam de Bronwyn, não de
Lady Bronwyn como era seu direito.

— Tem o cenho franzido, moço. — disse Tam ao seu


lado. — Qual de nossos costumes te desagrada?

Stephen tirou o chapéu para passar uma mão pelo


cabelo espesso.

— Acredito que tenho muito que aprender. Ao que


parece, não sei o que é um clã. Estava convencido de que os
membros do clã eram como meus vassalos, que são todos de
casas nobres.

Tam o observou um momento.

LRTHistóricos 166
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Clã é uma palavra gaélica que significa "filhos". —


faiscaram-lhe os olhos. — E quanto à nobreza, qualquer
escocês pode traçar sua ascendência até um rei escocês.

— Mas a pobreza... — começou Stephen, então parou,


com medo de ter ofendido Tam.

Tam apertou os dentes.

— Os ingleses e o solo que Deus nos deu nos tornaram


pobres. Mas é melhor aprender que na Escócia o valor de um
homem se baseia no que está dentro e não no ouro que tem
no bolso.

— Obrigado pelo conselho. Terei-o em conta.

Stephen açulou o cavalo até ficar junto a Bronwyn. Ela


lançou-lhe um breve olhar e deu as costas para continuar
ouvindo uma anciã que falava de algumas novas tinturas
para tecidos.

Um a um, todos foram silenciando para fitá-lo. Suas


roupas eram muito diferentes. A maioria dos escoceses não
cobria as pernas e não usava meias nem sapatos, enquanto
outros calçavam meias curtas como Tam.

Mas os olhos de Stephen estavam fixos sobre as


mulheres.

Elas não tinham a tez pálida e protegida de uma dama


inglesa, mas um bronzeado dourado dos dias passados fora
de casa, ao ar livre. Seus olhos brilhavam, e seus cabelos

LRTHistóricos 167
Highlander Audaz — Jude Deveraux

gloriosos caiam livre até as cinturas estreitas, rodeadas por


cinturões.

Stephen desmontou de seu cavalo, pegou a mão de


Bronwyn firmemente na esquerda e estendeu a mão direita.

— Permitam que me presente. Sou Stephen


Montgomery.

— Um inglês! — disse um homem a pouca distância,


com a voz virulenta de ódio.

— Sim, um inglês! — pronunciou Stephen com ênfase.


Seus olhos duros sustentaram o olhar do escocês.

— Vamos, deixem-no em paz! — disse Tam. — Atacou-


me quando pensou que eu estava ameaçando Bronwyn.

Várias pessoas sorriram para o absurdo desta


declaração. Era óbvio quem venceu, já que Tam pesava pelo
menos sessenta quilos a mais do que o magro Stephen.

— Ganhou ele. — esclareceu Tam com lentidão. —


Esteve a ponto de me quebrar o nariz e pôs uma adaga contra
minha garganta.

Todos guardaram silêncio durante um instante, como se


não acreditassem em Tam.

— Bem-vindo, Stephen. — disse uma das mulheres


bonitas enquanto apertava a mão estendida.

LRTHistóricos 168
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen piscou várias vezes ao ouvir ser chamado por


seu nome de batismo, mas acabou sorrindo e começou a
apertar mais mãos.

— Não será fácil para você se entender com meus


homens. — disse Bronwyn quando cavalgavam juntos pela
estrada que ligava a península ao continente. A estrada era
tão estreita que só dois cavalos poderiam andar juntos.
Stephen lançou um olhar nervoso ao penhasco à sua
esquerda, um só movimento em falso e cairia. Bronwyn não
parecia perceber o perigo, uma vez que ela tinha percorrido a
estrada estreita toda a sua vida.

— Meus homens não são tão fáceis de conquistar como


minhas mulheres. — continuou ela, altiva. Olhou para o
marido e viu o modo como ele relanceava o olhar em direção
ao mar. Com um sorriso, freou bruscamente seu cavalo, em
direção ao de Stephen.

O cavalo do Stephen se afastou, intimidado. Quando


sentiu que um de seus cascos tocava o vazio junto à estrada,
entrou em pânico e se elevou nas patas. Stephen lutou
desesperadamente para dominá-lo e evitar que caísse pelo
precipício.

— Maldita seja! — Stephen gritou quando teve controle


sobre o animal.

Bronwyn soltou uma gargalhada e lhe olhou por cima do


ombro.

LRTHistóricos 169
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Parece que nossos costumes escoceses são ferozes


para seu gosto. — Provocou.

Stephen cravou as esporas em seu cavalo. Bronwyn o


viu aproximar-se, mas não reagiu com a rapidez suficiente.
Stephen a agarrou pela cintura e a puxou para a sela diante
dele.

— Me solte! — exigiu ela. — Meus homens estão nos


olhando!

— Melhor! Viram também que tratou de me fazer de


bobo. Ou esperava que eu caísse pelo precipício?

— Para que o rei Henry enviasse suas tropas contra


nós? Não, não desejo a sua morte em solo escocês.

Stephen afogou uma exclamação ante tanta franqueza.

— Possivelmente mereço isso. — Ela ia replicar, mas ele


pôs um dedo nos lábios. — Mas não pedi que me fizessem
parecer um idiota, então você vai pagar por isso. Quantos
outros homens cavalgaram para Larenston com uma
MacArran em sua sela?

— Trouxemos muitos mortos, habitualmente


assassinados por...

Ele a interrompeu com um beijo.

Bronwyn se agarrou a ele, apesar de ter prometido a si


mesma nunca render-se, rodeou-lhe o pescoço com os braços
e beijou-o com fome. Ele a estreitou contra si, suas mãos

LRTHistóricos 170
Highlander Audaz — Jude Deveraux

acariciando suas costas. Sentia a pele cálida através da


camisa de linho. Decidiu que gostava da moda escocesa. Os
grossos tecidos ingleses escondiam a sensação do contato da
pele de uma mulher. Stephen foi o primeiro a sair do transe.
Ele sentiu que estavam sendo observados. Abriu os olhos,
levantou a cabeça ligeiramente, seus lábios ainda sobre os de
Bronwyn. Não percebeu que seu cavalo continuou subindo a
trilha em direção aos portões de entrada. Vários homens os
cercavam, todos solenes, sérios, com os rostos fechados, sem
emoção alguma.

— Bronwyn, amor! — disse Stephen, em voz baixa.

Ela reagiu imediatamente e se separou dele, olhando a


seus homens.

— Douglas. — sussurrou, deslizando-se para os braços


do homem, que a esperava.

Saudou-os um a um, enquanto Stephen desmontava


para conduzir seu cavalo através do portão. Levantaram para
eles a pesada porta de grade. Os homens não lhe dirigiam a
palavra nem o olhavam, mas Stephen tinha perfeita
consciência do modo com que o cercavam, solenes,
desconfiados. Bronwyn caminhava adiante, rindo com eles,
fazendo perguntas e escutando as respostas.

Stephen se sentiu muito afastado de tudo, muito


estranho. Os homens que caminhavam ao seu lado
desconfiavam dele e ele sentiu sua hostilidade. Estavam

LRTHistóricos 171
Highlander Audaz — Jude Deveraux

vestidos de maneira diferente dos homens do vale. Alguns


calçavam sapatos e meias curtas, como Tam. Outros
calçavam botas altas que chegavam aos joelhos. Mas todos
tinham metade da perna, dos joelhos às coxas, nuas.

Quando o portão foi aberto, passaram por várias


construções pequenas no caminho para a casa grande.
Stephen reconheceu naquelas construções uma queijaria,
uma ferraria, estábulos. Havia ainda um pequeno pomar em
uma área. Um lugar como este podia suportar um longo
cerco.

O interior da casa era simples e sem adornos. As


paredes de pedra estavam úmidas, sem pintura nem
revestimento de madeira. As janelas pequenas deixavam
entrar pouca luz. Fazia frio dentro do castelo, mais frio ainda
que no exterior. Entretanto não havia fogo aceso.

Bronwyn se sentou em uma cadeira sem almofadas.

— Agora, Douglas, conte-me o que está acontecendo.

Stephen ficou de lado observando. Ninguém perguntou


por seu conforto ou sugeriu que ela deveria descansar.

— Os MacGregor estiveram fazendo incursões outra vez.


Duas noites atrás levaram seis cabeças de gado.

Bronwyn franziu o cenho. Mais adiante se encarregaria


dos MacGregor.

— Que problemas houve dentro do clã?

LRTHistóricos 172
Highlander Audaz — Jude Deveraux

O homem chamado Douglas puxava distraidamente


uma mecha do longo cabelo.

— A terra junto ao lago está outra vez em disputa.


Robert diz que o salmão é dele, mas Desmond exige que
pague pelo que pesca.

— Já cruzaram espadas? — perguntou Bronwyn.

— Ainda não, mas falta pouco. Envio a alguns homens


para resolver isto? Um pouco de sangue derramado nos
lugares adequados deterá as disputas.

Stephen fez gesto de levantar-se. Ele estava acostumado


a tomar decisões desse tipo. A mão de Tam o segurou no
braço.

— Não consegue pensar em outra coisa que não seja


brandir a espada, Douglas? — ela perguntou furiosa. — Você
nunca pensou que esses homens têm motivos para brigar?
Robert tem sete filhos para alimentar e Desmond tem uma
mulher doente e nenhum filho. Sem dúvida há outro modo de
resolver seus problemas.

Os homens olharam com ar de não a compreender. Ela


suspirou.

— Diga a Robert que envie dois de seus filhos, o maior e


o menor, à casa de Desmond, para que ele os crie. Robert não
vai querer se apoderar do peixe que servirá para alimentar

LRTHistóricos 173
Highlander Audaz — Jude Deveraux

seus próprios filhos e a mulher de Desmond deixará de se


lamentar por não ter filhos próprios. O que mais aconteceu?

Stephen sorriu ante tanta sabedoria. Provinha do amor


e do conhecimento que tinha de seu clã. Era uma maravilha
vê-la em seu próprio ambiente. A cada momento que passava
ela parecia estar mais viva. Seu queixo já não se projetava em
cólera enquanto olhava para as pessoas ao seu redor. Seus
ombros continuavam eretos, mas não como se quisesse se
defender de golpes e palavras furiosas.

Stephen observou os rostos dos homens ao seu redor.


Eles a respeitavam, a escutavam e cada decisão que ela
tomava era sábia e respondia aos melhores interesses de seu
clã.

— Jamie a ensinou bem. — comentou Tam, em voz


baixa.

Stephen assentiu com a cabeça. Este era um lado


completamente diferente dela, um que ele nunca imaginara
que existisse. Conhecera uma Bronwyn furiosa, impulsiva,
cheia de ódio, dada a usar uma adaga e fazer exigências
impossíveis. Lembrou-se de rir dela ao vê-la caída no riacho.

De repente sentiu uma rápida onda de ciúmes. Nunca


vira essa mulher, que sentava com tanta calma diante de
homens e tomava decisões que afetavam suas vidas. Eles
conheciam um lado dela que ele jamais imaginou.

LRTHistóricos 174
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn se levantou e caminhou em direção à escada


que se elevava no outro extremo do salão. Stephen a seguiu.
De repente lhe ocorreu que aqueles homens ignoravam as
sensações que ela sentia no dorso de seus joelhos. Sorriu
para si mesmo e se sentiu um pouco mais tranquilo.

— Olhe para ele. — disse Bronwyn com desgosto.

Era de manhã cedo, o ar de outono avançado estava


fresco. Ela olhava para Stephen da janela de sua câmara do
terceiro andar. Ele estava no pátio, em companhia de Chris,
usando armadura completa. Os escoceses ao seu redor se
levantaram e olharam-no em silêncio sombrio.

Estavam casados há duas semanas e durante esse


tempo Stephen fazia um grande esforço para treinar os
homens de Bronwyn segundo a maneira inglesa de combater.
Ela permanecia de lado, deixando que ele instruísse os
homens sobre a importância de se protegerem. Stephen se
oferecera para comprar armaduras para que treinassem com
mais afinco. Mas os escoceses falavam pouco e não pareciam
interessados no valioso preço de uma armadura pesada e
quente. Pareciam preferir seus trajes de selvagens, que
deixavam metade de seus corpos nus. A única concessão que
Stephen conseguiu foi o uso da cota de malha sob as mantas.

Bronwyn afastou-se da janela, sorrindo para si mesma.

LRTHistóricos 175
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não tem por que estar tão satisfeita consigo mesma.


— resmungou Morag. — Esses seus homens deveriam
trabalhar um pouco. Passam muito tempo sentados. Stephen
os obriga a trabalhar.

Bronwyn não deixava de sorrir.

— É obstinado. Ontem se atreveu a instruir meus


homens, dizendo que a Escócia é uma terra intranquila, que
ele está tentando ensiná-los a se proteger. Como se não
soubéssemos! É por causa dos ingleses que...

Morag levantou a mão para defender-se.

— Pode tratar de enlouquecê-lo com seus incessantes


sermões, mas não a mim. O que é que a perturba sobre ele?
É a maneira que te faz gritar pelas noites? Envergonha-te sua
própria paixão pelo inimigo?

— Não sinto nenhuma...

Mas Bronwyn se interrompeu quando ouviu o clique


suave da porta atrás de Morag. Ela se virou e olhou para
Stephen.

Ela teve que admitir para si mesma que a incomodava


como seu corpo reagia ao menor toque de Stephen Com
frequência se via tremendo tão logo o sol começava a se pôr.
Tinha muito cuidado de não permitir que Stephen percebesse
o que sentia. Nunca tomava a iniciativa em direção a ele ou
lhe dava uma palavra de afeto. Afinal, era seu inimigo, era da

LRTHistóricos 176
Highlander Audaz — Jude Deveraux

raça que matou seu pai. Era fácil lembrar que ele era seu
inimigo durante o dia. Vestia-se como um inglês, falava como
um, pensava como um. A diferença era gritante para
Bronwyn e seus homens. Somente à noite, quando ele a
tocava, esquecia quem era Stephen e quem era ela.

— Stephen! — chamou Chris enquanto cruzavam o


campo de batalha coberto de areia. Detiveram-se a beira da
península, contemplando o mar.

— Tem que deixar de trabalhar assim. Não vê que eles


não estão interessados no que você está tentando ensinar?

Stephen tirou o elmo. O vento frio soprava seus cabelos


molhados de suor. Cada dia, ele estava cada vez mais
frustrado com suas tentativas de trabalhar com os homens
de Bronwyn. Seus próprios homens treinavam todos os dias,
aprendendo a lidar com suas armaduras pesadas e armas.
Mas os homens de Bronwyn ficavam de lado e observavam os
ingleses como se fossem animais no jardim zoológico do rei
Henry.

— Tem que haver um modo de lhes fazer entender! —


disse em voz baixa. De repente ouviu um homem correndo
em sua direção.

— Meu senhor! — disse um dos seus homens. — Houve


um ataque ao gado dos MacArran no norte. Os homens já
estão nas selas.

LRTHistóricos 177
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen fez um gesto de assentimento. Agora teria a


oportunidade de demonstrar aos escoceses como os
cavaleiros ingleses eram bons combatentes. Estava bem
acostumado a proteger as terras dos ladrões e dos caçadores.

A pesada armadura de aço dificultava qualquer


movimento rápido. O escudeiro esperava com o cavalo, que
também usava armadura. Era pesada, reproduzida ao longo
de centenas de anos para que pudesse sustentar o peso de
um homem com armadura completa. O animal nunca seria
requisitado em velocidade, mas devia manter o passo firme
nas batalhas mais encarniçadas, obedecendo às ordens que
seu amo dava com os joelhos.

Quando Stephen e seus homens acabaram de montar,


os escoceses já tinham partido. Stephen fez uma careta e
pensou na disciplina necessária que ele teria que aplicar para
castigo.

Passariam vários anos antes que Stephen pudesse


recordar os acontecimentos dessa noite nos pântanos
escoceses, sem experimentar novamente uma sensação de
vergonha e perplexidade.

Estava escuro quando ele e seus homens chegaram ao


lugar onde os MacGregor tinham roubado o gado. O ruído
que faziam enquanto cavalgavam ecoava pelo campo. Suas
armaduras ressoavam estridente pelo atrito do metal. Os
cascos de seus cavalos pesados trovejavam.

LRTHistóricos 178
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen reprovava a si mesmo por pensar que os


MacGregor os encontrariam para um combate corpo a corpo,
como os ingleses faziam. Foi com consternação que ele e seus
homens sentados na sela de seus cavalos observaram à
batalha que se seguiu. Não se parecia com nada que Stephen
já vira ou imaginara.

Os escoceses desmontaram de seus cavalos e correram


para a floresta, retirando seus tartan de seus ombros e
soltando-os no chão, ficando livres para correr somente com
suas camisas soltas. Das árvores chegavam gritos, então se
ouviu os sons das Claymores escocesas golpeando aço.

Stephen fez gestos a seus homens para que


desmontassem e, guiando-se pelo ruído, seguissem aos
escoceses entre as árvores. Mas os homens do clã já não
estavam ali. A pesada armadura tornava os ingleses muito
lentos, e se moviam com muita instabilidade.

Enquanto Stephen olhava ao seu redor, confuso, um dos


homens do Bronwyn saiu de entre as sombras.

— Os fizemos fugir. — disse, torcendo a boca com uma


careta de zombaria.

— Quantos foram feridos?

— Três feridos, nenhum morto. — comunicou o homem,


seco. Imediatamente sorriu. — Os MacArran são muito
velozes para qualquer MacGregor. — O homem estava
vermelho pela excitação da batalha. — Chamo alguns

LRTHistóricos 179
Highlander Audaz — Jude Deveraux

companheiros para que coloquem você no seu cavalo? — Ele


disse enquanto sorria abertamente para Stephen em sua
armadura.

— Pedaço de...! — balbuciou Chris. — Cruzaremos


espadas agora mesmo.

— Anda, cão inglês. — provocou o do clã. — Eu posso


ter sua garganta cortada antes que você possa mover as
dobradiças desse caixão de aço.

— Basta! — ordenou Stephen. — Chris afaste sua


espada e você, Douglas, cuide dos feridos.

Sua voz soava densa.

— Não pode perdoar tanta insolência. — aduziu Chris.


— Como pensa ensiná-los a respeitá-lo?

— Ensinar! — rebateu-lhe Stephen. — O respeito não se


impõe, ganha. Vem, voltemos para Larenston. Tenho muito
em que pensar.

Bronwyn revirava na cama, esmurrando o travesseiro.


Repetia para si mesma que não se importava se Stephen
preferia passar a noite em outro lugar. Tampouco se
importava que ele passasse com outra. Pensou nas mulheres
de seu clã. A filha da Margaret era muito bonita e já escutara
os comentários sorridentes de dois homens sobre os bons

LRTHistóricos 180
Highlander Audaz — Jude Deveraux

momentos que passaram com ela. Ela deveria falar com


Margaret na parte da manhã! Não era bom ter uma garota
como essa por perto.

— Maldição! — protestou em voz alta provocando um


rosnado de Rab.

Sentou na cama, deixando cair às cobertas que cobriam


seus lindos seios. Fazia frio na cama solitária. Morag lhe
contara sobre o roubo de gado, adicionando umas quantas
palavras escolhidas sobre os MacGregor. Quando Bronwyn
desejou em voz alta que ninguém matasse Stephen, por medo
de que sua morte provocasse a vingança do rei inglês contra
eles, a anciã se limitou a sorrir.

Não podia deixar de vigiar a porta, franzindo o cenho de


vez em quando. Por fim ouviu a porta se abrir e conteve o
fôlego. Podia ser Morag trazendo notícias. Deixou escapar o ar
ao ver que se tratava de Stephen, trazia o cabelo e a camisa
molhados pela água do poço.

Ele não se dignou a olhá-la. Tinha os olhos azuis


obscurecidos e uma ruga entre as sobrancelhas. Sentou-se
pesadamente na borda da cama e começou a tirar a roupa,
não conseguia concentrar-se na tarefa, interrompia o que
fazia por longos momentos, perdido em pensamentos.

Bronwyn procurava algo para dizer.

— Tem fome?

LRTHistóricos 181
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Como ele não respondeu, ela se aproximou da cama


para se sentar mais perto dele. Tinha o lençol envolto na
parte inferior do corpo, deixando o torso nu.

— Eu perguntei se você estava com fome. — repetiu em


voz mais alta.

— Humm? — murmurou Stephen, enquanto tirava a


bota. — Não sei. Acredito que não.

Bronwyn teve vontade de lhe perguntar o que estava


errado, mas é claro que nunca faria algo assim. Não se
importava com o inglês.

— Algum de meus homens foi ferido na incursão?

Uma vez mais, Stephen guardou silêncio. Ela empurrou-


lhe o ombro.

— Está surdo? Eu fiz uma pergunta.

Stephen se virou como se acabasse de perceber que ela


estava lá. Os olhos dele percorreram seu corpo nu, mas não
mostrou nenhum interesse quando se levantou e desabotoou
seu cinto.

— Não houve nenhum ferimento grave. O braço de um


deles precisou ser suturado, nada mais.

— De quem? O braço de quem precisava de pontos?

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen moveu a mão em um gesto vago e se deitou na


cama, nu. Colocou os braços atrás da cabeça e ficou olhando
para o teto, sem fazer menção de tocá-la.

— Do Francis, parece-me. — Respondeu por fim.

Bronwyn continuava sentada e o fitava com o cenho


franzido. O que acontecia de errado com ele?

— Assustou-lhe como nossos escoceses combatem


inglês? Acaso meus homens lhe pareceram muito fortes para
você, ou quem sabe muito velozes?

Para assombro dela, Stephen não mordeu a isca.

— Muito rápido! — o reconheceu muito a sério, ainda


observando o teto. — Se moviam com prontidão, rapidez,
livremente. Na Inglaterra não sobreviveriam, naturalmente,
porque alguns cavaleiros armados poderiam fazer em pedaços
a um grupo de cinquenta. Mas aqui...

— Cinquenta! — repetiu Bronwyn. Um instante depois


descarregava os dois punhos contra o peito do Stephen. —
Não verá jamais, o dia em que um só inglês possa ferir
cinquenta escoceses! — ela gritou enquanto batia os punhos
contra o duro peito de seu marido.

— Pare com isso, basta! — exclamou Stephen,


agarrando os punhos de suas mãos. — Já tenho contusões
suficientes sem que você adicione mais algumas.

LRTHistóricos 183
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Eu vou te dar mais do que contusões. — assegurou,


lutando para se libertar.

Os olhos de Stephen se iluminaram Puxou as mãos dela


e a atraiu para si até que os seios foram pressionados contra
seu tórax.

— Eu gostaria de receber algo mais do que contusões. —


disse, com voz rouca, toda a sua atenção finalmente nela.
Soltou-lhe uma mão para tocar seu cabelo. — Ao que parece
sempre me trará de volta à realidade? — perguntou enquanto
tocava sua têmpora. — Acredito que poderia estar
preocupado com o pior problema do universo e você
conseguiria desviar meus pensamentos para sua pele
encantadora, seus olhos, seus lábios. — Enquanto falava ia
movendo lentamente os dedos numa doce carícia.

Bronwyn sentiu que seu coração começava a palpitar. A


respiração de Stephen era suave e quente. Seu cabelo ainda
estava úmido, e um cacho se aderia a sua orelha. Teve desejo
de tocar aquele cacho, mas sempre teve o cuidado em não
tomar a iniciativa.

— Acaso está preocupado com algum problema grave?


— perguntou indiferente, como se não importasse. Stephen
acalmou seus dedos e seus olhos capturaram os dela.

— Parece-me perceber certa preocupação em sua voz. —


observou em voz baixa.

— Jamais! — assegurou e rolou para longe dele.

LRTHistóricos 184
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Esperava ouvir uma gargalhada divertida, mas quando


ele permaneceu em silêncio, Bronwyn sentiu urgência de se
voltar e olhar para ele, entretanto continuou dando-lhe as
costas. Stephen estava muito calado e depois de um
momento Bronwyn ouviu o ritmo calmo e uniforme de sua
respiração, que significava que ele estava dormindo. Deitou-
se muito, muito quieta, e depois de algum tempo sentiu
lágrimas se formarem nos cantos de seus olhos. Havia
momentos em que se sentia tão sozinha que não sabia o que
fazer. Sua ideia de casamento era de duas pessoas que
compartilhavam suas vidas e seu amor. Mas ela estava
casada com um inglês!

Stephen virou subitamente e jogou um braço pesado por


cima da esposa. Depois a atraiu para si. Bronwyn tentou
permanecer rígida e altiva, mas apesar de si mesma
acomodou as nádegas contra ele, se aconchegando mais
perto.

— Assim não ajuda um homem a dormir. — sussurrou


ele, então levantou a cabeça e beijou sua têmpora. — O que é
isso? Lágrimas?

— Certamente que não. Entrou algo no meu olho. Isso é


tudo.

Ele a virou em seus braços para que ela o encarasse.

— Você está mentindo! — disse, sem rodeios. Examinou


seu rosto com os olhos, tocou a fenda em seu queixo. — Você

LRTHistóricos 185
Highlander Audaz — Jude Deveraux

e eu somos desconhecidos. — sussurrou. — Quando vamos


ser amigos? Quando partilhará suas coisas comigo? Quando
me contará o motivo de suas lágrimas?

— Quando for escocês! — exclamou ela com a maior


ferocidade possível.

Mas a proximidade de Stephen fez com que as palavras


soassem de um modo estranho, como se fossem uma súplica
e não uma exigência impossível.

— Trato feito! — respondeu ele, com muita segurança,


quase como se na verdade pudesse transformar-se em um
escocês. Ela queria rir dele, dizer-lhe que nunca poderia se
tornar um escocês, ou seu amigo. Mas Stephen a puxou
ainda mais perto de si e começou a beijá-la. Beijou-a como se
tivesse todo o tempo do mundo, preguiçosamente, devagar.
Bronwyn sentiu o sangue pulsando através de suas veias. Ela
queria abraçar Stephen, mas ele a segurou forte e se manteve
afastado de seu corpo para tocar seus seios, acariciar suas
costelas e ventre.

Ela arqueou para longe dele, suas pernas entrelaçadas


com as dele, suas coxas apertando-se nas dele. A mão de
Stephen desviou até suas pernas, e ele sorriu quando sentiu
sua respiração entrecortada.

— Minha linda e bela esposa. — sussurrou enquanto


passava as unhas levemente pelo tendão na parte de trás do

LRTHistóricos 186
Highlander Audaz — Jude Deveraux

joelho. — Oxalá soubesse como te agradar fora do leito. Vem


aqui, Laird do clã MacArran.

Ela se apertou contra o corpo dele, procurou seus


lábios, então percorreu com a boca seu pescoço. Sua pele era
boa, ligeiramente salgada de suor, firme, mas macia. Tocou
com a língua sua orelha, e sentiu um arrepio percorrê-lo. Um
riso baixo tomou-a.

Empurrou-a para o colchão e deitou-se sobre ela. Ela se


arqueou ao encontro dele, erguendo os quadris. Era escocesa
e era igual a ele neste momento. Agora não esperava por seus
avanços, ia ao seu encontro calmamente, com tanta paixão
quanto ele.

Depois permaneceram unidos, como se fossem um só.


Bronwyn abriu os olhos sonolentos e viu um cacho aderido à
orelha de Stephen. Era o que quisera tocar um momento
antes. Moveu a cabeça e beijou aquela mecha, sentindo o
cabelo macio nos lábios. Então se afastou, ruborizada. De
algum modo este beijo parecia mais íntimo que o ato de amor.

Stephen sorriu com os olhos fechados, mais adormecido


do que acordado, e a estreitou contra si deixando-a quase
debaixo dele. Bronwyn mal podia respirar, mas não se
importou. Não, respirar era a última coisa em que pensava.

LRTHistóricos 187
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen estava de pé na cabana de um dos


arrendatários, esquentava as mãos diante do fogo de turfa.
Um vento forte soprava lá fora, fazendo necessário o calor das
chamas. Tam estava visitando sua irmã, deixando a casa de
Bronwyn por alguns dias. O homem mais velho e musculoso
sentava no outro extremo da cabana de pedra, com uma rede
de pesca estendida sobre os joelhos nus. Trabalhava os nós,
suas mãos grandes puxando os fios rústicos.

— Então você quer que eu ajude você a parecer menos


idiota. — disse Tam, sério.

Stephen virou-se. Ainda não estava acostumado com a


maneira como os escoceses permaneciam sentados ou de pé,
de acordo com seus próprios desejos, em sua presença.
Possivelmente estava muito habituado a receber o trato
devido a um lorde inglês.

— Eu não expressaria deste modo. — replicou. Mas ao


recordar a noite da invasão de gado e do combate entre clãs
meneou a cabeça. — Na verdade eu fiz papel de tolo. Parecia
um idiota, tanto para meus próprios homens quanto para os
escoceses. Eu me senti como se estivesse metido em um
ataúde de aço, como disse Douglas.

Tam fez uma pequena pausa enquanto apertava um nó.

— Douglas sempre pensou que deveria ter sido um dos


homens escolhidos por Jamie para ser marido de Bronwyn. —
Riu entre dentes ante a expressão do Stephen. — Não se

LRTHistóricos 188
Highlander Audaz — Jude Deveraux

preocupe moço. Jamie sabia o que fazia. Douglas nasceu


para obedecer, não para ser líder. Bronwyn lhe inspira muito
respeito. Não poderia ser seu Senhor.

Stephen se pôs a rir.

— Nenhum homem é forte o suficiente para ser seu


senhor.

Tam não comentou essa afirmação, mas sorriu para si


mesmo. Morag vigiava de perto o casal e passava seu informe
para ele, pois Tam queria se assegurar que Bronwyn não
corria perigo nas mãos do inglês. Pelo que Morag dizia,
Stephen era o único em perigo de... esgotamento.

Por fim levantou a vista.

— A primeira coisa que você deve fazer é se livrar


daquela roupa inglesa.

Stephen assentiu, já esperava esse conselho.

— Depois aprenderá a correr, tanto em distância como


em velocidade.

— A correr! Mas se um soldado deve manter-se de pé,


firme e lutar!

Tam soprou.

— Nossos costumes são outros. Não sabe ainda? Se não


estiver disposto a aprender, não poderei te ajudar em nada.

Com um ar resignado, Stephen concordou.

LRTHistóricos 189
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Uma hora depois, começou a desejar que não tivesse


concordado. Ele e Tam estavam de pé, no frio vento do
outono, e Stephen nunca se sentira tão nu na vida. Em vez
da roupa pesada, acolchoada e quente dos ingleses, usava
apenas uma camisa fina e um tartan xadrez preso por cinto.
Usava meias de lã e botas altas, mas ainda se sentia como se
estivesse nu da cintura para baixo.

Tam lhe deu um tapinha no ombro.

— Vamos, moço. Já te acostumará. Com um pouco mais


de cabelo, parecerá como nunca um escocês.

— Este país é muito frio para andar por ai com o


traseiro nu. — murmurou Stephen, levantando a manta e a
camisa para mostrar a nádega nua.

Tam pôs-se a rir.

— Agora já sabe o que usam os escoceses debaixo do


tartan. — De repente ficou sério. — Há uma razão para o
nosso traje. O tartan xadrez faz com que um homem se
confunda por entre as urzes. É fácil de remover, e rápido de
colocar. A Escócia é um país úmido, ninguém pode andar
com trajes aderentes e molhados contra a pele, morreria de
doença pulmonar se o fizesse. A manta é fresca no verão. No
inverno, você se manterá quente esfregando os joelhos. —
Seus olhos brilharam. — Além disso, permite que o ar circule
livremente por todas as partes mais vitais.

— Isso é inegável. — Disse Stephen.

LRTHistóricos 190
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Ah, agora sim parece um homem! — exclamou Morag,


atrás dele. E observou-lhe descaradamente as pernas. —
Vestir toda aquela armadura fez você desenvolver os
músculos.

Stephen sorriu para ela.

— Se não estivesse casado pensaria em te fazer uma


proposta.

— E eu aceitaria. Embora não gostaria de lutar contra


Bronwyn por você.

Stephen a olhou com tristeza.

— Ela me entregaria à primeira mulher que me


reclamasse, se pudesse.

— Sempre pode lhe esquentar a cama, não? — observou


Morag antes de lhe voltar às costas.

Stephen piscou uma vez. A familiaridade dentro de um


clã sempre o assustava. Todos pareciam conhecer os
assuntos ou segredos dos outros.

— Estamos perdendo tempo. — disse Tam. — Trata de


correr até aquele poste lá em baixo.

Stephen pensou que correr seria fácil. Afinal, até as


crianças corriam, e ele estava em boas condições. Mas sentiu
que seus pulmões estavam prestes a estourar depois de sua
primeira corrida. Demorou vários minutos para acalmar seu
coração acelerado e recuperar o fôlego. A palpitação do

LRTHistóricos 191
Highlander Audaz — Jude Deveraux

coração soava como se estivesse prestes a quebrar seus


tímpanos.

— Toma, bebe um pouco de água. — disse Tam, lhe


oferecendo uma caneca. — Agora que recuperou o fôlego,
corra outra vez.

Stephen arqueou uma sobrancelha, incrédulo.

— Anda moço. — insistiu Tam. — Eu correrei contigo.


Não permitirá que um velho ganhe, ou vai?

Stephen ofegava em busca de ar.

— A última coisa de que o chamaria seria de velho. — E


jogou a caneca no chão. — Venha, vamos.

LRTHistóricos 192
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Sete
Bronwyn estava sozinha em pé diante da escada que
levava ao alto da velha torre. Tinha os olhos secos e
ardorosos, quase inchados pelas lágrimas que não
derramava. Na mão apertava, firmemente, uma pesada fivela
de prata com uma inscrição gravada: ―Para Ennis de James
MacArran‖.

Uma hora atrás, um dos arrendatários trouxera a fivela


para ela. Bronwyn lembrou-se quando seu pai tinha dado as
fivelas, todas iguais, aos três jovens que ele escolhera para
casar com ela e sucedê-lo. Quase fora uma cerimônia. Havia
comida e vinho, dança, e muitas, muitas gargalhadas. Todos
brincavam com Bronwyn sobre qual homem ela escolheria
para seu marido. Bronwyn tinha flertado, rido e fingido que
todos eles eram inúteis em comparação com seu pai.

Tinham estado ali, Ian, filho de Tam. Ian era tão alto
quanto ela, mas musculoso como seu pai. Ramsey era loiro,
de ombros largos, com uma boca que às vezes deixava
Bronwyn nervosa. Ennis tinha sarda e olhos verdes, e
cantava tão docemente que podia fazer alguém chorar.

Apertou a fivela do cinto até que cortou sua palma.


Agora estavam todos mortos. Ian, o forte, Ramsey, o bonito e

LRTHistóricos 193
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ennis, o doce. Todos mortos e enterrados. Assassinados pelos


ingleses!

Ela se virou e subiu correndo as escadas até o último


andar. Do molho de chaves que levava consigo, pegou uma e
destrancou uma porta de carvalho. A porta pesada rangeu em
protesto enquanto balançava em suas dobradiças que
necessitava azeitar.

Bronwyn acreditava que estava preparada para entrar


na sala, mas não estava. Quase esperava que seu pai a
olhasse e sorrisse. Não entrava nesta sala desde sua morte.
Tinha medo de enfrentar as recordações que ali estavam.

Entrou na sala e olhou em volta. Havia uma manta


jogada em uma cadeira, as beiradas desgastadas e
esfarrapadas. Armas penduradas nas paredes de pedra:
machados, Claymores, arcos. Tocou a parte desgastada do
arco favorito de seu pai. Lentamente caminhou até a cadeira
perto da única janela na sala. O couro continha à marca do
corpo de Jamie.

Bronwyn se sentou na cadeira, a poeira girando em


torno dela. Seu pai veio muitas vezes a este quarto para
pensar e ficar sozinho. Não permitia que ninguém entrasse
nele, exceto ele próprio e seus dois filhos. Bronwyn tinha
aprendido manusear uma flecha da aljava de seu pai.

Passeou a vista entre aqueles objetos familiares e


amados e sentiu que a cabeça começava a doer. Agora tudo

LRTHistóricos 194
Highlander Audaz — Jude Deveraux

se fora. Seu pai estava morto, seu irmão tinha se afastado


dela com ódio em seu coração, e os jovens bonitos entre os
quais ela escolheria um, estavam apodrecendo em uma
sepultura em algum lugar.

Agora não havia risadas nem amor em Larenston. O rei


inglês a tinha casado com um de seus assassinos, e toda
felicidade tinha desaparecido.

"Os ingleses!". pensou. Se achavam serem donos do


mundo. Detestava o modo como os homens de Stephen
guardavam distância dele, o modo como se inclinavam diante
dele e o chamava ―meu lorde‖. Os ingleses eram frios. Ela
tentara por centenas de vezes explicar ao marido os costumes
escoceses, mas ele era vaidoso demais para escutar.

Ela sorriu para si mesma. Pelo menos seus homens


sabiam quem era o Laird. Eles riam de Stephen por suas
costas. Durante toda a manhã, ouviu histórias sobre a
invasão interrompida da noite anterior. Como Stephen devia
ter parecido ridículo, imobilizado em sua absurda armadura!

Um ruído no pátio chamou-lhe a atenção. Aproximou-se


da janela para olhar para baixo.

Demorou em reconhecer Stephen. A princípio só viu um


homem bem constituído, com aparência excepcional de
autoconfiança. A manta pairava junto às pernas dele
garbosamente. Por fim, com uma exclamação indignada,

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percebeu que era Stephen que andava tão arrogante com o


traje escocês, como se tivesse algum direito de vesti-lo.

Vários dos homens de Bronwyn estavam no pátio, ela


ficou contente em ver que eles não mostravam nenhuma
intenção de cumprimentá-lo por seus esforços. Sabiam
reconhecer impostores quando viam um.

Mas o sorriso desapareceu de sua face ao ver que, um


após o outro, se aproximavam de Stephen. Ela o viu sorrir e
dizer algo. Depois levantou por um instante a ponta de sua
manta e ecoaram gargalhadas.

Douglas — o seu Douglas! — deu um passo adiante e


estendeu o braço. Stephen o agarrou e ambos engancharam
tornozelos e antebraços para iniciar uma luta. Um momento
depois o escocês estava esparramado na terra.

Desgostosa observou com nojo a cena abaixo. Bronwyn


viu que Stephen desafiava todos os homens, um após o outro.
Aspirou bruscamente ao ver que a filha de Margaret se
adiantava ondulando provocativamente os quadris. A moça
levantava a saia para expor seus tornozelos e teve a audácia
de mostrar a Stephen alguns passos das danças tradicionais
das Highlanders.

Bronwyn se afastou da janela e saiu do quarto,


trancando a porta atrás de si. Havia fúria em cada passo que
dava pelas escadas.

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Ali estava Stephen, com o cabelo revolto, avermelhado


pelo exercício ao ar livre. Tinha os olhos brilhantes.
Rodeavam-lhe vários de seus homens, algumas pessoas do
clã e várias mulheres bonitas. Ele a olhou como um garoto
tentando agradar e lhe exibiu a perna.

— Acha que posso passar por escocês? — brincou.

Bronwyn fulminou-o com o olhar, ignorando a perna


musculosa.

— Pode enganar alguns deles, mas continua sendo um


inglês para mim e sempre o será. Porque mudou suas roupas
não significa que tenha mudado por dentro.

Virou-se e se afastou do grupo. Stephen permaneceu


imóvel por um momento, com o cenho franzido. Talvez
quisesse que esquecessem que era inglês. Possivelmente...

Tam lhe deu uma palmada no ombro.

— Não te aflija tanto.

Stephen notou então que todos os escoceses estavam


sorrindo.

— Apesar de tudo ela é uma boa Laird, ela ainda é uma


mulher. — Tam continuou. — Sem dúvida, estava furiosa
porque você estava dançando com as mulheres.

Stephen tentou sorrir.

— Oxalá fosse assim. Queria que você tivesse razão

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— Por que não vai até ela e a acalma?

Stephen começou a responder, depois parou. Não


adiantava dizer a Tam que Bronwyn não aceitava nada que se
referisse a ele. Seguiu-a pela escada. Bronwyn estava de pé
próximo a um tecelão, dando indicações sobre os fios de uma
trama para a nova manta xadrez.

— Stephen, — chamou uma das mulheres — como você


está bonito.

A bela moça o olhava quase com lascívia. Ele se voltou


para lhe sorrir, mas captou o olhar de Bronwyn, que grunhiu
para ele antes de sair do quarto. Ele a alcançou no alto da
escada.

— O que há de errado com você? Eu pensei que ficaria


satisfeita com minhas roupas. Você disse que eu deveria me
tornar um escocês.

— Essa roupa não te fará escocês. — replicou ela, lhe


voltando às costas.

Stephen a segurou pelo braço.

— O que acontece? Está zangada por alguma outra


coisa?

— Que motivos tenho para estar zangada? — perguntou


ela, com a voz cheia de sarcasmo. — Estou casada com meu
inimigo. Devo...

Stephen colocou os dedos nos lábios dela.

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— Algo está incomodando você. — disse em voz baixa.

Observou a expressão dela, mas Bronwyn baixou o olhar


para que ele não visse a dor refletida nele. Stephen deslizou
as mãos pelos braços da jovem até tocar-lhe os dedos. Ela
apertava um objeto com força na mão esquerda.

— O que você tem aqui? — perguntou com suavidade.

Bronwyn tratou de afastar-se, mas Stephen lhe obrigou


a abrir a mão e tomou a fivela. Ao ler a inscrição perguntou:

— Alguém te entregou isto hoje?

Ela assentiu em silêncio.

— Pertencia a seu pai.

Bronwyn manteve a vista baixa. Uma vez mais, só pôde


assentir com a cabeça.

— Bronwyn, — disse ele com voz grave e profunda —


olhe-me. — colocou a mão suavemente sob o queixo dela e
ergueu o rosto. — Desculpe. Sinto-o de verdade.

— O que você sabe? — sibilou, soltando-se com uma


sacudida. Amaldiçoava-se silenciosamente por quase
acreditar nele, por deixar sua voz e sua proximidade afetá-la.

— Sei o que se sente ao perder o pai além da mãe. —


respondeu ele, com paciência. — Te asseguro que sofri tanto
quanto você.

— Mas não fui eu quem matou a seu pai!

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— Tampouco eu matei ao teu. — Respondeu ele com


ferocidade. — Ouça-me, apenas uma vez. Ouça-me como um
homem, não como um peão político. Nós estamos casados.
Está feito e não há como voltar atrás. Poderíamos ser felizes.
Eu sei que poderíamos, se você estivesse disposta a conceder
uma oportunidade a este matrimônio.

Ela endureceu a cara; seus olhos se voltaram frios.

— Para que você se gabe diante seus homens de ter a


uma escocesa comendo em sua mão? Tratará de conquistar a
meus homens e a minhas mulheres para seu lado, como fez
hoje?

— Conquistar! — repetiu Stephen. — Maldita seja!


Passei o dia todo correndo, literalmente, neste clima frio, com
as pernas nuas e o traseiro também, só para te agradar e a
esses homens com quem se preocupa tanto. — Empurrou-a.
— Vá e deite-se com seu ódio. Será sua companhia gelada
durante as noites. — Deu as costas e a abandonou.

Bronwyn permaneceu quieta por um instante, antes de


descer lentamente as escadas. Queria confiar nele. Ela
precisava de um marido em que pudesse confiar. Mas como
poderia? O que aconteceria se suas terras fossem atacadas
por ingleses? Poderia Stephen lutar contra seu próprio povo?
Ela tinha que reconhecer o modo em que reagia a ele. Seria
fácil esquecer suas diferenças e sucumbir aos seus toques
doces, sua voz rouca. Mas seus sentidos poderiam estar
entorpecidos caso precisasse ser cautelosa e alerta. Não podia

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

permitir semelhante coisa. Não arriscaria a vida de sua gente


só para disfrutar um momento de lascívia na cama com um
homem que bem podia ser um espião.

Sentou-se no pequeno jardim atrás da casa alta de


pedra. Não podia confiar nele. Por tudo o que sabia, suas
súplicas para que ela acreditasse nele eram meios de usá-la.
Sabia que ele tinha irmãos. Talvez os chamasse ao seu lado
uma vez que desfizesse as defesas de Bronwyn. Será que se
gabaria para seus irmãos que ela faria o que ele quisesse, que
para torná-la flexível, só tinha que beijar a parte de trás de
seus joelhos?

Bronwyn se levantou e começou a caminhar


rapidamente para a beira da península. O mar batia contra
as rochas, e se podia ver por quilômetros além as águas
cristalinas da enseada. Era uma grande responsabilidade ser
o Laird de um clã. Muitas pessoas buscavam a proteção dela
e, se necessário, até mesmo para comida. Trabalhou duro
para conhecer o seu povo e compreendê-los. Não podia deixar
suas defesas caírem nem por um momento. Assim, quando
Stephen a acariciava, abraçava-a, era preciso se proteger
contra ele, para não permitir que suas emoções dominassem
sua cabeça. Se alguma vez soubesse que podia confiar nele,
então poderia perguntar o que estava em seu coração.

— Bronwyn... — voltou-se.

— O que se passa Douglas? — perguntou, olhando ao


jovem nos olhos. Viu neles a pergunta não formulada que

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estava nos olhos de todos os seus homens, não sabiam se


podiam confiar ou não em Stephen e esperavam sua
observação a respeito dele. E ela também seria observada. Se
se equivocava com respeito a ele, todos deixariam de lhe ter
confiança.

— Recebi notícia de que os MacGregor planejam outra


incursão para esta noite.

Bronwyn assentiu, sabendo que Douglas tinha acesso a


um informante.

— Já contou isso a mais alguém?

Douglas fez uma pausa e interpretou corretamente os


pensamentos de sua Laird: sabia que se referia a Stephen.

— A ninguém. — Ela direcionou o olhar de volta ao mar.

— Esta noite conduzirei a meus homens e juntos


ensinaremos aos MacGregor quem é a Laird MacArran. Não
voltarei a ser motivo de riso de ninguém.

Douglas sorriu.

— Será um prazer cavalgar outra vez contigo à frente.

Bronwyn se voltou para encará-lo.

— Não revele a ninguém nossos planos. A ninguém!


Entendido?

— Sim, eu entendo. — Douglas se retirou.

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A longa mesa de jantar estava repleta de comida.


Stephen estava, a princípio, desconfiado da abundância,
porque o senso de economia de Bronwyn fazia com que
estabelecesse uma mesa mais modesta. Durante o jantar
sorria para ele, isso o surpreendeu, pois tinha certeza que ela
ficaria zangada depois do que acontecera naquela tarde. Mas
talvez Bronwyn tivesse escutado suas palavras, talvez
estivesse disposta a dar-lhe uma chance.

Recostou-se na cadeira e passou a mão pela coxa dela.


Stephen riu quando ela se sobressaltou.

Bronwyn se voltou para ele, seus olhos suaves e


quentes, os lábios entreabertos e Stephen sentiu seu corpo
inteiro arder. Inclinou-se para ela.

— Este não é o momento e nem o lugar adequado. — ela


ponderou, com uma nota de tristeza na voz.

— Me acompanhe ao quarto, então. — Bronwyn sorriu


sedutora.

— Dentro de um momento. Não gostaria de provar a


nova bebida que eu preparei? É uma mistura de vinho e suco
de frutas com um pouco de especiarias — e entregou-lhe uma
taça de prata.

Stephen mal notou o que bebia. Bronwyn nunca tinha


olhado para ele como estava fazendo agora, e seu sangue

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estava começando a ferver. Seus pesados cílios baixaram


sobre seus olhos azuis, que brilhavam como uma pérola
azulada. A ponta de sua língua rosada tocou o lábio inferior
de Stephen, que sentiu arrepios percorrer sua espinha. Então
era assim que ela agia quando estava disposta!

Colocou a mão dele sobre a dela e teve que controlar-se


para não apertá-la com força suficiente para quebrar os
dedos.

— Me acompanhe! — sussurrou com voz rouca.

Antes de chegar ao último degrau se sentia sonolento.


Quando chegou à porta de seu quarto, mal conseguia manter
os olhos abertos.

— Não sei o que me passa. Algo está errado comigo. —


sussurrou, fazendo um esforço para pronunciar as palavras.

— Está cansado, nada de mais. — disse Bronwyn,


pormenorizada. — Passou quase todo o dia treinando com
Tam, que é capaz de esgotar qualquer pessoa. Deixa que te
ajude.

Rodeou-lhe a cintura com um braço e levou-o para a


cama. Stephen caiu no colchão, com os membros pesados e
inúteis.

— Sinto muito, mas...

— Cala-se! — disse Bronwyn sem elevar a voz. —


Descansa. Depois de dormir um momento se sentirá melhor.

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Stephen não teve escolha senão obedecê-la. Facilmente


adormeceu.

Bronwyn esperou um momento, com o cenho franzido.


Temia ter posto muito sonífero em sua taça. Ao vê-lo tão
quieto teve um ataque de remorsos. Mas era preciso, ela
tinha que ter certeza de que ele não interferisse esta noite.
Ela precisava demonstrar aos MacGregor que não podiam
roubar o gado dos MacArran impunemente.

Deu meia volta para sair do quarto, então olhou por


cima do ombro. Com um suspiro, tirou as botas de Stephen.
Ele não se mexia; permanecia imóvel, sem olhar para ela,
sem pedir nada. Ela se inclinou para lhe acariciar o cabelo e,
seguindo um impulso, deu um beijo suave na testa do jovem.
Depois se afastou ruborizada, amaldiçoando-se por tanta
estupidez. Que lhe importava o inglês?

Seus homens já estavam sobre as selas e esperando por


ela. Bronwyn recolheu a saia e pôs o pé no estribo, montando
na sela. Os homens não precisavam de comando verbal
enquanto a seguiam pelo estreito caminho que levava ao
continente.

O informante de Douglas acertara sobre o suposto


ataque ao gado. Bronwyn e seus homens cavalgaram a todo
galope durante duas horas. Depois abandonaram os cavalos e
caminharam sigilosamente pelos bosques escuros.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn foi a primeira a ouvir os passos de um homem.


Ela ergueu a mão para deter seus homens, então sinalizou
para que se espalhassem. Douglas devia permanecer com ela.
Os membros do Clã MacArran, em silêncio, deslizaram entre
as árvores e rodearam os ladrões de gado.

Quando percebeu, que de fato, os seus homens tiveram


tempo de chegar a seus lugares, Bronwyn abriu a boca e deu
o grito agudo de guerra dos MacArran, deixando o gado
inquieto. Os MacGregor soltaram as cordas que seguravam e
desembainharam suas Claymores. Mas era tarde demais,
pois os homens de Bronwyn caíram sobre eles. Tinham
descartado suas mantas para que tivessem liberdade para
lutar somente com suas camisas soltas. Seus selvagens gritos
de guerra ecoavam pelo campo. Bronwyn tirou a saia e ficou
apenas com sua camisa e manta, que chegava apenas a seus
joelhos. Permaneceu de lado para guiar seus homens e não
embaraçá-los com sua fragilidade. Nessas horas amaldiçoava
sua falta de força.

— Jarl! — gritou, a tempo de evitar que um de seus


homens recebesse um golpe de espada na cabeça.

Correu pelo pasto bem a tempo para desviar a um


MacGregor que estava preste de saltar contra outro dos seus
homens. O raio do luar capturou o flash de um punhal que
estava pouco acima da cabeça de Douglas.

Ela viu que Douglas tinha perdido sua arma.

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— Douglas! — gritou e então lhe atirou sua arma. O


MacGregor atrás dele se virou para encara-la, e naquele
instante Douglas o apunhalou nas costelas. O homem caiu
lentamente.

O combate pareceu interromper-se imediatamente.


Bronwyn, sentindo uma mudança nos homens, olhou para o
homem aos seus pés.

— O Laird MacGregor... — sussurrou — morreu?

— Não! — respondeu Douglas — Só está ferido. Voltará


a si em um minuto.

Ela olhou em volta. Os outros MacGregor tinham


desaparecido por entre as árvores agora que seu Laird estava
caído. Ela se ajoelhou ao lado do homem no chão.

— Me dê minha adaga. — ordenou.

Douglas obedeceu sem hesitação.

— Eu quero que o Laird MacGregor se lembre de mim


depois desta noite. Como você acha que ele gostaria de ter
minha inicial gravada em sua carne?

— Na bochecha, possivelmente? — sugeriu Douglas


ávido.

Bronwyn lhe deu um olhar frio, seus olhos tornaram-se


prateados pelo luar.

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— Não quero provocar mais guerras, a não ser deixar


uma lembrança. Além disso, me disseram que o Laird
MacGregor é homem bonito. — Abriu a camisa do homem.

— Ultimamente parece se interessar muito pelos


homens bonitos. — comentou Douglas, com amargura.

— Talvez seja você que se preocupa com meus homens.


É por ciúmes ou por cobiça? Se encarregue de que meus
guerreiros estejam bem e deixa de caprichos infantis.

Douglas lhe voltou às costas afastando-se.

Bronwyn ouvira histórias sobre o Laird MacGregor e


sabia como ficaria furioso com uma cicatriz feita pela mulher
que o derrotara. Com a ponta da adaga perfurou-lhe a pele e
gravou um pequeno B em seu ombro. Assim tinha certeza
que se lembraria dela na próxima vez que tentasse roubar
gado.

Ao terminar correu ao encontro de seus homens e foram


em busca dos cavalos. Era uma experiência embriagadora:
sua primeira vitória como Laird de seu clã.

— Para a casa de Tam! — gritou quando montou. —


Vamos tirá-lo da cama. Ele vai querer ouvir como o Laird
MacGregor leva a marca da Laird MacArran.

E se pôs a rir ao pensar na fúria do homem quando


visse o presente que lhe tinha deixado.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

De repente os céus se abriram e um dilúvio de água fria


caiu sobre eles. Todos envolveram as cabeças com as mantas.
Bronwyn pensou na saia quente que abandonara no chão.
Relâmpagos brilharam e os cavalos saltavam nervosos diante
da luz e do som dos trovões.

Cavalgaram de volta a Larenston ao longo da borda do


penhasco que dava para o mar. Não era o caminho mais
seguro, mas era o mais rápido e eles sabiam que os
MacGregor não os perseguiriam por caminhos perigosos e
desconhecidos. De repente, um relâmpago estupendo rasgou
o céu e atingiu o chão diretamente na frente de Alexander. O
cavalo empinou e pisoteou o chão freneticamente com suas
patas dianteiras. Um instante depois, o rugido de um trovão
ameaçou derrubar as pedras sobre suas cabeças. O cavalo de
Alexander mudou de direção, e seus cascos caíram no vazio,
pendurados sobre a borda do penhasco. Por um instante,
cavalo e cavaleiro ficaram suspensos, metade em terra,
metade no ar. Subitamente eles despencaram. Alex saindo da
sela do cavalo. Bronwyn foi a primeira a desmontar. A chuva
gelada batia contra seu rosto. Suas pernas estavam azuis
com frio.

— Ele se foi! — gritou Douglas. — O mar o tem agora.

Bronwyn se esforçou para ver através da escuridão e da


chuva o mar abaixo. Um relâmpago lhe mostrou o corpo do
cavalo embaixo, imóvel, deitado sobre as rochas. Mas não
havia sinal de Alex.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Vamos! — gritou Douglas — Não pode fazer nada por


ele!

Bronwyn se levantou. Era tão alta quanto Douglas e


olhou-o nos olhos.

— Vai me dar ordens? — perguntou. E voltou a olhar


para a água. — Segure meus tornozelos para que eu possa
ver além da borda do penhasco.

Deitou-se de bruços, enquanto Douglas a agarrava pelos


tornozelos. Imediatamente outros dois chegaram ao seu lado
para firmar seus braços. Outro pôs as mãos nos ombros de
Douglas.

Pouco a pouco Bronwyn foi deslizando sobre a beirada,


até que pôde ver toda a rocha do despenhadeiro íngreme. Era
assustador ficar pendurada sobre a borda, confiando sua
vida às mãos fortes que a sustentavam pelo tornozelo. Seu
primeiro impulso foi dizer que não viu nada, mas não podia
abandonar Alex se houvesse uma chance de que ainda
estivesse vivo. Esperou pacientemente pela próxima explosão
de claridade dos relâmpagos, então esquadrinhou a área.
Lentamente, moveu a cabeça para ver outra parte do
penhasco. Sua posição de cabeça para baixo estava deixando-
a tonta, e o medo estava fazendo um nó em seu estômago.

Quando ela girou cabeça pela terceira vez que pensou


ter visto algo. Pareceu uma eternidade antes que outros
relâmpagos iluminassem novamente o precipício. Bronwyn

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

tinha a sensação de que seu pescoço ia quebrar devido a


estar de cabeça para baixo.

O raio do relâmpago iluminou e todas suas dores


desapareceram de súbito. À sua esquerda, no meio do
despenhadeiro, via o brilho familiar da manta vermelha que
Alex preferia. Fez um sinal e os homens a ergueram.

— Alex! Ali embaixo! — ofegou, com a boca cheia de


água da chuva. Com impaciência passou o antebraço pelos
olhos. — Está em uma borda estreita. Vamos amarrem uma
corda em torno de mim. Acho que posso chegar até ele.

— Deixa que eu vá. — pediu Francis.

— É muito musculoso, não há espaço suficiente na


borda. Tragam uma corda e a levarei no ombro. Entenderam?
— Seus gritos eram acompanhados de gestos de mãos?

Os homens assentiram, e quase imediatamente


Bronwyn estava enrolando uma corda para colocar ao redor
de seu ombro. Entregou uma extremidade a Douglas.

— Quando puxar duas vezes puxe-o para cima. — Em


seguida, amarrou outra corda em sua cintura. — Quando
Alex estiver seguro, me subam. — Caminhou a beira do
penhasco, sem olhar o vazio que se estendia para baixo, fez
uma breve pausa.

— Meu sucessor é Tam. — disse, sem se incomodar em


acrescentar que ele seria apenas se ela morresse.

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A pesada corda lhe cortava a cintura e, embora os


homens a descessem tão devagar e cuidadosamente quanto
pudessem, seu corpo bateu contra a parede da rocha várias
vezes. Seus joelhos e ombros doíam, e ela podia sentir a pele
de suas mãos sendo esfoladas enquanto segurava a corda.
―Pense em Alex‖. — ela pensava e repetia, — ‗Pense em Alex‟.

Passou-se muito tempo até que alcançou a estreita


saliência. Havia espaço apenas para ela colocar os pés ao
lado do corpo musculoso de Alex. Depois de algumas
manobras cuidadosas, conseguiu montar sobre os quadris de
Alex.

— Alex! — gritou, por sobre a chuva que fustigava.

O jovem abriu lentamente os olhos e olhou Bronwyn


como se fosse um anjo descendido a terra.

— Laird! — sussurrou, fechando os olhos. Sua palavra


se perdeu na tempestade.

— Maldito seja, Alex, acorde! — vociferou a moça. Ele


voltou a abrir os olhos.

— Está ferido? Pode me ajudar com esta corda?

Alex subitamente ficou consciente de onde estava.

— Minha perna está quebrada, mas acho que ainda


posso me mover. Como você chegou aqui?

— Não fale! Limite-se a amarrar os nós!

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn estava em uma posição precária e havia pouco


espaço por onde se movimentar. Curvou-se para frente,
mantendo as pernas retas, sem mudar os pés de lugar, e
juntamente com Alex passou a corda ao redor do corpo dele.
Fizeram uma espécie de rede tosca, a corda passando por
entre as pernas dele e lhe rodeando as costas.

— Está preparado? — perguntou ela gritando.

— Vá você primeiro. Eu esperarei.

— Não discuta Alex. É uma ordem.

Bronwyn deu dois fortes puxões na corda e sentiu que


esta se esticava a medida que os homens puxavam para
cima. Franziu o cenho ao ver que Alex se chocava contra a
parede do precipício, machucando a perna ainda mais.

Quando ele estava logo acima de sua cabeça, esmagou-


se contra a rocha. A chuva golpeou-a. A parede do penhasco
era dura e ameaçadora contra suas costas. De repente,
sentiu-se muito sozinha... e muito assustada. Sua
preocupação com Alex tinha motivado sua coragem precoce,
mas agora havia se dissipado. Alex estava seguro, e ela estava
sozinha e assustada. Um pensamento cruzou sua mente: que
o lugar onde ela desejava estar naquele momento era no colo
de Stephen, sentados diante de um fogo, rodeada pelos
braços dele.

Checou a corda que lhe rodeava a cintura, esta se


tencionou, sem dar-lhe mais tempo para seguir pensando.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Mas enquanto se segurava na corda, com as mãos bem


apertadas e os pés envoltos em torno dela para aliviar a
pressão na cintura, a imagem de Stephen permaneceu em
sua mente.

De alguma forma, não foi nenhuma surpresa que


quando chegou ao topo do penhasco encontrou Tam e
Stephen puxando-a para cima. Stephen estendeu as mãos e
agarrou-a por debaixo dos braços para depositá-la em um
lugar seguro. Em seguida a estreitou em um abraço que
quase a esmagou, mas Bronwyn desfrutou desta pressão,
feliz por não estar mais sozinha. Ele a afastou, segurando-lhe
o rosto entre as mãos, e estudou-a. Seus olhos estavam
escuros e sombreados. Ela queria dizer alguma coisa, que
estava feliz em vê-lo, contente por estar novamente segura,
mas a expressão de Stephen, não permitia dizer nenhuma
palavra.

Abruptamente, ele moveu as mãos pelos braços dela,


então começou uma inspeção impessoal ao longo do seu
corpo. Jogou-a de volta contra seus braços e passou-lhe as
mãos pelas suas pernas, franzindo o cenho ao dar-se conta
dos lugares ensanguentados em seus joelhos. Todos os
sentimentos suaves que envolviam Bronwyn a deixaram.
Como se atrevia a inspecioná-la de tal maneira diante de seus
homens?

— Solte- me! — protestou.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen ignorou-a e olhou para Tam, que estava


próximo.

— Vários cortes e algumas contusões, mas parece que


nada sério.

Tam, que permanecia agachado, levantou-se com um


sinal afirmativo e pareceu rejuvenescer dez anos. Bronwyn
deu um chute acertando e lutando contra Stephen.

— Se tiver terminado comigo. — disse altiva — eu


gostaria de voltar para casa.

Stephen se voltou para olhá-la. Sua expressão era muito


clara: estava furioso. Muito furioso. A chuva diminuiu um
pouco e o amanhecer iluminava o céu. Ela se sentou e tentou
se afastar dele.

— Preciso ver o Alex.

— Alex já está atendido. — falou Stephen, seco, com os


dentes cerrados. Sua mão firmemente apertada sobre seu
pulso, e quando se levantou, arrastou-a consigo em direção a
seu cavalo.

— Exijo que me solte. — repetiu ela, em voz baixa, já


que todos os seus homens estavam perto. Stephen se voltou
rapidamente e puxou-a para perto de si.

— Se você disser mais uma palavra, vou levantar esse


pedaço de camisa que mal cobre seu traseiro, sobre sua
cabeça, e irei dar-lhe umas boas palmadas até deixá-lo

LRTHistóricos 215
Highlander Audaz — Jude Deveraux

arroxeado. Alex está a salvo. Mais seguro do que você está no


momento, então não me provoque mais. Entendeu?

Bronwyn ergueu o queixo e o fulminou com o olhar. Mas


não queria dar motivos para que ele cumprisse a ameaça.
Stephen girou e empurrou-a para um cavalo e, sem esperar
que ela montasse, levantou-a e colocou-a na sela, com tanta
violência que seus dentes se chocaram. Imediatamente ele
montou seu cavalo. Segurou as rédeas do cavalo de Bronwyn.

— Você vai me seguir ou devo levar seu cavalo?

Não suportava ser levada como uma criança malcriada.

— Eu vou segui-lo. — disse, com as costas eretas e a


cabeça erguida.

Eles cavalgaram afastados dos homens, pelo atalho do


penhasco estreito, e Bronwyn não olhava para trás. Sua
humilhação era muito grande. Seus homens a respeitavam,
obedecendo-a, mas Stephen tentava reduzi-la a uma criança.
Rab corria ao lado dos cavalos, seguindo sua dona como
sempre fazia.

Cavalgaram por mais de três horas, e Bronwyn sabia


que estavam indo para o limite norte de suas propriedades. A
paisagem era montanhosa, selvagem, com muitos riachos a
atravessar. Stephen manteve um ritmo lento e constante, sem
olhar para ela, mas sentindo quando precisava diminuir a
velocidade para espera-la.

LRTHistóricos 216
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn estava muito cansada. Não tinha comido desde


antes de sair da fortaleza, para deter a incursão de gado
durante a noite, e agora isso parecia ter sido dias atrás.
Estava com tanta fome que seu estômago doía e parecia como
se estivesse devorando a si mesmo. A chuva tinha diminuído
para uma garoa fria e molhada, e ela estava gelada até os
ossos. Tremeu e espirrou algumas vezes. Suas pernas
estavam cortadas e machucadas, e não importava de que
lado se virasse, a sela tocava um lugar dolorido. Mas preferia
morrer a pedir a Stephen para parar e descansar.

Por volta do meio-dia se detiveram; Bronwyn não pôde


evitar um suspiro de alívio. Antes que pudesse desmontar, ele
estava ao seu lado, descendo-a da sela. Ela estava muito
cansada, faminta e com frio para recordar sequer o ocorrido
durante a noite.

Stephen a pôs de pé no chão e se afastou. Era evidente


que sua irritação não tinha desaparecido. Quando ele olhou
para trás, ela viu sua raiva brilhando em seus olhos.

— Por quê? — perguntou. A maneira que Stephen


pronunciou a palavra demonstrava até que ponto se continha
para não esbofeteá-la. — Por que me drogou?

Ela tratou de manter os ombros erguidos.

— Os MacGregor estavam planejando outra incursão.


Tinha que proteger a propriedade de minha gente.

Ele a olhou com olhos frios e duros.

LRTHistóricos 217
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Ninguém nunca te disse que é dever de um homem


liderar um combate?

Ela encolheu os ombros.

— Isso é o que ensinam na Inglaterra. Na Escócia somos


diferentes. Desde os sete anos me ensinaram e a meu irmão,
a montar a cavalo e usar uma espada em caso de
necessidade.

— E como você não me acreditava capaz de conduzir aos


homens, tirou a roupa, — olhou com zombaria a curta saia
que a cobria — e os guiou pessoalmente. Você me considera
tão pouco homem que se acha melhor que um?

— Ser mais homem ou menos homem! — exclamou ela


com nojo dando de ombro. — Isso é tudo pelo que você se
interessa. Na última invasão você foi de armadura. Sabe que
os MacGregor riram de mim? Disseram que os MacArran
tinham uma mulher como Laird e uma coluna de aço como
líder. Bom, ontem à noite fiz com que parassem de rir. Gravei
um B no ombro do Laird MacGregor.

— Você o que fez? — resmungou Stephen.

— Ouviu o que eu disse! — replicou ela, arrogante.

— Oh, por Deus! — disse passando uma mão pelo


cabelo molhado. — Você não entende nada sobre o orgulho de
um homem? Levará a vida inteira a marca de uma mulher.
Odiará a você e a seu clã.

LRTHistóricos 218
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Equivoca-te! Além disso, os MacGregor e os MacArran


sempre se odiaram.

— A julgar pelo que vejo não é assim. Vocês parecem se


provocar uns aos outros. Isto é mais um jogo que uma
verdadeira guerra.

— O que sabe você disto? Nada. É inglês — replicou ela,


enquanto começava a desencilhar o cavalo.

Ele a deteve com uma mão.

— Quero sua palavra de que não voltará a me drogar.

Ela se afastou bruscamente do seu toque.

— Há momentos em que...

Stephen a agarrou pelos ombros e virou-a para encará-


lo.

— Nunca haverá um momento em que você possa


controlar minha vida, assim como minha razão O que teria
acontecido se houvesse problemas e eu fosse necessário?
Estava dormindo tão profundamente que alguém poderia ter
derrubado o castelo e eu não acordaria. Não posso viver com
alguém que não posso confiar, quero sua promessa.

Bronwyn deu um pequeno sorriso.

— Não posso dá-la.

Stephen a empurrou para longe dele.

LRTHistóricos 219
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não colocarei meus homens em perigo por causa dos


caprichos de uma garota idiota. — disse em voz baixa.

— Garota! Idiota! Sou a Laird MacArran. Conto com


centenas de homens e mulheres que me obedecem e me
respeitam.

— E deixam você fazer sua vontade com muita


frequência. É inteligente e tem discernimento, mas precisa de
experiência para liderar homens em combate. Eu me
encarregarei disso.

— Meus homens não lhe seguirão.

— Seguirão, contanto que eu esteja acordado o


suficientemente para dar as ordens. — Encarou-a, quando
não recebeu resposta. — Pedi sua palavra, agora vou tomar
pela força. Se me drogar novamente tirarei esse cão de você.

Bronwyn ficou boquiaberta de estupefação.

— Rab voltará sempre para mim.

— Não, se ele estiver a vários metros abaixo do chão,


não poderá fazê-lo.

Ela demorou em captar o sentido dessas palavras.

— Seria capaz de matá-lo? O mataria para conseguir o


que deseja?

— Mataria cem cães, cem cavalos para salvar um só


homem, sejam os seus ou os meus. Suas vidas estarão em

LRTHistóricos 220
Highlander Audaz — Jude Deveraux

perigo se eu não estiver lá para protegê-los e eu não posso


passar a vida pensando que minha própria esposa decidirá se
me quer consciente ou adormecido em uma noite qualquer.
Expliquei claramente?

— Com muita claridade. Teria prazer matando a meu


cão, sem dúvida. Depois de tudo, tirou quase tudo de mim.

Stephen deu-lhe um olhar de exasperação.

— Pelo visto, você só enxerga o que quer ver. Apenas


lembre que se você ama esse animal, pensará duas vezes
antes de voltar a pôr drogas ou qualquer outra coisa em
minha comida.

De repente era demais para Bronwyn. Aquela longa


noite chuvosa, o horror de descer por um precipício e a ideia
de perder Rab foram demais para ela. Caiu de joelhos no
chão encharcado e Rab veio até ela, ficando ao seu lado. Ela
abraçou o enorme cão e escondeu o rosto na áspera pelagem
molhada.

— Sim, amo-o! — sussurrou. — Vocês, ingleses, me


tiraram tudo e você poderia me tirar Rab também. Mataram
meu pai e seus três homens de confiança. Mataram todas as
minhas possibilidades de ser feliz com um marido que eu
pudesse amar. — Levantou a cabeça, com os olhos cheios de
lágrimas contidas. — Por que não tira Rab e Tam também?
Aproveita e queima minha casa.

Stephen, meneando a cabeça, ofereceu-lhe a mão.

LRTHistóricos 221
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Está cansada e faminta. Não sabe o que está dizendo.

Ela se levantou sem aceitar seu apoio. De repente


Stephen a atraiu para seus braços sem reparar em suas
tentativas para se afastar.

— Não te ocorreu pensar que poderia me amar? Se me


amasse economizaríamos muitas rixas.

— Como amar a um homem que não posso confiar? —


replicou ela, com simplicidade.

Stephen não disse uma palavra, mas a reteve contra si,


apoiando a bochecha contra o cabelo molhado de Bronwyn.

— Vamos, — ele disse depois de um tempo — vai chover


outra vez e faltam vários quilômetros para chegarmos a um
abrigo.

Soltou-a sem voltar a olha-la. Bronwyn teve a passageira


ideia de que ele estava triste, mas a descartou imediatamente
e montou seu cavalo.

LRTHistóricos 222
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Oito
Começava a cair à tarde quando Stephen se deteve
frente a uma velha casa de pedra. A parte traseira da cabana
terminava ao lado de uma pequena colina; o teto estava
coberto por turfa. Tinha recomeçado a chover, justo quando
as roupas de Bronwyn começavam a secar.

Ela freou seu cavalo, mas sem desmontar. Estava


cansada demais para se mover. Stephen a agarrou pela
cintura e praticamente a arrastou ao chão.

— Tem fome? — murmurou, um segundo antes de


toma-la nos braços para levá-la ao interior da cabana. A sala
de chão de terra batida estava aquecida por um fogo de turfa.
Contra a parede havia um banquinho. Stephen a depositou
ali.

— Fique aqui enquanto cuido dos cavalos.

Ela estava tão cansada que mal notou quando ele


voltou.

— Não fala sempre que os escoceses são gente forte? —


brincou ele. Pôs-se a rir ao ver que ela erguia as costas,
embora exausta, em vez de continuar apoiada contra a
parede. — Venha aqui e veja o que eu tenho.

LRTHistóricos 223
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Abriu uma arca recostada contra uma parede e começou


a retirar comida. Havia uma panela quente, cheia de um
ensopado de cheiro celestial. Um pão escuro e grosso veio em
seguida. Havia peixe e sopa, frutas e verduras.

Bronwyn se sentia como em meio de um sonho. Pouco a


pouco abandonou o banquinho para aproximar-se de
Stephen. Olhou com apetite cada um dos pratos e lhe seguiu
com o olhar vendo como ele depositava a comida. Quando ela
pegou um suculento pedaço de carne de porco assado,
Stephen puxou o prato para longe dela.

— Há um preço para tudo isso. — disse em voz baixa.

Ela se apartou, com o olhar gélido. Começou a se


erguer. Stephen depositou o prato no banquinho.

— Toma! — disse, segurando-a pelos ombros — Não tem


senso de humor?

— Quando se trata de um inglês assassino, não. —


Replicou ela, rígida.

Ele a atraiu para si.

— Ao menos seja coerente com suas ideias. — Afastou-a


um pouco para lhe acariciar a bochecha com o dorso da mão.
— O que você acha que eu iria cobrar pela comida?

— Quererá que meus homens e eu lhe juremos


fidelidade e que lutemos por você, embora nos obrigue a lutar

LRTHistóricos 224
Highlander Audaz — Jude Deveraux

contra nosso próprio povo. — disse com uma voz sem


inflexões.

— Bom Deus! — exclamou Stephen. — Que monstro


deve pensar que eu sou? — Olhou-a por um instante com o
cenho franzido, logo sorriu. — O custo será muito maior, um
beijo, dado por vontade própria. Um beijo que eu não deva
arrebatar pela força.

A primeira reação de Bronwyn foi dizer-lhe o que ele


poderia fazer com sua comida e seus beijos, em gaélico, é
claro, mas tinha certeza de que ele entenderia. Então se
interrompeu. Acima de tudo, os escoceses eram práticos. Não
podia desperdiçar toda aquela comida.

— Está bem, — sussurrou — te darei um beijo.

Bronwyn inclinou-se para frente, de joelhos, e tocou os


lábios de Stephen com os seus. Ele moveu os braços para
abraçá-la, mas ela empurrou os braços dele.

— Isto é coisa minha! Meu! — disse possessivamente.

Stephen, sorridente, reclinou-se para trás, apoiado nos


cotovelos, e deixou fazer sua vontade.

Os lábios de Bronwyn brincavam com os seus


suavemente, tocando-os, provando-os, provocando-os,
movendo-se sobre eles. Ela usava os dentes e a ponta da
língua para lhe explorar a boca.

LRTHistóricos 225
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Afastou-se o suficiente para olhar para Stephen. Estava


chovendo lá fora, e o som suave da água caindo ao solo os
fazia sentir-se isolados e especialmente sozinhos. O dourado
macio das chamas cintilantes lançavam sombras suaves no
belo rosto de Stephen, que tinha os olhos fechados e os lábios
ligeiramente afastados, Bronwyn podia sentir seu coração
bater com força. Era sua imaginação ou esse homem parecia
mais bonito desde a primeira vez que o vira? De repente lhe
parecia à perfeição viril.

Mas ele ficou quieto, esperando silenciosamente. Não


havia nenhum sinal da excitação que ela estava sentindo.
―Nenhum senso de humor!‖ — Ela pensou e sorriu. — ―Vamos
ver quanto humor você tem, inglês!‖

Stephen abriu os olhos por um instante, no momento


em que os lábios de Bronwyn descerem sobre os seus de
novo. Desta vez, o beijo não era doce ou gentil, mas com
fome. Ela mordeu seus lábios, sugando-os.

Stephen perdeu sua tranquila pose de relaxamento e


caiu contra o chão duro. Suas mãos se fecharam ao redor da
cintura de Bronwyn, atraindo-a para si. Ela soltou um riso
gutural e novamente afastou suas mãos. Obedientemente,
deixou-as cair ao seu lado.

Bronwyn afastou a cabeça, os lábios ainda colados aos


de Stephen, e ele seguiu seu movimento. Com uma mão atrás
da cabeça e os dedos enroscados nos cabelos dele, procurou
com a outra mão o joelho de Stephen. Quando começou a

LRTHistóricos 226
Highlander Audaz — Jude Deveraux

movê-lo lentamente para cima, todo o corpo de seu marido


estremeceu: vestia o traje escocês e estava nu sob a camisa e
a manta. Lentamente, polegada a polegada, ela acariciava a
parte interna da coxa. Quando ela o tocou entre as pernas, os
olhos de Stephen abriram-se e no momento seguinte tinha
deitado Bronwyn de costas com uma perna cruzada sobre
ela.

— Não! — protestou ela, empurrando-o. — Um beijo,


esse foi o seu preço. — Estava respirando com tanta força
que mal podia falar, como se tivesse corrido por quilômetros.

Stephen demorou em recuperar o sentido. Olhava-a com


bastante estupidez. Bronwyn permanecia com as mãos contra
o peito do marido.

— Prometeu-me que eu poderia comer se te desse um


beijo. Eu acredito que o fiz. — Aduziu com toda seriedade.

— Bronwyn! — balbuciou Stephen, como se fosse um


homem moribundo.

Ela sorriu com alegria, lhe aplicou um empurrão e se


afastou para longe dele.

— Não se poderá dizer que os escoceses não respeitam a


palavra dada.

Stephen, com um grunhido queixoso, fechou os olhos


um momento.

LRTHistóricos 227
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Devo ter envelhecido vinte anos desde que te conheci.


Me droga pela noite, depois escala e fica pendurada em um
precipício, e agora tenta me liquidar, torturando-me. O que
mais posso esperar? O cavalete ou você prefere a tortura da
água?

Ela riu dele e entregou-lhe um pedaço suculento de


porco assado. Já estava comendo, com os lábios vermelhos
pelo beijo e brilhantes de gordura. Ela se apoderou de um
pedaço de bolo de carne assim que Stephen pegou o porco.

— Como você chegou a este lugar? Quem trouxe a


comida? Como você soube do despenhadeiro?

Foi a vez de Stephen rir. Começou a comer, mas sem o


entusiasmo de Bronwyn. Ainda não se recuperara das
sensações causadas pela mão de Bronwyn entre suas pernas.
Tam tinha tido mais do que razão sobre as vantagens do traje
escocês.

— Douglas foi em busca de Tam. — disse, disse depois


de um momento e em seguida franziu o cenho. — Desejo
ensinar seus homens a recorrer a mim. — Disse aborrecido.
— Sempre me informo de tudo através de outras pessoas.

Bronwyn tinha as mãos e a boca cheias de comida.

— Douglas estava meramente sendo um filho obediente.

— Que filho? Do que está falando? — Ela piscou para


ele.

LRTHistóricos 228
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Douglas é filho da Tam.

— Mas o filho de Tam não morreu?

Ela pegou um pedaço de pão negro e passava manteiga,


enquanto dava-lhe um olhar de desgosto.

— Pode-se ter mais de um filho varão, sabe? Segundo


meu pai, Tam estava tratando de criar um clã próprio. Tem
doze filhos varões, nada menos, quer dizer, assim era antes
que vocês, ingleses, matassem a um.

Stephen levantou uma mão em gesto de defesa.

— Quem são eles?

— Douglas, Alex, Jarl e Francis são mais velhos. Depois


há alguns garotos, jovens demais para o combate. E sua nova
esposa vai dar à luz a outro qualquer dia destes.

Stephen riu entre dentes, recordando que aos calados se


deveriam vigiar.

— Você não respondeu minhas perguntas. — falou


Bronwyn, sem deixar de comer. — E por que me trouxeste até
aqui?

— Eu pensei que a cavalgada poderia esfriar meu


temperamento um pouco e eu não queria que seus homens
interferissem. — Ele respondeu, antes de passar às outras
perguntas. — Tam tentou me acordar, mas não conseguiu. —
Bronwyn ignorou o olhar acusador de Stephen. — Depois
Morag me fez engolir uma beberagem asquerosa, que quase

LRTHistóricos 229
Highlander Audaz — Jude Deveraux

me matou. Antes que eu pudesse me recuperar


completamente já estávamos a cavalo, galopando pelo atalho
do penhasco. Chegamos quando Alex estava sendo puxado
para cima. — Stephen deixou a coxa de frango que comia e
olhou para ela. — Por que você desceu pelo penhasco? Por
que diabos seus homens não a impediram de fazer isso?

Ela deixou o pãozinho que acabava de morder.

— Será que alguma vez entenderá? Eu sou a Laird


MacArran. Sou eu quem rejeita ou permite. Meus homens
seguem minhas ordens, não eu as suas.

Stephen se levantou para colocar mais turfa no fogo.


Sua educação inglesa estava em conflito dentro de si.

— Mas você não é forte. E se Alex estivesse inconsciente


e não pudesse te ajudar, você não tem músculos para
levantar o peso morto de um homem.

Bronwyn se mostrou paciente, percebendo que ele


tentava compreender.

— Desci o penhasco porque sou pequena. Na saliência


havia pouco espaço, eu podia me mover ali com mais
facilidade que um homem musculoso e grande. Quanto a
levantar Alex, não poderia elevá-lo de corpo inteiro, mas sim,
passar uma corda sob seu corpo para que ele pudesse ser
puxado para cima. Se tivesse percebido que Alex tinha mais
possibilidades de salvar-se com a ajuda de outra pessoa, não

LRTHistóricos 230
Highlander Audaz — Jude Deveraux

vacilaria em enviar alguém. Sempre trato de fazer o que for


melhor para o meu povo.

— Maldição! — disse Stephen, com ferocidade. De


repente a ergueu de um puxão. — Não gosto de ouvir
palavras sábias de uma mulher.

Ela piscou, mas tanta franqueza acabou por fazê-la


sorrir.

— Não conhece algum bom chefe que use a cabeça em


vez dos músculos?

Ele olhou-a fixamente. Depois a apertou entre seus


braços, sua mão enterrada em seu cabelo.

— Estava tão furioso. — sussurrou. — Eu não acreditei


nos seus homens quando eles me disseram onde você estava.
Acredito que não respirei até comprovar que estava bem.

Ela ergueu a cabeça e olhou para ele, examinando sua


expressão.

— Se eu tivesse morrido, não duvido que Tam teria


entregue algumas das minhas propriedades a você.

— Propriedades! — exclamou ele. E voltou a apertar a


cabeça dela contra seu ombro. — Às vezes é estúpida. Deveria
te castigar por este insulto. — Ele não a deixava se mexer
quando tentava. — Vou atrasar seu jantar. — disse, com voz
rouca, enquanto levantava seu rosto para beijá-la com ânsia.
Riu pelos seus lábios engordurados. — Hum, acho que

LRTHistóricos 231
Highlander Audaz — Jude Deveraux

precisa de boas maneiras. — lhe disse e se calou, porque ela


deslizava os braços ao redor de seu pescoço.

A paixão se renovou em segundos. Ao relembrar os


acontecimentos desta manhã e o medo que sentira por ela,
suspensa no penhasco, beijou-a com desespero. Segurou o
rosto dela entre as mãos, a língua sugando o doce néctar de
sua boca. Depois a elevou nos braços para depositá-la junto
ao fogo. Passou a despi-la, desabotoou seu cinto, beijou seu
ventre. Deslizou sua manta por seus quadris, depois beijou
suas pernas, todo o comprimento dourado delas.

— Vem para mim! — sussurrou Bronwyn.

Mas era sua vez de ser o torturador. Ele afastou suas


mãos suplicantes, começou a desabotoar sua camisa. Beijou
cada pedacinho de pele que estava descoberto e sorriu
quando ela arqueou em direção a ele. Fazia calor no quarto,
mas o contato da pele quente criava um inferno.

Ele riu quando ela puxou seu cabelo, exigindo que ele
viesse para ela. Ele balançou a cabeça vigorosamente, o rosto
enterrado em seus seios, o que fez com que suas mãos
caíssem, soltando os cabelos de Stephen. Ele se sentou sobre
seus calcanhares e olhou para ela. Seu corpo era tão bonito.

Ela abriu os olhos para olhar para ele e se perguntou o


que ele estava pensando. Ela observou como ele despiu suas
roupas e se deitou ao lado dela. Ela ofegou quando sua pele
tocou a dela.

LRTHistóricos 232
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Stephen! — sussurrou ela. E a palavra soou quase


como uma carícia.

— Sim! — murmurou ele, abraçando-a.

Apesar de sua paixão, o ato de amor era lento. Eles


tomaram seu tempo um com o outro. Bronwyn empurrou
Stephen para trás e se sentou sobre ele para comandar os
movimentos rítmicos da paixão. Então, à medida que o desejo
de ambos aumentava, cada vez mais rápido, Stephen
empurrava Bronwyn para cima e para baixo, se enterrando
na profundidade dela. Ao sentir o clímax se aproximar,
Stephen rolou Bronwyn para o chão, deitando-a de costa,
para os últimos golpes profundos e duros.

Fraco, ele desabou sobre ela, seus lábios contra seu


pescoço. Em poucos minutos ambos adormeceram.

Stephen passou duas semanas aprendendo e treinando


com os homens de Bronwyn. Aquela desastrosa incursão de
gado lhe mostrou a necessidade de aprender a lutar da
maneira escocesa. Ele aprendeu a correr, a usar a pesada
espada escocesa: Claymore. Já sabia pôr e tirar a manta em
segundos. Suas pernas se tornaram curtidas e douradas do
sol, e ele nem se importou com o frio quando as primeiras
neves chegaram, pois não sentira a diferença.

LRTHistóricos 233
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Quanto a Bronwyn, observava-o com desconfiança,


apenas relaxando sua guarda à noite quando estava em seus
braços. Stephen mudara tanto nas últimas semanas que
parecia que havia se passado um longo tempo desde o roubo
de gado em que Bronwyn gravara sua inicial no ombro do
inimigo. O primeiro sinal que Lachlan MacGregor deu de sua
cólera foi o incêndio das casas de três arrendatários ao norte
da propriedade.

— Houve algum ferido? — perguntou Bronwyn com voz


débil, ao inteirar-se da notícia.

Tam apontou para um jovem que permanecia de pé


entre as ruínas Ele se virou e em sua bochecha havia um L
gravado a fogo. Bronwyn levou a mão à boca, horrorizada.

— O Laird MacGregor disse que marcaria todo o clã.


Disse que esteve a ponto de morrer pela infecção da ferida
que você lhe deu. — continuou Tam.

Bronwyn deu-lhe as costas e se encaminhou para seu


cavalo. Stephen a deteve.

— Não se preocupe: não vou espicaçá-la por isso. —


disse secamente, ao ver a expressão dela. — Talvez você
tenha aprendido alguma coisa com isso, agora é minha vez de
resolver o assunto.

— O que está planejando fazer? — perguntou ela.

LRTHistóricos 234
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Vou tentar me encontrar com o Laird MacGregor e


resolver isso de uma vez por todas.

— Encontrar-se com ele! — exclamou a moça. — Te


matará! Odeia os ingleses mais do que eu.

— Isso é impossível. — assegurou sarcástico. Montou o


cavalo e se afastou das ruínas fumegantes das casas.

Uma hora depois Chris se declarava de acordo com


Bronwyn. Os dois homens, tão parecidos ao chegar a Escócia,
agora eram muito diferentes na aparência. Chris ainda se
vestia segundo o costume inglês: jaqueta grossa de veludo
forrada de visom, calções de cetim e meias apertadas de lã.
Mas Stephen mudara por completo; até sua pele tinha
escurecido. O cabelo, mais longo, se enroscava ao redor das
orelhas de uma maneira muito atraente. Suas pernas
estavam mais musculosas que nunca pelas corridas diárias
com os escoceses.

— Ela tem razão. — Observou Chris. — Você não pode


bater à porta do Laird MacGregor pedindo para falar com ele.
Ouvi algumas histórias sobre suas façanhas. Teria sorte se
ele se limitasse a matar você imediatamente.

— E o que posso fazer? Ficar sentado enquanto


incendiam as cabanas e marcam a fogo a minha gente?

Chris lhe olhou fixamente.

LRTHistóricos 235
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sua gente? — repetiu, em voz baixa. — Quando você


se tornou escocês?

Stephen, sorriu, passou-se uma mão pelo cabelo.

— São pessoas de valor, e eu ficaria orgulhoso de ser um


deles. Foi apenas o temperamento de Bronwyn que causou
essa confusão. Tenho certeza que pode ser corrigido.

— Você sabia que essa disputa tem acontecido há


centenas de anos? Cada um desses clãs está em guerra com
o outro, é um lugar bárbaro!

Stephen apenas sorriu para seu amigo. Há alguns


meses ele teria dito a mesma coisa.

— Entre e tomemos uma bebida. Ontem recebi uma


carta de Gavin e ele quer que eu leve Bronwyn para casa no
Natal.

— E ela quererá ir?

Stephen pôs-se a rir.

— Irá, quer queira ou não. E você virá conosco?

— Eu adoraria. Já não suporto mais este frio. Não


entendo como você consegue andar por aí seminu.

— Deveria fazer um intento Chris. Dá ao homem uma


grande liberdade.

Chris soprou:

LRTHistóricos 236
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— A liberdade de congelar minhas partes delicadas não


é exatamente o que desejo. Talvez você possa me dizer onde
se pode caçar um pouco. Eu gostaria de pegar alguns de seus
homens e os meus e ver se conseguimos um cervo.

— Só se prometer levar também alguns homens de


Bronwyn.

Chris emitiu um leve suspiro de zombaria.

— Não sei se devo me sentir insultado com isso ou não.


— Mas se interrompeu ante a expressão de Stephen. — Tudo
bem, eu vou fazer o que você diz. Se houver algum problema,
acho que seria melhor se tivesse alguns de seus homens de
pernas nuas perto de mim. — Deu uma palmada no ombro de
seu amigo, acrescentando. — Amanhã nos reuniremos para
comer carne fresca.

Stephen não voltou a ver Chris com vida.

O sol de inverno estava se pondo quando quatro homens


de Bronwyn atravessaram os portões da entrada estreita da
península. Suas roupas estavam rasgadas e ensanguentadas.
Um homem tinha um corte longo e irregular em sua
bochecha.

Stephen estava no campo de treinamento, ouvindo Tam


ensiná-lo a usar o machado escocês. Bronwyn os observava a
certa distância.

LRTHistóricos 237
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Tam foi o primeiro a ver os homens esfarrapados e


feridos. Soltou o machado e se adiantou a toda carreira,
seguido de perto por Stephen e Bronwyn.

— O que foi isso, Francis? — exclamou, arrancando o


jovem de seu cavalo.

— Os MacGregor! — foi a resposta. — O grupo de caça


foi atacado.

Stephen estava em seu cavalo antes que Francis tivesse


desmontado. O moço levantou a vista para ele.

— Três quilômetros mais à frente do lago, pela rota


Oeste.

Stephen fez um sinal afirmativo e partiu sem reparar


que Bronwyn e Tam tentavam acompanhá-lo.

O sol poente brilhava na armadura de Chris, que jazia


imóvel no frio solo escocês. Stephen desmontou de um salto e
se ajoelhou junto ao amigo para retirar o elmo com ternura.
Não desviou o olhar do cadáver do amigo ao ouvir a voz de
um dos homens de Chris sobre o ombro.

— Lorde Chris queria demonstrar aos escoceses como


nós, os ingleses lutamos. — disse o homem. — Vestiu sua
armadura e planejou encontrar-se com o Laird MacGregor
cara a cara.

Stephen contemplava aquela silhueta silenciosa. Sabia


que a armadura pesada imobilizara seu amigo, permitindo

LRTHistóricos 238
Highlander Audaz — Jude Deveraux

que um MacGregor o cortasse à vontade. Havia locais


desprotegidos pela armadura e agora havia vestígios de
pancadas e mutilações no aço.

— Eles tentaram salvá-lo.

Pela primeira vez Stephen notou os três escoceses que


jaziam junto a Chris. Seus corpos, fortes e jovens, estavam
ensanguentados e deformados.

Stephen sentiu que a ira se enchia dentro do peito. Seu


amigo! Seu amigo tinha morrido. Ficou de pé e agarrou
Bronwyn, pondo-a de frente aos quatro cadáveres.

— Olhe o que conseguiste com sua inconsequência!


Olha-os! Conhece-os?

— Sim! — sussurrou ela, enquanto os fitava. Conhecera


esses jovens a vida inteira, por toda suas curtas vidas.
Desviou o olhar. Stephen lhe pôs as mãos nos seus cabelos,
puxando sua cabeça dolorosamente para trás, obrigando-a a
olhá-los outra vez.

— Recorda o som de suas vozes? Ouve ainda suas


gargalhadas? Eles têm família? — Moveu-lhe a cabeça para
que olhasse Chris. — Chris e eu crescemos e fomos educados
juntos. Passamos juntos toda a infância.

— Me deixar ir! — pediu ela, desesperada. Stephen a


soltou abruptamente.

LRTHistóricos 239
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Você me drogou para levar seus homens em uma


incursão e gravou sua inicial no Laird MacGregor. Ações
estúpidas, infantis e agora pagamos por seus atos, não é?

Ela tentou manter a cabeça erguida. Resistia em


acreditar que ele tivesse razão. Douglas ergueu sua
Claymore. Chegara ao local seguindo Bronwyn e o pai.

— Devemos vingá-los. — disse, em voz alta. — Nós


devemos cavalgar agora e lutar contra o MacGregor.

— Sim! — gritou Bronwyn. — Devemos atacar agora


mesmo!

Stephen deu um passo adiante e afundou o punho na


cara de Douglas. Ele pegou o Claymore pouco antes de
Douglas caísse.

— Ouçam-me e me ouçam bem. — disse Stephen com


voz calma, mas audível para todos os homens. — Isto será
resolvido, mas não com mais sangue sendo derramado. Esta
é uma rivalidade inútil, e eu não vou retaliar pela espada,
para extrair mais sangue, com vingança. Mais mortes não vão
trazer esses homens de volta. — Ele gesticulou para os quatro
cadáveres aos seus pés.

— É um covarde. — disse Douglas, enquanto se


levantava, esfregando a mandíbula dolorida.

LRTHistóricos 240
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Antes que Stephen pudesse responder, Tam se


aproximou de seu filho. Em sua mão estava uma adaga. Ele a
segurava apontando para as costelas do filho.

— Pode estar em desacordo com ele, mas não lhe


chamará de covarde. — pronunciou com sua voz grave e
ressonante. Douglas enfrentou o olhar de seu pai. Por fim fez
um gesto afirmativo e se voltou para Stephen.

— Estamos dispostos a segui-lo. — disse, por fim.

— A segui-lo! — gritou Bronwyn. — A Laird MacArran


sou eu. Esquecem que ele é inglês?

Tam respondeu por seu filho.

— Não acredito que tenhamos esquecido isso, tanto


quanto aprendemos. — Disse calmamente.

Bronwyn não perguntou o que tinham aprendido.


Limitou-se a olhá-los na cara. Ela olhou para o rosto de um
homem após o outro, e viu que estavam mudando em relação
a ela. Teria sido de forma gradual, ou eles também a
culpavam pelas mortes daqueles homens? Retrocedeu um
passo, sentindo que devia levantar as mãos para se proteger.

— Não! — sussurrou antes de se virar e correr para o


cavalo.

Partiu sem se importar aonde ia ou a distância que


percorria. As lágrimas turvavam tanto sua visão que mal
distinguia o caminho. Cavalgou vários quilômetros, através

LRTHistóricos 241
Highlander Audaz — Jude Deveraux

de colinas e lagos. Nem sequer percebeu que deixara as


terras dos MacArran.

— Bronwyn! — gritou alguém, a suas costas.

A princípio, só estimulou seu cavalo a ir mais rápido,


afastando-se para longe daquela voz familiar. Só quando o
teve ao seu lado reconheceu seu irmão.

— Davey! — sussurrou, puxando as rédeas com


brutalidade. O moço lhe sorriu. Era tão alto como Bronwyn, e
tinha o cabelo negro de seu pai, mas herdou os olhos pardos
maternos. Estava mais magro do que Bronwyn recordava, em
seus olhos parecia arder um selvagem fulgor interior.

— Esteve chorando. — observou. — Pelos homens que


morreram pelas mãos dos MacGregor?

— Você sabia? — perguntou ela secando as lágrimas


com o dorso da mão.

— Ainda é meu clã, apesar do que papai disse. — Por


um momento a expressão do moço ficou dura e fria,
imediatamente mudou. — Fazia muito tempo que não te via,
sente-se comigo e deixe descansar seu cavalo.

De repente seu irmão parecia um velho amigo e


Bronwyn se esforçou para lembrar a última vez que o vira: a
noite em que James MacArran lhe nomeara sucessora e
próxima Laird. Foi um anúncio inesperado e, portanto,
doloroso. Todo o clã se reunira e esperava pela proclamação

LRTHistóricos 242
Highlander Audaz — Jude Deveraux

que Davey seria o próximo Laird. James MacArran sempre foi


honesto consigo mesmo e especialmente com seus filhos. Ele
falou para o clã sobre as qualidades e tendências de seus
filhos. Disse que Davey gostava muito de guerrear, que ele se
importava mais com a batalha do que com a proteção de seu
clã. Disse que Bronwyn tinha o temperamento impulsivo e
frequentemente agia antes de pensar. Os dois filhos se
sentiram humilhados ante as queixas do pai. Jamie
continuou dizendo que Bronwyn podia ser controlada se
tivesse um marido ponderado como Ian, Ramsey ou Ennis.
Mesmo depois dessa declaração ninguém adivinhou o que
Jamie tinha em mente. Quando ele anunciou Bronwyn sua
sucessora desde que ela desposasse um dos jovens que ele
havia citado, o salão ficara em silêncio. Em seguida, um a
um, ergueram os copos para saudá-la. Davey levou alguns
minutos para compreender o que estava acontecendo.
Quando entendeu, montou e amaldiçoou o pai, chamou- o de
traidor e declarou que não era mais seu filho. Chamou os
homens que quisessem segui-lo, para deixar o clã para
sempre. Doze jovens seguiram Davey naquela noite. Bronwyn
não tinha visto seu irmão desde aquela noite. Desde então
vários homens foram mortos, incluindo seu pai; ela
desposara um inglês. De repente tudo o que Davey dissera há
tanto tempo parecia sem importância. Desmontou do cavalo
para lhe abraçar.

— Oh, Davey, tudo deu tão errado! — exclamou.

— O inglês?

LRTHistóricos 243
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ela assentiu contra o ombro ossudo do irmão

— Ele mudou tudo. Hoje meus homens olharam para


mim como se eu fosse a intrusa. Eu vi nos olhos deles que
pensavam que ele estava certo e eu, errada.

— Quer dizer que ele está virando os homens contra


você? - Davey exclamou, afastando-se dela. — Como podem
ser tão cegos? Ele tem que ser muito bom ator para fazê-los
esquecer da horrível morte de nosso pai. Não têm em conta
que foram os ingleses quem mataram ao Laird MacArran? E
também ao Ian? Acaso até mesmo Tam esqueceu a morte de
seu filho?

— Não sei. — Disse Bronwyn sentando-se em um tronco


caído. — Todos os homens parecem confiar nele. Ele se veste
como escocês e treina com meus homens. Até mesmo passa o
tempo com os arrendatários. Eu os vejo juntos, rindo, e sei
que gostam dele.

— Mas o que ele tem feito para ganhar essa confiança,


além de beijar as crianças?

Ela colocou as mãos nas têmporas. Tudo o que podia ver


eram os quatro corpos mortos no chão. Teria causado suas
mortes?

— Tampouco tem feito algo para que desconfiem dele.

Davey soprou.

LRTHistóricos 244
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É obvio, cuidará muito bem para que não desconfiem.


Esperará até que obtenha a confiança de todos antes de
trazer para cá os ingleses.

— Que ingleses? Do que falas?

— Não te dá conta? — protestou Davey, com grande


paciência. — Diga-me, ele está planejando voltar para a
Inglaterra em breve?

— Sim. — reconheceu, surpreendida. — Acredito que


está planejando uma visita à Inglaterra comigo, dentro de
algumas semanas.

— E então voltará com seus ingleses. Vai ensinar-lhes o


quanto aprendeu sobre o modo de combate dos escoceses e
teremos muito pouca defesa contra eles.

— Não! — exclamou Bronwyn, levantando-se. — Não o


diz a sério, Davey. Ele não é assim. Está acostumado a ser
bondoso e sei que se preocupa com meus homens.

Ele a olhou com desagrado.

— Dizem que te faz gritar no leito. Tem medo de lhe


perder. Sacrificaria seu clã para continuar sentindo as mãos
do inglês sobre seu corpo.

— Não é verdade! Para mim o clã vem sempre em


primeiro lugar. — Bronwyn se interrompeu bruscamente. —
Tinha esquecido o quanto brigamos. É hora de voltar para
casa.

LRTHistóricos 245
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não. — Disse Davey, em voz baixa, lhe apoiando uma


mão no braço. — Perdoe-me por te incomodar. Sente-se aqui
comigo por um tempo, sinto sua falta. Conte-me como está
Larenston, você conseguiu parar o vazamento no telhado?
Quantos filhos Tam tem agora?

Bronwyn voltou a se sentar, sorrindo. Conversaram


durante vários minutos, enquanto a noite se fechava, sobre
todos os detalhes cotidianos da vida no clã. Ela soube então
que Davey vivia nas colinas, mas o moço se mostrou evasivo
sobre sua vida e assim ela respeitou sua privacidade.

— Você gosta de ser Laird? — perguntou ele, amistoso


— Os homens obedecem a você?

Ela sorriu.

— Sim. Tratam-me com muito respeito.

— Até agora, nesta manhã, quando se voltaram para


seu marido.

— Não comece.

Davey se recostou contra uma árvore.

— É uma vergonha que os MacArran, depois de séculos,


vejam-se agora sob o comando de um inglês. Com um pouco
de tempo, talvez você tivesse podido afirmar sua própria
autoridade, mas não se pode esperar que os homens sigam a
uma mulher, principalmente, se houver um homem que se
interpõe.

LRTHistóricos 246
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não sei o que quer dizer.

— Eu estava apenas sonhando acordado. E se este


Stephen for um espião enviado pelo rei Henry? Quando ele
tiver a confiança de seus homens, poderia fazer um grande
dano à Escócia. Claro, você estaria lá e tentaria fazer com que
seus homens a seguissem novamente, mas então, estariam
tão acostumados a desobedecer as suas ordens que nem
sequer lhe darão atenção.

Ela não conseguiu retrucar. Recordava todas as


ocasiões em que seus homens haviam recorrido a Stephen
nos últimos tempos, ao contrário de quando retornaram da
Inglaterra, seu clã pedia exclusivamente a opinião dela.
Davey continuou:

— É uma pena que não tivesse tempo para estar a sós


com seu clã. Desse modo eles comprovariam que tem sentido
comum e pode guiá-los. Quando ou se, Montgomery te trair,
você poderia dirigir ao clã de modo seguro.

Ela não gostava de pensar nas palavras de Davey. Ela


causou a morte de seus homens hoje. Sua estupidez e
arrogância haviam causado quatro mortes, e Stephen tinha
razão em culpá-la. Seus homens tinham razão em voltar-se
para ele. Mas e se Stephen fosse um espião? E se ele
decidisse usar a confiança dos seus homens contra eles
mesmos? Durante gerações, os escoceses haviam odiado os
ingleses. Certamente havia uma razão para esse ódio. Por
tudo o que ela sabia podia haver centenas de tragédias na

LRTHistóricos 247
Highlander Audaz — Jude Deveraux

vida de Stephen que provocariam seu ódio contra os


escoceses. Talvez Davey estivesse certo e Stephen quisesse
levá-los a uma matança. Bronwyn levou as mãos à cabeça.

— Não consigo pensar. — sussurrou. — Não sei como


ele é, não sei se merece confiança.

— Bronwyn! — disse Davey enquanto tomava as mãos


dela. — Você pode não acreditar, mas eu quero o que é
melhor para o clã. Eu tive meses inteiros para pensar em
tudo isso e chegar a um acordo comigo mesmo e com você.
Sei que você é a única que deve ser o Laird, não eu. — Ele
colocou um dedo em seus lábios. — Não, deixe-me terminar.
Quero ajudar. Quero ter certeza de que ele não é um espião
empenhado em acabar com nosso clã.

— Seriamente? A que te refere?

— Vou levá-lo ao meu acampamento, isso é tudo. O


inglês não será ferido e enquanto ele estiver fora, você poderia
se restabelecer como a verdadeira Laird do Clã MacArran.

— Levá-lo! — Bronwyn se levantou com os olhos


faiscando na escuridão da noite.

— Não lhe faremos mal. Eu não seria tolo em prejudicá-


lo, o rei Henry declararia guerra ao clã MacArran. Só quero te
dar um pouco de tempo.

Ela se afastou dele.

— E o que você ganha com isto? — perguntou friamente.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Quero voltar para casa — respondeu ele com pesar.


— Se fizer por você esta boa ação poderei voltar para casa
com honra. Meus homens e eu estamos passando fome,
Bronwyn. Não somos camponeses e não temos arrendatários
para plantar para nós.

— Sabe bem que pode voltar quando quiser. — observou


Bronwyn, em voz baixa.

Ele se levantou de um salto.

— Para que todos riam de mim, dizendo que volto com a


cauda entre as pernas? Não! — acalmou-se um pouco. — Se
pudéssemos fazer um retorno triunfal salvaríamos a nossa
dignidade. Voltaríamos para o Larenston com seu marido
inglês e todos estariam agradecidos, até mesmo o rei Henry.

— Mas... Não é possível. Stephen é...

— Pense nisso. Você terá o controle do povo. Eu poderei


voltar para casa com honras. Ou talvez você se importe mais
com esse inglês do que com seu próprio irmão. — Retrucou
com desdém.

— Não, claro que não! Mas se ele sofrer algum dano...

— Não me insulte! Você acha que eu não tenho cérebro?


Se eu o machucasse, pense no que o rei faria conosco. Oh,
Bronwyn, por favor, considere. Seria tão bom para o clã. Não
os confunda mais do que já estão. Não espere até vê-los em
um campo de batalha tentando escolher entre a Inglaterra e a

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Escócia. Deixe-os saberem que são escoceses. Não permita


que dividam sua lealdade.

— Por favor, Davey, preciso ir embora.

— Sim. Você deve ir. Pense nisso. Dentro de três dias te


esperarei junto à muralha do escarpado, onde caiu Alex.

Ela levantou a vista, surpreendida.

— Sei muito sobre meu clã. — explicou ele. Montou o


cavalo e se afastou.

Bronwyn o olhou por alguns minutos até que a


escuridão o engoliu. Ela temia voltar para Larenston,
temendo enfrentar a morte de seus homens, bem como a
raiva de Stephen. Mas a Laird MacArran não podia se dar ao
luxo de ser covarde. Ela endireitou seus ombros e montou
seu cavalo.

LRTHistóricos 250
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Nove
Bronwyn cruzou silenciosamente o pátio. Nos três dias
transcorridos da morte de seus homens teve tempo para
pensar. As palavras de Davey a perseguiam como um
fantasma. A cada instante tinha mais consciência de que
seus homens estavam debandando para o lado de Stephen.
Era natural que procurassem a liderança de um homem,
posto que poucos meses antes seguiam a Jamie MacArran.
Mas Bronwyn não confiava em nenhum inglês. Tinha-os por
um povo traiçoeiro, brutal e ambicioso. Acaso não conheceu a
muitos ingleses durante seu cativeiro na casa de Sir Thomas
Crichton?

Quanto a Stephen, a morte de seu amigo o afetara


muito. Ele não falava muito e com frequência Bronwyn o
surpreendia com o olhar perdido no vazio. Imediatamente
após os assassinatos ordenara que começassem os
preparativos para a viagem à Inglaterra, dizendo que tinha
intenção de devolver o cadáver de Chris para sua família.

Pelas noites, quando estavam sozinhos, permaneciam


um junto ao outro, sem conversar, sem contato algum.
Bronwyn era assombrada pela visão de seus homens mortos.
Perguntava-se como seu pai teria feito para seguir em frente,
chegando a um acordo com ele mesmo, quando seus enganos
custavam a vida dos homens que ele amava. Um nó se

LRTHistóricos 251
Highlander Audaz — Jude Deveraux

formava em sua garganta, mas a Laird de um clã não devia


chorar. Devia ser forte e não temer a solidão. Além de seus
remorsos, precisava estudar o pedido de Davey. Conhecia o
orgulho de seu irmão e sabia que foi difícil para ele pedir
qualquer coisa para ela. Entretanto poderia lhe entregar
Stephen? Cobriu os ouvidos com as mãos. Ela queria fazer o
que era certo para todos, mas se sentia tão sozinha e tão
impotente. O que era certo?

Ela própria selou seu cavalo e deixou a península para


encontrar Davey.

Davey a encarou por alguns momentos, seus olhos


quentes e penetrantes. Quando Bronwyn olhou para as mãos,
tentando colocar seus pensamentos em palavras, ele soube a
decisão dela.

— Entendo! — exclamou. Seus olhos tomaram uma


expressão inflexível. — Vai ficar com seu amante ao invés do
clã. — Olhou para ela sem piscar.

— Sabe que não é assim. — Ela soprou.

— Posso supor, então, que é em mim que você não


acredita. Confiava em que me desse uma oportunidade de
provar que amadureci e que já não sou esse horrível moço
que amaldiçoou a seu pai.

— Eu quero Davey. — ela disse calmamente. — Eu


quero fazer o que é certo para todos.

LRTHistóricos 252
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Para o inferno com o que você quer! — Ele explodiu.


— Você só se importa com você, tem medo de que eu volte,
teme que os homens me sigam, o verdadeiro Laird MacArran.
— Se virou para o seu cavalo.

— Por favor, Davey, não quero que nos separemos


assim. Vem para casa, ao menos durante um tempo.

— Para ver, de braços cruzados, como minha irmã


ocupa o lugar que é meu por legitimo direito? Não, obrigado.
Prefiro ser o rei de meu pobre reino que servo em outro.

Subiu em seu cavalo de um salto, e se afastou como um


raio. Bronwyn passou ali um tempo indefinido, com a vista
fixa no chão, sentindo-se estúpida e indefesa.

— Quem era aquele? — perguntou Stephen, em voz


baixa.

Ela levantou a vista. Não se surpreendia em vê-lo ali.


Tantas vezes ele parecia estar perto dela, embora ela não
estivesse ciente de sua presença.

— Meu irmão. — respondeu, no mesmo tom.

— Davey? — inquiriu ele com interesse, olhando em


direção ao cavalo que se afastava a todo galope.

Ela não respondeu.

— Pediu que voltasse para Larenston? — continuou


Stephen. — Você disse a ele que os portões estarão sempre
abertos?

LRTHistóricos 253
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não precisa me indicar o que devo dizer a meu irmão.

Bronwyn deu-lhe as costas, com os olhos cheios de


lágrimas. Ele agarrou seu braço, e abraçou-a.

— Desculpa. Não era essa minha intenção.

Ela se soltou bruscamente, mas o jovem voltou a


abraçá-la.

— Equivoquei-me ao te culpar pela morte do Chris. —


reconheceu em voz baixa. — Estava tão colérico que
precisava desforrar em alguém. Equivoquei-me.

Ela mantinha o rosto apertado contra seu peito. Ansiava


que ele a segurasse em seus braços.

— Não, tinha razão! É verdade, eu matei meus homens e


seu amigo.

Ele estreitou-a um pouco mais, sentiu o tremor em seu


corpo. Seus ombros eram tão pequenos e delicados!

— Não, isso é responsabilidade demais para que você


assuma. — Levantou-lhe o queixo. — Me olhe. Se você
acredita ou não, estamos juntos nisto, e eu compartilho o
fardo da morte dos homens.

— Mas foi minha culpa. — disse ela, desesperando-se.


Ele colocou o dedo nos lábios dela, seus olhos examinaram
seu rosto.

LRTHistóricos 254
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É muito jovem. Não tem ainda vinte anos, mas


precisa cuidar de centenas de pessoas, até protegê-los de
mim, um homem que você acha que poderia ser um espião.
— Riu de sua expressão, adicionando. — Estou começando a
entendê-la. Agora está pensando que tenho um motivo oculto
para falar desta maneira Está pensando que estou
planejando algum ato traiçoeiro, e quero que você se acalme e
deixá-la em silêncio, aturdida, com minhas palavras melosas.

Ela se afastou.

— Me solte!

Aquelas palavras estavam tão perto da verdade que


quase a tinham assustado. Ele riu com gravidade.

— Estou muito perto da verdade? Você quer que eu


permaneça um estranho, não é? Alguém que você pode
facilmente odiar. Mas não planejo deixá-la sozinha tempo
suficiente para esquecer que sou um homem antes de ser um
inglês.

— O... o que diz não tem sentido. Tenho que voltar para
Larenston.

Ele a ignorou, enquanto se sentava na grama e a puxava


para baixo e a obrigou a fazer o mesmo.

— Amanhã partiremos para a Inglaterra. Como você se


sente em relação a conhecer minha família?

Ela o encarou fixamente.

LRTHistóricos 255
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não pensei sobre isso. — Seus olhos brilharam em


fogo azul quando ela se lembrou de seu tempo na casa de Sir
Thomas Crichton. — Eu não gosto dos ingleses.

— Não os conhece! — contra-atacou — Stephen Você


conheceu apenas a escória, e eu fiquei envergonhado com o
meu povo pelo modo como a trataram na casa de Sir Thomas.

— Pois nenhum deles me deixou esperando ante o altar.


— Riu entre dentes.

— Não quer me perdoar por isso, não é? Quando você


encontrar minha cunhada Judith, talvez me perdoe.

— Como... como ela é? — perguntou Bronwyn, vacilante.

— Linda! Doce, inteligente e bondosa. Administra as


propriedades do Gavin com os olhos fechados. O rei Henry
ficou cativado por ela, mais de uma vez lhe pediu opinião.

Bronwyn suspirou com dificuldade. Sua respiração


presa em sua garganta.

— É bom ouvir que alguém é competente, capaz de


cumprir com suas responsabilidades sem equivocar-se. Oxalá
que meu pai tivesse uma filha digna do título de Laird.

Stephen a abraçou, rindo, e se deitou no chão úmido.

— Para uma mulher, você é muito capaz como Laird.

Ela piscou.

LRTHistóricos 256
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Para ser mulher? Isso significa que você acha que


nenhuma mulher é capaz de dirigir um clã?

Ele encolheu os ombros.

— Ao menos nenhuma que seja tão jovem e tão bonita.


E nenhuma que tenha recebido tão má preparação.

— Má preparação? Preparei-me ao longo de toda minha


vida. Sabe que posso ler melhor do que você e sou mais
rápida com os números.

Ele riu.

— Para dirigir aos homens precisa algo mais além de ler


e ser rápido com os números. — Fitou-lhe um instante. —
Como você é bonita! — comentou em voz baixa, inclinando-se
para beijá-la.

— Me solte! É um caipira insofrível, ignorante e de


mente estreita. — Interrompeu-se porque ele estava
acariciando suas pernas.

— Sim. — sussurrou Stephen, contra sua boca. — O


que mais?

— Não sei e não me importo. — replicou ela, a voz vindo


de muito longe. Ela arqueou o pescoço para trás enquanto ele
tocava-a com seus lábios. Apesar da aparente privacidade,
Bronwyn e Stephen não estavam sozinhos. Davey MacArran
estava na colina acima deles de pé, observava-os.

LRTHistóricos 257
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— A puta se vendeu! — sussurrou. — Ela colocou sua


própria luxúria diante das necessidades de seu irmão. — E
pensar que Jamie MacArran pensou e a considerou mais
digna de ser Laird que eu!

Levantou o punho para o casal. Já lhes ensinaria!


Demostraria a toda Escócia quem era o mais poderoso, o
verdadeiro Laird do clã MacArran. Cutucou bruscamente seu
cavalo e se encaminhou para seu acampamento secreto,
oculto nas colinas.

O sol mal tinha levantado quando as carretas puseram-


se em marcha pelo caminho íngreme que unia o castelo ao
continente. Os homens de Stephen, agora bronzeados e mal
distinguíveis dos escoceses de Bronwyn, cavalgavam ao seu
lado. Formavam um grupo silencioso e apreensivo quanto aos
resultados da viagem. As carretas estavam carregadas de
roupas inglesas e os homens de Bronwyn se perguntavam se
poderiam comportar-se bem na sociedade da Inglaterra.

Bronwyn tinha suas próprias preocupações. Morag a


aconselhou por muito tempo quando a velha ouviu falar do
plano de Davey.

— Não pense em confiar nele. — disse ela, apontando


para Bronwyn um pequeno dedo ossudo. — Sempre foi

LRTHistóricos 258
Highlander Audaz — Jude Deveraux

astuto, desde menino. Quer apoderar-se de Larenston e não


se deterá perante nada para consegui-lo.

Bronwyn defendera o irmão, mas agora recordava as


advertências de Morag. Olhou ao redor pela centésima vez.

— Nervosa? — perguntou Stephen ao seu lado. — Não


tem por que querida. Tenho certeza que minha família vai
gostar de você.

Demorou um minuto para entender do que ele estava


falando. Então levantou o nariz, altiva.

— Antes deveria te interessar que eu goste deles,


querido. — disse enquanto ela estimulou seu cavalo para se
distanciar.

No meio do dourado do crepúsculo, a primeira flecha


passou zumbindo junto à orelha esquerda de Bronwyn, que
começava a relaxar e esquecer suas apreensões. A princípio
não compreendeu o que estava ocorrendo.

— Ataque! — gritou Stephen. Em questão de segundos


seus homens formaram um círculo de defesa e prepararam as
armas. Os de Bronwyn desmontaram e, depois de tirar as
mantas, perderam-se nos bosques. Ela permaneceu
estupidamente na sela do cavalo, vendo como um homem
após o outro desmontava para o combate.

— Bronwyn! — gritou Stephen. — Galope!

Ela obedeceu por instinto, entre uma chuva de flechas.

LRTHistóricos 259
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Uma roçou-lhe a coxa e seu cavalo relinchou, quando o


eixo de uma flecha passou raspando a pele do animal. De
repente Bronwyn compreendeu o porquê de seu
atordoamento: todas as flechas eram dirigidas contra ela! E
um dos arqueiros, o que tinha visto no alto de uma árvore,
era um dos homens que tinham abandonado o clã para
seguir Davey. Seu próprio irmão estava tentando matá-la!

Baixou a cabeça e instigou seu cavalo. Não havia


necessidade de se voltar para olhar, pois sentia o tamborilar
dos cascos que a seguiam. Seguiu o cavalo de Stephen que a
afastava do ataque das flechas. Pela primeira vez não se
perguntava se devia ou não confiar nele.

De repente lançou um grito: seu cavalo caiu sob ela.


Antes que o animal pudesse se pôr de joelhos, Stephen tinha
voltado com o sua montaria e rodeou a cintura de Bronwyn
com um braço, erguendo-a, para posicioná-la diante de si.
Ela se retorceu até ficar escarranchada, então dobrou seu
torso para ficar quase deitada sobre o pescoço do animal.

Cruzaram a todo galope aquela paragem silvestre,


desconhecida. Bronwyn sentia que o grande garanhão de
Stephen começava a cansar-se.

De repente Stephen caiu para frente, chocando-se


contra as costas de Bronwyn. Ela não teve tempo de pensar
antes de agarrar as rédeas e puxá-la bruscamente. O cavalo
deixou a estrada e entrou na floresta. Bronwyn sabia que
tinha que tirar Stephen da sela do cavalo antes que ele

LRTHistóricos 260
Highlander Audaz — Jude Deveraux

caísse. No bosque era impossível se mover com rapidez, mas


talvez dispusesse de alguns minutos antes que a
alcançassem.

Freou o cavalo com tanta brutalidade que a brida rasgou


a boca do animal. O corpo inerte de Stephen caiu no chão
antes que ela pudesse desmontar. Bronwyn desceu de um
salto, afogando uma exclamação, Stephen tinha uma mancha
de sangue na nuca, onde uma flecha lhe roçara a pele. Não
havia muito tempo para pensar, pois os outros cavaleiros já
se aproximavam. O chão do bosque estava coberto de folhas
secas. Isso lhe deu uma ideia.

Silenciosamente, para que ninguém a ouvisse, conduziu


o cavalo pelas rédeas, afastando-o de Stephen. Como não
podia se arriscar a dar-lhe uma palmada, cujo ruído seria
muito perceptível, tirou o broche e deu uma alfinetada no
lombo do animal, que se pôs a correr quase imediatamente.
Bronwyn correu para Stephen, caiu de joelhos diante dele e o
empurrou contra um tronco caído. O cobriu com braçadas de
folhas. O desenho de sua manta se confundia com a folhagem
murcha. Ela se deitou ao lado dele e se cobriu também.

Segundos depois eles foram cercados por um grupo de


homens zangados, os cavalos pisoteando. Ela segurou
Stephen perto dela, sua mão sobre sua boca para o caso de
ele acordar e dar algum gemido.

— Maldita seja!

LRTHistóricos 261
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn prendeu a respiração. Reconheceria a voz de


Davey em qualquer lugar.

— Essa mulher tem sete vistas! Mas penso em lhe tirar


as sete. — adicionou com crueldade. — E também a seu
marido inglês. Vou mostrar ao rei Henry que na Escócia
quem manda são os escoceses.

— Ali vai seu cavalo! — disse outra voz.

— Vamos! — ordenou Davey. — Não podem ter ido longe


demais.

Passou um longo momento antes que Bronwyn se


movesse. A princípio se sentiu muito aturdida e alterada.
Quando o cérebro limpou um pouco agiu com cautela. Queria
se assegurar que Davey não deixara ninguém na região.
Tinha a esperança de ouvir o ruído de seus próprios homens
ao se aproximar, mas quando não apareceram em uma hora,
perdeu as ilusões.

Já tinha escurecido por completo quando Stephen, se


queixando, fez o primeiro movimento.

— Quieto! — falou, deslizando os dedos pela bochecha


do marido. Sentia o braço direito adormecido por haver
sustentado seu peso durante tanto tempo.

Lentamente, ouvindo cada som da floresta ao seu redor,


ela afastou as folhas. Seus olhos estavam agudos na
escuridão, e tinha tido algum tempo para ouvir e analisar os

LRTHistóricos 262
Highlander Audaz — Jude Deveraux

sons dos arredores. Havia um córrego perto deles na parte


inferior de um penhasco íngreme. Correu até ele e se ajoelhou
para molhar um grande pedaço de linho que arrancou de
suas anáguas. Logo retornou para junto de Stephen.
Espremeu do linho algumas gotas de água em seus lábios,
em seguida, limpou o corte na parte de trás da cabeça. Não
parecia grave, mas ela sabia que às vezes um dano sofrido
nesta região poderia ter sérias consequências. Era possível
que seu cérebro fosse afetado.

Ele abriu os olhos e olhou para ela. O luar tornou seus


olhos prateados. Ela se inclinou sobre ele com preocupação.

— Quem sou eu? — perguntou-lhe com suavidade.


Stephen respondeu com muita seriedade, como se a pregunta
requeresse muitas reflexões.

— Um anjo de olhos azuis que faz da minha vida o céu e


o inferno ao mesmo tempo.

Bronwyn gemeu em desgosto, então deixou cair o pano


ensanguentado em seu rosto.

— Por desgraça, é o mesmo de sempre.

Stephen esboçou um lamentável sorriso e tentou se


levantar. O fato de que ela lhe rodeasse os ombros com um
braço para ajudá-lo com toda naturalidade o fez arquear uma
sobrancelha.

LRTHistóricos 263
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Tão mal estão as coisas? — perguntou, esfregando-a


têmpora.

— O que você quer dizer? — perguntou ela com


suspeita.

— Se você está me ajudando, devemos estar em muito


má situação, pior do que eu pensava.

Bronwyn ficou tensa.

— Em vez de te esconder devia deixá-lo para que o


encontrem.

— Minha cabeça está me matando, e eu não tenho


vontade de discutir. Que diabos você fez com minhas costas?
Cravou-me adagas de aço?

— Caiu do cavalo. — Informou ela com certa satisfação.


Até na escuridão viu que seu olhar tinha sinais de
advertência. — Acredito que deveria começar pelo princípio.

— Nada me agradaria mais. — Replicou Stephen,


enquanto esfregava as costas.

Disse-lhe o mais sucinto possível sobre o plano de Davey


de raptar Stephen.

— E você aceitou, sem dúvida. — foi o seco comentário.

— Certamente que não!

— Mas se livrar de mim teria resolvido muitos de seus


problemas, por que não concordou com seu plano?

LRTHistóricos 264
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não sei! — respondeu ela em voz baixa. — Seus


argumentos eram muito lógicos.

— Era uma maneira perfeita de te desfazer de mim.

— Não sei! — repetiu ela. — Suponho que no fundo, não


confiei nele. Enquanto estávamos escondidos sob as folhas o
ouvi dizer que... queria matar nós dois.

— Já suspeitava disso.

— Como te deu conta? — Lhe tocou um cacho negro.

— Só um palpite baseado no número de flechas


direcionadas diretamente para você, e na maneira como eles
tentaram nos separar dos homens. Está furiosa, não é?

Ela levantou bruscamente a cabeça.

— O que você sentiria se soubesse que um de seus


irmãos quer te matar?

Até na escuridão viu que Stephen empalidecia. Olhou-a


com horror.

— É uma ideia impossível. — afirmou, dando o assunto


por concluído. — Onde estamos?

— Não faço ideia.

— E os homens? Estarão por perto?

— Sou só uma mulher, recorda? Como posso saber de


estratégias de guerra?

LRTHistóricos 265
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Bronwyn! — advertiu ele.

— Não sei onde estamos. Se os homens não nos


encontrarem logo voltarão para Larenston. Devemos retornar
para lá o quanto antes. — De repente desviou a cabeça para
um lado. — Silêncio! Alguém está vindo, temos que nos
esconder!

O primeiro impulso de Stephen era enfrentar a quem


quer que fosse, mas não tinha mais arma que uma pequena
adaga e ignorava quantas pessoas poderia haver ali.

Bronwyn o puxou pela mão para frente. Conduziu-o até


o topo do penhasco e mais à frente, até o cume. Ali se
sentaram silenciosamente na espessa camada de folhas e
observaram os dois homens que se aproximaram. Eram
caçadores, não procuravam a Laird desaparecida e seu
marido, a não ser alguma presa conveniente.

Stephen fez um gesto, como se quisesse dizer alguma


coisa aos homens, mas Bronwyn o deteve. Ele a fitou com
surpresa, mas não fez um som. Quando os homens estavam
longe, fora da distância de audição, ele se virou para ela:

— Não eram homens do Davey.

— Pior ainda! — replicou ela. — Eram MacGregor.

— Não me diga que conhece pessoalmente a cada um


dos MacGregor.

LRTHistóricos 266
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ela revirou os olhos e meneou a cabeça ante tanta


estupidez.

— No chapéu levavam as cores e a insígnia do clã.

Stephen pôs cara de admiração por sua extraordinária


visão noturna.

— Acredito saber onde estamos .— adicionou Bronwyn.

Ele se recostou na ribeira com um suspiro.

— Não me diga e me deixe adivinhar. — disse sarcástico.


— Estamos no meio das terras dos MacGregor. Sem armas,
sem cavalos, sem comida ou ouro. Seu irmão nos persegue e
o Laird MacGregor amaria ver nossas cabeças em uma
bandeja.

Bronwyn se voltou para estudar seu perfil. De repente


deixou escapar um risinho. Seu marido a olhou, atônito, mas
acabou por sorrir.

— Desesperador, não?

— Sim! — concordou ela, seus olhos dançando.

— Não é momento para rir.

— Por certo.

— Mas é quase engraçado, não é? — riu ele.

Ela se juntou a sua risada.

LRTHistóricos 267
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Provavelmente estaremos mortos amanhã, de uma


maneira ou de outra.

— E o que você gostaria de fazer em sua última noite


sobre a terra? — perguntou ele. Seus olhos azuis refletiam os
raios do luar.

— Alguém poderia tropeçar conosco a qualquer


momento. — Observou ela, muito séria.

— Hummm... Devemos dar-lhes algo para ver. E se lhe


brindamos com um espetáculo?

— Por exemplo?

— Um par de espíritos da floresta, totalmente felizes e


nus.

Ela se agarrou à manta.

— Está muito frio, não acha? — Ela disse timidamente.

— Aposto que podemos encontrar uma maneira de nos


aquecer. Na verdade, faz muito sentido combinar o calor de
nossos corpos.

— Neste caso...

Ela se lançou do chão, aterrissando sobre ele. Stephen


afogou um grito de surpresa e pôs-se a rir.

— Acho que deveria ter trazido você para a terra dos


MacGregor antes.

LRTHistóricos 268
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Silêncio, inglês! — ordenou ela, enquanto baixava a


cabeça para começar a beija-lo.

Nenhum dos dois lembrou que estavam escondidos no


cimo de um penhasco muito inclinado. A paixão,
intensificada pelo perigo da situação, os fez esquecer o perigo
mais imediato. Bronwyn foi a primeira a se mover. Acabava
de se aproximar de Stephen e estava tirando a saia, ele nem
se despia, um segundo depois se encontrou rolando pelo lado
da colina.

Stephen tentou segurá-la, mas tinha os sentidos


nublados pela paixão e não conseguiu segurá-la a tempo. Ao
estender muito a mão, caiu logo atrás dela.

Aterrissaram juntos em um enredo de membros nus,


iluminados pela lua e uma enxurrada de folhas.

— Está bem? — perguntou Stephen.

— Estarei bem assim que você sair de cima de mim.


Está quebrando a minha perna.

Em vez de se afastar, Stephen fez justamente o


contrário, cobriu todo o corpo dela.

— Até este momento não tinha se queixado que eu fosse


muito pesado para você. — Observou mordiscando sua
orelha. Ela fechou os olhos, sorrindo.

— Há momentos em que você não pesa nada.

LRTHistóricos 269
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ele deslizou os lábios pelo seu pescoço. De repente algo


enorme e muito pesado lhe aterrissou nas costas. Stephen
caiu um instante sobre Bronwyn, então rapidamente levantou
com os braços, protegendo-a.

— Que diabos...?

— Rab! — exclamou Bronwyn escorrendo-se sob seu


corpo. — Oh, Rab! — Dizia-o com profunda alegria. Ela
enterrou o rosto no pêlo grosseiro do cão. — Meu doce, doce
Rab.

Stephen se sentou sobre os calcanhares.

— Isso era tudo que eu precisava! — comentou


sarcástico. — Como se minhas costas já não estivessem
bastante doloridas.

Rab se afastou de Bronwyn para pular em Stephen.


Apesar de suas palavras, Stephen abraçou o cão grande
enquanto este lambia seu rosto e tentava sufocá-lo com seu
afeto.

— Agora, você não está envergonhado? — Bronwyn riu.


— Ele te ama e está muito feliz em vê-lo.

— Gostaria que ele fosse mais considerado e tivesse


prestado atenção que estava lhe dando meu amor. Basta,
Rab, você vai me sufocar. Aqui garoto. Pegue-o e traga. —
Stephen atirou uma vara imaginária, e o cão feliz saiu
disparado atrás dele.

LRTHistóricos 270
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Isso foi terrível. Você sabe que ele vai passar horas
procurando por algo que não encontrará. Ele queria nos
agradar.

Stephen a segurou pelo pulso.

— Espero que o busque durante toda a noite. Sabe que


está linda à luz da lua?

Ela contemplou seu amplo peito, seus fortes ombros.

— Você não é exatamente uma visão desagradável. —


Ele a abraçou.

— Continue assim, que não quererei voltar para


Larenston. Bem, onde estávamos?

— Na parte em que suas costas doíam e...

Um beijo lhe impediu de seguir falando.

— Venha aqui mulher! — sussurrou Stephen, enquanto


a puxava para dentro das folhas.

Eles lutaram juntos, rindo. Havia pedaços de galhos e


rochas cutucando sua pele, mas nenhum deles se importava.
Stephen começou a fazer cócegas em Bronwyn, e o som de
sua risada, era tão incomum para ele, que disparou sua
paixão.

— Bronwyn! — sussurrou antes de apertá-la,


penetrando-a forte.

LRTHistóricos 271
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Quando alcançaram juntos o clímax, foi de alguma


forma diferente das outras vezes. Apesar de suas diferenças,
sua situação impossível, fizeram amor como se estivessem
livres de qualquer disputa conjugal. Não havia apenas paixão,
mas também um sentimento de alegria e diversão.

— Não sabia que tinha tantas cócegas. — sussurrou


Stephen, sonolento, estreitando-a contra si.

Rab se aconchegou do outro lado.

— Nem eu. Não deveríamos pegar nossas roupas?

— Daqui a pouco. — Disse Stephen. — Dentro de...

Um grunhido de Rab os despertou muito cedo. Os


reflexos de Stephen foram instantâneos. Levantou-se,
empurrando Bronwyn para trás de seu corpo. Um homem
estava a cinco ou seis metros de distância. Era baixo e forte,
de cabelo e olhos pardos. E levava a insígnia dos MacGregor.

— Bom dia. — Saudou cordialmente. — Não era minha


intenção incomodar. Vim em busca de água, mas seu cão não
me deixa passar.

Stephen ouviu Bronwyn tomar fôlego para falar. Ele se


virou e lançou-lhe um olhar de advertência. Ela estava meio
enterrada nas folhas, apenas a cabeça e os ombros nus
visíveis.

LRTHistóricos 272
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Bom dia. — Respondeu com a mesma cordialidade,


dando a sua voz o forte sotaque escocês. — Venha aqui, Rab.
Deixe o bom cavalheiro passar.

— Obrigado, senhor! — disse o homem, caminhando


para o riacho.

— Rab, traga a roupa. — Ordenou Stephen e seguiu com


o olhar o cão que obedecia. O homem, junto ao riacho,
contemplava com curiosidade ao casal nu. — Somos mais ou
menos como Adão e Eva, não é? — riu Stephen.

O homem também riu.

— Exatamente o que eu estava pensando. — Levantou-


se. — Não vi carroças nem cavalos. Por isso não tinha ideia
de que houvesse alguém aqui.

Stephen vestiu a camisa. Depois se envolveu


distraidamente na manta e fechou seu largo cinturão. Ambos
os homens discretamente se afastaram enquanto Bronwyn se
vestia. Ela não falou, mas ficou fascinada pelo sotaque
recém-adquirido de Stephen.

— Para falar a verdade — explicou Stephen — só temos


a roupa do corpo.

Bronwyn viu que escondia a boina em suas costas para


arrancar a insígnia dos MacArran.

— Fomos atacados por ladrões.

LRTHistóricos 273
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Ladrões! — exclamou o homem. — Em terras dos


MacGregor? Ele não vai gostar disso.

— É claro que não — concordou Stephen — sobretudo


porque foi um grupo desses repugnantes MacArran. Oh,
desculpe, querida! Puxei seu cabelo sem querer. —
Adicionou, quando Bronwyn deu um pequeno suspiro de
horror.

— Ah, esses MacArran. — Acrescentou o homem. —


Nunca houve gente mais desonesta, traiçoeira e covarde
sobre a face da terra. Sabem que não faz muito tempo,
estiveram a ponto de matar o Laird MacGregor, simplesmente
porque o homem estava andando pela terra da mulher? A
bruxa o atacou com a adaga e quis mutilá-lo. Dizem que
tentou cortar-lhe sua masculinidade. Inveja provavelmente.

Stephen girou Bronwyn para encará-lo para que o


homem não pudesse ver seu rosto.

— Deixa que te ajude com esse broche. — disse


amigavelmente, com seu forte sotaque escocês.

— Mas se apenas lhe fiz um arranhão. — protestou ela


com desgosto.

— Como? — inquiriu o homem. Stephen sorriu.

— Minha esposa me recorda que a última vez lhe fiz um


arranhão ao pôr o broche.

O outro riu entre dentes.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sou Donald Farquhar, do clã MacGregor.

Stephen sorriu alegremente.

— Eu sou Stephen Graham. E esta é minha esposa,


Bronwyn. — Sorriu ao ver a cara da esposa pra ele.

— Bronwyn! — exclamou Donald — É um nome mal


favorecido esse. Sabiam que assim se chama essa bruxa da
Laird MacArran?

Stephen segurava firmemente os ombros de Bronwyn.

— Não temos culpa do nome que nos dão ao nascermos.

— Não, claro que não. — O visitante observou o cabelo


longo e grosso de Bronwyn caindo por suas costas, algumas
folhas presas nele. — Qualquer um se dá conta de que sua
Bronwyn não é como a outra.

Ela inclinou a cabeça e fingiu beijar a mão de Stephen,


na realidade, o que fez foi lhe cravar os dentes para que a
soltasse. Então pôde virar-se para Donald com um sorriso.

— E é claro que você já viu a Laird MacArran muitas


vezes? — disse com doçura.

— Não, não de perto, mas eu a vi a distância.

— E é feia?

— Oh, sim, grandes ombros como um homem e mais


alta do que a maioria de seus homens. E um rosto tão feio
que ela o mantém coberto.

LRTHistóricos 275
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen cravou os dedos no ombro dela a maneira de


advertência. Ela fez um gesto afirmativo.

— É o que sempre ouvi dizer. Que gosto falar com


alguém que a conhece, em certo modo! — disse com muita
seriedade. Stephen se inclinou para lhe dar um beijo na
orelha.

— Comporte-se ou você vai nos matar. — lhe sussurrou.

Donald lhes dedicou um sorriso radiante.

— Sem dúvida são recém-casados. — comentou feliz. —


Se nota pela forma em que se tocam sem cessar.

— Nada te passa despercebido, não é, Donald? — disse


Bronwyn.

— Gosto de pensar que sou um homem observador. Lá,


no penhasco está nossa carroça. Não gostariam comer
conosco? Eu gostaria de lhes apresentar minha esposa,
Kirsty.

— Não... — começou Bronwyn. Mas Stephen se plantou


diante dela.

— Nós gostaríamos muito. — Respondeu. — Nós não


comemos desde o meio-dia de ontem. Talvez você possa nos
dar algumas indicações. Desde que nos assaltaram estivemos
caminhando sem rumo e acabamos nos perdendo.

— Mas fizeram bom uso do tempo. — riu Donald,


olhando significativamente para as folhas.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Muito certo! — afirmou Stephen, jovial, seu braço


firmemente em volta dos ombros de Bronwyn.

— Bom, venham. Um MacGregor sempre recebe de bem


a outro MacGregor. — Ele se virou e começou a subir a
colina.

— Não faça nada para nos pôr em perigo. — advertiu


Stephen enquanto o seguiam.

— Um MacGregor! — murmurou furiosa.

— E um inglês! — adicionou no mesmo tom.

— Não sei dos males qual é o menor.

Stephen sorriu.

— Odeie-me o quanto quiser, mas ele não. Ele tem a


comida.

No topo do penhasco, os três se detiveram diante de


uma mulher pequena inclinada sobre a fogueira. Era
delicada, não maior do que uma criança, seu perfil mostrava
um nariz pequeno e uma boca frágil; mostrava uma avançada
gravidez: o ventre se sobressaía diante dela como um
volumoso monumento. Ia contra todas as forças da lógica que
pudesse manter-se em pé sem cair para frente.

Ela se levantou muito facilmente, e virou-se para olhar


para as três pessoas que a observavam. Por um momento,
olhou só para Donald, e um sorriso de pura adoração
iluminou seu rosto. Quando ela se virou e viu Bronwyn, seu

LRTHistóricos 277
Highlander Audaz — Jude Deveraux

rosto mudou. Parecia passar por várias emoções:


perplexidade, medo, descrença, até que finalmente ela sorriu.

Stephen e Bronwyn permaneciam imóveis e sem


respirar, esperando que a qualquer momento ela denunciasse
sua identidade.

— Kirsty! — exclamou Donald, correndo para ela. —


Está bem?

Ela colocou a mão no lado de sua barriga grande e olhou


para cima em desculpas.

— Lamento haver saudado desse modo, mas é que


recebi um forte chute.

Donald levantou a vista com um sorriso.

— É um moço forte! — riu. — Venham se sentar junto


ao fogo.

Stephen foi o primeiro a relaxar seus músculos para


caminhar para a fogueira. Bronwyn o seguiu lentamente.
Ainda não estava segura de não ter detectado a identificação
nos olhos de Kirsty. Talvez a mulher pensasse dizer a Donald
mais tarde e ambos os atacariam durante a noite.

Donald apresentou-os a sua esposa, e mesmo quando o


nome Bronwyn foi dito, ela apenas sorriu. Não era um nome
escocês, mas galês, e deveria ter causado comentários.

LRTHistóricos 278
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Acha que temos comida suficiente? — perguntou


Donald. Kirsty sorriu. Ela tinha cabelos loiros escuros e olhos
castanhos inocentes. Era difícil para alguém desconfiar dela.

— Nós sempre temos o suficiente para compartilhar. —


disse em voz baixa.

Sentaram-se para consumir tortas de cevada e um


saboroso guisado de coelho. Ao redor soprava um vento frio.
A carroça de Donald, parada ao lado, era pequena, com um
refúgio de madeira construído acima: cômoda, mas não para
viagens de longa distância.

Depois do café da manhã Stephen propôs sair para


caçar com Donald. Bronwyn se levantou imediatamente,
sacudindo-as migalhas da saia, com evidente intenção de
acompanhá-los.

Stephen se voltou para ela.

— Acredito que deveria ficar com Kirsty — disse com voz


serena, carregada de intenção. — O lugar da mulher é junto
ao fogo.

Bronwyn sentiu a raiva passar por ela. O que ela sabia


de cozinhar? Ela poderia ajudar na caçada. Quando viu a
aprovação no rosto de Donald entendeu a atitude de Stephen.
Donald poderia começar a suspeitar de uma mulher que
pudesse caçar, mas não podia cozinhar. Ela suspirou em
resignação.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Pelo menos teremos Rab como proteção.

— Não, — a contradisse Stephen — acho que vamos


precisar dele na caçada.

— Rab! — ordenou ela. — Fique comigo.

O cachorro não parecia disposto a abandonar Bronwyn


e não se moveu. Donald riu baixinho.

— Que cão tão bem adestrado tem.

— Meu pai me deu de presente. — informou ela,


orgulhosa.

— Seu pai?

— É melhor irmos. — interveio Stephen


apressadamente, lançando a Bronwyn um olhar de
advertência.

Voltou-lhe as costas e foi se sentar junto ao fogo, perto


de Kirsty... sua inimiga.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Dez
Bronwyn retorceu algumas fibras de erva entre as mãos.
A advertência de Stephen lhe fez cair em conta de que era
muito fácil trair-se. Sabia muito pouco da vida que levava
uma esposa comum, pois passou toda sua existência entre os
homens Sabia montar a cavalo e disparar uma arma, mas
cozinhar representava para ela todo um mistério. Também
lhe era desconhecida à conversa cotidiana entre mulheres.

— Faz muito que se casou? — perguntou Kirsty.

— Não! — respondeu Bronwyn — e você?

— Cerca de nove meses. — Kirsty sorriu, esfregando o


grande ventre. De repente Bronwyn cobrou consciência de
que algum dia seu aspecto seria o mesmo. Nunca lhe
ocorrera que ela teria de suportar a gravidez.

— O bebê incomoda muito? — perguntou em voz baixa.

— Só de vez em quando. — de repente Kirsty fez uma


careta de dor. — Hoje parece pior que de costume. —
adicionou sufocada.

— Posso te ajudar em algo? Quer água, um travesseiro,


qualquer coisa?

A outra a olhou, seus olhos piscando rapidamente.

LRTHistóricos 281
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não, só fale comigo. Faz muito tempo que não tenho a


companhia de uma mulher. Diga-me, como é seu marido?

— Stephen? — perguntou Bronwyn, inexpressiva. Kirsty


se pôs a rir.

— Não se preocupe comigo, só estou curiosa. Uma


mulher nunca conhece um homem até viver com ele.

Bronwyn se mostrou cautelosa.

— Ficou desapontada com Donald?

— Não. Ele era muito tímido antes de nos casarmos, e


agora ele é muito gentil, atencioso. Seu Stephen parece um
bom homem.

Bronwyn percebeu que nunca tinha pensado em


Stephen de outra forma senão sendo um inglês.

— Bom... faz-me rir — disse depois de um tempo. — Me


faz rir de mim mesma quando estou muito séria.

Kirsty sorriu, então ela colocou a mão na barriga e


inclinou-se para a frente.

— O que acontece? — exclamou Bronwyn, aproximando-


se dela.

Kirsty levantou-se lentamente, sua respiração profunda


e difícil.

— Por favor, deixa que te ajude. — suplicou Bronwyn,


lhe apoiando as mãos no braço. Kirsty a olhou nos olhos.

LRTHistóricos 282
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É muito bondosa, verdade? — A outra sorriu.

— Não sou bondosa absolutamente, a não ser...

Interrompeu-se, ia dizer que era uma MacArran. O que


ela era, separada de seu clã? Kirsty lhe cobriu uma mão com
a sua.

— Acredito que você tenta esconder isso, me conte mais


sobre você. Assim não pensarei em meus próprios problemas.

— Acredito que deveríamos chamar a alguém. Parece-me


que está para dar a luz.

— Por favor! — disse Kirsty, desesperada. — Não


amedronte Donald, meu bebê ainda não está pronto, eu não
posso ter agora. Donald e eu estamos indo para casa dos
meus pais. Minha mãe vai me ajudar no nascimento de meu
filho. É apenas algo que eu comi. Já tive essas dores antes.

Bronwyn franziu o cenho e voltou a se sentar no chão.

— Fale-me sobre você. — insistiu Kirsty novamente.


Seus olhos estavam vidrados. — Como é viver com um...?

Bronwyn levantou bruscamente a cabeça, mas Kirsty


não concluiu com a frase. Dobrou-se pela dor. Um segundo
depois Bronwyn a sustentava em seus braços.

— É o bebê! — sussurrou Kirsty. — O bebê vai nascer.


Você é a única que pode me ajudar.

LRTHistóricos 283
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn só podia olhar horrorizada. Eles estavam no


meio do nada, então quem ia ser a parteira? Ela abraçou
Kirsty quando outra dor a tomou.

— Rab! — disse em voz baixa. — Vá buscar Stephen.


Procure Stephen e traga-o de volta imediatamente.

O cão partiu antes que ela concluísse a frase.

— Entre na carreta, Kirsty. — propôs Bronwyn com


suavidade.

Bronwyn era forte, e foi fácil para ela levar a pequena


mulher para a carreta. Kirsty se deitou no momento em que
outra dor a dobrava em duas. Bronwyn deu um olhar para o
bosque. Não havia sinais dos homens. Voltou junto a Kirsty e
lhe deu um gole de água. Repetia mentalmente que Stephen
saberia o que fazer, sem ter consciência de que, pela primeira
vez em sua vida, dependia dele. Sorriu ao ouvir o furioso
rugido de Stephen:

— Bronwyn! — gritou Stephen

Desceu da carreta para ir ao seu encontro.

— Que diabos quer o satânico do teu cão? — perguntou


ele. — Saltou em cima de mim no momento em que estava
apontando contra um veado e quase rasgou minha perna
arrastando-me aqui.

Ela apenas sorriu para ele, dizendo:

— Kirsty vai dar a luz.

LRTHistóricos 284
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Oh, meu Deus! — sussurrou Donald. E correu para a


carreta.

— Quando? — perguntou. Stephen.

— Penso que imediatamente.

— Pensa? Não sabe com segurança?

— Como poderia sabê-lo?

— Supõe-se que as mulheres devem saber destas coisas.


— gaguejou ele.

— Ensinam-nos isso durante as lições de leitura ou


quando praticamos com a espada? — perguntou ela,
sarcástica.

— Se quer que dê minha opinião, recebeu uma


educação muito pouco adequada para uma menina. Em
algum momento sua família tinha que ter ensinado outra
coisa além de planejar incursões para roubar gado.

— Maldito seja! — criticou-lhe Bronwyn e interrompeu-


se ao ver que Donald descia da carreta, evidentemente
preocupado.

— Ela quer você. — disse ele, franzindo a testa. Havia


uma linha branca em cada lado de seus lábios. Pegou um
pedaço de madeira para o fogo, mas sua mão tremia tanto
que a deixou cair.

LRTHistóricos 285
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— A mim? — exclamou Bronwyn. Mas Stephen a


empurrou para frente com energia.

— Não há mais ninguém. — ele disse. Ela perdeu a cor.

— Stephen... não sei absolutamente nada de


nascimentos de bebês.

Stephen pôs a mão em sua bochecha.

— Está com medo, não é? — Bronwyn olhou suas mãos.


— Não deve ser muito diferente de ajudar a uma vaca ou a
uma égua.

— A uma égua! — Os olhos da moça desprenderam


faíscas, mas logo relaxou. — Fica comigo — disse em voz
baixa. — Me Ajude.

Stephen nunca a tinha visto tão vulnerável, tão


necessitada de ajuda.

— Como? Os homens não podem presenciar um parto.


Possivelmente se ela fosse meu parente...

— Olhe a esse homem! — apontou Bronwyn,


assinalando ao Donald com a cabeça. — Só quer que sua
esposa saia bem do parto. É o único que lhe importa.

— Bronwyn! — gritou subitamente Kirsty, de dentro da


carreta.

— Por favor! — sussurrou ela, apoiando uma mão no


peito do Stephen. — Nunca te pedi nada até agora.

LRTHistóricos 286
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Exceto para mudar meu nome, minha nacionalidade,


minha... — Ela voltou às costas e já se afastava, mas seu
marido a segurou pelo braço. — Juntos, — sussurrou — pela
primeira vez, vamos fazer algo juntos.

Não foi um nascimento fácil. Kirsty era muito pequena, e


o bebê era grande. Nenhum dos três sabia muito sobre ter
um bebê, e todos concordaram que era uma experiência
maravilhosa. Bronwyn e Stephen suavam tanto quanto
Kirsty. Quando a cabeça apareceu, eles olharam um para o
outro, emocionados e com orgulho. Stephen levantou Kirsty
para que ela pudesse ver enquanto Bronwyn segurava a
pequena cabeça e gentilmente guiava a saída dos ombros
para fora. O resto do bebê pareceu disparar para fora.
Bronwyn o agarrou nos braços.

—Nós fizemos isso? — ela sussurrou.

— Conseguimos! — Stephen sorriu de orelha a orelha e


deu um beijo sonoro em Kirsty.

— Obrigado! — Kirsty sorriu recostando-se contra o


braço de Stephen, completamente exausta, mas muito feliz.

Precisaram de alguns minutos mais para limpar o bebê


e sua mãe. Stephen e Bronwyn ficaram contemplando-os; o
bebê já procurava o peito, movendo a cabecinha.

— Vamos dizer a Donald que ele tem um filho. —


sussurrou Stephen.

LRTHistóricos 287
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Donald estava esperando na frente da carreta, com a


cara cheia de terror. Stephen saiu rindo.

— Anime-se e vá dar uma olhada em seu menino!

— É menino! — disse Donald, com voz tremula e subiu


na carreta.

Tinha ficado escuro enquanto estavam dentro com


Kirsty. O dia brilhante e frio tinha se tornado escuro, e a
noite ainda mais fria.

Bronwyn se espreguiçou e bebeu profundamente o ar


fresco e limpo. Por alguma razão ela tinha um sentimento de
liberdade. De repente, jogou a cabeça para trás, estendeu os
braços e começou a girar em círculos.

Stephen rindo, tomou-a nos braços e a elevou no colo.

— Esteve maravilhosa. — Disse, cheio de entusiasmo. —


Mostrou-se serena e decidida. Assim facilitou as coisas para
Kirsty.

E se interrompeu em seco, quando percebeu que tinha


feito uma abertura para Bronwyn para contar a ele sobre sua
formação para se tornar a Laird MacArran. Bronwyn sorriu
para ele, colocou seus braços ao redor de seu pescoço, e
aconchegou seu rosto em seu ombro.

— Obrigada, embora fossem seus conhecimentos os que


mais ajudaram. Se eu estivesse sozinha, acredito que teria
ficado petrificada assim que aparecesse a cabeça.

LRTHistóricos 288
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen não acreditou nela nem por um momento, mas


ajudou a seu orgulho ouvi-la dizer que era de alguma
utilidade para ela.

— Está cansada? — perguntou em voz baixa,


calmamente, enquanto a abraçava e passava a mão pelos
seus cabelos.

— Muito. — confessou ela, muito cômoda e relaxada. Ele


a levantou no colo.

— Procuremos algum lugar para dormir.

Levou-a para o fundo do penhasco e a deixou no chão,


enquanto tirava distraidamente a manta para estendê-la na
terra. Em poucos minutos estavam aconchegados nela,
abraçados para conservar o calor e com Rab contra as costas
da moça.

— Stephen! — inquiriu Bronwyn, em voz baixa. — O que


vamos fazer agora? Ainda não temos como chegar à
Inglaterra, e sozinhos seremos reconhecidos.

Stephen permaneceu muito quieto, mas seus


pensamentos voavam. Bronwyn nunca perguntou sua opinião
antes, e tampouco ficou ao seu lado exatamente como agora,
com confiança. Sorriu-lhe, deu-lhe um beijo na testa e lhe
apertou um pouco mais contra si, com a sensação de que seu
peito se alargava vários centímetros.

LRTHistóricos 289
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Eu não pensei muito, mas acho que se pudermos,


devemos ficar com Kirsty e Donald. — Fez uma pausa. — O
que acha?

Assim que as palavras saíram, ele percebeu como havia


mudado. Alguns meses atrás ele teria ordenado a sua esposa
sobre o que fazer. Agora ele estava pedindo sua opinião.
Bronwyn fez um gesto afirmativo.

— Vão para o sul, para a casa dos pais de Kirsty. Se


pudéssemos seguir a viagem com eles talvez conseguíssemos
comprar alguns cavalos.

— Com o quê? Com nossa beleza? — zombou Stephen.


— Não temos uma moeda. Nem sequer podemos pagar a
Donald por sua hospitalidade.

— Aos escoceses não se paga a hospitalidade.

— Nem sequer aos MacGregor? — provocou-lhe ele.


Bronwyn riu baixinho.

— Enquanto não saiba que somos MacArran. Quanto à


comida, você é bom caçador. Melhor que Donald, sem dúvida.
No momento só devemos nos preocupar em pagar por um par
de cavalos. — Ela suspirou. — É uma lástima que Davey não
nos atacasse mais perto da fronteira.

— Por quê?

LRTHistóricos 290
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Porque nesse caso eu estaria vestida com os malditos


trajes ingleses, que estão cobertos de pedras preciosas.
Teríamos podido vendê-las.

— Se você estivesse vestida de inglesa, provavelmente


não estaria viva e, além disso, não teríamos uma manta
quente para enrolar ao nosso redor.

Ela levantou a cabeça para olha-lo.

— Não detestava o traje escocês? Você disse, se eu me


lembro corretamente, que o deixava nu a metade de baixo.

— Não seja impertinente. — Protestou ele, com fingida


seriedade. — Essa facilidade de se usar a manta tem suas
vantagens. Pode-se tirar essa roupa no tempo que um inglês
demora em decidir-se a despir-se.

Bronwyn sorriu.

— Ouço orgulho em sua voz? — Ela provocou. — E onde


no mundo você conseguiu esse sotaque?

— Não faço ideia do que quer dizer. — brincou ele. — E


se a verdade for conhecida, acho que o sotaque veio com a
manta.

— Eu gosto! — disse ela suavemente enquanto movia o


joelho pela perna nua de Stephen sob a camisa que ele ainda
usava. — Como você gostaria de fazer amor com uma
parteira, ou você insiste em ter a Laird de um clã.

Stephen pôs uma mão nos cabelos dela.

LRTHistóricos 291
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Nestes momentos a tomarei como você é. É Bronwyn,


uma coisa doce e deliciosa que pode cavalgar como um
demônio, salvar a vida de seu marido e ajudar em um parto,
tudo em poucas horas.

— Tudo com sua ajuda. — Sussurrou ela, antes de


levantar a boca para beijá-lo.

Bronwyn também sentia a estranheza do lugar e do


tempo. Deveria estar preocupada com seu clã, mas sabia que
Tam estava lá para guiá-los. Talvez seus homens estivessem
melhor sem a guerra constante entre ela e Stephen. Neste
instante não tinha a menor intenção de brigar com ele.
Nunca se sentiu mais suave e feminina. Não tinha decisões a
tomar, irritações e nem preocupações pela posição de seu
marido. No momento estavam no mesmo lado: caçados
igualmente.

— Tem um olhar distante. — comentou ele — Não vai


compartilhar seus pensamentos comigo?

— Estava pensando que agora estou feliz. Não tive um


pensamento feliz ou até mesmo um momento de silêncio
desde a morte de meu pai.

Stephen sorriu ao ver que pela primeira vez, não o


acusava dessa morte.

— Venha aqui, querida, e vejamos se posso fazê-la mais


feliz.

LRTHistóricos 292
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Levou muito tempo para despi-la. Ambos se retorceram


sob a manta, rindo cada vez que um cotovelo se afundava em
algum lugar delicado. Era uma luta íntima, rolando, rindo,
desfrutando um do outro e de sua liberdade. As mãos de
Stephen fizeram que Bronwyn se aquietasse; estava
aprendendo os prazeres do amor. Beijou-lhe o rosto, o
pescoço, e observou o reflexo da lua em sua pele.

— Stephen. — Sussurrou. Passou as mãos pela cintura


e as costelas. A força dele a excitava, a fazia sentir-se
pequena e no poder.

— Você é tão linda. — Ele sussurrou.

Ela sorriu e ele soube que a fazia se sentir bonita.


Stephen passou as mãos pelo interior de suas coxas, e
quando sentiu que ela tremia, a mesma emoção o percorreu.

Stephen se moveu em cima dela lentamente. Bronwyn


entregou-se a ele livre e ansiosamente, puxando a cabeça dele
para baixo para que seus lábios encontrassem os dela.
Quando ela gemeu em voz alta em seu prazer, Stephen
beijou-a profundamente. Os gemidos que ela lhe ofertava, o
abandono de seu amor, eram excitantes para ele.

Eles fizeram amor lentamente, até que Bronwyn agarrou


Stephen, exigindo mais dele. Ela se arqueou para encontrá-
lo, e ele explodiu em uma enorme estocada. Ela o abraçou,
não o deixando ir, querendo tudo dele. Juntos e ainda ligados

LRTHistóricos 293
Highlander Audaz — Jude Deveraux

pelo ponto de união de seus corpos, adormeceram um nos


braços do outro.

Bronwyn foi a primeira a despertar. Stephen a segurava


tão perto dele que ela mal podia respirar. Observou-o um
momento. Tinha um cacho ao longo da orelha. O quanto
mudou nos últimos meses! Nada ficava de sua pálida pele
inglesa e nem do cabelo curto e arrumado. ‗Sim, — ela
pensou, — quase ninguém o reconheceria como um inglês
agora‟. Bronwyn se inclinou para beijar aquele cacho,
recordando que em outros tempos teria medo de gestos como
esse. Essa manhã parecia certo, desperta-lo com um beijo.

Ele sorriu sem abrir os olhos.

— Bom dia! — sussurrou ela.

— Tenho medo de olhar! — comentou brincando,


sonhador. — Alguém trocou a minha Bronwyn por uma fada
dos bosques? — ela mordeu o lóbulo da orelha dele. — Ai! —
abriu os olhos, rindo entre dentes. — Acredito que não te
trocaria por fadas de nenhum tipo. — Reconheceu, tratando
de abraça-la.

— Oh, nem pense nisso! — protestou ela, afastando-o.


— Quero ver o bebê.

— Prefere o bebê? Eu preferiria continuar aqui e fazer o


nosso.

Bronwyn rolou para longe dele.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não estou segura de querer passar pelo que sofreu


Kirsty ontem. Vamos, aposto uma corrida colina acima.

Stephen se vestiu apressadamente, mas uma risada da


moça lhe fez girar para ela: Bronwyn, do alto do penhasco,
segurava suas botas, que tinha roubado. Ele ordenou a Rab
que as trouxesse, e a resistência entre cão e ama lhe deu
tempo para subir a colina. Recuperou suas botas e correu só
de meias até a carreta.

Quando Bronwyn o alcançou, estava tranquilamente


sentado.

— Bom dia! — disse ele como se não a visse há dias. —


Você dormiu bem?

Ela soltou uma gargalhada e entrou na carreta para ver


Kirsty.

Durante o resto do dia havia pouco tempo para rir ou


brincar. Os homens foram caçar, e Bronwyn foi deixada para
cuidar de Kirsty e do acampamento. Ficou consternada com a
pequena quantidade de alimentos do casal. Havia dois
pequenos sacos de aveia e mais algumas coisas. Não queria
insultar Kirsty pedindo mais suprimentos, mas esperava que
houvesse mais em algum lugar.

Os homens retornaram ao pôr-do-sol com apenas dois


coelhos pequenos nas mãos. O suficiente para uma refeição.
Bronwyn levou Stephen um pouco distante para lhe dizer.

LRTHistóricos 295
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não podemos seguir consumindo suas provisões. Têm


muito poucas.

Ele se reclinou contra uma árvore.

— Sei, mas ao mesmo tempo detesto deixá-los sozinhos.


Donald mal sabe usar o arco. E os animais desta região
desconfiam dos caçadores. Parece-me tão inconveniente
deixá-los como seguir com eles.

— Oxalá pudéssemos ajudá-los de algum modo. Toma,


bebe isto. — Bronwyn oferecia uma caneca.

— O que é isso?

— Kirsty me ensinou a prepará-lo. É feito com alguns


líquens e cerveja fermentada. Diz que cura tudo. Passou o dia
preocupada porque você e Donald estavam passando frio.

Stephen sorveu o líquido quente.

— E você se preocupou conosco?

— Pelo Donald, talvez. — Sorriu ela. — Mas eu sabia


que você poderia cuidar dos dois.

Stephen ia responder, mas a bebida atraiu sua atenção.

— Isso é realmente bom. Acho que está fazendo a minha


cabeça parar de doer. — Ela franziu o cenho.

— Não sabia que sua cabeça estava doendo.

LRTHistóricos 296
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não cessou desde que a flecha do seu irmão a


rouçou. — Stephen dispensou o assunto. — Acabo de ter
uma ideia. Estes líquens foram difíceis de achar?

— De jeito nenhum. — respondeu ela com curiosidade.

Os olhos Stephen brilharam.

— Donald me disse que há um povoado perto daqui, ele


quer levar seu filho para ser batizado. Se pudéssemos
preparar uma tina desta bebida, talvez pudéssemos vendê-la.

— Que ideia inteligente! — Ela concordou, já fazendo


planos.

Passaram o resto da tarde procurando líquens. Eles


passaram a noite caçando líquens. Donald pegou o pouco de
dinheiro que havia e usou um dos cavalos da carreta para ir
a cidade comprar mais cerveja.

Já era tarde quando se envolveram em suas mantas,


perto do fogo meio apagado, e adormeceram. Bronwyn se
mantinha perto de Stephen, feliz de estar junto a ele sem
precisar fazer amor. Essa sensação de intimidade lhe parecia
nova e satisfatória.

Muito cedo na manhã seguinte, eles engataram os


cavalos à carreta e continuaram a viagem até o povoado
situado entre muros. Parecia haver centenas de lojas, bem
como pequenas casas dentro das muralhas. O ar era pesado
e dificilmente valia a pena respirar. Todo o lugar fez Bronwyn

LRTHistóricos 297
Highlander Audaz — Jude Deveraux

desejar estar ao ar livre. Ela tinha estado em poucas cidades


em sua vida. Em vez disso, os comerciantes viajavam para
Larenston para vender seus produtos.

Donald puxou a carroça para fora da estreita rua


principal, detendo-se na frente de um beco, e desarmou os
cavalos. Colocaram em exibição um frasco da bebida que
tinham feito, então começaram a chamar as pessoas para
comprar. Kirsty e Bronwyn sentaram-se dentro da carroça e
escutaram. A voz profunda de Stephen soou sobre todo o
barulho do povoado. Fez algumas promessas bastante
extraordinárias para a bebida, falava de sua própria
experiência, assegurando que a beberagem lhe tinha curado
de sua lepra. Mas ninguém comprava bebida. As pessoas
fizeram uma pausa e ouviram, mas não ofereceram moedas
para comprar o líquido milagroso.

— Possivelmente deveria fazer algumas acrobacias como


as que fez ao lutar com Tam. — Brincou Bronwyn.

Stephen ignorou suas provocações, enquanto tentava


convencer um jovem a comprar dizendo que a bebida
melhoraria sua vida amorosa.

— Talvez você precise de ajuda, mas eu não. — Replicou


o moço. A multidão riu e começou a se afastar.

— É hora de que eu faça uma tentativa. — Disse


Bronwyn, enquanto desabotoava a camisa.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Bronwyn! — protestou Kirsty. — Não está planejando


fazer algo que deixará Stephen irritado?

Ela sorriu.

— Talvez. Assim estou bastante desejável? — Ela olhou


para a curva generosa de seus ombros expostos pela camisa
desabotoada.

— Mais que suficiente. Donald arrancaria meus cabelos


se me visse sair assim.

— As inglesas usam seus vestidos decotados ao limite


da indecência. — respondeu a moça.

— Mas você não é inglesa!

Bronwyn se limitou a sorrir a modo de resposta e desceu


pela parte dianteira da carroça, no lado oposto àquele onde
operava Stephen.

Ele sorriu surpreso ao ouvir a voz de Bronwyn.

— Isso cura tudo, de furúnculos a sudorese de febres. —


Anunciava a jovem.

Stephen notou que a multidão começava a acumular-se


do outro lado da carreta.

— Sua esposa é desventurada? — clamava Bronwyn. —


Talvez seja tua culpa. Esta bebida te converterá no mais
potente dos homens. E como filtro de amor é insuperável.

LRTHistóricos 299
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Serviria-me para conseguir uma como você? — gritou


um homem.

— Só se bebesse todo um tonel. — respondeu Bronwyn


instantaneamente.

A multidão riu.

— Acredito que vou tentar. — gritou outro homem.

— Comprarei um pouco para meu marido. — Anunciou


uma mulher, pondo-se a correr para o extremo da carroça
onde esperavam Donald e Stephen.

Durante um momento Stephen esteve muito ocupado


enchendo os recipientes para os aldeãos que aproximavam.
Prestava pouca atenção a Bronwyn, embora se orgulhasse de
sua maneira de vender e satisfeito que as pessoas gostassem
dela. Até riu entre dentes com a ideia de que uma dama
escocesa pudesse vender mercadorias com tanto êxito. Foi só
quando começou a ouvir o riso baixo e sugestivo dos homens,
que realmente, chamou sua atenção. Um dos homens, que
esperava com uma taça, voltou-se para seu companheiro.

— Ela quase prometeu encontrar-se comigo junto ao


poço da cidade.

Stephen ficou petrificado.

— Não disse que eu também estaria ali? — perguntou,


com voz mortífera.

LRTHistóricos 300
Highlander Audaz — Jude Deveraux

O homem olhou para Stephen, para o desafio no rosto


bonito, e recuou.

— Não me culpe, — protestou — foi ela quem teve a


ideia.

— Maldita seja! — exclamou Stephen, furioso, enquanto


jogava a chaleira dentro da bebida. Que diabos estaria
fazendo essa mulher?

Ao rodear o canto da carroça se deteve em seco. Tinha a


camisa desabotoada, descobrindo uma boa porção de seus
seios altos e firmes. Tirou a manta; a saia se agarrava aos
quadris generosos. Andava de um lado para o outro na frente
da crescente multidão de pessoas. E o jeito que ela andava!
Suas mãos estavam em seus quadris, e seu traseiro ondulava
sedutoramente.

Por um momento, ficou chocado, atordoado demais para


se mover. Então ele deu dois passos longos em direção a ela.
Agarrou seu braço, puxou-a para o beco atrás da carreta.

— O que diabos você acha que está fazendo? — Ele


disse entre os dentes cerrados.

— Vendendo o tônico. — disse ela calmamente. — Você


e Donald não pareciam estar fazendo um trabalho tão bom,
então pensei em ajudar.

Ele soltou o braço dela e com raiva começou a abotoar


sua blusa.

LRTHistóricos 301
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Pois estava se divertindo, não? Olhe como se exibe


feito uma mulher qualquer!

Ela olhou para ele e sorriu feliz.

— Está com ciúmes, não é?

— Claro que não! — rosnou-lhe. Mas fez uma pausa. —


Diabos! Você tem razão, tenho ciúmes. Esses homens sujos
não têm direito a ver o que é meu.

— Oh, Stephen, isso... Não sei o que é, mas eu gosto que


tenha ciúmes.

— Você gosta? — exclamou ele, desconcertado. — Pois a


próxima eu espero que você dependa de sua memória e não
tente provocar-me este sentimento de novo.

Agarrou-a em seus braços e beijou-a ferozmente,


vorazmente, possessivamente. Bronwyn respondeu apertando
seu corpo contra ele, permitindo essa posse. De repente, uma
voz muito potente sacudiu as casas, interrompendo o beijo.

— Onde está a moça que vende o tônico?

Bronwyn se afastou relutantemente, olhando perplexa


para Stephen.

— Onde ela está? — Trovejou a voz novamente.

— É o Laird MacGregor. — sussurrou ela. — Não é a


primeira vez que o ouço.

Ela se virou para a voz, mas Stephen pegou seu braço.

LRTHistóricos 302
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não pode ir ao encontro do Laird MacGregor.

— Por que não? Ele nunca me viu, não sabe quem sou
ou como sou e, além disso, como posso me recusar, esta é a
terra de MacGregor.

Stephen franziu o cenho, mas a soltou. Qualquer recusa


os faria suspeitos.

— Aqui estou! — anunciou a jovem, saindo do beco.


Stephen logo atrás dela.

O Laird MacGregor, sem desmontar, olhou-a de uma


maneira divertida. Era um homem musculoso e forte, o
cabelo grisalho nas têmporas, a mandíbula especialmente
forte. Seus olhos eram verdes e vivos acima de um nariz
proeminente.

— E quem me busca? — perguntou ela, arrogante. O


Laird MacGregor jogou a cabeça atrás, em uma gargalhada.

— Como se não conhecesse seu próprio Laird. — disse.


Seus olhos tornaram-se de uma cor verde esmeraldas.
Sorriu-lhe com doçura.

— É o mesmo Laird que não conhece os membros de


seu próprio clã? — Ela sorriu para ele docemente.

— É descarada, moça. Como te chama?

— Bronwyn! — disse ela, orgulhosa, como se o nome


fosse um desafio. — O mesmo que a Laird do clã MacArran.

LRTHistóricos 303
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen apertou os seus ombros a maneira de


advertência. Os olhos de MacGregor endureceram.

— Não mencione a essa mulher.

Bronwyn pôs os braços sob os quadris.

— Isso é porque você ainda tem sua marca em seu


peito?

De repente se fez um silêncio mortal ao redor. A


multidão calava, contendo o fôlego.

— Bronwyn! — sussurrou Stephen, horrorizado com o


que ela dissera. Laird MacGregor levantou a mão.

— Não só é descarada, mas também tem coragem.


Ninguém se atreveu a mencionar essa noite diante de mim.

— Diga-me o motivo de ficar tão zangado com uma


marca tão pequena?

O Laird MacGregor calou. Parecia estar estudando-a e


analisando a pergunta.

— Você parece saber muito sobre isso. — De repente


pareceu afrouxar sua tensão e sorriu. — Acredito que é uma
questão da própria mulher em si. Se tivesse um aspecto
parecido com o seu, levaria a marca com orgulho, mas uma
bruxa feia como ela não tem direito a marcar o Laird
MacGregor.

LRTHistóricos 304
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn ia falar, mas Stephen colocou ambas as mãos


na cintura dela até deixá-la sem respiração.

— Perdoe a minha esposa. — se desculpou Stephen. —


Está acostumada a ser muito falante.

— De fato! — reconheceu o Laird MacGregor,


entusiasmado. — Espero que você a mantenha com mão
firme.

— Até onde posso. — riu Stephen.

— Eu gosto de uma mulher com caráter — acrescentou


o Laird MacGregor. — A tua é bonita e, além disso, tem
miolos.

— Eu só gostaria que ela guardasse seus pensamentos


para si mesma de vez em quando.

— Isso é algo que poucas mulheres sabem. Bom dia aos


dois. — Afastou em seu cavalo.

— Maldito seja! — protestou Bronwyn feroz, quando ela


girou para encarar Stephen.

Antes que pudesse continuar falando ele lhe calou. Ao


ver que a multidão continuava observando-os, agarrou-a por
um braço para levá-la até a lateral da carreta.

— Bronwyn, — continuou paciente — não sabe o que


poderia ter feito? Tinha a impressão de que a qualquer
momento iria delatar-se como Laird do clã MacArran.

LRTHistóricos 305
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— E se eu o fizesse? — Ela perguntou obstinadamente.


— Você o ouviu dizer...

Ele a cortou em seco.

— O que um homem se vangloria diante de uma moça


bonita e o que ele deve fazer quando confrontado com uma
multidão são duas coisas diferentes. Você considerou Kirsty e
Donald, que nos deram refúgio?

Para seu espanto, Bronwyn relaxou, ou melhor,


desinflou. O animo parecia deixá-la. Ela se reclinou em seus
braços.

— Tem razão, Stephen. Aprenderei alguma vez?

Ele a abraçou firmemente, acariciando seus cabelos. Ele


gostava de tê-la encostada nele, mentalmente e fisicamente.

— Será que algum dia serei esperta e inteligente o


suficiente para merecer ser a Laird MacArran?

— Sim, meu amor! — sussurrou ele. — O desejo está em


você e logo se cumprirá.

— Bronwyn?

Ambos levantaram a vista. Donald estava a poucos


passos.

— Kirsty quer saber se estão preparados para ver o


sacerdote. Queremos batizar o bebê antes que caia a noite,

LRTHistóricos 306
Highlander Audaz — Jude Deveraux

porque não gostamos de ficar entre muros depois do


escurecer.

Stephen sorriu.

— Estamos prontos, é obvio.

Stephen observou Donald, percebendo que algo estava


incomodando o jovem calmo e silencioso. E por que se dirigira
a Bronwyn primeiro e não a ele? Ocorreu a Stephen que, se
Donald estivesse dentro da carroça, poderia tê-los ouvido
falar de Bronwyn sendo a Laird MacArran. Se ele soubesse,
Stephen podia ver que Donald não pretendia entregá-los ao
Laird MacGregor.

A igreja era o maior edifício do povoado, alto e


imponente. Dentro guardaram silêncio; o bebê dormia nos
braços de Kirsty.

— Posso falar com vocês? — perguntou a mãe, em voz


baixa, antes que chegassem ao altar. — Querem ser os
padrinhos de meu filho?

Bronwyn a olhou fixamente um momento.

— Conhece-nos tão pouco... — sussurrou.

— Conheço-os mais que suficiente. Sei que os dois


tomarão com seriedade sua responsabilidade de padrinhos.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen pegou a mão de Bronwyn.

— Sim, nós seremos os padrinhos, e vamos respeitar e


cumprir tudo o que isso significa. Jamais faltará nada ao
menino enquanto nós vivermos. — Assegurou.

Kirsty lhes sorriu e se adiantou para o sacerdote, que


esperava. Batizaram o bebê com o nome de Rory Stephen.
Seu padrinho depois de um olhar assustado sorriu
amplamente. Bronwyn não protestou ao ouvi-lo apresentar-se
ao sacerdote com o sobrenome de Montgomery. Quando
saíram da igreja foi ele quem levou o bebê até a carreta.

— Por que não fazemos um desses? Eu gostaria de um


garotinho de cabelo preto e olhos azuis e um buraquinho no
queixo. — Sugeriu a Bronwyn.

— Sugere acaso que meu aspecto é mais adequado para


um varão que para uma menina? — Brincou ela.

Stephen se pôs a rir.

— Sabe? Estou começando a gostar que agora não passe


o tempo todo gritando que sou um inglês.

Ela observou seu cabelo comprido e a desenvoltura com


que usava sua manta.

— Você já não se parece muito com um inglês. O que


seus irmãos vão dizer, quando virem que o irmão deles se
tornou metade escocês?

Ele resmungou.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Eles vão me aceitar como eu sou, e se eles tiverem


algum cérebro vão aprender algumas coisas de nós, os
escoceses.

— De nós? — observou ela, detendo-se de repente.

— Venha e pare de olhar para mim como se tivesse duas


cabeças.

Ela o seguiu, sem deixar de observá-lo. De repente caiu


em si de que Stephen falava agora sempre com sua
entonação escocesa, mesmo quando estavam sozinhos. A
manta lhe golpeava os joelhos no ângulo justo. Caminhava
como se sempre tivesse vivido na Escócia.

Ela sorriu, apertando o passo. Estava muito bonito com


o bebê embalado em um braço. Gostou do modo em que
deslizou o outro braço pelos seus ombros. Assim voltaram
para a carroça: juntos, rindo, felizes.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Onze
Durante dois dias viajaram com muita lentidão,
Bronwyn tratava de que Kirsty ficasse na carreta, mas ela se
limitava a rir. Stephen dizia que Kirsty saía em autodefesa,
depois de ter provado algumas das comidas de Bronwyn.

— Este é o pior guisado de coelho que provei em minha


vida. — disse Stephen uma noite, aborrecido. — Não tem
sabor de nada.

— Coelho? — Bronwyn disse distraidamente. Ela estava


segurando o bebê, observando seus olhos seguirem o
movimento da luz do sol morrendo em seu broche. — Oh não!
— Ela disse quando finalmente percebeu o que Stephen tinha
dito. Seu rosto se transformou em um tom rosado. — Os
coelhos ainda estão pendurados no lado da carreta. Me...

A risada de Stephen a interrompeu.

— O que aconteceu com a mulher inteligente com a qual


me casei?

Bronwyn lhe sorriu com toda confiança.

— Ainda está aqui. Qualquer um pode cozinhar, mas eu


posso...

Ela parou e olhou para cima, aturdida.

LRTHistóricos 310
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Estamos esperand.o — disse Stephen.

— Deixa de chateá-la — protestou Kirsty, serena —


Bronwyn, tão linda como você é não precisa saber cozinhar e,
além disso, você é corajosa, destemida, tem grande sentido
prático e...

Bronwyn se pôs a rir.

— Veja! — disse para Stephen. — Estou feliz que alguém


me aprecie.

— Oh, Stephen valoriza você. — Assegurou Kirsty,


sorridente. — Na verdade não me lembro de ter visto um
casal mais apaixonado que vocês.

Bronwyn afastou o olhar do bebê, sobressaltada.


Stephen a contemplava com expressão idiota, como na
primeira vez em que o vira.

— Ela é bonita, não é? — Ele disse. — Pena que não


saiba cozinhar.

Ele disse isso como se o pensamento estivesse longe,


Bronwyn fez uma careta e jogou um torrão de terra em sua
cabeça. Ele riu e pareceu voltar ao presente.

— Vai me deixar segurar meu afilhado? Ele passa muito


tempo com mulheres. — Riu outra vez ante a réplica da
esposa.

LRTHistóricos 311
Highlander Audaz — Jude Deveraux

No final da noite seguinte, viram a casa dos pais de


Kirsty. Era uma casa típica de camponeses, de pedra caiada
com um telhado de palha. Havia alguns campos de cevada
próximos e algumas ovelhas, bem como gado. Uma formação
íngreme da rocha se formava ao longo da parte traseira da
cabana.

Os pais de Kirsty saíram para encontrá-los. Seu pai,


Harben, era um homem baixo, e nodoso, sem o braço direito.
Seu rosto estava obscurecido por longos cabelos grisalhos e
uma barba volumosa. Mas o que poderia ser notado à
primeira vista era que parecia estar sempre com raiva.

Nesta, a mãe de Kirsty, era uma coisinha pequena e


magra, os cabelos grisalhos recolhidos para trás em um
coque. Era tão quente quanto Harben era frio. Abraçou o
bebê, Kirsty, e Bronwyn de uma só vez. Agradeceu a Stephen
e Bronwyn repetidas vezes por ter ajudado a nascer o seu
único neto. Beijou Stephen tão entusiasticamente como a
Donald.

Stephen perguntou se podiam passar a noite ali, para


prosseguir viagem pela manhã. Pela expressão de Harben
parecia que fora insultado.

— Só uma noite? Por quem me toma? — rosnou. — Que


espécie de homem é você? Sua esposa é muito magra e onde
estão seus filhos? — Sem esperar pela resposta de Stephen,
adicionou. — Minha cerveja caseira porá um bebê nesse
ventre liso dela.

LRTHistóricos 312
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen balançou a cabeça como se tivesse acabado de


ouvir uma grande sabedoria.

— Estava convencido de que era eu quem a deixaria


grávida, e durante todo o tempo, era preciso somente uma
cerveja caseira?

Harben emitiu um som que podia ser considerado uma


risada.

— Entrem e se considerem bem-vindos.

Depois de uma ceia simples de leite, manteiga, queijo e


tortas de cevada, todos se sentaram ao redor do fogo de turfa
no único cômodo. Stephen, sentado em um banquinho,
esculpia um brinquedo para Rory Stephen. Bronwyn se
acomodou no chão de terra sobre os joelhos. Kirsty e sua mãe
ficaram do outro lado. Donald e Harben, em frente ao fogo.

Donald, que já demonstrara que era um bom contador


de histórias, acabara de dar um relato hilário de Bronwyn
vendendo o tônico e a reação de Stephen aos seus
movimentos sedutores. Terminou com a história de Bronwyn
encontrando o Laird MacGregor.

Bronwyn riu de si mesma junto com os outros De


repente Harben se levantou de um salto, virando seu
banquinho.

— Pai! — pronunciou Kirsty, preocupada. — Dói-te


outra vez o braço?

LRTHistóricos 313
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Oh, sim — respondeu ele, com grande amargura. —


Nunca cessou que doer desde que os MacArran o
arrancaram.

Stephen se apressou a apoiar uma mão no ombro de


Bronwyn, em advertência.

— Agora não é a hora. — murmurou Nesta.

— Não é a hora! — Harben gritou. — Quando é a hora


de odiar o MacArran? — Ele se virou para Bronwyn e
Stephen. — Veja isso? — perguntou, indicando a manga
vazia. — O que um homem pode fazer sem um braço direito?
O próprio Laird MacArran tirou-o de mim. Há seis anos ele
invadiu meu pasto, levou meu gado e meu braço com ele.

— Seis anos. — sussurrou Bronwyn. — Não é verdade


que os MacGregor fizeram também algumas incursões e que
mataram a quatro homens?

Harben fez um gesto com a mão.

— Mereciam-no por nos roubar.

— O que devia fazer o Laird MacArran? Deveria ter


ficado quieto, de braços cruzados, enquanto matavam a seus
homens? Ele não deveria ter se vingado?

— Bronwyn... — advertiu Stephen.

— Deixa-a em paz. — retrucou Harben. — O que sabe


do Laird MacArran?

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Ele...

Kirsty a interrompeu.

— Bronwyn vive próximo à fronteira das terras dos


MacArran.

— Ah, sem dúvida têm muitos problemas com eles. —


comentou Harben, com certa simpatia.

— Em realidade, nenhum. — Sorriu a moça.

— Pois me conte como... — Harben falou.

Kirsty se levantou.

— Acho que é hora de todos irmos deitar. Temos que


cuidar da ordenha na parte da manhã.

— Sim! — disse Harben. — As manhãs vêm mais cedo a


cada ano.

Mais tarde, quando Bronwyn e Stephen se


aconchegaram sob suas mantas em um colchão de palha, ela
falou:

— Não me critique.

Stephen a estreitou contra si.

— Não pensava em fazer isso. Gostei de ver você e o


velho Harben discutirem. Acho que desta vez você encontrou
com a fôrma de seu sapato. Nenhum dos dois consegue
acreditar em nada de bom do outro clã.

LRTHistóricos 315
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ele a beijou quando Bronwyn fez menção de retrucar,


então se acomodaram pacificamente para dormir.

Um cavaleiro trouxe notícias na manhã seguinte que


mudou os planos de Stephen de deixar a casa de Harben e
prosseguir viagem. Sabia-se que a Laird MacArran estava
desaparecida assim como seu marido inglês. O Laird
MacGregor tinha oferecido uma recompensa generosa para
sua captura.

Stephen sorriu quando Harben disse que lamentava não


ter essa bruxa para entregá-la ao Laird MacGregor. Deixou de
sorrir quando o velho acrescentou que o inglês era um pavão
desprezível, que não merecia a terra em que o sepultariam.
Franziu o cenho, enquanto Bronwyn se declarava
fervorosamente de acordo com a opinião de Harben a respeito
do inglês. Ela o incitava até que Kirsty interrompeu os
resmungos do pai.

— Eu vou te retribuir por isso. — Sussurrou Stephen


enquanto iam para a inclinação, onde as vacas leiteiras
ficavam.

— Submetendo-me aos desejos gulosos dos ingleses? —


Ela brincou, então caminhou à frente dele, seu traseiro
balançando sedutoramente.

LRTHistóricos 316
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen começou a responder, mas de repente se sentiu


tomado de desejo. Sorriu para ela e foi até uma das vacas.

Bronwyn passara a vida entre os arrendatários dos


MacArran e estava familiarizada com o trabalho na fazenda.
Stephen sabia apenas como dirigir os homens em combate.
Sentou-se em um banquinho ao lado da vaca e ficou olhando-
a atônito.

— Olhe! — disse Kirsty, em voz baixa e lhe demonstrou


como se ordenhava. Stephen derramou mais leite na roupa
que dentro do balde, mas ela não emprestou atenção aos
seus juramentos.

Mais tarde compartilharam o leite ordenhado para que o


balde de Stephen ficasse tão cheio quanto o delas. Nesta ficou
intrigada pela inexplicável queda na produção de leite, mas
sorriu a todos com carinho e os enviou para os campos.

Havia vegetais de inverno para serem colhidos e cercas


para serem reparadas. Donald e Bronwyn riram quando
viram o rosto de Stephen ao ver a cerca de pedra. Ele estava
tão contente como uma criança que afinal, encontrava algo
que sabia fazer. Stephen carregava mais pedras do que o
resto deles juntos. Estava colocando nas costas uma grande
pedra quando Kirsty cutucou Bronwyn. Harben olhava para
Stephen com adoração nos olhos.

— Acredito que podem ficar tanto tempo como


desejarem. — disse a jovem, em voz baixa.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Obrigado. — respondeu Bronwyn. E uma vez mais


teve a sensação de que Kirsty sabia muito sobre ela.

Naquela noite, foi um grupo muito cansado que voltou


para a pequena cabana quente. Mas eram um grupo feliz.
Harben observava-os enquanto brincavam e riam, contando
os acontecimentos do dia. Ele acendeu um cachimbo, colocou
o cotovelo no joelho e, pela primeira vez em anos, não pensou
no dia em que perdeu o braço.

Dois dias depois, Kirsty e Bronwyn saíram em busca de


líquens no outro lado da rocha contra a qual se apoiava à
cabana. Rory Stephen ia comodamente envolvido em uma
manta, dormindo em uma cesta ao lado do riacho. Havia
nevado um pouco durante a noite e as mulheres levaram
tempo em sua busca. Riam e conversavam sobre a fazenda e
sobre seus maridos. Bronwyn nunca se sentira tão livre, sem
responsabilidades nem preocupações.

De repente ficou petrificada. Na verdade não tinha


ouvido nada, mas algo no ar a fez saber que o perigo estava
próximo. Ela possuía muitos anos de treinamento para
esquecê-los por um instante.

— Kirsty! — chamou em voz baixa, mas autoritária. A


moça levantou a cabeça. — Fica quieta, compreende? — Já

LRTHistóricos 318
Highlander Audaz — Jude Deveraux

não se tratava de uma mulher risonha, mas sim da Laird


MacArran.

— Mas Rory... — sussurrou Kirsty, com os olhos muito


abertos.

— Escuta e me obedeça. — Bronwyn falou clara e


deliberadamente. — Quero que te esconda entre essas ervas
altas.

— Rory... — repetiu Kirsty.

— Você deve confiar em mim! — pediu Bronwyn com


firmeza. As duas cruzaram um olhar.

— Sim! — disse Kirsty. Seus olhos se fecharam.

Sabia que podia confiar naquela mulher que se tornara


sua amiga. Bronwyn era mais forte e mais rápida do que ela.
Rory significava muito para Bronwyn para arriscá-lo por
vaidade de uma mãe. Deu meia volta e se afastou entre o
matagal. Abaixou-se em um lugar de onde pudesse ver o
cesto do bebê. Sabia que Bronwyn tinha melhores chances de
escapar com o bebê. — Os homens a alcançariam em
segundos.

Bronwyn permanecia muito quieta, esperando algo sem


exatamente saber o que.

A água correndo fazia barulho suficiente para cobrir o


som dos cascos dos cavalos. Quatro cavaleiros apareceram
por detrás do penhasco, quase antes que Kirsty pudesse se

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

esconder. Eram ingleses e vestiam grossas roupas. Seus


coletes estavam puídos e as meias furadas; seus olhos
tinham um aspecto faminto.

Eles viram Bronwyn imediatamente, e ela reconheceu a


luz que brilhou em seus olhos. Rory começou a chorar, e ela
correu para o bebê, apertando-o contra seu seio.

— Olhem o que temos aqui! — disse um homem de


cabelos loiros enquanto conduzia o cavalo diretamente à sua
frente.

— Uma beleza das montanhas escocesas. — riu um


segundo homem enquanto conduzia seu cavalo por trás dela.

— Olhem esse cabelo! — disse o primeiro homem.

— As mulheres da Escócia são todas prostitutas. —


Disse um terceiro homem. Ele e o quarto homem fecharam o
círculo em torno de Bronwyn. O homem na frente
impulsionou seu cavalo para frente até que ela teve que dar
um passo para trás.

— Não parece muito assustada. — observou ele. — Em


realidade, está pedindo a gritos que lhe apaguem essa
expressão do rosto. Mulheres não devem ter covas no queixo.
— Riu. — Não fica bem.

— Cabelo negro e olhos azuis. — comentou o segundo.


— Onde eu já vi isso antes?

LRTHistóricos 320
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Acho que me lembraria dela se a tivesse visto antes.


— disse o terceiro homem. Ele puxou a espada e estendeu-a
para Bronwyn, colocando a ponta sob seu queixo.

Ela levantou a vista, com olhos duros, mas serenos,


para estudar a situação.

— Deus bendito! — exclamou o segundo. — Acabo de


lembrar quem é.

— Quem se importa com quem ela é? — disse o primeiro


homem, desmontando. — Ela é algo que planejo provar, e
isso é tudo que me importa.

— Espera! — exclamou o segundo — É a Laird


MacArran. A vi na casa de Sir Thomas Crichton. Lembra-se
de que ela estava casada com um dos Montgomery?

O homem que estava junto à moça deu um passo atrás.

— É verdade isso? — perguntou, com voz de grande


respeito e temor.

Ela só olhou para ele, suas mãos tentando acalmar a


criança que segurava. Um dos cavaleiros pôs-se a rir.

— Olhem para ela! É mesmo a Laird MacArran. Alguém


viu tal orgulho em uma mulher? Ouvi dizer que ela fez o
Montgomery combater por ela, mesmo depois que o rei Henry
já a prometera em matrimônio.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sim, ela o fez! — confirmou o segundo. — Mas pode


comprovar por que Montgomery estava disposto a brandir a
espada por ela.

— Lady Bronwyn, — disse o primeiro, pois seu nome era


conhecido nos mais altos círculos da Inglaterra — onde está
Lorde Stephen?

Bronwyn não respondeu. Seus olhos se desviaram


momentaneamente em direção às rochas que a separavam da
cabana. Quando o bebê gemeu, apoiou uma bochecha contra
a cabecinha.

— Que prêmio! — disse o quarto homem, que estava


muito quieto. Ele disse as palavras em voz baixa, como se
divagasse. — O que devemos fazer com ela?

— Entregá-la aos Montgomery. Sem dúvida Stephen tem


que estar buscando-a. — Disse o primeiro homem.

— E sem dúvida pagará generosamente pelo seu retorno


— riu outro.

O quarto homem aproximou seu cavalo, forçando


Bronwyn a retroceder.

— E o clã? — apontou com seriedade. — Sabiam que os


MacArran estão em guerra com os MacGregor? Esta é a terra
dos MacGregor, vocês sabem.

— Charles, — ponderou o primeiro, lentamente — acho


que você está começando a ter boas ideias. Esta mulher está

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

obviamente se escondendo. De quem é esse menino? —


perguntou dirigindo-se a Bronwyn.

— Ainda não pode ter tido um do Montgomery. Talvez


escapou dele para dar a luz ao filho de outro homem.

O segundo pôs-se a rir.

— Ele provavelmente pagaria muito por tê-la de volta,


talvez apenas para que pudesse fervê-la em óleo.

— E se pedirmos resgate aos três? A seu clã, ao Laird


MacGregor e ao Montgomery.

— E nos divertirmos enquanto esperamos. — Propôs o


terceiro.

Kirsty observava tudo do matagal junto ao riacho. Havia


lágrimas em seus olhos e sangue em seu lábio inferior onde
tinha mordido. Ela sabia que Bronwyn poderia ter fugido. As
rochas atrás dela eram muito íngremes para que os homens
pudessem subir a cavalo, e Bronwyn poderia ter escapado
deles. Mas não com a criança. Levaria o uso de ambas às
mãos para escalar essas rochas. Bronwyn não conseguiria
fugir enquanto segurava Rory.

— Eu gosto da ideia. — Disse o primeiro, aproximando-


se da moça. — Se você cooperar não será machucada. Agora
me dê essa criança. — Falava como se ela fosse idiota.
Quando Bronwyn deu um passo atrás, ele franziu o cenho. —

LRTHistóricos 323
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Sabemos que o bebê não é do Montgomery, então não seria


melhor se nos livrássemos dele agora?

Bronwyn se ergueu em toda sua estatura com firmeza.

— Se meu filho ou eu sofrermos dano, todo meu clã e


toda a família Montgomery cairão sobre vocês. — Disse com
voz serena.

O homem a olhou surpreso um momento, mas se


recuperou.

— Você está tentando nos assustar? — Ele deu um


passo mais perto. — Me dê à criança!

— Não te aproxime mais. — Advertiu Bronwyn com voz


seca.

Um dos homens riu.

— Acho que é melhor ter cuidado com ela. Parece


perigosa. O homem atrás de Bronwyn desmontou.

— Precisa de alguma ajuda? — Ele perguntou


calmamente. Os outros dois permaneceram a cavalo e se
aproximaram. Bronwyn não entrou em pânico. Não podia
colocar o bebê no chão nem tirar sua adaga. Sua única
chance era ser capaz de ultrapassar os ingleses na corrida,
que estavam acostumados a viver sobre o cavalo. Ela
facilmente esquivou-se do homem na frente dela, aninhou
Rory contra ela, e começou a correr. Mas mesmo uma
escocesa não era páreo para um cavalo.

LRTHistóricos 324
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Um dos homens a cavalo cortou sua frente forçando-a a


parar de correr. Sua risada insidiosa irrompeu o ar. Rory
começou a chorar enquanto Bronwyn o segurava mais perto
dela. Ela sabia que os homens iriam matar a criança se o
depositasse no chão.

Os cavaleiros voltaram a rodeá-la. Um deles a segurou


pelo ombro e empurrou-a na direção de outro homem.

De repente, uma flecha apareceu do nada e afundou-se


no peito do primeiro homem quando ele estendeu a mão para
tocar Bronwyn novamente.

Os outros três ficaram aturdidos, olhando fixamente a


seu companheiro, que jazia a seus pés, silencioso e sem vida.
Bronwyn não perdeu tempo em se perguntar de onde surgira
essa flecha. Utilizou esses poucos segundos para correr em
direção ao rochedo.

Os homens olharam ao redor deles tentando encontrar o


arqueiro. Antes que pudessem pensar, um escocês solitário
levantou-se das pedras e disparou outra flecha. O terceiro
homem, também a pé, caiu.

Os dois homens a cavalo viraram bruscamente e


começaram a cavalgar pelo o caminho que eles vieram.

Stephen veio sobre as rochas ágil e rapidamente com


Rab logo atrás dele. O cão lhe dera o alarme. Ele correu atrás
dos homens a cavalo, disparando seu arco enquanto corria.
Um dos homens caiu enquanto seu cavalo continuava

LRTHistóricos 325
Highlander Audaz — Jude Deveraux

galopando, o pé do seu mestre morto, preso no estribo, o


corpo sendo arrastando pelo chão áspero. Stephen continuou
correndo atrás do quarto homem.

Lentamente Kirsty saiu de seu esconderijo. Ela estava


muito assustada para mover-se rapidamente. Bronwyn a
encontrou a meio caminho. Kirsty tomou seu filho, segurou-o
com ternura, depois ergueu o olhar e viu Donald vindo em
sua direção. Ela entregou o bebê ao pai, então apertou
Bronwyn. Seu corpo tremia.

— Salvou-o! — sussurrou trêmula. — Poderia ter


escapado, mas não o fez. Arriscou a vida para salvar ao meu
bebê.

Mas Bronwyn mal escutava. Olhava fixamente o local


por onde Stephen aparecera.

— Matou aos ingleses! — Ela sussurrou repetidas vezes,


sentindo-se feliz e espantada. Stephen matou ingleses para
protegê-la e a um bebê escocês.

Donald pôs a mão no ombro de Bronwyn.

— Você e Stephen terão que partir. — disse com tristeza.

— Oh, Donald, por favor... — começou Kirsty.

— Não, é preciso. Esses homens... — interrompeu-se ao


ver que Stephen retornava.

Bronwyn caminhou em sua direção como se estivesse


aturdida. Observou-o com cuidado, mas não viu nenhum

LRTHistóricos 326
Highlander Audaz — Jude Deveraux

sinal de sangue. Estava suado pela corrida, e ela queria secar


sua testa.

— Machucaram você? — perguntou ela, em voz baixa.

Ele a olhou fixamente e a estreitou contra si.

— Foi muito corajoso o que você fez, a maneira como


você protegeu o bebê.

Antes que a ela pudesse responder, Donald interveio:

— Stephen, e o outro homem?

— Escapou. — informou Stephen, deslizando as mãos


pelas costas de Bronwyn, para assegurar-se de que estivesse
sã e salva.

Kirsty e Donald trocaram olhares.

— Irá à busca do Laird MacGregor, sem dúvida. — disse


Donald.

Bronwyn se afastou do abraço de Stephen.

— Há quanto tempo sabem que eu sou a Laird


MacArran? — perguntou.

— Desde o começo. — respondeu Kirsty. — Eu a vi faz


um ano, um dia em que você cavalgava com seu pai. Minha
mãe e eu recolhíamos amoras.

LRTHistóricos 327
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Então sua mãe também sabe. — disse Bronwyn. Ela


ainda segurava a mão de Stephen e estava feliz por sua
confiança. — E seu pai?

Kirsty franziu o cenho.

— Está muito colérico para perdoar. Quis lhe dar mais


tempo para que conhecesse os dois. Pensava contar-lhe tudo
quando tivessem partido. Nós sabíamos que ele não
conseguiria odiá-los.

— Mas houve pouco tempo. — Adicionou Donald. —


Esse inglês contará tudo ao Laird MacGregor.

— Stephen! — disse Bronwyn. — Devemos ir embora.


Não podemos pôr em perigo Kirsty e a sua família.

Ele assentiu.

— Donald, Kirsty...

— Não! — disse Kirsty, interrompendo-o. Não precisa


dizer uma palavra, são padrinhos de meu filho, e eu pretendo
mantê-los e obrigá-los a cumprir com seu papel.

Stephen sorriu.

— Ele pode iniciar-se e treinar como cavalheiro com um


de meus irmãos. — propôs.

— Com um inglês! — saltou Bronwyn. — Não, Kirsty.


Ele pode vir à casa dos MacArran.

Donald sorriu.

LRTHistóricos 328
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Basta. Logo faremos mais garotos para vocês. Agora


peguem os cavalos dos ingleses e vão para casa. Há tempo
antes do Natal para chegar à casa dos irmãos de Stephen.

— Kirsty, — murmurou Bronwyn e Kirsty a abraçou com


força. — O que meu povo dirá quando souber que minha
melhor amiga é uma MacGregor? — Disse e riu. A outra
estava séria.

— Deve voltar para cá e falar com o Laird MacGregor. É


um bom homem e gosta das mulheres bonitas. Você deve
tentar resolver essa rixa. Não quero que nossos filhos
precisem brigar entre si.

— Tampouco eu. — assegurou Bronwyn, afastando-se.


— Te dou minha palavra de que voltarei.

Stephen pôs o braço em volta dela.

— É necessário que voltemos para beber outro pouco


dessa cerveja caseira de Harben.

Donald deixou escapar uma gargalhada.

— E Bronwyn, eu creio que devo lhe pedir desculpas e


agradecer por não ter rido de mim quando nos conhecemos.
Quando me lembro de todas as coisas que disse sobre a Laird
MacArran!

— Era tudo verdade. — Stephen riu. — Ela é a mulher


mais teimosa, mais desobediente, mais...

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Magnífica de todas — concluiu o outro por ele,


abraçando Bronwyn. - Jamais poderei agradecer o suficiente
pela vida do meu filho. Obrigado. — Deixou-a de lado e
abraçou Stephen. — Agora partam. Peguem os cavalos dos
ingleses e corram. — Separou-se de Stephen. — Quando
Kirsty me disse que você era inglês não quis acreditar nela. E
ainda não acredito.

Stephen riu.

— Tenho certeza de que isso foi um elogio. Kirsty foi


uma honra conhecê-la e eu gostaria que pudéssemos ficar
mais tempo para que minha esposa pudesse aprender a ser
doce como você.

Antes que Bronwyn pudesse fazer uma réplica, Donald


soltou uma gargalhada.

— Isso é o que ela aparenta, amigo. Ela também é


desobediente, como Bronwyn, só que de outro modo.

Bronwyn entrecerrou os olhos para olhar a seu marido.

— Pense antes de responder. — lhe advertiu.

Ele tocou a mão de Rory, sentindo os dedinhos do


menino o agarrarem um instante. Então tomou Bronwyn pela
mão e caminhou para os cavalos. Nenhum dos dois podia
olhar para trás enquanto se afastavam. O curto tempo na
cabana de Harben havia sido de paz, e era muito doloroso
pensar em deixá-los.

LRTHistóricos 330
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Cavalgaram a um ritmo constante por várias horas. Não


queriam atrair atenção para si mesmos viajando a um galope
rápido. Stephen parou uma vez e removeu dos cavalos as
rédeas inglesas e jogou-as nas urzes. Bronwyn persuadiu a
esposa de um camponês a dar-lhe um pote de tintura escura,
e pintou as marcas brancas dos cavalos. Se olhassem de
perto, podia-se ver que as patas dianteiras eram ligeiramente
roxas em vez da cor castanho profundo do resto do cavalo.

Stephen estava preocupado com provisões e queria


gastar as poucas moedas encontradas nos alforjes, mas
Bronwyn riu e lembrou-lhe que ainda estavam na Escócia.
Onde quer que fossem, seriam recebidos com hospitalidade e
generosidade. Às vezes, um camponês tinha pouco ou o
suficiente para sua própria família, mas sempre estava
disposto a compartilhar o que possuía com outro escocês —
ou qualquer pessoa que não fosse inglês. Bronwyn riu da
forma como Stephen muito frequentemente ouvia e
suportava, em silêncio, os insultos aos abusos dos ingleses.
Um escocês após outro mostrou a Stephen os campos
queimados pelos ingleses. Um homem apresentou seu neto,
produto de um estupro em sua filha por um inglês. Stephen
escutava e respondia com seu suave sotaque escocês, que
agora era tão natural para ele quanto respirar.

LRTHistóricos 331
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Pelas noites se envolviam juntos nas mantas e faziam


amor. Às vezes, durante o dia, olhavam um para o outro de
cima de seus cavalos, em plena cavalgada e no momento
seguinte estavam no chão, suas roupas espalhadas e
abandonadas. Stephen só precisava olhar Bronwyn para ela
saber o que ele pensava. Seus olhos ardiam e seus corpos
queimavam. Ela sorria para ele e deixa-se enlaçar pela
cintura para que ele a colocasse na sela em frente a ele.

— Acredito que jamais poderei ter o suficiente de você.


— sussurrou Stephen lhe mordiscando o lóbulo da orelha.

— Não será porque não o tente. — disse ela impudica.


Mas fechou os olhos e moveu a cabeça para que ele tivesse
acesso ao pescoço. De repente ergueu as costas, porque
várias pessoas estavam olhando para eles da estrada. —
Stephen!

— Bom dia. — Saudou Stephen e voltou para pescoço de


Bronwyn.

— Não tem pudor? — protestou ela empurrando-o. —


Pelo menos deveríamos... — Interrompeu-se ao ver o brilho
dos olhos de seu marido. — Por ali há algumas árvores —
sussurrou.

Rab ficava de guarda enquanto Stephen e Bronwyn


estavam deitados lado a lado no pequeno bosque. Bronwyn
achava que quanto mais faziam amor, mais o corpo de
Stephen a fascinava. A luz que passava através das árvores

LRTHistóricos 332
Highlander Audaz — Jude Deveraux

jogava raios dourados na pele bronzeada de seus músculos.


Ela estava fascinada pela sua força e potência, sua
capacidade de mover seu corpo com uma só mão. Ela
brincava, rolando para longe, mas ele só tinha que colocar
uma mão em sua cintura e puxá-la de volta.

Fizeram amor em todas as posições imagináveis.


Estavam longe do clã há tanto tempo que Bronwyn perdera
seu forte senso de responsabilidade e sentia-se livre e feliz.
Procurava Stephen tão avidamente quanto ele a procurava.
Experimentava de tudo, deixando que seu corpo controlasse
sua mente. Estava deitada de costas, com as pernas jogadas
sobre Stephen, que estava deitado ao seu lado. Agarrou-o,
puxando para si, e gemeu enquanto suas mãos acariciavam
lhe as pernas. Todo seu corpo estremeceu quando explodiram
juntos.

Eles permaneceram imóveis por um longo tempo,


enrolados um sobre o outro, nenhum deles notando o ar frio
do inverno ou o solo úmido e quase congelado.

— Como é sua família? — perguntou Bronwyn, com voz


rouca.

Stephen sorriu e olhou para seu corpo, perpendicular ao


dele. Estava contente que ela parecia fraca e exausta,
exatamente como ele se sentia. Teve um pequeno arrepio
quando uma rajada de vento enviou pequenas agulhas
geladas pelo seu corpo.

LRTHistóricos 333
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Vamos nos vestir e preparar tortas de cevada.

Depois que estavam vestidos, Stephen foi até o cavalo


dele, pegou uma ampla caçarola de metal que estava
pendurado na aba da sela, e de dentro do alforje um saco de
farinha de aveia. A caçarola tinha sido sua única compra.
Bronwyn já tinha acendido uma pequena fogueira quando ele
voltou. Misturaram a aveia com água enquanto a caçarola
aquecia, em seguida, espalharam a pasta sobre a chapa
quente. Stephen virou a torta com os dedos.

— Não me respondeu. — observou ela, enquanto comia


a primeira torta.

Ele sabia a que ela se referia, mas não quis deixar


transparecer o quanto estava satisfeito por ela ter perguntado
sobre sua família. Teve a súbita sensação que não desejava
chegar tão cedo à propriedade dos Montgomery, pois preferia
ter Bronwyn só para ele. A luz do fogo refletia em seus
cabelos e no broche preso em seu ombro. Não, não queria
dividi-la com ninguém.

— Stephen? Está-me olhando de um modo estranho.

Ele, sorridente, voltou sua atenção à torta que assava


na caçarola.

— Só estava pensando. Vamos ver... Você queria saber


sobre a minha família. — Enrolou uma torta quente e
começou a comê-la. — Gavin é o primogênito, então eu,
depois vem Raine e Miles.

LRTHistóricos 334
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Como são eles? Se parecem com você?

— É difícil julgar quando fazemos parte da família.


Gavin é alto e extremamente teimoso. Está sempre se
dedicando às terras Montgomery e passou ali a maior parte
de sua vida.

— E é o único casado.

— Se esquece de mim? — riu ele. — Gavin e Judith se


casaram faz mais ou menos um ano.

— Como é ela?

— Muito bela! Bondosa, doce, pormenorizada,


indulgente. — Riu entre dentes. — Tinha que ser assim ou de
outro modo não poderia suportar viver com Gavin. Ele não
sabe muito sobre as mulheres, e como resultado se mete em
um monte de problemas com elas.

— Estou feliz que ele seja o único de vocês quatro que


sabe pouco sobre mulheres.

Stephen ignorou o sarcasmo em suas palavras. Estava


começando a se lembrar de sua família com saudade.

— Então, há Raine, que é como Tam, musculoso, mais


baixo e pesado, como nosso pai. Raine é o... não sei como
explicá-lo. Ele é bom, profundamente bom por dentro. Ele
colocará sua própria vida em perigo antes que possa fazer
mal a um servo ou deixar que alguém possa maltratá-lo ou o
prejudicá-lo.

LRTHistóricos 335
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— E Miles?

— Miles... — Stephen sorriu. — Miles está sempre quieto


e calado, ninguém sabe muito sobre ele. Mantêm para si
mesmo seus sentimentos, mas de vez em quando explode.
Seu temperamento e ira são mais terríveis que se possa
imaginar. Uma vez, quando éramos crianças, ficou zangado
com um dos escudeiros de meu pai, e precisou de nós três
para mantê-lo bem seguro até ele se acalmar.

— O que tinha feito o escudeiro? — perguntou ela por


curiosidade, aceitando outra torta.

Os olhos do Stephen se iluminaram com a lembrança.

— Estava chateando a uma garotinha. Miles adora as


mulheres.

— A todas?

— Todas... — disse Stephen. — E elas o seguem como se


ele tivesse a chave da felicidade. Nunca conheci a uma
mulher que não gostasse de Miles.

— Ele parece muito interessante. — Disse ela, lambendo


os dedos.

— Nem pense em... — mas Stephen se interrompeu,


porque Bronwyn o olhava com muito interesse. Então voltou
sua atenção para as tortas. — E também há Mary.

— Quem é Mary?

LRTHistóricos 336
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Nossa irmã.

Algo sobre a forma como disse as palavras lhe fez fitá-lo.

— Nunca mencionou a nenhuma irmã. Como é ela?


Estará na casa no Natal?

— Mary é como a Madonna. — Disse ele com reverência.


— Mesmo quando éramos crianças sabíamos que ela era
diferente. Ela é a filha mais velha, e sempre soube como
manter seus irmãos mais ‗jovens‘ fora de problemas. Às vezes
Gavin e Raine brigavam. Gavin sempre esteve ciente de que
as terras seriam suas algum dia. E sempre ficava zangado
quando Raine perdoava um servo por causar qualquer
destruição na terra, mesmo quando fosse claramente
causada por um acidente. Mary sempre se interpunha entre
eles e os acalmava com sua voz suave.

— Como? — perguntou Bronwyn, pensando em suas


responsabilidades dentro do clã.

— Nunca entendi como ela fazia isso. Quando Miles


tentou matar o escudeiro, foi Mary que conseguiu acalmá-lo.

— E o que é dela agora? Seu marido a trata bem?

— Não tem marido. Pediu permissão para nunca se


casar, e como nunca conhecemos um homem que fosse digno
e amável o suficiente para ela, concedemos seu desejo. Ela
vive em um convento não muito longe das propriedades dos
Montgomery.

LRTHistóricos 337
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Foram muito amáveis, os quatros irmãos, em


conceder seu desejo. Ouvi dizer que as inglesas geralmente
têm pouca escolha sobre seu futuro.

Stephen não se ofendeu por suas palavras.

— Acho que você tem razão, talvez devessem aprender


com os escoceses.

— Devessem? Quem? — apontou ela com suavidade.

Ele riu ante a observação.

— Sabe que quase começo a me sentir escocês? — Se


levantou para mostrar a perna nua. — Você acha que meus
irmãos vão me reconhecer?

— Provavelmente sim, mas duvido que outros o


reconheçam. — Havia orgulho na voz do Bronwyn.

— Eu gostaria de comprovar se você está certa.

— Planeja algo? — ela perguntou com suspeita, pois


neste momento seu marido parecia um garotinho peralta. —
Stephen já temos os MacGregor em nosso encalço, meu irmão
com seus homens e sem dúvida alguns ingleses, já que você
matou três deles. Eu gostaria de chegar inteira a casa do seu
irmão.

— Chegaremos. — disse Stephen, com um olhar


distante nos olhos. — Mas poderíamos fazer uma visita no
caminho.

LRTHistóricos 338
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn suspirou e se levantou para sacudir a poeira


da saia. Enquanto se dirigia aos cavalos sua mente estava
cheia de pensamentos sobre meninos que nunca cresceram.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Doze
Quando entraram na Inglaterra, Stephen podia sentir a
diferença no ar. Mesmo na fronteira da Escócia, o povo não
estava acostumado a ver os escoceses. Algumas pessoas
olhavam abertamente para o seu traje. Alguns gritaram
palavras zangadas porque suas terras e propriedades haviam
sido atacadas e queimadas pelos escoceses. Bronwyn
cavalgava com as costas rígidas e a cabeça erguida.
Recusava-se a responder qualquer coisa que os ingleses
dissessem. Só uma vez mostrou sua emoção. Stephen parou
no poço de um camponês para reabastecer seus odres de
água, e o fazendeiro correu atrás deles com um garfo de feno.
Stephen, com o sangue fervilhando em seu corpo, voltou-se
para contra atacar ao pequeno homem que estava
amaldiçoando os escoceses tão vividamente. Bronwyn
agarrou o braço do marido e puxou-o de volta para os
cavalos. Durante horas depois, Stephen murmurou
juramentos sobre a estupidez dos ingleses. Bronwyn só sorria
com suas palavras. Não havia uma que ela já não tivesse
pensado ou dito. Agora eles estavam discutindo sobre outra
coisa. Duas noites atrás, Stephen dissera a Bronwyn que
tinha um plano para enganar um amigo de infância.

— Não, eu não compreendo! — protestou ela, pela


centésima vez.

LRTHistóricos 340
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É uma rivalidade — disse Stephen pacientemente. —


Você, acima de qualquer outra pessoa, deve entender o que é
uma rivalidade.

— O que separa aos MacGregor dos MacArran é algo


real, apoiado em muitos anos de ódio e hostilidade. Eles
mataram aos meus homens e roubaram meu gado. Algumas
de minhas mulheres cuidam de bastardos MacGregor. —
Lançou um olhar suplicante ao marido. — Por favor, Stephen,
isso é uma brincadeira de crianças e só vai causar
problemas. O que importa se esse homem reconhece você ou
não?

Stephen se recusou a responder, especialmente porque


ela já tinha feito à pergunta várias vezes. Ele não podia
explicar a ela sobre Hugh. Nem sequer podia recordar o
ocorrido sem constrangimento e dor.

Enquanto patrulhava com Hugh as fronteiras inglesas


com as terras baixas da Escócia, por ordem do rei Henry,
tinha recebido a notícia de que o monarca desejava lhe casar
com a herdeira do clã MacArran. Hugh explodiu em
gargalhadas. Durante dias, não fez mais do que conjurar
imagens horríveis da noiva de Stephen. Em pouco tempo,
todo o acampamento falava da feia criatura com quem Lorde
Stephen teria que se casar.

O decreto era especialmente desagradável, porque na


época, Stephen pensava que estava apaixonado. Seu nome
era Margaret, mas chamavam-na Meg. Era uma loira de rosto

LRTHistóricos 341
Highlander Audaz — Jude Deveraux

rosado, corpo branco e gordinha, filha de um comerciante das


terras baixas. Tinha grandes olhos azuis e uma boca pequena
que parecia sempre pronta para beijar. Era tímida e
silenciosa, adorava ao Stephen... ou pelo menos isso ele
pensava. Pelas noites Stephen a tinha em seus braços,
acariciava seu corpo branco e suave, imaginando a detestável
vida que lhe esperava junto a uma Laird de clã.

Depois de várias noites sem dormir, começou a pensar


em recusar a oferta do rei. Queria casar-se com a filha do
comerciante. Ela não era rica, mas seu pai vivia
confortavelmente, e Stephen tinha a renda de uma pequena
propriedade. Quanto mais pensava na ideia, mais gostava.
Tentava não imaginar a fúria do rei ante a negativa.

Foi Hugh quem fez migalhas de seus sonhos. Hugh


revelou a Meg do iminente casamento de Stephen, a pobre
moça, perturbada e desamparada, se lançou nos braços
voluntários de Hugh, que não pensou duas vezes em levá-la
para sua cama. Ou pelo menos foi o que Meg contou a
Stephen.

Stephen ficou confuso quando encontrou na cama o


amigo e a mulher que ele amava. Mas estranhamente seu
desconcerto nunca se voltou para a raiva, e por causa deste
fato, percebeu que realmente não amava Meg. E que ela não o
amava já que tão facilmente o trocou por outro. Seu único
pensamento tinha sido como retribuir Hugh com a mesma
moeda. Antes que pudesse fazer um plano, um mensageiro

LRTHistóricos 342
Highlander Audaz — Jude Deveraux

chegou dizendo que Gavin precisava de ajuda. Stephen


cavalgou em busca do irmão sem pensar em Hugh.

Agora, Stephen via uma maneira de retribuir seu amigo,


e Hugh ainda era seu amigo. Se conseguisse entrar na
propriedade de Hugh e sair novamente, sem ser detectado,
mas deixar uma mensagem de que estivera lá, então se
sentiria um pouco satisfeito. Hugh não gostava de saber que
havia estranhos nas redondezas; raras vezes saía sem uma
guarda completa. Sim, Stephen sorriu, havia um meio de
ajustar contas com Hugh Lasco.

Chegaram à propriedade de Lasco antes do anoitecer.


Era uma casa de pedra, alta e com janelas cobertas por
persianas de ferro. O pátio de entrada estava cheio de
pessoas que andavam de uma maneira ordenada, como se
tivessem uma tarefa e se apressassem a cumpri-la. Não havia
grupos de serventes em pé e tagarelando.

Stephen e Bronwyn receberam a ordem de alto assim


que se aproximaram da casa. O jovem, com forte acento
escocês, perguntou se podia ganhar comida cantando e
tocando. Esperaram pacientemente, enquanto um dos
guardas entrava na casa para consultar Sir Hugh.

Stephen sabia que Hugh se considerava um excepcional


tocador de alaúde e não perderia a oportunidade de julgar o
desempenho de outra pessoa. Ele sorriu quando o guarda
lhes disse para levar seus cavalos para o estábulo, em
seguida fosse à cozinha.

LRTHistóricos 343
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Mais tarde, quando se sentaram diante de uma farta


refeição na enorme mesa de carvalho da cozinha, Bronwyn
começou a resignar-se aos planos de seu marido. Claro que
não lhe tinha contado grande coisa a respeito! Só sabia que
Stephen planejava alguma armadilha infantil contra seu
amigo.

— Como é Sir Hugh? — perguntou, com a boca cheia de


pão fresco.

Stephen soltou um bufido desdenhoso.

— Ele é bonito o suficiente, eu acho, se é isso que você


quer saber, mas ele é baixo, robusto, e muito moreno. E sua
presença é irritante. Nunca conheci a ninguém que se
movesse com tanta lentidão. É mais lento que qualquer outra
pessoa. Nas terras baixas temia sempre que nos atacassem e
Hugh fosse morto antes de ter podido abrir os olhos, muito
menos colocar a sua armadura.

— Está casado?

Stephen lançou-lhe um olhar penetrante. Estudou-a por


um momento em especulação. Nunca poderia compreender,
mas por alguma razão, as mulheres acharam Hugh bastante
atraente. Para Stephen, as atitudes calculadas de Hugh, seus
modos excessivamente cautelosos, eram insuportáveis. Mas
as mulheres...

LRTHistóricos 344
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Quero que você mantenha a cabeça baixa o tempo


todo. — especificou, com muita firmeza. — Só desta vez quero
que você tente agir como uma esposa obediente e respeitosa.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Alguma vez atuei de outro modo?

— Bronwyn estou avisando. Isso é entre Hugh e eu, e


não quero que você se envolva.

— Você parece quase como se tivesse medo dele —


brincou ela. — Há algo nele que faz com que as mulheres se
joguem a seus pés?

Dissera em tom de brincadeira, mas a expressão de


Stephen revelou que estava muito perto do alvo. De repente
quis assegurá-lo que não tinha nenhum interesse em jogar-se
aos pés de outro homem. Claro, houve umas poucas vezes,
algumas posições, em que encontrara os pés de Stephen
muito perto de sua face. A lembrança lhe fez sorrir.

— Não vejo nada para rir! — Stephen disse rígido. — E


se você não me obedecer, eu... — Ele parou quando um dos
guardas de Hugh se aproximou e disse que Stephen deveria ir
e entreter no salão.

As mesas de cavalete já haviam sido montadas no


Grande Salão e a refeição tinha começado. Stephen empurrou
Bronwyn para um banco baixo contra uma parede afastada.
Ela sorriu impiedosamente ao seu comportamento e até

LRTHistóricos 345
Highlander Audaz — Jude Deveraux

sufocou uma risada quando ele lhe deu um olhar negro de


advertência. Esperava fazê-lo lamentar toda essa brincadeira
infantil.

Stephen pegou o alaúde que lhe foi entregue, se sentou


a vários metros da mesa principal. Tocava muito bem. Sua
voz era grave e profunda, com sonoridade entoava a melodia
lindamente.

Por um instante Bronwyn vagou os olhos pela


habitação. O homem moreno à cabeceira da mesa nunca
olhava o cantor. Observou sem interesse como ele comia,
conforme Stephen dissera, lentamente. Cada movimento
parecia planejado e pensado de antemão.

Rapidamente perdeu o interesse em observar Hugh


Lasco e inclinou a cabeça contra a parede de pedra, fechou os
olhos e dedicou sua mente a ouvir a música de Stephen.
Sentia como se ele tocasse unicamente para ela; em certa
ocasião abriu os olhos e viu que ele a observava e seu olhar
foi tão surpreendente como seu toque. Sentiu calafrios
percorrendo por seu corpo enquanto via a expressão em seus
olhos. Sorriu em resposta, fechou os olhos novamente.
Cantava uma canção gaélica, e ela estava contente que ele
aprendeu as palavras, provavelmente Tam o ensinara. A doce
música, as palavras de amor, cantadas em sua própria
língua, fizeram-na esquecer de que estava na Inglaterra,
cercada de ingleses, casada com um inglês. Em vez disso, era

LRTHistóricos 346
Highlander Audaz — Jude Deveraux

como se estivesse em casa, em Larenston, com o homem que


ela amava.

O pensamento a fez sorrir, sonhadora, mas então notou


uma mudança na voz do Stephen. Abriu rapidamente os
olhos. Ele já não a olhava: tinha a vista fixa em Hugh. Pouco
a pouco, a moça girou a cabeça. Soube antes de vê-lo que
Hugh a estava observando.

Era de uma beleza comum. Era moreno, de olhos


escuros. Sua boca tinha lábios grandes demais para um
homem, mas chamavam a atenção, no entanto não a de
Bronwyn. Enquanto o olhava, Hugh limpou os lábios em sua
maneira lenta, e Bronwyn se perguntou se ele se movia lento
e demoradamente na cama.

Ela sorriu para seus próprios pensamentos. Então, esse


era o atrativo de Hugh! É claro, Stephen não seria capaz de
entender o sentido disso, mas como mulher, ela achou seu
método bastante interessante. Ela sorriu de novo quando
pensou em contar a Stephen sua descoberta.

Virou-se para o marido e viu-o de cara feia para ela,


suas sobrancelhas franzidas, seus olhos azuis transformados
em uma safira escura. Por um momento, se perguntou o que
ela tinha feito para irritá-lo, ao perceber o porquê quase
gargalhou em voz alta. ‗Ele está com ciúmes!‟, pensou com um
sentimento de admiração. Maravilhada com esse
pensamento, sentiu-se emocionada e o fato lhe deixou mais
excitada, do que qualquer um dos olhares quentes de Hugh.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Baixou a vista para sua saia e passeou um dedo pelo bordado


do tecido. Ela não devia estar é claro, mas estava
extraordinariamente satisfeita por Stephen estar com ciúmes.
Ela não se atreveria a dizer-lhe que não tinha mais interesse
em Hugh... do que no jardineiro, porque isso a fazia sentir-se
aquecida, por pensar que Stephen se interessava por ela o
suficiente para ter ciúmes.

Hugh disse algo a um dos dois guardas que estavam


atrás dele e o homem se aproximou de Stephen, que ouviu o
homem, entregou-lhe o alaúde e atravessou furiosamente o
salão em grandes passadas. Agarrou Bronwyn pelo braço e a
levou consigo, quase arrastando.

No pátio iluminado pela lua à fez se voltar para ele.

— Você certamente se divertiu! — ele falou, com os


dentes cerrados.

— Você está me machucando. — ela disse calmamente,


tentando tirar os dedos dele de seu braço.

— Deveria te castigar!

Bronwyn o fulminou com o olhar. Estava indo longe


demais!

— É verdadeiramente a lógica de um homem. Foi você


quem quis vir aqui, foi você quem insistiu em agir como uma
criança e agora, para encobrir sua própria estupidez e
infantilidade, quer me bater.

LRTHistóricos 348
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen enterrou os dedos com mais profundidade no


braço da esposa.

— Disse-te que permanecesse discretamente sentada,


fora da vista, mas tinha que dedicar a Hugh sorrisos
sedutores. Estava lhe dizendo antecipadamente que tudo o
que quisesse era só pedir.

A boca de Bronwyn se abriu de surpresa.

— Esta pode ser a coisa mais absurda que eu já ouvi.

— Você está mentindo, eu vi!

Bronwyn abriu mais os olhos. Quando falou o fez com


muita calma.

— Stephen, que diabos acontece? Olhei a esse homem


como a outro qualquer. Sentia curiosidade porque você me
havia dito que era lento, mas que tinha muitas mulheres.

— Estava tentando se juntar a seu harém?

— Você está sendo bruto e insultante. — advertiu ela,


seca.

Ele não a soltou.

— Talvez quisesse que o rei a tivesse casado com ele, ou


com Roger Chatworth. Se consegui vencer a um, posso fazer o
mesmo com o outro.

O comentário era tão infantil que Bronwyn não pôde


evitar uma gargalhada.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não seja irracional. Não fiz nada além de olhar para o


homem. Se eu sorria, era porque estava pensando em outra
coisa. Eu vou lembrá-lo novamente que nunca quis vir aqui
em primeiro lugar.

De repente Stephen esqueceu toda sua irritação e a


estreitou contra si em um abraço esmagador.

— Não faça isso de novo! — disse com ferocidade.

Bronwyn começou a replicar dizendo que não fizera


nada, mas aquele abraço era quase reconfortante. Seus
braços doíam e ela podia sentir a marca de cada um dos
dedos de Stephen, mas de algum modo apreciava a ideia que
ele tivesse ciúmes de qualquer outro homem olhando para
ela.

— Quase lamento que seja tão bonita. — sussurrou


Stephen afastando-a. Depois colocou seu braço em torno de
seus ombros. — Estou com fome outra vez, vamos ver se
ainda resta alguma coisa na cozinha.

Bronwyn se sentia especialmente ligada a Stephen


enquanto voltavam à cozinha. Era quase como se ambos
estivessem apaixonados em vez de sentir simples desejo
físico. Os criados da cozinha resmungaram ao vê-los
novamente, mas Stephen piscou um olho à cozinheira e
Bronwyn notou que a gorda anciã se derretia. Ela teve sua
própria pontada de ciúme e percebeu que queria que todos os
olhares de Stephen fossem seus.

LRTHistóricos 350
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Eles ficaram de lado por um momento, comendo


suculentas tortas de maçã cheias de frutas.

— Aqui se esbanja muito. — comentou Bronwyn.

Stephen pensou responder em defesa da cozinha


inglesa, mas estivera na Escócia por muito tempo. Ele tinha
vivido com os pais de Kirsty, visto sua pobreza. Mesmo em
Larenston, as pessoas eram frugais, sempre conscientes do
valor da comida e que amanhã tudo poderia faltar.

— Sim, é certo. — disse com firmeza. — Em casa


poderíamos aproveitar um pouco desta comida.

Bronwyn olhou para ele com grande calor. Ela estendeu


a mão e afastou um cacho de seu pescoço. O cabelo comprido
e o bronzeado profundo o deixavam mais bonito. Deu uma
olhada no recinto e viu que uma ajudante da cozinheira,
jovem e atraente olhava com interesse para a coxa desnuda e
musculosa de Stephen, que estava exposta, já que ele apoiara
uma das belas pernas no assento de uma cadeira.

— Já estou farta deste lugar, vamos lá para fora?

Stephen se mostrou de acordo e saiu com ela, sem ter


reparado na jovem ajudante.

Foi a tempestade que os impediu de deixar a


propriedade de Hugh. Veio de repente, chovendo
violentamente. Um minuto, o céu parecia estar claro, e o
próximo ameaçava ser uma repetição do dilúvio de Noé.

LRTHistóricos 351
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn implorou a Stephen para não ficarem.


Argumentou que uma pequena chuva nunca machucava uma
escocesa, mas ele não quis ouvir. Não queria arriscar que ela
pudesse ter febre nos pulmões, não quando pudesse evitar.
Prepararam-se para passar a noite na casa de Hugh.

O chão do Grande Salão estava coberto com colchões de


palha, pronto para os muitos servidores e convidados.
Stephen tentou encontrar um canto privado, mas não havia
tal coisa. Quando voltou para junto de Bronwyn deslizou uma
mão por debaixo da saia e tocou o joelho dela. Ela reclamou,
dizendo com firmeza que não daria um espetáculo em lugar
público. Stephen suspirou e finalmente concordou com a
esposa. Ela se aninhou junto a ele e em poucos minutos
adormeceu.

Mas Stephen não conseguia dormir. Esteve muito tempo


em campo aberto, e agora as paredes pareciam estar se
fechando sobre ele. Mudou de posição uma e outra vez, mas a
palha ainda parecia muito macia. Rab rosnou para ele uma
vez porque estava inquieto. Colocou as mãos atrás da cabeça
e olhou para o teto com vigas. Continuava lembrando o modo
como Hugh olhou para Bronwyn. Maldito homem! Hugh
achava que poderia conseguir qualquer mulher que quisesse.
Sem dúvida, era encorajado pela maneira como Meg tinha se
entregado a ele.

Quanto mais pensava sobre o que Hugh fizera com ele,


mais irritado ele se tornava. Apesar dos avisos de Bronwyn,

LRTHistóricos 352
Highlander Audaz — Jude Deveraux

queria deixar Hugh saber que ele estivera ali. Levantou-se em


silêncio e ordenou a Rab que permanecesse junto à moça.
Sem fazer ruído se encaminhou para a porta do salão que se
abria para o este.

Um dia, quando eram muito jovens, ele e Hugh tinham


descoberto uma passagem secreta que levava ao andar
superior. Estavam tremendo de emoção quando chegaram à
porta no topo da escada. Ficaram surpresos ao encontrar a
porta bem lubrificada, sem fazer barulho, entraram em um
cômodo por detrás de uma grossa tapeçaria. Eles nem sequer
tinham certeza de onde estavam até que ouviram sons vindo
da cama. Mas era tarde demais. O avô de Hugh estava na
cama com uma serva muito jovem, e os dois pareciam estar
compartilhando um momento maravilhoso. O ancião não
encontrou motivo de diversão quando, levantou a vista, viu
dois meninos de sete anos de idade observando-o com
interesse, de olhos arregalados. Stephen ainda fazia uma
careta de dor ao recordar a surra que o avô de Hugh lhes
infligira e a que lhes prometera se revelassem a existência da
passagem secreta. Há quatro anos, quando o velho morreu,
Stephen chorou em seu funeral. ‗Oxalá eu possa ainda
agradar às moças a essa mesma idade‟. Stephen riu e ficou
contente por Bronwyn não poder ouvir este pensamento.

Deslizou atrás de um biombo, na antessala do salão


grande. Foi até o assento da janela e pegou a adaga para
introduzi-la na junção do emadeiramento que havia sob os

LRTHistóricos 353
Highlander Audaz — Jude Deveraux

almofadões. Tinha sido uma luta de almofadas,


particularmente violenta, que derrubou o painel da primeira
vez, há tanto tempo. Stephen teve que esticar o braço e
retirar as teias de aranha antes de divisar o contorno da
escada. Uma vez dentro puxou o painel de volta no lugar.

Os degraus da escada estavam envoltos na completa


escuridão, e pés minúsculos corriam de um lado para o
outro. Mais teias de aranha bateram em seu rosto, e ele
desejou ter sua espada para limpar o caminho. A passagem
estava em uso constante e mantida limpa quando o avô de
Hugh estava vivo. Como Hugh vivia sozinho, Stephen
supunha que não tinha motivos para esconder suas
aventuras de ninguém.

A porta no topo das escadas se abriu sem fazer muito


ruído, mas Stephen não teve tempo de sentir se surpreender
por isso. Como sua vista se acostumou à escuridão da
escada, aquele quarto parecia alagado de luz, embora só
ardesse uma única vela. Stephen sorriu ante tanta sorte;
Hugh dormia na cama, sem suspeitar. Desembainhou a
adaga que levava no cinto.

Mesmo quando criança, Hugh temia estar desprotegido.


Houve uma tentativa de rapto quando ele tinha apenas cinco
anos. Falava muito pouco do episódio, mas nunca ia a lugar
nenhum sem escolta. Acordar de manhã e encontrar uma
adaga cravada ao lado de sua cabeça, seria mais do que
suficiente, pela moça que ele tinha roubado de Stephen.

LRTHistóricos 354
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen envolveu o punho com um pedaço da manta e


prendeu nele a insígnia dos MacArran. Em silêncio, cravou a
arma ao lado do amigo. Sorrindo amplamente, ele se virou
para a tapeçaria e a porta secreta.

— Segurem-no! — A voz grave de Hugh soou.

Quatro homens saltaram dos cantos escuros da sala e


correram para Stephen. Esquivou-se do primeiro, e seu
punho encontrou na cara do segundo. O homem cambaleou
para trás. As reações de Stephen foram mais rápidas do que
as dos outros dois homens. Ele estava na porta antes de
sentir a ponta da espada de Hugh na nuca.

— Muito bom! — disse Hugh com admiração. — Posso


ver que não negligenciou sua formação na Escócia. — Ele
retirou a espada para que Stephen pudesse se virar. Hugh
estava completamente vestido. Manteve a espada na garganta
de Stephen, fez um gesto para que seus guardas rodeassem
seu amigo, e pegou a adaga em seu travesseiro. — MacArran,
não é? — Ele atirou a adaga para sua mão esquerda. — É
bom vê-lo novamente, Stephen.

Stephen sorriu amplamente.

— Maldito seja! Como você sabia?

— Gavin veio há alguns dias, e comentou que o


esperava. Ele ouviu dizer que vocês tinham problemas na
Escócia e começava a se preocupar. Pensou que talvez você
parasse aqui primeiro.

LRTHistóricos 355
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen meneou a cabeça.

— Traído por meu próprio irmão. — Levantou a vista,


surpreso. — Mas embora me esperasse, como...? — Sabia que
ele parecia muito diferente do Stephen inglês que ele tinha
sido.

Hugh sorriu, seus olhos fulgurando ardentemente.

— Uma das canções que cantou. Aprendemos juntos


nas Terras Baixas, lembra-se? Como pudeste esquecer o
quanto nos custou aprender esse acorde?

— Claro! — exclamou Stephen, compreendendo que


estava confiando demais em seu disfarce. — Bronwyn disse
que nunca funcionaria, que eu me entregaria.

— Reconheço que seu sotaque é perfeito, mas já pode


abandoná-lo.

— Que sotaque? — perguntou Stephen, sinceramente


desconcertado. — Deixei de usar o sotaque quando saímos da
terra MacGregor.

Hugh riu a todo pulmão.

— Stephen, você realmente se tornou um escocês. Diga-


me o que aconteceu na Escócia. Você se casou com aquela
mulher horrível? O que era ela, o Laird de algum clã? E quem
era aquela criatura deliciosa que ficou olhando para você com
tal luxúria enquanto você cantava?

Stephen franziu o cenho.

LRTHistóricos 356
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É Bronwyn! — disse secamente.

— Bronwyn? Um nome galês, não? Encontrou-a na


Escócia? E como você escapou da sua mulher?

— Bronwyn é a herdeira do MacArran. Minha esposa. —


Stephen estava muito duro, os lábios mal se movendo
enquanto falava.

Hugh ficou boquiaberto.

— Você quer dizer que o anjo de olhos azuis é a Laird de


algum clã, e você teve a sorte de se casar com ela?

Stephen não respondeu, mas olhou furioso para Hugh.


Por que ele ainda estava de pé cercado por guardas?

— O que esta acontecendo aqui? — Ele perguntou


calmamente.

Hugh sorriu, seus olhos escuros cintilando.

— Nada, além de um pequeno jogo, como aquele que


você queria jogar comigo. — Ele esfregou a adaga entre os
dedos. — Bronwyn, não é? — Ele perguntou calmamente.
Baixara a espada, mas ainda estava preparado. — Lembra-se
de quando recebeu a notícia de seu casamento, continuou
gemendo e dizendo que não se casaria com uma mulher tão
feia... Você queria... qual era o nome dela, Elizabeth?

— Margaret — retrucou Stephen. — Hugh, não sei o que


você tem em mente, mas...

LRTHistóricos 357
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Tenho em mente exatamente o que eu tinha antes.

Stephen o encarou, recordando muito bem ver Meg e ele


na cama, juntos. A ideia de que seu amigo de infância
pudesse tocar em Bronwyn...

— Toque nela e eu o mato. — Disse, com toda seriedade.

Hugh piscou surpreso.

— Quase parece que fala a sério.

— Falo muito a sério. — Hugh sorriu.

— Mas somos amigos. Quantas vezes já compartilhamos


mulheres antes?

— Bronwyn é minha esposa! — gritou Stephen, jogando-


se contra ele.

Os quatro guardas atuaram imediatamente, mas mesmo


eles não podiam segurá-lo. Hugh afastou-se o mais rápido
que pôde, mas Stephen atacava, ainda se aproximando. A
porta da câmara abriu-se de repente, e mais três guardas
entraram e dominaram Stephen.

— Leve-o para a sala da torre. — disse Hugh, olhando


para seu amigo com admiração, os sete guardas segurando-o.

— Não te atreva! — Stephen advertiu mesmo quando


estava sendo arrastado do quarto.

— Eu não vou forçá-la se é isso que você quer dizer. —


Hugh riu. — Tudo o que quero é um dia inteiro, e se neste

LRTHistóricos 358
Highlander Audaz — Jude Deveraux

tempo não a tiver conseguido, então você saberá que tem


uma esposa fiel.

— Maldito seja! — Stephen amaldiçoou e fez outra


tentativa para se libertar, antes de ser retirado pela força do
quarto.

Bronwyn parou diante do espelho e estudou-se


criticamente. Levou mais de uma hora para vestir o traje
inglês. A saia e as mangas eram de um brocado suave de cor
laranja cintilante. Atado com fitas nos ombros e caindo-lhe
sobre os braços, um pequeno manto de arminho. A abertura
frontal da saia deixava entrever uma anágua de veludo cor
canela. O decote quadrado era muito profundo.

Seu cabelo descia pelas costas em cachos cheios, com


alguns anéis atrás das orelhas.

— Você está encantadora, milady. — disse a tímida


criada atrás dela. — Sir Hugh nunca teve uma lady aqui que
fosse tão bonita.

Bronwyn olhou para a mulher e pensou em responder,


mas se calou. Não demorou muito para saber como eram
inúteis as perguntas na casa de Lasco. Esta manhã tinha tido
que impedir Rab de atacar Hugh quando ele se aproximou de
seu colchão no Grande Salão. Por alguma razão, Rab tomou
uma aversão extraordinária ao homem.

LRTHistóricos 359
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Hugh embarcou numa longa explicação sobre a


ausência de Stephen antes que Bronwyn pudesse fazer uma
única pergunta. Quando terminou sua história disse que
Stephen tinha ido visitar uma das propriedades de Hugh
como um favor para seu velho amigo. Quando se retirou,
sorriu para Bronwyn com grande confiança.

Ela começou a disparar perguntas para ele. Por que


Stephen tinha saído sem falar com ela? Que negócio poderia
haver que Hugh não era capaz de lidar por conta própria?
Como Stephen era mais adequado? Se Hugh precisava de
ajuda, por que não perguntou aos irmãos de Stephen mais
cedo?

Observou como Hugh gaguejava e parecia tropeçar em


suas palavras. Estava olhando para ela estranhamente, às
vezes não conseguia sustentar seu olhar direto. Após um
momento sorriu e ela teve a impressão de que ele acabava de
ter uma ideia. Começou outra história sobre como Stephen
queria preparar uma surpresa para ela e quis que Hugh a
entretivesse durante todo o dia.

Bronwyn fechou a boca em suas perguntas. Por


enquanto, seria melhor agir como se acreditasse nas palavras
obviamente falsas de Hugh. Ela sorriu docemente para o
homem que era três ou quatro centímetros de estatura menor
do que ela.

— Uma surpresa! — exclamou, fingindo uma voz infantil


e inocente. — Oh, o que será?

LRTHistóricos 360
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Hugh sorriu para ela de um modo benevolente.

— Nós vamos ter que esperar para ver, não é? Mas, no


meio tempo tenho algum entretenimento planejado. Pavilhões
estão sendo erguidos lá fora e fogueiras acesas.

— Oh, que bom! — Ela disse, batendo palmas com


alegria infantil e, ao mesmo tempo, ordenando que Rab se
afastasse da garganta do homem.

Hugh a levou para um quarto limpo e quente onde um


vestido de brocado estava pronto para ela. A bainha fora solta
para ajustar a saia a sua estatura. Bronwyn percebeu que
alguém tinha trabalhado no vestido durante toda a noite.
Hugh lhe deu um de seus lentos e sedutores sorrisos assim
que saiu do quarto, e Bronwyn precisou se esforçar para
esboçar um sorriso meigo que ele parecia esperar como
resposta.

Quando ficou sozinha, correu para a janela. Abaixo, nos


jardins, carpinteiros trabalhavam apressadamente em uma
plataforma. Havia seis fogueiras acesas e um enorme braseiro
a carvão instalado sob um dossel aberto. Ela franziu o cenho,
consternada. Por que no mundo um inglês planejaria um
entretenimento ao ar livre em dezembro? A chuva da noite
passada tinha virado neve, e o chão estava levemente
salpicado de flocos brancos. Pelo que ela vira dos ingleses,
eram criaturas fracas que preferiam permanecer abrigados.

LRTHistóricos 361
Highlander Audaz — Jude Deveraux

A empregada veio ajudá-la a se vestir, mas Bronwyn


conseguiu pouca informação dela. Disse que Sir Hugh esteve
acordado toda a noite organizando e dando ordens para as
festividades do dia. Bronwyn se perguntou se não estaria
fazendo tempestade por nada. Talvez Stephen foi atender um
chamado e seu amigo só quisesse tratar com atenção sua
esposa. Mas será que Stephen a deixaria para preparar
algum tipo de surpresa para ela? Stephen era muito pratico.
O mais provável, era que ele a faria ajudá-lo com seu próprio
presente.

Antes que pudesse resolver seus pensamentos, Hugh


chegou à porta. Ele olhou para ela com admiração, seus
olhos lentamente percorrendo-a por inteira.

— Você está magnífica. — Sussurrou. — Stephen é um


homem muito sortudo.

Bronwyn agradeceu e aceitou o braço que ele ofereceu


para descer as escadas.

— Você deve me contar tudo a respeito do seu clã. — Ele


pediu fitando-lhe os lábios. — Suponho que está muito feliz
por ter um marido inglês. Talvez você conheça o rei Henry e o
agradeça.

Bronwyn quase explodiu com a força de sua reação.


Pensou que a vaidade de Stephen era o limite, mas este
homem superou qualquer coisa que tinha imaginado.

LRTHistóricos 362
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Oh, sim. — disse, com voz suave. — Stephen me trata


muito bem e me ensinou muitas coisas.

Ela quase engasgou quando pensou como Stephen tinha


mudado, mas não seus homens.

— Nós, os ingleses, somos lutadores superiores, e vocês,


escoceses, podem aprender muito. — Ele parou. — Tenho que
me desculpar, não tinha a intenção de dizer essas coisas,
afinal de contas, você é... o que mesmo? O Laird de um clã?

Disse-o como quem arroja uma esmola a um mendigo.


Ela não se atreveu a responder. Se esse palhaço dissesse
uma palavra mais, seria muito grande a tentação de deixar
que Rab lhe atacasse o pescoço.

— Oh, olhe! — exclamou feliz. — Verdade que é bonito?


— gritou se referindo à tenda de cores alegres.

Hugh parou, olhou brevemente para as paredes de sua


casa, depois pegou sua mão e beijou-a.

— Nada poderá ser o suficiente para você e nem tão


belo.

Observou-o com interesse isolado. Quando o viu pela


primeira vez, pensou que seus movimentos lentos, sua boca
incomum, eram interessantes, mas agora achava bastante
tedioso. Por alguma razão ele parecia pensar que ela gostaria
de ter sua mão beijada por ele.

LRTHistóricos 363
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Usou todo o controle que podia reunir para não se


afastar dele. Será que todos os homens se consideravam tão
atraente para as mulheres? De repente, percebeu que tinha
pouca experiência nisso. Os homens de seu clã nunca
tentaram tocá-la, provavelmente por medo da ira de seu pai.
Na Inglaterra, só passou algum tempo com Roger Chatworth,
que queria falar sobre seus planos para o clã. Stephen era o
único homem que a tocou e, ao que parece, o único homem a
quem ela podia responder. Pelo menos, sentia-se assim, pois
o toque de Hugh Lasco a fazia querer afastar-se dele.

Ele parecia satisfeito com sua resposta, ou falta dela, e


levou-a para uma cadeira dourada em baixo do pavilhão.
Hugh bateu palmas uma vez, e três malabaristas apareceram
na plataforma de madeira diante deles. Ela deu um pequeno
sorriso para Hugh e fingiu assistir os artistas. Mas a verdade
era que estava mais interessada em observar os arredores. A
cada momento cresciam suas suspeitas de que algo não
estava certo. Por que eles estavam sendo entretidos fora?

Algumas bailarinas se uniram aos malabaristas e


Bronwyn constatou que as moças tinham os ombros azulados
de frio. Um vento gelado começou a soprar em seu rosto. Um
dos criados sugeriu que o pavilhão fosse instalado em posição
contrária, para bloquear o vento. A resposta de Hugh foi
quase violenta, negava-se a pôr a tenda em qualquer outra
direção.

LRTHistóricos 364
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Você deve me perdoar Sir Hugh, preciso ir ao quarto.


— Disse Bronwyn com sua voz mais doce. Precisava de tempo
para observar a casa. Talvez pudesse achar uma pista para o
mistério. Talvez Stephen não tivesse realmente ido embora.

— Oh, mas ainda não pode se retirar. Farei avivar o


fogo. Ou pedirei que tragam outro braseiro.

— Eu não estou com frio. — Ela disse honestamente


enquanto tentava não sorrir para o nariz azul de Hugh. — Eu
simplesmente desejo... — baixou os olhos para suas mãos,
fingindo estar confusa.

— Claro! — Ele disse com vergonha. — Vou mandar um


guarda...

— Não! Rab me acompanhará. Estou segura que


encontrarei o caminho.

— Seus desejos são ordens para mim milady — sorriu


ele enquanto voltava a lhe beijar a mão.

Bronwyn teve que se controlar para não correr para


dentro da casa. Não queria fazer nada para deixar Hugh com
suspeitas. Dentro da casa, porém, sabia a necessidade de se
apressar.

— Rab — ordenou — encontrar Stephen.

Rab subiu as escadas em um ímpeto de alegria. Durante


toda a manhã ele estivera resistindo aos comandos de
Bronwyn. O cachorro parou diante de uma porta que ela

LRTHistóricos 365
Highlander Audaz — Jude Deveraux

suspeitava ser de Hugh. Ele cheirou e andou em círculos,


encontrou e subiu algumas escadas, Bronwyn levantou suas
saias pesadas e correu atrás dele.

Ao final do terceiro lance havia uma pesada porta de


carvalho, cuja janela tinha barras de ferro. Rab ergueu as
patas dianteiras ante a janela e latiu duas vezes em
reconhecimento.

— Rab! — exclamou a voz de Stephen.

— Baixa! — ordenou Bronwyn a Rab. — Stephen está


bem? Por que está prisioneiro?

Estendeu uma mão por entre as barras para segurar a


do marido. Ele tomou sua mão entre as dele e a encarou.
Olhava-a fixamente.

— É esta a mão que você deixou Hugh beijar tão


frequentemente? — perguntou com frieza, enquanto a
segurava entre as suas.

— Não é hora de um de seus ataques de ciúmes, por que


você está preso? E sobre o que é essa absurda celebração?

— Absurda? — Stephen balbuciou, soltando a mão dela


através das barras. — Pois parecia estar te divertindo muito.
Diga-me, você acha Hugh atraente? Muitas mulheres pensam
que sim.

LRTHistóricos 366
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn o encarou, deu uma palmadinha em Rab, que


estava nervoso porque seu amo estava sendo mantido em
cativeiro. A mente dela funcionando às pressas.

— Isto não é nada grave, verdade? — perguntou serena.


— É um jogo entre você e seu amigo.

— Não é um jogo quando minha esposa está envolvida.


— Replicou ele com ferocidade.

— Maldito seja, Stephen Montgomery! Disse-te que não


viéssemos aqui. Não, você se acha muito superior, verdade?
Agora quero saber o que está acontecendo e como posso tirar
você daí, embora não saiba por que quero que saia. — Ela
olhou-o com os olhos entrecerrados.

— Se ceder a Hugh e lhe deixar ganhar romperei o seu


pescoço.

Bronwyn começava a compreender.

— Quer dizer que está me utilizando para uma espécie


de aposta? O que deve ganhar ele supostamente? — Quando
Stephen não falou, ela respondeu por ele. — Acho que eu
posso imaginar... Hugh acha que pode me cortejar e levar-me
a sua cama, e você acredita nele. Será que alguma vez entrou
neste seu cérebro inchado, vago, de ervilha, que eu poderia
dizer algo a respeito disso? Você acha que sou tão tola para
que qualquer homem que me sorria e me beije a mão possa
me levar a sua cama? Deveria saber que o apunhalaria, no
mínimo. Rab rosna toda vez que Hugh me toca.

LRTHistóricos 367
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— O que parece ocorrer com bastante frequência, pelo


que posso ver.

Bronwyn reparou então na janela aberta no outro lado


da cela. Então era por isso que Hugh se negava a pôr o
pavilhão do outro lado. Queria que Stephen pudesse vê-los
juntos. Ela olhou para o rosto frio e zangado de Stephen, e
também começou a ficar irritada. Aqueles dois homens a
estavam usando em uma brincadeira infantil que era mais
adequado para crianças de dez anos de idade. Hugh tinha
dito que poderia levar Bronwyn para sua cama, e Stephen
obviamente pensava tão pouco de sua moral e integridade
que acreditava que ela poderia ser leviana ao ponto de que
qualquer homem, que planejasse tal intento, poderia tê-la. E
Hugh! Ele a insultava tratando-a como se fosse estúpida, mas
com toda a confiança de que ela sucumbiria aos seus
encantos.

— Malditos sejam os dois! — sussurrou, antes de se


afastar.

— Bronwyn! Volta aqui! — ordenou ele. — Diga a Hugh


que você sabe da trama e pegue a chave dele.

Ela se voltou com o mais doce dos sorrisos.

— E perder o entretenimento que Sir Hugh planejou


para mim? — Ela perguntou, arqueando as sobrancelhas.
Começou a descer as escadas, os lábios apertados para não

LRTHistóricos 368
Highlander Audaz — Jude Deveraux

responder a série de maldições e juramentos que Stephen


gritava atrás dela.

— Malditos sejam os dois — repetiu para si mesma.

LRTHistóricos 369
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Treze
Bronwyn ainda estava fumegando de raiva quando
chegou ao pé da escada. Sir Hugh esperava por ela com um
olhar impaciente em seu rosto. Parecia que poderia castigá-la
por demorar muito. Seu primeiro impulso foi dar-lhe uma
reprimenda sobre o que ele estava tentando fazer, mas o
pensamento desapareceu tão rapidamente quanto veio.
„Homens ingleses!‘ ela pensou. Quando conheceu Stephen
pela primeira vez, ele estava convencido que não existia outro
modo de ser melhor do que o inglês. Riu quando ela pediu
que usasse o traje escocês em vez da pesada armadura
inglesa. Agora duvidava se conseguiria colocá-lo em um dos
casacos pesados e acolchoados que Sir Hugh usava. Mas
Stephen precisou fracassar em uma batalha antes de se
dispor a mudar.

Talvez pudesse empreender sua própria batalha, e


ambos os ingleses poderiam aprender algo que todo escocês
sabia: que as mulheres eram capazes de pensar sozinhas.

— Começava a me preocupar com você. — disse Sir


Hugh, oferecendo a mão.

Bronwyn arregalou os olhos inocentemente.

— Espero que você não se incomode, mas estive


percorrendo sua casa. É magnífica! Diga-me, é toda sua?

LRTHistóricos 370
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Sir Hugh tomou-lhe o braço e enfiou-o sob o dele. Seu


peito se expandiu visivelmente.

— Toda ela e cerca de setecentos acres. Claro, tenho


outra propriedade no sul.

Ela suspirou profundamente.

— Stephen... — começou ela timidamente. — Stephen


não tem um lugar como este, não é.

Hugh franziu o cenho.

— Bom, não. Tem algumas terras não sei onde,


conforme acredito, com uma velha torre edificada nelas. Mas
casa, não. Mas certamente suas próprias propriedades...

Ela voltou a suspirar.

— É que estão na Escócia...

— Oh, sim, é claro. Compreendo. É um país frio e


úmido, não é de se admirar que você queira morar aqui...
Bem, talvez Stephen... — Ele parou.

Bronwyn sorria para si mesma. Tudo era tal como ela


pensava: em realidade Hugh não sentia nenhum interesse
por ela; ao menos, não tanto ao ponto de desonrar a seu
amigo. Só estava aborrecido com a atitude de Stephen e
queria fazer raiva ao amigo. Mencionava-lhe com muita
frequência para lhe considerar inimigo. Stephen acreditava
que ela era capaz de deixar-se seduzir por qualquer homem
atrativo e Hugh só a usou como um meio de antagonizar seu

LRTHistóricos 371
Highlander Audaz — Jude Deveraux

amigo. Nenhum dos dois tinha em conta seus desejos nem


seus pensamentos.

Sorriu mais ainda ao se perguntar o que aconteceria se


ela alterasse seus planos um pouco. O que diria Sir Hugh se
ela dissesse que estava descontente com Stephen e que
adoraria permanecer na Inglaterra com um homem bonito e
cavalheiro como Hugh?

Quando se aproximaram do pavilhão, ela olhou para o


céu.

— Acredito que vai sair o sol. Talvez pudéssemos mover


nossas cadeiras para o ar livre?

Sir Hugh sorriu ante a sugestão e ordenou que tirassem


as cadeiras do pavilhão. Bronwyn as fez colocar muito juntas
e sorriu ao ver que o dono da casa franzia o cenho. Não
desperdiçou tempo quando se sentaram. Músicos tocavam
uma doce canção de amor, mas ela não olhava para eles. Só
tinha olhos para Hugh.

— Você não tem esposa, milorde? — perguntou em voz


baixa.

— Não. Ainda não fui tão afortunado como meu amigo


Stephen.

— Será que ele realmente é seu amigo? Você poderia ser


meu amigo também?

LRTHistóricos 372
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Hugh olhou profundamente em seus olhos, temendo que


se perdesse neles. Stephen era realmente afortunado.

— Certamente. Você e eu somos amigos. — disse,


paternalmente.

Ela suspirou, umedeceu os lábios e os entreabriu.

— Eu posso dizer que você é um homem sensível e


inteligente. Queria ter um marido como você. — Ela sorriu de
forma sedutora pelo modo como a mandíbula de Hugh caiu.
— Você deve saber sobre o meu casamento, eu não tinha
escolha no assunto. Eu tentei escolher alguém, mas Lorde
Stephen...

Hugh endireitou as costas.

— Dizem que Stephen teve que combater por você e que


o fez muito bem. Conta-se que Chatworth lhe atacou pelas
costas.

— Oh, sim. Stephen é muito bom guerreiro, mas não


me... como posso dizer? Não me satisfaz.

Os olhos de Hugh se arregalaram.

— Você quer dizer que Stephen Montgomery é deficiente


em algum aspecto? Permita-me lhe dizer, milady, que temos
sido amigos toda a nossa vida. E quanto às mulheres... — Ele
estava começando a ficar com raiva. — Quando estávamos na
Escócia juntos, Stephen estava meio apaixonado por uma
pequena prostituta, e estava cego para o fato de que ela se

LRTHistóricos 373
Highlander Audaz — Jude Deveraux

deitava com metade dos homens das tropas. Eu paguei para


que ela fosse para a cama comigo, em um momento em que
eu sabia que ele nos veria juntos.

— É por isso que ele está tão bravo com você? —


perguntou ela, esquecendo-se por um momento de usar sua
voz revestida de mel.

— Ele nunca teria acreditado em mim se eu tivesse dito


a ele o que ela era. Ele não podia ver nada além de suas
covinhas.

Bronwyn reclinou-se na cadeira enquanto digeria a


notícia. Assim! Stephen estava usando-a em um esquema
para dar o troco a Hugh por ter-lhe tomado sua amante. Uma
mulher por quem ele estava meio apaixonado! Ela sentiu uma
dor aguda em seu peito, e lágrimas quentes se juntaram em
seus olhos. Ele não queria casar com ela porque estava
apaixonado por uma puta de covinhas. Tinha-a desdenhado
pelo amor de uma qualquer.

— Sente-se bem, Lady Bronwyn?

Ela limpou seu olho.

— Acredito que entrou algo em meu olho.

— Deixe-me ver. — Segurou-lhe o rosto entre as mãos


grandes e fortes e Bronwyn ergueu o olhar para ele. Sabia
que Stephen os observava e ela imaginou se o marido estaria
pensando na mulher que ele quisera.

LRTHistóricos 374
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não vejo nada. — Manifestou Sir Hugh, sem soltar o


rosto de Bronwyn. — Você é uma mulher incrivelmente bela.
— Sussurrou. — Stephen tem...

Ela se afastou dele.

— Não quero ouvir esse nome novamente. — Ela disse


com raiva. — Hoje estou livre dele, e quero permanecer
assim. Talvez os músicos possam abrir algum espaço para
nós e poderíamos dançar. Eu poderia mostrar-lhe algumas
danças escocesas.

Ele deu um olhar nervoso para cima em direção a sua


casa, então se permitiu ser puxado para a plataforma de
madeira. Não recordava haver se divertido tanto em sua vida.
Ele não estava acostumado a ver o cabelo de uma mulher
fluindo livremente sobre seu corpo esbelto. Os olhos de
Bronwyn brilhavam e riam enquanto ele tentava copiar
desajeitadamente os intrincados passos de dança. O dia frio
parecia se tornar mais e mais quente e ele esqueceu que o
marido os observava da torre.

— Bronwyn! — riu, tendo abandonado o formal ―Lady‖


uma hora atrás. — Preciso parar! Sinto uma pontada no meu
lado.

Ela riu dele.

— Não serviria para escocês. Se não pode suportar um


pouco de exercício.

LRTHistóricos 375
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ele a agarrou pelo braço.

— Não me esforcei tanto desde que passei uma semana


treinando com os irmãos Montgomery.

— Sim! — disse ela, enquanto se sentava. — Stephen


treina muito. Sua expressão se tornou séria.

— É um bom homem. — disse Hugh, pegando um


pedaço de queijo da bandeja que um servente lhe oferecia.

— Talvez! — reconheceu Bronwyn, enquanto bebia vinho


quente temperado com especiarias.

— Invejo-lhe.

— Seriamente? - Ela perguntou, seus olhos procurando


os dele. — Talvez você possa substituí-lo... em alguns
aspectos. — Observou com interesse quando Hugh começou
a entender o que ela queria dizer. ‗O vaidoso pavão!‘, ela
pensou. Nunca lhe ocorreu — a qualquer homem — que não
era um presente de Deus para as mulheres. Todos eram
iguais.

— Lady Bronwyn, — observou ele retomando a


formalidade — devo falar seriamente com você a respeito de
Stephen.

— Como ele era quando era criança? — Ela perguntou,


cortando-o.

Hugh ficou claramente desconcertado.

LRTHistóricos 376
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sério, como Gavin. Todos os irmãos cresceram em um


mundo de homens. Talvez Stephen seja um desajeitado
porque sabe muito pouco sobre mulheres.

— Diferente de você. — ronronou ela.

Hugh sorriu crédulo.

— Eu tive alguma experiência, e tenho certeza que é por


isso que você está... atraída por mim. Está casada muito
recentemente com Stephen. Sem dúvida com o correr dos
anos acabarão... se afeiçoando um ao outro.

— É isso o que quer da vida? Carinho?

— Eu sou um homem diferente do Stephen. — Disse ele,


presunçosamente.

Bronwyn sorriu. Em sua mente começava a tomar forma


um plano.

— Não faz muito, estando na Escócia, Stephen e eu nos


hospedamos em casa de alguns camponeses. Uma das
mulheres preparava uma bebida deliciosa a base de líquenes.
Quando cavalgamos em sua propriedade, vi alguns crescendo
perto das rochas. Poderíamos dar um passeio para juntá-los?
Eu gostaria de te preparar essa bebida.

Hugh pareceu preocupado por um momento, depois


concordou com a cabeça. Ele não gostava da maneira como
os eventos estavam acontecendo. Quase parecia que a esposa
de Stephen queria trair seu marido. Hugh queria relatar que

LRTHistóricos 377
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn não poderia ser vencida por outro homem, mas ela
parecia estar mostrando uma preferência por ele.

Enquanto caminhavam falou sobre Stephen, do quanto


era honrado, de como merecia uma mulher como ela. Falou
de como era generoso ao usar esse ridículo traje escocês.
Bronwyn, quase sem comentários se dedicou a recolher
líquens e flores secas na pequena cesta que Hugh lhe deu.
Ela ouviu atentamente e não disse nada.

No trajeto de volta voltou a chover. Sir Hugh foi muito


formal enquanto a levava para um solar privado. Um criado
trouxe vinho quente e canecas para que Bronwyn pudesse
preparar as bebidas. Enquanto misturava e mexia
cuidadosamente os ingredientes, ela olhava para Hugh, seu
peito grosso inchado, sua boca presunçosa em sua crença de
que ele estava sendo nobre ao recusar os avanços de
Bronwyn.

— Meu lorde. — ofereceu em voz baixa, lhe entregando a


caneca quente.

Por um momento a mão dela tocou a dele, em uma


carícia. Sorriu quando ele declarou que a bebida era deliciosa
e bebeu todo o conteúdo, pedindo mais.

— Preciso falar com você. — Ele disse seriamente,


enquanto bebia a segunda caneca do líquido quente. — Eu
não devo deixar você sair daqui acreditando em fatos que não
existem.

LRTHistóricos 378
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— E em que acredito? — perguntou ela, com doçura.

— Stephen e eu somos amigos. Sempre fomos. Só espero


que queira seguir sendo-o depois disto.

— E por que não deveria?

— Eu acho que isso depende de você. Você nunca deve


mencionar sua... sua atração por mim.

— Que atração? — perguntou ela, inocente, enquanto se


sentava frente a ele. — O que você quer dizer?

— Oh, venha agora, milady, você e eu sabemos o que


está acontecendo entre nós hoje, todas as mulheres sabem
sobre assuntos do coração.

Ela arqueou as sobrancelhas.

— Todas as mulheres? Por favor, me diga o que mais


sabem todas as mulheres?

— Não seja tímida comigo! — protestou ele. — Não sou


tão inocente com as mulheres como Stephen Montgomery.
Talvez você seja capaz de convencê-lo que não olha para
outros homens, e desde que ele é meu amigo, vou deixar
verídica a sua história, mas não tente se fazer de inocente
comigo.

— Apanhaste-me! — confessou ela, sorrindo. — Sabe


tanto de mulheres e de seu amigo que não posso dissimular.

LRTHistóricos 379
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Hugh ia falar, mas uma dor súbita lhe atravessou o


estômago e ele fechou a boca.

— Deixa que volte a encher sua caneca. Está pálido.

Hugh aceitou a bebida e a bebeu toda. Estava sem


fôlego.

— O peixe devia estar em mal estado. — murmurou. —


O que estava dizendo?

— Estava dizendo que eu estava disposta a deixar meu


marido por você.

— Está distorcendo minhas palavras. Eu...

Bronwyn bateu o caneco vazio na mesa com tanta força


que rachou a louça.

— Não! Deixe-me lhe dizer! — ergueu-se diante dele, as


mãos nos quadris. — Você se diz amigo de Stephen, mesmo
assim faz uma armadilha infantil e o tranca onde ele possa
ver você fazer papel de tolo com a sua esposa.

— Que eu me faço de tolo? Não era isso o que pensava


hoje!

— Acredita que pode ler meus pensamentos? Tão


vaidoso é que pode me acreditar insatisfeita depois de passar
meses inteiros na cama de Stephen Montgomery?

— Mas se você me disse...

LRTHistóricos 380
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Estava disposto a acreditá-lo, porque te convinha.


Atua como se tivesse feito algo nobre ao pagar a essa rameira
para que se deitasse contigo. Crê ter feito um favor ao
Stephen, mas talvez o fizesse só por ciúmes. Todos os
homens do acampamento tinham que pagar por seus favores.
Todos, menos um: Meu Stephen!

— Seu Stephen! — resmungou Hugh. Quis levantar-se,


mas outra dor o cortou. Ele olhou para cima, horrorizado. —
Você me envenenou!

Ela sorriu.

— Não é veneno realmente, mas vai ficar doente por


vários dias. Eu quero que você se lembre de hoje por um
longo tempo.

— Por quê? — sussurrou ele, apertando o ventre. — O


que eu fiz para você?

— Nada, — replicou ela, com seriedade —


absolutamente nada. Muitas vezes fui utilizada pelos ingleses
para suportar uma mais. Utilizaste-me para zombar de
Stephen. Não te ocorreu que eu podia ter opinião a respeito.
Dava-me conta disso ontem à noite, enquanto Stephen tocava
o alaúde. Estava muito seguro de si mesmo, de que qualquer
mulher te desejaria.

Hugh se dobrou em dor.

LRTHistóricos 381
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Maldita cadela! — balbuciou. — Stephen que faça


bom proveito de você.

— Sou uma cadela porque decidi não ser um simples


peão em seus joguinhos? Lembre-se, Sir Hugh, no tabuleiro
de xadrez há uma só fêmea e ela é a peça mais versátil e mais
poderosa. — Inclinou-se para retirar a chave do bolso do
colete antes de dar as costas a ele.

— Stephen te viu. Jamais acreditará que não me


desejava.

Suas costas se enrijeceram.

— Ao contrário do que você pensa dele, Stephen


Montgomery é o homem mais sensato e inteligente que já
conheci. — Deteve-se ante a porta. — Oh, sim, Sir Hugh, na
próxima vez que precisar de ajuda com as mulheres,
aconselho que recorra a Stephen. Até onde sei, há muito
pouco que ele não saiba. — E partiu.

Rab estava esperando por ela na porta de Hugh, e


juntos subiram as escadas até a sala onde Stephen estava
prisioneiro. Olhou através da porta com barras e deparou-se
com Stephen olhando furiosamente para ela. A raiva e o ódio
em seus olhos fizeram um frio percorrer ao longo de sua
espinha. Ela enfiou a chave na fechadura e abriu a porta.

— Está em liberdade. — disse tranquilamente. — Ainda


é dia, e podemos cavalgar em direção a propriedade de seu
irmão.

LRTHistóricos 382
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen guardou silêncio, muito carrancudo. Ela se


aproximou, estendeu a mão, e tocou um cacho de cabelo ao
longo de seu colarinho.

— Seria melhor que falasse sobre sua raiva. — Ele


afastou a mão dela.

— Como te atreve a vir para mim diretamente dos seus


braços? Tem colocado um vestido que ele te deu de presente,
o traje com que se exibiu na frente desse homem durante
todo o dia. Será que ele gostou? Será que ele gostou de ter
metade de seu corpo superior quase nu?

Ela se sentou junto à janela, suspirando.

— Hugh disse que você não acreditaria que sou inocente


depois do que viu.

— Hugh, não é? — Stephen rosnou e levantou os dois


punhos em sua direção, mas os deixou caiu, impotente, em
seu lado. — Você se vingou plenamente de mim por me casar
com você. Esperou muito para se vingar. — Deixou-se cair em
um banquinho, ignorando Rab, que esfregava o focinho
contra ele. — Na noite do nosso casamento aquela adaga
devia ter encontrado meu coração.

Bronwyn se moveu tão depressa que mesmo Rab não a


viu. Deu uma bofetada no rosto de Stephen tão forte que seu
pescoço foi jogado para trás.

LRTHistóricos 383
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Maldito seja mil vezes, Stephen Montgomery! —


exclamou. — Estou farta de que me insultem! Primeiro é seu
suposto amigo, que me trata como se eu fosse um objeto que
qualquer um pode reivindicar. Quando lhe rechaço e o faço
pagar por sua vaidade, trata-me de cadela. Agora devo
escutar em silêncio que me acuse de ser uma vagabunda.
Não sou como sua prostituta do acampamento, tão cheia de
covinhas!

Stephen, que estava esfregando sua mandíbula


machucada, ficou petrificado.

— Do que está falando? De que mulher?

— Ela não me importa nenhum pouco. — assegurou


Bronwyn furiosa. — O que eu fiz para fazer você acreditar que
eu sou uma vagabunda? Quando minhas ações te mostraram
que sou desonesta ou que desrespeito meus votos?

— Não compreendo nada. De que votos fala? — Ela


soltou um suspiro de exasperação.

— Nossos votos de casamento, estupido. Concordei com


eles, não os trairia!

— Também jurou me obedecer. — observou ele triste.

Bronwyn lhe voltou às costas.

— Vamos, Rab. Vamos para casa.

Stephen se levantou de um salto e a segurou pelo braço.

LRTHistóricos 384
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Aonde vai? Volta com Hugh?

Ela levantou um pé para golpeá-lo, mas ele a girou e a


abraçou por atrás.

— Eu quase enlouqueci. — Sussurrou. — Como pôde


fazer isso comigo? Sabia que estava observando.

Suas palavras fizeram sua pele ardente. Parecia uma


eternidade desde que a abraçara. Pôs a bochecha contra o
braço dele.

— Deixou-me com raiva. Os dois estavam me usando


como se eu não tivesse direitos e nem sentimentos próprios.

Ele a virou para encará-lo, suas mãos em seus ombros.

— Esquecemos que é a Laird MacArran, não? Bronwyn


eu...

— Abrace-me! — sussurrou a moça. — Me Abrace e


nada mais.

Ele quase a esmagou em seu abraço.

— Não suportava ver que te tocava. Cada vez que tocava


sua mão... e quando segurou seu rosto em suas mãos...

— Basta! — ordenou ela. — Acaba agora mesmo com


isso! — E se afastou. — Entre o Hugh Lasco e eu, não
aconteceu nada. Ele se acreditava capaz de conquistar a
qualquer mulher do mundo inteiro e eu quis lhe demonstrar
que não era assim.

LRTHistóricos 385
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen voltou a ficar furioso.

— Pois fingiu muito bem, por certo! Daqui parecia como


se tivessem sido amantes por anos.

— Isso te pareceu? Acha que vou permitir que um


homem me manipulasse como ele fez, sem motivo?

Os olhos do Stephen ficaram quase negros.

— Havia um motivo, sim! Já sei como é na cama. Talvez


quisesse provar outros homens, para ver se com eles também
gritaria na cama. Diga-me, pôde Hugh descobrir a
sensibilidade de seus joelhos?

Bronwyn o fulminou com o olhar.

— Acredita, sinceramente, que passei à tarde em seu


leito?

— Não. — reconheceu derrotado. — Não houve tempo


suficiente e Hugh...

— Deixa que eu termine a frase. — disse ela sem


rodeios. — Hugh é seu amigo e você sabe que ele é um
homem honrado, na verdade, incapaz de fazer algo tão
desonroso. Por outro lado, eu sou apenas uma mulher e,
portanto, sem honra. Eu sou um pêndulo branco da planta
que vai onde o vento sopra, não é verdade?

— Você está distorcendo minhas palavras!

LRTHistóricos 386
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não acredito. Esta manhã, quando te procurei e vi


que estava prisioneiro, você assumiu que Hugh poderia me
ter se quisesse. Bastava com que me falasse com doçura. Se
realmente me conhecesse e soubesse alguma coisa sobre
mim, teria se sentado nesta cela e calmamente esperado por
mim. Então poderíamos rir juntos sobre a armadilha que eu
joguei em seu amigo Sir Hugh.

— Que armadilha? — perguntou ele bruscamente.

Bronwyn se sentia quase sufocada. Ela tinha aprendido


muito sobre Stephen nos últimos meses, tinha vindo a
confiar nele, acreditar nele, até mesmo pensar que ela o
amava. Mas ele não tinha aprendido nada sobre ela! Achava
que ela era um brinquedo fraco e de cabeça vazia. Respondeu
com voz inexpressiva.

— Dei-lhe uma bebida com algumas ervas que Kirsty


disse que causa cólicas estomacais severas. Ele ficará doente
por dias.

Stephen olhou para ela por um momento. O quanto


queria confiar nela! Parecia que metade da sua vida tinha
passado enquanto a observava se inclinar para Hugh,
conversando com ele. Quase arrancou as barras da janela ao
vê-los dançarem juntos. Os tornozelos de Bronwyn apareciam
sob a saia. A luz do sol brilhava em seu vestido. Como
poderia pedir-lhe para ser razoável quando quase se
transformou em um animal? Se ele estivesse livre, teria
matado Hugh, teria partido seu amigo com as próprias mãos.

LRTHistóricos 387
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ele enxugou os olhos com as mãos. Como poderia pedir-


lhe que pensasse racionalmente quando não conseguia
sequer pensar? Ele a encarou admirado. O que ela havia feito
com ele? Não teve um pensamento coerente desde que a viu
pela primeira vez, jogada no chão em uma camisa molhada.
Lutara por ela. Quase morreu, quando ela arriscou sua vida
pendurada em um precipício por um de seus homens. Esteve
a ponto de mata-la quando sua infantilidade custou a vida de
Chris. Como poderia falar-lhe da razão? Estar perto dela tirou
toda a aparência de sanidade e prudência.

— Faríamos bem em ir. — Ela disse friamente, então


girou se afastando.

Ele a observou sair do quarto, Rab seguindo-a. Queria


correr até ela, dizer-lhe que acreditava nela, sabia que era
honrada, mas não podia. Hugh tinha provado uma vez que
poderia tomar uma mulher de Stephen. A doce Meg o amara e
mesmo assim Hugh fora capaz de possuí-la. Bronwyn não
fazia nenhum segredo do fato de que o considerava seu
inimigo. Para ela, um inglês era tão bom quanto o outro.
Talvez Hugh lhe fizesse promessas relativas ao clã. Se o clã
estivesse envolvido. Nesse caso...

Levantou a vista: Rab acabava de lhe devolver à


realidade com um latido seco. Ele voltou ao presente e correu
as escadas para o quarto de Hugh. Ele estava deitado em sua
cama, os joelhos presos no peito, quatro servos e três
guardas ao redor dele.

LRTHistóricos 388
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Saia daqui. — Ele ofegou através de dores. — Eu não


quero vê-lo nunca mais ou a essa cadela que se casou
contigo.

Stephen recuou, mas não antes de começar a sorrir.


Bronwyn estava dizendo a verdade!

— Saia, já disse e a leve para longe daqui! — Hugh


ordenou. Agarrou seu estômago e caiu de volta na cama.

— Vencido por uma mulher. — riu Stephen,


abandonando o quarto.

Ele correu pelas escadas até o Grande Salão. Bronwyn


esperava por ele, usando sua saia de manta quadriculada e a
blusa branca. Era mais uma vez sua garota das Highlanders.
Aproximou-se, tocou o braço dela e sorriu. Ela lhe deu as
costas, rígida.

— Bronwyn...

— Se tiver terminado com o que te trouxe aqui, devemos


cavalgar. É o amo, claro, e vamos ficar se esse é o seu
comando.

Ele olhou por um momento para o azul gelado de seus


olhos.

— Não, não quero ficar. — Respondeu e se afastou para


a porta da frente da casa. Bronwyn lhe seguia a passo lento.

Todo aquele episódio começara como um jogo, um jogo


de meninos, mas por meio dele descobrira algo surpreendente

LRTHistóricos 389
Highlander Audaz — Jude Deveraux

sobre seu marido. Por algum motivo, ela acreditava ser a


única que devia aprender a confiar nele. Observara nos
últimos meses, com imparcialidade, as mudanças
experimentadas por seu marido. Vira-o mudar de arrogante
inglês e se tornar quase um escocês. Percebera que a maior
parte da frieza em relação aos seus homens se dissipara, e os
homens, que eram ingleses, mudaram tanto quanto seu amo.
Um a um passaram a usar manta, em vez de passar horas
lustrando as armaduras. E poucos dias antes Stephen
matara três ingleses para salvar Bronwyn e o bebê de Kirsty.
Para Bronwyn, esse ato fora o último gesto necessário para
confiar nele.

Mas, enquanto isso, o que Stephen aprendera sobre ela?


Desaprovava tudo o que fazia. Amaldiçoava-a se ela liderava
os homens. Irritava-se se ela arriscava a vida para salvar
alguém. O que podia fazer para agradá-lo? Deveria tentar se
transformar em outra pessoa? Ele gostaria mais dela se ela
fosse como... como sua bela cunhada? Bronwyn tinha uma
ideia clara do como era Judith: gentil, nunca levantando a
voz, sempre sorrindo docemente para o marido, e se
mostrando de acordo com ele, sem discutir jamais.

— Isso é o que os homens realmente querem! — disse


em voz baixa.

Stephen esperava que ela ficasse quieta e calada, nunca


contradizendo suas palavras. Assim como as inglesas! —
‗Maldito seja!‟ — amaldiçoou. Não era uma inglesa de leite e

LRTHistóricos 390
Highlander Audaz — Jude Deveraux

açúcar! Ela era a Laird MacArran, e quanto mais cedo


Stephen Montgomery aprendesse, melhor seria para todos.
Ergueu o queixo enquanto caminhava em direção aos
estábulos.

Como um acordo mútuo e silencioso não pararam para


descansar a noite. Eles andaram a um ritmo constante, sem
falar, cada um com seus próprios pensamentos sobre os dois
últimos dias. Stephen não conseguia tirar da cabeça as mãos
de Hugh tocando Bronwyn. Sabia que ela se vingara desse
homem, mas não conseguia deixar de lamentar que sua
esposa fosse tão sutil em vez de dar uma punhalada em
Hugh. Quanto a Bronwyn, quase se esquecera de Hugh. O
que lhe importava era que Stephen não confiava nela, a
acusara-a de mentirosa.

Ao alvorecer, as muralhas do antigo castelo de


Montgomery se ergueram diante deles. Bronwyn não esperava
uma fortaleza escura e maciça, mas uma casa mais na ordem
de Hugh Lasco. Ela olhou para Stephen e viu que seu rosto
estava brilhante, quase tanto quanto o dela quando via
Larenston.

— Entraremos pelo portão do rio. — disse ele, esporando


seu cavalo.

A frente das altas muralhas era guarnecida por duas


grandes torres que protegiam os portões fechados. Bronwyn
seguiu Stephen até as paredes baixas, que formavam um

LRTHistóricos 391
Highlander Audaz — Jude Deveraux

túnel descoberto que acabava em um portão pequeno no


outro lado das muralhas do castelo.

Stephen abrandou a cavalgada para trote e entrou


cautelosamente na boca do beco estreito e murado.
Imediatamente uma flecha voou cruzando o ar, embora se
cravasse aos pés do cavalo de Stephen.

— Quem vem lá? — inquiriu uma voz sem rosto, do alto


dos muros.

— Stephen Montgomery! — declarou ele, em voz muito


alta.

Bronwyn sorriu, pois ele tinha ainda o sotaque das


Highlanders.

— Não é Lorde Stephen! Conheço-lhe bem. Anda, deem


meia volta nesses pangarés e saiam. Só os amigos entram
nestas muralhas. Volta dentro de uma hora ao portão
principal e roga ao guarda que te permita entrar.

— Matthew Greene! — gritou Stephen. — Esqueceu seu


próprio amo?

O homem inclinou-se sobre o muro e olhou para baixo.

— É você! — disse, disse depois de um momento. —


Abram o portão! — ordenou, cheio de alegria. — Lorde
Stephen está a salvo! Bem-vindo a casa, meu lorde.

Stephen o saudou agitando a mão e continuou a


marcha. No percorrer do trajeto, os homens lhe saudavam do

LRTHistóricos 392
Highlander Audaz — Jude Deveraux

alto da muralha. No extremo do passadiço se abria um portão


que dava a um pátio privado. Diante deles apareceu a casa.

— Milorde, é bom vê-lo. — Disse um ancião, tomando as


rédeas. — Jamais o reconheceria se os homens não me
tivessem dito que era você.

— É estupendo estar em casa, James. Meus irmãos


estão aqui?

— Lorde Gavin voltou faz apenas uma hora.

— Voltou?

— Sim, meu lorde. Seus irmãos estiveram procurando-o.


Disseram-nos que tinha morrido nas mãos de sua esposa
pagã.

— Cuidado com o que diz James! — advertiu Stephen.


Ele deu um passo para trás e pegou a mão de Bronwyn. —
Esta é minha esposa, Lady Bronwyn.

— Oh, milady! — exclamou o ancião. — Perdoe-me.


Pensei que era uma das... Quero dizer, Lorde Stephen
frequentemente trouxe para casa...

— Já disse o bastante. Venha, Bronwyn — disse


Stephen.

Não deu nenhuma chance de se preparar. Deveria ser


apresentada à família dele, parecendo uma serva. Até seu
moço de estabulo pensara assim. Sabia como os ingleses
davam importância às roupas de uma pessoa, e lembrou com

LRTHistóricos 393
Highlander Audaz — Jude Deveraux

nostalgia os belos vestidos que vestira na casa de Sir Thomas


Crichton. O melhor que podia fazer era manter a cabeça
erguida e suportar os sarcasmos dos ingleses. Exceto por
Judith, a perfeita. Sem dúvida ela seria gentil, bondosa e
atenciosa, como um travesseiro com voz suave.

— Parece mortalmente assustada. — provocou Stephen


fitando-a. — Te asseguro que Gavin não está acostumado a
castigar as mulheres. Raramente o faz. Quanto a Judith...

Bronwyn ergueu uma mão.

— Poupe-me disso. Já me falou o suficiente dessa


Judith. — Endireitou as costas. — E no dia em que veja a
Laird MacArran temerosa de meros ingleses, será o mesmo
dia em que os escoceses deixem de usar suas mantas.

Stephen sorriu para ela, então abriu a porta para um


quarto brilhante pela a luz do sol da manhã. Bronwyn mal
olhou para a sala lindamente revestida de tapetes, antes que
sua atenção fosse atraída para as duas pessoas que estavam
de pé no meio dela.

— Maldição, Judith! — gritou um homem alto. Tinha


cabelos escuros, olhos cinzentos e maçãs do rosto salientes.
Um homem extraordinariamente bonito, e agora seu rosto
estava em chamas de fúria. —Eu deixei ordens exatas de
como queria que a queijaria fosse reconstruída, Deixei os
desenhos feitos. Como se eu já não tivesse suficiente motivos
para me preocupar com Stephen e sua esposa desaparecida,

LRTHistóricos 394
Highlander Audaz — Jude Deveraux

volto para casa para encontrar os alicerces feitos e eles não


têm semelhança com os meus planos.

Judith levantou a vista para lhe olhar com muita calma.


Tinha uma abundante cabeleira castanho-avermelhada,
coberta parcialmente por um capuz francês. Seus olhos
brilharam como ouro.

— Porque seus planos eram completamente ineficazes.


Alguma vez fez manteiga ou queijo? Ordenhou uma só vaca
em sua vida?

O homem se erguia diante dela em toda sua estatura,


mas a miúda mulher não cedeu um passo.

— Que diabos importa que nunca tenha ordenhado uma


maldita vaca? — Ele estava tão furioso que suas maçãs do
rosto pareciam prontas para cortar sua pele. — A questão é
que você contradisse minhas ordens e com isso como acha
que devo olhar a meus queijeiros?

Judith o olhou com os olhos entrecerrados.

— Pois estão muito agradecidos por não verem-se


obrigados a trabalhar naquele covil que você projetou.

— Judith! — bramou ele. — Se adiantasse algo,


castigaria-te até te deixar negra e azul por tanta insolência.

— É notável o muito que fica irado quando tenho razão.

O homem rangeu os dentes e deu um passo adiante.

LRTHistóricos 395
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Gavin! — Stephen gritou ao lado de Bronwyn


enquanto agarrava um machado dentre as armas que
estavam penduradas na parede.

Gavin, treinado para a guerra, seus sentidos sempre


alertas, reconheceu o chamado. Girou rapidamente, e
agarrou o machado de guerra que Stephen atirou para ele.
Por um momento, Gavin olhou perplexo para seu irmão, que
usava roupas tão estranhas e para o machado que segurava.

— Para se proteger de Judith. — riu Stephen,


apontando a arma. Antes que Gavin pudesse reagir, Judith
cruzou a sala correndo e se jogou nos braços de Stephen.

— Onde estava? Faz dias que o buscamos. Estávamos


muito preocupados contigo.

Stephen enterrou o rosto no pescoço de sua cunhada.

— Está bem agora? A febre...

Interrompeu-lhe o bufo de Gavin.

— Está tão bem que coloca o nariz em todos os meus


assuntos.

— Que assuntos? — brincou Stephen. — Você ainda não


aprendeu a lição?

— Já basta! Silêncio os dois! — disse Judith, largando-


se de Stephen. Gavin abraçou seu irmão.

LRTHistóricos 396
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Onde estava metido? Disseram-nos que o haviam


matado; depois nos chegou à mesma notícia pela segunda
vez. Foi...

Não pôde terminar; não podia expressar a Stephen o


tormento que tinham passado enquanto o procuravam.

— Já estou perfeitamente bem como pode ver. —


Stephen riu e afastou-se de seu irmão.

— Vejo que está mais bonito que nunca. — disse Judith,


apreciando abertamente as pernas bronzeadas e musculosas
do cunhado. Gavin a rodeou com um braço possessivo.

— Deixa de flertar com meu irmão. E vá inteirando-se


que não penso em vestir uma dessas coisas.

Judith riu baixinho e se apertou mais contra seu


marido.

Bronwyn permanecia à sombra de uma cadeira alta,


uma estranha observando a família. Então essa era a gentil
Judith! Era menor que ela, pequena e linda como uma joia.
Mas enfrentava seu musculoso marido sem temor algum. Não
era mulher de passar os dias costurando!

Judith foi a primeira a notar que Bronwyn os observava.


Sua primeira impressão foi que Stephen tinha feito o que
uma vez ameaçou: trancou sua esposa em uma torre e
encontrou uma bela plebeia para fazê-lo feliz. Mas, enquanto
observava Bronwyn, percebeu que nenhuma mulher comum

LRTHistóricos 397
Highlander Audaz — Jude Deveraux

podia se comportar ou ter esse porte. Não era apenas o


orgulho de ser surpreendentemente adorável e bela, mas
algum orgulho interior Era uma mulher que sabia que tinha
valor. Judith afastou-se de seu marido e caminhou em
direção a Bronwyn.

— Lady Bronwyn? — perguntou em voz baixa, com a


mão estendida.

Os olhos de Bronwyn encontraram-se com os de Judith


e entre ambas houve uma espécie de entendimento:
reconheciam-se como iguais.

— Como você sabia? — riu Stephen. — James tomou-a


por uma de minhas... Bom, pensou que não era minha
esposa.

— James é um idiota. — disse Judith. Ela se afastou de


Bronwyn, estudou as roupas da mulher mais alta. — Essa
saia dá-lhe muita liberdade de movimento, não é? E não
parece tão pesado como este vestido, certo?

Bronwyn sorriu calorosamente.

— É maravilhosamente leve, mas o seu é tão bonito...

— Venha para o meu solar e vamos conversar. — Disse


Judith.

Os homens olhavam fixamente para as mulheres que


partiam, com espanto e de bocas abertas.

LRTHistóricos 398
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Nunca vi Judith simpatizar assim com ninguém. —


comentou Gavin. — E como sabia que era sua esposa? Por
seu modo de vestir, eu estaria de acordo com o James.

— E Bronwyn odeia as roupas inglesas! — adicionou


Stephen. — Não imagina os sermões que escutei sobre a
moda feminina inglesa, diz que imobiliza as mulheres.

Gavin começou a sorrir.

— Cabelo preto e olhos azuis! Eu realmente a vi ou era


minha imaginação? Pensei que você disse que era feia e
gorda. Ela realmente não pode ser o Laird de um clã, não é?

Stephen riu entre dentes.

— Vamos sentar. Há algo para comer? — perguntou,


com brilho nos olhos. — Ou agora os servos só obedecem a
Judith?

— Se eu não estivesse tão feliz por vê-lo em segurança


faria você lamentar esse comentário. — Gavin disse enquanto
saía para pedir comida e enviar seus homens em busca de
Raine e Miles.

— Como está Judith, em realidade? — perguntou


Stephen, quando lhes serviram o desjejum da manhã. — Em
suas cartas dizia que se repôs por completo do aborto, mas...

Gavin pegou um ovo cozido do prato de Stephen.

LRTHistóricos 399
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Já a viu. — Gavin soprou. — Eu preciso lutar por


cada centímetro de controle que tenho sobre o meu próprio
povo.

Stephen ergueu os olhos bruscamente.

— E isso você adora. — Stephen falou lentamente.

Gavin sorriu.

— Faz-me a vida interessante, sim. Cada vez que vejo


essas esposas afetadas, rosadas e brancas que têm outros
homens, dou graças ao céu por estar casado com Judith.
Acredito que ficaria louco se não tivéssemos uma boa rixa,
bem estimulante, uma vez por semana. Bom, não falemos
mais de mim! Como é sua Bronwyn? Sempre tão doce e dócil
como vi poucos minutos atrás?

Stephen não sabia se devia rir ou chorar.

— Dócil? Bronwyn? Não tem ideia do que significa essa


palavra. Se se manteve a um lado e em silêncio, foi
provavelmente porque estava se perguntando se devia usar
uma adaga ou aquele cão de caça do inferno.

— Por que ela faria isso?

— Porque é escocesa, homem! Os escoceses odeiam os


ingleses porque lhes queimam os campos semeados e
estupram as mulheres, porque os ingleses são um bando de
bastardos malditos, arrogantes e detestáveis que se acham
melhores que esses honrados e generosos escoceses e...

LRTHistóricos 400
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Espere um momento! — riu Gavin. — A última vez


que nos vimos você era um inglês.

Stephen voltou sua atenção para a comida, obrigando-se


a serenar-se.

— Acredito que por um momento esqueci-me deste fato.

Gavin se recostou na cadeira e estudou seu irmão.

— Pelo comprimento do seu cabelo, eu diria que você


esqueceu já há alguns meses.

— Não critique as vestimentas escocesas antes de usá-


la, quer? — aconselhou-lhe Stephen.

Gavin apoiou uma mão no seu braço.

— O que há de errado? O que te deixa tão preocupado?

Stephen se levantou e caminhou em direção à lareira.

— Às vezes já não sei quem sou. Quando eu fui para a


Escócia, sabia que era um Montgomery, e me sentia muito
nobre sobre a minha missão lá. Devia ensinar aos escoceses
ignorantes nossos costumes civilizados. — Passou a mão pelo
cabelo. — Eles não são ignorantes, Gavin. Longe disso. As
coisas que poderíamos aprender deles, Senhor! Nós não
conhecemos sequer o real sentido da palavra "lealdade". O clã
do Bronwyn está formado por gente que morreria por ela. E
que me crucifiquem se não a vi arriscar a vida por seu clã!
Além disso, as mulheres participam da roda de conselheiros e
tomam decisões... e eu as ouvi tomarem boas decisões.

LRTHistóricos 401
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Como Judith! — observou Gavin sereno.

— Sim! — disse Stephen em voz alta. — Mas ela tem que


brigar comigo por cada centímetro.

— É obvio. — respondeu Gavin, com firmeza. — As


mulheres deveriam...

A risada de Stephen o deteve.

— Em algum momento, nesses meses, deixei de pensar


no que "deveriam" as mulheres.

— Conte mais sobre a Escócia. — Pediu Gavin,


querendo mudar de assunto.

Stephen voltou a se sentar e a comer. Sua voz soava


longínqua.

— É um país muito belo.

— Dizem que chove quase sempre.

— E o que importa um pouco de chuva quando se é


escocês?

Gavin ficou pensativo; observava a seu irmão e escutava


além de suas palavras.

— Christopher Audley veio aqui algum tempo atrás. Ele


o encontrou antes do casamento?

Stephen deixou de comer.

— Mataram-lhe na Escócia.

LRTHistóricos 402
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Como?

Stephen se perguntou como poderia explicar que Chris


foi morto no que, para um cavaleiro como Gavin, seria uma
luta desonrosa.

— Uma incursão para roubar ganho. Alguns dos


homens de Bronwyn morreram tentando protegê-lo.

— Proteger ao Chris? Mas se era um soldado excelente!


Sua armadura...

— Malditas armaduras! Não pôde correr. Como disse


Douglas, estava encerrado em um ataúde de aço. —
Explodiu, for fim, Stephen.

— Não compreendo. Como?

Stephen foi salvo de responder pelo estrondo da porta


sendo aberta.

Raine e Miles entraram na sala como vendaval. Raine


cruzou o quarto a grandes passos, fazendo tremer os vidros
das janelas em seus limiares, e levantou em um abraço a seu
irmão, que era mais leve, embora de mais idade que ele.

— Stephen! Ouvimos dizer que você estava morto!

— E morrerá se não o soltar. — Miles disse calmamente.

Raine afrouxou um pouco os braços.

— É um fracote débil. — disse com presunção. Stephen,


sorridente, empurrou os braços contra os de Raine. Ele sorriu

LRTHistóricos 403
Highlander Audaz — Jude Deveraux

mais amplamente quando sentiu os braços de Raine se


mexerem. Stephen empurrou mais e Raine aplicou mais
pressão. Raine perdeu.

Stephen irradiava prazer. Não eram muitos os que


conseguiram superar a força enorme do terceiro irmão sem
recorrer a uma arma. Ofereceu graças silenciosas a Tam.
Raine deu um passo atrás e lhe sorriu com orgulho.

— A Escócia parece ter feito bem a você.

— Ou então você negligenciou seu treinamento. — disse


Stephen, presunçoso.

A cara do Raine se encheu de covinhas.

— Talvez você quisesse testar?

— Um momento! — interveio Miles, interpondo-se entre


os irmãos. — Não deixe que Raine o mate antes que eu dê
boas-vindas. — E abraçou Stephen.

— Você cresceu Miles — observou Stephen — e ganhou


peso.

Gavin soprou.

— Culpa das mulheres. Duas das ajudantes de cozinha


disputam qual delas se supera com os pratos.

— Compreendo. — riu Stephen. — O prêmio é nosso


irmãozinho?

Raine se pôs a rir.

LRTHistóricos 404
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Ou o que sobrar quando as outras mulheres


terminarem com ele.

Miles ignorou os irmãos. Raramente sorria amplamente,


como seus irmãos. Era um homem solene, e a emoção que
sentia se manifestava em seus penetrantes olhos cinzentos.
Lançou um olhar ao redor do quarto.

— James disse que sua esposa veio.

— Que Miles se encarregue dela. — Riu Gavin. — Pelo


menos agora poderei ter Judith para mim de vez em quando.
Toda vez que olho, ela está com um de meus desprezíveis
irmãos.

— Gavin a faz trabalhar como uma serva. — Protestou


Raine, meio a sério.

Stephen sorriu. Era bom estar de novo em casa, ver


Gavin e Raine discutindo, para ouvi-los provocando Miles.
Seus irmãos tinham mudado pouco nos últimos meses. Raine
parecia mais forte e saudável, se era possível. Miles ainda se
mantinha a um lado, à parte, embora fizesse parte do grupo.
E Gavin unia todos. Gavin era o sólido, aquele que amava a
terra. Onde Gavin estivesse também estaria sempre o lar de
todos os Montgomery.

— Não sei se estou pronto para você conhecer Bronwyn.


— vacilou Stephen.

LRTHistóricos 405
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— O que? É tímida? — perguntou Raine, preocupado. —


Suponho que não a tenha arrastado por toda a Inglaterra
com você, verdade? Porque não vi nenhuma carreta de
bagagem. Onde estão seus homens?

Stephen respirou fundo e riu. Eles nunca acreditariam


se ele dissesse a verdade.

— Não, eu não diria que Bronwyn é tímida. — disse


rindo por entre dentes.

LRTHistóricos 406
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Quatorze
Bronwyn estava inundada até o pescoço em uma
banheira de água quente com sabão. Na enorme lareira ardia
um bom fogo, que dava ao quarto calor e fragrância. Relaxou-
se na tina e olhou ao seu redor. O quarto era lindo, das vigas
do teto raso até os mosaicos espanhóis do chão. As paredes
eram de madeira pintada de branco com minúsculos botões
de rosa entrelaçados sobre as articulações. A enorme cama
de dossel tinha uma cortina de um profundo veludo rosa. As
cadeiras, bancos e armários do quarto estavam esculpidos
com arcos altos e pontiagudos. Bronwyn se reclinou na
banheira, com um sorriso. Resultava agradável ver-se em
meio de tanto luxo, mas ao mesmo tempo sentia que esse
dinheiro devia ser utilizado para outra coisa. Ela e Stephen
tinham visto muita pobreza no trajeto para a propriedade
Montgomery. Por sua parte teria usado esse dinheiro para
seu povo, mas sabia que os ingleses eram diferentes.

Fechou os olhos e pensou nos últimos minutos. Sorria


ao comparar a Judith que ela esperava e a Judith que
encontrou. Esperava uma mulher doce e suave, mas nada
havia de suave em Judith. Não havia um criado que não
pulasse para cumprir sua ordem. Antes que Bronwyn
estivesse plenamente consciente do que estava acontecendo,
ela se encontrara despida e em uma banheira. Não sabia,

LRTHistóricos 407
Highlander Audaz — Jude Deveraux

mas água quente era exatamente o que ela precisava. A porta


se abriu com suavidade.

— Sente-se melhor? — perguntou Judith entrando.

— Muito melhor. Tinha esquecido o que era ser tão


mimada.

Judith fez uma careta e estendeu uma toalha grande, já


quente para Bronwyn.

— Acho que os homens de Montgomery não são dados a


mimar suas mulheres, Gavin não hesita e acha natural pedir-
me que viaje com ele nas piores tempestades.

Bronwyn enrolou a toalha ao redor de seu corpo e olhou


para Judith cuidadosamente.

— E o que você faria se ele exigisse que você


permanecesse em casa? — perguntou, sem elevar a voz.

Judith riu de boa vontade.

— Não obedeceria. Gavin está acostumado a passar por


cima de detalhes que não dá importância, como o fato de que
um mordomo roube grãos dos armazéns.

Bronwyn sentou-se diante do fogo e deu um suspiro.

— Eu queria que você pudesse olhar meus livros de


contas. Receio que muitas vezes os negligencie.

Judith pegou um pente de marfim e começou a pentear


o cabelo molhado da sua cunhada.

LRTHistóricos 408
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É que tem que considerar outras coisas, além das


ervilhas acumuladas no depósito. Diga-me: como é ser chefe
de um clã, ter todos aqueles homens bonitos dispostos a
obedecer a seu mais ínfimo desejo?

Bronwyn explodiu em gargalhadas, tanto pelo tom


pensativo de Judith como pelo absurdo da ideia. Ela se
levantou, vestiu um robe de Judith, e começou desembaraçar
os fios em seu cabelo.

— É uma grande responsabilidade. — Explicou. — E


quanto aos meus homens me obedecerem. — Suspirou e
retirou alguns cabelos do pente. — Na Escócia não somos
como vocês da Inglaterra. Aqui as mulheres são tratadas
como se fossem diferentes.

— Como se não tivéssemos cérebro! — acrescentou


Judith.

— Sim, isso é verdade, mas quando os homens


acreditam que as mulheres são inteligentes, esperam mais
delas.

— Não entendo. - respondeu Judith.

— Os meus homens não me obedecem cegamente,


questionam-me a cada passo que devem dar: Na Escócia,
cada homem acredita que é igual a todos os homens. Stephen
ordena aos seus homens para selarem os seus cavalos e
estarem prontos para cavalgar em uma hora e eles obedecem
sem mesmo questioná-lo.

LRTHistóricos 409
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Estou começando a entender — disse Judith. — Seus


homens querem saber para onde estão indo e por quê? Se for
assim, isso poderia ser bastante...

— Irritante, às vezes. — Concluiu Bronwyn. — Há um


homem, um homem idoso, Tam, que vigia cada um de meus
movimentos e analisa todas minhas decisões. E há todos os
seus filhos que me contradizem em cada oportunidade. Na
verdade, só tomo as decisões de menor importância. As mais
importantes são um esforço coletivo.

— Mas e se você quer algo e eles estão contra isso, o que


você faz?

Bronwyn sorriu com lentidão.

— Há maneiras de manobrar os homens, mesmo


aqueles que pairam acima como águias.

Foi a vez de Judith rir.

— Como a queijaria! Eu não podia permitir que Gavin


construísse um lugar horrível como aquele que ele desenhou.
Fiz os homens trabalharem toda a noite para que os alicerces
estivessem preparados antes que ele voltasse. Eu sabia que
ele era econômico demais para destruir tudo e orgulhoso
demais para me dar a razão.

Bronwyn se sentou no banco, junto a sua cunhada.

LRTHistóricos 410
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— E pensar que eu temia conhecer você! Stephen


disse... bom, do modo que ele a descreveu, eu imaginei que
você não era nada além de bonita, mas sem vida e idiota.

— Esse Stephen! — Judith riu, então pegou a mão de


Bronwyn. — Fui eu quem o fez chegar atrasado ao seu
casamento. Fiquei horrorizada quando descobri que nem
sequer lhe enviou uma mensagem para se explicar. — Ela
hesitou um momento. — Ouvi dizer que isso provocou alguns
problemas entre vocês.

— Foi Stephen Montgomery que causou seus próprios


problemas. — corrigiu Bronwyn secamente. — Há momentos
em que ele pode ser o mais arrogante, insuportável,
enfurecido...

— Fascinante homem do mundo. — completou Judith.


— Não precisa me dizer isso. Sei muito bem, porque estou
casada com um da família. Mas não trocaria Gavin por
nenhum desses cavalheiros perfumados que andam pelo
mundo. Você deve se sentir do mesmo modo a respeito de
Stephen.

Bronwyn sabia que ela precisava responder, mas não


tinha ideia do que queria dizer. De repente, Rab estava de pé,
a cauda balançando enquanto latiu excitadamente para a
porta da câmara. Stephen entrou e se ajoelhou enquanto
coçava as orelhas de Rab.

LRTHistóricos 411
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Vocês duas parecem felizes com alguma coisa. —


comentou.

— É sempre uma alegria ter um momento de paz e


tranquilidade. — replicou Bronwyn.

Stephen sorriu para Judith.

— Já que estamos aqui, poderia lhe adoçar um pouco a


língua? A propósito, há um homem lá embaixo falando algo
sobre alguns vestidos.

— Estupendo! — declarou Judith e saiu quase correndo.

— O que se passava aqui? — Stephen perguntou,


levantando-se e caminhando em direção a sua esposa.
Levantou um cacho úmido de seu seio. — Você parece tão
atraente como uma manhã de primavera fresca.

Ela se afastou para voltar o olhar ao fogo.

— Bronwyn, você ainda está zangada pelo que


aconteceu na casa de Hugh, não é.

Ela se voltou para enfrentá-lo.

— Zangada? — disse fria. — Não, não estou zangada. Fiz


uma tolice, nada mais.

— Que tolice? — perguntou ele pousando uma mão no


ombro de Bronwyn. Não se incomodava com seus acessos de
cólera ou mesmo quando o ameaçava com uma adaga em

LRTHistóricos 412
Highlander Audaz — Jude Deveraux

punho, mas estava angustiado por sua frieza. — Como você


foi tola?

— Eu comecei a acreditar que poderia haver algo entre


nós.

— Amor? — Ele perguntou com os olhos brilhantes, um


sorriso começando a curvar seus lábios. — Não é errado
admitir que você me ama.

Bronwyn torceu os lábios e afastou a mão do marido.

— Que amor! — Ela disse com raiva. — Estou falando de


coisas mais importantes do que o amor entre um homem e
uma mulher, estou falando de confiança e lealdade e da fé
que uma pessoa deve ter em outra.

Stephen franziu o cenho para ela.

— Eu não tenho ideia do que você está falando. Eu


pensei que o amor era o que a maioria das mulheres queria.

Ela suspirou em exasperação, e sua voz estava calma


quando falou.

— Quando vais aprender que não sou "a maioria das


mulheres"? Sou Bronwyn, uma MacArran, e sou única. Talvez
quase todas as mulheres pensem que o amor é o principal
objetivo de suas vidas, mas eu já tenho amor. Amam-me
meus homens, ama-me Tam. Sou amiga das mulheres de
meu clã e até de Kirsty, uma MacGregor.

LRTHistóricos 413
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— E onde eu me encaixo nisso? — perguntou Stephen,


apertando os dentes.

— Tenho certeza de que nos amamos um ao outro, à


nossa maneira. Fiquei preocupada e cuidei de você quando a
flecha de Davey o feriu, e você muitas vezes mostra que se
importa comigo.

— Menos mal. — observou ele sombrio. — Obrigado por


pequenos favores. E eu, pensando que você ficaria feliz em
ouvir que eu te amo!

Bronwyn olhava para ele fixamente e sentiu seu coração


saltar por suas palavras, mas não confessaria isso a Stephen.

— Eu quero mais do que amor. Quero algo que dure


quando a minha pele esteja enrugada e minha cintura não
seja mais estreita. — Ela parou por um momento. — Eu
quero respeito, honra e confiança. Não quero ser acusada de
mentirosa, nem quero seu ciúme. Como a Laird MacArran,
tenho de viver num mundo de homens e não quero um
marido que me acuse de coisas desonrosas quando estiver
fora de sua vista.

Na mandíbula do Stephen se contraiu um músculo.

— Então é isso! Devo ficar de lado e deixar que os


homens toquem você sem que eu diga nada?

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Acredito que só se trata de um homem. Você deveria


ter pensado que havia um propósito por trás de minhas
ações.

— Um propósito? Por Deus, Bronwyn! Como vou


conseguir pensar quando alguém toca você?

O latido de Rab a salvou de responder. Uma fresta da


porta se abriu.

— É seguro entrar? — perguntou Judith, olhando ao cão


com desconfiança.

— Venha, Rab. — Bronwyn ordenou quando Judith


entrou. — Ele não vai te machucar a menos que tenha uma
arma apontada para mim.

— Vou me lembrar disso. — Judith riu e estendeu os


braços. Sobre eles havia um vestido de veludo marrom,
bordado com fios de ouro. — Para você — disse ela. — Vamos
ver se fica bem.

— Como...? — balbuciou Bronwyn, sustentando o


vestido contra o corpo.

Judith sorriu secretamente.

— Há um homenzinho horrível que trabalha para Gavin.


Meu marido sempre o trancava no porão por toda sorte de...
indiscrições. Decidi usar os talentos do homem. Dei-lhe uma
bolsa de prata, descrevi quão alta você era, e disse-lhe para
me arranjar um vestido digno de uma dama.

LRTHistóricos 415
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É lindo. — Sussurrou a moça, deslizando as mãos


pelo veludo. — Você tem sido tão amável comigo, faz eu me
sentir tão bem-vinda.

Judith olhava a Stephen, que estava de costas para elas.


Pôs-lhe a mão no ombro.

— Stephen, você está bem? Você parece cansado —


disse Judith.

Ele tentou sorrir para ela e distraidamente beijou sua


mão.

— Talvez disso se trate. — Voltou-se para o Bronwyn. –


Meus irmãos gostariam de conhecê-la — disse formal. Será
uma honra que nos visite. — Se virou e saiu do quarto.

Judith não perguntou o que havia acontecido entre os


recém-casados. Ela só queria fazer sua visita livre de conflitos
tanto quanto possível.

— Vou lhe ajudar a se vestir. Amanhã poderá provar as


roupas que encomendei para você.

— Roupas? Não deveria fazê-lo.

— Mas eu fiz. Então o mínimo que você pode fazer é


apreciá-los. Agora vejamos como fica este.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Horas depois, Bronwyn estava vestida e penteada para


satisfação de sua cunhada. Judith disse que tinha aprendido
muitos truques enquanto estava na corte, um lugar que
nunca gostaria de visitar novamente. Ela gostava da maneira
escocesa de Bronwyn de deixar seus cabelos soltos, tanto que
descartou seu próprio capuz e deixou seu lindo cabelo
castanho-avermelhado cair pelas suas costas. Usava um
vestido de cetim violeta, com visom pardo nas mangas e na
bainha. Um cinturão dourado com ametistas púrpuras
rodeava-lhe a cintura.

O profundo decote quadrado exibia o alto dos seios


volumosos. As mangas em forma de balão foram talhadas
para exibir o forro de fino tecido dourado. Endireitou os
ombros e braços e desceu as escadas para apresentar-se a
seus cunhados.

Os quatro homens estavam, lado a lado, na frente da


lareira de pedra no salão de inverno, e Bronwyn e Judith
pararam por um momento para olhar para eles com orgulho.
Stephen tinha cortado seu cabelo comprido e descartado suas
roupas escocesas, e Bronwyn sentiu uma súbita pontada de
agonia pela perda do Highlander que ele havia sido. Usava
um casaco de veludo azul escuro, colarinho de pele de marta.
Suas pesadas e musculosas pernas estavam envoltas com
meias de lã azul escuro.

Gavin estava vestido de cinza, sua jaqueta forrada com


peles de esquilo cinza. Raine vestia veludo negro, a gola

LRTHistóricos 417
Highlander Audaz — Jude Deveraux

bordada com fio de prata em um intrincado desenho


espanhol. A jaqueta de Miles era de veludo verde- esmeralda,
com cortes e talhos nas mangas que revelavam um tecido
prateado. Havia pérolas nas mangas de sua camisa.

Miles foi o primeiro a se virar e ver as mulheres. Colocou


o cálice de prata sobre a lareira e avançou. Ele parou na
frente de Bronwyn, seus olhos escurecendo, ficando quase
preto: um fogo intenso e negro. Caiu de joelhos diante dela.

— É uma honra. — sussurrou com muita reverência.

Bronwyn olhou aos outros, consternada. Judith lhe


sorriu com orgulho.

— Posso te apresentar a Miles? — Judith perguntou a


sua cunhada.

Bronwyn estendeu a mão, e Miles a pegou, e beijou-a


lentamente.

— Você já fez sua apresentação, Miles. — disse Stephen


sarcástico.

Gavin riu e deu um tapa no ombro de Stephen com


tanta força que seu vinho salpicou em sua mão.

— Por fim tenho a alguém que me ajude com meu irmão


caçula! Lady Bronwyn, permite-me me apresentar com mais
formalidade? Sou Gavin Montgomery.

Bronwyn tirou a mão da de Miles, e relutante seus olhos


o deixaram. Havia algo extraordinariamente intrigante no

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

jovem. Ela deu a mão para Gavin, então se virou para o outro
irmão.

— E você tem que ser Raine. Ouvi falar muito de você.

— Bem ou mau? — perguntou Raine, lhe beijando a


mão. Sorria tanto que suas covinhas se aprofundaram.

— Quase sempre mau. — Ela respondeu com franqueza


— Um de meus homens, Tam, um verdadeiro carvalho
humano, foi o treinador de Stephen na Escócia. Durante
várias semanas seguidas ouvi seu nome ser usado como grito
para incitar Stephen sempre que ele tentava fugir das
tremendas exigências de Tam.

Raine riu alto.

— Deve ter funcionado, porque ele me ganhou em uma


curta luta esta manhã. — Ele olhou para Stephen. —
Embora, claro, ainda não aceitou meu desafio para um
combate mais prolongado.

Bronwyn arregalou os olhos e estudou os ombros largos


de Raine e o peito forte.

— Eu diria que basta uma oportunidade para derrotar a


um homem.

Raine a segurou pelos ombros para dar um sonoro beijo


na bochecha.

— Cuida bem desta, Stephen! — riu.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Faço o possível. — respondeu ele pegando a mão dela


antes que Miles voltasse a apoderar-se dela. — O jantar está
servido. Vamos comer? — perguntou, buscando os olhos de
Bronwyn.

Ela sorriu para ele com doçura, como se nunca tivessem


discutido.

Enquanto eles estavam sentados para o jantar, com


prato após prato de comida sendo trazidos, foi que Bronwyn
percebeu como essas pessoas eram diferentes dos ingleses
que conheceu antes. Essa família feliz e rindo não tinha
nenhuma semelhança com os homens que conhecera na casa
de Sir Thomas Crichton. Judith teve muitas despesas e
problemas para que ela se sentisse bem-vinda. Os irmãos de
Stephen a aceitaram, não fizeram comentários sarcásticos
porque ela era o Laird de um clã.

De repente, tudo parecia estar girando ao seu redor. Ela


cresceu odiando os MacGregor e os ingleses. Agora era
madrinha de um MacGregor, e ela se viu amando essa família
inglesa, unida e acolhedora. Ainda assim, os MacGregor
haviam matado os MacArran por séculos. Os ingleses haviam
matado seu pai. Como ela poderia amar as pessoas que
deveria odiar?

— Lady Bronwyn, — perguntou Gavin — o vinho é muito


forte para você?

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não! — sorriu ela. — Tudo está perfeito. E esse, temo,


seja o problema.

Ele a estudou durante um instante.

— Eu quero que você saiba que somos sua família


também. Se você precisar de algum de nós a qualquer
momento, estaremos aqui.

— Obrigada! — respondeu muito séria, sabendo que era


verdade.

Depois do jantar, Judith levou Bronwyn para uma visita


à área dentro das muralhas do castelo. Havia duas seções
para o castelo, o exterior onde os servos do castelo viviam e
trabalhavam, e o círculo interior, mais protegido para a
família. Bronwyn ouviu e fez centenas de perguntas sobre o
sistema bem organizado e incrivelmente eficiente do castelo.
Os acres de terra dentro das paredes altas e grossas eram
quase autossustentáveis.

Stephen as deteve enquanto conversavam com o


ferreiro. Judith estava explicando a sua cunhada uma nova
técnica para forjar o metal.

— Posso falar contigo, Bronwyn? — pediu o jovem. Ela


compreendeu que se tratava de algo sério e lhe seguiu ao
exterior da forja, onde pudessem dialogar em privado.

— Gavin e eu voltaremos para Larenston para trazer o


corpo do Chris.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Tam já deve ter mandado sepultar.

Ele assentiu.

— Sei, mas acredito que temos essa obrigação para com


a família do Chris. Nem sequer sabem que morreu. Eles se
sentiriam melhor se pudessem enterrá-lo em suas próprias
terras.

Ela concordou com a cabeça.

— Chris não gostava de Escócia. — acrescentou solene.

Stephen correu os dedos ao longo de sua bochecha.

— É a primeira vez que nos separamos desde que nos


casamos. Eu gostaria de pensar... — deteve-se, deixando cair
à mão.

— Stephen... — começou ela.

Ele tomou entre seus braços para estreitá-la com força.

— Gostaria que pudéssemos voltar para o tempo que


passamos com Kirsty e Donald. Você parecia feliz lá.

Bronwyn se agarrou ao marido. Apesar do perigo que


corriam, ela também se lembrava desses dias como uma
temporada feliz.

— Você passou a representar muito para mim. —


Sussurrou ele. — Detesto partir quando você está tão... fria
comigo.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Quando ela riu, ele a afastou, franzindo o cenho.

— Do que ri? — perguntou zangado.

— Pensava que neste momento não me sinto nada fria.


Diga-me, de quanto tempo dispomos antes que parta?

— De alguns minutos. — Stephen disse com tanta


tristeza que ela voltou a rir.

— E quanto tempo demorará em voltar?

Ele colocou os dedos sob o queixo dela.

— Três longos, longos dias, pelo menos. Conhecendo


Gavin, vamos cavalgar a todo galope, em vez de nos determos
com frequência, como fazíamos você e eu. — acrescentou
sorridente.

Bronwyn rodeou-lhe o pescoço com os braços.

— Não vai esquecer-se de mim enquanto estiver fora? —


sussurrou, roçando os lábios de Stephen com os seus.

— Seria mais fácil esquecer uma tempestade. —


respondeu ele. Os esforços do Bronwyn por afastar-se o
fizeram rir. — Venha aqui, mulher.

Sua boca tomou posse dela de tal forma que ela


esqueceu todos os pensamentos de honra e respeito.
Lembrou-se apenas de suas brincadeiras nas terras altas.
Sua mão se moveu para sua nuca, para inclinar-se contra
sua boca, e ela abriu seus lábios sob os dele, bebendo na

LRTHistóricos 423
Highlander Audaz — Jude Deveraux

doçura da ponta de sua língua. Apertou o corpo contra ele e


estreitou o abraço.

— Stephen...

Ele colocou dois dedos em seus lábios.

— Temos muito de que falar quando eu voltar. Está


disposta?

Ela sorriu feliz.

— Sim, estou muito disposta.

Ele a beijou mais uma vez, já com saudade e promessas


para o futuro. Quando se virou para partir, foi com evidente
relutância.

À noite Bronwyn percebeu como sentia falta de Stephen.


Naquele quarto encantador, a enorme cama parecia fria e
insuportável. Pensou em Stephen galopando para Escócia
sem uma noite sequer de repouso. Maldisse a si mesma por
não ter insistido em acompanhá-lo.

Quanto mais pensava mais inquieta se sentia. Jogou os


cobertores de lado e cruzou o chão frio rapidamente até um
baú no canto do quarto. Vestiu suas roupas das montanhas e
em poucos minutos jogava a manta sobre o ombro. Talvez um
passeio pelo pátio frio ajudasse a conciliar o sonho. Assim

LRTHistóricos 424
Highlander Audaz — Jude Deveraux

que saiu um tamborilar de cascos ecoou contra os tijolos do


pátio.

— Stephen! — exclamou ela, enquanto começava a


correr, pois sabia que só os membros da família podiam
entrar durante a noite.

— Lady Mary! — saudou alguém em voz baixa. — É bom


vê-la de novo. Sua viagem foi agradável?

— Tão agradável quanto eu poderia desejar, James. —


respondeu uma voz suave e gentil.

— Quer você que chame Lady Judith?

— Não, não a incomode. Ela precisa de descanso. Me


arranjarei sozinha.

Bronwyn ficou nas sombras e observou como um dos


guardas do castelo ajudou Lady Mary a desmontar. Lembrou-
se de como Stephen tinha comparado sua irmã com a
Madonna, disse que ela era a pacificadora e que morava em
um convento perto das propriedades de Montgomery.

— Nós esperávamos você mais cedo. — disse James. —


Espero que nada esteja errado e que não tenha tido nenhum
problema.

— Um dos meninos estava doente e fiquei atendendo-o.

— Você tem muita bondade no coração, Lady Mary. Não


deveria aceitar a filhos de mendigos. Alguns foram concebidos

LRTHistóricos 425
Highlander Audaz — Jude Deveraux

por assassinos. E tampouco as mães devem ser boa gente,


para falar a verdade.

Mary ia dizer algo, mas girou para olhar Bronwyn com


um sorriso.

— Tinha uma estranha sensação de que alguém me


observava. — Deu um passo adiante. — Você deve ser
Bronwyn, esposa do Stephen.

O pátio estava na penumbra com somente a luz da lua e


uma lanterna para a noite. Mary era baixa e gorducha com
um rosto oval perfeito. Inspirava confiança imediatamente.

— Como você sabia? — Bronwyn sorriu. — Não consegui


enganar nenhum dos Montgomery.

— Sei que os escoceses são fortes. E para suportar esse


vento quando não há necessidade, seria preciso muita
resistência.

Bronwyn começou a rir.

— Vamos para o salão de inverno, e acenderei o fogo


para você em questão de minutos.

— Parece celestial — comentou Mary, sem tirar as mãos


de dentro de seu grosso manto de lã.

Seguiu a sua cunhada até o grande salão e permaneceu


em silêncio, enquanto a moça preparava a lenhas e acendia o
fogo com suas próprias mãos. Logo sorriu, agradada de que
uma dama de tão alto nível como Bronwyn se sentisse

LRTHistóricos 426
Highlander Audaz — Jude Deveraux

bastante segura de sua dignidade para não desdenhar os


trabalhos humildes.

A jovem se voltou para ela.

— Deve estar cansada. Não preferiria que acendesse o


fogo em seu quarto?

Mary se instalou em uma cadeira almofadada e


aproximou as mãos ao fogo.

— Estou cansada, sim. Muito cansada para dormir.


Prefiro estar um momento aqui e aproveitar este calor.

Bronwyn pôs o atiçador em seu suporte.


Verdadeiramente, Mary se parecia com a Madona. Seu rosto
oval tinha uma testa alta e clara, acima dos olhos castanhos
suaves e expressivos. Sua boca era pequena, tenra, delicada,
e havia covinhas em sua face. ‗As covinhas de Raine‟ pensou
Bronwyn.

— Que alegria estar novamente em casa. — suspirou


Mary. E voltou a olhar a sua cunhada — por que está
acordada? — perguntou de repente. — Acaso Stephen?

Bronwyn riu e sentou ao lado de Mary.

— Ele e Gavin voltaram para a Escócia para trazer para


casa o corpo de um amigo.

— Christopher! — Mary disse e suspirou quando ela se


recostou na cadeira.

LRTHistóricos 427
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Você sabe sobre ele? — perguntou Bronwyn, quase


temerosa.

— Sim. Stephen me escreveu sobre sua morte.

Bronwyn guardou silêncio um momento.

— Disse-te que a morte do Chris foi minha culpa?

— Não! E não deve sequer pensar assim. Stephen disse


que Chris morreu por sua própria arrogância. Que todos os
ingleses cometiam um suicídio ao entrarem nas terras altas
da Escócia.

— Mas os ingleses mataram a muitos Highlanders! —


protestou Bronwyn, com ferocidade. Então se virou e olhou
rapidamente para a cunhada. — Perdoe-me. Esqueço que...

— Que somos ingleses? É um elogio, sem dúvida. —


Mary estudou a moça à luz suave do fogo. — Stephen me
escreveu que você era bonita, mas não descreveu nem metade
de sua beleza.

Bronwyn fez uma careta.

— Dá muito valor à beleza feminina.

Mary riu.

— Você descobriu o mesmo que Judith. Meus irmãos


acreditam que todas as mulheres são como eu, sem espírito
nem paixão.

Bronwyn olhou para ela.

LRTHistóricos 428
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Mas, sem dúvida...

Mary a interrompeu com um gesto.

— Mas certamente uma mulher com irmãos tão


apaixonados como os meus deve ter um pouco de paixão? É
isso que você quis dizer? — Ela não esperou por uma
resposta. — Não. Temo que eu tendo a escapar da vida.
Mulheres como Judith e você, a julgar pelo conteúdo das
cartas de Stephen, agarram a vida com ambas as mãos.

Bronwyn não sabia o que dizer. Pensou sobre a estranha


conversa que estavam tendo. Estavam conversando como se
se conhecessem há anos, em vez de alguns minutos. Mas, de
alguma forma, a quietude da sala e a forma como a luz do
fogo parecia isolá-las dos cantos escuros, fazia tudo parecer
bastante comum.

— Diga-me, sente-se sozinha? — perguntou Mary. —


Sente falta dos costumes escoceses? Sua família, seus
amigos?

Passou um tempo até Bronwyn falar.

— Sim, sinto falta dos meus amigos. — Ela pensou em


Tam, Douglas e todo o seu povo. — Sim, sinto muita falta
deles.

— E agora parece que Stephen também se foi. Talvez


amanhã possamos cavalgar juntas. Eu gostaria de ouvir um
pouco mais sobre a Escócia.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn sorriu e recostou-se na cadeira. Ela gostaria


muito de passar o dia com essa mulher. Havia algo calmo e
pacífico sobre ela, algo que Bronwyn sentia que precisava
agora.

Bronwyn passou os dois dias seguintes com Lady Mary,


e não demorou muito para crescer o amor pela mulher.
Enquanto Judith estava ocupada com os livros de contas e as
preocupações de gerenciar, além das de Gavin, suas vastas
propriedades. Mary e Bronwyn descobriram um amor mútuo
pelas pessoas. Bronwyn nunca tinha sido capaz de se
interessar por números no papel, mas podia contar mais
sobre a prosperidade de um lugar conversando com os
aldeões, do que de qualquer outra maneira. Ela e Mary
atravessaram os hectares de terra e conversaram com todos.
Os servos eram tímidos no início, mas logo responderam as
perguntas de Bronwyn. Ela estava acostumada a falar com
seus subordinados como se fossem iguais, e um a um, Mary
viu homens e mulheres endireitarem seus ombros com
orgulho. Bronwyn enviou pessoas que estavam doentes para
a cama. Pediu, e foi felizmente dado suprimentos extras para
os filhos de algumas famílias.

Mas nem sempre era generosa com o obtido. Para ela os


servos eram pessoas; por isso não os olhava com compaixão.
Descobriu que vários homens roubavam a seus amos e se
encarregou de que os castigasse. Algumas famílias leais e
trabalhadoras foram postas em cargos de maior
responsabilidade.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Na noite do primeiro dia, Judith e Bronwyn passaram


horas juntas. Judith escutando com admiração tudo que
Bronwyn tinha a dizer. Judith percebeu imediatamente a
sabedoria de sua cunhada e aceitou todos os conselhos dela.

Por outro lado Bronwyn aprendeu muito sobre


organização e eficiência, todos os conhecimentos que ela
planejava levar de volta a Larenston. Ela estudou os
desenhos de Judith para edifícios, jardins e pomares. Judith
prometeu enviar uma carroça de mudas para Larenston na
primavera.

E Judith era uma maravilha na procriação de animais.


Bronwyn ficou fascinada pelo modo com que a cunhada
cruzara suas ovelhas e suas vacas, até conseguir que
produzissem mais carne, leite e lã.

Quando se deitou estava já muito cansada para


permanecer acordada. Gráficos e números nadavam diante
de seus olhos. Uma centena de rostos e nomes flutuavam
através de seus sonhos.

Pela manhã despertou cedo. Chegou aos estábulos antes


que os habitantes do castelo despertassem. Vestida outra vez
com seu traje escocês, pois tinha descoberto que a gente
reagia com entusiasmo ante as roupas singelas. Jogou uma
sela no lombo de uma égua.

— Permita-me milady! — disse uma voz jovem e forte ao


seu lado.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Virou-se para ver um homem loiro, baixo e bonito. Um


dos homens de Miles, que a acompanhara com Mary no dia
anterior.

— Obrigado, Richard.

Seus olhos, de um verde escuro, arderam quando olhou


para a moça.

— Eu não tinha ideia de que você conhecia meu nome.


É uma honra para mim.

Bronwyn riu.

— Tolices! Na Escócia conheço pelo nome a cada um de


meus homens, e eles me chamam pelo meu.

Ele se inclinou para ajustar a cilha.

— Estive falando com algum dos homens de Lorde


Stephen, que o acompanharam a Escócia. Contam que você
estava acostumada a viajar de noite, só com seus homens.

— É certo. — respondeu ela lentamente. — Sou uma


MacArran, a Laird de meus homens.

Ele sorriu de maneira lenta e provocadora.

— Permite-me dizer que invejo a seus Highlanders? Na


Inglaterra, raramente somos guiados por uma mulher e
nunca por uma tão bela.

Ela franziu o cenho e tomou as rédeas do animal.

LRTHistóricos 432
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Obrigada! — disse secamente, afastando-se do


estábulo.

— Que atrevimento é esse? O que você pensa que está


fazendo? — gritou um homem atrás de Richard.

Richard olhou para a porta que Bronwyn usara antes de


se virar para o homem atrás dele.

— Nada que possa interessá-lo, George. — apartando o


cavaleiro com uma cotovelada.

George lhe agarrou por um braço.

— Eu vi você falando com ela, e eu quero saber o que


você disse.

— Por quê? — criticou o jovem. — Então você a quer


para si? Ouvi o que você e o resto dos homens de Stephen
disseram dela.

— Lorde Stephen, para você!

— Você é um hipócrita! Você a chama de Bronwyn e fala


com ela como se fosse sua irmãzinha, mas quando alguém
fala com ela quer desembainhar a espada? Deixe-me lhe dizer
que não irei tratá-la como qualquer outra coisa, senão a puta
escocesa que é. Nenhuma dama falaria com os homens e os
servos como ela faz, a não ser que esteja atrás do que eles
carregam entre as pernas. E eu...

O punho de George esmagou a boca de Richard antes


que ele pudesse dizer outra palavra.

LRTHistóricos 433
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Eu vou te matar por isso! — George gritou quando foi


até a garganta de Richard.

O jovem conseguiu se esquivar do segundo golpe.


Cruzou as mãos e socou a nuca de George, que se estendeu
para frente, com o rosto na palha.

— O que está acontecendo aqui? — Bronwyn inquiriu da


porta.

George sentou-se e esfregou o pescoço. O nariz de


Richard estava sangrando, e ele limpou o sangue com o dorso
de sua mão.

— Fiz uma pergunta. — insistiu Bronwyn, sem levantar


a voz, observando aos dois homens. — Não quero saber a
causa desta rixa, que deve ser pessoal. Mas quero saber
quem descarregou o primeiro golpe.

Richard olhou ao George sugestivamente.

— Fui eu, minha senhora. — George disse quando


começou a se levantar.

— Você, George? Mas se...

Bronwyn se interrompeu. Deve ter havido uma boa


razão para alguém tão tranquilo como George dar o primeiro
golpe. Ela não gostava de Richard e não confiava nele. No dia
anterior ele frequentemente lançou olhares maliciosos para
as jovens servas. Mas não podia deixar George e Richard
sozinhos juntos e não podia levar George consigo já que ele

LRTHistóricos 434
Highlander Audaz — Jude Deveraux

começara a confusão. Era melhor manter Richard consigo e


proteger o homem de Stephen.

— Richard — disse serena — hoje irá com Lady Mary e


comigo.

Ela deu um olhar de pena para George e saiu dos


estábulos.

— Está ardendo por mim, homem. — Richard ria


enquanto saia dos estábulos antes que George pudesse
atacá-lo novamente.

LRTHistóricos 435
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Quinze
Mary subiu na sela e deu um olhar sonolento à
cunhada. Saberia essa moça o que eram o frio ou o
esgotamento? Passaram todo o dia anterior cavalgando e os
guardas que as seguiam estavam cansados. Depois Bronwyn
se sentou para conversar com Judith e lhe fazer perguntas
até depois da meia-noite.

Mary se espreguiçou e bocejou, em seguida sorriu. Não


se surpreendia, já que Stephen escrevera que precisava se
esforçar para acompanhar o ritmo da esposa. De repente se
perguntou se o seu irmão alguma vez disse a Bronwyn o
quanto a admirava. As cartas de Stephen eram cheias de
exaltação por seu novo povo e sua nova vida e,
especialmente, sua corajosa esposa.

Mary instigou seu cavalo para alcançar Bronwyn. A


escocesa já estava se detendo diante da cabana de um servo.
O sol já estava alto quando se detiveram, por fim, na ladeira
de uma colina. Os homens se tenderam na grama, respirando
profundamente, e se dedicaram a comer com apetite pão, e
queijo.

Mary e Bronwyn se sentaram no topo da colina em um


local de onde a moça podia ver toda a paisagem. Toda a força
de Mary foi usada para segui-la.

LRTHistóricos 436
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— O que foi isso? — perguntou Bronwyn de súbito.


Mary aguçou o ouvido, mas só percebeu o suave sussurro do
vento e as vozes dos guardas.

— Outra vez! — apontou Bronwyn, olhando por cima do


ombro. Rab se aproximou para golpeá-la com o focinho. —
Sim, garoto! — sussurrou ela enquanto se levantava com
rapidez. — Alguém tem problemas. — disse a Mary e pôs-se a
correr para o topo, seguida pelo cão.

Os guardas olharam para cima, mas deram a


privacidade às mulheres, pensando que um chamado da
natureza as levava para o alto da colina.

Mary aguçou a vista, mas não conseguia ver nada.


Abaixo deles havia uma lagoa, as margens meio congeladas,
grandes folhas finas de gelo flutuando na água.

Bronwyn forçou a vista até que Rab de repente, deu um


grunhido agudo.

— Ali! — Bronwyn gritou quando ela começou a correr.

Mary não viu nada, mas levantou as pesadas saias e a


seguiu-a. Somente quando estava a meio caminho do lago,
viu a cabeça e os ombros da criança. A criança estava presa
na água gelada.

Mary sentiu um arrepio percorrer sua espinha, e ela


começou a correr cada vez mais rápido. Ela não notou

LRTHistóricos 437
Highlander Audaz — Jude Deveraux

quando ultrapassou Bronwyn. Correu direto para a água e


agarrou a criança.

O garotinho olhou para ela com olhos grandes e vazios.


Faltavam apenas alguns minutos para evitar que a criança
congelasse.

— Ele está preso! — anunciou Mary a sua cunhada. —


Seu pé parece estar preso em alguma coisa. Você pode me
jogar sua adaga?

A mente de Bronwyn trabalhou rapidamente. Sabia que


a criança não poderia suportar esse frio por muito mais
tempo, então tempo era essencial. Se ela jogasse a adaga
para Mary e ela não pegasse, provavelmente perderiam a
criança. Só havia um meio de assegurar que Mary não o
perdesse.

— Rab! — chamou Bronwyn. O cão reconheceu seu tom


de urgência. — Corre em busca dos homens e pede ajuda.
Traga alguém aqui, precisamos de ajuda, Rab.

O cão disparou como uma flecha de um arco. Mas ele


não se dirigiu para os guardas que esperavam um pouco
acima da colina.

— Maldição! — protestou Bronwyn. Mas já era muito


tarde para chamar o cão.

Ela tirou a adaga de seu lado e mergulhou na água fria.


Moveu-se o mais rápido que pôde impedida pelo crescimento

LRTHistóricos 438
Highlander Audaz — Jude Deveraux

das plantas aquáticas. Mary estava ficando azul pelo frio,


mas ela segurava o menino, cujo rosto estava ficando cinza.

Bronwyn se ajoelhou; a água golpeou contra seu peito


como uma parede de tijolos. Procurou pelas pernas do
menino e apalpou vegetação rasteira que o segurava. Os
dentes começavam a tocar castanholas, mas serrou os duros
caules.

— Está livre! — sussurrou depois de um momento. Viu


que Mary começava a perder a cor azul, voltando-se para o
cinza, mais perigoso. Bronwyn se ajoelhou para levantar o
menino. — Consegue me seguir? — perguntou a Mary, por
cima do ombro.

Mary não tinha energias suficientes para responder.


Concentrou todas suas forças em mover as pernas e seguir a
silhueta de Bronwyn, que se movia depressa.

Bronwyn mal chegou à beira do lago antes que a criança


fosse tirada de seus braços. Ela olhou para o rosto sério de
Raine.

— Como...? — perguntou ela.

— Miles e eu cavalgávamos ao encontro de vocês quando


Rab veio até nós saltando como um demônio. — Explicou
Raine, sem deixar de falar. Pôs o menino nos braços de um
de seus homens e envolveu os ombros frios e molhados de
Bronwyn com seu manto.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— E Mary? — perguntou Bronwyn estremecida.

— Miles cuidará dela. — Raine disse e jogou a cunhada


na sela, montando atrás dela.

Voltaram apressadamente para castelo Montgomery.


Raine dominava a seu cavalo com uma só mão; com a outra
massageava os ombros e os braços da moça. Ela percebeu
que estava congelando, e ela tentou se transformar em uma
bola e aconchegar-se contra o calor sólido de Raine.

Dentro dos portões, Raine levou Bronwyn para o quarto


de dormir. Ele a parou no meio do chão enquanto abria um
baú e tirava um pesado manto de lã dourada.

— Toma, ponha isto. — ordenou, virando as costas para


ela e começou a jogar lenha no fogo.

Os dedos de Bronwyn tremiam quando tentou desatar


sua camisa. O tecido molhado e pegajoso se aderia ao seu
corpo. Afastou-a da pele e pegou o roupão que Raine havia
jogado na cama ao lado dela. A lã era pesada e grossa, mas
ainda não sentia nenhum calor. Raine, ao ver sua cara sem
cor, envolveu-a entre seus braços e se sentou ante o fogo,
com ela no regaço. Ele dobrou o grande robe, que era de
Stephen, em torno da jovem, estreitando-a. Ela recolheu as
pernas contra o peito e afundou a cabeça no amplo peito de
seu cunhado. Passaram vários minutos antes que deixasse de
tremer.

— E Mary? — sussurrou após um momento.

LRTHistóricos 440
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Miles está cuidando dela e a estas horas Judith a tem


imersa em uma tina de água quente.

— E a criança? — Raine a olhou com atenção. Seus


olhos tomaram um tom de azul mais escuro.

— Você sabia que era apenas o filho de um servo? —


perguntou em voz baixa.

Ela se apartou com brutalidade.

—E isso o que importa? A criança precisava de ajuda.

Raine sorriu para ela e puxou-a de volta para seu peito.

— Supus que não te importaria. E estava seguro de que


a Mary tampouco. Mas terá problemas com Gavin. Ele não
seria capaz de arriscar um só cabelo de seus parentes por
todos os servos do mundo.

— Lidei com Stephen durante meses, então acho que


posso lidar com Gavin. — suspirou ela.

Raine soltou uma gargalhada que se iniciou em seu


ventre plano. Ela a sentiu antes de ouvi-la.

— Bem dito! Vejo que conhece meus irmãos mais velhos.

Bronwyn sorriu contra seu peito.

— Raine, por que você nunca se casou?

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— A pergunta universal das mulheres. — riu ele. — Não


te ocorreu a possibilidade de que nenhuma me aceite como
marido?

A pergunta era tão absurda que ela nem respondeu.

— Em realidade nos últimos oito meses recusei a seis


mulheres.

— Por quê? — ela indagou. — Eram muito feias, muito


magras, muito gordas? Ou você não as conheceu
pessoalmente?

— Eu as conheci. — Replicou ele. — Não sou como meus


irmãos, que têm inconveniente em conhecer a noiva até o dia
das bodas. Os pais me fizeram ofertas matrimoniais e eu
passei três dias com cada uma delas.

— Mas rechaçou a todas.

— Sim, eu fiz isso.

Ela suspirou.

— Que esperas de uma mulher? Sem dúvida alguma


delas era bastante bonita.

— Bonita! — soprou o moço. — Três delas eram


verdadeiras belezas! Mas procuro algo mais que beleza em
uma mulher. Quero uma moça que use a cabeça para algo
mais que copiar desenhos de bordado. — Brilharam-lhe os
olhos. — Quero uma mulher que entre em um lago gelado e
arrisque sua vida para salvar uma criança serva.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Mas qualquer mulher que tivesse visto o menino...

Raine desviou a vista para o fogo.

— Você e Mary são especiais. E também Judith. Sabia


que Judith liderou os homens de Gavin para resgatá-lo
quando foi mantido em cativeiro por um louco? Ela arriscou
sua própria vida para salvar a dele. — Ele sorriu para ela. —
Eu estou esperando até que consiga alguém como você ou
Judith.

Bronwyn considerou suas palavras, pensativa por um


momento.

— Não, não creio que sejamos o que você quer. Gavin


está ligado a terra e Judith também. Eles se ajustam. Para
mim, o laço é a Escócia. Stephen é livre para viver ali comigo.
Mas você... Sinto que você nunca fica muito tempo no mesmo
lugar. Precisa de alguém tão livre quanto você, alguém que
não esteja atada a nenhum pedaço de pedra ou terra.

Raine a olhou boquiaberto... em seguida, fechou-a e


sorriu.

— Não perguntarei como você sabe tudo isso.


Certamente você me responderia que é uma bruxa. Agora, já
que parece saber tanto sobre mim, eu gostaria de formular
algumas pergunta pessoais. — Fez uma pausa e a encarou.
— O que há de errado entre Stephen e você? — perguntou
com voz suave. — Por que você está zangada com ele o tempo
todo?

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn demorou a falar. Ela sabia da proximidade


entre os irmãos, e não tinha certeza de como Raine reagiria a
qualquer crítica a seu irmão mais velho. Mas como ela
poderia mentir? Suspirou fundo e disse a verdade.

— Stephen pensa que eu não tenho honra nem orgulho.


É mais fácil acreditar na palavra de qualquer um que na
minha. Na Escócia opinava que tudo quanto eu fazia estava
errado, e às vezes tinha razão. Mas não tinha o direito de me
tratar como se me equivocasse sempre.

Raine concordou com a cabeça. Tinha levado um tempo


para Gavin perceber que Judith era mais do que apenas um
corpo bonito. Mas antes que ele pudesse dizer uma palavra, a
porta se abriu e um Stephen cansado e sujo invadiu o quarto
como uma tempestade.

— Miles disse que Bronwyn pulou em um lago gelado! —


trovejou. — Onde ela está?

No momento em que dizia as palavras, viu a esposa no


colo de Raine. Deu dois longos passos pela sala e a arrancou
dele.

— Maldita seja! — vociferou — Não posso te deixar por


algumas horas sem que te meta em problemas!

— Solte-me! — Ela disse friamente.

Tinha estado ausente por dias. Era a primeira vez que se


separavam, e agora tudo o que ele fazia era amaldiçoá-la.

LRTHistóricos 444
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen deve ter sentido seus pensamentos. Ele a colocou no


chão diante dele e lhe tocou a bochecha, murmurando:

— Bronwyn...

Ela juntou a bainha da bata de lã do chão e caminhou


em direção à porta. Ela era uma das poucas mulheres no
mundo que conseguia parecer digna enquanto caminhava
descalça e usava um roupão pendurado, vários centímetros
passando de suas mãos. Apoiou a mão no trinco da porta e,
sem voltar-se, disse:

— Algum dia descobrirá que não sou uma menina e


nenhuma idiota.

Abriu a porta e partiu. Stephen deu um passo para ela,


mas o deteve a voz de Raine.

— Sente-se e deixa-a em paz! — disse em tom resignado.

Stephen cravou a vista na porta fechada. Logo se voltou


para ocupar uma cadeira frente à de seu irmão e deslizou
uma mão por seu cabelo sujo.

— Ela não está ferida? Ela vai ficar bem?

— É obvio. — foi a resposta confiante. — É forte e


saudável. Além disso, você mesmo disse que os escoceses
passam a maior parte da vida à intempérie.

Stephen olhou o fogo fixamente.

— Eu sei. — reconheceu.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— O que te passa? — indagou Raine. — Não é o Stephen


que eu conheço.

— É por causa da Bronwyn. — sussurrou ele. — Essa


mulher será minha morte. Uma noite, na Escócia, decidiu
atacar ao clã inimigo. Para me assegurar de que eu estaria
fora do caminho, ela me drogou.

— Ela fez o que? — perguntou Raine, compreendendo


todo o perigo implícito nesse ato.

Stephen fez uma careta.

— Um de seus homens descobriu o que ela tinha feito e


quando eu a encontrei, ela estava pendurada em um
precipício por uma corda em torno de sua cintura, para
salvar um de seus homens.

— Por Deus! — exclamou Raine.

— Não sabia se devia castigá-la ou encerrá-la para


protegê-la de si mesmo.

— E o que fez?

Stephen se reclinou na cadeira. Sua voz soou


desgostosa.

— O que sempre acabo fazendo: eu fiz amor com ela.

Raine riu entre dentes.

— Ao meu modo de ver, o problema seria se ela fosse


egoísta e só se interessasse por suas próprias coisas.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen se levantou e caminhou até a lareira.

— Cuida muito pouco de si. Às vezes me faz sentir


vergonha de mim mesmo. Quando se trata do clã, faz o que
acha melhor sem considerar a própria segurança.

— E você se preocupa por ela? — perguntou Raine.

— É obvio! Por que ela não pode ficar em casa e ter


bebês e cuidar deles... e de mim como uma esposa deve
fazer? Por que ela tem que conduzir incursões de gado, gravar
suas iniciais no peito de um homem? Enrolar-se na manta e
dormir no chão, perfeitamente cômoda? Por que ela não pode
ser... ser...?

— Uma mulher cheia de covinhas e de voz melosa, que


olhe para você com adoração e borde todas as golas de suas
camisas? — sugeriu Raine.

Stephen se deixou cair na cadeira.

— Não é isso o que quero, mas deve existir um meio


termo.

— Você realmente quer mudá-la? — Raine perguntou. —


O que é que fez você amá-la em primeiro lugar? E não me
diga que foi a sua beleza. Você foi para a cama com várias
mulheres bonitas, mas não se apaixonou por elas.

— Tanto se nota?

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sim, eu notei. Provavelmente Gavin e Miles também,


mas acredito que Bronwyn não. Ela acredita que não a quer
em absoluto.

Stephen suspirou.

— Eu nunca conheci ninguém como ela, macho ou


fêmea. É tão forte, tão nobre, quase como um homem. Você
deveria ver a maneira como seu clã a trata. Os escoceses não
são como nós. Os filhos das servas correm para ela e a
abraçam. Ela beija todos os bebês. Sabe o nome de cada
pessoa em sua terra, e todos a chamam pelo seu primeiro
nome. Prefere ficar sem comida e roupas para que seu clã
possa ter mais. Uma noite, um mês depois de nos casarmos,
notei que ela estava envolvendo pão e queijo em sua manta.
Ignorou-me, mas olhava para Tam. É um homem que muitas
vezes age como seu pai. Percebi que estava fazendo algo que
não queria que Tam visse. Então, depois do jantar, segui-a
para fora da península. Levava comida para um garotinho
mal-humorado que fugira de casa. O menino era filho de um
camponês.

— E o que você disse a ela? — Raine perguntou.

Stephen sacudiu a cabeça ao recordar.

— Eu, o grande sábio, disse a ela que tinha que enviar o


menino de volta para seus pais em vez de encorajá-lo a fugir
de casa.

— E o que respondeu Bronwyn?

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Disse que o menino era tão importante para ela como


os pais, e ela não tinha o direito de traí-lo apenas porque ele
era um menino. Disse que em uns poucos dias ele voltaria
para sua casa e aceitaria o castigo que correspondesse.

Raine emitiu um grave assobio de admiração.

— Parece que você poderia aprender alguma coisa com


ela.

— Você acha que ainda não aprendi nada? Ela mudou


minha vida inteira Quando eu fui para a Escócia, era um
inglês, e agora olhe para mim Não suporto ficar com essas
roupas inglesas. Sinto-me como Sansão com o cabelo curto.
Me pego olhando para o campo inglês e pensando que está
seco e quente em comparação com de sua pátria. Pátria! Juro
que estou com saudades de um lugar que desconhecia até
alguns meses atrás.

— Diga-me, — disse Raine — contou a Bronwyn como se


sente? Disse que a ama e só está preocupado com sua
segurança?

— Tentei-o. Uma vez tentei dizer que a amava e ela


respondeu que não se importava e que honra e respeito eram
mais importantes.

— Mas, pelo que você diz, tem esses sentimentos por


ela.

Stephen sorriu.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não é fácil falar com Bronwyn. Antes de chegarmos


aqui tivemos... uma discussão, ou algo assim. — E resumiu o
ocorrido na casa do Hugh Lasco.

— Hugh! — exclamou Raine. — Eu nunca gostei muito


do homem com suas maneiras lentas.

— Bronwyn não parecia se importar com elas. — disse


Stephen, em desgosto.

Raine começou a rir.

— Não me diga que você foi contaminado pelo ciúme de


Gavin!

Stephen girou sobre seu irmão.

— Já verá quando estiver obcecado por uma mulher!


Então não terá a cabeça tão fria.

Raine levantou a mão.

— Espero que para mim o amor seja uma alegria e não


uma enfermidade como a que parece te consumir.

Stephen se virou e olhou para o fogo. Às vezes, seu amor


por Bronwyn parecia uma doença. Sentia que ela tinha
levado sua alma junto com seu coração.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Quando Bronwyn deixou seu quarto, foi para o quarto


de Mary. Encontrou-a na cama com Judith ao redor,
colocando tijolos quentes por todo o leito.

— Judith! — disse Mary em voz baixa. — Não vou


morrer por um pouco de água fria. — Olhou para o outro lado
do quarto e sorriu para Bronwyn. — Venha e me ajude a
convencer Judith que nossa aventura não foi mortal.

A escocesa sorriu para suas cunhadas, sem deixar de


observar Mary. Sua pele pálida estava mais descolorida que
nunca, mas com manchas vermelhas nas bochechas.

— Não foi nada — disse — mas invejo esse domínio de


ânimo que te permite descansar. — Seus olhos brilharam. —
Estou tão entusiasmada pelo vestido novo que me prometeu
Judith que não me permito ficar quieta. Não poderíamos vê-lo
agora? — disse sugestivamente para Judith.

Judith compreendeu imediatamente, e as duas


mulheres deixaram o quarto em silêncio.

— Você acha que ela vai ficar bem? — perguntou


Judith, assim que saíram para o corredor.

— Sim, ela precisa descansar. Não acredito que nossa


Mary esteja completamente neste mundo. Creio que o céu
possui uma parte dela. Talvez por isso seja tão frágil.

— Sim. — Concordou Judith. — Agora, a respeito do


vestido...

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn acenou com a mão.

— Era só uma desculpa para que Mary pudesse


descansar.

Judith riu.

— Por melhor que a bata de Stephen fique bem em você,


não substitui a roupa que você precisa. Agora venha comigo e
não quero desculpas.

Uma hora depois Bronwyn vestia um vestido de veludo


verde profundo e intenso. Sua cor era a de uma floresta
ensolarada. O forro das mangas era de seda verde brilhante e
as mangas eram soltas, bordeadas com pele de raposa
vermelha. Grossos cordões dourados estavam presos aos
ombros e caíam abaixo do profundo decote quadrado.

— É muito bonito, Judith. — sussurrou Bronwyn. —


Não sei como te agradecer, todos foram tão generosos.

Judith a beijou na bochecha.

— Devo ir agora e fazer o trabalho do dia, talvez Stephen


deseje ver o vestido novo.

Bronwyn se virou. Stephen só se queixaria que o decote


era muito profundo ou alguma outra acusação. Quando
Judith se foi, Bronwyn baixou ao pátio com um manto
forrado de pele de raposa sobre os ombros, e caminhou em
direção aos estábulos.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Bronwyn! — disse uma voz pouco familiar, dentro


daquele lugar escuro. Ela olhou para as sombras e viu o
homem que brigara com George pela manhã.

— Sim! — disse muito seca. — O que quer?

Os olhos do homem cintilavam mesmo na penumbra.

— Esse vestido inglês fica-lhe muito bem, milady.

Antes que ela pudesse falar, sua maneira mudou para


uma forma mais formal.

— Ouvi dizer que seus escoceses são muito bons com


um arco. Talvez você — aquilo parecia diverti-lo — poderia
me ensinar uma maneira melhor de lidar com um arco

Ela passou por cima de certo indício de risada em sua


voz. Talvez seu riso fosse uma defesa no caso de ela recusar
seu pedido. Mas Bronwyn tinha passado muitas horas
aprendendo a manejar um arco, e estava acostumada a
treinar homens. Era bom que este inglês quisesse aprender
os modos dos escoceses.

— Eu ficaria feliz em dar-lhe instrução. — disse, então,


caminhou passando pelo homem.

Seguiu seu caminho, para chocar-se contra o duro peito


do Stephen. O homem saiu rapidamente dos estábulos.

— O que você estava dizendo ao homem? — perguntou


Stephen diretamente.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn se soltou.

— Alguma vez vai me falar sem aborrecimento? Porque


não pode ser como os outros maridos e cumprimentar a sua
mulher de uma maneira amiga? Faz dias que não nos vemos,
mas não faz outra coisa que me amaldiçoar. — Ele a estreitou
em seus braços, sussurrando.

— Bronwyn, — ele sussurrou. — você será a minha


morte. Por que teve que pular para um lago gelado no meio
do inverno?

Ela se afastou dele.

— Nego-me a responder a esse tipo de perguntas.

Stephen a agarrou novamente, beijou-a com força. Sua


boca sobre a dela, machucando-a, seus dentes duros contra
seus lábios. Parecia querer mais que um beijo.

— Eu senti sua falta. — sussurrou. — Pensei em você a


cada minuto.

O coração de Bronwyn palpitava com força. Sentia como


se pudesse se fundir a ele. Mas as palavras seguintes
quebraram o encanto.

— Era um dos homens de Miles com quem você estava


falando quando eu entrei?

Ela tratou de afastar-se outra vez.

— Ciúme outra vez? Posso ouvi-lo em sua voz.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não, Bronwyn. Escute-me. Só quero preveni-la: os


ingleses não são como os seus escoceses. Você não pode falar
com eles como se fossem seus irmãos como você faz com seus
próprios homens. Na Inglaterra com frequência as damas se
deitam com os homens de armas dos seus maridos.

Bronwyn arregalou os olhos.

— Você está me acusando de me deitar com seus


homens? — exclamou.

— Não, claro que não. Mas...

— Mas você me acusou de fazer exatamente isso com


Hugh Lasco.

— Hugh Lasco é um cavalheiro! — Stephen explodiu.

Bronwyn esteve prestes a se afastar de um salto.

— Pelo menos você pensa que eu sou uma prostituta


discriminante.

Ela girou e começou a caminhar para a porta. Stephen


agarrou seu braço.

— Não estou acusando você de nada. Estou tentando


explicar que as coisas são diferentes na Inglaterra do que na
Escócia.

— Oh, então agora eu sou muito estúpida para ser


capaz de aprender a diferença entre um país e outro. Você
pode, mas eu não!

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ele a olhou fixamente.

— O que há com você? Não está agindo como de hábito.

Bronwyn deu-lhe as costas.

— E o que você sabe de mim? Nunca fez nada além de


me amaldiçoar desde que eu te conheci Nada, nada que eu
faça fora do quarto agrada você Se lidero meus homens, isso
faz você ficar furioso. Se tento salvar um dos servos de seu
irmão, isso o irrita Se sou gentil com seus homens, você me
acusa de dormir com eles. Diga-me, o que posso fazer para te
agradar?

Stephen a fulminou com um frio olhar.

— Eu não tinha ideia de que você me achava tão


desagradável. Vou deixá-la com sua própria companhia. — E
se afastou muito rígido.

Bronwyn seguiu o marido com a vista, as lágrimas


enchendo seus olhos. O que havia com ela? De fato, Stephen
não a acusara de se deitar com esse homem e tinha todo o
direito de preveni-la sobre o que esse homem poderia pensar.
Por que ela não conseguia dar-lhe as boas-vindas como
queria fazer? Tudo o que queria era ser envolvida por
Stephen, ser amada por ele. Mesmo assim, por alguma razão,
ela começava uma briga toda vez que ele se aproximava dela.
De repente sentiu o corpo todo doer. Levou a mão à
testa. Não costumava sentir-se mau e nesse momento
percebeu que há vários dias ignorava esse mal-estar. É claro

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que suas últimas noites com Judith e esta manhã passada


em um lago meio congelado não a ajudaram. Amaldiçoou o
insalubre clima inglês e saiu dos estábulos.

— Bronwyn — chamou Judith — quer um pouco de pão


fresco?

Bronwyn recostou-se contra a parede de pedra dos


estábulos. A briga estava perturbando seu estômago. O
pensamento de comida a deixou enjoada.

— Não. — sussurrou sua mão apertando o estômago.

— Bronwyn, o que é? — Judith perguntou, colocando a


cesta no chão. — Você não está se sentindo bem? — Ela pôs
a mão na testa de sua cunhada. — Aqui, sente-se. — Disse,
conduzindo-a até um barril posto contra a parede. — Respire
profundamente e isso vai passar.

— O que passará? — perguntou Bronwyn, brusca.

— A náusea.

— O que? Do que está falando?

Judith fez uma pausa

— A menos que eu perca o meu palpite, você vai ter um


bebê. — Ela sorriu amplamente ao olhar Bronwyn. — É
bastante assustador quando se percebe. — Ela acariciou seu
próprio ventre. — Daremos à luz mais ou menos na mesma
época. — Disse com orgulho.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Você! Também vai ter um bebê?

Judith tinha um sorriso distraído.

— Eu perdi o primeiro, um aborto, então por isso estou


sendo tão cuidadosa que não digo a ninguém. Exceto Gavin,
claro.

— Certamente. — Bronwyn apartou a vista um segundo,


mas voltou a olhá-la. — Quando nascerá seu bebê?

— Dentro de sete meses — riu sua cunhada.

— Do que você está rindo? — perguntou Bronwyn. —


Necessito um pouco de bom humor neste momento.

— Só pensava que minha mãe poderá vir a me atender


durante meu parto. — Judith fez uma pausa e explicou. —
Na minha gravidez pensava que ela não poderia vir, porque
devíamos dar a luz ao mesmo tempo.

— Tem a sua mãe viva! Como você é afortunada por ter


seus pais vivos!

— Só tenho a ela. — Judith sorriu. — Meu pai morreu


faz vários meses.

— E a criança não é dele? — perguntou Bronwyn em voz


baixa.

— Oh, não, e me alegro muito disso. Meu pai lhe batia


com frequência. Depois, ela esteve cativa em companhia do
John Bassett, o segundo em comando de Gavin. Ao que

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

parece, minha mãe e ele descobriram uma extraordinária


maneira de entreter-se.

Bronwyn se pôs a rir.

— Sim — continuou Judith. — Quando Gavin descobriu


que havia um bebê a caminho permitiu que John se casasse
com minha mãe.

— E ela já deu a luz?

— Falta um par de meses, então ela já estará bem o


suficiente para viajar e cuidar de mim quando eu parir. Devo
voltar ao trabalho agora. Por que não senta aqui e descansa?

— Judith, você disse que sua mãe foi mantida cativa.


Como ela escapou?

Os olhos dourados de Judith se obscureceram com a


lembrança.

— Eu matei o sequestrador e os homens de Stephen


derrubaram a muralha do velho castelo.

Bronwyn podia ver a dor nos olhos de Judith. Ela não


fez mais perguntas e deixou que Judith se voltasse para o
portão que separava as duas partes do complexo do castelo.

Bronwyn sentou imóvel por um longo tempo. ―Um


bebê!‖, pensava. Uma criaturinha doce e tenra como o bebê
de Kirsty. Ficou fora de si e mal notou quando ficou de pé e
se pôs a caminhar. Pensou em Tam e em como se orgulharia
dela. Sorriu sonhadora, ao imaginar a reação de Stephen à

LRTHistóricos 459
Highlander Audaz — Jude Deveraux

notícia. Ele ficaria tão feliz! Ele a agarraria e a jogaria para o


alto, rindo com prazer. E depois discutiriam se a criança seria
MacArran ou Montgomery. Não havia dúvidas, claro, seria
MacArran.

Ela continuou andando em um transe, sem perceber


quando chegou ao portão aberto. Os homens na muralha não
lhe deram a voz de alto ou impediam seus movimentos de
qualquer maneira.

Pensava no nome que daria a seu filhinho. James, como


seu pai, e talvez outro nome da família de Stephen. E se fosse
menina? Pensou e sorriu calorosamente. O Clã MacArran
teria duas Lairds sucessivamente. Ensinaria sua filha todo o
necessário para ser Laird.

— Milady! — disse alguém.

Bronwyn olhou ao homem com um sorriso angélico.


Bronwyn mal ouviu a voz. Ela estava em transe, e muito
pouco penetrou sua mente. Na verdade, mal sabia que tinha
andado por algum tempo e agora estava fora de vista dos
guardas do castelo.

— Milady — repetiu a voz. — Você está bem?

— Estou bem — replicou de maneira vaga. — Mais que


bem.

O homem desmontou e foi para o seu lado.

LRTHistóricos 460
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Eu posso ver isso. — Ele disse em voz baixa, seus


lábios perto de sua orelha.

Bronwyn ainda prestava pouca atenção ao homem.


Tudo o que podia pensar era o filho dela. Morag adoraria
outro bebê para cuidar. Estava pensando quando os lábios do
homem tocaram sua orelha. O toque a tirou de seu devaneio.

— Como te atreve! — exclamou.

Nenhum homem, exceto Stephen, a tinha tocado. A


menos que ela o permitisse. Deu um rápido olhar ao redor e
percebeu o quanto estava distante do castelo. Richard
interpretou mal seu olhar.

— Você não tem por que se preocupar. Estamos


sozinhos e, como Lorde Gavin acaba de retornar da Escócia,
todo mundo está muito ocupado, temos tempo.

Ela retrocedeu. Pela mente lhe cruzaram mil


pensamentos. As advertências de Stephen eram um grito em
sua mente. E a preocupação por seu bebê ocupava a maior
parte de seu cérebro. "Por favor, que meu filho não sofra dano
algum!" rogava em silêncio.

— Não tem por que me temer. — continuou Richard com


doçura na voz. — Poderíamos nos divertimos juntos.

Bronwyn ergueu os ombros.

— Sou Bronwyn MacArran. Volte para o castelo.

LRTHistóricos 461
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— MacArran! — riu ele. — Os homens diziam que era


uma mulher independente, mas nunca soube que chegasse
ao ponto de dispensar a seu marido.

— Está-me insultando. Agora vá e me deixe em paz.

Richard perdeu o sorriso.

— Acha que vou deixa-la depois do jeito que esteve me


provocando? Escolheu-me para acompanhá-la hoje de
manhã. Apostaria que sentiu não ter oportunidade de estar a
sós comigo.

Ela ficou horrorizada.

— Foi isso o que pensou? Que desejava estar a sós


contigo?

Ele tocou seus cabelos, seu pequeno dedo roçando seu


seio. Bronwyn abriu muitos os olhos e procurou Rab com a
vista. O cão a acompanhava sempre.

— Tomei a precaução de trancar seu cachorro em um


celeiro. — Richard sorriu. — Agora, venha e pare de fazer
esse jogo. Sabe que me quer tanto quanto eu quero você. —
Ele agarrou Bronwyn, sua mão enroscando em seu cabelo.
Apoiou seus lábios nos dela.

Bronwyn sentiu que a percorriam quebras de onda de


fúria. Relaxou naqueles braços, recostada para trás. No
momento em que ele se inclinava para frente para pressionar
o corpo contra ela, Bronwyn levantou o joelho. Richard

LRTHistóricos 462
Highlander Audaz — Jude Deveraux

grunhiu, soltando-a bruscamente. Bronwyn lutou para não


cair, depois tropeçou na pesada saia de veludo. Ela
amaldiçoou enquanto pegava punhados do tecido e começava
a correr. Mas a saia seguia enredando-se a suas pernas,
impedindo-lhe de avançar rápido. Ela tropeçou mais uma vez,
então colocou o veludo sobre seu braço. A terceira vez que
tropeçou, Richard caiu sobre ela. Ele agarrou seu tornozelo, e
ela caiu para frente, de rosto para baixo, na terra fria e dura.
Ela ofegou por ar. Richard passou a mão pelas pernas de
Bronwyn.

— E agora, minha fera escocesa ardente, vamos ver se


esse fogo pode ser usado.

Bronwyn tentou chutá-lo, mas ele a manteve


imobilizada contra o chão. Agarrou seu vestido e o rasgou,
expondo a pele de suas costas ao ar frio.

— Bom! — disse, lhe apoiando os lábios contra o


pescoço.

Um momento depois Richard gritava enquanto uma bola


de pêlo cinza com dentes afiados o atacava. Bronwyn rolou de
lado, enquanto o homem tentava levantar e lutar contra Rab.
Um braço a ergueu. Miles a atraiu para si, segurando-a com
um braço, enquanto desembainhava a espada com o outro.

— Chame o cachorro. — Disse em voz baixa.

A voz de Bronwyn estava tremendo.

LRTHistóricos 463
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Rab! — ordenou Bronwyn com voz insegura. O cão,


com relutância, abandonou a sua vítima para aproximar-se
dela. Richard tratou de se levantar. Tinha sangue no braço e
na coxa. Suas roupas estavam rasgadas em vários lugares.

— Esse maldito cão me atacou sem motivo! — Começou.


— Lady Bronwyn caiu e eu me detive para ajudá-la.

Miles se afastou um passo da cunhada. Seus olhos


duros como aço.

— Ninguém toca às mulheres Montgomery. — disse com


voz mortífera.

— Ela me buscou! — aduziu o homem. — Me pediu


que...

Foram as últimas palavras que ele já falou. A espada de


Miles atravessou o coração de Richard. Miles apenas olhou
para o morto, um de seus próprios homens. Ele se voltou
para Bronwyn e parecia sentir o que ela sentia: desamparada
e violada. Rodeou-a com seus braços e a estreitou contra si.

— Já está a salvo. — disse sereno. — Ninguém mais


tentará machuca-la.

De repente ela começou a tremer e Miles a estreitou


ainda mais.

— Ele disse que eu tinha encorajado. — sussurrou ela.

— Quieta. Estive observando-o. Ele não compreendeu os


costumes escoceses.

LRTHistóricos 464
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn se afastou e olhou para o cunhado.

— É o que disse Stephen. Advertiu-me que não devia


falar com os homens, assegurando que os ingleses não o
compreenderiam.

Miles afastou-lhe o cabelo da testa.

— Há uma formalidade entre uma dama inglesa e os


homens de seu marido que não existe em sua cultura. Agora
vamos retornar. Certamente alguém me viu seguindo seu cão.

Bronwyn lançou um olhar para o cadáver.

— Encerrou Rab e eu nem sequer me dei conta.


Estava...

Ela não podia contar a ninguém sobre o bebê antes que


contasse a Stephen.

— Eu ouvi o cão latir. Assim que o soltei se voltou louco.


Chamava-me latindo e farejava o chão. — Miles olhou com
admiração cachorro. — Sabia que estava em dificuldades.

Ela se ajoelhou para esfregar o rosto contra o pêlo


áspero de Rab. Um ruído de cascos fez com que ambos se
voltassem. Gavin e Stephen se aproximavam rapidamente.
Stephen deslizou da sela antes que o cavalo parasse
totalmente.

— O que aconteceu aqui? — perguntou.

LRTHistóricos 465
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Este homem tratou de atacar Bronwyn. — explicou


Miles. Stephen fulminou com a vista a sua mulher, notando
os arranhões de sua bochecha e o vestido rasgado.

— Adverti-lhe isso. — sussurro, com os dentes


apertados — mas não quis me escutar.

— Stephen! — protestou Gavin, apoiando uma mão no


braço de seu irmão. — Agora não é a hora.

— Não é a hora! — Stephen explodiu em sua esposa. —


Uma hora atrás você listou todas as minhas falhas.
Encontrou alguém com menos falhas? O encorajou de
propósito?

Antes que alguém pudesse falar, Stephen se virou e


montou em seu cavalo. Bronwyn, Miles e Gavin assistiram
impotentes.

— Ele deveria ser chicoteado por isso! — Miles zombou.

— Silêncio! — ordenou Gavin. Voltou-se para Bronwyn


— Está alterado e confuso. Terá que lhe perdoar.

— Está com ciúmes! — corrigiu Bronwyn, feroz. — Esse


ciúme vazio dele o transforma em um louco.

Sentia-se débil e derrotada. Ele não se preocupava com


ela, apenas com seu próprio ciúme. Gavin pôs um braço
protetor em torno dela.

— Vamos para casa. Judith te dará algo para beber.


Preparou uma deliciosa bebida a base de maçã.

LRTHistóricos 466
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn balançou a cabeça atordoada e permitiu que


fosse colocada no cavalo de Miles.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Dezesseis
A bebida que Judith deu a Bronwyn a fez dormir quase
que instantaneamente. Tinha vivido muito em um só dia: o
resgate do menino e o intento de violação. Sonhou que estava
perdida e que procurava Stephen sem acha-lo.

Despertou subitamente, com o corpo empapado em


suor, e alargou a mão o buscando. A cama estava vazia.
Levantou-se e deu uma olhada pelo quarto na penumbra,
procurando por Stephen.

Sentia-se insuportavelmente solitária. Por que ela


brigava com Stephen o tempo todo? Quando Miles lhe dissera
que os modos dos escoceses eram diferentes, não ficou com
raiva. Foi só quando Stephen disse a mesma coisa que ela
soltou toda a sua raiva.

Jogou as cobertas para o lado e agarrou uma bata que


Judith tinha emprestado. Ela deveria encontrar Stephen e
dizer-lhe que estava errada. Contar a ele sobre a criança e
pedir que a perdoasse por seu péssimo humor.

Rab seguiu-a quando ela foi a um baú e retirou sua


manta. O cão estava com medo de deixá-la fora de sua visão.
Vestiu-se rapidamente e saiu de seu quarto. A casa estava
silenciosa e escura enquanto se dirigia para o andar de baixo.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Uma única vela gordurosa mostrava a porta semiaberta do


salão de inverno. O fogo estava quase apagado.

Abria a porta quando ouviu uma risada abafada de


mulher. Bronwyn parou quando percebeu que provavelmente
teria interrompido Raine ou Miles com uma das servas.
Virou-se para retirar-se quando as palavras da mulher a
pararam:

— Oh, Stephen, — a mulher riu — senti tanto sua falta.


Nenhum homem possui mãos como as suas.

Bronwyn ouviu o som profundo de uma risada familiar.


Ela não era uma mulher tímida para sair correndo e
chorando do quarto. Era insulto demais para um só dia.
Abriu a pesada porta com um chute e se dirigiu à lareira.

Stephen estava sentado em uma cadeira grande,


completamente vestido, uma moça gorducha, nua da cintura
para cima, sentada sobre seu colo. Acariciava-lhe o seio sem
interesse, na outra mão tinha um odre de vinho.

Rab abriu os dentes para a garota, e ela deu um olhar


de Bronwyn para o cão, gritou, então fugiu da sala.

Stephen apenas olhou para a esposa.

— Bem-vinda! — balbuciou elevando sua taça.

Bronwyn sentiu seu coração bater forte. Ver Stephen


tocando outra mulher! Sua pele parecia como se estivesse em
fogo e sua cabeça latejava. Stephen seguia olhando-a.

LRTHistóricos 469
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Como se sente minha querida esposa? — Seus olhos


estavam vermelhos, seus movimentos lentos. Ele estava
obviamente bêbado. — Tive que permanecer de braços
cruzado enquanto você brincava com um homem após o
outro. Sabe agora o que senti quando deixou que Hugh te
tocasse?

— Você fez isso de propósito. — sussurrou ela. — Fez


isso para me punir? — Ela segurou seus ombros para trás.
Queria machucá-lo, fazê-lo sofrer como ela. — Tinha razão ao
dizer ao Sir Thomas Crichton que não podia me casar
contigo. Não está apto para se casar com uma escocesa. Há
meses o observo imitar nossos costumes como um macaco...
E o vi falhar. Em tudo.

Apesar de sua embriaguez, ele reagiu rapidamente.


Atirou o odre ao chão, levantou-se e agarrou-a pelo decote da
bata.

— E o que você me deu? — rosnou. — Eu fiz todos os


esforços para compreendê-la e aprender com você, mas por
acaso me escutou? Não tem feito nada a não ser lutar contra
mim. Riu de mim diante de seus homens e até ridicularizou
meus conselhos diante de meus próprios irmãos. Suportei
tudo porque sou tão idiota que te amo. Como se pode amar a
alguém tão egoísta? Quando vai crescer, e deixar de te
esconder detrás de seu clã? Não é seu clã o que te preocupa.
Só se preocupa com seus desejos e suas necessidades. —
Separou-a de si como se de repente estivesse muito cansado

LRTHistóricos 470
Highlander Audaz — Jude Deveraux

dela. — Estou cansado de tentar agradar uma mulher fria.


Vou procurar alguém que saiba me dar o que necessito.

Ele se virou e deixou a sala, trôpego como um bêbado.

Bronwyn permaneceu imóvel, onde estava por um longo


tempo. Não tinha ideia de que ele a desprezava tanto.
Quantas vezes Stephen esteve perto de dizer que a amava, e o
disse, e mesmo assim ela o ignorou? Oh, mas ela tinha sido
vigorosa e orgulhosa quando disse que, naturalmente, o amor
não importava tanto, eles cuidavam um do outro, mas o que
ela queria era muito mais importante do que este sentimento.

Acaso algo importava mais que o amor de Stephen?


Agora se dava conta de que não. Ela teve aquele amor na
palma da sua mão, e jogou de volta no rosto do marido. Na
Escócia, ele trabalhou duro para ser justo e aprender a viver
em seu país. No entanto, o que ela havia feito para se adaptar
ao seu modo de vida? Sua maior concessão era vestir-se com
as deliciosas modas inglesas, e até disso se queixara.

Apertou o punho com força. Stephen tinha razão! Ela


era uma egoísta. Exigia que seu marido se convertesse em
escocês, trocando todas as fibras de seu ser, mas não fazia
nada por ele. Desde o instante em que se conheceram ela o
fizera pagar pelo privilégio de casar com ela.

— Grande privilégio! — exclamou em voz alta.

Obrigou-o a lutar por ela no dia do seu casamento.


Levantou e apunhalou Stephen na noite de núpcias. O que

LRTHistóricos 471
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen tinha dito? "Algum dia você saberá que uma gota do
meu sangue é mais precioso do que qualquer sentimento de
ódio que você carrega."

Como ela pudera ferir aquele corpo bonito que conhecia


tão bem? Como ela pudera derramar o sangue dele?

Lágrimas começaram a correr pelo seu rosto. Ele não a


amava mais. Stephen dissera isso. Ela teve o seu amor e
descartou como se fosse lixo.

Piscou para afastar as lágrimas e olhou ao seu redor.


Stephen era bom, sua família era boa. Ela o odiava por ser
um inglês, assim como odiava todos os MacGregor. Mas
Stephen lhe mostrou que havia bons MacGregor e ingleses
generosos e calorosos. Stephen demonstrou e ensinou muitas
coisas, sem que ela se abrandasse. Quando foi gentil com ele?
Drogou-lhe, amaldiçoou-lhe, provocou-lhe: tudo para
demonstrar seu rancor. Qualquer coisa que a impedisse de
amá-lo, agora percebia. Ela não queria amar um inglês.
Temia que o clã pensasse que ela era fraca, indigna de ser
líder. Mas Tam amava Stephen e a maioria de seus homens
passou a amá-lo. Virou para a porta e silenciosamente foi ao
Grande Salão e em seguida para o pátio em busca de
Stephen. Talvez conseguisse encontrá-lo. De alguma forma
ela sabia que ele não estava no andar de cima.

— Stephen saiu a cavalo faz poucos minutos. — disse


Miles suavemente atrás dela.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ela se virou devagar. Este homem também era gentil


com ela. Ele a abraçou depois que ela foi atacada.

De repente, um vento frio passou por ela, e ela teve uma


visão da Escócia. Mais do que qualquer outra coisa no
mundo, queria ir para casa. Talvez em casa pudesse pensar
no que fazer para conquistar o amor de Stephen novamente.
Talvez ela pudesse imaginar como fazê-lo entender que ela
também o amava e que estava disposta a mudar como ele
tinha feito.

Ela olhou para Miles como se realmente não o visse,


então se virou e caminhou em direção aos estábulos.

— Bronwyn, — ele disse enquanto agarrava seu braço —


o que aconteceu?

— Vou para casa. — respondeu ela em voz baixa.

— A Escócia? — perguntou ele atônito.

— Sim. — Ela sussurrou ondulando as palavras. — De


volta à Escócia. — Sorriu. — Você pode apresentar minhas
desculpas a Judith?

Miles examinou seu rosto por um momento.

— Judith compreende sem que ninguém lhe dê


explicações. Venha, vamos partir.

Bronwyn começou a protestar, mas depois fechou a


boca. Ela sabia que não poderia impedir que Miles a

LRTHistóricos 473
Highlander Audaz — Jude Deveraux

acompanhasse, mais do que ele poderia impedir seu desejo


de ir para casa.

Eles passaram por aquela noite longa e terrível sem


dizer uma palavra para o outro. Bronwyn sentia apenas a dor
por ter perdido Stephen. Talvez ele estivesse mais feliz na
Inglaterra onde sua família estava, onde não precisava lutar
apenas para sobreviver. Frequentemente levava a mão ao
ventre e se perguntava quando começaria a crescer. Esperava
com ânsias um sinal visível de que seu filho nasceria logo.

Cruzaram a fronteira da Escócia no início da manhã. De


repente Bronwyn caiu na conta de que tinha sido muito
egoísta ao permitir que Miles a acompanhasse. Havia muitos
escoceses como o velho Harben, que adorariam matar
qualquer inglês à primeira vista. Sugeriu ao cunhado que,
como não tinham escolta, estariam mais seguros se ele se
vestisse como escocês. Miles olhou para ela de um modo
estranho que ela não compreendeu.

Começou a compreendê-lo mais adiante, à medida que


entravam para o norte. Miles sempre estaria seguro onde
houvesse mulheres. As moças bonitas paravam e ofereciam
copos de leite, mas seus olhos ofereciam a Miles muito mais.
Uma mulher, que caminhava com a filha de quatro anos,
parou e conversou com eles. A menina correu e saltou nos
braços de Miles. Ele não pareceu ver nada de incomum nesse
ato. Simplesmente subiu a criança nos ombros e percorreram
uma boa distância juntos.

LRTHistóricos 474
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Perto do entardecer chegaram à cabana de um velho


camponês, onde os recebeu uma bruxa velha, feia e
desdentada. Com um sorriso encantador, tomou a mão de
Miles e a esfregou entre as suas; depois segurou sua palma e
levantou-a a luz mortiça.

— O que vê? — perguntou-lhe Miles com suavidade.

— Anjos. — Riu para si mesma. — Dois anjos. Um belo


anjo e um querubim.

Ele sorriu com doçura e a mulher riu mais forte.

— São anjos para outros, mas verdadeiros demônios


para você. — Um relâmpago brilhou no céu. — Oh, sim, é o
que eles são. São anjos de chuva e relâmpagos. — Riu outra
vez e girou para Bronwyn. — Me mostre sua palma.

Bronwyn se afastou dela.

— Preferiria não fazê-lo. — disse secamente. A velha


encolheu os ombros e os convidou a passar a noite em sua
cabana. Pela manhã segurou a palma de Bronwyn. Seu rosto
escureceu.

— Cuidado com um homem loiro. — acautelou.

Bronwyn arrancou bruscamente a mão da dela.

— Receio que seus avisos chegam tarde demais. —


murmurou, pensando no cabelo de Stephen, que tinha agora
fios dourados pelo sol e abandonou a cabana.

LRTHistóricos 475
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Continuaram a viagem durante todo o dia e se detiveram


para passar a noite em um refúgio sem teto de um castelo
destruído.

Miles foi quem percebeu que era véspera de Natal.


Organizaram uma espécie de festejo, mas Miles, percebendo a
tristeza de sua companheira, deixou-a com seus próprios
pensamentos. Bronwyn compreendeu então que parte do
encanto de seu cunhado estava em sua capacidade de
compreender os sentimentos de uma mulher. Não lhe exigia
nada, como teria feito Stephen, nem tratava de cercar em
conversação, como Raine. Miles compreendia e a deixava em
paz. Sem dúvida, se ela tivesse desejos de conversar, ele a
teria escutado com grande atenção.

Com um sorriso, tomou a torta de aveia que ele oferecia.

— Receio ter feito com que você perca o Natal com sua
família.

— Você é parte de minha família. — disse ele


bruscamente. Olhou para o céu negro sobre as paredes em
ruínas ao redor deles. — Espero que não chova, pelo menos
esta vez.

Bronwyn começou a rir.

— Está acostumado com o excesso de clima seco de seu


país. — A lembrança lhe fez sorrir. —Stephen não se
incomodava com a chuva. Ele...

LRTHistóricos 476
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Interrompeu-se e desviou o olhar.

— Acho que Stephen viveria debaixo d'água para estar


com você.

Ela levantou a vista, surpreendida, e se lembrou da


criada sentada no colo de seu marido. Teve que piscar várias
vezes para afastar a visão.

— Acredito que vou dormir agora.

Miles assistiu, espantado, enquanto ela se enrolava em


sua manta fina e imediatamente relaxava. Ele suspirou e se
envolveu em seu manto forrado de pele. Não achava que seria
um bom escocês.

Ainda era de amanhã quando chegaram à colina de


onde se via Larenston. Miles permaneceu imóvel, atônito,
enquanto contemplava a fortaleza construída nessa
península. Bronwyn esporeou o cavalo e em seguida saltou
para os braços de um homem enorme.

— Tam! — exclamou, escondendo o rosto naquele


pescoço familiar.

Tam a afastou.

— Você vai me deixar de cabelo branco. — Sussurrou. —


Como alguém tão pequena consegue se meter em tantos
problemas? — Ele perguntou, ignorando o fato de que ela era
um pouco mais alta que ele. De fato parecia pequena perto de
seu corpo sólido e volumoso.

LRTHistóricos 477
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sabia que o Laird MacGregor pediu para se reunir


com ele? — Enviou uma mensagem sobre uma beberagem e
uma moça insolente que riu para ele. — Bronwyn, o que você
fez?

Bronwyn olhou para ele, atônita, por um momento. O


Laird MacGregor pediu para se encontrar com ela? Talvez,
agora, houvesse uma maneira de provar a Stephen que não
era tão egoísta. Ela abraçou Tam novamente.

— Já haverá tempo para contar isso tudo. Agora quero


ir para casa. Temo que esta viagem me cansou.

— O que te cansou? — resmungou Tam alarmado. Ele


nunca a ouvira usar a palavra antes.

— Não me olhe como se me acreditasse idiota. — sorriu


ela. — Não é fácil carregar outra pessoa o tempo todo.

Ele compreendeu imediatamente. O sorriso que deu


esteve a ponto de lhe partir o rosto em dois.

— Eu sabia que aquele inglês poderia fazer algo direito


sem necessidade de treino. Onde ele está? Quem é este?

Bronwyn respondeu suas perguntas por toda a faixa


estreita de terra e até a trilha que dava para Larenston. Seus
homens se juntaram e dispararam centenas de perguntas
para ela. Miles permaneceu atrás, olhando com admiração
para a cena. Os servos e os arrendatários de Bronwyn agiam
como uma enorme família, mesmo que pertencessem a uma

LRTHistóricos 478
Highlander Audaz — Jude Deveraux

distinta classe social. Os homens saudaram Miles


carinhosamente, falando constantemente que Stephen isso...
e Stephen aquilo.

Bronwyn deixou os homens e subiu para seu quarto.


Morag cumprimentou-a.

— Trocou um irmão por outro? — acusou-a.

— Nenhuma saudação? — protestou Bronwyn, cansada,


enquanto se encaminhava para a cama. — Te trago um bebê
e não é capaz de me dar nenhuma saudação afetuosa.

A cara enrugada de Morag ficou ainda mais enrugada


em um amplo sorriso.

— Esse é o meu doce Stephen! Eu sabia que era muito


homem!

Bronwyn deitou na cama e não se incomodou em


discutir com Morag.

— Vá e encontre o outro inglês que eu trouxe para você.


Gostará dele.

Ela puxou uma colcha sobre si. Tudo que queria fazer
era dormir.

Passaram semanas inteiras sem que ela fizesse outra


coisa além de dormir. Seu corpo estava exausto do tumulto e

LRTHistóricos 479
Highlander Audaz — Jude Deveraux

das mudanças que o bebê estava fazendo. Miles veio uma


manhã para dizer que estava voltando para a Inglaterra. Ele
agradeceu sua hospitalidade e prometeu pedir desculpas a
Judith e Gavin. Nenhum dos dois mencionou Stephen.

Bronwyn tentou não pensar em seu marido, mas não foi


fácil. Todos faziam perguntas sobre ele. Tam exigiu saber por
que diabos ela deixou a Inglaterra de repente. Por que ela não
ficou e lutou por ele? Ficou boquiaberto ao vê-la romper em
prantos e fugir do quarto. A partir de então, foram deixando
de fazer perguntas que ela não podia responder.

Três semanas depois de sua volta, um de seus homens


lhe disse que um contingente de ingleses se aproximava de
Larenston.

— Gavin! — exclamou ela e subiu escadaria acima para


mudar de roupa.

Vestiu o vestido prateado que Stephen lhe dera e se


aprontou para receber o cunhado. Tinha certeza que era
Gavin se aproximando. Ele esteve na Escócia antes e seria o
único a dar a notícia de Stephen. Talvez Stephen a perdoara e
voltava para ela. Não, era pedir demais.

Seu sorriso desapareceu quando Roger Chatworth


entrou no Grande Salão. Ela ficou horrorizada com o que
tinha feito. Ordenou que o visitante fosse autorizado a entrar
em Larenston sem realmente saber quem ele era. E seus
homens haviam obedecido sem perguntas. Observou os

LRTHistóricos 480
Highlander Audaz — Jude Deveraux

rostos dos homens e viu a preocupação estampada neles.


Fariam qualquer coisa para voltar a vê-la como era
habitualmente.

Tratou de cobrir seu desapontamento e estendeu a mão.

— Lorde Roger, que prazer ver você de novo.

Ele fincou um joelho ao chão e tomou sua mão para


leva-la aos lábios. Seu cabelo loiro era mais escuro do que ela
recordava; a cicatriz junto ao olho, ainda mais proeminente.
Trazia-lhe lembranças da temporada vivida na casa de Sir
Thomas Crichton, de sua solidão e ele tinha se mostrado
bondoso e pormenorizado. Estava disposto até a arriscar a
própria vida pelo que ela queria.

— Você está mais bonita do que eu me lembrava. —


disse com suavidade.

— Ora, ora, Lorde Roger, não me lembro de você como


um bajulador.

Ele se ergueu para olhá-la aos olhos.

— E o que você lembra de mim?

— Só que esteve disposto a me ajudar quando eu mais


necessitava. — E chamou. — Douglas faça com que Lorde
Roger e seus homens sejam alojados.

O inglês observou que o homem a obedecia


imediatamente. Olhou ao redor, para as paredes nuas e sem
adornos de Larenston. O trajeto para a península era

LRTHistóricos 481
Highlander Audaz — Jude Deveraux

margeado por casas muito pobres. Era essa toda a riqueza


dos MacArran?

— Lorde Roger venha para meu solar e conversemos. O


que o traz à Escócia? Oh, eu esqueci que você tem parentes
aqui, não é?

Roger arqueou uma sobrancelha.

— Sim, em efeito, eu tenho! — Seguiu-a pela escada até


outra sala austera, onde ardia um fogo discreto na lareira.

— Não quer se sentar?

Bronwyn lançou um olhar seco a Morag, que tinha


expressão de desaprovação, e pediu à pequena mulher que
trouxesse vinho e comida. Quando ficaram a sós, Roger se
inclinou para ela.

— Vou ser honesto com você. Vim para ver se precisava


de alguma ajuda. Quando vi Stephen na corte do rei Henry
e...

— Viu Stephen na corte! — exclamou ela.

Ele observava seu rosto.

— Me ocorreu que podia ignorar que ele estivesse lá.


Estava rodeado de mulheres e...

Bronwyn se levantou para aproximar-se da lareira.

LRTHistóricos 482
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Prefiro não ouvir o resto que tem a dizer. — Disse fria.


Começava a se lembrar de tudo sobre Roger Chatworth. Ele
atacou Stephen pelas costas uma vez.

— Lady Bronwyn — disse ele, desesperado — não tenho


más intenções. Pensei que você sabia disso.

Ela deu meia volta.

— Amadureci muito desde a última vez que nos vimos.


Uma vez fui presa fácil de seus modos encantadores e estava
infantilmente furiosa porque meu marido estava atrasado
para a cerimônia. Mas agora estou mais consciente e muito
mais sábia. Como você imaginou, tenho certeza, meu marido
e eu brigamos. Não sei se resolveremos nossas diferenças ou
não, mas o problema permanecerá somente entre nós.

Roger entrecerrou seus olhos escuros. Estava


acostumado a inclinar a cabeça de um modo que parecia
olhar ao longo do nariz, aquilino e estreito.

— Você acha que vim lhe trazer intrigas, como uma


mulher de povo?

— Isso parece. Já que mencionou às mulheres que


rodeavam Stephen.

Roger começou a sorrir lentamente.

— Talvez tenha feito isso. Desculpe-me. Eu só estava


surpreso por vê-lo longe de sua esposa.

LRTHistóricos 483
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— E por isso se apressou a me informar de suas...


aventuras.

Ele a olhou fixamente, seu rosto quente e vivaz.

— Venha e sente-se, por favor. Nem sempre se mostrou


tão hostil comigo. Em certa oportunidade até me pediu para
ser seu marido.

Ela sentou-se na cadeira vizinha a dele.

— Isso ocorreu faz muito tempo. Pelo menos foi a tempo


suficiente para que vidas e sentimentos mudassem
drasticamente. — respondeu ela observando o fogo.

— Não Isso? — Como ela não respondesse, Roger


continuou. — Trago uma mensagem de uma mulher
chamada Kirsty.

A cabeça de Bronwyn se ergueu bruscamente, mas


antes que pudesse falar, Morag entrou com uma bandeja de
comida. Parecia que passava horas antes que ela partisse. A
velha insistiu em acrescentar lenha ao fogo e fazer perguntas
a Roger.

Bronwyn também queria fazer perguntas. Como ele


conheceu Kirsty? Que mensagem trazia? Tinha alguma
relação com a mensagem que o Laird MacGregor enviara a
Tam dizendo que queria encontrar Bronwyn?

LRTHistóricos 484
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Se isso é tudo, Morag! — Bronwyn disse impaciente.


Ignorou o olhar que a anciã lançou ao deixar o recinto. —
Bem! O que sabe você sobre Kirsty?

Roger se recostou na cadeira. Essa Bronwyn não era o


que ele esperava. Talvez fosse por estar em seu próprio país
ou talvez fosse a influência de Montgomery, mas ela não era a
jovem fácil de manipular que conhecera. Ele tinha ouvido
parte da história de Bronwyn e Stephen nas terras dos
MacGregor por acaso. Um homem pobre e faminto pedira
para entrar na sua guarnição. Uma noite, Roger ouviu o
relato de suas aventuras na Escócia com a esplêndida Laird
MacArran. Roger levou o homem a seus aposentos e obteve
toda a história. Claro, era apenas uma parte da história, e
Roger gastou muito dinheiro descobrindo o resto.

Quando todas as peças estavam juntas, sabia que de


alguma forma poderia usá-la. Ele riu de Stephen por desfilar
tolamente, perante estes brutos escoceses com hábitos e
vestimentas tão toscas como as deles. Ele bebeu seu vinho e
recordou com ódio o momento em que Montgomery o
desonrara no campo de batalha. Muitos ouviram falar
daquela justa e ele frequentemente ouvia rumores sobre ―o
que ataca pelas costas‖. Stephen pagaria pelo novo apelido
que tinha agora.

Seu plano era seduzir a esposa de Stephen, tomar


aquilo pelo qual lutou. Mas Bronwyn impediu seus planos.
Ela, obviamente, não era uma mulher que seguia um homem

LRTHistóricos 485
Highlander Audaz — Jude Deveraux

facilmente. Talvez se tivesse tempo... Mas não, ele não tinha


ideia de quanto tempo Stephen estaria ausente.

Neste momento lhe ocorreu um novo plano. Oh, sim, se


vingaria plenamente do Montgomery.

— E bem! — exclamou Bronwyn. — Qual era a


mensagem? Kirsty precisa de mim?

— Sim, ela precisa de você. — ele confirmou, sorrindo,


enquanto pensava: "E eu preciso mais ainda."

LRTHistóricos 486
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Dezessete
Bronwyn, deitada na cama contemplava a parte interior
do dossel. Seu corpo inteiro estava tenso de excitação. Pela
primeira vez em semanas, sentiu-se como se estivesse viva.
Sua sonolência se foi, sua náusea passou, e agora estava
satisfeita porque algo estava prestes a acontecer.

Quando ela voltou para casa e Tam lhe contou da


mensagem do Laird MacGregor, ela ignorou. Tinha estado
muito envolvida em seus próprios problemas, em sua própria
miséria, para sequer considerar alguém além de si mesma.
Stephen dissera que ela era egoísta, que nunca ouviu ou
aprendeu com ele. Agora ela tinha uma chance de fazer algo
que lhe agradaria. Ele sempre quis que resolvesse suas
diferenças com o Laird MacGregor, e agora Kirsty abria o
caminho.

Em um primeiro momento, quando Tam lhe revelara a


mensagem, teve a intenção de falar com o Laird MacGregor,
mas o protesto de seus homens jogou panos frios no intento.
Bronwyn descartou o assunto e se dedicou a ter lástima de si
mesma. Isso terminou. Tinha uma maneira de recuperar
Stephen, de lhe demonstrar que aprendeu algo com ele, que
não era egoísta.

LRTHistóricos 487
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Roger Chatworth lhe contou uma história incrível,


segundo a qual Kirsty, a quem conhecia, encarregava-lhe de
comunicar a Bronwyn que conseguira uma entrevista entre
os dois Lairds. O Laird MacGregor e a Laird MacArran se
encontrariam sozinhos, só os dois, na noite do dia seguinte.
Segundo Kirsty, os MacGregor se opunham a esse encontro,
como sem dúvida se oporiam os MacArran; portanto, fazia
todo o possível para planejar uma reunião em particular.
Enviava lembranças para Bronwyn e Stephen e rogava a sua
amiga que o fizesse pela paz e o bem-estar de todos.

Bronwyn jogou os cobertores de lado e se aproximou da


janela. A lua ainda não surgira; dispunham de muito tempo.
Devia se encontrar com Roger Chatworth nos arredores de
Larenston, junto aos prados, para guiá-lo pela península. Ele
tinha cavalos preparados para levá-la ao encontro de Kirsty e
Donald.

Não era fácil esperar. Vestiu-se muito antes do


necessário. Durante um momento se deteve junto à cama
para acariciar o travesseiro onde Stephen estava acostumado
a dormir.

— Logo, meu amor, logo! — sussurrou.

Assim que voltasse a reinar a paz entre os clãs poderia


olhar seu marido com a cabeça erguida. Possivelmente então
ele consideraria que valia a pena recuperar seu amor.

LRTHistóricos 488
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Era fácil escapar de seu quarto. Ela e Davey muitas


vezes, quando crianças, fugiam para os estábulos, às vezes
para encontrar Tam ou um dos seus filhos. Rab seguiu-a
pelos degraus de pedra desgastados, sentindo em sua ama a
necessidade de silêncio.

Roger Chatworth surgiu das sombras, tão silencioso


como um escocês. Bronwyn fez um breve aceno e ordenou a
Rab que se aquietasse. O cão nunca gostou de Roger e não
fazia segredo disso. Roger a seguiu pelo caminho íngreme e
escuro. Bronwyn percebia sua tensão; mais de uma vez ele
pegou a mão dela para estabilizar o passo. Agarrava-se a ela,
imóvel, até recuperar o fôlego. Bronwyn tentou esconder seu
desgosto. Ela estava feliz por saber, agora, que nem todos os
ingleses eram como este. Sabia que havia os valentes e
corajosos, como seu marido e seus cunhados. Eram homens
que uma mulher podia se apoiar e não o contrário.

Roger começou a respirar com tranquilidade ao


chegarem à terra firme, onde estavam os cavalos. Mas não
podiam falar enquanto não estivessem fora do vale. Bronwyn
os conduziu ao redor do vale junto à parede do mar, próximo
à muralha. Trotava a passo lento, para que o inglês pudesse
tranquilizar seu cavalo. A noite era muito escura e ela se
guiava mais por instinto e memória que pela visão.

Perto do amanhecer se detiveram no penhasco do qual


se viam suas terras. Ela parou para permitir que Roger
descansasse um momento.

LRTHistóricos 489
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Está cansada, Lady Bronwyn? — perguntou Roger


com voz trêmula. Acabava de passar pelo que, para ele, era
obviamente uma prova muito difícil. Desmontou.

— Não deveríamos continuar? — insistiu-lhe ela — Não


estamos muito longe de Larenston. Quando meus homens...

Interrompeu-se, sem conseguir acreditar no que via.


Roger Chatworth, com um movimento rápido e traiçoeiro,
tirou um pesado machado de guerra da sua sela e golpeou
Rab. O cão, que fitava a ama, mais preocupado com ela que
com Roger, reagiu com lentidão e não pôde fugir desse golpe
mortal. Instantaneamente Bronwyn desmontou de sua sela
para cair de joelhos junto a Rab. Mesmo na escuridão via
uma enorme ferida aberta no lado do cachorro.

— Rab? — conseguiu balbuciar, com a garganta


fechada. O cão moveu sua cabeça ligeiramente.

— Está morto. — disse Roger sem rodeios. — Agora,


levante-se!

Bronwyn se voltou contra ele.

— Pedaço de...!

Não esbanjou mais energias em palavras. Um momento


depois, jogava-se para frente, com a adaga apontando para a
garganta do inglês. Ele não estava preparado para essa
reação e cambaleou sob o peso dela. A adaga afundou no
ombro dele, errando o pescoço por muito pouco. Roger a

LRTHistóricos 490
Highlander Audaz — Jude Deveraux

agarrou pelos cabelos e atirou a cabeça da jovem para trás,


no momento em que ela dava uma joelhada entra as pernas
dele. O inglês voltou a cambalear, mas não a soltou; ao cair
no chão arrastou-a consigo. Ela girou a cabeça para mordê-lo
e obrigar a que lhe soltasse o cabelo. Então voltou a atacar
com a adaga.

Mas a adaga não chegou a atingir o alvo, pois quatro


pares de mãos a agarraram, afastando-a de sua presa.

— Demoraram demais! — protestou Roger aos homens


que retinham Bronwyn. — Um minuto mais e poderia ter sido
muito tarde.

Bronwyn olhou para Rab, silencioso e imóvel no chão,


depois de volta para Roger.

— Não houve nenhuma mensagem de Kirsty, verdade?

Roger passou a mão pelo corte que ela tinha feito em


seu ombro.

— O que me importa uma maldita escocesa qualquer?


Você acha que iria entregar mensagens como um servo?
Esqueceu-se de que eu sou um conde?

— Esqueci o que você é. — reconheceu Bronwyn,


pronunciando a frase com lentidão. — Esqueci que é capaz de
atacar pelas costas.

Foram às últimas palavras que ela pronunciou durante


algum tempo, pois o punho de Roger veio voando em direção

LRTHistóricos 491
Highlander Audaz — Jude Deveraux

a sua mandíbula. Conseguiu mover a cabeça para um lado,


rápida o suficiente para que cortasse a bochecha, em vez de
quebrar o nariz como era seu objetivo. Ela caiu para frente,
inconsciente.

Quando Bronwyn acordou, teve dificuldade em saber


onde estava. Sua cabeça doía com uma fúria negra como
nunca experimentou antes, e seus pensamentos estavam
desorganizados. Seu corpo doía e sua boca estava imóvel.
Depois de algumas tentativas de pensar com claridade, voltou
a adormecer.

Quando voltou a despertar sentia-se melhor.


Permaneceu deitada e percebeu que metade de sua dor vinha
de uma mordaça ao redor de sua boca. Suas mãos e pés
também estavam firmemente amarrados. Prestou atenção,
estava em uma carreta, deitada em um monte de palha. Era
noite, e ela sabia que devia ter dormido durante o dia.

Havia momentos em que ela queria chorar por causa da


dor de não se mexer. As cordas afundavam em sua carne;
sua boca estava seca e inchada pela mordaça.

— Está acordada. — disse uma voz de homem.

A carreta se deteve. Roger Chatworth se inclinou para


ela.

— Se jurar não gritar, te darei água. Nós estamos em


uma floresta e ninguém poderia ouvi-la, mas de qualquer
maneira, eu quero sua palavra.

LRTHistóricos 492
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Seu pescoço estava tão rígido que mal conseguia movê-


lo. Assentiu com a cabeça dando a sua palavra. Ele a
levantou e soltou a mordaça.

Bronwyn sabia que nunca sentira alivio tão celestial em


sua vida. Ela massageou sua mandíbula, e fez uma careta ao
tocar na ferida que o punho de Roger havia feito.

— Toma. — ordenou ele impaciente, lhe entregando uma


taça de água. — Não podemos ficamos aqui toda a noite. —
Ela bebeu com vontade a água.

— Aonde me leva? — perguntou.

Roger lhe arrebatou a taça.

— Montgomery poderá tolerar suas insolências, mas eu


não. Se quisesse que estivesse inteirada de algo, lhe diria.

Antes que ela pudesse desviar o olhar ansioso da taça


que ele tinha tomado, Roger agarrou-a pelo cabelo, jogou de
lado a taça meio cheia e voltou a pôr a mordaça. Deitou-a de
novo na palha.

Bronwyn passou o dia seguinte dormindo. Roger jogou


sacos por cima dela, para escondê-la. A falta de ar e
movimento fazia com que ela ficasse tonta. Permanecia em
um estado de semiconsciência, quase sonho.

Duas vezes foi tirada da carreta, recebeu comida e água,


e foi permitida alguma privacidade. Na terceira noite, a
carreta parou. Os sacos foram retirados, e ela foi levantada

LRTHistóricos 493
Highlander Audaz — Jude Deveraux

com brutalidade do colchão de palha da carreta. O frio ar


noturno a atingiu como se ela tivesse sido jogada em água
gelada.

— Levem-na para cima. — ordenou Roger. — Tranquem-


na no quarto leste.

O homem levantou quase com delicadeza a silhueta de


Bronwyn.

— Devo desamarra-la?

— Sim. Ela pode gritar o quanto quiser. Ninguém ouvirá.

Bronwyn manteve os olhos fechados e o corpo frouxo,


mas se esforçou em recuperar a consciência. Começou a
contar, citou os nomes todos os filhos de Tam e se forçou a
lembrar suas idades. Quando o homem a colocou em uma
cama, sua mente estava funcionando rapidamente. Ela tinha
que escapar! E agora, antes que a rotina do castelo iniciasse,
era o melhor momento.

Era difícil se manter imóvel enquanto o homem lhe


desatava lentamente os pés. Ela enviou sangue para lá com
força de vontade usando a mente em vez de mover os
tornozelos. Concentrou-se nos pés, tentando ignorar as
milhares de agulhas dolorosas que pareciam atravessar seus
pulsos.

A mordaça foi o último. Ela fechou a boca e moveu a


língua pela secura interior. Ela ficou imóvel, sua mente

LRTHistóricos 494
Highlander Audaz — Jude Deveraux

começava a correr enquanto o homem tocava seus cabelos e


sua bochecha. Ela amaldiçoou seu toque, mas pelo menos
deu tempo a seu corpo para se ajustar ao sangue que estava
mais uma vez começando a fluir.

— Alguns homens conseguem tudo. — disse o homem


com um suspiro de melancolia enquanto se afastava da
cama.

Bronwyn esperou até que ouviu seus passos e esperou


que o homem se afastasse. Abriu os olhos apenas
ligeiramente e viu-o persistir, permanecendo perto da porta.
Ela se virou rapidamente e viu um jarro sobre uma mesa
junto à cama. Pegou o jarro e lançou-o ao outro lado do
quarto. O estanho bateu ruidosamente contra a parede.

Voltou a ficar quieta, com os olhos entreabertos,


enquanto o homem ia em direção ao barulho. Bronwyn saiu
da cama em segundos e correu em direção à porta. Seu
tornozelo cedeu sob seu peso uma vez, mas ela continuou
correndo, nunca olhando para o homem. Agarrou o trinco da
pesada porta e fechou com violência. Depois deslizou o
ferrolho. Os golpes do homem podiam ser ouvidos, mas o
grosso carvalho abafava o som.

Bronwyn ouviu passos e teve o tempo apenas de deslizar


pelo oco escuro de uma janela antes que aparecesse Roger
Chatworth. O inglês se deteve ante a porta, atento aos golpes
do homem e a voz abafada. Bronwyn prendeu a respiração.

LRTHistóricos 495
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Roger sorriu satisfeito, depois passou por ela enquanto se


dirigia para a escada.

Bronwyn permitiu-se apenas alguns segundos para


acalmar seu coração acelerado e, pela primeira vez, esfregou
os pulsos e os tornozelos doloridos. Ela flexionou sua
mandíbula machucada repetidamente enquanto deslizava
silenciosamente das sombras e seguia Roger descendo as
escadas.

Ele virou à esquerda no final da escada e entrou em


uma sala. Bronwyn deslizou em uma sombra ao lado da porta
entreaberta. Ela podia ver dentro da pequena sala muito
bem. Havia uma mesa e quatro cadeiras, uma única vela de
sebo no centro da mesa.

Uma bela mulher estava sentada à mesa; Bronwyn só


viu seu perfil. Vestia um brilhante vestido de cetim com
listras verde e roxo. Suas feições delicadas eram perfeitas: da
boca aos amendoados olhos azuis.

— Por que a trouxe aqui, se podia possui-la quando bem


desejasse? — disse a mulher furiosa com uma voz
zombeteira, tão diferente de seu lindo rosto.

Roger estava de costas para Bronwyn, sentando-se


numa cadeira voltada para a mulher.

— Não havia mais nada que pudesse fazer, ela não quis
ouvir o que eu queria dizer sobre Stephen.

LRTHistóricos 496
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não queria ouvir você? — gritou a mulher. — Aos


diabos com os homens Montgomery! O que Stephen estava
fazendo na corte do rei Henry?

Roger fez um gesto de desprezo com a mão.

— Acredito que foi apresentar uma petição para que o


rei interrompesse as incursões na Escócia... Você devia tê-lo
visto! Ele praticamente tinha toda a corte chorando com suas
histórias sobre os nobres escoceses e o que se estava fazendo
a eles.

Bronwyn fechou os olhos por um momento e sorriu.

"Stephen!", pensou. ―Meu querido e doce Stephen”.


Voltou para o presente e compreendeu que escutar esses dois
era perda de tempo. Devia escapar! As palavras seguintes de
Roger a impediram

— Como diabos eu poderia saber que você escolheria


este momento para sequestrar Mary Montgomery?

Bronwyn parou imóvel, todo o seu corpo escutando. A


mulher, sem voltar o rosto, esboçou um amplo sorriso que
descobriu seus dentes torcidos.

— Em realidade, queria sequestrar a sua mulher. —


disse sonhadora.

— Suponho que se refere à Judith, a esposa de Gavin.

— Sim, aquela prostituta que roubou meu Gavin!

LRTHistóricos 497
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Não tenho certeza de que alguma vez tenha sido seu.


Em todo caso, foi você que o desprezou ao se casar com meu
querido irmão mais velho, que Deus o tenha em sua glória.

A mulher o ignorou.

— Por que você capturou Mary, em vez disso? —


continuou Roger, como se estivesse falando do clima, a julgar
pelo interesse que o tema lhe inspirava.

— Porque voltava para convento aonde vive e estava à


mão. Eu gostaria de matar todos os Montgomery, um a um.
Não importa quem será o primeiro. Bem, me diga agora quem
é essa mulher que você raptou! A esposa de Stephen?

Ainda assim a mulher não se virou. Ela manteve seu


perfil tanto para Roger quanto para Bronwyn.

— A mulher mudou. Na Inglaterra, antes de se casar,


era fácil de manipular, contei-lhe uma história ultrajante
sobre alguns primos na Escócia. — Ele fez uma pausa para
dar uma risada zombeteira. — Como poderia acreditar que eu
sou parente de um escocês imundo?

— Você fez com que ela pedisse um combate entre


vocês. — Observou a bela mulher.

— Era fácil colocar ideias em sua cabeça vazia. —


Respondeu Roger. — E Montgomery estava disposto o
suficiente para lutar por ela. Ardia tanto por ela que seus
olhos queimavam, mexendo com sua cabeça.

LRTHistóricos 498
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Dizem que é linda .— comentou a mulher com grande


amargura.

— Nenhuma mulher é mais bela do que toda terra que


possui. Se tivesse se casado comigo, teria enviado
camponeses ingleses para lá e teria obtido que a terra
produzisse mais. Os escoceses acham que deveriam dividir a
terra com os servos.

— Mas a perdeu ao perder o combate. — aduziu a


mulher sem levantar a voz.

Roger se levantou e esteve a ponto de derrubar a pesada


cadeira.

— Esse bastardo! — amaldiçoou. — Me ridicularizou, riu


de mim e fez que toda a Inglaterra risse também.

— Preferiria que tivesse te matado? — perguntou ela.

Roger se ergueu diante de sua cunhada.

— Você não preferiria ter morrido? — perguntou sereno.

A mulher inclinou a cabeça.

— Sim, oh, sim! — sussurrou, levantando a cabeça. —


Mas faremos com que paguem, não é verdade? Temos a
esposa de Stephen e a irmã de Gavin. Diga-me, o que você
planeja fazer com as duas?

Roger sorriu.

LRTHistóricos 499
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Bronwyn é minha. Se não puder ficar com suas terras


terei que me conformar com ela. Mary é tua, é obvio.

A mulher levantou a mão.

— Não é divertido brigar com ela. Tudo a aterroriza.


Talvez deva enviá-la para casa. — Disse com ódio.

E ao dizer isso virou o rosto de tal modo que Bronwyn


pôde vê-la completamente.

Foi a combinação da visão da bochecha coberta de


cicatrizes da mulher e a recordação das palavras de Mary que
fizeram Bronwyn ofegar. Antes que ela pudesse se mover,
Roger estava na porta e a segurava pelo braço. Ele a puxou
para dentro do quarto. Levou-a aos puxões ao interior do
recinto, arrancando dela uma careta de dor pela força com
que afundava os dedos em sua carne.

— Então essa é a grande Laird que capturou! — zombou


a mulher.

Bronwyn a olhava fixamente. O rosto, uma vez belo,


estava desfigurado em um lado, longos sulcos de feias
cicatrizes começavam do olho e desciam até a boca. Isso dava
a ela uma expressão maligna e depreciativa.

— Olhe até te fartar! — gritou a mulher. — É bom que


veja, pois você também pagará pelo que fizeram.

Roger soltou Bronwyn para segurar a mulher pelas


mãos.

LRTHistóricos 500
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sente-se! — ordenou. — Temos algo mais que resolver


além dos seus ódios imediatos.

A mulher sentou-se, mas continuou a olhar para


Bronwyn.

— Onde está Mary? — Bronwyn perguntou calmamente.


— Se a soltarem não tentarei escapar outra vez. Podem fazer
comigo o que desejem.

Roger riu dela.

— Como você é nobre, mas você não tem nada com que
negociar. Não darei uma segunda oportunidade para você
tentar fugir.

— Mas de que utilidade pode ter Mary para você? Nunca


em sua vida prejudicou a ninguém.

— Você chama isto de nada? E isto? — gritou a mulher,


deslizando os dedos pelas cicatrizes. — Parece pouca coisa
para você?

— Mary não fez isso. — Disse Bronwyn com convicção.


Ela estava começando a acreditar que as cicatrizes
mostravam a verdadeira natureza da mulher.

— Quietas as duas! — ordenou Roger. Voltou-se para


Bronwyn. — Apresento Lady Alice Chatworth, minha
cunhada. Nós dois temos motivos para odiar os Montgomery
e juramos destruí-los.

— Destrui-los! — exclamou Bronwyn. — Mas Mary...

LRTHistóricos 501
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Roger agarrou seu braço.

— Você não se preocupa com você mesma?

— Sei o que querem os homens como você. — cuspiu


ela. — Não pode conseguir uma mulher a não ser com
mentiras e traições?

Roger levantou a mão para esbofeteá-la, mas se deteve


com a risada de Alice.

— Para isso foi à Escócia, verdade, Roger? — riu. — Não


foi necessário trazê-la em uma carreta, amarrada de pés e
mãos?

Roger olhou de uma mulher para a outra, então agarrou


Bronwyn e a levou da sala. Ele a arrastou subindo as
escadas, fez uma pausa em frente da porta trancada com
ferrolho e continuou puxando-a um pouco mais pelo o
corredor. Parou em frente a seus aposentos, abriu a porta e a
empurrou para a larga cama que ocupava o centro de um
quarto luxuoso. Do dossel pendiam drapeados de veludo
pardo escuro. O mesmo tecido cobria a janela, elegantemente
bordeado de cordas douradas.

— Dispa-se! — ordenou.

Bronwyn lhe sorriu.

— Nunca! — respondeu com voz amigável. Ele lhe


devolveu o sorriso.

LRTHistóricos 502
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Se apreciar a vida da Mary me obedecerá. Cada


segundo que demorar lhe custará um dedo.

Bronwyn o olhou, boquiaberta, e tirou o broche do


ombro. Roger, recostado contra um alto armário esculpido,
observava-a com interesse.

— Você sabia que eu fiquei bêbado em sua noite de


núpcias? — perguntou. — Não, claro que não sabe. Aposto
que nunca pensou em mim. Eu não gosto que me usem, e
você me usou com Stephen Montgomery.

Ela se deteve, com as mãos nos botões da camisa.

— Eu nunca usei você. Se você tivesse ganhado a luta,


eu teria casado com você. Eu pensei que você estava sendo
honesto quando me disse que cuidaria do meu clã.

Ele emitiu um sopro depreciativo.

— Está demorando. Quero ver o que me custou tanta


dor e desonra.

Bronwyn mordeu os lábios para não replicar. Queria


dizer que ele mesmo provocara sua desonra. As mãos
tremiam nos botões. Nunca antes se despiu diante de um
homem, exceto Stephen. Piscou para conter as lágrimas.
Stephen não voltaria a amá-la se outro homem a possuísse.
Era tão ciumento que desconfiava de todos os seus afetos.
Como seria depois que Roger Chatworth terminasse com ela?

LRTHistóricos 503
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Levantou-se para tirar o cinturão e a saia e os deixou


cair no chão. Como ela mesma reagiria ao contato de Roger?
Bastava que Stephen a fitasse para que ela ardesse,
tremendo de paixão. Roger poderia fazer o mesmo?

— Apresse! — ordenou Roger. — Faz meses que espero


isto.

Bronwyn fechou os olhos por um momento e respirou


fundo enquanto deixava a camisa cair no chão. Ela manteve o
queixo erguido e os ombros para trás quando Roger pegou
uma vela e se aproximou dela.

Ele olhou para ela, seus olhos vagando por sua pele
acetinada, seus seios altos e orgulhosos. Ele tocou
suavemente seu quadril, passou o dedo pela carne ao redor
do umbigo.

— Linda! — sussurrou. — Montgomery estava certo em


lutar por você.

Uma batida súbita na porta fez os dois saltarem.

— Silêncio! — ordenou Roger enquanto olhava para a


porta.

— Roger! — chamou a voz de um jovem. — Está


acordado?

— Vá para a cama! — ordenou Roger, em voz baixa. —


Fique debaixo das cobertas e não faça um som. Eu preciso
ameaçar você?

LRTHistóricos 504
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn obedeceu-lhe rapidamente, contente por


qualquer desculpa para esconder seu corpo nu de sua vista.
Ela se enterrou sob as peles e cobertas enquanto Roger
apressadamente fechava as cortinas ao redor da cama.

— O que houve Brian? — perguntou, com uma voz


muito diferente, muito mais suave, ao abrir a porta. — Teve
outro sonho ruim?

Bronwyn se moveu em silencio para olhar entre as


cortinas. Roger acendeu várias velas que estavam na mesa
junto à cama. Ele se afastou, e ela pôde ver o jovem que
entrou.

Brian provavelmente tinha vinte anos de idade, mas sua


pequena construção facial o fazia parecer pouco mais que um
menino. Caminhou com um passo hesitante, como se uma
perna estivesse dura, mas tinha aprendido a caminhar
dissimulando que mancava. Ele era obviamente o irmão de
Roger, uma versão mais jovem, mais frágil e mais delicada do
seu irmão mais velho, forte e saudável.

— Você deveria estar na cama. — Roger disse em uma


voz gentil, uma voz que Bronwyn nunca tinha ouvido dele
antes. O amor de Roger por esse menino era aparente em
cada palavra que ele falava. Brian se acomodou em uma
cadeira.

— Eu estava esperando você voltar. Não conseguia


descobrir para onde você foi. Alice disse... — interrompeu-se.

LRTHistóricos 505
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Incomodou-te? — Perguntou Roger, severo. — Se te...

— Não, claro que não. — Interrompeu Brian. — Alice é


uma mulher infeliz. É muito desventurada desde a morte de
Edmund.

— Sim, sem lugar a dúvidas — disse Roger sarcástico. E


mudou de assunto. — Fui visitar minhas outras propriedades
para verificar se os servos não nos roubaram.

— Roger... quem é a mulher que continua chorando?

Roger levantou bruscamente a cabeça.

— Não... não sei o que você quer dizer. Não há aqui


nenhuma mulher que chore.

— Há três noites ouço alguém chorar. Mesmo durante o


dia me chega o som de choro.

Roger sorriu.

— Talvez a casa tenha um fantasma. Ou possivelmente


Edmund... — interrompeu-se bruscamente.

— Já sei o que quer dizer. — Brian disse sem rodeios. —


Sei mais sobre nosso irmão do que você imagina. Você ia
dizer que talvez quem chora é o fantasma de uma das
mulheres de Edmund. Talvez seja a que se matou na noite
em que assassinaram Edmund.

— Brian! De onde tira essas coisas? É tarde. Deveria


estar na cama.

LRTHistóricos 506
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Brian, suspirando, permitiu que Roger lhe ajudasse a


sair da cadeira.

— Vou dormir. Nós nos veremos pela manhã? Alice


melhora muito quando você está aqui e sinto falta de
Elizabeth. O Natal é muito curto.

— Sim, é claro. Estarei aqui amanhã, boa noite,


irmãozinho. Durma bem.

Quando a porta se fechou, Roger esperou de pé por um


instante. Bronwyn lhe observava sem mover-se. Esse homem
podia ser mentiroso e atacar pelas costas, mas amava seu
irmão mais novo. Por fim ele se voltou e abriu as cortinas do
leito.

— Você esperava que eu tivesse me esquecido de você?


— Sua voz era fria outra vez.

Ela se cobriu até o pescoço com os lençóis e retrocedeu


até o outro extremo da cama.

— Quem é Elizabeth? — perguntou.

Roger lhe cravou um olhar malicioso.

— Elizabeth é minha irmã. Agora venha aqui.

— Ela é mais velha ou mais nova do que Brian? —


Bronwyn falava com pressa.

LRTHistóricos 507
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Você gostaria de ver minha árvore genealógica? — Ele


agarrou seu braço, puxou-a para ele. — Elizabeth é três anos
mais nova que Brian.

— Ela é...?

Suas palavras pararam quando Roger a puxou para


seus braços e começou a beijá-la com fome. Ela permaneceu
imóvel enquanto ele a beijava. Roger tinha os lábios firmes e
agradáveis; seu hálito era doce. Mas não havia fogo ali.
Deslizou a boca pelo pescoço da moça, acariciando as costas
dela e deslizou os dedos por sua coluna, então agarrou suas
nádegas e apertou-a contra ele. Estava completamente
vestido e o veludo acolchoado de suas roupas tinha um roce
delicioso contra a pele fresca e nua. Mas além dessa sensação
agradável não havia fogo. Bronwyn sentia-se como uma
estranha, como se observasse o que estava acontecendo em
vez de experimentá-lo.

— Não resiste? — perguntou Roger, em um sussurro


gutural, uma pitada de humor em sua voz.

— Não! — respondeu ela com franqueza. — Me...

Uma vez mais, ele a interrompeu com um beijo. Deitou-a


brandamente de costas e começou a lhe acariciar o pescoço e
os seios. Seus lábios seguiam suas mãos.

— Não, Roger, não resisto. — Disse ela, sua voz cheia de


honestidade. — Em realidade, não há nada contra o que
resistir. Eu devo admitir que estava curiosa sobre como

LRTHistóricos 508
Highlander Audaz — Jude Deveraux

reagiria a outro homem me tocando. Stephen disse que eu o


procuro tantas vezes que não tem tempo suficiente para se
recuperar. — Ela deu um risinho, olhou para o dossel e
colocou as mãos atrás da cabeça. — Não que Stephen sempre
tenha dito a verdade. — Riu. — Mas acho que não é a mesma
coisa. Você me toca nos mesmos lugares que Stephen me
toca, mas com você não sinto nada, não é estranho? — Ela
olhou com olhos inocentes para Roger, que estava inclinado
sobre ela, suas mãos ainda sobre seu corpo, seus olhos
arregalados. — Eu realmente sinto muito. Não quero ofendê-
lo. Tenho certeza de que agrada a algumas mulheres que
gostam de você, mas acho que pertenço a um só homem.

Roger levantou a mão para lhe bater. Os olhos do


Bronwyn se voltaram frios.

— Não lutarei contra você nem reagirei quando fizer


amor. Você se irritaria em saber que não é metade do homem
que Stephen Montgomery é? Seja na cama ou fora dela?

— Eu vou te matar por isso! — Roger rosnou, jogando-se


contra ela.

Bronwyn rolou de lado e ele caiu de bruços sobre o


colchão macio. A moça se ergueu de um salto, à procura de
uma arma, mas não achou nenhuma.

Roger começou a persegui-la, mas parou. Maldição, ela


era uma visão surpreendente! Seus cabelos negros flutuavam
a seu redor como uma nuvem demoníaca. Seu corpo

LRTHistóricos 509
Highlander Audaz — Jude Deveraux

orgulhoso e forte era uma provocação. Era de tirar o fôlego,


como uma antiga rainha primitiva; desafiante, ameaçando-o
com sua pequena força.

Cada palavra que ela pronunciava sobre o marido era


como um grito em sua mente. Conhecia bem os homens, não
é? Com cada palavra ele sentiu sua paixão encolher. Que
homem podia possuí-la sabendo que ela ria em sua cara? Se
ela o temesse, ele a estupraria, mas esse riso dela era demais.

— Guardas! — vociferou.

Bronwyn compreendeu que a liberava dessa imposição


sexual. Agarrou suas roupas e, quando a porta se abriu, ela
já estava envolta na manta, com o resto das roupas sob o
braço.

— Leve-a para o quarto leste. — disse Roger, cansado. —


E eu terei a cabeça do homem que a deixar escapar.

Bronwyn só respirou com tranquilidade ao ouvir que o


ferrolho corria por fora a deixando sozinha no quarto. Os
guardas tinham libertado o homem que ela trancafiara horas
antes. Deixou-se cair na cama e imediatamente começou a
tremer. Seu corpo doía pelos três dias que passara atada em
uma carreta. Atormentava-se pela sorte de Mary e o episódio
vivido com Roger a debilitava mais ainda.

Certa vez, quando ela era apenas uma garota, tinha


saído para passear com um dos homens de seu pai. Pararam
para que os cavalos descansassem, e o homem a jogou no

LRTHistóricos 510
Highlander Audaz — Jude Deveraux

chão e começou a despi-la. Bronwyn era muito inocente e


ficou muito assustada. O homem despiu-se, e se colocou
sobre ela, exibindo sua masculinidade ereta como se
estivesse maciçamente orgulhoso da coisa. Bronwyn, que só
vira membros de cavalos e touros, começou a rir do homem, e
diante de seus próprios olhos tinha deflacionado. Ela
aprendeu várias lições naquele dia. Uma mulher nunca devia
andar sozinha com apenas um homem, e dois, enquanto o
medo parecia excitar os homens, sua risada o esmagava.

Nunca revelou a seu pai o ocorrido. Três meses depois, o


homem morreu em uma incursão para roubar gado.

Deveria ser um prazer ver Roger tão ferido, mas não era.
Caiu na cama, ocultando o rosto. Precisava muito de
Stephen; ele era o alicerce de seu ser, ele a impedia de fazer
coisas estúpidas e impulsivas. Se ele estivesse com ela,
nunca teria deixado Larenston. Rab estaria vivo e não seria
prisioneira de Roger Chatworth.

Stephen estava com seu rei, suplicando que não


ordenasse mais ataques contra os escoceses. Stephen não
tinha provado que ele era um escocês? Ele merecia o título
mais do que qualquer outra pessoa.

Bronwyn não tinha ideia quando começou a chorar. As


lágrimas começaram a fluir em silêncio a princípio, depois
com soluços profundos e dolorosos. Jurou que se conseguisse
se livrar dessa confusão, seria honesta com Stephen. Diria o
quanto o amava e precisava dele. Oh sim! Precisava muito

LRTHistóricos 511
Highlander Audaz — Jude Deveraux

dele. Chorou por Mary, por Stephen, por Rab e, sobre tudo,
por si mesma. Teve algo formoso e lindo e o deixou escapar.

— Stephen! — sussurrou e continuou chorando.


Quando seu corpo ficou seco e já não pôde seguir chorando,
adormeceu.

LRTHistóricos 512
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Dezoito
Brian Chatworth, em silêncio, desceu as escadas até o
porão. A casa de Chatworth tinha sido construída sobre um
castelo velho, um lugar que seu avô tinha conquistado e
destruído. Alguns diziam que não era bom construir sobre o
lar de um inimigo.

Brian pensou nas palavras de seu irmão sobre um


fantasma e sorriu. Roger era tão protetor de seus irmãos. Na
verdade, esse amparo fora necessário contra o irmão mais
velho na infância. Mas agora, desde a morte de Edmund, não
havia necessidade de se esconder e mentir. Em alguma parte
havia uma mulher que chorava e Brian tinha toda a intenção
de averiguar. Era, provavelmente, uma serva de cozinha que
se apaixonara por Roger e agora chorava porque ele não
devolvia seu amor. Brian percebeu que Roger achava que seu
irmão mais novo não sabia nada sobre o que ocorria entre
homens e mulheres. Para Roger, Brian ainda era um menino
assustado e escondido.

Ele parou no fim da escada. Os porões eram escuros,


cheios de barris de vinho e barris de peixe salgado. Enquanto
escutava, detectou o som do rolar de dados de marfim e dois
guardas rindo e dizendo maldições. Deslizou entre os barris e
foi para a parte de trás, onde sabia que existia uma cela com
cadeado. Não tinha ideia por que agora devia se esgueirar,

LRTHistóricos 513
Highlander Audaz — Jude Deveraux

aprendeu a ser bom nisso quando Edmund estava vivo. Além


disso, preferia que Roger não achasse que ele não tinha fé em
seu irmão.

O choro tornou-se mais alto quando ele se aproximou da


porta da cela. Era um som suave e dolorido que vinha do
coração de uma mulher. Agora ele sabia por que os guardas
se afastavam para o outro lado da adega: Eles não queriam
ouvir o choro constante.

Brian olhou para dentro da cela. Deitada em posição


fetal, num canto, estava uma mulher com o hábito de uma
freira. Brian só podia ofegar quando pegou a chave colocada
em um prego junto à porta e a destrancou. As dobradiças
lubrificadas cederam de forma silenciosa.

— Irmã! — sussurrou Brian, ajoelhando-se ao seu lado.


— Por favor, me permita que a ajude.

Mary olhou para ele com medo em seus olhos.

— Por favor, solte-me. — Sussurrou. — Meus irmãos vão


causar uma guerra por causa disso, por favor, eu não poderia
suportar vê-los feridos.

Brian olhou para ela, perplexo.

— Seus irmãos? Quem é você? O que tem feito para que


Roger a tome como prisioneira?

— Roger? — perguntou Mary. — É ele quem me retém


aqui? Onde estou? Quem é você?

LRTHistóricos 514
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Brian a observou com atenção. Seu rosto oval estava


inchado, seus olhos castanhos, vermelhos e irritados. De
repente se lembrou de sua irmã. Elizabeth era encantadora
como um anjo e essa mulher se parecia com a Madona.

— Meu nome é Brian Chatworth, esta é minha casa, a


propriedade Chatworth. Meu irmão Roger é dono desta casa.

— Chatworth? — exclamou Mary levantando-se. — Meu


irmão esteve, certa vez, apaixonado por uma formosa mulher,
que se casou com alguém chamado Chatworth.

Brian sentou-se nos calcanhares. Ele estava começando


a ver alguma ligação com a prisão desta mulher.

— E você é da família Montgomery! — exclamou. — Eu


só conhecia a existência de quatro irmãos varões. Não sabia
que havia uma mulher.

— Sou a filha mais velha, Mary Montgomery.

Brian passou alguns minutos em silêncio.

— Diga-me o que você sabe. Meus irmãos me protegem


em excesso. Por que me mantém presa? Por que seu irmão
odeia minha família?

Brian identificou-se imediatamente com ela.

— Meu irmão também me protege muito. Mas eu presto


atenção e sei de algumas coisas. Direi o que sei. Uma jovem
chamada Alice Valence esteve, no passado, apaixonada por
seu irmão mais velho, Gavin. Não é verdade, irmã?

LRTHistóricos 515
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Mary assentiu.

— Mas por alguma razão que ignoro não se casaram.


Alice contraiu matrimônio com Edmund, meu irmão mais
velho, e Gavin se casou com...

— Com Judith. — respondeu Mary.

— Sim, Judith. — continuou Brian. — Certa noite meu


irmão foi assassinado.

Brian se interrompeu por um momento. Não queria


mencionar a maldade de seu irmão mais velho, e que todos
viviam aterrorizados. Tampouco mencionou a adorável jovem
que cortou os pulsos na noite em que Edmund morreu.

— E Alice ficou viúva. — disse Mary, em voz baixa.

— De fato, ficou viúva. Ela, eu acredito, fez algumas


tentativas de conquistar Gavin de volta. Houve um acidente e
óleo quente se derramou em seu rosto. As cicatrizes do
acidente foram muitas e ela ficou marcada.

— Você acha que há alguma conexão entre isso e o meu


sequestro? Onde está Alice agora?

— Ela mora aqui, não tinha mais ninguém. — Pensou


na bondade de seu irmão Roger. — Neste outono, Roger
combateu publicamente, numa justa com outro de seus
irmãos, milady. Lutaram por uma mulher.

— Só pode ter sido Stephen. Bronwyn não me disse


nada. — Mary passou a mão pelo rosto. — Eu não tinha ideia

LRTHistóricos 516
Highlander Audaz — Jude Deveraux

de que tivesse acontecido isso. Oh, Brian, o que vamos fazer?


Nós não podemos deixar nossas famílias continuarem em
guerra uma com a outra.

Brian ficou assustado com suas palavras. O que ela


queria dizer com "nós"? Como ela poderia supor que estava
do seu lado? Roger era seu irmão. Claro, ele tomaria o lado de
Roger. Deve haver uma boa razão para Roger estar segurando
essa mulher calma e gentil como prisioneira.

Antes que Brian pudesse dizer uma palavra, Mary falou


de novo.

— Por que manca? — perguntou com suavidade.

Brian ficou assustado. Ninguém havia perguntado isso


há muito tempo.

— Minha perna foi esmagada por um cavalo. — disse


secamente.

Mary apenas olhou para ele como se esperasse mais, e


Brian se viu transportado de volta a um tempo que ele não
gostava de lembrar.

— Elizabeth tinha cinco anos. — Disse ele em uma voz


distante. — Mesmo nesta época ela já se parecia um anjo. Um
dos entalhadores a tinha usado como modelo para todos os
querubins da capela. Eu tinha oito anos. Estávamos
brincando na areia no campo de justas. Nosso irmão Edmund
já estava adulto, tinha vinte um ano de idade. — Brian parou

LRTHistóricos 517
Highlander Audaz — Jude Deveraux

um momento. — Eu não me lembro de tudo. Eles disseram-


me que Edmund estava bêbado. Ele não viu que Elizabeth e
eu brincávamos ali e se lançou a galopar pelo campo.

Mary afogou uma exclamação de horror.

— Nós teríamos sido mortos se não fosse por Roger, que


na época tinha quatorze anos, era grande e forte. Correu para
frente do cavalo de Edmund e nos agarrou, mas o casco do
cavalo bateu no seu braço esquerdo, fazendo que me deixasse
cair. O cavalo se desequilibrou e caiu também. — Brian
desviou o olhar por um momento. — O cavalo caiu por cima
de mim e esmagou minha perna do joelho para baixo. — Ele
deu um sorriso fraco. — Tenho sorte de não ter perdido a
perna. Elizabeth disse que foi o cuidado de Roger que salvou
minha perna. Ele ficou ao meu lado por vários meses.

— Você o ama muito, não é?

— Sim! — respondeu ele simplesmente. — Nos protegeu


durante toda a infância, a Elizabeth e a mim. Colocou-a em
um convento aos seis anos e agora ela está lá. — Brian
sorriu. — Roger diz que está procurando um marido digno
dela, mas ainda não achou. Como se procura marido para
um anjo?

E riu ao recordar algo que Elizabeth dissera. Sugerira a


Roger que procurasse um demônio. O irmão mais velho não
achou muito engraçado. Com frequência Roger não ria diante

LRTHistóricos 518
Highlander Audaz — Jude Deveraux

dos agudos comentários de sua irmã. Às vezes sua língua


estava em desacordo com seus olhares doces.

— Não podemos deixar nossas famílias lutarem. — Mary


estava dizendo. — Você me demostrou que seu irmão é um
homem amável e carinhoso, que está zangado com Stephen, e
o mesmo deve ocorrer com sua cunhada.

Brian quase riu. Alice caía em ataques de fúria


descomunais que superavam largamente a insanidade. Às
vezes enlouquecia por completo e era preciso ministrar-lhe
ervas sonífera. Gritava constantemente amaldiçoando Gavin e
Judith Montgomery.

— Você disse tão pouco sobre você. — observou Brian,


em voz baixa. — Faz dias que está prisioneira e chora, só quis
que eu falasse de mim. Diga-me por que esteve chorando?
Por você mesma ou por seus irmãos?

Mary baixou a vista a suas mãos.

— Sou débil E covarde. Oxalá pudesse rezar como se


deve, mas meus irmãos me ensinaram a ser realista. Quando
descobrirem meu desaparecimento ficarão furiosos. Gavin e
Stephen se prepararão serenamente para a guerra, mas em
Raine e Miles não haverá nenhuma calma.

— O que eles farão?

— Quem sabe? O que parecer conveniente no momento.


Raine é geralmente tão gentil, apesar do aspecto de um

LRTHistóricos 519
Highlander Audaz — Jude Deveraux

grande urso, é um homem, que não pode suportar nenhuma


injustiça. Miles tem um temperamento horrível! Ninguém
pode adivinhar o que é capaz de fazer.

— Isso deve ser interrompido. — disse Brian,


levantando-se. — Eu irei até Roger e exigirei que ele te solte.

Mary ficou de pé, ao lado dele era mais baixa que Brian.

— Não acha que uma exigência poderia irritá-lo? Não


seria melhor pedir?

Brian estudou suas feições suaves, seus grandes olhos.


Ela o fazia se sentir forte como uma montanha. Nunca pedira
nada a Roger, além de sua própria vida. Ela tinha razão:
como exigir algo de quem se ama? Tocou a face de Mary.

— Vou levá-la deste lugar, prometo-lhe isso.

— E eu acredito em você. — respondeu ela, com grande


confiança. — Você deve ir agora.

Brian deu uma olhada para a cela pequena e úmida.


Havia palha no chão, bastante suja. O único móvel era uma
cama dura e um cântaro em um canto.

— Este calabouço é sujo. Você deve sair comigo agora.

— Não! — Ela se afastou dele. — Devemos ter cuidado,


não podemos irritar seu irmão. Se ele for como o meu, pode
dizer coisas que vai se arrepender mais tarde, mas então será
forçado a manter a palavra. Você deve esperar até amanhã,

LRTHistóricos 520
Highlander Audaz — Jude Deveraux

quando ele estiver mais descansado, e em seguida, falar para


ele.

— Como você pode se preocupar com meu irmão quando


isso significa outra noite para você neste inferno?

Ela respondeu-lhe apenas com o olhar.

— Vá em paz, não precisa se preocupar comigo.

Brian olhou para ela por um momento, depois agarrou


sua mão e beijou-a.

— Você é uma boa mulher, Mary Montgomery. — Ele se


virou e a deixou.

Mary desviou o olhar quando ouviu a porta trancar


novamente. Esperava que não tivesse deixado Brian ver como
estava muito assustada. Algo percorreu o chão e ela pulou.
Ela não devia chorar, sabia, mas era uma covarde tão
terrível...

Roger olhou chocado para seu irmão menor.

— Eu a quero fora daquela cela. — Brian disse


calmamente. Ele fez o que Mary tinha dito e esperado até o
amanhecer para confrontar Roger. Não que Brian tivesse
dormido alguma coisa. A julgar pelas grandes olheiras do
irmão, ele tampouco dormira muito.

LRTHistóricos 521
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Por favor, Brian... — começou Roger, com a voz que


só empregava para falar com seus irmãos menores.

Brian não cedeu.

— Eu ainda não ouvi você dizer por que a tem como sua
prisioneira, mas seja qual for a razão, quero ela fora daquele
calabouço.

Roger se afastou de Brian para que a dor nos seus olhos


não pudesse ser vista. Como poderia explicar sua humilhação
nas mãos dos Montgomery? Sofrera quando sua cunhada se
atirou aos pés de Gavin e foi rejeitada por ele. Mais tarde
Bronwyn o havia escolhido e se sentira redimido, mas
Stephen tinha deferido um golpe de sorte que o havia deixado
esparramado no chão. Ficara enfurecido, sem pensar, tinha
atacado Stephen pelas costas. Agora, queria deixar claro aos
Montgomery que não poderia ser sempre derrotado.

— Nada de mal acontecerá a ela. — disse Roger. —


Prometo que não vou machucá-la.

— Nesse caso para que a retém? Ponha ela em liberdade


antes que se produza uma guerra completa.

— Já é muito tarde para isso.

— O que você quer dizer? — Roger olhou a seu irmão.

— Raine Montgomery estava levando várias centenas de


soldados do rei para o País de Gales quando soube que eu

LRTHistóricos 522
Highlander Audaz — Jude Deveraux

tinha Mary. Então fez que os homens se desviassem para cá


para atacar-nos.

— O que? Vamos ser atacados? Não temos como nos


defender. Não sabe esse homem que nestes tempos não se
pode fazer essas coisas? Há tribunais e leis que nos protegem
de um ataque.

— O rei encontrou Raine antes que ele pudesse chegar


aqui. O rei estava tão irritado com Raine pelo uso de seus
homens em uma luta pessoal, que o rei Henry declarou Raine
um fora da lei. Raine se retirou para viver na floresta.

— Bom Deus! — suspirou Brian deixando-se cair em


uma cadeira. — Não temos defesa como essa enorme fortaleza
dos Montgomery. Se soltarmos Mary...

Roger o olhou com admiração.

— Eu não tinha pretendido inclui-lo nesta disputa. Você


deve sair daqui, vá e fique em uma de minhas outras
propriedades. Logo irei me reunir contigo.

— Não! — disse Brian com firmeza. — Temos de resolver


esta disputa. Enviaremos mensagens ao rei e aos
Montgomery. Até lá eu cuidarei pessoalmente de Mary. — Ele
se levantou e saiu mancando do quarto.

Roger cravou o olhar na porta que seu irmão acabava de


fechar, fazendo chiar os dentes com fúria. Depois pegou um

LRTHistóricos 523
Highlander Audaz — Jude Deveraux

machado de guerra da parede e o jogou contra a porta de


carvalho, onde se cravou.

— Malditos sejam todos os Montgomery! — amaldiçoou.

Era uma sorte que o rei estava zangado com eles. Não
fizeram nada, além de tomar. Tinham tomado a beleza de sua
cunhada Alice e metade de sua sanidade também. Tinham
tomado todas aquelas terras na Escócia que deveriam ter sido
dele. E agora eles queriam tirar a admiração de seu irmão por
ele. Brian nunca antes desafiou Roger, nunca tinha feito
nada para contradizê-lo. Agora Brian pensava que poderia
tomar decisões e dizer a Roger o que fazer.

A porta se abriu e Alice entrou. Seu vestido era de cetim


verde esmeralda bordado com pele de coelho que tinha sido
tingido de amarelo. Um véu de tecido fino de seda cobriu seu
rosto.

— Acabo de ver Brian. — Disse agressiva. — Estava


ajudando Mary Montgomery a subir a escada. Por que a fez
ser retirada do porão? Uma mulher como essa deve ser
jogada para os cães.

— Brian encontrou-a por sua conta, foi sua decisão


cuidar dela.

— Cuidar dela! Quer dizer que vai tratá-la como essa


convidada que tem trancada no quarto? — soltou uma risada
zombeteira. — Acaso não é você quem dá as ordens nesta
casa? Parece que Brian é o homem da casa agora.

LRTHistóricos 524
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Você deve saber melhor que ninguém, já que se


deitou com todos os homens da casa.

Alice lhe sorriu.

— Você está com ciúmes? Eu ouvi dizer que você


expulsou a esposa de Stephen do seu quarto ontem à noite.
Não pôde fazer nada com ela? Talvez Brian possa fazê-lo por
ti.

— Saia daqui — ordenou Roger, em voz baixa, mas sem


deixar dúvidas de seu significado.

Bronwyn olhava pela janela para o pátio coberto de


neve. Há cerca de um mês era prisioneira de Roger Chatworth
e nesse período não vira ninguém, com exceção de alguma
criada. As mulheres traziam comida, lenha e lençóis limpos,
limpavam seu quarto e esvaziavam sua bacia, mas não lhe
dirigiam a palavra. Ela tentara fazer perguntas, mas olhavam
para ela com muito medo e partiam nas pontas dos pés.

Não havia um só método que ela não tivesse usado para


tentar escapar. Ela amarrou lençóis para descer pela janela,
mas os guardas de Roger a tinham pego quando chegou ao
chão. No dia seguinte, um homem veio colocar barras de ferro
na janela.

Ela até tinha iniciado um incêndio para criar uma


distração, mas os guardas a seguraram enquanto apagavam

LRTHistóricos 525
Highlander Audaz — Jude Deveraux

o fogo. Ela fez uma arma da asa de um jarro de estanho e


feriu um guarda. Os dois guardas foram substituídos por
três, e Roger veio e disse que a mataria se lhe causasse mais
problemas. Ela implorou a Roger por notícias de Mary. Será
que os irmãos Montgomery sabiam que suas mulheres
estavam sendo mantidas em cativeiro? Roger não lhe deu
nenhuma resposta. Bronwyn voltou a afundar-se em sua
solidão. O único em que podia distrair-se era na lembrança
do Stephen. Tinha tempo para repassar cada momento
compartilhado com ele e de estudar as mudanças
convenientes.

Ela deveria ter percebido que uma raça inteira de


pessoas não poderia ser tão perversa quanto os homens que
a insultaram e a devoraram com o olhar na casa de Sir
Thomas. Ela não deveria ter ficado furiosa porque Stephen se
interessava mais por ela do que por seu clã. Não deveria ter
confiado nas histórias de Roger tão completamente.

Não era de admirar que Stephen tivesse dito que era


egoísta. Ela sempre parecia ver apenas um lado de um
problema. Pensou no pedido de Stephen ao rei, e ela sabia
que quando — se — deixasse a fortaleza de Roger Chatworth
viva, recorreria a Kirsty para tentar fazer as pazes com os
MacGregor. Era uma dívida com Stephen.

LRTHistóricos 526
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— São lindos, Brian. — Sorriu Mary, aceitando as


sapatilhas de couro. — Você me acostuma mal.

Brian olhou para ela, e o amor escorria de seus olhos.


Passaram a maior parte do último mês juntos. Nunca mais
pedira a Roger que soltasse Mary, porque Brian não queria
vê-la partir. Pois ela tirou a solidão de sua vida. Muitas vezes
Roger viajava para algum torneio, e Elizabeth estava sempre
trancada em seu convento. Quanto às outras mulheres, Brian
tinha aprendido há muito tempo que elas o faziam se sentir
tímido e desajeitado. Mary era dez anos mais velha do que ele
e era tão pouco deste mundo como ele. Nunca ria como uma
menina, não pedia que dançasse nem que a perseguisse entre
as roseiras. Mary era calma e simples, não exigindo nada
dele. Passavam os dias tocando alaúde, e às vezes, contava
histórias que sempre tinham estado em sua cabeça, mas
nunca contara a ninguém. Ela sempre o ouvia e o fazia se
sentir forte e protetor, algo mais do que apenas um irmão
mais novo.

Por essa nova sensação de amparo, não pôde dizer a


Mary que Bronwyn também estava prisioneira. Já não
confiava cegamente em seu irmão e tinha feito perguntas aos
servos, para saber o que ocorria em sua própria casa.
Imediatamente exigiu a libertação de Bronwyn, coisa que
Roger executou imediatamente. Agora só Mary permanecia
cativa.

LRTHistóricos 527
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— É muito menos do que merece. — respondeu


sorridente. Mary se ruborizou de um modo muito bonito e
baixou o olhar.

— Venha e sente-se ao meu lado. Você já ouviu alguma


notícia?

— Nenhuma! — mentiu ele. Ele sabia que Raine ainda


estava vivendo em uma floresta em algum lugar, como fora da
lei, à frente de um bando de rufiões, se pudesse acreditar no
que Alice dissera. Mas Brian nunca disse a Mary sobre a real
situação de Raine.

— Ontem à noite fez mais frio. — adicionou,


esquentando-as mãos ante o fogo da lareira do quarto.

Por acordo silencioso eles nunca mencionaram Roger ou


Alice. Eram duas pessoas solitárias que se juntaram por
necessidade mútua. Seu mundo consistia em uma grande e
agradável sala no último andar da casa de Chatworth. Eles
tinham música, arte e alegria um no outro, e nenhum deles
tinha sido mais feliz.

Brian se recostou contra os almofadões de uma cadeira,


diante do fogo, e disse a si mesmo pela milésima vez que
desejava continuar assim para sempre. Não queria que Mary
retornasse para sua ―antiga‖ família. Foi nesta noite que falou
a Roger de seus sonhos.

— Você quer o que? — Roger ofegou, com os olhos


arregalados.

LRTHistóricos 528
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Quero me casar com Mary Montgomery.

— Casar! — Roger cambaleou contra uma cadeira. Aliar-


se com uma família que ele considerava seu inimigo! — A
mulher é da igreja, você não pode...

Brian sorriu.

— Ela não fez nenhum voto. Vive com as freiras como


uma delas, é tudo. Mary é tão gentil, só quer ajudar o mundo.

Os dois homens foram interrompidos pelo riso alto de


Alice.

— Sim, que bom que não tenha feito votos, Roger. Seu
irmãozinho quer casar com a primogênita dos Montgomery.
Diga-me, Brian, qual a idade dela? Precisa dela para
representar a mãe que você sempre quis?

Brian nunca tivera motivos para se enfurecer. Roger


sempre o protegia das coisas desagradáveis do mundo. Mas
neste momento se aproximou de Alice quase rosnando. Roger
o segurou.

— Não há necessidade disso.

Brian olhou nos olhos de Roger. Pela primeira vez em


sua vida Brian não achava que seu irmão era perfeito.

— Você vai deixá-la dizer essas coisas? — perguntou em


voz baixa.

LRTHistóricos 529
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Roger franziu o cenho. Ele não gostava da maneira como


Brian estava olhando para ele, tão fria, como se não fossem
os melhores amigos do mundo.

— Claro, ela está errada. Só acho que você não pensou


nisso. Eu sei que você é jovem e precisa de uma esposa e...

Brian se soltou bruscamente.

— Você está dizendo que sou muito estúpido para não


saber o que quero?

Alice chorava de tanto rir.

— Responda a ele, Roger! Você vai deixar seu irmão se


casar com um Montgomery? Eu já posso ouvir risadas em
toda a Inglaterra. Eles vão dizer que como não conseguiu
matar Stephen pelas costas em uma ocasião, o faz agora de
outra maneira. Dirão que os Chatworth tomam apenas os
restos dos Montgomery. Eu não pude conquistar Gavin. Você
tampouco a Bronwyn. Assim envia seu irmão aleijado atrás
da solteirona da família.

— Cale-se! — rugiu Roger.

— A verdade dói, não? — provocou Alice.

Roger apertou os dentes.

— Meu irmão não se casará com uma Montgomery.

Brian se ergueu em toda sua estatura. Roger lhe


dobrava em tamanho.

LRTHistóricos 530
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Sim, me casarei com a Mary. — disse com firmeza.

Alice voltou a rir.

— Devia ter posto ele para cuidar da outra. Assim ele


poderia ter gastado sua luxúria com ela, mas pelo menos não
estaria falando de casamento.

— Do que você está falando, sua bruxa? — acusou


Brian — De que outra?

Alice lhe fulminou com o olhar através do véu.

— Como te atreve a me chamar de bruxa? — exclamou.


— Em outros tempos era tão bela que nem sequer teria
olhado para um fraco e aleijado como você.

Roger deu um passo adiante.

— Saia daqui antes de eu deforme sua outra bochecha.

Alice rosnou para ele antes de se virar para sair.

— Pergunte a ele sobre Bronwyn que está presa lá em


cima. — riu enquanto se retirava apressadamente.

Roger se voltou para enfrentar os frios olhos de Brian.


Não, não gostava do modo em que lhe estava olhando. Era
quase como se já não o venerasse.

— Disse-me que a tinha libertado. — disse Brian sem


rodeios. — Quantas outras mentiras você me contou?

LRTHistóricos 531
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Bem Brian... — começou Roger, com a voz especial


com que sempre lhe falava.

Brian afastou-se dele.

— Eu não sou uma criança e não vou ser tratado como


uma! Que idiota eu tenho sido! Não é de admirar que os
Montgomery não nos ataquem. Você tem duas de suas
mulheres cativas, não é? Como pude ouvir você? Nunca
questionei, até agora, se o que você fazia estava certo. Estava
tão feliz com Mary que nem sequer parei para pensar. Mas
certamente, sempre estive ocupado demais para pensar por
mim mesmo, não é?

— Por favor, Brian...

— Não! — Brian gritou. — Pela primeira vez você vai me


ouvir. Amanhã de manhã eu vou levar Mary e Bronwyn de
volta para sua família.

Roger sentiu que lhe arrepiava o cabelo da nuca.

— São minhas prisioneiras. Você não fará tal coisa.

— Por que são suas prisioneiras? — perguntou Brian. —


Porque atacou Stephen Montgomery pelas costas? Porque ele
derrotou você?

Roger retrocedeu e cambaleou para trás.

— Brian, como você pode falar comigo assim? Depois de


tudo o que eu fiz por você?

LRTHistóricos 532
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Estou cansado de ouvir como você salvou minha vida


e de Elizabeth. Eu estou cansado de ser grato a você a cada
momento da minha vida! Já é hora de que deixe de ser seu
irmão mais novo. Sou um homem adulto e posso tomar
decisões por conta própria.

— Brian, — sussurrou Roger — nunca pedi gratidão.


Você e Elizabeth são toda minha vida. Não tenho ninguém
mais. Nunca amei mais ninguém.

Brian suspirou e sua raiva o deixou.

— Sei. Você sempre foi bom conosco, mas já é hora que


eu vá embora e inicie minha própria vida. — Voltou-lhe as
costas. — Amanhã levarei as mulheres de volta para casa.

Roger começou a tremer assim que Brian saiu da sala.


Nenhuma batalha ou torneio o deixou tão fraco como esse
confronto com Brian. Momento a momento via seu
irmãozinho mudar. Brian já não adorava cegamente o irmão
mais velho.

Roger desmoronou em uma cadeira e olhou para o chão


de azulejos. Brian e Elizabeth eram tudo o que ele tinha. Os
três haviam permanecido juntos, uma força forte contra a
maldade de Edmund. Elizabeth sempre foi independente. Seu
rosto angélico escondia uma natureza forte, e ela muitas
vezes enfrentou Edmund antes de sua morte. Mas Brian
sempre procurara o amor e o amparo de Roger, permitindo

LRTHistóricos 533
Highlander Audaz — Jude Deveraux

que ele tomasse todas as decisões. E ficava encantado com


esse papel. Adorava que Brian o adorasse.

Mas esta noite ele tinha visto aquela adoração escorrer.


Brian se transformou de um garoto doce e amoroso em um
homem hostil, exigente e arrogante. E tudo por culpa dos
Montgomery!

Sem perceber, Roger começou a beber. O vinho estava à


mão e o bebeu sem pensar. Só lembrava dos olhos frios de
Brian e o fato de que os Montgomery o fizeram perder o amor
de seu irmão.

Quanto mais bebia, mais pensava em todos os


problemas que os Montgomery lhe causaram. A beleza
perdida de Alice parecia ser um insulto direto para ele. Afinal,
ela era sua parenta. Judith e Gavin haviam brincado com
Alice; O pior de tudo era que eles riram dela assim como
riram de Roger. Quase podia ouvir as provocações dos
homens na corte, onde ele tinha ido depois de sua batalha
com Stephen. ‗Então você quis tomar a escocesa do
Montgomery, homem? Pelo que dizem da beleza dela, é
compreensível, mas ardia tanto por ela para atacar Stephen
pelas costas?

As palavras voltavam para ele uma e outra vez. O filho


do rei Henry acabava de se casar com uma princesa
espanhola e o rei Henry não queria que essas atitudes pouco
cavalheirescas de Roger arruinassem o seu bom humor.

LRTHistóricos 534
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Roger bateu seu copo de estanho no braço da poltrona,


fazendo cair uma parte do entalhe.

— Malditos sejam todos! — jurou.

Brian estava pronto para jogar fora anos de amor e


lealdade por uma mulher que ele mal conhecia. Lembrou o
truque de Bronwyn ao rir dele quando tentou fazer amor com
ela. Um truque de meretriz! Assim como o truque de Mary ao
contar a seu irmão que não era freira. Brian parecia acreditar
que Mary era pura, digna de casamento, mas ela era
inteligente o suficiente para ser capaz de seduzir um menino
inocente dez anos mais novo. Pretendia utilizá-lo para
conseguir a liberdade ou para lançar mão da fortuna dos
Chatworth? Os Montgomery pareciam estar adquirindo o
costume de casar com pessoas de muito dinheiro.

Roger levantou-se inseguro. Era seu dever, como


guardião de Brian, mostrar a seu irmãozinho o que todas as
mulheres eram: cadelas mentirosas. Elas eram como Alice ou
Bronwyn. Nenhuma delas era doce e gentil, e certamente
nenhuma era digna de seu irmão Brian.

Cambaleou para fora da sala e subiu as escadas. Não


tinha ideia de onde estava indo, e foi só quando chegou ao
quarto de Bronwyn que fez uma pausa. Uma visão de seus
cabelos pretos e olhos azuis flutuava diante dele. Lembrou-se
de cada curva de seu corpo exuberante. Colocou a mão no
ferrolho da porta antes de se lembrar da maneira em que seu
queixo com covinha se erguia para ele em desafio. Afastou-se

LRTHistóricos 535
Highlander Audaz — Jude Deveraux

da porta. Não, ele não estava bêbado o suficiente para poder


suportar ser ridicularizado. Não era possível ficar bêbado a
esse ponto!

Subiu outro lance de escadas até o último andar de sua


casa. Seus problemas eram causados por aquela vagabunda
que se vestia como freira e seduzia seu irmãozinho. Suas
maldades estavam causando o desmembramento de sua
família. Brian disse que na manhã seguinte estaria deixando
a propriedade Chatworth. Ele ia casar com uma Montgomery
e deixar Roger. Como se os Montgomery já não tivessem uma
família grande o suficiente, queriam também pegar a de
Roger.

Roger levantou o ferrolho da porta do quarto de Mary. O


luar estava fluindo através da janela, e uma vela queimava
perto da cama.

— Quem é você? — perguntou Mary em um sussurro,


erguendo-se. Havia medo em sua voz.

Roger tropeçou em uma cadeira e a jogou contra a


parede.

— Quem é você? — repetiu ela em voz mais alta, mas já


tremendo.

— Um Chatworth. — Grunhiu Roger. — Um dos seus


carcereiros.

LRTHistóricos 536
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Parou do lado da cama, olhando para ela. Seus longos


cabelos castanhos estavam torcidos em uma trança. Seus
olhos estavam arregalados de medo.

— Lorde Roger, eu...

— Você o quê? — acusou ele. — Não vai me dar boas-


vindas a sua cama? Acaso não é um Chatworth tão bom
quanto outro? Eu posso deixar você em liberdade tanto
quanto Brian. Venha, vamos ver o que você tem que atraiu
tanto meu irmão.

Roger puxou a colcha que Mary segurava agarrada ao


seu pescoço e a arrancou. Seus olhos vidrados ficaram fixos
na pacata bata de algodão. A maioria das mulheres não
usava nada para dormir, mas esta mulher, uma prostituta
suprema, usava uma bata. Por alguma razão isso só irritava
mais Roger. Tomou a gola da bata e rasgou-a, jogando os
restos no chão. Não notou sequer como seu corpo era ou
ouviu quando seus gritos aterrorizados começaram. Tudo o
que podia ouvir era Brian dizendo que estava abandonando
sua casa por esta mulher. Ele mostraria a Brian que essa
mulher era uma prostituta e que ela não valia a afeição de
seu querido irmãozinho.

Ele caiu sobre o corpo gordo e inocente de Mary em


estado de inconsciência. Removeu apenas o suficiente de
suas roupas para realizar a ação. Suas pernas estavam
rigidamente unidas o que foi necessário abri-las à força. Os

LRTHistóricos 537
Highlander Audaz — Jude Deveraux

gritos cederam até se converterem em gemidos de terror. Todo


o corpo estava rígido como um pedaço de aço.

Não foi um prazer violá-la. Ela estava seca e tensa, e


Roger teve que empurrar com toda sua força para ganhar a
admissão em seu interior e finalmente penetrá-la por
completo. Terminou em segundos. A bebida e a emoção
trabalharam juntos para esgotá-lo. Rolou para fora dela e
desabou na cama ao lado dela. Agora Brian não o deixaria,
pensou enquanto fechava os olhos. No próximo natal, Brian,
Elizabeth e ele estariam juntos, como sempre estiveram.

Mary ficou imóvel quando Roger rolou para longe dela.


Seu corpo se sentiu violado, impuro. Seu primeiro
pensamento foi para seus irmãos. Como poderia enfrentá-los
novamente quando era, agora, o que Roger a chamara uma e
outra vez, uma prostituta? Brian nunca mais poderia se
sentar com ela, falar com ela.

Muito calma, levantou-se da cama. Ignorou a dor em


seu corpo e o sangue em suas coxas. Passou o único vestido
pela cabeça; era uma roupa simples de lã azul escura, feita
pelas irmãs para ela. Relanceou um olhar ao redor pela
última vez e caminhou para a janela.

O ar frio da noite soprou em seu rosto, e ela respirou


profundamente. Ergueu os olhos para o céu. Sabia que o
Senhor não poderia perdoá-la pelo que faria, mas tampouco
podia perdoar-se pelo que acontecera.

LRTHistóricos 538
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Adeus, meus irmãos! — sussurrou ao vento. —


Adeus, meu Brian!

Fez o sinal da cruz, cruzou as mãos contra os seios e


saltou para as pedras do térreo.

Os animais da propriedade de Chatworth perceberam


algo antes das pessoas. Os cães começaram a latir, os cavalos
se moveram nos estábulos, inquietos.

Brian, furioso e incapaz de dormir, vestiu uma túnica e


saiu para o pátio.

— O que aconteceu? — perguntou a um cavalariço, que


corria a toda velocidade.

— Uma mulher se atirou de uma janela do último andar.


— disse ele por cima do ombro. — Tenho de encontrar Lorde
Roger.

O coração de Brian se deteve ao ouvir essas palavras do


garoto. Tinha que ser uma das mulheres cativas. “Por favor,
que seja a mulher que não conheço, essa Bronwyn‖, rogou.
Mas ainda ao pensar, sabia quem era a morta.

Caminhou calmamente para o lado da casa que


continha a janela do quarto de Mary. Ele empurrou a
multidão de servos que estavam olhando para o corpo.

— Ela foi estuprada. — disse uma mulher em voz baixa.


— Olhe para o sangue nas coxas dela!

LRTHistóricos 539
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Como quando vivia Lorde Edmund. E pensávamos


que o irmão seria melhor!

— Saiam daqui! — gritou Brian. Irritava-se por olharem


tão livremente sua amada Mary. — Não ouviram? Saiam
daqui!

Os servos não estavam acostumados a receber ordens


de Brian, mas reconheceram o tom de autoridade quando o
ouviram. Eles se viraram rapidamente e saíram para se
esconder nos cantos escuros e olhar para Brian e para aquela
mulher que nunca tinham visto antes.

Brian suavemente ajeitou as roupas de Mary. Ele


endireitou seu pescoço de seu ângulo antinatural. Ele queria
levá-la até a casa e fez algumas tentativas, mas não era forte
o suficiente. Até mesmo sua fraqueza parecia alimentar a
raiva crescendo nele. Os criados presumiram que Roger a
estuprara, mas Brian não queria acreditar neles. ―Foi um dos
guardas!‖, ele pensou.

De pé, junto ao cadáver, começou a imaginar as torturas


que aplicaria ao homem, como se com isso pudesse recuperar
sua Mary. Como se estivesse em transe subiu a escadaria até
o quarto de Mary. Os guardas quiseram impedir sua entrada,
mas deram um passo atrás ao ver a expressão do rapaz. Ele
empurrou a porta.

Fitou Roger, profundamente adormecido, roncando,


deitado na cama de Mary. Parecia não ter nenhum

LRTHistóricos 540
Highlander Audaz — Jude Deveraux

pensamento, apenas um sentimento que o atravessava que


parecia crescer e se fortalecer a cada momento.

Com toda calma, pegou uma jarra de água fria da mesa


e verteu o conteúdo na cabeça do irmão. Roger gemeu e olhou
para cima.

— Brian! — disse, aturdido, com um sorriso fraco. —


Estava sonhando com você.

— Levante-se! — Brian disse em uma voz mortal.

Roger ficou alerta. Estava treinado para a guerra e sabia


como controlar seus sentidos quando sentia que havia perigo.

— O que aconteceu? Elizabeth está bem? — mas se


interrompeu ao se erguer e ter consciência de onde estava. —
Onde está Mary Montgomery?

O rosto de Brian não mudou. Sua aparência era de aço.

— Jaz morta nas pedras do pátio.

Pelo rosto de Roger passou uma sombra.

— Eu queria provar que tipo de mulher ela era. Queria


te mostrar...

A voz baixa de Brian o interrompeu.

— Onde está a esposa do Stephen Montgomery?

— Tem que me escutar, Brian. — suplicou seu irmão.

LRTHistóricos 541
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Te escutar! Escutou os gritos da Mary? Sei que era


tímida. Apostaria que gritou como louca. Você gostou?

— Brian...

— Basta! Disse suas últimas palavras para mim. Vou


encontrar essa outra mulher que você mantém prisioneira, e
nós vamos sair daqui. — Seus olhos se estreitaram. — Se
voltar a te ver de novo, vou mata-lo!

Roger caiu para trás como se tivesse recebido um golpe.

Aturdido, viu que Brian abandonava o aposento. Olhou


o sangue que manchava o lençol, a seu lado, e pensou na
mulher morta abaixo. O que ele tinha feito?

Brian não demorou para achar Bronwyn. Sabia que


estaria no quarto antes utilizado por Edmund para prender
suas mulheres. Uma vez mais, os guardas da porta não o
desafiaram. A tragédia da noite se percebia através dos
muros. Bronwyn estava acordada e vestida.

— O que aconteceu? — perguntou em voz baixa a esse


jovem de olhar duro.

— Sou Brian Chatworth — disse ele — vou levar você


para a casa de sua família. Está pronta?

— Minha cunhada também é prisioneira. Não irei sem


ela.

Brian apertou sua mandíbula.

LRTHistóricos 542
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Meu irmão acaba de violar a sua cunhada, milady.


Ela se suicidou.

Disse-o com secura, como se essas palavras não


significassem nada, mas Bronwyn sentiu algo mais fundo.
"Mary!", pensou. "A boa, doce, querida Mary!"

— Não podemos deixá-la aqui. — aduziu. — Devo levá-la


para seus irmãos.

— Você não precisa se preocupar com Mary. Vou cuidar


dela.

Bronwyn percebeu algo mais pela maneira como ele


pronunciava o nome de Mary.

— Estou pronta. — Respondeu em voz baixa e o seguiu


para fora do quarto.

Quando chegaram ao pátio no ar frio da noite, Brian se


voltou para ela.

— Eu providenciarei guardas para acompanhá-la. Eles a


levarão aonde quiser, ou você pode ir comigo ao castelo de
Montgomery.

Bronwyn não demorou muito para tomar uma decisão.


Teve um mês para pensar enquanto estava confinada no
quarto. Tinha que fazer as pazes com os MacGregor antes que
pudesse ver Stephen de novo. Precisava provar que seu amor
era digno dele.

LRTHistóricos 543
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Retornarei à Escócia. E não quero escolta inglesa.


Viajarei melhor sozinha.

Brian não discutiu com ela. Sua própria miséria e ódio


ocupavam todos os seus pensamentos. Ele assentiu
secamente.

— Pode levar um cavalo e as provisões necessárias.

Ele se virou para sair, mas ela pegou seu braço.

— Cuidará de Mary?

— Com minha própria vida. — disse ele com voz


profunda. — E também vingarei sua morte.

Ele se afastou e partiu.

Bronwyn franziu o cenho ao pensar no que Mary dissera


sobre vingança. De repente olhou ao redor e, pela primeira
vez entendeu que estava livre. Deveria partir o quanto antes,
porque neste lugar podiam explodir novas violências. Tinha
muito que fazer. Talvez se salvasse algumas vidas, embora
fossem vidas de escoceses, a alma de Mary se sentiria
reconfortada. Caminhou em direção aos estábulos.

LRTHistóricos 544
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Capítulo Dezenove
Bronwyn inclinou a cabeça contra o lado quente da vaca
que estava ordenhando. Estava contente por ter ido para a
casa dos pais de Kirsty em vez de voltar para Larenston.
Kirsty, Donald e o pequeno Rory Stephen tinham retornado
ao norte, para sua casa. Bronwyn voltou-se para seu cavalo e
estava colocando o pé no estribo para montar quando Harben
segurou seu braço.

— Você ficará conosco, moça, até encontrar o Laird


MacGregor, se ainda quiser encontra-lo.

Ela olhou de Harben para Nesta e de volta para Harben.

— Há quanto tempo você sabe?

— Donald me contou depois que você foi embora e eu


sempre suspeitei de algo. Você não fala como uma mulher
comum. Você tem mais...

— Confiança em mim mesma? — sugeriu Bronwyn,


cheia de esperança.

Harben soprou.

— Mais como insolência. — Encarou-a. — O Laird


MacGregor vai gostar de você. — Os olhos do velho desceram
para o ventre de Bronwyn que estava crescendo. — Vejo que
seu marido aproveitou minha cerveja caseira.

LRTHistóricos 545
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ela se pôs a rir. Harben a conduziu até a pequena


cabana.

— Há uma coisa que não entendo. Posso ver que você é


a Laird MacArran, mas não me convenço que seu marido seja
inglês. Eu acreditaria que ele é mais MacArran do que inglês.

Entraram na cabana rindo. Nesta sorrindo para os dois.


Foi Nesta que manteve a fazenda funcionando e observava se
Bronwyn e Harben trabalhavam enquanto discutiam.

Levaram alguns dias para organizar uma reunião com o


Laird MacGregor. Ele concordou em não contar a ninguém e
não trazer nenhum homem com ele. Bronwyn fez o mesmo.
Na manhã seguinte, ao amanhecer, na névoa das montanhas,
se encontrariam.

Ela puxou com mais força os úberes da vaca e afastou


uma mecha de cabelo que a incomodava. Terminou a
ordenha, recolheu distraidamente seu cabelo, e levou o balde
para a extremidade do celeiro, percebendo que já estava
escurecendo lá fora. No momento que as últimas gotas de
leite caíram no balde, ouviu um barulho que a fez parar
imediatamente.

Era um leve latido, um som quase inaudível, mas algo


nele a fez pensar em Rab e as lágrimas instantaneamente
vieram aos seus olhos. Lembrava ver claramente Rab
estendido no chão, a ferida aberta em seu lado.

LRTHistóricos 546
Highlander Audaz — Jude Deveraux

O ruído se repetiu e ela se voltou, com o balde ainda na


mão. Ali, esperando quieto, com os olhos brilhando, com o
rabo balançando, estava Rab.

Ela só teve tempo de soltar o balde porque no momento


seguinte setenta quilos do cão estavam sobre ela. O cão a
derrubou contra uma baia e quase a quebrou ao meio.

— Rab! — sussurrou abraçando ele. — Rab! — O animal


quase a sufocava com a força de sua excitação. Ela ria e
chorava.

— Oh, meu querido cão! De onde veio? Acreditava que


estivesse morto!

E escondeu a cara em sua pelagem.

De repente se ouviu um assobio baixo e penetrante. Rab


ficou rígido. Um momento depois estava com as quatro patas
bem plantadas no chão, frente a ela.

— O que passa garoto?

Bronwyn ergueu o olhar e se deparou com Stephen. O


cabelo dele estava mais curto, mas usava a vestimenta
escocesa. Ela o percorreu lentamente com o olhar. Parecia
que esquecera como ele era musculoso, como era forte e
grande. Seus olhos azuis a fitavam de uma maneira intensa.

— Receberei as mesmas boas-vindas que Rab? —


perguntou em voz baixa.

LRTHistóricos 547
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Bronwyn não cogitou pensar, saltou para os braços do


marido, rodeou-lhe o pescoço com os braços, os pés
suspensos do chão. Stephen não disse uma palavra, mas
começou a beijá-la com toda a fome que sentia. Fazia muito
tempo que ele a tocara. Deu um passo atrás, com ela nos
braços, e caiu sobre um monte de feno. Enquanto caíam,
suas mãos já estavam nos laços da camisa dela.

— Não podemos... — murmurou Bronwyn, contra seus


lábios — Harben...

Stephen lhe mordeu o lóbulo da orelha.

— Disse-lhe que tínhamos uma orgia planejada durante


o resto do dia.

— Não me diga! Você não fez isso!

— Sim, digo-te! — Ele zombava com riso em seus olhos.


Então sua expressão mudou. Seus olhos se arregalaram e
olhou para ela atônito. No momento seguinte, estava
arrancando suas roupas e observando o duro montículo de
seu ventre. Ergueu a vista, a pergunta bailava em seus olhos.
Ela assentiu com um sorriso. O grito de felicidade de Stephen
assustou as galinhas que descansavam nas vigas do celeiro.

— Um bebê! Harben tinha razão quando argumentava


sobre a sua cerveja caseira.

— Conforme Morag, já estava grávida quando


conhecemos Kirsty.

LRTHistóricos 548
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Stephen se deitou ao lado dela e estreitou seu corpo nu


junto ao dele.

— Neste caso, fui eu e não a cerveja de Harben —


murmurou, com uma profunda alegria interior.

Ela se aconchegou ao lado do marido e esfregou uma


coxa entre as dele.

— Também pode ter sido a cerveja caseira. —


murmurou com ar triste. — Eu não me lembro de mais nada
que poderia ter me dado um bebê.

Stephen riu entre dentes e a empurrou para o feno, de


barriga para baixo. Rapidamente tirou a manta. Manteve um
joelho sobre as suas costas. Ao ficar nu, se inclinou e beijou o
dorso dos joelhos de Bronwyn.

— Não te esqueci. — sussurrou, deslizando os lábios


pelos tendões. Suas mãos acariciavam suas pernas enquanto
sua boca a atormentava. Ela gemeu sob ele e tentou se virar.
Stephen a segurou enquanto continuava sua doce tortura em
sua pele. A pele de Stephen contra a sua lançou calafrios ao
longo de todo o seu corpo. A boca dele vagava em sua
espinha, as pernas dele contra as suas. A rigidez e a pelugem
daquelas coxas fizeram-na se excitar. As mãos grandes de
Stephen acariciavam suas costas, brincando com as formas
macias dela.

Logo soube que Bronwyn não estava mais aguentando,


então a virou. Ele a beijou enquanto sua mão esfregava seu

LRTHistóricos 549
Highlander Audaz — Jude Deveraux

ventre, então subiu até seus seios. Ela arqueou para ele
quando sua boca tocou seus seios. Ele se moveu para cima
novamente, seus dentes correndo ao longo de seu pescoço.
Bronwyn agarrou-o, puxando-o para cima dela.

— Com fome, minha Laird? — Ele rosnou em seu


ouvido.

Ela o mordia, quase com força demais, e no momento


seguinte ele estava deitado sobre ela. Tinha passado tanto
tempo desde que fizeram amor pela ultima vez. A boca de
Stephen nos seus joelhos, a excitava até o estado febril. Em
poucas investidas ambos estremeciam na culminação de seu
amor.

— Oh, Stephen! — sussurrou ela abraçando-o.

Foi tão bom sentir-se segura novamente, não estar


sozinha. Ela não percebeu quando as lágrimas começaram.
Stephen se afastou de cima dela e a puxou para o porto
seguro de seus braços fortes. Ele cobriu-os com sua manta, e
Rab se aconchegou contra as costas de sua ama. A segurança
que ela sentia a fazia chorar ainda mais.

— Foi muito horrível? — perguntou ele em voz baixa. —


Nos sentimos tão desamparados, mas havia muito pouco que
pudéssemos fazer.

Ela enxugou as lágrimas e olhou para ele.

— Mary? — perguntou.

LRTHistóricos 550
Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ele acomodou a cabeça dela contra o peito.

— Brian Chatworth a trouxe de volta para nós.

Ele ficou em silêncio por um momento. Agora não era


hora de falar de sua dor — e ira — pela morte de sua irmã. A
doce e gentil Mary, que só fez o bem em sua vida, não
merecia uma morte de maneira tão vil. Miles quase matou
Brian antes que Gavin e Stephen pudessem impedi-lo.
Quando Brian contou sua história, ficou evidente que mesmo
estando prisioneira, Mary dera amor. A tristeza e a dor de
Brian eram óbvias, enquanto segurava o corpo sem vida da
mulher que ele amava.

— Brian foi em busca de Raine, onde quer que ele esteja


agora. — continuou Stephen. — Nos disseram que se oculta
nos bosques. Por que não voltou para Larenston? Tam
envelheceu vinte anos neste último mês, sabia muito pouco
do ocorrido. Encontraram Rab pela manhã e Tam tinha
certeza que você estava morta.

— Queria fazer algo pela Mary.

— Pela Mary? Veio para casa de Harben pela Mary?

Bronwyn intensificou seu pranto.

— Tinha razão. Tive tempo de sobra para pensar. Sou


muito egoísta e não mereço seu amor.

— Que diabos está dizendo? — perguntou ele.

LRTHistóricos 551
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— O que disse enquanto tinha nos braços aquela


mulher. — soluçou ela.

Stephen franziu o cenho enquanto tentava se lembrar do


que estava falando. Desde que se casou, não tinha tocado
outra mulher. Todas as mulheres que ele via, empalideciam
em comparação com a beleza de Bronwyn. Ele sorriu ao
recordar a noite no castelo de Gavin.

— Aggie! — Recordou. — É a prostituta do castelo. Eu


estava sentado lá, me sentindo angustiado e miserável, ela
entrou no salão, abriu a blusa e se jogou no meu colo.

— Você certamente não a afastou de si! Você estava


gostando quando eu entrei.

— Gostando? — Ele perguntou, então deu de ombros. —


Sou homem, posso me sentir furioso e deprimido, mas não
estou morto.

Bronwyn agarrou um monte de feno e jogou-o em sua


cabeça. Ele cravou seus braços no chão.

— Diga-me o que eu disse naquela noite. — pediu.

— Não te lembra!

Como ele poderia esquecer algo que significava tanto


para ela?

— Tudo que recordo é que gritamos um com o outro,


então eu montei meu cavalo. Eu não lembro para onde estava
indo. Em algum momento ao longo do caminho eu caí no

LRTHistóricos 552
Highlander Audaz — Jude Deveraux

chão e dormi. Pela manhã compreendi que provavelmente


tinha perdido você por causa da minha idiotice e decidi fazer
algo para tentar conquistá-la novamente.

— Foi por isso que você foi à corte do rei Henry, para me
reconquistar?

— Não faria isso por nenhuma outra razão. —


Assegurou. — Detesto a corte. Todo aquele esbanjamento!

Ela olhou para ele, depois riu.

— Fala como um escocês.

— O rei Henry também disse o mesmo. Que eu não era


mais inglês, que me parecia um escocês.

Bronwyn riu e começou a beijá-lo. Stephen a afastou.

— Ainda não me deu uma resposta. Durante todo o


tempo que passei na corte estava convencido de que estava
com meus irmãos. Gavin estava tão furioso que se negou a
me escrever. Provavelmente supôs que eu estava informado
de sua fuga na noite em que parti. Você e Miles o assustaram
quase até a morte, sabia?

— E você não? — Ela indagou. — O que pensou ao


descobrir que eu voltei para a Escócia?

— Não tive tempo de pensar! — protestou ele aborrecido.


— Gavin, Raine, Miles e Judith me repreenderam durante
dias. Depois deixaram de falar comigo.

LRTHistóricos 553
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— E todo esse tempo eu estava na Escócia, e você não


me enviou sequer uma mensagem.

— Mas você me abandonou! — disse ele gritando. — Era


você que devia me enviar uma mensagem!

— Stephen Montgomery, — Bronwyn exclamou — eu


não abandonei você! Acaba de dizer que cavalgou até a corte
do rei Henry. Depois do que você disse! Acha que eu devia
sentar e esperar seu retorno? O que eu diria a sua família?
Que preferia uma rameira gorda a mim?

Ela olhou para longe. Stephen pôs os dedos sob o queixo


dela para erguer-lhe o rosto.

— Quero saber o que eu disse. O que a fez me deixar?


Conheço você e se fosse apenas pela mulher, você não teria
me abandonado. Provavelmente teria atirado o atiçador nela.

— Bem que ela merecia ser torturada! — Bronwyn disse


com ar quente.

O tom de Stephen foi firme, quase frio.

— Quero ouvir o que você tem a dizer.

Ela afastou a vista. As lágrimas surgiram com facilidade,


lhe fazendo pensar, desgostada, que nunca em sua vida tinha
chorado tanto.

— Você disse que eu era egoísta, egoísta demais para


amar. Você disse que eu me ocultava atrás do meu clã porque
tinha medo de crescer. Você disse que ia procurar uma

LRTHistóricos 554
Highlander Audaz — Jude Deveraux

mulher que não fosse fria e que pudesse dar aquilo que você
precisava.

A boca de Stephen se abriu com assombro, depois


começou a rir. Ela levantou a vista, surpreendida e
horrorizada.

— Não vejo nada de gracioso nos meus defeitos. —


assegurou muito fria.

— Defeitos! — ofegou ele entre gargalhadas. — Deus! Eu


devia estar muito bêbado! Não sabia que alguém pudesse se
embriagar tanto.

Ela tentou se afastar dele.

— Eu não gosto que riam de mim! Talvez seja meu


egoísmo o que me impede de ver o humor de suas palavras.

Stephen a puxou de volta para ele. Ela empurrou-o, e


por um momento, ele deixou que ela ganhasse a luta. Então,
ainda rindo, ele prendeu-a sob seu corpo.

— Escute-me, Bronwyn. É a pessoa mais altruísta que


conheci em minha vida. Nunca soube que alguém que se
preocupasse tanto pelos outros e tão pouco por si mesmo.
Não te deu conta de que isso foi o que me enfureceu quando
te vi pendurada no precipício? Poderia ter ordenado que
descesse qualquer outro ou seguir o conselho de Douglas e
dar Alex por morto. Mas não! Minha querida e doce Laird só

LRTHistóricos 555
Highlander Audaz — Jude Deveraux

pensou na vida de um membro de seu clã, não no perigo que


corria.

— Mas eu estava com tanto medo — confessou ela.

— É claro que você estava! Isso apenas enfatiza sua


coragem e seu altruísmo.

— Mas por que...? — ela começou.

— Por que te chamei de egoísta? Porque estava muito


ferido, suponho. Porque te amo profundamente e você não me
amava. E para falar a verdade, às vezes me faz sentir muito
mortal. Temo não ter a metade de sua coragem.

— Oh, Stephen, não é verdade. Você é muito corajoso.


Você derrotou quatro ingleses com apenas o arco e flecha,
quando estivemos com Kirsty na primeira vez. E precisava
muita coragem para renunciar suas roupas inglesas e se
converter em escocês.

— Me converter em escocês? — perguntou, levantando


uma sobrancelha, muito sério. — Uma vez disse que só me
amaria se me convertesse em escocês.

Ele esperou, mas ela não respondeu.

— Amo-te, Bronwyn, e o maior desejo do meu coração é


que você me ame também. — Ele colocou o dedo em seus
lábios e lhe lançou um olhar ameaçador. — E se repetir tudo
isso de que o amor não importa, romperei esse seu bonito
pescoço.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Claro que amo você, seu tolo! Por que você acha que
meu estômago dói e minha cabeça gira quando você está
perto? E piora quando você está longe. A única razão pela
qual fui com Roger Chatworth era para provar para você que
eu não era egoísta. Eu precisava fazer algo para você me
amar.

— Fugir com meus inimigos não é exatamente uma


prova de amor. — Observou frio. Mas imediatamente
começou a sorrir. — Você está me dizendo que me ama ou
que eu a deixo doente?

— Oh, Stephen! — ela riu, percebendo que ele


acreditava nela. Ele não a acusou de dormir com Roger
Chatworth. Ele estava começando a dominar seu ciúme! De
repente, ambos pararam e se olharam. Um movimento brusco
em seu ventre tinha sido sentido por ambos.

— O que é que foi isso? — inquiriu ele.

— Parecia um chute. — disse ela maravilhada. —


Acredito que seu filho acaba de nos dar um chute.

Stephen rolou de lado e acariciou o ventre de Bronwyn


com reverência.

— Você sabia sobre o bebê quando você me deixou?

— Não te deixei — insistiu ela — mas sim, sabia.

Ele ficou em silêncio, enquanto cobria com a mão


quente o ventre nu da esposa.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Você está feliz com o nosso filho? — sussurrou ela.

— Um pouco assustado talvez. Judith perdeu seu


primeiro filho. Eu não gostaria que algo assim acontecesse a
você.

Ela sorriu para ele.

— Como poderia acontecer alguma coisa com você ao


me proteger?

— Proteger você! — explodiu ele. — Nunca me escuta,


nunca faz o que eu digo. Você me droga. Abandona a
proteção da minha família no meio da noite. Você...

Ela colocou os dedos em seus lábios.

— Mas te amo. Amo-te muitíssimo e preciso de você.


Preciso de sua força, seu equilíbrio, sua lealdade e seu modo
de ser e de fazer a paz. Você impediu a mim e o meu clã de
declarar guerra aos nossos inimigos. Você nos fez ver que os
ingleses não são todos ignorantes, gananciosos, falsos,
mentirosos...

Ele deu-lhe um beijo suave para acalmá-la.

— Não estrague tudo. — Disse sarcástico. — Eu também


amo você. Eu a amo desde o momento em que vi você com
seu clã. Nunca tinha visto uma mulher bonita, exceto Judith,
que fosse algo mais que um adorno. Foi um choque ver que
seus homens escutam você e ver o modo como a respeitam.
Foi a primeira vez que considerei você algo além de...

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Uma boa brincadeira na cama? — sugeriu com olhos


faiscantes. Ele se pôs a rir.

— Oh, sim, decididamente! — e começou a beijá-la com


mais seriedade, suas mãos acariciando-lhe o corpo.

— Stephen! — ela sussurrou enquanto ele beijava atrás


de sua orelha. — Amanhã devo me encontrar com o Laird
MacGregor.

— Isso é bom. — Murmurou ele, descendo a boca para o


pescoço. — Isso é muito bom.

Ela moveu sua cabeça para que ele pudesse beijar sua
boca. De repente, ele se afastou bruscamente. Rab deu um
pequeno latido de alarme. Stephen olhou para a mulher,
horrorizado.

— Você está brincando. — Protestou Stephen. Ela sorriu


com doçura.

— Nos reuniremos amanhã ao amanhecer. — E voltou a


lhe beijar.

Ele rolou de lado e a ergueu com brutalidade.

— Maldita seja! — murmurou com os dentes cerrados.


— Vai começar outra vez? Sem dúvida o encontro será
sozinho em algum lugar secreto.

— Claro que sim. Não posso pedir a meu clã que me


acompanhe. Este foi o acordo e não posso deixar que tudo

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

fique pior. Quero acabar com essa guerra antes que eu fique
mais gorda.

Stephen fechou os olhos um momento, tratando de se


acalmar.

— Você não pode encontrar este homem sozinho, eu a


proíbo.

A descrença registrou imediatamente no rosto de


Bronwyn.

— Você o que? Você proíbe? Como se atreve? Esquece


que eu sou a Laird MacArran? Só porque eu te amo não lhe
dá direitos sobre meus deveres como líder.

— Quer se calar um minuto? — exigiu ele. — Você


sempre acha que estou contra você. Agora escute. Quem mais
sabe desse encontro?

— Só Harben, que arrumou tudo. Não quisemos revelar


que o encontro estava acordado nem sequer a Nesta, por
medo de que isso a fizesse conceber muitas esperanças.

— Esperanças! — ofegou ele. — Isso é tudo o que você


pensa, consideração pelos outros?

— Você faz soar como algo ruim.

— Algumas vezes, sim. — Stephen tentou se acalmar. —


Não te dá conta, Bronwyn, que às vezes deve pensar em si
mesma?

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Mas eu penso! Quero a paz para meu clã.

Stephen a olhou com grande amor.

— Está bem, me escute. Imagine isto se puder. Você e o


Laird MacGregor se encontram em algum lugar solitário, sem
dúvida no meio do nevoeiro, e a única pessoa que sabe sobre
o encontro é Harben. E se o Laird MacGregor decidir acabar
com as suas diferenças com os MacArran matando seu Laird?

— Isso é um insulto! — exclamou ela. — Esta é uma


reunião de paz. O MacGregor não faria isso.

Ele estendeu as mãos para o céu como se pedisse ajuda.

— Não consigo fazer com que você encontre o meio


termo, não é? Seis meses atrás você odiava tudo que se
referisse aos MacGregor e agora planeja entregar a vida ao
Laird deles.

— E que outra coisa posso fazer? Se ele e eu chegarmos


a um acordo pacífico, as matanças acabarão. Não é o que
você queria? Você não dizia sempre que queria que nossa rixa
terminasse? Essa guerra de clãs provocou a morte do seu
amigo.

Ele a agarrou e abraçou-a.

— Sim, concordo com você. Quero tudo isso, mas


quando penso no que poderia custar! Como eu poderia deixá-
la ir sozinha ao encontro de um homem duas vezes o seu
tamanho? Ele poderia matá-la com um só golpe.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ela levantou a cabeça, mas ele abraçou-a outra vez.

— Você não vai sozinha, vou com você.

— Mas você não pode! — Ela explodiu. — A mensagem


era para eu estar sozinha.

— Já carrega outra pessoa contigo. O que importa mais


uma?

— Stephen! — suplicou.

— Não! — encarou-a. — Pelo menos uma vez me


obedecerá, entendeu?

Bronwyn fez menção de discutir, mas ela sabia que não


adiantava. Na verdade, ela estava feliz que ele estava indo
com ela. Ela levantou o rosto para seu beijo. Ele apenas tocou
seus lábios nos dela e depois se afastou. Olhou para ele
surpresa, mas Stephen acenou com a cabeça em direção à
janela.

— Se não me equivocar, falta uma hora para o


amanhecer. Acredito que já devemos partir.

— Não poderíamos dispor de alguns minutos? —


perguntou ela melancólica.

— Você é uma criança malcriada. — Ele brincou. —


Agora vamos nos vestir e vá conquistar o Laird MacGregor,
como você me conquistou.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Deitou-se no feno e observou-o enquanto ele se vestia


rapidamente. Logo seu corpo forte estava coberto. E pensar
que uma vez pensou nele como seu inimigo!

— Você, meu lorde, é meu conquistador. — suspirou ela,


então, relutantemente, começou a se vestir.

Estavam sérios ao selarem seus cavalos e se prepararam


para a curta viagem até o local de encontro. Stephen
considerou a possibilidade de trancar Bronwyn no celeiro e ir
sozinho, mas Bronwyn, parecendo adivinhar seus
pensamentos, negou-se a dizer onde encontraria o Laird
MacGregor.

O lugar era tal como Stephen o tinha imaginado:


solitário, rodeado de rochas e densamente envolto em névoas.
Assim que desmontou, a ponta de uma espada se apoiou na
base do seu pescoço.

— Quem é você? — rosnou o Laird MacGregor.

— Vim para protegê-la. — Respondeu Stephen. – Ela


pode ser uma Laird, mas não vai se encontrar a sós com um
homem.

O Laird MacGregor olhou para Bronwyn, alta, magra,


bonita. Ela retinha o enorme cão como se ele ameaçasse
ataca-lo. O Laird MacGregor riu e embainhou a espada.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Eu não o culpo por isso, moço. Embora ela talvez


precisasse de proteção contra outro tipo de coisas, além da
que imagina.

Stephen se voltou para encontrar o homem olho com


olho.

— Eu vou protegê-la de todas as maneiras. — Disse ele


com significado.

O Laird MacGregor voltou a rir.

— Venha e sentem-se. Eu estive pensando no acordo de


paz e a única solução que vejo é unir os clãs de algum modo.
— Olhou para Bronwyn enquanto ela sentava em uma rocha.
— Não sou mais casado. Se eu tivesse visto a Laird MacArran
antes, a pediria em casamento.

Stephen ficou atrás de sua esposa e colocou sua mão


possessivamente em seu ombro.

— Já está casada. E estou disposto a lutar por...

— Basta vocês dois! — exigiu ela, encolhendo os ombros


para afastar as mãos de Stephen. — Parecem dois cervos se
enfrentando. Stephen, se você não se comportar, terá que
voltar para a casa de Harben.

O Laird MacGregor riu.

— E você, Lachlan! Deve saber que a Laird MacArran


não é só um rosto bonito! Se você não pode lidar comigo em

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

um nível inteligente, talvez você possa enviar um de seus


chefes.

Era a vez de Stephen rir. Lachlan MacGregor arqueou


uma sobrancelha.

— Talvez eu não tenha inveja de você, garoto.

— Tem suas compensações. — acrescentou Stephen,


presunçosamente.

Bronwyn não o estava escutando.

— Davey... — Bronwyn sussurrou.

Stephen olhou para ela, começava a entender o que ela


queria dizer.

— Ele tentou nos matar. — advertiu em voz baixa.

O olhar do Bronwyn lhe fez calar. Ele compreendeu o


que ela sentia: o sangue falava mais alto. Voltou-se para o
Laird MacGregor.

— Ela tem um irmão mais velho, de uns vinte anos. O


rapaz está louco de ciúme. Em vez de permanecer ao lado de
sua irmã e Laird do clã, não quer receber suas ordens e está
se escondendo em algum lugar nas colinas. Recentemente fez
um atentado contra nossas vidas.

O chefe MacGregor franziu o cenho e assentiu.

— Eu posso entender o menino, eu teria feito a mesma


coisa.

LRTHistóricos 565
Highlander Audaz — Jude Deveraux

— Como pode entendê-lo! — protestou Bronwyn. — Eu


sou sua Laird. Deveria ter aceitado a vontade de nosso pai.
Eu a teria aceito.

— É obvio! — descartou Lachlan. — Porque é mulher —


e ignorou seus protestos.

Stephen sorriu calorosamente para o Laird MacGregor.

— Tenho uma filha. — continuou Lachlan. — Ela tem


dezesseis anos, é linda, doce e suave como uma mulher deve
ser. — Ele deu um olhar para Bronwyn. — Talvez possamos
arranjar um casamento.

— O que oferece, além de sua insípida filha? —


perguntou Bronwyn sem levantar a voz.

Lachlan estremeceu antes que respondesse.

— Ele não pode ser Laird, mas pode ser comandante. É


mais do que tem agora. E seria o genro do Laird.

— É um moço de temperamento violento. — apontou


Stephen. — Por isso Jamie MacArran não lhe nomeou Laird.

— Você nunca o conheceu! — Bronwyn disse. — Como


você sabe como ele é?

— Escutando. — foi a breve resposta de Stephen.

— Posso lidar com ele. — Lachlan afirmou. — Não vou


morrer tão jovem como Jamie fez e deixar o menino sozinho.
Vou mantê-lo comigo e ensinar-lhe a ser justo. Eu prefiro ter

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

um jovem violento a um manso. Não suporto a pobreza de


caráter no homem e nem na mulher — e sorriu para
Bronwyn.

— Eu atesto o caráter dos MacArran. — Stephen riu.

— Imagino que pode. — O chefe MacGregor riu entre


dentes. — Este Davey fará minha filha feliz, se for parecido
com a irmã.

Stephen ficou sério.

— O que seu clã vai dizer quando você introduzir um


MacArran?

— Eles não me dirão nada, mas terão muito a dizer ao


jovem Davey. Esperemos que ele possa lidar com isso.

Bronwyn ficou rígida.

— Meu irmão pode lidar com qualquer MacGregor.

Lachlan riu, depois estendeu a mão para Stephen.

— Neste caso, tudo está resolvido.

O Laird MacGregor se voltou para ela.

— Agora você, jovem mulher, me deve por um B que


carrego no meu ombro.

E a agarrou com força para lhe dar um sonoro beijo na


boca. Bronwyn olhou apressadamente a seu marido,
preocupada com seu ciúme, mas Stephen os observava com

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

carinho. Juntos observaram com o olhar Lachlan, que se


afastava. Depois Bronwyn se voltou para Stephen.

— No futuro, eu gostaria que você se lembrasse de que


eu sou a Laird MacArran, como mostrei a você esta manhã.

Stephen sorriu preguiçosamente.

— Eu pretendo mudar isso.

— O que quer dizer?

— Eu não contei que pedi permissão ao rei Henry para


mudar meu sobrenome?

Bronwyn olhou-o estupefata.

— Meu nome agora é Stephen MacArran, não está


satisfeita?

Ela jogou seus braços ao redor de seu pescoço e


começou a cobrir seu rosto com beijos.

— Amo-te, amo-te, amo-te! É um MacArran! Isso vai


provar ao meu clã que você é confiável.

Stephen a abraçou e começou a rir.

— Eles nunca duvidaram de mim, só você. Ele a puxou


para mais perto, abraçando-a com força. — Bronwyn, não
somos inimigos, tentemos estar do mesmo lado.

— Você é um MacArran. — Ela sussurrou com a voz


tremendo.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Ele acariciou seus cabelos.

— Agora tudo estará em ordem. Irei procurar Davey e...

— Que irá você! — protestou ela, afastando-se. — Ele é


meu irmão!

— A última vez que o viu, ele tentou matá-la.

— Porque estava furioso. Toda minha família tem


caráter forte. Quando se inteirar do meu plano não ficará
zangado.

— Seu plano! Acredito que foi um esforço conjunto!

— Possivelmente, mas Davey só escutará a mim.

Stephen começou a falar, mas depois a beijou.

— Poderíamos continuar com isto mais tarde? De


repente sinto que algo está entre nós.

Ela olhou para ele inocentemente.

— Meu ventre?

Ele agarrou seu cabelo e puxou sua cabeça para trás.

— Como se sente ao beijar ao Laird MacArran?

— Eu sou a Laird MacArran! — protestou ela — Eu...

Mas não pôde dizer mais nada, porque a mão de


Stephen tinha escorregado até a parte de trás dos seus
joelhos.

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Highlander Audaz — Jude Deveraux

Fim

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